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Agrodok 40

O cultivo de cogumelos
em pequena escala

pleuroto, shiitake e orelha-de-pau

Peter Oei
com contribucões de Bram van Nieuwenhuijzen
© 2006 Fundação Agromisa e CTA

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida qual-
quer que seja a forma, impressa, fotográfica ou em microfilme, ou por quaisquer outros
meios, sem autorização prévia e escrita do editor.

Primeira edição em português: 2006

Autores: Peter Oei, com contribucões de Bram van Nieuwenhuijzen


Editor: Janna de Feijter
Ilustraçöes: Barbera Oranje, Mamadi B. Jabbi
Design gráfico: Eva Kok
Tradução: Rob Barnhoorn e Láli de Araújo (revisão)
Impresso por: Digigrafi, Wageningen, Países Baixos

ISBN Agromisa: 90-8573-049-X


ISBN CTA: 92-9081-321-0
Prefácio
O cultivo de cogumelos enquadra-se muito bem na agricultura susten-
tável e tem várias vantagens:
? Usam-se produtos residuais agrícolas
? Podem-se obter altos níveis de produção por área cultivada
? Depois da colheita, o substrato residual ainda serve adequadamente
como acondicionador do solo

Este Agrodok contém informação detalhada sobre o cultivo de três


tipos de cogumelos: pleuroto, shiitake e orelha-de-pau. Estes cogume-
los são fáceis de cultivar em pequena escala. O cultivo do cogumelo
de Paris (Agaricus spp.) e do cogumelo de palha de arroz (Volvariella
volvacea) é muito diferente e, por isso, será tratado num outro Agro-
dok.

Uma grande parte da informação aqui apresentada é procedente do


meu livro “Mushroom cultivation and appropriate technologies for
commercial mushroom growers” (O cultivo de cogumelos e tecnologi-
as apropriadas para produtores comerciais de cogumelos). Concen-
trando-me em, apenas, três espécies de cogumelos e em tecnologias
relativamente simples, espero que os leitores possam obter um rendi-
mento sustentável do cultivo de cogumelos.

Durante vários anos, Bram van Nieuwenhuijzen foi director do Mush-


room Growers’ Training Centre (Centro de Formação para Produtores
de Cogumelos), hoje conhecido como C Point, na municipalidade de
Horst, Países Baixos. Neste momento está envolvido em projectos de
cultivo de cogumelos em vários países, na qualidade de consultor,
através de PUM Netherlands Senior Experts, com sede em Haia.

Peter Oei é presidente da ECO Consult Foundation e Professor Visi-


tante da Universidade de Agronomia de Fujian.

Prefácio 3
Índice
1 Introdução 6

2 Biologia dos cogumelos 8


2.1 Fungos 8
2.2 Ecologia dos fungos 8
2.3 Ciclo de vida dos fungos 9
2.4 Amplitudes de temperatura para cogumelos cultivados 12

3 Explorações agrícolas de cogumelos 14


3.1 Esquematização da exploração 14
3.2 Higiene da exploração 17

4 Produção de semente 18
4.1 A cultura inicial 20
4.2 O processo de esterilização 21
4.3 Ambientes limpos 22
4.4 Culturas 24
4.5 Preparação dos meios de cultivo 27
4.6 Preparação de amostras em posição inclinada (slants) 28
4.7 Semente-mãe 33
4.8 Preparação da semente final 35

5 Produção de pleuroto em substratos pasteurizados


ou ‘esterilizados’ 37
5.1 Preparação do substrato 37
5.2 Tratamentos pelo calor 40
5.3 Inoculação do substrato pasteurizado 44
5.4 Inoculação de sacos esterilizados 45
5.5 Colonização micelial 48
5.6 Frutificação/produção 48
5.7 Colheita 51
5.8 Descrição dum caso: Ahmedabad, Índia 52
5.9 Descrição dum caso: Bogor, Indonésia 56

4 O cultivo de cogumelos em pequena escala


5.10 A técnica Juncao torna erva em cogumelos 57

6 Produção de shiitake em sacos de plástico 59


6.1 Preparação do substrato 59
6.2 Enchimento e tratamento pelo calor 60
6.3 Inoculação 60
6.4 Colonização e desenvolvimento micelial 61
6.5 Frutificação 63
6.6 Colheita 64
6.7 Pragas e doenças 65

7 Produção de orelha-de-pau em substrato ‘esterilizado’


67
7.1 Preparação do substrato 67
7.2 Tratamento pelo calor 67
7.3 Inoculação e colonização micelial 67
7.4 Frutificação 68
7.5 Descrição dum caso: as Filipinas 68

8 Tratamentos pós-colheita 71
8.1 Mercado de produtos frescos 73
8.2 Secagem 73

Apêndice 1: Fórmulas 78

Apêndice 2: Preparação do substrato 79

Leitura recomendada 80

Endereços úteis 83

Glossário 86

Índice 5
1 Introdução
Tem planos para cultivar cogumelos? Há muitas e boas razões para tal
actividade: os cogumelos são uma boa cultura comercial; são fáceis de
cultivar e contêm teores muito altos de proteínas, várias vitaminas B e
minerais, tendo até propriedades medicinais. O período entre a inocu-
lação e a colheita pode ser muito curto, de apenas três semanas. Para
além disso, após o período de cultivo, ainda se poderá usar o substrato
ainda como um bom acondicionador do solo.
Neste Agrodok apresenta-se informação detalhada sobre o cultivo dos
cogumelos pleuroto, shiitake e orelha-de-pau. Embora seja possível
cultivar muitos outros tipos de cogumelos, escolhemos os supramen-
cionados, que são fáceis de cultivar em países em vias de desenvolvi-
mento com uso de tecnologia apropriada.

Ao se escolher o método de cultivo dos cogumelos, dever-se-á res-


ponder às seguintes questões:
1 Quais são os tipos de cogumelos que quer cultivar? Informe-se so-
bre o mercado e sobre a amplitude de temperatura na qual se produz
a frutificação (ver a Secção 2.4).
2 É possível obter semente de cogumelo das espécies que quer culti-
var? O Capítulo 4 descreve como se pode produzir a própria semen-
te. Se não for possível obter ou produzir semente, o cultivo de co-
gumelos também não será possível.
3 Que tipo de substrato é necessário para poder cultivar os cogumelos
desejados? Ver o Capítulo 5.
4 Como se deve tratar o substrato? Isto tem influência nos investi-
mentos a realizar. Pode-se encontrar informação mais detalhada nos
capítulos sobre as diferentes espécies de cogumelos.

Para se poder compreender o cultivo e as propriedades dos cogumelos,


é necessário ter algum conhecimento biológico desta cultura. Come-
çamos, portanto, com uma explicação da biologia dos cogumelos.

6 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Figura 1: As três espécies de cogumelos tratadas neste Agrodok

Introdução 7
2 Biologia dos cogumelos

2.1 Fungos
Os cogumelos pertencem ao reino dos Fungos, que como grupo se
distingue nitidamente das plantas, animais e bactérias. Os fungos ca-
recem das características mais importantes de plantas, quer dizer, a
capacidade de aproveitar directamente a energia solar, com uso de clo-
rofila. Portanto, os fungos dependem de outros organismos para a sua
alimentação, absorvendo nutrientes do material orgânico no qual resi-
dem. Ao corpo vivo do fungo chama-se micélio, que é constituído por
uma teia fina de fios (ou filamentos), as chamadas hifas. Sob condi-
ções específicas, as hifas sexualmente compatíveis juntam-se e come-
çam a formar esporos. Às estruturas que produzem os esporos cha-
mam-se cogumelos quando têm um tamanho superior a 1 mm. Pela
aparência, esta é a parte mais conspícua do organismo mas, com efei-
to, trata-se apenas do corpo de frutificação, enquanto que a maior par-
te do organismo vivo se encontra dentro do solo ou dentro da madeira.

Os nomes científicos e coloquiais dos cogumelos


Neste Agrodok usam-se frequentemente os nomes científicos de co-
gumelos, visto que dão origem a menos confusão do que os nomes
coloquiais. Por exemplo, o nome pleuroto aplica-se a mais de 20 espé-
cies diferentes de cogumelos, cada uma com as suas próprias caracte-
rísticas de cultivo, como sejam uma amplitude de temperatura, cor e
taxa de crescimento óptimas. Para os produtores de cogumelos, a
abordagem mais prática do assunto da taxonomia consiste em confiar
nos taxonomistas. Recomenda-se encomendar estirpes de produtores
renomados de semente ou de colecções de culturas.

2.2 Ecologia dos fungos


Os fungos dependem de outros organismos para a sua alimentação.
Pode-se distinguir entre três modos de viver:
? Saprófitos: que decompõem matéria já morta

8 O cultivo de cogumelos em pequena escala


? Simbiontes: que existem numa convivência estreita, mutuamente
benéfica, com outros organismos (particularmente árvores)
? Parasitas: que vivem à custa de outros organismos

O modo de vivência não tem relação nenhuma com a comestibilidade


do cogumelo, visto que nas três categorias supramencionadas se po-
dem encontrar tanto cogumelos comestíveis como venenosos. Neste
Agrodok são tratados apenas os saprófitos.

Saprófitos
Os fungos saprófitos necessitam de matéria orgânica para decompor.
Na natureza, estes desenvolvem-se em folhas caídas, excrementos de
animais, ou em tocos de madeira morta. Alguns estão especializados
na decomposição de pêlos de mamíferos, enquanto outros decompõem
penas de aves. Os saprófitos decompõem as estruturas orgânicas,
complexas, que restam de plantas e animais. No decorrer natural das
coisas, plantas ou animais recobram acesso aos minerais e aos outros
nutrientes presentes no substrato. Na natureza os cogumelos pleuroto
decompõem madeira morta. Portanto, estes podem ser cultivados num
grande leque de materiais residuais que contêm ligni-celulose.

2.3 Ciclo de vida dos fungos


Os fungos propagam-se através da produção de milhões e milhões de
esporos. Quando um esporo se estabelece num ambiente apropriado,
pode germinar e ramificar-se para formar um micélio. Quando se en-
contram dois micélios sexualmente compatíveis, podem fundir-se
formando um micélio secundário, que é capaz de formar corpos de
frutificação.

Desenvolvimento de micélio e semente


Na prática do cultivo de cogumelos comestíveis não se utilizam espo-
ros. O seu tamanho reduzido faz com que sejam difíceis de manusear
e as suas características genéticas podem diferir das do seu progenitor.
Para além disso, os esporos de cogumelos precisam de algum tempo

Biologia dos cogumelos 9


para germinar, enquanto outros fungos, como os bolores verdes, ger-
minam e disseminam-se muito mais rapidamente.
O cogumelo desejado deve ser capaz de colonizar o substrato antes de
outros fungos ou bactérias. Para realizar tal processo, o micélio pré-
cultivado do cogumelo (isento de quaisquer contaminantes) é inocula-
do num substrato estéril. Referimo-nos a este material com o termo
semente. A utilização de semente dá uma vantagem de desenvolvimen-
to ao cogumelo cultivado em comparação com outros fungos.

Figura 2: Ciclo de vida de cogumelos na natureza

Colonização micelial
Durante o seu desenvolvimento, o micélio coloniza o substrato, usan-
do os nutrientes disponíveis. Esta fase é referida, geralmente, como
colonização micelial. Quando alguns nutrientes se esgotam, ou quan-
do há uma mudança de clima, o micélio atinge outra fase: a reprodu-
ção. Na maioria das espécies de cogumelos, a temperatura óptima
para a colonização micelial é de, aproximadamente, 25 °C. Um maior
desenvolvimento do micélio desejado também pode ser provocado por
uma modificação do ambiente, p.ex. uma concentração alta de CO2 é

10 O cultivo de cogumelos em pequena escala


favorável para o crescimento do micélio (mas não para a produção da
cultura).

Figura 3: Ciclo de vida dos cogumelos a semente. Isolam-se as


culturas de tecido dum cogumelo e propagam-se num substrato
apropriado. Quando plenamente colonizado, este substrato é
usado no cultivo de cogumelos.

Depois de ter colonizado o substrato, o micélio é capaz de produzir


corpos de frutificação. O número e a qualidade dos corpos de frutifi-
cação dependem do ambiente.

Factores essenciais para induzir a formação de corpos de frutificação:


? Mudança da temperatura
? Humidade alta
? Deficiência de um nutriente
? Concentração de CO2 no ar
? Luz
? Trauma físico

Biologia dos cogumelos 11


Estes factores diferem entre os cogumelos. A maioria das mudanças
que estimulam a frutificação têm um efeito negativo no desenvolvi-
mento vegetativo do micélio. Portanto, as mudanças devem ser reali-
zadas apenas quando o micélio tiver colonizado completamente o
substrato. Na realidade, são as condições menos favoráveis para o de-
senvolvimento vegetativo que estimulam o micélio a frutificar.

Apresentam-se aqui dois exemplos no que diz respeito à indução da


frutificação em diferentes cogumelos:
? A frutificação de alguns cogumelos pleuroto (p.ex. estirpes de Pleu-
rotus ostreatus) verifica-se quando, após o desenvolvimento miceli-
al, sofrem um choque de frio (uma diferença entre 5 °C a 10 °C).
Para além disso, dever-se-á reduzir também a concentração de CO2.
Embora o desenvolvimento micelial possa realizar-se na escuridão,
a luz é essencial para se conseguir a frutificação.
? Os micélios de shiitake (Lentinula edodes), plenamente desenvolvi-
dos em sacos de substrato, são postos de molho em água, durante
um ou dois dias e, depois, são sujeitos a um choque físico para es-
timular a frutificação. O choque removerá o CO2 preso.

No começo da fase reprodutiva formam-se pequenos primórdios (cor-


pos iniciais de frutificação). Sob as condições apropriadas, estes pri-
mórdios transformam-se em corpos de frutificação. Os nutrientes são
transportados do micélio para os corpos de frutificação por meio de
um fluxo constante de humidade. A evaporação de humidade na super-
fície dos cogumelos é necessária de forma a que o fluxo seja contínuo.
Isto explica por que a pulverização de água em cogumelos a amadure-
cerem ou um nível demasiadamente alto da humidade relativa do ar
pode provocar estragos na cultura.

2.4 Amplitudes de temperatura para


cogumelos cultivados
Deve-se escolher uma espécie que frutifica a uma temperatura próxi-
ma às temperaturas atmosféricas ao ar livre. Desta maneira, limitam-
se investimentos no controle climatológico e reduzem-se os custos de

12 O cultivo de cogumelos em pequena escala


energia. Os dados apresentados no Quadro 1 revelam que, com efeito,
apenas algumas poucas espécies são apropriadas para serem cultivadas
em condições realmente tropicais. As únicas espécies de cogumelos
actualmente cultivadas a temperaturas próximas ou mesmo abaixo de
30 °C são: pleurotos (Pleurotus cystidiosus / abalonus / ostreatus var.
florida), Volvariella volvacea, Agaricus bitorquis, Stropharia rugoso-
annulata e orelha-de-pau (Auricularia polytricha).

Quadro 1: Amplitudes de temperatura para realizar/optimizar o


desenvolvimento micelial (dm) e a frutificação para espécies dife-
rentes de cogumelos, com as técnicas apropriadas para a prepa-
ração do substrato.

