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ALCIMAR NUNES DE PAULA

BIOGÁS: O COMBUSTÍVEL DO FUTURO

Monografia apresentada ao Departamento de Engenharia da Universidade


Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Pós-Graduação Lato
Sensu em Fontes Alternativas de Energia, para a obtenção do título de
especialista em ENERGIA ALTERNATIVA

Orientador
Prof. Vitor Hugo Teixeira

LAVRAS
MINAS GERAIS – BRASIL
2006

1
ALCIMAR NUNES DE PAULA

BIOGÁS: O COMBUSTÍVEL DO FUTURO

Monografia apresentada ao Departamento de Engenharia da Universidade


Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Pós-Graduação Lato
Sensu em Fontes Alternativas de Energia, para a obtenção do título de
especialista em ENERGIA ALTERNATIVA.

APROVADA em ______ de ___________ de 2006

Prof. _________________________

Prof. _________________________

Prof. ___________________
UFLA
(Orientador)

LAVRAS
MINAS GERAIS – BRASIL
2006

2
AGRADECIMENTOS

Ao Professor _________ por sua competência, firme e sábia orientação que nos
permeou durante todo o processo.

Aos Colaboradores com as nossas pesquisas, pela desinteressada doação,


embora seja de grande importância.

Aos queridos membros da nossa família, pelo empenho, envolvimento e carinho


do acompanhamento.

A Deus que conhece amplamente os nossos corações.

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RESUMO

O presente trabalho apresenta uma breve exposição sobre o Biogás, o


combustível do futuro. Abordaremos conceitos, situações de uso do Biogás,
como: energia elétrica produzida a partir do lixo urbano, como biofertilizante,
utilizando o biogás para substituir derivados de petróleo e até mesmo como
combustível automotivo; reduzindo os riscos de contaminação do meio
ambiente.

ABSTRACT

The present work presents an abbreviation exhibition on Biogás, the fuel


of the future. We will approach concepts, situations of use of Biogás, as: electric
power produced starting from the urban garbage, as biofertilizante, using the
biogás to substitute derived of petroleum and even as automotive fuel; reducing
the risks of contamination of the environment.

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SUMÁRIO

RESUMO..............................................................................................................4
LISTA DE FIGURAS...........................................................................................7
LISTA DE TABELAS..........................................................................................8
1- INTRODUÇÃO................................................................................................9
2- BIOGÁS .........................................................................................................11
2.1 - O que é? .................................................................................................11
2.2 - A Utilização do Biogás ..........................................................................15
3 – CHINA: PIONEIRA NA PRODUÇÃO DE BIOGÁS .................................18
3.1 – Uma pequena fazenda rural na China usando o biogás. ........................20
3.2 – Os progressos alcançados na cidade de Mianyang ................................21
3.3 - Algumas mudanças com a produção de biogás......................................22
4 – OS BIODIGESTORES .................................................................................24
4.1 – A utilização do biodigestor....................................................................26
4.2 - Problemas enfrentados com biodigestores .............................................26
4.3 - O biofertilizante .....................................................................................28
5 – EXEMPLO DE BONS RESULTADOS DO BIOGÁS NO BRASIL ..........31
5.1 – Biodigestor rural no Rio Grande do Norte ............................................31
5.2 – As vantagens econômicas......................................................................31
5.3 – O Projeto e a Ativação do Biodigestor ..................................................33
5.4 – A manutenção e a integração do biodigestor na fazenda.......................35
6 – POTENCIAL DE ENERGIA VINDA DO LIXO ........................................36
6.1 – Biogás produzido com lixo urbano gera energia elétrica no Brasil.......38
6.2 - O Mercado de Carbono ..........................................................................41

5
7 - BIOGÁS EM SUBSTITUIÇÃO A DERIVADOS DE PETRÓLEO............45
7.1 – A segurança do Biogás como combustível automotivo.........................46
7.2 – O fator poluição.....................................................................................48
8 – O FUTURO DO BIOGÁS A PARTIR DA CENTRAL DE RESÍDUOS DO
VALE DO AÇO .................................................................................................50
8.1 - Central de Resíduos recebe lixo e material inservível ...........................50
8.2 – Projeto sobre aterro sanitário, prevê o uso do biogás. ...........................53
8.3 – Descrição do projeto..............................................................................53
8.4 - Considerações sobre o biogás gerado em aterros sanitários...................54
9 – LEGISLAÇÃO SOBRE ENERGIAS RENOVÁVEIS NÃO RESPEITA
PROTOCOLO DE QUIOTO..............................................................................57
10 – CONCLUSÃO ............................................................................................60
11 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................61

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Modelo de Biodigestor ......................................................................26


Figura 2 – Biodigestor Rural com campânula de vinil .......................................31
Figura 3 - Parte visível do sistema de agitação: compressor, cilindro de
armazenamento e filtros......................................................................................34
Figura 4 - Motor veicular utilizará biogás para bombear biofertilizante ............35
Figura 5 – Caminhão coletor descarregando o lixo na Central de Resíduos do
Vale do Aço. .......................................................................................................51
Figura 6 – Área da Central de Resíduos do Vale do Aço. ..................................52

7
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Composição média da mistura gasosa ...............................................11


Tabela 2 – Poder Calorífico Inferior de diferentes Gases:..................................12
Tabela 3 - Equivalências Energéticas .................................................................14
Tabela 4 - Características do Biodigestor da Fazenda Bebida Velha .................32
Tabela 5 – Grau de segurança na utilização de gás natural ................................48

8
1- INTRODUÇÃO

A partir de um ponto de vista histórico panorâmico analisaremos as


diversas mudanças profundas na sociedade desde a Revolução Industrial,
quando várias zonas rurais começaram a migrar para os grandes centros
urbanos, em busca de emprego e consumindo cada vez mais produtos
industrializados. Com isso as regiões rurais tiveram que mudar seu modelo de
produção de alimentos para suprir a demanda das aglomerações urbanas.
Atividades como a suinocultura, lançaram mais e mais efluentes, contaminando
os recursos hídricos e o solo.
Os produtores rurais começaram a exigir mais energia através de
madeira e carvão e mais tarde de derivados de petróleo, e ao mesmo tempo
começaram a descartar muita matéria orgânica como o lixo.
O biogás se apresenta nesse contexto como uma solução viável para a
maioria dos problemas, porque utiliza os próprios dejetos e materiais orgânicos
desperdiçados, que contaminam o meio ambiente; além de economizar madeira
e carvão, evitando os impactos ambientais na construção de hidrelétricas,
contaminação do solo e dos recursos hídricos. Enfim, o biogás fornece uma
forma de energia versátil e de baixo custo, e adubo orgânico de alta qualidade, o
que influencia diretamente na balança comercial do agronegócio brasileiro,
trazendo divisas para o país.
Obtido a partir de um processo que degrada a matéria orgânica,
possibilitando a produção de energia térmica e elétrica, o biogás vem de uma
forma inexorável proporcionar novas aplicações para os resíduos das
explorações agro-pecuárias, da atividade industrial e esgotos.

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OBJETIVOS

• Estudar a viabilidade do biogás como solução para o problema


ambiental da suinocultura;
• Conhecer os primórdios da produção de biogás na China;
• Viabilizar o biogás como ferramenta de apoio à balança comercial;
• Analisar exemplos de bons resultados do biogás no Brasil;
• Conhecer a possibilidade de gerar energia elétrica por meio do biogás,
através do lixo;
• Analisar o biogás em substituição a derivados de petróleo;
• Examinar o futuro do biogás a partir da Central de Resíduos do Vale do
Aço.

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2- BIOGÁS

2.1 - O que é?

Atribui-se o nome de Biogás (também conhecido como gás dos


pântanos) à mistura gasosa, combustível, resultante da fermentação anaeróbica
da matéria orgânica (decomposição de matérias orgânicas, em meio anaeróbio,
por bactérias denominadas metanogênicas). A proporção de cada gás na mistura
depende de vários parâmetros, como o tipo de digestor e o substrato a digerir. De
qualquer forma, esta mistura é essencialmente constituída por metano (CH4),
com valores médios na ordem de 55 a 65%, e por dióxido de carbono (CO2) com
aproximadamente 35 a 45% de sua composição. Estando o seu poder calorífico
diretamente relacionado com a quantidade de metano existente na mistura
gasosa.
O biogás é uma mistura de gás metano ¾ principal componente, ¾ do
gás carbônico e de outros gases em menor quantidade. Os outros gases possuem
um cheiro desagradável (semelhante à de ovo podre), mas como sua
porcentagem é muito pequena, torna-se imperceptível.
Numa análise global, o biogás é um gás incolor, geralmente inodoro (se
não contiver demasiadas impurezas) e insolúvel em água. Como podemos
verificar em sua composição média:

Tabela 1 - Composição média da mistura gasosa

Metano (CH4) 50 a 75 %

Dióxido de Carbono (CO2) 25 a 40 %

Hidrogênio (H2) 1a3%

11
Azoto (N2) 0.5 a 2.5 %

Oxigênio (O2) 0.1 a 1 %

Sulfureto de Hidrogênio (H2S) 0.1 a 0.5 %

Amoníaco (NH3) 0.1 a 0.5 %

Monóxido de Carbono (CO) 0 a 0.1 %

Água (H2O) variável

O Biogás é, devido à presença do metano, um gás combustível, sendo o


seu poder calorífico inferior (P.C.I.) cerca de 5500 Kcal/m3, quando a proporção
em metano é aproximadamente de 60 %. A título de comparação, a tabela que se
segue apresenta os P.C.I.’s para os outros gases correntes:

Tabela 2 – Poder Calorífico Inferior de diferentes Gases:

