You are on page 1of 8

A reabilitação facial

com próteses convencionais e sobre


implantes osseointegrados
Facial rehabilitation with silicone conventional prothesis
and osseointegrated implants

Crystianne P. Seignemartin* RESUMO


Luciano L. Dib**
A reabilitação de pacientes portadores de deformidades craniofaciais congênitas e/
J. A. Piras de Oliveira***
ou adquiridas tem sido, nos últimos anos, um grande desafio para as equipes multi-
disciplinares. Muitas técnicas de cirurgia reparadora e o uso de próteses extra-orais
convencionais, têm sido empregadas, mas com resultados estéticos e funcionais que
muitas vezes não satisfazem o paciente. O desenvolvimento de osseointegração, atra-
vés dos implantes, proporciona uma nova alternativa na reabilitação facial para me-
lhorar a qualidade de vidas destes pacientes.
Unitermos - Implantes craniofaciais; Osseointegração.

ABSTRACT
Rehabilitation of craniofacial deformities has presented a difficult challenge for the
multidisciplinary team in the last years. Reconstrutive surgery and conventional pro-
thetic rehabilitation have both demonstrated distinct limitations and can result in
marked functional and cosmetic improvement. The osseointegration concept has
improved the retention and the estability of oral and craniofacial prothesis and can
lead to satisfactory rehabilitation in terms of mastication, speech and esthetics.
Key Words - Craniofacial; Osseointegration.

INTRODUÇÃO verá proporcionar ao paciente segurança, conforto e


não irritação dos tecidos ao redor.
A reabilitação protética facial está intimamente Inicialmente1,9, muitos problemas de retenção
relacionada à recuperaçâo total ou parcial de estru- podiam ser resolvidos com aparelhos de penetração
turas com materiais aloplásticos. As causas das res- nas reentrâncias anatômicas das cavidades, funcio-
secções faciais são provenientes dos traumas, tumo- nando como ponte entre o tecido e a futura prótese.
res e doenças congênitas. Em relação à estética as próteses nasais e auricula-
Nas últimas décadas a necessidade de bons res são difíceis de serem camufladas pois são observadas
sistemas de retenção levou à pesquisa de novas pos- direta e frontalmente pelas pessoas. As oculares e óculo-
sibilidades para atender aos pacientes e não interfe- palpebrais podem com o auxílio da armação de óculos e
rir em sua “Qualidade de Vida”. Bons resultados de- lentes corretivas, ligeiramente coloridas, ter seus limites
pendem do método de fixação das próteses que de- disfarçados. Desenho, contorno e profundidade das pró-

*Cirurgiã-Dentista – USP – Bauru; Periodontista – Unicid; Protesista Bucomaxilofacial; Professora assistente do curso de Especialização
em Implante-Prótese, doutor Luiz Antonio Gomes e equipe – EAP – APCD.
**Mestre em Estomatologia e doutor em Clínica Integrada – USP; Especialista em Implante.
***Especialista em Prótese Bucomaxilofacial e mestre em Ortodontia – Unip
V. 1, No 2 Março/Abril 2004 161
Crystianne P. Seignemartin | Luciano L. Dib | J. A. Piras de Oliveira

