You are on page 1of 16

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


Seção de Direito Privado -19 a Câmara

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SAO PAULO


ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
REGISTRADO(A) SOB N°

ACÓRDÃO

RECURSO - APELAÇÃO - PRELIMINAR - CERCEAMENTO DE DEFESA -


JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE - Cabimento - Hipótese na qual
restou afastada a prova técnica, em razão da alteração do objeto da
perícia pela própria recorrente - Pretensão de realização de prova
testemunhai - Descabimento - Inviável a oitiva de testemunhas para a
prova de dados técnicos - Preliminar afastada.

CONTRATO - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - ENERGIA ELÉTRICA -


Alegação de irregularidades nos equipamentos de medição de consumo -
Procedimento unilateral adotado pela concessionária para constatação -
Ausência de dados técnicos - Termo de ocorrência lavrado
unilateralmente, sem informar ao consumidor a possibilidade de
requerimento de perícia.

CONTRATO - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - ENERGIA ELÉTRICA -


DANOS MORAIS - Corte de energia efetivado - Abusividade caracterizada
- Necessidade de utilização de meios legais para a cobrança do crédito
alegado - Impossibilidade de interrupção do serviço, tido por essencial -
Danos moral caracterizado - Indenização devida, no valor de R$ 10.000,00
- Precedentes jurisprudenciais.

CONTRATO - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - ENERGIA ELÉTRICA -


OMISSÃO NO JULGADO - Alegação de extemporaneidade da
contestação e pedido de restituição da quantia cobrada para substituição
do medidor de consumo não apreciados na sentença - Artigo 516 do
Código de Processo Civil - Permissivo para análise nesta instância, sem
ofensa ao princípio do duplo grau de jurisdição - Extemporaneidade da
constestação afastada - Pedido de restituição da quantia atinente à
substituição do medidor - Cabimento - A necessidade da troca do
aparelho não foi demonstrada - Informação coletada do próprio Termo de
Ocorrência lavrado pela ré - Restituição devida.

CONTRATO - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - ENERGIA ELÉTRICA -


HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - Tendo sido acolhido os pedidos
indenizatórios da autora, não há que se falar em alteração da|
sucumbência, mormente, quanto aos honorários advocatícios - Recurso
da ré improvido e parcialmente provido o da autora, nos termos deste
Acórdão. J
2
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


APELAÇÃO N° 991.07.041498-2 (7.161.829-6), da Comarca de SÃO JOSÉ
DO RIO PRETO, sendo apelantes CIA PAULISTA DE FORÇA E LUZ - CPFL
e MARLENE BENOSSE ALVES (Just. Grat.) e apelados OS MESMOS.

ACORDAM, em Décima Nona Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça, por votação unânime, negar provimento ao recurso da
ré e dar parcial provimento ao recurso da autora.

Trata-se de apelação interposta em face da r. sentença de


folha 75, que julgou procedente, em parte, a ação declaratória c.c. indenização
por danos morais, para impedir o corte no fornecimento da energia e para se
reconhecer que o valor cobrado não é devido por falta de provas idôneas do
crédito, afastando-se o pleito indenizatório. Em razão da sucumbência, a
requerida foi condenada a arcar com custas processuais e honorários
advocatícios, fixados em 10% do valor da causa, ambos com correção
monetária; as custas desde o efetivo desembolso e a verba honorária desde a
citação.

Os embargos de declaração de folha 86 foram rejeitados


pela r. decisão de folha 89.

Apela a requerida, objetivando a inversão do julgamento (fl.


94).

