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1ª Igreja Batista do Recreio Escola Bíblica __/__/2005

Aula ministrada pelo Professor: Joel de Brito Soares


5ª Aula
I – NATUREZA HUMANA
3. Relação: corpo, alma e espírito (Parte 2)

Na aula passada estudamos que o homem foi criado por Deus, à sua imagem e semelhança, procurando
entender, rapidamente, o que vem a ser essa imagem e semelhança.
Vimos também que Deus fez um pacto com o homem, concedendo-lhe fecundidade, domínio, sustento,
trabalho, responsabilidade, liberdade e orientação.
Começamos a analisar o tema daquela e desta lição, mencionando e examinando os textos bíblicos que
embasam as correntes dicotomista e tricotomista a respeito do homem ser constituído de corpo e alma e
espírito ou corpo, alma e espírito, definindo os termos conforme o entendimento de cada uma delas.
Hoje, vamos ver o pensamento de três ou quatro teólogos a respeito da matéria, para que ao final cada um
possa estabelecer seu pensamento a respeito.
Louis Berkhof, em sua obra Teologia Sistemática (Editora Cultura Cristã), páginas 177/185, aborda o
assunto, destacando-se:
“É costume, especialmente nos círculos cristãos, entender que o homem consiste de duas partes
distintas, e de duas somente, a saber, corpo e alma. Esta concepção é tecnicamente denominada
dicotomia. Ao lado dela, porém, apareceu outra, segundo a qual a natureza humana consiste de três
partes, corpo, alma e espírito. É designada pelo termo tricotomia. O conceito de homem tripartido
originou-se na filosofia grega, que entendia a relação mútua entre o corpo e o espírito do homem segundo
a analogia da mútua relação entre o universo material de Deus.... A mais conhecida e também a mais
crua forma de tricotomia é a que toma o corpo como a parte material da natureza humana, a alma como o
princípio da vida animal e o espírito como o elemento humano racional, imortal e relacionado com Deus.”
Em outro trecho ele diz:
“A exposição geral da natureza humana na Escritura é claramente dicotômica. De um lado, a Bíblia nos
ensina a ver a natureza do homem como uma unidade , e não como uma dualidade consistente de dois
elementos diferentes, cada um dos quais movendo-se ao longo de linhas paralelas em realmente unir-se
para formar um organismo único.... Cada ato do homem é visto como um ato do homem todo. Não é a
alma, e sim o homem, corpo e alma, que é redimido em Cristo.”
Após citar o texto de Gênesis 2:7, que já estudamos, conclui:
“A passagem toda trata do homem: ‘Formou o Senhor Deus ao homem... e o homem passou a ser alma
vivente’. Esta obra realizada por Deus não deve ser interpretada como um processo mecânico, como se
Ele tivesse formado primeiro o corpo do homem e depois tivesse posto nele uma alma. Quando Deus
formou o corpo, formou-o de modo que, pelo sopro do Seu Espírito Santo, o homem se tornou
imediatamente alma vivente, Jó 33:4, 32:8.... Assim, esta passagem, embora indicando que há dois
elementos no homem, dá ênfase, porém na unidade orgânica do homem.”
Falando sobre a posição da corrente tricotomista diz Berkhof:
“Mas o fato de serem empregados esses termos (alma e espírito) com grande freqüência na Escritura não
dá base para a conclusão de que designam partes componentes, em vez de aspectos diferentes da natureza
humana. Um cuidadoso estudo da Escritura mostra claramente que ela emprega as palavras umas pelas
outras, em permuta recíproca. Ambos os termos indicam o elemento superior ou espiritual do homem,
vendo-o porém de diferentes pontos de vista.”
Adiante diz:
“Assim, pode-se dizer que o homem tem espírito, mas é alma. Portanto, a Bíblia indica dois, e somente
dois, elementos essenciais da natureza humana, a saber, corpo e espírito ou alma. Esta descrição

