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MÓDULO XX

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Procedimentos Especiais
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Procedimentos Especiais
Prof. Vitor Frederico Kümpel

1. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

1.1. Finalidade e Objeto


A ação de consignação em pagamento tem por finalidade obter a liberação
judicial de uma obrigação. Busca, dessa forma, duas situações jurídicas: cumprir a
obrigação e receber a quitação pelo cumprimento.
Somente pode ser objeto da consignação em pagamento a obrigação de pagar
determinada quantia e a obrigação de entregar, excluindo-se a obrigação de fazer.
Quando se fala em obrigação de pagar uma quantia, deve-se destacar duas situações
distintas:
quando esta quantia se relaciona a uma verba locatícia: a ação de
consignação de pagamento será aquela da Lei de Locação;
quando esta quantia se relaciona a qualquer outra verba: a ação de
consignação em pagamento será aquela regida pelo Código de Processo
Civil.

O requisito específico da consignatória em pagamento é a mora do credor. Com


efeito, somente poderá ser proposta a ação de consignação em pagamento quando o
credor estiver em mora. Considera-se o credor em mora quando sua ação ou omissão for
considerada ilícita. Estando o devedor em mora, dependendo do tipo da obrigação, o
credor pode se recusar ao cumprimento da obrigação.
A doutrina, por muito tempo, considerou a consignação em pagamento como
sendo uma execução às avessas, impondo à consignatária os requisitos da execução. O
Superior Tribunal de Justiça e a doutrina atual, entretanto, consolidaram entendimento
em sentido diverso. Para que haja a consignação em pagamento basta que o autor
delimite a sua obrigação.
A ação de consignação em pagamento é um procedimento especial,inserido no
processo de conhecimento, havendo cognição exauriente; portanto, admite discussão de
toda matéria de fato e de direito.
1.2. Hipóteses de Cabimento
Pode-se dividir as ações de consignação em pagamento em dois grandes grupos:

Casos em que existe impossibilidade real de pagamento: situações em que o


devedor quer cumprir sua obrigação, mas este cumprimento está obstaculizado,
como, por exemplo, o credor se recusa a receber; inércia do credor em obrigação
querable; ausência do credor; credor desconhecido; credor inacessível (essa
inacessibilidade pode ser material ou jurídica) etc.

Insegurança no cumprimento da obrigação: são hipóteses em que o devedor, em


tese, pode cumprir a obrigação; entretanto, existe o fundado risco de que este
cumprimento seja questionado no futuro, como, por exemplo, se o credor se
recusa a dar a quitação. Há o risco de o credor, no futuro, alegar que a dívida não
foi quitada; fundado receio de incapacidade do credor etc.

1.3. Condições da Ação de Consignação em Pagamento


1.3.1. Legitimidade
A legitimidade ativa, em regra, pertence ao devedor. Entretanto, o Código de
Processo Civil dispõe que pode propor a consignatória o devedor ou um terceiro. Este
terceiro somente pode propor a consignatória se tiver um interesse jurídico no
cumprimento da obrigação, por exemplo, o cessionário de uma obrigação.
Com relação à legitimidade passiva, a ação será proposta em face do credor.
Muitas vezes pode se ter um credor-réu não individualizado ou, ainda, ser o fundamento
da consignatória a dúvida a respeito de quem seja o credor.

