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CT 11

CADERNO TÉCNICO ALVENARIA ESTRUTURAL - CT11


Artigos Técnicos podem ser encaminhados
para análise e eventual publicação para
alvenaria@revistaprisma.com.br

PARTE 2
METODOLOGIA DE DOSAGEM PARA BLOCOS DE CONCRETO
EMPREGADOS EM ALVENARIA ESTRUTURAL
Luiz Roberto Prudêncio Jr., Alexandre Lima de Oliveira e Artêmio Frasson Jr.

Na segunda parte deste artigo sobre métodos de dosagem para blocos de concreto estruturais, apresentamos
Palavras-chave:
a metodologia proposta pelo engenheiro Artêmio Frasson Jr. em trabalho de mestrado apresentando no ano alvenaria estrutural,
2000, no curso de engenharia da Universidade Federal de Santa Catarina. São introduzidos novos conceitos e dosagem, concreto,
ensaios para avaliação de propriedades como a coesão das misturas no estado fresco; previsão de umidade blocos
ótima e textura superficial dos blocos; e a inter-relação entre grau de compacidade dos blocos e sua resistência à
compressão. No caso, a moldagem é feita utilizando-se corpos-de-prova cilíndricos de 5 cm x 10 cm, e o resultado,
economicamente vantajoso, permite reduzir o número de testes executados no equipamento de vibro-compressão.
Permite ainda prever com grande exatidão a resistência dos blocos de concreto, não importando o porte do
equipamento utilizado. Por fim, o artigo traz um exemplo prático de aplicação do método de Frasson em uma
fábrica de blocos vibro-prensados da região de Florianópolis, em Santa Catarina.

EXPEDIENTE
O Caderno Técnico Alvenaria Estrutural é um suplemento da revista Prisma, publicado pela Editora Mandarim Ltda.
ISSN 1809-4708
Artigos para publicação devem ser enviados para o e-mail alvenaria@revistaprisma.com.br
Conselho Editorial: Prof. Dr. Jefferson Sidney Camacho (coordenador) Eng. Dr. Rodrigo Piernas Andolfato (secretário); Eng. Davidson Figueiredo Deana;
Prof. Dr. Antonio Carlos dos Santos; Prof. Dr. Emil de Souza Sanchez Filho; Prof. Dr. Flávio Barboza de Lima; Prof. Dr. Guilherme Aris Parsekian; Prof. Dr. João Bento de Hanai; Prof. Dr. João Dirceu
Nogueira Carvalho; Prof. Dr. Luis Alberto Carvalho; Prof. Dr. Luiz Fernando Loureiro Ribeiro; Prof. Dr. Luiz Roberto Prudêncio Júnior;
Prof. Dr. Luiz Sérgio Franco; Prof. Dr. Márcio Antonio Ramalho; Prof. Dr. Márcio Correa; Prof. Dr. Mauro Augusto Demarzo; Prof. Dr. Odilon Pancaro Cavalheiro;
Prof. Dr. Paulo Sérgio dos Santos Bastos; Prof. Dr. Valentim Capuzzo Neto; Profa. Dra. Fabiana Lopes de Oliveira; Profa. Dra. Henriette Lebre La Rovere;
Profa. Dra. Neusa Maria Bezerra Mota; Profa. Dra. Rita de Cássia Silva Sant´Anna Alvarenga.
Editor: jorn. Marcos de Sousa (editor@revistaprisma.com.br) - tel. (11) 3337-5633

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CADERNO TÉCNICO ALVENARIA ESTRUTURAL - CT11

