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ANÁLISE DAS METODOLOGIAS E TÉCNICAS DE PESQUISAS ADOTADAS NOS

ESTUDOS BRASILEIROS SOBRE BALANCED SCORECARD: UM ESTUDO DOS


ARTIGOS PUBLICADOS NO PERÍODO DE 1999 A 2006

Vera Maria Rodrigues Ponte


Doutora em Controladoria FEA/USP
Professora Titular do Mestrado em Administração de Empresas – UNIFOR
Av. Santos Dumont, 2828 Sala 1503 Aldeota – CEP: 60150160 Fortaleza-Ce
vponte@fortalnet.com.br

Marcelle Colares de Oliveira


Doutora em Controladoria FEA/USP
Professora Titular do Mestrado em Administração de Empresas – UNIFOR
Av. Santos Dumont, 2828 Sala 1503 Aldeota – CEP: 60150160 Fortaleza-Ce
marcellecolares@unifor.br

Heber José de Moura


Doutor em Administração – FGV/SP
Professor Titular do Mestrado em Administração de Empresas – UNIFOR
Av. Santos Dumont, 2828 Sala 1503 Aldeota– CEP: 60150160 Fortaleza-Ce
heberm@unifor.br

João Victor Barbosa


Mestre em Administração – UNIFOR
Av. Santos Dumont, 2828 Sala 1503 Aldeota– CEP: 60150160 Fortaleza-Ce
jvbb@terra.com.br

RESUMO
Muito se tem discutido no meio acadêmico sobre a necessidade de adoção de rigor
metodológico na condução de trabalhos científicos. No sentido de contribuir para esse debate,
o presente trabalho discute as metodologias e técnicas de pesquisa adotadas nos artigos
publicados no Brasil nas áreas de Administração e Contabilidade sobre o modelo Balanced
Scorecard (BSC), tema que tem sido objeto de estudo freqüente nos dois citados campos do
conhecimento. Realizou-se estudo exploratório, de natureza qualitativa, delineado por
pesquisa bibliográfica, tomando-se por base 54 artigos brasileiros publicados no período de
1999 a 2006 abordando o BSC como principal objeto de estudo. A pesquisa revela que
aspectos metodológicos considerados elementares na apresentação de trabalhos científicos
não estão sendo observados pelos pesquisadores, como a explicitação do problema, dos
objetivos e do detalhamento da metodologia empregada. Os estudos são na sua grande
maioria exploratórios e de natureza qualitativa. Verificou-se a utilização de múltiplos
delineamentos, prevalecendo o estudo de caso, presente em 32 pesquisas. Os pesquisadores
utilizaram várias técnicas de coleta de dados, sendo mais comuns o questionário e a
entrevista. Com relação às técnicas de análise de dados, prevaleceram as qualitativas. Os
resultados da pesquisa são fortes indicativos de que muito se precisa avançar na construção de
trabalhos científicos de qualidade nas áreas de Administração e Contabilidade.
Palavras-chave: Balanced Scorecard. Metodologias de Pesquisa. Administração e
Contabilidade.
1 INTRODUÇÃO
No período de 1997 a 2000, o Brasil registrou significativa produção de artigos e
trabalhos completos em anais de eventos nacionais e internacionais, totalizando
aproximadamente 236 mil publicações. No período de 2000 a 2003, o volume aumentou para
480 mil, representando crescimento superior a 100% (CNPQ, 2005). Certamente, esse fato
decorre do crescimento do número de mestrados e doutorados no país, especialmente nas
regiões Sul e Sudeste. Somente nos últimos sete anos, foram criados 872 novos cursos de
mestrado e 492 de doutorado (CAPES, 2006).
Esse aumento de produção também se verifica na área das ciências administrativas,
conforme demonstrado pelas estatísticas do Encontro da Associação Nacional dos Programas
de Pós-graduação em Administração (Enanpad). Em 2002 foram submetidos 1.998 artigos à
prévia avaliação do Enanpad. Em 2003 foram enviados ao evento 2.332 artigos; e em 2004
registrou-se mais um salto: foram submetidas 3.073 produções. Em 2005 o número de artigos
enviados para o evento novamente superou as expectativas, totalizando 3.020.
Nos últimos anos, um tema bastante debatido no Enanpad foi o modelo Balanced
Scorecard (BSC). Criado por Kaplan e Norton em 1992, o BSC foi concebido com o intuito
de medir o desempenho das organizações, por meio de um scorecard multidimensional capaz
de balancear as medidas de curto e longo prazos e as medidas financeiras e não-financeiras de
desempenho. Esse modelo proporciona uma rápida e abrangente visão atual e futura do
negócio, ao contemplar indicadores financeiros e não-financeiros, que facilitam o
acompanhamento dos resultados em direção às estratégias traçadas.
Muito se tem discutido no meio acadêmico sobre a necessidade de adoção de rigor
metodológico na condução das pesquisas, mas ainda é comum observar-se nas áreas de
Administração e Contabilidade a divulgação de pesquisas em eventos e revistas científicas
que nem sequer comentam os procedimentos metodológicos adotados nos estudos.
Nesse contexto, decidiu-se pela elaboração de um estudo que venha a responder ao
seguinte problema de pesquisa: Quais as principais metodologias de pesquisa e técnicas de
coleta e análise de dados adotadas na condução dos estudos sobre BSC publicados em
periódicos e eventos de Administração e Contabilidade no Brasil?
Dessa forma, a pesquisa tem por objetivo discutir as metodologias e técnicas de
pesquisa adotadas nos artigos publicados no Brasil nas áreas de Administração e
Contabilidade elegendo como tema central o BSC. Realizou-se estudo exploratório, de
natureza qualitativa, delineado por pesquisa bibliográfica, tomando-se por base 54 artigos
publicados no período de 1999 a 2006. Para seleção dos artigos, foram examinados trabalhos
apresentados nos eventos Enanpad, 3Es e Congresso USP de Controladoria e Contabilidade.
Também foram investigados artigos publicados nas seguintes revistas: Revista de
Administração de Empresas (RAE), Revista de Administração de Empresas (RAE-
Eletrônica), Revista de Administração (RAUSP), Revista Eletrônica de Administração
(REAd), Revista de Contabilidade e Finanças (RCF) e Revista de Administração
Contemporânea (RAC). A escolha dos eventos e revistas deu-se em função de suas
respectivas classificações pelo sistema Qualis de qualificação de eventos da Capes para o
triênio 2004-2006. Os eventos e revistas citados são todos considerados de nível “A” pela
Capes.
A presente pesquisa parte da premissa de que trabalhos publicados em eventos ou
revistas classificados no nível “A” pelo sistema Qualis da Capes apresentam de forma
explícita o problema, os objetivos e a metodologia de pesquisa, sendo esses os requisitos
mínimos exigidos dos pesquisadores quando da elaboração de seus estudos.
2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 O Balanced Scorecard (BSC)


