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À G:. D:. G:. A:. D:. U:.

Mui Resp:. Grande Loja da Colômbia


Com sede em Santa Fé da Colômbia
E Resp:. Loja Veritas Vincit Nº 13
Or:. De Santa Fé da Colômbia

*
OS FILHOS DA LUZ

* *

ENSAIO
Sobre
HISTÓRIA, TRADIÇÕES,
MITOS, LENDAS E FÁBULAS
DA MAÇONARIA UNIVESAL.
- Desde o nascimento do Mundo até o Século XX –

DESTINADO AOS OBREIROS


DA COLUNA DO NORTE

Raymond François Aubourg Dejean


M:. M:. R:.E:.A;.A:.

1
*
OS FILHOS DA LUZ
*
* *

ENSAIO

“… Chorai filhos da luz;


Chorai crianças de Neftali;
Chorai meus irmãos.
Nesta noite de tormentas, o raio caiu.
O Mestre foi imolado na fogueira do céu.
Seu gênio consumido nas chamas da inveja...”
Erasmo

Traduzido do manuscrito francês


por
Gloria Susana Marino de Aubourg

Traduzido para o brasileiro


Por
Roberto Schukste

2
*
OS FILHOS DA LUZ
* *

Esta obra foi editada pela Mui Resp:. Grande Loja da Colômbia e
Resp:. Loja Veritas Vincit Nº 13 ao Or:. de Santa Fé de Bogotá,
como homenagem ao 75º aniversário da
Grande Loja da Colômbia.

Ano 5.998 V:. L:.

3
- INTRODUÇÃO –

Há muitos anos, séculos poderíamos dizer, numerosos historiadores,


maçons, não maçons e anti-maçons tem escrito uma quantidade
impressionante de livros; uns sérios, outros fantasiosos, sobre a Maçonaria
universal e sobre suas origens. Apesar de todo o papel e de todos os esforços
que foram empregados para escrever tais obras, devemos com sinceridade e
humildade perguntar-nos: chegaremos alguma vez a descobrir as verdadeiras
origens da Maçonaria? O único aspecto da Maçonaria que se supõe não ser
um mistério resulta ser o maior de todos; refere-se a onde ela originou-se?
Quando, como e por que surgiu? Supõe-se que sua origem e propósito
surgiram de um grêmio das confrarias de canteiros e quebradores de pedra
medievais na Inglaterra, mas ninguém pode responder a algumas
interrogações: como chegou esse humilde grêmio a envolver, como dirigentes,
membros expoentes da aristocracia européia?

Qual foi o propósito da Maçonaria, que a manteve viva na


clandestinidade durante séculos?

As aspirações profundas do ser humano são as de descobrir as suas


origens. O desejo do homem é descobrir a sua identidade pelo estudo dos
fundamentos de sua cultura. O dever do maçom é de descobrir a sua
cidadania maçônica por meio do ensino que lhe é dado pela história da Ordem.
Começando esta investigação, não tinha outra intenção que a de satisfazer a
minha própria curiosidade sobre determinados aspectos da personalidade da
Maçonaria. A curiosidade é um grande defeito... Confesso ter sido aprisionado
por ela.

É importante afirmar que este ensaio não busca nem contradizer nem
reescrever a história ortodoxa da Maçonaria; somente é a compilação de
pranchas escritas durante o meu tempo de Aprendiz e Companheiro maçom.
Resume minha interpretação pessoal do estudo bibliográfico dos grandes
momentos da grande história da Maçonaria, desde suas mais remotas origens
até o Século XX. Escrevi com o único propósito de dar aos queridos irmãos da
Coluna do Norte um bom material para a forja de uma idéia pessoal sobre o
que é a Instituição em qual acabam de ser recebidos e de compreender suas
crenças por meio de sua cultura, história, lendas, fábulas e mitos.

“... Todo homem por natureza deseja saber...” Aristóteles

4
- Dedicatória –

Esta contribuição à literatura maçônica do Or:. de Santa Fé de Bogotá é


dedicada ao

Ven:. Ir:. Américo Carnicelli.

Escritor apaixonado e apaixonante da história da sua pátria, Colômbia, à


qual está intimamente ligada a história da Maçonaria colombiana, membro
fundador da Resp:. Loja Veritas Vincir Nº 13, a sua Loja Mãe, minha Loja Mãe,
Nossa querida Loja Mãe.

Esta obra foi escrita especialmente para os obreiros da Coluna do Norte


e dedicada aos Aprendizes que, tiritando no frio da ignorância, buscam a luz
nessa coluna escura onde é menos recebida e mais desejada. São eles mais
do que quaisquer outros que aspiram receber o conhecimento e merecem ser
chamados de “filhos da luz”, posto que eles sejam os mais ardentes
buscadores.

Q:. Ir:. Aprendiz, tudo que a tua cabeça necessita, está nos livros, leia!

5
- Agradecimentos -

Expresso meus agradecimentos aos QQ:.IIr:. da Resp:. Loja Veritas


Vincit Nº 13, ao Or:.de Santa Fé de Bogotá, por seu apoio, especialmente ao
Ven. Ir:. Eduardo Chaparro Ávila, sábio Ven:.M:.(1995-1996) da minha Loja
Mãe por suas observações pertinentes. Sob a sua grande e venerável
inspiração que, no meu tempo de obreiro da Coluna do Sul, comecei este livro
que concebi como a obre de um Companheiro pedreiro do Século XVIII; como
uma obra Mestra que tem por objetivo mostrar aos MM:. MM:. Da minha Loja o
que compreendi dos seus ensinamentos e minha capacidade de interpretação,
justificando assim o legítimo desejo de ascender à alta dignidade de membro
da Câmara do Meio.

Meus agradecimentos vão também aos meus QQ:.IIr:. Peter Preminger,


da Resp:. Loja Liberdade Nº 22 do Or:. de Santa Fé de Bogotá; Jean Pierre
Grandin, da Resp:. Loja Veritas Vincir Nº 13 e Jaime Garcia Urdaneta, profano,
quem depois de da leitura desta obra, aspira a integrar a Ordem, pela correção
que fizeram no manuscrito deste livro, que necessitava muito dos valiosos
conselhos e comentários...

Mil ternos agradecimentos a minha esposa Susana que me tem brindado


com sua carinhosa compreensão e terno apoio em todo tempo e que foi a fiel
tradutora do manuscrito original francês desta obra.

“... O saber é o que permite achar o bem, só se acha o mal pela ignorância, porque se
desconhece a virtude...” Sócrates

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- Prefácio –

Apesar de que a Ordem maçônica não tem uma data de nascimento


conhecida, os historiadores se comprazem em remontar sua história até a mais
remota antiguidade. Certos autores não duvidam em remontá-la à “Idade de
Ouro”: primeira época do mundo onde Adão foi iniciado pelo próprio Deus no
paraíso. É certo que se a história da Maçonaria é a mesma que a do mundo,
não pode deixar de ter as suas bases na mesma tradição.

Existem muitas hipóteses sobre o nascimento da Ordem maçônica.


Muito tem sido escrito sobre este tema; em todas essas hipóteses proponho
aquela infinitamente mais certa da criação contínua e da evolução sob o
impacto dos acontecimentos históricos e sociais. Ao longo dos muitos séculos
da sua rica experiência, a Maçonaria tem recebido influência de diversas
correntes de pensamento e a pressão cultural do seu ambiente social.
Algumas vezes ela causou o evento; vivendo, pois, em um contexto de
evolução cultural, necessariamente evoluiu.

A história da origem da Maçonaria se caracteriza por duas principais


correntes de pensamento baseadas em duas hipóteses que amiúde tem
radicalizado setores dela. Uma, do ramo bíblico, filosófico e simbólico que
atribui a origem à construção do templo de Salomão em Jerusalém. Não
existe, porém, prova que demonstre que a história da Maçonaria se remonta a
tempos tão primitivos. A outra, o ramo cavalheiresco e místico, que concede
este privilégio à Ordem do Templo; esta última hipótese adquiriu tal
preponderância durante o Século XVIII que todas as demais hipóteses se viram
abandonadas e reduzidas ao silêncio nos principais estados da Europa.

Este ensaio, testemunho da minha admiração por esta mui venerável


instituição é uma síntese da minha interpretação de numerosas obras, tanto
francesas como espanholas, norte-americanas e latino-americanas; está
dividida em três partes:

- A corrente filosófica, bíblica e simbólica da antiguidade.


- A corrente cavalheiresca e mística do Século XII ao XVIII.
- A corrente democrática e libertária do Século XVIII ao XX.

O esquema condutor da obra é a tradição. Ela não é nem um sistema


nem uma doutrina; apenas o fio de Ariadne que permite às verdades chegarem
até nós. A tradição nos transmite a mensagem de um passado distante, aquele
da nossa origem. Certo, esquecemos esse tempo primordial; mas sem dúvida,
nossa mente inconsciente nos leva a buscar com nostalgia as Leis do mundo
que ela tem transmitido e que desejamos interpretar seguindo a linguagem da
nossa época.

7
*
PRIMEIRA PARTE
A corrente bíblica, simbólica, e filosófica.
Do nascimento do mundo ao Século VII D.C.
* *
Capítulo I

Cosmografia
O dia antes do primeiro dia 11

Cosmosofia
O ovo primordial 12
Poeira de estrelas 14

Época antediluviana
A Divindade 17
Tradição 17
As 7 ciências liberais 17
Enoque 18
Hermes Trimegisto 18
A Torre (Babel.) de Borsipa 21
A grande pirâmide do Egito 21

Capítulo II

Época Pré-Cristã
A mitologia 22
Influência esotérica egípcia 22
Os mistérios e Isis 23
O segredo 24
As escolas Eleusianas 24
A escola Platônica 25
A escola Pitagórica 26
O Mitraísmo 27
A escola eclética de Alexandria 28
O Cristianismo primitivo 28
O Gnosticismo 29
Os filhos da luz 29

Capítulo III

Os fundamentos judaicos
A lenda 30
O Mestre Hiram 31
A construção do Templo 32
Balkis, Rainha de Sabá 32
A morte do Mestre 33
O castigo dos assassinos 33
O Delta sagrado 34
Destruição e reconstrução do Templo 35
A propagação do conhecimento na Europa 36
A decadência romana 36
A Arte Gótica 37

8
*
SEGUNDA PARTE
A corrente mística e cavalheiresca.
Do Século XII ao Século XVIII
* *
Capítulo IV
A época Templária 38
Os Cavalheiros Templários 39
Os Ashashins 40
Os Irmãos do Oriente 41
Os Cavalheiros construtores 42
O fim das cruzadas 43
O retorno à França 43
A maquinação 44
A morte do Grão Mestre 46
O fim da Ordem do Templo 47
A integração 49
O poder da Igreja 50
A controvérsia cientifica 50

Capítulo V
O Século XIV inglês 51
Os Lolardos 51
A Magna sociedade 52
Os primeiros grêmios 53
*
TERCEIRA PARTE
A Maçonaria especulativa,
Democrática e libertária.
Do Século XVIII ao Século XX
* *
Capítulo VI
Os Maçons aceitos 55
A corrente filosófica e mística 56
A primeira constituição 57
A maçonaria escocesa 58
A grande Loja Provincial da Inglaterra
Para o Reino da França 59
Capítulo VII
A Maçonaria moderna
O século da razão 61
A Maçonaria da Corte 61
O Grande Oriente da França 62
A Maçonaria revolucionária 63
A desgraça do Grão Mestre 64
Os Rosa-Cruzes 64
A síntese progressiva 66
A Maçonaria mística 67
A Maçonaria mágica 68
A Maçonaria Imperial 70
A Maçonaria feminina 70
A Maçonaria republicana 71
A Maçonaria à conquista do mundo 72
A Maçonaria contemporânea 73
Relação da Maçonaria com a Igreja 74

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NOTA DOTRADUTOR 81

*
-PRIMEIRA PARTE-

A CORRENTE FILOSÓFICA,
BÍBLICA E SIMBÓLICA.
* *

Do nascimento do mundo até


O Século VIII d.C.

10
*
CAPÍTULO I
Cosmogonia
* *
O dia antes do primeiro dia.

Faz entre dez e vinte mil milhões de anos que aconteceu a grande
explosão, o Big Bang, o acontecimento que iniciou nosso universo. Por que
isto aconteceu? É o maior mistério que conhecemos. Na época muito remota
do início do universo, não havia galáxias, estrelas nem planetas, não havia vida
nem civilizações; toda a matéria e a energia presente no universo estava
concentrada com uma densidade muito elevada em uma massa informe e
radiante, uma bola de fogo que continha todo o espaço e que podemos
imaginar como um ovo cósmico, que nos lembra os mitos da criação de muitas
culturas: (*53)
“...Havia primeiro o grande ovo. Dentro dele havia o caos, e flutuando no
caos estava Pan Gu, o grande Não desenvolvido, o embrião Divino; e Pan Gu
saiu, rompendo o ovo com um martelo e um cinzel na mão com os quais deu
forma ao mundo...” Teosofia chinesa, Século III D.C.

Não é que toda a matéria e a energia estiveram apertadas num pequeno


local do universo atual e sim que o universo inteiro: matéria e energia
ocupavam um volume muito pequeno. Nessa época muito remota, o universo
estava cheio de radiação e de matéria sutil, em princípio hidrogênio e gelo
formado a partir de partículas elementares nessa densa bola de fogo
primigênia, brilhantemente iluminado (*53). O universo começou com aquela
titânica explosão cósmica, uma explosão que ainda não cessou e suas
dimensões são tão grandes que superam a compreensão do homem. Recorrer
a unidades familiares de distância que se escolham por sua utilidade na terra,
como os quilômetros, não servem para nada.
À medida que o tempo passava o tecido0 do espaço continuou
expandindo-se, a radiação esfriou e o espaço tornou-se pela primeira vez
escuro, tal como o concebemos agora. Logo começaram a crescer pequenas
bolsas de gás.
Formam-se gavinhas de vastas e sutis nuvens de gás, colônias de
coisas grandes que se moviam pesadamente, girando lentamente, tornando-se
cada vez mais brilhantes, contendo cem mil milhões de pontos brilhantes.
Haviam se formado as estruturas maiores do universo: as galáxias como as
vêem hoje. A terra, criada graças a uma dessas projeções, condensou-se a
partir do gás e da poeira interestelar há 4.600 milhões de anos. (*49)
Uns milhões de anos depois do Big Bang a distribuição da matéria no
universo havia se tornado algo grumosa, talvez porque o próprio Big Bang não
tinha sido perfeitamente uniforme. A matéria estava compactada mais
densamente nesses grumos do que em outras partes. Pode-se imaginar que
houveram dois ou mais Big Bang quase simultâneos: a chamada “reação em
cadeia” bem conhecida pelos físicos nucleares. A gravidade desses grumos

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ataria para si quantidades substanciais de gás circundante, nuvens de
hidrogênio e de hélio destinadas a converter-se em cúmulos de galáxias. (*53)
É muito claro que o universo tenha estado em expansão desde o Big
Bang, mas não está absolutamente claro que continue expandindo-se
indefinidamente. A expansão pode tornar-se cada vez mais lenta até deter-se
e inverter-se, fazendo que o universo criado por Deus, um dia final voltará a
Deus. Se vivemos num universo flexível deste tipo o Big Bang não é a criação
do Cosmos, e sim simplesmente o fim do ciclo anterior, a destruição da ultima
encarnação do Cosmos. Porém ao contrário, é cientificamente conhecido que
se existe menos de certa quantidade crítica de matéria no universo, a
gravidade das galáxias será insuficiente para deter sua expansão e provocar a
recessão; neste caso, o universo continuará sua fuga para sempre no infinito.
(*53)
O tamanho do universo é inacessível ao nosso conhecimento atual e,
crescendo cada dia mais, será ainda mais difícil medi-lo, se tivéssemos os
instrumentos adequados para tão gigantescas medidas. Conhecemos muito
melhor a estatura do nosso sistema solar. As simulações numéricas feitas em
1970 estimam que a nuvem “Oort” (cuja estrutura esférica de asteróides
envolve o sistema solar) é de 20.000 a 50.000 unidades astronômicas. Se
cada unidade astronômica tivesse 150 milhões de quilômetros, o perímetro
interior do nosso sistema solar se situaria entre 3.000.000 a 7.500.000 de
quilômetros (*55). Carl Sagan dizia em sua famosa série televisiva “Cosmos”:
“...O Cosmos* é tudo o que é, o que foi e o que será alguma vez...”

(*): Cosmos, palavra grega que significa a ordem do universo, oposta a Caos.

*
Cosmosofia
* *
- O ovo primordial –

Se o marco geral de compreensão de um universo em expansão e de


um Big Bang é fácil, temos que enfrentar-nos com perguntas ainda mais
difíceis.. Como eram as condições na época do dito Big Bang? O que
aconteceu antes? Havia um universo diminuto carente de toda matéria e logo
a matéria criou-se repentinamente do nada? Muitas culturas respondem que
Deus criou o universo do nada; é o caso da nossa cultura judaico-cristã. A
pergunta seguinte que devemos formular imediatamente é evidente: de onde
veio Deus? Se decidirmos que esta pergunta não tem resposta, por que não
decidimos que a origem do Universo tampouco tem resposta? Se decidirmos
que Deus tem sempre existido, por que não concluímos dizendo que o universo
tem sempre existido? (*53).
Cada cultura tem um mito sobre o mundo antes da criação e sobre a sua
criação, frequentemente mediante a união sexual dos deuses ou a incubação
de um “ovo cósmico”. Em geral, supõe-se que o universo segue um
procedente humano ou animal; aqui seguem como exemplos extraídos de tais
mitos:
“...No início de tudo, as coisas estavam descansando numa noite perpétua; a noite tudo oprimia
como a erva daninha impenetrável...”
O mito do “Grande Pai” do povo aborígine Ananda da Austrália central.

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“... Tudo estava em suspensão, tudo em calma, tudo silencioso; tudo imóvel e tranqüilo; e os
espaços do céu estavam vazios...” O Popol Vuh dos Maias Quíchua.
“... Na Arean estava sentado sozinho no espaço como uma nuvem que flutua no nada. Não
dormia porque não existia o sono; não tinha fome porque esta ainda não existia. Estando assim durante
muito tempo, até que lhe ocorreu uma idéia. Falou para si mesmo: vou fazer uma coisa...”
Mito de Maia, Ilha Gilbert da Micronésia.

“... Na origem dos tempos, existia Noun, o caos original inerte; deste caos saiu por potência
própria o sol Ra-Atoun. Atoun masturbando-se ejaculou Chou-Tefnout. Chou-Tefnout produziu Geb (a
terra) e Nout (o céu), os quais por sua vez deram nascimento aos grandes Neters da natureza: Osíris,
Isis, Seth e Nephtys...” Lendas egípcias, XII Dinastia

“... Antes que o céu e a terra tivessem tomado forma, tudo era vago e amorfo. O que era claro e
ligeiro logo se deslocou para cima para converter-se no céu, enquanto que o pesado e turvo solidificou-se
para converter-se em terra. Foi muito fácil ao material puro e fino reunir-se, mas muito difícil ao material
pesado e turvo solidificar-se; por isso o céu ficou pronto primeiro e a terra tomou sua forma depois.
Quando o céu e a terra se uniram na vacuidade tudo era uma simplicidade tranqüila, as coisas chegaram
a ser sem serem criadas; esta foi a Grande Unidade. Todas as coisas saíram dessa unidade, mas todas
se fizeram diferentes...” Huainan Zi, China, Século I a.C.

Esta ultima citação se une ao nosso conceito judaico cristão pois tm


muita semelhança com o relato bíblico:

“... No principio Deus criou o céu e a terra ; disse pois Deus: “...seja feita a luz.....” e separou a
luz das trevas; a luz chamou de dia e as trevas de noite; resultou o primeiro dia... No segundo dia, fez
Deus o firmamento e separou as águas; o firmamento Deus chamou de céu ... No terceiro dia, Deus
produziu a erva verde e arvores que dão fruto, reúnam-se as águas que estão sob o céu e apareça o
árido e o seco ... No quarto dia, Deus fez as luminárias ou corpos luminosos no firmamento do céu, que
distinguem o dia da noite e assinalam os tempos ou as estações, fez os dias e os anos e as estrelas ...
No quinto dia produziu nas águas répteis e animais que vivem na água e aves que voam sobre a terra
debaixo do firmamento do céu ... No sexto dia, criou os animais em cada gênero e por fim disse: façamos
o homem à nossa semelhança nossa ... No sétimo dia, descansou e abençoou o sétimo dia, pois Deus
tinha concluído todas suas obras até deixa-las bem acabadas.”
Livro do Gênesis: capitulo I, versos de 1 a 28, capitulo II versos 1-3.

Durante milhares de anos os homens estiveram oprimidos pela idéia de


que o universo era um marionete cujos fios eram manejados por um Deus ou
Deuses invisíveis e inescrutáveis. Depois, há 2.500 anos, produziu-se um
glorioso despertar que criou o cosmos do caos. Os primitivos gregos
acreditavam que o primeiro ser foi o caos; que criou uma Deusa chamada noite
e depois se uniu a ela; sua descendência produziu mais tarde todos os Deuses
e os homens. O universo criado a partir do caos concordava com a época
clássica grega que acreditava que a natureza imprescindível era manejada por
Deuses caprichosos. A diferença entre esses mitos e o nosso conceito
cientifico do Big Bang, é que a ciência se auto-examina e que podemos levar a
cabo experimentos e observações para comprovar nossas idéias; mas, essas
muito antigas historias da criação são merecedoras do nosso profundo respeito
(*53).
Os pontos de vista são muito diferentes quando se trata de definir a
criação do universo; os científicos pretendem que o universo é um acidente, os
religiosos que é a expressão da soberania ilimitada de Deus e os filósofos que
é um ato fundamental de toda a criação. Para uns o universo não era
inevitável; para outros o universo não é um acidente, existe por si próprio. Para
os crentes, o universo é uma obra de criação; portanto está completamente
sujeito à vontade do seu criador. Deus é energia com propósito (espírito
criador) e vontade absoluta; são este propósito e esta vontade que são
incompreensíveis para o homem (*49).

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A religião hindu é a única entre as grandes fés do mundo que inculca a
idéia de que o próprio Cosmos está sujeito a um número de mortes e de
nascimentos imensos, de fato infinitos. É a única religião no que as escolas
temporais correspondem., as da cosmologia cientifica moderna. Seus ciclos
vão do nosso dia e noite correntes até um dia e uma noite de Brahma, que dura
8.640 milhões de anos; mais tempo que a idade da Terra ou do Sol e uma
metade aproximada do tempo transcorrido desde o Big Bang.
As datas das inscrições Maias também avultam profundamente no
passado e as vezes no futuro distante. Umas inscrições se referem a uma
época de há mais de um milhão de anos e outra se refere talvez a fato de há
400 milhões de anos, ainda que os especialistas da cultura Maia discutam
estas cifras. Os acontecimentos recordados podem ser míticos, mas os fatos
temporais são prodigiosos. Um milênio antes que os europeus estiveram
dispostos a despojar-se da idéia bíblica de que o mundo teria uns quantos
milhares de anos de idade, os Mais estavam pensando em milhões e os hindus
em milhares de milhões (*53).
Há na religião Hindu o conceito profundo e atraente de que o universo
não é mais que o sono de um Deus que, depois de cem anos de Brahma, se
dissolve num sono sem sonhos. O universo se dissolve com ele, até que
depois de outro século de Brahma, se renove. Se recomponha e comece de
novo a sonhar o grande sonho cósmico. Enquanto isto e em outras partes, há
um número infinito de outros universos, cada um com seu próprio Deus
sonhando o sonho cósmico (*53).
Estas grandes idéias estão temperadas por outra, talvez maior ainda,
que diz: “...Os homens não são os sonhos dos Deuses, senão que os Deuses são os sonhos dos
homens...”

- Poeira de estrelas –

Nos últimos milênios temos feito os descobrimentos mais assombrosos e


inesperados sobre o universo e o lugar que nele ocupamos. No último terço do
Século XX, e já na fronteira do novo milênio, o homem iniciou o domínio do
átomo, do elétron, a célula e como conseqüência, está em condições de
transformar quase tudo. Os escravos humanos foram substituídos pela
máquina e agora por outros servidores: os micros chips e os genes, que não
podíamos ver com nossos olhos, mas que levam em seu interior a
transformação do mundo. Foram quebradas as cadeias da gravidade. Foi
decifrado o código genético e sabemos que a vida é uma certa disposição da
matéria. Foi iniciada a exploração do espaço. Desde satélites ou desde a terra
e graças aos raios X, os raios infravermelhos e a radiação Gama, são ouvidas
as estrelas e as galáxias situadas a milhões de anos luz do nosso planeta.
Temos examinado o universo e o espaço e descoberto que vivemos em uma
partícula de poeira.
Em outros campos tem sido vencidas enfermidades até há pouco
mortais. Tem se começado a substituir partes vitais do organismo. Substitui-
se o cobre pela fibra ótica, o aço e alumínio pelo plástico, o petróleo pela fusão
nuclear. Tem se inventado o radar, o laser, a penicilina e os plásticos. Deseja-
se substituir o elétron pelo fóton e se tem erradicado, em certa media e em
certas sociedades, a fome. a dor e a doença. Acreditamos conhecer a data do
nascimento do universo e temos aprendido que somos ao mesmo tempo

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testemunhas e participantes de um processo de evolução iniciado há milhares
de milhões de anos, que abrange a natureza inteira. Sabemos que o ser
humano não tem existido sempre nas escalas de tempo da astronomia, seu
aparecimento é muito recente. Emerge de uma longa serie de antepassados
entre os quais reconhecemos as células primitivas, os metazoários, os peixes,
os anfíbios, os répteis, os mamíferos e os primatas. Há menos de dez milhões
de anos, evoluíram os primeiros seres que se pareciam com os humanos.
Sabemos que a evolução funciona mediante a mutação e a seleção e sabemos
que os átomos dos nossos ossos e do nosso sangue se forjaram em estrelas a
anos luz de distancia de nós, e que inclusive as partículas mais antigas que
compõe esses átomos são fosseis de energias e forças apenas
compreensíveis que existiram no primeiro microssegundo da criação.
Virginia Woolf dizia: “A natureza nos tem confeccionado hibridamente de
argila e de diamante, de arco-íris e de granito..” Agora poderíamos acrescentar
que o homem é composto de inimaginável cifra de 10 elevado a 29 partículas e
podemos dizer: “Somos poeira, poeira de estrelas, poeira de estrelas que
caminha...”, o que não é apenas uma frase poética. Para Monod: “...Rompeu-
se a antiga aliança e o homem sabe, finalmente, que está sozinho na
imensidade indiferente do cosmos, do qual emergiu por acaso...”. Sabemos
também que o homem vive em um pequeno planeta, a Terra, que é arrastado a
velocidades fabulosas por sua estrela: o Sol, através do espaço interestelar Há
pouco que sabemos, além disso, que se trata de uma astro muito comum, entre
os quais existem não menos de dez mil milhões e sua própria ilha estelar: a via
Láctea, que contém umas. 400 mil milhões de estrelas de todos tipos que se
movem com uma graça complexa e ordenada.
Nossos antepassados observaram a elegância da vida na terra, como
apropriadas eram as estruturas dos organismos e suas funções; consideraram
isto como prova da existência de uma grande desenhista, um Grande Arquiteto
do Universo, que proporcionava meticulosamente à natureza, significado e
ordem. E não podemos evitar o pensar no delicado e necessário equilíbrio da
espécie humana.
Em todas as épocas, nos têm fascinado estas perguntas. Onde
estamos? Quem somos? Hoje está muito claro que vivemos a uns 300.000
anos luz do núcleo galáctico, nas bordas de um braço espiral onde a densidade
de estrelas é relativamente reduzida. Vivemos em um planeta insignificante de
uma estrela ordinária nos arredores de uma galáxia ordinária (*53), Somos uns
seres sozinhos no cosmos, que Prigogine chamava: “...Ciganos nas fronteiras
do universo...”, de um universo fragmentado, rico em diferenças qualitativas e
em potenciais surpresas, de uma natureza complexa e múltipla, em qual os
processos irreversíveis a aleatoriedade jogam um papel essencial e em qual a
reversibilidade e o determinismo são apenas casos peculiares. Resta ainda
muito para entender sobre a origem da vida, inclusive a origem do código
genético. “...Sabemos pois ... que sabemos...”, mas, o nosso melhor saber é
que sabemos pouco do mistério da vida.
Dizia Aristóteles: “...Todo homem por natureza, deseja saber...” e é
certo que temos essa incrível ânsia por aprender; somos impelidos a conhecer
nós próprios por dentro e por fora; mas, se tudo isto não é suficiente,
inventamos explicações, razões e relatos que nos dizem onde estamos e como
somos.

