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Zacarias Martin Chamberlain Pravia

zacarias@upf.br

Ricardo Ficanha
ricardo.ficanha@metasa.com.br

como construir Moacir Kripka


mkripka@upf.br

Galpões com treliças metálicas


para usos gerais
Os galpões para usos gerais cons-
truídos com aço, de um único pavi-
mento, são geralmente constituídos de
sistemas estruturais compostos por
pórticos regularmente espaçados, com
cobertura superior apoiada em siste-
ma de terças e vigas ou tesouras e treli-
ças. São áreas cobertas destinadas ao
uso comercial (lojas, estacionamentos,
centros de distribuição, entre outros),
uso industrial, agrícola etc. (figura1).
Neste artigo abordaremos, princi-
palmente, alguns aspectos do projeto e
da montagem final no local da obra.
Porém, é necessário entender que um
projeto de estrutura metálica envolve
o projeto (cálculo e detalhamento), a
fabricação numa indústria metalúrgi- com as exigências das normas de segu- usos gerais com plano de manutenção
ca, o transporte e a montagem. rança (NBR 8681:2003), ações devidas definido, o qual prevê a obtenção da
ao vento (NBR 6123:1988) e as especí- vida útil da edificação especificada
Projeto ficas ações acidentais que atuarão ao originalmente no projeto.
Ao desenvolver um projeto, deve- longo da vida útil da edificação (NBR
-se pensar na qualidade final da edifi- 6120:1980). O sistema estrutural, ge- Materiais
cação, assim como na manutenção ao ralmente, classifica-se em vão simples Uma lista de materiais em avanço
longo da vida útil. Em primeiro lugar, com duas águas (figura 2), vão deve ser utilizada para a definição de
deve-se definir uma configuração di- múltiplos com quatro meias-águas, estoques, compra e requerimento dos
mensional volumétrica do galpão (al- geminados com duas ou mais águas, materiais especificados, antes mesmo
tura, largura e comprimento). Essas os do tipo shed (figura 3) e, ainda, dos desenhos de fabricação. Essa ante-
medidas são função do tipo de uso que aqueles em forma de arco (figura 4). cipação garante a fabricação no prazo
se dará à edificação. Entende-se por projeto o conjunto definido no cronograma do projeto.
Com as dimensões principais do de especificações, cálculos estruturais, O aço estrutural considerado no di-
edifício, é importante definir as abertu- desenhos de projeto, de fabricação e de mensionamento do galpão deve estar
ras fixas e móveis nos fechamentos late- montagem dos elementos de aço. As especificado na lista avançada, de acor-
rais da estrutura de aço (aberturas fixas normas para dimensionamento a do com os critérios de aceitação estabe-
são aquelas sempre abertas, por exem- serem usadas são a NBR 8800:2008 lecidos no Anexo A da NBR 8800:2008.
plo, venezianas; as aberturas móveis para estruturas de aço laminadas e sol- Os elementos podem ser conside-
podem estar fechadas ou abertas, como dadas e a NBR 14762:2010, para aque- rados como perfis soldados, perfis la-
portas e portões), bem como possíveis las com perfis formados a frio. Cada minados e perfis conformados a frio,
lanternins superiores, para aliviar a um destes documentos deve respeitar definidos no cálculo da estrutura.
pressão interna devido ao vento. as normas e exigências requeridas para Para conexões, geralmente é prio-
O sistema estrutural é definido na uma correta e adequada obtenção do rizada a utilização de soldagem em fá-
fase de projeto e deve estar de acordo resultado final, que é o galpão para brica e de uniões parafusadas em

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Terças

Vigas e
tapumes Treliçado
lateral lateral
Contraventamento Apoio Contraventamento
Contraventamento da cobertura
Terças
Contraventamento em X lateral
Figura 1 – Galpão geral Figura 2 –Duas águas

