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CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA: PROCESSO PENAL 1


PROFESSOR: JUENIL ANTONIO DOS SANTOS

INQUÉRITO POLICIAL

1. NOÇÕES GERAIS
A persecução penal se desenvolve, ordinariamente, em duas fases: investigação
preliminar e processo judicial. Normalmente, a primeira fase, de investigação preliminar
se dá por meio do inquérito policial. Contudo, não é uma regra absoluta. Há casos em
que não se necessita de inquérito policial, pois não há necessidade de investigação da
ocorrência do crime e de sua autoria.
Em regra, o inquérito policial é atribuição da polícia. A CF atribuiu à polícia
federal o exercício, com exclusividade, das funções de polícia judiciária da União
(artigo 144, § 1º, inc. IV).
Por outro lado, é incumbência da policia civil dos Estados a apuração das
infrações penais, ressalvadas as de competência da justiça militar e da justiça federal
(art. 144, § 4º da CF).

2. INQUÉRITO POLICIAL
É todo o procedimento administrativo realizado pela polícia judiciária,
consistente em atos de investigação visando a apurar a ocorrência de uma infração penal
e sua autoria (vide art. 4º do CPP).
O inquérito policial é um procedimento preparatório da ação
penal, de caráter administrativo, conduzido pela polícia
judiciária e voltado à colheita preliminar de provas para
apurar a prática de uma infração penal e sua autoria. Seu
objetivo precípuo é a formação da convicção do representante
do MP, mas também a colheita de provas urgentes, que
podem desaparecer, após o cometimento do crime.1

O destinatário imediato do IP é o Ministério Público ou o ofendido, nos casos de


ação penal privada, que com ele formam a sua opinio delicti para a propositura da

1
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5ª. Edição. São Paulo:
Editora Revista dos tribunais, 2009, p. 143.
1
denúncia ou queixa, respectivamente. O destinatário mediato é o juiz, que nele pode
encontrar elementos para julgar.
O IP é um procedimento administrativo informativo destinado a subsidiar a
propositura da ação penal, constituindo-se em um dos poucos poderes de autodefesa do
Estado na esfera de repressão ao crime, com caráter nitidamente inquisitorial, em que o
indiciado não é sujeito processual e sim simples objeto de um procedimento
investigatório (arts. 20 e 21 do CPP), salvo em situações excepcionais em que a lei o
ampara (formalidades de auto de prisão em flagrante, nomeação de curador a menor, .).

3. FINALIDADE
A finalidade do inquérito policial é apuração da existência da infração e a
respectiva autoria (CPP, art.s 4º e 12º), fornecendo elemento para que o MP ou
querelante forme a opinio delicti e, em caso positivo, dar o embasamento probatório
suficiente para que a ação penal tenha justa causa.
O IP não é peça obrigatória para o oferecimento da denúncia ou queixa

4. INQUÉRITOS EXTRAPOLICIAIS
a) Código Florestal – Lei 4.771/1965
b) Inquérito Policial Militar – IPM – CPPM, art. 8º
c) Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI – Lei 1579/53

5. NATUREZA JURÍDICA E CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO


POLICIAL
O inquérito policial é um procedimento administrativo, escrito, sigiloso e de
natureza inquisitória.

A atividade de polícia judiciária, assim denominada pela CF/88, dentro do IP,


tem como características:

a) Discricionariedade
Tem a faculdade de operar ou deixar de operar dentro do campo cujos limites
são fixados estritamente pelo Direito. Escolhe o momento da realização de determinado
ato, pode deferir ou indeferir qualquer pedido de prova (art. 14 do CPP), não estando
sujeito à suspeição (art. 107 do CPP).