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Criamos lendas, historias, fabulas com quais construímos o que
chamamos de “tradição”; esta é a nossa maneira de ser; inventamos
mecanismo que nos podem levar mais alem de nós próprios. Temos
instrumentos que permitem ver o que não podemos ver, ouvir o que não
podemos ouvir, ir a lugares aos quais não podemos ir, e vamos a esses
lugares, e vemos essas coisas, e as ouvimos e nos perguntamos sempre as
mesmas perguntas: O que significa? Como fazemos parte de tudo isto?
Desejamos descobrir nosso passado, conhecer nosso presente e estabelecer o
nosso futuro. Também desejamos descobrir a nós próprios, descobrindo a “Via
Real” que nos permita entender o laço que temos com o universo e com seu
Criador, como parte micro cósmica do Ele e Ele, como parte macro cósmica de
nós próprios.
Apesar das invenções e inovações do nosso mundo moderno; apesar
dos prodígios técnicos e a evolução material do nosso século da luz, o homem
não é mais feliz; sente mal-estar; continua inquieto e angustiado, entendido que
perdeu a consciência de sua origem do primeiro dia desaparecido e esquecido;
falta lhe algo, o reencontra-se com o laço original, com o passado distante, com
a fonte primordial.
A tradição transmite-nos a mensagem de um passado distante, aquele
da nossa origem; mas, temos esquecido essa unidade criadora, esse tempo
primordial; mas sem duvida, nossa memória inconsciente incita-nos a buscar
com nostalgia as Leis do mundo que ela nos tem transmitido e que desejamos
interpretar segundo a linguagem da nossa época.
Na ânsia de conhecer o desconhecido, o homem tem a necessidade de
imaginar e gosto do irracional que apóia sua capacidade de sonhar. Por isso,
extrapola o tempo esquecido; ilustra-se com quimeras, contos de fadas;
forjando mitos nebulosos e improváveis com o fim de satisfazer seu desejo pelo
maravilhoso; intentando justificar seu desconhecimento pelo fantástico; de
explica-lo e de compreende-lo pela alegoria da lenda. O homem gostaria que
seu passado fora “bonito”; por isso agrega um pouco de decoro, de fantasia e
de magnificência ao comum, para que os demais o invejem, para que desejem
ser como quisera ser ele próprio, para que o admirem seus filhos, para quais
quer ser seu herói, e seus amigos para quais deve ser “gente-boa”; para que o
admirem mais, para que o amem mais, e para que seus inimigos o odeiem
mais.
O homem quer ser admirado; é por isso que decora a realidade com
adornos magníficos; é por odiar o comum e o medíocre que o homem
transforma a verdade em mitos, lendas e fabulas, quais, sem contradizer a
verdade, apresenta a em forma mais valiosa; para embelezar os que
participaram no seu desenvolvimento e a si próprio. Com o tempo e com o
passar das gerações banhadas neste mito que se tornou vivente no espírito da
sua comunidade, o homem aceitou-a como verdade e ao final nele crê;
identifica-se com ele, transmitindo-o como testemunho do que ele próprio tem
aceitado como sua história.
São esses mitos, lendas e fabulas que reporto a seguir; são o tema
desta obra. São tão numerosos que justificam um livro exclusivamente
dedicado a eles.

Agora sim, podemos começar a sonhar!

16
*
Época antediluviana
* *
- A divindade –

..Com a mesma sede de conhecimento, tentamos com prender e


explicar tudo, até o inexplicável. Tentamos em vão compreender tudo e
compreender Deus, perceber e compreender sua onisciência, onipotência,
onipresença através dos atos da vida. Tentamos, graças aos nossos
radiotelescópios, entreve-Lo ainda que fosse por um instante no universo...
busca inútil. A total abstração de Deus torna-O definitivamente invisível aos
nossos olhos curiosos e à nossa mente inquieta. Graças aos nossos sentidos
que, apesar de que em nome da razão, tem perdido seus instintos primordiais,
tentamos compre4eder a abstração divina. Graças à teosofia ao deismo que
herdamos dos nossos ancestrais educados nas religiões primitivas, podemos
definir seu princípio; mas queremos outra coisa, queremos mais; não nos
satisfazemos apenas com os efeitos; queremos a causa, queremos a realidade,
queremos a revelação, a concreção da nossa esperança e da nossa fé no
desconhecido, no irrevelável que queremos ser revelado.
A compreensão do que é Deus, é da maior improbabilidade; para a
ciência, Deus é uma causa; para a filosofia, uma idéia; para a religião, uma
pessoa. Deus é para o cientista uma força primordial; para o filósofo, uma
hipótese de unidade e para o religioso, uma experiência espiritual vivente (*49).
A crença em um Principia Criador é um dos fundamentos da Maçonaria
universal, originado nos numerosos anos de operativismo da construção, os
maçons sabem que nada pode ser criado sem um Criador; o Universo e toda a
vida não escapam a esse princípio; porém, qual é a origem da forma que pode
gerar tanta potência, tanta criação, tanta harmonia? É efeito ou causa? Onde
está situada? Em Deus? Pois, se a força está no universo, onde está Deus?
(*4). Vivendo em uma civilização educada na religião judaico-cristã explicando
que Deus é nosso Pai Criador, o imaginamos beatamente como nosso genitor,
tal como o nosso pai carnal; é por isso que a nossa tradição popular
representa-O como um patriarca bondoso e barbudo.
Sendo o Criador, ele reina tal como um Rei sobre sua criação e tal como
um Monarca, está sentado sobre seu trono. Estando no “céu”, seu trono não
pode estar situado senão sobre as nuvens; é sobre esta forma que nossos
ancestrais nos transmitiram há mil gerações, a imagem do Criador.

- Tradição –

Sentado sobre seu trono de nuvens em Thulé, (extremo setentrional do


nosso mundo onde, de acordo com as mais antigas lendas, a vida teria
aparecido pela primeira vez), Elfou (um dos nomes mais antigos de Deus),
admirava sua criação, um boneco de argila vermelha, ao qual acabara de dar o
“sopro de vida” e que chamou de Adão (o “Primeiro” em aramaico antigo).

17
Querendo que esse pequeno ser se tornasse o pai da humanidade e reinasse
sobre o mundo que ele tinha acabado de criar, Deus decidiu instruí-lo no
conhecimento dos mistérios da vida.

- As sete ciências livres –

O conhecimento do “Tudo em Todos” é o maior e mais antigo mistério


da Maçonaria; nele se resume o conhecimento das sete ciências livres que
eram a Gramática, a Dialética e a Retórica, a Aritmética, a Geometria, a Música
e a Astronomia, todas reunidas em uma só “Grande ciência sagrada”: a
Geometria, que encontra sua mais alta expressão no Egito, país que deve sua
filosofia à Índia depois que se difundiu na Pérsia e na Caldéia e de ter fundado
as bases das civilizações do oriente médio (*4). Os segredos das sete ciências
livres foram comunicados a Jubal, filho mis velho de Lamec, patriarca
descendente de Caim e de sua mulher Zilla. A alquimia e a arte de forjar os
metais foram transmitidas ao seu irmão Tubalcaim. Os hebreus gravaram seus
conhecimentos sobre duas colunas; uma de pedra e outra de tijolo, com o fim
de que eles não se perdessem durante o dilúvio ordenado por Deus, que
começou no ano 1.657 (2.378 anos a.C.). Choveu durante 40 dias e a água
permaneceu durante 160 sobre a terra (*1).

- Enoque –

Nos textos antigos, encontram se frequentemente referências a Enoque


(Henoch ou Henock) primeiro filho de Yered e pai de Matusalém; sétimo
patriarca bíblico que, segundo a tradição, viveu no ano 3.740 antes de Cristo.
Durante um sonho, conheceu o verdadeiro nome de Deus, que lhe foi proibido
pronunciar e que não podia revelar (*4). Durante outro sonho, teve a revelação
do dilúvio que devia submergir a terra e destruir a humanidade, porque Deus
arrependeu-se de ter criado o homem, uma vez que reinava sobre a terra um
relaxamento e perversão tal que ele resolveu fazer perecer todos os seres
vivos da criação por meio de uma inundação universal, à exceção de Noé, de
sua esposa, de sues três filhos e suas esposas e de um casal de cada espécie
de animais que se refugiaram em uma arca de madeira (*1). Enoch decidiu
preservar da catástrofe o verdadeiro nome de Deus e gravou as letras que o
representavam sobre um delata de ouro, que introduziu em uma pedra cúbica
de ágata. Construiu uma profunda abobada no interior de uma montanha para
guardar o precioso Delta de ouro, no qual se tinha gravado o sagradíssimo
nome (*46).

- Hermes Trimegisto –

Quando a ira divina se acalma e a chuva cessa, um chamado Hermes


(o Hermorian) encontra as duas colunas de Jabal e de Tubalcaim. Inspirado
por Deus, ele compreende a grande importância das revelações escritas sobre
essas colunas e decide transmiti-las a uns homens capazes de ser depositários
desses segredos e de fazê-los reviver. Depois do tempo necessário para
conhecer as qualidades e capacidades desses postulantes, ele ordenou-os
sacerdotes do culto ao “Deus vivo”, instruiu-os em todas as ciências e artes e

18
revelou-lhes os mistérios dos símbolos. Desse tronco de sábios saíram os
escolhidos que deviam ocupar o trono, os altos cargos e as dignidades do
Estado egípcio.
Hermes foi o iniciador da ciência secreta dos espíritos assim como da
filosofia relativa a Deus e ao Universo. Uma das suas citações, extraída do
texto do “discurso sagrado”, diz: “O que está acima é como o que está abaixo”,
aí define uma correspondência sutil e análoga, entre os mundos superior e
inferior, entre o mundo de causas e o mundo dos efeitos, entre o micro-cosmo
e o macro-cosmo.
Desde as primeiras civilizações da humanidade, foi notório que exista
uma hierarquia oculta de Reis sacerdotes iniciados, constituídos em uma
fraternidade teocrática de sábios e de Mestres, chamada “Grande Loja Branca”
dirigida por Melquidezek, Rei de Salem e Mestre do “Deus altíssimo”. Durante
séculos, essa fraternidade foi a íntima, secreta e fiel depositária dos mistérios e
dispensadora da doutrina sagrada (*22). A primitiva obscuridade dos textos
bíblicos cita alguns deles: Melquior, Gaspar e Baltazar que, segundo a tradição
cristã, vieram venerar Jesus no dia do seu nascimento.
A mais antiga tradição pretendia que Deus próprio havia escolhido
Hermes, mortal de grande sabedoria, a quem ele havia dado por nome “o
Trimegisto” (três vezes grande, três vezes sábio, três vezes Mestre), para ser
iniciado no conhecimento dos mistérios da Índia, do Egito, da Pérsia e da
Etiópia; sabedoria secreta consistente em uma série de doutrinas e de
cerimônias sagradas. Também Deus iniciou-o no conhecimento das ciências e
das artes com o propósito de instruir a humanidade para que expresse seus
sentimentos com a escritura. É por isso que as lendas dizem que foi Hermes
(Mercúrio para os latinos e Toth para os egípcios) quem criou os hieróglifos, o
veículo de transmissão da teologia do antigo Egito. Hermes instruiu também os
gregos na arte de sua interpretação (*11).
Segundo Hesíodo da Esparta, Júpiter (Zeus), Mestre dos Deuses, teve
sete esposas, amou também a várias ninfas e mortais com quais teve
inumeráveis filhos, como Mercúrio (nome latino de Hermes) nascido dos seus
amores com Maia, uma das filhas do Deus Atlas. Amou também a Aurora e
dela teve um filho: Lúcifer; é dizer que Hermes e Lúcifer eram meio irmãos.
Segundo a lenda de Osíris e de Isis, transmitida por Plutarco: Sírio (outro nome
egípcio de Hermes) preceptor de Isis, filha mais velha de Saturno, o mais velho
dos Deuses (Deus grego Cronos; pai do tempo ou Deus Humano), foi o
inventor da linguagem e o primeiro legislador que ensina aos homens o culto
aos Deuses e os meios para edificar os templos onde eles deviam ser
adorados (*26).
Toth (nome egípcio de Hermes), o grande Mestre do saber, mensageiro
dos Deuses e guardião das encruzilhadas e dos primeiros conhecimentos é
citado no Zohar (livro dos mortos egípcios) como o pesador das almas: “...Tua
alma foi pesada e achada com falta de peso...”
Toth está identificado com a religião egípcia, como o Deus da Sabedoria
e da escrita, como o guardião dos arquivos sagrados e da magia (grande
ciência sagrada da tradição oriental, inseparável da religião); está identificado
com a cultura grega como Hermes (Hermes Mercúrio Trimegisto). Hermes
também é assimilado a Lug, o Ser superior dos Ligures pré-célticos, o Mestre
de todos os saberes, protetor das almas dos mortos que haviam transposto as

19
barreiras do desconhecido como daqueles que o encomendaram em vida
buscando o conhecimento ancestral.
Obras muito prezadas foram atribuídas a Hermes; uma dentre elas o
“Pinandre” relata magníficas passagens, dando exemplos da sua sabedoria,
reproduzo uma delas, conhecida sob o nome de: “Concilio dos Deuses”:
Nessa época distante, os Deuses reunidos, inquietaram-se por saber o
que Hermes tinha feito com os altos conhecimentos que os grandes Mestres
das forças da natureza lhe haviam confiado.
Zeus, Mestre dos Deuses, interpelou-o: “...Mortal, confiamos-te o
conhecimento das forças da natureza e o nome dos espíritos que as
comandam com o fim de que as esconda da curiosidade dos homens; fizeste
como te ordenamos?...”

Hermes respondeu: “... Zeus, Mestre dos Deuses, foi feito como ordenaste...”

Zeus pergunta-lhe: “...Onde escondeste o conhecimento dos mistérios da vida


e do universo?...”

Hermes respondeu: “...Eu escondi-o ali onde os homens jamais poderão


encontra-lo...”

O Deus do vento pergunta-lhe: “...Escondeste-o no mais forte sopro do meu


Reino dos ventos?...”

Hermes respondeu: “..Não, porque num dia próximo os homens irão aos
sopros do vento e poderão encontra-lo...”

O Deus do mar pergunta-lhe: “...Escondeste-o no mar profundo dos abismos


do meu Reino das águas?...”

Hermes respondeu: “...Não, pois que num dia próximo os homens irão até a
maior profundidade do mar e poderão encontra-lo...”

O Deus da terra pergunta-lhe: “...Terás escondido-o na mais profunda


escuridão das fossas do meu Reino?...”

Hermes respondeu: “...Não, pois que num dia próximo os homens irão até a
maior profundidade da terra e poderão encontra-lo...”

O Deus do fogo pergunta-lhe: “...Será então, no meu Reino do fogo, onde


escondeste-o?...

Hermes respondeu: “...Não, pois que num dia próximo os homens irão até o
reino do fogo e poderão encontra-lo...”

Zeus pergunta-lhe: “...Se não é no vento, nem no mar, nem na terra, nem no
fogo, onde escondeste o conhecimento sagrado?...”

Hermes respondeu: “...Eu escondi-o lá onde os homens jamais poderão


encontra-lo...”

20
Zeus pergunta-lhe: “...Diga-nos, pois, onde fica esse lugar tão confiável...”

Hermes respondeu: “...No mais profundo dele próprio...”

A Maçonaria tem se integrado à corrente tradicional iniciática designada


sob o nome de “Hermetismo” e sua história está muito ligada àquela, desde a
filosofia tradicional as grandes sínteses dos conhecimentos e do pensamento
humano da época neo-Álexandrina, que marca a identidade entre a religião, a
ciência e a filosofia, reconhecendo que o homem é a medida micro-cosmica de
todas as coisas, parte de um “Grande Todo” macro-cósmico e que esta
pertença a esse Grande Todo pode faze-lo entrever as verdades superiores.

- A torre Babel -

A torre Etermenarki é mais bem conhecida sob o nome de “Torre de


Babel”, o que no assírio antigo significava “confusão”, tão numerosos foram os
idiomas dos obreiros de todo o oriente médio afluíram para construí-la. Essa
mescla lingüística foi o obstáculo para a transmissão das ordens de Philec,
diretor dos trabalhos de construção. A palavra não podia ser empregada, foi
necessário que os obreiros se expressassem por símbolos e sinais (*2).

- A grande pirâmide do Egito –

Este método de comunicação por símbolos foi em seguida levado ao


Egito por Misraim, segundo filho de Cham, fundador da primeira dinastia
faraônica do Egito (Reino mitológico do Rei escorpião) e foi empregado para a
construção das pirâmides. Construída 2.500 anos antes de Jesus Cristo (IV
Dinastia 2.723-2.563 a.C.), sob o reinado do faraó Quéops, a grande pirâmide
do Egito é o exemplo da interpretação de conhecimentos geométricos na arte
de construir onde se expressam elevados conhecimentos astronômicos nas
medidas arquitetônicas.
Os grandes homens da história do Egito foram todos Mestres de obras:
Quéops, Tutmosis III e Ramses foram prodigiosos construtores que criavam
suas obras para a glória do princípio divino que estava definido naquela época
como “o Arquiteto soberano dos mundos”.
Os egípcios têm conservado por longo tempo a lembrança de Imhotep,
genial arquiteto instruído na “Câmara de vida” do templo de Tanis, lá onde se
transmitiam os mistérios do alto conhecimento e a sabedoria dos anciãos do
Egito sagrado. Imhotep foi o Mestre de obra que dirigia a construção do antigo
templo de Edfou do alto Egito e da grande pirâmide de Quéops.
Para a Maçonaria, a data da construção da grande pirâmide é a de
4.000 anos a.C.; ela é o primeiro ano do calendário maçônico, devido ao que
nos encontramos no ano 5.998.
Desde a época mais antiga (14 séculos antes da era cristã) os
construtores egípcios estavam constituídos em uma sociedade de caráter
iniciático no Deir el Medineh; esta organização foi uma das expressões mais
primitivas da Maçonaria; foi o apogeu da primeira época corporativa egípcia.
Ao final de 18ª Dinastia, uma primeira confraria de construtores foi
rigorosamente comprovada. Suas leis, seus símbolos e sua moral alcançaram

21
um alto grau de espiritualidade. Perfeitamente integrada ao Império faraônico,
ela uma dos mais belos elementos da sua sociedade. A documentação
conservada no museu arqueológico do Cairo atesta que, no ano 29 do reino de
Ramses II (19ª dinastia), os obreiros egípcios dispunham de uma organização
capaz de formular reivindicações necessárias ao desenvolvimento técnico da
época.

*
CAPÍTULO II
Época pré-cristã
* *
- A mitologia –

Desde a antiguidade os homens têm sentido a necessidade de


agruparem-se em comunidades para viver uma vida conforme com as idéias de
seus componentes. Estas comunidades antigas tinham uma dupla finalidade:
operativa, quando praticavam atividades físicas, e especulativa, quando
realizavam estudos filosóficos.
Seguindo a correntes do pensamento bíblico-simbólico, a filosofia
maçônica encontra suas origens entre as culturas das antigas comunidades
orientais. A mais conhecida dessas comunidades foi a dos Essênios entre os
Hebreus, grupo social difundido na Judéia e na Palestina a partir do primeiro
século antes de Jesus Cristo (*11). Os Essênios viviam em comunidades
juramentadas separadas, porém unidas por um laço comum; seus membros
dedicaram-se a profissões úteis à sociedade; seus bens eram comuns e se
reconheciam entre eles por sinais e palavras. Ao redor do ano 65, antes de
Cristo, os Essênios foram suspeitos de heresia e perseguidos pelos sacerdotes
das sinagogas judaicas; refugiaram-se em Qumram, região desértica ao sul de
Jericó, onde desapareceram por volta do ano 70 da nossa era.
Os “Terapeutas”, comunidade esotérica de curandeiros denominavam-
se, segundo Filon de Alexandria, “... cidadãos do céu e do mundo, unidos ao
criador do universo pela virtude que os procurava a amizade com Deus...”. Os
Terapeutas dedicavam-se ao estudo do conteúdo esotérico dos livros antigos e
punham em ação um pensamento criador comum com o fim de contemplar o
invisível por meio do visível.
Na Índia, Zoroastro, Rei de Bactisna, fundou e reformou a escola do
Magismo; escreveu a “Zeudanesta” que contem os Nocktas, poemas antigos
da primitiva religião do fogo e da luz do Deus Osmuz (*27). A doutrina desta
escola foi anterior à da escola filosófica Vedantina, dedicada à interpretação
das escrituras Bramânicas: os Vedas.

- Influencia esotérica egípcia –

A maçonaria tomou do antigo e esotérico Egito muitos dos seus


mistérios; um deles relata que o Faraó, Rei do “país duplo”, representante de
Amon Ra na terra, Deus do sol, era depositário de uma força misteriosa: o
“Ka”, potente força vital de essência divina à qual os grandes sacerdotes a
serviço do soberano “os servidores do lugar da verdade” dedicavam uma
atenção especial para mantê-la viva. Esta força das profundidades do ser se

22
revelava quando os adeptos elevavam os braços, formando um esquadro sobre
a cabeça. O “Ka”, muito presente no esoterismo do Egito, era representado
pela serpente, cuja cabeça figurava sobre o chapéu Faraó (*21).Entre os
egípcios, os sacerdotes formavam uma classe distinta dedicada ao estudo das
ciências secretas, das artes e o ensino de algum ramo especial dos
conhecimentos humanos. Esta ocupação foi seguida por todos os sacerdotes
dos povos do oriente: os persas, caldeus, sírios, gregos, etc.. Os ritos de
iniciação egípcios de Deir e Medineh, dos quais uma parte está descrita na
sepultura de Amen-Nakht (tumba 218), tinha por objetivo despertar esse “Ka”
que permitiria ao homem entrar na vida eterna durante sua passagem pela
terra e livrar-se das travas da ilusão para entrar no conhecimento da “Doutrina
Interior” (*34). Para a compreensão do ritual, o adepto penetrava no coração
do sol e aqui, após sua morte simbólica, renasceria, tornando-se “filho da luz”;
a partir deste momento, ele estava encarregado de repartir bem-estar entre os
homens da sua raça e no mundo.
Hermes citava esta força misteriosa sob o nome de “forte força da força”
que se encontra em cada homem, mas que poucos pensavam em fazê-la
frutificar; representava-a graficamente sob a forma do “caduceu” onde duas
serpentes envolviam o bastão; a tradição védica chamava-a “Kundanili”, força
latente nos fundamentos do homem. Seis séculos mais tarde na China, o Tão
dará a ela o nome de “Chi” (*34).
Os mistérios do Egito foram levados a este país pelos Caldeus (hindus).
Nesta época egípcia remota, se consideravam como divinos o sol (Osíris), a lua
(Isis), as estrelas e o poder da natureza; estes astros foram objetos de culto. O
objeto dos “mistérios” amplamente propalados entre todos os povos do Oriente,
todos tinham no papel de divindade principal: um homem e uma mulher.
Fora no Egito: Osíris e Isis; na Índia: Mahadera e Sita; na Fenícia:
Thammuz (Adonis) e Astarte (Vênus); na Frigia: Atys e Cybele; na Pérsia:
Mithra e Ais; na Samodrácia e Grécia: Zeus (Sobazeus ou Dionísio) e Rhea;
divindades que em todas as ocasiões eram emblema do sol e da lua (*42). Os
símbolos foram a linguagem universal da teologia do Egito, foram também o
método mais obvio de instrução porque, à semelhança da natureza, dirigiam
mo ensino da vida. Os mistérios egípcios da Esfinge tiveram do mesmo modo
origem nesse sistema de ensino que foi o simbolismo.

- Os mistérios de Isis –

Mãe da humanidade segundo os egípcios, a “Isis dos mil nomes” era


uma divindade única que possuía diferentes formas; no geral, ela é
representada sob a forma de uma vaca, mãe do boi Apis, entre cujos chifres se
destacava o globo lunar. Um véu, símbolo da incompreensibilidade da
natureza pela condição humana, ocultava-a continuamente (*41); a essência
dos “mistérios” egípcios não era outra coisa que a exposição da fábula de
Osíris e Isis; onde Isis percorreu a terra, reunindo os pedaços dispersos do seu
defunto irmão e esposo Osíris, desmembrado por Seth (Typhon dos gregos).
Quando os reuniu todos, formou outra vez o seu corpo e deu vida ao seu
esposo despedaçado com tempo suficiente para gerar um filho dele: Horus, o
unificador e vingador. Isis foi adotada sob diferentes nomes segundo as
civilizações (Neith, Phta, Butto, Thor, Proserpina, Serapis, Juno, Ceres e
Ranusta) (*34).

23
Os sacerdotes dos templos de culto a Isis não admitiam mais do que um
pequeno número de iniciados nas cerimônias de comemoração dos seus
“mistérios” que eram de duas classes: os pequenos mistérios da vida e os
grandes mistérios de Serapis e de Osíris. A doutrina sagrada era reservada
aos últimos graus da iniciação chamada “Grande manifestação da luz”, esta
elevada doutrina, muito secreta, era a dos magos da antiguidade (*35).

- O segredo –

A palavra “segredo” se explica conseqüência do mistério e a origem de


todos os mistérios foi o culto secreto de um Deus único, em oposição ao culto
público do povo que adorava diferentes divindades (*48). Era costume na
antiguidade ensinar secretamente as ciências e as regras das artes e ofícios;
tanto pelo respeito do conhecimento e dos privilégios tidos pelos que os
possuíam, como para manifestar uma profunda admiração pela natureza, mão
criadora da humanidade. Para caracterizar sua admiração, citamos “o segredo
dos mistérios” de Macróbio:
“... a natureza não quer aparecer desnuda tal qual é ante os olhares do
vulgo e não só experimenta um prazer em disfarçar-se para não ser conhecida,
como também exige dos sábios um culto misterioso e emblemático, de maneira
que nem os próprios iniciados cheguem a penetrar seus segredos, senão sob o
véu das alegorias...” (*35).
A arquitetura, tal como as ciências liberais, era ensinada em segredo e
secretamente também se conservavam e transmitiam as regras da arte de
construir, que durante muitos séculos foram monopolizadas por sacerdotes e
as corporações do Egito. Entre esses sacerdotes estavam os arquitetos que
projetaram e construíram aqueles monumentos soberbos que ainda causam
admiração do mundo.

- As escolas Eleusianas –

O esoterismo tradicional e seus fins iniciáticos têm exercido uma


influencia considerável através dos séculos sob diversas formas de
pensamento e de manifestações artísticas, literárias, filosóficas, sociais e
religiosas. Depois do Egito, o culto de Isis adquiriu um novo esplendor no
tempo dos Ptolomeus, em cuja época propagou-se a Atenas. Na Grécia,
celebram-se os maiores mistérios da civilização helênica em Eleusis (hoje
Septime), cidade de Atica, situada entre Megara e o porto do Pireu, a noroeste
de Atenas, onde se erigiu o maior templo ao culto de Ceres (Ctéis, Cybele ou
Astarte), Deusa da agricultura, geralmente representada com coroas de
espigas de trigo, tendo na mão um ramo das mesmas (*35). Nas escolas
eleusianas fundadas por Tríptolo no século XV a.C., dirigidas pelos poderosos
“Iacchos”, praticava-se a prova da terra, a viagem misteriosa na mitológica
“Demeter”. Nos mistérios de Eleusis, se comparava o iniciado com a espiga de
trigo, produto fecundo do esforço vertical e da atividade laboriosa que
impulsione o grão escondido na terra a germinar, abrindo seu caminho em
direção à luz benéfica do sol (*47). A profundidade do lugar indica que aqui se
efetua a transformação do ser, onde morre o vicio, os erros e as preocupações
vulgares, onde se liberta a alma, onde renascerá a virtude.

24
O recinto estreito e escuro onde se encontra o postulante representava o
ventre da mãe e o tempo breve durante qual residiu nesse lugar, figurava o
período de gestação do embrião, onde toma forma um novo ser antes de
nascer a uma nova vida, livre de toda impureza e de toda preocupação. Este
conceito de que a sabedoria está escondida nas profundezas da terra se
inspira nas múltiplas descidas aos infernos que nos relata a antiguidade. Um
dos mais conhecidos é aquele do Rei “Rhamp-sinite”, quanto o Monarca ganha
nas regiões tenebrosas do centro da terra para jogar xadrez com Isis; tanto ele
ganha, tanto ele perde, aprendendo a lei severa dos quadros brancos e pretos.
O Rei voltava imediatamente à luz, trazendo um magnífico manto de ouro
oferecido pela Deusa, que ele usaria unicamente para os banquetes rituais
(*34). Em Eleusis foram iniciados os mais ilustres pensadores, sábios,
homens políticos, médicos, poetas e escritores do mundo grego: Sófocles,
Pindaro, Plutarco, Philipo, Cícero e Augusto, citando apenas os mais
conhecidos. Os adeptos de Eleusis, os que têm acedido à iniciação, vivem na
luz da companhia dos Deuses e os profanos ficam na escuridão da ignorância.
Os “pequenos mistérios” de Eleusis eram celebrados no templo de Ceres e os
“grandes mistérios” eram celebrados em Agra, ao sudoeste de Atenas, durante
à note para torna-los mais imponentes e augustos. O ensino dado por essas
escolas era rigorosamente oral e absolutamente secreto (*47). A escola
eleusiana professava a doutrina de um só Ser “Criado e Conservador do
Universo”; doutrina oposta ao politeísmo que professavam os sacerdotes ao
povo grego; é esta doutrina secreta que levou Sócrates a beber a cicuta por te-
la professado abertamente aos atenienses (*17). Segundo Diodoro da Sicília,
os gregos tomaram dos egípcios a idéia para a instrução dos mistérios
eleusianos; os sábios Lactanse e Javonius afirma que teria muita semelhança
com os mistérios de Isis, posto que Ceres era na Grécia o que Isis era no Egito.
Segundo Crisóstomo, iguais cerimônias tinham lugar nos mistérios de
Samotrácia (*35). Clemente de Alexandria disse dos grandes mistérios:
“... eram o complemento de todo saber, vistas e aprendidas neles todas as
coisas...”. Segundo Aristóteles, o templo de Eleusis foi reputado: “...o santuário
de toda a terra...” e segundo Cícero: “...Ele foi o bem que Atenas entregou aos
povos...”, porque era missão dos iniciados realizar a tarefa de inculcar a moral
como base da instrução do povo(*42). De fato, os mistérios de Eleusis
conseguiram realizar o melhoramento da condição moral dos atenienses e
aperfeiçoou seus costumes, ligando-o a sua espécie por meio de deveres
sagrados e recíprocos.
Quando as escolas foram fechadas, os adeptos se expatriaram a
diversas nações da Europa, em particular à França e a Itália onde fundiram a
tradição dos mistérios gregos com as varias formas de expressão do
esoterismo ocidental (*35)

- A escola Platônica –

A escola fundada na Grécia por Platão (427-347 a.C.), aluno de


Sócrates, ensinava a filosofia, a retórica e a geometria, tal como revela a
inscrição gravada sobre o pórtico0 de entrada da escola que ele criou às
portas de Atenas, perto de Colônia, no jardim de ginástica do herói Academus:
“...Não entre aqui quem não conhece a Geometria...”. No ensino da sua escola
dos mistérios, cuja forma era o dialogo, Platão definia a vida materializada

25
como: “...a visão de um homem que, no fundo de uma caverna, via apenas o
desfilar das sombras...” (*11). Definia Platão uma diferença entre a vida
materializada e a espiritualizada; admitia a imortalidade da alma, afirmava sua
existência depois do corpo e antes dele, depois da morte e antes do
nascimento; sinalizava prêmios e castigos na vida futura. Professava Platão a
eternidade do espírito, explicando a formação do universo com o obra de uma
inteligência infinita. Platão concluiu que todos os Estados estavam mal
governados e que somente através da filosofia se poderia discernir todas as
formas de justiça política e individual. Expôs suas idéias em diálogos celebres:
“Gorgias, Fedro, Fedon, o Banquete, a Republica, Teetero, o Sofista, o Político,
Parmênides, Timeu e as Leis”. Por causa dessa idéias, Platão foi perseguido
pelo Rei Dionísio 1º. A interpretação dos símbolos foi a base da filosofia
ensinada por Platão; ela foi ensinada a numerosos eruditos do seu tempo:
Isócrates, Eurípides, Aristófanes, Heródoto, Epíteto, Marco Antonio e
Aristóteles, que foi o Príncipe dos retóricos. O ensino da sua “Lógica” nutriu e
disciplinou a inteligência de Alexandre o Grande, do qual foi preceptor;
Sócrates falou de Platão em Fedo: “... Eram homens de gênio os fundadores
dos mistérios ou secretas assembléias dos iniciados, os quais nas primeiras
eras do mundo ensinavam sob enigmas de compreensão difícil...” Quero
terminar este parágrafo com uma citação desse grandioso filosofo que foi
Platão, que parecerá familiar a muitos maçons: “...O saber é o que permite agir
bem; só se age mal por ignorância, porque se desconhece a virtude...”.