Gás P.C.I. em Kcal /m3

Metano 8500

Propano 22000

Butano 28000

Gás de Cidade 4000

Gás Natural 7600

Biometano 5500

12
O biogás é um gás leve e de fraca densidade. Mais leve do que o ar,
contrariamente ao butano e ao propano, ele suscita menores riscos de explosão
na medida em que a sua acumulação se torna mais difícil. A sua fraca densidade
implica, em contrapartida, que ele ocupe um volume significativo e que a sua
liquefação seja mais difícil, o que lhe confere algumas desvantagens em termos
de transporte e utilização.
O biogás, em condições normais de produção, devido ao seu baixo teor
de monóxido de carbono (inferior a 0.1 %) não é tóxico, contrariamente, por
exemplo ao gás de cidade, cujo teor neste gás, próximo dos 20 %, é mortal. Por
outro lado, devido às impurezas que contém, o biometano é muito corrosivo.
O gás mais corrosivo desta mistura é o sulfureto de hidrogênio que
ataca, além de outros materiais, o cobre, o latão, e o aço, desde que a sua
concentração seja considerável. Quando o teor deste gás é fraco, é sobretudo o
cobre que se torna mais sensível. Para teores elevados, da ordem de 1%
(excepcionais nas condições normais de produção do biogás) torna-se tóxico e
mortal. A presença do sulfureto de hidrogênio, pode constituir um problema a
partir do momento em que haja uma combustão do gás e que sejam inalados os
produtos desta combustão, dado que a formação do dióxido de enxofre (SO2) é
extremamente nocivo, causando, nomeadamente, perturbações a nível pulmonar.
O amoníaco, sempre em concentrações muito fracas, pode ser corrosivo
para o cobre, sendo os óxidos de azoto libertados durante a sua combustão,
igualmente tóxicos.
Os outros gases contidos no biogás, não suscitam problemas em termos
de toxicidade ou nocividade. O gás carbônico, em proporção significativa (35
%), ocupa um volume perfeitamente dispensável e obriga, quando não
suprimido, a um aumento das capacidades de armazenamento. O vapor de água
pode ser corrosivo para as canalizações, depois de condensado.

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Tabela 3 - Equivalências Energéticas

1 m3 de Biogás = 6000 Kcal - é equivalente a:

1,7 m3 de Metano

1,5 m3 de Gás de Cidade

0,8 L de Gasolina

1,3 L de Álcool

2 Kg de Carboneto de Cálcio

0,7 L de Gasóleo

7 Kw h de Eletricidade

2,7 Kg de Madeira

1,4 Kg de Carvão de Madeira

0,2 m3 de Butano

0,3 m3 de Propano

Toda a matéria viva, após a morte é decomposta por bactérias


microscópicas. Durante esse processo, as bactérias retiram da biomassa parte das
substâncias de que necessitam para continuarem vivas, e lançam na atmosfera
gases e calor. Este é o chamado biogás, fonte abundante, não poluidora e barata
de energia. O biogás pode ser obtido de resíduos agrícolas, ou mesmo de
excrementos de animais e dos homens. Ao contrário do álcool da cana de açúcar
e de óleos extraídos de outras culturas, não compete com a produção de
alimentos.

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O biogás, por ser extremamente inflamável, pode ser simplesmente
queimado para reduzir o efeito estufa (o metano apresenta um poder estufa cerca
de 20 vezes maior que o CO2 ) ou utilizado para uso em fogão doméstico,
motores de combustão interna, geladeiras, secadores de grãos, sistemas de
aquecimento de aviário e geração de energia elétrica.
A presença de vapor d’água, CO2 e gases corrosivos no biogás in natura,
constitui-se o principal problema na viabilização de seu armazenamento e na
produção de energia. Equipamentos mais sofisticados, a exemplo de motores à
combustão, geradores, bombas e compressores têm vida útil extremamente
reduzida. A remoção de água, H2S e outros elementos através de filtros e
dispositivos de resfriamento, condensação e lavagem é imprescindível para a
viabilidade de uso a longo prazo. O esforço desenvolvido pela indústria
brasileira na adaptação e desenvolvimento de equipamentos para o uso do biogás
é ainda muito pequeno sendo preciso avançar nesta questão, colocando a
disposição dos produtores serviços, materiais e equipamentos mais adequados e
confiáveis.

2.2 - A Utilização do Biogás

O biogás pode ser utilizado de várias formas:


• Funcionamento de motores, geradores, motopicadeiras, resfriadores de
leite, aquecedor de água, geladeira, fogão, lampião, lança-chamas;
• Substituição do gás liquefeito de petróleo na cozinha.
Nas propriedades agrícolas, o biogás pode ser produzido em aparelhos
simples chamados biodigestores. Os resíduos que sobram em um biodigestor
agrícola ainda pode ser utilizado como fertilizante.
Pode se produzir um metro cúbico de biogás com os seguintes
ingredientes:

15
25 kg de esterco fresco de vaca ou
5 kg de esterco seco de galinha ou
12 kg de esterco de porco ou
25 kg de plantas ou casca de cereais ou 20 kg de lixo

Toda matéria orgânica, como restos agrícolas, esterco ou lixo, sofre


decomposição por bactérias microscópicas. Durante o processo, as bactérias
retiram dessa biomassa aquilo que necessitam para sua sobrevivência, lançando
gases e calor na atmosfera.
O biogás é resultante da decomposição controlada do lixo doméstico,
feita em aterros sanitários, ou da decomposição do esterco de gado em
recipientes especiais conhecidos como biodigestores. O esgoto das nossas
cidades, recolhido às estações de tratamento, também é uma fonte de biogás, que
pode ser utilizado para movimentar ônibus e caminhões, ou para produzir
eletricidade e calor em co-geradores.
Uma política de geração e aproveitamento do biogás possibilitaria a
regularização de milhares de lixões que existem no País. Isso porque, para
operá-los de maneira controlada, seria necessário investir em infra-estrutura,
drenagem, segurança e mão-de-obra especializada. Do mesmo modo, o esgoto,
que atualmente é jogado em córregos e valas, teria de ser canalizado para
estações de tratamento, resultando em ganhos ambientais, sociais e de saúde
pública. A boa notícia é que já contamos com aterros sanitários funcionando
regularmente e gerando biogás de lixo em cidades como Salvador, São Paulo,
Rio de Janeiro e Goiânia.
Outra iniciativa muito importante seria estimular a adoção de
biodigestores em áreas rurais, gerando gás de cozinha a partir do estrume bovino
ou suíno, como já acontece em milhões de residências na China e Índia.

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No artigo “Mianyang e Biogás em Szechuan”, do autor Rewi Alley,
podemos verificar a geração de gás de cozinha a partir do estrume bovino ou
suíno, onde ele faz uma visita aos vários tipos de biodigestores instalados em
Szechuan, na China:

“...Cada família possui o seu próprio biodigestor


alimentado por alguns porcos, além do refugo humano.”
“...Para a geração do biogás, foram construídos dois
biodigestores, sendo um de 174 metros cúbicos e o segundo
de 180. O esterco de 21 porcos em um chiqueiro, situado
entre os dois aparelhos, é canalizado diretamente para os
biodigestores, acrescentando-se cerca de 60% de palha de
trigo. Se o material orgânico não for suficiente, adiciona-
se estrume de cavalo.” Revista Eastern Horizon.

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3 – CHINA: PIONEIRA NA PRODUÇÃO DE BIOGÁS

Podendo se destacar pelo seu avançado êxito em relação ao uso biogás,


e em relação à expansão do biodigestor, num mundo carente de energia e à
procura de novas fontes, a China introduziu o uso do biogás (em chinês se
chama shaoqi) que foi desenvolvido pela primeira vez em 1937, no distrito de
Zongsyang. Logo depois se propagou para outros distritos da Província de
Szechuan. Mas somente em 1970 passou a ser promovido oficialmente. Em
1973 começavam as investigações quanto às suas possibilidades, e já em 1975 a
sua prática se tornava comum devido às vantagens reconhecidas por várias
comunas. Hoje, um grande número de distritos o empregam, já sendo
amplamente usado por grupos coletivos, como o exército, etc. A geração desse
gás e a sua utilização, hoje disseminada por toda a província, veio solver o
problema de combustível para inúmeras famílias, permitindo que a mesma
matéria-prima, após ter sido usada para a produção de combustível, voltasse
novamente à terra como fertilizante. O biogás é também utilizado como fonte de
energia na geração de força e, quando usado junto com o óleo diesel, pode
diminuir em mais da metade a quantidade desse óleo consumida para vários fins.
Existem milhões de biodigestores produzindo biogás na China. Uma
família de 5 membros pode obter todo o gás de que necessita para a cozinha e
iluminação, de um digestor de 10 metros cúbicos. Em outras palavras, num
digestor operado eficientemente, o gás gerado por cada metro cúbico é
suficiente para uma pessoa. No entanto, a manutenção e a técnica são
importantes. O gás corre mais facilmente em tempo quente. Para construir um
biodigestor, se não houver pedras ou tijolos, são necessários de 250 a 300 kg de
cimento. A tubulagem plástica pode ser obtida localmente. Os digestores de for-

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ma redonda prestam-se melhor para o tipo de 8 a 12 metros cúbicos. Esse tipo
de biodigestor deve ser pequeno, de pouca profundidade, e ligado às latrinas, aos
chiqueiros e estábulos de gado, etc.
Uma mistura adequada para a alimentação do biodigestor, deverá conter
30% de matéria orgânica (esterco, etc.), 20% de colmos picados e folhagem da
soja, do milho, da cana e outras biomassas, 10% de capim, e 40% de água. Os
biodigestores devem ser bem selados para evitar a perda de gás, e a carga deve
durar de 4 a 6 meses. Caso se disponha do material necessário, será melhor
instalar dois biodigestores ao mesmo tempo, de modo que, quando for esvaziado
um dos digestores para limpeza, o outro continue operando. Existindo apenas
um único biodigestor, haverá um intervalo de uns 3 dias para o reinício da
geração de gás. Durante esse espaço de tempo, a família terá que recorrer aos
antigos métodos para obter luz e combustível.
O biogás pode igualmente ser aproveitado para a geração de
eletricidade. O biogás é também de grande utilidade na secagem de colheitas:
folhas de fumo, grãos, etc. Por sua vez, o resíduo obtido dos biodigestores é um
fertilizante do mais alto valor, e a sua aplicação já tem reduzido em mais de
30% o uso de fertilizantes químicos, em vários lugares. Tendo sido esterilizados
pelo calor gerado no biodigestor, esse adubo não tem cheiro e, ao mesmo tempo,
o seu uso vem reduzindo a incidência de parasitos intestinais como a
"esquistossomose".
A manutenção técnica é indispensável, motivo pelo qual muitos
empregam um técnico em biogás que visita os vários biodigestores, prestando
auxílio na solução de quaisquer problemas.
As pequenas indústrias começam também a utilizar o processo, para
geração de eletricidade, instalando biodigestores e usando seus próprios
resíduos.

