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1 - ADEQUAÇÃO À NR 10

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE UNIDADES ANTIGAS DE PRODUÇÃO E NOVOS PROJETOS

Ações que garantam uma maior segurança para o empregado no seu ambiente de trabalho têm se popularizado
nos últimos dez anos. Na área de eletricidade, esse processo tem acontecido, sobretudo, após a publicação da
segunda versão da Norma Regulamentadora nº 10, em 2004, a NR 10, que dispõe sobre medidas de controle e
sistemas preventivos a serem implantados para garantir a segurança e a saúde do trabalhador em instalações e
serviços de eletricidade.
Considerando a relevância do tema, desde 2003, é organizado no País o Seminário Internacional da Engenharia
Elétrica na Segurança do Trabalho (Electrical Safety Workshop), o ESW Brasil, em que são apresentados
trabalhos desenvolvidos sobre o assunto por profissionais e pesquisadores da área. Os artigos que compõe
esses fascículos de “Segurança do trabalho em eletricidade” foram selecionados dentre os trabalhos
apresentados no último ESW, realizado entre os dias 22 e 24 de setembro de 2009 em Blumenau (SC).
Nesse contexto, é importante compreender que a publicação da atualização da NR 10 introduziu novas
exigências relacionadas à segurança em trabalhos que envolvam eletricidade. Este artigo fala sobre esta
revisão, que definiu as diretrizes básicas para a implantação de medidas de controle e sistemas preventivos
destinados a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores. A norma abrange os indivíduos que, direta ou
indiretamente, trabalham em instalações elétricas e serviços com eletricidade, além de considerar seus mais
diversos usos e aplicações em quaisquer trabalhos realizados nas suas proximidades.
A nova revisão da norma elevou o grau de rigidez e inseriu uma inovadora solicitação de quesitos gerenciais de
instalações elétricas. O comportamento vanguardista da indústria de petróleo no Brasil, em aspectos de
segurança do trabalho, propiciou imediato atendimento à maioria dos novos quesitos, principalmente daqueles
relacionados a procedimentos operacionais.
As diversas novidades requeridas pela norma revisada constituem atuações em diversas áreas. Essas áreas são
caracterizadas pela gestão, pela engenharia e projeto, pelo comissionamento, pela operação e manutenção, e
até mesmo pelo acervo técnico. Além disso, o grau de importância de cada quesito foi definido pelo impacto à
segurança dos trabalhadores. Dessa forma, a prioridade e a natureza das ações para adequar os sistemas
elétricos não são definidos de forma trivial e requerem metodologia para tal.
A elaboração de um plano global é uma tarefa difícil, sobretudo em empresas que detém múltiplas plantas
industriais com diferentes níveis de gestão e complexidade. A primeira etapa consiste na avaliação das
necessidades de cada ativo e depois na análise de abrangência passível de padronização. Essa análise permite
alinhar procedimentos operacionais, baseados na padronização do nível de segurança.
Basicamente, o plano de ação específico para cada planta industrial determina a prioridade das ações, baseado
nas características normativas de impacto na disponibilidade da planta e no nível de impacto à saúde e à
segurança dos trabalhadores.
Por exemplo, em unidades antigas, as ações foram focadas prioritariamente na sinalização, na atualização de
diagramas unifilares e no cadastramento de equipamentos certificados para operação em atmosfera explosiva.
Contudo, nos novos projetos em execução, o foco foi direcionado na gestão da documentação legalmente
exigida (fabricantes e montadores) e na fiscalização dos desenhos executivos.
A análise de abrangência permitiu detectar as ações que eram similares em todas as plantas industriais, como o
caso de gestão de recursos humanos e a documentação de treinamento. Considerando os diversos níveis de
organização, ferramentas de gestão e idade operacional de cada ativo, as dificuldades encontradas e as
soluções implementadas foram variadas. Essas ações foram detalhadas a seguir.