-A escola Pitagórica –

Pitágoras de Samos (582-500 a.C) é um dos personagens mais notáveis


da antiguidade. Nasceu em Samos na Grécia (uma tradição local faz Pitágoras
nascer numa gruta situada no alto do Monte Kerkis). Foi iniciado nos mistérios
fenícios e passou 22 anos nos templos egípcios para estudar5 a geometria e a
música. Depois de ter visitado Delfos, Creta, Esparta, estabeleceu-se em
Sidon, onde fundou sua primeira escola de matemática baseada no princípio
mágico-cósmico dos números. Evoluiu em suas teorias numéricas e
desembocou na metafísica. Segundo ele, os números são o princípio e a
primeira chave de todo o universo; compreender o poder dos números, suas
propriedades e virtudes, é a chave para o conhecimento dos mistérios da vida
e do universo. Pitágoras ensinava também a natureza numérica dos primeiros
princípios, assim como o poder místico das cifras e dos símbolos que, graças
aos seus sentidos construtivos, revelam a intimidade natural da concepção e
da evolução do homem e do universo. Entre esses símbolos, o mais apreciado
por seus discípulos o pentáculo regular chamado “Tetragrama de Pitágoras”
que foi utilizado pelos pitagóricos do Século I como sinal secreto de
reconhecimento (*53). Os pitagóricos também veneravam um triângulo
sagrado no qual viam o princípio criador do universo.
A história pretende que Pitágoras foi o inventor das tabelas matemáticas
e de numerosos problemas geométricos como aquele da quadratura do circulo
e do teorema que leva o seu nome. Pitágoras desenvolveu um método de
dedução matemática para demonstrar suas exposições geométricas. O
moderno método da argumentação matemática, essencial para toda a ciência,
se deve em grande parte a Pitágoras.

26
No ano 590 a.C. mudou-se para Crotona, povoado da Sicília situado ao
oeste do golfo0 de Trento onde fundou a sua escola filosófica “Magna Graça”
ou escola filosófica de Crotona em um lugar chamado “Pequena Graça”.
Mostra ao mundo greco-romano as tradições orientais da doutrina interior,
baseada sobre exemplos simples, tal como a inscrição frontal do templo de
Delfos: “...Nosce te ipsum...” (conhece-te a si mesmo), esclarecimento que
deve desembocar em “e conhecerás o universo” (*47). O discurso do homem
elo homem para o homem e o universo, Pitágoras deu-lhe o nome de filosofia.
Pretendia Pitágoras, em suas lições aos seus discípulos, que existe um termo
entre o que é e o que não é; é aí que está a passagem ao exercício do
pensamento livre para a descoberta das fronteiras ilimitadas do conhecimento.
Ensinava ele a física, a poesia, a musica e o canto. Admirador da
harmonia universal, ele pede aos seus discípulos falar com uma linguagem to
pura como o canto do cosmos. Os discípulos de Pitágoras se aplicavam no
estudo da organização social e política, indicando que o grande filosofo
pretendia algo mais que formar uma escola (*15). Ensinava ele o sistema da
metempsicose ou doutrina da salvação, (transmigração almas de uns corpos a
outros) pela qual a alma, como castigo pelas faltas passadas, volta a ser
prisioneira de um corpo; porém, somente um encarceramento provisório.
Segundo este conceito, a morte anuncia o renascimento em outro corpo até
que a alma, purificada pela virtude, mereça libertar-se finalmente de toda
materialização (*34). A morte do corpo não implica a da alma que Pitágoras
não encarava como o resultado da organização física, e sim como o início da
mesma.
Pitágoras pregou a imortalidade da alma humana e afirmava ter sido
Aetelides, filho do Deus Mercúrio, que lhe deu o dom de lembrar suas antigas
encarnações. Ele dividiu as suas lições em duas partes: as exotéricas, ou parte
externa das ciências, que eram dadas em lugares públicos e acessíveis a
quantos queriam ouvi-las, e as esotéricas, ou parte interna das ciências, saber
reservado a quem ele exigia cinco anos de um silencio absoluto, fortificado pela
meditação e a contemplação dos ritmos do universo (*34).
Atribui-se aos pitagoricos o ter sido considerado o universo como um
grande todo harmônico: “Cosmos”, uma grande unidade de qual emana o
mundo, posto que o consideravam como um conjunto de outras unidades
subalternas. Ele tinha a reputação de possuir uma cultura universal; seus
discípulos tinham-no como uma espécie de divindade e ouviam-no como
oráculo infalível, diziam: “...o Mestre falou...” e não necessitavam de mais
provas. A tão renomada sabedoria de Pitágoras se espalha rapidamente e ele
torna-se um personagem importante da vida publica. No curso da história,
células pitagoricas se formam na maioria dos Estados do mundo antigo. No0
início do século terceiro, a.C., ainda sob César e os primeiro imperadores
romanos, o pitagorismo alcançou todas as classes sociais e adquiriu grande
popularidade. (*55)
Entre os pitagoricos se encontravam os construtores aos quais a
humanidade deve a celebre basílica da porta maior de Roma, concebida como
um templo-caverna na margem da via Prenestina.

- O Mitraísmo –

27
Nação militar sobre tudo preocupada por seu prestigio material e
econômico, Roma não brilhou por suas qualidades espirituais e religiosas;
acolheu, contudo, diversas tendências iniciáticas que tolerava sob a condição
de seus adeptos se limitassem a trabalhos esotéricos e não se entregassem à
política. A civilização romana foi atravessada por um grande movimento do
culto de Mitra (antigo deus frígio da luz, representado tendo em uma das mãos
um globo terrestre e na outra a via Láctea) que foi muito difundido na Europa
no primeiro século a.C, graças às conquistas das legiões romanas.
O mitraismo teve um grande sucesso na cidade Imperial do segundo
século d.C.. No ano285 d.C., o Imperador Trajano mandou construir um
Mithraeum na cidade capital; as alta autoridades do Império romano protegiam
a confraria, reconhecendo o Deus Mitra como protetor supremo da potência
Imperial (*55).
O Mitraismo foi uma das mais ricas associações iniciáticas da
antiguidade, tanto por sua organização simbólica como pela qualidade de suas
fraternidades que asseguravam uma grande coerência à instituição. Os
templos de Mitra estavam decorados para simbolizar o cosmos; na abobada
estava pintado o firmamento estrelado. Os templos maçônicos atuais são
quase idênticos àqueles da época mitraica.
Desde a iniciação, em qual o postulante pelas provas dos quatro
elementos, o ritual que nos transmite a historia é muito parecido com o ritual
maçônico que se utiliza ainda hoje. A dita cerimônia se realizava em uma sal
subterrânea, sendo seguida de um ritual simbólico da morte-renascimento. Os
adepto9s de Mitra recebiam ensino voltado para a astrologia, as relações do
homem com o universo e os rudimentos da linguagem dos mistérios. Nos
mistérios de Mitra, praticava-se um batismo, em forma de ducha, com o sangue
de um touro sacrificado (*48).
Glorificando e santificando o trabalho e protegendo os artesãos, o
mitraismo iniciou em seus mistérios muitos arquitetos que contribuíram a
propagar suas idéias nas primeiras corporações de construtores; tal como
Vitruvio, letrado geômetra, desenhista e filosofo romano, venerado pelos
pedreiros medievais, que afirmava: “...Aquele que utilizam apenas a mão nos
seu trabalho não poderão jamais alcançar a perfeição...”. Ele dá para os
séculos seguintes a definição do que deve ser um Mestre Arquiteto “...O
espírito sem o trabalho,é como o trabalho sem espírito, não produzirão jamais
nenhum obreiro perfeito...”

- A escola eclética de Alexandria –

No Egito, a escola eclética de Alexandria, fundada no século terceiro


a.C. or Euclides sobre as bases do neoplatonismo, ensina a unidade das
antigas doutrinas da diferentes correntes das tradições filosóficas, iniciáticas e
religiosas do oriente próximo e distante. Muitas doutrinas da época antiga
tentavam explicar o mundo. Empédocles via na matéria quatro elementos:
terra, água, ar e fogo; Anaxágoras por sua vez encontrava que os elementos
constituintes do mundo eram ordenados por uma inteligência cósmica; para
Heráclito de Efeso, tudo mudava infinitamente: a morte sucede a vida, a vida a
morte, a noite o dia, o dia a noite (*48).
Até o século terceiro d.C., a escola eclética foi a origem da corrente
alquimista que se formou nos meio sincréticos de Alexandria por uma síntese

28
das especulações e das praticas esotéricas caldéias, judaicas e helênicas,
verdadeira “Arte sagrada” e da tradição hermética ou alquímica egípcia da
escola de Hermes Trimegistro, na qual a “Grande Obra” é aquela da tradição
individual como exemplo da concepção do ouro que é aquela da concentração
materializada da luz. A doutrina eclética Alexandrina tomou rapidamente um
grande desenvolvimento no Egito, no Bizâncio e no mundo árabe nas seitas
fatimistas e ismaelitas (*47).

-O Cristianismo primitivo –

Com o nascimento de Jesus Cristo, certa idéia do mundo desaparece,


outra aparece. Os começos do Cristianismo foram bastante movimentados no
campo da fé, posto que ele nasce de uma sociedade onde os mais altos
valores espirituais pertencem às sociedades iniciáticas. Numerosas culturas
entrelaçam-se na Gália, na Alemanha e nas distantes fronteiras do Império
romano e ainda que o Cristianismo não era de espírito iniciático,
frequentemente cobre com suas crenças as velhas tradições, sem eliminar as
suas bases.
A Igreja Católica opôs-se progressivamente a todas as religiões antigas
e a partir do século IV, ela se mostrará critica e injuriosa na consideração das
fraternidades iniciáticas. Enquanto isto desistiu “de abolir os Antigos Mistérios”,
dos quais soube, contudo “recuperar” as ideologias; reexplica-las e neutraliza-
las e “cristianiza-las” com o fim de converter seus antigos adeptos. Com a
ajuda do poder político, a nova igreja Católica romana tomará pouco a pouco o
primeiro plano espiritual, chegando a ser a religião do Estado (*22).

- O Gnosticismo –

A escola Gnóstica, diretamente ligada à escola eclética egípcia, é uma


ideologia composta onde se mesclam uns elementos esotéricos egípcios,
gregos, persas, babilônios e judeus. A corrente Gnóstica, fundada sobre a
investigação esotérica, foi a base da tradição Cristã que desejou fundir as
tradições antigas e aquelas da escola cabalística, tradição sagrada dos
hebreus, derivada das antigas tradições caldéias, que tratam do valor místico
dos números e das letras do alfabeto, com o Cristianismo nascente para
fortifica-lo torna-lo aceitável aos pagãos (*47).
Pouco a pouco, o gnosticismo se afina com o esoterismo cristão,
reservado àqueles que desejaram penetrar nos segredos do mundo celestial no
qual reina o “Demiurgo”: o “Grande Gerador, Ordenador do Universo”.
Uma querela interna na Igreja Católica nascente terminou por opor os
dogmáticos católicos aos gnósticos que desejavam afirmar uma profunda
originalidade em contraste com o conceito dos Católicos, do qual os gnósticos
consideravam que os ensinamentos eram uma traição dos de Jesus; seriam os
primeiros oponentes do Cristianismo de Estado (*22).
O simbolismo maçônico encontra seu fundamenta nessa corrente
esotérica, forma de gnosticismo cristão, conhecido sob o nome de “Joanismo”.

- Os filhos da luz –

29
Os maçons são frequentemente chamados “filhos da luz”, trabalhando
para a gloria do “Grande Arquiteto do Universo”, o G:.A:..D:.U:.esta
denominação é conhecida desde tempos imemoráveis do antigo Oriente Médio
(*22). Os ritos mágicos praticados no Egito a Deir el Medineh, tinham por
objeto permitir aos iniciados nas ciências secretas entrar na vida eterna
penetrando no coração do “sol interior”, tornando-se assim “filhos da luz”. A luz
do sol interior, é invisível aos olhos dos profanos, fechados pelo véu da
ignorância. Para o espírito do homem das civilizações tradicionais, o invisível é
um tema importante, não tem a ambigüidade de um conceito metafísico, ele é
uma realidade, uma dimensão em qual se move cada um dos seres que
compõe a humanidade. O invisível está presente e é sensível; envolve o
homem como um meio que registra cada uma das ações terrestres; pertence a
um fenômeno social da antiguidade, posto que o homem dessa época remota
tinha necessidade de Deidade; ele vivia em um mundo que tinha sede de
mistérios (*22).
Na Grécia do século XV a.C., os Mestres iniciados nos “Grandes
Mistérios” de Eleusis recebiam o titulo sublime de “Filhos da luz”, assim foram
igualmente chamados os adeptos de Mitra na Roma antiga (*34). Encontra-se
também esta denominação na época cristã primitiva em uma carta de
Clemente de Roma aos Coríntios (*1):
“...Que o Artesão do Universo conserve sobre a terra o número contado
de sues filhos; das trevas à luz, da ignorância ao conhecimento...”.
Também na Bíblia; encontramos esta denominação em São Paulo:
“...Vós todos sois filhos da luz...” (*1).

*
CAPÍTULO III
Os fundamentos judaicos
* *
- As lendas –

Quando Abraão foi para o Egito, ensinou as ciências liberais e formou


um discípulo: Euclides, que se tornou Mestre nessas ciências. Ele próprio
transmitiu seus altos conhecimentos a Davi, Rei de Israel quem, no ano de
1.014 antes de Cristo, reuniu materiais sobre a área de “Ornan el Jesubion”, no
alto da colina de Moria perto de Jerusalém, para a construção do maior e mais
magnífico dos templos. Segundo uma antiga lenda hebraica esta colina era a
“pedra primordial”, o núcleo a partir do qual Yahvé havia construído a terra
(*48). Dedicado à gloria de Yahvér, esse templo deveria abrigar o tabernáculo
de madeira de acácia laminada de ouro puro que conteria “a Arca da Aliança”,
símbolo da aliança entre Deus e seu povo, e as tabuas de pedra de Moisés,
onde Yahvé havia escrito com seu dedo de fogo a Lei do povo hebreu.
Moises havia mandão construir a Arca pelos melhores artesãos de Israel
segundo as prescrições do “Eterno”. Após o retorno do Egito, o Rei Davi tinha
feito transportar da casa de Abinabad, em Kirjath-Jeorim, para o santuário de
Gihon, perto de Jerusalém (*56). A custodia da Arca estava confiada aos
Levitas, dirigidos pelo grande sacerdote Sadoq (Tsadoc ou Shadoc ou
Shadock); que havia dado ordens particulares para que se tivesse um grande
cuidado afim de que ninguém pudesse tocá-la (*46).

30
O filho de Davi, chamado de “Leão de Judá” ou “O eleito de Deus” foi
instruído por Nathan, sábio e sapiente filosofo que nutriu e disciplinou a
inteligência do jovem príncipe do qual foi o preceptor, iniciando-o no significado
dos textos sagrados e na prática das ciências secretas (*56). Salomão, tão
conhecido por sua grande sabedoria e seu amor à poesia, foi o autor dos
“Provérbios”, do “Eclesiastes” e do “Cântico dos Cânticos” (*47), hino de amor
inspirado pela beleza de Balkis, Rainha de Sabá, para o desespero de
Nagsara, sua esposa egípcia, filha do Faraó Siamon (XXI Dinastia) (*56).
Na época em que o seu poderio, gloria e fama estavam em seu maior
apogeu, Salomão fez erigir um magnífico templo à gloria do Eterno, projetado
por seu pai Davi, construído com os mais belos e ricos materiais do Oriente
Médio: a pedra branca, a madeira de cedro, cipreste e sândalo, ouro0 e pedras
preciosas.
Salomão decide que esse templo ideal não seria reservado ao povo
hebreu e ordena: “...Todo homem, qualquer seja sua raça, sua cor, sua
nacionalidade e sua religião poderá orar ao Eterno e encontrar abrigo, justiça e
proteção, perdão por suas culpas e satisfação a suas suplicas...” (*II Crônicas
6:32-39); é por isso que Salomão queria que o edifício sagrado fosse erigido
pelos esforços conjugados dos homens vindos de todo o oriente aos quais as
tarefas mais nobres seriam reservadas. Os hebreus, não tendo conhecimentos
suficientes para realizar uma obra tão importante, seriam empregados para os
trabalhos de terra.
Com o fim de que essa obra fosse a realização de todo o povo, Salomão
exigia que cada hebreu participasse de uma maneira ou outra na grande obra
da construção do “Templo do Senhor” que foi erigido, segundo a lenda, por
153.660 obreiros (80.000 homens para extrair as pedras da montanha, e
70.000 para transportá-las), vindos da Judéia e de suas províncias hebraicas e
3.600 obreiros construtores, superintendentes e inspetores fenícios cedidos
pelo Rei Hiram II de Tiro (*47).
Existia um grande apreço entre os Reis e tanto foi que o Rei Hiram prestou a
Salomão toda a ajuda que podia, provendo-o de suas cantarias, de grandes
pedras trabalhadas, e dos bosques do Líbano, madeira de cedros e abetos
para a construção do templo. Em pagamento desses serviços, Salomão
prometeu entregar-lhe, durante a construção, 20.000 medidas de trigo, 20 de
vinho, azeite de oliveiras, cevada e mel. Na conclusão da obra, devia ainda
ceder-lhe 20 cidades do território fronteiriço da Galiléia (*48)..
Para dirigir semelhante obra, o Rei Hiram enviou a Salomão um
arquiteto de vastos conhecimentos, hábil entre todos, capaz de realizar o
gigantesco projeto o Mestre Hiram, de quem Salomão tinha tido notícias dos
grandes méritos e da justa fama desse grande construtor.

- O Mestre Hiram -

Hiram Abif (Hiram Habif ou Abi “o órfão”), filho de uma viúva d tribo
hebraica de Neftali (Neftali ou Dan) e de pai tirense chamado Ur, tinha sido
iniciado no segredo da geometria, “a ciência das ciências” e na arte da
construção. Hiram era Mestre na “Arte do Traçado”, ciência misteriosa sem a
qual nenhum grande edifício podia ser concebido (*9). Era capaz de resolver
as maiores dificuldades técnicas e de manejar os materiais mais rebeldes.
Sabia talhar a pedra melhor do que qualquer outro dos melhores artesãos.

31
Mas, o melhor de tudo, Hiram era Mestre metalúrgico, conhecedor da fundição
do cobre e do bronze e da feitura de todas as obras de metal (*4), especialista
na ciência secreta da fusão e metais dos Mestres Fenícios iniciados nas
escolas de mistérios do Egito e da Grécia, descendentes daqueles que haviam
sido iniciados por Hermes, o descobridor da coluna de pedra de Tubalcaim.
Hiram chegou a Jerusalém precedido pelo seu prestigiado renome e foi
acolhido com grandes honras. De grande estatura, Hiram portava sempre em
torno do pescoço uma corrente de ouro onde pendia uma medalha de forma
triangular sobre qual estava gravado: de um lado, o olho daquele que tudo vê,
e no verso, as quatro letras impronunciáveis de Deus e que só podem ser
soletradas (*47).
Depois de ter invocado a assistência de Adonai, “o Senhor todo
poderoso, Mestre dos Mestres, o Grande Arquiteto do Universo”, a quem ele
pede: “a beleza da inspiração, a força para a execução e a harmonia da
concepção”, Hiram começou o gigantesco trabalho no 2º dia, do 2º mês, do 4º
ano do reinado de Salomão (967 a.C.) (*27). O gênio de Hiram colocava-o
acima de todos os homens e sua inteligência, sua sabedoria, seus elevados
conhecimentos e sua grande habilidade exerciam tal influencia que todos se
inclinavam ante a vontade e a autoridade daquele a quem todos davam
respeitosamente o título de Mestre.

- A construção do Templo –

A construção do Templo dura 6 anos, 5 meses e 21 dias (*1). À porta do


Oriente se levantava um sublime pórtico com um triplo alinhamento de mais de
duzentas colunas.
Hiram talha, ele próprio, a sala subterrânea do santuário, as fundações
do “Sanctum Sanctorum”, à qual ele dá a proporção de um cubo de dez
côvados de aresta, talhados em um gigantesco bloco de granito negro e rosado
que, segundo uma antiga lenda, tinha caído do céu; tesouro oferecido pó Jeová
aos artesãos com o fim de que construíssem sobre ele o santuário de Deus
(*56). Para os antigos hebreus, o “Santo dos Santos” era a câmara nupcial na
qual se consumava a união de Jeová com seu complemento feminino:
Shekinah (ou Maronita), consorte de Jeová (*34). No fundo desta sala
subterrânea, devia presidir o nicho contendo o relicário sagrado: a “Arca da
Aliança”.
Hiram fundiu as duas colunas destinadas a suportar a entrada do
templo, as dez cubas e os dez pedestais, as caldeiras, copos e vasos
necessários para os sacrifícios e a prática do culto e o Mar de Bronze (liga de
estanho e cobre, material tradicionalmente empregado para a confecção dos
instrumentos de culto, apreciada por suas excepcionais qualidades de
incorruptibilidade e de ressonância)(*47), gigantesco cálice de reborda
esculpida em forma de pétalas de lótus, sustentado por doze touros de bronze,
que devia adornar a porta ocidental do edifício. O monumental tanque, que
fazia parte das maiores maravilhas feitas pelas mãos do homem, estava
destinado à purificação dos 15.000 sacerdotes e as 24 classes hierárquicas
que oficiavam e mantinham diariamente o templo (*56).
Salomão reuniu os príncipes de Israel mais dignos e experientes para
escolher sete entre eles: Jehoshaphat, Zadok, seu filho Azariah, Elihoresphs,
Aliah, Bernaiah e Abiathar e nomeou-os “Gabaonitas”, guardiões do “Sanctum

32
Sanctorum” (*46), a sala subterrânea onde estava situada a Arca da Aliança e
as jóias e objetos sagrados do Templo. Salomão ordenou isto pelo temor de
que alguns malfeitores levados pela inveja buscassem destruir tão preciosos
objetos e para proteger a Arca da Aliança de todas as profanações.
Apesar de certa rivalidade com Hiram, devido ao prestigio excepcional
que o arquiteto adquiriu durante a construção do Templo e sua recusa de dar
ao Soberano o poder sobre as corporações, Salomão amava os maçons que,
sabendo manejar os homens e dirigi-los, haviam levantado as premissas de
uma sociedade industrial hierarquizada (*56).

- Balkis, Rainha de Sabá –

O templo de Jerusalém era a obra mais admirável de quantas se tinha


visto tanto por sua magnitude como pela imensa riqueza empregada nele. Por
todos lados estava coberto do legendário ouro vermelho que abundava nas
montanhas do reino distante Reino de Saba, região mais meridional da
Abissínia (ou Etiópia), a mais rica do oriente, que sua Rainha Balkis governava
como herdeira dinástica de Sab, primeiro filho de Hermes. A Rainha havia
vendido seu ouro a Salomão em troca de trigo que seu povo necessitava para
alimentar-se. A orgulhosa e sedutora Rainha veio com sua numerosa comitiva
para render homenagem ao Rei Salomão e para ver por si próprio a verdade
das maravilhas que havia ouvido do esplendor e das riquezas do templo e
saber a que fins haviam servido as riquezas de Saba que a Rainha havia
enviado a Salomão (*56).
O escritor francês Gerard de Nerval conta de maneira romanceada a
lenda da “Rainha da manhã e de Salomão, Príncipe dos gênios”,em qual conta
como o Rei Salomão foi seduzido por essa mulher de grande beleza, em qual
gerou um filho (*18), mas que só tinha um interesse no Mestr5e Arquiteto
Hiram que ela queria conquistar e levar ao seu distante Reino para unir-se a e
construir outros templos.
Outros autores contaram que o filho que a bela Balkis levava em seu
ventre era fruto de seus amores com o Mestre construtor (*56).

- A morte do Mestre –

O magnífico templo estava quase terminado; faltava apensa a cobertura


de telhas, mas Hiram não apareceu na obra. Os Mestres Maçons se
inquietaram e procuraram-no sem êxito. Tendo visto rastros de sangue no
umbral das portas do ocidente, do norte e do oriente, um grupo de vigilantes
chegou à convicção de que o Mestre Hiram estava morto.
Depois de investigações, nove companheiros denunciaram que os
chamados Jubelum (ou Abairam ou Abi-Balah) Jubelas e Jubelos (*46)(ou
Halem, Sterkin e Hother) (*1), três maus companheiros decepcionados com a
recusa d Hiram em dar-lhes o mestrado e de quem haviam tentado arrancar
pela força a palavra de passe dos Mestres Maçons, haviam golpeado até a
morte o Grande Mestre com as ferramentas da obra (*47).Depois de sete dias
de busca, é Satolkin, chefe da corporação de carpinteiros que encontra o
cadáver de Hiram em decomposição em uma cova de 7 pés de comprimento, 5
de largura e 3 de profundidade, dissimulada ao pé de uma acácia e coberta
com ramos dessa árvore, sobre uma encosta do vale de Sidon. O Mestre

33
Hiram foi reconhecido por sua medalha peitoral de ouro onde estava gravado o
olho de Adonai (*46).
Três mil anos antes da construção do templo de Jerusalém,
encontramos no Egito o mito do Mestre assassinado em uma das pinturas
murais do santuário de Deir el Medinah: a lenda do”Iniciado perfeito”, aquele
do Mestre Horembeb (ou Neferhotep), assassinado por um operário que queria
usurpar sua função. O nome desse defunto Mestre está formado por duas
palavras egípcias que significam “a perfeição – do conhecimento – na beleza”
(*56).

- O castigo dos assassinos –

Depois do trágico acontecimento da morte do Mestre Hiram, os autores


do crime trataram de escapar do castigo que os aguardava e se ocultaram.
Três meses depois da morte de Hiram, um estrangeiro chamado Faros,
originário de Jope (Jafa), informou ao Rei Salomão que havia visto uns homens
ocultar-se em uma caverna a oeste de Jerusalém, perto das colinas de Jope;
se ofereceu para conduzir os nove Mestres designados por Salomão para
prendê-los. É o Mestre Fenício Yehu-Aber quem surpreende dormindo a
Jubelum, chefe dos criminosos. Não podendo conter seu impaciente zelo, o
matou com uma punhalada e separou a cabeça do tronco do traidor; que
depois foi colocada na torre oriental do templo de Jerusalém até que fossem
encontrados os seus cúmplices (*46).
Haviam transcorrido seis meses desde que ocorr3u o castigo de
Jubelum quando Ben-Dekar, intendente do palácio do Ri Salomão, fez publicar
um aviso no Reino vizinho de Gheth (ou Gath) a descrição dos assassinos do
Mestre Hiram. Algum dia mais tarde recebeu a notícia de que os dois homens
tinham se refugiado nas cantarias próximas a Gheth. O Rei Salomão resolveu
solicitar do Rei Maachab (Makah) de Gheth a prisão de Jubelas e Jubelos. O
Rei Maachab ordenou que se encontrassem os criminosos e entregasse aos
emissários do Rei Salomão. Quinze Mestres, acompanhados de uma forte
escolta se apoderaram dos dois criminosos, acorrentaram e levaram-nos a
Jerusalém para serem julgados e logo martirizados e decapitados; suas
cabeças foram cravadas sobre as portas de Jerusalém (*46).

- O Deus sagrado –

Desde uma época muito remota, quando vivia o patriarca Enoque,


ninguém podia pronunciar o nome de Deus até que foi pronunciado pelo
próprio Iahvé (Jeová) quando apareceu a Moises na sarça ardente (*1). O
legislador do povo Hebreu mandou fazer uma grande medalha de ouro, em
qual mandou gravar o nome sagrado de Deus e colocou-a na Arca da Aliança.
Na época de Samuel, os Filisteus se apoderaram da Arca e fundiram a
grande medalha de ouro para construir um ídolo, de tal maneira que o nome de
Deus ficou perdido para sempre.
O nome sagrado subsistia somente sobre o delta de ouro incrustado na
pedra de ágata gravado por Enoque; mas ninguém conhecia a localização do
lugar onde o patriarca bíblico havia ocultado o precioso segredo 2.270 anos
antes.

34
Salomão queria ter o delta de ouro para consagrar o templo de
Jerusalém à glória do “Grande Arquiteto do Universo” e ordenou a três Mestres:
Zabuláo, Satolkin e Yehu-Aber iniciar a busca da abobada sagrada de Enoque
para extrair a pedra e o delta sagrado. Depois de muitos estudos e penosas
viagens, os três Mestres conseguiram descobrir a entrada da abobada
subterrânea e nela encontraram o recipiente de água, em cuja face estava
incrustado um triangulo de ouro muito brilhante que tinha esculpidas no centro
as quatro letras da palavra inefável (*46).
Depois de terminado o templo de Jerusalém, o Rei Salomão estabeleceu
uma escola de arquitetura em Jerusalém, para que os operários do templo
recebessem a instrução necessária e os meios de chegar à perfeição na “Arte
Real”; mas com a morte de Hiram a alma da obra havia desaparecido. A obra
do Grande Mestre devia ficar sem acabar; é por isso que para os Maçons
“chove no templo”, que ainda esperava pelo telhado (*11). Os operários se
separaram e se repatriaram pelo mundo, propagando as doutrinas das
corporações de construtores e os elevados conhecimentos da construção do
templo.

