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Agricultura Familiar Sustentável:

Conceitos, experiências e lições

Maria Thereza Macedo Pedroso


Dissertação de Mestrado

Brasília – DF, junho de 2000


1. INTRODUÇÃO

Esta dissertação reflete um sentimento de indignação diante da desigualdade social e da destruição


dos recursos naturais e um sentimento de esperança diante da possibilidade desta situação se reverter.
Para isto, faz três reflexões, a primeira sobre a sustentabilidade da relação Homem-Terra, a segunda
sobre a crise social e tecnológica do campo brasileiro, e a terceira sobre as sinergias1 da conjugação
de duas importantes utopias, a justiça social e a conservação dos recursos naturais no campo para se
alcançar o desenvolvimento rural sustentável.

O desenvolvimento da dissertação obedece à seguinte sequência: primeiramente no Capítulo 2,


procede-se a uma discussão sobre o rompimento da relação Homem/Terra e da possibilidade de
uma "religação". Este capítulo, assim como os capítulos 3 e 4 são ilustrados por trechos de
entrevistas com agricultores. No Capítulo 3, demonstra-se a insustentabilidade social e tecnológica
no contexto do campo brasileiro.

No Capítulo 4, é feita uma síntese das diretrizes que norteariam as proposições para a construção de
um modelo de desenvolvimento rural sustentável, a partir da premissa de que é necessário ampliar,
viabilizar e fortalecer a agricultura familiar e conservar os recursos naturais. A reflexão neste capítulo
é alimentada por exemplos de experiências locais governamentais, de organizações não
governamentais e movimentos sociais sinalizadoras de um novo caminho para a agricultura brasileira
e de ruptura do atual modelo de desenvolvimento rural. As experiências foram sistematizadas em
três temas, que também são considerados os pontos de estrangulamento que impedem o
fortalecimento da agricultura familiar e a conservação dos recursos naturais por este setor. São eles:
(1) abastecimento de insumos, material genético e máquinas e implementos (2) ciência, tecnologia e
produção e (3) transformação e comercialização.

A coleta dos dados de experiências governamentais restringiu-se a projetos de administrações locais


do Partido dos Trabalhadores (PT) nas prefeituras de vários municípios brasileiros e no Governo do
Distrito Federal. Estas experiências foram coletadas durante um trabalho na Secretaria de Agricultura

1 Sinergia: interação de todas as energias em presença, em vista da manutenção de cada ecossistema e dos indivíduos

de que a ele pertencem(BOFF, 1999).

1
do Distrito Federal, com o objetivo primeiro de incrementar as novas políticas para a agricultura
brasiliense, conjugado com o objetivo de elaborar uma dissertação de mestrado. Tal dissertação,
portanto, avaliaria a sustentabilidade dos projetos das administrações deste partido, proporcionando
a elaboração de novos programas de governo. O tema da dissertação tinha que, necessariamente,
estar ligada ao trabalho da autora (na Secretaria de Agricultura do Distrito Federal), pois a dissertação
foi submetida ao Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, como parte
dos requisitos para obtenção de grau de Mestre em Desenvolvimento Sustentável, área de
concentração em Gestão e Política Ambiental, opção profissionalizante.

Com a interrupção do trabalho na Secretaria de Agricultura, o enfoque da dissertação cedeu lugar a


uma discussão sobre a construção de um modelo de desenvolvimento rural sustentável a partir de
experiências locais, que sinalizam um novo caminho para o fortalecimento da agricultura familiar e
para a conservação dos recursos naturais. Por isto, do total das experiências das administrações locais
do Partido dos Trabalhadores2, foram selecionadas aquelas que contribuem para a construção de um
modelo de desenvolvimento rural sustentável no Brasil. Para enriquecer a discussão, foram incluídas
experiências de organizações não governamentais e movimentos sociais que possuem vínculo
explícito com a luta pela terra e/ou com a conservação dos recursos naturais e, por assim dizer, são
comprometidas programática e ideologicamente com um destes temas, ou com ambos.

Ao referencial teórico, foi incluída uma série de obras que subsidiam a discussão, desde obras antigas,
como por exemplo, The Theory of Peasant Economy de Alexander Vasilevich Chayanov, passando pelos
clássicos da agroecologia como o Manejo Ecológico dos Solos de Ana Maria Primavesi, A Teoria da
Trofobiose - Plantas Doentes pelo Uso de Agrotóxicos de Francis Chaboussou e Agroecologia, as bases Científicas
da Agricultura Alternativa de Miguel Altiere. Até referências das mais recentes, como a pesquisa
INCRA/FAO sobre o novo perfil da agricultura familiar. Por fim, no capítulo 5, é apresentada a
conclusão geral do trabalho, elaborada a partir do marco teórico, das entrevistas e da discussão sobre
as experiências locais.

2 As experiências governamentais foram coletadas no período de fevereiro a junho de 1998. Restringiu-se apenas a
experiências deste partido pelo fato de o Governo do Distrito Federal na época da coleta das experiências estar
governado pelo Partido dos Trabalhadores.

2
Desta forma, a dissertação se encaixa na proposta do mestrado profissionalizante do Centro de
Desenvolvimento Sustentável(CDS) da Universidade de Brasília (UnB), "um espaço acadêmico de
debate, através de abordagem transdisciplinar, comprometido com a construção de um novo modelo
de desenvolvimento que permita a existência de gerações futuras onde tudo e todos coexistam"
(CDS, 2000).

3
2. A SUSTENTABILIDADE DA RELAÇÃO HOMEM-TERRA:

2.1. HUMANIDADE INSUSTENTÁVEL

No nosso comportamento atual, construímos uma


economia contra a vida. Pela primeira vez na história da
Terra, tornou-se possível que uma espécie destruísse todo
o sistema de Vida do Planeta. Construímos uma cultura
contra a vida, contra o planeta. Crescemos acreditando
que estaríamos em melhores condições adquirindo mais
produtos, quando, na verdade, mais produtos podem
significar a morte de nosso planeta, que é nosso único
produto (LA CHANCE, 1996).

Para iniciar qualquer discussão sobre sustentabilidade é necessário diagnosticar os problemas globais
de cunho sócio-ambiental, tais como os que Boff (1995), considera como os dois sintomas mais
importantes da grave doença do planeta Terra. O primeiro: o ser mais ameaçado da natureza hoje é o
pobre. Setenta e nove por cento da humanidade vive no grande Sul pobre. Um bilhão de pessoas
vivem em estado de pobreza absoluta e três bilhões têm alimentação insuficiente. Face a este drama,
a solidariedade entre humanos é praticamente inexistente.

O segundo: as espécies de vida correm semelhante ameaça. Estimativas apontam que, entre 1500 e
1850, foi presumivelmente eliminada uma espécie a cada 10 anos. Entre 1850 e 1950, uma espécie
por ano. A partir de 1990 está desaparecendo uma espécie por dia. A seguir este ritmo, no ano 2000
desaparecerá uma espécie por hora3 (BOFF, 1995).

Segundo Buarque (1995), uma das causas desta grave doença é o fato de o avanço técnico não estar
subordinado à ética. Ao se desprezar a ética como orientadora, ficam de fora os objetivos sociais e,
por outro lado, o avanço técnico torna-se protegido do questionamento de que reforça a
concentração de renda e poder, ou se causa danos ao meio ambiente. Isto ocorre, pois o avanço

3 "Importa também dizer que o número de espécies varia, consoante os critérios dos especialistas, entre 10 milhões e 100

milhões, sendo que apenas 1,4 milhão foram descritas. Mas de todo modo, há uma máquina de morte movida contra a
vida sob as suas mais variadas formas" (BOFF, 1995).

4
técnico tem mais eficiência na geração de novos produtos, novos desejos e novas necessidades do
que no aumento dos mesmos produtos básicos e necessários para todos sobreviverem na Terra. Este
avanço técnico, que poderia reduzir as necessidades, passou a induzí-las e sem o controle da ética,
passou a definir o rumo da nossa civilização. Desta forma, o Ser Humano torna-se dominado pelo
avanço técnico, não o domina. Ao invés de usar, passou a ser usado pela técnica. Além disso, padece
vítima de sua própria rotina de pensamentos, sentimentos e ações (CREMA, 1996 e BUARQUE,
1995).

Por outro lado, a questão tecnológica tem aberto enormes abismos entre os países ricos e pobres.
Isto é retratado por Maia e Guimarães (1997), que diferenciam as situações de desenvolvimento
endógenos dos países ricos e pobres. Os autores explicam que nos países ricos, é o progresso técnico
que leva à acumulação de capital e, ambos, à formação da oferta que, em mais de uma dimensão,
determina o comportamento da demanda de bens e serviços. Ou seja, o processo de inovação
tecnológica torna-se intimamente relacionado com o padrão de produção, definindo o processo de
acumulação de capital e padrão de consumo. Em países pobres, onde a situação de industrialização é
tardia, periférica e dependente, o que se forma primeiro é a estrutura da demanda no processo
produtivo.

Os países pobres se inserem na economia mundial através da exportação de produtos brutos e de


recursos naturais e ficam dependentes de importações de produtos industrializados, desta forma,
forma-se a demanda, que imita a da elite, não mantendo qualquer relação com as necessidades
básicas das populações locais. Assim, o sistema econômico nestes países precede à formação de
capital, na maioria das vezes, com exportações e endividamento externo. O progresso técnico, que
deveria ser o causador do crescimento autônomo, no caso dos países pobres, é importado como um
pacote fechado, não possibilitando um processo de inovação tecnológica nacional genuíno (MAIA e
GUIMARÃES, 1997).

Conclui-se que a insustentabilidade planetária se deve também à insustentabilidade dos padrões de


produção e de consumo e à desintegração das variáveis que regulam ambos os padrões. Nos países
pobres e dependentes, esses padrões, além de insustentáveis, perpetuam um modelo subordinado,
periférico e dependente de desenvolvimento, e terminam por hipotecar as possibilidades de mudança
para um padrão menos pernicioso social e ambientalmente.

5
O atual paradigma, justifica e regula o uso de automóvel privado, um meio de transporte
depredador, absurdamente caro do ponto de vista ecológico e concentrador de privilégios. Para
que poucos possam ter tais automóveis, os objetivos sociais foram subordinados aos
investimentos para a criação de carros e parques industriais. O marketing, a venda e consumo,
são mais importantes do que os gastos em educação, saúde, lazer, educação, cultura e moradia
para toda a população. Há importação de todo um modelo fechado, desde o seu padrão de
produção até o seu padrão de consumo, passando pelo aumento a qualquer custo das
exportações e, quando isto já não é suficiente, pela formação da dívida externa em substituição
à poupança interna.

Buarque (1995), afirma que a construção de um mundo igualitário passa, necessariamente, pela
utopia da construção de um novo paradigma de desenvolvimento. Tal paradigma deve ser baseado
em valores éticos e desejos sociais onde as técnicas são elementos libertários da desigualdade social.
Justamente o inverso do que conhecemos, onde o valor ético de uma sociedade igualitária não é
prioridade, sua dinâmica é concentradora de renda e poder, consome em excesso energia não
renovável, degrada a natureza, a cultura local e a dignidade humana e tem sua tecnologia voltada para
gerar produtos de alto valor dirigidos a uma elite consumista (BUARQUE, 1995).

Uma outra forma de refletir sobre esta crise é analisá-la a partir da lógica de que o sistema capitalista
concentra renda, e ao concentrar renda há aumento das diferenças de oportunidades, tais como
acesso à educação e saúde. Por sustentar desigualdade social, este sistema nunca dará chance para o
desenvolvimento sustentável. Apesar deste antagonismo, os defensores deste sistema vêm
progressivamente incorporando o termo sustentabilidade em seu discurso e marketing, pois a arte do
capitalismo é a capacidade de se apropriar de qualquer coisa, desde que haja lucro. Tanto isto é
verdade que, nos países capitalistas, grande parte da problemática ambiental e social tem a mesma
origem, ou seja, o modelo de desenvolvimento adotado, onde é marginalizado o não mercantil, e
supra-valorizado o mercado, ou seja, o uso do necessário foi substituído pelo consumo do
desnecessário, perdendo-se a noção da utilidade das coisas (BARTHOLO et al, 1999).

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O sistema capitalista vem tomando um tom mais perverso, através da disseminação do
"neoliberalismo" e da globalização. Segundo Batista (1994), a implementação do "neoliberalismo"
nos países da América Latina acontece através de reformas induzidas pelo Banco Mundial, Estados
Unidos e Fundo Monetário Internacional, objetivando a redução do Estado, o máximo de abertura à
importação de bens e serviços e à entrada de capitais de riscos e a internalização do princípio da
soberania absoluta do mercado auto-regulável nas relações econômicas.

Os defensores do ideário neoliberal justificam que problemas nas áreas de educação e saúde, a má
distribuição de renda e a pobreza serão resolvidos naturalmente com a liberalização econômica. Ou
seja, serão solucionados exclusivamente a partir do livre jogo das forças de oferta e da procura num
mercado inteiramente auto-regulável. Assim, despreza-se a atuação do Estado para estas questões.
Pode-se dizer que, nos países onde o "neoliberalismo" está tendo terreno fértil, prevalece a visão
clássica e monetarista dos problemas econômicos, sociais e ambientais e a obstinação em desmontar
o Estado. Prevalece também a visão, em que não é considerado que a democracia seja um passo para
se chegar ao desenvolvimento sócio-econômico e sim um subproduto do "neoliberalismo"
econômico. A idéia é capitalismo liberal primeiro, democracia depois, ou seja subordinação do
político ao econômico4 (BATISTA, 1994).

O marketing das idéias "neoliberais" é tão bem feito que, além de ser identificado como modernidade,
desmoraliza a capacidade de reflexão e decisão da população. Encontra o forte apoio da imprensa
falada e escrita, que critica duramente todos que não aderem à “modernização pelo mercado”,
qualificando-os como retrógrados, antiquados e “dinossauros”. Além disto, promove-se
constantemente a tese de falência do Estado, promovendo o discurso de incapacidade de o Estado
controlar atividades estratégicas, e exercer política monetária e fiscal. Há, inclusive, o questionamento
da competência do Estado em administrar responsavelmente recursos naturais, como o caso das
florestas. Para piorar a situação, as estatais são privatizadas sem as exigências, de que o comprador se
comprometa a manter o nível de emprego.

A globalização, concretamente, proporcionou tarifas unificadas no Mercosul, arruinando o setor


produtivo nacional brasileiro de alguns produtos. No caso do trigo e do leite, o setor transformador

4 Uma prova disto é que as reformas de ordem política, de aprofundamento e consolidação da democracia não

constituem pré- requisito para obtenção de cooperação internacional.

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foi menos afetado e o comercial sofreu reestruturações em função da reorientação dos fluxos de
produtos. O consumidor teve alguns benefícios em termos de queda relativa e/ou estabilização dos
preços, mas está hoje mais vulnerável às flutuações do mercado externo e os produtores foram os
grandes perdedores, pois o preço pago a estes foi extremamente reduzido.

Um efeito indireto da globalização é o impacto ambiental. Por exemplo, com a queda das barreiras
comerciais no Brasil, está havendo queda nas cotações de produtos. Para a agricultura poder
competir com os produtos importados, há expansão das áreas cultivadas para compensar perdas de
faturamento e intensificação do uso de agrotóxicos. No caso do café, tem tido como resultado a
expansão da oferta de volume físico para compensar a perda em renda, e em vários casos, os
agricultores têm aberto novos cafezais sobre áreas que restam da Mata Atlântica. No caso do cacau,
o impacto é o abandono da cultura e a derrubada de novas áreas para implantação de sistemas de
pastagens extensivas (WEID & ALMEIDA 1997).

A Índia, assim, como os demais países do terceiro mundo, está vivendo agora a onda da
privatizações que aparecem como um passo para integrar-se ao mercado mundial. As
privatizações afetam setores que, além de não verem satisfeitas uma multitude de necessidades
de caráter local, cai em cima de suas cabeça o mercado mundial. A vida humana não pode estar
determinada pelo critério puro e duro da rentabilidade. Existem muitas atividades que devem se
realizar, ainda que não estejam contempladas dentro dos parâmetros do mercado mundial. A
nós como aos outros países, as privatizações nos são impostas pelo Banco Mundial e FMI. São
denominadas "políticas de saída", por que o contrário, te fecham todas as portas. O resultado é
cristalino: O Banco Mundial e o FMI incapacitaram o Terceiro Mundo e o colocam
constantemente em desvantagem frente ao Norte: originam desemprego ao destruir vastos
setores produtivos, deterioram o meio ambiente que perde seus verdadeiros protetores e
provocam a desagregação cultural e social. Tudo isto em nome do livre comércio (SHIVA, s/d).

Apesar dos graves problemas ambientais promovidos pelo capitalismo, Vieira (1990), e Freire (1992),
afirmam que a visão que culpa o capitalismo pela grave doença da terra ainda não é completa, pois
nos países socialistas onde houve profunda diminuição das desigualdades sociais e um Estado que se
responsabilizava pelo bem-estar da população, aconteceram sérios problemas ambientais. Apesar de
suas diferenças, os dois sistemas (capitalista e socialista) são baseados na grande indústria, resultante
da Revolução Industrial e por isto consideram os recursos naturais inesgotáveis para a exploração

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econômica. Além disto, ambos são herdeiros do racionalismo iluminista e da tradição ocidental, que
sempre considerou a natureza como um objeto à disposição do Homem, para que este a subjugasse
(VIEIRA, 1990 e FREIRE, 1992).

A conclusão a que se chega, é que a relação de desligamento do Homem com a Terra, encontra-se
firmemente inclusa, tanto no sistema capitalista, como no sistema socialista. Ou seja, não é um
problema relacionado a um sistema político, e sim relacionado com o desligamento do Ser Humano
com a Terra. E é por isto, que as doutrinas de inspiração capitalista mas também as correntes
revolucionárias do socialismo mergulham em profunda crise por não conseguirem mais explicar o
mundo moderno, sobretudo a crise ecológica. Ou seja, tanto no sistema capitalista como no socialista
existe uma incompatibilidade com a capacidade de suporte da Terra5 (BEZERRA et al, 1999).

Os ambientalistas e as religiões não ficam fora da crítica de que também contribuem para
insustentabilidade da relação Homem-Natureza. O movimento ecológico sempre argumentou em
prol de uma postura biocêntrica ou ecocêntrica. Por exemplo, dizendo que a floresta em pé é mais
valiosa que a floresta derrubada. Algumas empresas no Acre e Amazonas estão começando a dizer
que floresta em pé é mais valiosa e querem explorá-la de forma "sustentável". Para tanto, expulsam
os povos da floresta, como sempre o fizeram, quando os povos da floresta eram expulsos para que se
realizasse uma exploração economicamente irracional. Do ponto de vista ecológico isso representa
um avanço, pois é claro, é melhor a floresta em pé, em qualquer circunstância, até pelo direito da
floresta, mas do ponto de vista da justiça, do raciocínio político e ético é terrível (UNGER, 1992).

Quanto aos religiosos, pode-se dizer que, excetuando os ligados à Teologia da Libertação,
reconhecem a importância da ciência e da técnica para a satisfação das necessidades humanas e para
promoção da vida, pois garante a sobrevida, dando o "pão", mas não promove suficientemente a
vida ensinando a participar na produção do "pão". Ou seja, as religiões, de uma forma geral, não
encaram a ciência e a técnica como promotoras da satisfação das necessidades básicas, da justiça
social e do poder popular, além do mais não provocam reflexão sobre o status quo, muito menos
críticas e incentivo à qualquer tipo de mudança (BOFF, 1996).

5
Isto não significa que a ação predatória seja algo intrínseco ao Ser Humano.

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A dificuldade de diagnosticar as causas da grande doença da Terra é piorada pela divisão e
especialização do trabalho, típicas da indústria, estendidas à produção de conhecimentos. O saber
está secionado em disciplinas herméticas, impedindo o diálogo interciências. Há maximização da
filosofia cartesiana, que coloca o homem como sujeito e a natureza como objeto. As especializações
se intensificam, mas não há um esforço para integrá-las, perdendo-se ainda mais a noção do Todo
(BARTHOLO et al, 1999).

Outro fator que dificulta o diagnóstico é a forma de acesso à informação. Apesar de vivermos um
momento em que a informação chega em tempo real, chega totalmente fragmentada, dando a
entender que os eventos existem isoladamente, reduzindo a capacidade crítica do cidadão comum.
Além disso, os meios de comunicação populares nutridos pela mídia não visam o conhecimento, mas
o doping e a paralisia, além do condicionamento e da domesticação (D' AVILA, 1991).

[...]Em uma verdadeira democracia, sonhava Brecht, cada residência deveria estar dotada de
um rádio receptor e transmissor! Assim, tenderíamos a versão moderna da ágora grega, a praça
na qual todos os cidadãos debatiam assuntos de interesse coletivo. Ocorre que no Brasil
apenas 9 famílias controlam os principais meios de comunicação e absorvem 70% das
agencias de publicidade.

Em uma economia de mercado, onde a ganância e sua acumulação são prioridades, os grandes
meios de difusão não investem naquilo que não aumentam seus lucros e seu poder. Em teoria,
lhes interessa o que interessa ao mercado. Por isto, eles condicionam o público, ou seja, o
domesticam para que gostem do que eles oferecem. Assim, se uma rede de TV pode adquirir
ou produzir telenovelas a menor preço, ela não vacila a colocar no ar dramatizações que
mostram o matrimônio como um jogo de prazeres e interesses que dão audiência, ao invés de
produzir programas educativos (FREI BETO, 1999).

Há, desta forma, uma cegueira generalizada impedindo a percepção de que a gênese da crise social e
ambiental é a mesma e que os sistemas sociais dependem, para sua sobrevivência, dos sistemas
ecológicos de sustentação da vida e a abundância pode ter uma dimensão temporal e que um bem
livre (como a água, o solo, o ar, a floresta) pode se tornar escasso. Esta cegueira, leva a uma postura
antropocêntrica, fundamentada na fé da razão humana, em detrimento de qualquer outra afirmação
de poder, inclusive o da natureza. Daí a crença arrogante do ser humano de, através da técnica e da

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ciência, tudo dominar, tudo controlar, acarretando progressiva e paulatinamente a morte do planeta
(UNGER, 1992).

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2.2 A TERAPIA

Inicialmente não há distância entre nós e a Terra.


Formamos uma mesma realidade complexa, diversa e
única. Foi o que testemunharam os vários astronautas, os
primeiros a contemplar a Terra de fora da Terra.
Disseram-no enfaticamente: daqui da Lua ou a bordo de
nossas naves espaciais não notamos diferença entre Terra
e Humanidade, entre negros e brancos, democratas ou
socialistas, ricos e pobres. Humanidade e Terra formamos
uma única realidade esplendida, reluzente e, ao mesmo
tempo frágil e cheia de vigor. Essa percepção não é
ilusória. É radicalmente verdadeira (BOFF, 1999).

Segundo LA CHANCE (1996), o vício é uma das mais importantes causas da crise da Terra. Os
vícios são dependências e todo tipo de dependência é sintoma de negação. A negação e as
dependências que dela resultam, não são uma recusa em admitir a realidade, mas a incapacidade de
fazê-lo. O fenômeno inconsciente da negação cria uma barreira entre a própria pessoa e o
conhecimento da ocorrência da dependência. A perda da negação levaria a um conhecimento da
terrível realidade do viciado. É por isto que as pessoas repetem eternamente comportamentos, não
saem dos seus ciclos de dependência, e se negam a reconhecer sua dependência, seja ela química, ou
comportamental.

Da mesma maneira que é formada a mente de qualquer pessoa dependente, moldada por meio de
interações diárias com pais dependentes, também as mentes de todos nós, foram moldadas por
aqueles dependentes da economia de consumo. O dependente tem um impulso de auto-destruição e
a dependência é uma forma lenta de suicídio, que pode ser individual, cultural ou planetária. Quando
o consumo de qualquer coisa começa a matar e não se consegue parar, significa que a pessoa, a
comunidade ou o planeta se torna dependente. Da mesma forma que o alcoolismo degrada a família,
o consumismo degrada a Terra. Da mesma forma que um dependente recorre ao roubo para garantir
seu suprimento vital de drogas, o Ser Humano constrói cada vez mais armas para garantir seus
"interesses vitais" (como novos carros, novos telefones celulares, novas roupas, novos sapatos, novas
embalagens...). A questão é que, para garantir seus "interesses vitais", são consumidos, sem qualquer

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freio, os recursos naturais, a força de trabalho, a cultura local e a dignidade humana, principalmente
dos países pobres do Sul (LA CHANCE, 1996 e SOARES, 2000).

É fácil perceber quando uma pessoa está dependente e suicidando-se lentamente. Quando se discute
um caso de um indivíduo, é fácil perceber o vício, a negação e a destruição. O difícil é perceber o
problema, quando se é o viciado. Logo, perceber a dependência, coletiva e cultural, também se torna
difícil. O viciado sabe que algo está errado, mas não consegue (ou se nega a) ver a raiz do seu
problema. Quase todo mundo sente que algo está terrivelmente errado nas relações humanas e na
relação com a natureza, mas há uma negação generalizada de ir a fundo neste problema.

Se é superando a negação e encontrando a raiz do problema que o viciado supera seu vício, então
surge a necessidade de uma grande terapia para a humanidade. Para que esta terapia tenha sucesso, é
necessário que a humanidade tenha perseverança, paciência, superação de obstáculos e trabalho de
construção. Por isto, "deve realizar-se em um processo histórico, que tente dar corpo ao sonho
construindo passo a passo os mil passos que o caminho exige. É a dimensão-terra fazendo suas
exigências à existência humana" (BOFF, 1999).

