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VITÓRIA – ES
2010
LUIZ AQUINO DINIZ
VITÓRIA – ES
2010
LUIZ AQUINO DINIZ
COMISSÃO EXAMINADORA
___________________________________
Profª. MSc. Julia Bellia Margoto
Universidade Federal do Espírito Santo
Orientadora
___________________________________
Prof. MSc. Luiz Leôncio Lorenzoni
Universidade Federal do Espírito Santo
___________________________________
Prof. Dr.ª Simone da Costa Fernandes Behr
Universidade Federal do Espírito Santo
AGRADECIMENTOS
Esse trabalho conclui uma fase marcante em minha vida. O apoio da Universidade
Federal do Espírito Santo, dos envolvidos no Curso de Administração e em especial
dos professores será inesquecível. As correções da orientadora, professora Julia Bellia
Margoto, refletem o cuidado dessa faculdade em incentivar seus alunos a melhorar
continuamente. Em um ambiente tão concorrido como a UFES, o Mestre Luiz Leôncio
Lorenzoni, esteve sempre disponível para compartilhar idéias, muito obrigado a vocês.
Obrigado a minha família que forneceu condições para superação das dificuldades. Em
especial à minhã Mãe, Neuza Diniz e à Gislene Araújo, mulheres a quem amo no
sentido mais terno da palavra.
Aos amigos que passaram nas diversas turmas da graduação, em especial a Thalles,
Juliana e Hudson; aos amigos e clientes que compartilham meu interesse por
tecnologia e a todos que colaboraram com essa pesquisa, muito obrigado.
“O sábio não é o homem que fornece as verdadeiras
BI – Business Intelligence
NR – Norma Regulamentadora
TI -- Tecnologia da Informação
1. INTRODUÇÃO .............................................................................. 10
1.1 PROBLEMA ............................................................................... 12
1.2 OBJETIVOS............................................................................... 12
1.2.1 Geral ........................................................................................ 12
1.2.2 Específicos .............................................................................. 12
2. METODOLOGIA ........................................................................... 14
2.1 TIPO DE PESQUISA ................................................................. 14
2.2 COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS.................................. 15
4. INOVAÇÃO .................................................................................... 25
4.1 TEORIA DOS SISTEMAS E INFORMATIZAÇÃO ...................... 27
4.2 OS SISTEMAS DE ERP............................................................. 28
4.3 O ERP UTILIZADO .................................................................... 29
1. INTRODUÇÃO
Mudanças de ordem tecnológica nas organizações possuem associação direta com a
revolução industrial. Esse acontecimento acelerou transformações de tal maneira, que o
desenvolvimento das indústrias e da economia sofreu ondas de inovação sem
precedentes. Como consequência, os modelos de gestão desde as primeiras fábricas
até as grandes corporações atuais, procuram entender, acompanhar ou até mesmo
antecipar essa dinâmica da inovação (TIGRE, 2006).
Apesar da boa aceitação por um lado, a inovação tecnológica pode não ser recebida
com otimismo por gestores mais cautelosos. Esse tipo de posição origina-se no receio
com o rompimento de valores e normas inerentes à empresa. Acredita-se que ao mudar
rotinas de trabalho e a maneira de encarar tarefas, muda-se também a identidade
cultural da organização.
Na região da Grande Vitória/ES um dos setores que mais cresce em virtude das
inovações tecnológicas é a área de atendimento telefônico por meio de Call Center.
Muitas empresas terceirizam suas vendas e cobranças devido a redução de custos com
pessoal, rapidez no treinamento e facilidade de execução das tarefas que passam a ser
feitas à distância.
É nesse contexto que se insere a empresa na qual foi realizado esse estudo. Para fins
de confidencialidade ela será chamada de Empresa X. A pesquisa abrange o processo
de implantação e manutenção de um ERP na área administrativa dessa organização.
Ele começou em Março de 2009 e no momento em que essa pesquisa foi realizada, o
sistema passa pela fase de manutenção.
