You are on page 1of 64

1.1.

Origem

O início do século XIX marca o surgimento do direito administrativo como ramo


autônomo da ciência do Direito. Anteriormente, o tratamento jurídico das
funções administrativas do Estado estava inserido no direito comum, sem
especificação ou preocupações próprias.

É comum a afirmação de que o direito administrativo nasceu com as


Revoluções que puseram fim ao velho regime absolutista. Foi com o Estado de
Direito que se cogitou de normas delimitadoras da organização e da ação do
Poder Público.

Para a formação do direito administrativo foram fundamentais as contibuições


do direito francês, do direito alemão e do direito italiano.

A delimitação do objeto, do método, dos institutos, dos princípios e do regime


jurídico próprios do direito administrativo ocorreu, preponderantemente, na
França. A jurisprudência do Conselho de Estado, órgão máximo da jurisdição
administrativa, apartada da jurisdição comum (sistema da dualidade de
jurisdição), foi a maior responsável pelos avanços da França nesta área.

No famoso caso Blanco, ocorrido em 1873, restou decido que a apreciação da


responsabilidade civil do Estado, decorrente do atropelamento da menina
Agnès Blanco por veículo da Companhia Nacional de Manufatura de Fumo,
deveria ser realizada pelos órgãos da jurisdição administrativa em termos
publicísticos, afastado o direito civil, pela presença do Estado como parte.

1.2. Objeto

O objeto ou conteúdo do direito admnistrativo varia, assim como o Estado, no


tempo e no espaço. Inicialmente, as atividades da Administração Pública
abrangiam a segurança interna e externa e alguns serviços (públicos)
essenciais. O crescimento das necessidades coletivas, segundo concepções
políticas e econômicas bem definidas, centradas sobretudo no chamado
Estado Social, alargou as funções administrativas do Poder Público. Os
serviços públicos passaram a abranger serviços sociais, comerciais e
industriais. O poder de polícia chegou a proteção ao meio ambiente e a defesa
do consumidor. A atuação do Estado atingiu à esfera da atividade econômica
de natureza privada. A atividade administrativa passou a incentivar a iniciativa
privada de utilidade pública com subvenções, financiamentos, benefícios fiscais
e outros. Em suma, a administração passou a abranger, num sentido bem
amplo: fomento, polícia, serviço público e intervenção.
1.3. Conceito

O conceito de direito administrativo depende do critério adotado para formulá-


lo. Neste sentido, encontramos os seguintes critérios principais:

a) do serviço público;

b) do Poder Executivo;

c) das relações jurídicas (rege as relações entre a Administração e os


administrados);

d) teleológico (rege a atividade do Estado para o cumprimento de seus fins);

e) negativo ou residual (aquilo que não seja atividade legislativa ou judicial);

f) da Administração Pública.

Vejamos duas definições:

a) de Hely Lopes Meirelles: "conjunto harmônico de princípios jurídicos que


regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realiza
concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado".

b) de Maria Sylvia Zanella Di Pietro: "ramo do direito público que tem por objeto
os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a
Administração Pública, a atividade jurídica não contenciosa que exerce e os
bens de que se utiliza para a consecução de seus fins, de natureza pública".

2.1. Introdução

2.1.1. Estado: Povo + Território + Governo Soberano + Fins

ESTADO GOVERNO ADMINISTRAÇÃO


Fins Políticas Instrumentos
Constituição Leis Atos (administrativos)

A consideração dos FINS como elemento componente do Estado tem relação


com o desenvolvimento da idéia de Estado Social, justamente aquele que
intervém nas searas social e econômica para realizar os ideiais da justiça
social.
Os principais fins do Estado brasileiro estão previstos no art. 3o. da
Constituição sob a denominação de "objetivos fundamentais"

2.1.2. Poderes e Funções do Estado

PODER Função Principal Funções Residuais


Executivo Administrar Legislar/Julgar
Legislativo Legislar Administrar/Julgar
Judiciário Julgar Administrar/Legislar

Atentar para o art. 37, caput da Constituição e para o art. 1o., §1o. da Lei n.
9.784, de 1999, no sentido da existência da função administrativa, embora
residual, no âmbito dos Poderes Legislativo e Judiciário. Quando o Legislativo
e o Judiciário organizam concursos para provimento de cargos vagos estão
realizando atividade administrativa.

2.1.3. Conceito de Administração Pública

Conjunto de órgãos, agentes e atividades públicas tendentes a realizar


concreta (a), direta (b) e imediatamente (c) os fins desejados pelo Estado.

(a) não é abstrata como a legislativa; (b) não é indireta como a judicial e (c) não
é mediata como a ação social do Estado

2.1.4. Características da Administração Pública

a) pratica atos executivos (ou administrativos)

b) exerce atividade politicamente neutra

c) hierarquizada

d) pratica atos com responsabilidade técnica e legal

e) caráter instrumental

f) age segundo competências definidas previamente


2.2. Regime Jurídico da Administração Pública

A Administração Pública pode submeter-se a regime jurídico de direito privado


ou de direito público. O primeiro está caracterizado pela igualdade
(horizontalidade) em torno de interesses individuais. Já o segundo, pressupõe
uma desigualdade ou supremacia (verticalidade) em torno de interesses
públicos.

A opção ou escolha por um dos regimes jurídicos é realizada pela Constituição


ou pela lei. Exemplos: arts. 173, §1o. (exercício de atividade econômica por
empresas do Estado) e 175 (prestação de serviço público) da Constituição de
1988. Não se admite a escolha por meio de ato administrativo.

Quando a Administração Pública se utiliza de modelos privatísticos não ocorre


a sumissão completa ao direito privado. Subsistem privilégios (juízo privativo,
prescrição qüinqüenal, etc) e restrições (competência, publicidade, etc)
próprios do Poder Público.

2.3. Regime Jurídico-Administrativo

O regime jurídico-administrativo caracteriza o Direito Administrativo. Consiste


num conjunto de PRERROGATIVAS e SUJEIÇÕES próprios da atividade
pública. Neste sentido, a atividade pública constitui uma função. Função, para
o Direito, é o poder de agir cujo exercício traduz verdadeiro dever jurídico e que
só se legitima quando dirigido ao atingimento da finalidade legal específica.

A formação histórica do direito administrativo explica a tensão fundamental


entre prerrogativas e sujeições. De um lado, a Administração Pública precisa
realizar ou satisfazer interesses da coletividade. De outro lado, os direitos
individuais precisam ser respeitados, segundo a legalidade posta.

Muitas das prerrogativas e sujeições típicas do regime jurídico-administrativo


são manifestadas sob a forma de princípios.

2.4. Princípios Jurídicos

Analise as seguintes normas constitucionais:


Hipótese 1

"somente por lei específica poderá ser criada autarquia"

Hipótese 2

"Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo
serão aposentados compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com
proventos proporcionais ao tempo de contribuição"

Agora considere as seguintes situações e as normas constitucionais


subjacentes:

Situação 1

Pedro Cela, preso numa certa penitenciária administrada pelo Estado de São
Paulo, faz greve de fome para protestar e denunciar as péssimas condições da
prisão.

Norma 1: direito de manifestar opinião (liberdade de expressão)

Norma 2: direito à vida

Situação 2

O Fisco, adotando os procedimentos previstos em lei, intima um certo banco a


informar a movimentação financeira do contribuinte Paulo Vivaldino Sonegas.

Norma 1: direito do Fisco identificar os rendimentos do contribuinte

Norma 2: direito de intimidade e vida privada do contribuinte

Assim, podemos constatar a presença de dois tipos de normas, notadamente


na Constituição: as regras e os princípios.

2.4.1. Regras
"Contêm relato mais objetivo, com incidência restrita às situações específicas
às quais se dirigem".

São proposições normativas aplicáveis mediante subsunção. "Se os fatos nela


previstos ocorrem, a regra deve incidir, de modo direto e automático,
produzindo seus efeitos". Caso contrário, não há incidência. Portanto, é tudo
ou nada (all or nothing).

A regra somente deixa de incidir sobre a hipótese de fato se for inválida, se


houver outra mais específica ou se não estiver em vigor.

Os conflitos entre regras são resolvidos com o recurso a três critérios: o da


hierarquia, o cronológico e o da especialização.

2.4.2. Princípios

"Têm maior teor de abstração", referindo-se a um conjunto de situações


relativamente amplo.

Trata-se de uma categoria jurídica muito antiga. Normalmente, era atribuída


uma dimensão puramente axiológica aos princípios, sem eficácia jurídica ou
aplicabilidade direta ou imediata. Seriam cânones dirigidos e a serem
observados pelo legislador.

Atualmente, existe o reconhecimento da normatividade dos princípios, ou seja,


o status de norma jurídica.

Mais do que a natureza ou status de norma jurídica, os princípios foram


conduzidos ao centro do sistema jurídico. Neste sentido, a Constituição passa
a ser entendida como um sistema aberto de princípios e regras destinado a
realizar valores (com dimensão suprapositiva). O direito, portanto, visto como
sistema aberto, sofre a "... permeabilidade a elementos externos e renuncia à
pretensão de disciplinar, por meio de regras específicas, o infinito conjunto de
possibilidades apresentadas pelo mundo real".

Os princípios são os principais canais de comunicação entre o sistema de


valores e o sistema jurídico. Não comportam, pois, enumeração exaustiva.
"Passam a ser a síntese dos valores abrigados no ordenamento jurídico,
espelham a ideologia da sociedade, seus postulados básicos e seus fins".

"Numa ordem pluralista e dialética, existem princípos que abrigam decisões,


valores ou fundamentos diversos, por vezes contrapostos".

A aplicação dos princípios, notadamente quando contrapostos, dá-se por


ponderação (de valores ou interesses). Impõe-se, aqui, fazer escolhas
fundamentadas, fazer concessões recíprocas e preservar, na medida do
possível, o núcleo mínimo do valor que perde força.
Nesse contexto, princípios clássicos (igualdade, liberdade, separação de
Poderes) passam a conviver com novos "irmãos", tais como: razoabilidade e/ou
proporcionalidade, dignidade da pessoa humana, solidariedade.

Não existe, em função do princípio da unidade da Constituição, hierarquia entre


princípios e regras. Existe, isto sim, diversidade de funções. Ademais, uma
regra pode ser interpretada ou aplicada de forma semelhante ao princípio
(quando contém um termo ou expressão indeterminada). É possível que uma
regra excepcione um princípio. Um princípio pode paralisar a incidência de uma
regra.

Registre-se o surgimento de uma moderna hermenêutica constitucional. Entre


os princípios instrumentais e específicos de interpretação da Constituição
encontramos: supremacia, presunção de constitucionalidade das leis e atos do
Poder Público, interpretação conforme a Constituição, unidade, razoabilidade e
efetividade.

Essas considerações realizadas acerca dos princípios (constitucionais) revelam


o cerne do constitucionalismo moderno (atual), de nítida inspiração pós-
positivista.

2.5. Princípios Informativos do Direito Administrativo

Celso Antônio Bandeira de Mello, com bastante propriedade, afirma que todo o
Direito Administrativo se constrói sobre os princípios da SUPREMACIA DO
INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PARTICULAR e da INDISPONIBILIDADE,
PELA ADMINISTRAÇÃO, DO INTERESSE PÚBLICO. Estes dois princípios
traduziriam, respectivamente, a prerrogativa e a sujeição básicas ou
fundamentais do regime jurídico-administrativo. A partir deles seria possível
encontrar toda uma série de principios próprios do regime.

Por interesse público deve ser entendido o interesse da coletividade como um


todo, conforme previsto da ordem jurídica posta. Estes são chamados de
interesses públicos primários. Os interesses públicos secundários, do Estado
como simples sujeito de direito, normalmente coincidentes com estritos
interesses patrimoniais ou financeiros, somente devem ser atendidos quando
em consonância com os interesses primários.

2.5.1. Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Particular

O princípio pode ser flagrado nas posições de privilégio e supremacia do órgão


público. Daí resulta a exigibilidade dos atos administrativos e, em certos casos,
a executoriedade. Outra típica manifestação está na autotutela (possibilidade
de revogar ou anular seus atos por manifestação unilateral).

Não se perca de vista que a supremacia do interesse público não é um valor


em si. A supremacia, como componente da função administrativa, é
instrumento para a realização de finalidades legais, segundo os critérios e
procedimentos consagrados na ordem jurídica.

2.5.2. Princípio da Indisponibilidade, pela Administração, do Interesse Público

O órgão deve guardar, defender, manter e realizar os bens e os interesses que


administra. Não pode dispor deles. A disponibilidade dos bens públicos está
reservada à manifestação legislativa.

2.5.3. Princípio da Legalidade

A lei é o fundamento de toda e qualquer ação administrativa. Assim, o


administrador só pode agir se estiver autorizado por lei. Administrar é aplicar a
lei de ofício. AO PARTICULAR É PERMITIDO FAZER TUDO QUE A LEI NÃO
PROÍBE. O ADMINISTRADOR SÓ PODE FAZER O QUE A LEI AUTORIZA (e,
ainda assim, quando e como autoriza). Ver o art. 37, caput da Constituição.

2.5.4. Princípio da Moralidade

A moralidade constitui hoje pressuposto de validade de todo ato administrativo.


A Constituição de 1988 consigna expressamente que um ato administrativo
pode ser anulado, através de ação popular, por violação à moralidade
administrativa (art. 5o., inciso LXXIII). Assim, ao atuar o administrador não
pode desprezar o elemento ético de sua conduta, devendo pautar-se pela
moral média ou comum. Afinal, nem tudo que é legal é honesto. Tratando-se de
conceito jurídico indeterminado, comporta uma atividade interpretativa mais
generosa.

2.5.5. Princípio da Finalidade


Impõe que o administrador só pratique o ato para obter o fim legal. O
administrador deve perseguir o interesse público (primário) contido na lei. O
favorecimento ou prejuízo de alguém não pode ser o fim do ato administrativo,
e sim, decorrência da obtenção do objetivo previsto na norma legal. O
afastamento do administrador da finalidade de interesse público, conforme
previsão legal, caracteriza o vício de desvio de finalidade.

