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MANUAL BÁSICO DE RELIGIÃO

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1
Uma verdade inquestionável e inconveniente para todo o crente:

Sua religião é apenas mais uma.

Sua religião é tão verdadeira ou tão falsa quanto todas as outras. E


sua fé não tem o poder de mudar esta verdade, apenas a opção de
fechar os olhos a ela. (JL)

2
Sumário
PARTE 1 – RELIGIÃO .................................................................................... 10
Examinando a Religião ................................................................................. 10
A necessidade de uma crença ...................................................................... 15
Típicas Justificativas Religiosas ................................................................... 19
1ª Justificativa: EXTRAPOLAÇÕES ............................................................. 19
2ª Justificativa: ARGUMENTOS DE CONVENIÊNCIA ................................... 19
3ª Justificativa: TENTATIVA DE ALEGAR UM CONHECIMENTO SUPERIOR
SOBRE A BÍBLIA SEM DEMONSTRAR NADA QUE JUSTIFIQUE ISSO ........... 20
4ª Justificativa: DESESPERO ..................................................................... 20
5ª Justificativa: TÁTICA DE DISTRAÇÃO .................................................... 20
6ª Justificativa: CRIAR EXPLICAÇÕES ABSURDAS ..................................... 21
7ª Justificativa: FUGIR DA DISCUSSÃO ALEGANDO SER PARTE DO ANTIGO
TESTAMENTO ............................................................................................ 21
8ª Justificativa: ASSOCIAR LONGEVIDADE COM VERDADE ........................ 21
9ª Justificativa: FALEI UMA COISA TÃO IDIOTA QUE NINGUÉM SE DEU AO
TRABALHO DE REFUTAR, ENTÃO GANHEI O DEBATE ................................. 22
10ª Justificativa: FRASES PRONTAS .......................................................... 22
11ª Justificativa: SOBRE DEUS, NÃO SOBRE A BÍBLIA .............................. 23
12ª Justificativa: REFERÊNCIAS ALEATÓRIAS DA BÍBLIA.......................... 23
13ª Justificativa: SE FAZER DE VÍTIMA CRISTÃ......................................... 23
14ª Justificativa: SE TEM DEFEITO ENTÃO É VERDADE .............................. 24
15ª Justificativa: É QUESTÃO DE ÉPOCA .................................................... 25
16ª Justificativa: PREGAR O AMOR DE DEUS E, APÓS DERROTA, AFIRMAR
QUE O CONTESTADOR IRÁ AO INFERNO .................................................... 25
17ª Justificativa: ERRO DE COPISTA ......................................................... 25
18ª Justificativa: PIEGUICE....................................................................... 26
19ª Justificativa: NÃO RESPONDER ........................................................... 27
20ª Justificativa: SE FAZER DE SURDO ...................................................... 28
21ª Justificativa: PRECISA DE FÉ PARA ENTENDER A BÍBLIA .................... 28
22ª Justificativa: O FIM ESTÁ PRÓXIMO .................................................... 28
23ª Justificativa: VOCÊ DEVE TER PROBLEMAS ......................................... 29
24ª Justificativa: SÓ A BÍBLIA INTEIRA .................................................... 30
25ª Justificativa: PORQUE CRISTO TE INCOMODA? ................................... 30
26ª Justificativa: CREIO PELA FÉ .............................................................. 31
27ª Justificativa: A BÍBLIA É POLÊMICA ................................................... 31
28ª Justificativa: REFERÊNCIAS FURADAS ................................................ 31

3
29ª Justificativa: FALOU “MEU DEUS” NA HORA DE APURO ....................... 32
30ª Justificativa: HISTORINHAS DA CAROCHINHA .................................... 32
31ª Justificativa: TU ÉS ARROGANTE......................................................... 33
32ª Justificativa: BLEFAR .......................................................................... 33
33ª Justificativa: TU ÉS DO MUNDO .......................................................... 34
34ª Justificativa: METÁFORA ..................................................................... 34
35ª Justificativa: EU ERA COMO VOCÊ ....................................................... 36
36ª Justificativa: NA DÚVIDA, VALEM OS DOIS ......................................... 36
37ª Justificativa: FOI ESCRITA POR VÁRIAS PESSOAS .............................. 37
38ª Justificativa: FOCO NO MENOS RELEVANTE ........................................ 37
39ª Justificativa: SÓ DEUS SABE ............................................................... 38
40ª Justificativa: NÃO É UM LIVRO CIENTÍFICO ........................................ 38
41ª Justificativa: VOCÊ TEM CURIOSIDADE DE DEUS ................................ 39
42ª Justificativa: ALUCINAÇÕES ............................................................... 39
43ª Justificativa: AGE COMO EU, MAS DIFERENTE ..................................... 40
44ª Justificativa: SEM PALAVRA FEIA E DEUS JUNTOS .............................. 41
45ª Justificativa: COM DEUS VALE SEM ELE NÃO ....................................... 41
46ª Justificativa: LIVRE ARBÍTRIO............................................................ 42
47ª Justificativa: ERROS DE TRADUÇÃO .................................................... 43
48ª Justificativa: VOCÊ VAI PARA O INFERNO........................................... 44
49ª Justificativa: AUSÊNCIA DE EVIDÊNCIA NÃO É EVIDÊNCIA DE
AUSÊNCIA ................................................................................................. 44
50ª Justificativa: NA DÚVIDA, PREFIRO A LENDA ..................................... 45
51ª Justificativa: PARA DEUS TUDO É POSSÍVEL ....................................... 45
52ª Justificativa: O TESTEMUNHO DRAMALHÃO ........................................ 46
53ª Justificativa: NÃO ELABORAR O QUE DISSE ........................................ 47
54ª Justificativa: CONCORDO MAS DISCORDO .......................................... 48
55ª Justificativa: OFENDER SUA INTELIGÊNCIA ........................................ 48
56ª Justificativa: JÁ RESPONDI ANTES ..................................................... 49
ISSO É UMA MENTIRA!!! ............................................................................ 49
57ª Justificativa: CRITÉRIOS ALEATÓRIOS ............................................... 49
58ª Justificativa: JAMAIS ADMITIR HOMOFOBIA ...................................... 50
59ª Justificativa: O QUE É VOCÊ SEM DEUS? ............................................. 52
60ª Justificativa: LIVRO COM MAIS CÓPIAS NO MUNDO ........................... 52
61ª Justificativa: NINGUÉM É FELIZ SEM JESUS ........................................ 53
62ª Justificativa: EU DIGO AS BESTEIRAS, VOCÊ PROCURA AS FONTES .... 54

4
63ª Justificativa: REFLITAM SOBRE ISSO .................................................. 54
64ª Justificativa: VAMOS RESPEITAR AS LENDAS DOS OUTROS? .............. 55
66ª Justificativa: ESQUIZOFRENIA CRÔNICA ............................................ 56
67ª Justificativa: OLHA A TRAVE NO SEU OLHO......................................... 56
68ª Justificativa: VOCÊS FOGEM DA VERDADE .......................................... 57
69ª Justificativa: QUEM ÉS PARA COMPREENDER DEUS? ........................... 57
70ª Justificativa: POR QUE DEUS NÃO SE MANIFESTA? ............................. 58
71ª Justificativa: POR QUE OS ATEUS PENSAM TANTO EM DEUS? ............. 58
72ª Justificativa: DEUS É IMATERIAL? ...................................................... 58
73ª Justificativa: CONCILIAR AMBIGÜIDADES .......................................... 59
74ª Justificativa: A MORAL OBJETIVA É DEUS ........................................... 59
75ª Justificativa: DEUS MANDA E DESMANDA, AFINAL CRIOU TUDO......... 60
76ª Justificativa: USAR A FRASE PRONTA “NÃO DÊ PEROLAS AOS PORCOS”
................................................................................................................. 60
77ª Justificativa: CAI NA PERDIÇÃO ......................................................... 61
78ª Justificativa: A IGNORÂNCIA VENCE CONHECIMENTO ........................ 61
79ª Justificativa: A NASA PROVOU! ........................................................... 62
80ª Justificativa: JESUS DIVIDIU O CALENDÁRIO ..................................... 63
Três deuses, um funeral............................................................................... 63
Três deuses, um funeral (parte 1) ............................................................. 63
Três deuses, um funeral (parte 2) ............................................................. 65
Três deuses, um funeral (parte 3) ............................................................. 67
Três deuses, um funeral (parte 4) ............................................................. 68
Três deuses, um funeral (parte 5) ............................................................. 70
Três deuses, um funeral (parte 6) ............................................................. 72
Três deuses, um funeral (parte 7) ............................................................. 73
Três deuses, um funeral (parte 8) ............................................................. 76
Três deuses, um funeral (parte 9) ............................................................. 78
Três deuses, um funeral (parte 10) ........................................................... 79
Três deuses, um funeral (fim) ................................................................... 81
Jesus, a maior invenção da indústria da fé................................................... 83
A falta de evidência Histórica para Jesus .................................................. 95
Jesus Cristo nunca existiu ....................................................................... 108
As provas e contra provas ..................................................................................................... 110
As falsificações............................................................................................................................. 123
O doloroso silêncio histórico................................................................................................ 125

5
Um Jesus Cristo não histórico ................................................................. 126
Jesus e o tempo ........................................................................................................................... 131
Jesus Cristo nos Evangelhos ................................................................................................ 133
Jesus Cristo é um milagre ..................................................................................................... 134
Jesus Cristo, um mito bíblico ............................................................................................... 136
As contradições sobre Jesus Cristo ......................................................... 139
As contradições evangélicas ................................................................................................ 141
Algumas fontes do cristianismo .............................................................. 142
Jesus Cristo, uma cópia religiosa ...................................................................................... 145
Os deuses redentores .............................................................................................................. 147
Jesus Cristo é um mito solar ................................................................................................ 148
Outras fontes do cristianismo ................................................................. 149
Judaísmo e cristianismo ......................................................................................................... 151
O cristianismo sem Jesus Cristo .............................................................. 153
1 - Nem só Jesus Cristo tinha poder ........................................................ 155
2 - O Messias Desmascarado ................................................................... 157
3 - Revelada a origem da construção do mito de Jesus ........................... 166
4 - As mil faces de Jesus: O mau-caratismo religioso .............................. 168
5 - Jesus Cristo e Super-Homem: A necessidade do herói mítico ............. 185
6 – Jesus não voltará .............................................................................. 194
Doze provas da inexistência de Deus ......................................................... 197
Primeira série de argumentos: contra o Deus criador ............................. 200
1º argumento: O gesto criador é inadmissível......................................... 200
2º argumento: O “puro espírito” não podia determinar o Universo ......... 201
3º argumento: O perfeito não pode produzir o imperfeito ....................... 202
4º argumento: O ser eterno, ativo, necessário, não pode, em nenhum
momento, ter estado inativo ou ter estado inútil .................................... 203
5º argumento: O ser imutável não criou ................................................. 204
6º argumento: Deus não criou sem motivo; mas é impossível encontrar um
único motivo que o levasse a criar .......................................................... 205
Segunda série de argumentos: Contra o Deus-governador...................... 210
7º argumento: O governador nega o criador ........................................... 210
8º argumento: A multiplicidade dos deuses prova que não existe nenhum
deles ....................................................................................................... 211
9º argumento: Deus não é infinitamente bom: é o inferno que o prova .. 212
10º argumento: O problema do mal ........................................................ 213

6
Terceira serie de argumentos: Contra o Deus justiceiro .......................... 215
11º argumento: Irresponsável, o homem não pode ser castigado nem
recompensado......................................................................................... 215
12º argumento: Deus viola as regras fundamentais de equidade ............ 216
Onisciência versus Livre Arbítrio................................................................ 219
Grandes Mentiras Religiosas ...................................................................... 223
Útimas palavras de ateus e “ateus” ........................................................ 223
O último testemunho de Darwin .............................................................. 233
Deus punindo quem blasfema ................................................................. 237
Nasa, Josué e o Sol que parou ................................................................. 244
Deus e o Diabo na terra da Internet ........................................................ 247
Astros de Rock são satanistas? ............................................................... 271
O Fim do Mundo em 2012 ........................................................................ 281
O Milagre de Lanciano Desmascarado ..................................................... 292
A Escadaria de Loretto Desmascarada..................................................... 295
A “Riqueza” das Nações Protestantes ..................................................... 298
Hitler era Ateu ? ...................................................................................... 307
Evangelismo: a maior mentira da História ................................................. 326
Introdução .............................................................................................. 326
O início da trama ..................................................................................... 327
Sargão..................................................................................................... 327
Moisés ..................................................................................................... 328
O grande “mestre iniciado” e incompreendido ........................................ 329
Deuteronômio 17:3-5 .............................................................................. 330
Discípulos envergonhando seu Mestre e sua doutrina ............................. 332
Notas e referências ................................................................................. 335
Cisma do Oriente ....................................................................................... 335
A falsificação do Sudário de Turim ............................................................. 340
Santíssima Trindade desmascarada ........................................................... 346
A improbabilidade de Deus ........................................................................ 353
A verdadeira História da Páscoa ................................................................ 357
A verdadeira história do natal .................................................................... 360
Deus feito em casa ..................................................................................... 362
Esquecendo Deus ....................................................................................... 366
Inferno Desmascarado ............................................................................... 368
SHEOL ..................................................................................................... 368

7
HADES ..................................................................................................... 371
GEENA ..................................................................................................... 372
TÁRTARO................................................................................................. 375
Hesíodo – Teogonia ................................................................................. 376
AS ORIGENS DO INFERNO ....................................................................... 378
DOUTRINAS INFERNAIS .......................................................................... 381
Noite de São Bartolomeu: O massacre dos huguenotes ............................. 383
O Dilúvio desmascarado ............................................................................. 389
O Protestantismo visto pelos católicos....................................................... 394
Os Anjos: Para que servem? ...................................................................... 401
Os Evangelistas eram historiadores confiáveis? ......................................... 409
PARTE 2 – CETICISMO ............................................................................... 410
Lógica & Falácias ....................................................................................... 410
Introdução .............................................................................................. 412
O que a lógica não é ................................................................................ 412
Argumentos ............................................................................................ 413
Proposições............................................................................................. 413
Premissas ............................................................................................... 413
Inferência ............................................................................................... 414
Conclusão................................................................................................ 414
A implicação em detalhes ........................................................................ 414
Exemplo de argumento ........................................................................... 415
Reconhecendo argumentos ..................................................................... 416
Leitura complementar ............................................................................. 416
Falácias ................................................................................................... 417
Acentuação / Ênfase ............................................................................... 417
Ad Hoc..................................................................................................... 417
Afirmação do Conseqüente...................................................................... 418
Anfibolia.................................................................................................. 418
Evidência Anedótica ................................................................................ 418
Argumentum ad Antiquitatem ................................................................. 418
Argumentum ad Baculum / Apelo à Força ............................................... 418
Argumentum ad Crumenam .................................................................... 419
Argumentum ad Hominem ...................................................................... 419
Argumentum ad Ignorantiam .................................................................. 419
Argumentum ad Lazarum ........................................................................ 420

8
Argumentum ad Logicam ........................................................................ 420
Argumentum ad Misericordiam ............................................................... 421
Argumentum ad Nauseam ....................................................................... 421
Argumentum ad Novitatem ..................................................................... 421
Argumentum ad Numerum ...................................................................... 421
Argumentum ad Populum........................................................................ 421
Argumentum ad Verecundiam ................................................................. 421
Audiatur et Altera Pars............................................................................ 422
Bifurcação ............................................................................................... 422
Circulus in Demonstrando ....................................................................... 422
Questão Complexa / Falácia de Interrogação / Falácia da Pressuposição 423
Falácias de Composição .......................................................................... 423
Acidente Invertido / Generalização Grosseira ......................................... 423
Convertendo uma Condicional ................................................................. 423
Cum Hoc Ergo Propter Hoc ...................................................................... 423
Negação do Antecedente ......................................................................... 424
Falácia do Acidente / Generalização Absoluta / Dicto Simpliciter ........... 424
Falácia da Divisão ................................................................................... 424
Equivocação / Falácia de Quatro Termos ................................................ 424
Analogia Estendida.................................................................................. 425
Ignorantio Elenchi / Conclusão Irrelevante ............................................ 425
Falácia da Lei Natural / Apelo à Natureza ............................................... 425
Falácia “Nenhum Escocês de Verdade…”................................................. 425
Non Causa Pro Causa .............................................................................. 426
Non Sequitur ........................................................................................... 426
Pretitio Principii / Implorando a Pergunta .............................................. 426
Plurium Interrogationum / Muitas Questões ........................................... 426
Post Hoc Ergo Proter Hoc ........................................................................ 426
Falácia “Olha o Avião” ............................................................................. 427
Reificação ............................................................................................... 427
Mudando o Ônus da Prova ....................................................................... 427
Declive Escorregadio ............................................................................... 427
Espantalho .............................................................................................. 427
Tu Quoque............................................................................................... 427
Nota 1 ..................................................................................................... 428
Nota 2 ..................................................................................................... 428

9
Uma Introdução ao Ateísmo ...................................................................... 429
O que é Ateísmo? .................................................................................... 429
O que é Agnosticismo? ............................................................................ 430
Considerações sobre o Espiritismo ............................................................. 442
Veganismo Desmascarado ......................................................................... 448
Sobre a preocupação com os animais ...................................................... 454
Agora, vamos acabar com as falácias vegans. ......................................... 456
Experimento com animais ....................................................................... 460
Hipocrisia, teu nome é veganismo! ......................................................... 463
Homeopatia desmascarada ........................................................................ 463
Introdução .............................................................................................. 463
Os princípios da homeopatia ................................................................... 463
O ponto de vista bioquímico .................................................................... 464
Pesquisa científica .................................................................................. 465
A aparente eficácia.................................................................................. 467
Conclusões .............................................................................................. 467
Informação e Conhecimento ...................................................................... 468

PARTE 1 – RELIGIÃO

Examinando a Religião

Por Voltaire
Extraído do Dicionário Filosófico

Voltaire, é considerado como o melhor representante do intelectualismo do século XVIII. Em


seu Dicionário Filosófico, Voltaire ataca as mazelas da França de sua época e os absurdos
do fanatismo religioso. Neste verbete, o autor – cujo verdadeiro nome era François-Marie
Arouet – analisa filosoficamente a religião, mediante sua óptica e seu intelecto.

Primeira questão

O bispo de Glocester, Warburton, autor de uma das mais sábias obras que já se escreveram
assim se exprime, página 8, tomo 1o.: ―Uma religião, uma sociedade que não está fundada
sobre a crença numa outra vida deve ser sustida por uma providência extraordinária. O
judaísmo não está fundado sobre a crença numa outra vida; portanto o judaísmo foi sustido
por uma providência extraordinária‖.

10
Vários teólogos se ergueram contra ele; e como se retorquem todos os argumentos,
retorquiram o seu; disseram-lhe:

―Toda religião que não estiver baseada sobre o dogma da imortalidade da alma e sobre as
penas e recompensas eternas é necessariamente falsa; ora, o judaísmo não conheceu esses
dogmas; portanto o judaísmo, longe de ser sustido pela Providência, era, segundo vossos
princípios, uma religião falsa e bárbara que atacava a Providência‖.

Esse bispo teve alguns adversários que lhe afirmaram que a imortalidade da alma era
conhecida entre os judeus, nos próprios tempos de Moisés; ele lhes provou porém mui
evidentemente que nem o Decálogo, nem o Levítico, nem o Deuteronômio tinham uma única
palavra a respeito dessa crença, e que é ridículo pretender turvar e corromper algumas
passagens dos outros livros para concluir daí uma verdade que não está absolutamente
anunciada no livro da lei.

O senhor bispo, tendo escrito quatro volumes para demonstrar que a lei judaica não propunha
nem penas nem recompensas depois da morte, jamais pôde responder a seus adversários de
maneira satisfatória. Estes lhe diziam:

―Ou Moisés conhecia esse dogma e então enganou os judeus não o manifestando; ou ignorava-
o, e nesse caso não tinha conhecimentos suficientes para formar uma boa religião. Com efeito,
se a religião fosse boa, por que teria sido abolida? Uma religião verdadeira deve ser para todos
os tempos e todos os lugares; ela deverá ser como a luz do Sol que ilumina todos os povos e
todas as gerações‖.

Esse prelado, por esclarecido que fosse, teve muito trabalho em se livrar de todas essas
difíceis proposições; porém qual o sistema é isento de dificuldades!

Segunda questão

Outro sábio muito mais filosófico, que é um dos mais profundos de nossos dias, apresenta
fortes razões para provar que o politeísmo foi a primeira religião dos homens, e que se
começou por crer em vários deuses antes que a razão fosse suficientemente esclarecida para
não reconhecer senão um Ente Supremo.

Ouso crer, ao contrário, que se principiou por reconhecer um único Deus, e que em seguida a
fraqueza humana adotou vários deles; e eis como concebo a coisa:

É indubitável haverem existido burgos antes que se construíssem grandes cidades, e que todos
os homens foram divididos em repúblicas antes de ser reunidos em grandes impérios. É bem
natural que um burgo atemorizado pelo trovão, afligido pela perda de suas colheitas,
maltratado pelo burgo vizinho, sentindo todos os dias a própria fraqueza, pressentindo por
toda parte um poder invisível, tenha terminado por dizer:

―Existe algum ser acima de nós que nos causa bens e males‖.

Parece-me impossível que tenha dito: ―Há dois poderes‖. Por que vários? Principia-se sempre
pelo simples, em seguida vem o composto e amiúde, enfim, volta-se ao simples mercê de
luzes superiores. Tal é a marcha do espírito humano.

Qual é esse ente que se teria invocado a princípio? Seria o Sol? Seria a Lua? Não creio.
Examinemos o que se passa entre as crianças; representam mais ou menos o que são os
homens ignorantes. Não percebem a beleza nenhuma utilidade do astro que anima a natureza,
nem os socorros que a Lua nos presta, nem as variações regulares do seu curso; não o
pensam, estão muito acostumadas a todas essas coisas. Não se adora, não se crê senão aquilo
que se teme; todas as crianças olham para o céu com indiferença; mas estruja o trovão e elas
tremerão, irão se esconder.

11
Sem dúvida, os primeiros homens agiram de forma idêntica. Apenas umas espécies de
filósofos que assinalaram o curso dos astros ensinaram também a admiração e adoração; os
cultivadores simples e sem luz alguma não conheciam o bastante para perfilhar tão nobre erro.

Portanto, uma aldeia ter-se-á limitado a dizer: Há uma potência que troveja, que atira neve
sobre nós, que faz morrer nossos filhos: acalmemo-la; mas como? Vemos que acalmamos com
pequenos presentes a cólera das pessoas irritadas: façamos, pois pequenos presentes a essa
potência. É também preciso dar-lhe um nome. O primeiro que se oferece é o de Chefe, Dono,
Senhor; essa potência é, pois chamada Senhor. É provavelmente a razão pela qual os
primeiros egípcios chamaram ao seu deus Knef; os sírios, Adonai; os povos vizinhos, Baal ou
Bel, ou Melch, ou Moloch; os citas, Papeu: palavras que significam Senhor, Mestre.

Foi assim que se encontrou quase toda a América dividida numa multidão de pequenas
populações, tendo todas o seu deus protetor. Os próprios mexicanos, os peruvianos, que eram
grandes nações, tinham apenas um deus: uns adoravam Manco Capaque, outros o deus da
guerra. Os mexicanos davam ao seu deus guerreiro o nome de Vitzlipufzli, assim como os
hebreus haviam cognominado o seu senhor de Sabaoth.

Não é por uma razão superior e cultivada que todos os povos começaram a reconhecer uma
única divindade. Se tivessem sido filósofos, teriam adorado o deus de toda a natureza, e não o
deus de uma aldeia; teriam examinado essas relações infinitas de todos os seres, que provam
um ente criador e conservador; porém eles não examinaram nada, eles sentiram. Aí está o
progresso de nosso frágil entendimento; cada burgo sentiu sua fraqueza e a necessidade de
um forte protetor. Imaginou esse ser tutelar e terrível residindo na floresta vizinha, ou na
montanha, ou numa nuvem. Apenas imaginou um só deus, pois o burgo não tinha senão um
chefe na guerra. Imaginou-o corporal, porque era impossível figurá-lo de outra forma. Não
podia crer que o burgo vizinho não tivesse também o seu deus. Eis por que Jefté disse aos
habitantes de Moabe:

―Possuís legitimamente o que vosso deus Camos vos fez conquistar; deveis deixar-nos gozar
dos bens que nosso Deus nos concedeu por suas vitórias‖.

Tais palavras ditas por um estrangeiro a outros estrangeiros são notáveis. Os judeus e os
moabitas tinham desapossado os naturais do país; uns e outros apenas tinham o direito da
força, e uns disseram aos outros: - ―Vosso Deus vos protegeu em vossa usurpação, tolerai
agora que nosso Deus nos proteja na nossa‖.

Jeremias e Amos perguntaram um ao outro ―que razão teve o deus Melcom para se apoderar
do país de Gade‖. Parece evidente, por essas passagens, que a antiguidade atribuía a cada
país um Deus protetor. Encontram-se ainda hoje vestígios dessa teologia em Homero.

É bem natural que se havendo aquecido a imaginação dos homens e tendo seu espírito
adquirido conhecimentos confusos, tenham eles multiplicado seus deuses, e estipulado
protetores para os elementos, mares, florestas, fontes, campos. Quanto mais examinaram os
astros, mais foram feridos pela admiração. Poder-se-á não adorar o Sol, quando se adora a
divindade de um ribeiro? Desde que o primeiro passo foi dado, a terra em breve foi coberta de
deuses; e enfim desce-se dos astros aos gatos e às cebolas.

Entretanto é preciso que a razão se aperfeiçoe; o tempo forma, enfim, os filósofos que
percebem que nem as cebolas, nem os gatos, nem mesmo os astros concertaram a ordem da
natureza. Todos esses filósofos babilônicos, persas, egípcios, citas, gregos e romanos admitem
um Deus supremo remunerador e vingador.

Eles não o dizem a princípio ao povo: pois quem falasse mal das cebolas e dos gatos diante
das velhas e dos padres teria sido lapidado; quem quer que reprovasse aos egípcios o fato de
comerem os seus deuses, acabaria sendo ele próprio devorado, como, de feito, Juvenal nos
relata que um egípcio foi morto e comido completamente cru numa disputa de controvérsia.
Mas que se fez? Orfeu e outros estabeleceram mistérios, que os iniciados prometeram

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mediante juramentos execráveis nunca revelar, e o principal desses mistérios é a adoração de
um único Deus. Essa grande verdade penetra metade da terra; o número dos iniciados torna-
se imenso. É verdade que a antiga religião sempre subsistiu; mas, como não é contrária ao
dogma da unidade de Deus, deixa-se que subsista. E por que aboli-la? Os romanos
reconhecem o Deus optimus maximus; os gregos têm o seu Zeus, seu Deus supremo. Todas
as outras divindades são apenas intermediárias: imperadores e reis são instalados no posto de
deuses, isto é, de bem-aventurados; é, porém certo que Cláudio, Otávio, Tibério e Calígula não
são considerados como criadores do céu e da terra.

