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DOMINGO, 17 de ABRIL de 2011


O Jornal das Boas Notícias
Ser derrotado é, na maior parte das O Povo faz hoje 10 anos
vezes, uma condição temporária; desistir
é o que a torna permanente O Jornal das Boas Notícias dá os parabéns ao Povo.
Marilyn vos Savant Parabéns significa que tudo o que acontece seja para bem.
Jornalista americana
(1946-…) É isso que o Jornal das Boas Notícias tem como missão noticiar.
Seleccionei do reportório de quase 3000 mensagens enviadas para O Povo algumas que,
cobrindo um período de 10 anos, foram particularmente significativas. É delas que este
Uma imagem de Portugal ..........................................................1 25º Jornal das Boas Notícias é feito.
Em defesa de Bento XVI ...........................................................1
O factor decisivo da liberdade ..................................................2 Está quase pronto um e-book com uma selecção de artigos do Povo que brevemente será
Os dez anos do Infovitae ...........................................................2 publicado numa edição comemorativa deste 10º aniversário.
O telemóvel ...................................................................................3 Ao longo destes 10 anos de convívio quotidiano com o Povo, criei com todos vós uma
Avô ..................................................................................................4
Algumas coisas que fazem a nossa identidade.......................4
relação especial que não deixa de me surpreender sempre que encontro alguém que me
Zita Seabra .....................................................................................5 identifica com o produtor do Povo.
João Paulo II, o Papa libertador ...............................................5 Neste início de Semana Santa, entrego ao Senhor do tempo e da história a obra que o
O Povo ...........................................................................................6
Choque Horário ...........................................................................7
Povo realiza e peço, pensando nas palavras sábias do papa Pio XII, que o “Povo” possa
A mensagem número 1000........................................................8 ser de ajuda na formação da consciência e no reconhecimento da verdade que são os
Um padre .......................................................................................8 fundamentos da verdadeira liberdade – “Se permanecerdes fiéis à minha palavra,…,
O Jornal das Boas Notícias 13 .................................................9 conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8, 31)
Gabriel ............................................................................................9
Heróis .............................................................................................9 Um abraço com amizade
O destino construtivo do trabalho humano ..........................9 Pedro Aguiar Pinto
Boas notícias ............................................................................... 10

Uma imagem de Portugal A legenda da imagem diz: «O INEM presta assistência a uma mulher de 19
anos cujo terceiro filho acaba de nascer em casa. Lisboa, Fevereiro de 2007».
José Tolentino de Mendonça
26-02-2008
«A mulher de 19 anos» é uma rapariga de um dos bairros pobres da capital,
Que Augusto Brázio é um fotógrafo fabuloso já estendida numa maca de ambulância, a cabeça reclinada ao lado direito, presa
o sabíamos. Diante da difícil prova que é foto- a uma máscara de oxigénio, enquanto abraça com delicada firmeza o seu
grafar um rosto ele sai quase sempre vencedor. recém-nascido. Ela tem uma camisola ou um roupão rosa e o filho está (como
E eu diria que é porque não o quer capturar. o Outro Filho, de que reza a história) «envolto em panos», de cor azul.
Mesmo próximos, os rostos mostrados por Quem já contemplou uma «Madona con il Bambino», de Rafael, Boticelli ou de
Brázio, mantêm a sua distância e reserva. qualquer um dos grandes mestres já viu tudo o que aqui tem diante dos olhos.
Olham para nós, mas a partir do que lhes é O mesmo grito impávido, um inenarrável desamparo, o mesmo abraço fragilís-
próprio. Por isso, nunca são planos, nem banais. simo e poderoso àquele que gerou. E a certeza de que nenhuma história é
Porém, mesmo sabendo isso, a fotografia com mais humana e mais sagrada do que esta. Mas, nem por isso, perante esta
que ele acaba de ganhar o prémio fotojornalis- fotografia nos deixa de sobrevir uma vontade de chorar.
mo de 2008, tirou-me, por momentos, a respi- Portugal é um país estranho. As estatísticas dizem que o número de pobres
ração. Sem perceber como, os olhos já estavam não deixa de crescer, e o desnível económico entre os grupos sociais é um dos
embaciados, e o tempo corria sem que eu tives- mais altos entre os países da Comunidade. As notícias sobre compensações e
se coragem de passar à notícia seguinte. reformas milionárias chocam-nos cada vez mais remotamente. A euforia de
um liberalismo arcaico, travestido de modernidade, aparece como receituário.
E a inconsciência social ganha espaço como se fosse uma fatalidade. A imagem
de Augusto Brázio vale por milhares de palavras.

Em defesa de Bento XVI


Bernard Henri-Lévy
i-online 03 de Fevereiro de 2010
Está na altura de pormos fim à má-fé, à parcialidade e à desinformação acerca
de Bento XVI. Podemos acusá-lo de algumas coisas, mas não de "congelar" o
processo iniciado por João XXIII
Logo que Bento XVI foi eleito, os media começaram a acusá-lo de "conserva-
dor" e continuaram numa espiral imparável, como se um Papa pudesse não
ser conservador. Houve umas tantas insinuações excessivas, senão mesmo
anedóticas, acerca do "Papa alemão", um "pós-nazi" de sotaina. Em França, o
programa televisivo satírico "Les guignols de l'info" [equivalente ao "Contra-
informação"] deu-lhe descaradamente a alcunha de "Adolf II" (e isso porque,
como qualquer criança ou adolescente na Alemanha da época, ele estava
inscrito na organização da juventude do regime).
Vários textos foram, pura e simplesmente, deturpados. Relativamente à via-
gem que fez a Auschwitz em 2006, por exemplo, afirmou-se que o Papa
homenageou os 6 milhões de polacos mortos, sem ter mencionado que meta-
de eram judeus. Também se repetiu vezes sem conta que se referiu aos mor-
tos como vítimas de um mero "bando de criminosos". Esta falsidade é franca-
mente espantosa, se levarmos em conta que, nesse mesmo dia, Bento XVI
falou claramente da tentativa das "chefias do Terceiro Reich" de "esmagarem
todo o povo judeu, de o eliminarem da população do planeta".
No entanto, com a recente visita do Papa à tudo nós colocamos sobre os ombros de um soberano que não dispunha de
sinagoga de Roma, depois de ter visitado outras canhões nem de aviões todo o peso da responsabilidade pelo silêncio ensur-
sinagogas, em Colónia e Nova Iorque, o coro de decedor.
desinformação atingiu o auge. Mal puderam
esperar que ele atravessasse o Tibre para anun- O factor decisivo da liberdade
ciarem, Urbi et orbi, que não conseguira encon-
trar as palavras certas, não fizera os gestos João César das Neves
Diário de Notícias, 20090427
adequados e, em suma, se estampara ao com-
prido. Permita-me que esclareça cabalmente Esta santa liberdade é aquilo de que mais precisamos na crise dos 35 anos da
certas coisas. Quando Bento XVI curvou a cabe- nossa democracia.
ça em silêncio perante a coroa de rosas verme- No dia seguinte à celebração dos 35 anos da democracia, estranhamente,
lhas colocada junto da placa que celebra o levanta-se de novo das profundezas do passado a figura de D. Nuno Álvares
martírio de 1021 judeus romanos deportados, Pereira. A ocasião é a sua canonização por Bento XVI.
estava apenas a cumprir o seu dever. Mas o que Portugal está hoje em crise. Como estava aquando da sua beatificação por
é facto é que o fez. Bento XV a 23 de Janeiro de 1918. Como esteve durante grande parte da vida
Quando Bento XVI prestou homenagem aos do Santo Condestável. No meio dos problemas, D. Nuno sempre pareceu
"homens, mulheres e crianças" arrebanhados demasiado perfeito, acima deste mundo. Vemo-lo saído de um romance de
no âmbito do projecto de "extermínio do povo cavalaria, esculpido em mármore, feito em banda desenhada.
da Aliança de Moisés", estava a afirmar o óbvio, Mas ele nunca foi uma personagem de fantasia. Vê-se isso pela sua longevida-
mas afirmou-o. de. Galaaz, como James Dean, gastam--se depressa, mas D. Nuno viveu quase
Há uma década, quando Bento XVI reiterou os 71 anos, de 24 de Junho de 1360 a 1 de Abril de 1431. Vê-se pelo pragmatis-
termos da oração de João Paulo II junto ao mo. Militar genial e político astuto, os inimigos tinham-lhe uma alcunha:
Muro das Lamentações, pedindo "perdão" ao "Nuno madruga"(Anónimo Crónica do Condestável, CC, cap. 66), atacando
povo judaico, de longa data sujeito a pogrons sempre antes dos outros acordarem.
inspirados por um furor anti-semita que era de Vê-se ainda pelo realismo. "Quando os seus homens saíam de Elvas o alferes
natureza essencialmente católica, usou as pala- que levava a bandeira, não reparando na altura das portas, partiu sem querer
vras exactas de João Paulo II. Está na altura de o estandarte do seu senhor, o que foi entendido por muitos como um mau
pararmos de repetir, quais burros que zurram, presságio. Disseram então a Nuno Álvares que o melhor seria adiarem aquela
que ele não vai tão longe como o seu predeces- ida a Vila Viçosa, mas o valoroso cavaleiro não deu ouvidos às superstições e
sor. limitou-se a substituir a haste da bandeira. Seguindo tranquilamente o seu
Quando Bento XVI esteve diante da inscrição caminho" (CC 38).
que comemora o ataque de 1982 perpetrado O traço de carácter que mais o define é a liberdade. A liberdade de Portugal
por extremistas palestinianos em Roma, mani- face a Castela foi o tema central da sua acção. Mas também a liberdade face
festou a intenção de "aprofundar" e "desenvol- às riquezas e às honras, que distribuiu em vida e abandonou no convento.
ver" um "debate entre iguais" com os judeus. O Liberdade perante o perigo: em Valverde "como era seu costume em momen-
Papa declarou que o diálogo entre judeus e tos de aflição, o Condestável ajoelhou-se a rezar. As setas e as pedras do exér-
católicos, iniciado com o concílio Vaticano II, é cito castelhano não deixaram de chover, pondo em grande perigo a sua vida e
agora "irrevogável". Podemos acusá-lo de mui- a de todos os seus soldados. (...) Perante tanta agitação o Condestável manti-
tas coisas, mas não de "congelar" o processo nha o maior sossego do mundo e continuava o seu louvor a Deus. Quando
começado por João XXIII. acabou de rezar levantou-se com grande vigor e ordenou a Diogo Gil, seu
Quanto à questão de Pio XII... alferes que andasse com as tropas da vanguarda" (CC 54).
