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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
COMPONENTE CURRICULAR ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM
SERVIÇO SOCIAL III

PROJETO DE INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL

“RECONHECER PARA LIBERTAR”

Juliana Costa Meinerz Zalamena


Estagiária em Serviço Social da Prefeitura Municipal de Tuparendi/RS –
Secretaria Municipal de Saúde e Ação Social

Tuparendi, 2009.
Prefeitura Municipal de Tuparendi
Estado do Rio Grande do Sul

1. Identificação

Titulo do Projeto: Reconhecer para Libertar

Instituição Responsável: Prefeitura Municipal de Tuparendi – Secretaria Municipal de Saúde


e Ação Social

Responsáveis pela instituição:


• Prefeito Municipal Itálico Cielo
• Secretário Municipal de Saúde e Ação Social Valdemar Fonseca
• Diretora de Ação Social Carla Lisiane Sonza.

Equipe: Estagiária em Serviço Social Juliana Costa Meinerz Zalamena

Supervisão Acadêmica: Lislei Teresinha Preuss

Supervisão de Campo: Elizabét da Silva Cabaldi


2. Apresentação

Este projeto faz parte das exigências curriculares do Estágio Supervisionado em


Serviço Social III, do curso de Serviço Social da Universidade Regional do Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul – Unijuí, Campus Santa Rosa, sendo uma iniciativa de Investigação e
Intervenção Profissional, proposta a instituição concedente do estágio para posterior aplicação.

Tem como eixo temático a questão do abuso sexual, com ênfase no abuso sexual
intrafamiliar. A demanda posta para o Serviço Social compreende a existência comprovada de
vários casos de abuso sexual doméstico no município de Tuparendi, situação que leva a
sociedade a fazer cobranças de ações não só de tratamento, mas também preventivas sobre esta
questão. O objeto do presente projeto é, portanto, a prevenção do abuso sexual contra crianças
e adolescentes, envolvendo estes e outros sujeitos sociais, como família, profissionais e
sociedade em geral.

A ação profissional do Serviço Social neste caso, compreende a elaboração de um plano


de ação para a prevenção de novos casos de abuso sexual no município, utilizando-se dos
processos de trabalho e da instrumentalidade do Serviço Social. O primeiro diz respeito as
ações sócio-educativas a serem realizadas com toda a comunidade tuparendiense, utilizando-se
de vários instrumentos, tais como: oficinas de orientação, reunião expositiva, diálogo,
esclarecimento de dúvidas, palestra, folder informativo e utilização da mídia como fonte de
democratização de tais informações.

O eixo de discussão abordado diz respeito as formas de violação dos direitos das
crianças e adolescentes, especialmente no que concerne o abuso sexual doméstico e outras
formas de exploração da sexualidade infanto-juvenil. Esta é uma realidade inegável e latente
no município de Tuparendi, comprovada pela emergência simultânea de casos graves
envolvendo abuso sexual, tanto por parte de pessoas estranhas quanto por membros da própria
família.

No desenvolvimento deste projeto, consta um breve diagnóstico da realidade municipal,


em relação a situação de vulnerabilidade em que se encontram muitas famílias. Sabe-se que o
abuso sexual não em um fato existente somente em famílias e comunidades de baixa renda,
sendo uma realidade que ultrapassa as fronteiras de classe social, idade e gênero. Mas também
é de conhecimento dos profissionais das áreas afins que a situação de vulnerabilidade social é
um agravante para esses casos, na medida em que é mais comum os rompimentos dos vínculos
familiares e a descaracterização dos papéis dos membros da família.

Em seguida, expõe-se as principais justificativas acerca da importância deste projeto


para a comunidade tuparendiense, e principalmente para que sejam desenvolvidas ações de
prevenção ao novos casos no município. Posteriormente, aponta-se os objetivos geral e
específicos deste projeto, bem como o referencial teórico utilizado para dar embasamento as
afirmações feitas no decorrer do mesmo.

Busca-se, através da metodologia do projeto, detalhar o plano de ação e as iniciativas


que o compreendem, de forma minuciosa, a fim de que crianças e adolescentes possam ser
orientados acerca desse tema, integrando a família, profissionais ligados e comunidade em
geral nesse processo.