Numa palavra, parece provado que, no tempo de Augusto, todos os que tivessem uma religião
reconheciam um Deus superior, eterno, e várias ordens de deuses secundários, cujo culto foi
chamado mais tarde idolatria.

Os judeus jamais foram idólatras: porque, não obstante terem admitido alguns malakhim,
anjos, seres celestes de uma categoria inferior, sua lei não ordenava de forma alguma que tais
divindades secundárias tivessem culto entre eles. Adoravam os anjos, é verdade, isto é,
prostravam-se diante deles quando bem entendiam; mas, como isto não sucedia com
frequência, não havia cerimonial nem culto estabelecido para eles. Os querubins da arca não
recebiam homenagem alguma. Era costume adorarem os judeus abertamente um único Deus,
assim como a multidão inumerável dos iniciados o adoravam secretamente em seus mistérios.

Terceira questão

Foi ao tempo em que o culto de um Deus supremo estava universalmente estabelecido na


opinião de todos os sábios, na Ásia, na Europa e na África, que a religião cristã nasceu e se
desenvolveu.

O platonismo auxiliou bastante a compreensão de tais dogmas. O Logos, que para Platão
significava a sapiência, a razão do Ser Supremo, tornou-se em nossos tempos o Verbo e uma
segunda pessoa de Deus. Uma metafísica profunda e acima da inteligência humana foi um
santuário inacessível no qual se desenvolveu a religião.

Não procuremos repetir aqui como Maria foi declarada mãe de Deus, como se estabeleceu a
consubstancialidade do Pai e do Verbo e a processão do Pneuma, órgão divino do divino Logos,
duas naturezas e duas vontades resultantes da hipóstase, e enfim a manducação superior, a
alma nutrida tal como o corpo dos membros e do sangue do Homem-Deus adorado e comido
sob a forma do pão, presente aos olhos, sensível ao paladar, e, contudo anulado. Todos os
mistérios foram sublimes. Começou-se, desde o segundo século, por esconjurar os demônios
em nome de Jesus; depois se expulsavam em nome de Jeová ou Ihaho: pois conta S. Mateus
que tendo os inimigos de Jesus dito que ele esconjurava os demônios em nome do príncipe dos
demônios, ele lhes respondeu: ―Se é por Belzebu que eu esconjuro os demônios, em nome de
quem o fazem vossos filhos?‖

Não se sabe em que tempo os judeus reconheceram por príncipe dos demônios a Belzebu, que
era um Deus estrangeiro; sabe-se porém (e é José quem diz) que havia em Jerusalém
exorcistas especiais para esconjurar os demônios dos corpos dos possessos, isto é, dos
homens atacados de doenças singulares, as quais se atribuíam então em grande parte da terra
a gênios malfeitores. Esconjuravam-se, pois os demônios com a verdadeira pronunciação de
Jeová hoje perdida, e com outras cerimônias esquecidas hoje em dia. Esse exorcismo por
Jeová ou outros nomes de Deus estava ainda em uso nos primeiros séculos da igreja.

Orígenes, disputando contra Celso, diz-lhe, no. 262:

―Se, invocando Deus ou jurando em seu nome, chamam-no o Deus de Abraão, de Isaque e de
Jacó, alguma coisa há de haver nesses nomes, cuja natureza e força são tais que os demônios
se submetem a quem os pronuncia; mas se o chamamos com outro qualquer nome, como
Deus do mar ardente, suplantador, esses nomes não terão virtude. O nome de Israel traduzido

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em grego nada operará; pronunciai-o porém em hebreu, com os outros termos necessários, e
imediatamente operareis a conjuração‖.

O próprio Orígenes, no número 19, diz estas palavras notáveis:

―Há nomes que têm uma virtude natural, como os que empregam os sábios entre os egípcios,
os magos da Pérsia, os brâmanes da Índia. O que chamamos magia não é uma arte vã e
quimérica, tais como o pretendem os estoicos e os epicuristas: nem o nome de Sabaot nem o
de Adonai foram feitos para seres criados; mas pertencem a uma teologia misteriosa que se
liga ao Criador; de lá vem a virtude desses nomes quando coordenados e pronunciados
segundo as regras, etc.‖.

Assim falando Orígenes não apresenta seu sentimento particular: exprime a opinião universal.
Todas as religiões então conhecidas admitiam uma espécie de magia; distinguia-se a magia
celeste e a magia infernal, a necromancia e a teurgia: tudo aí era prodígio, adivinhação,
oráculo. Os persas não negavam os milagres dos egípcios, nem os egípcios os dos persas;
Deus permitiu que os primeiros cristãos fossem persuadidos dos oráculos atribuídos às sibilas,
e lhes deixou ainda alguns erros pouco importantes, que não corrompiam o fundamento da
religião. Coisa grandemente notável é que os cristãos dos dois primeiros séculos votavam o
maior horror aos templos, aos altares e às imagens. É o que diz Orígenes, no. 374. Tudo
mudou depois com a disciplina, quando a igreja recebeu uma forma constante.

Quarta questão

Desde que uma religião é legalmente estabelecida num estado, todos os tribunais se ocupam
imediatamente de impedir que se modifiquem a maioria dos atos praticados nessa religião
antes de ter sido publicamente acatada. Os fundadores reuniam-se secretamente apesar dos
magistrados; hoje não se permitem as assembleias públicas senão sob os olhos da lei, e todas
as associações que se afastarem dela são proibidas. A antiga máxima era que é melhor
obedecer a Deus do que seguir as leis do estado. Apenas se ouvia falar em obsessões e
possessões, o diabo andava à solta na terra: já hoje o diabo não sai de sua morada. Os
prodígios, as profecias eram necessárias então: já hoje não se admitem. Um homem que
profetizasse calamidades nas praças públicas seria metido num manicômio. Os fundadores
recebiam secretamente dinheiro dos fiéis; um homem que recolhesse hoje dinheiro para dele
dispor sem ser autorizado pela lei teria que responder perante a justiça. Assim, estão
completamente fora de uso todos os caibros que serviram para construir o edifício.

Quinta questão

Depois da nossa santa religião, que sem dúvida alguma é a única boa, qual será a menos má?

Não seria a mais simples? Não seria aquela que ensinasse muita moral e pouquíssimos
dogmas? a que tendesse a tornar os homens justos sem os tornar absurdos? a que não
ordenasse absolutamente crer em coisas impossíveis, contraditórias, injuriosas à Deidade e
perniciosas ao gênero humano, e que não ousasse ameaçar com as penas eternas os que
tivessem o senso comum? Não seria aquela que não sustentasse sua crença por intermédio de
tribunais nem inundasse a terra de sangue por causa de sofismas ininteligíveis? aquela que de
um equívoco, um jogo de palavras e duas ou três cartas sobrepostas não fizesse um soberano,
e um Deus de um padre frequentemente incestuoso, homicida e envenenador? A que não
submetesse os reis a esse padre? A que não ensinasse senão a adoração de um Deus, a
justiça, a tolerância e a humanidade?

Sexta questão

Diz-se que a religião dos gentios era absurda em muitos pontos, contraditória, perniciosa; mas
não se lhe teriam imputado maiores males do que na realidade praticou, e mais tolices do que
pregou? ―Pois em ver Júpiter mudado em touro, - serpente, mono ou outra coisa qualquer, -
nada de belo encontro - nem me admirará se suceder‖. (Prólogo de Anfítrion).

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Sem dúvida isto é muito impertinente; mostrem-me, porém, em toda a antiguidade um templo
dedicado a Leda deitando com um mono ou com um touro. Houve em Atenas ou Roma algum
sermão para encorajar as moças a fazer crianças com os macacos do seu pátio? As fábulas
recolhidas e ornadas por Ovídio constituem a religião? Não se parecem elas à nossa Lenda
Dourada, à nossa Flor dos Santos? Se algum brâmane ou dervis nos viesse objetar a história
de Santa Maria egípcia, a qual, não tendo com que pagar aos marinheiros que a conduziram ao
Egito, deu a cada um deles o que chamamos favores, à guisa de dinheiro, diríamos ao
brâmane: ―Meu reverendo padre, estais enganado, nossa religião não é a Lenda Dourada‖.

Reprovamos aos antigos seus oráculos, seus prodígios: se eles voltassem ao mundo e
pudéssemos contar os milagres de Nossa Senhora de Loreto e os de Nossa Senhora de Éfeso,
para que lado penderia a balança? Os sacrifícios humanos foram estabelecidos em quase todos
os povos, mas muito raramente postos em uso. Apenas temos a filha de Jefté e o rei Agague
imolados entre os judeus, porque Isaque e Jônatas jamais o foram. A história de Ifigênia não é
muito acreditada entre os gregos; os sacrifícios humanos são muito raros entre os antigos
romanos. Numa palavra, a religião pagã fez derramar pouquíssimo sangue, enquanto a nossa
alagou a terra. A nossa é sem dúvida a única boa, a única verdadeira; mas fizemos tanto mal
por seu intermédio que quando falamos das outras devemos ser modestos.

Sétima questão

Se um homem quiser persuadir de sua religião a estrangeiros ou compatriotas não deverá


empregar a doçura mais insinuante e a mais acareante moderação? Se começar por dizer que
o que ele anuncia está demonstrado, encontrará uma multidão de incrédulos; se ousar dizer-
lhes que eles não rejeitam a sua doutrina senão porque ela condena as suas paixões, que o
seu coração corrompeu o seu espírito, que eles apenas têm uma razão falsa e orgulhosa, ele
os revolta, anima-os contra si, arruína ele próprio o que quer edificar.

Se a religião que anuncia é verdadeira, torná-la-ão a insolência e o arrebatamento mais


verdadeira? Ficais encolerizados quando dizeis que é preciso ser dócil, paciente, benfeitor,
justo, preencher todos os deveres da sociedade? Não, porque todo mundo é do vosso parecer.
Por que, pois, dizeis injúrias ao vosso irmão quando lhe pregais uma metafísica misteriosa? É
que o seu bom senso irrita o vosso amor próprio. Tendes o orgulho de exigir que vosso irmão
submeta a sua inteligência à vossa; o orgulho humilhado conduz à cólera, nem é outra a sua
origem. O homem ferido por vinte balas numa batalha não fica encolerizado; mas um doutor
ferido pela recusa de um sufrágio torna-se furioso e implacável.

A necessidade de uma crença

Muitas vezes pensamos por que as pessoas acreditam em coisas sem nexo. Ficamos
estarrecidos com a capacidade crédula de acreditar nas coisas mais estapafúrdias que tem por
aí religiões, correntes, superstições, mandingas, petições online, SPAM, boatos diversos, shows
de mágica, promessas de políticos e que a namorada (ou namorado, dependendo das
preferências de cada um) não mentirá na próxima vez.

Afinal, por causa de que as pessoas acreditam nessas sandices todas? Por que elas ainda
remetem textos ridículos de ameaças de um fantasma de uma menina de 14 anos (bem, ela
teria essa idade se estivesse viva)? O fantasma fica acompanhando os e-mails e comunidades
do Orkut? O que fazem então? Repassam o lixo, com um adendo ―vou repassar por via das
dúvidas‖. Via das dúvidas? Não, meu caro. Você repassou porque se cagou de medo da
mensagem. E isso vale para as outras crendices. Mas, afinal, por que as pessoas têm essas
crenças?

Resposta: Não tem resposta!

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Sim, eu sei que depois de ter lido os dois primeiros parágrafos, você deve estar querendo me
matar por causa de uma resposta tão escrota. Lamento, mas essa é a verdade. Não temos
uma resposta definitiva. As pessoas são esquisitas, mesmo.

Pode parecer que desde sempre as pessoas tiveram a necessidade de acreditar em algo. Tenho
pra mim que não, não é bem assim.

Tudo bem que as pessoas sempre tiveram muitas dúvidas a respeito de tudo. Mas, uma crença
não nasce do nada. Ela normalmente é passada de pessoa a pessoa. Assim, alguém teve a
―brilhante‖ ideia, por exemplo, de dizer que as trovoadas eram causadas por São Pedro estar
arrastando os móveis. De repente, falaram isso só de brincadeira. E teve gente que acreditou!

Logo, a crença veio na tentativa de dar uma explicação a um fato. Alguém estava arrastando
os móveis em casa e viu a barulheira que fazia (na época, não existia Casa Bahia e os móveis
eram bons e pesados). No dia da trovoada, perceberam a barulheira. De onde vem? Do céu?
Quem está no céu? São Pedro. 2 + 3 =… 9! (Barulho de móvel + Barulho no céu = São
Pedro!). Havia outro motivo também, mas disso falaremos mais a seguir.

A crença surge também de uma necessidade. A pessoa tá doente e aceita qualquer coisa que
lhe deem. Até mesmo figas, galhos de arruda, imagem de Santo Onofre, ferraduras, fitinha do
Senhor do Bonfim e até o escudo do Flamengo. Claro que essa pessoa vai no médico e faz um
tratamento com remédios etc. A pessoa fica curada no tempo em que algum vuduzeiro estava
fazendo um ―tratamento‖ passando bosta de vaca no corpo todo. Aí, o que acontece? A idiota
pessoa acha que foi a bosta de vaca que a curou. O médico? Ah, aquele charlatão só estava
enchendo de remédios…

Como eu disse antes, tudo começa com alguém impondo sua opinião (muita das vezes, são
opiniões idiotas, proferidas por leigos imbecis) e fazendo de tudo para que a outra pessoa faça
o mesmo procedimento e execute a besteira. O pior que as besteiras até tem certo
fundamento, mas podem ser danosas. Como exemplo, posso citar os efeitos colaterais de
alguns antidepressivos, como perda de peso.

Isso acontece muito com mulheres. É triste, mas é verdade.

Uma mulher encontra outra e pergunta como ela está, vê que ela perdeu peso (apesar de
estar amarela, esquálida e pra lá de desanimada, mas pessoas egoístas não prestam atenção
nisso). A outra mulher responde que não está muito bem, que até está sobre o efeito de
remédios antidepressivos.

Uma pessoa boa e conscienciosa perguntaria se a outra estava precisando de um ombro


amigo, se necessita de algo ou mesmo não fica só nas perguntas e procura melhorar o ânimo
da outra pessoa, mostrando que é amigo e que se importa. Como eu disse, egoístas não
pensam nisso.

Uma mulher egoísta (não estou querendo dizer que todas as mulheres o sejam, mas me atire
uma pedra quem nunca ouviu uma história semelhante) vai falar logo: ―Caramba, deixa eu ver
este remédio!‖ Aí, vê que na bula consta que realmente o remédio acarreta perda de peso.

Sabemos que a sociedade tem grande influência nos indivíduos (principalmente nos que
possuem fraqueza de caráter). Logo, a dita egoísta terá a idéia ―fabulosa‖ de se encher de
anti-depressivo e vai encher o saco da amiga para que consiga uma receita. A amiga – que
realmente está precisando de um amigo, mas só conseguiu ―aquilo‖ – vai fazer de tudo para
conseguir. A ―amiga‖ vai espalhar aos 4 ventos que tem uma receita ótima para emagrecer.
Outras idiotas como ela farão de tudo para conseguirem receitas (até mesmo subornar
médicos do SUS, que ganham uma merreca e precisam alimentar os filhos) e assim a coisa se
propaga.

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Algumas até tem a coragem de pedir a químicos (!) para que estes possam arrumar o tal
medicamento. Óbvio que uma simples carteira do Conselho Regional de Química não é o
suficiente para uma farmácia decente vender um medicamento controlado. O químico que tem
responsabilidade se recusa e ainda dá um esporro. A pessoa que acha que precisa emagrecer
fica irritada com o gesto e rompe os pseudolaços de amizade interesseira.

Eu sei bem como é isso. Já perdi 2 ―amigas‖ por causa disso e podem estar certos: pessoas
assim não me fazem falta.

As pessoas acabam se tornando viciadas em suas crenças. Como exemplo, eu citei no artigo
da Campanha Diga NÃO ao Boato, onde relatei a história de um spam maluco em que eu
mandei a refutação com links, visando esclarecer a pessoa. Assim como acontece com um
toxicômano (aquele que é viciado em drogas, pô), a pessoa se recusa a sair do vício. Acho que
deveria haver clínicas de desintoxicação de besteiras. Mas, não daria certo. Nenhuma clínica
suportaria mais de 150 milhões de pessoas…

As pessoas, em fato, acreditam nas coisas porque QUEREM acreditar. Alguns acham que
aquela gostosa da loja de conveniência realmente tá dando mole, que tomar os coscarques da
vida realmente a isentaram de almoçar, que tomar gotinhas diluídas mais de 100 vezes
superam em qualidade qualquer remédio, que a conjunção astral define os rumos de sua vida
ou que jogar em roleta o fará rico sem trabalhar.

E é aqui que realmente chegamos ao ponto do porque as pessoas acreditam nessas coisas:
elas têm medo.

Exatamente, M-E-D-O !!

Todas elas têm medo de algo. Seja de morrer, seja de ficar pobre pro resto da vida, não
conseguir um trabalho decente, ficar virgem pra sempre e medo de sentir medo.

Ao contrário do que se pode sugerir sentir medo não é tão ruim. O medo nos faz um grande
favor: ele nos mantém vivo. Se não fosse o medo de altura, a gente chegaria perto de
qualquer precipício ou treparíamos (ops) no parapeito de um prédio no 30º andar sem
segurança. O medo de não passar num exame nos faz estudar e prepararmo-nos mais para as
provas etc. Sentir medo é natural. Claro que muitas das vezes, o medo simples se torna uma
fobia, como ter medo de subir numa escada de 3 degraus. Aí, é caso para tratar disso.

Lembro-me de um filme já meio antigo: Remo, Desarmado e Perigoso. Nele, o velho chinês
(ops, desculpe, Chiun: COREANO!) ensina que sentimos fome, sentimos frio, sentimos medo.
O medo não pode nos fazer mal. Para isso, devemos ter cuidado. Temos medo de sermos
atropelados numa via movimentada. Só o medo não fará com que um caminhão suba a
calçada e nos pegue (o motorista estar tonto de sono ou completamente bêbado, sim). Se
tivermos cuidado, esperando o sinal fechar e prestando atenção que os carros realmente
parem, poderemos atravessar tranqüilos.

Na direção também. Se formos cuidadosos, não precisaremos de fitinha de São Cristóvão.


Porque nem São Cristóvão dá jeito se algum maluco avançar o sinal de der uma porrada no
meio do seu carro.

A dor, o medo e o egoísmo armam o palco para os enganadores. Enganadores que se vestem
bem, andam barbeados e com cara de amiguinho.

Lembra-se do caso da explicação das trovoadas? Lembra-se do caso da ―amiga‖ interesseira?


Lembra-se do caso de estar necessitado? Lembra-se do caso do medo? Pois bem, pessoal.
Junte tudo isso, mais com um bando de espertinhos e o que você tem? Resposta: RELIGIÃO!

Pense: A religião é um vício em que as pessoas acreditam firmemente em fatos estapafúrdios,


como cobras falantes. Até brigam e falam mal (reparem nos comentários de nossos artigos). A

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religião explica coisas do modo mais estranho, absurdo e sem sentido; porém, de uma forma
―convincente‖. A religião abafa o medo do desconhecido.

Morte? Para que se preocupar? Você andará por tijolos de ouro, que nem na historinha do
Mágico de Oz. Seu parente faleceu? Que pena… Mas, você poderá conversar com ele através
de nossos médiuns. Você quer ganhar um emprego novo? Quer trocar de carro? Não tem
problema! O que você der para a nossa igreja, Jesus te dará em dobro!

É como no caso do ―conto do paco‖. Chega um espertinho e oferece uma bolada de dinheiro
pra sua vítima, dizendo que tem que viajar, sair, ir pro hospital etc. Pede que ela lhe dê algum
dinheiro e em troca a pessoa poderá ficar com o pacote de dinheiro, cheques etc. A vítima, de
olho grande na bolada, pensa que poderá lucrar em cima de quem ela julga que é um
verdadeiro mané. É sempre assim.

As pessoas gritam e esbravejam que têm fé, que acreditam em seu Jesus, mas por quê?
Porque no seu livrinho mágico está escrito que se eles não crerem, eles vão pro inferno e
passarão o resto da eternidade lá. MEDO!

As Ovelhinhas do Senhor correm em tudo que é canto, enchendo o saco para que outros
passem a crer nas mesmas sandices que elas. Por quê? Porque no seu livro diz que eles têm
que evangelizar, senão vão pras profundas. Interesse egoísta. Usam de apelo sentimentalóide
―por que você não acredita em meu deus, ele é bonzinho e oferece muito‖ (como no caso do
―conto do paco‖). Assim como no caso do spam, eles têm que manter viva a crença, caso
contrário, cairão em si que são um bando de estúpidos (o que de fato são, mas eles não
querem que saibam).

Sempre terminam com algo como ―arrependam-se‖ e ―estarei orando por vocês‖. Mentira! Eles
querem impor medo. O mesmo medo que sentem. Assim como uma mãe diz pra uma criança:
não ande de costas porque faz mal. Faz mesmo? Se você não souber andar, realmente vai
cair. Aliás, do jeito que as ruas andam esburacadas, faz mal você andar até normalmente. Faz
mal andar de noite por causa dos assaltos. Muitas coisas fazem mal. E daí?

Assim como o medo não te faz mal, as crenças não ajudam. Muitos hospitais estão cheios de
padres, pastores, irmãs, macumbeiros, satanistas, ateus, agnósticos etc. Crer ou não crer não
fará sua situação mudar. Eu não creio em médicos. Eu sei que um tratamento vai curar se for
aplicado adequadamente. Eu não creio que o médico vai me curar, porque médico não cura
ninguém.

O que cura são os seus conhecimentos, sua experiência de ter visto o mesmo caso antes, de
ter lido e relido e trabalhado nas mesmas condições. O que cura é o saber que a humanidade
vem acumulando ao longo dos séculos, e não apenas uma besteira de acreditar que alguém
falou séculos atrás que um verdadeiro devoto poderá tomar veneno e não acontecerá nada.

Muitos dizem que em sua igreja XYZ, houve milagres, que uma perna nasceu do nada, que
mudo aprendeu a falar e que papagaio criou dente. Mentira! Tudo isso é baseado numa reles
crença de que alguém disse que viu (e na verdade também não viu) alguém ser curado. Vá
atrás, peça os exames. Onde estão? Até hoje, já ouvi esta lorota centenas de vezes. Centenas
de vezes pedi os exames e laudos. Ganha um doce se adivinharem quantos me mostram a
documentação.

Cada um pode crer no que quiser não me importo. Mas, quando a história que um
antidepressivo é usado como milagre dietético, quando uma crendice faz uma pessoa
abandonar médicos para seguir um pseudotratamento que acabará em morte, quando uma
quadrilha usa a crença do povo para extorquir seu último centavo em troca de uma promessa
vazia e ridícula e vemos pessoas agindo feito zumbis acreditando que o mundo só tem 6 mil
anos que o homem veio de um punhado de barro que um deus tribal criado por um bando de
pastores da Idade do Bronze largou por aí, então é hora de começarmos a mostrar que o
mundo não é esquisito, as pessoas é que são crédulas, burras, interesseiras e medrosas.

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São fatos. Ninguém gosta de ter que encarar o reflexo de sua personalidade em linhas
escritas, mas essa é a verdade. Creia no que quiser, mas guarde para si. Tenha
responsabilidade de não causar mal a ninguém. Acha que tomar cianureto vai melhorar sua
garganta? Beleza. Tome 2g de manhã, à tarde e… bem, talvez não precise tomar à noite. De
qualquer forma, você nunca mais terá dor de garganta. Mas, tome SÓ VOCÊ. Deixe as pessoas
se consultarem com médicos de verdade. Médicos cometem erros. E daí? Você se acha
especial? Pule de uma ponte com uma capa e saia voando, só assim acreditarei. No mais,
acredite no que quiser. O mundo não deixará de ser mundo em função da crença dessa ou
daquela pessoa.

Típicas Justificativas Religiosas

Em qualquer tipo de debate, é mais do que necessário manter a sobriedade nas afirmativas.
Cair em falácias é muito fácil, mas nem por isso devemos nos apegar a elas para sustentar o
que temos a dizer. Objetividade é a regra e deve-se ter em mente que qualquer proposição
deve ter conteúdo lógico e não um amontoado de palavras absurdas. E são absurdos o que
mais vemos em debates quando o assunto é religião. Por vezes, as postagens dos religiosos
são repetitivas e irritantes. Sempre acaba caindo nas mesmas falácias e desvios de assuntos, o
que é irritante em certos casos. Para facilitar os debatedores, fiz uma relação das (pseudo)
justificativas mais usadas pelos religiosos (as quais não justificam nada). Apertem os cintos e
vamos lá!!! Divirtam-se

1ª Justificativa: EXTRAPOLAÇÕES

Apenas apontando isso que de uma forma geral os religiosos buscam justificar suas crenças,
apesar de todas as provas em contrário está em extrapolar o que está escrito na Bíblia,
buscando criar justificações que a própria Bíblia nunca alegou em momento algum. Como por
exemplo:

• Justificar Adão não ter morrido ao comer a maçã como ―morte espiritual‖. Nada no texto
indica isso;

• Justificar as contradições sobre relatos da morte de Judas como ―primeiro ele se enforcou
depois Deus o matou‖. Nada na Bíblia indica essa ordem;

• Deus criou o mundo em 7 dias explicado como ―um dia de Deus equivale a mil anos do
homem‖. Nada no texto original justifica isso sobre a criação.

2ª Justificativa: ARGUMENTOS DE CONVENIÊNCIA

Essa entra em ―quando um argumento justifica a proposição, usa-se; quando não justifica,
estranhamente é esquecido‖. Por exemplo:

• Um dia para Deus é mil anos para o homem é utilizado para descrever a criação do mundo
em 7 dias, a vinda do Apocalipse contudo esse ―dia longo dia de Deus‖ nunca é citado para
justificar profecias divinas que foram cumpridas imediatamente como a destruição de Sodoma
e Gomorra, o Dilúvio ou quaisquer outras profecias em que deus haveria afirmado aconteceria
―em breve‖ e, segundo a Bíblia, aconteceram;

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• ―Não julgueis para não ser julgado‖ é uma linha que aparece e desaparece da Bíblia de forma
extremamente conveniente e muito estranha vinda da pessoa que ―estaria vindo julgar toda a
Terra no Apocalipse‖ ou de um Deus que constantemente rogava pragas, caos e destruição
quando contrariado no antigo testamento;

3ª Justificativa: TENTATIVA DE ALEGAR UM CONHECIMENTO SUPERIOR SOBRE A


BÍBLIA SEM DEMONSTRAR NADA QUE JUSTIFIQUE ISSO

Está basicamente na linha ―vocês não compreendem a Bíblia‖, quando o religioso se encontra
derrotado em termos de argumento racional. É uma forma de evitar engolir o próprio orgulho,
se admitir errado e tentar sair por cima. É parte do orgulho religioso de ―se eu vou na igreja,
devo ser superior não importa prova em contrário. Eu sei mais sobre o assunto que esses
ateus/agnósticos e estou certo‖. Contudo esse comportamento de negação em geral vem
após:

• O religioso não ter demonstrado um conhecimento realmente aprofundado sobre a Bíblia ou


capacidade de refutar os argumentos sem utilizar as duas técnicas descritas acima;

• Incapacidade de contra argumentar com bases puramente lógicas os erros e contradições


apontados.

