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Março/2007
Introdução
O presente texto surgiu para dar suporte a um Seminário (de mesmo nome) oferecido pelo
Departamento de Matemática da Universidade Federal de Juiz de Fora no Verão/2000 e tendo
como principal objetivo fornecer algumas noções básicas (elementares) de Topologia, tanto
de espaços topológicos em geral como a topologia de espaços métricos, espaços normados e
espaços com produto interno, procurando fornecer aos participantes uma visão global de todos
esses tipos de espaço, a ser utilizada (ao menos como referência) em estudos mais avançados
na Matemática.
Originalmente visando atender aos alunos do Bacharelado em Matemática, o Seminário
pôde ser bem aproveitado também por outros que tinham objetivos relacionados com o acima
citado.
Os pré-requisitos básicos para seguir o texto são noções de Teoria dos Conjuntos e Álgebra
Linear. Embora não sendo absolutamente necessário, também é bom que se tenha tido algum
contato com a topologia usual da Reta (conjuntos abertos, fechados, compactos, etc. em IR -
conteúdo geralmente visto em um primeiro curso de Análise), bem como noções de convergência
de seqüências e séries numéricas.
O primeiro capı́tulo trata de noções de Topologia Geral. Seguem-se capı́tulos sobre espaços
métricos, espaços normados e espaços com produto interno. Ao final do texto, foram acrescen-
tados (a tı́tulo de informação adicional) três apêndices, tratando da Topologia Produto (sobre
produtos cartesianos de espaços topológicos), bases em espaços vetoriais e sobre o espaço IRn .
i
Índice
Introdução i
1 Topologia Geral 1
1.1 Espaços topológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Base para uma topologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Subespaços topológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.4 Conjuntos fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.5 Interior, vizinhanças, fecho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.6 Espaços de Hausdorff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.7 Seqüências em espaços topológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.8 Funções contı́nuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.9 Homeomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.10 Conexidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.11 Compacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2 Espaços métricos 23
2.1 Espaços métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2 Bolas, esferas e conjuntos limitados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.3 A Topologia Métrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.4 Seqüências em espaços métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.5 Funções contı́nuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.6 Continuidade uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.7 Compacidade em espaços métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
iii
2.8 Métricas equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3 Espaços normados 39
3.1 Espaços normados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.2 A topologia da norma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3 Espaços de Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.4 Séries . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.5 Transformações lineares em espaços normados . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
C O espaço IRn 67
Referências 75
Capı́tulo 1
Topologia Geral
Nosso principal objetivo neste primeiro capı́tulo é trabalhar com o conceito geral de espaço
topológico e noções de convergência (de seqüências), continuidade de funções, conexidade e
compacidade neste contexto.
A.1) φ e X estão em τ .
Exemplos:
A) Topologia Discreta:
Seja X um conjunto qualquer. A coleção τ = P(X) de todos os subconjuntos de X é
uma topologia sobre X, conhecida como TOPOLOGIA DISCRETA.
Qualquer subconjunto de X é aberto na Topologia Discreta.
1
2 CAPÍTULO 1
B) Topologia Caótica:
Seja X um conjunto qualquer. A coleção τ = { φ , X} é uma topologia sobre X,
conhecida como TOPOLOGIA CAÓTICA.
Os conjuntos φ e X são os únicos abertos de X na Topologia Caótica.
C) Seja X = {a, b, c, d}
τd = P(X) é a Topologia Discreta sobre X.
τc = { φ , X} é a Topologia Caótica sobre X.
τ1 = { φ , {a} , {b} , {a, b} , X} é uma topologia sobre X.
τ2 = { φ , {a, b} , {c, d} , X} é uma topologia sobre X.
τ3 = { φ , {a} , {b} , {a, b} , {c, d} , X} não é uma topologia sobre X.
τ4 = { φ , {a} , {b} , {a, b} , {c, d} , {a, c, d} , {b, c, d} , X} é uma topologia sobre X.
Comparando topologias:
Sejam τ e τ 0 duas topologias sobre um conjunto X. Se τ ⊂ τ 0 então dizemos que a
topologia τ 0 é MAIS FORTE (ou MAIOR ou MAIS FINA) que τ , ou equivalentemente, que
a topologia τ é MAIS FRACA (ou MENOR ou MAIS GROSSA) que τ 0 . (Exemplos)
Exercı́cios:
1) Determine todas as topologias possı́veis sobre o conjunto X = {a, b, c} .
2) Seja X um conjunto qualquer. Seja τf a coleção dos subconjuntos U ⊂ X tais que
X\U é finito ou U = φ :
τf = { U ⊂ X ; X\U é finito} ∪ { φ }
(a) Mostre que τf é uma topologia sobre o conjunto X (é chamada a Topologia do Comple-
mento Finito).
(b) O que podemos dizer de τf se X é um conjunto finito?
O termo BASE se justifica pois se B é base para uma topologia sobre X podemos construir
a partir de B uma topologia τB sobre X (chamada TOPOLOGIA GERADA POR B), dada
por:
τB = { U ⊂ X ; ∀ x ∈ U, ∃ B ∈ B com x ∈ B ⊂ U }
Exemplos:
Exercı́cios:
1) Se B é uma base para uma topologia sobre X, mostre que τB definida anteriormente
é de fato uma topologia sobre X.
2) Sejam X um conjunto e B uma base para uma topologia τB sobre X. Mostre que
τB é a coleção de todas as uniões de elementos de B.
Teorema 1.5. Seja X um espaço topológico. Então as seguintes condições são satisfeitas:
Exercı́cios:
a) int B ⊂ B ∀ B ⊂ X.
b) int B é aberto ∀ B ⊂ X.