Por fim, expõe-se a proposta de seqüência das atividades no cronograma físico, os


recursos humanos e materiais necessários, o montante financeiro a ser utilizado no cronograma
financeiro e as bibliografias utilizadas como referência.

3. Diagnóstico

Sabe-se que vivemos em uma sociedade capitalista, dividida em classes sociais pela
divisão social do trabalho, em que há uma polaridade entre cidadãos incluídos e cidadãos
excluídos da ordem social oficial. Existe portanto, uma discrepância entre aqueles que possuem
muito e aqueles que não possuem nada, um abismo entre ricos e pobres, típico da sociedade
capitalista.

O capitalismo instituiu também o que comumente denomina-se “questão social”: o


conjunto de problemas decorrentes das contradições e dos conflitos entre capital – os donos
dos meios de produção – e trabalho – aqueles que nada possuem além de sua força de trabalho
para vender em troca de um salário.
A exclusão social da qual a maioria da população é vitima, tem sido agravada nas
últimas décadas pelas novas características do capitalismo tardio e seu projeto neoliberal de
reestruturação capitalista, como denomina Netto (1996), cujas transformações societárias
decorrentes causam profundas metamorfoses nos aspectos econômicos, produtivos, sociais,
culturais e políticos.

A sociedade brasileira, segundo Montaño (2002), não é imune a essas transformações


decorrentes dessa nova forma de organização do capitalismo. Pelo contrário, as manifestações
da “velha” questão social são agravadas, e concomitante a isso, surgem novas refrações que
exigem novas respostas, especialmente da categoria profissional do Serviço Social, que lida
diretamente com essas últimas.

A situação brasileira frente a essas transformações societárias, segundo Netto (1996), é


agravada pela própria peculiaridade de sua formação sócio-histórica, ou seja, a característica de
país dependente e periférico. Dessa forma, o município de Tuparendi, embora distante dos
grandes centros e com características próprias em relação a outras regiões e municípios,
também não fica alheio a tais transformações, que segundo Netto (1996), são um conjunto de
vitórias do grande capital e em nada somam para as classes subalternas.

O município de Tuparendi possuía na última PNAD (IBGE, 2007), o número de 8.793


habitantes, dos quais a maioria estavam concentrados na Zona Urbana. São poucas as famílias
que ostentam características de classe alta. De acordo com o Atlas do Desenvolvimento
Humano (PNUD, 2000), apenas 10% da população concentram 42,48% da renda, e por outro
lado, 80% da população mais pobre acumula somente 41,90% da renda.

É uma minoria também que são assalariados, com Carteira de Trabalho regular e uma
situação estável de vida, comuns a classe média. Uma grande parcela da população sobrevive
do trabalho informal, isento de direitos sociais e sujeito a contingências, mas que, entretanto,
conseguem manter um certo padrão razoável de vida.

O objeto mais significativo de intervenção do Serviço Social na instituição citada é o


conjunto de pessoas que, vítimas de muitos tipos de exclusão social, sem qualificação
profissional, sem condições de moradia, com empregos temporários, esporádicos e precários,
não conseguem dar conta das suas despesas cotidianas. Muitas dessas famílias não possuem
nenhuma espécie de rendimento próprio, e sobrevivem graças ao beneficio do Programa Bolsa
Família e auxílios da Assistência Social para suprir necessidades emergenciais, especialmente
a alimentação, vestuário e medicação.

A situação de vulnerabilidade é agravada por fenômenos como o êxodo rural, que


causam a urbanização descontrolada da cidade, e a exclusão do mercado de trabalho formal, já
que as poucas vagas que existem exigem uma qualificação que a maioria não possui, e
invariavelmente são mal remuneradas. Uma grande parcela não se encaixa nas exigências do
competitivo mercado local, não conta com nenhuma espécie de capacitação e em geral, possui
uma escolaridade muito aquém do necessário, restando para estes os postos mais mal
remunerados ou então, o desemprego. Essa exclusão do mercado de trabalho exige que estes
habitantes usem da criatividade para sobreviver, inventando formas de sobreviver, aderindo ao
trabalho informal e temporário.

