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LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO

1.1 Conceito e Classificação


As lagoas de estabilização são sistemas de tratamento biológico em que a estabilização da
matéria orgânica é realizada pela oxidação bacteriológica (oxidação aeróbia ou fermentação
anaeróbica) e/ou redução fotossintética das algas.
De acordo com a forma predominante pela qual se dá a estabilização da matéria orgânica a
ser tratada, as lagoas costumam ser classificadas em:
P Anaeróbias: nas quais predominam processos de fermentação anaeróbia; imediatamente
abaixo da superfície não existe oxigênio dissolvido;
P Facultativas: nas quais ocorrem, simultaneamente, processos de fermentação anaeróbia,
oxidação aeróbia e redução fotossintética; uma zona anaeróbia de atividade bêntica é
sobreposta por uma zona aeróbia de atividade biológica, próxima à superfície;
P Estritamente aeróbias: nas quais se chega a um equilíbrio da oxidação e da fotossíntese
para garantir condições aeróbias em todo o meio; é comum chamar-se de aeróbias as lagoas
facultativas, embora não seja correto;
P Maturação: usadas como refinamento do tratamento prévio por lagoas, ou outro
processo biológico; reduz bactérias, sólidos em suspensão, nutrientes e uma parcela
negligenciável da DBO;
P Aeradas: nas quais se introduz oxigênio no meio líquido através de um sistema
mecanizado de aeração; as lagoas aeradas podem ser estritamente aeradas ou facultativas. As
lagoas aeradas devem ser seguidas de uma lagoa de decantação; e
P Com macrófitas: usadas como polimento final de um tratamento por lagoas, com
objetivo de reduzir nutrientes, sólidos em suspensão e a DBO remanescente. Várias
experiências práticas indicam também a redução de metais. Este tipo de lagoa requer
manutenção (corte regular das plantas, secagem e destino final), e as áreas sombreadas
incent ivam a proliferação de moscas e mosquitos, razões pelas quais não é recomendável.
Na verdade, as lagoas de estabilização são lagoas, quer naturais ou artificiais, em que
prevalecem condições técnicas adequadas aos fenômenos físicos, químicos e biológicos que
caracterizam a autodepuração. A matéria orgânica é estabilizada principalmente pela ação das
bactérias, embora alguns fungos e protozoários também participem do processo. As bactérias
produzem ácidos orgânicos, sob condições anaeróbias, ou CO2 e água sob condições aeróbias.
Uma vez que a DBO do efluente tratado é menor nos casos em que o produto final do
metabolismo é CO2 e água, dá-se preferência à realização do processo sob condições aeróbias;
além desta razão, a produção de gases mal-cheirosos nos processos anaeróbios, faz com que a
oxidação aeróbia tenha preferência em geral, pelo menos nas localidades em que aqueles
inconvenientes poderiam ser prejudiciais a uma população eventualmente próxima.

1.2. Eficiência e aplicabilidade das lagoas


As lagoas apresentam excelente eficiência de tratamento. A matéria orgânica
dissolvida no efluente das lagoas é bastante estável, e a DBO geralmente encontra-se numa
faixa de 30 a 50 mg/l, nas lagoas facultativas (havendo uma separação de algas, esta
concentração pode reduzir-se para 15 a 30 mg/l). Nem sempre, porém o objetivo será a
remoção da DBO ou da DQO – interessará muitas vezes a remoção de organismos coliformes,
e tem-se alcançado até 99,9999% de eficiência em lagoas de maturação em série.
Modernamente se aceita que as lagoas devem cumprir dois objetivos principais: a proteção
ambiental, e nesse caso tem-se em vista principalmente a remoção da DBO; e a proteção da
saúde pública, e aí se visa a remoção de organismos patogênicos.
As lagoas de estabilização têm hoje outro campo importante de aplicação: preparar o
efluente para uso em agricultura ou aguacultura. Portanto se o projeto não for criterioso, se
deixar de existir equilíbrio entre as condições locais e as cargas poluidoras, os inconvenientes
dos demais processos aparecem: exalação de mau cheiro, estética desfavorável, DBO elevada,
coliformes fecais em excesso, mosquitos, etc. Por outro lado, como as lagoas abrangem em
geral áreas extensas, as conseqüências exteriores de um mau projeto ou má operação podem
atingir uma grande comunidade, ao invés do que ocorre em uma estação de tratamento, com
efeito localizado.