Figura 3 – Shed Figura 4 – Arco

campo, devido à dificuldade de utili- concepção adequada e mais viável da es- riais e locais destinados à montagem
zação de soldagem nos locais de mon- trutura leva em consideração as dimen- das instalações de apoio para a obra
tagem da estrutura. Logo, a lista de sões dos conjuntos soldados, facilitando, (escritório, almoxarifado, refeitório,
parafusos deve ser definida juntamen- assim, tanto a movimentação no inte- banheiros, vestiários, entre outras).
te com as conexões, para que o enge- rior da fábrica como transporte e posi- Nas figuras 5 a 8 é apresentada uma
nheiro responsável defina as dimen- cionamento no campo. sequência de projeto preparada por
sões dos parafusos de alta resistência Geralmente a fabricação obedece a diversos programas computacionais,
utilizados. Os consumíveis (eletrodos, uma sequência estabelecida por rela- que esclarece os passos a serem desen-
arames e fluxos) para soldagem devem tórios definidos em função da monta- volvidos para se manter a estrutura
obedecer às especificações da norma gem, que para cada situação deve ser sempre estável durante a montagem.
AWS D1.1 (Structural Welding Code definida, estudando-se locais de arma- As instalações para suporte no can-
– Steel), classificados em função do zenamento no canteiro e datas que os teiro de obras deverão estar devida-
material especificado na união. elementos serão posicionados na mente concluídas antes da chegada de
As telhas de cobertura, assim como montagem da estrutura. qualquer estrutura metálica na obra,
as telhas de fechamento requerem pagi- sendo que as equipes de montagem
nação para compra junto ao fornece- Montagem também deverão estar preparadas e
dor. Os fabricantes de telhas seguem as O projeto de montagem deverá ser mobilizadas para o início dos trabalhos
orientações das normas NBR 14513 e elaborado após visita ao canteiro de no momento da chegada da estrutura
NBR 14514. obra, recebimento de todos os diagra- Nas fotos a seguir, de 1 a 12, apre-
mas de montagem, detalhamentos, sentamos a sequência real de monta-
Fabricação especificações de qualidade e seguran- gem de um galpão industrial, desde a
A fabricação dos elementos estrutu- ça do cliente. Em visita ao canteiro de chegada do material ao canteiro de
rais deve seguir as informações dimen- obra deverá ser recolhido o máximo obra, onde as bases de ancoragem já
sionais, especificações de materiais e de informações possível, bem como estão prontas, até a colocação do fecha-
quantitativos mostrados nos desenhos registros fotográficos do local, sendo mento lateral (foto 1).
de fabricação, onde são detalhados os que deverá ser previamente determi- O conhecimento do canteiro de
elementos. É importante salientar que a nado os locais de estocagem dos mate- obra é indispensável à elaboração de