No espaço sócio-institucional verifica-se a existência de inúmeras famílias


vulnerabilizadas, em diversos aspectos, principalmente economicamente, dada a quantidade de
famílias que de alguma forma, precisam ser auxiliadas, seja com gêneros de primeira
necessidade, medicamentos, materiais de construção, etc. A Diretoria de Ação Social conta, em
seu arquivo, com 1236 Fichas Sócio- Econômicas (FSE), sendo que destas apenas 34
pertencem a cidadãos já falecidos.

Esta situação é causada por diversos fatores, entre eles a descapitalização da


agricultura, o êxodo rural e as oportunidades de emprego escassas, para que as famílias possam
prover o sustento de seus membros com certa tranqüilidade. As crianças e adolescentes
provenientes destas famílias são vítimas de várias formas de exclusão social, de preconceitos,
falta de oportunidades, etc.

A população de Tuparendi decresceu consideravelmente nas últimas décadas. Em 1991,


a população que era de 9843 habitantes, caiu em 2000 para 9542 habitantes (PNUD, 2000).
Recentemente, a PNAD (2007) apontou que o município de Tuparendi conta atualmente com
uma população de 8793 habitantes. Enquanto a população, em seu total, diminui, a parcela que
se encontra em vulnerabilidade social aumenta consideravelmente.
De acordo com o relatório de administração de 1983/1985, a Secretaria de Bem Estar
Social e Desenvolvimento Comunitário (ou Núcleo da LBA) tinham uma média de 112
famílias que freqüentemente procuravam por auxílios. No relatório da gestão municipal de
1989 a 1992, o levantamento sócio-econômico do município apontava para 240 famílias
cadastradas. Posteriormente, no relatório de atividades da gestão 1997/2000, encontramos um
número aproximado de 331 famílias atendidas pelos auxílios da Diretoria de Ação Social. Em
comparação a hoje, quando são cadastradas nas Fichas Sócio-Econômicas 1236 pessoas1, é
possível afirmar que as famílias em vulnerabilidade social, atendidas pela assistência social,
têm aumentado drasticamente.

Feita esta contextualização da situação geral do município de Tuparendi, em relação a


pobreza e a exclusão social, direciona-se nos próximos itens a discussão mais aprofundada em
torno do eixo temático do projeto.

4. Justificativa

Através da experiência de estágio, pode ser feita a afirmação de que o abuso sexual
intrafamiliar é uma realidade profundamente latente no município de Tuparendi/RS. Embora
não seja a única, e a demanda mais significativa e grave que exige respostas imediatas e
qualificadas do poder público municipal e do Serviço Social, em especial.

Segundo dados obtidos através de conversa informal com membros do Conselho


Tutelar de Tuparendi/RS, são atendidos oito a dez casos a cada ano, englobando
principalmente casos em que o agressor é uma pessoa da família da criança ou adolescente, que
tem parentesco ou afinidade. Utiliza-se como exemplo, o caso recente das duas meninas, de 11
e 12 anos, de famílias diferentes, que estão grávidas, e cujo suspeito do abuso são os pais
biológicos. Em outro caso, de forte repercussão na mídia em agosto de 2008, um motorista do
transporte escolar é acusado de abusar sexualmente de crianças que transportava diariamente
para a escola.

1
Dados coletados no DAS em 2008;
Esses casos chegaram ao conhecimento da população, e causaram sentimento de revolta
geral. Mas entre outras coisas, a emergência desses casos à público, significa que as dimensões
do problema a ser enfrentado são muito mais relevantes, já que são raros os casos desvendados,
e a maior parte deles fica encoberto pelo silêncio das famílias, por vezes para sempre.

O prejuízo para o desenvolvimento das vítimas é enorme, causando danos e traumas


que duram por toda uma vida, e são multiplicados no caso do abusador ser uma pessoa na qual
a criança confia, se sua duração for prolongada e protegida pelo complô do silêncio, e ainda, se
não houver nenhuma intervenção por parte de profissionais capacitados no tratamento das
vitimas, da família e também do agressor, que embora deva ser responsabilizado, também
necessita de atendimento.

Nesse sentido, é indispensável que o poder público, em especial a área da saúde e


assistência social venha a desenvolver ações direcionadas tanto ao tratamento dos casos
suspeitos ou identificados, e na prevenção de novos casos. Essa ação precisa ser abrangente:
deve envolver crianças e adolescentes, as famílias, os profissionais envolvidos diretamente
com a infância e juventude, e deve atingir também a opinião e sensibilidade da comunidade em
geral.