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Os pequenos biodigestores domésticos aproveitam as folhas das árvores,
as varreduras, o lixo, água usada, embora seja recomendável limitar o uso de
água. O uso do biogás juntamente com o óleo diesel nos motores pode resultar
numa economia de 70% em óleo diesel.
Espera-se que, considerando o crescente problema energético que afeta
o mundo inteiro, um grande progresso venha a ser feito na utilização do biogás.

3.1 – Uma pequena fazenda rural na China usando o biogás.

O uso de biogás nessa fazenda foi feito pelos próprios trabalhadores em


1974, como primeira experiência. O resultado foi muito satisfatório, por isso, em
seguida, eles cavaram 3 grandes biodigestores, logo abaixo dos estábulos onde
ficam as vacas leiteiras, e de onde o esterco é canalizado com água e capim para
dentro dos biodigestores embaixo. Esses 3 biodigestores, produzindo 20.000
kWh, já economizam 120 toneladas de carvão por ano, além de economizarem
30% da mão-de-obra previamente necessária. O resíduo exausto, retirado do
biodigestor, é por sua vez levado por água morro abaixo para fertilizar as
árvores frutíferas. Com a utilização do biogás, a produção da fazenda subiu em
40% em apenas um ano. Conduzido em tubos plásticos para um dos grandes
refeitórios, o biogás aquece 3 grandes panelões, com grande redução no custo
das refeições.
Para a geração de eletricidade, encontra-se 3 grupos de geradores, o
maior, com um motor de 88 HP, é movido 75% a biogás. Os outros dois,
menores, são de 20 HP e 10 HP, respectivamente. Ambos usam óleo diesel
apenas para a ignição inicial, passando o motor, em seguida, a usar o biogás. O
motor maior recicla o calor do escapamento através de condutores colocados ao
redor dos biodigestores para aquecê-los um pouco durante o grande frio do

20
inverno chinês. Em duas horas, esse calor pode fazer subir a temperatura do
biodigestor em 1 grau. Quanto mais quentes, melhor funcionam os
biodigestores.

3.2 – Os progressos alcançados na cidade de Mianyang

Com a diminuição das reservas de petróleo e a exaustão dos


combustíveis fósseis no mundo, haverá uma necessidade cada vez maior de
outras fontes de energia. O biogás sem dúvida é uma delas. Ocupando um lugar
de destaque nas pesquisas e desenvolvimento de biodigestores, muitos visitam
Mianyang a fim de obter informações sobre os avanços alcançados e os
idealizadores já podem observar como o seu uso está se expandindo pelo mundo
inteiro.
Muitas foram as lições aprendidas dos primeiros biodigestores
construídos com grande entusiasmo. Alguns haviam sido instalados longe
demais dos pontos em que seriam usados. Outros foram mal projetados, tendo
desabado. Nas partes montanhosas foram construídos em locais onde não havia
água ou não existia suficiente material gerador. Outros ainda tinham sido mal
desenhados ou tido uma manutenção defeituosa. Ainda não haviam sido bem
compreendidos os três princípios básicos de que os biodigestores devem de pre-
ferência ser pequenos, redondos e de pouca profundidade.
Os biodigestores são defeituosos quando cavados fundos demais ou
encontram-se longe das fontes de matéria-prima, necessitando de mão-de-obra
para o seu transporte. Alguns foram construídos com material deficiente. A
experiência mostrou que a melhor maneira é construir dois biodigestores, para
que um continue em funcionamento enquanto o outro está sendo esvaziado.

21
Com a passagem dos anos, os biodigestores foram dando resultados
cada vez melhores ao serem consertados os seus defeitos e eliminadas as suas
falhas. Depois, verificou-se que várias famílias trabalhando em conjunto obtêm
resultados mais positivos na produção do biogás do que por esforços
individuais.
Antes, nos países desenvolvidos, a remoção do material de esgotos e
lixo era um grande e custoso problema. O uso científico do biogás aproveita
uma grande fonte negligenciada até agora. Apesar do progresso alcançado em
Mianyang, existem, no entanto, muitas áreas na China onde o processo poderá
ser também desenvolvido. Deste modo, as latrinas abertas, com um cheiro
desagradável e penetrante, poderiam ser inteiramente eliminadas, fornecendo ao
mesmo tempo um fertilizante valioso, reduzindo o uso de adubos químicos,
além de promover uma melhoria na saúde de todos. Vale ressaltar ainda que
muitos lavradores que residem próximos a fábricas que utilizam os
biodigestores, fornecem a palha em troca do resíduo-fertilizante retirado
periodicamente dos biodigestores, que será aplicado como adubo em suas
plantações.
Outro aspecto a ser destacado ainda é o uso do biodigestor por várias
famílias, que dispõem de gás suficiente para cozinhar 3 refeições por dia, além
da iluminação utilizada por todos. As mulheres, sobretudo, estão satisfeitas e
orgulhosas de suas cozinhas, pois finalmente estão livres das cozinhas cheias de
fumaça tão comuns na China rural.

3.3 - Algumas mudanças com a produção de biogás

Um grande problema que se pode perceber em relação à produção de


biogás na China, foi o alto custo de combustível que levou tantas famílias a

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instalarem os seus biodigestores. Antigamente, a ração de combustível durava
sete meses, depois cinco meses, logo em seguida, eram obrigados a procurá-lo
onde o encontrassem - o que absorvia mais da metade dos seus ganhos. Ao
instalarem os biodigestores, nunca mais olharam para trás, resumindo-se os seus
problemas apenas em desenvolver uma manutenção adequada, obtida através da
experiência.
O uso do biogás veio trazer também grandes mudanças no nível de vida.
Assim, a saúde geral melhorou consideravelmente. Com adubo melhor, obtido
dos biodigestores, subiu também a produção, restando mais mão-de-obra para
trabalhar as lavouras. Então, os porcos mantidos coletivamente, junto com o
refugo humano, produzem toda a matéria-prima necessária para os biodi-
gestores.
Um dos maiores benefícios obtidos do biogás tem sido a luz elétrica, tão
melhor do que o velho lampião a querosene. A usina elétrica dispõe de dois
grandes biodigestores para a geração de luz, com uma capacidade total de 130
metros cúbicos. A sua manutenção está a cargo de dois membros de uma
comuna.

23
4 – OS BIODIGESTORES

O Biodigestor realiza um processo conhecido há muito tempo, a


biodigestão anaeróbia. A produção de biogás para a conversão em energia de
cozimento, iluminação e como biofertilizante é muito popular nos países
asiáticos, a exemplo da China e Índia. Mas também, já é considerável o interesse
pelo biogás em todo o mundo, pois o processo é de grande valor, especialmente
para os países do Terceiro Mundo.
Nas décadas de 70 e 80, aumentou-se muito o interesse pelo biogás no
Brasil, em especial pelos suinocultores. Alguns programas do governo
estimularam a implantação de muitos biodigestores focados principalmente, na
geração de energia e na produção biofertilizante e diminuição do impacto
ambiental. A finalidade dos programas governamentais era de reduzir a
dependência das pequenas propriedades rurais na aquisição de adubos químicos
e de energia térmica para os diversos usos (cozimento, aquecimento, iluminação
e refrigeração), bem como, reduzir a poluição causada pelos dejetos animais e
aumentar a renda dos criadores. Mas, infelizmente, os resultados não foram os
esperados e a maioria dos sistemas implantados, acabaram sendo desativados.
Uma série de fatores foram responsáveis pelo insucesso dos programas
de biodigestores neste período, inclusive erros grosseiros de dimensionamento,
construção e operação dos biodigestores, que contribuíram ainda mais para o fim
desses programas. Ainda podemos citar outros fatores, como: 1) a falta de
conhecimento tecnológico sobre a construção e operação dos biodigestores; 2) o
custo de implantação e manutenção eram elevados (câmaras de alvenaria,
concreto ou pedra, gasômetros de metal); 3) o aproveitamento do biofertilizante
continuava a exigir equipamentos de distribuição na forma líquida, com custos

24
de aquisição, transporte e distribuição elevados; 4) a falta de equipamentos
desenvolvidos exclusivamente para o uso do Biogás e a baixa durabilidade dos
equipamentos adaptados para a conversão do biogás em energia (queimadores,
aquecedores e motores) 5) a ausência de condensadores para água e de filtros
para os gases corrosivos gerados no processo de biodigestão; 6) a
disponibilidade e o baixo custo da energia elétrica e do GLP e, 7) a não
resolução da questão ambiental, pois biodigestores, por si só, não são
considerados como um sistema completo de tratamento.
Os biodigestores, após longos anos passados, ressurgem como
alternativa ao produtor, graças à disponibilidade de novos materiais para a
construção dos biodigestores e, é claro, da maior dependência de energia das
propriedades em função do aumento da escala de produção, da matriz energética
(demanda da automação) e do aumento dos custos da energia tradicional
(elétrica, lenha e petróleo). O emprego de mantas plásticas na construção de
biodigestores, com certeza, é um material de alta versatilidade e de baixo custo,
e por isso, é o fator responsável pelo barateamento dos investimentos de
implantação e da sua evolução no país. Porém, embora se conheçam os avanços
obtidos no conhecimento do processo de digestão anaeróbia, na tecnologia de
construção e de operação de biodigestores, da redução dos custos de
investimentos e de manutenção, continua-se a praticar os mesmos erros do
passado, o que poderão inviabilizar novamente o uso da tecnologia. Se o
interesse dos suinocultores é de aumentar a rentabilidade econômica da atividade
e adequação à legislação ambiental num país que dispõem de condições
climáticas favoráveis (temperaturas agradáveis e boa distribuição de chuvas)
para produzir energia e biofertilizante, derivados dos dejetos. Então se
questiona: por que isso não está acontecendo?