Espécie de cogumelo/Nome comum Tdm Tdm óptimo Tfrutificação Técnicas


Lentinula edodes / shiitake 5-35 20-30 8 -25* 1, 2, 3,
Pleurotus abalonus / cogumelo gigante, 15-35 20-30 25-30 2, 3
caetetuba, hiratake, cogumelo ostra
Pleurotus cystidiosus / cogumelo gigan- 10-35 25-28 25-30 2, 3
te, caetetuba, hiratake, c. ostra
Pleurotus ostreatus / cogumelo ostra, 5-35 20-25 5-25 2, 3
pleuroto ostreáceo, shimeji
Pleurotus pulmonarius 5-35 20-25 13-20 2, 3
Pleurotus cornucopiae# / cogumelo 15-35 20-28 15-25 2, 3
trombeta
Pleurotus djamor 15-35 24-30 20-30 2, 3
Pleurotus eryngii / cogumelo-rei, car- 10-35 20-25 15-22 2, 3
doncelo
Auricularia polytricha / orelha-de-pau, 20-35 35-30 23-28 2
orelha-de-padre, orelha-de-judeu
#: Incluindo Pleurotus citrinopileatus
^: Incluindo sinónimos prováveis: P. ostreatus, P. salmoneo-stramineus, P. flabellatus
Tdm: Amplitude na qual o micélio permanece viável; a rapidez de crescimento reduz-se
tanto na extremidade alta como na extremidade baixa.
Tdm óptimo: Amplitude óptima de temperatura requerida para a frutificação; a temperatura
mais importante.
Técnicas para a preparação do substrato:
1 Lenhos de madeira (não tratados neste Agrodok)
2 Substrato pasteurizado ou pré-aquecido
3 Substrato esterilizado

Biologia dos cogumelos 13


3 Explorações agrícolas de
cogumelos
Ao escolher um local para a exploração de cogumelos, devem-se ter
em consideração os seguintes factores:
? Distância até ao mercado
? Disponibilidade de material de substrato de boa qualidade
? Transporte tanto dos produtos como do material de substrato
? Disponibilidade de água limpa

Figura 4: Sala de frutificação

3.1 Esquematização da exploração


Antes de se poder começar a planear a esquematização, dever-se-á
fazer uma lista dos processos que devem ser realizados na exploração
de cogumelos. Por exemplo, a necessidade de um recinto de inocula-
ção depende de se os produtores preparam o seu próprio substrato ou
se compram substrato já inoculado.

14 O cultivo de cogumelos em pequena escala


A esquematização duma exploração também deve incluir:
? Um fluxo eficiente de materiais de substrato
? Medidas de forma a prevenir uma contaminação da exploração
? Uso eficiente do espaço

Uma exploração de cogumelos deve proporcionar condições climáti-


cas apropriadas. É possível adaptar estruturas já existentes, como se-
jam túneis de defesa, casamatas, grutas, galinheiros, antigas fábricas
de leite e matadouros. Estão a realizar-se algumas operações bem su-
cedidas do cultivo de cogumelos em antigos túneis ferroviários ou de
defesa.

Chão da sala de cultivo


Num nível baixo de investimentos, as salas de cultivo de cogumelos
são simplesmente construídas sobre solo arável. A um nível mais alto
de investimentos, o chão é cimentado. O chão cimentado, ligeiramente
inclinado, proporciona uma superfície lisa, que é fácil de limpar e que
permite a drenagem da água em excesso.
Pode-se utilizar um cesto revestido com uma rede para recolher as
partículas grossas presentes na água drenada. O sistema de drenagem
dos diferentes recintos não deve estar ligado entre si, para prevenir
que uma doença presente num recinto de cultivo se divulgue facilmen-
te aos outros recintos. Os chãos devem ser lisos para facilitar também
o manuseamento e o transporte dos materiais.

Portas, janelas e outras aberturas


As portas e paredes devem fechar adequadamente de forma a prevenir
a entrada de insectos nos recintos de cultivo. O uso duma porta dupla,
com uma malha de arame diante da segunda porta de entrada, pode
ajudar a que os insectos não entrem. As mesmas regras são aplicáveis
às janelas. Os orifícios, através dos quais o ar sopra quer para dentro
ou para fora dos recintos, devem dispor, no mínimo, de um filtro sim-
ples ou pano que funcione como barreira.

O cheiro do micélio de cogumelos é muito atractivo para as moscas dos co-


gumelos.

Explorações agrícolas de cogumelos 15


Figura 5: Porta dupla à entrada duma unidade de incubação

16 O cultivo de cogumelos em pequena escala


3.2 Higiene da exploração
A higiene é essencial numa exploração de cogumelos. Como o contro-
lo químico de pragas e doenças não é possível no cultivo de cogume-
los em pequena escala, as únicas medidas preventivas são a higiene e,
até a certo ponto, a desinfecção. Isto aplica-se à unidade de produção
de semente, ao local de produção de substrato, aos recintos de incuba-
ção e às unidades de produção.

Portanto, a inspecção de um local potencialmente apropriado para o


estabelecimento de uma exploração de cogumelos reveste-se de muita
importância. As áreas que circundam uma exploração devem estar
limpas e isentas duma contaminação potencial por insectos, bolores,
etc. Isto implica que se deve evitar a construção de uma exploração
nova na vizinhança de outras explorações de cogumelos, visto que os
insectos e doenças procedentes destas explorações podem facilmente
disseminar-se para a exploração nova.

Se for possível, dever-se-á separar as várias unidades da exploração nova.

O laboratório de semente deve estar separado do local de cultivo. Os


recintos de cultivo devem ser separados entre si por paredes (de plás-
tico) para se manterem separadas as diferentes fases de cultivo. Com
efeito, não se deve realizar uma incubação ou colonização micelial no
mesmo recinto onde se recolhem os cogumelos.

Resíduos, sacos contaminados e substrato residual devem ser removidos i-


mediatamente dos recintos e da exploração e, preferivelmente, ser transpor-
tados para um lugar afastado.

Todas estas medidas são necessárias para prevenir a ocorrência de


pragas, como moscas e outros insectos, e também doenças que se dis-
seminam a partir dos depósitos de lixos. Se o substrato residual for
destinado para uso como terra de jardinagem, deverá ser usado o mais
rapidamente possível.

Explorações agrícolas de cogumelos 17


4 Produção de semente
Ao material de propagação dos cogumelos referimo-nos geralmente
com o termo semente.

Disponibilidade da cultura de semente


A disponibilidade de semente de boa qualidade constitui o factor limi-
tante para o cultivo de cogumelos em muitos países em vias de desen-
volvimento. A importação é geralmente complicada pela burocracia
alfandegária, os custos altos de transporte e a dificuldade de manter a
semente refrigerada durante o transporte. Portanto, pode ser necessário
que o produtor de cogumelos produza a seu próprio material de inocu-
lação (semente).

Se for possível obter semente de boa qualidade da espécie desejada de co-


gumelo, a um preço razoável, é recomendável concentrar-se no processo de
cultivo de cogumelos. Caso assim não seja, a semente deve ser produzida ou
propagada pelo produtor de cogumelos.

O procedimento completo da produção de semente implica a prepara-


ção do meio de cultivo, o enchimento dos tubos de ensaio ou placas de
Pétri, a sua esterilização e o processo de inoculação de recipientes de
maior dimensão com esta cultura.

A produção de semente requer um laboratório limpo e conhecimento especia-


lizado.

No fundo, a produção de semente não é outra coisa que a colocação


de micélio do cogumelo desejado em substratos apropriados, esterili-
zados, sob condições assépticas.

Contudo, na prática, a produção de semente não é tão fácil. As estirpes


apropriadas das espécies de cogumelo requeridas devem ser mantidas
sob condições rigorosas para prevenir a sua degeneração. Se isto não
for possível, dever-se-á utilizar a cultura de tecidos de um cogumelo

18 O cultivo de cogumelos em pequena escala


fresco e saudável para a produção de semente. Para além disso, o re-
cinto da produção de semente deve ser mantido meticulosamente lim-
po para prevenir qualquer contaminação.

Figura 6: Propagação de semente

Produção de semente 19
4.1 A cultura inicial
A cultura inicial (ou cultura-mãe) pode ser preparada utilizando-se um
corpo de frutificação, fresco e saudável, ou pode ser obtida dum pro-
dutor de semente ou dum laboratório. Depois, preparam-se várias cul-
turas de ágar com base na cultura inicial. Estas servem para inocular
recipientes de maior dimensão (p.ex. garrafas) com semente-mãe, que
pode ser usada para inocular o substrato final para semente.

Os requisitos para uma unidade de produção de semente são, no mí-


nimo:
? uma unidade de esterilização (panela de pressão, autoclave)
? ambiente estéril: uma caixa de inoculação ou uma cabina com fluxo
laminar do ar
? equipamento de laboratório, como sejam placas de Pétri, tubos de
ensaio, balança, álcool, chama
? recinto de incubação

O equipamento supramencionado encontra-se normalmente disponível


em hospitais, estações experimentais e universidades.

As matérias-primas incluem:
? ingredientes para a preparação dos meios de cultivo
? material de substrato (grãos de cereal, paus de madeira (espetos),
serradura, ou até fibras dos frutos da palmeira-de-óleo/dendém)
? cultura pura ou cogumelos frescos da estirpe desejada de certa es-
pécie de cogumelo
? recipientes de semente (como sejam garrafas ou sacos de plástico)

Em países onde falta a produção de cogumelos, pode-se obter semente dum


produtor de semente, duma universidade ou duma instituição de investigação,
ao começo do projecto.

Ver a Secção de Endereços Úteis, que inclui também vários endereços de


produtores de semente.

20 O cultivo de cogumelos em pequena escala


4.2 O processo de esterilização
Os grãos de cereal, a serradura e o composto contêm grandes quanti-
dades de contaminantes. Um único grão de cereal pode conter milha-
res de bactérias, fungos e actinomicetos.

Cada um destes agentes não desejados, os chamados contaminantes, é ca-


paz de provocar a deterioração dos substratos que não foram esterilizados
adequadamente ou que foram inoculados sob condições não higiénicas.

Um aquecimento de 15 minutos a 121 °C é geralmente suficiente para


destruir todos os organismos. Tal aquecimento da parte central, interi-
or, dos substratos com uso de vapor leva bastante tempo, dependendo
da maneira que a unidade de esterilização/pasteurização é enchida e
também da capacidade da fonte de aquecimento.

O aquecimento a vapor num tambor de petróleo durante, minimamente, 6 ho-


ras é geralmente necessário para fazer com que a parte central, interior, dos
sacos de substrato seja aquecida adequadamente. Esteriliza-se sacos de 4
litros, enchidos com 2 kg de substrato para semente, durante, no mínimo, 2
horas a 121°C.

Panelas de pressão
A opção mais barata é obter uma ou mais panelas de pressão grandes.
Escolher panelas de pressão que mantenham a pressão mesmo quando
a temperatura final tenha sido atingida.

As panelas de pressão mais simples deixam sair vapor quando a pres-


são se torna demasiado alta. Neste caso, a pressão no interior descerá,
geralmente, para abaixo de 1 atmosfera de sobrepressão, provocando a
ebulição dos meios de cultivo. Tal deve ser evitado. Ao usar este tipo
de panela de pressão, as placas de Pétri ou as garrafas com meios de
ágar podem tornar-se sujas. As panelas de pressão devem dispor de
um suporte no seu interior, que dá origem a uma distribuição mais uni-
forme da temperatura no interior da panela de pressão. A fonte de ca-
lor ou é de origem externa (bicos de gás, carvão, madeira) ou está in-
corporada (eléctrica). A vantagem de panelas de pressão que dispõem

Produção de semente 21
de elementos aquecedores eléctricos, controlados por termóstato, é
que permitem que a temperatura seja ajustada com precisão.

Figura 7: Panela de pressão para uso numa fonte de aquecimento


e uma panela eléctrica de pressão

4.3 Ambientes limpos


Um ambiente limpo é absolutamente essencial para a produção de se-
mente. Particularmente, é necessário que as recipientes com meios de
cultivo esterilizados sejam abertos sob condições assépticas. O ar
transporta numerosos contaminantes, que infectam facilmente os mei-
os de cultivo esterilizados. Portanto, é necessário utilizar armários e
recintos de inoculação especiais para efectuar o manuseamento e a
preparação das culturas (de tecidos).

Recintos de inoculação
O interior dum recinto de inoculação deve ser fabricado de materiais
não biologicamente degradáveis. Todas as superfícies devem ser lisas
e fáceis de limpar. As prateleiras devem ser concebidas de tal maneira
que o chão que se encontra por baixo delas possa ser limpo facilmen-
te. As prateleiras são tipicamente feitas de ferro galvanizado ou fórmi-
ca.

22 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Armários de inoculação
Estes armários simples para
inoculação são muito utilizados
em todo o mundo. Podem ser
construídos de forma barata
com uso de materiais localmen-
te disponíveis. Deve-se poder
abrir o vidro dianteiro de modo
a ser possível encher o armário Figura 8: Armário simples de ino-
com meios de cultivo esterili- culação, de construção caseira,
zados. O interior é desinfectado apresentando um vidro dianteiro,
com uso de uma solução de 10 suportado com dobradiças, e ori-
% de Clorox,ou uma solução de fícios (com mangas de pano) para
2% de Formalin ou 70% de meter as mãos.
álcool etílico.

Usar estas sustâncias químicas com cuidado. Algumas são venenosas e/ou
podem irritar o nariz e os olhos. Para uso seguro, seguir cautelosamente as
instruções.

Armários com fluxo laminar do ar


Um sistema de fluxo laminar do ar (LAF, Laminar Air Flow) é consti-
tuído por um ventilador, uma conduta de ar, um filtro HEPA (High
Efficiency Particle Air /de Alta Eficiência para Partículas do Ar) e uma
cobertura.

Num fluxo laminar do ar, os contaminantes podem disseminar-se ape-


nas numa direcção. Num fluxo turbulento do ar, é possível que os es-
poros se movam em diferentes direcções, provocando um maior grau
de contaminação.

Os produtores classificam os ventiladores conforme o volume do ar


que podem soprar através de materiais com resistência especificada.
Uma velocidade do ar de, aproximadamente, 0,45 m/s é considerada a
melhor para obter, adequadamente, um fluxo laminar do ar. O ventila-
dor deve ser regulado de forma gradual e, para além disso, ter a capa-

Produção de semente 23
cidade de empurrar o dobro do vo-
lume do ar requerido através do filtro
para atingir a velocidade necessária
do ar, de forma a compensar perdas
de pressão provocadas quando o fil-
tro estiver cheio com partículas.

Os filtros e ventiladores formam o


âmago de qualquer sistema com flu-
xo laminar do ar, mas deve-se ter em
consideração também outros facto-
res: as capacidades e higiene dos
operadores do sistema; a construção
de condutas de ar e filtros, para asse- Figura 9: Um armário com
gurar que não é possível que ar con- fluxo laminar do ar prepara-
taminado seja aspirado para dentro. do para o efeito

Em muitos países, não se podem obter os filtros HEPA nem estes ventilado-
res, tendo, portanto, de ser importados.

