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Assim sendo, na adolescência, mais que em qualquer outro período da vida, o médico deve se esforçar,
sobremaneira, para estabelecer diagnósticos e prognósticos, com especial zelo para a Esquizofrenia,
pois, como sabemos, esta é a idade preferida para o início desse transtorno. Ainda assim, não devemos
deixar de suspeitar dos Transtornos do Humor, os quais também aparecem nesta idade e com
características bastante enganosas.
A classificação francesa considera que, devido ao fato dos sintomas psicóticos que aparecem na
infância e na adolescência comportarem características específicas e diferentes dos mesmos quadros em
adultos, justificaria uma consideração e uma classificação em separado.
Uma das principais preocupações dos psiquiatras de crianças e adolescentes é, sem dúvida, a psicose. O
máximo cuidado para o diagnóstico se reforça, primeiro, evidentemente, na importância do tratamento
precoce para alívio do paciente e de seus familiares e, em segundo, devido ao risco de evolução
incapacitante da doença, cujo momento de maior perigo para seqüelas invalidantes se situa nos dois
primeiros anos da psicose.
Além de tudo, considerando a grande especificidade atual dos medicamentos psiquiátricos, há uma
imperiosa necessidade de bons conhecimentos sobre o quadro do Transtorno do Humor Grave com
Sintomas Psicóticos e suas diferenças com a Psicose Esquizofrênica, já que existem significativas
diferenças de prognóstico e de tratamento entre essas duas patologias.
Finalmente, todo esse cuidado é mais do que justo, se considerarmos os efeitos potencialmente
iatrogênicos de um diagnóstico errado sobre algum transtorno psiquiátrico crônico, diagnóstico esse
capaz de modificar profundamente a relação do paciente consigo mesmo e com os demais, além das
atitudes negativas por parte de seu entorno familiar e social.
Sintomas Prodrômicos
Sintoma prodrômico ou pródromo significa, em medicina, o sintoma que antecede uma doença, tal
como o mal estar que antecede a gripe, ou a dor nos testículos que precede a cólica renal, etc. Até agora
a maioria dos estudos sobre os pródromos da Psicose Esquizofrênica tem se referido mais aos sintomas
que precedem as recaídas psicóticas de uma Esquizofrenia anteriormente diagnosticada do que aos
pródromos de um primeiro surto psicótico.
Antes do primeiro surto psicótico, ou seja, na fase prodrômica, as pessoas não costumam apresentar
sintomas psicóticos evidentes mas, podem apresentar um determinado número de mudanças do
comportamento, da afetividade e do pensamento. A esse evento prodromico da Esquizofrenia Alonso
Fernandez nomina como Broto. Não se tratam de sintomas psicóticos, como dissemos, mas de algo bem
mais atenuado, embora sugestivo.
A maioria dos sintomas e sinais observáveis no adolescente de risco corresponde aos traços daquilo que
se considera Personalidade Esquizóide ou Paranóide (veja em Transtornos da Personalidade os traços
desses quadros). Entretanto, por se tratar naturalmente de um período rico em oscilações e
instabilidades, a adolescência confunde o observador, fazendo parecer uma simples manifestação de
uma adolescência mais exuberante, sinais que poderiam ser tidos como sintomas francamente
prodrômico ou, no mínimo, sinais francos de vulnerabilidade à psicose.
De modo geral, as primeiras mudanças da pessoa podem ser imperceptíveis, assim como pode ser
imperceptível também a transição gradual entre sintomas inespecíficos e não-psicóticos, em sintomas
francamente psicóticos.
Na maioria dos pacientes, identificar o início de uma Esquizofrenia é uma questão bastante delicada,
na medida em que as alterações podem representar apenas uma extensão quantitativa dos traços
preexistentes da personalidade do adolescente. Em tese, para facilitar a clínica, os elementos que
representam apenas alguma variação de traços preexistentes da personalidade costumam ser
egosintônicos, isto é, não destoam da aspiração natural e da satisfação da pessoa consigo mesma. Essa
característica é importante, uma vez que, por ser egosintônica, não se constitui em algo mórbido.
Na prática, em alguns casos pode ser difícil a diferença entre as fases prodrômica e psicótica da doença.
Mas o conceito de pródromo, entretanto, implica numa mudança qualitativa notável em relação ao
estado habitual do paciente. Geralmente os primeiros sintomas prodrômicos descritos com freqüência
são sintomas de natureza neurótica, inespecíficos, tais como a ansiedade, idéias hipocondríacas,
síndromes depressivas, mudanças afetivas, anedonia, apatia, irritabilidade, retraimento social, falta de
iniciativa e transtornos do sono. Esses sintomas, ao contrário do que ocorre com traços prévios de
personalidade, costumam ser egodistônicos, ou seja, produzem sofrimento, logo, são mórbidos. Mais
para frente poderá surgir mudanças na cognição, na percepção, na vontade e nas funções motoras
(Jeammet, 2000; Wyatt, 1998).
Tendência Psicótica
Atualmente, duas hipóteses pretendem dar sustentação às observações quanto a origem da doença
esquizofrênica: a hipótese do desenvolvimento neurológico (Weinberger, 1987) e o modelo da
vulnerabilidade (Zubin, 1977).
Fora da fase ativa da doença, a presença desses marcadores (marcadores de risco) seria como um sinal
de alerta para um risco biológico de a pessoa vir a apresentar a doença posteriormente. Tais marcadores
poderiam ajudar a definir o perfil pessoal vinculado à Esquizofrenia.
Os estudos sobre pessoas com elevado risco genético, como são aquelas com familiares
esquizofrênicos, ou com elevado risco clínico, como são aquelas portadoras de Transtornos
Esquizotípicos da Personalidade, têm demonstrado que estas pessoas têm um risco de evolução
esquizofrênica bastante superior ao risco da população geral.
As manifestações clínicas dessa instabilidade cerebral variam segundo o grau de maturidade cerebral e
segundo os fatores ambientais. Assim, durante a infância, tais "lesões" se manifestariam mediante sinais
pré-clínicos e inespecíficos (Parnas, 1999). Na adolescência, por uma alteração do processo sináptico
cortical habitual e, diante das dificuldades ambientais, os sintomas psicóticos específicos se
manifestariam.
A hipótese atual supõe que, no caso da Esquizofrenia, o desenvolvimento do processo sináptico vai
além dos limites de desenvolvimento neurológico. Algumas pessoas predispostas, por ocasião da
adolescência, perderiam conexões neuronais que normalmente deveriam ser conservadas ou, ao
contrário, manteriam ou aumentariam conexões que deveriam desaparecer (Kevashan, 1998).
A diferença entre essas duas hipóteses (que, na realidade se completam) é que na idéia da
vulnerabilidade os elementos constitucionais genéticos têm um peso maior que o ambiental ou de
desenvolvimento e, na hipótese do desenvolvimento neuropsicológico, os elementos ambientais de
desenvolvimento têm peso igual ou mais forte que a genética.
Outro problema conceitual subjacente é saber se os sintomas psicóticos seriam fenômenos diferentes,
qualitativamente, das experiências mentais normais da adolescência, ou se seriam uma continuidade
exagerada, portanto, quantitativa, dessas experiências. Outra possibilidade é que os sintomas psicóticos
seriam quantitativamente diferentes da normalidade da adolescência no principio do quadro mas,
posteriormente, se revelariam em uma mudança qualitativa (Yung, 1996).
Ao lado dos fatores biológicos e de origem genética, bem como dos fatores adquiridos durante fases
precoces do desenvolvimento, como por exemplo as intercorrências intra-uterinas e as dificuldades
peri-natais, existiriam fatores psicológicos e ambientais próprios da adolescência. Essa concepção
justificaria a grande dificuldade de diagnóstico dos Transtornos Psicóticos, quando surge a imperiosa
necessidade de situarmos o ponto de ruptura entre o normal e o patológico, ou seja, o ponto onde se
passa de uma mudança quantitativa a uma alteração qualitativa.
Entretanto, como alertamos logo acima, essa atitude só será válida se considerarmos a idéia de que a
presença de qualquer desses sintomas não significa, obrigatoriamente e invariavelmente, um
diagnóstico de Esquizofrenia. Aliás, na população geral, sintomas psicóticos nem sempre significam
sintomas esquizofrênicos e, na adolescência, sintomas psicóticos nem sempre significam psicose.
É sempre bom lembrar, como diz o próprio DSM IV, que "nenhum sintoma isolado é patognomônico
(exclusivo) da Esquizofrenia, cujo diagnóstico implica no reconhecimento de uma constelação de
sinais e sintomas vinculados a disfunções sociais e ocupacionais". Portanto, e em tese, atualmente se
considera que os sintomas psicóticos no adolescente são idênticos aos do adulto, reconhecendo-se, entre
o quadro clínico formal, os seguintes (DSM IV):
Mesmo esses sintomas devem ser considerados com prudência na infância e adolescência. Nessas
faixas etárias a Disfunção Social, juntamente com a Perda da Vontade, por serem sintomas que dizem
respeito ao nível de realização interpessoal, escolar, ocupacional ou em outras atividades, devem ser
considerados com cautela. Ora, a realização pessoal na criança e adolescente tem uma conotação muito
diferente que no adulto. O desenvolvimento normal e característico de alguns grupos de adolescentes,
emocionalmente mais sensíveis, pode sugerir um Transtorno Psicótico ou simular sintomas psicóticos
negativos.
O enfoque do diagnóstico será muito diferente, segundo que se encontre um estado delirante agudo e
bastante típico, ou uma sintomatologia mais surda, crônica e prolongada de "esquisitices". No primeiro
caso, do Episódio Delirante Agudo e típico, não há dificuldades de diagnóstico e a síndrome se
apresenta como uma crise delirante aguda, cuja descrição corresponde aos Transtornos Psicóticos
Breves e/ou aos Transtornos Esquizofreniformes do DSM IV. Na CID.10 corresponderia ao
Transtorno Psicótico Agudo e Transitório e na classificação francesa, CFTMEA, às Psicose Agudas.
Na classificação francesa clássica, o Episódio Delirante Agudo foi descrito pela primeira vez há cem
anos e continua sendo um diagnóstico muito utilizado. O Episódio Delirante Agudo agrupa todas as
patologias com sintomatologia psicótica clássica de duração inferior a seis meses, portanto, inclui
transtornos variados. Seus limites são difusos, o que limita um maior interesse acadêmico.
Henri Ey foi quem melhor descreveu o Episódio Delirante Agudo. Para esse autor a diferença com a
Esquizofrenia faz-se romântica e poeticamente, e consta em determinar se é uma "loucura de um
instante" ou de uma "loucura de uma existência". Continua dizendo que as formas delirantes e
alucinatórias que aparecem no início da Esquizofrenia são aproximadamente do mesmo tipo que
aquelas do Episódio Delirante Agudo, portanto, não são muito úteis para a diferenciação. A maior
contribuição de Henri Ey foi, talvez, o nome que deu a esse transtorno: Psicose Reativa Breve,
sugerindo com isso uma causa psicogênica.
O DSM IV, por sua vez, descreve duas formas do Transtorno Psicótico Breve: aguda e subaguda. O
Transtorno Psicótico Breve agudo tem duração inferior a um mês e, invariavelmente, há um retorno
completo da normalidade psíquica depois do episódio psicótico. O Transtorno Psicótico Breve e
Agudo da DSM.IV é o que mais se identifica com a classificação inicial de Ey, já que ambos supõem o
aparecimento do quadro depois de um estresse marcante.
Tendo em vista a gritante diferença de prognóstico entre o Transtorno Psicótico Agudo, que é bom, e o
Transtorno Esquizofrênico, incluindo o Transtorno Esquizofreniforme, que são ruins, o diagnóstico
desses quadros no adolescente deve ser muitíssimo criterioso.
Carlsom et al (1994) observaram que em 45% dos casos, os Transtornos Esquizofreniformes aparecem
antes dos 20 anos. Dos casos que se apresentaram antes dos 20 anos de idade e inicialmente
considerados Esquizofreniformes, 58% evoluíram para a Esquizofrenia e 18,3% para Transtornos
Afetivos Bipolares, no grupo de pacientes adolescentes.
A característica essencial do Transtorno Psicótico Breve é uma perturbação que envolve o início súbito
de pelo menos um, dos seguintes sintomas psicóticos positivos: delírios, alucinações, discurso
desorganizado (por ex., incoerência), ou comportamento amplamente desorganizado, podendo chegar
até a catatonia.
Pelo DSM.IV esse episódio dura, no mínimo 1 dia e no máximo 1 mês, e o paciente acaba tendo um
pleno retorno ao nível anterior de funcionamento psíquico. Mas alerta da necessidade de diferenciá-lo
de um Transtorno do Humor Grave com Aspectos Psicóticos ou de um transtorno devido aos efeitos de
alguma substância, como por exemplo, um alucinógeno.
Esquizofrenia na Adolescência
Pela gravidade, a Esquizofrenia é o tema central dos Transtornos Psicóticos da adolescência. Este
diagnóstico, feito com demasiada rapidez e simplicidade em muitas ocasiões, é um diagnóstico
sindrômico e deve satisfazer, imperiosamente, a um conjunto de critérios para poder sustentar-se.
Enquanto as raras formas que aparecem na infância tendem a ter início insidioso e são invariavelmente
mais graves, as Esquizofrenias da adolescência seriam muito mais agudas. No que se refere à relação
entre sexos, os estudos mostram proporção igual entre homens e mulheres, entretanto, alguns apontam
pouca e discreta maior freqüência entre os homens.
