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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARANÁ

UNIDADE DE PONTA GROSSA


COORDENAÇÃO DE MECÂNICA

NOTAS DE AULA E MATERIAL DE LEITURA

AÇOS – TRATAMENTOS TÉRMICOS

DISCIPLINA: MATERIAIS II

SEÇÃO 1

Prof. Msc. Anderson G. M. Pukasiewicz

Ponta Grossa

Paraná

2003
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1 Diagrama de Equilíbrio Fe-C

O diagrama de fase Fe-C é o ponto de partida para o estudo da constituição e estrutura


de qualquer aço ou ferro. Muitas das características principais do sistema ferro-carbono
influenciam o comportamento mesmo dos aços e ligas mais complexos. Por exemplo, as fases
presentes no sistema binário Fe-C persistem em aços complexos, no entanto, é necessário
examinar o efeito dos elementos de liga no modo de formação e nas propriedades dessas
fases. O diagrama de fase Fe-C apresentado na Figura 1.1 constitui uma sólida base sobre a
qual se desenvolve o conhecimento dos aços-carbono e dos aços ligados na sua imensa
variedade.

Figura 1-1 - Diagrama de fase Fe-C, (Callister, 1999).

O diagrama de equilíbrio normal representa, na realidade o equilíbrio metaestável entre


o ferro e o carboneto de ferro (cementita). A cementita é metaestável, e o verdadeiro equilíbrio
estabelece-se entre o ferro e a grafite. Embora a grafite ocorra freqüentemente nos ferros
fundidos (2-4% em peso C) é em geral difícil de se obter esta fase em equilíbrio nos aços (0,03-
1,5% em peso C). Assim considera-se apenas o equilíbrio metaestável entre o ferro e o
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carboneto de ferro, porque, na prática, é este que é realmente relevante para o comportamento
da maioria dos aços.

Ferro puro apresenta duas transformações alotrópicas antes do ponto de fusão. A


temperatura ambiente a fase estável é a ferrita α, que apresenta uma estrutura cristalina CCC
(cúbica de corpo centrado). A ferrita apresenta uma transformação polimórfica para CFC
(cúbica de face centrada) a 912°C, sendo esta nova fase chamada austenita γ. Esta fase é
estável até 1394°C, onde apresenta uma reversão para CCC, passando a se chamar ferrita δ,
que finalmente funde a 1538°C. Estas transformações são visíveis no lado esquerdo do
diagrama de fase Fe-C.

A transformação de fase γ↔α é acompanhada por um aumento de volume atômico em


1%, originando tensões internas durante a transformação. A transformação de fase γ↔α é
particularmente interessante no que diz respeito a solubilidade de elementos não metálicos
como o carbono e o nitrogênio nas duas fases, à difusividade de elementos de liga a altas
temperaturas e ao comportamento geral em deformação plástica. A estrutura CCC é menos
compacta que e a estrutura CFC, evidenciada pelo fator de empacotamento 0,68 e 0,74,
respectivamente. As maiores cavidades na estrutura CCC são os interstícios tetraédricos,
enquanto que os interstícios octaédricos são menores. Na estrutura CFC os interstícios
octaédricos são os maiores, enquanto que os tetraédricos são os menores, na Tabela 1.1
verificamos que os interstícios octaédricos na CFC são maiores que os tetraédricos na CCC,
determinando assim uma maior solubilidade de átomos que formam solução sólida intersticial,
a localização dos interstícios são observados na Figura 1.2. Na ferrita a solubilidade máxima de
carbono é 0,022% em peso a 727°C e 2,3x10-6 em peso a 400°C e 1x10-12 a temperatura
ambiente, na austenita a solubilidade máxima é de 2,14% em peso.

Tabela 1.1 - Dimensão das maiores esferas possíveis nos interstícios das estruturas CCC e CFC.

o
Raio Raio no Ferro ( A )
CCC Tetraédrico 0,29r 0,36
Octaédrico 0,15r 0,19
CFC Tetraédrico 0,23r 0,28
Octaédrico 0,41r 0,51
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Figura 1-2- Localização dos interstícios na estrutura CCC (BCC) e CFC (FCC).

O eixo da composição estende até a faixa de 6,70% de C, onde nesta concentração


forma-se o composto intermediário carboneto de ferro, CFe3, ou cementita, representada por
uma linha vertical no lado direito do diagrama de fase, sendo que esta apresenta uma estrutura
ortorrômbica, observada na Figura 1.3.

