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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE QUÍMICA

QUÍMICA AMBIENTAL E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Profa. Cássia Curan Turci


cassia@iq.ufrj.br

www.iq.ufrj.br
Dicas para reduzir suas emissões de CO2

VEJA COMO VOCÊ PODE COLABORAR!

Há uma série de medidas que podemos tomar no nosso dia a dia


para reduzir nossa emissão individual de gases de efeito estufa
(GEE) e, desta forma, ajudar a prevenir o problema do
aquecimento global. São medidas simples que, além de ajudarem
na questão das mudanças climáticas, podem melhorar
significativamente a qualidade do ar que respiramos e do ambiente
em que vivemos.

Cada uma das medidas enumeradas abaixo proporcionam uma


redução de emissões de GEE (CO2 equivalente), classificadas aqui
em*, ** e ***, sendo:

*** Redução anual em 500 kg ou mais;


** Redução anual entre 100 e 499 Kg;
* Redução anual de menos de 100kg.

* Se tiver mais de uma geladeira ou freezer ligados, desligue-os a


menos que este seja indispensável. Esta dica torna-se ainda mais
importante se estes forem modelos antigos e menos eficientes.

* Utilize lâmpadas mais eficientes. Prefira as lâmpadas


fluorescentes no lugar das incandescentes. Trocando as 5
lâmpadas mais utilizadas em sua casa, você reduzirá
sensivelmente sua conta de luz e conseqüentemente suas
emissões de GEE.

* Desligue luzes e equipamentos quando não estiverem sendo


utilizados. Evite deixar computadores ligados 24 horas por dia e
configure-os para que desliguem seus monitores quando estão em
espera.

* Utilize o mínimo necessário de papel. Utilizando e-mail com mais


freqüência – é mais rápido, eficiente, barato e mais saudável para
o meio-ambiente. Use papel reciclado sempre que possível e
separe papéis e papelão ao dispensá-los, facilitando, assim, a
reciclagem destes.

* Evite deixar água corrente ao barbear-se, escovando os dentes


ou lavando louças. Muito importante: nunca utilize água corrente
para lavar calçadas, quintais, carros. Encha um balde com água,
evitando assim que grande quantidade de água vá para o ralo,
assim como seu dinheiro. Não deixe a torneira aberta, sem
necessidade, durante o seu trabalho de laboratório.

** Separe todo o material reciclável: Todo o material que é


reciclado representa uma diminuição das emissões de GEE e
também contribui com os catadores de recicláveis.

* Plante árvores: além de ajudar a absorver o CO2 da atmosfera,


elas proporcionam sombreamento, amenizando a temperatura
dentro das residências e reduzindo desta forma o uso de
condicionadores de ar ou ventiladores. Vamos aumentar o plantio
de árvores durante a recepção aos nossos novos estudantes!

*** Se você dirige 20.000 km por ano reduza sua rodagem em


10%. Para tal você pode utilizar transporte público, bicicleta,
andar, etc.

** Mantenha a manutenção do seu veículo. Um motor mal cuidado


pode consumir 50% a mais de combustível e produzir 50% mais
CO2.

** Calibre o pneu do seu carro ao menos uma vez por mês.

*** Prefira veículos movidos a álcool ou bicombustíveis. O álcool,


ao contrário da gasolina, diesel ou gás, é uma fonte de energia
renovável. A mesma quantidade de CO2 emitido da queima do
álcool nos motores é fixada nas plantações de cana de açúcar.

* Use ventiladores como sua primeira linha de defesa contra o


calor ao invés do condicionador de ar.

O BICHO
“Vi ontem um bicho na imundície do pátio catando comida entre os
detritos.
Quando encontrava alguma coisa, não examinava, nem cheirava,
engolia com voracidade.
O bicho não era um cão, não era um gato, não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.”
(Poema de Manuel Bandeira, em Obras Poéticas, 1956)
ÍNDICE GERAL

Capítulo 1 Introdução

1.1- Considerações gerais ..................................................................................................5


1.2- A química ambiental ...................................................................................................6
1.3- O interesse pelo ambiente ...........................................................................................8

Capítulo 2 Os elementos químicos e a biosfera

2.1- Distribuição dos elementos químicos na biosfera ..........................................……….10


2.2- Ciclos dos elementos da biosfera ............................................................……….......13
2.3- Ciclos biogeoquímicos na natureza .........................................................……….....14
2.3.1- O ciclo do carbono e do oxigênio ...............................................………......15
2.3.1.1- O ciclo do carbono e o aquecimento global ...........................……...16
2.3.2- O ciclo do nitrogênio .............................................................…….............18
2.3.3- O ciclo do fósforo ............................................................................……...21
2.3.4- O ciclo da água ......................................................................………..........21

Capítulo 3 A atmosfera terrestre e os principais problemas ambientais

3.1- A atmosfera terrestre ................................................................................................23


3.1.1- Principais funções .........................................................................................23
3.1.2- Composição ..................................................................................................23
3.1.3- Estrutura .......................................................................................................24
3.2- Efeito estufa .............................................................................................................26
3.3- Camada de ozônio ....................................................................................................28
3.4- Chuva ácida ..............................................................................................................31
3.5- Smog fotoquímico ....................................................................................................33

Capítulo 4 Os metais

4.1- Química de coordenação ..........................................................................................36


4.2- Complexos do tipo quelato ......................................................................................37
4.3- Assimilação de íons metálicos pelas plantas e animais .............................................37
4.4- Aspectos toxicológicos .............................................................................................38
4.5- Aspectos medicinais ..................................................................................................43

Capítulo 5 Introdução à Química Orgânica.................................................................45


Capítulo 1

INTRODUÇÃO

1.1 - Considerações gerais

Os modelos de desenvolvimento adotados pelo homem para a agricultura, a pecuária, a


indústria e os centros urbanos não têm levado em conta a natureza. O solo, o ar e a água têm
sido usados como depósito do lixo produzido. Como resultado apareceram as chuvas ácidas,
as mudanças climáticas, a erosão e a desertificação do solo, a contaminação dos alimentos por
metais e agrotóxicos, o acúmulo do lixo não degradável, principalmente plásticos, o buraco de
ozônio, o perigo de extinção de muitas espécies animais e vegetais, e vários outros problemas
ambientais muito sérios e praticamente irreversíveis. Ao se apropriar dos recursos que a
natureza lhe ofereceu, o homem se esqueceu de um princípio vital: o equilíbrio que deve existir
entre animais e plantas no seu habitat. Sem preservação do equilíbrio ecológico, o planeta
morre.

Está muito claro hoje que a solução dos problemas ambientais está acima do conceito
de países. Os testes atômicos em diferentes regiões do planeta, as queimadas das florestas
brasileiras, o destino de lixo químico e nuclear da Europa, a exploração das plataformas
continentais e da Antártida são problemas que afetam a todos nós. Mais cedo ou mais tarde
todos sentiremos seus efeitos. Por isso é importante prevení-los. Governos de todo o mundo,
principalmente nos países sub-desenvolvidos, se encontram hoje com o dramático dilema de
decidir onde aplicar os poucos recursos disponíveis para solução de problemas cruciais da
população; saúde, educação, transporte, alimentação, moradia, e agora, recuperação do meio
ambiente e prevenção de desastres ecológicos. No Brasil, falta ainda uma política ambiental
clara, sem oportunismos, que atue a partir de uma esfera federal. Nestes últimos vinte anos foi
observado apenas o fortalecimento de órgãos estaduais, responsáveis pelo controle e manejo do
meio ambiente, os quais refletem, nas suas rotinas de operação, os grandes abismos
econômicos característicos das várias regiões do país. Enquanto governos e políticos decidem
sobre onde aplicar as verbas, é fundamental que cada homem, mulher e criança se conscientize
destes problemas que estão destruindo a vida no planeta e reformulem seus hábitos,
principalmente os de consumo. Na cidade ou no campo, no mundo desenvolvido ou
subdesenvolvido, todos seremos vítimas se não tratarmos a natureza com respeito e
responsabilidade. Isto implica numa mudança de estilo menos individualista para outro mais
compromissado com toda a sociedade.

No Brasil, sem um plano diretor responsável, carente de uma política federal


abrangente e ao mesmo tempo sensível às peculiaridades regionais, e principalmente sem as
contribuições pessoais, das universidades e da iniciativa privada na solução dos problemas
ambientais, a sociedade brasileira poderá presenciar, a curto prazo, um sério comprometimento
da sua qualidade de vida.

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1.2 - A Química ambiental

A Química Ambiental procura elucidar as reações químicas que ocorrem na biosfera


(hidrosfera, litosfera e atmosfera) e suas interfaces, principalmente aquelas que podem afetar a
saúde humana.

Como exemplos, podemos citar:

Na atmosfera: as reações fotoquímicas e a produção de compostos tóxicos tais como


ozônio, aldeídos, etc.

Na hidrosfera: reações de complexação, adsorção de metais e seus efeitos tóxicos para


a biota.

Na litosfera: reações mediadas por microorganismos (biocidas).

Em química ambiental, todos estes sistemas devem ser estudados como partes de um
todo.

A pesquisa em Química Ambiental no Brasil, até o início dos anos 80, dedicava-se à
poluição ambiental e consistia, principalmente, no monitoramento de espécies químicas
consideradas poluentes, num dos três compartimentos ambientais: atmosfera, litosfera e
hidrosfera, com ênfase para este último. Existia uma acentuada e preocupante escassez de
atividades de pesquisa em termos de reatividade química e comportamento físico de poluentes
nos três compartimentos e em suas interfaces. Durante a década de 80 muitos eventos, entre
eles reuniões científicas dedicadas exclusivamente à discussão da química ambiental,
propiciaram a discussão dos rumos da Química no Brasil e contribuíram de forma significativa
para a mudança deste cenário.

Dentre os principais problemas ambientais podemos destacar:

a) o uso errôneo e mesmo abusivo de substâncias químicas

Certas substâncias, frequentemente tóxicas, muitas vezes têm efeito cumulativo nos
seres vivos e são persistentes, acumulando-se no ambiente onde são lançadas.

O efeito cumulativo ou a bioamplificação acontece com aquelas substâncias, naturais


ou sintéticas, que não deveriam fazer parte da dieta do ser vivo e assim, quando absorvidas ou
ingeridas por vegetais ou animais, não são eficientemente eliminadas do organismo.
Compostos de metais pesados fazem parte deste grupo de substâncias. A bioamplificação do
mercúrio tem sido estudada, sendo encontrados casos em que a concentração deste metal em
peixes chega a ser milhares de vezes maior do que na água onde vivem.
O fenômeno da persistência no ambiente acontece com as substâncias sintéticas que são
estáveis aos fenômenos físicos naturais, são quimicamente inertes e de difícil biodegradação.
Plásticos, em geral, e os freons fazem parte deste grupo de substâncias. Os detergentes
sintéticos, ditos não biodegradáveis, sofrem mais lentamente a decomposição biológica do que
os sabões ou os detergentes sintéticos biodegradáveis. Os pesticidas clorados têm sido

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encontrados em locais onde foram lançados após anos ou mesmo décadas da sua aplicação.

b) poluição e contaminação das águas

Além do aspecto estético e da transmissão de doenças, a poluição das águas pode


causar desequilíbrio ecológico. Geralmente isto ocorre quando são lançados aos rios grandes
quantidades de resíduos orgânicos. A matéria orgânica é geralmente biodegradável, seja ela
proveniente de esgotos ou qualquer outra origem como restos de alimentos ou produtos
industriais (açúcar por exemplo). Sendo biodegradável, ela pode ser utilizada como alimento
pelos microorganismos decompositores da água (bactérias, fungos e outros seres que vivem e
proliferam normalmente nas águas). Quanto maior for a quantidade de matéria orgânica
lançada à água, maior o número de microorganismos que aí se desenvolverão. Estes
microorganismos respiram, consumindo oxigênio dissolvido na água. Assim sendo, quanto
maior a quantidade de matéria biodegradável, maior o número de decompositores e maior o
consumo de oxigênio. Como a água constitui um ambiente pobre em oxigênio, em função de
sua baixa solubilidade, esse excessivo consumo respiratório pode causar a extinção de todo o
oxigênio dissolvido, o que ocasionará a consequente morte dos peixes e outros seres aeróbios.
Neste caso temos um desequilíbrio ecológico e não um envenenamento das águas, e esta é a
causa mais frequente de morte de peixes em rios poluídos.

c) poluição do ar

Os maiores problemas de poluição do ar são os decorrentes do lançamento de gases


tóxicos à atmosfera pelas indústrias ou pela frota automotiva. Além disso, alguns compostos
tóxicos são formados no próprio ar a partir de elementos componentes dos gases desprendidos
pelos motores e pelas chaminés, os quais reagem com elementos da própria atmosfera mediante
a intervenção da luz como fonte de energia (reações fotoquímicas). Entre os principais
compostos nocivos que nas grandes cidades poluem a atmosfera, podemos citar os compostos
sulfurosos, nitrogenados e óxidos de carbono.

d) uso inadequado da terra ou ocupação inadequada do espaço

A prática da agricultura intensiva e da monocultura em larga escala, tanto têm levado à


perda de solo e à diminuição da sua fertilidade, como provocado a incidência e a proliferação
de pragas.

O zoneamento não criterioso das regiões urbanas tem provocado problemas de poluição
das águas e, principalmente, da atmosfera.

e) extinção de espécies animais e vegetais

A preocupação com a extinção das espécies justifica-se, principalmente, pelo direito que
todos têm à existência e pela possibilidade de que plantas e animais extintos, ou em vias de
extinção, por causa da atividade humana, pudessem ser recursos naturais ou elos controladores
de outras espécies.

Devemos estar atentos a problemas ambientais como os citados acima pois toda a

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humanidade sofre os seus efeitos.

1.3 - O interesse pelo ambiente

A preocupação com a preservação do meio ambiente não é, como muitos pensam, um


movimento recente de conscientização popular, nem um modismo científico. Historicamente,
a preocupação com a preservação ambiental surgiu conjuntamente com a devastação ambiental.
Não foi porém, senão na década de 60, graças à mobilização popular e o apoio dos meios de
comunicação, que o assunto atingiu proporções globais, entrando nos lares e fazendo com que
matérias aparentemente complexas, tais como o uso de agrotóxicos ou a contaminação por
mercúrio, fossem tratadas com familiaridade até mesmo por leigos. Por exemplo, após a
segunda grande guerra os efeitos da bomba atômica acordaram o homem para a sua capacidade
de destruição, levando-o a preocupar-se com o desenvolvimento de armas nucleares.

Já na década de cinquenta começou o alerta aos perigos do uso intensivo e


indiscriminado dos pesticidas sintéticos, discutindo-se a persistência e o efeito cumulativo do
dicloro-difenil-tricloroetano (DDT) e outros pesticidas.