4.4 Culturas
Os primeiros passos da produção de semente são efectuados em meios
de cultivo artificiais. Estes devem conter suficientes nutrientes, como
sejam sacáridos/glícidos, para os cogumelos se desenvolverem e um
agente solidificador (ágar ou gelatina). O micélio desenvolve-se na
superfície do meio de cultivo e, depois, será usado para inocular maio-
res quantidades de substrato, como serradura ou grãos de cereal. Po-
dem-se utilizar tubos de ensaio ou placas de Pétri (ou garrafas achata-
das de whisky) como recipientes de culturas.

Em vez de trabalhar com culturas, pode-se tentar comprar pequenas quanti-


dades de semente-mãe, de boa qualidade, para a preparação da semente fi-
nal.

24 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Culturas de tecidos
O micélio novo e vigoroso pode ser obtido a partir dum novo corpo de
frutificação, com uso de um bisturi, álcool, amostras em posição incli-
nada (slants) esterilizadas de ágar, placas de Pétri ou garrafas com á-
gar, uma chama (sem fumo) e uma mesa limpa de trabalho ou, preferi-
velmente um armário com fluxo laminar do ar ou uma caixa de inocu-
lação.
? Lavar minuciosamente o cogumelo.
? Mergulhar o bisturi em álcool e, depois, aquecer com chama até se
tornar incandescente.
? Deixar arrefecer durante 10 segundos.
? Romper ou rasgar o cogumelo ao comprido (não cortar com faca,
visto que contaminantes da superfície podem pegar-se à lâmina).
Não tocar com as mãos o interior dos pedaços cortados.
? Usar o bisturi aquecido para remover um pequeno pedaço (2x2 mm2
é suficiente) do tecido inte-
rior. Ter cuidado para não
incluir tecido da superfície
exterior.
? Abrir o tubo de ensaio /placa
de Pétri.
? (Ao usar tubos de ensaio:
aquecer a boca do tubo na
chama para destruir esporos Figura 10: A parte que se utiliza
não desejados). Depois, co- do shiitake (à esquerda) e do
locar suavemente o tecido, pleuroto (à direita)
presente no bisturi, no cen-
tro do ágar.
? Meter imediatamente o tampão de algodão.
? Inocular, no mínimo, três culturas, mas preferivelmente ainda mais.

Incubar os slants de ágar ou as placas de Pétri recém-inoculados a 25


°C durante, aproximadamente, dez dias. Dentro de três a quatro dias, o
micélio terá coberto o tecido e ter-se-á ramificado no ágar.

Produção de semente 25
Figura 11: Preparação de semente

26 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Se não houver nenhum crescimento no ágar, controlar o seguinte:
? Possivelmente o cogumelo é demasiadamente velho. Tentar outra vez com
um mais novo.
? Possivelmente o bisturi não arrefeceu antes de recolher a amostra do teci-
do, de forma que houve um sobreaquecimento do micélio.

O micélio deve ser branco e desenvolver-se a partir do tecido. Se se


formarem micélios de cor amarela, azul, verde ou cinzenta, em outros
pontos da superfície, trata-se de contaminantes fúngicos. Um desen-
volvimento cremoso, brilhante, geralmente indica uma contaminação
bacteriana.

4.5 Preparação dos meios de cultivo


A maioria das espécies desenvolvem-se nos seguintes meios de culti-
vo:

Meio de extracto de Batata-Dextrose-Ágar (BDA)


Ingredientes: 200 g de batata cortada em cubos, 20 g de pó de ágar,
20 g de dextrose ou açúcar branco comum, 1 litro de água.
1 Lavar e pesar as batatas e cortá-las em pequenos pedaços.
2 Cozer durante 15 até 20 minutos até se tornarem moles.
3 Retirar as batatas.
4 Acrescentar água ao caldo até se obter exactamente 1 litro.
5 Acrescentar a dextrose e o ágar. É necessário acrescentar a quanti-
dade apropriada de açúcar e ágar, senão o meio de cultivo tornar-se-
á ou demasiadamente mole ou demasiadamente duro.
6 Mexer, de vez em quando, e aquecer suavemente até o ágar se ter
derretido. O ágar deve estar quente ao verter-se nos tubos de ensaio
ou garrafas, senão ficará encaroçado.
7 Encher, aproximadamente, um quarto dos tubos de ensaio.
8 Depois, fechar os tubos ou as garrafas com tampões de algodão.

Meio de caldo com farelo de arroz


A receita supramencionada de BDA é usada correntemente para a con-
servação duma cultura. No entanto, para a propagação de culturas a

Produção de semente 27
receita seguinte é mais barata e mais fácil de preparar. Usa-se nas Fili-
pinas para pleurotos (Pleurotus) e orelha-de-pau (Auricularia).
Ingredientes: 200 g de farelo de arroz, 1 litro de água, 20 g de gelati-
na. Cozer o farelo de arroz em água durante, aproximadamente, 10
minutos. Filtrar, guardar o caldo, derreter a gelatina, verter em garra-
fas e esterilizar.

4.6 Preparação de amostras em posição


inclinada (slants)
Depois de encher os tubos de ensaio ou as garrafas com o meio de cul-
tivo, devem ser esterilizados antes do seu uso. As unidades de esterili-
zação mais correntemente usadas em laboratórios de pequenas dimen-
sões são as panelas de pressão, mas também é possível utilizar auto-
claves.

Procedimento
? Deitar água numa panela de pressão até atingir o nível do suporte.
? Colocar as garrafas ou os tubos de ensaio nos suportes, cobrindo-os
com uma cobertura de plástico para prevenir que os tampões de al-
godão sejam humedecidos por água.
? Depois, fechar bem o tampão de algodão.
? O orifício da saída de pressão deve estar aberto desde o começo
para permitir que o ar possa sair. Vai durar alguns minutos desde o
momento de ebulição até à saída do vapor.
? Fechar o orifício de ventilação. O medidor de pressão mostra a su-
bida da pressão.
? Esterilizar sob pressão durante 20-30 minutos.

De modo a aumentar a área de superfície, os tubos de ensaio ou as garrafas


são colocadas numa posição inclinada quando o ágar ainda está líquido.
Ter cuidado para que o ágar não toque o tampão de algodão, senão pode ser
contaminado.

Não mover ou manusear os tubos de ensaio até o ágar se ter solidificado, se-
não uma pequena parte do ágar pode solidificar do outro lado do slant ou
demasiadamente perto do tampão de algodão.

28 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Figura 12: Preparação do meio de Batata-Dextrose-Ágar (BDA)
(1,2,3) e preparação de garrafas (4,5,6)

Produção de semente 29
Preparação de subculturas
Inocular mais tubos de ensaio, usando os métodos supramencionados.

Figura 13: Preparação de subculturas (primeira parte)

30 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Figura 14: Preparação de subculturas (segunda parte)

Por motivos de degeneração, recomenda-se não fazer transferências de uma


cultura-mãe mais de oito vezes ou utilizar culturas-mãe em ágar durante mais
de dois anos.

Produção de semente 31
O micélio degenerar-se-á após um certo número de transferências, de
forma que não é possível continuar ilimitadamente as transferências
de culturas em ágar.

Recipientes de semente
Os recipientes de semente devem ser feitos de material resistente ao
calor: geralmente vidro e polipropileno (PP). Os recipientes de semen-
te devem ser testados para ver se podem resistir à temperatura dentro
da unidade de esterilização. Se a pressão for superior a 1 atmosfera de
sobrepressão, a temperatura será superior a 121° C. Às vezes, os sacos
de PP rompem-se facilmente após terem sido sujeitos ao processo de
esterilização. Evitar o uso de sacos com costuras: estas tendem a abrir-
se após o tratamento pelo calor.

Para a semente-mãe usam-se, geralmente, garrafas de vidro ou de


plástico resistente ao calor. Também é possível utilizar frascos com
boca larga, garrafas de leite e garrafas de dextrose. As garrafas de dex-
trose são ideais, visto que estas podem ser obtidas grátis em hospitais
e que têm aberturas fáceis de tapar com algo-
dão. Também podem ser usados para a semen-
te final, mas se o micélio do material inocula-
do se tiver desenvolvido demasiado, formando
um grande torrão, as garrafas terão de ser par-
tidas para tirá-lo. Os sacos de polipropileno
com tampões de algodão (ou filtros), para
permitir o arejamento, são de uso muito co-
mum para a semente final (tanto em serradura
como grãos de cereal). O seu tamanho varia
entre 2,5 e 15 litros no caso de semente em
grãos de cereal. Deve-se fazer com que se rea- Figura 15: Sacos
lize uma troca de gases metabólicos, como fechados com um
seja CO2, com o ar ambiente; contudo, deve- tampão de algodão.
se prevenir que esporos não desejados entrem
no recipiente.

32 O cultivo de cogumelos em pequena escala


4.7 Semente-mãe
A semente-mãe pode ser usada para inocular a semente em grãos de
cereal ou uma segunda geração de semente-mãe. Em laboratórios sim-
ples, não se deve utilizar semente-mãe em grãos de cereal para inocu-
lar outra geração de semente-mãe do mesmo tipo, visto que o risco de
contaminação e degeneração será demasiadamente alto.

Preparação de semente em grãos de cereal


A vantagem principal de grãos de cereal é que são muito nutritivos
para fungos e que formam facilmente grânulos. Os grânulos podem
ser espalhados facilmente no substrato. A maior desvantagem é que
fornece um substrato que também é óptimo para outros organismos.
Portanto, o risco de contaminação é muito maior em comparação com
a semente em serradura.

Tipos de grãos de cereal


Podem-se utilizar diferentes tipos de grãos de cereal, como sejam tri-
go, centeio, milho miúdo/mexoeira, arroz ou sorgo/mapira. Primeiro
cozer os grãos de cereal, escoá-los e depois encher os recipientes e
esterilizá-los.

O teor de humidade dos grãos de cereal, quando cozidos, deve ser de,
aproximadamente, 50%. Se for mais alto, o desenvolvimento micelial
pode ser mais rápido, mas também o risco de bactérias que provocam
a `mancha húmida’ se tornará mais elevado. Se for mais seco que
35%, o desenvolvimento micelial será bastante lento.

Fórmula de semente em grãos de cereal


Os grãos de cereal em pequenos recipientes podem ser humedecidos
até atingirem um nível mais alto do que os grãos de cereal acondicio-
nados em sacos de 15 litros. Para recipientes de 2 litros, usar a seguin-
te receita: 480 g de centeio, sorgo/mapira ou trigo, 400 ml de água, 2
g de gesso (45% de humidade). (Ver o Apêndice 1)

Produção de semente 33
Preparação de semente em serradura
Substrato para semente em serradura: Serradura 10 kg; CaCO3 147,5
g; Farelo de arroz 1,25 g; Gesso 0,1475g; Ureia 0,5 g; Água 1,5 litros.
(Ver o Apêndice 1)

Esterilização
Esterilizar os recipientes de semente numa autoclave. A duração de-
pende da autoclave, da forma na qual os recipientes de semente estão
colocados (juntos ou dispersos) e do tamanho dos recipientes. Por e-
xemplo, duas horas para recipientes de 500 g; três até quatro horas
para sacos de 3 kg.

Sacudir as garrafas ao tirá-las da autoclave ou da panela de pressão.

Inoculação
Quando a temperatura na parte central do recipiente tiver baixado até
atingir um valor inferior à temperatura limite superior para o desen-
volvimento micelial, os recipientes de semente podem ser inoculados.
Usar para cada garrafa, no mínimo, um (no caso de garrafas de 250
ml) ou dois (no caso de garrafas maiores) dos quadrados de 10 x 10
mm² do ágar plenamente coberto com a cultura-mãe.

Incubação
Incubar as garrafas até o micélio se ter desenvolvido de forma a cobrir
todo o substrato. A temperatura deve ser próxima da temperatura óp-
tima para se obter um bom desenvolvimento micelial (consultar o
Quadro 1, no Capítulo 2).

Sacudir uma vez (depois de oito dias) ou duas vezes durante o período de in-
cubação (ou cada três ou quatro dias) para distribuir uniformemente o micélio
e para prevenir que os grânulos se peguem uns aos outros.

Armazenamento
Guardar a semente no refrigerador (com excepção de certas estirpes de
semente de Pleurotus djamor, que são susceptíveis ao frio e, portanto,

34 O cultivo de cogumelos em pequena escala


devem ser armazenadas a temperaturas superiores a 12 °C). Tirá-los
apenas se for necessário.

A temperaturas superiores a 25 °C, a semente em grãos de cereal pode es-


tragar-se dentro de uma noite.

4.8 Preparação da semente final


A escolha dum substrato específico para semente depende das espéci-
es seleccionadas e do método de cultivo. No quadro seguinte apresen-
tam-se os substratos para semente usados com maior frequência.

Quadro 2: Uso de substratos para semente.

Espécie Método de cultivo Substrato final para se-


mente
Shiitake /Lentinula edodes Serradura esterilizada em Grãos de cereal, serradura
sacos
Pleuroto / Pleurotus spp. Substratos pasteurizados ou Grãos de cereal, serradura
esterilizados ou palha
Orelha-de-pau / Auricularia Substrato esterilizado em Serradura
spp. sacos

Semente em serradura ou em grãos de cereal?


A vantagem da semente em serradura é que pode ser guardada a uma
temperatura mais alta, durante mais tempo, antes de se estragar. O ma-
terial do substrato é também mais barato do que o dos grãos de cereal.
A semente veiculada em serradura é feita tal como se explica na des-
crição apresentada no capítulo sobre substratos “esterilizados”, excep-
to que deve ser esterilizada a 121°C sob pressão.

Uma vantagem da semente em grãos de cereal é o seu vigor. Uma


desvantagem é que se estraga rapidamente e que contém muitos nutri-
entes, sendo, portanto, mais susceptível à contaminação. A semente
em grãos de cereal não é apropriada para utilizar fora, ao ar livre, visto
que será consumida por roedores. A semente veiculada em grãos de
cereal provoca uma subida mais rápida da temperatura no substrato
inoculado, do que a semente em serradura. Isto pode ser desejável ou

Produção de semente 35
não. Os grãos de cereal são tratados tal como foi apresentado anteri-
ormente com respeito à semente-mãe. Podem ser inoculados com uso
de semente em grãos de cereal ou paus de madeira.

Figura 16: Preparação de semente em serradura em garrafas de


vidro. A boca da garrafa é limpa para prevenir a germinação de
esporos.

Armazenamento e pureza
A semente de boa qualidade evidencia um desenvolvimento micelial
vigoroso e não contém outros organismos. Se tiver sido armazenado
durante demasiado tempo, tornar-se-á menos vigoroso. Após um ar-
mazenamento prolongado, a semente de pleurotos tornar-se-á muito
compacta. Portanto, será difícil aplicá-lo uniformemente durante a
inoculação.

36 O cultivo de cogumelos em pequena escala


5 Produção de pleuroto em
substratos pasteurizados ou
‘esterilizados’
Substrato
Chama-se substrato o material no qual o micélio dos cogumelos se
desenvolve. Resíduos agrícolas, como sejam lascas de madeira
/serradura, bagaço de cana-de-açúcar e diferentes tipos de palha, po-
dem ser usados como ingredientes principais do substrato para o culti-
vo de pleurotos.

As propriedades dum substrato determinam os cogumelos e micróbios


que podem desenvolver-se no mesmo. Quanto mais selectivo o subs-
trato, tanto mais satisfaz as exigências dum cogumelo específico e tan-
to menos apropriado se torna para outros tipos de cogumelos.