Unidade de produção antiga


A indústria de petróleo no Brasil teve início em 1919 e, somente a partir de 1973, foi iniciada a produção em
território marítimo, denominado offshore. As unidades pioneiras de produção de hidrocarbonetos em território
marítimo estão operando há mais de 20 anos. Contudo, com manutenção e operação adequadas, tais plantas
chegam a dobrar o período em operação, sofrendo pequenos reparos e atualizações tecnológicas.
No caso específico aqui apresentado, avaliamos a adequação de uma plataforma do tipo fixa, com operação
iniciada em 1993. O sistema elétrico é constituído por dois grupos de gerações principais formados por motores
alternativos a gás e geradores de 480 VAC, com potência de 600 kW, capazes de operar em paralelo. O sistema
de emergência é composto por um grupo de geração, formado por motor diesel e gerador de 480 VAC, com
potência de 250 kW, entrando em operação somente quando ambas as gerações principais estão inoperantes. A
demanda média da unidade é de 500 kW.
Apesar da simplicidade do sistema elétrico, o padrão de construção estrangeiro (norte-americano) desafiou a
criatividade dos técnicos para o pleno atendimento da NR 10. As ações elaboradas estão descritas a seguir,
apresentadas pelo nível de prioridade definido pelo gestor e classificadas entre soluções técnicas e de gestão.

Soluções técnicas
A definição de soluções ou ações técnicas está relacionada às necessidades que dependem do apoio do
especialista de engenharia.

Atualização dos diagramas unifilares: Foram detectadas, na planta industrial, modificações e atualizações
tecnológicas que não estavam registradas nos seus devidos diagramas elétricos. Além disso, devido à idade da
plataforma, diversos desenhos técnicos originais de projeto estavam ilegíveis ou deteriorados. Dessa forma, a
ação prioritária foi levantar no site todas as informações dos sistemas elétricos de forma detalhada.
Essa tarefa teve duração de seis meses e contemplou desde o levantamento de campo, passando pela etapa de
execução dos novos desenhos, até a inserção deles no Sistema de Informação e Documentação Técnica da
Empresa. Posteriormente, houve atualização da lista oficial de desenhos no Prontuário das instalações elétricas
da unidade.
A principal dificuldade foi o registro do número do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
(Crea) do executante nos desenhos elétricos e a inserção explícita do tipo de aterramento da instalação
elétrica. Apesar do requisito legal, os projetistas ainda não adotaram como prática inserir o registro do seu
número do Crea nos desenhos técnicos.

Sistema de Proteção contra Descargas Atmosférica (SPDA): Houve dificuldades técnicas para determinar
o sistema de SPDA da plataforma devido a característica de construção tipo fixa, ou seja, dotada de jaqueta
estrutural acomodada no leito marinho. Por ser uma unidade marítima, os critérios do projeto e manutenção
diferem de uma unidade onshore. Podemos considerar o sistema solidamente aterrado, interconectado pela
estrutura metálica da jaqueta. Logo, torna-se dispensável qualquer necessidade de medição de malha de
aterramento.
As descidas do SPDA são realizadas por meio de captores naturais, como antenas, guindastes e a torre do flare.
A eficácia da proteção foi verificada por meio do método eletro-geométrico, também conhecido como método
das esferas rolantes. Porém, para realização de tal tarefa, houve a necessidade de realização de um
treinamento específico em SPDA, de consulta ao corpo técnico da companhia e de atendimento aos critérios
dispostos na NFPA 780, já que estamos tratando de um assunto pouco abordado em literaturas técnicas. Esta
etapa teve duração de oito meses.

Estudo de energia incidente: Esse estudo determina o risco de arco elétrico e energia incidente nos painéis
da unidade baseado nas normas IEEE 1584-2002 e NFPA 70E. O caminho crítico para execução dessa atividade
foi a dificuldade em levantar os coordenogramas de proteção dos painéis de acionamento de motores em baixa
tensão, visto o tempo de operação na unidade. A duração da tarefa foi de dez meses.
Por meio desse estudo, pudemos identificar os painéis com risco potencial e especificar roupas de proteção
adequadas para manutenção neles. Dessa forma, houve a aquisição de roupas com grau de proteção ATPV
(Valor Máximo de Energia Incidente, do inglês Arch Thermal Performace Value) categoria IV, para intervenções
com abertura de painel. Essa vestimenta inibe a possibilidade de queimaduras de terceiro grau quando exposto
a explosão. Para utilização diária em serviços rotineiros de operação e manutenção, sem abertura de painéis,
foram adquiridas vestimentas com grau de proteção ATPV categoria II.

