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Unidade I- Capítulo IV: Cana-de-Açúcar

TÓPICO I-

UNIDADE I- INDÚSTRIA DE AÇÚCAR E ÁLCOOL

CAPÍTULO IV: Cana - de - Açúcar

IV.1- A diversificação da Cana-de-Açúcar como Matéria-Prima

IV.1.1- Definição:
A cana-de-açúcar é uma gramínea (espécie híbrida Saccharum) rica
em sacarose (açúcar) armazenada nos colmos. Por esta razão, a cana-de-
açúcar é usada na indústria como matéria-prima, na produção de açúcar
comercial e álcool.
A composição básica da cana-de-açúcar é apresentada na Tabela 1.

Tabela 1- Composição da cana-de-açúcar.


Componentes da Cana % em peso na cana

Água 73 a 76

Sólidos Totais 24 a 27

Sólidos Solúveis 10 a 16

Fibras (base seca) 11 a 16

Durante o processo de extração do caldo, as diversas impurezas


externas à cana como terra e também uma variedade de compostos
constituintes da cana irão ser incorporados ao caldo extraído, denominado
de caldo misto. A composição química do caldo misto pode variar

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largamente em função de uma série de fatores como variedade, estado de


maturação, clima, região, idade, tipo de solo, adubação, etc.
Do ponto de vista tecnológico, pode-se dividir a cana em bagaço e
caldo extraído. O bagaço é predominantemente constituído por fibras, caldo
remanescente, e o caldo extraído que por sua vez, conforme a literatura,
possui uma composição básica descrita na Tabela 2.

Tabela 2- Composição dos caldos de cana-de-açúcar.

Constituintes do Caldo % Sólidos Solúveis


1-Açúcares 75 a 93
1.1- Sacarose 70 a 91
1.2- Glicose 2a4
1.3- Frutose 2a4
2-Sais 2a5
3-Ácidos inorgânicos 1,5 a 4,5
4-Ácidos orgânicos 1,0 a 3,0
4.1- Ácidos carboxílicos 1,1 a 3,0
4.2- Aminoácidos 0,5 a 2,5
5-Proteínas 0,5 a 0,6
6-Amido 0,001 a 0,05
7-Gomas 0,3 a 0,6
8-Ceras e graxas 0,05 a 0,15
9-Corantes e outros 3,0 a 5,0

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Comumente são denominados de não-açúcares, todos aqueles


compostos presentes no caldo que não são sacarose, glicose e frutose. A
natureza dos não-açúcares é significativamente importante para se
distinguir usinas de diferentes regiões. Deve-se ressaltar que além das
substâncias descritas, o caldo oriundo do processo de extração contém
outras impurezas normalmente em suspensão, como finas partículas de
bagaço (bagacilho), terra (argila e areia) e ar dissolvido no caldo e ligado às
partículas de bagacilho.

IV.1.2- Origem
De origem asiática, a cana-de-açúcar foi trazida para o Brasil pelos
portugueses na primeira década do século XVI. A cultura da cana
desenvolveu-se com sucesso no nordeste brasileiro, sendo que o Brasil
tornou-se o principal produtor e exportador de açúcar nos séculos XVI e
XVII.
A cultura da cana-de-açúcar, no Brasil, recebeu grande incentivo por
meio do programa Proálcool, resultando em avanço nas técnicas de cultivo
e no lançamento de variedades com maior potencial de produção de
biomassa e de açúcar.
Conseqüentemente, houve, também, a expansão da cultura para
regiões tradicionais em pecuária e de produção de grãos. A cana-de-açúcar
adapta-se facilmente em regiões de clima tropical, pois necessita de chuvas
e boa quantidade de luz solar.
A região do interior do estado de São Paulo concentra, atualmente, a
maior quantidade de canaviais. As usinas produzem álcool, principalmente
o etanol para ser usado como combustível de automóveis.