- Destruição e reconstrução do templo -

No décimo oitavo ano do seu reino (600 a.C.), Nabucodonosor, Rei da


Babilônia, à frente de seus soldados assírios (persas) sitiou Jerusalém durante
18 meses e derrotou os hebreus. Como represália à essa resistência, ordenou
ao seu general Nabuzadan a destruição da cidade e do Templo até as sua
bases.; os habitantes de Jerusalém foram conduzidos à Babilônia e reduzidos à
escravidão.
Antes da invasão babilônica, os fieis Mestres Maçons destruíram o delta
de ouro que continha o nome inefável do “Grande Arquiteto do Universo” para
evitar que o sagrado depósito fosse profanado.
(Muitos anos mais tarde, o Príncipe judeu Sasbatzer (Zorobabel) para os
persas), defendeu a causa dos hebreus ante o Rei Ciro da Pérsia quem,
durante um sonho, havia recebido a ordem de Deus de libertar os hebreus.
Foram libertados do seu cativeiro na Babilônia e puderam retornar a
Jerusalém depois de 70 anos de escravidão e construir um novo templo com a
proteção e ajuda econômica que o Rei Ciro lhes ofereceu (*46). O Rei
ordenando que lhes fossem restituídos os ornamentos e jóias que pertenciam
ao templo.
Zorobabel foi nomeado governador da Judéia e, ajudado pelo grande
sacerdote Josué e do profeta Ageu, reanima a energia desfalecentes das lojas
operarias que subsistiam na Judéia para a reconstrução do templo. Seus
vizinhos, os samaritanos, apesar de serem igualmente vassalos do Rei da
Pérsia, se negaram a pagar o tributo ordenado por Ciro para a reconstrução do
templo e se propuseram impedir pela força, atacando constantemente os
hebreus, opondo-se a que se efetuassem os trabalhos. Temerosos dos
ataques de seus inimigos, os hebreus manejavam suas ferramentas de
construção com uma mão e com a outra empunhavam constantemente a
espada para defender-se em qualquer momento de um ataque inimigo.
Zorobabel, acompanhado de cinco emissários da pentarquia hebréia, reclamou
ao Rei Dario, sucessor de Ciro, o cumprimento da promessa de proteção e
ajuda oferecida ao povo de Israel por seu antecessor. O monarca expediu um

35
decreto no qual condenava à pena de morte a todos os que perturbassem os
hebreus na obra de reconstrução da cidade de Jerusalém e do seu templo.
Graças a este decreto, os hebreus não foram molestados mais a seguir e
puderam terminar a obra no ano 535 a.C. (*46).
O Templo de Jerusalém sofreu muito durante o curso da história. Ele foi
sitiado por Nabucodonosor e por Lisias, invadido por Pompeu, roubado por
Creso, saqueado por Sosius, e depois remodelado com grande esplendor por
Herodes no ano 20 a.C. (*47). Por fim, foi incendiado no ano 70 d.C. pelo
exercito do general romano Tito Vespasiano; tal como o predisse Jesus Cristo
a um de seus discípulos: “...Tu vês esses grandes edifícios, não ficará pedra
sobre pedra que não seja derrubada...” (Marcos 13:1-2, Mateus 24:2 e Lucas
21:6 (*1). Tito fez trasladar para Roma os sagrados ornamento do templo que
passaram a formar parte do tesouro dos palácios imperiais.

- A propagação do conhecimento na Europa -

Depois da invasão assíria, as lojas de construtores foram dissolvidas e


os operários se espalharam pelo oriente e pelo ocidente. Segundo a lenda, um
deles: Ninus Gracus leva para Roma os segredos da construção do templo de
Jerusalém. No século VII a.C., os dionisianos, sacerdotes arquitetos do Deus
Dionísio (Baco), que dispõe de uma organização parecida à Maçonaria atual,
estabelecem as bases sobre quais Numa Pompilio, Rei de Roma, escreve o
édito organizando a vida social da cidade imperial, criando 31 colégios, entre
os quais os mais importantes foram 4 dos artesãos construtores (collegias
tignarii, artificum, fabrorum et opificum) que se beneficiavam de privilégios, de
franquias e de leis particulares, à cabeça das quais o Rei Numa tinha colocado
os Khadiseos”, Mestres construtores, que ele tinha feito vir da Grécia.
A imagem do Rei Numa será querida nos corações das corporações
maçônicas, posto que ele soube unir a administração da cidade imperial ao
ideal iniciático. Durante a época das colonizações romanas, cada coorte era
acompanhada de uma oficina do colégio dos arquitetos construtores (artífices)
cuja missão era de dirigir as construções militares. É assim como Julio César
espalha sobre a Gália artistas e sábios que entram em contato com as
populações indígenas, pacificando as relações entre invasores e vencidos.
Durante sua passagem pelos paises conquistados, estas oficinas propagam
seus conhecimentos na arte de construir
No ano 43 a.C., vários colégios de construtores se estabelecem na
Inglaterra para construir campos militares para proteger os soldados romanos
da invasão dos caledôneos (os escoceses). Estas obras militares se
prolongam até o século III d.C. e se convertem pouco a pouco em cidades, é
assim que nasce Eboracumk (hoje, York), que até o século XIV foi a segunda
cidade em importância da Inglaterra, depois de Londres. No ano 290 d.C., o
Imperador Carausius aprova a carta dos operários que construíram a catedral
de Santo Albano (*47)..

- A decadência Romana –

No ano 410 d.C., Alarico entra em Roma abrindo caminho às demais


tribos bárbaras que invadiram a Europa. É o começo da decadência do
Império romano que, não tendo mais um poder central não perseguia os

36
grandes comandos arquitetônicos que desapareciam; Não havia mais trabalho
para os artesãos. O ano 476 marca o fim do Império romano do ocidente e os
construtores se dispersam pelo continente europeu. Alguns deles permanecem
na Inglaterra, transmitindo seus conhecimentos aos celtas que fundaram no
século V a confraria dos “Couldenses” que rechaçaram rapidamente a forma
artística da civilização romana.
Entre os couldenses se encontram os descendentes dos druidas e dos
“Barbos” célticos seus mestres espirituais, que levaram à honra o simbolismo
céltico no qual domina Lug, Deus da luz e Mestre de todas as artes (*50).
Irlanda abre suas portas ao cristianismo e seu encontro com o céltismo é
positivo. Os couldenses se tornam monges construtores, organizados em
colégios onde o maior foi o de Tara na Irlanda, pátria do celtismo (*56). Mesmo
sendo cristãos, os couldenses não reconheciam a autoridade do Papa a quem
consideravam como um simples bispo. Tempo depois alguns membros da
ordem couldense se separaram dos artífices romanos e formaram sociedade
separada. Foram os “Irmãos Pontífices”, que se dedicaram exclusivamente à
construção de pontes e calçadas, ao restabelecimento e reparação de
estradas, que foram ligados aos Cavalheiros Templários que se dedicavam à
vigilância dos mesmos, protegendo os viajantes contra as agressões dos
malfeitores que pululavam por todas as partes (a estrada dos Pirineus, que vai
até Santiago de Compostela e que termina em Navarra, conserva ainda o
nome de Caminho dos Templários” (*44).
Ao redor do ano 450, um bom número de arquitetos dos colégios
romanos optou exilar-se em Bizâncio onde, as corporações de construtores
revelavam seu gênio na construção da magnífica basílica de Santa Sofia. Sob
o reino de Justiniano (522-565) as corporações receberam numerosos pedidos
e tinham muitos privilégios. Em Bizâncio se formara uma linguagem artística
onde tinham uma parte importante os símbolos que vinham do Oriente Médio
(*2). Durante séculos, as corporações operarias de construtores latinos
transmitem o longo processos de seus conhecimentos e experiências dentro da
prática da “Arte Real”: a construção de edifícios de pedras, que se estendiam
por toda Europa. Todas as civilizações européias adotam estes conhecimentos
arquitetônicos até a Idade Média.

- A Arte Gótica –

Na Europa Ocidental, a cultura como a arquitetura vem dos romanos; a


arte de construir se desenvolve em forma de cultura arquitetônica chamada
“Arte Românica”. Graças ao Rei Teodorico que, segundo a lenda, foi iniciado
na arte de construir; os ostrógodos alemães adotam a maneira de construir dos
romanos. Este monarca protegeu a expansão da arte construtiva dos “Magistri
Comacini” lombardos que podiam viajar em todo seu reino sem ter e prestar
contas a ninguém; esta corporação funda no ano 713 um colégio em
Estrasburgo (Alemanha).
A independentização do espírito dos povos está no estilo de suas
constituições; as lojas lombardas aportaram muito ao progresso das
construções de pedras que se desenvolveram até Carlos Magno (século IX),
sob a forma arquitetônica chamada “Arte Gótica”.
Apesar da proibição de associar-se às guildas pela administração de
Carlos Magno em 779, o Imperador aconselhado pelos sábios Mestres

37
irlandeses que ensinaram a filosofia e as ciências nos centos que ele fundou
para acabar com a ignorância que dominava o império, facilita a propagação da
Arte Gótica que, quando pouco a pouco as tradições carolíngias, se desenvolve
com muito vigor na província de Navarra, sobre a estrada de São João de
Compostela (*2).
Graças à influencia oriental que tanto brilhava na Itália durante a
dominação dos lombardos, as corporações de construtores, convertidas ao
cristianismo, transpassaram os Alpes, acompanhando o progresso daquela
religião, edificando igrejas e monastérios por toda parte. É na Inglaterra, pelo
ano 790, que uns construtores fundam a primeira associação operaria, a dos
obreiros da catedral de Verulan (York).
Uma maçonaria organizada começa despontar em numerosos paises da
Europa do Império Germânico; um pouco por todas partes, as agrupações de
construtores tornam-se mais coerentes. Os imensos desenvolvimentos que
tomaram esses trabalhos de construção obrigaram as confrarias a recrutar e
admitir em seu seio a artistas de toda Europa com habilidades para o trabalho.
Muitos membros das ordens monásticas filiaram-se a essas corporações para
levar sua influencia e cooperação às obras.

*
SEGUNDA PARTE

A CORRENTE MÍSTICA
E CAVALHEIRÍSTICA
* *
Do Século XII ao Século XIV

CAPÍTULO IV

- A epopéia Templária –

A Europa sempre teve relação íntima com o oriente, que se manteve


sempre presente graças à constante leitura das Santas Escrituras e as
peregrinações. Até o ano 1.000, a luta da Espanha contra os muçulmanos
forjou o conceito de Guerra Santa. Quando o monge Pedro “o ermitão”,
pregava a libertação da Terra Santa pelos cidadãos da Europa durante a ultima
década do século XI, promoveu em 1.095 a primeira cruzada diante do Papa
Urbano II. O Papado reuniu um concilio em Clermont que propunha aos
Cavalheiros da Cristandade uma ação piedosa que devia assegurar a salvação
espiritual e eterna da classe militar dos Cavalheiros: uma cruzada para
reconquistar os lugares santos.

38
Houve um total de oito cruzadas, durante qual a mais alta nobreza
européia, sob o comando de seus soberanos: Conrado III da Alemanha, Luis
VII da França, Ricardo Coração de Leão da Inglaterra, Felipe Augusto II da
França, Frederico I da Alemanha, André II da Hungria, Frederico II da
Alemanha, Luis IX da França (São Luis) puderam expressar sua fé e a força
das armas de seus contingentes, que foram exércitos em permanente
crescimento e simultâneo destaque durante dois séculos (*25).
A primeira cruzada (1096-1099) foi dirigida por Godofredo de Bouillon,
Duque de Lorena; porem, mal concebida e composta de Cavalheiros
acompanhados de mercenários mais terroristas que redentores, invadiram o
Oriente Médio, matando, assaltando e exterminando a todos aqueles que
protestaram, em meio de um barbarismo de sangue e fogo; porém, segundo as
palavras do Papa Urbano II “...o Cristo ordenava...” e os assassinos
“...mereceriam o perdão eterno...”(*43).
Desde a tomada do simbólico centro do mundo, Godofredo de Bouillon
foi eleito Rei de Jerusalém titula que ele recusou para adotar o de “Defensor do
Santo Sepulcro”.

- Os Cavalheiros Templários –

A ordem dos Cavalheiros-monges combatentes: “os humildes soldados


irmãos de Cristo e do templo de Salomão” (os Cavalheiros Templários), foi
fundada em 1.118 por um pequeno grupo de nove nobres Cavalheiros
franceses “devotos, religiosos e tementes a Deus”, gentil-homens “distinguidos
e veneráveis”: Godofredo de Saint-Omer, Godofredo Bisoi, GodofredoRoval,
Payen de Mont-Didier, Arquibaldo de Saint-Armand, Fulco d’Angers e
Gondemare, encabeçado por Hugo de Payens, vassalo do Conde de
Champagne. E, 1.125 eles aceitaram um novo Cavalheiro: Hugo, Conde de
Champagne, que abandou o seu condado e repudiou a sua mulher e filhos
para unir-se a eles.
Diante do túmulo de Jesus Cristo, estes Cavalheiros fizeram voto
perante Garimont Patriarca de Jerusalém, de retomar dos “infiéis” árabes o
território do Santo Sepulcro que os turcos Seldjoukides, mais intolerantes que
os árabes, proibiam os cristãos de velar com as armas na mão o triunfo da
justiça, a defesa dos oprimidos, de praticar todas as virtudes e proteger os
peregrinos que viajavam durante as cruzadas aos lugares sagrados da Terra
Santa, intentando evitar um novo massacre, como aquele que foi a primeira
cruzada que havia degenerado em uma paranóia criminosa (*47).
Os “humildes soldados do templo” decidiram orientar suas atividades à
reconstrução de pontes e de estradas que os cruzados tinha destruído nos
combates; implantar praças fortificadas, portos, hospedarias para os peregrinos
e capelas para suas orações e atuar como policia das estradas das
peregrinações na Terra Santa. Os Templários introduziam um elemento novo
nesta época da Idade Média: a conciliação de duas formas de vida que durante
muito tempo tinham sido consideradas contraditórias: o sacerdócio e a milícia
(*44). Como orem religiosa, os Templários tinham suas regras de conduta de
uma constituição de 72 artigos escritos por Bernard de Fontaine, abade de
Citaux, filho de Aleth de Fontaine, conhecido como Bernardo de Clairvaux
(Bernardo de Clairval – São Bernardo -1.090-1.153), sobrinho do Cavalheiro
Templário André de Montbard. Esta constituição, baseada nas das Ordens

39
dos Beneditinos e do Cister, era mais severa que a mais severa das regras
monásticas em uso nessa época; os obrigava a levar uma vida piedosa,
entregando-se ao serviço de Cristo, em estrita obediência, pobreza e castidade
(*43).
A regra tem outras rudezas: os Templários têm apenas um prato para
dois, devem comer em silencio, comer carne apenas três vezes por semana e
fazer penitência na sexta-feira. Esta constituição foi confirmada em 1.1.39 pelo
Papa Inocente II na bula “Omne datum optimum” segundo a qual os
Templários não deviam lealdade a nenhum poder secular ou eclesiástico salvo
ao próprio Papa. Não dependendo senão da Santa Sé, eles eram “soberanos”
no sentido espiritual, em virtude de uma bula do Papa Alexandre III.
Como sinais distintivos, os Templários tinham o crânio raspado, a barba
longa e não tomavam banho. A Ordem Templária começou a expandir-se pela
Europa nove anos depois de sua fundação, pouco antes de ser reconhecia pela
Igreja no Concílio de Troie (Troyas). Os Templários obtêm em 1.127 uma carta
de Estevão de Chartres, Patriarca de Jerusalém e do Patriarca Teócletes, 67º
sucessor de São João, que eles adotaram como Santo Protetor. A divisa da
ordem não pode conter mais humildade.:

“...Non nobis, Domine, sed Nomini tuo da gloriam...” (*44)


(Nada para nós, Senhor, nada para nós senão para dar gloria ao teu nome).

O estandarte de combate dos cavalheiros Templários, chamado “Beau


Séant” era vertical em dois quadros: um de cor negra acima, que simboliza a
escuridão do mundo de pecado que os Templários tinham deixado para traz r o
outro, de cor branca abaixo, que refletia vida de pureza da Ordem.
Os Templários careciam totalmente de bens particulares; começaram
sem casa onde viver, de tal forma que Balduino II, Rei de Jerusalém e sobrinho
de Godofredo de Bouillon, os acolheu e lhes concedeu a ala norte do seu
palácio Real, situado sobre o monte de Mojira, onde esteve construído o
Templo de Salomão, para que estabelecessem seu quartel general: uma cripta
meio escavada nas ruínas da antiga mesquita de Masjid al Aqsa, onde os
muçulmanos tinha edificado 2.000 anos antes, o santuário “a Rocha”. Alguns
anos mais tarde, o Rei Balduino II fez doação do dito palácio aos Templários e
transferiu sua residência para a parte oposta da cidade: a torre de Davi. Os
nobres da sua corte, assim como o Patriarca de Jerusalém, lhes conferem
doações de seus próprios pertences de territórios, onde o Rei lhes concedia
soberania.

- Os Ashashins –

Os Templários não se limitaram a tomar contato superficial com a


civilização islâmica durante sua estada no Oriente Médio. Aprenderam o
árabe, o que lhes abriu as portas da cultura oriental, adotaram muitas de suas
praticas; entre elas, os ensinos secretos dos gnósticos e dos místicos sufis e
de outros grupos filosófico-religiosos árabes. Foram postos em contato com
primitivos ritos da religião cristã, com as tradições esotéricas do antigo Egito e
as da religião judaica. Respeitando os hábitos, os costumes e o modo de vida
das pessoas do país, protegeram os fracos, alimentaram os pobres, castigaram
os opressores. Ao longo dos anos, foram chamados “Bons Cavalheiros”.

40
Os Templários tinham boas relações com seus vizinhos, com quem
tinham afinidades: os Assassinos (Ashashins ou Haxixins), seita gnóstica
ismaelita cismática do Isam, que interpretava livremente o Corão. Seu Grão
Mestre: o Sheikh el Djebel (o Velho ou Senhor da Montanha) que reinava sobre
20 aldeias (60.000 homens); vivia sobre a mesma colina d Mojira, guardando
zelosamente os vestígios do Templo de Salomão.
Os Assassinos cultivavam a ciência da Geometria e possuíam alguns
segredos de construção que pretendiam ter do construtor do templo: o Mestre
Hiram (*43)
Transcorridos os anos, os Templários estavam intimamente ligados por
pactos e transações secretas com os Assassinos e se ajudavam mutuamente,
Durante quase dois séculos de sua presença no Oriente Médio, é possível que
a instituição Templária tenha assimilado o pensamento esotérico do Islã e
tenha derivado para essa sociedade secreta. Na época do Mestrado de Odo de
Saint Amand, se pretendia que centos entre eles foram iniciados nos mistérios
desta seita (*44). Nesta época, eles adotam o nome de: “Milice du Christ et du
temple du Salomon” (Milícia do Cristo e do Templo de Salomão) e se
expandiram pelo Oriente Médio onde eram acolhidos e respeitados em todas
partes.
Sua influencia se torna tão grande que o Rei Baldoino II de Jerusalém,
fez deles seus representantes diplomáticos ante o mundo islâmico. Pretendia-
se que pela mediação dos Templários, o Rei de Jerusalém estabeleceu um
tratado secreto com os Assassinos pela entrega da cidade de Damasco em
troca de Tiro (*45).
Os Cavalheiros Templários gozavam da mais alta estima em toda a
Europa, receberam tantas concessões dos peregrinos que chegaram a ser a
Ordem mais rica e poderosa do mundo cristão. Lutando pela instituição do
regime sinárquico universalista que deveria alcançar todo o mundo conhecido
na época, a Ordem do Templo se converteu em um Estado dentro do Estado e
uma Igreja dentro da Igreja, posto que os privilégios que tinham obtido lhes
permitiam escapar de todas as jurisdições Senhoriais ou Reais, inclusive
eclesiásticas, uma vez que dependiam unicamente do Papado.
Respaldados por uma sólida estrutura administrativa, os Templários
capinavam, aravam, secavam pântanos, exploravam salinas, canalizavam rios
e lagunas, cultivavam,abriam novas vias de comunicação, protegiam os
transeuntes, estabeleciam mercados. Possuíam ademais o mais treinado e
melhor equipado, cuja missão se reduzia à segurança das estradas do Oriente
Médio. Ademais, comandavam uma potente frota de barcos de guerra (*54).

- Os Irmãos do Oriente -

Quando os Templários se instalaram no caminho peregrino, há muito


tempo os colégios arquitetônicos cristãos do Império oriental de Bizâncio,
instruídos pelos Mestres cistercienses nas tradições romanas de construções
e pelos artistas mozarabes da tradição islâmica, percorrem-no em todos os
sentidos. Graças ao aporte cientifico e cultural que os arquitetos romanos dos
“artifícios” fizeram no ano 450 em Bizâncio, se forma uma linguagem artística
que usava uma grande parte dos símbolos que vinham do oriente próximo. Em
1.090 se criou em Constantinopla uma associação de construtores com patente
papal, denominada “os Irmãos do Oriente”, independente das jurisdições

41
Senhoriais, feudais. Os Irmãos do oriente adquiriram em Constantinopla os
princípios que regeriam a estrutura da construção, tomada das confrarias
islâmicas de construtores.
Os Irmãos do Oriente viram com o aparecimento da Ordem do Templo a
oportunidade de ampliar seus conhecimentos; no mesmo tempo encontraram
protetores e mecenas mais poderosos que jamais tinham podido ter
anteriormente (*22).
Desde os inícios da Ordem Templária, houve templários que recebiam a
iniciação “companheiril” e ascendiam aos graus de Capelão e Companheiro
construtor. Pouco a pouco, chegavam a dirigir os trabalhos de construção.
Houve uma ação recíproca entre os artistas de elite; muitos Irmãos do Oriente
permaneciam dentro da Ordem do Templo; eram admitidos a tomar os hábitos
monacais e a capa templária. Assimilando seu comportamento e transmitindo
seus ritos, símbolos e segredos do ofício; chegaram a reunir, em suas pessoas,
a Cavaleria de arma e a Cavaleria de ofício (*25).

- Os Cavalheiros construtores –

Para levar a cabo sua vocação de construtores, os Templários


necessitavam se mão de obra qualificada. É por isso que ofereceram o mais
precioso dos bens aos artesãos franceses que aceitaram trabalhar para eles
sobre as obras que abrem em toda a Palestina: a liberdade de trabalho. A
liberdade de trabalho não existia na sociedade feudal medieval; para exercer
uma profissão, tinha de adquirir o “privilégio”, pertencer a uma corporação e
ser apresentado por um Mestre artesão que, pouco aberto a formar uns
competidores em potencial, não patrocinavam quem não fosse seu parente.
Também devia pagar um cânone muito caro ao Senhor feudal. Os obreiros
livres, chamados “franc mètiers” (ofícios livres) eram, por tanto, muito raros e
apenas as Corporações permitiam a seus membros o exercício da sua arte
(*23). Os Templários decidiram que os artesãos dos diferentes corpos de
ofícios da construção que se estabeleciam sobre o território de suas
operações, se tornassem “francos”, ou seja, livres. Vivendo com os Templários
e participando dos seus trabalhos, os Maçons “francos” recebiam deles
proteção e salários assim como cursos de aperfeiçoamento na “Arte Real”,
organizados pelo “Magister Carpentarius” da Ordem, assim como um constante
ensino cientifico, literário e filosófico proporcionado pelos Mestres dos Irmãos
do Oriente vindos de Bizâncio. Muitos maçons franceses vieram instalar-se na
Palestina e deram origem a uma linhagem (*27). Ao final da segunda cruzada,
numerosos obreiros europeus foram repatriados para a França e os
Cavalheiros Templários vieram instalar-se na Europa. É nesta época que
aparece o estilo arquitetônico Bizantino que os Maçons do Oriente impuseram
lá onde se instalaram as principais encomendas Templárias na França e na
Inglaterra.
Em 1.130, a Ordem do Templo está estabelecida em quase todos os
Reinos da cristandade. Henrique I da Normandia lhes outorgou terras, o Rei
Estevão da Inglaterra lhes deu os domínios de Cressing e Witham e sua
esposa Matilde a propriedade de Cowley, perto de Oxford. Os Templários
tinham possessões em Rochelle, Languedoc, Roma, Castilha e na Grã
Bretanha (*45)

42
Em 1.137, o Rei da França Luis VI “o gordo” oferece aos Templários um
imenso terreno numa zona pantanosa perto de Paris que toma o nome de
“Cultura do Templo” (hoje o bairro do Marais), onde construíram a torre do
templo de Paris. Seu território se expande rapidamente até alcançar a terceira
parte da superfície da capital francesa. Este território se chamará mais tarde
“Enclave do Templo”e escapava da jurisdição Real; os Templários exerciam
aqui sua soberania temporal e espiritual (*44). Lugar de asilo e de cultura o
“Enclave do Templo” foi um pólo de atração para todos os artesãos do Reino
que podiam reunir-se em confrarias livres, única forma lícita de associações da
época medieval. Dispondo de franquias e permitindo a seus membros exercer
sua arte com toda liberdade, escaparam dos impostos do Rei e da
municipalidade de Paris.
Em toda Europa, os Templários jogaram um grande papel nas guildas e
confrarias. Os canteiros (de pedra) e os pedreiros (de tijolo) adquiriram seus
conhecimentos nos conventos Templários e tinham saído deles enquadrados
em lojas embebidos em uma aspiração comum: o afã de fazer participar o
homem dos resultados corporativos desse saber e elevá-lo às alturas do
conhecimento universal (*19). E, 1.125 na Inglaterra, a capela na Fleet Street,
principal igreja Templária da Inglaterra, foi construída por uma guilda de
arquitetos cristãos vindos da Terra Santa. É nesta guilda que se formaria o
fermento da Maçonaria em Londres e na Inglaterra. Os Templários e os
Maçons tiveram estreitos vínculos durante toda a época medieval; na festa do
solstício de São João do verão, os grandes Mestres das duas Ordens reunidas,
são iluminados pelos fogos ritualísticos (*39).

- O fim das cruzadas –

Durante o século XIII, as hordas mongólicas dirigidas pelo sultão


mameluco Kala’um, descendente de Gengis Khan, tinha penetrado o Oriente
Médio e governava sua maior parte. Em 1.290, seu filho, o sultão Al Ashraf,
organizou uma formidável armada para reconquistar todas as cidades cristãs
na Terra Santa.
Convencidos pelos Templários, guardiões da Terra Santa, da
necessidade de uma nova cruzada para recuperar Jerusalém, Nazaré e os
lugares santos, o Papa Gregório X solicitou o apoio dos monarcas cristãos da
Europa.
Estes rechaçaram o pedido, considerando que a idéia era um meio da
Igreja romana para obter o respaldo militar às suas necessidades políticas e
financeiras. Não obtendo nenhum beneficio particular dessa cruzada, nenhum
monarca europeu aceitou prestar seu braço armado nem o seu bolso a esta
nova guerra oriental...
Os Templários eram muito ricos, mas sua riqueza dependia em grande
medida das doações dos peregrinos cristãos na Terra Santa e do monopólio do
comercio na região que tinha acabado devido à insegurança da zona; seu
tesouro teria de se esgotar rapidamente pelo gasto que significava uma nova
cruzada. À falta de apoio dos monarcas cristãos, os Templários não puderam
resistir aos poderosos ataques dos mamelucos e a derrota foi total. O sultão Al
Ashraf teve o controle da Terra Santa em 1.292; os Templários haviam ficado
sem uma base no Oriente Médio pela primeira vez em 170 anos e se tinha
extinguido a fonte da sua fortuna oriental. As cruzadas haviam terminado

43
definitivamente e também a razão de ser dos Templários que se recolheram,
isolados e humilhados, sobre a minúscula ilha mediterrânea de Chipre.

- O retorno à França –

O Rei da França: Felipe IV “o Formoso ou o Belo” e o Papa Bonifácio VIII


travavam desde muitos anos uma batalha de poderes, já que o monarca
francês estava em constante oposição política contra o Soberano Pontífice que
o havia excomungado. Após a morte de Bonifácio VIII em 1.309, o Rei francês
manobrou pela designação de um Papa francês; o arcebispo de Bordéus,
Bertrand de Got, que foi coroado Papa sob o nome de Clemente V. Como era
de se esperara, não podia recusar as exigências do Rei francês que não
demorou em dominá-lo. Os Templários, sempre bem informados por sua hábil
rede de inteligência na Europa, souberam que o novo Papa era favorável ao
empreendimento de nova cruzada com o fim de recuperar os lugares sagrados
na Terra Santa, tal como o havia desejado o seu antecessor Gregório X. Os
Templários acreditaram que se aproximava o momento de recuperar sua gloria.
O Papa Clemente V convoca o Grão Mestre Jacques de Molay à França para
discutir com ele as possibilidades de elaborar planos para uma nova cruzada
com o objetivo de resgatar Jerusalém.
O regresso dos Templários à França, indômitos, independentes e
arrogantes, constituía uma força militar mais poderosa e melhor organizada
que qualquer outra na Europa criava ao Rei Felipe IV alarmante perspectiva de
ter um Estado Templário em suas costas; tudo0 isso era um risco inaceitável
para o monarca francês, para os senhores feudais e o clero secular, que viam
seriamente ameaçados seus interesse criados (*39).
A Ordem Templária estava firmemente estabelecida na Europa, possuía
suas próprias fortalezas e inúmeros territórios que a convertiam em proprietária
e senhora feudal de uma parte significativa do território da Europa medieval.
Os Templários gozavam de todas as vantagens do feudalismo, sem sofrer seus
gravames; eram soberanos na pessoa do seu Grão Mestre a quem
consideravam como se fosse um Príncipe independente. Nas assembléias, o
Grão Mestre se colocava imediatamente depois dos bispos (*44).
O Templário, tão rico da sua fortuna oriental que Jacques de Molay tinha
trazido à vigilância das sólidas muralhas da torre do templo em Paris que
apresentava suficiente garantia. Ao fim do século XIII, a Ordem Templária se
transformou na detentora de uma potencia financeira excepcional e o
banqueiro da maior parte dos Príncipes europeus. Os Reis recorriam a ela e
Felipe IV “o Belo” , tendo necessidade financeira cada vez mais imperiosa,
estava muito endividado com os Templários devido ao gasto da longa guerra
que ele tinha em Flandres contra o Rei Eduardo da Inglaterra. Este tesouro se
tornou uma presa provocante para o Rei francês.
Conscientes dos ciúmes e inveja do Rei francês. Parecia mais prudente
aos Templários buscar em outra parte onde esconder os bens mais valiosos
que a Ordem desejava guardar. Daqui nasceu a lenda de um tesouro
escondido que jamais foi descoberto. Por motivos, tanto da ambição pública
como das permanentes necessidades econômicas, o monarca francês ditou
varias disposições tendentes a diminuir o poder da Ordem do Templo na
França e apoderar-se de suas riquezas. Ordenou-se o seqüestro das
propriedades da Ordem adquiridas depois dos privilégios outorgados aos

44
Templários pelo Rei Luis IX da França; mas Felipe IV não pôde contar com o
apoio do Papa para mais; então, decidiu organizar uma maquinação que lhe
permitisse acabar com a Ordem Templária e livrar-se das imensas dividas que
ele não podia reembolsar; apoderar-se do tesouro Templário r recuperar o seu.