Aterramento temporário: Devido à nova revisão da norma, a adoção do aterramento temporário tornou-se
item obrigatório em todas as intervenções no sistema elétrico, independente do nível de tensão. Para painéis de
480V e para Centros de Comando de Motores (CCM) com múltiplas gavetas e cubículos, essa medida nem
sempre é trivial e segura. No caso de uma plataforma de petróleo, a característica básica é possuir
equipamentos muito compactos, com espaços reduzidos e de difícil acesso. Dessa forma, a inserção de
qualquer acessório ou equipamento que não esteja previsto no projeto original torna-se extremamente difícil.
Outro ponto que deve ser considerado é o nível de curto-circuito da instalação elétrica.
A solução proposta pelos fornecedores para aterramento em CCMs implica a colocação de plugues do tipo
concha-bola na parte traseira dos painéis. Devido à limitação física da plataforma, a solução adotada com o
fornecedor foi realizar um estudo para aplicação dos kits de aterramento temporário usados em alta tensão em
painéis de CCMs, alterando, principalmente, o tipo de conector.
O resultado desse estudo foi que a adoção de aterramento temporário não é possível devido às características
físicas dos demarradores dessa instalação industrial, ou seja, bornes de fases distintas próximos e dificuldade
de acesso aos pontos energizados pra fixação de plugue. A tentativa de utilização do aterramento temporário
para a plataforma de gás em questão caracteriza aumento de risco de choque elétrico para o trabalhador. Essa
tarefa durou 14 meses, devido à interação constante com fornecedores e os estudos para aplicabilidade dos
produtos disponibilizados.

Sinalização: A sinalização de segurança é determinada pela NR 26 e a plataforma em questão já estava


conforme legalmente. Contudo, devido às características ocultas dos perigos e riscos com eletricidade, houve
uma revisão na sinalização existente. O resultado do trabalho baseado na experiência de segurança foi a
criação de um padrão interno de sinalização de sistemas elétricos. Além disso, foram especificados detalhes de
fixação e material de placas e adesivos, de forma a garantir resistência e durabilidade em ambientes marítimos
e petroquímicos. Essa ação teve a duração de quatro meses entre a especificação da sinalização, aquisição e
aplicação.

Soluções de gestão
Relacionadas às necessidades de ações de padronização, organização e catálogo de documentos associados à
instalação elétrica e gerenciamento administrativo.

1)Prontuário das instalações elétricas: Esse é considerado pela norma o documento mais importante, pois
integra todas as características do sistema elétrico, além de determinar as diretrizes e os procedimentos de
segurança, operação e manutenção. Para o caso de gerenciamento de múltiplas instalações industriais, o
primeiro passo é padronizar a elaboração dos prontuários.
No caso em estudo, a padronização ocorreu por meio de procedimento administrativo específico, determinando
a sequência de elaboração e os documentos necessários. Considerando que eles devem estar disponíveis a
qualquer tempo para consulta dos empregados e auditores, conforme determinação da NR 10. O passo seguinte
foi elaborar o prontuário propriamente dito, em que a principal dificuldade encontrada foi referente à cópia
física dos treinamentos realizados pelos empregados e registros no conselho de classe. Com toda a
documentação, o prontuário impresso foi finalizado e encaminhado à plataforma. O arquivo digital do
prontuário também ficou disponível para consulta dos empregados na rede interna da empresa. Essa atividade
durou seis meses.

2)Memorial descritivo: Esse documento ganhou destaque na revisão da norma e agora deve informar dados
técnicos importantes acerca do sistema, considerando aspectos operacionais e de manutenção. Além disso,
deve identificar e sinalizar riscos à vida e equipamentos, além das respectivas ações mitigatórias. Dados
técnicos do sistema de proteção também devem ser registrados nesse documento, de forma a preservar a
filosofia aplicada na concepção do sistema elétrico.
No caso em estudo, a plataforma não possuía um memorial descritivo conforme a NR 10 orienta, visto que o
projeto e a operação da unidade são anteriores à última revisão da norma. Havia somente uma breve descrição
do sistema elétrico com instruções operativas, que foi aprimorado para atender em plenitude aos requisitos
atuais. Dessa forma, o documento foi elaborado e passou a integrar informações exigidas pela norma.
A principal dificuldade para elaborar esse documento foi a falta de instruções dos fabricantes dos painéis
elétricos e a avaliação de riscos ao longo de toda instalação. A experiência de operadores e mantenedores
garantiu o registro de importantes alertas de segurança, baseados em relatos de desvios comportamentais e
operacionais. Essa ação durou dez meses e foi caracterizada pelo trabalho integrado de um grupo
interdisciplinar com conhecimentos técnicos nas áreas elétricas, de segurança, química, mecânica e cabotagem.

