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Eutanásia

Ética Cristã
Seminário Teológico Baptista - Extensão Norte

Pedro Daniel Gonçalves Couto


Índice

Prefácio ! 3
Introdução ! 4
Compreender os Conceitos! 5
O que é a Vida?! 5
O que é a Morte?! 5
Eutanásia! 7
O que é a Distanásia?! 7
O que é a Ortotanásia?! 7
Breve História da Eutanásia! 8
Tipos de Eutanásia! 9
Perspectivas ! 11
Perspectiva do Paciente / Doente! 11
Perspectiva da Família! 11
Perspectiva Médica! 12
Perspectiva da Sociedade em Geral! 13
Argumentos ! 15
Argumentos a Favor! 15
Argumentos Contra! 15
O que a Bíblia diz...! 16
Conclusão ! 18
Bibliografia! 19

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Prefácio

Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de Ética Cristã da Extensão Norte do
Seminário Teológico Baptista.

Decidi escolher este tema devido à recente legalização do aborto em Portugal. Parece
que este pode ser um dos próximos passos que a sociedade irá querer dar, e, por isso
acho que se deve alertar as pessoas sobre os males que esta prática pode trazer à
comunidade.

Queria deixar aqui os meus agradecimentos primeiro ao Pr. Eliel Harada, que me
incentivou a inscrever-me no curso, ao professor da disciplina, John Pallister, pelos
ensinos que tem ministrado no curso e aos meus estimados colegas da disciplina, pelo
debate e troca de ideias que pudemos ter quando fiz a apresentação oral do trabalho, que
me ajudou também a firmar alguns conceitos! .

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Introdução

Falar sobre o tema da eutanásia pode ser algo bastante controverso e, normalmente
existem duas facções opostas: aquela que é a favor da prática e aquela que é contra.

Mas o tema é maior do que muitas vezes a comunidade pensa, e existem muitas
variáveis, e acaba por se subdividir em várias categorias, e, acaba por se tornar mais
difícil definir a nossa opinião.

Neste trabalho quero fazer uma desambiguação de conceitos e sub-conceitos que estão
relacionados com a eutanásia, bem como expor perspectivas, alguma argumentação que
é comum ser feita quando se debate este tema e, finalmente, expor o que a Bíblia diz
sobre o assunto.

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Compreender os Conceitos
Para perceber o que é a eutanásia e as implicações que esta tem, precisamos de
conhecer e perceber as áreas que a sua prática afecta. Então, ao expor os dois conceitos
mais gerais que estão ligados à eutanásia, a vida e a morte espero dar ao leitor um
panorama mais geral sobre o tema.

O que é a Vida?
A vida pode ser definida como um espaço de tempo entre a concepção e a morte de um
organismo.

A vida é um dom de Deus e foi-nos dada por Ele, como podemos ver no acto da criação,
mais precisamente em Génesis 1:26-27:

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa


semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os
animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.
Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher
os criou.” - Génesis 1:26-27 (ARA)

Podemos encontrar esta descrição feita mais detalhadamente no capítulo 2 do livro de


Génesis.

Pela razão de Deus nos ter dado vida, nós devemos-lha apenas a Ele, pois a nos deu de
graça.

O que é a Morte?
A morte pode ser definida como o fim das funções biológicas que sustentam a vida de um
organismo: o fim da vida.

Depois de Deus ter criado o mundo e tudo o que nele há, ou seja, depois de ter criado a
vida, Deus criou também o homem, à sua imagem e semelhança (Génesis 1:26-27), e
Deus deu ao homem uma única ordem: não comer o fruto da árvore do conhecimento do
bem e do mal, pois no dia em que isso acontecesse, o homem morreria (Génesis
2:16-17).

