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Resumos – Psicologia Social (Cátia)

 Atitudes: estrutura e mudança

 Perspectivas sobre o conceito de atitude

O conceito de atitude é um dos mais antigos e mais estudos em psicologia social. Primeiro, o conceito
de atitude (fazendo a ponte entre disposições individuais e ideias socialmente partilhadas), e, depois, as
suas formas de avaliação (as escalas de atitudes) servem para dar identidade à Psicologia Social.

De acordo com Eagly e Chaiken (1993), atitude é um constructo hipotético referente à «tendência
psicológica que se expressa numa avaliação favorável ou desfavorável de uma entidade especifica».

A definição atitudes como um constructo hipotético indica que as atitudes não são directamente
observáveis, ie, são uma variável latente explicativa da relação entre situação em que as pessoas se
encontram e o seu comportamento. Trata-se, assim, de uma inferência sobre os processos psicológicos
internos de um individuo, feita a partir da observação dos seus comportamentos. Este processo é
semelhante ao processo de inferência que fazemos na nossa vida quotidiana: se virmos uma pessoa,
sistematicamente, a alugar filmes de artes marciais (comportamento) podemos inferir que essa pessoa
gosta de artes marciais (atitude).
Eagly e Chaiken, dizem que as atitudes são uma tendência psicologica, o que nos permite distinguir as
atitudes de outros constructos hipotéticos. Por tendência psicológica entende-se um estado interior,
com alguma estabilidade temporal (e daí a sua diferença relativamente aos traços de personalidade que
seriam mais estáveis e aos estados emocionais que seriam mais passageiros).

As atitudes expressam-se sempre através de um julgamento avaliativo.


3 características deste julgamento avaliativo:
- a sua direcção (favorável vs desfavorável)
- a sua intensidade e opõe posições extremadas a posições fracas
- a sua acessibilidade, ie, a probabilidade de ser activada automaticamente da memória
quando o sujeito se encontra com o objecto de atitude. Esta dimensão das atitudes está
associada à sua força, à forma como foi aprendida e à frequência com que é utilizada
pelo sujeito.

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Vimos que a atitude se expressa sempre por respostas avaliativas, e vimos também que estas respostas
podem ser de vários tipos. É habitual encontrar a separação de 3 modalidades de respostas avaliativas,
que correspondem a outras tantas formas de expressão das atitudes: cognitivas, afectivas e
comportamentais.
Cognitivas – referimo-nos a pensamentos, ideias, opiniões, crenças que ligam o objecto de atitude aos
seus atributos ou consequências e que exprimem uma avaliação mais ou menos favorável. Ex:
manipulação genética dos cereais permite resolver a fome no mundo.
Afectivas – referem-se as emoções e sentimentos provocados pelo objecto de atitude. Ex: só de pensar
na manipulação genética de cereais fico assustado.
Comportamentais – referem-se aos comportamentos ou às intenções comportamentais em que as
atitudes se podem manifestar. Ex: se houver um abaixo assinado contra a manipulação genética de
cereais eu não tenciono assinar.

Quase tudo pode ser objecto de atitude. Temos atitudes face a entidades abstractas (a democracia) ou
concretas (testes de escolha múltipla), temos atitudes face a uma entidade especifica (o cão da vizinha)
ou gerais (os cães), temos atitudes face a comportamentos (praticar musculação) ou a classes de
comportamentos (praticar desporto). Etc. As atitudes face ao pp designam-se por auto – estima.

 Medidas das atitudes


A longa historia das atitudes na psicologia Social permite que se tenham desenvolvido formas
estruturadas de as avaliar através de diversos tipos de respostas observáveis relativamente a esse
constructo inferior. Técnicas de medição das atitudes em 3 grupos, correspondentes a formas de
expressão cognitiva, afectiva e comportamental das atitudes.

Medição das atitudes através de respostas cognitivas

A forma mais comum de medir atitudes é através do que se designou escalas de atitudes. Esta técnica
parte do principio que podemos medir as atitudes através das crenças, opiniões e avaliações dos
sujeitos acerca de um determinado objecto, e que a forma mais directa de acedermos a estes conteúdos
cognitivos é através da auto- descrição do posicionamento individual. Assim se desenvolveram
técnicas de papel e lápis ancorados a modelos de medição diferentes.

