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br
Índice
Í
capa Equilíbrio

Baseado em um programa estratégico de 21 projetos, São


Paulo adota uma postura madura para proteger e recuperar
seu patrimônio natural da degradação e surpreende pelos
avanços. A consciência se dissemina e os paulistanos vão além,
criando alternativas e procurando, cada vez mais, reformular
hábitos nocivos, afinal, esta é uma batalha de todos

22

Uma outra faceta do Tietê: a foto que estampa a capa da Revista Novo
Ambiente, revela um olhar que contrasta com a imagem que formamos
quando pensamos em São Paulo. Nosso fotógrafo Leonardo Pepi, captu-
rou a serenidade deste magnífico pôr do sol, na cidade de José Bonifácio,
no interior do Estado.
10 No meio

24 Rodoanel
Do presente para o futuro
32 Parque linear
À varzea com carinho
36 Pelas águas
Navegando pelo Hidroanel
Minas Gerais
Cidade administrativa 12
44 Serra do mar Drummond faria uma poesia
Ocupação humana é uma questão de Estado
48 Obra ecológica
Imigrantes a semente de novos conceitos
54 Pelo ar
Segurança e respeito
58 Amigo da Amazônia
Portas fechadas para madeira ilegal
60 Mobilidade
“Se eu perder esse trem...”
64
68
Delson Amador

Svetlana Maria
Tocantins
Aposta verde 16
No coração do Brasil

70 Qualidade do ar
Hora de despoluir
76 Hidrovia
Mais força nas águas
78 Francisco Graziano

86 Edemar Gregorio

88 Velho Ambiente

90 Da redação
Reciclagem
asfalto borracha 80
A redenção do pneu
Editorial
E
Uma publicação daNovo Ambiente Editora e Produtora Ltda.
CNPJ/MF.: 12.011.957/0001-12
Rua Professor João Doetzer, 280 - Jardim das Américas - 81540-190 - Curitiba/PR

C
Tel/Fax: (41) 3044-0202 - atendimento@revistanovoambiente.com.br
revistanovoambiente.com.br
omo quem se prepara para abrir aquela es-
Ano 1 - Edição 01 - Junho/2010 - Distribuição dirigida e a assinantes
pecial garrafa de vinho, tão esmeradamente
JORNALISTA RESPONSÁVEL - Carlos Marassi
marassi@revistanovoambiente.com.br guardada para um evento fortuito, também
revisão - Equipe Editorial Revista Novo Ambiente eu, quase comemorei a indiscutível consolidação da
Impressão - Maxigráfica A tiragem desta edição de 30.000 exemplares
é comprovada pela BDO Auditores Independentes.
Rodovias&Vias e me propus a buscar na adega dos meus
Tiragem - 30 mil exemplares

Diretor Geral
dias sorver algum tempo para o ócio. Porém não pude
Dagoberto Rupp dedicar mais tempo do que ler o rótulo.
dagoberto@revistanovoambiente.com.br
financeiro ADMINISTRATIVo Anos de estudos para produção jornalística e apren-
Jaqueline Karatchuk
jaqueline@revistanovoambiente.com.br
Paula Santos
paula@revistanovoambiente.com.br
dizados no universo do desenvolvimento brasileiro, não
comercial (DEC) apenas credenciam a novos desafios, instigam.
Paulo Roberto Luz João Augusto Marassi
paulo@revistanovoambiente.com.br joao@revistanovoambiente.com.br Atentando para o debate algo extremado das ques-
João Claudio Rupp Fábio Eduardo C. de Abreu
joaoclaudio@revistanovoambiente.com.br fabio@revistanovoambiente.com.br tões ambientais versus infraestrutura, percebi que é
João Rodrigo Bilhan
rodrigo@revistanovoambiente.com.br
Paulo Negreiros
negreiros@revistanovoambiente.com.br
tempo de dar um passo adiante nas relações que man-
ASSINATURAS temos com o tema. Como o que sei fazer é manter uma
Mari Iaciuk - mari@revistanovoambiente.com.br
Daiane Kelly de Oliveira - daiane@revistanovoambiente.com.br
discussão em quatro cores e papel couchet, desenvolvi
Mônica Cardoso - monica@revistanovoambiente.com.br juntamente com a equipe que há anos me acompanha,
Central de Jornalismo o mais novo periódico do mercado editorial segmenta-
Fernando Beker Ronque Juvino Grosco
fernando@revistanovoambiente.com.br jgrosco@revistanovoambiente.com.br do no Brasil, e que agora você terá a oportunidade de
Edemar Gregorio Juliano Grosco
edemar@revistanovoambiente.com.br juliano@revistanovoambiente.com.br ler e avaliar.
Rafael de Azevedo Chueire Marcelo C. de Almeida
rafael@revistanovoambiente.com.br betinho@revistanovoambiente.com.br A Revista Novo Ambiente, propõe irmos em busca
Davi Etelvino
davi@revistanovoambiente.com.br
Alexsandro Hekavei
alex@revistanovoambiente.com.br
da reflexão madura sobre os aspectos decorrentes da
Leandro Dvorak
leandro@revistanovoambiente.com.br
Estanis Neto
estanis@revistanovoambiente.com.br
necessidade de ampliar frágil estrutura básica brasileira,
Paulo Negreiros Lucyo Eduardo P. A. de Oliveira minimizando ao máximo os impactos ambientais de tais
negreiros@revistanovoambiente.com.br lucyo@revistanovoambiente.com.br
Leonardo Pepi Santos Ricardo Adriano da Silva ações. Investigar com jornalismo de qualidade, exem-
leo@revistanovoambiente.com.br
Leonilson Carvalho Gomes
ricardo@revistanovoambiente.com.br
Tiago Casagrande Ramos
plos nacionais e experiências internacionais capazes de
leonilson@revistanovoambiente.com.br tiago@revistanovoambiente.com.br provar ser possível conciliar homem e meio ambiente,
Estanis Neto Leandro Dvorak
estanis@revistanovoambiente.com.br leandro@revistanovoambiente.com.br obras e aperfeiçoamento da nossa capacidade de cuidar
Marcelo Ferrari Oberti Pimentel
ferrari@revistanovoambiente.com.br oberti@revistanovoambiente.com.br dos complexos ambientais que Deus nos legou e que te-
ilustrações Webdesign mos a responsabilidade de gerir e preservar.
Fernando Beker Ronque
fernando@revistanovoambiente.com.br Desnudando estigmas ultrapassados, de que não se
conselho editorial coadunam desenvolvimento e preservação, nossas pági-
Dagoberto Rupp
dagoberto@revistanovoambiente.com.br
João Augusto Marassi
joao@revistanovoambiente.com.br
nas ficam facultadas aos homens e mulheres que acredi-
João Rodrigo Bilhan
rodrigo@revistanovoambiente.com.br
Fábio Eduardo C. de Abreu
fabio@revistanovoambiente.com.br
tam na capacidade de preparar caminhos para os nossos
Carlos Marassi Paulo Negreiros filhos e netos, que contemplem a beleza verde da paisa-
marassi@revistanovoambiente.com.br negreiros@revistanovoambiente.com.br
Paulo Roberto Luz Marilene Velasco gem com o conforto que a engenharia pode oferecer.
paulo@revistanovoambiente.com.br mara@revistanovoambiente.com.br
João Claudio Rupp Edemar Gregorio Fiel ao pensamento de que um desafio novo é como
joaoclaudio@revistanovoambiente.com.br edemar@revistanovoambiente.com.br
um novo amor que nos enche de energia, é hora de
Bem estar
Clau Chastalo Maria Telma da C. Lima manter a garrafa do ócio na adega da tranqüilidade, e
clau@revistanovoambiente.com.br telma@revistanovoambiente.com.br
Ana Cristina Karpovicz Paulo Fausto Rupp
preparar-se para o bom combate, certo de que o país e
cris@revistanovoambiente.com.br
Maria C. K. de Oliveira
paulofausto@revistanovoambiente.com.br
Dagoberto Rupp Filho
a sociedade só tem a ganhar com mais esta iniciativa.
maria@revistanovoambiente.com.br betinho@revistanovoambiente.com.br Desejo que você leitor, seja bem vindo a um novo equilí-
brio, bem vindo a um Novo Ambiente.

FSC Dagoberto Rupp

Artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da Revista, sendo de total responsabilidade do autor.

9 Junho - 2010
No meio
Postes geradores Movido a hidrogênio
Foto: Divulgação
Um poste de iluminação pú-
blica 100% alimentado por ener- A Universidade Federal do Rio de
gias eólica e solar. A invenção é Janeiro (UFRJ) acaba de lançar o pri-
de um engenheiro mecânico ce- meiro ônibus movido a hidrogênio
arense. O Produtor Independen- com tecnologia nacional, uma opção
te de Energia (PIE) é um poste ecologicamente correta, já que não
híbrido que capta energia solar emite gases poluentes. O ônibus ainda
e eólica e armazena em baterias apresenta custo de fabricação superior
com autonomia para 70 horas. aos similares tradicionais, problema
Segundo o inventor, Fernandes que pode ser solucionado a partir da
Ximenes, pode faltar vento e produção em escala, como apontou o
sol durante o período de uma coordenador do projeto, Paulo Emí-
semana, que ainda assim as lio Miranda, professor do Instituto de
lâmpadas continuarão ligadas. Engenharia da UFRJ. O projeto tem o
Além das vantagens ambientais apoio do centro de pesquisas da Petro-
e da economia para os cofres bras, e do governo carioca.
públicos, o engenheiro afirma
que o poste apresenta custos de
instalação 10% menores que os
convencionais, por economizar
em transmissão, ligação a su-
bestações e cabeamentos.

Mobilidade rodoviária sustentável

 Para a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixiera, a política econô-


mica adotada pelo Brasil para enfrentar a crise financeira, reduzindo o IPI
para a indústria automobilística, é um belo exemplo de como o desenvolvi-
mento pode causar impacto positivo sobre o meio ambiente. “Da crise se fez
uma oportunidade para renovar a frota brasileira de veículos. Agora temos
carros com tecnologia mais moderna circulando. Veículos com motores flex,
que permitem o consumo de biocombustíveis, como etanol e biodiesel, e
emitem menos poluentes”, disse Izabella durante a 10ª edição do Challenge
Bibendum, evento promovido pelo grupo francês Michelin no início deste
mês no Rio de Janeiro.  De acordo com a ministra, desde a instituição do Pro-
grama de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve)
pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) em 1986, as emissões
de veículos leves nas grandes cidades foram reduzidas, em média, 94%.
Foto: Elza Fiuza/ABr

Junho - 2010 10
Tinta ecológica no asfalto Sanear é preciso
   
Os 57 km do trecho sul do Rodoanel  foram demarcados Giovani Toledo, Gestor da Unidade de
com tinta ecológica.  À base de água, o material diminui em Negócios da Mizumo, empresa especializa-
até 85% a emissão de compostos orgânicos voláteis e con- da em sistemas compactos de tratamento de
tribui na redução, em  até 50%, do consumo de matrizes esgoto sanitário aponta que, com o advento
energéticas, como o petróleo, habitualmente utilizadas na da Copa do Mundo e das Olimpíadas, diver-
produção de tintas à base de solvente. No Brasil, outras ro- sas regiões que hoje possuem baixos índices
dovias já utilizam a tinta ecológica e em São Paulo, os cir- de saneamento básico vão receber empre-
cuitos da Fórmula 1 e Indy empregaram essa tecnologia em endimentos de saneamento básico e infra-
suas pistas. Nos Estados Unidos, a tinta à base de água é a estrutura de água e esgoto. “O Ministério do
escolhida pela NASA para sinalizar as pistas de pouso e de- Turismo anunciou, recentemente, a libera-
colagem de ônibus espaciais. ção de linha de crédito de R$ 1 bilhão para
o setor hoteleiro, seja para construção ou
reforma de estabelecimentos no País. A rea-
lização de investimentos nestas localidades
poderá mudar essa situação de forma bas-
tante significativa, não apenas pela ação pú-
blica em obras de grande porte, como pela
iniciativa de empresários e construtores ao
utilizarem estações de tratamento de es-
goto, que tem efeitos muito positivos para
a preservação de recursos hídricos e para o
setor de saneamento.”
Foto: Revista Novo Ambiente/Leonilson Gomes

Foto: Divulgação

Cidade sem carros


 Pode parecer novidade para muitos, mas para os habitantes do vilarejo
turístico ao sul da Suíça, Zermatt, a circulação de carros e veículos movidos
a combustíveis derivados do petróleo ou etanol é proibida desde 1947. Lá,
somente veículos elétricos sem motor de combustão podem rodar, ou os de
tração animal, como as charretes e carroças, que acabam integrando os atra-
tivos turísticos locais. A medida garante ar puro e limpo o ano todo, caracte-
rística inclusive ressaltada pelo portal oficial da cidade. Apesar da restrição,
existem amplas áreas para o estacionamento de veículos dos turistas, na re-
gião de Täsch, 5 quilômetros antes de Zermatt, com um total de 2.900 vagas
(2.000 para veículos de passeio e 900 para transportes públicos). Mais que
um estacionamento, trata-se de um terminal com táxis, e trens diários que
fazem a ligação até a vila que fica aos pés de uma das mais famosas monta-
nhas do planeta, o Matterhorn, cuja ilustração está presente na maioria das
embalagens de chocolate suíço. Um pequeno exemplo do cuidado ambiental
está nas mais de 12 nascentes presentes no entorno da cidade, com água
95% pura, atendendo, os requisitos para ser considerada água potável.
minas gerais Cidade Administrativa

Drummond
faria dela
uma
Poesia
Os ventos suaves, que depois de visitar os
cumes das montanhas de Minas Gerais,
sopram sobre a região metropolitana da
capital e conhecem um importante exemplo
de edificação em sintonia com a questão
ambiental. A Revista Novo Ambiente foi
conhecer a Cidade Administrativa, uma
expressão inteligente e criativa da engenharia
nacional, marco da gestão de Aécio Neves

Junho - 2010 12
A
lgumas expressões invadem nossos sen- das inúmeras ações de inteligência verde aplicadas
tidos de tal maneira que os colocam em na obra. Elas vão desde a preocupação com processos
alerta. Algumas sensações nos fazem tecnológicos inovadores para com o uso da água, até o
viajar por dias de paz. Poucas paisagens podem nos total reaproveitamento do lixo, passando pelo consu-
remeter ao equilíbrio do que é suntuoso com o que mo racional da energia necessária para conciliar os 16
é poético. A nova cidade administrativa, concentra mil funcionários que ali darão expediente.
mais do que o “staff” do governo de Minas Gerais, Estes conceitos, nasceram antes mesmo da obra
desenha pelas linhas finas de Oscar Niemayer, uma pronta. Quando de sua construção o complexo arqui-
nova concepção de engenharia em harmonia com o tetônico da Cidade Administrativa, seguiu ritos que
ambiente da capital mineira. garantiram o monitoramento da qualidade do ar, con-
Quem percorre parte de seus 270 mil m2 de área trole de ruídos, além do reaproveitamento e correta
construída, não tem como deixar de sentir algumas destinação dos resíduos sólidos das obras.