PARTE 2
METODOLOGIA DE DOSAGEM PARA BLOCOS DE
CONCRETO EMPREGADOS EM ALVENARIA ESTRUTURAL

1. INTRODUÇÃO produção dos blocos de concreto são os comu- Conforme mencionado, além da avaliação da
Na primeira parte deste artigo (Prisma 25), mente chamados “pedriscos” (material passante textura superficial das misturas, deve-se reali-
foram apresentados os métodos de dosagem co- na peneira de 9,5 mm e retido na peneira de zar o ensaio de coesão, segundo procedimentos
mumente empregados para blocos de concreto 4,8 mm). Preferencialmente, devem ser empre- apresentados no item 2.2. No que se refere à
produzidos em máquinas vibro-prensas. Esses gados materiais de formas mais cúbicas, que coesão, as situações mais críticas das mistu-
métodos, todos eles, demandam testes exces- permitam sua utilização em teores mais eleva- ras são vistas entre as que trazem menores
sivos já na própria máquina vibro-prensa; além dos, sem o comprometimento da textura super- consumos de cimento (normalmente, os traços
disso, a maioria dos ensaios não leva em conside- ficial dos blocos. utilizados para a produção de blocos de vedação).
ração peculiaridades e características inerentes Já o agregado miúdo, ou o proporcionamento Por isso, recomenda-se que, após a definição do
ao processo de produção dos blocos de concre- entre agregados miúdos, deve apresentar módulo proporcionamento ideal entre agregados graúdo
to. Pensando nisto, Frasson (2000) propôs uma de finura entre 2,20 e 2,80, e uma percentagem e miúdo, empregando-se traço médio de 1:9 (ci-
metodologia de dosagem que visa à redução de passante na peneira de 0,3 mm em torno de 25% mento:agregados), sejam feitos testes em traços
testes em escala real de produção, tornando o a 35%, para obtenção de uma coesão adequada mais pobres (1:13 a 1:15), para uma avaliação
estudo de dosagem uma tarefa mais ágil e econô- à produção. da coesão nos casos críticos. Vale ressaltar que
mica, e que leva em conta parâmetros importan- Os proporcionamentos mais utilizados de a massa específica empregada para a moldagem
tes do processo produtivo, desconsiderados nos agregados graúdos em relação ao agregado total das peças exercerá grande influência, tanto na
demais métodos. estão em torno de 20% a 40%. Contudo, para textura superficial, quanto na coesão das mistu-
A metodologia proposta baseia-se na molda- uma definição mais apropriada entre os teores ras. Por isso, a metodologia aqui descrita sugere
gem, em laboratório, de corpos-de-prova cilíndri- de agregados graúdos e miúdos, levando-se em que seja empregado um valor de massa especí-
cos de 5 cm x 10 cm (diâmetro x altura). Com consideração a textura superficial e a coesão das fica de aproximadamente 2,10 kg/dm3 (1), consi-
esses corpos-de-prova é possível fazer uma ava- misturas, recomenda-se que sejam moldados derado próximo dos valores médios comumente
liação da coesão e umidade ideal das misturas, da corpos-de-prova de 5 cm x 10 cm, com traço obtidos nos equipamentos de vibro-compressão
textura superficial dos blocos, além de se prever médio de 1:9 (cimento: agregados) e variando-se encontrados no mercado.
com bastante precisão a resistência à compres- os teores de agregado graúdo no agregado total
são dos blocos, em razão do grau de compaci- entre 10% e 50%, em intervalos de 10%. 2.2 Avaliação da coesão, textura
dade das misturas (massa específica no estado O proporcionamento mais adequado entre os superficial e resistência à compressão
fresco). A seguir, são esboçados os procedimen- agregados é aquele que produz uma mistura sa- Conforme mencionado anteriormente, toda
tos desenvolvidos e prescritos por Frasson, bem tisfatória do requisito textura e coesão, contendo a metodologia de dosagem proposta é base-
como uma aplicação da sua metodologia (estudo a maior quantidade de agregado graúdo. A textu- ada na moldagem de corpos-de-prova cilíndri-
de caso). ra é definida, em geral, pelo consumidor dos blo- cos (5 cm x 10 cm), empregando-se molde de
cos, havendo a tendência de os blocos estruturais 5 cm x 13 cm tripartido (Figura 1a). Além do
2. METODOLOGIA DE DOSAGEM apresentarem uma textura mais aberta – prin- molde propriamente dito (faces laterais e bra-
2.1 Escolha e proporcionamento dos cipalmente quando se trabalha com resistências
agregados mais elevadas (Fbk > 9,0 MPa) –, e os blocos de (1) Esse valor de massa específica é sugerido por
Frasson para agregados de origem granítica e com
Os agregado graúdos mais utilizados para a vedação uma textura bem mais fechada. massas específicas próximas de 2,65 kg/dm3.