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IV.1.3- Características
IV.1.3.1- Características Gerais
A cana-de-açúcar é denominada cana planta até sua primeira
colheita, tendo um período de crescimento em torno de 12 ou 18 meses,
dependendo da época de plantio. Se for plantada de setembro a outubro
geralmente é colhida com cerca de 12 meses e denominada cana de ano. Se
for plantada de janeiro a março ela cresce por volta de 18 meses e portanto,
é denominada de cana de ano e meio. Após a primeira colheita a cana sofre
uma rebrota que é chamada de soca. As demais colheitas ocorrem
anualmente por volta do mesmo período (mês), sendo chamadas de
ressocas. As rebrotas da cana sofrem cerca de 4 a 5 cortes quando então a
lavoura é renovada com uma cana de ano ou de ano e meio.
As principais características agronômicas em relação a cana-de-
açúcar que regulam o seu desenvolvimento são:

a) Clima
As necessidades climáticas da cana-de-açúcar variam em função do
destino da produção desta: se para produzir açúcar, aguardente, álcool ou
para forragem – sendo que normalmente, a cana oriunda de lavouras para a
produção de açúcar é a mais exigente.
A cultura da cana-de-açúcar se adapta muito bem às regiões de clima
tropical, quente e úmido, cuja temperatura predominante seja entre 19 e 32º
C e onde as chuvas sejam bem distribuídas, com precipitação acumulada
acima de 1000 milímetros por ano. A cultura conta com duas fases
principais de desenvolvimento:
 crescimento vegetativo: fase em que a planta é favorecida pelo clima
úmido e quente;

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 maturação: quando temperaturas mais amenas e a baixa


disponibilidade de água favorecem o acúmulo de sacarose.
As condições climáticas predominantes no Estado de São Paulo são
consideradas excelentes para a produção de cana-de-açúcar, permitindo o
crescimento vigoroso da planta durante a primavera e o verão, e oferecendo
condições adequadas para a maturação e a colheita, durante o outono e o
inverno. No Centro-Oeste, apesar do clima apresentar certa semelhança, a
deficiência hídrica durante o inverno é mais acentuada, exigindo, na
maioria das regiões, uma pequena suplementação hídrica para viabilizar a
rebrota das soqueiras e a manutenção dos níveis de produtividade.

b) Solo
Apesar de se desenvolver em solos de baixa fertilidade ou com
condições físicas desfavoráveis, a cana-de-açúcar é uma cultura que
responde aos solos férteis e fisicamente adequados, atingindo altas
produtividades nestas condições. Os solos ideais para o desenvolvimento
da cana são bem arejados e profundos, com boa retenção de umidade e alta
fertilidade. O valor do pH em cloreto de cálcio deve ser de
aproximadamente seis.

c) Cultivares
As pesquisas para desenvolvimento de novas cultivares de cana-de-
açúcar geneticamente melhoradas são conduzidas por instituições públicas,
universidades e empresas privadas,visando ao lançamento de variedades
adaptadas às diferentes condições de clima e solo, bem como à produção de
canas em áreas afetadas por pragas e doenças.

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Dentre as instituições desenvolvedoras de cultivares do Brasil,


destaca-se a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor
Sucroalcooleiro do Brasil (Ridesa), fundada em 1991, que responde por
cultivares plantadas em mais de 50% da área total brasileira de cana-de-
açúcar.

Variedades:
Para garantir rentabilidade ao setor sucroalcooleiro é fundamental
obter elevada produtividade da cana-de-açúcar. O melhoramento genético é
considerado um dos principais fatores agronômicos que podem contribuir
com o aumento da produtividade, permitindo desenvolver variedades que
se adaptem melhor às condições adversas de solo e clima e à incidência de
pragas e doenças, assim como ao sistema de colheita.
A máxima produtividade em cana-de-açúcar depende, também, de
um correto planejamento de plantio e de adequado manejo das variedades,
as quais devem atender a exigências tanto no campo como na indústria,
para maximizar lucros.
A existência de muitas variedades (Figura 1 e Tabela 1) é uma
vantagem, embora isto torne difícil a tomada de decisão, já que
requer muito mais conhecimento do produtor rural acerca das opções
disponíveis. É importante que o produtor possua uma diversidade de
variedades e cultivares de cana-de-açúcar na lavoura, pois assim pode
diminuir a possibilidade de que uma praga ou doença se prolifere dentro do
canavial, causando prejuízos.

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Figura 1- Variedades de cana-de-açúcar.