Foto: Revista Novo Ambiente/Leonilson Gomes


Fotos: Revista Novo Ambiente/Leonilson Gomes

Uso racional de energia


Dotados de sistemas inteligentes, todos os pré- Cerca de 70% do calor é bloqueado pelos vidros de
dios possuem controle de elevadores, lâmpadas e ar alto desempenho, além de permitir a utilização de luz
condicionados. Sensores fotossensíveis evitam des- natural nos ambientes de trabalho.
perdícios em ambientes vazios. Uma central que a Com um moderno sistema de esgotamento dos
partir da água gelada assegura mais de 8 mil toneladas banheiros, 85% de redução é conseguida. Os resíduos
de ar refrigerado por hora, e consome três vezes me- são depois de coletados encaminhados à Estação de
nos que os sistemas convencionais, além de não agre- Tratamento (ETE) do Córrego do Onça, localizado a
dir a camada de ozônio. 15 quilômetros de distância e já em operação.

Aproveitamento de água
A água das chuvas é direcionada para os dois
lagos artificiais construídos na área externa da Ci-
dade Administrativa. Isto possibilita irrigação dos
jardins e garante economia de até 300 mil litros
por dia. Associada a estas ações, a coleta seletiva
de lixo, amplia os aspectos positivos da obra.

Junho - 2010 14
Drummond gostaria
Olhando o gigantismo do empreendimento e a incessante
busca por equilíbrio ambiental, fica a impressão de que a terra de
Drummond encontrou um monumento capaz de atenuar o im-
pacto gerado no poeta ao relatar em versos o fim de sua monta-
nha de ferro nos poemas em que relata a saudade de sua Itabira.
Enquanto a expressão maior da sensibilidade mineira, des-
cansa imortalizada em uma estátua na praia carioca de Ipanema,
os mineiros calados e trabalhadores como sempre, vão edifican-
do novos tempos, equilibrando mais e melhores ambientes.

Áreas verdes

1 2

1 - Duas unidades ambientais estão em implantação próximas ao complexo: o Parque Esta-


dual Serra Verde e o Parque Linear do Córrego da Floresta, totalizando uma área protegida de
1,6 milhão de metros quadrados. O Serra Verde será o segundo maior parque da capital, com
espécies animais e vegetais e nascentes preservadas.

2 - No entorno dos prédios, foram plantadas 350 mil mudas de arbustos, árvores e flo-
res dos biomas brasileiros presentes em Minas: cerrado, campos de altitude, caatinga e 3
mata atlântica.

3 - O projeto paisagístico recuperou nascentes no terreno e revegetou encostas degradadas.


Essas áreas serão transformadas numa mata em que se destacam importantes exemplares
botânicos e que preservam o interesse ambiental, como jequitibás, perobas, sapucaias, braú-
nas e aroeiras.

4 - Uma alameda de palmeiras imperiais foi criada entre os prédios, fazendo uma alusão à
Alameda Travessia, localizada na praça. 4
15 Junho - 2010
Tocantins Aposta Verde

No coração
do Brasil
Junho - 2010 16
Foto: Revista Novo Ambiente/João Marassi

Tocantins, a mais jovem estrela pintada na bandeira brasileira, atinge sua


“maturidade” em 2010. Seu desenvolvimento econômico e social é visível
e rápido. Cravado quase ao centro de uma nação de grandes diferenças
geográficas, o Tocantins cresce promissor. A Revista Novo Ambiente, visitou
este lugar em formação e no caminho certo para garantir  qualidade de vida
para seus cidadãos. Lá, conhecemos importantes apostas na infraestrutura com
afinidade com meio ambiente

17 Junho - 2010
I
nstalado oficialmente em 1989 poucos meses instalação de um Pólo Regional de Desenvolvimento.
após a promulgação da Constituição de 1988, o Com ele, virão mais obras como um anel rodoviário
mais jovem membro da federação dos estados para interligar um pátio da ferrovia Norte-Sul com a
brasileiros ganha a cada ano mais atenção por parte de BR-153, agilizando carga e descarga e o escoamento
investidores e do próprio governo federal. de produção, e ainda a instalação de indústrias de cal-
Seu crescimento econômico com avanços em qua- çados e couro.
lidade de vida para a sociedade tocantinense se reflete Usinas para o processamento de produtos deriva-
em obras de grande magnitude, como a intervenção dos da cana-de-açúcar - como o álcool combustível - tam-
para recuperação da rodovia Belém-Brasília (BR-153), bém estão nos planos do Estado, e seus projetos já são
na construção da ferrovia Norte-Sul, além dos planos parte das obras da ferrovia Norte-Sul. Segundo o governo
de navegação fluvial no rio que dá nome ao Estado, o tocantinense e a construtora responsável pela empreita-
Tocantins e também no rio Araguaia. da, serão mais de 30 usinas ao longo da estrada de ferro.
Paralelamente a estas obras, projetos menores, Eis que surge a pergunta – com tanto progresso
mas não menos importantes, preveem intervenções em em andamento e adiante, que medidas os administra-
recursos hídricos para navegação e irrigação regional, dores públicos tocantinenses, ao lado do governo fe-
construção de eclusas (como a do Lajeado, próxima a deral, tem em mente para garantir que o meio ambien-
capital Palmas), pequenas centrais hidrelétricas, e ainda te do Estado, rico e raro em inúmeras características,
a exploração do enorme potencial mineral do Estado. sobreviva a tantas intervenções humanas?
A Revista Novo Ambiente esteve no Tocantins Algumas ações pontuais já podem servir de alívio
e constatou algumas destas visões do progresso na para tal receio e mostram que o setor público, institui-
região de Gurupi (sul do estado) e na própria capital ções de ensino e pesquisa, e comunidades locais, es-
Palmas. Em Gurupi, por exemplo, já está prevista a tão atentos e trabalhando juntos.

Foto: Revista Novo Ambiente/Alexsandro Hekavei

Junho - 2010 18
Foto: Revista Novo Ambiente/João Marassi

 No campo
Um projeto pioneiro do Tocantins, elaborado com de que o consumidor terá à disposição produtos dife-
apoio e pesquisa da Escola Superior de Agricultura renciados, mais limpos, com menor pegada de carbono
Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo e sem restrições ambientais”, finaliza.
(USP), que adotou a técnica de Integração Lavoura-Pe- O sistema, para o secretário estadual de agricultura
cuária (ILP). do Tocantins, Roberto Sahium, é considerado o mais vi-
Tal tecnologia, segundo dados da Esalq, é capaz ável para a recuperação de pastagens degradadas, áre-
de diminuir o nível de emissões de gases de efeito es- as que representam “cerca de 5 milhões de hectáres de
tufa por reduzir o desmatamento de novas áreas para terras”, segundo Sahium.
uso pecuário, aumentar a produtividade da terra e o o Para o chefe geral do Centro Nacional de Pesquisa
acúmulo de carbono no solo em relação ao Sistema de em Aquicultura e Sistemas Agrícolas (CNPASA), o pes-
Plantio Direto (SPD). quisador Homero Aidar – “pai” da integração lavoura-
O estudo, desenvolvido pelo engenheiro agrôno- -pecuária – esse modelo de produção já vem contribuin-
mo João Luiz Nunes Carvalho, da ESALQ-USP, aponta do para uma atitude mais sustentável no campo. “Os
os benefícios da ILP. “Na integração, há uma soma dos moldes antigos de pecuária, com grandes pastagens são
benefícios do plantio direto, somada aos pontos positi- uma desvantagem para as regiões que comportam esse
vos da pastagem, o que conduz a elevação do carbono modelo, pois não oferecem desenvolvimento social ne-
no solo e a redução drástica de emissão de gases”, ex- nhum, enquanto a integração de lavoura-pecuária traz
plica Carvalho. melhores condições ambientais e sociais para as comu-
“A ILP resulta em diversificação de atividades e ga- nidades que estão envolvidas. Nesse sentido, o Tocan-
rante renda o ano inteiro”, observa o pesquisador. “Na tins tem buscado expandir o uso de tecnologias social-
ponta da cadeia produtiva, haverá ainda o argumento mente justas e ambientalmente sustentáveis”, pontuou.

19 Junho - 2010
Foto: Site Governo do Tocantins

Agroextrativismo

Outra iniciativa bem sucedida e resultado de parceria


entre o governo do Estado, por meio da Secretaria da Agricul-
tura, Pecuária, e Abastecimento, do Instituto de Desenvolvi-
mento Rural – Ruraltins, e do governo federal, por meio do
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra,
está promovendo o agroextrativismo como forma de inclusão
social e econômica com sustentabilidade ambiental.
Para aproveitar o que há de melhor no cerrado em sin-
tonia com o meio ambiente, mulheres da Área de Proteção
Ambiental (APA) Cantão, de Caseara, comercializam óleos ve-
getais, cuja qualidade já “conquistou o interesse de empresas
nacionais e internacionais”, conta a chefe do escritório do Ru-
raltins em Caseara, Francisca Helena Roseno.
A ação, que começou com 3 comunidades da região, hoje
conta com 20 comunidades e beneficia quase 100 mulheres.
A Associação de Mulheres Extrativistas, da APA Cantão, extrai
óleos dos frutos do pequi, buriti, babaçu, bacaba, gergelim,
macaúba, tucum, baru, mamona e amendoim.

Tocantins aos 50
 As iniciativas citadas nesta reportagem integram “São 30 anos de desenvolvimento com ações que vão
ações mais abrangentes executadas pelo governo to- desencadear um processo de sustentabilidade econômi-
cantinense. Uma delas é o Projeto de Desenvolvimen- ca da região, melhorando a qualidade de vida da nossa
to Regional Sustentável (PDRS), que prevê a criação de população”, adiantou o vice-governador do Tocantins,
arranjos podutivos locais, e o fortalecimento de conse- Eduardo Machado, com exclusividade à Revista Novo
lhos e fóruns de desenvolvimento e preservação am- Ambiente.
biental. Para isso o PDRS conta com apoio “O Tocantins é um Estado novo e moderno, nas
financeiro do Banco Mundial, par- suas características de preservação ambiental e tam-
ceiro do Estado há 15 anos. bém de conceitos ambientais. Nós conseguimos pre-
 E como um “jovem” bem servar 62% de nossas matas nativas”, afirmou Eduardo
intencionado e responsável, o Machado. O plano, segundo o governo local, está em
Tocantins que já adentrou a sua fase final de elaboração e deve ser apresentado
maioridade, ultrapassando ainda em 2010.
os 21 anos de vida, tem vi- O Planejamento Estratégico pronto será uma vi-
são para sua maturidade são do Tocantins na maturidade de seus 50
já formatada por uma das anos, e o tempo dirá se este enérgico e jo-
mais importantes ferra- vial território continuará crescendo para
mentas de planejamen- tornar-se um adulto não apenas próspero
to atualmente sendo e rico, mas também dono de terras pre-
desenhadas no Estado: servadas, fauna e flora vivas em um meio
o Planejamento Estra- ambiente integrado e em harmonia com
tégico para as próxi- suas comunidades, em sinergia com uma
mas três décadas. infraestrutura sustentável.

Foto: Revista Novo Ambiente/Alexsandro Hekavei

Junho - 2010 20
capa Equilíbrio
Foto: Revista Novo Ambiente/Leonardo Pepi

Junho - 2010 22
O exemplo vem
de São Paulo
Baseado em um programa estratégico de 21 projetos, o Governo de São Paulo
adota uma postura madura para proteger e recuperar seu patrimônio natural
da degradação e surpreende pelos avanços. A consciência se dissemina e
os paulistanos vão além, criando alternativas e procurando, cada vez mais,
reformular hábitos nocivos, afinal, esta é uma batalha de todos

N
ão foi por acidente que São Paulo se trans- te dos países do mundo, inclusive europeus como a
formou no que é: o estado mais rico e po- Polônia, São Paulo, quem diria, tornou-se referência
puloso da Federação. A característica em- no trato ao meio ambiente. Hoje é, de longe, o Estado
preendedora do paulistano, que refletiu diretamente que mais investe em programas ambientais. “Gestão
nas políticas de desenvolvimento adotadas pelo Esta- ambiental no Estado de São Paulo é sinônimo de par-
do, é uma referência conhecida por todos. É um povo ticipação. Por intermédio de 21 Projetos Estratégicos,
que trabalha muito, produz muito e avança muito. Po- buscamos a sustentabilidade dos recursos naturais e a
rém, o custo para se tornar este gigante que comporta melhoria da qualidade de vida dos paulistas. Para tan-
uma das maiores megalópoles do planeta foi alto. Ao to, são envolvidos os 645 municípios do Estado, por in-
lado de conquistas tecnológicas imprescindíveis, de termédio do Projeto Município Verde Azul, entidades
referências da engenharia, da cultura e da ciência que ambientalistas, setores empresariais e assembléias
o fazem o pólo econômico do continente sulamerica- legislativa”, disse à Revista Novo Ambiente, o governa-
no, contrastam em cores desbotadas exemplos do um dor Alberto Goldman.
passivo ambiental alimentado por séculos de descaso Nesta edição você verá uma seqüência de maté-
com o patrimônio natural. Eram outros tempos, é ver- rias que mostram como São Paulo quebrou nos últi-
dade, nos quais existia uma certa “inocência” baseada mos anos, um paradigma secular que arremessou o Es-
em uma prática de vistas grossas. Jogar árvores para tado a uma delicada situação. A mudança veio do topo
debaixo do tapete era a forma mais fácil de domar a do ser humano e da política, ou seja, somou cérebro e
natureza, mas, como mostram os noticiários nacionais, a força do poder público para executar ações baseadas
essa foi uma ilusão nada doce. Poluição do ar e das em premissas e estratégias honestas (portanto, sem
águas, desmatamento, enchentes, desmoronamentos árvores para baixo do tapete). Mais importante que
e uma lista de problemas causados pelo desequilíbrio boas intenções, são os bons resultados que estão apa-
entre homem e meio ambiente. recendo com a rapidez que a demanda exige. Não há
Com a mesma determinação com que ergueu um mais tempo nem espaço para o velho ambiente e São
Estado com uma economia mais forte que grande par- Paulo sabe disso.