B⊂X
c) B é aberto ⇐⇒ B = int B.
d) A ⊂ B ⇒ int A ⊂ int B ∀ A, B ⊂ X.
a) V é vizinhança de x ∈ X ⇔ x ∈ int V
A⊂X
b) A é aberto ⇐⇒ A é vizinhança de cada um de seus pontos.
Exercı́cios:
1) Mostre que a interseção de duas vizinhanças de um ponto é uma vizinhança deste ponto.
Exercı́cios:
1) Seja B uma base para uma topologia τB sobre um espaço X (ver Seção 1.2). Dado
x ∈ X, mostre que a coleção Bx = {B ∈ B ; x ∈ B} é uma base de vizinhanças de x.
a) B ⊂ cl B ∀ B ⊂ X.
b) cl B é fechado ∀ B ⊂ X.
B⊂X
c) B é fechado ⇐⇒ B = cl B.
d) A ⊂ B ⇒ cl A ⊂ cl B ∀ A, B ⊂ X.
e) cl (A ∪ B) = cl A ∪ cl B ∀ A, B ⊂ X.
Prova:
Exercı́cios:
fr B = cl B ∩ cl (X\B)
Prova:
(Exemplos)
10 CAPÍTULO 1
Exercı́cios:
(a) É óbvio que todo espaço T2 é T1 e todo espaço T1 é T0 . Porém nem todo espaço T0 é T1
e nem todo espaço T1 é T2 (caso contrário não faria sentido definir espaços de tipos diferentes!)
Dê um exemplo de um espaço que não é T0 .
Dê um exemplo de um espaço que é T0 mas não é T1 .
Dê um exemplo de um espaço que é T1 mas não é T2 (Sugestão: mostre que qualquer
conjunto infinito com a Topologia do Complemento Finito - ver exercı́cios da Seção 1.1 - é T1
mas não é T2 ).
(b) Mostre que um espaço topológico é T1 se, e somente se, todo subconjunto unitário é
fechado.
Exemplo:
Exercı́cio:
Sejam X um espaço topológico e (xn ) uma seqüência em X.
(a) Dado x ∈ X, fixe uma base Bx de vizinhanças de x e mostre que xn → x se, e
somente se, para cada vizinhança básica V ∈ Bx de x é possı́vel obter um ı́ndice n0 ∈ IN
tal que n > n0 ⇒ xn ∈ V . (Veja: base de vizinhanças de um ponto, Seção 1.5)
Obs.: Moral da estória: podemos verificar (e até definir) convergência de seqüências
utilizando vizinhanças básicas.
12 CAPÍTULO 1
(b) Consideremos a Topologia Usual da Reta IR. Utilizando a parte (a) anterior e o fato de
que os intervalos abertos centrados em um ponto da reta constituem uma base de vizinhanças
desse ponto, conclua que (na Topologia Usual) uma seqüência (xn ) ⊂ IR converge para
um ponto x ∈ IR se, e somente se, dado > 0, existe um ı́ndice n0 ∈ IN tal que
n > n0 ⇒ |xn − x| < .
Exercı́cios:
1) Prove o Teorema 1.17
2) Prove o Teorema 1.18
3) Prove o Teorema 1.19
4) Seja X um espaço topológico onde não é válida a recı́proca do Teorema 1.19, isto é,
existem um subconjunto B ⊂ X e um ponto x ∈ X tais que x ∈ cl B mas não existe
nenhuma seqüência (xn ) ⊂ B convergindo para x.
Para cada D ⊂ X , definimos o conjunto D = {x ∈ X ; ∃ (xn ) ⊂ D com lim xn = x}
(D é o conjunto dos limites de seqüências em D).
Usando o conjunto B acima, prove que o conjunto D nem sempre é fechado (seu comple-
mentar não é aberto) e conclua que não podemos definir os conjuntos fechados de X como os
conjuntos F tais que F = F (isto é, os conjuntos que são iguais ao conjunto dos limites de
suas seqüências).
Bx = { V1 ⊃ V2 ⊃ V3 ⊃ . . . ⊃ Vn ⊃ . . .}
(Exemplos)
Prova: Exercı́cio
Observação: É importante notar que, dados dois espaços topológicos X e Y e uma função
f : X → Y , a continuidade de f depende das topologias consideradas sobre X e Y .
Este fato enfatiza a natureza topológica do conceito de continuidade.
Prova: Exercı́cio.
Topologia Geral 15
Prova: Exercı́cio
Exercı́cios:
(b) Sabendo que os intervalos abertos centrados em um ponto x ∈ IR constituem uma base
de vizinhanças desse ponto na Topologia Usual da Reta, mostre que uma função f : IR → IR
é contı́nua em x0 ∈ IR (considerando a Topologia Usual) se, e somente se, dado > 0 é
possı́vel obter um δ > 0 tal que |x − x0 | < δ ⇒ |f (x) − f (x0 )| < .
Obs.: A caracterização obtida acima em (b) (e utilizada como definição quando é fixada
a Topologia Usual da Reta) é um caso particular da definição 1.23!
16 CAPÍTULO 1
Prova:
1.9 Homeomorfismos
Observação:
Se X e Y são espaços topológicos homeomorfos, por um homeomorfismo f : X → Y , então
é imediato que se A ⊂ X é aberto então f (A) ⊂ Y é aberto (f é uma aplicação aberta),
se F ⊂ X é fechado então f (F ) ⊂ Y é fechado (f é uma aplicação fechada). É imediato
também que f −1 é uma aplicação aberta e fechada.
Assim, se dois espaços topológicos X e Y são homeomorfos, podemos dizer que ambos são
INDISTINGUÍVEIS DO PONTO DE VISTA TOPOLÓGICO.