Nos anos sessenta, o excesso de nutrientes (eutrofização) jogados em rios e lagos,


oriundos dos detergentes com fósforo, era um problema prioritário global. O esforço da
comunidade científica foi canalizado para minimizar esse tipo de poluição. Minimizado o
problema, outros poluentes foram detectados no ar, na água e nos alimentos.

A era da eutrofização foi substituída pela era dos metais pesados, dos organoclorados,
da chuva ácida. A década de oitenta foi caracterizada pelo esforço devotado à preservação do
sistema aquático subterrâneo e superficial e pela minimização dos poluentes atmosféricos. Isto
não significou o esquecimento ou eliminação dos velhos poluentes; simplesmente foi atingido
um estágio de desenvolvimento que permitiu tanto a avaliação mais precisa do potencial tóxico
de certos compostos, como também a otimização de processos para o manejo e controle dos
primeiros poluentes.

Nesta década de noventa, os pesquisadores vêm se preocupando principalmente com as


mudanças climáticas devidas ao efeito estufa, o câncer pulmonar associado à exposição ao
radônio, os efeitos da destruição da camada de ozônio e o descarte final de resíduos sólidos
industriais. Os brasileiros, além disso, devem encarar outros problemas, como a ocupação
caótica da Amazônia.

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Referências

[1] E. J. H. Bechara, Química Nova, 15, 117 (1992).


[2] W. F. Jardim, Química Nova, 15, 144 (1992).
[3] W. F. Jardim, especialista em química ambiental - coletânea de artigos publicados em
revistas e jornais.
[4] B. M. Vieira, Ciências do ambiente para o curso de engenharia, Departamento de
Química - Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA, São José dos Campos, SP.
[5] CETESB - Folhetos explicativos.
[6] FEEMA - ASFEEMA - Curso teórico e prático de controle da poluição ambiental, Rio
de Janeiro, RJ, (1998).

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Capítulo 2

OS ELEMENTOS QUÍMICOS E A BIOSFERA

2.1 - Distribuição dos elementos químicos na biosfera

A vida se manifesta numa faixa delgada, quase que superficial de nosso planeta, onde
três requisitos essenciais são satisfeitos:

a) existência de água;

b) disponibilidade de energia, principalmente solar;

c) ocorrência de trocas dinâmicas de elementos e influências provenientes da atmosfera,


litosfera e hidrosfera.

Estes fatores determinam a composição dessa faixa conhecida como biosfera. Nela
predominam elementos mais leves, como o hidrogênio (H), carbono (C), nitrogênio (N),
oxigênio (O) e fósforo (P), na extensão de 1 a 60%, seguidos por sódio (Na), potássio (K),
magnésio (Mg), cálcio (Ca), enxofre (S) e cloro (Cl), no intervalo de 0,01 a 1%. Os metais de
transição vanádio (V), crômio (Cr), manganês (Mn), ferro (Fe), cobalto (Co), cobre (Cu) e
zinco (Zn) comparecem na escala de traços (< 0,01%), porém são essenciais para a vida, o
mesmo acontecendo com os não metais boro (B), silício (Si) e selênio (Se). Acima do
elemento de número atômico 34, apenas o molibdênio (Mo, Z = 42) e iôdo (I, Z = 53) são
considerados essenciais.

Por que a vida se teria organizado com base nesses elementos? Em primeiro lugar,
devemos observar que cada elemento na biosfera desempenha uma função necessária, como
constituinte estrutural de sistemas biológicos, como cofator e centro ativo de enzimas, ou como
transportador de elétrons, íons, O2 e CO2. Ao lado da eficiência de cada elemento em sua
função biológica,deve-se pensar ainda em sua abundância relativa no ambiente geoquímico
onde se insere o círculo da vida. Este aspecto pode ser melhor apreciado na Tabela 2.1.

Os elementos constituintes da biosfera ocorrem em quantidades apreciáveis na crosta


terrestre, nas águas ou no ar, fato que evidencia bem a importância desse critério de seleção
natural. Podemos assim compreender a razão da preferência desenvolvida em torno do sódio e
do potássio dentre os demais metais alcalinos, bem como do predomínio absoluto do cálcio
sobre o estrôncio nos sistemas biológicos, apesar de sua semelhança química.

Enquanto a abundância relativa dos elementos no globo terrestre está ligada à


estabilidade nuclear, a seleção entre os vários elementos disponíveis constitui um problema de
ordem funcional. Tomando como exemplo os metais da primeira série de transição, vamos
encontrar o ferro e o cobre como maior frequência em funções redox, em virtude de suas
características favoráveis para a transferência de elétrons. O zinco, por outro lado, sendo
pouco ativo em processos redox, foi melhor aproveitado para o exercício de funções
hidrolíticas, catalisando reações tipo ácido-base. Note-se que os íons de cobre são igualmente
ativos nesse sentido. Contudo, a opção natural pelo zinco diminuiu a possibilidade de reações
redox acopladas ao processo hidrolítico.

O papel de cada elemento nos sistemas biológicos introduz a questão da essencialidade


de tal elemento. Através da evolução, os elementos metálicos como Fe, Co, Cu, Zn e Mo,
selecionados com base na maior disponibilidade e eficiência, tornaram-se parte de um sistema
químico mais complexo, representado, por exemplo, pela cadeia protéica. Com isso,
assimilaram características extremamente aprimoradas e específicas em suas funções. Os
elementos alternativos, exemplificados pelo estrôncio e pelos lantanídeos com relação ao
cálcio, sendo menos abundantes, acabaram ficando à margem da evolução biológica.
Tabela 2.1 - Composição da crosta terrestre, da água do mar e do homem: dados em
logaritmo da distribuição percentual em partes por milhão
Exemplo: 106 g de água do mar encerram 105,03 g de hidrogênio
__________________________________________________________________________
Elemento crosta água homem observações
________________________________________________________________________________________
H 3,14 5,03 4,96 constitutinte do fluido e das moléculas biológicas
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Li 1,30 -0,76 -1,5 não essencial, usado no tratamento de doenças
mentais
Na 4,45 4,02 3,41 principal cátion extracelular
K 4,41 2,58 3,34 principal cátion intracelular
Rb 1,95 -0,92 0,9 não essencial
Cs 0,44 -3,30 não essencial
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Be 0,45 -6,22 não essencial, tóxico
Mg 4,32 3,13 2,60 função enzimática, componente da clorofila
Ca 4,55 2,60 4,14 função enzimática, constituinte dos ossos e das
conchas
Sr 1,95 -0,92 0,6 não essencial
Ba 2,62 -1,5 -0,5 não essencial
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
B 1,00 0,66 -0,7 essencial em plantas
Al 4,91 -2,0 não essencial
Ga 1,17 -4,5 não essencial
In -1,0 não essencial
Tl 0,3 não essencial, tóxico
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
C 2,30 0,66 5,28 constituinte de biomoléculas
Si 5,44 0,48 1,60 função estrutural
Ge 0,17 -4,15 não essencial
Sn 0,30 -3,10 0,30 função desconhecida
Pb 1,11 -4,5 -0,30 não essencial, tóxico, poluente
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
N 1,30 -0,3 4,70 constituinte de biomoléculas
P 3,02 -1,15 3,80 função estrutural e energética
As 0,25 -2,5 -1,3 não essencial, tóxico
Sb -0,7 -3,3 não essencial, tóxico
Bi -0,6 -4,7 não essencial, tóxico
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O 5,66 5,93 5,79 constitutinte do fluido e das moléculas biológicas
S 2,41 2,94 3,80 constituinte de biomoléculas
Se -1,3 -3,4 essencial em traços; bastante tóxico em
quantidades
maiores
Te 2,0 não essencial, tóxico
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
F 2,79 0,11 encontrado nos ossos e dentes
Cl 2,11 4,28 3,25 principal ânion celular
Br 0,39 1,81 0,3 encontrado em algumas espécies marinhas
I -0,30 -1,22 0,01 constituinte de biomoléculas
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
________________________________________________________________________________________
Elemento crosta água homem observações
________________________________________________________________________________________
Ti 3,64 -3,00 não essencial
V 2,13 -2,69 -1,5 essencial, principalmente para organismos
marinhos e plantas
Cr 2,00 -4,3 -1,5 essencial, função pouco conhecida
Mn 2,97 -2,7 0,01 função enzimática, decomposição da água na
fotossíntese
Fe 4,69 -2,7 1,70 função enzimática e transportadora de oxigênio
Co 1,39 -4,0 -1,4 função enzimática, constituinte da vitamina B12
Ni 1,87 -2,7 -1,4 função desconhecida, provavelmente não essencial
Cu 1,74 -2,5 0,6 função enzimática e transportadora de oxigênio
Zn 1,84 -2,0 1,40 função enzimática
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Nb 1,30 -5,0 não essencial, presente em alguns organismos
marinhos
Mo 0,17 -2,0 -0,7 função enzimática, fixação do nitrogênio molecular
Cd -0,7 -3,95 não essencial, poluente, tóxico
Pt -2,0 não essencial, componente de drogas contra o
câncer
Au -2,4 -5,4 não essencial, componente de drogas para
tratamento de artrite
Hg -1,1 -4,5 não essencial, poluente, tóxico
Ln lantanídeos, não essenciais
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

2.2 - Ciclo dos elementos da biosfera

A troca de elementos entre a atmosfera, litosfera e hidrosfera é um ponto essencial


para a existência da biosfera. Assim, é importante levar em conta a disponibilidade do
elemento, decorrente não apenas da sua abundância natural, mas também da forma em que se
encontra e dos modos de captura pelos sistemas biológicos.

Apesar de constituir 78% da atmosfera, o nitrogênio molecular nem sempre pode ser
considerado disponível, por ser pouco reativo. Sua transformação em produtos mais úteis,
como a amônia, NH3, envolve apreciável gasto de energia, necessitando de catalisadores, além
de pressões e temperaturas elevadas. Esse obstáculo foi superado em sistemas biológicos que
sintetizam enzimas nitrogenases. Tais enzimas contêm ferro (Fe) e molibdênio (Mo), e são
capazes de converter nitrogênio molecular em amônia, em condições ambientes, utilizando
energia produzida pelo metabolismo. São encontradas em microorganismos que vivem livres,
ou associados a raízes de plantas, como as leguminosas. Dessa maneira, tornam o nitrogênio
atmosférico disponível à biosfera.

O oxigênio é disponível à biosfera, como componente fundamental da água e do ar. Na


forma de oxigênio molecular, sua assimilação e transporte são feitos através de pigmentos que
contêm ferro (por exemplo, hemoglobina e mioglobina) ou cobre (por exemplo, hemocianina).
Enzimas redox que contêm ferro ou cobre, se encarregam da oxidação dos substratos
orgânicos pelo oxigênio molecular, dando como produtos finais CO2 e H2O. O processo
inverso, que fecha o ciclo do elemento na biosfera, é desempenhado pelo pigmento verde das
plantas, a clorofila. Na fotossíntese, CO2 e H2O são convertidos em carboidratos, sob a ação
da luz, liberando oxigênio molecular. Ao mesmo tempo, o carbono é incorporado à biosfera.

Os elementos metálicos, assim como os íons haletos, fosfato, sulfato e nitrato, são
fornecidos à biosfera, continuamente, pela hidrosfera e litosfera. Mecanismos desenvolvidos
de incorporação permitem a acumulação seletiva dessas espécies nso seres vivos, distribuindo-
as segundo um padrão incrivelmente complexo pelas diversas partes do organismo.

2.3 - Ciclos biogeoquímicos na natureza

Todos os elementos que se encontram no meio ambiente e que, de alguma forma, são
aproveitados pelos seres vivos fazem parte de um reservatório permanente. Sofrem uma série
de transformações bioquímicas, retornam ao seu estado original e, por fim, são devolvidos ao
meio ambiente. Isso é necessário, pois, mesmo quando abundantes, os elementos
indispensáveis à vida existem em quantidade limitada. Caso não fossem continuamente
reciclados, se esgotariam em pouco tempo.

Os ciclos dos elementos componentes da natureza são denominados biogeoquímicos,


por envolverem atividades biológicas, químicas e fenômenos geológicos. Biológicas, porque
grande parte das transformações se sucedem com a participação dos seres vivos; químicas,
porque consistem em reações que ocorrem entre elementos químicos; e são também fenômenos
geológicos, visto que a origem primária de todos esses elementos está ligada à composição
básica da superfície do globo terrestre. Por essas três características, convencionou-se chamar
os ciclos naturais dos elementos químicos na biosfera de ciclos biogeoquímicos.

Os grandes reservatórios do nosso planeta - litosfera, hidrosfera e atmosfera -


geralmente mantêm uma massa relativamente elevada das substâncias envolvidas nesses
reservatórios. Matéria é constantemente trocada entre os reservatórios, sendo que a grande
maioria das transformações e, pelo menos parte das trocas, acontecem por meio de reações
químicas realizadas pelos seres vivos.

Nos reservatórios, as velocidades de troca e o estoque das substâncias participantes dos


ciclos são praticamente constantes (não considerada a escala geológica do tempo), sendo que
as trocas e as transformações acontecem de modo tal que as alterações causadas por
interferência são, em princípio, minimizadas.

A “circulação” de alguns elementos é muito rápida. Em compensação, há casos em que


essa circulação entre os meios abiótico e biótico, com o retorno ao primeiro, demanda um
tempo exageradamente longo; às vezes de milhões de anos. A título de exemplo, você pode até
imaginar um átomo de carbono na composição de uma molécula de CO2, resultante de uma
combustão qualquer. Se essa molécula for incorporada por uma planta verde no processo
fotossintético, em pouco tempo aquele carbono estará compondo uma molécula orgânica da
planta. Um inseto, ao devorar essa planta, receberá aquele átomo de carbono. Mas, pela sua
própria atividade respiratória, o inseto não tardará em devolver o carbono ao ambiente
abiótico, sob a forma de dióxido de carbono. Esse é um ciclo rápido. Mas muitos átomos de
carbono ficaram soterrados, compondo a matéria de organismos, animais e plantas, retidos em
terrenos geológicos de milhões de anos, originando o petróleo e a hulha. Hoje, esses
combustíveis, extraídos e queimados, liberam outra vez o carbono para o ar atmosférico,
permitindo o seu reaproveitamento pelas plantas e o seu retorno às cadeias alimentares.
O estudo destes ciclos nos possibilita entender a maneira como essas transformações e
trocas ocorrem, bem como avaliar o grau de interdependência dos seres vivos e destes com o
ambiente.

