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Nota do Editor:
Com esta edição a revista Igreja Luterana atinge seu 50"
volume. São 50 anos de muitas e expressivas bênçãos. É um
marco significativo a que se pode galgar apenas orvalhado pela
graça divina. Poucas são as revistas neste país que chegam, a
este pedestal etário, razão pela qual Igreja Luterana ocupa lugar
de destaque na história religiosa e no cenário teológico em que
vivemos.
Porta-voz de um luteranismo sólido e coerente, Igreja Lu-
terana tem-se mantida altaneira em sua posição confessional num
contexto marcado por não pouca confusão no pensamento teoló-
gico. Cada número desta revista espelha o testemunho de uma
total consagração às Sagradas Escrituras e às Confissões Lute-
ranas. Com o passar dos anos Igreja Luterana muda seus edito-
res, renova seu conselho editorial, unifica sua língua sem entre-
tanto comprometer seu fundamento teológico.
Um aniversário por natureza começa com reflexão e nisto
há sempre um mérito porque previsão sem retrospecção é um
empreendimento arriscado e raramente prudente. É nesta con-
vicção que celebramos o passado homenageando figuras proemi-
nentes na história do Seminário Concórdia com um culto especial
cujo sermão proferido pelo Prof. Curt Albrecht transcrevemos.
A saudosa lembrança de homens santos é estímulo à con-
tinuidade na obra do Santo Ministério numa realidade em que
o pastor é cada vez mais desafiado a posicionar-se no campo da
ética. Em seu estudo sobre "Código de Ética do Pastor" o Dr.
Martim C. W a r t h apresenta os resultados submetidos a concilia-
res em que a ética do ministro de Deus é abordada no prisma
da liberdade, valores, propriedade, honra, responsabilidades e
autoridade no ambiente social e especialmente na relação com
sua congregação e co-pastores.
A questão da autoridade é outro assunto que o mesmo
autor apresenta sob o tema "A Responsabilidade dos Pais na
Educação dos Filhos". Embora aparentemente restrita, esta res-
ponsabilidade é tratada de forma abrangente envolvendo diver-
sos segmentos vivenciais do ser humano sob a ótica da Sagrada
Escritura e Confissões.
A série de artigos encerra-se com. "Prolegômenos à Escato-
logia do Antigo Testamento" (Prof. Acir Raymann) onde se
busca mostrar que a polaridade do binômio "já — ainda não"
FÓRUM
A CRISTOLOGIA DA PÁSCOA,
SEGUNDO I CO 15.20-28
A leitura de I Co 15.20-28 deu ensejo a uma reflexão sobre
a pessoa e obra de Jesus Cristo. Quando Paulo diz que "Cristo
ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que
dormem" (v. 20) ele afirma que Cristo morreu e ressuscitou.
Ora, "o salário do pecado é a morte" (Rm 6.23). Só se morre
por causa do pecado. Mas Cristo é "o Santo de Deus" (Mc 1.24;
Jo 6.69; At 3.14; 4.30), pois Maria deu à luz o "ente santo"
(Lc 1.35). Por essa razão se afirma a "perfeita impecaminosi-
dade" (anamartesia) de Jesus Cristo, segundo a natureza huma-
na (Dogmática Cristã, J . T . Mueller, Vol. I, p. 268). Claro, se-
gundo a natureza divina ele é o próprio Santo Deus. Ele era
verdadeiramente homem, mesmo sem pecado, pois o pecado não
faz parte da essência do homem. A Fórmula de Concórdia cha-
ma o pecado de "accidens" (FC, Ep I, 23; SD I, 57). Uma das
conseqüências desta impecaminosidade é a imortalidade (atha-
nasia) de Jesus Cristo, também segundo a natureza humana.
Assim Jesus Cristo não está sujeito à morte, nem segundo a na-
tureza divina, nem segundo a natureza humana.
Como então morreu e ressuscitou dentre os mortos? E v i -
dentemente não morreu a sua morte, mas a minha. Sua morte
foi vicária em lugar de todos os homens. Assim também a res-
surreição não foi a sua ressurreição, mas a minha. Sua ressur-
reição também foi vicária em lugar de todos os homens. Por essa
razão Paulo diz que sua ressurreição é "primícias dos que dor-
mem", é vicária em lugar dos que dormem. Quanto consolo:
cm Cristo vicariamente já ressuscitei e vou ressuscitar efetiva-
mente para a vida eterna no último dia.
IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 3
Como aconteceu então a morte e a ressurreição de Jesus
Cristo? Evidentemente não morreu segundo a natureza divina,
mas segundo a natureza humana no estado da humilhação. Mas,
como 0 Concilio de Calcedônia (451) nos ensina, as duas natu-
rezas estão unidas na única pessoa de Cristo de forma incon-
Fusa, imutável, indivisível e inseparável para sempre. Desta
forma nem a morte vicária separou as duas naturezas. Assim a
natureza divina participou efetivamente da morte vicária de
Cristo e lhe conferiu valor eterno. Mas a natureza divina não
saiu machucada ou diminuída. Na comunicação de atributos há
apenas um gênero majestático, em, que a natureza divina comu-
nica ou cede à natureza humana qualidades divinas. Não há um
gênero tapeinótico, em que a natureza humana passaria qualida-
des humanas à natureza divina, fazendo-a diminuir ou ser humi-
lhada. A humilhação não consistia na humanação, mas no fato
de que Cristo não usou sempre e inteiramente as qualidades di-
vinas comunicadas à natureza humana. A natureza humana ti-
nha sempre a posse dessas qualidades divinas, mas na humilha-
ção não fez sempre uso delas, como depois acontece na exaltação.
A "forma de Deus" e a "forma humana" de Fp 2.6,7 dizem res-
peito à natureza humana: ela tinha a posse da "forma de Deus",
mas usou a "forma humana" na humilhação para poder assumir
a morte vicária por todos os homens.
E o que aconteceu na morte e na ressurreição de Jesus
Cristo? Na morte não houve a separação das duas naturezas,
mas a separação de corpo e alma, que ambos ficaram continua-
mente unidos à natureza divina. Assim o próprio Cristo deu a
sua vida (não a tiraram dele) e a retomou, ressuscitando-se a si
mesmo (junto com o P a i e o Espírito Santo) em lugar de todos
os homens, unindo novamente corpo e alma. Agora o corpo era
glorioso, pois já não estava " n a carne", mas "no espírito" (I Pe
3.18), isto é, já não havia humilhação, mas iniciou a exaltação.
Assim "no espírito" desceu ao inferno, antes de aparecer res-
suscitado, para mostrar-se vivo e vitorioso sobre a morte e Sa-
tanás.
Paulo, no entanto, ensina que ainda há muito a vencer na
exaltação. Cristo quer vencer todos os inimigos: as forças do
mal dentro e fora de nós que conduzem à morte. O diabo já
está vencido. O homem já está remido. Falta, porém, vencer
a morte. Este é o último inimigo. Até lá Cristo vence continua-
mente a morte em nós pelo Evangelho do perdão. E quando
chegar o último dia e Cristo tiver vencido a morte pela ressur-
reição geral dos mortos, então a tarefa da humanação estará
cumprida. Segundo a natureza humana Jesus Cristo "também
se sujeitará àquele que todas as cousas lhe sujeitou, para que
Deus seja tudo em todos" (v. 28). Segundo a natureza humana
ETERNA (IN)SATISFAÇÃO
Quem poderia dizer, neste momento, que está plenamente
satisfeito? Será que ninguém tem nada a reclamar, nada a cri-
ticar? Pergunto: Estás satisfeito contigo mesmo, teu relaciona-
mento com os outros, o ambiente em que vives? Duvido muito.
Afinal, estamos numa escola. E uma escola, embora o termo
originalmente significasse "ócio", "descanso", é hoje sinônimo
de atividade. Escola é quase que por definição um viveiro de
insatisfeitos. Se cada um de nós estivesse plenamente satisfeito,
não estaríamos aqui. Eterna insatisfação. Parece que faz parte
da vida.
Jesus Cristo, o Messias da linhagem de Davi, observou isso
na criançada que brincava na praça de Nazaré. Brincavam de
festa de casamento e de enterro. Mas não se entendiam. Tinha
um grupo de crianças chatas, despóticas e insuportáveis. Que-
riam sempre impor a sua vontade. Estavam com a flauta na
mão e queriam que todos dançassem conforme a música que eles
tocavam. E r a m uns chatos insatisfeitos.
Mais tarde, no fogo da controvérsia com os líderes de
Israel, Jesus lembrou aquela brincadeira das crianças aos adul-
tos que, em sua atitude diante da visitação definitiva de Deus,
mostravam um comportamento idêntico. Contou-lhes a parábola
das crianças na praça.
João veio da parte de Deus e não comia nem bebia. Isto
significa que ele vivia do mínimo necessário. E r a um nazireu,
6 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
Amigo de publicanos, de pecadores. Meus amigo. Teu amigo.
Amigo daqueles que precisam dele e o recebem, colocando de
lado a sua flauta desafinada e ouvindo a música que ele toca
no trombone da lei e na flauta doce do evangelho.
Jesus, o amigo de pecadores. Nenhum título é tão precio-
so quanto este. Sempre que Deus, por sua lei, te tirar a flauta
desafinada ou te derrubar da cadeira do falso juiz que a todos
julga e por ninguém quer ser julgado.. . ao caíres, lembra-te:
Jesus, amigo do pecador. Aí terás eterna satisfação. Amém. —
VS
Devoção proferida no Seminário Concórdia no dia 27 de junho
de 1990, sobre Mateus 11.16-19.
IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 7
ARTIGOS
SE VÓS PERMANECERDES NA MINHA PALAVRA,
SOIS VERDADEIRAMENTE MEUS DISCÍPULOS
Curt Albrecht
Em Cristo Jesus, prezados ouvintes!
Certa vez "Indo Jesus para as bandas de Cesaréia de F i l i -
pe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho
do homem? E eles responderam: Uns dizem: João Batista;
outros: Elias; e outros: Jeremias, ou algum dos profetas. Mas
vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo Si-
mão Pedro, disse Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo." Mt
16.13-16.
À época da Reforma a situação não era muito diferente.
Poucos eram os fiéis que conheciam bem a Cristo Jesus. Em
ambas as épocas o evangelho de Cristo estava escondido entre
inúmeros preceitos humanos.
