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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA

PAULA SOUZA

FACULDADE DE TECNOLOGIA SÃO BERNARDO

LUIZ HENRIQUE TEIXEIRA DE ANDRADE BURIN

CYBERBULLYING

Um problema nas redes sociais.

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2010
CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA

PAULA SOUZA

FACULDADE DE TECNOLOGIA SÃO BERNARDO

LUIZ HENRIQUE TEIXEIRA DE ANDRADE BURIN

CYBERBULLYING
Um problema nas redes sociais.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


na Faculdade de Tecnologia de São Bernardo
do Campo para a obtenção do Título de
Tecnólogo em Informática para Gestão de
Negócios.
Orientador :Prof. Edmilson de Souza Carvalho

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2010
“A mente que se abre a uma nova idéia
jamais voltará ao seu tamanho original.”

(Albert Einstein)
A minha família, que nos momentos de minha ausência
dedicados ao estudo superior, sempre fizeram entender
que o futuro, é feito a partir da constante dedicação no
presente.
AGRADECIMENTOS:

Agradeço primeiramente a minha mãe que contribuiu enormemente para minha


formação acadêmica e contribuiu diretamente para o sucesso de meus estudos,
dando-me a oportunidade de dedicar-me inteiramente a ele. Agradeço a minha irmã
Tamiris Cristina que cooperou arduamente na crítica a esta monografia (e a quase
tudo), a minha professora Lígia que me aturou durante o curso inteiro e também ao
professor Edmilson que com extraordinária competência me ajudou nos momentos
difíceis do trabalho.
RESUMO

Este trabalho teve como proposta apresentar os conceitos e características de um


fenômeno conhecido como cyberbullying ou bullying digital, a partir da evolução de
algumas das principais tecnologias que possibilitam sua prática. A internet como
meio de integração das sociedades, utilizando-se das redes sociais virtuais,
potencializa um método frequente de violência contra a honra e dignidade das suas
vítimas. O cyberbullying é conhecido como crime virtual, e suas singularidades, em
comparação ao bullying convencional, o tornam um fator de risco que deve ser
prevenido e combatido de forma eficaz. Com base em uma extensa bibliografia
pretendeu-se expor a evolução do bullying para o cyberbullying descrevendo suas
formas de ataque, seus “remédios jurídicos”, a necessidade de uma mobilização
geral, bem como a adoção de algumas das soluções disponíveis e uma revisão das
políticas e práticas do uso das tecnologias. Portanto, o trabalho buscou através do
confronto entre casos de cyberbullying e uma visão simplificada do cenário atual,
uma perspectiva de reflexão acerca deste fenômeno, despertando uma maior
atenção, compreensão e sensibilidade para com o tema.

PALAVRAS-CHAVE: Internet. Redes Sociais. Tecnologia. Traumas. Ambiente


Virtual.
ABSTRACT

This work aimed to present the concepts and features of a phenomenon known as
digital bullying or cyberbullying, from the evolution of some key technologies that
support this practice. The Internet as a means of human integration through virtual
social networks, enhances an occurrence method of violence against honor and
dignity of its victims. Cyberbullying is also known as cybercrime, and its exclusivity in
contrast to conventional bullying makes it a threat issue that must be prevented and
attempted effectively. Based on an extensive bibliography it was intended to expose
the evolution from bullying to cyberbullying describing different forms of attack, his
“jurisprudences medicines” , the requirement to a general mobilization, adopting
some of the solutions available as well as some review of policies use practices and
technologies. Therefore, this work by comparing cases of cyberbullying and a
simplified view of the current scenario, tends to create a perspective for reflection on
this phenomenon, attracting more attention, understanding and sensitivity to the
issue.

KEYWORDS: Internet. Social Networks. Technology. Trauma. Virtual Environment..


LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 –
Popularização das tecnologias ....................................................... 19
Figura 1.2 –
Senso da web 2.0........................................................................... 21
Figura 1.3 –
A Web como plataforma ................................................................. 22
Figura 1.4 –
Tempo médio de navegação por internauta. .................................. 27
Figura 2.1 –
Diferença entre boca-a-boca e o boca a mundo............................32
Figura 2.2 –
Preferências de sites de relacionamento no mundo....................... 33
Figura 3.1 –
Experimento do João-bobo de Bandura.........................................38
Figura 3.2.1 –
Participantes de Bullying ................................................................ 41
Figura 3.2.2 –
Reações dos alunos alvos de bullying. .......................................... 42
Figura 3.2.3 –
Tipos de bullying identificados........................................................43
Figura 3.2.4 –
Sentimentos admitidos pelos alunos testemunhas diante de
. situações de bullying na sua escola ............................................... 43
Figura 3.2.5 – Sentimentos admitidos pelos alunos autores de bullying. .............. 44
LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 – Utilização típica da Web 0.0........................................................17


Tabela 1.2 – Número de internautas registrados no Brasil...............................23
Tabela 4.5.1 – Uma fotografia transnacional do uso da tecnologia relatando
. cyberbullying.................................................................................59
Tabela 4.6.1 – Cenário Global de combate...........................................................61
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRAPIA Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à infância e


Adolescência.
ARPA Agência de Pesquisas e Projetos Avançados.
ASP Active Server Pages.
CC Código Civil.
CF Constituição Federal.
CP Código Penal.
CMC Comunicação Mediada Por Computadores.
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente.
IDEC Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.
IP Protocolo de Interconexão.
PHP Hypertext Preprocessor.
TIC Tecnologias da Informação e Comunicação.
TCP Protocolo de Controle de Transmissão.
W3C Consórcio World Wide Web.
WEB World Wide Web.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................ 12
1. CONTEXTO HISTÓRICO ............................................................ 14
1.1. A ORIGEM DA INTERNET.............................................................................. 14

1.2. A WEB 2.0 ....................................................................................................... 20

1.3. A INTERNET E SUA IMPORTÂNCIA.............................................................. 23

1.4. DIVISÃO DIGITAL OU EXCLUSÃO SOCIAL .................................................. 25

1.5. INTERNET VERSUS DEMOCRATIZAÇÃO: ................................................... 28

2. AS REDES SOCIAIS E O CAPITAL SOCIAL .............................. 30


2.1. NÚMERO DE DUNBAR .................................................................................. 34

3. BULLYING .................................................................................. 36
3.1. CONCEITO E CAUSA ..................................................................................... 36

3.2. BULLYING, CONSEQUÊNCIAS E CONTRAMEDIDAS.................................. 40

3.3. HISTÓRICO DE CASOS DE BULLYING ........................................................ 48

4. CYBERBULLYING ....................................................................... 51
4.1. CONCEITO DE CYBERBULLYING, (UMA EVOLUÇÃO DO BULLYING). ..... 51

4.2. CARACTERÍSTICAS DO CYBERBULLYING. ................................................ 52

4.3. FORMAS DE ATAQUE COMUNS: ................................................................. 54

4.3.1. Ataques Diretos: ..................................................................................................................... 54


4.3.2. Ataques Indiretos: .................................................................................................................. 56
4.4. CYBERBULLYING – ASSÉDIO E DANO MORAL. ......................................... 57

4.5. CENÁRIO DO CYBERBULLYING NO MUNDO .............................................. 58

4.6. UMA SOLUÇÃO AO CYBERBULLYING ......................................................... 60

4.7. CASOS DE CYBERBULLYING ....................................................................... 63

CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................63
REFERÊNCIAS ........................................................................... 66
12

INTRODUÇÃO

Devido à evolução dos meios de comunicação e os novos rumos do


gerenciamento da informação, novas soluções acompanhadas de novos problemas
são desencadeados. A facilidade aos meios de comunicação, a velocidade com que
as informações ganham espaço na web 2.0, a popularização da internet como
campo sem fronteiras cada vez mais popular e, portanto, mais difuso; contribuem
fortemente para uma expansão no uso e consequentemente na relevância da rede
mundial de computadores conhecida como “internet”.

A internet tem um papel amplo com sua estrutura na disseminação de


informações e consequente formação de opiniões e de indivíduos. A expansão da
utilização desta tecnologia se concretizou a partir de uma nova forma de interação
entre as páginas (informações) e seus usuários com os navegadores, serviços
on-line , portais, chegando a um patamar social com as chamadas redes sociais.

Talvez uma das ferramentas mais imponentes tecnologicamente no mundo, “a


Internet proporciona uma revolução na história da humanidade comparável à
Revolução Industrial” (ERCILIA E GRAEFF, 2008, p.16).

No entanto esta onda de disseminação de informações cada vez mais rápida


e eficaz tem um efeito oculto. Apesar do uso da tecnologia da informação
proporcionar indiretamente o desenvolvimento social e cultural, paralelamente a este
avanço, vê-se surgir pessoas que têm usado esse avanço para a prática de atos
danosos.

A utilização de qualquer aplicação tecnológica da informação como as redes


sociais, os e-mails, entre outros, podem ser direcionados para um (já considerado)
13

crime virtual que vem crescendo e ganhando espaço, principalmente no ambiente


escolar: O Cyberbullying1.

O fenômeno Bullying2 já é conhecido e tem sido fonte de preocupações para


educadores do ambiente escolar que buscam combatê-lo de diversas formas.
Porém, a era digital trouxe um ‘upgrade’ ao bullying resguardando o agressor no
falso anonimato trazendo consequências ao agredido muitas vezes maiores que o
bullying convencional.

Um grande número de adolescentes tem tido contato com novas tecnologias


bem como com o fenômeno do cyberbullying. As vítimas deste novo tipo de
agressão podem sofrer distúrbios emocionais, doenças e transtornos muitas vezes
irreparáveis que prejudicam a sociedade como um todo.

Por ser a internet um meio amplamente aberto, a impressão de total


liberdade gera segurança aos agressores responsáveis pela prática do cyberbullying
que não temem qualquer tipo de consequência pelos atos praticados e sentem-se
indiferentes a estas consequências aplicando diversas formas de ataque.

Esta monografia pretende discutir de forma genérica os aspectos que


envolvem a prática do cyberbullying do ponto de vista social, analisando sua
evolução em paralelo a evolução de algumas das tecnologias empregadas na
prática deste crime virtual, suas causas, impactos, o combate e as consequências
de quem é agredido ou de quem agride. Pretende-se por meio de estudos
bibliográficos chegar a uma perspectiva de combate ao cyberbullying com o apoio da
sociedade, demonstrando que a preocupação e o combate a estes atos deve ser
maior, já que as consequências são dificilmente aliviadas mais tarde.

Pretende-se ainda apresentar o cenário deste fenômeno em outros países de


forma a provocar uma maior reflexão acerca das soluções existentes e demonstrar
algumas das medidas adotadas na prevenção e combate deste fenômeno.

1
Cyberbullying é a prática que envolve o uso de tecnologias da informação e comunicação para dar
apoio a comportamentos deliberados, repetidos e hostis praticados por um indivíduo ou grupo com a
intenção de prejudicar outrem.
2
O termo Bullying é utilizado para descrever os atos de violência física ou psicológica, intencionais e
repetitivos praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir
outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de se defender.
14

1. CONTEXTO HISTÓRICO

1.1. A ORIGEM DA INTERNET

A internet, (internetwork) ou mesmo rede global de computadores nasceu


do medo norte-americano de um ataque nuclear soviético na corrida armamentista
entre os Estados Unidos e a União Soviética em 1969 (BARBOSA, 2005).

Naquela época foi gerado um experimento (que mais tarde seria uma rede de
computadores) financiado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos e
executado pela conhecida ARPA (Agência de Pesquisas e Projetos Avançados) que
conectou computadores distantes através de linhas telefônicas com o objetivo de
criar uma malha de comunicação eletrônica entre os diversos centros de
conhecimento dos Estados Unidos de modo que pudessem trocar informações caso
uma das cidades fosse varrida do mapa por um possível ataque nuclear (BARBOSA,
2005).
A integração das universidades foi consagrada mais tarde com o ingresso de
duas outras universidades formando a ARPANET, rede que daria origem mais tarde
a internet.
No ano de 1972 foram criados os protocolos de comunicação que
estabeleceriam como os dados trafegariam entre os computadores.
O protocolo TCP/IP3 que é utilizado até hoje passou a ser amplamente
utilizado na década de 80 do século passado.
Em 1988 o Brasil integrou-se à rede conjunta de universidades que somavam
100.000 endereços e que servia como meios de troca de textos e mensagens.

