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6 de 17 a 23 de março de 2011 brasil

Sindijor

fatos em foco
Hamilton Octavio de Souza

Aproximação
As posições do governo Dilma nas
comunicações – papel da Telebrás,
regulação da banda larga etc – estão
sendo bem recebidas pelos empresá-
rios e pela mídia conservadora. Pri-
meiro a Folha de S. Paulo comemo-
rou o discurso da presidente no ani-
versário do jornal; depois, articulista
da Opus Dei no Estadão teceu elogios
à “visão da presidente”; e no dia 9 de
março o próprio editorial do Estadão
endossou o “bom começo” do atual
governo. É assim mesmo ou algo está
fora de lugar?

Equívoco danoso
De 2003 a 2010, no governo Lula,
a importação de produtos industriais
saltou de 13,8% para 24% do que é
consumido no Brasil. Essa política de
importação não apenas reduz o par-
Protesto do Sindijor em rua de Curitiba que industrial nacional, provoca de-
semprego, rebaixa a renda, aumenta
a dependência externa e a influência

Desde outubro, jornalistas do do dólar na economia, mas, sobretu-


do, faz o país perder o conhecimento
e o domínio da tecnologia. Andamos
para trás!

Paraná lutam por aumento real Modelo global


Em 10 anos (1988-2008), a renda
per capita média dos principais países
desenvolvidos – EUA, Japão, Alema-
nha, França, Inglaterra, Itália, Canadá
PARANÁ Outros dilemas do fim do jornal Diário Popular como em- mo, por que ele não acontece de fato? O e Austrália – passou de 18 mil dólares
presa, do fim de um jornal de Foz do Igua- jornalista às vezes faz a autocensura, pior para 43 mil dólares; no mesmo pe-
da categoria são a çu também como jornal impresso, mas do que aquela que ocorria na época da di- ríodo, a renda média nos principais
que são casos isolados, de gestões para lá tadura militar. países subdesenvolvidos – China, Ín-
jornada, a intensificação de descabidas. Ou seja, você não sabe ad- dia, Brasil, Rússia, Indonésia, México,
do trabalho e o ministrar uma empresa e a fecha por falta Pode aprofundar esta questão Argentina e África do Sul – passou
de competência da sua administração. da ampliação das empresas em de 1.300 dólares para 6 mil dólares.
fechamento de postos contradição com a oferta de A diferença de renda entre os grupos
O Diário Popular, fechado em trabalho restrita? aumentou mais de 120%.
2010, com um importante parque Temos problemas de empregabili-
gráfico que agora está abandonado, dade. Não é fácil conseguir emprego Combatividade
Pedro Carrano foi um exemplo disso? em uma empresa de comunicação ho- Uma categoria profissional consti-
de Curitiba (PR) O Diário Popular foi um caso absurdo. je em dia. O número de postos de tra- tuída nos últimos anos, a dos traba-
[O proprietário] era um achacador, entre balho não tem aumentado significativa- lhadores em tecnologia da informa-
JÁ SE VÃO CINCO meses e a categoria os empresários de comunicação, que fun- mente, embora as empresas têm cresci- ção, decidiu, no estado de São Paulo,
dos jornalistas do Paraná não acertou a cionava como testa de ferro de outras em- do e apresentado novos produtos para o decretar estado de greve e ingressar
data-base de 2010, justamente o ano con- presas, e buscava dinheiro do Estado pa- mercado editorial. Ao mesmo tempo, vo- com dissídio coletivo na Justiça do
siderado pelos índices da economia co- ra colocar nessas empresas. Ele morreu e cê tem um número muito grande de ins- Trabalho. Eles reivindicam 11,9% de
mo favorável ao aumento salarial. As em- não havia ninguém que pudesse substituí- tituições colocando em média entre 400 reajuste salarial, participação nos
presas de comunicação – em que figuram lo, muito menos as duas filhas, que herda- a 600 novos “profissionais” no mercado lucros das empresas, vale refeição de
o Grupo Paranaense de Comunicação ram um veículo de comunicação impres- de trabalho. A falta de empregabilida- R$15 e ampliação dos pisos da cate-
(GPRcom) e o Grupo Paulo Pimentel (do so, muito enxuto, com oito jornalistas, de é fruto desse número elevado, desse goria. No último ano, o crescimento
ex-governador e empresário da comuni- mas que era muito mais um parque gráfi- grande exército de reserva. É possível fa- do setor chegou a 15%.
cação), entre outros, recusam-se explici- co, porque uma redação com oito jornalis- zer uma leitura marxista dessa situação:
tamente a conceder reajuste acima da in- tas não dá conta sequer de uma cidade co- quando se vê muita gente para trabalhar Denominação
