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História da Arte do Século XIX.

“Il Revival”.Giulio Carlo Argan

Esta recensão visa analisar o ponto de vista de Argan sobre o historicismo e o revivalismo
do século XIX face à visão do século XX. No fim de analisados estes conceitos, Argan tenta criar
uma solução quando chega a conclusão de que a politica e o capitalismo emergente
deturparam estas visões. Porém, como o espaço é reduzido, dedico-me unicamente a
apresentar os conceitos de historicismo e de revivalismo sobre o ponto de vista de Argan e
fazer seguidamente o meu ponto de vista. Para isto, irei buscar alguns filósofos do século XIX
que nasceram precisamente no seio desta problemática onde acima de responder a teoria
racionalista de Hegel, debruçaram-se num campo mais lato do homem, criando, assim,
soluções bem claras ás questões que coloquei ao meu ser aquando lia “ Revival”. Por fim, irei
rematar esta recensão com uma citação de José-Augusto França que apesar de poder
responder a muitos campos, a muitas questões1 assentou perfeitamente face ao pensamento
que vim a desenrolar ao longo deste semestre sobre os conceitos de Revivalismo e
Historicismo.

Argan, no seu “Revival”, tenta explicar e elucidar o leitor sobre o historicismo e o revivalismo
no campo da arte. Explica-os exaustivamente e apresenta diversas premissas. Começa por
dizer o seguinte, onde se lê: “como attenggiomento verso il passato, il revival è connesso col
pensiero atorico. Il tema è evidentemente lo stesso, la memoria del passato e il suo rapporto
com il problemi attuali dell’esistenza, ma i procedimenti sono diversi” 1
“La storia è “ catártica” próprio perché ci assicura che il passato è passato e non può ripetersi
o rivivere, non essendovi ragione di riesperire l’esperito: dandoci l’esperienzia della nostra
responsabilità nei confronti del presente.” 2 Ou seja, o pensamento histórico “is concerned not
only with historical writing and historical scholarship but also historical consciousness” 3 leva-
nos a emitir juízos que nos permitem enfrentar o tumultuoso presente com a força que as
experiências racionais nos conferem. Todavia o juízo enquanto tal fecha o passado e dá-nos
como extinto, “o prazer que retiramos da representação do presente advém, não apenas da
beleza de que pode estar revestido mas também da sua qualidade essencial de presente” 4,
sendo filho do seu tempo e espaço, logo, o presente opera de forma distinta.
Em Cadernos do Subterrâneo, Dostoiévski alude à razão e à sua efectiva aplicação prática, ou
seja, ao papel da razão no determinar das nossas acções. Papel este que pode efectivamente
explicar o porquê do uso do historicismo. Mais, segundo o autor o ser humano está longe de
ser absolutamente racional, previsível e transparente, pelo contrário”(…) como consequência
de serem limitados, tomam as causas superficiais e secundárias por causas primeiras, desta
maneira se convencendo mais fácil e prontamente do que os outros que acharam fundamento
para as suas acções (…).” 5
De facto, o que o autor russo defende é que qualquer sistema que pense e/ou explique o
homem como previsível, totalmente guiado pela razão e pelo seu próprio interesse, está
condenado ao fracasso “ (…), todas essas teorias que esclarecem a humanidade dos seus
normais e verdadeiros interesses, para que a dita humanidade, na sua aspiração inelutável de
atingir esses interesses, se torne imediatamente boa e nobre, não passam por enquanto, a
1
Cfr. Argan, G.C., “Il Revival” in Revival 1977.p.7
2
Cfr.Argan. ob.cit. p.7
3
Cfr.Schiffman, Zachary S., Renaissance Historicism Reconsidered. History and theory, vol.24, nº2 ( May, 1985).p170
4
Baudelaire, C., O pintor da vida moderna;4ªedição, Lisboa 2006.p.8
5
Cfr. Dostoiévski, Fiódor; Cadernos do Subterrâneo; Quasi Edições, V.N. de Famalicão, 2008.p.32

Docente. Prof. Doutora Joana Cunha Leal


Discente: Bárbara Godinho n.º 25673, 3.º ano
História da Arte do Século XIX.
“Il Revival”.Giulio Carlo Argan