teses faciais são itens importantes a serem considera- outro tipo de retenção, que não adesivos.
dos no projeto do sistema de retenção de próteses. Outros problemas9, relacionados ao uso de ade-
Os métodos de retenção, historicamente, po- sivos, devem ser mencionados:
dem se dividir em quatro categorias: a. Pacientes com pouca destreza manual ou po-
1. Com uso de adesivos; bre coordenação motora, têm dificuldade na
2. Mecânicos; aplicação do adesivo repetidas vezes e recolo-
3. Anatômicos, utilizando contornos internos dos car a prótese na mesma posição;
defeitos; b. Remoção rotineira errada da prótese;
4. Com Implantes osseointegrados. c. Próteses apoiadas em tecido com muita mobi-
lidade e ou cavidades extensas, necessitam
Com uso de adesivos constante recolocação, onde os movimentos
Há vários tipos de adesivos no mercado. Sua faciais desconectam a adesão. Este problema
utilização deve considerar o tecido e tipo de material requer melhor projeto da prótese;
de feitura da prótese facial. Os adesivos estabele- d. Pacientes que desenvolvem alergias ou respos-
cem força de adesão com a pele. O mais conhecido, tas irritativas aos adesivos e que persistem com
o Pros-Aid da ADM Tronics, Northvale, NJ, é uma re- a mudança dos mesmos;
sina acrílica, dispersada em meio aquoso, o qual ao e. A maioria dos adesivos necessita bordas da
evaporar, muda a cor de branco látex para incolor, prótese mais finas para melhor adesão;
deixando uma fina película elástica como borracha. f. Se a prótese não for bem projetada, não se
Para o sucesso da adesão a superfície deverá ser pode garantir 100% de colagem com o uso de
permeável à água para secar a dispersão e estabele- adesivo. A efetividade da retenção1, 9, 12 depen-
cer a colagem (Figura1). de do tamanho do defeito, peso da prótese e
projeto da mesma.

Mecânicos
Retenção mecânica de próteses faciais é método
antigo de fixação na área de prótese bucomaxilofacial.
Os precursores desta técnica13 são os Fenícios,
Egípcios, Chineses, Gregos, Romanos, Incas, Hindus,
Hebreus, Dinamarqueses e Franceses. Ambroise Paré
(1509 - 1590), traçou as bases para a reconstrução
Figura 1a e 1b
Paciente com remoção de órbita; Paciente reabilitada. protética facial confeccionando próteses em ouro, pra-
ta, tela, papel e linho na cor da pele do paciente.
O uso de adesivos cutâneos7 causa alguns pro- Armação de óculos, peças acrílicas, magnetos e
blemas; alguns pacientes apresentam hipersensibilida- clips são meios de retenção utilizados nas próteses fa-
de alérgica de contato, variando de simples irritação até ciais. As armações de óculos em acrílico são excelen-
ulcerações dolorosas e de difícil recuperação. Outro in- tes meios para retenção dos materiais rígidos, das pró-
conveniente, relaciona-se às elevadas temperatura e teses nasais, óculo-palpebrais e raramente usadas na
umidade relativa do ar, presentes em nosso clima tropi- fixação das próteses auriculares; auxiliam na manuten-
cal, as quais ocasionam perda de aderência devido às ção do peso das próteses, principalmente as faciais
gotículas de transpiração formadas no interior da próte- extensas e ajudam a disfarçar os limites da prótese.
se, ocasionando seu deslocamento e até mesmo queda. Quando trabalhamos em cavidades rasas, lan-
Outro fator a ser considerado na seleção do çamos mão de outros meios de retenção que são os
adesivo é o tipo de pele. A fina e friável ou a que implantes osseointegrados. Estas cavidades são ori-
tenha sido irradiada, não são apropriadas para repe- ginadas na área de órbita de retalhos, que são girados
tidas aplicações de adesivos, em particular aquelas para eliminar os espaços mortos e evitar infecções.
com potencial de produzir irritações primárias. Paci- A Figura 2 mostra a retenção de próteses em
entes que desenvolvem estas reações necessitam de acrílico fixadas em armação de óculos. Muitos paci-
162 V. 1, No 2 Março/Abril 2004
Crystianne P. Seignemartin | Luciano L. Dib | J. A. Piras de Oliveira

entes constrangem-se diante da necessidade de re- Espaços anatômicos no interior das cavidades
mover a prótese frente a um problema ou mesmo di- orbitárias também poderão ser usados para confec-
ante de familiares pelo simples fato de, ao remover ção de placa acrílica flexível que se assenta dentro
os óculos, a prótese sair junto. do defeito. As remoções parciais de orelha também
podem permitir adequada retenção das respectivas
próteses através das silicones, retidas com adesivos.
Como anatomicamente, o pavilhão auricular pos-
sui muitas reentrâncias, o material de eleição deve se
adaptar nestas conchas, com muita sutileza para evi-
tar irritações. São consideradas “próteses de vestir” e
muito difíceis de serem adaptados à pele (Figura 4).
Figuras 2a, 2b e 2c
Paciente com exenteração de
órbita; Prótese óculo-palpebral
em acrílico, fixada em armação
de óculos; Paciente com
a prótese em posição.

