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FILEMOM
Autoria
Durante esta breve missiva, o autor se identifica em três oportunidades como Paulo (vv.1,9 e 19).
Não há dúvida, desde a igreja primitiva, de que o apóstolo Paulo é o autor deste texto com tantas
afinidades com a carta à Igreja em Colossos, especialmente quando comparamos os versos 2,23 e
24 de Filemom com Colossenses 4.10-17.
Propósitos
Logo após a tradicional saudação com ações de graça ao Senhor, pela fé e o amor fraternal ope-
rante de Filemom, Paulo eleva uma prece a Deus pedindo que Filemom cresça ainda mais na graça
de Cristo, e chega ao propósito desta carta.
Filemom havia abraçado a fé cristã e demonstrado um testemunho notável na cidade. Como tantos
outros cidadãos de Colossos, Filemom era senhor de escravos (Cl 4.1; Ef 6.5).
Onésimo, um escravo pertencente a Filemom, havia fugido de seu proprietário, depois de
aparentemente ter cometido um furto. Onésimo conseguiu fugir para a grande metrópole de Roma,
onde acabou se encontrando com Paulo, que lhe ministrou o Evangelho e o ajudou a receber a
graça da salvação em Cristo. Uma vez crente e fortalecido na fé, Onésimo é enviado por Paulo de
volta ao seu senhor com essa carta pessoal de recomendação em seu benefício. Paulo apela ao
coração transformado e santificado de Filemom para que não apenas recebesse um escravo fugitivo
sem as tradicionais punições da época, mas, sim, com generoso perdão, próprio daqueles que
receberam a graça da salvação em Cristo. Por outro lado, Onésimo deveria se entregar ao serviço
do seu senhor com toda a lealdade e dedicação, igualmente próprias dos que amam ao Senhor e
em nome de Cristo testemunham ao mundo com suas vidas regeneradas e santas. Onésimo não
era mais um “escravo forçado e humilhado em sua vontade”, mas “um servo voluntário e caríssimo
irmão em Cristo”. Paulo se dispõe a ser o fiador idôneo desse novo contrato (aliança), e adianta que
sua confiança na conversão genuína de Onésimo era tão grande que arcaria pessoalmente com
qualquer prejuízo que eventualmente o “ex-escravo” tivesse causado a Filemom.
Essa história verídica do senhor Filemom e seu escravo Onésimo vem proporcionando à Igreja de
todas as épocas uma profunda ilustração da doutrina evangélica da redenção.
1 Paulo, inspirado pelo Espírito de Deus, escreve esta pequena carta (por volta do ano 61 d.C.), seguindo os principais preceitos
da diplomacia grega: Em seu apelo a Filemom, cristão da cidade de Colossos e dono de muitos escravos (Cl 4.1; Ef 6.5). Paulo
não se apresenta como “apóstolo”, como normalmente fazia, mas simplesmente como “prisioneiro ou algemado no serviço
de Cristo”, criando empatia e fazendo com que sua abnegação seja um exemplo a Filemom. Paulo estava perto do fim de seu
primeiro aprisionamento em Roma. Um líder cristão somente pode apelar ao sacrifício ou consagração dos seus seguidores, à
medida em que ele próprio está disposto a dar sua parcela de contribuição pessoal.
2 Embora Paulo escreva esta carta em companhia de Timóteo, ele prefere usar a primeira pessoa a fim de enfatizar o grau de
pessoalidade e intimidade das solicitações. Filemom era dono de Onésimo que havia fugido, mas agora, convertido ao Senhor,
desejava cumprir com suas obrigações espirituais, morais e sociais, a fim de proclamar seu bom testemunho cristão. Arquipo era
ministro da Igreja em Laodicéia e filho de Filemom com Áfia (Cl 4.9-17). Paulo vivia em oração por seus discípulos e pela Igreja
(Fp 1.3,4,13; Ef 3.1; Cl 1.1).
3 A fé tem três expressões aqui: fidelidade a Cristo e aos irmãos; confiança no Senhor e em seu amor providencial; amor na
forma de ações práticas, especialmente pelos crentes (Jo 8.31; 7.17; 10.38; Hb 13.15,16; Cl 1.10).
