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e Cultivo do Pirarucu
em Cativeiro
e Cultivo do Pirarucu
em Cativeiro
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Coordenação do Estruturante do Pirarucu da
Amazônia
Gestora Estadual: Roberta Maria Q. Figueiredo
Sebrae Roraima
Conselho Deliberativo Estadual
Presidente: Almir Morais Sá
Diretoria Executiva
Diretor Superintendente: Alexandre Alberto Henklain
Diretor Técnico: Alexandre Alberto Henklain
Diretora de Administração e Finanças: Maria Cristina
de Andrade Souza
Sebrae Tocantins
Conselho Deliberativo Estadual
Presidente: Hugo de Carvalho
Diretoria Executiva
Diretor Superintendente: Paulo Henrique Ferreira
Massuia
Diretor Técnico: Maria Emília Mendonça P. Jaber
Diretora de Administração e Finanças: João Raimundo
Costa Filho
Sebrae Nacional
SEPN – Quadra 515, Bloco C, Loja 32 – Asa Norte.
70.770-900 – Brasília - DF
Tel.: (61) 3348-7100 – Fax: (61) 3347-4120
www.sebrae.com.br
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Índice
1. Introdução 9
2. O Pirarucu 9
3. Resultados 11
3.1 Viveiros escavados e açudes 11
3.2 Tanque-rede 14
3.3 Sistema intensivo com recirculação 17
4. Discussão e recomendações 20
4.1 Infraestrutura 20
4.2 Povoamento 22
4.3 Manejo da qualidade da água 24
4.3.1 Temperatura da água 24
4.3.2 pH 25
4.3.3 Alcalinidade e dureza totais 25
4.3.4 Amônia e nitrito 26
4.3.5 Gás carbônico 26
4.3.6 Turbidez e transparência 27
4.4 Manejo nutricional e alimentar 28
4.5 Captura e manuseio 30
4.6 Abate para comercialização 31
5. Considerações finais 32
6. ANEXO 33
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Produção do Pirarucu em Cativeiro
1. Introdução
Este documento tem por objetivo apresentar os resultados compilados das experiências de três
anos das Unidades de Observação da Engorda do Projeto Estruturante do Pirarucu da Amazônia,
desenvolvido nos Estados do Acre, do Amapá, do Amazonas, de Rondônia, de Roraima e de
Tocantins. Os documentos complementares contendo as informações detalhadas de todas as
unidades desenvolvidas estão disponíveis na Coordenação do Projeto.
2. O Pirarucu
O pirarucu, Arapaima gigas, é um dos maiores pela normativa federal, a proibição da pesca
peixes da ictiofauna de água doce do mundo. é total por conta de uma norma estadual. No
Possui hábito alimentar carnívoro, respiração Amazonas, a pesca é autorizada apenas nas áreas
aérea obrigatória e chama atenção pelo seu que dispõem de planos comunitários de manejo
rápido crescimento. Essa espécie, há muito de lagos, autorizados e monitorados pelos
tempo, tem sido uma importante fonte de órgãos ambientais estadual e federal.
alimento para os habitantes da Amazônia. Desde a década de 40 há registros sobre o
De elevado valor econômico, o pirarucu tem potencial e algumas experiências de cultivo do
sido explorado desde o século XVIII pelas pirarucu no país. Nesses são ressaltadas as suas
populações nativas. Essa intensa exploração características biológicas e zootécnicas, além do
provocou um acentuado declínio nos seus elevado valor comercial e sua importância como
estoques ao ponto de, atualmente, ser alimento na região amazônica.
considerada uma espécie quase extinta em
algumas regiões e sobre explorada em outras. Diversos trabalhos voltados ao cultivo do
Em resposta à sobrepesca dos estoques naturais, pirarucu já foram realizados, mas em sua
as autoridades governamentais criaram diversas maioria os cultivos foram conduzidos com
restrições quanto à exploração do pirarucu, uma alimentação feita com peixes de baixo
como o tamanho mínimo para a sua captura valor comercial e/ou com peixes forrageiros.
