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7º Encontro da ABCP

4 a 7/08/2010, Recife, PE

Área Temática: Teoria Política

II versão

A análise prática da política prática: uma introdução ao estudo


dos "textos jornalísticos" de Marx

Adriano Codato (UFPR/NUSP)

[versão preliminar; não citar]

2010
Adriano Codato
A análise prática da política prática: uma introdução ao estudo dos "textos
jornalísticos" de Marx

Resumo

Durante as décadas de 1840-50, Marx publicou uma série de escritos


analisando a política institucional. Este paper destaca, da vasta produção do
autor editada no New York Daily Tribune, as crônicas sobre a política
parlamentar inglesa entre 1852-1854. O objetivo geral do estudo é examinar o
modo pelo qual o escritor pensou a atividade política quotidiana. Enfatizo nessa
exegese dois assuntos usuais da tradição marxista: i) o problema da
―autonomia da política‖; e ii) o papel ativo (ou não) dos agentes sociais. Essa
discussão serve de pano de fundo para o problema central tratado na
investigação: como Marx lidou com a questão dos profissionais da política?
Utilizamos como fonte desses comentários de texto duas compilações da
edição crítica das Obras Políticas estabelecida por M. Rubel para as Éditions
Gallimard: Chroniques Anglaises (1852-1854) e Lord Palmerston (1853).

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jornalísticos" de Marx

INTRODUÇÃO

O ―empreendimento político‖, para falar como Max Weber, é, em


primeiro lugar, um efeito das leis internas do campo político e responde
exclusivamente às suas exigências. O que esse princípio significa exatamente
e em que termos o marxismo de Marx pensou esse problema? Este paper
discute essas questões tomando por base a produção do autor editada no New
York Daily Tribune (NYDT), em especial as crônicas sobre a política inglesa
entre 1852-1854.

O trabalho está organizado em três partes. Na primeira, apresento e


desenvolvo os argumentos tradicionais acerca da autonomia da política a partir
da tradição sociológica que tematiza os políticos como agentes autônomos
(Weber) e o campo político como um universo autônomo (Bourdieu). Na
segunda, procuro mostrar como a visão que Marx tem do problema é mais
diferente do que se está acostumado a imaginar. Na terceira parte comento
duas passagens significativas para o assunto. O propósito específico aqui é
mostrar como o marxismo de Marx lida com a questão da autonomia da
política/dos políticos ao lidar com o comportamento dos políticos de carne e
osso. Uma análise completa dessa literatura e da ocorrência desse problema
no pensamento marxiano teria de incluir todos os 350 artigos de Marx, as 125
matérias escritas por Engels e assinadas por Marx, além das 12 colunas em
coautoria publicadas entre 1852 e 1861 no NYDT (cf. McLellan, 1990). Há uma
série muito variada de edições desse material, reunido por temas afins. Ver,

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por exemplo, Torr (ed.), 1951 (sobre a China); e Husain (ed.), 2006 (sobre a
Índia). Uma pequena parte desses escritos foi organizada por Maximilien Rubel
em Croniques Anglaises (1852-1854); Lord Palmerston (1853); L’Espagne
Révolucionnaire (1854) (ver Rubel, 1994). Tomo por base para esse
comentário de texto a edição francesa dos escritos políticos de Marx1. Neste
ensaio trato apenas dos oito artigos reunidos em Lord Palmerston2. Utilizo a
versão dos textos publicada entre outubro e dezembro de 1853 no jornal
cartista inglês People’s Paper, já que nas versão do NYDT havia umas tantas
interferências do seu editor nos originais de Marx.