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1.1. PROBLEMA
A implantação do Sistema de Gerenciamento de Recursos afetou o cotidiano
profissional não só do setor administrativo, mas de todos os mais de 100 trabalhadores
da organização. Informações sobre pagamento de salários e recolhimentos de
encargos sociais passaram a ser apuradas com maior exatidão; da mesma maneira
informações que revelam a ineficiência de um funcionário vem à tona com mais
facilidade.
Além disso, práticas com potencial para causar conflito com a legislação trabalhista, ou
que possam desequilibrar planos orçamentários podem ser prontamente descartadas
em simulações. Dentro dessa perspectiva, torna-se relevante a descrição de como a
inovação tecnológica se relaciona com a cultura organizacional na empresa estudada.
1.2. OBJETIVOS
1.2.1. Geral
O objetivo da pesquisa é identificar e descrever a relação entre a cultura organizacional
e inovação tecnológica na organização estudada, a partir da implantação de um
sistema de gerenciamento de recursos (ERP).
1.2.2. Específicos
1.3. JUSTIFICATIVA
Quando um sistema de informação é adotado surge uma oportunidade de rever práticas
culturais. Alguns gestores mantêm os princípios que norteiam a empresa; outros optam
por realizar um rompimento com eles; contudo existem aqueles que tentam equilibrar
inovação e tradição. Nessa perspectiva a pesquisa traz informações relevantes para
organizações que passam por reformulação em sua rotina administrativa.
2. METODOLOGIA
b) Quanto aos meios – Foi realizada uma pesquisa de campo que colheu entrevistas
de funcionários e observou sua interação com o sistema. O trabalho foi circunscrito a
um estudo de caso com o objetivo de identificar como a inovação tecnológica se
relaciona com a cultura organizacional na Empresa X. Também houve uma pesquisa
bibliográfica em livros e artigos sobre cultura organizacional e inovação tecnológica
que forneceu o material teórico no qual a pesquisa está fundamentada.
A respeito da pesquisa descritiva, Gil (2002) destaca que ela serve para levantar
opiniões, atitudes e crenças de uma população. Além de ser útil para descobrir
associações entre variáveis.
Apesar da empresa possuir dois diretores a entrevista foi realizada somente com o
responsável pela área administrativa, que foi justamente a mais afetada pela
implantação. A marcação de entrevista com o outro diretor foi inviável, já que nos dias
em que as entrevistas foram marcadas, a empresa passava por um processo de
fiscalização do Ministério do Trabalho e o ambiente era de muita apreensão. Esse fato
em nada prejudicou o estudo, muito pelo contrário até favoreceu, já que a crise foi uma
oportunidade de presenciar a realidade descrita nas entrevistas pelos trabalhadores.
própria empresa, com exceção do Analista de Sistemas que forneceu os dados via
programa de mensagens instantâneas Skype.
Após a entrevista foi realizada uma transcrição com objetivo de obter coesão nas
respostas. É importante ressaltar que durante as entrevistas procurou-se interagir e
retirar informações mais informais para não ficar restrito à possíveis respostas
moldadas ideologicamente pela organização (MATTAR, 2005).
Outro recurso utilizado foi a observação não participativa no escritório em que o ERP é
operado. Nesse mesmo escritório trabalhavam juntamente o Analista de Sistemas, a
Gestora de Pessoal e o Assistente de Finanças.
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3. CULTURA ORGANIZACIONAL
O interesse em conceituar cultura remonta a unificação das cidades Estado em Estados
absolutistas. Com o desenvolvimento dessas sociedades o termo cultura foi empregado
para obter o entendimento sobre várias características dos povos, como por exemplo,
costumes, mitos e línguas. Inicialmente o objetivo era compreender as diferenças entre
etnias para conseguir estabelecer relações comerciais e políticas. O antropólogo inglês
Edward B. Tylor em 1871 definiu a cultura como um: “complexo total de conhecimentos,
crenças, artes, moral, leis, costumes e quaisquer outras aptidões e hábitos adquiridos
pelo homem como membro da sociedade” (apud FLEURY, 2002, p. 284).