1.4. Competência para Julgamento


A regra do sistema processual é de que a consignatória deverá ser proposta no
local do cumprimento da obrigação, excepcionando a regra geral do Processo Civil
(domicílio do réu). A posição dominante da doutrina é de que essa regra excepciona, até
mesmo, a eleição do foro, ou seja, ainda que as partes tenham elegido um foro para
dirimir as dúvidas, a consignatória deverá ser proposta no local do cumprimento da
obrigação. Isto se deve ao fato de a consignatória ter por objeto o depósito judicial da
obrigação.
1.5. Procedimentos
Consignatória extrajudicial
O Código de Processo Civil prevê (art. 890, § 1.º) que o devedor pode depositar,
perante uma instituição financeira oficial, o valor devido, caso em que o credor será
notificado por carta com aviso de recebimento para, no prazo de 10 dias, levantar o
dinheiro ou impugnar o depósito. Se levantar o dinheiro ou permanecer inerte,
considera-se quitada a obrigação. Caso ocorra impugnação, o devedor deverá propor a
ação de consignação em pagamento no prazo de 30 dias (art. 890, § 3.º).
A consignação extrajudicial tem caráter optativo, ou seja, se o devedor quiser
poderá propor diretamente a ação de consignação em pagamento.
Essa consignação extrajudicial somente é admitida quando houver uma
obrigação de pagar, ficando excluída a obrigação de entrega. E, ainda, apenas é
admissível quando se tratar de credor certo; não se admite, a título de exemplo, a
consignação extrajudicial quando o devedor tem dúvidas quanto à pessoa do credor.
Embora se trate de dispositivo do Código de Processo Civil, a consignação
extrajudicial é de direito material, ou seja, o Código está regulando uma forma
alternativa de cumprimento de obrigação.
Obs.: admite-se a consignação extrajudicial para pagamento de aluguel, visto ser
uma norma puramente de direito material.

Ação de consignação em pagamento


Como qualquer demanda, o primeiro ato será a petição inicial, que irá submeter-
se às regras dos arts. 282 e 283 do Código de Processo Civil. O autor, na petição inicial,
deve justificar porque está propondo a ação de consignação em pagamento e, ainda,
deve individualizar o bem a ser consignado. Por força de lei, admite-se a consignatória
judicial de obrigações alternativas. Neste caso, o autor está se colocando à disposição
para cumprir a obrigação, podendo o réu optar pela obrigação, não havendo a
necessidade da individualização do bem. Proposta a demanda, o juiz, admitindo a
inicial, deve determinar que o bem seja depositado.
Há duas exceções a este depósito prévio:
quando o devedor tiver proposto a consignação extrajudicial (neste caso, o
depósito já ocorreu);
quando se tratar de obrigação alternativa (há necessidade de que o réu
escolha o bem a ser depositado).

Depositado o bem, o réu é citado para responder, salvo no caso de obrigação


alternativa, onde o réu é citado para escolher. O prazo para esta escolha é de cinco dias,
desde que o contrato não disponha em sentido diverso. Se o réu não indicar o bem, o
direito de indicação passa a ser do autor.
Admite-se, em ação de consignação em pagamento, a reconvenção, visto que,
embora sendo um procedimento especial, a partir da defesa segue-se o procedimento
ordinário. Ao contestar, o réu poderá alegar uma das matérias dispostas no próprio
Código. Este elenco é meramente exemplificativo, ou seja, o réu poderá alegar toda
matéria de fato e de direito, seja processual ou material. A única restrição que o Código
de Processo Civil faz é que, se o réu alegar insuficiência do depósito, ele deve informar
qual o valor devido.
Caso haja alegação de insuficiência do depósito, o réu poderá levantar o valor já
depositado e o autor terá 10 dias para complementar. Nas obrigações em que a mora do
devedor produz rescisão contratual o autor não poderá complementar o depósito.
A partir daqui seguem-se as regras do procedimento ordinário, com exceção da
sentença. Se a demanda versar sobre insuficiência do depósito, caso o juiz entenda que o
depósito não foi integral, sempre que possível, ele condenará o autor ao pagamento da
diferença.
O Código autoriza a consignação de prestações periódicas, ou seja, o autor
poderá propor uma única ação e, no decorrer da demanda, poderá depositar as parcelas
em juízo no prazo de cinco dias a contar da data do vencimento da parcela. Poderá
inclusive consignar até a sentença, visto que, tecnicamente, os depósitos posteriores
serão analisados somente pelo tribunal.
No caso de dúvida quanto aos credores, o juiz profere uma decisão declarando
que o devedor cumpriu a obrigação, seguindo o processo entre os sujeitos que,
teoricamente, seriam os pretensos credores.