1.10 Conexidade
Definição 1.29. (Conexos) Um espaço topológico X é dito CONEXO se, e somente se, ele
não admite outra cisão além da cisão trivial.
Observação: É imediato que um espaço topológico é conexo se, e somente se, os únicos
subconjuntos de X que são simultaneamente abertos e fechados em X são o conjunto vazio φ
e o próprio espaço X.
Prova: Exercı́cio.
Prova:
18 CAPÍTULO 1
Teorema 1.32. A união de uma coleção de conjuntos conexos com pelo menos um ponto em
comum é conexa.
Prova:
Prova:
Exercı́cios:
Teorema 1.34. A imagem de um espaço conexo por uma aplicação contı́nua é conexa.
Prova:
Exercı́cios:
1.11 Compacidade
Teorema 1.37. Seja Y ⊂ X (espaço topológico). Y é compacto se, e somente se, toda
cobertura aberta de Y por abertos em X admite uma subcobertura finita.
Prova: Exercı́cio.
Prova:
Prova:
Topologia Geral 21
Teorema 1.40. A imagem de um espaço compacto por uma aplicação contı́nua é também um
compacto.
Prova:
Exercı́cios:
Espaços métricos
d.1) d(x, x) = 0
Exemplos:
A) Métrica Discreta: (
d(x, x) = 0
Seja X um conjunto qualquer. d : X × X → IR dada por
d(x, y) = 1 se x 6= y
23
24 CAPÍTULO 2
O espaço métrico (Y, dY ) é dito SUBESPAÇO (MÉTRICO) do espaço métrico (X, d).
Assim, todo subconjunto de um espaço métrico pode ser considerado, de modo natural,
como um espaço métrico.
E) Métrica do sup:
Seja X um conjunto arbitrário. Uma função real f : X → IR diz-se LIMITADA quando
existe uma constante k = kf > 0 tal que |f (x)| ≤ k para todo x ∈ X.
Seja B(X; IR) o conjunto das funções limitadas f : X → IR.
Definimos uma métrica d em B(X; IR) pondo, para todas f, g ∈ B(X; IR):
Exercı́cio: Verifique que d acima está bem definida e que é uma métrica em B(X; IR).
Espaços métricos 25
Exercı́cios:
Definição 2.2. Sejam a um ponto num espaço métrico X e r > 0 um número real. Definimos:
(Exemplos)
(Exemplos)
26 CAPÍTULO 2
Seja X = (X, d) um espaço métrico. Existe uma topologia natural sobre X, constru-
ı́da a partir da métrica d da seguinte forma:
Proposição 2.4. Sejam (X, d) um espaço métrico e τ a topologia induzida pela métrica d
sobre X. Temos:
(i) Para todo a ∈ X, a coleção Ba = {B(a; ), > 0, ∈ IR} das bolas abertas de centro
a é uma base de vizinhanças de a na topologia τ .
(ii) Para todo a ∈ X e todo r > 0, r ∈ IR, B(a; r) ∈ τ, isto é, B(a; r) é aberto.
(iii) (X, τ ) é espaço de Hausdorff.
Prova: Exercı́cio.
Definição 2.5. Seja (X, τ ) um espaço topológico. A topologia τ é dita METRIZÁVEL se,
e somente se, existe uma métrica d em X tal que τ é a topologia induzida pela métrica d
sobre X.
Exemplos:
D) Topologias não-metrizáveis:
Pela Proposição 2.4, topologias que não sejam Hausdorff constituem exemplos de topologias
não-metrizáveis. Assim, temos por exemplo:
(i) Se X é um conjunto com mais de um elemento e τ = { φ , X} a Topologia Caótica
sobre X, temos que τ não é metrizável.
(ii) Se X = {a, b, c, d} e τ = { φ , {a} , {b} , {a, b} , X} então τ não é metrizável.
Nota: Convém observar que existem topologias (importantes) que são Hausdorff e não-
metrizáveis. Por exemplo, as topologias Fraca (w) e Fraca-Estrela (w∗ ) estudadas na Análise
Funcional são em geral topologias Hausdorff e não-metrizáveis.
Exercı́cios:
1) Seja A um subconjunto de um espaço métrico (X, d).
Sabemos que a restrição de d a A × A é uma métrica em A (subespaço métrico de X), a
qual denotaremos por dA .
A métrica dA induz uma topologia sobre A, a qual denotaremos por τdA .
Por “outro” lado, d induz uma topologia sobre X, que chamaremos τ e A pode ser visto
como subespaço topológico de X, com uma topologia τA dada pelas interseções de A com os
abertos de τ .
Mostre que τdA = τA , ou seja, a topologia de A como subespaço métrico de X é a mesma
topologia de A como subespaço topológico de X:
3) Seja D um subconjunto discreto de um espaço métrico (X, d). Obtenha para cada
x ∈ D uma bola aberta Bx = B(x; rx ) em X tal que x, y ∈ D, x 6= y ⇒ Bx ∩ By = φ .
4) Sejam (X, d) um espaço métrico e A ⊂ X. Mostre que se A é limitado então seu fecho
cl A também é limitado.
5) Dê exemplo de um conjunto limitado A em um espaço métrico (X, d) tal que não
existam x0 , y0 ∈ A com d(x0 , y0 ) = diam A.
6) Seja (X, d) um espaço métrico. Mostre que as bolas fechadas e as esferas são conjuntos
fechados em X.
[
7) Seja A ⊂ X (espaço métrico). Para todo > 0, seja B(A; ) = B(a; ).
\ a∈A
Mostre que cl A = B(A; ).
>0
Prova:
Teorema 2.8. Sejam (X, d) um espaço métrico e (xn ) ⊂ X uma seqüência em X. Temos:
(a) (xn ) não pode convergir para dois limites diferentes (unicidade do limite).