Na era industrial, mais precisamente no período compreendido entre 1850 e 1975, o
sucesso das empresas era determinado pelo modo como estas se aproveitavam dos benefícios
da economia de escala. Nesse contexto, eram consideradas bem-sucedidas aquelas
organizações que conseguiam incorporar tecnologias que lhes garantissem a mais eficiente
produção em massa de artigos padronizados. No citado período, diversas empresas
desenvolveram sistemas de controle financeiro objetivando simplificar, acompanhar e avaliar
o capital financeiro e físico, de modo a garantir a eficiência de seu emprego (KAPLAN;
NORTON, 1997).
Nesse período, os ativos tangíveis eram altamente valorizados, sinônimo de sucesso
empresarial. Com base em um estudo de 1982 do Brookings Institute, Kaplan e Norton
(2000a, p. 12) afirmam que “o valor contábil dos ativos tangíveis representava 62% do valor
de mercado das organizações industriais”.
Segundo Kaplan e Norton (1997), nas últimas décadas do século XX, os paradigmas
presentes na era industrial se tornaram insuficientes para garantir vantagens competitivas. As
empresas não mais conseguem obter vantagens estratégicas por meio da alocação de novas
tecnologias a ativos físicos. Os ativos tangíveis passam, assim, a perder importância.
Apesar da valorização do intangível, grande parte das decisões nas organizações
continua adotando como base apenas relatórios financeiros gerados periodicamente, que,
segundo Kaplan e Norton (2001), foram desenvolvidos num período em que a influência do
contexto econômico mundial era inexpressiva. O uso exclusivo de indicadores de desempenho
financeiro tem como características as conseqüências das ações passadas (KAPLAN;
NORTON, 2000b), sendo, assim, incapaz de influenciar futuras ações geradoras de valor.
Pace e Baso (2001, p. 1) comentam que “medidas financeiras têm sido criticadas por sua
natureza histórica capaz de revelar muito sobre as ações passadas, mas pouco ou nada sobre
suas capacidades futuras”.
No início da década de 1990, como os métodos voltados para a avaliação de
desempenho empresarial, em geral apoiado em indicadores financeiros, estavam se tornando
obsoletos, surgiu a preocupação de se descobrir novos métodos de medição da performance
das organizações. Para solucionar esse problema, executivos e acadêmicos reuniram-se com
o intuito de desenvolver um novo modelo de avaliação de desempenho.
Assim, em 1992 surgiu o BSC, divulgado por meio do artigo The Balanced Scorecard
– Measures that drives performance, que sintetizou as constatações do grupo de estudos.
Com o passar do tempo, porém, Kaplan e Norton observaram que a maioria das empresas,
incluindo-se aquelas que estavam implantando o BSC, não alinhava as medidas de
desempenho, qualidade e ciclo de processos às suas estratégias de negócio.
Ficou, então, evidenciada a necessidade de se vincular as medidas do BSC à estratégia
organizacional, o que até então não constituía prática usual. Em sua maioria, as empresas
procuravam melhorar o resultado dos processos por meio de custos mais baixos, mais
qualidade e menores tempos de resposta, não conseguindo identificar os processos realmente
estratégicos, entendidos como sendo aqueles capazes de gerar excelente desempenho
empresarial (FIGUEIREDO, 2002).
Procurando contribuir nesse sentido, em 1993, no artigo Putting the Balanced
Scorecard to Work, publicado na Harvard Business Review (HBR), Kaplan e Norton
delinearam um método de identificação dos processos realmente estratégicos, ou seja, aqueles
capazes de garantir desempenho excepcional. De uma simples ferramenta de medição de
desempenho, o BSC passou a ser uma ferramenta de medição de desempenho aperfeiçoada,
alinhando as medidas do BSC à estratégia organizacional, visando garantir desempenho
excepcional aos processos críticos da empresa.
O objetivo geral do BSC consiste em oferecer um modelo para complementar o
planejamento estratégico, descrevendo as estratégias que criam valor para a organização.
Segundo Kaplan e Norton (1997, p. 2), “o Balanced Scorecad traduz a missão e a estratégia
das empresas num conjunto abrangente de medidas de desempenho que serve de base para um
sistema de medição e gestão estratégica”, e também “... permite que as empresas acompanhem
o desempenho financeiro, monitorando, ao mesmo tempo, o progresso na construção de
capacidades e na aquisição dos ativos intangíveis necessários para o crescimento futuro”.

2.2 Estrutura classificatória da metodologia científica


Na busca de maiores conhecimentos, o pesquisador deve assumir e desenvolver
hábitos que o direcionem para o aprendizado via pesquisa. Para tanto, faz-se necessário o
desenvolvimento da capacidade de observar, selecionar, organizar e usar o senso crítico sobre
a realidade social:

a pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder


ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de
desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema GIL (1991).

A Metodologia Científica trata de método e ciência. A atividade preponderante da


metodologia é a pesquisa. O conhecimento humano caracteriza-se pela relação estabelecida
entre o sujeito e o objeto, podendo-se dizer que essa é uma relação de apropriação.
Desse modo, a metodologia resulta de um conjunto de procedimentos a serem
utilizados pelo indivíduo na obtenção do conhecimento. É a aplicação do método, por meio de
processos e técnicas, que garante a legitimidade do saber obtido.
Todos os trabalhos científicos podem adotar uma estrutura comum. Apesar de os
trabalhos tratarem de temas diferentes e, com distintos propósitos, variarem materialmente,
podem coincidir formalmente numa seqüência comum. Segundo Salvador (1982):

(...) a composição de um trabalho científico pode ser expressa da seguinte forma:


antecipar o que se vai transmitir, transmitir o que se havia proposto e declarar o que
se transmitiu. Essa seqüência compreende a introdução, o desenvolvimento do
trabalho e a conclusão.

