You are on page 1of 10

Reportagem sobre Educação Financeira

A Educação é a solução!

Por que é tão importante ter uma vida financeira organizada e


saber administrar seus recursos?

Maria da Conceição, moradora do Bom Jesus, mora com o esposo,


duas filhas, a mãe e a netinha, está desempregada e diz que de vez em
quando as coisas apertam! As necessidades humanas constituem a força
motivadora da economia. Segundo Maslow1,os desejos e necessidades são
organizados em ordem de importância e passa-se de um nível de
necessidade à medida que o anterior é satisfeito. As escolhas de consumo
feitas pelas famílias refletem na economia e mais ainda na saúde das
finanças. Por isso a educação é tão importante, uma vez que os
consumidores que estão expostos a uma variedade de produtos e serviços
têm a função de cumprir com o seu papel, considerando e comparando
preço e qualidade para obter sucesso em suas escolhas.

A maioria das pessoas tem dificuldade de diferenciar ao comprar o


que é uma obrigação e o que é uma posse. Por estar sempre trocando o
comprar a vista ao a prazo, tem problemas financeiros porque não
conhece bem o que é um crédito e uma dívida no orçamento.

A vendedora Rita que mora no bairro Estrelas com a família disse


que as compras são sempre a prazo, não compra quase nada à vista,
mesmo que de vez quando as dívidas apertem um pouco, conseguem
1
Abraham Harold Maslow (1908-1970), psicólogo americano na área de Gestão de negócios. Suas teorias sobre motivação humana e

personalidade estavam relacionadas com os estudos de gestão. Foi honrado no final da década de 60 como "Humanista do ano" pela

Associação Americana de Psicologia.


manter o controle. Ao contrário de Rita, há um número de brasileiros que
estão devendo muito, o documento divulgado pelo Banco Central (Bacen)
aponta que a taxa em abril ficou em 6,8% a população brasileira que é
inadimplente, ou seja, não cumpriu com suas obrigações de pagamento.
Já as empresas tem um nível de inadimplência de 3,6% e, a total (pessoas
e empresas) está em 5%. A vendedora Luciane, que mora com os pais no
bairro São Sebastião, planeja o que vai comprar e procura pagar sempre
as coisas à vista só o que não dá mesmo compra a prazo. Quando o
assunto é promoção ela diz: “quem é que não gosta de promoções?”, mas
o que ela gosta é de analisar se está realmente valendo à pena, pois nem
sempre quando está em promoção é porque está mais barato. April
Benson disse: “...comprar é uma das maneiras de procurar por nós
mesmos... é provar, tocar, testar, considerar, e pôr para
fora nossa personalidade através de diversas
Para melhor
possibilidades, enquanto decidimos o que precisamos e aproveitamento dos
recursos deve-se
desejamos.” considerar:

Analisar custos de recursos:


Fontes externas que influenciam na vida de um estimar o valor do retorno
que deixo de ganhar
quando decido usar o
consumidor podem ser: grupos, família, a classe social e
recurso para outro fim.
a cultura. Dentre os grupos o mais influente, sem Substituição de recursos:
ao usar os recursos deve-se
dúvida, é a família. As preferências, o estilo de vida e o considerar que podem ser
perfeitamente substituídos
padrão de consumo estão muito relacionados com o por outros.

modo que a família junta opera para satisfazer suas Economia nos recursos:
usar o mínimo de recursos
necessidades individuais e coletivas. para obter satisfação. Seus

Luciane que mora com os pais no bairro São


Sebastião, disse que teve um bom exemplo em casa com os pais de
controle e planejamento de gastos, o pai principalmente, que era muito
“seguro” para gastar. A vendedora Rita e o marido falam sobre o dinheiro
em casa com os filhos, “o mais velho tem o seu próprio porquinho se
quiser comprar alguma coisa” e se não poupar então não pode comprar.
Como aprendeu com seus pais como administrar o dinheiro, segue o
exemplo deles. A renda da família vem dela e do marido que dividem as
despesas: ela fica com a compra das frutas e legumes, paga sua faculdade
e a babá do filhinho, e o que for os desejos da família, já o marido paga o
plano de saúde, contas e faz as compras de supermercado.

Uma vez que vivemos em uma sociedade com forte apelo


consumista e sofisticadas estratégias de marketing, que nos bombardeiam
constantemente, a família precisa ensinar fundamentos de
responsabilidade financeira às crianças logo cedo, para evitar criar
consumidores vorazes – e irresponsáveis. Essa educação financeira passa
por três pilares: diálogo, exemplo e planejamento.