3
O protocolo TCP (Transmission Control Protocol - Protocolo de Controle de Transmissão) \ IP
(Internet Protocol - Protocolo de Interconexão) é um conjunto de protocolos orientados à conexão em
uma rede.
15

Após a ‘guerra fria’4, o investimento ao projeto da ARPANET que era


financiado pela esfera militar cessou, direcionando as grandes empresas e os
centros de pesquisa para outras áreas de desenvolvimento (BARBOSA, 2005).
Em 1991, o físico e cientista de computação Tim Berners-Lee desenvolveu o
Hypertext Markup Language ou HTML (linguagem que representa o conteúdo
informacional em termos de páginas da web possibilitando o desenvolvimento do
primeiro website. Tim Berners-Lee desenvolveu o conceito da World Wide Web
como “um sistema para criar, organizar e ligar documentos [...]” (FRIEDMAN, 2006,
p.76).
A rede que fora desenvolvida para cientistas trocarem dados entre si,
facilitando as pesquisas, foi popularizada e hoje trata-se de uma web mais plural que
traz consigo a proposta de permitir que pessoas trabalhem em conjunto,
combinando conhecimentos numa rede de documentos. Para atingir esta proposta a
rede continua como fora idealizada: Aberta, sem dono exclusivo e gratuita
(Friedman, 2006).

Tim Berners-Lee (2004, p.1) atual diretor do W3C (World Wide Web
Consortium) define a Internetwork como:

[...] rede de computadores dispersos por todo o planeta que trocam dados e
mensagens utilizando um protocolo comum, unindo usuários particulares,
entidades de pesquisa, órgãos culturais, institutos militares, bibliotecas e
empresas de toda envergadura.

A genialidade de Tim Berners-Lee possibilitou a fusão dos três requisitos


técnicos básicos responsáveis pela popularização da navegação web como é vista
hoje:

1) Localizador ou Identificador Uniforme de Recursos (URL ou URI)


para identificar os recursos (por exemplo, documentos ou dados) na web, e saber
onde encontrá-los.

4
Designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os
Estados Unidos e a União Soviética compreendido entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e
a extinção da União Soviética (1991).
16

2) Hypertext Markup Language (HTML) linguagem que representa o conteúdo


informacional em termos de páginas da web ou “língua Internacional da Web”
(Friedman, 2006, p.78).

3) Hypertext Transfer Protocol (HTTP) protocolo necessário a movimentação de


dados da web em toda a Internet.

Apesar de ter sido criada embrionariamente frágil, a internet não pode ser
simplesmente desligada5. A ‘super-rodovia’ da informação possui uma estrutura
complexa e por isso não existe forma simples de desabilitá-la.

A internet é atualmente regulada pela ICANN (Corporação para Atribuição de


Nomes e Números na Internet) que é responsável pela coordenação global do
sistema de identificadores exclusivos da rede mundial de computadores.

A ICANN é formada por governos e organizações internacionais criadas por


tratados e parcerias com empresas, organizações e indivíduos capacitados que se
dedicam a construir e manter a Internet global.

Esta corporação teve grande importância e coordenou operações e


informações necessárias ao funcionamento da rede, principalmente durante a
década de 1990, quando os navegadores davam mais vida a internet, estimou-se
um crescimento a mais de 100% ao ano, algo que não podia ser negligenciado
(CAIRNCROSS, 2000).

A preocupação da corporação na época era com a nomeação dos novos


domínios na rede que crescia impulsionada pela demanda espontânea dos usuário e
não pelo departamento de marketing de empresas (CAIRNCROSS, 2000).

Com a evolução da rede, Sampaio (2007) destaca treze eventos principais


que dividem a antiga da nova web:

1. Início de 1993: Marc Andreessen e Eric Bina, ambos do national Center for
Supercomputing Aplications(NCSA), criaram o navegador gráfico Mosaic.

5
Como bem observado na Declaração de Independência do Ciberespaço criada em 1996 por John
Perry Barlow referindo-se aos governos que tutelavam a internet “Não pensem que vocês podem
construí-lo, como se fosse um projeto de construção pública. Vocês não podem. Isso é um ato da
natureza e cresce por si próprio por meio de nossas ações coletivas”.
17

2. Junho de 1993: Thomas R. Bruce criou o primeiro browser para Windows: o


Cello.
3. Abril de 1994: A Empresa Mosaic Communications Corporation fundada por
Andreessen e Jim Clark, muda seu nome para netscape Communications.
4. Abril de 1994: O website de jerry Yang e David Filo muda de nome para Yahoo.
5. Setembro de 1994: O Consórcio W3C é fundado.
6. Maio de 1995: A linguagem Java é disponibilizada para o mercado pela Sun.
7. Julho de 1995: A Amazon.com entra em funcionamento.
8. Agosto de 1995: A Microsoft lança o navegador MS Internet Explorer, dentro do
pacote PLUS para Windows.
9. Setembro de 1995: Gustavo Viberti e Fábio Oliveira Fundam o primeiro site de
buscas brasileiro: o ‘Cadê’.
10. Dezembro de 1995: A Versão 2.0B3 do navegador Netscape traz a linguagem
interpretada Javascript.
11. Final de 1995: Jack London cria a livraria virtual Booknet no Brasil.
12. 1996: Nascem os primeiros jornais online; JB Online; Globo Online.
13. Agosto de 1996: A Microsoft lança a versão 3 do Internet Explorer com suporte à
tecnologia Activex.

Nesta época, a maioria das páginas em HTML eram estáticas,e a navegação


era da elite entusiasmada que pagava o preço do pioneirismo. A tabela 1.1 ilustra
como a internet era típicamente utilizada pelos internautas segundo Sampaio:

Tabela 1.1 Utilização típica da Web 0.0

Paginas Pessoais Buscas Notícias

Chat Softwares Novidades

(Fonte: Adaptado de SAMPAIO (2007), p.5).

A maior parte da navegação se relacionava com a criação de páginas


pessoais, buscas e notícias. Chats eram bastante frequentados e o
compartilhamento de software nascia juntamente com as entusiasmadas buscas por
novidades na web.
18

“Entre 1996 e 1998, os bancos e as grandes cadeias de comércio


‘descobriram’ o mercado potencial da internet, impulsionado pelo surgimento de um
grande número de provedores de acesso. A web profissional criava corpo e as
empresas estratégias [...]” (SAMPAIO, 2007, p. 6). Desta forma, era inevitável sua
crescente popularização.

A primeira versão do PHP é liberada em 1995, e no mesmo ano a Microsoft


lança a tecnologia Active Server Pages (ASP). Em 1996 a Sun lança Java Servlet
API e no mesmo ano surge o Flash 1.0.Em 1998 o Google é lançado, e de 1998 a
1999 entram no ar Americanas.com e o Submarino.com e em janeiro de 2000 a
América On Line compra a Time Warner.

Foi este, o período denominado de ‘nova economia’ ,em que empresas eram
criadas do dia para a noite “baseada em uma abundante oferta de capital de risco
com baixas taxas de juros” (SAMPAIO, 2007, p.10).

Todos os eventos citados atraíram direta ou indiretamente diversas pessoas


para a web. O nível de qualidade das páginas e o surgimento de tecnologias
servidoras como JSP, PHP e ASP facilitou a criação de sites mais dinâmicos e que
alinhavam-se com o público alvo de suas informações e serviços. A tendência foi
clara e a disseminação da rede teve o mais alto índice de disseminação de
tecnologia já vista antes.

A figura 1.1 ilustra a velocidade de disseminação da internet comparando-a


com as outras tecnologias:
19

Figura 1.1 – Popularização das Tecnologias


(Fonte: Blummenschein e Freitas, (2000))

Em interpretação à figura 1.1, enquanto o rádio chegou a demorar trinta e oito


anos para alcançar cinquenta milhões de usuários, a internet, alcançou este mesmo
número de usuários em quatro anos.

A popularização da internet na ‘nova economia’ desenvolveu grande furor


entre investidores, entretanto, as ações na bolsa de valores não conseguiram
manterem-se em alta. ‘Empresas.com’ não conseguiam se estabilizar na ‘nova
economia’. As ações do mercado do índice da bolsa eletrônica de Nova York, a
Nasdaq (National Association of Securities Dealers), chegaram a alcançar em seu
auge 5.132,50 pontos, pois era influenciada pela velocidade com que novos
negócios eram criados. Três dias depois do auge, uma imensa quantidade de
pedidos de venda das mesmas ações caracterizou o “estouro da bolha da nova
economia” (BARBOSA, 2005, p. 17).

Contudo, houve grande contribuição para a evolução da web e para a forma


como as pessoas a utilizavam pois “apesar da perda de confiança no modelo de
negócios da ‘nova economia’ este acontecimento tornou possível às empresas
tradicionais ingressarem no mercado web com toda a sua experiência e
lucratividade” (SAMPAIO, 2007, p.8).
20

1.2. A WEB 2.0

A definição da WEB 2.0 pode ser extraído do artigo ‘What Is Web 2.0’ que
segundo Tim O’Reilly (2005, p.2) caracteriza-se como:

A mudança para uma internet como plataforma, e um entendimento das


regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais
importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para
se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a
inteligência coletiva.

A web 2.0 é um termo fruto de uma conferência de brainstorming entre


O’Reilly e a empresa MediaLive International em 2004 para designar uma segunda
geração de comunidades e serviços na internet, tendo como conceito a ‘Web como
plataforma’, envolvendo wikis (base de conhecimento gerado rapidamente pelos
próprios usuários), redes sociais e toda tecnologia da informação baseada na
gratuidade, contribuição e inteligência coletiva.

O marketing e a publicidade online mudaram com a web 2.0. As empresas


não se limitam mais a simplesmente comunicar a existência de determinado produto,
controlando informações a cerca deste, criando um muro e tentando manter
consumidores do lado de dentro. O marketing antigo deu lugar ao marketing direto,
onde o consumidor adquire o produto pelas informações que outros usuários dão à
respeito de determinado produto sem se dirigir ao ponto de venda que cada vez
mais torna-se cara (PINHO, 2000). Havia necessidade de utilizar a contribuição de
críticas do consumidor que interagisse com o produto. A publicidade deixou de ser
uma via de mão única onde a empresa emite uma mensagem e o consumidor tem o
papel de recebê-la, ao contrário, o consumidor reage e contribui para a construção
do produto de forma colaborativa e participativa (JOHNSON T. , 2010).

As páginas antigas que eram repletas de textos mortos de apenas uma via
foram substituídas pela multimídia, pelo ‘movimento de mão dupla’6, surgiram novos
browsers gráficos e a uma nova maneira de navegar e de se criar a web.

6
Movimento de mão dupla é um conceito criado por Tim Berners Lee para caracterizar um espaço
onde as pessoas podem contribuir com o conteúdo livremente, onde a contribuição do coletivo gera o
conteúdo da página, e não apenas quem a publicou.
21

Investimentos em novas aplicações foram necessárias para criar uma web cada vez
mais dinâmica e mais utilizada pela população (PINHO, 2000).

Apesar da crítica ao termo ‘web 2.0’ vista por especialistas por ‘carecer de
sentido’ (LANINGHAM, 2005) ou mesmo a visão de certos especialistas como termo
advinda de “uma jogada de marketing” (BRODKIN, 2007, p.4) a referência a web 2.0
ainda hoje é bastante difundida, e com um ano e meio da data de sua divulgação, o
site de buscas Google já registrava 9,5 milhões de citações (O'REILLY, 2005).

Segundo O’Reilly (2005), a web 2.0 é marcada pela transição dos diversos
serviços de uma época menos participativa dos usuários da rede, para uma versão
mais participativa, e portanto, mais simples e rápida. Tim O’Reilly construiu em seu
artigo um conjunto de princípios e práticas na web 2.0 que tornam um sistema de
websites competitivos na era atual. A figura 1.2 ilustra um exemplo do que seria a
web 2.0:

Figura 1.2 – Senso da web 2.0


(Fonte: O’REILLY,2005,p.1(tradução nossa))

Brandizzi (2007, p.6) descreve o panorama da web 2.0 onde: “Graças a


internet está se portando como uma intercessora entre as construções de
conhecimento e as relações sociais”.

James Surowiecki (2004, p.22) definiu esta característica como a “Sabedoria


das Multidões” que na construção de O’Reilly segue um núcleo e tem determinados
sites ou serviços mais ou menos próximos do idealizado conforme a figura 1.3:
22

Figura 1.3 – A Web como plataforma.


(Fonte: Adaptado de O’REILLY,2005,p.1(tradução nossa))

A figura 1.3 ilustra que os serviços, a arquitetura participativa, a capacidade


de alterar a escala de uma aplicação de acordo com seu custo-benefício, a
alternância entre fontes de informações junto das transformações dos dados, e o
aproveitamento da inteligência coletiva formam o núcleo da Web 2.0.