Portanto, a pesquisa científica desenvolve-se mediante utilização dos conhecimentos


disponíveis, métodos, técnicas e outros procedimentos científicos, que vão desde a adequada
formulação do problema até a satisfatória apresentação dos resultados.
Discute-se, a seguir, a classificação das pesquisas quanto aos objetivos específicos, ao
delineamento e à natureza. Também são comentadas as principais técnicas de análise e coleta
de dados. Vale ressaltar que o exame das obras sobre metodologia de pesquisa revela a falta
de uma classificação única, sendo aqui adotada, conforme apresentado no Quadro 1, aquela
que procura agrupar principalmente os pensamentos de Gil (1991), Malhotra (2001), Bardin
(1997), Cervo e Bervian (1996), Araújo e Oliveira (1997), Yin (2001) e Vergara (2005).
Classificação Classificação Classificação Técnica de coleta de Técnica de
quanto aos quanto ao quanto à natureza dados análise de dados
objetivos delineamento
específicos
Pesquisa Pesquisa Pesquisa Entrevista Técnicas de
exploratória documental qualitativa Questionário análise de dados
Pesquisa descritiva; Pesquisa Pesquisa Observação qualitativa
Pesquisa bibliográfica quantitativa Documentação indireta Técnicas de
explicativa Levantamento Pesquisa – análise de dados
Pesquisa quantitativa- documental quantitativa
experimental qualitativa Documentação indireta
Pesquisa ex-post- –
facto bibliográfica
Estudo de caso
Pesquisa-ação
Quadro 1. Estrutura de classificação das metodologias científicas. Fonte: Elaborado pelos autores.

2.2.1 Classificação das pesquisas quanto ao objetivo específico


Quanto aos objetivos específicos, as pesquisas científicas podem ser classificadas em
três modalidades: exploratória, descritiva e explicativa. Cada uma trata o problema de
maneira peculiar. A pesquisa exploratória tem “como objetivo proporcionar maior
familiaridade com o problema” (GIL, 1991, p. 45). A descritiva adota “como objetivo
primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno” (GIL,
1991, p. 46). Já a pesquisa explicativa tem “como preocupação central identificar os fatores
que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos” (GIL, 1991, p. 46).
A pesquisa exploratória foca na maior familiaridade com o problema, com vistas a
torná-lo mais explícito ou a facilitar a construção de hipóteses. Esse tipo de pesquisa tem
como principal objetivo o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições, novas idéias.
A pesquisa exploratória é extremamente flexível, de modo que quaisquer aspectos relativos ao
fato estudado têm importância. Grande parte das pesquisas do tipo envolve levantamento
bibliográfico, documental e entrevista ou questionário envolvendo pessoas que tiveram
alguma experiência com o problema. Geralmente são de natureza qualitativa.
A pesquisa descritiva objetiva a descrição de determinada população ou fenômeno ou
o estabelecimento de relações entre variáveis. Esse tipo de estudo tem como característica
mais significativa a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o
questionário e a observação sistemática. Segundo Malhotra (2001, p. 108), a pesquisa
descritiva “tem como principal objetivo a descrição de algo”, um evento, um fenômeno ou um
fato. Os termos descritiva, descrição e descrever referem-se ao fato de esse tipo de pesquisa
apoiar-se na estatística descritiva para realizar as descrições da população (mediante amostra
probabilística) ou do fenômeno, ou relacionar variáveis. Assim, a pesquisa descritiva pura tem
natureza quantitativa, mas pode ser quantitativa e qualitativa ao mesmo tempo, se representar
descrição de amostra não-probabilística.
A pesquisa explicativa procura aprofundar o conhecimento da realidade, explicando a
razão e o porquê das coisas. Tem como objetivo principal a identificação dos motivos que
determinaram a ocorrência de um fenômeno ou contribuíram para tanto. Esse tipo de pesquisa
é, na maioria das vezes, uma continuação da pesquisa exploratória ou da pesquisa descritiva.

2.2.2 Classificação das pesquisas quanto ao delineamento


O delineamento da pesquisa corresponde ao seu planejamento numa dimensão mais
ampla; ou seja, nesse momento o investigador estabelece os meios técnicos da investigação.
O elemento mais importante para a adequada identificação de um delineamento é o
procedimento utilizado na coleta de dados. A classificação das pesquisas quanto ao
delineamento pode compreender diversos tipos, sendo os mais conhecidos: a pesquisa
documental, a pesquisa bibliográfica, o levantamento, a pesquisa experimental, a pesquisa ex-
post-facto, o estudo de caso e a pesquisa-ação. Vale destacar que na proporção em que a
pesquisa científica avança, novas formas de delineamento tendem a surgir.
A principal característica da pesquisa documental está relacionada com a sua fonte, a
qual restringe-se a documentos escritos ou não-escritos, sempre de fontes primárias.
Qualquer estudo científico supõe e requer uma prévia pesquisa bibliográfica, seja para
sua necessária fundamentação teórica, ou mesmo para justificar seus limites e para os próprios
resultados. Cervo e Bervian (1996, p. 48) afirmam que:

a pesquisa bibliográfica é meio de formação por excelência. Como trabalho


científico original, constitui a pesquisa propriamente dita na área das Ciências
Humanas. Como resumo de assunto, constitui geralmente o primeiro passo de
qualquer pesquisa científica.