Figura 1-3- Estrutura ortorrômbica da cementita, esferas vermelhas são átomos de ferro e
amarelas de carbono.

A formação da cementita ocorre pela saturação do carbono na ferrita ou na austenita.


Esta fase supersaturada tende a precipitar uma fase metaesável, cementita, devido à elevada
difusividade do carbono na ferrita e na austenita. Ao contrário da fases ferrita e austenita a
cementita é dura e frágil e determina um elevado aumento na resistência mecânica nos aços.

Observa-se na Figura 1.1 a presença de um eutético a 1147°C e 4,30% em peso de


carbono, sendo a reação eutética descrita da seguinte forma:
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aqueciment
  o →
L γ + Fe3C (1.1)
←  
resfriamen to

Verifica-se também um eutetóide para uma composição de 0,76% em peso de carbono


e 727°C, esta reação determina uma estrutura lamelar de ferrita e cementita a qual denomina-
se perlita. Esta reação eutetóide pode ser representada pela seguinte equação:

  →
aqueciment o
γ ( 0,76%C ) α (0,022%C ) + Fe 3 C 6,7%C ) (1.2)
←   
resfriamen to

O domínio da fase austenita é muito mais extenso do que o da ferrita, o que reflete a
muito maior solubilidade do carbono na austenita. Esta elevada solubilidade do carbono na
austenita é de extrema importância nos tratamentos térmicos, pois permite a formação de uma
solução sólida supersaturada de carbono no ferro quando, após um tratamento de solubilização
na região γ, se realiza uma têmpera rápida para a temperatura ambiente. O domínio de fase da
ferrita é extremamente limitado.

No diagrama existem várias temperaturas e pontos críticos que são importantes, tanto
do ponto de vista teórico como prático. A primeira é a temperatura A1 à qual ocorre a reação
eutetóide, a segunda é a temperatura A3 onde ocorre a transformação γ↔α e a terceira é Acm,
onde ocorre a transformação γ↔CFe3. Outro ponto interessante é o ponto de Curie onde o
ferro passa de ferromagnético para paramagnético, este ponto ocorre a 769°C para o ferro
puro. A austenita apresenta a característica de ser paramagnética.

Os aços com teores de carbono inferiores a 0,8% são, portanto ligas hipoeutetóides que
têm como constituintes principais a ferrita e a perlita. As frações volumétricas são determinadas
pela regra da alavanca e a medida que o teor de carbono aumenta a percentagem volumétrica
de perlita aumenta, atingindo 100% para a composição eutetóide com 0,76% de C. Para teores
superiores a 0,76% de C a estrutura é chamada hipereutetóide com cementita nos contornos
de grão da perlita.

As três fases, ferrita, cementita e perlita* são, portanto os principais constituintes da


microestrutura dos aços carbonos, sempre que as velocidades de resfriamento a que elas são
submetidas sejam relativamente lentas e impeçam a formação de fases metaestáveis. Sendo
importante estudar o efeito da nucleação e crescimento dessas fases e determinar os fatores
que controlam a sua morfologia.

*A perlita não é propriamente uma fase, mas sim uma mistura de duas fases.
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1.1 Transformação Austenita - Ferrita

Em condições de equilíbrio forma-se ferrita pró-eutetóide nas ligas ferro carbono


contendo até 0,8%C. A reação dá-se a 910°C no ferro puro, mas ocorre entre 910°C e 727°C
nas ligas ferro-carbono. No entanto a ferrita pode ser formada abaixo de 600°C por meio de
têmpera a partir do estado austenítico.

A medida que a temperatura de transformação diminui, observam-se alterações


morfológicas. Como resultado de uma análise mais pormenorizada foram distinguidas quatro
diferentes morfologias bem definidas, observadas na Figura 1.4:

i) Cristais nucleados no contorno de grão da austenita formados a temperaturas mais altas,


800-850°C, tem interfaces curvas com a austenita. Tem formato equiaxial ou lenticular.

ii) Lamelas ou ripas de Widmanstätten são nucleadas no limites de grão austeníticos, mas
crescem com planos bem definidos.

iii) Cristais nucleados no interior dos grãos da austenita, apresentando formato equiaxial.

iv) Lamelas intragranulares são semelhantes as ripas de Widmanstätten, mas nucleiam


exclusivamente no interior dos grãos de austenita.