23 Junho - 2010
Capa Rodoanel

Do presente
para o futuro

Junho - 2010 24
As obras do trecho sul do Rodoanel apontaram holofotes sobre áreas
que recebiam pouca atenção do poder público até então. Além dos
cuidados ambientais inéditos utilizados em sua execução, o Rodoanel
pode servir para o congelamento da ocupação desordenada. Imagens
de satélites mostram um avanço rápido e impiedoso, nas últimas
décadas, de manchas urbanas sobre áreas de proteção ambiental e
mananciais que abastecem a capital e sua região metropolitana

Foto: Revista Novo Ambiente/Leonardo Pepi

25 Junho - 2010
I
magine um enorme caminhão de quatro ei-
É possível conciliar não só
xos. Agora, imagine 1000 caminhões de quatro obras e desenvolvimento
eixos. É algo tão descomunal que não cabe- econômico, mas também
ria em nosso campo de visão. Esse é o número que
o trecho sul do Rodoanel tirou, diariamente, da av.
sustentabilidade? Não só é
dos Bandeirantes apenas no horário de pico da tarde, possível, como é uma condição
segundo medições da Companhia de Engenharia de básica. Um princípio. Até
Tráfego (CET).
O levantamento (veja quadro) aponta para uma
porque se você não fizer isso,
redução generalizada de caminhões que antes atraves- amanhã a conta vem. Não há
savam a cidade, muitos deles por falta de uma via de como “enganar” a natureza,
acesso mais fácil ao Porto de Santos. O resultado mais
visível para quem passa pela Avenida dos Bandeiran-
porque cedo ou tarde ela
tes e pelas marginais Pinheiros e Tietê, é a fluência do responde.
trânsito, um número muito menor de congestiona- Alberto Goldman
mentos e menos fumaça preta, resultante da queima
Governador do Estado de São Paulo
de diesel. A redução da poluição e do desperdício de
combustível dos carros, que antes ficavam parados no
trânsito, são as consequências mais evidentes. Porém,
o Rodoanel mexeu definitivamente com toda a logís-
tica de transportes do Estado de São Paulo, e refletiu
diretamente na economia. Se o foco principal era su-
prir uma carência da infraestrutura paulista, por conse-
qüência de sua execução acabou por ser uma referên-
cia no que diz respeito ao meio ambiente.
Foto: Revista Novo Ambiente/Estanis Neto

Isso aconteceu não só porque as obras utilizaram


um dos maiores conjuntos de programas ambientais
do planeta em torno da construção de uma rodovia,
mas porque direta e indiretamente desencadeou uma
série de medidas compensatórias e preventivas que,
se bem conduzidas tal qual estão projetadas, poderão
trazer resultados duradouros.
O governador do Estado de São Paulo, Alberto
Goldman, faz uma pergunta ao repórter da Revista
Novo Ambiente: “É possível conciliar não só obras e
desenvolvimento econômico, mas também sustenta-
bilidade?”. O pragmatismo na resposta que ele rapida-
mente dá mostra uma evolução na consciência políti-
ca, necessária para que São Paulo tenha um bom pre-
sente e um futuro melhor: “Não só é possível, como é
uma condição básica. Um princípio. Até porque se você
não fizer isso, amanhã a conta vem. Não há como “en-
ganar” a natureza, porque cedo ou tarde ela respon-
de”, alerta Goldman.

Junho - 2010 26
Foto: Revista Novo Ambiente/Leonilson Gomes

Levantamento realizado pela Companhia


de Engenharia de Tráfego de São Paulo
Volume de Caminhões Horário Antes Depois Variação

Avenida dos Bandeirantes Pico Manhã 2.389 1.457 -39,01%


Avenida dos Bandeirantes Pico Tarde 2.852 1.389 -51,30%
Marginal Pinheiros Pico Manhã 4.714 3.610 -23,42%
Marginal Pinheiros Pico Tarde 4.821 3.216 -33,29%
Marginal Tietê Pico Manhã 10.006 8.825 -11,80%
Marginal Tietê Pico Tarde 8.032 7.480 -6,87%

Antes = média de contagens realizadas em junho/2008 e março/2010


Depois = média de contagens realizadas entre 7 e 23 de abril/2010

27 Junho - 2010
Ocupação irregular
Uma das principais preocupações levantadas por ambienta-
listas é que o Rodoanel induziria a ocupação em torno da rodovia,
estimulando a invasão de áreas de proteção ambiental, inclusive
mananciais, como as represas Billings e Guarapiranga, responsáveis
por 50% do abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo.
O secretário de transportes do Estado de São Paulo, Mauro Arce, ex-
plica à Revista Novo Ambiente que “se trata de uma rodovia chama-
da `classe zero´, ou seja, de alto padrão técnico, com velocidade má-
xima de 100 km/h e com controle total dos acessos, que são poucos,
o que contribui para inibir a ocupação de suas margens”.
Se analisado de uma outra perspectiva, o Rodoanel aponta para
uma solução, justamente para os temores apresentados: “Aquela re-
gião já estava sendo tomada por invasões, e, se não fossem as obras
do Rodoanel, em dez anos estaria toda ocupada de forma irregular. Foto: ASCOM
Agora você tem como limitador as duas pistas e a possibilidade de
fiscalização”, expõe Pedro Silva, diretor de engenharia da Dersa (De-
senvolvimento Rodoviário S.A.), empresa público-privada responsável
pela construção do Rodoanel.
Pedro aponta para outro prisma do dilema: a ocupação ordenada,
que não significa necessariamente presença física do homem no meio,
e sim a capacidade do Estado de fazer-se presente e controlar de perto
a proteção das áreas de preservação. Sem fiscalização, multiplicam-
-se as moradias à beira dos mananciais ou dentro da mata. Segue-se
a derrubada da mata para construção das casas e produção de lenha.
Sem policiamento, os “mateiros” (caçadores) agem impiedosamente
capturando a cada ano milhares de pássaros e outros animais da fauna
nativa, com armadilhas das mais sórdidas. Uma delas consiste em colo-
car fêmeas em gaiolas ao centro para que os machos se aproximem e
sejam capturados, quebrando, de forma cruel o ciclo do acasalamento
e da vida, levando as espécies à extinção.
É fato que as obras do Rodoanel, assim como qualquer outra, trou-
xeram impactos negativos à fauna em um primeiro instante, e que, em
alguns pontos talvez até de forma irreversível, mas, hoje, desempenha
uma tarefa fundamental de aproximação dos órgãos de fiscalização
a uma distância eficaz e relativamente segura para a fauna e a flora.
O Rodoanel pode ser usado como um forte indutor do congelamento
e, quiçá, o recuo da ocupação em torno de áreas de proteção.

Se trata de uma rodovia chamada “classe


Foto: Revista Novo Ambiente/Marcelo Almeida

zero”, ou seja, de alto padrão técnico, com


velocidade máxima de 100 km/h
e com controle total dos acessos, que são
poucos, o que contribui para inibir
a ocupação de suas margens.
Mauro Arce
Secretário de transportes do Estado de São Paulo

Junho - 2010 28
VOCÊ PODE FAZER MUITO PELO NOSSO PLANETA
Na Estre Ambiental, a sustentabilidade é alcançada com a segurança de seus processos

MEIO
de gerenciamento e destinação final de resíduos, com a busca de novas tecnologias que SEMANA DO
ajudem a reduzir o impacto das ações do homem na natureza. Esse é o caso da
transformação dos resíduos em matérias-primas para a geração de energia.

2010
Além disso, a Estre realiza um importante trabalho de reflorestamento urbano e de
educação ambiental que tem foco na mudança da consciência coletiva para atingir a

AMBIENTE
interação das novas gerações com as necessidades do nosso planeta.
Pessoas, empresas e governos precisam fazer a sua parte na proteção de nosso planeta.
Precisamos reutilizar, recuperar, reciclar e mudar nossos padrões de consumo.
Se cada um de nós fizer sua parte nosso planeta será sustentável e construiremos um
mundo melhor para esta e para as próximas gerações.
O MEIO AMBIENTE AGRADECE.

Trabalhando para Tornar o mundo susTenTável


EMPRESAS ESTRE

Responsabilidade em Soluções Ambientais


RESICONTROL
Soluções Ambientais
Proteção, na prática
No que se refere ao aparelhamento ambiental para a
preservação às áreas naturais remanescentes, o Rodoa-
nel, trouxe muito mais benefícios em medidas compensa-
tórias do que se ela ficasse “intocável” às mãos do Estado.
Foi possível que o meio ambiente tivesse um poder
de barganha maior do que em qualquer outra grande
obra até então. Quatro unidades de conservação serão
criadas no município de São Paulo com função compen-
satória: do Itaim, do Jaceguava, de Varginha e do Bororé
e ainda quatro novos parques que totalizam aproxima-
damente 500 hectares ao longo do traçado do trecho sul.
“São Paulo jamais criaria grande parte destas unidades de
conservação e parques se não existissem estas obras do
Rodoanel” diz Pedro Silva, que ainda cita o plantio com-
pensatório de quase cinco vezes a área que foi suprimi-
da, a criação da maior agência ambiental de São Paulo no
Embu, que será inaugurada neste mês de junho, e a ins-
trumentalização da polícia ambiental, que irá operar em
várias bases nas áreas ambientais criadas. Ao todo são
26 programas ambientais.

Foto: Revista Novo Ambiente/Juliano Grosco


São Paulo jamais criaria grande
parte destas unidades de
conservação e parques se não
existissem estas obras do Rodoanel.
Pedro Silva
Diretor de engenharia da DERSA

Legado intangível
Uma estratégia muito inteligente da Dersa no acompanhamento das
ações ambientais foi a adoção de um sistema de fiscalização dos pas-
sivos ambientais mês a mês. Vários aspectos de cada lote de obras
eram vistoriados e bastava que um deles não estivesse de acordo
com as normas ambientais, para a empresa responsável pela obra
não receber o pagamento pela sua medição. “Assim é mais fácil até
para as empresas corrigirem pequenas falhas, se deixassemos para
verificar tudo depois da obra pronta, poderiam existir passivos ir-
reparáveis” explica Pedro Silva. Este método, bem como o conheci-
mento ambiental levado por meio de oficinas e cursos aos operários
que construíram o Rodoanel, podem ser levados a outras obras, e
quem sabe ter desempenhos futuros ainda melhores, baseados nos
avanços conquistados pela maior obra viária do Brasil.

31 Junho - 2010
CAPA Parque Linear

À várzea
com carinho
São Paulo está construindo o maior parque linear do mundo com 75 quilômetros
de extensão ligando oito municípios do Alto Tietê. É um marco ambiental para
aproximar pessoas da natureza e conservar os ecossistemas do Tietê que receberá
investimentos de R$ 1,7 bilhão do governo estadual

Junho - 2010 32
E
mpenhado em grandes projetos ambientais,
O Parque vai trazer São Paulo está deixando a fama de maior
melhorias urbanas poluidor do país para se tornar referência de
desenvolvimento sustentável para todo o Brasil. A dife-
e ambientais, rença de postura diante da natureza é notável, em es-
controle de pecial no que se refere a áreas de proteção ambiental.
enchentes, Um bom exemplo disso é o Parque Várzeas do Tietê, que
começou a ser construído em julho do ano passado.
moradias dignas e
Trata-se do maior parque linear do planeta, com 75
seguras e criação quilômetros de extensão e 107 mil quilômetros qua-
de opções de lazer, drados de área, no qual o governo do Estado pretende
cultura e turismo. investir cerca de R$ 1,7 bilhão. O Parque Várzeas do Tie-
tê vai ligar o Parque Ecológico do Tietê, na zona leste de
São Paulo, ao Parque Nascentes do Tietê, em Salesópolis,
por meio da Via Parque, conjunto de ciclovia e estrada de
230 km, integrando os oito municípios do Alto Tietê.
Considerada uma das maiores obras ambientais e
também de integração social do governo Serra, o Vár-
Dilma Pena zeas do Tietê sintetiza a preocupação de regenerar o
secretária de Saneamento e Energia meio ambiente em benefício do bem estar humano.
do Estado de São Paulo “O Parque vai trazer melhorias urbanas e ambientais, con-
trole de enchentes, moradias dignas e seguras e criação de
opções de lazer, cultura e turismo”, aponta Dilma Pena, se-
cretária de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo.

33 Junho - 2010
Foto: Revista Novo Ambiente/Leonardo Pepi

Lazer e natureza
Em março deste ano aconteceu a inauguração do
primeiro núcleo, em Jacuí, no município de São Paulo.
A obra foi executada pela Dersa, como compensação
ambiental da Nova Marginal, ampliação da Marginal
do Tietê na capital. As obras do primeiro trecho da Via Em março deste ano aconteceu
Parque, da Penha ao Trevo de Pimentas, de 25 km, tam-
bém em execução como compensação da Marginal, de-
a inauguração do primeiro
vem estar prontas em agosto. núcleo, em Jacuí, no município
Serão plantadas 63 mil árvores e implantados de São Paulo. A obra foi
33 centros de lazer, esporte e cultura ao longo do par- executada pela Dersa, como
que, um empreendimento que beneficiará diretamen-
te 3 milhões de pessoas da Zona Leste da capital e dos compensação ambiental
municípios da bacia do Alto Tietê: São Paulo, Guaru- da Nova Marginal, ampliação
lhos, Itaquaquecetuba, Poá, Suzano, Mogi das Cruzes, da Marginal do Tietê na capital.
Biritiba Mirim e Salesópolis.
A ciclovia e Via Parque darão acesso aos núcleos,
que terão ao todo 77 campos de futebol e 129 quadras
poliesportivas. Com o Parque, haverá melhorias am-
bientais e urbanísticas em a toda a região. Deverão ser
reassentadas 7.500 famílias, que contarão com mora-
dias dignas e seguras o mais próximo possível de suas
casas atuais.