É por meio da pesquisa bibliográfica que o pesquisador faz contato direto com tudo o
que foi publicado, dito, filmado ou de alguma outra forma registrado sobre determinado tema,
inclusive através de conferências seguidas de debates.
A pesquisa bibliográfica muito se assemelha com a pesquisa documental. Alguns
detalhes, porém, ajudam a evidenciar as sutis diferenças entre os dois tipos:
a) as fontes de dados da pesquisa documental são sempre primárias, algumas delas
compiladas no momento do fato, outras algum tempo depois, e que não foram tratadas com o
foco específico para o tema em estudo;
b) a pesquisa bibliográfica, sempre utilizando fontes secundárias, compreende as
obras já editadas abordando o tema em estudo;
c) os objetivos da pesquisa bibliográfica geralmente são muito amplos, sendo, assim,
indicada para gerar maior visão sobre o problema ou torná-lo mais específico; enquanto isso,
os objetivos da pesquisa documental são específicos, quase sempre visando à obtenção dos
dados em resposta a determinado problema.
Os dados obtidos de livros, revistas científicas, teses, relatórios científicos, cuja
autoria é conhecida, não se confundem com documentos, isto é, dados primários, que
propiciam o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, possibilitando conclusões
inovadoras, por meio da análise de seu conteúdo.
O levantamento tem como característica principal a coleta de informações diretamente
das pessoas, para se conhecer o comportamento de determinado grupamento. Essas
informações são captadas por meio de instrumentos que possibilitam a realização de análise
quantitativa, cujas conclusões podem ser projetadas para um universo mais amplo. Por
utilizar técnicas estatísticas para definir as amostras e o universo da pesquisa, o levantamento
apresenta algumas vantagens, segundo Araújo e Oliveira (1997): melhora o conhecimento
direto da realidade; oferece maior economia e rapidez; e possibilita, por meio da quantificação
das variáveis, o uso de correlações e outros procedimentos estatísticos.
Segundo Araújo e Oliveira (1997, p. 6), a pesquisa experimental “consiste em
determinar o objeto de estudo, selecionar variáveis que seriam capazes de influenciá-lo,
definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto”.
Esse tipo de pesquisa caracteriza-se por manipular de forma direta as variáveis
relacionadas ao objeto de estudo. Com a manipulação das variáveis através da criação de
situações de controle, ou seja, manipulando-se as variáveis independentes e observando-se o
que acontece com as dependentes, pode-se averiguar a relação de causa e efeito de
determinado fenômeno.
A pesquisa ex-post-facto procura assemelhar-se ao máximo com a pesquisa
experimental, sendo que a principal diferença reside na manipulação das variáveis
independentes. Com efeito, enquanto na pesquisa experimental as variáveis são controladas,
na ex-post-facto não há controle sobre as variáveis.
Segundo Yin (2001), o estudo de caso é a pesquisa preferida quando predominam
questões dos tipos “como?” e “por quê?”, ou quando o pesquisador detém pouco controle
sobre os eventos e ainda quando o foco se concentra em fenômenos da vida real.
Yin (2001) afirma também que o estudo de caso é um modo de pesquisa empírica que
investiga fenômenos contemporâneos em seu ambiente real, quando os limites entre o
fenômeno e o contexto não são claramente definidos; quando há mais variáveis de interesse
do que pontos de dados; quando se baseia em várias fontes de evidências; e quando há
proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise dos dados.
A pesquisa-ação surgiu no final dos anos 1940, com a publicação do artigo Action
research and minority problems, de Kurt Lewin. Segundo Vergara (2005), a pesquisa-ação
tem como objetivo resolver problemas por meio de ações definidas por pesquisadores e
sujeitos envolvidos com a situação investigada. Alguns confundem esse método com
consultoria, sendo que a principal diferença entre as duas abordagens é que a pesquisa-ação
procura elaborar e desenvolver conhecimento teórico.

2.2.3 Classificação das pesquisas quanto à natureza


Quanto à natureza, as pesquisas científicas podem ser classificadas em três
modalidades: a qualitativa, a quantitativa e a quanti-quali. A pesquisa qualitativa se dedica à
compreensão dos significados dos eventos, sem a necessidade de apoiar-se em informações
estatísticas. Na pesquisa quantitativa, a base científica vem do Positivismo, que durante muito
tempo foi sinônimo de Ciência, considerada como investigação objetiva que se baseava em
variáveis mensuráveis e proposições prováveis. A pesquisa quanti-quali, como o próprio
nome sugere, representa a combinação das duas citadas modalidades, utilizando em parte do
trabalho a visão positivista, e em outra parte a visão fenomenológica, aproveitando-se o que
há de melhor em cada uma delas (ARAÚJO; OLIVEIRA, 1997).
Desde a década de 1970, a pesquisa qualitativa vem assumindo certo grau de
importância no campo das ciências sociais. Esse tipo de pesquisa adota a fenomenologia
como base científica para moldar a compreensão da pesquisa, respondendo a questões dos
tipos “o quê?”, “por quê?” e “como?”. Geralmente, a pesquisa qualitativa analisa pequenas
amostras não necessariamente representativas da população, procurando entender as coisas,
em vez de mensurá-las.
A pesquisa qualitativa é considerada essencialmente de campo, porquanto nas ciências
sociais a maioria dos estudos está relacionada a fenômenos de grupos ou sociedades, razão
pela qual o investigador deve atuar onde se desenvolve o objeto de estudo.
Araújo e Oliveira sintetizam a pesquisa qualitativa como um estudo que (1997, p. 11):

(...) se desenvolve numa situação natural, é rico em dados descritivos, obtidos no


contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do
que o produto, se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes, tem um
plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada.

A pesquisa quantitativa surgiu sob a influência do Positivismo, segundo o qual o


pesquisador não deve envolver-se com o objeto da pesquisa, além de pregar a utilização de
procedimentos rigorosamente empíricos, visando ao máximo de objetividade possível no
estudo realizado. Sendo assim, a neutralidade do pesquisador constitui um ponto muito
importante para o estudo.
Pode-se definir a pesquisa quantitativa como aquela voltada para a mensuração de
segmentos do mercado e das informações qualitativas preexistentes ou levantadas pela
pesquisa qualitativa (DICIONÁRIO PUBLICITÁRIO ON-LINE, 2006). Segundo Malhotra
(2001, p. 155), “a pesquisa quantitativa procura quantificar os dados e aplicar alguma forma
de análise estatística”. Na maioria das vezes, esse tipo de pesquisa deve suceder a pesquisa
qualitativa, já que esta última ajuda a contextualizar e a entender o fenômeno.
A pesquisa quanti-quali compreende a utilização de ambas as naturezas, quantitativa e
qualitativa, numa pesquisa científica. Estudos de natureza quanti-quali têm como base tanto o
positivismo como a fenomenologia.