flação. Como informa o Sindicato dos Jor- mo Curitiba, que dirá de uma Região Me- e pouco posto de trabalho disponível, A continuar com a acelerada desna-
nalistas do Paraná (Sindijor-PR), dentre tropolitana com quase 3,5 milhões de pes- [o empresário] consegue rebaixar o va- cionalização da agroindústria da ca-
as 500 maiores empresas do sul do país, soas. É uma situação absurda, e a maioria lor daquilo que se paga. Acabei de rece- na, açúcar e etanol, dentro de algum
encontra-se o Grupo GRPcom, que teve dos veículos de comunicação no Paraná ber uma denúncia de uma revista que es- tempo chamar os usineiros de “heróis
lucro líquido de 73,58% em 2009. trabalha dessa mesma maneira, com en- tá pagando R$ 1.200 (o piso da categoria nacionais” vai soar mais estranho
“É um fenômeno, e quanto eles oferta- xugamento. Perdemos muitos postos de é R$ 2.049,11) por jornalista, anuncian- ainda, já que chineses, coreanos e
ram para os trabalhadores? Nada. Paga- trabalho nos últimos 15 anos, que rara- do aos quatro ventos. outros grupos empresariais estão
ram um programa de participação nos re- mente são repostos. E um jornalista traba- tomando conta do setor. Na última
sultados (PPR) no qual eles tomaram dos lha às vezes duas, três vezes, substituindo semana, a British Petroleum adquiriu
trabalhadores 2%, porque não teve re- dois ou três colegas demitidos e não tem “O jornalista às vezes faz a três usinas em Itumbiara (GO), Ituiu-
posição integral da inflação”, denuncia o nenhum centavo de reposição salarial, aí taba (MG) e Campina Verde (MG).
presidente do Sindijor, Márcio Rodrigues. quem perde – além da categoria dos jor- autocensura, pior do que aquela que O Brasil entra com a terra, água, sol,
Em entrevista ao Brasil de Fato, o sin- nalistas, que é um problema econômico – verbas públicas e mão de obra barata.
dicalista analisa a condição da categoria, é o conjunto da sociedade, quando você vê ocorria na época da ditadura militar”
impasses como a mobilização, a jornada que o jornalismo praticado não é questio- Luta ambiental
de trabalho e a dispensa de mão de obra nador. Não é pecado do próprio profissio- A Comissão Interamericana de Di-
nos locais de trabalho. nal, mas com duas ou três pautas para es- reitos Humanos da OEA encaminhou
crever por dia é praticamente impossível Nesse contexto, a aplicação da ao governo brasileiro, dia 10, pedido
Brasil de Fato – O prolongamento um momento de reflexão, você faz de ma- jornada de trabalho de cinco de informações sobre o licenciamento
da data-base é uma situação nova neira mecânica a coisa. horas, no Paraná, foi feita da hidrelétrica de Belo Monte, no rio
que o sindicato enfrenta? sem qualquer contratação por Xingu, no Pará, sem que as comuni-
Márcio Rodrigues – Não. Em alguns parte dos empresários? dades indígenas tenham sido ouvi-
momentos, quando a inflação foi maior, “Não é pecado do próprio Precisamos fazer outra leitura. Os de- das. O Movimento Xingu Vivo, com
tivemos uma negociação mais prolonga- mais estados, pressionados pelos empre- o apoio de mais de 40 entidades e
da, mais difícil de encontrar uma solução. profissional, mas com gadores, adotaram a jornada estendida de movimentos sociais, pede a imediata
Mas, segundo o Dieese, diante do quadro sete horas. Nós não deixamos isso acon- suspensão da licença dada ao consór-
econômico que vivemos pelo menos nos
duas ou três pautas tecer. Porque a determinação da jornada cio Norte Energia. A luta continua.
últimos seis anos, tivemos um crescimen- para escrever por dia é de cinco horas está na CLT desde 1943.
to no número de negociações positivas, Nunca deixamos que isso fosse estendi- Crise anunciada
nas quais os trabalhadores receberam aci- praticamente impossível do. Existe tanto a jornada estendida quan- Aumentou pouco, mas continua
ma da inflação. Esses números vieram to a jornada de cinco horas, e aí são pisos em elevação o número de falências
num crescente a partir de 2004 até atin- um momento de reflexão” diferenciados. O que temos aqui no Para- requeridas nos últimos três meses:
gir 87% de categorias que receberam au- ná é um piso único e uma jornada única. em dezembro de 2010 foram 124 em-
mento real no semestre passado. Nos últi- Em 2009, infelizmente, por força da pres- presas; em janeiro de 2011 subiu para
mos seis anos, é muito próximo de 100% o são patronal e da falta de esclarecimento 131empresas; e em fevereiro aumen-
número de categorias que em algum mo- Apesar do discurso de dos nossos colegas que trabalham em de- tou para 134 empresas. Os analistas