A ‘super-rodovia’ da informação sofre grandes inovações diariamente e no


mundo atual ganha seu espaço ultrapassando as mídias convencionais como bem
descreve Recuero, (2002, p.21):

[...] Além disso, a Internet apresenta uma convergência de mídias. No


computador já é possível assistir televisão, ouvir rádio ou ler jornal [...]
Enfim, todas as mídias tradicionais com o plus da interatividade. Logo,
enquanto usuários da Rede, cada indivíduo é um emissor massivo em
potencial. Pode difundir mensagens e idéias através de e-mail, chats ou
mesmo em listas de discussão e websites. Pode difundir sua música através
da gravação da mesma em um formato que seja manipulável através da
Internet. Pode gravar um vídeo em uma câmera digital e divulgá-lo. Enfim,
as possibilidades são inúmeras. Cada indivíduo é um emissor e um receptor
simultaneamente na Rede.
23

A rede adquiriu por essa forma de interação milhões de novos usuários


brasileiros de acordo com uma pesquisa realizada pelo Ibope Nielsen Online (2009).

Tabela 1.2 – Tabela 2x5, Número de Internautas registrados no Brasil Adaptado.—.


Milhões 2006 2007 2008 2009

Usuários da Internet em
Milhões (Fonte Ibope 32,5 39 62,3 66,3
2009)*

* total de pessoas maiores de 16 anos com acesso à internet em qualquer


ambiente (casa, trabalho, escolas, universidades e outros locais)

(Fonte: Ibope Nielsen Online, (2009))

Os meios de acesso a essa tecnologia como conexão dial-up, banda larga


(em cabos coaxiais, fibras ópticas ou cabos metálicos), pontos Wi-Fi, satélites e
telefones celulares com tecnologia 3G7 estão por toda a parte e a larga escala de
demanda a certos produtos bem como a evolução das telecomunicações vem
barateando o meio de se acessar a internet (MONTEIRO, 2008).

Com a rápida expansão da tecnologia, a internet desencadeou ainda


discussões a respeito de um possível colapso já que com uma análise no fluxo de
informações que trafegam pela internet, a empresa Nemertes Research Group
concluía que a rede mundial poderia sofrer um colapso até 2010 devido à escala de
dados trafegados na atual estrutura (THOMSON, 2007). No entanto, o que se nota
ainda é um grande crescimento do número de usuários indiferente à pesquisa
realizada pela Nemerter Research Group no mundo8.

1.3. A INTERNET E SUA IMPORTÂNCIA.

Na presente sociedade do conhecimento, uma nova estrutura econômico


social, profundamente ligada à tecnologia surge (SORJ, 2003, p.30).

7
Tecnologia 3G é a terceira geração de padrões e tecnologias de telefonia móvel.
8
De acordo com a Agência das Nações Unidas (2010) o número de usuários da internet ultrapassará
2 bilhões até o fim deste ano.
24

No presente período de desenvolvimento da sociedade, a internet mostra-se


como um dos principais artefatos tecnológicos que incorporam o conhecimento
científico e auxiliam a comunicação, qualidade de vida e as relações econômicas e
sociais através da propagação do conhecimento.
A Internet tem revolucionado o mundo dos computadores e das
comunicações como nenhuma invenção foi capaz de fazer antes. Do telégrafo ao
telefone, e depois ao rádio e a televisão, a Internet resume-se a uma “integração de
capacidades” (LEINER et al, 1997, p.2).

Mais que simples acesso a informação, conhecimento e a comunicação,


Magalhães (2010, p.1) vai além: “[...] Internet provoca mudanças tanto na sociedade
quanto no indivíduo que a utiliza e estas mudanças refletem em suas atitudes,
pensamentos ou mesmo em suas formas de agir [...]”.

A rede global fruto de uma revolução tecnológica da informação, consolida-se


com seu amplo rol de serviços e atividades que são executadas através dela, parece
cunhar a uma “aldeia global” 9 ( MCLUHAN, 2005, p.112).
Serviços comunicacionais como a própria WWW (Word Wide Web ou rede de
alcance mundial, e-mail (serviço de correio eletrônico), CHAT( em português serviço
de bate-papo em tempo real), conferências, rádio e tv on-line, serviços de tradução
on-line, passando pelo ramo do entretenimento com jogos on-line, redes de
interação social virtual, vídeocasts (informativos em vídeo), são exemplos de
atividades ou serviços que direta ou indiretamente ajudam a enriquecer e valorizar
determinada cultura no mosaico cultural (MORAIS, 2003).

A internet tratada como fonte de revolução da informação (MCLUHAN, 2010),


consiste em um sistema aberto que está em constante desenvolvimento e, portanto
consagra-se como Leiner (et al, 1997, p.4) sustenta “[...] um dos mais bem
sucedidos exemplos dos benefícios da manutenção do investimento e do
compromisso com a pesquisa e com o desenvolvimento de uma infra-estrutura para
a informação”.

9
Mcluhan sociólogo canadense propôs este conceito em seu livro a aldeia global como fruto do
progresso tecnológico que reduzia todo o planeta à uma mesma situação como em uma grande
aldeia.
25

A partir das primeiras pesquisas com trocas de bytes de informação, o


governo, a indústria e o meio acadêmico têm sido parceiros na evolução e uso desta
nova tecnologia possibilitando a internet ganhar cada vez mais espaço no cotidiano
de milhões de pessoas e sua expansão em conjunto da valorização da informação
criam uma nova exigência social: o domínio da tecnologia (NAUGHTON, 2005).

A internet que hoje consagra-se como uma entidade pública, cooperativa e


autossustentável (TURBAN, MCLEAN, WETHERBE, 2004) por trazer uma série de
benefícios deve ser alcançada por todos os povos.

1.4. DIVISÃO DIGITAL OU EXCLUSÃO SOCIAL

São tantos os benefícios que o meio digital traz para a população com
alcance a ela que torna-se cada vez mais essencial sua difusão contributiva e
expansiva dos conhecimentos com a chamada erudição. No entanto a maior parte
da população sente dificuldade em alcançá-la aumentando a desigualdade que deve
ser combatida a todo custo.

O acesso desigual às TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação)


“pode ser verificado em desníveis territoriais, de raça, renda, gênero, e acesso à
educação” (SAVAZONI et al, 2009, p.60). A chamada ‘digital divide’ ou brecha digital
foi fortemente combatida nos EUA com seu ex-presidente Bill Clinton, e seu então
vice-presidente Al Gore.

Com o combate a exclusão digital promovida aos EUA, um evento que não
teria o mesmo efeito se fosse implantado no Brasil foi a campanha presidencial do
presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, que teve na internet a
sua base de apoio (SAVAZONI et al, 2009).

Suas propostas e o contato com a população que podia interagir em tempo


real com o candidato foi propulsora de efeitos considerados positivos para sua
campanha.

As novas formas de interação, novas facilidades que se desencadeiam no


território nacional faz parecer que “quase todos os aspectos das nossas vidas são
26

guiados por computadores” (SCRIMGER; LASALLE; PARIHAR; 2002, p.3). O


cotidiano das pessoas continua a ser influenciado pelos novos avanços da Internet.
A digitalização de processos, compras on-line, os serviços de e-mails com
possibilidades de envio de anexos e espaços de armazenamento cada vez maiores,
sites e programas como orientadores geográficos de posições, caminhos a lojas,
rotas entre cidades, compras e pagamento de contas são apenas alguns exemplos
de serviços virtuais que nos auxiliam diariamente em tarefas próprias do cotidiano
(SCRIMGER; LASALLE; PARIHAR; 2002).

A comunicação interativa social mostra-se cada vez mais presente e com o


crescimento da infraestrutura torna-se natural um significativo aumento no número
de horas em média que os internautas brasileiros têm navegado:
Em pesquisa realizada pelo Ibope Nielsen Online (2009) mostrava que o
Brasil era campeão em termos de tempo gasto na internet no mundo. No mês de
março de 2009, os internautas brasileiros domiciliares passaram, em média, 26
horas e 15 minutos online. Foi o maior índice registrado até então que contou com a
participação de dez países, dentre eles, grandes potências como Estados Unidos e
Reino Unido.

Nova pesquisa também realizada pelo Ibope Nielsen Online mostra mais uma
vez o Brasil vencedor com quarenta e oito horas e vinte e seis minutos em média
como tempo de navegação representado na figura 1.4.
27

Figura 1.4 - Tempo médio de navegação por internauta.


(Fonte: Adaptado de Ibope Nielsen Online, 2009)

O Brasil consagra-se como um país de contingente extremamente adepto e


dependente desta tecnologia.

Não se pode descartar o fato de que a velocidade média de navegação do


Brasil seja muito inferior ao de outros países, o que contribui para um aumento no
tempo médio de navegação.

Uma pesquisa realizada pelo IDEC (2010) (Instituto Brasileiro de Defesa do


Consumidor) veio comprovar que pagamos muito por uma internet ainda muito lenta
já que para ter internet banda larga em casa, o brasileiro paga em média US$ 28 por
mês, valor que chega a 4,58% da renda per capita no país.

Além de pagar caro, a velocidade média de conexão do brasileiro é de pouco


mais de 1 Mbps10, sendo que 20% das conexões têm velocidade inferior a 256 Kbps,
o que passa bem longe da velocidade mínima estabelecida pela União Internacional
de Telecomunicações (UIT), que fica entre 1,5 Mbps e 2 Mbps (Notícias em
Tecnologia e Games, 2010).

10
O megabit por segundo (Mbps or Mbit/s) é uma unidade de transmissão de dados equivalente a
1.000 kilobits por segundo.
28

Na visão do instituto, a concorrência “quase inexistente” é a principal vilã para


os preços da banda larga no mercado brasileiro algo que deve se desenvolver mais
a frente com novas concorrentes.

Nas palavras de Guerrini, advogada do IDEC, a internet no Brasil é cara, lenta e


restrita (DEREVECK, 2010).

Tendo em vista a posição em que o Brasil ocupa no quesito tempo de


navegação, a dependência da população a esta tecnologia é apoiada pelo IDEC que
considera a banda larga um serviço essencial ao cidadão e luta por sua
universalização (DEREVECK, 2010).

1.5. INTERNET VERSUS DEMOCRATIZAÇÃO:

Presencia-se atualmente no Brasil uma grande discrepância entre a internet


gratuita disponibilizada a todos como fora idealizada pelo seu criador da presente
situação em que se encontra o internauta brasileiro.

Afonso (2000, p.1) critica a democratização da internet no Brasil:

Assim como todos os outros recursos brasileiros, a infraestrutura básica


para a disseminação da Internet é restrita aos principais municípios e
prioriza as camadas mais abastadas da sociedade, tendo como paradigma
de utilização o acesso individual que reproduz nossa política de transportes.
Tal como esta é feita para quem tem carro, nossas ‘autopistas da
informação’ são feitas para quem tem microcomputador, linha telefônica e
dinheiro para pagar o acesso à Internet – ou seja, para os ricos.

Segundo dados recentes da União Internacional de Telecomunicações,


apenas metade das escolas brasileiras tem acesso à internet, a taxa brasileira é
bem inferior à média dos países ricos e ainda às taxas de países como Omã, Chile,
Arábia Saudita, Tunísia e Turquia (CHADE, 2010).

Apesar das medidas governamentais de popularização da rede continuarem


como uma ambição do país em forma de seus representantes como discursou o
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo poderá assumir a tarefa de levar a
29

internet de alta velocidade para todos os municípios do país: ”A banda larga vai sair”
(informação verbal)11. Assegurando ainda, nesta mesma visita à Curitiba que:

Ou as empresas privadas fazem parceria com o governo e a gente faz o


que tem que fazer ou o governo estará preparado para fazer se as
empresas não estiverem interessadas em fazer. Vamos levar a banda larga
para onde for necessário levar, porque achamos que todo o brasileiro tem
que ter igualdade de oportunidade.

As medidas governamentais de implantação da internet em escolas, pontos


de acesso, lan houses, entre outros, provocou certamente uma maior inclusão digital
na população. Em 2007 pela primeira vez na história foram vendidos mais
computadores com 10,7 milhões de vendas, que televisores com cerca de
10,5 milhões (ABREU, 2007).

A revolução na preferência dos consumidores influenciou a queda dos preços


dos microcomputadores, depois nos notebooks e celulares e hoje segue barateando
toda a CMC (comunicação mediada por computadores). Esta revolução é explicada
pelas leis da nova economia formuladas por Kelly (1999), entre elas a Lei da política
inversa dos preços onde paradoxalmente, o melhor produto (que normalmente
deveria ser o mais caro) fica mais barato a cada dia. Os chips de computador são
exemplos da aplicação da política inversa dos preços, pois reduzem-se à metade do
preço e dobram de poder a cada dezoito meses.

Gilder (2000) associa esta lei de preços à banda larga teorizando que nos
próximos vinte e cinco anos a banda larga terá sua capacidade triplicada e atingirá
um custo próximo de zero.

11
SILVA, Luiz Inácio Lula. Discurso palanque em Curitiba-PR em 12 mai 2007.
30

2. AS REDES SOCIAIS E O CAPITAL SOCIAL

As formas de organização, identidade, interação e mobilização social têm


mudado com o uso das ferramentas de comunicação mediada por computadores.