2
b) Autoexecutabilidade ou oficiosidade
Independe de prévia autorização do Poder Judiciário para sua concretização
jurídico-material, dentro dos limites legais.

c) procedimento escrito
Está previsto no art. 9º do CPP. Tendo em vista sua destinação de fornecer
elementos de convicção ao titular da ação penal (MP), não sendo, porém, sujeito a
formas rígidas e indeclináveis. Exige-se, no entanto, algum rigor formal especialmente
na comprovação da materialidade do delito, no interrogatório e auto de prisão em
flagrante (procedimento arcaico e burocrático para seus críticos). Deve ser, portanto,
escrito ou datilografado (digitado), sendo rubricadas todas as peças pela Autoridade.

d) Sigiloso
Qualidade necessária para que possa a Autoridade Policial providenciar as
diligências necessárias para a completa elucidação do fato sem que lhe oponham os
empecilhos para impedir a coleta de provas (art. 20 do CPP). Este sigilo não se estende
ao MP (art. 5º, III, da LOMP), nem ao Judiciário. O advogado só pode ter acesso ao IP
quando possua legitimatio ad procedimentus, e decretado o sigilo (em segredo de
justiça), não está autorizada a sua presença a atos procedimentais diante do princípio da
inquisitoriedade que norteia o nosso CPP quanto à investigação. No caso do advogado,
pode consultar os autos de inquérito, mas, caso, seja decretado judicialmente o sigilo na
investigação, não poderá acompanhar a realização de atos procedimentais ( Lei 8906,
art. 7º., XIII a XV, e par. 1º, e Súmula vinculante n. 14 do STF).
Para Gustavo Badaró:
Tal dispositivo não faz qualquer restrição quanto ao direito
do advogado de consultar autos de inquérito policial – e
pode-se acrescentar, dos denominados “procedimentos
criminais diversos” -, se os mesmos estiverem correndo em
segredo de justiça. Em suma, o segredo de justiça poderá ser
decretado pela autoridade policial nos termos do artigo 20 do
CPP, sendo oponível a terceiras pessoas, mas jamais a
advogados, mesmo sem procuração nos autos.2

2
BADARÓ, Gustavo Henrique. R. I. Direito processual penal. Tomo I. São Paulo: Campus-Elsevier,
2008, p. 45.
3
e) Obrigatório e indisponível
Em crime de ação pública incondicionada a instauração é obrigatória (art. 5º, I,
do CPP), não podendo arquivá-lo depois de instaurado.

6. DA INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL:


As formas de instauração do inquérito policial variam de acordo com a natureza
do delito:

6.1. No caso de ação penal pública incondicionada


Nos casos em que a ação penal é pública incondicionada a instauração pode se
dar:
a) de ofício - Tomando conhecimento da infração penal objeto de ação penal
pública incondicionada, a autoridade policial deverá instaurar o IP por portaria. Esta
consiste, basicamente, em um resumo do fato que a motivou, com a objetivação das
diligências que devem ser realizadas no feito policial.

b) Requisição da autoridade judiciária e do ministério público


O juiz, tomando conhecimento de infração penal, não possuindo maiores dados,
especificamente relativos à materialidade do delito, requisita a Autoridade Policial que
instaure IP para averiguação dos fatos e a autoria. Como já especificado, neste caso, a
instauração ocorre mediante simples despacho ordenatório do Delegado.

Requisição é a exigência para a realização de algo, fundamentada em


lei. Assim, não se deve confundir requisição com ordem, pois nem o
representante do Ministério Público, nem tampouco o juiz, são
superiores hierárquicos do delegado, motivo pelo qual não lhe podem
dar ordens.3

Da mesma forma, o Ministério Público, tomando conhecimento de infração


penal, não possuindo maiores dados, especificamente relativos à materialidade do
delito, requisita a Autoridade Policial que instaure IP para averiguação dos fatos e a
autoria. Como já especificado, neste caso, a instauração ocorre mediante simples
despacho ordenatório do Delegado.

3
NUCCI, ob. cit., p. 153.
4
c) Requerimento do ofendido ou representante legal
Da mesma forma, ao ocorrer esta hipótese, cumpre à Autoridade Policial
determinar a instauração do IP mediante a elaboração de portaria.

d) Auto de prisão em flagrante – a apresentação à Autoridade Policial de caso


sujeito a autuação em flagrante do conduzido, dispensa a elaboração de portaria policial
de instauração do procedimento, já que ali estão configuradas todas as diligências a
serem elaboradas, ou já elaboradas, bem como todo o fato especificado através de
declarações do condutor, testemunhas e conduzido.