Entre antecedentes pessoais, se encontram com freqüência nos pacientes esquizofrênicos outros
transtornos prévios da personalidade, de intensidade moderada ou grave. Em estudo de crianças e
adolescentes com transtornos psicóticos (McClelam, idem) foram encontrados 60% de antecedentes de
transtornos da personalidade.
De fato, esse continua sendo um dos mais importantes diferenciais entre essa doença e o Episódio
Delirante Agudo; para ser classificado como Esquizofrenia os transtornos psicóticos persistem durante
um período mínimo de seis meses. Este critério de duração é tão importante para a Esquizofrenia do
adulto quanto da adolescência e, em revisão dos critérios diagnósticos para Esquizofrenia na
adolescência, Jeammet (2000) concluiu que o critério de duração mínima de seis meses continua sendo
um dos mais seguros.
Podem surgir ainda, na fase prodrômica, experiências de percepção incomuns, como por exemplo,
sentir a presença de uma pessoa ou força invisível, ainda que não existam alucinações francas. O
comportamento nessa fase, embora não seja amplamente desorganizado, pode ser peculiar, como por
exemplo, resmungar para si mesmo, colecionar objetos estranhos e visivelmente sem valor. Mas tudo
isso só tende a confundir ainda mais o diagnóstico médico, já que, na adolescência normal, tudo isso
pode ser perfeitamente comum.
Em termos de comportamento e interação social, a maior parte dos esquizofrênicos mantém contatos
sociais relativamente limitados. Na Esquizofrenia, os adolescentes que eram socialmente ativos podem
tornar-se retraídos, perdem o interesse em atividades com as quais anteriormente sentiam prazer,
tornam-se menos falantes e curiosos, e podem passar a maior parte de seu tempo na cama. Para a
família esses sintomas de apatia e desinteresse, chamados de sintomas negativos, costumam ser o
primeiro sinal de que algo está errado.
Esta observação, questionada durante algum tempo, se reafirmou na atualidade por alguns estudos
publicados, os quais comprovam que os Transtornos do Humor aparecem no 20 a 30% dos casos em
pacientes menores de 20 anos (Ballenger, 1982). Nesses trabalhos, a idade media de início dos quadros
de humor na adolescência (Transtorno do Humor Grave com Sintomas Psicóticos) fica em torno dos
13,9 e 15,3 anos.
Os sintomas psicóticos mais freqüentes nos Transtornos do Humor com manifestações psicóticas são as
idéias delirantes, seguidas pelas alucinações auditivas e, por último, por transtornos do pensamento, tais
como, perda de associações, incoerência, pobreza do conteúdo, neologismos, perseveração, bloqueios e
ecolalia (Abrams, 1981; Ballenger, 1982; Cortos, 1998).
Por causa desses fenômenos psicóticos, jamais podemos considerar, como se fazia antigamente, que as
alucinações auditivas sejam patognomônicas da Esquizofrenia. Na adolescência elas são mais comuns
em Transtornos Bipolares graves.
Isso explica a freqüência dos erros de diagnósticos de Esquizofrenia em pacientes que sofrem
Transtornos Bipolares. E tais erros são tão comuns que, de acordo com o estudo de Werry (idem), a
metade dos pacientes bipolares com idade entre 13 e 17 anos foram considerados erroneamente
esquizofrênicos depois de reavaliação realizada durante 5 anos de seguimento.
Em adultos esses enganos de diagnóstico são menos freqüentes, embora também ocorram entre essas
duas patologias. Pelo estudo de Joice (1982), 72% dos pacientes maníacos cujo transtorno havia
começado antes dos 20 anos tiveram um primeiro diagnóstico de Esquizofrenia, contra 24% dos
pacientes maníacos cujos transtornos haviam começado depois dos 30 anos.
Transtorno Esquizoafetivo
O conceito francês de Psicose Distímica ou Esquizofrenia Distímica, segundo a terminologia da
CFTMEA, ou de Transtorno Esquizoafetivo, segundo a terminologia do DSM.IV e CID.10, levanta o
difícil e não resolvido problema da fronteira entre a Esquizofrenia e os Transtornos do Humor (Eggers,
1989).
Se o diagnóstico de Esquizofrenia, em geral, tem sido muito difícil de ser feito em adolescentes, o
diagnóstico de Transtorno Esquizoafetivo é mais difícil ainda. Isso porque os sintomas se confundem
fortemente, no adolescente, com sintomas dos Transtornos Afetivos ou do Humor.
O fenômeno alucinatório é demasiadamente grave para excluir algum transtorno emocional. Ocorre que
nem sempre ela é patognomônica da psicose (esquizofrênica ou outra), podendo existir em alguns
outros transtornos emocionais, tais como Depressão Grave, por exemplo. Pode ainda, tratar-se de uma
maneira exuberante de reação ao estresse, uma espécie de vulnerabilidade alucinatória às exigências
emocionais.
Entre os fatores favorecedores das alucinações emancipadas dos transtornos psicóticos encontra-se,
além da extrema sensibilidade ao estresse, também elementos culturais, tais como, espirituais e
religiosos.
Por razões culturais, sabemos que determinados grupos sociais compartilham alucinações, sejam
auditivas, visuais ou qualquer outra, sem que tenham todos alguma psicose esquizofreniforme.
Este falso aspecto de loucura é chamado, em francês, de "Folie a Deux" (loucura a dois) ou, conforme
as novas denominações, de Psicose Compartilhada. Tal atitude alucinatória, digamos, cultural, funciona
como uma espécie de desprezo contra a realidade, à medida que proporcionem apoio à fantasia
coletivamente aspirada.
Na Esquizofrenia 71%
No Transtorno do Humor Grave 67%
No Transtorno de Personlaidade 20%
(McClelam e Werry)
Quanto aos adolescentes com transtornos de personalidade, McClelam e Werry (idem) encontraram
sintomas alucinatórios freqüentes em portadores de personalidade Borderline, Anti-social, Esquizóide e
Esquizotípica. De outra forma, nas reações alucinatórias ao estresse intenso, os sentidos podem
perceber estímulos que não existem, com a intencionalidade (inconsciente) de "ver" o que se pretende
ser visto.
Alucinações emancipadas das psicoses esquizofreniformes devem, a rigor, ser divididas em Alucinoses
e Pseudo-Alucinações. As classificações internacionais e os principais psicopatologistas atribuam à
Alucinose uma origem exclusivamente orgânica, notadamente conseqüente ao uso de substâncias ou
álcool ou à causas eminentemente neurológicas.
Segundo o prof. Eunofre Marques, em certos tipos de alucinose a consciência está preservada e a
pessoa mantém o juízo e a crítica normais, assim, essas alucinações são reconhecidas como anormais
pelo próprio indivíduo, o qual tem certeza de que não correspondem à realidade. Elas ocorrem, mais
provavelmente, em doenças neurológicas, geralmente lesionais ou tumorais.
Em outro tipo de alucinose, não existe crítica do paciente a elas e ele as vive como se fizessem parte
real de seu mundo. Esse tipo também tem natureza orgânica e pode ocorrer em quadros de alcoolismo,
uso de substâncias, de corticóides, em problemas metabólicos (uremia, p. ex.), em estados de edema
cerebral ou nos estados moderados de demência. De qualquer forma, até por questão convencional, não
existem alucinoses sem base orgânica, fazendo delas um indicativo diagnóstico.
Nos Adolescentes, onde, excetuando-se a questão do uso de drogas, na maioria das vezes estão
afastadas as causas orgânicas, os casos de alucinações isoladas dão-se por razões eminentemente
psicogênicas. Com freqüência o próprio adolescente tem noção e crítica da irrealidade do que está
percebendo, tornando esses fenômenos mais um tipo de pseudo-alucinações do que alucinações
propriamente ditas.
Esquizofrenias
São várias as tendências de reflexão sobre a Doença Mental, notadamente sobre as Psicoses que, embora
provenientes de diversos momentos históricos do pensamento psicológico, estimulam bastante as
discussões sobre o tema.
Temos o modelo Sociogênico, no qual a sociedade, complexa e exigente, é a responsável exclusiva pelo
enlouquecimento humano. Temos também o modelo Organogênico, diametralmente oposto ao anterior,
onde os elementos orgânicos da função cerebral seriam os responsáveis absolutos pela Doença Mental.
Tem ainda o enfoque Psicogênico, onde a dinâmica psíquica é responsável pela doença e subestimam-se
as disposições constitucionais. Há ainda o modelo Organodinâmico, que compatibiliza todos três
anteriores, onde participariam requizitos biológicos, motivos psicológicos e determinantes sociais. Na
realidade esse modelo é mais comnhecido como Bio-Psico-Social
Tem sido quase unanimemente aceito na psiquiatria clínica a associação de determinadas configurações
de personalidade predispostas e a eclosão de psicoses. Estas personalidades são as chamadas
Personalidades Pré-mórbidas, cujo conceito é abordado neste trabalho no capítulo sobre os nstornos da
Personalidade; constituições que por si transtornam a vida do indivíduo ou incapacitam um
desenvolvimento pleno, ou ainda, em certas circunstâncias, encerram uma maior aptidão para o
desenvolvimento de determinadas doenças psíquicas.
A Constituição (Personalidade) Pré-mórbida é considerada pela psicopatologia como uma variação do
existir humano e traduz uma possibilidade mais acentuada para o desenvolvimento de certa
vulnerabilidade psíquica. Aqui o termo "possibilidade" deve ser considerado em toda sua plenitude, ou
seja, um carater não-obrigatório mas que deve ser levado muito a sério.
Clinicamente e a grosso modo, podemos dizer que as neuroses diferenciam-se das psicoses pelo grau de
envolvimento da personalidade, sendo sua desorganização e desagregação muito mais pronunciadas nas
psicoses.
O vínculo com a realidade é muito mais tênue e frágil nas psicoses que nas neuroses, nestas a realidade
não é negada mas vivida de maneira mais sofrível, valorizada e percebida de acordo com as lentes da
afetividade e representada de acordo com as exigências conflituais.
Já nas psicoses, alguns aspectos da realidade são negados e substituídos por concepções particulares e
peculiares que atendem unicamente às características da doença.
A sintomatologia psicótica caracteriza-se, principalmente, pelas alterações a nível do pensamento e da
afetividade e, conseqüentemente, todo comportamento e toda performance existencial do indivíduo serão
comprometidos. Na psicose o pensamento e a afetividade se apresentam qualitativamente alterados, tal
como uma novidade cronologicamente delimitada na história de vida do paciente e que passa a atuar
morbidamente em toda sua performance psíquica.
Essa alteração confere ao paciente uma maneira patológica de representar a realidade, de elaborar
conceitos e de relacionar-se com o mundo objectual. Não contam tanto aqui as variações quantitativas de
apercepção do real, como pode ocorrer na depressão, por exemplo, mas um algo novo e qualitativamente
distinto de todas nuances anteriormente permitidas, um algo essencialmente patológico, mórbido e
sofrível.
A Esquizofrenia é uma doença da Personalidade total que afeta a zona central do eu e altera toda estrutura
vivencial. Culturalmente o esquizofrênico representa o estereotipo do "louco", um indivíduo que produz
grande estranheza social devido ao seu desprezo para com a realidade reconhecida. Agindo como alguém
que rompeu as amarras da concordância cultural, o esquizofrênico menospresa a razão e perde a liberdade
de escapar às suas fantasias.
Segundo Kaplan, aproximadamente 1% da população é acometido pela doença, geralmente iniciada antes
dos 25 anos e sem predileção por qualquer camada sócio-cultural. O diagnóstico baseia-se
exclusivamente na história psiquiátrica e no exame do estado mental. É extremamente raro o
aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou depois dos 50 anos de idade e parece não haver nenhuma
diferença na prevalência entre homens e mulheres.
Esquirol (1772-1840) considerava a loucura como sendo a somatória de dois elementos: uma causa
predisponente, atrelada à personalidade, e uma causa excitante, fornecida pelo ambiente. Hoje em dia,
depois de muitos anos de reflexão e pesquisas, a psiquiatria moderna reafirma a mesma coisa com
palavras atualizadas. O principal modelo para a integração dos fatores etiológicos da esquizofrenia é o
modelo estresse-diátese, o qual supõe o indivíduo possuidor de uma vulnerabilidade específica colocada
sob a influência de fatores ambientais estressantes (causa excitante). Em determinadas circunstâncias o
binômio diátese-estresse proporcionaria condições para o desenvolvimento da esquizofrenia. Até que um
fator etiológico para a doença seja identificado, este modelo parece satisfazer as teorias mais aceitas sobre
o assunto.
Através da CID-10 foi incluída na classificação das esquizofrenias o Transtorno Esquizotípico. Na
realidade não acreditamos tratar-se de mais um tipo da doença, mas de um estágio da mesma doença.
Sabendo-se os sintomas gerais, básicos e de primeira ordem das esquizofrenias, podemos entender o
Transtorno Esquizotípico como sendo uma fase pré-mórbida da psicose: mais sério que o Transtorno
Esquizóide de Personalidade e menos mórbido que a Esquizofrenia franca. Tanto está certa esta visão que
o próprio CID-10 considera este transtorno como sinônimo de Esquizofrenia Prodrômica (Inicial),
Borderline (limítrofe), ou Pré-Psicótica.