I. O PEQUENO MUNDO DA POLÍTICA

O universo político (tal qual o burocrático, o ideológico, o econômico,


etc.) deve ser entendido, com toda prudência que uma declaração de princípios
dessas exige, como um microcosmo, isto é, como ―um pequeno mundo social
relativamente autônomo dentro do grande mundo social‖. Essa autonomia, se
levada ao pé da letra, isto é, se entendida etimologicamente, indica que, mais
frequentemente do que se imagina ou se está disposto a aceitar, esse mundo
(ou ―campo‖) trabalha, conforme Bourdieu, ―de acordo com sua própria lei, seu
próprio nomos‖. Isso significa muito simplesmente que o campo político ―possui
em si mesmo o princípio e a regra do seu funcionamento‖ (Bourdieu, 2000, p.
52). Bourdieu vai ainda mais longe nesse assunto e sustenta que em qualquer
caso ―seria um erro subestimar a autonomia e a eficácia específica de tudo o
que acontece no campo político, reduzindo a história propriamente política a

1
Praticamente não há estudos sistemáticos desses textos. Destaque-se Ferreira,
2005; Barsotti, 2009; e Bologna, 2009. Os textos originais em inglês podem ser
encontrados nos volumes 12, 13 e 14 da MEGA (Berlim, 1984).
2
Lord Palmerston (Henry John Temple (1784-1865)) foi um político eminente que
ocupou posições de destaque na política inglesa por 30 anos. Ele foi ministro dos
Negócios Estrangeiros em duas oportunidades (entre 1835-1841 e 1846-1851); foi
também ministro do Interior (entre 1852-1855); e Primeiro-Ministro também por duas
vezes (de 1855 a 1858; e de 1859-1865).

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uma espécie de manifestação epifenomênica das forças econômicas e sociais‖,


como pretende o marxismo (Bourdieu, 1998, p. 175).

Não foi preciso esperar pelas descobertas de certa Ciência Política da


segunda metade do século XX para afirmar que ―interesses políticos‖ não são –
sempre e em todos os casos – a conversão, em outra esfera, de interesses
sociais. Assim como há uma profissão política, com seus códigos, condutas e
métodos próprios, há interesses especificamente políticos – sendo ambos (o
ramo de atividade e os negócios) a confissão da autonomia do político (i.e., o
espaço social), da autonomia da política (a prática social) e da sócio-lógica
específica que estrutura esse espaço e governa e dirige essa prática. Nessa
linha, Joseph Schumpeter reprovou com ironia a ingenuidade dos analistas e
dos agentes sociais que teimavam em não levar a sério a verdade contida na
frase pronunciada por um político eminente – a política como negócio: ―O que
os empresários não compreendem é que, exatamente como eles negociam
com petróleo, eu negocio com votos‖. O próprio Weber já havia observado que
os políticos são fundamentalmente ―especuladores‖ de votos e cargos (Weber,
1993, p. 119-120). Esses juízos de fato explicitam tanto o que Schumpeter irá
chamar de ―interesse profissional distinto‖, que está na base das ações dos
políticos de carreira, quanto o ―interesse distinto do grupo na profissão política
enquanto tal‖ (Schumpeter, 1984, p. 356 e 355). Schumpeter parece bem
aborrecido em ter de lembrar aos devotos da heteronomia da política uma
verdade tão evidente: a legislação que se fabrica nos Legislativos e a
administração que sucede no Executivo não são mais que ―subprodutos‖ dessa
―incessante batalha‖ que acontece ―no parlamento e fora dele‖ pelos empregos
políticos e pelos cargos públicos (Schumpeter, 1984, p. 356).

Como o assunto é muito complicado para ser decidido com base em


uma ou duas declarações, farei uma brevíssima divagação em torno desse
tema a fim de colocar o problema central desse paper na perspectiva devida. O
propósito aqui, contudo, é bem restrito: estabelecer certos princípios teóricos a
fim de cotejá-los com a interpretação que Marx deu à matéria nos seus escritos
sobre a política parlamentar nos anos 1850.

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Esse hermetismo que caracteriza e define o universo político implica ter


presente, na análise social, tanto os processos políticos e ideológicos de
produção dos profissionais da política, que são historicamente diferentes em
formações sociais diferentes, quanto os procedimentos efetivos, isto é, o ―jogo
político‖, com suas técnicas de ação e de expressão (regras, posturas, crenças,
valores, hierarquias, etc.), que são a essência de qualquer campo e constituem
o pré-requisito para participar dele. A propósito da famosa frase de Weber,
para quem se pode viver da política ou para a política, Bourdieu corrige a
alternativa e adiciona outra ideia: seria mais exato pensar que se possa ―viver
da política com a condição de se viver para a política‖ (Bourdieu, 1998, p. 176),
isto é, conforme se conheça e se adira às regras do jogo, e não conforme uma
vocação imaginada ou (auto) atribuída.