meu ver, de uma logística.”6 Desta forma podemos negar o efectivo conceito de historicismo
quer na sociedade (formas de adopção de vida) quer na arte do século XIX. E, que os meros
padrões comportamentais que esta sociedade dita historicista fazem-nos crer que serviram de
base na busca da sua felicidade e bem estar… “ The only reason people want to be masters of
the future is to change the past”7
Relativamente ao Revivalismo podemos citar Barry Bergoll, quando este afirma “ (…) the
links prove to lie more in religious and political intent than in any strong visual connection or
shared archaeological culture.” 8
Por isso o Revivalismo, visto no século XXI, considera e observa o Revivalismo do século XIX
mais do que um retorno ao passado, mais do que “ producing new questions and perspectives
2
for thinking about the phenomenon of historicism.” 9
É um reflexo de toda uma sociedade
efervescente nos valores Iluministas, “… as a fiercely patriotic … in a period of increasing
nationalism”10 onde o Nacionalismo é uma constante e a arqueologia serve quase como
pretexto e de sustentabilidade deste novo despertar da sociedade. A aliás, Argan explicita-o
muito bem “ Il revival, al contrario, rifugge dal giudizio, nega la separazione tra la dimensione
del passato e quella del presente e del futuro, pone la vita come un contínuo che non può mai
dirsi compiutamente esperito(…)11. Simultaneamente actuando, quase, como uma luta/ uma
atitude contra o passado. Já que as memórias que se manifestam a partir da sua presença na
memória nas ditas ciências “criativas” e não quebraram efectivamente, não criaram
efectivamente uma barreira ao passado. Ou seja, com as novas perspectivas do passado e com
o pensamento contemporâneo criam uma nova forma um novo reviver, actualizado dentro do
seio de cada sociedade.
Benevolente será reflectir: “ Mas tudo isso se entende somente se se entender a possibilidade
e a necessidade de uma leitura criativa do objecto em questão, que, partindo da sua
apreensão estética, nele busque uma “estrutura profunda”, para além da aparente. Nele
procure o involuntário para além do voluntário para além de que voluntariamente pôs lá o
autor. O objecto de arte não é realizado para servir de documento, a menos que tenha fins
oficiais e comemorativos, como diz o arco da Rua Augusta; e mesmo assim ele escapa, nos
seus jogos simbólicos ou alegóricos, ao que pretende dizer, pela significação do código
empregado, que por ele próprio diz uma série de coisas irredutíveis.” 12 Podemos, então,
elucidar-nos que nos vários campos da arte, quer pintura, quer escultura ou arquitectura nos
dão a ver e a usar é significativo do viver histórico – e condiciona esse viver nas opções que
realiza, revela e nas afirmações que faz. Uma obra de arte é sempre uma afirmação, mesmo
que incite à dúvida: em si própria, ela não dúvida, nem poderia faze-lo no momento em que
é.”13“ não saber, porém, é não existir”14.
6
Cfr. Dostoiévski, F. ob.cit.p.33
7
Cfr.Harpham, Geoffrey G., Foucault and the New Historicism. American Literary History, vol.3. nº2 ( Summer
1991)p. 360
8
Cfr. Bergdoll, B., Journal of the Society of Architectural Historians,vol.63.n.º3 ( Set., 2004),p.393.
9
Cfr. Bergdoll, B.ob.cit.p.394.
10
Crf. Carso, Kerry D.; The Theatrical Spectacle of Medieval Revival: Edwin Forrest’s Fonthill Castle in Winterthur
Portfolio, vol.39,nº1 (Spring, 2004)p.27
11
Cfr.Argan, G.,ob.cit. p.7
12
Cfr. França, José-Augusto; (In)definições de Cultura; editorial presença, 1ªedição, Lisboa 1997.p.80
13
Cfr. França, J.-A., ob.cit.p.70
14
Cfr. Soares, Bernardo, Livro do Desassossego. Editora Assírio & Alvim, Lisboa, 2000.p.351

Docente. Prof. Doutora Joana Cunha Leal


Discente: Bárbara Godinho n.º 25673, 3.º ano
História da Arte do Século XIX.
“Il Revival”.Giulio Carlo Argan

Bibliografia:

Dostoiévski, Fiódor; Coração Débil; Quasi Edições, V.N. de Famalicão, 2008.pp.32-33


Kant, Immanuel, Crítica da Razão Prática, Edições 70, Lisboa 2008.p.46
Baudelaire, Charles, O pintor da vida moderna;4ªedição, Lisboa 2006.p.8
Baudelaire, Charles, A Invenção da Modernidade; Relógio de Água Editores, Maio de 2006.pp-
165-174
Bergdoll, B., Journal of the Society of Architectural Historians, vol.63.n.º3 ( Set., 2004),pp.393-
394
3
Carso, Kerry D.; The Theatrical Spectacle of Medieval Revival: Edwin Forrest’s Fonthill Castle in
Winterthur Portfolio, vol.39,nº1 (Spring, 2004)pp.21-41
Soares, Bernardo, Livro do Desassossego. Editora Assírio & Alvim, Lisboa, 2000.p.351
Dostoiévski, Fiódor; Cadernos do Subterrâneo; Assírio & Alvim, Lisboa, 2000
França, José-Augusto; (In)definições de Cultura; editorial presença, 1ªedição, Lisboa
1997.pp.79-80
Loyer, François; The Burlington Magazines, vol.138,nº1115 ( Feb.1996)pp.139-140
Bayer, Raymond, História da Estética; editorial Estampa 1995.pp.261-357
Harpham, Geoffrey G., Foucault and the New Historicism. American Literary History, vol.3. nº2
( Summer 1991)pp.360-375
Hauser, Arnold, Teorias da Arte. Editorial Presença, 2.º edição, Lisboa 1988.pp.53-206
Benjamin, Walter, Historicism. H.D.Kittsteiner, Jonathan Monroe, Irving Wohlfarth. New
German Critique. N.º39, second special Issue on Walter Benjamin ( Autumn, 1986)pp.179-215
Schiffman, Zachary S., Renaissance Historicism Reconsidered. History and theory, vol.24, nº2
( May, 1985).pp170-182
Argan, G.C., “Il Revival” in Revival 1977.pp.7-8

Docente. Prof. Doutora Joana Cunha Leal


Discente: Bárbara Godinho n.º 25673, 3.º ano

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