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Entrevista a António Lobo Antunes

Contributo para a dignidade da pessoa humana

O repórter José Santos da revista Kiosk da Eskina, entrevista o escritor


português António Lobo Antunes, para esclarecer como foi possível com a sua
obra, contribuir para a dignidade da pessoa humana.

J.S: Boa tarde, o meu nome é José L.A: Para mim os mais importantes
Santos, sou repórter da revista foram:
Kiosk da Eskina. Pode falar-nos
um pouco da sua autobiografia?  Memória de Elefante
L.A: Nasci em Lisboa em 1 de  Os Cus de Judas
Setembro de 1942, sou escritor de  As Naus
ocupação, sou proveniente de uma
 Manual dos Inquisidores
família de alta burguesia, licenciei-
me em Medicina e especializei-me  Eu Hei-de Amar Uma Pedra
em Psiquiatria. Exerci a profissão no  Sôbolos Rios Que Vão
Hospital Miguel Bombarda em
Lisboa, mas dedico-me desde 1985 J.S: Em Julho de 2007, foi-lhe
exclusivamente à escrita. atribuído o Prémio Camões. O que
significa para si receber este
J.S: Tem alguma experiência na prémio?
vida que o tenha marcado e
influenciado na sua obra literária? L.A: Para mim ou para qualquer
escritor significa muito, porque este
L.A: Sim, a experiência que tive em prémio é considerado o mais
Angola na Guerra do Ultramar como importante prémio literário destinado
Tenente e Médico do Estado a galardoar um autor de língua
Português durante vinte e sete portuguesa pelo conjunto da sua
obra.
meses (de 1971 a 1973), marcou
fortemente os meus três primeiros J.S: Na sua opinião, acha que
romances, apesar de se tratar de existe da parte dos governantes,
obras de ficção. nomeadamente da pasta da cultura,
J.S: No seu entender, quais foram incentivo à leitura?
para si os seus principais trabalhos L.A: Não, este pais é futebol,
literários? novelas e pouco mais.

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Entrevista a António Lobo Antunes
J.S: O que acha que deveria mudar transição do regime político, mas
da parte do governo? pela sua condição humana: a
L.A: Deveriam incutir nas escolas, vaidade, o poder, a frustração, a
mas também as famílias, o hábito resignação, a fraqueza, a desilusão,
de ler mais.
a sua soberania e o desamparo, a
J.S: O que pensa das novas ascensão e a degradação.
tecnologias?
J.S: Quais são os ingredientes
L.A: Embora pessoalmente
desse livro “O Manual dos
continue a preferir o papel e a
Inquisidores”?
caneta, admito que as novas
tecnologias vieram dar um grande L.A: São ingredientes que
contributo, até mesmo para quem
misturados num caldo de factores
escreve livros ou outra coisa
qualquer. psicológicos e morais nos dão a
matéria de que somos feitos, nós os
J.S: Admite um dia vir a usar as
novas tecnologias, neste caso o portugueses: com muita facilidade
computador? nos podemos ver retratados, nos

L.A: Sim, porque não? reconhecemos nas personagens


que vão surgindo gradualmente,
J.S: Com a sua obra, acha que
contribuiu para a dignidade da como que se apresentando umas às
pessoa humana? outras.

L.A: Com toda a certeza. Com o J.S: É para si uma visão da


livro “ Manual dos Inquisidores” com sociedade portuguesa?
o tema do antes e pós 25 de Abril,
L.A: É uma grande visão da
não me interessa contar uma
sociedade portuguesa, uma imagem
história mas expor o ser humano
muito profunda da segunda metade
que somos, onde uma única voz
do século vinte português.
interpreta a voz de todas
personagens. J.S: Que mais nos pode dizer sobre
esse fabuloso livro?
“O Manual dos Inquisidores”, na
L.A: É um livro rico em fabulações,
continuidade dos anteriores, retrata imagens e metáforas de toda a
personagens que nos são próximas, ordem que faz a delícia do leitor que
só tem a ganhar com a sua leitura.
não tanto pelo que viveram na
Porque aprende.

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Entrevista a António Lobo Antunes
J.S: Gostaria de deixar algum
incentivo para novos escritores?

L.A: Que escolham temáticas de


interesse social, porque toca mais o
coração de quem lê.

J.S: Projectos futuros?

L.A: Ainda não pensei nisso.

J.S: Em termos de literatura, que


desejo gostaria de ver realizado?

L.A: Um país mais cultural, e menos


desportivo.

J.S: O seu pensamento?

L.A: Viver um dia de cada vez.

J.S: Gostaria de agradecer, por nos


ter concedido esta entrevista à
revista Kiosk da Eskina.

L.A: Eu é que agradeço.

J.S: Definitivamente, aprendemos a


conhecermo-nos ao lermos António
Lobo Antunes. Somos nós que lá
estamos, antes e depois deste livro.

António Lobo Antunes

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Entrevista a António Lobo Antunes

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Lobo_Antunes

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