3)Aquisição de ferramentas isoladas: As ferramentas constituem importante fator de risco para


intervenções para instalações elétricas. Quando a utilização é incorreta ou a especificação inadequada, pode
causar choque elétrico e explosão devido a curto-circuito. O grau de segurança das ferramentas está
diretamente relacionado ao estado de isolação delas. Dessa maneira, devem existir procedimentos
administrativos para aquisição, controle e manutenção do estado das ferramentas isoladas.
Para a plataforma em questão, foi elaborado um procedimento interno em que estão definidas todas as
ferramentas necessárias para compor uma maleta de ferramentas para eletricistas. Esse padrão determina
quais ferramentas podem ser adquiridas, baseado em critérios de testes das normas NBR 9699 e da DIN
60900. A principal dificuldade nessa etapa foi a seleção de fornecedores que atendiam plenamente às normas
vigentes. Essa tarefa teve duração de dois meses.

4)Carteira de autorização: Na área industrial nas plataformas de petróleo, por questões de segurança, é
proibido portar crachás de identificação. Dessa forma, o empregado é identificado diretamente na sua
vestimenta, com nome e tipo sanguíneo. A solução empregada para sinalizar a autorização referente a
trabalhos com eletricidade foi a confecção de uma carteira plastificada, a qual o empregado deve manter no
bolso e apresentar quando requisitado.
A emissão da carteira está condicionada ao treinamento da NR 10 e ao treinamento para trabalhos em
atmosfera explosiva. A sua validade está vinculada ao treinamento da NR 10, devendo ser revalidada a cada
dois anos (prazo definido pela NR 10 para os treinamentos de reciclagem). Essa tarefa teve duração de quatro
meses.

5)Certificados Ex: Conforme orientação da NR 10, todos os equipamentos destinados à utilização em


atmosferas potencialmente explosivas devem ter seus respectivos certificados anexados ao prontuário da
instalação. Entretanto, a Portaria nº 83, do Inmetro, define que as unidades marítimas fabricadas no exterior e
importadas, destinadas à lavra de petróleo ou ao transporte de produtos inflamáveis para trabalho offshore,
serão dispensadas da obrigatoriedade da certificação uma vez que, para elas, são válidos os critérios para
aceitação dos fornecedores e as certificações adotadas pelas sociedades classificadoras.
Dessa forma, para o nosso caso de estudo, a plataforma não necessita de registro de certificação no prontuário.
Contudo, apesar da abolição legal, foi definida ação para levantar e registrar todos os equipamentos “Ex” e os
respectivos certificados da instalação elétrica. A principal dificuldade encontrada foi a disponibilização dos
certificados pelos fabricantes e fornecedores. A causa dessa dificuldade é amparada na origem estrangeira do
projeto, engenharia, montagem e fornecedores, além da idade da instalação (16 anos).
Os certificados existentes foram devidamente anexados ao prontuário das instalações elétricas. Apesar do
esforço da equipe técnica, não foi possível encontrar o certificado de uma parcela significativa dos
equipamentos elétricos “Ex”. Entretanto, todos estão mapeados para controle continuado e serão substituídos
paulatinamente por novos equipamentos com certificados disponíveis. Essa tarefa teve duração de 14 meses e
foi a mais difícil de finalizar.

6)Energização e desenergização de circuitos elétricos: Tecnicamente, a definição de energizado e


desenergizado é estritamente dada pela ausência de tensão. Mas essa definição não mitiga riscos operacionais
de energização acidental. Logo, a definição legal, da norma, requer que os procedimentos operacionais das
empresas sejam adequados e, por isso, eles foram revisados. O novo procedimento determina a adoção de
permissão de trabalho para qualquer serviço em eletricidade e a adoção de bloqueios físicos para os
equipamentos elétricos. Além disso, houve a conscientização dos empregados, referente à importância em se
efetuar uma desenergização segura, seguindo todos os critérios estabelecidos. Essa atividade teve duração de
oito meses.