Acrescentaria que o oposto também é verdadeiro: só vive para a política


aquele que vive da política. Essa profissionalização é a condição para dedicar-
se integralmente seja à função de representação de interesses externos ao
campo político (os interesses sociais ou econômicos, por exemplo), seja à
função de representação dos próprios interesses, e mesmo à defesa dos
interesses do campo político enquanto tal, isto é, a advocacia da sua
existência, da sua permanência, dos seus regulamentos, códigos, princípios de
seleção e exclusão, etc.

Nesse sentido, ―elites políticas‖, em sentido genérico, burocracias


públicas, grupos dirigentes, etc. podem ou não representar (interesses de)
classes. Essa responsabilidade, competência ou prerrogativa, além de
intermitente, não deve ser pressuposta ―teoricamente‖, nem como um
postulado, nem como uma premissa. Mais prudente seria dizer que elites
políticas representam classes, mas geralmente fazem isso enquanto
representam a si mesmas. Como Pierre Bourdieu argumentou, a autonomia do
campo político implica a existência de interesses corporativos, interesses esses
―que são definidos pela lógica do jogo e não pelos mandantes‖ do jogo
(Bourdieu, 2004, p. 200). Assim, os agentes políticos ―servem os interesses dos
seus clientes na medida em que (e só nessa medida) se servem também ao

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servi-los‖. Isso significa que ―a relação que os vendedores profissionais dos


serviços políticos (homens políticos, jornalistas políticos etc.) mantêm com seus
clientes é sempre mediada [...] pela relação que eles mantêm com seus
concorrentes‖ (Bourdieu, 1998, p. 177, grifo do autor). Disso se pode concluir
que o problema da representação não se coloca mais conforme o princípio
formulado por Weber (1994), isto é, como um problema em geral em torno de
duas proposições excludentes (os políticos ou representam a si mesmos, ou
representam os outros), mas como duas realidades ora justapostas, ora
sobrepostas.

Há, portanto, no mínimo três grandes questões que decorrem dessa


interpretação do mundo político e de sua relação com o mundo social.
Menciono-as de passagem porque essa discussão nos levaria muito longe do
foco deste trabalho.

1) A primeira questão refere-se à relação efetiva entre a esfera


das práticas políticas e a esfera dos interesses sociais.

Só é possível pensar na autonomia dos representantes políticos tendo


como suposto – seja lógico, seja histórico – a autonomia do próprio campo da
representação política. Recorrendo a uma imagem a fim de ilustrar a ideia: os
jogadores (os políticos) e o jogo (a função de representação) pressupõem a
existência do tabuleiro (o campo).

2) A segunda questão refere-se à natureza da relação entre


todos os jogadores no espaço social ou, para simplificar,
entre a “elite política” e a “elite social”.

Essa relação pode ser pensada em termos subjetivos (a origem social


da elite política) ou em termos objetivos (a função social da elite política no jogo
político). O entusiasmo diante de uma ou de outra ideia é, feitas todas as
contas, a razão da divergência principal da polêmica Miliband-Poulantzas3.

3
Ver, em especial, Poulantzas, 1969 e Miliband, 1970.

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3) A terceira questão refere-se às condições sociais e históricas


de produção dos próprios jogadores.

A autonomia do campo (e do jogo) político é a condição para produzir a


profissão política e seus especialistas: os profissionais da política. Quanto
menos diletantes, mais tendem a desenvolver interesses ―corporativos‖ – ou,
para falar como Weber, a buscar ―o poder pelo poder‖ (1994); quanto mais
interessados estão em si próprios, mais tendem a reforçar e ampliar aquela
autonomia.