(150 cm) e a total proibição de sua pesca no No entanto, a produção comercial de peixes
período de reprodução da espécie (período carnívoros, como o pirarucu, com a alimentação
do defeso), sendo esses períodos: nos Estados baseada no uso de peixes forrageiros vivos, ou
do Amazonas, do Pará, do Acre e do Amapá, de peixes de baixo valor comercial (descartes
de 1º de dezembro a 31 de maio; no Estado da pesca) ou ainda com resíduos “in natura” de
de Rondônia, 1º de novembro a 30 de abril; pescados e de animais terrestres é, via de regra,
e no Estado de Roraima, de 1º de março inviável economicamente, além de apresentar
a 31 de agosto. Na Bacia Hidrográfica do uma série de restrições nos âmbitos sanitário
Araguaia-Tocantins o período do defeso ficou e ambiental. Dessa forma, para viabilizar a
estabelecido de 1º de outubro a 31 de março e produção do pirarucu em escala industrial, é
o tamanho mínimo de captura em 155 cm. No necessário que a criação seja conduzida com
Amazonas, além do período de defeso instituído rações balanceadas de alta qualidade.
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O pirarucu apresenta uma série de como negócio depende, ainda, da capacidade de
características positivas para a criação intensiva, comercializá-lo com qualidade e valor agregado.
dentre as principais:
Para que isso seja possível, o conhecimento das
• O rápido crescimento (cerca de 10 kg no demandas, do perfil dos consumidores-alvo, dos
primeiro ano de criação); produtos concorrentes, entre outras informações
• A boa tolerância ao adensamento e referentes ao mercado, são essenciais para que as
às condições de cultivo intensivo em estratégias de “marketing” e de comercialização
ambientes tropicais; sejam traçadas. Após a consolidação e a
• A capacidade de realizar a respiração divulgação desses conhecimentos, será possível
aérea nas fases mais avançadas do seu aos empreendedores interessados investir na
desenvolvimento, aproveitando o ar atividade com maior segurança, tanto no âmbito
diretamente da atmosfera, não dependendo da produção quanto no da comercialização.
do oxigênio dissolvido na água;
• A fácil adaptação ao consumo de alimentos
balanceados e rações comerciais;
• Uma carne clara, magra, tenra, de
alta qualidade e livre de espinhas
intramusculares;
• Um alto rendimento de filé (acima de 45%),
superando o rendimento alcançado pela
maioria dos peixes atualmente cultivados no
país;
• Elevada demanda e valor de mercado, com
excelentes perspectivas para o mercado
internacional.
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3. Resultados
Nessa seção é apresentado o resumo dos resultados obtidos nas engordas do pirarucu no Projeto
Estruturante, nos diferentes sistemas de produção avaliados, incluindo os principais índices de
desempenho zootécnico e econômico. O sistema mais comumente utilizado na piscicultura, que é o
de viveiros e açudes, foi testado em todos os estados. Já os estudos com tanque-rede foram restritos
a três Unidades de Observação e o sistema intensivo com recirculação foi testado em apenas uma
Unidade.
Parâmetros Valores
Peso médio inicial [g] 15 (10 cm)
Peso médio 12 meses [kg] 8 a 10,0
Peso médio 14 meses [kg] 10,0 a 12,0
Conversão alimentar aparente 1,7 – 2,3
Sobrevivência [%] 90 a 95
Biomassa final [kg/ha] 7.000 a 16.000
Dias de engorda
Figura 1. Crescimento do Pirarucu em tanques escavados e açudes.
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Do ponto de vista do custo de produção, com base nos resultados médios de desempenho produtivo
(crescimento, conversão alimentar e taxa de sobrevivência), foram construídos os cenários de custo
de produção para diferentes preços de alevinos e ração, que variaram sensivelmente por causa da
escala de produção e da distância dos fornecedores de insumos. O custo total de produção foi
calculado com base na participação do alevino e da ração em 80%, sendo o restante referente ao
custo da mão de obra e outras despesas.
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É importante ressaltar que o cenário 3 se aplica também às organizações de pequenos produtores
(associações e cooperativas) que podem, além de realizar compras conjuntas de insumos,
comercializar de forma escalonada a produção por meio de contratos e, também, diluir os custos do
acompanhamento técnico especializado, entre outros.
No caso do pequeno produtor que trabalha isolado (cenário 1), uma das únicas formas de viabilizar
seu negócio é explorando nichos de mercado, agregando mais valor ao seu produto ou, por exemplo,
vendendo diretamente para o consumidor final.
3.2 Tanque-rede
O pirarucu se mostrou uma espécie que se adapta bem para a condição do confinamento em
tanque-rede, tendo atingido níveis de produtividade bastante elevadas, comparados a outros peixes
amazônicos, como o tambaqui. Na tabela 4, são apresentados os resultados zootécnicos médios das
Unidades mais exitosas do projeto.