Novos projetos
Do ponto de vista legal, os novos projetos devem ser planejados e elaborados contemplando todos os pontos
da NR 10. Entretanto, devido ao ineditismo da norma, existe um importante paradigma a ser quebrado na área
de concepção de novos empreendimentos e desenvolvimento do projeto executivo.
Devido às características próprias de cada serviço e à necessidade de especialidade técnica, é comum encontrar
pontos divergentes entre trabalhadores da área de engenharia, manutenção e operação. Contudo, a aplicação
da nova norma abrange claramente todas as etapas da vida de uma instalação elétrica. Desde sua concepção
no projeto básico, passando pelo detalhamento do projeto executivo, construção e montagem e, finalmente,
para a operação e manutenção.

Características técnicas
O aumento do preço do petróleo nos mercados internacionais provocou um desenvolvimento acelerado da
indústria de petróleo brasileiro. Diversas jazidas tornaram-se comercializáveis e, por isso, passarão a exigir a
construção imediata de plantas industriais para atender a essa demanda. Devido à maturidade da engenharia
em relação às características das reservas e tecnologias dominadas para extração de hidrocarbonetos, as novas
plantas são dotadas de robustos sistemas elétricos.
Atualmente, diversos sistemas de acionamento hidráulico e pneumático foram substituídos por motores
elétricos. Além disso, o advento da eletrônica de potência permitiu o controle fino de motores de grande
potência, com finalidades específicas como acionar bombas de injeção de água em poços e compressores de
gás natural. Portanto, estão se tornando raros os novos empreendimentos com demanda abaixo de 1 MW. Os
casos utilizados como experiência neste trabalho têm finalidades distintas. Uma planta de tratamento de gás
natural onshore e uma planta de produção de gás natural offshore.
Planta de tratamento de gás natural: O sistema de tratamento considerado, nesse exemplo, permite a
especificação de 15 milhões de metros cúbicos diários de gás natural. O sistema elétrico é do tipo isolado, com
geração em 13,8 kV, e painéis de centro de distribuição de cargas (CDC) e CCM com tensões de 13,8 KV, 4,16
kV e 480 V. O sistema de geração é composto por três turbogeradores com capacidade de 25 MW cada,
totalizando uma potência instalada de 75 MW. Os principais consumidores são cinco compressores de gás de
venda, dois compressores de gás de reciclo e três compressores de gás propano, totalizando uma demanda de
48 MW. A unidade contará com sistema de geração de emergência à diesel, com capacidade para 2 MW.
Plataforma de produção de gás natural: O sistema de extração de gás natural nesse exemplo permite a
produção de até 10 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. O sistema elétrico é do tipo isolado, com
geração em 4,16 kV e painéis de CDC e CCM com tensões de 4,16 kV e 480 V. O sistema de geração é
composto por três turbogeradores com capacidade de 3,5 MW cada, acionados por turbinas aeroderivadas,
totalizando uma potência instalada de 10,5 MW. Adicionalmente ao sistema de geração principal, a plataforma
contará com um sistema de geração auxiliar (1,25MW) e com um sistema de geração de emergência (1,25
MW), ambos acionados por motor a combustão interna a diesel. A demanda esperada é de 5,5 MW.

Atendimento à NR 10
Apesar de finalidades e tamanhos distintos, os empreendimentos detalhados requerem ações semelhantes na
etapa de projeto, para garantir o pleno atendimento da norma. Os pontos aqui destacados foram identificados
por meio de auditorias contínuas durante a execução do projeto. Essa prática permitiu a mitigação de desvios
em momentos importantes do projeto, principalmente na aquisição dos equipamentos e recebimento deles no
canteiro de obras. A iniciativa de auditoria contínua foi aplicada em toda a fase do projeto, até a entrega da
planta industrial à equipe de operação.

Responsabilidade técnica: Atualmente os projetos executivos de instalações elétricas são desenvolvidos no


Brasil. Entretanto, alguns equipamentos e sistemas ainda são elaborados no exterior. Um exemplo disso são os
sistemas de geração elétrica em que os acionadores aeroderivados não são desenvolvidos no País. Dessa
maneira, surgem dificuldades no momento do registro do responsável técnico tanto nos desenhos quanto no
memorial descritivo dos sistemas de geração elétrica. Dado que profissionais estrangeiros não detêm registro
no Crea, a empresa fornecedora dos equipamentos deve nomear um responsável técnico de acordo com os
registros legais requeridos pela norma. Essa atitude insere uma queda de paradigma no relacionamento
consumidor-fornecedor e dificulta a negociação com empresas estrangeiras fornecedoras de equipamentos e
sistemas elétricos.