- A Maquinação –

Tendo todas as peças de um plano maquiavélico que tinha sido urdido


por Guillaume de Nogaret, guarda do selo real e homem de confiança do Rei, o
monarca francês planejou cuidadosamente a jogada.
Guillaume de Nogaret tinha recrutado secretamente ex-Templarios
expulsos da Ordem por faltas graves, com o fim que eles acusassem
falsamente a Ordem Templária. O plano de Felipe IV consistia em prender
num só dia os Templários, tal como o tinha feito em 1.306 com todos os judeus
na França que foram exilados, mas sem as suas posses que foram
incorporadas diretamente ao tesouro do Rei, que se apoderou também das
contas a receber dos judeus cujos devedores deviam pagar ao tesouro Real.
Desta maneira, se cancelaram todos os empréstimos que o Rei devia aos
judeus. Da mesma maneira, Felipe IV esperava que se cancelassem os
empréstimos que ele devia aos Templários (*44).
Durante o verão de 1.307, se propagaram rumores em Paris segundo os
quais os Templários adoravam uns ídolos orientais: uma estatua chamada
“Bafomet” que segundo uns, se mostrava como um busto monstruoso,
representando a cara de um ancião com o cabelo crespo e com barba ou como
um ser de três caras, segundo outros, como um demônio em forma de bode;
outras vezes, se mostrava em forma de gato preto ou de um ser, metade
homem metade mulher, chamado de “Andrógino de Khunrath”(*43). Adoravam
também uma deusa nua chamada “Cybele” que, em uma de suas mãos,
segurava um disco solar e na outra a lua crescente à qual estava presa a
corrente dos leões.
Pretendia-se que os Templários praticavam ciências cabalísticas: a “Arte
Sagrada” da tradição Hermética ou alquimista egípcia que haviam aprendido
das seitas árabes com quais estavam em contato no Oriente Médio; práticas
que se expressavam com a ajuda de desenhos estranhos, entre os quais uma
estrela de cinco pontas chamada “Pentagrama de Pitágoras”. Que, em suas
cerimônias, renegavam três vezes o Cristo, pisoteavam sobre a cruz em sinal
de ofensa à Igreja cristã. Que cuspiam sobre o crucifixo e que, nus durante as
cerimônias secretas, recebiam um beijo “in posteriori parte spine dorsi”, ou
sobre o anu, o umbigo e a boca. Pretendia-se também que umas práticas
repugnantes, como as obscenidades e a sodomia, se realizavam dentro da
Ordem Templária (*44).
Chega o dia fatídico; no amanhecer da sexta-feira 13 de outubro de
1.307, as tropas do Rei caíram sobre unidades Templárias para agrilhoar o
Grão Mestre Jacques de Molay e 15.000 dos seus Templários.
Para agitar a população e assim garantir seu apoio ao processo que
seguiria, acusaram-se os Templários de heresia e de blasfêmia. Quando o
Papa Clemente V tomou conhecimento disto, protestou contra o Rei francês,
lembrando-lhe que os Templários não estavam submetidos às leis de nenhum
país; nenhum governante secular podia castigá-los por nenhuma falta e por ser
uma Ordem religiosa era responsável ante o Papa; que somente ele tinha

45
autoridade sobre eles e que essas prisões eram uma usurpação da autoridade
Papal. Para desacreditar o apoio Papal, o Rei francês empreendeu uma
campanha de propaganda, acusando o Papa de indulgência com os hereges.
Franco, o Papa atemorizou-se e covarde calou-se promulgando a bula
“Pastoralis Preeminenta” em qual pedia aos monarcas da cristandade que
prendam os Templários que estivessem em seus domínios (*39).
O Rei francês prepôs ao Papa a realização de investigação formal
dirigida pelo Grande Inquisidor da França, o frade Dominco Guillaime Imbert,
que era o confidente do Rei. Nesta época em que a heresia era traição e a
tortura era castigo quando a Igreja era a Lei, o Papa ordenou ao Grande
Inquisidor que se colocasse em seu horrendo cargo, começando perseguição
aos Templários; fazia-os sofrer torturas obscenas e lhes infligia mutilações. Em
conseqüência da dor, muitos morreram antes de confessar coisa alguma.
Porem a maioria confessou qualquer culpa para fazer a dor parar, até de ter
assassinado Deus se fosse pedido por seus torturadores.
O Rei Felipe V se apoderou de imediato das riquezas dos Templários.
As casa da Ordem do Templo foram saqueadas, mas não se encontrou nada
do que se supusera ter valor efetivo. O tesouro que o Rei esperava tomar das
economias Templárias havia desaparecido.
Havia desaparecido também a frota de a frota de navios Templária de
sua base naval em Rochelle o que permitiu ao Grão Mestre Provincial de
Auvergne: Pierre d’Aumont, acompanhado de alguns Cavalheiros de alta
categoria fugir para a ilha escocesa Mull onde se encontraram com o Grande
Comendador Templário para a Escócia: Georges de Harris e outros
Cavalheiros de alta categoria com quais resolveram continuar a Ordem
Templária (*44).

- A morte do Grão Mestre –

A partir de 1.310, circulam rumores insistentes na França de que na


verdade os Templários não eram culpados, e sim que haviam sido vitimas de
uma perseguição causada pela bem conhecida inveja do Rei da França. Para
contraditar o rumor, Felipe V decidiu que o Grão Mestre Jacques de Molay,
assim como os maiores notáveis da Ordem do Templo: o Grão Visitador da
França, Hugues de Pénaud, o Comendador da Normandia, Geoffroi de
Charney e o Comendador de Acquitania, Geoffroi de Gonneville,
comparecessem e confessassem publicamente a vergonha de sua
culpabilidade por heresias.
Em 14 de março de 1.314, foram convidados os delegados Papais e um
grande numero de nobres burgueses influentes de Paris diante dos quais,
sobre um alto estrado levantado no átrio da catedral de Paris, Jacques de
Molay, ao contrario das esperanças do Rei, se retratou de suas confissões
obtidas sob os efeitos da tortura para defender a honra da Ordem Templária,
proclamando à multidão reunida a seus pés:

“Em um momento tão solene, quando me resta tão pouco tempo de


vida, me parece ser correto que revele o engano que foi cometido e defender a
verdade.
Diante do céu e da terra, e colocando todos vós por testemunha, admito
minha culpa do mais grave dos pecados; porém o meu pecado é ter mentido

46
ao admitir as repugnantes acusações lançadas contra a Ordem. Declaro, e
tenho de fazê-lo, que a Ordem é inocente; sua pureza e santidade estão fora
de duvida.
É certo que confessei o que meus inimigos desejavam que dissesse. A
outros Cavalheiros que se retrataram de suas confissões, os conduzo à
fogueira. Contudo, a idéia de morrer não é tão horrível como para que se
confesse sujos crimes que nunca foram cometidos.
Se me oferece a vida, mas ao preço da infâmia não vale a pena viver.
“Não lamento ter que morrer se somente pode-se comprar a vida colocando
uma mentira sobre outra.”

Jacques de Molay sabia que qualquer acusado que confessara heresia


depois de ter sido submetido a tortura e mais adiante se retrate dessa
confissão era tido como “hereje relapso”, e que segundo a Lei eclesiástica,
devia ser entregue ao braço secular para ser queimado vivo.
A vergonha monumental em que havia deixado o Rei, o Papa e a Igreja
assim como a possibilidade de que provocara mais vingança,, fez que não se
atrasasse a morte por uma hora sequei; se anunciou a sua execução na
fogueira e de tarde sobre um banco de areia no rio Sena, chamado ilha dos
Judeus (ou ilha de Bouvier), diante da ilha da Cite. Ao por do sol, se levanta
uma pira:;sobre ela, Jacques de Molay e Geoffroi de Charney, condenados
como relapsos, foram queimados vivos, a fogo lento (*43).
A bula Papal, “Vox in Excelso” de 3 de abril de 1.312 extingue a Ordem
Templária, mas sem declará-la culpada das acusações levantas contra ela.
Em seguida se publica a bula “Ad Providum” que transferia todas a
propriedades Templárias à sua grande rival: a Ordem dos Cavalheiros do
Hospital de São João de Jerusalém os hospitalários), conhecida em seguida
sob o nome de Ordem dos Cavalheiros de Rodes e a partir de 1.530, sob o
nome de Ordem dos Cavalheiros de Malta (Ordem de Malta).
Assim foi como a Ordem do Templo foi eliminada da vida pública da
Idade Média: pela ambição de um Rei, pela debilidade de um Papa e pela
intolerância da Igreja Romana.

- O fim da Ordem –

O Papa Clemente V fez perseguir os Cavalheiros Templários por toda a


Europa; mas apesar das pressões do clero ultra católico, inimigo encarniçado
de tudo que podia estar contra decisão do Soberano Pontífice, os Monarcas
espanhóis e portugueses, a quem os Templários haviam prestado grandes
serviços, anunciaram que as acusações contra os Templários lhes pareciam
infundadas e fruto de calúnia; que suas forças armadas eram demasiado
importantes para arrestá-los e que se fizeram fortes em seus castelos,
negando-se a correr resignadamente a sorte de sues irmãos franceses;
ademais, os apreciavam porque foram muito úteis para combater os mouros
em seus territórios.
Na Espanha, a Ordem Templária decidiu mudar o seu nome,
transformando-se nas Ordens de Montesa e de Calatrava; em Portugal, se
transformou na Ordem de Cristo (*43). Foi na Inglaterra que a oposição foi a
mais intensa, uma vez que o jovem Rei Eduardo II reagiu com incredulidade
ante as acusações.

47
Não lhe parecia que os Templários foram culpáveis de nada. Assim fez
saber a outros monarcas cristãos e pedir-lhes que o apoiassem na defesa dos
Templários que contavam com o respaldo dos nobres influentes nas cortes
cristãs; muitos eram parentes ou amigos deles.
Quando o Rei inglês recebeu a bula Papal, não teve remédio outro que
ordenar as prisões, mas não o fez de imediato; preveniu com três meses de
antecipação os Templários da iminência das prisões, o que lhes deu meios de
fugir. Quando as tropas do Rei foram prendê-los, não se acharam os arquivos
e o tesouro dos estabelecimentos Templários na Inglaterra havia desaparecido.
Os Templários possuíam numerosas propriedades: 900
estabelecimentos na França e na Inglaterra, onde possivelmente receberam
ajuda de familiares e amigos e instruções para chegar a um lugar seguro para
pernoitar. Havia muito que podiam recebê-los: os nobres do Reino, que
recebiam com agrado combatente experimentados, sem lhes importar que
fossem procurados pela Igreja e a coroa inglesa, também os barões
proprietários de terras, normandos em Gales e Irlanda (*45).
Nessa época, o Rei escocês Robert Bruce estava reunindo suas clãs
guerreiras, preparando-se para a guerra contra o Rei da Inglaterra e e estava
feliz por encontrar militares treinados, sem importar-lhe que estivessem fugindo
da Inglaterra. Muitos Templários ingleses e franceses encontraram refugio na
Escócia e, segundo as lendas, o Rei Robert da Escócia havia acolhido em sua
corte Templários resgatados que combateram com ele na batalha de Bannock
Burn e que ajudaram-no vencer. Em agradecimento, o Rei Robert nomeou-os
Cavalheiros na Ordem de Santo André da Escócia que ele funda em 1.313 em
Heredon (*45);
Ao ignorar a ordem Papal de prender os Templários, Escócia tinha feito
um refugio seguro para os fugitivos. No dia de São João de 1.313, Pierre
d”Aumont foi nomeado novo Grão Mestre da Ordem Templária e resolveu
reconstruí-la sob uma forma secreta, apoiada pelos Cavalheiros escoceses.
Os Templários organizam-se em Kilwining um capítulo orientado principalmente
para o apoio dos irmãos em fuga (*44). Em 1.361, a sede da Ordem foi
transferida para Aberdeen e se tem corroborado que a Ordem Templária se
manteve como corpo coeso na Escócia durante quatro séculos.
Os Templários tinham perdido tudo: sua honra, seus bens e o lugar que
ocupavam na comunidade. Rechaçados pelo Vigário de Cristo, presos e
encarcerados, ferozmente torturados e queimados na fogueira, obrigados a
fugir e ocultar-se, perderam o seu intercessor perante Deus. O pensamento
Templário evoluiu desta tragédia, passando do medo da perseguição sua
natural compensação: o ódio de terem sido abandonados pela Igreja e o desejo
de vingar-se. Depois desta tragédia, os Templários adotaram uma atitude
radical perante a Igreja romana que os denegria; pois, se o Papa os rechaçava,
em resposta eles rechaçavam el, chegando à conclusão de que era o Papa que
havia traído Deus e na eles (*39).
Ao mesmo tempo nasceu uma forma liberal de pensamento religioso; a
diferença de opinião dentro da irmandade não importava; discutir as crenças
pessoais em tal momento só podia separá-los; assim não as discutiam. Sua
primeira preocupação deveu ter sido salvar as vidas, não as almas. A
insistência em que se manifestava abertamente a crença em Deus, sem
nenhum requisito para a maneira pessoal de reverenciá-lo, proibiu os
comentários ou discussões sobre religião, pois as crenças de cada um lhes

48
confirmou um respeito de parte de seus irmãos. A urgência e a importância da
situação foi o momento onde os fios soltos do contato entre os fugitivos se
desenvolveram fortemente, como aqueles dos vínculos da irmandade, e como
é regra em épocas do autoritarismo, as uniões fraternais se alimentavam com
maior força entre os membros das minorias (*39).
A adversidade sô fez exaltar a força dos movimentos secretos, de tal
maneira que a organização de fuga Templária se desenvolve proporcionando
uma base firme sobre qual poderia estabelecer-se uma organização
permanente, constituída por uma sociedade secreta informal de proteção
mutua com filosofia religiosa, em qual os irmãos Templários podiam continuar
em conato uns com outros e ajudar-se mediante a regra do segredo absoluto.
Os anos transcorridos entre os primeiro artesãos de templários em 1.307 e a
dissolução da ordem em 1.312 proporcionaram tempo e oportunidade para
que os sistema de fuga evoluísse em uma organização clandestina completa e
permanente (*39).

- A integração –

Lenda pretendia que, quando em 1.207, as tropas do Rei caíram sobre


a sede principal em Paris, alguns Cavalheiros Templários que não foram
imediatamente presos, encontraram apoio no grupo de operativo de
construtores que estavam sob influencia direta na Palestina e que lhes devia
sua”franquia de oficio”, sua liberdade de exercer a arte construtora e graças
aos obtiveram privilégios de autoridade legal. A filiação Templária era uma
realidade viva para muitos desses pedreiros que haviam obtido sua franquia de
liberdade nos estabelecimentos Templários na Terra Santa,
Em reciprocidade da ajuda que haviam recebido, eles ajudaram os
Templários escaparem. Para não serem reconhecidos, os Templários se
disfarçaram em Maçons, adotando sobrenomes emprestados, tal como o de
“Mabei-gnac”, para evitar as perseguições das tropas Reais e circular
livremente nos baronatos da época medieval onde os “pedreiros livres” podiam
proporcionar emprego, alojamento, comida e dinheiro para os obreiros de
outras localidades que passavam por ali, sem provocar a suspeita da
população das cidades medievais onde todos se conheciam (*27).
A integração Templária às confrarias de construtores teve a conseqüência de
que muitos Templários fugidos da França por causa de perseguição foram
buscar refugio entre as sociedades de canteiros e pedreiros assentados na
Inglaterra, em Portugal e os territórios alemães. Segundo esta lenda, os
Templários receberam ajuda das corporações operarias e instruções para
chegar ao lugar seguinte para pernoitar, mas necessitavam de um estratagema
ou sinal com qual poderiam localizar o que ia ajudá-lo na próxima etapa; para
isso adotaram sinais e palavras de passe à maneira dos Maçons (*39).
A influencia dos Templários sobre as comunidades de artesãos
construtores não cessa com a dissolução da Ordem em 1.312 e muitos desses
monges Cavalheiros, restabelecidos necessariamente laicos, permaneceram
nas comunidades operarias que os tinham ajudado escapar; integrados a elas
chegando a dirigi-las,
Esta filiação foi particularmente importante em Flandres e na Escócia
onde os Templários encontraram uma acolhida favorável, benévola e asilo
seguro.

49
Desejosos de retribuir a hospitalidade brindada iniciaram alguns desses
Maçons nas doutrinas secretas da sua Ordem, criando um grau maçônico da
qualidade de Cavalheiro Templário e constituíram deste modo os Maçons em
seus sucessores e continuadores de suas práticas e rituais. Este grau era,
naquele tempo, um executor da Ordem, dedicado à vingança do assassinato
“judicial” do ultimo Grão Mestre da Ordem Templária, à restauração do mesmo
e à perseguição dos inimigos dos Templários. Isto deu origem para acusar a
Maçonaria como convicta de conspirar contra a Igreja e os Governos.

- O poder da Igreja -

A supressão da Ordem Templária ocorreu numa época em que a Santa


Sé estava preocupada em ampliar seu poder e sua riqueza, situação que fez
surgir inquietações e suspeitas do populacho. Tendo todo o poder sobre todos,
a Igreja temia a administração da verdade aos poderes espirituais, políticos,
civis, legislativos e judiciais. Devido a isto a Igreja Católica Romana controlava
todas as corporações de construtores da Europa.
Não tarda em executar uma política ditatorial dirigida por um clérigo
intransigente, transtornando o exercício da justiça e açambarcando uma grande
massa de riqueza pública; impedindo ao poder secular assumir os cargos da
Nação (*15). A pouca aptidão à vida monástica e ao celibato do baixo clero não
permitia demonstrar como exemplo as verdades da religião que eles
professavam em suas capelas que muitos transformaram em palácios, posto
que uma quantidade excessiva de impostos recebidos pela Igreja se destinava
a manter luxuoso trem de vida da alta hierarquia eclesiástica que o único que
lhes importava era o dinheiro; por conseqüência, tudo estava à venda:
indulgências, horárias, dispensas, etc.. A Igreja exigia para si, todos os
direitos, privilégios e gestos de respeito (*27).
A Igreja Católica medieval não só era dona de mais de um terço da
superfície da Europa, contando com o maior número de servos e vileiros sob
sua autoridade, como também considerava a si mesma o máximo centro do
poder; mentinha seus próprios tribunais e prisões eclesiásticas.
O Papa Bonifácio VIII foi o mais egocêntrico de todos os Papas; pois
sustentava que sendo ele o único vigário de Deus na terra, tinha autoridade
sobre todos, inclusive sobre os Reinos da cristandade e que todos os seres
humanos que existiam na face da terra estavam sujeitos à autoridade do
Pontífice Romano (*29). Bonifácio VIII promulgou a histórica bula “Unam
Sanctum” em qual afirmava a superioridade do Papado por cima de todos e
independente da autoridade secular de governantes do mundo Cristão. Esta
bula foi a mais firma declaração da superioridade Pontifical que tenha sido feita
por qualquer Papa na historia da Igreja Católica Romana.
Esta bula enfureceu os monarcas da Europa que autocratas que eram,
consideravam seguir a regra feudal medieval, que as pessoas e propriedades
em seus domínios era seu patrimônio e estavam submetidos a eles.

- A controvérsia cientifica –

Da Igreja dependiam também as universidades onde as aulas eram


ditadas em latim, através do que ensinava as verdades que convinham aos
seus fins; de tal modo que aqueles que não conheciam o idioma não podiam

50
estudar; por este meio, somente eram ensinados aqueles que não eram
suspeitos à hegemonia clerical (*33).
Veio o tempo em que as ciências começaram apoderar-se das mentes
dos homens, a motivar sua imaginação e fazer aparecer novas teorias que se
posicionavam contra o que a Igreja Romana ensinava. Os achados científicos
pareciam estar em conflito com as interpretações das escrituras e por tanto, era
inaceitáveis heréticas.
Em Florença, alguns educadores independentizam-se da Igreja.
Dirigidos por Leonardo da Vinci, organizam secretamente um grupo de
eruditos, livres do controle da Igreja, que ensinava laicamente o idioma popular.
Diante do perigo que pressentia a Inquisição Romana, Leonardo da Vinci
refugia-se na França, onde funda um grupo educativo parecido com o de
Florença que denomina “Escola de Cristo” com o fim de confundir os
inquisidores da Igreja Católica (*33).

*
CAPÍTULO V
* *
- O século XIV inglês –

Na Inglaterra, o orgulho, a intolerância, a arrogância, os abusos e a


libertinagem do alto clero intransigente e dominador, cada vez mais ávido de
riqueza e poder, dedicado a uma vida ociosa e vivendo na luxuria e glutonaria
com um exercito de serventes, causava preocupação e desconcertava as
ordens inferiores do clero; este avivou ante o povo esse ressentimento que
alimentou um fluxo crescente de dissidência e protestos contra a Igreja
Católica Romana que jamais foi aceita plenamente pelo povo, uma vez que
desde os tempos da antiga igreja Celta, os dirigentes da Igreja na Inglaterra
haviam lutado contra a autoridade Papal nesse Reino insular. Esta situação foi
a fonte da primeira grande onda de protestos que gerou tanta dissidência e
desorganização que a Igreja Católica da Inglaterra quase caiu na anarquia
(*36).

- Os Lolardos –

O lamentável clima gerado na Europa pela decadência da Igreja Católica


foi propicio para o surgimento de novas teorias filosóficas. Rapidamente se
confrontaram as idéias filosóficas da civilização clássica das antigas culturas
orientais contra o pensamento monacal e mono político da Idade Média
Católica; o que desencadeará um antagonismo teológico, conhecido sob o
nome de “Cisma do Ocidente” entre os místicos e os eclesiásticos.
Esta oposição ideológica cria uma grande efervescência que é seguida
de uma espécie de guerra literária, onde citarei apenas as obras mais
conhecidas: “Reforma Católica da Igreja” de Giobertini, e “A Reforma”, tomo VII
da historia de France de Michelet. Novas inteligências aparecem e o frade
Agostinho Lutero foi a fonte de separação da cultura cristã com a criação de
uma Ordem de protestantes, imediatamente seguida pelos reformistas
britânicos que criaram a Igreja Anglicana e dos russos que criaram a Igreja
Ortodoxa da Santa Rússia. No século XVI a corrupção e a decadência da

51
disciplina eclesiástica foram tais que a dissolução da Igreja Catódica Apostólica
Romana foi prognosticada (36).
A dissidência na Inglaterra estava apenas começando a ser ouvida. Os
precursores rebeldes da reforma protestante recusavam os ensinamentos da
Igreja, originados muito depois da morte de Jesus Cristo. Tais ensinamentos
que a Igreja Romana tinha declarado serem mais importantes que as próprias
Sagradas Escrituras, apresentavam características de heresia para os
reacionários, especialmente para o cura e acadêmico de Oxford: John Wiclyf.
Durante vários anos, um grupo descontente chamado “os Lolardos” ou
“Murmuradores”: os que, pela primeira vez, traduziram a “Vulgata” ao inglês,
sustentavam que todos os cristãos deviam ter acessos às Sagradas Escrituras.
Começara a pregar a reforma da Igreja; percorrendo os povoados, pregando
contra as riquezas, a corrupção da Igreja e levando-lhes uma mensagem
ultracatolica. Alguns desses seguidores: os párocos Johan Ball e John Wrave
pregavam contra a Igreja e a classe privilegiada atiçando a inquietação pública
nos três lugares medievais de reunião: a igreja, a taverna e o mercado,
defendendo doutrinas tais como a igualdade de direitos e a abolição da
vilanagem e da servidão (*40).
Os Lolardos foram ferozmente perseguidos pela Igreja Romana e se
viram obrigados a assumir a clandestinidade, tecendo uma rede de
comunicação em todo o centro da Inglaterra e formando células secretas
independentes, disseminadas por todo o país, que ofereciam refugio a quem
estava em conflito com a igreja estabelecida.
Pretendeu-se que o principal lugar de encontro em Londres era a antiga
capela de São João Batista fora das portas de Leicester, perto do hospital dos
leprosos, a uma lado da capela de Fleet Street que tinha sido a igreja principal
dos Cavalheiros Templários na Inglaterra), onde havia uma hospedaria e
alojamento para “sectários que odiavam a igreja de Cristo”(*36), sob a proteção
do piedoso Duque de Lancaster; era ali que os seguidores de Wiclyf dirigiam
seus sermões contra o clero católico. Os Lolardos sobreviveram durante os
anos seguintes às perseguições da Igreja e de alguma maneira conseguiram o
apoio de determinados membros da aristocracia, principalmente d classe dos
Cavalheiros, ainda que essa associação tivesse uma origem eminentemente
popular (*40).
Esta foi a primeira comoção de uma atitude anti-eclesiástica que seguiria
latente na Inglaterra até acontecer a erupção da Reforma Protestante.

- A Magna Sociedade –

Em 1.376, o Parlamento inglês tinha mencionado a corrupção na corte


Real, o suborno no sistema legal, o mau manejo do dinheiro das arrecadações,
a inépcia administrativa, os impostos excessivos e outras opressões
deploráveis realizadas tanto por servidores do Rei como por grandes Senhores
do Reino contra o humilde povo inglês. O descontentamento se generalizava
na classe baixa da sociedade britânica e alguns ruídos de revolta começavam
circular no Reino inglês, ampliando-se rapidamente (*39).
Durante o verão de 1.381 houve uma agitação generalizada na
Inglaterra que não foi só um convulsão, e sim uma rebelião camponesa com
evidência de planejamento, posto que aconteceu o levantamento simultâneo
de aproximadamente 100.000 homens em seis ponto diferentes das regiões de

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Essex e de Kent e especialmente em povoados da região de York.. O
assassinato de Wat Tyler (Walter o Tecedor) desorganizou a revolta que
acabou com o desaparecimento dos principais chefes de grupos regionais.
Pretendeu-se que os lideres desta agitação tinham a proteção de uma
misteriosa organização clandestina, uma “Grande Sociedade” (Magna
Sociedade), bem organizada e documentada, que se reunia em Londres, com
qual eles mantinham contato (*39). Esta sociedade secreta, cuja existência
previa a revolta camponesa, tinha relações com os artesãos radicados em
Londres que regressavam aos povoados de origem para incitar a população à
rebelião; é esta “Magna Sociedade” a que proporcionava aos rebeldes,
hospedagem, auxílios e casa de segurança, de tal sorte que eles não foram
jamais capturados.
Não parece razoável pretender que duas organizações secretas como
os Templários e os Lolardos tenham existido uma ao lado da outra em todos os
pequenos povoados da Inglaterra sem nenhuma relação entre elas, sobretudo
quando cada uma tinha como tema central prover alojamento para ocultar
homens da ira da religião do Estado (*39).
Deve-se considerar provável que estiveram relacionadas e que
evoluíram até chegarem a ser, talvez, uma e única estrutura de ajuda mutua.
Se assim foi, esta “Magna Sociedade” por ser a organização secreta melhor
estruturada, desempenhou um papel importante na reforma protestante da
Inglaterra, a base do levantamento da revolta camponesa em 1.381. Esta
organização secreta manteve-se viva durante séculos graças a uma dedicação
e um compromisso trazido coma idéia de que haviam erros nos ensinamentos
e praticas da Igreja estabelecida e que esta devia ser reformada (*39).