O primeiro passo da terapia de cura da grave doença da Terra é analisar o porquê da crise. A
verdadeira raiz do problema da humanidade, o grande vício de consumir e destruir os recursos
naturais, a força de trabalho, a cultura local e a dignidade humana. O segundo passo é proporcionar o
nascimento de uma redefinição do Ser Humano e de sua missão no universo, no contexto de uma
nova aliança de paz e de sinergia para com a Terra e com os povos que nela habitam. O ser humano
precisa refazer essa experiência espiritual de fusão orgânica com a Terra, a fim de recuperar suas
raízes e experimentar sua própria identidade. Ele precisa ressuscitar também a memória política do
feminino para que a dimensão anima6 entre na elaboração de políticas com mais equidade entre os
sexos e com maior capacidade de integração e assim, deixar o domínio da natureza externa e ter o
domínio interno sobre os aspectos autodestrutivos da natureza humana (BOFF, 1999).

6 Animus / anima: expressão difundida pelo psicanalista C. G. Jung(1875-1961) para designar a dimensão masculina

(animus) e feminina (anima) presentes em cada pessoa e que se reflete nos padrões culturais de comportamento( BOFF,
1999).

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A redefinição deste Ser Humano deve ter como base, o bem-estar e o florescimento da vida dos
humanos e dos não-humanos, independentemente de sua utilidade para fins humanos. A riqueza e a
diversidade das formas de vida contribuem para a realização desses valores e que são valores em si.
Na redefinição de Ser Humano, deve-se enaltecer o respeito que as coisas criadas merecem, tanto as
animadas como as inanimadas, pelo lugar que ocupam nesse mundo ordenado que os gregos
chamam de "cosmos" e os cristãos chamam de "o que foi criado por Deus". Realmente pode-se,
através dessa redefinição de Ser Humano, resgatar uma atitude que não reduza a natureza e os outros
seres a objetos para o consumo humano. Desta forma, em lugar da relação de consumo, uma relação
de comunhão com a natureza, com os outros seres e com os semelhantes (UNGER, 1992).

O terceiro passo, portanto, seria a reconstrução da casa humana comum - a Terra - para que nela
todos possam caber e para que haja sustentabilidade para alimentar um novo sonho de um futuro
reconciliado e integrado de sociedade humana. É o repensar da relação Homem-Terra ! Assim como
o verdadeiro(a) amigo(a), é aquele(a) que não se deixa dominar e não domina, deve ser instaurada
uma relação de entre-conhecimento, uma relação de igualdade, e essa relação de entreconhecimento
e igualdade é o próprio fundamento não só da amizade mas também da liberdade. Esta é a noção
que devemos incorporar a esse repensar da relação Homem- Terra, em que o homem se sente em
co-pertinência com tudo o que existe, não ficando separado do resto da natureza, mas, ao contrário,
fazendo parte dessa natureza (UNGER, 1992).

Terminado o último passo, pode-se pensar na dimensão política, para estabelece-la é fundamental
buscar os valores subjetivos, as razões não utilitárias, não materiais, que justifiquem esses novos
comportamentos. Estabelecer um conhecimento holístico, que perceba a globalidade onde cada coisa
se situa. Dispondo de um método, que permita qualquer pessoa sentir-se como parte do universo,
ligada a ele por invisíveis redes e cadeias ecológicas que funcionam dentro de um cosmo onde todas
as partes estão interligadas (BUARQUE, 1995).

Pode o ser humano, vislumbrar então um sistema de sociedade igualitária, acima da dicotomia
comunismo x capitalismo, que não seja autoritário nem pelo Estado tampouco pela economia de
mercado, que respeite a reflexão do indivíduo e onde cada indivíduo seja especial e que tenha total
integração com a natureza. Esta seria a pré-condição de uma atitude madura e sábia para buscar

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outros caminhos, diferentes dos já trilhados até agora. Talvez um caminho que conduza a um
"Socialismo Democrático Humano e Ambiental".

Quando eu trabalhava como ajudante de serviço de caminhão, antes de ser assentado, uma vez
fui numa fazenda, e achei bonito o lugar que o dono deixou, cheio de árvore. Ai eu falei: "um
dia eu vou ter uma terra, e vou fazer desse jeito". E fiz ! Porque, a gente precisa da floresta,
por causa do oxigênio que ela fornece, e o gado também. A árvore, ajuda a deixar a terra
úmida e dá sombra para o gado.

Para a gente viver, não precisa destruir tudo, não. Tem que manter a vegetação ! A ema vem
aqui, os passarinhos, vem aqui e comem junto com as galinhas, e não competem com elas de
maneira alguma. A galinha, a gente cria para matar e comer e os outros pássaros são da
natureza, a gente tem é que ajudar a conservar eles. O Homem é um grande destruidor da
natureza, mas aqui eu não deixo matar nenhum bicho da natureza. Se todo mundo do Fruta
d'Anta, tivesse feito como eu, a gente estaria conservando mais o nosso assentamento. Por
que do jeito que vai, essa geração que vai nascer em 2010 não vai conhecer as árvores. Acho
que o pessoal pensa assim: "eu vou morrer mesmo, o resto que se dane " e ai esquece dos que
vão ficar.

A água é a chave de tudo, aqui ela fica segura no solo, por causa de todas as árvores também
não dá muita praga, por que com as árvores do Cerrado, as pragas tem os alimentos dela. Nós
precisamos dessas coisas, da água, do solo, do sol, do ar e da árvore, que para mim, é Vida.

(Trecho da entrevista com o Sr. Argemiro Pereira da Cunha - Ver fotografia 1, assentado de
Reforma Agrária do Assentamento Fruta d'Anta-MG).7

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Fotografia 1: Sr. Argemiro e sua esposa.

A Terra é nossa mãe, cuidemos dela


Os rios são nosso sangue, cuidemos deles
A floresta é o pulmão, cuidemos dela
O mar é nossa alma, cuidemos dele
A nuvem é pensamento, cuidemos dela
O céu é nosso espírito, cuidemos dele
Nós somos desta terra, cuidemos dela
O próximo é nosso filho, cuidemos dele 8

7 A entrevista com o Sr. Argemiro Pereira da Cunha foi feita exclusivamente para esta dissertação.
8 Hino e mantra da permacultura., modificado por Pedroso (2000).

16
3. A INSUSTENTABILIDADE DO DESENVOLVIMENTISMO RURAL

BRASILEIRO

O processo de desenvolvimento rural brasileiro, no período de 1950 a 1980, ocorreu por intermédio
de um processo genérico de crescente integração da agricultura ao sistema capitalista industrial,
especialmente através de mudanças tecnológicas. Não somente o processo de desenvolvimento foi
para o campo, mas para o país como um todo, e teve como objetivo central a substituição de
importações pelo crescimento industrial.

Para atingir o desenvolvimento, o governo brasileiro centralizou as decisões e realizou grandes


investimentos em empresas estatais, além de ter concedido isenções de impostos e crédito subsidiado
quase que exclusivamente para as grandes empresas. No meio rural, este modelo modernizou a
agricultura patronal e os grandes complexos agroindustriais. Através do crédito subsidiado, foram
realizados grandes investimentos em novas tecnologias9. A agricultura familiar foi excluída em massa
deste processo, assumindo basicamente o papel de liberar mão-de-obra. A este novo padrão de
desenvolvimento rural, deu-se o nome de "modernização conservadora" (DELGADO, 1985 e
GRAZIANO, 1997)

A principal conseqüência foi a dependência crescente em relação ao mercado, cuja dinâmica é


determinada pela modernização e tecnificação, resultando no aumento do êxodo rural, no aumento
do grau de monopólio sobre a propriedade da terra, no desequilíbrio dos ecossistemas, na exploração
desenfreada das diferentes categorias de trabalhadores, no desemprego, na marginalização, e no
desencadeamento da violência urbana e rural.

Ao invés de ser feita a Reforma Agrária, houve favorecimento às grandes empresas rurais,
subordinando o conjunto da economia agrícola aos capitais financeiros e grandes agroindústrias
caracterizadas por altas produtividades, mas também por gerarem altos custos ambientais. Ao invés
de se investir na alimentação da população brasileira foram concentrados esforços para dar
incentivos aos exportadores de alimentos. Portanto, esta "modernização conservadora" é uma das

9 As tecnologias seriam as tecnologias da "Revolução Verde", geradas em países ricos de clima frio, como por exemplo,

Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha e Holanda.

17
principais responsáveis pela excessiva concentração de terra, renda, poder e privilégio e pela
destruição dos recursos naturais. A justificativa para a implantação no Brasil deste novo modelo de
desenvolvimento rural era o de aumentar a produção via aumento de produtividade, e acelerar a
competitividade via queda nos custos unitários de produção. Apesar dos grandiosos investimentos,
os resultados foram desastrosos (GRZYBOWSK, s/d; BUARQUE, 1994 e SANTANA, 1994).

Pode-se dizer que a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento rural adotado no Brasil reflete
uma interação de "insustentabilidades", ou um complexo de "insustentabilidades". Todavia, nesta
dissertação, foram abordados apenas os enfoques social e tecnológico, que são analisados a seguir.

18
3.1 CONCENTRAÇÃO DE TERRA, RENDA, PODER E PRIVILÉGIOS

"Terra sem gente para gente Sem Terra é o significado da


palavra Sem-Terra em português. Desde os tempos
coloniais, o interior do Brasil tem sido um mosaico de
privilégios onde um punhado de barões governa sobre
propriedades do tamanho do país". Era isto que estava
escrito no The Economist do dia 13 de abril de 1996
(MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS
SEM TERRA, 1997).

A concentração da posse da terra pode ser medida através de um indicador denominado índice de
Gini, que varia de zero a um. Se todas as terras do Brasil pertencessem a um único proprietário, o
índice seria igual a um. Pois bem, nas oito medições feitas desde 1960, tanto pelo INCRA como pelo
IBGE, a oscilação do índice foi de 0,83 a 0,86 (SAMPAIO, 1998). Esta concentração representa uma
estrutura agrária concentrada, em que há muita terra nas mãos de poucos e muita gente com pouca
ou nenhuma terra. Na prática, significa que há um desequilíbrio, uma desigualdade muito grande no
meio rural, tendo como consequência concreta e imediata o grande latifundiário com alta renda,
poder e privilégio (ABRAMOVAY, 1997 e STÉDILE, 1993).

Esta concentração, apesar de ter sido intensificada nas últimas décadas, possuí raízes antigas.
Durante toda a história do Brasil, os trabalhadores rurais foram mantidos à margem do poder.
Nunca foram considerados públicos alvos nos grandes projetos nacionais. Ao contrário, foram
julgados como obstáculos que precisavam ser removidos. Desde a chegada dos colonizadores indo
até final de 1800, os índios e negros já protagonizavam a luta pela terra, defendendo territórios
invadidos pelos bandeirantes e colonizadores, ou unindo a luta pela liberdade com a da própria terra
e construindo os quilombos. No final do século XIX e início do século XX, surgiram movimentos
camponeses que seguiam líderes carismáticos. São exemplos os movimentos dos Canudos, com
Antônio Conselheiro e o Cangaço, com Lampião. Nas décadas de 30 e 40 ocorreram conflitos
violentos, em diversas regiões, com posseiros defendendo suas áreas, individualmente. Entre 1950 e
1964, o movimento camponês organizou-se enquanto classe, surgindo as Ligas Camponesas, a União
dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (ULTAB's) e o Movimento dos Agricultores
Sem Terra (MASTER). Esses movimentos foram esmagados pela ditadura militar, após 64, e seus

19
líderes assassinados, presos ou exilados (MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM
TERRA, 1997; FERNANDES, 1998; ANDRADE, 1986; AZEVEDO, 1982; MEDEIROS, 1989 e
BASTOS, 1984).

Segundo Pinheiro (1999), o golpe militar de 1964, com o apoio da Igreja católica e dos donos da
terra, articulou-se contra as Reformas de Base10, dentre as quais se destacava a Reforma Agrária. No
período do regime militar, instaurado após o golpe de 1964, foi intensamente privilegiada a
colonização na Amazônia. A floresta significou um ambiente totalmente desconhecido para os
colonos que eram em sua imensa maioria provenientes de outras regiões do país. Isto acarretou uma
série de problemas, na medida em que os colonos, acostumados com outro tipo de trato da terra em
suas regiões nativas, tentaram reproduzi-lo na floresta, com consequências desastrosas: além da baixa
produtividade agrícola, houve redução e deterioração dos recursos naturais.

Estes colonos eram espalhados estrategicamente para "amansar” e agregar valor à terra11 e tinham
como futuro, trabalhar em fazendas de gado que ocupavam grandes áreas públicas, perto dos
assentamentos de colonização, ou retornar à sua terra. Além disso, áreas públicas eram não só
destinadas aos "senhores feudais" do Sul e Sudeste do país, mas também, às grandes corporações
multinacionais, como a Rio Cristalino, da Volkswagen; a Fazenda Santa Rosa, da Mercedes Benz; a
Tamakavi, do Grupo SBT; a Fazenda da Sharp; a Fazenda Califórnia, do Grupo Atalla-Copersucar e
muitas outras (PINHEIRO, 1999).

Um exemplo deste processo, foi o ocorrido em Rondônia, onde as transformações causadas pelos
projetos desenvolvimentistas de colonização expressavam total insustentabilidade ambiental e social.
As consequências sociais destes projetos foram a ocupação desordenada sem infra-estrutura, a
apropriação de terras das populações tradicionais, a desintegração cultural e a intensificação dos
problemas urbanos. A problemática para o ambiente não foi menor, os projetos agropecuários
partiram do princípio de que todo o solo da floresta era fértil, porém, em sua grande parte é arenoso

10 Reformas de base do Governo propostas pelo então presidente João Goulart, que tinham como objetivo mudar a

estrutura social brasileira.


11O Banco do Brasil considerava “benfeitoria” quando as florestas sobre as terras eram queimadas. Por esta época,
anos 70, as vendas de moto-serras em Cuiabá e Campo Grande entravam para o Livro "Guiness" dos recordes e a mídia
exultava com o milagre econômico (PINHEIRO, 1999).

20
e coberto apenas por uma camada fina de matéria orgânica. Com o desmatamento, a Matéria
Orgânica é lixiviada, deixando o solo exposto e facilitando a erosão e o assoreamento dos rios. Outra
consequência óbvia, tanto em função do desmatamento como da erosão do solo, é a erosão da
biodiversidade (BARTHOLO e BURSZTYN, 1999).

Segundo Fernandes (1999), o modelo de desenvolvimento econômico para o campo, que priorizou a
agricultura capitalista em detrimento da agricultura camponesa, fez aumentar a miséria, a acumulação
e a concentração da riqueza. Esse processo transformou o meio rural com a mecanização e a
industrialização, mas também expropriou, expulsou da terra os trabalhadores rurais, causando o
crescimento do trabalho assalariado e produzindo um novo personagem: o bóia fria.
(FERNANDES, 1999 e ABRAMOVAY, 1992)

De meados da década de 60 até o final da década de 70, as lutas camponesas eclodiram por todo o
território nacional, os conflitos fundiários triplicaram e o governo, ainda na perspectiva de controlar
a questão agrária determinou a militarização do problema da terra. Ao reprimir a luta pela terra e não
realizar a Reforma Agrária, os governos militares tentaram restringir o avanço do movimento
camponês. No entanto, por causa da repressão política e da expropriação resultantes do modelo
econômico, nasceu entre 1979 e 1985, no bojo da luta pela redemocratização, uma nova forma de
pressão dos camponeses, com ocupações organizadas. Os trabalhadores sem-terra reuniram as
principais lutas e fundaram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o conhecido MST.
(MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA, 1997 e FERNANDES, 1996 )

Em 1985 foi apresentado à sociedade o Plano Nacional de Reforma Agrária, porém, menos de 10%
do previsto no Plano foi realizado. Destes 10%, grande parte das desapropriações ocorreram porque
os Sem Terra intensificavam as ocupações de terra. Por essa razão os latifundiários criaram a União
Democrática Ruralista (UDR) para defender seus privilégios e interesses. Em 1988, essa organização
conseguiu minar a criação de uma lei de Reforma Agrária no processo Constituinte. Em 1989, a
Reforma Agrária saiu da pauta política do governo federal, com a eleição de Fernando Collor, que
teve como aliado os latifundiários. Nessa época, começaram as mais fortes repressões contra os sem-
terra, que não se limitavam nas ações da força policial, mas se valiam também da intervenção do
Poder Judiciário para impedir as ocupações, por meio de criminalização das ações dos sem-terra e
por sua capacidade de fazer com que uma liminar de reintegração de posse com ordem de despejo

21
seja expedida imediatamente e um julgamento de assassinos de trabalhadores demore anos
(FERNANDES, 1999).

Segundo a contabilidade da Comissão Pastoral da Terra (CPT), nos 20 anos da ditadura militar,
1964 -1984, foram assassinados 42 trabalhadores por ano. De 1985 a 1989, esse número
triplicou e chegou a 117 assassinatos por ano. De 1990 a 1993, morreram 52 pessoas na luta
pela terra. No período do governo Fernando Henrique Cardoso de 1994 a 1997, esse número
foi de43 pessoas assassinadas por ano.

Esta situação é mantida até hoje pela "bancada ruralista" no Congresso Nacional. Estima-se que seja
composta por 150 deputados e senadores. Além disto, a grande maioria dos prefeitos, vereadores e
deputados estaduais, é de fazendeiros. Dessa forma, o poder - municipal, estadual e nacional - está
nas mãos dos grandes proprietários de terra e das grandes empresas agroindustriais e agrícolas, e é
esse poder que permite a eles decidirem os rumos das políticas agrícola e agrária segundo seus
interesses, mantendo a estrutura concentradora de renda e privilégios. Para piorar a situação, o
governo Fernando Henrique Cardoso, iniciado em 1994, ampliou a política neoliberal, que vinha
sendo implantada desde o governo Fernando Collor, piorando a crise da agricultura e transformando
muitos camponeses em sem-terra. Ou seja, o país está em pleno período de mercantilização e
liberalização da economia, de que é prova inequívoca a atual inexistência de barreiras comerciais.
Neste sentido, o desemprego tende a ser mais intenso pelo fato de a agricultura brasileira ter
necessariamente que ser mais competitiva no mercado nacional e internacional (isto é, há que se
baratear custos); assim, é intensificada a mecanização e, por conseguinte, o desemprego de
trabalhadores rurais é agudizado (NEVES, 1999).

Neste processo, as políticas públicas passam a atuar no sentido de garantir as condições


macroeconômicas favoráveis à entrada de capitais e de investimentos estrangeiros. Os instrumentos
mais efetivos para deflagrar estas condições refletem-se na maior intensidade da política de abertura
comercial, na redução dos gastos e da máquina pública, e em políticas de achatamento salarial. Um
dos problemas específicos principais da agricultura é que, para garantir a estabilidade, houve redução
dos preços reais dos produtos agrícolas e aumento dos juros e do incentivo à importação. Se os

22
preços agrícolas apresentarem uma pequena elevação, os custos de produção aumentam em
proporções desiguais, provocando uma grande queda na renda global da agricultura. Outro grave
problema é causado pela redução dos instrumentos de política agrícola. A desestruturação dos
serviços públicos de assistência técnica, de pesquisa, de financiamento, de formação profissional, de
armazenamento e de comercialização são altamente danosos para o desenvolvimento da agricultura
como um todo e principalmente para o agricultor familiar, fragilizando-o e contribuindo ainda mais
para sua expulsão do campo (MAGALHÃES, 1997).

Os vários programas governamentais desenvolvidos, em nível nacional e regional, no setor agrário


nunca resultaram em alterações significativas da estrutura fundiária do país, porque nunca houve, de
fato, decisão política para alterá-la. O atual programa governamental, o "Novo Mundo Rural", em
nível nacional para o setor agrário, vem sendo intensamente criticado por intelectuais e movimentos
sociais. Ao que tudo indica também será ineficaz.

O “Novo Mundo Rural”, por sua vez, ergue-se através de quatro pilares: (1) nova regra de
financiamento – a integração do PROCERA12 ao PRONAF13, (2) a descentralização da Reforma
Agrária , (3) a privatização dos serviços de implantação dos assentamentos e (4) o projeto "Banco da
Terra". Segundo seus implementadores, o objetivo é dar qualidade ao processo de Reforma Agrária e
fortalecer a agricultura familiar (INCRA, 1999a; INCRA, 1999b e DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO,
1999).

Com a integração do PROCERA ao PRONAF, um trabalhador assentado de Reforma Agrária,


mesmo sob condições econômicas e sociais extremamente desfavoráveis, é considerado um
agricultor familiar, perdendo a possibilidade de ter tratamento diferenciado na concessão do crédito
(FÓRUM NACIONAL PELA REFORMA AGRÁRIA E JUSTIÇA NO CAMPO, 1999).

A maioria dos movimentos sociais ligados à questão fundiária acredita que a descentralização tem
cinco grandes objetivos: (1) desfederalização da Reforma Agrária; desta forma, há a diminuição da
responsabilidade do governo federal sobre a Reforma Agrária, possibilitando a pulverização das

12 Programa de Crédito para Reforma Agrária.


13 Programa Nacional de Apoio a Agricultura Familiar.

23
ações sem nenhuma articulação com a política nacional. Além das instituições locais serem mais
fragilizadas que as nacionais, sabe-se que são nos municípios e estados que as oligarquias rurais têm
mais poder para interferir nas ações contrárias à execução da Reforma Agrária. (2) Limitação de uma
política de assentamentos pontuais, aos projetos de colonização e ao negócio da terra. (3)
Desarticulação dos movimentos nacionais de luta pela Reforma Agrária; (4) a transferência do ônus
político dos efeitos sócio-econômicos para os estados e municípios e (5) ocultação para a opinião
pública nacional e internacional de que não está fazendo a Reforma Agrária que anuncia em suas
propagandas (TEIXEIRA, 1999a e TEIXEIRA, 1999b).

O Banco da Terra nasce defeituoso, pois o projeto Cédula da Terra, seu precursor, tem-se mostrado
inadequado para os trabalhadores rurais e ineficiente para a realização da Reforma Agrária. Desta
forma, o Fórum pela Reforma Agrária e pela Justiça no Campo prevê que haverá transferência para
os latifundiários da definição das terras a serem disponibilizadas para fins de Reforma Agrária, assim
como sobre o valor destas terras sem a mediação do Estado; supervalorização do preço pago aos
latifundiários; imposição na criação de associações de trabalhadores rurais dependentes das
oligarquias locais; aparecimento dos mais diversos tipos de negociatas em nível local; ausência do
Estado no exercício da sua responsabilidade constitucional de realizar a Reforma Agrária;
mercantilização do acesso à terra; endividamento de agricultores familiares; aumento da pobreza dos
futuros mutuários; divisão da luta e do movimento de trabalhadores rurais; intensificação das
injustiças sociais e o aprofundamento da miséria no meio rural brasileiro (FÓRUM NACIONAL
PELA REFORMA AGRÁRIA E JUSTIÇA NO CAMPO, 1999; XAVIER, 1999 e CARVALHO,
1999).

Por fim, o fato de os serviços ligados à Reforma Agrária serem privatizados fará com que o
trabalhador fique totalmente nas "mãos" invisíveis do mercado. Além disso, os assentados
provavelmente não conseguirão pagar pelos custos da aquisição da terra, das benfeitorias e dos
créditos. Isto porque não terão condições mínimas de viabilização e fortalecimento para
desenvolverem atividades nos assentamentos que permitam o pagamento da terra e de suas
benfeitorias (TEIXEIRA, 1999a e TEIXEIRA, 1999b).

Na medida em que o governo não possui um plano de desenvolvimento das áreas rurais onde há
uma situação de pobreza extrema, a ação governamental torna-se uma política de "bombeiro" para

24
"apagar incêndios", intervindo na medida em que os movimentos de Sem Terra ocupam as terras.
Como os movimentos ocupam onde é possível, já que a ocupação, antes de tudo, é uma forma de
pressão política, tem-se, ao invés de uma política planejada de Reforma Agrária, a atual situação e o
resultado dos assentamentos corre fortemente o risco de ser decepcionante, pois não está inserido
em um plano de mudanças institucionais (ABRAMOVAY, 1997).

Uma situação sintomática desta falta de política planejada de Reforma Agrária, é a problemática do
impacto de latifúndios e acampamentos de sem-terras, sobre remanescentes florestais. Um exemplo
ilustrativo foi o ocorrido na região do Pontal do Paranapanema. Segundo o Instituto Sócio-ambiental
o Pontal do Paranapanema é uma das regiões mais pobres do estado de São Paulo. Em 1942, o então
governador, Fernando Costa, decretou que toda a área oeste do Pontal passaria a ser uma grande
reserva de fauna e flora com uma área total de 350.000 hectares de Mata Atlântica do Planalto
Paulista. Nos anos 50, todavia, o governador daquele período distribuiu as terras da reserva entre
alguns amigos e correligionários, que iniciaram um processo voraz de ocupação. Devido a essa
ocupação sem critérios, o Pontal sofreu drástica redução em sua cobertura florestal, restando hoje
apenas 1,85% da cobertura original da Mata Atlântica. A maior parte daquilo que restou está
preservado pelo Parque Estadual do Morro do Diabo, com seus 35.000 hectares de florestas
contínuas, e alguns outros fragmentos florestais localizados em assentamentos rurais ou propriedades
privadas. Vale lembrar que muitos desses remanescentes florestais ainda abrigam espécies ameaçadas
da fauna brasileira, entre elas o raro e endêmico mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) um dos
primatas mais ameaçados do mundo.