Memorial descritivo: A melhor prática para elaboração de um memorial descritivo é que a equipe que
projetou e concebeu o sistema registre os detalhes técnicos, riscos e filosofia de proteção no documento
pertinente. No entanto, antes da revisão da norma, tal prática não era realizada ou simplesmente eram
registrados os dados técnicos dos equipamentos. Por exemplo: tensão nominal, frequência, corrente nominal,
entre outros.
Em suma, não existia critério para a elaboração do memorial descritivo. Devido à quantidade significativa de
novos empreendimentos, foi elaborado um procedimento administrativo interno, detalhando a elaboração do
memorial descritivo. Dessa forma, os fornecedores, além de elaborarem o documento de acordo com os
requisitos legais, seguem uma padronização para utilização em plantas similares. Essa ação permite que a
avaliação dos riscos de plantas novas considere as experiências de outros empreendimentos.
A principal dificuldade nessa etapa foi à conscientização de fornecedores estrangeiros. Dado que a NR 10 é
requisito legal brasileiro e não norma técnica com abrangência internacional, os fornecedores resistem à ideia
da elaboração de um documento como o memorial descritivo. Alguns fornecedores alegam que esse documento
requer informações técnicas estratégicas e outros alegam que o produto vai custar mais caro, devido à análise
de risco ao trabalhador.

Aterramento temporário: Os equipamentos fabricados no Brasil já contemplam a necessidade do


aterramento temporário. O desenho dos painéis foi modificado e foram inseridas diversas facilidades aos
trabalhadores, como disjuntores com aterramento automático. Entretanto, ainda existem dificuldades quando
os fornecedores são estrangeiros. As fábricas estrangeiras de equipamentos elétricos não aceitam facilmente as
modificações determinadas pela NR 10. O resultado disso é o aumento do custo do equipamento e, em casos
mais graves, de modificações provisórias sem garantia técnica.
Considerando que a indústria do petróleo importa diversos sistemas prontos por falta de manufatura nacional, a
inserção obrigatória do aterramento temporário ainda vai causar muitas dificuldades para aquisições
estrangeiras.

Certificados Ex: A fase de construção e montagem é o momento mais crítico para esses equipamentos
especiais, por duas razões. Primeiro, na etapa de recebimento de material é quando os importantes certificados
são entregues. Segundo, nessa etapa são montados acessórios de instalação que garantem a segurança de
todo o sistema elétrico, como seladores, caixas de passagens, bujões, entre outros.
Para o caso de compras de sistemas prontos do exterior, os certificados devem ser exigidos no momento do
desembaraço alfandegário, garantindo o cumprimento da NR 10 desde a entrada dos equipamentos no Brasil. A
prática desenvolvida foi o treinamento específico para os trabalhadores responsáveis pela aquisição de
materiais e também para os almoxarifes. Outro curso voltado para técnicos de construção e montagem foi
desenvolvido para difundir os quesitos específicos dos equipamentos “Ex”.

Treinamento: Todos os trabalhadores envolvidos com intervenção em instalação elétrica devem estar
treinados em NR 10, assim como os da fase de construção da planta industrial. Além disso, treinamentos
específicos para os procedimentos internos são desenvolvidos. Nessa etapa, foi identificada a necessidade de
formação de instrutores internos para ministrar os cursos. Para os trabalhadores que interagem
frequentemente com a instalação elétrica, é de suma importância a apresentação dos riscos expostos e as
ações mitigatórias. Portanto, foi verificado que os treinamentos ministrados por trabalhadores experientes da
empresa obtiveram maior retenção de conhecimentos em segurança pelos alunos. Uma prática desenvolvida foi
a constante reciclagem dos instrutores em universidades e institutos renomados.