As ações de prevenção e a identificação precoce dos casos de abuso são fundamentais


na medida em que só assim será possível evitar que os direitos de muitas crianças e
adolescentes sejam violados, que muitos casos fiquem em segredo, muitas vítimas fiquem
desprotegidas e desassistidas, e que muitos agressores fiquem em pune, reproduzindo
comportamento e fazendo novas vítimas.

O abuso sexual é um crime, e a negligência em relação a ele também. Sendo assim,


nenhum cidadão pode se omitir diante dessa realidade grave e preocupante, e por isso este
projeto vem ao encontro da necessidade do poder público municipal em elaborar respostas
urgentes a esse fenômeno.

A informação e a orientação, universalizada e acessível a todos é a principal arma para


prevenir situações de risco a que crianças e adolescentes são expostas no ambiente social em
que vivem, e na família, que deveria ser o espaço de proteção e segurança para elas. Essas
situações são difíceis de serem identificadas, pelo caráter de segredo, por acontecerem em
famílias normais acima de qualquer suspeita e pela indiferença da sociedade.

É imprescindível a realização das ações previstas nesse projeto, a fim de que toda a
sociedade assuma seu papel em proteger os direitos das crianças e adolescentes, ajudando a
identificar e denunciando casos suspeitos. Todos os segmentos da sociedade devem estar
conscientes de que o abuso sexual é crime, e que é um dever denunciar.

As crianças e adolescentes precisam ser orientados em relação às formas de se


protegerem, de relatarem sempre quando algo incomum acontecer, quando ao bom toque, ao
mau toque e ao toque malicioso, de procurarem ajuda de um adulto. Por sua vez, a família
precisa estar ciente da necessidade de sempre acreditar na criança e procurar ajuda
imediatamente, fazendo queixa em órgãos competentes e encaminhando a vítima para o
tratamento adequado.

Outros agentes precisam ser orientados quanto à identificação do abuso, principalmente


nos locais onde a criança passa seu tempo, como por exemplo, a creche, a escola, tomando
também as providências cabíveis. Por outro lado, toda a sociedade deve estar comprometida,
orientada e esclarecida a esse respeito, cientes da responsabilidade de denunciar casos
suspeitos e empenhados na defesa dos direitos das crianças e adolescentes.

5. Objetivos

5.1 Objetivo Geral

Realizar oficinas educativas de caráter preventivo nas escolas do município de


Tuparendi/RS sobre a temática do abuso sexual.

5.2 Objetivos Específicos

 Orientar crianças e adolescentes sobre o abuso sexual através de oficinas nas escolas;
 Realizar atividades específicas através de palestras com a família das crianças e
adolescentes
 Realizar uma palestra de capacitação para profissionais ligados à infância e à adolescência
sobre formas de identificação e providências a serem tomadas;
 Elaborar um folder informativo para ser distribuído à população em geral contendo
informações centrais acerca do abuso sexual;
 Utilizar espaços na mídia escrita e falada local para esclarecimentos sobre a temática.

6. Referencial Teórico

Buscando conceituar brevemente o que é abuso sexual, utiliza-se dos estudos de


Azevedo e Guerra (1989), que afirmam que se trata de toda a vitimização sexual, relação
heterossexual ou homossexual entre um ou mais adultos e uma criança e/ou adolescente, menor
de 18 anos, como forma de estimulá-los sexualmente ou obter estímulo para si.

No caso do abuso sexual doméstico, o adulto agressor que comete essa vitimização
sexual é alguém com que a criança e/ou adolescente tenha laços de parentesco,
consangüinidade, afinidade ou responsabilidade, como pais biológicos ou adotivos, padrastos,
avôs, irmãos, tios, primos, tutores, etc. (AZEVEDO e GUERRA, 1989).

É importante ressaltar que este abuso sexual não compreende apenas o ato sexual em si,
ou seja, a penetração anal ou vaginal, e sim, diz respeito a todo contato sexualizado, como a
exposição da criança a nudez, manipulação dos genitais, exposição a materiais pornográficos,
etc. (GUERRA, 1998 apud NEVES e ROMANELLI, 2006).