2.3.1 - Os ciclos do carbono e do oxigênio

Apesar de ser bem pequena a percentagem de dióxido de carbono (CO2) na composição


do ar atmosférico (cerca de 0,04 %), calcula-se que a quantidade dele lançada anualmente na
atmosfera, não só pela atividade respiratória dos seres vivos, mas também pelas combustões
nas fábricas e nos veículos automotores, ultrapasse cinco bilhões de toneladas. Isso representa,
de certa forma, um fator considerável de poluição do meio ambiente. Há evidências de que o
acúmulo de CO2 na atmosfera vem provocando um aquecimento cada vez maior do nosso meio
ambiente, atuando como um manto que impede a perda de calor para o espaço exterior (efeito
estufa). Felizmente, as plantas verdes dos ecossistemas terrestres e, principalmente, as algas
marinhas reprocessam esse CO2, no fenômeno da fotossíntese, combinando-o com a água e
formando carboidratos. Por esse processo de reciclagem do CO2 nas estruturas celulares, são
formados os compostos orgânicos, imprescindíveis à manutenção da vida na biosfera.

Os compostos orgânicos, além do seu papel estrutural, são consumidos pelos sistemas
vivos como ciclos de energia. Ao fim dos mecanismos respiratórios, que visam a liberação da
energia contida nas moléculas orgânicas, o CO2 reaparece como um dos produtos finais, sendo
então devolvido ao meio ambiente para reiniciar o ciclo.

O ciclo do oxigênio corre paralelo ao ciclo do carbono, estando intimamente vinculado


a ele. Realmente, à proporção em que as plantas retiram o CO2 do ar atmosférico, durante a
fotossíntese, elas desprendem o oxigênio, como que “reabastecendo” o ambiente de ar limpo e
respirável. Em contrapartida, à proporção que consomem o oxigênio do ar para suprimir os
mecanismos intracelulares de obtenção de energia, os seres de respiração aeróbia liberam
novas quantidades de CO2 para o meio em que vivem.

Portanto, o equilíbrio quntitativo desses gases (oxigênio e dióxido de carbono) no ar


respirável depende diretamente do equilíbrio que deve haver na natureza entre os fenômenos
de fotossíntese e de respiração celular.

O oxigênio liberado para a atmosfera é proveniente da quebra de moléculas de água na


estrutura celular das plantas clorofiladas durante a fotossíntese. Há estimativas de que toda a
massa de água existente no nosso planeta, aproximadamente um e meio bilhão de quilômetros
cúbicos, deve passar pelo processo de quebra molecular, originando oxigênio livre de origem
fotossintética, a cada período de dois milhões de anos. Mas, ao mesmo tempo em que a água
vai originando O2 livre, este gás vai sendo reprocessado na respiração dos animais e vegetais,
restaurando a água como produto final. Assim, fecha-se o ciclo do oxigênio, que envolve a
atmosfera, a hidrosfera e a biosfera.

Façamos agora uma análise mais detalhada destes ciclos.

É através da fotossíntese que os vegetais clorofilados transformam o CO2, do ar


atmosférico ou dissolvido na água, e H2O em matéria orgânica. Além do carboidrato é
produzido O2, substância essencial à respiração aeróbia (reação inversa a da fotossíntese),
através da qual a grande maioria dos seres vivos (seres aeróbios) vegetais e animais faz uso da
energia contida na matéria orgânica.

A fotossíntese envolve oxidação e redução, e o processo pode ser separado em duas


semi-reações:

2 H2O → O2 + 4 H+ + 4 e-

CO2 + 4 H+ + 4 e- → [CH2O] + H2O


____________________________________

H2O + CO2 → O2 + [CH2O]

onde ∆G = 471 J/mol CH2O (suprida por fótons do sol)

Qualquer molécula que absorva luz e alcance um estado excitado que dure o bastante
para sofrer oxidação ou redução, é capaz de iniciar processos fotoquímicos. Clorofilas e outros
pigmentos acessórios, presentes nos vegetais fotossintetisantes, preenchem este requisito. No
entanto, nos vegetais fotossintetisantes, a energia absorvida por estes pigmentos é,
aparentemente, transferida para uma molécula especial de clorofila, capaz de promover
processos de óxido-redução com a ajuda de enzimas e outras moléculas transportadoras de
energia.

O carboidrato sintetizado, representado por sua fórmula mínima [CH2O], é a glicose,


C6H12O6 que, incorporada ao vegetal na forma de polímero (celulose e amido), é a base para a
síntese das outras substâncias que compõem o organismo vivo.

2.3.1.1 - O ciclo do carbono e o aquecimento global

As atividades humanas têm causado distúrbios no balanceamento do ciclo do carbono.


Desde o advento da Revolução Industrial, os homens vêm aumentando a queima de
combustíveis fósseis - carvão, óleo e gás natural. Esta tendência, juntamente com uma maior
utilização da madeira como combustível e a queima de grandes áreas de florestas tropicais, têm
lançado dióxido de carbono na atmosfera numa velocidade maior do que o ciclo natural de
carbono pode suportar.

O lento, mas contínuo aumento da concentração de CO2 na atmosfera é, provavelmente,


a causa de mudanças que vêm ocorrendo no clima, um fenômeno conhecido como aquecimento
global. O aquecimento global pode resultar na elevação dos níveis dos mares, mudanças nos
modelos de precitação, morte de florestas, extinção de animais e plantas e problemas para a
agricultura. É provável também que force o abandono de milhares, ou até mesmo milhões, de
pessoas de suas moradias, particularmente aquelas que vivem em regiões costeiras.

Segundo algumas teorias, o aumento da concentração de CO2 leva a um aumento, não


desprezível, na absorção, pela atmosfera, da energia que é emitida pela superfície da terra em
direção ao espaço. Esta interceptação da radiação emitida pela terra é análoga àquela exercida
pela placa de vidro (que é opaco à radiação infravermelha) num coletor solar; por este motivo
este efeito do CO2 é denominado “efeito estufa”.

A partir de 1945 a temperatura média da terra, depois de passar por um máximo,


começou a cair. Na época, esta nova tendência foi explicada por alguns grupos como sendo
resultante do aumento da refletividade, ou do gradativo aumento na opacidade da atmosfera,
em decorrência da emissão antrópica de particulado que permanece em suspensão no ar.
Climatologistas têm desenvolvido modelos matemáticos que permitem predizer a extensão do
efeito conjunto do CO2 e das partículas em suspensão.

Sabendo-se que a combustão de combustíveis fósseis tem competido de maneira não


desprezível com a respiração na produção de CO2 e, adicionalmente, que em ambas existe um
consumo de O2 proporcional ao CO2 produzido, surge a pergunta: “O desbalanceamento neste
ciclo é capaz de diminuir apreciavelmente a concentração de O2 na atmosfera como um todo?”

Dados numéricos mostram que a combustão não traz problemas quanto à


disponibilidade de O2 na atmosfera, porém ela produz, além do CO 2, um grande número de
substâncias tóxicas aos seres vivos, e este sim é um problema sério que tem merecido e deve
merecer atenção especial.

Finalmente resta analisar a possibilidade de desequilíbrio entre a produção e o consumo


de O2 em algumas regiões mais ou menos delimitadas, já que a atmosfera não corre este risco e
a hidrosfera tem até uma produção líquida de O2.

Quando ecossistemas aquáticos são analisados, verifica-se que, em muitos deles, a


concentração de O2 em suas águas é menor do que a esperada concentração de saturação. Rios
e lagos (ou pelo menos parte deles), cujas águas mantêm uma concentração de O2 inferior
àquela necessária para a sobrevivência de grande número de animais, não são difíceis de serem
encontrados. Mais raros, porém existentes, são corpos de água onde houve esgotamento total
do oxigênio dissolvido e, por isso mesmo, só podem abrigar vida anaeróbia.

As características de pelo menos dois parâmetros, permitem que tais situações aconteçam:

a) a solubilidade de gases na água tem um limite que, no caso do O2 é de


aproximadamente 8 mg O2 / litro de água. Esta baixa solubilidade faz com que mesmo
pequenos consumos sejam importantes e torna impossível a armazenagem de O2 produzido em
excesso em certos períodos.

b) a dissolução de gases na água é um processo lento, principalmente em águas pouco


turbulentas. Deste modo, a reposição do “deficit” de oxigênio por dissolução do O2
atmosférico é normalmente demorada.

O excesso do consumo de O2 no meio aquático é o principal efeito da poluição das


águas por lançamento de detritos, assunto do qual trataremos futuramente.

Na atmosfera, os “déficits” de oxigênio são desprezíveis mesmo naquelas regiões onde


os processos de combustão são intensificados como, por exemplo, regiões industriais e/ou com
tráfego intenso. Esta constatação pode ser entendida analisando-se os mesmos parâmetros
referidos anteriormente.

a) não existe limite de solubilidade do O2 na atmosfera. A concentração de O 2 na


atmosfera é de 21% em volume, ou seja, 35 vezes a da água saturada de O2 (se considerada a
relação volume/volume).

b) a homogeneização do ar, comparada com a da água, se dá rapidamente.

2.3.2 - O ciclo do nitrogênio

O nitrogênio participa, obrigatoriamente, das moléculas das proteínas e outros


compostos essenciais à vida. É, portanto, um dos elementos mais importantes à constituição
das células e, consequentemente, dos seres vivos.

Através da fotossíntese, as plantas produzem os carboidratos, compostos ternários que


possuem carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O). No entanto, a partir daí, só será possível
a obtenção de compostos quaternários contendo C, H, O e N, se tais plantas reagirem os
produtos ternários com substâncias nitrogenadas. Só assim surgirão as aminas, as amidas, os
aminoácidos e, finalmente, as proteínas. Isso dá a dimensão da importância do nitrogênio na
composição da matéria viva.

A atmosfera constitui um suprimento praticamente ilimitado de gás nitrogênio (N2),


uma molécula diatômica. Entretanto, o nitrogênio molecular é tão estável, que não pode ser
incorporado pela grande maioria dos vegetais produtores e por qualquer animal, os quais são
capazes de utilizá-lo apenas após sua fixação, ou seja, após sua oxidação ou redução e fazendo
parte de uma substância que possa ser utilizada por esses organismos.

O ciclo do nitrogênio pode ser descrito em cinco etapas:

1- Fixação do nitrogênio
2- Nitrificação
3- Assimilação
4- Produção de amônia
5- Desnitrificação

1- Fixação do nitrogênio
O primeiro passo no ciclo do nitrogênio é chamado de fixação do nitrogênio. Este
corresponde à conversão do nitrogênio gasoso (N2) em amônia (NH3). O processo recebe este
nome pelo fato de que o nitrogênio é fixado numa forma que permite sua utilização pelos seres
vivos. A outra parte da fixação natural produz NO e acontece na atmosfera somente em certas
situações, envolvendo suficiente energia para quebrar a molécula de N2. Destacam-se, por
exemplo, a ação vulcânica, quedas de meteoros e ocorrência de relâmpagos. Nestes casos são
alcançadas altas temperaturas e a oxidação do N2 (N2 + O2 → 2 NO) se torna possível.
Nos processos de combustão é produzido NO pelo mesmo motivo exposto acima.
Atualmente a quantidade de NO emitido anualmente pelas indústrias e pelos veículos é pelo
menos o dobro daquela produzida naturalmente na atmosfera no mesmo período. Porém esta
não é a forma mais importante com o homem tem competido com a natureza na fixação do
nitrogênio.

A crescente demanda de fertilizantes nitrogenados fez com que a quantidade de NH3


produzida industrialmente em 1970 fosse maior do que todo o nitrogênio que se estima ter sido
fixado naturalmente neste mesmo ano.

A produção industrial de amônia só se tornou possível a partir de 1914 quando Haber e


Bosch desenvolveram um processo para a síntese de NH3 que, utilizando Ferro (Fe) como
catalisador, permite velocidades razoáveis para a reação:

700 - 900 K
3H2 + N2 ----------------------------------→ 2NH3
100 - 150 atm

Este é um processo energeticamente muito caro, mas fornece uma alternativa para a
disponibilidade de compostos nitrogenados, cujas reservas já eram escassas à época de Haber e
Bosch.

A fixação biológica do nitrogênio pode ser realizada por bactérias fixadoras de


nitrogênio, incluindo as cianobactérias (um tipo de bactéria fotossintética), no solo e em meios
aquáticos. As bactérias fixadoras de nitrogênio empregam uma enzima chamada nitrogenase,
que catalisa a redução do nitrogênio.

Os pouco organismos com capacidade de fixar nitrogênio, ainda que a distinção possa
não ser muito precisa, são divididos em organismos de “vida livre” e organismos que vivem
em associação simbiótica com vegetais superiores.

Dentre os organismos de “vida livre”, as azotobactérias são importantes naqueles


ecossistemas terrestres onde os organismos simbióticos são ausentes, como, por exemplo, as
pastagens. As algas azuis-verdes (cianofícias) são os principais fixadores no meio aquático.

Os organismos simbióticos são os mais importantes fixadores de nitrogênio na biosfera,


principalmente aqueles que vivem em nódulos das raízes de leguminosas como feijão, soja,
amendoim, alfafa, etc. Estas últimas são as mais bem estudadas, em decorrência de sua
importância na agricultura.

Enquanto a fixação dos organismos de “vida livre” é de 2 - 3 kg de nitrogênio por


hectare ao ano, em média, a fixação de uma cultura de leguminosas é de cerca de 50 kg de
nitrogênio por hectare ao ano, atingindo o máximo nas culturas de alfafa, cuja fixação é dez
vezes a média das leguminosas.

2- Nitrificação

A oxidação da amônia, ou nitrificação, é um processo que ocorre em duas etapas.


Inicialmente, as nitrosomonas, que são bactérias quimiossintetisantes, oxidam amônia a nitrito
segundo a reação:

NH4+ + 3/2 O2 → NO2- + H2O + 2 H+

Em seguida, as nitrobactérias realizam a oxidação final, dada por:

NO2- + 2 O2 → NO3-

Uma justificativa possível para a necessidade da nitrificação é que, mesmo que as


plantas absorvam tanto amônia como nitrato, o nitrato tem maior mobilidade no solo, podendo
chegar mais facilmente às raízes do vegetal.

3- Assimilação

Na assimilação, o nitrogênio fixado, como amônia (NH3) ou nitrato (NO3-), é absorvido


pelos vegetais, incorporando o nitrogênio dessas espécies nas proteínas das plantas e ácidos
nucleicos.

4- Produção de amônia

Organismos vivos produzem resíduos que contêm nitrogênio, tais como uréia e ácido
úrico. Estas substâncias, mais os compostos de nitrogênio que ocorrem em organismos sem
vida, são decompostos, liberando o nitrogênio para o ambiente abiótico na forma de amônia
(NH3). Esta amônia entra no ciclo do nitrogênio, tornando-se disponível para os processos de
nitrificação e assimilação.