1.5.3. Diferenças entre a consignação em pagamento no Código de Processo Civil e


na Lei de Locação
A consignação em pagamento, na Lei de Locação, deve ser proposta no local do imóvel
ou do foro eleito no contrato.
No Código de Processo Civil, o autor é intimado para depósito no prazo de cinco dias, e
na Lei de Locação este prazo é de 24 horas.
No Código de Processo Civil a complementação, no caso de insuficiência, se dá em 10
dias, e na Lei de Locação este prazo é de cincodias.
No Código de Processo Civil, se o réu alega insuficiência de depósito e o autor não
complementa, o juiz, entendendo que o depósito é realmente insuficiente, condena o
autor na diferença, e na Lei de Locação o réu deverá ingressar com reconvenção.
No caso de prestações periódicas, na Lei de Locação, os depósitos deverão ser efetuados
no dia do vencimento da parcela, e no Código de Processo Civil os depósitos podem
ser efetuados em até cinco dias após o vencimento das parcelas.
A apelação, na Lei de Locação, não tem efeito suspensivo.

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS

4.1. Introdução
A obrigação de prestar contas surge toda a vez que alguém tem ingerência sobre
bens de terceiros, visando demonstrar lisura na interferência do patrimônio de outro
para que não haja enriquecimento indevido.
A ação de prestação de contas tem por objetivo extinguir a obrigação de prestar
contas, verificando saldo existente. Pode ter iniciativa tanto por parte daquele a quem
cabe prestar como de quem tem o direito de exigir a prestação. Tais contas devem seguir
sempre a forma de escrituração contábil, acompanhada de documentos justificativos.

4.2. Ação de Exigir Contas


Determina o art. 914, inc. I, do Código de Processo Civil, "a ação de prestação
de contas competirá a quem tiver: I o direito de exigi-las”. Ocorre na hipótese de não-
prestação voluntária por parte do obrigado, impondo ao titular o direito de exigir.
Ocorre, por exemplo, no caso de tutela.

4.2.1. Procedimento
Na primeira fase o juiz deve verificar a obrigação de prestar contas. Por
conseguinte, a petição inicial deve conter, além dos requisitos do art. 282, menção à
origem da obrigação, se legal ou contratual. Deve também conter prova de que o réu
teve bens do auto em administração.
Respostas do réu: o réu tem cinco dias para responder:
O réu pode permanecer inerte: nesse caso, o juiz julga procedente o dever e
manda o réu prestar as contas em 48 horas, sob pena de o autor fazê-lo em
10 dias.
Apresentação das contas: o réu pode apresentar as contas e encerra-se a primeira
fase. O autor será intimado para, em cinco dias, manifestar-se; caso o autor
se mantenha inerte ou concorde, as contas serão aprovadas. Caso o autor
impugne as contas, pode desenvolver-se a dilação probatória, inclusive com
perícia e audiência, decidindo o juiz sobre as contas.
Apresentação das contas e contestação: o réu pode, simultaneamente, apresentar
as contas e contestar, alegando, por exemplo, que as contas não foram
exigidas previamente.
Contestação com negativa da obrigação de prestar contas: caso o réu não
apresente as contas, mas conteste, negando sua obrigação de prestá-las,
teremos o rito ordinário para que a sentença reconheça ou não a obrigação. O
juiz, julgando procedente, reconhece que o réu tem obrigação de prestar
contas, devendo a sentença condenar o réu a prestá-las no prazo legal.
Cumprindo o réu a determinação de apresentar contas, deverá o autor se
manifestar em cinco dias. Não apresentando o réu as contas, poderá o autor
fazê-lo em 10 dias.

4.3. Ação de Prestar Contas


Visa liberar o obrigado, garantindo-lhe a quitação e declaração, por sentença, de
que não lhe remanesce nenhuma obrigação.