2.2.4 Técnicas de coleta de dados


A coleta de dados ocorre após a escolha e delimitação do tema, a revisão bibliográfica,
a definição dos objetivos, a formulação do problema e das hipóteses ou pressupostos e a
identificação das variáveis.
Nessa fase podem ser empregadas diferentes técnicas, sendo mais utilizados a
entrevista, o questionário e a observação, quando aplicadas a pessoas, e a documentação
indireta documental e a documentação indireta bibliográfica, quando não aplicadas a
indivíduos.
Nos últimos anos, a entrevista passou a ser bastante empregada pelos pesquisadores
das ciências administrativas. Essa técnica é utilizada sempre que os dados não são
encontrados em registros e fontes documentais, podendo ser facilmente obtidos por meio de
contatos pessoais (CERVO; BERVIAN, 1996).
Segundo Cervo e Bervian (1996), o questionário é a mais utilizada técnica de coleta
de dados. Tecnicamente falando, o questionário constitui um meio de obter respostas sobre
determinado assunto de maneira que o respondente forneça as informações de seu domínio e
conhecimento. Um questionário compreende uma série de perguntas ordenadas, que devem
ser respondidas por escrito e sem a presença do pesquisador. Cervo e Bervian (1996) ensinam
que “todo questionário deve ser impessoal, para assegurar a uniformidade na avaliação de
uma situação”.
A observação tem como o principal objetivo a obtenção de informações por meio dos
órgãos dos sentidos do investigador durante sua permanência in loco ao ensejo da ocorrência
de determinados aspectos da realidade. A observação não consiste tão-somente em ver ou
ouvir, mas também em analisar o fato ou fenômeno. O investigador pode identificar e obter
provas a respeito de objetivos de que até então não tinha consciência, exercendo importante
papel no aspecto da descoberta, ponto inicial para a investigação social.
Os procedimentos para coleta de dados descritos, conforme mencionado anteriormente
aplicam-se quando coletados diretamente de pessoas. Entretanto, segundo Gil (1991), não são
os indivíduos as únicas fontes de dados. Registros em papel, como arquivos públicos e
privados, dados estatísticos, etc, são importantes fontes de informações, que serão colhidas
mediante documentação indireta.
A coleta de dados baseada na documentação indireta consiste na leitura e análise de
materiais produzidos por terceiros, que podem apresentar-se sob forma de textos, jornais,
gravuras, fotografias e filmes, entre outras (LAKATOS; MARCONI, 1991). A documentação
indireta documental trata especificamente da coleta de informações de fontes primárias, tais
como documentos de arquivos públicos e privados, cartas, contratos, diários e autobiografias.
Essa técnica é bastante utilizada em pesquisas puramente teóricas e naquelas em que o
delineamento principal é o estudo de caso, pois pesquisas com esse tipo de delineamento
exige, na maioria dos casos, a coleta de documentos para análise.
A documentação indireta bibliográfica trata especificamente de recolher informações
de fontes secundárias, tais como relatórios de pesquisa baseada em trabalho de campo,
estudos históricos recorrendo aos documentos originais e pesquisas utilizando
correspondências de terceiros, entre outras. Trata-se de técnica bastante empregada em
pesquisas nas quais o delineamento principal é o estudo de caso e em pesquisas puramente
teóricas.

2.2.5 Técnicas de análise de dados qualitativa


Dentre as técnicas de análise de dados qualitativa, destacam-se a análise de conteúdo e
a análise de discurso.
A análise de conteúdo é utilizada no tratamento de dados que visa identificar o que
vem sendo dito acerca de determinado tema (VERGARA, 2005). Segundo Bardin (1977, p.
42), a análise de conteúdo compreende:

um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por


procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas
mensagens.

As principais fontes da análise de conteúdo são materiais jornalísticos e documentos


institucionais.
Vergara (2005) define a análise de discurso como um método que pretende não
somente apreender como uma mensagem é transmitida, mas também explorar o seu sentido. A
análise de discurso avalia quem enviou a mensagem, quem recebeu a mensagem e qual o
contexto em que está inserida.
Uma das condições indispensáveis para que a análise de discurso seja efetivada com
clareza é a transcrição de entrevistas e discursos na íntegra, sem cortes, correções ou
interpretações iniciais.
Vergara (2005) sugere que o relatório final, subseqüente à análise, deve conter trechos
do material analisado, no sentido de assegurar a fiel interpretação do pesquisador. A autora
defende também a importância de esse relatório explicitar os critérios utilizados na análise dos
dados, de modo a facilitar a sua compreensão pelo leitor.

2.2.6 Técnicas de análise de dados quantitativa


Muitas são as ferramentas estatísticas voltadas para análise de dados. Como o foco do
trabalho não é especificamente esse assunto, são comentadas a seguir as mais comumente
abordadas na literatura especializada, ressalvando-se a existência de muitas outras que são
também utilizadas, como freqüências, médias, modas, medianas e testes de significância.
A análise de regressão e a análise discriminante são duas técnicas de análise de dados
quantitativa adotadas com freqüência nas áreas de Administração e Contabilidade.
Malhotra (2001, p. 459) ensina que a análise de regressão é um “processo estatístico
para analisar relações associativas entre uma variável dependente métrica e uma ou mais
variáveis independentes”. Essa técnica tem como principal objetivo verificar o grau e a
natureza de associação entre as variáveis.
Segundo Malhotra (2001, p. 482), a análise discriminante “é uma técnica de análise de
dados onde a variável dependente é categórica e as variáveis prognosticadoras ou
independentes têm natureza intervalar”. Essa técnica tem como objetivo estabelecer funções
matemáticas ou combinações lineares que podem melhor discriminar as categorias das
variáveis dependentes.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa foi segmentada em duas grandes etapas: a primeira corresponde à fase de
construção do marco teórico do estudo; a segunda diz respeito à análise dos artigos brasileiros
catalogados sobre BSC.
Para a construção do marco teórico, foram investigados os temas de estudo da presente
pesquisa: BSC e metodologias de pesquisa. A pesquisa bibliográfica sobre as metodologias de
pesquisa foi dividida em duas etapas: na primeira, buscaram-se autores mais generalistas,
como Cervo, Bervian, Lakatos, Marconi e Gil; na segunda etapa, utilizaram-se especialistas
como Malhotra, Vergara, Yin, Bardin, Araújo e Oliveira, autores de estudos mais
aprofundados sobre algumas técnicas de pesquisa. Procurou-se, assim, cobrir todos os
aspectos envolvidos na metodologia científica, compreendendo a classificação das pesquisas
quanto aos objetivos específicos, quanto ao delineamento e quanto à natureza, assim como as
técnicas de coleta de dados e as técnicas de análise de dados.
Pôde-se constatar que não há um padrão definido, razão pela qual foram concebidas
algumas classificações metodológicas, de modo a se evidenciar toda a amplitude consignada
pela metodologia científica.
Após a pesquisa bibliográfica que deu suporte a todo o embasamento teórico deste
estudo, passou-se à catalogação dos artigos brasileiros trazendo o BSC como tema principal.
Para identificação das publicações, foram investigados o resumo e a introdução de cada
artigo. A pesquisa abrangeu os artigos publicados nos eventos Enanpad, 3Es e Congresso USP
de Controladoria e Contabilidade e outros publicados nos seguintes periódicos especializados:
Revista de Administração de Empresas (RAE), Revista de Administração de Empresas (RAE-
Eletrônica), Revista de Administração (RAUSP), Revista Eletrônica de Administração
(REAd), Revista de Contabilidade e Finanças (RCF) e Revista de Administração
Contemporânea (RAC).
Os três citados eventos são considerados de nível “A” pelo sistema Qualis de
classificação de eventos da Capes no triênio 2004-2006. No Enanpad, pesquisaram-se artigos
publicados no período de 1997 a 2005. A pesquisa teve início a partir de 1997 pelo fato de ser
esse o primeiro ano em que foi disponibilizada a mídia digital com os artigos do evento, e se
encerra em 2005, pelo fato de esse ter sido o último ano de realização do evento até o
momento da realização do estudo. O 3Es é o maior evento de estratégia do país, sendo que até
o momento só foram realizadas duas edições, uma em 2003 e a outra em 2005. Foram,
portanto, consultadas todas as publicações do 3Es. O Congresso USP de Controladoria e
Contabilidade ocorre uma vez a cada ano. Foram examinadas todas as suas publicações desde
2001, ano de sua primeira edição, até 2005, ano da última edição até o momento.
As seis revistas examinadas são todas consideradas de nível “A” pelo sistema Qualis
de classificação de revistas da Capes. Cada revista possui um período de pesquisa diferente,
consoante explicitado no Quadro 2.