Preliminarmente, sustenta a ocorrência de cerceamento de


defesa, uma vez que houve o julgamento antecipado da lide. No mérito, afirm
que a r. sentença foi contraditória ao julgar antecipadamente o feito, dando a

Apel.N 0 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
3
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

entender que não houve fraude no medidor e, posteriormente, dizer que a


recorrente deixou de demonstrar essa fraude. Alega que a apelada consumia,
irregularmente, grande parte da energia usufruída no imóvel, mediante
manipulação do sistema de medição. A apuração da irregularidade foi feita por
meio do Termo de Ocorrência de Irregularidade (TOI), lavrado de acordo com
os critérios determinados pela Resolução 456/2000 da ANEEL, e que ela é
atribuída à recorrida, pois era responsável pela conservação e manutenção do
equipamento de medição. Sustenta, ademais, que seus atos gozam de
presunção de veracidade e legalidade, por atuar como concessionária de
serviço público. Afirma que cabia à apelada provar que não perpetuou a fraude
e que dela não se beneficiou. Argumenta que em a apelada deixou de pagar
por 33% da energia consumida no imóvel, havendo dívida pendente no
montante de R$4.797,79. Insurge, ainda, quanto à sucumbência, afirmando
que a apelada decaiu, no mínimo, da metade dos pedidos, o que deveria ser
observado para fixação dos honorários advocatícios.

O recurso foi recebido no duplo efeito (fl. 108).

Apelada adesivamente a autora (fl. 110) postulando a


reforma do julgado quanto ao pleito indenizatório, posto que a interrupção do
fornecimento não pode ser considerada um mero incidente. Sustenta que não
foi apreciada a questão referente à extemporaneidade da contestação
apresentada pela apelada, bem como a devolução do valor pago pela apelante
para a substituição da unidade medidora do consumo.

Houve contrariedade aos recursos (fl. 115 e 122).

É o relatório.

Apel.N0 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
4
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

A autora interpôs ação ordinária visando anulação do


Termo de Ocorrência de Irregularidade lavrado pela apelada, o qual deu
margem à interrupção do fornecimento de energia, bem como a condenação da
requerida ao pagamento de indenização por danos morais.

Em sede de contestação, a ré/apelante sustentou a


existência de fraude no sistema de medição, a regularidade do Termo lavrado e
do valor cobrado da autora, pretendendo o afastamento do pleito indenizatório
(fl. 39).

Na manifestação de folha 56 a autora argüiu a


intempestividade da contestação. Já na petição de folha 58 a autora postulou a
devolução da quantia cobrada pela ré para substituição do medidor.

A ré ofereceu manifestação quanto à petição de folha 58,


afirmando a responsabilidade da autora em relação ao valor cobrado para
substituição do medidor de consumo.

Sobreveio, a r. sentença combatida, que julgou


parcialmente procedente a ação, dando margem aos apelos.

De proêmio, cumpre analisar a preliminar de cerceamento


de defesa, argüida pela apelante, em razão do julgamento antecipado da lide.

Nesse sentido, observa-se que o Código de Rito dispõe


que o juiz conhecerá do pedido, proferindo sentença, "quando a questão de
mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver
necessidade de produzir prova em audiência" (art. 330, I, do CPC).

Apel.N0 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
5
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

Ademais, na condição de destinatário da prova, cumpre ao


julgador, ao presidir o processo, aferir sobre a necessidade ou a pertinência de
sua produção.

No caso em comento, conquanto a controvérsia não


envolva matéria unicamente de direito, concluiu o d. Magistrado, com acerto,
que as questões fáticas se resolveriam pelos elementos colacionados aos
autos, sendo descabida a produção de prova pericial, em virtude da
substituição do relógio medidor, operada há quase um ano da data da
sentença.

Descabida, igualmente, a produção de prova testemunhai


para constatação de dados técnicos, não havia mesmo óbice à pronta
prestação jurisdicional, como se extrai da lição de Pontes de Miranda:

TROVAS INÚTEIS OU MERAMENTE PROTELATÓRIAS - A


requerimento de qualquer interessado, ou de ofício, pode o
juiz indeferir as provas inúteis ou meramente protelatórias.
O poder conferido ao juiz de indeferir, em despacho
motivado, a produção de provas oferecidas pelas partes, ou
por algum dos interessados, de modo nenhum ofende os
princípios sãos da processualística.