4.3.1. Procedimento
Além dos requisitos do art. 282 do Código de Processo Civil, o autor precisa
demonstrar a sua obrigação de prestar contas; aliás, sua causa de pedir para prestar
contas, juntando, inclusive, os documentos do contrato ou do ato jurídico que criou a
obrigação. Deve, ainda, esclarecer o porquê da propositura da ação, já que as contas não
lhe foram exigidas.
Respostas do réu:
Aceitar as contas: reconhece a procedência do pedido e a lide é antecipadamente
julgada, extinguindo-se o processo com julgamento do mérito (art. 269, inc.
II, do CPC).
Revelia: o juiz julga as contas, muito embora o juiz não esteja vinculado a fazê-
lo, seguindo o rito ordinário.
Contestação: caso o réu conteste, quer na questão principal das contas, quer em
quaisquer outras questões, o procedimento é o ordinário, com julgamento
antecipado da lide, ou com a produção de provas.
Sentença: o saldo credor deverá ser declarado na sentença, conforme expressa
determinação do art. 918: "O saldo credor declarado na sentença poderá ser
cobrado em execução forçada”.
3. RESTAURAÇÃO DE AUTOS

Os autos constituem a parte física do processo, ou seja, constituem a


documentação escrita dos atos e termos praticados no processo.
A ação de restauração de autos está prevista do Código de Processo Civil, em
seus artigos 1.063 a 1.069. A restauração de autos tem por finalidade recompor autos,
ainda em curso, quando não houver autos suplementares. O desaparecimento dos autos
pode ocorrer por qualquer motivo, quais sejam, perda, destruição, deterioração.
Qualquer das partes tem legitimidade para propor a ação, bastando o
desaparecimento dos autos (artigo 1.063 do Código de Processo Civil).
O autor declarará o estado da causa ao tempo do desaparecimento e oferecerá os
documentos que dispuser na petição inicial, conforme determina o artigo 1.064 do
Código de Processo Civil. A parte contrária será citada para contestar no prazo de cinco
dias, juntando os documentos que tiver em seu poder.
O réu pode concordar com a restauração; nesse caso, lavrar-se-á um auto
assinado pelas partes e homologado pelo juiz. Havendo discordância, o juiz sentenciará,
em cinco dias, sobre os fatos que devem ser alegados em contestação, e designará
audiência de instrução e julgamento. Se o desaparecimento ocorreu antes da audiência
de instrução e julgamento, não haverá necessidade de retroação de atos. Se ocorrer
depois, a audiência precisará ser refeita.

1. AÇÕES POSSESSÓRIAS

A proteção da posse faz-se por meio dos interditos, que são apenas três:
ação de reintegração de posse;
ação de manutenção de posse;
interdito proibitório.

A ação é considerada possessória quando o seu objeto envolve posse; por isso, é
imprescindível identificar qual a relação jurídica que o sujeito mantém com a coisa.
Não basta, entretanto, que a causa de pedir envolva direitos possessórios; a ação
de nunciação de obra nova e os embargos de terceiro não se encaixam no rol das ações
possessórias. O que conduz à ação de reintegração de posse é o esbulho; no caso de
manutenção, deve haver a turbação; e, no interdito proibitório, deve existir grave
ameaça de esbulho à posse.

Fungibilidade

Aplica-se o princípio da fungibilidade às possessórias, concedendo o juiz a tutela