Os sintomas característicos da esquizofrenia podem ser agrupados, genericamente, em 2 tipos: positivos e
negativos. Os sintomas positivos são os mais floridos e exuberantes, tais como as alucinações (mais
freqüentemente, as auditivas e visuais e, menos freqüentes as táteis, e olfativas), os delírios
(persecutórios, de grandeza, de ciúmes, somáticos, místicos, fantásticos), perturbações da forma e do
curso do pensamento (como incoerência, prolixidade, desagregação), comportamento desorganizado,
bizarro, agitação psicomotora e mesmo negligência dos cuidados pessoais.
Os sintomas negativos são, geralmente, de déficits, ou seja, a pobreza do conteúdo do pensamento e da
fala, embotamento ou rigidez afetiva, prejuízo do pragmatismo, incapacidade de sentir emoções,
incapacidade de sentir prazer, isolamento social, diminuição de iniciativa e diminuição da vontade.
Alguns sintomas, embora não sejam específicos da Esquizofrenia, são de grande valor para o diagnóstico.
Seriam:
Delírios
Os delírios, sintoma carro chefe da Esquizofrenia, são crenças errôneas, habitualmente envolvendo a
interpretação falsa de percepções ou experiências. Seu conteúdo pode incluir uma variedade de temas,
como por exemplo, a perseguição (persecutórios), referenciais, somáticos, religiosos, ou grandiosos. Os
delírios persecutórios são os mais comuns. Neles a pessoa acredita estar sendo atormentada, seguida,
enganada, espionada ou ridicularizada. Os delírios de referência também são comuns; neles a pessoa crê
que certos gestos, comentários, passagens de livros, um delírio e uma idéia vigorosamente mantida às
vezes é difícil, e depende do grau de convicção com o qual a crença é mantida, apesar de evidências
nitidamente contrárias.
Os Delírios na Esquizofrenia podem sugerir ainda uma interpretação falsa da realidade percebida. É o
caso por exemplo, do paciente que sente algo sendo tramado contra ele pelo fato de ver duas pessoas
simplesmente conversando. Trata-se, neste caso, de uma Percepção Delirante. Desta forma, a Percepção
Delirante necessita de algum estímulo para ser delirantemente interpretado (no caso, duas pessoas
conversando). Outras vezes não há necessidade de nenhum estímulo à ser interpretado, como por
exemplo, julgar-se deus. Neste caso trata-se de uma Ocorrência Delirante. O tipo de Delírio mais
freqüentemente encontrado na Esquizofrenia é do tipo Paranóide ou de Referência, ou seja, com temática
de perseguição ou prejuízo no primeiro caso e de que todos se referem ao paciente (rádios, vizinhos,
televisão, etc) no segundo caso.
Na Esquizofrenia os Delírios surgem paulatinamente, sendo percebidos aos poucos pelas pessoas íntimas
aos pacientes. Em relação ao Delírio de Referência, inicialmente os familiares começam à perceber uma
certa aversão à televisão, aos vizinhos, etc.
Embora os delírios bizarros sejam considerados especialmente característicos da Esquizofrenia, pode ser
difícil avaliar o grau de "bizarria", especialmente entre diferentes culturas. Os delírios são considerados
bizarros se são claramente implausíveis e incompreensíveis e não derivam de experiências comuns da
vida. Um exemplo de delírio bizarro é a crença de uma pessoa de que um estranho retirou seus órgãos
internos e os substituiu pelos de outra, sem deixar quaisquer cicatrizes ou ferimentos. Um exemplo de
delírio não-bizarro é a falsa crença de estar sob vigilância policial.
Os delírios que expressam uma perda de controle sobre a mente ou o corpo (isto é, aqueles incluídos na
lista de sintomas de primeira ordem de Schneider) geralmente são considerados bizarros; eles incluem a
crença da pessoa de que seus pensamentos foram retirados por alguma força externa (extração de
pensamentos), que pensamentos estranhos foram colocados em sua mente (inserção de pensamentos) ou
que seu corpo ou ações estão sendo manipulados por alguma força externa (delírios de controle). Se os
delírios são considerados bizarros, este sintoma isolado já basta para satisfazer o Critério A para
Esquizofrenia.
Alucinações
As alucinações, outro sintoma típico (mas não exclusivo) da Esquizofrenia, podem ocorrer em qualquer
modalidade sensorial, ou seja, auditivas, visuais, olfativas, gustativas e táteis. As alucinações auditivas
são, de longe, as mais comuns e características da Esquizofrenia, sendo geralmente experimentadas como
vozes conhecidas ou estranhas, que são percebidas como distintas dos pensamentos da própria pessoa. O
conteúdo pode ser bastante variável, embora as vozes pejorativas ou ameaçadoras sejam especialmente
comuns. Certos tipos de alucinações auditivas, como por exemplo ouvir duas ou mais vozes conversando
entre si ou comentando os pensamentos ou o comportamento da pessoa, têm sido considerados
particularmente característicos da Esquizofrenia e foram incluídos na lista de sintomas de primeira ordem
de Schneider.
A desorganização do pensamento é defendida por alguns autores, como Bleuler, em particular, como o
aspecto mais importante da Esquizofrenia. Em vista da dificuldade inerente ao exame do pensamento,
este será feito pela qualidade do discurso do paciente, portanto, o conceito de discurso desorganizado foi
salientado na definição de Esquizofrenia usada neste manual.
As Alucinações mais comuns na Esquizofrenia são do tipo auditivas, em primeiro lugar e visuais em
seguida. Conforme diz Schneider, "de valor diagnóstico extraordinário para o diagnóstico de uma
Esquizofrenia são determinadas formas de ouvir vozes: ouvir os próprios pensamentos (pensar alto),
vozes na forma de fala e respostas e vozes que acompanham com observações a ação do doente". Esta
Sonorização do Pensamento, juntamente com alguns outros sintomas que envolvem alucinações auditivas
e sensações de ter os próprios pensamentos influenciados por elementos externos, compõem a
sintomatologia que Schneider considerou como sendo de Primeira Ordem.
Um esquizofrênico pode estar ouvindo sua própria voz, dia e noite, sob a forma de comentários e
antecipações daquilo que ele faz ou pretende fazer , como por exemplo: "ele vai comer" ou ainda, "o que
ele está fazendo agora ? Está trocando de roupas". Outro sintoma importante no diagnóstico da
esquizofrenia é a sensação de que o pensamento está sendo irradiado para o exterior ou mesmo sendo
subtraído ou "chupado" por algo do exterior: Subtração e Irradiação do pensamento, também
considerados de Primeira Ordem. Igualmente podemos encontrar a sensação de que os atos estão sendo
controlados por forças ou influências exteriores.
O início da psicose depois dos quarenta e cinco anos, freqüentemente se relaciona com fatores orgânicos
identificáveis e não se trata de esquizofrenia, mas a primeira preocupação deve ser sempre verificar se
não se trata de um transtorno do humor grave com sintomas psicóticos.
Habitualmente a irrupção da esquizofrenia se nota quando a família e os amigos observam que a pessoa
mudou de comportamento, que já não é mais a mesma. A pessoa passa a funcionar mal em áreas
significativas da vida cotidiana, como na escola ou trabalho, nas relações sociais e familiares.
Freqüentemente há uma notável falta de interesse por cuidados com de si mesmo. Os próprios pacientes
experimentam os seguintes sentimentos:
A. Perplexidade
No começo da doença os pacientes informam um sentimento de estranheza sobre a experiência, alguma
confusão sobre de onde vêem os sintomas (normalmente alucinações) e se perguntam parque sua
experiência.diária.tem.mudado.tanto.
B. Isolamento
A pessoa esquizofrênica experimenta uma sensação intensa de ser diferente dos demais e de estar
separada de outras pessoas. O isolamento social e a evitação de contactos tornam-se evidente.
C. Ansiedade e Terror
Em geral a experiência cotidiana está invadida por uma sensação geral de mal estar e ansiedade.
Evidenciam-se os períodos de terror intenso, causado por um mundo dentro do qual tudo parece perigoso
e incontrolável, normalmente atribuído a origens externas e mágicas.
A Esquizofrenia serviu de modelo da loucura. Hoje, apesar de ser um quadro grave tem boas
possibilidade de tratamento
São várias as tendências de reflexão sobre a Doença Mental, notadamente sobre as Psicoses que,
embora provenientes de diversos momentos históricos do pensamento psicológico, estimulam bastante
as discussões sobre o tema.
Tem ainda o enfoque Psicogênico, onde a dinâmica psíquica é responsável pela doença e subestimam-
se as disposições constitucionais. Há ainda o modelo Organodinâmico, que compatibiliza todos três
anteriores, onde participariam requisitos biológicos, motivos psicológicos e determinantes sociais. Na
realidade esse modelo é mais conhecido como Bio-Psico-Social.
Tem sido quase unanimemente aceito na psiquiatria clínica a associação de determinadas configurações
de personalidade predispostas e a eclosão de psicoses. Estas personalidades são as chamadas
Personalidades Pré-mórbidas, cujo conceito é abordado neste trabalho no capítulo sobre os
Transtornos da Personalidade; constituições que por si transtornam a vida do indivíduo ou incapacitam
um desenvolvimento pleno, ou ainda, em certas circunstâncias, encerram uma maior aptidão para o
desenvolvimento de determinadas doenças psíquicas.
A Constituição (Personalidade) Pré-mórbida é considerada pela psicopatologia como uma variação do
existir humano e traduz uma possibilidade mais acentuada para o desenvolvimento de certa
vulnerabilidade psíquica. Aqui o termo "possibilidade" deve ser considerado em toda sua plenitude, ou
seja, um caráter não-obrigatório mas que deve ser levado muito a sério.
Clinicamente e a grosso modo, podemos dizer que as neuroses diferenciam-se das psicoses pelo grau de
envolvimento da personalidade, sendo sua desorganização e desagregação muito mais pronunciadas nas
psicoses.
O vínculo com a realidade é muito mais tênue e frágil nas psicoses que nas neuroses, nestas a realidade
não é negada mas vivida de maneira mais sofrível, valorizada e percebida de acordo com as lentes da
afetividade e representada de acordo com as exigências conflituais.
Já nas psicoses, alguns aspectos da realidade são negados e substituídos por concepções particulares e
peculiares que atendem unicamente às características da doença.
Essa alteração confere ao paciente uma maneira patológica de representar a realidade, de elaborar
conceitos e de relacionar-se com o mundo objectual. Não contam tanto aqui as variações quantitativas
de apercepção do real, como pode ocorrer na depressão, por exemplo, mas um algo novo e
qualitativamente distinto de todas nuances anteriormente permitidas, um algo essencialmente
patológico, mórbido e sofrível.
Esquirol (1772-1840) considerava a loucura como sendo a somatória de dois elementos: uma causa
predisponente, atrelada à personalidade, e uma causa excitante, fornecida pelo ambiente. Hoje em dia,
depois de muitos anos de reflexão e pesquisas, a psiquiatria moderna reafirma a mesma coisa com
palavras atualizadas. O principal modelo para a integração dos fatores etiológicos da Esquizofrenia é o
modelo estresse-diátese, o qual supõe o indivíduo possuidor de uma vulnerabilidade específica
colocada sob a influência de fatores ambientais estressantes (causa excitante). Em determinadas
circunstâncias o binômio diátese-estresse proporcionaria condições para o desenvolvimento da
Esquizofrenia. Até que um fator etiológico para a doença seja identificado, este modelo parece
satisfazer as teorias mais aceitas sobre o assunto.
Alguns sintomas, embora não sejam específicos da Esquizofrenia, são de grande valor para o
diagnóstico. Seriam:
Delírios
Os delírios, sintoma carro chefe da Esquizofrenia, são crenças errôneas, habitualmente envolvendo a
interpretação falsa de percepções ou experiências. Seu conteúdo pode incluir uma variedade de temas,
como por exemplo, a perseguição (persecutórios), referenciais, somáticos, religiosos, ou grandiosos. Os
delírios persecutórios são os mais comuns. Neles a pessoa acredita estar sendo atormentada, seguida,
enganada, espionada ou ridicularizada. Os delírios de referência também são comuns; neles a pessoa
crê que certos gestos, comentários, passagens de livros, um delírio e uma idéia vigorosamente mantida
às vezes é difícil, e depende do grau de convicção com o qual a crença é mantida, apesar de evidências
nitidamente contrárias.
Os Delírios na Esquizofrenia podem sugerir ainda uma interpretação falsa da realidade percebida. É o
caso por exemplo, do paciente que sente algo sendo tramado contra ele pelo fato de ver duas pessoas
simplesmente conversando. Trata-se, neste caso, de uma Percepção Delirante. Desta forma, a
Percepção Delirante necessita de algum estímulo para ser delirantemente interpretado (no caso, duas
pessoas conversando). Outras vezes não há necessidade de nenhum estímulo à ser interpretado, como
por exemplo, julgar-se deus. Neste caso trata-se de uma Ocorrência Delirante. O tipo de Delírio mais
freqüentemente encontrado na Esquizofrenia é do tipo Paranóide ou de Referência, ou seja, com
temática de perseguição ou prejuízo no primeiro caso e de que todos se referem ao paciente (rádios,
vizinhos, televisão, etc) no segundo caso.
Na Esquizofrenia os Delírios surgem paulatinamente, sendo percebidos aos poucos pelas pessoas
íntimas aos pacientes. Em relação ao Delírio de Referência, inicialmente os familiares começam à
perceber uma certa aversão à televisão, aos vizinhos, etc.
Os delírios que expressam uma perda de controle sobre a mente ou o corpo (isto é, aqueles incluídos na
lista de sintomas de primeira ordem de Schneider) geralmente são considerados bizarros; eles incluem a
crença da pessoa de que seus pensamentos foram retirados por alguma força externa (extração de
pensamentos), que pensamentos estranhos foram colocados em sua mente (inserção de pensamentos) ou
que seu corpo ou ações estão sendo manipulados por alguma força externa (delírios de controle). Se os
delírios são considerados bizarros, este sintoma isolado já basta para satisfazer o Critério A para
Esquizofrenia.