A diligência é inútil quando, se fosse produzida, nada


adiantaria a quem a requereu". (Comentários ao Código de
Processo Civil, Tomo II, pág. 376, n° 3, 2 a ed., Forense).

Desta forma, fica afastada a preliminar argüida, não


havendo nulidade a ser declarada.

Apel.N0 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
6
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

No mérito, examinando-se os autos, é possível constatar


que a alegação de fraude e as afirmações lançadas no Termo de Ocorrência
de Irregularidade foram feitas de forma unilateral pela recorrente (fl. 12).

Em casos semelhantes, a empresa concessionária de


serviço público ameaça proceder o corte no fornecimento de energia elétrica
para obrigar o consumidor a reconhecer um débito, em regra, apurado
unilateralmente.

Todavia, no caso presente, a coação do consumidor foi


levada a efeito, mediante a interrupção no fornecimento de energia ao imóvel
da apelada. Situação revertida apenas com a concessão de liminar, na ação
cautelar em apenso.

Ressalte-se que, na hipótese, ainda que a autora possa ter


se beneficiado com a apuração de um consumo de energia elétrica menor, não
se pode atribuir a autoria da fraude a quem quer que seja. E não se justifica
que a requerida/apelante ameace os consumidores com o corte de energia
elétrica para receber o valor que entende correto, sem saber, ao certo, quem
cometeu a fraude.

Em suas razões recursais a apelante afirma que o Termo


de Ocorrência de Irregularidade (TOI) foi lavrado de acordo com a Resolução
456/00 da ANEEL.

No entanto, do exame dos autos, vê-se que não foi


esclarecido à recorrida que possuía o direito de requerer a realização de .
perícia na ocasião, tal qual dispõe o artigo 72, inciso II, da referida Resolução. Q / v

Na hipótese, como já observado, a alteração procedida


pela própria recorrente inviabilizou a produção de prova pericial, nos autos

Apel.N0 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
7
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

deste processo, bem como a apuração da suposta fraude, não se


desincumbindo a recorrente da prova que lhe competia para legitimar a
suspensão do fornecimento e a cobrança pretendida (art. 333, II do CPC).

Ao contrário do que afirmou a recorrente, o ônus de provar


a fraude não era do consumidor. Ressaltando-se que se a concessionária
argüiu a existência de irregularidades, a ela competia, ordinariamente, provar
sua afirmação, tendo em vista a inviabilidade de obrigar o consumidor a fazer
prova negativa (inexistência de fraude).

Outro aspecto relevante é a ausência do histórico de


consumos da apelada, prova possível à recorrente, caso pretendesse
demonstrar a alegada alteração significativa no consumo, desde o ano de
2002.

Nesse particular, questiona-se a razão pela qual, se a


recorrente suspeitava de fraude desde aquela época, esperou mais de dois
anos para tomar alguma atitude.

No entanto, não é só.

Verifica-se que o Termo de Ocorrência apontou a


existência de fotografias demonstrando a suposta fraude. Porém, referidas
provas também não foram apresentadas pela apelante.

Desta feita, de rigor concluir-se pela ausência de provas ,


para legitimar a conduta da recorrente.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que ora y /


se colaciona, vem ao encontro do que aqui se afirma. <s

Apel.N 0 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
8
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

"...I- A existência de indícios de violação no relógio de


medição de consumo de energia elétrica implica na
participação policial para periciar o equipamento, uma vez
que, em tese, há o delito do artigo 155 § 3o do Código Penal,
que é de ação pública.

II - A concessionária que dispensa a constatação policial,


retira o relógio, se credita de valores e os cobra sob ameaça
de corte no fornecimento de energia, adota atitude violadora
dos artigos 22 e 42 da Lei Federal 8070 (CDC)... (Resp.
783102/rj, j . 13.12.05, DJ 01/02/06).

De fato, havia necessidade de que a dita fraude fosse


apurada por terceiro, e não somente pela requerida, a fim de que fosse
estabelecida qualquer irregularidade.