- Os primeiros grêmios –

As regras dos primeiros grêmios operários medievais são parte da


historia e são bem conhecidas; elas vêm do século X, quando a Maçonaria
operativa inglesa organiza a unificação dos estatutos, regulamentos e
obrigações que estavam em vigor nas lojas da Inglaterra, com o fim de formar
um corpo de leis: os Land Marks, o que foi aprovado numa assembléia geral
em York no ano 916 (*5).
A parti do século XIII, os grupos de construtores organizam em
corporações profissionais juramentadas; na Alemanha se chamam confrarias e
guildas na Inglaterra; foram corpos civis reconhecidos pelo Estado, que se
beneficiavam de privilégios e de direitos públicos. Em 1.211, a confraria alemã
dos cortadores de pedra de Madeburough reclamou e obteve uns privilégios da
autoridade legal. Os Maçons, desta maneira, tornaram-se homens livres,
chamados Francomaçons (abreviatura de francos ofícios da Maçonaria);
promoveram o principal valor maçônico, pelo qual a cultura é o meio pelo qual
o homem pode libertar-se da ignorância que o mantém em estado bruto. Em
1.241 em Colônia (Alemanha), o sacerdote dominicano Albertus Magnus
reutiliza a linguagem simbólica dos antigos, desenvolve-a e adapta-a à arte de
construir, permitindo assim à Maçonaria operativa tornar-se uma ordem
especulativa, expressava seu ensino por símbolos que são símbolos gráficos
dissimulando uma ação real ou um ensinamento moral (*11).
Zelosas em proteger seus conhecimentos, as corporações de
construtores da Idade Média adotaram rapidamente essa linguagem hermética

53
que lhes permitia guardar estrito segredo da “Arte de Traçar”, o desenho
arquitetônico e da execução das construções; proibiram a seus membros,
constituídos em lojas e oficinas, transmitir os segredos do saber da arte
lapidária em forma diferente a símbolos.
Em 1.440, a confraria dos construtores da Catedral de Estrasburgo: os
“Irmãos de São João” se chamaram pela primeira vez: Ordem Francomaçônica
de São João; fundaram a “Sociedade Geral dos Maçons Livres da Alemanha”,
primeira Grande Loja reconhecida por todas as lojas da Alemanha e dos paises
vizinhos que, ainda que cada uma delas era livre e autônoma acorria a
Estrasburgo em casos graves ou duvidosos (*14).
Na França se criou o “Companheirismo” e nascem diversas
fraternidades maçônicas; “os Filhos de Salomão”, “os Filhos do Mestre
Jacques” e “os Filhos do Mestre Soubise”; foram criadas em seguida “os
Companheiros do Dever. Todas estas corporações de construtores dispunham
de constituições escritas pelas quais seus membros deviam ser livres e ter uma
vida irretocável; eles se consideravam irmãos (*22).
Apesar de que o pedreiro podia justamente ser ciumento de seus
conhecimentos na arte de construir, as regras de segurança física da
Francomaçonaria têm muito poucas relações com os rituais das corporações,
de tal modo que se pode interrogar sobre esta súbita evolução do humilde
pedreiro até o organizador de um grupo social estruturado como uma
organização secreta juramentada, defendendo as portas de suas assembléias
com as espadas em mãos, protegendo-se da traição na transmissão de seus
segredos a “profanos”, com a ameaça de castigo temível. Não constituía u,
razoamento gremial típico; ao contrario, o conhecimento de um castigo muito
específico, proporcionado não pelos próprios obreriros, mas imposto por uma
força superior: o Estado e a Igreja (*39).Até o século XIV, os antigos grêmios
medievais foram militantemente religiosos e todos apegados à Igreja Católica,
e a nenhum foi permitido ter um código de tolerância religiosa ou conceder
proteção àqueles cujas opiniões estavam em conflito com os ensinamentos da
Igreja Católica.
O propósito da Maçonaria secreta: a proteção mutua de homens que
tinham diferenças de crenças com a Igreja Romana, desacordo com os
costumes da sociedade obreira medieval do século XIV; esta incoerência
“social-profissional” deixa a porta aberta a toda especulação mais séria até a
fantasiosa (*39);
Certos autores desenvolveram hipóteses segundo quais os primeiros
Francomaçons foram realmente Templários fugitivos ou seus descendentes;
segundo estes autores, a Francomaçonaria havia se originado nos apuros e
fuga dos Templários que utilizaram a organização obreira dos “francos ofícios”
doravante estruturada, para formar rapidamente uma sociedade secreta e que
as origens dela se encontra entre os Templários e simpatizantes da Ordem
Templária que escapara da prisão e tortura nas mãos do Rei e do Papa, em
uma época ideal para formar um grupo secreto no qual os Templários puderam
esconder-se do conhecimento e da vingança da Igreja Católica.
O estudo desta hipótese permite compreender melhor o sentido de
certos símbolos da Mui Venerável instituição maçônica e podemos ser
seduzidos por seu construtivismo, ao contrario do aspecto místico e improvável
da corrente filosófica, bíblica e símbolos da Maçonaria e de seu mítico passado
brumoso e incerto.

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À medida que o tempo passa, a memória escurece; as verdadeiras
origens da Francomaçonaria se perderam e os Francomaçons ficam somente
com a alegoria, criando um mundo fantástico que aceitaram como real: o dos
Patriarcas bíblicos e do templo de Salomão, e dos Templários e das
sociedades secretas e misteriosas. Transmitiram estas lendas fantásticas,
fabulam românticas e mitos exóticos que seduzem os homens dos paises da
Europa brumosa, fria e chuvosa.

*
- TERCEIRA PARTE –

A CORRENTE ESPECULATIVA,
DEMOCRÁTICA E LIBERTÁRIA
* *
Do século XVIII ao século XX
*
CAPÍTULO VI
* *
- Os Mestres aceitos –

Com o século XVIII, a mentalidade retrógrada das corporações de


construtores evoluiu e os Maçons trataram de buscar um remédio para a crise
que, nos últimos tempos estavam tornando-os menos prósperos. Decidiram
generalizar a admissão de “membros honorários” estranhas à prática da “Arte
Real” e à profissão de construir que tinham penetrado na lojas desde 1.400,
(Manuscrito Cooke) os quais cooperaram para o sustento material das lojas e
salva-las moralmente da decadência que as ameaçava e da dissolução à qual
pareciam inevitavelmente destinadas. Estes membros honorários, chamados
“Maçons Aceitos” pertenciam em sua maioria à burguesia. Foram eruditos,
distinguidos em artes, nas letras e nas ciências.
A elite intelectual desta época, impregnada da corrente humanista e
“Pansófica”, transformou-se rapidamente em associações filosóficas, tais como
a “Academia Platônica”, criada em 1.460 em Florença (Itália), a “Companhia
dos Magos”, associação constituída na França no inicio do século XVI por
Cornelius Agripa e a “Companhia do Palustre, criada em 1.512, que eram
evidentemente de espírito Maçônico operativo. Estas associações eram
comummente favorecias pelos grandes Senhores do Reino. Os Maçons
Aceitos aportaram muito às lojas Maçônicas; frequentemente deram asilo aos
filósofos herméticos e aos alquimistas adeptos da “Arte Magna” e da pedra
filosofal.
Alguns destes intelectuais eram homens que tinham um motivo para
reunir-se e discutir as suas idéias em segredo, longe dos olhos e ouvidos da
Igreja; eram os cientistas de Londres, de Oxford e de Cambridge que se deram
conta do que estava acontecendo durante o século XVIII: a Igreja estava em

55
oposição à ciência; e de tal modo que eles se encontravam em grave perigo de
castigo eclesiástico, tal como Galileu Galilei que teve de renegar em 1.638 sua
teoria da rotação terrestre ao redor do sol para libertar-se da ameaça de tortura
do tribunal da Inquisição Romana. Mas eles não queriam abandonar sua
curiosidade cientifica e optaram por reunir-se em segredo nas lojas Maçônicas.
Em 1.645, Elias Ashmole, astrólogo de origem judaica, alquimista da
corrente Rosa-Cruz, físico e matemático, apelidado o “mercurófilo inglês” foi
admitido como Maçom aceito em Lancashire. Fundou em Londres “o Colégio
Invisível”, sociedade de inspiração Rosa-Cruz e em 1.646 uma sociedade que
tinha por objetivo construir o templo ideal: “a casa de Salomão”, Ashmole
contribuindo assim a acentuar as tendências herméticas da Ordem Maçônica.
É nesta época que nascem as lendas simbólicas relativas à construção do
templo de Jerusalém e aquela do construtor Hiram. Pretende-se que foi
Ashmole que fez o esboço da organização da Ordem atual e consolidou as
tendências que foram os fermentos da Maçonaria especulativa moderna. Em
1.662, sob o Reinado de Carlos II da Inglaterra, Robert Moore e Elias Ashmole
solicitaram permissão Real para constituir-se em sociedade com o nome de
“Real sociedade de Londres para o melhoramento do conhecimento natural
(Royal Society of London)”. Os Maçons ingleses tiveram um rol importante na
fundação desse corpo sapiente, o maior do século XVIII inglês, que foi
presidido de 1.703 a 1.727 por Isaac Newton, genial inventor de um ramo
totalmente novo para a época das matemáticas, o chamado “calculo das
variantes”; foi o criador do método de calculo diferencial e integral; descobriu a
lei da inércia e o “quadrado inverso” (*55). Foi também autor de descobertas
fundamental sobre a natureza da luz e estabeleceu as bases para a teoria da
gravitação universal que deduziu da terceira lei de Kepler sobre o movimento
planetário universal. Embebido da corrente filosófica mística da época e
adepto do Rosacrucianismo, Newton desenvolveu seus experimentos na
fronteira entre a alquimia e a química (*11). O passatempo preferido dos
últimos anos desse genial cientista foi a construção de um maquete
arquitetônico do templo de Salomão. Integraram-se a esses novos “Maçons
Aceitos” alguns gentis homens mestres na política e na arte de governar os
Estados, influíram enormemente sobre o espírito das lojas de construtores e,
pouco a pouco, começara a prevalecer sobre os Maçons de oficio Maçons
antigos) e não tardaram em dirigir as oficinas, transformando as lojas operárias
em lojas especulativas. Esse foi o “renascimento” da instituição e a criação da
Maçonaria moderna que conhecemos hoje. O caráter da instituição Maçônica,
intelectual e aristocrático, favoreceu seu desenvolvimento e cada um ambiciona
a honra de admitido na fraternidade; as lojas de construtores começaram a
transformação em lojas especulativas; mas souberam conservar o espírito da
Maçonaria: o constutorismo e seu objetivo que é que cada um dos seus
membros se torne um dos construtores simbólicos do edifício social(*48).

- A corrente filosófica e mística –

Entre 1.599 e 1.662 a corrente de pensamento filosófico-místico-


alquímico de inspiração Rosa Cruz penetra os espíritos e impregna de maneira
profunda e continua a Ordem Maçônica, jogando um rol importante como
infusão de um espírito novo que volta a dar à Maçonaria um renovo de
atividade espiritual no sentido de suas tradições. Com o século XVIII, inicia-se

56
uma nova época de pensamento onde se confunde intimamente o racional das
ciências exatas e naturais e o irracional como o estranho e o maravilhoso. A
alquimia, que estava no seu apogeu na Europa, atropelou o racionalismo
estreito do século XVIII, consagrando a pratica da “Grande Obra Hermética” e
criando o sistema filosófico-místico-alquímico chamado “Ciência Sublime”
originado na corrente tradicional hermética que intentava redescobrir o mistério
da vida.
É nesta época que os Rosacruzes ingleses penetram na
Francomaçonaria e certas doutrinas e tradições místicas, como as tradições
Templárias e Rosacruzes, assim como as lendas dos Essênios e do Dionísios
se incorporam ao “renascimento” da Ordem Maçônica. Foram aportes
importantes à transformação e à regeneração da Maçonaria, dando-lhe um
objetivo de união, de perfeição e de progresso de fraternidade, de igualdade e
de ciências (*3).
- A primeira constituição –

Em 24 de junho de 1.717, dia do solstício de verão e de São João


Batista “(dia oficial da Francomaçonaria Universal) Jean Theophile Desagulier,
James Anderson, George Payne, Calvert, Sumn, Malden, Elliot, com
assistência dos irmãos King e de alguns outros, convocaram os membros de
quatro lojas que estavam ativas em Londres nesta época; elas tinham nomes
pitorescos saios das tavernas onde elas se reuniam: “the Goose and Gridinon”
(o Ganso e a Grelha) de Saint Paul’s Churchyard, “the Crown Ale-House” (a
taberna da Coroa) de Drury Lane, “the Apple-tree Tavern” (taverna da
macieira) de Covent Garden e “the Rummer and Grapes Tavern” ( a taverna da
taça e uvas) de Westminster. Reuniram-se na taverna “the Apple-tree”, situada
ne Charles street, atrás da catedral de São Paulo de Londres em Covent
Garden para unirem-se, constituindo formalmente a “Grande Loja de Londres”,
autodenominada de “dos Maçons Modernos”.
Elegeram o seu primeiro Grão Mestre: Anthony Seyer, desenhista dos
arquitetos que, dirigidos pelo ancião Grão Mestre Christopher Wren,
reconstruíram a catedral de São Paulo de Londres destruída em 1.666 pelo
gigantesco incêndio da “city”, o coração de Londres. Elegeram, também, seus
dois Grandes Vigilantes: Jack Lambell, da confraria dos carpinteiros e John
Elliot, capitão construtor. Definiam a nova Grande Loja como “Loja Mãe da
Inglaterra”; deram-lhe a onipotência legislativa, aquela de dar adiante as cartas
de regularidade a todas as outras.
As velhas lojas de Londres e de Westminster não aceitaram esses “novos”
Maçons. A loja de York encolerizou-se ante essa decisão unilateral dos
Maçons londrinos por denominar-se “Grande Loja”, afirmando que era superior,
já que ela era a mais antiga da Inglaterra, uma vez que a sua origem
remontava ao ano de 926, no tempo do término da catedral de São Pedro de
York, época em que o Príncipe Edwin, filho menor do Rei Athelstan (o
Ethelefton) da Northumbria, nomeado Grão Mestre dos Maçons do Reino, tinha
dado a primeira franquia constitucional aos Maçons Yorkinos: uma carta
permanente (carta de York) que segundo certos autores, havia reproduzido a
carta de Santo Albano, aprovada pelo Imperador Romano Carausius no ano
290, que fixava os direitos e deveres dos membros. Esta carta foi reconhecida
em 1.350 pelo Parlamento de Londres no “Manuscrito Real”, documento que
define os estatutos dos obreiros construtores de Londres.

57
A loja de York decidiu impor-se e formou em 1.725 sua própria “Grande
Loja da Inglaterra”. Desde esta época, York ocupa um lugar muito especial na
Maçonaria, principalmente nos Estados Unidos, onde muitos Maçons
consideram que o rito Yorkino é a forma mais antiga da Maçonaria. As outras
lojas inglesas ficaram independentes e livres e continuaram respeitando as
“antigas constituições”(*48). No mesmo ando de 1.725, a Maçonaria Irlandesa
declarou uma “Grande Loja da Irlanda” com sede em Dublin. A Escócia foi a
ultima em tornar pública sua Maçonaria em 1.736. Em 24 de junho de 1.718,
George Payne, sucede a Anthony Seyer. Fazendo-se necessário formular,
tanto os princípios como os estatutos e regulamentos da Ordem, Payne
começou o trabalho de reunir todos os escritos, cartas e antigas constituições
chamadas “OLd Charges” (antigas obrigações ou Constituições Góticas) e as
“General Regulations” da Maçonaria; entre quais se encontram os mais antigos
documentos: os estatutos Shaw, as ordenanças de Ina (668ª 725) e de Alfred
(871 a 901), o poema Regius (1.390), o documento Cooke (1.410), o Nigo
Jones (1.607, o documento Wood (1.610) e a carta de Athelstan, estabelecida
durante a assembléia geral de 936 em York. Mas, numerosas lojas operativas
queimaram muitos documentos das “grandes constituições góticas”,
manuscritos de grandíssimo valor, com fim de não caírem nas mãos desses
“novos Maçons” que, para eles, eram apenas uns profanos. Desses preciosos
manuscritos, anotamos um texto de 1.750 atribuído ao Rei Henrique VI da
Inglaterra que dá uma definição interessante da Maçonaria, como resposta a
uma pergunta relativa aos seus mistérios:
“A Maçonaria é o conhecimento da natureza, o discernimento da
potencia que ela encerra e de suas obras múltiplas, em particular o
conhecimento dos números e das medidas e da boa maneira de fazer todas as
cousas para o uso do homem, em particular os edifícios, assim como todas as
outras cousas que contribuam ao seu bem” (*19).
O pastor Jean Theophile Desaguliers, filho de um protestante francês de
Rochelle emigrado a Londres depois da revogação do édito de Nantes; espírito
brilhante, físico, matemático, capelão do Príncipe de Gales, doutor em direito,
membro da “Royal Society” e discípulo de Newton, sucede a George Payne em
1.729. Participa na redação da primeira constituição Maçônica que foi
terminada em 1.720. O Duque de Montague, Príncipe de sangue Real inglês,
novo Grão Mestre, sucede a Jean Theophile Desaguliers em 1.721; encarrega
o pastor e presbítero escocês James Anderson redigir a nova carta da
Francomaçonaria moderna que foi adotada no mesmo ano e publicada em
1.723 sob o Grão Mestrado do Duque de Wharton.
Em 1.732, nove lojas se reuniram segundo “Grande Comitê da mais
antiga e honorável confraria dos Maçons Livres e Aceitos” decidiram constituir
a “Grande Loja dos Maçons Livres e Aceitos segundo as velhas instituições”,
chamada também “Grande Loja dos Antigos”. Em 1.756, o irlandês Laurence
Dermott publica a constituição “Ahiman Rezon” (Lei dos irmãos designados, ou
escolhidos). A divisão entre os antigos (280 lojas) e modernos (387 lojas) dura
até 1.813, ano da reconciliação e fusão, formando em 1.815 a “Grande Loja
unida dos Francomaçons da Inglaterra”; sua constituição, diferente daquela
escrita por Anderson em 1.723, foi publicada em 1.815. A esta Grande Loja
que é reconhecida a qualidade de “Grande Loja Mãe de todas as lojas do
Mundo (*48).

58
- A Maçonaria escocesa –

Em 1.640, a família Real da Escócia, os “Stuarts” (Estuardos), refugiam-se na


França no castelo de Saint Germain en Laye, abriugaram suas atividades
políticas nas lojas povoadas de exilados que conspiraram contra Cromwell e
seus partidários para reconquistar o trono da Inglaterra. Para debilitar a
oposição Estuardista, Cromwell ordenou em 1.649 a decapitação do Rei Carlos
I Stuart. Sua esposa, a Rainha Enriqueça da Escócia, Princesa da França e
filha do Rei Enrique IV da França, refugia-se por sua vez no castelo de Saint
German en Laye com seus dois filhos, sob a proteção do Rei Luis XIII. Para os
Estuardos é necessário vingar a morte do Rei Carlos II e castigar seus
assassinos. Sob a inspiração dos Estuardos, nasce em Saint Germain en Laye
uma Maçonaria Católica de tradição Templária. Em 1.606, o general Monk
coloca novamente um Estuardo no trono da Inglaterra: Charles II. Seu irmão
menor e sucessor: James II, destronado em 1.688 por Guilherme de Orange
depois da capitulação de Limerick, refugia-se também na França no mesmo
castelo. Sob a proteção do Rei Luis XIV (*13).
Em 1.689, mediante uma Lei do Parlamento que afirmava
categoricamente que nenhum Católico Romano podia ocupar o trono da
Inglaterra, foi negada a sucessão Real inglesa a James II Estuardo e a seu
filho. Logo em 1.701, promulgou-se uma nova Lei que excluía do trono inglês a
todos que não fossem membros da Igreja Anglicana. A luta se desenvolve na
Inglaterra entre a Realeza Católica dos Estuardos e o Parlamento, depois entre
os Estuardos e os nobres protestantes da “Casa de Orange e de Hanover”. Em
1.715, iniciou-se a rebelião chamada “Jacobina (fiel ao Rei Católico James II
Estuardo), mas foi um fracasso miserável. Depois da execução de Carlos I
Estuardo, os membros da nobreza escocesa Católica, que tinham encontrado
refugio na França, a partir de 1.649 e alguns soldados fiéis, uniram-se a James
II Estuardo para fundar em 1.721 a primeira loja Maçônica “Escocesa” em
Dunquerque. Três gentis homens escoceses estabeleceram em 1.726 em
Paris a loja “Saint Thomas” em um albergue de Saint Germain dês Pres; é uma
loja “Jacobina” dirigida por Charles Radclyffe (Lorde Derwentwater), que vai dar
nascimento à loja “Goustand”, em seguida à “lês Arts Sainte Marguerite” e
finalmente, à loja “au Louis d’Argent” (Luis de Prata) instalada em um albergue
da rua de Bussy em Faubourg Saint Germain em Paris. Uma cisão política
dividirá essa loja que cederá seu lugar em 1.729 a uma loja inglesa de
inspiração Orangista (*12).

- A Grande Loja Provincial da Inglaterra


Para o Reino da França –

Na França, a Maçonaria teve uma grande influencia graças à autoridade do


Duque de Wharton que, depois de ter sido Grão Mestre da Grande Loja de
Londres, torna-se o primeiro Grão Mestre da primeira Grande Loja da França
fundada em 1.728 e chamada “Grande Loja dos Mestres do Oriente de Paris”.
Apoiado por numerosos britânicos, escoceses e irlandeses que compunham a
maior parte das lojas e pelo teólogo escocês Andrew Michael Ramsay,
conservador das tradições da Maçonaria Católica escocesa contra as
tendências anglicanas, o Duque de Wharton propaga na França a Maçonaria

59
básica de três graus ou Maçonaria “azul” que foram trazidos pelos Maçons
escoceses exilados em Paris.
Grande orador da “Grande Loja Provincial da Inglaterra para o Reino da
França”, que foi constituída em Paris em 1.735, o Cavalheiro Andrew Michael
Ramsay, Doutor ”Honoris Causa” em direito civil da Universidade de Oxford e
membro da “Royal Society of London”, havia viajado por toda a Europa,
chegando a conquistar as graças de grandes famílias da nobreza. Foi
preceptor do Príncipe de Turenne e do Príncipe Carlos Estuardo, filhos de
James III, exilado em Roma e pretendente ao trono da Inglaterra e da Escócia.
Andrew Michael Ramsay é patrocinado por Fenelon, Arcebispo de Coimbra,
onde ele foi executor testamenteiro (*14).
Desde seu nascimento, a Francomaçonaria se desprende do artesanato
e de todas as praticas manuais que haviam feito a sua gloria e aquela de suas
confrarias. Em um discurso ainda celebre pronunciado em 1.736, Andrew
Michael Ramsay define o espírito e a origem da Maçonaria q1ue, segundo ele,
não tem nada a ver com das confrarias de canteiros medievais sebentos que
os aristocratas franceses não gostavam e freqüentavam o salão filosófico de
Fenelon onde se reunia a nobreza da corte do Rei Luis XV, declarando: “O
numero de Francomaçons não deve ser tomado no sentido literal, grosseiro e
material, como se nossos instrutores tivessem sido simples obreiros de pedra”.
Ramsay fala, ao contrario, de uma origem entre Reis, Príncipes, Barões
e Cavalheiros das Santas Cruzadas, fazendo dos Francomaçons os novos
“Cavalheiros do século da razão” (*22).
Proclama pela primeira vez a universalidade da Francomaçonaria,
denuncia o patriotismo agressivo e dá as bases da Maçonaria dos altos graus,
ou Maçonaria “vermelha” inspirada, não na Maçonaria operativa, e sim em uma
ordem de cavalheiros. Este discurso teve uma influência imediata, profunda e
durável sobre o desenvolvimento da Francomaçonaria. Graças a seus
argumentos, Ramsay seduz uma grande parte da nobreza francesa e prepara-
a para ingressar nas lojas.
Andrew Michael Ramsay foi o propulsor da corrente de pensamento
“Filosófico-Cavalheiresca” da Maçonaria, ponto de partida doutrinal da
tendência filosófica Maçônica chamada “Escocismo”. Ramsay conseguiu em
1.735 fazer admitir na França sua teoria da origem Templária da Maçonaria
que tinha sido refutada pela primeira vez pela Grande Loja da Inglaterra em
1.728 por falta de provas. A partir de 1.737, iniciou-se uma onda de fantasia
cavalheiresca que se difundiu pela Europa nos séculos XVIII e XIX segundo um
tema pluricultural Arabe-Turco-Egipcio, formando em 1.785 um muito
sofisticado repertorio de mais de 400 rituais exóticos. A corrente filosófico-
cavalheiresca adquiriu tal preponderância durante a segunda metade do século
XVIII que todos os demais sistemas, tal como a corrente “bíblico-simbólica”,
viram-se postergadas e reduzidas ao silencio nos principais Estados da
Europa.
Os Jesuítas apoderaram-se um momento deste sistema e abusaram da
Maçonaria na Inglaterra e Escócia com o objetivo de formar um partido em
favor da dinastia Católica dos Estuardos; fazendo crer que a Maçonaria
trabalhava para repor uma Realiza Católica no trono da Inglaterra, cultivando a
romântica ilusão de que a Maçonaria no era mais que continuação encoberta
da extinta Ordem dos Templários que tinha tomado este véu para perpetuá-la
com o fim de recuperar um dia o seu antigo poderio. No século XVIII, a

60
Maçonaria “Escocesa, ou Templária” representa a elite da sociedade da época;
esta crença se perpetuou e perdurou longo tempo no rito Sueco e está ainda
viva no rito “Escocês Retificado” no qual anotamos em 1.782:
“A verdadeira tendência do regime retificado é, e deve ser, uma ardente
aspiração ao estabelecimento da cidade dos homens espiritualistas, que
pratiquem a moral do Cristianismo primitivo, sem nenhum dogmatismo, nem
qualquer união com a Igreja, qualquer que ela seja”(*27).
A Grande Loja de Londres outorgou permissão em 1.738 para constituir em
Paris a “Grande Loja Inglesa da França”. Nessa época Voltaire publicou suas
“letras inglesas” onde fez apologia do sistema de Governo britânico em
oposição ao despotismo do sistema francês: “...cujos preconceitos Católicos
molestam o progresso da razão...”;
Em 1.764, Voltaire dirige seus ataques à Igreja, já que não admite mais
a autonomia do mundo religioso que, segundo ele, se preocupa demais com a
política. O poder Real francês se inquieta rapidamente por causa da atuação
das lojas Maçônicas dirigidas por uns Grãos Mestres ingleses e a Maçonaria é
proibida em 1.737 por decreto do Rei Luis XV.

*
CAPÍTULO VII
A Maçonaria moderna
* *
- O século da razão –

O século XVIII foi o século da razão. Descobrindo as ciências e as


invenções técnicas, ele encontra na Enciclopédia de Diderot e de d’Alembert
um prodigioso meio de difusão do saber da época, em qual Diderot rechaça a
visão Católica do mundo porque, segundo ele, é muito fechada e sufoca as
faculdades de razoamento do ser humano; dizendo ao Papa que sua missão
na terra era somente espiritual e pastoral, mas não econômica e política. O
primeiro volume da grande enciclopédia é publicado em 1.752.
Uma batalha de opinião se desenrola imediatamente, de tal sorte que o
conselho de Estado proíbe a venda da obra. Para contrapor-se ao movimento
hostil, a bela e influente Madame de Pompadour, concubina do Rei Luis XV,
favorece com discrição e eficácia a publicação deste primeiro volume. Devido
a novos elementos em sua maior parte intelectuais, que entraram nela eà
influencia dos enciclopedistas, a Francomaçonaria francesa evoluiu em sua
tendência religiosa para transformar-se em organismo filosófico social em luta
pela liberdade de consciência, de pensamento e por todas as liberdades
humanas.
A Francomaçonaria moderna, nascida no século XVIII, é uma instituição
sensivelmente diferente da Maçonaria antiga, onde a arte de construir era o
critério essencial; ela se separa resolutamente do artesanato e de todas as
práticas manuais que havia feito a gloria de suas confrarias. Com a entrada
massiva dos aristocratas, dos humanistas e dos racionalistas, a Ordem
Maçônica muda de rumo e, desde 1.620, os antigos Maçons operativos são
claramente minoritários em relação aos intelectuais. Pouco a pouco, a antiga
confraria operativa torna-se uma “sociedade de pensamento” que ignora os

61
irmãos operários. No século XVIII, o segredo, a fraternidade e a tolerância são
ainda rastros sobre-salientes das lojas que começam aprofundar a prática das
ciências herméticas (*38).

- A Maçonaria da Corte –

Em 1.737, falava-se somente dos progressos que fazia a Ordem


Francomaçônica. Todos os grandes do Reino procuravam ser recebidos. Mas
a “sociedade secreta” é mal vista pelo Governo francês que proíbe as reuniões.
Apesar de que alguma raras vezes a policia entra à força nos albergues onde
se reuniam as lojas, ela não se atreve a perguntar os nomes dos participantes,
pis se trata da elite da nobreza do Reino. É para assegurar a Monarquia sobre
a fidelidade das lojas que em 1,738 , Luis de Pardaillan de Gondrin, Duque
d’Antin, Príncipe de sangue Real e Grande da França é eleito Grão Mestre.
Pela primeira vez a Ordem Maçônica é dirigida por um membro da alta
nobreza francesa, ocupando funções oficiais e desfrutando de certo prestígio
na corte Real. Sob a influência do Duque d’Antin, a Francomaçonaria francesa
torna-se independente daquela da Inglaterra e abandona suas atividades
políticas. Morre o Duque d”Antin e é sucedido pelo Príncipe Luis de Bourbon-
Condé, Conde de Clermont, que continua protegendo a Ordem Maçônica
contra a antipatia Real. Em 1,771, existiam 154 lojas em Paris, 322 nas
províncias e 21 loja de regimento (militares). Em ‘1.776 a Francomaçonaria
conta, ao menos, com 30.000 membros em toda a França (*20).
Os Maçons franceses decidiram governarem-se por si mesmos e
independentizaram-se da “Grande Loja de Londres”, fundando em 1.772 a
“Grande Loja Nacional da França” com sede em Paris. As lojas do século XVIII
tiveram um grande poder de atração, já que nelas um podia trocar idéias e
desenvolver em conjunto a busca intelectual ao abrigo de todo dogmatismo e
de toda censura.
No final do século XVIII, a Francomaçonaria francesa podia ser
qualificada de “Ordem da Corte”, posto que sob o Reino de Luis XVI, foram
Francomaçons os mais altos personagens da Corte Real. Em 1.789, a
Maçonaria tinha conquistado um lugar e uma influencia considerável, uma vez
que tinha invadido as classes sociais médias e altas da sociedade francesa: a
burguesia e a aristocracia (*29).