25
4.1 – A utilização do biodigestor

A utilização de biodigestores para tratamento dos dejetos suínos não


deve ser vista pelos produtores como uma solução definitiva e sim como parte
de um processo haja vista que este sistema possui limitações. A possibilidade de
utilização do biogás para geração de energia térmica e elétrica agrega valor ao
dejeto diminuindo seus custos com tratamento e possibilita uma visão sistêmica
do processo sob o ponto de vista da gestão ambiental da propriedade rural.
Para se transferir essa tecnologia ao produtor, e para que ela não venha a
cair em descrédito, como já aconteceu no passado, alguns cuidados devem ser
tomados, como por exemplo, aprimorar a assistência técnica, partindo do
pressuposto que para o sucesso da tecnologia o usuário precisa ter conhecimento
para se evitar erros, muitas vezes primários, que podem inviabilizar o processo.

Figura 1 – Modelo de Biodigestor

4.2 - Problemas enfrentados com biodigestores

Nota-se que vem acontecendo vários problemas em relação aos


biodigestores, a começar pelos princípios básicos da digestão anaeróbia que não

26
estão sendo devidamente considerados, e ainda, não existe um planejamento
adequado para a produção, uso e disposição dos subprodutos derivados.
Os produtores não dispõem de assistência técnica treinada e com
conhecimento nos processos produtivos do biogás, sendo muitas vezes, levados
pela pressão a ajustar a atividade à legislação ambiental e pela oferta dos
fornecedores de materiais e equipamentos, acabam por implantar processos mal
dimensionados, com problemas operacionais e baixa eficiência de produção e
uso do biogás, bem como a utilização do biofertilizante, inviabilizando o sistema
do ponto de vista técnico e econômico.
Primeiramente, a dificuldade se refere ao desconhecimento de que a
fermentação anaeróbia é um processo muito sensível e que a decomposição
biológica da matéria orgânica compreende quatro fases (hidrólise, acidogênese,
acetogênese e metanogênese). O sucesso da digestão depende do balanceamento
entre as bactérias que produzem gás metano a partir dos ácidos orgânicos e este,
é dado pela carga diária (sólidos voláteis), alcalinidade, pH, temperatura e
qualidade do material orgânico, ou seja, da sua operação. Qualquer variação
entre eles, pode comprometer o processo. A entrada de antibióticos, inseticidas e
desinfetantes no biodigestor também pode inibir a atividade biológica
diminuindo sensivelmente a capacidade do sistema em produzir biogás.
Logo em seguida, nota-se que, grandes volumes de biodigestores
produzem altas quantidades de biogás, nem sempre é verdadeira, contudo, o
dimensionamento do biodigestor deverá ser compatível com o tempo de
residência hidráulica deste (aconselhável TRH maiores que 35 dias) e as
demandas de biogás na propriedade. Biodigestores com grandes gasômetros
representam um risco a segurança dos produtores, em face da ação mecânica dos
ventos aumentando o risco de vazamentos de gás e sua combustão incontrolável
pela formação de qualquer centelha. Grande parte dos dejetos são extremamente
liquefeitos, com baixa concentração de sólidos voláteis fruto de um grande

27
aporte de água pelo desperdício em bebedores, entrada de água de chuva e
lavagem excessiva das baias o que resulta em sistemas com baixa eficiência.
E ainda pode-se dizer que a formação de zonas de curto circuito, busca
de caminhos preferências pelo dejeto, dentro do biodigestor e o isolamento das
bactérias do contato com a mistura em biodigestão, durante a fase de
metanogênese, também são fatores que diminuem a eficiência do sistema e
contribuem para o assoreamento precoce do biodigestor e redução de sua vida
útil. A agitação da biomassa no biodigestor pode mitigar estes problemas.
E por último, sabe-se da sensibilidade dos microorganismos produtores
de metano, em relação a variações de temperatura, sendo preciso assegurar a sua
estabilidade, seja através do aquecimento interno ou de melhor isolamento
térmico da câmara de digestão durante os meses de inverno, principalmente nos
estados do Sul do Brasil. Este ponto é bastante crítico, pois nos meses de
inverno é que se apresenta uma maior demanda por energia térmica e uma
tendência dos biodigestores em produzirem volumes menores de biogás
causados pelas baixas temperaturas.

4.3 - O biofertilizante

A aplicação do biofertilizante no solo, sob o ponto de vista da adubação


orgânica, deve ser realizada levando-se em conta critérios agronômicos para
evitar-se na medida do possível o impacto ambiental oriundo dessa aplicação.
Ao passar pelo biodigestor, o efluente perde carbono na forma de
metano e CO2 (diminuição na relação C/N da matéria orgânica), o que melhora
as condições do material para fins agrícola em função do aumento da
solubilidade de alguns nutrientes.
Percebe-se que um grande problema se encontra nos custos de transporte
e distribuição do material líquido, que exige investimento e manutenção elevada.

28
Nestas condições, quanto maior for à concentração de nutriente por volume
transportado e distribuído, melhor a relação custo/benefício. Porém, a realidade
nos mostra um quadro inverso, os produtores geralmente não possuem um dejeto
suficientemente concentrado que possa viabilizar os custos com transporte e
distribuição deste.
Existe também um problema em relação ao uso de dejetos animais na
forma de biofertilizante, pois, verifica-se a situação de descapitalização dos
pequenos e médios produtores, a topografia ondulada, o pequeno tamanho das
propriedades e a escassez de áreas agrícolas próprias para a mecanização.
Como um adubo orgânico diferente, o biofertilizante é o afluente dos
biogestores, e resulta da fermentação anaeróbica da matéria orgânica ao produzir
biogás. Pode ser sólido ou líquido:

• O sólido é o seu estado natural, contém muita fibra, e utiliza-se como


adubação de fundação por ocasião do plantio, bem como adubação
periódica por enterramento em torno da copa da planta. Sua assimilação
é lenta.

• O biofertilizante líquido (biolíquido) é a parte aquosa do biofertilizante


natural quando se efetua o peneiramento e a filtração, provocando-se a
eliminação do conteúdo sólido. Este produto pode ser usado em
aspersão como adubo folhear ou diretamente no solo junto as raízes,
bem como hidroponia . A assimilação pelas plantas se efetua com muita
rapidez, de modo que é muito útil na cultura de ciclo curto.

Como o adubo possui uma composição altamente complexa e variável;


por ser um produto fermentado por bactérias, leveduras e bacilos, e a matéria
orgânica vegetal servida de base alimentar; contém quase todos os macros e
micros elementos necessários a nutrição vegetal. Além disso, já foi evidenciado

29
em pesquisas realizadas em vários países, que o biofertilizante possui efeitos,
tais como fito hormonal, fungistático, bacteriostático, de repelencias contra
insetos, nematecida e acaricida. Agindo, portando, como um protetor natural das
plantas cultivadas, contra doenças e pragas. E o mais importante: com menos
danos à ecologia e sem perigo para a saúde humana.

30
5 – EXEMPLO DE BONS RESULTADOS DO BIOGÁS NO BRASIL

5.1 – Biodigestor rural no Rio Grande do Norte

Localizado no Rio Grande do Norte, um biodigestor rural com


gasômetro de vinil, foi instalado em uma fazenda chamada “Bebida velha”.
Ativado no ano de 2002, foi planejado para alimentar com biogás, em
substituição ao GLP, os aquecedores do aviário da fazenda, e vem demonstrando
bons resultados no fornecimento de biogás e do biofertilizante.

Figura 2 – Biodigestor Rural com campânula de vinil

5.2 – As vantagens econômicas

Segundo Camilo Carneiro, proprietário e responsável pelo


empreendimento juntamente com seu pai, Adolpho Carneiro, a produção de
biogás só não é maior por falta de demanda energética. Com capacidade para
600m³ de efluente (mistura de esterco bovino e água) vem produzindo um
volume de biogás suficiente para substituir o consumo de 25 botijões de gás de

31
13 kg por semana que se tinha anteriormente, representando uma economia de
aproximadamente três mil reais mensais. A alimentação é feita com esterco de
150 fezes bovinas criadas em regime de confinamento para corte. O uso do
biofertilizante na lavoura também foi contabilizado como benefício nos cálculos
de viabilidade econômica e atualmente é fator consorciado de retorno do
investimento. A produção é utilizada integralmente na própria fazenda. Carneiro
afirma que seu uso tem demonstrado resultados melhores que o esterco cru,
como era utilizado antes do biodigestor. A higienização é outra vantagem da
implantação do biodigestor, evitando odores e proliferação de parasitas.
Segundo o proprietário, o biodigestor rural é viável, desde que haja
demanda para utilização global de seus produtos, biogás e biofertilizante. As
considerações de aspectos locais no projeto devem ser minuciosas.
Disponibilidade de água, regime de criação em confinamento, proximidade entre
o curral e o biodigestor são fatores essenciais. O retorno do investimento vai
depender muito dessas condições, que, para ele, se não forem favoráveis,
inviabilizam o empreendimento, principalmente pelo custo da mão de obra
necessária. Disse ainda que seu biodigestor deve se pagar após três anos de uso.
Mas, acrescentou que se a demanda energética fosse maior, esse tempo poderia
ter sido de dois anos aproximadamente. Quanto ao custo de implantação, calcula
que a preços de hoje deve ficar em torno de oitenta mil reais.