Outro fator que levantou muito interesse pelo estudo da cultura como elemento chave
em uma empresa foi a ascensão da economia japonesa na década de 70. Produtos
eletrônicos e carros produzidos nesse país passaram a confrontar a indústria americana
e em alguns casos superá-la. A transformação de país arruinado na segunda guerra em
potência industrial em pouco tempo, tornou-se modelo para diversos estudos
organizacionais (MORGAN, 1996).
Encarar a cultura como uma variável passível de mudanças parte de uma compreensão
funcionalista, ou seja ela poderia ser manipulada por mecanismos de gestão. Enquanto,
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admitir a organização como a própria expressão de uma cultura coloca o gestor como
um observador e intérprete dos elementos simbólicos que essa organização manifesta.
A cultura como variável significa que ela está em constante mudança. Nesse caso a
empresa é vista como uma composição de sistemas e subsistemas que funcionam de
maneira integrada. Para uma melhor compreensão pode-se dividir esse sistema em
dois elementos: O informal que é constituído pelas pessoas e suas subjetividades; e o
formal composto pela cultura oficial da empresa, com as regras e padrões de
comportamentos firmados em documentos oficiais. (MOTTA; VASCONCELLOS, 2006)
A cultura organizacional recebe abordagens tão diversificadas que Martin & Frost
(2001) em um artigo denominado “Jogos de Guerra da Cultura Organizacional: a luta
pelo domínio intelectual”, classificou seu estudo em seis grupos principais:
constitua o seu próprio ethos, seu caráter distinto, que se expressa por
padrões e crenças (ideologia), por atividades guiadas por normas de conduta,
por linguagem comum e por outras formas simbólicas. Todos esses fatores
unidos são produto de uma história comum e, mesmo que haja a saída de
muitos dos atores, esse caráter permanece (ARRUDA, 2006, p. 21).
A cultura também pode ser vista como uma derivação da idéia de cultivo. Morgan
(1996) destacou que o processo de lavrar a terra possui sua equivalência nas
ideologias, valores, leis e rituais de uma sociedade. O autor cita o cientista político
Robert Presthus, o qual considera que vivemos em uma “sociedade organizacional”.
atua com base na percepção das regras e a partir dessa experiência constrói os
artefatos culturais que influenciam outros atores. (MOTTA; VASCONCELLOS, 2006)
[...] pode-se, então dizer que as pessoas que trabalham nas fábricas e
escritórios em Detroit, São Petesburgo, Liverpool, Paris, Tóquio e Toronto
pertencem à mesma cultura industrial. São todas membros de sociedades do
tipo organizacional. O trabalho deles e experiência de vida parecem
qualitativamente diferentes daqueles indivíduos que vivem em sociedade mais
tradicionais, dominadas por sistemas domésticos de produção. No mínimo,
trabalhadores de escritórios modernos e fábrica compartilham de expectativas
básicas e habilidades que permitem às organizações operarem de maneira
rotineira (MORGAN, 1996, p. 117).
O grupo de menor poder na organização pode reagir a esse tipo de uso da cultura
reinterpretando-a a partir da sua visão, dessa maneira a organização evolui dentro de
um embate dialético. A partir da visão ideológica da cultura surgem elementos que
podem ser observados na organização com o objetivo de identificá-la:
4. INOVAÇÃO
O livre concorrência e as disputas de mercado colocam as empresas em uma busca
frequente por diferenciação. A inovação surge como palavra-chave dentro de uma
organização que deseja melhoramentos tanto em relação aos produtos como em seu
modelo de negócio. É através da inovação que a empresa consegue manter-se
atualizada com as novas tendências do mercado em que atua para competir e crescer
em relação à concorrência (PORTER, 1986).
Outra visão sobre inovação foi trazida por Peters e Waterman (1982) que encaram o
processo a partir do rompimento com modelos de melhoria contínua, ou seja, montar
negócios sem a continuidade de modelos antigos.