Primeiro núcleo inaugurado em Jacuí

Junho - 2010 34
Ilustrações do projeto do Parque Várzeas do Tietê

À várzea o que é da várzea


Recuperar as várzeas é o objetivo principal do parque, A criação de áreas verdes e parques é a forma cor-
que vai devolver ao rio o chamado leito maior, área que reta de cuidar dos rios, observa a secretária, que cita
ocupa naturalmente durante as cheias. Nessas áreas se- como exemplo o Parque Ecológico Tietê, um enorme
rão construídos campos de futebol e quadras esportivas, piscinão natural contendo as águas durante as grandes
que poderão ser alagadas sem maiores prejuízos. “A recu- chuvas como as do ano passado e início deste. “Não
peração das várzeas de um rio melhora muito as condi- se distingue mais o leito menor do rio do leito maior:
ções de retenção de águas em época de chuvas fortes na ali virou um grande lago, mas isso é o correto – o rio
cabeceira”, ressalta Dilma Pena. “Isso melhora o tempo tomou sua área de várzea”, diz a secretária. Criado em
de permanência das águas na cabeceira em torno de 1976 e inaugurado em 1982, em área de 12 milhões
60%”, acrescenta. Em cada margem do rio, serão preser- de m2, o Parque Ecológico será incorporado ao Parque
vados em média 50 metros. Várzeas do Tietê.

35 Junho - 2010
CAPA Pelas Águas

Navegando pelo
Hidroanel

Junho - 2010 36
Quando a primeira canoa da história humana foi construída e colocada na
água para servir de transporte, seu autor não imaginava onde aquilo iria
chegar de verdade. Mesmo porque sua compreensão de mundo estava
muito limitada a uma determinada região, e foi justamente para transpor
este limite geográfico que ele inventou uma forma de navegar sobre as
águas. Não sabemos que fim teve nosso ilustre desconhecido, perdido em
algum lugar de um passado de milhares de anos, ou mesmo se sua aventura
inédita deu certo, mas o fato é que dali em diante, passamos a interagir de
forma racional com a força das águas, decobrimos outros continentes e os
desbravamos utilizando rios, criando um mundo no qual 90% de todas as
cargas é transportado pelo meio aquaviário

37 Junho - 2010
A
pós um período de anel de São Paulo, um círculo de
febre rodoviarista no águas navegáveis formado pelos
país, que relegou ao rios Tietê e Pinheiros que pode
segundo plano todos os outros revolucionar o transporte metro-
modais de transporte que não fos- politano, reduzindo emissões de
sem as rodovias, o Estado de São gases causadores do efeito estufa
Paulo estuda uma ideia ousada e custos operacionais, dando uma
que nunca esteve em melhor mo- folga surpreendente ao trânsito
mento para se realizar: o Hidro- paulistano.

Foto: Revista Novo Ambiente/Leonardo Pepi

Junho - 2010 38
“São Paulo é quase uma ilha”
Em 2008, o Departamento Hi- transportados por caminhões den-
droviário do Estado de São Paulo tro da área urbana.
realizou um inventário sobre estu- “Contabilizamos 111 milhões
dos hidroviários em torno da capi- de toneladas de materiais de cons-
tal. Foram levantados 67 estudos trução transportados por ano, só
realizados ao longo do último sécu- na construção civil, que é uma pe-
lo, dos quais 14 foram selecionados quena parcela das cargas. Mais
e apresentados em um seminário que o Porto de Santos, o maior do
que teve a participação de 16 ór- Brasil, por onde passam 83 milhões
gãos (11 do governo e 5 do muni- de toneladas. Isso equivale a 26 mil
cípio) que discutiram a criação de viagens de caminhão por dia, o que
um hidroanel metropolitano de representa 500 quilômetros de ca-
cerca de 200 quilômetros que con- minhões em fila. No total são mais
torna São Paulo. de 400 mil toneladas em viagens
A exemplo de cidades como de cargas por dia, movimentando
Paris, o foco principal do novo mo- 1 bilhão de toneladas que tem ori-
dal é o transporte daquilo que é gem e/ou destino na Região Me-
produzido e /ou consumido dentro tropolitana de São Paulo”, explica
da própria Região Metropolitana Frederico Bussinger, diretor do De-
de São Paulo (RMSP), em especial partamento Hidroviário da Secre-
alimentos, insumos da construção taria de Transportes do Estado de
civil e detritos, que atualmente são São Paulo.

39 Junho - 2010
“Ao olhar o conjunto do rio Tie- do Paranaíba e a barragem da Pe-
tê, rio Pinheiros e represa Biilings é nha, com lâmina d´água mínima de
possível ver que São Paulo é qua- 2 metros e um vão de 20 metros
se uma ilha, o que é uma surpresa que permite a navegação em mão e
para muita gente. Com a construção contramão. O Departamento Hidro-
de um canal de 25, 30 quilômetros viário trabalha na extensão de mais
podemos compor um hidroanel de 14 quilômetros, em fase de conclu-
quase 200 quilômetros, que é uma são do projeto executivo para a im-
extensão próxima à do Rodoanel”, plantação de uma eclusa e também
aponta Bussinger. de um novo lago que deve servir de
Nas últimas duas décadas bons piscinão de contenção das águas da
investimentos na construção de ca- chuva, considerado por Bussinger a
lhas deixaram 41 quilômetros favo- primeira grande defesa de São Paulo,
ráveis à navegação entre Santana já que fica à montante da capital.

Baixas emissões
A Lei de Mudanças Climáticas Se tirarmos 26 mil caminhões por
de São Paulo prevê a redução de dia das vias paulistanas, o efeito
20% dos gases que causam o efeito será muito positivo para o trânsito
estufa até 2020, tomando por base e para o meio ambiente, basta ver
o ano de 2005. Para Frederico Bus- o que aconteceu com a inaugura-
singer, sem que haja uma profunda ção do Rodoanel Sul, foi um impac-
transformação na matriz de trans- to visível de um mês para o outro.
portes essa meta será inatingível, Porém, o Rodoanel foi feito com a
já que o transporte é responsável intenção de desviar o trânsito que
por 48% das emissões. Cerca de apenas cruzava São Paulo. As car-
90% de todo o transporte realizado gas que tem origem e/ou destino a
na capital é feito sobre rodas. RMSP o Rodoanel não foram previs-
“A hidrovia é um aliado do meio tas porque não foi concebido para
ambiente, pois é o modal de trans- este fim.” Aponta o diretor do De-
porte mais natural que se pode ter. partamento Hidroviário.”

Junho - 2010 40
Integração trimodal
Quando são sobrepostos os forma que, por meio de licitação,
projetos do Hidroanel, do Ferroa- foi contratado em abril o estudo de
nel e do Rodoanel, é possível iden- pré-viabilidade técnica do Hidroa-
tificar três pontos de convergência nel e a empresa contratada tem 7
que permitem a integração trimo- meses para entregar os resultados.
dal, um privilégio a 700 metros do No entanto medidas pontuais já
nível do mar. No entanto os estu- estão em andamento, que, por fim,
dos indicam uma área de quase acabam por ajudar a construção do
4 milhões de metros quadrados anel de navegação, que vai devol-
para a construção do Centro de ver o mais antigo meio de trans-
Abastecimento da RMSP. Ela é for- porte aos paulistanos. “Podemos
mada por uma lagoa profunda, re- dizer que o Hidroanel já está em
manescente dos areeiros, próxima execução e está em estudo, e não
à castelo Branco, Avenida dos Auto- há contradição entre as duas coi-
nomistas, o rio Tietê, o Rodoanel e sas”, conclui Bussinger.
a ferrovia. Realmente uma área com
um incrível potencial logístico.
Frederico Bussinger aponta al-
gumas vantagens do local: “22% das
cargas do CEASA vem do Alto Tietê,
de uma região chamada Cinturão
Verde. Os outros 68% vêm de um
cone formado pela Castelo Branco
e a Regis Bittencourt que vai à Curi-
tiba. Essas cargas poderão chegar
a este ponto de uma forma muito
mais fácil. No caso das estradas,
sem entrar na Região Metropoli-
tana. E no caso das cargas do Alto
Tietê, vindo por meio de navega-
ção”, diz o diretor que também in-

Ferrovia
Contorno Ferroanel
Contorno Rodoanel
Contorno Hidroanel

43 Junho - 2010
capa Serra do Mar

A ocupação humana é
uma questão de
Estado

Junho - 2010 44
Foto: Revista Novo Ambiente/Paulo Negreiros

As disparidades na ocupação humana são tão antigas quanto as


primeiras tribos, porém, nunca foi um problema tão alarmante.
O planeta cresce, os grandes centros incham e as ocupações
irregulares avançam sobre áreas de preservação ambiental. O
Estado mais populoso do país tem enfrentado com consistentes
resultados o desafio de remanejar pessoas para preservá-las e
preservar a natureza

45 Junho - 2010
N
o início do século passado cipalmente em regiões litorâneas, avan-
éramos pouco mais de 1,5 çando sobre as matas e encostas, o que
bilhão de humanos circu- muitas vezes acaba por transformar-se
lando sobre a face da Terra. O mundo em sérios problemas sócio-ambientais.
parecia maior, com distâncias e recursos As imagens das enchentes vistas no
intermináveis. Em 2010, este número verão deste ano mostram um país no
ficou 4 vezes maior, somos quase 7 bi- qual boa parte de sua população está
lhões e com tendências de grande cres- disposta em locais vulneráveis, ao mes-
cimento por várias décadas. O planeta mo tempo em que, com os impactos
parece suportar bem estes números, no (esgoto, desmatamento e afunilamento
entanto o maior problema da ocupação dos rios) que geram, contribuem para
humana é que ela está muito concen- os estragos. O homem está em risco.
trada, e geralmente desordenada, prin- A natureza está em risco.

O mais populoso
São Paulo, o Estado mais populo- cional e Urbano (CDHU) do Estado de
so do Brasil, naturalmente vive este São Paulo iniciou as operações de um
dilema mas tem tratado o processo projeto que vai trazer impactos po-
de regularização das ocupações de sitivos de uma consistência inédita.
forma séria. Em obras urbanas, É o Programa de Recuperação Sócio
como o Complexo Jacu-Pêsse- Ambiental da Serra do Mar Cerca de 5
go e o Rodoanel, milhares de mil famílias que ocupam áreas irregu-
famílias foram retiradas de lares e de risco na Mata Atlântica se-
regiões de alto risco (como rão removidas do Parque Estadual da
aterros sobre lixões) e fo- Serra do Mar para conjuntos habita-
ram instaladas em locais cionais em condomínio fechado, com
com condições sociais fácil acesso às escolas, postos de saú-
muito mais favoráveis. de, transporte público e comércio.
A Companhia de De- A desocupação começou em março
senvolvimento habita- deste ano .

Ocupação irregular
Com a construção das rodovias
Anchieta e Imigrantes, a partir da dé-
cada de 1940, as primeiras famílias
de trabalhadores foram alocadas no
Município de Cubatão, na região hoje
Caesalpinia peltophoroides, ou Sibipiruna, nativa da Mata Atlântica conhecida como “bairros-cota”, Os
próprios operários que construíram
a rodovia começaram a se instalar às
suas margens formando os primeiros
aglomerados que se espalharam rapi-
damente pela mata e nas regiões de
encostas, principalmente no municí-
pio de Cubatão onde a pressão sobre
áreas de preservação ambiental é
mais grave, registrando 9 núcleos de
ocupação irregular.
Parque da Serra do Mar
O Parque Estadual da Serra do Mar foi criado em bioma de Mata Atlântica no Estado, seriamente amea-
1977, e é a maior unidade de conservação e de proteção çado de extinção. Segundo a coordenação do Programa
da Mata Atlântica e o maior corredor biológico do país. Serra do Mar, a floresta exerce influência direta na vida de
São 315 mil hectáres no Estado, ao longo de 23 muni- mais de 80% da população que vive em seus domínios,
cípios no litoral e no planalto. A ação da CDHU iniciou- agindo sobre toda a cidade de São Paulo e sua região me-
-se com o mapeamento das áreas de risco pelo Instituto tropolitana (cerca de 18 milhões de habitantes) e sobre a
de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e o “congelamento” das Baixada Santista (3,2 milhões de habitantes).
ocupações das áreas em questão, quando a polícia am- Simultaneamente à transferência das famílias para
biental impediu novas ocupações. novas residências, seguras e com infraestrutura com-
Entre outros atributos importantes, a Serra do Mar pleta, o governo começou o processo de regeneração
serve para equilibrar o clima de sua grande área de influ- das áreas afetadas da Mata Atlântica. Inicialmente cer-
ência, além de fornecer preciosos mananciais que abas- ca de 50 espécies nativas serão cuidadosamente im-
tecem milhões de pessoas, principalmente na baixada plantadas, como cedro-rosa, manacá-da-serra, aroeira,
santista, com as águas que vertem de suas entranhas. A jatobá e pitanga. O governo de São Paulo pretende in-
serra abriga grande parte dos últimos remanescentes do vestir R$ 850 milhões no Projeto Serra do Mar.

Devolvendo à natureza
Simultaneamente à transferência das famílias para novas residências, seguras e com infraestrutura com-
pleta, o governo começou o processo de regeneração das áreas afetadas da Mata Atlântica. Inicialmente
cerca de 50 espécies nativas serão cuidadosamente implantadas, como cedro-rosa, manacá-da-serra, aroei-
ra, jatobá e pitanga. O governo de São Paulo pretende investir R$ 850 milhões no Projeto Serra do Mar.