(b) Toda seqüência convergente é limitada (o conjunto de seus termos é limitado).
(c) Se lim xn = a então toda subseqüência de (xn ) converge para a.
Obs.: O Teorema 2.9 mostra que, em espaços métricos, as seqüências são adequadas
para caracterizar o fecho de um conjunto (o que não ocorre em espaços topológicos em geral).
Exercı́cios:
1) Seja (X, d) um espaço métrico. Mostre que se existirem seqüências (xk ) e (yk ) em
X com lim xk = a, lim yk = b e d(yk , a) < r < d(xk , b) para todo k ∈ IN então d(a, b) = r.
x
(a) Mostre que a seqüência de funções fn : IR → IR dadas por fn (x) = para todo
n
n ∈ IN converge pontualmente, mas não uniformemente para a função constante igual a zero.
(b) Mostre que a convergência no espaço métrico B(X; M ) com a topologia induzida pela
Métrica do sup (veja no exercı́cio anterior) é uma convergência uniforme.
Definição 2.10. Uma seqüência (xn ) num espaço métrico (X, d) chama-se uma SEQÜÊNCIA
DE CAUCHY quando, para cada > 0 dado, é possı́vel obter um ı́ndice n0 ∈ IN tal que
m, n > n0 ⇒ d(xm , xn ) < .
Prova: Exercı́cio.
Definição 2.12. Diz-se que um espaço métrico X é COMPLETO quando toda seqüência de
Cauchy em X é convergente.
Exemplos:
Exercı́cios:
1) Mostre que num espaço métrico X, toda seqüência de Cauchy é limitada.
2) Mostre que uma seqüência de Cauchy que possui uma subseqüência convergente é con-
vergente (para o mesmo limite da subseqüência).
3) Mostre que um espaço métrico (X, d) é completo se, e somente se, para toda seqüência
“decrescente” F1 ⊃ F2 ⊃ F3 ⊃ . . . de subconjuntos fechados não-vazios Fn ⊂ X com
\∞
limn→∞ diam (Fn ) = 0 existe um ponto a ∈ X tal que Fn = { a}.
n=1
∞
[
(Teorema de Baire) Mostre que se (X, d) é um espaço completo e F = Fn onde cada
n=1
Fn é fechado e tem interior vazio então int F = φ .
∞
[
(Corolário) Mostre que se (X, d) é um espaço completo e X = Fn onde cada Fn é
n=1
fechado então existe pelo menos um Fn0 tal que int Fn0 6= φ .
Obs.: O Teorema de Baire dá origem a uma série de importantes resultados, alguns dos quais
veremos no próximo capı́tulo.
Espaços métricos 31
Nota: Convém observar que a continuidade de funções que envolvem espaços métricos
depende das topologias induzidas pelas métricas.
No primeiro capı́tulo vimos que, em espaços topológicos em geral, seqüências são inade-
quadas para caracterizar a continuidade de uma função. O teorema a seguir nos garante a
possibilidade de tal caracterização (de continuidade via seqüências) se o domı́nio da função for
um espaço métrico:
Prova:
Exercı́cios:
1) Sejam X, Y espaços métricos. Mostre que se f : W ⊂ X → Y é contı́nua em a ∈ W
e f (a) 6∈ BY [b; r] (b ∈ Y ) então é possı́vel obter um δ > 0 tal que x ∈ W, dX (x, a) < δ ⇒
f (x) 6∈ BY [b; r].
3) (Limites)
Sejam X, Y espaços métricos, A ⊂ X, a ∈ A0 (a é ponto de acumulação de A) e
f :A→Y.
Dizemos que b ∈ Y é o limite de f (x) quando x tende para a e escrevemos b = lim f (x)
x→a
quando, para cada > 0 dado, é possı́vel obter δ > 0 tal que x ∈ A\ { a} , dX (x, a) < δ ⇒
dY (f (x), b) < .
(b) Mostre que b = lim f (x) se, e somente se, para toda seqüência (xn ) em A\ {a}
x→a
com xn → a (em X) tem-se f (xn ) → b (em Y ).
Dê (contra-)exemplos e mostre que as definições em 2.16 dependem das métricas consideradas.
(Exemplos)
Prova:
34 CAPÍTULO 2
Exemplo:
Observação: O exemplo acima mostra que a continuidade uniforme não é uma noção
topológica, pois depende das métricas envolvidas, e não apenas das topologias induzidas.
Exercı́cios:
1) Mostre que toda aplicação lipschitziana f : X → Y (X, Y espaços métricos) é uni-
formemente contı́nua.
Prova:
Contra-exemplo:
36 CAPÍTULO 2
Exercı́cios:
Prova:
Exemplo:
Espaços métricos 37
Exemplo:
Contra-exemplo:
M = M1 × M2 × . . . × Mn = {x = (x1 , . . . , xn ) ; xi ∈ Mi , i = 1, . . . , n} .
Espaços normados
Definição 3.1. Seja X um espaço vetorial sobre um corpo IK (IR ou C). Uma NORMA
em X é uma função k k : X → IR que associa a cada vetor x ∈ X um número real kxk
chamado a norma de x, de modo que sejam satisfeitas as seguintes condições para quaisquer
x, y ∈ X, λ ∈ IK:
Exemplos:
39
40 CAPÍTULO 3
k ks : C → IR dada por kaks = |a1 | + |a2 | para todo a = a1 + ia2 ∈ C é uma norma
em C, conhecida também como NORMA DA SOMA.
k km : C → IR dada por kakm = max { |a1 | , |a2 | } para todo a = a1 + ia2 ∈ C é uma
norma em C, conhecida também como NORMA DO MÁXIMO.
C) Norma do sup:
Consideremos o espaço (sobre IR) B(X; IR) das funções limitadas f : X → IR.