Alucinações
As alucinações, outro sintoma típico (mas não exclusivo) da Esquizofrenia, podem ocorrer em
qualquer modalidade sensorial, ou seja, auditivas, visuais, olfativas, gustativas e táteis. As alucinações
auditivas são, de longe, as mais comuns e características da Esquizofrenia, sendo geralmente
experimentadas como vozes conhecidas ou estranhas, que são percebidas como distintas dos
pensamentos da própria pessoa. O conteúdo pode ser bastante variável, embora as vozes pejorativas ou
ameaçadoras sejam especialmente comuns. Certos tipos de alucinações auditivas, como por exemplo
ouvir duas ou mais vozes conversando entre si ou comentando os pensamentos ou o comportamento da
pessoa, têm sido considerados particularmente característicos da Esquizofrenia e foram incluídos na
lista de sintomas de primeira ordem de Schneider.
A desorganização do pensamento é defendida por alguns autores, como Bleuler, em particular, como o
aspecto mais importante da Esquizofrenia. Em vista da dificuldade inerente ao exame do pensamento,
este será feito pela qualidade do discurso do paciente, portanto, o conceito de discurso desorganizado
foi salientado na definição de Esquizofrenia usada neste manual.
As Alucinações mais comuns na Esquizofrenia são do tipo auditivas, em primeiro lugar e visuais em
seguida. Conforme diz Schneider, "de valor diagnóstico extraordinário para o diagnóstico de uma
Esquizofrenia são determinadas formas de ouvir vozes: ouvir os próprios pensamentos (pensar alto),
vozes na forma de fala e respostas e vozes que acompanham com observações a ação do doente". Esta
Sonorização do Pensamento, juntamente com alguns outros sintomas que envolvem alucinações
auditivas e sensações de ter os próprios pensamentos influenciados por elementos externos, compõem a
sintomatologia que Schneider considerou como sendo de Primeira Ordem.
Um esquizofrênico pode estar ouvindo sua própria voz, dia e noite, sob a forma de comentários e
antecipações daquilo que ele faz ou pretende fazer , como por exemplo: "ele vai comer" ou ainda, "o
que ele está fazendo agora ? Está trocando de roupas". Outro sintoma importante no diagnóstico da
Esquizofrenia é a sensação de que o pensamento está sendo irradiado para o exterior ou mesmo sendo
subtraído ou "chupado" por algo do exterior: Subtração e Irradiação do pensamento, também
considerados de Primeira Ordem. Igualmente podemos encontrar a sensação de que os atos estão sendo
controlados por forças ou influências exteriores.
Tipo Paranóide: É o tipo mais comum e é caracterizado pela presença central de delírios, normalmente
com conteúdos persecutórios, autorreferentes, de ciúmes ou de mudanças corporais. A presença de
alucinações principalmente auditivas também faz parte do quadro característico. A presença de
prejuízos da volição e discurso, bem como os distúrbios do afeto e sintomas catatônicos mostram-se
pouco proeminentes
Tipo Catatônico: A alteração marcante neste tipo diz respeito a psicomotricidade podendo apresentar
períodos de mutismo, intenso negativismo, obediência automático e flexibilidade cérea, e em outro
momento agitação e excitação chegando a um intenso estado de agitação e violência denominado
FUROR CATATÔNICO. Os sintomas positivos como delírios e alucinações são ausentes ou com
importância secundária.
Tipo Indiferenciado: Enquadra-se quando não é possível a definição por não haver claro predomínio
dos sintomas que delimitam os Tipos de Esquizofrenia.
Tipo Residual: Consiste no estágio crônico da doença onde os sintomas positivos, que caracterizaram o
diagnóstico de Esquizofrenia, estão ausentes ou diminuídos e os sintomas negativos prevalecem e se
destacam.
Transtorno Deteriorante Simples ou Tipo Simples: Caracteriza-se pelo surgimanto de forma insidioso
porém progressivamente dos sintomas negativos sem que sejam precedidos por sintomas positivos.
Embora a tendência de deterioração tenha sido a característica definidora da Demência Precoce para
Kraepelin, este reconhecia que 13% dos seus pacientes se recuperavam do estado agudo. Mayer Gross e
col, há mais de 20 anos, afirmavam que as condições agrupadas sob o termo Esquizofrenia estavam
associadas à uma tendência geral para desintegração da personalidade, sublinhando a inclinação para
um resultado desfavorável no curso da doença.
Constatou que um segundo ataque da doença, depois de alguns ou muitos anos, poderia obrigar a
readmissão no hospital, talvez para sempre. Sobre o curso da Esquizofrenia, dizia que a doença pode
mostrar agravamento e remissões desde o início e que tais flutuações podem continuar pela vida afora,
mas isso é raro. Via de regra, achava que mesmo o paciente ficando bom no primeiro e segundo surtos,
no terceiro a perspectiva de recuperação ficava muito reduzida.
As evidências sugeriam que a cada surto sucessivo da doença as chances de danos permanentes
aumentavam e que após a terceira recaída a chance de remissão tornava-se menor.
Esta visão clássica sobre o curso e evolução da esquizofrenia é ainda prevalente na psiquiatria. As
pesquisas da década de 90 não mostraram diferenças muito significativas daquelas de Mayer-Gross.
Nos anos 70 foram publicados 3 trabalhos que estudaram o curso da esquizofrenia a longo prazo (por
mais de 20 anos).
As principais conclusões que podem ser tiradas desses trabalhos podem ser resumidas da seguinte
maneira:
1- Não existe um curso típico ou próprio para a Psicose Esquizofrênica. Talvez o mais característico da
esquizofrenia seja, exatamente, a grande variabilidade de cursos encontrados, independentemente da
sintomatologia apresentada no início da doença. Dois grupos de pesquisas (Manfred Bleuler e Ciompi
& Müller) conseguiram sistematizar oito cursos possíveis para a esquizofrenia. Huber e cols.
apresentaram 12 cursos como os mais freqüentes. Com essa variedade não há como estabelecer-se um
determinado modelo de curso que possa ser considerado característico da doença.
2- Apesar da diversidade de cursos que a Psicose Esquizofrênica pode seguir, a tão comentada
tendência inexorável no sentido de uma deterioração progressiva das faculdades mentais não foi
verificada em nenhum desses trabalhos. Ao contrário, apesar de remissões e reagudizações, o mais
freqüente era que, após 5 anos de evolução se observasse uma tendência a estabilização.
3- Nos três estudos houve uma tendência a se atingir um estado de relativa estabilização. A este estado,
digamos, estacionário que a esquizofrenia apresentava depois de algum tempo, Bleuler denominou de
"end state". Bleuler tomou o cuidado de colocar o termo "end state" entre aspas por não se tratar,
absolutamente, de uma situação irreversível imutável.
O termo "end state" teve grande aceitação. Foram propostos 4 tipos de "end state"; 1- grave; 2-
moderado; 3- leve e; 4- "recuperado". Por recuperação entendia-se os quadros com remissão completa
da sintomatologia e os estado psicopatológicos remanescentes muito sutis e discretos. estes últimos só
seriam percebidos por um psiquiatra treinado e não chegavam a influenciar em nada a vida cotidiana
(profissional e familiar) dos pacientes.
Ogawa (1987) acrescenta uma observação à respeito do curso da esquizofrenia diante da recente
utilização dos neurolépticos: a melhora no ajustamento social dos pacientes.
Os critérios inicialmente propostos por Bleuler acerca do grau leve, moderado e severo para o "end
state" se resumem da seguinte forma: 1- Leve são aqueles casos onde o paciente consegue integrar-se e
automanter-se sócio-economicamente; 2- Graves são os casos onde o paciente é incapaz de manter um
convívio social e; 3- Moderados aqueles que não se encaixam em nenhum desses outros dois.
Tendo em vista o agravante seguinte ou seja a Personalidade Pré-mórbida problemática, faz sentido
supor que um paciente tenha maior prejuízo no caso do início da doença ocorrer antes ou durante a fase
do amadurecimento emocional.
O bom funcionamento pré-mórbido (Personalidade pré-mórbida) tem sido constantemente associado a
uma evolução mais favorável, especialmente nos primeiros dez anos após a primeira alta (Stephens,
McGlashan ).
Há também fortes indícios de que deixar a doença sem tratamento por mais tempo é bastante prejudicial
ao futuro desses pacientes. Wyatt revisou urna série de 19 estudos, principalmente de pacientes no
início da doença, que comparavam a evolução daqueles tratados antes do aparecimento da
clorpromazina com a dos tratados depois. Ele observou que o uso do medicamento aumentava a
possibilidade de evolução favorável a longo prazo. Esta conclusão foi confirmada por Opjordsmoen,
que comparou a primeira internação de pacientes em estado delirante, dos quais metade foi internada
antes do tratamento neuroléptico e a outra metade depois. Opjordsmoen descreveu a evolução
significativamente menos favorável dos pacientes que não receberam neurolépticos em seu primeiro
tratamento.
De um modo geral alguns parâmetros, devidamente reconhecidos, podem ser tomados como referência
para o curso e evolução da Esquizofrenia. Em relação aos medicamentos antipsicóticos podemos dizer
que:
- São eficazes em mais de 80% das esquizofrenias
- Atuam mais nos sintomas produtivos (alucinações, delírios)
- Atuam muito menos nos sintomas negativos (apatia, embotamento e desinteresse), com
excessão da proposta de alguns antipsicóticos de última geração
- Os antipsicóticos típicos são de baixo custo
- Os antipsicóticos típicos têm muitos efeitos colaterais
Em relação às perspectivas do tratamento, alguns outros parâmetros são universalmente
reconhecidos:
- Cerca de 50% dos pacientes com doença durando 1 ano apresenta remissão
- Cerca de 45% dos pacientes com doença durando 2 anos apresenta remissão
- Depois de 2 anos de doença as possibilidades de remissão caem vertiginosamente
- Após o 3o. surto as possibilidades de remissão da doença são mínimas.
Em relação à ocorrência de seqüelas após episódios agudos dessa psicose, embora não exista um curso
típico ou próprio para a Psicose Esquizofrênica, podemos representar a evolução conforme esquema
abaixo:
Conforme vemos na figura acima, existem quatro possibilidades para evolução da Esquizofrenia. A
mais comum (no.1), representada por 32,6% dos casos, é aquela que apresenta aumento da seqüela a
cada novo surto psicótico agudo.
Em segundo lugar, (no.2) com 28,4% dos casos, vem o tipo onde as seqüelas aparecem no segundo
episódio psicótico agudo e permanecem do mesmo grau após os episódios agudos subseqüentes.
O terceiro tipo, (no.3) com 24,3% dos casos, não mostra seqüelas após o primeiro episódio agudo mas,
após o segundo há seqüelas de forma constante e igual após os episódios agudos subseqüentes.
Finalmente, o quarto tipo mais comum, (no.4) com 8,4% dos casos, não mostra seqüelas nem após o
primeiro episódio agudo, nem após os episódios agudos subseqüentes. Entretanto, de acordo com nossa
opinião, talvez esse tipo possa tratar-se de Depressão Grave com Sintomas Psicóticos.
De um modo geral, felizmente, há uma tendência bastante favoráveis para resultados do tratamento.
Uma vez tratada esta psicose, pode não haver prejuízo à vida social, porém, não tratada há maior
chance de prejuízo social, ocupacional, pessoal e familiar. A cicatriz na personalidade depois dos
episódios agudos da psicose (seqüela) pode se manter estacionária e definitiva.
Por outro lado, a recuperação plena após o terceiro surto é muito mais difícil que após o primeiro e, de
modo geral, quanto menos surtos, menores são as possibilidades de seqüelas.
Genética da Esquizofrenia
As pesquisas na área genética ainda prometem muitos avanços porém hoje os conhecimento são
restritos
Nas últimas décadas, devido a uma grande variedade de métodos laboratoriais e analíticos, a
investigação genética deu um grande salto com enfoque sobre fatores moleculares, denominando-se,
então, genética molecular. Entre as mais variadas áreas do desenvolvimento humano, houve um grande
interesse da comunidade científica internacional nos estudos genéticos e moleculares da esquizofrenia.
Normalmente esses estudos familiares avaliam a prevalência da doença nos parentes de uma pessoa
afetada e a comparam com a prevalência da doença num outro grupo de população chamado de grupo
controle. Em geral esse grupo controle é representado por parentes normais ou, mais freqüentemente,
pelos índices de prevalência da população geral.
Apesar de um grande número de estudos familiares de esquizofrenia já ter sido realizado até a década
de 80, os estudos mais recentes são, geralmente, considerados de maior validade. Essa maior
confiabilidade deve-se ao uso de instrumentos diagnósticos mais bem estruturados aliados ao uso de
grupos controles mais adequados.
Estudos sobre desenvolvimento posterior à concepção, adoção e diferentes resultados de vida entre
irmãos geneticamente idênticos têm permitido uma separação dos efeitos do ambiente biopsicossocial
na apresentação da doença. Somente 20% dos esquizofrênicos tem um parente de primeiro grau com a
doença declarada. Para outros, parecem existir varias combinações de "fatores de risco", incluindo os
seguintes: consangüinidade com aqueles que tenham outros transtornos psiquiátricos importantes;
estressores identificáveis no período perinatal e durante o desenvolvimento precoce; transtornos
premórbidos da personalidade de natureza esquizóide, paranóide ou esquizotípico e anormalidades
específicas na anatomia, bioquímica e fisiologia cerebral.
