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Nun' Álvares Pereira

Que auréola te cerca?


É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,


Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.

Esperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!

A coroa é um símbolo de poder e autoridade dos governantes, desde os tempos pré-históricos.


Mas a coroa também era dada ou posta a indivíduos que não eram monarcas, em cujo caso era
símbolo de grandes feitos heróicos ou conquistas de coragem. Por uma razão de orgulho e
nobreza, Pessoa deu essa coroa a Nuno Álvares e não a um rei ou príncipe.

No poema Fernando Pessoa refere uma auréola. A auréola que cerca Nuno Álvares Pereira é, ao
mesmo tempo, uma auréola de santidade (do guerreiro tornado monge) e uma auréola de
combate (“é a espada (…) volteando”). Quer ele dizer que a santidade que ele alcançou, foi a
custo também dos seus actos de guerreiro, pois é a sua espada que desenha o círculo diáfano por
cima da sua cabeça, destacando-o – santo – do comum dos homens.

Conhecendo-se a origem da auréola que cerca Nuno Álvares Pereira - a espada - na segunda
estrofe, Pessoa fala-nos sobre essa mesma espada. Diz-nos que a espada “que, erguida / Faz esse
halo no céu” não é uma espada qualquer, não é a espada de um comum cavaleiro, mas “é
Excalibur, a ungida”, a espada do “Rei Artur”. Pessoa pede a Nuno Alves Pereira, nos dois
últimos versos, que erga a luz da sua espada “para a estrada se ver”, para sabermos que caminho
seguir no futuro.

Na primeira parte da obra, “Brasão”, Fernando Pessoa faz referência a personagens históricas e
míticas, daí a presença de Nuno Álvares Pereira como líder preparado para a batalha, o
guerreiro perfeito.
Por isso, na Mensagem, Pessoa exalta o valor incomparável de Nuno Álvares Pereira. O facto de
existir uma parte no “Brasão”, que é “ A Coroa”, destina-se apenas ao poema de Nuno Álvares
Pereira, enaltece ainda mais a sua pessoa. Também Camões faz referência, explícita ou
implicitamente, a Nuno Álvares Pereira 14 vezes em “Os Lusíadas”.

Pessoa começa o poema com uma interrogação retórica acerca daquilo de que é feito Nuno
Álvares Pereira. Os restantes versos da primeira estrofe são como respostas à questão inicial.
Nesta estrofe, Fernando Pessoa chega a afirmar que o valor de Nuno Álvares Pereira é maior que
o do rei Artur, já que o primeiro passou de realidade a mito (foi beatificado), este último é
apenas um mito que muitos afirmam ter sido realidade. Para além disso, assim como Rei Artur
foi predestinado para empunhar a Excalibur, também Nuno Álvares Pereira o foi para empenhar
a sua espada, que o guiou na batalha, a ungida.
Os dois últimos versos do poema, podem ser vistos como um conselho dado aos portugueses: se
querem ser vitoriosos devem seguir o exemplo de Nuno Álvares Pereira, usando a exclamação
final como um pedido para Nuno Álvares nos indicar o caminho a seguir para o império que há-
de vir.

Tudo isto se pode comparar com “Os Lusíadas”. Na primeira parte, o ideal de guerreiro, por um
lado ser forte e robusto fisicamente, por outro conhecedor da arte e inteligente. Na segunda
parte existe uma semelhança já que Camões manifesta a importância de Nuno Álvares para
Portugal (“mas não vês quase já desbaratado/ o poder Lusitano, pela ausência/ Do capitão
devoto, que, apertado, / Orando invoca a suma e trina Essência?”)

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