Cuidado em Apoiar- Princípio de construir sobre os pontos fortes e o conhecimento que as pessoas
se naquilo que é possam ter sobre seu nicho.
mais bem Feito
Evitar a burocracia, encorajar o compromisso principalmente com projetos ou
Estrutura
produtos, em lugar de ter cadeias duplas de responsabilidade, como as
Simples com
encontradas nas organizações matriciais; utilizar pequenas unidades
Apenas o
organizacionais.
Pessoal Necessário
Destaca-se entre esses estudos para fins dessa pesquisa, a do psicólogo Eric Trist que
dividiu as organizações em dois subsistemas, o técnico e o social. O técnico prioriza a
camada física das organizações na qual se encontram equipamentos e execução de
tarefas; o social é uma camada mais abstrata na qual se destaca a relação entre grupos
e indivíduos (MOTTA; VASCONCELLOS, 2006).
Após essa constatação surgiram vários estudos sociotécnicos que atribuem relevância
ao aspecto humano nas organizações. Padronizar tarefas no estilo Tayloriano não
contribui para que ocorram mudanças na organização, é necessário considerar
subjetividades e aspectos culturais em meio ao processo de produção.
Sistemas de ERP existem com esse objetivo. Entretanto, quando sua implantação
negligencia a função social sistêmica da organização pode não conseguir modificar
determinadas práticas que prejudicam o negócio.
Do ponto de vista funcional o ERP pode ser visto como uma evolução dos pacotes
utilizados em escritório, mas quando se pensa de uma maneira sistêmica, um software
com tal poder de integração pode tornar-se uma das principais ferramentas de gestão.
A capacidade de integração segura dos diversos setores na empresa é vista como uma
das maiores características do ERP:
Sua história é dividida em cinco fases: na primeira quando ainda se chamava Microsiga
iniciou seu crescimento baseado em franquias e alianças com outras empresas do
setor; na segunda implementou o processo de internacionalização; na terceira definiu o
que considera o genoma empresarial identificando seu DNA: descreveu sua missão,
valores, visão, e passou a se apresentar como um grupo baseado em pessoas; na
quarta fase houve a abertura de capital, considerado o momento de consolidação no
mercado; na quinta fase transformou-se em referência global com a marca TOTVS.
Informações detalhadas sobre esse processo podem ser vistas no quadro a seguir :
1
TOTVS é um termo latino que significa tudo, todos ou totalidade, prouncia-se tótus.
2
As informações sobre a empresa constam em sua página na internet <http://www.totvs.com/sobre-a-
totvs/quem-somos> com acesso em 01 de Jun. de 2010.
30
Abertura de capital na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), no Novo Mercado (nível
2006
mais alto de Governança Corporativa); aquisição da RM Sistemas S. A.
Aquisição do capital integral da TOTVS-BMI, Midbyte e BCS. Joint venture com a Quality na
2007 TQTVD (produção do middleware para TV Digital) e criação da EuroTOTVS, baseada em
Portugal.
O produto da TOTVS que foi adquirido pela Empresa X chama-se Microsiga Protheus.
Segundo a página da empresa na internet, ele é um software de gestão integrado
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Outra vantagem apontada para a aquisição do produto está relacionada ao apoio com
capacitação, atendimento e relacionamento com os clientes. Nessa perspectiva a
empresa coloca que sua metodologia de implantação é baseada nas melhores práticas
de mercado; a empresa garante evolução constante através de atualizações no
produto, treinamento, e diversos canais de atendimento para oferecer suporte ao
produto.
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5. ESTUDO DE CASO
O início da Empresa X se deve principalmente ao crescimento da demanda por serviços
de cobrança no Espírito Santo por volta do ano 2000. Desde então a maior empresa
desse ramo no mercado capixaba passou a terceirizar seu serviço de tele atendimento,
e a partir de 2003 surgiu a Empresa X com o objetivo de atender essa necessidade.