Conforme esse raciocínio, a questão fundamental dessa sociologia seria,


portanto, compreender e explicar a ―regra do jogo‖ (político), isto é, sua sócio-
lógica implícita. É ela que determina as propriedades do campo de jogo, fixa os
pré-requisitos para participar da partida (por exemplo: os backgrounds sociais)
e determina o perfil ideal (quem são) e a margem de manobra dos jogadores,
isto é, o que eles podem, ou não, fazer4.

Max Weber já havia tratado dos ―jogadores‖ – os políticos – e da


transformação de seu perfil social com a instituição do sufrágio universal (uma
mudança de regra do jogo, portanto) e com a necessidade, daí derivada, de
organizar sobre novas bases o exercício dos direitos políticos.

A conversão da associação de notáveis locais (gentlemen), indivíduos


ilustres pela posição que ocupavam na hierarquia social, em máquina partidária
corresponde, conforme sua tipologia, à passagem do comando da cena política
de dois tipos sociais ideais, os ―notáveis‖ parlamentares e extraparlamentares
(para os quais a política era uma ocupação secundária e os cargos no Estado
tinham uma função honorífica) para o domínio dos políticos profissionais. Esses
poderiam ser funcionários permanentes do partido (como na Alemanha) ou
4
Para permanecer na metáfora, Bourdieu nota que a adesão incondicional ao jogo e
às coisas que estão em jogo ―não se manifesta nunca de modo tão claro como
quando o jogo chega a ser ameaçado enquanto tal‖ (Bourdieu, 1998, p. 173).
Traduzindo: todos esses atributos políticos tornam-se mais explícitos em momentos
de transformação ou transição política.

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simplesmente intermediários de votos (o election agent, na Inglaterra; o boss,


nos Estados Unidos).

Esses tipos não são categorias abstratas, todavia, nem foram criados
por dedução lógica. São expressões políticas e históricas de diferenças sociais
reais. Weber nota que na Inglaterra até 1868, precisamente, o empreendimento
político era um negócio exclusivo dos notáveis, dos importantes do lugar. Mas
enquanto os tories apoiavam-se no pastor, no professor e no grande
proprietário rural (suas bases sociais e fontes de recrutamento), os whigs se
apoiavam no pregador, no administrador dos correios e nos artesãos (ver
Weber, 1999, em especial p. 558 e p. 551). Já na ―América de Washington‖, um
gentleman era um proprietário (de terras) ou um universitário (isto é, um
indivíduo formado em um college) (p. 554). O boss, por sua vez, era ―um
empresário político capitalista que, por sua conta e sob seu risco, junta[va]
votos‖. Antes de converter-se em político profissional ele poderia ter sido
advogado, rentista ou ―taberneiro‖ (p. 555). Por fim, o pessoal político dos
partidos burgueses liberais da Alemanha resultava ―de um peculiar casamento‖
entre financistas e literatos, sobretudo professores.

Nesse sentido, falar em políticos de carreira ou em mundo político,


interesses políticos, interesses dos políticos, etc., não deve dar a entender que
esse grupo funcional não tenha uma ―origem de classe‖. O ponto é que a
constatação da origem de classe não significa, ipso facto, que eles tenham de
cumprir – sempre e de todo modo – a função de representação dos interesses
de classe (da classe da qual se originam ou de outra classe qualquer). Podem,
como é muito frequente, representar a si mesmos.

II. OS INTERESSES E OS POLÍTICOS

No primeiro artigo que publicou no New York Daily Tribune, em 21 de


agosto de 1852, Marx aplicou um princípio de compreensão à política inglesa
completamente diferente desse resumido até aqui. Sob o pretexto de analisar
os resultados das eleições gerais para o Parlamento britânico, Marx julgou
necessário distinguir para o leitor americano o perfil dos partidos e dos grupos

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políticos derivados deles – de um lado, tories, whigs, peelites (adeptos de


Robert Peel, conservadores liberais), livre-cambistas, isto é, toda a ―Inglaterra
oficial‖; de outro, os cartistas. Sobre os primeiros, escreveu o seguinte:

O ano de 1846 revelou em sua nudez os substanciais interesses de classe


que são a base real do partido tory. Este ano de 1846 dilacerou a venerável
pele de leão, essa máscara tradicional sob a qual se escondia até então os
interesses de classe dos tories. O ano de 1846 transformou os tories em
protecionistas. Tory era o nome sagrado, protecionista a apelação profana; tory
era o grito de guerra político, protecionista é o grito de desespero econômico;
tory parecia recobrir uma ideia, um princípio, protecionista recobre os
interesses. ‗Protecionistas‘ de quê? De suas próprias receitas, da renda da sua
própria terra. Os tories são portanto, afinal de contas, tão burgueses quanto os
demais burgueses, pois existe um burguês que não seja protetor da sua própria
5
bolsa?‖ (Marx, 1994b, p. 680; grifos no original) .

Há ao menos três ideias fundamentais aqui: a) ―tory‖ e, por extensão, as


denominações políticas oficiais, são máscaras convenientes que disfarçam os
interesses sociais reais que estão na sua base; b) a natureza de classe do
partido Tory deriva da relação de representação que eles estabelecem com os
interesses que objetivamente representam; e c) o caráter aristocrático dos
tories (recrutados entre a nobreza e os grandes proprietários de terra) não se
sobrepõe ao caráter mundano da sua plataforma (a defesa das Corn Laws).

5
O texto foi escrito em alemão por Marx e vertido para o inglês por Engels. O original
publicado era assim: ―The year 1846 brought to light in its nakedness the substantial
class interest which forms the real base of the Tory party. The year 1846 tore down
the traditionally venerable lion‘s hide, under which Tory class interest had hitherto
hidden itself. The year 1846 transformed the Tories into Protectionists. Tory was the
sacred name, Protectionist is the profane one; Tory was the political battle-cry,
Protectionist is the economical shout of distress; Tory seemed an idea, a principle;
Protectionist is an interest. Protectionists of what? Of their own revenues, of the rent
of their own land. Then the Tories, — in the end, are Bourgeois as much as the
remainder, for where is the Bourgeois who is not a protectionist of his own purse?‖.
Cit. a partir de: http://marxists.org/archive/marx/works/1852/08/06.htm#n2

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Esse último ponto merece uma explicação maior. No mesmo artigo,


Marx enfatiza o significado político do fim das tarifas sobre cereais importados
que vigoraram no Reino Unido e na Irlanda entre1815 e 1846.

Up to 1846 the Tories passed as the guardians of the traditions of Old


England. They were suspected of admiring in the British Constitution the eighth
wonder of the world; to be laudatores temporis acti enthusiasts for the throne,
the High Church, the privileges and liberties of the British subject. The fatal
year, 1846, with its repeal of the Corn Laws, and the shout of distress which this
repeal forced from the Tories, proved that they were enthusiasts for nothing but
the rent of land, and at the same time disclosed the secret of their attachment to
the political and religious institutions of Old England. These institutions are the
very best institutions, with the help of which the large landed property — the
landed interest — has hitherto ruled England, and even now seeks to maintain
its rule. […] [The Tories] are distinguished from the other Bourgeois, in the
same way as the rent of land is distinguished from commercial and industrial
profit. Rent of land is conservative, profit is progressive; rent of land is national,
profit is cosmopolitical; rent of land believes in the State Church, profit is a
dissenter by birth. The repeal of the Corn Laws of 1846 merely recognized an
already accomplished fact, a change long since enacted in the elements of
British civil society, viz., the subordination of the landed interest under the
moneyed interest, of property under commerce, of agriculture under
manufacturing industry, of the country under the city. […] The substantial
foundation of the power of the Tories was the rent of land. The rent of land is
regulated by the price of food. The price of food, then, was artificially maintained
at a high rate by the Corn Laws. The repeal of the Corn Laws brought down the
price of food, which in its turn brought down the rent of land, and with sinking
rent broke down the real strength upon which the political power of the Tories
reposed. What, then, are they trying to do now? To maintain a political power,
6
the social foundation of which has ceased to exist .