mento receberam aumento real. E os jor- neutralidade que incide sobre terminada empresa, “conseguimos” per- do indicador Serasa Experian consi-
nalistas do Paraná fazem jus por receber o jornalista, é fato que os der essa grande conquista. Perdemos a deram que essa tendência é resultado
algum tipo de reconhecimento, como eles empresários da comunicação oportunidade de manter aquilo que os do aumento dos juros, crédito mais
estão inseridos na economia como um to- são articuladores políticos. Uma empresários e alguns jornalistas com a caro e desaceleração da economia.
do, nós também fizemos com que o bolo forma de politizar a categoria é visão de “desenvolvimentismo” (para au- Até onde vai?
crescesse. Nesse sentido, lutamos por au- unir-se a lutas políticas, como a mentar a exploração) entendem como um
mento real. democratização da comunicação? absurdo, pois o jornalista tem que traba- Alteração legal
É necessário resgatar isso em relação às lhar bastante. A derrota de 2009 é que nas Projeto de Lei da deputada federal
novas gerações de jornalistas. Até porque, empresas da RPC (retransmissora da Re- Luiza Erundina (PSB-SP) dá nova
“Perdemos muitos em função dessa pouca mobilidade no ce- de Globo), que agora é GRPcom, os jorna- interpretação para a Lei da Anistia,
nário laboral, abrindo poucas vagas, pou- listas são obrigados a trabalhar seis horas aprovada na Ditadura Militar. Con-
postos de trabalho nos ca gente tem entrado nos veículos de co- internamente, e sete horas externamente. sidera que não podem ser contem-
últimos 15 anos, que municação, e as mudanças que ocorrem A reportagem tem que trabalhar sete ho- plados na lei de 1979 os crimes cone-
vêm no sentido de “eu não aguento mais ras, e seis horas quem trabalha interno. xos, que são aqueles praticados por
raramente são repostos” esse salário ridículo então vou mudar de Eles abriram mão, primeiro do único gati- agentes do Estado, militares ou civis,
atividade”. Em relação à mobilização e lho que existe no Paraná para repor perda contra pessoas envolvidas na luta
às outras questões sociais: a questão dos salarial, que é o anuênio, e abriram mão política contra o autoritarismo. O
sem terra, dos trabalhadores de outras também de parte da reposição de inflação projeto deixa claro que a anistia não
O sindicato esperava essa categorias, da democratização da comu- do período, fechado junto com a Conven- abrange torturadores e assassinos do
reação da patronal? nicação, são importantes para o conjun- ção Coletiva. Abriram mão de ter esta jor- regime militar.
Sim. Eles infelizmente são mesquinhos. to da sociedade, mas pouco vemos par- nada reduzida, e receberam como contra-
Embora seja público e notório que anual- ticipação a não ser de jornalistas que in- partida essa hora a mais pré-contratada, Criminalização
mente eles atualizam seus carros, adqui- felizmente não atuam nos veículos de co- paga a 50%, sendo que a nossa Convenção Alvo de escandalosa armação da
rem novos bens, sempre viajando e apro- municação. Parece que, à medida que vo- Coletiva estabelece que a hora-extra deve- polícia e do Ministério Público de
veitando a vida da melhor maneira possí- cê entra em um veículo de comunicação, ria ser paga a 100%. Ou seja, abriram mão São Paulo, o líder do Movimento de
vel, todos que trabalham para eles preci- você já está tão direcionado, que eu queria de muitas conquistas históricas da catego- Moradia do Centro, Luiz Gonzaga da
sam apertar muito o cinto. É uma situa- “conhecer o pauteiro” que pauta da Glo- ria no Paraná. Silva, Gegê, será levado a julgamento
ção completamente absurda, na qual per- bo à CNT, passando por todas as outras nos dias 4 e 5 de abril. Ele é acusado
cebemos que eles ficam mentindo na mesa TVs. E aí o espaço público é ocupado sem- injustamente por homicídio ocorrido
de negociação, dizendo que os veículos de pre pelas mesmas discussões e no mesmo QUEM É em 2002 num acampamento de sem
comunicação estão quebrados. Utilizam o viés, e pouco se vê discussões novas, fon- Márcio Rodrigues é presidente do Sindicato teto, sendo que o verdadeiro autor
exemplo de alguns jornais que fecharam tes que pensem diferente do que é o esta- dos Jornalistas do Paraná (Sindijor-PR) e repór- do crime – já reconhecido – não foi
no Paraná, como é o caso do fim da edição belecido como o principal, e a gente pen- ter do jornal O Estado do Paraná. investigado pela polícia. Liberdade
impressa do jornal O Estado do Paraná, sa que seria tão bom praticar o jornalis- para Gegê! Chega de perseguição!

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