47 Junho - 2010
capa Obra Ecológica

Imigrantes
a semente de novos conceitos
Fotos: ASCOM/Ecovias

Rodar por ela transmite quase uma sensação de voo. Paisagens que de outra
maneira poderiam não mais existir, registram nas retinas dos usuários um
compromisso ambiental exercido por quem “plantou” além de viadutos, um
novo conceito rodoviário nas terras brasileiras

49 Junho - 2010
A
imagem das duas pis-
tas da Rodovia dos Imi-
Uma das mais conhecidas do Brasil, a grantes se cruzando
sobre a copa das árvores pode ser
“Imigrantes”, configurou-se em dois considerada um dos símbolos do
momentos históricos muito distintos, Estado de São Paulo. Uma das mais
como um símbolo da capacidade de conhecidas do Brasil, a “Imigran-
tes”, configurou-se em dois mo-
superação da engenharia nacional. mentos históricos muito distintos,
Especificamente na última de suas como um símbolo da capacidade
transformações, a construção de de superação da engenharia nacio-
nal. Especificamente na última de
sua pista descendente, ela passou suas transformações, a construção
a figurar na história das grandes de sua pista descendente, ela pas-
obras brasileiras, como marco de sou a figurar na história das grandes
obras brasileiras, como marco de
consciência e respeito ecológicos. consciência e respeito ecológicos.
Um dos mais importantes e
complexos projetos de engenharia
rodoviária realizado neste início de
século na América do Sul, ela foi
inaugurada em 17 de dezembro de
2002. Por quatro anos e três me-
ses, mais de 4.500 homens e mu-
lheres trabalharam 24 horas por
dia para entregar a obra cinco me-
ses antes do prazo contratual. Um
feito impressionante não só por
suas arrojadas e inéditas soluções
tecnológicas, mas igualmente pe-
las sofisticadas práticas de gestão
ambiental empregadas para prote-
ger a Mata Atlântica, a segunda flo-
resta mais ameaçada do planeta.
Oficialmente, a “Imigrantes”, como
é popularmente chamada, inicia-se
na região de planalto, no km 41 da
rodovia existente desde 1976, pró-
ximo à interligação com a Via An-
chieta. São mais de 23 quilômetros
que vencem o declive de 730 me-
tros da Serra do Mar, até o km 62,
nos mangues da Baixada Santista.

Junho - 2010 50
Túneis ao invés da supressão
O projeto original, de 1986, foi modificado para tados especialmente para a obra. São máquinas de esca-
atender a todas as exigências ambientais. Duas altera- vação que se locomovem sobre pneus e possuem quatro
ções fundamentais foram propostas. A primeira delas, “braços”: três perfuratrizes e uma caçamba de serviço.
ter a maior parte possível do trajeto por túneis, que re- A atuação dos jumbos foi uma verdadeira operação
duzem a necessidade de supressão vegetal. A segunda, de guerra. Para cada 480 metros cúbicos de rocha remo-
ampliar ao máximo as distâncias entre os pilares dos vidos empregavam-se mil quilos de explosivos. O material
viadutos, também pelo mesmo motivo. era introduzido na rocha com base no “plano de fogo”, um
Isto significou construir três túneis, utilizando o méto- mapeamento prévio feito pelos técnicos e gravado em dis-
do construtivo NATM (New Austrian Tunneling Method), quete. As informações eram interpretadas pelo computa-
a mais confiável técnica para as condições geológicas da dor do equipamento, orientando o trabalho do operador.
Serra do Mar. Para tal, quatro equipamentos de perfura- O posicionamento das máquinas no interior dos túneis era
ção informatizados – os chamados jumbos – foram impor- feito com o auxílio de raios laser.

Túneis monitorados
Cada um dos túneis possui três faixas de rolamen-
to, uma faixa de segurança, e cerca de 11 metros de
altura em média. Todos são dotados de baias de emer-
Quando um veículo para dentro
gência, com 60 metros de comprimento, planejadas de qualquer um dos túneis da nova
para receber qualquer tipo de veículo em pane, sem Imigrantes, Sensores de Detecção
prejudicar o fluxo do tráfego. Ao todo, são oito baias,
ou uma a cada quilômetro, aproximadamente. Eles
Automática de Incidentes captam as
também contam com sensores de detecção automá- imagens do veículo,
tica de incidentes e câmeras a cada 100 metros, que e as retransmitem para uma
ajudam a monitorar o tráfego e proporcionam maior
agilidade no atendimento em caso de acidente.
tela no Centro de Controle
Quando um veículo pára dentro de qualquer um Operacional (CCO).
dos túneis da nova Imigrantes, Sensores de Detecção
Automática de Incidentes captam as imagens do veícu-
lo, e as retransmitem para uma tela no Centro de Con-
trole Operacional (CCO). Simultaneamente, um alarme
sonoro é disparado. Essa tecnologia permite que os
operadores visualizem o problema e acionem o veícu-
lo de inspeção mais próximo. Os túneis também con-
tam com sistema de ventilação automático, acionado
quando são detectados níveis elevados de fumaça,
além de iluminação especial, devido a sua extensão,
para adaptar a visão do motorista, quando ele passa
para o ambiente interno, além de um sistema de dre-
nagem de líquidos tóxicos para evitar contaminação
do lençol freático em caso de acidentes.

51 Junho - 2010
Viadutos

A Pista Descendente tem mais de 4 quilômetros de pela primeira vez usada em descendente no Brasil – e
viadutos, a maior parte deles no trecho de serra. O pla- no VD 10, em curva. Os tabuleiros desses viadutos fo-
nejamento logístico para sua construção foi elaborado ram concretados em fôrmas especiais, em peças com 25
com o propósito de reduzir a necessidade de abrir tri- metros de comprimento e 600 toneladas de peso, apro-
lhas e clareiras na mata. Homens, equipamentos e ma- ximadamente. As peças eram então“deslizadas” sobre
teriais foram transportados por guindastes (gruas) até o os pilares com auxílio de macacos hidráulicos (importa-
local onde seriam construídos os pilares. Nada ao redor dos exclusivamente para a obra), uma após outra, até
era afetado, daí a percepção de que os pilares brotavam que todo o viaduto se completasse. Os demais viadutos
em meio à vegetação. foram construídos com a técnica de vigas lançadas.
A escolha de três tecnologias construtivas foram Em todo o projeto, usou-se pavimento rígido de
fundamentais para preservar o meio ambiente, e contri- concreto, de maior resistência ao desgaste em relação
buíram também para agilizar a obra e ainda aumentar o ao pavimento flexível asfaltico, o que reduz a necessi-
conforto dos usuários. A dos “balanços sucessivos” con- dade de manutenção, e consequentemente, de obras
siste em iniciar o fechamento dos vãos a partir do pilar, que prejudicam o tráfego. O concreto ainda possui me-
em etapas. A cada trecho concretado, as formas são po- lhor aderência, e sua cor mais clara, permite maior am-
sicionadas mais à frente e assim sucessivamente, até a plitude visual. Para executar a obra, a concessionária
união com o tabuleiro, no centro do vão. Como não há Ecovias contou com a experiência do “Consórcio Imi-
emendas ou juntas de dilatação, a tecnologia aumenta o grantes”, formado pelas construtoras CR Almeida, do
conforto da viagem. Esta tecnologia foi usada nos viadu- Brasil, e a Impregilo, da Itália. A construção do Viadu-
tos descendentes (VD) 1, 2 e 3, parte do VD 4 e no VD 7 – to Estaiado e da ponte sobre o Rio Laranjeiras ficou a
o mais extenso deles, com 1.225 metros. Nos viadutos 8 cargo da EBEC – Engenharia Brasileira de Construções,
e 10, foi empregada a tecnologia de “ponte empurrada”, também do grupo CR Almeida.

O planejamento logístico para sua


construção foi elaborado com o propósito
de reduzir a necessidade de abrir trilhas e
clareiras na mata.

Junho - 2010 52
Modelo de gestão ambiental

A obra de construção da pista Sul foi considerada


modelo de gestão ambiental por técnicos do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) e obra de
referência  para a engenharia brasileira. Isso porque,
além de dispositivos que evitam a contaminação do
lençol freático em casos de acidentes, a nova pista foi
construída com o mínimo de impacto ambiental. Com
a obra da segunda pista, a ECOVIAS conseguiu reduzir
em 40 vezes a área desmatada (de 1600 hectares para
40 hectares de mata atingida), se comparada à cons-
trução da primeira pista da rodovia dos Imigrantes, na
década de 70. Ainda assim, para cada árvore retirada
da Mata Atlântica, outras dez foram replantadas.

Padrão internacional
Com a nova pista da Imigrantes em plena operação, usuários. Uma nova experiência em termos de condu-
os motoristas passaram a ter acesso a um novo padrão ção, que reduziu o tempo de viagem entre São Paulo e
de rodovia, já testado em países europeus, como Ingla- a Baixada Santista em cerca de 45%, e contribuiu para o
terra e Suíça, que se baseia na utilização de avançadas aumento considerável do turismo e consequentemente
tecnologias para dar mais conforto e segurança a seus do desenvolvimento econômico da região.

53 Junho - 2010
capa Pelo Ar

Segurança
e respeito

Junho - 2010 54
Iniciativas do Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (DAESP) demons-
tram como uma nova arquitetura ambiental de operações pode, com bastante su-
cesso, diminuir ou até mesmo eliminar os conflitos entre as atividades humanas e
o ritmo da natureza. O “Monitoramento da Fauna Silvestre”, um procedimento de
segurança para pessoas e bichos, já está em funcionamento no Aeroporto de Jun-
diaí e será implantado em todos os aeroportos do Estado de São Paulo 

A
fivelar o cinto, posicionar o encosto da pol- almente este é um dos melhores em que já voei. É bas-
trona na vertical e certificar-se de que a pe- tante seguro”.  Provavelmente durante uma viagem de
quena mesa à sua frente, no exíguo espaço avião, este é um dos comentários mais comuns que se
que você tem disponível, está travada. Momentos an- pode ouvir entre as fileiras de poltronas. Um aspecto
tes da aeronave começar sua carreira para as nuvens, fundamental da segurança aeroportuária, no entanto,
um breve comentário entre experientes passageiros, passa despercebido até entre os viajantes com maior
sobre as características do “equipamento” que abriga quantidade de horas de voo: o espaço que serve de ni-
em seu bojo, diferentes compromissos e histórias. “Re- nho para os grandes pássaros de metal.

Foto: Revista Novo Ambiente/Oberti Pimentel

55 Junho - 2010
Obviamente um aeroporto em boas condições de-
tém uma parcela inquestionável no sucesso das ope-
rações de um dos mais seguros meios de transporte já
A operação de um aeroporto inventado pelo homem. Porém, as tais condições não
está inserida dentro de uma se restringem apenas à manutenção da pista, à roçada
da vegetação ou à iluminação. O livre trânsito de pas-
conjunção de fatores, inclusive sageiros também depende do acompanhamento mi-
sociais, portanto está sujeita nucioso das movimentações e hábitos de espécies que
não só às interferências possam inadvertidamente causar situações que ofe-
reçam riscos à segurança dos que em meio à correria
naturais, como também às diária, precisam voar. Neste rol, pode-se citar desde os
provocadas pelo homem. emplumados inspiradores de Ìcaro, aos pequenos ro-
A questão ambiental, sob o edores, mamíferos e até mesmo répteis, que como se
sabe, ignoram nossas regras e desconhecem os limites
nosso ponto de vista, também que inventamos. Para esta nada fácil tarefa, a ASAM (As-
engloba o contexto e as sessoria Ambiental do DAESP), em parceria com a UNI-
interações da população que CAMP (Universidade de Campinas), realiza já há 3 anos,
o “Monitoramento da Fauna Silvestre”, procedimento
vive nas áreas lindeiras a ele. que está sendo implementado em todos os aeropor-
tos sob a batuta do departamento, tendo em Jundiaí, o
“Aeroporto Estadual Comandante Rolim Adolfo Amaro”,
seu mais avançado exemplo.
Trata-se de um trabalho tão específico e criterioso,
que mobiliza todo um aparato técnico que inclui des-
Sergio Augusto de Arruda Camargo de equipamentos para manejo de inúmeras espécies
superintendente do DAESP passíveis de serem detectadas, à disponibilização de
uma aeronave e piloto, para apoio aos especialistas.
A intenção é mapear as diferentes interferências
e estudá-las a fundo, para garantir a integrida-
de tanto de pessoas quanto de animais, como
explica o superintendente do DAESP, Sergio
Augusto de Arruda Camargo: “A operação
de um aeroporto está inserida dentro
de uma conjunção de fatores, inclusive
sociais, portanto está sujeita não só às
interferências naturais, como tam-
bém às provocadas pelo homem. A
questão ambiental, sob o nosso pon-
to de vista, também engloba o con-
texto e as interações da população
que vive nas áreas lindeiras a ele”.
Fotos: Revista Novo Ambiente/Juliano Grosco

Junho - 2010 56
Além dos pássaros
além das lebres

A política de controle ambiental do DAESP não com-


preende apenas o controle de espécies que possam
colocar em risco a rotina de voo em seus aeroportos.
Ela se estende também ao constante monitoramento
do ruído, da qualidade da água dos lençóis freáticos
existentes no perímetro, das emissões, além é claro
dos resíduos e do lixo produzido, que é categorizado e
encaminhado para a destinação adequada. O depar-
tamento também fiscaliza a ação dos concessionários
e empresas, que operam por contrato, dentro de pa-
drões estipulados pelos órgãos ambientais. Sintetizan-
do o raciocínio, a assessora ambiental do DAESP, Mika
Saito, comenta: “Nosso objetivo é obter um controle
tal sobre a nossa atividade, que permita oferecer um
exercício pleno da aviação no que diz respeito às nos-
sas atribuições, de uma maneira segura e de forma
sustentável”. Este esforço, que consome investimen-
tos consideráveis de recursos, tempo e pessoal, está
intrinsecamente associado à segurança de voo. Toda a
inteligência coletada na detecção, mapeamento e aná-
lise dos riscos, é compilada em um relatório detalhado,
como o que tivemos acesso, e encaminhado para o CE-
NIPA (Centro Nacional de Investigação e Prevenção de
Acidentes Aéreos), parte do COMAER (Comando Ae-
ronáltico), vinculado ao Ministério da Defesa. Ao leitor
agora, resta adicionar mais um comentário para puxar
assunto durante um voo regional: a qualidade dos aero-
portos, com a certeza de que um aeroporto sustentável
é praticamente sinônimo de um aeroporto seguro.
capa Amigo da Amazônia

Portas fecha

O
instituto não governamental de pesquisas Existe outro ator fundamental para impedir o avanço
Imazon, realizou um estudo que aponta do desmatamento da maior floresta equatorial do planeta,
que São Paulo é o destino de 20% de toda o consumidor. Calcula-se que grande parte da madeira ad-
a madeira ilegal extraída, o que representou, em 2004, quirida seja utilizada em armações para telhados.  “As cer-
nada menos que 6,2 milhões de árvores. Com ações tificações e os selos verdes são pouco conhecidos pelo con-
simples, o governo estadual e o município de São Paulo sumidor final. Atualmente, há maior exigência desses selos
já brecaram a compra de madeiras não certificadas em e certificações por parte de empresas do que propriamen-
obras e repartições públicas. A rejeição não garante a te pelo consumidor final (pessoa física).  A sociedade sabe
extração, mas dificulta e desmotiva um mercado vicia- da importância sobre o tema, porém ainda não faz exigên-
do em fazer dinheiro fácil à custa de bens que não lhes cias, ou seja, o “pensar” está longe do “agir”. Mas mudar
pertencem. Entre as medidas propostas pelo programa o pensamento não deixa de ser um bom começo. Espera-
estão a fiscalização da Polícia Ambiental nas rodovias mos que em breve haja também a mudança de atitude”,
por onde entra a madeira ilegal, trabalho somado a um aponta a  técnica do Departamento de Desenvolvimento
serviço de inteligência que atualiza as informações so- Sustentável da Secretaria Estadual do Meio Ambiente,
bre as principais rotas utilizadas pelos caminhões com Andrea Sendoda, que também dá a dica de como proce-
a carga ilegal. As investidas da secretaria do Meio Am- der: “O consumidor deve saber que o mínimo que ele pode
biente apreende, em média, cerca de 6 mil toneladas de exigir de seu fornecedor é a nota fiscal acompanhada do
madeira ilegal por ano desde o início do programa “São DOF (documento de origem florestal do Ibama) no caso de
Paulo Amigo da Amazônia”. compras de produtos e subprodutos florestais nativos.”