O Importation Act 1846, essa medida política, nada mais foi do que o
reconhecimento jurídico da modificação das relações de força entre as frações
dominantes na sociedade inglesa, que assistiu, na primeira metade do século
XIX, à irresistível subordinação dos interesses da grande propriedade aos
interesses do dinheiro, sob a forma do comércio e da agricultura capitalistas.

6
http://marxists.org/archive/marx/works/1852/08/06.htm#n2

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Daí que a supressão das Corn Laws na gestão de Peel teve a virtude de
revelar que o tradicionalismo político dos tories (suas ligações respeitosas com
―as instituições religiosas e políticas da velha Inglaterra‖) estava ligado antes de
qualquer coisa à sua paixão pelo protecionismo econômico. Ou por outra: a
grande propriedade beneficiava-se objetivamente dessas instituições, sendo o
seu poder político (a hegemonia Tory) derivado em primeiro lugar da renda da
terra.

A princípio essas conclusões seriam suficientes, conforme a visão usual,


para resumir toda essa teoria política. O circuito ‗classe – interesse de classe –
luta partidária - decisão política‘, segundo o colunista do NYDT, descreveria
didaticamente aquilo que aparecia superficialmente como um conflito entre
políticos por votos eleitorais.

Na realidade, essa concepção é um tanto diferente e o próprio Marx


considerou tanto o fechamento do universo político sobre si próprio (sua
autonomia) como a disparidade e a dessemelhança entre uma classe social e
um grupo exclusivamente político em termos bem familiares e O 18 Brumário
de Luis Bonaparte, escrito poucos meses antes, é um livro chave para entender
esses dois problemas.

O primeiro sintoma da dissociação entre o ―mundo político‖ (a expressão


é de Marx) e o mundo social em geral seria resultado de uma moléstia
ideológica que comprometia todos os políticos indistintamente, chamada
―cretinismo parlamentar‖. Volto a comentar esse ponto mais adiante, já que
essa fórmula designa mais que uma ilusão de consciência (de analistas e de
protagonistas).

O segundo fenômeno que estava na base, ou melhor, supunha a


existência em separado daqueles que ―falavam e escreviam‖ em nome da
classe, foi pensado por Marx em função da persistência de um grupo específico
desligado (mas não independente) da fração que eles deveriam espelhar: os
―representantes políticos e literários de uma classe‖, ―seus políticos e homens
de letras‖ etc. (Marx, 1994a, p. 503, 468, e 516, respectivamente; grifado no

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original)7. De acordo com Antoine Artous, nas análises do processo que conduz
ao 18 Brumário do outro Bonaparte em 1851, o que se verifica, na verdade, é
que, para Marx, ―a estrutura do campo político‖, isto é, sua organização e sua
operação, pode sim ―produzir uma corrente [política] que não é definida pela
representação que ela realiza de uma camada ou de uma classe social, mas
pela função que ela ocupa nesse campo‖ (Artous, 1999, p. 166). É o caso
precisamente do ―partido‖ do National, o jornal dos republicanos ―puros‖.

Nesse sistema teórico, a ligação entre um e outro grupo pode ser


funcional, como as expressões referidas acima supõem e preveem, ou
disfuncional, como no caso da relação real entre a ―burguesia parlamentar‖ (os
agentes políticos) e a ―burguesia extraparlamentar‖ (a classe social). As lutas
políticas da II República (1848-1852) e, em especial, as defasagens entre ―o
partido parlamentar da ordem‖ e ―a massa extraparlamentar da burguesia‖
francesa são o melhor exemplo disso que se quer indicar. Uma infinidade de
outras fórmulas utilizadas por Marx em suas obras sobre a política europeia
designa que a relação objetiva classe/partido da classe, postulada pelo modelo
teórico dos teóricos do marxismo, é essencialmente diferente da relação
subjetiva classe/grupo político, verificada pela análise política marxiana. Para
recordar: os ―políticos paroquiais‖ (―politiqueiros alemães‖, na tradução
brasileira), os ―os republicanos azuis e vermelhos‖, a ―Montanha‖, o ―partido da
ordem‖ e suas três facções, ―orleanistas‖, ―legitimistas‖ e ―bonapartistas‖ (Marx,
1994a, p. 516 e 442 et passim), são termos que assinalam a existência e a
persistência dos políticos como uma confraria à parte que não só merecem um
interesse em si mesmos; mas podem ser estudados por si mesmos à medida
em que suas práticas não são idênticas às práticas da classe da qual provêm.