1.3. Lagoas Anaeróbias


Nas lagoas anaeróbias a estabilização ocorre sem o concurso do oxigênio dissolvido:
são os fenômenos de digestão ácida e fermentação metânica que tomam parte no processo. Na
verdade tudo se passa como num digestor anaeróbio ou numa fossa séptica.
1.3.1. Princípios de funcionamento
A fermentação anaeróbia é um processo seqüencial. Primeiramente microrganismos
facultativos, na ausência de oxigênio dissolvido, transformam compostos orgânicos
complexos em substâncias e compostos mais simples, principalmente ácidos orgânicos. É a
fase chamada de “digestão ácida”, de produção de material celular (síntese0 e compostos
intermediários mal cheirosos (gás sulfídrico, mercaptanas); o pH abaixa para 6, até 5. Em
seguida as bactérias formadoras de metano (estritamente anaeróbias) transformam os ácidos
orgânicos formados na fase inicial em metano (CH4 ) e dióxido de carbono (CO2 ); é a fase
chamada de “fermentação metânica ou alcalina”, quando o pH sobe para até 7,2 ou 7,5, os
maus odores desaparecem, havendo formação de escuma, de cor cinzenta e aspecto feio. Na
fermentação metânica a temperatura deve manter-se acima de 15°C.
A transformação dos ácidos voláteis pelas bactérias formadoras do metano determina
uma sensível redução na matéria biodegradável, representada pela DBO ou DQO, sendo a
quantidade de matéria orgânica estabilizada nesta fase diretamente proporcional à quantidade
de metano produzido. A crosta de escuma cinzenta escura, típica das lagoas anaeróbias, é
extremamente benéfica, pois impede o desprendimento deste gás sulfídrico para a atmosfera,
onde certamente iria causar problemas de odor. Em concentrações entre 50 e 100 mg/l os
sulfetos são bem tolerados, e têm a propriedade de reagir com íons de metais pesados
solúveis, para formar um precipitado que é praticamente insolúvel em pH próximo ao neutro.
Esta propriedade é na verdade uma forma interessante de remoção de metais pesados em
alguns despejos industriais.
A crosta de escuma já referida é formada por sólidos flutuantes e lodo que alcança a
superfície, e apresenta outras vantagens, além de impedir a saída do gás sulfídrico para a
atmosfera:
P Se interpõe à penetração da luz solar na lagoa, impedindo assim o desenvolvimento
de algas, que produziriam oxigênio na camada superior;
P Protege a lagoa contra curto-circuito, agitação provocada pelos ventos, e
transferência de oxigênio da atmosfera, mantendo assim condições no fundo mais adequadas a
metanização (completa ausência de oxigênio dissolvido e temperatura estável); e
P Conserva e uniformiza a temperatura no meio líquido, impedindo sua alteração por
súbita modificação no meio externo. A crosta superficial impede também o ma ior
aquecimento da superfície líquida da lagoa durante o dia, e o rápido esfriamento durante a
noite, o que ocasionaria mistura vertical no meio líquido.
1.3.2. Critérios de dimensionamento
Uma lagoa anaeróbia criteriosamente projetada poderá operar livre de maus odores,
oferecendo uma redução de DBO na faixa de 50 até 60%. Entre os parâmetros principais a
serem observados no seu dimensionamento deve-se ressaltar:
P O tempo de detenção hidráulico: deve ser suficiente para a sedimentação de sólidos
e para a degradação anaeróbia da matéria orgânica solúvel.
P A taxa de aplicação de carga orgânica:
P A profundidade: a razão mais importante para adotar-se uma profundidade maior
será talvez a proteção das bactérias formadoras do metano a eventuais mudanças climáticas e
de temperatura, uma vez que a lagoa mais profunda retém mais calor, fundamental no
processo de digestão. O risco da lagoa ser muito profunda é possuir uma estratificação térmica
que baixe muito a temperatura no fundo, vindo a diminuir a produtividade da digestão.
P Distribuição uniforme do esgoto afluente;