Outros tipos de retenção incluem magnetos,


clips e botões de acrílico. Clips e magnetos necessi-
tam de confecção de peças acrílicas para acomodar
estas estruturas que estarão unidas à prótese e aco-
pladas ao paciente.
Figura 4a, 4b e 4c
Ressecção parcial
Anatômicos do pavilhão auricular;
Paciente reabilitado;
O tratamento das ressecções parciais, com o uso Vista da prótese
auricular em silicone.
de prótese, pode utilizar as cavidades para retenção,
através de prolongamento de materiais macios, para
o interior das mesmas ou quando os tecidos de supor-
te ao redor da cavidade conseguem suportar estrutu- Com implantes osseointegrados
ras acrílicas funcionando como ponte (Figura 3). Na década de cinqüenta, usando um protocolo
para observação in vivo, através de uma câmera, da
microcirculação sanguínea medular, o doutor Bråne-
mark, colocou um instrumento de Titânio no perônio
do animal em experimentação. Passado certo tempo
não foi possível separar o instrumento do osso, pois
acontecera uma união estável entre o Titânio e o osso.
Figura 3a e 3b
Paciente com prótese nasal em silicone; Observou-se assim a biocompatibilidade excepcio-
Estrutura acrílica em R.A.A.T., com magnetos.
nal entre Titânio e osso.
A osseointegração, na teoria e na prática, vem
resolvendo problemas de ancoragem das próteses
intra e extra-orais, possibilitando a confecção de bons
trabalhos protéticos estabilizados e retidos por meio
de implantes osseointegrados associando várias dis-
ciplinas na área cirúrgica.
A primeira tentativa de aplicação da osseointe-
Figura 3c, 3d e 3e
Ressecção facial por tumor, gração em prótese extra-oral, aconteceu em 1977,
com perda da pré-maxila;
Prótese total superior na Suécia, na área otológica, com uso do sistema
em acrílico com “clip” plástico;
Prótese facial em posição. BAHA (Bone Anchored Hearing Aid) na recuperação
de um caso congênito de pavilhão auricular, contri-
buindo para a divulgação deste método.
V. 1, No 2 Março/Abril 2004 163
Crystianne P. Seignemartin | Luciano L. Dib | J. A. Piras de Oliveira

