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Escassez de água cria nova injustiça: a exclusão hídrica
Estoques de água doce estão sendo diminuídos pelo despejo diário de 2 milhões de
toneladas de poluentes, alertam especialistas do PNUD
A crise silenciosa
A água é vida para as pessoas e para o planeta. A água doce é, por si só, o
elemento mais precioso da vida na Terra. É essencial para a satisfação das
necessidades humanas básicas, a saúde, a produção de alimentos, a energia e a
manutenção dos ecossistemas regionais e mundiais. “Embora se observe pelos
países mundo afora tanta negligência e tanta falta de visão com relação a este
recurso, é de se esperar que os seres humanos tenham pela água grande respeito,
que procurem manter seus reservatórios naturais e salvaguardar sua pureza. De fato,
o futuro da espécie humana e de muitas outras espécies pode ficar comprometido a
menos que haja uma melhora significativa na administração dos recursos hídricos
terrestres”. (1)
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contaminação por arsênico, fluoretos e outras toxinas, ameaçam o fornecimento de
água potável em muitas regiões do mundo.
Uma das conseqüências mais perversas deste mau uso é a exclusão hídrica. Hoje,
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apenas metade da população das nações em desenvolvimento tem acesso seguro à
água potável. A escassez de água aumentará significativamente nos próximos anos,
devido ao aumento do impacto combinado resultante do aumento do uso per capita
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de água e dos efeitos das mudanças climáticas. O aumento da população e da renda
reflete diretamente no aumento do consumo de água e na produção de resíduos
poluentes. A população urbana dos países em desenvolvimentos aumentará
dramaticamente, gerando demanda muito além da capacidade, já inadequada, de
infra-estrutura para fornecimento de água e saneamento. Em 2050, pelo menos uma
em cada quatro pessoas provavelmente viverá em um país afetado por escassez
crônica ou recorrente de água potável. Isto poderá restringir seriamente a
disponibilidade de água para todas as finalidades, particularmente para a agricultura,
que atualmente responde por 70% de toda a água consumida. (5) A falta de
conciliação entre todos esses usos e funções da água, o aumento da demanda
aliado aos conflitos já existentes e a assimetria de poder entre os interesses
envolvidos criou uma nova categoria de injustiça social, a exclusão hídrica, os “povos
sem água”.
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Milênio (ODM). Os oitos objetivos fixados pela Conferência do Milênio são:
O Brasil detém 12% das reservas de água doce do mundo, sendo que cerca de 70%
desse total estão na Bacia Amazônica, onde a densidade populacional é a menor do
país. Por outro lado, a região mais árida e pobre do Brasil, o Nordeste, onde vivem
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A Meta 11 dos ODM estabelece que, até 2020, deve haver melhora significativa na
qualidade de vida de 100 milhões de habitantes de moradias inadequadas em todo o
mundo, incluindo-se acesso a esgotamento sanitário (indicador 31). A análise dos
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dados demonstra que diminuiu, em termos relativos, a proporção da população sem
acesso a esgotamento sanitário — apesar de, em número absolutos, ter havido
aumento da população brasileira e da população sem acesso a esses serviços. De
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fato, em 1991, havia 75,1 milhões de pessoas (61,6%) sem acesso à rede de esgoto
e, em 2000, esse número subiu para 93,7 milhões, o equivalente a 55,6% dos
habitantes. Se o ritmo de queda percentual continuar o mesmo, em 2015 ainda
haverá 45,5% da população sem acesso a esgotamento sanitário. A projeção desses
dados indica que pouco menos da metade da população do Brasil (42,3%)
continuaria sem acesso à rede de esgoto em 2020. (9) Essas disparidades
demonstram o quanto o Brasil ainda tem de avançar nessa questão.
A crise da água vem aumentando, mesmo com alguns avanços obtidos para atingir
os objetivos estabelecidos em 2000. O Projeto do Milênio das Nações Unidas foi
estabelecido em 2002 para desenvolver um plano de ação que habilite os países em
desenvolvimento a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e a reverter
o massacre da pobreza, da fome e das doenças que atinge bilhões de pessoas. As
equipes das dez forças-tarefas do Projeto Milênio, congregando 265 especialistas de
todo o mundo, foram desafiadas a diagnosticar os principais impedimentos ao
alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e a apresentar
recomendações de como superar os obstáculos, colocando as nações no caminho
certo para atingir as metas até 2015.
Estas recomendações mostram claramente que, após cinco anos, a ONU continua
conclamando os países a assumir o acesso seguro à água potável como prioridade
máxima em suas agendas. O mais grave é o fato de que as metas estabelecidas
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para 2015 não visam a eliminar, e sim reduzir, a tremenda injustiça social da falta de
acesso seguro à água e ao saneamento básico para todos os habitantes da Terra.
De acordo com a força-tarefa, expandir a cobertura de água e saneamento não
requer somas colossais de dinheiro (10), nem descobertas científicas inovadoras.
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Quatro em cada dez pessoas no mundo não têm acesso nem a uma simples latrina
de fossa não-asséptica e são obrigadas a defecar a céu aberto. Obviamente, o
conhecimento, as ferramentas e os recursos financeiros estão disponíveis para pôr
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fim a esta infâmia.
O alerta feito por Bouguerra não pode ser ignorado. Necessitamos, hoje, da
formulação de uma política global para a água, fundada sobre o plano da ética, e que
sirva de guia para definir uma partilha equilibrada dos recursos. “Dessa maneira se
poria fim aos embates indignos que os detentores do poder e alguns grupos de
pressão exercem sobre este recurso. Se a política da água precisa ser integrada à
viabilidade econômica, não é menos indispensável que ela englobe também a
solidariedade social, a cooperação com os países mais desprovidos, a
responsabilidade ecológica e a utilização racional desse recurso, para não
comprometer as necessidades das gerações atuais e futuras e dos demais seres
vivos que partilham conosco a água do globo”.
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humanidade. Editora Vozes, 2004.
7 — The United Nations World Water Development Report 2003,
UNESCO-WWAP).
8 — Ministério das Cidades 2004. Saneamento Ambiental. Cadernos MCidades,
vol. 5.
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9 — Centro de Pesquisa de Opinião Pública – DATAUnB. Relatório Nacional ODM
7 “GARANTIR A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL”. UnB, 2004.
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10 — Estima-se que sejam necessários apenas 4% dos gastos militares com
armamentos no Mundo para prover água potável e saneamento adequado para toda
a humanidade.
11 — Mohamed Bouguerra .As Batalhas da Água: por um bem comum da
humanidade. Editora Vozes, 2004. 238p.
12 — Ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Habitações
Humanas (Habitat II)
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