5- Desnitrificação

Bactérias como as nitrosomonas desnitrificantes são responsáveis pelo retorno do


nitrogênio à atmosfera. Estas bactérias, facultativas, na ausência de oxigênio, utilizam NO2- e
NO3- como oxidantes na respiração, reduzindo-os a N2 ou N2O, da seguinte maneira:

(CH2O) + NO3- → CO2 + 2 H2O + OH- + 2 N2O e

5 (CH2O) + 4 NO3- → 5 CO2 + 3/2 H2O + 4 OH- + 2 N2

Se não fosse a grande produção industrial de fertilizantes nitrogenados, poder-se-ia


esperar por um balanceamento entre a retirada de nitrogênio da atmosfera (fixação) e o seu
retorno (desnitrificação). Atualmente, não se tem segurança nem da extensão deste
balanceamento, nem das consequências que este fato poderia trazer a longo prazo, se
considerada a biosfera. O que existe de concreto é que o carreamento de compostos
nitrogenados (e também fosforados) pelas águas de escoamento, tem acelerado o processo
natural de fertilização de lagos, ou seja, acelerado o processo de eutrofização, cujos problemas
serão discutidos mais tarde.
2.3.3 - O ciclo do fósforo

O fósforo na biosfera não segue um ciclo no sentido absoluto do termo, sendo que
naturalmente existe uma perda apreciável de fósforo para os sedimentos profundos do mar.
Uma outra característica é que, ao contrário do carbono, do oxigênio e do nitrogênio, o fósforo
não se encontra acumulado num grande reservatório, sendo encontrado em baixíssima
concentração nas águas ou disperso na litosfera. De qualquer forma, é um elemento raro,
mesmo no último caso.

As principais fontes de fósforo são as rochas fosfatadas, os depósitos de guano e os


depósitos de fósseis. Destas fontes, sob a ação do intemperismo natural, o fosfato é
continuamente removido. Sua última escala, depois de absorvido pelos produtores e de
atravessar a cadeia alimentar, é o sedimento marinho. Parte deste fósforo retorna à terra
através do excremento de aves (guano), ou através do particulado produzido pela turbulência
do mar, ou ainda através do peixe capturado pelo homem. No entanto, parte do fósforo,
mesmo que pequena, é levada para o sedimento profundo do mar, de onde o seu retorno a terra
pelos caminhos citados acima é praticamente impossível, o motivo sendo a ausência de
produtores em tal profundidade.

O uso de compostos fosforados, tanto nos fertilizantes como na carga de detergentes


sintéticos, tem levado a uma crescente exploração das reservas, além de aumentar a quantidade
que é arrastada pelas águas de escoamento para os lagos e mares. A fração que é carreada para
os lagos, ainda que tenha o seu retorno a terra garantido, seguramente tem acelerado o processo
de eutrofização.

A quantidade de fósforo consumida como aditivo para detergentes sintéticos não é


pequena. Porém, mais importante do que este consumo, é o fato de que os detergentes,
possivelmente, constituem a principal fonte do fósforo carregado para o meio aquático,
avaliando-se sua contribuição em 30 a 40 %, como média mundial, chegando ao duplo deste
valor em algumas regiões.

2.3.4 - O ciclo da água

O ciclo da água, conhecido como ciclo hidrológico, é resultante do balanceamento


entre a água dos oceanos, a água da litosfera e a água da atmosfera.

A água é, quantitativamente, o elemento mais abundante na constituição dos seres


vivos. Cerca de 70% do peso do homem e 90% do peso de alguns animais aquáticos é
formado por água. Em vista disso, a massa de seres vivos existente em qualquer parte da
superfície terrestre é proporcional à disponibilidade de água. Isso significa que em regiões de
fortes chuvas a vida é muito mais exuberante e intensa do que em áreas desérticas.
Pesquisas geológicas têm revelado a existência de enormes reservas de água entre as
rochas que constituem o manto, situado abaixo da crosta terrestre. No entanto, é a água
presente na litosfera, na hidrosfera e na atmosfera que garante a vida no planeta.

A maior parte da água da atmosfera está na forma gasosa, ou seja, de vapor. E quando
ela se acumula em grande quantidade, ao sofrer um resfriamento, condensa-se, dando lugar à
formação das nuvens. Nessa fase, há uma enorme mobilidade das reservas de água em função
dos ventos. Isso faz com que uma nuvem formada em um determinado ponto venha a se
precipitar na forma de chuva, a uma longa distância do ponto de origem.

Essa quantidade de água existente na atmosfera não é muito grande. Se todo o vapor
de água fosse condensado e espalhado na superfície da Terra, resultaria uma camada de apenas
3 centímetros de espessura. Mesmo assim, todo o ciclo da água está fundamentado nesse
pequeno volume.

Com a precipitação na forma de chuvas, grande parte da água que estava na atmosfera
cai diretamente nos oceanos. A outra parcela vai para os continentes. Dessa parcela, uma
parte substancial é infiltrada no solo. O restante escoa superficialmente em direção aos
pontos baixos. Isso contribui para a formação de córregos, rios e lagos que, por sua vez,
escoam para o oceano. Já a porção infiltrada renova as águas subterrâneas, ou seja, o lençol
freático, um depósito de água disponível para a vegetação. O excedente de água dos lençóis
pode retornar à superfície na forma de nascentes ou rios.

O retorno da água dos oceanos, rios e lagos (ou mesmo diretamente do solo) para a
atmosfera dá-se por evaporação. Além da evaporação, grande parte dessa água volta à
atmosfera através da transpiração das folhas dos vegetais. Como a superfície total das folhas
de uma árvore é muitas vezes superior à área do solo que ela ocupa, os vegetais têm um
importante papel multiplicador do fenômeno de evaporação da água. Além disso, eles exercem
enorme influência na manutenção da umidade do ar e nas precipitações pluviométricas. À
soma da evaporação direta do solo, da água, e da transpiração vegetal dá-se o nome de
evapotranspiração.

Referências
[1] H. E. Toma, Química Bioinorgânica, Programa regional de desenvolvimento científico
e tecnológico, Washington (1984).
[2] J. C. Kotz e K. F. Purcell, Chemistry and Chemical Reactivity, Saunders College
Publishing (1990).
[3] N. N. Greenwood e A. Earnshaw, Chemistry of the Elements, Pergamon Press (1986).
[4] B. M. Vieira, Ciências do ambiente para o curso de engenharia, Departamento de
Química - Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA, São José dos Campos, SP.
[5] P. H. Raven, L. R. Berg, G. B. Johnson, Environment, Saunders College Publishing,
(1995).
[6] S. M. Branco, E. Murgel, Poluição do ar, Editora Moderna, (1995).

[7] E. P. Odum, Fundamentos de Ecologia, Fundação Calouste Gulbenkian, 4a edição.


Capítulo 3

A ATMOSFERA TERRESTRE E OS PRINCIPAIS PROBLEMAS AMBIENTAIS

3.1- A atmosfera terrestre

3.1.1- Principais funções

A atmosfera terrestre é um manto protetor que favorece a vida na Terra e a protege


contra o ambiente hostil do espaço externo. Sua importância é evidente quando se leva em
consideração suas principais funções:

- fonte de CO2 para a fotossíntese;


- fonte de N2 que é utilizado pelas bactérias fixadoras de nitrogênio e pelo homem para
produzir nitrogênio fixado, essencial para a vida;
- transporta a água do mar para a terra, funcionando como condensador de um vasto
destilador que utiliza o sol como fonte de energia;
- exerce o efeito tampão sobre o pH dos oceanos;
- absorve a maioria dos raios cósmicos provenientes do espaço externo, protegendo a
vida dos seus efeitos;
- absorve a maior parte da radiação eletromagnética do Sol;
- filtra radiações ultravioleta abaixo de 300 ηm (1 ηm = 10-9 m), que são prejudiciais à
vida;
- mantém o equilíbrio de calor na Terra, absorvendo a energia reemitida pela terra e
evitando variações bruscas de temperatura.

3.1.2- Composição

O ar natural seco ao nível do mar compõe-se, essencialmente, dos gases nitrogênio (N2)
e oxigênio (O2):
ι Nitrogênio, 78,08% ι Oxigênio, 20,95%
(composição em volume)

Os demais constituintes, menos que 1%, são:


ι Argônio (Ar), 0,934% ι Dióxido de carbono (CO2), 0,035%

ι Neônio (Ne), 1,818 x 10-3 % ι Hélio (He), 5,24 x 10-4 %


ι Criptônio (Kr), 1,14 x 10-4 % ι Xenônio (Xe), 8,7 x 10-6 %

O ar atmosférico também apresenta água em sua composição, mas com concentração


bastante variável, podendo ser encontrados desde alguns centésimos de porcento em regiões
áridas, até 6% em volume em regiões quentes e úmidas.
Outros componentes, em menor quantidade, que estão presentes no ar atmosférico, são
listados na tabela 3.1.

Tabela 3.1 - Ar seco - Níveis de espécies traço (porcentagem em volume na ausência de


poluição)

Gás ou % em volume Fontes Processos para remoção


espécie principais da atmosfera
___________________________________________________________________________
CH4 1,6 x 10-4 fontes biológicas fotoquímica
CO ~1,2 x 10-5 fotoquímica, antrópica fotoquímica
N 2O 3 x 10-5 fontes biológicas fotoquímica
1 -10 -6
NOx 10 - 10 fotoquímica, antrópica fotoquímica
HNO3 10-9 - 10-7 fotoquímica lavagem por precipitação
NH3 10-8 - 10-7 fontes biológicas fotoquímica, lavagem por
precipitação
H2 5 x 10-5 fontes biológicas, fotoquímica
fotoquímica
H 2 O2 10-8 - 10-6 fotoquímica lavagem por precipitação
.2 -13 -10
HO 10 - 10 fotoquímica fotoquímica
HO2.2 10-11 - 10-9 fotoquímica fotoquímica
H2CO 10-8 - 10-7 fotoquímica fotoquímica
-9 -8
CS2 10 - 10 fontes biológicas, fotoquímica
antrópicas
OCS 10-8 fontes biológicas, fotoquímica
antrópicas,
fotoquímica
SO2 ~ 2 x 10-8 fotoquímica, fotoquímica
antrópicas,
vulcânica
I2 0 - traços - -
CCl2F2 2,8 x 10-5 antrópica fotoquímica
H3CCCl3 ~ 1 x 10-8 antrópica fotoquímica
____________________________________________________________________________
1- soma de NO e NO2
2- radicais livres, muito reativos, com um elétron desemparelhado; são espécies transientes,
cujas concentrações tornam-se muito menores no período da noite.

3.1.3- Estrutura

A atmosfera pode ser dividida em regiões, segundo diferentes critérios.

I- De acordo com a composição química as regiões são denominadas de homosfera e


heterosfera:
a) a atmosfera inferior ou homosfera, vai do nível do mar até cerca de 80 -100 km e sua
característica é o fato da composição ser relativamente homogênea. Isto ocorre devido à
movimentação intensa das espécies que constituem esta região;

b) na heterosfera, a variação na composição química ocorre devido à fotodissociação


das moléculas presentes no ar atmosférico, produzida pela radiação solar. Isto provoca uma
diminuição no peso molecular médio do ar e uma alta concentração de elétrons e íons
positivos, sendo que a densidade eletrônica máxima ocorre próximo de 300 km de altitude.
Por esta razão é também chamada ionosfera.

II- Com base na variação da temperatura, a atmosfera pode ser dividida nas seguintes
regiões:

___________________________________________________________________________
Região Faixa de Altitude (km) Espécies químicas
o
temperatura ( C) mais importantes
___________________________________________________________________________
Troposfera 15 a -56 0 a 11 N2, O2, CO2, H2O

Estratosfera -56 a -2 11 a 50 O3

Mesosfera -2 a -92 50 a 85 O2+, NO+

Termosfera -92 a 1200 85 a 500 O2+, O+, NO+


__________________________________________________________________________

Troposfera - Na ausência de poluição, sua composição é bastante homogênea. A temperatura


decresce com a altitude e o gradiente médio da temperatura é de 6,5 oC/km. A troposfera
recebe a energia térmica da superfície terrestre, a qual absorve a radiação solar. O
aquecimento do ar pela radiação infravermelha emitida pela superfície causa movimentos
verticais intensos (convecção). Estes transportam calor, vapor dágua e outros traços
constituintes da superfície para níveis mais altos da troposfera. Nestas correntes ascendentes o
ar se resfria, provocando a condensação do vapor dágua. Assim, o ciclo da água se dá,
essencialmente, na troposfera. Como neste processo os gases solúveis e os aerossóis são
absorvidos pelas nuvens e pela precipitação (remoção úmida), ele é o responsável pelas
trajetórias de muitos outros constituintes traço.

Estratosfera - Caracteriza-se pelo aumento da temperatura com o aumento da altitude. Isto


ocorre devido à presença de O2 e O3. O ozônio pode chegar a 10 ppm (partes por milhão) em
volume na região mediana da estratosfera e, juntamente com o O2, absorve energia sob a forma
de radiação ultravioleta, causando um aumento na temperatura.

Mesosfera - Na mesosfera a temperatura cai à medida que cresce a altitude, devido à


diminuição dos níveis das espécies que absorvem a radiação, principalmente o ozônio. É a
região que atinge menor temperatura.
Termosfera - As espécies desta região absorvem radiação altamente energética, de
comprimento de onda menor que 200 ηm, responsáveis pela elevação da temperatura até
1200 oC.

Devido ao delicado equilíbrio existente na atmosfera, qualquer modificação mais


profunda na sua composição pode provocar efeitos negativos, como chuva ácida, efeito estufa,
smog fotoquímico, etc., todos com efeitos danosos para os seres vivos.

3.2- Efeito estufa

Quando a radiação solar que chega à Terra, sob a forma de luz visível, atinge o solo,
esta é convertida em outras formas de energia, inclusive a radiação infravermelha que está
associada ao calor. Se a Terra absorvesse toda a energia solar que recebe, sua temperatura
alcançaria níveis insuportáveis. Todavia, existe um ciclo envolvendo todo esse processo e que
permite um equilíbrio entre a energia recebida, absorvida e refletida de volta para o espaço.

Ao incidir sobre o nosso planeta, a radiação solar encontra, em primeiro lugar, a


atmosfera. Esta é constituída principalmente de N2 e O2, além de outros gases (por exemplo,
CO2, H2O, O3, CH4,...), em percentagens mínimas, os quais permitem a passagem de 70% da
radiação solar incidente, refletindo de volta os outros 30%. Da radiação que atravessa a
atmosfera, parte será absorvida, aquecendo o solo, os oceanos e a própria atmosfera,
provocando a evaporação (com formação de nuvens e chuvas), ventos e correntes oceânicas.