Em primeiro lugar, é importante que o assunto “dinheiro” seja


conversado e discutido em família, sem tabus. Os limites do orçamento
familiar precisam ficar claros, e o envolvimento de todos é importante,
assim como a definição de prioridades e dos grandes projetos familiares.
Se os pais explicarem aos filhos que estão economizando com o objetivo
de comprar a casa própria, trocar de carro ou fazer uma viagem,
provavelmente ficará mais fácil compreender por que não se atenderá a
determinadas vontades.

Uma pesquisa realizada com 700 estudantes de 5ª a 8ª série da


cidade de Flores da Cunha, RS teve como objetivo mapear os hábitos de
consumo e endividamento dos estudantes da rede pública. As duas
questões mais importantes para reflexão são a
Ministério da Educação e Cultura
Comissões de Valores
(MEC)
forma como eles reagem em relação ao consumo e, Mobiliários (CVM)
O MEC, em conjunto com o Ministério
qual a motivação para comprarem. Quando Promoveapalestras
da Fazenda, Secretariae da Receita
disponibiliza cartilhas
Federal, a Secretaria gratuitas
do Tesouro
responderam a simples pergunta: “Após comprar de educação ao investidor,
Nacional, e as secretarias da Fazenda e
além de esclarecer
de Educação dos estados,dúvidas
vem
algo você sente?”, responderam: dos indivíduos
implementando quanto a Nacional
o Programa
investimentos
de Educação Fiscal,(CVM,
com o2006).
objetivo de
capacitar os indivíduos no âmbito fiscal.
Felicidade: 82,31% Bolsa de Valores de São Paulo
Por meio da Escola de Administração
Alívio: 15,55% (Bovespa)
Fazendária (Esaf) são oferecidos cursos
Arrependimento: 12,06% online e materiais sobre o assunto
Possui o programa
Satisfação: 45,84% (Esaf, 2006).
educacional Bovespa, criado
Angústia: 2,41% em 1989, para atender aos
Universidades
Outro: 1,88% interessados que desejam
Nãoconhecer
verificamosa bolsa
uma eparticipação
o
funcionamento do mercado
constante das instituições de ensino
acionário.
superior Suas iniciativas
no processo de educação
Ao responderem a seguinte pergunta: buscam
financeira. evidenciar a
importância das bolsas de
“Quando não consegue comprar algo você sente?”, valores
Banco para
Central doaBrasil
economia do
(Bacen)
país, transmitir conceitos
O Bacen possui obásicos,
econômicos Programa de
estimular
a situação foi um pouco mais complexa: Educação
hábitosFinanceira (PEF),entre
de poupança, responsável
pelaoutras.
orientação da sociedade a respeito
de assuntos econômicos, contribuindo
Raiva: 50,94%
paraAlém disso, promove
um melhor visitasdos
entendimento
Tristeza: 41,29% monitoradas à Bolsa;
aspectos financeiros e da realiza
Nada: 21,72% palestras e orientações
responsabilidade à
no planejamento das
Impaciência: 23,59% população, por meio dos
finanças pessoais. São exemplos de
Vontade de brigar: 20,91% projetos
ações Educar e Bovespa
implementadas Vai
(Bacen, 2006):
Outro: 1,88% até Você; realiza concursos
 estudantis;
Projeto Museu-Escola, que de
apóia concursos envolve
visitas monitoradas
simulação ao museu do
de investimentos
Bacen;
em conjunto com o
 jornal Folha
 Projeto o Museu Vai à Escola, que
de S. Paulo; e
desenvolve parceriasProjeto
é uma extensão do com Museu-
Escola, levando
instituições palestras
de ensino parae
exposições de
distribuição às escolas
materiaisdo Distrito
Educação Financeira no Brasil Federal e2006).
(Bovespa, de regiões próximas;
 Projeto BC e Universidade,
Federação
composto Brasileira de mensais,
por palestras
Sendo que a capacitação para o planejamento Bancos (Febraban)
ministradas por servidores do
Bacen e direcionadas aos
Oferece informações sobre o
e controle financeiro pessoais não está inserida no estudantes universitários,
uso de produtos financeiros,
esclarecendo sua atuação e suas
como cartão, caixa
campo da educação convencional no país, a funções.
automático, segurança e
relacionamento com bancos
educação financeira restringe-se aos estudos de (Febraban, 2006).

nível superior nas áreas de Economia, Administração Serasa

Desenvolveu o Guia Serasa de


e Contabilidade e também a experiências profissionais. Apesar de se
tratarem de ferramentas importantes para todos os indivíduos, aqueles
que não pertencem às áreas indicadas podem não ter a oportunidade de
construção de conhecimentos financeiros que os apóiem em suas decisões
e controle orçamentário. Por outro lado, é possível que mesmo quem atue
nas áreas de “Finanças” não tenha desenvolvido habilidades financeiras
suficientes para lidar com os desafios que enfrenta no dia-a-dia.