Tabela 4 - Características do Biodigestor da Fazenda Bebida Velha


Modelo Horizontal de formato retangular
Câmara de Fermentação Em alvenaria, com capacidade para 600 m 3
Alimentação. Contínua com operação de pré-mistura
Material orgânico saneado Esterco bovino de 150 fezes diluído em água

32
Proporção de mistura Um litro de água para cada Kg de esterco
Sistema de agitação Insuflação do biogás pressurizado a 120 libras
Campânula Em vinil com selo d’água sobre as bordas
Utilização atual Aproximadamente 50% da capacidade de
produção
Produção energética atual O equivalente a 325 Kg de GLP por semana
Mão de obra para Um funcionário
operação
Início da ativação Janeiro de 2002
Retorno do investimento Previsto para três anos

5.3 – O Projeto e a Ativação do Biodigestor

A concepção do biodigestor da Fazenda Bebida Velha foi em função do


aproveitamento do biogás para alimentação do aviário, mas, seu planejamento
considerou todas as atividades mantidas na fazenda: lavoura, criação de gado de
corte e avicultura. Todas foram integradas e beneficiadas. O projeto do
biodigestor foi encomendado à empresa paranaense Bioma. A campânula de
vinil foi comprada diretamente do fabricante Sansuy.
O projeto e a construção foram acompanhados passo a passo pelos
proprietários e toda mão de obra e material utilizado, exceto a campânula de
vinil, foi adquirido localmente ou na capital do estado, Natal. Para garantir baixa
utilização de mão de obra, o curral mudou de local vindo para junto do local da
construção do biodigestor. Um cuidado tomado está no piso, todo cimentado. O
que, na coleta do esterco, evita mistura de areia ou pedras. Por possuir
campânula de vinil, o biodigestor foi construído junto a uma barreira vegetal,

33
formada por eucaliptos, para evitar ataque de ventos. Posteriormente, uma outra
foi providenciada para complementar esta proteção.
Em relação ao modelo do biodigestor (figura 1), trata-se de um modelo
horizontal (a altura não é a maior medida) de formato retangular, com
campânula de vinil vedada por selo d'água, funcionamento em ciclo contínuo. O
sistema de agitação, indispensável em modelos com esta capacidade, funciona
com insuflação do próprio biogás pressurizado a 120 libras. A injeção é feita por
tubos de PVC para alta pressão distribuídos no fundo da câmara de fermentação.
Além do compressor e cilindro de armazenamento o sistema conta com filtros
para eliminar traços de gases indesejáveis resultantes da fermentação. A
condução do biogás produzido até o local de consumo é feita por tubos de PVC
comuns, para isso foi utilizado um redutor de pressão alimentado por uma
derivação do mesmo sistema de pressurização utilizado na agitação. O redutor
permite uma pressão de trabalho no circuito de distribuição de 40 libras.

Figura 3 - Parte visível do sistema de agitação: compressor, cilindro de


armazenamento e filtros

34
5.4 – A manutenção e a integração do biodigestor na fazenda

De acordo com o proprietário da fazenda, a ativação do biodigestor não


apresentou problemas. Em mais de dois anos de funcionamento os principais
reparos ocorridos foram na campânula, mas que ele considera aceitáveis e de
fácil execução, sendo feitos no próprio local. O crescimento da vegetação
utilizada na segunda barreira contra o vento deverá diminuir as incidências,
acredita ele.
Um dos pontos altos do empreendimento foi a integração do biodigestor
com a fazenda. A única coisa que percebemos ter sido subtraída foi o “cheirinho
de esterco curtido”. Como o biodigestor possui selo de água, nenhum cheiro
escapa do biodigestor. Não se percebe também presença de moscas.
A interação do responsável pelo empreendimento com o sistema é
constante. Melhoramentos estão sendo implantados a cada dia. A aplicação e
distribuição do biofertilizante, por exemplo, atualmente feitas por trator-pipa
com pulverizador, em breve passarão a ser feito por dutos. O bombeamento será
feito por motor a combustão veicular (figura 2), já adquirido, que será adaptado
para utilizar biogás como combustível.

Figura 4 - Motor veicular utilizará biogás para bombear biofertilizante

35
6 – POTENCIAL DE ENERGIA VINDA DO LIXO

Há vários anos, muitas pesquisas estão sendo feitas em relação a


produção de biogás, e em conseqüência, em relação a geração de energia
elétrica, a partir dos aterros sanitários. A idéia inicial era valorizar, em primeira
instância os grandes aterros existentes, que se formaram ao longo dos anos, e,
em seguida, projetar um novo tipo de aterro, sob o prisma da valorização futura
dos gases: estanqueidade do fundo, corte, bom sistema de dreno, irrigação, etc.
Já em 1981, a Gaz de France, iniciou experiências para produzir e
utilizar o biogás produzido nos aterros sanitários. Especulou-se um convênio
entre a Gaz de France, interessada na produção e utilização do metano, e a
ANRED (Agência Nacional para a Recuperação e a Eliminação dos Detritos),
cuja principal preocupação é a eliminação dos detritos.
Em um trabalho publicado na França, em 1982, podemos verificar esse
interesse da Gaz de France na produção e utilização do biogás:

“A Gaz de France está interessada nessa técnica, que foi


tema de uma comunicação dos Srs. Jean-Pierre Lasneret,
da Gaz de France, e Claude Mouton, da ANRED, ao
Congresso da Association Technique de I’Industrie du Gaz
de France, realizado em 1981. Há uma experiência em
curso em Montaubert por iniciativa da Gaz de France, que
nos é comentada pelo Sr. Donat, responsável de Estudos
Avançados da DETN. Nesse aterro, foi feita uma série de
17 perfurações de 30 a 310 m3, para drenar o gás através
do poço.” Elisabeth LIégeols

Diversas experiências foram realizadas, como parte de um programa


global dirigido pela ANRED, em associação com a Gaz de France, programa
esse que recebeu apoio financeiro da Comunidade Econômica Européia.

36
Citemos as de Pateaux, Arnon-ville-les-Mantes, Fretin, Bouvry e Barlin. O
objetivo era aperfeiçoar a produção de metano nos aterros, sem se opor aos
métodos clássicos de exploração. Em outras palavras, trata-se de aumentar o
rendimento global em metano dos detritos, controlar o ritmo de produção e
diminuir o custo das obras.
Porém, fica aí uma indagação: Como esse biogás é gerado? Por
fermentação anaeróbica, que se produz num espaço de tempo que varia de
alguns meses a dois anos. Quando o processo se inicia, o aterro pode produzir
gás durante um período que oscila entre 10 e 20 anos.
Na época foram analisadas as utilizações possíveis em relação ao uso do
biogás:

“Foram consideradas duas possibilidades de utilizações:


combustível ou carburante. Os estudos realizados
mostraram que a segunda possibilidade era a melhor.
Poderia ser bastante interessante injetar, quando a situação
geográfica permitir, o biogás numa rede de utilização de
gás natural. Essa solução, pouco exigente quanto às
características da produção, proporciona várias vantagens:
1- a diluição num gás mais rico, com uma vazão
geralmente considerável, o que permite uma qualidade
medíocre do biogás; 2- a irregularidade da produção
compensada pela rede de base, o que faz com que não seja
perceptível a nível de consumidor; e 3- os aparelhos de
utilização podendo ser adaptados à qualidade do gás.”
Elisabeth LIégeols

O tratamento de esgoto é uma tarefa essencial para a manutenção da


saúde da população e do meio-ambiente. Melhor ainda seria se esse lixo pudesse
ser transformado em energia, o que baratearia o custo do seu tratamento, além de
diminuir a exigência de exploração de outros recursos energéticos. Pois esta foi
justamente a proposta dos engenheiros do Instituto Nacional de Ciências

37
Avançadas e Tecnologia (AIST), do Japão, que no ano de 2004, inauguram a
primeira usina de biogás do mundo capaz de gerar hidrogênio e metano a partir
de lixo doméstico.
A pequena usina, em escala piloto, utiliza um processo de fermentação
em duas etapas para transformar lixo orgânico doméstico em gases que poderão
ser utilizados de diversas formas, seja para a geração direta de calor, produção
de energia elétrica ou, no futuro, até mesmo para abastecer veículos movidos a
células de combustível a hidrogênio.
Os dois estágios do processamento - solubilização e fermentação do
hidrogênio e fermentação do metano - conseguiram reduzir o tempo total de
processamento de 25 para apenas 15 dias, com uma recuperação de energia de
até 55%.
A solubilização e fermentação do hidrogênio utiliza uma complexa
microflora isolada pelos pesquisadores como um estágio preliminar à
fermentação do metano, derivando hidrogênio e metano de lixo orgânico sólido
que contenha um alto teor de água.

6.1 – Biogás produzido com lixo urbano gera energia elétrica no Brasil

O biogás gerado pela decomposição do lixo disposto em Aterros


Sanitários, tem grande potencial energético, e já existem grandes projetos
brasileiros consolidados para o seu aproveitamento. Como por exemplo, um
projeto feito para o Aterro Sanitário Delta, em Campinas, São Paulo. De acordo
com o estudo, o aterro deve atingir a capacidade máxima de produção um ano
após o seu fechamento, previsto para ocorrer em junho de 2006. Estima-se que
estarão sendo produzidos no local, no período de pico, perto de 15 milhões de
metros cúbicos de metano, um dos componentes do biogás, que equivalem a 4
MW de energia elétrica.

38
Ao se decompor, a matéria orgânica presente no lixo gera o biogás, que
é constituído basicamente por metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). A
proporção de cada gás na mistura depende, entre outros parâmetros, do tipo de
material degradado. No caso do Aterro Delta, a proporção encontrada foi a
seguinte: 55% de CH4, 44% de CO e 1% de “outros” gases. É justamente o
metano, combustível nobre obtido após um processo de separação das demais
substâncias, que pode ser empregado para movimentar motores automotivos ou
geradores de energia elétrica, para citar as aplicações mais conhecidas. Até hoje,
porém, o biogás produzido pelo aterro campineiro tem sido desperdiçado. É
queimado em “poços de monitoramento”, como medida de segurança. O aterro
recebe diariamente cerca de 800 toneladas de dejetos, a grande maioria de
origem domiciliar.
Segundo o projeto, o ideal teria sido dar uma destinação econômica ao
biogás desde o primeiro ano de operação do Delta. Como isso não foi feito, resta
aproveitar a capacidade de produção futura do aterro. Pelos cálculos do
pesquisador, o pico de geração de biogás deverá ocorrer em 2007, um ano
depois da suspensão das atividades. Depois, a tendência é que o volume de
combustível vá sendo reduzido gradativamente. Por isso, é preciso ter um
projeto que leve em conta essa característica. Para cada momento, o combustível
deverá ter uma indicação, de modo que o investimento seja economicamente
viável.
Deste modo, confirmadas as projeções, o Delta estará produzindo biogás
suficiente para gerar 4 MW de energia elétrica entre os anos de 2007 e 2009.
Depois, esse volume cairá para 3MW (2010 a 2016), 2MW (2017 a 2027) e 1
MW (2018 a 20045). Projetos bem-sucedidos de aproveitamento do biogás,
implementados sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, levam essa energia
através de redes de transmissão até indústrias localizadas nas proximidades dos
aterros, que pagam por ela. Mais do que lançar de uma fonte energética