Depois de misturar e acrescentar certos suplementos, o substrato é su-


jeito a um tratamento pelo calor para fornecer ao micélio do cogumelo
desejado um ambiente que contém poucos competidores.

5.1 Preparação do substrato


Para a preparação do substrato é necessário dispor, apenas, de tambo-
res de petróleo e sacos de plástico. Um chão cimentado é a superfície
preferida para a mistura e o humedecimento da serradura (ou da pa-
lha), com uso de uma forquilha para misturar os ingredientes.

Equipamento para a preparação do substrato:


? misturador do substrato (opcional); a mistura dos ingredientes do
substrato também pode ser realizada à mão
? uma fonte de vapor ou um equipamento de aquecimento como seja
um tambor de petróleo

Produção de pleuroto em substratos pasteurizados ou ‘esterilizados’ 37


Para o substrato é necessário dispor de:
? matérias primas, como sejam serradura, farelo de arroz, palha de
trigo, folhas secas de bananeira, capim-elefante (napier) seco, peda-
ços de erva seca etc.
? recipientes (sacos de plástico ou garrafas)
? dependendo do tipo de sacos/garrafas: tampões de algodão adicio-
nais e argolas de plástico e/ou tiras de borracha

Mistura do substrato
O objectivo da mistura é a distribuição dos diferentes ingredientes,
incluindo água, da forma mais uniforme possível. Se se acrescentar
uma pequena quantidade de um componente, como p.ex. giz, reco-
menda-se misturá-lo primeiro com uma pequena quantidade do subs-
trato e, somente depois, acrescentá-lo à grande pilha. Do contrário, é
provável que a sua distribuição não seja uniforme. Para além disso,
podem formar-se caroços, de forma que a concentração muito alta de
nutrientes nestes pontos dará origem a sua contaminação.

A mistura também é muito importante para a distribuição da humida-


de. A quantidade correcta de água deve estar disponível em todas par-
tes do substrato. Depois da mistura, o teor de humidade deve ser de 60
– 65%.

Às vezes, obtém-se uma melhor distribuição misturando os ingredientes do


substrato quando estes estão secos (p.ex. em substratos “esterilizados” que
contêm serradura e suplementos); acrescenta-se água mais tarde.

.
Um lote de 2000 kg, no máximo, pode ser misturado à mão num chão
cimentado, de forma similar à preparação de cimento. Para misturar, à
mão, 2 toneladas de substrato por dia, bastam duas pessoas. Contudo,
tratando-se do enchimento são necessárias mais pessoas.

Esterilizar o substrato o mais rapidamente possível, depois da mistura com os


suplementos. Deve-se evitar o armazenamento dos ingredientes misturados
durante um período de mais de 6 horas de forma a prevenir a fermentação do
substrato.

38 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Substrato de serradura
A serradura (ou outro material de substrato a grosso) deve ser empi-
lhada e humedecida. Mantendo húmida a pilha, a serradura tornar-se-á
mole, de forma a que se facilita a absorção de água. A serradura é, ge-
ralmente, empilhada durante apenas um ou dois dias.

Se apenas houver serradura fresca, como seja serradura de árvores re-


cém-derrubadas, esta deve ser empilhada muito mais prolongadamen-
te: até durante várias semanas.

O substrato de serradura deve estar isento de lascas ou pedaços maio-


res de madeira, visto que estes podem danificar os sacos, fornecendo
acesso fácil aos contaminantes, depois da esterilização. Por outro lado,
vários produtores são de opinião que uma combinação de material fino
e grosso de serradura ou lascas de madeira fornece o melhor material
de base. A serradura muito fina, quando humedecida, tende a obstruir
o fluxo de ar, de forma a que se deve evitar o seu uso.

Substrato de palha
Humedecer os ingredientes do substrato, cortados em pedaços miúdos,
e efectuar o ensaio de espremer para verificar se o substrato está sufi-
cientemente húmido.

Figura 17: Teste de espremer

Produção de pleuroto em substratos pasteurizados ou ‘esterilizados’ 39


Enchimento dos sacos
Encher os pequenos recipientes (geralmente sacos de plástico) com o
substrato antes da esterilização.

Figura 18: Enchimento dos sacos

5.2 Tratamentos pelo calor


O objectivo do tratamento pelo calor é a destruição dos microrganis-
mos competidores e eliminar os nutrientes solúveis. A maioria dos
substratos recebe um tratamento pelo calor antes da inoculação, con-
stituindo uma medida importante para o controlo de pragas e doenças.

Neste Agrodok discutem-se três métodos:


? pasteurização por imersão em água quente
? pasteurização com uso de vapor
? esterilização

40 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Quadro 3: Vantagens e desvantagens de diferentes tratamentos
pelo calor.

Tratamento pelo calor Comentário Equipamento


Substrato fresco pasteuri- Método simples Um fogo de lenha ou ener-
zado por imersão em água gia solar são de uso fácil
quente Praticável para vários tipos
de resíduos agrícolas, como
sejam resíduos de polpa de
café, palha e serradura

O risco de contaminação é
reduzido, visto que os hidra-
tos de carbono facilmente
solúveis são removidos pelo
processo de imersão
Substrato fresco pasteuri- Método adequado para É necessário dispor duma
zado com uso de vapor processar grandes quanti- caldeira de vapor e dum
dades de substrato recinto de pasteurização

Uso de resíduos agrícolas Tambor de petróleo sobre


como sejam palha, carolos um queimador de combustí-
de maçarocas de milho, vel
cascas de sementes de
algodão

O risco de contaminação é
mais alto do que no caso de
substratos imersos ou esteri-
lizados
Substrato fresco “esteriliza- Método adequado para Método simples: tambores
do” sacos com serradura de petróleo sobre queimado-
res de combustível
Método dispendioso: auto-
clave

Imersão em água quente


Este método é uma forma de pasteurização, no qual a água quente des-
truirá os contaminantes. Diferentes tipos de palha podem ser tratados
com uso deste método para o cultivo de diferentes tipos de pleurotos
(Pleurotus spp.). O dito método é muito fácil: requerem-se, apenas,
água quente, recipientes e os meios para fazer com que a água se man-
tenha quente.

Materiais e equipamento necessários:


? material de substrato (ver as fórmulas nos apêndices 1 e 2)

Produção de pleuroto em substratos pasteurizados ou ‘esterilizados’ 41


? recipientes para substrato (p.ex. sacos de plástico ou tabuleiros)
? recipientes para água quente e meios para fazer com que a água se
mantenha quente (combustível, energia solar, vapor, etc.)
? rede de arame para escoamento do substrato

Figura 19: Imersão e escoamento de palha

O substrato é colocado em cilindros de malha de arame em água quen-


te. A água tem que ser mantida a 70 °C durante 15 minutos, no míni-
mo, mas recomenda-se aplicar um período mais seguro, de 30-60 mi-
nutos.

Uma imersão em água a temperaturas inferiores a 70 °C e durante períodos


de menos de 15 minutos é insuficiente para destruir todos os contaminantes.

O tamanho dos recipientes de água depende da escala operativa. Um


recipiente de 240 litros pode conter, aproximadamente, 90 kg de subs-
trato de palha molhada. O mesmo recipiente pode ser usado 2-3 vezes
por dia, visto que o tempo real de imersão é, apenas, de 30 minutos a
uma hora.

42 O cultivo de cogumelos em pequena escala


O mesmo lote de água deve ser usado, no máximo, para dois ou três lotes de
substrato.

Escoamento e arrefecimento
Escoar o substrato tratado pelo calor e arrefecê-lo num filme de plásti-
co, limpo, numa mesa ou no chão dentro da quinta. Depois, efectuar a
inoculação, como se apresenta na Secção 5.3 (Inoculação do substrato
pasteurizado).

Pasteurização a grosso com uso de vapor


Com este método destroem-se os organismos não desejados, mas man-
têm-se vivos os favoráveis. Para conseguir isto, deve-se manter uma
temperatura de 60 ºC até 70 ºC durante 8 horas, no mínimo; após o
dito tratamento, a maior parte das pragas e doenças (contaminantes)
terá sido eliminada.

Materiais e equipamento necessários:


? material de substrato (ver as fórmulas 4-6 no apêndice 2)
? recipientes para substrato (p.ex. sacos de plástico)
? tambor de petróleo e queimador

Coloca-se, no tambor de petróleo, um suporte que dispõe de uma rede


de arame fina de forma a prevenir que a palha caia através dele. En-
cher com água abaixo do suporte até se atingir uma altura de 20 cm.
Depois, acrescentar a palha humedecida no topo. Tratar a palha com
vapor durante 8 horas, no mínimo. Certifique-se de que a palha terá
arrefecido até 30 ºC, antes de se efectuar a inoculação.

O vapor deve poder sair através de pequenos orifícios para prevenir a explo-
são do tambor.

Esterilização
A esterilização também é usada para destruir organismos indesejáveis,
mas com este método a temperatura é muito mais alta e obtém-se uma
sobrepressão no recipiente ou no tambor de petróleo.

Produção de pleuroto em substratos pasteurizados ou ‘esterilizados’ 43


Se se usar equipamento simples, a temperatura atingirá um valor má-
ximo de 90°C, de forma a que a pressão no recipiente não possa atin-
gir valores muito altos. Contudo, obtiveram-se bons resultados no que
diz respeito à esterilização do substrato por meio dum aquecimento
prolongado, à dita temperatura.

Para evitar uma explosão, certifique-se que os tambores ou recipientes her-


meticamente fechados dispõem de uma válvula de segurança/sobrepressão
na tampa.

Materiais e equipamento necessários:


? material de substrato (ver as fórmulas 1-3 no Apêndice 2)
? recipientes para substrato (p.ex. sacos de plástico)
? tambor de petróleo (reforçado), ou recipiente metálico. Certifique-
se de que os materiais usados são apropriados para resistir a tempe-
ratura aplicada

A altitudes mais elevadas, a temperatura de ebulição da água é inferior a


100°C. Nesse caso, também se deve prolongar o período de aquecimento.

5.3 Inoculação do substrato pasteurizado


O substrato pasteurizado (quer por vapor, quer por imersão em água
quente) deve ter arrefecido até 30 °C. A semente (3% até 8% do peso
do substrato) pode ser misturada com o substrato ao encher os sacos
ou pode-se alternar uma camada de substrato com uma de semente no
topo, e assim para adiante. Ver a Figura 27.

Pode-se utilizar diferentes tipos de sacos para conter o substrato. Ao


enchê-los, nunca ultrapassar um peso de 20 kg por saco, visto que nes-
se caso uma fermentação espontânea faria com que a temperatura no
interior dos sacos subisse acima de 30 °C. Este valor é a temperatura
limite superior para o desenvolvimento micelial da maioria das espé-
cies Pleurotus. De modo a que suficiente oxigénio possa atingir o
substrato, fazem-se buracos nos sacos.

44 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Um tipo de saco utilizado na China é feito de plástico cilíndrico, de 20 cm de
diâmetro, enchido até a uma altura de 50 cm, com um tubo perfurado, colo-
cado no meio/centro, bem até ao fundo do saco. A boca do saco é atada à
volta do tubo, de forma a que o arejamento se efectue através do tubo. O tu-
bo de arejamento também permite que se dissipe calor, mesmo se este se
formar no centro do substrato. Colonização micelial: ao micélio custa 20 dias
a 25 °C para colonizar o substrato. Se for possível criar um ambiente muito
húmido, p.ex. numa arrecadação/barracão, o plástico e o canal de arejamento
podem ser removidos completamente. Caso não seja assim, o plástico pode
continuar envolvido em redor do substrato, de forma que se deve fazer cortes
no plástico para permitir aos cogumelos se desenvolverem para fora.

5.4 Inoculação de sacos esterilizados


O substrato deve ser inoculado logo que tenha arrefecido até a valores
abaixo de 30 °C. Usam-se quantidades relativamente grandes de se-
mente: entre 7 a 10%. Contudo, se se obtiverem os mesmos resultados
com uso de percentagens mais reduzidas, não é preciso continuar a
aplicar as ditas percentagens.

Figura 20: Passos do procedimento de inoculação

Produção de pleuroto em substratos pasteurizados ou ‘esterilizados’ 45


A inoculação realiza-se levantando os tampões de algodão dos sacos
que contêm o substrato (quer dizer, abrindo os sacos) e metendo nestes
uma pequena quantidade de semente. Como neste momento há uma
maior probabilidade de se efectuar uma contaminação, os sacos devem
ser mantidos abertos o mais curto tempo possível!

Durante o processo de inoculação, devem-se tomar as seguintes medi-


das para controlar a contaminação do substrato:
? Vestir roupa limpa.
? Colocar os sacos quentes num recinto especial com lâmpadas UV.
Deixar que arrefeçam sem ventilação, ou ventilar com ar filtrado.
? Efectuar a inoculação no dia seguinte (não esquecer apagar a lâm-
pada UV).
? Manter, tanto o substrato como os recipientes de semente, numa
posição horizontal para prevenir que esporos caiam no seu interior.
? Utilizar uma chama, perto das bocas das garrafas com semente e
dos sacos de plástico, para manter o ambiente mais ou menos esté-
ril.
? A inoculação deve ter lugar de noite, quando há menos contamina-
ção no ar.
? Limpar com uso de produtos químicos: formalina ou álcool.

Ter cuidado para não ter contacto com estas substâncias químicas. O uso de
produtos químicos pode afectar o meio ambiente e a saúde; portanto, antes
do seu uso deve-se considerar medidas apropriadas para proteger a saúde.

Fazendo uma fumigação/nebulização com H2O2 obtém-se um recinto


limpo para inoculação e, para além disso, constitui um tratamento sem
consequências nocivas para o meio ambiente, visto os seus produtos
finais serem oxigénio e água.

Uso de tambores de petróleo


Pode-se utilizar um simples tambor de petróleo da seguinte forma:
? Colocar uma armação de madeira no fundo do tambor de petróleo a
uma altura de, aproximadamente, 20 cm.

46 O cultivo de cogumelos em pequena escala


? Encher o tambor com água até se atingir
a altura da armação (20 cm).
? Colocar os sacos com o substrato na
armação dentro do tambor de petróleo.
? Pôr a tampa no tambor e tratar com va-
por durante quatro a seis horas aquecen-
do o tambor com lenha ou gás.

Certificar-se de que o vapor pode sair atra-


vés de alguns buracos pequenos. Desta
maneira, podem-se tratar com vapor lotes
de, aproximadamente, 75 sacos de cada
vez. Acrescentar suficiente água e supervi-
sar o processo de aquecimento de forma a
não se evaporar toda a água.
Figura 21: Unidade
Unidade para tratamento com vapor simples para esteriliza-
Também se podem utilizar construções ção, feita com uso de
relativamente simples, com forma de ten- um velho tambor de
da, para semi-esterilizar os sacos. O trata- petróleo.
mento do substrato com um aquecimento
prolongado a 96-98 °C, aproximadamente, fará com que a sua esterili-
zação seja suficiente. Obviamente que os materiais usados devem ser
resistentes às temperaturas aplicadas. Com uso de painéis de isola-
mento pode-se poupar nos custos de energia. Após o tratamento pelo
calor o substrato deve ser estéril.

Autoclaves
As autoclaves são recipientes com paredes duplas de aço, capazes de
resistir à sobrepressão de 1 atmosfera. No caso das autoclaves grandes
é necessário fazer um grande investimento e, portanto, estas não são
tratadas mais detalhadamente neste Agrodok.