Se for necessário, voltarei a abordar a questão Liberdade perante a intriga: "Em segredo, diziam mal dele e combinaram que,
muito complexa de Pio XII. por mais acertadas que fossem as suas opiniões, iriam contra elas, intenção
Voltarei a recapitular o caso de Rolf Hochhuth, que foi descoberta por Nuno Álvares. Um dia, falando o Mestre perante o seu
autor do famoso livro de 1963 "The Deputy", conselho, colocando-lhes uma importante questão, respondeu Nuno Álvares
que está na génese da polémica sobre os "silên- como lhe pareceu ser melhor serviço de Deus e do Mestre. É claro que todos
cios de Pio XII". os outros membros discordaram dele, o que fez com que Nuno Álvares come-
E voltarei a abordar o facto específico de que çasse a rir, porque sabia o motivo pelo qual contra--argumentavam" (CC 20).
esse justiceiro inflamado tem sido repetidamen- Liberdade até perante as inimizades: "Não bastava dar esmolas no reino de
te condenado por negar a existência do Holo- Portugal, ainda, um ano em que Castela esteve com muita falta de pão, vieram
causto; de ter recentemente defendido David à comarca de Entre Tejo e Guadiana cerca de quatrocentos castelhanos, entre
Irving; e de há apenas cinco anos, numa entre- homens, mulheres e moços pequenos, os quais lhe disseram que padeciam de
vista ao semanário de extrema-direita "Die fome. (...) Ordenou que lhes fosse entregue, cada mês, quatro alqueires de
Junge Freiheit", ter negado a existência das trigo, o que foi feito durante quatro meses, até que os castelhanos seguiram
câmaras de gás. para as suas terras" (CC 80).
Por enquanto, porém, gostaria apenas de Assim a sua santidade foi reconhecida até pelos inimigos: "Pernoitando num
relembrar que, em 1937, quando era ainda o sobreiral, onde foram ter dez escudeiros castelhanos, que pareciam ser
cardeal Pacelli, o terrível Pio XII foi co-autor da homens de bem. D. Nuno recebeu-os perguntando--lhes quem eram, ao que
encíclica "Mit brennender Sorge" (Com profun- eles responderam que eram naturais do Reino de Castela. Tal afirmação não
da preocupação), que ainda hoje continua a ser surpreendeu o Condestável, que lhes disse que os considerava homens muito
um dos manifestos antinazis mais firmes e ousados para irem ter com ele sem salvo-conduto. Os escudeiros justificaram
eloquentes. tal ousadia pela vontade que tinham de o conhecer pessoalmente, constando
Por ora, o nosso dever para com a história a sua grande bondade e as virtudes que Deus lhe concedera. Perante tal res-
obriga-nos a realçar que Pio XII abriu secreta- posta o Condestável convidou-os para jantar, mas eles declinaram uma vez
mente os seus conventos aos judeus romanos que já tinham realizado o seu desejo" (CC 66).
perseguidos pelos fascistas. O silencioso Pio XII S. Nuno de Santa Maria foi sempre um homem radicalmente livre. Esta santa
também proferiu uma série de discursos radio- liberdade é aquilo que mais precisamos na crise dos 35 anos da nossa demo-
fónicos - relevantes para este caso são as emis- cracia
sões de Natal de 1941 e 1942. Depois da sua
morte, esses discursos granjearam-lhe os elo- Os dez anos do Infovitae
gios da líder israelita Golda Meir, que conhecia João César das Neves
o valor da palavra e não receava declarar que 07. 01. 2009
"durante dez anos de terror nazi, enquanto o Os dez anos do Infovitae só fazem sentido dentro da história da Igreja perse-
nosso povo sofria uma terrível agonia, o Papa guida. Não há outra razão para fazer uma coisa destas, para mais durante dez
levantou a voz para condenar os carrascos". anos, senão como meio de apostolado cristão. E o apostolado cristão traz
O Holocausto ecoou em todo o mundo, e con- sempre consigo a perseguição. O Infovitae não é luta. É martírio.

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O JORNAL DAS BOAS NOTÍCIAS 18 de Abril de 2011
Como foi previsto pelo seu Mestre, a Igreja tem uma tentação forte e enganadora. Mas se confiarmos na nossa fraqueza des-
sido perseguida ao longo de toda a sua história. prezamos a misericórdia divina. Mas as palavras de sabedoria não são nossas.
Mas cada época enfrenta um novo inimigo, um Finalmente, a terceira e principal das lições a usar nesta luta pela vida é a
ataque diferente, um outro tipo de desafio. A ordem mais directa e clara que recebemos. «Amai os vossos inimigos, fazei
mensagem é sempre a mesma mas os erros bem aos que vos odeiam. Abençoai os que vos amaldiçoam e orai por quem
multiplicam-se, porque a mensagem é infinita. vos calunia.» (Lc 6, 27-28). O sofrimento e a gravidade dos crimes envolvidos
Neste tempo que é o nosso, paradoxalmente, a tornam especialmente difícil que nós amemos aqueles que os cometem. Mas
Igreja encontra-se quase sozinha na defesa de se Estevão amou Saulo, se Maximiliano Kolbe amou Hitler, se Cristo amou
alguns dos valores mais básicos da humanidade. Caifás e Pilatos, a nós é muito menos difícil amar aqueles que se nos opõem.
A vida dos mais frágeis e vulneráveis é hoje a Temos de compreender que o que os motiva é um amor enviesado à liberda-
atacada pela ânsia do prazer e a loucura da de, uma compreensão distorcida do bem da mulher, acima de tudo um erro
liberdade. Surpreendentemente no tempo dos terrível na concepção do amor. Mas eles atacamnos em nome da defesa da
direitos humanos é no mandamento «não liberdade, da mulher e do amor, que é precisamente aquilo que nos motiva.
matar» que estão as discussões. Se compreendermos esta sua triste desorientação, será mais fácil cumprir
Compreender que a luta do Infovitae é apenas aquilo que temos ordem para fazer, mesmo que não o compreendamos.
mais um episódio do longo processo de perse- O Infovitae faz dez anos. Mas, mais importante do que isso, o Infovitae come-
guição à Igreja permite usar toda essa tradição ça agora os seus segundos dez anos. Os nossos votos é que os passe sem
como ajuda no embate quotidiano. Devemos medo, com palavras de sabedoria e com amor pelos inimigos. Parabéns!