Como conseqüência do modo de ocupação do Pontal, houve grande concentração de terras


devolutas em poder de poucos fazendeiros. Essa desigualdade na distribuição de terras tem levado a
um segundo processo de ocupação territorial no Pontal, movido principalmente por agricultores sem
-terra. Os números atuais mostram a existência de 6.500 famílias assentadas no Pontal, ocupando um
total de 38.000 hectares. As projeções futuras para a região são de assentar 20.000 famílias em um
total de 1 milhão de hectares de terras devolutas e indiscriminadas.

Toda essa ocupação, se não for feita com preocupações ambientais, pode pôr em risco o que resta do
solo e das florestas do Pontal. A dinâmica de ocupação atualmente em prática tem levado a uma
paisagem regional onde solo, terra e florestas estão sendo ocupados e pressionados por

25
assentamentos rurais. Este cenário, comum na paisagem do Pontal, constitui desafio na arte
emergencial que é a de desenhar e adaptar novos programas e modelos de agricultura e uso da terra
que tragam um mínimo de sustentabilidade ao avanço da Reforma Agrária na região.

Hoje são constatados dois sérios problemas, o mais conhecido é de repressão violenta contra os
trabalhadores. O outro, menos conhecido, é o ambiental, ou seja, os latifundiários desmatam os 20%
restantes de mata de suas propriedades para o plantio de culturas anuais, e os trabalhadores rurais, no
processo de luta pela terra, ficam normalmente acampados próximos às matas. Não tendo ainda a
terra para produzir e do que se alimentar, a fonte de alimento torna-se a caça. Além disso, utilizam
madeira da mata para cozinhar ou para aquecimento (Instituto Sócio-Ambiental, 1999).

É importante lembrar que a sobrevivência dos sem-terra no Pontal está em jogo, portanto, seus
procedimentos, ainda que constituam agressão ao meio-ambiente, não podem ser comparados, em
gravidade e responsabilidade, aos dos grandes fazendeiros. Os grande fazendeiros, além de adotarem
uma tecnologia destruidora dos recursos naturais, não hesitam em promover o desmatamento para
usar o máximo possível de área e se aproveitar de uma terra nova que garanta alta produtividade com
o mínimo de investimento. Porém, de uma forma geral, os sem-terra, sejam eles ligados ao
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, ao Movimento Sindical, ou qualquer outro
movimento de luta pela terra, ainda não tem uma clara e profunda visão dos impactos ambientais do
modelo agrícola "moderno" (WEID & ALMEIDA 1997).

A partir do que foi apresentado, constatam-se quatro importantes fatos: o primeiro é que nunca
houve no país, uma política de Reforma Agrária de fato que visasse desconcentrar terra, renda e
poder, mas tão somente projetos de assentamentos de Reforma Agrária, que acontecem "a reboque"
dos movimentos sociais no campo. O segundo, é que a luta dos movimentos de sem-terra
contemporâneos é herdeira da luta dos índios à época do descobrimento e a estrutura é semelhante,
guardadas as devidas proporções, à do Brasil Colônia, ou seja, "grande propriedade, monocultura, e
tendo a produção voltada para exportação" (PRADO, 1979). O terceiro, é que o país entra no
próximo milênio - após 500 anos de luta camponesa e indígena- com uma alta concentração de terra,
renda e poder, e sem um projeto político concreto de Reforma Agrária sustentável, tampouco de
redistribuição de renda, poder e privilégios. E o quarto fato, é que, neste contexto de concentração, o

26
agricultor familiar, que faz parte da grande massa de não privilegiados, fica em total situação de
descaso.

A "baderna", evocada em editoriais indignados e capas de revistas no mês de maio do ano


2000, começou antes da madrugada do dia 2 de maio, na Ilha, nome que as 80 famílias que
ali vivem dão a esse pequeno assentamento, a 23 quilômetros de estrada de terra e mais uns
20 de asfalto do povoado mais próximo, Condói, um punhado de casas no coração do
Paraná.

Da Ilha, o agricultor Antônio Tavares Pereira, 38 anos, cinco filhos, líder local do
Movimento dos Sem-Terra, seguiu com três companheiros para apanhar o ônibus que os
levaria a Curitiba para participar de uma manifestação, durante a semana de protestos
organizada pelo MST.Poucas horas depois, Antônio estava morto. Assassinado por um tiro
de carabina disparado por um policial, que tentava impedir o acesso dos ônibus dos sem-
terra ao centro da cidade. Outras dezenas de pessoas, inclusive mulheres e adolescentes,
foram feridas pela tropa de choque.

A família Tavares, como muitas outras, chegou à Ilha em 1984, após perder sua terra na
construção da usina de Itaipu. O Estado jamais pagou a indenização prometida. "A luta do
Antônio era para o crédito. Aqui temos um pouco de terra, mas ninguém tem dinheiro para
comprar sementes, adubo, veneno, nada", conta Pedro, que deve se tornar o novo líder do
MST da Ilha (SUMA, 2000).

27
3.2. A AGRICULTURA FAMILIAR BRASILEIRA

Segundo Chayanov (1966), o camponês clássico14 faz parte de um sistema econômico específico
composto por unidades em que a família, equipada com meios de produção; emprega sua força de
trabalho no cultivo da terra e tem como resultado a produção de uma certa quantidade de bens; a
produção visa atender às necessidades de subsistência da família e, assim, não é movida pela busca
de maximização do lucro nem é avaliada de forma objetiva, por cálculos quantitativos. A
especificidade desse sistema está no fato de não ter trabalho assalariado; não havendo salário, não é
possível o cálculo capitalista do lucro líquido, nem de renda e juros, tornando inconsistente a
aplicação da teoria econômica do sistema capitalista. Apesar da reflexão de Chayanov ser
compreendida dentro do contexto da Rússia do início do século, marcada pelo atraso econômico,
pela miséria e por problemas sociais, em que o campesinato constituía a maior parte da população
rural, tem grande importância até hoje, pois chama a atenção para a necessidade de se respeitar e
valorizar as especificidades deste setor (CHAYANOV, 1966).

Uma das maiores polêmicas do tema campesinato, é a capacidade ou não dele se reproduzir na
economia capitalista. Para Kautsky (1986), o camponês, apesar das suas limitações em relação à
grande propriedade, tem capacidade de se integrar na economia capitalista, pelo fato dele e de sua
família fazerem um esforço sobre-humano a partir da demanda do mercado ou seja, "a solicitação
excessiva da força de trabalho apenas se desenvolve, de fato, a partir do momento e na medida em
que o trabalho em proveito próprio se transforma em trabalho destinado ao mercado"(KAUTSKY,
1986).

Por outro lado, Lenin(1983) acreditava que o camponês necessariamente tinha duas saídas ou se
tornaria um burguês capitalista ou um proletário urbano. Ou seja, não acreditava na capacidade
reprodutiva da agricultura familiar (LENIN, 1983).

No Brasil a afirmativa leninista não se confirma, pois segundo Lovisolo(1989), a agricultura


familiar15 "soluciona a questão social da reprodução de parcelas significativas da população que não

14 Chayanov, Lenin e Kautsky não utilizavam o termo agricultura familiar tampouco agricultor familiar. Utilizavam

campesinato e camponês.
15 Nesta dissertação as terminologias agricultura familiar e agricultor familiar são as versões contemporâneas das

28
têm lugar no mercado de trabalho capitalista e que muito menos teriam lugar no caso de uma
agricultura totalmente constituída por relações capitalistas" (LOVISOLO, 1989).

A agricultura familiar brasileira tem o seu funcionamento econômico não fundamentado na


maximização da rentabilidade do capital e na geração do lucro a curto prazo. O seu funcionamento
também é orientado para o atendimento das necessidades da família e para a manutenção a longo
prazo das potencialidades produtivas do meio natural. Esta manutenção é percebida como um
patrimônio familiar. Por sua própria vocação de unidade de produção e consumo, valoriza a
diversidade através da associação do policultivo e criações, distribuídos de forma equilibrada no
espaço e no tempo. Revela uma capacidade de valorizar as potencialidades dos recursos naturais, a
exemplo do uso de plantas medicinais, além de depender muito mais dos recursos naturais e de
conviver com os limites naturais. Diferente do grande produtor empresarial, que reduz os limites
naturais e substitui os recursos naturais imediatamente por artificiais, como por exemplo, a
substituição da fertilidade natural do solo, por fertilizantes sintéticos (BLUM, 1999 e SIDERSKY,
1994).

A direção dos trabalhos do estabelecimento é exercida pelo produtor e o trabalho familiar é


superior ao trabalho contratado. É importante destacar que o trabalho familiar não significa fazer
todas as operações do ciclo agrícola com o grupo doméstico, mas sim que o grupo doméstico
permite assegurar a estabilidade e a reprodução das condições sociais da produção. Por outro lado o
trabalho externo não significa o abandono do estabelecimento de produção familiar(GARCIA Jr,
1990 e WANDERLEY, 1995).

Para contemplar suas necessidades básicas produtivas, normalmente forma-se um conjunto


diversificado, com horta, roça, pomar, integração da produção animal à vegetal (o esterco aduba a
plantação e os restos de cultura são dados aos animais) e floresta (para uso da madeira no cozimento,
como mourões ou na construção). Ou seja, de uma forma geral, o agricultor familiar brasileiro cultiva
objetivando garantir em primeiro lugar sua subsistência, combinando grande variedade de culturas
intercaladas e temporárias (como por exemplo milho, feijão e mandioca), e permanentes (por
exemplo, goiabas e mangas) e pequena criação de diferentes animais (porcos, galinhas e cabras). Não

terminologias campesinato e camponês clássicas.

29
ocorre a separação absoluta entre as áreas de produção e as áreas de conservação, nem no espaço e
na gestão desse espaço, tampouco na cabeça das pessoas que o gerem.

O agricultor familiar brasileiro, por não poder gastar muito com insumos industrializados, depende
mais dos recursos naturais. Ele precisa, por exemplo, que os recursos água, solo e biodiversidade
estejam conservados. Para o agricultor familiar é muito oneroso equipar a propriedade com
tubulações de irrigação e fazer bombeamento de água, assim como comprar adubo sintético,
sementes comerciais e agrotóxico. Além de todas essas características, a agricultura familiar, quando
organizada, encoraja o desenvolvimento local, favorece o planejamento e a gestão coletiva dos
recursos naturais e, apesar de todo o controle do setor de sementes e insumos, garante a segurança
alimentar do país (WEID & ALMEIDA, 1997 e WEID, 1985 e LAMARCHE, 1993).

A agricultura familiar, apesar de toda a problemática que enfrenta, ainda não foi eliminada e está
presente em todas as regiões do país. Continua sendo um segmento de enorme importância
econômica e social do meio rural, com grande potencial de fortalecimento e crescimento. É um setor
estratégico para a manutenção e recuperação do emprego, para a redistribuição da renda, para a
garantia da soberania alimentar do país e para a construção do desenvolvimento
sustentável(MAGALHÃES, 1997).

Independente da noção de agricultor familiar/camponês é importante destacar os resultados da


pesquisa feita pelo Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO(2000), que apresenta alguns dados
recentes demonstradores de que a agricultura familiar tem alta eficiência no fator terra, se comparado
com o patronal16:
ƒ A área média dos estabelecimentos é de 26 hectares enquanto a patronal é de 433 hectares. Sendo
que 87% dos estabelecimentos familiares possuem menos de 50 hectares;
ƒ Os agricultores familiares representam 85,2% do total de estabelecimentos, ocupam 30,7% da
área total e são responsáveis por 37,9 % do Valor Bruto da Produção Agropecuária Nacional,
recebendo apenas 25,35% do financiamento destinado a agricultura.;

16 Na pesquisa INCRA/FAO, o universo familiar foi caracterizado pelos estabelecimentos que atendiam,
simultaneamente, às seguintes condições: a direção dos trabalhos do estabelecimento era exercida pelo produtor e o
trabalho familiar era superior ao trabalho contratado; adicionalmente, foi estabelecida um área máxima regional como
limite superior para a área total dos estabelecimentos familiares (de acordo com os módulos fiscais municipais).

30
ƒ A renda total por hectare demonstra que a agricultura familiar é muito mais eficiente que a
patronal, produzindo uma média de R$ 104/hectare/ano contra apenas R$ 44/hectare/ano dos
agricultores patronais;
ƒ A agricultura familiar é a principal geradora de postos de trabalho no meio rural brasileiro.
Mesmo dispondo de apenas 30,7% da área total , é responsável por 76,9% do Pessoal Ocupado;
ƒ Os agricultores concentram seu trabalho entre os membros da família do próprio agricultor. Do
total de Unidades de Trabalho utilizadas na agricultura familiar, apenas 4% são contratadas sendo
todo o restante do trabalho desenvolvido por membros da família e
ƒ Apenas 16,7% dos agricultores familiares utilizam a assistência técnica, contra 43,5% entre os
patronais(GUANZIROLLE, 2000)

Em conseqüência do ciclo de concentração de terra, renda, poder e privilégio existem pouquíssimas


políticas públicas que viabilizam e fortalecem verdadeiramente a agricultura familiar brasileira, ou seja
é um setor bastante desprestigiado e por isso enfrenta grandes dificuldades para produzir, agregar
valor a sua produção e comercializar.

De uma forma geral, o agricultor familiar brasileiro ocupa pouca terra, que normalmente é de
qualidade inferior e localizada em condições difíceis, ou seja, de relevo acidentado, distantes dos
pontos de água e das estradas pavimentadas. Sua renda normalmente é baixa, o que o obriga a
complementar os resultados de sua produção com assalariamento temporário de membros da
família. Dificilmente tem assistência técnica de qualidade e geração de tecnologia para sua realidade.
Para tocar a lavoura quase sempre precisa de empréstimos, além de ter também que vender sua
produção rapidamente para pagar as dívidas e não perdê-la. É nesta hora que aparece o
intermediário que impõe, na maioria das vezes, o preço que quer. Isto acontece porque o agricultor
está normalmente "apertado" de dinheiro, não tem informação de mercado e não tem lugar para
guardar os produtos, normalmente perecíveis. Além disso, o agricultor familiar dificilmente tem
meios para beneficiar, qualificar, empacotar, isto é, agregar valor e transportar a produção. Os que
compram seus produtos costumam desvalorizar a mercadoria, ou dizer que o preço do dito produto
está mais baixo do que o oferecido pelo agricultor, dificilmente pagando à vista e justamente
(ESCÓRCIO, 1993).

31
Além dos problemas ligados diretamente à produção e a comercialização, este agricultor, de uma
forma geral, participa de uma marginalização sócio-econômica, tendo grandes dificuldades de acesso
à educação, saúde, transporte e informação. Inclusive,

[....]é frequente ouvir argumentos de que o agricultor


familiar não mais se justifica porque não usa insumos, não
movimenta infra-estrutura tecnológica, e que ele deve
ceder lugar á empresa agrícola que movimenta maquinaria,
adubos, pesticidas, crédito. Igualmente o artesão familiar
deveria ser substituído pela fábrica. Em linguagem mais
clara e honesta isto quer dizer que deve diminuir, tender a
zero, o número de indivíduos independentes, donos de si
mesmo, de gente que decide seu próprio destino !
(LUTZEMBERGER, 1980).

A situação desse agricultor é piorada pois o modelo desenvolvimentista rural adotado no Brasil se
baseou no “pacote tecnológico da revolução verde"17, que além de ameaçar a saúde humana e
degradar o ambiente, também tem sua parcela de culpa na exclusão social no campo e em última
instância no êxodo rural brasileiro. O agricultor incapaz de acompanhar a inovação tecnológica tem
grande dificuldade de manter sua produtividade e de se sustentar na terra. Neste sentido, pode-se
afirmar que tal modelo de desenvolvimento rural culminou em um stress sócio-econômico do
agricultor familiar, ao qual foi imposto um modelo tecnológico demandador de um capital que ele
não tinha, de uma complexidade que não lhe era compreensível e em cuja gestação ele não teve
qualquer participação (COSTA, 1995). E é por causa deste rol de problemas sociais e tecnológicos
que o êxodo rural no país não para de crescer (ver tabela 1) e as cidades tornam-se inchadas.

17 A implantação do pacote da "Revolução Verde" é discutido em seguida.

32
Tabela 1: Participação relativa da população economicamente
ativa rural na força de trabalho total.
1940 1950 1960 1970 1980 1985 1990 1996
66% 60% 54% 44% 30 % 28,5 % 24 % 21,64%
(Fonte IBGE, 1996)
Com as cidades e suas periferias cada vez mais populosas, tornam-se incapazes de sustentar uma
infra-estrutura necessária para evitar a poluição dos rios, dos lençóis freáticos e do ar, gerar emprego
e renda e oferecer saúde, educação, segurança e moradia para todos. Ou seja, o descontrole
processual em que se dá o uso do solo pelas atividades urbanas produz dificuldades técnicas de
implantação de infra-estrutura, altos custos de urbanização e desconforto ambiental de várias
ordens, tais como térmico, acústico, visual e de circulação ( LOMBARDO, 1985). O que se conclui é
que o descaso com a agricultura familiar não tem apenas consequencias negativas para este setor, mas
para toda a sociedade e que a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento rural brasileiro, leva
necessariamente a uma insustentabilidade ambiental, econômica e social nas cidades também. (ver
fotografia 1).

Fotografia 1: Acampamento da Estrutural, DF.

33
3.3. IMPLANTAÇÃO DO PACOTE TECNOLÓGICO DA REVOLUÇÃO
VERDE

Na agricultura convencional, os seres humanos


simplificaram a estrutura do ambiente em vastas áreas,
substituindo a diversidade natural por um pequeno
número de plantas cultivadas e animais domesticados.
Esse processo de simplificação atinge sua forma extrema
numa monocultura. O objetivo desta simplificação é
aumentar a proporção da energia solar fixada pelas
plantas, que é diretamente utilizada pelos seres humanos.
O resultado final é um ecossistema artificial que requer
uma intervenção humana. O preparo de sementeiras
comerciais, o plantio mecanizado substituem os métodos
naturais de semeio; pesticidas químicos substituem o
controle natural da população de invasoras, insetos e
patógenos; e a manipulação genética substitui os
processos naturais de evolução e seleção de plantas. Até
mesmo a decomposição é alterada, uma vez que a planta
cresce e é colhida, e a fertilidade do solo é mantida, não
pelo reciclamento de nutrientes mas com fertilizantes
(ALTIERE, 1989).

O modelo de desenvolvimento rural adotado no Brasil, fruto da conhecida "Revolução Verde", está
imerso nos complexos agroindustriais, onde o setor agrícola se espreme entre o setor industrial
fornecedor de insumos, máquinas e material genético e o setor de transformação e comercialização
(DELGADO, 1985). Nestes complexos, a produção da matéria-prima tem base industrial, e para ser
transformada na indústria, é necessário que haja uma grande remessa e que ela seja uniforme. Sendo
assim, o abastecimento das indústrias de transformação somente é possível quando a produção da
matéria-prima segue à risca a receita do “pacote tecnológico da Revolução Verde” - monocultura,
adubo químico industrial, agrotóxicos, raças e variedades vegetais super-selecionadas, ultimamente
até transgênicas, hormônios sintéticos, rações artificiais, sofisticados sistemas de irrigação e uso
intensivo de energia (QUEROL, 1993).

A implantação do "pacote da revolução verde", levou à homogeneização das práticas produtivas, à


simplificação e à artificialização do meio natural, provocando impactos ambientais por todo o país. A
natureza e a amplitude desses impactos estão relacionados com fatores técnicos, econômicos e

34
culturais. De ordem técnica, pelo fato de ser um "pacote tecnológico" gerado em países de clima
temperado, inadaptado portanto para o clima tropical. De ordem econômica, pois sua incorporação
foi comandada por uma lógica econômica fundada no imediatismo e na maximização de resultados
físicos e econômicos no curto prazo, em detrimento da reprodução do equilíbrio natural. De ordem
cultural pois gerou a substituição de uma relação intima com a terra para uma relação artificial
(WEID, 1997).

O "pacote tecnológico da Revolução Verde" é tido como de aplicação universal, destinado a


maximizar o rendimento dos cultivos em situações ecológicas profundamente distintas. O objetivo
do seu uso é elevar ao máximo a capacidade potencial dos cultivos, proporcionado-lhes as condições
ditas ideais, eliminando com agrotóxicos os competidores e predadores naturais, e fornecendo os
nutrientes necessários, sob a forma de fertilizantes sintéticos. A lógica é o controle das condições
naturais através da simplificação e da máxima artificialização do meio ambiente, de forma a adequá-lo
ao genótipo, para que este possa efetivar todo seu potencial de rendimento (SARADÓN, 1996).

A monocultura, para ser viável economicamente, exige grandes áreas, sobrevivendo neste sistema
apenas grandes produtores. Para otimizar a produção e a colheita são utilizadas grandes e pesadas
máquinas que compactam o solo, danificando sua estrutura física, reduzindo a sua capacidade de
armazenamento de água e nutrientes, e diminuindo sua atividade biológica. Além destes efeitos no
solo, estas máquinas substituem a mão-de-obra de milhares de trabalhadores. Como os solos se
tornam degradados, são sempre necessárias novas áreas, e para isto florestas são derrubadas,
ameaçando não somente as espécies vegetais, mas também animais, além de comprometer a proteção
dos rios e do solo e a qualidade do ar (PRIMAVESI, 1987 e LEONARDOS, 1999).

O fato mais perverso, contudo, é que as sementes comerciais somente atingem alta produtividade,
quando todos os elementos deste “pacote” são introduzidos simultaneamente. Isto acontece porque
as sementes melhoradas destas variedades são melhoradas geneticamente em áreas onde há
condições “ideais” da agricultura convencional e patronal. Ou seja, terrenos planos, abundância de
adubo sintético, agrotóxicos, máquinas e água de irrigação artificial (MOONEY, 1987).

A maioria das matérias primas genéticas (variedades locais e plantas nativas), paradoxalmente, são
proveniente dos países pobres, levadas para os centros de melhoramento das grandes empresas de

35
sementes e patenteadas. Desta forma, o controle do material genético fica, cada vez mais, nas mãos
das grandes empresas dos países do Norte, ameaçando a segurança alimentar dos países do grande
Sul pobre. Pode-se assim dizer que

[...] as sementes de variedades locais e de plantas nativas


são roubadas pelas grandes corporações, modificadas e
protegidas com seus direitos de propriedade intelectual.
Depois, estes agricultores, tem que "recomprá-las" a preço
muito mais alto. Porque por agora, os únicos regimes que
existem de proteção dos direitos de propriedade
intelectual são os do Norte, logo nossa agricultura (dos
países pobres) é para eles um armazém aberto ao espólio
(SHIVA, s/d).

É fato que, nesta agricultura dita moderna (ou convencional), principalmente nos países
subdesenvolvidos, há uma grande defasagem entre as tecnologias geradas pela pesquisa agropecuária
e a realidade dos agricultores familiares. Tal fato, é fruto principalmente, do modelo de distribuição e
uso de terras e das condições e prioridades dadas à execução da pesquisa agropecuária (ABBOUD,
1995).

De maneira geral, a pesquisa passou a seguir um padrão em que os resultados são mais apropriados
para os produtores capitalizados. As tabelas 2 e 3 demonstram a tipificação dos contrastes, quanto às
condições físicas, econômicas e sociais, onde .pode-se perceber que as condições dos centros de
experimentação são mais parecidas com as condições dos grandes produtores capitalizados.
Provavelmente, se ali forem melhoradas variedades, estas terão alta produtividade nas propriedades
dos produtores capitalizados. Por outro lado, tudo indica que os agricultores descapitalizados, ao
disporem destas variedades, não terão o mesmo sucesso. Isto acontece porque este tipo de pesquisa,
não leva em consideração as características da agricultura familiar brasileira (WEID, 1997 e
ABBOUD, 1995).

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que é o órgão de pesquisa


agropecuária brasileira, não possui uma política de desenvolvimento de tecnologia que dispense o
"pacote da Revolução Verde". Se não fossem os poucos casos individuais de pesquisadores que
lutam contra este modelo, o país jamais teria gerado qualquer tecnologia adaptada à realidade da
agricultura familiar brasileira.

36
Tabela 2: Tipificação dos contrastes quanto às condições física na pesquisa
Centro Grande Pequena
experimental propriedade/ propriedade/
produtores agricultores
capitalizados descapitalizados
Topografia Plana Plana Frequentemente
ondulada
Solos Profundos, Profundos, férteis Com limitações
férteis e sem e sem limitações
limitações
Deficiência nutricional Rara recuperável Ocasional Bastante comum
Tamanho da propriedade Grande, e Grande e Pequenas e irregulares
quadrada normalmente
quadrada
Riscos Poucos ou Poucos e Frequentes
nenhum controláveis
Irrigação Comum Pode ser Rara depende das
disponível condições naturais
Tamanho Grande e Grande ou média, Pequeno, podendo estar
contíguo contígua fragmentada
Pragas e doenças Controle Controle químico Vulnerável
químico
Chambers & Ghidyal, 1993 em ABBOUD,1995, modificado por Pedroso, 2000.