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Figura 1 a b a b c
Equipamento de
moldagem dos
corpos-de-prova
5 cm x 10 cm.
À esquerda,
molde cilíndrico
tripartido de
5 cm x 13 cm.
À direita, detalhe
do equipamento
de moldagem
completo

d e

çadeira), o equipamento de moldagem é cons- avaliação é feita durante a fase de determinação


tituído por uma base metálica de 7 cm x 2 cm do proporcionamento ideal entre os agregados.
(diâmetro x altura), um soquete de compactação Em cada mistura confeccionada, deve-se, no
f
de argamassa com dimensões segundo as preco- teor ótimo de umidade e massa específica de
nizações da NBR 7215 (1996), um funil plástico, 2,10 kg/dm3, avaliar visualmente a textura obtida
um tarugo de náilon e um martelo de borracha nos corpos-de-prova.
(Figura 1b). Para avaliar o teor ideal de água em uma mis-
Para se proceder à moldagem dos corpos-de- tura com uma dada compacidade e textura, basta
Figura 2 – Esquema da seqüência de moldagem
prova, o material deve ser primeiramente pesa- verificar as condições superficiais após a desfor- dos corpos-de-prova de 5 cm x 10 cm
a) compactação da 1a camada; b) compactação
do, de modo que após a compactação se consiga ma. Quando a mistura atinge pontos próximos da da 2a camada; c) compactação de 3a camada;
um concreto com a massa específica desejada. umidade ótima, o corpo-de-prova começa a apre- d) compactação de 4a camada; e) aplicação
de golpes com martelo de borracha para
A quantidade de material a ser colocada dentro sentar a superfície levemente umedecida (Figura compactação dos últimos 3 mm; f) desforma dos
corpos-de-prova
do molde tripartido é dividida em quatro partes 3a), semelhante ao que acontece em escala real.
iguais, para que a moldagem seja realizada em Além disso, as faces internas do molde e a base
quatro camadas equivalentes. Para cada camada metálica que serve de suporte no momento da devido a problemas de alteração no formato final
colocada dentro do molde são aplicados vinte gol- moldagem apresentam-se levemente umedecidas dos blocos e aderência dos mesmos aos moldes.
pes utilizando-se o soquete de argamassa. A força (Figuras 3b e 3c). A coesão da mistura fresca é determinada
aplicada nos golpes com o soquete deve ser igual- Teores de umidade abaixo desse ponto de- comprimindo-se diametralmente corpos-de-prova
mente distribuída em cada camada, de maneira mandarão maior energia para a compactação cilíndricos de 5 cm x 10 cm, recém-moldados,
que o corpo-de-prova possua, ao final da etapa de dos blocos, implicando redução de produtividade com a mistura apresentando a textura e umidade
compactação, altura de 10,3 cm a 10,5 cm. Isto e aumento do desgaste do equipamento de vibro- ideais. Para tal, dois corpos-de-prova são dispos-
porque o acabamento final, que deixa o corpo-de- compressão. Valores acima desse ponto podem tos sobre uma superfície horizontal, em paralelo
prova com 10 cm de altura, é feito com o tarugo dificultar ou inviabilizar a produção dos mesmos, segundo seus eixos longitudinais, distanciados
de náilon, aplicando-se golpes com um martelo
de borracha. Ao término da moldagem, deve-se
a b c
desparafusar a braçadeira que envolve as faces
laterais do molde, para proceder à desforma do
corpo-de-prova. Na Figura 2 é apresentada uma
seqüência esquemática de moldagem dos corpos-
de-prova de 5 cm x 10 cm.
A avaliação das condições superficiais dos
corpos-de-prova de 5 cm x 10 cm recém-mol-
dados é um excelente indicativo da textura final
Figura 3 – Indicativo do ponto de umidade ótima das misturas: a) corpos-de-prova recém-desformados,
que será obtida nos blocos, quando a mistura for com leves ranhuras de umidade; b) faces dos moldes levemente umedecidas (pasta de cimento);
c) base de moldagem umedecida com pasta de cimento
empregada em escala real de produção. Essa