trazer para os combates pela vida e pela família
a experiência de milénios de perseguição e O telemóvel
martírio, de milhões de mártires e confessores
que, perante o desafio do seu tempo, testemu- José Pacheco Pereira
12.04.2008, Público
nharam a mesma Presença que nós. Isso traz
consigo algumas lições preciosas. O objecto que mais mudou os nossos hábitos sociais não é o computador, nem
A primeira é que não devemos ter medo. «Não a Internet, nem o cabo, é o telemóvel
tenhais medo deles; porque não há nada enco- Um telemóvel esteve no centro do momento público mais dramático da edu-
berto que não venha a ser revelado, nem cação portuguesa nos últimos tempos. Uma semana antes do telemóvel, foi
escondido que não venha a ser conhecido. Dizei uma manifestação de professores. Uma semana depois da manifestação, uma
à luz do dia o que vos digo na escuridão, e pro- senhora magra e baixa de gabardina branca, pequena e frágil, a lutar contra
clamai de cima dos telhados o que vos digo ao uma adolescente gigante, feita de cereais matinais e vestida de escuro. Na
pé do ouvido. Não tenhais medo dos que mão das duas, agarrado pelas duas, está um objecto que não existia há dez
matam o corpo mas não podem matar a alma. anos, um telemóvel pequeno que cabe num bolso dumas calças de ganga. No
Deveis ter medo daquele que pode fazer per- episódio a que me refiro, e que passou na televisão centenas e centenas de
der-se a alma e o corpo no inferno. Não se vezes, não há um, mas dois telemóveis, um que está no centro da luta, outro
vendem dois passarinhos por uma moeda de que filma. À volta do telemóvel que filma está uma turma do ensino secundá-
cobre? E nenhum deles cai por terra sem a rio, está uma escola da cidade do Porto, está Portugal, está a Europa, está o
vontade do vosso Pai. Quanto a vós, até mesmo mundo inteiro. Está o YouTube.O pequeno objecto é o mais ubíquo de todos
os cabelos todos da cabeça estão contados. os objectos que existem hoje em Portugal, mais visível do que outro objecto
Portanto, não tenhais medo. Valeis mais do que tão omnipresente como o telemóvel e tão subversivo socialmente como o
muitos passarinhos.» (Mt 10, 26-31) telemóvel: o relógio de pulso. Telemóvel e relógio são instrumentos de pode-
É normal, perante as ameaças, as derrotas e os rosas transformações sociais que eles revelam tanto como potenciam. Não são
sofrimentos, perder o ânimo, ficar indignado ou eles por si só que produzem essas transformações, porque nenhuma tecnolo-
furioso. É habitual assustar-se, desfalecer, irri- gia por muito nova e revolucionária exerce efeitos sociais sem a "sociedade"
tar-se. Quando isso acontecer devemos lem- estar preparada para a usar, sem que corresponda ao tempo e ao modo, à
brar-nos sempre que já ganhámos. Cristo já forma, às correntes de mudança da sociedade que já estão em curso e "des-
ressuscitou e nós já ressuscitámos com Ele. O cobrem" o objecto acelerando o seu curso com ele. É o caso do relógio que
mundo não sabe isso, como não O conheceu saiu do laboratório das excentricidades, um pouco como precursor de um
quando Ele veio, mas essa é a verdade. Por isso Meccano ou um Lego moderno, ou de um jogo de habilidade mecânica, ou de
não devemos temer, duvidar ou enfurecer-nos. um objecto de luxo tão curioso como inútil, para se transformar numa neces-
A luta que estamos a travar é um luta injusta, sidade tão vital que biliões de homens o trazem no pulso. Se exceptuarmos o
desigual, desequilibrada, mas é a nosso favor. uso dos relógios nos navios para calcular a longitude, os relógios não serviam
Apesar das aparências, somos nós que estamos para nada quando a esmagadora maioria das pessoas trabalhava de sol a sol,
em escandalosa vantagem por termos do nosso ou ao ciclo das estações, e estas dependiam de um calendário que estava
lado o Senhor do Universo. Ter medo não só é escrito nos astros. Calendários eram precisos, relógios não eram precisos, até
errado. É também tonto. ao momento em que a Revolução Industrial apareceu e mudou quase tudo por
A segunda lição que esta ligação da luta pela onde passou. Milhões de pessoas vieram dos campos para as cidades, para as
vida à perseguição da Igreja traz consigo é que fábricas e para as minas, e precisavam de horas. O relógio subiu primeiro para
não devemos confiar nas nossas forças. Tudo as torres ou para o centro da fachada neoclássica das fábricas e lá continuou,
receamos da nossa fraqueza mas tudo espera- passando depois para dentro, e depois para o bolso dos ricos e por fim para o
mos da misericórdia de Deus. Isso está afirmado pulso de todos. Hoje o relógio ordena o nosso tempo com um rigor muito para
desde o princípio. «Sereis presos e perseguidos, além do biológico e manda no nosso corpo, como nenhum objecto do passa-
sereis entregues às sinagogas e às prisões, e do. É tão presente que parece invisível, nem damos por ela que está lá, é parte
conduzidos diante de reis e governadores, por do nosso corpo, mais do que objecto estranho. Um figurante do Ben Hur
causa do meu nome. Assim tereis ocasião de esqueceu-se dele, e nos filmes há quem vá para a cama sem ser para dormir,
dar testemunho. Gravai, pois, no vosso coração só vestido no pulso.O telemóvel é o objecto que mais mudou os nossos hábi-
que não vos deveis preocupar com a vossa tos sociais desde que existe. Não é o computador, nem a Internet, nem o
defesa, porque Eu próprio vos darei palavras de cabo, é o telemóvel. E continua a mudar sem darmos muito por isso, porque a
sabedoria, a que não poderão resistir ou con- mudança se faz de forma desigual, quer no que muda, quer em quem muda.
tradizer os vossos adversários». (Lc 21, 12-15). Dito de outra maneira, muda certas coisas nos jovens e muda outras nos adul-
Temos de ter muito cuidado em não nos preo- tos e os seus efeitos estão longe de ter terminado ou sequer de se saber até
cuparmos com a nossa defesa, porque ela está a que ponto de transformação vão. Uma coisa é certa, o telemóvel, ou seja um
ser tratada de outra forma. Esta é uma lição instrumento de contacto instantâneo e portátil entre mim e todos e todos e
ainda mais difícil que a primeira, sobretudo mim, que usa predominantemente a voz e, daqui a poucos anos, usará a voz e
neste tempo mediático e científico. Preparar a a imagem, emigrará para ainda mais perto de mim, para a minha roupa, para
nossa defesa quando se está diante de reis e os meus ouvidos, como já emigrou para as paredes do meu carro. O que ele
governadores, na televisão ou em debates é transporta não é uma ficção, não é um avatar ou um nick mais ou menos
anónimo, não é a minha prefiguração virtual como no Second Life ou nas
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O JORNAL DAS BOAS NOTÍCIAS 18 de Abril de 2011
caixas de comentários ou nos blogues anóni- necessidade de falar ao telemóvel. Na verdade a esmagadora maioria das
mos, é a minha voz, a minha imagem, ou seja, chamadas de telemóvel não tem qualquer objecto ou necessidade de ser feita,
eu. Não seria tão poderoso se fosse um instru- ninguém as faria num mundo de telefones fixos, que não seja pelo controlo,
mento do meu teatro virtual. Bem pelo contrá- pela presentificação do indivíduo no seu jogo de inseguranças, solidões, afec-
rio, é uma encarnação da minha persona, é o tos, e medos, através da caixa electrónica que se segura numa mão. Não é a
meu lugar na sociabilidade dos outros. Por isso, necessidade que justifica a presença quase universal dos telemóveis desde as
luta-se por um telemóvel, porque num telemó- crianças de seis anos até aos velhos, os milhões de chamadas a qualquer hora
vel de um adolescente está muito do seu mun- do dia, em qualquer sítio, da missa à sala de aulas, do carro à cama, é o com-
do: telefones dos amigos, telefone dos namora- plexo jogo de interacções sociais que ele permite, sem as quais já não sabe-
dos, passwords, fotografias, mensagens, vídeos, mos viver. Viver num mundo muito diferente e cada vez mais diferente. Histo-
o equivalente a um diário pessoal, em muitos riador
casos mais íntimo que um diário à antiga, com a
sua chavinha de brincar que dava a ilusão de Avô
que ninguém o lia. À medida que se caminha
pela idade acima o conteúdo do telemóvel Pedro Aguiar Pinto
Povo, 2008-05-28
muda, mas continua pessoal e intransmissível,
com os SMS comprometedores que arruínam Quero agradecer a todos os parabéns e a alegria partilhada nas inúmeras
muitos casamentos, até se tornar quase um mensagens recebidas.
telefone de emergência que os filhos dão aos Muitas falam de avós babados; estou ainda a tentar perceber se assim é, e a
pais com os números deles já gravados e os das que é que este qualificativo corresponde.
emergências: "é só carregar aqui e eu atendo, De facto, mais do que perante o nascimento dos nossos filhos, a reacção mais
se houver qualquer problema, assim não se evidente é mesmo de espanto.
sente sozinho." Sente. Mas as mudanças não se Espanto pelo milagre da vida que antes não era e agora está ali, palpitante à
ficam por aqui. Já escrevi sobre algumas, como nossa frente; comoção perante a pergunta que mais imediatamente salta
a presentificação obrigatória, a obrigação sobre o destino daquela criança cuja vida se inicia no nosso mundo.
socialmente exigida de se estar sempre presen- Dou comigo a pensar que este espanto e esta comoção, melhor, esta capaci-
te, porque o corpo e o telemóvel vão juntos. dade de espanto e de comoção, se revela de modo tão evidente perante o
Deixou de se poder estar longe de um telefone, nosso neto que ainda mal abre os olhos, é por ele despertada para também
já para não dizer que se deixou de poder não ter olharmos para nós próprios. O destino é o mesmo; quero dizer, o dele e o
telemóvel. A recusa de dar um número de tele- nosso; a nossa consciência de destino é que não é sempre tão viva. À frente
móvel é tida como uma má educação ou uma dele, abre-se um futuro de esperança, que é também nosso. A esperança é
insensata e insociável vontade de não estar mesmo isto: a certeza no futuro, por força de um facto presente. E o facto está
disponível. Com o telemóvel está-se sempre ali à nossa frente, pesa 2,950 kg chora quando tem fome; dorme depois de
disponível, ficam sempre os recados, queira-se comer.
ou não recebê-los, e o novo código do telemó- Começo a perceber porque é que tantos colegas avós falam do bom que é ser
vel exige que haja sempre resposta. Por que avô; sempre achei que não devia ser por se poder disfrutar das vantagens de
razão tenho eu que receber recados que não ser pai ou mãe, sem o custo educativo; não me parece que seja isso, de facto.
solicitei, e dar respostas que posso não ter É mais pelo renascimento de um ânimo que se torna evidente quando teste-
tempo ou disponibilidade ou vontade para dar? munhamos na primeira fila a promessa de ser que a vida faz aquela criança; a
Não posso, porque a máquina não aceita um mesma promessa que nos faz a nós, desde que estejamos dispostos a reco-
não por resposta, ela vive do tráfego, e deseja nhecer. Desconfio que ser avô aviva esta consciência de destino porque não
mais tráfego. Por isso oferece-me voice-mail, e- podemos deixar de aplicar em nós, aquilo que aprendemos com o despertar
mail no telemóvel, mensagens, sem eu o pedir. para a vida dos netos.