Os tanques-rede testados no projeto foram de 6 m3 de volume (2 x 2 x 1,5 m), que são considerados
tanques de pequeno volume e mais facilmente manejados por pequenos produtores. Porém, com
o crescimento dos empreendimentos é natural o interesse dos piscicultores em experimentar
tanques de volumes maiores, mas que neste projeto não foi possível ainda testar por causa da escala
em que foi desenvolvido o trabalho. No futuro, será importante que esses tanques maiores sejam
testados, sobretudo por causa do fomento e da disponibilidade do uso de grandes ambientes para a
piscicultura, como os lagos das usinas hidrelétricas.
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A seguir são apresentadas as curvas de crescimento e de produtividades médias do pirarucu nos
tanques-rede de pequeno volume.
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Do ponto de vista do custo de produção, com base nos resultados médios de desempenho obtidos,
foram construídos os cenários de custo de produção para diferentes preços de alevinos e ração, que
variam sensivelmente por causa da escala de produção e da distância dos fornecedores de insumos.
O custo total de produção foi calculado com base na participação do alevino e da ração em 80%,
sendo o restante referente ao custo da mão de obra e outras despesas.
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Seguindo o mesmo princípio utilizado na produção em viveiros e açudes, o cenário 3 representa
também a realidade das organizações de pequenos produtores (associações e cooperativas) que
podem otimizar seus recursos financeiros pelas compras conjuntas de insumos e comercialização. E,
no caso do pequeno produtor que trabalha isolado (cenário 1), uma das únicas formas de viabilizar
seu negócio é explorando nichos de mercado, buscando formas para agregar mais valor ao seu
produto ou, por exemplo, vendendo diretamente para o consumidor final.
Devido à escassez dos recursos hídricos e ao alto valor da terra, sistemas intensivos de produção,
com reutilização da água, se tornam muito interessantes, principalmente quando se busca viabilizar
o pequeno produtor. Nesses sistemas, o objetivo é obter a maior produção por área, com um
mínimo uso de água. Uma das Unidades de Observação foi montada para estudar os pirarucus nesse
tipo de sistema.
A retirada das fezes do sistema reduz o enriquecimento excessivo da água com nutrientes (adubação
natural) e, consequentemente, mantém a transparência elevada por mais tempo. O confinamento
dos pirarucus dentro do tanque de PVC evita que ele revolva o fundo do viveiro, evitando a elevação
da turbidez mineral. Conforme observado no sistema de viveiros e açudes, a perda da transparência
da água é o principal fator limitante ao crescimento do pirarucu.
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O custo com material e mão de obra para a instalação do sistema no viveiro escavado foi de R$
5.539,00. Considerando o tanque produzindo por cinco anos, para uma produção anual de 2.980
kg, teremos um aumento de R$0,37 por quilo de pirarucu comparado à criação dos peixes soltos no
mesmo viveiro, devido à depreciação da estrutura de PVC.
Apesar da produtividade de 2 a 4 vezes maior que nos sistemas convencionais, alterações no projeto
possivelmente viabilizariam maior biomassa produzida. Essas alterações devem ser no sentido de
tornar a retirada de fezes do sistema e a ciclagem dos nutrientes mais eficientes. O uso de rações de
melhor qualidade também aumentaria a capacidade do sistema. A tabela 8 mostra a influência do
aumento da produtividade nesse sistema no custo do quilo de pirarucu produzido.
É importante ressaltar que os resultados do trabalho nesse sistema de produção foram bastante
promissores e que ainda são preliminares, pois não foi possível revalidar o sistema dentro do
período do projeto. Mais estudos, sobretudo após as adequações do sistema, ainda são necessários
para avaliar até onde seria possível melhorar a eficiência e a aplicabilidade em outras localidades e
realidades dentro da Amazônia.
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4. Discussão e recomendações
Com base nos resultados e nas experiências acumuladas ao longo do Projeto Estruturante de
Pirarucu, foi elaborada uma discussão dos resultados e um conjunto de recomendações que seguem
as etapas da produção do pirarucu, que são apresentados na sequência.