1.4. Lagoas Facultativas


A lagoa facultativa se caracteriza por possuir uma zona aeróbia superior, em que os
mecanismos de estabilização da matéria orgânica são a oxidação aeróbia e a redução
fotossintética, e uma zona anaeróbia na camada de fundo, onde ocorrem os fenômenos típicos
da fermentação anaeróbia. A camada intermediária entre essas duas zonas é dita facultativa,
predominando os processos de oxigenação aeróbia e fotossintética.
A lagoa facultativa pode ser projetada para operar como uma única unidade; ou em
seqüência a uma lagoa anaeróbia, aerada, ou mesmo após uma estação de tratamento. No
primeiro caso costuma ser chamada de lagoa “primária”, e nos demais “secundária”. Algumas
vezes pode também anteceder uma série de lagoas de polimento ou maturação.
1.4.1. Princípios de funcionamento
Na lagoa facultativa todo o processo ocorre como um ciclo natural e contínuo. As
principais reações biológicas incluem:
P Oxidação da matéria orgânica carbonácea pelas bactérias;
P Nitrificação da matéria orgânica nitrogenada pelas bactérias;
P Oxigenação da camada superior da lagoa através da fotossíntese das algas;
P Redução da matéria orgânica carbonácea por bactérias anaeróbias no fundo da
lagoa.
Na maior parte da lagoa, e principalmente na camada superior, onde os processos de
oxidação aeróbia e redução fotossintética ocorrem, os fenômenos seguintes são encontrados:
P A matéria orgânica é sintetizada pelas bactérias, convertida em matéria celular, CO2
e água, na presença de oxigênio dissolvido. Parte do carbono serve como fonte de energia
para os organismos, e é respirado como CO2 ; parte é utilizado com o nitrogênio e o fósforo
para formar novas células.
P As algas são as responsáveis pela produção da maior parte do oxigênio dissolvido
na lagoa. As algas se localizam preferencialmente na camada superior, normalmente com 15 a
40 cm de profundidade. Durante o dia estão produzindo oxigênio e à noite, passa, a consumir.
Explica-se assim a variação de OD ao longo do dia, e sua menor concentração no período
noturno. Há diferentes tipos de algas nas lagoas. As algas verdes que indicam boas condições
da lagoa e as algas azuis- verdes, filalentosas, típicas de situações com pH baixo e pouco
nutriente nos esgotos.
Algumas observações características podem ser apresentadas em relação ao
carregamento da lagoa:
P A população microbiana é muito maior próximo à entrada da lagoa, diminuindo em
relação à saída, mas inversamente o número de espécies aumenta com o grau de tratamento.
P Em lagoas de polimento com muito baixa taxa de aplicação de carga orgânica, é
possível o aparecimento de vários protozoários usando as bactérias e algas como alimento.
P O super carregamento de uma lagoa promove um rápido desenvo lvimento de
bactérias e algas, que exercem uma demanda de oxigênio nem sempre suportada pela ação
fotossintética das algas ou pela transferência pelo vento. Tal fenômeno pode resultar em
morte das algas, gerando uma depleção de oxigênio. Eventualmente toda a lagoa poderá se
tornar anaeróbia.
Uma preocupação constante é a perda de algas com o efluente, contribuindo para o aumento
da concentração de sólidos e da DBO.
1.4.2. Fatores que interferem no processo
As condições hidráulicas e biológicas que tomam parte no processo de depuração nas
lagoas podem ser afetadas por uma série de fatores. Alguns destes são facilmente controláveis
ou adaptáveis ao projeto; outros são por sua própria natureza incontroláveis, e deverão ser
considerados de forma criteriosa, de modo que sua interferência seja desprezível; ou mesmo
benéfica, aos equilíbrios hidráulicos e biológicos, previamente estabelecidos no projeto.
1.4.2.1. Fatores incontroláveis
Sobre estes fatores praticamente não se pode exercer qualquer ação visando modificá-
los:
P Evaporação: pode alterar a concentração de sólidos, da matéria orgânica e dos
elementos presentes, podendo haver modificações no equilíbrio biológico, ou mesmo no
equilíbrio hidráulico. Para projeto deve-se conhecer a evaporação média.
P Precipitação pluviométrica: as chuvas, dependendo da intensidade e duração
poderão provocar uma diluição desfavorável ao processo. Portanto deve-se conhecer a
precipitação média.
P Temperatura: a eficiência da lagoa é dependente da temperatura. Na camada
anaeróbia de fundo o limite inferior é15°C, isto é, em temperatura abaixo deste valor as
bactérias anaeróbias têm pouca atividade. Nas zonas aeróbia e facultativa a faixa aplicável é
de 5 a 35°C.
P Ventos: têm importância para as lagoas na medida em que favo recem a
homogeneização da massa líquida e a formação de ondas; contribuem para uniformizar a