37
Tabela 3:. Tipificação dos contrastes quanto às condições econômicas e sociais na
pesquisa.
Centro Grande Pequena propriedade
Experimental propriedade /agricultores
produtores Descapitalizados
capitalizados
Acesso a sementes, pesticidas e Sem limite Alto e confiável Baixo e pouco
outros insumos confiável.
Acesso a crédito Ilimitada Bom acesso Pouco acesso
Mão de Obra Sem limites e Poucas restrições Familiar e com
sem restrições restrições
Preços Sem Mais baixos que Mais altos que os de alta
importância agricultores de renda, mais baixos para
baixa renda para a a produção.
compra
Prioridade para a produção de Neutra Baixa Alta
alimentos da dieta humana
Aptidão das tecnologias Muito alta por Alta Baixa
geradas pelo centro definição
experimental
Chambers & Ghidyal, 1993 em ABBOUD,1995, modificado por Pedroso, 2000.

O problema não reside apenas na geração de tecnologia, mas também na transferência. Os técnicos
de ciências agrárias são formados no paradigma da agricultura convencional onde os resultados são
imediatos e não se respeita as diferenças sócio-econômicas e ambientais. Assim como na pesquisa, a
extensão, salvo raras exceções, difunde este modelo de agricultura, e é claro, tem todo o apoio e
incentivo das grandes empresas transnacionais de insumo agrícola. Este modelo de agricultura é por
estes técnicos amplamente propagandeado através do questionável discurso de que a agricultura de
larga escala (grandes campos de monocultura) é a única capaz de alimentar a crescente população
mundial. Um exemplo clássico da difusão do "pacote tecnológico" da Revolução Verde, foi o
ocorrido na África: Através da Agência de Ajuda Técnica Internacional da Alemanha, os alemãs
ensinaram as primitivas tribos do Togo, Burundi, Malawi e Ruanda a extraírem o veneno da semente
de uma árvore nativa (Neem). O poder inseticida desta semente é conhecido milenarmente pelos
aborígenes. Mas os alemãs ensinaram a macerar as sementes com querosene, coá-las e depois fazer a
aplicação com um pulverizador. Após a introdução desta tecnologia, para dar mais eficiência, foi feita
a apresentação de um inseticida sintético, tudo muito simples e prático sem muito trabalho
(PINHEIRO, 1993).

38
A discussão sobre a pesquisa e a transferência de tecnologia demonstra também que o etnocentrismo
é um dos pilares deste modelo, ou seja, "trouxe para o campo a transformação radical do savoir-faire
do produtor rural, de sua relação com a terra e com a natureza em geral. Esse savoir-faire do produtor
foi transformando-se e sendo paulatinamente desqualificado pelo saber técnico-científico
hegemônico” (DUARTE, 1998).

Para reforçar este modelo o sistema bancário foi instruído para dar crédito mediante apresentação de
projetos com o "pacote da Revolução Verde". Desta forma, os técnicos se vêem obrigados a fazer
projetos de financiamento, com todos esses insumos, para que os agricultores consigam o
financiamento (WEID, 1997 ).

O uso de agrotóxico é problemático por inúmeras razões. Uma delas é que, após sua aplicação, o
excesso é levado pelas chuvas para os córregos e rios, poluindo a água e prejudicando espécies que
nela vivem, deformando-as, matando-as ou até mesmo podendo extingui-las diretamente, ou através
da interrupção de sua cadeia alimentar. (ver fotografia 2). Um representativo exemplo do problema
relacionado ao uso de agrotóxico é do uso de inseticida. O uso de inseticidas, capazes de liquidar um
amplo espectro de espécies de insetos, pode levar a uma explosão da própria praga contra a qual eles
são dirigidos. Os inseticidas podem matar um número relativamente maior de inimigos naturais do
que a própria praga. A praga então aumenta novamente e "reinvade" (fenômeno da ressurgência) a
área pulverizada e não limitada pelos seus inimigos naturais, atinge proporções até maiores do que na
época em que o controle foi iniciado. Alguns organismos, que normalmente não representam pragas,
podem vir a desempenhar este papel após a aplicação de pesticidas. A destruição de insetos agentes
naturais de controle de outros insetos pode tornar a multiplicação de um organismo inofensivo
ilimitada, de modo que este se transforme numa praga de proporções apreciáveis, na chamada
explosão de pragas secundárias. Outro problema é que um inseticida, geralmente após seu primeiro
uso, deve ser aplicado outras vezes com regularidade. Isto ocorre porque os inimigos naturais, muitas
vezes, foram eliminados, e inevitavelmente a praga atacará outra vez. Se o mesmo produto químico é
utilizado várias vezes, haverá uma resistência química, isto é, uma ocasião em que o produto não vai
ser eficiente no controle da praga (PRIMAVESI, 1988 e HATHAWAY, 1986).

39
Além destes problemas com o uso de agrotóxicos, existe ainda a teoria da Trofobiose18, sobre a
resistência de plantas: "A planta só será atacada na medida em que seu estado bioquímico,
determinado pela natureza e pelo teor em substâncias solúveis nutricionais, corresponder às
exigências tróficas do parasita em questão" (CHABOUSSOU, 1987). Em outras palavras: A planta
ou a parte da planta cultivada só será atacada por um inseto, ácaro, nematóide, bactéria ou fungo,
quando tiver na sua seiva exatamente o alimento que eles ("pragas e doenças") precisam, que são
principalmente os aminoácidos solúveis. Para que isto aconteça em proporções que deixam as
plantas "mais saborosas" para as pragas e patógenos, basta deixar esta planta em condições de
desequilíbrio que acontecem na fertilização dos solos com muito adubo solúvel e/ou tratadas com
agrotóxicos (CHABOUSSOU, 1987).

Em 1989, em Salto do Jacuí, a 400 quilômetros de Porto Alegre, 400 famílias de sem-terra
do acampamento Rincão do Ivaí foram vítimas de um "ataque químico". Um avião agrícola,
que combatia a lagarta-da-soja19 sobrevoou o acampamento pulverizando-o com o inseticida
azodrin, cuja fórmula tem o mesmo princípio ativo dos gases de destruição em massa.

Com o intuito de intimidar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e as


ocupações na região, latifundiários produtores de soja vizinhos ao acampamento, ordenaram
que seu piloto não fechasse o esguicho do tanque de agrotóxico quando fizesse a curva
sobre as barracas. O pânico espalhou-se pelo acampamento. Várias pessoas tiveram
ferimentos na pele do tipo queimadura, convulsões e dificuldades de respirar, mais de 15
crianças foram internadas com sintomas de envenenamento, sendo que destas, 4 morreram20.

Para a saúde humana, as consequências do uso de agrotóxico são terríveis, tanto para o trabalhador
que o manipula, como para quem consome alimentos produzidos com veneno. O mais complicado é
que pouco se sabe sobre os efeitos destes agrotóxicos a longo prazo no corpo humano, tampouco se
encara de frente a dificuldade dos agricultores brasileiros adquirirem e usarem os mínimos
equipamentos indispensáveis à sua proteção. Por outro lado, para a aplicação da série de normas e
índices que regem o chamado "uso adequado de agrotóxicos", é necessária uma complexa estrutura

18 Trofo = Alimento / Biose = Existência da vida. Significando que todo e qualquer ser vivo sobrevive se houver

alimento adequado disponível para ele.


19 No verão, as lavouras costumam ser atacadas pela lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatali).
20
Informação colhida no site do Jornal “O Globo”.

40
de fiscalização de fabrico, de venda e de uso de agrotóxico, e de caríssima aparelhagem e reagentes
para monitoramento de resíduos, enfim de vultosos recursos humanos, materiais e financeiros, que
não são destinados para este fim (PINHEIRO, 1991).

Para piorar a questão dos agrotóxicos, a censura é poderosa no campo da informação ecológica, pois
há interesses milionários do complexo agroindustrial que agem para evitar a divulgação de
informações sobre o perigo do uso de agrotóxicos. Além disso, pelo fato de nos países ricos ter
aumento das restrições ao uso de agrotóxicos, "levou várias indústrias químicas a transferirem suas
fábricas para os países do terceiro Mundo. As indústrias nesses países estão livres de para produzir
pesticidas com patentes expiradas e tecnologia obsoleta"(MEDEIROS, 1998).

Esta agricultura ainda é responsável em grande parte pela desertificação21. Estudos do International
Centre for Arid and Semi-Arid Land Studies – ICASALS, da Universidade do Texas, estimam que 69%
das zonas áridas em todo o mundo estão sendo afetadas pela desertificação em diferentes níveis.
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que esse processo vem colocando fora
de produção, anualmente, cerca de 6 milhões de hectares devido ao sobrepastoreio, salinização dos
solos por irrigação e processos de uso intensivo e sem manejo sustentável na agricultura (MMA,
1998).

A erosão é um dos maiores fatores de influência na desertificação, podendo ser considerada como
um parâmetro para o seu estudo. Quando há uma erosão antrópica rigorosa, logo associa-se a esta
uma possibilidade de desertificação, isto não significa que todos os focos de erosão acelerada
conduzirão à desertificação, pois outros fatores terão que ocorrer também. Vale lembrar ainda que a
erosão dos solos ainda é responsável pelo assoreamento de rios e lagos, prejudicando também o ciclo
da vida tanto nos ambientes aquáticos como nos "lamaçais" (ALMEIDA,1981; BOAVENTURA,
1996 e NIMER, 1980).

Apesar da desertificação estar relacionada com a ação antrópica, ela também está relacionada com a
capacidade de auto-recuperação do ecossistema. Esta capacidade varia de ecossistema para

21A desertificação é um processo de degradação progressiva da cobertura vegetal, do solo e do regime hídrico resultante
das condições climáticas e edáficas, ou da ação do homem, ou de ambas as coisas conjugadamente, conduzindo á
destruição dos ecossistemas primitivos e à perda da produtividade dos mesmos e da capacidade de se recuperarem”
(MMA, 1998).

41
ecossistema. Logo, quando há uma ação predatória em uma área com baixa capacidade de
regeneração muito provavelmente ocorrerá ali um processo de desertificação. Os ecossistemas em
clímax possuem sua biota e o solo em equilíbrio dinâmico, garantindo sua sustentabilidade e
biodiversidade. A ação antrópica pode perturbar este equilíbrio, pois em seu estado natural, o solo
encontra-se coberto pela vegetação, que o protege da erosão e contribui para manter o equilíbrio
entre os fatores de sua formação e aqueles que provocam sua degradação. O rompimento dessa
relação provoca alterações físicas, químicas e biológicas, as quais, se não forem adequadamente
monitoradas e controladas, levam à queda de produtividade e à degradação do ecossistema
(PRIMAVESI, 1992; BAUMGRATZ, s/d e BRABYM, 1978).

A “agricultura moderna” torna os sistemas agrícolas extremamente frágeis. Ao se retirar de uma


dada área a sua cobertura vegetal, há redução dos compostos orgânicos e da exsudação das raízes.
Do ponto de vista nutricional, o solo sem cobertura vegetal dificulta o ciclo de vida dos
microorganismos. É nas imediações das raízes, isto é, na rizosfera, que eles encontram os substratos
que necessitam para sua proliferação. Consequentemente, vários processos importantes do solo que
influenciam a produção vegetal e a qualidade ambiental são maximizados na rizosfera. Entre eles,
podemos citar: a decomposição da matéria orgânica, a fixação biológica de nitrogênio e as interações
microbiológicas. Sem a cobertura vegetal, ocorre também a remoção de uma parte do solo e
exposição do solo à ação da água (da chuva e da irrigação), do vento, do sol, das máquinas agrícolas,
dos agrotóxicos e dos adubos sintéticos. Torna-se assim o solo passível de erosão, compactação,
encrostamento e lixiviação ( ver fotografia 3). O uso de agrotóxicos também impacta negativamente
a microbiota e os processos biológicos dos solos, contribuindo assim, para o aumento do
desequilíbrio. Por outro lado, o uso inconseqüente de adubos minerais contribui para a salinização e
acidificação dos solos e da água (PRIMAVESI, 1992 e PRIMAVESI, 1993).

Essa agricultura ainda acarreta a erosão da biodiversidade por dois graves fatores. O primeiro, é que
grandes áreas de florestas são derrubadas ou queimadas para se iniciar a cultura agrícola. A derrubada
das florestas é problemática por infinitas razões. Nas florestas existe um "conjunto de espécies
vegetais e animais de que já dependemos e vamos depender muito mais - Delas virão os novos
alimentos, medicamentos e materiais que sustentarão a vida dos nossos filhos e netos e seus
descendentes" (NOVAES, 1992). Além disso, as floresta são consideradas "sumidouras" de gás
carbônico e protegem as nascentes e os cursos d'água. Durante as queimadas, a situação ainda é pior,

42
pois além da destruição desses "sumidouros", há emissão de gás carbônico, contribuindo assim para
a intensificação da mudança climática global.

Não é possível, entretanto, pensar em preservação da biodiversidade escolhendo esta ou aquela


espécie e devastando o ecossistema em que vivem. Todas as espécies fazem parte de cadeias
alimentares e reprodutivas que, interrompidas, podem significar extinção.

Há uns três anos, num congresso sobre a Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, uma jovem
bióloga mostrou isso com competência e clareza. Para estudar a biodiversidade da Chapada, ela
tomou como ponto de partida três espécies diferentes de goiabeira que vivem ali. E observou, de
saída, que cada uma delas era fertilizada por um tipo diferente de pássaro. E cada uma delas se
reproduzia por um caminho diferente: uma através das fezes de um morcego, que comia os
frutos e espalhava as sementes; as duas outras, através de dois pássaros diversos.

A bióloga foi então estudar essas seis espécies envolvidas na vida das goiabeiras e verificou que
cada uma delas também se alimentava de espécies diferentes. E assim, ao final de dois anos de
trabalho, já intuía que, se um dia conseguir terminar sua pesquisa, terá envolvido na vida das três
goiabeiras todo o ecossistema da Chapada. E terá de começar a estudar as relações destes com os
ecossistemas confinantes (NOVAES, 1992).

O segundo grave fato que faz com que esta forma de agricultura intensifique a erosão da
biodiversidade é que, ao longo de séculos, os agricultores adaptaram variedades de espécies
cultivadas às mais distintas condições ambientais e sociais (são as variedades locais ou tradicionais).
Ou seja, desde uns 12. 000 anos atrás, até o século XX, cada agricultor teve que produzir e guardar
suas próprias sementes, para a temporada seguinte. Esta necessidade contribuiu para o
desenvolvimento da diversidade genética e deu como resultado, variedades notavelmente bem
adaptadas às condições muito específicas. Com a difusão e o uso massivo das sementes comerciais,
houve a substituição das variedades locais, intensificando a uniformidade genética e provocando a
perda de muitas variedades locais (HOBBELINK, 1987).

A uniformidade genética na agricultura, além de acarretar a erosão genética, pode tornar a cultura
agrícola mais vulnerável a epidemias de pragas e doenças. Quando todos os agricultores cultivam a
mesma variedade, uma praga ou doença que ataca uma planta, rapidamente se estende por uma
grande área. Então só resta combater as pragas e doenças com grandes quantidades de agrotóxicos.
Por outro lado, o subsolo fica com uma rede de raízes uniformes e com a mesma profundidade, isto

43
diminui a capacidade destas raízes poderem contribuir na estruturação do solo e a consequencia final
é a degradação do solo (HOBBELINK, 1987 e PRIMAVESI, 1984).

Os recursos genéticos constituem a base da produção tradicional de variedades de plantas e também


das novas biotecnologias. Ironicamente, a biotecnologia pode contribuir para a perda dos mesmos
recursos genéticos dos quais depende. Como tecnologia, a biotecnologia certamente aumenta a
produção de cultivos comerciais, produz resistência de alguns cultivos às pragas e doenças, mas
talvez à custa de tornar todo o cultivo uniforme (ver fotografia 4). A ameaça da biotecnologia sobre
os recursos genéticos começa a se mostrar evidente pois as empresas transnacionais produtoras de
agrotóxicos estão pesquisando e começando a colocar no mercado plantas transgênicas, que tendem
a substituir tanto as variedades melhoradas por processos convencionais (variedades comerciais)
quanto as variedades locais ou tradicionais(HOBBELINK, 1987).

Os transgênicos são organismos (plantas e animais) em que houve a alteração na composição dos
conjuntos de genes que determinam suas características. Ou seja, um gene responsável por
determinada característica de um organismo foi transferido para outro organismo. Desta forma,
pode-se assim fazer todo tipo de combinação, pode-se transferir genes de vegetais ou bactérias, ou
vírus, para vegetais entre diferentes vegetais, entre diferentes animais e ainda entre animais e vegetais.

A possibilidade do uso de transgênicos é extremamente sedutora. Porém, existem inúmeros


problemas, que estão sendo previstos e apontados por especialistas, e que, provavelmente, podem
piorar a situação dos agricultores, intensificar o desequilíbrio ambiental e social e prejudicar a saúde
humana e animal.

Teoricamente, cada característica específica de um organismo está diretamente codificada em um ou


vários genes específicos. Sendo assim, a transferência deste gene ou destes genes para outro
organismo seria obrigatoriamente a transferência desta característica. Porém, não se leva em conta a
possibilidade de que haja interações dos genes introduzidos com os processos e compostos das
células ou com os ambiente. Ou seja, não se reflete sobre a possibilidade de que esta transferência de
genes tenha resultados imprevisíveis. Além disto, o cultivo de transgênicos, reforça a tendência à
uniformidade genética na agricultura, a exemplo das variedades comerciais, com grandes
monoculturas utilizando poucas variedades da mesma espécie, acelerando a erosão genética e

44
estreitando as possibilidades de adaptação futura das plantas cultivadas, às variações climáticas e à
diversidade dos ecossistemas (SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE BIODIVERSIDADE E
TRANSGÊNICOS, 1999).

O "Manifesto por um Brasil livre de Transgênicos" denúncia inúmeros problemas relacionados com
os transgênicos: foi verificado, no milho e algodão transgênicos, em que foram introduzidos genes
retirados da bactéria Bacillus thuringiensis (Que produz a toxina Bt), geraram resistência crescente em
espécies de mariposas cujas lagartas passaram a atacar tanto estas culturas, quanto várias outras e,
inclusive, algumas plantas silvestres. Foi comprovado que esta mesma toxina Bt foi incorporada por
insetos que as transferiram, por sua vez, a seus predadores, prejudicando seu papel no equilíbrio
natural entre as espécies. Ainda a toxina Bt pode ser incorporada ao solo junto com resíduos de
culturas, afetando minhocas e microorganismos que têm importante função na reciclagem de
nutrientes para uso das plantas.

O uso maciço de herbicidas, nos campos cultivados com variedades em que se introduziu resistência
a estes agrotóxicos, como é o caso da soja Roundup Ready, da empresa Monsanto, pode afetar a
capacidade de multiplicação no solo das bactérias que retiram nitrogênio do ar e permitem a
fertilização natural desta leguminosa. A mencionada possibilidade de destruição das bactérias
fixadoras de nitrogênio (BFN), pode representar a queda de produtividade por deficiência de um
nutriente essencial ao crescimento das plantas, ou o aumento dos custos de produção pela
necessidade do uso de fertilizantes químicos nitrogenados para substituir o efeito destes
microorganismos. É preciso lembrar que o uso de BFN representou na cultura da soja brasileira uma
economia de 1,8 bilhão de dólares por ano em adubos químicos nitrogenados.

Para a saúde humana, os transgênicos são problemáticos também. Um alimento transgênico com
genes que dão resistência à antibióticos, podem provocar transferência desta característica para
bactérias que provocam doenças. Alergias alimentares, podem aparecer como decorrência da
introdução de genes estranhos nos alimentos que passam a apresentar novas proteínas, enquanto
substâncias tóxicas existentes em quantidades inofensivas nos alimentos podem ter sua ação
potencializada. Outras substâncias benéficas, inclusive que protegem contra o câncer, podem ser
diminuídas. Os consumidores não estão cientes dos riscos e não têm como se prevenir, mesmo se
informados, pois é impossível se distinguir os produtos que contêm transgênicos dos outros se não

45
houver a rotulagem. É por isto, que as associações de consumidores na Alemanha, apavoradas com
os alimentos transgênicos, estão os apelidando de Frankenfood, significando alimentos Frankenstein
(MANIFESTO POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS, 1999)

Alguns dos efeitos negativos e dos riscos do uso de transgênicos já ocorrem na agricultura
convencional mas, à diferença desta última, não é possível restabelecer equilíbrio ambiental no caso
dos transgênicos. Pode-se cessar o uso de um agrotóxico, por exemplo, e restabelecer um equilíbrio
entre insetos-praga e seus predadores após um certo tempo. No caso dos transgênicos, uma vez
liberados na natureza não é possível desfazer os impactos nos ecossistemas ou controlar os
processos de transgênese espontânea que porventura venham a ocorrer, porque é impossível retirar
da natureza os genes que foram artificialmente introduzidos numa planta.

As empresas transnacionais de agrotóxicos, além de lucrarem com a venda do novo material


genético, têm favorecido a venda de seus próprios venenos. Um exemplo clássico disto, é a soja
Roundup Ready, que foi desenvolvida para ser resistente ao herbicida Roundup, ambos da Monsanto.
As empresas Monsanto, Novartis, Pioneer e Agrevo respondem pela grande maioria das sementes de
variedades transgênicas registradas no Brasil e estão entre as maiores do mundo. Se estas variedades
vierem a substituir as tradicionais e as convencionalmente melhoradas, estaremos subordinados aos
interesses destas empresas. A Monsanto já detém o controle de 70% da produção de sementes das
variedades comerciais de milho no Brasil e pode substituí-las por transgênicos a qualquer momento.
Há ainda o risco dessas empresas adotarem de forma generalizada uma operação transgênica
chamada Terminator. As variedades transgênicas com as características Terminator produzem sementes
estéreis, impedindo que os agricultores produzam sementes próprias a partir das compradas. Este
controle permitirá que as empresas não apenas ditem os preços que quiserem, mas ainda controlem a
produção nacional em função de seus interesses econômicos internacionais, ignorando o interesse
público (SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE BIODIVERSIDADE E TRANSGÊNICOS,
1999).

Por todos esses problemas, o caso dos transgênicos mereceriam ser tratado a partir do Princípio da
Precaução. Se o uso de sementes transgênicas leva a qualquer risco, então elas deveriam ser evitadas.
Desta forma, é importante sempre ter claro que, juntamente com seus inquestionáveis benefícios, a

46
biotecnologia pode, contraditoriamente, proporcionar a ampliação dos problemas sociais e
ambientais(GARRAFA et al, 1998).

Do exposto, conclui-se que as plantas transgênicas, de uma forma geral, reforçam o modelo
tecnológico agrícola vigente. Tal modelo é insustentável e perverso, onde o agricultor "moderno",
depois de destruir as árvores dos pastos, observando que o gado precisa e busca sombra, compra
sombrite para fazer a sombra. Tira a fertilidade do solo, e depois compra adubos sintéticos. Tira a
umidade do solo, e depois compra tubulações de irrigação e devora energia não renovável. Acaba
com o equilíbrio da natureza, que garante a saúde das plantas e dos animais, e depois a envenena.
Perde a biodiversidade e depois compra invenções genéticas de laboratórios. Ou seja, acaba com os
recurso naturais, para depois substitui-los por recursos artificiais. Por isto, não basta questionar
apenas a concentração de terras e a falta de apoio ao agricultor familiar no Brasil, é preciso
questionar também o modelo tecnológico adotado, consequentemente é necessário se pensar em um
novo modelo de desenvolvimento rural para o Brasil. Este novo modelo de desenvolvimento deve
ser composto por ações que remetam a uma prática agrícola ecologicamente equilibrada e a uma
diminuição das diferenças sócio-econômicas. E é neste sentido propositivo que o próximo capítulo
se desenvolve.

47
[ ]A gente compra tudo, milho para as vacas, e para a gente compra arroz, feijão, farinha,
sabão... Não dá mais para plantar o milho para o gado. Cana e capim a gente produz, que é
para dar para as vacas misturada com o milho, o sal mineral e a ração a gente também compra.
Todo mundo por aqui está acostumado a dar para o gado a ração da loja. Para fazer o doce a
gente compra ovo e o açúcar, o botijão de gás e as embalagens. Mas sai caro demais...

Eu sempre morei aqui, antes de começar Brasília, morava com meus pais, do outro lado do
córrego. Bem pertinho daqui. Na casa do meu pai, a gente plantava de tudo, café, arroz e tirava
gordura de porco. Antigamente não tinha máquina para plantar. Depois da criação de Brasília,
que trouxeram estas máquinas para gradear campo e plantar e agora só dá para plantar se
gradear e por muito adubo químico. Antigamente a gente não usava nem adubo .

A EMATER, faz o projeto pro banco, a gente pega financiamento, compra a semente de arroz,
ai não chove, a gente perde a colheita, ai vai sofrendo, sofrendo... E não consegue mais pagar o
Banco. Ai a gente para de plantar, e compra tudo que plantava antigamente, fica mais barato.
Mas tem outro problema: o clima. O clima mudou. Mas esses gaúchos, essas pessoas que
plantam em terra muito grande tem lucro. Para eles, não tem tempo ruim. Mas antigamente a
gente também produzia bastante, tinha mais água, agora a água tá pouquinha. Acho que é por
causa da desmatação e dessas lavouronas porque tiraram as árvores. O problema são esses
gaúchos, eles vem pra cá e só plantam soja. Planta e colhe soja o ano todinho, cheio de
máquina. Eu nem conheço o dono.