Definimos uma norma k k∞ em B(X; IR) pondo, para toda f ∈ B(X; IR):
kf k∞ = sup |f (x)|
x∈X
Exercı́cio: Mostre que k k∞ acima está bem definida e que é uma norma em B(X; IR).
∞
X
1
k k1 : ` → IR dada por k(xn )k1 = |xi | é uma norma em `1 .
i=1
∞
!1/2
X
k k2 : `2 → IR dada por k(xn )k2 = |xi |2 é uma norma em `2
i=1
Espaços normados 41
d(x, y) = kx − yk ∀ x, y ∈ X
Definição 3.2. Seja (X, d) um espaço métrico. Quando existir uma norma k k em X tal
que d é a métrica induzida pela norma k k, dizemos então que A MÉTRICA d PROVÉM DA
NORMA k k.
Exemplos:
A) Métrica e Norma Usuais da Reta:
Consideremos o conjunto IR dos números reais, munido da Norma Usual | | : IR → IR
dada por (
x se x ≥ 0
|x| =
−x se x < 0
A topologia da norma:
Todo espaço vetorial normado X = (X, k k) pode ser munido naturalmente da métrica
d induzida pela norma k k e conseqüentemente da topologia induzida por esta métrica d.
Dizemos, de um modo mais breve, que essa topologia é induzida pela norma k k, ou que é a
TOPOLOGIA DA NORMA k k.
A partir daı́ todos os conceitos topológicos estudados em espaços topológicos e métricos
são verificados nos espaços normados, considerando-se a topologia e a métrica induzidas pela
norma.
Também as noções de continuidade uniforme, aplicação lipschitziana, contração, etc. são
verificadas considerando-se a métrica induzida pela norma.
Espaços normados 43
Prova: Exercı́cio (Sugestão: faça uso do Teorema 3.9, o qual veremos mais à frente)
Exercı́cios:
Exemplos:
3.4 Séries
∞
X
Definição 3.6. Uma série xi em um espaço normado X = (X, k k) é dita CON-
i=1
n
! um ponto x ∈ X
VERGENTE para se, e somente se, a seqüência de suas reduzidas
X
(sn ) = xi convergir para x.
i=1
∞
X
Definição 3.7. Uma série xi em um espaço normado X = (X, k k) é dita NOR-
i=1
∞
X
MALMENTE CONVERGENTE se, e somente se, a série de números reais kxi k for
i=1
∞
X
convergente, isto é, kxi k < +∞ .
i=1
Espaços normados 45
Exercı́cios:
1) Mostre que um espaço normado X é um espaço de Banach se, e somente se, toda série
normalmente convergente for convergente.
P
2) (Teste M de Weierstrass) Seja fn uma série de funções no espaço B(X; IR) das
P
funções limitadas f : X → IR. Mostre que se existir uma série convergente cn de números
reais cn ≥ 0 e uma constante M tal que |fn (x)| ≤ M.cn para todos n ∈ IN e x ∈ X
P
então a série fn é uniformemente convergente.
(Sugestão: use o exercı́cio anterior e a norma do sup em B(X; IR))
1) T é contı́nua.
2) T é contı́nua em um ponto x0 ∈ X.
Prova:
Espaços normados 47
kT xk
= sup ; x 6= 0 = inf { c > 0 ; kT xk ≤ c. kxk ∀x ∈ X }
kxk
Prova: Exercı́cio
Prova: Exercı́cio
48 CAPÍTULO 3
Prova: Exercı́cio
Prova: Exercı́cio
Espaços normados 49
Definição 4.1. Seja X um espaço vetorial sobre um corpo IK (IR ou C). Um PRODUTO
INTERNO sobre X é uma função < , >: X × X → IK que associa a cada par ordenado de
vetores x, y ∈ X um escalar < x, y > chamado o produto interno de x por y, de modo
que sejam satisfeitas as seguintes condições para quaisquer x, y, z ∈ X, λ ∈ IK:
51
52 CAPÍTULO 4
Exemplos:
A) Consideremos o conjunto C dos números complexos (ou então IR2 ) como um espaço
vetorial de dimensão 2 sobre o corpo dos reais.
B) Seja V o espaço das funções contı́nuas definidas no intervalo [0, 1] e tomando valores
complexos:
V = { f : [0, 1] → C ; f é contı́nua}
< , >: V × V → C dada por
Z 1
< f, g > = f (x).g(x) dx ∀ f, g ∈ V
0
é um produto interno em V .
é um produto interno em `2
D) Seja C per [−π, π] o espaço vetorial das funções de IR em IR, contı́nuas e periódicas de
perı́odo 2π.
< , >: C per [−π, π] × C per [−π, π] → IR dada por
Z π
< f, g > = f (x).g(x) dx ∀ f, g ∈ C per [−π, π]
−π
Construção:
Seja X um espaço vetorial munido de um produto interno < , >. A partir de < , >
construiremos uma função k k : X → IR, pondo
Prova: Exercı́cio
A função k k : X → IR acima construı́da a partir do produto interno < , > é uma norma
em X (mostre). Neste caso, dizemos que a A NORMA k k PROVÉM DO PRODUTO
INTERNO < , >.
Exemplos:
∞
!1/2
X 2
k(xn )k2 = |xi | ∀ (xn ) ∈ `2
i=1
Prova: Exercı́cio
Exercı́cio: Prove as afirmações acima, mostrando que nenhuma dessas normas satisfaz
à Identidade do Paralelogramo.
Exemplos:
A) O espaço C, munido do produto interno < a1 + ia2 , b1 + ib2 > = a1 .b1 + a2 .b2 , é um
espaço de Hilbert.
