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COMODATO E MÚTUO – DIFERENÇAS

Autor: Ricardo Canguçu Barroso de Queiroz

O Código Civil trata no capítulo VIII “Do Empréstimo” . Segundo Coelho da


Rocha , “o empréstimo é contrato pelo qual uma pessoa entrega a outra ,
gratuitamente , uma coisa , para que dela se sirva com a obrigação de
restituir”. Neste capítulo estão presentes duas modalidade de contratos : o
Comodato e o Mútuo .

A palavra Comodato tem origem no latim , “commodatum”, empréstimo e do


verbo “commodare”: emprestar. Nos dizeres de Washington de Barros ,
comodato “é contrato unilateral , gratuito , pelo qual alguém entrega a
outrem coisa infungível , para ser usada temporariamente e depois
restituída”. Trata-se , portanto de um contrato , unilateral porque obriga tão-
somente o comodatário ; gratuito ( “Gratuitum debet esse commodatum” )
porque somente este é favorecido ; real porque se realiza pela tradição, ou
seja, entrega da coisa. e não-solene , pois a lei não exige forma especial para
sua validade , podendo ser utilizada até a forma verbal . Quem entrega a
coisa infungível é o comodante , quem a usa é o comodatário .

Já sobre o Mútuo , Washington de Barros diz ser o “contrato pelo qual alguém
transfere a propriedade de coisa fungível a outrem , que se obriga a lhe
pagar coisa do mesmo gênero , qualidade e quantidade” . Trata-se , portanto
de um contrato também , unilateral , já que obriga tão-somente o
comodatário ; gratuito , porque somente este é favorecido ; real porque se
realiza pela tradição, ou seja, entrega da coisa. e não-solene , pois a lei não
exige forma especial para sua validade , salvo se for oneroso , caso em que
se aplicará os preceitos do art. 1262 , CC – “é permitido , mas só por cláusula
expressa , fixar juros ao empréstimo de dinheiro ou de outras coisas
fungíveis”) . quem empresta é o mutuante , que a toma emprestada é o
mutuário .

Ambos dependem da temporiariedade , pois caso contrário se , se o caracter


perpétuo vigorasse , configurar-se-ia uma doação .

Segundo as lições de Washington de Barros , Maria Helena Diniz e Carlos


Roberto Gonçalves, o mútuo se difere do comodato porque :

a) é empréstimo de consumo ( “prêt à consommation” ) , enquanto o último é


de uso ( “prêt a usage” );

b) tem por objeto bens fungíveis ( podem ser substituídos por outros de
mesmo gênero , qualidade e quantidade ) , enquanto aquele , bens
infungíveis ( são encarados de acordo com as suas qualidades individuais ,
em espécie ) ;
c) acarreta transferência de domínio , o que não ocorre naquele ; em que se
tem apenas uma transferência da posse ;

d) o mutuário desobriga-se restituindo coisa da mesma espécie , qualidade e


quantidade , enquanto o depositário só se exonera restituindo a própria coisa
emprestada ;

e) o mutuário assume os riscos pelo extravio , danificação ou perda da coisa


emprestada ( “res perit domino” ) , o que não ocorre com o comandatário ,
de modo que , se o bem se perder por força maior ou caso fortuito , o
comodante é quem sofrerá com isso .

f) permite a alienação da coisa emprestada , ao passo que o comodatário é


proibido de transferir a coisa a terceiro, pois poderá incorrer nas penas do
crime de estelionato ( art. 171 , CP – “disposição de coisa alheia como
própria” .

Tais modalidades contratuais são bastante utilizadas em nosso cotidiano ,


afinal , quem não já emprestou um CD , uma fita de vídeo etc. ( exemplos de
comodato ) , ou ainda , uma caneta , uma folha de caderno etc. ( exemplo de
mútuo ) para alguém , para que este lhe devolvesse posteriormente . Daí a
importância de sabermos diferenciá-los , sendo isto a proposta este artigo .

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