Uma leitura menos literal de Marx faz surgir o mundo político como um
mundo à parte, dotado de uma lógica própria, códigos e princípios próprios.
Embora ele não seja real (no sentido do ‗realmente existente‘), tem efeitos reais
(i.e., efetivos) sobre a existência e a consciência daqueles que vivem e operam
nesse mundo.

7
A expressão ―mundo político‖ encontra-se à p. 447.

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Há uma anotação em A ideologia alemã a respeito das ―formas da


consciência social‖ de religiosos, moralistas, juristas e também dos políticos
profissionais que poderia ser lida nessa chave interpretativa. Trata-se de uma
ideia, apenas sugerida, mas que procura indicar a fonte da ―autonomização da
ocupação profissional pela divisão do trabalho‖ social (a ênfase é de Marx) e
seus (d)efeitos ideológicos.

Cada um considera seu próprio ofício como o verdadeiro [ofício]. Sobre a


relação entre seu ofício e a realidade, [os homens] criam ilusões tão mais
necessárias quanto mais condicionadas [elas são] pela própria natureza do
ofício. As relações [reais] na jurisprudência, política etc. tornam-se conceitos na
consciência [dos homens]; e como eles não estão acima dessas relações, os
conceitos das mesmas tornam-se ideias fixas na sua cabeça; o juiz, por
exemplo, aplica o Código, e por isso, para ele, a legislação é tida como o
verdadeiro motor ativo [das suas próprias práticas e das práticas sociais] (Marx
8
e Engels, 1984, p. 133-134) .

A alienação profissional que afeta os juízes, os políticos de carreira, etc.


produz fantasias tanto mais persistentes quando mais especializadas são as
exigências do ofício. A consequência da profissionalização é um insulamento
natural e a autonomia que deriva disso faz com que esses agentes ajam não
como mandantes, mas conforme as regras do universo em que atuam. Daí
imaginarem – a atuarem conforme essa imaginação – que suas práticas não
são determinadas por nada que se passa fora desse mundo.

III. O “CRETINISMO PARLAMENTAR”

Eagleton tem toda razão em anotar que ―o argumento marxista


tradicional tem sido que os interesses políticos derivam da localização de
alguém nas relações sociais de uma sociedade de classes‖ (Eagleton, 1997, p.
181). O que eu pretendo relevar é que, posto isso, os interesses dos políticos
(esses profissionais da representação de interesses) e, por extensão, suas
decisões, seus comportamentos, seus valores não derivam exclusivamente de
8
Tradução modificada; inserções entre colchetes minhas. A nota foi redigida apenas
por Marx.

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seu pertencimento de classe (origem social) ou de seus vínculos de classe


(posição social), à maneira de figuras-fantoches projetadas a partir de uma
lanterna mágica; mas de sua ―situação de classe‖. E que isso tem a ver com as
determinações específicas do seu próprio universo.

Com muita frequência se retém apenas o sentido negativo, crítico ou


sarcástico embutido na fórmula nada gentil, mas bastante exata que Marx
utiliza para designar a atuação desastrada da Assembleia Nacional em relação
a Bonaparte no ano do golpe de Estado – ―cretinismo parlamentar‖. Esse é o
epíteto da existência efetiva e da consciência falsificada dos legisladores
políticos.