Alguns fatores deverão ser levados em conta quan- amplos, necessitamos de uma prótese facial propor-
do indicada a retenção de próteses faciais sobre implan- cional aos mesmos em dimensão e espessura.
tes osseointegrados: espessura do osso, capacidade de Próteses faciais retidas sobre implantes osseo-
suporte de carga do implante no osso, ocorrência de integrados em áreas de espessura óssea fina, adja-
aplicação radioterápica na área do defeito, tipo de reten- cente à áreas de força muscular potente, poderão ser
ção da prótese ao implante e a motivação do paciente deslocadas, sendo imprópria a sua utilização.
em manter a própria higiene dos encaixes e da prótese. Próteses faciais leves, colocadas em áreas sub-
Em seis estudos recentes na Universidade de jacentes à forças musculares, poderão receber alguns
Goteborg, Suécia5, demonstraram, em humanos e implantes de 3 a 4 mm (por exemplo, prótese auricular
animais, aumento de resposta do osso em implantes que recebe dois implantes na área do temporal). O
com superfície tratada (“plasma spray’’, jateamento sucesso da prótese está no planejamento cirúrgico.
de superfície, ataque ácido) comparada com superfí- Para o planejamento cirúrgico de uma prótese au-
cies lisas. Isto será muito útil nos casos de pacientes ricular, utiliza-se um guia em acrílico onde os implantes
com pobre qualidade óssea ou irradiados. estarão posicionados 18 mm do meato acústico externo
e 15 mm isoladamente. Do lado esquerdo recomenda-
Classificação de Jensen se a colocação do implante na posição de uma hora e
Com a finalidade de determinarmos a situação três horas. Do lado direito recomenda-se 11 e nove ho-
topográfica dos implantes na região cranio-facial, sur- ras. Esta recomendação9 segue um protocolo e necessi-
ge a Classificação de Jensen, a qual permite definir a ta de um guia tomográfico e cirúrgico, para que o im-
quantidade de osso para ancorar os diferentes tipos plante seja colocado na posição ideal, proporcionando
de implantes. ao paciente o melhor resultado estético e retentivo.
Jensen et al., em 1992, fizeram medição de espes- A área nasal necessita de dois implantes coloca-
sura de 15 esqueletos dentados secos. Dividiram os di- dos na lateral, ao redor da eminência nasal, com espes-
ferentes setores do crânio em áreas alfa, beta e delta. sura suficiente para acoplar implantes de 4 mm de pro-
Descobriram que o osso em área média da órbita, área fundidade. Desde que os implantes não estejam igual-
frontal e piriforme era de fina espessura e necessitava de mente distribuídos e estejam localizados em uma parte
implantes com profundidade de 3 mm ou menos, deno- do defeito, a barra poderá conectar os implantes.
minada área Delta. O osso na área lateral de órbita, área Nos defeitos de órbita, os implantes são coloca-
temporal, área zigomática e fossa anterior nasal era mais dos, geralmente, na lateral inferior e porção superior da
espesso que o osso da área média de órbita, área frontal área orbital. O osso nestas áreas poderá acomodar im-
e piriforme; foram chamadas de área Beta e aptas a plantes de 3 a 4 mm em profundidade. São necessários
receber implantes de 4 a 5 mm em altura, baseado na três a quatro implantes e o prolongamento do eixo de-
espessura do osso. O zigoma, maxila anterior e man- verá ser em direção ao centro da órbita. Se por neces-
díbula apresentaram espessura óssea capaz de rece- sidade de planejamento, implantes precisam ser colo-
ber implantes de 6 mm denominado área Alfa. cados posteriormente em direção à fossa craniana, en-
A capacidade de suporte de carga do implante an- quanto outros implantes são conduzidos anteriormen-
corado no osso é fator importante quando considerarmos te, o plano de inserção criado pode não acomodar uma
as retenções das próteses faciais sobre implantes osseo- barra de peça única. O planejamento de prótese óculo-
integrados. A média de torque11 necessário para remover palpebral sobre implantes osseointegrados necessita da
implante ancorado ao osso temporal foi de 42,7 N e após confecção prévia e o uso pelo paciente de uma prótese
um ano as forças de torque eram maiores que 60 N. em silicone convencional, para analisarmos a posição
do globo ocular, em relação à cavidade.
Forças de expressão facial
x reabilitação protética Aplicação de radioterapia
As forças dos músculos da expressão facial, A radioterapia em combinação com a cirurgia6,10
musculatura perioral e musculatura mandibular po- é geralmente o tratamento usado em tumores nas
dem causar desintegração de implantes craniofaci- regiões craniofaciais. Para remover radicalmente os
ais de pequenas dimensões. Em defeitos cirúrgicos tumores, o cirurgião é forçado muitas vezes a utilizar
164 V. 1, No 2 Março/Abril 2004
Crystianne P. Seignemartin | Luciano L. Dib | J. A. Piras de Oliveira