Neste processo, dever ser estabelecido um equilíbrio, e parte desse calor, sob a forma
de radiação infravermelha, deve ser reemitida para o espaço. Para sair da ação da Terra, essa
radiação deve atravessar a atmosfera. Entretanto, esta que era praticamente transparente à luz
solar, retém a maior parte da radiação infravermelha, pois moléculas de CO2, H2O, O3, CH4,
entre outras, têm uma estrutura que permite a elas vibrarem nas frequências correspondentes a
da radiação infravermelha. Isso provoca uma maior absorção de calor pela atmosfera e,
consequentemente, maior reflexão de calor para o solo. Apesar destas moléculas existirem em
número relativamente pequeno, apresentam a concentração adequada para manutenção do
equilíbrio da temperatura terrestre. Na ausência destas, a radiação infravermelha emitida pelo
solo retornaria para o espaço, provocando muito frio à noite.

O mesmo ocorre nos automóveis fechados, sob a ação da luz solar: a radiação solar
penetra no veículo através dos vidros, provocando o aquecimento interno. Ao tentar devolver
parte desta energia, sob a forma de radiação infravermelha, esta é retida pois só uma pequena
parte consegue atravessar o vidro, que é isolante térmico. Deste modo, a temperatura interna
torna-se bem maior que a externa. Este efeito corresponde ao que ocorre numa estufa e por
isso é denominado de EFEITO ESTUFA.

Pode-se dizer então que o efeito estufa existe como um processo natural, e é benéfico.
A temperatura do planeta seria da ordem de - 18oC na sua ausência. No entanto, o equilíbrio
térmico do ambiente pode ser alterado em função da mudança da concentração dos gases
estufa. Desde meados do século passado, devido ao desenvolvimento tecnológico e a
destruição de florestas, verificou-se um aumento na quantidade de dióxido de carbono, metano,
óxido nitroso, clorofluorcarbonetos (CFC), ozônio e outros gases de origem natural e
antrópica. Só a emissão de CO2 , causada pela queima de combustíveis fósseis, foi avaliada
em 5 bilhões de toneladas anuais em todo o mundo e mais 0,4 a 2,5 bilhões provocados pelo
desflorestamento.

O aumento da pressão parcial do CO2 é preocupante, pois este gás é fundamental para
processos como a fotossíntese, regulagem da alcalinidade da água do mar, etc. Um aumento na
concentração do CO2 pode favorecer algumas culturas de alimentos e fibras, mas pode
prejudicar o rendimento de outras. Mesmo nos casos com possibilidade de aumento na
produção, existirá, simultaneamente, um maior consumo de nutrientes, cuja reposição se
constituirá em sério problema para alguns países, pois forçaria o uso de adubos artificiais.

Os demais gases, ainda que presentes em concentrações bem menores, também são
importantes devido às propriedades que apresentam: enquanto o CO2 tem uma vida
aproximada na atmosfera de 500 anos, a do CH4 é 7 - 10 anos, porém a sua capacidade de
acumular calor é 20 vezes maior do que este gás; a molécula de um CFC dura cerca de 75 - 100
anos e retém 20000 vezes mais calor do que o dióxido de carbono.

O aumento de temperatura causado pelo efeito estufa não seria uniforme, mas os seus
efeitos afetariam todas as áreas do globo terrestre. Calcula-se que um aumento de 1 a 2oC
seriam suficientes para provocar enormes danos. As consequências mais sérias que podem ser
previstas são:

a) degelo das calotas polares, provocando um aumento no nível do mar, com inundação
de muitas áreas costeiras e cidades;

b) modificações graves na geografia econômica, pois terras atualmente férteis poderiam


se transformar em desertos.

Medidas visando a minimização dos riscos provocados pelo efeito estufa e por outros
problemas ambientais já começam a ser introduzidas nas atividades de planejamento
econômico e social de diversos países. Representantes dos países participantes da Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em
1992, deram o primeiro passo ao assinarem a Convenção sobre Mudanças Climáticas, que
entrou em vigor em 21 de março de 1994 e já foi ratificada por mais de 170 países. No
entanto, só agora, ainda que de forma tímida, foram estabelecidas as metas para a redução das
emissões dos gases-estufa e definidos os prazos para cumpri-las. A 3a Conferência das partes
da convenção sobre mudanças climáticas, realizada em Kyoto, Japão, em dezembro de 1997,
reuniu cerca de 160 países e resultou no chamado Protocolo de Kyoto.

O Protocolo de Kyoto prevê, nos próximos 15 anos, uma redução global das emissões
dos principais gases causadores do efeito estufa de 5,2 % sobre o nível de 1990 (para os gases
dióxido de carbono, metano, óxido nitroso) e de 1995 (para os gases hidrofluorcarbono,
perfluorcarbono e hexafluoreto de enxofre). O compromisso foi assumido por 38 países
industrializados e as quotas fixadas para cada um deles incluem um corte de 8% para a União
Européia, 7% para os Estados Unidos e o Canadá, 6% para o Japão, a Rússia, a Nova Zelândia
e a Ucrânia. Os países em desenvolvimento ficaram de fora, uma vez que o nível de emissão
de gases-estufa neles observados é consideravelmente menor que nos países desenvolvidos,
tendo sido, porém, convidados a aderirem voluntariamente, fazendo cortes. As sanções aos
países que violarem o Protocolo de Kyoto também não foram estipuladas desta vez. E
tampouco foram detalhadas as medidas para que tais objetivos sejam alcançados.

Apesar disto, os ambientalistas que acompanharam de perto a Conferência de Kyoto,


relacionaram alguns exemplos do que os governos podem fazer para cumprirem o
compromisso assumido. São eles:

♦estimular a troca do carvão e do petróleo por combustíveis que emitam menos


dióxido de carbono, como o gás natural;

♦ construir projetos de energia nuclear, solar ou eólica, que não produzem gases
estufa;

♦ incentivar a criação de tecnologias automotrizes mais eficientes, como motores


híbridos, que substituiriam, aos poucos, os atuais motores de combustão interna;

♦ melhorar os sistemas de transporte público;

♦ cortar subsídios ao carvão e outras fontes de altas emissões de gases;

♦ criar impostos sobre o carvão, aumentando o preço dos combustíveis poluentes e


reduzindo suas vendas;

♦ plantar e proteger melhor as florestas que absorvem o dióxido de carbono, principal


gás causador do efeito estufa;

♦ fixar novos patamares de qualidade, obrigando o desenvolvimento de


eletrodomésticos mais eficientes.

3.3- Camada de ozônio

O ozônio, O3, é uma das formas naturais de associação dos átomos de oxigênio. No
estado líquido, o ozônio adquire propriedades explosivas. Sua alta reatividade o transforma
em elemento tóxico, capaz de destruir microorganismos (proteínas) e prejudicar o crescimento
de plantas. No estado puro e livre na estratosfera, esse gás participa de interações essenciais
para a defesa da vida. Lá, os raios ultravioleta oriundos do Sol são suficientemente intensos
para separar os dois átomos que compõem a molécula de oxigênio, O2, produzindo o chamado
oxigênio atômico, O. A equação química deste processo é dada por:

O2 + hν → O + O

onde hν representa a energia correspondente à luz ultravioleta, necessária para a ocorrência da


dissociação.
A produção de ozônio, realizada numa etapa imediatamente posterior, resulta da
associação de um átomo de O com uma molécula de O2, sempre na presença de um terceiro
parceiro M. Este pode ser qualquer molécula do gás majoritário (em geral, nitrogênio ou o
próprio oxigênio) e não participa da reação química propriamente dita, sendo necessária para
manter o balanço de energia. O processo pode ser representado por:

O + O2 + M → O3 + M

A criação do ozônio, O3, é acompanhada, na própria estratosfera, por vários outros


processos, como os que envolvem reação com os compostos nitrogenados, que atuam em
sentido contrário, isto é, destróem a molécula recém-criada. Assim, a concentração do ozônio
em estado estacionário resulta, em cada camada atmosférica, do equilíbrio que se estabelece
entre processos de produção e de perda, cuja incidência varia com a altura. Não é estranha,
portanto, a existência de uma faixa de máxima concentração, situada em torno de 30 km de
altura (na estratosfera) e conhecida como camada de ozônio.

A radiação ultravioleta também pode dissociar o ozônio. O O3, através desta reação,
absorve a radiação ultravioleta, sem a qual a superfície terrestre seria atingida por esta
radiação, provocando assim danos nas formas de vida e contribuindo para o aquecimento
global do planeta. Este processo pode ser representado por:

O3 + hν → O2 + O

O nível de ozônio na estratosfera está diminuindo em todo o mundo, a uma taxa de


0,5% ao ano. Entretanto, o ozônio sobre a Antártica está diminuindo rapidamente a uma taxa
de 2,5% ao ano. Durante outubro de 1985 os níveis de ozônio nessa região diminuiram cerca
de 50%, voltando posteriormente a níveis próximos do normal. Novamente, em 1987, foi
observada, na mesma região e no mesmo período do ano, nova queda de 50% na concentração
de O3. Esta enorme flutuação chamou a atenção dos cientistas, pois cada diminuição de 1% na
camada de ozônio pode levar a um aumento de 2% nos casos de câncer de pele.

Na Antártica o inverno começa em abril. Durante este período, a região permanece no


escuro. Os ventos (vortex polar) giram em círculos com velocidades de até 100 km/h, atraindo
massas de ar de outras partes da Terra. Nessa época a temperatura na estratosfera pode chegar
a - 90oC, suficientemente frio para formar nuvens. Neste cenário, no fim do inverno, em
setembro, quando os primeiros raios ultravioleta atingem a Antártica, podem ocorrer reações
heterogêneas especiais, envolvendo os clorofluorcarbonetos (CFC) e ozônio, na superfície das
partículas das nuvens, provocando o buraco de ozônio. Além dos CFC, vários radicais livres
também podem destruir o O3 na estratosfera.

Os clorofluorcarbonetos foram descobertos em 1928 pelos pesquisadores da Divisão


Frigidaire, da General Motors. Em 1988, o consumo mundial de CFC era superior a um
milhão de toneladas anuais. Os CFC (o freon 12, CCl2F2 é o mais comum) são compostos
inertes; porém, na estratosfera, em presença de radiação UV e das nuvens polares, são
liberados átomos de cloro que reagem diretamente com o ozônio, conforme as reações abaixo:
CCl2F2 (g) + hν → CClF2 (g) + Cl (g)

Cl (g) + O3(g) → ClO (g) + O2 (g)

ClO (g) + hν → Cl (g) + O (g)

O (g) + O3 (g) → 2 O2(g)

Este fenômeno foi reconhecido pela primeira vez em 1974 por M. J. Molina, professor
de ciências ambientais no MIT, e F. S. Rowland, professor de química na Universidade da
Califórnia, Irvine. A partir de experiências em laboratório, os dois pesquisadores previram que
o uso continuado dos CFC levaria à destruição significativa da camada de ozônio que envolve
a Terra. Os dois pesquisadores receberam o prêmio Nobel de química de 1995 pelo trabalho
pioneiro que publicaram.

A comunidade científica entendeu como necessário o banimento dos CFCs. Dados de


cifras mundiais de 1989 revelaram que os CFCs eram utilizados em quatro setores: nas bombas
de aerossol (25%), como fluidos de refrigeração (30%), nas espumas plásticas (25%), como
solventes (20%). Até então tinham tudo para agradar: não-inflamáveis, não-tóxicos para o
homem, muito estáveis, baixo custo...até que se descobriu sua responsabilidade no buraco do
ozônio e também no efeito estufa. Os compostos bromados utilizados nos extintores, o
tetracloreto de carbono (solvente e extintor) e o clorofórmio de metila (solvente) também
foram incriminados.

O alerta da comunidade científica levou bem depressa a comunidade política mundial a


assinar um acordo em 1987, o Protocolo de Montreal, revisto em Londres em 1990 e depois
em Copenhague em 1992, banindo a produção em 1994 dos compostos bromados e, em 1996,
dos CFCs, do tetracloreto de carbono e do clorofórmio de metila. Atualmente estão sendo
feitas pesquisas no sentido de se encontrar produtos de substituição inofensivos. Há porém
dificuldades. Por exemplo, os substitutos que se conhecem para os CFC são menos eficientes
como refrigerantes. Estima-se que os aparelhos domésticos consumirão 3% a mais de
eletricidade, o que aumentará o custo para os usuários. Além disso, como a eletricidade nos
Estados Unidos é gerada pela combustão de combustíveis fósseis, a quantidade de CO2
produzida aumentará, o que irá contribuir para o “efeito estufa”. Os riscos e benefícios em
situações como essas devem ser bem analisados. Mesmo com a produção dos CFC totalmente
paralisada, a ameaça persistirá pelos próximos cem anos, pois a vida média dessa molécula na
atmosfera é de 75 anos.

Na troposfera, a região mais baixa da atmosfera terrestre e onde vivemos, a situação em


relação ao ozônio é o inverso da estratosfera, onde este é bem vindo. O O3 é um poderoso
oxidante e como tal ataca as plantas, os pulmões, borrachas, obras de arte, etc., além de reagir
com outros poluentes do ar formando substâncias irritantes para os olhos e pulmões.

A única rota conhecida de formação de O3 na troposfera é através da fotólise do NO2.


Por sua vez, o ozônio oxida o NO para a formação de NO2, não resultando em aumento na
concentração de O3.
NO2 (g) + hν → NO (g) + O (g)

O (g) + O2 (g) + M → O3 (g) + M

NO (g) + O3 (g) → NO2 (g) + O2 (g)

Entretanto, a fotólise e a oxidação de compostos orgânicos leva à produção de radicais


livres que oxidam o NO sem destruir o ozônio, contribuindo assim para o aumento na
concentração de O3 na troposfera, o que é indesejável.

3.4- Chuva ácida

Convencionalmente, é considerada ácida a chuva que apresenta valores de pH menores


que 5,6. Este valor expressa o equilíbrio químico estabelecido entre o dióxido de carbono
(CO2) atmosférico e sua forma ácida solúvel, o íon bicarbonato (HCO3-), em água pura. O pH
define o grau de acidez de uma solução, ou seja, o teor de íons hidrogênio (H+) livres. O
decréscimo de uma unidade de pH significa um aumento de dez vezes na concentração do íon
hidrogênio.

Em áreas geográficas não contaminadas por emissões antrópicas, o pH da chuva é


aproximadamente 5,6. O equilíbrio entre o dióxido de carbono e o íon bicarbonato é mostrado
abaixo.

H2CO3 → H+ + HCO3-

Na Europa e Estados Unidos já foram observadas amostras de chuva com pH menor


que 3. No Brasil, em medidas efetuadas em amostras de chuva coletadas em Niterói e no Rio
de Janeiro, foram encontrados valores de pH entre 4,3 e 5,3.