4.1 Infraestrutura
O pirarucu, por ser um animal que atinge No que se refere à dimensão dos viveiros e
grande porte comparado às demais espécies açudes, além da maior profundidade para
de peixes normalmente criadas, apresenta reduzir o problema com turbidez mineral
também algumas peculiaridades quanto à infra- na engorda, os viveiros podem apresentar os
estrutura necessária para a sua produção. No mais diversos tamanhos, o que aparentemente
caso da criação em viveiros escavados e açudes, influenciou muito pouco nas experiências
é importante que essas estruturas apresentem realizadas até o momento. O mais importante
o fundo com solo argilo-arenoso ou argiloso no que se refere às dimensões da infraestrutura
bem-compactado e, preferencialmente, com é que essa seja trabalhada de forma a manter
boa plasticidade (“solo com liga”), ou até sempre elevadas densidades de estocagem,
mesmo, que apresente certo teor de cascalho. tanto para otimizar o aproveitamento do espaço
Essa característica é interessante para que a físico, quanto para permitir o efeito gregário
movimentação dos animais que atingem porte (comportamento de cardume), que resulta
mais avançado (> 5 kg) não eleve a turbidez numa competição benéfica entre os animais.
mineral na água, ou seja, que apresente grande Dessa forma, os animais tanto apresentam
quantidade de argila em suspensão, problema melhor resposta ao arraçoamento quanto
popularmente conhecido por “água barrenta” ou aproveitam o alimento de forma mais eficiente.
“água toldada”. Nesse tipo de água, a produção
do pirarucu é limitada, podendo até ser Os viveiros utilizados para recria devem,
inviabilizada. Contribui também para reduzir preferencialmente, apresentar proteção contra
esse problema, o uso de estruturas com maior a ação de aves e morcegos predadores, pois os
profundidade de água (> 2,5 m), o que ameniza juvenis de pirarucu, até atingirem cerca de 25 cm
o efeito da movimentação dos peixes. Outra de comprimento, são presas fáceis por estarem
característica importante quanto aos viveiros e frequentemente na superfície para respirar. À
açudes usados na criação do pirarucu é que os medida que o pirarucu atinge maior porte, os
mesmos tenham o fundo mais regular possível, predadores alados têm dificuldade em capturar
sem obstáculos (raízes, troncos, pedras etc) que os peixes.
dificultam a passagem da rede de arrasto no
momento da captura. Os tanques-rede podem ser usados com
sucesso para dois propósitos, sendo o primeiro
na alevinagem/recria e outro para a engorda
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até o porte comercial. Em ambos os casos, os O local de instalação dos tanques-rede deve
resultados foram positivos, embora alguns ter, no mínimo, 1,5 metro de profundidade
cuidados especiais devam ser tomados para livre, abaixo do fundo do tanque-rede para
que os mesmos sejam atingidos, como será que os resíduos lançados pelos peixes possam
apresentado na sequência. se dispersar e não se acumular logo abaixo
dos tanques. Outro aspecto importante é que
Na recria, o melhor material a ser utilizado são os tanques-rede devem ser posicionados em
as malhas de poliamida revestidas em PVC, locais com boa circulação de água, geralmente
que apresentam boa resistência mecânica, promovida pelo vento predominante. Assim, é
menor colmatação (obstrução da malha pelo recomendado que as linhas de tanques sejam
crescimento de algas e de outros organismos colocadas em posição perpendicular à direção
aquáticos), baixa abrasividade (não fere os do vento predominante.
peixes) e são de fácil manuseio. O tamanho das
malhas utilizadas varia conforme o porte dos Na fase de engorda no tanque-rede, o material
animais povoados, mas podem variar entre 5 e utilizado necessita ter resistência suficiente para
15 mm, para juvenis de pirarucu entre 8 e 25 cm suportar tanto o peso quanto a força dos animais
de comprimento, respectivamente. Do ponto no momento do manejo (biometria e despesca).
de vista do manejo, na fase de recria, um dos Dentre os materiais testados, os melhores são
pontos mais críticos é a manutenção da limpeza apresentados a seguir.
das malhas, que deve ser feita a cada 5 a 10 dias,
dependendo do tamanho da malha e do nível de Um foi a tela tipo alambrado, confeccionado
transparência e grau de adubação da água onde com arame galvanizado revestido com PVC
estão instaladas. Quando melhor a malha, mais aderente, com espessura de, no mínimo, fio
transparente ou mais adubada a água, maior BWG 16 e malha 25 mm com as costuras das
deverá ser a frequência da limpeza. telas feitas com cabo elétrico de cobre (flexível)
revestido com PVC (fio 4 ou 6 mm2).