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de 30 cm (eixo a eixo). Sobre os referidos cor-


pos-de-prova é posicionada uma chapa plana de
madeira de 50 cm x 20 cm e espessura mínima
de 1,5 cm, cujo objetivo é servir de elemento de Recipiente
a ser Corpos-de-prova 5 x 10 cm
transferência de carga. Sobre a chapa de madeira preenchido
por água
é posicionado um recipiente a ser preenchido com
água, de forma a gerar um carregamento unifor-
me de aproximadamente 1kg/s. O ensaio mede
Chapa de
a carga necessária para esmagamento dos dois madeira
Tela metálica
corpos-de-prova de 5 cm x 10 cm que servem de Lâmina de água
Corpos
apoio, conforme se verifica no detalhe apresenta- de prova
Caixa de isopor
30 cm 5 x 10 cm
do na Figura 4.
Figura 4 – Detalhe do esquema de ensaio Figura 5 – Detalhe do sistema de cura dos corpos-
A metodologia de dosagem aqui apresentada para avaliação da coesão das misturas de-prova de 5 cm x 10 cm sugerido para emprego
em laboratório
recomenda que o valor de coesão mínimo das
misturas esteja entre 5 kg e 8 kg. Vale destacar
que esse valor mínimo de coesão vai depender va deve ser executada em caixas de isopor, com Definidos os valores de cada item apresenta-
muito do processo de produção, principalmente lâmina de água no fundo; isto, quando os estudos do na Tabela 1, é feita a média aritmética para
relacionado às etapas de transporte dos blocos de dosagem forem conduzidos em laboratório, determinação do coeficiente de variação a ser
recém-produzidos (transporte manual, emprego conforme detalhe mostrado na Figura 5. Caso aplicado na expressão a seguir:
de empilhadeiras etc.). a metodologia de dosagem esteja sendo aplicada
dentro das instalações da própria fábrica de pré-
2.3 Produção das misturas para a moldados, pode-se empregar a cura a que os blo-
construção da curva de dosagem cos efetivamente estão sendo submetidos (cura a
Onde: Fbm = Resistência média dos blocos na
Como a definição de uma massa específica vapor, cura no pátio, aspersão de água etc.). idade de interesse (considerando a área bruta);
Fbk = Resistência característica na idade de
para emprego no estudo de dosagem é tarefa interesse; CV = Coeficiente de variação
difícil e depende do equipamento de vibro-com- 2.4 Estimativa da resistência média
pressão e de suas regulagens, é sugerido que se- dos blocos em função da resistência
jam empregadas faixas que abranjam os valores característica 2.5 Determinação do traço a ser
comumente obtidos em escala real. Podem ser Quando não se dispuser de valores de coefi- empregado
adotados nos estudos em escala laboratorial três ciente de variação para a fábrica à qual os estu- Com os resultados de resistência à com-
valores de massa específica, compreendidos en- dos de dosagem estão sendo realizados, serão pressão dos corpos-de-prova cilíndricos de
tre 1,95 kg/dm3 e 2,25 kg/dm3 (massa específica propostos alguns coeficientes (Tabela 1), em fun- 5 cm x 10 cm, são traçadas curvas de resistên-
mínima, média e máxima). ção do tipo de proporcionamento (massa, vazão cia em função das massas específicas, para cada
Para verificar a influência do consumo de ci- ou volume) dos equipamentos disponíveis, do con- proporção empregada, conforme apresentado na
mento, sugere-se a utilização dos traços 1:7, 1:9 trole do processo produtivo e da experiência do Figura 6.
e 1:11, traços comumente empregados para a pessoal encarregado da produção. Determinando-se a massa específica dos blo-
produção de blocos estruturais com resistências
entre 4,5 MPa e 12 MPa. Para cada um dos tra- Tabela 1 – Condição e tipo de controle para estimativa do coeficiente de variação de uma fábrica

ços e massas específicas empregadas no estudo


Valores de coeficiente de variação (%) em função
de dosagem, deve-se determinar o teor de umi- Tipo de controle /equipamento na produção da condição de produção
dade ótima, adotando-se o procedimento apre-
Bom Médio Ruim
sentado no item 2.2. Após a definição do teor de
1 - Controle do processo e pessoal treinado 5 15 25
umidade ótima das misturas, a metodologia pro-
põe que sejam moldados quatro corpos-de-prova 2 – Equipamentos: máquinas vibro-prensas e 5 15 25
sensores de umidade
de 5 cm x 10 cm, para avaliação da resistência à
3 – Dosagem em massa 5 10 15
compressão aos 28 dias de idade.
Vale ressaltar que a cura dos corpos-de-pro- 4 – Dosagem em volume 10 15 20