∞
X
2
B) O espaço ` , munido do produto interno < (xn ), (yn ) > = xi .yi , é um espaço de
i=1
Hilbert.
Espaços com produto interno 55
4.4 Ortogonalidade
Definição 4.5. Seja X um espaço com produto interno < , >. Dois vetores x, y ∈ X são
ditos ORTOGONAIS quando < x, y > = 0 e escrevemos x ⊥ y.
Dizemos que um subconjunto S ⊂ X é um CONJUNTO ORTOGONAL quando os vetores
de S são dois a dois ortogonais.
Teorema 4.6. (“Teorema de Pitágoras”) Sejam X um espaço com produto interno < , > e
seja k k a norma proveniente do produto interno < , >.
Se S ⊂ X é um conjunto ortogonal então, dados x1 , . . . , xn dois a dois distintos em S,
temos:
kx1 + x2 + . . . + xn k2 = kx1 k2 + kx2 k2 + . . . + kxn k2
Prova: Exercı́cio
Proposição 4.7. Se X é um espaço vetorial com produto interno, então todo conjunto orto-
gonal de vetores não nulos em X é linearmente independente (LI)
Prova: Exercı́cio
Prova: Exercı́cio
56 CAPÍTULO
Apêndice A
Este apêndice tem por objetivo introduzir, de modo natural, uma topologia sobre o produto
cartesiano de espaços topológicos, conhecida como a Topologia Produto.
Considerações iniciais:
Sejam X um conjunto, Y um espaço topológico e f : X → Y uma função de X em Y .
Se considerarmos uma topologia sobre X, é claro que quanto maior (ou mais forte) for esta
topologia, “maiores serão as chances” da função f ser contı́nua. Equivalentemente, quanto
menor (ou mais fraca) for uma topologia sobre X, menores serão as chances da função f ser
contı́nua. Surge então uma interessante questão:
f −1 (A) ; A aberto em Y
τ=
Exercı́cio: Mostre que a coleção τ acima é uma topologia sobre X tal que a função f é
contı́nua e τ é menor (mais fraca) que qualquer topologia para a qual f seja contı́nua
(τ é portanto a topologia procurada na questão acima).
Consideremos agora uma famı́lia {τλ }λ∈L de topologias sobre um conjunto X. Uma
questão interessante associada a esta situação é a seguinte:
Qual a menor (mais fraca) topologia sobre o conjunto X que contém cada uma
das topologias τλ , λ ∈ L ?
57
58 APÊNDICE A
das interseções finitas de abertos das topologias dadas é base para a topologia procurada na
questão acima!
Exercı́cio: Mostre que a coleção B dada acima é base para uma topologia (τB ) sobre X
e que a topologia τB , gerada por B , é a menor (mais fraca) topologia sobre X que contém
cada uma das topologias τλ , λ ∈ L, ou seja, τλ ⊂ τB ∀λ ∈ L e se τ é uma topologia sobre
X com τλ ⊂ τ ∀λ ∈ L então τB ⊂ τ .
Qual a menor (mais fraca) topologia sobre o conjunto X para a qual todas as
funções fλ , λ ∈ L, são contı́nuas ?
das interseções finitas das imagens inversas pelas fλ de abertos dos espaços correspondentes
Yλ é base para a topologia procurada na questão acima.
Quando o conjunto L de ı́ndices for claro (pelo contexto), denotaremos o produto simples-
Q
mente por Xλ e seu elemento geral por (xλ ).
Definição A.1. (Produto Cartesiano) Seja {Xλ }λ∈L uma famı́lia qualquer
Y de conjuntos. O
PRODUTO CARTESIANO desta famı́lia de conjuntos, denotado por Xλ , é o conjunto
[ λ∈L
de todas as funções x : L → Xλ tais que x(λ) = xλ ∈ Xλ para cada λ ∈ L.
λ∈L
Q
Se, em particular, Xλ = X para cada λ ∈ L então o produto cartesiano Xλ é
L
simplesmente o conjunto X de todas as L-uplas de elementos [ de X ou, equivalentemente,
é o conjunto de todas as funções f : L → X , uma vez que Xλ = X.
λ∈L
Definição A.2. (Projeções) Consideremos uma famı́lia {Xλ }λ∈L de conjuntos e seu produto
Y
cartesiano Xλ . Para cada λ0 ∈ L existe uma função
λ∈L
Y
πλ0 : Xλ → Xλ0
λ∈L
A Topologia Produto:
Y
Dados uma famı́lia de conjuntos {Xλ }λ∈L e o seu produto cartesiano Xλ , existirá
λ∈L
alguma topologia que seja natural sobre o produto cartesiano ?
Y
Vimos que surgem naturalmente as chamadas projeções: πλ : Xλ → Xλ e também
λ∈L
é natural pedirmos que, se cada Xλ for um espaço topológico, cada projeção πλ seja
contı́nua!
Definição A.3. Consideremos uma famı́lia {Xλ }λ∈L de espaços topológicos e seu produto
Y
cartesiano Xλ .
λ∈L
Y
A TOPOLOGIA PRODUTO é a menor (mais fraca) topologia sobre Xλ tal que cada
Y λ∈L
uma das projeções πλ : Xλ → Xλ é contı́nua.
λ∈L
Ora, já temos (nas considerações iniciais deste apêndice) pronto um estudo mostrando que
a coleção
das interseções finitas das imagens inversas pelas projeções de abertos dos espaços Xλ , é
base para a topologia produto.