Quando necessária, a limpeza deverá ser feita
sem os peixes dentro do tanque-rede, ou seja, os É recomendado que a costura não seja feita
peixes devem ser transferidos para um tanque- com o arame que compõe a tela, por causa da
rede limpo para depois se proceder à limpeza sua baixa resistência à flexão, que resulta em
da malha obstruída pelo crescimento de algas frequentes rupturas e fuga dos animais. Dentre
e de outros organismos (colmatação). Além as desvantagens da tela tipo alambrado estão o
das malhas, é muito importante a instalação maior peso e a dificuldade no manuseio e a baixa
da tampa para evitar a ação de predadores e do resistência à corrosão quando a proteção plástica
comedouro, que é composto de uma tela plástica do arame sofre abrasão ou ruptura.
de malha menor que a ração ofertada aos peixes,
ao redor das paredes dos tanques-rede, estando Outro material testado que apresentou
cerca de 30 cm abaixo e 10 cm acima da linha ótimo resultado foi a rede de multifilamento
d’água. Nessa fase, o espaçamento entre os de poliamida com fio 210/72 (espessura) e
tanques-rede deve ser de, pelo menos, a mesma malha com abertura de 30 mm, previamente
largura do tanque. confeccionado (costurado) pelo próprio
fabricante. Esse material é muito mais leve e de
fácil manuseio que a tela metálica, tendo como
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desvantagem que seu uso é pouco recomendado ficar submerso nem vedar a saída dos peixes
nos locais onde há presença de predadores pelas frestas.
como, por exemplo, piranhas que podem
romper as redes. Do ponto de vista das dimensões dos tanques-
redes, na fase de recria, os mesmos podem
Estruturas complementares como a tampa, para ter entre 4 m3 (2 x 2 x 1 m) e 13,5 m3 (3 x
evitar a fuga dos peixes e a ação de predadores 3 x 1,5 m). Nos tanques-rede de engorda,
e os comedouros são fundamentais para o bom as dimensões podem variar bastante, sendo
funcionamento desse sistema de produção. o mínimo recomendado de 6 m3 (2 x 2 x
As tampas podem ser confeccionadas com 1,5 m3). Em ambos os casos, é importante
o mesmo material utilizado nas paredes do manter elevadas taxas de estocagem para obter
tanque-rede, tendo o cuidado do mesmo não melhores resultados, conforme será discutido
posteriormente.
4.2 Povoamento
Em viveiros e açudes, o povoamento deve ser feito, preferencialmente, com juvenis previamente
condicionados à ração, em ambiente preparado com calagem e com a água de boa transparência. A
densidade de estocagem deve ser mantida elevada, podendo chegar de 3.000 a 4.000 kg/hectare na
fase de recria (até 1 kg de média) em viveiros de baixa renovação de água. Na fase de engorda, em
ambiente com baixa ou sem renovação de água, pode se chegar a densidades de 10 toneladas/ha.
Em viveiros com renovação parcial de água (cerca de 5%/dia), é possível ultrapassar produtividade
de 16 toneladas/ha. No sistema de viveiro e açude, é recomendado que sejam trabalhadas, no
mínimo, duas fases de crescimento; porém, com 3 fases de crescimento, o aproveitamento da
infraestrutura e a produtividade são mais elevados.
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Tabela 10 - Recomendações de povoamento e densidades em viveiro escavado e açude
para criação em 3 fases de crescimento.
No tanque-rede, a produção deve ser trabalhada em, no mínimo, 3 fases de crescimento, onde além
da repicagem para redução da densidade de estocagem, é importante realizar a classificação dos
peixes por tamanho.
No caso do sistema intensivo com recirculação de água, como esse ainda não foi revalidado com
resultados conclusivos, ainda não é recomendado que o mesmo seja implantado para a produção
comercial. À medida que esse sistema for aprimorado e novamente testado, deverão ser formuladas
recomendações quanto à sua implantação.
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4.3 Manejo da qualidade da água
A faixa de temperatura ideal para o crescimento influência sobre o pirarucu por causa da
dessa espécie está entre 28 e 30 ºC, sendo que respiração aérea obrigatória que apresenta essa
quando a temperatura da água está abaixo de 26 espécie. Assim, embora a temperatura da água
e acima de 32 ºC, há uma redução significativa tenha se mantido entre 16 e 20 oC na ocasião
no consumo de ração pelos peixes. Entretanto, das altas mortalidades, a temperatura do ar
mais importante ainda do que o valor absoluto atingiu 8 ºC durante as madrugadas, o que
da temperatura da água são as oscilações certamente foi determinante na mortalidade
que esse parâmetro sofre diuturnamente e dos animais. O porte do animal e a condição
sazonalmente, que devem ser a menor possível. nutricional também demonstraram ter grande
Exemplo disso é que peixes que vinham sendo influência na taxa de mortalidade, sendo que
mantidos em águas com elevada temperatura os menores animais e os que não apresentaram
(cerca de 30 ºC) por meses, apresentaram condição nutricional adequada foram os mais
drástica redução no consumo de ração, tanto sensíveis às baixas temperaturas, enquanto
em viveiros como nos tanques-redes, quando a aqueles animais maiores e em estado nutricional
temperatura sofreu uma repentina queda para resistiram melhor ao problema.