Hoje — penso — a situação é quase a mesma. Poucos são
os fiéis discípulos que realmente sabem quem é Jesus, que crêem
nele e que o servem. Mas há aqueles que conhecem e que con-
fessam a "Cristo, o Filho do Deus vivo". Entre os que confes-
sam isso estamos nós.
É a seus discípulos, aos que crêem nele, que Jesus diz: SE
VÓS PERMANECERDES NA MINHA PALAVRA, SOIS VERDA-
DEIRAMENTE MEUS DISCÍPULOS, pois I — C O N H E C E R E I S A
V E R D A D E e II — A V E R D A D E VOS L I B E R T A R Á .
I
CONHECEREIS A VERDADE
Havia uma grande confusão entre os judeus a respeito de
Jesus (Jo 7.40-43); confusão que provocou dissensão entre eles.
Jesus ia identificando-se nos seus discursos: " E u sou a luz do
mundo" (8.12); "Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima; vós
sois deste mundo, eu deste mundo não sou" (8.23); "Quando
levantardes o Filho do homem, então sabereis que eu sou, e que
nada faço por mim mesmo; mas falo como o P a i me ensinou"
(8.28).
Os fariseus, os escribas e os principais sacerdotes, justa-
mente aqueles que, por primeiro e melhor, deveriam reconhecer
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em Jesus o verdadeiro Filho de Deus, falharam e não só não o
reconheceram como tal, mas ainda o perseguiam e contradiziam,
E a multidão ficava confusa. Muitos, no entanto, creram nele.
Em nossa perícope, Jesus está falando àqueles judeus que
creram nele. Ele lhes diz algo muito importante, lhes diz três
coisas importantes: 1) Permanecer na palavra dele é caracterís-
tica do verdadeiro discípulo dele; 2) Permanecer na palavra dele
é conhecer a verdade; 3) Conhecer a verdade da palavra dele e
permanecer nela é sinônimo de ser e estar libertado da escravi-
dão ao pecado. Isto foi dito aos que creram nele; mas quem lhe
retrucou foram os judeus incrédulos.
"Somos semente de Abraão." Achavam que. por serem
descendentes de Abraão segundo a carne, eram, automaticamen-
te, filhos de Deus salvos e livres: "Jamais fomos escravos de
alguém" —disseram para Jesus. Consideravam-se livres de tu-
do e de todos, senhores de sua própria vida. Pensavam assim de
si na qualidade de "semente de Abraão".
Jesus, porém, lhes mostra, que não é bem assim, e diz:
"Todo o que comete pecado é escravo do pecado". O pecador
peca não porque é senhor do erro, mas porque é escravo do erro.
Ou teriam aqueles judeus querido dizer que eles não eram peca-
dores? É ilusão o homem natural pensar que é livre, que é
senhor de si, que é autoridade máxima no mundo. Praticar erros
é ser escravo do erro, escravo do pecado. É o que Jesus está
dizendo.
Além disso, escravo não é filho, e filho não é escravo na
casa. 0 escravo é passageiro; ele não é da casa; ele não fica
para sempre na casa, porque não é senhor; ele é dependente,
está à mercê do senhor. Já o filho é da casa, é herdeiro, é
senhor. Por isso o escravo depende do filho.
Também nós somos, por natureza, escravos do pecado, por-
que "Não há homem justo sobre a terra que faça o bem, e que
não peque" (Ec 7.20); "pois todos nós somos como o imundo,
e todas as nossas justiças como trapo da imundícia" (Is 64.6).
"Todos pecaram c carecem da glória de Deus" (Rm, 3.23). "ft
como confessa o salmista Davi: " E u nasci na iniqüidade, e em
pecado me concebeu minha mãe" (Sl 51.5).
O escravo do pecado só pode ser libertado pelo Filho de
Deus, que é o Senhor da casa. Sem Cristo Jesus todos estão
perdidos e condenados.
É por causa disso que Jesus disse: "Se, pois, o Filho vos
libertar, verdadeiramente sereis livres"! E ele nos libertou,
([liando morreu com e pelos nossos pecados e quando ressuscitou
dentre os mortos, "Porquanto Deus enviou seu Filho ao mundo,
não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse
12 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
M E U S . DISCÍPULOS, e conhecereis a verdade; e a verdade vos
libertará".
Irmãos ouvintes, graças à misericórdia de Deus, temos um
Salvador, temos sua palavra, temos a verdade. Temos ao Deus-
conosco todos os dias conosco!
Procuremos conhecer mais e mais esta verdade, para crer
nela, permanecer nela, ser discípulos dela. Esta verdade — Cris-
to — nos libertará para sempre.
E saibamos que uma maneira de viver bem nosso cristia-
nismo luterano é não esquecer a história da Igreja, lembrando-
nos de nossos guias, os quais nos pregaram a Palavra de Deus
e nos levaram, assim, ao discipulado de Cristo.
Imitemos a fé na verdade da palavra de Deus que nossos
antepassados tiveram e continuemos sendo discípulos fiéis de
Cristo, esperando a libertação final e total no lar celeste.
Mas, enquanto nos é dado viver na Igreja militante, em
meio a um mundo confuso, saibamos nós confessar e testemu-
nhar com os apóstolos do Senhor Jesus, que Cristo é o Filho do
Deus vivo; que nós cremos nele e somos seus discípulos. Pro-
clamar que Jesus é o Salvador, o único que liberta do pecado e
da morte eterna. Amém.
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CÓDIGO DE ÉTICA DO PASTOR
Martim C. Warth
O pastor é chamado para pastorear o rebanho de Deus
sob o Bom Pastor, Jesus Cristo (1 Pe 5.2,4). Há regras de con-
duta bem específicas para os obreiros de Deus na Escritura. Elas
mencionam a capacidade de trabalho, a motivação pessoal, a
conduta social e os proibitivos. Encontram-se em 1 Pe 5.1-4;
1 Tm 3.1-7; 4.16; 2 Tm 2.24-25; 4.2,5; Tt 1.7-9; 2.1,7-8.
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d. deve ser temperante, sóbrio, modesto, cordato, i n i -
migo de contendas, brando, paciente, justo.
D. Proibitivos:
0 ministro não pode ser: constrangido ao ofício,
ganancioso (avarento, cobiçoso), dominador, vio-
lento, arrogante, irascível, que goste de contenda e
de muito vinho.
1, Responsabilidade e Vocação.
Na Apologia da Confissão de Augsburgo se confessa que
"a educação dos filhos" é uma questão da "vocação da cada
qual" (Ap X V , 25) 1 A vocação, que pode ser escolhida, como no
caso dos pais, ou imposta, como no caso dos filhos, pode até ser
decorrente de um "costume c i v i l " (Ap X V , 47). O próprio casa-
mento e a formação de um lar, embora estabelecidos a partir
de instintos naturais (o instinto sexual e o instinto gregário),
criados por Deus, são considerados por Lutero "ein weltlich
Geschäft", um assunto do mundo. 2 Este "costume c i v i l " se trans-
forma em vocação nas ordens sociais, criadas e ordenadas por
Deus. Lutero menciona geralmente três ordens: o "ordo" eco-
nômico, que inclui a família; o político, e o eclesiástico. Deus
regulamenta a vocação na família pelo primeiro uso da lei, es-
pecialmente nos seus 4º e 6º mandamentos.
A responsabilidade dos pais na educação dos filhos se re-
sume na aceitação consciente ou inconsciente da sua vocação de
pais. A vocação é uma transferência de autoridade. Essa auto-
22 i .. IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
ridade é necessária nas ordens sociais, pois só ela torna a vida
possível entre pessoas dentro de uma ordem social. Sem autori-
dade incia o caos. A última autoridade é do autor último, Deus.
Na estruturação das ordens sociais Deus autoriza outros a exer-
cerem autoridade em seu nome. São as "máscaras" de Deus,
como diz Lutero, 3 através das quais sempre ainda cumpre ver a
autoridade última de Deus. Como "não há autoridade que não
proceda de Deus" (Rm, 13.1), isso implica em responsabilidade,
tanto dos que exercem a autoridade, como dos que estão sob a
autoridade. A Apologia da Confissão de Augsburgo caracteriza
a responsabilidade como "obediência na vocação". 4
2. Responsabilidade como Direito e Dever.
Responsabilidade pressupõe direitos e deveres. Se há ne-
cessidade de "obediência na vocação" está também implícito que
alguém nos chamou e nos investiu de direitos. Ser chamado é
ser escolhido para exercer o privilégio de representar alguém e
de exercer autoridade em seu nome. Significa que alguém, teve
confiança em nós e nos honrou com uma distinção sem par. É
o privilégio da individuação em relação à massa. Somos alguém
porque alguém nos chamou pelo nome e nos autorizou a receber
destaque para exercer uma função. Somos "máscaras" daquele
que nos chamou. Exercemos um ofício que deve ser reconhecido
pelos demais. Este é o grande direito da vocação.
É implícito com esta honra que haja "obediência na voca-
ção". A pessoa chamada precisa integralizar a vocação e exercer
a tarefa inerente ao chamado. Daí resulta o dever. Precisamos
"responder" ao chamado, exercendo-o convenientemente. Os de-
veres podem ser implícitos ou explícitos, mas eles são inerentes
em qualquer posição de responsabilidade. Há o dever de re-
presentar bem, aquele que nos chamou. E há o dever de cumprir
a tarefa em relação àqueles para os quais se destina o interesse
da vocação. Sempre somos chamados para uma relação de pri-
vilégio com outros. Os outros têm o direito de esperar o meu
cumprimento do dever de ofício a que me levou o chamado.
Assim a vocação implica em obediência. A responsabilidade,
portanto, se verifica em direitos e deveres, como podemos ver
no caso específico da responsabilidade dos pais na educação dos
filhos.
2. Confissões.
Lutero acentua esta responsabilidade nos sobrescritos das
diversas partes do Catecismo Menor, mostrando "como o chefe
de família deve ensiná-los com toda a simplicidade a sua casa".