Junho - 2010 58
Se não tem quem compre, não
há quem venda. Você já deve ter
ouvido essa máxima. No que se
refere ao comércio de madeira,
dizer não à compra de madeira
de desmatamento pode poupar
a vida da Floresta Amazônica, ví-
tima de uma insaciável ação das
madeireiras alimentadas pelo
mercado, inclusive o formal. O
maior centro consumidor do Bra-

das para a sil adotou, em 2006, o programa


“São Paulo amigo da Amazônia”
que nasceu de um compromisso
entre o Estado e o Greenpeace,
em 2006, e decidiu fechar as por-
tas para uma atividade comercial
criminosa que devasta e desper-
diça um patrimônio natural da
humanidade. 

 Ausência do Estado
 Por outro lado, se não tem quem venda, não tem
quem corte, e esta é a responsabilidade da sociedade
O consumidor deve saber
amazônica, mas os índices de pobreza daqueles com que o mínimo que ele pode
a motosserra na mão, remetem à condições de misé- exigir de seu fornecedor é a
ria que não permitem reflexões aprofundadas sobre o
destino do planeta. Sua energia está concentrada na
nota fiscal acompanhada do
provisão de sua família. DOF (documento de origem
A luta de organizações e do Estado é para coibir a florestal do Ibama) no caso
extração, tornando-se presente na fiscalização e dan-
do condições de desenvolvimento sustentável às co-
de compras de produtos e
munidades pobres, mostrando que vale mais a pena subprodutos florestais nativos.
extrair de forma harmônica os tesouros da floresta, do
que destruí-la e vendê-la apenas uma vez, o que acaba
não só por ser insustentável, como insalubre, já que o Andrea Sendoda
desmatamento é um vetor de ploriferação de doenças Departamento de Desenvolvimento Sustentável
como  dengue, malária e febre amarela. da Secretaria Estadual do Meio Ambiente

59 Junho - 2010
CAPA Mobilidade

“Se eu perder este


trem...”
Engajadas nas estratégias de desenvolvimento
sustentável adotadas pelo Estado de São Paulo,
as composições da CPTM (Companhia Paulista
de Trens Metropolitanos) são o símbolo da força
de um meio de transporte que se reinventou
ao longo do tempo e hoje é considerado uma
solução indispensável para as grandes urbes que
ajudou a construir

A
ntes da completa inversão da matriz de
transportes no Brasil, o país conhecia ape-
nas um soberano neste quesito: os rodan-
tes sobre trilhos, ou como queira o leitor, o bom e ve-
lho trem. No tempo em que transporte particular era no
máximo uma “charrete” ou um carro de boi (ambos mo-
vidos a energias renováveis), foi o trem o responsável
pela interiorização do desenvolvimento, pela transfor-
mação do homem do campo em homem urbano, e ain-
da hoje, cumpre seu papel de indutor de crescimento.
Bem. Nem só de longas distâncias, granéis, termi-
nais de carga, e diesel, vive o modal. Como diz o título
desta primeira edição da Revista Novo Ambiente, o
exemplo vem de São Paulo, em um quesito especial, ins-
trinsecamente ligado à mobilidade nos grandes centros
urbanos. Nos bastidores de um esforço ecológico que
vai muito além de tirar carros das ruas, consumir menos
combustível e diminuir a emissão de poluentes na já
carregada atmosfera da megalópole, está a CPTM.

Junho - 2010 60
Dona de 261 km de trilhos que cortam o mapa
Detalhes
de 22 municípios da RMSP (Região Metropolitana de À parte a modernização dos trens e vagões (que
São Paulo) e interligam 89 estações, a CPTM voltou- passarão a contar com níveis de conforto compatíveis
-se para sua própria estrutura interna para achar em com os do Metrô), mais facilmente percebidas pelo
atitudes, por vezes simples, a solução para uma ope- usuário, estão “upgrades” periféricos, que sequer pas-
ração mais eficiente e de quebra, mais “verde”. Para sam por sua cabeça enquanto gira a catraca da estação.
“tocar” para frente esta orientação da companhia, Sobre ela, luminárias espelhadas de 64 watts, propor-
está em adiantada fase de implantação, o SGA – Sis- cionam maior clareza para seus passos, e de acordo
tema de Gestão Ambiental, que abrange desde o trei- com o PEE (Programa de Eficiência Energética) contri-
namento e conscientização dos colaboradores, até o buirão - entre outras ações - para uma redução de 15%
tratamento final adequado dos passivos resultantes no consumo global de energia da Companhia. As plata-
das atividades da empresa. formas e áreas comuns por onde ele faz o trajeto da la-
buta diária, são higienizadas com água de reuso tratada
pelas próprias ETE’s (Estações de Tratamento de Efluen-
tes) da CPTM, que além de contribuir no asseio, ainda
mantêm os jardins regados e os banheiros em funcio-
namento sem a utilização de água potável oriunda da
rede pública. O planejamento minucioso não deixou
sequer escapar as estopas e panos utilizados na ma-
nutenção dos pátios e máquinas que a empresa opera:
entamborados e segregados em um primeiro momen-
to, eles passaram a ser substituídos por um sistema de
locação de toalhas industriais reutilizáveis, que devol-
vidas ao fornecedor para assepsia, podem ser reutiliza-
das até cinco vezes antes de serem descartadas.

Fo
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OM
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PT
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Tchau, Maria fumaça

Apesar de utilizar propulsão elétri-


ca nos trens, algumas composições da
CPTM são “puxadas” por locomotivas
movidas a combustível. Por isso foi
criado o “Procedimento para Avalia-
ção da Fumaça Emitida por Motores a
Diesel”, aplicado sistematicamente no
Programa de Monitoramento de Emis-
sões das Locomotivas, que consiste na
medição dessas emissões. Caso esteja
fora dos padrões aceitáveis, a locomo-
tiva é escalada para manutenção.

Mobilidade e acesso
Também faz parte das novas orientações da CPTM, a missão de in- Pode parecer que São Paulo
tegrar os trilhos de forma mais efetiva com outros meios de transporte
urbano, tanto da rede pública quanto veículos particulares. E isto inclui
não possua muitas bicicletas
facilitar a vida dos usuários, independente de como eles cheguem ao e que o trânsito seja hostil
sistema, seja motorizados, a pé ou pedalando. Organizar tipos de fluxo para elas, porém, nós
e interação tão distintos, que convergem todos para o mesmo ponto,
não é tarefa das mais fáceis, por isso, as diretrizes das estações obe-
temos mais de trezentas mil
decem um novo planejamento, que prevê desde bicicletários e esta- viagens diárias na Metrópole
cionamentos (E-fácil) até um novo layout interno, com mezanino, que neste tipo de veículo, setenta
permite livre circulação em ambos os sentidos. Devido ao apelo am-
biental e a novos hábitos da população, as bicicletas capturam especial
por cento delas a trabalho.
atenção da empresa, como explica o presidente da CPTM, Sérgio Hen-
rique Passos Avelleda: “Pode parecer que São Paulo não possua muitas
bicicletas e que o trânsito seja hostil para elas, porém, nós temos mais
de trezentas mil viagens diárias na Metrópole neste tipo de veículo, se-
tenta por cento delas a trabalho. Por isso, implantamos uma política
de facilitação de acesso para este usuário em particular”, e explica: Sérgio Henrique Passos Avelleda
“Isto inclui o oferecimento de guarda gratuita em bicicletários presidente da CPTM
nas estações, além da implantação de ciclovias, como a
que concluímos recentemente, no rio Pinheiros. Incenti-
var este comportamento, além de melhorar o trânsito,
ainda contribui para aliviar o sistema em horários de
pico, uma vez que o usuário utiliza a linha em apenas
parte de seu trajeto”, conclui. Definitivamente, entre
estas e outras constatações, pudemos comprovar
que a CPTM está realmente voltada para o que ou-
vimos nos corredores e na antesala da presidência:
“somos uma empresa com forte apelo ecológico”.
Mais do que um discurso pronto, o pensamento
resume a aplicação prática do conceito.

Junho - 2010 62
64
Delson Amador
engenheiro eletricista

Uma nova e natural tendência


N ão foi sem uma dose de surpresa que recebi o
convite da revista Novo Ambiente para apro-
priar-me de um espaço em suas laudas, como articu-
está no meio. Devemos sim, avançar com tecnologia e
bom senso.
Logicamente, a sociedade deve estar ciente dos
lista. A tarefa de dividir experiências e visões, sempre custos de sua decisão, seja ela radical ou centrada. Uma
foi intrínseca à rotina diária de meus trabalhos à frente obra estruturante, bem executada, criteriosamente es-
dos órgãos e departamentos que dirigi, porém, pela tudada e que possui a indiscutível vantagem de ter mí-
primeira vez percebo a oportunidade de expandi-las nimo impacto ambiental, tem em contrapartida, uma
além dos limites e parâmetros técnicos, abrangendo interferência maior no erário público. Por outro lado,
um grupo maior de pessoas e consequentemente ala- se os custos são achatados, não há como alocar inves-
vancando um debate mais do que oportuno: a susten- timentos suficientes para as ações ambientais. O equi-
tabilidade nas obras de infraestrutura. líbrio se perde e os danos à natureza causados por ela,
Tema fundamental, especialmente em um país tanto na sua execução quanto na sua operação, podem
agraciado por uma miríade de recursos naturais como ser irreparáveis. Ainda sob estes dois prismas, cabe in-
o nosso, a preservação do meio ambiente deve ser al- cluir um adendo: as questões ambientais que uma obra
çada como condição “sine qua non” para quaisquer in- deve contemplar, não se restringem apenas à fauna, à
tervenções que se possa supor, em quaiquer tipos de flora, a um bioma, mas também às populações oriundas
cenário. Mote desta publicação, a frase “infraestrutura do local onde ela será instalada, bem como as possíveis
com equilíbrio”, reflete mais do que a aposta de um ve- variantes futuras que ela trará quando pronta.
ículo em uma linha editorial. Ela traduz, em última ins- A complexidade apaixonante do assunto convi-
tância, a aposta que todos nós, ligados ou não ao setor, da ao raciocínio, ao estudo e ao aprofundamento das
devemos fazer. discussões. Como em um tabuleiro de xadrez, as peças
Por tratar-se de uma questão que diz respeito à estão dispostas e interrelacionam-se dinamicamente.
vida e ao futuro de muitos, sua solução não pode, em Algumas mais valiosas, outras menos importantes.
hipótese alguma, pender para um extremo, grupo de Como no “jogo dos reis” somente seremos bem suce-
pessoas ou interesses que não sejam os da coletivida- didos se conseguirmos elencar as peças que podem
de, e sim estabilizar-se, como no famoso pensamento ser descartadas em detrimento das outras que não po-
atribuído a Aristóteles: “In medio stat virtus”, a virtude demos perder.
68
Svetlana Maria de Miranda
advogada especialista em Direito Ambiental

Os aspectos e riscos ambientais


nos projetos de infraestrutura
P ara sua conservação em equilíbrio dinâmico,
a Terra depende de certos arranjos nas condi-
ções físico-químicas, biológicas e culturais, numa esca-
Vencida a etapa de identificação dos principais aspec-
tos ambientais presentes no projeto, compete, nesse pas-
so, analisar os impactos que serão exercidos nos mesmos
la espaço e temporal. Assim, a prevalecer o modelo de e, por consequência, os riscos efetivos que eles propor-
desenvolvimento que se caracteriza por romper cons- cionarão à concretização do negócio, para a definição de
tantemente a estabilidade desses arranjos, o planeta é medidas mitigadoras e de compensação eficazes àqueles
insustentável em longo prazo. percebidos. É necessário ressaltar, nessa linha, a relevân-
Durante séculos a fio, a humanidade exerce uma cia dos trabalhos de identificação e avaliação dos riscos
influência incisiva nos meios sustentadores da harmo- ambientais existentes nos projetos de infraestrutura para
nia do planeta, caracterizando-se, com isso, como uma uma gestão eficiente de suas ocorrências e efeitos.
sociedade de risco, ou seja, aquela que por seus atos é Além disso, somado aos benefícios acima apon-
capaz de se conduzir à própria extinção. tados, podem ainda ser relacionadas as seguintes
Nesse contexto, na tentativa de reverter o presen- vantagens à coorporação: (I) a redução/eliminação de
te quadro de perigo e prevenir danos futuros ao meio multas, passivos e acidentes; (II) melhoria da imagem
ambiente, encontram-se leis que tratam da matéria e da empresa junto à comunidade; (III) conhecimento
que estabelecem, dentre outros feitos, aspectos consi- da legislação aplicável ao empreendimento de modo
derados de imperiosa observação nas análises relacio- sistematizado; (IV) determinação de uma diretriz única
nadas à implantação e operação dos empreendimen- de gestão organizacional e, por fim, (V) o aumento da
tos produtivos. competitividade no mercado.
Dessa forma, os empreendedores devem se aten- Assim, fica claro que o gerenciamento dos aspec-
tar na elaboração dos estudos ambientais prelimina- tos e riscos ambientais minuciosamente estudados e
res, de forma geral, para os dados vinculados à viabili- tratados dos projetos de infraestrutura em qualquer
dade locacional do empreendimento, ao meio biótico, realidade organizacional, não deve ser enxergado
socioeconômico da comunidade atingida, sítios e mo- como algo periférico e sim, como instrumento estra-
numentos arqueológicos, históricos, naturais e cultu- tégico e hábil que gera uma diferenciação competitiva
rais, cavidades naturais, áreas remanescentes de qui- nos mercados, além da redução de custos, meta tão
lombos, áreas indígenas e ruído. almejada em momentos de instabilidade econômica.
Transportes Qualidade do Ar

Apesar de alguns países terem conseguido reduzir suas emissões, o


desenvolvimento do planeta é movido a combustíveis fósseis, em especial
os transportes, que também são responsáveis por boa parte do CO2 liberado
no ar. Para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa, a
Confederação Nacional de Transportes coordena o projeto Despoluir, uma
iniciativa ambiental que aponta bons caminhos para o equilíbrio entre o
crescimento econômico e  respeito ambiental.
 