- O Grande Oriente da França –

A partir de 1.738, a Francomaçonaria francesa não devia encontrar mais


obstáculos para seu desenvolvimento. Sob o impulso do Conde de Clermont,
as lojas deixam as modestas tabernas onde se reuniam por cômodos salões
onde abundam as pinturas e as decorações alegóricas maçônicas. O
substituto do Grão Mestre, o modesto “mestre de danças” Lacorne, que apóia
os burgueses contra os aristocratas, é detestado. Sólidos ódios se mostram
abertamente entre os irmãos parisienses. Em 1.746, os “Lacornianos”
estiveram à caça de postos de responsabilidade e os partidários das duas
tendências: aristocratas e burgueses livram uma verdadeira batalha que foi tal
que os irmãos profanaram o templo. A polícia proíbe as reuniões maçônicas e
obriga a Grande Loja encerrar sua atividade; este recesso dura quatro anos. O
balanço é catastrófico, o ideal d Francomaçonaria é cada vez mais débil e os

62
irmãos encerram-se em disputas estéreis; a Ordem Maçônica está em um
be4co sem saída. Os “Lacornianos” contra atacam, convencendo o Duque de
Montmorency Luxembourg, primo do Rei Luis XVI, a “ressuscitar” a Maçonaria
moribunda. O Duque consegue fazer eleger Grão Mestre um personagem
suficientemente conhecido por albergar a Ordem sob sua proteção, para
restaurar o seu brilho depois de anos de anarquia. É Luis Philippe Joseph
d’Orléans, Duque de Chartres, Príncipe de sangue e primo do Rei Luis XVI. O
Duque de Chartres tem uma personalidade libertina e frondosa, devorada pela
ambição política que o leva a uma oposição enviesada ao regime do seu primo
Real, o que lhe vale a estima do povo e de seus irmãos que o conhecerão sob
o nome de “Philippe Egalitée” (Felipe Igualdade). Philippe d’Orleans presidirá a
Maçonaria francesa até 1.793. Durante seu mandato, ele nomeará
administrador geral o Duque de Montmorency, que será de fato o principal
dirigente da Francomaçonaria e que reorganizará a Ordem reunindo os irmãos
das duas correntes sociais. Dissolveu a Grande Loja da França em 1,772 e
substituiu-a em 1.773 pelo Grande Oriente da França. Este “golpe” de estado
autoritário descontenta certas lojas que não foram consultadas os protestos
surgem (*19). A parti de 1.774, os efetivos do Grande Oriente crescem,
enquanto diminuem os da Grande Loja refrataria à união. Em 1.775 foi
necessário regenerar a Ordem que tinha sido invadida por irmãos libertinos,
mais preocupados com as honrarias e os banquetes do que os fins iniciáticos.
Em 1.777 foram criadas as câmaras de perfeição, que permitiram uma seleção
qualificativa mais rigorosa do quadro de membros.

- A Maçonaria Revolucionária –

Voltaire escrevia em 1.766 ao Marques de Chauvin “...Tudo o que vejo


bota as sementes de uma revolução que chegará sem falta...”. Ele não sabia
que no mesmo ano, alguns extremistas opositores do regime realista são
admitidos nas lojas. Em seu conjunto, a Maçonaria esteve pouco preocupada
com as idéias revolucionarias que estavam em germinação; têm-se que buscar
melhor estas idéias nos numerosos clubes políticos, nas academias e as
sociedades literárias, que são de fato pequenos grupos revolucionários ativos.
Porém, apesar de que ela não tinha tido parte ativa no movimento
revolucionário, é a Francomaçonaria que fundou o “Clube Bretão” de Versailles,
que se tornou em “Clube dos Jacobinos”, que preparou os espíritos para as
reformas políticas que poderiam ser feitas pacificamente sem a intransigência
dos aristocratas privilegiados do Reino (*20). É esta intransigência que
provocará a reação revolucionaria que conseguiu suprimir o feudalismo e
proclamar os “Direitos do Homem e do Cidadão”. Porém a dita reação
degenera rapidamente em revolta sangrenta e finalizará no chamado “terror
vermelho”. Quando a tormenta revolucionaria eclode, uns agitadores
transformam certas lojas em clubes políticos nos quais participam os irmãos
partidários da nova doutrina democrática. Apesar de que certas lojas tenham
servido de base às idéias revolucionários, não se pode pretender que a
instituição Maçônica inteira tenha estimulado a Revolução. Entre os 578
deputados que votaram pela morte do Rei Luis XVI, 477 eram Maçons; a
decapitação de Luis XVI foi decidida por um voto de maioria, aquela do Duque
d”Orleans, seu primo (*19).

63
A partir de 1.790, a Maçonaria adotará um tríplice ideológico: Liberdade,
Igualdade de direitos e Fraternidade humana, que serão o emblema da
Republica francesa, a primeira da Europa, que lançará em 1.793 as bases da
democracia e a abolição da escravatura (*33).
O mundo inteiro admite hoje que a propagação desses princípios
preparou uma profunda transformação da França e da Europa inteira e
constituíram as bases sobre quais se libertaram os povos do mundo e se
instala a democracia no “Novo Mundo”. É deste ideal que vieram as
orientações filosóficas e filantrópicas de liberdade e progresso da Maçonaria
como a conhecemos atualmente: a fraternidade universal atuando na
construção do bem humano com o objetivo de que cada um dos seus membros
se torne um dos construtores do edifício social.

- A desgraça do Grão Mestre –

Em 1.789 vem uma violenta ruptura entre o Grão Mestre: o Duque de


Orleans, que espera recolher o fruto de suas intrigas políticas, beneficiando-se
da queda inevitável do Rei Luis XVI e do seu administrado geral: o Duque de
Montmorency, que quer manter=se fiel à Maçonaria. Os Maçons dividem-se:
os burgueses obedecem ao Duque de Orleans e os aristocratas ao Duque de
Montmorency que se une à “Armada dos Príncipes” em 1.791 e trabalha contra
a Revolução. Temendo por sua vida, o Duque de Orleans decide renegar a
Ordem Maçônica e seus irmãos Maçons. Profundamente decepcionados, os
Francomaçons pronunciam sua queda realizando uma cerimônia de
degradação onde quebrara a sua espada. Os Maçons revolucionários estão
enojados dessa traição e em 1.793 o ex-Grão Mestre não escapará da
guilhotina (*26).
Nesta época turbulenta, a maioria dos Maçons dos paises da Europa
mostra-se hostil à Maçonaria que é acusada de ter fomentado a desordem e
favorecido a queda da Realeza francesa e da ordem estabelecida. Em Prússia,
as lojas estão sob vigilância da policia e na Rússia, a Imperatriz Catarina II
fecha-as. Durante este trágico período revolucionário, a Maçonaria francesa
esteve a ponto de morrer pelos golpes que lhe têm dado seus membros.
Quando a calma voltou, a Maçonaria estava exangue.
Com grande coragem, Alexandre Louis Roettiers de Montaleau desperta
várias lojas depois da chamada época de “Termidor” e toma a direção do
Grande Oriente da França. Torna-se seu Grão Mestre em 1.796 e consegue a
fusão das obediências francesas sob a tutela do Grande Oriente que se torna o
correspondente autorizado da Grande loja da Inglaterra.
Enquanto que a Maçonaria continental formava a Maçonaria mais elitista
e sofisticada, a Maçonaria britânica havia se convertido em uma sociedade
para comer e beber; as lojas inglesas não tardaram em degenerar e a
fraternidade inglesa dos homens de bons costumes se reunia em uma
camaradagem de taberna (*19).
Depois de 74 anos de crise, devido a este mau espírito de libertinagem,
cheio de conflitos internos devido a sua permanente luta de influencias, os
Maçons ingleses se reconciliam em 1.813 e se unem fundando a “Grande Loja
Unida da Inglaterra” com sede em Londres (*32).

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- Os Rosacruzes –

Como curioso contraste do racionalismo do século da razão, o século


XVIII também é a época de um vasto movimento místico que impregna os altos
graus Maçônicos com os temas da alquimia e da Cabala, pois as lojas
Maçônicas deram acolhidas aos filósofos herméticos e aos alquimistas cuja
linguagem simbólica se cruzava com aquela dos Maçons. A penetração dos
Rosacruzes na Maçonaria fez indubitavelmente da velha Maçonaria operativa
uma instituição nova, precursora da Maçonaria especulativa atual.
O movimento dos “Irmãos da Rosa e da Cruz”, foi criado no Egito e no
século XIV pelo gentil homem Christian Rosenkreutz (Rosen-crutz,
Rosencreutz ou Rosencreutsen), naturalista alemão que se dedicou ao estudo
da filosofia oriental; morreu em 1,484 na formosa idade de 106 anos. Aos 16
anos partiu em peregrinação à Terra Santa, visitou o Santo Sepulcro, percorreu
a Arábia e o Egito. Dirigiu-se em seguida à Pérsia, onde estudou as bases das
operações mais elevadas das ciências ocultas. Recebeu ensinamentos
secretos dos sábios que tinham estudado entre os “filhos de Agar” na cidade de
Damasco na Arábia.
Rosenkreutz percorreu o Líbano, Síria, Marrocos e e iria a Fez que, na
época era o santuário da sabedoria muçulmana, onde as línguas orientais, a
física, as matemáticas e as ciências da natureza. Fundou em Fez uma escola
conhecida sob o nome de “Colégio Invisível”, consagrado à prática da “Grande
Obra Hermética”, cujos discípulos foram conhecidos com o nome de “os
Invisíveis” ou de “os Imortais” (*55).
Rosenkreutz foi o criador do sistema filosófico-mistico-alquimico
chamado “ciências sublimes”, saído da corrente tradicional hermética que
tentava redescobrir os mistérios da vida. Alguns anos mais tarde, Rosenkreutz
dirigiu-se à Espanha onde quis fundar uma sociedade destinada a colocar os
homens sobre o caminho da ciência e do bem. Uma sociedade Rosa-Cruz
existia na Itália até 1.411 e uma em Flandres até 1.411. Em 1.413, os
Rosacruzes apareceram na Alemanha, onde se assentaram na cidade de
Shlesvig em 1.484.
A jóia simbólica dos Rosacruzes era uma rosa sobre qual se destacava
uma cruz lavrada em seu centro.
Segundo os resultados da investigação feita de 1.642 até 1.646 por
Gabriel Naude, bibliotecário de Richelieu, primeiro ministro do Rei Luis XIII:
“...Os Rosacruzes são piedosos e honestos em grau máimo, conhecem
por revelação aqueles que são dignos de estar em sua companhia; não estão
sujeitos nem à fome nem à sede nem às enfermidades, mandam nos espíritos
e os demônios mais poderosos. Pela virtude de seus cantos, podem atrair a
eles as pedras preciosas; dispõe de mais ouro e prata que o Rei da Espanha
arrecada de suas rendas nas Índias, uma vez que seus tesouros jamais podem
esgotar-se...”(*49).
O éculo XVI vê desaparecer o Rosacrucianismo na Alemanha. Nasce
nesta época uma lenda que pretende que os irmãos Rosacruzes partiram para
Índia, onde fundaram o mítico Reino subterrâneo de “Agarthas”.
A corrente Rosa-Cruz impregna de maneira profunda e contínua a
Ordem Maçônica de 1.593 a 1.662 e terá um rol importante como a infusão de
espírito novo na Maçonaria que volta a dar-lhe uma atividade espiritual no
sentido de suas tradições.

65
Os intelectuais Rosacruzes do século XVI foram numerosos: Johann
Valentin Andreae (1.568-1.654), Capelão do Duque de Wurtenberg, um dos
homens mais sábios do seu tempo, autor de numerosas obras literárias e
herméticas, entre as quais “As bodas químicas de Christian Rosencreutz”,
“Menippus”, “Turris Babel”, “A Fama” e co-autor do maior livro Rosa-Cruz “Os
Manifestos” em associação com Arndt, Gerhardt e Christophe Besold, com o
qual Johann Valentin Andreae funda a “Republica Cristianopolitana”.
Teofasto Bombasto de Hoherheim, mais conhecido sob o pseudônimo
de Paracelso; médico, espírito iluminado e cabalista; reabilitou a alquimia e
descobriu, junto ao medico Fausto de Cornélio Agrippa, que o mundo inferior
está unido ao mundo superior. Em seu livro “Achidoxa de tintura physica de
occultea philosophiae”, um dos seus 364 escritos, intentara unir os
conhecimento médicos do seu tempo com as ciências esotéricas.
Um dos seus discípulos: Jakob Bohme (que muito influenciou Isaac
Newton) trabalha especialmente sobre o tema da Pedra Filosofal (*55).
Outro Rosa-Cruz: Francis Bacon definirá em sua obra “Nova Atlantis”
uma sociedade ideal onde existe uma sociedade secreta chamada O templo de
Salomão”, cujo objetivo é fazer a felicidade dos homens, revelando-lhes os
segredos da natureza. O enciclopedista d”Ambert se apaixona pelos planos da
“Nova Atlantis” de Bacon.
Os destacados Rosacruzes Jean Tritemius, Heinrich Khunrath, Michel
Maier, que publicou 21 volumes dedicados à arte de Hermes, Nicolas Flamel,
Jan Amos Komensky (Comenius), Robert Fludd (Fluctibus) que foi o primeiro
organizador da Francomaçonaria Rosacruciana e Barnaud, Thomas Vaughn,
Von Ratishs, Brotoffer e Barich von Spinoza não se satisfazem mais com a
velha linguagem simbólica dos alquimistas. Expuseram suas doutrinas em um
novo sistema racional que teve enorme êxito no século XVII (*55).
De 1.658 até 1.685, sociedades Rosacrucianas se formam em toda a
Europa; sobre tudo na Inglaterra, já que o entranho e o maravilhoso, como a
alquimia, também o racionalismo estreito do século XVII. Os adeptos ingleses:
Christofer Wren, Robert Moray e Elias Ashmole têm um rol importante na
fundação da “Royal Society”. É nesta época que os Rosa-Cruzes ingleses
entram na Francomaçonaria e são eles que foram fomentadores da Maçonaria
especulativa (*49).
Elias Ashmole: astrólogo, alquimista, físico e matemático, chamado o
“Mercurofilo inglês” é admitido como Maçom aceito em Lancashire. Continuará
a acentuar as tendências herméticas da Ordem Maçônica. É nesta época que
nascem as lendas simbólicas relativas à construção do Templo de Salomão e
do seu construtor Hiram. Em 1.724 umas antigas constituições Maçônicas de
Londres citam os Rosa-Cruzes e os Maçons como “Irmãos da mesma
fraternidade ou Ordem”.

- A síntese progressiva –

A corrente de pensamento Maçônico do “Século da Razão” situa-se na


“Síntese Progressiva”, caminho do conhecimento situado entre a metafísica
tradicional (a unidade de todas as ciências) e o racionalismo (*49).
Em 1.756, o Barão de Hund funda o rito Maçônico da “Estrita
Observância” que está destinado a ressuscitar a Ordem do Templo, no qual
aparece o mito dos “Superiores Desconhecidos” que supostamente, dirigirão a

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Maçonaria sem jamais encontrar os membros dos graus mais baixos; este rito
conhecerá um grande sucesso na Alemanha. A partir de 1.773, o filosofo
Joseph de Maistre tentará, com o apoio dos altos graus do “Rito Escocês
Retificado”, de inspiração Cristã e Templária, fazer entrar a Maçonaria num
“Cristianismo transcendental”. Os séculos XV e XVI viram nascer a influencia
das doutrinas secretas da “Escola Eclética de Alexandria” que tom a uma
importância indiscutível na Europa no momento em que a filosofia reúne a
tradição iniciática, uma vez que os descobrimentos científicos do século XVI
chamaram atenção sobre os alquimistas de tempo remoto, dando honra ao
principio fundamental do Hermetismo; a unidade (o Todo está no Todo). Este
retorno ao “conhecimento universal” marcará a síntese das correntes
tradicionais: aquela da antiguidade e das influencias neo-Alexandrinas e
gnósticas, aquela da igreja Cristã primitiva, aquela dos iniciados herméticos,
alquimistas e cabalistas influenciados pelas tradições orientais. A elite
intelectual do século XVI: Pomponazzi, Pic de la Mirandole e Ficin, entreviram o
desenvolvimento filosófico dos sistemas de Zoroastro; de Hermes, de Orfeu,
de Pitágoras e de Platão como complementos das idéias filosóficas Cristãs e a
Cabala judaica, crendo descobrir a chave da energia do universo. Uma nova
geração de pensadores: Agrippa, Rabelais e Paracelso criam o movimento
“Pansófico, ou conhecimento universal” e o “Humanismo”, doutrina onde o
universo se revela mais perfeitamente no homem, ponto culminante e coroação
da evolução e onde o homem é o resumo do mundo e do cosmo. É o retorno à
Lei do “Mentalismo” de Hermes (o Tudo é espírito, o universo é mental); esses
princípios aproximam-se dos conhecimentos atuais da Lei de vibrações (nada
repousa, tudo se move, tudo vibra) (*37).

- A Maçonaria mística –

A Maçonaria toma da antiga egípcia esotérica muitos dos seus mistérios.


Suas origens egípcias foram objeto de muitos interesses e de muita literatura
durante o século XVIII europeu. O genial compositor maçom Wolfgang
Amadeus Mozart se inspira em uma iniciação do rito egípcio para a
composição de uma de suas mais belas obras: a “Flauta Mágica”. O sucesso
da ópera de Mozart fez conhecer à Maçonaria européia as teses das origens
egípcias sustentadas pelo Barão Ignaz Von Born, conselheiro do Rei Joseph II
da Áustria,Venerável da loja de Viena onde foi iniciado Mozart (*34).
A partir de 1.801, assistimos a criação de ritos que se referem à tradição
egípcia. Algumas lojas constituíram se com o propósito de perpetuar as
iniciações egípcias antigas. O rito dos “perfeitos iniciados do Egito, ou rito de
Misraim”, criado em 1.788 em Veneza (Itália) tinha a filiação de Cagliostro que
havia obtido uma patente de construção de um grupo de Socisienos (seita
protestante) italianos. Foi introduzido na França por uns Maçons que tinham
participado na campanha do Egito com Napoleão.
Em 1.810, os três irmãos Michel, Marc e Joseph Bedarride fundaram a
obediência francesa de Misraim usando os poderes recebidos em Nápoles
(Itália) das mãos do Grande Comendador De Lassalle. Para aferrarem-se à
tradição, seus promotores fizeram nascer historicamente esse rito de Misraim,
primeiro Rei mitológico do Egito (*49).
Samuel Honis e Marconis de Nègre constituem em 1.815 o Rito de
Memphis em Montauban (França), onde o0s fundadores teriam sido

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supostamente Cavalheiros Templários dirigidos por um egípcio de nome
Ormuz, sacerdote de Memphis, convertido ao cristianismo por São Marcos.
Organizado por Garibaldi, que foi seu primeiro Grão Mestre, a fusão dos ritos
de Memphis e de Misraim se opera em 1.881. Foram associados a estas duas
obediências os graus iniciáticos que vinham das antigas obediências esotéricas
do século XVIII: “o rito dos Philadelphos”, “o rito dos Irmãos Africanos”, “o rito
Hermético”, “o rito dos Philalethes” e “o rito Primitivo”, fundado em 1.780 em
Narbonne (França) pelo Marques de Chefdebien.
O rito de Memphis ressurgiu em 1.947 sob a forma do “Rito Oriental
Antigo e Primitivo de Memphis” que se afirma como uma síntese de todos os
ritos filosóficos, herméticos e alquimistas, situando sua origem no rito primitivo
dos Philalethes. “Os ritos egípcios antigos fundiram-se em 1.959 em um
“Supremo Conselho das Ordens Maçônicas de Memphis e Misraim Reunidos”;
tornou-se em 1.963 no “Rito Antigo e Primitivo de Memphis Misraim”“ (*34).
Certos ritos Maçônicos reconhecem a necessidade das formas culturais
(religiosas) em quais elas não partem do culto para chegar à tradição; mas ao
contrario, partem da tradição para definir um culto. Estes ritos tomam suas
fontes das teorias de Emmanuel Swedenborg (1.735), cujo ensinamento foi
seguido na Suécia, na Inglaterra e na Alemanha. A influência de Swedenborg
sobre a Francomaçonaria se exerce por intermédio de Martinès de Pasqually
que forma a doutrina da “reintegração” (*15).
A organização e a prática deste culto, verdadeira “teurgia”, chamada
“Rito dos Eleitos Cohen” foi constituído em 1.754 no sul da França;
desenvolveu-se em Paris em 1.767. O ritual desta doutrina consistia em uns
cultos mágicos estranhos; sua finalidade era de entreabrir o véu ao outro
mundo: as portas da “Jerusalém Celeste”, a fabulosa cidade de beatitude (*35).
Após a morte e Martinès de Pasqually, seus ensinos dividem-se em dois
ramos: um dirigido por Willemnoz, que teve a intuição d que a ordem Maçônica
continha uns valores espirituais que uniam o esoterismo tradicional: aquele de
um cristianismo esotérico, onde as práticas ocultas estão em primeiro plano e
onde os adeptos lutam contra o materialismo e a filosofia racional. O outro,
dirigido por Louis Claude de Saint Martin, conhecido a partir de 1.775 sob o
pseudônimo de “Filosofo Desconhecido”, desenvolve uma doutrina mística e de
analise metafísica. Segundo Saint Martin, não é útil nem igreja, nem culto, nem
rito.
O espírito do homem é o único e verdadeiro templo (*43). Um século
mais tarde (1.886). Papus (Doutor Gerard Encausse) reúne a doutrina de Saint
Martin, criando uma “Ordem Martinista”. Em torno de Paus, reunia-se um
conselho de ocultistas parisienses, renovador do “ocultismo” que entendia
orientar o Martinismo a este (*22).

- A Maçonaria Mágica –

A atitude mágica da Maçonaria, como vontade de obediência e de ritual,


foi marcada no século XVIII. O Maçom ocultista alemão Schroeder fundou em
1.766 em Marbourg um capítulo dos “Verdadeiros e Antigos Maçons Rosa
Cruz” onde se praticava a magia, a teosofia e a alquimia. Seu sistema,
chamado “Rito de Schroeder” ou Rosa Cruz Retificado “era ainda praticado na
metade do século XIX em Hamburgo. A lenda pretende que Schroeder tinha
sido um dos Mestres da magia de Cagliostro, que e identificado como o Mestre

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da mais famosa Francomaçonaria mágica, ainda que essa curiosa honra ser
atribuída ao mercador austríaco Kölmer, de volta do Egito, que teria sido o
misterioso “Altotas”, o mestre de magia de Cagliostro (*49).
Jose Balsamo, Conde de Cagliostro (Sicília), é um personagem
extraordinário, ainda que se mantenha bem misterioso. Iniciado na Maçonaria
em 1.777 em Londres criou em Bruxelas um rito Maçônico com operações
mágicas; freqüenta as lojas de todos os ritos na Holanda, Alemanha, Polônia e
Rússia. É em Mitau em 1.779 que ele faz por primeira vez uso de ritos
mágicos.
Funda em Lyon (França) uma loja “A Sabedoria Triunfante” e em 1.784
tenta o prestigio de mago e de curador. Dirige uma sociedade de gnósticos: a
seita de “Saint Jakin” que durou até a revolução francesa, entregando-se às
ilusões da magia, mesclando os segredos dos Rosacruzes e os mistérios dos
Templários.
Cagliostro funda em 1.784 em Lyon (França) o templo chamado “Loja
Mãe do Rito Egípcio”, dirigindo o ritual da Maçonaria egípcia, tratando de
ressuscitar o misterioso culto de Isis. O objetivo dos trabalhos desta loja era de
levar o homem decaído a reconquistar sua dignidade perdida. O titulo que
dava Cagliostro aos seus ensinamentos era de “Doutrina do Grande Copta”
(*34). Cagliostro se instalou em Estrasburgo (França), cidade onde residiu de
1.780 a 1.783, adquirindo uma grande ascendência sobre o Cardeal de Rohan.
Quando explodiu o escândalo “do colar da Rainha”, Cagliostro foi detido
em 1.785 e encarcerado em Paris na Bastilha ao mesmo tempo em que o seu
protetor o Cardeal de Rohan. Foi expulso da França e embarcado para a
Inglaterra (*49). Depois de ter sido adorado como uma divindade foi tratado
como um intrigante, charlatão e finalmente como aventureiro. Em seguida
Cagliostro iria a Roma onde a Inquisição romana teve de condená-lo a morte
em 1.791 por heresia e maçonismo; mas o Papa comutou a pena por prisão
perpetua, fazendo encerrar em uma cela sem porta da fortaleza de São Leo,
no Montefeltro (Itália), onde morreu enforcando em 1.795 para evitar sua fuga
(*49)
Outro grande e misterioso personagem aparecido neste “Século da
Razão”: o Conde de Saint Germain; que contribuiu para tornar ainda mais
misteriosa a Ordem Maçônica. Usava nomes diferentes em vários paises:
Conde Summont, Conde de Solikof, Conde Welldona ou Veldone, Marques de
Ballamare ou Belmar, Marques de Montferrat e de Aymar, Cavalheiro
Schoening, Conde Czarogy e Príncipe Rackoczi. Nasceu na Itália, na região
de Piemonte e seus verdadeiros títulos pareciam ser: Conde de Saint Martin e
Marques de Aglié. Parecia possuir uma grande fortuna.
A lenda relativa ao Conde de Saint Germain induz a crer que era um
douto físico e um químico distinguido; pretendia ter descoberto o meio de
fabricar ouro e assegurava que possuía o segredo de soldar os diamantes sem
ficar vestígio da operação. Dizia ter aprendido esta prática, assim como outros
dos seus segredos químicos, com antigos egípcios (*34).
Seu valete Gleichen dizia dele: “...Falava com uma ênfase misteriosa
das profundidades da natureza sobre o gênero da sua ciência e de seus
tesouros; porém,não ensinou-me mais do que conhecera marcha e a
singularidade da charlatanearia...”.
O Conde de Saint Germain chegou a Paris em 1.718. Instalou-se na
capital francesa graças ao patrocínio do Marques de Mangny, diretor das

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manufaturas Reais. Citando com desenvoltura os eventos históricos como se
ele tivesse sido testemunha ocular, toma forma um rumor de sua imortalidade,
que ele cultivava com muito humor (*49).
Madame Pompadour, favorita do Rei Luis XV, instala-o no castelo de
Chambord e autoriza-o permanecer em Versailles, onde consegue que o Rei
empregue-o em 1.760 para as suas missões na Holanda para negociar
secretamente a paz com York, embaixador da Inglaterra em Haia (*56). O Rei
recebia-o familiarmente, concedendo-lhe audiências privadas. Em 1.762,
esteve na Rússia em São Petersburgo, na corte de Pedro III. Todos os
soberanos europeus recebem-no e dão provas de respeito.
Qualquer que seja o pais onde se encontre, o Conde de Saint Germain
suscita o mesmo assombro e a mesma admiração. Depois de alguns anos de
viagens pela Europa, reside na Itália e em Berlim (Alemanha). Em 1.776 está
na corte de Frederico II da Prússia a quem diferentes projetos químicos. Em
1.778 estabeleceu-se em Altona, onde conheceu o Duque de Brunswick. Oito
anos depois adoece de gota, morre em Eckemfoerde de um ataque de paralisia
ao lado de Landgrave de Hesse para quem fazia uma fábrica de cores (*48).
O Conde de Saint Germain influenciou muito o medico austríaco
François Antoine Mesmer, quem anuncia em 1.780 a descoberta do
“magnetismo animal”; suas idéias conduzem em 1.738 ao estabelecimento em
Paris de uma loja Maçônica conhecida sob o nome de Sociedade da Harmonia
Universal”, que era destinada à iniciação de adeptos para praticar e propagar
as doutrinas de Mesmer; primeiro sapiente contemporâneo que colocou em
relação a situação do cosmos com o surgimento das enfermidades, tentando
prolongar as investigações dos médicos da antiguidade que tinham uma
concepção do corpo humano.

- A Maçonaria Imperial –

São os Irmãos que pertenciam à lojas militares que, durante o período


Napoleônico, vão assegurar o renascimento da Ordem e a irradiação do seu
espírito através da Europa.O espírito Maçônico dá aos militares a ocasião de
fazer amizades profundas, favoráveis à coesão da armada Imperial. As tropas
de ocupação Napoleônicas encontram Irmãos nos paises vencidos; são eles
que facilitam a transmissão do pensamento francês e a integração ao Império.
Numerosos marechais das armadas Imperiais Napoleônicas eram
Francomaçons e a historia e a historia se interroga sobre filiação do próprio
Imperador à Ordem Maçônica (*41). Graças à Francomaçonaria, Napoleão
reforça sua própria armada e consolida suas conquistas. O pai de Napoleão,
seus irmãos assim como o Príncipe Murat, primo do Imperador, eram
Francomaçons.
Desde o seu renascimento, a Ordem Maçônica estava sujeita à
organização que proclama Napoleão. Em 1.806, o irmão do Imperador: Jose
Bonaparte, é nomeado Grão Mestre do Grande Oriente; é assistido pelo
Ministro Cambaceres como Grande Deputado. O outro irmão do Imperador:
Luis Napoleão é Grande Orador e o chefe de policia Fouché é um dos
dignitários do Grande Oriente. Em 1.804, o Conde de Grasse-Tilly funda em
Paris o Supremo Conselho do Rito Escocês antigo e Aceito” (*12).

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- A Maçonaria feminina –

Na antiguidade era comum a presença da mulher nas ordens iniciáticas


e certos autores indicam que nas primeiras lojas Maçônicas operativas se tem
encontrado ocasionalmente algumas mulheres. Depois, a Maçonaria se
organiza e se torna exclusivamente masculina.
No século XVII era difícil recusar as mulheres, uma vez que elas dirigem
os salões intelectuais onde se defendiam idéias libertarias muito próximas das
da Maçonaria (*13).
Em 1.744 o Cavalheiro de Beauchêne cria uma Maçonaria feminina de
quatro graus. Essas lojas femininas tomaram tanta importância a partir de
1.760 que o Grande Oriente da França decide regularizar a situação, criando
umas “lojas de adoção” com um ritual particular. As grandes Damas do Reino
francês filiam-se com entusiasmo (*14).
Depois da Revolução, as lojas de adoção tomam um desenvolvimento
importante sob o impulso da Imperatriz Josefina de Beauharnais, esposa de
Napoleão, membro de uma loja adoção parisiense. Em 1.805 ela dirige uma
sessão na loja “Imperial de Adoção dos Francos Cavalheiros”; porém, as lojas
de adoção declinam sob a restauração da monarquia (*20). A Grande Loja
Nacional da França tem constituído algumas lojas femininas e tem favorecido a
autonomia da “Grande Loja Feminina da França”, composta exclusivamente
por mulheres.
A obediência mista “O Direito Humano” é criada em 1.894 sob o impulso
de Marie Deraisme com o concurso de George Martin; os oficiais são eleitos
entre os dois sexos. Em 1.901 o Direito Humano torna-se uma associação
internacional que conta hoje com 40 federações (*24).
Numerosas associações paramaçônicas femininas existem nos Estados
Unidos da América: a “Eastern Star” criada em 1.850 (2.500.000 membros), o
“White Shrine of Jerusalém” fundada em 1.895 (1.300.000 membros), a “Order
of Aramanth” criada em 1.891 e a “Order of Rainbow for Girls”(*23).