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procedimento e projeto de montagem, mitados pelo local, além das capacida- Especificação para montagem
para que se possa aproximar o máxi- des, do peso permitido e dimensões de O objetivo principal durante a mon-
mo possível o planejamento da reali- transporte e as condições do local. tagem é manter a estabilidade da estrutu-
dade da obra. n Dimensões: todas as medidas neces- ra a toda hora. Muitas estruturas desmo-
A montagem sempre deve estar sárias para a montagem no canteiro ronam devido à falta do entendimento
presente no desenvolvimento de todas devem ser mostradas nos desenhos. das exigências de estabilidade. As tensões
as fases do projeto. Ela delimita os prin- n Planejamento: a sequência da mon- podem ser invertidas durante a monta-
cipais requisitos para uma especifica- tagem deve ser considerada como uma gem e comprometerem a estabilidade da
ção técnica e também trabalha com os parte integral do processo de projeto e estrutura, podendo levá-la ao colapso.
aspectos organizacionais no local. deve ser estabelecida e documentada Isso mostra a importância do conheci-
É importante que a montagem seja num estágio prévio. mento de cálculo estrutural e da resistên-
considerada desde as primeiras fases n Marcação: a marcação de todas as cia dos materiais pelo responsável pela
do projeto. Ambos, engenheiros e fa- partes deve ser clara e consistente com montagem da obra. O projeto de monta-
bricantes devem considerar os seguin- o projeto. gem deve solucionar perguntas relativas à
tes aspectos: n Recursos: dependendo de como o sequência de construção e seus efeitos de
n Conexões no local: junções devem canteiro de montagem está, é essencial estabilidade, a fim de orientar a utilização
ser preferencialmente parafusadas do usar recursos apropriados para sua de elementos provisórios (foto 2). Na fase
que soldadas. disponibilidade. de projeto, deve-se sequenciar a monta-
n Pré-montagens: o fabricante deve n Normalização dos serviços realiza- gem das estruturas com o objetivo de as-
limitar o número de entradas do local dos em canteiro de obra. segurar, de certo modo, a estabilidade em
para que consista num custo mínimo n Elaboração de projeto específico qualquer fase da montagem. É essencial
de projeto. O tamanho e peso da mon- para a montagem das estruturas metá- que a estrutura seja estável e retificada
tagem de estrutura metálica serão li- licas apontando sequência lógica na como procede a montagem.
montagem das estruturas metálicas. Em edifícios de constituição linear
n Equipes de montagem qualificadas e ou galpões, a estabilidade longitudinal
treinadas para a realização dos serviços, é feita pelos contraventamentos verti-
seguindo regulamentação da NR-18 cais e a estabilidade no plano horizon-
para fins de segurança do trabalho. tal pelo contraventamento dos planos
das terças ou das cordas inferiores das
tesouras. Antes que estejam monta-
dos, a estabilidade da estrutura deverá
ser garantida com a utilização de estais
provisórios (foto 3).
O responsável pela montagem de-
verá garantir que os estais não fiquem
em posição sujeitos a choques de veícu-
los e equipamentos, o que poderia levar
a estrutura à ruína. Em colunas de
grande altura, deverão ser utilizados
elementos provisórios, até que as estru-
turas sejam interligadas, propiciando o
Figura 5 – Esquema de montagem Figura 6 – Etapa final montagem pilares travamento e a estabilidade (foto 4).
de pilares

Figura 7 – Montagem de pórticos de cobertura, terças e contraventamentos Figura 8 – Término da montagem da


estrutura principal

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Foto 1 – Bases executadas e início Foto 2 – Posicionamento dos Foto 3 – Primeira coluna erguida
de recebimento da estrutura no local elementos próximos ao local de
de montagem içamento

Foto 4 – Montagem das colunas respeitando a sequência Foto 5 – Início da montagem dos pórticos com
de montagem necessária à estabilidade posicionamento e fixação das vigas de rolamento

Dentre os trabalhos mais impor- formações deverão, necessariamente, estocar as estruturas nas redondezas
tantes da montagem de estruturas me- constar no projeto de montagem. do local de montagem, onde o volume
tálicas estão a movimentação e o iça- Para o inicio das atividades de de peças é limitado (fotos 8 e 9).
mento de peças dentro do canteiro de montagem da estrutura, a movimenta- Os equipamentos para elevação e
obra. Seja leve ou pesada, grande ou ção de terra deve estar pronta, assim posicionamento dos elementos são de-
pequena, são necessárias informações como a execução das fundações, defini- finidos com adequado plano de rig-
fundamentais para dimensionar equi- das com as informações das reações da ging, em função do peso próprio dos
pamentos seguros e econômicos para estrutura resultantes da análise estrutu- elementos, raios de atuação necessá-
este tipo de operação (foto 5). ral e executadas seguindo a locação to- rios, acessos aos locais de montagem e
Como já comentado anteriormente, pográfica da edificação. As dimensões nível de montagem (foto 10).
é preciso saber basicamente o peso, as entre eixos e filas são sempre informa- Existe uma combinação entre
alturas e o raio de trabalho para dimens das em desenhos de montagem. como projetar, calcular, fabricar, trans-
ionar guindastes, muncks ou gruas, mas A sequência de montagem é defi- portar e montar um galpão para usos
as dimensões da peça são muito impor- nida em função da sequência de fabri- gerais em aço. Esta combinação fornece
tantes na decisão da escolha do sistema cação, pois nem sempre há local para a solução mais econômica e mais efi-
de içamento (uso de balancim, moitão
simples, eslingas em diversos ângulos e
alternativas adicionais para elevação de
peças) e no estudo da movimentação da
peça entre as estruturas até seu local de
montagem (foto 6).
Tudo isto são informações simples,
mas de muito valor para a equipe de
montagem, pois dão maior segurança
na escolha de equipamentos e possibi-
litam a programação do sistema de Foto 6 – Prosseguimento da montagem Foto 7 – Montagem do
içamento ou movimentação das peças sempre considerando a estabilidade da contraventamento vertical para
dentro do canteiro de obra. Estas in- estrutura estabilização horizontal da estrutura