Ora, se não foi apurada a autoria da fraude, como é


possível responsabilizar e punir a apelada com a interrupção da energia
elétrica, ou mesmo exigir-lhe o pagamento de quantia apurada unilateralmente
pela concessionária?

Ao contrário do que afirma a apelante, o corte de energia


elétrica, no caso em tela, não era possível.

Trata-se de serviço público essencial, que não pode ser


interrompido, segundo o que dispõe o artigo 22 do Código de Defesa do
Consumidor e a Lei n° 7.783/89.

Nesse sentido é o entendimento pacífico da jurisprudência:

Apel.N 0 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
9
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

"...4. Contestada em juízo dívida apurada unilateralmente e


decorrente de suposta fraude no medidor do consumo, há
ilegalidade na interrupção no fornecimento de energia
elétrica, uma vez que esse procedimento configura
verdadeiro constrangimento ao consumidor que procura
discutir no Judiciário débito que considera indevido (REsp.
946155, 2 a Turma, Rei. Min. Castro Meira, j. 26.06.07).

" 1 . A concessionária não pode interromper o fornecimento


de energia elétrica por dívida relativa à recuperação de
consumo não-faturado, apurada a partir da constatação de
fraude no medidor, em face da essencialidade do serviço,
posto bem indispensável à vida.

Entendimento assentado pela Primeira Turma, no


julgamento do REsp n.° 772.489/RS, bem como no AgRg no
AG 633.173/RS.

2. É que resta cediço que a "suspensão no fornecimento de


energia elétrica somente é permitida quando se tratar de
inadimplemento de conta regular, relativa ao mês do
consumo, restando incabível tal conduta quando for relativa
a débitos antigos não-pagos, em que há os meios *
ordinários de cobrança, sob pena de infringência ao^
disposto no art. 42 do Código de Defesa do Consumidor./, fl
Precedente: AgRg no Ag n° 633.173/RS, Rei. Min. J O S É P /
DELGADO, DJ de 02/05/05." (REsp 772.486/RS, Primeira
Turma, Rei. Min. Francisco Falcão, DJ de 06.03.2006).

3. Uma vez contestada em juízo dívida decorrente de


suposta fraude no medidor do consumo de energia elétrica,

Apel.N 0 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
10
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

não há que cogitar em suspensão do fornecimento, máxime


quando dispõe a concessionária e fornecedora dos meios
judiciais cabíveis para buscar o ressarcimento que entender
pertinente, sob pena de infringência ao disposto no art. 42,
do Código de Defesa do Consumidor.

4. In casu, o litígio não gravita em torno de inadimplência do


usuário no pagamento da conta de energia elétrica (Lei
8.987/95, art. 6.°, § 3.°, II), em que cabível a interrupção da
prestação do serviço, por isso que não há cogitar
suspensão do fornecimento de energia elétrica pelo
inadimplemento. (REsp. 854002/RS, 1 a Turma do STJ,
Relator Ministro Luiz Fux, j. 15.05.2007).

A respeito da matéria, esta Colenda Corte já teve


oportunidade de decidir:

"Se a apuração unilateral da concessionária dos serviços


públicos está sendo questionada pelo usuário, mostra-se
prudente manter-se a ligação em prestígio ao princípio da
continuidade dos serviços públicos" (Al 883.888.00/2 -
TJ/SP -32a Câmara - Real. Des. Orlando Pistoresi - '
24.2005).

E, mais:

"Embora admissível, em tese, a interrupção do


fornecimento de energia elétrica, é preciso que exista prova
inequívoca da real participação do usuário na alegada

Apel.N" 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
11
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

fraude ou mesmo que se demonstre correção de cálculo.


Até que se apurem os fatos sob o crivo do contraditório,
mesmo porque negada a existência de qualquer
irregularidade, convém a concessão da tutela de urgência,
com fundamento no art. 273, § 7o do Código de Processo
Civil" (Al. 883.404-00/OTJ/SP - Rei. Des. Kioitsi Chicuta -
J., 24.02.05).