A noção de rede remete primitivamente à noção de capturar a caça. “Por


transposição, a rede é assim um instrumento de captura de informações”
(FRANCHINELLI, MARCON, MOINET, 2001, p. 1) captura esta que vem de forma
acelerada dada a velocidade com que a informação multiplica-se.

Para Duarte (2008 p. 156), as redes sociais “caracterizam-se como estruturas


sociais compostas por organizações ou pessoas com objetivos, interesses e valores
em comum”. Estas redes têm seu espaço no mundo virtual através dos sites de
relacionamento que vêm crescendo em ritmo acelerado no Brasil e no mundo.

Facebook e Hi5 são os sites de relacionamento social que mais crescem no


mundo, com taxas de crescimento de 153% e 100% em seu número de visitantes
entre 2007-2008. 67% dos adolescentes europeus passam a maior parte do tempo
em que estão on-line em redes de relacionamento social. A popularidade das redes
sociais cresce exponencialmente principalmente entre jovens na web. Estudos
recentes realizados pela empresa Mcafee mostram que a rede social atrai pessoas
pois as permitem que:

• Se comuniquem com amigos e familiares.


• Conheçam pessoas.
• Retomem o contato com antigas amizades.
• Compartilhem mensagens, vídeos e fotos.
• Planejem suas vidas sociais.
• Participem de grupos ou causas de seu interesse.
• Joguem on-line com outros membros.
31

A compreensão da necessidade de uma nova web (web 2.0) bem como os


avanços tecnológicos e sua facilidade de utilização facilitou o interesse e difusão
dessas redes. A internet que era utilizada apenas por “acadêmicos, nerds,
pesquisadores e cientistas” hoje, é utilizada em grande parte por jovens, adultos e
crianças que estão on-line para se conectar, construir relacionamentos e formar
comunidades (ANDREESSEN, 2008)12. De acordo com o já mencionado, Recuero
(2009, p.12) afirma que “As tecnologias digitais ocupam um papel central nas
profundas mudanças experimentadas em todos os aspectos da vida social”.

Entre os aspectos da vida social afetada pela tecnologia surge um termo


recentemente usado para quantificar a ‘reputação’ das pessoas que fazem parte
deste meio tecnológico, o chamado capital social.

Hanifan ((1916) apud LIMA, POZO, 2009, p. 15) definiu o ‘capital social’ pela
primeira vez em 1916 como: “[...] coisas intangíveis que são importantes para o
cotidiano das pessoas, como por exemplo, boa vontade, amizade, solidariedade e
interação social entre os indivíduos e as famílias que compõem uma unidade social”.
Certamente não imaginava o alcance do capital social no século XXI onde existe ao
menos virtualmente imenso número de interações e grande apego a este capital.

Hoje a interação representa grande importância no cenário virtual social


fazendo ressurgir temas além do capital social como por exemplo a "inteligência
emergente" (JOHNSON, 2001, p.46), os "coletivos inteligentes" (RHEINGOLD, 2002,
p. 47), ou mesmo "cérebro global" (RUSSELL, 1983, p.111 (tradução nossa)).

Se a integração e a evolução do ser humano, como explorado por Russel


(1983) ocorre através da união de bilhões de células (pessoas) com diversos papéis
(ações) é certo que atualmente, o ‘capital social’ gera a individualidade no meio
virtual em ampla ascensão.

As redes sociais operam em diferentes níveis como as redes de


relacionamento, redes profissionais, redes comunitárias, políticas e entre outras, que
possibilitam atividades conjuntas com a movimentação de ideias aglomeradas para
um determinado fim. Este determinado fim um tanto abstrato tem sido aproveitado
12
Marc Andreessen foi o criador do Mosaic, o primeiro navegador gráfico no mundo.
32

por pequenas e grandes corporações através do chamado marketing ‘boca-a-boca’


que evoluiu para o ‘boca-a-mundo’ retratado na figura 2.1.

Figura 2.1 - Diferença entre o boca-a-boca e o boca-a-mundo


(Fonte: QUALMAN (2010, p. 2))

A divulgação dos pontos positivos de produtos têm se disseminado pelas


redes sociais em escalas monstruosas sem custos diretos, as redes são capazes de
demonstrar que “as estratégias tradicionais de marketing são obsoletas”
(QUALMAN, 2010, p.3 (tradução nossa)).

Uma integração jamais vista antes só foi possível, a partir do momento em


que o relacionamento social deixou de situar-se espacialmente localizado. O contato
simultâneo de inúmeras pessoas entre si independentes de sua localização no
espaço é possível graças ao relacionamento no ciberespaço, graças as redes de
relacionamento virtual (SORJ, 2003, p.36).

Esta integração é presente tanto em países desenvolvidos quanto em países


emergentes, segundo pesquisa Nielsen Ibope divulgada no jornal O GLOBO (2010).

Os internautas brasileiros são os que mais acessam redes sociais com 86%
de internautas ligados a rede, uma de cada quatro horas de conexão destes
33

internautas é dedicado às redes sociais o que ressalta a posição do Brasil neste


cenário.

Em fevereiro de 2010, a audiência em redes sociais, como blogs, bate-papos,


fóruns e outros canais de relacionamento, alcançou 31,7 milhões de pessoas no
Brasil segundo dados do Ibope Nielsen Online (2010) que segue tendência de
aumento.

Twitter, Facebook, Orkut, Myspace, Skyblog, Hi5, Friendster, Live Journal,


são exemplos das diversas das mídias sociais que contribuem para ampliação do
cyber espaço. Apesar dos sites de relacionamento virtual terem como alicerces a
quebra de fronteiras, a preferência por uma ou outra rede pode ser racionalmente
regional de acordo com os interesses dos próprios indivíduos conforme mostra a
figura 2.2:

Figura 2.2- Preferências de sites de relacionamento no Mundo


(Fonte:LeMonde.fr 14/01/08)

Explicando: A figura 2.2 mostra que o site de relacionamento social virtual


Orkut é o preferido na América Latina com 156 milhões de usuários. Segue também
a preferência pelo site de relacionamento criado pela Google o continente Asiático,
34

com 65 milhões de usuários da rede, enquanto Myspace e Facebook dominam a


América do norte (Canadá e Estados Unidos com 171 e 223 milhões de usuários
respectivamente).

A diversidade na utilização ou preferência de certos sites de relacionamento


social ou ‘redes sociais virtuais’ em certos países está ligado a níveis culturais
diversos.

No Brasil, o número de usuários que chegou a 23 milhões em 2008 podia


representar cerca de 12,12% da população adepta a rede. O conteúdo dos websites
que sofreu uma enorme reforma com a emergência da Web 2.0, trouxe ao usuário a
possibilidade de participar, gerando e organizando as informações, conteúdos ou
mesmo aplicativos13 do site.

A Internet é agora ‘formada por gente’, desenvolve uma consciência coletiva


fonte de uma imensa comunidade, comunidade esta que tem sido lamentada por
muitos pensadores pela sua falta de verdadeiro sentido no mundo atual (COSTA,
2005), para Baumann (2003, p.59), fazer parte de uma comunidade implica em
"obrigação fraterna de partilhar as vantagens entre seus membros, independente do
talento ou importância deles". No entanto, muitas ‘comunidades’ não têm em sua
fundação uma orientação ou princípio que possa servir de base para chamá-la de
comunidade.

2.1. NÚMERO DE DUNBAR

O número de Dunbar foi criado por Robin Dunbar, professor de Antropologia


evolutiva na universidade de Oxford que através da pesquisa com o cérebro humano
chegou a formular a teoria de que nas relações sociais, o “limite cognitivo de
relacionamento social estável é igual a 150 [pessoas]” (SAFKO, 2010, p. 26).

13
Programa desenvolvido para executar uma função (que pode ser usada na área do entretenimento,
informação ou outra) normalmente orientada para o usuário ou outros programas e sistemas.
35

Baseado no tamanho do neocortex (parte do cérebro responsável pelos


pensamentos conscientes e linguagem) a teoria de Dunbar afirma ainda que passar
de 150 pessoas em um circulo social deteriora o grupo.

Apesar das constantes construções de redes de relacionamento de um


grande número de pessoas com um imenso número de pessoas mediado pela
tecnologia da informação cada vez mais intenso, a pesquisa reforça a impotência da
tecnologia perante a tentativa de aumento da sociabilidade sugerindo indiretamente
uma maior ligação social real ao invés das ligações virtuais (GOURLAY, 2010).
36

3. BULLYING

3.1. CONCEITO E CAUSA

O primeiro estudo tratando do bullying foi criado e desenvolvido por Dan


Olweus (1970) que através de pesquisas sugeria criar solução para um
comportamento de hostilidade entre crianças baseado nos problemas gerados às
suas vítimas, embora não se verificasse um interesse das instituições sobre o
assunto na época (CHALITA, 2008).

O bullying deriva do termo bully, que significa valentão e segundo o


Cambridge Dictionary, quer dizer “maltratar ou ameaçar alguém menor ou menos
poderoso, forçando-o a fazer algo que não quer” (OLIVEIRA, 2007, p. 257).

Embora o termo exista em diversos outros países, adota-se o estrangeirismo


do termo inglês que serve para designar “um conjunto de atos de violência física ou
psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um ou muitos indivíduos com
outros indivíduos” (SPYER, 2007, p. 171).

Destarte, o bullying não equivale a provocações ocasionais, uma vez que os


atos de violência devem envolver um desequilíbrio de poder entre as partes,
aplicada sistematicamente, de forma hostil contra a vontade da vítima e de forma
intencional (LINDA B. ENGLER, 2007).

Entre as formas de prática de bullying encontram-se agressões, apelidos,


ofensas, gozações, humilhações, discriminações, exclusões, intimidações,
perseguições, assédios entre outras formas de violência:

Os comportamentos bullying podem ocorrer de duas formas: direta e


indireta, ambas aversivas e prejudiciais ao psiquismo da vítima. A
direta inclui agressões físicas (bater, chutar, tomar pertences) e
verbais (apelidarde maneira pejorativa e discriminatória, insultar,
constranger); a indireta talvez seja a que mais prejuízo provoque,
uma vez que pode criar traumas irreversíveis. Esta última acontece
37

através da disseminação de rumores desagradáveis e


desqualificantes, visando à discriminação e exclusão da vítima de seu
grupo social (FANTE, 2005, p.50).

Bastante frequente no ambiente escolar, já é combatida nos EUA por tratar-se


de uma questão jurídica relevante, no Reino Unido, por decisão governamental,
todas as escolas já implantaram políticas antibullying. (HAMZE, 2008)

Muitas vezes o bullying é confundido com brincadeiras próprias do ambiente


escolar que existem naturalmente e que fazem parte da própria relação social
caracterizando uma sadia relação de comunidade. No entanto, quando as
brincadeiras são realizadas repletas de segundas intenções e perversidade surge
o bullying, verdadeiro ato de violência que pode ultrapassar os limites suportáveis do
ser humano (CHALITA, 2008).

Historicamente o bullying não era visto como um problema que necessitava


de atenção, portanto, era aceito como parte fundamental da infância, no entanto, nas
últimas duas décadas esta visão foi mudada dando ao bullying uma maior prioridade
de prevenção (Campbell, 2005; Limber and Small, 2003).

Por ser o bullying um fenômeno complexo presente no convívio interpessoal,


diversos sentimentos podem servir como motivadoras da ocorrência desta prática.

Para alguns, o bullying e a indisciplina vem da mídia em geral que propaga


comportamentos de risco de forma sedutora bem como outros fatores como falta de
escolaridade e exclusão social (ARAÚJO, 2008).

Para outros, o desequilíbrio de características tanto físicas como psicológicas


na convivência entre agredidos e agressores, propicia à prática de bullying na
medida em que existe a tentativa do agressor de conquistar força e poder; tornar-se
popular; dissimular o próprio medo ao amedrontar os demais, mostrando quem é
superior, por meio do terror (PINHEIRO 1983, apud MCCARTHY; SHEEHAN e
WILKIE, 1996).

Um estudo da década de 1960 do psicólogo Albert Bandura, conduzido por


diversos experimentos com o aprendizado social, traduziu-se na teoria de que todos
38

os seres humanos possuem uma capacidade de aprender comportamentos


agressivos com a simples observação (PASTORINO, DOYLE-PORTILLO, 2010).

A teoria do conhecimento sobre a aprendizagem observacional nasceu com o


‘Bandura’s Bobo Doll Experiments’ conhecido como ‘experimento do João-bobo’
ilustrada na figura 3.1 e segundo estudo, traduz a fonte de comportamentos
agressivos das crianças:

Figura 3.1- Experimento do João-bobo de Bandura


(Fonte: Pastorino; Doyle (2010, p. 188 (tradução nossa)))

Nesses estudos, as crianças assistiam a um filme que mostrava um adulto


tendo comportamento agressivo com um palhaço de plástico inflável – socando,
dando diversos pontapés e marteladas no boneco “João Bobo”. As crianças que
assistiam as cenas de comportamento agressivo eram mais propensas a
comportarem-se agressivamente se lhes fosse permitido brincar com o boneco.
Além disso, quando as crianças viam o adulto ser recompensado pela agressão
também tendiam a comportarem-se de modo agressivo, em comparação com
aquelas que estavam no grupo de controle em que o adulto não agredia o João
Bobo. Com a punição do adulto, as crianças eram menos propensas a comportarem-
se de modo agressivo.