6.2. No caso de ação penal pública condicionada


A ação penal, apesar de pública, pode estar condicionada à representação da
vítima ou à requisição do Ministro da Justiça. Em tal caso, o inquérito policial não
poderá se iniciar por auto de prisão em flagrante, se não houver representação do
ofendido.,
No caso de ação penal pública incondicionada à requisição do Ministro da
Justiça, o inquérito policial não se iniciará sem tal ato. (art. 5º, §4º do CPP).

6.3 No caso de ação penal privada


Nos casos em que a lei prevê expressamente que determinado crime se apura
mediante queixa, a ação penal é privada. Neste caso, a Autoridade Policial somente
deverá proceder ao Inquérito Policial a requerimento do ofendido ou representante legal
(art. 5º, §5º do CPP).
A denúncia anônima não tem valor jurídico, sendo impossível
instaurar o inquérito com base em um ato sem qualquer
eficácia jurídica. Todavia, isso não quer dizer que a
“denúncia anônima” não tenha valor investigativo. Aliás, são
cada vez mais freqüentes os “disque-denúncias”. Com base
nas informações contidas nas denúncias anônimas, a polícia
pode iniciar a prática de atos de investigação rotineiros,
visando a verificar sua veracidade. Colhidos os elementos
mínimos, ou comprovados os elementos da denúncia
anônima, aí sim, será possível instaurar inquérito policial,
mediante portaria da autoridade policial.4

4
BADARÓ, op, cit, p. 49.
5
7. NOTITIA CRIMINIS: CONCEITO E ESPÉCIES
Notitia criminis ou noticia do crime, é o conhecimento espontâneo ou
provocado, pela autoridade policial, de um fato que se afigura crime, podendo ser:
a) Notitia criminis espontânea ou direta, quando a autoridade policial toma
conhecimento de forma direta e imediata no exercício rotineiro de suas atividades (p.
ex.: encontro do corpo de delito).
A notitia criminis espontânea é denominada de cognição imediata.

b) Notitia criminis provocada ou Indireta, ocorre quando a autoridade policial


toma conhecimento por ato de terceira pessoa, pela requisição do Ministério Público ou
do juiz, ou ainda pela representação do ofendido.
A notitia criminis provocada é denominada de cognição mediata.
A notitiai criminis também pode ser de cognição coercitiva, quando decorre da
prisão em flagrante.

8. DELATIO CRIMINIS: CONCEITUAÇÃO


É a denominação dada à comunicação feita por qualquer pessoa do povo à autoridade
policial (ou membro do Ministério Público ou juiz) acerca da ocorrência de infração
penal em que caiba ação penal pública incondicionada (art. 5º, § 3º, do CPP). Pode ser
feita oralmente ou por escrito. Caso a autoridade policial verifique a procedência da
informação, mandará instaurar inquérito para apurar oficialmente o acontecimento.

9. PROCEDIMENTO DA AUTORIDADE POLICIAL


Ao tomar conhecimento da ocorrência do fato delituoso através da notitia criminis, a
autoridade policial deve adotar diversos procedimentos, a saber:

9.1. Realizar diligências (art. 6º do CPP)

O art. 6º prevê as diligências que poderão ser realizadas pela autoridade policial.
Trata-se de dispositivo que estabelece um rol de diligências, e não a ordem ou seqüência
dos atos de investigação a serem realizados.

6
9.2. Indiciamento e constrangimento ilegal
Segundo Guilherme de Souza Nucci, Indiciado é a pessoa eleita pelo Estado-
investigação, dentro da sua convicção, como autora da infração penal. Ser indiciado,
isto é, apontado como autor do crime pelos indícios colhidos no inquérito policial,
implica um constrangimento natural, pois a folha de antecedentes receberá a
informação, tornando-se permanente, ainda que o inquérito seja, posteriormente
arquivado. Assim o indiciamento não é um ato discricionário da autoridade policial,
devendo basear-se em provas suficientes para isso.5
Sérgio Marcos de Moraes Pitombo explica que
O indiciamento, que se leva a efeito no inquérito policial, deve ser
resultado concreto da aludida convergência de indícios, que assinalam
incriminando certa pessoa – ou determinadas pessoas – qual praticante
de ato, ou de atos havidos pela legislação penal como típicos,
antijurídicos e culpáveis. Mais que pressupõe, o indiciamento
necessita, em conseqüência, de suporte fático positivo da culpa penal,
lato sensu. Contém uma proposição, no sentido de guardar função
declarativa de autoria provável. Suscetível, é certo, de avaliar-se,
depois, como verdadeira, ou logicamente falsa. Consiste, pois, em
rascunho de eventual acusação (formal); do mesmo modo que as
denúncias e queixas, também se manifestam quais esboços da
sentença penal (mérito).6