4ª Justificativa: DESESPERO

Muito comum também. Esse entra no religioso que apenas começa a citar orações e linhas
aleatórias da Bíblia sem parar, e busca jogar táticas de amedrontar quem o contesta,
ameaçando com Inferno ou algo do gênero, como mortes agonizantes e sofrimentos intensos.

Claro que esses argumentos não refutam em nenhum momento o que foi alegado contra a
Bíblia, mas religiosos parecem acreditar que sim.

5ª Justificativa: TÁTICA DE DISTRAÇÃO

Também conhecida como falácia do ―Olha o avião‖. Isso ocorre quando os religiosos inventam
histórias sobre as várias falhas (que só existem nas cabeças deles) do Evolucionismo, como se
isso de alguma forma tornasse o Criacionismo uma teoria menos furada. Se quiserem defender
o Criaburricionismo deveriam buscar provas válidas que o justificassem, mas não poucas vezes
eles insistem num constante ataque que não valida a crença deles como melhor de forma
alguma. Insistem nas besteiras, vindas de fontes vagas e duvidosas, como ―definir a idade de
fósseis por radiação não é confiável‖. Em que isso torna o Criancionismo algo mais válido?
Fossem tentar provar tal besteirol estariam utilizando as mesmas técnicas.

Não raramente essa técnica de distração se compõe de pegar um detalhe mínimo da discussão
que o ateu/agnóstico alegou e buscar aumentá-lo fora de proporção para evitar retornar à
discussão maior que realmente não tem como refutar.

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6ª Justificativa: CRIAR EXPLICAÇÕES ABSURDAS

Isso vem junto com o fato que para alguém acreditar no que está escrito na Bíblia como fatos
históricos exige uma mente que aceita acreditar em fatos sem sentido. Numa discussão sobre
a famigerada Arca de Noé, quando se faz perguntinhas simples como: ―Como Noé conseguiria
o número de árvores suficientes para construir uma arca de madeira gigante no meio do
deserto?‖ ou então ―Como Noé e sua família limpariam o esterco de todos os animais da face
da Terra na Arca diariamente?‖. As respostas costumam ser hilárias, tais como:

– Deus criou árvores no deserto (extrapolação, nada na Bíblia diz isso).

– O esterco dos animais não fedia, porque eles comiam capim (alguém já viu esterco de um
boi ou vaca não feder?).

Entre outras (ver os comentários do artigo Dilúvio Desmascarado).

7ª Justificativa: FUGIR DA DISCUSSÃO ALEGANDO SER PARTE DO ANTIGO


TESTAMENTO

Aparentemente religiosos acreditam que, embora a Bíblia seja um livro perfeito sem erros ou
contradições (segundo a opinião deles), ela não tem necessidade de manter coerência entre o
Antigo e o Novo Testamento. A desculpa clássica está em ―após Jesus, tudo mudou‘‖. Mas, se
é assim então de que valem os dez mandamentos, por exemplo? Ou alegar que o homem paga
pelo pecado original se Jesus nos salvou?

Mais uma vez a conveniência pois em outras partes o antigo testamento seria usado para
comprovar algo mas negado para contrariar alguma afirmação.

E o fato de estar escrito que Jesus (supostamente) ter dito que não veio para abolir as leis dos
profetas parece ser ignorado nessa hora.

8ª Justificativa: ASSOCIAR LONGEVIDADE COM VERDADE

Isso entra no argumento característico de ―se a Bíblia está por aí a tanto tempo como ela não
seria verdade?‖. É um argumento falso, obviamente, pois quantos livros estão por aí a tantos
mil anos? Todos os livros religiosos estão como os de Confúcio, o Mahabarata, Ramayana, Zed
Avesta, Corão etc. Isso sem nem entrar em crenças africanas, sincretismo religioso, e alegar
um seria verdadeiro por sua idade defenderia todos os outros como verdade ao mesmo tempo.

As falhas principais neste pseudoargumento são:

• Isso é um ponto de vista ocidental, para começo de conversa, a Bíblia não teve tanta
relevância no oriente (ou os chineses, japoneses, vietnamitas, mongóis, árabes, persas etc. a
têm como livro religioso?);

• Se você alega que um livro se torna real por causa de sua longevidade, você pode usar esse
argumento para qualquer religião, indiferente dos valores que ela defenda. Quantas religiões
defendem valores sexistas, xenófobos, homofóbicos e racistas (além da Bíblia, é claro)?

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Alguém deveria segui-los sem questionar? É o argumento do namoro abusivo: sabe que faz
mal, mas não conseguiria imaginar a vida sem a pessoa. Patético!

• A Bíblia FOI comprovada errada inúmeras vezes por diferentes pensadores nas mais
diferentes situações possíveis. A questão nunca foi prová-la errada, mas conseguir que essa
informação atingisse a maioria da população. Não raramente os meios de comunicação evitam
difundir informações ateístas por medo de perder uma audiência, que prefere ouvir ―verdades‖
simplistas que não conduzam ao raciocínio. Enfim, para os meios de comunicação, religiões
significam mais dinheiro que ateísmo de uma forma geral.

Contudo, isso não altera a veracidade dos argumentos contra a Bíblia.

9ª Justificativa: FALEI UMA COISA TÃO IDIOTA QUE NINGUÉM SE DEU AO TRABALHO
DE REFUTAR, ENTÃO GANHEI O DEBATE

Esse é o mais divertido! Também conhecido por ARGUMENTO DO CANSAÇO, porque enche
tanto o saco que o debatedor desiste do debate. Aí o religioso fica com o peito estufado e diz
aos quatro ventos: ―Você não rebateu meus argumentos (tolos), logo ganhei o debate‖.

Parece até que aqueles que presenciaram o debate realmente acreditam naquilo. Enfim…

10ª Justificativa: FRASES PRONTAS

Esse costuma ser repetidamente usado por ser o mais mentalmente preguiçoso. Consiste no
religioso ter frases que ele vai apresentar para qualquer situação, indiferente a fazerem
sentido com o que está sendo dito ou não.

Os exemplos mais notórios costumam ser:

• ―Texto sem contexto é pretexto‖: ironicamente essa frase sempre é utilizada fora do
contexto da discussão. O religioso também assume que, após ter dito essa frase, ela
terminaria a discussão por si própria e ele não precisaria explicar qual o contexto ele
acreditaria adequado à referência;

• ―Vocês não possuem a compreensão espiritual‖: o interessante é que esse contexto que eles
alegam possuir não os fornece com argumentos convincentes. De uma forma geral, essa frase
não significa coisa alguma na verdade, porque o religioso após tê-la dito no máximo vai apelar
para alguma forma de parágrafo sobre a grandiosidade de deus (qualquer um que seja) e quão
minúsculo é o ser humano ou coisa do gênero que, de novo, não teria relação alguma com a
discussão;

• ―O texto da Bíblia é loucura para os que não creem‖: e é tão difícil assim de imaginar o
porquê? Isso é referência a uma linha da Bíblia e também nunca auxilia um debate de forma
alguma, nem contra nem a favor de nada, serve exclusivamente para lembrar que você está
lidando com uma pessoa brega.

A lista de frases prontas deve beirar os milhares. Contudo, todas acabam nessa definição final:
Uma pessoa que realmente raciocinasse sobre o que está falando não as utilizaria. Teria

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raciocinado com suas próprias ideias e as formularia a partir de seu próprio vocabulário
coloquial.

Uma piadinha ilustra bem isso: ―Como meu avô dizia, quem fica citando repetidamente os
outros é idiota‖.

11ª Justificativa: SOBRE DEUS, NÃO SOBRE A BÍBLIA

Confusão extremamente comum. O fato de alguém não acreditar na Bíblia não significa de
forma alguma que a referida pessoa não acredita em um determinado deus. Ela não consegue
ver como um deus utilizaria um livro com contradições tão gritantes com distância de poucas
linhas, erros óbvios e cópias decalcadas de outras mitologias.

Ou como um deus não enviaria um livro com uma mensagem coerente e coesa, em que
alguém visse um sentido que unisse todas as histórias, ao invés de uma colcha de retalhos de
contos que pregam morais completamente opostas, quando não demonstra pura crueldade
gratuita, homofobia, sexismo e absurdos em níveis astronômicos.

Como livro divino a Bíblia simplesmente não seria o portfólio que demonstrasse o melhor lado
dele como ―deus do amor e da misericórdia‖.

Normalmente a forma como religioso vai responder quando se aponta isso cai na justificativa
típica número 3 (tentativa de alegar um conhecimento superior).

12ª Justificativa: REFERÊNCIAS ALEATÓRIAS DA BÍBLIA

É difícil compreender 100% a motivação, mas às vezes no meio de uma discussão, ao invés do
religioso responder ao que você está falando, ele apresenta uma linha qualquer da Bíblia sem
relação nenhuma com o assunto.

Aparentemente eles acreditam que a pessoa irá ―se deslumbrar com a beleza da escrita‖ e
cessar os argumentos, ou alguma outra estupidez desse gênero. Claro que talvez isso
funcionasse se a Bíblia tivesse algum trecho realmente bem escrito; mas, ainda que tivesse,
não teria refutado o argumento apresentado. O nome disso é Transtorno de Déficit de
Atenção. Isso implica na incapacidade de seguir argumentos mais longos, acarretando que o
dito religioso se perca no assunto e busque reagir por reflexo através de uma linha qualquer
da Bíblia.

Não passa de outro sintoma de desespero.

13ª Justificativa: SE FAZER DE VÍTIMA CRISTÃ

Quando não conseguem vencer os argumentos, então caem no ―estou sendo perseguido como
Cristo e os primeiros cristãos foram‖. Entre outros blá blá blá.

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É a tentativa do apelo e chantagem emocional estilo ―se vocês continuarem falando isso, eu
vou chorar‖. Falácia do apelo à misericórdia, seguida do apelo à multidão.

Normalmente, isso vêm quando a pessoa tem de encarar as falhas de seus argumentos (se é
que se podem se chamar as palavras sem nexo de ―argumentos‖) e/ou têm de enfrentar que
não possui uma base tão elaborada assim como acreditava anteriormente. Algo chocante, não
é mesmo? Dependendo do nível de argumentação, a pessoa vai apelar para isso no começo,
meio ou fim da discussão (ou nos 3 tempos, o que é mais provável), dizendo para si própria
―estou sofrendo como Cristo sofreu pelo que acredito‖. Complexo de martírio cristão.

Mas, como todas as outras justificativas anteriores também não invalida as falhas que existem
no próprio texto da Bíblia.

A verdade é que nada disso invalidará as falhas apontadas, porque elas simplesmente existem
e estão lá. Choradeira com certeza não fará com que deixem de existir. Trata-se de um modo
do religioso convencer mais a si mesmo que tem razão, do que o cético que o pegou pelo pé
em cada tentativa de argumentação religiosa.

A melhor resposta para esse tipo de choradeira (no melhor estilo: mãe, ó o cético feio, ó!) é o
famoso: Solo de Violinos, que mostra que o religioso apenas está atuando num melodrama
água-com-açúcar, mas não está comovendo ninguém (a não ser outro religioso metido a
mártir).

14ª Justificativa: SE TEM DEFEITO ENTÃO É VERDADE

Os religiosos costumam muitas vezes alegar uma hipótese ridícula, dizendo que se a Bíblia se
contradiz, então ela não foi forjada. Na verdade é mais uma tentativa de criar explicações
quando o erro no texto é inegável. Uma explicação que, no fim das contas, não explica nada.

No caso seria uma tentativa de incorporar um fato que faz sentido – como sustentar mediante
provas que a Bíblia possui contradições, muitas vezes por ter tido histórias inseridas de várias
mitologias locais – com um que não faz o menor sentido, como por exemplo: ―‗por causa disso
o que ela está escrito é real‖.

O religioso entra, assim, com muitas outras tentativas de alterar o significado literal de
palavras ou juntar pensamentos que se opões apenas para forçar uma conclusão favorável
à Bíblia de alguma forma.

A questão é que só se chega a conclusões reais quando você segue a ordem: pergunta,
pesquisa e conclusão. E, nesse caso, a ordem seria pervertida para “a conclusão tem de
ser que a Bíblia é perfeita”, “não pergunte sobre a hipótese dela não ser” e “pesquise
e aceite apenas as fontes favoráveis a essa conclusão” .

Para quem leu a obra 1984 de George Orwell, esse tipo de pensamento cai na definição de
Novilíngua, onde infere que se deve conciliar ideias opostas como ―guerra é paz‖, ―liberdade
é escravidão‖ e ―amor é ódio‖. Em termos mais recentes, foi desenvolvido como base nos anos
70 para desenvolver a ideia do Intelligent Design através do que a mídia americana denominou
―conhecimento seletivo‖; conhecimento que ignora quaisquer provas ao contrário
consequentemente contrário aos princípios básicos da pesquisa científica.

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15ª Justificativa: É QUESTÃO DE ÉPOCA

Argumento usado principalmente quando é mencionada as crueldades de Jeová no Antigo


Testamento. Aí entra em cena o lenga-lenga de ―é porque naquela época eles eram isso ou
aquilo, faziam isso ou aquilo‖. Muito conveniente.

A pessoa que diz isso não se toca que só porque uma atitude era comum naquela época, não
significa que era correta. Ou seja, era comum ter escravos, então Jeová (também conhecido
como o Senhor dos Anéis Bíblico) permitia a escravidão. Era comum matar bebês de colo e
rasgar barrigas de mulheres grávidas, então Jeová mandava fazer isso. Era comum vender
mulheres como se fossem objetos, então Jeová permitia vender mulheres. E por aí vai.

Quem defende tal argumento não percebe o absurdo que está dizendo. Deus nesse caso não
tem voz ativa. Quem escolhe o que é certo e o que é errado são os homens, através do seu
―costume de época‖. Se Deus simplesmente permite tais absurdos, ele jamais pode ser um
Deus de amor, que se importa com os seres humanos.

Deus está permitindo, colaborando, aprovando e ordenando atitudes repugnantes, que jamais
deveriam ser aceitas por um ―Deus de amor‖. Se ele não perpetrou a ação, pelo menos foi
conivente abstendo-se.

16ª Justificativa: PREGAR O AMOR DE DEUS E, APÓS DERROTA, AFIRMAR QUE O


CONTESTADOR IRÁ AO INFERNO

Um híbrido da 4ª justificativa (desespero) com a 11ª justificativa (sobre Deus e não sobre
a Bíblia).

Após tentar convencer que Deus nos ama e sentir-se frustrado com o fracasso o religioso
começa a lançar maldições e a tentar convencer que o mesmo Deus de amor é capaz de
condená-lo ao inferno.

Pena que ateus e agnósticos não acreditam em inferno, e essa baboseira toda só serve para
causar diversão destes últimos.

17ª Justificativa: ERRO DE COPISTA

Esse argumento é muito pouco usado, e somente por cristãos mais sensatos, que admitem
que a contradição é irrefutável, mas que não passa de um ―mero erro de copista‖. Isto é, o
tradutor se confundiu e escreveu besteiras, mas que isso não invalida a ―beleza‖ do texto.

Com isso, eles dão a entender que um errinho de cópia não é nada grave, que não interfere
em nada na sua fé, e que não interessa se Acazias tinha 22 ou 42 anos quando começou a
reinar, ou se ele começou a reinar no ano 12º ou 11º de Jorão.

Bem, esse é um raciocínio que vale tanto quanto os outros, ou seja, NADA!!

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Primeiro, porque não existem mais os originais para se comparar se realmente foi apenas um
erro de copista. Eles dizem isso para si mesmos, apenas para se convencerem (como tantas
vezes) de que não foi Deus quem errou, e sim o homem. Porém não há evidências disso.
Quem me garante que no original também não estava o erro? Se é que houve um original e
não foi tudo invenção desde o início.

Segundo, esse tipo de contradição foi evidenciada somente porque ela aparece em passagens
diferentes que deveriam contar a mesma história. Porém, quantas passagens da Bíblia não
podem ser comparadas? Se for permitido o copista errar, então quem me garante que ele não
errou em vários outros lugares, e sequer podemos descobrir?

Terceiro quem garante que os copistas erraram apenas em números e datas? Por que não em
fatos importantes do cristianismo? Está claro que Deus não impediu que eles errassem para
pequenas coisas, por que não para grandes?

Quarto erros de copista são ainda mais evidentes se analisados os manuscritos que ainda
existem. Manuscritos esses que sequer concordam entre si. Que dependendo da região que
eles provêm, por exemplo, Alexandria ou Esparta, diferem muito entre si. Ou então, da data
em que foram escritos.

Repare nas notas de rodapé das Bíblias modernas, e veja que há muitos erros de copistas,
bem mais do que imaginam. Qual é o certo? Por exemplo, um manuscrito antigo, porém
rasurado, ou um sem tantas rasuras, porém mais novo?

Erros de cópia abalam sim (e muito!) a credibilidade da Bíblia.

18ª Justificativa: PIEGUICE

Essa é uma das táticas que me causaria mais pena sobre quem a utiliza, se eu fosse capaz de
ter piedade por idiotas. Quando a pessoa não consegue te convencer intelectualmente eles
buscam te convencer emocionalmente, utilizando o que eles consideram ―frases bonitas e
conceitos que apenas quem é religioso compreenderia‖.

Tudo fajuto: a frase não é nada bonita, mas uma extensão ou derivado de alguma música
sertaneja ou novela sobre amor e a ideia que só religiosos compreenderiam, no máximo
alguma referência a algo que o pastor falou durante a missa, que nem era tão profundo e
muito menos impressionante. Se eles apresentam uma ideia que tenha mais um nível de
compreensão para eles é um feito de iluminação divina e a coisa mais bonita que existe.

A piedade que se sente, de certa forma, é a de que eles estão buscando descrever algo
profundo utilizando a cultura de alguém que só faz ir em missas (ou outros cultos
semelhantes), lê a Bíblia de qualquer jeito, aceitando aquilo como uma verdade incontestável
e consumir ―culturalmente‖ novelas e músicas que só falam sobre amor de corno. Isso nunca
fez (nem nunca fará) ninguém capaz de escrever algo como:

Eu, ansioso pelo Sol, buscava


Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais

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Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora,
E que ninguém chamará mais.

E o rumor triste, vago, brando


Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.

(O Corvo - Edgar Allan Poe - tradução: Machado de Assis)

19ª Justificativa: NÃO RESPONDER

Essa deve ser, com certeza absoluta, a mais irritante. Quando ao invés de contra argumentar
de alguma forma sobre o erro apontado, o religioso apenas alega ―Jesus te ama‖, ―porque você
não aceita Deus‖ ou variações do gênero.

Basicamente, é algo tão sem sentido, que mal compensa se direcionar muitas vezes e difícil
compreender se você e o religioso estão falando sobre a mesma coisa. É o equivalente a
alguém estar perguntando pelo almoço de domingo e a pessoa responde sobre a invasão do
Iraque.

O fato de alguém acreditar ou não em um deus qualquer (ou de ―aceitar‖ ou não a Cristo) não
significa de forma alguma que a pessoa não deveria ler a Bíblia sob um ponto de vista crítico,
inclusive para compreender melhor o texto. Consequentemente, se alguém observa uma
contradição e a traz para discussão, por diferentes motivos, deveria muito mais reafirmar seu
interesse sobre o livro que ela apenas aceitasse qualquer coisa escrita sem questionamento.
Ao menos, em princípio a pessoa estaria questionando e estudando para aprofundar sua
compreensão do texto.

Religiosos, contudo, aparentam considerar que qualquer interpretação que não termine
dizendo ―a Bíblia é um livro maravilhoso e sem erros de nenhuma espécie‖ significa que a
pessoa deve odiar a deus, Jesus, o Espírito Santo, todas as igrejas e que vai queimar no
inferno por toda a eternidade, junto com os homossexuais, drogados, assassinos, pedófilos e
outros párias.

Sempre acabam ―fazendo um favor‖ terminando com uma dessas frases estípidas depois de
um texto sem nexo:

– Vou orar por você! Ou: Estou orando por você! (como coisa que isso signifique algo a quem
não se interessa por isso)

– Jesus te ama! (para quem acredita cegamente que ele existiu, vale muito. Já para os que
não crêem…)
– Como você pode odiar a Bíblia e Deus? (O que tem uma coisa a ver com outra? Será que
precisa-se acreditar na Bíblia para se crer em deus? Então judeus, muçulmanos, hindus etc.
são ateus, né?)

– Eu acredito na Bíblia e sou feliz. E você? (Para ser feliz é preciso acreditar nas baboseiras da
Bíblia? Isso que eu chamo de fé…)

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– A Bíblia fez muitos milagres na minha vida. Conheço um caso (normalmente fictício) de
alguém que se curou depois que acreditou na Bíblia. (Tão tolo que sequer merece comentários.
Mostrar os laudos médicos que é bom, nem pensar)

20ª Justificativa: SE FAZER DE SURDO

Também conhecido como Tautologia, insistência em argumentos comprovadamente errados,


e uma tentativa do religioso de enlouquecer a pessoa com quem ele conversa. Configura
quando você já provou de todas as formas possíveis que tais argumentos são furados, sem
sentido, contraditórios, pouco inteligentes e sem sentido nenhum e, mesmo assim, o religioso
insiste em repetir as mesmas linhas do começo do diálogo.

É o equivalente ao comportamento Homer Simpson de ―não importa o que você argumente


de todas as formas ele vai insistir nos mesmos pontos já amplamente demonstrados
errôneos‖. Cai num conflito básico com a mentalidade de fé cega, que aparenta não precisar
de uma base inteligente para suas afirmações e recusa-se ouvir ou debater num nível
realmente embasado.

No caso de se perder durante a discussão ou não conseguir refutar ele apenas retorna ao
argumento inicial achando que isso daria reset e invalidaria tudo que foi dito.

21ª Justificativa: PRECISA DE FÉ PARA ENTENDER A BÍBLIA

Esse é mais um caso particular da 3ª justificativa (tentativa de alegar um conhecimento


superior).

Um dos mais irritantes de todos, pois eles se julgam dotados de uma espécie de
―conhecimento divino‖, e que Deus lhes deu iluminação para conseguir entender coisas que
nós, descrentes, achamos absurdas.

Para eles, se somos incapazes de entender é porque não temos fé. Isso não faz nenhum
sentido, pois Deus supostamente não deveria fazer acepção de pessoas (como a própria Bíblia
diz), e todos deveriam ser capazes de entender a Bíblia completamente, e aí sim serem
capazes de tomar a melhor decisão para a vida delas.

Se só os que têm fé podem entender a Bíblia, então ela se torna inútil para a salvação das
pessoas, pois ela não é capaz de ―dar fé‖ a ninguém. Os religiosos muitas vezes recaem em
uma lógica circular: ―Você precisa entendê-la para ter fé, mas precisa de fé para entendê-la‖.

Além do mais, é fácil ver porque os que tem fé, dizem que entendem a Bíblia. É fácil ver que
se Deus mandou matar bebês de colo, um religioso vai simplesmente dizer: ―Eu tenho fé que
Deus tomou a melhor decisão‖. Pronto, a questão está respondida, na opinião do religioso, e
quem não tem fé é incapaz de ver dessa forma. Isso acarreta numa irresponsabilidade. Joga-
se tudo nas costas de Deus e fim.

22ª Justificativa: O FIM ESTÁ PRÓXIMO

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Esse também faz parte da justificativa nº 4 (desespero), contudo nem sempre utilizada de
forma afobada, vez por outra inclusive acreditando de forma arrogante como ―vocês vão se
ferrar por causa disso e eu vou me dar bem. Buahahuahaahahaa‖.

Como todas as outras justificativas, evita se dirigir diretamente ao problema apresentado com
uma resposta objetiva e busca desviar para um tática de medo. Inclui-se nessa justificativa
alegar fatos aleatórios de desastres que estariam descritos nas escrituras. Como nunca houve
consenso algum sobre quais desastres específicos seriam esses usando o mesmo argumento,
um religioso vai alegar que a bomba de Hiroshima, a invenção do telefone, a guerra do Iraque,
o Tsunami, o Lula ter sido eleito, o divórcio da Britney Spears, os cartões de crédito estarem
inserindo o número da besta nas testas das pessoas entre outras besteiras, como provas
definitivas de que o fim está próximo e quem insistir em apontar erros evidentes e óbvios no
texto bíblico vai pagar o preço por não aceitar mentir como todo o resto dos religiosos que a
Bíblia é inerrante.

23ª Justificativa: VOCÊ DEVE TER PROBLEMAS

Mais um no estilo: ―Ao invés de responder diretamente ao que você demonstrou, vou tentar
usar de apelo/chantagem emocional‖.

Isso acontece quando o religioso simplesmente recusa-se completamente em se dirigir à


questão apresentada e passa a buscar ―suas motivações emocionais‖. Estupidez galopante sem
sombra de dúvidas, uma pessoa poderia ter acabado de ganhar o prêmio Nobel da literatura
ou internado num asilo mas, indiferente a qual das opções se encontrasse, ela dissesse ―não
caberia todos os animais do mundo na Arca de Noé‖ os animais simplesmente não caberiam,
pois é fato.

Em geral o religioso vai tentar usar frases do gênero ―pode nos falar qual é o seu problema?‖,
―por que você não aceita a deus?‖ ou algo idiota do gênero, enquanto busca fazer suas
melhores expressões de sobrancelhas caídas para os cantos e olhares de ―pode falar‖.

Claro que uma pessoa lúcida e inteligente apenas sentirá vontade de falar ―estou conversando
com um asno‖. Isso entra na mitologia religiosa que ―as pessoas apenas se sentem felizes se
estiverem indo na igreja como eu‖. A necessidade religioso de autoafirmação, se convencendo
de estar fazendo a única coisa que poderia fazer uma pessoa feliz: não se aprofundar
intelectualmente sobre nada e fugir de responder intelectualmente quando alguma falha é
apontada.

Claro que essa necessidade de autoafirmação também traz outras coisas, como a
semiconsciência de não estar se aprofundando racionalmente em lidar com problemas não
costuma levar as pessoas muito longe, a infantilidade intelectual de buscar compreender todo
as as diferenças de ideias em outras pessoas como consequência de crises emocionais, evitar
lidar com a questão ―mas eu sou realmente tão mais feliz assim?‖

A realidade é que felicidade de verdade tem mais a ver com suprir necessidades emocionais
através de autoconhecimento e NÃO de evitar confrontá-las, jogando-as para algum ponto do
fundo de seu inconsciente, como uma faxineira relapsa varrendo o lixo pra debaixo do tapete.

Pouco importa! Podem acreditar no que quiserem sobre a vida pessoal da pessoa, mas as
contradições estarão na Bíblia de qualquer forma. Queiram ou não.

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24ª Justificativa: SÓ A BÍBLIA INTEIRA

É comum escutarmos essa asneira, ao criticarmos qualquer coisa na Bíblia. A resposta típica é:
―Por acaso você já leu a Bíblia inteira para saber do que se trata?‖

Essa desculpa furada é, no mínimo, irônica, já que a maioria das pessoas que a proferem
jamais leram a Bíblia inteira. Ou seja, partem do pressuposto que para elogiar a Bíblia, basta
ler um versículo só que seja, mas para criticá-la, tem que lê-la toda.