Antigamente, é que era bom, a gente ia todo mundo para a roça de um, trabalhava, depois ia
para de outro no outro dia. Agora, é cada um pro lado. Hoje num tem mais amizade. Hoje todo
mundo quer modernizar e comprar máquina. Antigamente, tudo era diferente, o meu pai
viajava de carro de boi para buscar o sal, levava um mês para ir e voltar, era uma vez por ano
que ia. O sal era a única coisa que comprava. Fazia tudo em casa, até o sapato e a roupa. Eu
lembro de usar sandália de couro feita em casa. A roupa, era feita com o algodão plantado por
aqui, juntava uma roda de 8, 10 mulheres e ficavam fiando e cantando. Era bonito. Naquele
tempo tinha mais Paz.

(Trecho da entrevista com a Sra. Maria do Carmo - ver fotografia 5 -, 57 anos. Agricultora
familiar do Núcleo Agrícola de São Bernardo, DF)22

22 A entrevista com a Sra. Maria do Carmo foi feita exclusivamente para ilustrar a dissertação.

48
Fotografia 5: Da. Maria, Núcleo Agrícola São Bernardo/DF

Fotografia 2: Embalagem de agrotóxico, Núcleo Rural da Taquara/DF

49
Fotografia 3: Degradação do solo, Unaí/DF

Fotografia 4: Estufa de Pesquisa agronômica, Waggeningen/ HOL

50
4. DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

Tendo em mente o processo de desenvolvimento rural, fica óbvia a necessidade de se criar ações que
intervenham nas relações sociais e na relação do homem com os recursos naturais, visando a
melhoria da qualidade de vida23 em nossa sociedade. O objetivo final deve ser a construção de um
modelo de desenvolvimento rural sustentável.

Antes de discorrer sobre desenvolvimento rural sustentável é necessário fazer algumas importantes
considerações:

A transição a um desenvolvimento sustentável exige modificar padrões de produção e de consumo


através de políticas públicas, devendo ocorrer em um ambiente de sintonia entre as mudanças dos
movimentos endógenos dos atores institucionais sociais e políticos.

Ao usar a noção de "desenvolvimento rural", supõe-se uma oposição espacial entre o urbano e o
rural, quando na verdade, deve ser parte integrante de uma única dinâmica. Uma dinâmica sistêmica
de desenvolvimento (VEIGA, 1997).

Numa sociedade crescentemente integrada economicamente e fortemente urbanizada como o Brasil,


os problemas da agricultura tendem a ser cada vez menos visualizados como problemas rurais e não
se resolvem apenas no campo. Isso implica em que a progressiva reconversão ecológica da
agricultura brasileira não poderá se efetivar de forma independente da matriz global do
desenvolvimento. “Resulta daí que qualquer projeto sustentável para o conjunto da agricultura não
terá vigência nem se consolidará sem que se inicie desde logo um processo orientado de ajustamento
das políticas macroeconômicas e agrícolas para as camadas, até então mais desfavorecidas. (WEID &
ALMEIDA, 1997)

23 O conceito de qualidade de vida, ainda que possa resultar abstrato, guarda relação com a capacidade que todos os
integrantes das diversas famílias de uma comunidade possam satisfazer seu conjunto de necessidades biológicas, bio-
psicológicas, psicológicas, psico-sociais e sociais, assim definidas:
Necessidades sociais: liberdade e meio ambiente sano;
Necessidades psico-sociais: participação e identidade;
Necessidades psicológicas: entendimento espiritual;
Necessidades biopsicológicas: recreação, afeto, criatividade e trabalho e
Necessidades biológicas : Saúde , alimentação, vestimenta e moradia.

51
O termo sustentabilidade está baseado nos critérios distintos de sustentabilidade parcial organizados
por Sachs (2000):
(1)Social: alcance de um patamar razoável de
homogeneidade social; distribuição de renda justa;
emprego pleno e/ou autônomo com qualidade de vida
decente e igualdade no acesso aos recursos e serviços
sociais.
(2) Cultural: mudanças no interior da continuidade
(equilíbrio entre respeito à tradição r inovação);
capacidade de autonomia para elaboração de um projeto
nacional integrado e endógeno (em oposição às cópias
servis dos modelos alienígenas) e autoconfiança
combinada com abertura para o mundo.
(3) Ecológica: preservação do potencial do capital
natureza na sua produção de recursos renováveis e limitar
o uso dos recursos não-renováveis.
(4) Ambiental: respeitar e realçar a capacidade de
autodepuração dos ecossitemas naturais.
(5) Territorial: configurações urbanas e rurais balanceadas
(eliminação das inclinações urbanas nas alocações de
investimentos; melhoria do ambiente urbano; superação
das disparidades inter-regionais e estratégias de
desenvolvimento ambienatlmentes seguras para áreas
ecologicamente frágeis (conservação da biodiversidade
pelo ecodesenvolvimento).
(6) Econômico: desenvolvimento econômico intersetorial
equilibrado; segurança alimentar; capacidade de
modernização contínua dos instrumentos de produção;
razoável nível de autonomia na pesquisa científica e
tecnológica e inserção soberana na economia
internacional.

A conferência "Rio-92" adotou o seguinte significado para desenvolvimento sustentável: "a


possibilidade de satisfazer as necessidades da geração atual sem que isso impeça que as gerações
futuras possam satisfazer as suas". Os países, classes e economias dominantes se apoderaram do
termo, afirmando que tal desenvolvimento poderia ser alcançado com o incremento e a livre ação do
mercado. Preocupadas, as Organizações Não Governamentais (ONG's) ligadas à agricultura,
reunidas em fórum internacional (a Eco 92), definiram por exemplo agricultura sustentável como
"aquela ecologicamente correta, economicamente viável, socialmente justa, culturalmente adaptada e
que se desenvolve como um processo, numa condição democrática e participativa"(LEROY, 1998).

52
Segundo o Consórcio Latino Americano sobre Agroecología y Desarrollo (CLADES), o
desenvolvimento rural sustentável significa
“una articulación innovadora, que sume los recursos
gubernamentales a los esfuerzos nacidos en la base social,
puede potenciar la transición desde la pobreza extrema a
una subsistencia digna, asociable con una capacidad de
consumo muy superior a la de la línea de la pobreza;
puede permitir que en número cada vez mayor de
productores interactuen de manera rentable con el
mercado sin deteriorar sus recursos productivos
aumentándose así la franja de productores viables y; puede
facilitar la transición a un manejo agroecológico de los
sistemas productivos y de los recursos naturales de una
micro-región o micro-cuenca (YURJEVICK, s/d).

53
4.1. AGRICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL: CONCEITOS

Um dos caminhos para a construção de um modelo de desenvolvimento rural sustentável no Brasil é


através da ampliação, viabilização e fortalecimento da agricultura familiar24 e a promoção de uma
tecnologia ecológica que conserve os recursos naturais. Ou seja, verifica-se a necessidade de
promover uma nova agricultura familiar, uma agricultura familiar sustentável no Brasil.

O mais importante instrumento de ampliação da agricultura familiar no Brasil, é a realização de uma


Reforma Agrária em todas as Unidades da Federação. Para torná-la viável e fortalecida é necessário
que o Estado atue no campo responsabilizando-se pelos itens básicos de cidadania e alargando os
grandes gargalos que dificultam o seu desenvolvimento e por fim, que haja promoção de uma
tecnologia ecológica e adaptada para a agricultura familiar.

A construção de um novo projeto para o campo, que tenha a agricultura familiar como modelo e a
Reforma Agrária como forma de incluir milhões de excluídos à produção, é um dos poucos
caminhos para se alcançar a geração de emprego em massa, pois é a base para o fortalecimento da
sociedade civil na área rural. Além disto, é considerada como o principal agente propulsor do
desenvolvimento comercial e, consequentemente, dos serviços nas pequenas e médias cidades do
interior do Brasil. Quando ampliada, viabilizada e fortalecida, a agricultura familiar tem a capacidade
de aquecer a economia dessas cidades pela base. Ao gerar poder de compra, que possibilita o
consumo de bens duráveis e não duráveis nos comércios locais, gera renda e emprego também nestes
estabelecimentos, e por consequência, empregos e renda nas indústrias. Por isto, estabelecer um
projeto de desenvolvimento municipal ou mesmo regional, baseado na agricultura familiar
sustentável é objetivar o aquecimento da economia de um grande número de municípios brasileiros.
Assim, o desenvolvimento com distribuição de renda no setor rural viabilizaria e sustentaria o
desenvolvimento do setor urbano (MAGALHÃES, 1997 e CONTAG, 1999).

Segundo os anais do 7o Congresso Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais(1999.), a


Reforma Agrária é o principal instrumento político para a ruptura do atual modelo de
desenvolvimento. É um instrumento essencial para promover o desenvolvimento democrático da

24 A agricultura familiar aqui referida é a mesma definida no capítulo anterior.

54
agricultura e o resgate da cidadania para milhões de famílias de trabalhadores rurais. A
democratização da propriedade da terra impulsiona a democratização do poder político, econômico e
social. Promove a geração de emprego e ocupação produtiva para todo um segmento sem alternativa
de inserção social e produtiva (CNTR, 1998).

A Reforma Agrária é uma medida que distribui renda, democratiza o poder no meio rural e
no país por conseqüência, cria emprego e produz alimentos à custo barato para a população
mais pobre deste país. Quando se desapropria um latifúndio, se criam várias propriedades
que nós denominamos agricultura familiar, a partir daí estaremos produzindo mais alimentos,
mais baratos. É preciso dizer também que os principais alimentos que hoje a população mais
pobre do país consome são produzidos nas áreas de 1 a 100 hectares, como o arroz, o milho,
o feijão, hortaliças, frutas e o leite. Então, a Reforma Agrária hoje só traz vantagens para o
povo brasileiro. Não só para os trabalhadores e trabalhadoras rurais sem-terra, traz
benefícios para a população do país como um todo.

Sem a Reforma Agrária, não há como eliminar a pobreza rural, e não há como evitar que os
grandes proprietários de terra continuem tendo acesso privilegiado ao dinheiro público e às
decisões nas políticas agrícolas. Por essa razão é que o artigo 184 da Constituição Federal
determina ao Estado brasileiro realizar Reforma Agrária, ou seja, que o Estado intervenha e
promova a desconcentração da propriedade rural mediante a desapropriação daquelas que
não cumprem sua função social. Desta forma, não se pode pensar a Reforma Agrária como
um fim em si mesma, ela tem que ser um instrumento de implementação de concepção do
desenvolvimento rural sustentável no Brasil.

(Trecho da entrevista com Sebastião Neves Rocha, diretor da Secretaria de Política Agrária e
Meio Ambiente da Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura- CONTAG).25

Ao se defender a realização de uma Reforma Agrária efetiva em nosso país, é bom explicitar que,
muito além de uma luta ideológica ou por justiça social, está se apontando para uma alternativa
concreta para o desenvolvimento rural sustentável. Mas esta Reforma Agrária tem alguns aspectos
essenciais. Deve ser compreendida como um fator estratégico fundamental para todo o país, deve
garantir aos agricultores, além de terra, políticas agrícolas adequadas à sua realidade, acesso ao
crédito, aos recursos hídricos, à assistência técnica, infra-estrutura produtiva e social e capacitação de
recursos humanos. Além disso, a terra não deve ser parcelada imediatamente, para garantir a
autonomia dos assentados na discussão da melhor forma de potencializar todos os recursos naturais
e humanos existentes, a partir da compreensão de que o imóvel é uma unidade produtiva e que deve

25 A entrevista com o Sr. Sebastião Neves Rocha foi feita especificamente para ilustrar a dissertação.

55
estar integrado ao processo de desenvolvimento do município e da região onde está localizado. Para
isto, a implementação do processo de Reforma Agrária deve contar com a co-responsabilidade dos
poderes federal, estaduais e municipais (SANTANA, 1994).

Desta forma, não seria uma Reforma Agrária de "faz-de-conta", que divide terras e miséria, que
resulta em pequenos proprietários isolados, descapitalizados, tornando-se impotentes diante das
regras do mercado capitalista e das condições naturais de cada região. Por isto, é importante analisar
a questão da Reforma Agrária através da definição de agricultura sustentável - "aquela
ecologicamente correta, economicamente viável, socialmente justa, culturalmente adaptada, que se
desenvolve como um processo, numa condição democrática e participativa"26. Pode- se arriscar a
seguinte formulação:

[...] a) cada assentado, cada agricultor familiar que tenha a


sua propriedade titulada, homens, mulheres, jovens, cada
assentamento ou área ocupada pela agricultura familiar
também atingida pela Reforma Agrária, quando
consolidadas as posses e os milhares de assentamentos e
núcleos rurais em conjunto,
b) possam garantir a sua vida, como seres humanos, como
membros de organização (ões) e coletividade (s) local (is)
e cidadãos pertencendo a uma coletividade territorial
nacional, ...
c) por uma luta e uma ação de preservação do meio
ambiente em que vivem (sustentabilidade ambiental), de
uso dos recursos naturais de tal forma que garantem a
continuidade da sua produção no longo prazo e a
manutenção da biodiversidade (sustentabilidade
ecológica), de qualidade de vida, com dignidade e
segurança (sustentabilidades econômica e social), de
possibilidade de exercício da cidadania (sustentabilidade
política),...
d) estendendo essa luta e essa ação à escala da região e do
país e criando assim condições para que as futuras
gerações possam continuar a construir um país e uma
sociedade em que haja condições para cada ser humano
viver com dignidade e felicidade (LEROY, 1998).

Diante da discussão sobre Reforma Agrária/agricultura familiar sustentável, fica evidente que além
da Reforma Agrária para ampliar a agricultura familiar, o Estado deve atuar de forma enfática para

56
viabilizar e fortalecer a agricultura familiar. Sobre a viabilização da agricultura familiar, é necessário
que o Estado atue se responsabilizando pelos itens considerados, por Buarque (1994), como aqueles
que asseguram a todos os habitantes do planeta dignidade. São eles, (1)alimentação mínima
necessária, (2)educação e (3)saúde básicas,(4) endereço limpo27, (5)transporte entre o trabalho e a
casa28 e (6)um sistema judicial e de segurança para todos (ver fotografia 1). Justamente os itens que
estão na pauta de luta por política social dos diferentes movimentos de trabalhadores rurais Sem
Terra, dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais e das associações de agricultores familiares do Brasil.
Buarque (1994), ainda afirma que "os itens educação, saúde, endereço limpo e justiça devem ser
ofertas públicas e dependentes apenas de decisões políticas e limites financeiros, já os itens
alimentação e transporte, o Estado deve intervir para facilitar a eficiência necessária ao atendimento
cuja oferta e distribuição é basicamente privada" (BUARQUE, 1994).

Os principais gargalos que impedem o fortalecimento da agricultura familiar devem ser alargados. Ou
seja, problemas relacionados com a falta de acesso aos insumos, materiais genéticos e máquinas e
implementos ecologicamente viáveis e adaptados à sua realidade; dificuldade de produzir sem
destruir os recursos naturais e incompatibilidade da ciência e a tecnologia com sua real necessidade e
dificuldade de agregar valor à sua produção e viabilizar sua comercialização devem ser resolvidos a
partir da ação do Estado, através de suas políticas públicas29.

A estratégia agroecológica aponta um caminho concreto para promoção de uma tecnologia ecológica
e adaptada para a agricultura familiar. Para produzir alimentos saudáveis, em terras sãs, a manutenção
da saúde do solo e da água deve ser a meta primordial do trabalho agrícola. Tal afirmação tem
fundamento, pois em uma floresta natural, a terra está coberta por uma vegetação espontânea. O
desenvolvimento aéreo das plantas é devolvido á superfície do solo onde é decomposto,
incorporando-se ao mesmo. O sistema radicular também contribuí na acumulação de matéria
orgânica, bem como os restos de quantidades incalculáveis de micro e macro organismos. As copas

26 Definição segundo o tratado das ONG`s na ECO 92.


27Com água potável, saneamento básico, coleta de lixo, fornecimento de eletricidade e viabilização de formas de
comunicação.
28 No caso da agricultura familiar o transporte deve ser para as escolas, para os hospitais, e para a comercialização de seus

produtos.
29 A problemática que envolve os gargalos que impedem o fortalecimento da agricultura familiar é discutida mais adiante,

57
das árvores protegem a superfície do solo contra o impacto das gotas de chuvas, do vento e da
insolação. A natureza esponjosa e solta dos solos propicia uma máxima absorção de água. Os
recursos hídricos, como o lençol freático, nascentes, rios e riachos, estão também protegidos
(PRIMAVESI, 1984 e WEID & ALMEIDA, 1997).

Na agricultura convencional, após a derrubada da mata e/ou queimada, as terras normalmente são
cultivadas sem considerar sua verdadeira aptidão agrícola, sem tomar as medidas necessárias de
conservação e manejo adequado, cultivando culturas em linhas espaçadas, utilizando sistemas de
exploração esgotadoras do solo, caracterizados pela excessiva movimentação, falta de cobertura e
rotação de culturas e eventualmente com queima de resíduos culturais. A terra nua é a terra sem
proteção. A terra desprotegida está sempre exposta ao sol e ao vento, que a ressecam. Quando vem a
chuva forte e encontra a terra desprotegida e ressecada, não penetra, passa por cima arrastando a
matéria orgânica que fica em sua superfície e o próprio solo (ocorrendo a erosão e a lixiviação). Os
microorganismos e minhocas que vivem na terra, responsáveis pela fertilidade natural dos solos,
morrem, pois não sobrevivem em solos quentes e sem umidade e matéria orgânica(PRIMAVESI,
1984).

Uma importante forma de proteger o solo e sua umidade e a matéria orgânica é fazer a cobertura
morta, que é a cobertura do solo com uma camada de material vegetal morto colocada por cima da
terra. Este material vegetal pode ser bagaço de cana, palha de milho, resto de grama, casca de arroz,
palha de feijão e folhas. A cobertura morta ajuda a manter a umidade do solo, não deixando o solo
ficar ressecado, nem deixa crescer muito mato, protegendo a matéria orgânica do solo e assim,
quando chove a água penetra mais facilmente, não ocorrendo erosão. Com o tempo, esta cobertura
se decompõe, se transforma em nutrientes para o solo e aumenta a atividade biológica do solo. Além
da cobertura morta, o solo deve estar sempre coberto com plantações ou com vegetação nativa, que
pode ser chamada de cobertura viva (ver fotografia 2). De preferência, com plantas que tenham
profundidades e formatos de raízes diferentes, formando uma rede protetora do solo. A cobertura
viva protege o solo da erosão de uma forma geral, e no caso das margens dos rios, evita que a terra
desbarranque para a água. Em plantações anuais, se faz cultivo mínimo, com plantio direto ou uma
discagem bem superficial. Caso haja necessidade de romper-se a camada de solo compactado,

através do relato de experiências locais.

58
existente devido a sucessivas arações, pode-se fazer com plantas que tenham raízes profundas e
agressivas30 (KIEHL, 1985 e MONEGAT, 1991).

As plantas consideradas "invasoras" ou "daninhas" não devem ser erradicadas, mas sim manejadas.
Além de protegerem o solo e auxiliarem na sua estruturação, têm a capacidade de concentrar em seus
tecidos minerais existentes no solo apenas em traços. Outra importante preocupação é que as linhas
de plantação, quaisquer que sejam, devem ser feitas acompanhando as curvas de nível do terreno. A
curva de nível é traçada cortando o sentido de maior inclinação do terreno, no sentido contrário ao
caminho da chuva, de maneira a impedir que a água da chuva forme enxurrada, lavando a terra. Com
os canteiros orientados pela curva de nível31, a água das chuvas fica presa entre eles, e com ajuda da
cobertura morta e viva, penetra no terreno.

Para um bom manejo ecológico do solo, é sempre necessário haver adubação com matéria orgânica
(ver fotografia 3). Esta, que veio em última instância do solo, a ele retorna transformando-se em
nutriente, o qual é assimilado pelas plantas, completando assim, o CICLO DA VIDA. O solo é um
sistema vivo. Nele, são encontrados milhares de microorganismos vivos e pequenos animais,
intimamente associados com a fração orgânica, a qual lhes fornece energia e nutrientes. A
incorporação de matéria orgânica ao solo intensifica a atividade biológica. Tal atividade é provocada
por organismos que vivem nos solos, que são agentes ativos da decomposição e podem ser
classificados em microscópicos (microflora - bactérias, fungos actinomicetos e algas e microfauna -
protozoários, nematóides e infusórios) e macroscópicos (formigas, minhocas, centopéias, aranhas,
besourinhos, lesmas e caracóis). A natureza predominante, o número, as espécies e o grau de
atividade dos agentes ativos da decomposição são conseqüência da qualidade e quantidade de
materiais que servem de alimento, das condições físicas (textura, estrutura e umidade) e químicas
(quantidades de sais, nutrientes e pH) encontrados nos solos(PRIMAVESI, 1984).

Para que a matéria orgânica possa fornecer nutrientes às plantas ela necessita sofrer um processo de
decomposição microbiológica, acompanhada da mineralização dos seus constituintes orgânicos. Ao
se decompor, ela gera compostos minerais assimiláveis pelas plantas. Por isto, ao incorporar resíduos

30 As plantas mais usadas neste caso são as mucunas e o feijão de porco.


31Para marcar as curvas de nível, pode-se usar instrumentos simples e fáceis de fazer e trabalhar, como o "pé-de-galinha"
e o nível de mangueira

59
de plantas ou animais ao solo, se as condições de umidade e aeração forem favoráveis e houver a
presença de microorganismos, haverá inicialmente uma rápida decomposição que decrescerá com o
tempo. O resultado da intensa digestão da matéria orgânica é a liberação de elementos químicos que
estarão disponíveis para as plantas. As plantas, até hoje sabe-se disto, necessitam de 16 elementos
químicos essenciais para sua "alimentação", subdivididos em 2 classes, macronutrientes e
micronutrientes. Nem todos os nutrientes, são obtidos do solo, pois hidrogênio(H) e o oxigênio(O)
são do ar e da água. Todavia, todos estão presentes na matéria orgânica, e tornam-se disponíveis a
partir de sua decomposição (PRIMAVESI, 1984; SIQUEIRA, 1993 e SIQUEIRA, 1994).

A incorporação da matéria orgânica ao solo tem outras importantes vantagens. Segundo KIEHL
(1985), um dos efeitos da matéria orgânica sobre as propriedades físicas do solo, é a redução do
impacto do peso de máquinas grandes, ou melhor, há uma diminuição do efeito da compactação,
porque há uma contribuição para a agregação e estruturação do solo32. A estruturação do solo, é
importante para defendê-lo contra a erosão, isto porque os agregados, tendo maior tamanho que as
partículas que as constituem (areia, silte e argila), são mais difíceis de serem arrastados pelas
enxurradas. Com uma boa agregação no solo e conseqüente estruturação, há uma relação equilibrada
de drenagem, retenção da água e aeração, pois o solo, possui microporos e macroporos. Nos
macroporos, deve estar o ar (O2) e nos microporos, a água. Desta forma, quando chove ou quando
se irriga uma área, a água passa pelos macroporos e permanece nos microporos. A água dos
microporos é que é a água disponível para as plantas e que será absorvida com os nutrientes que
nelas estão (KIEHL, 1985; MARCOS, 1968 e MOZART, s/d).

Outro fator importante do uso da matéria orgânica, é que ela tem a capacidade de ser corretiva da
acidez e controladora da toxidez33. A matéria orgânica humificada contribui para o solo ácido ficar
com o pH mais favorável às plantas, possui também uma propriedade denominada poder tampão,
que é a resistência que uma substância possui contra uma mudança brusca de pH34.Além disso, a

32 A matéria orgânica tem função de agente cimentante entre os agregados.

33Substância tóxica, é aquela capaz de causar danos às plantas, podendo chegar a causar sua morte. A toxidez pode ser causada
por elevada concentração salina, como também por quantidades relativamente pequenas dos chamados metais pesados. O
controle da toxidez, é geralmente feito pela aplicação de fertilizantes orgânicos devido á propriedade do húmus em fixar,
complexar ou quelar esses elementos.
34 A acidez é um dos fatores que limitam a absorção de nutrientes como o fósforo e o potássio.

60
matéria orgânica eleva a superfície específica do solo, ou seja, faz com que o solo adquira uma
elevada superfície de exposição. Em conseqüência, a capacidade de adsorsão de nutrientes e
fornecimento destes às plantas é elevada, além do aumento da capacidade de retenção de água
(PRIMAVESI, s/d).

Experimentos mostram que o húmus estimula a alimentação mineral das plantas, o desenvolvimento
radicular, diversos processos metabólicos, a atividade respiratória, o crescimento celular e a formação
de flores em certas plantas. Apesar da lei da alimentação mineral das plantas de Liebig35 demonstrar
que estas vivem exclusivamente de sais minerais, está provado que as raízes podem absorver e
metabolizar várias substâncias orgânicas fisiologicamente ativas como compostos húmicos, ácido
fenolcarboxílico e aminoácidos. Com a adubação orgânica, há liberação dos nutrientes aos poucos,
não em sua totalidade, pois ficam alojados nos interstícios da matéria orgânica ainda em
transformação e se desprendem pouco a pouco. Esta liberação segue as diretrizes da mudança na
composição química do adubo e obedecem às necessidades imediatas das raízes. Além disto, os
nutrientes não são sumariamente "lavados e carregados" durante a irrigação, tendo portanto a
vantagem de fornecer o "alimento" das plantas bem dosado e por mais tempo (KIEHL, 1985 e
PRIMAVESI, 1980, 1984 e 1990).

