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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

CAMPUS NAZARÉ DA MATA – FFPNM


DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Análise de conto

Felicidade Clandestina – Clarice Lispector

Nazaré da Mata – PE,


2009
Aline Maria Alves Bezerra
Amanda Siqueira do Nascimento
Djaneide Jokasta
Ígaro D’Ávila de Queiroz Cardoso
Jéssica Simone da Silva Cavalcanti
Pâmella da Silva Pinto
Renata Silva Ramos
Simone Rileide
Stephanie Saskya
Thiago Luiz da Silva Freire.

Felicidade Clandestina – Clarice Lispector

Trabalho apresentado a
Professora Joseane Brito responsável
pela disciplina Leitura e produção de
textos, para fins de Avaliação Parcial.

Nazaré da Mata – PE,


2009
Análise do conto

Felicidade Clandestina – Clarice Lispector

Análise do conto

Felicidade clandestina – Clarice Lispector

Resumo

Em Felicidade clandestina, de Clarice Lispector, a narradora-


personagem recorda sua infância no Recife, o que deixa pairar a dúvida de que
a personagem pode ou não ser a própria autora. Ela (personagem) gostava de
ler, mas sua situação financeira não era favorável para comprar livros. Por
isso, ela vivia pedindo livros emprestados a uma colega filha de dono de
livraria, já que essa colega não valorizava a leitura e, ainda se sentia inferior às
outras, inclusive à narradora. Certo dia, a filha do livreiro informou à narradora
que podia emprestar-lhe “As Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato,
mas que fosse buscá-lo em sua casa. A menina passou a sonhar com o livro
dia após dia. Mal sabia a ingênua menina que a colega queria vingar-se: todos
os dias, ela passava na casa e o livro não aparecia, sob a alegação de que já
fora emprestado.
Esse suplício durou muito tempo. Até que, certo dia, a mãe da colega
cruel interveio na conversa das duas e percebeu a atitude da filha; então,
emprestou o livro à sonhadora por quanto tempo desejasse.
Essa foi a felicidade clandestina da menina. Fazia questão de
“esquecer” que estava com o livro para depois ter a “surpresa” de achá-lo.
“Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.”

Análise

Com a ausência do prólogo e do epílogo em Felicidade clandestina, o


enredo é narrado na primeira pessoa dando, assim, mais veracidade e
intensidade ao texto. A primeira pessoa ajuda a unidade da narrativa,
concentra seus efeitos, torna mais plausíveis e 'presentes' aos fatos narrados,
mesmo com os verbos no pretérito. Além disso, ajuda a confundir com a
história da autora, que, na infância, viveu no Recife, lugar onde o conto se
passa, nutrindo-se da mesma paixão por livros que a personagem-narradora.
O tempo é linear, mas não é explicitado quando começa nem quando
termina, apenas que se passam dias e dias. O foco narrativo é a personagem
central, ou seja, a protagonista narra sua história reportando-se às demais
personagens ao longo de sua participação (Ex: “(...) A senhora achava cada
vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa
entendeu.”).
O tipo de conto é o de emoção; que, mesclado ao de ideia e ao de
cenário, traz na narrativa um efeito emocional profundo (Ex: “A felicidade
sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como
demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha
delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no
colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.”).
A personagem (protagonista), no desenrolar do conto, se apercebe de
diversas emoções, muito intensas para a maioria das crianças (não deixando
de ter uma visão saudosista da infância, a qual fica implícita no texto), cria
projeções sobre os fatos ocorridos e amadurece aos poucos. (Ex: "(...)Meu
peito estava quente, meu coração pensativo."). Ela aprecia os momentos com
a calma e a delicadeza de um amante experiente, e não com a ânsia e a
efusão de uma criança. (Ex: "Não era mais uma menina com um livro: era uma
mulher com o seu amante.").
Clarice descreve fisicamente bem a sua antagonista no começo do
conto, porém, como é característico de sua obra, não discorre muito sobre a
sua personalidade. A menina ruiva e gorducha exercia a sua maldade sobre a
protagonista do conto, despejando o seu sadismo fazendo-a ir todos os dias à
sua casa numa esperança vã, tal qual Prometeu acorrentado ao monte
Cáucaso tendo o seu fígado dilacerado por uma ave todos os dias numa tarefa
incansável.
A mãe (personagem secundária) da menina má é a redenção da
protagonista; quando descobre a atitude maquiavélica da filha, a mãe a
obriga a emprestar o livro a garota. Secretamente ela doa o livro pelo "tempo
que quisesse". A menina (protagonista) extasiada entrega-se em essência ao
livro e segue para a casa perdida em devaneios juntamente com o seu novo
companheiro.
A linguagem utilizada no conto é objetiva, porém, é possível encontrar
algumas metáforas no desenrolar do texto. O espaço é uma mescla do
psicológico (por descrever mais as emoções e sentimentos da protagonista) e
um espaço físico mesmo, que seria as ruas do Recife. O sentido da palavra é
o de relato. A narrativa enumera os fatos e os detalhes, a partir do
desenvolvimento do conto, vinculando os episódios. (Ex: “Ela era gorda, baixa,
sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um
busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não
bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas
possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai
dono de livraria.”)
Neste conto, Clarice opta por utilizar diálogos indiretos, resumindo as
falas das personagens na forma narrativa (Ex: “disse-me que havia emprestado
o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo”), mas
ela utiliza-se também do diálogo direto, representado por aspas (Ex: "E você
fica com o livro por quanto tempo quiser.").
A estrutura do conto é perfeitamente harmônica, levando o leitor
gradativamente ao clímax da história.
A entrada de mais uma personagem, a mãe, põe fim ao enredo
introduzindo o clímax que acontece quando a garota finalmente recebe o livro.
Ele é marcado pelo êxtase da narradora e sua felicidade clandestina.
Clandestina por ela ter em mãos algo que não é seu, mas que mesmo assim
lhe traz prazer tal como um amante.

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