39
alternativa e barata, o aproveitamento do biogás também traz importantes
ganhos ambientais.
A queima pura e simples do combustível, como vem sendo feita
atualmente, contribui para o aumento da poluição atmosférica e,
conseqüentemente, para a ampliação do efeito estufa, fenômeno responsável
pelo aquecimento gradual do planeta. Existem empresas estrangeiras que estão
muito interessadas no biogás brasileiro. Elas sabem que, por meio do Protocolo
de Quioto, podem obter recursos para desenvolver projetos que transformam o
metano, um gás que concorre para o efeito estufa, em dióxido de carbono.
Apenas para se ter uma idéia do potencial da energia vinda do lixo, basta saber
que os Estados Unidos têm atualmente algo como 500 projetos de
aproveitamento de biogás gerado por aterros sanitários, administrados tanto pelo
poder público como pela iniciativa privada. No Brasil, felizmente, estamos
despertando para essa importante alternativa.
Outro exemplo de geração de energia a partir dos Aterros Sanitários está
no rio Grande do Sul. Consolidou-se uma cooperação entre o presidente da
Eletrobrás e o presidente da Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica
(CGTEE), para se estudar a viabilidade técnica, financeira e ambiental para a
produção de biogás com os resíduos sólidos urbanos da capital gaúcha para a
geração de energia elétrica na Usina Nutepa, da CGTEE, localizada na entrada
da cidade de Porto Alegre.
A iniciativa está inserida no Projeto Nacional de Bioeletricidade do
Grupo Eletrobrás, que busca fontes alternativas de geração de energia que
resultem em menor impacto ambiental, como já ocorre com projetos de
aproveitamento da mamona e da soja na produção de biodiesel para geração de
energia elétrica em outras regiões do país. De acordo com o presidente da
Eletrobrás, a geração de energia por fontes limpas é um investimento que trará
retorno social, econômico e político ao país.

40
O termo de cooperação foi uma das medidas para a revitalização da
usina da CGTEE, aproveitando sua localização estratégica para distribuição e a
abundante fonte energética que do ponto de vista ambientalmente adequado
pode se viabilizar pelo uso do biogás como fonte geradora de energia.
Atualmente a Usina Nutepa tem capacidade instalada para gerar 24MW a partir
da queima do óleo combustível, e opera na condição de “reserva fria”, sendo
ativada somente em casos emergenciais, como ocorreu em 2001, por ocasião do
risco de “apagão” no RS.
Em Porto Alegre são produzidas 600 toneladas/dia de lixo orgânico, que
são tratadas em aterros sanitários. Calcula-se que a transformação deste volume
de resíduo orgânico em biogás pode resultar na produção de 6.000
quilowats/hora de energia elétrica, suficiente para abastecer quase 20 mil
domicílios. Os resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil são estimados em 45
milhões de toneladas/ano (IBGE-2000) e se 30% destes resíduos forem próprios
e aproveitados na reciclagem, o restante seria capaz de gerar 100 MW de energia
elétrica – cerca de 30% do consumo nacional

6.2 - O Mercado de Carbono

A falta de sistemas de coleta de gás nos aterros sanitários, mesmo


quando existentes permite consideráveis perdas de GEE (Gás Efeito Estufa) para
a atmosfera. Conseqüentemente o objetivo com a ratificação pelo Brasil do
Protocolo de Quioto é explorar as oportunidades de coleta e utilização do gás de
aterro sanitário das regiões metropolitanas como forma de alterar o quadro
caótico do saneamento por resíduos urbanos. Isto permitirá alocação adicional
de investimentos em sistemas de coleta de gás para converter a parcela de
metano em dióxido de carbono e ainda endereçar outras soluções para os demais
problemas ambientais de disposição de lixo. A queima pura e simples do metano

41
já é uma oportunidade para mitigar as emissões do inventário nacional de
emissões. Acrescente-se a este cenário a oportunidade de geração de energia
renovável junto aos grandes centros consumidores de eletricidade.
Alguns dos pressupostos feitos para o cálculo dos créditos de carbono:
1- Os créditos de carbono serão elegíveis em um cenário de 10 anos.
2- Os Aterros sanitários possuem drenos de gás por demanda de
segurança e não por controle ambiental.
3- A Capacidade de captação de gás varia de 50% para um lixão, 60%
para um aterro controlado e 70% para um aterro sanitário.
4- São Considerados os créditos de carbono referentes a queima do
metano mas não aqueles referentes a geração de energia elétrica.
O método mais adequado para determinar o volume de biogás gerado
nos diversos locais de disposição de lixo seria através da instalação de um
programa de monitoramento em drenos representativos, verificando vazão,
pressão e análise química por determinado período de tempo. Na ausência de
análises nos diversos locais de disposição de lixo - e considerado como base
neste trabalho - o método usual é a aplicação da equação desenvolvida pela
Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), ajustada á realidade
brasileira:
• Considera-se a tempo de queima do gás, como 100% (via motores a
combustão e, na ausência destes, através de flare).
• Considera-se o percentual de matéria orgânica com composição fixa nas
diversas regiões metropolitanas.
Por conta de tendência apontada pelo Business As Usual (Cenário de
Referência) ser tão diferente da mistura de tecnologia de geração atual e dada a
aceleração da introdução da geração térmica, a expectativa é de que os FECs
(Fatores de Emissão de Carbono) utilizados nesse cenário de referência devem
ser baseados nos futuros aumentos da capacidade marginal.

42
Os dados usados para a estimativa foram extraídos do Plano Decenal de
Expansão 2000/ 2009, do Ministério de Minas e Energia, e da OCDE. Outras
hipóteses consideradas são de que a eletricidade é fornecida basicamente para a
Rede Interconectada e o fator de carga da usina para tecnologias de rede é
considerado 70%, refletindo o fator de carga médio do sistema de rede elétrica
brasileira.
Projetos de energia a partir do biogás satisfazem a adicionalidade de
programas, pois asseguram que o manejo do aterro sanitário das regiões
metropolitanas seja executado segundo os mais recentes padrões ambientais,
visando à coleta da mais alta quantidade de gases de aterro sanitário. Um dos
objetivos deste trabalho é demonstrar que o manejo adequado dos aterros
sanitários, coleta e utilização de gases, pode proporcionar retornos financeiros
suficientes para justificar o investimento necessário, ajudando a demonstrar um
novo paradigma do manejo e utilização de lixo.
O valor adicional potencial pela venda de créditos de carbono pode ser
suficiente para aumentar os retornos financeiros do projeto além do limiar
mínimo para justificar os riscos inerentes, associados às decisões de
investimento de longo prazo e à alocação de capital para sistemas de coleta de
gás de aterro sanitário e equipamentos para geração de eletricidade. Além do
mais, a atividade serve de reserva no caso de problemas, atrasos, flutuações de
preços, possivelmente associados à venda de eletricidade em um mercado semi-
descentralizado. Este papel principal que os créditos de carbono podem
desempenhar na decisão de investimento e na viabilidade financeira do projeto
indica que este investimento levará a reduções de emissão em relação à
referência de cenário de investimento.
O estudo considerou um total de 107 municípios, que totalizam 58,6
milhões de habitantes (34% da população nacional) e que utilizam 52 aterros.
Desse total 91 efetivamente responderam ao questionário e/ou foram visitados

43
para o levantamento de dados. Estes tiveram seus potenciais energéticos
calculados, abrangendo 46,4 milhões de habitantes em 37 aterros (projetos).
O potencial de geração de metano e energia nos lixões já fechados é
bastante limitado, pois esses depósitos, via de regra, foram operados sem
qualquer preocupação com a drenagem e aproveitamento de biogás, ne-
cessitando de grandes ajustes técnicos (investimentos que não são desprezíveis)
antes do desenvolvimento do sistema de captação de biogás e geração de
energia.
Se o lixão tiver mais de cinco anos, por mais que o depósito seja grande,
se não houver possibilidade de ampliação da área para futuros depósitos de
resíduos sólidos urbanos de forma adequada para gerar futuras emissões de
metano, possivelmente não oferecerá viabilidade econômica, pois a curva de
biogás de mais 15 anos será insuficiente. A única forma de viabilizar esses
antigos aterros é por meio de incentivos maiores e da criação rápida de um
mercado (com incentivos). Dessa forma o período de 15 anos não seria um
problema para o investidor; os motores usados teriam mercado e poderiam ser
comercializados em outros empreendimentos o que não ocorre nos cálculos de
viabilização no presente momento.

44
7 - BIOGÁS EM SUBSTITUIÇÃO A DERIVADOS DE PETRÓLEO

Com o aumento do preço internacional do petróleo, que mesmo assim


nem sempre esteve disponível, tornou-se necessária a intensificação das
pesquisas relativas a fontes alternativas de energia, de forma que as mesmas
condições de desempenhar expressivo papel na substituição do petróleo e seus
derivados.
Como no presente estágio da economia mundial, os combustíveis fósseis
ocupam substancial parcela no setor energético, a alternativa que se basear em
fontes renováveis terá, de médio a longo prazo, perspectivas decididamente
positivas.
O processo de encarecimento progressivo dos combustíveis fósseis irá
de forma progressiva, tornando viáveis outras fontes energéticas hoje
consideradas ainda não econômicas.
A crise energética mundial evidenciou a nossa vulnerabilidade; cerca de
50% dos nossos derivados de petróleo, nos quais se apóiam praticamente todo
nosso transporte terrestre, marítimo, fluvial e todo aquecimento para fins
industriais, dependem exclusivamente do petróleo que existe no Oriente Médio,
a mais explosiva área do mundo. A produção nacional de petróleo não é
suficiente para atender a demanda interna, apontando-nos uma necessidade
imediata de se diversificar as fontes e a natureza dos combustíveis, de modo a
garantir a nossa sobrevivência, o nosso desenvolvimento e a nossa tranqüilidade.
Gás metano, nosso combustível doméstico mais limpo e mais barato,
praticamente inesgotável, pois existe em qualquer lixão e esgoto (além de
jazidas naturais), se apresenta aqui, como importante alternativa energética, com

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condições de desempenhar expressivo papel na substituição do petróleo e seus
derivados.