2.5.6. Princípio da Impessoalidade

A atividade administrativa está voltada para os administrados em geral, sem


determinação de pessoa ou discriminação de qualquer natureza. Implica em
que a concessão de benefício singular, insuscetível de utilização generalizada,
deve ser precedida de certame entre os interessados aptos, a exemplo do
concurso público e da licitação. Celso Antônio Bandeira de Mello afirma que se
trata do próprio princípio da isonomia ou igualdade. Já Hely Lopes Meirelles
ensina que essa proposição nada mais é que o clássico princípio da finalidade.
Por sua vez, José Afonso da Silva identifica que este princípio impõe a
imputação dos atos administrativos ao órgão ou entidade, e não, aos
funcionários.

2.5.7. Princípio da Publicidade

Apresenta um duplo sentido. Como transparência da ação administrativa


permite o controle sobre a conduta do administrador. Impõe a ciência dos atos
administrativos como requisito de validade e eficácia dos mesmos. A regra da
publicidade dos atos administrativos comporta exceções, a exemplos dos
assuntos de segurança nacional e investigações. A publicação que gerará os
efeitos jurídicos adequados é a do órgão oficial. Atentar para os arts. 26 a 28
da Lei n. 9.784, de 1999.

2.5.8. Princípio da Eficiência

O administrador não deve, tão-somente, perseguir as finalidades previstas ou


consagradas em lei. Não deve alcançá-las de qualquer forma ou a qualquer
custo. Impõe-se a obtenção do melhor resultado, o resultado ótimo. Devem ser
observados os atributos de rapidez, perfeição e rendimento. O princípio foi
positivado na Constituição (art. 37, caput) pela Emenda n. 19, de 1998.
2.5.9. Princípio da Economicidade

Trata-se da verificação da eficiência das escolhas administrativas nas


perspectiva da relação custo-benefício. Está positivado no art. 70, caput da
Constituição de 1988.

2.5.10. Princípio da Motivação

Trata-se do dever de justificar os atos praticados. Devem ser apontados os


fundamentos de fato e de direito e a correlação lógica entre as situações
observadas e as providências tomadas. A motivação pode ser prévia oui
contemporânea à prática do ato. A motivação pode não constar do ato, se
presente no processo administrativo subjacente. Subsiste uma discussão
acerca da motivação ser obrigatória somente para os atos vinculados ou para
todos os atos (discricionários e vinculados). Observar o art. 50 da Lei n. 9.784,
de 1999.

2.5.11. Princípio da Continuidade

Os serviços públicos não podem parar, porque não param as demandas da


coletividade pelas utilidades neles presentes. Não se deve confundir
continuidade com permanência. Afinal, alguns serviços, pela própria natureza,
são intermitentes, a exemplo do eleitoral.

2.5.12. Princípio da Autotutela

O administrador deve policiar ou controlar os atos administrativos praticados.


Impõe-se, diante de inconveniência e inoportunidade, a revogação do ato. Se
existe ilegalidade presente, é o caso de invalidação por anulação. Neste
sentido é a Súmula 473 do Supremo Tribunal Federal ("A Administração pode
anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornem ilegais,
porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada,
em todos os casos, a apreciação judicial"). Conferir os arts. 53 a 55 da Lei n.
9.784, de 1999.

2.5.13. Princípio da Razoabilidade e Princípio da Proporcionalidade

Não há uniformidade de tratamento destes princípios. Diogenes Gasparini


afirma que a proporcionalidade é apenas um aspecto da razoabilidade. Celso
Antônio Bandeira de Mello, embora trate formalmente dos dois, consigna que a
proporcionalidade é faceta da razoabilidade. Maria Sylvia Zanella Di Pietro
ensina que a razoabilidade exige proporcionalidade. Odete Medauar entende
que é melhor englobar no princípio da proporcionalidade o sentido da
razoabilidade. Lúcia Valle Figueiredo trata do princípio da proporcionalidade ao
lado do da razoabilidade (como elementos distintos). Luís Roberto Barroso
entende que os dois são conceitos próximos o suficiente para serem
intercambiáveis.

A razoabilidade tem o sentido de coerência lógica nas decisões e medidas


administrativas. A atuação administrativa não pode ser desarrazoada, ilógica
ou incongruente. Deve ser a mais adequada para obter o fim legal (adequação
entre os meios e os fins). Fica evidente o traço qualitativo.

Já a proporcionalidade apresenta o sentido de exercício da competência


administrativa na extensão ou intensidade apropriadas ao que seja realmente
demandado para cumprimento da finalidade pública. Aqui ganha relevo o traço
quantitativo.

Encontramos a utilização da razoabilidade nos ordenamentos jurídicos norte-


americano e argentino. Os ordenamentos europeus, a exemplo do alemão e
francês, operam com a proporcionalidade.

Acreditamos que razoabilidade e proporcionalidade são idéias, conceitos ou


critérios ligados entre si, embora possuam sentidos próprios, na linha antes
referida. Assim, preferimos falar em princípio da proporcionalidade em sentido
amplo, desdobrado nos seguintes elementos (ou princípios):

(a) conformidade, adequação ou razoabilidade. O meio empregado deve


guardar adequação, conformidade, aptidão, no sentido qualitativo, com o fim
perseguido. Flagramos exatamente neste ponto o princípio da razoabilidade, na
sua formulação corrente;

(b) necessidade. Não há medida ou caminho alternativo para chegar ao mesmo


resultado com menor ônus a direito ou situação do atingido pelo ato;

(c) da proporcionalidade em sentido estrito. O que se perde com a medida tem


menor relevo do que aquilo que se ganha.
Inegavelmente, são mecanismos ou institutos voltados para o controle da
discricionariedade legislativa e administrativa.

O STF em várias decisões afirmou que o princípio da razoabilidade está


implícito no art. 5o., inciso LIV da Constituição. Seria o "princípio do devido
processo legal substantivo".

Já a Lei n. 9.784, de 1999, consagra expressamente os princípios da


razoabiliade e da proporcionalidade no art. 2o., caput.

2.5.14. Princípio da Segurança Jurídica

Está relacionado com a previsibilidade do Direito e a estabilidade das relações


jurídicas. A proibição da interpretação nova retroativa é um dos exemplos da
efetivação do princípio (art. 2o., §2o., inciso XIII da Lei n. 9.784, de 1999).

Leitura complementar

Teoria dos princípios (para uma aplicação dos princípios constitucionais da


Administração Pública)
de Denise Hauser

Princípio da legalidade na administração pública


de Luciana Varassin

Considerações sobre o controle de moralidade dos atos administrativos


de Vladimir da Rocha França

Princípio da eficiência e controle dos atos discricionários


de Robertônio dos Santos Pessoa

Notas para um debate sobre o princípio da eficiência


de Paulo Modesto

O Princípio da Razoabilidade e o Princípio da Proporcionalidade: uma


abordagem constitucional
de Carlos Affonso Pereira de Souza e Patrícia Regina Pinheiro Sampaio

Os Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade


de Luís Roberto Barroso
A RAZOABILIDADE CONSTITUCIONAL (o princípio do devido processo legal
substantivo aplicado a casos concretos)
de André L. Borges Netto

Legislação

Constituição de 1988

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais


e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,


idade e quaisquer outras formas de discriminação.

(Art. 5o.) LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular
que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o
Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento
de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

(art. 5o.) LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal;

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:

Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e


patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto
à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e
renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante
controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.

Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração


direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse
coletivo, conforme definidos em lei.
(*) Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 04/06/98: "§ 1º A lei
estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia
mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção
ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre:

I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade;

II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive


quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários;

III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações,


observados os princípios da administração pública;

IV - a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e fiscal,


com a participação de acionistas minoritários;

V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos


administradores."

§ 2º - As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão


gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado.

§ 3º - A lei regulamentará as relações da empresa pública com o Estado e a


sociedade.

§ 4º - A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos


mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.

§ 5º - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da


pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às
punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem
econômica e financeira e contra a economia popular.

Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime
de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de
serviços públicos.

Parágrafo único. A lei disporá sobre:

I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços


públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como
as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou
permissão;

II - os direitos dos usuários;

III - política tarifária;

IV - a obrigação de manter serviço adequado.


Lei n. 9.784 , de 29 de janeiro de 1999

Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1o Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo no


âmbito da Administração Federal direta e indireta, visando, em especial, à
proteção dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da
Administração.

§ 1o Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos Poderes


Legislativo e Judiciário da União, quando no desempenho de função
administrativa.

Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre


outros, os critérios de:

I - atuação conforme a lei e o Direito;

II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de


poderes ou competências, salvo autorização em lei;

III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção


pessoal de agentes ou autoridades;

IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;

V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de


sigilo previstas na Constituição;

VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações,


restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao
atendimento do interesse público;

VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a


decisão;
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos
administrados;

IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de


certeza, segurança e respeito aos direitos dos administrados;

X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à


produção de provas e à interposição de recursos, nos processos de que
possam resultar sanções e nas situações de litígio;

XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas


em lei;

XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação


dos interessados;

XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o


atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova
interpretação.

Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo administrativo


determinará a intimação do interessado para ciência de decisão ou a efetivação
de diligências.

§1o. A intimação deverá conter:

I - identificação do intimado e nome do órgão ou entidade administrativa;

II - finalidade da intimação;

III - data, hora e local em que deve comparecer;

IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se representar;

V - informação da continuidade do processo independentemente do seu


comparecimento;

VI - indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.

§2o. A intimação observará a antecedência mínima de três dias úteis quanto à


data de comparecimento.

§3o. A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por via postal com
aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio que assegure a certeza da
ciência do interessado.

§4o. No caso de interessados indeterminados, desconhecidos ou com domicílio


indefinido, a intimação deve ser efetuada por meio de
• Assine

• E-mail

• SAC

• Canais

publicação oficial.

§5o. As intimações serão nulas quando feitas sem observância das prescrições
legais, mas o comparecimento do administrado supre sua falta ou
irregularidade.

Art. 27. O desatendimento da intimação não importa o reconhecimento da


verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo administrado.

Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será garantido direito de


ampla defesa ao interessado.

Art. 28. Devem ser objeto de intimação os atos do processo que resultem para
o interessado em imposição de deveres, ônus, sanções ou restrição ao
exercício de direitos e atividades e os atos de outra natureza, de seu interesse.

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos
fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;

IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;

V - decidam recursos administrativos;

VI - decorram de reexame de ofício;

VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de


pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato
administrativo.

§1o. A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em


declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres,
informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do
ato.

§2o. Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado


meio mecânico que reproduza os fundamentos das decisões, desde que não
prejudique direito ou garantia dos interessados.

§3o. A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de


decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito.

Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de
vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que


decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos,
contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

§1o. No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-


se-á da percepção do primeiro pagamento.

§ 2o. Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de


autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.

Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse


público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis
poderão ser convalidados pela própria Administração.

Jurisprudência

STF, Pleno. ADIn 1.158-AM. Relator Ministro CELSO DE MELLO. RDA


200/242. SUBSTANTIVE DUE PROCESS OF LAW. PRINCÍPIO DA
RAZOABILIDADE. A cláusula do devido processo legal abrange um aspecto
formal, quando impõe restrições de caráter ritual à atuação do Poder Público, e
uma dimensão material, que atua como decisivo obstáculo à edição de atos
legislativos de conteúdo irrazoável. Protege os direitos e liberdades contra
qualquer modalidade de legislação que se revele opressiva ou destituída do
necessário coeficiente de razoabilidade. O Estado não dispõe de competência
para legislar ilimitadamente, de forma irresponsável e imoderada. Admite os
princípios da moralidade e da razoabilidade como limites ao legislador.
A norma legal, que concede a servidor inativo gratificação de férias
correspondente a um terço (1/3) do valor da remuneração mensal, ofende o
critério da razoabilidade que atua, enquanto projeção concretizadora da
cláusula do "substantive due process of law", como insuperável limitação ao
poder normativo do Estado. Incide o legislador comum em desvio ético-jurídico,
quando concede a agentes estatais determinada vantagem pecuniária cuja
razão de ser se revela absolutamente destituída de causa.

STF, Pleno. ADIn 855-PA. Relator Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE. RDA


194/299. Gás liquefeito de petróleo: lei estadual que determina a pesagem de
botijões entregues ou recebidos para substituição a vista do consumidor, com
pagamento imediato de eventual diferença a menor: arguição de
inconstitucionalidade fundada nos arts. 22, IV e VI (energia e metrologia), 24 e
PARS., 25, PAR. 2., 238, além de violação ao princípio de proporcionalidade e
razoabilidade das leis restritivas de direitos: plausibilidade jurídica da arguição
que aconselha a suspensão cautelar da lei impugnada, a fim de evitar danos
irreparáveis a economia do setor, no caso de vir a declarar-se a
inconstitucionalidade: liminar deferida.

3.1. A Organização Administrativa

A Administração Pública atua mediante seus AGENTES, seus ÓRGÃOS, suas


ENTIDADES e através de TERCEIROS. Quando tratamos da organização
administrativa enfocamos preponderantemente os órgãos e as entidades.

3.2. Órgãos

Órgãos "são centros de competência instituídos para o desempenho de


funções estatais, através de seus agentes, cuja atuação é imputada à pessoa
jurídica a que pertencem" (Hely Lopes Meirelles).

Os elementos componentes dos órgãos são: (a) funções ou competências; (b)


agentes e (c) cargos.

As principais características dos órgãos são:

(a) não têm personalidade jurídica (não são sujeitos de direitos e obrigações
em nome próprio);

(b) expressam a vontade da entidade a que pertencem;

(c) são partes integrantes da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos
Municípios, das Autarquias ou das Fundações Públicas;
(d) são meios ou instrumentos de ação das pessoas jurídicas;

(e) são dotados de competências ou atribuições específicas.