A maioria dos agentes de decomposição está associada naturalmente à matéria orgânica e é benéfica
às plantas, exercendo importantes funções, como a decomposição de resíduos orgânicos e
transformações em nutrientes assimiláveis pelas plantas. A matéria orgânica no solo, favorece o
equilíbrio de microorganismos, e isto é muito importante, pois se houver um desequilíbrio a favor de
um microorganismo, este poderá ser patógeno e causar alguma doença na planta(ALTIERE, 1989).

35 Até o ano de 1842 praticamente, todos os adubos aplicados ao solo eram de origem orgânica, só após essa data,

com o lançamento da Teoria Mineralista de Liebig é que surgiram os fertilizantes minerais (Liebig cultivou uma
planta a partir da semente em solução de sais minerais). Esta nova teoria revolucionária, ameaçava derrubar a teoria
humista (afirmava que as plantas obtinham seu carbono a partir da matéria orgânica do solo), que até então vigorava.

61
Uma outra forma de oferecer matéria orgânica ao solo, é através do composto orgânico,
que aqui é explicado por meio de uma preciosidade da Literatura de Cordel:

A nossa mãe Natureza Agora vai a receita


É dotada de riqueza Para, de forma perfeita
Repare que coisa exata: O adubo preparar:
Cada folhinha que cai O mato que foi cortado
Vira adubo e logo vai Coloque bem arrumado
Fazer crescer mais a mata. Cada um no seu lugar.

Copiando essa lição Vá fazendo as camadas


Toda nossa plantação Com as coisas encontradas
Pode muito melhorar Bem fácil, na região
Basta estar bem dispostos Folha, sabugo, capim
E fazer logo um composto Estrume lodo e assim
Para a terra adubar. Cinza e palha de feijão.

O composto verdadeiro Lembrando de aguar


É um jeito bem ligeiro E ainda revirar
Do pau ser produzido Tendo o monte preparado
Numa grande quantidade O adubo aparece
Sendo a sua Qualidade A plantação logo cresce
Um negócio garantido E o lucro é dobrado.
(MONTEIRO, 1989)

Pode-se dizer, portanto, que a matéria orgânica atua diretamente na biologia do solo, constituindo
uma fonte de energia e de nutrientes para os organismos que participam de seu ciclo biológico,
mantendo o solo em estado de constante dinamismo e exercendo um importante papel na fertilidade
e na produtividade das terras. Indiretamente, a matéria orgânica atua positivamente no solo por seus
efeitos nas propriedades físicas, químicas e biológicas, melhorando as condições para a vida vegetal.
Daí a justificativa para sua classificação como melhoradora ou condicionadora do solo (RUELLAN,
1998).

62
Os produtores agroecológicos atualmente desejam a obtenção adequada de nitrogênio e a
manutenção de altos níveis de matéria orgânica no solo para garantir a máxima produtividade.
Acreditam que a quantidade de matéria orgânica no solo está altamente correlacionada à sua
produtividade e ao controle da erosão. Por isso, eles freqüentemente aplicam esterco e usam
adubação verde36 e plantas para cobertura com o intuito de manter a matéria orgânica do solo. São
conclusões sobre o uso da matéria orgânica por esses agricultores, que elas não agridem as raízes, e
não se deixam levar facilmente pela águas. Mas é importante destacar que o uso da matéria orgânica
na agricultura não é novidade. Desde o homem primitivo, houve uma procura por terras ricas em
matéria orgânica. No Antigo Egito, a terra mais disputada era aquela situada as margens do Rio Nilo;
em determinadas épocas do ano o rio transbordava, levando a matéria orgânica em suas águas e
depositando-as nas áreas inundadas.

Os fenícios no Oriente e os Incas no Ocidente, descobriram que plantando em terraços, impediam as


perdas de terras e matéria orgânica. Os índios Maias na América, ao plantar milho, colocavam um ou
mais peixes nas cova, oferecendo-os aos Deuses; com isso realizavam, uma adubação orgânica com
matéria prima de fácil decomposição e rica em nutrientes (principalmente o fósforo e o nitrogênio).
No oriente, a prática da adubação orgânica realizada pela restituição ao solo dos restos de cultura e
pela incorporação de estercos e camas animais, vem sendo realizada há muitos séculos. Na Velha
Roma, os filósofos deixaram escrito que algumas práticas agrícolas, tais como, "estercação", calagem,
adubação verde, rotação de culturas e cobertura morta eram comuns.

Na idade média, a agricultura era praticada pelo sistema feudal em que as terras pertenciam aos
nobres, mas eram cultivadas por seus vassalos, que não tinham interesse de fertilizar as terras alheias.
Ocorreu assim esgotamento dos solos, perdas de matéria orgânica e erosão. Daí essa época, ser
classificada como a Idade Decadente da Agricultura. A partir dos séculos XV e XVI, grande parte das
terras passou a pertencer aos próprios agricultores, que nela trabalhavam e melhoravam as condições
dos solos usando fertilizantes orgânicos, farinhas de osso e cinzas de calcário (KIEHL, 1985).

36 A adubação verde, é a incorporação, ao solo de matéria vegetal verde oriunda de plantas de diversas famílias, cultivadas

para este fim. Faz-se normalmente adubação verde com plantas leguminosas, gramíneas e crucíferas, porém as mais
estudadas e utilizadas são as leguminosas. As leguminosas ainda tem uma grande vantagem, elas facilmente se associam
simbioticamente com bactérias conhecidas como Rhizobhium (ou rizóbio), que absorvem o nitrogênio do ar e depois
fixam-no ao solo.

63
Para que ocorra um equilíbrio no agroecossistema, a diversificação e a interação de espécies animais e
vegetais é de extrema importância, sendo que a ausência de qualquer um de seus componentes pode
acarretar um desequilíbrio ecológico (ver fotografia 4). Uma outra vantagem da diversificação é que
ocorre a ciclagem de nutrientes entre as diferentes espécies, e o conseqüente aproveitamento máximo
dos recursos naturais. A diversificação de espécies em um agroecossistema pode ser feita pela
rotação e consórcio de culturas, barreiras vegetais, adubação verde, integração da produção animal à
vegetal e agrofloresta (DOVER, 1992).

A rotação de culturas consiste em um planejamento racional de plantações diversas, alterando a


distribuição no terreno em certa ordem e por determinado tempo. Por serem plantas diferentes,
possuem sistemas radiculares que penetram na terra em busca de água e nutrientes em diferentes
profundidades de horizontes, removendo-os (GLIESMAN, 1996a).

O consórcio de culturas é o plantio de diferentes espécies vegetais, simultaneamente sobre uma


mesma área. Além da associação entre cultivos comerciais, o consórcio pode ser feito também com
leguminosas para adubo verde e cultivos comerciais. As plantas podem interferir uma sobre as
outras, seja de forma positiva, estimulando a velocidade de crescimento, aumentando o tamanho e a
qualidade dos frutos, e a resistência à pragas e doenças, ou negativa, inibindo ou retardando o
crescimento. Estas interferências ocorrem através da secreção das raízes, exsudação ou
decomposição das folhas, disputa das raízes por um mesmo nível de solo, ou disputa por
luminosidade. O consórcio de culturas pode contribuir no controle de pragas através do uso de
plantas "iscas"37 preferidas pelos insetos, que aí se concentrarão, facilitando seu extermínio. Ou,
ainda, pelo plantio de vegetais repelentes a determinados insetos, principalmente ervas aromáticas
(ALTIERE, 1989 e GLIESMAN, 1996b).

O vento resseca o solo e pode quebrar as plantas, ou parte delas. Para proteger a plantação do vento,
além da cobertura do solo, faz-se barreiras com plantas vivas, normalmente de porte alto. Estas
barreiras são chamadas de quebra-vento, pois direcionam o vento para cima, não deixando passar
rasteiro. Pode-se fazer barreiras com árvores que servem como adubo verde e lenha (leucena, angico,
acácia), com frutíferas (banana, goiaba, laranja) e com plantas que o gado pode se alimentar (guandu,

37 Plantas iscas podem ser aquelas consideradas "daninhas", que são normalmente eliminadas pelos herbicidas ou

retiradas pela capina.

64
cana-de-açucar, leucena). Outras importantes vantagens da barreira vegetal é que ela pode ser uma
barreira para determinadas doenças de plantas e pragas e usada a sua "poda" para adubar a terra (em
compostos e cobertura morta).

A adubação verde, além de fazer parte da diversificação de um agroecossitema, é um excelente


adubo, pois além de proteger o solo, pode ser a ele incorporado. Quando a adubação verde é feita
com leguminosas sua associação com bactérias do gênero Rhizobium, proporciona a fixação de
nitrogênio do ar no solo, reduzindo dramaticamente o consumo de adubo sintético nitrogenado, e
por conseqüência a poluição do solo e água (LEONARDOS, 1998).

A integração da produção animal à vegetal em um agroecossistema é fundamental, pois os restos


vegetais podem alimentar os animais e seu esterco e urina podem ser utilizados como adubo de alta
qualidade. Mas a produção animal em sistema agroecológico deve levar em conta algumas questões,
tais como o não confinamento do gado, diversificação de ração, uso de rações produzidas na
propriedade sem hormônios e antibióticos, rotação de pastagens e medicina veterinária preventiva e
natural (PRIMAVESI, 1985 e VENEGAS, 1996).

Um outro manejo extremamente importante da agroecologia é a agrofloresta. Segundo Amador


(1999), os sistemas agroflorestais são formas de manejo da terra em que as espécies agrícolas e
florestais são plantadas e manejadas em associação, segundo os princípios da dinâmica natural dos
ecossistemas. Representam a interface entre a agricultura e a floresta, e otimizam a produção através
da conservação do potencial produtivo dos recursos naturais. Os princípios do manejo agroflorestal
incluem o conhecimento das características ecológicas e funcionais das espécies, a diversidade e a alta
densidade de plantas, a poda, a capina seletiva e a participação humana e animal na dinâmica das
agroflorestas. São sistemas regenerativos e análogos aos sistemas naturais, com grande potencial de
aliar a conservação ambiental à produção e viabilidade econômica, representando uma aproximação
real do ideal da sustentabilidade (AMADOR, 1999).

Existe um caminho para reduzir a população de organismos prejudiciais, ao nível em que ela já não
representa uma preocupação, nem é capaz de causar prejuízo. Este caminho é o controle biológico,
também simplesmente referido como biocontrole, que é o uso deliberado de organismos benéficos
(agentes) contra organismos prejudiciais (alvos). É, portanto, a disseminação de inimigos naturais

65
contra pragas ou ervas daninhas específicas. Insetos, bactérias, vírus, protozoários, fungos
nematóides, ácaros e insetos e até mesmo sapos e aves insetívoras podem ser utilizados no controle
biológico .

O controle biológico introduz um fator decisivo de mortalidade, capaz de fazer com que a população
de pragas retorne à sua situação primária, ou seja, a níveis populacionais não prejudiciais. Um projeto
de biocontrole não tem o objetivo de reintroduzir toda a complexidade e a diversidade do habitat
+natural, mas sim introduzir um ou alguns agentes fundamentais que proporcionem alta mortalidade
às pragas específicas38.

O controle biológico clássico envolve essencialmente a pesquisa para identificar inimigos naturais no
seu ambiente nativo, onde eles estão exercendo uma pressão reguladora importante sobre a praga.
Estes inimigos naturais são coletados e enviados ao país ou região onde, na sua ausência, a praga se
dissemina de forma explosiva. Aí, então, existe o problema de não ser sustentável, pois está se
importando o inimigo natural. Além do custo, corre-se o risco de, ao se introduzir uma determinada
espécie criar um outro tipo de desequilíbrio.

A erradicação de uma praga é considerada ambiciosa e raramente é conseguida. Além disso, um


inimigo natural que eliminasse completamente a sua presa ficaria sem alimento, consequentemente,
também se extinguiria. É mais desejável reduzir a população da praga a números que não signifiquem
uma preocupação, permitindo que alguns indivíduos persistam para garantir a sobrevivência dos
organismos controladores. Assim, esses organismos mantêm a sua população e impedem que a praga
volte a assumir níveis prejudiciais. Quando o agroecossistema está em equilíbrio este tipo de
condição acontece por que todas as populações de organismos, na natureza, sofrem restrições que
impedem seu crescimento ilimitado. Tais restrições podem acontecer por efeitos independentes do
tamanho das populações sobre as quais eles agem, ou seja, fatores independentes da densidade ou
por fatores dependentes da densidade(ALTIERE, 1989).

Nas comunidades naturais, existe uma rede de interações entre indivíduos de uma espécie (intra-
específica) e interespecífica. A competição intra-específica por recursos limitados de alimento e
espaço pode restringir uma população a um limite máximo de crescimento. Em comunidades

66
naturais, tanto a competição inter como intra-específicas desempenham papel regulador muito
importante(PRIMAVESI, 1988 e LIEBMAN, 1997).

Espécies diferentes, com necessidades semelhantes de recursos e pouco flexíveis, vão revelar um
grau mais elevado de competição, juntamente com a influência de inimigos naturais, determinando o
tamanho relativo das populações. Estas espécies que coexistem, cada uma com sua própria história
quanto à seleção natural, constituem as comunidades naturais. Dentro destas comunidades, os tipos
de espécies presentes e sua abundância são relativamente constantes de um ano para outro.

Por outro lado quando o solo é arado e uma nova e única cultura é introduzida, o habitat é alterado
drasticamente. Novas condições são apresentadas a cada indivíduo e estas podem ser favoráveis ou
não. Muitas espécies de animais e plantas desaparecem, enquanto outras são instantaneamente
estimuladas a crescer por causa dos recursos abundantes e do espaço aberto. A ausência de inimigos
naturais, e a competição reduzida de indivíduos de outras espécies, permitem que esta nova
população se expanda rapidamente. Por exemplo uma planta pode disseminar-se pelo solo,
competindo com a cultura e este comportamento a qualifica como erva daninha ou um animal que
em outras circunstâncias seria inofensivo aumenta em número drasticamente, tornando-se praga
(PRIMAVESI, 1984).

A conservação de todos os inimigos naturais é essencial, principalmente quando são nativos. Por isto
é extremamente importante a adoção de métodos agrícolas que estimulem estes inimigos naturais,
assim como banir o uso de inseticidas. O mais interessante é que haja no agroecossistema um
equilíbrio entre as presas e os predadores para que o controle seja natural. Em certas ocasiões, um
inimigo natural nativo ou exótico aparece sem a influência do homem e este fator é eficaz para o
controle de uma praga, a este fenômeno se dá o nome de controle biológico fortuito. Este tipo de
controle acontece com muita frequência, quando o agroecossistema está equilibrado (ALTIERE,
1989).

O manejo agroecológico favorece os processos naturais e as interações biológicas positivas,


possibilitando que a biodiversidade nos agroecossistemas subsidie a fertilidade dos solos, a proteção
dos cultivos contra enfermidades e pragas. Melhor dizendo, por meio de diversificação espacial e

38 Para ervas daninhas, o controle normalmente se baseia na criação de uma alta pressão de "pastejo" de insetos.

67
temporal do sistema de produção e do manejo ecológico dos solos, sustenta-se em seu interior um
equilíbrio e uma "infra-estrutura ecológica" que otimiza sinergias entre os seus diferentes
componentes, diminuindo a necessidade do aporte de insumos externos. Por exemplo, se existe
diversidade de insetos benéficos (predadores e parasitóides) nos sistemas produtivos, será menor a
possibilidade de desenvolvimento de pragas, eliminando a necessidade de uso de inseticidas. Se o
solo for biologicamente ativo, potencializa-se sobremaneira o processo de ciclagem de nutrientes,
minimizando a necessidade de fertilizantes sintéticos. A tecnologia utilizada nos sistemas
agroecológicos é multifuncional na medida em que promove efeitos ecológicos positivos, tanto no
que se refere à manutenção de bons níveis de produtividade quanto à conservação dos recursos
naturais, de forma a garantir a sua sustentabilidade ecológica (PETERSEN, 1999 e REIJNTES,
1994).

Segundo o Jornal Gazeta Mercantil (13/03/98), pesquisas realizadas por Centros Internacionais de
Pesquisa Agrícola, por universidades do Primeiro Mundo e por Organizações Não Governamentais
do Norte como do Sul, constataram que um outro padrão tecnológico de desenvolvimento agrícola,
conhecido como agroecologia, tem obtido resultados surpreendentes. Aumentos de produtividade da
ordem de 100 a 300% vêm sendo registrados em várias culturas, com custos mais baixos do que os
dos sistemas convencionais ou transgênicos e sem o uso de agrotóxicos ou fertilizantes químicos ou
sementes híbridas ou transgênicas. A agroecologia não só oferece produtos mais saudáveis e
nutritivos, mas também não polui o meio ambiente, preservando os recursos naturais e sendo
claramente mais sustentável do que os sistemas convencionais ou transgênicos. A matéria da Gazeta
Mercantil afirma que o mercado de produtos agroecológicos vem crescendo de forma considerável.
Há ainda uma estimativa de crescimento médio anual desse mercado em torno de 10% no Brasil.
Nos Estados Unidos, vem crescendo em uma taxa média de 20% ao ano, desde 1990, mas o
principal mercado para este tipo de produto ainda é a União Européia, para qual se estima um
crescimento de 25% nos últimos 10 anos (CIRCULAR RECOPA,1998).

A tecnologia agroecológica busca alternativas energéticas que não poluam, como por exemplo a
energia solar, a energia da força da água e do vento, pois tem um custo mais baixo (pelo menos, a
médio e longo prazos) e não polui. Desta forma, pode-se afirmar, que é uma agricultura que tem, a
médio e longo prazos, a capacidade de baixar custos. Além disso, as florestas, os rios e o lixo
orgânico, no enfoque agroecológico, são encarados como úteis e necessários para a propriedade. As

68
florestas são fornecedoras de matéria prima (lenha, madeira e frutos), auxiliando também na
manutenção do equilíbrio ecológico e paisagístico. Os rios são fontes de água, peixes e lazer. O lixo
orgânico pode ser transformado facilmente na propriedade em adubo de alta qualidade. Os
praticantes da agroecologia buscam ainda produzir sua própria semente agroecológica (mais
conhecida como semente orgânica), já que as comerciais, em sua larga maioria é melhorada
geneticamente para somente obter alta produtividade com o uso de todos os itens do "Pacote da
Revolução Verde". Outro importante motivo de se produzir as próprias sementes, é a independência
que o agricultor ou sua forma organizativa adquire em relação às grandes empresas do setor (SHIVA,
1991; BERTRAND, 1991; CASADO, 1997; ZAPATA, 1997 e SCHAFFER, s/d).

Cuando Gandhi creó el movimiento libre era el momento de la revolución industrial. India se
liberaba del poder colonial y ponia todas sus esperanzas en la rápida industrialización del país. El
símbolo de aquel movimiento era la hilandera, que se veia por doquier. Era una representación
poderosa de por donde quería ir el país. Hoy hemos cambiado y nuestro simbolo es la semilla
que, en el fondo, viene a representar un mensaje muy parecido. Nuestra riqueza depende de
cómo nos alimentemos y cómo nos protejamos culturalmente. Es nuestra defensa contra la
destrucción (SHIVA, S/D).

69
4.2. AGRICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL: EXPERIÊNCIAS

Para completar a discussão sobre agricultura familiar sustentável foram selecionadas e discutidas
experiências de administrações locais do Partido dos Trabalhadores (PT) nas prefeituras de vários
municípios brasileiros e no Governo do Distrito Federal39, de organizações não governamentais e de
movimentos sociais.

As experiências das prefeituras e do Distrito Federal são promovidas por quem possui vínculos
político-ideológicos com a classe trabalhadora e por isso, compromisso com o setor da agricultura
familiar. As outras experiências são de ONG's e movimentos sociais que possuem vínculo explícito
com a luta pela terra e/ou com a conservação dos recursos naturais e, por assim dizer, são
comprometidas programática e ideologicamente com um destes temas, ou com ambos. Estas
experiências foram selecionadas entre as experiências discutidas na Consulta Nacional de
Organizações Não Governamentais e Movimentos Sociais para a Rio + 5 - Setor Agricultura e as
experiências apresentadas no I Seminário Nacional sobre Reforma Agrária e Meio Ambiente40.

Tanto as experiências governamentais, como as não governamentais não são completas. Possuem
territorialidade, abrangência social (número de famílias), arranjos institucionais, grau de sucesso e
contextos sócio-econômicos diferenciados que possibilitam tirar algumas lições (sejam por "acertos"
ou "erros") para se superar as dificuldades de desenvolvimento da agricultura familiar e da
conservação dos recursos naturais. E em última instância lições para vislumbrar uma nova concepção
de desenvolvimento rural sustentável no Brasil.

39 As experiências governamentais foram coletadas no período de fevereiro a junho de 1998.


40A "Consulta Nacional de Organizações Não Governamentais e Movimentos Sociais para a Rio + 5" ocorreu em Fevereiro
de 1997 e o I Seminário Nacional sobre Reforma Agrária e Meio Ambiente, em Novembro de 1999. O Primeiro foi

70
MATÉRIAS PRIMAS, MÁQUINAS e IMPLEMENTOS e RECURSOS NATURAIS

PROJETO BALCÃO DE INSUMOS E PRODUTOS - Governo do Distrito Federal/ DF

Um dos entraves para o processo de consolidação da agricultura e da agroindústria familiar é a


dificuldade em adquirir máquinas e equipamentos de pequeno porte, utensílios, embalagens,
uniformes, material de higiene e limpeza e outros produtos. Este problema existe porque as
empresas/indústrias que produzem esses produtos vendem apenas em grandes quantidades.

O Projeto Balcão de Insumos e Produtos visa facilitar o acesso dos agricultores familiares aos
equipamentos para a agroindústria de pequeno porte e aos utensílios, embalagens, uniformes,
material de higiene e limpeza e outros produtos em pequenas quantidades. Para atingir seu objetivo o
projeto consiste na venda no varejo, a preços de mercado, o que normalmente só é vendido no
atacado. Ou seja a Secretaria de Agricultura compra no atacado. e vende nas quantidades compatíveis
com a pequena produção com prazo de pagamento. São três balcões: da agroindústria, da irrigação e
da agroecologia (CARVALHO, 2000).

PROJETO CAIXEIRO VIAJANTE - Governo do Distrito Federal/ DF

Os agricultores familiares que moram e trabalham em comunidades rurais distantes enfrentam, entre
muitos outros problemas, dificuldades para adquirir e transportar os insumos ou produtos de que
precisam para cultivar a terra. Sem meios para deslocar-se regularmente até às cidades,
impossibilitados de fazer o transporte de produtos em ônibus e sem renda suficiente para comprar
em quantidade e estocar os produtos, acabam reduzindo o plantio e a criação. Quando encontram,
em alguma comunidade, um pequeno armazém que vende alguns dos produtos de que necessita,
geralmente os preços são mais elevados do que os preços das lojas das cidades, o que encarece a
produção e diminui ainda mais a pequena renda.

promovido pelo Fórum Brasileiro de ONG's e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento e o segundo,
por este Fórum e pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo.

71
O Projeto Caixeiro Viajante tem como objetivo democratizar oportunidades, facilitando a compra de
insumos e outros produtos básicos da atividade agrícola no meio rural, especialmente entre os
agricultores familiares que não dispõem de transportes próprios; O Projeto contribui ainda para o
aumento da produtividade agrícola e da renda do agricultor familiar, principalmente do que mora em
locais distantes das cidades. Além disso possibilita ao agricultor familiar o acesso à inovações
tecnológicas.

Este programa consiste em produtos agropecuários comprados no atacado pela Secretaria e


revendidos no varejo ao agricultor por uma equipe do Departamento de Comercialização da
Secretaria de Agricultura. Esta equipe percorre as comunidades para pegar o pedido do agricultor,
que é atendido posteriormente no centro comunitário do lugar onde ele mora, em dia e hora
marcada (CARVALHO, 2000).

PROJETO MUDA -MERENDA - Prefeitura Municipal de União da Vitória / PR

Muitos municípios brasileiros tem problemas para abastecer suas escolas e creches com alimentos
produzidos nas suas próprias zonas rurais. Além disso, o Agricultor Familiar individual ou mesmo
através de suas organizações de comercialização, não têm acesso ao mercado institucional, pois a
legislação de licitações públicas, de uma forma geral, facilita o acesso das grandes empresas
atacadistas ou de comercialização e dificulta o acesso dos agricultores familiares.

O projeto Muda Merenda garante a produção de produtos nutritivos e a alimentação em escolas e


creches do município. Para alcançar estes dois objetivos, a Secretaria Municipal de Educação e Ação
Social repassa aos agricultores familiares mudas de erva mate, pinus e eucalipto (produtos comerciais
tradicionais do município) em troca de tubérculos e hortaliças dos agricultores e os utiliza na
merenda escolar e em creches municipais.

72
PROJETO TRAÇÃO ANIMAL ASSOCIADO À PATRULHA AGRÍCOLA - Prefeitura
Municipal de Itinga / MG

Muitas tarefas de campo são otimizadas se feitas com o emprego de máquinas e implementos
agrícolas mas, dificilmente os agricultores familiares e/ou suas organizações possuem todos os
recursos. Mesmo com o acesso à mecanização agrícola em muitas propriedades de agricultores
familiares não existe possibilidade do trator atender, em função de motivos diversos, como por
exemplo, a declividade do terreno. Por isto a Prefeitura de Itinga coloca à disposição dos agricultores
familiares um rodízio de patrulhas agrícolas (máquinas e implementos agrícolas) associada à tração
animal, que além de proporcionar benefícios imensuráveis para o agroecossitema tem baixo custo.