Cabe acrescentar, ainda, trecho pingado do acórdão


prolatado pelo Des. Virgílio de Oliveira Júnior, que integra a 14a Câmara de
Direito Privado, ao debater sobre o assunto:

"Vê-se, portanto, que a ré se utiliza de medidas drásticas e,


portanto, contrárias ao direito da parte hipossuficiente, pois
(a) apurou unilateralmente o consumo; (b) lançou valores
baseados em uma portaria interna; (c) não permitiu um
correto exercício do direito de defesa; (d) exigiu a
assinatura no instrumento de confissão de dívida; (e)
utilizou a interrupção do fornecimento de energia como
forma de pressionar o consumidor a aceitar suas
condições. Tudo isso se traduz em nítida desvantagem aos
interesses da autora". (Ap. 7.096.588-7).

Ressalte-se que a concessionária possui outros meio


para efetuar a cobrança, não devendo fazê-lo de forma constrangedora e ne
de maneira coercitiva, que exponha o devedor ao ridículo, conforme disciplina o
Codecon.

Apel.N0 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
12
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

Por maior que seja a gravidade da falta constatada, impõe


o ordenamento jurídico que a cobrança se faça pela via judicial, o que assegura
ao consumidor exercer de maneira ampla seu direito de defesa para contestar
a existência da infração ou valores, sem prejuízo, é claro, de o agente da
Administração promover a pronta substituição do aparelho adulterado e tomar
as medidas adequadas, caso positivada a materialidade da infração.

O corte no fornecimento de energia, nesses moldes,


representa ilícito civil pelo qual a concessionária deve responder, havendo
amparo legal para o pedido indenizatório não só nos artigos 186 e 927 do
Código Civil, como também no Estatuto de Defesa do Consumidor.

O transtorno causado à autora deve ser reparado, posto


que não comparável a um mero aborrecimento, sendo possível a fixação de
indenização por danos morais.

Nesse particular, não divergem os doutrinadores, nem


existe dúvida na jurisprudência, no sentido de que indenizações não devem
servir ao enriquecimento da vítima, mas à compensação pelo que perdeu e
deixou de ganhar.

Como preleciona Caio Mário da Silva Pereira, a


indenização deve ser constituída de soma compensatória "nem tão grande que
se converta em fonte de enriquecimento, nem tão pequena que se torne
inexpressiva."(Responsabilidade Civil, 2a edição, Forense, 1990,pág. 67).

Dessa maneira, o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais),


reflete indenização condizente com a situação descrita nos autos. Destaca-s
que esse também foi o patamar observado em precedentes dessa E. Câmara:

Apel.N" 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
13
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

"DECLARATÓRIA - Inexistência de débito - Dívida


decorrente de irregularidades no consumo de energia
elétrica - Apuração unilateral pela concessionária -
Impossibilidade - Necessidade de permitir ao usuário o
acompanhamento de todo o procedimento de constatação -
Impossibilidade de diagnóstico de irregularidades
pretéritas, se houve a troca do aparelho de medição -
Constatação técnica que deveria ter ocorrido na época dos
fatos, com a presença de assistente técnico do usuário -
Recurso provido. DECLARATÓRIA - Inexistência de débito -
Prestação de serviços de energia elétrica - Corte no
fornecimento, diante de apuração unilateral de
irregularidades - Dano moral caracterizado - Prova
decorrente da experiência comum - Inteligência do art. 335
do CPC - Recurso provido" (AC 7373974100, rei. Des.
Sebastião Junqueira, 19 a Câmara de Direito Privado, j .
31/08/2009).