técnicas clínico-cirúrgicas que deixam o paciente com sea determinam alta incidência de perda de fixação.
grandes defeitos de tecido mole e duro. • Vascularização tecidual - As patologias que se ini-
Após acurado tratamento, estes defeitos pode- ciam imediatamente após a radioterapia caracterizam-
rão ser reconstruídos, sendo que o maior problema se por injúria aos tecidos que ficam desprovidos de
enfrentado nesta técnica refere-se à quantidade de capilares.
radiação recebida pelo paciente. Este processo inflamatório que se instala ao lon-
Altos 2,3,6 índices de complicação e menor índice go dos anos pode aumentar, consequentemente, os
de sucesso em reconstrução após cirurgias radicais de fatores de risco, diminuindo a osseointegração e in-
tumores, relacionam-se com aplicações maiores que 50 ciando a osteoradionecrose.
gy (5000 rads); observou um índice de sucesso de 50% Geralmente, após a 1a fase cirúrgica, os implan-
em reconstrução cirúrgica em pacientes irradiados e tes são mantidos sepultados por um período de oito
81,3% de índice de complicação (hipovascularização, a 12 meses até as fixações serem descobertas numa
hipocelularidade, hipoxia dos tecidos, o que ocasiona 2a fase cirúrgica e os implantes ativados. Isto diminui
receptor inadequado para implantes osseointegrados). o risco de insucesso dos implantes. Com o objetivo
A radioterapia3 provoca mudanças primárias e de minimizar os efeitos tissulares da radiação, surge
secundárias nos tecidos duros e moles (glândulas sa- a aplicação da oxigenação hiperbárica (OHB).
livares, pele, mucosa nasal e oral). Os efeitos primári-
os em tecido mole incluem xerostomia, dermatites e Terapia de oxigenação hiperbárica
mucosites. Os efeitos secundários referem-se a des- A terapia de oxigenação hiperbárica foi intro-
mineralização óssea, fibrose reparativa, aumento da duzida em 1973. A indicação de OHB, em pacientes
susceptibilidade à infecção e necrose avascular, inter- irradiados é bastante controversa e amplamente dis-
ferências nas células osteoprogenitoras e reação da cutida por vários autores.
neovascularização. O tipo de radiação interfere no de- Vários estudos2,3,4 têm mostrado a importância
senvolvimento da osteoradionecrose, onde reduzidos da OHB para o tratamento da osteorradionecrose em
índices são encontrados em altas fontes de energia. diferentes tecidos ósseos.
Em relação a dose de radiação, aceita-se que quan- Usando um protocolo padrão2 incluindo cirur-
to maior as doses de radiação no tecido ósseo, maior o gia, antibióticos e OHB, Marx em 1987, mostrou efi-
risco de desenvolver complicação. As complicações cácia da oxigenação hiperbárica. Os efeitos produzi-
aparecem em doses abaixo de 48 gy e acima de 65 gy. dos pela OHB são a indução da angiogênese, men-
surável após oito sessões de aplicação, rapidamente
O intervalo entre radiação e cirurgia atingindo um “plateau’’ de 80 a 85% de um tecido
A cicatrização óssea2,3 é prejudicada após a ra- vascular não irradiado por 20 sessões, permanecen-
diação. Recomenda-se que toda a cirurgia recons- do neste nível sem necessidade de aplicações adici-
trutiva seja feita no intervalo de um a seis meses após onais. Pacientes que foram reavaliados três anos após
radioterapia, porque esse intervalo reduz o risco de a aplicação original, tinham níveis de oxigenação ao
desenvolvimento da osteoradionecrose. redor de 90% dos valores registrados logo após tra-
As complicações clínicas dos implantes, em tamento, indicando que a angiogênese obtida pela
paciente irradiados, são as deiscências de tecido terapia com OHB não sofre regressão com o tempo.
mole, perda das espiras dos implantes, fístula, infec-
ções crônicas e necrose tecidual. Protocolo de aplicação
da oxigenação hiperbárica
Fatores do paciente Usado no tratamento suplementar2, antes da co-
que interferem na osseointegração locação de implantes em paciente irradiado. É muito
• Qualidade óssea - A sobrevida dos implantes, em importante para as áreas do zigoma, maxila e ossos
pacientes irradiados, é menor nas áreas de osso fron- frontais. Os pacientes recebem penicilina pré-operató-
tal, zigomático e maxilar, devido a mínima proporção ria e 20 sessões de OHB e em seguida fazem a cirurgia;
de osso compacto, do que na área temporal e man- seguem-se mais dez sessões de OHB, sempre usando
díbular. Ossos clinicamente pobres em qualidade ós- de 2 a 2,4 ATA. Está clinicamente comprovado que 15
V. 1, No 2 Março/Abril 2004 165
Crystianne P. Seignemartin | Luciano L. Dib | J. A. Piras de Oliveira