A Patrulha Agrícola tem diversas atividades, tais como: preparo do solo para plantio, nivelamento,
aração, limpeza, gradagem, calagem, adubação, terraceamento, subsolagem e encanteiramento;
abertura e limpeza de reservatórios de água; construção e recuperação de barragens de terra; abertura
e manutenção canais de irrigação e drenos; abertura e manutenção de estradas de terra dentro da
propriedade; serviço de connservação de solo e terraplenagem e abertura de aceiros.

PROJETO POSTO DE MONTA - Prefeitura Municipal de Franca / SP

Para o agricultor familiar, o melhoramento genético de animais é um processo muito oneroso e por
isso apenas os grandes produtores tem acesso. Para resolver este problema a Prefeitura Municipal
proporciona aos agricultores familiares de Franca, usuários do sistema de tração animal, condições de
melhoramento genético de seus planteis através de cruzamentos com reprodutores de raças
específicas, de alta linhagem.

ANTEPROJETO RECICLAGEM DE LIXO - Prefeitura Municipal de Santa Bárbara do


Sul/ RS

Objetivando reciclar o lixo; promover a educação ambiental a partir da separação do lixo; gerar
emprego e renda no processo de seleção e transformação do lixo; transformar o lixo orgânico em
adubo e vender o lixo inorgânico separadamente (vidro, plástico e papel), a Prefeitura Municipal de
Santa Bérbara do Sul elaborou o anteprojeto Reciclagem de Lixo.

73
O Anteprojeto consiste na construção de uma usina de reciclagem de lixo urbano, onde o lixo
orgânico será transformado em adubo para ser aproveitado na agricultura, e o inorgânico será
comercializado.

PROJETO DE SEMENTES ECOLÓGICAS (Bionatur) - Movimento de Trabalhadores


Rurais (MST) / Hulha Negra e Candiota no Rio Grande do Sul,

A dependência de sementes de grandes empresas e a necessidade de se produzir agroecologicamente


fez o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de Hulha Negra e Candiota criar um projeto
de resgate e melhoramento genético de várias sementes de hortaliças e cereais de inverno para
produção agroecológica. Este projeto visa tornar a produção nos assentamentos de reforma agrária
independente das grandes multinacionais de sementes a partir de sementes agroecológicas.

O projeto resgata e faz melhoramento genético de várias sementes de hortaliças e alguns cereais de
inverno para formação de um banco de germoplasma de sementes para uso com tecnologia
agroecológica. As sementes, ao atingir quantidades expressivas, são colocadas no mercado. Por
exemplo, no caso do trigo no ano 2000 serão levadas para o campo 22 (vinte e duas) variedades
distribuídas entre 03 (três) agricultores que ficarão como guardiões, multiplicando as sementes para
no ano seguinte, distribuí-las para outros agricultores e assim por diante, até que se consiga o volume
suficiente para atender toda a comunidade da cooperativa dos assentamentos nesta região e, a partir
daí, iniciar a comercialização. O setor de sementes agroecologicas BIONATUR envolve 50
produtores com a produção de sementes de inverno (cebolas, cenouras, coentro, crucíferas e cereais
de inverno) e de sementes de verão (cucurbitaceas, melões e sementes de forragens)(PEDROSO,
1999)

74
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E PRODUÇÃO

REFORMA AGRÁRIA COM REFORMA ECOLÓGICA - Parceria do Instituto de


Pesquisas Ecológicas (IPÊ) com a Agência Inter-Americana de Desenvolvimento e Fundo
Mundial da Natureza, a Cooperativa do Movimento Sem Terra do Pontal (Cocamp/MST), o
Instituto Florestal de São Paulo (IF) e a 0Universidade de São Paulo (USP).

O lema do Movimento Sem Terra (MST) é sustentado pelo tripé “ocupar, resistir e produzir”. Esta
parceria está procurando incorporar uma quarta palavra na região do Pontal do Paranapanema:
“Ocupar, resistir, produzir e conservar.” Para contemplar a dimensão ambiental a parceria
disponibiliza informações agroecológicas para os assentado; estimula a adoção de práticas de manejo
agroecológico; incentiva a diversificação e sustentabilidade na produção e mplanta módulos
agroflorestais demonstrativos adaptados a cultura e as necessidades locais.

A parceria foi estabelecida há mais de um ano e tem buscado ampliar a discussão do conceito de
produzir entre os assentados e suprir as necessidades básicas na busca de uma Reforma Agrária
paralela a uma reforma agroecológica na região. A idéia é disponibilizar informações agroecológicas
para os assentados, estimular a adoção de práticas de manejo agroecológico, incentivar a
diversificação e sustentabilidade na produção e implantar módulos agroflorestais demonstrativos
adaptados a cultura e às necessidades locais. Até novembro de 1999, um total de 400 assentados,
técnicos e lideranças locais passaram por cursos de capacitação agroflorestal. Como resultado, já
foram instalados até novembro de 1999, 6 viveiros agroflorestais comunitários nos assentamentos do
Pontal, cada um com capacidade média de 30.000 mudas/ano.

É importante ressaltar que vários dos assentados e técnicos capacitados durante os cursos já são
agentes multiplicadores, principalmente aqueles que instalaram os viveiros agroflorestais
comunitários. Esses viveiros estão servindo como pólos de disseminação da cultura agroecológica e
de estímulo para a participação de muitos outros assentados da região.

75
PROJETO RESERVAS EXTRATIVISTAS - Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS)

O extrativismo tem suas peculiaridades e por isso não pode ser encarado da mesma forma que a
agricultura. Uma das mais importantes necessidades do setor extrativista é manter a atividade e
conservar os recursos naturais.

O CNS tem as seguinte proposta para o extrativismo: as áreas de produção, de conservação e de


extrativismo são distribuídas e manejadas num território maior, ao invés de se exigir que cada lote ou
propriedade tenha a reserva legal de vegetação nativa de 10%, 20% ou 50%. Ou seja, a reserva será
coletiva, com a vantagem de evitar a fragmentação e a subseqüente perda de biodiversidade(WEID &
ALMEIDA, 1997).

PROJETO AGROFLORESTAL CONSORCIADO E ADENSADO (PACA) - Prefeitura


Municipal de Juína / MT

A agrofloresta apresenta um grande potencial para os países tropicais, ricos em biodiversidade. Pela
possibilidade da intensificação da produção em pequenas áreas através da otimização do espaço,
esses sistemas despontam como alternativa promissora para o desenvolvimento rural sustentável. Por
isto para recuperar 500 hectares de área degradada, o PACA envolvendo 500 famílias, recuperou 500
hectares de área degradada, através de um manejo agroflorestal consorciado e adensado .

REDE DE PROJETO EM TECNOLOGIA ADAPTADA (Rede PTA)

A rede PTA tem o objetivo de, num esforço conjunto com os membros da comunidade, propor
tecnologias alternativas (resgatadas, geradas ou introduzidas) que possam contribuir para o aumento
da produtividade e a melhoria do padrão de vida. As equipes técnicas que trabalham com
transferência de tecnologia são transdiciplinares e sensíveis para o trabalho com a agricultura familiar e
suas organizações. A equipe dá ao agricultor a oportunidade de entender e manejar todo o processo
de Produção -Processamento – Comercialização – Administração/Financiamento tendo a noção clara
de que o agricultor e suas organizações são os ATORES do processo. Bastante diferente, da
assistência técnica convencional que simplesmente repassa um pacote tecnológico.

76
Para isto a equipe trabalha com agricultores familiares, entendendo suas limitações sócio-econômicas,
tecnológicas e ambientais e valida as alternativas propostas, com vistas a garantir sua adequação tanto
às comunidades que as geraram quanto às situações com características semelhantes.

Exemplos da Rede PTA:

A Associação de Estudos e Assistência Rural (ASSESSOAR) há cerca de quinze anos vem


incentivando e promovendo a prática da adubação verde entre agricultores familiares do Sudoeste
do Paraná, como forma de combater a queda do potencial produtivo dos solos provocadas pelas
altas taxas de erosão. Além dos efeitos positivos sobre a conservação dos solos e, consequentemente
sobre o aumento da produtividade dos cultivos, essa prática se caracteriza pelo baixo custo (
DAVID& Mayer, 1996).

O Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata Mineira (CTA), assessora vários sindicatos
de trabalhadores rurais na implementação de programas de conservação e melhoria da qualidade dos
solos através de práticas agroecológicas. Pequenas parcelas experimentais implantadas nas
propriedades de agricultores vão sendo conhecidas e adaptadas uma série de propostas técnicas para
a conservação dos solos (WEID e ALMEIDA, 1997).

O Centro de Agricultura Ecológica de Ipê (CAE-IPÊ) apoia tecnicamente produtores de maçã, uva,
pêra e pêssego que motivados pelos problemas de saúde resultantes de uso excessivo de agrotóxicos,
decidiram abandonar o uso de venenos. A partir do manejo nutricional das plantas, os agricultores
conseguiram reduzir o número de aplicações de agrotóxicos na safra de maçã de dezoito para zero,
mantendo um nível de produtividade igual aos produtores convencionais. Isto também significou
uma redução dos custos de produção em aproximadamente 40%.

A CAATINGA em Ouricuri -PE, difunde uma proposta de contenção de caprinos menos danosa
ao ambiente e mais acessível aos agricultores familiares do semi-árido nordestino. A proposta
pressupõe a construção de cercas com tr6es fios de arame combinado com o uso de cangas nos
animais para proteger as áreas de plantio e armazenamento de água e de uma forma geral
diminuindo a pressão sobre os recursos naturais (WEID e ALMEIDA, 1997).

77
A Variedade de Milho Sol da Manhã foi melhorada no Assentamento Sol da Manhã (Seropédica-RJ)
e é adaptada geneticamente às condições edafoclimáticas e tecnológicas dos assentamentos da
Baixada Fluminense, não exigindo por isso grandes quantidades de insumos. O trabalho de alguns
pesquisadores da EMBRAPA e técnicos da rede PTA somaram esforços com o objetivo de
recuperar a auto-suficiência dos agricultores no suprimento de sementes de milho a partir da
valorização das variedades locais. Foi organizada a Rede Sementes, atualmente envolvendo
agricultores das regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil, centenas de associações e sindicatos de
trabalhadores rurais e dezenas de ONG's . Para o caso do cultivo do milho, a Rede Sementes já
resgatou e difundiu entre os agricultores mais de 200 variedades locais. (WEID e ALMEIDA, 1997)

ESCOLA FAMÍLIA - EFA - ligada ao Movimento de Educação Promocional do Espirito


Santo- MEPES.

O ensino nas escolas agrícolas de uma forma geral está muito distante da realidade dos alunos e de
suas famílias. O objetivo das EFA's é aproximar o ensino agrícola da realidade de seus alunos. Para
objetir tal objetivo, as EFA's permitem que os jovens da zonas rurais continuem trabalhando nas
unidades produtivas dos pais, proporcionando um processo de aquisição do conhecimento de
caráter construtivista a partir da união dos saberes práticos e teóricos. Através desse processo, os
jovens influenciam diretamente no ensino das EFAs porque trazem de casa as indagações concretas
derivadas de problemas vivenciados na produção(WEID e ALMEIDA, 1997b).

ASSESSORIA PARA O DESENVOLVIEMNTO AGROECOLÓGICO DE


COMUNIDADES RURAIS (Jupará)/ Sul da Bahia entorno da Reserva Biológica de Una.

O Jupará é uma escola informal de educação ambiental trabalhando com a adoção das práticas
agroecológicas, capacitação em beneficiamento, comercialização, ecoturismo e energia renovável e o
fortalecimento da organização comunitária, promovendo a participação de homens e mulheres,
democratizando a tomada de decisão construindo de forma participativa o Plano de
Desenvolvimento Comunitário.

78
Para o Jupará, os projetos de conservação devem trazer o componente de desenvolvimento para as
comunidades, levando em conta seu processo histórico, étnico/cultural/plural. O principais vieses
são a adoção das práticas agroecológicas, capacitação em beneficiamento, comercialização,
ecoturismo e energia renovável e o fortalecimento da organização comunitária, promovendo a
participação de homens e mulheres, democratizando a tomada de decisão construindo de forma
participativa o Plano de Desenvolvimento Comunitário.

A família é o eixo do trabalho de acompanhamento nas comunidades. Todas as pessoas (homens,


mulheres, jovens, adolescentes e crianças) trabalham juntas cada uma contribuindo com suas tarefas
para o sustento da família e são gerenciadoras dos recursos naturais. Como todas trabalham, todas
devem participar do processo de decisão e os benefícios devem ser distribuídos de forma justa entre
os participantes.

79
Eu era sem valor, eu mesma me sentia feia e insegura, uma subalterna dos preconceitos que
o machismo durante tanto tempo enfiou na minha cabeça. Eu não acreditava em quase nada
na vida. Ecologia? Nem passava na minha cabeça! Na minha ignorância, antes do Jupará, eu
queimava, derrubava, não entendia a terra como viva e trabalhava contra a terra, contra eu
mesma. Hoje eu sou uma prática das atividades agroecológicas. Não uso adubo químico
nem agrotóxico, não queimo nem derrubo a mata, estou lutando pelo reflorestamento e
tenho consciência que uma terra boa e os recursos naturais preservados é a maior herança
que eu posso deixar para os meus filhos e filhas. Hoje eu tenho auto-estima, gosto de mim e
me acho bonita e forte.

Não acredito que a experiência da gente tenha desenvolvimento sem a participação da


mulher e sem a conservação dos recursos naturais. Trabalhar com nós, mulheres, não é só
nos dar condições de produzir. Precisamos antes de tudo construir a nossa dignidade, a
nossa identidade como mulheres, pois só assim vamos poder enfrentar as barreiras da nossa
caminhada na luta para construir uma sociedade onde homens mulheres e recursos naturais
possam viver em harmonia.

Eunice Pereira da Silva, agricultora agroecologista do Jupará41.

MUTIRÕES DE AGROFLORESTA

A necessidade de estudar o sistema de manejo para Mata Atlântica implantado pelo agrônomo suíço
Ernst Gotsch, na região do Sul da Bahia, e a possibilidade da realização de um trabalho coletivo
aglutinando conhecimentos e catalizando as ações foram as principais motivações para a formação
do grupo do Mutirão.

O “Mutirão agroflorestal” é um movimento de integração de pessoas em torno da aprendizagem,


experiência, vivência e prática em agrofloresta. O trabalho se dá em sinergia, com participação na

41 Discurso feito durante o I Seminário Nacional sobre Reforma Agrária e Meio Ambiente, Brasília em Novembro de

1999.

80
dinâmica e biodiversidade da natureza para a criação de ecossistemas produtivos. Os “mutirões”
promovem a construção do conhecimento de forma participativa, gerando e sistematizando
informações sobre sistemas agroflorestais a partir da implantação e condução de áreas experimentais
em diversos contextos sócio-ambientais. Esta união gerou a criação de um fluxo de informações e a
constituição de uma rede informal de pessoas, viabilizando a troca de material bibliográfico,
sementes, informações, idéias, dúvidas e estímulos. O Mutirão vem acontecendo há quatro anos em
diversas áreas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O grupo “Mutirão” reúne-se
bimestralmente em propriedades ou áreas de trabalho de participantes do grupo para a instalação de
áreas agroflorestais em sistema de mutirão, manejo, avaliações e estudos coletivos. As propriedades
localizam-se em contextos ambientais e sócio-econômicos bem distintos e as áreas implantadas nas
diversas regiões passam a constituir “núcleos” que aglutinam os moradores da propriedade e/ou da
região para a responsabilidade pela condução das áreas, formando pólos de irradiação e difusão da
proposta (AMADOR, 1999).

AGREGAÇÃO DE VALOR E COMERCIALIZAÇÃO

PROGRAMA DE VERTICALIZAÇÃO DA PEQUENA PRODUÇÃO (PROVE) / Governo


do Distrito Federal.

A globalização que avança em todo mundo, criando novos padrões e regras de produção e
comercialização tem afetado profundamente a atividade agrícola e os trabalhadores do campo e da
cidade. O aspecto mais visível desse processo é a exclusão dos trabalhadores e sua família de uma
vida digna. No campo, os agricultores familiares desamparados e sem condições de produzir para
competir no mercado, abandonam suas pequenas propriedades e migram para a periferia das grandes
cidades em busca de outro meio de vida. Mas, sem preparo profissional, não conseguem emprego
nas cidades e não têm como atender às suas necessidades básicas de alimentação e moradia. O
resultado é o agravamento dos problemas sociais urbanos, o crescimento do número de invasões e
favelas e o aumento da miséria, da fome e da marginalidade (CARVALHO, 2000).

81
Por todos esses Problemas o PROVE tem como objetivo criar e ampliar a oportunidades para a
inserção do agricultor familiar , principalmente o de baixa renda, no processo produtivo; contribuir
para a melhoria das condições de vida dos agricultores familiares excluídos do processo produtivo,
assegurando-lhes os meios de necessários para o pleno exercício da cidadania; criar e implementar
mecanismos que estimulem os agricultores a processarem produtos in natura de origem vegetal e
animal, agregando-lhes valor e propiciando o aumenta da renda e a geração de emprego e renda no
campo e aperfeiçoar e criar novos mecanismos que facilitem a comercialização dos produtos
oriundos da pequena propriedade rural familiar.

Este programa incentivou a construção de unidades familiares de processamento artesanal, através de


financiamento especial do Banco de Brasília. O objetivo é facilitar a transformação e a
comercialização de produtos oriundos das pequenas unidades produtivas e, desta forma, gerar
emprego e renda para o agricultor familiar do DF. Fazendo parte deste programa existe a Fábrica de
Agroindústria a Central de Informações da Agroindústria, o Balcão da Agroindústria (que já foi
comentado), o Quiosque do Produtor (que será apresentado mais a diante). A Fábrica de
Agroindústria tem por objetivo fabricar pré-moldados de cimento e esquadrias metálicas, agilizando
a instalação das pequenas agroindústrias. A Central de Informações de Agroindústrias (C.E.I.A.),
funciona na EMATER, e é o local onde o produtor rural recebe as orientações que precisa, para
iniciar uma atividade agro-industrial. Em um mesmo local ele tem acesso as fontes disponíveis de
recursos financeiros, sistema de produção de matéria prima, tecnologia de processamento, passos
burocráticos para a normatização e elaboração do projeto da sua pequena agroindústria (
CARVALHO, 2000)

PROJETO REFLORESTAMENTO ECONÔMICO CONSORCIADO E ADENSADO


(RECA) - Associação de agricultores familiares de Nova Califórnia ( Fronteira entre
Rondônia e Acre)

A dificuldade em produzir, obter lucro na comercialização e conservar os recursos naturais levou os


agricultores familiares de Nova California a criar um projeto que conserve a floresta, produza e
agregue valor aos produtos da floresta.

82
O projeto RECA combina basicamente o cultivo da pupunha, com cupuaçu e castanheira, dispondo
de uma estrutura de beneficiamento de uso coletivo que produz polpa de fruta congelada e palmito
em conserva. Esta capacidade de beneficiar e comercializar a produção garante aos associados, em
conjunto, a escala necessária para colocar os produtos no mercado, obtendo um melhor preço pelos
seus produtos (WEID & ALMEIDA, 1997b).

QUIOSQUE DO PRODUTOR - Governo do Distrito Federal

As pequenas agroindústrias instaladas no DF produzem doces, geleias, mel, iogurtes, queijos,


temperos, conservas, chás, bolos, pães especiais, leite de cabra, ovos de codorna, frango caipira e
muitos outros produtos com excelente qualidade, capazes de atender às mais exigentes clientelas.
Prova disso é que alguns produtos já estão sendo exportados para outras regiões. É comum,
também, que no início do negócio o produtor não tenha condições de colocar os seus produtos
industrializados no mercado porque não pode assegurar regularidade na entrega. Para dar visibilidade
aos produtos do PROVE, impulsionar as vendas e evitar que o valor agregado com a industrialização
se perca na intermediação, em prejuízo do produtor, a Secretaria de Agricultura decidiu criar os
Quiosques do Produtor (ver fotografia 5), até que os produtos ganhem maior reconhecimento e
espaço nas prateleiras e gôndolas dos supermercados.

O Objetivo dos Quiosques é oferecer oportunidades para que as pequenas e médias agroindústrais
vendam seus produtos diretamente ao consumidor final, aumentando assim a sua margem de lucro e
de renda e assegurar a venda dos produtos processados pelas pequenas agroindústrias e

Os Quiosques do Produtor são pontos de venda (direta ao consumidor) de produtos processados pelas
pequenas agroindústrias do Distrito Federal, criados como mecanismos estratégicos do Programa de
Verticalização da Pequena Produção Agrícola do DF (PROVE), executado pela Secretaria de
Agricultura e seus órgãos vinculados (CARVALHO, 2000)

83
COOPERATIVA DE CONSUMIDORES DO RIO DE JANEIRO DE PRODUTOS
ORGÂNICOS - COONATURA

Nas grandes cidades, cada vez é maior a procura por produtos orgânicos, porém ainda há falta desses
produtos no mercado com preço justo. Por isto algumas cooperativa de consumidores do Rio de
Janeiro de produtos orgânicos criaram a COONATURA. A COONATURA existe desde 1979 e é
dedicada à administração, compra e distribuição de alimentos orgânicos (sendo que existe no seu
quadro produtores de alimentos). Uma de suas preocupações é conscientizar os consumidores,
estudantes, profissionais e agricultores dos malefícios dos agrotóxicos. Outra preocupação é
remunerar bem quem produz sem agrotóxico, chegando a pagar 40% a 70% acima do preço de
mercado. Mesmo assim, se consegue para os consumidores preços não proibitivos, pois são
eliminados os intermediários. A Coonatura, por estatuto, é uma entidade sem fins lucrativos que se
mantém pelo trabalho cooperativo entre seus associados. Para se associar, o interessado tem que
dedicar algumas horas de trabalho e pagar uma cota (LAGO, 1991).

FEIRA DA REFORMA AGRÁRIA - Porto Alegre/RS

A falta de entendimento por parte dos consumidores da realidade dos assentamentos e da


importância de se fazer Reforma Agrária levou a Prefeitura de Porto Alegre a criar uma feira para
aproximar os assentados dos consumidores e divulgar o trabalho realizado por eles, ressaltando a sua
organização coletiva e a importância da Reforma Agrária. Desta forma a Feira da Reforma Agrária
consiste na comercialização direta aos consumidores de hortigranjeiros oriundos dos assentamentos
de Reforma Agrária do interior do Estado.

ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTURA ORGÂNICA / São Paulo (AAO)

Muitos agricultores orgânicos tem dificuldade em oferecer todos os produtos aos consumidores. Por
isto os produtores orgânicos do Estado São Paulo criaram a AAO. Em 1991, a AAO organizou um
ponto de venda na capital paulista, onde são vendidos produtos de todos associados. Para participar
desses sistemas de venda, os produtores precisam ser credenciados pela associação, depois de
entrevistas e visitas de inspeção à propriedade e acompanhamento de técnicos especialistas em

84
agroecologia. Esta iniciativa cresceu tanto em número de produtores integrados, quanto em número
de pontos de venda na cidade de São Paulo, que atualmente é realizada quatro vezes por semana em
três locais diferentes. A AAO também organiza estágios para estudantes de agronomia, promove
palestra para consumidores e faz entregas de cestas.

85
4.3. LIÇÕES

MATÉRIAS PRIMAS, MÁQUINAS e IMPLEMENTOS e RECURSOS NATURAIS

Um dos complicados gargalos da agricultura familiar e da agroecologia, é a dificuldade de aquisição


de insumos, material genético, máquinas e implementos de qualidade, ecologicamente viáveis e
apropriados para este setor. As experiências apresentadas demonstram criatividade, para resolver este
problema, não só dos insumos e equipamentos "convencionais", mas também de material genético
para produção agroecológica. Ensinam também como o agricultor familiar pode adquirir em
pequenas quantidades e diminuir a distância para obtê-los.

As comunidades de agricultores familiares com grande freqüência vivem isoladas e por isso, muitas
vezes sua produção fica parada pela falta e dependência de alguns insumos, tanto para a produção
como para a transformação de seus produtos. Por causa deste sério estrangulamento, o Governo do
Distrito Federal criou o Projeto Caixeiro Viajante. Desde então, os agricultores que moram em
comunidades agrícolas isolados não precisam mais sair do lugar onde moram para comprar adubo,
calcário, sementes e outros produtos agropecuários, disponíveis nas revendas agropecuárias. A
alternativa de levar e vender esses produtos, a preços acessíveis, diretamente aos agricultores, em
suas próprias localidades, significa oferecer condições para que eles possam expandir a sua plantação
e o seu criatório e dedicar mais tempo à atividade produtiva, ampliando a possibilidade de aumentar
sua renda e melhorar as condições de vida da família (CARVALHO, 2000).

Além do Caixeiro Viajante, outro importante programa criado pelo Governo do Distrito Federal que
visa facilitar o acesso aos insumos é o Balcão de Insumos e Produtos, que oferece esses produtos
em quantidades compatíveis com a pequena produção. Ambos os projetos mostram a importância
da atuação governamental em reduzir distâncias e facilitar o acesso em pequenas quantidades.
Todavia, o que se questiona no projeto Caixeiro Viajante é que o mercado está indo diretamente ao
agricultor, sem um acompanhamento maior de uma assistência técnica que preveja a substituição,
pelo menos parcial, de insumos comprados, pelos produzidos nas propriedades. Outro problema que
é verificado neste projeto e também no projeto Balcão do Produtor, é que o agricultor familiar fica
dependente do governo. Por isto, seria importante, que acompanhando esses projetos, houvesse uma

86
assessoria objetivando fortalecer a organização dos agricultores familiares, e sua independencia em
relação aos insumos.