Produção de pleuroto em substratos pasteurizados ou ‘esterilizados’ 47


5.5 Colonização micelial
Durante a fase da colonização micelial, o micélio desenvolve-se atra-
vés do substrato. O período da colonização micelial é diferente para
cada espécie e depende do tamanho do saco, da quantidade de semen-
te, da estirpe usada e da temperatura.

Quando inoculados, dever-se-ão colocar os sacos em prateleiras dentro


dos recintos de incubação. Dependendo da estirpe e da temperatura, o
micélio colonizará o substrato dentro de duas ou três semanas e, logo,
começará a formar pequenos corpos de frutificação.

Como consequência, dever-se-ão mudar as condições no recinto de produ-


ção ou dever-se-ão deslocar os sacos do recinto de incubação para o recinto
de produção.

Em seguida, remover os tampões de algodão e (parte de) o plástico e


manter uma humidade alta: entre 90 a 95%.

Contudo, se a humidade relativa for bastante baixa, não se deve cortar


e remover muito plástico, de forma a que o substrato não seque.

Quando os cogumelos minúsculos (as chamadas `cabeças de alfine-


tes’) tiverem atingido um tamanho de 1 cm, deve-se diminuir ligeira-
mente a humidade, quer dizer até 85%, ventilando ar fresco através do
recinto.

5.6 Frutificação/produção
Aplicam-se várias técnicas para encher a sala de cogumelos e preparar
os sacos para a frutificação. Uma prática comum é construir armações,
de bambu ou de madeira, e empilhar nelas os sacos para formar uma
parede de sacos de plástico.

48 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Abertura dos sacos
Deve-se abrir os sacos logo que o micélio
tenha coberto completamente o substrato.
Remover os tampões de algodão e cortar
(parcialmente) o plástico da parte de cima do
saco. Ter cuidado para não cortar demasia-
damente profundo, senão danificar-se-á o
micélio.

Figura 22: Frutifica-


ção do pleuroto.

Se se quiser obter cogumelos


pequenos, dever-se-á expor
uma superfície maior ao ar a-
berto. Observação: isto fará
com que o substrato seque
mais rapidamente.

Dura de três a quatro dias, após


a abertura dos sacos, para os
botões/cogumelos primordiais
se formarem. Figura 23: Diferentes maneiras
para cortar o plástico dos sacos
Pendurar os sacos com substrato inoculado, após o
Outro método é cortar cada micélio se ter desenvolvido com-
saco e pendurá-lo do tecto. pletamente através do substrato.

Temperatura
A temperatura ambiente deve corresponder bem à estirpe do cogumelo
escolhida. Se a temperatura na sala de cogumelos for demasiadamente
alta para a estirpe escolhida, será necessário que a sala seja fumigada

Produção de pleuroto em substratos pasteurizados ou ‘esterilizados’ 49


frequentemente. Abrir portas e janelas, de noite, também ajuda a man-
ter uma temperatura baixa.

Arejamento/ventilação
A sala de cogumelos deve dispor de orifícios de ventilação que tam-
bém podem fornecer luz.

Luz
Os pleurotos são muito susceptíveis a uma insuficiência de arejamento
e luz. A luz necessária (cor e intensidade) depende das estirpes usadas.
Alguns produtores seguem a regra prática que se deve ter suficiente
luz para poder ler um jornal em qualquer ponto do recinto de produ-
ção.

Quando os pequenos cogumelos surgirem, a sua forma revelará se re-


cebem, ou não, luz e arejamento suficientes.

Se os caules forem compridos e os chapéus pequenos, é sinal de não


se terem cumprido as necessidades de arejamento e luz. Na ausência
completa de luz, os pleurotos não formarão chapéus, mas formam a-
penas pés (caules de cogumelo) desenvolvendo-se numa estrutura si-
milar ao coral.

Humidade
É muito importante, para todos os tipos de cogumelo, que se mantenha
um controlo adequado da humidade durante a produção. Deve-se man-
ter uma humidade alta (80 - 90%) pulverizando água várias vezes por
dia.

Contudo, não se deve pulverizar água directamente nos cogumelos prontos


para serem colhidos. Se ficarem demasiadamente molhados, o seu período
de armazenamento (prazo de validade) reduzir-se-á de forma drástica.

50 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Figura 24: Manter uma alta humidade durante a produção é impor-
tante para todos os cogumelos.

5.7 Colheita
Os cogumelos estão prontos para serem colhidos dentro de cinco dias
(se a temperatura for de 15 até 20 °C) ou após dois até três dias (a
temperaturas mais altas). O segundo fluxo aparecerá após um segundo
período de cinco a nove dias.

Existe tanta variabilidade entre as estirpes e os substratos usados que


se torna difícil dar uma indicação dos períodos de frutificação. Tipi-
camente, dura uma semana, aproximadamente, antes que se formem
novos primórdios, mas isto depende muito das condições climáticas
locais e do controlo climatológico nos recintos de produção.

A colheita efectua-se puxando ou retorcendo, suavemente, os cogume-


los do substrato. Não se deve retirar quase nenhum substrato.

Produção de pleuroto em substratos pasteurizados ou ‘esterilizados’ 51


Esfregar em vez de raspar
Nas Filipinas, alguns produtores raspam um bocado do substrato de forma a
livrá-lo de primórdios miúdos, não desenvolvidos. Estes infectam-se facilmen-
te e, portanto, devem ser removidos, mas a raspagem do substrato também
dará origem a um atraso da formação de novos primórdios. A esfrega da su-
perfície dos sacos de serradura é um método mais adequado para remover
os corpos de frutificação pequenos e já mortos, que não danifica o micélio.

A colheita pode continuar enquanto o micélio se mantenha firme e de


cor branca. Em total, podem-se colher três ou quatro fluxos. Quando o
substrato se tornar mole e perder a cor, está na altura de removê-lo da
sala.

Não deitar o substrato residual perto das salas de cogumelos!


Todos os resíduos devem ser removidos imediatamente das áreas de traba-
lho, visto que pragas e doenças presentes no substrato usado podem difun-
dir-se muito facilmente para o substrato fresco.

A produção de cogumelos varia em função dos factores biológicos,


condições ambientais e pragas e doenças presentes durante o cultivo.
O rendimento duma produção comercial é de, aproximadamente, 20%
do peso do substrato húmido de pleurotos frescos.

Manuseamento dos produtos


Para evitar uma deterioração rápida, os cogumelos frescos devem ser
comercializados imediatamente após a sua colheita. Se isto não for
possível, devem-se secar os cogumelos numa unidade simples de se-
cagem, para serem comercializados mais tarde. Ver o Capítulo 8, Tra-
tamentos pós-colheita.

5.8 Descrição dum caso: Ahmedabad, Índia


A organização Aryan AgroTech gere um laboratório de semente e uma
exploração para a produção de cogumelos. Para além destas activida-
des, a Aryan AgroTech organiza projectos sobre o cultivo de pleuro-
tos, para grupos minoritários, sendo estes projectos financiados parci-
almente por parte do governo de Gujarat.

52 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Os projectos são escolhidos, na maior parte, em regiões étnicas e estes
grupos assistem a sessões informativas e de formação. Após se termi-
nar a formação, entregam-se às pessoas seleccionadas os materiais de
construção para fazer uma unidade de
produção e também os materiais bási-
cos para o cultivo.

Sala de produção
A sala de produção é constituída por
um esqueleto de bambu com uma altu-
ra de, aproximadamente 2,5 metros e
uma superfície de 50 m². Sobre este
esqueleto coloca-se uma rede de plás-
tico, que é coberta com juta. Dentro
das salas de produção, há conjuntos de
4 plataformas triangulares, umas aci-
ma das outras, de paus de bambu pen-
durados dos postes de bambu do tecto.

Controlo de temperatura
O controlo de temperatura é feito, em
parte, pelo humedecimento da cober-
tura de juta. A evaporação assim pro-
vocada dá origem a uma redução da
temperatura nas salas de produção. A
temperatura pode ser reduzida vários Figura 25: Construções
graus, dependendo da temperatura triangulares penduradas
exterior e do fluxo de ar que circula
através da rede.

Contudo, no período de chuvas, a temperatura exterior é, aproxima-


damente, de 40 °C. Durante este período, o cultivo é interrompido,
visto que a temperatura interior não pode ser reduzida de modo sufici-
ente para que o crescimento prossiga.

Produção de pleuroto em substratos pasteurizados ou ‘esterilizados’ 53


Do ponto de vista da higiene na exploração agrícola, esta interrupção sazonal
do cultivo de cogumelos é uma boa forma para prevenir surtos de pragas e
doenças.

Figura 26: Borrifação do tecto, coberto com juta

Preparação do substrato
O substrato é feito de palha de trigo que já foi cortada em pedaços cur-
tos durante a debulha. Esta palha de trigo é submergida num tambor
com água quente (70 °C) e deixada no tambor durante 2 horas, man-
tendo-se a temperatura da água a 70 °C, com uso de um fogo de lenha
ou um queimador.

Depois, a palha é tirada e posta numa grade ou pedaço de plástico para


se escoar a água em excesso (ver a Figura 21).

54 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Inoculação do substrato
Uma vez terminados o tratamento pelo calor e o escoamento, o teor de
humidade do substrato de palha será, aproximadamente, de 60%. Em
seguida, o substrato é posto em camadas em sacos de plástico, colo-
cando-se semente em cada camada. A dosagem de semente equivale,
aproximadamente, a 10 % do peso do
substrato (ver a Figura 27).

A semente em grãos de cereal é pro-


duzida no laboratório de semente si-
tuado em Ahmedabad.

Quando enchidos e inoculados, os


sacos de 3,5 kg são postos em recin-
tos separados para incubação. O pro-
cesso de incubação dura 3 semanas,
preferivelmente a uma temperatura de
25 °C.
Figura 27: Inoculação em
Quando os micélios que estão nos camadas.
sacos estiverem plenamente desen-
volvidos, fazem-se buracos ou cortes
nos sacos de forma a proporcionar arejamento para os corpos de fruti-
ficação que se irão desenvolver (ver a Figura 25).

Colheita
Quando os corpos de frutificação se tiverem desenvolvido até forma-
rem `cachos’ de cogumelos, estarão prontos para serem colhidos. A
recolha dos cachos de cogumelos pode ser feita durante um período de
3 semanas, no mínimo. Os caules são cortados, visto que caules e co-
gumelos se comercializam separadamente. Uma parte dos cogumelos
é vendida de forma fresca nos mercados locais. O resto é seco e ven-
dido, a um preço fixo, à Aryan AgroTech.

Produção de pleuroto em substratos pasteurizados ou ‘esterilizados’ 55


5.9 Descrição dum caso: Bogor, Indonésia
O Grupo de Mulheres Agricultoras ‘Hanjuang’, em Bogor, Indonésia,
foi criado alguns anos atrás, de forma a estimular donas de casa para
iniciarem actividades agrícolas no seu tempo livre. As receitas forne-
cem uma renda adicional para a família, que é usada, principalmente,
para pagamento das matrículas escolares e despesas médicas. Inicia-
ram-se várias actividades, como sejam o estabelecimento de viveiros
para plântulas de plantas ornamentais e de árvores fruteiras, e também
para a indústria caseira.

Uma das actividades do Grupo de Mulheres Agricultoras “Hanjuang”,


em Bogor, é o cultivo de pleurotos, principalmente Pleurotus ostreatus
var. florida. A semente é produzida em substrato de serradura, na base
de culturas de tecidos, no seu próprio laboratório.

Construção da sala de produção


As salas de produção têm uma superfície de, aproximadamente, 35 m²
e uma altura de, aproximadamente, 3 metros. Estas são construídas
com uso de paus, de madeira ou de bambu, e esteiras de folhas de
bambu. O tecto é, geralmente, reforçado com plástico. Também as pra-
teleiras nas salas (com 5 níveis) são construídas de bambu.

Preparação do substrato
Como substrato usa-se serradura.
Fórmula: 10 kg de serradura, 1,5 kg de farelo de arroz, 200 gramas de
giz, 30 gramas de gesso e 15 litros de água.

Quando bem misturado, o dito substrato é metido em sacos de PP (po-


lipropileno), com 2 litros de volume, que são prensados para se forma-
rem os chamados ‘toros em saco’ (bag logs) que pesam, aproximada-
mente, 1,2 kg. Fecha-se a abertura com um aro de PVC e um tampão
de algodão. Depois, estes `toros em saco’ são esterilizados durante 8
horas em tambores fechados.

56 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Inoculação de `toros em saco’
Quando arrefecidos, os `toros em saco’ são inoculados. Coloca-se a
semente através da abertura superior, que é fechada com o tampão de
algodão. Depois, o algodão é coberto com papel.

A semente é produzida em substrato de serradura, na base de culturas


de tecidos, no seu próprio laboratório.

Incubação
Quando inoculados, os `toros em saco’ são colocados num recinto de
incubação. O recinto de incubação encontra-se bem revestido com
filmes de plástico no tecto e nas paredes para manter uma temperatura
constante de 30 °C. Os `toros em saco’ são guardados no recinto de
incubação durante, aproximadamente, 3 semanas.

Frutificação
Quando os `toros em saco’ contiverem micélios plenamente desenvol-
vidos, são colocados em prateleiras de bambu na sala de produção. As
coberturas de papel e os tampões de algodão são retirados dos sacos
de forma a proporcionar arejamento e estimular a frutificação e a pro-
dução.

Temperatura
De dia, a temperatura no recinto de incubação atinge, aproximada-
mente, 26 °C com uma humidade relativa de 90%.

Colheita e comercialização
Quando maduros, os cachos de cogumelos são colhidos, aparados li-
geiramente e vendidos nos mercados locais e/ou, de vez em quando, a
supermercados.

5.10 A técnica Juncao torna erva em cogumelos


Em 1983, o Professor LIN Zhanxi da Universidade Agrónoma de Fu-
jian reconheceu a diminuição rápida das florestas chinesas, ocasionada
pela alta procura de toros de madeira para cultivar shiitake e outros

Produção de pleuroto em substratos pasteurizados ou ‘esterilizados’ 57


cogumelos exóticos. Começou a trabalhar com gramíneas silvestres,
bagaço de cana-de-açúcar, palha de arroz e de milho como materiais
básicos para o substrato de cogumelos. Em 1987, ele decidiu denomi-
nar esta técnica JUNCAO: Jun referindo a fungos, e Cao sendo a pa-
lavra chinesa para erva/gramíneas. Actualmente, 23 anos mais tarde, a
técnica deu origem a um sistema amplo para o cultivo de mais de 40
tipos de cogumelos, com uso de umas 33 espécies de plantas legumi-
nosas como material básico do substrato. Quando recolhidas, as gra-
míneas são secas, moídas e armazenadas até ao momento do seu uso.
Para cada tipo de cogumelo desenvolveram-se receitas particulares
para o substrato. Por exemplo, desenvolveu-se um processo patentea-
do para o uso de proteínas de bactérias fermentativas em vez do farelo
de trigo, correntemente usado. Também os tratamentos pelo calor e os
recipientes para o substrato variam segundo as espécies. Este conjunto
sistemático de técnicas foi divulgado para, pelo menos, 50 países e
ajudou a aliviar a pobreza, com uso sustentável de recursos facilmente
disponíveis.