distribuição do oxigênio dissolvido e aumentam a superfície de contato das partículas de água
com a atmosfera, com conseqüente aumento da eficiência de transferênc ia de oxigênio; são
benéficos também para transportar as algas imóveis para zonas mais fundas na lagoa. Usa-se
posicionar o maior comprimento da lagoa na direção dos ventos dominantes, favorecendo o
escoamento.
P Nuvens: interferem como elemento capaz de se interpor à passagem da radiação
solar e diminuir a intensidade luminosa;
P Radiação solar: influi diretamente sobre a velocidade da fotossíntese.
1.4.2.2. Fatores controláveis
P Tipo de esgoto: os projetos de lagoas para esgotos industriais devem levar em conta
as características de tratabilidade dos despejos, e não devem, absolutamente, apresentar
substâncias tóxicas;
P Vazão afluente: deve-se conhecer a variação de vazão esperada, particularmente se
a
lagoa é precedida por pré-tratamento. Nos casos normais a lagoa será dimensionada para a
vazão média, uma vez que o período de detenção é longo, e os picos de vazão são facilmente
absorvidos.
P Concentração da DBO ou DQO:
P Concentração de sólidos: gradeamento é sempre recomendado antes das lagoas, mas
desarenação somente quando as características do esgoto assim o indicarem (salvo nas lagoas
aeradas, que devem ser sempre precedidas de caixas de areia).
P Concentração de nutrientes: adequada decomposição biológica
P Toxicidade: substâncias tóxicas impedem o desenvolvimento dos organismos
responsáveis pela decomposição biológica, e não devem ser admitidas no afluente.
P Substâncias com cor: interferem na passagem da luz solar.
Em relação às características do terreno:
P Lençol subterrâneo: deve-se conhecer a profundidade média do lençol, a
permeabilidade da formação do solo, que podem influir no equilíbrio hidráulico da lagoa;
P Taxa de percolação do terreno: favorecerá ou não a infiltração, que deve ser
minimizada.
P Características do solo local: facilidade de escavação de aterros, características
típicas de mecânica dos solos de interesse para a construção;
P Características topográficas: favorecem ou não a construção e arranjo das lagoas;
P Custo do terreno: poderá favorecer a construção de um ou outro tipo de lagoa mais
conveniente.
Em relação aos demais fatores inicialmente mencionados:
P Inundações: cotas de enchentes são um fator limitante no projeto das lagoas;
P Localização dos cursos dágua: o efluente deve alcançar um rio o mais rápido e
próximo possível, a fim de evitar maiores custos de transporte.
P Uso da água e capacidade de depuração do corpo receptor: a aceitação de um maior
ou menor grau de poluição pelo corpo receptor e o uso previsto para suas águas poderão
determinar a escolha de um ou outro tipo de lagoa, de acordo com sua eficiência típica;
P Legislação: resoluções federais definirão o grau de tratamento necessário;
P Existência e interferência de comunidade: onde eventuais problemas de vizinhança,
possibilidade de odores ou insetos, possam afetar a escolha do processo.
P Assoreamento e acumulação de lodo no fundo: estes dois fenômenos estão
associados à maior ou menor concentração de sólidos no esgoto, e à prática de desarenação
prévia.
1.4.2.3. Parâmetros de interesse
Os principais parâmetros de interesse no projeto das lagoas são de natureza física e de
carga orgânica.
Entre os parâmetros da natureza física sobressaem:
P Área superficial: representa a área sujeita à iluminação e à ação do vento. O formato
da lagoa deve ser preferivelmente retangular, obedecendo, às peculiaridades topográficas em
relação à compensação de volumes de corte e aterro. Recomenda-se superfícies com
comprimento longo, favorecendo a dispersão e o escoamento hidráulico, com a direção e o
sentido do vento dominante. A superfície de uma lagoa facultativa deve ser inferior a 15 há.
P Profundidade: nas lagoas facultativas está na faixa de 1,20 a 2,00 m; os valores
maiores sendo mais recomendados.
TAXAS DE APLICAÇÃO E TEMPOS DE DETENÇÃO EM LAGOAS
FACULTATIVAS
Taxa de aplicação, População Tempo de Condições locais
Kg.DBO/há.d equivalente.ha detenção
(dias)
< 10 < 200 > 200 Regiões muito frias, com coberturas
esporádicas de gelo, temperatura baixa,
cobertura variável de nuvens.
10-50 200-1000 200-100 Clima frio com coberturas de gelo
sazonais e temperaturas de verão
temperadas, por pequenos períodos.
50-150 1000-3000 100-33 Regiões temperadas a semi-tropicais,
cobertura de gelo ocasional, sem
cobertura de nuvens prolongadas.
100-350 3000-7000 33-17 Regiões tropicais, sol e temperatura
uniformemente distribuídos, sem
coberturas de nuvem sazonais.