As condições em que isso acontece, segundo Neves e Romanelli (2006), são as mais
diversas, não estando o fenômeno do abuso sexual intrafamiliar restrito as classes econômicas
subalternas. É uma situação que existe independente da condição social, gênero ou idade. A
diferença básica é que nas classes mais baixas, há propensão a agravantes ligados diretamente a
condição de vulnerabilidade social, e além disso, como não há privacidade, os casos são
identificados mais facilmente.

A vitima tem perfis também variados, sendo, como afirma Azambuja (2004), na
maioria das vezes meninas, por que, por serem mais frágeis se tornam presas fáceis, muito
embora essa não seja uma regra, pois existem muitos casos de crianças do sexo masculino que
são abusadas sexualmente. Além disso, o abuso acontece mais com vítimas do sexo feminino,
conforme essa autora, em decorrência da histórica dominação do homem sobre a mulher,
colocando esta última – e a sua sexualidade – a serviço do mais forte.

O senso comum muitas vezes aponta para um “consentimento” da vítima, como uma
forma de desviar a responsabilidade do agressor: vale ressaltar que, segundo Saffiotti (1995),
em situações de abuso sexual “ceder” não é sinônimo de “consentir”, pois o agressor usa-se
dos sentimentos da vítima para vencer a sua resistência, indo desde a sedução, manipulação da
culpa, medo e vergonha da criança, do seu medo da desintegração familiar, e por fim, da
ameaça e da violência física.

O agressor não necessariamente pode ser acometido de alguma patologia, nem mesmo
apresentar sinais claros de ser um abusador sexual. São pessoas normais, e muitas vezes, acima
de qualquer suspeita. Segundo Azambuja (2004), esta agressor pode ter distúrbios
psicológicos, dificuldade de se aceitar, baixa auto-estima, necessidade de exercer poder e
dominação sobre outras pessoas. Além disso, embora não seja uma regra, Furniss (1993)
aponta que alguns agressores podem ter sido vítimas de abuso na infância e transferem essa
situação para a vítima. De acordo com Santos (1991), os pais são os principais abusadores de
suas próprias filhas.

As famílias incestuosas são aquelas em que o abuso sexual contra crianças e


adolescentes acontecem (Furniss, 1993), mas é conveniente lembrar que nem todo incesto é
sinônimo de abuso sexual, já que pode haver relações entre dois adultos que estejam impedidos
pela lei e pelos costumes de manter relacionamento sexual ou se casarem.

Na maioria dos casos, o abuso é mantido em segredo, que Furniss (1993) chama de
complô do silêncio. A família, segundo Cunha (2005) apud Azambuja (2004), protege este
segredo por um muro de tabus, medos, culpas e vergonhas, ou ainda, num contexto de
dependência financeira e emocional do agressor, além das ameaças e agressões. Araújo (2002)
relata que o agressor utiliza-se de vários mecanismos para perpetuar o abuso e seu exercício de
poder sobre a vítima.
A mãe, ou o adulto não abusador não pode ser considerado sempre um agente de
proteção para a criança. Embora, como aponta Oliveira (2004) quando existe a proteção
materna, as chances de o abuso ser rompido antes de ter maiores conseqüências é grande, em
muitos casos a mãe não assume essa postura e sim, posiciona-se em defesa do agressor.
Entretanto, como aponta Azambuja (2004), essa conivência com o abuso sexual praticado
contra os filhos, pode ser explicada pela dependência econômica e emocional das mulheres em
relação ao companheiro, ou ainda, ao fato desta também estar sendo agredida e ameaçada.

Embora, como já dito, o abuso sexual possa acontecer em qualquer ambiente social,
com qualquer pessoa, não implicando na existência de um perfil de famílias incestuosas e de
agressor, Matos et al (2003) apud Azambuja (2004), apontam como fatores de risco a
vulnerabilidade social, os relacionamentos familiares pautados no poder e no medo, o uso de
drogas lícitas e ilícitas, a violência, a ausência do afeto materno e da presença materna no lar, a
negligência dos pais.