"INDENIZAÇÃO- Danos Morais - Fornecimento por


concessionária - Pagamento de preço público ou taxa -
Interrupação ou suspensão do fornecimento de energia
elétrica por alegados problemas inerentes na leitura do
relógio medidor da unidade da consumidora - Ilegalidade -
Inteligência do disposto no artigo 14, "caput", do CDC -
Hipótese em que a suspensão ou interrupção do
fornecimento de energia elétrica na unidade consumidora
da Autora foi abusiva, ilegal e truculenta, pois antes de
encetar a suspensão do fornecimento de energia elétrica,

Apel.N 0 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
14
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

deveria, primeiramente, a Ré-Apelada ter cumprido o


disposto no art. 43, par. 2o., do CDC, ou seja, feita a anterior
e devida comunicação do problema à consumidora para,
após, poder encetar a interrupção do fornecimento de
energia elétrica - Ocorrência de má prestação do serviço de
fornecimento de energia elétrica - Situação vexatória a que
foi submetida a Autora deve, sem dúvida, ser tipificada
como danos morais, que, no caso, foram, de forma razoável
e eqüitativa, devem ser arbitrados em R$ 10.000,00 (DEZ MIL
REAIS), corrigidos desta data - Recurso provido" (AC
7144451400, rei. Des. Paulo Hatanaka, 19a Câmara de
Direito Privado, j . 23/06/2008)

Finalmente, na lacuna do julgado quanto as manifestações


da autora de folhas 56 e 58, a regra constante do artigo 516 do Código de
Processo Civil permite que a matéria seja apreciada nesta instância, sem
ofensa ao duplo grau de jurisdição.

De fato, na petição de folha 56 a autora argumenta que o


prazo para a apresentação da contestação teve início em 24/08/05, findando
em 08/09/05.

Sendo assim, a contestação apresentada em 25/08/05r


conforme protocolo de folha 39, é efetivamente tempestiva.

Já na manifestação de folha 58, a autora postulou" a


restituição da quantia paga para troca do medidor de consumo (R$ 222,60),
exigida após a propositura da presente ação, e apresentação da respectiva
contestação.

Apel.N0 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
15
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

O despacho de folha 61 dispôs que referido pedido seria


apreciado na sentença.

A ré sustentou a legalidade da cobrança da substituição do


medidor, na petição de folha 72.

Contudo, o julgado deixou de se pronunciar a respeito da


matéria.

Nesse caso, invocando-se o princípio da efetividade, para


evitar a propositura de nova demanda a esse respeito, cumpre a apreciação da
questão, observando-se, para tanto, as informações anotadas no Termo de
Ocorrência.

Assim porque, na oportunidade da respectiva vistoria, o


preposto da ré anotou que não haveria necessidade de substituição do medidor
(fl. 12). No entanto, a troca do equipamento efetivamente ocorreu.

Ocorre que sem a prova da fraude no equipamento, a


necessidade de sua substituição não ficou demonstrada, e o ônus de novo
equipamento não poderia, desta forma, ser repassado ao consumidor.

Desta feita, uma vez admitidos os pleitos indenizatórios da


autora, não há que se falar em reparos à r. sentença no que toca aos ônus da *~
sucumbência, mormente quanto aos honorários advocatícios.

Ante o exposto, nega-se provimento ao apelo da ré, e, dá


se parcial provimento ao recurso da autora, para condenação da ré ao
pagamento de indenização por danos morais, no importe de R$ 10.000,00,
corrigidos desta data, computando-se juros de mora de 1 % ao mês, a partir da
citação, bem como para condenação da requerida à restituição da quantia

Apel.N 0 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William
16
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Seção de Direito Privado - 19a Câmara

R$222,60, atualizada da data do desembolso, computando-se os juros


moratorios de 1% ao mês, a partir da citação, sem alteração da sucumbencia.

Presidiu o julgamento o Desembargador RICARDO


NEGRÃO e dele participaram os Desembargadores MAURO CONTI
MACHADO e PAULO HATANAKA.

Apel.N0 991.07.041498-2 (7.161.829-6) - São José Do Rio Preto - Voto 7553 - Giselle/Raquel/Rosana/William

You might also like