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4 a 7/08/2010, Recife, PE
II versão
2010
Adriano Codato
A análise prática da política prática: uma introdução ao estudo dos "textos
jornalísticos" de Marx
Resumo
INTRODUÇÃO
por exemplo, Torr (ed.), 1951 (sobre a China); e Husain (ed.), 2006 (sobre a
Índia). Uma pequena parte desses escritos foi organizada por Maximilien Rubel
em Croniques Anglaises (1852-1854); Lord Palmerston (1853); L’Espagne
Révolucionnaire (1854) (ver Rubel, 1994). Tomo por base para esse
comentário de texto a edição francesa dos escritos políticos de Marx1. Neste
ensaio trato apenas dos oito artigos reunidos em Lord Palmerston2. Utilizo a
versão dos textos publicada entre outubro e dezembro de 1853 no jornal
cartista inglês People’s Paper, já que nas versão do NYDT havia umas tantas
interferências do seu editor nos originais de Marx.
1
Praticamente não há estudos sistemáticos desses textos. Destaque-se Ferreira,
2005; Barsotti, 2009; e Bologna, 2009. Os textos originais em inglês podem ser
encontrados nos volumes 12, 13 e 14 da MEGA (Berlim, 1984).
2
Lord Palmerston (Henry John Temple (1784-1865)) foi um político eminente que
ocupou posições de destaque na política inglesa por 30 anos. Ele foi ministro dos
Negócios Estrangeiros em duas oportunidades (entre 1835-1841 e 1846-1851); foi
também ministro do Interior (entre 1852-1855); e Primeiro-Ministro também por duas
vezes (de 1855 a 1858; e de 1859-1865).
3
Ver, em especial, Poulantzas, 1969 e Miliband, 1970.
Esses tipos não são categorias abstratas, todavia, nem foram criados
por dedução lógica. São expressões políticas e históricas de diferenças sociais
reais. Weber nota que na Inglaterra até 1868, precisamente, o empreendimento
político era um negócio exclusivo dos notáveis, dos importantes do lugar. Mas
enquanto os tories apoiavam-se no pastor, no professor e no grande
proprietário rural (suas bases sociais e fontes de recrutamento), os whigs se
apoiavam no pregador, no administrador dos correios e nos artesãos (ver
Weber, 1999, em especial p. 558 e p. 551). Já na ―América de Washington‖, um
gentleman era um proprietário (de terras) ou um universitário (isto é, um
indivíduo formado em um college) (p. 554). O boss, por sua vez, era ―um
empresário político capitalista que, por sua conta e sob seu risco, junta[va]
votos‖. Antes de converter-se em político profissional ele poderia ter sido
advogado, rentista ou ―taberneiro‖ (p. 555). Por fim, o pessoal político dos
partidos burgueses liberais da Alemanha resultava ―de um peculiar casamento‖
entre financistas e literatos, sobretudo professores.
5
O texto foi escrito em alemão por Marx e vertido para o inglês por Engels. O original
publicado era assim: ―The year 1846 brought to light in its nakedness the substantial
class interest which forms the real base of the Tory party. The year 1846 tore down
the traditionally venerable lion‘s hide, under which Tory class interest had hitherto
hidden itself. The year 1846 transformed the Tories into Protectionists. Tory was the
sacred name, Protectionist is the profane one; Tory was the political battle-cry,
Protectionist is the economical shout of distress; Tory seemed an idea, a principle;
Protectionist is an interest. Protectionists of what? Of their own revenues, of the rent
of their own land. Then the Tories, — in the end, are Bourgeois as much as the
remainder, for where is the Bourgeois who is not a protectionist of his own purse?‖.
Cit. a partir de: http://marxists.org/archive/marx/works/1852/08/06.htm#n2
O Importation Act 1846, essa medida política, nada mais foi do que o
reconhecimento jurídico da modificação das relações de força entre as frações
dominantes na sociedade inglesa, que assistiu, na primeira metade do século
XIX, à irresistível subordinação dos interesses da grande propriedade aos
interesses do dinheiro, sob a forma do comércio e da agricultura capitalistas.