Mas o homem foi tentado (Génesis 3:1-5), e, não conseguiu cumprir a única ordem
proibitiva dada por Deus (Génesis 3:6). Foi nesse momento que o pecado entrou no
mundo, a humanidade quebrou a sua relação com Deus. Tudo o que Deus criou foi
afectado com a entrada do pecado no mundo. A vida perfeita criada por Deus foi afectada.
Surgiu a morte, tal como Deus disse que aconteceria.

Em Romanos 6:23, o apóstolo Paulo esclarece novamente que a morte é a consequência


do pecado.

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Todos somos pecadores e, por estarmos alienados de Deus, a morte irá chegar a todos,
mas não da mesma forma. Ao longo da história da humanidade começaram a surgir
“novas formas” da morte chegar.
De uma forma generalizada, além da morte por causas naturais, ou seja, quando a vida
de um indivíduo termina por motivos de doença ou de velhice, ou da morte através de
factores externos, como acidentes, desnutrição, predação, entre outros, existem mais 3
tipos de morte: o homicídio, que surgiu pouco tempo depois do pecado entrar no mundo,
quando Caim, o filho do primeiro casal criado por Deus, matou o seu irmão, Abel, num
acto violento (Génesis 4:8). Foi também aí que a violência entrou no mundo. Uma outra
forma de terminar com a vida é o suicídio, quando a própria pessoa termina com a sua
própria vida. E por fim temos a eutanásia, que vai ser explorada na secção seguinte.

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Eutanásia
Fontes: [1-3]

A palavra eutanásia, também chamada de “morte voluntária” ou “morte por misericórdia”


provém da junção de duas palavras gregas “eu” e “thanatos”, que significa literalmente
uma “boa morte”, em que uma pessoa acaba com a vida de outra pessoa, para benefício
desta.

É necessário realçar duas características do acto da eutanásia: primeiramente, esta


prática implica que uma pessoa, tem de tirar, deliberadamente, a vida a outra pessoa, e
em segundo lugar a vida dessa pessoa só é tirada se houver algum “benefício” e caso
esta se encontre num estado de sofrimento causado por algum tipo de doença incurável
ou uma doença terminal e dolorosa, proporcionando ao doente uma “morte suave” e sem
sofrimento físico.

A eutanásia envolve um conjunto de métodos que permitam que o doente tenha uma
morte sem sofrimento, com o objectivo de abreviar o seu sofrimento e, quando praticada,
deve ser sempre controlada e assistida por um especialista.

É comum confundirem-se alguns conceitos que, de alguma forma estão relacionados com
a eutanásia, e é importante não serem trocados, pois cada um destes conceitos é
diferente e tem um significado próprio. Os conceitos são a Distanásia e a Ortotanásia.

O que é a Distanásia?
Fonte: [4]
A distanásia é, basicamente o contrário da eutanásia. A palavra distanásia provém do
grego “dis” e “thánatos”, que significa “má morte”, e consiste em atrasar o mais possível o
momento da morte, usando todos os meios possíveis, prolongando então a vida de um
doente incurável ou já biologicamente morta através de meios artificiais.
Esta prática implica que o doente venha a sofrer mais, pois o seu fim de vida é
prolongado.

Muitos dizem que a distanásia não prolonga a vida, mas sim o momento da morte.

O que é a Ortotanásia?
A ortotanásia é conhecida por ser a morte natural, sem a interferência da ciência,
deixando a doença evoluir, evitando-se que o doente fique ligado a equipamentos de
suporte avançado de vida, como medicamentos ou aparelhos em doentes que já
estiveram com este tipo de suporte, mas não tiveram melhorias, nem nenhum tratamento
proporcionou melhorias para ele. Evita-se assim que o paciente sofra cada vez mais,
permitindo-lhe assim uma morte digna, com o mínimo de sofrimento possível.

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Normalmente pensa-se que a eutanásia é um conceito recente, mas na verdade, é algo
que vem a acompanhar a sociedade ao longo dos tempos, como vamos ler em seguida.