Ele faz então uma exposição magistral desta responsabilidade
dos pais no seu comentário do 4º mandamento do Catecismo
Maior. Entende que a vocação dos pais está essencialmente na
palavra "honrar", guando o mandamento diz "Honrarás a teu
pai e a tua mãe". Com isso
IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 25
pria vocação a outros. No seu louvor Lutero já inclui, a exem-
plo de "gente antiga e sábia", os mestres, quando diz:
"Deo, parentibus et magistris non potest satis gratiae
rependi", isto é: "A Deus, aos pais e aos mestres, nun-
ca se poderá agradecer e recompensar de modo su-
ficiente."15
Gomo entende que Deus "não quer patifes e tiranos nesse ofício
e governação",17 Lutero já havia apelado cinco anos antes aos
conselheiros de todas as cidades alemãs para estabelecerem e
manterem escolas cristã, reconhecendo neles uma autoridade
auxiliar para a educação dos filhos de acordoi com; a vontade
de Deus.18 Mesmo assim permanece a tese básica que reconhece
os pais como os primeiros e fundamentais responsáveis pela edu-
cação dos filhos. Essa perspectiva também foi reconhecida como
um direito natural pela humanidade.
3. Os Direitos Humanos.
As Nações Unidas aceitaram a tese da responsabilidade
dos pais pela educação dos filhos. Com isso apenas confirma-
ram o humanismo do homem que já traz embutido por natureza
o preceito fundamental de Deus da responsabilidade individual
dos pais e da liberdade humana de escolher. Claro, esta liber-
dade o cristão só encontra quando aceita pela fé o único Senhor,
Jesus Cristo. Os pais que geram o filho são individualmente res-
ponsáveis por ele. Isso diz respeito ao desenvolvimento da vida
e da cultura, para habilitar o filho individualmente a afirmar a
sua liberdade em relação com aqueles que formam o seu am-
biente social e de vida. As teses do "kibbutz" e do socialismo
de estado não são inerentes à natureza, mas uma imposição filo-
sófica e política. A natureza do homem tende à preservação da
1. Escritura.
Lutero, ao "pregar aos pais, e a quantos lhes fazem as
vezes, sobre como devem portar-se com os que a seu governo
estão encomendados", reconhece que este assunto "não ficou
exarado nos Dez Mandamentos de modo expresso", mas que é
"amplamente ordenado em muitos passos da Escritura". 20 A re-
ferência básica que Lutero colocou na Tábua dos Deveres do
2. Confissões.
Na exposição do 4" mandamento Lutero lembra esta res-
ponsabilidade dos pais. Para ele os pais e "quantos lhes fazem
as vezes" devem
ponderar no fato de que devem obediência a Deus, c
acima de qualquer coisa desempenhar-se-ão, de cora-
ção e fielmente, dos encargos de seu ofício, não cui-
dando apenas do sustento material de filhos, emprega-
dos, súditos, etc, porém sobretudo educando-os para
louvor e honra de Deus.21
1. A Transferência do Modelo.
Os pais não são apenas "máscaras" de Deus no sentido de
serem autoridade em lugar de Deus para os filhos, mas, na rea-
lidade, representam a "imagem de Deus". Embora o. homem
perdesse a imagem de Deus com a queda dos primeiros pais,
ainda permanecem aspectos dessa imagem que são passados aos
filhos. Há um relativo conhecimento natural de Deus e uma
noção da vontade de Deus como aparece nas leis das ordena e
é reconhecido pela consciência moral. No cristão a imagem d i -
vina começa a ser restaurada pela fé para atingir a plenitude
apenas na ressurreição.
2. A Continuidade do Exemplo.
A criança copia modelos. Isso ressalta a grande respon-
sabilidade dos pais na educação dos filhos. Não são apenas as
palavras de estímulo e encorajamento ou repreensão que vão
moldar o comportamento da criança. São especialmente os
exemplos vividos pelos pais que educam e moldam os filhos.
Há uma continuidade nesta modelagem de uma geração a outra.
Quando o pai aceita a autoridade de Deus, do governo, do pa-
trão, da polícia, o filho poderá copiar o exemplo de obediência
à autoridade que o próprio pai representa. Os pais representam
exemplos de valores morais, de padrões, de etiqueta, de gentile-
za, de ternura, de amor, que são copiados pelos filhos. A opinião
que os pais têm dos filhos são o padrão para a avaliação que
o próprio filho faz de si mesmo. Nós geralmente vivemos de
acordo com a reputação que temos. O relacionamento dos pais
com a sociedade dará as dicas para o filho se orientar fora do
lar. O sucesso ou o fracasso dos pais geralmente são copiados
pelos filhos. O modelo sexual dos pais forma a estrutura básica
para o relacionamento sexual do filho. O amor dos pais conti-
nua normalmente no amor dos filhos. O problema é que o mau
exemplo dos pais geralmente se fixa mais profundamente nos
filhos do que os exemplos bons, talvez por causa da tendência
natural do ser humano para o caos. Isto mostra a importância
da relação positiva dos pais como exemplos para os filhos.
3. A Alegria de Viver.
V i d a é algo precioso que defendemos por instinto natural.
A pessoa humana se realiza mais quando pode sentir a alegria
E. A TRANSFERÊNCIA DA VOCAÇÃO
32 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
estudos. Lutero termina o apelo: "Bem, meus queridos alemães,
falei que chega: vocês ouviram o seu profeta!" 32
A escola nem sempre era formal no tempo de Lutero, pois
podia englobar a aprendizagem com um "mestre" em técnicas
é artes, como a aprendizagem nos Senai e Senac de hoje. Ao
mesmo tempo já iniciava uma recompensa salarial pelo trabalho
feito durante a aprendizagem. Por isso Lutero arrisca uma dei-
xa contra as greves dos sindicatos de hoje, dizendo que os em-
pregados "até que deviam voltar salário e regozijar-se com o fato
de poderem receber patrões e patroas".33
2. Governo e Igreja.
Lutero transfere a vocação dos pais também para o go-
verno e a igreja. Louva os romanos que
chamaram a seus príncipes e magistrados de patres
patriae, isto é, pais da pátria, para grande vergonha
nossa, que pretendemos ser cristãos, porquanto não os
chamamos também assim, nem ao menos os conside-
ramos e honramos como tais.34
F. CONCLUSÃO
NOTAS
1As Confissões Luteranas serão citadas pelo Livro de Concórdia.
Porto Alegre/São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, 1980. A Apologia da
Confissão de Augsburgo será citada como Ap, o Catecismo Maior como
CM. Ap XXVII, 49-50: "Propõe-se o exemplo de obediência na vocação.
. . . As vocações são pessoais, da mesma forma como as próprias incum-
bências variam de acordo com o tempo e as pessoas. Mas o exemplo de
obediência é geral. . . . Destarte, perfeição, para nós, é cada qual obedecer
com verdadeira fé à sua vocação." Como isto implica em correção e
arrependimento, Melanchthon diz: "E nessas coisas colocamos a perfeição
cristã e espiritual, se crescem simultaneamente o arrependimento e, no
arrependimento, a fé." (Ap IV, 353).
2
"Eiri Traubüchlin für die einfáltigen Pfarrherrn", 1, pág. 528 de
Die Bekenntnisschriften der evangelisch-hitherischen Kirche. 4º edição.
Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1959.
3
W A 31 I, 435. Citação de 626. Der 147.Psalm Lauda Jerusalem
ausgelegt. 1532. Se encontra em WA (Weimar) 31 I (427) 430-456 ou
W 2 (St. Louis) 5, 1302-1333. — Citado também em Gustav Wingren,
Luther On Vocation. Philadelphia: Muhlenberg Press, 1957, pp. 137 a 143.
4
Ap XXVII, 49-50. Ver nota 1.
5
6
CM I, 105.
7
CM I, 106.
8
CM I, 107-108.
9
CM I, 115.
CM I, 124.
IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 35
PROLEGÔMENOS À ESCATOLOGIA DO
ANTIGO TESTAMENTO
Acir Raymann
36 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
ainda está por ser herdada de sorte que o Pentateuco conclui
perscrutando o horizonte do futuro (Dt 33-34).2
Esta mesma dimensão futura da fé israelita pode-se veri-
ficar nos Profetas Anteriores. Em, Josué Deus dá a Israel a
Terra Prometida. Contudo, após a Conquista, há ainda muita
terra a ser conquistada (cap. 13) e distribuída (cap. 14-22). No
período dos Juizes, por mais de três séculos, Israel foi ameaçado
por inimigos. O descanso permanente que Yahweh prometera
era um "ainda não". O livro de Samuel está centrado em Davi,
seu entronamento e a aliança davídica (2 Sm 7; 23.5). A ênfase
da aliança davídica é a promessa de que Yahweh irá estabelecer
e manter a linhagem e o reino de Davi para sempre. O livro de
Reis continua a desenvelopar a promessa divina a Davi. Salo-
mão constrói o Templo e ora para que Yahweh continue a aben-
çoar Israel e as nações pela Sua presença graciosa no Taberná-
cülo (1 Rs 8). Os Profetas Anteriores encerram com a afirma-
ção de que o rei Joaquim, da linhagem de Davi, é libertado da
prisão no exílio babilônico (cap. 25). A promessa davídica per-
manece ainda intacta; no exílio há ainda esperança para Israel.
A mensagem dos Profetas Posteriores está centrada na
promessa divina pelo futuro. Embora o juízo de Deus sobre-
venba por causa da rebelião de Israel, Amós diz que passado o
juízo virá a restauração (9.11-15). A ira de Deus está a serviço
da Sua misericórdia. A ameaça da ira de Deus é Sua penúltima
palavra; a palavra final é a promessa da Sua misericórdia. Os
profetas focalizam a atenção do povo de Deus emi diferentes
quadros emoldurados pela futura promessa escatológica. No cen-
tro está Yahweh e Sua graciosa presença em Sião. Deus criará
um novo Israel que consistirá de crentes: o fiel remanescente
de Israel (Sf 3.11-20) e gentios convertidos (Sf 3.9). Tanto
israelitas quanto gentios tornar-se-ão um povo de Deus (Is
19.24-25; Am 9.11-12). Deus formará este novo Israel pelo per-
dão dos pecados (Jr 31.31-34) e pelo derramamento de Seu San-
to Espírito (Jl 2.28-29). Para o Seu povo escatológico reunido
em torna da presença de Yahweh (Jl 3.17) e do Messias (Is 11;
Mq 5), Deus criará "novos céus e nova terra" (Is 65.17-25).
Também os Escritos apontam unanimemente para o fu-
turo. Os Salmos são dominados pela esperança em Yahweh.