26 ºC. Outro exemplo de como os peixes têm
boa capacidade de adaptação é que juvenis Portanto, nas regiões onde ocorrem quedas
de pirarucu mantidos em ambientes com drásticas e repentinas na temperatura,
temperaturas estáveis ao redor de 25 a 26 ºC recomenda-se que os animais sempre sejam
continuaram apresentando resposta bastante mantidos em corpos d’água de maiores
ativa à alimentação. Quanto à tolerância às dimensões (> 5.000 m2) e mais profundos (>
baixas temperaturas, o pirarucu apresentou 2,5 m), de modo que haja maior estabilidade
mortalidade parcial e total em todas as classes térmica e conforto aos animais. Adicionalmente,
de tamanho (juvenis e adultos) quando a nessas regiões, o povoamento antecipado
temperatura da água sofreu repentina queda, também pode contribuir, de forma que, na
atingindo entre 16 e 20 ºC, e se mantendo época em que o clima estiver mais frio, os peixes
nesses níveis por vários dias consecutivos (5 a já terão atingido porte suficiente para tolerar
6 dias). Um ponto importante a ser observado melhor essa condição.
nesse caso é que somado à baixa temperatura
da água, a temperatura do ar tem uma grande
24
4.3.2 pH
25
4.3.4 Amônia e nitrito
A turbidez indica a presença de partículas ou Para a produção do pirarucu, águas com maior
substâncias dissolvidas na água que dificultam a transparência (> 60 cm) são muito interessantes,
transmissão da luz na água e, consequentemente, sobretudo nas fases iniciais de desenvolvimento
no caso do pirarucu afeta a captura do alimento quando os animais estão sendo condicionados
desse animal que depende da visão para isso. a se alimentar observando o alimentador. Nos
viveiros e nos açudes com maior profundidade,
Do ponto de vista da qualidade da água, a onde a eutrofização do ambiente ocorre
elevada turbidez mineral provavelmente mais tardiamente e a água permanece mais
representa o principal ponto de estrangulamento transparente, a produção do pirarucu tem
para o desenvolvimento da espécie. Alta apresentado melhores resultados.
turbidez provada pelo excesso de fitoplâncton
também dificulta a captura do alimento pelos Assim, medidas como a escolha de locais com
animais, o que pode ser observado pela falta solo menos propício à ocorrência de turbidez
de interesse ou resposta pouco vigorosa ao mineral, viveiros e açudes mais profundos ou
arraçoamento nessas condições. a renovação parcial de água para controlar a
eutrofização podem contribuir para reduzir a
turbidez da água.
Figura 5 - Ilustração do efeito da transparência da água do viveiro
sobre o consumo de ração do pirarucu.
27
4.4 Manejo nutricional e alimentar
As rações comerciais para peixes carnívoros acima da quantidade consumida num projeto
geralmente possuem proteína bruta entre em escala piloto como foi o caso do Estruturante
40 e 48%. A proteína da ração tem origem do Pirarucu.
de ingredientes vegetais e animais, mas os
peixes carnívoros, entre eles o pirarucu, Assim, à medida que os projetos de produção
aproveitam melhor as proteínas de origem de pirarucu forem se expandindo e a demanda
animal. Muitas rações comerciais para peixes por uma ração específica for aumentando, a
carnívoros têm valor adequado em proteína tendência é que alguma indústria se interesse em
bruta, mas não resultam em bom desempenho, fabricar esse produto.