A
pesar da frustração deixada pela 15ª Con-
ferência do Clima (COP15) que não definiu
ao mundo metas obrigatórias de redução
de emissão de gases causadores do efeito estufa, o
fato de  ter sido o maior encontro diplomático da his-
tória, demonstra a preocupação internacional com o
equilíbrio do planeta. A expectativa do COP15 era que
o mundo se comprometesse a reduzir em 50% suas
emissões até o ano de 2020. O texto essperado do en-
contro não vingou por causa da resistência do maior
poluidor do mundo: Estados Unidos.
No final de 2009, o presidente Lula sancionou a Lei
de Alterações Climáticas que estabelece a meta de re-
dução de emissão de gases do efeito estufa em âmbi-
to nacional.  Segundo a Lei, o país se compromete, de
forma ainda a ser definida pelo Governo a cada setor
produtivo, a reduzir entre 36,1% e 38,9% suas emis-
sões.  Para isso o Brasil precisa investir em tecnologia
para trazer a melhora na qualidade dos combustíveis
ou na substituição por opções mais limpas. Conscienti-
zação é outra palavra-chave para o sucesso na redução
de emissões.
 

71 Junho - 2010
Não dá mais para esperar

Catastrofismos à parte, o aquecimento global, embora


ainda sua real existência seja discutível, assusta. Com o enfra-
quecimento da camada de ozônio, o planeta fica cada vez mais
desprotegido dos raios ultravioletas, retendo mais calor. Ver-
dadeiras montanhas de gelo cristalizadas a milhares de anos
derretem-se para nunca mais voltar a  existir. As conseqüências
disso seriam as enchentes em alguns lugares, secas em outros,
alterações severas no clima que geram o exôdo e a fome, sem
contar no aumento da acidez das águas dos mares, causada
pela mistura da água doce das geleiras com o mar, processo
que pode levar a vida oceânica até à beira da extinção. Reverter
esse quadro é uma missão de toda a humanidade.

Contendo emissões
 O planeta está saturado e depende de ações
Foto: Revista Novo Ambiente/Leonardo Pepi
imediatas no que se refere à emissões, em especial
do dióxido de carbono e o enxofre. A Confederação
Nacional de Transporte (CNT), que reúne 27 fede-
rações estaduais, deu um grande passo em 2007
quando criou o programa Despoluir. Como entidade
representativa do setor de transportes, um dos prin-
cipais responsáveis pela emissão de CO2, a CNT está
apresentando resultados animadores no que se refe-
re a redução de emissões. “Os meios de transporte
respondem por grande parte da emissão de gases no
meio ambiente, uma vez que utilizam em, sua ativida-
de, combustíveis fósseis. Por isso resolvemos lançar
o Despoluir, um programa permanente da CNT e que
abrange 140 mil empresas de transporte de carga e
de passageiros e 733 mil transportadores autônomos
em todo o país. É uma forma de a CNT dar sua parcela
de contribuição neste esforço contra o aquecimento
global”, diz o presidente da CNT, Clésio Andrade.

Junho - 2010 72
Despoluir
O programa possui 67 unidades de atendimento Desde 2007 foram mais de 280 mil aferições em
em 21 estados e conta com unidades móveis de inspe- todo o Brasil e espera-se aumentar esse número signi-
ção com opacímetros para medir as emissões dos veí- ficativamente em 2010.
culos, sejam de empresas federadas, caminhões e ta-    Em 2009, o Boston Consulting Group realizou
xis.  Depois da análise, os técnicos apontam os ajustes uma pesquisa com mais de 1.500 grandes empresas
que podem ser feitos para que o veículo emita menos do mundo. Mais de 90% delas estão preocupadas em
poluentes. A aferição também é um bom indicativo do reduzir suas emissões e 68% disse que houve retorno
estado de manutenção do conjunto do motor, bomba financeiro após adotar medidas para a sustentabilida-
injetora, bicos injetores, regulagem do ponto de inje- de do negócio.
ção e filtros de ar e combustível, e dá indicativos para “A sustentabilidade está ligada a questões do meio
um melhor aproveitamento do diesel, alcançando um ambiente, mas também está ligada à obtenção de lu-
melhor nível de eficiência energética. As visitas técni- cro, de economia dos recursos”, aponta Marilei Mene-
cas são solicitadas voluntariamente pelas empresas. zes, coordenadora de projetos especiais da CNT.

Desde 2007 foram mais de 280


mil aferições em todo o Brasil e
espera-se aumentar esse número
significativamente em 2010.

75 Junho - 2010
HIDROVIAS ANTAQ

Mais força
nas águas

F
oi em novembro de 2009, durante o pri-
meiro fórum sobre hidrovias, intitulado “A
contribuição do transporte hidroviário ao
meio ambiente”, que os olhares voltaram-se para uma
apresentação específica: “O Transporte Hidroviário
como Solução Logística e Ambiental”, capitaneada
pelo diretor geral da ANTAQ, Fernando Fialho. Nú-
meros, fatos e projeções foram mais do que suficien-
Parte central de uma nova estratégia tes para dirimir quaisquer ressalvas quanto às incon-
testáveis vantagens do transporte de grandes cargas
para mudar a arquitetura da matriz graneleiras sobre as águas. Mais do que isso, ficou pa-
de transportes brasileira, a ANTAQ tente a plena justificativa de um investimento de R$
7,65 Bilhões, com recursos do PAC, que terá um im-
(Agência Nacional de Transportes pacto positivo crucial na balança comercial brasileira,
Aquaviários), traça suas metas para tornando navegáveis 7.530 quilômetros dos seus rios.
Basta observar um dos comparativos expostos duran-
um futuro mais eficiente, tanto do te o evento: a movimentação de grãos nas hidrovias
ponto de vista de otimização do atualmente é da ordem de 6,5 milhões de toneladas,
não é pouco, porém é uma migalha frente às poten-
modal, quanto sob a ótica da redução ciais 51,2 milhões de toneladas que as hidrovias ofe-
recem e que o Governo Federal ambiciona viabilizar
das emissões de carbono no país ao final da próxima década.

Junho - 2010 76
Muito além da
competitividade
Não apenas a economia tende a respirar
melhor quando as cargas passam a flutuar ao
invés de rodar. O ambicioso aumento planejado
na participação da matriz, um salto dos 13% em
2005 para os 29% em 2025, terá influência direta
na quantidade de gases tóxicos lançadas na at-
mosfera. Aqui, entra outro comparativo digno de
nota: a cada mil TKU’s (toneladas por quilômetro
útil), transportados via rodoviária, são emitidas
164 gramas de dióxido de carbono na atmosfera.
Quando transportadas nas hidrovias, as mesmas
mil toneladas são responsáveis pela emissão de
apenas 33,4 gramas. Outro dado interessante é
que, comparando as emissões dos modais, o hi-
droviário registra apenas 2% do total, (um núme-
ro que ainda sofrerá uma diminuição considerá-
vel) por isso a escolha da frase de encerramento
das explanações do diretor não poderia ser mais
adequada: “Investir em hidrovias, é investir no
meio ambiente.”

Foto: Luis Fortes/MT


OPINIÃO
Francisco Graziano
Agrônomo e Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

Ambientalismo em ação
E m discurso de despedida, o governador José
Serra lembrou de alguns projetos de êxito na
área ambiental, inicialmente citando o sucesso do Pro-
Ambiental Paulista”, que apresentei recentemente ao
CONSEMA, apresenta números positivos, que compro-
vam melhorias significativas na defesa do meio am-
tocolo Agroambiental, firmado entre o Estado de São biente. Citando apenas dois destes casos, temos, em
Paulo e o setor sucroalcooleiro. Graças ao protocolo, primeiro a eliminação dos vergonhosos “lixões” ao céu
as áreas de queimadas reduziram em 1,1 milhão de aberto que ainda funcionavam, quando assumimos,
hectares. Menos poluição, mais saúde. em 143 municípios paulistas. Locais degradantes, gen-
A ousadia da Política Estadual de Mudanças Climá- te misturada com bichos, chorume e urubus, situação
ticas também foi citada. São Paulo se comprometeu, inaceitável. Tolerância zero contra os lixões.
de forma pioneira, a reduzir em 20%, até 2020, suas O segundo exemplo é a construção do novo mode-
emissões de gases causadores do efeito estufa. Não lo de gestão ambiental, hoje praticamente consolidado,
será fácil, exigindo ademais um ativismo do Estado. que caracterizou um processo de mudança que contou
Por isso, uma recente linha de financiamento, gerida com a decidida participação dos municípios paulistas. O
pela Nossa Caixa Desenvolvimento, aloca R$ 600 mi- Projeto do Município Verde Azul mobilizou e valorizou o
lhões para as empresas aprimorarem seus processos poder local, inserindo-o na agenda global. A descentra-
tecnológicos, rumo à economia verde. Outro projeto lização da política ambiental contaminou as lideranças
cuja determinação do governo do Estado foi notável políticas, tornando-se um grande sucesso.
é a recuperação das encostas da Serra do Mar, ali na Entre tantas “lições de casa”, fica uma certeza, so-
baixada santista. As Secretarias do Meio Ambiente e mente por meio da educação ambiental se conseguirá
da Habitação promovem, segundo o BID, o maior pro- realizar a mudança necessária na sociedade, construin-
grama mundial de realocação de pessoas por razões do um mundo sustentável, harmônico com a natureza.
ambientais. Cerca de 5.350 famílias se mudarão para A plena aceitação do projeto Criança Ecológica nas redes
casas próprias, fora das áreas de risco. Ninguém acre- municipais de ensino atesta tal verdade. Estamos, na sala
ditava, mas saiu do papel. Um marco histórico. de aula, formando os ecocidadãos de amanhã.
Anunciei, logo no meu discurso de posse na secre- Esse conjunto de projetos ambientais, os planos
taria, que daria prioridade absoluta para a gestão am- de ação municipais, o envolvimento da sociedade e
biental. Posso assegurar, modestamente, que minha da política, o reforço na gestão ambiental caracteriza
estratégia de trabalho rendeu bons frutos. O “Relató- uma marca do governo de São Paulo: o “ambientalis-
rio de Cumprimento de Metas e Resultados, da Política mo em ação”.

Junho - 2010 78
RECICLAGEM Asfalto Borracha

A redenção
do Pneu
Se Pedro Álvares Cabral tivesse trazido um pneu em sua nau e o enter-
rasse em solo tupiniquim, provavelmente ele estaria lá até hoje, se le-
varmos em conta as pesquisas que supõem que sua decomposição dure
mais de 600 anos. E é justamente a longevidade deste artefato que cau-
sa dores de cabeça para o planeta. Somente no Brasil, mais de dez mi-
lhões de pneus considerados inservíveis são lançados ao mundo a cada
ano, dar uma boa destinação a este produto é fundamental, e o asfalto
borracha é a melhor alternativa

A
vida do pneu é ingrata. Alguns meses ou anos rodando ale-
gremente e depois se torna uma espécie de bandido highlan-
der sócio-ambiental, envenenando os rios e se transforman-
do em piscinões paradisíacos para larvinhas do aedes egipty. Ele perde o
carisma tão logo é considerado inservível, ou seja, quando tiver rodado
entre 20 e 50 mil quilômetros. Logo, vira sinal de problema. Basta ver
quando ele se torna uma forma de radicalizar manifestações popula-
res. Sua fumaça negra, densa, é um alerta, e violenta os céus mandando
mensagens nada boas. Pobre pneu, este inservível imortal.
Claro que todos sabemos da importância do pneumático e sua uti-
lidade está acima de qualquer avaliação. Graças à criação da borracha
vulcanizada pelo senhor Charles Goodyear, em 1844, o pneu passou a
ser resistente, flexível e viável, mudando a face do que seria o sistema
de transporte mais utilizado no planeta, o rodoviário. No entanto, este
belo instrumento da humanidade deixou um vácuo em seu projeto de
criação: o que fazer para reintegrá-lo ao meio ambiente?
A Revista Novo Ambiente foi conhecer uma técnica muito inteli-
gente que transfere o benefício da resistência para as rodovias brasi-
leiras: o asfalto borracha, que contém de 15% a 25% de borracha de
pneus em pó. Além de devolver a dignidade do pobre pneu que agora
deixa de ser ameaça, cria uma forma de pavimentação cheia de vanta-
gens, entre elas, a durabilidade que chega a ser três vezes maior. Afi-
nal, o pneu volta a ser bem aceito e pode colocar à prova suas virtudes
alquímicas da longevidade, pois não seria nada mal que uma rodovia
durasse séculos para se deteriorar.

Junho - 2010 80
Foto: Revista Novo Ambiente/Leonilson Gomes

O pó de pneu é adicionado à massa asfáltica

81 Junho - 2010
Para onde vai o pneu?
A Resolução 258/99 do Conselho Nacional do Meio Como o material do pneu não pode ser reaprovei-
Ambiente (Conama) atribui aos fabricantes e importado- tado para se fazer um similar, outras destinações são
res de pneumáticos a coleta de cinco pneus inservíveis dadas para sua reciclagem. A indústria do cimento ab-
para cada quatro fabricados e comercializados no Brasil. sorveu 63% dos pneus, coletados pela ReciclAnip para
Para mobilizar tal operação, a Associação Nacional da In- sua queima para a geração de energia termoelétrica.
dústria de Pneumáticos (Anip) criou a ReciclAnip, um pro- Apesar do uso de filtros em suas chaminés, o método
grama de coleta e destinação que recolheu mais de 200 é criticado por seu impacto sobre o ar. Para a fabricação
milhões de pneus na última década. Os dados sobre os de asfalto, aço e outros artefatos, vão apenas 23% dos
números de pneus inservíveis que o Brasil gera a cada ano inservíveis reaproveitados. São transformados em gra-
variam entre as pesquisas de instituições diferentes, mas nulados que formam o pó de borracha, que, misturado
todos apontam para um número superior a 10 milhões de ao asfalto, parece ser uma destinação melhor e menos
pneus dispensados, a metade, de forma irregular em ter- impactante. Cada quilômetro construído com asfalto
renos baldios e depósitos. borracha, absorve cerca de mil pneus.

