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ARCO-ÍRIS EM ROSA E ROXO – UMA BREVE HISTÓRIA DAS COLORAÇÕES

NA DERMATOPATOLOGIA

A revolução industrial, entre várias mudanças introduzidas, foi acompanhada de uma


segunda revolução paralela na criação da química industrial, incluindo a engenharia química.
Duas grandes invenções tiveram um impacto imensurável na Dermatologia, a criação do
sabão “industrial” por Nicolas Leblanc em 1789 e a anilina, o primeiro corante artificial de
amplo uso, por William Henry Perkins em 1886. Com Leblanc, houve um barateamento e
universalização do uso de sabão, com impacto nos hábitos de higiene corporal e doméstica.
Ainda no século XIX, a escabiose chegava a corresponder a 75% dos pacientes em
ambulatórios de dermatologia, sendo importante na disseminação de outras doenças, como
febre tifoide. O processo da fabricação do sabão também revolucionou a indústria química,
com a criação da linha de produção e, posteriormente, as primeiras leis antipoluição na
Europa. William Perkins (1838-1907) tinha 18 anos, ainda estudante do segundo ano de
química em Londres, quando acidentalmente, produziu um corante púrpura ao tentar descobrir
um substituto sintético a quinina. Dois precedentes históricos o influenciaram: o colonialismo
inglês e a conseqüente disseminação da malária e o excesso de coaltar produzido pela
indústria de carvão e aço. Todos os corantes usados na indústria de tecidos até etnão, os
mesmos usados nas colorações histoquímicas, eram de origem natural, alguns extremamente
caros, como o vermelho e o roxo, outros extremamente custosos de obter, como amarelo vivo
e laranja. Durante o período romano, o púrpura derivado do molusco Murex era de uso
exclusivo dos imperadores ou familiares, custando cerca de 20 mil dólares a onça em preços
atuais. A exploração do Murex levou a um desastre ecológico, com sua extinção no mar
Mediterrâneo. Outros corantes naturais foram introduzidos na Europa advindos da Ásia,
especialmente a Índia, como o índigo e o vermelho derivado do pau Brazil ou das Américas
como o carmin e a hematoxilina. Em 1704 é descoberto o azul da Prússia por Diebach, usado
na coloração de Perls, iniciando-se a era dos corantes químicos. Dois dermatologistas
alemães foram os maiores propulsores do uso rotineiro das colorações. O primeiro foi Paul
Erlich (1854-1915), dermatologista alemão, Nobel de Medicina 1908. Erlich estudou, entre
1877 a 1889, as características tintoriais das células e tecidos, cunhando termos como
basofilia e acidofilia (daí o nome dos polimorfonucleares: basófilos, acidófilos e neutrófilos),
impulsionando o uso da hematoxilina-eosina (HE). Também foi o pioneiro na farmacologia,
criando o primeiro antibiótico sintético para o tratamento da sífilis, o salvarsan ou composto
606. Seu método de pesquisa é usado até hoje na pesquisa de medicamentos.
O outro grande nome da Dermatologia foi Paul Gerson Unna, o pai da
Dermatopatologia. Ele também fez diversos estudos pesquisando colorações especiais,
incluindo a sua tese de doutorado. Apesar da inequívoca importância das colorações, a tese
de Unna foi recusada inicialmente por von Recklinghausen, sob a alegação que "tecidos
corados não constituem evidência suficiente para generalizações científicas", o que não o
impediu Unna de continuar seu trabalho. Descobriu, entre diversas coisas, a propriedade de
metacromasia dos mastócitos. A proposta de Unna era que haveria colorações específicas
para cada tipo de doença. Apesar de estar errado, parece que ele anteviu os métodos imuno-
histoquímicos.
A influência e o impacto da descoberta da anilina por Perkins podem ser comparados
a de Steve Jobs, fundador da Apple. Com a descoberta das anilinas, houve uma corrida entre
os laboratórios europeus para descobrir novos corantes e novas cores. Com base nos
métodos de Leblanc e Perkins, nasceu a moderna indústria química, posteriormente
separando-se no ramo farmacológico, de onde vieram gigantes como a Ciba e a Geigy (atual
Novartis), Bayer, Hoescht, Basf e a primazia da química alemã até a primeira Guerra Mundial.
Depois daí é outra história.
Paul Erlich (1854-1915): dermatologista alemão (Berlin), pioneiro na
pesquisa científica na dermatologia, especialmente nas áreas de
colorações (hematoxilina-eosina), imunologia e antibióticos. Ganhou
o prêmio Nobel de 1908, dividido com Elie Metchnikoff (1845-1916).
Ambos criaram as bases da imunologia com hipóteses
aparentemente diferentes, a humoral por Erlich e a celular por
Metchnikoff. Porém só Metchnikoff recebeu o prêmio sobre seu
trabalho em imunologia. Erlich ganhou o Nobel por ter criado as
bases da quimioterapia, pesquisando um corante, o Trypan red.

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