3.3. Classificação dos órgãos

3.3.1. Quanto à posição estatal:

(a) Independentes. São aqueles previstos na Constituição. Compõem o


Governo. Não têm subordinação hierárquica. Seus titulares não são servidores
públicos em sentido estrito. Exemplos: Congresso Nacional, Assembléias
Legislativas, Presidência da República, Tribunais

(b) Autônomos. Estão imediatamente abaixo dos independentes. Possuem


funções de direção e planejamento. Atuam com ampla autonomia
administrativa, financeira e técnica. Exemplos: Ministérios e Secretarias de
Estado.

(c) Superiores. Compõem os autônomos. Possuem funções de direção e


planejamento em áreas específicas. Não gozam de ampla autonomia.
Exemplos: SRF do Min. da Fazenda; PGFN do Min. da Fazenda; SPU do Min.
da Fazenda; DPF do Min. da Justiça.

(d) Inferiores. São subordinados hierarquicamente aos superiores. São


unidades tipicamente executivos com reduzido poder de decisão. Exemplos:
Delegacias da Receita Federal; Procuradorias da Fazenda Nacional;
Delegacias do Patrimônio da União.

3.3.2. Quanto à estrutura:

(a) Simples ou Unitários. Constituídos por apenas um centro de competência.


Não têm outro incrustado na sua estrutura. Exemplos: Portaria; Posto Fiscal;
Seção; Setor.

(b) Compostos. Constituídos por mais de um centro de competência. Possui


outro ou outros incrustados na sua estrutura. Exemplos: Uma Divisão que
contenha duas ou mais seções ou setores.

3.3.3. Quanto à atuação funcional:

(a) Singulares ou Unipessoais. Atuam ou decidem através de um único agente.


Exemplos: Presidência da República, Governadoria de Estado, Prefeitura.

(b) Colegiados ou Pluripessoais. Atuam ou decidem pela maioria da vontade de


seus agentes. Seus atos dependem de uma decisão conjunta. Exemplos:
Conselhos, Colegiados.
Na impugnação de atos de colegiados por mandado de segurança a autoridade
apontada como coatora deve ser o presidente (ou dirigente) do órgão.

3.3. Entes (ou entidades)

Os entes (ou entidades) inseridos ou relacionados com a Administração


Pública possuem a característica comum de serem dotados de personalidade
jurídica própria. Assim, são titulares de direitos e obrigações em nome próprio.
Temos, nesta categoria, os entes estatais (União, Estados, Distrito Federal e
Municípios), as autarquias, as empresas públicas, as sociedades de economia
mista, as fundações não-autárquicas e as pessoas jurídicas de direito privado
(prestadoras de serviços público). Como foi dito anteriormente, os órgãos
integram a estrutura administrativa das entidades.

3.4. Centralização e descentralização

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, descentralização é a distribuição de


competências de uma para outra pessoa, física ou jurídica. Já desconcentração
consiste na distribuição interna de competências dentro da mesma pessoa
jurídica.

Na descentralização política encontramos a presença de atribuições ou


competências próprias não decorrentes do ente central. É o caso da federação
brasileira. Na descentralização administrativa as atribuições ou competências
distribuídas decorrem do poder central.

As três modadalidades de descentralização administrativa são:

(a) territorial ou geográfica - onde existe uma entidade local geograficamente


delimitada. Exemplo: Territórios Federais;

(b) por serviços - onde há a criação de uma pessoa jurídica de direito público
ou de direito privado e a atribuição a ela da titularidade e da execução de
determinado serviço público. Exemplo: autarquia;

(c) por colaboração - onde se verifica a presença de contrato ou ato


administrativo unilateral de transferência somente da execução do serviço
público. Exemplo: concessionária de telefonia.

O Decreto-Lei n. 200, de 1967, estabeleceu o princípio da descentralização


como um dos nortes da Reforma Administrativa federal. Entretanto, as
hipóteses elencadas no referido diploma legal (art. 10) não se caracterizam, em
regra, como de descentralização.

A execução de obras e serviços públicos poderá ser direta (centralizada ou


descentralizada) quando realizada pela própria Administração ou indireta
quando realizada por particulares. Assim, o Decreto-Lei n. 200, de 1967, e a
Constituição de 1988 utilizam inadequadamente os termos "direta" e "indireta",
quando deveriam consignar "administração centralizada" e "administração
descentralizada". A Lei n. 8.666, de 1993, ao regular as licitações, define
corretamente os conceitos presentes no Decreto-Lei e na Constituição (art. 6º,
incisos VII e VIII).

A expressão "entidade paraestatal", embora não apareça na Constituição,


visita, com alguma freqüência, as considerações doutrinárias e jurisprudenciais,
e mesmo leis ordinárias. Trata-se de noção imprecisa, não havendo
convergência significativa de entendimento acerca de sua abrangência.

3.5. Entidades da administração indireta (a rigor, descentralizada)

A Administração Direta ou Centralizada é composta por órgãos sem


personalidade jurídica própria. São, na esfera federal, os serviços integrados
(por subordinação) na estrutura administrativa da Presidência da República e
dos Ministérios (art. 4o., inciso I do Decreto-Lei n. 200/67). A Secretaria da
Receita Federal e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional são exemplos de
órgãos integrantes da administração Pública Federal Direta.

Já a Administração Indireta ou Descentralizada, no plano federal, é constituída


pelas seguintes entidades, com personalidade jurídica própria (art. 4o., inciso II
do Decreto-Lei n. 200/67):

3.5.1. Autarquias

Segundo o art. 5o., inciso I do Decreto-Lei n. 200, de 1967, autarquia é o


"serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e
receitas próprios, para executar atividades típicas da Administração pública,
que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e
financeira descentralizada".

As principais características da autarquia são: (a) criação por lei; (b)


personalidade jurídica de direito público; (c) capacidade de auto-administração;
(d) especialização dos fins ou atividades e (e) sujeição a controle ou tutela.
As autarquias podem ser classificadas segundo vários critérios. Adotando o da
capacidade administrativa, temos as territoriais e as de serviço. Pelo critério
estrutural, seriam fundacionais ou corporativas.

O Banco Central do Brasil e o Instituto Nacional do Seguro Social são


exemplos de autarquias. A Ordem dos Advogados do Brasil é exemplo de
autarquia corporativa. As diversas agências reguladoras (ANATEL, ANEEL,
ANVISA, ANA, ANP, ANS, ANVS, ANTT, ANTAQ, entre outras) foram criadas
por lei como autarquias.

3.5.2. Fundações governamentais

Nos termos do art. 5o., inciso IV do Decreto-Lei n. 200, de 1967, fundação


pública é "a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, sem
fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o
desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou
entidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio
gerido pelos respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por
recursos da União e de outras fontes.". O parágrafo terceiro do mesmo artigo
estabelece que as fundações públicas "... adquirem personalidade jurídica com
a inscrição da escritura pública de sua constituição no Registro Civil de
Pessoas Jurídicas, não se lhes aplicando as demais disposições do Código
Civil concernente às fundações".

A rigor, o Poder Público pode criar dois tipos fundações, denominadas em


conjunto de governamentais. Um primeiro tipo seria a fundação de direito
público submetida ao regime jurídico-administrativo. O segundo modelo seria a
fundação de direito privado regida por normas do Código Civil com
derrogações por normas de direito público.

A natureza jurídica de cada fundação deve ser obtida da análise cuidadosa da


lei instituidora e dos atos constitutivos (estatutos e regimentos).

A fundação governamental pública corresponde a uma modalidade de


autarquia. Já as fundações governamentais privadas assumem conotação ou
posição institucional idêntica a das sociedades de economia mista e das
empresas públicas.

3.5.3. Sociedades de economia mista

Estabelece o art. 5o., inciso III do Decreto-Lei n. 200, de 1967, que sociedade
de economia mista é "a entidade dotada de personalidade jurídica de direito
privado, criada por lei para a exploração de atividade econômica, sob a forma
de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam, em sua
maioria, à União ou à entidade da Administração Indireta".
São exemplos destas entidades: a SERPRO e a CEF.

3.5.4. Empresas públicas

Conforme o art. 5o., inciso II do Decreto-Lei n. 200, de 1967, empresa pública é


"a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio
próprio e capital exclusivo da União ou de suas entidades da Administração
Indireta, criada por lei para desempenhar atividades econômica que o Govêrno
seja levado a exercer, por motivos de conveniência ou contingência
administrativa, podendo tal entidade revestir-se de qualquer das formas
admitidas em direito".

São exemplos destas entidades: a PETROBRÁS e o Banco do Brasil.

3.5.5. Semelhanças e distinções entre as empresas públicas e as sociedades


de economia mista

As características comuns são: (a) criação e extinção por lei; (b) personalidade
jurídica de direito privado; (c) sujeição ao controle estatal; (d) derrogação
parcial do regime jurídico de direito privado por normas de direito público; (e)
vinculação aos fins estabelecidos na lei de criação; (f) desempenho de
atividade de natureza econômica e (g) destituição dos dirigente a qualquer
tempo (Súmula n. 8 do STF).

Anote-se que as empresas estatais podem tanto executar atividade econômica


de natureza privada (art. 173 da Constituição) como prestar serviço público (art.
175 da Constituição).

As diferenças básicas entre as sociedades de economia mista e as empresas


públicas estão (a) na forma de organização e (b) na composição do capital. A
primeira, adota, no plano federal, a forma de sociedade anônima com a
presença de capital público e particular. Já a segunda, pode assumir qualquer
forma de direito com capital totalmente público.

3.5.6. Controle administrativo sobre as entidades da administração indireta

O controle administrativo sobre as entidades da administração indireta não é


um controle hierárquico, dada a vinculação, e não subordinação, ao Ministério
afim. Trata-se de uma fiscalização da observância da legalidade e do
cumprimento das finalidades conhecido como tutela.

Neste sentido, a supervisão ministerial, prevista no Decreto-Lei n. 200, de


1967, reafirmada na Lei n. 9.649, de 1998 (diploma legal que trata da
organização da Presidência da República e dos Ministérios), é o principal dos
instrumentos de controle administrativo.

3.5.7. Categorias afins

Serviços Sociais Autônomos. São pessoas jurídicas de direito privado mantidos


total ou parcialmente pelos cofres públicos exercendo atividades privadas de
interesse público. Apesar de criados mediante autorização legislativa, não
integram a Administração Indireta do Estado. São conhecidos e tratados como
entes de cooperação. Podemos arrolar o SESI, o SENAI e o SENAC como
exemplos deles.

Agências reguladoras. Como antes afirmado, são organizadas como


autarquias.

Agências executivas. É a autarquia ou fundação governamental assim definida


por ato do Executivo, com a responsabilidade de executar determinado serviço
público, liberada de certos controles e dotada de maiores privilégios, que
celebrou com a Administração Pública um contrato de gestão. Os arts. 51 e 52
da Lei n. 9.649, de 1998, tratam desta nova figura.

Organizações sociais. São entidades privadas, sem fins lucrativos, que se


valem de um contrao de gestão para realizar atividades públicas (ensino,
pesquisa científica, cultura, saúde, proteção do meio ambiente, entre outras)
com apoio, inclusive transferência de bens e recursos, das pessoas políticas.
Não integram a Administração Pública Indireta. O Estado, com a parceria com
as organizações sociais, reduz sua atuação direta nestes setores. A Lei n.
9.637, de 1998, dispõe sobre as organizações sociais.

Organizações da sociedade civil de interesse público. É, precipuamente, a


atribuição de um status a uma entidade existente na sociedade. Neste caso,
não há celebração de contrato de gestão, e sim, de um termo de parceria. Não
se destinam a substituir o Poder Público na prestação de certos serviços. A Lei
n. 9.790, de 1999, disciplina a matéria.

Leitura complementar

Reforma Administrativa de 1967

"Até o advento do Dec.-lei 200, de 25.2.67, a organização administrativa


federal pecava pela excessiva concentração de atribuições nos órgãos de
cúpula, agravada pela falta de racionalização dos trabalhos de coordenação
dos serviços, ineficientes e morosos, em decorrência de uma burocracia inútil e
custosa, que alongava a tramitação dos processos e retardava as decisões
governamentais, pela subordinação das atividades-fins às atividades-meios."
(Hely Lopes Meirelles)

O Decreto-lei nº 200/67, instrumento da Reforma, não é uma lei orgânica, visto


que, não estruturou a Administração Pública Federal. "O seu objetivo principal
e imediato é a fixação de diretrizes e princípios que propiciem funcionalidade e
dinamicidade à Administração federal, devendo sua estruturação ser realizada
por etapas, em conformidade com esses princípios e diretrizes ..." (Hely Lopes
Meirelles)

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS:

PLANEJAMENTO é o estudo e estabelecimento das diretrizes e metas que


deverão orientar a ação governamental (plano plurianual/orçamento-programa).

COORDENAÇÃO é a harmonização das atividades administrativas


submetendo-as ao que foi planejado com vistas a evitar a duplicidade de
atuação, a dispersão de recursos e a divergência de soluções.

DESCENTRALIZAÇÃO é o descongestionamento da Administração através da


desconcentração, delegação de execução do serviço público e execução
indireta das obras e serviços.

DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA é a transferência de atribuições decisórias a


subordinados visando assegurar maior rapidez e objetividade às decisões.

CONTROLE é a verificação do cumprimento das finalidades, qualidade e


rendimento na execução das atribuições e da observância das normas
pertinentes.

Classificou a Administração Pública Federal em Direta (Presidência da


República e Ministérios) e Indireta (Autarquias, Empresas Públicas, Sociedades
de Economia Mista e Fundações Públicas).