mais adequada ao caso concreto, independentemente do tipo de ação que foi proposta
pelo autor (por exemplo: se o autor ingressa com ação de manutenção de posse alegando
turbação e, à época da concessão, ocorrem mudanças nos fatos, tornando-se caso de
esbulho, o juiz irá conceder a reintegração da posse. O contrário não ocorre, pois se
eventual turbação se transforma em mera ameaça, por exemplo, haverá perda do objeto
e o processo será extinto sem julgamento do mérito por falta de interesse de agir).
O princípio da fungibilidade está disposto no artigo 920 do Código de Processo
Civil, assim regulamentado:
“A propositura de uma ação possessória, em vez de outra, não obstará a que o
juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos
requisitos estejam provados”.
A fungibilidade aplica-se às possessórias, justificando-se tal fato por ser de
difícil identificação a espécie de agressão à posse e por existir a possibilidade de que a
agressão inicial venha a alterar-se no curso da demanda.
Turbação é todo ato que embaraça o livre exercício da posse; esbulho é o ato
pelo qual alguém priva outra pessoa do poder, de fato, sobre a coisa.
Inexiste, porém, a fungibilidade entre um interdito possessório e um instituto que
não o seja. Por exemplo: não pode o juiz valer-se da fungibilidade para julgar ação
possessória como se fosse petitória e vice-versa.

1.2. Legitimidade

1.2.1. Legitimidade ativa


O artigo 926 do Código de Processo Civil estabelece a condição de possuidor
para a propositura dos interditos. Exige-se, ainda, que tenha sido esbulhado ou turbado
em sua posse. O detentor não tem a faculdade de propor ação possessória, por não ter a
posse.
Nas possessórias, excetua-se a regra geral de que o cônjuge necessitará de
consentimento do outro para propor a ação – não há a necessidade da participação de
ambos, exceto nos casos de composse e de ato por ambos praticado (art. 10, § 2.º, do
CPC).
Possuidores diretos e indiretos têm ação possessória contra terceiros –
legitimação concorrente – e também um contra o outro; nesse caso, é necessário
verificar qual das posses foi a ofendida (artigo 1.197, do Código Civil).

1.2.2. Legitimidade passiva


O réu, nas ações possessórias, é o autor da ameaça, da turbação ou do
esbulho. O terceiro que recebeu a coisa esbulhada, sabendo que o era, também é
legitimado para figurar no pólo passivo.
Quando a turbação ou o esbulho for causado por menor púbere, será possível
ajuizar ação contra ele; porém, o menor deverá estar assistido por seus pais ou
responsáveis. No caso de menor impúbere, a ação deverá ser ajuizada em face do
responsável pelo incapaz.
A pessoa jurídica, de direito privado ou público, poderá ocupar o pólo passivo
das ações possessórias, pois a ninguém é dado o direito de desapossar outrem sem o
devido processo legal.

1.3. Competência
Trata-se de competência absoluta, não podendo ser derrogada ou modificada.
Serão propostas, as ações possessórias, no foro onde o imóvel violado estiver localizado
ou, em se tratando de bem móvel, no foro do domicílio do réu.

1.4. Procedimento
1.4.1. Petição inicial
A petição inicial deve conter os requisitos dos artigos 282 e 283 do Código de
Processo Civil.
O autor, em petição inicial, deve qualificar o réu, exceto quando impossibilitado
de fazê-lo, por exemplo, em grandes invasões, quando não é possível identificar todas as
pessoas.
O autor deverá afirmar, na inicial, a existência da posse, a duração desta, a
natureza do ato violador e a data em que esse ato ocorreu. Não basta que o autor afirme
o seu direito possessório; o autor deve demonstrar o esbulho ou a turbação de sua posse.
O Código de Processo Civil, em seu artigo 921, autoriza cumular, ao pedido de
proteção possessória, a condenação de perdas e danos, o desfazimento de construção ou
plantação e a pena cominatória em caso de descumprimento de ordem judicial, sem
prejuízo do rito especial.
Outros pedidos poderão ser cumulados, desde que observadas as disposições do
artigo 292 do Código de Processo Civil.
O juiz pode conceder ou não a liminar possessória, que constitui uma
antecipação de tutela com requisitos próprios: entre eles encontra-se a violação do
direito possessório a menos de ano e dia.
A liminar, na ação possessória, limita-se à proteção possessória, não atingindo,
por exemplo, a execução por perdas e danos. Pode ocorrer uma antecipação de tutela da
execução por perdas e danos; entretanto, deve-se seguir as regras do artigo 272 do
Código de Processo Civil.
A liminar pode ser concedida diretamente ou após a audiência de justificação.
Será concedida de plano quando houver prova documental idônea para a demonstração
dos requisitos do artigo 927 do Código de Processo Civil. A declaração de pessoas que
conhecem o fato não servirá como prova para a concessão direta da liminar, visto que a
prova testemunhal deve ser produzida em Juízo.
Se a liminar não for concedida de plano, será designada uma audiência de
justificação onde serão ouvidas as testemunhas do autor, não havendo a rigor, a
necessidade de serem elas arroladas antecipadamente. O réu deve ser citado para
comparecer à audiência; porém, não poderá levar testemunhas nem apresentar provas,
devendo limitar-se a assistir a audiência e, eventualmente, a reperguntar às testemunhas
e oferecer contradita, em caso de suspeição ou impedimento.
A finalidade da audiência de justificação é permitir que o autor faça oralmente a
prova de seu direito e é realizada em seu exclusivo interesse. Partindo dessa finalidade,
deve-se analisar a forma da audiência.