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Tabela 2 – Características físicas dos agregados empregados no estudo de dosagem

Agregados
Abertura da peneira (mm)
Graúdo Areia média Areia fina

9,5 1 - -

6,3 30 - -

4,8 71 0 -

2,4 98 6 -

1,2 98 34 0

Figura 6 – Curvas de resistência à compressão


0,6 99 60 1
dos corpos-de-prova de 5 cm x 10 cm por massa
específica, no estado verde para as diferentes 0,3 99 87 5
proporções (cimento:agregados) empregadas
0,15 99 97 88

Fundo 100 100 100


cos de concreto no próprio equipamento de vibro-
Módulo de finura 5,65 2,84 0,94
compressão em escala real e, com auxílio das
Material pulverulento 1,46% 0,95% 1,63
curvas de resistência x massa específica apre-
sentadas na Figura 6, é possível definir o nível de Massa específica 2,63 kg/dm3 2,60 kg/dm3 2,64 kg/dm3

resistência obtido nos corpos-de-prova cilíndricos


(5 cm x 10 cm) para cada um dos traços empre- Tabela 3 – Proporções unitárias em massa empregadas para a confecção das misturas
gados. Com a resistência dos corpos-de-prova ci-
líndricos, consegue-se prever a resistência média Materiais
Traço
dos blocos através da seguinte expressão: Cimento Agregado graúdo Areia média Areia fina
f Aliq
Fbm = cp (equação 2)
0,8 Abrut 1:11 1,00 3,30 5,17 2,53

1:9 1,00 2,70 4,23 2,07


Onde: fcp = Resistência média dos corpos-de-
prova cilíndricos de 5 cm x 10 cm; Aliq. = Área 1:7 1,00 2,10 3,29 1,61
líquida dos blocos; Abrut. = Área bruta dos blocos;
Coeficiente de proporcionalidade para blocos de
14 cm x 19 cm x 39 cm = 0,8

um agregado graúdo de origem granítica e dois


Em função da resistência característica dese- agregados miúdos (uma areia média e uma areia Vale ressaltar que o módulo de finura da com-
jada, é possível definir o traço a ser empregado fina). As características físicas dos agregados posição entre agregados miúdos (areia média e
em escala real de produção, devendo-se proceder são apresentadas na Tabela 2. fina) foi igual a 2,22. Optou-se por empregar uma
eventualmente a ajustes finos na própria fábrica. composição próxima ao extremo mais fino da re-
3.2 Proporcionamento entre os comendação apresentada no item 2.4, em função
3. APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE agregados da falta de finos da areia média e da baixa coesão
DOSAGEM – ESTUDO DE CASO Por meio de testes preliminares, moldando- das misturas, quando do emprego de composi-
A seguir será apresentado um estudo de caso se corpos-de-prova cilíndricos de 5 cm x 10 cm ções granulométricas mais grossas.
no qual a metodologia proposta foi aplicada para e avaliando-se a textura superficial dos mesmos
um fabricante de artefatos vibro-prensados da e as coesões obtidas, empregando-se um traço 3.3 Moldagem dos corpos-de-prova de
região de Florianópolis. piloto de 1:9 (cimento:agregados) e uma massa 5 cm x 10 cm para a construção das
específica de 2,10 kg/dm , obteve-se o seguinte
3
curvas de dosagem
3.1 Materiais empregados proporcionamento entre os agregados: Para a moldagem dos corpos-de-prova de
O cimento efetivamente empregado pelo fabri- 5 cm x 10 cm foram empregados três traços
cante e que foi utilizado nos estudos de dosagem • Agregado graúdo: 30% (1:7; 1:9 e 1:11), adotando-se as proporções
foi o CPV - ARI. Os agregados adotados foram • Areia média: 47% entre agregados sugeridas anteriormente. Na
• Areia fina: 23%
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Tabela 4 – Valores de umidade ótima e coesão das misturas em função do traço e da massa
específica empregada

