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Joanna Overing
Como antropóloga (em vez de, por exemplo, filósofa)1 meu objetivo é
compreender e desvelar as visões de mundo de outras pessoas, em parti-
cular as dos povos indígenas da floresta tropical amazônica. A versão
local que, por muitos anos, venho tentando entender pertence aos Pia-
roa, um povo que vive ao longo de tributários do rio Orinoco, na Vene-
zuela. Sua subsistência baseia-se ainda hoje, principalmente, na horti-
cultura, pesca, caça e coleta. São descritos por seus vizinhos como “os
intelectuais do Orinoco”, e eles realmente têm um pendor especial para
o debate intelectual, particularmente quando estão em questão aspectos
metafísicos da vida cotidiana. São também um dos povos mais pacíficos
da Amazônia. Para tentar melhor compreender a paz que tanto prezam2,
assim como seus modos informais e igualitários, tenho procurado recen-
temente focalizar o alto valor que os Piaroa conferem aos assuntos da vida
diária, e sua conseqüente ênfase sobre a criatividade cotidiana. Com efei-
to, a maior parte da produção artística piaroa pertence ao domínio do coti-
diano. A beleza e capricho dos implementos que fabricam para uso diá-
rio, a atenção prestada à forma e ao design, são impressionantes. Seus
belos instrumentos e artefatos exemplificam o esforço constante dos Pia-
roa em embelezar a maior quantidade possível de aspectos do seu dia-a-
dia3. Os Piaroa atribuem a atividades que tendemos a ver como mera roti-
na (preparar uma refeição, limpar uma roça, trançar um cesto, alimentar
um bebê) um significado bem maior, uma vez que seus principais inte-
resses estão diretamente voltados para habilidades específicas essenciais
à arte da vida diária. Tentarei, aqui, introduzi-los nesse mundo. Ao fazê-
lo, procurarei mostrar como a arte do cotidiano piaroa está ligada a um
princípio de confiança [trust], pois é apenas por meio da confiança que o
cotidiano desse povo igualitário pode ser construído. De modo a contex-
tualizá-la gostaria de comentar alguns escritos de filosofia moral que têm
relevância considerável para nossos estudos antropológicos na Amazônia.
82 ELOGIO DO COTIDIANO
O cósmico e o cotidiano
vivem por causa do que fazem. E o que fazem é caçar, plantar, fabricar
zarabatanas, fiar algodão, construir casas. Também transformam animais
e plantas em comida, casam, têm filhos e os criam no seio de uma comu-
nidade de relacionamentos. Para os Piaroa, estas são as capacidades que
permitem aos humanos uma existência nesta terra (Overing 1993a) — é
em termos dessas capacidades que a vida propriamente humana se define.
Isto tudo soa prosaico demais? Nem tanto, quando nos damos conta
de que, na metafísica piaroa, não há no mundo terreno poderes para uma
existência humana até que estes sejam trazidos do exterior da esfera do
“céu dos domesticados”. A maior parte das capacidades necessárias ao
modo de vida humano foi, no fim dos tempos míticos, encerrada em cai-
xas de cristal, agora sob a posse dos deuses celestes Tianawa. Estes deu-
ses protegem o mundo, assim, do uso excessivo das poderosas forças sob
sua guarda, mal-utilizadas no tempo mítico. No que toca à origem das
capacidades humanas, a visão piaroa é radicalmente externalista: as for-
ças que constituem a “individualidade”* são na maior parte perigosas e
se originam fora do self. Nessa medida, elas adquirem significado no
âmbito da ordem cósmica mais ampla. Isto contrasta com a moderna
noção ocidental do self, radicalmente interiorizado desde o início, dotado
de uma consciência e uma razão concebidas largamente como atributos
intrínsecos da mente individual. Para a teoria piaroa não há fundamento
biológico, e isto se aplica à vida dos sentidos e do desejo9.
As idéias piaroa sobre o cotidiano remetem a um discurso que supõe
a existência de muitos outros mundos, além daquele da existência selvá-
tica humana: a miríade de outros que habitam esses mundos (e tempos)
compõe o pano de fundo sobre o qual são formulados todos os juízos e
considerações acerca da vida humana nesta terra. Nesse universo de
mundos múltiplos, repleto de “agência”**, as habilidades pessoais para
a vida cotidiana, tão valorizadas pelos Piaroa, têm uma história muito lon-
ga, que trata dos traumas da criação original e dos perigos que ali emer-
giram. É por causa das violações que então tiveram lugar (atos de inces-
to, assassinatos e traições), que viver hoje na segurança do “céu dos
domesticados” é considerado pelos Piaroa de tão grande importância
para a construção bem-sucedida da vida diária. Voltaremos adiante aos
detalhes dessa relação entre o cosmológico e o cotidiano.