DESTAQUES (do Decreto-lei nº 200/67):

Em cada órgão da Administração Federal, os serviços que compõem a


estrutura central de direção devem permanecer liberados das rotinas de
execução e das tarefas de mera formalização de atos administrativos, para que
possam concentrar-se nas atividades de planejamento, supervisão,
coordenação e controle (Art. 10, parágrafo segundo)

Compete à estrutura central de direção o estabelecimento das normas,


programas e princípios, que os serviços responsáveis pela execução são
obrigados a respeitar na solução dos casos individuais e no desempenho de
suas atribuições (Art. 10, parágrafo quarto)

Os Órgãos Centrais de direção superior executam funções de administração


das atividades específicas e auxiliares do Ministério e serão, preferencialmente,
organizados em base departamental, observados os princípios estabelecidos
no Decreto-lei nº 200/67. (Art. 24)

A administração casuística, assim entendida a decisão de casos individuais,


compete, em princípio, ao nível de execução, especialmente aos serviços de
natureza local, que estão em contato com os fatos e com o público. (Art. 10,
parágrafo terceiro)

Serão organizadas sob a forma de sistema as atividades de pessoal,


orçamento, estatística, administração financeira, contabilidade e auditoria,
serviços gerais, além de outras atividades auxiliares comuns a todos os órgãos
da Administração que, a critério do Poder Executivo, necessitem de
coordenação central (Art. 30, caput)

Os serviços incumbidos do exercício das atividades de que trata este artigo


consideram-se integrados no sistema respectivo e ficam, consequentemente,
sujeitos à orientação normativa, à supervisão técnica e à fiscalização específica
do órgão central do sistema, sem prejuízo da subordinação ao órgão em cuja
estrutura administrativa estiverem integrados. (Art. 30, parágrafo primeiro)

Agências reguladoras
de Cristiano Martins de Carvalho

O Direito Regulatório Brasileiro


de Márcio Chalegre Coimbra

A Emenda Constitucional nº 19/98 e a administração gerencial no Brasil


de Sídia Maria Porto Lima

Legislação

Decreto-Lei n. 200, de 1967

Art. 19. Todo e qualquer órgão da Administração Federal, direta ou indireta,


está sujeito à supervisão do Ministro de Estado competente, excetuados
unicamente os órgãos mencionados no art. 32, que estão submetidos à
supervisão direta do Presidente da República.

Art. 20. O Ministro de Estado é responsável, perante o Presidente da


República, pela supervisão dos órgãos da Administração Federal enquadrados
em sua área de competência.

Parágrafo único. A supervisão ministerial exercer-se-á através da orientação,


coordenação e contrôle das atividades dos órgãos subordinados ou vinculados
ao Ministério, nos têrmos desta lei.
Art. 25. A supervisão ministerial tem por principal objetivo, na área de
competência do Ministro de Estado: I - Assegurar a observância da legislação
federal. II - Promover a execução dos programas do Govêrno. III - Fazer
observar os princípios fundamentais enunciados no Título II. IV - Coordenar as
atividades dos órgãos supervisionados e harmonizar sua atuação com a dos
demais Ministérios. V - Avaliar o comportamento administrativo dos órgãos
supervisionados e diligenciar no sentido de que estejam confiados a dirigentes
capacitados. VI - Proteger a administração dos órgãos supervisionados contra
interferências e pressões ilegítimas. VII - Fortalecer o sistema do mérito. VIII -
Fiscalizar a aplicação e utilização de dinheiros, valôres e bens públicos. IX -
Acompanhar os custos globais dos programas setoriais do Govêrno, a fim de
alcançar uma prestação econômica de serviços. X - Fornecer ao órgão próprio
do Ministério da Fazenda os elementos necessários à prestação de contas do
exercício financeiro. XI - Transmitir ao Tribunal de Contas, sem prejuízo da
fiscalização deste, informes relativos à administração financeira e patrimonial
dos órgãos do Ministério.

Art. 26. No que se refere à Administração Indireta, a supervisão ministerial


visará a assegurar, essencialmente: I - A realização dos objetivos fixados nos
atos de constituição da entidade. II - A harmonia com a política e a
programação do Govêrno no setor de atuação da entidade. III - A eficiência
administrativa. IV - A autonomia administrativa, operacional e financeira da
entidade.

Parágrafo único. A supervisão exercer-se-á mediante adoção das seguintes


medidas, além de outras estabelecidas em regulamento: a) indicação ou
nomeação pelo Ministro ou, se fôr o caso, eleição dos dirigentes da entidade,
conforme sua natureza jurídica; b) designação, pelo Ministro dos
representantes do Govêrno Federal nas Assembléias Gerais e órgãos de
administração ou contrôle da entidade; c) recebimento sistemático de
relatórios, boletins, balancetes, balanços e informações que permitam ao
Ministro acompanhar as atividades da entidade e a execução do orçamento-
programa e da programação financeira aprovados pelo Govêrno; d) aprovação
anual da proposta de orçamento-programa e da programação financeira da
entidade, no caso de autarquia; e) aprovação de contas, relatórios e balanços,
diretamente ou através dos representantes ministeriais nas Assembléias e
órgãos de administração ou contrôle; f) fixação, em níveis compatíveis com os
critérios de operação econômica, das despesas de pessoal e de administração;
g) fixação de critérios para gastos de publicidade, divulgação e relações
públicas; h) realização de auditoria e avaliação periódica de rendimento e
produtividade; i) intervenção, por motivo de interêsse público.

Art. 27. Assegurada a supervisão ministerial, o Poder Executivo outorgará aos


órgãos da Administração Federal a autoridade executiva necessária ao
eficiente desempenho de sua responsabilidade legal ou regulamentar.

Parágrafo único. Assegurar-se-á às emprêsas públicas e às sociedades de


economia mista condições de funcionamento idênticas às do setor privado
cabendo a essas entidades, sob a supervisão ministerial, ajustar-se ao plano
geral do Govêrno.
Art. 28. A entidade da Administração Indireta deverá estar habilitada a: I -
Prestar contas da sua gestão, pela forma e nos prazos estipulados em cada
caso. II - Prestar a qualquer momento, por intermédio do Ministro de Estado, as
informações solicitadas pelo Congresso Nacional. III - Evidenciar os resultados
positivos ou negativos de seus trabalhos, indicando suas causas e justificando
as medidas postas em prática ou cuja adoção se impuser, no interêsse do
Serviço Público.

Lei n. 9.649, de 1998

Art. 39. As entidades integrantes da Administração Pública Federal indireta


serão vinculadas aos órgãos da Presidência da República e aos Ministérios,
segundo as normas constantes do parágrafo único do art. 4o e § 2o do art. 5o
do Decreto-Lei no 200, de 25 de fevereiro de 1967, e sujeitas à supervisão
exercida por titular de órgão de assistência imediata ao Presidente da
República ou por Ministro de Estado, mantidas as extinções e dissoluções de
entidades realizadas ou em fase final de realização, com base na autorização
concedida pela Lei no 8.029, de 12 de abril de 1990.

Parágrafo único. A supervisão de que trata este artigo pode se fazer


diretamente, ou através de órgãos da estrutura do Ministério.

Art. 58. Os serviços de fiscalização de profissões regulamentadas serão


exercidos em caráter privado, por delegação do poder público, mediante
autorização legislativa.

§ 1o A organização, a estrutura e o funcionamento dos conselhos de


fiscalização de profissões regulamentadas serão disciplinados mediante
decisão do plenário do conselho federal da respectiva profissão, garantindo-se
que na composição deste estejam representados todos seus conselhos
regionais.

§ 2o Os conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas, dotados de


personalidade jurídica de direito privado, não manterão com os órgãos da
Administração Pública qualquer vínculo funcional ou hierárquico.

§ 3o Os empregados dos conselhos de fiscalização de profissões


regulamentadas são regidos pela legislação trabalhista, sendo vedada qualquer
forma de transposição, transferência ou deslocamento para o quadro da
Administração Pública direta ou indireta.

§ 4o Os conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são


autorizados a fixar, cobrar e executar as contribuições anuais devidas por
pessoas físicas ou jurídicas, bem como preços de serviços e multas, que
constituirão receitas próprias, considerando-se título executivo extrajudicial a
certidão relativa aos créditos decorrentes.
§ 5o O controle das atividades financeiras e administrativas dos conselhos de
fiscalização de profissões regulamentadas será realizado pelos seus órgãos
internos, devendo os conselhos regionais prestar contas, anualmente, ao
conselho federal da respectiva profissão, e estes aos conselhos regionais.

§ 6o Os conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas, por


constituírem serviço público, gozam de imunidade tributária total em relação
aos seus bens, rendas e serviços.

§ 7o Os conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas promoverão,


até 30 de junho de 1998, a adaptação de seus estatutos e regimentos ao
estabelecido neste artigo.

§ 8o Compete à Justiça Federal a apreciação das controvérsias que envolvam


os conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas, quando no
exercício dos serviços a eles delegados, conforme disposto no caput.

§ 9o O disposto neste artigo não se aplica à entidade de que trata a Lei no


8.906, de 4 de julho de 1994.

Jurisprudência

"4. Quanto ao mais, porém, as considerações da inicial e do aditamento de fls.


123/125 levam ao reconhecimento da plausibilidade jurídica da Ação, satisfeito,
assim, o primeiro requisito para a concessão da medida cautelar ("fumus boni
iuris"). Com efeito, não parece possível, a um primeiro exame, em face do
ordenamento constitucional, mediante a interpretação conjugada dos artigos
5o, XIII, 22, XVI, 21, XXIV, 70, parágrafo único, 149 e 175 da C.F., a
delegação, a uma entidade privada, de atividade típica de Estado, que abrange
até poder de polícia, de tributar e de punir, no que tange ao exercício de
atividades profissionais. 5. Precedente: M.S. nº 22.643. 6. Também está
presente o requisito do "periculum in mora", pois a ruptura do sistema atual e a
implantação do novo, trazido pela Lei impugnada, pode acarretar graves
transtornos à Administração Pública e ao próprio exercício das profissões
regulamentadas, em face do ordenamento constitucional em vigor." ADIMC-
1717/DF. Relator Min. SYDNEY SANCHES

"Os Conselhos Regionais de Medicina, como sucede com o Conselho Federal,


são autarquias federais sujeitas à prestação de contas ao Tribunal de Contas
da União por força do disposto no inciso II do artigo 71 da atual Constituição".
MS-22643/ SC. Relator Min. MOREIRA ALVES

"ACUMULAÇÃO DE CARGO, FUNÇÃO OU EMPREGO. FUNDAÇÃO


INSTITUÍDA PELO PODER PÚBLICO. NEM TODA FUNDAÇÃO INSTITUÍDA
PELO PODER PÚBLICO E FUNDAÇÃO DE DIREITO PRIVADO. AS
FUNDAÇÕES, INSTITUÍDAS PELO PODER PÚBLICO, QUE ASSUMEM A
GESTÃO DE SERVIÇO ESTATAL E SE SUBMETEM A REGIME
ADMINISTRATIVO PREVISTO, NOS ESTADOS-MEMBROS, POR LEIS
ESTADUAIS SÃO FUNDAÇÕES DE DIREITO PÚBLICO, E, PORTANTO,
PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO. TAIS FUNDAÇÕES SÃO
ESPÉCIE DO GÊNERO AUTARQUIA, APLICANDO-SE A ELAS A VEDAÇÃO
A QUE ALUDE O PARAGRAFO 2. DO ARTIGO 99 DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL." RE-101126/RJ. Relator Min. MOREIRA ALVES

"FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA -


IBGE. ENTIDADE QUE, POR SUA NATUREZA, CONFIGURA, EM GÊNERO,
AUTARQUIA, CONSOANTE A JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL." CJ-6914/RJ. Relator Min. OCTAVIO GALLOTTI

"2. A JURISPRUDÊNCIA - COM AMPLO RESPALDO DOUTRINÁRIO (V.G.,


VICTOR NUNES, MEIRELLES, BUZAID) - TEM RECONHECIDO A
CAPACIDADE OU "PERSONALIDADE JUDICIÁRIA" DE ÓRGÃOS
COLETIVOS NÃO PERSONALIZADOS E A PROPRIEDADE DO MANDADO
DE SEGURANÇA PARA A DEFESA DO EXERCÍCIO DE SUAS
COMPETÊNCIAS E DO GOZO DE SUAS PRERROGATIVAS. 3. NÃO
OBSTANTE DESPIDO DE PERSONALIDADE JURÍDICA, PORQUE É ÓRGÃO
OU COMPLEXO DE ÓRGÃOS ESTATAIS, A CAPACIDADE OU
PERSONALIDADE JUDICIÁRIA DO MINISTÉRIO LHE E INERENTE -
PORQUE INSTRUMENTO ESSENCIAL DE SUA ATUAÇÃO - E NÃO SE
PODE DISSOLVER NA PERSONALIDADE JURÍDICA DO ESTADO, TANTO
QUE A ELE FREQÜENTEMENTE SE CONTRAPÕE EM JUÍZO; SE, PARA A
DEFESA DE SUAS ATRIBUIÇÕES FINALÍSTICAS, OS TRIBUNAIS TEM
ASSENTADO O CABIMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA, ESTE
IGUALMENTE DEVE SER POSTO A SERVIÇO DA SALVAGUARDA DOS
PREDICADOS DA AUTONOMIA E DA INDEPENDÊNCIA DO MINISTÉRIO
PÚBLICO, QU

• Assine

• E-mail

• SAC

• Canais

E CONSTITUEM, NA CONSTITUIÇÃO, MEIOS NECESSÁRIOS AO BOM


DESEMPENHO DE SUAS FUNÇÕES INSTITUCIONAIS." MS-21239/DF.
Relator Min. SEPULVEDA PERTENCE
Exercícios

1. (ESAF92) Excluem-se da supervisão ministerial

a) os órgãos de assessoramento imediato do Presidente da República


b) as entidades da administração indireta
c) as fundações governamentais com personalidade de direito privado
d) os órgãos autônomos
e) as empresas estatais

2. (ESAF92) As sociedades de economia mista

a) estão sujeitas à falência e o Estado não responde subsidiariamente por suas


obrigações
b) podem ter seus bens penhorados e o Estado responde subsidiariamente por
suas obrigações
c) não podem ter seus bens penhorados, porque estão sujeitas ao processo
especial de execução contra a Fazenda Pública
d) não estão sujeitas à falência e o Estado não responde subsidiariamente por
suas obrigações
e) podem ter seus bens penhorados, mas o Estado não responde
subsidiariamente por suas obrigações