A profundidade mínima deve ser 1,50 m, e nas secundárias 1,20m.


P Equilíbrio hidráulico:
P Tempo de detenção: tem variado de acordo com a taxa de aplicação de carga
orgânica adotada, a vazão afluente, e o volume da lagoa.

1.5. Lagoas de Maturação


As lagoas de maturação são usadas ao final de um sistema clássico de lagoas de
estabilização, e através delas almeja-se a melhoria da qualidade do efluente anteriormente
tratado, pela redução de organismos patogênicos, e particularmente coliformes fecais.
Consideram aspectos de proteção da saúde pública, buscando-se a diminuição da
concentração de bactérias, vírus, parasitos, nos corpos dágua, e a conseqüente redução das
doenças de veiculação hídrica. Este é um enfoque recente já difundido na América Latina, que
considera que a redução da DBO nas lagoas cumpre um papel de proteção ambiental,
enquanto a redução de organismos patogênicos visa a proteção da saúde pública.

1.5.1. Princípios de Funcionamento


Entre as principais doenças de veiculação hídrica pode-se relacionar a febre tifóide,
febre paratifóide, desinterias amebiana e bacilar, cólera, hepatite, esquistossomose, etc. A
probabilidade de se contrair uma dessas doenças varia com a concentração dos respectivos
agentes transmissores, microrganismos na água e nos alimentos.
1.6. Inspeção Diária
É obrigação diária do operador a percorrer o perímetro da lagoa observando e
anotando em boletim diário apropriado, as principais ocorrências existentes. Além dessas
observações, o operador deverá observar as condições meteorológicas, anotando:
P Temperatura do ar: de preferência deverá ser tomada no mesmo horário, todos os
dias. Estes dados permitirão saber as variações mensais da temperatura e também calcular de
maneira aproximada à temperatura média mensal do ar.
P Temperatura do esgoto: é um fator que influencia as reações bioquímicas que se
passam no seio da massa líquida.
P Condições do céu: as condições a serem anotadas poderão ser classificadas em:
- Céu coberto: a maior parte do céu está coberto de nuvens não deixando os
raios de sol aparecerem livremente.
- Céu nebuloso: nuvens escuras e com a claridade bastante reduzida, é
normalmente chamado de dia cinzento.
- Céu claro: não existem nuvens, o céu está bastante azul e o sol é bastante
forte.
As anotações das condições do céu deverão ser efetuadas todos os dias no mesmo
horário.
P Direção predominante dos ventos: é indicada pelo ponto do horizonte, de onde vem
o vento. Cada um destes principais pontos será indicado pela letra inicial da direção
predominante: norte(N), sul(S), leste(L), oeste (O).
P Intensidade dos ventos: pode ser estimada através de uma escala simplificada, à
qual se poderá atribuir as condições de vento: ausente, muito fraco, moderado (quando se
inicia a formação de ondas na lagoa), forte, muito forte.

1.6.1. Aspectos gerais nas Lagoas Anaeróbias


Os seguintes aspectos são normalmente encontrados nas lagoas anaeróbia:
P Uma lagoa anaeróbia não deverá possuir oxigênio dissolvido presente na massa
líquida;
P Muitas vezes, devido à inclinação do talude e à pequena profundidade no encontro
da água de superfície com o terreno, poderão aparecer manchas verdes, indicando o
aparecimento de colônias de algas. Essas manchas verdes deverão ser removidas;
P Não deverá existir vegetais no talude interno das lagoas. Capim e mato deverão ser
periodicamente cortados, pois assim se evitará o aparecimento de insetos.
P A tubulação de entrada do esgoto na la goa, quando é submersa deverá
periodicamente ser limpa, usando vara ou arame de aço.
P Havendo vazamento de água através dos taludes, isso deverá ser corrigido com
aplicação de argila bem compactada nos pontos de vazamento.
P Uma lagoa anaeróbia bem operada estará coberta inteiramente com uma densa capa
de escuma, contendo óleos, plásticos e uma série de materiais flutuantes. Essa ajuda a manter
as condições anaeróbias, ao mesmo tempo que dificulta o desprendimento de maus odores.
P Normalmente uma lagoa anaeróbia é seguida por uma lagoa facultativa. Periódicas
inspeções deverão ser feitas para verificar se não está havendo passagem de material flutuante
para a lagoa facultativa.
P Periodicamente poderão ser feitas determinações em amostras do lodo depositado
no fundo da lagoa para verificar se o mesmo está bem digerido. As seguintes análises deverão
ser executadas no lodo: pH, alcalinidade total, acidez volátil, sólidos (totais, voláteis, fixos).

1.6.2. Aspectos gerais nas Lagoas Facultativas


Uma lagoa facultativa bem operada possuirá oxigênio dissolvido em toda a massa
líquida atingida pela radiação luminosa.
O efluente de uma lagoa facultativa bem operada possuirá uma cor verde intensa,
parcialmente transparente, e não deverá possuir sólidos em suspensão sedimentáveis. Quando
o efluente está com uma aparência verde claro ou mesmo amarelado, significa uma
predominância de rotíferos e crustáceos sobre as algas, uma vez que os mesmos se alimentam
das algas. Se a cor de uma lagoa facultativa mudar do verde para o cinza-claro, significa que
está havendo uma sobrecarga de esgoto na lagoa. Neste caso (se possível), deverá ser
colocada em marcha uma segunda lagoa em paralelo com a primeira, sendo esta retirada
temporariamente de operação, até que se recupere. Em alguns casos, principalmente no verão,
com a elevação excessiva da temperatura, havendo concomitância da elevação do pH,
ocorrerá a formação de hidróxido de magnésio e sulfato de cálcio que se precipitam. É o
fenômeno de autofloculação e que leva a lagoa facultativa a ficar com uma cor verde leitosa.