Assim, o experimento de Bandura, indiretamente relacionou uma possível


causa do bullying à capacidade que as crianças e também os adultos têm de
aprender comportamentos agressivos com a mera observação dos mesmos.
39

Na composição do bullying, pode-se ainda destacar os protagonistas que


conforme Ana Beatriz Silva (2009) diferenciam-se em: vítimas, agressores e
espectadores, passivos ou ativos, com traços geralmente bem definidos.

Dentre as características das vítimas do bullying, Palma e Castanheira (2006),


destacam apenas nove:

1. Características de personalidade (sinceridade, timidez, introversão, calma


demasiada, entre outras);
2. Características sociais de ambiente (ser ‘novato’ em determinado ambiente);
3. Ter poucos amigos ou características próprias da superproteção exercida pelos
pais;
4. Pertencer a grupos diferentes da maioria (religiosos, étnicos,);
5. Possuir características físicas que o diferenciem da maioria (obesidade, magreza,
usar óculos e/ou aparelho dos dentes, possuir piercings, cor da pele.);
6. Possuir necessidades educativas especiais com interesses diferentes da maioria
(poesia, leitura, línguas estrangeiras, política, religião.);
7. Usar roupas ‘inadequadas’;
8. Ter problemas de saúde (alergias, asma, bronquite, diabetes ou problemas de
pele.).
9. Fugir do comum no que tange ao aprendizado.

Os agressores por sua vez têm características próprias: “Os agressores


geralmente acham que todos devem fazer suas vontades [...], querem ser o centro
das atenções. São crianças inseguras, que sofrem ou sofreram algum tipo de
agressão por parte de adultos [...] tem um comportamento de autoridade e de
pressão” (NOGUEIRA, 2005, p. 100).

Fatores individuais também influenciam na adoção de comportamentos


agressivos próprios dos agressores: hiperatividade, impulsividade, distúrbios
comportamentais, dificuldades de atenção, baixa inteligência e desempenho escolar
deficiente. Essas características geram estereótipos dos agressores identificados
por Neto Aramis (2005, p.4):

O autor de bullying é tipicamente popular; tende a envolver-se em uma


variedade de comportamentos antissociais; pode mostrar-se agressivo
40

inclusive com os adultos; é impulsivo; vê sua agressividade como qualidade;


tem opiniões positivas sobre si mesmo; é geralmente mais forte que seu
alvo; sente prazer e satisfação em dominar, controlar e causar danos e
sofrimentos a outros (NETO A. A., 2005, p. 4).

Os espectadores passivos e ativos também fazem parte do problema como


explica Silva-A (2009, p. 45): “Os espectadores são os que testemunham as ações
dos agressores contra as vítimas, mas não tomam qualquer atitude contra a prática”,
por isso completam a lista de protagonistas do bullying.

Existem três grupos distintos de espectadores:

1) Espectadores passivos (são os que testemunham a agressão, mas por medo


absoluto, velam tal acontecimento).
2) Espectadores ativos (são os que ‘dão apoio moral’ ao agressor com incentivos
apesar de não se envolverem diretamente).
3) Espectadores neutros (são os que “por uma questão sociocultural não
demonstram sensibilidade pelas situações de bullying que presenciam, [...] são
acometidos por uma ‘anestesia emocional” (SILVA A, 2009, p. 46)).

Com tantos atores na produção do bullying, é possível afirmar que o


fenômeno não está restrito a qualquer tipo específico de instituição (púbica ou
particular). As escolas que não revelam ou admitem a ocorrência do bullying em seu
ambiente ou entre seus alunos, desconhecem o problema ou simplesmente negam-
se a enfrentá-lo (JÚNIOR, 2009).

3.2. BULLYING, CONSEQUÊNCIAS E CONTRAMEDIDAS.

Já não estamos mais em uma época em que a tolerância e o respeito devem


ser abandonados em detrimento de uma linha de relação pessoal da ‘lei do mais
forte’.

Devido a enorme pressão que o bullying sujeita o indivíduo, este se fragiliza


normalmente apresentando dificuldades de comunicação com os outros, o que
influencia negativamente a sua capacidade de desenvolvimento em termos tanto
sociais, profissionais quanto emocionais ou afetivos. Essas consequências chegam
41

a interferir diretamente inclusive no aumento da criminalidade segundo um estudo


(VENTURA, 2006).

O bullying traz consequências para a vítima que vão desde baixa autoestima
até o suicídio (conhecido como bullycídio). Dentre estas consequências destacam-
se: medo, angústia, pesadelos, falta de vontade de ir à escola ou rejeição da
mesma, ansiedade, dificuldades de relacionamento interpessoal, dificuldade de
concentração, diminuição do rendimento, dores de cabeça, dores de estômago e
dores não especificadas, mudanças de humor súbitas, falta de apetite ou apetite
voraz, insônias, ataques de pânico, abuso de álcool e/ou estupefacientes,
automutilação e stress (SILVA A, 2009).

Pelas diversas consequências provenientes do bullying, com o apoio


financeiro da Empresa PETROBRAS, em parceria com o IBGE (Instituto Brasileiro
de Opinião Pública e Estatística) e Secretaria de Educação do Município do Rio de
Janeiro, a ABRAPIA realizou uma pesquisa no período de novembro e dezembro de
2002 a março de 2003, analisando 5482 alunos através de questionários distribuídos
a alunos de 5ª a 8ª série, de onze escolas, (nove públicas e duas particulares)
avaliando a realidade do bullying no ambiente escolar.

A pesquisa dividiu os agentes do bullying em alvos, autores, alvos/autores e


testemunhas do bullying conforme figura 3.2.1:

Participantes de Bullying

Alvos de Bullying 16,9%

Alvos e Autores de Bullying


10,9 %
Autores de Bullying 12,7 %

Testemunhas de Bullying
57,5%

Figura 3.2.1- Participantes de Bullying


(Fonte: Adaptado de Aramis Neto, Lauro Filho; Saavedra, (2004))
42

O resultado mostrou que, entre os agentes relacionados com o bullying, 57%


caracteriza-se como testemunha, 16,9% são alvos, 12,7% são autores, e, 10,9%
caracterizam-se como alvos e autores alternadamente no cenário do bullying.

Pessoas que sofrem bullying, pendendo características individuais e dos


meios em que vivem (principalmente os familiares), podem não ultrapassar os
traumas sofridos na própria infância, podendo quando adultos apresentar
sentimentos negativos, baixa autoestima, tornando-se indivíduos anti-sociais, com
transtornos compulsivos, comportamento hostil entre outras (FANTE, 2002).

Analisando os resultados da pesquisa no tocante à reação dos assediados


(vítimas), conclui-se pela pesquisa que a grande maioria tenta não dar a devida
atenção ao fato ignorando o agressor, potencializando o problema uma vez que ao
ocultar o bullying com o silêncio dos agredidos não existe resposta imediata aos
agressores:

Figura 3.2.2 Reações dos alunos alvos de bullying.


(Fonte: Adaptado de Aramis Neto, Lauro Filho; Saavedra, (2004))

Foi observado também o tipo mais frequente de bullying cometido entre os


alunos. Os ‘apelidos’ e as ‘agressões físicas’ seguem como mais frequentes entre os
alunos pesquisados com predominância das meninas sobre os meninos no quesito
apelido e dos meninos sobre as meninas no quesito agressão conforme figura 3.2.3:
43

Figura 3.2.3 Tipos de bullying identificados.


(Fonte: Adaptado de Aramis Neto, Lauro Filho; Saavedra,, (2004))

Entre as testemunhas, os sentimentos predominantes foram de pessimismo e


pena conforme a figura 3.2.4 o que pode significar que espectadores passivos são
mais frequentes no ambiente escolar.

Figura 3.2.4 Sentimentos admitidos pelos alunos testemunhas diante de situações de bullying na sua
Escola
(Fonte: Adaptado de Aramis Neto; Lauro Filho; Saavedra, (2004))

As testemunhas também se veem afetadas no ambiente de tensão, que pode


comprometer o processo educacional, tornando-as inseguras e ansiosas. Os
agressores também sofrem com certas tendências que chamam a atenção e devem
ser combatidas pela família e pelo Estado como inclinação ao consumo de álcool e
44

de entorpecentes, evasão escolar e familiar, negligência, atividades desportivas de


risco e suicídio (SILVA A, 2009).

A pesquisa relatou o sentimento dos agressores em relação as vítimas e


29,5% dos estudantes relataram a zombaria como sentimento pós bullying conforme
figura 3.2.5:

Figura 3.2.5 Sentimentos admitidos pelos alunos autores de bullying.


(Fonte: Adaptado de Aramis Neto, Lauro Filho; Saavedra, (2004)).

Com base nas diversas consequências, cria-se uma verdadeira luta para
determinar eficazes contramedidas, pois por mais que o bullying seja comum não
deve ser encarado como normal.

No Brasil, os casos de bullying aumentam nas grandes cidades, despertando


a criminologia do fenômeno e avançando rumo à legislações mais específicas que
visem extingui-la.

A criminologia tem buscado junto á psicologia entender como determinados


fatores influenciam o ser humano em desenvolvimento, trazendo situações
que o predisponham ao envolvimento futuro com crimes, em especial, os
praticados com violência ou grave ameaça (CALHAU, 2009, p. 3).

Neste sentido, o bullying é tratado pela legislação brasileira com o Estatuto da


Criança e do Adolescente (ECA), o Código Penal Brasileiro (CP) junto da tutela da
Constituição Federal (CF) e do Código Civil (CC).
45

A Constituição Federal da República Federativa do Brasil apresenta como um


dos objetivos fundamentais em seu Art. 3º, Inciso IV: “promover o bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação” (Código Penal, Processo Penal e Constituição Federal, 2007, p. 9) e
este ‘bem de todos’ certamente norteia a prevenção do bullying.

Além disso, a CF em seu artigo 5º (Capítulo 1 - DOS DIREITOS E


GARANTIAS INDIVIDUAIS E COLETIVAS), em seu caput dispõe que:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,


garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...] III - ninguém será submetido à
tortura nem a tratamento desumano ou degradante; [...] X - são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação [...] (Código Penal, Processo Penal e Constituição Federal, 2007, p.
10).

Assim, de forma a exercer um direito constitucional, o Estado deve combater


o bullying por ferir o direito a liberdade ou gerar tratamentos desumanos às vítimas,
assegurando indenizações quando cabíveis primando pela honra e a imagem das
pessoas expressamente demonstrado no Art. 227º da CF:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (Código Penal, Processo Penal
e Constituição Federal, 2007, p. 67).

Uma vez desrespeitado um princípio constitucional, cabe responsabilização


do bullie14 como capaz ou incapaz conforme previsto no código civil, assim,
resumidamente, se o bullie for capaz15 aplica-se o Código Penal, caso tenha mais de
12 anos, caberá medida sócio-educativa.

14
Aquele que comete bullying.
15
Poder exercer pessoalmente atos jurídicos.
46

Os atos do bullying encontram-se plenamente tipificados pelo Código Penal


Brasileiro em casos como os de lesão corporal, injúria, dano, ameaça,
constrangimento ilegal ou difamação.

No Título I – Dos Crimes Contra a Pessoa, Capítulo V Dos Crimes Contra a


Honra encontra-se no Art. 139º dispositivo contra a difamação:

“Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de


3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.” (Código Penal, Processo Penal e Constituição
Federal, 2007, p. 299).

Mais branda, a injúria também está prevista no CP no Art. 140º que diz:

“Injuriar alguém, ofendendo lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de 1 (um)


a 6 (seis) meses, ou multa.” (Código Penal, Processo Penal e Constituição Federal,
2007, p. 299).