Os efeitos totais dos fatores de risco definem a vulnerabilidade do individuo. Os estressores que
ocorrem antes do diagnóstico da doença, incluem desde acontecimentos claramente traumáticos, como
por exemplo a morte de um dos pais, até as exigências normais do desenvolvimento adulto.
Dentre os estudos familiares mais recentes, em média, parentes de primeiro grau de esquizofrênicos
têm um risco 10 vezes maior do que pessoas da população geral de serem diagnosticados com
esquizofrenia. Esse risco, entretanto, não é uma medida direta do componente genético da
esquizofrenia, já que os genes são um enlace dos diversos fatores transmitidos e que se traduzem em
agregação familiar do caráter.
Dentre os vários estudos familiares conduzidos em esquizofrenia, merece especial destaque o estudo
realizado no cantão Roscommon na lrlanda por Kendler em 1993. Esse estudo avaliou as famílias de
todos os indivíduos com diagnóstico de esquizofrenia registrados nesse cantão (285), os controles
populacionais normais apropriados (150), além de indivíduos com transtorno afetivo (99). Uma série de
avaliações e estudos diagnósticos foi e continua a ser realizados nessas famílias.
A Tabela 1 mostra valores de vários autores obtidos nesse estudo, assim como em uma seleção de
outros estudos familiares conduzidos em esquizofrenia nos últimos 30 anos.
Tabela 1 -Seleção de estudos familiares realizados em pacientes com esquizofrenia. Os casos e controles
são os parentes de primeiro grau de pacientes com esquizofrenia e de indivíduos normais,
respectivamente*
Estudo Ano Critério Diag. Casos Controles
NE NT RR NE NT RR
Tsuang et al. 1980 RDC 20 362 0,055 3 475 0,006 9,17
Baron et al. 1985 DSM.III 19 329 0,058 2 337 0,006 9,67
Frangos et al. 1985 DSM.III 26 478 0,054 6 536 0,011 4,91
Coryell e Zimmerman 1988 RDC 1 72 0,014 0 160 - -
Getshon et al. 1988 RDC 3 97 0,031 2 349 0,006 5,17
Maier et al. 1990 RDC 23 463 0,050 1 294 0,003 16,67
Kendler et al. 1993 DSM.III-R 18 276 0,065 2 428 0,005 13,00
Varma et a1. 1997 DSM.III-R 90 530 0,170 2 1137 0,002 85,00
* Tabela copiada do livro “O Desafio da Esquizofrenia” de Itiro Shirakawa, Ana Cristina Chaves e Jair J.
Mari
NE - número de indivíduos diagnosticados com esquizofrenia; NT - número total de familiares
avaliados; RR - risco de recorrência nos parentes de primeiro grau.
Também foi realizado um grande número de estudos em gêmeos, tentando avaliar a participação do
componente genético na causa da esquizofrenia. Os resultados deixam claro não haver um consenso
entre os deferentes estudos, no entanto, de um modo geral, todos eles sugerem uma substancial
contribuição da genética na causa da esquizofrenia. Os padrões e as características da concordância
observada em gêmeos monozigóticos comparados com a concordância em gêmeos dizigóticos
esquizofrênicos (bem menor), traduzem uma etiologia genética complexa.
Tal como os estudos em gêmeos, os estudos de adoção de gêmeos também avaliam a participação dos
componentes genéticos e ambientais na causa da esquizofrenia (Weiss, 1995). Relacionam, esses
estudos, os fatores de indivíduos geneticamente relacionados por serem gêmeos, porém, expostos a um
meio ambiente diferente por terem sido adotados por famílias diferentes. De modo complementar, têm
estudos de indivíduos geneticamente não relacionados mas expostos a um meio ambiente semelhante.
Estudos Genéticos
Muito usados em genética do comportamento, os estudos clássicos em gêmeos comparam o fenótipo
entre Gêmeos Monozigóticos e Gêmeos Dizigóticos. Gêmeos Monozigóticos originam-se de um único
ovo, portanto, apresentam genoma idêntico, enquanto Gêmeos Dizigóticos originam-se a partir de
diferentes ovos, portanto, do ponto de vista genético, seriam como irmãos normais não-gêmeos e, como
tal, apresentam, em média, apenas 50% do genoma em comum.
Sob a premissa de que Gêmeos Monozigóticos e Gêmeos Dizigóticos estão expostos de modo
semelhante ao mesmo meio ambiente, toda correlação fenotípica observada entre Gêmeos
Monozigóticos que for superior àquela presente entre Gêmeos Dizigóticos apontará para a participação
de um componente genético na etiologia da doença (Neale e Cardon, 1992).
Tais estudos apontaram sempre para uma concordância estatística sugestiva de contundente
participação hereditária. Esses dados, além do interesse científico, também foram de grande interesse
prático para o aconselhamento genético.
Mas, para melhor se entender como a esquizofrenia é transmitida de geração em geração, devemos
tentar conhecer os mecanismos biológicos de sua herança. Vem daí a necessidade dos estudos da
genética molecular.
Conclusões (provisórias)
Por um lado, parece não haver qualquer dúvida em relação à participação de um componente genético
importante na causa da esquizofrenia. Por outro lado, entretanto, saber quantos e quais são os genes
que atribuem de fato maior suscetibilidade a essa doença permanece questão ainda aberta.
O máximo que se pode acreditar das recentes pesquisas é que esses genes devem ser responsáveis por
uma pequena porção da variabilidade genética total e que não apresentam mutações específicas
presentes apenas em indivíduos afetados pela esquizofrenia, mas sim, podem aparecer como variantes
comuns encontradas na população geral.
Isso tem impulsionado diversos autores a propor uma mudança na estratégia a ser utilizada em futuros
estudos de mapeamento genético por associação. De modo semelhante aos estudos de ligação, estudos
do tipo exploração do genoma, também podem ser realizados pela metodologia de associação.
Devido aos avanços advindos do projeto Genoma Humano, um grande número de marcadores têm sido
continuamente identificados e em breve haverá marcadores caracterizados em todos os genes humanos.
Além disso, o desenvolvimento de micro-chips para a genotipagem oferecerá, em breve, estudos de
rastreamento com considerável poder na detecção de genes que contribuam à variância genética total da
esquizofrenia.
Tratamento da Esquizofrenia
Os antipsicóticos, familiares e amigos são a principal rede de apoio de pacientes com esquizofrenia.
O curso da esquizofrenia é variável. Alguns pacientes se recuperam totalmente, outros têm recorrências
com ou sem piora do funcionamento ou apresentam piora progressiva e cronificação.
Uma análise, após cinco anos da porcentagem
de tempo que os pacientes se encontraram em
episódio psicótico agudo, mostrou que 47%
dos pacientes ficaram entre 0% e 15% do
tempo de seguimento em estado psicótico,
19% dos pacientes, ficaram entre 15% e 65%
do tempo em quadro psicótico agudo e,
felizmente, apenas 22% dos pacientes entre
76% e 100% do tempo psicóticos.
Quanto ao funcionamento social, que avalia ajustamento ocupacional, relação com amigos e interação
social, 24% apresentaram incapacidade severa e o restante incapacidade moderada leve, ou sem
incapacidade de ressocialização.
O curso foi mais benigno em países em desenvolvimento, com maior número de remissões completas e
menor número de pacientes cronicamente psicóticos. Nesses países menos desenvolvidos, houve menor
proporção de pacientes com incapacidade social severa. O melhor prognóstico social e clínico parece
dever-se a melhor aceitação social dos pacientes, com menores níveis de emoção expressa por parte da
sociedade, ou a outros fatores.
No Japão, pacientes que participaram do IPSS foram acompanhados por 10 anos. Após esse período,
5% encontravam-se em remissão completa, 25% com boa recuperação, 20% cronicamente psicóticos e
50% com remissão incompleta, dados semelhantes ao do seguimento de 5 anos em outros países
desenvolvidos.
A CID-10 propõe a seguinte classificação para os padrões de curso da esquizofrenia com período de
observação mínimo de um ano:
Contínuo;
Episódico com déficit progressivo (vai piorando com o tempo);
Episódico com déficit estável (para no que ficou);
Episódico remitente (volta a apresentar nova crise);
Remissão incompleta (volta "quase" ao normal);
Remissão completa (volta ao normal);
Algumas características no início da doença são indicadoras de mau prognóstico, como ausência de
fator desencadeante, ausência de sintomas afetivos, início insidioso, personalidade pré-mórbida
alterada, isolamento social prévio, baixo desempenho educacional, pior ajustamento social, baixa classe
social e presença de sintomas negativos. Em geral, quanto mais fatores destes estão presentes, mais
provavelmente a esquizofrenia terá um curso com deterioração progressiva. Em mulheres, o curso
geralmente é mais benigno, com menos hospitalizações e melhor prognóstico. Um possível fator para
explicar essas características da esquizofrenia no sexo feminino seriam os estrógenos, os quais atuariam
como protetores naturais.
Os medicamentos antipsicóticos são o tratamento de escolha para esquizofrenia, tanto na fase aguda
como na fase de manutenção. Têm ação pronunciada sobre alguns sintomas, como tensão,
hiperatividade, agressividade, hostilidade, alucinações, delírio, insônia, anorexia, negativismo,
isolamento. Por outro lado, não proporcionam melhora acentuada da crítica, juízo, memória, orientação.
São vários os efeitos colaterais que ocorrem com os antipsicóticos, porém só alguns deles se
desenvolvem em determinado paciente e, felizmente, em geral são leves.
A resposta a cada medicação é individual e a escolha do antipsicótico clássico pode ser feita de acordo
com o perfil de efeitos colaterais e o risco do paciente para estes. Pacientes idosos, por exemplo, têm
maior risco de complicações com os efeitos colaterais anticolinérgicos e com a hipotensão postural,
sendo mais indicado o uso de um antipsicótico potente. E importante ressaltar que a associação de duas
ou mais medicações antipsicóticas clássicas não potencializa efeito antipsicótico, sendo tão efetiva
quanto o uso de uma medicação isolada, enquanto os efeitos colaterais se somam. Desse modo, as
associações devem ser evitadas, exceto quando se procura efeitos diversos, tais como sedação e, ao
mesmo tempo, diminuição dos sintomas psicóticos.
Deve iniciar-se o tratamento com dose baixa, aumentando-a gradualmente, conforme a adaptação do
paciente, até atingir dose ideal. A instalação do efeito antipsicótico dessas medicações demora algumas
semanas, de modo que se deve esperar, no mínimo, 8 semanas antes de considerar que o paciente não
respondeu ao tratamento. Existem preparações na forma injetável de alguns dos antipsicóticos, que
podem ser usadas para conter agitação ou agressividade.
Se a reposta é parcial após 4-6 semanas e há indícios de que o nível sérico do antipsicótico é baixo,
pode-se tentar aumento da dose, pois o paciente pode ter deficiência na absorção da medicação ou
metabolismo aumentado. Se não há resposta, deve mudar-se para um antipsicótico de outra classe. Se
não há melhora com uso de três antipsicóticos clássicos diferentes usados por tempo suficiente,
caracteriza-se refratariedade aos antipsicóticos e o uso de antipsicóticos de nova geração é indicado.
Os novos antipsicóticos vêm sendo cada vez mais usados também como medicação de primeira linha
no tratamento inicial da esquizofrenia. Esses medicamentos têm eficácia semelhante a dos
antipsicóticos clássicos nos sintomas positivos e são mais eficazes nos sintomas negativos da
esquizofrenia, além de apresentarem menos efeitos extra-piramidais nas doses clínicas habituais. Caso
ainda não haja resposta clínica satisfatória, está indicada a clozapina, olanzapina, zuclopixol ou
risperidona. Essa medicação também é indicada se há intolerância aos efeitos colaterais das outras
medicações.
O uso de antipsicóticos também é indicado como tratamento de manutenção, para reduzir o risco de
recaídas. O tratamento de manutenção deve ser contínuo, devido ao risco maior de recaída com
tratamentos com uso intermitente de medicação antipsicótica. A dose usada no controle do quadro
agudo vai sendo reduzida gradativamente, ao longo de vários meses, até atingir a menor dose efetiva
possível, em geral cerca de metade da dose utilizada na fase aguda. O tempo de manutenção da
medicação deve ser de pelo menos 5 anos; após esse período, se não houver recaídas, é possível
estudar a possibilidade de redução e eventualmente suspensão do antipsicótico.
Pacientes com esquizofrenia geralmente têm pouca crítica da doença, deixando de aderir ao tratamento
medicamentoso com muita freqüência. Uma alternativa é o uso de medicação injetável de depósito
(depot). A mudança de medicação oral para a de depósito não pode ser abrupta. A medicação oral deve
ser mantida por pelo menos 3 meses, até que o nível sérico do antipsicótico injetável se estabilize.
Cerca de 25% dos pacientes esquizofrênicos respondem insatisfatoriamente ao tratamento
medicamentoso habitual. A persistência, seja de sintomas positivos seja de sintomas negativos,
dificulta a utilização de abordagens psicossociais e prejudica a reintegração social do paciente. Diante
de um paciente que responde de modo inadequado ao tratamento com antipsicóticos clássicos, a
seguinte estratégia de abordagem medicamentosa deve ser seguida:
Assim sendo, os antipsicóticos sedativos são, como diz o nome, bastante sedativos e pouco incisivos,
ou seja, atuam mais nos estados de agitação que de delírio ou alucinação.