Além do mais, qualquer um que realmente leu a Bíblia toda, nunca vai dizer tal coisa, pois
sabe que não é necessário ler a Bíblia toda para comentar alguma passagem, basta usar uma
simples Bíblia com referências e pronto.

Em suma: Para não acreditar na Bíblia, basta lê-la inteirinha.

25ª Justificativa: PORQUE CRISTO TE INCOMODA?

E lá vamos nós de novo. Mais uma justificativa que não se dirige às contradições apontadas
buscando desviar para alguma pieguice emocional, essa ainda mais pobremente miserável: a
ideia que a pessoa não está apresentando as falhas da Bíblia por elas simplesmente existirem
mas por ―estar resistindo à presença de Cristo‖.

Esse pseudoargumento (assim como a justificativa nº 23) tende a tirar proveito se a pessoa
realmente possuir algum problema emocional que não consiga resolver por si própria. É
baseado em ―nós sabemos que as contradições existem, mas vamos negar, você vai estar aí
sozinho falando essa verdade mas você vai estar sozinho. Mas se você passar a mentir e negar
como nós estamos fazendo você terá um grupo de suporte ao seu problema‖.

Isso acaba gerando a famosa conversão de ―perdidos para fanáticos religiosos‖. Em linhas
gerais é uma forma de comprar a colaboração da pessoa baseada em suas fragilidades
emocionais, uma vez dentro e apegada à esse grupo de suporte a pessoa vai defender
qualquer fanatismo possível relacionado. As igrejas se baseiam excessivamente em explorar
esse tipo de fiel como ―exemplar‖. Contudo isso gera duas coisas:

• Primeira que os erros e as contradições da Bíblia continuam lá, não mudou nada nesse
sentido;

• Segundo que os problemas emocionais com que a pessoa lidava também continuam lá. Ela
apenas partiu para uma forma radical de fugir deles se escondendo no meio de um grupo de
suporte e o mais que esses problemas o incomodarem o mais fanática a pessoa se torna. Nisso
entra os religiosos com tendência gay que se tornam homofóbicos, temor da sexualidade
feminina levando à buscar reduzir direitos da mulher, e qualquer busca por extensão de
exercer o controle em outras pessoas para nunca precisar ver o que sente medo em si mesmo
incluindo o fato de que algumas pessoas não apenas não se ―incomodam com Cristo‖ como
não sentem necessidade nenhuma dele.

Obviamente, com pessoas mentalmente equilibradas, este artifício não resulta em nada.

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26ª Justificativa: CREIO PELA FÉ

Confusão amplamente espalhada e explorada entre comunidades religiosas. A idéia que se


alguém aponta erros no texto da Bíblia, essa pessoa estará recusando a Deus. Diante desse
conceito, pessoas que se tornem emocionalmente dependente do grupo religioso para
convivência social, suporte ou família são supostas a não aceitarem/admitirem ou assumirem
erros no texto da Bíblia não importa quão óbvio eles sejam. A linha normalmente utilizada
nesse sentido é ―creio pela fé‖, a qual simplesmente tem qualidade nula como resposta a uma
pergunta como ―como as plantas poderiam sobreviver se foram criadas antes do Sol, segundo
Gênesis?‖

Isso em geral seria melhor descrito como ―se dizer que não creio, vou perder status―, porque
na verdade a pergunta não tem relação qualquer com crença. É apenas uma pergunta
pertinente ao tema. Uma crença aprofundada não negaria raciocínio e
questionamentos mas os estimularia; mas, ao invés disso temos uma cultura da
necessidade de negação onde qualquer pessoa que apontar uma opinião divergente, será
―alguém que não acredita‖ e estará fadada a ir pro Inferno.

Em geral esse argumento tende ao religioso justificar sua fé através dos benefícios sociais que
a comunidade religiosa lhe ofereceu, contudo não responde à questão apresentada.

Afinal de contas :―Não me importa se antes você bebia sem parar, usava drogas, se prostituía
em bar gay, teve pai com câncer ou o que seja. Apenas responda como plantas iam sobreviver
se o Sol foi criado no dia seguinte!‖

27ª Justificativa: A BÍBLIA É POLÊMICA

No caso de não haver como refutar argumentos contrários a tentativa de salvar a Bíblia de
parecer meramente mal escrita está em dizer ―ela ser polêmica‖. Polêmica eles tentam alegar
como ―provoca questões que nos fazem pensar‖, para evitar assumir ―só eu acho que ela diz
algo relevante‖.

Algo seria polêmico se causasse choque, a Bíblia não causa isso, causa apenas indignação e
irritabilidade em ver pessoas negando de toda forma assumir erros evidentes e contradições
ululantes.

28ª Justificativa: REFERÊNCIAS FURADAS

Extremamente comum. Isso se configura quando durante tal discussão o religioso vai
apresentar suas referências para embasar seus argumentos e demonstra fontes, para dizer o
mínimo, questionáveis e amplamente tendenciosas. Normalmente isso acontece muito durante
debates sobre a Arca de Noé e o dilúvio com fontes como ―cristoévida.com‖, ―livro a santíssima
trindade de acordo com as irmãs carmelitas‖ ou alguma outra fonte risível do texto.

Raramente alguém vai encontrar uma referência de uma fonte internacionalmente reconhecida
e imparcial favorável a algum absurdo bíblico, pois atentaria contra a seriedade da própria

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instituição; ainda mais comum quando algum religioso encontra alguma referência de alguma
instituição mais reconhecida, ele extrapola o que foi alegado em prol de seu argumento.

Um exemplo típico está em discussões sobre a possibilidade do dilúvio mencionado na Bíblia,


Gilgamesh e outras lendas locais fossem referentes a um possível Dilúvio que teria criado o
mar negro. O religioso vai tentar descrever isso como ―prova que o dilúvio aconteceu como
descrito na Bíblia e foi global‖ (dependendo do grau de sanidade do defensor), evitando tocar
no assunto de que nada no texto alegaria ter sido causado por uma chuva de 40 dias ou ser
mundial. Ou que as lendas sobre o dilúvio são gritantemente diferentes.

Não raro são citados quaiquer livros de quaisquer autores que seja, conhecidos ou não, sério
ou piada da comunidade científica, contanto que ele suporte o que a Bíblia diz e buscar reduzir
a relevância de escritores muito mais sérios e proeminentes sobre o assunto, como Darwin ou
Stephen Jay Gould, por exemplo.

Inventar livros imaginários e autores que sequer existem, como o tal Russel Norman Champlin,
de quem nem a editora dele no Brasil (Hagnos) conhece, é muito comum também. Vale tudo
para impor uma opinião. Até mesmo o mau-caratismo intelectual.

Mas, quando usamos a própria Bíblia deles para mostrar que alguns de seus próprios dogmas
são insustentáveis pelo próprio livro que eles têm como ―sagrado‖ (ver Santíssima Trindade
Desmascarada), os religiosos também não aceitam. Logo, não é questão de se usar uma
fonte religiosa ou não. É questão da conveniência de usar o que sustenta as proposições deles,
por mais absurdas que possam parecer.

29ª Justificativa: FALOU “MEU DEUS” NA HORA DE APURO

O típico argumento tão obviamente falso quanto comum entre religiosos.

Existe essa lenda entre religiosos que se uma pessoa utilizar a expressão ―meu deus‖ em
alguma situação, essa pessoa necessariamente estaria admitindo alguma crença teísta,
inclusive apesar do número quase infinito de crenças teístas pelo mundo afora, essa expressão
estaria sendo utilizada exclusivamente em relação ao deus cristão.

E se alguém falasse ―puta merda‖ ou ―fodeu‖ isso seria confissão de adorar um monte de
esterco ou um ato sexual santificado? E se a pessoa dissesse ―diabo!‖ então ele seria
satanista, embora houvesse praticado cristianismo sua vida inteira? Isso sem falar no uso das
diversas expressões referentes aos órgãos sexuais.

A questão é que essas são simplesmente expressões cotidianas utilizadas inconscientemente e,


para tristeza dos religiosos que odeiam admitir isso, o que uma pessoa realmente acredita é
demonstrado em seu comportamento cotidiano e na direção que dá à sua vida, e não a uma
expressão genérica qualquer, utilizada em alguma situação extrema. Caso fosse essa
expressão o que definisse a crença então as outras expressões estariam igualmente validadas
como provas de crença teísta em esterco, atos sexuais, satanismo, parto de prostitutas,
esfíncter, bastardos, virgindade, negação, etc.

30ª Justificativa: HISTORINHAS DA CAROCHINHA

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Vez por outra você vai ouvir isso de algum religioso. No meio de um debate ele vai
interromper tudo para aparecer com uma história genérica do estilo:

Um ateu estava numa palestra e um cara humilde comeu metade de uma laranja e perguntou
para o ateu se ele sabia se a outra metade estava boa. O ateu respondeu ―não sei‖ e o
religioso disse ―e como você vai saber sobre o que você não experimentou então?‖

No meio religioso esse tipo de coisa é inexplicavelmente visto como sabedoria ou


profundidade; sabe-se lá porque. Deve-se por falta de algo inteligente a dizer.

A verdade é que, em geral, todas essas historinhas são tão furadas que poderiam facilmente
ser invertidas contra o próprio religioso. Usando a mesma história um ateu poderia alegar ―e
você nunca experimentou não acreditar em deus‖. Dificilmente alguma dessas histórias não
seria facilmente reversível para qualquer coisa que a pessoa que a utilizando escolhesse. Por
isso que essas histórias são designadas genéricas e não servem como base real de argumento
nenhum.

31ª Justificativa: TU ÉS ARROGANTE

Fatalmente se o religioso ver que não vai conseguir te converter de forma alguma, ele vai
partir a lhe imputar alguma forma caricata de defeito pessoal que te ―impede de ver a glória
do senhor‖. O mais normal costuma ser qualificar a pessoa como arrogante e sem ―a qualidade
cristã da humildade‖. Convém apontar que a qualidade cristã da humildade inclui tentar
converter todo mundo à sua crença, como quem pensasse diferente estivesse errado ou
perdido.

A questão é que o fato de uma pessoa ter uma opinião diferente não a qualifica como
arrogante; e se ela tiver um conhecimento mais embasado sobre o que acredita realmente,
não vai existir motivo algum para ela mudar de opinião se não forem apresentados
argumentos à mesma altura e com o mesmo nível de profundidade. Isso não é arrogância é
apenas ser seguro de si, não implica a pessoa desrespeitar crenças diferentes ou ser incapaz
de se importar com outros seres humanos. Qual sentido teria uma pessoa que estuda a vida
toda mudar de idéia baseado em um argumento falho? Existe uma beleza e poesia na
simplicidade, verdade, contudo essa simplicidade necessita ter profundidade não ser simples
pelo mero fato de pobreza de idéias.

Em geral isso acaba consolidando um conflito cultural entre pessoas cultas e pessoas
desinformadas, e como cada um vai ter de definir um ao outro através de suas perspectivas
pessoais para justificar a si próprios seus estilos de vida diferentes. Talvez ambos estivessem
vivendo no mesmo ambiente cultural seriam bons amigos, mas nessa situação a comunicação
mútua se torna completamente truncada e incompreendida.

32ª Justificativa: BLEFAR

Esse se baseia quando religioso responde com termos vagos, tentando reduzir as alegações
sem apresentar nenhum argumento efetivo. Normalmente envolve frases como ―não vou nem
responder sobre isso‖, ―ah, você acredita em qualquer coisa que te dizem‖ (o fato deles
acreditarem unicamente porque o pastor disse é esquecido nesse momento), ―existem provas

33
irrefutáveis sobre o assunto‖ (sem apresentar as provas, como sempre), ―se você duvida,
procure ver se minhas afirmações são corretas‖ (inversão do ônus da prova) e quaisquer
outras linhas nesse estilo que buscam apenas reduzir a relevância do que foi apresentado sem
apresentar nenhuma prova efetiva que o refute.

A razão dessa tática é simples: ele não tem provas que refutem. Logo ele vai tentar fazer o
que foi dito não ser tomado como sério o que qualifica tal tática como blefe e ―jogar sujo‖.

A melhor forma de resposta à isso é pressionar para que o religioso apresente as provas
relativas ao que alega, o mais que ele se mantiver nesse jogo buscando se esquivar o mais
evidente se torna que ele não tem argumento contrário nenhum. Fatalmente o argumento
apresentado vence o blefe do religioso por falta de ter sido realmente refutado com evidências.
O único resultado disso é ver o religioso passar vergonha por ficar fugindo desabadamente; o
que é deveras engraçado.

33ª Justificativa: TU ÉS DO MUNDO

Semelhante às justificativas anteriores sobre ―necessita ser fiel para compreender a Bíblia‖,
essa contudo parte de uma premissa mais separatista e radical. A de que assume religiosos e
infiéis não fazem parte do mesmo grupo de forma alguma e deveriam ser mantidos separados.

Talvez esse conceito funcionasse se eles todos se isolassem para viver numa ilha e não
fôssemos obrigados a conviver uns com os outros, votar em políticos, decidir juntos quem vai
ser o presidente do país, enfim não houvesse as questões comuns à sociedade que devem ser
discutidas entre todas as pessoas em termos de igualdade e busca de interesses comuns. E
dar dinheiro público para igreja não vai ser nenhum interesse comum.

Tal conceito também seria ainda mais funcional se eles não seguissem uma cultura de ―vamos
converter e espalhar a palavra de Cristo, mesmo contra a vontade‖, ainda que as outras
pessoas não tenham interesse nenhum sobre o assunto. Então baseado no ―se você queimar
minha casa eu queimo a sua‖ eles buscarem invadir fóruns de discussão e blogs para pregar,
berrarem frases da Bíblia no meio das ruas, fazerem movimentos em prol da censura, moral e
bons costumes ou qualquer outra tentativa de invadir e impor sua visão sobre a vida de
pessoas de crenças diferentes. Eles não estão cumprindo sua proposta divisiva. Fatalmente o
tanto que eles invadem para pregar a palavra abre margem para pessoas com interesses
contrários fazerem o mesmo. Só que eles não aceitam. E acabam partindo para os
xingamentos e ameaças logo de saída.

Se religiosos querem acreditar que as pessoas fora de sua igreja são completamente diferentes
e perdidos, porque então eles não os deixam em paz? Deveriam esquecer que existem e viver
sua vida na igrejas sem incomodar ninguém. Afinal, a bem dizer essas ―pessoas do mundo‖
também acham que eles estão desperdiçando suas vidas com castidade excessiva, falta de
experiência sexual, arrogância moralista, ignorância cavalar, preconceitos generalizados contra
―drogados e gays‖, homofobia e tantas outras coisas e não estão pagando para uma parada de
gogo girls invada sua igreja dançando seminuas enquanto bandas tocam trash metal.

34ª Justificativa: METÁFORA

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Uma desculpa clássica e extremamente utilizada.

Para uma definição de verdade sobre o que é metáfora, podemos encontrar AQUI

A justificativa preferida dos religiosos, a que pode solucionar todas as perguntas e resolver
todos os problemas sem responder absolutamente nada.

• Se algo for literalmente ridículo a resposta seria: metáfora;


• Se for absurdo: metáfora;
• Sem sentido: metáfora;
• Idiota, tolo e esquisito: metáfora;
• Se for literal: metáfora também, só por via das dúvidas.

O termo é utilizado de forma tão amplamente abusiva e mecânica como estivessem apenas
apertando o botão ―resposta para que eu não precise pensar sobre o assunto‖.

A primeira coisa a ser notada:

Alegar algo como sendo ―metáfora‖ per se não é uma resposta. Se alguém alega tal
pseudoresposta se coloca na posição de ter de esclarecer em que sentido isso seria uma
metáfora e seu significado invés de literal, ainda mais se o texto não indicar isso de forma
alguma.

Ironicamente a maioria das pessoas que usam esse termo mal tem noção do que ele
realmente se trata e não seriam capaz de fornecer tal especificação;

O principal ponto nesse tipo de argumento é nunca estabelecer de forma clara e objetiva o que
e porque seria metáfora ou literal para o religioso poder sempre caminhar por uma linha turva
de argumentos que nunca se definem concretamente, assim ele pode alegar algo ser
metafórico ou literal de acordo com sua conveniência. Dificilmente se conseguirá que o
religioso que usa essa muleta de argumento defina como se reconhece algo ser metafórico ou
literal;

Se alegar algo ser metafórico, nunca define o que a metáfora significa e parta para termos
ainda mais vagos como ―não se compreende a sabedoria divina‖, ―isso é muito profundo‖, ―os
desígnios de Deus são misteriosos‖; mas nunca esclareça.

Normalmente, quando indagados, o ―manual religioso de fugas‖ ensina o seguinte:

―Se alguém lhe apontar a definição de metáfora alegue que você OBVIAMENTE sabe o que é
metáfora e nunca utilizaria o termo sem conhecê-lo. Se pedirem que dê exemplos literários de
metáforas para compreender sua definição fuja do assunto.‖

Bom, se um religioso alega algo ser puramente metafórico, ao mesmo tempo ele está
definindo sua interpretação literal como errônea, algo muito esquecido. Por isso, uma frase
como ―a criação do mundo em Gênesis é metafórica‖ nunca fará sentido nenhum quando dita
por um criacionista. A principal forma de derrubar esse argumento é apontar isso, pois força o
religioso a definir sua posição sobre o texto, não poucas vezes, como no exemplo de
criacionistas, ele vai ter de encarar entre escolher uma coisa e negar outra em prol do
argumento. E escolher uma definição é o que ele evitou desde o começo e o motivo de ter
usado essa desculpa furada.

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Os religiosos se esquecem de que, a partir do momento em que você abandona aquilo que
está escrito, preto no branco, e partem para outras explicações, eles próprios acabam se
tornando parte da ―inspiração divina‖. Isso lhes dá o direito de adivinhar o que Deus pensa, o
que Deus quis dizer, e o que Deus quer. Logo, surgem inúmeras interpretações diferentes para
um mesmo texto. E qualquer justificativa é válida, desde que não seja a mais simples, aquilo
que está escrito ali, no papel.

Por quê? Simplesmente porque se for aceitar aquilo como está escrito, literalmente, a crença
irá por água abaixo.

35ª Justificativa: EU ERA COMO VOCÊ

Vez por outra nós vamos acabar nos deparando com as vítimas de casos como os descritos na
justificativa nº 25 (perdidos que se salvaram) que partirão de frases como essa.

Isso é uma completa presunção, pois enquanto crenças institucionalizadas como as cristãs
pregam uma forma de cultura e pensamento comum (contra camisinha, contra sexo antes do
casamento, contra gays, etc), ateus e agnósticos não possuem uma instituição-núcleo que
direcione seus modos de pensar. Ateus e agnósticos são em grande maioria movidos por
pensamento independente. Não têm largas reuniões toda semana discutindo a inexistência
desse ou daquele deus. Em boa parte que eu me lembre os agnósticos e ateus estão mais
preocupados em cuidar de suas próprias vidas que se preocupar com o que um deus que
poderia existir ou não pensaria sobre o assunto. E ainda assim isso não é algo que poderia ser
aplicado a todos, porque a diversidade de ideias se torna muito maior quando as pessoas
acreditam em algo baseados em suas experiências pessoais, ao contrário de igrejas que
apelam ao apego emocional generalizado.

Enfim, não se sabe porque tal religioso era ateu e deixou de ser, só se sabe que ateus e
agnósticos não têm nada a ver com isso. Se alguém era ateu apenas porque teve problema de
mulher que o deixou e ficou com ―raivinha de deus‖ até que a raiva passou (típico ―ateu de
fim-de-semana‖), isso seria completamente diferente da perspectiva de um ateu convicto,
além de ser arrogante e presunçoso esperar que alguém que você nunca viu na vida, e nem
sabe nada sobre, seria ateu ou agnóstico pelos mesmo motivos que você foi um dia.

E, pelo argumento inverso, que religiosos adoram esquecer, um ateu poderia igualmente dizer
―eu já fui religioso um dia como você‖. E daí? Ele deveria assumir que o religioso um dia vai
ver a sabedoria e voltar à luz da razão do ateísmo?

36ª Justificativa: NA DÚVIDA, VALEM OS DOIS

Muito usada em conjunto com a justificativa nº 34 (metáfora), essa desculpa é mais usada
em contradições, de forma a se acreditar que ambas as passagens são verdade. Por exemplo,
Judas se enforcou ou se atirou de um precipício? Resposta: Os dois. Ele se enforcou em uma
árvore na beira de um precipício galho quebrou e ele caiu.

Foi Judas ou os sacerdotes que compraram o campo do oleiro? Os dois. O dinheiro era de
Judas, mas os sacerdotes compraram.

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Essa justificativa pode chegar a absurdos imensos, a ponto de requerer um grande esforço
mental para compreender como passagens diferentes podem significar a mesma coisa.

Foi Deus ou Satanás quem tentou Davi a numerar o povo? Os dois. Satanás o tentou, e Deus o
permitiu. Ou seja, usa a tática da negação para ―justificar‖ (apenas na mente do religioso, é
claro) qualquer contradição.

Admitem na cabeça deles que não há contradição nenhuma, apenas uma história mal contada.
Só que não explicam por que a palavra de Deus tem tantas histórias mal contadas. Não
explicam como é possível tantas pessoas divergirem tanto sobre assuntos tão simples. Pois se
ambas as hipóteses ocorreram, o que impediria de ambos os autores contarem a mesma
coisa? Ainda mais com ―inspiração divina‖?

Isso mais parece uma daquelas mentiras mal contadas, e quando a pessoa é pega em um
deslize, contradizendo-se, nega a todo custo que tudo era mentira, e tenta ―remendar‖ a
história para parecer verídica. É exatamente esse o caso com a Bíblia.

37ª Justificativa: FOI ESCRITA POR VÁRIAS PESSOAS

Semelhante à justificativa nº 15 (questão de época), porém invés de embasada na desculpa


de costumes está baseada em pessoas diferentes. Esse argumento poderia justificar algo se
não alegassem a Bíblia ser um livro perfeito inspirado por Deus. Para justificar essa afirmação
então não pode ter desculpas como essa: o livro TEM que ser perfeito ou a afirmação está
invalidada.

O principal problema desse argumento é que admite a contradição mas não a Bíblia ser
inerrante, também assume um ponto secundário: A Bíblia não ser coerente em si por ter sido
escrita por pessoas sem relação alguma de cultura, época, costumes e compreensão.

Esse argumento inconscientemente admite a Bíblia como uma colcha de retalhos de várias
histórias colocadas juntas sem muita relação além de uma frase geral sobre um único deus.
Então teremos os trechos sobre esse deus ser bondoso, ou ele exigir sacrifícios, ou destruir a
terra porque de repente se decepcionou, pregar leis e mandar desobedecê-las em seguida e
por aí vai.

Inevitavelmente, sob um ponto de vista coerente, esse argumento funciona mais contra a
Bíblia ser um livro perfeito que a favor.

38ª Justificativa: FOCO NO MENOS RELEVANTE

Isso é comum, não apenas em discussões com religiosos, mas em discussões com qualquer
pessoa que não consegue compreender o tema geral que está sendo discutido (resumindo:
idiotas), e busca se apegar aos detalhes que apreende dentro de seu campo de compreensão.
Em geral os menos relevantes; é o paralelo a uma pessoa que não compreende nada de
ciência ouvindo alguém explicar sobre física quântica e se o cientista citar a palavra ―galinha‖
no meio do debate a pessoa começa a tentar falar sobre a granja que visitou.

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Com religiosos funciona da seguinte forma: Você apresenta um monte de argumentos que
apontam para fatos inquestionáveis de erros da Bíblia, de repente eles vão focar em algum
exemplo mínimo que você disse, sem refutar o argumento principal. Por exemplo ―como você
pode falar tal coisa se você foi numa festa de natal?‖

Normalmente costuma ser um argumento facilmente rebatido pois já é baseado no religioso


não ter compreendido completamente o que foi dito, mas se eles tiverem a oportunidade, eles
estenderiam toda a discussão a um tema paralelo completamente irrelevante e fugiria da
contradição apontada.

39ª Justificativa: SÓ DEUS SABE

Essa desculpa é usada quando eles não fazem a mínima ideia do porque Deus tomou certas
atitudes. Só que ao invés de admitir isso, eles respondem que só Deus sabe, e que Deus é faz
o que é melhor para todos, e que seus caminhos são misteriosos.

E por mais ridícula, ou cruel, ou injusta seja a atitude de Deus, ele continua sábio e bom,
porque ―ele sabe tudo‖. Curiosamente, os religiosos ―esquecem‖ as passagens em que Deus
pergunta onde Adão estava, da surpresa de Deus por ver que o Homem se tornara mau, tendo
que mandar o dilúvio e sequer imaginava que era o Capetão que o fora visitar na estorinha de
Jô.

Também é negação, porque eles se negam a aceitar a realidade, porém é aliada a uma grande
quantidade de cegueira, que os impossibilitam de ver o quão antagônicas são as atitudes
desse suposto Deus.

40ª Justificativa: NÃO É UM LIVRO CIENTÍFICO

Extremamente comum sempre que se apontam falhas grotescas e absurdos científicos no


texto. Muito difícil qualificar isso como um argumento sério quando essa frase é utilizada de
forma tão contraditória.

A Bíblia não é um livro para ser interpretado de forma literal, direta e científica quando, alega
que insetos têm 4 patas. CONTUDO, ela pode ser literal quando (por mero acaso) alegar algo
vago e ambíguo, que anos mais tarde seria comprovado cientificamente; então ela pode ser
vista de forma científica. Cai na constante ideia de ―se fala algo a favor é válido, não importa
quão confiável seja a fonte, se falar contra ainda que seja definitivamente comprovado não
deveria ser válido‖.

De forma geral esse argumento sempre aparece quando o absurdo alegado é


inquestionavelmente estúpido como por exemplo: serpentes comem pó (Gênesis 3:14), ouro
enferruja (Tiago 5:2) ou a Terra é sustentada por colunas ( I Samuel 2:8).

Ao ouvir essas provas, o religioso vai apresentar seu sorriso de canto de lábio como ―já sei a
resposta para isso: a Bíblia não é um livro científico‖. Cai em parte na crença de ―para o
Senhor tudo é possível, não importa quão sem sentido ou sem provas seja‖. Também no fato
de uma interpretação errônea sobre o estudo científico, o qual não se esforça em provar que a

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Bíblia está certa ou errada, mas em meramente raciocinar sobre o conhecimento apreendido
por observação através de pesquisa e estudos.

Como alguém poderia compreender gravidade se evitasse raciocinar de forma racional sobre o
assunto ou ver que ―as coisas costumam cair para baixo e não para cima‖. Esses estudos
nunca visaram denegrir a Bíblia mas a observação da natureza apenas demonstrou que muitas
coisas ditas nela estavam erradas o que não deveria ser surpresa para ninguém, pois boa
parte dos princípios conhecidos hoje provieram de mais de mil anos após o texto da Bíblia ter
sido escrito.