Ainda não se assumiu no Brasil uma política de educação financeira


pessoal consistente, de modo a integrá-la aos currículos dos cursos de
ensino fundamental, médio e superior. De acordo com Frankenberg
(2002) o endividamento do brasileiro relaciona-se diretamente com a
ausência de uma educação financeira. Cada vez mais estimulados ao
consumo pelos incisivos programas de publicidade e cada vez menos
preparados a refletir sobre os seus rendimentos, investimentos,
necessidades e gastos, os indivíduos acabam por assumir dívidas que,
muitas vezes, estão aquém do seu poder de pagamento. No fim das
contas, as pessoas de baixa renda, por exemplo, sofrem o snowball efect
(“efeito cascata”): comprometem seu orçamento, que deveria ser
destinado a necessidades básicas, com o pagamento de financiamentos a
juros altos e acabam tendo que, para poder garantir a sua manutenção
básica mensal, adquirir novas fontes de crédito para saldar as antigas, o
que eleva os juros a níveis exponenciais.

Assim como qualquer outra aprendizagem advinda de um processo


educacional, as habilidades do planejamento financeiro devem possibilitar
que um indivíduo gerencie suas próprias contas. A autonomia para
analisar suas contas e decidir a partir delas, ao mesmo tempo em que é
conquistada gradualmente, é imprescindível para a melhora dos
problemas financeiros como o endividamento. Quando uma compra é
oferecida a um cliente com as mais diversas soluções de pagamento
possíveis, os responsáveis pela venda transcendem o seu papel de oferta
de produtos: analisam as contas do sujeito, determinam o montante
mensal de comprometimento de sua renda, controlam o pagamento do
financiamento. Ademais, é possível que se alegue que a decisão da
compra neste exemplo tenha sido do sujeito que, pelo contrário, não
exerceu autonomia sobre o seu orçamento.

Identificando em sua pesquisa que as situações de imprevisto


constituem-se fator importante para o endividamento da população de
baixa renda, Zerrenner (2007, p.43) afirma que “o planejamento
orçamentário também pode ajudar estas pessoas a pensar no longo prazo
e fazer com que se preparem contra imprevistos, ou incidentes, que levam
a dificuldades orçamentárias para os endividados”. Da mesma forma,
Costa (2004, p.8) considera que “o conhecimento das finanças pessoais
(...) pode ajudar as pessoas a se prevenirem de crises e a diminuírem os
riscos de investimento, obtendo, dessa maneira, a continuidade de seus
recursos financeiros.”

Por outro lado, há autores que consideram que se planejar


financeiramente não significa simplesmente cumprir com pagamentos de
despesas mensais ou de dívidas. Pelo contrário, o planejamento deve levar
em conta o ato de investir, fundamental tanto para garantia presente de
liquidez como para o futuro. Sendo assim, criar um objetivo financeiro
significa investir, seja para formar patrimônio, seja para, inclusive,
angariar novas fontes de rendimento advindas das aplicações.
De acordo com Kiyosaki e Lechter (2000), o investimento deve ser a
primeira destinação dos rendimentos mensais, antes mesmo do saldo de
despesas e dívidas de manutenção. Isso significa que o montante a investir
que tenha sido objetivado deve ser cumprido antes de qualquer outra
destinação do dinheiro. Como os próprios autores dizem, “deve-se pagar-
se a si (sic) mesmo com o seu dinheiro antes de se pagar aos outros”. Suas
análises vão além: o rendimento advindo do trabalho remunerado
idealmente não deve representar parcela significativa do total das
entradas do indivíduo, mas sim a renda de investimentos realizados. A
educação financeira do indivíduo deveria, assim, contemplar elementos
como ainstrução para a garantia do equilíbrio de entradas e saídas no
tempo, evitando os endividamentos de curto, médio e longo prazos, bem
como, e, para alguns, principalmente, priorizando o papel do investimento
como maneira de alavancagem de longo prazo da situação financeira
pessoal e, inclusive, como fonte de rendimento alternativo aos proventos
salariais.

