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E A CLASSE C SEGUE CONECTADA DO LADO DE FORA DO BRASIL

A classe C começa a participar de uma conversação digital e a grande pergunta é, quem vai
conversar com esse público?

Se alguém não conversa com o porteiro do seu prédio sobre a vida dele e suas opiniões a respeito do
mundo, mesmo quando o encontra pessoalmente todos os dias, porque conversaria com ele pelo
Facebook ou Twitter? A classe C começa a participar de uma conversação digital mas quem quer
saber o que eles sentem, como pensam ou quais são os seus sonhos? É mais simples imaginá-los
como pessoas que cultivam apenas desejos de consumo, buscando acesso digital aos produtos e
serviços de nosso tempo.

Entre 2005 e 2007, uma conjuntura de estabilidade financeira, aumento do crédito aos menos
favorecidos e crescimento nos empregos com carteira assinada fez com que 19,5 milhões de
brasileiros entrassem na classe C, tornado-a a maior do Brasil, segundo estudo divulgado pela
Cetelem, realizado em parceria com a Ipsos.

Conforme análise da Fundação Getulio Vargas, a chamada “Classe Média brasileira” já engloba
53,8% da população (estimados em cerca de 99 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE)

Beneficiada por estabilidade financeira e inclusão digital, esta classe C ganha poder de consumo e
passa a ser atendida pelos serviços digitais, utilizando computadores e telefonia celular, acessando
email, redes sociais e comércio eletrônico.

A questão sobre de que modo os meios digitais vem afetando o cotidiano da classe C, e
consequentemente, transformando a relação destas pessoas com o público das outras classes sociais
é bem interessante, e pode ser tratada em duas dimensões: a comunicação entre indivíduos e da
mídia com os indivíduos.

A comunicação entre os indivíduos da classe C está se ampliando com os meios digitais. Antes
restritos aos seus bairros, afastados dos centros comerciais, morando a quilômetros de distância das
zonas nobres da cidade, nos grotões onde o aluguel é bem barato, a classe C não tinha muita escolha
na hora de se relacionar, estavam geograficamente restritos ao alcance de um passe de ônibus, trem
ou metro.

Um estudo do NIC.br aponta as LAN houses como o principal ponto de acesso à internet no País.
Além disso o Brasil já contabiliza mais de um telefone celular por habitante. Com isso milhões de
pessoas agora podem entrar em redes sociais, conversar por SMS e manter relacionamentos nutridos
por comunicação digital à distância, isto é muito novo na vida pessoal e profissional da classe C.

Antes viviam condenados à passividade gratuita diante de televisão, assistindo entretenimento


medíocre sob o patrocínio de grandes marcas, e assim não lhes restava nada mais além de imitar
gírias das novelas, cantar músicas empurradas pelas gravadoras e concordar com a opinião rasa dos
telejornais. Agora esta classe C pode ter acesso às mesmas fontes de conteúdo e informação que
todos nós, desde que alguém lhes dê a pista acerca do que procurar.

Então aí temos um ponto muito importante. O acesso aos meios digitais não garante o acesso aos
múltiplos conteúdos que a internet oferece. Eu me mantenho informado seguindo duzentas pessoas
em meu twitter, e mais de quinhentas no Facebook, além de algumas dúzias de blogs interessantes e
portais temáticos. A cada semana eu incluo pessoas em minha rede e tenho mais acesso a novas
informações interessantes, ou seja, minha rede me traz o mundo. É verdade que isto tudo chega até
mim pelos meios digitais mas, sem minha rede de amigos não haveria novidade, ou pelo menos
seriam poucas e raras.
A internet pluralista, livre e farta de conhecimento só existe como uma rede de conversação entre
humanos, sustentada por meios digitais de diálogo como redes sociais e chats, e nutrida por
repositórios de conteúdo, como blogs, artigos e wikipedia.

A classe A e B tem um perfil cultural diferente da classe C. Os pais e avós da classe A e B tiveram
acesso à formação escolar, por exemplo, enquanto a classe C, iletrada e funcionalmente analfabeta,
se sacrifica trabalhando para tentar estudar seus filhos.