Afinal de contas temos de convir que – ―ainda que para Deus tudo fosse possível‖ – se
fôssemos seguir as sábias palavras do texto bíblico sobre o assunto, quando enviamos
astronautas para a Lua teríamos de ter tido cuidado com o céu, já que ele é como um espelho
fundido (Jó 37:18), sinal que a nave poderia bater nele; nos preocupar-nos com estrelas, não
cometas ou meteoritos, que pudessem de repente cair na Terra (Mateus 24:29, Marcos
13:25, Apocalipse 06:13 e Apocalipse 12:04); estar seguro que a Terra não se move
(Crônicas 16:30, Salmos 93:01, 96:10 e 104:05), logo a nave poderia fazer o retorno em
linha reta sem se preocupar em sair do Texas e cair no Moçambique e tomar cuidado no
caminho de volta para não bater por acidente em alguma das colunas que sustentam a Terra e
derrubar o planeta inteiro (I Samuel 02:08).

Ainda que para Deus tudo fosse possível, acho que seria mais fácil para ele se simplesmente
mantivesse as coisas como são do que alterar tudo que existe, apenas para bater com algo
que foi escrito errado na Bíblia.

41ª Justificativa: VOCÊ TEM CURIOSIDADE DE DEUS

Mais um no nível do nonsense irritante!

Após ter esclarecido erros e bobagens diversas da Bíblia na forma mais clara, objetiva e
sucinta o religioso, ao invés de admiti-los, alega ―você questiona por ter curiosidade de Deus‖.

Isso parte no fato que o religioso provavelmente não entendeu (ou sequer ouviu) uma linha do
que você disse e apenas se manteve na posição defensiva, alegando para si mesmo ―ele fala
tudo isso por estar resistindo e ter curiosidade ao senhor‖, o que já parte de buscar encontrar
interpretações que não existem no que você está dizendo, sem prestar atenção nas palavras
que estão saindo da sua boca.

Mas, se fossem prestar atenção no que você diz, eles acabariam tendo de admitir ao menos
uma parte como verdade. Para fugir disso, criam-se essas explicações decoradas e sem
embasamento nenhum (e que não explicam nada), pois afinal: nem sempre quem desdenha
quer comprar.

42ª Justificativa: ALUCINAÇÕES

Semelhante à justificativa nº 22 (o fim está próximo), essa configura quando o religioso


busca criar associações fictícias de fatos do mundo real com provas definitivas da existência de
Deus.

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Eis os casos mais notórios:

• Alegar que o final dos Beatles e John Lennon ter recebido 5 tiros de Mark Chapman foi
devido à sua alegação que ―os Beatles eram mais populares que Cristo‖ (e pior que eram
mesmo). Talvez alguns fãs religiosos não gostassem de ouvir tal comentário e parassem de
seguir os Beatles. Contudo, seria melhor acreditar que se John Lennon sofreu alguma punição
divina, seu nome seria Yoko Ono, a qual esteve muito mais relacionada aos motivos reais do
fim da banda. Sobre Mark Chapman… Porque ninguém alega que quando João Paulo II levou
um tiro também seria punição divina? Curioso, não é mesmo?

• Outra interessante é aquela em que o finado Cazuza teria (supostamente) puxado um


baseadão num show, soltado a fumaça e ter dito: ―Aí, Jesus! Essa é pra você‖. E, por causa
disso, contraiu AIDS e… bem, o resto é história. Totalmente ficcional. Nunca se apresentou
ninguém que estava lá, mas tem muita gente que conhece ―alguém‖ que esteve lá e
presenciou. De qualquer forma, tem um bocado de gente que acredita em Deus que contraiu
doenças graves. Serão todos eles maconheiros e ateus?

Em geral, isso se configura no religioso buscar associar qualquer tragédia relacionada à uma
personalidade popular às suas crenças ateístas ou agnósticas. Ao mesmo tempo, se a
celebridade em questão for à missa todo domingo e algo horrível acontecer será descrito como
tragédia horrível, e que todos orem por seu bem estar e houver um culpado para isso ele
deveria estar aliado ao diabo ou prestes a pagar um preço terrível da ira divina.

Não passam de alucinações; tentativas desesperadas de encontrar ―pelo em ovo‖ e assustar as


pessoas sobre a censura divina e sua punição quando desobedecida. E como em todos os
outros casos de lendas urbanas como essas cada pessoa vai descrever a história de formas
completamente diferentes, sem nunca atingir um consenso sobre a versão definitiva do
assunto.

Logo, o final dos Beatles seria por que John Lennon disse isso, talvez o tiro de Mark Chapman
ou ele parecer tão ridículo naquelas fotos pelado com Yoko Ono… tudo, nesse tipo de delírio,
consequência dele ter expressado livremente sua opinião sincera sobre o assunto.

43ª Justificativa: AGE COMO EU, MAS DIFERENTE

Isso vem quando o religioso assume que ateísmo seria alguma forma de religião ou culto e que
os ateus estariam seguindo alguma forma de pastor.

Na verdade isso configura uma forma do religioso descrever a situação na única forma que ele
compreende: sem que as pessoas desenvolvam ideias próprias. Aparentemente a idéia de uma
pessoa chegar a conclusões por si própria, sem estar seguindo algum pastor ou líder, aparenta
ser alienígena à sua noção de mundo e, consequentemente, o religioso vai tentar associar a
perspectiva agnóstica/ateia num paralelo à sua própria: ―Se eles acreditam em ateísmo, eles
devem ter um pregador e devem todos pensar semelhante‖.

O principal erro disso está em:

• Ateísmo e agnosticismo não possuem uma ordem institucionalizada. O que cria a


uniformidade de pensamento está em quando um número muito grande de pessoas está
seguindo uma única pessoa como ―guia espiritual‖ ou relativo do gênero. Isso gera um

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pensamento institucionalizado que busca reduzir as diferenças de ideias entre as pessoas em
prol de controle. Não muito diferente de qualquer outra instituição movida por dinheiro e
interesses como corporações, as religiões institucionalizadas contam na ausência de discórdia
dentro de seu grupo representativo e na difamação do grupo concorrente.

Isso não se aplica ao ateísmo, por não apresentar uma forma de ―Vaticano‖, um grande líder
ateu que fala pelas massas ou equivalente.

• O pensamento (tanto do ateu quanto do agnóstico) é anarquista e descentralizado, o que o


torna mais rico em diversidade de ideias. E, enfim, porque alguém deveria ter alguma forma
de líder falando como as pessoas deveriam pensar sobre esse ou aquele assunto?
Principalmente sobre conceitos espirituais tão abstratos, subjetivos e pessoais? Conceitos que
os ateus e agnósticos repudiam.

Houve algum caso na história da humanidade em que isso não terminou representando uma
pessoa manipulando a ingenuidade de um grande grupo de pessoas que tinham preguiça de
formar ideias por si próprias?

44ª Justificativa: SEM PALAVRA FEIA E DEUS JUNTOS

Isso vem de quando o religioso não pode admitir uma palavra feia e o deus dele na mesma
frase. Em geral, chegando a contrariar o que ele próprio acabou de alegar. Por exemplo:

– Deus envia ao inferno quem não segue as leis divinas!!


– Se ele pune com tormento eterno então ele é cruel e ditador.
– NÃO, ELE NÃO É!!!

A questão é que esse tipo de comportamento não tem nenhuma motivação e/ou argumentos,
além de pura teimosia infantil e tentativa de dar voltas de retórica. Honestamente, no exemplo
seria o lógico alegar que por quaisquer fossem os motivos, o tormento eterno seria uma
punição no mínimo cruel para pecados que poderiam ser tão irrelevantes como ―não fez
jejum‖.

Contudo assumir a ideia de deus e uma palavra de conotação negativa juntos deve ser
eliminada não importa quão impossível seja logicamente. Qualquer afirmação que se faz sobre
qualquer coisa sempre vai possuir alguma conotação negativa sobre algum aspecto. ―O dia
está lindo‖ também traria consigo ―para saber que o dia está lindo você precisa ter conhecido
dias horríveis‖. Se Deus é bom, você precisa saber quando Deus é cruel igualmente para ter
como avaliar suas ações e dar sentido ao que você alega.

45ª Justificativa: COM DEUS VALE SEM ELE NÃO

Esse tipo de argumento tendencioso sempre se baseia em ―aceito se é a meu favor mas se for
contra mim não aceito‖. Basicamente está em aceitar alguma técnica absurda em prol do
cristianismo como ―doutrinar desde a infância para seguir o que acredito‖, mas alegar que o
mesmo seria errado se fosse ―doutrinar desde a infância para seguir algo que não acredito‖.

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• Seria correto educar crianças ao cristianismo, mas errado educá-las ao ateísmo ou
agnosticismo;
• Correto tentar converter homossexuais ao heterossexualismo, mas errado homossexuais
fazerem o inverso;

O princípio básico desse pensamento tendencioso é que por mais absurdo e insensível seja o
que defendem sempre será alegado ―superior‖ sobre algo, que poderia inclusive utilizar
técnicas mais razoáveis, caso dirigisse à outra direção. Enquanto argumento racional é
igualmente duvidoso e injusto, pois parte de um princípio unilateral do ―eu posso e você não‖,
o que exclui a igualdade de credo.

Enfim, esse argumento exclui a qualidade dos meios utilizados defendendo os fins se
favoráveis ao cristianismo.

46ª Justificativa: LIVRE ARBÍTRIO

Extremamente usado. Essa sempre é usada para responder à pergunta ―mas como deus
deixou acontecer algo tão horrível e não fez nada?‖

• Inclui alegar que ―tal pessoa escolheu tal caminho para o mal‖. Ou seja, infere a culpa na
própria pessoa/vítima, isentando o deus bonzinho de qualquer culpa por inação ou consciência
premeditada (a qual ele teria, devido à sua onisciência).

A principal falha desse argumento (óbvia para qualquer outra pessoa, exceto o fiel que a
defende) é que respeitar livre arbítrio impõe que se aceite receber um ―não‖, sem punir a
pessoa por isso (afinal, devido à onisciência, Deus já sabia qual seria a resposta). E então,
esse deus diz que se você não seguir o que ele diz, recebe punição e tortura eternas.

Tão medieval e atrasado é esse comportamento, que se tornou característico de ditaduras,


seja obviamente fascistas cristãos tentando dizer que ―não, isso é demonstrar amor divino‖.
Em geral me lembra como o finado Saddam Hussein ameaçava com uma arma quem dissesse
que ele não era um grande presidente.

• Outra falha desse argumento são passagens da Bíblia em que é claramente alegado que
Deus teria predestinado os escolhidos ao Céus. Logo, ―predestinado significa as pessoas não
teriam escolha de qualquer forma‖. Algumas das passagens notórias nesse sentido:

Efésios 01:05 – E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,
segundo o beneplácito de sua vontade.

II Tessalonicenses 02:13 – Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos
amados do SENHOR, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em
santificação do Espírito, e fé da verdade.

Marcos 13:20 – E, se o Senhor não abreviasse aqueles dias, nenhuma carne se salvaria;
mas, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias.

Onde a primeira desculpa tenta defender através da ―culpa da vítima‖, nessa segunda a culpa
nem seria dela, mas do deus que a predestinou a tomar tais atitudes. Experimentem jogar

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essas referências para um religioso e veja alguém ter uma ataque de histeria e argumentos
furados. O que não deixa de ser engraçado.

Acontece principalmente quando percebem que o argumento que acreditavam inquestionável


não funcionou, mas tentam tenazmente sustentá-lo até o fim dos tempos. Mesmo sendo
insustentável.

47ª Justificativa: ERROS DE TRADUÇÃO

Essa conta com achar alguma versão da Bíblia (dessas revisadas e atualizadas) que busca
esconder a contradição da versão anterior omitindo e alterando o texto para algo mais
conveniente.

Um exemplo típico:

Efésios 01:05 – Nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,
segundo o beneplácito de sua vontade. (versão João Ferreira de Almeida Atualizada)

Mas devido à óbvia contradição com trechos que defendem o livre arbítrio e os homens
escolherem seguir a deus invés de descerem ao inferno uma dessas versões ‗atualizadas‘
alterou para:

Efésios 01:05 – Deus já havia resolvido que nos tornaria seus filhos, por meio de Jesus
Cristo, pois este era seu prazer e vontade. (versão Nova Tradução na Linguagem de Hoje –
NTLH)

O que é apenas uma enrolação, porque o significado continua o mesmo. Afinal, o tradutor não
pode alterar o sentido do texto.

A principal falha desse tipo de argumento e contar especificamente com uma versão traduzida
para o português de acordo com a audiência brasileira mas se você checar um site como Bible
Gateway, onde você encontra 50 versões da Bíblia em 35 línguas diferentes você encontra:

King James (inglês)


Ephesians 1
5 Having predestinated us

Louis Segond (francês)


Éphésiens 1
5 nous ayant prédestinés

Reina Valeria - 1995 (espanhol)


Efesios 1
5 Por su amor, nos predestinó

La Nuova Diodatti (italiano)


Efesini 1
5 avendoci predestinati

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Vulgata latina
1:5 qui praedestinavit

Grego original
1:5 ????????? ???? ??? ????????? ??? ????? ??????? ??? ????? ???? ??? ???????? ???
????????? ?????

1:5 proorisas hmas eis uioqesian dia ihsou cristou eis auton kata thn eudokian tou qelhmatos
autou

????????? = proorizo = Having predestinated = tendo predestinado

Traduções convenientes são apenas mentirosas e muito mais comuns entre traduções
brasileiras pelo visto.

48ª Justificativa: VOCÊ VAI PARA O INFERNO

A utilização desse argumento é proporcional à falta de cultura do religioso e é uma extensão


da justificativa nº 4 (desespero). Inquestionavelmente, um argumento utilizado por uma
pessoa sem argumentos favoráveis à Bíblia na discussão.

Em primeiro lugar, porque isso não responde nada quando você aponta alguma das várias
contradições e erros óbvios da Bíblia (se Noé era santo como ele encheu a cara e sai andando
pelado? Gênesis 9:21), e apenas busca assustar quem fez a pergunta e distrair. Mas de uma
forma tola e ingênua, porque uma pessoa cética que não acredita em céu e muito menos em
inferno. Como, então, isso poderia funcionar?

A segunda contradição é ser um argumento de vingança. Algo no estilo: ―você vai ver, Deus te
pega lá fora‖. Atenta contra a (suposta) ―compaixão cristã e amor ao inimigo‖, quando eles
querem mais é ver o inimigo se ferrando no inferno (embora neguem).

Enfim de todos, é o argumento mais bobo, risível e difícil de levar a sério. E se um religioso ler
isso vai apenas repetir que iremos para o inferno mesmo…

49ª Justificativa: AUSÊNCIA DE EVIDÊNCIA NÃO É EVIDÊNCIA DE AUSÊNCIA

Quem nunca escutou essa? Geralmente usada quando a existência de Cristo é contestada. É
um caso particular da justificativa nº 10 (frases prontas). Ou seja, a pessoa fala essa frase,
e acha que a discussão acaba aí. Não passa de uma forma de convencer mais a si mesmo do
que ao cético à sua frente. Significa basicamente que, só porque não existem evidências que
tal fato ocorreu, não quer dizer que não ocorreu.

Essa falácia camuflada de lógica pode até enganar os mais incautos, pois à primeira vista ela
até faz um certo sentido. Porém, apenas no mundo da religião as coisas funcionam nessa
maneira.

Na Ciência, a ausência de evidência não significa nada, logo, tal fenômeno não existe. Na
paleontologia, química, física, biologia, botânica etc., a ausência de evidência não leva à

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conclusão de que tal espécie existe. Na criminologia, a ausência de evidência não leva
ninguém à cadeia.

É por isso que existem as paródias religiosas do Monstro Espaguete Voador, Unicórnio Rosa
Invisível, o Grande Coelho Atrasado entre muitas outras. Porque não existem evidências de
que elas não existem. Logo, pode-se inventar qualquer coisa.

Como elas usam o mesmo argumento falacioso da ausência de evidência, elas são tão válidas
quanto Jesus Cristo. Talvez até mais verossímeis.

50ª Justificativa: NA DÚVIDA, PREFIRO A LENDA

Muitas vezes o religioso diz: ―Se você está certo, então morremos e não perdemos nada. Mas,
se eu estou certo, então eu ganho uma recompensa no céu, e você não. Logo, prefiro arriscar
na segunda possibilidade‖ (ver A Aposta de Pascal).

Os anais da psicologia explicam isso. Nesse caso, os religiosos admitem que acreditam em algo
mais por medo, do que por qualquer outra coisa. Medo da morte, do inferno, ou de perder a
recompensa divina.

Albert Einstein já dizia: ―Se somos bons apenas por medo de uma punição ou por uma
recompensa, então de fato somos mesmo um grupo bem desprezível‖. E ele era teísta.

Os religiosos apenas esquecem dos critérios para escolher em que acreditar. Pois vai que
judaísmo é o correto. Ou então o islamismo. Ou o hinduísmo. Eles escolheram o cristianismo
apenas por ser mais popular ou imposição da família ou ainda qualquer outro motivo inócuo,
mas nada garante que ele seja mesmo a verdade que tanto procuram. Então, eles preferem
viver na ilusão, na fantasia, na sua zona de conforto.

Uma vez na zona de conforto, é muito difícil tirá-los de lá, porque é algo doloroso para eles.
Ironicamente, nesses momentos em que admitem ter medo, é quando há as maiores chances
de atingirem a razão, e se libertarem da fantasia. Como os terapeutas dizem, admitir o
problema é o primeiro passo a cura.

O medo faz coisas incríveis com o ser humano. Infelizmente, a maioria das pessoas preferem
evitar a dor, do que buscar o prazer. Se apenas não deixassem o medo dominá-los, seria o
primeiro passo para a razão.

51ª Justificativa: PARA DEUS TUDO É POSSÍVEL

Essa é usada quando o religioso realmente não quer pensar sobre o assunto e apela para a
resposta mais intelectualmente preguiçosa: ―Não vou considerar os dados contrários ao que
estou defendendo vou apenas assumir que Deus pode fazer qualquer coisa porque tenho fé e
fé exige aceitar o poder infinito de Deus‖.

Isso é bem preguiçoso, não é mesmo? Ao invés de considerar os argumentos contrários e


pesar o quanto de embasamento eles trazem apenas os ignora. É no estilo ―papai sabe tudo‖,

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não existe limites para o que ele pode fazer ainda que tudo mais indique que existem. Numa
discussão sobre outro assunto esse argumento funcionaria da seguinte forma:

– Seu pai tem uma renda de um salário mínimo e está empilhado de contas para pagar, ele
não pode te comprar e criar um pônei só porque você quer ou ele vai falir.
– Sim, ele pode tudo, nada é impossível para ele. Você que não acredita.

Digamos que tal pai acaba-se comprando um pônei, apenas para satisfazer tal peste e falisse
como a primeira pessoa alegou. Bom, esse tipo de argumento funciona da mesma forma.

Muito usado em discussões sempre que algo completamente absurdo é alegado na Bíblia,
como Deus parar o Sol no meio do céu (apesar de ser a Terra quem se move), inundar o
mundo inteiro por motivos pífios e tantos outros atos entre o nonsense, o ridículo e o infame.
A pessoa vai defender que Deus alteraria TODAS as leis da física (que supostamente ele teria
criado), todos os dados históricos sobre o assunto, tudo que poderia comprovar que aquilo
nunca aconteceu ou seria possível, pelo mero motivo de mostrar que pode – por mais
inconveniente e desnecessário que tal coisa fosse.

Por esse argumento, Deus seria um mero exibicionista para os profetas, ele iria parar o Sol no
meio do céu indiferente a todas as consequências para o resto da Via Láctea e catástrofes
naturais que pudesse causar, apenas para fazer o profeta ver uma sombrinha parada. Não
seria muito mais fácil ele ter mandado uma carta?

Não parece que um ser onisciente e superpoderoso teria coisas mais importantes com que se
preocupar, além de se exibir para profetas de meia tigela?

52ª Justificativa: O TESTEMUNHO DRAMALHÃO

Em geral, algo aparentado ter saído de uma novela mexicana, que deveria ser acompanhado
com alguma trilha sonora brega ao fundo, o testemunho dramalhão compõe-se pelo religioso
simplesmente do nada, sem ter nenhuma relação com o que foi dito ou está sendo discutido,
começa a contar alguma experiência pessoal a qual ele acredita ser uma prova definitiva para
ele que Deus existe.

Em princípio apontar algumas da inúmeras falhas da Bíblia não significa que a pessoa
necessariamente não acredita que deus existe (há muitas religiões que não crêem na Bíblia,
mas nem por isso deixam de acreditar no deus delas), apenas que não concorda com a visão
cristã sobre ou está simplesmente admitindo erros óbvios, contudo nem todos conseguem ter
o refinamento de perceber esse nuance. Acreditam que se convencer que Deus existe, a
contradição vai deixar de existir e apelam para o que acreditam ser ―a prova definitiva‖.

Algumas pessoas normais poderiam contar isso de forma natural, mas não esse estilo de
religioso. Nesse estilo a atuação dramática, o exagero aos detalhes ridículos e a ênfase
orgástica do momento em que se convencem é essencial. A intensidade emocional denuncia
perturbadoramente um caráter sexual mal resolvido nessa ―relação com Deus‖, que não
aparenta de forma alguma com um revelação espiritual ou insight; na verdade, o
comportamento desvairado mais denuncia a pessoa ter se tornado perturbada pela experiência
que mais resolvida e iluminada.

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Enfim, em geral a historinha começa com um descrição da ―época em que eu não tinha fé‖,
normalmente relacionada com uma época em que a pessoa possuía alguma forma de problema
afetivo/financeiro/tragédia ou desgraça do gênero (e para completar o quadro, andava com a
cabeça cheia de laquê e com 300kg de maquiagem, como as vilãs mexicanas). Segue para o
momento da ―prova‖ e finalmente (trilha sonora do Superman) o momento da ênfase orgástica
(na internet normalmente esse momento sempre é descrito com letras maiúsculas como
berreiro de gata no cio). Essas histórias em geral são loooooooongas, praticamente
intermináveis e totalmente inócuas.

No final dessa novela repleta de baboseiras, o tal ―depoente‖ espera ter convencido alguém de
alguma coisa. Mas, em geral, ele convenceu de: ―Este religioso tem problemas emocionais mal
resolvidos e decidiu fugir deles usando a religião‖.

Essa história, de um ponto de vista mais lúcido, poderia ser visto de forma um pouco menos
exagerada e desesperada como: ―Essa pessoa estava desesperada por alguma forma de
suporte emocional e se apegou a alguma história da própria cabeça, interpretou algum fato
que aconteceu como queria (ou fora induzida a isso) e agora sente a necessidade de repetir
constantemente, não para convencer os outros da existência de Deus, como ela alega, mas
para convencer a si própria‖.

Uma pessoa segura do que acredita não precisa convencer os outros ou se sentir ameaçada
por crenças diferentes. Ela pouco se importa com isso. Muito menos necessita se apegar tanto
a uma história que poderia ser facilmente discutida como ―mas e se você interpretou errado o
que aconteceu ou apenas viu o que você quis ver, não necessariamente o que aconteceu?‖

No meio religioso tais histórias são vistas como ―exemplos de fé‖ por suas características
novelísticas que alimentam as necessidades sexuais/emocionais que conduzem alguns a irem a
igreja. Assim como alguns assistem novela das oito, religiosos trocam esses testemunhos
entre si, e tanto novelas quanto esses testemunhos furados, não trazem crescimento espiritual
ou intelectual pra ninguém, só espetáculos de entretenimento mesmo.

Tanto uma coisa quanto outra (novelas e testemunhos-dramalhões) são vistos por pessoas
sensatas com um risinho no canto da boca e um sentimento de pena.

53ª Justificativa: NÃO ELABORAR O QUE DISSE

Isso caracteriza um comportamento geral do religioso médio. Após alegar alguma dessas
justificativas expostas aqui, ele não elabora o que quis dizer. Acredita que apenas por falar tal
coisa a discussão sobre o assunto acabou. Geralmente após algumas das frases típicas, como
por exemplo:

– Tal frase é metáfora (estranhamente, nunca diz metáfora do que ou o que significa);

– Texto sem contexto é pretexto (não explica qual acreditaria ser o contexto correto, se é que
efetivamente o sabe);

– Livre arbítrio (não explica porque Deus permitiu que tal coisa acontecesse, mas puniu
Sodoma e Gomorra, inundou o mundo e tantas outras partes da Bíblia que alega Deus ter
agido diretamente);

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– A Bíblia não é livro científico (mas não explica então que forma de lógica a Bíblia segue ou
porque a ciência não deveria ser aplicada ao trecho em discussão).

De uma forma geral, isso apenas denuncia seriamente que o religioso não tem profundidade
real ou argumento mais elaborado sobre o que acredita. Ele apenas acredita que dizendo tais
frases a discussão termina e demonstra, na verdade, não saber mais nada sobre o assunto
além das frases decoradas que não envolveram nenhum raciocínio pessoal sobre o assunto. O
denuncia como uma pessoa que está apenas repetindo frases de forma mecânica sem
compreender o que elas significariam ou implicam.

54ª Justificativa: CONCORDO MAS DISCORDO

Não passa de pura embromação. Esse se configura quando no meio de uma discussão, de
repente o religioso utiliza argumentos semelhantes (para não dizer os mesmos) que você está
usando mas tentando alegar que eles fazem a Bíblia inerrante.

Como parece que a maioria dos religiosos não conhecem muitas partes da Bíblia além da
Criação, o Dilúvio e os Evangelhos. Elas costumam ser muito usadas nesses 3.

No caso do Dilúvio você pode argumentar a possibilidade de ter havido um dilúvio regional. O
religioso vai afirmar que isso comprova que a Bíblia ―falou a verdade‖. Mas ela não disse isso,
ela disse ser um dilúvio no mundo todo que cobriu até as montanhas mais altas, ainda na
possibilidade de um dilúvio local seria uma situação extremamente diferente da descrita na
Bíblia. Logo, de qualquer forma, a Bíblia teria mentido, exagerado, distorcido o fato e não seria
inerrante (ver os comentários no Dilúvio Desmascarado).

Ao apontar isso, ao invés de admitir, o religioso vai desencavar mais provas da possibilidade
de um dilúvio local em vez de responder sobre a diferença entre o descrito e o possível.
Normalmente esse tipo de discussão irritantemente se conduz a duas pessoas falando
exatamente a mesma coisa mas o religioso buscando negar as conclusões óbvias (a Bíblia não
descreveu isso) com os fatos que provam ele estar errado. Demonstra uma forma de bloqueio
em não se permitir chegar às conclusões que as provas indicam, como descobrir o assassino
mas não querer admitir isso para si próprio.

A solução acaba sendo essa negação de ter todas as pistas mas não querer ver a respostas
que sabota o processo de raciocínio lógico do próprio religioso.

55ª Justificativa: OFENDER SUA INTELIGÊNCIA

Esse realmente se encontra entre um comportamento comum e irritante. Por mais que você
demonstre quão furados são os argumentos do religioso, ele tentar falar como ―você não
compreendeu o que eu disse‖ com um ar de superioridade, embora na verdade ele não tenha
evidentemente provado coisa nenhuma. Para alguém de fora, poderia inclusive ser bem óbvio
que ele perdeu a discussão contudo ele nunca poderia admitir isso, e insiste e insiste e insiste.
E não parará de te encher até você cometer um homicídio. Essa é a característica arrogância
cristã: ―eu estou certo, perdoa-os, Pai, pois não sabem o que fazem‖.