Mees (2001) apud Azambuja (2004) apontam que o abuso sexual, especialmente
quando praticado por pessoas em quem a criança confia, traz implicações físicas e psicológicas
para a vitima, traumas que podem perdurar por toda uma vida. Segundo Zavaschi (1991) apud
Azambuja (2004), as vítimas de abuso sexual podem apresentar em algum momento de sua
vida sintomas como tendências suicidas, auto-mutilação, uso de drogas, depressão, isolamento
afetivo, distúrbios de conduta, agressão sexual, etc.

Na Constituição Federal de 1988, art. 227, fica bem claro que qualquer agressão sexual
contra crianças e adolescentes devem ser punidas severamente. O Estatuto da Criança e
Adolescente, por sua vez, é uma iniciativa louvável em busca da efetiva proteção aos direitos
das crianças e dos adolescentes, estabelecendo mecanismos para essa proteção. Mas como é de
conhecimento geral, existe no Brasil uma discrepância muito grande entre os direitos previstos
em lei e a sua operacionalização na prática. A responsabilização do agressor, portanto, é
prevista em lei, e o abuso sexual é crime, e embora a primeira preocupação deva estar ligada ao
atendimento da vítima, o adulto abusador precisa ser submetido à lei e enfrentar as
conseqüências de seu ato criminoso (AZAMBUJA, 2004).
Nesse contexto, não há como ignorar a necessidade de tratamento especializado para
vitima e família, e a necessidade de atendimento ao agressor, visto que, segundo Azambuja
(2004), ele também é um ser humano que precisa superar a situação em que se encontra.
Segundo esta autora, não há agressores sexuais que mudem seu comportamento sem a
intervenção externa, e se esta não for eficaz, este sujeito continuará buscando novas vítimas.

Enumeram-se os seguintes sinais para que seja possível identificar o abuso:

- Demonstração de conhecimento sexual não adequado à idade.


- Queixa de dor ou de ardência nos órgãos genitais.
- Transtorno de sono (pesadelo, insônia, sonolência|).
- Aversão ao contato físico.
- Mudanças bruscas de comportamento, isolamento social, tristeza, abatimento profundo,
choro fácil.
- Idéias e/ou tentativas de suicídio.
- Alteração no comportamento escolar; de assíduo, pontual e boas notas, por faltas
freqüentes, impontualidade, falta de concentração e baixo rendimento nas disciplinas.
- Relutância em voltar para casa.
- Mudança de hábito alimentar: perda de apetite, obesidade.
- Hiperexcitação sexual, masturbação compulsiva, sem critérios de privacidade.
- Alterações repentinas de humor e irritabilidade.
- Distúrbio de conduta, fuga de casa, mentiras, roubo, rebeldia.
(SECRETARIA DO TRABALHO, CIDADANIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL – RS,
2005).

Denunciar é imprescindível, e qualquer pessoa pode fazê-lo através do número 100, ou


dirigindo-se ao Conselho Tutelar do município. Ainda, é possível procurar outros profissionais
habilitados, que sirvam como referência para a revelação do abuso. De acordo com Furniss
(1993), denúncia e a identificação precoce, com posterior responsabilização do agressor e
atendimento adequado à família e a vítima são fundamentais para o rompimento do ciclo do
abuso sexual, que por vezes perpetua-se por gerações seguintes.

7. Metodologia

A idéia inicial compreende a realização de oficinas sócio-educativas sobre o abuso


sexual, com ênfase no abuso sexual intrafamiliar, nas escolas do município, adequando a
abordagem à idade e nível de desenvolvimento da criança e adolescente, com turmas pequenas,
a fim de estimular o diálogo e o esclarecimento de dúvidas. Esse método procura abranger o
maior número de crianças e adolescentes possível.
Para que este projeto venha a ser implementado é fundamental que as escolas se
comprometam com o enfrentamento do problema, e se posicionem favoráveis a realização das
oficinas. Nesse sentido, quando feitos os contatos iniciais com seus responsáveis, será
disponibilizada uma cópia do projeto, que ficará a disposição da escola.

A proposta é atender na primeira fase as seguintes escolas: Escola Estadual de Ensino


Básico Yeté, Escola Municipal de Ensino Fundamental Incompleto Amadeu do Prado
Mallmann, Escola Municipal de Ensino Fundamental Vendelino Waldemar Rauber, Escola
Municipal de Ensino Fundamental 10 de Maio, Escola Estadual de Ensino Fundamental
Andréa Parise e Escola Municipal de Ensino Fundamental Senador Salgado Filho.