Traços Massa específica (kg/dm3) Umidade (1)


ótima (%) Coesão (kg)

1:11 2,10 3,66

2,18 6,86 5,58

2,25 9,18

1:9 2,13 3,91

2,20 6,83 7,86


Figura 7 – Curvas de dosagem para os traços
2,28 12,05 empregados em função da massa específica dos
corpos-de-prova de 5 cm x 10 cm no estado fresco
1:7 2,15 4,68

2,23 6,95 5,38

2,30 11,46

Nota: 1) Na presente metodologia de dosagem o teor de


umidade das misturas é igual à relação água/materiais secos

Tabela 5 – Resultados de resistência à compressão dos corpos-de-prova de 5 cm x 10 cm

Massa específica Resistência à compressão Desvio-padrão


Traços
(kg/dm3) média (MPa) (MPa)

2,10 11,90 1,94

1:11 2,18 15,25 1,73


Figura 8 – Determinação do
2,25 19,31 1,74 proporcionamento para a produção de
blocos de concreto com Fbk = 12 MPa
2,13 16,15 0,83

1:9 2,20 21,97 0,88


de resistência à compressão aos 28 dias, obtidos
2,28 26,12 2,70
para corpos-de-prova de 5 cm x 10 cm. Vale res-
2,15 19,74 1,51 saltar que os corpos-de-prova foram capeados
1:7 2,23 25,00 0,88 com enxofre antes de serem encaminhados a
prensa para ensaio de resistência à compressão.
2,30 28,80 4,02
Com os resultados informados na Tabela 5 foram
confeccionadas as curvas de dosagem conforme
Tabela 3 são apresentadas as proporções uni- des ótimas para moldagem dos corpos-de-prova se vê no gráfico da Figura 7.
tárias em massa empregadas para a confecção de 5 cm x 10 cm. Na Tabela 4 são apresentados
das misturas. os valores obtidos para umidade ótima e coesão 3.4 Estimativa da resistência média
Para cada uma das misturas foram emprega- das misturas em função da massa específica dos blocos em função da resistência
das três massas específicas, distintas no estado adotada. característica
fresco, conforme se vê na Tabela 4. Essas mas- Foram moldados quatro corpos-de-prova de O estudo de dosagem em questão foi desen-
sas específicas foram adotadas em função da ca- 5 cm x 10 cm para cada uma das combinações volvido com o intuito de se obter um traço para a
pacidade e regulagem do equipamento de vibro- traço e massa específica, com o objetivo de de- produção de blocos de concreto com resistência
compressão da fábrica onde os estudos estavam terminar a resistência à compressão aos 28 característica igual a 12,0 MPa. Com base nos
sendo conduzidos, e em função da facilidade de dias. Os referidos corpos-de-prova foram cura- valores apresentados na Tabela 1, obteve-se:
compactação de cada mistura com sua respecti- dos dentro de uma caixa de isopor com uma lâmi-
va umidade ótima. na de água no fundo, conforme as recomendações • Item 1: Bom (CV=5%)
Para cada uma das combinações (traço e apresentadas no item 2.5. • Item 2: Médio (CV= 15%)
massa específica) foram determinadas as umida- Na Tabela 5 são apresentados os resultados • Item 3: Médio (CV= 10%)
CV = 10% (média aritmética)
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Tabela 6 – Resultados de resistência à compressão dos blocos produzidos em escala real
Com o valor do coeficiente de variação de
Resistência à compressão
produção estimado, é possível determinar o va- Desvio-padrão Resistência à compressão Fbk(1)
Blocos (MPa)
lor médio estimado para os blocos com Fbk=12 (MPa) média – área bruta (MPa) (MPa)
Área líquida Área bruta
MPa (resistência característica dos blocos na
área bruta). 01 22,65 15,13

fbk 12 02 21,25 14,20


Fbm = = = 14,4 MPa
1-1,65.CV 1-1,65.0,10 03 21,41 14,30
(equação 3) 04 19,74 13,19
0,69 14,3 12,3
05 22,03 14,72

