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Índice

Introdução p.3
Desenvolvimento pp.4-11
Ética Deontológica pp.4-8
Ética Teleológica pp.8-11
Conclusão pp.12-14
Bibliografia pp.15

2
Introdução
Cada um de nós é interpelado no dia-a-dia, pelo facto da nossa existência no mundo,
como Pessoa. Esta noção é-nos remetida e exigida pelos critérios da moralidade, por
aquilo que nos leva ao crescimento e construção permanente do ser pessoa, isto é, a
consciência moral, a liberdade e a responsabilidade, que justificam a necessidade da
moralidade.

Isto leva-nos a uma problematização ética de “Porque é que devemos agir moralmente?”
e “Que exigências são necessárias cumprir para que as minhas acções sejam moralmente
aceites?”, em que o objectivo é o conquistar da felicidade, numa tentativa de conciliar o
querer pessoal com o querer social.

Para Kant, a moralidade seria a fundamental exigência, rejeitando qualquer interferência


das inclinações empíricas (que nos levem a desejar algo), tendo em conta apenas uma
pura intenção agindo de uma determinada forma, porque impusemos a nós próprios
voluntariamente uma lei moral, em que o meu dever é praticar o bem, sem avaliar as
consequências nefastas ou adjuvantes da acção – Ética Deontológica ou formal
(intenção).

Para John Stuart Mill, a lei moral converte-se numa maximização da felicidade, em que
uma acção é moralmente aceite se agi de forma a obter um determinado fim, segundo os
meus interesses momentâneos, acarretando o máximo de felicidade possível, em que se
avaliam os efeitos e as consequências, e não a intenção e o motivo – Ética Teleológica
ou material.

No desenvolvimento irei fundamentar e problematizar ambas as perspectivas, de forma


imparcial, procurando analisar a questão: “Por que razão haveremos de ser morais?”.
Inicialmente vou abordar a ética deontológica e depois a ética teleológica. Após a
racionalização de ambas vou concluir com a tese do trabalho.

3
Desenvolvimento

A ética possui uma dimensão pessoal e social tendo em conta que visa à socialização, a
uma convivência harmoniosa, ou seja a ética pretende ser uma reflexão teórica que
tende para um progresso moral, para uma melhoria social, para isto, e enquanto seres
humanos e ser moral, temos características intrínsecas como: a liberdade, pois por ser
livre o Homem tem a capacidade de escolher e de optar como deve agir, ou seja de optar
entre o bem e o mal; a responsabilidade, como seres que se dizem livres, temos de
acarretar com as consequências dos nossos actos, ou seja responder pelos nossos actos
bons ou maus; a consciência moral, como faculdade inerente a todos nós permite-nos
avaliar os nossos comportamentos e os dos outros mediante critérios morais, como o
bem e o mal, como um juiz interior que nos elogia ou que nos censura.

Tendo em conta, estas características, é que avaliamos e interpretamos os nossos


comportamentos, inferindo-lhes ou não um valor moral. O valor moral, que permite-nos
conferir a uma determinada acção preferência em comparação a outra. Mas a
multiplicidade de valores morais fazem com que surjam diferentes teorias éticas: ética
deontológica e ética teleológica.

Ética Deontológica

No sentido etimológico da palavra “Ciência do dever” (do grego deon “dever,


obrigação” e logos “ciência”).

Esta é uma ética que tem em conta o princípio, a intenção que esteve na raiz da acção,
pondo de parte a priori as minhas tendências sensíveis, os meus interesses particulares e
momentâneos, rejeitando qualquer subjectivismo. Nesta perspectiva realça-se o esforço
pelo puro cumprimento do dever, independentemente de qualquer reconhecimento, ou
efeitos. Esta ética é defendida por Kant, filósofo do século XVIII, juntamente com
muitos outros filósofos.