Revista Ano inicial da pesquisa Ano final da pesquisa


Revista de Administração de Empresas (RAE) 1961 2006
Revista de Administração de Empresas (RAE- 2002 2006
Eletrônica)
Revista de Administração (RAUSP) 1947 2006
Revista Eletrônica de Administração (REAd) 1995 2006
Revista de Administração Contemporânea (RAC) 1997 2006
Revista de Contabilidade e Finanças (RCF) 1989 2006
Quadro 2. Revistas pesquisadas e respectivos períodos. Fonte: Elaborado pelos autores.

Foram pesquisados todos os artigos que possuíam as palavras “Balanced”,


“Scorecard”, “BSC” e “Indicadores”, perfazendo-se um total de 135 textos. Com vistas à
seleção dos que deveriam compor o presente estudo, foram lidos os resumos de todos eles,
separando-se os que interessavam.
Na seqüência, por meio da Análise de Conteúdo, recortaram-se as passagens que
tratam do problema de pesquisa deste estudo. Efetuados os recortes, utilizou-se um
documento criado pelos autores para catalogação dos artigos, de modo a facilitar a busca das
informações, sempre que necessárias. Esse documento reuniu, de forma resumida, todo o
conteúdo capaz de responder ao problema da pesquisa.
Oportuno salientar que nas pesquisas qualitativas, as idéias para a análise das
informações vão se concretizando à medida que evoluí o levantamento (OLIVEIRA, 2001).
Na proporção em que se realizava a análise dos textos selecionados, o esquema de avaliação
também ia se aperfeiçoando, muitas vezes necessitando-se voltar a examinar artigos já
avaliados. O fato de se poder reexaminar os artigos constitui uma vantagem clara da pesquisa
baseada em análise bibliográfica, uma vez que as publicações podem ser consultadas tantas
vezes quantas forem necessárias para se complementar as informações.
Os dados foram então tabulados, a fim de serem analisadas as freqüências com que os
aspectos metodológicos eram (ou não) obedecidos. Sempre que oportuno, foi realizado teste
de independência estatística entre as variáveis, baseado na estatística χ2, a fim de verificar se
havia relação significativa entre os resultados dos eventos e revistas. Assim, a elaboração de
tabelas de contingência propiciaram aos autores concluir a respeito da extensão da
observância dos aspectos metodológicos considerados.

4 RESULTADOS DA PESQUISA
A Tabela 1 apresenta a distribuição dos artigos, compreendendo aqueles inseridos em
anais de eventos acadêmicos e aqueles publicados em revistas especializadas.

Tabela 1 – Distribuição anual dos artigos por evento/revista – 1999-2006


Ano
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Total % Total
EVENTO
Enanpad 1 1 5 2 4 8 4 - 25 46,3
3Es - - - - 4 - 7 - 11 20,37
Congresso USP - - - 1 2 1 1 - 5 9,26
Total dos Eventos 1 1 5 3 10 9 12 - 41 75,93
% total dos Eventos 2,44 2,44 12,2 7,32 24,39 21,95 29,27 0 100,00 -
REVISTA
RAE 1 - - - - - - - 1 1,85
RAE Eletrônica - - - - 3 - - - 3 5,56
Rausp - - - - 1 - - - 1 1,85
REAd - - - 1 1 1 2 - 5 9,26
RCF - - - - - 1 - 1 2 3,7
RAC - - - - 1 - - - 1 1,85
Total das Revistas 1 - - 1 6 2 2 1 13 24,07
% total das Revistas 7,69 0 0 7,69 46,15 15,38 15,38 7,69 100,00 -
Total 2 1 5 4 16 11 14 1 54 100,00
% Total 3,7 1,85 9,26 7,41 29,63 20,37 25,93 1,85 100,00 -
Fonte: Elaborada pelos autores.

Dos 54 artigos analisados, 41 (75,9%) tiveram origem em eventos, enquanto treze


(24,1%) foram publicados em revistas. A maior quantidade anual de artigos coletados
registrou-se em 2003, com dezesseis (29,6%) artigos. O Enanpad foi o evento com maior
concentração de publicações, totalizando 25 (46,3%). Dentre as revistas, a REAd registrou o
maior número de artigos sobre o tema pesquisado, cinco (9,3%), ao todo.
Para a análise dos aspectos metodológicos dos artigos, investigou-se, inicialmente, se
os trabalhos apresentavam expressamente o problema, os objetivos específicos e a
metodologia, pois esses elementos balizam toda a coleta e análise dos dados visando à
consecução dos propósitos de uma pesquisa (Tabela 2).
Tabela 2 – Distribuição quantitativa e proporcional dos problemas, objetivos específicos e metodologias nos
artigos componentes da amostra
Item Local de publicação O autor explicitou o item observado?
Problema Não Sim
Evento 29 (71%) 12 (29%)
Revista 9 (69%) 4 (31%)
Total 38 (70%) 16 (30%)
Objetivo Evento 10 (24%) 31 (76%)
Revista 3 (23%) 10 (77%)
Total 13 (24%) 41 (76%)
Metodologia Evento 10 (24%) 31 (76%)
Revista 2 (15%) 11 (85%)
Total 12 (22%) 42 (78%)
Fonte: Elaborada pelos autores.