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As escalas intervalares de Thurstone foram propostas por este autor em 1928, e consistiam numa
técnica designada por «centrada no estímulo», ie, caracteriza a atitude do sujeito através do seu
posicionamento face a estímulos previamente cotados. O modelo de medição que lhe está na base é o
modelo psicofísico, em que se procura encontrar uma relação entre os atributos no mundo físico e as
sensações psicológicas que ele produz. Toda a técnica se centra na procura de objectividade na
selecção das frases (os estímulos) face às quais os sujeitos apenas têm de assinalar aquelas com que
concordam.
No entanto...
Este tipo de escala tem sido cada vez menos utilizada por motivos de ordem prática, metodológica e de
ordem científica. Os 1º prendem-se com a morosidade do processo de construção da escala e com a
necessidade de estar permanentemente a reaferir os valores de escala dos diferentes itens, uma vez que
se pressupõe que as mudanças sociais afectam a avaliação das opiniões. Os 2º prendem-se com a
contestação das capacidades dos juízes para situarem as frases numa escala de intervalos iguais. Os 3º,
os motivos de ordem científica para o afastamento dos investigadores da utilização deste tipo de escala
prendem-se com a demonstração empírica da impossibilidade de os sujeitos se abstraírem da sua
própria posição na avaliação dos itens.

Uma outra técnica de construção de escalas de atitudes foi proposta por Likert (1932), permitindo aos
investigadores prescindir da tarefa de avaliação dos juízes, e centrando o processo nos sujeitos
respondentes. Neste caso, o modelo de medição deixava os pressupostos psicofísicos, para se basear no
modelo claramente psicométrico: é a pp resposta do indivíduo que a localiza directamente em termos
de atitude, e não existe nenhum escalonamento a priori dos estímulos.
A principal diferença da técnica de construção das escalas de Likert está no facto de a selecção das
frases que compõem a escala ser feita pelo investigador procurando frases que manifestem claramente
apenas dois tipos de atitude: uma atitude claramente favorável e uma atitude claramente desfavorável
em relação a um mesmo objecto, eliminando assim todas as posições neutras ou intermédias. A
medição da posição do sujeito é dada pelo seu posicionamento face ao conjunto destas frases radicais.
Sendo muito mais económica de construir e mais rápida de aplicar, este tipo de escala tornou-se muito
mais popular na avaliação das atitudes, apesar de não garantir à partida a medição numa escala
intervalar.

Qualquer destes tipos de escalas pressupõe, explicitamente ou implicitamente, que as atitudes são
unidimensionais, ie, que a posição do sujeito se pode situar num continuum.

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Guttman (1944) desenvolveu um modelo matemático que permite testar este pressuposto, e passaram-
se a designar por escalas de Guttman ou escalas cumulativas as escalas de atitudes em que este
principio é aplicado.
Guttman propõe que os itens de uma escala de atitudes sejam construídos tal com as bonecas russas, de
modo que, ao aceitar um item da escala, se aceita tb todos os seus níveis inferiores. Isto implica que na
construção dos itens, se procure temáticas extremamente restritas e o seu conteúdo acabe por ser muito
repetitivo, de forma a garantir a unidimensionalidade da escala.

Uma outra forma de medir as atitudes, muito utilizada em estudos de opinião, utiliza não escalas, mas
apenas uma pergunta, em que a posição do sujeito é avaliada directamente. (Lima, Vala e Monteiro,
1989).

Todas estas técnicas de papel e lápis, apresentam alguns problemas:


 saber se a resposta do sujeito corresponde à sua atitude real ou se ele tentou, dar uma boa
imagem de si, agradem ao investigador.
 Relevância da atitude para o sujeito: a resposta corresponde a uma posição bem estruturada por
parte do sujeito, ou foi um tema com que se viu confrontado apenas naquele momento.
 Envolve a pp linguagem em que é formulada a questão, a escala de resposta e todos os efeitos
de contexto nas respostas a questionários.