Maldições para os ímpios e bênçãos para os justos na Literatura
Sapiencial devem, ser entendidas como escatológicas. Perder es
ia perspectiva significa ser partícipe da superficial teologia dos
amigos de Jó, que entenderam as ameaças e bênçãos como tem-
porais. No centro do Livro de Lamentações está a confiança
do poeta de que as misericórdias) do SENHORi jamais se findam
— por isso ele espera no S E N H O R (3.19-26). Daniel proclama
o Reino escatológico de Deus ao falar de "um como o Filho do
38 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
e que serão desfrutadas apenas pelos crentes. O prometido fu-
turo do Antigo Testamento é um futuro centrado no Evangelho;
é o futuro Reino de Deus, não uma utopia econômica ou política.
A ameaça da ira escatológica de Deus contra os, incréus
tem por objetivo conduzir pecadores ao arrependimento (p. ex.,
Sf 2.1-3; Is 66.24). Mas a promessa da misericórdia escatológica
de Deus visa criar e manter a esperança em Yahweh (Sl 73; Is 35;
40-66). A escatologia do Antigo Testamento é, pois, de uma
relevância muito prática. Não é uma especulação abstrata; pe-
lo contrário, ela conclama ao arrependimento do pecado e ao
exercício da fé (p. ex., Is 8.17). A certeza que as promessas es-
catológicas produzem é uma certeza em Yahweh, não um, senti-
mento piedoso com vistas à otimização do mundo; é uma cer-
teza em Deus, não no homem ou no processo natural da história
(Sl 39.7).3
Este aspecto sola fidei do Antigo Testamento precisa ser
enfatizado em contraposição às re-leituras secularizadas ou mar-
xistas que se fazem do Antigo Testamento.4 Da mesma forma a
função das promessas escatológicas de conclamar pessoas à fé
e à esperança em Deus deve ser reiterada para neutralizar neo-
apocalípticos que utilizam profecias do Antigo Testamento como
bola de cristal para satisfazer a curiosidade humana sobre o
futuro.5
O Novo Testamento apropria-se destas promessas do A n -
tigo Testamento e enquadra-as na moldura do "já — ainda não".
Por um lado, as promessas escatológicas vetero-testamentárias
cumprem-se em Cristo. Na carta ao Gálatas o apóstolo São Pau-
lo afirma que Cristo é o "descendente" de Abraão, o Israel re-
duzido a U m , através de Quem todas as nações da terra são
abençoadas (cap. 3). Em outros textos, a Escritura atesta que
o novo, o maior Davi chegou e assenta-se no trono davídico como
Rei sobre todos (p. ex., Lc 1,32; At 2.29-30). Um novo e maior
Templo surgiu (Mt 12.6; Jo 2.18ss). Um, novo Israel Cristo fez
nascer formado tanto por judeus quanto por gentios pelo perdão
dos pecados e o derramamento do Santo Espírito (Gl 3.28-29);
At 2.1-4). O escatológico Reino de Deus manifestou-se em Cristo
(Lc 11.20; Cl 1.13). A morte foi tragada pela vitória (1 Co
15.54); o " D i a do S E N H O R " chegou (2 Co 6.1-2).
Por outro lado, o Novo Testamento projeta as promessas
do Antigo Testamento na tela do futuro e declara que a consu-
mação é um "ainda não". Cristãos hão de herdar as promessas
feitas a Abraão (Rm 4.13ss.; Gl 3.14). O Filho de Davi e o
S E N H O R de Davi virá novamente (Ap 22.16-20). Deus "taber-
naculizará" com Seu povo para sempre (Ap 21.3,22). O Novo
Israel de Deus será congregado no Último D i a para adorá-Lo
(Mt 24:31; Ap 14). O Reino escatológico de Deus é ainda futuro
Sinais escatológicos
0 Antigo Testamento apresenta o escatológico " D i a de
Y a h w e h " como sendo precedido e acompanhado por determina-
dos sinais que podem ser agrupados em duas categorias, ou seja,
fenômenos cósmicos e intensa tribulação contra os santos. Os fe-
nômenos cósmicos têm sua imagem provavelmente derivada da
teofania divina no Monte Sinai onde havia trovões e relâmpagos
e o monte esfumaceava e tremia (Ex 19.1-25). Esta linguagem
teofânica é projetada no futuro yôm Yahweh. Os profetas o des-
crevem como um; dia assombroso em que a terra irá estremecer
e até os corpos celestes irão se entenebrecer (p. ex., Am 5.18-20;
Sf 1.14-18; Jl 2.30-31). Estes sinais cósmicos dão testemunho
Daquele que está por vir: O S E N H O R dos Exércitos aproxima-se
e com tão grande ira que, como diz o profeta Isaías, os incréus
esconder-se-ão ante o Seu terror (2.10-19).
Textos do Antigo Testamento falam de uma intensa per-
seguição contra os santos pouco antes do eschaton. O intérprete
bíblico precisa reconhecer que tais textos estão escritos em gê-
neros proto- e apocalípticos. Por esta razão não devemi ser in-
terpretados literalisticamente como os dispensacionalistas geral-
mente o fazem.6 Deve-se considerar que estes textos empregam
figuras e vestem, sua mensagem com indumentária antes de Cris-
to. Os capítulos 38 e 39 de Ezequiel, por exemplo, descrevem os
últimos dias como de guerra contra Israel. Os inimigos são
nações distantes do norte e do leste (38.2-6). Não obstante a
dificuldade em identificar os lugares, Meseque e Tubal foram
localizados na Anatólia. A identidade de "Gogue da terra de
Magogue" é imprecisa mas com certeza não se referem à União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas como, de novo, dispensa-
cionalistas sustentam.7 O texto enfatiza que Yahweh trará estes
inimigos contra Seu povo Israel e depois os destruirá para vin-
dicar Sua santidade perante as nações. Ezequiel 38 e 39 não
devem ser interpretados literalisticamente; não se pode cogitar
em uma guerra moderna no Oriente Médio ou no atual conflito
no Golfo Pérsico. A ordem divina ao profeta de falar "às aves
de toda espécie, e a todos os animais do campo" (39.17) de-
monstra a natureza simbólica da linguagem. O profeta emprega
linguagem tipológica para descrever os derradeiros estertores dos
40 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
inimigos do povo de Deus. Esta guerra final estará sob o con-
trole de Deus e através de Sua vitória Yahweh vindicará Sua
santidade diante de todos. São João, em Apocalipse 20.7-10,
utiliza esta figura de Ezequiel para descrever o "pouco tempo"
de Satanás contra a Igreja.
O profeta Zacarias no capítulo 14 também descreve, em
linguagem apocalíptica, uma guerra final contra Jerusalém. A
ênfase de Zacarias está novamente em que Yahweh manifesta
Seu domínio sobre todas as coisas vencendo os inimigos do Seu
povo. O profeta, entretanto, revela um outro propósito para es-
ía intensa perseguição. E l a tem por objetivo "refinar" e "testar"
o Israel de Deus visando primordialmente fortalecer a fé do re-
manescente (13.8-9).
Daniel 7 e 11 também mencionam uma perseguição esca-
tológica contra os santos, embora numa abordagem diferente da
de Ezequiel e Zacarias. Daniel enfatiza que tal perseguição será
comandada por um " r e i " mau. Em sua descrição este persona-
gem é um novo e maior Antíoco IV. A linguagem, é tipológica:
assim como Antíoco irá perseguir os santos no período grego,
da mesma forma levantar-se-á um " r e i " mau que perseguirá, os
santos na era escatológica (7.20-27). Ele se arrogará prerroga-
tivas divinas e atacará o povo de Deus (11.36-15). Seu fim, en-
tretanto, não tardará em chegar (7.26; 11.45). Nestas visões da-
das a Ezequiel este " v i l ã o " escatológico é descrito em termos
semelhantes ao tipo, ou seja, Antíoco IV. Como ocorre com
toda linguagem escatológica, o antítipo não é replica exata do
tipo. Contudo, estes textos revelam algo da natureza do perse-
guidor. Ele reinvidicará prerrogativas divinas, perseguirá os
santos, virá de Roma, a quarta besta.8 Também este será conde-
nado no julgamento final. O apóstolo São Paulo, em, 2 Tessalo-
nicenses 2 cita Daniel 11: o Novo Testamento relaciona este " r e i "
mau com o "homem da iniqüidade", o Anticristo.
Outro aspecto relevante na escatologia do Antigo Testa-
mento é o Advento de Yahweh. A teofania do Sinai, como vimos,
é o tipo da grande teofania escatológica, o yôm Yahweh. Os pro-
fetas, em especial, destacam o yôm Yahweh como evento impo-
nente, visível a todos. Zacarias lembra que Ele virá com todos
os Seus anjos (14.5); Isaías, que Ele virá "em fogo" (66.15).
Este escatológico "dia do S E N H O R " tem seu locas especialmente
em Sofonias. Jerônimo traduziu Sf 1.15 por dies irae, dies illa,
que passou a ser tema musical na Igreja Católica Romana e
Protestante sendo também parte do repertório do coral do Semi-
nário em. tempos passados. Por um lado o yôm Yahweh é um
dies irae em que Deus consumirá todos os iníquos' (1.2-3). Por
outro, aqueles "que invocam o Nome de Yahweh" — tanto o
NOTAS FINAIS
KAISER, Walter C. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo, Vida
Nova, 1980 visualiza esta promessa como permeando todo o Antigo Tes-
tamento.
2
CLTNES, David J . A . The theme of lhe pentateuch. University of
Sheffield, 1978.
3
ZIMMERLI, Walther. Der Mensch und seine Hoffnung im Alten Tes-
lament. Gottingen, Vanderhoeek und Rupreeht, 1968 explora este aspecto
com propriedade.
4
Cf., p. ex., LIBÂNIO, João B. e BINGEMER, Maria Clara L. Escatolo-
gia Cristã. In: A Libertação na História. Petrópolis, Vozes, 1985, tomo X,
série III.
5
Talvez o mais popular nesta linha seja LINDSEY, Hall e C A R L S O N ,
C . C . A agonia do grande planeta terra. David A. de Mendonça, trad. São
Paulo, Cruzada da Literatura Evangélica do Brasil e Mundo Cristão, 1973.
6
Uma breve mas excelente avaliação critica destes movimentos numa
ótica luterana (e que clama por tradução) está em The end times: a study
on eschatology and millenialism — a report of the Comission ore Theology
and Church Relations of the Lutheran Church-Missonri Synod. s. 1., s.
ed., setembro 1989. Uma análise mais popular pode ser encontrada em
P L U E G E R , Aaron Luther. Things to come for planei earth. St. L o u i s , Con-
córdia, 1977. Para um estudo mais abrangente dos movimentos milenistas
recentes, cf. ERICKSON, Millard ,J. Opções contemporâneas na escatologia:
IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O T/1991 45
um estudo do milênio. Gordon Chown, trad. São Paulo, Vida Nova, 1982.