devido à qualidade inadequada dessa proteína
ou por causa do desbalanceamento dos O manejo de alimentação do pirarucu deve ser
micronutrientes. Em algumas observações, feito respeitando o vigor da resposta dos animais
resultados semelhantes foram observados na hora do arraçoamento. Em cada alimentação,
entre rações com 40 e 36% de proteína bruta, a ração deve ser distribuída em parcelas, de
provavelmente devido à qualidade dessa forma que todos os animais tenham acesso a
proteína. ela, mas, ao mesmo tempo, não permitindo que
haja sobra de ração. Como o impacto da queda
As rações comerciais para peixes carnívoros da ração na água estimula o consumo do peixe,
apresentam teor de gorduras entre 6 e 15%. deve-se ter uma atenção especial com a oferta
Geralmente os peixes carnívoros têm pouca de excesso de ração, pois o pirarucu a ataca
habilidade para aproveitar os carboidratos vorazmente, em reflexo a esse estímulo, mas
como fonte de energia, sendo as gorduras seu quando está próximo da saciedade, os animais
principal suprimento. Os melhores resultados capturam a ração, mas em seguida soltam os
foram obtidos com rações de 40% a 42% de grãos da ração (peletes) sem consumi-los. Como
proteína bruta e 10 a 12% de gordura. Um ração regra geral, cada porção de ração oferecida deve
comercial com 50% de proteína bruta e 10 % ser consumida em até 10 minutos.
de gordura teve desempenho semelhante, mas
com custo maior. Comparando os resultados Conforme apresentado na seção sobre a
obtidos no Projeto Estruturante com índices qualidade da água, normalmente à medida que
de desempenho de rações experimentais os peixes crescem, muitas vezes há redução na
publicados na literatura científica, há indicativos transparência da água, o que pode diminuir
fortes de que as rações comerciais não atendem o consumo de ração. Porém, mesmo em
ainda às necessidades específicas do pirarucu. tamanhos mais avançados, quando as condições
ambientais estão favoráveis, o consumo
No que se refere ao uso das rações comerciais permanece elevado, o que pode induzir o
no projeto, a principal dificuldade foi que produtor a alimentar os animais em excesso.
embora tenha sido detectado desde o início do Para peixes de maior porte, acima de 10 kg, é
projeto que as rações não estavam atendendo muito importante adequar o tamanho do grão
plenamente às necessidades do pirarucu, não da ração para otimizar o consumo. Os maiores
foi possível resolver esse problema. A causa peletes comerciais chegam geralmente até 15
dessa dificuldade é que as indústrias de rações mm de diâmetro, mas passam a ser pequenos
só produzem as específicas quando há uma demais para esses peixes. Entretanto, a limitação
demanda mínima, que normalmente é muito industrial dificulta as empresas a oferecer rações
28
com grãos maiores, o que demandaria mais exemplo, que favoreça a formação de alimento
investimentos em tecnologia fabril. natural, poderia ser uma das estratégias. Pode-
se, também, favorecer a produção de peixes
Conversões alimentares satisfatórias foram forrageiros por meio da adubação no viveiro
observadas em viveiros e açudes onde houve onde está sendo feita a recria em tanques-redes,
abundância de peixes invasores e camarões, para depois soltar os pirarucus nesse viveiro,
indicando que o pirarucu tem boa capacidade povoado com alimento vivo.
de se alimentar desses organismos. Estratégias
para se aumentar a disponibilidade de alimento Apesar da boa capacidade de consumo de peixes
natural do viveiro podem reduzir o custo de forrageiros, a produção em escala, utilizando
produção e melhorar a saúde do peixe, por somente os peixes invasores, é inviável
suprir alguma deficiência nutricional que economicamente, devido à baixa produtividade,
possa existir na ração não específica. Utilizar pois a produção máxima está ao redor de 300
o pirarucu no viveiro depois de uma engorda kg de pirarucu por hectare, utilizando essa
de tambaqui ou de outra espécie onívora, por estratégia.
Consumo
Peso pirarucu Tamanho do Refeições por diário (% peso
(g) pelete dia
vivo)
15 – 100g 1 - 2 mm 6a4 7 a 5%
100 – 500 2 - 3 mm 4 5 a 4%
500 – 1.000 3 - 5 mm 3 4 a 3%
1.000 – 5.000 8 – 10 mm 3 3 a 2%
5.000 – 12.000 12 - 15 mm 3a2 2 a 1%
29
4.5 Captura e manuseio
A captura e o manuseio do pirarucu, seja para Um ponto crítico a ser atentado é que durante
transferência dos peixes vivos de uma unidade o manejo para a despesca do pirarucu, pode
produtiva para outra ou para o abate, devem ocorrer morte de animais por afogamento,
ser feitos com muito cuidado, principalmente caso os mesmos se prendam na rede ou sejam
por se tratar de um peixe de grande porte, mas mantidos em densidade muito alta por tempo
principalmente porque o pirarucu é um peixe prolongado.
