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4.1. Introdução
A obrigação de prestar contas surge toda a vez que alguém tem ingerência sobre
bens de terceiros, visando demonstrar lisura na interferência do patrimônio de outro
para que não haja enriquecimento indevido.
A ação de prestação de contas tem por objetivo extinguir a obrigação de prestar
contas, verificando saldo existente. Pode ter iniciativa tanto por parte daquele a quem
cabe prestar como de quem tem o direito de exigir a prestação. Tais contas devem seguir
sempre a forma de escrituração contábil, acompanhada de documentos justificativos.
4.2.1. Procedimento
Na primeira fase o juiz deve verificar a obrigação de prestar contas. Por
conseguinte, a petição inicial deve conter, além dos requisitos do art. 282, menção à
origem da obrigação, se legal ou contratual. Deve também conter prova de que o réu
teve bens do auto em administração.
Respostas do réu: o réu tem cinco dias para responder:
O réu pode permanecer inerte: nesse caso, o juiz julga procedente o dever e
manda o réu prestar as contas em 48 horas, sob pena de o autor fazê-lo em
10 dias.
Apresentação das contas: o réu pode apresentar as contas e encerra-se a primeira
fase. O autor será intimado para, em cinco dias, manifestar-se; caso o autor
se mantenha inerte ou concorde, as contas serão aprovadas. Caso o autor
impugne as contas, pode desenvolver-se a dilação probatória, inclusive com
perícia e audiência, decidindo o juiz sobre as contas.
Apresentação das contas e contestação: o réu pode, simultaneamente, apresentar
as contas e contestar, alegando, por exemplo, que as contas não foram
exigidas previamente.
Contestação com negativa da obrigação de prestar contas: caso o réu não
apresente as contas, mas conteste, negando sua obrigação de prestá-las,
teremos o rito ordinário para que a sentença reconheça ou não a obrigação. O
juiz, julgando procedente, reconhece que o réu tem obrigação de prestar
contas, devendo a sentença condenar o réu a prestá-las no prazo legal.
Cumprindo o réu a determinação de apresentar contas, deverá o autor se
manifestar em cinco dias. Não apresentando o réu as contas, poderá o autor
fazê-lo em 10 dias.
4.3.1. Procedimento
Além dos requisitos do art. 282 do Código de Processo Civil, o autor precisa
demonstrar a sua obrigação de prestar contas; aliás, sua causa de pedir para prestar
contas, juntando, inclusive, os documentos do contrato ou do ato jurídico que criou a
obrigação. Deve, ainda, esclarecer o porquê da propositura da ação, já que as contas não
lhe foram exigidas.
Respostas do réu:
Aceitar as contas: reconhece a procedência do pedido e a lide é antecipadamente
julgada, extinguindo-se o processo com julgamento do mérito (art. 269, inc.
II, do CPC).
Revelia: o juiz julga as contas, muito embora o juiz não esteja vinculado a fazê-
lo, seguindo o rito ordinário.
Contestação: caso o réu conteste, quer na questão principal das contas, quer em
quaisquer outras questões, o procedimento é o ordinário, com julgamento
antecipado da lide, ou com a produção de provas.
Sentença: o saldo credor deverá ser declarado na sentença, conforme expressa
determinação do art. 918: "O saldo credor declarado na sentença poderá ser
cobrado em execução forçada”.
3. RESTAURAÇÃO DE AUTOS
1. AÇÕES POSSESSÓRIAS
A proteção da posse faz-se por meio dos interditos, que são apenas três:
ação de reintegração de posse;
ação de manutenção de posse;
interdito proibitório.
A ação é considerada possessória quando o seu objeto envolve posse; por isso, é
imprescindível identificar qual a relação jurídica que o sujeito mantém com a coisa.
Não basta, entretanto, que a causa de pedir envolva direitos possessórios; a ação
de nunciação de obra nova e os embargos de terceiro não se encaixam no rol das ações
possessórias. O que conduz à ação de reintegração de posse é o esbulho; no caso de
manutenção, deve haver a turbação; e, no interdito proibitório, deve existir grave
ameaça de esbulho à posse.
Fungibilidade
1.2. Legitimidade
1.3. Competência
Trata-se de competência absoluta, não podendo ser derrogada ou modificada.
Serão propostas, as ações possessórias, no foro onde o imóvel violado estiver localizado
ou, em se tratando de bem móvel, no foro do domicílio do réu.
1.4. Procedimento
1.4.1. Petição inicial
A petição inicial deve conter os requisitos dos artigos 282 e 283 do Código de
Processo Civil.
O autor, em petição inicial, deve qualificar o réu, exceto quando impossibilitado
de fazê-lo, por exemplo, em grandes invasões, quando não é possível identificar todas as
pessoas.
O autor deverá afirmar, na inicial, a existência da posse, a duração desta, a
natureza do ato violador e a data em que esse ato ocorreu. Não basta que o autor afirme
o seu direito possessório; o autor deve demonstrar o esbulho ou a turbação de sua posse.
O Código de Processo Civil, em seu artigo 921, autoriza cumular, ao pedido de
proteção possessória, a condenação de perdas e danos, o desfazimento de construção ou
plantação e a pena cominatória em caso de descumprimento de ordem judicial, sem
prejuízo do rito especial.
Outros pedidos poderão ser cumulados, desde que observadas as disposições do
artigo 292 do Código de Processo Civil.