Embora Erickson se mostre crítico dos movimentos de forma geral, ele
mesmo inclina-se a um "pré-milenismo pós-tribulacionista".
Cf. Y A M A U C H I , Edwin M. Foes from the Noerthern frontier. Grand
Rapids, Baker, 1982. Cf. também LINDSEY, Hà, óp, cr/., p. 54-65.
8
Um longo estudo para a identificação da quarta besta no capítulo 7
é feito por YOUNG, Edward J. The prophecy of Daniel: a commentary.
Grand Rapids, Eerdmans, 1972, p. 275-94. Cf. também L E U P O L D , H . C .
Exposüwn of Daniel. Columbus, The Wartburg Press, 1949, p. 287 e suas
referencias ao capítulo 2 de Daniel.
9
Cf., p. ex., COOKE, G . A . The book of Ezekiel: a criticai and exege-
tical commentary. In: The International Criticai Commentary. New
York, Charles Scribner's Sons, 1937, v. 2, p. 398'ss.
A bibliografia sobre o assunto é ainda bastante incipiente mas uma
boa introdução sobre a matéria pode ser buscada em SNYDER, John.
Reencamaçao ou ressurreição? São Paulo, Vida Nova, 1985.
11
SCHMIDT, Heinrich. the doctrinal theology of lhe Evangélica!
Lutheran Church. 3. ed., rev. Charles A. Hay e Henry E. Jacobs, trad.
Minneapolis, Augsburg, 1961, p. 282-83.
12
KRAUS, Hans-Joachim. Theology of the Psalms. Keilh Crim, trad.
Minneapolis, Augsburg, 1986, p. 162-68
13
SCHMIDT, Heinrich, op. cil.
46 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
AUXÍLIOS HOMILÉTICOS
(Os auxílios homiléticos desta edição baseiam-se no Evangelho
do Dia, conforme a Série Histórica Revisada).
DIA DE PENTECOSTE
João 14.23-27
19 de Maio de 1991
A Festa
Ao longo dos tempos o Pentecoste tem sido visto pelos
cristãos como se tivesse sido equivalente a um espetáculo mo-
derno de luz e som, A narrativa de Atos 2 tem servido para
mostrar que afinal, sob certas circunstâncias, Deus pode e vai
impressionar os sentidos e assim sacudir os céticos e dar força
à mensagem dos seus, crentes.
T a l ingênua afirmação do Pentecoste como espetáculo im-
pressionante esquece entretanto que nem os céticos de plantão
no dia do Pentecoste se deixaram impressionar, muito menos
convencer. "Estão embriagados", disseram então e até boje go-
zam dos cristãos.
Fixar-se neste aspecto do Pentecoste tem um aspecto po-
sitivo, como diz o apóstolo: A igreja se edifica a si mesma.
Entretanto, o que o Pentecoste tem de especial e único é o fato
de ser uma data, um marco, que fixa o novo tempo de Deus com
o homem em busca do perdido.
A pregação do dia de Pentecoste deveria por isto evitar
dois desvios que facilmente se notam. Primeiro, o Pentecoste
não foi um espetáculo capaz de fazer calar os céticos. Os céticos
de plantão naquele dia gozaram: Estão embriagados. O Pente-
coste não foi este espetáculo impressionante capaz de revolucio-
nar o universo. Segundo, o Espírito Santo não age, nem, con-
vence pelo uso de truques de magia, como línguas de fogo, falar
em línguas, curas, poder. O Espírito Santo não hipnotiza, nem
arrasta os sentidos. Ele age na quietude do coração, não se sabe
de onde vem, nem para onde vai, etc. Quando o Espírito Santo
age extraordinariamente, é por sua decisão exclusiva, e todo cris-
tão é agente passivo.
48 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
É neste sentido que o Espírito do Pentecoste soprou na
Reforma Luterana. A igreja toda confronta-se outra vez com, a
primeira tese: "Quando nosso Senhor Jesus Cristo disse; Arre-
pendei-vos..."
Para guardar a Palavra de Jesus é preciso por isto antes
e acima de tudo reunir-se novamente com, toda a congregação
ao pé da cruz para reorientar a partir daí toda a avaliação que
se faz da vida individual e da vida comunitária do cristão.
Especialmente agora que E L E não está mais conosco.
Quem vai transmitir esta sua palavra que perdoa, consola e
conforta?
Muitos cultos de Pentecoste não passam de discurso "a
respeito" quando deveriam ser testemunho pessoal de uma con-
gregação/pregador que reconhece, como Pedro, que os desobe-
dientes à L e i de Deus o crucificaram.
Se alguém me ama — esta condicional exige mais do que
simplesmente ser alguém que admite e testifica diante dos ho-
mens que o pecador tem um Salvador em Cristo. Se alguém me
ama, pressupõe o testemunho pessoal como resposta.
Como alguém que tendo se acidentado contra um alimento na
estrada, mas ileso, em vez de ficar se lamentando, sai es-
trada fora avisar outros motoristas do perigo que está à frente.
O texto
O Pentecoste diário
O problema que Jesus aponta no texto é o temor e a per-
turbação da sua igreja/discípulos.
Este problema é atual na medida em que reconhecemos
que o só guardar a Palavra parece deixar a igreja insegura e
perturbada. Uma igreja que busca o sucesso em sintonia com
os movimentos e expectativas do mundo, que por isto altera suas
prioridades, evidentemente está sendo focada por Jesus como um
problem,a.
O objetivo que Jesus propõe é que esta igreja confie e
assim goze de uma paz nova, desconhecida no mundo — a sua
paz. P a r a tanto enfatiza aquilo que faz o Pentecoste permanente
nos corações — o amor do P a i para todo aquele que toma cons-
ciência de que não existe amor naquilo que o mundo oferece.
Este Deus que vem comungar a vida com o homem, (e Jesus
enfatiza: "Esta palavra não é minha mas do Pai.") este Deus é
o Deus que faz o Pentecoste. Mas este Deus comunga no singu-
lar e se manifesta no plural. Esta comunhão e sua manifestação
tem nome: o amor. O amor do Deus Salvador pelo perdido, do
perdido pelo Salvador que por sua vez comungam o amor pelos
perdidos.
Walter O. Steyer
Texto
V. 19 — O "homem r i c o " do texto não tom nome para
Jesus. E r a um mau administrador dos bens que havia recebido
de Deus (v. 25). Mesmo sendo do povo de Deus, pois conhecia
" P a i Abraão" (v. 24), hão vivia a fé de Abraão (Rm 4.3), pois
não levava a sério "Moisés e os profetas" (v. 31), que pregavam
a fé vivida em amor, em contraste com o seu amor às riquezas
em que "se regalava esplendidamente". O rico havia esquecido
de deixar que Deus fosse o seu Deus pela fé, e que era neces-
sário "fazer amigos" com as riquezas. A oportunidade de fazer
amigos estava diante da sua porta.
V v . 20/21 — Lázaro é a oportunidade do rico. Mas ape-
nas lhe dá "migalhas". Lázaro tinha tudo para oferecer ao rico:
a mensagem do "reino de Deus" (Lc 6.20), o constante convite
ao arrependimento, pois estava junto à mesa do rico para comer
as migalhas. Os cães, talvez do rico, tinha mais interesse por
ele do que o rico egocêntrico.
V. 22 — Havia a crise, o ajuste de contas. Lázaro viu o
que creu: o reino, como Abraão o recebeu. O rico não recebeu
T E R C E I R O DOMINGO APÓS P E N T E C O S T E
Lucas 14.15-24
9 de Junho de 1991
Observação: É cada vez mais difícil pregar o evangelho
para o homem de nosso tempo. Observando as igrejas, no mun-
do inteiro, detectamos o surgimento de crises e questionamentos.
Parece que não existe mais ouvido para a "mensagem, cristã".
A falta de crescimento das igrejas, a aparente estagnação em
muitos setores das mesmas, parece evidenciar que a mensagem
cristã não consegue mais atingir o ouvinte. Será que a igreja
tem que mudar o conteúdo de sua mensagem? A parábola so-
bre a "grande ceia" nos convida a uma reflexão sobre o "porquê"
de nossa participação e ação na igreja cristã.
Contexto: O capítulo 14 de Lucas quer ser transparente,
especialmente nas suas parábolas, a respeito do posicionamento
do homem perante um convite importante. É claro quem é que
convida e quem ele quer atingir com. esta mensagem. Aceitar
um convite significa assumir toda a responsabilidade e não me-
dir as conseqüências. O convite recebido requer um; posiciona-
mento claro e definido.
58 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
55.1-3 — Lc 13.29 — 22.30 etc.) e da participação no reino de
Deus.
Na parábola o ponto de partida é a afirmativa do V. 15.
Esta exclamação do fariseu descreve uma situação de fato e de
direito. A bem-aventurança do membro do povo de Deus parece
ser um assunto pacífico e seguro. O crente não necessita preo-
cupar-se com o seu destino eterno, pois tem certeza de sua sal-
vação. O fariseu, com todo o seu zelo, parece ter segurança
absoluta sobre o seu destino eterno. A resposta de Jesus permite
ao ouvinte espelhar-se na verdade que ouve. Será que o fariseu
pode ser "tão seguro" de si?
Como reagem os convidados? (cf. Lc 14.7,17,24) Eles pa-
recem ser incomodados com o convite que receberam. Têm, algo
mais importante para fazer. A resposta é inequívoca. Tomaram
conhecimento do convite mas resistem e rejeitam, cada um em
conformidade com a importância de sua preocupação (as três
rejeições são representativas), a oportunidade de realizar o que
deles se espera. Sua relação íntima com as cousas conquistadas,
por sua força e com o seu empenho, não permite o envolvimento
com os conteúdos que o convite traz. A decisão é clara. Não
querem participar. A vida "material" é mais importante do que
a vida "espiritual".
A reação do Senhor é a justa ira sobre a rejeição do con-
vite. A partir do v. 21 abre-se uma nova visão, pois. os convi-
dados são deixados de lado. Importante é observar a evolução
do texto (cf. as palavras "sair" "depressa" "trazer" "obrigar"
todos etc), pois a mola mestra para a expansão do "reino" é o
grande amor do Senhor. Náo importa o "status" alcançado. Im-
porta a aceitação do convite.