Breve História da Eutanásia


Fontes: [1, 5, 6]

A eutanásia é uma prática que vem acompanhando a sociedade ao longo dos tempos.
Não é algo que surgiu apenas no século XX, aliás, um dos relatos de pedido de eutanásia
mais antigos encontra-se cerca de 1095 a. C., quando Saul pediu ao seu escudeiro que o
matasse, para não serem pagãos a mata-lo. Saul acabou por cometer suicídio, pois o
escudeiro não quis matar Saul (1 Samuel 31:1-6 1).

Não encontramos apenas exemplos da Bíblia. Outras práticas de eutanásia foram


também relatadas.

Nas comunidades pré-celtas e celtas era muito comum os filhos matarem os pais quando
estes estivessem muito velhos e doentes.

Na Índia, os doentes sem cura eram atirados para o rio com a boca e as narinas tapadas
com lama ritual.

Em Esparta era obrigatório matar os recém-nascidos que tivessem alguma deficiência.

Na Birmânia, enterravam os idosos e os doentes ainda vivos.

Algumas tribos e populações rurais Sul-Americanas nómadas sacrificavam os anciãos e


os doentes, para não os expor aos ataques dos animais.

Alguns filósofos da Grécia antiga, como Platão, Sócrates e Epicuro defendiam que o o
sofrimento de uma doença que provocasse dor era uma justificação para cometer
suicídio.

Portanto, depois destes exemplos, podemos concluir que a eutanásia não é uma prática
que ocorre ou que surgiu apenas nos nossos dias. É algo que está com a humanidade
desde há muito tempo atrás, mudando apenas os métodos de local para local e de época
para época.

Actualmente, a prática de eutanásia é legal na Bélgica, no Luxemburgo, na Holanda, na


Suíça e nos estados de Oregon e Washington dos Estados Unidos da América.

1 “Os filisteus atacaram Israel no monte de Guilboa. Os Israelitas puseram-se em fuga, mas muitos deles
foram mortos pelos filisteus. Os filisteus perseguiram Saul e os seus filhos e entre estes mataram Jónatas,
Abinadab e Malquichua. Depois concentraram o peso do ataque contra Saul. Os archeiros encontraram-no
e feriram-no gravemente. Perante isto, Saul disse ao seu escudeiro: “”Desembainha a tua espada e
atravessa-me com ela, para que não sejam estes pagãos a matar-me, gabando-se do que fizeram.” Mas o
escudeiro não quis fazê-lo, porque tinha muito medo. Saul pegou então na espada e lançou-se em cima
dela. E quando o escudeiro viu que Saul estava morto, fez o mesmo que Saul e morreu com ele. Assim
morreram naquele dia Saul, os seus três filhos, o seu escudeiro e todos os seus homens.” - 1 Samuel
31:1-6 (BPT)
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Tipos de Eutanásia
Fontes: [7-9]

No início do século XX (entre 1928 a 1942), surgiram várias tentativas de classificação da


eutanásia, provavelmente devido ao período de guerra, de grandes massacres e de
eugenia que se vivia na altura, mas foi a classificação proposta por Neukamp, em 1937,
que prevaleceu e que é usada actualmente.

De acordo com a sua proposta, que queria enfatizar a responsabilidade do agente no acto
da eutanásia, a eutanásia pode ser classificada de acordo com o critério seleccionado, ou
seja, quanto ao consentimento do paciente ou quanto ao tipo de acção.

Quanto ao consentimento do paciente, ou seja, quanto à vontade do paciente, temos a


eutanásia voluntária, a eutanásia involuntária e a eutanásia não-voluntária.