Nos dias em que esse estudo foi realizado a organização contava com cerca de 150
funcionários, com cerca de 95% deles alocados no setor de Call Center. A empresa
possui uma área administrativa que agrega o setor financeiro e pessoal, cada setor
possui uma auxiliar administrativa encarregada de efetuar as rotinas. No setor
administrativo ainda existe uma funcionária que é responsável por dar suporte ao ERP.
Existe também um setor de TI (tecnologia da informação) que cuida da operação dos
computadores e programas instalados, com exceção do ERP.
Desde a fundação da Empresa X ele atua diretamente junto ao Call Center. Além disso,
mesmo que a empresa possua gerentes responsáveis por diversos setores, o
proprietário1 dá a palavra final sobre todas as decisões desde contratos, rotinas
administrativas entre outras atividades.
embora como já foi explicado, a decisão final sobre o que ocorre na organização seja
sempre do proprietário1.
Para suprir essa carência surgiu então um primeiro sistema criado por um funcionário
do setor de informática da própria Empresa X. Esse sistema visou o setor financeiro. O
setor de pessoal nessa época era inexistente já que todas as informações pertinentes
aos funcionários eram fornecidas a empresa que prestava serviços de contabilidade, a
qual era também responsável pela execução da folha de pagamento.
Nessa ocasião foi contratada uma consultora autônoma (que foi denominada na
pesquisa como gestoradp) para organizar o setor de pessoal. Após efetuar um trabalho
de estruturação e realizar um primeiro treinamento para todos os trabalhadores deixou
uma auxiliar administrativa na função de organizar melhor as informações de
contratação, cartões de ponto, dispensas e encaminhá-las ao contador para que
fossem gerados os documentos de prestação de contas junto aos órgãos legais.
Apesar da Empresa X não ser líder, sua intenção sempre foi atingir a liderança local e
até oferecer serviços para outros estados. O proprietario2 acredita que o ERP elevará
sua empresa ao patamar das grandes corporações.
Dos mais de 60 módulos que a empresa tem direito de utilizar os proprietários optaram
de imediato pela implementação de dois: Gestão de Pessoal e Módulo Financeiro.
Ocorreu então em março de 2009, o início da implantação do Sistema de
Gerenciamento de Recursos na Empresa X, conforme se segue.
O mesmo representante que fez a venda do ERP para a Empresa X foi responsável
pelo projeto de implementação do sistema. O módulo de Gestão de Pessoal ficou a
cargo da gestoradp, a qual ainda estava na condição de consultora.
Até junho de 2009, três meses após a aquisição do ERP não houve progresso no
módulo financeiro, pois a Empresa X necessitava de mais apoio do representante. Após
muita insistência, o representante enviou um Analista de Sistemas (que foi denominado
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Houve muito receio do proprietário2 para efetuar essa mudança pois seria necessário
o rompimento de contrato com a contabilidade que era responsável por grande parte
dos documentos relacionados a gestão de pessoal, entre eles, a folha de pagamento.
A Empresa X sofria muito com erros inaceitáveis, como por exemplo, duplicidade de
pagamentos. O atendimento da contabilidade era o pior possível. Estava muito claro
que a empresa deveria ter mais autonomia quanto ao setor de pessoal.
O Módulo Financeiro foi a fase mais complexa para a implantação. Essa constatação foi
unânime entre os entrevistados, inclusive o próprio funcionário responsável pelo setor
(assistfin) relatou muitas dificuldades.
Sua principal dificuldade com a implantação do ERP foi o trabalho duplo de alimentar o
sistema e cuidar das tarefas urgentes na empresa. Durante a implantação ele não sabia
exatamente porque estava fazendo determinada tarefa, mas depois da implantação
considerou positiva a adoção do sistema.
O treinamento foi prático, não houve uma explicação prévia sobre o ERP. Ele recebia
treinamento ao mesmo tempo em que executava as rotinas administrativas do seu
setor.