Por outro lado, os antipsicóticos incisivos são indicados sempre que houver exuberância de sintomas
delirantes e alucinatórios. Via de regra, inicialmente e internacionalmente, o surto psicótico é tratado
com haloperidol (Haldol®), na dose de 10 a 20 mg/dia. Havendo má resposta, intolerância ou qualquer
contra-indicação à essa droga opta-se pelos antipsicóticos atípicos ou de 2a. geração (Zyprexa®,
Leponex®, Risperdal®).
Antes dos anos 30, não havia tratamento algum para as psicoses mas, a partir de 1952, com o
descobrimento da clorpromazina, uma fenotiazina, por Delay e Deniker, houve uma mudança radical
no tratamento da esquizofrenia.
O termo neuroléptico, que significa tomar o neurônio ou diminuir tensão nervosa, foi designado para
essas medicações pois, além do efeito sedativo e antipsicótico, elas poderiam causar alguns sintomas
motores, tais como rigidez, a acinesia, os tremores, distonia e acatisia.
Mais recentemente, o termo neuroléptico tem sido substituído pela termo antipsicótico, que representa
melhor a propriedade terapêutica desse grupo de medicações. Inicialmente os neurolépticos foram
utilizados somente para os episódios psicóticos agudos e no final da década de 60 passaram a ser
empregados também como medicação de manutenção.
Depois das fenotiazinas, grupo da clorpromazina, foram sintetizadas medicações de outras classes
farmacológicas e também com propriedades antipsicóticas, como as butirofenonas, os tioxantenos, as
benzamidas e outros. Esses antipsicóticos são conhecidos como antipsicóticos de primeira geração,
clássicos ou convencionais.
Em 1959 foi sintetizado o primeiro antipsicótico da chamada 2a. geração ou atípico. A clozapina, que
praticamente não produz sintomas extrapiramidais, mas pode causar agranulocitose. A partir da década
de 90, outros antipsicóticos, também com pouca propensão a causar sintomas extrapiramidais, foram
sintetizados. Entre eles, estão a risperidona, a olanzapina e outros.
A administração dos antipsicóticos clássicos causa diminuição aguda de interesse e iniciativa, assim
como diminuição da manifestação de emoções ou afetos. Inicialmente, pode haver lentidão na resposta
a estímulos externos e sonolência, mas os indivíduos são facilmente acordados e mantêm funções
intelectuais intactas. Pacientes psicóticos ficam menos agitados e pacientes isolados ou autistas ficam
mais responsivos e comunicativos e o comportamento agressivo e impulsivo diminui.
Gradualmente, em dias ou semanas, os sintomas psicóticos, como os delírios, as alucinações e o
pensamento desorganizado tendem a desaparecer com o uso dos antipsicóticos. Nesse período, também
podem aparecer os chamados sintomas extrapiramidais, que são efeitos colaterais na esfera
psicomotora e caracterizados por bradicinesia, rigidez muscular, tremores e acatisia.
De um modo geral, em maior ou menor grau, quase todos os antipsicóticos produzem sintomas
extrapiramidais, mas os antipsicóticos de nova geração causam menor incidência desses efeitos
colaterais nas doses terapêuticas habituais. Esses medicamentos são lipofílicos e se acumulam no
cérebro, pulmões e outros tecidos, além de passarem para a circulação do feto e para o leite materno.
Apesar desses antipsicóticos terem, geralmente, uma meia-vida de 20 a 40 horas, sua eliminação do
organismo pode demorar até meses. No caso dos antipsicóticos injetáveis de depósito (chamados
depot), a eliminação total do organismo demora ainda mais, até 6 a 8 meses.
A potência clínica e os efeitos extrapiramidais dos antipsicóticos se relacionam com afinidade pelos
receptores de dopamina tipo D2 , com exceção da clozapina. Assim, quanto maior a afinidade por D2,
menor a dosagem necessária para o efeito antipsicótico. O bloqueio D2 em regiões frontais e temporais
límbicas (vias mesolímbica e mesofrontal) está associado ao efeito antipsicótico desses agentes,
enquanto o bloqueio de receptores de dopamina tipo D2 no estriado, via nigroestriatal, causa sintomas
extrapiramidais e no eixo hipotálamo-hipófise (via hipotálamo-hipofisária) causa hiper-prolactinemia,
galactorréia, ginecomastia e amenorréia e o bloqueio de ambas as vias está relacionado à temida
síndrome neuroléptica maligna.
A sedação é mediada pela ação em receptores H1, enquanto a hipotensão e a impotência são mediadas
pelo efeito em receptores alfa-adrenérgicos. O bloqueio de receptores colinérgicos, no sistema nervoso
autônomo periférico, causa sintomas em vários sistemas, como no sistema digestivo através de
constipação intestinal, xerostomia, náusea e vômitos, pirose retroesternal, no geniturinário com
retenção urinária.
Outros efeitos podem se traduzir, por exemplo, por visão borrada e glaucoma de ângulo estreito. O
bloqueio central dos receptores colinérgicos causa alterações cognitivas, distúrbios de memória,
podendo chegar a confusão mental. Os antipsicóticos produzem ainda efeitos colaterais por ação direta
em alguns órgãos e por mecanismos alérgicos.
Podem- se citar as reações dermatológicas e oculares com o uso de fenotiazinas, alterações do ritmo
cardíaco com o uso de vários antipsicóticos, aumento de peso e icterícia por reação de
hipersensibilidade no fígado com o uso de fenotiazinas, além de efeitos bematológicos, como
agranulocitose e leucopenia com o uso de fenotiazinas e clozapina.
Os antipsicóticos podem produzir vários efeitos colaterais porém, em geral, os pacientes apresentam
sintomas leves e transitórios e a ocorrência de efeitos sérios e irreversíveis, felizmente é rara.
As síndromes extrapiramidais agudas podem ser causadas pelos antipsicóticos mais potentes. Além do
bloqueio D2, parece que a ação dos antipsicóticos em outros receptores também tem papel nesses
distúrbios. Uma hipótese recente sugere que uma razão favorável entre antagonismo de receptores
serotoninérgicos tipo 5HT e antagonismo D2 não produziria ou produziria menos efeitos
extrapiramidais; outra hipótese clínica é o balanço recíproco entre bloqueio de receptores D2 e
receptores colinérgicos nos gânglios da base. Quanto mais alta a razão de antagonismo D2/receptores
colinérgicos, maior a propensão a causar síndromes extrapiramidais.
Medicações de alta potência, que bloqueiam mais D2 com doses menores, como por exemplo o
haloperidol e flufenazina, têm ação anticolinérgica mínima e produzem mais síndromes extrapiramidais
do que os antipsicóticos de baixa potência, como a clorpromazina, tioridazina e levomepromazina, cuja
ação anticolinérgica relativamente maior.
Antipsicóticos de nova geração quase não produzem síndromes extrapiramidais, pois bloqueiam pouco
D2 em relação ao bloqueio dos receptores 5HT . Entre as síndromes extrapiramidais agudas se incluem
o parkinsonismo medicamentoso, a distonia, acatisia e discinesia paradoxal.
Parkinsonismo
A acatisia é uma síndrome caracterizada por sentimentos subjetivos de ansiedade, perda da calma
interna, incapacidade de relaxar, acompanhada por inquietação, tal como ficar andando, balançar o
corpo para frente e para trás enquanto sentado ou em pé, levantar o pé como se marchasse no lugar,
cruzar e descruzar as pernas quando sentado ou outras ações repetitivas e sem sentido. Existem vários
tratamentos, o que indica que nenhum é ideal. A primeira medida a ser tomada é a redução da dose do
antipsicótico. Se essa medida não for possível ou suficiente, pode-se tentar tratamento com
anticolinérgicos, mas a resposta é geralmente pobre. Se a sintomatologia persiste, interromper
anticolinérgico e iniciar o uso de beta-bloqueadores (Propranolol®).
Começar com 20 mg/dia de propranolol, duas vezes ao dia, e aumentar até 30-100 mg/dia,
gradualmente, monitorando-se a pressão arterial e o pulso, devido ao risco de hipotensão e bradicardia.
A melhora ocorre geralmente após 48 horas.
Benzodiazepínicos, como o clonazepam (Rivotril®) ou diazepam, podem ser usados associados ao
propranolol, devido sua ação ansiolítica e relaxante muscular. Se não houver melhora, pode-se mudar
para antipsicótico de outra classe, de baixa potência, ou até mesmo para clozapina.
Distonia Aguda
A distonia aguda é caracterizada por espasmos involuntários de músculos que produzem posturas
anormais brevemente sustentadas ou fixas. Inclui posições bizarras de tronco e membros, crise
oculógira (vira os olhos), blefaroespasmo (aperta a pálpebra), protrusão de língua, trismo, torcicolo e
constrição laringo-faringeal. Com freqüência, são dolorosas e podem causar deslocamento de
mandíbula.
Os sintomas ocorrem dentro dos cinco dias iniciais do tratamento ou do aumento da dose. Para o
tratamento rápido, biperideno (Akineton®) 5 mg IM (anticolinérgico) ou anti-histamínico como a
prometazina 25 mg IM (Fenergam®). Há melhora em 15 a 45 minutos, após uma ou duas injeções. Se
não houver melhora após três doses dadas a cada 45 minutos, deve ser procurada outra causa de
distonia. Depois, deve-se manter o antiparkinsoniano (Akineton®) para evitar recorrência.
Outros efeitos extrapiramidais agudos são a síndrome do coelho ou mussitação, que consiste em
tremor perioral, variante do parkinsonismo e a discinesia paradoxal, transtorno raro cujo quadro clínico
lembra a discinesia tardia, mas melhora com os tratamentos que são prescritos para efeitos
extrapiramidais agudos.
Discinesia Tardia
Além das síndromes extrapiramidais agudas, os antipsicóticos podem causar a Discinesia Tardia, uma
síndrome extrapiramidal de início tardio. Esta é caracterizada por movimentos bipercinéticos
repetitivos e involuntários típicos, os quais incluem mascar, movimento de protrusão de língua,
movimentos vermiculares de língua, movimentos de beijo, piscar repetido e rápido, movimentos de
abrir e fechar os lábios.
Podem ocorrer também movimentos coreoatetóicos em membros e tronco, assim como em mãos e
dedos. Ocorre em todas as idades, também em crianças. Curiosamente esses sintomas pioram com a
retirada do antipsicótico e melhoram com o aumento de sua dose. Melhoram também com o sono e
pioram com o nervosismo, podendo sua intensidade variar durante o decorrer do dia e até desaparecer
em certos períodos.
Existem quadros que são considerados variantes da Discinesia Tardia, com o mesmo curso mas com
apresentação clínica e resposta a tratamento diversas. É o caso, por exemplo, da Distonia Tardia, que
se caracteriza por posturas ou posições anormais sustentadas, como torcicolo, blefaroespasmo, careta e
torção de tronco, que persistem por meses ou anos após interrupção do antipsicótico, e a Acatisia
Tardia, similar à Acatisia Aguda, porém, persistente. Podem ocorrer isoladas ou associadas à síndrome
típica de Discinesia Tardia ou a síndrome extrapiramidal aguda.
A prevalência da Discinesia Tardia é em torno de 20%, mas grupos de alto risco, como os idosos,
podem ter prevalência de 70 a 80%. O curso da Discinesia Tardia nem sempre é progressivo, podendo
haver remissão.
A prevalência da Discinesia Tardia aumenta gradualmente com a idade e o risco é maior com maior
duração do tratamento e/ou maior dose total de medicação usada. Todos os antipsicóticos
convencionais têm potencial semelhante para provocar Discinesia Tardia, os antipsicóticos de nova
geração parecem ter menor potencial, mas faltam estudos de acompanhamento a longo prazo. Há
pouquíssimos relatos de casos de Discinesia Tardia produzida pela clozapina (Leponex®), muitos
deles duvidosos, pois os pacientes usaram outros antipsicóticos anteriormente.
Para evitar Discinesia Tardia e controlar sua ocorrência, deve-se indicar o tratamento antipsicótico
adequadamente, com dose mínima efetiva para aqueles que dessa dose se beneficiam, minimizando
assim o risco de Discinesia Tardia. Quando o quadro está instalado, não há mais tratamento uniforme e
efetivo, embora existam várias opções com eficácia parcial.
O tratamento com medicações deve ser considerado para Discinesia moderada a grave e inclui
antagonistas dopaminérgicos, reserpina, benzodiazepínicos e vitamina E. A Clozapina (Leponex®)
pode ser usada em formas graves e incapacitantes, quando for necessário uso de antipsicótico. A
distonia tardia pode ser tratada com anticolinérgicos, benzodiazepínicos e aplicações locais de toxina
botulínica. Uma alternativa é a clozapina (Leponex®), que além de ter efeito antipsicótico melhora a
distonia. A acatisia tardia pode ser tratada com clozapina (Leponex®), reserpina ou benzodiazepínicos.
Outro efeito colateral por bloqueio de receptores de dopamina é a desregulação da temperatura. Pode
manifestar-se como hipertermia benigna, que ocorre de modo transitório no início do uso de clozapina
(Leponex®), ou como Síndrome Neuroléptica Maligna. Esta síndrome é caracterizada por rigidez
muscular intensa, às vezes associada a movimentos coreicos que geralmente precede o aumento da
temperatura (que varia de 38,3°C a 42°C).
O nível de consciência altera-se, variando de agitação e mutismo alerta para estupor e até coma.