O segundo meio de bullying mais frequente, a lesão corporal tem


embasamento legal conforme Art. 129º do CP:

“Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de 3 (três)


meses a 1 (um) ano.” (Código Penal, Processo Penal e Constituição Federal, 2007,
p. 297)

Um pouco menos frequente, existe ainda o crime de dano, proveniente dos


atos do bullying que podem variar de um mês a três anos dependendo da forma
como foi executado o dano:

Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de


1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Dano Qualificado Parágrafo único - Se o
crime é cometido:I - com violência à pessoa ou grave ameaça; II - com
emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui
crime mais grave; III - contra o patrimônio da União, Estado, Município,
empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia
mista; IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa, além da pena
correspondente à violência (Código Penal, Processo Penal e Constituição
Federal, 2007, p. 305).
47

E finalmente, os meios mais utilizados pelos bullies geralmente para tentar


esconder a prática do bullying encontram-se previstos respectivamente como o
constrangimento ilegal e a ameaça:

Constrangimento Ilegal - Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência


ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio,
a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o
que ela não manda:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Ameaça Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou


qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:

Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.” (Código Penal,


Processo Penal e Constituição Federal, 2007, p. 300-301)

No entanto o código civil garante que são inimputáveis os incapazes e para


essa situação encontram-se as medidas sócio educativas presentes no ECA como
meio de combate ao fenômeno do bullying que como explicado por Mezzomo (2004)
não têm natureza de pena, ou seja, não caracterizam-se como punições e por isso
não encontram-se embasadas na noção de culpabilidade, própria do crime.

Entre as medidas socio-educativas que podem ser adotadas estão:


obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à comunidade;
liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade, internação em
estabelecimento educacional; encaminhamento aos pais ou responsável,
mediante termo de responsabilidade; orientação, apoio e acompanhamento
temporário; matrícula e frequência obrigatória em estabelecimento oficial de
ensino fundamental; inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio
à família, ou mesmo à criança e ao adolescente (SIZA, 2010, p. 2).

Protegendo a criança, encontra-se no estatuto da criança e do adolescente


em seu artigo 5º que:

Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de


negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais (Estatuto da Criança e do Adolescente, 13 de julho de
1990).

Para a crueldade, opressão ou negligência presentes no ambiente do bullying,


perante a criança, a responsabilidade deve ser direcionada à escola e em conjuntos
aos pais e responsáveis da criança.
48

Dispõe ainda o estatuto em seu Art. 5º o conceito de respeito, preceito de


grande importância jurídica que manifesta o que deve ser defendido em todos os
ambientes da criança e do adolescente para abolir o bullying:

O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,


psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação
da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos
espaços e objetos pessoais (Estatuto da Criança e do Adolescente, 13 de
julho de 1990).

A necessidade de contramedidas instantâneas que se oponham ao bullying


devem envolver todas as referências da criança (pais, professores, amigos ou
alunos). Essas contramedidas devem ser utilizadas como meio preventivo para que
o bullying não evolua ou se dissemine (CHALITA, 2008).

O bullying como fenômeno complexo que é traz certa dificuldade para ser
combatido, contudo, deve vir da união e respeito entre todos os envolvidos
permeando a paz evitando longas batalhas jurídicas ou mesmo grandes cicatrizes:

Por ser o bullying um fenômeno complexo, cada escola deve desenvolver


sua própria estratégia para reduzi-lo. A única maneira de se combater o
bullying é através da cooperação de todos os envolvidos: professores,
funcionários, alunos e pais. As medidas tomadas pela escola para o
controle do bullying, se bem aplicadas e envolvendo toda a comunidade
escolar, contribuirão positivamente para a formação de costumes de não
violência na sociedade (NETO; FILHO; SAAVEDRA, 2004, p. 8).

3.3. HISTÓRICO DE CASOS DE BULLYING

Na década de 1980, três rapazes entre dez e quatorze anos, cometeram


suicídio, o caso foi investigado e chegou-se à conclusão de que os três rapazes
sofriam graves situações de bullying. Esta tragédia despertou então a atenção das
instituições de ensino para o problema e serviu de precedente para outras diversas
tragédias que envolvem-se com a prática de bullying (FANTE, 2005).

No dia 22 de abril de 2007, o estudante Cho Seung-Hiu, de vinte e três anos,


vítima de bullying escolar foi autor do massacre que resultou na morte de trinta e
duas pessoas na Universidade de Tecnologia da Virgínia, nos Estados Unidos.
49

Segundo seus colegas, ele era ridicularizado durante ensino médio por causa do
excesso de timidez e ‘jeito esquisito de falar’ (G1 Notícias, 2007).

O estudante deixou um ‘testamento’ em vídeo considerado um manifesto


multimídia em palavras desconexas:

Vocês vandalizaram meu coração, rasgaram minha alma e queimaram


minha consciência. Vocês achavam que era um garoto patético que vocês
estavam extinguindo. Graças a vocês, eu morri. Como Jesus Cristo, para
16
inspirar gerações de pessoas fracas e indefesas. (informação verbal) .

Para especialistas a agressão moral sofrida por Seung-Hiu foi impulsionadora


do ataque. O estudante, que também apresentava transtornos psicológicos, se
suicidou após o tiroteio e gerou grande repercussão na mídia.

Chalita (2008) destaca o massacre como o de Columbine em 20 de abril de


1999 no Condado de Jefferson, Estados Unidos, no Instituto Columbine, onde os
estudantes Eric Harris de 18 anos, e Dylan Klebold de 17 anos, atiraram em vários
colegas e professores, o que causou grande repercussão. Diversos livros tentaram
entender o motivo daquele massacre. Por trás havia uma forte onda de gozações e
insultos dos alunos mais velhos para com a dupla, aliada a problemas psicológicos
que resultou na morte de 15 pessoas (incluindo os 2 como assassinos) e 24 feridos:

De vítimas a vilões. Acuados e isolados, os alunos vítimas de bullying


passam a ter pensamentos destrutivos alimentados pela raiva reprimida.
Nasce o desejo de “matar” a escola, de destruir o registro da dor, de tornar-
se importante e lembrado de alguma forma [...]Quando uma tragédia como
essa acontece, a humanidade inteira sente-se fracassada. Pais e
educadores, comovidos com as consequências da violência que invade as
salas de aula todos os dias, arrastando crianças e jovens para um caminho
muitas vezes sem volta, nunca estão preparados para resolvê-las. Negá-las
torna-se a única opção (CHALITA, 2008, p. 142).

O autor relata ainda um caso de bullycídio acontecido em 1997. O estudante


de treze anos Vijay Singh anotava as agressões repetidamente recebidas em seu
diário: ‘Segunda-feira, lanche e dinheiro tomados a pauladas’, ‘terça-feira, bicha e
chinês’, ‘quarta-feira uniforme retalhado à faca’, ‘quinta-feira, sangue a jorros do
nariz’, ‘sexta-feira, nada’, ‘sábado, ‘liberdade’. No sábado o estudante se enforcou
em casa com um lenço de seda. A tragédia aconteceu na cidade de Manchester, na
Inglaterra.

16
Notícia fornecida pela G1 Notícias em 19 abril de 2007.
50

Não nos é estranho agressões que implicam em morte nas escolas por
motivação de bullying. No Brasil, um estudante de Remanso, na Bahia, foi
assassinado por uma adolescente de dezessete anos que desabafou seu sofrimento
e sua intenção de cometer uma chacina. Tímido e depressivo o aluno tentou matar
sua professora e logo em seguida se matar, mas foi desarmado a tempo e hoje vive
em liberdade assistida cumprindo medida socioeducativa no município de Feira de
Santana (CHALITA, 2008).

Em Taiúva, interior de São Paulo, o adolescente Edmar Aparecido de Freitas


deu fim a uma vida repleta de humilhações e sofrimentos. Apelidado de ‘elefante cor
de rosa’, mongoloide durante onze anos, humilde e tímido, foi motivo de chacotas na
escola, após tratamento para emagrecer foi novamente apelidado como ‘vinagrão’
pelo cheiro de vinagre típico do remédio de emagrecimento. Com revólver na mão,
disparou contra cerca de cinquenta pessoas antes de se matar (CHALITA, 2008).

São tantos os massacres que despertam a atenção a um problema que ganha


agora novo corpo contribuindo diretamente para tomada de novas providências que
países de diversos continentes já sentem obrigação de combater este ‘problema
social’.

Mensagens oficiais da Austrália, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Irã,


Japão, México, Nicarágua, Paquistão, Filipinas, assim como do Papa Bento XV
foram apresentadas em condolências, e buscaram motivar uma maior mudança na
educação escolar. Medidas governamentais de muitos países têm se atentado a tal
fenômeno, investindo na instrução de professores e instituições de ensino (G1
Notícias, 2007).

Analisando a mente e a raiz dos problemas pelos quais passavam os alunos


que antes foram vítimas do bullying fica fácil entendermos as consequências. Não se
trata de justificar o injustificável, nem defender os assassinos dos episódios
descritos. No entanto, qualquer análise desses crimes sem levar em conta a
contribuição que a comunidade escolar deu para que esses fatos ocorressem, seria
uma análise afastada absolutamente da realidade contribuindo muito pouco para a
busca de soluções (CHALITA, 2008).
51

4. CYBERBULLYING

4.1. CONCEITO DE CYBERBULLYING (UMA EVOLUÇÃO DO BULLYING).

Corrobora-se que a “Internet não é simplesmente uma rede que interliga as


informações do mundo. Ela conecta todas as pessoas reais junto com suas
personalidades irreais, perfis virtuais e doenças mentais” (SAVAZONI, 2009, p. 62).

Conviver com esta massa de pessoas e opiniões diferentes significa aceitar a


possibilidade de se relacionar de forma saudável ou não em um mundo cada vez
mais interconectado, sentimentos reais parecem surgir e alterar a maneira pela qual
o bullying é praticado.

Para Ana Beatriz Silva (2009, p.125), comparando as antigas formas de


relacionamento entre as pessoas “Quando paramos e olhamos para o mundo de um
século atrás, nos deparamos com uma época de simplicidade e inocência [...] Hoje,
porém, muitos avanços tecnológicos são usados de maneira insensata”. Entre as
diversas atitudes insensatas cometidas com os avanços tecnológicos, certamente o
cyberbullying emerge como um dos novos crimes no cenário virtual, que vem
crescendo com a expansão da web, fixa e móvel.

O cyberbullying é definido como: “prática que envolve o uso de tecnologias


da informação e comunicação para dar apoio a comportamentos deliberados,
repetidos e hostis praticados por um indivíduo ou grupo com a intenção de prejudicar
outrem” (BELSEY, Cyberbullying.org, 2003, p. 1).

Conhecido também como coerção cibernética ou, abuso online, no


entendimento de Savazoni (2009, p. 62) a prática do cyberbullying, “[...] é algo que
está acima da ‘encheção de saco’. O cyberbullying é um ato criminoso, cruel e,
sobretudo, covarde, enquadrado na mesma categoria da tortura psicológica com
agravantes de humilhação social”.
52

O bullying virtual, ou bullying on-line caracteriza-se como uma espécie indireta


de bullying. A definição do bullying pode ser transportada para a definição do
cyberbullying, no entanto, a agressão física é substituída pela agressão moral,
intangível. Esta atividade é difícil de ser combatida apesar de trazer em alguns
casos grandes transtornos às vítimas; fruto de um despreparo ético dos usuários em
relação ao uso responsável das tecnologias (Cidadania e paz nas escolas, 2010).

Por ser uma nova forma de violência virtual, tem contaminado milhões de
pessoas no mundo através da web, redes sociais virtuais, e-mails, sms17, entre
outros meios de comunicação tecnológica existentes de forma eficaz:

O cyberbullying pode ir de um email ameaçador, um comentário ofensivo,


um boato maledicente publicado de forma aberta numa comunidade virtual
até uma perseguição que ultrapassa o mundo do teclado e vai para o
universo físico. As formas são variadas, assim como os conteúdos. A
intenção é sempre a mesma: desestabilizar a vítima (SAVAZONI, 2009, p.
62).

As agressões morais e constantes em forma de piadas, vídeos, mensagens


públicas, websites, montagens, chantagens anônimas estão entre as agressões
mais comuns. Desta forma, o bullying digital tem pego educadores e vítimas
desprevenidas o que pode trazer efeitos mais intensos que o bullying convencional
tornando um evento digno de preocupação para especialistas em comportamento
humano, pais e professores no mundo inteiro (SILVA A. B., 2009).

4.2. CARACTERÍSTICAS DO CYBERBULLYING.

Chalita (2008, p.86) caracteriza o cyberbullying como algo apavorante: “A


desmoralização excessiva somada ao desequilíbrio de poder são características
essenciais que fazem das vítimas reféns do medo”. O cyberbullying tem
características ligadas à tecnologia da informação que potencializam a prática do
bullying através de um desequilíbrio entre agressor e vítima sustentado muitas vezes
pelo anonimato.

17
Short Message Service - serviço de mensagens curtas disponível em celulares.
53

O anonimato cria um fenômeno conhecido pelos pesquisadores como


desinibição de comportamento que gera uma tendência à irresponsabilidade graças
à sensação de liberdade proveniente da grande probabilidade de que as ações
cometidas não serão punidas (WILLARD, 2007).