3. (ESAF94) A proibição constitucional de acumular cargos, empregos e


funções no setor público alcança as diversas áreas de governo (federal,
estadual, distrital e municipal), compreendendo tanto a Administração Direta
como, também, a Indireta

a) Incorreta, porque a vedação é restrita apenas a cargos públicos


b) Incorreta, porque a vedação estende-se, também, aos chamados serviços
sociais autônomos, às concessionárias de serviço público e às demais
entidades sob controle indireto do Poder Público, como é o caso das
subsidiárias de estatais
c) Correta esta assertiva
d) Incorreta esta assertiva, porque a vedação restringe-se à Administração
Direta
e) Incorreta, porque a vedação restringe-se a cada área de governo

4. (ESAF94) O Banco Central do Brasil é

a) uma Empresa Pública


b) uma Sociedade de Economia Mista
c) um órgão autônomo integrante da Administração Federal Direta
d) um órgão autônomo vinculado ao Poder Legislativo
e) uma Autarquia Federal
5. (ESAF94) As chamadas Fundações Públicas, em face do Decreto-lei 200/67,
com as alterações nele introduzidas (Lei 7.596/87), são hoje consideradas
integrantes da Administração Federal Indireta, na condição de
a) espécies de serviços sociais autônomos de cooperação estatal
b) entidades de cooperação, sem uma conceituação legal própria
c) tipos específicos de entidades dessa natureza, com conceituação própria
d) entidades equiparadas às empresas públicas
e) autarquias

6. (ESAF94) A diferenciação fundamental entre a Empresa Pública e a


Sociedade de Economia Mista reside precisamente

a) na sua personalidade jurídica


b) na sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive
quanto às obrigações trabalhistas e tributárias
c) no controle acionário do capital social, pelo Poder Público
d) na intensidade de participação do Poder Público no seu capital social
e) na natureza específica do tipo de atividade desenvolvida

7. (ESAF94) As autarquias federais, pela sua natureza, são consideradas


pessoas

a) políticas
b) administrativas, com personalidade jurídica de direito privado
c) jurídicas de direito privado
d) administrativas, sem personalidade jurídica própria
e) jurídicas de direito público

8. (ESAF94) A criação de uma entidade, por meio de lei, com personalidade


jurídica própria, para o desempenho exclusivo de uma atividade administrativa,
própria do Poder Público, configura uma forma de

a) delegação de competência
b) concessão
c) coordenação
d) desconcentração
e) descentralização

9. (ESAF96) As seguintes afirmativas sobre órgão público são corretas, exceto:

a) integra a estrutura de uma pessoa jurídica


b) possui patrimônio próprio
c) pode expressar capacidade judiciária
d) não possui personalidade jurídica
e) apresenta competência própria

10. As Secretarias de Estado são órgãos localizados bem próximos à cúpula da


Administração Pública gozando de autonomia administrativa, financeira e
técnica. São classificadas, portanto, como:
a) órgãos autônomos
b) órgãos independentes
c) órgãos diretivos
d) órgãos superiores
e) órgãos autônomos

11. (ESAF89) A administração federal direta se constitui, segundo o Decreto-lei


nº 200/67,

a) dos assessores imediatos do Presidente da República


b) de toda a administração federal
c) dos órgãos do Poder Executivo
d) dos Ministros de Estado
e) dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da
República e dos Ministérios

Assinale se a assertiva é verdadeira ou falsa.

12. ( ) Embora despersonalizados, os órgãos mantêm relações funcionais entre


si e com terceiros, das quais resultam efeitos jurídicos internos e externos, na
forma legal ou regulamentar.

13. ( ) Não se confundem a imputação da atividade funcional do órgão à


pessoa jurídica com a representação desta perante a Justiça ou terceiros

14. ( ) Há entre a entidade e seus órgãos relação de representação ou mandato

15. Onde reside a diferença ou distinção básica entre as fundações


governamentais de direito público e de direito privado?

4.1. Definição

Agentes públicos são todas as pessoas físicas incumbidas de exercer alguma


FUNÇÃO ESTATAL, definitiva ou transitoriamente, com remuneração ou sem
ela.

4.2. Classificação

4.2.1. Agentes Políticos

Exercem atribuições constitucionais e concorrem, em conjunto, para a


formação da vontade política do Governo. Ocupam os órgãos independentes e
titularizam os autônomos. Exemplos: Presidente da República, Governadores,
Prefeitos, Ministros, Secretários de Estado, Secretários Municipais,
Parlamentares, Magistrados, Membros do Ministério Público, Conselheiros e
Ministros dos Tribunais de Contas.

4.2.2. Agentes Administrativos


Exercem atribuições fixadas em lei e compõem a Administração Pública.
Mantêm vínculo profissional, sujeito à hierarquia, com responsabilidade técnica
e administrativa, com o Poder Público. Exemplos: Fiscais, Procuradores,
Médicos, Engenheiros e Professores.

A categoria dos agentes administrativos pode ser subdividada em: (a)


servidores públicos; (b) dirigentes paraestatais e (c) militares (por força da
Emenda Constitucional n. 18, de 1998). Já os servidores públicos podem ser
subdivididos em: (a) funcionários (estatutários ocupantes de cargo); (b)
empregados (celetistas ocupantes de empregos) e (c) temporários.

4.2.3. Agentes Honoríficos

São convocados ou nomeados para prestarem, em caráter transitório e sem


remuneração, serviços públicos relevantes. Exemplos: Jurados, Mesários
(eleitorais) e integrantes de Comissões de Estudos.

4.2.4. Agentes Delegados

São particulares que exercem funções delegadas pela Administração Pública.


Exemplos: Titulares ou dirigentes de entidades que executam serviços públicos
concedidos, permitidos ou autorizados.

Existe o conceito penal de funcionário público, diverso daquele presente em


Direito Administrativo. Ele pode ser encontrado no art. 327 do Código Penal,
nos seguintes termos: "Considera-se funcionário público, para os efeitos
penais, quem embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública.". Equipara-se a funcionário público, segundo o
parágrafo primeiro do mesmo artigo, "quem exerce cargo, emprego ou função
em entidade paraestatal".

4.3. Servidores Públicos (compilação a partir da Constituição e da Lei n.


8.112, de 1990)

A. Movimento para o serviço público


(1) Inscrição do particular:

1.1. Precisa ser brasileiro que preencha os requisitos legais ou estrangeiro na


forma da lei.

1.2. Os requisitos legais são: (a) direitos políticos; (b) obrigações militares e
eleitorais; (c) escolaridade; (d) pelo menos 18 anos; (e) aptidão física e mental
e (f) outros fixados em LEI.

(2) Concurso Público:

2.1. Exigível para cargos e empregos.

2.2. Deve ser de provas ou provas e títulos, de acordo com a natureza e a


complexidade do cargo ou emprego.

2.3. Pode ter até 2 (duas) etapas, com pagamento de inscrição, se for o caso.

2.4. É dispensado para os cargos comissionados e nas contratações


temporárias.

2.5. Existe percentual (reservado) de até 20% dos cargos para os portadores
de deficiência.

2.6. O acesso ao cargo ou emprego sem concurso ou depois do prazo de


validade implica em nulidade do ato e punição da autoridade responsável.

2.7. O edital, a lei do concurso, deve ser publicado no DOU e em jornal de


grande circulação.

2.8. O prazo de validade é de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual
período.

2.9. Existe prioridade do aprovado sobre novos concursados, durante o prazo


improrrogável previsto no edital, segundo a Constituição.
2.10. Não se abrirá novo concurso enquanto houver aprovado em concurso
anterior com prazo de validade não expirado, segundo a Lei n. 8.112, de 1990.
A lei é inconstitucional ao ampliar a restrição presente na Constituição e
"esvaziar" o comando do Texto Maior.

2.11. O art. 19, §1o. do ADCT estabelece que o tempo de serviço dos
servidores admitidos sem concurso público será contado, na forma da lei, como
título quando se submeterem a concurso para fins de efetivação.

(3) Nomeação:

3.1. Trata-se de provimento em caráter efetivo (não é cargo comissionado) pela


autoridade competente de cada Poder.

(4) Posse:

4.1. Mediante a assinatura de termo próprio, onde constam as atribuições,


deveres, responsabilidade e direitos inerentes ao cargo.

4.2. Pode ser efetivada por procuração específica.

4.3. Deve ser apresentada declaração de bens e valores e declaração sobre


acumulação.

4.4. Não ocorrendo a posse, a nomeação será tornada SEM EFEITO.

4.5. Pressupõe prévia inspeção médica oficial.

(5) Exercício:

5.1. É o efetivo desempenho das atribuições do cargo.

5.2. Será exonerado o servidor empossado que não entrar em exercício

B. Movimento na carreira
Cargo é o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura
organizacional, criado por lei, com denominação própria e vencimento pago
pelos cofres públicos, que deve ser cometido a um servidor.

Classe é o agrupamento de cargos da mesma profissão (ou categoria


funcional), com idênticas atribuições, responsabilidades e vencimentos. As
classes constituem os degraus de movimentação na carreira.

Carreira é o agrupamento de classes na mesma profissão (ou categoria


funcional), escalonadas segundo a hierarquia do serviço, para acesso privativo
dos titulares dos cargos que a integram.

Quadro é o conjunto de carreiras, cargos isolados e funções de um mesmo


serviço, órgão ou Poder.

Segundo o art. 10, parágrafo único e o art. 17 da Lei n. 8.112, de 1990, a


promoção é a forma de desenvolvimento do servidor na carreira.

O art. 39, §2o. da Constituição estabelece que a participação em cursos de


formação e aperfeiçoamento será um dos requisitos para a promoção na
carreira.

C. Movimento no tempo

1.1. A jornada de trabalho semanal será de, no máximo, 40 horas, salvo casos
específicos. Serão observados os limites mínimo e máximo de seis e oito horas
diárias, respectivamente.

1.2. Haverá dedicação integral ao serviço para os ocupantes de cargo em


comissão, podendo haver convocação no interesse da Administração.
2.1. Será submetida à autoridade competente a avaliação do desempenho do
servidor.

3.1. O servidor não aprovado no estágio probatório será exonerado ou


reconduzido ao cargo anteriormente ocupado, se estável.

3.2. O estável só perderá o cargo em virtude de: a) sentença judicial transitada


em julgado; b) de processo administrativo disciplinar com garantia de ampla
defesa; c) mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na
forma de lei complementar e d) se não for cumprido o limite com despesa de
pessoal previsto no art. 169, parágrafo quarto da Constituição.

3.3. O art. 19 do ADCT estabelece que "os servidores públicos civis da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da administração direta,
autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da promulgação da
Constituição, há pelo menos cinco anos continuados, e que não tenham sido
admitidos na forma regulada no art. 37, da Constituição, são considerados
estáveis no serviço público".

4. A aposentadoria (direito à inatividade remunerada) será:

4.1. Compulsória aos 70 anos com proventos proporcionais ao tempo de


contribuição.

4.2. Por invalidez permanente com proventos proporcionais ao tempo de


contribuição, salvo acidente em serviço e moléstias profissional ou doença
grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei.

4.3. Voluntária, com pelo menos dez anos de efetivo exercício e cinco anos no
cargo em que se dará a aposentadoria:

4.3.1. 60 anos de idade e 35 anos de contribuição, se homem, e 55 anos de


idade e 30 anos de contruição, se mulher. Haverá redução de cinco anos, para
idade e para tempo de contribuição, para o professor que comprove
exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na
educação infantil e no ensino fundamental e médio.

4.3.2. 65 anos de idade, se homem, e 60 anos de idade, se mulher,


comproventos proporcionais ao tempo de contribuição.

4.4. Com a Emenda Constitucional n. 20, de 1998, os servidores públicos


podem ser submetidos a dois regimes previdenciários: a) regime geral de
previdência social, estabelecido no art. 201 e seguintes da Constituição (igual
ao do trabalhador privado) e b) regime previdenciário próprio do servidor,
previsto no art. 40 da Constituição. O primeiro regime aplica-se aos ocupantes
de cargos efetivos. O segundo regime será observado para o servidor ocupante
exclusivamente de cargo comissionado, cargo temporário ou de emprego
público (art. 40, parágrafo treze da Constituição).
4.5. O art. 40, parágrafo quatorze da Constituição estabelece que "a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, desde que instituam regime de
previdência complementar para os seus respectivos servidores titulares de
cargo efetivo, poderão fixar, para o valor das aposentadorias e pensões a
serem concedidas pelo regime de que trata este artigo, o limite máximo
estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que
trata o art. 201".

D. Movimento para dentro do cargo (formas de provimento)

As formas de provimento do cargo público são: nomeação, promoção,


readaptação (por limitação de capacidade física ou mental), reversão (retorno
do aposentado por invalidez por insubsistência desta ou no interesse da
Administração), reintegração (reinvestidura de estável na invalidação da
demissão), recondução (retorno ao cargo anterior por inabilitação em estágio
probatório ou reintegração do antigo ocupante) e aproveitamento (retorno do
disponível).

E. Movimento com e sem o cargo

Remoção é deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no mesmo


quadro, com ou sem mudança de sede. Já a redistribuição é o deslocamento
do cargo, ocupado ou vago, para outro órgão ou entidade do mesmo Poder.

F. Vacância (movimentos que vagam o cargo)

O cargo público ficará vago nas seguintes situações: exoneração, demissão,


promoção, readaptação, aposentadoria, posse em outro cargo inacumulável e
falecimento.

G. Exoneração

A exoneração (ou desligamento do serviço público) pode se dar "a pedido"


(mediante requerimento do ocupante de cargo efetivo ou comissionado) ou "de
ofício". A exoneração "de ofício" do ocupante de cargo efetivo poderá ocorrer:
(a) na inabilitação em estágio probatório e (b) quando tomada posse o servidor
não entra em exercício. A exoneração "de ofício" do ocupante de cargo
comissionado será realizada a juízo da autoridade competente (exoneração ad
nutum).