• Eutanásia Voluntária
O processo é realizado de acordo com a vontade e o consentimento do paciente,
que tem de estar em “boas” condições psicológicas.
Actualmente, também a eutanásia voluntária também engloba o conceito de suicídio
assistido, mas os dois conceitos são ligeiramente diferentes, nomeadamente em
relação ao agente: na eutanásia voluntária, o profissional de saúde mata o paciente
a pedido dele, por exemplo, quando um médico dá uma injecção letal ao paciente. O
suicídio assistido é quando uma pessoa ajuda outra a matar-se a si própria, por
exemplo, no caso do médico indicar ao paciente uma quantidade de medicamentos
ou mesmo uma substância que seria letal para o paciente, para este tomar quando
quisesse terminar com a sua vida.

• Eutanásia Involuntária
O processo de eutanásia é realizado contra a vontade do paciente, ou seja, o
paciente sabe que vão praticar a eutanásia nele, mas ele é contra, sendo “forçado” a
morrer contra a sua vontade. É semelhante a um homicídio.

• Eutanásia Não-Voluntária
O processo de eutanásia é realizado sem que o paciente tenha conhecimento sobre
o que se está a passar, sem ter dado o devido consentimento ou sem ter
manifestado algum tipo de opinião sobre o assunto. O paciente não sabe que vão
praticar a eutanásia nele.

Cada um destes tipos de eutanásia ainda pode ser classificado quanto ao tipo de acção,
ou seja, quanto à forma como ela é praticada. Neste critério temos a eutanásia activa e a
eutanásia passiva.

• Eutanásia Activa
Usa-se o conceito de eutanásia activa quando se usam meios, métodos, dispositivos
ou substâncias letais para provocar, causar ou forçar a morte de um doente, por
exemplo, um profissional de saúde usar uma injecção letal num paciente terminal
para terminar com a sua vida e com o seu sofrimento é um exemplo disto. Com a

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evolução dos cuidados paliativos2 torna-se cada vez mais difícil justificar este tipo de
eutanásia.

• Eutanásia Passiva Fonte: [10]


Usa-se o termo de eutanásia passiva quando existem acções que de uma forma
propositada desencadeiem a morte do paciente, quer seja através da paragem de
um tratamento eficaz extremamente necessário para manter a vida do paciente.
A eutanásia passiva não é quando se interrompe um tratamento, ou por pedido do
paciente, ou por determinação médica, ou mesmo por decisão de ambos, porque o
tratamento é inútil e ineficaz para manter o paciente vivo, deixando que a doença
siga o seu curso normal, evitando assim que o paciente tenha de passar por
tratamentos dolorosos e ineficazes.

Como tal, ficamos ao todo com seis tipos de eutanásia:

1. Eutanásia Voluntária Activa


2. Eutanásia Involuntária Activa
3. Eutanásia Não-Voluntária Activa
4. Eutanásia Voluntária Passiva
5. Eutanásia Involuntária Passiva
6. Eutanásia Não-Voluntária Passiva

Um caso difícil... Fonte: [9]


Apesar da distinção entre eutanásia activa e passiva ser bastante clara, existem casos em
que essa distinção não se aplica de uma forma tão linear. Um exemplo disso é desligar a
máquina de suporte avançado de vida a um paciente. É considerada eutanásia activa ou
passiva? Desligar a máquina pode ser considerado um caso de eutanásia activa, pois
envolve uma acção, mas a causa de morte do paciente seria a sua doença, sendo então
considerado um caso de eutanásia passiva.
Este é um exemplo de um caso ambíguo, que fica entre os dois tipos de eutanásia activa
e passiva.

Um outro aspecto importante a referir além dos tipos de eutanásia, é a forma como ela é
vista pelas pessoas que lidam com ela. É isso que vai ser abordado na secção seguinte.