 Posição moral kantiana: “O valor moral da acção não reside, portanto, no


efeito que dela se espera;”1

1
Fontoura, A., Afonso, M., Este Amor pelo Saber, A folha Cultural ed., Aveiro, 2007, p.190

4
A lei moral é o cumprimento puro do dever de uma forma totalmente desinteressada,
pois não estão em causa possíveis efeitos, consequências da minha acção, quer
sejam vantajosos ou prejudiciais, mas sim, o agir moralmente, porque é meu dever
agir assim, auto-determinando-me assim a realizar o dever. E como sou eu que
imponho a mim próprio a lei moral, esta realiza-se sem qualquer esforço ou
contradição, porque esta lei não me é imposta por uma fonte exterior, mas sim por
mim próprio, que somo ser livre, escolhe aplicar a si esta lei. Desta forma, obedeço
sem esforço, pois sou eu o legislador e súbdito simultaneamente.

De acordo com isto, todas as minhas acções são regidas pela lei moral, que se me
impõem pelo dever, na necessidade de praticar o bem, permitindo apenas um único
sentimento, o respeito.

A obediência à lei moral deve ter apenas como forma o cumprimento do dever, e
não qualquer outro objectivo e matéria que possamos alcançar. Porque na acção
fundada pela lei moral não está em causa a fortuna, mas sim uma lei foi auto-
imposta, determinando uma “boa-vontade”, portanto uma vontade autónoma que
obedece aos princípios que consideramos e reconhecemos como lei moral, por isso
bons em si mesmos, abstraindo qualquer interferência exterior, subjectiva e
condicionadora.

 A racionalidade como fundamento da moralidade: “A representação de um


princípio objectivo, enquanto obrigante para uma vontade, chama-se um
mandamento (da razão), e a fórmula do mandamento chama-se Imperativo.”2
Para Kant é a capacidade racional e única do Homem que o distingue como ser
moral, pois é a razão que nos exige e estipula a lei moral, e isto implica que
ajamos segundo os princípios definidos pela razão, desprendendo-nos de
qualquer outro interesse que não nos tenha sido designado pela razão, agindo
apenas de acordo com a razão, que se nos apresenta sob a forma de imperativo
categórico, incondicional e absoluto, válido em qualquer circunstância e para
qualquer pessoa (universal).

Com isto, podemos enfatizar três conceitos importantíssimos à moral kantiana:


2
Fontoura, A., Afonso, M., Este Amor pelo Saber, A folha Cultural ed., Aveiro, 2007, p.190

5
Lei moral: mandamento que o ser humano legisla, enquanto ser racional e livre a
si mesmo, cumprindo assim o dever por puro dever, e não pela vontade
constituída pelos sentidos, que nos leva a ter facilmente inclinações para os
efeitos da acção, fazendo logo uma imediata avaliação dos mesmos. Por isso
quando o ser humano respeita a lei moral, cumpria na sua integra, e cumpre o
dever por puro dever e não pelas consequências do mesmo, rejeitando qualquer
tendência empírica como móbil da acção, esta é uma lei que vem apenas do meu
interior, á qual eu auto-comprometo-me a cumprir, limpando-me assim da
imagem que revela um ser humano altamente corrompido, que perverte a prática
do bem.
Vontade Autónoma: o cumprimento da lei moral de forma pura é auto-
determinada por uma vontade autónoma (auto e nomos), sem as influências,
dependências e inclinações a que estamos constantemente sujeitos, mas sim,
guiada pela intenção de cumprir o dever moral, que de acordo com a minha
consciência é-me auto-imposto.
O cumprimento puro do dever implica a obediência à lei moral, que é
incondicional, pois não é nunca sujeita à existência de condições particulares.
Obedeço apenas às condições que são instituídas pela minha razão.
Ordem imperativo Categórico: que é a forma como a lei moral se nos apresenta.
É um facto que o homem se encontra em constante tensão e conflito com a razão
e os sentidos, entre o que a razão no impera, e o que os sentidos nos impelem, e
é por esta facilidade em nos desviarmos para uma preferência para o mal ao
invés do bem é que existe o dever, que se apresenta como imperativo categórico,
onde não há excepções que possam por em causa a realização de uma
determinada norma. “O imperativo categórico seria aquele que nos
representasse uma acção como objectivamente necessária por si mesma, sem
relação com qualquer outra finalidade.”3
Aqui há necessidade da conversão das máximas (princípios subjectivos do
querer, da vontade) na lei moral, para que esta se cumpra de forma universal,
abolindo qualquer subjectivismo, pois assume-se por objectiva. Porventura, as
minhas acções só podem ser concretizadas moralmente quando são
universalizadas. Isto é, apenas quando há um reconhecimento universal por
todos, do cumprimento de forma pura do dever, em todas as situações.
3
Fontoura, A., Afonso, M., Este Amor pelo Saber, A folha Cultural ed., Aveiro, 2007, p.191