06 20,70 13,83
O bloco a ser produzido possui dimensões 07 20,80 13,89
de 14 cm x 19 cm x 39 cm e uma relação área
08 22,79 15,22
líquida/área bruta igual a 66,8% (bloco estrutural
(1) Segundo prescrições da NBR 6136 (1994).
de parede grossa). Com esses dados e empre-
gando-se a equação 1 é possível converter a re- vibro-compressão (tempo necessário para vibro- dução de blocos de concreto vibro-prensados.
sistência média dos blocos em resistência média prensar os blocos) ficasse em torno de 5 a 7 se- É um método simples e prático, que não de-
dos corpos-de-prova de 5 cm x 10 cm. gundos. Foram determinadas as massas especí- manda testes excessivos no próprio equipamento
ficas no estado fresco de uma série contendo 12 de vibro-compressão, o que o torna economi-
fcp Aliq Fbm .0,80
Fbm = fcp = = blocos, obtendo-se um valor de massa específica camente atrativo. Além disso, são introduzidos
0,8 Abrut Abrut / Aliq
média igual a 2,15 kg/dm . 3
novos conceitos e ensaios para avaliação de pro-
14,4 . 0,80
= = 17,24 MPa ~
= 17,5 MPa Aplicando-se no gráfico da Figura 7 o referido priedades como a coesão das misturas no estado
0,668 valor de massa específica e a resistência média fresco; previsão de umidade ótima e textura su-
(equação 4) de 17,5 MPa, observa-se que o proporcionamen- perficial dos blocos; e a inter-relação entre grau
to entre cimento e agregados necessário para a de compacidade dos blocos e sua resistência à
produção dos blocos com Fbk = 12 MPa fica compressão, permitindo prever com bastante
Para a utilização do ábaco de dosagem apre- muito próximo do traço 1:9 (Figura 8). Em função exatidão, através da moldagem de corpos-de-pro-
sentado na Figura 7, foi feita uma avaliação do po- disso foi adotada a referida proporção para em- va de 5 cm x 10 cm, a resistência dos blocos de
tencial de compacidade dos blocos de concreto, prego em escala real de produção. concreto, independentemente do porte do equipa-
quando produzidos no próprio equipamento de vi- Dos blocos produzidos em escala real, cole- mento de vibro-compressão disponível.
bro-compressão. Para tal, foi confeccionada uma tou-se uma amostra formada por 8 blocos, após
mistura com proporção de 1:9 (cimento:agrega- a cura térmica dos mesmos, para avaliação da
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
dos) no equipamento de vibro-compressão em real resistência à compressão aos 28 dias. Na
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas,
escala real, empregando-se as proporções entre Tabela 6 são apresentadas as resistências à NBR 6136 – Blocos Vazados de Concreto Simples
para Alvenaria Estrutural - Especificação. Rio de
agregados apresentada anteriormente. Vale res- compressão dos referidos blocos e a resistência Janeiro, 1994.
saltar que o equipamento de vibro-compressão característica estimada através das preconiza-
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas,
era uma máquina vibro-prensa da Montana, mo- ções da NBR 6136 (1994). NBR-7215 – Cimento Portland - Determinação da
resistência à compressão. Rio de Janeiro (1996)
delo MBX 975.
FRASSON Jr., A. Proposta de metodologia de
Com esse traço médio e com a umidade de 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS dosagem e controle do processo produtivo de blocos
de concreto para alvenaria estrutural. Florianópolis,
produção ajustada para valores próximos da umi- O método de dosagem proposto por Frasson 2000. 145p. Dissertação (Mestrado em engenharia
dade ótima, foram produzidos blocos, ajustando- (2000), e apresentado no presente trabalho, traz civil) – Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil
da Universidade Federal de Santa Catarina.
se o tempo de alimentação para que o tempo de grandes contribuições para a tecnologia e pro-

AUTORES
Luiz Roberto Prudêncio Jr., Dr. Alexandre Lima de Oliveira Artêmio Frasson Jr.
Doutor, pofessor titular da Universidade Doutor, professor efetivo do Centro Federal de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em
Federal de Santa Catarina Educação Tecnológica de Santa Catarina Engenharia Civil da Universidade Federal de
ecv1lrp@ecv.ufsc.br alexandre@cefetsc.edu.br Santa Catarina

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