horas de tratamento, proporcionam redução do poten-


cial de deiscências, promovendo produção de coláge-
no nas linhas de incisão e na superfície dos implantes;
ajudam também na sobrevivência das células dos en-
xertos e na revascularização precoce. Como resultado
há melhora da capacidade do osso em alcançar osseo-
integração após tratamento com OHB.
O índice de falhas na fixação de maxila e órbita
em Gotemburgo após irradiação sem OHB alcançou
índices de 58% entre 1983 a 1990. Após tratamento
com OHB, em pacientes operados, entre 1988 a 1990,
os índices de falhas nos implantes foram de 2,6% na
órbita e maxila.
O protocolo de aplicação segue a seguinte ori-
entação: 1. 90 minutos por sessão, mergulhados numa
Figura 6a, 6b, 6c e 6d
câmara com 2,5 (ATA), por dia, durante 20 dias; 2. No Vista frontal do paciente com perda tumoral de órbita; Vista da prótese
óculo-palpebral em silicone; Vista da parte posterior da prótese com
21o dia colocam-se os implantes; 3. No 22o dia o pa- magnetos embutidos; Vista frontal do paciente com a prótese em posição.
ciente recebe mais dez sessões de tratamento;
Obs: se o paciente já tem implante e necessitar a ra- Os magnetos e clips9 têm sido usados nos últi-
dioterapia, na direção dos implantes, os abutments e mos anos para reter as próteses sobre implantes (Figu-
barras deverão ser removidos, porém os implantes ras 5, 6, 7 e 8). Os pares de magnetos criam um campo
deverão permanecer intactos sob a pele. magnético ao seu redor e possuem pouca adesão.

A retenção das próteses


extra-orais sobre implantes

Figura 7a, 7b, 7c e 7d


Ressecção total de pavilhão auricular causado por Carcinoma
baso-celular; Vista da barra em ouro com magnetos em posição;
Vista posterior da prótese; Vista da prótese auricular no paciente.

Na década de 70 foram desenvolvidos magne-


tos de terras raras, uma combinação de Samarium e
Cobalto, e Neodimio com Ferro e Boro.
Os magnetos de Samarium Cobalto são peque-
nos (3 a 4 mm) e possuem cinqüenta vezes mais de
força magnética, acima dos de Cromo-aço, comu-
mente encontrados em brinquedos.
Os magnetos de Neodimio-Ferro-Boro são feitos
Figura 5a, 5b, 5c e 5d com a combinação desses elementos, mais ou menos
Vista da barra em “Pors-on” 4, aparafusada sobre implantes; Vista da
prótese auricular em silicone; Vista posterior da prótese auricular. Obser- 3 mm de diâmetro e força de separação de 500 a 1000
ve a placa acrílica com “clip” em ouro e magnetos; Paciente reabilitado.
g. Estão sujeitos à corrosão quando expostos ao fluido
o
166 V. 1, N 2 Março/Abril 2004
Crystianne P. Seignemartin | Luciano L. Dib | J. A. Piras de Oliveira

bucal. Todos os magnetos estão sujeitos a redução de rosão quando expostos aos fluidos corporais, como
retenção e necessitam de reposição com o tempo. os magnetos. Clips retentivos são úteis para pacien-
tes com boa destreza manual e áreas com pouca atu-
ação das forças musculares.
Clips e magnetos poderão ser combinados de
acordo com o critério clínico de retenção, destreza
Figura 8a manual do paciente, espessura do osso, proximida-
Vista frontal da exenteração
de órbita, por Carcinoma
de com a atividade muscular adjacente ao defeito.
baso-celular, com coloca- Estes fatores deverão ser avaliados antes da fabrica-
ção de implantes, barra
e magnetos. ção da prótese extra-oral.