Vários compostos químicos têm grande influência na acidez da chuva. Dentre eles
destacam-se o SO2, os óxidos de nitrogênio e os ácidos inorgânicos voláteis. O SO 2
atmosférico pode sofrer oxidação catalítica, através H2O2, O3 e/ou radicais OH., resultando na
produção de ácido sulfúrico. A reação pode ocorrer em fase gasosa ou em fase líquida quando
o SO2 está dissolvido em microgotas de chuva, nuvens ou neblinas. Inúmeros metais podem
agir como catalisadores.

OH., H2O2, O3
SO2 -----------------------→ H2SO4
Fe, Mn, V

Os óxidos de nitrogênio (NO, NO2 e N2O5) participam de uma série de reações que
produzem ácido nítrico. A presença ou não de radiação solar pode determinar a predominância
de algumas reações:
O3 hν
- durante o dia NO ------------→ NO2 -------------→ HNO3
OH.

H2 O
- durante a noite N2O5 -----------→ HNO3

Por outro lado, a amônia, produzida naturalmente por algas e bactérias através de
processos biológicos, quando presente na atmosfera age como neutralizante dos ácidos fortes.

2 NH3 + H2SO4 -------------→ (NH4)2SO4

NH3 + HNO3 -------------→ NH4NO3

A partir das reações químicas equacionadas acima verifica-se que o dióxido de enxofre
(fonte original do ácido sulfúrico), o ácido nítrico e a amônia (NH3) presente na atmosfera sob
a forma de gás, são os principais controladores do pH da chuva. Se os ácidos nítrico e
sulfúrico acarretam o aumento da acidez na chuva com a liberação de íons hidrogênio, a
amônia contribui de forma contrária. Isto porque, para cada molécula de amônia que se
hidrolisa na formação dos íons amônio (NH4+), um íon hidrogênio é consumido. Por outro
lado, a acidez da água da chuva não é aumentada pela presença de todo e qualquer sulfato, mas
só daquele que se forma a partir do dióxido de enxofre atmosférico.

Muitos danos são causados pela chuva ácida. Nos Estados Unidos, Suécia e Canadá
verificou-se que para valores de pH menores do que 5, o número de peixes nos lagos diminui
sensivelmente. No Canadá, estudos recentes em lagos, aos quais foi adicionado ácido,
revelaram que, após 4 anos, devido ao aumento da acidez, o camarão desapareceu e as trutas
apresentaram alterações morfológicas.

A acidez da chuva provoca também um arraste de metais tóxicos do solo, como o Al e


o Cu, que prejudica a microflora dos lagos, alterando a concentração de bactérias, algas e
fungos, podendo conduzir à esterilidade da vida animal.

Nas florestas, o efeito da acidez da chuva nas árvores através do solo é maior do que
aquela que atinge a copa. No solo, as folhas e detritos vegetais oxidam o SO2 (aquoso)
depositado, o qual é somado aos aerossóis depositados na copa das árvores, que são arrastados
para o solo pela chuva, contribuindo assim para o aumento da acidez. Esta, por sua vez,
provoca uma diminuição na produção de humos, aumenta a produção de compostos de
nitrogênio (que gera mais acidez) e lixivia o alumínio que é tóxico para as plantas.

Monumentos e edifícios também estão submetidos a duros ataques pela precipitação


ácida. Estes possuem mármore ou estruturas metálicas passíveis de ataque por soluções ácidas.

Apesar de não serem conhecidos efeitos diretos sobre a saúde humana, vários
pesquisadores têm chamado a atenção para a possibilidade do surgimento de problemas
mentais causados por determinadas concentrações de alumínio e outros metais na água potável,
como também a existência de problemas respiratórios e cardíacos causados pela presença de
aerossóis contendo ácido sulfúrico.

3.5- Smog fotoquímico

A partir de 1940 observou-se um novo tipo de poluição ambiental, que se processava


sobre grandes concentrações urbanas possuidoras de um número elevado de veículos
automotores. Deu-se a esta poluição o nome de SMOG (de smoke = fumaça e fog = nevoeiro).
Esta é caracterizada pela presença de substâncias irritantes, coloração castanha (devido à
presença de NO2) e constitui, na realidade, um aerossol formado por material particulado e
gases diversos. Este material pode prejudicar o organismo humano, causando ou complicando
doenças pulmonares, e também os vegetais, provocando danos imensos à agricultura. Outro
efeito importante é a redução da visibilidade para cerca de 4,5 km.

Devido ao número imprevisível de reações envolvidas na atmosfera durante o smog


fotoquímico, é impossível conhecer-se, ao certo, as reações que ali ocorrem. Todavia, sabe-se
que o papel mais importante é desempenhado por reações fotoquímicas, que se iniciam pela
absorção de fótons da luz solar. Esta é a razão pela qual a existência do smog está
condicionada à existência de forte radiação solar na região. Isto explica também o porquê do
nome smog fotoquímico.

A presença de um grande número de automóveis é importante, porque é no interior dos


motores à explosão que o processo se inicia. Uma parte do oxigênio reage com o nitrogênio do
ar, formando NO. Este é expelido para a atmosfera, onde reage com o oxigênio, formando o
dióxido de nitrogênio. A sequência de reações é a seguinte:

calor
O2 + N2 -------------→ 2 NO (óxido nítrico)

2 NO + O2 -------------→ 2 NO2 (dióxido de nitrogênio)

A molécula de NO2 é capaz de absorver fótons com tanta eficiência que a molécula se
parte:

NO2 + hν ------------→ NO + O

As moléculas de NO, por sua vez, reagem com mais O2, gerando mais NO2. Os átomos
de oxigênio liberados pela reação fotoquímica podem reagir com moléculas de O2, formando
ozônio:

O2 + O ------------→ O3

Várias reações podem ocorrer quando NO2, O e O3 estão em presença de moléculas de


hidrocarbonetos. Quando os motores dos veículos eliminam combustível não-queimado,
hidrocarbonetos, aldeídos e óxidos de nitrogênio fornecem um conjunto de reagentes capaz de
formar centenas de outros compostos orgânicos, a maioria deles prejudiciais à vida. Um caso
típico é o da formação do PAN (nitrato de peroxiacetila), um agente lacrimogêneo e fitotóxico.

Outro tipo de smog foi constatado na cidade de Londres, onde, devido a condições
especiais, como proximidade do litoral, baixas temperaturas, etc., pode ocorrer normalmente a
presença de nevoeiros. Quando ao nevoeiro se junta uma grande quantidade de SO2, este pode
reagir com o oxigênio do ar, formando SO4, que se decompõe:

SO2 + hν -------------→ SO2*

SO2* + O2 -------------→ SO4 ------------→ SO3 + O

A espécie O oxida outra molécula de SO2 a SO3 que, por sua vez, reage com o vapor
dágua, formando o ácido sulfúrico. Um smog deste tipo é praticamente um aerossol de ácido
sulfúrico.

Em cidades como Los Angeles, em que a maior poluição é causada por automóveis,
verifica-se que há uma variação na concentração dos diversos poluentes. Assim, CO e NO
atingem seus níveis máximos às 7:00 horas da manhã, quando é maior a intensidade do tráfego.
Um pico menor é observado no período da noite. Os hidrocarbonetos também apresentam o
mesmo perfil. O pico de NO2 pela manhã se estende por 3 horas, enquanto o do O3 dura cerca
de 5 horas. À noite o pico de NO2 é pouco discernível e não há qualquer pico para o O3.

A explicação para este fato reside em que o NO2 e o O3 não são emissões primárias e
sim produtos formados fotoquimicamente na atmosfera. A produção destes gases só se dá
quando há forte incidência de irradiação solar. À noite, mesmo com tráfego intenso, não há
praticamente formação de smog.

Como o smog pode ser redutor ou oxidante e pode também conter um número variado
de substâncias em suspensão, os efeitos causados nos organismos vivos dependem da sua
constituição. Por exemplo, em Londres (1952) morreram cerca de 4000 pessoas, durante um
episódio de smog, devido à presença do SO2 no ar (1,344 ppm), pois, apesar de estar abaixo
dos limites prescritos, o gás se associou às partículas de poeira do ar e penetrou até os alvéolos
pulmonares, ao invés de ficar retido nas mucosas úmidas das vias respiratórias superiores,
como normalmente ocorre. Nos alvéolos houve uma ação corrosiva, provocando edema
pulmonar, levando à morte.

Para a eliminação do smog, pensou-se, a princípio, que seria suficiente eliminar os


hidrocarbonetos emitidos pelos motores, mas isto provocava um aumento na concentração de
NO, resultando na produção de mais smog. A solução será a exclusão de ambos. Entretanto,
para a eliminação do NO necessita-se um catalisador que permita reverter a reação que gera o
NO, como mostrado a seguir.

2 NO → N2 + O2 + calor

O estado da Califórnia, EUA, determinou que em 2003, 10% dos veículos registrados
devem ser veículos de emissão nula. Um caminho é o de conseguir motores a gasolina ou
diesel livre de emissões, o que é um complicado problema de engenharia. Outra via é usar
veículos elétricos, ativados por baterias ou pilhas de combustíveis. Os motores a gasolina
usados nos carros modernos resultaram do produto de anos de desenvolvimento de engenharia.
Para que se desenvolva, num prazo relativamente curto, um sistema de propulsão eficiente e
prático, com emissão nula, será necessário esforço significativo de muitos químicos e
engenheiros nas universidades e na indústria.

Referências
[1] J. C. Kotz e K. F. Purcell, Chemistry and Chemical Reactivity, Saunders College
Publishing (1990).

[2] B. M. Vieira, Ciências do ambiente para o curso de engenharia, Departamento de


Química - Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA, São José dos Campos, SP.

[3] P. H. Raven, L. R. Berg, G. B. Johnson, Environment, Saunders College Publishing,


(1995).

[4] S. M. Branco, E. Murgel, Poluição do ar, Editora Moderna, (1995).

[5] S. E. Manahan, Environmental Chemistry, Lewis Publishers, 5th edition (1991).

[6] J. B. de Andrade e P. Sarno, Química Nova, 13, 213 (1990).

[7] W. Z. Mello e J. S. T. Motta, Ciência Hoje, 6, 40 (1987).

[8] A. L. Rabello, Ciência Hoje, 5, 50 (1987).

[9] V. W. J. H. Kirchhoff, A. G. Motta, S. O. Azambuja, Ciência Hoje, 5, 28 (1987).

[10] F. A. Esteves e F. A. R. Barbosa, Ciência Hoje, 5, 57 (1986).

[11] J. C. Kotz e P. Treichel Jr., Chemistry and Chemical Reactivity, Saunders College
Publishing, 3th edition, (1996).

[12] CETESB - A participação dos veículos na poluição do ar de São Paulo.

[13] CETESB - Guia de atividades didáticas - Operação rodízio - Coordenadoria de


Educação Ambiental.
Capítulo 4

OS METAIS

4.1- Química de coordenação

Os íons metálicos nunca se encontram livres na natureza. O ambiente químico que os


cerca é constituído pelos ligantes (L) que definem a esfera interna de coodenação, conforme
figura 4.1. Nessa esfera, os ligantes, representados por íons ou moléculas que podem ser do
próprio solvente, interagem diretamente com o íon metálico central e se orientam em função de
requisitos eletrônicos e estéricos (geometria). A esfera mais externa (delimitada pela linha
tracejada) é menos orientada. Nela predominam moléculas do solvente interagindo por meio
de forças dipolares e de pontes de hidrogênio com a primeira esfera de coordenação. À medida
que a distância aumenta, o grau de ordem diminui até se confundir com o do solvente puro.

M →METAL (átomo ou íon) L → LIGANTES (ânions, moléculas neutras) S → SOLVENTE


Figura 4.1- Esferas interna (linha cheia) e externa (tracejada) de coordenação

Normalmente, o íon metálico é considerado um receptor de pares de elétrons, ao passo


que o ligante é tido como doador de pares de elétrons. Contudo, a interação metal-ligante pode
envolver uma dualidade de comportamento.

Chama-se denticidade ao número de átomos doadores de um ligante. Um grupo que


contenha apenas um átomo doador chama-se monodentado ou unicoordenativo; um que
contenha mais de um átomo doador em potencial é chamado multidentado ou
multicoordenativo. O amoníaco é um exemplo comum de ligante monodentado (denticidade
=1). Outros unicoordenativos são a água (H2O) e o íon cianeto (CN-). A molécula
etilenodiamina, H2NCH2CH2NH2, tem dois átomos de nitrogênio, cada um dos quais doa um
par de elétrons solitário ao íon metálico; então, a sua molécula é um exemplo de ligante
bicoordenativo (denticidade = 2). Um ligante que forme apenas uma ligação coordenativa é
chamado de ligante monodentado. Os ligantes que formam 2, 3, 4 ou mais ligações
coordenativas são chamados respectivamente de bidentados, tridentados, tetradentados e assim
por diante; de um modo geral, polidentados. Tanto a palavra denticidade como o sufixo
dentado provêm da palavra latina dentatus, que significa “tendo (tantos) dentes, ou projeções
como dentes”.

4.2- Complexos do tipo quelato


Um ligante di ou polidentado em que 2 (ou mais) átomos doadores estão dispostos de
modo que podem, todos, ficar coordenados com o mesmo elemento central é chamado ligante
quelante (do grego chele, que significa “garra”). Um ligante quelante forma, com o átomo ou
íon central, um ou mais anéis do tipo quelato, e o complexo que resulta é chamado de
complexo quelato, ou simplesmente quelato.

Os quelatos são mais estáveis que complexos semelhantes com ligantes monodentados,
pois a dissociação do complexo envolve a ruptura de mais de uma ligação. Quanto maior o
número de anéis formados, mais estável será o complexo. Agentes quelantes com três, quatro
e seis átomos doadores de elétrons são chamados de ligantes tri, tetra e hexadentados. Um
importante exemplo deste último é o íon etilenodiaminotetra-acético (EDTA 4-), que se liga ao
metal através de dois átomos de nitrogênio e quatro átomos de oxigênio, formando assim cinco
anéis. Nestas condições, mesmo íons grandes como o Ca 2+ podem formar complexos estáveis.

Diversos complexos do tipo quelato têm importância biológica. A hemoglobina das


células vermelhas do sangue contém um complexo de ferro e porfirina; a vitamina B12 é um
complexo de cobalto, a clorofila das plantas verdes contém um complexo de magnésio e
porfirina, e as oxidases (enzimas) do citocromo contêm ferro e cobre. O organismo humano
contém diversas substâncias que formam quelatos com metais, como por exemplo a adrenalina,
ácido cítrico e cortisona. A intoxicação com metais como chumbo, cobre, ferro, cromo e
níquel ocorre por causa da formação destes complexos indesejados, que impedem o
metabolismo normal. A dermatite provocada por sais de cromo e níquel é tratada com cremes
contendo EDTA. Intoxicações por chumbo e cobre são combatidas por ingestão de preparados
à base de EDTA; os complexos metal-EDTA são excretados pela urina.