A vida aldeã dos Piaroa é marcada pelo esforço em alcançar algo que
poderíamos traduzir como uma “comunidade de similares”. Contraste-se
a riqueza do discurso cosmológico piaroa com a pobreza lexical de sua
linguagem sociológica. Os Piaroa dispõem de poucos recursos, além dos
termos de parentesco, para marcar diferenças sociológicas. Há, portanto,
poucas distinções para servir de grão para o moinho antropológico. Con-
seqüentemente, o poder raramente carrega consigo o peso do que cha-
maríamos uma “coletividade”. Em lugar disto, tende a ser um assunto
pessoal, ou, como explicam os Piaroa, o poder humano refere-se à potên-
cia do indivíduo. Assim, a “coletividade” como uma força coercitiva, tal
como aparece na teoria ocidental, não corresponde à noção indígena de
comunidade10. Para compreender melhor essa diferença, é preciso fazer
uma distinção entre “a coletividade”, tal como expressa por imperativos
sociais estruturais (através de papéis, status ou regras jurídicas), e “o cole-
tivo”, enquanto apego a um modo de ser social e culturalmente específi-
co. “O social”, em seu sentido mais positivo, tal como expresso nas ações
partilhadas e nas interações pessoais diárias, é provavelmente compreen-
dido, por muitos povos da Amazônia, como um conjunto de meios poten-
tes para se trabalhar ativamente contra o desenvolvimento de relações
coercitivas.
Dada essa visão mais positiva do social, enquanto algo que se refere
a modos compartilhados de fazer as coisas, os povos indígenas podem ser
bastante explícitos quando se trata de afirmar o princípio da homogenei-
dade comunitária11. Certamente, para os Piaroa, a idéia é que aqueles
perigosamente “diferentes em natureza” (por exemplo, afins) passem a
ser “de mesma natureza”, por intermédio do processo da vida comum.
Assim, ao longo do tempo, marido e mulher tornam-se similares “em
natureza”. Como veremos, o que torna os membros de uma comunidade
progressivamente similares uns aos outros é um certo tipo de homoge-
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gas vitais” afirma, também, o vínculo existente entre a “vida dos senti-
dos” e a “vida de pensamentos”. É porque são dotados dessas “miçan-
gas vitais” que os Piaroa podem viver sua vida física dos sentidos de um
modo distintivamente humano, o que significa dizer que sua vida (selva-
gem) de desejos pode ser controlada por sua vida intelectual. Para eles,
ação, pensamento e afeto são mutuamente constitutivos.
Os Piaroa nem sempre dominaram suas ações via o pensamento. No
início dos tempos da criação, seus desejos eram controlados, não pela
vida dos pensamentos, mas, de maneira desastrosa, pela vida dos senti-
dos, centrada em um conjunto peculiar de partes do corpo: o ânus e os
genitais, reluzentes e azuis. Uma vinheta mítica conta como esse proces-
so foi revertido no dia que essas “partes pudendas” perderam seu brilho
colorido. Isto aconteceu quando os Piaroa adquiriram o conhecimento dos
perigos do incesto. Reza a história que um caso de incesto desencadeou
uma briga, desagregadora e eterna, entre os deuses criadores. Com a
eclosão do conflito, os Piaroa, pela primeira vez, defrontaram-se com os
perigos sociais do incesto; foi nesse momento, com a aquisição de uma
consciência social, que perderam suas partes coloridas. A partir de então,
tornaram-se capazes de dominar sua sexualidade por intermédio da
reflexão intelectual. O aspecto da vida de pensamentos de cada pessoa
que permite essa reflexão pessoal é referido como ta’kwakomenae (ver
abaixo).
Em contraste, a sexualidade dos deuses criadores (que não devem
ser confundidos com os deuses Tianawa do presente) foi sempre domina-
da por sua vida de desejos. Os imensos poderes necessários para a cria-
ção eram monstruosos demais para que os deuses os pudessem manipu-
lar por meio da razão — o que explica a presença tanto de uma certa per-
versidade quanto de uma certa loucura na maior parte das criações de
tipo mítico. A fertilidade mítica era, freqüentemente, associada à defe-
cação ou à expulsão de outras substâncias residuais pelos diversos ori-
fícios corporais. Vômito, excremento e sangue, eram todos dotados de
poderes fertilizantes similares aos do sêmen. No entanto, freqüentemen-
te, o produto da sexualidade divina não era normal, mas mórbido (assu-
mindo a forma dos diversos tipos de doenças que hoje afligem os Piaroa).