1.6.3.
Sintomas A: Odores desagradáveis
P Causas:
- Sobrecarga de esgotos com conseqüente diminuição do tempo de detenção;
- Presença de substâncias tóxicas no esgoto;
- Queda brusca nas temperaturas de esgotos.
P Prevenção e recuperação:
- Se existir uma lagoa facultativa após a lagoa anaeróbia, a medida mais fácil
pra reduzir os maus odores é recircular o líquido da lagoa facultativa para a
entrada do esgoto na lagoa anaeróbia, na seguinte proporção: vazão de
recirculação da lagoa facultativa igual a 1/6 da vazão afluente à lagoa
anaeróbia;
- Quimicamente poderá se reduzir os maus odores adicionando-se porções de
nitrato de sódio em vários pontos da lagoa anaeróbia;
- A adição de cal, 120g de cal para cada 10m3 do volume da lagoa, poderá
também elevar o pH do esgoto e, conseqüentemente, cessar a fase de
fermentação ácida responsável pela produção de gás sulfídrico;
- A adição de cloro deve ser evitada, uma vez que, embora cause
rapidamente o desaparecimento dos maus odores, causará problemas
posteriores para reinício das atividades biológicas necessárias ao
tratamento;
- Como medida paliativa, na ausência de todos esses recursos, poderá ser
lançado, sobre a superfície da lagoa, óleo queimado, que formará sobre o
líquido, uma cobertura protetora, diminuindo a área de desprendimento dos
gases.
Sintomas B: Proliferação de insetos.
O aparecimento de moscas e insetos junto às lagoas indica problemas operacionais.
P Causa:
- Material gradeado ou areia removida (caso existam as unidades grades de
barras e caixas de areia) não enterradas convenientemente ou mesmo
deixados expostos em algum ponto da área externa da lagoa;
- Crescimento de vegetais no talude interno da lagoa, na parte em que o nível
de água está em contato com o talud e;
- A origem de grandes quantidades de moscas poderá também ser
proveniente da película da escuma e óleo sempre presente nas lagoas
anaeróbias, bem como sua disposição inadequada, quando removida.
P Prevenção e Recuperação:
- Havendo grade ou caixa de areia junto à lagoa, o material removido deverá
ser aterrado em valas previamente abertas para este fim. Para maior
segurança, poderá ser lançado querosene sobre o material gradeado, e a
seguir, com o cuidado devido, pode-se atar fogo, para logo em seguida
cobrir com terra, nivelando o terreno;
- Os vegetais deverão ser cortados tão logo ocorra o aparecimento dos
mesmos. Todo cuidado deverá ser dado para que os vegetais removidos não
venham a cair na massa líquida;
- Quando ocorrer moscas junto às lagoas anaeróbias, é sempre conveniente
revolver, com o auxílio de um rastelo ou jato de água, a camada de material
flutuante que cobre as lagoas anaeróbias. Uma outra operação que poderá
ser executada é aplicar, somente sobre a camada de escuma, algum
pesticida ou inseticida em quantidades adequadas de modo a não prejudicar
o funcionamento normal da lagoa.
Sintoma C: Crescimento de vegetais.
P Causas: deve-se diferenciar vegetais aquáticos de vegetais terrestres. Os vegetais
aquáticos são aqueles que aparecem no talude interno das lagoas anaeróbias e que vêm
sempre associados a um ciclo de problemas, ou seja: vegetais → insetos e larvas → ratos →
cobras. Estes vegetais se não forem removidos, poderão prejudicar seriamente até mesmo a
segurança dos taludes, uma vez que com a presença de insetos e aparecimento de ratos, esses
problemas de vazamento e erosão dos mesmos.
P Prevenção e Recuperação
- Para vegetais aquáticos, o melhor corretivo é a remoção total dos mesmos,
evitando nessa operação que os mesmos caiam dentro da lagoa;
- Para vegetais terrestres, isto é, arbustos, ervas, capins que crescem
externamente ao talude, poderá ser aplicado algum produto químico (por
exemplo, arsenito de sódio na proporção de 20 g/m2 ) o que eliminará, por
cerca de 3 anos, novos aparecimentos dessas ervas;
- Poderá ser usada a tradicional capina do terreno.