Também ocorre instabilidade autonômica, com respostas alternadas simpáticas (taquicardia,
hipertensão) e parassimpáticas (bradicardia, incontinência fecal e urinária). A taquicardia e as arritmias
podem levar a colapso cardíaco. Ocorre, geralmente, até 2 semanas após início ou aumento da dose de
antipsicótico, progride rapidamente levando a uma taxa de mortalidade de 21% quando não tratada.
O diagnóstico é confirmado com dosagem da enzima creatinofosfoquinase (CPK), que se eleva até
2000 a 15000 U/l, refletindo necrose muscular decorrente de contrações musculares contínuas e
intensas. Porém, essa alteração é inespecífica, podendo ocorrer com outros traumas musculares.
Também ocorrem alterações de enzimas hepáticas e leucocitose (15.000 a 30.000) com desvio à
esquerda, em 40% dos casos. O diagnóstico diferencial mais importante é o de parkinsonismo grave
associado com infecção. Também deve ser excluída a catatonia letal (excitação extrema com exaustão,
desidratação e perda de peso). A incidência varia de 0,02% a 2,4% e é maior na presença de distúrbio
mental orgânico, agitação psicomotora ou desidratação.
O uso concomitante de lítio também aumenta o risco, assim como grande número de injeções
intramusculares de antipsicóticos. O tratamento consiste na retirada do antipsicótico, seguida de
medidas de suporte, como resfriamento, hidratação, oxigenação e ventilação mecânica. Inicialmente,
pode ser feito uso de anticolinérgicos, se a febre não for muito alta (até 38°C). Após isso, se não houver
resposta, fazer tratamento com medicações dopaminérgicas: bromocriptina (Bagrem®, Parlodel®) na
dose de 2,5 mg a 10 mg, 3 vezes por dia, até 60 mg/dia. Se não for rapidamente efetivo, pode-se
associar dantrolene, um bloqueador da contração muscular (2-3 mg/kg a cada 15 minutos, até um total
de 10 mg/kg/dia) ou benzodiazepínicos.
Convulsões
Convulsões podem ocorrer, geralmente consistindo de episódio único, mas não trazem complicações.
São causadas principalmente por fenotiazinas, especialmente clorpromazina (Amplictil®), e também
por clozapina (Leponex®). Ocorrem, geralmente, logo após aumento da dose e o risco é maior com
doses mais elevadas. O risco de aparecimento de convulsões com clorpromazina (Amplictil®) é de 9%,
com 1000 mg/dia, e de 0,3%, com doses menores que 500 mg/dia. Com clozapina (Leponex®), doses
abaixo de 300 mg/dia trazem risco de 1 a 2%; doses acima de 600 mg/dia elevam o risco para 5%.
O tratamento inicial consiste na diminuição da dose de antipsicótico, com posterior aumento lento e
gradual se necessário, ou mudança de antipsicótico. Se essas medidas não forem possíveis ou
suficientes, pode-se adicionar medicação antiepiléptica.
A sedação é um efeito comum que geralmente ocorre nos dias iniciais de uso de antipsicóticos, com
desenvolvimento, em geral, rápido de tolerância. Quando o paciente tem sonolência diurna excessiva,
pode-se dar a dose inteira à noite ou reduzir a dose da medicação.
Podem ocorrer também quadros confusionais, com desorientação e rebaixamento do nível de
consciência, principalmente em idosos. Estes ocorrem pelo efeito anticolinérgico do antipsicótico.
Efeitos cardiovasculares
O efeito cardiovascular mais comum é a hipotensão ortostática. Ocorre, geralmente, com a primeira
dose, piora no segundo ou terceiro dia e depois diminui por desenvolvimento de tolerância. A maior
complicação são as quedas, pela possibilidade de ferimentos e fraturas.
Em geral ocorrem em idosos e em pacientes que recebem altas doses de medicação parenteral. Cabe
orientar o paciente para se levantar gradualmente, para evitar a hipotensão. Podem ocorrer também
alterações de condução cardíaca que aparecem no eletrocardiograma, em geral sem implicações
clínicas.
Efeitos gastrintestinais
A xerostomia é um efeito muito comum no início do tratamento, após pode ocorrer tolerância. Os
sintomas são: boca seca, amargor, aftas, quelites, dificuldade para mastigar pela diminuição da secreção
de saliva. Há risco maior de ocorrência de cáries.
Para evitar esse efeito, pode-se fracionar a dieta ou trocar antipsicótíco por um com menos efeito
anticolinérgico. A esofagite de refluxo caracteriza-se por pirose epigástrica. A constipação intestinal é
um efeito muito comum com antipsicóticos mais anticolinérgicos. Deve prescrever-se dieta rica em
fibras e laxantes.
Um efeito colateral mais raro é a icterícia colestática. Geralmente, começa uma a cinco semanas após
início do uso e dura algumas semanas, ocorrendo com clorpromazina (Amplictil®) (de 20/1.000) ou
outros fenotiazínicos.
Sistema geniturinário
A retenção urinária se apresenta com maior freqüência em pacientes idosos, e é mais intensa em
pacientes com hipertrofia de próstata. Ocorre em geral com antipsicóticos mais anticolinérgicos. A
impotência e a ejaculação retardada ou ausente são efeitos relativamente comuns e problemáticos, pois
levam ao abandono do tratamento. São mais comuns com fenotiazinas (Amplictil®, Neozine®) e
podem melhorar com a redução da dose ou substituição do antipsicótico.
Efeitos dermatológicos
Ocorrem vários tipos de reações dermatológicas em aproximadamente 5% dos pacientes que recebem
clorpromazina (Amplictil®) e também surgem com menor freqüência com outras fenotiazinas
(Neozine®). Estas incluem reações de hipersensibilidade e dermatoses de contato e fotosensibilidade,
com queimaduras graves quando há exposição ao sol. Deve interromper-se o uso da medicação e
podem-se usar antihistamínicos, como a prometazina, para aliviar os sintomas.
Efeitos oculares
Antipsicóticos com efeito colateral anticolinérgico alteram a visão de objetos próximos, que fica
borrada por bloqueio da acomodação do cristalino. Pode ser acompanhada de fotofobia decorrente de
midríase. O uso de antipsicóticos associado a anticolinérgicos deve ser evitado em pacientes com
glaucoma de ângulo estreito, pois pode precipitar glaucoma agudo. A retinite pigmentosa leva a
prejuízo da visão e até cegueira, e as lesões podem permanecer mesmo após retirada do antipsicótico.
Ocorre com uso de doses de tioridazina maiores que 600 mg/dia.
Efeitos endócrinos
Aumento de volume de mamas, galactorréia e amenorréia podem ocorrer nas mulheres. O aumento do
volume das mamas pode também aparecer em homens, porém é raro. Decorrem da hiper-prolactinemia
provocada principalmente pelos antipsicóticos clássicos. Os medicamentos de nova geração causam,
em geral, pouco ou nenhum aumento da prolactina sérica.
A clozapina (Leponex®) não causa hiper-prolactinemia. Secreção baixa de ADH é um efeito colateral
raro, que causa poliúria e hiponatremia. O risco de complicações como convulsões se exacerba em
pacientes com polidipsia psicogênica.
Efeitos hematológicos
Aumento de peso é um efeito freqüente, persistente e costuma chegar a mais de 20% além do ideal.
Esse aumento de peso leva a riscos metabólicos e cardiovasculares agravados. Também é estressante,
principalmente em mulheres, e leva ao abandono do tratamento. Causado por todos os antipsicóticos,
seu mecanismo envolve diminuição do metabolismo e aumento da ingestão e, talvez, mudança no ponto
ideal de peso.
A obstrução nasal é efeito comum no início do tratamento, depois se desenvolve tolerância. Tratar com
soluções nasais e, se não houver melhora e incomodar muito, trocar por antipsicótico menos sedativo.
A clozapina (Leponex®) causa salivação excessiva, que ocorre de dia mas é mais intensa à noite. Pode
persistir ou não com o decorrer do tratamento.
Antipsicóticos Atípicos
A clozapina (Leponex®), primeiro antipsicótico quase sem efeitos extrapiramidais, tem eficácia maior
que os antipsicóticos clássicos em pacientes resistentes aos antipsicóticos típicos. Por causa do risco de
agranulocitose, é indicado somente para pacientes realmente intolerantes e refratários aos demais
antipsicóticos.
Outros antipsicóticos de nova geração, eficazes no tratamento não apenas dos sintomas positivos, como
também dos negativos e com poucos efeitos extrapiramidais, vêm sendo desenvolvidos.
A olanzapina (Zyprexa®) está indicada para o tratamento da esquizofrenia e melhora dos sintomas
afetivos normalmente associados com esta patologia e transtornos correlatos. Demonstrou-se também
ser eficaz na manutenção da melhora clínica durante o tratamento contínuo em pacientes que tenham
respondido ao tratamento inicial. A olanzapina possui um amplo perfil farmacológico, já que atua sobre
vários tipos de receptores, dopaminérgicos, serotoninérgicos, adrenérgicos e histamínicos.
Estudos realizados in vitro e in vivo demonstraram que possui maior capacidade de união aos
receptores da serotonina e, além disso, reduz seletivamente a descarga de neurônios dopaminérgicos
mesolímbicos, com menor efeito sobre as vias estriatais, envolvidas na função motora.Em doses
inferiores a olanzapina reduz a resposta aversiva condicionada, o que indica que sua ação antipsicótica
é acompanhada de efeitos colaterais motores mínimos.
A olanzapina é indicada na esquizofrenia e outras psicoses em que os sintomas positivos (delírios,
alucinações, pensamento desordenado, hostilidade e medo) ou os negativos (indiferença afetiva,
depressão emocional e social, pobreza de linguagem) são predominantes.
Adultos maiores de 18 anos devem ter dose inicial oral de olanzapina em 10mg uma vez ao dia. O
intervalo posológico oscila entre 5 e 20mg por dia.
A risperidona (Risperidal®) pertence ao grupo de antipsicóticos-neurolépticos atípicos que têm uma
eficácia similar à dos clássicos, mas com um perfil de efeitos adversos diferentes deles, em especial nos
sintomas extrapiramidais que ocorrem com freqüência muito menor.
O mecanismo de ação da risperidona é desconhecido, embora se acredite que sua atividade é devida a
um bloqueio combinado dos receptores dopaminérgicos D2 e dos receptores serotoninérgicos S2
(antagonista dopaminérgico-serotoninérgico). Outros efeitos da risperidona podem ser explicados pelo
bloqueio dos receptores alfa 2-adrenérgicos e histaminérgicos H1. A risperidona (Risperidal®) é
indicada no controle das manifestações das afecções psicóticas. Como coadjuvante no tratamento de
mudanças do comportamento ou transtornos afetivos em pacientes com deficiência mental.
O tratamento é iniciado em forma gradual com doses moderadas que são progressivamente aumentadas.
No primeiro dia recomenda-se 1mg, duas vezes por dia; 2mg, duas vezes por dia, no segundo dia; e
3mg, duas vezes por dia, no terceiro dia. A atividade antipsicótica máxima foi observada em uma faixa
entre 4mg e 6mg/dia. Com doses superiores a 6mg não há benefícios clínicos adicionais, mas aumenta-
se o risco de reações adversas. Para pacientes com doença hepática ou renal, indivíduos debilitados ou
idosos recomenda-se uma dose inicial de 0,5mg, duas vezes ao dia, com incrementos de 0,5mg, duas
vezes ao dia nos dias seguintes, até atingir a dose ótima.
Em caso de mudar de outro antipsicótico para risperidona, recomenda-se a suspensão da administração
do anterior e o início imediato do tratamento com risperidona; os dois antipsicóticos não devem ser
administrados simultaneamente.
Tratamento de Manutenção
Atualmente o uso contínuo de neuroléptico oral ou depot para o tratamento de manutenção de pacientes
esquizofrênicos é provavelmente uma das práticas clínicas que mais contribuiram para a ressocialização
do paciente esquizofrênico e para a prevenção de recaídas ou novos surtos.
Não obstante, o tratamento de manutenção com neurolépticos, assim como o tratamento de outras
doenças crônicas, apresenta algumas dificuldades. A pouca adesão ao tratamento de manutenção é uma
das principais dificuldades e está intimamente ligada às recaídas .
Para facilitar a adesão dos pacientes ao tratamento continuado de manutenção, foram desenvolvidos os
chamados neurolépticos de ação prolongada (NAP) que podem ser aplicados em dose única, em
intervalos de tempo mais prolongado e sem prejuízo da atividade terapêutica. Em vez de serem
administrados diariamente, como ocorre com os neurolépticos orais, são aplicados em intervalos que
variam de uma a quatro semanas. Os NAP devem ser indicados para pacientes passíveis de recaídas
freqüentes.
Segue a lista dos antipsicóticos de ação prolongada, com o intervalo de aplicação:
Fenotiazina
Flufenazina (Enantato) IM cada 2 semanas
Flufenazina (Decanoato) IM cada 3 semanas
Perfenazina (Enantato) IM cada 2 semanas
Pipotiazina (Undeciclinato) IM cada 2 semanas
Pipotiazina (Palmitato) IM cada 4 semanas
Difenilbutilpiperidina
Fluspirilene IM cada 1 semanas
Penfluridol ORAL cada 1 semanas
Butirofenona
Haloperidol (Decanoato) IM cada 4 semanas
Tioxanteno
Flupentixol (Decanoato) IM cada 2 semanas
CIS (Z) - Clopentixol (Decanoato) IM cada 2 semanas
Dibenzotiepina
Oxiprotepina (Decanoato) IM cada 3 semanas
O risco de recaída na transição do neuroléptico oral para o NAP é pequeno. Não há necessidade de se
fazer um intervalo sem o neuroléptico oral. Recomenda-se que se mantenha a medicação oral em doses
mais baixas do que as habituais por um período de três meses, tempo esperado para que o NAP atinja
níveis plasmáticos estáveis. A dose mensal recomendada deve inicialmente ser dividida ao meio e
administrada em duas vezes (a cada 15 dias).
