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INTRA-UTERINO
Tema de aula da cadeira de Obstetrícia – 6º ano da Faculdade de Medicina
2004
sumário
Conceito
Patogênese
Classificação
Factores de risco
Rastreamento e diagnóstico
Tratamento e conduta
Prognostico
Conceito
Os recém nascidos de baixo peso, com menos de 2500 g ao nascer, dividem-se em duas
populações distintas:
Maior parte dos RN pesando menos de 2500 g (portanto, com BPN) são pré termo.
Cerca de 16 % dos RN com BPN são de termo tendo sofrido crescimento intra uterino
anormal. Estima-se que 3 a 10% dos lactentes apresentam restrição do crescimento
(Divon e Hsu, 1992).
Seeds (1984), propôs uma definição baseada no peso ao nascer abaixo do 5º percentil.
Usher e McLean (1969) propuseram que os padrões de crescimento fetal devem ser
baseados em valores médios com limites normais definidos por ± 2 desvios padrão,
porque esta definição limitaria lactentes PIG a 3% dos nascimentos em comparação
com o 10º percentil. Alem disso nem todos os lactentes com pesos ao nascimento
abaixo do 10º percentil apresentam restrição patológica do crescimento; alguns são
pequenos simplesmente devido a factores constitucionais. Este é o critério aceite pela
OMS, definindo portanto feto com ACIU, aquele com peso abaixo de dois desvios-
padrão (2DP), o que corresponde aproximadamente ao percentil 3.
O crescimento fetal pode ser dividido em 3 fases (Pollack e Divon, 1992; Winick,
1971): 1ª fase, desde a concepção até o inicio do 2º trimestre, envolve a hiperplasia
celular – um aumento do numero de células de todos órgãos. A 2ª fase, de hiperplasia e
hipertrofia continua, envolve a multiplicação celular e crescimento do órgão. Na 3ª
fase, após 32 semanas, a hipertrofia celular é o aspecto dominante de crescimento.
Patogênese
O ACIU está associado aos factores que reduzem o potencial de crescimento intrínseco
e o suporte de vida intra-uterina. Poder-se ia assim dividir os factores associados a
restrição do crescimento intra-uterino em intrínsecos (endógenos) e extrínsecos
(exógenos). Prefere-se no entanto, considerar factores fetais, placentários e maternos.
Factores feto-placentares
Factores maternos
gerais:
- idade: grávidas com mais de 35 anos tem maior numero de distúrbios
metabólicos (hipertensão e diabete mellitus), de implantação anormal da
placenta e insuficiência uteroplacentária. O RR para anomalias cromossómicas
é maior em grávidas com mais de 35 anos.
- pequena estatura
- antecedente de RN ACIU (1, aumenta 2x; 2 aumenta 4x o risco)
doenças maternas
- hipertensão
- anemia
- doença renal crônica
- hiperinsulinemia
- malnutrição (doença inflamatória intestinal, parasitoses, pancreatite,
malabsorção)
- doença pulmonar crônica
hábitos:
- cigarro
- abuso de álcool
- uso de drogas ilícitas
medicamentos:
- anticonvulsivantes : fenitoína, trimetadiona
- antagonistas do acido fólico: MTX
- varfarina
Classificação
Tipo I ou simétrico
Tipo II ou assimétrico
No entanto, embora esta classificação seja útil para diagnóstico diferencial não é
suficientemente precisa para servir como base para decisões quanto a intervenção ou
viabilidade fetal. Estudos biométricos em RN PIG associados a defeitos congénitos,
mostram que a maioria tem ACIU assimétrico e não simétrico. A premissa de que ACIU
de tipo I não tem hipoxia nem sempre é valida.
Em resumo:
RN com ACIU simétricos têm maior probabilidade de ter defeito endógeno que exclui
desenvolvimento normal.
RN com ACIU assimétricos têm maior probabilidade de serem normais, mas pequenos
em tamanho devido a privação intra-uterina.