Nos mais jovens o telemóvel é apenas mais um A minha mulher dizia ontem, de uma forma muito bonita que a Inês a tinha
instrumento para a completa insensibilidade à tornado, mãe de uma mãe; é outra perspectiva que se abre aos avós: a nossa
perda de privacidade e intimidade. Crescendo filha, os nossos filhos estão prontos para tomar o nosso lugar; estão prepara-
num mundo que não preza e não educa para dos; conquistaram a nossa confiança; são capazes.
esses valores, um mundo que incentiva a expo- Dou comigo a pensar que sempre duvidei, mesmo inconscientemente, se a
sição pública, o telemóvel fornece um meio de nossa filha estaria preparada para isto ou para aquilo; conhecemo-la desde
registo, incorporando a máquina fotográfica e o sempre e não queremos que nada de mal lhe aconteça; e, mesmo que saiba
vídeo, no qual qualquer fronteira entre o que é que sim que está preparada para a vida, a condição de pai, porque protectora,
público e privado se esbate. Qualquer um é um condiciona a forma de olhar. Mas ontem, quando a vi pegar no seu filho com
paparazzi de si próprio e dos outros e o rapaz uma confiança como se sempre tivesse feito isso, percebi que tudo estava no
que filmou o vídeo em glória do 9.º C da escola seu lugar. É esta confiança que se transmite de forma tão visível que também
Carolina Michaëlis estava a pensar nessa faz parte (suponho) da condição “babada” de avô.
dimensão lúdica e social do YouTube onde a vã Vou continuar a tentar perceber o que faz em mim a condição de avô.
glória de maltratar uma professora ou de uma
fight na turma iriam dar fama na rede de chats e Algumas coisas que fazem a nossa identidade
no Hi5 onde milhares de raparigas, adolescentes José Manuel Fernandes
ou já nem tanto, se mostram em poses provo- Público, 10.06.2008
cadoras, já para não falar no resto. Não sei se Em nenhum outro país europeu coincidiu, no mesmo território e ao longo de
quando crescerem se vão arrepender, mas tantos séculos, um mesmo povo, como uma mesma língua e uma mesma
então já será tarde, porque uma vez na rede religião. Para o bem e para o mal
sempre na rede. Por último há o controlo, o Os investigadores que o PÚBLICO consultou sobre os resultados de um inqué-
magnífico instrumento de controlo que é o rito sobre a nossa identidade nacional disseram ter ficado surpreendidos com
telemóvel, pessoa a pessoa, numa rede que o elevado número de portugueses que associa a sua nacionalidade ao catoli-
prende os indivíduos numa impossível fuga cismo. E procuraram encontrar uma explicação política para isso, naturalmen-
àquilo que é o objecto sempre presente, sem- te associada ao Estado Novo.
pre ligado (os telemóveis desligados são de Acontece porém que se consultarmos o resto do longo inquérito verificamos
desconfiar), no qual a primeira pergunta é que os portugueses estão entre os povos do mundo onde o domínio de uma
sempre "onde tu estás?", uma pergunta sem só religião é mais forte (entre os católicos, praticamente só somos superados,
sentido no telefone fixo, esse anacronismo. se conjugarmos os dados referentes ao que se afirma ser e ao que se diz prati-
Adolescentes jovens ou tardios, casais, maridos, car, pela Polónia, pela Irlanda e pelas Filipinas). Ora essa posição de Portugal é
mulheres, amantes, namorados, patrões e tão ou mais importante quanto é verdade que a religião é, nesses três países,
empregados, jogam todos os dias esse jogo do um elemento que os distingue dos seus vizinhos (a Irlanda católica afirmou-se
controlo muito mais importante do que a contra o anglicanismo do Reino Unido, a Polónia sobreviveu entre prussianos

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protestantes e eslavos ortodoxos e as Filipinas mesma língua há muitos séculos, esse papel unificador e integrador que a
vivem paredes meias com a islâmica Indonésia), escola pública teve em inúmeros países europeus pôde ser desleixado. Foi
ao passo que a nossa separação de Espanha assim que entrámos no século XX como o povo europeu onde era maior a taxa
nunca se fez de acordo com linhas de clivagem de analfabetismo e no século XXI como aquele onde era maior a taxa de aban-
religiosas. dono escolar.
O catolicismo nacional, que resistiu ao libera- A nossa velha identidade também teve custos, e pesados.
lismo do século XIX e ao republicanismo jacobi-
no do século XX, é um fenómeno que não pode Zita Seabra
ser explicado apenas por efeito de um regime
que durou meio século. Ou então há muito que João Carlos Espada
Expresso, 2007-07-14
Fátima teria deixado de ser o fenómeno de
multidões que continua a ser. ‘Foi Assim’ é o título do livro de Zita Seabra que foi apresentado na semana
Esta realidade deve ser entendida no quadro de passada, no Quartel do Carmo perante vasta assistência, por Mário Soares,
uma afirmação nacional antiga, como quase José Pacheco Pereira e Carlos Gaspar. Foi uma celebração da liberdade.
nove séculos, e que é absolutamente única na Zita Seabra conta as suas memórias desde que, aos 15 anos, aderiu ao partido
Europa. Nenhum outro país possui, como Por- comunista (em 1965) até que deixou a ideologia comunista, em 1989 (tendo
tugal, praticamente as mesmas fronteiras há sido expulsa em Maio de 1988). A principal mensagem que insiste em transmi-
800 anos, com a possível excepção da Suíça. Só tir é que, para romper com o comunismo, é preciso compreender que não foi
que enquanto na Suíça convivem várias línguas a (má) prática comunista que distorceu os (bons) ideais comunistas. A má
e religiões, em Portugal isso não acontece pelo prática foi apenas a consequência dos maus ideais.
menos desde o século XVI, quando a importante Qual é a natureza do mal comunista? Vários grandes autores do século XX
e influente comunidade judia foi forçada a fugir deram contributos para o definir. Raymond Aron pôs a nu o ópio dos intelec-
ou a converter-se. Com excepção das incursões tuais, uma ideologia totalizante que recusa ser confrontada com os factos. Karl
dos exércitos franceses e de mais algumas Popper denunciou o dogmatismo historicista, gerador de um profundo relati-
escaramuças, nunca fomos ocupados (é bom vismo moral. Friedrich Hayek mostrou como marxismo e nacional-socialismo
não esquecer que a dinastia filipina correspon- eram duas expressões de uma mesma atitude intelectual, hostil a uma ordem
deu à união de duas coroas e que Filipe II de livre e descentralizada.
Espanha, primeiro de Portugal, instalou por Todos eles enfatizaram a hostilidade do comunismo contra os modos de vida
muitos anos a sua corte em Lisboa). espontâneos das pessoas comuns, enraizadas em instituições livres nas quais
Não há nada de semelhante na Europa. Países se sentem confortáveis: a casa própria, a família, a realização profissional, os
como a Alemanha ou a Itália são criações do hóbis, a religião. Estas esferas plurais constituem uma reserva de liberdade
século XIX. A Noruega, a Finlândia, os países contra a vontade política sem entrave. Mas, acima de tudo, elas constituem
bálticos e alguns países da Europa central prati- reservas de felicidade e realização pessoal, independentes da manipulação
camente nunca foram independentes até ao política.
século XIX ou mesmo ao século XX. Estados Em meu entender, foi Michael Oakeshott, o filósofo conservador inglês, quem
como o Reino Unido ou a Espanha são plurina- melhor captou este núcleo central da resistência ao totalitarismo comunista
cionais, outros, como a Polónia, raras vezes ou nacional-socialista: a disposição para usufruir, para desfrutar, para celebrar
possuíram fronteiras estáveis e eram corredor um modo de vida que é o nosso e não foi centralmente desenhado. Oakeshott
de passagem de todos os exércitos. Isto para disse residir aqui o segredo da liberdade ocidental.
não falar dos que são hoje uma sombra do que Não sei se Zita Seabra concordará com Oakeshott. Mas atrevo-me a dizer que
foram, como a Áustria ou a Hungria. ela é o melhor exemplo da tese Oakeshotteana. Ao abandonar o PCP, Zita
No fundo, a coincidência num mesmo território Seabra teve a audácia de refazer inteiramente a sua vida. Lançou-se na activi-
e ao longo de tantos séculos de um povo, uma dade editorial privada, de rara qualidade; preservou a sua vida familiar intacta,
língua e uma religião é uma especificidade longe dos holofotes colectivistas da praça pública (o que, aliás, muito bem faz
portuguesa. Para o melhor e para o pior, razão também no seu livro); refez e ampliou amizades; retomou a acção política no
pela qual encontrar Portugal entre os países PSD, a tempo parcial; finalmente, fez um percurso privado de aproximação à
onde mais se associa à nacion-lidade ter nascido religião cristã.
no país, ter antepassados portugueses, falar Esta alegria de viver e apreciar de Zita Seabra é, em meu entender, a melhor
português e praticar (mesmo que cada vez celebração da liberdade e a mais profunda ruptura com o universo soturno do
menos) uma mesma religião é uma decorrência comunismo.
da História, não o legado de um regime ou do
que se ensina nas escolas. Um legado que nos João Paulo II, o Papa libertador
afasta da Europa, cujos povos conheceram José Manuel Barroso
atribulações bem diversas e só se arrumaram DN 2006-01-05
em Estados-nação na sequência de três guerras Quando assistia ao desfile, nos jornais e nas televisões, dos acontecimentos do
trágicas (as de 1914/18, 1939/45 e, mais recen- ano que findou, imaginei-me, simples cidadão do mundo, a identificar o per-
temente, dos Balcãs). A nossa dificuldade em sonagem cujo desaparecimento eu mais sentisse como uma perda.
compreender muitos dos conflitos continentais Um homem emergiu dessa busca João Paulo II, o Papa peregrino. João Paulo II
é não só uma consequência do nosso afasta- tornou-se, no final do século XX, numa das referências morais do nosso tempo
mento geográfico, como da circunstância de, e num guia espiritual para milhões de mulheres e de homens, independente-
mesmo limitando-nos à nossa experiência histó- mente de serem ou não católicos.