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escriturística harmoniza-se também com a consciência própria do homem. Enquanto que o homem tem
consciência do fato de que consiste de um elemento material e de um elemento espiritual, nenhum homem
tem consciência de possuir alma em distinção do espírito”.
Combatendo a corrente tricotomista, ele comenta a respeito dos textos de I Tessalonicenses 5:23 e
Hebreus 4:12 que, pretensamente, a embasam:
a) “ É boa regra de exegese que as afirmações excepcionais sejam interpretadas à luz da analogia
Scriptura, ou seja, da apresentação usual da Escritura...
b) A simples menção dos termos espírito e alma um ao lado do outro não prova que, segundo a
Escritura, são duas substâncias distintas...
c) Em I Tessalonicenses 5:23 o apóstolo deseja simplesmente fortalecer a afirmação: “ O mesmo Deus
da paz vos santifique em tudo.”
Nas observações finais do capítulo que trata da matéria ele diz:
“Requer-se cautela ao falar sobre este assunto. Deve-se admitir que os argumentos de ambos os lados
são muito equilibrados, apresentando peso igual. Em vista deste fato, não é surpreendente que Agostinho
tenha achado difícil fazer uma escolha entre os dois. A Bíblia não faz nenhuma afirmação direta a
respeito da origem da alma do homem, exceto no caso de Adão. As poucas passagens da Escritura citadas
em favor de uma teoria ou da outra, dificilmente podem ser chamadas conclusivas num ou noutro caso. E,
uma vez que não temos claro ensino da Escritura sobre o ponto em questão, é necessária falar com cautela
sobre o assunto.”
A.B. Langston, em sua obra Esboço de Teologia Sistemática, edição da Casa Publicadora Batista em
1927, páginas 183/191, aborda o tema, manifestando o seguinte:
“A constituição do homem. Compõe-se o homem de corpo e alma. Esta dupla divisão da constituição do
homem é a mais geralmente observada na vida. É a divisão que ressalta logo à vista quando ele começa
de pensar a respeito da sua própria natureza. E , ainda mais, é a que se observa mais facilmente nos
outros. O homem compõe-se , então, de corpo e alma.
O corpo. Quanto ao corpo, podemos dizer que ele é o instrumento, o tabernáculo, a oficina do espírito. É
o meio pelo qual ele se manifesta e age no mundo material. O corpo é o órgão dos sentidos, é o laço que
une o espírito ao universo material...
O espírito é o agente; o corpo, a agência.”.
Depois de mencionar o entendimento tricotômico, citando I Tessalonicenses 5:23, diz que para os que
defendem tal corrente, “o espírito é o órgão de comunhão com Deus; A alma é a sede da personalidade; e o
corpo, o tabernáculo da alma”, combate tal idéia, argumentando:
“Dizem, portanto, que o homem é uma alma e tem corpo e espírito. Esta idéia, porém, é errônea. As
passagens citadas em seu abono, uma vez bem entendidas, têm outra significação...
Geralmente, quando os escritores sagrados faziam uso destes dois termos - alma e espírito - , tratavam de
uma só coisa em diferentes relações. Empregavam eles ordinariamente o termo espírito quando se
referiam à relação da vida do homem para com Deus; e alma, quando faziam referência à relação da vida
do homem para com as coisas terrenas.
O homem pode ser comparado não a uma casa de três andares, mas a uma casa de dois andares. No
segundo andar, porém, além de janelas que dão para o mundo, há uma clarabóia que dá para o céu. A
alma é a janela pela qual o homem contempla as coisas desta vida aqui na terra, e a clarabóia é o meio
pelo qual a mesma pessoa contempla as coisas celestiais. Nesta comparação, o andar térreo representa,
naturalmente, o corpo.”
Tratando da relação entre o corpo e a alma, ele afirma:

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“No tocante à relação entre o corpo e a alma ninguém saberá dar uma explicação satisfatória. O mais
que se pode dizer é que essa relação é muito íntima. Para compreender-se esta verdade basta pensar-se
nas muitas maneiras pelas quais o espírito influi sobre o corpo e o corpo sobre o espírito. Às vezes uma só
notícia desagradável basta para mergulhar o espírito na maior tristeza. Por outro lado, uma notícia boa
enche o corpo de alegria indescritível.”
Sobre o espírito, citando o nosso já conhecido versículo 7, de Gênesis 2, diz:
“Em se tratando do espírito, podemos afirmar que ele é também criação de Deus...O espírito é imaterial, é
invisível. Ele habita no corpo e age por meio dele.”
Em seguida, cita as características que distinguem o espírito das outras criaturas, como sendo:
1) Consciência própria
2) O poder de pensar em coisas abstratas
3) A lei moral
4) A natureza religiosa do homem
5) A escolha de um alvo
6) A intensidade da vida humana
7) As atividades
Ao depois de estabelecer a dessemelhança entre o homem e os outros animais, procura demonstrar a
semelhança espiritual que existe entre Deus e o homem, lembrando que intelectualmente o homem se
parece com Deus, havendo ainda uma semelhança moral (perdida com a queda pelo pecado), inclusive no
que diz respeito à imortalidade, caracterizada no homem pela imortalidade de seu espírito, que é destinado
a viver para sempre.
Eis as razões que aponta para esta imortalidade:
1) A crença na continuação do espírito depois de sua separação do corpo há existido desde os
primeiros tempos, e fortalece-se hoje ainda mais que em qualquer outra época...
2) O segundo argumento que abona a crença na imortalidade do espírito é que precisamos de uma
vida além para explicar a vida atual...
3) Cristo e a imortalidade. Cristo confirmou e enriqueceu a crença e a esperança na imortalidade da
alma. Esta doutrina é parte integrante do cristianismo.” (Ler Filipenses 1:19-25; II Coríntios 5:1-9; I
Pedro 1:3-5; I Pedro 5:10; II Timóteo 1:10-12).
No Dicionário da Bíblia, de John D. Davis , edição da Casa Publicadora Batista de 1977, página 26,
encontramos nos comentários sobre o verbete “alma”, o seguinte:
“No sentido ordinário da palavra, a alma é uma entidade espiritual, incorpórea, que pode existir dentro
de um corpo ou fora dele. (Ver João 4:24; Lucas 1:47). A alma é um espírito que habita um corpo, ou nele
tem estado, como as almas dos que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e pelo testemunho de
Jesus (Apocalipse 6:9), e espírito é a alma desincorporada.”
Apresenta as duas correntes de idéias sobre corpo, alma e espírito (dicotomista e tricotomista), já nossas
conhecidas, para concluir dizendo:
“O corpo é a parte material de sua constituição; a alma, em hebraico, ‘nephesh’ e em grego ‘psyché’, é o
princípio da vida animal, que o homem possui em comum com os brutos. A ela pertencem o entendimento,
a emoção e a sensibilidade, que terminam com a morte. O espírito, em hebraico, ‘ruah’, e em grego
‘pneuma’, é o princípio do homem racional e da vida imortal, possui razão, vontade e consciência.”
“Segundo a idéia dos dicotomistas, existem apenas dois elementos essenciais na constituição do homem;
o corpo, formado do pó da terra e a alma que é o princípio da vida, Gênesis 2:7. A alma é o princípio de

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toda vida física, moral e religiosa. Contém ela duas substâncias: uma é alma que sente e recorda, e a
outra substância é o espírito que tem consciência e possui o conhecimento de Deus.”
Já o Novo Dicionário da Bíblia, publicação de Edições Vida Nova, página 544, considerando o verbete
“espírito”, após tecer comentários sobre as palavras originais ‘ruah’, que ocorre 378 vezes no Antigo
Testamento e ‘pneuma’, que aparece 220 vezes no Novo Testamento, conclui a análise dizendo:
“Nem o emprego que o Antigo Testamento faz nem o que aparece no Novo Testamento justifica o conceito
de constituição humana como uma tricotomia.”

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