2 Cuidados Paliativos: de acordo com o Portal da Saúde, cuidados paliativos são “cuidados prestados a
doentes em situação de intenso sofrimento decorrente de doença incurável em fase avançada e
rapidamente progressiva. O objectivo consiste em promover, tanto quanto possível e até ao fim, o bem-estar
e a qualidade de vida destes doentes.” - Fonte: [17.! Cuidados Paliativos. 2010 [cited 2011 18 de
Janeiro]; Available from: http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/enciclopedia+da+saude/cuidados
+paliativos/cuidadospaliativos.htm.]
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Perspectivas
É importante ter a noção daquilo que o paciente / doente passam quando estão numa
fase terminal e, como estão mais sensíveis, é normal que o assunto “eutanásia” acabe por
surgir nas suas mentes.

Perspectiva do Paciente / Doente


As pessoas que se encontram num estado muito grave de alguma doença crónica e
incurável, em estado terminal, certamente têm momentos de desespero, momentos de
intenso sofrimento físico e psicológico. Estas pessoas lutam todos os dias para viverem
mais um pouco, e, nem todos os que possuem uma doença ou se encontram num estado
deste tipo desejam morrer.
Noutros casos, os doentes estão cansados de viver uma vida sem qualidade, ficam fartos
de se sentirem como um fardo para a sua família e para a sociedade, ficando muitas
vezes a sós com o seu sofrimento.

Quem que se encontra neste tipo de situação tem de ter o devido acompanhamento -
físico, psicológico e social.
Ao tratar bem fisicamente o doente, com analgésicos e outros medicamentos adequados
para minimizar os efeitos da doença e da dor que esta provoca, as chances do doente
pedir a eutanásia são menores.
Os factores psicológicos também contam, talvez ainda mais do que os factores físicos,
pois se o doente vê a família e amigos, que estava habituado a ver de uma forma alegre,
num estado triste, deprimido e cansado, irá sentir-se um peso na vida deles e quererá
acabar com a sua vida, não por motivos egoístas na sua perspectiva, mas sim por
motivos altruístas, não fazendo sofrer mais as pessoas que o rodeiam.

Se o paciente tiver o acompanhamento adequado, as chances de pedir eutanásia para


terminar com o seu sofrimento são mais escassas.

Perspectiva da Família
Nesta altura da vida do doente a família tem um papel fulcral para a decisão que ele
possa vir a tomar: se quer ou não desistir da vida. Se a família se mostrar mais animada,
isso irá trazer alegria ao doente; caso contrário, se a família vier à presença do doente
triste, desanimada, sem esperança, então, o doente irá começar a sentir-se como um
peso para a família.

A opinião da família diverge de cultura para cultura, e, factores como os valores morais,
religiosos, políticos e o próprio amor que sentem pela pessoa que está em sofrimento
contam. Os factores económicos também possuem um certo peso na opinião da família,
pois se a família começa a ficar sem recursos monetários porque tem de estar a pagar os
cuidados necessários a um doente no fim de vida, então também começa a pesar no
ânimo da família, mas grande parte das vezes o amor que a família sente pelo paciente é
maior do que o amor pelo dinheiro, mas nem sempre é assim.
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Perspectiva Médica
A opinião médica também é importante, e, para obter opiniões de médicos reais, realizei
um inquérito a um conjunto de 6 profissionais de saúde, que tinha duas questões:

1. É a favor da prática da Eutanásia?


2. Qual a razão da sua escolha?

Na primeira questão, “É a favor da prática da Eutanásia?”, obtive os seguintes resultados:

Sim
Não
Não
50%
Sim
50%

Entre as diversas razões, transcrevi algumas que achei mais relevantes, duas a favor da
prática da eutanásia e três contra.

A favor da prática da eutanásia:


“Não concordo com o sofrimento sem solução técnica, nem que se prolongue uma vida
com cuidados cujo fim não tem nada a ver com a qualidade de vida que todo o ser
humano tem direito, sendo que sempre o doente ou quem o representa legalmente terá
opção de escolha!”

“Penso que não devemos prolongar o sofrimento de um ser humano e dos que o rodeiam
quando temos a certeza de que qualquer prática médica não vai alterar o seu estado.
Ninguém tem a data de morte marcada, e apesar de não ser apologista de que essa data
se antecipe, em certos casos não se justifica prolongar uma vida quando não há "vida".”