São estas algumas das razões que levam a que alguns autores optam por medidas mais indirectas das
atitudes, que também se podem situar a nível cognitivo. Por exemplo, há indicadores cognitivos de
atitudes que utilizam os enviesamentos da percepção derivados de atitudes diferentes para aceder a
elas. Assim, em perguntas que à partida não são opinativas, mas de resposta certa ou errada, podemos
inferir a atitude dos sujeitos. Um outro indicador cognitivo das atitudes permite-nos conhecer a sua
acessibilidade. As técnicas de avaliação da acessibilidade recorrem sistematicamente aos tempos de
latência da resposta.

Medição das atitudes através de respostas afectivas

O nosso corpo é muitas vezes, um relator mais verdadeiro dos nossos sentimentos. O corar, o suar nas
mãos, o coração a bater mais depressa são respostas involuntárias e espontâneas que bem conhecemos

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a estados emocionais extremos. A sociopsicofisiologia desenvolveu 4 tipos de técnicas de avaliação


das atitudes através de sinais corporais:
 respostas naturais manifestas
 respostas naturais escondidas
 respostas condicionadas
 falsas respostas psicofisiológicas.
As medidas corporais das atitudes, não têm produzido técnicas e resultados tão importantes como de
início se suponha. Este facto deve-se à dificuldade de interpretar univocamente as respostas
psicofisiologicas dos sujeitos e às dificuldades práticas de aceder a este tipo de material para o registo
das respostas.

Medição das atitudes através de respostas comportamentais

Um outro tipo de medida das atitudes refere-se à avaliação dos comportamentos. Este tipo de
indicadores possibilita, por um lado, superar a falta de sinceridade que é possível nas medidas de auto
descrição, e por outro produzir observações em meio natural, impossível através das medidas
corporais. Deste modo, as técnicas comportamentais mais importantes neste domínio referem-se a
observações de comportamentos reveladores de atitudes, mas observações que possam completamente
despercebidas aos sujeitos. Ex: estudo para avaliar as atitudes raciais de estudantes brancos através da
distância a que se sentavam de indivíduos de raça negra.

 A estrutura das atitudes


O primeiro grande debate prende-se com a dimensionalidade das atitudes: a representação mental da
atitude reproduz o continuum de favorabilidade / desfavorabilidade por que ela se expressa?

Qualquer das visões não dimensionais das atitudes concorda que as representações internas não podem
ser resumidas a uma única escala interior.

A segunda grande questão no domínio das atitudes prende-se com a consistência entre a atitude e as
suas três formas de expressão, ie, até que ponto há uma correspondência entre a atitude do individuo e
as suas diversas formas de expressão (afectiva, cognitiva e comportamental). Muita da pesquisa neste

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domínio tem analisado a consistência entre a atitude e as crianças, verificando-se normalmente uma
boa consistência entre elas.

 As funções das atitudes

Para que servem as atitudes?


A resposta para esta pergunta tem sido encontrada por quatro vias: as teorias que salientam as funções
motivacionais das atitudes, as teorias que salientam as funções cognitivas das atitudes, as teorias que
salientam o papel de orientação para a acção e as teorias que salientam as funções sociais das atitudes.

Funções motivacionais das atitudes: atitudes e necessidades


Grande numero de funções especificas que as atitudes podem cumprir, sistematizadas em duas grandes
categorias: funções fundamentais ou avaliativas e funções simbólicas ou expressivas. As primeiras
prendem-se com uma avaliação de custos e benefícios da atitude, optando o individuo pela atitude que
lhe permite obter o melhor ajustamento social, maximizando as punições. As funções expressivas têm
que ver com a utilização das atitudes enquanto forma de transmitir os valores ou a identidade do
sujeito, permitindo-lhe proteger-se contra conflitos internos ou externos, e preservar a sua imagem.