Assim que forem concluídas as oficinas com as turmas do Ensino Fundamental e Médio
das escolas atendidas, deverão ser realizadas atividades específicas voltadas para os pais, em
forma de palestra e com a utilização de recursos audiovisuais para auxiliar no entendimento e
na realização das discussões, estimulando a participação e o esclarecimento de dúvidas. Deve
ser realizada pelo menos uma reunião com os pais em cada uma das escolas.

Paralelamente a esse processo deve ser elaborado um folder informativo, levantando as


principais questões acerca do abuso sexual, com ênfase naquele que acontece no âmbito
doméstico, que deve ser distribuído para a comunidade em geral, orientando e chamando a
atenção para este fenômeno, seu caráter criminoso e a necessidade de proteger e atender a
vítima.

Ainda, concomitante as oficinas e palestras, deve ser realizada uma palestra de


capacitação para profissionais e pessoas diretamente ligadas a infância e a adolescência, no
sentido de esclarecer as formas de identificação do abuso e as providências a serem tomadas.
Essa palestra deve ser realizada por um profissional com conhecimento aprofundado da
temática, dirigida para professores, gestores públicos, profissionais da saúde e da assistência
social, conselheiros tutelares e membros dos demais conselhos municipais afins, e outros
interessados.

Deve ainda, ser organizado um roteiro de informativos para esclarecimento nas Rádios
presentes no município de Tuparendi, a Rádio Mauá FM e Rádio Comunitária FM, e conforme
disponibilidade, na Rádio Noroeste AM que possui grande audiência no município. Além
disso, será utilizado espaço no Jornal Destaque para vinculação de matérias de esclarecimento
acerca do abuso sexual, além de outras matérias de divulgação do projeto no Jornal Noroeste e
Gazeta Regional.

Por fim, deve-se realizar uma ampla discussão com a equipe da Secretaria de Saúde e
Ação Social a fim de dar direcionamento às próximas ações a serem realizadas posteriormente
a conclusão deste projeto.

8. Recursos

8.1 Humanos

 Equipe Multidisciplinar da SMSAS


 Estagiárias em Serviço Social
 Diretora de Ação Social

8.2 Materiais

9. Cronograma Físico

Atividade Jun Jul Ago Set Out Nov


Planejamento do Projeto x
Elaboração do Projeto x
Contatos com profissionais e escolas x
Oficinas sobre abuso sexual nas escolas x
Reunião com pais x
Palestra direcionada para profissionais e público x x x
Realização de informativos nas rádios do município x x x
Vinculação de matérias informativas nos Jornais x x x x x
Confecção e distribuição de Folder informativo x x
Encerramento do Projeto x
Avaliação x

10. Cronograma Financeiro*

Material Valor (em R$)


Jun Jul Ago Set Out Nov
Despesas Gerais 50 50 50 50 50
Confecção de Folder 500
Pagamento de palestrante especializado 150
Pagamento de espaço no Jornal (se for necessário) 50 50 50
Total 50 50 250 600 100
Total Geral R$ 1050,00
* Valores estimados, sujeitos à modificação.

Referências Bibliográficas

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AZAMBUJA, Maria Regina Fay de. Violência Sexual Intrafamiliar: É possível proteger a
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AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA, Viviane Nogueira de Azevedo. Crianças vitimizadas: a


síndrome do pequeno poder. São Paulo: Iglu, 1989.

FURNISS, T. Abuso Sexual da Criança: uma abordagem multidisciplinar. Trad. Maria


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GUERRA, V. Violência de pais contra filhos: a tragédia revisitada. São Paulo: Cortez, 1998.

NEVES, Anamaria Silva; ROMANELLI, Geraldo. A violência doméstica e os desafios da


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Disponível em http://pepsic.bvs.org.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S0103-
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OLIVEIRA, Edson Alves de. Abuso sexual doméstico: desproteção configuração da


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SAFFIOTI, Heleisth. Circuito fechado, abuso sexual incestuoso. In: Mulheres vigiadas e
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SANTOS M. A. Crianças violadas. Brasília: Ministério da Ação Social; 1991.

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