Quadro 4: Nomes comuns e científicos de ervas e leguminosas

Nome comum Nome científico


alfalfa, luzerna Medicago sativa
bananeira Musa nana
luzerna brasileira, alfalfa do Brasil Stylosanthes
cana (palustre) Phragmites communis
capim-elefante, capim-napier Pennisetum purpureum
capim-moha, painço português Setaria italica
cana (gigante) Arundo donax
amendoim Arachis hypogaea
espécie de junco (reed grass) Arundinella nepalensis
capim-setária Setaria sphacelata
capim do Sudão, pasto do Sudão Sorghum arundinaceum var. sudanensis
espécie de capim Pennisetum alopecuroides
alface-d’água, repolho-d’água Pistia stratiotes
espécie de feto silvestre Dicranopteris ampla
sorgo silvestre, mapira silvestre Sorghum proquinuum

58 O cultivo de cogumelos em pequena escala


6 Produção de shiitake em sacos
de plástico
O cultivo de shiitake em sacos de plástico, esterilizados, está a ganhar,
rapidamente, popularidade. Em comparação com o cultivo em toros de
madeira, os cogumelos em sacos podem ser colhidos mais cedo e for-
necem um rendimento mais alto. Contudo, o enchimento e a esterili-
zação dos sacos é um trabalho intensivo e que custa energia. As vanta-
gens principais do cultivo de shiitake em sacos são as seguintes:
? Podem-se utilizar muitos tipos de resíduos orgânicos.
? O período total de produção é de 6 meses, enquanto que no cultivo
em toros de madeira é de 4 a 6 anos.

Se o substrato tiver sido comprimido e se tiver usado apenas uma pe-


quena quantidade de semente, o período de incubação é de três a qua-
tro meses.

6.1 Preparação do substrato


As formulações do substrato que se usam de forma mais comum são:
? Serradura, 3 a 4% farelo de arroz, 1% de farinha de milho ou farelo
de trigo, 1% de CaCO3
? Serradura, 10 a 25% de resíduos de milho, 1 a 2% de CaCO3

A serradura fresca, procedente de espécies de árvores dos géneros


Quercus, Betula, Castanopsis, Castanea e Carpinus, pode ser usada
sem fermentação prévia. Também se pode utilizar serradura proceden-
te de outras espécies arbóreas, mas se a serradura contiver resinas, de-
verá fermentar durante vários meses (faz-se uma pilha húmida durante
1 semana, revolve-se após uma semana e, depois, uma vez no mês,
durante 6 meses). Quando a serradura estiver suficientemente húmida,
deve ser misturada com os suplementos e a giz.

Primeiro, misturar a giz com o farelo de arroz, visto que assim será mais fácil
obter uma distribuição uniforme.

Produção de shiitake em sacos de plástico 59


No momento da preparação, o teor de humidade situa-se, geralmente,
entre 55-65% do substrato (aplicar o teste de espremer; ver a Figura
17) e aumenta durante a incubação; compare com exactidão os dados
apropriados (p.ex. deve-se medir sempre antes da esterilização).

Alguns relatórios indicam que uma alta capacidade de retenção de á-


gua do substrato, combinada com um arejamento adequado, dará ori-
gem a melhores resultados. Foi constatado que se produziram rendi-
mentos substancialmente mais altos quando se misturaram folhas (de
chá) com o substrato supramencionado, descrito com respeito do cul-
tivo de pleurotos.

Se o substrato estiver demasiadamente húmido, o fluxo de ar será obstruído,


de forma a que nem sequer um período prolongado de colonização micelial
fará com que se produza um substrato de alta qualidade. Se se acumular á-
gua nos fundos dos sacos, com certeza que o substrato está demasiadamen-
te húmido.

6.2 Enchimento e tratamento pelo calor


Controlar os procedimentos gerais para o enchimento. Em Taiuan, o
tratamento com vapor a uma temperatura de 96 - 98 °C deu melhores
resultados do que uma esterilização sob pressão a 121 °C, mas podem-
se usar ambos os métodos. O tratamento com vapor sob pressão baixa
é apropriado se se contar com mais fluxos. Mantendo um espaço am-
plo entre os caixotes e os sacos, proporcionará suficiente circulação de
vapor.

6.3 Inoculação
Os sacos são deixados para arrefecerem e são inoculados no dia se-
guinte. Uma quantidade de 10 g de semente em serradura é suficiente
para a inoculação de um saco de 1,2 kg, de forma a que uma garrafa
de 550 ml é suficiente para inocular, aproximadamente, 50 sacos. De-
ve-se controlar, cuidadosamente, a estirpe para o cultivo em serradura.

60 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Ocorreram algumas perdas graves de produção, devido a produtores
de semente venderem novas estirpes com uma produtividade alta em
toros de madeira, mas que dão rendimentos muito baixos em serradu-
ra.

Enquanto algumas estirpes têm um melhor desempenho num substrato de


carolos das maçarocas de milho, outras produzem melhor num substrato de
serradura.

Durante a inoculação, tome-se as precauções habituais; se se constatar


níveis de contaminação extremamente alta, dever-se-á aplicar as me-
didas com relação à preparação de semente. A contaminação nos sacos
não pode ultrapassar os 5% dos mesmos.

6.4 Colonização e desenvolvimento micelial


Leva entre um a quatro meses para o micélio colonizar o substrato e
amadurecer, dependendo do tipo e da quantidade de semente (faz-se
referência aos estudos de casos).

Para a frutificação é necessário que se forneça alguma luz, no mínimo


durante a fase final da colonização micelial. Produtores que têm recin-
tos de colonização micelial que estão completamente escuros deverão
iluminar os recintos com uso dum ciclo de dia/luz ao final da coloni-
zação micelial. Podem-se evitar problemas se se contar sempre com
alguma luz durante todas as fases de crescimento.

Todas as estirpes mostram um desenvolvimento micelial óptimo a


25°C. A temperatura no interior dos sacos é geralmente superior em
alguns graus (podendo mesmo ter 10 graus a mais) à temperatura am-
biente. Se se colocarem muitos sacos no mesmo recinto, pode ser ne-
cessário proceder a um arrefecimento considerável.

Fases de desenvolvimento
Podem-se distinguir cinco fases diferentes de desenvolvimento mice-
lial para todas as estirpes de shiitake. A primeira fase é a colonização

Produção de shiitake em sacos de plástico 61


micelial normal que tem lugar em todos os fungos. Quando o substrato
se tornou branco, ainda não está pronto para a frutificação, visto que
primeiro tem que amadurecer.

As cinco fases supramencionadas são as seguintes:


1 Colonização micelial: a semente dá origem a hifas brancas, que
produzem enzimas para decompor substâncias complexas, como se-
jam celulose, lignina e hemicelulose, em componentes mais peque-
nos. Estes fragmentos serão consumidos durante as fases posteriores
do desenvolvimento micelial. Quando o substrato completo está co-
lonizado, inicia-se a fase seguinte.

2 Formação de revestimento micelial: desenvolve-se uma camada


micelial branca, grossa, na superfície do substrato. Isto tem lugar de
duas a quatro semanas após a inoculação. Se o nível de CO2 for al-
to, a camada será mais grossa.

3 Formação de inchaços miceliais: na superfície da maioria das es-


tirpes formam-se, geralmente, inchaços ou conjuntos de micélio.
Durante uma fase posterior, estes inchaços podem tornar-se em
primórdios, mas a maioria deles caiem. A formação de inchaços é
estimulada por temperaturas variáveis e um nível alto de CO2. Se se
formarem muitos inchaços, reduza o nível de CO2 fazendo cortes no
plástico. Os inchaços podem tornar-se problemáticos durante uma
fase posterior do cultivo, visto que podem ser facilmente contami-
nados por bolores verdes.

4 Fase de pigmentação: quando se tiverem formado os inchaços,


dever-se-á proporcionar algum arejamento. O micélio tornar-se-á
castanho-avermelhado. Contudo, se se retirarem todos os tampões
de algodão, o substrato pode secar demasiadamente.

5 Fase de endurecimento do revestimento: Remover o plástico


quando os sacos apresentarem, parcialmente, uma cor castanha (en-
tre um terço à metade). O lado exterior do substrato (revestimento)
endurece gradualmente, enquanto o interior deve ficar mais mole e

62 O cultivo de cogumelos em pequena escala


mais húmido. O teor de humidade do interior do substrato (parte
central) pode atingir valores altos, como seja 80%. Se o lado exteri-
or estiver relativamente húmido, os contaminantes terão um acesso
fácil ao substrato. A casca dura, castanha, actua como a casca pre-
sente na produção em toros de madeira: fornece protecção contra
contaminantes e mantém a humidade no substrato. É importante a-
justar as condições atmosféricas para se obter um revestimento mi-
celial da espessura apropriada.

6.5 Frutificação
Os mesmos factores que estimulam a frutificação no cultivo de shii-
take em toros de madeira são usados para manipular os fluxos no cul-
tivo em sacos de plástico.
Estes são os seguintes:
? Flutuação de temperatura
? Humidade alta
? Demolha
? Remoção de CO2
? Choques físicos

Se o plástico for removido demasiadamente cedo ou tarde, isto afecta-


rá a produção. A ocorrência de corpos de frutificação deformados, du-
rante o primeiro fluxo, é sinal duma colonização micelial demasiada-
mente curta ou dum nível de CO2 demasiadamente alto, durante a in-
cubação. As estirpes diferem quanto à taxa do seu desenvolvimento
micelial. Enquanto um período de 60 dias é suficiente para uma certa
estirpe amadurecer, uma outra estirpe produziria muitos cogumelos
deformados com o mesmo período de amadurecimento.

Se as temperaturas forem bastante baixas e se se tiver usado uma es-


tirpe apropriada, poder-se-ão produzir cogumelos donko de alta quali-
dade. Se também a humidade for relativamente baixa (60 até 70%),
podem aparecer rachas nos chapéus da qualidade mais cara do Extre-
mo Oriente, o chamado “cogumelo do inverno floriforme” (hua dong
gu) em chinês.

Produção de shiitake em sacos de plástico 63


Quadro 5: Um planeamento típico para o cultivo de shiitake em
substratos esterilizados (de B. Chalmers)

Fase/ activida- Dias Temperatura Intensidade da Humidade rela-


de (°C) luz (Lux) tiva
Incubação 30-120 20-30 Zero 65-70%
1
Indução dos 2-4 10-20 500-1000 85-95%
corpos de frutifi-
cação
1
Colheita 7-14 12-18 500-1000 60-80%
2
Recuperação 7-21 20-30 Zero 65-70%

Indução dos 2-4 10-20 500-1000 85-95%


corpos de frutifi-
cação para o
3
segundo fluxo
1 A amplitude de temperatura para a frutificação depende da estirpe.
2 A aplicação dum período seco pós-colheita previne a deterioração do substrato, pela
acção de contaminantes, nas cicatrizes onde os cogumelos foram colhidos.
3 Os toros artificiais podem ser banhados em água fria para restabelecer um alto teor de
humidade no substrato. Os blocos de substrato não precisam de ser regados durante a
incubação.

Quando o substrato é inoculado apenas no topo, a maior parte dos co-


gumelos emerge da parte superior (ver a Figura 28). Caso a semente
tenha sido bem misturada com o substrato, os cogumelos shiitake sur-
girão de todos os lados.

6.6 Colheita
Pegar os cogumelos pelos seus pés (caules) e tirá-los cuidadosamente
do substrato. Não os arrancar da superfície, senão soltar-se-á demasia-
do substrato. Colher os cogumelos numa fase bem temporã, conforme
a qualidade requerida pelos compradores. Não regar as cicatrizes res-
tantes, durante três ou quatro dias. O crescimento de micélio branco
nas cicatrizes é sinal de recuperação. Cogumelos completamente aber-
tos têm um valor muito inferior na Ásia, enquanto os compradores em
Europa são menos críticos. A produção normal rende entre 15 a 35%
do peso do substrato molhado.

64 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Figura 28: Frutificação de shiitake no topo de sacos verticais

6.7 Pragas e doenças


Bolores verdes
Os bolores verdes são os contaminantes mais comuns no momento de
inoculação. Também se desenvolvem se houver qualquer racha nos
sacos. Entre os fluxos, o substrato deve ser mantido seco. Se as condi-
ções forem húmidas, estimulam a contaminação e, visto esta atrair
moscas, a contaminação difunde-se ainda mais.

O micélio de shiitake forma, normalmente, uma crosta abaixo da co-


lónia de Trichoderma. Recomenda-se borrifar os bolores verdes após a
colheita com água abundante. Contudo, se o substrato estiver demasi-
adamente mole (por motivo de um teor de humidade excessiva), o
bloco será danificado e, portanto, será mais difícil obter um segundo
fluxo de boa qualidade.

Mosquitos dos cogumelos


Os mosquitos dos cogumelos são atraídos pelo cheiro do micélio. Po-
dem aparecer em lotes de sacos velhos. As moscas em si não danifi-

Produção de shiitake em sacos de plástico 65


cam os cogumelos, mas põem ovos entre as lamelas e no micélio. As
larvas sairão dos ovos e estragarão a cultura.

A única solução para resolver este problema é remover, de forma con-


sistente, os sacos velhos e contaminados e limpar os recintos.

Ácaros
Os ácaros podem entrar nos sacos de incubação (se se utilizarem sacos
com tampões de algodão) e contaminar o substrato. Contudo, os sacos
de plástico formam, geralmente, um obstáculo adequado contra insec-
tos, de forma a que este método de acondicionamento do substrato é
muito apropriado para países com uma pressão de infestação/infecção
elevada.

66 O cultivo de cogumelos em pequena escala


7 Produção de orelha-de-pau em
substrato ‘esterilizado’
Os cogumelos do tipo orelha-de-pau (Auricularia spp.) são vulgar-
mente cultivados na Ásia. O cultivo em sacos de plástico torna-se
mais popular devido à escassez de toros apropriados e à facilidade de
se poderem cultivar diferentes espécies de Auricularia em serradura.
Pode-se prever que esta técnica se disseminará no futuro próximo.
Existem muitas espécies de Auricularia, das quais Auricularia po-
lytricha, Auricularia fuscosuccinea e Auricularia auricula são mais
correntemente cultivadas.

A Auricularia polytricha é a espécie mais apropriada para ser cultivada nas


regiões tropicais onde as temperaturas são altas.

7.1 Preparação do substrato


A fórmula para o substrato de serradura é quase similar à fórmula usa-
da para pleurotos e shiitake, mas o período de humedecimento (fer-
mentação) do substrato deve ser mais prolongado. A preparação dos
sacos é igual à usada para as outras espécies.

7.2 Tratamento pelo calor


Os sacos enchidos são tratados com vapor tal como para pleurotos e
shiitake.

7.3 Inoculação e colonização micelial


Usa-se, geralmente, semente em serradura; 10 ml de semente por saco
é suficiente. Durante a colonização micelial, a temperatura deve ser
entre 25º a 28º C. O micélio cobrirá o substrato dentro de, aproxima-
damente, quatro semanas.

Produção de orelha-de-pau em substrato ‘esterilizado’ 67


7.4 Frutificação
Fazem-se cortes nos sacos para os cogumelos poderem emergir para
fora. Ao manusear-se os sacos, deve-se ter cuidado, visto que a textura
do substrato continua mole, mesmo depois de ser colonizado pelo mi-
célio.