Como podemos conversar sobre automóveis, se a classe C mal consegue manter seu transporte de
ônibus? Como falar de culinária se a classe C compra quase que exclusivamente os itens da cesta
básica? Talvez turismo, moda ou cinema pudessem ser bons assuntos em comum, se a classe C
tivesse algum tipo de acesso a qualquer uma destas coisas. Namorar então? Um bom flerte e um
programinha no fim de semana entre jovens da classe A e C que se conheceram na internet?
Estatisticamente improvável, creio.

O abismo social no Brasil está posto, e não sera o simples acesso à internet que vai reduzir essa
distância, não a curto prazo. A verdadeira inclusão sócio-digital tem a ver com o encontro das
classes, com a miscigenação conversacional que pode surgir do encontro entre pessoas dispostas, ou
pelo menos curiosas, em compartilhar suas visões de mundo.

Vejo um enorme interesse da classe C em participar ativamente da grande festa econômica que
começa em nosso país mas pergunto, quem da classe A e B está pronto para dar as boas vindas à
toda essa gente?

Sem dúvida as empresas tem grande interesse em recebê-los, como consumidores, e farão de tudo
para aprender a cativar este público para que comprem mais, mas isto é bem diferente de incluir
novos cidadão em um projeto de país. A classe C é muito querida nas filas de crédito das grandes
lojas, mas não no sofá da sala de estar da residência da classe A e B, pelo menos não neste
momento.

Em contrapartida abre-se um horizonte infinito para os membros da classe C se aproximarem, se


conhecerem e estabelecerem novas relações independente do bairro em que vivem ou do local onde
trabalham. A internet traz a capacidade de ampliarmos nossa localidade até o alcance de nosso
idioma, ou seja, de nosso lugar alcançar até onde houver um outro que fale a nossa língua.

Mesmo sem sair da lan house, ou acessando o Facebook enquanto viaja no trem suburbano, o
indivíduo classe C poderá estar ao lado de alguém de outro bairro, cidade ou país, conversando
digitalmente. Isso não é pouco para uma grupo social que vivia sérias restrições geográficas. Além
disso o acesso aos repositórios de informação na web dará vazão à curiosidade de conhecer o
mundo, antes tão reprimida pela impossibilidade de acesso aos livros, filmes e publicações em
geral.

A classe C começa a experimentar uma revolução estética na medida que músicas, imagens e filmes
passam a ser baixados com frequência e variedade. Infelizmente estes não serão os objetos de
conhecimento mais cobiçados por este público, mas estarão disponíveis com um clique e isto já é
potencialmente transformador.

O CENÁRIO DIGITAL PARA A CLASSE C NOS PRÓXIMOS ANOS

O universo digital está afetando cada vez mais o processo de seleção, produção e divulgação das
informações através da mídia. Os programas de televisão estão incrementando a interatividade com
a internet e o celular. As revistas e jornais experimentam novos formatos comerciais para garantir
uma posição no mercado mesmo que o papel deixe de ser a mídia do futuro. As agências de
publicidade ousam cada vez mais para seguir atingindo seus públicos pelos meios digitais.
No centro dessa movimentação toda está a classe C, com seu poder de compra aumentado e refém
de uma máquina de venda de produtos e serviços que vai fazer de tudo para abatê-la como alvo de
suas promoções e vendas. Os dispositivos móveis e o acesso à internet deverá ser a primeira grande
onda de ofertas para a classe C.

O acesso deste público vai remodelar principalmente o desenho de distribuição dos produtos e a
automação da prestação dos serviços. A classe C poderá comprar um número maior de itens de
consumo com preços reduzidos pela escala ampliada de produção, mas não terão acesso ao
atendimento personalizado, que será cada vez mais caro.

A classe C não poderá ser servida por humanos, apenas atendida por máquinas. Vejos hoje esta
tendência em redes de fast-food onde os alimentos são aceitáveis, o ambiente é limpo e iluminado, a
programação visual é competente mas o serviço é péssimo. Poucos atendentes, mal treinados e
nitidamente mal remunerados, prontos para trocar de emprego a qualquer momento.

Se a loja soubesse qual o pedido mais provável do cliente assim que ele chega, ou previsse que um
grupo de amigos vai se reunir ali no dia do aniversário de um deles, poderia reduzir custos e
aumentar a qualidade do atendimento. Só há um meio de buscar estas informações, acompanhando
o perfil de consumo e atitude dos clientes nas redes sociais, por exemplo.