6
O dever representa-se como objectivamente necessário, não propondo qualquer
fim exterior, mas é fundamental que a máxima se conforme à lei, edificando-se
como um princípio de onde derivam todos os princípios gerais e as respectivas
máximas.
Portanto uma acção é moralmente aceite como boa se apenas for realizada com a
intenção do cumprimento puro do dever em si mesmo. Caracterizando-se como:
incondicional, não estando sujeito a propensões empíricas; universal, pois
impera em todas as circunstâncias; necessária, pois é imprescindível a
conformidade das máximas à lei moral.
"No reino dos fins, tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa
tem um preço, pode pôr-se, em vez dela, qualquer outra coisa como
equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e portanto não
permite equivalente, então ela tem dignidade"4
“Age de tal forma a que trates a humanidade, na tua pessoa ou na pessoa de
outrem, sempre como um fim e nunca apenas como um meio.”5
Uma vez que os Homens têm desejos, as meras coisas têm valor para nós em
relação a todos os nossos projectos. As «coisas» têm valor apenas como meios
para fins, sendo os fins humanos que lhes dão valor.
Os seres humanos têm «um valor intrínseco, isto é, dignidade», porque são
agentes racionais e uma vez que a lei moral é a lei da razão, nós, os seres
racionais somos a encarnação da lei moral em si, por isso a única forma de a
bondade moral poder existir é apreendermos o que devemos fazer e, agir a partir
de um sentido de dever, fazendo-o.
E como o valor do Homem está «acima de qualquer preço», os seres humanos
têm de ser tratados «sempre como um fim e nunca apenas como um meio». Isto
é, temos o dever estrito de beneficência relativamente às outras pessoas: temos
de lutar para promover o seu bem-estar; temos de respeitar os seus direitos,
evitar praticar o mal, e, em geral, «empenharmo-nos, tanto quanto possível, em
promover a realização dos fins dos outros».

 Apreendido o facto de que uma acção é moralmente aceite se e só se não é feita


a partir de um fim, nem com a análise daquilo com que eu posso vir a alcançar

4
Kant, I. in Fundamentação da Metafísica dos Costumes, 1785.
5
Ibidem

7
com determinada acção. A moralidade da acção não está no seu conteúdo, mas
no princípio racional que o determina. Devemos ter uma pura intenção, com uma
vontade autónoma, que não se prende a interesses perversos, mas que a apenas é
singela ao cumprimento do dever por puro dever – Acções Morais. E então é
importante fazermos a distinção entre o que é cumprido pelo singelo dever
(acções morais) e o que é cumprido por motivos exteriores de natureza empírica,
que são conformes ao dever mas em que exerço o dever, a lei, por motivos
sensíveis, ou para não ser penalizada, castigada, mal-vista, ou por pena,
esperança e tristeza – Acções Legais, o que não deixa de ser o cumprimento do
dever, mas que tem subjacente um efeito/fim.
Exemplos: A Joana, melhor amiga da Ana, descobre que o Francisco, que é
porventura o rapaz de quem a Rita gosta, namora com a Inês, e informa a Rita,
não pela lealdade que lhe poderá ser reconhecida, mas porque é seu dever
informar a Rita. – Acção Moral
A Joana cumpriu o puro dever de informar a amiga, pondo de parte qualquer
inclinação tanto de lhe ser leal, ou de a ir entristecer, tanto como de prejudicar o
Francisco.
Eemplos: A Soraia caminhava na rua quando viu uma criança subnutrida, por
isso resolveu dar-lhe alguma comida, com a subjacente esperança de a criança
melhorasse. - Acção Legal
A Soraia cumpriu o dever mas com motivações sensíveis que se lhe desbotaram,
tal como tristeza, e por isso cumpriu o dever, mas sujeita a inclinações
empíricas, não deixando de ser uma acção reconhecida como boa.