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Na verdade é uma forma de mau-caratismo intelectual (ou mentira da grossa mesmo) e
demonstra a clara barreira entre a pessoa e a realidade, pois ainda que perca ela não pode
admitir por um misto de arrogância, orgulho e aberta ignorância (além de estupidez) para com
o que esteja além de sua estreita visão de mundo. Normalmente, tal religioso pode até saber
que perdeu o debate e não provou nada, mas ainda tentará fazer a pose que saiu por cima
para manter aparências.

É mais ou menos como os políticos corruptos costumam fazer. Conta que não será denunciada
a falsidade de sua postura e que poderá sair pela tangente. Em geral a tática de ataque direto
costuma ser a mais efetiva apontando todos os pontos que a pessoa não defendeu, exigindo
respostas objetivas sobre o assunto sem desvios ou ataques pessoais.

56ª Justificativa: JÁ RESPONDI ANTES

Esse é um misto de embromação e mentira descarada. Ao entrar numa discussão, o religioso


alega que ―já respondeu antes‖, sem nunca demonstrar quando fora esse ―antes‖ que continha
a resposta.

A pseudoargumentação que o religioso tenta fazer é que a resposta estaria incluída em algum
comentário anterior como ―tal passagem da Bíblia que citei fala sobre isso‖, mas ele nunca vai
demonstrar especificamente porque estaria incluída, se nada indica isso.

Dependendo do religioso, ele vai alegar uma coisa qualquer que ele citou como ―tal link‖, ―tal
trecho‖ etc. Mas, ao ler, uma pessoa normal não consegue ver relação nenhuma entre aquilo e
o que está sendo discutido por mais que o religioso insista na relação. Uma tática interessante,
já que ele espera que você não vá verificar. Interessante, mas idiota. Pois fatalmente um
cético COM CERTEZA irá verificar.

Na verdade se houvesse uma relação, o religioso não diria apenas ―está lá. Você que vá
procurar‖, ele demonstraria como a pergunta foi respondida. Se ele realmente acredita haver
alguma resposta, deveria utilizá-la como argumento, mas ele nunca efetivamente responde
apenas diz: ―está lá, vá checar você‖. Inversão do ônus da prova. Falácia clássica.

Isso quando alegam estar em algum lugar, não apenas dizem ter respondido sem ter dito
quando, onde, como ou porquê.

ISSO É UMA MENTIRA!!!

Uma pessoa que possui argumentos bem construídos e embasados pode expressá-los
claramente, e não vai ficar jogando linhas vagas como essa. Linhas vagas é coisa de quem não
sabe do que está falando.

57ª Justificativa: CRITÉRIOS ALEATÓRIOS

Inconscientemente muito comum entre religiosos. Demonstra uma ingenuidade (e muitas


vezes completa ignorância) literária por parte de muitos religiosos, de não conseguirem fazer
uma visão geral sobre a Bíblia e criar um critério definido para julgá-la em geral.

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Ao invés disso, tratam cada trecho como não fossem parte de uma única obra coerente –
―plano de Deus‖ – como alegam, buscando validar alguns trechos úteis e reduzir a relevância
de outros conforme sua conveniência.

Isso demonstra uma pessoa que não tem um ponto de vista geral sobre o livro na verdade,
pois não consegue apreender todas as informações que retira dele numa forma uníssona.
Necessita alterar seus critérios de julgamento para cada parte assim poderá utilizar os trechos
que importam como ―inspirados por deus‖ e outros que não como ―não tão significantes‖.

Contudo a própria Bíblia em nenhum momento disse ela própria que tal trecho era menos
importante que o outro.

O exemplo mais típico disso são os trechos utilizados para disseminar homofobia como

Romanos 1:26-28 – Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas
mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os
homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com
os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa
que convinha ao seu erro. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus,
assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm;

Porém o critério de dizer esse trecho ser tão relevante também deveria ser aplicado a outros
trechos, como por exemplo, os trechos da Bíblia que suportam escravidão.

Mateus 24:50-51 – Virá o senhor daquele servo, num dia em que não o espera, e numa hora
de que não sabe, e cortá-lo-á pelo meio, e lhe dará a sua parte com os hipócritas; ali haverá
choro e ranger de dentes.

―Não há nada na Bíblia proibindo a escravidão, apenas a organizando. Podemos concluir que
ela não é imoral‖ – Rev. Alexander Campbell.

Fosse ser honesto, o religioso deveria assumir que se homossexualismo é errado, segundo a
Bíblia, ao mesmo tempo ela não alega escravidão o ser, logo assume-se como algo certo; e
como o ―dono‖ teria o direito de puni-lo. Honestidade intelectual e um critério uniforme sobre o
livro inteiro exigiria isso. Contudo, o religioso tenta alterar e inventar histórias para evitar cair
na arapuca que o próprio texto da Bíblia o coloca tratando como fossem partes de livros
completamente diferentes.

Por acidente, eles estão admitindo a falta de coerência da Bíblia ao se verem forçados a alterar
seus critérios de acordo com sua conveniência. Na verdade, eles só estariam usando trechos
da Bíblia que convém para justificar seus próprios preconceitos pessoais, e isso fica mais do
que claro nas argumentações religiosas.

58ª Justificativa: JAMAIS ADMITIR HOMOFOBIA

Homofobia costuma ser algo extremamente comum entre cristãos, isso inclui entre piadas,
comentários perniciosos sobre, negar direitos iguais aos de casais heterossexuais, buscar
―convertê-los ao heterossexualidade‖, através de um processo doentio de tortura mental por
culpa e repressão e promover encontros para ―curar‖ do que os religiosos consideram uma
doença.

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Em forma geral homossexuais costumam ser vistos como alguma forma de perversão sexual.
Obviamente uma visão asquerosa sobre outro ser humano, principalmente por partir de
discursos tão abertamente preconceituosos. Negar os direitos civis de casais homossexuais é
tratado como ―fosse algo óbvio que eles não devem ter‖.

Inclusive ao ponto de não se poder citar o termo homossexualidade sem ouvir looongos e
tediantes discursos preconceituosos sobre o assunto, porque alguns se sentem realmente
incomodados sobre isso (tendência homossexual reprimida talvez?).

Ainda com todos essas gritantes atitudes homofóbicas, o religioso típico nunca vai admiti-las
como homofóbicas. A desculpa mais típica é: ―tenho amigo gay‖.

Se for seu amigo, porque então nega ele ter os mesmos direitos civis de qualquer outro casal?

Neste tipo de diálogo, em geral, o religioso vai buscar usar a Bíblia inteira se puder para alegar
―não ser natural‖, inventar diálogos surreais sobre biologia sem base nenhuma etc. Para isso,
a ciência serve muito bem. Mas, quando se fala do comportamento homossexual de muitas
espécies selvagens, o discurso muda de novo.

O motivo na verdade é bem simples de entender: Uma pessoa só se torna homofóbica quando
não é sexualmente resolvida. Estamos falando de uma instituição que descobriu muito cedo
que deveria expandir seu número de fiéis através do conceito de ―família cristã‖. Pai, mãe e
filhos, filhos estes que crescem, formam outra família (cristã, é claro) e mais religiosos para o
mundo. Mais preconceituosos. E maior dominação das igrejas.

Enfim, para a igreja, a homossexualidade representa um risco a seus propósitos de


proliferação de fiéis para adquirir mais poder através de ―famílias cristãs‖.

Para os religiosos homossexualismo representa uma liberdade que eles não pode ser
permitida; pois se contrariassem a vontade da igreja, os religiosos estariam diante de um
―efeito dominó‖, que todas as outras repressões sexuais da igreja cairiam juntas como:

• Sexo somente depois do casamento

• Nada de divórcio e nem pensar em segundo casamento (tido agora como uma ―praga‖ por
Bento XVI).
• Sem masturbação.

• Sexo anal? Piorou!!!

Entre muitas outras coisas.

O que sinceramente deveriam cair mesmo porque, por mais que a igreja e religiosos gostem
ou deixem de gostar, sempre vai existir toda a listinha acima descrita, e as tentativa de traçar
linhas sobre como deveria ser o comportamento sexual das pessoas nunca funcionou em
nenhum outro lugar além do papel mesmo.

E a tentativa de reprimi-las SEMPRE gerou crueldades, injustiça, intolerância e nunca nada de


bom à história da humanidade. Não que alguma vez a religião mostrou-se justa, tolerante,
benevolente e extremamente bondosa.

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Afinal de contas, o que está aí para cristãos serem contra homossexuais? Cristo (caso tenha
existido) não negava sexo com mulheres, andava com 12 homens e foi entregue por um beijo
de um de seus apóstolos. Pelo menos, não há nada no Novo Testamento relatando o contrário.

59ª Justificativa: O QUE É VOCÊ SEM DEUS?

Frase típica entre os religiosos que acreditam significar muita coisa: ―Deus sem você ainda é
deus e você sem deus o que você é?‖

LIVRE!

Um ateu/agnóstico vai formar suas ideias baseadas em sua percepção e experiências pessoais
sobre a realidade que vive, não buscar encaixar a realidade a histórias mitológicas, que na
verdade nem foram feitas para a realidade contemporânea que vivemos. eles pensarão sem se
preocupar com limites e coisas que não deveria pensar sobre ou restringir sua visão de mundo.

Um ateu não acredita em nenhuma divindade. Logo, ele não sente necessidade de crer nisso
para conduzir sua vida. Ele apenas vive a vida e dá um ―que se dane‖ às divindades nas quais
ele não acredita.

Um agnóstico não vê necessidade de refletir como sua vida será melhor ou pior se um deus
qualquer existir. Sua filosofia implica que ele não conseguirá entender toda a essência de uma
divindade (seja ela qual for). No máximo, é um observador do comportamento humano no que
tange às religiões.

Tanto para um, quanto pro outro, seria perda de tempo dedicar-se a reflexões sobre sua
própria existência perante a crença num ser tido como superior que, mediante as pregações,
só sabe perseguir, matar, escravizar, chacinar e esmagar qualquer um que não o aceite.

Se um ateu/agnóstico fizer algo bom, será porque se importa com o seu semelhante e não por
medo de ―queimar no inferno‖ (algo sem sentido para os dois). Eles não irão se obrigar a
converter outros a acreditarem no mesmo que eles, para nunca ter de admitir as falhas do que
acreditam. Eles aceitam que outros tenham crenças diferentes das suas, baseados em suas
experiências de vida, mas não que essa crença alheia lhe seja imposta.

É a regra do viva e deixe viver.

No fim das contas, sem a ideia de um deus te olhando para cada coisa que você faz, você se
torna mais responsável por seus próprios atos, ao invés de atribuí-lo a ―entidades‖ como
deuses, demônios ou coisas do gênero, para nunca desenvolver sua autocrítica.

Deus sem você é nada, você sem ele é você mesmo.

60ª Justificativa: LIVRO COM MAIS CÓPIAS NO MUNDO

Argumento barato usado aleatoriamente em discussões ainda que não tenha nada a ver com o
tema do debate (como sempre).

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Assim como a justificativa nº 8 (associar longevidade com verdade), essa se baseia em
buscar associar qualidades à Bíblia que não validam de forma alguma o que ela alega. Uma
extensão de ―quantidade vale mais que qualidade‖.

As falhas desse argumento:

• Não existem contagens de quantas cópias da Bíblia foram impressas desde a época de
Gutemberg até hoje, porque nunca houve contagem. Existe uma estimativa de 1816 até
1975 seria entre 3 a 6 bilhões de cópias pela Bible Society. Outros livros de destaque entre
mais impressos do mundo são o Corão, quotações de Mao Tsé tung (dito estar nas mãos de
todo chinês adulto entre 66 a 71), Guinness Book of Records entre outros.

Mas esses citados pessoalmente não teriam um milímetro de valor acima de algum livro de
poesias do Drummond ou de contos do Borges os quais com certeza teriam números muito
menos impressionantes de cópias. Isso sem falar em Shakespeare, Camões, Homero,
Maquiavel, Voltaire e por aí afora.

• As versões mudam conforme os interesses. As ―Novas Traduções da Linguagem de Hoje‖


acabam diferindo muito. A Bíblia usada pelos protestantes é diferente da Bíblia usada pela
Igreja Católica. Logo, teriam que ser computadas em separado, o que reduziria essa
quantidade alegada. A não ser que possamos contar num único grupo todos os livros de
culinária do mundo e eleger a ―Dona Benta‖ a maior porta-voz das ―Verdades Celestes
Alimentícias‖…

• Muitas coisas são consumidas em massa, indiferente à ser algo bem ou mal escrito. De
forma geral trabalhos mais elaborados literariamente que exigem uma bagagem cultural mais
rica se tornam naturalmente elitistas, pois boa parte da população não tem ―refinamento
literário‖ como uma prioridade em suas vidas. Nada de errado com não terem, trabalham, tem
mais o que fazer, mas é apenas um fato que pode tornar o julgamento da qualidade
questionável quando baseada exclusivamente no número de vendas.

Afinal vamos ver quantas bombas fizeram sucesso nos últimos anos: filmes do Rambo, bandas
de pagode, Britney Spears, Paris Hilton, Sílvio Santos, Gugu, Lair Ribeiro, Xuxa, Faustão, Dan
Brown, novelas da Globo etc, etc e etc.

Todos no topo da lista de sucessos. Alegar que um livro está correto por ser o que mais vende
implica o critério de algo ser bom ou mau a partir do seu sucesso. Por consequência implica
que a Bíblia é tão correta quanto o vídeo pornô da Paris Hilton que também tem cópias pelo
mundo todo.

61ª Justificativa: NINGUÉM É FELIZ SEM JESUS

Boa parte da necessidade de autoafirmação do religioso baseia-se em ―eu sou mais feliz que
alguém que não crê‖.

Na realidade, por extensão essa crença os conduz a tentar justificar um monte de formas de
censura como ―os jornais não deveriam mostrar tanta desgraça‖ (ainda que seja realidade),
―não se deveria falar palavrão na TV‖ (não conheço ninguém que reze um terço depois de dar
uma topada com um dedão tendo unha encravada), ―cenas de sexo são um absurdo‖ (mas,
quando elas aparecem, todos eles ficam grudados na tela babando) e todas as outras formas

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de expressão que poderiam potencialmente retirar o religioso de uma visão positivista do
mundo.

Para se acreditar ―ser mais feliz‖ é renegada a informação negativa, conduzindo à ignorância e
imaturidade.

O principal problema disso é que não justifica a crença em si, não vai esconder as
contradições, erros e esquisitices da Bíblia, que simplesmente sempre vão existir indiferente à
crença. Na verdade, suborna os fiéis com a promessa de não questione para ser feliz, ao
mesmo tempo que busca amedrontar os fiéis que ―você deixará de ser feliz se questionar‖. Se
uma promessa vã não funciona, partem para a ameaça.

Entretanto, ninguém precisa da Bíblia para ser feliz, ou qualquer crença religiosa na verdade,
pois a felicidade está muito mais para algo que se conquista através de esforço e dedicação
que simplesmente buscar negar que existem coisas erradas sem nunca resolvê-las.

Lutar por felicidade pessoal é mais importante que fé, pois uma pessoa feliz causa menos
danos que alguém fugindo da realidade.

62ª Justificativa: EU DIGO AS BESTEIRAS, VOCÊ PROCURA AS FONTES

Esse argumento é usado por religiosos como maneira de se esquivar quando falam alguma
bobagem pseudo-científica. Por exemplo:

Religioso: Ora, já foi provado que o dilúvio existiu e existem milhares de provas documentais.
Saiu na National Geographic, no Canal Discovery, e no History Channel.

Cético: Engraçado. Sou assinante desses serviços e nunca vi. Mostre-me uma prova sobre o
que você está falando.

Religioso: Ah, não. Se você está interessado em ver, procura que você acha.

Ou seja, é um misto de preguiça com deslealdade, na esperança de desobrigá-lo a admitir que


falou uma bobagem. Uma falácia chamada ―inversão do ônus da prova‖.

Cabe aos debatedores insistirem para ele colocar as fontes.

63ª Justificativa: REFLITAM SOBRE ISSO

Uma introdução ou término para alguma asneira colossal.

Nesse tipo de início de frase, a ideia do religioso é ―quebrar o padrão do que está sendo
discutido, trazendo uma nova visão mais profunda sobre o assunto‖. Naturalmente, tal visão
deveria ser apresentada, elaborada e talvez convencer os outros ou não. Mas com a tática do
―reflitam sobre isso‖, o religioso já está querendo dizer que o que foi, ou está para ser, dito é
profundo de alguma forma e merecia mais atenção. Não importa quão irrelevante ou óbvio o
que foi dito pareça aos outros.

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Como se assume algo antes de ver a reação dos outros, caracteriza arrogância porque em
geral o que segue é bem ridículo e medíocre. Costuma ser algo como alegar uma forma de
visão que foge completamente do tema discutido para falar de alguma outra coisa, como ―tal
exemplo de milagre‖, ―a bela visão de passagem tal‖, ―a profundidade do sei-lá-o-que‖ etc.
Sempre fugindo do tema ou tenta superestimar a qualidade do argumento apresentado.

Afinal, ninguém aqui está procurando guru, só ouvir outros pontos de vista sobre o assunto.
Quando alguém disser ―reflita sobre‖ se prepare que lá vem asneira.

64ª Justificativa: VAMOS RESPEITAR AS LENDAS DOS OUTROS?

Vez por outra aparece um religioso pedindo ―respeito a Deus‖, que com ―Deus não se brinca‖,
e ficam indignados quando dizemos que Deus é um sádico, manipulador, cruel, omisso,
conivente, etc.

Porém se esquecem que estamos falando de uma abstração, uma ideia.

Qual o problema de se ofender uma ideia? Se dissermos que a ideia da Terra Oca é ridícula,
ela ficaria ofendida? Deveríamos respeitar um produto da imaginação de alguém?

Vamos respeitar os vampiros, os lobisomens, os duendes, os sacis etc. porque, você sabe, com
eles não se brinca…

Essa desculpa é logo seguida por várias outras, como se fazer de vítima, desespero, etc.

É infundada, pois não está se ofendendo uma pessoa. Não é um ad hominem. E se Deus ficou
ofendido, ele que se manifeste e diga por si próprio. Como ele não se manifesta, assume-se
que ou ele não existe, ou ele não ficou ofendido.

65ª JUSTIFICATIVA: MILAGRES

Muitas vezes o religioso abandona o tema do debate e usa essa (e as outras desculpas) como
falácia do espantalho e do apelo à ignorância. Ou seja, no desespero de querer convencer
alguém, parte para os misteriosos milagres que ninguém explica.

Em primeiro lugar, só porque não há uma explicação ainda, não significa que foi obra divina.
Isso é básico no guia de falácias. Mesmo assim, os tais milagres são facilmente explicados
quando se leva em conta o ―efeito placebo‖.

Antes de um medicamento novo ser lançado no mercado, é obrigatório por lei a estudar o
efeito placebo. Ou seja, o remédio é dado para metade dos voluntários, e a outra metade
recebe pílulas de farinha. O que acontece é que algumas pessoas têm tanta fé, no que quer
que seja, em Deus, em Jesus, em Buda, em algum santo, em si mesmas, enfim, em qualquer
coisa, que elas, achando que estão tomando o remédio verdadeiro, se curam com as pílulas de
farinha!

Elas até apresentam sintomas dos efeitos colaterais, como náuseas, tonturas, inclusive
irritações na pele e alergias! Ou seja, uma sugestão mental proporcionou uma ―cura

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milagrosa‖. E não são doenças banais não. Há casos documentados de tumores que
regrediram com os placebos.

Enfim, o que a igreja representa nesses milagres é justamente isso, o mecanismo de defesa é
ativado no cérebro, que pode causar uma cura milagrosa, por causa da vontade de viver do
paciente.

Existem outras explicações perfeitamente possíveis. Por exemplo, um milagre muitas vezes é
esquecido depois de um tempo, e os sintomas acabam voltando. Mas a história do ―milagre‖
permanece.

Outra, os milagres atuais dificilmente passam de dores de estômago, gastrites, dores de


cabeça, etc, que podem muito bem ser curadas pelo efeito placebo. Agora, fazer cegos
enxergarem, aleijados caminhares, e surdos ouvirem, isso ninguém faz…

Para finalizar, existem pessoas que rezam em hospitais. Se eventualmente uma pessoa ou
outra se curar, não invalida o fato de que várias outras morreram, mesmo recebendo as
mesmas orações.

66ª Justificativa: ESQUIZOFRENIA CRÔNICA

Incrível como os religiosos esperam convencer alguém assim. Eles alegam que são capazes de
conversar com Deus. E o pior: Deus responde!

Interessante, não é? Seria curioso investigar mais a fundo esses casos, perguntando qual é o
timbre da voz de Deus, ou se é voz de homem ou de mulher, etc. Mas muito cuidado, pois
pessoas que ouvem vozes podem ficar violentas quando contrariadas. A não ser, é claro, que
seja charlatanismo puro e simples.

Ouvir vozes é obviamente inválido como argumento, pois se trata de uma experiência pessoal,
portanto passível del ser falseada. Gostaria apenas de saber qual o motivo de o fez ser um
―escolhido‖ de Deus, para escutar a sua voz, enquanto 99,99999% da população não teve
tanta sorte. Mesmo os líderes religiosos. E ainda dizem que Deus não faz acepção de pessoas…

67ª Justificativa: OLHA A TRAVE NO SEU OLHO

Essa justificativa é usada quando o religioso se sente encurralado com seus argumentos, e
resolve apontar os erros nas religiões dos outros, e até na Ciência, de forma a tentar
minimizar os erros da Bíblia (nem que ele tenha que inventar esses erros).

Por exemplo:

– A Bíblia é machista sim, mas o islamismo é muito mais machista

– É claro que o criacionismo é verdadeiro. A ciência não é capaz de responder de onde viemos.

– A Bíblia é cruel sim, mas Hitler fez muito pior e ele era ateu (apesar de ter recebido ajuda de
Pio XI).

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Por incrível que pareça, esses exemplos acima foram tirados de discussões reais. Fica claro
que eles sequer sabem do que estão falando. E mesmo que fosse verdade, isso não diminui de
maneira nenhuma os erros da Bíblia e do cristianismo. Um erro jamais justificará outro.

A não ser na visão bíblica, é claro.

68ª Justificativa: VOCÊS FOGEM DA VERDADE

Numa crise de auto-justificação, quando o religioso perde alguma forma de debate, ou é


evidente e esmagadoramente refutado, ele acaba alegando isso, como se fosse uma verdade
definitiva.

Curiosamente, como em muitas outras coisas ditas por religiosos, ele nunca esclarece qual
―verdade‖ seria essa. A bem dizer essa ―verdade‖ parece significar que você deveria ir a uma
igreja repetir frases com um grupo todo domingo de forma mecânica, sem raciocinar sobre
seus significados, assumir que a Bíblia possui uma mensagem extremamente relevante,
embora não exista motivo para ela ser algo mais relevante à sociedade contemporânea que
pensadores muito mais recentes e de pensamento muito mais elaborado etc.

Enfim, assume que qualquer pessoa com um ponto de vista diferente de ser um religioso ―não
está ouvindo a verdade‖. É um argumento tão auto-propagandístico – e sem nenhuma base de
suporte – que fica difícil de levar a sério. Evidentemente a palavra ―verdade‖ está sendo usada
aleatoriamente quando a pessoa não foi capaz de justificá-la através de argumentos sólidos.

Desse modo, qualquer um pode dizer ―você está fugindo da verdade‖ quando alguém discorda
da sua opinião. Agora, a forma como você prova sua opinião ser mais próxima de ―verdade‖
quando apresenta motivos, evidências e razões pelos quais ela seria.

Senão, nós temos alguém defendendo peixes voarem no sertão e quando você diz ser
absurdo, ela sai te olhando torto ―você foge da verdade‖. A alienação não conhece fronteiras.

O conceito de verdade, embora subjetivo e amplamente discutido em filosofia, no contexto


dessa justificativa está sendo utilizado apenas como uma palavra aleatória, e não um conceito
real e embasado.

69ª Justificativa: QUEM ÉS PARA COMPREENDER DEUS?

Nessa justificativa o religioso apela para reduzir a raça humana inteira como fosse incapaz de
compreender os panos de alguém superior com conhecimento ilimitado e acima de todos nós
juntos…

Bom, todo esse glamour do poder divino, sua onipotência e tudo o mais pode parecer muito
bonito no papel, mas esse argumento tem um efeito colateral bem nocivo ao que o religioso
está buscando te convencer: ―Se ele é tanto que eu nunca vou conseguir compreender, porque
eu deveria me importar então?‖

A descrição de um deus completamente fora dos padrões de vida humana que conhecemos o
torna inválido, pois julgamos a existência a partir de nossa perspectiva de vida e do que temos

57
como importante e valioso. Isso é o que a raça humana tem para analisar e compreender a
vida, consequentemente e, principalmente, nesse caso os valores não deveriam ser alterados
por motivos que não são explicados de forma alguma.

Ou seja, se alguém ordena o extermínio de pessoas do mundo inteiro, como no dilúvio e


apocalipse, isso ainda caracteriza um ato de crueldade imperdoável para o que damos valor.
Se existem ―motivos que não somos capazes de compreender‖, bom, eles não nos importam
nada se o que compreendemos é ver uma pilha de cadáveres de conhecidos, amigos e família,
além de termos de contar e enterrar corpos depois da ―TPM divina‖.

Nós podemos não compreender deus, segundo os religiosos fazem crer, mas compreendemos
o que é certo ou errado. Compreendemos que crueldades como essas são extremamente
desnecessárias e se um deus as exige, então nós não precisamos desse deus.

Esse argumento torna Deus, não só inútil, mas perverso e digno de desprezo para qualquer
pessoa com um mínimo de bom senso.

70ª Justificativa: POR QUE DEUS NÃO SE MANIFESTA?

Religiosos: Ora Deus não se manifesta porque Moisés viu. Quando ele viu as costas de Deus,
ficou todo maluco…

Ou então: Porque se virmos Deus, todos nós seremos esmagados…

Ou ainda: Não preciso vê-lo. Eu acredito que ele existe e isso me basta.

Para terminar: Você é um incrédulo e vai arder no Inferno, amém!

71ª Justificativa: POR QUE OS ATEUS PENSAM TANTO EM DEUS?

Quando já acabaram os argumentos, toca menosprezar os ateus (para eles, qualquer um que
não siga a fé deles, é ateu. Mesmo agnósticos membros de outras religiões etc).

Na verdade é um apelo à misericórdia. Fazem-se de coitadinhos e pretendem com isso desviar


o assunto. Pena que é um subterfúgio tolo e ridículo.

Ninguém precisa se interessar por genocídios para estudar e compreender a mente de


psicopatas.

72ª Justificativa: DEUS É IMATERIAL?

Os religiosos quando questionados sobre como é possível que Deus se autocriou ou que ele
esteja em todos os lugares, ou que ele seja ―omni-tudo‖ (só nos cabe usar essa expressão
para designar as coisas que deus é, mediante os religiosos), os religiosos dizem que Deus é
imaterial, por isso não respeitas as leis físicas… Engraçado né? Ele não é material mas faz

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―coisas‖ materiais..sem nexo nenhum. Ou ainda: cria leis que ele mesmo viola, no melhor
estilo ―faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço‖. E disso, está repleto na Bíblia.