Higienização
A área ao redor dos implantes é considerada pro-
blema devido a presença de inflamações constantes.
As causas dessa inflamação: 1. Espessura do te-
Figura 8b
cido periimplantar; 2. Mobilidade da pele do periimplante;
Vista posterior da prótese 3. Não aderência da pele ao implante; 4. Acúmulo de
com magnetos.
bactérias nesses gaps; 5. Higiene do paciente.
A espessura do tecido epitelial11 ao redor dos
implantes deverá ser reduzida cirurgicamente ao mí-
nimo, removendo-se todo o tecido adiposo subjacen-
te, mantendo o tecido saudável. A não aderência dos
tecidos periimplantares ao abutment11 é a razão da
Figura 8c formação dos gaps periimplantares. A fibronectina
Vista frontal do paciente
com a prótese em posição. aumenta a aderência de Staphylococus Aureus na
superfície dos abutments, criando oportunidade para
Indicação para o uso de magnetos a bactéria invadir o espaço dos abtuments e a infla-
• Áreas de alta atividade muscular; mação periimplantar poderá ocorrer.
• Em caso de média atividade muscular combi- Um sinal histológico para o rígido contato das
nada com próteses rígidas; células epiteliais ao abutment é a existência de hemi-
• Em pacientes com pobre destreza digital. Os desmossomos.
magnetos são fáceis de se realinhar e se repo- As reações tissulares ao redor dos implantes
sicionar do que os clips; seguem uma classificação e graduação de acordo
• Casos onde o osso é fino e a redução das for- com a severidade da irritação: Grau 0 - Pele nor-
ças aplicadas ao implante for necessária. Apre- mal; Grau 1 - Pele avermelhada ao redor do conec-
sentam menor força de fixação do que clips. tor (Figura 9); Grau 2 - Pele com secreção local; Grau
Quando usamos magnetos é importante orien- 3 - Formação de tecido de granulação ao redor do
tarmos os mesmos em diferentes lugares para aco- conector; Grau 4 - Reação tissular resultante.
modarmos as forças em diferentes planos.

Retenção por clips


Poderão ser plásticos ou metálicos. Se encai-
xam sobre a barra, conectados ao implante através
de uma supra-estrutura acrílica.
Os clips têm mais força de retenção, em ter-
mos de deslocamento de força, do que os magne- Figura 9
tos. Possuem vida útil que varia de acordo com o uso, Vista da pele aver-
melhada ao redor
podendo afrouxar. Os clips não estão sujeitos à cor- dos implantes.

V. 1, No 2 Março/Abril 2004 167


Crystianne P. Seignemartin | Luciano L. Dib | J. A. Piras de Oliveira

As reações tissulares adversas têm sido limita- CONCLUSÃO


das a menos de 8% dos pacientes. Um rigoroso
acompanhamento do paciente em relação à higiene A prótese bucomaxilofacial , com o advento da
deverá ser montado ao redor dos abutments. osseointegração, sofreu um grande avanço tornando
O sucesso dos implantes está na manutenção da possível a realização de trabalhos protéticos com
higiene ao redor dos abutments e das supra-estruturas. estabilidade, qualidade estética e resultados previsí-
Para que o paciente higienize corretamente será neces- veis. Cirurgiões oncológicos e plásticos passaram a
sário um espelho fixo e com aumento para que ele visu- reconhecer este método e indicá-lo como forma de
alize com critério a área a ser mantida (Figura 10). Pre- tratamento ou opção adicional. Esta mentalidade já
coniza-se que a barra fique afastada 1,5 mm do tecido, existe em grandes centros.
de maneira que as regiões ao redor dos abutments e A cooperação entre as diversas especialidades
supra-estruturas sejam fáceis de serem limpas. Gaze e beneficia diretamente o paciente (cirurgião oncológi-
cotonetes poderão ser usados com água e sabonete co, cirurgião plástico, tecnólogo, cirurgião-dentista,
líqüido, ao redor e embaixo dos componentes e barra, fonoaudiólogo e psicólogo).
para remover crostas e secreções sebáceas que se acu- As próteses maxilofaciais retidas por implantes
mulam ao redor dos implantes extra-orais, três vezes osseointegrados têm a vantagem de permitir ao paci-
ao dia. Uma solução de peróxido de hidrogênio tam- ente a colocação e remoção das mesmas, de maneira
bém poderá ser usada uma vez ao dia. rápida e simples. Deveremos informar ao paciente os
cuidados que deverá ter com a higienização de sua
prótese, tecidos periimplantares e cavidade cirúrgica.
O paciente deverá desenvolver cooperação para
que sua colaboração incondicional preserve sua saú-
de, de seus tecidos e aumente a vida útil de sua pró-
tese que em média varia de dois a três anos.
Figura 10a As consultas de retorno deverão ser trimestrais
Higenização com a gaze.
e anuais para controle e manutenção. Dessa maneira
devolvemos auto-estima e confiança aos pacientes,
permitindo reintegrá-los à sociedade.