Estamos perante uma severa admoestação. O portador do
convite do reino de Deus quer ser ouvido, respeitado e seguido.
Perante o seu convite outros valores se tornam obsoletos. O ou-
vinte necessita decidir entre adoração em, espírito e verdade e
a idolatria. Outra alternativa não existe.
Hans Horsch
3. Texto: Vers. 36: "O Pai é misericordioso, por isso os> seus tam-
bém são misericordiosos". Quem foi aceito por Deus em. sua
misericórdia, quer e vai ser misericordioso no seu agir com, os
outros. Deus não quer destruir, mas perdoar. Assim, os cristãos,
no convívio com os outros são orientados a não julgar, não con-
denar, a perdoar e ser generosos.
Vers. 37-38: Um exemplo de misericórdia c o não julgar
e condenar. Viver da misericórdia de Deus é perdoar (Mt
19.21-35). Quanto mais os discípulos viverem, no perdão, mais
experimentarão a misericórdia de Deus.
Jesus não proíbe todo e qualquer julgar. Há um julgar
justo e ordenado por Deus. Jesus não quer que seus ouvintes
fiquem indiferentes diante de idéias e atitudes condenáveis. Isso
seria um conformismo incompatível com o espírito da justiça
divina. A exortação no texto refere a um julgar leviano, sem
amor. Essa atitude reprovada inclui o pecado da língua refe-
rido por Tiago 3.
Ao julgar segue o condenar. Quem julga e condena le-
vianamente, sem, querer "ganhar o irmão", caso ele estiver em
perigo, provoca a ira de Deus e não pode contar para a sua
própria pessoa com a misericórdia divina. Quem assim agir, ele
mesmo será julgado e condenado. Quando sentamos no Seu lu-
gar de Juiz, esquecemos que nós também haveremos de estar
perante Ele (Rm 14.10).
Gerhard Grasel
66 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
Disposição
Tema: Sobre a tua palavra lançarei as redes!
1. A palavra de Deus corre velozmente (Sl 147.15ss)
cobre de nuvens os céus, prepara a chuva, faz
brotar nos montes a erva, dá o alimento aos
animais, ninguém lhe resiste:
Ouçamo-la, aceitemo-la, ajamos de acordo com
ela! "Desejai ardentemente... o genuíno leite
espiritual! (Contexto da Epístola do dia: 1 Pe
2.2).
2. A palavra de Deus revelada em Cristo se mani-
festa ao homem de forma salvadora e milagro-
sa: transforma sua vida, e "suas misericórdias
se renovam todas as manhãs" (Leitura do A n t i -
go Testamento do domingo).
3. A palavra de Deus é viva e eficaz em sua Igreja.
Seus pastores, ao exercer o ministério público
da pregação da palavra e administração dos
sacramentos, têm a promessa de que "prospe-
rará" (Is 55). Seus crentes, como sacerdotes
reais, nação santa e povo de propriedade de
Deus a proclamam para que todos "alcancem
misericórdia". (Epístola)
Elmer Flor
70 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
Depois da multiplicação a multidão prova com seus atos
o que Jesus lhes via no coração.
Confira os sinóticos (Mt 14.14-21; Mc 6.34-44 e Lc 9.11-17)
- Todos enfatizam o teste que Jesus fez com os discípulos
para ver se voltariam para Ele em busca de auxílio. (Decepção?)
Só sabiam confiar nos seus recursos próprios e força. Ao mesmo
tempo não deixaram de fazer o povo assentar-se, depois!
Os sinóticos tem como contexto os ensinamentos de Jesus,
explicações sobre o Reino e curas.
O texto:
A. Revela o Deus Provera Em todas as circunstâncias.
Este Deus espera a nossa confiança porque ele não falha.
Este Deus espera confiança também quando a confiança é o
único recurso.
B. Revela o homem (anthropos do v. 14) e a inversão que faz
da bondade e do amor de Deus. (Ilustração: o texto do AT
Israel no deserto). Josefo também relata de dois charla-
tães que se intitularam profetas de Deus e atraíram e fana-
tizaram multidões com promessas de glórias futuras.
IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 71
tar aquela multidão era exigir o impossível. Nem; Deus, nem
Jesus podem fazer isto, no entender destes cristãos pragmáticos
e modestos no pedir e esperar.
Do outro lado, estão aqueles que pensam que Deus lhes
deve tudo. E que querem transformar Deus no "gênio da lâm-
pada" para suas ambições. Não tem auto-crítica, muito menos
arrependimento em si.
O objetivo do texto é fazer com que o cristão seja ambi-
cioso e confiante na sua vida de oração (por estar na presença
de Jesus); ao mesmo tempo aprenda com Jesus a canalizar os
recursos de Deus não em benefício pessoal, ou para capitalizar
honras, mas para servir o seu próximo com humildade de es-
pírito.
Organização do material:
Acima dos recursos que temos, está aquele que nos ama.
Por isto:
aprendamos a receber o seu auxílio com humildade
aprendamos a repartir os benefícios com confiança.
P. P. Weirích
72 . IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
Igreja e o mundo são duas entidades separadas. De um lado
está "a terra"; do outro, "vós" que sois o sal da terra. De um
lado está "o mundo"; de outro, "vós" que sois a luz do mundo
(cf. o Salmo indicado para hoje onde esta distinção fica bem
definida). Verdade é que as duas entidades estão relacionadas
entre si, mas esta relação depende da sua diferença. N u m a so-
ciedade com tendências religiosas universalistas, quando é teolo-
gicamente elegante tornar obscuras as fronteiras entre Igreja e
o mundo, bem como referir-se a toda a humanidade indiscrimi-
nadamente como "povo de Deus", é oportuno lembrar esta di-
ferença para que nossos cristãos não se integrem a essa inclina-
ção aeróbica.
Sal e luz são duas metáforas extraídas da comum neces-
sidade cotidiana de qualquer família independente de sua posi-
ção social ou econômica. Tanto o sal quanto a luz exercem, uma
função salutar sobre o ambiente onde se encontram e atuam.
Pode-se dizer que o sal possui uma função especialmente nega-
tiva e secreta atuando no combate à deterioração. A atividade
dos discípulos pode ser comparada aqui ao fato que o sal não é
simplesmente aspergido, mas ele é esfregado sobre os elementos
para que estes não se decomponham. Mais do que isso, na ótica
do contraste entre Igreja c mundo, este se encontra doente, fe-
rido, de chagas abertas. E o sal — a Palavra de Deus testemu-
nhada pela Igreja — arde, precisa arder. Helmuth Thielicke
explora este aspecto dizendo que cristãos há que se apresentam
ao mundo como sendo mel e não sal e por isso o mundo os re-
jeita. "Jesus", diz ele, "não falou: 'vós sois o mel do mundo'.
Ele disse: 'vós sois o sal da terra'. 0 sal arde e a mensagem
não adulterada do juízo e da graça de Deus sempre temi sido
uma coisa que arde — tanto arde que os homens se têm revoltado
e reagido contra e l a . . . [Por outro lado,] onde não houver amar-
ga reação o puro sal está em falta" (Life can begin again: Ser-
mons on the Sermon on the Mount. Philadelphia, Fortress, 1963,
p. 28).
O sal pode perder sua capacidade de atuação ao sofrer a
influência de outros elementos químicos. Estudiosos afirmam
que o sal do Mar Morto, devido à exposição a outros elementos
químicos, possui gosto alcalino e se torna imprestável. Jesus ao
falar com Seus discípulos na segunda parte do vers. 13 deve
ter-se voltado em direção ao Mar Morto para ilustrar Seu argu-
mento.
A segunda figura utilizada por Jesus é a da luz. Sc o sal,
atuando de forma salutar, possui uma atuação negativa e age
de maneira secreta, a luz, por seu turno, tem uma função posi-
tiva iluminando abertamente, publicamente. São metáforas que
se complementam. " L u z " , na Escritura Sagrada, significa conhe-
76 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
b) Contexto: " N o Monte das Oliveiras achava-se Jesus
assentado, quando se aproximaram dele os discípulos, em parti-
cular, e lhe pediram: Dize-nos quando sucederão estas coisas, e
que sinal haverá da tua vinda c da consumação do século." 24.3.
E ele passa a dizer-lhes uma série de coisas que devem preceder
o seu retorno para o julgamento final. 24.4-14. Conta, então,
quatro parábolas — das quais nossa perícope é a terceira — para
sublinhar a necessidade de vigilância da nossa parte e o empenho
por alcançar a vida eterna.
c) Texto: Vers. 1-4: "Reino dos céus" aqui é mais am-
plo do que apenas o governo de Deus, pelo Espírito Santo, no
coração, na vida do cristão. "Reino dos céus" é o (retorno de
Cristo para) instalar a vida eterna. E isto vai acontecer na prá-
tica como aconteceu com as dez virgens, que saíram para o en-
contro do noivo.
Elas saíram, tiveram de caminhar ao encontro dele. Não
era uma espera de parar quieto. Precisavam andar. A i n d a vi-
vemos, estamos indo ao encontro do Noivo celeste, Jesus Cristo.
Todas as dez levaram suas lâmpadas, mas só a metade delas
levou óleo sobressalente. As que foram sem combustível de re-
serva são chamadas de "néscias", porque foram desprevinidas.
Não se deram conta de que o noivo poderia atrasar e seu óleo
consumir-se nas lâmpadas durante a espera, vindo a faltar para
a caminhada com, o noivo para as bodas. As cinco moças que
levaram óleo sobressalente são chamadas de "prudentes". Elas
puderam manter suas lâmpadas acesas (Lc 12.35); por isso não
perderam a oportunidade nem a condição de acompanhar o noivo
para as bodas.
Vers. 5-12: O inesperado aconteceu para as néscias: o noi-
vo tardou em vir. Adormeceram (aoristo) e dormia (imperfeito:
estavam dormindo, todas), quando o noivo chegou. As prudentes
puderam reabastecer suas lâmpadas e "entraram, com ele para
as bodas". O pior de tudo para as néscias foi que a porta foi
fechada. Mas elas ainda tentaram e chegaram até a porta das
bodas, clamando lhas abrisse o noivo. Era, porém, tarde demais.
Tinham perdido a oportunidade.