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ciente, porém deve ser estudada em doras, incluindo as solicitadas para mas técnicas vigentes. A documentação
conjunto com todas as fases do projeto, fundações e bases deve tratar dos seguintes assuntos: su-
desde a concepção até a sua manuten- n especificação para atividades relati- cessão básica de montagem; especifica-
ção para atingir a vida útil esperada. vas à própria montagem, como especi- ção para montagem; padrões em vigor;
ficações de cabos, contraventos e esta- organização em local; acomodação bási-
Outros cuidados bilizadores temporários, enquanto a ca de local; estimar homens horas; pes-
Além desses fatores, a montagem estrutura está sendo soldada, parafusa- soal de montagem; projetos principais e
deve incluir tantos detalhes quanto da ou sendo realizados os testes de qua- ferramentas de montagem; plano de
possíveis. lidade e estabilidade das estruturas. montagem; desenho de montagem;
n exigências para descarga, armazena- programa de segurança; programa de
mento e controle das peças no canteiro Documentação controle de qualidade.
n detalhes de todas as pré-montagens A especificação técnica para monta-
solicitadas em local gem deve esboçar as condições solicita- Zacarias Martin Chamberlain Pravia
n tolerâncias dimensionais e nivela- das em vigor do local da obra e as nor- D.Sc., Programa Pós-graduação
Engenharia – Universidade de Passo Fundo
zacarias@upf.br

Ricardo Ficanha
Metasa/SA
ricardo.ficanha@metasa.com.br

Moacir Kripka
D.Sc., Programa Pos-graduação
Engenharia – Universidade de Passo Fundo
mkripka@upf.br

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Foto 8 – Montagem seguindo sequência pré-definida Instituto Aço Brasil, Galpões para
usos gerais /Instituto Aço Brasil,
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(revs.), Gilnei Artur Drehmer e Enio
Mesacasa Júnior. Rio de Janeiro:
IABr/CBCA, 2010.
NBR 8800:2008 – Projeto de
Estruturas de Aço e de Estruturas
Mistas de Aço e Concreto de Edifícios
NBR 14762:2010 – Dimensionamento
de Estruturas de Aço Constituídas por
Foto 9 – Ilustração das vigas de
Perfis Formados a Frio
fechamento lateral posicionadas após a Foto 10 – Montagem das telhas
NBR 6123:1988 – Forças Devidas ao
estrutura principal montada metálicas de fechamento lateral
Vento em Edificações
NBR 8681:2003 – Ações e Segurança
nas Estruturas – Procedimento
NBR 14323:1999 – Dimensionamento
de Estruturas de Aço de Edifícios em
Situação de Incêndio – Procedimento
AISC 303-05, Code of Standard
Practice for Steel Buildings and Bridges
AWS D.1.1/D.1.1M:2010,
Structural welding code
Foto 12 – Preparação das instalações Execução de Estruturas de Aço –
pluviais para posterior execução do piso Práticas Recomendadas, 2010.
Foto 11 – Fechamento lateral finalizado industrial http://www.abcem.org.br

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