1.4.2. Caução
O artigo 925 do Código de Processo Civil estabelece: “Se o réu provar, em
qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse
carece de idoneidade financeira para, no caso de decair da ação, responder por
perdas, o juiz assinar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para requerer caução sob pena
de ser depositada a coisa litigiosa”.
O juiz, portanto, ao conceder a liminar, em princípio não pode exigir do autor
que ele preste uma caução real ou fidejussória. O que o sistema prevê é que o réu, na
sua defesa, possa requerer que o autor preste caução, sob o argumento de que este
não teria idoneidade financeira para arcar com os prejuízos caso não tenha a tutela
jurisdicional a seu favor. Nesse caso, o juiz pode fixar a caução, sob pena de o bem,
objeto da ação possessória, ser depositado. Essa regra do Código de Processo Civil
deve ser interpretada sistematicamente, ou seja, o réu deve demonstrar o risco pela
falta de idoneidade financeira e, ainda, deve colocar em dúvida a cautelar concedida.

1.4.3. Resposta
Concedida a liminar, o réu será citado para responder a demanda. O prazo para
resposta é de 15 dias. Entretanto, o Código de Processo Civil prevê dois termos iniciais
para esse prazo:
se a liminar foi negada ou concedida diretamente, o prazo para responder será o
da juntada do aviso de recebimento ou do mandado de citação (regras gerais
do CPC);
se o juiz designou audiência de justificação, o prazo para responder irá fluir
dessa audiência (art. 930, par. ún., do CPC).
O artigo 922 do Código de Processo Civil permite ao réu formular pedido na
contestação – caráter dúplice das ações possessórias. Alegando que foi ofendido em sua
posse, o réu pode requerer:
proteção possessória – que a possessória seja declarada em seu favor;
indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo
autor.

No entanto, não será permitido ao réu requerer a concessão de liminar na


contestação.
Respondida a demanda, os atos serão praticados em respeito ao procedimento
comum ordinário, até a sentença.

1.4.4. Recurso
Proferida a sentença, cabe contra ela o recurso de apelação. A posição dominante
é a de que essa apelação será recebida nos efeitos suspensivo e devolutivo, visto que a
ação possessória não se enquadra em nenhuma das situações do artigo 520 do Código de
Processo Civil.
Das decisões interlocutórias, o recurso cabível é o agravo; entretanto, da decisão
que concede ou não a liminar, somente cabe agravo de instrumento; não cabe agravo
retido contra decisão liminar porque o seu julgamento se faria, em caso de futura e
eventual apelação, já na fase final do processo.

1.4.5. Execução da sentença


A execução das ações possessórias é execução latu senso, ou seja, a sentença é
executada diretamente, sem a necessidade de um processo de execução. A proteção
possessória não admite embargos de devedor contra a execução de sentença transitada
em julgado.