H. Direitos e Vantagens

H.1. Pecuniários

REMUNERAÇÃO (vencimento + vantagens pecuniárias permanentes) e


SUBSÍDIO (consiste numa forma de retribuição em parcela única - exclui a
possibilidade de percepção de vantagens pecuniárias variáveis). Serão
obrigatoriamente remunerados por subsídios: (a) membro de Poder (art. 39,
parágrafo quarto da Constituição); (b) detentor de mandato eletivo (art. 39,
parágrafo quarto da Constituição); (c) membro do Ministério Público (art. 128,
parágrafo quinto da CF); (d) membros da Advocacia-Geral da União,
Procuradores dos Estados e do DF (art. 135 da CF); (e) Defensores Públicos
(art. 135 da CF); (f) Ministros do TCU (art. 73, parágrafo terceiro da CF) e (g)
servidores públicos policiais (art. 144, parágrafo nono da CF).
Facultativamente, os servidores públicos organizados em carreira poderão ser
remunerados por subsídios (art. 39, parágrafo oitavo da Constituição).

VANTAGENS, representadas por indenizações (ajuda de custo (destinada a


compensar as despesas de instalação do servidor que, no interesse do serviço,
passar a ter exercício em nova sede), diárias e transporte (utilização de meio
próprio de locomoção)), gratificações (retribuição pelo exercício de função de
direção, chefia e assessoramento e natalina) e adicionais (por
insalubridade/periculosidade/penosidade, por serviço extraordinário, noturno,
de férias e outros, relativos ao local ou à natureza do trabalho).

Revisão geral anual e igualitária.

O limite máximo de retribuição pecuniária foi alterado duas vezes, em relação


ao texto original da Constituição de 1988, pela Emenda Constitucional n. 19, de
1998 e pela Emenda Constitucional n. 41, de 2003. Neste sentido, o art. 37,
inciso XI da Carta Magna já recebeu as seguintes redações:

"a lei fixará o limite máximo e a relação de valores entre a maior e a menor
remuneração dos servidores públicos, observados, como limites máximos e no
âmbito dos respectivos poderes, os valores percebidos como remuneração, em
espécie, a qualquer título, por membros do Congresso Nacional, Ministros de
Estado e Ministros do Supremo Tribunal Federal e seus correspondentes nos
Estados, no Distrito Federal e nos Territórios, e, nos Municípios, os valores
percebidos como remuneração, em espécie, pelo Prefeito" (Constituição de
1988)
"a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos
públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos
e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos
cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra
natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros
do Supremo Tribunal Federal" (EC n. 19, de 1998)

"a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos


públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos
e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos
cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra
natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros
do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como li-mite, nos Municípios, o
subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do
Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Es-
taduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o sub-sídio dos
Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e
cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do
Supremo Tri-bunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite
aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores
Públicos" (EC n. 41, de 2003)

O Supremo Tribunal Federal, em sessão administrativa realizada em 24 de


junho de 1998, "presentes os Senhores Ministros Celso de Mello (Presidente),
Moreira Alves, Néri da Silveira, Sydney Sanches, Octávio Gallotti, Sepúlveda
Pertence, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ilmar Galvão, Maurício Corrêa e
Nelson Jobim, resolveu: 1º) deliberar, por 7 votos a 4, vencidos os Ministros
Sepúlveda Pertence, Carlos Velloso, Marco Aurélio e Ilmar Galvão, que não
são auto-aplicáveis as normas do art. 37, XI, e 39, par. 4º, da Emenda
Constitucional nº 19, de 4 de junho de 1998, porque a fixação do subsídio
mensal, em espécie, de Ministro do Supremo Tribunal Federal - que servirá de
teto -, nos termos do art. 48, XV, da Constituição, na redação do art. 7º da
referida Emenda Constitucional nº 19, depende de lei formal, de iniciativa
conjunta dos Presidentes da República, da Câmara dos Deputados, do Senado
Federal e do Supremo Tribunal Federal. Em decorrência disso, o Tribunal não
teve por auto-aplicável o art. 29 da Emenda Constitucional n.º 19/98, por
depender, a aplicabilidade dessa norma, da prévia fixação, por lei, nos termos
acima indicados, do subsídio do Ministro do Supremo Tribunal Federal. Por
qualificar-se, a definição do subsídio mensal, como matéria expressamente
sujeita à reserva constitucional de lei em sentido formal, não assiste
competência ao Supremo Tribunal Federal, para, mediante ato declaratório
próprio, dispor sobre essa específica matéria. Deliberou-se, também, que, até
que se edite a lei definidora do subsídio mensal a ser pago a Ministro do
Supremo Tribunal Federal, prevalecerão os tetos estabelecidos para os Três
Poderes da República, no art. 37, XI, da Constituição, na redação anterior à
que lhe foi dada pela EC 19/98, vale dizer: no Poder Executivo da União, o teto
corresponderá à remuneração paga a Ministro de Estado; no Poder Legislativo
da União, o teto corresponderá à remuneração paga aos Membros do
Congresso Nacional; e no Poder Judiciário, o teto corresponderá à
remuneração paga, atualmente, a Ministro do Supremo Tribunal Federal."

Eis um quadro demonstrativo da evolução do regramento do limite máximo de


retribuição:

Paridade entre os vencimentos pagos pelos Poderes, tomado o Poder


Executivo como limite máximo.

Vedação de vinculações e equiparações remuneratórias.

Possibilidade de fixação da relação entre a maior e a menor remuneração.

Proibição do "efeito cascata" (adicionais remuneratórios concedidos de forma


cumulativa).

Irredutibilidade de remunerações e subsídios.

H.2. Não pecuniárias

Livre associação sindical.

Greve, nos termos e limites definidos em lei específica.

Aplicação dos direitos trabalhistas expressamente enumerados no art. 39, §3o.


da Constituição.

Organização de planos de carreira com desenvolvimento mediante promoção.

Disponibilidade, na extinção do cargo ou declaração de sua desnecessidade,


com remuneração proporcional ao tempo de serviço.

FÉRIAS (30 dias; acumuláveis até dois períodos; necessidade de doze meses
de exercício para o primeiro período aquisitivo; pagamento até dois dias antes
do início; possibilidade de parcelamento em até 3 etapas e possibilidade de
interrupção).

LICENÇAS (doença em pessoa da família; afastamento do cônjuge ou


companheiro; serviço militar; atividade política; para capacitação; tratar de
interesses particulares; mandato classista).

AFASTAMENTOS (servir em outro órgão ou entidade; mandato eletivo e


estudo ou missão no exterior).
CONCESSÕES (doação de sangue (1 dia); alistamento eleitoral (2 dias);
casamento (8 dias); falecimento de parente (8 dias); horário especial para
estudante e portador de deficiência).

DIREITO DE PETIÇÃO, exercitável pela via hierárquica.

TEMPO DE SERVIÇO (contagem para todos os efeitos do tempo de serv. púb.


federal e de Forças Armadas; apuração em dias e conversão em anos;
afastamentos considerados de efetivo exercício; contagem para efeito de
aposentadoria e disponibilidade (serv. púb. est./mun./DF; atividade privada
vinculada a Previdência Social); vedação de contagem concomitante.

I. Regime Disciplinar

I.1. Deveres

São deveres do servidor, além de outros: zelo, dedicação, lealdade,


observância das normas e ordens superiores (exceto quando manifestamente
ilegais), presteza, economia, conservação, sigilo, conduta moralmente
compatível, assiduidade, pontualidade, urbanidade, representar contra
ilegalidade, omissão ou abuso de poder e apontar as irregularidades de que
tiver ciência (representando pela via hierárquica).

I.2. Proibições

São proibições aplicáveis ao servidor, além de outras: ausentar-se sem prévia


autorização do chefe imediato, retirar qualquer documento ou objeto da
repartição, recusar fé a documentos públicos, opor resistência injustificada ao
andamento de documento, valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de
outrem, participar de gerência ou administração de empresa privada, exercer o
comércio, receber propina, comissão, presente ou vantagem.

I.3. Acumulação

A regra é a proibição da acumulação remunerada de cargos públicos. Estende-


se a cargos, empregos e funções em qualquer dos Poderes da União, Estados,
Distrito Federal e Municípios. Envolve a Administração Indireta dos entes
estatais, portanto, autarquias, fundações, sociedades de economia mista,
empresas públicas e mesmo as empresas controladas e subsidiárias.

Excepcionalmente, admite-se a acumulação, desde que comprovada a


compatibilidade de horários, entre: (a) dois cargos de professor; (b) um cargo
de professor e um cargo técnico ou científico e (c) dois cargos ou empregos
privativos de profissionais de saúde com profissões regulamentadas.
Considera-se acumulação proibida a percepção de vencimento de cargo ou
emprego público efetivo com proventos da inatividade, salvo quando os cargos
de que decorram essas remunerações forem acumuláveis na atividade

I.4. Responsabilidades

O servidor público está submetido a responsabilidades da seguinte ordem: (a)


CIVIL, decorrente de ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte
em prejuízo ao erário ou a terceiros; (b) PENAL, que abrange os crimes e
contravenções imputadas ao servidor nessa qualidade e (c) ADMINISTRATIVA,
que resulta de ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho do cargo
ou função.

As sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se sendo


independentes entre si. A responsabilidade administrativa do servidor será
afastada no caso de absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua
autoria.

As reposições e indenizações ao Erário serão previamente comunicadas para


pagamento. No caso de indenização de prejuízo dolosamente causado
somente será utilizado o desconto na falta de bens que assegurem a execução
do débito pela via judicial.

I.5. Penalidades

As sanções ou penalidades disciplinares aplicáveis ao servidor público são: (a)


ADVERTÊNCIA (por escrito); (b) SUSPENSÃO (até noventa dias); (c)
DEMISSÃO; (d) CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA OU DISPONIBILIDADE;
(e) DESTITUIÇÃO DE CARGO EM COMISSÃO e (f) DESTITUIÇÃO DE
FUNÇÃO COMISSIONADA.

I.6. Processo Administrativo Disciplinar


(1) Tipificação e Indiciação. Posteriormente, ocorre a citação do servidor
indiciado.
(2) Defesa Escrita. Prazo de 10 dias a partir da citação.
(3) Relatório Conclusivo

Nos termos do art. 143 da Lei n. 8.112, de 1990, a autoridade que tiver ciência
de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuração
imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar.

Da sindicância poderá resultar: (a) arquivamento do processo; (b) aplicação de


penalidade de advertência ou suspensão de até 30 (trinta) dias e (c)
instauração de processo disciplinar.

Como medida cautelar, a autoridade instauradora do processo disciplinar


poderá determinar o seu afastamento do exercício do cargo pelo prazo de até
60 (sessenta) dias, prorrogável por igual prazo.

O processo disciplinar será conduzido por três servidores estáveis designados


pela autoridade competente e de desenvolve nas seguintes fases: (a)
inatauração; inquérito (instrução, defesa e relatório) e (c) julgamento. O prazo
para conclusão dos trabalhos é de 60 (sessenta) dias, prorrogável por igual
período.

O processo disciplinar poderá ser revisto, a qualquer tempo, a pedido ou de


ofício, quando se aduzirem fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de
justificar a inocência do punido ou a inadequação da penalidade aplicada (art.
174 da Lei n. 8.112, de 1990).
A Lei n. 8.112, de 1990, precisamente em seu art. 133, prevê a realização de
procedimento sumário para a apuração da acumulação ilegal de cargos,
empregos ou funções e para apuração de abandono de cargo ou inassiduidade
habitual.

J. Seguridade Social do Servidor

J.1. Benefícios ao Servidor: APOSENTADORIA, AUXÍLIO-NATALIDADE,


SALÁRIO-FAMÍLIA, LICENÇA PARA TRATAMENTO DE SAÚDE, LICENÇA À
GESTANTE, À ADOTANTE E LICENÇA-PATERNIDADE, LICENÇA POR
ACIDENTE EM SERVIÇO, ASSISTÊNCIA À SAÚDE e GARANTIA DE
CONDIÇÕES INDIVIDUAIS E AMBIENTAIS DE TRABALHO SATISFATÓRIAS.

J.2. Benefícios ao Dependente: PENSÃO VITALÍCIA E TEMPORÁRIA,


AUXÍLIO-FUNERAL, AUXÍLIO-RECLUSÃO e ASSISTÊNCIA À SAÚDE.

L. Contratação Temporária de Excepcional Interesse Público

Disciplinado pela Lei nº 8.745, de 9 de dezembro de 1993. Foram revogados os


arts. 232 a 235 da Lei nº 8.112/90 que tratavam do assunto.

Mediante contrato por tempo determinado, precedido de processo seletivo


simplificado, o Poder Público poderá admitir pessoal para: combater surtos
epidêmicos, fazer recenseamento, atender a situações de calamidade pública,
substituir a professor ou admitir professor visitante, admitir professor e
pesquisador visitante estrangeiro e atividades especiais nas Forças Armadas.

M. Outros

O art. 243 da Lei n. 8.112, de 1990, submeteu ao seu regime jurídico os


servidores públicos regidos pela Lei n. 1.711, de 1952, e pela Consolidação
das Leis do Trabalho. Assim, realizou os ditames do art. 39, caput da
Constituição, como redigido antes da EC n. 19, de 1998, que preconizava a
existência de "regime jurídico único". Convém consignar que a EC n. 19, de
1998, eliminou a necessidade de "regime jurídico único".
Leitura complementar

Teoria dos princípios (para uma aplicação dos princípios constitucionais da


Administração Pública)
de Denise Hauser

Legislação

Constituição de 1988

Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e


patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto
à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e
renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante
controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.

Lei n. 9.784 , de 29 de janeiro de 1999

Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

Jurisprudência

STF, Pleno. ADIn 1.158-AM. Relator Ministro CELSO DE MELLO. RDA


200/242. SUBSTANTIVE DUE PROCESS OF LAW. PRINCÍPIO DA
RAZOABILIDADE. A cláusula do devido processo legal abrange um aspecto
formal, quando impõe restrições de caráter ritual à atuação do Poder Público, e
uma dimensão material, que atua como decisivo obstáculo à edição de atos
legislativos de conteúdo irrazoável. Protege os direitos e liberdades contra
qualquer modalidade de legislação que se revele opressiva ou destituída do
necessário coeficiente de razoabilidade. O Estado não dispõe de competência
para legislar ilimitadamente, de forma irresponsável e imoderada. Admite os
princípios da moralidade e da razoabilidade como limites ao legislador.