4 A palavra “coração” é o correspondente mais próximo à expressão original grega que se traduziria literalmente por “intes-
tinos”, pois se tratava da parte do corpo que, na cultura helênica daquela época, refletia os sentimentos mais íntimos do ser
humano. Isso ocorria por simples comparação entre certos eventos emocionais e uma espécie de “frio na barriga” provocado
por eles (vv.12, 20).
5 Paulo faz um interessante jogo de palavras baseado no significado do nome Onésimo (em grego Útil), com o firme desejo
de servir “em singeleza de coração” (Cl 3.22,23). Paulo o considerava um filho amado, como Timóteo e Tito (1Tm 1.2; Tt 1.4).
Filemom, por causa da sua confiança em Cristo, deveria receber Onésimo como um irmão querido (v.16).
6 Os apóstolos e mestres tinham o direito de ser remunerados pelo tempo dedicado ao ensino de seus discípulos (v.19; Rm
15.27). Assim, Paulo tinha todo o direito de cobrar por seu ministério junto a Filemom e sua casa. O valor seria o suficiente para a
compra da escritura de posse de Onésimo (às vezes, homens de negócios, compreendem melhor um argumento bem racional e
a fim de que pudesses reavê-lo agora e receber de ti algum favor por estarmos
para sempre, no Senhor. Reanima o meu coração em
16 não mais na condição de escravo; ali- Cristo!
ás, muito melhor do que escravo, como
irmão amado, particularmente por mim, Solicitações finais e bênção
e ainda mais por ti, tanto amigo pessoal, 21 Escrevo-te na certeza de que me aten-
quanto como cristão!7 derás, confiante de que farás ainda mais
17 Assim sendo, se me consideras um do que te peço.
irmão no Senhor, recebe-o como rece- 22 Além disso, prepara-me hospedagem,
besses a mim mesmo. pois espero que por meio das vossas ora-
18 Contudo, se ele te causou algum pre- ções serei levado de volta a vós.
juízo ou te deve qualquer coisa, lança 23 Epafras, meu companheiro de prisão
todo o custo na minha conta.8 em Cristo Jesus, envia-te saudações,
19 Eu, Paulo, escrevo estas palavras de pró- 24 assim como Marcos, Aristarco, Demas
prio punho: eu o pagarei para não men- e Lucas, meus colaboradores. A graça do
cionar que tu me deves a tua própria vida. Senhor Jesus Cristo seja com o Espírito
20 Sim, amado irmão, eu gostaria de de todos vós!
matemático), mas o apóstolo não o obriga. Prefere dar seu exemplo sobre administração cristã (mordomia), em que o cristão tem
a obrigação de dar; mas Deus só aceita aquilo que for oferecido de livre e boa vontade (2Co 9.7).
7 Devido às condições políticas e sociais impostas pelo Império Romano, Onésimo não deixaria de ser escravo, porém não
seria mais tratado simplesmente como um criado, tampouco serviria somente sob os regulamentos da lei, mas como “irmãos
amados em Cristo”. Tanto o patrão quanto o servo teriam prazer em cooperar um com o outro para louvor do nome do Senhor
(Cl 3.11).
8 Martinho Lutero (1483-1546), teólogo reformador alemão, ligado à ordem dos agostinianos e professor de teoria bíblica em
Wittenberg, em 1510, ao visitar Roma ficou horrorizado com o estado de corrupção e imoralidade do clero e da corte papal. No dia
13 de fevereiro de 1517, afixou na porta principal do palácio ducal de Wittenberg suas 95 teses contra a cobrança de indulgências.
Em 1520, mediante a bula Exsurge Domine, ele foi excomungado. Perseguido pelo clero, refugiou-se no castelo de Warburg,
pertencente a seu amigo Frederico de Saxônia. Dedicou-se à tradução da Bíblia para o idioma alemão, e ao ler esse texto de Paulo
afirmou: “O que Jesus Cristo fez em nosso benefício diante de Deus, o Pai, Paulo fez a favor de Onésimo diante de Filemom”. Em
1524, abandona sua ordem católica e casa-se com a ex-freira Catarina von Bora. Tiveram seis filhos naturais e quatro adotivos.
Lutero costumava dizer que “o casamento é uma escola muito melhor para o caráter do que qualquer monastério”.