1.4.6. Disposições gerais


Os embargos de terceiro são admitidos, embora haja pequena divergência
jurisprudencial. É entendimento do Professor Humberto Theodoro Júnior1: “Assim,
embora haja pequena divergência jurisprudencial, o certo, porém, é que o melhor
entendimento, aliás dominante nos Tribunais, é, a exemplo da doutrina, no sentido de
que ‘podem ser oferecidos embargos de terceiro na fase de execução de mandado de
reintegração de posse'”.
Quanto ao embargo de retenção por benfeitorias, é entendimento do Professor
Humberto Theodoro Júnior que, “se o demandado tem benfeitorias a indenizar, e
pretende exercer, se cabível, o direito de retenção, há de fazê-lo no curso da ação por
meio da contestação e nunca por via de ‘embargos de retenção’, após a sentença, porque
tais embargos pressupõem, logicamente, a existência de uma execução de sentença, nos
moldes da condenação à entrega de coisa certa (art. 744 do CPC)”.
1
Curso de Direito Processual Civil: Procedimentos Especiais. 26.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. vol. III, p.140.
O artigo 923 do Código de Processo Civil dispõe que, na pendência de ação
possessória, não se admite ação relativa a domínio. Se fosse feita uma interpretação
gramatical desse dispositivo, chegar-se-ia a duas conclusões:
às partes não se admite a discussão dominial no Juízo possessório;
não se deve julgar a posse em favor daquele a quem evidentemente não pertence
o domínio.

Essa interpretação tem sido afastada pela doutrina e pela jurisprudência. Pode
ocorrer que o autor e o réu estejam afirmando a sua posse com base na existência de um
domínio; nesse caso, a finalidade do artigo 923 do Código de Processo Civil não existe
mais, visto as próprias partes estarem alegando o domínio. O juiz, portanto, somente
pode decidir uma ação possessória com base na propriedade se ambas as partes
invocarem a qualidade de donas da coisa.
Questão interessante diz respeito à possibilidade de ajuizar ação possessória em face de
pessoa jurídica de direito público. A melhor solução aponta para a possibilidade, de
acordo com unanimidade legal, doutrinária e jurisprudencial, todavia, com duas
restrições:
O juiz não pode deferir a liminar antes de ouvir o representante do Poder
Público (art. 928, par. ún., do CPC).
Se o Poder Público já deu ao imóvel uma destinação pública, não é possível a
ação possessória. Nesse caso, cabe ação de desapropriação indireta para
pleitear perdas e danos.

2. AÇÃO DE NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA

Compete ao proprietário ou possuidor impedir a continuação de obra nova, no


imóvel vizinho, que lhe cause danos (art. 934 do CPC) ou que esteja em desacordo com
os regulamentos administrativos.
Obra é toda e qualquer alteração física da coisa.
É requisito essencial da ação de nunciação de obra nova que a obra seja nova;
não se encontre em fase de acabamento e que os prédios sejam vizinhos.
Os artigos 1.299 a 1.301 do Código Civil são fundamentos materiais que
possibilitam o embargo de obra de outro.
Cumpre observar a diferença entre ação de dano infecto e ação de nunciação de
obra nova. Com efeito, A ação de dano infecto pode ser exercida quando o prédio do
vizinho ameaça ruir. Vizinho é todo aquele que mora suficientemente perto, para que a
obra feita em um dos imóveis repercuta no outro. Ação de nunciação de obra nova é
remédio processual que visa solucionar conflitos no confronto do direito de construir
com o direito de vizinhança.
O Supremo Tribunal Federal autoriza a conversão da nunciação de obra nova em
perdas e danos, para não ofender o princípio constitucional da função social da
propriedade. Deve ser aplicada com cuidado e em casos especiais.
O artigo 934, inciso II, do Código de Processo Civil dispõe que cabe nunciação
de obra nova ao condômino, para impedir a alteração da coisa comum. A alteração de
substância exige o consentimento de todos os condôminos.
Conforme artigo 934, inc.III, do Código de Processo Civil, compete ao
Município a ação de nunciação de obra nova para evitar o desrespeito às leis, aos
regulamentos e às posturas municipais.
É pacífico o entendimento de que a legitimidade conferida ao Município
estende-se a qualquer pessoa jurídica de direito público.
2.1. Procedimento