STJ, 3ª Seção. CC 3.279/92-MS. DJ de 09.11.92. A relação jurídica que se


estabelecer entre o funcionário publico e o Estado, após o advento da Lei
8112/90, tem natureza estatutária e não contratual, por ter o Poder Público a
faculdade de estabelecer unilateralmente as condições para o exercício do
cargo publico.

STF, 1ª Turma. RE 130.213/93-SP. DJ de 23.04.93. As relações entre o Estado


e seus servidores são de natureza estatutária; o regime jurídico do serviço
público pode ser alterado pela legislação, sem violação ao principio do direito
adquirido.

STF, 1ª Turma. RE 116.683/91-RJ. DJ de 13.03.92. A Administração Pública,


observados os limites ditados pela Constituição Federal, atua de modo
discricionário ao instituir o regime jurídico de seus agentes e ao elaborar novos
planos de carreira, não podendo o servidor a ela estatutariamente vinculado
invocar direito adquirido para reivindicar enquadramento diverso daquele
determinado pelo Poder Público, com fundamento em norma de caráter legal.

Exercícios

1. (ESAF96) O regime jurídico único, denominado estatutário, tem as seguintes


características, exceto: a) aposentadoria com proventos integrais b) ingresso
mediante concurso público c) remuneração fixada em lei d) fixação, em lei, do
quantitativo de cargos públicos e) possibilidade de ajuizamento de dissídio
coletivo

2. (ESAF94) Aos servidores públicos civis da União, sujeitos ao regime jurídico


único da Lei 8.112/90, é proibido a) exercer a advocacia b) particip

• Assine

• E-mail

• SAC

• Canais
ar de sociedade mercantil como cotista c) atuar como procurador de seus pais,
filhos e netos, para receber benefícios previdenciários d) ser administrador de
sociedade civil privada e) ser sócio comanditário de sociedade comercial

3. (ESAF94) O servidor público federal, regido pelo regime jurídico único da Lei
8.112/90, se for estável, pode ser posto em disponibilidade remunerada, por
motivo de a) invalidez temporária b) interesse particular c) penalidade
administrativa disciplinar d) reversão de quem ocupava seu cargo e)
reintegração de quem ocupava seu cargo

4. (ESAF94) Não é necessário processo administrativo disciplinar no caso de a)


exoneração b) suspensão c) demissão d) cassação de aposentadoria e)
cassação de disponibilidade

5. (ESAF94) O servidor público civil da União não pode acumular a) dois


cargos de professor b) dois cargos técnicos c) um cargo público com emprego
no setor privado d) um cargo público com proventos de inatividade
(aposentadoria ou reforma) e) um cargo público com o benefício de
aposentadoria previdenciária do INSS

6. (ESAF94) O servidor civil da União, que cometer infração administrativa, que


configure também infração penal, não será punido, disciplinarmente, se a)
ocorrer a prescrição penal b) for absolvido do crime, por insuficiência de provas
c) cumprir a pena criminal d) vier a ser aposentado e) for primário

7. (ESAF91) O prazo para conclusão do processo disciplinar não excederá a)


30 dias improrrogáveis b) 30 dias prorrogáveis por igual prazo c) 60 dias
improrrogáveis d) 60 dias prorrogáveis por igual prazo e) 90 dias
improrrogáveis

8. (ESAF92) Constitui hipótese de provimento originário de cargo público a)


nomeação para cargo de Ministro do Tribunal de Contas da União b) promoção
c) reversão d) retorno de servidor estável ao cargo anteriormente ocupado, por
força de inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo e)
disponibilidade

9. (ESAF92) A vantagem paga ao servidor, além do seu vencimento, pela


prestação de serviço extraordinário, correspondente a um acréscimo de 50%,
em relação à hora normal de trabalho constitui uma (um) a) indenização b)
gratificação c) adicional d)abono e) auxílio

5.1. Deveres do Administrador


O agente público recebe, quando investido no cargo, emprego ou função, parte
do poder público como instrumento ou meio necessário ao desempenho de
suas atribuições ou competências.

No âmbito do direito privado o poder de agir caracteriza-se como uma


faculdade. Já na seara do direito público o poder de agir transforma-se num
dever de agir, numa imposição de atingir as finalidades públicas previstas em
lei.

Assim, foi cunhada a expressão poder-dever de agir da autoridade pública,


justamente para acentuar o fato de que o agente público não pode se furtar ao
exercício de suas atribuições quando a lei assim o determinar ou as
circunstâncias fáticas exigirem.

Alguns juristas chegam a inverter o binômio, desenvolvendo a expressão


dever-poder de agir. Procuram, assim, acentuar a precedência do dever de
agir sobre a possibilidade (poder) de exercer suas atribuições, tudo em sintonia
com a idéia de função ("existe função quando alguém está investido no dever
de satisfazer dadas finalidades em prol do interesse de outrm, necessitando,
para tanto, manejar os poderes requeridos para supri-las. Logo, tais poderes
são instrumentais ao alcance das sobreditas finalidades").

Os principais deveres genéricos do agente público são:

Dever de agir. "Não se admite a omissão da autoridade diante de situações


que exigem a sua atuação".

Dever de eficiência. O exercício das competências administrativas deve, além


da legalidade, considerar a presteza, a perfeição e o rendimento funcional.

"A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,


dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:" (art. 37, caput da Constituição).

Dever de probidade. Consiste no desempenho das atribuições administrativas


observando os padrões morais previstos na ordem jurídica como de
"probidade" (moralidade qualificada juridicamente).

"Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos


políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da
ação penal cabível" (art. 37, §4o. da Constituição).

A Lei n. 8.429, de 1991, estabelece que "os atos de improbidade praticados por
qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta
ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio
público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou
concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual,
serão punidos na forma desta lei". A referida lei prevê três categorias de atos
de improbidade: (a) que Importam Enriquecimento Ilícito; (b) que Causam
Prejuízo ao Erário e (c) que Atentam Contra os Princípios da Administração
Pública.

Dever de prestar contas. A gestão de bens e interesses públicos impõe, como


decorrência natural da condição, a prestação de contas dos atos praticados. A
prestação de contas possui sentido amplo, não devendo ser vista ou entendida
como demonstração quantitativa do manuseio de dinheiros públicos.

5.2. Poderes Administrativos

Os poderes administrativos nascem com a Administração. São verdadeiros


instrumentos de trabalho do administrador. Daí serem considerados poderes
instrumentais. São meios de que se vale a Administração, por seus agentes,
para obter os objetivos previstos em lei.

5.2.1. Poder Vinculado. Também conhecido como poder regrado. É aquele


que o direito confere à Administração Pública para a prática de ato de sua
competência, determinando os elementos e requisitos necessários à sua
formalização. A liberdade de ação do administrador é desprezível ou
inexistente porque sua conduta é minuciosamente especificada na lei.
Elementos vinculados serão sempre a competência e a finalidade. Crítica: Não
é poder autônomo. Não é prerrogativa (ou poder), e sim, restrição.

5.2.2. Poder Discricionário. É o que o direito confere à Administração de


modo explícito ou implícito para a prática de atos administrativos com liberdade
na escolha entre vários atos possíveis e lícitos. Crítica: Não é poder autônomo.
O exercício das competências pode ser vinculado ou discricionário.

5.2.3. Poder Hierárquico. É o decorrente das relações de subordinação,


distribuição de funções e gradação de autoridade. Típico da função
administrativa. Não está presente no exercício da função legislativa ou judicial.
Faculdades decorrentes: dar ordens, fiscalizar, delegar (superior => inferior),
avocar (superior <= inferior) e rever.

"São deveres do servidor: (...) IV - cumprir as ordens superiores, exceto


quando manifestamente ilegais" (art. 116 da Lei n. 8.112, de 1990).

"Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos


administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e
avocação legalmente admitidos.

Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver


impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou
titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados,
quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social,
econômica, jurídica ou territorial.

Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de


competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes.

Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:

I - a edição de atos de caráter normativo;

II - a decisão de recursos administrativos;

III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade.

Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio
oficial.

§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os


limites da atuação do delegado, a duração e os objetivos da delegação e o
recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício da atribuição delegada.

§ 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade


delegante.

§ 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente


esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado.

Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes


devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a
órgão hierarquicamente inferior." (Lei n. 9.784, de 1999)

5.2.4. Poder Disciplinar. É a faculdade de punir internamente as infrações


funcionais dos servidores.

"São penalidades disciplinares: I - advertência; II - suspensão; III - demissão; IV


- cassação de aposentadoria ou disponibilidade; V - destituição de cargo em
comissão; VI - destituição de função comissionada" (art. 127 da Lei n. 8.112, de
1990).

5.2.5. Poder Regulamentar. Também chamado (numa concepção mais ampla)


de normativo. É a faculdade de expedição de atos explicitadores e
viabilizadores do cumprimento da lei. Não podem inovar o ordenamento (criar
obrigações não previstas em lei).

5.2.6. Poder de Polícia. É a faculdade de que dispõe a Administração Pública


para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos
individuais em benefício da coletividade. Razão: É o interesse público.
Fundamento: Supremacia do Estado (face interna da Soberania) Objeto: Bens,
direitos e atividades que possam afetar a coletividade. Finalidade: É a proteção
do interesse público. Atributos ou qualidades: a discricionariedade, a auto-
executoriedade e a coercibilidade. Crítica: Nem sempre é discricionário. Auto-
executoriedade só está presente por disposição legal expressa ou por
urgência. A coercibilidade seria indissociável da auto-executoriedade.
Espécies: de costumes, de profissões, de transporte, de trânsito, de diversões,
de comércio e indústria, ecológica e de saúde. Deve-se distinguir a polícia
administrativa da polícia judiciária e da polícia de manutenção da ordem
pública.

"Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que,


limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato
ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à
segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do
mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão
ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à
propriedade e aos direitos individuais ou coletivos" (art. 78 do Código Tributário
Nacional).

5.3. Uso e abuso de poder

O uso do poder é uma prerrogativa do agente público. O uso (normal) do poder


implica na observância das normas constitucionais, legais e infralegais, além
dos princípios explícitos e implícitos do regime jurídico-administrativo e na
busca do interesse público.

O abuso do poder corresponde a um desvio do uso (normal). O abuso implica


na entrada, pelo agente público, no campo da ilicitude.

São três as formas abuso de poder:

5.3.1. Excesso: quando a autoridade competente vai além do permitido na


legislação.

5.3.2. Desvio de finalidade: quando o ato é praticado por motivos ou com fins
diversos dos previstos na legislação.

5.3.3. Omissão: quando constata-se a inércia da Administração, a recusa


injustificada em praticar determinado ato.

"conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,


não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável
pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público" (art. 5o., inciso LXIX da
Constituição).

6.1. Introdução - Teoria do Fato Jurídico


As normas jurídicas apresentam a seguinte estrutura lógica: Se S então deve
ser P. Onde S significa fato ou suporte fático e P significa preceito.

Norma Jurídica
---------------------- = Fato Jurídico = Eficácia Jurídica
Suporte Fático

Os acontecimentos ou fatos juridicamente relevantes, porque previstos em


normas jurídicas (como suportes fáticos), fazem nascer, no plano do
pensamento humano, o mundo jurídico.

Os fatos juridicamente relevantes (fatos jurídicos lato sensu) podem ser:

(a) fato jurídico stricto sensu: todo aquele independente de ato humano como
dado essencial (exemplos: nascimento, morte, implemento de idade);

(b) ato-fato jurídico: todo aquele que envolve necessariamente um ato humano
abstraindo dele qualquer elemento volitivo (exemplo: descoberta de um tesouro
no fundo do quintal);

(c) ato jurídico stricto sensu: todo aquele que envolve um ato humano cuja
parte volitiva é essencial, mas os efeitos produzidos são necessários
(preestabelecidos pelas normas jurídicas) (exemplo: reconhecimento de
paternidade);

(d) negócio jurídico: todo aquele que envolve um ato humano cuja parte volitiva
é essencial e é possível estruturar ou definir os efeitos produzidos (exemplo:
contrato).

Os planos do mundo jurídico são:

(a) da existência: é o plano do ser. Nele entram todos os fatos jurídicos, quer
sejam lícitos, quer sejam ilícitos. Aqui não se faz considerações sobre validade
ou eficácia do fato jurídico. Cogita-se apenas se fato descrito na lei ocorreu em
sua plenitude;

(b) da validade: onde se verifica a presença de vícios na manifestação de


vontade (humana). Não passam pelo plano da validade os atos ilícitos e
aqueles em que a vontade não é elementos essencial;

(c) da eficácia: onde são produzidos os efeitos dos fatos jurídicos (situações
jurídicas, relações jurídicas, etc). "Os atos anuláveis entram, de logo, no plano
da eficácia e irradiam seus efeitos, mas interinamente, pois poderão ser
desconstituídos caso sobrevenha a decretação da sua anulabilidade". "Os atos
nulos, de regra, não produzem sua plena efeicácia. (...) Acontece, no entanto,
que há casos, embora poucos, em que o ato jurídico nulo produz efeitos
jurídicos" (expressamente atribuídos por lei).
6.2. Definições

Ato administrativo (ato jurídico-administrativo): "a declaração do Estado ou de


quem lhe faça as vezes, expedida em nível inferior à lei - a título de cumpri-la -
sob regime jurídico de direito público e sujeita a controle de legitimidade por
órgão jurisdicional" (Celso Antônio Bandeira de Melo). Exemplo: nomeação de
um servidor público.

Fato administrativo (fato jurídico-administrativo): aquele que produz efeitos


jurídicos no âmbito da Administração Pública mas independe da vontade
humana. Exemplo: morte de um funcionário (que produz a vacância do cargo
público).

Ato da administração: todo ato (em que a vontade humana é relevante) que
produz efeitos jurídicos e é praticado no exercício da função administrativa.
Exemplos: atos de direito privado e contratos administrativos.

Fato da administração: fato ocorrido no âmbito da Administração Pública que


não produz nenhum efeito jurídico (segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro).