Ele enfatizou que antes de entrar na implantação houve a decisão de efetuar uma
auditoria nas áreas de abrangência do ERP para adequar o setor ao sistema. Inclusive
essa auditoria mostrou resultados em termos de redução de custos e contenções na
área financeira.
Reclamações trabalhistas contra a Empresa X são muito frequentes, porém não há uma
atitude preventiva da gestão a esse respeito.
ampliaria o setor de pessoal para que este não fosse limitado somente a folha de
pagamento, contratação e demissão.
Os proprietários são conhecidos por toda empresa como a Diretoria. Todos os assuntos
polêmicos ou de grande discussão são levados a essa instância.
O Call Center que é a área de operações da Empresa X, abriga mais de 95% dos
funcionários. É um setor de enorme rotatividade pois existem dezenas de estagiários
que são dispensados sempre quando um contrato é rescindido, e isso ocorre com
frequência.
Além dessas duas áreas há uma que se pode considerar de poder paralelo na
organização, é a área de Tecnologia da Informação. Formalmente seria somente mais
uma gerência, porém sua atuação é relevante para controlar todo o tráfego de
informações que passa pelos computadores. Tudo é gravado e pode ser utilizado
contra ou a favor da empresa. Existe uma proximidade muito forte entre o proprietario1
e o gestor de TI. Sua autoridade é tão significativa que para um funcionário acessar um
endereço de internet é necessário ter a sua permissão.
No relacionamento entre gestores existe uma clara divisão entre operações (na figura
do Call Center) e Administração. Logo existem dois lados políticos muito expressivos,
em um lado está o proprietario1 que cobra agressivamente lucros e resultados não
importando suas consequências; enquanto do outro lado está o proprietario2 que tenta
legalizar a empresa e torná-la viável do ponto de vista jurídico e humano.
Por mais que exista muitos cargos voltados à gestão na Empresa X, suas ações são
limitadas a questões mais simples enquanto as mais complexas são divididas entre os
proprietários, sempre com a palavra final do proprietario1, o que demonstra uma
elevada centralização no processo decisório.
O proprietario2 afirma que as sugestões dos funcionários são válidas para construir
ações de inovação na empresa. Ele cita um exemplo que ocorreu pouco tempo antes
da entrevista, que foi a iniciativa de fazer reuniões com o objetivo de colher sugestões
de funcionários de Call Center. Baseado nesses encontros foram estipulados vários
prêmios dentro de um programa de produtividade. Esse programa é baseado em
pontos e premiações gerados diretamente por um sistema no qual não há julgamento
por parte dos seus superiores.
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Apesar do proprietario2 estar sempre disponível para falar com qualquer funcionário, a
orientação é que a cadeia hierárquica da empresa seja obedecida. O funcionário vai até
o seu supervisor, esse leva o problema ao setor administrativo, que por sua vez é
encaminhado à diretoria.
O assistfin confirmou que existe esse tipo de abertura, que é permitido qualquer
funcionário falar diretamente com o proprietario2, contudo demonstrou preocupação já
que: “Uma pessoa pode confundir essa liberdade e passar a opinar e influenciar nas
decisões concernetes a setores alheios. Ocasionalmente há uma falta de controle na
empresa nessa questão.”
A iniciativa por serviços parte mais das empresas contratantes (bancos, financeiras e
similares). Cada uma possui regras de cobrança diferentes. E até a disposição dos
operadores (layout) na sala obedece a um padrão determinado por eles. Percebe-se
que a Empresa X não tem muito poder de negociar melhores taxas de retorno e
trabalha muito pressionada.
Ritos Coletivos: Em corporações brasileiras uma prática muito comum para receber
um novo membro na organização é um treinamento que esboça a política da empresa
para que o egresso receba instruções sobre como se comportar e aprenda um pouco
sobre a história da empresa. Nas entrevistas não foi reportado pelo proprietario2
qualquer tipo de iniciativa nesse sentido.