Endereço para correspondência:


Crystianne P. Seignemartin
Rua Anhaia, 1.093 - apto.15 - Bom Retiro
Figura 10b
Vista da gaze aberta no seu 01130-000 - São Paulo - SP
longo eixo, embebida com Tel.: (11) 6977-5043
água e sabonete líquido.
cryseigne@globo.com

Referências Bibliográficas 7. Jankielewicz I. et al: Protesis Buco-Maxilofacial – Anclage en Pro-


1. Beumer III, J et al – Maxillo facial Prosthodontic and Surgical Con- thesis Buco-Maxilofacial ; 4: 491 – 517, Quintessence 2003, Bar-
sideration. St Louis, Iishiyaku. Euroamerica INC, 1996. celona, Espanha.
2. Granström G., et al – Titanium Implantes in Irradiated Tissue: Be- 8. Klein, M. Hohlfeld, T. et al: Improvement of Epidermal Adhesion by
nefits from Hyperbaric Oxygen. Journal of Oral Maxillofacial Im- Surface Modificatin of Craniofacial Abutments. The International
plants: 1992, 7: 15 – 25. Journal of Oral and Maxillofacial Implants; 2000; 15: 247 – 251.
3. Granström G.et al – Postimplantation Irradiation for Head and Neck 9. Mc Kinstry, R.E. – Fundamentals of Facial Prostheticsç Arlington,
Cancer Treatment. The International Journal of Oral and Maxillofa- U.S.A ABI (1995).
cial Implants: 1993, 8: 495 – 500. 10. Nakai H., Niimi A , et al – Histologic Evaluation of Clinically Suc-
4. Granström G., et al – A Detailed Analysis of Titanium Implants Lost cessful OsseoIntegrated Implants Retrieved from Irradiated Bone:
in Irradiated Tissues. Journal of Oral Maxillofacial Implants: 1994; A Report of Two Patients. International J. Oral Maxillofacial Im-
653 – 662 . plants. 1999ç 14: 442 – 446.
5. Ivanoff J.C., Widmark G. et al: Histological Evaluation of Bone Res- 11. Tjellström, A., et al : Osseointegrated Implants for Craneofacial
ponce to Oxidized and Turned Titanium Micro-Implants in Human Prosthesis. Basal and Squamous cells; Skin Cancers of Head and
Jawbone. Internaional Journal of Oral Maxillofacial Implants, 2003; Neck, 1996, 24: 314 – 330.
18: 341-348. 12. Vidulich de Resende, J.R. , Piras de Oliveira, J.A , Brito e Dias, R.;
6. Jankielewicz I et al: Rabilitación Buço-Maxilo-Facial con Prótesis Protese Buco-Maxillofacial. Savier 1986, São Paulo , Brasil .
e Implantes óseointegrados; 3:473-490,Quintessence 2003, Bar- 13. Vidulich de Resende, J.R. – Fundamentos da Protese Buco-Maxi-
celona, Espanha. lofacial. Savier 1997, Sãp Paulo, Brasil, 1: 1-10.
168 V. 1, No 2 Março/Abril 2004

You might also like