- A Maçonaria Republicana –

Em julho de 1.830, durante a época dos três gloriosos, a Maçonaria canta sua
ação onde seu rol democrático aparece à luz e organiza uma grande festa em
honra do Marque de Lafayette a quem os Francomaçons norte-americanos
outorgam as mais altas distinções maçônicas. Desde a queda da “monarquia
burguesa” e o nascimento da segunda Republica em 1.848, aparece um lema
maçônico sobre a bandeira francesa: “Liberdade, Igualdade Fraternidade”.
Lamartine dá testemunho de sua ação nas lojas maçônicas para o
restabelecimento da Republica Francesa, dando esperança aos cidadãos de
um paraíso social onde a Maçonaria teria uma das chaves (*12). Em 1.849 se
funda uma “Grande Loja Nacional da França”, acolhendo em suas oficinas a
todos aqueles, de qualquer condição social, que queiram participar dos
trabalhos maçônicos. O Grande Oriente da França, ao contrario busca uma
política de recrutamento na burguesia de negócios. Para o Grande Oriente da
França, a participação na vida política está conforme com a moral maçônica;
deseja participar na vida pública e jogar um rol no xadrez político nacional
(*15).

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Vítima de calunia a Grande Loja Nacional da França deve ser dissolvida
em 1.851 sob a pressão da policia. Durante o Convento de 1.877, o Grande
Oriente da França modifica o artigo I das constituições e desaparece a fórmula
A:. G:. D:. G:. A:. D:. U:. e se impõe a divisa: Liberdade, Igualdade,
Fraternidade. Imediatamente a Grande Loja da Inglaterra denuncia o tratado
com o Grande Oriente da França que, segundo ela, não respeita mais os
Landmarks e a constituição de Anderson. É imediatamente imitada por
numerosas Grandes Lojas do mundo que consideram, elas também, que o
Grande Oriente da França não faz mais parte da Francomaçonaria Universal
(*20). Em 1.871 o Grande Oriente da França suprime o titulo de Grão Mestre e
substitui-o por “Presidente do Conselho da Ordem”. Aparentemente se trata de
um pequeno detalhe; mas na realidade, é o começo de uma degradação da
antiga tradição que leva aos Maçons do século XIX a suprimir os símbolos e
partes dos rituais que não compreendem mais (*14).
A Francomaçonaria, politicamente muito forte na França desde 1.872 até
1.826 vê ascender o anti-semitismo e o anti-maçonismo sectário organizado
pelos Católicos. Neste clima tenso se acrescenta a encíclica do Papa Leão XIII.
Esta situação se traduz em certo medo da Igreja Católica frente à Ordem
maçônica que, segundo ela, renega a civilização cristã e quer instaurar uma
sociedade laica que não teria necessidade da espiritualidade (no sentido
católico do termo) (*13) A Francomaçonaria e a Igreja Católica rompem todo
contato. Em 1.880 o Governo francês, integralmente constituído de Maçons,
suprime a “Companhia de Jesus” (os Jesuítas) e obriga todas as congregações
religiosas pedir um reconhecimento legal sob pena de serem dispensadas.
Começa então uma guerra dissimulada entre Jesuítas e Francomaçons (*15).
Em 1.881 o Ministro Maçom Jules Ferry institui o ensino obrigatório, laico e
gratuito.
A Maçonaria do século XIX quer assegurar o pleno desenvolvimento dos
valores democráticos e republicanos, assim como o livre pensamento sob
todas as formas. Esta Maçonaria encontrará seus títulos de gloria na criação
da “Sociedade das Nações’ (*14). Em 1.880, doze lojas se separam do Grande
Oriente da França e fundam uma Maçonaria independente: a Grande Loja
Simbólica Escocesa” e em l.1895 é fundada a “Grande Loja da França” que,
desde sua criação, deseja diferenciar-se do Grande Oriente da França; ela está
constituída por Maçons simbolistas que não têm nenhuma ambição política
(*14).
Edouard de Ribeaucourt, professor de ciências naturais na Universidade
renuncia do Grande Oriente em 1.913 e funda uma nova obediência maçônica:
“Grande Loja Nacional Independente e regular para França e Colônias
Francesas”, a atual “Grande Loja Nacional”(*14). A Grande Loja da Inglaterra
vê vencer na França uma tendência maçônica que ela aprova. Na França,
apenas a Grande Loja Nacional responde aos critérios de regularidade emitidos
pela Grande Loja da Inglaterra.

- A Maçonaria à conquista do Mundo –

De origem inglesa ou escocesa, de Londres ou de Paris, a


Francomaçonaria começa sua escansão na Europa. Instala-se na Rússia em
1.717 sob o Reino de Pedro o Grande e em Mons em 1.721. Umas lojas são
criadas em Madri (Espanha) em 1.728 e chocam-se imediatamente com a

72
Inquisição Católica. A expressão da Francomaçonaria é sobre tudo sensível a
partir de 1.730, quando ultrapassa a fronteiras da Europa. A Inglaterra abre
algumas oficinas em suas possessões coloniais da Índia, em Calcutá e na
América, em Boston. A Francomaçonaria se instala, também, em Florença
(Itália), em Malta em 1.733, em Haia (Holanda) em 1.734 (*26).
O Imperador Frederico II da Prússia é iniciado em 1.738 e dirigirá
rapidamente a Maçonaria alemã onde o caráter esotérico será muito mais
desenvolvido que no resto da Europa.
Em 1.758 Stephan Morin recebe uma patente da “Grande Loja de São
João de Jerusalém” dando-lhe autorização para fundar lojas na América e de
propagar os altos graus segundo o ritual dos “Imperadores do Oriente e do
Ocidente” em qual se tornará o Grande Inspetor. Em 1.760 um loja de
Perfeição é criada no Estado de Carolina do Sul em Chesterton (*20). O ideal
fraternal que leva Morin seduz a jovem nação americana que admira o passado
europeu, de tal sorte que Carolina do Sul se converteu em um bastião da
Francomaçonaria nos Estados Unidos e continua sendo (*20).
Benjamin Franklin fez grande propaganda na Europa pela causa da
independência norte-americana. Em todas as lojas ele é estimulado e obtém
dinheiro e armas (*29). 56 dos signatários entre os artesãos principais da
Declaração de Independência dos Estados Unidos da América eram
Francomaçons.
Os Francomaçons franceses entusiasmam-se com esta nobre luta que
os leva a ir em ajuda dos insurgentes da América e George Washington
encontrará ouvido favorável de parte da Francomaçonaria francesa.
Chegando da França, os Marqueses de Lafayette e de Rochambeau
desembarcam na América com armas e dinheiro e jogam um rol decisivo
durante as lutas de independência (*23).
A maior nação maçônica é sem lugar a duvidas os Estados Unidos da
América. Toda sua historia leva uma onda do ideal maçônico que inspira a
primeira constituição dos EE.UU.. 15 Presidentes foram Maçons; porem, mais
preocupados com beneficência os Francomaçons estadunidenses relegam a
segundo plano o simbolismo. O Maçom norte-americano está perfeitamente
integrado à Nação e faz parte de uma Ordem que é um organismo dos mais
honoráveis, muito raramente criticado (*23).

- A Maçonaria contemporânea –

Depois da Maçonaria pré-cristã e da Maçonaria operativa medieval, se


afirma uma terceira Maçonaria, aquela dos tempos modernos, que não é o
coração da nação como no Egito, nem o centro de gravidade de uma elite
profissional como na Idade Média. Ela torna-se uma sociedade, se não
secreta, pelo menos discreta.
Em um mundo onde os ideais iniciáticos são relegados a um segundo
plano, a Maçonaria tenta conservar seus ideais em suas lojas. Esta atuação de
autenticidade foi combatida por uma “burguesia de negócios” e uma
“aristocracia política” que invade a Maçonaria com sua mentalidade profana
durante o nosso atual século XX.
Os temas que apresenta a Maçonaria universal não se expressam na
linguagem escrita dos conceitos usuais e sim naqueles dos símbolos que, no
passado distante, revestem uma grande importância, mas que hoje parecem

73
caducos em um mundo tomado pela lógica formal (*42). O simbolismo reveste,
no entanto, um caráter de atualidade, já que se tornou um novo e atraente meio
de expressão do pensamento na arte, na literatura e nas ciências; posto que
em nossa época moderna, reconhecemos que não existe disparidade entre os
procedimentos objetivos e os subjetivos do acercamento à verdade.
Desde o começo do século XX, a Francomaçonaria é considerada como
uma sociedade discreta situada num contexto político liberal. Pretende-se que
no lugar fechado da loja, com porta guardada por um irmão armado de espada,
o Maçom conspira; que seus dirigentes atuam sob os poderes políticos e que o
destino das Nações está sob a influencia das lojas maçônicas. Esta classe de
informações sem nenhum fundamento age ainda sobre opinião popular. O
“Irmão três pontos” continua sendo um ser misterioso; por causa do juramento
de não revelar nada sobre os trabalhos da sua oficina, se suspeita a
conspiração contra o poder estabelecido, temporal ou eclesiástico (*39).

- Relação da Maçonaria com a Igreja –

Os eclesiásticos eram numerosos nas lojas maçônicas durante o século


XVIII; elas eram profundamente católicas; nesta época admitiam-se apenas os
católicos; mas, a partir da concordata de 1801 as lojas ficaram pouco a pouco
sem praticantes católicos por causa das excomunhões Papais. Esta cisão
conduziu inevitavelmente ao anti-clericalismo de uma parte e anti-sionismo de
outra parte. A situação piorou no século XX por causa do artigo 2.335 do
direito canônico promulgado em 1.917 pelo Papa Bento XV punindo com
excomunhão a “Seita Maçônica”, mas que suprimido em 1.985 pelo Papa João
Paulo II (*43).
A Francomaçonaria nunca quis rivalizar com a Igreja ou entrar em
competição com os ritos religiosos ou sacramentos; ela não tem tampouco a
pretensão redentora da eternidade; quer apenas melhorar o homem aqui e
agora e deixa aporta aberta a todos para outra esperança.
A proclamação da “Infalibilidade Papal” foi um fato que abriu uma
imensa foca em 1.869 entre Cristãos e Francomaçons; para as lojas é um ato
dogmático intolerável que proíbe todo dialogo. A resposta da Igreja será, como
de costume, acerba e caluniadora.
Durante o século XX, a atitude da Igreja se abrandou em relação à
Francomaçonaria; este comportamento conciliador tem conduzido em parte, o
Grande Oriente da França amenizar a sua.
As posições belicosas tradicionais têm sido bastante atenuadas, mas a
reserva persiste ao menos. O Grão Mestre do Grande Oriente da França: Fred
Zeller, dizia em 1.972: “Nossas relações com a Igreja irão, sem duvida,
melhorar nos próximos anos; mas, temos ainda muito progresso a ser feito de
parte a parte; a Igreja pretende ainda e sempre ter a verdade; nosso desejo é
somente de buscá-la; como os nossos caminhos podem cruzar-se?” (*24).
O Concilio Vaticano II adotou alguns aspectos novos da doutrina
eclesiástica em ralação à Francomaçonaria; o artigo 2.335 do direito canônico
pune ainda com excomunhão aqueles que aderem a uma “Seita ! ... Maçônica”.
Porem, a Igreja não formulou uma doutrina oficial no que diz respeito à
Francomaçonaria do nosso século, apesar de que o Papa João XXIII esta
oração na Basílica de São Pedro em Roma:

74
“... Senhor e Grande Arquiteto do Universo,

Nós nos humilhamos a teus pés e invocamos teu perdão pela heresia no
curso de desconhecer nossos irmãos Maçons como teus seguidores prediletos.
Lutamos sempre contra o livre pensamento, porque não tínhamos
compreendido que o primeiro dever de uma religião, como afirmou o Concilio,
consiste em reconhecer até o direito de não crer em Deus. Tínhamos
perseguido aqueles que dentro da própria Igreja haviam se distanciado,
inscrevendo-se nas lojas, depreciando todas as injurias e ameaças. Tínhamos
irrefletidamente acreditado que um sinal da cruz pudesse ser superior a três
pontos formando uma pirâmide. Por tudo isto, nos arrependemos Senhor, e
com teu perdão te rogamos que nos faça sentir que um compasso sobre um
novo altar pode significar tanto como nossos velhos crucifixos; Amem. (*27).

As doutrinas Francomaçônicas e religiosas, certo contrárias mas não


contraditórias, poderiam unir-se, reconciliando assim a razão e a fé, recordando
o grande principio da filosofia antiga que estas duas tendências tem como fonte
comum:
“...A harmonia resulta da analogia dos contrários...”

*
Epílogo
* *
O mundo religioso de hoje se resume em algumas cifras:
944 milhões de Cristãos, dos quais 533 milhões são Catódicos;
322 milhões de Protestantes;
89 milhões de Ortodoxos;
715 milhões de Hinduístas e Confucionistas;
530 milhões de Muçulmanos.
Contando mais de 11,5 milhões de membros, a Francomaçonaria
universal é a maior fraternidade do mundo; conta com mais de 6 milhões nos
Estados Unidos (16.000 lojas aproximadamente)’(*19).
Os negros são excluídos destas lojas estadunidenses. O tema da
exclusão dos negros destas lojas tem gerado grandes debates, posto que, em
nome da fraternidade humana não se pode excluir o homem por causa de sua
cor. O problema nasceu nos anos 50, quando um homem de cor foi recusado
por uma loja do Estado da Geórgia. A vitima desta recusa apelou da decisão
diante da Grande Loja da Geórgia, que entretanto, confirmou a decisão
adotada pela oficina do seu Oriente. Imediatamente, numerosos Grandes
Lojas dos EE.UU. e a Grande Loja do México protestaram e cancelaram os
tratados de paz e amizade com a Grande Loja da Geórgia.
Seguiu-se um doloroso debate sobre o assunto que gerou a criação de
sua obediência particular, a “Prince Hall”, que conta hoje com 5.000 lojas nos
EE.UU.
A Francomaçonaria conta com mais de 500.000 membros na América
Latina;mais de 600.000 na Grã Bretanha; 80.000 na França e mais de 4,5
milhões no resto dos paises livres do mundo (*38).
Estes dados são de 1.995; podemos estimar hoje que a fraternidade
maçônica internacional aproximadamente 13 milhões de membros. Diversas

75
organizações paramaçonicas, tal como a “Ordem deMolay” para jovens,
contam com 4 milhões de membros no mundo.
O ideal da Francomaçonaria se define dificilmente quando, embora ela
tenha uma profunda coesão, os grupos e os homens que a compõe têm fortes
divergências. Apesar desta tão grande riqueza aparente, creditada por seu
passado distante, é, contudo certo que a influencia intelectual e social atual da
Francomaçonaria é muito menos importante do que o mundo profano acredita
geralmente.
Ainda que ela represente uma corrente de pensamento não desprezível,
o meio mais seguro de falsear a verdade é a de falar de uma única
Francomaçonaria, de uma organização rigorosa ao ideal bem definido; em
verdade existe uma Francomaçonaria multifacética que se dividia, apesar de
sua unidade aparente, em diversas correntes de pensamento onde se realizam
as atividades das oficinas.
- A Maçonaria fraternal, onde a ênfase é posta sobre a qualidade das
relações humanas, que permite aos irmãos desenvolver uma amizade profunda
por uma ajuda global.
- A Maçonaria de beneficência, que utiliza a prata da associação para
ajudar os irmãos em dificuldade e os grupos sociais desfavorecidos, no que os
irmãos manifestam seu desejo de justiça social.
Estas duas correntes são hoje predominantes.
- A Maçonaria humanista, que se interessa pelos valores humanos e à
definição das Leis de uma sociedade harmoniosa.
- A Maçonaria política, que tenta participar na boa marcha da Nação.
- A Maçonaria deísta, que deseja acercar-se da Igreja e mostrar assim a
importância da sua crença em um “Principio Criador”.
- A Maçonaria iniciática e esotérica, onde a preocupação é o estudo do
simbolismo e sua transmissão entre os iniciados.
Esta ultima tendência une hoje uma minoria de adeptos, quando a “Arte
Real” tem o efeito e servir de ponto de partida de todos os abusos, todas as
loucuras: cabala, magia, filosofia hermética, contato com espíritos,
magnetismo, teosofia, deísmo, ateísmo, destruição dos Impérios, República
universal, etc... Alguns estranham esta diversidade, outros a julgam
favoravelmente pensando que a tolerância é assim respeitada.
Além destas grandes linhas filosóficas, existe uma grande quantidade de
conceitos maçônicos; pode-se dizer que quase cada maçom tem o seu. Cada
membro expressa na vida maçônica como na vida social, os conceitos que
refletem sua personalidade; por tanto, na Maçonaria se encontra de tudo: ao
lado do altruísmo se encontra a avareza; ao lado da sabedoria a loucura; ao
lado do brilhantismo a mediocridade; se encontra o generoso e sincero ao lado
do medíocre e sem valor e o sublime ao lado do ridículo.
Se alguns entram na Maçonaria para buscar a verdade e o crescimento,
outros entram para buscar oportunidades para suas necessidades; alguns para
acrescentar, outros para tirar; alguns para servir, outros para buscar o que lhes
possa servir a instituição
Alguns encontram na Maçonaria instantes de liberdade que a sua vida
tão ativa lhes tira; outros encontram uma fraternidade de taverna onde as
reuniões são pretextos para bebedeiras.
Esta grande diferença entre os homens que se chamam Irmãos não é
nova, existe desde que o mundo é mundo e, quem melhor do que o grande

76
Voltaire, tem podido dissertar o assunto, dando-nos uma grande lição de
sabedoria com uma das suas belas citações, que disse num debate com os
irmãos da sua Loja Mãe em Paris, no amanhecer da Revolução Francesa:
“...Você não está de acordo comigo, irmão meu
eu me alegro
já que, é da nossa diferença
que nasce nossa riqueza...”

- O ideal democrático –

Da época pré-cristã, a Maçonaria deve sua corrente “bíblica filosófica e


simbólica”; do século XVIII teve a sua corrente “cavalheiresca e mística” e a
partir do século XVIII começa a historia moderna da Ordem; aquela dos ideais
de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, sementes que saíram das lojas para
emancipar os povos e delas germina a democracia. O mundo inteiro admite
hoje que a propagação desses princípios tem preparado a profunda
transformação que regenerou a França e Europa inteira e tem constituído as
bases sobre quais se libertam os povos do mundo e se instala a democracia no
novo continente.
É desse ideal que vem a orientação filosófica, libertaria e progressista da
Maçonaria atual e que ela existe como a conhecemos hoje; a fraternidade
universal obrando na construção do bem humano.
Quero citar a síntese de Rufolf von Sebottendorf: “...A Francomaçonaria
moderna é a perpetuação da antiga Maçonaria da Idade Média; exteriormente
ela o é de todas maneiras por aquilo que concerne ao modo de ensino e seu
conteúdo; no entanto ela tem abandonado totalmente o caminho traçado pela
antiga Maçonaria e tem se situado hoje sobre uma base puramente
humanitária que vê a salvação em uma emenda vinda do exterior...”(*33).

- A busca de si mesmo “

Depois da decadência, relatada na Bíblia, o homem tem tido sempre o


mesmo fito: a busca das suas origens, a busca de si mesmo através da busca
de Deus. A Francomaçonaria se apresenta como uma desta vias de procura
do conhecimento, uma via que não se choca com nenhuma crença. Para
sublinhar esta declaração, citemos a Oswald Wirth: “...a Maçonaria está
convocada para refazer o Mundo e a tarefa não está acima de suas forças,
porem à condição de que ela volte a ser o que devera ser...”(*37)
A auto superação constante da Francomaçonaria tem despertado mais
inimizade que qualquer outra organização na historia; a Igreja Católica tem-na
atacado sem cessar; em vários paises tem sido declarada ilegal.
Sua hostilidade fundamental com todos conformismos obrigatórios, tem
feito proibir a Francomaçonaria pelos regimes autoritários ou fanáticos.
Felizmente hoje, a Maçonaria não assusta mais ninguém além das pessoas
mal informadas.
Depois da subida do materialismo durante o século XIX, tem se gerado
como oposição, seu inverso proporcional: a proliferação das formas de
crenças, as seitas o integrismo. Este final do século XX nos dá o espetáculo da
reafirmação do instinto religioso: “...Tirar do homem sua natureza
profundamente religiosa, ela regressa com a desordem e a violência...” (*42

77
Alguns, como o filósofo Maçom francês Jean Mignot, tratam de encontrar
na Francomaçonaria um albergue da tradição à nossa civilização pré-
paranóica:
“...No mundo que muda,
se encontra consolo e segurança
em ser parte de coisas que não mudam...”(*41).

*
- Conclusões -
* *

Há quase um século, os augustos mistérios das sete ciências livres são


ensinados em todos os colégios e universidades do mundo e já não são m ais
segredos para ninguém; qualquer leitor pode encontrara quantidades de boas
literaturas que tratam da “Arte Real”: a arte de construir e das outras grandes
ciências da antiguidade, ou dos mistérios sagrados dos construtores das
pirâmides do Egito antigo e dos segredos Mestres artistas da Idade Média,
quando que a sociedade de comunicações em qual vivemos está repleta de
informações de toda natureza que nos mostra uma grande quantidade de
coisas. Hoje, sabemos todos ler, escrever e fazer contas; conhecemos tudo
que estava ao alcance de uns poucos privilegiados, durante a época antiga
onde se desenvolve a Maçonaria primitiva.
O simbolismo, meio de transmissão do conhecimento na Idade Média
não desperta interesse hoje. A busca da perfeição que se ensinava nos
tempos antigos pelo simbolismo parece hoje vendida em um mundo tomado
pela lógica formal, onde os conceitos de moral, honra e orgulho pessoal
parecem antiquados e impróprios em uma realidade cotidiana de materialismo
e violência, onde o homem deve vencer para não ser vencido e que degenera
em uma guerra de consumismo, onde todos os golpes são permitidos em nome
de um novo ideal superior: o dinheiro, que Giovanni Papini chamava: “O
esterco do diabo”.
Os princípios morais, necessários em toda sociedade humana, são
escarnecidos pela própria sociedade em sua busca de gozo imediato e em sua
avidez de um bem estar material sem custo. Nesta desordem social, a
Francomaçonaria, estóica, está enferma por não pensar, por não dar
importância aos preciosos valores esotéricos que ela continua a transportar
sem ter mais consciência da sua utilidade, e podemos interrogar-nos,
angustiados e nostálgicos: quando haverá a reconciliação entre o “Homo
Faber” e o “Homo Sapiens”? (41).

*
FIM
* *

78
-Anexos –

Maçons célebres entre seus Irmãos:

Musica:
Sibelius, Haydn, Mozart, Shemama

Literatura:
Montesquieu, Voltaire, Lamartine, Walter Scott, Robert Burn, Rudyard
Kipling, Jonathan Swift, Oscar Wilde, Mark Twain, Conan Doyle, Klopstock, Herder,
Wieland, Lessing, Fichte, Goethe, Eliphas Levi, Erckmann, Chatrian, Jules Romain,
Paul Guth.

Artes:
Leonardo da Vinci, Bartholdt.

Independência dos EE.UU.:


George Washington, Benjamin Franklin, James Monroe, Alexander Hamilton,
Marques de Lafaiete, Marques de Rochambeau, e os 56 signatários da carta de
constituição dos Estados Unidos da América.

Presidentes dos EE.UU.:


George Washington, James Monroe, Andrew Jackson, James Polk, James
Buchanan, Fames Garfield, Theodore Roosevelt, William Howard Taft, Warren
Harding, Franklyn Roosevelt, Harry Truman, Lyndon Johnson, Gerald Ford.

Políticos:
Gambetta, Lamartine, Jules Ferry, Arago, Garneir-Pages, Benito Juarez, Simon
Bolívar, Francisco de Paulo Santander, Narinho, Sucre, Córdoba, Garibaldi, Sam
Houston, Samuel Colt, Winston Churchill, George Marshall, Douglas Mac Arthur,
Patton.

Aristocracia:
Eduardo VII, Eduardo VIII e Jorge VI da Inglaterra, Frederico o Grande e
Frederico II da Prússia, Jorge I da Grécia, Haakon VII da Noruega, Estanislau II da
Polônia, Kameamea V do Hawai, Pedro o Grande da Rússia, Philippe d’Orleans
Duque de Chartres, Louis de Pardaillan de Gondrin, Duque d’Antin, Duque Louis de
Bourbon Conde, Conde de Clermont, Duque de Mountmorency Luxembourg.

Revolução Francesa:
Robespierre, Guillotin, Bailly, Talleyrand, Brissot, Condorcet, Marat, Dumouriez,
Danton, Choderlos de Laclos.

Epopéia Napoleônica:
Josefina de Beauharmais, Joseph Bonaparte, Louis Napoleão Bonaparte,
Príncipe Murat, Marechais Masser, Soult, Mac Donald, Ney, Augereau, Lefevre,
Serurier, Montier, Kelleman, Fouché, Cambaceres e Duque de Wellington..

79
E outros milhões de valorosos desconhecidos.

Bibliografia
1 A Bíblia
2 Arquitectura Masónic a: V.Rojas Aguilar
3 La logia Universal: O, Solano Barcenas
4 Le wsecretMasonique: R. Ambelain
5 Manual de Masonería: A. Cassard
6 Manual del aprendiz: (G.L. Venezuela)
7 Manual de aprendiz: (G.L.Mexico)
8 Manual del aprendiz: A. Lavagne
9 Manual ds compañeros: A. Lavagne
10 Masonería íntima: J.Montoya
11 El simbolismo masónico tradicional: J.P. Bayard
12 Les Francs Maçons devant l’historie: P. Naudon
13 La Francmaçonnerie: P.Naudon
14 La Francmaçonnerie em France: J. Bond
15 Le vrai visage de la Maçonnerie: G. Chevillon
16 Les Compagnonnages em France: P. Naudon
17 Bibliographie de la Francmaçonnerie et dês societes secretes: P Fesch
18 Le voyage en orient: G. de Nerval
19 History of fgreemasonry: R. F. Gould
20 Histoire abregee de la Francmaçonnerie: J. Lebegue
21 Aperçu sur l’initiation: J. Chacornac
22 Les secrets de la Maçonnerie: P.Protat
23The freemasons: A. Lewis
24 Loges et chapitres du Grand Orient de France: A. le Bihan
25 La francmaçonnerie templieres et occultiste: J. Aubier Montagne
26 Dictionaire de laa Francmaçonnerie et des Francmaçons: P. Belford
27 Les origenes religieuses et corporatives de la Francmaçonnerie: M. Dervy
28 Les loges de sauint Jean et la philosophie esoterique de la connasance: M. Dervy
29 L’humasnisme Maçonnique: B. Ibid
30 L’arche Royale de Jerusalen: B. Ibid
31 Sur le chemin d’Hiram: M. Dervy
32 Morals and dogma of the ancient and accepted scotish rite: J.Charleston
33 Orthodoxie maçonnique: J.M.Ragoin
34 Maçonnerie occulte: J.M.Ragon
35 Initiation hermetique: J.M.Ragon
36 Hatiments des revolutionaries ennemis de l’eglise: R.P.Huguet
37 Le compagnnages: B. de Castera
38 Le Francmaçonnerie: P.Naudon
39 Nacidos en sangre: J.Robinson
40 The birth of Britain: W. Churchill
41 La Francmaçonnerie, histoire et initiation: C.Jacq
42 La spirtualite de la Francmaçonnerie: J.P.Bayard
43 El enigma de los Templarios: Bignati-Peralta
44 A la sombra de los templários: R.Alarcon
45 La meta secreta de los templários: J.Atienza
46 A bridge to light: R.Hutchens
47 Diccionario enciclopedico de la Masoneria: ed. Kiers
48 Le Pendule de Foucault: Umberto Eco
49 Le livre de Urantia

80
50 Les etoiles de Compostel: H.Vincent
51 Her-Bak, pois chiche: Schwaller de Lubicz
52 Her-Bak, disciple: Schwaller de Lubicz
53 Cosmos: Carl Sagan
54 La meta secreta de los Rosacruces: J.Atienda
55 Enciclopedia Universal
56 Hiram y el Rey Salomón: C.Jacq
57 Les Rois Maudits: M.Fruon

- Notas do autor –
Esta obra foi iniciada em Santa Fé de Bogotá, Colômbia,
No mês de março de 1995, durante meu tempo de A:.M:.
e terminada no fim de abril de 1998 sendo M:.M:.
sob o malhete do V:.M:. Hernando NAVAEZ ALVAREZ.
Venerável M:. da Loja Veritas Vinci Nº 13
E Gerardo VARGAS VELASQUEZ
Grão Mestre da Mui Resp:. Grande Loja da Colômbia
Com sede em Santa Fé de Bogotá.

Esta obra não tem a vaidade de pretender ter a perfeição,


eu aprendi que ela n ao existe;
Seu único mérito é o de existir.
Uma vez escrita, eu não tenho a vergonha
de pretender ter a sabedoria,
eu sei que estou muito longe dela.
Eu não tenho, tampouco, a pretensão de ter
um benefício qualquer;
eu abandonei os direitos desta obra
à minha Loja mãe e à Grande Loja da Colômbia.
Minha única motivação foi a de cumprir
o melhor possível o que me foi ordenado
por uma das três regras
do Sub:. Grau de M:.M:.
Ensinar ao ignorante.

QQ:.IIr:. Aprendizes
dá-me satisfação em ter cumprido com meu dever.
S:. F:. U:.
Raymond François AUBOURG DEJEAN
M:.M:.
R:.E:.E:.A:.

NOTA DO TRADUTOR
Esta obra chegou a mim graças à maravilha da Internet. Eu não sabia da sua
existência e não estava à sua procura, e assim mesmo apareceu na telinha do meu
computador. Depois de ter lido pensei: não posso ficar com ela sozinho, tenho de partilhá-la
com outros buscadores do conhecimento da história. Decidi traduzi-la e ela está aqui. Espero
que você tenha o mesmo espírito de solidariedade e ofereça-a a outro Filho da Luz, sem a luz
deste conhecimento. Envie pela Internet ou entregue em mãos uma cópia impressa. Durante os
meus 51 anos de vida na senda da Ordem esta foi uma das melhores leituras que já tive e
abriu-me o entendimento de “quem somos de onde viemos e para onde vamos”. A divulgação
desta, também, pode ser uma última e importante contribuição minha ao progresso da Ordem
em nosso meio.
Roberto Schukste, M:.M:. – ARLS Experiência e Sabedoria –
ao Or:. de Caias do Sul, RS – rschukste@uol.com.br – 20.7.2008

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