Analisando-se os dados da Tabela 2, constatou-se que a explicitação do problema de


pesquisa ainda não é considerada essencial pelos autores das pesquisas investigadas, já que
apenas dezesseis (29,6%) artigos o explicitavam.
Segundo uma premissa levantada pelo autores, os eventos e as revistas classificados
no nível “A” pela Capes necessariamente conteriam o problema de pesquisa explicitado no
texto, porquanto, segundo a metodologia científica, essa definição constitui um dos requisitos
básicos. Essa premissa, porém, não foi confirmada, já que dos treze (100,0%) artigos
publicados em revistas, nove (69,2%) não adotaram tal exigência. Nos eventos, essa situação
também ocorreu de maneira semelhante, já que dos 41 (100,0%) artigos publicados, apenas
doze (29,3%) explicitaram o problema. Os objetivos específicos da pesquisa foram
explicitados em 41 (75,9%) trabalhos, enquanto os demais omitiram a informação. Os eventos
e as revistas apresentam índices bem semelhantes de apresentação explícita dos objetivos
específicos das pesquisas: 75,6% e 76,9%, respectivamente.
A metodologia, que deve ser mencionada em qualquer trabalho acadêmico, como
forma de evidenciar que os pesquisadores adotaram o método científico na realização do
estudo, constava em apenas 42 (77,8%) trabalhos examinados. Deve-se destacar que muitos
artigos não apresentavam os dados mínimos necessários para o conhecimento efetivo do
caminho percorrido pelos seus autores na condução das respectivas investigações. Pôde-se
constatar que a ausência de apresentação dos itens examinados ocorre igualmente em
trabalhos voltados tanto para eventos como para revistas. Os testes de independência baseados
no χ2 indicaram não haver razão de se considerar diferenças significativas entre os
percentuais distribuídos entre eventos e revistas.
Em seguida, foram investigadas as classificações das pesquisas quanto aos objetivos
específicos, delineamento, à natureza e à técnica de coleta de dados, cujos resultados são
apresentados nas Tabelas 3, 4, 5, 6 e 7. Considerando-se que os autores muitas vezes não
classificaram os estudos ou o fizeram de forma conflitante com os procedimentos
metodológicos detalhados nos mesmos, as classificações apresentadas são fruto da Análise de
Conteúdo realizada em cada trabalho.
A Tabela 3 apresenta a classificação das pesquisas quanto aos objetivos específicos,
evidenciando-se que do total de 54 trabalhos, 39 (72,2%) foram exploratórios e 14
considerados exploratórios-descritivos. Foi identificado apenas um (1,8%) artigo puramente
descritivo, que utilizava técnicas de análise de dados quantitativa, com amostra probabilística,
e nenhuma pesquisa foi classificada como explicativa. Observa-se, assim, uma enorme
carência de pesquisas descritivas e explicativas trazendo como tema central o BSC. Deve-se
destacar que apenas 21 (38,9%) pesquisadores tiveram a preocupação de apresentar nos
trabalhos a classificação da pesquisa quanto aos seus objetivos, sendo que doze efetuaram
classificações equivocadas em relação ao referencial teórico.
Tabela 3 – Classificação das pesquisas quanto aos objetivos específicos
Exploratória-
Classificação Exploratória Descritiva Explicativa Descritiva Total Reclassificação
Qtd % Qtd % Qtd % Qtd % Qtd Qtd %
EVENTO
Enanpad 16 64,00 - - - - 9 36,00 25 4 16,00
Congresso USP 5 100,00 - - - - - 0,00 5 1 20,00
3Es 7 63,64 - - - - 4 36,36 11 4 36,36
Total dos Eventos 28 68,29 - - - - 13 31,71 41 9 21,95
REVISTA
ERA 1 100,00 - - - - - 0 1 - 0
ERA Eletrônica 3 100,00 - - - - - 0 3 - 0
Rausp 1 100,00 - - - - - 0 1 - 0
REAd 4 80,00 - - - - 1 20,00 5 1 20,00
RCF 2 100,00 - - - - - 0 2 2 100,00
RAC - 0 1 100,00 - - - 0 1 - 0
Total das Revistas 11 84,62 1 7,69 - - 1 7,69 13 3 23,08
Total 39 72,22 1 1,85 - - 14 25,93 54 12 22,22
Fonte: Elaborada pelos autores.

A Tabela 4 apresenta o resultado da análise com relação à classificação das pesquisas


quanto ao delineamento. Verifica-se que nove (16,7%) das pesquisas caracterizaram-se como
exclusivamente bibliográficas. O estudo de caso, em conjunto com outros delineamentos, foi
o mais utilizado nos artigos examinados, registrando-se 32 (59,3%) ocorrências. As pesquisas
que adotaram o levantamento, em conjunto com outros delineamentos, num total de onze, não
o fizeram com possibilidade de generalização dos resultados obtidos, embora em duas dessas
pesquisas os autores tenham expressado textualmente ser essa sua intenção e que mesmo não
se tratando de amostra probabilística, aproximava-se disso, pela sua representatividade.
Somente em uma seria possível a generalização dos resultados, pois seguiu os rigores
metodológicos necessários na definição da amostra.

Tabela 4 – Classificação das pesquisas quanto ao delineamento


Pesquisa Bibliográfica Pesquisa-ação Levantamento Estudo de Caso Total
EVENTO
Enanpad 5 1 5 14 25
3 Es 2 0 3 6 11
Congresso USP 0 1 1 3 5
Total de Eventos 7 2 9 23 41
% Total de
Eventos 17,07% 4,88% 21,95% 56,10% 100%
REVISTA
ERA 0 0 1 0 1
RAE Eletrônica 1 0 0 2 3
RAUSP 0 0 0 1 1
REAd 1 0 0 4 5
RCF 0 0 0 2 2
RAC 1 0 1 0 1
Total das Revistas 2 0 2 9 13
% Total das
Revistas 15,38% 0,00% 15,38% 69,23% 100%
Total 9 2 11 32 54
% Total 16,67% 3,70% 20,37% 59,26% 100%
Fonte: Elaborada pelos autores.
Com relação à classificação das pesquisas quanto à natureza, verificou-se que somente
doze (22,2%) artigos possuem alguma classificação expressa no texto. Vale destacar que essa
classificação é necessária para a correta definição da técnica de coleta de dados a ser utilizada
na pesquisa. É importante mencionar que quatro (9,8%) artigos de eventos que os autores
tinham considerado quantitativos foram reclassificados para quanti-quali, por não terem sido
utilizadas amostras probabilísticas. Um artigo da REAd foi reclassificado de qualitativo para
quanti-quali, pois apresentava técnicas de análise de dados quantitativas, sem, no entanto,
adotar o rigor metodológico requerido pelas pesquisas puramente quantitativas. Um artigo da
RCF, classificado como qualitativo, passou para quanti-quali, devido à utilização de técnicas
de análise quantitativa.