A lição dos eventos míticos, repetida várias vezes, é a de que apenas
mediante uma fertilidade moderada uma pessoa se torna capaz de casar,
ter filhos e estabelecer relações de parentesco duradouras. A sexualida-
de humana tem de ser dominada por intermédio do pensamento reflexi-
vo (ta’kwakomenae), um contraste com a fertilidade potente, mas mons-
truosa, dos deuses criadores. Deixem-me explicar isto melhor, pois a
ELOGIO DO COTIDIANO 93
vida dos desejos não é a única coisa que o pensamento humano precisa
dominar18.
As capacidades socialmente reflexivas de ta’kwakomenae constituem
apenas um dos aspectos da “vida de pensamentos” de cada pessoa. O
segundo aspecto é ta’kwanya. Ta’kwanya é a palavra na língua piaroa mais
próxima de nossas noções de “tradição” ou “costumes”. Assim, a “vida
de pensamentos” de uma pessoa inclui duas forças distintas, mas interli-
gadas: as habilidades para o pensamento reflexivo e a capacidade para a
prática cultural. Ambas provêm das caixas de cristal dos deuses. É por
intermédio de ta’kwanya que se adquire o conhecimento da floresta, dos
hábitos e da história de seus habitantes, tanto plantas como animais. Toda-
via, ta’kwanya refere-se, sobretudo, àquelas forças ativas e poderosas do
self que, originárias da vida de pensamentos, munem um povo das habi-
lidades necessárias para atuar sobre o mundo, transformando-o para usá-
lo segundo seus próprios modos. Os costumes (ta’kwanya) para os Piaroa
referem-se especificamente a modos particulares de fazer coisas, a ativi-
dades e práticas no mundo. Os brancos têm ta’kwanya de construir aviões
e arranha-céus. Os Piaroa caçam, plantam, e fabricam zarabatanas.
Para dar à noção de ta’kwanya uma leitura indígena, o conceito pode
ser entendido como se referindo às forças da vida intelectual que confe-
rem fertilidade a uma pessoa. Dominados pelo pensamento reflexivo, são
esses os poderes que habilitam uma pessoa a criar, a ser produtiva e a ter
de modo geral um efeito sobre o mundo, de uma maneira especificamen-
te piaroa. Ta’kwanya inclui a capacidade para o uso da linguagem e os
meios de adquirir e processar alimentos; inclui habilidades para o parto,
a horticultura, a caça, o ritual e a fabricação de instrumentos. Assim como
os bebês, instrumentos e objetos são criados via as forças fecundas do
intelecto19.
Todas essas práticas são classificadas lingüisticamente como capaci-
dades da “vida de pensamentos”. Um homem pode dizer: “‘por meio do
pensamento’ (cha’kwanae) eu canto”, e dessa maneira curo doenças; ou
“por meio de meus pensamentos” posso fabricar uma zarabatana, ou
construir uma casa, ou uma armadilha de pesca. Uma mulher pode dizer
que é “por meio de seus pensamentos” (cha’kwahunae) que ela faz sua
roça ou dá à luz. O produto de cada ato criativo é visto como “um pensa-
mento” (a’kwa) de seu criador, uma manifestação de ta’kwanya daquela
pessoa. Além disso, no vocabulário piaroa, curar, fazer, transformar e
criar, são palavras que têm todas a mesma raiz20.
94 ELOGIO DO COTIDIANO
Expressões da individualidade
Notas
Piaroa (ver Oldham 1996), esta paz tão valorizada está agora sendo rompida, sob
a forma de guerras de feitiçaria entre líderes, como conseqüência das tentativas
indígenas de criar estruturas organizacionais capazes de lidar com o Estado nacio-
nal. Até o momento, parece que seus modos pacíficos, baseados nas “estruturas”
informais das quais me ocupo neste texto, terão dificuldades em sobreviver à intro-
dução de uma organização mais formalmente estruturada.
autores como Carol Gilligan (1982), Alasdair MacIntyre (1980), Michael Stocker
(1976a; 1976b), Lawrence Blum (1980), Michael Slote (1983), Claudia Card (1994;
1995), Alison Jagger (1983) e Susan Wolf (1982). Ver Baier (1995:18-19).
5 Ver, também, o livro de MacIntyre, After Virtue (1980), no qual ele expres-
sa sua nostalgia por uma ética centrada nas virtudes.