Assim, como bem ensina Badaró, o ato de indiciamento não pode ser fruto de
mero subjetivismo da autoridade policial. Deve ocorrer de ato motivado e
concretamente justificado, diante do resultado dos atos de investigação até então
realizados.7

9.2. Realizar a identificação criminal do indiciado (art. 6º, Inc. VIII, CPP).
A identificação datiloscópica do indiciado é outra providência a ser tomada no
inquérito policial. Por outro lado, a súmula nº 568 do STF que a “identificação criminal
não constitui constrangimento ilegal, ainda que o indiciado já tenha sido identificado
civilmente”.
Este situação mudou com a CF de 1988, que em sue art. 5º, Inciso LVIII,
estabelece, entre as garantias individuais, que “o civilmente identificado não será

5
NUCCI, p. 157.
6
PITOMBO, 1987 apud BADARÓ, p. 56.
7
BADARÓ, p.57.
7
submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”. Não se trata
de uma garantia absoluta, vez que admite as exceções previstas em lei própria . Após
um lapso de 12 anos, esta questão foi disciplinada pela Lei 10.054/2000.

10. INCOMUNICABILIDADE DO PRESO


O art. 21 do CPP, prevê a possibilidade de ser decretada a incomunicabilidade
do preso. Entretanto, a CF de 1988, em seu art. 136, § 3º, inciso, IV, ao disciplinar o
estado de sítio, veda, expressamente, a incomunicabilidade do preso. Oras, se mesmo no
estado de sítio, em que há previsão de várias restrições de garantias fundamentais, não é
possível decretar a incomunicabilidade do preso, no regime de normalidade
institucional, com maior razão, não há que se cogitar de incomunicabilidade.

11. TÉRMINO DO INQUERITO POLICIAL


Concluídas as investigações, a Autoridade deve fazer minucioso relatório do que
tiver sido apurado no IP (art. 10. § 1º - 1ª parte). Nele poderá indicar testemunhas que
não tiveram sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas (art. 10,
§ 2º). Todavia, não cabe à autoridade na sua exposição, emitir qualquer juízo de valor,
expender opiniões ou julgamento, mas apenas prestar todas as informações colhidas
durante as investigações e as diligências realizadas. Pode, no entanto, classificar o
delito, ou seja, dar a capitulação ou definição jurídica do ilícito penal praticado, que
pode sofrer nova classificação após a conclusão das investigações, face os elementos aí
colhidos.
O art. 10, caput, do CPP, estabelece o prazo de 10 dias – indiciado preso –
contados da efetivação da medida restritiva da liberdade (prisão em flagrante,
preventiva e outras); e de 30 dias – indiciado solto – contando-se o prazo da data do
recebimento da requisição ou requerimento ou notitia criminis.

EXCEÇÕES:
a) Na Justiça Federal o prazo é de 15 dias, estando o indiciado preso, podendo
ser prorrogado por mais 15 (Lei 5.010/66, art. 66). Se o indiciado estiver solto, o prazo é
de 30 dias (regra comum).
b) Na Lei 11.343/06 Lei de drogas, no art. 51 – Preso: 30 dias e Solto: 90 dias.
c) Na Lei 1.521/51 - Crimes contra economia popular é previsto o prazo de 10
dias, estando ou não o indiciado solto.