Ética Teleológica ou material:

No sentido etimológico da palavra “estudo da finalidade” (do grego telos “fim” e logos
“estudo”).

Esta é uma ética que valoriza a acção segundo a finalidade com esta se dá. Ou seja o
valor de uma acção reside na sua capacidade de contribuir, como um meio para a
realização de um fim (telos), que para o Homem é a felicidade, pois este é o fim último,
pelo qual todas as nossas acções se regem, e em que os fins justificam, claramente, os
meios.

8
 Perspectiva ética de Stuart Mill (utilitarismo): esta perspectiva irrompe da crítica
à moral formal: “Tenho de voltar a repetir que os adversários do utilitarismo
raramente fizeram justiça de reconhecer: a felicidade que os utilitaristas
adoptaram como critério de moralidade de conduta não é a felicidade pessoal
do agente, mas a de todos os envolvidos na acção e nas suas consequências. O
fim dos actos humanos é também necessariamente o critério da sua
moralidade”6
Portanto esta ética tem um resultado bem mais prático, com a tomada de acções
sujeita à análise dos seus efeitos e resultados. Em que o Homem como ser
racional e livre, de tomar de decisões e escolher, delibera e analisa,
anteriormente, todas as suas decisões, de forma a agir, de acordo com os seus
interesses momentâneos, desejos e objectivos, que têm sempre como finalidade a
conquista da felicidade, ainda que seja uma incessante procura, com breves
picos, mas que é o topo para qual todas as acções estão direccionadas -
hedonismo. Por isso a corrente utilitarista procura a maximização da felicidade
como o objectivo, por isso aqui todos os meios, acções justificam o fim (a
felicidade). A felicidade deve ser a maior possível, não só para o sujeito que
pratica a acção, mas também para os que estão envolvidos nesta. Sendo
necessário por isso, uma imparcialidade por parte do indivíduo que irá pratica a
acção, isto porque o que é útil é não apenas a minha felicidade, mas sim a
felicidade geral, a maior felicidade para todos os outros, demonstrando altruísmo
pois evita o interesse próprio. É importante referir que: “Com efeito, a utilidade
inclui não só a busca da felicidade, mas também a prevenção ou mitigação da
infelicidade”7Isto porque ambas estão minimamente relacionadas, como que
grandezas proporcionais, pois se por um lado queremos atingir a maior
felicidade possível, à maior quantidade de pessoas possíveis, e durante o maior
tempo possível, é necessário fugir à dor, à infelicidade durante os mesmos
prazos.
A ética utilitarista vê apenas como sustento à acção moral a utilidade máxima,
ou seja a maior ou menor utilidade de uma acção é que a pode provar acção
moral ou reprovar, de acordo com a inclinação que ela possua para atingir a
felicidade.