Contudo a invisibilidade completa ou ‘o verdadeiro anonimato’ não é fato


recorrente no uso das tecnologias comunicacionais e na “maioria dos casos a prática
do cyberbullying deixa cyber-pegadas, [...] todo computador que conecta-se a
internet pode ser identificado pelo endereço IP” (WILLARD, 2007, p. 79 (tradução
nossa)).
A vítima exposta e constrangida perante as agressões sofridas do
cyberbullie18 anônimo busca poucas saídas que podem ser tomadas já que não sabe
ao certo quem foi o responsável pelo ataque e assim, em muitas das vezes acaba
por ocultar este problema (SAVAZONI, 2009).

Diferentemente do bullying convencional onde o ataque é cara-a-cara e há


grande possibilidade de cessar a agressão após denuncia, no cyberbullying, a
localização do agressor pode ser extremamente custosa até mesmo quando se
utiliza o recurso de localização do endereço por IP, uma vez que os agressores
ficam, como explica Hermann (2006, p.64), “[...] protegidos pela possibilidade de
anonimato, garantida pelos provedores que só revelam os nomes reais dos usuários
mediante longas batalhas judiciais”.

Uma das características relevantes no cyberbullying que além de diferenciá-lo


do bullying convencional potencializa o ataque é chamada de ‘audiência infinita’.

No bullying convencional, os protagonistas restringem-se a um número finito


de pessoas situadas no tempo e espaço da agressão. Já na prática de cyberbullying,
o agressor se utiliza do potencial da tecnologia para publicar e compartilhar com o
mundo determinada informação seja um vídeo, ou texto difamador. Assim, a pessoa
agredida vira involuntariamente um personagem ‘público’, sujeito a novos ataques
de diversos agressores e espectadores, o que aumenta a gravidade do ato do
cyberbullying (SHARIFF, 2008).

18
Aquele que comete cyberbullying.
54

Outro fator característico do cyberbullying que corrobora sua potência é a


permanência do ataque. Uma vez publicada determinada informação (seja um texto
de referência ou mesmo um SMS) o ataque torna-se difícil de ser apagado. Deletar
uma informação já distribuída pode ser algo extremamente complexo dependendo
do meio utilizado na agressão virtual (SHARIFF, 2008).

Além de tudo, o cyberbullying consagra-se na atualidade como mais frequente


que o bullying convencional no Brasil segundo pesquisa de âmbito nacional. Dos
5.168 alunos que participaram da pesquisa realizada nas cinco regiões do País, 10%
já sofreram ou praticaram bullying, enquanto 17,7% praticaram o cyberbullying. O
estudo foi realizado pela ONG Plan Brasil, que atua no desenvolvimento de crianças
e adolescentes (ILOVATTE, 2010).

4.3. FORMAS DE ATAQUE COMUNS:

Uma pesquisa recente patrocinada pela McAfee revelou que 20% dos
adolescentes se envolveram em ‘atividades de cyberbullying’ — incluindo
publicação de informações maldosas ou nocivas, fotos constrangedoras, criação de
boatos, divulgação de conversas particulares, envio de e-mail anônimos e
‘pegadinhas’ on-line. (MCAFEE).

Dentre as principais formas de ataque encontram-se os ataques diretos e os


ataques indiretos:

4.3.1. Ataques Diretos:

Os ataques diretos envolvem um conjunto de tecnologias e meios com intuito


de desestabilizar, assediar e ameaçar a vítima sem a utilização de camuflagens.
Menos ameaçadores, este tipo de ataque permite identificação do emissor e seu
ódio ou aversão à vítima (BELSEY, 2003).
55

Entre os diversos ataques diretos, os mais frequentes destacam-se:

1. IM - Mensagens instantâneas:

Os programas de mensagens instantâneas (IM ou Instant Messenger) são


rápidos e úteis, às vezes substituem conversas telefônicas e são utilizadas por
pessoas do mundo inteiro com acesso à rede como um meio de comunicação rápida
e de interação. “Estima-se que os programas de mensagens instantâneas gerem 5
bilhões de mensagens por dia, que, se armazenadas, ocupariam 750 Gigabytes19 de
espaço, ou 247 Terabytes por ano.” (MATTOS, 2010, p. 213).

2. E-mails.

O e-mail é uma das formas de comunicação mais difundidas pela simplicidade


e rapidez traz em seu corpo perfeita combinação entre conversa instantânea e
documentada, além da possibilidade de anexar imagens e fotos (MATTOS, 2010).

3. Websites, Blogs ou Redes Sociais (Myspace, Facebook, entre outros...).

As Redes sociais, páginas da internet ou blogs vêm crescendo e sua


visibilidade é incomparável, em 2007 foram criados 47,8 milhões de novos sites na
web (IDG Now, 2009).

4. Imagens ou vídeos difamadores.

A tecnologia de produção e reprodução de vídeos cada vez mais sofisticada e


veloz permite sites como Youtube virarem grandes fontes de comunicação
(ALVARO, 2007).

5. Disseminação de códigos maliciosos, virus, spyware’s programas de invasão.

O cyberbullie com conhecimento em programação ou contato com meios de


inocular e disseminar vírus cria uma verdadeira perseguição com larga vantagem se
o objetivo for por exemplo danificar o computador da vítima (SHARIFF, 2008).

19
Gigabyte é uma unidade de medida de informação que equivale a 1 000 000 000 bytes.
56

6. Jogos interativos (X-box live, Sony Playstation network).

Nos jogos que trazem a fantasia para o mundo real envolvendo jovens de
forma exorbitante existem possibilidades de interação entre os personagens e
assim, possibilidade da ocorrência do cyberbullying (SHARIFF, 2008).

4.3.2. Ataques Indiretos:

O cyberbullying indireto é todo tipo de ataque cujo real agressor é camuflado.


Este tipo de ataque envolve um conhecimento mais abrangente, por envolver
técnicas que impedem a identificação do agressor de imediato (BELSEY, 2003).

O ataque pode ser anônimo ou de origem falsa já que pode tanto levar à
identificação errônea do agressor quanto não chegar à ele . Este tipo de ataque
normalmente é frequente no assédio de adultos contra adultos e pode ser efetivado
mediante diversas técnicas (ASSUNÇÃO, 2002).

Assunção (2002, p.96) entende que: “Anonimidade na rede é algo muito


discutido[...] Existe maneira de ser totalmente indetectável [...] Existe sim e é bem
simples. Muitos programas e ferramentas prometem tornar seu usuário invisível [...]”

Entre estas ferramentas está o anonymizer, um serviço gratuito de anonimato


na internet que garante uma navegação anônima “Visitando sua homepage
(www.anonymizer.com) ele possibilita que você digite algum endereço e seja
redirecionado para ele sem que seja diretamente identificado [...]” (ASSUNÇÃO,
2002, p. 96).

Outro método de ataque indireto cometido pelos cyberbullies é o ataque por


proxy. O proxy possibilita uma ponte entre um computador e um servidor. Assim,
para acessar ou alterar dados em determinado site (hospedado em um servidor) o
proxy ou ‘a ponte’ ligará o agressor à um servidor e este servidor (que pode ser
inclusive uma segunda vítima) é que terá sua identificação registrada. Dessa forma,
o cyberbullie passa-se por outra pessoa (ASSUNÇÃO, 2002).
57

Mais um método conhecido é através do ‘remailer’, utilizado para enviar e-


mails anonimamente que funciona através de diversas pontes entre servidores de
toda a Internet, os e-mails são dificilmente rastreáveis (ASSUNÇÃO, 2002).

4.4. CYBERBULLYING – ASSÉDIO E DANO MORAL.

Devido às perversas características do cyberbullying que trazem verdadeiros


prejuízos à sociedade, deve haver um combate eficaz que vise extinguir este
problema. Desta forma, traduzir o cyberbullying à lei muitas vezes significa equiparar
o fenômeno ao assédio moral, previsto no Código Civil. Zanetti (2004, p.28)
caracteriza o assédio moral “[...] pela ação ou omissão de atos abusivos ou hostis
(Art. 186º ao 188º do Código Civil) realizados de forma sistemática e repetitiva
durante certa duração e frequência de forma consciente”.

Desta forma, as características contidas na definição do cyberbullying


parecem preencher corretamente as condições que podem caracterizar o assédio
moral.
Zanetti (2004 p.17) expõe diferenças entre o assédio moral e o dano moral
reconhecido na doutrina:

A tese do assédio moral é uma tese proveniente da psicologia e medicina


[...] um julgamento de uma pessoa que se diz assediada, sem prova de
problemas em sua saúde, por exemplo, não é assédio, pode ser um dano
moral decorrente de situação vexatória, por exemplo, mais não é assédio,
porque o assédio traz reflexos na saúde psíquica e/ou mental do assediado.

Desta forma, cabe ressaltar que o cyberbullying deve ser encarado como
crime por se tratar de ato ilícito, mas sua equiparação ao assédio moral, dano moral,
difamação entre outras figuras jurídicas dependerá das consequências causadas
pelo ato.
Zanetti (2004 p.49): explica as diferenças e características entre o assédio e o
dano moral:

O assédio moral traz consequências sobre a saúde da vítima e estas


consequências podem ser detectadas por um bom clínico, o qual dirá se
existe ou não o assédio. [...] quem toma bebida alcoólica, tem efeitos
próprios do álcool no seu organismo, assim como quem é assediado tem
58

efeitos próprios do assédio. No dano moral não existe a necessidade de


provar estes efeitos, pois, presume-se que a vítima esteja sofrendo! O dano
moral não tem sintomas próprios e ainda não existe a necessidade da prova
do prejuízo sobre a saúde, pois se presume que a vítima esteja sofrendo,
tenha sua imagem abalada.

O Art. 186º do Código Civil descreve claramente em seu texto uma proteção
dirigida à sociedade contra o dano moral e assim, reforça uma perspectiva criminosa
do cyberbullying com : “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito.” (Código Civil, 2002, p.253).

Apesar das previsões legais típicas de combate ao cyberbullying e ampla


divulgação deste fenômeno, os responsáveis políticos e educativos não possuem
uma ideia da dimensão e do problema e, de acordo com Smith (2006 apud AMADO;
MATOS;PESSOA; 2009 p.2), estes personagens ao depararem com o cyberbullying:
[...]sentem-se um pouco perplexos e desorientados no momento em que
urge tomar medidas preventivas. Esta desorientação prende-se,
certamente, com o fato de o fenómeno implicar a utilização de meios que só
nos últimos anos passaram a ter uso generalizado e continuam,
incontrolavelmente, a ter significativos desenvolvimentos.
Um notável desconhecimento, ou mesmo alguma indiferença por parte dos
adultos relativamente a estes problemas, o que também se explica por
alguma ‘resistência’ dos mesmos ao conhecimento e uso de um conjunto de
meios que não param de evoluir e tem nos jovens os seus principais
utilizadores.

Entre os especialistas é unânime o axioma de que as ferramentas


tecnológicas por si só não são culpadas pela ocorrência do cyberbullying. Porém,o
uso indiscriminadamente inadequado destas tecnologias por algumas pessoas é.

4.5. CENÁRIO DO CYBERBULLYING NO MUNDO

Apesar da cultura e do acesso às tecnologias comunicacionais serem


discrepantes no mundo, um cenário deste mundo global pode ser parcialmente
exemplificado pela tabela 4.1 que apresenta os principais meios pelos quais o crime
de cyberbullying é comumente cometido:
59

Tabela 4.5.1 – Tabela 6x4,Uma fotografia transnacional do uso da tecnologia relatando cyberbullying.
Têm acesso ao
País Têm celulares Cyberbullying
computador/ internet
• 46% da população
com 14 anos de
idade. • 13% dos estudantes com até
• 55% da população 8 anos de idade sofreram
com 15 anos de cyberbullying.
• 61% das residências
idade. • 25% da população conhece
têm computadores
• 73% da população alguém que já sofreu
• 46% tem acesso a
Austrália com 16 anos de cyberbullying.
Internet
idade. • 42% das meninas entre 12 e
• Líder Global em SMS
• 12% das crianças 15 anos já sofreu
(mensagens de texto).
entre 6 e 9 anos de cyberbullying
idade
• 80% das crianças
entre 15 e 17 anos
de idade.
• 84% dos professores já
sofreram cyberbullying.
• 37% das crianças • 23% da população já foi
entre 11 e 15 anos vítima por e-mail.
• 95% das crianças
• 80% das crianças • 35% já foi vítima em chats.
Canadá entre 11 e 15 anos têm
entre 16 e 17 anos • 41% por mensagens de
internet.
• 32% das crianças texto.
entre 8 e 10 anos. • 50% da população conhece
alguém que já foi vítima de
cyberbullying.
• O crescimento da
população com
internet passou de
10000 internautas em • 65% dos estudantes são
1995 para 30 milhões • Os celulares são
vítimas de cyberbullying.
India caros e faltam
em 2003. • 60% já provocou alguém
bases estatísticas.
• 15% das residências pelo celular
têm computadores.
• 8% dos usuários são
adolescentes.
• 24.1% dos
estudantes de
• 20% da população usa
ensino básicio têm
computador com 11
celulares
anos
• 66.7% dos adultos. • Poucos estudos formais
• 70.072.000 de
Japão • 96% dos idosos de • Numerosos casos de ‘netto-
usuários da Internet.
ensino superior ijime’ (cyberbullying)
• 99% dos estudantes
têm acesso a internet
na escola.