As principais variedades comerciais de cana-de-açúcar no país
trazem as iniciais dos centros de pesquisa responsáveis por seu
desenvolvimento. Os cultivares do Centro de Tecnologia Copersucar
(CTC), por exemplo, são identificados por SP; os da Rede
Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro
(Ridesa), RB; os do Instituto Agronômico de Campinas, IAC. De acordo
com o Censo Varietal realizado pelo CTC, em 2002, dos 3,9 milhões de
hectares pesquisados no País, as variedades mais cultivadas foram:
RB72454 (14%);
SP79-1011 (11%);
SP81-3250 (9%),
RB835486 e RB855536 (ambas com 7%);
SP80-1842 (6%).
A Copersucar é responsável por cerca de 50% da área plantada de
cana no Brasil, sendo a variedade SP81-3250 a mais cultivada com 13% da
área total.
Criada no tempo do IAA - Instituto do Açúcar e do Álcool, a Ridesa
é formada pelas universidades federais de Alagoas (Ufal), Paraná (UFPR),

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Pernambuco (UFRPE), Rio de Janeiro (UFRJ), São Carlos-SP (UFSCar),


Sergipe (UFS) e Viçosa - MG (UFV).
Tabela 1. Variedades de cana-de-açúcar mais utilizadas no
Brasil, distribuídas por instituição de pesquisa.
Planalsucar – Ridesa (RB)
RB70141 RB70194 RB705007 RB705051
RB705146 RB705440 RB72454 RB721012
RB725147 RB725828 RB732577 RB735220
RB735275 RB739359 RB739735 RB765418
RB785148 RB75126 RB758540 RB763710
RB83102 RB83160 RB83252 RB83594
RB835019 RB835054 RB835089 RB835486
RB8491 RB8495 RB842021 RB845257
RB8543 RB855035 RB855113 RB855156
RB855453 RB855463 RB855511 RB855536
RB855546 RB855563 RB867515 RB845197
RB845210 RB855036 RB865230 RB928064
RB858927 RB92579 RB93509 RB931530
RB863129 RB943365 RB872552 RB943538
RB932520 RB925211 RB935744 RB925268
Copersucar (SP) – CTC (CTC)
SP77-5181 SP80-3280 SP79-1011 SP87-344
SP79-2233 SP85-3877 SP81-320 SP87-365
SP80-1842 SP81-3250 SP86-42 SP87-396
SP83-2847 SP-2233 SP85-5077 SP83-5073
CTC 1 CTC 2 CTC 3 CTC 4
CTC 5 CTC 6 CTC 7 CTC 8
CTC 9 CTC 10 CTC 11 CTC 12
CTC 13 CTC 14 CTC 15 CTC 16

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d) Nutrientes
Dentre os minerais, deve ser destacado o nitrogênio por seu
envolvimento com o florescimento. Altas doses de nitrogênio, alteram a
relação carbono/nitrogênio, diminuindo o florescimento. A redução do
índice de florescimento é maior quando se combinam altas doses de
nitrogênio com déficit hídrico, antes ou após a época crítica de indução do
florescimento.
Durante o ciclo vegetativo, existem fases em que a planta apresenta
alterações em função da ação do ambiente. As principais fases de
desenvolvimento são: germinação, perfilhamento, crescimento e
maturação. Para cada uma destas fases a cana apresenta diferentes
exigências climáticas, sendo que algumas são mais exigentes do que outras.
Por exemplo, após a fase de crescimento, para haver boa produção de
sacarose nos colmos, a cana necessita passar por um período de baixa
temperatura ou de deficiência hídrica, para que cesse o crescimento
vegetativo e comece a fase de maturação.
A produtividade da cana é dada tanto pelo peso dos colmos quanto
pelo teor de sacarose. O teor de sacarose nos colmos deve ser acima de
15% do peso fresco pois ele é que determinará a produção de açúcar ou de
álcool por tonelada de cana (peso fresco). A produtividade é diretamente
influenciada por fatores genéticos, condições climáticas, manejo e
fertilidade dos solos, pragas e doenças.

IV.1.3.2- Fisiologia e Desenvolvimento da Planta


A cana de açúcar pertence a vasta família das gramíneas a qual inclui
mais de 5000 espécies. É uma planta viva, que vive vários anos, com talho
aéreo, fibroso; atinge de 2 a 5m de altura, de cor variado dividido em nós e

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entre-nós mais ao menos largo dependendo da variedade. O talho é


constituído no seu interior por um tecido esponjoso muito rico em sumo
açucarado que pode ser extraído de diversas maneiras.
A planta de cana está constituída por 4 partes principais, que são:
Raízes, Talho, Folhas e Flores.

a- Raízes
As raízes têm a função de absorver as substâncias nutritivas do solo
para servir de alimento para a planta. As raízes da cana são fibrosas
(sistema radicular fasciculada). Quando se planta uma estaca de cana, se
desenvolvem duas classes de raízes:1 – Raízes transitórias; 2 – Raízes
definitivas ou permanentes.