Vers. 13: Este versículo encerra a moral da história, da
parábola das dez virgens: " V i g i a i , pois, porque não sabeis o
dia nem a hora". Jesus vai voltar, mas o dia e a hora não estão
marcados para nós. É uma questão de espera, com vigilância e
em militância constantes, na fé em Cristo. Estamos vivendo e,
como tais, caminhamos na direção do dia final. A luz da nossa
fé em Cristo precisa estar constantemente acesa para vermos o
Noivo celeste c para poder acompanhá-lo para as bodas nas
78 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
chegou (v. 44; veja 1.68; 7.16). No entanto, os líderes de Jeru-
salém procuraram destruí-lo (v. 47). Nele Jerusalém haveria de
achar paz no seu sentido mais completo, num relacionamento
correto com Deus; no entanto, a paz estava oculta aos seus olhos
(v. 12). A salvação havia chegado, "porque o Filho do homem
veio buscar e salvar o que estava perdido" (Lc 19.9-10); eles,
porém, o recusaram. Todas estas passagens evidenciam a pro-
funda angústia e o inabalável amor do Senhor.
4 — O desejo do Senhor de salvar os perdidos levou-o a
Jerusalém para sofrer e morrer (9.51; 13.33; 9.22,44; 18.31-33).
A l i , em Jerusalém, vemos na cruz o Rei da Paz (v. 38), o R e i dos
Judeus (23.88), morrendo por Israel e por nós. A l i , em Jerusa-
lém, vemos Cristo sendo amassado, quebrado, em nosso lugar,
para que possamos ser o seu povo.
5 — Agora é o tempo de nós sermos visitados por nosso
gracioso Deus. Que nós possamos dizer pelo poder do Espírito
Santo; "Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor!" Que nós
possamos conhecer, "ainda hoje, o que é devido a paz", porque
a sua morte dá-nos a verdadeira paz. Que possamos cada vez
mais nos firmar através da fé, em suas palavras (v. 48), porque
elas são palavras de perdão de pecados e de vida através de sua
morte e ressurreição.
IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 79
I - O mundo em que vivemos não providencia modelos
apropriados para orações a Deus ou para o culto a
Deus.
2. Contexto
3. Texto
V. 32: "Surdo e gago" — por causa de sua surdez, o
homem tinha dificuldade em falar, mas não era mudo.
V. 33: denota o cuidado especial de Jesus, seu amor para
com aquele homem, pois tira-o da multidão, loca seus ouvidos
e língua.
V. 34: "Efatá" — em aramaico, "ser aberto", "ser liber-
tado". A idéia não é da parte específica da pessoa sendo aberta,
mas da pessoa inteira ser aberta ou libertada. É a ordem que
despedaça os grilhões com que Satanás tinha mantido presa a
sua vítima.
V v . 35-37: a ação de Jesus é concretizada — os ouvidos
do surdo se abrem e o empecilho da língua é retirado, e ele pas-
sa a falar desembaraçadamente. Isto trouxe admiração. As, pes-
soas ficaram atônitas além, de todas as medidas, excessivamente,
sobremaneira. O texto encerra com a declaração: "tudo ele tem
feito esplendidamente bem". E o ex-surdo-gago, junto com os
demais, não pode deixar de testemunhar da ação de Deus em
sua vida.
4 Pensamento central
"Jesus rompe as vidas fechadas dos homens e abre-se à
saúde da comunhão com Deus e com o próximo. Somente a pa-
lavra de Deus tem poder para abrir nossa surdez natural e tra-
zer-nos à fé e à vida. Jesus é o Messias, o prometido que traria
salvação e plenitude de vida a todos." (Concórdia Pulpit for
1979) . .
6. Disposição
2) O texto:
V. 25 — "com o intuito de por Jesus em provas": Em
várias ocasiões tentaram arrancar de Jesus algumas respostas
erradas, que o condenassem (cf. Mt 22.15ss, Mt 22.23ss). Somos
confrontados com pessoas que não querem conhecer a verdade,
mas só querem confundir ou ridicularizar. Devemos estar "sem-
pre preparados para responder a todo aquele que pedir razão da
esperança que há em nós" (1 Pe 3.15).
V. 26 — A tática de Jesus: Ele não inventa respostas, mas
remete o interlocutor à Escritura: "O que está escrito? Como
interpretas?" (Cf.: Lc 4.1ss: Jesus rebate as tentações com a P a -
lavra de Deus!).
V. 27 — Pelas respostas, o escriba demonstrou não perten-
cer ao grupo dos que valorizavam mais a lei cerimonial. Centra-
lizou, corretamente, tudo no amor.
V. 28 — Jesus elogia suas respostas. Mas não bastava ape-
nas conhecimento desta verdade: é necessário praticá-la: "Faze
isto e viverás!" — lembramos aqui que o 1o mandamento (ou:
a primeira tábua resumida pelo escriba) só pode ser cumprida
pela fé. Não é uma mera obediência, como obra humana, mas
é um ato de fé e confiança, do que decorre toda a vida de amor
ao próximo.
84 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
V. 29 — Mesmo conhecendo, faltava a fé justificadora: o
escriba tenta justificar-se a si mesmo. No caminho da auto-justi-
ficação, a pessoa se afasta cada vez mais do caminho oferecido
por Deus. — A pergunta "Quem é o meu próximo?" deve ser en-
tendida dentro do contexto judaico (Mt 5.43): "Amarás o teu
próximo e odiarás o teu inimigo." Entre os inimigos constavam
todos os estrangeiros (todos os não-judeus).
V. 30 — Assaltantes — violência — vítimas — de ontem,
e de hoje. Quanta falta de amor existe, e quanta oportunidade
de demonstrar amor aos injustiçados se nos apresenta cada
d i a . . . ! — Cf.: O Salmo do dia: Davi perseguido; a leitura do
A T : A violência de Caim contra Abel.
V. 31 e 32 — O Sacerdote e o levita tiveram oportunidade
de exercer misericórdia, de demonstrar amor ao semelhante pros-
tra,do à beira do caminho; m,a,s não o fizeram. Cf. Tg 4.17:
"Aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisto está
pecando."
V. 33 — Há necessidade de se explicar a situação dos sa-
maritanos (cf. 2 Rs 17.24-41). Judeus e samaritanos eram ini-
migos írreconciliáveis, tanto por questões de religião como de
raça. — esplanichníste: compadecer-se: palavra-chave no texto.
V. 34 — A compaixão em ação. O samaritano não ficou
só na intenção de ajudar; seu amor ao próximo não foi feito de
grandes discursos; mas foi prático! Correndo risco de assalto,
deixando seus interesses de lado, ajudou o necessitado. (Cf. 1 Jo
3.18 c 1 Jo 4.7-11 (a leitura da epístola do dia.)
V. 35 — O samaritano pagou para que outra pessoa con-
tinuasse cuidando do ferido: Boa prática de caridade é contri-
buir para que hospitais, creches, asilos, orfanatos, etc. possam
cumprir bem suas funções.
V. 36 — Quantas perguntas e respostas aparecem neste
texto? — o estilo catequético transparece neste episódio. T o d a a
mensagem poderia girar em torno das perguntas e respostas
constantes no texto.
V. 37 — Se confrontados com desafios semelhantes, qual
tem sido a nossa reação? Como anda a prática do amor ao
próximo em nossa igreja?
3) Os problemas e a solução:
Os problemas: a intenção maldosa do escriba: por Jesus
à prova;
sua tentativa de auto-justificação;
as atitudes de desamor: dos assaltantes, do sacerdote e do
levita; omissão;
as nossas atitudes de desamor, discriminação...
5) Disposição:
T E M A : O amor ao próximo.
O B J E T I V O : Estimular à prática da caridade em, situações
bem concretas da vida congregacional e comunitária, como fruto
da verdadeira fé.
I N T R O D U Ç Ã O : Cf. "Ponto 4 — Questionamento".
Esboço
Introdução: A vida é uma dádiva de Deus. No mundo é
tão frágil diante das adversidades. A história dos leprosos nos
dá três palavras para a vida: compaixão, fé, gratidão.
Martim C. Warth
0 Contexto
0 contexto imediato do Evangelho determina o uso cor-
reto das propriedades (Mt 6.19-24). Esta sessão aborda especial-
mente o materialismo, em contraste com a espiritualidade. Cons-
Disposição
Tema: Desejai as coisas celestiais. Como?
1 . Confiando na providência do P a i em suprir as necessi-
dades fisicas.
a) O discípulo do reino que perde a confiança no P a i
torna-se seguidor das riquezas. O velho homem em
nós anseia pelo comer e beber.
b) 0 P a i conhece nossas necessidades físicas.
c) O P a i nos convida a confiarmos na sua providência
que nos veste (lírios) e alimenta (aves).
3) Os problemas e a solução;
4) Disposição:
T E M A : Morte e vida.
IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 93
II - A vida — conquistada por Cristo: sua ressurreição
(Páscoa!)
dada pela fé
consolo na aflição
esperança futura.
94 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
Ora a solução deste segundo problema está na solução do
primeiro. ;É preciso promover o estudo e o conhecimento sobre
a Santa Ceia. Todo o conteúdo da Bíblia é importante, mas a
Santa Ceia é um daqueles especialmente importantes, que solici-
ta de nós muito mais do que apenas pregações esporádicas.
. Para auxiliar neste sentido lembramos aos colegas que na
coletânea "Pelo Evangelho de Cristo" há dois sermões de Lutero
(p. 253 e 287) que são um bom subsídio e um bom estímulo para
a nossa reflexão pessoal. A l é m disso também vale lembrar o
que Lutero escreveu no Catecismo Maior sobre o assunto, além
de outros escritos de sua autoria que os irmãos tenham consigo
ou aos quais tenham acesso. Lembrado que (segundo nosso mo-
do de ver) esses escritos são úteis especialmente para a nossa
reflexão e aprofundamento pessoal; para nos servir de base na
elaboração de uma mensagem contextualizada ao nosso tempo,
ao nosso povo e na nossa linguagem. Não seria de esperar, nem
mesmo no maior apuro de tempo, uma simples transposição dos
textos de Lutero para os ouvidos dos nossos congregados, até
porque sua linguagem não é acessível à média do nosso povo.