6.3. Elementos, componentes ou requisitos

O tema está mergulhado em profundas divergências doutrinárias. Destacamos


a abordagem que decorre do disposto no art. 2o. da Lei n. 4.717, de 1965 (Lei
da Ação Popular). Este dispositivo legal menciona os cinco elementos do ato
administrativo: competência, forma, objeto, motivo ou finalidade.

6.3.1. Competência (ou sujeito): é aquele a quem a lei atribui poderes para a
prática do ato.

6.3.2. Forma: o modo como a declaração do Estado se exterioriza.

6.3.3. Objeto (ou conteúdo): é o efeito jurídico imediato produzido pelo ato. É
aquilo enunciado ou prescrito.

6.3.4. Motivo: são os pressupostos de fato (circunstâncias, acontecimentos) e


de direito (norma jurídica) que fundamentam o ato. Não se confunde com
motivação (a explicitação dos motivos).

6.3.5. Finalidade: é o resultado buscado com a prática do ato. É o efeito jurídico


mediato.
Celso Antônio Bandeira de Mello apresenta uma enumeração cientificamente
precisa. Estabelece que os elementos ou requisitos (quanto à existência) são
dois: conteúdo (ou objeto) e forma. Já os pressupostos (quanto à validade) são
cinco: subjetivos, objetivos (motivo e procedimento), teleológicos (finalidade),
lógicos (causa, como vínculo entre o motivo e o conteúdo) e formalísticos
(formalização).

6.4. Atributos

6.4.1. Presunção de legitimidade e de veracidade. Significa que até prova em


contrário o ato administrativo foi adotado em consonância com a lei e os fatos
apontados pela Administração são verdadeiros. A presunção em questão é
relativa e admite prova em sentido contrário.

6.4.2. Imperatividade. Significa que os atos administrativos se impõem aos


terceitos, independentemnte de sua concordância. Argumenta-se, a exemplo
de Di Pietro, que o atributo só existe naqueles atos administrativos que impõem
obrigações.

6.4.3. Auto-executoriedade. Importa na execução do ato administrativo pela


própria Administração, sendo desnecessária a intervenção judicial. Costuma-se
destacar, mais uma vez como faz Di Pietro, que este atributo é próprio das
hipóteses previstas em lei e quando se exige uma providência urgente.

6.5. Classificação

6.5.1. Quanto às prerrogativas: de império (presença de prerrogativas próprias


do Poder Público) e de gestão (praticados em situação de igualdade jurídica
com o particular).

6.5.2. Quanto à manifestação de vontade: propriamente ditos ou puros (há uma


declaração de vontade da Administração) e meros atos administrativos (há uma
declaração de opinião - parecer, certidão e voto num colegiado).

6.5.3. Quanto à formação: simples (declaração de vontade de um único órgão -


singular ou colegiado), complexos (mais de uma declaração de vontade que se
funde em um único ato) e compostos (mais de uma declaração de vontade e
mais de um ato praticado).

6.5.4. Quanto aos destinatários: gerais (atingem todas as pessoas que estejam
na situação prevista no ato) e individuais (produzem efeitos para pessoas
identificadas no ato).
6.5.5. Quanto aos efeitos: constitutivo (cria, extingue ou modifica situação) e
declaratório (reconhece situação anteriormente existente).

6.6. Espécies

Os atos administrativos quanto ao conteúdo podem ser, entre outros:


autorização, licença, permissão, aprovação, homologação, parecer, visto.
Quanto à forma, temos, entre outros: decreto, portaria, resolução, circular,
despacho, alvará.

6.7. Motivação e Teoria dos Motivos Determinantes

Motivação é a exposição dos motivos, ou seja, é a demonstração, por escrito,


de que os pressupostos de fato realmente existiram (MSZDiP). Subsiste uma
significativa discussão acerca da obrigatoriedade, ou não, da motivação. Para
alguns, a motivação é necessária nos atos vinculados. Para outros, a
motivação é inafastável dos atos discricionários.

"Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos
fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;

IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;

V - decidam recursos administrativos;

VI - decorram de reexame de ofício;

VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de


pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;

VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato


administrativo.

§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em


declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres,
informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do
ato.

§ 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado


meio mecânico que reproduza os fundamentos das decisões, desde que não
prejudique direito ou garantia dos interessados.

§ 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de


decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito" (Lei n. 9.784, de
1999)

Pela teoria dos motivos determinantes a validade do ato administrativo está


vinculada a existência e veracidade dos motivos apontados como fundamentos
para a sua adoção.

6.8. Extinção dos atos administrativos

O assunto é bastante espinhoso em sede doutrinária. Trata-se de verificar as


formas de desaparecimento do ato administrativo da ordem jurídica.
Encontramos entre as hipóteses mencionadas: (a) cumprimento dos efeitos;
(a.1) esgotamento do conteúdo jurídico; (a.2) execução material; (a.3)
implemento de termo ou condição; (b) desaparecimento do sujeito ou do objeto;
(c) retirada; (c.1) revogação; (c.2) invalidação ou anulação; (c.3) cassação;
(c.4) caducidade; (c.5) contraposição e (d) renúncia.

As duas formas mais comuns de extinção dos atos administrativos são a


revogação e a invalidação ou anulação.

A revogação: (a) ocorre por razões de conveniência e oportunidade; (b) é


realizada pela autoridade administrativa competente; (c) produz efeitos ex nunc
(para frente, para o futuro) e (d) possui natureza constitutiva.

A anulação ou invalidação: (a) ocorre por razões de legalidade/validade (o ato


foi produzido em desconformidade com o direito); (b) é realizada pela
autoridade administrativa competente ou pelo Judiciário; (c) produz efeitos ex
tunc (para trás, para o passado) e (d) possui natureza declaratória.

"Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de
vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que


decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos,
contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

§ 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-


se-á da percepção do primeiro pagamento.

§ 2o Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade


administrativa que importe impugnação à validade do ato." (Lei n. 9.784, de
1999)

6.9. Classificação da invalidade

A matéria está envolta em enormes divergências doutrinárias.

Os atos administrativos, quanto ao vício que eventualmente carregam, podem


ser: (a) irregulares: tratam-se de vícios mínimos ou irrelevantes (são
desconsiderados); (b) anuláveis: podem ser reproduzidos sem repetir o vício;
(c) nulos: não podem ser reproduzidos sem repetir o vício e (d) inexistentes:
possuem defeitos de tal magnitude que sequer entram no plano jurídico da
existência (são desconsiderados).

Os atos anuláveis são convalidáveis. Os atos nulos (e os atos inexistentes) não


são convalidáveis.

A convalidação, também chamada de saneamento, é o ato administrativo pelo


qual é suprido o vício existente em um ato ilegal, com efeitos retroativos à data
em que este foi praticado (MSZDiP). Em regra, é possível a convalidação nos
casos de vícios de competência e forma. Não se admite a convalidação nos
casos de vícios relativos ao objeto, à finalidade e ao motivo.

"Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse


público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis
poderão ser convalidados pela própria Administração." (Lei n. 9.784, de 1999)

CAPÍTULO 7 - O Controle da Administração Pública. Controle Externo e


Interno. Controle Parlamentar. Controle pelo Tribunal de Contas. Controle
Judicial dos Atos da Adminìstração Pública.

1. Conceito

"Pode-se definir o controle da Administração Pública como o poder de


fiscalização e correção que sobre ela exercem os órgãos dos Poderes
Judiciário, Legislativo e Executivo, com o objetivo de garantir a conformidade
de sua tuação com os princípios que lhe são impostos pelo ordenamento
jurídico" (Maria Sylvia Zanella Di Pietro).
2. Espécies

2.1. Quanto ao órgão: (a) administrativo; (b) legislativo e (c) judicial.

2.2. Quanto ao momento: (a) prévio; (b) concomitante e (c) posterior.

2.3. Quanto à posição do órgão: (a) interno e (b) externo.

2.4. Quanto ao objeto: (a) de legalidade e (b) de mérito.

3. Controle administrativo

- Supervisão ministerial (Decreto-Lei n. 200, de 1967)

- Autotutela (Lei n. 9.784, de 1998)

- Poder hierárquico

- Recursos administrativos: (a) representação (denúncia de irregularidade); (b)


reclamação administrativa; (c) pedido de reconsideração; (d) recurso
hierárquico (Lei n. 9.784, de 1998) e (e) revisão (reexame de punição).

- Coisa julgada administrativa: irretratável pela própria Administração.

- Prescrição administrativa: (a) para recorrer; (b) para rever seus próprios atos
e (c) para aplicar penalidades.

4. Controle legislativo

- Político (convocação, informações, investigação e sustação de atos


normativos).

- Financeiro (fiscalização, consulta, informação, julgamento, sancionatório,


corretivo e ouvidor). Tribunal de Contas.

5. Controle judicial

- Sistema de unidade de jurisdição (jurisdição una). Especificidade da


discussão de matéria esportiva.

- Objeto: legalidade (existência de vícios), não envolve o mérito administrativo


(conveniência/oportunidade).

- Não atinge: (a) atos políticos (desde que não causem lesão a direito) e (b)
atos interna corporis.

- Instrumentos: (a) habeas corpus; (b) mandado de segurança (individual e


coletivo); (c) habeas data; (d) mandado de injunção; (e) ação popular; (f) ação
civil pública; (g) ação cautelar e (h) ação ordinária.

- Privilégios da Administração Pública: (a) juízo privativo; (b) prazos dilatados;


(c) duplo grau de jurisdição; (d) processo especial dde execução (contra e a
favor); (e) prescrição qüinqüenal; (f) pagamento de despesas judiciais; (g)
restrições à concessão de liminares e tutelas antecipadas e (h) restrições à
execução provisória.

6. Controle popular

- Instrumentos: (a) certidão; (b) petição e (c) ação popular.

7. Controle pelo Ministério Público

- Instrumentos: (a) inquérito civil; (b) ação civil pública; (c) ação de improbidade
e (d) sobre a ação policial.

CAPÍTULO 8 - RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL DO ESTADO

1. Noção

Obrigação de reparar danos causados a terceiros em decorrência de


comportamentos comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos, lícitos ou
ilícitos, imputáveis ao Estado.

Para efeitos de delimitação da responsabilidade em questão, entenda-se


Estado como qualquer de seus Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Considere-se, ainda, que não está abrangida a responsabilidade decorrente de
relações contratuais. Por fim, ressaltando aspecto crucial, a responsabilidade
em pauta não pressupõe ação humana (de agente público).

2. Evolução

2.1. Teoria da irresponsabilidade

Pugna pela não-reparação dos danos causados pelo Poder Público. Foi
adotada na época dos Estados absolutos e fundava-se na idéia de soberania.
2.2. Teorias civilistas

Surgiram no século XIX e adotavam princípios de direito civil. Numa primeira


fase, distingue atos de império (sem responsabilidade) de atos de gestão (com
responsabilidade). Depois, temos a teoria da culpa civil ou responsabilidade
subjetiva (demonstração de culpa).

2.3. Teorias publicistas

Teoria da culpa do serviço ou da culpa administrativa ou do acidente


administrativo. Aplica-se quando o serviço público: (a) não funciona; (b)
funciona atrasado ou (c) funciona mal. Independe de apreciação de culpa do
funcionário.

Teoria do risco ou da responsabilidade objetiva. Não considera aspectos


subjetivos e funda-se na idéia de que a atuação estatal envolve um risco de
dano aos membros da sociedade. Considera, para efeitos de
responsabilização, a existência de um nexo de causalidade entre o
funcionamento do serviço público e o prejuízo sofrido.

São duas as modalidades do risco: (a) administrativo: admite causas


atenuantes e excludentes e (b) integral: não admite causas atenuantes e
excludentes.

3. Direito positivo brasileiro

O art. 37, parágrafo sexto da Constituição Federal consagra: (a)


responsabilidade objetiva do Estado e (b) responsabilidade subjetiva do
funcionário.

A regra constitucional destacada aplica-se às pessoas jurídicas de direito


privado prestadores privados de serviço público. Prevê, ainda, a norma
constitucional, a ação regressiva do Poder Público contra o funcionário que
agiu com culpa ou dolo.

4. Causas atenuantes e excludentes da responsabilidade

No âmbito da teoria da risco administrativo, a culpa concorrente da vítima é


causa atenuante de responsabilidade. Já as causas excludentes são: (a) força
maior (acontecimento imprevisível, inevitável e estranho à vontade. Ex.:
tempestado, terremoto, raio); (b) culpa exclusiva da vítima e (c) culpa de
terceiros.

Registre-se que no caso fortuito (ato humano ou falha da Administração. Ex.:


rompimento de cabo elétrico) ocorre a responsabilização. Também importa
consignar que a responabilização é possível nos casos de força maior
conjugados com falha do serviço (Ex.: enchente + desídia na manutenção de
galerias de escoamento de águas pluviais).

5. Responsabilidade por atos legislativos

Prevalece o entendimento no sentido da irresponsabilidade. Os argumentos


utilizados são os seguintes: (a) o Poder Legislativo exercita a soberania estatal;
(b) editam-se normas gerais e abstratas e (c) os membros são eleitos.

No caso específico da lei de efeito concreto há responsabilização normalmente.

6. Responsabilidade por atos jurisdicionais

Apesar das divergências prevalece o entendimento no sentido da


irresponsabilidade. Os argumentos utilziados são os seguintes: (a) o Poder
Judiciário exercita a soberania estatal; (b) independência; (c) o juiz não é
funcionário público e (d) a autoridade da coisa julgada.

Admite-se a responsabilização nos casos específicos previstos em lei. São


eles: (a) erro judiciário (art. 5o., LXXV da CF e art. 630 do CPP) e (b) dolo,
fraude, recusa, omissão ou retardamento injustificado de providências (art. 133
do CPC).

7. Reparação do dano

A reparação do dano pode ser: (a) administrativa ou (b) judicial. A ação


indenizatória será proposta contra a pessoa jurídica. Existe um significativa
discussão doutrinária acerca do cabimento, em relação ao servidor: (a) da
denunciação da lide (art. 70, inciso III do CPC) e (b) do listisconsórcio.

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a Lei n. 8112, de 1990, afasta a


denunciação e o litisconsórcio (art. 122, parágrafo segundo).

You might also like