O micélio quebra-se com muita facilidade.

A luz na sala de cogumelos deve ser muito ténue. Pode-se contar com
a ocorrência de três até quatro fluxos. Por saco de 1,2 kg, pode-se re-
colher 300 – 500 g.

7.5 Descrição dum caso: as Filipinas


Embora o mercado nas Filipinas seja mais favorável para a espécie
mais pequena Auricularia auricula (orelha-de-judas), a amplitude de
temperaturas é mais apropriada para o cultivo de A.polytricha, visto
que A. auricula pode ser cultivada apenas em regiões mais frias.

Preparação do substrato (percentagens do peso)


? Serradura seca (teor de humidade 15-18%) 78 kg
? Farelo fino de arroz (de primeira qualidade) 21 kg
? CaCO3 1 kg

O farelo de arroz deve ser peneirado para que as partículas grandes se


partam, visto que as partículas grandes seriam contaminadas primeiro.
Pesar os ingredientes do substrato e misturar bem CaCO3 com farelo
de arroz antes de misturá-los com a serradura. Acrescentar, lentamen-
te, água até o teor de humidade atingir 65-70%. (Controlar com o teste
de espremer, ver a Figura 17)

Fermentação
Empilhar o substrato em pirâmides e cobrir com plástico de forma a se
reter a sua humidade. Deixar a pilha a fermentar durante cinco dias,
revolvendo-a no terceiro dia. Peneirar através de uma malha de 1,5

68 O cultivo de cogumelos em pequena escala


mm para remover as partículas grandes e para romper os torrões que
possivelmente se formaram durante a fermentação. As partículas
grandes podem danificar o plástico.

Enchimento
Acondicionar, aproximadamente, 1 kg por saco (de 12 x 30 cm) e co-
locar o aro e o tampão de algodão.

Figura 29: Colocando aros nos sacos com substrato.

Tratamento pelo calor


Esterilizar os sacos enchidos durante 1,5 horas a 121ºC ou semi-
esterilizar durante 10 horas a uma temperatura mesmo abaixo de
100ºC.

Inoculação e colonização micelial


Utilizar 500 ml de semente para 50 sacos.
A colonização micelial dura, aproximadamente, um mês a uma tempe-
ratura de 25º – 30º C.

Produção de orelha-de-pau em substrato ‘esterilizado’ 69


Colocar os sacos, horizontalmente, uns ao lado dos outros, nas prate-
leiras e depois sobrepor, do mesmo modo, varias camadas numa mes-
ma prateleira.

Uma sala de cogumelos (5 m de largura, 12 m de comprimento e 4 m


de altura) pode conter 2640 sacos: cada fileira contém 55 sacos por
camada, havendo quatro camadas por fileira. Portanto, quatro fileiras,
com 220 sacos por fileira, podem conter 880 sacos, de forma a que
três prateleiras podem conter 2640 sacos.

Frutificação e colheita
A temperatura óptima para a frutificação de orelha-de-pau (Auricula-
ria polytricha) é de 23º – 28º C. Para estimular a formação de primór-
dios, deve-se remover os tampões de algodão dos sacos e cortar bura-
cos no fundo. Tentar manter a temperatura abaixo de 30º C, borrifando
água e abrindo, de noite, a sala de cogumelos. Os primórdios tornar-
se-ão em corpos de frutificação dentro de sete a dez dias. Remover os
corpos de frutificação do substrato, retorcendo-os com a mão, sem
deixar restos dos pés (caules).

70 O cultivo de cogumelos em pequena escala


8 Tratamentos pós-colheita
Os cogumelos comestíveis são um produto muito valorizado com um
período de armazenamento muito curto. Portanto, desenvolveram-se
métodos especiais de conservação, que são discutidos, na sua maior
parte, neste capítulo. Os tópicos discutidos são os seguintes:

? Classes de qualidade e colheita


? Como se podem acondicionar os cogumelos para o mercado de pro-
dutos frescos
? Como podem ser conservados para consumo futuro

Classes de qualidade e colheita


Os cogumelos devem ser colhidos durante a fase em que atingiram a
maior rentabilidade. Os cogumelos devem estar secos na superfície no
momento da sua recolha.

Borrifação (ou chuva) que ocorre algumas horas antes da sua recolha reduz o
período de armazenamento da maioria dos cogumelos cultivados.

Recolha
As pessoas que fazem a recolha devem partir, suavemente, os cogume-
los do substrato ou da terra de cobertura. Deve-se evitar arrancar pe-
daços de micélio do substrato ou da terra de cobertura. Quando colhi-
dos, os cogumelos são cortados com o comprimento desejado de cau-
le. Como os cogumelos podem ser danificados facilmente, recomenda-
se reduzir ao mínimo o seu manuseamento.

A sua classificação durante a colheita a par do seu acondicionamento imedia-


to nas embalagens destinadas à venda garante que os cogumelos apenas
são tocados uma vez, quer dizer, quando foram colhidos.

Dar instruções às pessoas que fazem a recolha para manterem, rigoro-


samente, as regras seguintes:

Tratamentos pós-colheita 71
? Colher sempre, primeiro, os cogumelos dos canteiros/recintos mais
novos
? Não tocar os corpos de frutificação que estejam doentes (pô-los no
final da recolha num saco separado e, depois, desinfectar as mãos e
a roupa do trabalhador de colheita em questão)

Os pleurotos (Pleurotus) podem ser recolhidos em cachos/conjuntos


ou como corpos de frutificação separados. Alguns conceitos do cultivo
de pleurotos dependem da colheita de cachos/conjuntos inteiros (p.ex.
o cultivo de pleurotos em garrafas, no Japão). Isto diz respeito particu-
larmente a Pleurotus ostreatus e Pleurotus cornucopiae.

A colheita e a comercialização de cachos/conjuntos de pleurotos têm


as seguintes vantagens:
? Pode-se recolher muitos cogumelos num período curto
? Os cogumelos têm uma boa aparência e continuam frescos durante
mais tempo
? Os compradores pagam também para os caules

Contudo, os pleurotos são, geralmente, vendidos como cogumelos


individualmente cortados. Devem ser colhidos quando a borda exteri-
or dos corpos de frutificação acaba de se ter enrolado para dentro, es-
tando quase a tornar-se horizontal. O período de armazenamento au-
menta quando são colhidos durante a fase que precede o seu amadure-
cimento. O comprimento dos pés deve ser discutido com o comprador.

Shiitake (Lentinula)
Cortar os caules imediatamente depois da recolha. Cortar os caules
com uma faca afiada (no ponto onde o cogumelo estava fixo ao subs-
trato). Resíduos dos caules fazem com que os cogumelos se tornem
sujos.

Orelha-de-pau (Auricularia)
Remover os corpos de frutificação do substrato, retorcendo-os com a
mão sem deixar restos dos caules.

72 O cultivo de cogumelos em pequena escala


8.1 Mercado de produtos frescos
Sob condições ideais, os cogumelos acondicionados para o mercado
de produtos frescos são cobertos com um filme de plástico e arrefeci-
dos rapidamente após a colheita. O filme de plástico fornece uma pro-
tecção adequada contra a perda de humidade, no caso da temperatura
de armazenamento ser, mais ou menos, constante. Deve-se evitar a
exposição a temperaturas variáveis.
Se a temperatura subir, os cogumelos perdem humidade. Se a tempera-
tura baixar, a humidade condensa-se no interior da embalagem e na
superfície dos cogumelos, ocasionando emurchecimento rápido.

Pleurotus spp.: Com base em experimentações nas regiões tropicais mos-


trou-se que um método adequado para manter os cogumelos frescos é guar-
dá-los a 8-10 °C em embalagens preparadas, embrulhadas em filmes perfu-
rados de polietileno. Podem-se armazenar durante quatro dias.

Métodos de conservação
O sabor e o valor nutritivo dos cogumelos frescos são, geralmente,
melhores do que os de cogumelos conservados. Contudo, quando se
pode vender apenas uma parte da colheita como produtos frescos, é
necessário aplicar métodos de conservação.

O enlatamento, o tratamento em salmoura e a secagem são as técnicas


mais comuns, mas nem todos os métodos de conservação são igual-
mente apropriados para todos os tipos de cogumelos. Por exemplo, os
pleurotos enlatados têm um sabor horrível (com excepção de Pleuro-
tus cystidiosus e P. abalonus). Em alguns casos, após os tratamentos
de conservação, o sabor pode tornar-se mais forte. Os pleurotos e os
shiitake libertam uma fragrância específica após a secagem.

8.2 Secagem
Este processo é bastante fácil de efectuar. A secagem tem várias van-
tagens: é fácil, rápida e segura. Os cogumelos bem secos podem ser
armazenados durante um período prolongado. Entre os cogumelos cul-
tivados, esta técnica de conservação é usada, na maior parte, para shii-

Tratamentos pós-colheita 73
take (Lentinula). Os cogumelos shiitake tornam-se mais saborosos
após se efectuar o processo de secagem. Também os pleurotos (Pleu-
rotus) se tornam mais saborosos; contudo, o mercado para pleurotos
secos é mais reduzido em comparação com o mercado para shiitake
secos. Também os cogumelos orelha-de-pau (Auricularia) podem ser
secos e, com frequência, são comercializados nesta forma.

Considerar os seguintes pontos de atenção durante a secagem:


? Os cogumelos não devem estar em contacto uns aos outros.
? A circulação do ar é muito importante; colocar os cogumelos numa
grelha ou grade metálica.
? A área em redor da fornalha de secagem deve ser bem ventilada de
forma a fornecer ar fresco, seco, enquanto o ar húmido pode circu-
lar para fora.

Não é necessário que, após a secagem, os cogumelos sejam crocantes


ao toque; devem ser ainda ligeiramente flexíveis. A temperaturas altas,
os cogumelos poderiam ser torrados e, portanto, uma secagem mais
prolongada, a temperaturas baixas, é mais segura do que uma secagem
mais rápida, a temperaturas altas. Contudo, se os cogumelos frescos
estiverem muito húmidos, a temperatura inicial não deverá ser baixa,
senão pode ser que comecem a apodrecer. Isto é particularmente im-
portante para cogumelos inteiros de tamanho grande.

Figura 30: Tabuleiros de secagem

74 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Secagem ao sol
A qualidade de cogumelos secos ao sol é geralmente inferior à dos
secos de forma artificial. O teor de humidade de cogumelos secos ao
sol é mais alto e, portanto, podem ser armazenados durante um perío-
do mais curto do que os cogumelos secos artificialmente.

Figura 31: Estrutura de secagem directa ao sol

Tratamentos pós-colheita 75
Secagem artificial:
Os secadores giratórios são apropriados para a produção em massa. A
temperatura inicial para shiitake deve ser de 30°C e deve subir cada
hora com 1 ou 2°C até se atingir 50°C dentro de 12 a 13 horas. Depois
aplica-se o retoque final que é o aquecimento dos cogumelos até 60°C
durante uma hora para aumentar o brilho do chapéu. Segundo produ-
tores chineses, se ocorrerem flutuações na temperatura de secagem,
estas darão origem ao enrugamento do chapéu.

Figura 32: Estrutura melhorada de secagem indirecta ao sol

76 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Secagem por ventilação:
Um método de secagem com insumos baixos de energia consiste na
construção de um simples túnel de plástico, soprando-se ar fresco de
forma a que entre por um lado. Os cogumelos mais frescos devem ser
colocados no tabuleiro superior, visto que perdem muita humidade por
evaporação.

Acondicionamento e armazenamento
Todo o material estranho deve ser removido ao final do processo de
secagem. Os produtos secos absorvem facilmente humidade do ar am-
biente, devido ao seu teor baixo de humidade. Por conseguinte, o a-
condicionamento deve ser realizado num recinto seco. Recomenda-se
terminar a secagem durante o período mais quente do dia, quando a
humidade relativa está no nível mais baixo. O produto pode ser arrefe-
cido à sombra e, se o trabalho for realizado de forma higiénica, os
produtos arrefecidos podem ser acondicionados imediatamente.

O material de acondicionamento deve ser à prova de água, hermético e


à prova de insectos. Os produtos secos só continuarão em bom estado
se forem armazenados de tal forma que estejam secos e protegidos
contra insectos.

Os sacos normais de plástico (adequadamente fechados) servirão du-


rante certo período, mas não são completamente à prova de gás e de
água.

Também é possível utilizar sacos de celofane, revestidos com políme-


ros, que são à prova de água e herméticos. Estes podem ser fechados
com um ferro quente ou uma máquina seladora (no caso de haver elec-
tricidade). Infelizmente, este tipo de plástico não pode ser obtido fa-
cilmente, nem é muito forte.

Um saco de plástico mais grosso (polietileno, 0,05 mm de espessura) é a me-


lhor opção. Este tipo pode-se fechar bem com uso de um grampo/clipe metá-
lico ou com fita de celofane.

Tratamentos pós-colheita 77
Apêndice 1: Fórmulas
Fórmulas de meios de cultivo

BDA: meio de extracto de Batata-Dextrose-Ágar


200 g de batata cortada em cubos, 20 g de pó de ágar, 20 g de dextrose
ou açúcar branco comum de cana, 1 litro de água.

Meio de caldo com farelo de arroz


200 g de farelo de arroz, 1 litro de água, 20 g de gelatina. Cozer o fa-
relo de arroz durante, aproximadamente, 10 minutos em água. Filtrar,
guardar o caldo, derreter a gelatina, verter em garrafas e esterilizar.

Fórmulas de substrato para semente

Substrato para semente em grãos de cereal


Os grãos de cereal podem ser humedecidos em pequenos recipientes
até atingirem um teor mais alto do que os grãos de cereal em sacos de
15 litros. Para recipientes de 2 litros, usar a receita seguinte: 480 g de
centeio, sorgo (mapira) ou trigo, 400 ml de água, 2 g de gesso (teor de
humidade de 45%).

Substrato para semente em serradura


Serradura 10 kg, CaCo3 147,5 g, Farelo de arroz 1,25g, Gesso
0,1475g, Ureia 0,5 g, Água 1,5 litro

78 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Apêndice 2: Preparação do substrato
Preparação do substrato (percentagens do peso)
1. Serradura seca (teor de humidade 15-18%) 78 %
Farelo fino de arroz (de primeira qualidade) 21 %
CaCO3 1%

2. Serradura 94 %
Farelo de arroz 4%
Farinha de milho / farelo de trigo 1%
CaCO3 1%

3. Serradura 89–73 %
Resíduos de milho 10–25 %
CaCO3 1– 2 %

As receitas 1- 3 apenas podem ser usadas se o substrato for esteriliza-


do. Os suplementos mencionados, como sejam farinha ou farelo de
milho, contaminar-se-iam rapidamente em substratos somente pasteu-
rizados.