4.3 - Assimilação de íons metálicos pelas plantas e animais

A assimilação de metais pelos sistemas biológicos ocorre por diversas vias; nas plantas
por meio das raízes e folhas; e nos animais, mediante ingestão de alimentos e pela via
respiratória. Os metais alcalinos e alcalinos-terrosos encontram-se livres nas águas e nos
fluidos biológicos. Sua captura pela célula é possível pela interação com grupos existentes na
superfície da membrana. Outros íons são extraídos na forma de complexos que podem ser
absorvidos ou transportados através da membrana.

A eficiência com que os íons são retirados depende de sua abundância, da forma em
que se encontram e dos mecanismos de captura. No caso de elementos traços, como Zn, Cu,
Fe, Co e Mn, a extração requer agentes complexantes com constantes de estabilidade elevadas,
capazes de discriminá-los dos íons alcalinos e alcalino-terrosos, mais abundantes.

Os organismos aquáticos extraem da água o oxigênio dissolvido e os alimentos. Com


isso estão sempre expostos aos íons metálicos existentes no meio. Os moluscos, apresentando
sistema respiratório relativamente simples, concentram íons metálicos com muita facilidade no
seu interior.

No homem, a absorção de metais essenciais ocorre pela via alimentar. A distribuição


diária, em mg, sobre um total acumulado, tomando-se como base um indivíduo de 70 kg é
mostrada na tabela 4.1.

4.4- Aspectos toxicológicos

O organismo apresenta um mecanismo homeostático, por meio do qual mantém as


concentrações dos elementos traços a níveis aproximadamente constantes no organismo.
Quando o elemento é essencial, sua atividade benéfica cresce com a concentração, até atingir
um nível de saturação, determinado por esse mecanismo. Nesse nível, todo o excesso é
eliminado; contudo, quando por alguma razão a concentração se eleva, a ponto de tornar o
mecanismo de defesa ineficiente, o caráter tóxico se manifesta. Algumas doenças,
relacionadas com a falta ou excesso de elementos traços, são apresentadas na tabela 4.2.

Tabela 4.1- Distribuição diária (mg) sobre um total acumulado


(base: indivíduo de 70 kg)
QUANTIDADES TOTAL ACUMULADO
METAIS DIÁRIAS (mg) (mg)
VANÁDIO - V 2,5 30
CROMO - Cr 0,06 <6
MANGANÊS - Mn 5 20
FERRO – Fe 15 4100
COBALTO - Co 0,03 1
NÍQUEL - Ni 0,45 < 10
COBRE – Cu 3,2 100
ZINCO – Zn 12 2300
MOLIBDÊNIO - Mo 0,35 9

Tabela 4.2- Doenças associadas com alguns elementos químicos


ELEMENTO DEFICIÊNCIA EXCESSO
COBALTO ANEMIA POLICITEMIA

CRÔMIO ANOMALIA NO
METABOLISMO DA
GLUCOSE

CHUMBO ANEMIA

COBRE ANEMIA DOENÇA DE WILSON

FERRO ANEMIA HEMOCROMATOSE

IODO BÓCIO

MANGANÊS ANOMALIA ATAXIA


ESQUELETAL

ZINCO ANANISMO

SELÊNIO NECROSE DE FÍGADO

CÁDMIO NEFRITE

MERCÚRIO PARESTESIA, ATAXIA,


DISARTRIA, CEGUEIRA

A toxicidade dos metais é um problema extremamente complexo. Relaciona-se


com pelo menos três tipos de influências:

a) bloqueio de grupos funcionais essenciais à atuação de uma biomolécula;


b) deslocamento de outros metais presentes no sistema e
c) modificações na conformação de sítios ativos e na estrutura quaternária de proteínas.

O caráter essencial do vanádio ficou demonstrado no caso de ratos mantidos sob dieta
controlada; contudo, sua importância no ser humano é ainda discutível. É encontrado em
alimentos como o leite, cereais e vegetais, frutos do mar, além de óleos e gorduras. A maior
parte ingerida é excretada na urina. Têm sido constatadas doenças no sistema respiratório de
trabalhadores expostos a compostos de vanádio.
O crômio parece ser útil no metabolismo da glucose; contudo, sua função ainda não é
bem conhecida. Uma quantidade diária, ao redor de 250 µg de crômio, é considerada
suficiente na alimentação. É encontrado na carne, laticínios, cereais integrais e levedura de
cerveja.
O manganês é essencial na formação da estrutura óssea e no funcionamento do sistema
nervoso central. Participa como cofator de grande número de enzimas, como as fosfatases
ósseas e sanguíneas, e outras encontradas no fígado e intestino, ou em arginases, carboxilases e
colinesterases. A maior parte do manganês concentra-se nas mitocôndrias, principalmente no
fígado e no rim. Nas células vegetais, o manganês é necessário na fotodecomposição da água
pela clorofila. As fontes principais desse elemento são os vegetais, as frutas e os cereais
integrais. Exposição muito intensa e excesso de manganês afeta o sistema nervoso,
provocando uma doença degenerativa, conhecida como doença de Parkinson, cuja
característica é a perda de coordenação.

A importância biológica do ferro dispensa maiores comentários. A absorção desse


elemento ocorre principalmente no estômago e no duodeno. Nos alimentos, uma grande parte
do ferro encontra-se na forma reduzida que, sendo mais solúvel, pode ser absorvida pelas
células mucosas. Nestas, o íon é oxidado ao estado férrico (Fe3+) e combina-se com a
apoferritina, cuja função é armazenadora. Uma proteína do sangue, a transferrina, encarrega-
se da captação do ferro por meio de grupos fenolatos, transportando-o para as diversas partes
do organismo. A fração maior é transportada para as células produtoras de hemoglobina,
localizadas na medula óssea. A deficiência de ferro manifesta-se sob a forma de anemia. A
absorção excessiva leva ao acúmulo de ferro nos tecidos, que pode ser acompanhado de
formação de pigmentação bronzeada na pele, conhecida como hemocromatose, além de
distúrbios hepáticos.

O cobalto deve sua importância biológica à vitamina B12, que tem papel fundamental
na formação do sangue. Apesar de os sais de cobalto serem de fácil absorção pelo organismo,
eles não se acumulam, pois são eliminados na urina e nas fezes. A carência de cobalto produz
sintomas de anemia. A ingestão excessiva conduz ao aparecimento de policitemia,
caracterizada pelo aumento exagerado de glóbulos vermelhos.

O níquel não tem função biológica conhecida até o momento, apesar de se encontrar em
vegetais e legumes, e de existir em pequena quantidade no organismo.

O cobre, assim como o ferro, participa de um número muito grande de processos


biológicos. Esse elemento é transportado por uma albumina, concentrando-se nos músculos,
nos ossos e no fígado. Uma anomalia no transporte de cobre manifesta-se sob a forma de
doença de Wilson, em que o cobre permanece associado à albumina, para depositar-se sobre
tecidos do fígado e do cérebro.

O zinco é componente de grande número de enzimas hidrolíticas e desidrogenases, e


encontra-se ligado a uma variedade de proteínas, incluindo a insulina. Distribui-se no
organismo, principalmente no fígado, rins, músculos e pâncreas. O teor de zinco encontrado
no pâncreas de diabéticos chega a ser metade do correspondente aos indivíduos normais. A
deficiência do elemento pode causar retardação no mecanismo, hipogonadismo e nanismo,
além de alterações no metabolismo de substratos, incluindo possivelmente o álcool. Encontra-
se na carne, fígado, ovos e alimentos marinhos, bem como no leite e produtos de cereais
integrais.

Entre os elementos não essenciais, a toxicidade associada ao mercúrio e cádmio deve


ser destacada. Estes metais apresentam afinidade bastante grande por ligantes que contêm
enxofre. O organismo se defende por meio de mecanismos homeostáticos, acumulando-os nos
cabelos e eliminando-os após a queda; ou então, removendo-os com uma proteína chamada
metalotioneína. Essa proteína apresenta alto teor de grupos sulfidrila (SH), e sua síntese é
induzida no fígado e nos rins por íons como Cd, Zn, Cu e Hg.

O cádmio é um poluente bastante sério. Sua natureza tóxica foi responsável pelo
envenenamento crônico ocorrido há 40 anos, no Japão, numa população que se alimentava de
cereais contaminados. As características químicas do cádmio são semelhantes às do zinco,
inibindo enzimas. Em alguns casos, contudo, a substituição do zinco pelo cádmio leva ao
aumento na atividade catalítica. O acúmulo desse metal é observado no fígado e
principalmente nos rins, produzindo nefrite. A ingestão prolongada, associada à disfunção
renal, conduz à excreção de proteínas, glucose e fosfato. Nos casos agudos, como os ocorridos
no Japão, as vítimas experimentaram dores intensas causadas pela degeneração óssea.

O mercúrio é um poluente natural da atmosfera e das águas. Em virtude de sua


utilização industrial e agrícola, a concentração local de mercúrio pode superar aquela
produzida naturalmente, criando problemas ambientais. Os organismos expostos de forma
natural em locais com alto teor de mercúrio parecem ter desenvolvido mecanismos de defesa,
realizando metilação ou redução com formação de Hg22+ e Hg, ambos voláteis.

O elemento é fornecido pela cadeia alimentar, principalmente na forma de compostos


do tipo CH3-Hg-R, em virtude da grande afinidade por grupos SH, abundantes nas proteínas.
A absorção no trato gastrointestinal ocorre com alta eficiência, principalmente sob a forma de
CH3Hg+ (100%), C2H5-Hg+ (50%) e Hg (II) (20%). Isso se deve à facilidade de interação com
a membrana lipoprotéica. Entrando para a circulação sanguínea, concentra-se, principalmente,
nas células vermelhas, podendo provocar hemólise (destruição dessas células). Por meio da
circulação, acaba-se acumulando principalmente no fígado e rim.

O ponto mais crítico da toxicidade do mercúrio é o seu longo tempo de permanência no


organismo. O tempo de meia vida do metil mercúrio, CH3-Hg+, no corpo humano é de 70 - 90
dias, sendo ainda maior no cérebro. Geralmente a eliminação se dá nas fezes. Os danos
produzidos no cérebro, via sistema nervoso central, levam à perda de sensibilidade nas
extremidades das mãos e dos pés, e de áreas ao redor da boca (parestesia), seguida de perda de
coordenação dos movimentos (ataxia), dificuldade de articulação das palavras (disartria), perda
de audição, cegueira e morte.

Estima-se que 25 mg de metilmercúrio produzam parestesia, 55 mg provoquem ataxia,


90 mg causem disartria e 200 mg levem à morte. Alguns relatos famosos sobre intoxicação
por mercúrio são citados a seguir:

* Finale - Itália - as emissões de uma fábrica de cloreto de mercúrio, causaram graves


problemas de poluição no ar,
* Iraque - ocorreu envenenamento através da ingestão de pães feitos com trigo tratado com
fungicida à base de alquilmercúrio,
* Baia de Minamata - Japão- o lançamento de águas residuárias de uma fábrica de cloro e soda
cáustica, ricas em mercúrio (eletrólise do cloreto de sódio - 100 gr de Hg são produzidos para
cada tonelada média de cloro produzido) provocou a contaminação dos peixes e, por
consequência, da população local.

No Brasil, o interesse pelos problemas causados pelo mercúrio começou a partir de


1980 com a descoberta do ouro em Serra Pelada (Pará) e outras regiões da Amazônia, em
função dos problemas causados aos garimpeiros pela inalação do mercúrio volatilizado e a
poluição do curso dágua pelo mercúrio utilizado.

FONTES DE INTOXICAÇÃO - ATIVIDADES INDUSTRIAIS


♦ mineração do cinábrio e refino
♦recuperação do ouro
♦ fabricação de produtos farmacêuticos
♦ fabricação de instrumentos científicos
♦ produção de fungicidas e inseticidas
♦ catálise
♦ pinturas
♦ baterias....
VIAS DE PENETRAÇÃO/ ABSORÇÃO

♦ pulmonar ♦ cutânea ♦ digestiva

METABOLISMO

1- MERCÚRIO ELEMENTAR
→ vapores de mercúrio atravessam facilmente as membranas celulares, sendo
prontamente absorvido pelos pulmões, onde é oxidado a íon mercúrico (Hg 2+)
→ parte do mercúrio penetra no cérebro antes de ser oxidada. No cérebro, é oxidado a
mercúrio II, causando danos irreversíveis às células do sistema nervoso, com redução dos
neurônios e células granulares do cérebro.

2- SAIS INORGÂNICOS DO MERCÚRIO


→ atingem a circulação e concentram-se em maior quantidade nos rins e fígado
→ não tem sido encontrado mercúrio de origem inorgânica no cérebro (incapacidade
do Hg 2+ e de seus biocomplexos atravessarem a barreira hemato-encefálica ou a placenta)

3- SAIS ORGÂNICOS DE MERCÚRIO

→ absorvidos no trato gastrointestinal (associado a solubilidade em lipídios)


→ em face de sua lipo-solubilidade, atravessam a barreira hemato-encefálica e se
acumulam no cérebro

Resumindo, além de afetar as propriedades do DNA, o mercúrio inibe (desativa) as


seguintes enzimas:

♦ fosfatase alcalina (nos leucócitos)


♦ glucose-6-fosfatase (rim)
♦ desidrogenase láctica (rim)
♦ glutaminase (cérebro)

O chumbo é outro poluente bastante sério. A contaminação, mesmo em concentrações


baixas, danifica células do cérebro, podendo levar à morte. Até alguns anos atrás colocava-se
na gasolina tetraetilato de chumbo, para controlar seu poder detonante. No entanto, os altos
níveis de chumbo verificados no sangue das pessoas resultaram no abandono desse aditivo. O
Brasil produz gasolina sem chumbo desde 1989. O acúmulo desse metal ocorre nos ossos,
onde se concentra 90% do total existente no corpo humano. A excreção é feita por via urinária
e pelas fezes.

Do mesmo modo que o Hg(II) e o Cd (II), o chumbo inibe enzimas que contêm grupos
SH, porém menos fortemente.

4.5- Aspectos medicinais

Os agentes quelantes são frequentemente empregados no tratamento de envenenamento


por metais, fazendo sua remoção por complexação. Para isso devem apresentar algumas
propriedades fundamentais, como:

* solubilidade apreciável em água;


* resistência à degradação metabólica e
* facilidade de penetração nos sítios onde se concentram os metais.