Factores de risco
Teratógenos químicos. Qualquer agente que cause uma lesão teratogênica é capaz de
afectar adversamente o crescimento fetal: anticonvulsivantes (fenitoína, trimetadiona),
tabaco (causa bem documentada de hipoxia fetal e isquemia), narcóticos e drogas
relacionadas (diminuem a ingestão materna de alimentos e o numero de células fetais) e
o álcool. O álcool é um teratógeno potente que actua de forma linear relacionada com a
dose: incidência de 10% do síndrome alcoólico fetal em fetos cujas mães bebem
moderadamente (2 a 3 copos por dia), e uma incidência até 30% em fetos cujas mães
bebem muito (5 ou mais copos por dia).
Doença renal crónica. A insuficiência renal pode ser acompanhada por restrição do
crescimento fetal.
Anemia materna. Geralmente não causa ACIU, excepto naqueles com doença
falciforme ou com outras anemias hereditárias associadas a doença materna grave.
Fetos múltiplos. A gravidez com dois ou mais fetos é mais propensa a ser complicada
por crescimento anormal de um ou ambos fetos em comparação com fetos únicos
normais. Foi descrita restrição do crescimento fetal em 10 a 50% dos gémeos.
Gravidez extra-uterina.
Suspeita de ACIU
Em mulheres sem factores de risco a identificação de casos de ACIU poderá ser feita na
maioria dos casos através de:
ACIU provável
O primeiro passo para o diagnóstico de ACIU envolve o calculo da IG e da massa fetal.
O exame complementar de maior acurácia para determinar ACIU é a ultra-sonografia.
Altura do fundo uterino. Medidas seriadas cuidadosas da AFU durante toda a gestação
são um método de rastreamento simples, seguro, de baixo custo e razoavelmente preciso
que pode ser usado para detectar muitos fetos pequenos para a idade gestacional. O
principal problema é de imprecisão (identificação correcta de apenas 40% dos casos).
Entre 18 e 30 semanas a AFU em cm coincide com as semanas de gestação.
Vários estudos definiram uma associação entre razão S/D elevada na artéria umbilical,
restrição do crescimento fetal e evolução perinatal adversa (Berkowitz, 1988; Dempster,
1989; Gaziano, 1994; Sijmons, 1989; e seus associados).
Tratamento
Manejo anteparto
Uma vez detectado ACIU impõe-se necessidade de manejo num centro terciário tendo
em vista os sérios problemas que podem ocorrer com o feto ou com o recém-nascido:
deve estar numa unidade sanitária que possa prestar cuidados obstétricos, anestésicos e
neonatais apropriados.
Nas mulheres com risco de parto pré-termo, deve-se administrar glicocorticoides antes
das 34 semanas, para assegurar a maturação pulmonar fetal
Deve-se interromper a gravidez, mesmo com índice L/E < 2 em casos de:
• oligohidrâmnio
• sinais de sofrimento fetal (CTG não reactivo e perfil biofísico < 4)
Manejo intraparto
Prognostico
A gravidez com ACIU não é por si uma condição de risco para a mãe. Ela pode estar no
entanto com risco de morbilidade ou mesmo mortalidade significativa se tiver uma
condição subjacente que predispõe para ter um feto com ACIU (por exemplo,
hipertensão ou doença renal).
O prognóstico a longo prazo é menos benigno para lactentes com ACIU. Têm tendência
a se manterem fisicamente pequenos, particularmente os lactentes simétricos. Têm por
outro lado maiores deficiências neurológicas e intelectuais que os pares adequados para
a idade gestacional. Observa-se que têm QI inferiores e maior incidência dificuldades de
aprendizagem e problemas de comportamento. Handicaps neurológicos severos como
atraso mental, paralisia cerebral e convulsões são mais comuns em ACIU. A incidência
do síndrome de morte súbita do lactente é maior em RN ACIU (30% de todos os casos
de SMSL). Todos estes problemas são mais frequentes e mais severos em RN com
cabeças com circunferência cerebral pequena: Os ACIU simétricos tem pior
prognostico que os assimétricos.