6
Mill, J.S, O Utilitarismo, Lisboa Ed.
7
Ibidem

9
Nesta corrente a lei moral deixa de ser reconhecida como cumprimento
absoluto/categórico de um conjunto de leis inflexíveis, mas atribuindo-lhe
relatividade, em que a felicidade ideal é como um ideal político. Substituindo a
noção de “cumpro o dever porque é meu dever cumpri-lo” por “seja o que for
que trouxer mais felicidade global”, resignando “a importância moral da
intenção dos agentes morais…”8 que é o mesmo que afirmar que ignoramos a
moralidade dos meios, a intenção que nos está subjacente, desde que os
resultados (a felicidade suprema) sejam conseguidos, pois só no fim é que se
concretiza o valor moral das acções.
O modelo deontológico não aceitava a vontade heterónoma, mas sim uma
vontade autónoma, em que o dever fazia prevalecer a racionalidade frente ao
sensível. No entanto o Homem é um ser com sentidos e racionalidade, que são
conciliados na vontade heterónoma, pois pratico uma acção influenciada pelos
meus interesses momentâneos, em busca do prazer ligado quer à inteligência,
conhecimento, consciência (prazeres espirituais) quer ligado ao corpo e sentidos
(prazeres sensoriais).
 Isto leva-nos ao imperativo hipotético, em que uma acção é moralmente boa se
os resultados previsíveis da acção acarretaram a maior felicidade para o maior
número de pessoas, ou seja porque é um meio para alcançar o que eu desejo
obter, o meu fim. Por isso caracteriza-se por: condicional, pois está dependente
de inclinações sensíveis, e admite condições e excepções; particular, pois é
subjectiva, varia de pessoa para pessoa, pois cada um possui uma personalidade
própria, que determina interesses diferentes e por isso os meus desejos são
diferentes de os de outros; contingente, porque dá-nos a possibilidade de agir de
outra maneira, pois posso agir sempre de outro modo.
 O princípio da utilidade ou o princípio da maior felicidade, procura, vai à
descoberta do prazer, ao invés da dor, ao qual foge. Por isso é o princípio de
felicidade que todo e qualquer ser humano tem como objectivo que serve de
ponto de partida para a análise de se é moralmente aceite ou não, portanto se
uma acção é moralmente válida, é porque a acção que lhe é anterior trouxe a
maior felicidade possível. O que aqui está em causa é a análise dos efeitos e das
consequências, da matéria, e não dos motivos e intenção que lhe presidem.

8
R., Cabral, in Logos, Ed.Verbo, Lisboa

10
 Segundo, John Stuart Mill a felicidade “é o brilhante esplendor momentâneo do
gozo, mas não a sua firme e permanente chama” 9. Isto só vem reforçar a ideia
de que o homem está projectado para um futuro que busca a procura incessante
da felicidade que é um constante “estar-a-caminho”10e não é um passear, mas
sim é uma permanente tomada de decisões, que tem como fim e direcção o
atingir da felicidade, mas que apenas pode ser concretizado em breves
momentos/instantes, porque logo irrompem novos problemas e desafios, por isso
as acções tomadas de forma útil para conquistar a felicidade visam apenas a
“Um estado de prazer intenso”.11
 “…nenhum sistema moral exige que único motivo de todos os nossos actos seja
12
o sofrimento do dever.” E é aqui que podemos encontrar a grande crítica
apontada à moral formal, pois a moral que rege e pauta a nossa sociedade,
reconhece actos morais, em que se cumpre o dever, e em que se realizam por
outro motivos que não só o cumprimento do dever, porque é impossível pedir ao
homem que renuncie às suas ambições e sentimentos, e no entanto isto não pode
influenciar o ser a acção moralmente aceitável.

Conclusão

9
Mill, J.S, O Utilitarismo, Lisboa Ed.
10
Jaspers, K., in Filosofia Activa
11
Mill, J.S, O Utilitarismo, Lisboa Ed.
12
Ibidem

11
“Porque devemos agir moralmente?” Com a problematização anterior, pude encontrar
diversas lacunas em ambas as perspectivas:

Quanto à perspectiva ética kantiana fará sentido defender um cumprimento do dever


incondicional e categórico?

Exemplo: Imaginemos que entrei num hipermercado, e de repente, reparo num pequeno
rapaz sozinho, subnutrido, e claramente pobre, a roubar cuidadosamente comida. Uns
instantes depois saiu a correr, tocando o alarme, mas conseguiu fugir, um pouco depois
um segurança interpelou-me e perguntou-me se vi o miúdo, e se o poderia descrever!
Colocam-se duas possibilidades. Uma é dizer a verdade, uma vez que é o meu dever,
sendo que as consequências poderão ser prejudiciais ao rapaz. A outra é mentir, o que
segundo Kant é inaceitável, nem que o acto de roubar seja para manter a sobrevivência.
Neste caso não seria moralmente correcto respeitar a lei moral da minha consciência.

E quando somos colocados perante um conflito de valores?