Ao mesmo tempo, devem apresentar poder de complexação na faixa de pH fisiológico,


com velocidades relativamente altas e com caráter seletivo para evitar a remoção de outros
metais essenciais. Finalmente, tanto os agentes complexantes como os produtos, devem ser de
fácil excreção pelo rim.

O ácido etilenodiaminotetra-acético (EDTA), na forma de sal de sódio, é um


complexante utilizado na remoção de íons metálicos. Injetado por via intravenosa, pode
abaixar drasticamente o nível de cálcio, por isso sua administração deve ser controlada.
Contudo, esse efeito é útil na dissolução de pedras de oxalato, carbonatos e fosfatos de cálcio
no sistema urinário. Utilizado na forma do sal Na2CaEDTA, não afeta o nível de cálcio no
sangue, removendo seletivamente metais de transição e metais pesados que apresentam maior
afinidade pelo EDTA que o cálcio. O sal cálcico de EDTA é empregado no tratamento de
envenenamento por chumbo, porém é ineficaz no caso do mercúrio. Tendo pouca seletividade
com respeito aos metais de transição, pode afetar o nível de íons como Zn2+, que deve ser
suplementado no tratamento.
Referências

[1] J. C. Kotz e K. F. Purcell, Chemistry and Chemical Reactivity, Saunders College


Publishing (1990).
[2] H. E. Toma, Química Bioinorgânica, (1984).

[3] P. H. Raven, L. R. Berg, G. B. Johnson, Environment, Saunders College Publishing,


(1995).

[4] S. E. Manahan, Environmental Chemistry, Lewis Publishers, 5th edition (1991).

[5] J. C. Kotz e P. Treichel Jr., Chemistry and Chemical Reactivity, Saunders College
Publishing, 3th edition, (1996).
Capítulo 5

QUÍMICA ORGÂNICA

A maioria dos compostos que constituem as coisas do nosso cotidiano são formados de moléculas que
contêm carbono e (geralmente) hidrogênio, e são classificados como compostos orgânicos. Estes
compostos têm destaque nas nossas vidas, pois são responsáveis pelas cores e odores das flores e da
vegetação,e pelo gosto da comida. De fato, virtualmente todo o mundo natural,exceto as rochas e
oceanos, consiste de compostos orgânicos.

Foram necessários cerca de 4,5 bilhões de anos de luz solar e compostos de carbono para formar a vida
atualmente existente na Terra. O ser humano existe na Terra há apenas alguns milhões de anos e, no
espaço de somente cem anos, aprendeu a transformar compostos de carbono em medicamentos,
combustíveis, produtos de higiene e limpeza e, notavelmente, em materiais plásticos.

A indústria da química orgânica mudou o nosso mundo para melhor e para pior. Poluição e
superpopulação são problemas sérios que estão se tornando ainda mais sérios. São problemas
científicos e políticos. A parte científica tem solução, embora dispendiosa. A parte política é menos
clara. É uma questão de como utilizar nossas riquezas – uma questão de prioridades.

A qualidade de vida, talvez a própria vida, depende de sua ligação e respeito para com a Terra.

Aqueles que têm algum conhecimento de química orgânica terão uma oportunidade de trabalhar para tal
e a obrigação de fazêlo.

OS COMPOSTOS DE CARBONO

As plantas já existiam há mais de 400 milhões de anos quando surgiu o primeiro ser humano no planeta,
o que aconteceu cerca de 50 mil anos atrás.

Desde então, o homem provavelmente já passou a utilizar as plantas como medicamento. Esta avaliação
é baseada em registros antigos, como desenhos em cavernas, escritos e símbolos, que revelam uma
ligação muito íntima do homem com a natureza, principalmente com as plantas.

Assim, ao longo do tempo, as civilizações, em todo o mundo, foram reunindo suas experiências de
forma única, deixando acumular até nossos dias um vasto e inestimável conhecimento sobre as ervas e
plantas, em grande parte comprovada pela ciência moderna.

Portanto, toda a história da Medicina está intimamente ligada às plantas, pois foi somente em 1828 que
Friedrich Wohler sintetizou a uréia (substância orgânica) a partir de cianato de amônio (substância
inorgânica), fato que causou uma revolução no conhecimento da época. Isto porque, até este momento,
havia uma concepção de que uma substância orgânica só poderia ser sintetizada a partir de substâncias
extraídas de animais ou vegetais.
Química orgânica é a química dos compostos do carbono.

Propriedade típica do carbono: formação de cadeias.

Histórico

Berzelius
Teoria da força vital. Nos organismos vivos, há uma força especial
indispensável à síntese dos compostos orgânicos. Por isso, esses compostos
não podem ser sintetizados fora dos organismos vivos (in vitro).

Wöhler (1828)
Síntese de uréia in vitro. Começa a ser abandonada a teoria da força vital.

Berthellot
Sintetiza muitos compostos orgânicos em laboratório e "enterra" a teoria da
força vital.

Diferenças entre compostos orgânicos e inorgânicos

• Composição (C, H, O, N)
• Número de compostos
• Freqüência do fenômeno de isomeria e polimeria
• Natureza dos compostos
• PF e PE
• Condutividade elétrica
• Solubilidade
• Resistência ao aquecimento (sem decomposição)
• Inflamabilidade dos compostos
C ABERTA ou • Quanto à natureza
A ACÍCLICA ou
D ALIFÁTICA o Homogênea
E
o Heterogênea
I
A • Quanto à disposição dos C
·
C o Normal ou reta
A o Ramificada ou arborescente
R
B • Quanto à saturação
Ô
o Saturada
N
I o Insaturada ou não-saturada
C
A FECHADA ou Alicíclica • Quanto à natureza
CÍCLICA ou não-
aromática o Homogênea ou homocíclica

o Heterogênea ou heterocíclica

• Quanto à saturação
o Saturada

o Insaturada ou não-saturada

• Quanto ao número de ciclos


o Monocíclica ou mononuclear

o Policíclica ou polinuclear

ƒ Condensada

ƒ Não-condensada

Aromática • Quanto ao número de ciclos


o Monocíclica ou mononuclear

o Policíclica ou polinuclear

ƒ Condensada

ƒ Não-condensada
Hidrocarbonetos

Hidrocarboneto é qualquer composto binário de carbono e hidrogênio.


Os hidrocarbonetos são classificados de acordo com a sua cadeia carbônica.

Tipo de cadeia
Classe Exemplo
carbônica
ALCANO ou alifática saturada CH3⎯CH2⎯CH2⎯CH3
PARAFINA butano
ALCENO ou alifática insaturada CH3⎯CH=CH⎯CH3
ALQUENO ou etênica com um 2-buteno
OLEFINA

H2C=CH⎯CH2⎯CH3
1-buteno
ALCADIENO ou alifática insaturada H2C=C=CH⎯CH3
DIOLEFINA etênica com 2 1,2-butadieno

H2C=CH⎯CH=CH2
1,3-butadieno
ALCINO ou alifática insaturada H3C⎯C≡C⎯CH3
ALQUINO etínica com um 2-butino

H⎯C≡C⎯CH2⎯CH3
1-butino
ALCENINO ou alifática insaturada H2C=CH⎯C≡C⎯H
ALQUENINO etenínica com um butenino
e um
CICLOALCANO ou alicíclica saturada H2 C ⎯ C H2
CICLANO ou | |
CICLOPARAFINA H2 C ⎯ C H2

ciclobutano
CICLOALQUENO ou alicíclica insaturada H2 C ⎯ C H2
CICLOALCENO ou etênica com um | |
CICLENO ou HC=CH
CICLOOLEFINA
ciclobuteno
ARENO ou cadeia aromática
HIDROCARBONETO
AROMÁTICO
benzeno

RADICAIS MAIS IMPORTANTES

|
H3C⎯ H3C⎯CH2⎯ H3C⎯CH2⎯ CH2⎯ H⎯CH
H3C⎯ C
metil etil n.propil 3
isopropil
|
H3C⎯CH2⎯CH2⎯CH2⎯ H3C⎯CH2 H⎯CH
C
n.butil ⎯ 3
sec.butil
H⎯CH2 |
H3C⎯ C
⎯ H3C⎯ C ⎯CH3
| |
C H3 C H3
isobutil terciobutil benzil

fenil α-naftil β-naftil

ortotoluil metatoluil paratoluil

H2 C ⎯ H2 C ⎯ C H2 H3C⎯ C H⎯
| | | |

metileno etileno etilideno


Funções orgânicas
1. Série homóloga, isóloga e heteróloga
2. Principais funções orgânicas

Série homóloga, isóloga e heteróloga

Série homóloga é um grupo de compostos pertencentes à mesma função, que


diferem entre si por um ou mais grupos CH2.

Série isóloga é um grupo de compostos pertencentes à mesma função, que diferem


entre si por um ou mais grupos H2.

Série heteróloga é um grupo de compostos de funções diferentes, mas derivados


de um mesmo hidrocarboneto.
Dentro de uma mesma série homóloga, as constantes físicas variam regularmente à
medida que aumenta a massa molecular. Assim, os PF, os PE e as densidades,
numa mesma série homóloga, crescem com certa regularidade à medida que
aumenta a massa molecular, ou seja, à medida que aumenta o número de C na
molécula.

Principais funções orgânicas


Função Fórmula geral Nomenclatura IUPAC Exemplos
R ⎯ OH nome de − o CH3 ⎯ CH2 ⎯ CH2 ⎯ OH
ÁLCOOL OH ligado a C
saturado
R ⎯ H + ol 1-propanol

nome de
FENOL Ar ⎯ OH hidroxi +
Ar ⎯ H OH
hidroxibenzeno
nome de nome de
R⎯O⎯
+
R1 ⎯ H CH3 ⎯ O ⎯ CH2 ⎯ CH3
ÉTER R ⎯ O ⎯ R1
metoxietano
R ≤ R1
O
O ||
|| CH3 ⎯ CH2
ALDEÍD nome de − o C
R ⎯C ⎯
O R ⎯ CH3 + al
| |
H H
propanal
O O
|| −o ||
nome de
CETONA R ⎯C + CH3 ⎯ C
R ⎯ CH2 ⎯ R1
| ona |
R1 CH3
propanona
O
O ||
|| CH3 ⎯ CH2
ÁCIDO C
R⎯ C nome de − o ⎯
CARBO- ácido
| R ⎯ CH3 + oico |
XÍLICO
O O
H H
ácido propanóico
nome de O
O O − ácido ||
|| || − ico CH3 ⎯ CH2
C
ÉSTER R⎯ C R⎯ C + ato ⎯
| | + nome de |
O⎯ R1 O R1 O⎯ CH3
H propanoato de metila

AMINA H
H
|
|
CH3 ⎯ CH2 ⎯ CH2
R⎯ N N
nome de R + amina ⎯
|
|
H
H
primária
propilamina
CH3
R1
|
|
CH3 ⎯ CH2
R⎯ N nome de R N
+ amina ⎯
| nome de R1
|
H
H
secundária
metiletilamina
R1 CH2−CH3
| |
nome de R
R⎯ N CH3−CH2−CH2− N
nome de R1 + amina
| |
nome de R2
R2 CH3
terciária metiletilpropilamina
nome de O
O
O ||
||
|| − ácido CH3 ⎯ CH2
R⎯ C C

AMIDA | R ⎯ C − ico
|
NH | + amida NH
2 O 2
primária H propanoamida
− ácido
nome de CH3 ⎯ CH2 ⎯ C ≡ N
NITRILO R⎯C≡N − ico
R ⎯ COOH propanonitrilo
+ nitrilo
HALETO
R⎯X nome de nome de CH3 ⎯ CH2 ⎯ CH2 ⎯ Cl
ORGÂ- +
(F, Cl, Br, I) X R⎯H 1-cloro propano
NICO

Petróleo, carvão e madeira


fontes naturais de compostos orgânicos
1. Destilação fracionada do petróleo
2. Cracking
3. Octanagem
4. Xisto betuminoso
5. Destilação seca da hulha
6. Destilaçã0 seca da madeira

DESTILAÇÃO FRACIONADA DO PETRÓLEO


Intervalo (aprox.) de
Fração temperatura em que Principais componentes
destilam (°C)

Gás de petróleo − CH4 C2H6 C 3 H8 C4H10

Gasolina ou benzina ou C5H12 C6H14 C7H16


até 200
nafta C8H18 C9H20 C10H22

C10H22 C11H24 C12H26


Querosene 150 a 250
C13H28 C14H30 C15H32

Gás óleo ou óleo diesel 250 a 350 hidrocarbonetos superiores


Óleos combustíveis 300 a 400 hidrocarbonetos superiores
Óleos lubrificantes − hidrocarbonetos superiores
Resíduo − hidrocarbonetos superiores
Cracking ou craqueamento catalítico do petróleo

Consiste em aquecer o petróleo a alta temperatura (500°C), na presença de


catalisadores, provocando ruptura da cadeia carbônica dos hidrocarbonetos, dando
outros com menor cadeia carbônica, constituintes da gasolina.

Gasolina de polimerização − No cracking formam-se grandes quantidades de


hidrocarbonetos gasosos, a partir dos quais, por um processo inverso, consegue-se
obter os hidrocarbonetos médios (C5 a C8) constituintes da gasolina.

Índice de octanos (octanagem) de uma gasolina

Uma gasolina de octanagem n é aquela que se comporta como se fosse uma


mistura contendo n% de isooctano e (100 − n)% de n.heptano. Por convenção, o
isooctano puro tem octanagem 100 e o n.heptano puro tem octanagem zero.

Xisto betuminoso

É constituído por rochas sedimentares impregnadas de um material oleoso muito


parecido com o petróleo.

Destilação seca da hulha

FRAÇÃO GASOSA : gás de hulha


FRAÇÕES LÍQUIDAS : águas amoniacais e alcatrão de hulha
FRAÇÃO SÓLIDA
: coque
(resíduo)

O alcatrão de hulha representa a fonte natural mais importante para a obtenção


de compostos aromáticos. Por destilação fracionada do alcatrão de hulha, obtêm-
se várias frações, das quais são extraídos inúmeros compostos de que a indústria
necessita, como benzeno, naftaleno, fenóis, anilina, etc.
Na destilação fracionada do alcatrão de hulha, obtêm-se 60% de piche.

Destilação seca da madeira

gás de madeira (CH4, C2H6, CO, ...),


FRAÇÃO GASOSA :
usado como combustível
ácido pirolenhoso (vinagre de madeira) e
FRAÇÕES LÍQUIDAS :
alcatrão da madeira
FRAÇÃO SÓLIDA
: carvão de madeira
(resíduo)

O vinagre de madeira (ácido pirolenhoso) é uma solução aquosa cujos principais


componentes são: ácido acético (7 a 10%), metanol (1 a 3%), acetona (1%) e água
(85 a 90%).

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