7.1 – A segurança do Biogás como combustível automotivo

O gás metano, principal constituinte do biogás purificado, apresenta


consideráveis vantagens sobre os outros combustíveis em termos de segurança.
Ele é o único gás (com exceção do hidrogênio e do hélio) que apresenta
densidade inferior ao ar (0,555). Isto significa que em caso de vazamento ele
tende a se dispersar para a atmosfera, por ser mais leve que o ar, necessitando
apenas de ventilação e evacuação. Logo é evitada a perigosa característica de
combustíveis líquidos (gasolina, álcool, diesel) de acúmulo formando poças.
Outra propriedade relevantes são os altos limites de inflamabilidade do
metano, 5 a 15%, o que significa que é necessário um volume maior (em
comparação com outros gases) em mistura com o ar para que haja a combustão.
O gás metano em mistura com o ar deflagra a uma velocidade de 40cm/s
sem detonar, não ocasionando explosões por ondas de choque de altas
velocidades.
Ele também apresenta uma temperatura mínima de acendimento (537°
C) mais alta que outros combustíveis (gasolina 280º e GLP 365º). Logo, uma
mistura deste gás com o ar, dentro da faixa de inflamabilidade, só terá ignição
espontânea (sem auxílio de calor externo) se a temperatura ambiente estiver no
nível mínimo acima mencionado.
Isto tudo torna a possibilidade de um incêndio ou explosão pouco
provável, em caso de vazamento deste gás combustível. Devido às propriedades

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acima mencionadas, uma mistura de metano com ar não explode em espaços não
confinados, o que não é o caso dos combustíveis líquidos.
Além disso, os fatos de ser não tóxico e de conter em odorizante para
facilitar sua detecção em caso de vazamentos, contribuem para diminuir os
riscos para os usuários.
Do ponto de vista da conversão dos veículos para uso do gás metano, a
tecnologia desenvolvida no país para os motores ciclo Otto é satisfatórias, sendo
que para os motores ciclo Diesel (transporte de passageiros e de carga) o
CENPES/Petrobrás desenvolveu um sistema de combustão com uma mistura de
70% de CH4 e 30% de óleo diesel (composição volumétrica). Estes dois ciclos já
foram amplamente testados e estão em fase operacional normal nas regiões
próximas aos postos de abastecimento.
O Kit de carburação usado na frota da CEMIG possui em sistema de
segurança automático, que garante a proteção do usuário na operação normal, ou
em caso de acidente onde exista um eventual rompimento na linha de pressão do
gás. Neste caso todo o sistema é desarmado automaticamente, fechando
totalmente a saída do gás dos cilindros.
Veículos convertidos para gás natural tem rodado os Estados Unidos
desde 1900. A taxa de incidência de prejuízos por milha rodada pelo veículo
para a frota nos EUA a gás natural é 84% menor que a média nacional para
todos os veículos registrados. Nenhum acidente com vítimas foi registrado nos
434,1 milhões de milhas rodadas pela frota norte-americana a gás natural.
Os cilindros para armazenar gás metano são mais resistentes do que os
tanques de gasolina, e tem passado por uma larga variedade de testes de uso,
incluindo fogo de artilharia, aquecimento excessivo, fogo, colisões e até
dinamite.
A tabela demonstra o alto grau de segurança na utilização de gás natural
em cilindros para alta pressão dos veículos italianos:

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Tabela 5 – Grau de segurança na utilização de gás natural

Ano Circulação Veículos Explosões Incidentes por 1000


veículos em circulação

1974 407655 104889 6 0,0147

1975 586663 170029 5 0,0085

1976 729174 210753 2 0,0027

1977 761298 229188 1 0,0013

1978 804236 253470 2 0,0024

1979 859807 275756 2 0,0023

1980 922223 304469 2 0,0021

1981 969065 324336 - 0

1982 995626 328187 - 0

1983 1001912 342273 - 0

7.2 – O fator poluição

A poluição do ar nos centros urbanos é em grande parte decorrente das


emissões para a atmosfera de produtos da combustão de derivados de petróleo
(óxido de enxofre, vanádio, fuligem, monóxido de carbono e óxido de
nitrogênio), conforme demonstrado na tabela.
A combustão do metano com excesso de ar é completa, liberando como
produtos apenas o dióxido de carbono e o vapor de água, componentes não

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poluentes e não tóxicos. O uso deste energético no setor de transporte de
passageiros, e de carga, além de contribuir sensivelmente na redução dos
poluentes emitidos para a atmosfera, irá substituir o óleo diesel nos veículos, o
que implica numa economia de divisas, pois este combustível é em grande parte
importado.

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8 – O FUTURO DO BIOGÁS A PARTIR DA CENTRAL DE
RESÍDUOS DO VALE DO AÇO

A coleta e tratamento do lixo em Ipatinga, localizada no Vale do Aço,


leste de Minas Gerais, teve início em 1989. Nessa época, as cerca de 30
toneladas de resíduos recolhidas diariamente eram depositadas em um lixão,
colocando em risco a vida de catadores e degradando o meio ambiente.
Já em 1989, a coleta de lixo em Ipatinga saltou para 180 toneladas e hoje
está em 223. A implantação do Aterro Sanitário foi concluída em 1990.
Atualmente, o local funciona como um equipamento de educação ambiental e
área de lazer. A Central de Resíduos Sólidos do Vale do Aço, mantida pela
empresa Queiroz Galvão, concessionária do serviço de limpeza urbana de
Ipatinga, é o destino do lixo produzido na cidade. A empresa venceu o processo
de licitação para concessão do serviço.

8.1 - Central de Resíduos recebe lixo e material inservível

A Central de Resíduos do Vale do Aço foi fundada em 15 de setembro


de 2003 para substituir o antigo aterro sanitário, cujo espaço para utilização
havia se esgotado. Localizada no município de Santana do Paraíso, a Central,
que possui área de 144 mil metros quadrados (sendo 100 mil metros quadrados
de área verde e 44 mil metros quadrados para o depósito do lixo), recebe em
média por dia, 210 toneladas de lixo.

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Os caminhões coletores que chegam à Central de Resíduos são pesados
em uma balança apropriada para que seja feito o controle de espécie e
quantidade do lixo que chega (lixo domiciliar, hospitalar, galhos, terra). Após a
pesagem os caminhões descarregam no local apropriado para cada tipo de lixo.

Figura 5 – Caminhão coletor descarregando o lixo na Central de Resíduos do


Vale do Aço.

O lixo domiciliar segue para uma área cujo terreno foi preparado para
proteger o lençol freático do líquido resultante da decomposição do material
orgânico, o chorume. A proteção baseia-se em uma camada de argila, uma
manta de polietileno e uma camada de terra. O chorume é escoado através de
três canaletas que caem em duas caixas com capacidade para 10.000 litros cada
uma e segue para a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da COPASA, onde
recebe tratamento para aí então, ser lançado no rio.

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Figura 6 – Área da Central de Resíduos do Vale do Aço.

Recolhido separadamente, o lixo hospitalar é lançado e aterrado em uma


vala apropriada para seu depósito, sendo que seu terreno também é protegido por
uma camada de argila compactada. Os galhos de árvore e restos de feira seguem
para as leras de compostagem, onde são tratados para se transformarem em
adubo natural, que será utilizado no Viveiro Municipal.
A previsão é de que a Central de Resíduos possa ser utilizada por 30
anos. Esse período de utilização pode ser ainda maior se houver colaboração da
população no sentido de separar o lixo orgânico do lixo "seco", ou seja, do lixo
reciclável. Através da coleta seletiva, o volume de lixo diminuirá e o meio
ambiente será preservado.
O gás metano, proveniente da decomposição do lixo, é canalizado e
queimado todos os dias. Atualmente ele não é reaproveitado, mas já existem
propostas para que ele sirva como gás alternativo ou até mesmo como
combustível.

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8.2 – Projeto sobre aterro sanitário, prevê o uso do biogás.

Com o intuito de aproveitar o gás metano desperdiçado todos os dias


pela Central de Resíduos do Vale do Aço, um projeto foi elaborado para que
esse gás possa ser reaproveitado ao invés de ser queimado.
O projeto visa mitigar os impactos ambientais causados pelos gases de
efeito estufa emitidos pelo aterro, gerados por meio de processo da
decomposição bioquímica dos resíduos.
É objetivo ainda a geração de energia elétrica, sendo o biogás uma fonte
limpa, renovável e um subproduto de resíduos descartados pela sociedade que
não teriam aproveitamento algum.

8.3 – Descrição do projeto

Este estudo tem por objetivo apresentar, uma estimativa de produção e


aproveitamento do biogás gerado na Central de Resíduos do Vale do Aço,
localizada no município de Santana do Paraíso, Estado de Minas Gerais, com a
finalidade de mitigar os impactos ambientais causados pelos gases de efeito
estufa emitidos pelo aterro, gerados por meio de processo da decomposição
bioquímica dos resíduos.
A captação desses gases pode ser encaminhada a um conjunto de moto-
geradores que utilizam o gás metano, principal componente do biogás,
representando cerca de 50% a 55% em volume, como combustível e
transformando a energia mecânica resultante dos motores em eletricidade, por
meio de um gerador acoplado. Este sistema fornece um ganho ambiental muito
importante pois, além de contribuir para a diminuição da emissão de gases de
efeito estufa, torna o aterro sanitário uma fonte renovável de energia.

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Assim, as curvas de captação e aproveitamento do biogás, apresentam a
quantidade estimada de eletricidade que o sistema poderá produzir. Apresentam,
ainda, a quantidade de biogás que deverá ser queimado sob condições
controladas, permitindo o ganho ambiental comentado.