Contra a prática da eutanásia:


“A vida deve sempre prevalecer. Quer a distanásia quer a eutanásia são soluções que
não são éticas para qualquer profissional de saúde. Devemos dar a cada doente uma
morte digna, sem sofrimento (ortotanásia), o que muitas vezes implica um grande esforço
pessoal e profissional.”

“Porque quem nos dá a vida é Deus e só ele a pode tirar. Portanto, enquanto vivemos,
mesmo ligados às máquinas através do suporte avançado de vida, ninguém nos garante
que a nossa vida esteja terminada, só mesmo Deus.”

“São muitas as razões viáveis para justificar a minha opção:


- O processo eutanásia implica a participação mais ou menos activa de uma pessoa (a
maior parte das vezes um profissional de saúde) na morte de outra.
- A incurabilidade de uma doença não é razão para a eutanásia.

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- Criem-se Cuidados Paliativos de qualidade e nenhum doente pedirá a eutanásia nem
nenhum médico tomará a decisão de aceitar um pedido como razoável (Daniel Serrão).”

As opiniões médicas dividem-se. Há opiniões firmes, com argumentos sólidos contra a


prática da eutanásia e há argumentos a favor.

Dentro da perspectiva médica deve ser referido o Juramento de Hipócrates3, actualizado


para a Declaração de Genebra4 em 1948, que normalmente quando os médicos se
formam têm de proferir a declaração, e estar de acordo com os preceitos morais que
estão incluídos na declaração. Um desses preceitos é:

! “Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção. Mesmo
! sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às leis
! da natureza.” - Fonte: [11]

Com esta declaração, vemos que os médicos têm de manter o máximo respeito pela vida
humana, e não descarta-la como se fosse algo banal.

Perspectiva da Sociedade em Geral


Apesar de ser um assunto bastante controverso e em que as opiniões divergem em duas,
a favor e contra. Hoje em dia, o número de apoiantes da prática da eutanásia tem vindo a
aumentar.
As opiniões diferem de cultura para cultura, da política e do tipo de regime instaurado no
país.

Principalmente na internet tem-se visto um aumento do nº de adeptos da prática da


eutanásia na camada jovem da sociedade, como por exemplo, em petições online 5. Os
criadores deste tipo de petições são, na sua maioria, jovens. Será que realmente sabem o
que a prática da eutanásia implica e o que a legalização dela pode trazer para a
sociedade? Será que sabem que ao legalizarem a prática da eutanásia estão a abrir uma
“caixa de pandora”, que poderá ter repercussões bastante negativas na sociedade.

Temos um exemplo actual dos lar de idosos na Holanda, país onde a Eutanásia está
legalizada, em que os idosos fogem para um asilo na Alemanha, com medo de serem
vítimas de eutanásia a pedido da família. De acordo com as estatísticas, na Holanda
existem cerca de quatro mil casos de eutanásia por ano, e um quarto desses casos são
de eutanásia não-voluntária ou involuntária. Fonte: [12]

Como será estar na pele dessas pessoas que, já estão fragilizadas pela própria idade, e
ainda têm de viver com um medo acrescido de serem mortas, quando deviam estar a ser
tratadas e a usufruir das regalias a que têm direito nos lares? Será que os apoiantes da
prática da eutanásia já se colocaram na pele destas pessoas?

3 Juramento de Hipócrates: é uma declaração que os médicos têm de proferir quando se formam.
4Declaração de Genebra: declaração que foi concebida como uma modernização do Juramento de
Hipocrátes, que todos os médicos recém formados têm de proferir.
5 http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=AHM2009
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Na próxima secção, vamos explorar alguns dos argumentos usados para favorecer ou
contradizer a prática da eutanásia.