Há várias ênfases que poderiam ser dadas com relação à
Santa Ceia. Inclusive com a suplementâção por parte de outros
textos, como os relatos paralelos e 1 Co 11.17ss. A questão da
Ceia presta-se bem para uma exposição mais sistemática, do tipo
"estudo-bíblico". Aquele que vai pregar precisa escolher qual o
aspecto que deseja enfatizar. Poderia destacar a Ceia Pascal,
que era a festa maior que estava sendo realizada, dentro da qual
acontece a Instituição; poderia explorar a relação entre o signi-
ficado da Antiga Aliança, lembrada na Páscoa judaica e da Nova
Aliança, lembrada com a Santa Ceia; poderia destacar o aspecto
do "isto é meu corpo" em contrapartida aos ensinamentos sobre
o simbolismo e a trans-substanciação; poderia falar dos elemen-
tos usados (qual seja, o pão — de que tipo, com ou sem, fermen-
to; se pode ser hóstia — e o vinho — se pode ser suco de uva,
outra bebida, se o vinho "tem que ser tinto, porque o sangue é
vermelho", como acham alguns luteranos, se é vinho misturado
com água — ); poderia enfatizar o preparo/dignidade para o
recebimento da Ceia (precisando levar em conta 1 Co 11); seria
possível destacar que Jesus deu graças; poderia falar do sangue
— que estava presente na Antiga Aliança e que agora, na Nova,
é do próprio Salvador.
Será muito útil dispor de um bom comentário bíblico ou
auxílio doutrinário.
O Texto
Relata a instituição da Santa Ceia. Jesus estava reunido
com seus 12, comendo a refeição festiva da páscoa, quando, a
Sugestão de Esboço:
Obs.: O ponto " 3 " do esboço poderia, também, ser subidividido
em mais um, ficando " 3 " e "4".
Tema: A morte que traz vida (ou — A morte de Cristo (que)
nos traz vida)
1 . O sangue de Cristo
(sua vida, tudo o que foi e o que fez. Também no
sentido literal, pois no AT já estava presente o sangue,
que é fonte de vida.)
2. F o i derramado
(Cristo sofreu — e morreu —. A vida foi dada, foi
oferecida, foi tirada. O próprio Salvador se entregou
à morte. E l e não precisava morrer, mas quis — por
nós! Nós não gostamos da idéia da morte, mas preci-
samos morrer. A morte nos ronda. Seu principal re-
presentante é nosso inimigo mortal e nos quer condu-
zir à morte eterna. Mas nós podemos vencer o diabo
e a morte, com a morte de Cristo (i.e., com seu siangue
que foi derramado).
96 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991
Conclusão:
— Isto nos é lembrado na Santa Ceia, que, por isto, é festa
e alegria.
— Esta bênção (perdão que vem da morte (i.e., do sangue
derramado por Cristo) e que fortifica a nossa fé) nos é
trazida, doada, oferecida na Santa Ceia.
Proposta Homilética
Deus (Messias) Presente em meio a seu Povo
1. anunciando a palavra (lei e evangelho)
2. perdoando os pecados
3. suprindo necessidades físicas (cura do paralítico)
4. maravilhando os crentes e trazendo vida e esperança.
Elmer Flor
O texto
Seguem algumas observações sobre o texto.
V. 22 — A mulher cananéia, não sendo judia, ao encon-
trar-se com. Jesus, somente poderia ter para com ele uma atitude
de desprezo ou, quando muito, de indiferença. No entanto a
mulher o chama de "Senhor, F i l h o de Davi", designação que o
identificava como o Messias prometido no Antigo Testamento.
Esta designação Jesus havia recebido de pouca gente de seu povo.
Somente a fé poderia entusiasmar-se com este galileu. Não ape-
la para curandeiros, benzedeiras e outros representantes de for-
ças do ocultismo.
V. 23 — T a l como conhecemos a Jesus, os gritos persis-
tentes e patéticos desta mãe pedindo por sua filha entregue ao
poder de Satanás, iriam logo colocá-lo em prontidão para ajudar.
Jesus, porém, se conserva indiferente. Os próprios discípulos se
mostram surpresos. Diante de tal situação constrangedora eles
intervém a favor da mulher, talvez mais para se livrar da situa-
ção embaraçosa e irritante naquela terra estrangeira.
É incômodo ouvir as súplicas de uma pessoa aflita. Melhor
é despachá-la o quanto antes. É fácil despedir um mendigo dan-
do-lhe um troquinho ou alguma coisa que não precisamos mais,
sem mexer na raiz do seu problema.
V. 24 — Jesus permanece fiel ao seu povo, mesmo se este
povo é infiel e o rejeita (Mt 11.21).
A atitude de Jesus também parece contradizer a sua ordem
dada no mesmo Evangelho segundo a qual os discípulos deveriam
Acir Raymann
O Texto
Da Bonança à Tempestade
Vs. 35-37: A aula teórica, por parábolas, estendera-se até
"tarde". Jesus transfere a situação de ensino para o barco que
Da Tempestade à Bonança
Vs. 38-39: Jesus ocupa um lugar à popa do barco, a parte
traseira, reservada ao timoneiro. Aí não se sente tanto a vio-
lência com que o barco corta as ondas, nem o balanço a que é
submetido, como na proa. Enquanto Jesus descansa sobre um
travesseiro, o mar se põe travesso. O grande temporal é chama-
do de láilaps, e Mateus o chama de seismós, palavra grega que
aparece no termo português "movimento sísmico" ou terremoto,
no caso, uma espécie de maremoto. "Mestre!" é o grito de so-
corro dos discípulos apavorados. E r a a hora de aprenderem com
o divino Instrutor uma lição de vida frente aos perigos que os
ameaçam. 0 poder do Messias e do Reino de Deus que inaugura
entre os homens no Novo Testamento faz-se presente tanto nos
seus ensinamentos, como também nos atos milagrosos que con-
firmam a palavra nos que persistem na dúvida.
Na anarquia que se estabelece entre as forças da natureza,
e que se coloca como meio de disciplina, julgamento e chamado
à ordem no caos, Jesus confronta sua tranqüilidade ao temor
dos demais; o poder do Criador enfrentando a criatura insubmis-
sa; a tempestade na natureza e nos corações à bonança que traz
ao mundo com sua presença abençoadora.
Da Bonança à Confiança
Vs. 40-41: Jesus não se limita a repreender o mar e o ven-
to, acalmando sua fúria, baixando a crista das ondas. Repreende
Os discípulos, que se abalaram com o perigo, acalma seus cora-
ções agitados, baixa a crista de sua confiança em suas próprias
habilidades de navegadores, Eles aprendem uma lição de vida,
submetendo a fraqueza humana à presença do Senhor da natu-
reza. Jesus aprofunda, com' essa repreensão, sua comunhão com
os companheiros de jornada e aproxima-se deles no convívio mú-
tuo, num gesto em, que põe seu poder a serviço compassivo em
favor dos mesmos e confirmando, assim, a sua fé. O temor de
todos os circunstantes também se acalma diante da prova de
proteção e libertação que Cristo oferece a seus seguidores, não
importa quão violenta possam ser a perseguição e os transtornos
Proposta Homilética
A Vitória do Mestre sobre a timidez e a dúvida: uma aula
sobre a fé que salva. O processo de ensino-aprendizagem
leva da teoria (parábolas) à prática (livramento dos pe-
rigos) :
Elmer Flor
FESTA DA REFORMA
Mateus 11.12-15
31 de Outubro de 1991
LEITURAS
O salmo 46 é um salmo de louvor cantado pelo povo de
Deus, pela proteção e derrota dos inimigos. F o i de onde Lutero
tirou a inspiração para compor o hino "Castelo Forte é nosso
Deus". O texto ensina: Cada cristão deve lembrar-se do socorro
por ele recebido da parte de Deus em tantas angústias de sua
vida, e esta recordação deve levá-lo ao constante louvor e à sem-
pre maior confiança no Deus forte em todas as lidas da sua vida.
O salmo convida o cristão a se refugiar no Senhor Jesus e con-
fiante nas promessas de salvação, perseverar através das lutas
da vida.,
DISPOSIÇÃO:
A N T E P E N Ú L T I M O DOMINGO D O A N O D A I G R E J A
Mateus 24.15-28
10 de Novembro de 1991
O contexto
Disposição
Jesus fala sobre os sinais que anunciam a sua volta e a
consumação dos séculos e sobre as providências que os cristãos
devem tomar.
I. A volta de Jesus será precedida de tempos muito di-
fíceis (vv. 15-19).
II. Os cristãos precisam estar atentos para não serem, en-
ganados.
1. Quanto a falsos cristos (vv. 23-25).
2. Quanto ao local e hora da volta do Senhor (vv.
26-27).
III. Os cristãos precisam orar a fim de que possam supor-
tar as tribulações e perseverar até ao fim (vv. 20-22).
Christiano J. Steyer
2.º - Assunto:
Nosso trecho contempla o que poderíamos chamar de
"clímax" do sermão de Jesus sobre o fim do mundo. O Salvador
está falando da fé, que é o critério de separação entre " v i d a " e
"morte"; entre "salvação" e "condenação". Em cada uma das
três parábolas anteriores a respeito do assunto ele enfatizou um
aspecto da questão. Na primeira delas (Mt 24.45-51) ele visou
os responsáveis pela igreja (ministros, líderes, dirigentes); na
segunda (Mt 25.1-13) dirigiu-se a todos, enfatizando a necessi-
dade de haver vida espiritual; na terceira (Mt 25.24-30) dirigi-
da também, a todos, ele tem em vista os dons espirituais e as
boas obras, ou seja, o uso (administração) que os, cristãos fazem
das coisas recebidas dele. Agora, com o discurso de Mt 25.31-46
ele apresenta a essência de tudo numa 4ª exemplificação, qual
seja, a do atendimento prestado (ou omitido) a quem precisava.
O nosso trecho mostra como a fé cristã é comprometimento
de vida. Tudo o que se pode dizer da vida cristã em ênfases
Ú L T I M O DOMINGO D O A N O D A I G R E J A
24 de novembro de 1991
Mateus 25.1-13
a) Contexto: O capitulo 25 do evangelho de Mateus pode
ser dividido em três partes importantes: Na primeira Jesus se
refere à sua segunda vinda como acontecimento que tende a
levar o homem a velar, a vigiar e a ser sincero na sua religião,
na sua fé em Cristo. É o que vemos nesta parábola das dez
virgens. Na segunda alude ao mesmo fato a fim de exortar à
atividade e à fidelidade por meio da parábola dos talentos. Na
Martim C. Warth
Martim C. Warth