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Intervenção sobre “Católicos e política: razões para

um empenho”
Lisboa, 9 de Março de 2002

por
Roberto Formigoni
Presidente da Região da Lombardia

Qualquer que seja a interrogação sobre o papel do cristianismo na vida pública parte de
um pressuposto que não pode ser dado por adquirido: a relevância público do facto
cristão, o valor político – no sentido mais amplo do termo – da experiência de fé.
Este pressuposto não é óbvio, na medida em que as reflexões teóricas e os movimentos
históricos têm, a maior parte das vezes, tentado confinar o cristianismo a uma dimensão
intimista, de reduzir a fé a uma questão privada e de separar de modo não natral a
experiência religiosa das outras dimensões do viver humano.
Tal tentação – igual e contrária a tentação teocrática, que transforma o cristianismo em
imposição política – encontrou terreno de cultura quer no âmbito do mundo religioso
quer no âmbito laico, o primeiro preocupado em conservar o cristianismo numa pureza
tão absoluta quanto distante da vida concreta dos homens, o outro interessado em pôr de
lado um perigosos inimigo do seu projecto de submissão das consciências. A palavra de
Jesus no Evangelho, “dai a César o que é de César e dai a Deus o que é de Deus”, foi
instrumentalizada de um e de outro lado para expulsar da história o projecto cristão. É,
de facto, abusivo derivar destas palavras que todo o âmbito da vida pública cai sob as
prerrogativas de César e é ingénuo pensar que, historicamente, César seja sempre tão
honesto e respeitador da competência divina que se contente em receber aquilo qu, de
direito, lhe diz respeito: muito mais frequentemente, César pretende, quer dos cristãos
quer dos não cristãos, a alma, que os cristãos não podem nem querem dar-lhe e a qual a
nenhum homem digno desse nome convém dar-lhe.
A dimensão pública do cristianismo é palese desde a sua origem: pública era a pregação
de Jesus Cristo, pública a sua acção e dos seus discípulos e como “vida pública” são
definidos os três anos da missão de Jesus que se concluem com a sua morte e
ressurreição.
Encontramos este sublinhado da dimensão política e social na encíclica de João Paulo II
Centesimus Annus onde se explica que “para a Igreja a mensagem social do Evangelho
não deve ser considerada uma teoria, mas antes de tudo um fundamento e uma
motivação para a acção... Com a força do Evangelho, no decurso dos séculos, os monges
cultivaram a terra, os religiosos e as religiosas fundaram hospitais e asilos para os pobres,
as confrarias, como simples homens e mulheres de todas as condições, se empenharam
em favor dos desfavorecidos e dos marginalizados”.
Esta tradição prossegue hoje através das escolas de cada ordem e grau, as comunidades e
cooperativas de trabalho dos toxico dependentes, portadores de deficiência e outros
marginalizados, os consultórios, os asilos para maes em dificuldades, os projectos de
desenvolvimento para os países ditos do Terceiro Mundo, as organizações para o
aprovisionamento de géneros alimentares e de vestuário para os mais pobres e
necessitados, criadas e animadas por leigos e religiosos cristãos.

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