Exemplo: “(…) Uma mulher estava a morrer de cancro. Um medicamento descoberto


recentemente por um farmacêutico (…) podia salvar-lhe a vida. (…) O farmacêutico,
que agora pedia dez vezes mais por uma pequena porção desse remédio. Henrique
(Heinz), o marido da mulher que estava a morrer, foi ter com as pessoas suas
conhecidas para lhe emprestarem  dinheiro e, assim, poder comprar o medicamento.
Apenas conseguiu juntar metade do dinheiro pedido pelo farmacêutico . Foi, ter, então,
com ele, contou-lhe que a sua mulher estava a morrer e pediu-lhe para lhe vender o
medicamento mais barato. O farmacêutico respondeu que não (…)13. Aqui encontramo-
nos numa situação-limite em que estão em causa dois valores, em que ambas as
possibilidades são erradas, segundo Kant, uma vez que não se deve roubar e nem se
deve pôr em causa uma vida humana, sendo nosso, o dever de salvaguardá-la.
Porventura, a perspectiva kantiana não consegue responder a esta possível situação.

Rejeitar sentimentos como motivo a uma acção, sem excepções, também é uma crítica a
apontar já que é impossível ao Homem, agir sem a intervenção de qualquer tipo de
sentimentos, porque não somos passivos, tudo nos afecta, e a nossa interacção com o
mundo não pode ser apenas de cumprimento do puro dever, porque tudo nos chama a

13
Kohlbherg, L.

12
atenção, e tudo é facilmente alvo de julgamentos. Por isso se vemos um idoso no fundo
da sala, é normal isto revelar em nós um sentimento de compaixão e nostalgia. Será
possível não termos sentimentos paralelos a uma acção?

Kant, defende uma “utopia” e mesmo que o exercimento do puro dever possibilitasse
uma sociedade, porventura muito mais civilizada, é impossível imaginar uma sociedade
que se regesse por acções de obrigação moral, seria imaginar um mundo passivo, sem
qualquer relevo, e aliás faz, exactamente, parte do ser humano, o viver, o agir, o estar
insatisfeito, a felicidade, a dor, … e é tudo isto que faz de nós exclusivamente
Humanos. Renunciar aos nossos sentimentos, como motivos e como intenção para
realizar os nossos interesses, seria fazer de nós autênticos robots, com uma reacção
programada para o cumprimento do dever por puro dever.

Quanto à perspectiva teleológica, também não faz sentido aceitar qualquer acção, como
“roubar”, “matar” e “mentir” como acções morais, só porque as consequências da
mesma foram a felicidade máxima. Isto vai contra as regras morais básicas que são
reconhecidas unanimemente, e que não poderão justificar um mero fim. Neste caso o
utilitarismo justificaria a prática de acções imorais. O que tornaria o mundo uma
completa selva, na qual todos responderiam aos seus actos como moralmente aceites,
retirando, para mim, de certa forma a responsabilidade, porque se todos temos como
objectivo último a felicidade, então todos iríamos agir de acordo com tal, não
necessitando de acarretar com as consequências do próprio acto em si, podendo
responder apenas “estou feliz” e por isso qualquer incumprimento de regras morais
básicas seria apagado.

A noção de felicidade é também falível, incerta em diversas situações, pois cada um de


nós poderá sentir a felicidade de forma diferente, podendo ter expectativas menores ou
maiores para o seu conceito de felicidade, por isso o sujeito da acção não pode prever ao
certo se o resultado da sua acção traz o máximo de felicidade para o maior grupo de
pessoas.

Não faz sentido afirmar-mos “todos e qualquer meios justificam os fins”.

Após esta problematização tenho como tese: O homem deve cumprir o dever segundo
as normas morais que pautam na sociedade, e deve no seu dia-a-dia, procurar agir

13
direccionado para o seu futuro, segundo as suas ambições, nunca pondo em causa a de
outrem, devendo praticar sempre o bem, fazendo uso dos direitos humanos ao qual todo
nós temos direito, mas corresponder sempre com o dever que lhes são inerentes.

Bibliografia

Fontoura, A., Afonso, M., Este Amor pelo Saber, A folha Cultural ed., Aveiro, 2007;
14
Kant, I. in Fundamentação da Metafísica dos Costumes, 1785;
Mill, J.S, O Utilitarismo, Lisboa Ed.;
R., Cabral, in Logos, Ed.Verbo, Lisboa;
Jaspers, K., in Filosofia Activa

Kohlbherg, L.

15

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