rica na Europa, sem incluir a expansão imperial, Por onde passou - e João Paulo II realizou mais de cem viagens a 130 países -
esta ser imensamente distinta da dos outros arrastou multidões, mobilizou governantes (favoráveis ou contrários à sua
povos europeus. presença) e o seu carisma atraiu as massas onde quer que fosse . Foi um ver-
Por isso, quando se procura explicar o porquê dadeiro Papa universal - isto é, católico. "Se ficasse no Vaticano, como a Cúria
do nosso atraso, uma parte dele deriva de a gostaria que fizesse, então ficaria sentado em Roma escrevendo encíclicas,
nossa estabilidade e homogeneidade nunca que seriam lidas apenas por um punhado de pessoas (Comentário sobre as
terem criado as condições que levaram muitos viagens, 1982)."
outros países a apostarem, desde muito cedo, E era às pessoas que João Paulo II queria chegar. Nas suas viagens, assumiu o
no ensino da língua oficial através de uma rede que de mais característico havia nas comunidades visitadas, para mostrar uma
de escolas públicas. Nesses países a afirmação Igreja aberta ao mundo, às culturas, à diversidade. Como alguém referiu, nas
dos novos poderes tinha de passar pela diferen- aldeias, metrópoles, parques, avenidas e estádios desportivos por onde pas-
ciação linguística, e a centralização do poder sou, homens, mulheres e crianças "de todas as etnias, de todos os costumes e
pela literacia dos cidadãos. Portugal, onde os de todas as tradições" se curvaram à sua frente, cantando e saudando nos
reis nunca tiveram de se afirmar contra senho- seus idiomas. Defendeu a imagem e a mensagem de Cristo como a de um
res feudais poderosos e onde todos falavam a "libertador", mas não como a de "um revolucionário" ou "o subversivo da

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Nazaré". Quando os jornalistas, na América O Povo
Latina, lhe perguntaram sobre o que achava da
Pedro Aguiar Pinto
teologia da libertação, o Papa polaco respondeu Povo, 2005-04-21
"Depende. De qual teologia da libertação? Se Amigos:
for a de Cristo, e não a de Marx, sou totalmente Sinto-me hoje compelido a pensar convosco a realidade que é o Povo. Alguns
a favor." já conhecem a história; outros chegaram há pouco tempo. Curiosamente com
Procurou ser, e foi, a voz incómoda contra todos todos foi sendo e continua a ser criada uma identificação, embora muitos de
os poderosos. Em 1979, disse "O sucessor de nós não nos conheçamos pessoalmente para além do endereço de e-mail.
João XIII e de Paulo VI fala em nome de todas as A pré-história do Povo na sua forma actual começou em 1998, durante a cam-
nações cujos direitos foram violados ou esque- panha pelo não ao referendo do aborto. O uso da Internet ainda não era tão
cidos." Neste "todas", ele incluiu o mundo comum, mas um grupo de amigos que se empenharam no esclarecimento das
comunista amordaçado, o Sul desprezado, os pessoas, na participação em sessões em muitos lados, precisavam de comuni-
povos oprimidos no mundo ocidental: "Entendo car entre si e usavam o e-mail para isso.
que o socialismo como sistema político é uma Após o referendo, esta pequena lista de amigos que tinham em comum este
realidade. Porém, a questão está em que ele apego à vida no que ela tem de mais existencial foi gradualmente crescendo.
deveria ter uma face humana (Na Polónia, Esta paixão pela vida é, em primeiro lugar uma paixão pela vida que nos é
1983)"; "Como podemos ignorar as prisões, as dado viver. Por isso, sempre que havia um artigo de jornal ou de outra fonte
sentenças e as execuções arbitrárias, sem jul- que me despertava a atenção por tratar com seriedade as coisas que mais
gamento autêntico, a detenção de dissidentes interessam à vida, portanto, mais vitais, e que são, de um modo geral, tão
em condições sub-humanas, a tortura, o desa- escondidas nos meios habituais de comunicação social, partilhava-o com os
parecimento de pessoas? (Sobre os regimes meus amigos.
autoritários, 1988)"; "O homem é muitas vezes Este grupo foi crescendo e no programa de e-mail que usava na altura era já
tratado como uma matéria - -prima que deve então possível definir grupos de endereços: chamei a este grupo “Povo”.
custar o mínimo possível. Em situações como Povo não é apenas um conjunto de pessoas, não é, portanto, apenas uma
essa, o trabalhador não é respeitado como um multidão; aliás, opõe-se à massa, porque vive da liberdade e da consciência de
autêntico colaborador do Criador (Na Coreia do cada um, partilhando ideais comuns. O Povo era, então, um grupo de pessoas
Sul, 1984)"; "À luz da palavra de Cristo, o Sul que a todas conhecia e chamava amigos, exactamente porque partilhávamos
pobre irá julgar o Norte rico. Os povos pobres este amor pela realidade que é a vida de todos e de cada um.
julgarão as nações que levaram as suas proprie- Em Abril de 2001, faz agora 4 anos, o grupo já era grande de mais para conti-
dades, reivindicando um monopólio imperialista nuar na base de uma lista de contactos de um programa de mail. Então, criei
sobre os seus bens e uma supremacia política à um grupo nos yahoogroups a que chamei Povo_. Precisou do “_” porque o
custa de outros povos (No Canadá, 1984)." nome Povo já estava ocupado. Começou com 300 e tal membros no dia 17 de
João Paulo II foi o Papa da Guerra Fria e foi um Abril de 2001.
dos seus vencedores. Desde o início do seu A estes foram-se juntando outros; ao contrário, da minha lista pessoal que
pontificado tornou claro que a questão do reside no ficheiro de endereços do meu programa de e-mail, a lista de mem-
comunismo teria o seu empenho. Oriundo de bros do Povo, reside no servidor do yahoo, pelo que é acessível, via Web de
um país católico arrastado para a órbita do qualquer sítio e computador do mundo, embora, só seja acessível ao modera-
império soviético, depois da Segunda Guerra dor da lista, pelo que é anónima para todos os outros membros. A adesão e
Mundial, o Papa polaco respondeu assim a permanência é voluntária, o que não sucederia facilmente numa lista privada.
quem lhe pediu que falasse da Igreja do Silêncio Qualquer membro pode, com uma instrução simples que segue em todas as
(a do Leste europeu) "Ela já não é a Igreja do mensagens, excluir-se do Povo. Ao longo deste tempo, muitos saíram. Mas
Silêncio, porque fala pela minha voz." É eviden- também entraram muitos outros. (No fundo desta mensagem incluo o modo
te que construiu com o Presidente americano de incluir novos membros no Povo_ e também, de sair do Povo).
Ronald Reagan (que falou da União Soviética O Povo hoje
como "o Império do Mal") uma aliança táctica. Hoje, o Povo_ tem 2105 membros, alguns que permanecem desde 2001,
Na sua primeira visita à Polónia, que os soviéti- outros que apenas chegaram ontem.
cos queriam impedir, mas que o regime comu- Durante este tempo, tem sido uma preocupação manter um equilíbrio entre
nista polaco não teve força de fazer, por receio uma quantidade razoável, não excessiva e seleccionada de mensagens que
da reacção popular, o Papa desafiou os que possam interessar ao Povo (perdoem-me se nos chamo assim), tendo como
perseguiam a sua Igreja, afirmando "Cristo não primeiro critério, o facto de me terem chamado a atenção e de corresponde-
pode ser excluído da História do Homem, em rem a “artigos, comentários e notícias que correm o risco de não ser notícia na
qualquer parte do globo." Dez milhões de pola- comunicação social que nos rodeia, apesar de incidirem sobre o que mais
cos estiveram a receber o Papa, que apoiou interessa à vida e a um juízo justo sobre o que se passa à nossa volta.” - como
claramente também o sindicato de inspiração diz a mensagem de acolhimento a cada novo membro.
católica Solidariedade. A razão de ser de ter sentido hoje a necessidade de partilhar convosco esta
Em 1989, um tsunami político varreria o Leste história, prende-se com a aprovação, ontem, na Assembleia da República, de
da Europa e iniciaria a queda do comunismo. O uma proposta de lei que “liberaliza” o aborto e um projecto de resolução para
último Presidente soviético, Mikhail Gorbachov, um referendo sobre a matéria.
diria, anos depois "Tudo o que aconteceu no Ao longo destes anos, o Povo não deu especial destaque às questões da vida
Leste europeu nestes últimos anos teria sido antes do nascimento. Tem-se preocupado com o que mais interessa à vida, em
impossível sem a presença deste Papa." O cada circunstância ou notícia. Contudo, a possibilidade de um novo referendo,
mesmo Papa que, em 1999, no México, num faz prever que o debate sobre o aborto volte a dominar as atenções da opi-
dos seus mais duros discursos contra os exces- nião pública, nestas ondulações que caracterizam aquilo que é notícia.
sos do capitalismo, disse ser o neoliberalismo Por isso, o Povo não quer, não deve e não pode alhear-se da questão que
um pecado social: "Ele rompe a harmonia entre “mais interessa à vida” e de procurar “um juízo justo sobre o que se passa à
as comunidades de uma nação e de um conti- nossa volta”, independentemente e se preciso for, contra “a comunicação
nente inteiro e baseia-se numa concepção social que nos rodeia”. Ao contrário do que nos quer fazer sentir a opinião
economicista do ser humano, valorizando o pública (publicada) actual não se trata de uma questão religiosa que um grupo
lucro e as leis do mercado em detrimento da tem querido impor às leis de um estado laico. Trata-se sim, de uma questão
dignidade da pessoa." existencial, experimentada (fomos todos embriões com 10, 12 e 16 semanas),
Nem Marx nem a exploração desenfreada do nenhum de nós “foi ouvido no acto de que nasceu” e, contudo, fazemos a
capitalismo, mas, para João Paulo II, o sentido experiência misteriosa do ser. Não é possível negá-lo. Não é possível calá-lo.
libertador da palavra da sua Igreja - na "visão Por isso, o Povo arrisca ter uma posição interveniente e activa no debate que
evangélica da realidade social". irá acontecer. Com a consciência de que pode não agradar a todos. Mas tam-
bém, com a consciência de que não pode calar a origem de cada um de nós e a
origem do Povo como acontecimento na pequena história que vos contei.