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Argumentos
Fonte: [13]

É importante conhecer a argumentação usada a favor desta prática, bem como a que é
usada para a refutar.

Argumentos a Favor
Muitos dos argumentos dados pela comunidade que é a favor da prática da eutanásia é
que ela é feita para evitar a dor e o sofrimento das pessoas em fase terminal e sem
nenhuma qualidade de vida. Outros dizem que é para preservar a qualidade de vida e a
dignidade do paciente, de forma a evitar tratamentos tortuosos e que muitas vezes
rebaixam o ser humano.

Outros dizem que é uma forma de “devolver” o controlo da vida à pessoa, e se esta não
tem autonomia sobre o corpo e sobre a doença que lhe surgiu, ao menos tem autonomia
na altura da morte.

Também é muito usado o argumento que morrer de forma pouco dolorosa é morrer de
uma forma digna, por isso a eutanásia acaba com o sofrimento da pessoa, permitindo-a
morrer dignamente.

Argumentos Contra
Santo Agostinho escreveu que “Nunca é lícito matar o outro, ainda que ele o quisesse,
mesmo se ele o pedisse (...) nem é lícito sequer quando o doente já não estivesse em
condições de sobreviver.” - Fonte: [14]

Dentro da perspectiva médica, existe o juramento de Hipócrates, que foi referido


anteriormente, que considera a vida como um dom sagrado, sob a qual o médico não
pode optar pela vida ou morte de alguém.

É considerado um crime, pois não é licito tirar a vida de alguém, mesmo que esse alguém
lhe peça. É um homicídio.

Com o avanço da medicina, nunca se sabe quando poderá surgir uma nova cura ou um
tratamento revolucionário, que pode alterar o estado do doente, permitindo assim que
este possa ter uma vida de qualidade.

É uma forma de se banalizar a vida.

A eutanásia é uma forma de usurpação do direito à vida humana, e, como esta foi dada
por Deus, apenas Ele a pode tirar.

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O que a Bíblia diz...
Fontes: [15, 16]

São poucas ou quase nulas os textos bíblicos que fazem referência à eutanásia, sendo 1
Samuel 31:1-6 um deles, como já foi referido anteriormente.

Em Êxodo 20:13, um dos mandamentos dados por Deus, diz-nos “Não matarás”. E em
Êxodo 23:7 volta a reafirmar a ideia:

“Evita as falsas declarações e não condenes à morte o inocente e o justo,


porque eu condenarei essa injustiça.” (BPT)

Com isto, vemos que Deus e só Deus tem a palavra final sobre a morte e só Ele é
soberano para saber quando e como a morte de uma pessoa irá acontecer:

“Bem sei que me farás regressar à morte,


morada onde todos os seres se vão encontrar.” - Job 30:23 (BPT)

“(...) a Deus, o Senhor, pertencem os livramentos da morte.” - Salmos 68:20b (ECA)

Portanto, a eutanásia é uma tentativa de usurpação da autoridade e do poder de Deus, e


como sabemos e foi mencionado anteriormente, é uma acção condenada pelas
escrituras.

É Deus que nos dá vida (Génesis 2:7 6) e quando Deus entende, o nosso espírito volta
para Ele (Eclesiastes 12:7 7).

A morte não é algo bom, é a consequência do pecado humano.

Ao precipitarmos a morte através da eutanásia não estamos a cumprir a vontade de Deus,


principalmente se a pessoa não for crente em Jesus Cristo, pois o destino dela após a
morte será o afastamento definitivo de Deus, pois Jesus, em João 14:6 disse-nos que Ele
é “o caminho, a verdade e a vida” e que ninguém pode chegar a Deus sem ser por Ele.8
Se a pessoa em questão for crente em Jesus Cristo, então é porque confiou a sua vida
nas mãos dʼEle, e, por essa razão, não pode “tomar as rédeas” e decidir quando quer que
um familiar ou médico coloque um fim à sua vida. Deus permite o sofrimento, e é através
deste que iremos amadurecer, aperfeiçoar-mo-nos e aproximar-mo-nos de dʼEle.