As redes sociais serão um grande banco de dados comportamental onde as empresas irão garimpar
clientes de acordo com algoritmos e estatísticas cada vez mais sofisticadas e eficazes.

As formas de pagamento serão ampliadas para os dispositivos móveis. A linguagem de


comunicação vai se simplificar para se adequar ao repertório de um público ainda iletrado. Tudo
será feito para que a classe C consuma sem que seja preciso agregar mão de obra humana para
atendê-la.

A automação dos serviços será uma tendência amplificada pelas mídias digitais. Fazer a compra de
alimentos para casa pelo celular, o que até algum tempo seria uma comodidade para a classe A,
passará a ser uma necessidade para a automação de processos de atendimento da classe C. Para os
consumidores a personalização será um privilégio e o acesso massificado será um direito.

CRIANDO PONTES SOCIAIS ATRAVÉS DAS CONEXÕES DIGITAIS

Como o abismo conversacional pode começar a ser reduzido pela internet? Através de uma legítima
curiosidade sócio-cultural. As matrizes culturais Brasileiras nos trazem um colorido étnico-cultural
único em relação ao resto do planeta. Temos aqui m caldeirão de povos fervendo numa ebulição
relacional a quinhentos anos. Brancos e mamelucos, procriando. Cafusos e negros, copulando.
Europeus que chegaram depois, se apaixonando por mulatas, se casando com japonesas. Libaneses
mestiçando com caboclos.

Isto tem gerado uma profusão de expressões culturais que, apesar da força da comunicação de
massa insistentemente distribuída pela mídia broadcasting, resistiram bravamente de um modo ou
de outro, e persistem conservadas em festas populares locais, artistas regionais, músicos típicos e
cantores. Todo esse fluxo cultural, associado à cultura do remix deverá explodir em uma infinidade
de novos fluxos culturais, em uma linguagem aparentemente inacessível para as classe
pribilegiadas.

Quem está perguntando pela classe C? As empresas, os especialistas em marketing e consumo, os


designers de produto? Monitorar seus hábitos, rastrear suas decisões de compra, tabular e analisar
seus comportamentos, isso é algo que pode parecer interessante para a classe que domina a
produção de bens e o mercado. Mas, aprender a dançar como eles dançam, quem se dispõe?
Se não temos um diálogo não temos uma rede. Se tivermos a rede, teremos este diálogo?
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(TEXTO PARA UM BOX)
UMA ETIQUETA DE CONSUMO PARA INDIVÍDUOS

Para começar vamos entender que tipo de classificação é esta que divide os cidadãos brasileiros em
classes ABCDE. São categorias segundo padrões ou potenciais de consumo. Esse critério cria uma
escala ou classificação socioeconômica por intermédio da atribuição de pesos a um conjunto de
itens de conforto doméstico, além do nível de escolaridade do chefe de família. Foi desenvolvido
pela Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado, foi revisada pela Marplan Brasil e
LPM/Burke, e passou a denominar-se simplesmente “critério Abipeme”.

Alguns dos itens de conforto no lar (aparelho de videocassete, máquina de lavar roupa, geladeira
com ou sem freezer acoplado e aspirador de pó) recebem uma pontuação independentemente da
quantidade possuída; outros (automóvel. TV em cores, banheiro, empregada mensalista e rádio)
recebem pontuações crescentes dependendo do número de unidades possuídas. Da mesma forma, a
instrução do chefe da família recebe uma pontuação segundo o grau de escolaridade. As pesquisas a
partir desses critérios podem ser refinadas por ao sexo, idade, escolaridade, renda individual e
localização geográfica.

A assim chamada classe C brasileira é apenas o resultado do agrupamento de um conjunto de


indivíduos a partir de uma conjunto de critérios socioeconômicos externos. Não é uma classificação
comportamental, psicológica ou antropológica, por exemplo. Justamente por isso pode ser medida
através de respostas em um formulário de pesquisa aplicado a um grupo pequeno de pessoas
considerado, por amostragem, representativo do grupo todo.

A pesquisa mais recente sobre a classe C do Brasil, por exemplo, é conhecida por "Estudo +100" e
foi desenvolvida em 2010 pala Nova S/B e o Ibope Inteligência, abrangendo sobre o
comportamento de consumo da classe C, uma camada da população que hoje representa
aproximadamente 100 milhões de pessoas.

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