Funções cognitivas das atitudes: atitudes e processamento da informação

Autores mais recentes têm vindo a salientar as funções das atitudes, ligadas à forma como elas
influenciam o modo como é processada a informação. Estas perspectivas actuais, que, partindo de
pressupostos motivacionais, procuram mostrar a importância de determinados princípios gerais na
forma como se organiza a cognição humana, nomeadamente as atitudes. Dois desses princípios são: o
principio do equilíbrio e o principio da redução da dissonância.
O principio do equilíbrio – formulada por Heider, para definir o principio organizador do «ambiente
subjectivo» do individuo, ie, a forma com ele percepciona o meio em que vive. Hoje em dia pode-se
dizer que este principio refere-se à forma como os indivíduos articulam diferentes atitudes.
O principio da redução da dissonância cognitiva – definido por Festinger, para explicar a necessidade
que existe em todos os indivíduos de encontrarem consonância entre as diversas cognições que têm a
respeito de um mesmo objecto. A dissonância cognitiva refere-se à relação entre duas cognições

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incompatíveis da mesma pessoa face ao mesmo objecto, em que se dá uma activação do organismo no
sentido de redução ou de eliminação da dissonância.

 Funções de orientação para a acção: atitudes e comportamento

Impacto das atitudes no comportamento

LaPiere , ex do estudo dos chineses.


Os resultados foram interpretados como reflectindo uma inconsistência entre atitudes e
comportamento.

Fishbein e Ajzen (1975) afirmam que as atitudes são importantes factores na previsão do
comportamento humano, mas distinguem entre as atitudes gerais face a um objecto e as atitudes
específicas face a um comportamento relacionado com o objecto de atitude.
Na teoria da acção reflectida, Fishbein e Ajzen (1975) consideram que todo o comportamento é uma
escolha, uma opção ponderada entre várias alternativas, pelo que o melhor preditor do comportamento
será a intenção comportamental, sendo a atitude específica apenas um dos dois factores importantes na
decisão. Esta atitude face ao comportamento é vista neste modelo como o resultado do somatório das
crenças acerca das consequências do comportamento (expectativa) pesadas pela avaliação dessas
consequências (valor). O outro factor importante na definição da intenção comportamental tenta
integrar as pressões sociais e refere-se à norma subjectiva face ao comportamento, ie, às pressões de
outros significantes que afectam a realização do comportamento. Também esta norma subjectiva é
vista como o resultado do somatório das crenças normativas.
Nota: ver esquema da aula prática

A teoria da acção reflectida vê a atitude especifica como um dos preditores do comportamento,


podendo, em certos tipos de comportamentos ou em certas populações, a norma subjectiva ter mais
peso na determinação da intenção comportamental.

Numa tentativa de alargar a teoria a comportamentos que estavam fora do controlo volitivo dos
sujeitos, Ajzen (1988) reformulou o modelo.

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O impacto do comportamento nas atitudes


Desde os anos 50 que diferentes autores salientavam a importância da realização de comportamentos
como forma de mudar atitudes.

O trabalho que assinalou de forma evidente a importância do comportamento contra – atitudinal na


modificação das atitudes foi publicado por Janis e King em 1956.

Festinger (1959), defende que a mudança de atitudes não se verifica pelo efeito persuasivo dos
argumentos, mas pela necessidade básica de consonância cognitiva. Assim, seria inaceitável para os
sujeitos na situação de improvisação pensar simultaneamente «Eu não concordo com a guerra da
Coreia» e «Eu estive a convencer pessoas a apoiarem a guerra da Coreia». Uma vez que se trata de
dois elementos cognitivos incompatíveis, provocariam no sujeito uma sensação de desconforto
(dissonância cognitiva) que gera uma motivação para mudar algum dos dois argumentos, de modo a
diminuir a dissonância.
Como os comportamentos passados são impossíveis de mudar, tenderia a verificar-se uma mudança de
atitude para repor a consonância. Esta interpretação do comportamento contra – atitudinal situa-se
dentro da teoria da dissonância cognitiva.

Para provar a aplicação da interpretação da teoria da dissonância cognitiva ao caso do comportamento


contar – atitudinal, Festinger e Carlsmith (1959) realizaram um dos estudos mais famosos de psi
social. Este estudo, mostra que é apenas quando o individuo não tem outra forma de reduzir a
dissonância que muda de atitudes. Deste modo, a teoria de dissonância cognitiva permite prever que
não são só as atitudes que orientam os comportamentos, mas que também os comportamentos
voluntários levam a mudança de atitudes.

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