Quem opta pela eutanásia, está a optar por um atalho, um caminho fácil para escapar às
dificuldades e aos obstáculos da vida.

6 “O Senhor Deus modelou o homem com barro da terra. Soprou-lhe nas narinas e deu-lhe respiração e
vida. E o homem tornou-se um ser vivo.” - Génesis 2:7 (BPT)
7“Então o que é pó volta para a terra donde veio. E o sopro da vida volta para Deus, que a tinha dado.” -
Eclesiastes 12:7 (BPT)
8“”Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, respondeu Jesus. “Ninguém pode chegar ao Pai sem ser por
mim...”” - João 14:6 (BPT)
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A Bíblia também não nos comanda a fazer tudo o que conseguirmos para manter uma
pessoa viva, se esta apenas estiver viva apenas com a ajuda de máquinas de suporte
avançado de vida, encontrando-se num estado vegetativo de morte cerebral9 (distanásia),
em que já não há mais nenhuma solução médica. Neste caso, não é errado nem
condenável deixar o corpo da pessoa “desligar”.

Se fosse da vontade de Deus, essa pessoa estaria viva ou então existiria ainda alguma
solução para o problema.

Com isto vemos que a vida é um dom herdado de Deus e não devemos abdicar dele.

“Ninguém tem poder para segurar a vida nem para decidir o dia da morte (...)”
- Eclesiastes 8:8a (ARA)

9 Para declarar que um paciente está num estado de morte cerebral, tem de ser submetido a uma série de
rigorosos testes para o comprovar. Só depois disto é que é declarado o estado de morte cerebral. Devemos
ter em conta também que morte cerebral é diferente de coma.
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Conclusão
Com o aumento da qualidade e a evolução dos cuidados paliativos, os argumentos que
são favoráveis à eutanásia que replicam que apoiam a eutanásia para evitar que o
paciente sofra, têm cada vez menos fundamentos, principalmente nos países mais
desenvolvidos.

Tomar a decisão de terminar com a vida de uma pessoa é extremamente difícil, e, uma
decisão destas nunca deve ser feita de “ânimo leve”, pois, por exemplo, nos casos de
morte cerebral, em que apenas o corpo da pessoa é mantido biologicamente vivo com a
ajuda do suporte avançado de vida, é considerado um caso de distanásia, e, desligar as
máquinas significa a morte física ou corporal da pessoa.

Sem dúvida que quem se encontra neste tipo de situações deve pedir orientação a Deus
para decidir aquilo que vai efectivamente fazer.

Em Tiago 1:5 diz que “Se alguém não tem sabedoria suficiente, peça-a a Deus, que a dá
a todos de graça, sem humilhar ninguém, e ser-lhe-á dada.” (BPT).

Por outro lado, e se não forem casos excepcionais, praticar e apoiar a prática da
eutanásia significa que estamos a tirar uma vida antes do tempo. Significa que estamos a
equiparar-nos a Deus, a usurpar o Seu poder.

Só Ele sabe qual a melhor altura para a morte de cada um de nós.

“A eutanásia não é apenas uma morte fácil.


É uma morte errada.
Não é apenas morrer. É assassínio.”
- J. Gay-Williams - Fonte: [2]

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Traduções Bíblicas Utilizadas

1. A Bíblia Para Todos - Edição Comum - Tradução Interconfessional, Sociedade


Bíblica de Portugal, Lisboa, 2009 (BPT)

2. Bíblia de Estudo Almeida - Revista e Actualizada, Sociedade Bíblica do Brasil, S.


Paulo, 1999 (ARA)

3. Bíblia de Referência Thompson - Edição Contemporânea de Almeida, Editora Vida,


São Paulo, 2002 (ECA)

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