O juiz pode conceder ou não a liminar possessória, que constitui uma
antecipação de tutela com requisitos próprios: entre eles encontra-se a violação do
direito possessório a menos de ano e dia.
A liminar, na ação possessória, limita-se à proteção possessória, não atingindo,
por exemplo, a execução por perdas e danos. Pode ocorrer uma antecipação de tutela da
execução por perdas e danos; entretanto, deve-se seguir as regras do artigo 272 do
Código de Processo Civil.
A liminar pode ser concedida diretamente ou após a audiência de justificação.
Será concedida de plano quando houver prova documental idônea para a demonstração
dos requisitos do artigo 927 do Código de Processo Civil. A declaração de pessoas que
conhecem o fato não servirá como prova para a concessão direta da liminar, visto que a
prova testemunhal deve ser produzida em Juízo.
Se a liminar não for concedida de plano, será designada uma audiência de
justificação onde serão ouvidas as testemunhas do autor, não havendo a rigor, a
necessidade de serem elas arroladas antecipadamente. O réu deve ser citado para
comparecer à audiência; porém, não poderá levar testemunhas nem apresentar provas,
devendo limitar-se a assistir a audiência e, eventualmente, a reperguntar às testemunhas
e oferecer contradita, em caso de suspeição ou impedimento.
A finalidade da audiência de justificação é permitir que o autor faça oralmente a
prova de seu direito e é realizada em seu exclusivo interesse. Partindo dessa finalidade,
deve-se analisar a forma da audiência.
1.4.2. Caução
O artigo 925 do Código de Processo Civil estabelece: “Se o réu provar, em
qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse
carece de idoneidade financeira para, no caso de decair da ação, responder por
perdas, o juiz assinar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para requerer caução sob pena
de ser depositada a coisa litigiosa”.
O juiz, portanto, ao conceder a liminar, em princípio não pode exigir do autor
que ele preste uma caução real ou fidejussória. O que o sistema prevê é que o réu, na
sua defesa, possa requerer que o autor preste caução, sob o argumento de que este
não teria idoneidade financeira para arcar com os prejuízos caso não tenha a tutela
jurisdicional a seu favor. Nesse caso, o juiz pode fixar a caução, sob pena de o bem,
objeto da ação possessória, ser depositado. Essa regra do Código de Processo Civil
deve ser interpretada sistematicamente, ou seja, o réu deve demonstrar o risco pela
falta de idoneidade financeira e, ainda, deve colocar em dúvida a cautelar concedida.
1.4.3. Resposta
Concedida a liminar, o réu será citado para responder a demanda. O prazo para
resposta é de 15 dias. Entretanto, o Código de Processo Civil prevê dois termos iniciais
para esse prazo:
se a liminar foi negada ou concedida diretamente, o prazo para responder será o
da juntada do aviso de recebimento ou do mandado de citação (regras gerais
do CPC);
se o juiz designou audiência de justificação, o prazo para responder irá fluir
dessa audiência (art. 930, par. ún., do CPC).
O artigo 922 do Código de Processo Civil permite ao réu formular pedido na
contestação – caráter dúplice das ações possessórias. Alegando que foi ofendido em sua
posse, o réu pode requerer:
proteção possessória – que a possessória seja declarada em seu favor;
indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo
autor.
1.4.4. Recurso
Proferida a sentença, cabe contra ela o recurso de apelação. A posição dominante
é a de que essa apelação será recebida nos efeitos suspensivo e devolutivo, visto que a
ação possessória não se enquadra em nenhuma das situações do artigo 520 do Código de
Processo Civil.
Das decisões interlocutórias, o recurso cabível é o agravo; entretanto, da decisão
que concede ou não a liminar, somente cabe agravo de instrumento; não cabe agravo
retido contra decisão liminar porque o seu julgamento se faria, em caso de futura e
eventual apelação, já na fase final do processo.
Essa interpretação tem sido afastada pela doutrina e pela jurisprudência. Pode
ocorrer que o autor e o réu estejam afirmando a sua posse com base na existência de um
domínio; nesse caso, a finalidade do artigo 923 do Código de Processo Civil não existe
mais, visto as próprias partes estarem alegando o domínio. O juiz, portanto, somente
pode decidir uma ação possessória com base na propriedade se ambas as partes
invocarem a qualidade de donas da coisa.
Questão interessante diz respeito à possibilidade de ajuizar ação possessória em face de
pessoa jurídica de direito público. A melhor solução aponta para a possibilidade, de
acordo com unanimidade legal, doutrinária e jurisprudencial, todavia, com duas
restrições:
O juiz não pode deferir a liminar antes de ouvir o representante do Poder
Público (art. 928, par. ún., do CPC).
Se o Poder Público já deu ao imóvel uma destinação pública, não é possível a
ação possessória. Nesse caso, cabe ação de desapropriação indireta para
pleitear perdas e danos.
3.1. Procedimento
Foro competente para o procedimento especial do usucapião de terras
particulares é o da situação do bem usucapiendo. O Juízo será o cível, salvo se houver
Vara Especializada dos Registros Públicos.
A petição inicial deve observar tanto os requisitos gerais, contidos no artigo 282,
quanto os especiais, contidos nos artigos 941 e 942, todos do Código de Processo Civil:
planta descritiva do imóvel;
certidão atualizada do imóvel, cuja finalidade é demonstrar que não existe
possessória em curso;
certidão do distribuidor cível, cuja finalidade é verificar se houve ou não citação;
justo título, somente para usucapião ordinário.