Destinação dos pneus inservíveis


coletados pela ReciclAnip:

Co-processamento na indústria de cimento: 63%


Granulados, pó de borracha, artefatos, asfalto e aço: 23%

Laminação como matéria-prima para solado de sapato e dutos : 14%


*Fonte: ReciclAnip (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos) – 2009.
Criada em março de 2007 pelos fabricantes de pneus novos Bridgestone Firestone, Goodyear, Michelin e
Pirelli, a Reciclanip é considerada uma das maiores iniciativas da indústria brasileira na área de responsa-
bilidade pós-consumo.

Junho - 2010 82
Foto: Revista Novo Ambiente/Cláudio Rupp

Aterro do Flamengo, com pavimento de asfalto borracha


Foto: Revista Novo Ambiente/Leonilson Gomes
Asfalto Borracha
A Greca Distribuidora de Asfaltos uma das maio-
res referências brasileiras na pesquisa e produção de
asfalto borracha, mantendo convênios de coopera-
ção técnica entre seus laboratórios e os de universi-
dades brasileiras, como a UFRS, a USP e a UFSC. Até
março deste ano, o asfalto borracha, denominado
EcoFlexPave pela indústria, já estava presente em
3.200 quilômetros de estradas Brasil afora.
O custo de implantação do asfalto borracha
pode ser ainda mais barato que o convencio-
nal (CAP – Cimento Asfáltico de Petróleo) pois
uma camada mais fina proporciona o
mesmo efeito, seu custo-benefício é
mais vantajoso, pois pode durar até
três vezes mais, evitando obras de
recuperação durante um longo
período. Além da durabilidade,
a estabilidade e resistência a
deformações contam a favor:
“O uso do Ecoflex para a cons-
trução de pavimentos possi-
bilita que sejam modelados e
construídos revestimentos com
elevada porosidade, que evita a
aquaplanagem durante dias chu-
vosos e redução do ruído” explica
Wander Omena, engenheiro quí-
mico responsável pelos laboratórios
da Greca Asfaltos.
O produto já é pesquisado há cerca de uma
década no Brasil, mas nos Estados Unidos ele já é
utilizado desde os anos 60. Em 2001, em conjunto
com a UFRS, a Greca pavimentou o primeiro trecho
experimental, entre Guaíba e Camacuã, no Rio Gran-
de do Sul, e até hoje se encontra em ótimo estado, ao
contrário dos outros trechos pavimentados de forma
convencional que apresentam trincas e buracos. Isso
acontece porque o asfalto borracha, naturalmente
possui maior capacidade de expandir-se e retornar à
forma anterior (retorno elástico), enquanto o CAP se
esparrama sob o peso dos caminhões. De uma forma
bastante simplificada, é como se apertássemos com
toda força uma borracha de desenho e depois um
chiclete, que representaria o asfalto convencional.
O CAP também apresentou maior ressecamento e
envelhecimento, adquirindo uma cor acinzentada,
enquanto o asfalto borracha ainda mantêm-se muito
próximo de suas características originais.

85 Junho - 2010
86
Edemar Gregorio
escritor e jornalista

Amazônia off road


A ocupação do território nacional deve ser uma
questão bem resolvida se quisermos ganhar
um lugar no Olimpo dos países ricos na próxima déca-
Existe um temor, não de todo infundado, de que a
recuperação da BR-319 possa ser um “revival” da BR-
163, expondo uma sensível área de mata amazônica à
da. É importante diferenciar a ocupação populacional ação criminosa das madeireiras ilegais, garimpos e ou-
da ocupação do Estado, embora ambas, quando desor- tras ações que devastam a maior floresta equatorial do
denadas coloquem em risco homem e meio ambiente. planeta como saúvas em uma horta. A culpa recai sobre
É uma preocupação que existe desde os primeiros dias a estrada, como se ela tivesse vida própria e devorasse
após o descobrimento da Terra de Santa Cruz, mas ain- árvores, enquanto o verdadeiro indutor foi uma política
da não conseguimos resolvê-la, ao menos sem que isso incompleta, que instigou brasileiros a formarem verda-
significasse a devastação que gera a insustentabilidade. deiras hordas bárbaras avançando sem o mínimo de bom
E desde então, os piratas continuam a chegar e saquear senso sobre as matas e os rios. Ocupar a qualquer custo.
facilmente nossas riquezas. Típico de um governo militar. Foram abertas as portas de
Existe uma visão muito simplória em torno da pre- um cofre cheio de tesouros naturais e o Estado o abando-
servação dos nossos patrimônios naturais, a de que nou à própria sorte. Os piratas não se fizeram de rogados,
deixá-los inacessíveis os tornam protegidos. São discus- encostaram suas embarcações às margens da BR-163 e fi-
sões que giram em torno dos impactos da construção zeram o serviço completo limpando a floresta amazônica
de vias de acesso a áreas de grande sensibilidade am- em torno de mais de 500 quilômetros da rodovia.
biental como a Amazônia. É o caso da recuperação de Deixar a BR-319 como está não ajuda em nada. Re-
rodovias já existentes, como a BR-319, a única ligação construí-la, acompanhado de políticas que privilegiem a
rodoviária entre Manaus e o resto do país. A população proteção e o controle do Estado em torno dessas áreas é a
manauara quer acesso a produtos básicos mais baratos única saída plausível, ou seja, só a ocupação real e ordena-
e a viagens que não durem dias ou até semanas, como da do Estado, e a possibilidade de amplo e irrestrito aces-
as de barco, praticamente o único meio de transporte so, pode salvar nossas florestas remanescentes. Utopia é
do estado. As organizações ambientais exercem papel uma palavra bonita, podendo estar muito mais próxima
fundamental de fiscalização e apoio aos projetos de do controle e fiscalização rigorosos, garantindo que nosso
preservação, batalhando por aqueles que não tem voz, patrimônio natural esteja seguro, do que da tal visão sim-
porém não são raras as ONGs que acobertam piratas sa- plória de que existem possibilidades em um planeta com
livando sobre nossa biodiversidade, tentando emperrar 7 bilhões de habitantes, da Amazônia permaneça longe
o desenvolvimento com manifestações cuja intransi- das mãos (e garras) humanas. Se não há como ficar into-
gência em sequer considerar a recuperação da BR-319 cável o melhor é tocá-la com cuidado, sustentando barrei-
apontam para os reais interesses em manter a floresta ras para o avanço populacional e agrícola, criando vanta-
em isolamento. Os contraventores nunca tiveram pro- gens reais para a produção sustentável e, antes de tudo,
blemas em esgueirar-se por caminhos tortuosos, seja estabelecendo acesso rápido e fácil para que o estado
em recantos escondidos da Amazônia, seja em corredo- mantenha o controle dessa região, que, em muitas partes,
res do Congresso Nacional. é controlada por poderes paralelos. Poderes piratas.
A fome que devora árvores

Mais de doze mil quilômetros de vegetação foram des-


matados entre 2002 e 2008 em um dos mais ricos biomas
brasileiros. Um estudo realizado em parceria com organiza-
ções não governamentais como WWF, SOS Mata Atlântica,
SOS Pantanal, Conservação Internacional, Fundação Avina e Guanabara
Embrapa, mostrou por fotos de satélite e pesquisas “in loco”
que, em prol da pecuária, o Pantanal aos poucos se desvane-
ce sob as patas dos rebanhos. Eles detectaram também que A bela Baía de Guanabara um
da vegetação original do planalto, resta pouco mais de 40%. dos cartões postais do Brasil, con-
tinua a sofrer com a ação e o des-
respeito humano. Apenas no ano
passado foram retiradas 3.000
toneladas de lixo de suas águas.
Resíduos domésticos de toda or-
dem, vão aos poucos tirando o
Maria-fumaça sobre pneus brilho de mais uma atração natu-
ral de nosso país.
 O Programa de Inspeção Vei- ou tirar de circulação automóveis
cular desenvolvido pela secreta- que são verdadeiras marias-fuma-
ria de meio Ambiente do Municí- ça. A expectativa é que até o final
pio e São Paulo já analisou quase do ano 4 milhões de veículos se-
200 mil veículos da capital paulis- jam inspecionados. A tarifa cobra-
ta. O resultado parcial do primei- da pela realização da inspeção é
ro quadrimestre do ano foi alar- de R$ 56,44. Aqueles que não res-
mante, mais de 1/5 dos veículos peitarem o prazo poderão pagar
foram reprovados nos testes de R$ 550,00 de multa. Se o veículo
emissões de poluentes. O projeto for reprovado, o proprietário tem Quem é que
foi implantado em São Paulo em 30 dias para os ajustes mecânicos vai pagar por isso?
2007 já em caráter obrigatório, e uma nova inspeção, sem que
com o claro objetivo de regularizar seja cobrada novamente a tarifa. Em tempos de pesquisas e de-
  bates sobre novas fontes energéti-
cas, o fantasma negro de um passa-
Inspeção em SP do fossilizado surgiu das profundi-
dades abissais para as manchetes,
Veículos com final de placa 1 que passaram por inspeção em fevereiro, março e abril de 2010 despejando milhões de litros de
petróleo no mar. A British Petro-
leum - BP assumiu a culpa e já gas-
 Automóveis:   Veículos a diesel: tou US$ 990 milhões na limpeza do
162.55 4 inspecionados 4.253inspecionados que agora esta sendo considerado
(45% da frota esperada) (48,49% da frota esperada) o maior vazamento de óleo da his-
Reprovação: 21,75% Reprovação: 36,73 % toria. Frágil, o ecossistema do Golfo
do México atingido, vai apresentar
Motos: Ônibus: grande dificuldade para ser despo-
15.641 inspecionadas 1.995 inspecionados luído. Com a palavra, a Petrobras
(27,76% da frota esperada) (66,73% da frota esperada) que deve informar aos brasileiros
Reprovação: 27,65% Reprovação: 21,45% se os procedimentos para explo-
ração do pré sal, são similares aos
empregados pela BP.

Junho - 2010 88
Contaminantes emergentes: a poluição que não vemos
Inodora, insípida e transparente. Apesar de apresentar todas as características da água potável que
todos conhecemos e consumimos, ela pode sim, estar contaminada por inúmeras substancias que vão
de pesticidas até hormônios.
De difícil detecção, este tipo de poluição está aumentando a cada ano que passa devido a pa-
drões de consumo que crescem, aos aglomerados urbanos não ordenados e a condições precárias de
saneamento. O mais alarmante é que não há muitos estudos a respeito, e o impacto de alguns destes
agentes poluidores é desconhecido.

Sacolinhas
O Ministério do Meio Ambien- Desperdício
te calcula que algo em torno de
12 bilhões de sacolas plásticas são
descartadas na natureza todos os Flagrantes de antigos e ana-
anos no Brasil. Para ser desinte- crônicos hábitos, como o desta
grada uma aparentemente ino- foto, registrada pelas lentes de
cente sacolinha leva em torno de um de nossos fotógrafos, nos
400 anos. O consumo consciente fazem refletir sobre a baixa edu-
requer medidas capazes de efeti- cação ambiental nos mais diver-
vamente reduzir tais descartes. sos extratos da sociedade. En-
quanto nossas calçadas forem
“varridas”  por milhares de litros
de água potável estaremos fa-
dados a ampliar investimentos e
gerar impactos à natureza para
manter o acesso a este bem vi-
tal para a vida.

89 Junho - 2010
DA REDAÇÃO Um Novo Ambiente

Instinto de preservação:
dois tempos de uma
espécie em evolução
E
ra ao redor de uma fogueira, em tempos à sustentabilidade. Nascia a semente de um novo
imemoriais, quando sequer o conceito de projeto editorial, que herda o DNA , a experiência
tempo existia, onde os homens se reuniam e as amizades consolidadas em 11 anos de an-
para, de forma rudimentar, tentar se comunicar, tro- danças pelo Brasil. Talvez a característica mais
cando experiências e ideias. Antes da escrita, o dese- importante presente na composição da
nho, antes da fala os grunhidos. Eles passaram atra- Revista Novo Ambiente, seja a mesma ver-
vés deste método experimental, a aprimorar técni- ve que manteve a coesão de um grupo uni-
cas, ferramentas e lançaram as bases da convivência do, independente de qualquer situação, e
em grupo. Enfim, o que hoje chamamos sociedade. que se apoia em valores fundamentais e
Era preciso se unir para sobreviver, e a fogueira era comprometidos com nosso leitor. Valores
o ponto de encontro que protegia das feras e apro- que se tornam tangíveis nas páginas que
ximava os diferentes, mantendo a todos igual- você tem na ponta dos dedos
mente aquecidos. As reações da natureza diante das
Ainda hoje, reunir-se em torno do fogo, faz descabidas agressões que sofreu, pon-
diminuir o volume das vozes, baixar os bati- deramos, já não sem tempo, que não há
mentos cardíacos e desperta uma sensação de outro caminho racional para o desenvol-
segurança. Não por acaso, no sul deste país vimento a não ser o que contempla uma
tropical, durante épocas frias, é bastante co- existência digna aos humanos e aos bio-
mum as famílias e amigos se reunirem para mas nos quais estão inseridos. É nossa
estender as horas defronte à lareira – a obrigação legar às gerações futuras um
fogueira do homem moderno. O instinto ambiente melhor do que o que hoje
permanece nos genes dos que entende- encontramos, e sim, se conseguirmos,
ram a pluralidade promovida pelas cha- teremos um grande motivos para nos
mas. orgulhar. Nosso conteúdo, se destina
Foi também reunidos, como é a todos os que compreendem o mo-
praxe em nossa central de jornalis- mento histórico da humanidade, que
mo, que a família Rodovias&Vias convoca todos a assumir novas ati-
percebeu uma demanda não aten- tudes e novos pontos de vista. É uma
dida no segmento de infraestru- nova perspectiva que o mundo es-
tura: a necessidade de comuni- pera, esperamos estar contribuindo
car os avanços do setor, rumo para isso.

Junho - 2010 90

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