saltador. Já foram relatados diversos acidentes
envolvendo o choque de peixes saltando para No caso da transferência de juvenis vivos, os
fugir da captura e atingindo os trabalhadores peixes devem ser manuseados (carregamento
na piscicultura. Para minimizar esse risco, é e descarregamento), utilizando sacos plásticos
recomendado que na captura sejam utilizadas ou outro recipiente que permita mantê-los
redes com altura de trabalho de 6 a 7 metros, dentro da água. Essa medida, apesar de mais
que formem um grande colo na parte central, trabalhosa, permite minimizar os ferimentos e o
de modo que o pirarucu fique preso e não estresse aos animais. Porém, como o peixe tem
consiga saltar por cima das boias da rede. respiração aérea obrigatória, é imprescindível
Para boa eficiência na captura, as cordas das que haja espaço suficiente no recipiente para que
boias e do fundo devem trabalhar no mesmo o mesmo possa vir à respirar na superfície.
alinhamento vertical. Se houver necessidade
de recolher a linha de fundo no meio da rede, Durante o transporte dos juvenis vivos, é muito
esse serviço deve ser feito pelo lado de dentro importante também que seja adicionado sal
da rede e nunca por trás da mesma, pois os comum (NaCl) à água, na proporção de 3
pirarucus podem se chocar contra o colo da gramas/litro ou 3 kg/m3. Esse sal tem como
rede ou mesmo saltar sobre a boia, atingindo função principal atenuar a perda de sais dos
quem estiver por trás dela. Preferencialmente, animais que é causada pelo estresse fisiológico
o nível da água do viveiro ou açude deve ser dos peixes, resultante da captura, do manuseio
previamente baixado, de modo que a água tenha e do transporte. E, assim como nas demais
ao redor de 1,5 m de profundidade. espécies de peixes, a aclimatação e a renovação
gradual da água, antes da soltura dos juvenis,
No momento do fechamento da rede, as boias são importantes para evitar qualquer choque
podem também ser levantadas e mantidas a aos animais (temperatura, pH da água, entre
certa altura da água com o auxílio de varas com outros).
forquilhas nas pontas, para evitar que os peixes
escapem por cima das boias. Apesar de ter
muita força e o pirarucu saltar agressivamente
contra a rede no momento da captura, o mesmo
se cansa rapidamente. Por isso, no momento
do fechamento é interessante aguardar alguns
minutos até que os animais se acalmem antes de
iniciar o manuseio dos mesmos.
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4.6 Abate para comercialização
31
5. Considerações finais
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6. ANEXO
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Foto 1. Parceiro do projeto, Sr. Kionori, da UO no Bujari, AC.
Foto 2. Resposta vigorosa na alimentação do pirarucu confinado no
tanque-rede na UO em Rio Branco, AC.
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Foto 3. Visita de acompanhamento do projeto por outros gestores e
Coordenadora Regional do Estruturante do Pirarucu em Iranduba, AM.
Foto 4. Viveiro escavado protegido com tela antipássaros utilizado na
fase de recria na UO em Itacoatiara, AM.
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Foto 5. Parceiro do projeto, Sr. José, durante a captura e a pesagem de
amostras dos pirarucus na UO no Alto Alegre, RR.
Foto 6. Avaliação da qualidade da ração para o pirarucu fabricada pelo
parceiro do projeto, Sr. Aniceto Wanderley, na propriedade no Cantá, RR.
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Foto 7. Resposta vigorosa à alimentação dos juvenis da fase de recria no
viveiro escavado na Aliança Indústria Pesqueira, Aliança do Tocantins, TO.
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Foto 9. Captura para a pesagem total do pirarucu dos tanques-redes
instalados na barragem do CPPPN, em Palmas, TO.
Foto 10. Sistema intensivo em tanque de PVC com recirculação em viveiro
escavado, em Pimenta Bueno, RO.
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Foto 11. Alimentação dos peixes no sistema intensivo em tanque de PVC
com recirculação em viveiro escavado, em Pimenta Bueno, RO.
Foto 12. Despesca dos pirarucus criados no assentamento Eli Moreira, em
Pimenta Bueno, RO.
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Foto 13. Despesca dos pirarucus criados no Pesque Pague da Fazendinha,
em Macapá, AP.
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