Caso o paciente seja muito sensível aos efeitos colaterais dos neurolépticos pode-se fracionar ainda
mais as doses. Assim como pode-se ajustar a dose para cada paciente, pode-se também ajustar o
intervalo entre as doses. É importante ressaltar que tanto na fase de exacerbação aguda como na de
manutenção deve-se empregar a dose mínima eficaz, isto vale para neuroléptico de ação curta e de ação
prolongada.
Gravidez e Esquizofrenia
A gravidez na esquizofrenia não é problema só médico. Há um agravo psicossocial, familiar e de
maternidade.
Tanto a mãe esquizofrênica como o filho são pacientes de alto risco psicossocial. A Esquizofrenia, apesar
de ser uma doença psiquiátrica crônica e que requer tratamento por toda vida, quando bem tratada não é
impedimento para a maternidade, pelo menos sob o ponto de vista biológico. recomendável e ela deve ser
evitada por representar um duplo risco, tanto para a mãe como para o filho, considerando os fatores
biológicos, psicossociais e genéticos. Não obstante, a psiquiatria deve estar preparada, pois, às vezes a
paciente esquizofrênica engravida sem planejamento.
O problema da gravidez na esquizofrenia não é, unicamente, médico. Trata-se de um agravo psicossocial,
familiar e de maternidade. Isso sem contar a probabilidade genética da transmissão da doença ao filho.
O fator de risco para herança esquizofrênica é, de modo geral, em torno de 10% para aqueles que têm
um membro familiar direto com a doença e de aproximadamente 40% se a doença afeta ambos os pais
ou gêmeos idênticos. Aproximadamente 60% dos portadores de esquizofrenia possuem parentes não
próximos com a doença. O distúrbio de vestígios no olhar é uma das características genéticas que parece
ser associada com a esquizofrenia.
Esse risco hereditário da esquizofrenia costuma se manifestar na criança, caso tenha adquirido,
geralmente depois dos 15 anos de idade. Embora algumas delas possam portar, desde o berço ou primeira
infância, traços de personalidade esquizóide ou paranóide, podem também ser crianças que estão
estudando bem, habilosas e socialmente normais mas, de súbito, manifestam o quadro com as
alucinaciones e delírios característicos.
Riscos
Entre os riscos da gravidez da mãe esquizofrênica, além daqueles vindos das próprias alterações
psíquicas que a gestação favorece, estão os efeitos secundários dos medicamentos usados para essa
doença. Esses psicofármacos antipsicóticos podem afetar o feto, principalmente quando usados nos três
primeiros meses de gestação.
Quando a mãe usa psicofármacos no final da gravidez, o filho pode apresentar efeitos colaterais depois
do nascimento, como por exemplo, dificuldades na sucção da mama, taquipnéia (respiração rápida),
taquicardia, irritabilidade, tremores, sudorese aumentada e retenção urinária. Mas nenhum desses efeitos
tem gravidade.
Outro fator de risco, também de pouca gravidade, é o aumento das probabilidades de complicações de
parto. As mulheres com esquizofrenia têm probabilidade maior de problemas do parto, incluindo-se
períodos mais curtos de gestação e baixo peso no recém-nascido.
Talvez os maiores problemas seja, realmente, na esfera da atenção materna e da transmissão genética da
esquizofrenia. Geralmente, apenas 30% das crianças filhas de pacientes com problemas psiquiátricos
graves (Psicose Puerperal, Esquizofrenia e Episódios agudos de Transtorno Bipolar) recebem atenção
materna satisfatória.
Conduta
A melhor conduta que se pode idealizar, na questão das pacientes esquizofrênicas e do ponto de vista
científico, é prevenir a gravidez. Conhecendo os riscos, a própria paciente ou, mais provavelmente, os
familiares, devem optar por algum método anticonceptivo constante ou até definitivo.
Eticamente, entretanto, não se pode proibir que as pacientes psicóticas engravidem. Caso isso aconteça,
as atenções pré-natais devem ser redobradas, valendo-se de um psiquiatra juntamente com o obstetra. É
desejável que se use o mínimo de medicamentos necessários para manter a paciente fora da crise. Na
gravidez tenta-se evitar o uso de AP no primeiro trimestre, mas se for necessário recomenda-se o uso de
haloperidol ou trifluoperazina.
Depressão na Esquizofrenia
Houve época em que a psiquiatria se recusava a discutir, e mesmo observar, sintomas depressivos
em pacientes esquizofrênicos.
Houve época em que a psiquiatria se recusava a discutir, e mesmo observar, sintomas depressivos em
pacientes esquizofrênicos. Dizia-se que a doença se caracterizava por embotamento afetivo ou
aplainamento do humor e ponto final; era quase proibido ao esquizofrênico esboçar qualquer sintoma
depressivo.
Por várias décadas os sintomas depressivos da esquizofrenia foram menosprezados, voltando-se quase
exclusivamente para o estudo dos sintomas psicóticos.
Na realidade, os sintomas depressivos são reconhecidos na esquizofrenia desde suas primeiras
descrições (Kraepelin em 1896 e Bleuler em 1911).
As primeiras observações da doença identificavam uma síndrome melancólica freqüente no seu curso,
chegando a considerar-se os sintomas depressivos como parte inerente e intrínseca do processo
esquizofrênico.
O termo Psicose Esquizoafetiva (Transtorno Esquizoafetivo) foi inicialmente proposto por Kasanin, em
1933, para os casos que apresentavam uma combinação de sintomas afetivos e esquizofrênicos.
Para se retomar o estudo sobre sintomas depressivos no curso da doença esquizofrênica, foi decisivo a
importância que se deu, na década de 1970, para os quadros de Depressão Pós-Psicótica.
Nessa época começaram a ser questionados alguns dogmas sobre depressão e esquizofrenia, como por
exemplo, a idéia de que os sintomas depressivos dos pacientes com esquizofrenia eram restritos ou
muito mais freqüente no período pós-psicótico, assim como a idéia de que a ocorrência de sintomas
depressivos na esquizofrenia era, automaticamente, um sinal de bom prognóstico.
Inicialmente as pesquisas apontavam para a constatação de que os sintomas depressivos eram mais
intensos na fase aguda do episódio psicótico e não no período pós-psicótico, além disso, que eles
tendiam a melhorar de acordo com a recuperação do paciente Shanfield et al. (1970).
Segundo McGlashan & Carpenter, a depressão na esquizofrenia tratava-se de "um quadro fásico de
depressão do pensamento e do comportamento que se seguia ao estado psicótico agudo, onde os
sintomas mais pronunciados de distorção da realidade já remitiram" (Rodrigo Afonseca Bressan, in:
Shirakawa, 1998). Esse quadro depressivo era estável, com duração variando entre semanas e mais de
um ano e o prognóstico era considerado favorável.
De fato, estudo específico para avaliar a cronologia dos sintomas depressivos nas diversas fases da
esquizofrenia, confirmou que os sintomas depressivos podem ocorrer em todas as fases da doença e,
exatamente o Episódio Psicótico Agudo é apontado como a fase em que os sintomas depressivos são
mais freqüentes (Green et al. 1990). Além disso, outros estudos mostram que os sintomas depressivos
estão entre os sintomas prodrômicos mais freqüentes que antecedem a descompensação psicótica
(Donlon & Blaker, 1973; Docherty et al., 1978; Herz & Meville, 1980).
A afirmativa duvidosa de que a ocorrência de Depressão Pós-Psicótica era sinal de bom prognóstico
também vem perdendo sustentação progressivamente. Ao contrário do que se pensava, estudos
longitudinais têm considerado a depressão como um indicador de prognóstico desfavorável (Becker et
al., 1985; Becker, 1988).
Segundo levantamento bibliográfico feito por Rodrigo Afonseca Bressan (Shirakawa, 1998), a
Depressão Pós-Psicótica tem sido relacionada a hospitalizações mais longas, à pior resposta a
medicações, pior desempenho social, cronicidade, maiores taxas de recaídas e ao suicídio.
Depressão Pós-Psicótica
O termo Depressão Pós-Psicótica nasceu das observações de Eissler, em 1951, que descreveu uma
síndrome depressiva que seguia o episódio psicótico agudo. Esse estado emocional pós-surto agudo era
caracterizada por apatia e desinteresse e foi denominado de mutismo clínico relativo.
A Depressão Pós-Psicótica tem sido um quadro bastante conhecido, sendo amplamente utilizado na
prática clínica e tendo repercussões nas principais classificações diagnósticas. Na CID.10, sob o código
F20.4, está a Depressão Pós-Esquizofrênica. Segundo essa classificação, trata-se de um “Episódio
depressivo eventualmente prolongado que ocorre ao fim de uma afecção esquizofrênica. Ao menos
alguns sintomas esquizofrênicos positivos ou negativos devem ainda estar presentes, mas não dominam
mais o quadro clínico.”
Segundo ainda a CID.10, este tipo de estado depressivo se acompanha de um maior risco de suicídio e
se os sintomas esquizofrênicos ainda estiverem bastante aparentes e proeminentes, deve-se preferir o
diagnóstico de Esquizofrenia Indiferenciada (F20.3). Como veremos abaixo, a Depressão Pós-
Esquizofrênica pode ser estudada como uma espécie de Depressão Secundária (à esquizofrenia).
Bleuler descreveu, na década de 1950, o comportamento suicida como "o mais grave de todos os
sintomas esguizofrênicos". Aceitava-se, até aquele momento, que aproximadamente 10% dos pacientes
com esquizofrenia morrem devido ao suicídio. Os dados epidemiológicos atualmente aceitos em
relação ao suicídio de pacientes com esquizofrenia, citados por Bressan (in: Shirakawa, 1998) são os
seguintes:
Para os serviços de saúde mental vale muito, como alerta, saber que grande parte dos pacientes
esquizofrênicos que cometeram suicídio apresentava sintomas depressivos no último contato com esses
serviços. Segundo Itiro Shirakawa (1987), o período de maior risco de suicídio para os esquizofrênicos
é fora do episódio psicótico agudo.
Quando a questão em análise é a Tentativa de Suicídio, os números são bem mais expressivos. Os
trabalhos referem taxas entre 18% e 55% de tentativa de suicídio em pacientes esquizofrênicos, com
um valor médio em torno de 30%. A associação entre sintomas depressivos e tentativas de suicídio em
pacientes esquizofrênicos está entre 35% a 79% dos casos (Roy,1990). Estas proporções são
semelhantes às encontradas na população geral.
Em geral, esses sintomas depressivos inerentes ao episódio psicótico agudo, começam no período pré-
surto agudo (fase prodrômica) e intensificam no início da descompensação psicótica franca. Talvez os
sintomas depressivos do episódio psicótico agudo não sejam tão percebidos porque outros sintomas
psicóticos, como alucinações, delírios, desorganização do pensamento e do comportamento, sejam
muito mais exuberantes.
Quando a depressão ocorre na fase de estabilidade da esquizofrenia, isto é, depois de terem passado os
sintomas psicóticos proeminentes, ela pode representar um quadro afetivo disfórico associado, uma
depressão secundária ou um estado de sofrimento moral.
Depois de um Episódio Esquizofrênico Agudo os pacientes podem, menos freqüentemente, evoluir para
um quadro de Depressão Secundária. De fato, é essa Depressão Secundária que se constitui naquilo
que se conhece hoje por Depressão Pós-Esquizofrênica ou Pós-Psicótica.
Esse tipo de depressão se assemelha a um episódio depressivo comum, com duração maior a duas
semanas e quadro clínico típico de depressão (humor deprimido, desesperança, autodepreciação,
ideação suicida, apatia, desinteresse, etc).
Muitas vezes os sintomas da depressão secundária da esquizofrenia são difíceis de diferenciar dos
sintomas negativos da própria esquizofrenia. Entre os sintomas capazes de confundir o clínico está a
apatia, desinteresse, alteração de sono, do apetite, a pobreza na socialização, diminuição da
concentração e da atenção. Essa dificuldade de diagnóstico se justifica quando consideramos os
sintomas próprios da esquizofrenia, os quais podem ser: ansiedade, culpa, falta de energia, perda do
interesse no trabalho, diminuição do interesse social, diminuição da libido, desespero, desesperança,
sensação de inutilidade e ideação suicida.
O Sofrimento Moral é a terceira possibilidade depressiva na esquizofrenia. Trata-se de um quadro
crônico onde, apesar dos sintomas depressivos serem leves, chamam atenção os sintomas de
desesperança. O que acontece aqui é um grande Sofrimento Moral (um dos sintomas básicos de
depressão – veja).
O Sofrimento Moral ou, de acordo com outros autores, a Desmoralização Crônica é um estado de
baixíssima auto-estima e desesperança grave, como uma resposta a um problema grave, real e
permanente.
Normalmente o Sofrimento Moral tende a aparecer com mais gravidade quando existe, por parte do
paciente ou dos familiares, uma grande expectativa de boa performance depois da doença. Aparece
também quando o paciente tem uma boa noção da gravidade de sua doença. Segundo alguns autores,
um grande Sofrimento Moral pode tornar a pessoa bastante incapaz e não haverá boa resposta aos
tratamentos psicofarmacológicos tradicionais para depressão.