O mais engraçado é que os religiosos refutam a Evolução (sem argumentos, como sempre)
porque dizem que é impossível alguma coisa ter surgido do nada, afinal tudo tem que ter um
começo… Ainda assim, dizem de peito cheio que Deus veio do nada. Ou para os mais
―distraídos‖ dizem que Deus sempre existiu, mas se esquecem que tinham dito que tudo tem
que ter um começo. Eitcha paradoxo…

73ª Justificativa: CONCILIAR AMBIGÜIDADES

Esse consiste na base do pensamento cristão, e que sustenta alguém seguir a Bíblia: ―Conciliar
ambiguidades opostas‖.

Buscar conciliar a ideia de um deus bondoso contra a lista de crimes contra humanidade que
ele comete durante a Bíblia, que vai desde dilúvio e extermínio de toda a raça humana por
Noé, até o extermínio de milhões, conforme descrito no Apocalipse.

Em qualquer outra situação qualquer pessoa, inclusive cristãos, alegaria tais crimes como
imperdoáveis. Contudo quando aplicados a Deus‖ toda forma de argumento para defendê-lo
aparece. Como, digamos, um advogado dos nazistas no julgamento de Nuremberg faria.

As tentativas de defesa (que nunca passam da tentativa) normalmente se baseiam em buscar


evitar que as pessoas tenham um visão completa da cena descrita (pois se alguém imagina
crianças mortas, dificilmente imagina uma pessoa boa por trás disso) para prender o leitor em
detalhes históricos irrelevantes, desculpas esfarrapadas ou qualquer outra coisa que distraia o
leitor de assumir o óbvio: Isso não apenas é cruel como imperdoável.

Exemplos claros de atrocidades ordenadas por deus na Bíblia temos:

I Samuel 15:2-3 – Eu me recordei do que fez Amaleque a Israel; como se lhe opôs no
caminho, quando subia do Egito. Vai, pois, agora e fere a Amaleque; e destrói totalmente a
tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até à mulher, desde
os meninos até aos de peito, desde os bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos
jumentos.‖

Números 31 e Oséias 13 também não são contos de fadas com final feliz. Fariam até mesmo
Hannibal Lecter ter pesadelos. Este deus eles defendem como ―bondoso‖.

74ª Justificativa: A MORAL OBJETIVA É DEUS

Deus serve para nos manter na linha, mas é através do medo! Se errar, vai para o Inferno e
se portarem bem (tradução: se escravizarem-se moralmente) vão para o Céu…

Mais interesseiro por parte dos religiosos impossível! E depois são os ateus e agnósticos que
responsáveis por essas desgraças que vemos diariamente Afinal, ateus/agnósticos, com sua
falta de fé, insultam Deus e este se vinga em todo mundo.

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Mas, convenientemente, ―esquecem‖ que as maiores atrocidades foram feitas em nome de
Deus, basta ler os livros de história.

Entre uma moral objetiva que é estranha (mata e faz vida segundo a Bíblia, como quer e bem
entende) é preferível a moral subjetiva dos homens que não se diz infalível, mas tenta ser…

75ª Justificativa: DEUS MANDA E DESMANDA, AFINAL CRIOU TUDO

É muito comum os religiosos aparecerem com desculpas toscas como esta:

Deus elegeu de antemão algumas pessoas, as quais irá efetivamente salvar, ao longo da
história. Os demais foram (igualmente de antemão) destinados à condenação eterna. Isso é
justo porque:

1) Ele é o criador do Universo e também dos seres humanos. Assim pode fazer o que quiser.
2) Ele detém uma lei moral a partir da qual tudo é justificado como certo ou errado, justo ou
injusto.

É um completo equívoco e disparate supor que o homem possa questionar qualquer ação
divina, partindo do seu código pessoal de ética subjetivo (e pervertido pelo pecado).

Então, Deus criou tudo e pode fazer o que lhe apetecer, quer matar? Mata! Quer criar? Cria!
Para depois matar de novo, óbvio. E não deve nada a ninguém, afinal ele é Deus e nós não
somos nada.

Isso é mentalidade de um Deus (um ser que alegam ser onisciente)? Para os religiosos sim. E
ainda dizem que é justo. Mas analisando isso, teremos um sério probleminha nas mãos dos
religiosos. Afinal, isso contraria o livre arbítrio.

Mas um religioso em média não pensa, e associam o livre arbítrio com a seleção que Deus já
fez antes de nascermos. Isso é possível? Na mente de um religioso sim. Também quem lê a
Bíblia e viaja com as histórias de Adão e Eva, Arca de Noé, Criação do mundo em seis dias.
Bem, é só mais uma bobagem a mais e não fará diferença no final das contas.

76ª Justificativa: USAR A FRASE PRONTA “NÃO DÊ PEROLAS AOS PORCOS”

Quando o religioso em uma discussão disser isso, pode ter certeza que na verdade ele quer
dizer: Eu não tenho argumentos bons para poder te refutar, e seu eu tentar refuta-lo com a
Bíblia não conseguirei respostas e verei que a Bíblia tem falhas, mas o meu orgulho me
impede dar o braço a torcer, se eu fizer isso e admitir a minha derrota serei taxado como
incompetente perante os membros da minha igreja, e estarei dando a vitória para Satanás
(que na verdade é o argumentador).

Isso é muito comum nas comunidades religiosos pois não aguentam a humilhação causada por
pessoas que pensam e sabem que a ciência desmente a Bíblia totalmente.

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77ª Justificativa: CAI NA PERDIÇÃO

Característico de inseguranças pessoais do próprio religioso.

Esse é extremamente repetido, mas o que significa é o seguinte: ―Se eu sair da igreja é o que
EU faria‖.

Admite ter interesse nessa ―perdição‖ de cair em festa, drogas e bebida, mas precisa de uma
trava para se segurar.

Só se pode julgar a partir de experiência pessoal, se uma pessoa acredita que a igreja é a
única forma de manter autocontrole eles não estão defendendo existência de um deus
qualquer, mas uma imposição de comportamento, a base da propaganda fascista.

Bem, a realidade é que nem todo mundo precisa dessa trava, isso não tem relação com
crenças mas ser pessoalmente responsável. Ser religioso, ateu, agnóstico é irrelevante pois
existem casos extremos em todos os lados.

Essa justificativa se baseia em chantagem emocional e buscar afetar o senso de segurança da


pessoa (ver justificativa nº 25: Porque Cristo te incomoda?).

Na realidade, se você precisa de religião para não fazer besteira é porque você QUER fazer e
eventualmente vai fazer na primeira oportunidade (e depois alegar que estava sob domínio do
demônio). Irá buscar reter algo por tanto tempo, que o acúmulo torna a explosão muito mais
intensa do que fosse feito aos poucos casualmente e de forma relativamente equilibrada.

É um motivo que pode levar a uma tentativa de justificar comportamentos doentios como
pedofilia, pastores usando drogas e os casos característicos de igrejas que se baseiam no
princípio de ―quero fazer, mas não vou deixar que saibam‖. A mentira mútua em que tantas
igrejas se baseiam.

Existe tanto uso de drogas, homossexualismo e perversão sexual na comunidade religiosa,


como em qualquer outra. Não se altera a natureza humana. Eles apenas negam e escondem
com hipocrisia.

Outras comunidades assumem e lidam com as questões envolvidas de forma mais racional,
razoável e equilibrada sem o senso de culpa desnecessário. Afinal, quem acha que um religioso
berrando nas ruas que ―deus o livrou das drogas‖ parece algo muito equilibrado?

78ª Justificativa: A IGNORÂNCIA VENCE CONHECIMENTO

Um conflito característico de discussões com religiosos está em que boa parte dos casos,
quando eles tentam refutar dados científicos, eles demonstram total desconhecimento sobre
Ciência. Isso em linhas gerais, claro que existem cientistas cristãos. Ciência não exclui religião
nenhuma (apesar do que tentam propagar); ela apenas apresenta fatos que inviabilizam esta
ou aquela historinha sem pé nem cabeça. Isso significa que uma religião acabaria? Deus
precisa de fatos absurdos para poder existir?

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O consenso no meio de igrejas é que o conhecimento contrário às alegações bíblicas não é ―o
verdadeiro‖. Qual a base para alegar que tal conhecimento é mesmo válido dentro dos
parâmetros e bases do que foi alegado? Em geral nenhuma.

Se visto em profundidade, os argumentos contrários à afirmações como ―a Bíblia não foi


copiada de outras mitologias‖ tem muita pouca base real no que alega ou, para não dizer
100% dos casos, uma base muito menos pesquisada e/ou intelectualmente honesta sobre o
assunto.

Ainda assim, tais argumentos sem base são tratados como devessem ter a mesma validade e
peso. Como o trabalho do primeiro grau devesse ficar ao lado da tese de mestrado.

Essa falta de senso crítico demonstra mais uma defesa da própria ignorância sobre o assunto
que busca aprender realmente sobre o que se está falando. A ausência de assumir os
diferentes níveis de argumentos entre mais ou menos embasados busca tornar todos
supérfluos e esconder o que faz mais sentido.

Dessa forma, um ignorante não precisa se admitir errado (coitadinho dele, vamos seguir essa
bobagem que ele está defendendo e abandonar todo o conhecimento contra isso que a
humanidade desenvolveu nos últimos dez mil anos). Ao invés de elevar quem está no nível
básico, busca rebaixar quem está no nível mais adiantado. Isso soa a buscar evoluir de alguma
forma?

79ª Justificativa: A NASA PROVOU!

Religiosos formam uma raça engraçada. Nunca aceitam nada do que a Ciência diz, mas
quando é pra tentar refutar alguma coisa, aparecem logo com ―A NASA provou!‖. Isso é de
uma estupidez sem limites, pois a NASA (National Aeronautics and Space Administration) cuida
apenas do que seu nome refere: Aeronáutica e Espaço.

 A NASA provou a história fake de Josué, através de um dia perdido


 Cientistas da NASA provaram que o Sudário de Turim é verdadeiro
 A NASA contatou as aparições da Virgem Maria
 A NASA mostrou que Jesus existiu, conforme os Evangelho…

NASA isso… NASA aquilo…

A NASA comprou que o Universo expande. Isso os idiotas religiosos falam? Não! A NASA
estuda como as estrelas surgem e sobre a datação do Sistema Solar em muito, mas muito
mais que os aproximados 5700 anos que os religiosos instem que a Terra possui. Os religiosos
dizem isso? Não, né?

A NASA é uma grande entidade científica e já refutou muitas bobagens que os tolos religiosos
insistem em pregar nos cultos. Ela acabou se tornando um modo deles fazerem valer suas
crendices, mostrando total ignorância científica sobre a natureza da instituição.

Claro que de ignorantes não se pode esperar muita coisa.

62
80ª Justificativa: JESUS DIVIDIU O CALENDÁRIO

Uma das desculpas mais estúpidas.

Pra princípio de conversa, Jesus não fez nada porque não existiu. E mesmo que tivesse
existido, não faria diferença. O calendário gregoriano (que é utilizado na maior parte do mundo
e em todos os países ocidentais) foi promulgado pelo Papa Gregório XIII a 24 de Fevereiro do
ano 1582 para substituir o calendário Juliano.

A determinação do ano corrente se dá teoricamente quando Jesus Jóquei de Jegue teria


nascido. Este ano foi calculado por um camarada chamado Dionísio Pequeno em 525 E.C. (Era
Comum) e instituído pelo Papa João I. O mais curioso é que se for tomar as narrativas bíblicas
como base, Jesus teria nascido 6 anos antes do ano I da E.C. hehehe

Ou seja, Jesus (caso tivesse existido) não seria provado pelo calendário, já que erraram
brutalmente quando ele nasceu (será que ele nasceu antes dele aparecer no mundo?) e, de
qualquer forma, pouco importa. Foi uma determinação papal em 1582 e usado até hoje em
países cristãos.

Ora, e o Calendário Chinês? E o Muçulmano? E o Hebraico? Calendário é o que não falta. Cada
um com sua forma de contagem. Calendários não provam nada. Se provam, então TODOS os
cristãos terão que aceitar os santos da Igreja Católica, ora bolas.

Três deuses, um funeral

Três deuses, um funeral (parte 1)

Publicado em 25/05/2010 por Barros

Sumário
Três deuses, um funeral (parte 1) ............................................................................ 63
Três deuses, um funeral (parte 2) ......................................................................... 65
Três deuses, um funeral (parte 3) ......................................................................... 67
Três deuses, um funeral (parte 4) ......................................................................... 68
Três deuses, um funeral (parte 5) ......................................................................... 70
Três deuses, um funeral (parte 6) ......................................................................... 72
Três deuses, um funeral (parte 7) ......................................................................... 73
Três deuses, um funeral (parte 8) ......................................................................... 76
Três deuses, um funeral (parte 9) ......................................................................... 78
Três deuses, um funeral (parte 10) ....................................................................... 79
Três deuses, um funeral (fim) ............................................................................... 81

63
Isaías; 1:3 O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas
Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende.

Essa ―fala‖, comparando o povo de Israel a um boi e a um jumento, é de Deus, um tanto


quanto estressado com o seu ―povo escolhido‖, que, como sempre, não estava puxando
adequadamente o seu saco.

Um Deus um pouco mais inteligente, teria percebido, de cara, que nenhum povo, por mais
primitivo ou humilde que fosse, iria nunca gostar de se sentir possuído por alguém, muito
menos da forma como um animal é possuído por seu dono. Mas é assim que Deus vê sua
obra-prima, de acordo com o livro sagrado que ele usa para ser revelado ao mundo.

E sorte deles por isso, porque nem toda a obra-prima de Deus teria a mesma sorte:

45:1 ASSIM diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater
as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas,
e as portas não se fecharão.

É. Existiram nações, no plural, que deveriam ser abatidas pelo ―povo escolhido‖. Aí vem a
pergunta inevitável: ―Quem teve mais sorte nesse universo: os que nasceram fazendo parte da
nação que é tratada como um animal, ou todo o resto que não teve a honra de ser escolhido
pelo Criador de todas as coisas e foi predestinado a sucumbir pelo fio da espada dos seus
apadrinhados?‖ Ou seja, é estar entre o cabresto e a espada.

45:7 Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas
estas coisas.

64
A Bíblia está repleta de coisas desse tipo (ou pior que isso) que depõem fortemente contra a
ideia de um Deus, ao mesmo tempo, todo-poderoso e, adivinhem, bonzinho. Um Deus de
amor.

Um crente que venha até você com essa ladainha de que o Deus dele é um Deus de amor, ou
é um grande hipócrita, ou um grande imbecil, ou um analfabeto, coitado, que só conhece da
Bíblia o que o padre ou pastor leem para ele aos domingos.

Eu toleraria os dois últimos, porque não se escolhe ser analfabeto, ou imbecil. Mas ai de vós
hipócritas! Que, por fora, são como os túmulos caiados de branco, mas, por dentro, estão
cheios de imundícies! Vosso Deus foi nascido da hipocrisia da palavra e pela palavra é mantido
vivo e perfazendo todos os tipos de barbárie ao longo dos séculos. Assim sendo, também pela
palavra eu destruirei vossa hipocrisia e vos entregarei de volta o vosso Deus.

Morto.

Três deuses, um funeral (parte 2)

Publicado em 26/05/2010 por Barros

Vamos com calma, que o caminho é longo. É que há hipocrisia demais e Deus de menos.

No primeiro texto dessa série eu fiz uma coisa totalmente vetada a um ateu: usar versículos
da Bíblia de forma isolada, para defender um argumento. Apesar de ser esse o ―modus
operandi‖ das quadrilhas que enriquecem à custa da ―palavra‖, o ateu não tem a mesma
prerrogativa e, invariavelmente, vai ouvir de algum religioso que é preciso ―ler o contexto‖.

É assim que funciona: quando a ―palavra‖ é absurda demais e dói nas vistas, o crente recorre
ao contexto, como se ele, o contexto, tivesse o poder de mostrar que Deus estava querendo
dizer outra coisa. Quando não é o caso, o contexto é dispensado e fica valendo o que está
escrito, tal e qual como está no versículo, não sujeito a interpretações, uma vez que é a
―palavra‖ sagrada, eterna e imutável de Deus.

Mas só quando convém. E esse é o segredo para se continuar vivendo com a hipocrisia de se
estar convencido a ponto de querer impor ao mundo o absurdo de que há, entre nós, uma
coleção de livros inteira escrita pelo criador do universo.

Aí você poderia esperar tudo de livros assim, menos que fossem tão absurdamente humanos e
tão intimamente vinculados à época em que foram escritos. Supõe-se que Deus deveria, pelo
menos, ser um tanto divino e atemporal. E quando o crente descobre que não é, aí é preciso
recorrer ao contexto:

―Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.‖ – (1 João; 4:8)

Deus é amor…

Depois de amaldiçoar toda a humanidade pelo erro de apenas duas pessoas (Gênesis 3:14-
19);

Depois de afogar quase toda a vida inutilmente, pois o mal continuou (Gênesis 6-7, Gênesis
8:21);

65
Depois de criar leis cruéis, intolerantes, absurdas, supersticiosas e preconceituosas (Levítico
15:19, Êxodo 21:20-21, Deuteronômio 22:21, Levitico 21.18-20, Deuteronômio 25:11,12,
etc);

Depois de matar pessoas e animais inocentes que nada tinham a ver com as decisões do
faraó (Êxodo 12:29, Êxodo 9:3-6);

Depois de matar muitos do seu próprio povo escolhido apenas por estarem insatisfeitos
(Números 14:27-29);

Depois de provocar o genocídio de vários povos (Deuteronômio 7:1);

Depois de matar um homem apenas por não querer engravidar a mulher do próprio irmão
(Gênesis, 38:08-10);

Depois de matar um homem apenas por ter catado lenha no sábado (Números 15 32-36);

Depois de matar duas pessoas apenas por terem mentido sobre a venda de um terreno (Atos
05:1-10);

Depois de ameaçar com castigos eternos os que nele não cressem (João 3:18, Lucas 10:10-
16, João 3:18, Apocalipse 21:8);

Depois de matar uma mulher apenas por ter olhado para trás (Gênesis 19:26);

Depois de matar dezenas de jovens apenas por terem zombado da careca de um profeta (2
Reis 2:24);

Depois de dizer que ele mesmo criou o mal, o surdo, o mudo e o cego (Isaías 45:7, Êxodo
4:11);

Depois de dizer que no seu julgamento final haverá os piores horrores (Lucas 21:23,
Apocalipse 6:8, Apocalipse 9:6);

Depois de queimar vivas várias pessoas (2 Reis 10-13, Números 11:1);

Depois de exigir que matassem as mulheres casadas e guardassem as virgens (Números


31:17-18);

Depois de impedir que um homem fosse ao velório do seu pai (Mateus 8:21-22);

Depois de humilhar uma mulher que buscava a cura para a filha (Mateus 15:22-27);

Depois de assegurar que não veio trazer a paz, mas a espada e a desavença (Mateus
10:34,37);

Depois de matar uma criança inocente pelo erro do rei que ele mesmo escolheu (2 Samuel
12:14,15);

Depois de castigar com pragas terríveis seus desafetos (Números 16:41-50, Números 25:9,
2Samuel 5:6, 2 Samuel 24:15, etc)

66
Depois de sadicamente enganar seu povo escolhido (Números 11:18-20 e Números 18:31,32);

Depois de ordenar o massacre de crianças, idosos e mulheres grávidas (Deuteronômio 32:25,


Ezequiel 9:6, Deuteronômio 2:33,34);

Depois de muitos outros incontáveis atos violentos, cruéis, intolerantes e sangrentos


cometidos diretamente ou incentivados por ele… Deus é amor.

Vá cristão. Vá correndo ler o contexto. Se é que você lê a Bíblia…

―Se mais cristãos lessem a Bíblia, haveria menos cristãos‖, Derek W. Clayton.

Três deuses, um funeral (parte 3)

Publicado em 28/05/2010 por Barros

Sabe qual é o maior problema com Deus?

Não é nem o fato de ele ser preconceituoso:

Em Levítico 21:20, ninguém pode se aproximar do altar de Deus se tiver alguma doença ou
defeito, se for cego, coxo, corcunda ou anão.

Não é nem o fato de Deus ser sexista e machista:

Em Levítico 15:19-24, diz-se que a mulher no período da menstruação fica imunda e que tudo
o que ela tocar fica sujo, inclusive o marido.

Na 1 Coríntios, 14:34, lê-se que ―As mulheres estejam caladas nas igrejas, porque lhes não é
permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei.‖

E em Efésios 5:24, ―Assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos.‖

Em Levítico 12:02 e 12:05, dar à luz torna uma mulher imunda, e duas vezes mais imunda se
nascer uma menina.

Não é nem o fato de Deus ser violento e escravocrata:

Em Êxodo 21:7-8, por exemplo, ensina-se como vender a própria filha como escrava. Em
Levítico 25:44, que os escravos devem ser comprados nas nações vizinhas.

O maior problema com Deus Pai Todo-Poderoso é, na verdade, o fato incontestável de que ele,
de repente, deixou de lado grande parte desses detestáveis atributos humanos e passou para
o lado Zen da Força. Na maior parte das vezes, o Deus Jesus Cristo de Nazaré ou fica em cima
do muro no que diz respeito a tudo o que já havia sido e feito no Antigo Testamento, ou quer
posar pra foto de bonzinho, de Jesus-Sangue-Bom.

Será que ninguém se lembra de que o Deus Jesus Cristo de Nazaré era o mesmo Deus Pai
Todo-Poderoso maníaco-depressivo do Antigo Testamento, que tinha todas aquelas
―qualidades‖ execráveis que nós mesmos condenaríamos em outro ser humano?

67
Daí eu só posso concluir que uma dessas 3 coisas deve ter acontecido com o Deus Pai Todo-
Poderoso.

1. Antes de embarcar para a Terra num corpo material ele fez um tratamento psiquiátrico
intensivo no céu e, enquanto Deus Jesus Cristo de Nazaré, tomava, às escondidas, dois tipos
diferentes de calmantes tarja preta.

2. Depois de ter sentido os prazeres mais simples da condição humana, como a liberdade
bucólica de dar uma cagada no mato [e isso causou um rebuliço na Igreja Católica, quando
aquele mesmo grupo de velhos brochas que queriam proibir o sexo que não fosse para
reprodução pretenderam argumentar que Cristo não defecava, que era um tipo de Robocop,
cujo organismo aproveitava toda a comida ingerida, sem necessidade de excreção]; depois de
brincar de papai-e-mamãe com a Maria Madalena; depois de experimentar prazeres humanos
reais, de uma perspectiva humana real, eles se deu conta de que estava sendo rigoroso
demais e de que não havia motivo para tanto estresse, afinal, ele era ―o cara‖.

3. O Deus Pai Todo-Poderoso do Antigo Testamento tinha todas aquelas más qualidades
porque o povo que o imaginou também as tinha. O Deus Jesus Cristo de Nazaré se livrou da
maioria delas porque o povo que o concebeu, um par de milênios depois, já era mais evoluído,
e uma prova disso foi que não havia seguido à risca as regras do Deus antigo, caso contrário,
não teria sobrado ninguém vivo para ter criado o novo: Jesus Cristo de Nazaré, o Deus-
Sangue-Bom.

Três deuses, um funeral (parte 4)

Publicado em 01/06/2010 por Barros

68
Para o leitor crente no Deus Jesus Cristo do Espírito Santo:

O que há de concreto que diz para você, ―em primeira instância‖, que Deus existe?

Não me refiro a revelações, a sentimentos da mais alta confiabilidade para aqueles que os
experimentam; não me refiro a convicções pessoais, a certezas inerentes à condição humana,
nem a nada que precise do intelecto para ser ―manuseado‖. Estou falando de aglomerados de
átomos, de coisas que você poderia, eventualmente, pintar de roxo.

O que você tem? Cruzes? Igrejas? Estátuas? Livros? O planeta inteiro e tudo o que existe? Só
que nada disso lhe ocorre ―em primeira instância‖. Quando você nasceu, começou a usar seus
pulmões para respirar, mas ainda não considerava tudo o que existe como sendo obra de
Deus. Esse seu pensamento deriva, obrigatoriamente, da resposta que deve ser dada à minha
pergunta; da coisa material que é a fonte de tudo o que te faz pensar que há um Deus: a
Bíblia.

A Bíblia é o que há de concreto no mundo em que você vive que, em primeira instância, diz
para você que Deus existe. Todo o resto é sua consequência: sua religião, sua fé em Deus (em
oposição a fé que você não tem, digamos, em Hórus), seu doutrinamento infantil, seus terços,
suas orações, as cruzes, as igrejas, as imagens, tudo. Fora a Bíblia; mais nada.

Dizer que os átomos por si já servem como ―prova‖, que o universo não poderia ter criado a si
próprio, etc., é dizer que você esqueceu que pensa assim por causa da Bíblia, que foi onde
você leu (ou de onde ouviu dizer) que Deus é o criador de todas as coisas materiais, e não um
outro deus como Lord Brahma, da ―Trindade‖ Brahma-Vishnu-Shiva, ou Osíris, da ―Trindade‖
Osíris-Hórus-Ísis, que, por sinal, são bem mais antigas do que a sua Deus-Jesus-Espírito
Santo.

69
Mas, de novo, essa sua ―convicção‖ é de segunda instância: é uma consequência da Bíblia.
Argumentar o contrário é desconsiderar o fato de que muita gente não concorda com você,
justamente por não ter a Bíblia como seu livro sagrado.

Mas o que seria uma prova material de ―primeira instância‖? Huuuumm… que tal uma
fogueira?

Em 1Reis, cap. 18, versículos 21 a 40, o profeta Elias faz um tipo de ―concurso de deuses‖. Ele
propôs aos sacerdotes do deus Baal a fazerem um sacrifício ao seu deus, enquanto ele, Elias,
faria a mesma coisa para o deus Deus, com a condição de que o deus de cada um acendesse a
sua respectiva fogueira. Assim foi feito e os sacerdotes de Baal clamaram quase o dia todo
para que o seu deus mandasse o fogo necessário para que eles ganhassem a aposta. Adivinha:
não mandou. Daí que, quando chegou a vez de Elias…

18:36 Sucedeu que, no momento de ser oferecido o sacrifício da tarde, o profeta Elias se
aproximou, e disse: Ó SENHOR Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, manifeste-se hoje que
tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, e que conforme à tua palavra fiz todas estas
coisas.

18:37 Responde-me, SENHOR, responde-me, para que este povo conheça que tu és o
SENHOR Deus, e que tu fizeste voltar o seu coração.

18:38 Então caiu fogo do SENHOR, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e o pó, e
ainda lambeu a água que estava no rego.

18:39 O que vendo todo o povo, caíram sobre os seus rostos, e disseram: Só o SENHOR é
Deus! Só o SENHOR é Deus!

18:40 E Elias lhes disse: Lançai mão dos profetas de Baal, que nenhum deles escape. E
lançaram mão deles; e Elias os fez descer ao ribeiro de Quisom, e ali os matou.