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A todos os que quiserem permanecer o meu hora anunciada estávamos de regresso. A porta continuava fechada. Agora,
obrigado e o pedido de assumirem um papel eram duas as afadigadas formiguinhas no interior. Nem um olhar para os
decidido nesta questão que, por dolorosa que nossos narizes recolados ao vidro. Dessa vez bati furiosamente. Uma das
possa ser, é vital, está no âmago da experiência meninas devolveu um olhar enfastiado e fez com a mão um gesto displicente:
que fazemos da vida como caminho e ideal de "está fechado!" - leio-lhe nos lábios.
felicidade. Não desisto. Devia estar aberto! Quase grito, apontando para o papel afixado.
A todos os que sentirem diferentemente peço A pequena aproxima-se da porta, incomodada com a insistência, como quem
que compreendam que esta decisão não é odeia a simples possibilidade de ter clientes: Qual horário?
contra ninguém, mas a favor daquilo que somos Percebo que, pela primeira vez, intui a existência da folhinha afixada. Não abre
no mais íntimo do nosso ser e que o Povo tenta- a porta, não pede desculpa pelo incómodo. Não lhe passa pela cabeça pergun-
rá sempre iluminar, esclarecer, mostrar e não tar em que nos pode ser útil. Não explica que decidiram passar a fechar ao
escurecer, confundir ou esconder. Domingo mas se esqueceram de alterar o horário afixado. Fora de causa ima-
Aos primeiros peço que chamem amigos que se ginar que esse esquecimento me dava o direito de exigir que estivessem pelo
podem inscrever no Povo, quer enviando-me menos dispostos a vender-me (excepcionalmente!) qualquer coisinha. Nada, a
um e-mail (papinto@gmail.com) quer inscre- menina limitou-se a virar com desprezo o papelote confirmando-lhe o teor e a
vendo-se directamente em: Povo_- vociferar de novo entre dentes: " o horário? Pois! Está mal!".
subscribe@yahoogroups.com "Então é melhor alterar o papel!" grito do lado de fora. Passei, de novo, por lá
Aos segundos peço que se puderem, permane- ontem. O papel foi efectivamente alterado. Passou a indicar encerrado aos
çam; se não puderem ou não quiserem, podem Domingos. Menos mal. Sempre evitará, a outros, o meu atraso da semana
como sempre puderam, abandonar o Povo, passada, depois de uma correria desenfreada pelos centros comerciais da
quer enviando-me um e-mail quer em: Povo_- zona onde nada parecia tão giro como a prenda deixada por detrás da montra
unsubscribe@yahoogroups.com e da porta fechada. Por melhor que seja o produto com esta atenção ao clien-
A todos um abraço de amizade te, antecipo-lhe sobretudo um lindo enterro.
Pedro Aguiar Pinto Percebem o ponto? Ligar a horários é apenas a gota de água de uma verdadei-
ra revolução cultural. Só por isso, e porque estamos em campanha eleitoral,
Choque Horário deixo aqui de novo a minha sugestão cívica capaz de mudar o país "em três
tempos!": já, imediatamente e a partir de agora. O tema nos programas parti-
Graça Franco dários talvez pudesse surgir através da proposta de criminalização do atraso,
Público, Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
sujeito sempre que possível a pena de multa. Vendido como forma original de
Há quatro anos, estava eu em Bruxelas e a dar aumentar as receitas e reequilibrar as contas sem recurso aos impostos!
os meus primeiros passos nestas crónicas, O único custo seria o de uma grande campanha cívica do estilo daquela contra
escrevi aqui um texto intitulado "trés bien pour a pirataria audiovisual. Qualquer coisa do género: "não cospe no chão? Não
un portugais!" Nele advogava como "grande fala com a boca cheia? Não diz palavrões? Então por-que é que chega atrasa-
batalha nacional" a luta pela pontualidade. Dizia do?!"
então: "não é a reforma fiscal, nem a mudança Tinha duas vantagens: ajudava a interiorizar umas regras de boa educação em
do sistema nacional de saúde nem sequer a desuso e punha o dedo na ferida na questão da falta de cortesia. Escusava de
reforma da administração pública! A grande se dizer o resto que é muito mais difícil de explicar, e virtualmente fracturante
batalha nacional é a da pontualidade. Não para alguns grupos de elei-tores.
podemos ser simplesmente pontuais à saída, Não era preciso dizer que é um dever elementar dos trabalhadores trabalhar
temos de nos transformar em autênticos reló- durante todo o tempo do seu horário de trabalho. Nem era preciso alertar
gios de ponto seja qual for a situação. (...) Trata- para o dano colateral deste sistema de dislate horário que se traduz na exclu-
se de evitar a humilhação internacional. Com são das mulheres da vida política e as afasta dos cargos directivos. Como
sorte daqui a cem anos hão-de reconhecer-nos muito bem lembrava, ontem, a Dr. Leonor Beleza em entrevista à Pública, as
o esforço". mulheres são as únicas que, mesmo na condição de executivas, não podem
Volto hoje à carga. Não na perspectiva "estran- dar-se ao luxo de não ter horários. Não só têm sempre um montão de coisas a
geirada" que então justificava a minha prosa. fazer "depois das seis", como limitadas pelo facto dos infantários nem sempre
Cansada de ser injustamente vista como um terem hora certa para abrir mas todos terem hora certa para fechar.
mero representante daqueles povos tão desor- Evitava também lembrar que o desprezo pelos horários permite a uma boa
ganizados que, " nunca chegam a horas e nem parte da população ser oficialmente detentora do dom da ubiquidade. Quan-
sequer conseguem sair a tempo porque são do posso falar com o doutor? Ele vem à sexta-feira mas não tem hora certa
incapazes de realizar as respectivas tarefas no porque também vai ao hospital. É questão de ir tentando. Afixados claramente
horário previsto". os horários saberíamos que as horas de consulta nos dois sítios são exacta-
Retomo o tema porque quatro anos passados, e mente iguais. Simplesmente umas vezes o doutor chega "um bocadinho atra-
na perspectiva estritamente doméstica, conti- sado ao consultório" e nas restantes "ligeiramente atrasado ao hospital". Há
nuo convencida de que um simples esforço sempre "uma urgência" para desculpar tudo. A minha última visita ao médico
colectivo para cumprir horários poderia tradu- estava marcada para as três por ordem de chegada. Às duas e meia perfilei-me
zir-se num verdadeiro choque de gestão (à à porta. Fui atendida perto das cinco por um senhor simpático e bonacheirão
PSD), contribuir para um acréscimo de produti- com quem ainda troquei umas palavrinhas sobre a situação política. Não me
vidade muito superior ao previsto no choque passou pela cabeça questionar o atraso, nem a ele desculpar-se pelo incómo-
tecnológico (à PS) e constituir um importantís- do. Ir ao médico às três e sair às seis nem é mau...
simo choque de valores (à PP). Não são só os médicos. Há um sem-número de profissionais que já deviam
Lembrei-me disso, de novo, há uma semana. Era estar num lado enquanto ainda é suposto permanecer no outro. Uma impos-
Domingo. Precisava de comprar um presente e sibilidade matemática só ultrapassada com o beneplácito de todos. Isto, para
sabia de uma loja cheia de coisas originais aber- não falar do grupo que entra às nove para sair às nove e meia para tomar café.
ta de manhã na avenida de Roma. De regresso Regressa às onze para sair ao meio-dia. Almoça até às três e meia e está de
do quiosque de jornais passei por lá. Estavam saída às cinco.
três graus. Colei com as crianças os narizes à Lembro-me de ter lido um artigo sobre gestão nos Estados Unidos onde se
porta e lá descortinámos uma impassível descrevia um conselho de administração de uma grande multinacional. Um
empregada afadigada a marcar preços. Olhou- executivo entrava esbaforido na reunião e pedia des-culpa pelos "15 minutos
nos superiormente, de soslaio, sem se dignar de atraso". O presidente interrompia-o: "o seu atraso não foi de 15 minutos,
aproximar-se da porta onde um papelinho mas de quatro horas!" "A reunião não estava marcada para as duas?", riposta-
anunciava a abertura aos fins-de-semana das 10 va, o atrasado. "Precisamente. Ora, como estamos aqui dezasseis administra-
às 19, com intervalo para almoço das 13 às 14. dores há quinze minutos a esperar por si, o seu atraso corresponde a quatro
Faltavam sete minutos para a abertura e não se horas de trabalho perdidas por esta empresa! Dada a média dos nossos salá-
vislumbrava simpatia suficiente para uma con- rios implica um custo considerável".
fortável espera no interior. Enregelados optá- Se contasse este episódio numa roda internacional haveria alguém a picar:
mos por voltar às 14. Cinco minutos depois da
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"falta dizer que o administrador era o italiano! tem crescido e o o tipo de mensagem mais frequente também mudou.