4. Palha de arroz 98 %
CaCO3 2%

5. Palha de trigo 99 %
CaCO3 1%

6. Palha de trigo 100 %

Apêndice 2: Preparação do substrato 79


Leitura recomendada
Bibliografia sobre o cultivo de cogumelos

Cultivo de espécies de cogumelos comestíveis, e: Doenças Fúngicas


e Fungos Competidores de Cogumelos Comestíveis do gênero Agari-
cus, Leila Nakati Coutinho – Instituto Biológico, Estado de São Paulo,
Brasil.
http://www.geocities.com/~esabio/cogumelo/agaricus.htm

Micologia, Cultura de Pleurotus ostreatus para principiantes, João


G.F. Batista –
http://www.angra.uac.pt/pessoais/docentes/jbatista/cogumelos/Pleurot
us.pdf

Edible and poisonous mushrooms of the world, 2003, New Zealand


Institute for Crop and Food Research, por I. Hall, et al. ISBN 0-478-
10835-4. 370 páginas com informação geral sobre cogumelos: quais
os cogumelos silvestres que se podem colher, como se cultivam, os
cogumelos venenosos do mundo, e 250 fotografias coloridas de alta
qualidade.

JUNCAO Technology, 2001, por Z.X. Lin e Z.H. Lin. China Agricul-
tural Scientech Press, Beijing. ISBN 7-80167 210-0.
250 páginas sobre o uso de diferentes tipos de gramíneas para 13 tipos
diferentes de cogumelos, incluindo shiitake, cogumelo branco de Paris
e pleurotos. Tecnologia muito prometedora para países em desenvol-
vimento.
JUNCAO Research Institute, Universidade de Agronomia e Silvicultu-
ra de Fujian, Fuzhou, Província de Fujian, República Popular da Chi-
na, 350002.
Telefone: 0086-591-83789223/83789208, Fax: 0086-591-83769269
E-mail: ljuncao@sina.com

80 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Mushroom biology and mushroom products, 1993, redigido por
S.T. Chang, J.A. Buswell e S.W. Chiu. Chinese University Press,
Hong Kong. ISBN 962-201-610-3.
Contém os Procedimentos da Primeira Conferência Internacional so-
bre Biologia de Cogumelos e Produtos de Cogumelos em 1993, em
Hong Kong, 37 artigos científicos sobre os aspectos fundamentais da
biologia de cogumelos, nomenclatura de espécies de cogumelos co-
mestíveis, tecnologia de cultivo e conversão biológica, tratamentos
pós-colheita, e aspectos nutritivos e medicinais. Um tomo interessante
para estações experimentais. Há dois artigos que tratam da implemen-
tação de projectos no que diz respeito a cogumelos.

Mushrooms: Cultivation, Nutrional Values, Medical Effects and


Environmental Impact, segunda edição, 2004 por S.T.Chang e
P.G.Miles. CRC Press (www.crcpress.com) ISBN 0849310431. $ 160.

Mushroom Cultivation, Appropriate technology for mushroom


growers, terceira edição, 2003 por Peter Oei, Backhuys Publishers,
Leiden, Países Baixos. Pode-se encomendar no CTA = no. 1146, 40
pontos de crédito. ISBN 90-5782-137-0

Mushroom Growers’ Handbook 1 : Oyster Mushroom Cultivati-


on, 2004. MushWorld (www.mushworld.com) Pode-se encomendar
no Mushworld.

Mushroom Growers' Handbook 2 : Shiitake cultivation, 2005.


MushWorld (www.mushworld.com) Pode-se encomendar no Mush-
world.

Shiitake Growers Handbook: The Art and Science of Mushroom


Cultivation, Paul Przybylowicz e John Donoghue. ISBN 0-8403-
4962-9 Preço: aproximadamente US$ 25.
Fornece descrições detalhadas acerca do cultivo de shiitake, tanto em
toros de madeira como em substratos de serradura. Não trata do culti-
vo e produção estéreis de semente, partindo-se do princípio que os
produtores compram a semente.

Leitura recomendada 81
Growing Gourmet and Medicinal Mushrooms, 2000 por Paul
Stamets terceira edição 2000 por Paul Stamets, Ten Speed Press, Ber-
kely, Estados Unidos.(www.tenspeed.com) ISBN 00-0242584

Bibliografia sobre taxonomia e identificação de cogumelos


silvestres

The atlas of cultivated Pleurotus mushrooms, por J.T. Peng, et al.


1990. ISBN 957-9055-03-3. Descrição dos parâmetros de cultivo de
50 estirpes diferentes de pleurotos da colecção de culturas de CCRC
em Taiuan.

The edible fungi south of the Sahara, 1993, por J. Rammeloo e R.


Walleyn. Uma recensão bibliográfica. Scripta Botanica Belgica 5: 1-
62.

The poisonous and useful fungi of Africa south of the Sahara,


1994, por R. Walleyn e J. Rammeloo. Uma recensão bibliográfica.
Scripta Botanica Belgica 10: 1-56.

82 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Endereços úteis
International society for mushroom science
ISMS Secretary
PO Box 11171, Centurion, Pretoria 0046, África do Sul
Telefone: +27 12 665 2210; Fax: +27 12 665 2212
Email: secretary@isms.biz, Website: www.isms.biz

Kali Mata Women's Group, Gezaulole, Tanzânia


Centro de desenvolvimento para mulheres na Tanzânia. Neste centro
desenvolveu-se um projecto sobre o cultivo de cogumelos.
Kaifa Ally, secretary, POBox 36484, Dar es Salaam, Tanzânia
Telefone: 0744853351

Kali Mata Ki Jai! Foundation Netherlands


Informação disponível também em inglês e suaíli/swahili.
Trui Goslinga-Lindeboom, Houtlaan 25, 2334 CJ Leiden, Países
Baixos
Telefone: 0031(071)5157279,
E-mail: kalimata@vrouwen.net, Website: www.vrouwen.net/kalimata

Mushroom Business
A Mushroom Business é uma revista bimestral, sobre o comércio in-
ternacional, dirigida à indústria mundial de cogumelos (produtores e
fornecedores). Contém artigos sobre as técnicas de cultivo, mercados
e comercialização, sugestões para o cultivo, investigação, notícias da
indústria, opiniões, etc. No site de Mushroom Business encontram-se
links com os fornecedores principais de equipamento para cogumelos,
formação, etc.
Reed Business Information bv
P.O. Box 16500, 2500 BM Haia, Países Baixos
Telefone: +31 (0)70 441 5060, Fax: +31 (0)70 441 5902
www.mushroombusiness.com

Endereços úteis 83
Mushworld: www.mushworld.com
Organização sem fins lucrativos, dedicada ao alívio da pobreza no
mundo através do cultivo de cogumelos, particularmente nos países
em desenvolvimento.

Mycelia: produtor de semente


Jean Bethunestraat 9, 9040 Gent, Bélgica
Telefone: +32 (0)9 / 228 70 90, Fax: +32 (0)9 / 228 80 28
E-mail: info@mycelia.be, Website: www.mycelia.be

Spore Mushroom Products / Stichting ECO Consult


Gargouille 1, 4007 RE Tiel, Países Baixos
Telefone: + 31 (0)6 515 42 882, Fax 0344 630 225
Website: www.spore.nl Website do autor. Informação sobre sacos es-
peciais de plástico para a produção de semente e sobre actividades
internacionais de formação. Correio electrónico no que diz respeito a
cursos de formação dirija-se a info@spore.nl.

World Mushroom Society: www.worldmushroomsociety.com


O objectivo da WSMBMP é promover o conhecimento em relação à
biologia de cogumelos e produtos de cogumelos.
www.fungitec.com, Website em inglês e em espanhol.
Aconselhamento, workshops (oficinas de trabalho), cursos curtos e
projectos com cogumelos.

ZERI (Zero Emission Research Initiative)


Esta iniciativa fomenta o desenvolvimento humano sustentável na Á-
frica e também fornece informação sobre cogumelos.
ZERI Africa: UNDP/UNOPS Regional Project
Universidade de Namíbia, Private bag 13301, Windhoek, Namíbia
Telefone: 206 3340, Fax: 206 3505, Website: www.zeri.unam.na

PUM, Netherlands Senior Experts


No PUM destina-se especialistas seniores a mais de 70 países de Áfri-
ca, Ásia, Oriente Médio, América Latina, Europa Central e Oriental.

84 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Após petição, os especialistas do PUM oferecem a sua perícia e expe-
riência a empresas e organizações nos lugares onde forem mais reque-
ridos. No decorrer das suas carreiras profissionais, os consultores do
PUM adquiriram ampla experiência em quase todos os campos conce-
bíveis. Estes peritos são independentes e trabalham numa base volun-
tária (sem receberem remuneração).
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Endereços úteis 85
Glossário
Ágar (gelose): Extracto duma alga marinha, usado para solidifi-
car os meios de cultivo: como alternativa (mais
barata) pode-se usar gelatina. Há ágar na forma de
barras ou em pó.
Água livre: Quantidade de água realmente disponível para os
microrganismos no substrato, enquanto que o teor
de água é a medida absoluta. A água livre tem re-
lação com a película de água presente à volta de
cada partícula do substrato e com a concentração
de sais na água.
Anaeróbio: Sem (uso de) oxigénio (O2).
Asséptico: Sob condições estéreis, ausência de organismos
indesejáveis.
Autoclave: Recipiente, cujo conteúdo pode ser aquecido até
atingir 121°C. Deve ser resistente à sobrepressão
de 1 bar, senão a temperatura não poderá subir su-
ficientemente.
Bactérias: Microrganismos que podem provocar uma conta-
minação durante o trabalho com as culturas. A
semente em grãos de cereal é muito facilmente
contaminada por bactérias.
Cabeça de agulha: Termo para descrever um cogumelo muito jovem,
quando o chapéu tem o tamanho duma cabeça de
agulha.
Celulose: Composto orgânico presente na madeira, palha,
etc. Decompõe-se mais facilmente do que a ligni-
na. A celulose é provavelmente melhor conhecida
como matéria-prima para a produção de papel. Os
resíduos de algodão contêm grandes quantidades
de celulose; a serradura contém celulose, hemice-
lulose e lignina.
Colonização micelial: Período de desenvolvimento vegetativo do mi-
célio, através do substrato, após a inoculação.

86 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Cultura de tecido: Cultura preparada do tecido de um cogumelo no-
vo e saudável.
Cultura pura: Cultura isolada de microrganismos sem quaisquer
outros microrganismos. As culturas puras são es-
senciais para o processo da produção de semente.
Cultura: Ver cultura-mãe.
Cultura-mãe: Estirpe pura de um fungo comestível que cresce
num meio de cultivo.
Espécie: Unidade básica da taxonomia biológica. Em ter-
mos gerais, dois indivíduos pertencem à mesma
espécie se podem produzir descendência fértil.
Esporos: Meio de reprodução dos fungos. Nos cogumelos
cultivados, formam-se nas lamelas e dispersam-se
no ar. Um cogumelo pode produzir milhões de es-
poros.
Estéril: ver Asséptico.
Esterilização: Destruição (completa) de todos os microrganis-
mos presentes, pelo calor ou por substâncias quí-
micas. O substrato para a semente deve ser sem-
pre esterilizado antes da inoculação.
Estirpe: Grupo de indivíduos dentro de uma espécie, equi-
valente a “casta” ou “variedade” em plantas.
Fase de botões: Fase durante a qual os cogumelos novos ainda
estão completamente fechados.
Fermentação: Processo de formação do composto. Os nutrientes
facilmente acessíveis serão decompostos por mi-
crorganismos e, portanto, o substrato torna-se
mais selectivo. Pode ocorrer uma fermentação in-
desejável se o composto ainda estiver muito ‘acti-
vo’ ou se se utilizarem camadas grossas ou sacos
grandes. Caso assim seja, a subida da temperatura
no interior do substrato será demasiadamente alta
para o micélio desejado.
Fluxo: Desenvolvimento repentino, simultâneo, de mui-
tos corpos de frutificação. Normalmente, há um
período de repouso entre os fluxos.

Glossário 87
Formol: Solução de 30% de formaldeído, usada para este-
rilizar áreas. Os gases destroem microrganismos e
esporos vivos.
Frutificação: O micélio forma cogumelos durante a sua fase
reprodutiva. A este processo chama-se frutifica-
ção, visto que os cogumelos são, em realidade, os
corpos de frutificação do micélio.
Germinação: Difusão de hifas a partir dos esporos.
Hifa, hifas: Células individuais do micélio.
Humidade relativa: Percentagem da humidade no ar, em comparação
com a quantidade máxima que o ar pode conter a
essa temperatura e pressão.
Incubação: Período depois da inoculação (preferivelmente à
temperatura óptima para o desenvolvimento mice-
lial) durante o qual o micélio se desenvolve, len-
tamente, através do substrato.
Inoculação: Transferência dum organismo para um substrato
específico.
Lamelas: Placas verticais, dispostas de forma radial, situa-
das abaixo do chapéu do cogumelo, nos quais se
formam os esporos.
Lignina: Substância orgânica, difícil de decompor que, em
conjunto com a celulose, forma a base de madei-
ra, palha, etc.
Meio de cultivo: Como os microrganismos diferem nas suas neces-
sidades nutritivas, desenvolveram-se uma grande
quantidade de meios de cultivo diferentes; Ágar-
BDA e Ágar-Malte podem ser usados para a mai-
oria dos cogumelos cultivados.
Micélio: Rede de hifas que formam o corpo vegetativo do
fungo. Os cogumelos são os corpos de frutifica-
ção do micélio.
Micorrizos: Relação simbiótica entre fungos e raízes de plan-
tas.

88 O cultivo de cogumelos em pequena escala


Microrganismos: Organismos microscópicos, presentes em abun-
dância no ar, que se aderem em qualquer superfí-
cie.
Parasita: Organismo que vive à custa de outros, normal-
mente provocando doenças nos seus hospedeiros.
Por último, pode causar a morte do hospedeiro.
Pasteurização: Tratamento pelo calor aplicado ao substrato, de
forma a destruir organismos indesejáveis, man-
tendo vivos os favoráveis. A amplitude de tempe-
ratura encontra-se entre 60-80°C. O tratamento é
muito diferente da esterilização, cujo objectivo é
destruir todos os organismos presentes no substra-
to.
Pé: Caule de cogumelo.
pH: Unidade de medida para descrever a acidez dum
meio de cultivo. O pH 7 indica um nível neutro;
valores superiores indicam um nível alcalino e va-
lores inferiores indicam um nível ácido. A maioria
dos cogumelos que habitam na madeira preferem
um substrato ligeiramente ácido.
Placa de Pétri: Prato redondo de vidro ou de plástico com uma
tampa, usado para observar o desenvolvimento de
organismos microscópicos. Os pratos são enchi-
dos parcialmente com um meio de cultivo, estéril
(ou esterilizado após do seu enchimento). As pla-
cas de Pétri são usadas, correntemente, para culti-
var micélio destinado a inocular a semente-mãe.
Primórdio: Corpo inicial de frutificação.
Semente: Micélio que se desenvolve num substrato, utiliza-
do como material de plantio no cultivo de cogu-
melos.
Semente-mãe: Semente que não se destina à inoculação de subs-
trato, mas para inocular um outro lote de semente.
Slant (amostra em posição inclinada): Tubo de ensaio com meio de
cultivo, esterilizado, que foi inclinado para au-
mentar a sua superfície.

Glossário 89
Subcultura: Cultura derivada duma outra cultura.
Substrato residual: Substrato restante após a colheita de cogumelos.
Substrato: Material no qual o micélio se desenvolve.
Tubo de ensaio: Tubo de vidro fino, transparente, fechado numa
extremidade e usado em ensaios químicos e bio-
lógicos.

90 O cultivo de cogumelos em pequena escala

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