Mitos e História: Não foi reportado por iniciativa dos entrevistados nenhum momento
marcante na organização. A falta de informação sobre a Empresa X é um detalhe
importante a ser notado. Apesar da empresa ter mais de 7 anos de existência, menos
de 5% trabalhadores possui mais de 3 anos de contratação. Porém é relevante citar
que a adoção do Sistema de Gerenciamento de Recursos pode ser considerado um
momento de transformação na organização. O proprietario2 acredita que o ERP pode
equipará-la a corporações de grande porte.
Tabus e assuntos proibidos: O resultado que é tão citado pelos diretores tem uma
face muito inconveniente para a organização. Ela é alvo de constante fiscalização e
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Linguagem: A maior diferença entre linguagem na empresa pode ser percebida entre o
setor de Call Center e o setor administrativo. Parece que a diretoria se favorece das
regras confusas, dúbias e informais que são passíveis de interpretações bastante
tendenciosas.
Analistasis: “A mudança foi tão grande que hoje eles possuem um controle que nunca
tiveram no setor financeiro, por exemplo. O trabalho dos gestores foi facilitado pela
possibilidade de consultar dados relacionados a orçamentos entre outros, o que é
imprescindível no processo de tomada de decisão.”
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo descreveu o processo de inovação tecnológica na Empresa X por meio da
implantação de um sistema de gerenciamento de recursos em sua área administrativa,
principalmente no setor de pessoal e financeiro.
empresa não fazer orçamentos, previsões de pagamentos entre outras rotinas básicas
nessa área.
O processo teve uma fase inicial complexa. A retirada dos documentos na contabilidade
e a adaptação do assistente financeiro são apontados como os momentos mais críticos.
A contratação do Analista de Informática e a Gestora de Pessoal como celetistas foi
decisiva para a superação de diversos problemas nessa fase.
Quando o ERP foi trazido para a Empresa X, em Março de 2009, percebeu-se o esboço
de uma gestão mais compartilhada. Porém com o tempo, principalmente a Gestora de
Pessoal percebeu que seu trabalho estava muito operacional e pouco estratégico. Suas
decisões eram muito questionadas pela diretoria. Após seu pedido de demissão a
empresa voltou a entregar os serviços de pessoal a uma contabilidade terceirizada.
49
7. REFERÊNCIAS
AKTOUF, O. O simbolismo e a cultura de empresa: dos abusos conceituais às lições
empíricas. In: CHANLAT, J. F. (Org.). O indivíduo nas organizações: dimensões
esquecidas. São Paulo, Atlas, 1994. v. 2, p. 39-79.
FLEURY, Maria Tereza Leme; FISCHER, Rosa Maria. Cultura e Poder nas
Organizações. São Paulo: Atlas, 2007.
FLEURY, Maria Tereza Leme. As Pessoas na Organização. São Paulo: Gente, 2002.
p. 283-293.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2002.
MARTIN, J.; FROST, P. Jogos de guerra da cultura organizacional: a luta pelo domínio
intelectual. In: CALDAS, M.; FACHIN, R.; FISCHER, T. (Orgs.). Handbook de estudos
organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais.
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Seção Notícias. Disponível em:
<http://portalexame.abril.com.br/ae/negocio/m0164649.html> Acesso em 01 de Mai
2010.
ZILBER, Moises Ari; LEX, Sergio; MORAES, Cláudio Alberto de; PEREZ, Gilberto;
VIDAL, Patrícia Gonçalves; CORRÊA, Gisleine Bartolomeu Fregoneze. A Inovação e
os Fatores Organizacionais Característicos. Revista de Ciências da Administração •
v. 10, n. 21, p. 76-96, mai./ago. 2008. Disponível em: <
http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/adm/article/view/7930/12666> Acesso em 18
Mai. 2010.
APÊNDICE A
ROTEIRO DE ENTREVISTA – PROPRIETÁRIOS
APÊNDICE B
ROTEIRO DE ENTREVISTA – SETOR FINANCEIRO E PESSOAL