You are on page 1of 2

“Por Sereia Seixa se apaixonaram o Monte e o Mar.

Por ela as águas do rio fizeram foz na Praia da Rocha.

Seixa é do tamanho de um ramo fino de esteva


e tem sardas na pele branca.
Se todas as flores de esteva do mundo forem mergulhadas no mar
exalam uma fragrância mista de mato e maresia.
Assim cheira Seixa.

Os seus cabelos são cristais de salsugem gerados pelas ondas


que ora que ora, que batem que batem
e largam gotas suspensas no ar.

Para o Monte, Seixa é flor.


Seixa enche de plantas aromáticas o caminho de terra rossa
que leva ao lago de água salgada.

Para o Mar, Seixa é sal.


Seixa tece a película finíssima
que se precipita no estrato de corais à roda do seu lago.

Destes corais Seixa tomou vida


quando a Praia era como a Grande Barreira de Recifes.
Mar baixo, quente e cheio do move – move de peixes coloridos.

Seixa nasceu como um coral


(os corais são as flores do oceano).
Surgiu do recife e apresentou-se.
Ao Monte. Ao Mar.

O mar disse:
– A Sereia é minha, por ela criarei as marés e as ondas.

O Monte disse:
– A Sereia é minha, por ela criarei os vales e as nascentes.

Desde esse dia nunca mais houve paz.

Umas vezes o mar avança e pouco resta do areal.


Então o Monte encarrega o rio de trazer muita areia para afastar o mar.
Porque a Sereia Seixa precisa de terra para o seu jardim.

Noutras vezes, o Monte quebra-se em derrocadas


empurra o Mar para muito longe.
Então vêm de mansinho as ondas cobrir a terra.
Porque a Sereia Seixa precisa ter longos cabelos de salsugem.

Neste vai – e - vem do monte


Neste vai – e - vem do mar
Leva que leva terrareia
Leva e lava ondimar
P´ra sempre…p´ra sempre…”
Um texto de Helena Tapadinhas

You might also like