b- Talho (Colmo)
O talho é a parte mais importante da planta, constitui o fruto agrícola
da mesma, nele se encontra armazenado o açúcar. Está formado por entre-
nós que variam em longitude, grossura, forma e cor segundo a variedade.
Os entre-nós estão unidos por nós, lugar onde se enxertam as folhas. Nos
nós encontramos a gema que é importante na propagação da planta.
Se fazemos um corte transversal do talho, observa-se a medula ao
centro formada por um tecido esponjoso que contem sumo rico em açúcar.

c- Folhas

Dos nós do talho brotam-se as folhas; estas são lancetadas, lineares,


largas e agudas. Apresentam um nervo na veia central forte, dispostas no
talho de forma alternada. A sua cor é verde e vai variando de tonalidade de
acordo com a variedade e as condições de desenvolvimento da planta.
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d- Flor
A florescência da planta aparece em forma de panicular (guino) que
se desenvolve a partir do último entre-nó. A forma da mesma é
característica de cada variedade, pelo qual serve também para sua
identificação.

 Espécies conhecidas

 Género: Saccharum

 Espécie: Saccharum officinarum

- Saccharum sinensis

- Saccharum barberi

- Saccharum spontanium

- Saccharum robusyum

IV.1.4- A Importância da Matéria-Prima

A matéria prima tem que satisfazer um conjunto de requisitos de


qualidade para que a indústria ao processá-la seja capaz de obter uma
produção estável na qualidade e eficiência.
A qualidade da cana-de-açúcar se resume nos seguintes aspectos:
- Conteúdo de sacarose;
- Presença de matérias estranhas;
- Tempo de corte;
- Tempo de queima.

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Qualidades De Uma Boa Variedade De Cana-De-Açúcar


- Bom rendimento por hectare;
- Alta riqueza de sacarose;
- Conteúdo de fibra entre 12 a 14%;
- Brix maior de 16o;
- Boa e rápida germinação;
- Resistência às enfermidades e pragas;
- Escassa ou nenhuma floração;
- Facilidade para a mecanização da colheita;
- Mínimas dificuldades na fábrica.

VI.1.5- Mercado
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, com mais de
sete milhões de hectares plantados, produzindo mais de 480 milhões de
toneladas de cana, o que coloca o País na liderança mundial em tecnologia
de produção de etanol.
Além de matéria-prima para a produção de açúcar e álcool, seus
subprodutos e resíduos são utilizados para co-geração de energia elétrica,
fabricação de ração animal e fertilizante para as lavouras.
A produção nacional de cana-de-açúcar moída pela indústria
sucroalcooleira em 2010 chegou a 624,99 milhões de toneladas. O número
é recorde e representa aumento de 3,4% na produção total na comparação
com o ciclo 2009/2010.
O aumento da produção se deve ao crescimento de área e às novas
usinas em operação em alguns estados do Centro-Sul, além do bom regime
de chuvas no ano passado.

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Do total de cana a esmagada, 53,8% (336,2 milhões de toneladas)


são destinados à produção de 27,7 bilhões de litros de etanol. Deste
volume, 19,6 bilhões de litros são do tipo hidratado e 8,1 bilhões do anidro.
Os 46,2% (288,7 mil toneladas) restantes foram para a produção de açúcar,
que chegou a 38,7 milhões de toneladas. Na safra passada, foram
produzidas 33 milhões de toneladas. A demanda interna deve chegar a
11,11 milhões de toneladas, distribuída entre consumo direto e produtos
industrializados (Fonte:
https://www2.cead.ufv.br/espacoProdutor/scripts/verNoticia.php?codigo=8
06&acao=exibir).
Área- No que se refere à área destinada ao plantio da cana, a
pesquisa aponta resultado de oito milhões de hectares, 8,4% a mais que a
da safra anterior. O estado de São Paulo ocupa a maior parte, com 4,4
milhões de hectares ou 54,28% do total nacional. Em seguida, aparecem
Minas Gerais (695 mil ha), Goiás (599,3 mil ha), Paraná (582,3 mil ha),
Alagoas (438,6 mil ha), Mato Grosso do Sul (396,1 mil ha) e Pernambuco
(346,8 mil ha) (Fonte:
https://www2.cead.ufv.br/espacoProdutor/scripts/verNoticia.php?codigo=8
06&acao=exibir).

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