Muitas vezes, as prefeituras tem que ter uma postura paternalista, principalmente quando se trata de
questões como segurança alimentar. É o que acontece no Município de União da Vitória, a prefeitura
preocupada com a segurança alimentar, teve que tomar esta postura. Para garantir a oferta nas escolas
e creches de alimentos de alto valor nutritivo, a prefeitura troca os produtos, que não são típicos da
região, dos agricultores familiares por mudas de culturas típicas da prefeitura. Além de resolver o
problema da merenda escolar, viabiliza a comercialização de produtos nutritivos desses agricultores.
Em conseqüência disto, as famílias de agricultores passam a consumir produtos nutritivos
produzidos em suas propriedade. O que se questiona neste projeto é que esta troca fica dependente
da ação da prefeitura.

Um sério problema, que a grande maioria dos municípios brasileiros enfrenta é onde colocar o lixo
urbano; onde colocar, ou como aproveita-lo de maneira a não agredir o meio ambiente. Para
solucionar esta questão, a Prefeitura Municipal de Santa Bárbara do Sul - RS, através de seu
Anteprojeto de Reciclagem de Lixo, está criando uma alternativa ao implantar no Município uma
usina de reciclagem de lixo urbano. As usinas de reciclagem de lixo urbano, podem ter tamanhos e
complexidades diferenciadas e, por isto, podem funcionar a baixo custo. A implantação destas usinas
em pequenas cidades é extremamente vantajosa. Gera emprego ao criar postos de trabalho de
catadores e recicladores de lixo; livra a cidade de um lixo que atrai ratos e baratas; desponta uma
certa consciência ecológica na comunidade (para a coleta seletiva é necessário que seja feita uma
campanha de educação ambiental entre os moradores para que eles separem, em suas casas e
trabalhos, o lixo orgânico do inorgânico) e, por fim, recicla lixo transformando-o em um adubo
extremamente rico em nutrientes para as plantas, importantíssimo na produção agroecológica e
propulsor das boas condições físicas, químicas e biológicas do solo. Portanto o lixo orgânico
reciclado é um conservador do solo.

A questão das máquinas e implementos agrícolas ecologicamente viáveis e adaptados para agricultura
familiar também é solucionada com o rodízio de patrulhas agrícolas associado ao uso da tração
animal. Este tipo de tração é uma atividade secular e que proporciona benefícios imensuráveis para o
agroecossistema e para a agricultura familiar.

87
De uma forma geral, as experiências governamentais, apesar de resolverem problemas de acesso
imediato aos insumos e implementos, ainda não são completas. Elas criam uma dependência do
agricultor ao governo e não se preocupam em fortalecer a organização dos agricultores familiares.

Um projeto que mostra a importância da organização de trabalhadores rurais, é o Projeto de


Sementes Ecológicas (Bionatur) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em
Hulha Negra e Candiota no Rio Grande do Sul. Esta experiência não vem apontando apenas uma
saída para o sério problema de acesso à sementes agroecológicas, mas revela uma nova vertente do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra em que a luta não é só contra as amarras dos
latifúndios, mas também contra as amarras da manipulação tecnológica imposta pelo atual modelo
agrícola.

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E PRODUÇÃO

As experiências que tratam de ciência, tecnologia e produção demonstram a preocupação de que


deve-se provocar uma busca pela cidadania e auto-estima das comunidades (mulheres, jovens, criança
e idosos), que são consideradas descartáveis, pelo atual modelo de desenvolvimento rural. Esta
busca, torna-se bastante interessante, quando usa instrumentos lúdicos e participativos. Partindo da
realidade local, com os recursos disponíveis e necessidades mais prementes, busca soluções simples e
adaptadas.

As experiências sobre ciência e tecnologia mostram que a pesquisa deve ser descentralizada e feita a
partir da necessidade do agricultor. O saber do agricultor deve estar inserido intensamente na pesquisa
e, por isto, deve estar previsto na metodologia científica sua participação. Deve haver uma capacitação
dos pesquisadores para o enfoque científico, onde a pesquisa é participativa e considera o
conhecimento empírico. Ou seja a geração de tecnologia, não deve ser fundamentada na dicotomia
entre sabedoria e ciência, dado que a produção do conhecimento ou ato de conhecer é mais de
comunhão com a natureza do que de dominação e controle. As experiências demonstram que ao
superar a divisão do conhecimento e valorizar a transdisciplinaridade, a integração dos diferentes
focos de sabedoria, permite dar conta dos processos naturais e sociais que moldam as condições de
produção e reprodução dos ecossistemas (WEID & ALMEIDA, 1997 e UNGER, 1992).

88
De uma forma geral, os profissionais que atuam nestas experiências possuem um perfil para atuar na
promoção de um modelo de desenvolvimento rural sustentável. Normalmente, quando estudantes,
participam dos grupos de estudos alternativos. Estes grupos são formados principalmente por
estudantes de agronomia, biologia, engenharia florestal e veterinária em suas universidades e tem
como objetivo fazer uma reflexão sobre o atual modelo de desenvolvimento rural, estudar os
malefícios dos agrotóxicos e as bases científicas da conservação dos recursos naturais, da
agroecologia e da medicina veterinária alternativa. Isto demonstra o quanto é importante que este
tipo de discussão penetre profundamente o espaço acadêmico formal e, que é necessário revisar os
currículos dos profissionais que atuam na área rural para formar profissionais com perfil adequado
para trabalhar com conservação dos recursos naturais, reforma agrária e agricultura familiar.

Além da revisão de currículos, fica claro também a importância da revisão do enfoque da pesquisa
para que venha gerar uma tecnologia adequada e de baixo custo; da extensão rural que deve se tornar
sensível para atuar junto ao agricultor familiar e dos critérios de concessão de crédito adequando-os
para garantir a sobrevivência das famílias camponesas e para conservar os recursos naturais nos
agroecossistemas.

As experiências demonstram que é fundamental conciliar conservação e participação comunitária. E


principalmente, que não se deve excluir seres humanos do processo de conservação. É preciso
transformar a população local em elementos-chave, obtendo deste modo apoio para a sustentação a
longo prazo dos recursos naturais. Para isto, é indispensável a ampliação do patrimônio cultural e
educacional da população rural, que vão desde a erradicação do analfabetismo, a escola básica até a
combinação de políticas de formação profissional, extensão e pesquisa. Além de uma reeducação
ambiental.

As experiências, sejam elas de pesquisa, de assistência técnica ou de produção demostram uma busca
em entender os recursos naturais, e além de respeita-los, usufrui-los. É a verdadeira busca pelo uso
sustentável dos recursos naturais, tanto de pesquisadores, estudantes, técnicos de campo, agricultores
e consumidores. Esta busca, tem como base a noção da importância de que a qualidade dos recursos

89
naturais, deve ser mantida, a vitalidade do agroecossitema inteiro melhorada e todas as formas de
vida respeitadas, através dos elementos técnicos básicos da Agroecologia.

É demonstrada também o sucesso da ampliação da discussão com os agricultores familiares sobre a


importância da conservação dos recursos naturais através da tecnologia agroecológica. Por isto, para
a construção de um modelo de desenvolvimento rural sustentável, se faz necessário intensificar o
debate sobre agroecologia nas universidades e escolas agrícolas; sensibilizar o consumidor, para a
questão social e ambiental do campo, incentivando-o a comer alimentos agroecológicos e
provenientes da agricultura familiar.

A agroecologia apresenta um grande potencial para os países tropicais, ricos em biodiversidade. Pela
possibilidade da intensificação da produção em pequenas áreas através da otimização do espaço,
esses sistemas despontam como alternativa promissora para o desenvolvimento rural sustentável. Os
sistemas agroecológicos envolvem técnicas antigas, tradicionalmente usadas por índios e populações
tradicionais, e há pouco tempo a ciência, a academia e os agricultores vem dedicando-se a esta área.
Do ponto de vista político, o uso sustentável dos recursos naturais somado ao bom convívio com as
áreas de preservação ambiental, agrega simpatia popular aos assentamentos, livres da pecha de
"devastadores", resultando no reforço considerável do apoio social à Reforma Agrária.

AGREGAÇÃO DE VALOR E COMERCIALIZAÇÃO

A agroindústria rural de pequeno porte, se caracteriza como uma importante alternativa de


desenvolvimento dos agricultores familiares, através da agregação de valor aos produtos
agropecuários. A matéria prima que abastece as pequenas agroindústrias tem sua origem nas
propriedades dos agricultores associados à ela, caracterizando um processo de verticalização. Todo o
trabalho dentro das agroindústrias é desenvolvido pelas famílias dos agricultores. Desta forma, os
agricultores passam a gerir e atuar em toda a cadeia produtiva, até a colocação dos alimentos no
mercado. Assim os agricultores são os protagonistas de todo o processo. Outra vantagem deste
modelo descentralizado de agroindustrialização, impulsiona a geração, direta e indireta, de novos
postos de trabalho, associados à geração e distribuição de renda mais eqüitativa. Pode proporcionar
uma importante forma de (re)inclusão social e econômica destes agricultores e melhorar a sua

90
qualidade de vida.

Este tipo de industrialização oferece outras vantagens, tais como: a descentralização regional da
produção de matéria prima, aproximando as agroindústrias do local da produção da matéria prima, a
redução do custo de transportes, a utilização adequada dos dejetos e resíduos como fertilizantes,
reduzindo o poder poluente e a diminuição das migrações desordenadas da população. Isto pode
favorecer um modelo de desenvolvimento local sustentável, beneficiando especialmente os
pequenos municípios, onde valoriza-se o meio rural no sentido de proporcionar uma melhor
utilização do espaço territorial e buscando a recuperação e a preservação ambiental (FRENTE SUL,
2000).

A distância da informação coloca os agricultores à margem do processo decisório na venda de


seus produtos, pois ficam impedidos de serem informados das tendências dos diversos
mercados. Esta falta de informação também provoca excesso de oferta de determinados
produtos em um mesmo mercado, impactos negativos para os preços, e conseqüente
diminuição da renda do agricultor.

Uma forma de se ajudar a resolver os inúmeros problemas da comercialização de agricultores


familiares é a comercialização direta e o mercado solidário. A comercialização direta é a
comercialização sem intermediários, do agricultor ao consumidor. A feira pode ser um espaço de
comercialização direta, onde o agricultor ou alguém de sua família faz a comercialização de seus
produtos. Mercado solidário é a comercialização entre diferentes grupos agricultores organizados e
consumidores organizados. Este tipo de mercado vem aparecendo, com freqüência, e nada mais é do
que articulação entre as associações, possibilitando o contato entre agricultor consumidor.

Para uma boa comercialização, quanto mais se agrega valor ao produto, melhor é o resultado.
Valores agregados de alimentos são por exemplo, a aparência, a marca, a praticidade no uso, a
limpeza e um mais recentemente admirado, é a ausência de aditivos e de agrotóxicos, principalmente
entre consumidores preocupados com as questões ambientais e com uma alimentação integral e vida
natural. Além disso, os produtos oriundos das pequenas agroindústrias se diferenciam dos demais
por incorporarem diversos aspectos de qualidade, como, por exemplo, ecológico, nutricional, social,

91
cultural, numa associação com o local de sua produção, além da sanidade e higiene. Por isto a
importância das experiências que buscam verticalizar a produção.

Estes valores vem se intensificando na medida em que se divulga o perigo de se consumir produtos
com agrotóxicos e com antibióticos. Desta forma, a noção de qualidade de alimentos tende a mudar,.
deixando de ser restrita a aspectos visuais ( cor, cheiro, formato tamanho etc. ) e passando a
incorporar aspectos de pureza, de nutrientes e ambientais. Ao verticalizar a produção o agricultor
agrega valor a ela, e se ao produzir agroecológicamente consegue-se bons preços por eles, então o
ideal é verticalizar produtos agroecológicos. Além dessas vantagens ligadas à agregação de valores, o
retorno financeiro pode ser ainda maior se o produto for repassado diretamente para o consumidor
sem passar pelos intermediários. Todas as experiências de comercialização, indicam esta
aproximação.

Fotografia 1: Escola do Pré-assenatmento Três Conquistas, Paranoá/DF

92
Fotografia 2: Adubação Verde, Brazlândia/DF

Fotografia 3: Adubação orgânica, Brazlândia/DF

93
Fotografia 4: Diversificação de espécies, Brazlândia/DF

Fotografia 5: Ponto de Comercialização do PROVE, Rodoferroviária/ DF

94
5. CONCLUSÃO

O modelo de desenvolvimento rural adotado no Brasil além de destruidor da natureza e devorador


de energia, prejudica em muito o agricultor familiar, que se vê com orientação/assistência técnica
além de carente, inadequada; com crédito deficiente; com dificuldade em produzir e vender; sem os
itens básicos da cidadania e imerso em um contexto onde as instituições Estatais estão enfraquecidas.

A política para o campo brasileiro, de uma forma geral, é caracterizada pela falta de inserção da
temática ambiental, pelo deslocamento de pessoas para colonizar áreas onde o ambiente é
desconhecido, pela falta de consideração com a aptidão local e pela ausência de infra-estrutura de
sobrevivência.

Ao se entender Reforma Agrária como um processo efetivo de reestruturação fundiária e de


rompimento com o ciclo vicioso de concentração de terra, renda, poder e privilégio (ver esquema 1),
percebe-se, que nunca houve Reforma Agrária no Brasil. Tampouco houve uma concepção de
política pública para transformar o modelo de desenvolvimento do campo, onde o assentado e o
agricultor familiar não seriam somente “público-alvo”, mas agentes econômicos centrais para o
desenvolvimento sustentável. O que há, na realidade, é uma política de assentamentos pontuais e
uma política social compensatória, na busca da minimização da miséria e diminuição dos conflitos
agrários. E um setor agricultura familiar, que apesar de seu potencial em conservar os recursos
naturais42, gerar renda e qualidade de vida, se encontra reduzido, inviabilizado, enfraquecido, e
sofrendo de grande descaso por parte do governo.

42
As características dos agroecossistemas familiares demonstram que além da tecnologia do "pacote da Revolução verde"
ser totalmente inadaptada e prejudicial à produção familiar, a tecnologia agroecológica mostra-se totalmente adaptada e
necessária. Além disso, é um setor que tem maior capacidade de manter uma atividade mais ajustada aos requerimentos
da conservação dos recursos naturais e em particular da biodiversidade.

95
Concentração de renda Concentração de poder

Concentração de terra Concentração privilégios

Esquema 1: Ciclo vicioso da concentração.

A visão segmentada, compartimentalizada e unilateral dos problemas ambientais e sociais do campo


brasileiro em nada contribuiu para sua resolução. Sendo assim, é necessário que a análise dessa
problemática seja feita não mais com enfoque unilateral, tampouco como uma justaposição de
problemas. Por isto, é necessário vislumbrar sua solução através de uma perspectiva em que o
processo de Reforma Agrária e a dinamização da agricultura familiar não apareçam como problema
para a conservação dos recursos naturais. E os instrumentos de conservação dos recursos naturais
não impeçam a realização da Reforma Agrária, tampouco a dinamização da agricultura familiar. Mais
explicitamente, a perspectiva desta nova postura deve ser a de que esta é estratégia fundamental para
aquela e vice-versa. Então surge o termo Reforma Agrária /Agricultura Familiar Sustentável, que

96
deve ser concebida como estratégia para conservação dos recursos naturais e a conservação dos
recursos naturais como estratégia fundamental para a sobrevivência do assentado/agricultor familiar.

Pode-se assim, refletir sobre o arcabouço de uma visão sistêmica da problemática social e ambiental
do campo brasileiro, a partir do qual se propicia a penetração, a motivação e a mobilização das
instituições encarregadas da elaboração e da implementação das políticas públicas, das
organizações da sociedade civil e de outros agentes sócio-econômicos e políticos diretamente ou
indiretamente relacionados com a agricultura. E, desta forma, tratar a agricultura como ecossistema
cultivado e socialmente gerido (WEID & ALMEIDA, 1997).

A Reforma Agrária Sustentável é a forma de ampliar a agricultura familiar sustentável com seus
micro-ecossistemas de cultivos diversificados. Diferente do que ocorre hoje com a agricultura
patronal de grande escala (derrubando grandes áreas de floresta) e de alta precisão (um pacote de
retorno econômico, “o tanto que investe é proporcional a tanto de lucro”), em que a monocultura é
o produto central e, onde funcionam em sua periferia, as atividades subordinadas (por exemplo as
culturas agrícolas que alimentam os trabalhadores). Também diferente do que ocorre com o
agricultor familiar, que apesar de não ser patronal, não ter grande escala monocultural e tampouco
ser uma agricultura de alta precisão, geralmente, quando tem capital adota o "pacote tecnológico da
revolução verde".

O que se conclui é que a busca deve ser por uma agricultura e uma sociedade alternativas e não
apenas pela tecnologia alternativa ou pela Reforma Agrária. Senão, o risco é continuar a exploração
dos trabalhadores rurais, deixando de ser uma exploração que envenena e passando para uma
exploração ecológica. Ou pode ocorrer a inclusão social mas com graves problemas ambientais, já
que o agricultor familiar capitalizado poderá adquirir o "pacote da Revolução Verde". Desta forma, a
importância maior do movimento por uma agricultura familiar sustentável está inicialmente na
produção da consciência - no caso de uma nova concepção de desenvolvimento rural. Quer se dizer
com isso, que a principal contribuição desse movimento não está na criação de novas tecnologias, ou
em uma ampla inclusão social, mas na criação de uma nova consciência sócio-ambiental, onde nasce
um modelo de desenvolvimento rural baseado na inclusão social associada à conservação dos
recursos naturais.

97
Uma das estratégias para deflagrar a construção de um projeto de desenvolvimento rural sustentável
no Brasil é formado por 4 premissas:
1. ampliação, viabilização e fortalecimento da agricultura familiar;
2. conservação dos recursos naturais;
3. atuação do Estado na promoção dos itens anteriores e
4. internalização por parte de todos os segmentos da sociedade civil e do governo para a necessidade
de se desenvolver um modelo de desenvolvimento rural sustentável no Brasil.

Existe concentração de terra em todo o Brasil, logo a Reforma Agrária deve ocorrer em toda sua
extensão43 com a devida incorporação dos assentados ao processo produtivo, onde os recursos
naturais estejam conservados, e as condições edafoclimáticas sejam boas para a produção agrícola.
Onde haja também a possibilidade de escoamento e comercialização dos produtos existentes. Isto
tudo, é claro, sem deteriorar os recursos naturais que estão no entorno e dentro dos assentamentos.

Evidentemente uma Reforma Agrária desta amplitude (não projetos pontuais de assentamento ou
programas de colonização) e que seja verdadeiramente sustentável (visando um desenvolvimento
sustentável do ponto de vista social, ambiental, cultural, econômico e político) exige ação do Estado,
não apenas na transformação da estrutura fundiária, mas também na viabilização e fortalecimento
dos assentamentos e da agricultura familiar. Ou seja, de nada adiantará fazer Reforma Agrária no
Brasil se os assentados/agricultores familiares não dispuserem de condições para no campo poderem
se manter com estabilidade e dignidade. Então o Estado deve atuar no sentido de propiciar
condições sociais e de produção para que a Reforma Agrária funcione. Em relação às condições
sociais, é necessário que esteja à disposição destas famílias alimentação, moradia, água, luz e esgoto,
estradas de acesso aos assentamentos, transporte, escolas e creches, hospitais, espaços esportivos e
culturais, acesso aos meios de comunicação e um sistema judicial e de segurança para todos.

43 Segundo Sampaio (1998), se a reforma agrária priorizar o Nordeste, o Sudeste, o Centro-Oeste e o Sul, será possível

assentar toda a população rural que necessita de terras em parcelas familiares, sem necessidade de desmatar um hectare
de mata na Amazônia. Não quer isto dizer que se deva deixar toda a Amazônia intocada. É perfeitamente possível
conciliar explorações econômicas dos recursos naturais da mata amazônica com a preservação do seu meio ambiente,
mas isto só poderá acontecer se essas explorações obedecerem a outra lógica, completamente distinta da que preside o
processo atual de penetração da agricultura capitalista na região.

98
As condições de produção, os recursos e o poder, devem ser distribuídos de modo assegurar que as
necessidades básicas produtivas sejam atendidas. Garantir que sejam respeitados os direitos dos
agricultores em relação ao uso da terra, acesso aos insumos e ao capital (crédito), assistência técnica
de qualidade, oportunidades de verticalização da produção e de comercialização. Somente desta
forma a Reforma Agrária poderá fazer parte de uma reforma estrutural do atual modelo de
desenvolvimento rural brasileiro.

A construção de um modelo de Desenvolvimento Rural Sustentável baseado na agricultura familiar


sustentável não é uma utopia impossível de se alcançar. Tal modelo vem sendo formulado por um
conjunto de experiências que ensaiam práticas significativas. Estas experiências refletem demandas
empíricas e possivelmente da conjugação delas pode ser formulado um modelo de desenvolvimento
rural para o Brasil. Portanto, não há um sujeito histórico, muitos são os sujeitos da construção deste
novo modelo.

A Reforma Agrária, a viabilização e o fortalecimento da agricultura familiar fazem parte do eixo


estratégico para o desenvolvimento rural sustentável. Contudo, a depender do modelo tecnológico a
ser promovido nos assentamentos de Reforma Agrária pode-se ter impactos ambientais e a longo
prazo até mesmo sociais negativos levando a uma insustentabilidade. Portanto, a Reforma Agrária é
condição necessária, mas não suficiente para a construção de um modelo sustentável de
desenvolvimento rural, por isto, associada à radical reestruturação fundiária deve ser promovida a
adoção massiva da tecnologia agroecológica.

A oferta destas condições sociais e produtivas depende de uma grande mudança no papel do
governo e de sua relação com a sociedade. O governo precisa ser de fato um agente democratizado
que oriente os rumos do desenvolvimento econômico e social. O governo deve ser gerido como um
espaço público, onde a participação da sociedade é um instrumento básico de decisão dos rumos e
das prioridades do desenvolvimento. A democratização dos órgãos públicos, a transparência
administrativa, a participação popular nos conselhos, câmaras e nos orçamentos são elementos
fundamentais. Por isto, os orçamentos e suas destinações devem ser feitos de forma participativa e
democrática, e devendo proporcionar toda infra-estrutura para as cidades e povoados rurais,
objetivando a melhoria do bem-estar da população - a qualidade de vida.

99
A construção de um novo modelo de desenvolvimento rural deve combinar ações voltadas para
mudar as políticas do governo federal e estadual e, ao mesmo tempo, incentivar iniciativas locais que
promovam novos processos de desenvolvimento ao nível dos municípios. Para se garantir a
sustentabilidade do novo modelo, os processos de desenvolvimento devem ser orientados por
diretrizes comuns, mas profundamente adequadas às realidades específicas do meio ambiente e da
sociedade em cada local. Por isto, é importante deixar claro que o desenvolvimento sustentável não
deve apenas ser propulsado pelo governo, mas é importante que seja atuado pela dimensão local.
Devendo se dar em um processo de mobilização das energias sociais, dos recursos e das
potencialidades locais, tendo como base a participação da sociedade no processo decisório. Desta
forma, a sociedade necessita de uma maior qualificação da sua organização e da sua participação nos
debates sobre os rumos do desenvolvimento do país, com o fortalecimento dos diversos
movimentos e entidades que se organizam os agricultores, ampliando suas capacidades de elaborar
políticas e imprimir novos processos de desenvolvimento.

Para a construção de um modelo de desenvolvimento rural sustentável, é fundamental que haja a


internalização, em toda a sociedade brasileira, de um comprometimento comum com um modelo de
desenvolvimento rural sustentável. Tal modelo deve ter a clareza do poder sinérgico da combinação
da justiça social e ambiental, onde a promoção da agroecologia, que é estratégia fundamental para a
conservação dos recursos naturais, necessita da ampliação, do fortalecimento e da viabilização da
agricultura familiar e vice-versa.

Este novo projeto de desenvolvimento deve ser articulado com o conjunto da sociedade e deve estar
constantemente em reavaliação e reelaboração. Para isto, as organizações urbanas e rurais devem
estar em constante processo de debate para a constituição de alianças, em todos os níveis,
construindo conjuntamente um projeto mais global. Todavia, para o "construir em conjunto", cada
indivíduo deve passar por uma mudança interior. É necessário o aperfeiçoamento do humano. Ou
seja, precisamos passar para um estágio mais elevado, sentindo que fazemos parte da Terra, tendo a
noção de que "a Terra não está à nossa frente como algo distinto de nós mesmos. Temos a Terra
dentro de nós. Somos a própria Terra que na sua evolução chegou ao estágio de sentimento, de
compreensão, de vontade, de responsabilidade e de veneração"(BOFF, 1999)

100
Este pode ser, então, o caminho para que a destruição dos recursos naturais tenha um freio; para
melhorar a qualidade de vida nas zonas rurais; para impulsionar um refluxo da cidade para o campo
além de promover a diminuição da pressão demográfica sobre seus recursos naturais nas cidades e
em suas periferias. Ou seja, tornar-se-ia possível o rompimento da hegemonia do complexo
agroindustrial e seu modelo deteriorador da natureza e devorador de energia e de dignidade humana
e por fim deflagraria a construção de um modelo de desenvolvimento rural sustentável no Brasil.

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