8.4 - Considerações sobre o biogás gerado em aterros sanitários

O biogás é um subproduto da decomposição anaeróbica de resíduos


sólidos urbanos por ação de microorganismos que os transformam em
substâncias mais estáveis, como dióxido de carbono, água, gás metano, gás
sulfídrico, mercaptanas e outros componentes minerais.
Carboidratos provenientes de papel, papelão, etc., que formam a maioria
dos detritos são decompostos inicialmente em açúcares, depois em ácido acético
e finalmente em CH4 e CO2.
A composição do biogás resulta basicamente em 55% de metano, 40%
de gás carbônico e 5% de nitrogênio e outros gases. O gás metano, principal
componente do biogás, é 21 vezes mais danoso que o dióxido de carbono em
termos de efeito estufa.
A geração de gás, aí incluída taxa e composição, ocorre através de
quatro fases características da vida útil de um aterro. A primeira fase é a aeróbia
(com Oxigênio – O2 disponível) e o gás produzido é o CO2. A segunda fase é
caracterizada pelo esgotamento de O2, resultando em um ambiente anaeróbio
com grandes quantidades de CO2 e um pouco de hidrogênio (H2) produzido.
Na terceira fase, anaeróbia, começa a produção de CH4, com uma
redução na quantidade de CO2 produzido. O conteúdo de nitrogênio (N2) é
inicialmente elevado na primeira fase, aeróbia, declinando bruscamente à
medida que o aterro passa para a segunda e terceira fases, anaeróbias.

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Na quarta fase a produção de CH4, CO2 e N2 torna-se quase estável.
A duração das fases e o tempo de geração do gás variam com as condições do
aterro (composição do resíduo, material de cobertura, projeto e estado
anaeróbio) e pode variar ainda com as condições climáticas como taxa de
precipitação, umidade e temperatura.
O Brasil possui uma população estimada em 169.590.693 habitantes,
sendo que 81,2% dessa população habitam em áreas urbanizadas, produzindo
diariamente cerca de 60 mil toneladas de resíduos sólidos (IBGE, 2000). Tais
resíduos, por apresentarem elevados teores de matéria orgânica e devido ao
clima tropical e subtropical típico do país, oferecem condições favoráveis à
produção de metano e, portanto, à potenciais iniciativas de recuperação
energética, além do ganho ambiental que se verifica com a redução das emissões
desse gás de efeito estufa.
Segundo o Inventário Nacional de Emissões de Metano Gerado pelos
Resíduos no Brasil (CETESB, 1998), cerca de 805 mil toneladas de metano
foram geradas em 1994, com 84% desse total sendo resultante dos resíduos
sólidos municipais.
A redução da porcentagem do metano emitido à atmosfera pelos
resíduos e o aproveitamento otimizado dessa fonte de energia será verificado na
Central de Resíduos do Vale do Aço, que serão providos de sistemas capazes de
confinar, captar e aproveitar o gás metano produzido pelos resíduos, reduzindo
sensivelmente impactos ambientais ocasionados pela disposição efetuada sem
critérios técnicos.
O biogás coletado servirá para a geração de eletricidade, através da
implantação de uma usina termelétrica. O biogás excedente será queimado em
flares de forma controlada, evitando a emissão de gases de efeito estufa para a
atmosfera.

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Portanto, espera-se que em um futuro próximo, esse projeto sobre o
reaproveitamento do gás metano gerado na Central de Resíduos do Vale do Aço,
se concretize, produzindo o biogás, e servindo como gás alternativo e até mesmo
como combustível.

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9 – LEGISLAÇÃO SOBRE ENERGIAS RENOVÁVEIS NÃO
RESPEITA PROTOCOLO DE QUIOTO

Em primeiro lugar, porque penaliza a digestão anaeróbia, processo a


partir do qual os resíduos orgânicos são transformados em fertilizante e em
biogás utilizado para a produção de energia elétrica renovável.
Com efeito, nesta nova legislação a eletricidade produzida a partir de
biogás proveniente da reciclagem de resíduos orgânicos baixou de 0,065 euros
por kWh para 0,055 euros por kWh.
Esta medida é incompreensível, uma vez que diversos documentos
relativos às alterações climáticas (PNAC - Programa Nacional para as
Alterações Climáticas) referem à importância do processo de digestão anaeróbia
como forma de controlar as emissões de metano, assim como de contribuir para
a produção de energia renovável.
Incrivelmente, a incineração de resíduos urbanos que, pela queima de
plásticos, dá origem a significativas emissões de dióxido de carbono, acaba por
ser premiada, subindo de 0,065 euros por kWh para 0,076 euros por kWh. Ou
seja, esta legislação dá um claro incentivo à emissão de gases com efeito de
estufa.
Ao invés de assumir como um dos seus principais objetivos reduzir as
emissões de gases com efeito de estufa ao fomentar fontes energéticas
renováveis, acaba por privilegiar soluções de fim de linha, com claras
contribuições diretas para o agravamento do efeito de estufa.

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Por outro lado, ao penalizar fortemente a digestão anaeróbia, esta
legislação torna mais difícil a devida aplicação deste processo para o tratamento
de grandes volumes de resíduos, tais como a fração orgânica dos resíduos
urbanos, as lamas de ETAR, os efluentes de suinoculturas, os resíduos da
indústria agro - alimentar e muitos resíduos agrícolas.
A título de exemplo, a ERB - Estratégia Nacional para a Redução de
Resíduos Urbanos Biodegradáveis destinados a Aterros (no âmbito da
transposição da Diretiva Aterros) prevê a instalação de diversas unidades de
digestão anaeróbia de forma a reciclar os resíduos orgânicos, reduzindo a sua
colocação em aterro, dando assim cumprimento à diretiva comunitária sobre
aterros.
Com esse objetivo em mente, diversos sistemas de gestão de resíduos
urbanos apresentaram projetos para tratamento dos resíduos orgânicos através da
digestão anaeróbia.
Curiosamente, o biogás proveniente da matéria orgânica colocado nos
aterros é premiado com uma tarifa de 0,105 euros por kWh, ou seja cerca do
dobro do valor atribuído ao biogás proveniente da reciclagem da matéria
orgânica. Estamos assim a fomentar claramente o incumprimento da Diretiva
Aterro!
A Quercus considera urgente que o novo Governo reveja rapidamente
esta situação, de forma a que o tarifário sobre energias renováveis reflita de fato
uma aposta nas fontes energéticas que não contribuem para as alterações
climáticas e que entre os processos de tratamento dos resíduos seja dada
prioridade à reciclagem, como a digestão anaeróbia, e preteridos processos mais
poluentes e de fim de linha como a incineração e o aterro.
A Quercus não vê assim que haja qualquer impedimento para que o
biogás proveniente da reciclagem dos resíduos orgânicos não seja pago a um

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valor igual ou superior ao biogás proveniente da colocação desse tipo de
resíduos em aterro.
Também em relação à incineração de resíduos sólidos urbanos (na
VALORSUL, LIPOR e Madeira), a Quercus não consegue encontrar qualquer
tipo de suporte legal para se considerar que a queima de plástico - produto
proveniente do petróleo - seja uma forma de energia renovável .

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10 – CONCLUSÃO

Até há pouco tempo, o Biogás era simplesmente encarado como um sub-


produto, obtido a partir da decomposição anaeróbica (sem presença de oxigênio)
de lixo urbano, resíduos animais e de lamas provenientes de estações de
tratamento de efluentes domésticos. No entanto, o acelerado desenvolvimento
econômico dos últimos anos e a subida acentuada do preço dos combustíveis
convencionais têm encorajado as investigações na produção de energia a partir
de novas fontes alternativas e economicamente atrativas, tentando sempre que
possível, criar novas formas de produção energética que possibilitem a poupança
dos recursos naturais esgotáveis.
Relativamente ao grande volume de resíduos provenientes das
explorações agrícolas e pecuárias, assim como aqueles produzidos por
matadouros, destilarias, fábricas de lacticínios, esgotos domésticos e estações de
tratamento de lixos urbanos (a partir dos quais é possível obter Biogás), estes
apresentam uma carga poluente de tal forma elevada que impõe a criação de
soluções que permitam diminuir os danos provocados por essa poluição,
gastando o mínimo de energia possível em todo o processo.
Assim, o tratamento desses efluentes pode processar-se por intermédio
da fermentação anaeróbica (metânica) que, além da capacidade de despoluir,
permite valorizar um produto energético (Biogás) e ainda obter um fertilizante,
cuja disponibilidade contribui para uma rápida amortização dos custos da
tecnologia instalada.
Espera-se que os avanços em relação ao biogás ocorram rapidamente,
pois necessitamos de novas fontes de energia que não agridam o meio ambiente.
E consequentemente, com a alta dos combustíveis, necessitamos também novos
produtos no mercado, afim de que possam competir ecologicamente com os
produtos que destroem a natureza, e em decorrência a nossa vida.

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11 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASSINI, Sérvio Túlio; Digestão de resíduos sólidos orgânicos e


aproveitamento do biogás. Vitória, ES: ABES, 2003.

GERAIS, FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE MINAS; Estado da


arte da digestão anaeróbica. Belo Horizonte: CETEC, 1982.

ALLEY, Rewi. A expansão do biodigestor na China. In revista Eastern Horizon.


Hong Kong, 10 de outubro, 1980, vol. XIX.

LIÉGEOLS, Elisabeth. Biogás a partir dos aterros sanitários. In revista


Techniques de I’Energie. França, fev/mar. de 1982.

GREENPEACE. O Biogás. Disponível em: http://www.greenpeace.org.br/tour


2004_energia/renováveis. Acesso em 15 de mar. 2006.
Sérvio

PROJETO BIOGÁS. Disponível em http://www.Net11.com.br/eecc/biogás/.


Acesso em 18 de mar. de 2006.

BIOGÁS. Disponível em http://www.demec.ufmg.br/disciplinas/ema003/


gasosos/biogás/biogás.htm. Acesso em 03 de mar. de 2006.

61
O BIOGÁS. Disponível em http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/
Acesso em 26 de fev. de 2006.

CENTRAL DE RESÍDUOS DO VALE DO AÇO. Disponível em


http://www.Ipatinga.mg.gov.br. Acesso em 05 de abril de 2006.

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