1.6.4. Principais perturbações operacionais nas lagoas facultativas


Sintoma A: Escuma.
A superfície líquida de uma lagoa de estabilização facultativa deve estar isenta de
escumas, óleos, graxas, plásticos, pedaços de papel ou qualquer material que impeça a livre
passagem dos raios luminosos através da massa líquida.
P Causas:
- Pode ocorrer nas lagoas facultativas um super florescimento de algas que
chega a formar uma verdadeira nata esverdeada sobre a superfície líquida;
- Lançamento de material estranho na lagoa (lixo).
P Prevenção e Recuperação:
- A nata, que prejudica o processo, impede a passagem da luz, e pela ação
dos ventos se desloca para os cantos da lagoa, deverá ser quebrada com
jatos de água ou mesmo ser destruída com auxílio de um rastelo;
- Poderá, se houver disponibilidade, ser também removida por uma peneira
de pano e deverá ser enterrada;
- A escuma de algas, se não for destruída ou removida, produzirá odores
desagradáveis na lagoa devido à morte dessas algas;
- Um outro tipo de escuma que poderá surgir nas lagoas facultativas,
principalmente se essas são muito rasas e a temperatura da água é muito
elevada, são as cascas de lodo que se desprendem do fundo e vêm flutuar
na superfície. Essas cascas de lodo deverão também ser desagregadas ou
removidas de imediato.
Sintoma B: odores desagradáveis
P Causas:
- Sobrecarga de esgotos;
- Longos períodos com tempo nublado e temperatura baixa;
- Presença de substâncias tóxicas nos esgotos;
- Formação de corrent es preferenciais provocando curto-circuito;
- Presença de massas flutuantes de algas na superfície líquida.
P Prevenção e Recuperação:
a) Sobrecarga de esgotos: A sobrecarga em uma lagoa de estabilização facultativa
está sempre acompanhada de abaixamento de pH, queda do nível de oxigênio,
mudança de cor do efluente, aparecimento de zonas cinzentas junto à alimentação
do efluente e surgimento de odores ofensivos.
Recomenda-se:
- No caso de existirem duas células facultativas, aquela que apresenta o
problema deverá ser retirada de operação até que se recupere, enquanto se
coloca em operação paralela a segunda célula;
- Caso exista uma única célula, se poderá, através de uso de bombas e o
mangotes, fazer a recirculação do efluente na proporção de 1:6;
- Havendo aeradores superficiais flutuantes, poderão também ser instalados
para corrigir o problema da sobrecarga;
- Deverá ser inspecionada a tubulação de entrada, e no caso de ser uma única
lagoa, esta tubulação única poderá ser distribuída em entradas múltiplas
com a execução de pequenas obras, para se efetuar uma melhor distribuição
do esgoto afluente, evitando-se com isso problemas de curto-circuito ou
caminhamentos preferenciais do efluente.
b) Longos períodos com tempo nublado e temperatura baixa: Neste caso, a produção
de oxigênio será bastante afetada, chegando-se a ter OD igual a zero nos períodos
noturnos.
Recomenda-se:
- Diminuir a altura da lâmina dágua e colocar em operação paralela uma
segunda célula facultativa;
- Instalar os aeradores superficiais junto à entrada do efluente de maneira a
completar, com aeração, a produção de oxigênio pelas algas.
c) Presença de substâncias tóxicas nos esgotos: Quando uma lagoa facultativa se
encontra em operação normal e repentinamente nela passam a ocorrer condições
anaeróbias, deve-se solicitar ao laboratório central da companhia, a realização de
uma análise físico-química completa do afluente à lagoa. Os resultados poderão
indicar altos teores de substâncias tóxicas provenientes de lançamentos de resíduos
industriais.
Recomenda-se:
- Colocar uma segunda lagoa em operação paralela, isolando a primeira
lagoa;
- Instalar aeradores superficiais na segunda lagoa que entrou em operação;
- Percorrer o emissário e a rede local junto às industrias que se localizam na
bacia contribuinte, verificando, através de análises físico-químicas, as
concentrações destes esgotos industriais. Caso seja comprovada altas
concentrações, além dos limites permissíveis, deverá ser acionado o
responsável para as providências cabíveis dentro da legislação vigente.
d) Formação de correntes preferenciais, provocando curto-circuito: A formação de
correntes preferenciais internamente à massa líquida das lagoas facultativas quase
sempre está associada a uma má distribuição do afluente em relação à forma
geométrica da lagoa, ou à presença de vegetais aquáticos no interior da lagoa. A
indicação de que está havendo correntes preferenciais poderá ser verificada pela
determinação de oxigênio dissolvido em vários pontos da lagoa.
Recomenda-se:
- Em caso de entrada múltiplas de afluente, regularizar a distribuição
uniforme das mesmas;
- Em caso de entrada única de esgotos, efetuar pequena obra de melhoria,
ampliando o número de entradas com as vazões igualadas em cada uma das
entradas. Ocorrendo aparecimento de vegetais aquático, esses deverão ser
cortados e removidos.
e) Presença de massas flutuantes de algas na superfície líquida: A superfloração de
algas que ocorre numa lagoa facultativa impedirá a passagem dos raios luminosos
e causará problemas de maus odores com a morte dessas algas. Essa massa de
algas que constitui uma verdadeira escuma flutuante deverá ser removida.
Recomenda-se:
- Jateamento com mangueira de águas;
- Destruição através de rastelo;
- Remoção da escuma através de peneiras.
Sintoma C: Proliferação de insetos
P Causas: A produção de mosquitos nas lagoas de estabilização está diretamente
ligada à presença de vegetais nas margens internas dos taludes da lagoa.
P Prevenção e Recuperação:
- Controlando-se ao nível de operação, poderá ser reduzido o N.A. da lagoa,
de tal modo que as larvas que se encontravam presas aos vegetais junto aos
taludes desaparecerão quando esta área secar. A oscilação alternada e
periódica do N.A. da lagoa é uma operação que evita o aparecimento de
larvas diversas;
- Em casos de grandes quantidades de moscas, poderão ser aplicados
produtos químicos nos taludes internos. A destruição das escumas também
previne o aparecimento de moscas;
- Evita-se, a um custo mais elevado, o problema de crescimento de vegetais
no N.A. da lagoa, com a construção de entroncamentos de pedra no interior
da lagoa, ou aplicação de concreto magro, camada asfáltica, de modo a
manter o contato da água sempre com uma camada sólida, e não com o
terreno. Além de prevenir o crescimento de vegetais e o aparecimento de
insetos, essa medida protege o talude contra a erosão provocada pela ação
dos ventos;
- Os insetos sempre atraem pássaros, rãs e, conseqüentemente, torna-se um
convite para a presença de garotos nas áreas das lagoas. Mais uma razão
para se evitar o aparecimento dos mesmos;
- A colocação de peixes nas lagoas de estabilização (carpas, tilápias,
gambusia) também combate o crescimento de insetos nas áreas das lagoas.