Em Entrevista, Michele Lelis2disse que as estratégias são o


planejamento de curto, médio e longo prazo para ter o controle financeiro
ou conhecer bem as finanças. Saber quais são os gastos fixos e variáveis
do orçamento é fundamental, que na realidade da maioria das pessoas
não têm o hábito de controle, gastando além do que elas têm. “Em
primeiro lugar é preciso a sensibilização quanto ao exercício de gastar,
poupar e doar. Em segundo lugar, é necessária uma conscientização do
consumo, analisar o assunto considerando a questão ambiental, ou seja,
como afeta o meio ambiente, principalmente em se tratando de estarmos

2
Formada em Economia doméstica e mestre na área pela UFV, gestora ambiental da OSCIP Ambiente
Brasil e professora da FDV.
inseridos num sistema capitalista. Em terceiro lugar vem a mobilização
dessas pessoas quanto a busca do equilíbrio nas finanças, e em ter um
comportamento maduro controlando tudo que gasta. E por último, a ação
efetiva que seria influenciar em uma nova mentalidade para o Dinheiro.
Não ter dinheiro é sinônimo de conflito familiar.”

A questão tem relação com a ética, ou seja, os valores e a moral são


fundamentais para se ter consciência do mundo financeiro, saber analisar
riscos e planejar seus gastos, e para fazê-lo de forma positiva. Pois bem,
na verdade felicidade não se resume muito na vida financeira, ou, dinheiro
não é tudo. O consumo consciente tem sentido amplo nas implicações que
envolvem a tomada de decisão, saber o porquê, como e de onde você está
comprando. Outro importante ponto na Educação financeira é o
empreendedorismo, ter a autonomia financeira e domínio quando o
assunto é finanças é a principal intenção da educação financeira.

Muitas pessoas não têm acesso ao conhecimento dos seus próprios


direitos. As farmácias populares, programas municipais, bolsas nas escolas
privadas, o PROCON, CDC, etc, informações desses serviços que
contribuem para a vida financeira e a qualidade de vida dessas famílias
não são oferecidas de forma eficaz. A realidade do contexto sócio-cultural
das famílias interfere também, Paulo freire relaciona a cultura com a
educação, como reflexão sobre a realidade existencial, essa realidade com
acontecimentos vividos e procura inserir sempre a visão de um mundo em
aberto, isto é, a ser transformado em diversas direções pela ação dos
homens. A valorização da cultura do aluno é a chave para o processo de
conscientização preconizado por Paulo Freire.
“Uma questão conceitual há de ter que considerar,
o que realmente seria a carência, não possuir uma renda
Dicas importantes
mínima para subsistência? Acredito que está muito para educação
financeira:
relacionado com o isolamento geográfico, e justamente
 Estabelecer
ao acesso dessas famílias à informação e aos benefícios prioridades
 Pagar primeiro
que lhe são de direito.” dívidas mais
caras (por
exemplo de
Em viçosa a universidade já apoiou projetos de cartão de
crédito)
extensão que trabalham a questão da Educação  Não recorrer a
agiota
financeira com crianças das escolas públicas e privadas
na cidade. O governo também oferece assistência, por
exemplo, no acesso a medicamentos mais baratos pelas farmácias
populares, pelo PROCON que presta auxílio gratuito aos consumidores, e
também as prefeituras que apóia projetos, ONGs, até mesmo OSCIPs
(Organizações da sociedade civil de interesse público), enfim, há diversos
serviços que contribuem para a vida financeira e a qualidade de vida das
famílias.

Não existe a melhor estratégia! É preciso analisar cada caso em


particular, diz Neuza Maria, professora do Departamento de Economia
Domestica da UFV. Gastar mais que ganha é o principal hábito prejudicial
à vida financeira, é preciso tomar consciência do limite do orçamento,
estabelecer prioridades, diferenciar necessidades de desejos e ainda
estabelecer gastos que podem esperar.

Haveria relação entre escolaridade e problemas financeiros? Não


depende da renda e muito menos da escolaridade a qualidade de vida
financeira, responde a Professora Neuza Maria. “Muitas pessoas mesmo
que com pouca renda conseguem administrar bem! Dar um passo maior
que as pernas é que é o problema! No dia-a-dia vemos que pessoas,
independente de estrato social, se atrapalham quando o assunto é suas
finanças. No caso de Viçosa, é recorrente entre os alcoólatras, muitos
problemas financeiros.” Segundo a Professora que trabalhou em um
projeto da UFV para orientação de servidores, geralmente as pessoas que
realmente precisam não procuram ajuda, e ainda, trabalhar com esse tipo
de problema é complicado, ”Esse é um trabalho bem difícil que requer
muita determinação e perseverança da pessoa que quer realmente sair do
vermelho”.

You might also like