8
A autoridade policial remeterá o relatório do IP ao fórum para ser distribuído.
Acompanharão o IP os instrumentos utilizados para o cometimento do delito e de todos
os demais objetos que possam servir para a instrução definitiva e o julgamento. Tendo
havido prevenção, será encaminhado para o juiz correspondente. Recebido o IP pelo
juiz, dará vista ao MP. Ao teor do art. 129, I, da CF/88, o melhor seria que o
inquérito fosse distribuído diretamente ao MP.
Recebendo o IP o promotor poderá:
a) Oferecer a denúncia
Estando o IP suficientemente instruído, o promotor poderá com base nele
oferecer a denúncia no prazo legal (art. 46), não se vinculando a classificação legal dada
pela autoridade policial no IP. Nem meso as conclusões da autoridade policial vinculam
o promotor, que poderá denunciar ou pedir o arquivamento ainda que em sentido
completamente contrário ai que aponta o delegado.

b) Solicitar diligências ou realizar diligências

c) Pedir o arquivamento do IP;,


Iniciado formalmente o IP, a teor do art. 17 do CPP, não pode a autoridade
policial arquivá-lo. O arquivamento somente será decretado por decisão judicial a
pedido do MP (arquivamento direto). Não concordando com o pedido de arquivamento,
caberá o juiz aplicar o art. 28 do CPP, enviando os autos ao Procurador Geral.
A decisão que decreta o arquivamento do IP não transita em julgado (ver Súmula
524 do STF) e neste aspecto, a autoridade policial pode seguir investigando, a fim de
obter novos elementos de convicção capazes de justificar o exercício da ação penal (art.
18, CPP). Mas nada impede que o MP solicite novamente o arquivamento.8
Este também é o entendimento de Guilherme Nucci, ao dizer que
A decisão que determina o arquivamento do inquérito policial não
gera coisa julgada material, podendo ser revista a qualquer tempo,
inclusive porque novas provas podem surgir.9

O Ministério Público deverá fundamentar a sua manifestação pelo arquivamento


do inquérito policial. Tanto assim que o art. 28 do CPP se refere às “razões invocadas”
pelo promotor der justiça. Sendo assim, há o dever de fundamentação.
8
LOPES JR. AURY. Direito processual penal e sua conformidade constitucional. Volume 1. 4ª edição.
Rio de Janeiro: Lúmen Júris, p. 288.
9
NUCCI, p. 180.
9
Tem-se discutido na doutrina o chamado arquivamento implícito ou tácito, em
que no IP se apura que determinado crime foi praticado por vários investigados e o MP
ao oferecer a denúncia não inclui um dos investigados (arquivamento implícito
subjetivo), ou ainda, não inclui alguns dos fatos (arquivamento implícito objetivo).
Há divergência na doutrina nesta questão. Gustavo Badaró, por exemplo, não
aceita a idéia de arquivamento implícito ou tácito.
Diante do dever de fundamentação, não há que se aceitar, portanto, o
chamado arquivamento implícito, que ocorre quando o Ministério
Público oferece denúncia, mas nela não inclui algum dos investigados
(arquivamento implícito subjetivo) ou alguns dos fatos (arquivamento
implícito objetivo), sem contudo, manifestar-se expressamente sobre o
arquivamento em relação a eles; neste caso, deverá o juiz devolver os
autos ao Ministério Público para que este se manifeste expressamente
sobre o investigado ou sobre o fato.10

Paulo Rangel, por outro lado, admite tal arquivamento e conclui que
Casos há em que o Ministério Público, em vez de requerer
(entendemos determinar) o arquivamento do inquérito ao
juiz, oferece a denúncia em face de um dos investigados,
porém, esquece de mencionar em sua peça exordial outro
indiciado. Ou ainda, imputa ao indiciado a prática de um fato,
esquecendo-se de outro também apurado no inquérito. Nestes
dois casos, há que se verificar se o juiz percebeu o cochilo do
promotor de justiça e remeteu o feito ao Procurador-Geral,
nos termos do art. 28 do CPP. Se o juiz cochilar da mesma
forma que o promotor, terá ocorrido o arquivamento implícito
do inquérito policial. Assim, o arquivamento implícito ocorre
sempre que há inércia do promotor de justiça e do juiz, que
não exerceu a fiscalização sobre o princípio da
11
obrigatoriedade da ação penal.

Com extremo respeito ao ilustre professor Paulo Rangel, mas a posição anterior
é muito mais coerente e está adequada a uma interpretação constitucional do processo
penal

10
BADARÓ, p.58.
11
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 15ª edição. Rio de Janeiro: lúmen júris, 2008, p.197.
10

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