Porque tu és portuguesa!". Ficaria mais uma vez Hoje, uma percentagem muito significativa das mensagens diz respeito a
comprovada a nossa malapata reputativa. avisos de actividades diversas que podem ser do interesse geral e que têm
Se cumpríssemos horários, a começar nos dificuldade em ser divulgadas de outra forma.
transportes públicos, e nos serviços do mesmo Por isso, é minha intenção, desde há algum tempo, mas sempre adiada por
nome, mas estendendo isso a toda a sociedade, dificuldade prática de concretização, reservar para O Jornal das Boas Notícias,
os dias efectivamente trabalhados subiriam em as notícias e comentários intemporais – ao contrário da “notícia” dos jornais e
flecha. A produtividade disparava (ajudando a noticiários, a boa notícia permanece – e usar as mensagens do Povo sobretudo
competitividade e a meta das exportações do para esta nova utilidade que não tinha sido prevista e que foi sendo revelada
PP). O crescimento económico iria atrás (tor- no tempo: veículo de aviso de actividades que irão decorrer.
nando mais realistas algumas das metas do O Povo está largamente concentrado na região de Lisboa, pelo que, frequen-
PS/PSD). O emprego subiria a seguir, tornando temente, alguns leitores de outras áreas se queixam da ausência de divulgação
mais próxima a recuperação dos 150 mil postos de actividades nas suas regiões. Isso só acontecerá na medida em que o Povo
de trabalho perdidos de que fala o Eng. Sócra- seja divulgado localmente e que me enviem anúncio oportuno de actividades
tes. Última vantagem: não custava um cêntimo! locais.
Por isso, peço a todos os amigos do Povo que o divul-guem, propondo novos
A mensagem número 1000 membros para o Povo quer sugerindo que se inscrevam em:
http://groups.yahoo.com/group/Povo_/join quer, enviando
Pedro Aguiar Pinto (p_a_pinto@hotmail.com) o nome e endereço dos amigos que gostariam de
Jornal das Boas Notícias, 14 , 12-Fev-2004
inscrever no Povo.
Este Jornal segue “agarrado” à milésima mensa- Finalmente, agradeço a todos a paciência e fidelidade com que têm permane-
gem do Povo. cido no Povo e peço a vossa colaboração sempre que a achem útil ou necessá-
O Povo começou como resposta a uma reco- ria, de modo a que o Povo possa continuar a ser um elo de ligação entre pes-
mendação do nosso pároco na missa de um soas singulares que têm em comum aquela característica que as faz um Povo:
Domingo de Fevereiro de 2000. unidade na vontade de caminharem em conjunto para um destino comum.
O papa ia iniciar a sua vista aos lugares santos e
o Padre João recomendou-nos que procurásse-
mos acompanhar a visita do papa com atenção. Um padre
Como a cobertura que a nossa televisão e, João César das Neves
mesmo os jornais, dão sobre estas notícias é DN, 20031117
reduzida e muitas vezes parcial, surgiu a ideia Já não se publicam sermões. Depois de os padres terem passado no século XIX
de fazer um pequeno jornal que diariamente à categoria de ervas daninhas, abandonou-se o hábito de publicar sermões.
acompanhasse os passos do Papa na Terra Assim se perde para sempre um dos fenómenos culturais mais influentes da
Santa. Este jornal começou com a carta do papa nossa língua. Todos os dias, em milhares de locais, se prega em Portugal sobre
sobre a peregrinação aos lugares santos e, em o sentido da vida, os juízos morais, as virtudes práticas. Este grandioso patri-
cada dia, juntava notícias de várias fontes de mónio evapora-se, enquanto os etnógrafos se esforçam, por outros lados, a
informação nacionais e estrangeiras. recolher os menores indícios do que chamam «cultura». Mas, felizmente,
Quando a peregrinação terminou, o envio de ainda há excepções. Acaba de sair um volume de homilias de um sacerdote
artigos que pudessem ser de ajuda continuou: lisboeta (Directo ao Assunto, Lucerna, 2003).O Padre João Seabra é uma figura
às segundas-feiras, os artigos do João César das conhecida da nossa intelectualidade. Mas o que ele é, é sempre e apenas
Neves e, por vezes, e artigos de jornais diários como padre. A sua fama provém sobretudo da sua frontalidade. Num tempo
ou semanários onde escrevem alguns jornalistas em que a Igreja se sente minoritária, às vezes acossada e complexada, o Padre
e comentadores com opiniões que resistem ao Seabra nunca pediu desculpa por ser quem é ou licença para se meter na vida
niilismo dominante (Mário Pinto, João Carlos de quem encontra. Conheço muitos padres santos, fervorosos e cativantes.
Espada, António Pinto Leite, António Barreto, Mas com a sua «desfaçatez na Fé» só sei de outro, um polaco chamado Karol
Henrique Monteiro, António José Saraiva), a Wojtyla.Os sermões deste livro não são habituais. Primeiro são curtos. Depois
que se juntam ocasionalmente outros que são muito coloridos, com humor e actualidade. Em terceiro lugar são desar-
ajudam a formar um juízo sério e empenhado mantes. Citam no mesmo fôlego a Astrofísica e a Inquisição (p. 81), Gore Vidal
sobre o que se passa à nossa volta. e S. Ambrósio (p. 89), S. Pedro e Krushchev (p. 107), Loretta Young e o bom
Manter uma lista de e-mail actualizada é uma samaritano (p. 201-202).Os temas são muitos, mas o assunto é sempre o
tarefa complexa e sempre inacabada. mesmo. Em todo o livro se sente a sua linha condutora: uma paixão intensa
Por isso, a 17 de Abril de 2001, o Povo passou a numa fidelidade férrea pela pessoa de Cristo e pela vida da Igreja. Com exem-
residir num grupo de e-mail que pode ser ace- plos divertidos e sínteses iluminantes, o autor vai sempre directo ao assunto. E
dido de qualquer computador com ligação à o assunto é sempre a Fé. O livro é, pois, uma notável mistura de catecismo,
Internet, o que significa que a lista de endereços geopolítica, moral prática e história. Na clareza da argumentação, na contun-
reside num único servidor, continua a ser confi- dência das comparações, sente-se o que tanto foi repetido nos milénios da
dencial e a sua actualização é da responsabili- Igreja: «Vieram para discutir, mas era--lhes impossível resistir à sabedoria e ao
dade individual de cada membro. Os elementos Espírito com que ele falava» (Act 6, 9-10).No meio aparecem frases brilhantes,
do grupo podem a qualquer momento deixar de tiradas geniais que não esquecem: «Toda a moralidade cristã se reduz a isto.
o ser e quem quiser pode submeter a sua inscri- Usar todas as coisas tomando nota da Luz da qual são feitas» (p. 125). «Porque
ção à aprovação do moderador do grupo. quem resolve, nos momentos decisivos, pensar só pela sua cabeça acaba por
O grupo mantém uma lista das mensagens pensar pela cabeça da opinião comum» (p. 190). «Para se renunciar à santida-
enviadas em: de é precisa uma disciplina de ferro, porque a santidade oferece-se a nós
http://groups.yahoo.com/group/Povo_, bem todos os dias»(p. 210). «Misteriosamente, os que estão no Inferno não estão
como um arquivo dos textos mais importantes e lá presos. Estão lá porque não querem sair de lá (...) o seu castigo é esse ódio
que podem ser acedidos por todos os elemen- eterno ao bem» (p. 272). «A Europa é o nariz da Ásia. Se a Ásia se assoa, a
tos que se inscrevam como membros, seguindo Europa desaparece. (...) A Europa é o Cristianismo ou não é nada» (p. 277).
um procedimento de inscrição relativamente «Meus amigos, meus irmãos, vivei cada instante como se fosse o primeiro
simples. instante, como se fosse o último instante, como se fosse o único instante» (p.
O que começou como uma iniciativa descom- 211).É assim o autor. É assim este livro.À questão principal, ele mesmo res-
prometida e esporádica tem sido até hoje uma pondeu logo na sua primeira missa: «O bom gosto do nosso mundo pergunta-
actividade relativamente regular e já chega a rá, escandalizado, se eu me considero, então, detentor da única verdade. E eu
muita gente. O pedido de inscrição pode ser respondo que não. Não sou detentor da verdade. Mas sou detido por Ela, sou
feito no endereço web do grupo que é: possuído, conduzido, impelido e guiado por Ela. Não sou senhor da verdade,
http://groups.yahoo.com/group/Povo_/join mas sou servo da Verdade» (p. 13).
Ao longo destes quase três anos, o Povo cresceu
(hoje somos quase 1800), o n.º de mensagens
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O JORNAL DAS BOAS NOTÍCIAS 18 de Abril de 2011
O Jornal das Boas Notícias 13 sabia da sua permanente disponibilidade, da sua capacidade ao serviço dos
outros. Mas foi preciso que morresse para ter consciência de que Gabriel
Pedro Aguiar Pinto
Povo, 2003.09.15
Martins conhecia pessoalmente todos os doentes e necessitados da freguesia
O Jornal das Boas Notícias está de volta ao fim de Santos, a quem visitava e levava a ajuda possível. Só agora soube que con-
de quase um ano e meio de ausência. Era meu vidava gente da rua para almoçar em sua casa. Só depois de ele partir percebi
propósito retomar a publicação mais regular do como nele se reuniam as qualidades das duas irmãs de que nos fala o Evange-
jornal no início do mês de Setembro, após as lho: tinha o sentido contemplativo de Maria e o espírito prático de Marta. Não
férias de verão. Comecei, por isso, por juntar pensava salvar o mundo; bastava-lhe cuidar do próximo.
alguns artigos que o tempo não corroeu e que Os meios de comunicação falam facilmente de gente que rouba, assassina,
me pareceram manter o interesse que pode- desencadeia guerras, comete atentados...
riam ter para os leitores. Alguns são de há mais Desculparão os leitores este parêntese de hoje, ao recordar apenas esta rari-
de um ano e já estavam seleccionados para um dade de um homem que não caberá por certo na História- porque tinha a
Jornal das Boas Notícias que nunca chegou a ousadia de ser verdadeiramente bom.
sair.