Os cristais de ferrita nucleados nos contornos de grãos austeníticos são os primeiros a


se formar e aparecem em todos os intervalos de composição e temperatura. Contudo,
predominam a temperaturas mais elevadas, acima de 800°C, crescendo nos limites de grão e
no interior de grão e dão origem a ferrita equiaxial.

A temperaturas inferiores a mobilidade das fronteiras dos cristais cai e aparece a


formação da ripas ou lamelas de Widmanstätten, podendo crescer a partir de cristais de ferrita
ou a partir de cristais de austenita, onde são chamados também de ferrita acicular, estes tipos
de estrutura tem sido estudada devido a sua boa tenacidade aliada a boa resistência a
propagação de trincas, devido a presença de uma elevada quantidade de contornos de grão de
ferrita por unidade de comprimento.

(a) (b)
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(c) (d)

(f)

(e)

Figura 1-4 - Crescimento de ferrita pró-eutetóide e cementita hiper-eutetóide:

(a) aço 0,3%C a 790°C, nucleação de ferrita no contorno de grão;(500 X)


(b) aço 0,3%C a 725°C, nucleação de ferrita de Widmanstätten no contorno de grão;(500 X)
(c) aço 0,3%C, a 790°C, nucleação de ferrita no contorno e interior do grão de austenita; (500 X)
(d) aço 0,3%C a 725°C, nucleação de ferrita de Widmanstätten no interior do grão; (500 X)
(e) aço 1,2%C, a 730°C, cementita no contorno e interior do grão de austenita; (350 X)
(f) aço 0,34%C, a 790°C, nucleação de cementita de Widmanstätten ; (350 X)

1.2 Transformação Austenita – Cementita

A classificação dos cristais nucleados de cementita a diferentes temperaturas é igual a


da ferrita citada anteriormente. O desenvolvimento inicial é de grãos equiaxiais nos contornos
de grão e com a diminuição da temperatura é favorecido o crescimento de cementita na forma
de lamelas ou ripas.

1.3 Transformação Austenita – Perlita

A perlita é provavelmente a microestrutura mais bem conhecida de toda a metalografia,


sendo considerada uma mistura lamelar de ferrita e carboneto de ferro. A perlita é um
constituinte muito comum numa grande variedade de aços e contribui significativamente para a
resistência mecânica. A formação da estrutura perlita ocorre por nucleação e crescimento e são
controladas por difusão*. Os núcleos de perlita aparecem nos limites de grão da austenita, mas
podem também, como é evidente, estar associados à ferrita ou à cementita pró-eutetóides. Nos
aços comerciais, os nódulos de perlita podem nuclear em inclusões.
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Numa descrição idealizada pode-se dizer que a perlita é constituída por nódulos
esféricos, nucleados nos limites de grão da austenita e que crescem gradualmente para o
interior de um grão da austenita, como pode ser observada na Figura 1.5. Considera-se que os
nódulos de perlita se formam por nucleação lateral e crescimento longitudinal. Com relação a
temperatura de transformação e velocidade de resfriamento deve-se salientar que a distância
interlamelar diminui com a diminuição da temperatura de transformação e com o aumento da
velocidade de resfriamento, estes parâmetros, portanto, determinam uma forte influência nas
propriedades mecânicas dos aços ferríticos e perlíticos. Na Figura 1.6 observa-se a estrutura
perlítica com iluminação por campo escuro.

*A característica principal da difusão é a migração de átomos de soluto da região mais


concentrada para menos concentrada, portanto, a força motriz da movimentação de átomos de
carbono da ferrita para a cementita não é por difusão e sim por diminuição da energia livre das
fases.

Figura 1-5- Representação esquemática da formação da perlita à partir da austenita, o sentido da


difusão de carbono é indicada pelas setas.
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Figura 1-6- Fotomicrografia de uma estrutura perlítica, onde observa-se a característica lamelar
da estrutura (foto campo escuro).

2 Questionário e Problemas

1. Explique como ocorre a formação da estrutura perlita nos aços.

2. Qual a porcentagem de carbono e a temperatura do ponto eutetóide?

3. Como a temperatura de nucleação da ferrita afeta a sua formação?

4. Porque mesmo com um f.e. maior a estrutura CFC consegue apresentar maior
porcentagem de carbono em solução sólida que a CCC?

5. Qual a porcentagem de carbono e a temperatura do ponto eutético?

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