•20% dos 770 jovens


sofreram cyberbullying.
• 69% dos estudantes • 75% da população • 73% cometeram
Reino
têm acesso a internet carregam um cyberbullying.
Unido
em casa celular • 5% da população admite
envolvimento de alguma
forma com cyberbullying.
(Fonte: Adaptado de SHARIFF, 2008, p.44 (tradução nossa))
60

Entre diversos pesquisadores e professores, a sensação diante do


cyberbullying é de perplexidade. “Ninguém sabe o que fazer para erradicá-lo” 20.

4.6. UMA SOLUÇÃO AO CYBERBULLYING

O Brasil, assim como diversos países democráticos caracteriza-se pela


liberdade de expressão que não deve ser confundida com a liberdade para prática
de crimes virtuais como é o cyberbullying. A declaração de Direitos do Homem e do
Cidadão aprovada em aprovou em 26 de agosto de 1789 em seu Art. 11º pode ser
usada como exemplo ao limite da liberdade de expressão desregrada:

A livre comunicação das idéias e das opiniões é um dos mais preciosos


direitos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir
livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos
previstos na lei (Virginia Rights, 1789, (tradução nossa)).

A censura descuidada e arbitrária que pode vir a ser implementada tornando


o país semelhante ao regime chinês ou de países como Arábia Saudita, Mianmar,
Coreia do Norte, Cuba, Egito, Irã, Uzbequistão, Síria, Tunísia, Turcomenistão e
Vietnã, que, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, "transformaram suas redes
em uma intranet, impedindo que os internautas tenham acesso a informações
consideradas ‘indesejáveis’ onde não existe a liberdade de difusão da informação”
(Terra Tecnologia, 2009, p. 1).

Assim, diversas medidas estão sendo tomadas cuidadosamente, sem que


haja o desrespeito à liberdade de expressão. Neste cenário baseado em reações ao
fenômeno do cyberbullying em todo mundo, a tabela 4.6.1 representa os seguintes
fatos:

20
Informação verbal de Lopes integrante da Abrapia (representante do Brasil em uma conferência
internacional on-line sobre a prática de cyberbullying)
61

Tabela 4.6.1 - Tabela 2X7, Cenário Global de combate


País Considerações específicas
• Líder global no uso de mensagens de texto pelo celular.
• Abordagem política e jurídica autocrática positivista.
• Baniu o acesso ao YouTube em 1600 escolas no estado de Victoria.
Austrália
• Gastou 84 milhões de dólares em filtros de internet, hackeados por
adolescentes em 30 minutos.

• A federação de professores Canadenses aprovou uma resolução para


Canada tratar o cyberbullying.
• Ontario alterou legislação para incluir suspensões por atos de bullying.
• Bullying é aceito socialmente como parte da cultura entre pessoas de
classes diferentes.
India
• Leis em vigor reguladas pelo Ato de Tecnologia da Informação
direcionadas a pornografia, menos efetivas contra o cyber-bullying.
• Poder coletivo enfrenta o poder individual, 80% dos casos de bullying são
desenvolvidos em conjunto ao invés de individualmente.
• 40 casos de suicídio ocorreram entre 1999 e 2005 baseados na pressão

Japão familiar.
• 30% dos suicídios ocorreram baseados na cultura do respeito
(culturalmente o suicídio é visto como uma maneira respeitosa de sair de
um problema).

• Leis entraram em vigor recentemente regulando o uso da internet (com


extorsões).
Coréia do Sul
• Os coreanos revelam nome e ID antes de compartilharem opiniões.
• A Coréia do Sul é descrita como o país mais ‘grampeado’ do mundo.
• Sites governamentais dão conselhos de fácil acesso contra o
Reino Unido cyberbullying.
• 33% da população jovem recebe comentários torpes pela internet.
(Fonte: Adaptado de SHARIFF, 2008, p.47 (tradução nossa))

A liberdade de expressão assegurada pelo Art. 5º, inciso IX da Constituição


de 1988 contrabalança-se com seu inciso IV onde veta o anonimato que poderia
gerar impunidade ao praticante de determinados atos (LEMGRUBER; MUSUMECI;
CANO; 2003).

Excluindo o fato do anonimato que parece ainda ser incombatível, o


cyberbullying que tem previsão de combate legal deve trazer mudanças na maneira
62

como navegamos ou agimos de forma a minimizar os perigos deste incomodante


fenômeno. Uma revisão das políticas e práticas do uso das tecnologias como a
internet, os celulares e outras ferramentas digitais se faz necessária para o combate
efetivo ao fenômeno (WILLARD, 2007).

A empresa Mcafee desenvolveu um conjunto de soluções em um único


software contra exposições na internet (o que pode prevenir o cyberbullying). O
McAfee Family Protection é um pacote de segurança que permite o monitoramento
das atividades desempenhadas na web pelo computador. Entre as diversas funções,
destacam-se:

1) Bloqueio de Web – Aplicativo que impede o acesso a determinados conteúdos.


2) Bloqueio de programas - obstrui determinados jogos, programas maliciosos entre
outros.
3) Recursos para redes de relacionamento - registram postagens de informações
inapropriadas ou pessoais, bem como conversas, para ajudar a detectar se estão
ocorrendo atividades ligadas ao cyberbullying.
4) Bloqueio de e-mail - obstrui endereços de e-mail desconhecidos.
5) Limite de tempo ajuda a controlar a quantidade de tempo on-line.
6) Recursos para mensagens instantâneas monitoram e gravam mensagens
instantâneas.
7) Relatórios de utilização fornecem uma visão completa de todas as atividades
relacionadas à Internet e mensagens instantâneas de compartilhamento de arquivos
ou qualquer outro programa especificado.
8) E-mail automático informa quando existe acesso a materiais suspeitos.
9) Filtro do YouTube possibilita o bloqueio de vídeos suspeitos, permitindo acesso à
apenas aos vídeos que não se enquadrem nessa categoria (MCAFEE, 2010).

No entanto, a luta contra os problemas existentes (como o suicídio, e traumas


ou fobias) somente será eficiente se houver complementarmente às políticas e
práticas, os fatores “denúncia, verificação e resposta processual” (WILLARD, 2007,
p.136 (tradução nossa)).
63

4.7. CASOS DE CYBERBULLYING

Os casos são inúmeros, e a atribuição de certos casos de suicídio ao


cyberbullying só é feita quando existe a ‘carta de despedida’ alegando o fato.

O caso de uma adolescente de Massachusetts que cometeu suicídio após


uma campanha incansável de intimidação que durou meses demonstra a maneira
pela qual comportamentos comuns da prática de cyberbullying estão evoluindo. Seis
alunos enfrentaram acusações criminais pela morte de Phoebe Prince, de quinze
anos, que se suicidou por enforcamento depois de ser submetida às agressões
verbais e ameaças online pelo Facebook, por meio de mensagens de texto e por
outros métodos de alta tecnologia (TERRA , 2010).

Nos Estados Unidos, Megan Méier, de 13 anos, foi mais uma vítima. Durante
um mês ela manteve um ‘namoro virtual’ com um pseudo ‘jovem 16 anos’ chamado
Josh Evans, que havia conhecido através da rede social chamada MySpace. O
romance terminou quando o rapaz subitamente passou a agredi-la mandando-lhe
diversas mensagens degradantes. Uma mensagem com os dizeres: ‘o mundo seria
melhor se você não existisse’ serviu como uma arma contra a jovem que enforcou-
se após o fato. O caso chocou a população e vereadores locais aprovaram uma lei
para punir os casos de assédio e perseguição na internet (DUPRAT, 2008).

No Japão a violência ocorre apesar da cultura orientada ao desvio de


confrontos. Um garoto tímido, com dificuldades de relacionamento, foi alvo de
ataques em uma comunidade. Makoto, aluno de segundo grau em uma escola se
tornou vítima do cyberbullying que quase o levou ao suicídio, desenvolveu a
anorexia e tem comportamentos anti-sociais (Terra Tecnologia, 2007).

Na Itália, mais de duas mil pessoas participaram, do funeral de uma jovem de


dezesseis anos que se matou com o revólver do pai após ter fotos íntimas
divulgadas repetidamente na Internet. O ataque surgia e de repente desaparecia, na
época, algumas pessoas foram investigadas pela Justiça na busca de um possível
responsável pelas publicações, todavia ninguém foi incriminado (Terra tecnologia,
2008).
64

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não resta dúvida de que estamos vivendo a plenitude da era da informação


e da gestão do conhecimento. Neste cenário, as inovações tecnológicas e a rapidez
com a qual se consolida a sua evolução contribuem de forma impactante na
transformação de uma sociedade onde os meios de comunicação são os principais
aliados na disseminação do conhecimento e, portanto, formadores de opinião e de
uma cultura predominante. A sociedade fazendo uso dessas tecnologias muda seus
hábitos, seus costumes e a forma de se relacionar em todos os segmentos de
atuação. Desta forma, o uso dessas tecnologias é um elemento transformador da
cultura de massa.

Esta pesquisa mostrou que ao longo da história surgiu e se desenvolveu um


fenômeno conhecido como bullying, uma prática extremamente negativa e
perniciosa para a sociedade; e que afeta especialmente os estudantes no ambiente
escolar. Esta prática vem sendo combatida dentro das suas limitações, pois a
principal dificuldade reside na forma como ela se configura; no ambiente onde ela
ocorre e também pela carência de medidas educativas frequentes que coíbam ou
estabeleçam uma punição adequada ao praticante desta ação.

E, como se não bastasse, graças ao avanço tecnológico e ao


estabelecimento da Rede Mundial – Internet – proporcionadora de amplo ambiente
virtual, uma nova maneira de praticar o bullying surge atualizando a prática deste
crime virtual. Prática esta conhecida mundialmente como “Cyberbullying”.

A pesquisa esclarece que o Cyberbullying tem um peso maior que o bullying


devido ao grau de conexão que as pessoas têm com o ambiente virtual; e o combate
a esta prática torna-se mais difícil ainda devido à forma como ele é praticado. No
Brasil a legislação caracteriza esta prática como crime. No entanto, seu alcance
quanto à punição dos agressores é limitado pela própria tecnologia.
65

Quanto às características, a pesquisa mostrou que o Cyberbullying muitas


vezes é direcionado a atacar a honra e a dignidade das vítimas, sendo, portanto, um
crime virtual favorecido pela impunidade amparada pelas ferramentas tecnológicas
que são desenvolvidas num país democrático onde o controle e a limitação do
acesso à informação ou mesmo liberdade de expressão, utilizado para a prática
deste crime, não é tolerado.

Em última análise, considera-se ainda que o Cyberbullying leva suas vítimas


a desenvolverem diversos distúrbios e traumas, chegando a prejuízos extremos
como o suicídio. Sua ocorrência é mais comum em relação ao seu antecessor, o
bullying, e este fato sugere a adoção de novas políticas e critérios para o uso da
tecnologia da informação, de forma a direcioná-la essencialmente para o bem.

Também não pode ser descartada a questão da ética, ou seja, o princípio de


toda a problemática tem como origem o bullying que muito antes da inclusão digital,
do uso das tecnologias da informação e do surgimento e desenvolvimento acelerado
das redes sociais já existia e, enquanto distúrbio social causava, dentro das suas
proporções, prejuízos morais incalculáveis. Este fato deixa claro que a verdadeira
origem do bullying e do Cyberbullying é, antes de mais nada, um problema com
origem na presente ética e moral dos agressores, e que sugere também ações
voltadas para uma maior atenção à educação e à formação do caráter da
personalidade desta nova geração de usuários das redes sociais.

Finalmente, considera-se que o objetivo desta pesquisa foi alcançado, pois


levantou dados históricos, contextualizou-os e promoveu uma reflexão sobre o tema
proposto. Entretanto, é mister reconhecer que o assunto não está esgotado, e que
sua atualidade no Brasil não é muito difundida. A cada dia que passa as tecnologias
evoluem e junto a essa evolução surgem novos problemas que ainda não são foco
de pesquisas brasileiras. Portanto sugere-se para trabalhos futuros e para
continuidade deste estudo o desenvolvimento de práticas educativas, e ferramentas
tecnológicas que aliadas a uma legislação mais direcionada possam erradicar a
prática deste crime virtual. Deve-se ainda atentar-se ao campo da educação para
pesquisas mais profundas sobre a origem deste fenômeno, com vistas a embasar
eventuais propostas de solução no campo psicossocial.
66

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