Sintoma D: Vegetação
P Causas: A vegetação interna em uma lagoa de estabilização facultativa ocorre
quando se tem um baixo nível operacional da lagoa (menor que 60 cm). Este nível
operacional pode ser devido à infiltração ou à pequena contribuição de esgotos. Nas lagoas
com nível operacional acima de 90 cm, dificilmente aparecerá vegetação no fundo da lagoa.
Poderá ocorrer a presença dos mesmos no talude interno, em contato com o líquido.
Associados aos vegetais estarão presentes larvas de insetos, moscas, mosquitos, rãs,
ratos, pássaros e crianças.
P Prevenção e Recuperação:
- Os vegetais nas margens internas deverão ser cortados, evit ando-se que os
mesmos caiam dentro da lagoa;
- Nos projetos novos, deve-se prever a proteção interna do talude na região
do N.A., com uma camada de concreto magro ou material equivalente;
- Os vegetais que crescem no interior da lagoa deverão ser removidos com o
auxílio de canoas ou dragas. Para isso, o nível de água deverá ser reduzido
ao máximo possível, para que se arranque ou se corte estes vegetais em seu
ponto mais inferior;
- Havendo recursos disponíveis na ocasião da construção da lagoa, deverá ser
prevista uma compactação do fundo da lagoa com argila (camada de 10
cm) e a aplicação de herbicida.

1.7. Avaliação do Desempenho


A avaliação do desempenho será feita:
P Para o sistema de tratamento como um todo;
P Para cada uma das lagoas que compõem o tratamento, no caso de lagoas em série.
A avaliação do desempenho levará em conta:
P Os aspectos quantitativos relativos à vazão e ao período de detenção na lagoa;
P Os aspectos qualitativos relativos às características físicas, químicas e biológicas do
esgoto bruto e tratado;
O desempenho será medido:
P Em unidades absolutas indicadoras da capacidade de tratamento (em termos de
capacidade de vazão, de redução de carga de esgoto, ou de obtenção em um valor final
desejado);
P Em unidades relativas indicadoras de eficiência do tratamento (em termos da
percentagem de remoção da carga do esgoto, ou da redução da carga do esgoto por unidade de
volume ou de área da lagoa).
O desempenho da lagoa ou do sistema de lagoas deverá ser referido, a longo prazo, ao período
de um ano. A curto prazo, ao período de um mês. Os períodos diários não são, isoladamente,
representativos do desempenho, devendo constituir a massa de dados a ser estatisiticamente
interpretada.

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