Energia incidente: Na etapa do projeto, foi exigida junto ao corpo de engenharia a elaboração do estudo de
energia incidente, com aderência aos estudos de curto-circuito, proteção, coordenação e seletividade. Essa
prática tornou-se parte comum dos estudos elétricos, de tal forma a já serem consideradas medidas de
proteção ao trabalhador desde o momento da elaboração da filosofia do sistema elétrico. Como consequência,
os limites de curto-circuito das instalações foram diminuídos e as proteções readequadas para garantir a
segurança dos trabalhadores.

Alta tensão: O incremento do sistema elétrico em novos empreendimentos tem como característica a
utilização de alta tensão tanto na geração de energia quanto na alimentação de grandes cargas. Os projetos
aqui considerados detêm essa mesma característica. Para a garantia de segurança na realização de
intervenções nos painéis de alta tensão, foram verificados com os fabricantes os potenciais fatores de risco. Por
meio de medidas construtivas, alguns riscos foram minimizados.
Por meio da identificação dos riscos, foi elaborado um treinamento específico para os trabalhadores. Além
disso, foram determinados os tipos de ferramentas e os equipamentos para proteção individual (EPI) para
tarefas em alta tensão. A principal dificuldade nessa etapa foi o planejamento para testes dielétricos nos
equipamentos determinados pela norma e a identificação de laboratórios credenciados para tal.

Requerimentos gerais
O processo de adequação à NR 10 tem características diversas, conforme abordado neste trabalho. Entretanto,
a realização de uma detalhada análise de abrangência permite identificar ações comuns para plantas industriais
em quaisquer etapas, sejam elas de projeto, construção, montagem, operação e manutenção. Basicamente os
pontos que remetem a um procedimento administrativo são passíveis de padronização e replicação corporativa.

Treinamento: Cursos de reciclagem NR 10, serviços em alta tensão e equipamentos elétricos para atmosferas
potencialmente explosivas são padronizados e ministrados por trabalhadores envolvidos com as instalações
elétricas.

Aquisição de materiais: Ferramentas, placas de sinalização, EPIs e EPCs são devidamente padronizados e
controlados conforme procedimento administrativo interno.

Prontuário e memorial descritivo: Os documentos legalmente exigidos pela norma e que devem ser
elaborados pelo corpo técnico são padronizados em conteúdo básico e a apresentação por meio de
procedimento administrativo interno.

Procedimentos operacionais: Orientações a cerca de segurança para serviços em eletricidade,


desenergização e energização de circuitos elétricos, permissão para trabalho e manutenção em equipamentos
“Ex” são padronizados por meio de procedimento administrativo interno. Nessa etapa, são elaboradas listas de
verificação, de forma a relembrar continuamente o trabalhador da avaliação dos riscos. Na ocorrência de algum
item não conforme durante a verificação, o trabalho não é realizado até que o risco seja mitigado.

Conclusão
O pleno atendimento dos requisitos da revisão da NR 10 não é tarefa simples e trivial. A complexidade das
plantas industriais, alinhada a quesitos de confiabilidade e vida útil, requer metodologia na elaboração de um
plano de ação. As necessidades devem ser identificadas como pontuais ou abrangentes. Dessa forma, é
possível separar as ações que contêm abrangência corporativa e permite padronizações e as pontuais que
requerem soluções personalizadas.
O diferente nível de execução dos projetos requer diferentes abordagens em relação à NR 10. Enquanto
unidades antigas buscam a recuperação de documentos técnicos, novos empreendimentos já consideram a
elaboração de estudos específicos no projeto executivo. Além disso, o acompanhamento contínuo ao longo da
obra permite a entrega da instalação para a operação sem passivo legal. Os requisitos que dependem do
sistema de gestão sugerem a importância da criação de um sistema capaz de gerir com eficiência toda a
documentação necessária, provendo também uma sistemática que permita que as atualizações possam ser
realizadas com eficácia.
Muitos fornecedores estrangeiros ainda não estão alinhados com a nova legislação, dificultando a aquisição de
equipamentos e sistemas em conformidades com a norma. A consolidação da experiência dos trabalhadores é
fundamental no desenvolvimento de treinamentos e procedimentos relacionados com a segurança operacional.
Finalmente, a revisão da NR 10 melhorou a segurança nos serviços com eletricidade. Os requisitos da gestão
incrementaram a qualidade dos procedimentos operacionais e facilitaram a padronização dos documentos
técnicos.

FONTE - Revista O SETOR ELÉTRICO - EDIÇÃO 51 – ABRIL-2010

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