No dia 1 de Setembro, a nossa filha Constança, Heróis
deficiente profunda com quase 12 anos, foi José Manuel Fernandes
operada e nos turnos que repartia com a minha Público, 8 de Novembro de 2001
mulher ao lado da Constança na sua convales- É uma história exemplar, essa do cidadão espanhol que, após mais um atenta-
cença, fui juntando e compondo este número do da ETA, perseguiu o comando terrorista pelas ruas de Madrid e foi guiando
do Jornal das Boas Notícias. No dia 8 de Setem- a polícia até à sua detenção. É uma daquelas histórias que nos reanimam, uma
bro à tarde, enquanto estava neste trabalho, o história de heroísmo cidadão que nos faz reacreditar na capacidade dos
oxímetro ligado ao dedo da Constança começou homens para correrem riscos em nome da comunidade em que vivem.
a apitar. Desliguei o computador à pressa sem O automobilista que, na terça-feira, teve a intuição de identificar os dois terro-
guardar o que estava a fazer e fui para o lado ristas que, apressadamente, saíam do lugar do atentado, e que, depois, teve o
dela. Pouco depois o seu coração parou. A sangue-frio para os seguir, mesmo correndo o risco de ser identificado, mes-
Constança tinha ido para o Céu. Os dias que se mo sabendo que os pistoleiros da ETA andam quase sempre armados - e aque-
seguiram foram dias intensos, mas misteriosa- les dois estavam realmente armados - e não hesitam em matar, dá-nos um
mente pacíficos, de uma paz e de uma letícia vibrante exemplo de coragem e responsabilidade. Graças à sua acção, foi
que só podem vir da certeza de que a sua vida possível não só deter os dois terroristas, como identificar quatro das residên-
no seio da nossa família, de que ela foi o centro cias que utilizavam e apreender um importante arsenal. O golpe, mais um,
nestes últimos doze anos, foi um dom de graça dado nas estruturas operacionais da ETA permite apertar o cerco sobre uma
que Deus nos concedeu. organização que cada vez mais se vê obrigada a recorrer a jovens sem expe-
Deus a deu, Deus a levou, no dia da Natividade riência para levar a cabo as suas acções. Permite ainda reforçar a convicção de
de Nossa Senhora. Sabê-la na presença de Deus, que existem - como tem dito o juiz Bal-tazar Garzón - laços íntimos entre os
a Quem ela agora vê face a face é uma expe- terroristas e certas organizações independentistas legais: uma das terroristas
riência de cumprimento de um destino de feli- presa tinha sido vereadora eleita pelo Herri Batasuna num pequeno município
cidade agora realizado. basco.
Quando voltei a abrir o processador de texto, o O heroísmo daquele madrileno anónimo trouxe-nos à memória esse outro
ficheiro que não tinha guardado com a urgên- heroísmo de um punhado de americanos que, seguindo a bordo do quarto
cia, apareceu recuperado com o trabalho onde avião desviado no 11 de Setembro, resolveram atacar os terroristas e acaba-
o deixara. ram por provocar a queda do aparelho num descampado, muito longe do alvo.
Acrescento-lhe apenas estas linhas que quis O seu gesto - o seu sacrifício - foi um dos raros raios de luz naquelas horas
partilhar convosco, porque as Boas Notícias, sombrias, o seu exemplo ajudou a unir a nação americana nos dias que se
geralmente ignoradas, são também o fruto da seguiram ao atentado.
misteriosa acção de Deus através dos Seus Actos heróicos como estes surgem quase ao arrepio dos tempos que vivemos,
filhos. parecem nem se encaixar bem em sociedades hedonistas, em cidades onde os
A Constança na sua total incapacidade tocou de homens de cruzam sem sequer olharem para o lado, centrados sobre si pró-
forma única a vida de muita gente e despertou prios, incapazes mesmo do mais simples gesto de ajuda a um seu semelhante.
todos os que a conheceram para o mistério do Actos heróicos como estes também nos mostram que há gente que ainda
Ser e, por isso, do amor. acredita que é possível fazer algo pela colectividade, gente que não se refugia
Que Nossa Senhora das Dores, cuja festa cele- no conformismo de considerar que os problemas de todos são sempre com os
bramos hoje (15 de Setembro) a acolha e torne outros, ou com os governos. Gente capaz de tomar a iniciativa, mesmo de
fecunda a sua curta viagem por esta terra. assumir riscos, para defender as sociedades em que vivem de inimigos tão
terríveis como são os terroristas.
Gabriel Como ontem lembrava em editorial o diário espanhol "El País", "a colaboração
cidadã é uma peça imprescindível para combater o terrorismo", e "não há
Appio Sottomayor
A CAPITAL, 20 de Março de 2002
método mais eficaz de luta do que prender os terroristas e entregá-los à justi-
O Gabriel morreu num dia da semana passada. ça". Exactamente como fez o automobilista que, por acaso, passava por aquela
Saiu de casa de manhã, para o trabalho, e já não rua de Madrid na hora do atentado. Até porque uma sociedade em que as
voltou. O seu coração, mesmo sendo do tama- pessoas façam, e não apenas protestem, ou se queixem, é seguramente uma
nho do mundo, falhou irremediavelmente. sociedade mais viva, mais rica, com mais capacidade para se defender e para
Directo e discreto, como sempre, sem querer evoluir.
incomodar, limitando-se, quando se sentiu mal,
a pedir “uma cadeirinha”, que já nem chegou a O destino construtivo do trabalho humano
utilizar. Editorial da Tracce. Fevereiro de 1999
Quem era o Gabriel? - perguntarão. Tentemos imaginar uma cidade medieval. Não importa se é pequena ou gran-
Apenas um cidadão anónimo, um sujeito de, rica ou mais modesta. Uma Catedral sobressai, um templo, sinal da proxi-
modesto, uma daquelas vidas a que as pessoas midade entre Deus e o homem.
de grande e notória actividade costumam cha- A Catedral é o resultado do trabalho de todo o povo. Não apenas dos arqui-
mar de “apagadas”. Nunca, que eu saiba, o seu tectos que a planearam, dos artistas que a embelezaram, dos escultores que a
nome veio nos jornais. decoraram ou dos pedreiros que lhe levantaram as paredes.
Nunca, que me lembre, foi glorificado. Fora do Mesmo o tecelão numa oficina distante ou a mãe que lava a roupa do seu
seu círculo restrito, entre família e a Madragoa, homem compreendiam, ainda que vagamente, que o seu trabalho estava
não serão muitos aqueles que o recordem. contido naquele sinal; que o sinal os questionava e lhes abria um horizonte
E, no entanto, que vazio deixa este homem! Já mais vasto do que o resultado imediato. A Catedral era o sinal do trabalho do

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povo, de toda a gente, que proclamava, na
história do homem, a glória de Jesus de Nazaré.
O povo daquela cidade medieval, tecendo uma
sociedade que salpicou a Europa de catedrais,
fez o seu trabalho; desde o arquitecto ao tece-
lão; desde aqueles que tinham uma fé escaldan-
te até aqueles cuja fé era mais frágil. Semeando
aqueles sinais da presença de Deus, que é tudo
em todos, aquela gente testemunhou a presen-
ça divina na história como um factor de unida-
de, de crescimento e de verdadeira previdência
para a sociedade.
Deste modo “ajudavam” Deus, o “trabalhador
eterno”, no seu trabalho misericordioso de
construir e sustentar a esperança humana.
A natureza de um povo pode ser compreendida
pelo seu trabalho, pelo valor que ele atribui ao
seu trabalho. Porque o significado do mundo é
afirmado ou negado, não tanto com palavras,
mas pela oferta do nosso trabalho diário, pelo
sacrifício feito para o trabalho de um Outro.
Isto acontece com o empenho de cada um
naquele bocado de realidade que as circunstân-
cias lhe propõem cada dia, para as manipular e
transformar, pedindo sempre para ser coopera-
dor com Cristo, partilhando com Ele a vontade
do Pai que está no Céu. Construir catedrais - de
pedra ou de gente - é o maior desafio para um
Cristão, como proclama o grande T. S. Elliot na
dramática perspectiva que afirma a alternativa
entre o bem e o mal ou a violência:
“E se o Templo é para ser destruído, primeiro,
temos que o construir”.

Boas notícias
Há 10 anos, o Prof. João César das Neves lança-
va a ideia de um jornal cuja linha editorial era a
procura de dar a conhecer, noticiar, aquilo que
de bem se faz.
Há poucos meses, surgiu uma iniciativa com um
portal na Web http://www.boasnoticias.pt/ e
uma página no Facebook
http://www.facebook.com/pages/Boas-
Noticias/ que, à sua maneira, se aproxima deste
conceito:
“Todos os dias há acontecimentos positivos em
Portugal e no mundo que devem ser destacados
- essa é a função do Boasnoticias.pt. Notícias,
Vida e Lazer e Diretório de Empresas que fazem
o mundo melhor!”
Um exemplo dos títulos das últimas boas notí-
cias:
• Grupo francês investe na castanha de
Vinhais
• Maçã ajuda a controlar níveis de
colestrol
• Japão: Jornalistas redigem jornal à
mão
• Descobertas cartas inéditas de Walt
Whitman
• Menino que recebeu cinco órgãos
regressou a casa

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