O que faremos agora é simplesmente tentar enxergar melhor o “jeitão” destes abertos
básicos da topologia produto:
É fácil ver que, dado um conjunto C ∈ Xλ0 , temos
Y
πλ−1
0
(C) = Dλ , com Dλ = Xλ ∀λ 6= λ0 e Dλ0 = C
λ∈L
Com o resultado acima, podemos finalmente concluir (mostre) que os abertos básicos da
Y
topologia produto sobre Xλ são da forma
λ∈L
Y
A= Aλ
λ∈L
Exercı́cios:
formam uma base para uma topologia sobre o produto cartesiano acima. Esta topologia é
chamada TOPOLOGIA DE CAIXA.
Compare a Topologia de Caixa com a Topologia Produto.
Sob quais condições podemos dizer que essas duas topologias coincidem ?
62 APÊNDICE A
Y
2) (Topologia Produto e Tychonoff) Mostre que se o espaço Xλ é compacto (con-
λ∈L
siderando a Topologia Produto) então cada Xλ é um espaço compacto.
A recı́proca deste resultado é o importante Teorema de Tychonoff (ver [3], cap. 5):
Y
“Se cada Xλ é um espaço topológico compacto, então o produto cartesiano Xλ
λ∈L
(considerando a Topologia Produto) é compacto”.
O Teorema de Tychonoff é um dos motivos pelos quais a Topologia Produto é a mais natural
a ser definida sobre o produto cartesiano (repare que ela é definida como a menor topologia
tal que todas as projeções são contı́nuas e isso “aumenta as chances” do produto ser compacto).
Definição B.2. (Base de Hamel ou algébrica) Uma BASE (DE HAMEL) em um espaço
vetorial X é um subconjunto LINEARMENTE INDEPENDENTE MAXIMAL de X.
63
64 APÊNDICE B
Logo:
α1 α2 αk
x= − e1 + − e2 + . . . + − ek
α0 α0 α0
Portanto todo x ∈ X pode ser escrito como combinação linear FINITA de elementos de B.
Logo podemos concluir que B é LI maximal, ou seja, B é uma base (de Hamel) de X .
Obs.: É através deste teorema que normalmente definimos base de um espaço vetorial em
nossos cursos de Ágebra Linear.
Teorema B.5. Seja X um espaço de Banach (espaço vetorial normado e completo - toda
seqüência de Cauchy é convergente - em relação à métrica induzida pela norma).
Se X tem dimensão infinita então toda base (de Hamel) de X é não-enumerável.
Prova: Suponhamos, por absurdo, que X tenha uma base (de Hamel) enumerável
B = {e1 , e2 , e3 , . . .} (obs.: B é um conjunto infinito pois X tem dimensão infinita).
Para todo n ∈ IN, seja Fn = [e1 , e2 , . . . , en ] o subespaço de X gerado por {e1 , e2 , . . . , en } .
Temos ∞
[
X= Fn
n=1
Observação: Sempre usamos o termo base de Hamel (ou algébrica) para evitar confusão
com o conceito de BASE DE HILBERT (ou geométrica), que é referente aos conjuntos ORTO-
NORMAIS MAXIMAIS em espaços com produto interno.
66 APÊNDICE B
Apêndice C
O espaço IRn
x + y = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn )
Estas operações fazem do IRn um espaço vetorial de dimensão n sobre o corpo IR dos
números reais.
Normas:
A partir do Produto Interno Canônico acima definido, construı́mos a NORMA EUCLI-
DIANA k k : IRn → IR pondo:
√
kxk = < x, x > ∀ x ∈ IRn
67
68 APÊNDICE C
É fácil mostrar que estas duas normas não provêm de produto interno algum no IRn .
Conjuntos limitados:
É imediato que se duas normas k k1 e k k2 no IRn são equivalentes então um conjunto
X ⊂ IRn é limitado em relação à norma k k1 se, e somente se, X é limitado em relação à
norma k k2 .
Teorema C.1. Um conjunto X ⊂ IRn é limitado (em relação a qualquer norma equivalente
à Norma do Máximo) se, e somente se, suas projeções X1 = π1 (X), . . . , Xn = πn (X) são
conjuntos limitados em IR.
Teorema C.2. Uma seqüência (xk ) no IRn converge (em relação a qualquer norma equiv-
alente à Norma do Máximo) para o ponto a = (a1 , a2 , . . . , an ) se, e somente se, para cada
(k)
i = 1, 2, . . . , n tem-se lim xi = ai , ou seja, cada coordenada de xk converge para a
coordenada correspondente de a.
Corolário 1. Dadas as seqüências convergentes (xk ), (yk ) no IRn e (αk ) em IR, sejam
lim xk = a, lim yk = b e lim αk = α. Então:
(i) lim(xk + yk ) = a + b
(ii) lim αk .xk = α.a
(iii) lim < xk , yk > = < a, b >
A seguir dois importantes resultados, onde usamos o fato de IRn ter dimensão finita:
Teorema C.3. (Bolzano-Weierstrass) Toda seqüência limitada (em relação a qualquer norma
equivalente à Norma do Máximo) em IRn possui uma subseqüência convergente.
Prova: Exercı́cio (Sugestão: use o mesmo resultado em IR para as seqüências das coorde-
nadas, juntamente com o teorema anterior)
Demonstração:
Sejam k ks : IRn → IR a Norma da Soma, dada por
onde b = max { ke1 k , . . . , ken k } (repare que este b está bem definido, pois tomamos o
máximo em um conjunto finito de números reais).
Logo kxk ≤ b. kxks para todo x ∈ IRn . (1)
70 APÊNDICE C
Resta mostrarmos que existe a > 0 tal que kxks ≤ a. kxk ∀x ∈ IRn .
De fato: se isto não ocorrer temos que para todo k ∈ IN é possı́vel obter um xk ∈ IRn
tal que kxk ks > k. kxk k (pois k não serviria como tal a > 0 ).
xk
Tomemos, para cada k ∈ IN, uk = (note que a seqüência (uk ) está bem definida,
kxk ks
pois kxk ks > 0 ∀k )
Como kuk ks = 1 para todo k (verifique), temos que (uk ) é limitada em relação à Norma
da Soma.
Pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass, (uk ) tem uma subseqüência (ukj ) convergente (na
Norma da soma) para um ponto u ∈ IRn .
Temos então que
ukj
s → kuks . Logo kuks = 1 , o que significa que u 6= 0.
1
Agora, dado > 0, é possı́vel obter kj0 tal que
ukj0 − u
s < e <
2b kj0 2
Logo
1
kuk ≤
ukj0 − u
+
ukj0
≤ b.
ukj0 − u
s + .
ukj0
s < b. + =
kj0 2b 2
Por (1) e (2), k ks e k k são equivalentes, qualquer que seja a norma k k no IRn .
Por transitividade, temos então que duas normas quaisquer no IRn são equivalentes.
Obs.: À luz deste último teorema, temos também que os teoremas anteriores são
válidos para qualquer norma considerada no IRn . Também temos que IRn é Banach
em relação à qualquer norma considerada, ou seja, toda seqüência de Cauchy é convergente.
Continuidade:
A seguir, alguns resultados úteis:
B) Se ϕ : IRm × IRn → IRp é uma aplicação bilinear (linear em cada componente) então ϕ
é lipschitziana em cada parte limitada de IRm × IRn = IRm+n .
Portanto toda aplicação bilinear é contı́nua.
Exemplos: multiplicação de números reais ( ϕ(x, y) = x.y ); Produto Interno Canônico
( < x, y > = x1 y1 + . . . + xn yn ); multiplicação de matrizes ( ϕ(A, B) = A.B )
Teorema C.5. Uma aplicação f : X ⊂ IRm → IRn é contı́nua no ponto a ∈ X se, e so-
mente se, cada uma das suas funções coordenadas fi = πi ◦f : X → IR é contı́nua no ponto a.
Obs.: Se, para obtermos f (x) (onde temos f : X ⊂ IRm → IRn e f = (f1 , f2 , . . . , fn ) ),
para cada função coordenada aplicada em x ( fi (x) ) submetemos as coordenadas do ponto
x = (x1 , . . . , xm ) a operações definidas por funções contı́nuas, então f é contı́nua.
Exemplos: f (x, y) = (( sen x).y, x2 y 3 , ex cos y) define uma função contı́nua f : IR2 → IR3 .
A função determinante det : Mn (IR) → IR é contı́nua.
72 APÊNDICE C
Compacidade:
Nosso principal objetivo agora será mostrar que um subconjunto K ⊂ IRn é compacto se,
e somente se, K é limitado e fechado. Os resultados a seguir ficam indicados como exercı́cios
e irão “preparar o terreno” para cumprirmos o objetivo acima.
Teorema C.6. Um subconjunto K ⊂ IRn é limitado e fechado se, e somente se, toda
seqüência (xk ) ⊂ K possui uma subseqüência convergente para um ponto de K.
Lema C.8. Todo conjunto X ⊂ IRn é separável, isto é, possui um subconjunto enumerável
E = {x1 , x2 , . . . , xl , . . .} ⊂ X, E denso em X.
Teorema C.10. Um conjunto K ⊂ IRn é compacto se, e somente se, K é limitado e fechado.
Demonstração:
(⇒) Já feita no capı́tulo sobre espaços métricos.
(⇐) Borel-Lebesgue:
Suponhamos que K seja limitado e fechado.
[
Seja K ⊂ Aλ uma cobertura aberta de K.
Pelo Lema de Lindelöf, ela admite uma subcobertura enumerável
∞
[
K⊂ Aλi = Aλ1 ∪ Aλ2 ∪ . . .
i=1
Ki ⊂ K (limitado) ⇒ Ki é limitado.
Aλ1 ∪ . . . ∪ Aλi é aberto ⇒ X\ (Aλ1 ∪ . . . ∪ Aλi ) é fechado. Como K é fechado, temos
então que Ki é fechado.
Assim, para todo i ∈ IN, Ki é limitado e fechado.
∞
[
Dado x ∈ K, existe λi0 tal que x ∈ Aλi0 (pois K ⊂ Aλi ) ⇒ x 6∈ Ki0
i=1
∞
\
Logo Ki = φ .
i=1
Pela Propriedade de Cantor, podemos concluir que existe i0 tal que Ki0 = φ
Assim
\
φ = Ki0 = K X\ (Aλ1 ∪ . . . ∪ Aλi0 ) ⇒ K ⊂ (Aλ1 ∪ . . . ∪ Aλi0 )
Por exemplo, se X é convexo então cada dois pontos a, b ∈ X podem ser ligados por um
caminho em X, a saber, o caminho retilı́neo [a, b] = { t.a + (1 − t).b ; t ∈ [0, 1] }.
Se a, b ∈ X podem ser ligados por um caminho f : I → X então existe um caminho
ϕ : [0, 1] → X tal que ϕ(0) = a e ϕ(1) = b.
Um conjunto X ⊂ IRn é dito CONEXO POR CAMINHOS quando cada dois pontos
a, b ∈ X podem ser ligados por um caminho em X.
Por exemplo: todo conjunto convexo é conexo por caminhos.
74 APÊNDICE C
Prova: Exercı́cio.
Prova: Exercı́cio.
Referências
[1] Hönig, Chaim S., Aplicações da Topologia à Análise, Projeto Euclides, IMPA, Rio de
Janeiro, 1976
[2] Lima, Elon Lages, Espaços Métricos, Projeto Euclides, IMPA, Rio de Janeiro, 1983
[3] Munkres, James R., Topology - A First Course, Prentice-Hall Inc. , New Jersey, 1975
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