2.1.1. Embargo extrajudicial


O artigo 935 do Código de Processo Civil dispõe que, em caso de urgência,
quando não há tempo hábil para a obtenção de embargo judicial, o interessado pode
propor embargo extrajudicial para a paralisação da obra.
O interessado deve fazer-se acompanhar por duas testemunhas e, em voz alta,
notificar ao proprietário ou construtor para não continuar a obra.
O interessado, no prazo de três dias, deve obter a ratificação judicial da medida.
Deferida a ratificação, ela retroage até a data dos embargos extrajudiciais –
eficácia ex tunc da decisão.
A ação de nunciação de obra nova é dotada de concessão de liminar, que pode
ser concedida de plano ou depois de realizada a audiência de justificação.
O prazo para a contestação da ação de nunciação de obra nova é de cinco dias.

3. AÇÃO DE USUCAPIÃO DE TERRAS PARTICULARES

Usucapião é um modo originário de aquisição da propriedade. A pessoa torna-se


proprietária por usucapião, se preenchidos todos os requisitos previstos em lei.
A ação de usucapião é meramente declaratória e tem eficácia ex tunc.

P.: A ação publiciana é uma ação de usucapião?


R.: A ação publiciana é uma ação de natureza petitória que pode ser impetrada
quando alguém já usucapiu, mas não tem o imóvel registrado em seu nome.

P.: Julgada procedente a ação publiciana, a sentença é válida para registro do


imóvel, no Cartório de Registro de Imóveis?
R.: A procedência da ação publiciana não vale como registro no Cartório de
Registro de Imóveis para o usucapião.

Dispõe a Súmula n. 237 do Supremo Tribunal Federal: “O usucapião pode ser


argüido em defesa”.
Usucapião especial pode ser alegado em defesa, hipótese em que a sentença que
o reconhecer poderá ser levada a registro no Cartório de Registro de Imóveis (Lei n.
6.969/81).

3.1. Procedimento
Foro competente para o procedimento especial do usucapião de terras
particulares é o da situação do bem usucapiendo. O Juízo será o cível, salvo se houver
Vara Especializada dos Registros Públicos.
A petição inicial deve observar tanto os requisitos gerais, contidos no artigo 282,
quanto os especiais, contidos nos artigos 941 e 942, todos do Código de Processo Civil:
planta descritiva do imóvel;
certidão atualizada do imóvel, cuja finalidade é demonstrar que não existe
possessória em curso;
certidão do distribuidor cível, cuja finalidade é verificar se houve ou não citação;
justo título, somente para usucapião ordinário.

Devem ser citados para a ação de usucapião (art. 942 do CPC):


as pessoas em cujo nome o imóvel está registrado;
todos os confinantes;
eventuais terceiros interessados, por edital.
Se um dos dois primeiros for citado por edital e não aparecer, o juiz deve
nomear curador especial, tendo incidência o disposto no artigo 9.º, inc. II, do Código de
Processo Civil.
Além de citar essas pessoas, há necessidade de intimação:
do Ministério Público (art. 944 do CPC);
da Fazenda da União, do Estado, do Município (art. 943 do CPC).
Dispõe a Súmula n. 150 do Superior Tribunal de Justiça: “Compete com
exclusividade à Justiça Federal dizer quando há ou não interesse da União”.
Foi eliminada do rito da ação de usucapião a audiência de justificação, de modo
que o rito passou a ser o ordinário.
A sentença confere, ao autor, título que lhe permite transcrever o imóvel no
Registro Público.

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