6 Ver Gow (1989; 1991) sobre os Piro do Peru; Belaunde (1992; 1994) sobre
os Airo Pai também do Peru; e McCallum (1989; 1994) sobre os Cashinahua brasi-
leiros.
variação nas capacidades de ação, e afirma que cada tipo de ser vive segundo
suas atividades e hábitos específicos (e sobrenaturalmente [other-worldly] adqui-
ridos). Viveiros de Castro (1996:127 e ss.) recentemente classificou essa ênfase
amazônica sobre a ação distintiva como uma forma de “multinaturalismo”. De
minha parte, eu a veria como um aspecto do “multiculturalismo” indígena. Ouso
dizer que esse continuará sendo um debate pertinente entre especialistas em
Amazônia, que remete à controvérsia em torno da relevância de nossa própria
divisão conceitual entre “natureza” e “cultura” para o pensamento indígena.
11 Ver, por exemplo, Henley (1982) sobre os Panare. Ver, também, Overing
12Uma atenção cada vez maior está sendo dada à “arte de alimentar” nas
etnografias de povos amazônicos. Ver, por exemplo, Gow (1989) e Belaunde (1994).
13 Ver, todavia, Overing Kaplan (1975) sobre os aspectos políticos dos arran-
jos matrimoniais entre os Piaroa. O casamento correto é aquele sobre o qual todos
concordam, noivo, noiva e os pais de ambos. Não obstante, o princípio normal-
mente afirmado é de que ninguém pode ser obrigado a se curvar aos desejos dos
pais, e muitas vezes a decisão permanece nas mãos apenas do casal.
(1979); C. Hugh-Jones (1979); e Kaj Arhem (1996). Ver, também, S-E. Isacsson
(1993) sobre os Emberá do Chocó colombiano.
18 Ver Overing (1985) para um discussão mais antiga, porém mais completa,
20 Pode-se dizer, eu curo (tü aditusae) esta mulher; eu fabrico (tü aditusae)
22 Ver D. Thomas (1982), que foi o primeiro a fazer essa importante observa-
ção sobre um povo amazônico. No seu caso, tratava-se dos Pemon, vizinhos dos
Piaroa.
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Amazon”. Journal de la Société des Ph.D. Thesis, University of London.
Américanistes, 80:95-111. GILLIGAN, Carol. 1982. In a Different
ELOGIO DO COTIDIANO 105
Resumo Abstract
Este artigo expõe o valor atribuído por The article states the high evaluation
um povo amazônico, os Piaroa, à arte da that an Amazonian people, the Piaroa,
existência cotidiana. Argumenta-se que place upon the artful skills of everyday
sua ênfase na criatividade das práticas existence. It is argued that their empha-
diárias é próxima de uma poderosa filo- sis upon the creativity of daily practice
sofia social igualitária. São também le- is forthcoming from a powerful and
vantadas as dificuldades de se traduzir egalitarian social philosophy. The diffi-
essa filosofia, onde o eu humano é si- culties of translating such a philoso-
tuado no meio cósmico. O objetivo da phy, where the human self are contex-
tradução seria possibilitar nosso enga- tualised within a wider cosmic setting,
jamento em um diálogo com os Piaroa a is raised. The aim of translation would
respeito de nossos interesses comuns be to enable us to engage in dialogue
(sobre a relação do indivíduo com a co- with the Piaroa about common concerns
letividade, por exemplo, ou sobre a (upon the relation of the individual to
idéia de liberdade, ou a questão da re- the collectivity, for instance, or upon the
lação entre costumes e formas racionais idea of freedom, or the question of the
de tomada de decisão). Os Piaroa são relation of customs to rational deci-
um povo que abertamente evita a idéia sion making). These are a people who
de regra social, ainda que valorizem overtly shun the idea of a social rule,
muito a sociabilidade, seus próprios yet strongly value sociality, their own
costumes e a mutualidade dos laços co- customs, and the mutuality of the ties
munitários. Ao mesmo tempo, eles de- of community. They at the same time
monstram, de modo ainda mais vigoro- demonstrate even more forcefully an
so, um “individualismo obstinado”. Um “obstinate individualism”. A major puz-
grande enigma a ser discutido é o fato zle to be discussed is the notion that
de que a autonomia pessoal é entendi- personal autonomy is understood as a
da ao mesmo tempo como uma capaci- social capacity, and a cultural one as
dade social e cultural: o eu volitivo, a well: the volitional I, the social relation,
relação social e o artifício cultural for- and the cultural artifice are an associat-
mam um conjunto de valores associa- ed set of values. The centrality of the
dos. Finalmente, é discutida a centrali- notions of reflective reason and person-
dade das noções de razão reflexiva e al trust to this particular egalitarian
confiança pessoal nessa ética igualitá- ethics will be discussed.
ria específica.