A interpretação mais aceita sobre a matéria é que não se trata,


absolutamente, de um desprezo pela instituição do Parlamento ou pelo regime
parlamentar, conquistado enfim pelo sufrágio universal depois da revolução de
1848. Mas sim do menosprezo ―a certos membros seus, que creem
ingenuamente ter importância, enquanto que [na verdade] eles estão
desligados da realidade e não têm poder efetivo‖ (Barbier, 1992, p. 158 apud
Rubel, 1994, p. 1372)

O voto de censura de 18 de janeiro [de 1851] atingiu os ministros, mas não


o presidente. Ora, não fora o ministério, e sim o presidente que havia demitido
Changarnier. O partido da ordem deveria acusar o próprio Bonaparte? Em
razão das suas veleidades de restauração? Aqueles não faziam senão juntar-
se aos seus próprios apetites Em vista de sua conspiração, com referência às
paradas militares e à Sociedade de 10 de Dezembro? Eles haviam de há muito
enterrado esses temas sob simples ordens do dia. Devido à destituição do
herói de 29 de janeiro e de 13 de junho, do homem que em maio de 1850
ameaçou, no caso de ocorrer um levante, atear fogo em Paris? Seus aliados da
Montanha, assim como Cavaignac, não lhes permitiram sequer soerguer o ex-
baluarte da sociedade através de um atestado oficial de simpatia. Eles próprios
não podiam negar ao presidente o direito constitucional de demitir um general.
Enfureceram-se apenas porque ele utilizou de maneira não parlamentar o seu
direito constitucional. Não tinham eles com frequência utilizado
inconstitucionalmente suas prerrogativas parlamentares, especialmente com
relação à abolição do sufrágio universal? Viram-se portanto reduzidos a atuar
estritamente dentro dos limites parlamentares. E foi necessário passar por

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aquela doença peculiar que, desde 1848, exerceu sua ação destruidora em
todo o continente, o cretinismo parlamentar, que encerra em um mundo
imaginário aqueles que são contagiados por ela, privando-os de todo senso
comum, de toda recordação, de toda compreensão do grosseiro mundo exterior
– foi necessário contaminar-se desse cretinismo parlamentar para que aqueles
que haviam destruído com suas próprias mãos todas as condições do poder
parlamentar, e que tinham necessariamente que destruí-las em sua luta com as
outras classes, considerassem ainda suas vitórias parlamentares como vitórias,
e acreditassem atingir o presidente investindo contra seus ministros. Deram-lhe
apenas a oportunidade de humilhar novamente a Assembleia Nacional aos
olhos da nação. A 20 de janeiro, o Moniteur anunciava que a renúncia coletiva
do ministério fora aceita (Marx, 1994a, p. 503).

De acordo com Rubel (1994), Engels retomará a mesmíssima expressão


para insultar a esquerda da Assembleia de Frankfurt num dos artigos escritos
por ele e assinados por Marx para o NYDT em 27 de julho de 1852. Essa
doença ―fazia com que penetrasse nessas infortunadas vítimas a convicção
solene que o mundo inteiro, sua história e seu futuro, era governado e
determinado pela maioria deste corpo representativo particular que tem a honra
de contar com eles como membros‖ (Engels apud Rubel, 1994, p. 1372)9.

A reprovação de Marx dessa ―doença‖, que encerrava ―num mundo


imaginário todos aqueles que estão contagiados por ela, privando-os de todo
sentido, de toda lembrança, de toda compreensão do rude mundo exterior‖, i.e.,
do mundo social, pode também ser interpretada como o reconhecimento de
que ações políticas não são necessariamente, e em todos os casos,
determinadas pela relação entre os ‗representantes‘ (os agentes políticos) e os
‗representados‘ (as classes sociais), mas pela relação de concorrência ou
confluência que automaticamente se estabelece entre os membros do universo
político em torno do controle do poder político, da ocupação dos postos
políticos, da supremacia dos respectivos grupos políticos etc. – isto é, em torno

9
Ver também de F. Engels, o volume Revolução e contrarrevolução na Alemanha,
em especial o cap. 8: A Assembleia Constituinte Prussiana; A Assembleia Nacional
de Frankfurt.

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dos seus interesses específicos (ou, como Marx mesmo diria, em torno das
―ideias fixas na sua cabeça‖).

***

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