Tabela 5 – Classificação das pesquisas quanto à natureza

Classificação Qualitativa Quantitativa Quanti-quali Total Reclassificação


Qtd % Qtd % Qtd % Qtd Qtd %
EVENTO
Enanpad 17 68,00 - 0 8 32,00 25 2 8
Congresso USP 3 60,00 - 0 2 40,00 5 - 0
3Es 7 63,64 - 0 4 36,36 11 2 18,18
Total dos 27 65,85 - 0 14 34,15 41 4 9,76
Eventos
REVISTA
ERA 1 100,00 - 0 - 0 1 - 0
RAE Eletrônica 3 100,00 - 0 - 0 3 - 0
Rausp 1 100,00 - 0 - 0 1 - 0
REAd 4 80,00 - 0 1 20,00 5 1 20,00
RCF 2 100,00 - 0 - 0 2 1 50,00
Continua…
RAC - 0 1 100,00 - 0 1 - 0
Total das 11 84,62 1 7,69 1 7,69 13 2 15,38
Revistas
Total 38 70,37 1 1,85 15 27,78 54 6 11,11
Fonte: Elaborada pelos autores.

Com base na Tabela 5, percebe-se que 38 (70,4%) pesquisas classificam-se como


qualitativas, 15 como quanti-quali (27,8%) e uma (1,8%) como quantitativa. A pesquisa
considerada quantitativa é a única cujos resultados podem ser generalizados, pois seguiu todos
os procedimentos metodológicos requeridos em pesquisas desse tipo. Observa-se, assim, uma
enorme carência de trabalhos puramente quantitativos.
A Tabela 6 trata da classificação das pesquisas quanto à técnica de coleta de dados.
Verifica-se que o questionário e a entrevista são as técnicas de coletas de dados mais
utilizadas. O questionário destacou-se como a técnica mais utilizada pelos pesquisadores,
tendo sido aplicado em 24 pesquisas. Essa quantidade de trabalhos utilizando questionário,
técnica recomendada para pesquisas descritivas de natureza quantitativa, denota a intenção
dos autores em reforçar suas pesquisas exploratórias com dados quantitativos.
Verificou-se uma vasta gama de combinações de técnicas de coleta de dados. De certo
modo, isso mostra a busca incessante dos pesquisadores para melhorar metodologicamente
suas pesquisas através da concatenação das diversas técnicas.
Tabela 6 – Classificação das pesquisas quanto à técnica de coleta de dados
Documentação Indireta:
Classificação Documentos Questionário Entrevista Observação
EVENTO
Enanpad 8 11 6 4
3Es 2 5 4 2
Congresso Usp 2 2 3
Total de
Ocorrências 12 18 13 6
REVISTA
RAE 1
RAE Eletrônica 1 1 1
Rausp 1
REAd 1 1 2 1
RCF 2 2 1
RAC 1
Total de
Ocorrências 3 6 5 2
TOTAL GERAL 15 24 18 8
Fonte: Elaborada pelos autores.

Através dos dados apresentados na Tabela 7, procedeu-se a análise da classificação


das pesquisas quanto à técnica de análise de dados.

Tabela 7 – Classificação das pesquisas quanto à técnica de análise de dados


Classificação Técnica de análise Técnica de análise Técnica de análise Total
qualitativa quantitativa quantitativa-qualitativa
Qtd % Qtd % Qtd % Qtd
EVENTOS
Enanpad 16 64,00 - - 9 36,00 25
Congresso USP 3 60,00 2 40,00 - - 5
3Es 7 63,60 3 27,30 1 9,10 11
Total dos 26 63,40 5 12,20 10 24,40 41
Eventos
REVISTAS
ERA - - - - 1 100,00 1
Continua…

RAE 2 66,70 1 33,30 - - 3


Eletrônica
Rausp - - 1 100,00 - - 1
REAd 4 80,00 - - 1 20,00 5
RCF 1 50,00 - - 1 50,00 2
RAC - - 1 100,00 - - 1
Total das 7 53,90 3 23,10 3 23,10 13
Revistas
Total 33 61,10 8 14,80 13 24,10 54
Fonte: Elaborada pelos autores.

Verificou-se a prevalência de técnicas qualitativas, como análise de conteúdo e análise


de discurso. As técnicas puramente quantitativas marcaram presença em apenas oito (14,8%)
trabalhos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo revela que o evento Enanpad constitui o maior celeiro de
publicações do país sobre o BSC. Com efeito, dos 54 artigos coletados sobre o tema no
período de 1999 a 2006, 25 foram ali apresentados.
A pesquisa demonstra também que aspectos metodológicos considerados elementares
na apresentação de trabalhos científicos não estão sendo observados pelos pesquisadores,
como a explicitação do problema, objetivos específicos e detalhamento da metodologia da
pesquisa. Dos 54 trabalhos examinados, apenas dezesseis destacaram o problema de pesquisa,
13 não mencionaram os objetivos específicos e 12 não fizeram menção explícita à
metodologia de pesquisa.
Os estudos sobre BSC são na sua grande maioria exploratórios e de natureza
qualitativa. Foi identificado um único artigo descritivo, e nenhum explicativo. Dentre os 54
trabalhos analisados, 15 foram considerados quanti-quali e apenas um puramente quantitativo.
Verificou-se a utilização de múltiplos delineamentos, prevalecendo o emprego do
estudo de caso, que esteve presente em 32 pesquisas. Os pesquisadores utilizaram várias
técnicas de coleta de dados, tendo-se destacado o questionário, adotado em 24 artigos, e a
entrevista, em 18. A presente pesquisa corrobora relato de Cervo e Bervian (1996) que
afirmam ser a entrevista uma técnica de coleta de dados das mais utilizadas. Com relação às
técnicas de análise de dados, prevaleceram as qualitativas.
É importante ressaltar mais uma vez que as classificações apresentadas resultam da
análise de conteúdo dos 54 trabalhos investigados, pois na sua grande maioria os autores não
mencionavam explicitamente as classificações das pesquisas. Quando essas informações eram
apresentadas no corpo dos artigos, observaram-se algumas classificações que conflitavam
com os procedimentos metodológicos descritos nos mesmos.
Os resultados da pesquisa constituem um indicativo de que muito se precisa avançar
na construção de trabalhos científicos de qualidade nas áreas de Administração e
Contabilidade.

REFERÊNCIAS
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conclusão da disciplina Metodologia de Pesquisa Aplicada a Contabilidade - Departamento de
Controladoria e Contabilidade da USP. São Paulo, 1997. Mimeografado
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