6
http://marxists.org/archive/marx/works/1852/08/06.htm#n2
Daí que a supressão das Corn Laws na gestão de Peel teve a virtude de
revelar que o tradicionalismo político dos tories (suas ligações respeitosas com
―as instituições religiosas e políticas da velha Inglaterra‖) estava ligado antes de
qualquer coisa à sua paixão pelo protecionismo econômico. Ou por outra: a
grande propriedade beneficiava-se objetivamente dessas instituições, sendo o
seu poder político (a hegemonia Tory) derivado em primeiro lugar da renda da
terra.
original)7. De acordo com Antoine Artous, nas análises do processo que conduz
ao 18 Brumário do outro Bonaparte em 1851, o que se verifica, na verdade, é
que, para Marx, ―a estrutura do campo político‖, isto é, sua organização e sua
operação, pode sim ―produzir uma corrente [política] que não é definida pela
representação que ela realiza de uma camada ou de uma classe social, mas
pela função que ela ocupa nesse campo‖ (Artous, 1999, p. 166). É o caso
precisamente do ―partido‖ do National, o jornal dos republicanos ―puros‖.
Uma leitura menos literal de Marx faz surgir o mundo político como um
mundo à parte, dotado de uma lógica própria, códigos e princípios próprios.
Embora ele não seja real (no sentido do ‗realmente existente‘), tem efeitos reais
(i.e., efetivos) sobre a existência e a consciência daqueles que vivem e operam
nesse mundo.
7
A expressão ―mundo político‖ encontra-se à p. 447.
aquela doença peculiar que, desde 1848, exerceu sua ação destruidora em
todo o continente, o cretinismo parlamentar, que encerra em um mundo
imaginário aqueles que são contagiados por ela, privando-os de todo senso
comum, de toda recordação, de toda compreensão do grosseiro mundo exterior
– foi necessário contaminar-se desse cretinismo parlamentar para que aqueles
que haviam destruído com suas próprias mãos todas as condições do poder
parlamentar, e que tinham necessariamente que destruí-las em sua luta com as
outras classes, considerassem ainda suas vitórias parlamentares como vitórias,
e acreditassem atingir o presidente investindo contra seus ministros. Deram-lhe
apenas a oportunidade de humilhar novamente a Assembleia Nacional aos
olhos da nação. A 20 de janeiro, o Moniteur anunciava que a renúncia coletiva
do ministério fora aceita (Marx, 1994a, p. 503).
9
Ver também de F. Engels, o volume Revolução e contrarrevolução na Alemanha,
em especial o cap. 8: A Assembleia Constituinte Prussiana; A Assembleia Nacional
de Frankfurt.
dos seus interesses específicos (ou, como Marx mesmo diria, em torno das
―ideias fixas na sua cabeça‖).
***
Referências bibliográficas
ARTOUS, Antoine. 1999. Marx, L’Etat et la politique. Paris: Syllepse.
BOLOGNA, Sergio. 2009 Money and Crisis: Marx as Correspondent of the New
York Daily Tribune, 1856-57. libcom.org. <http://libcom.org/history/money-
crisis-marx-correspondent-new-york-daily-tribune-1856-57-sergio-bologna>
acesso em: 1 jul. 2010.
HUSAIN, Iqbal (ed.). 2006. Karl Marx on India: from the New York Daily Tribune
(including articles by Frederick Engels) and extracts from Marx - Engels
correspondence 1853-1862. 2. ed. New Delhi: Tulika Books.
POULANTZAS, Nicos. 1969. The Problem of the Capitalist State. New Left
Review, London, n. 58, Nov.-Dec.
RUBEL, Maximilien (org.). 1994. Karl Marx, Œuvres. Vol. IV, Tomo I: Politique.
Paris: Gallimard.
TORR, Dona (ed.). 1951. Marx on China, 1853-1860: articles from the New
York Daily Tribune / with an introduction and notes by Dona Torr. London:
Lawrence & Wishart.
WEBER, Max. 1993. Conferência sobre o socialismo. In: Fridman, Luis Carlos
(org.). Socialismo; Emile Durkheim, Max Weber. Rio de Janeiro: Relume-
Dumará.
WEBER, Max. 1994. The Profession and Vocation of Politics. In: Lassman,
Peter & Speirs, Ronald (eds.), Weber: Political Writings. Cambridge:
Cambridge University Press.