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A poesia vai
«As nossas cabeças têm casas. Construções erguidas de múltiplas maneiras. Espaços com histórias.
Divisões cheias. Recantos escondidos. Coisas que se usam todos os dias. Gavetas bolorentas onde uma
aranha arrisca tecer uma teia. E janelas. Janelas por onde o ar entra e a luz enfeita os dias, o passar das
horas e adormece, escura, com a chegada da noite. Sonhos. As casas são feitas de sonhos. Os sonhos ha-
bitam as camas, espalham-se, fogem ao controlo, ocupam todo o espaço vivido e o imaginado que tan-
tas vezes entra pela porta dentro e faz visitas mesmo sem ser convidado. Os sonhos sentam-se à mesa, es-
tão no sorriso das pessoas, partem e voltam no reencontro depois de mais um dia, cansados, vividos,
prontos para prosseguirem se necessário anos a fio. Os sonhos é que dão vida às casas. E são eles que as
matam quando, certo dia, é preciso sair delas.
As casas criam enredos como quem cria filhos. Desenvolvem paixões cujos lábios murmuram.
Vivem da ilusão fantástica do tempo todo e escrevem histórias. Amor, ódio, solidão e amparo, de tudo
as casas conhecem e calam. Silenciosas permanecem, fechando segredos de que só elas cuidam, como
quem se detém perante uma flor na varanda, imutável, atenta ao desfiar de estações.
As casas são pais e mães do desejo, da vontade de existir e de uma certa ilusão de, afinal, sermos
eternos. Somos sempre pais e filhos delas, mesmo quando, um dia, temos de mentir para que não se
afastem do nosso coração.»
Pedro Strecht
ASSÍRIO & ALVI M n ov i da des Esconderijo é o mais recente livro infanto-juvenil de Pedro
Strecht. Aqui, diversas situações que fazem parte do quotidiano
ESCONDERIJO [conto] infantil são tratadas com humor e de forma pedagógica, num
Autor: Pedro Strecht livro integralmente ilustrado por crianças. Recomendado para
Desenhos: diversos autores crianças a partir dos 8 anos de idade.
Colecção: Assirinha Azul 2 / Tema, classificação: Literatura infanto-juvenil
Data de Edição: Maio de 2011 / Distribuição: 31 de Maio a 8 de Junho de 2011
Formato e acabamento: 14 x 16,8 cm, edição brochada / 112 páginas
ISBN: 978-972-37-1586-6
Continuo escondido dentro do armário do quarto dos meus pais. Sou um guerreiro em tác-
tica de defesa; as portas são um escudo que me protege de flechas e outros perigos. Tenho de me
encolher um pouco, o espaço não é muito, sinto-me espalmado, como se tivesse sido atropelado
por umas daquelas máquinas que andam a colocar alcatrão nas estradas.
Está um silêncio tão grande que até parece que ouço o coração dentro de mim. Às vezes, sinto
o mesmo à noite quando estou deitado na cama e ainda não adormeci; o meu pai explicou-me que
isso é natural… Também gosto de usar o esconderijo quando brinco ao quarto escuro. No outro
dia estive aqui muito tempo; estava a minha prima a tentar encontrar-
-me e eu só saí quando a minha irmã começou a chamar por mim e a chorar, a chorar tanto que
achei que as lágrimas podiam formar um rio e me molhasse os pés. Adoro molhar os pés e tomar
banho no mar, mas para isso precisava de calções e lá tinha eu que desarrumar outra gaveta, coisa
que até me apetece agora mas acho arriscadíssimo! […]