Três deuses, um funeral (parte 5)

Publicado em 04/06/2010 por Barros

70
Eu tenho certeza de que o meu leitor cristão não só entendeu o meu argumento até aqui,
como também concorda com ele: é a Bíblia que lhe diz, em primeira instância, que existiu um
criador para o universo — eterno, onipotente, onipresente, onisciente, etc. — , que é o seu
gerente supremo, e que o seu nome é Deus. Tudo e qualquer coisa em que você pensar sobre
a sua fé tem uma relação direta e inequívoca com a Bíblia.

O grande problema que deriva disso é que o seu livro sagrado precisa ser o que você ―acha‖
que ele é — a ―palavra‖ escrita do seu Deus para você — , senão, tudo o mais em que você
acredita irá desmoronar. Ou a Bíblia é a palavra de Deus e há um Deus, ou não é e não há.
Não existe um meio-termo.

E é aí que a coisa toda desanda; quando a ideia de Deus implora para não ser examinada tão
de perto. Do contrário, você correrá o risco de ver aqueles textos como apenas uma coleção de
estórias, a mitologia de um povo, e não uma suposta revelação de um ser superior, todo-
poderoso e perfeito, porque não há nada na Bíblia que não seja absolutamente e
absurdamente humano.

Um ser que tivesse os poderes atribuídos ao Deus cristão, um que pudesse fazer galáxias
inteiras a partir de átomos, que pudesse fabricar os próprios átomos, um que fosse capaz de
conceber criaturas vivas dotadas de consciência e inteligência, um que pudesse criar mundos
materiais e espirituais, um Deus que tivesse o poder de ler pensamentos, de fazer milagres e
de atender a preces, não teria nenhuma dificuldade em deixar um registro escrito que o
apresentasse ao mundo, que o definisse e o revelasse, e que deixasse fixadas as suas
vontades e as suas regras. Para um Deus que existisse, a Bíblia seria uma obra que ele
poderia realizar enquanto escovasse os dentes. E seria perfeita. Sob todos os aspectos.

E cada livro bem que poderia sempre começar assim:

―1 Eu, fulano de tal, 2 estou escrevendo essas palavras através da inspiração de Deus, 3 e
todo o mérito do texto que se segue deve ser atribuído a Ele, não a mim. 4 No princípio, criou
Deus os céus e a terra;―

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E, a partir daí, meu irmão, minha irmã, a ―palavra de Deus‖ seria lida como ―a palavra de
Deus‖, compartilhando de todas as suas qualidades: poderosa, perfeita, imutável, justa, boa…
E ninguém jamais poderia atribuir nada nesses textos ao simples e insignificante mortal que
Deus houvesse usado para segurar a pena, porque seria um contrassenso absurdo pensar que
o mesmo Deus que foi capaz de projetar e construir todo o universo, que foi capaz de conceber
a própria mágica da vida, não estaria em condições de (ou não teria a competência para)
manda alguém escrever um livro.

Mas então, mesmo que você releve o fato do autor de Gênesis, por exemplo, não dizer, no
início de sua narrativa, que está psicografando uma mensagem divina, mesmo que releve o
fato de que a Bíblia tenha precisado, ainda, de uma intervenção humana (talvez nem tão
divinamente inspirada) que apontasse quais relatos deveriam fazer parte dela e quais não
deveriam, a ―palavra de Deus‖, mesmo assim, revela-se como um amontoado de textos que,
ao contrário do que se poderia esperar, depõem fortemente contra a existência de uma
entidade cósmica toda-poderosa, perfeita, eterna, imutável, justa e boa.

A Bíblia Sagrada é, também, o que há de mais concreto no mundo que prova, em primeira
instância, que Deus não existe.

Três deuses, um funeral (parte 6)

Publicado em 08/06/2010 por Barros

A Bíblia não aparenta, nem de longe, ter sido escrita, ou inspirada, por um ―ser superior‖.
Muito ao contrário, ela só sugere ter sido obra de pessoas muito menos desenvolvidas que nós
— em todos os aspectos. Uma Bíblia que fosse a palavra de um Deus perfeito, onipotente e
onisciente, não teria tantos erros, tantas contradições e aberrações; não seria um livro assim
tão facilmente sujeito a interpretações e tão suscetível a despertar nas mentes mais atentas a
impressão de que tudo parece não passar mesmo de um embuste mal feito.

A Bíblia foi escrita por humanos humanamente inspirados. Se você tivesse vivido há quatro mil
anos e soubesse ler e escrever, já poderia se considerar uma pessoa muito culta. E se fosse
um erudito, se tivesse lido textos de várias outras culturas que dessem conta de responder às
questões de sua época, talvez você ficasse tentado a deixar registrada a sua própria versão
entre o seu próprio povo. E essa sua versão, obrigatoriamente, seria a visão de alguém a

72
quem faltassem todos os conhecimentos que viriam, então, nos próximos quatro milênios.
Para os que tivessem acesso ao seu texto, hoje, não haveria como lê-lo sem fazer as devidas
comparações com a nossa atual visão de mundo, e as correções, de acordo com o nosso grau
de conhecimento adquirido até aqui.

Esse tipo de coisa, essa discrepância, não teria cabimento se o autor do texto fosse,
realmente, um ser ―superior‖. E quando esse texto sugere, por exemplo, que o tempo em que
vagamos sobre a Terra gira em torno de seis mil anos, enquanto nós temos evidências de que
tal estimativa está absurdamente longe da verdade, não fica nada confortável admitir que ele
veio desse autor especial. Como escreveu Gleason Archer,

―se os registros bíblicos se mostram falhos quanto aos fatos que podem ser verificados, então
dificilmente serão confiáveis quanto aos fatos que não podem‖.

Para uma mente pensante, o raciocínio que depende da Bíblia para revelar Deus não encontra
terreno onde germinar. Uma grande prova disso é que muitos ―pensadores‖ religiosos
abandonaram quase que completamente o livro sagrado cristão como ferramenta na
justificativa, para si mesmos e para os outros, de que Deus existe, e passaram, então, a usar
a lógica. Ou quase isso, porque, quando a coisa toda é examinada bem de perto, mais parece
um jogo de palavras, uma brincadeira de criança.

É o que se passou a chamar de Argumentos Cosmológicos.

O argumento cosmológico é uma família de argumentos que procuram demonstrar a existência


de uma Razão Suficiente ou uma Causa Primeira para a existência do cosmos. Uma versão do
argumento, defendida por Leibniz, por exemplo, é o argumento da contingência.

1. Tudo o que existe tem uma explicação de sua existência, ou na necessidade de sua própria
natureza ou numa causa externa.

2. Se o universo tem uma explicação de sua existência, essa explicação é Deus.

3. O universo existe.

4. Logo, a explicação para a existência do universo é Deus.‖*

Se você é um hindu, por exemplo, e substitui a palavra ―Deus‖ em 2 e em 4 por ―Lord


Brahma‖, o argumento continua de pé e, aí, tudo começa a ficar mais divertido, porque essa
―lógica‖ permite que qualquer deus tenha sido o criador do universo.

Eu não disse que era um tipo de brincadeira de criança?

* THE FUTURE OF ATHEISM, Alister McGrath & Daniel Dennett in Dialogue. Robert B. Stewart
(editor). Fortress Press: Minneapolis. 2010. p.68. [Minha tradução].

Três deuses, um funeral (parte 7)

Publicado em 08/06/2010 por Barros

73
Se você não entendeu o que eu quis dizer com ―brincadeira de criança‖ quando mencionei os
argumentos cosmológicos, aqui vão mais alguns exemplos.

O argumento axiológico:

1. Se Deus não existe, valores morais e deveres objetivos não existem.

2. Valores morais e deveres objetivos existem.

3. Logo, Deus existe. *

O criador desse argumento acredita que, sem Deus para servir de parâmetro, não seria
possível saber o que é maldade ou bondade, certo ou errado, justo ou injusto, etc.

Deus servindo como parâmetro… Ops! Aquele que mandava apedrejar, sacrificar, matar?
Aquele que aceitava sacrifícios humanos, que era a favor da escravatura, que torturou uma
criança, até à morte, por 7 dias? Aquele que era a favor da submissão da mulher ao homem,
que mandava pragas, que era um exímio exterminador de civilizações? Aquele que pune
infinitamente um erro finito? É esse o seu parâmetro?

Em matéria de bondade, justiça e amor, por exemplo, se você usar Deus como parâmetro,
atribuindo 10 a ele nesses quesitos, e se for me julgar na mesma escala, vai ser obrigado a me
dar, por baixo, algo em torno de duzentos e oitenta e cinco!

Qualquer presidiário seria um parâmetro melhor de moral do que o Deus cristão. Uma grande
parte deles, pelo menos, está presa por conta de um único crime.

O argumento teleológico:

1. O universo finamente ajustado é o resultado ou de uma necessidade física, ou do acaso, ou


de um projeto.

2. Não é devido à necessidade física nem ao acaso.

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3. Logo, é devido ao projeto.

O que se chama de universo ―finamente ajustado‖?

Bom, na Física existe o que se chama de constantes universais, como, por exemplo, a
constante da gravitação universal, a velocidade da luz e a carga do elétron. São valores fixos
que entram nas equações matemáticas.

Pelo pensamento teísta, se o universo surgiu ao acaso, a carga do elétron, por exemplo,
poderia ter assumido qualquer valor, certo? Qualquer valor mesmo! Mas só uma gama
estreitíssima de valores permitiria que um elétron ficasse bonitinho e comportadinho dentro de
um átomo. Ou seja, dentre todos os valores infinitos que a carga do elétron poderia ter
assumido, por que diabos ela foi se enquadrar justamente dentro daquela faixa infinitesimal de
valores que possibilitaria a formação de átomos e, consequentemente, tudo o mais que há?
Resposta: foi Deus, o projetista, que, no ato da criação, ―ajustou‖ a carga para aquele valor
específico. Foi Deus que fez o ―ajuste fino‖.

É como se você se chamasse Ana e, tendo nascido no dia 8 de agosto de 1992, ganhasse de
presente de aniversário de 18 anos um carro zero quilômetro cuja placa fosse ANA 8892. E
você pensaria:

―Carácules! Dentre todas as combinações possíveis para a placa do meu carro, calhou de ser
justamente esta! É muita coincidência! Alguém deve ter mexido uns pauzinhos para me
agradar!! Papai, foi o Senhor???‖

É, Ana, pode ter sido seu pai. Mas quanto ao universo, pode ser apenas que o conceito de
―finamente ajustado‖ seja fruto da nossa mania de grandeza, pois, como escreveu Hugh J.
McCann,

―Leis científicas são proposições (…). Elas existem em nossas cabeças e nas páginas dos
nossos livros, e mais em nenhum outro lugar. E elas não governam nada. Em vez disso, são
apenas descrições que fazemos sobre o jeito que as coisas são‖. **

Eu, por mim, só digo que um Criador Todo-Poderoso poderia ter criado o universo
independentemente da ―permissão‖ das constantes universais da Física. Já pensou a cara de
espanto dos nossos físicos?

‖ — Cara, pelos meus cálculos, esse elétron não poderia estar aí!…‖

O argumento ontológico:

1. É possível que um ser supremo exista.

2. Se é possível que um ser supremo exista, então um ser supremo existe em algum mundo
possível.

3. Se um ser supremo existe em algum mundo possível, então ele existe em cada mundo
possível.

4. Se um ser supremo existe em cada mundo possível, então ele existe ―neste‖ mundo.

5. Se um ser supremo existe ―neste‖ mundo, então um ser supremo ―existe‖.

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Entendeu agora o que são e para que servem os argumentos cosmológicos?

Eu entendi: é apenas o estrebuchamento intelectual da mente religiosa pensante que, ao se


dar conta de que a Bíblia é uma prova cabal de que Deus é uma autêntica invenção humana,
começou a entrar em desespero…

(*) Todos os argumentos cosmológicos deste post são traduções que fiz do livro The Future of
Atheism.

(**) Mesma fonte acima.

Três deuses, um funeral (parte 8)

Publicado em 23/06/2010 por Barros

Touro: Seja cauteloso com as finanças; evite gastar mais do que possa pagar. Cor: azul.
Número da sorte: 14.‖

Inúmeras pessoas ao redor do mundo se viciaram em abrir o jornal todos os dias pela manhã,
ou um site específico, e ir direto ler o horóscopo. Não seria um absurdo pensar que elas fazem
isso porque acreditam realmente que astrologia seja algo confiável, uma coisa que faça parte
do mundo real, assim como a gravidade. Mas, apesar dessa crença mundialmente difundida,
apesar da sua longevidade e do número de pessoas que não saem de casa sem ler sua
―previsão astrológica‖, astrologia é um embuste, uma fraude.

Qualquer ser humano poderia facilmente chegar a essa conclusão, desde que se dispusesse a
fazer alguns poucos questionamentos a si mesmo, em vez de simplesmente aceitar que sua
vida é ―regida‖ pela posição de determinados corpos celestes. O crente em astrologia poderia
se perguntar:

1. Seria aceitável dizer que ‗seja cauteloso nas finanças; evite gastar mais do que possa pagar‘
é uma previsão?

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2. São realmente os planetas que estão me dizendo que eu vou me enrolar feio com as contas
do mês se a fatura do meu cartão de crédito for o dobro do meu salário?

3. Seria minimamente concebível que a posição no firmamento de corpos celestes gigantescos,


a milhões de quilômetros de distância, sugiram que eu deva usar azul em vez de vermelho,
por exemplo, e que meu ―número da sorte‖ seja 14 e não 15? (E o que diabos eu deveria fazer
com esse número isolado? Se os astros estão influenciando minha vida e preocupados com
minha sorte, só iriam ajudar se gerassem grupos de 6 ―números da sorte‖ por dia.)

4. Quando eu leio o horóscopo em vários jornais, revistas e sites, por que eles não são
exatamente iguais? Um astrólogo ―leu‖ nos astros que eu deveria ficar de olho nas minhas
finanças e outro que eu deveria cuidar mais da minha alimentação? Um decodificou a
mensagem que diz que eu devo ser menos perfeccionista no trabalho e outro que o momento
é propício para investir num novo relacionamento? Por que eles não leem a ―previsão‖
completa e fazem um horóscopo apenas?

5. Por que o horóscopo sempre traz ―previsões‖ tão frouxas como ―Hoje você poderá precisar
da ajuda de um amigo―? Ora: ―poderá precisar‖ não é lá uma ―previsão‖, pois eu e qualquer
um ―poderá‖ precisar de ajuda todos os dias da vida. E, caso venha mesmo a precisar, não
seria muito inteligente de minha parte esperar que a ajuda viesse de um ―inimigo‖.

6. Por que uma ―previsão astrológica‖ nunca é algo direto e totalmente verificável como ―Você
será atropelado‖, ou ―Você descobrirá que foi vítima de traição amorosa‖? Os astrólogos
conseguem me dizer que cor usar, mas não que vou sofrer um acidente, ou que vou perder a
namorada?

7. E se eu for atropelado no dia em que o meu horóscopo tiver ―previsto‖ que isso iria
acontecer, eu devo esperar que todas as outras pessoas na Terra do mesmo signo que eu
também sejam atropeladas? Ou devo concluir que o posicionamento dos astros naquele dia
originaram uma previsão exclusiva para mim, deixando toda uma décima segunda parte da
população mundial sem nada?

Perguntas simples de se fazer, e a resposta é ainda mais simples: astrologia é uma superstição
tola.

Mas, talvez, uma grande parte das pessoas que chegassem a essa conclusão nem notassem o
benefício que essa constatação lhes traria, pois iriam se concentrar apenas na perda do prazer
de ler seu horóscopo todas as manhãs.

Se já é difícil livrar o viciado do vício, quando o próprio quer se ver livre dele, mais difícil se
torna quando ele não está disposto a se desfazer de seu oásis de prazeres!

Se eu desenrolo esse argumento para um crente em astrologia, muito provavelmente ele terá
um alarme soando na sua cabeça tentando despertá-lo para a realidade; mas, muito
provavelmente, também, vai ter uma outra parte do seu cérebro dizendo que eu sou um idiota
a quem ele não deveria dar ouvidos.

Com o crente em Deus ocorre praticamente a mesma coisa, e as pessoas de fé,


invariavelmente, reagem ou com violência (verbal/física), ou com o nariz empinado de quem
―não precisa provar nada‖, quando diante de indagações que lhes inspiram a visão
desesperadora do sepultamento da sua divindade.

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Não é à toa que ateus incomodam tanto os religiosos.

Cada um de nós carrega uma pá.

Três deuses, um funeral (parte 9)

Publicado em 29/06/2010 por Barros

Do mesmo modo que qualquer crente em astrologia poderia chegar sozinho à conclusão de
que seu horóscopo é apenas um amontoado de frases tolas, escritas por alguém que
está ―ganhando a vida‖ graças à crença de muitos de que essas frases tolas são ―previsões do
futuro lidas nas estrelas…‖, o crente em Deus, ou qualquer outro deus, também poderia chegar
à conclusão de que sua religião é apenas um clube cujos membros conhecem e veneram uma
coletânea de crendices que mantêm todo um sistema ―rodando‖ graças ao jogo de faz de conta
chamado fé.

Exatamente como no caso da astrologia, a ideia de Deus também sucumbiria na mente do


religioso que se dispusesse a fazer algumas poucas perguntas a si mesmo.

1. Por que eu acredito em Deus e não em Lord Brahma, por exemplo?

2. Por que eu insisto em dizer que é Deus que me protege de todo mal, se, na verdade, sou eu
que tomo todas as precauções possíveis para evitar situações de risco, claramente não
confiando na exclusiva proteção divina?

3. Por que Deus atende a certos pedidos que faço em oração, mas não a todos? [―Deus sabe o
que é melhor para mim? Uai! Me livrar desse câncer no cérebro não seria melhor para mim?‖]

4. Por que ninguém que eu conheço foi curado de paralisia, cegueira, ou de uma outra
deficiência física, ou de uma doença grave, enquanto o pastor da minha igreja cura 4
paralíticos, 6 cegos e 16 tipos diferentes de câncer a cada culto?

5. Por que eu nunca li a Bíblia, se acredito que ela é a palavra escrita do meu Deus? [Faça a
seguinte pergunta aos religiosos que você conhece: ―Você já leu toda a Bíblia?‖. As respostas
são as mais diversas e engraçadas, mas querem dizer sempre a mesma coisa: ―não‖.]

6. Por que eu agradeço a Deus quando coisas boas acontecem e não agradeço a Deus quando
coisas ruins acontecem? Deus pode interferir no mundo de modo que eu consiga um emprego,
mas não pode interferir no mundo de modo a evitar que minha filha de 5 anos seja estuprada
e morta por espancamento?

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7. Por que eu faço tantos pedidos a Deus que, se atendidos, irão interferir drasticamente na
minha vida, se eu acredito que Deus já tem um plano traçado para minha existência?

8. Por que eu não sigo exatamente, fielmente, e constantemente os mandamentos divinos e


todos os ensinamentos de Jesus Cristo, dentre eles, largar tudo o que eu tenho e sair por aí
pregando o Evangelho?

9. Por que todos os crentes em Deus não estão aí pelo mundo bem vestidos, alimentados e
com uma vida relativamente decente, visto que eles certamente teriam pedido isso ao Pai
Celeste, que alimenta os pássaros, que não semeiam nem armazenam em celeiros, e veste os
lírios, que não tecem e nem fiam?

10. Por que um religioso que é acometido de uma doença grave não se conforma com ―os
desígnios do Deus que escreve certo por linhas tortas‖, e, em vez disso, procura na medicina
um modo de adiar a morte, que o levaria para perto do seu Criador, contrariando certamente a
vontade Dele, que, ao que parece, queria vê-lo o mais breve possível?

Para um ateu, que já está de fora desse sistema pernicioso chamado religião, é relativamente
fácil achar que qualquer crente poderia chegar sozinho à conclusão de que está sendo
enganado e, então, abandonar sua crença, mas isso seria um equívoco. Como todo viciado, o
religioso não tem condições de dominar o vício, e é dominado por ele.

Enquanto ele não se fizer esse tipo de questionamento, ou, pelo menos, enquanto ele não
abandonar a hipocrisia que não o deixa dar respostas honestas a essas perguntas, os prazeres
que o seu vício lhe propicia estarão garantidos; e é exatamente isso o que ele quer.

O crente em Deus é, antes de tudo, um hipócrita.

Três deuses, um funeral (parte 10)

Publicado em 13/07/2010 por Barros

E ele lhes disse: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus
conhece os vossos corações; porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é
abominação.‖ (Lucas 16:15)

Deve ser mesmo abominação para Deus o fato de nós, homens, hoje tratarmos as mulheres
como iguais; deve ser abominação para Deus não nos importarmos com o uso que as pessoas
fazem de suas cavidades corporais; deve ser abominação para Deus não sairmos por aí
apedrejando qualquer um que não cumpra os seus mandamentos ridículos.

A Bíblia diz (não é assim que eles sempre começam?) que Deus conhece os nossos corações. E
diz também que Deus precisou testar Abraão e Jó para saber justamente o que ia nos corações
deles. Eu, se fosse cristão, iria me sentir mais confortável na minha crença se meu livro
sagrado não estivesse repleto de contradições como essa. É por isso que o crente nunca tem
argumentos convincentes que sustentem sua discussão com alguém de fora do seu clubezinho
de orações. Tudo o que ele tem para fundamentar sua crença é sua Bíblia e um monte de fé,
que bem medido e bem pesado é o mesmo que nada.

Mas ele não pensa assim… Porque ele é um hipócrita.

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Certamente não um hipócrita consciente, porque todo o mecanismo que sustenta suas ilusões
foi desenvolvido para incrustar-se no seu cérebro e operar de forma autônoma e silenciosa;
um autoexecutável, como os vírus que infestam nossos computadores. Mas um hipócrita não é
menos hipócrita por conta disso.

O crente é hipócrita porque respalda sua fé no livro sagrado que ele sequer conhece; e, se
conhece, é hipócrita porque não aceita enxergar o que esse livro realmente é: uma coleção de
textos de vários autores, sobre vários assuntos, compilados dentre muitos por um homem
igual a mim, que teve seus motivos, ou suas ordens, para escolher uns e rejeitar outros.

O crente é hipócrita porque, apesar de apregoar aos quatro ventos o contrário — na esperança
de iludir e de iludir-se — , não confia exclusivamente no seu Deus para sua proteção pessoal
ou para lhe restituir a saúde, por exemplo, e porque justifica tal comportamento com
desculpas esfarrapadas, completamente inúteis num universo em que Deus existisse.

O crente é hipócrita porque atribui à sua divindade os favores que supostamente recebe em
resposta às suas preces, e porque a desculpa por outros pedidos que, embora mais
necessários à sua própria felicidade e bem-estar, nunca são atendidos.

O crente é hipócrita porque descaradamente atribui o alastramento de denominações religiosas


a uma suposta recrudescência da fé, e não ao tino comercial de um sem-número de xamãs-
multimídia e à proliferação incontrolável de profetas de fundo de quintal, feiticeiros de paletó e
gravata que aprenderam a multiplicar dinheiro em altares erigidos sobre mesas de plástico.

O crente é hipócrita porque cultua, pratica, defende e professa uma religião que não conhece;
e é hipócrita porque fecha os olhos para os erros, descabimentos e contradições que essa
religião encerra, e a toda sorte de perniciosidade que ela absolve, produz ou incentiva.

O crente é hipócrita porque diz amar sua divindade, sendo que o que ele sente por ela não tem
absolutamente nada a ver com amor — e, em Deus existindo, a recíproca seria verdadeira.

O crente é hipócrita porque alega ter conhecimentos que não tem, por venerar valores e
princípios que não segue, e por contrair votos que não cumpre.

O crente aceita convicções alheias que foram disseminadas através de gerações de forma
impositiva sem se dar ao trabalho de questionar nem entender, e chama a isso de fé, quando,
na verdade, é apenas hipocrisia.

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Três deuses, um funeral (fim)

Publicado em 20/07/2010 por Barros

Impeça o religioso de ser hipócrita no modo como vive a sua crença e ele será obrigado a
acompanhar a morte do seu deus. No caso do cristianismo, dos seus deuses: Deus, Jesus e o
Espírito Santo. Sem a hipocrisia, tudo o que sobra ao crente é a sua fé. E fé, segundo Mark
Twain, ―é acreditar em algo que você sabe que não é verdade‖. Fé é apenas a vontade
manifesta que as pessoas têm de que as coisas sejam do jeito que elas gostariam que fossem.

Só que o mundo não funciona assim. O mundo funciona de um jeito que nos mostra, a cada
momento, que toda religião é uma farsa altamente prejudicial à humanidade como um todo e
a cada indivíduo em particular.

Alguns, entretanto, um dia se dão conta da imbecilidade em que estão metidos e da inutilidade
da veneração a um mito. A partir daí, o caminho é um só: às vezes com mais sofrimento, às
vezes com menos — ou sem nenhum, como foi no meu caso — , o ex-devoto vela seu Deus
morto por uns poucos instantes, avalia todo o tempo que perdeu chafurdando naquele lamaçal
de tolices e recomeça uma nova vida num mundo que ele, até então, desconhecia.

O que eu mesmo perdi quando sepultei esses três deuses? Perdi o direito de acesso a um clube
gigantesco e onipresente repleto de atrações e com infinitas possibilidades de conhecer moças
bonitas a todo instante. E só.

81
Mas o que eu ganhei valeu muito a pena.

Eu ganhei imunidade contra toda e qualquer entidade malévola, às quais me ensinaram a


culpar pelas coisas ruins que me aconteciam; ganhei a consciência de que eu sou uma pessoa
boa, honesta e decente graças a meus pais, e não ao medo de ser punido pela minha
divindade mentalmente perturbada, ou ao desejo de ser por ela recompensado; ganhei
autonomia ao adquirir o hábito de contar apenas com meus próprios recursos e competência
para obter o que desejo ou preciso, parabenizando-me quando obtenho êxito, e me
conformando quando fracasso; ganhei o direito de não precisar ser hipócrita durante todas as
horas do dia em que passo acordado. Eu ganhei a oportunidade de tentar, dentro das minhas
possibilidades e limitações, aproveitar ao máximo a única vida que terei.

Eu sepultei três deuses num mesmo dia e lhes providenciei um funeral rápido e sem lágrimas.
Poderia me definir, hoje, simplesmente como sendo um ateu. Mas eu sou bem mais do que
isso. Assim como todos os outros que já enterraram os seus próprios deuses, eu represento o
mais recente salto evolutivo da nossa espécie. Depois do Homo habilis, do Homo erectus e
do Homo sapiens, enfim, o Homo conscius: mortal, filho do carbono e do amoníaco; mas
completamente desperto!

Nós, ateus, somos a aurora de uma nova raça humana.

Jesus Cristo

A maior invenção da indústria da fé

http://ceticismo.net/religiao/a-maior-farsa-de-todos-os-tempos/

Sumário
Jesus, a maior invenção da indústria da fé ............................................................... 83
A falta de evidência Histórica para Jesus ............................................................... 95

82
Jesus Cristo nunca existiu ................................................................................... 108
As provas e contra provas ................................................................................. 110
As falsificações .................................................................................................. 123
O doloroso silêncio histórico ............................................................................. 125
Um Jesus Cristo não histórico.............................................................................. 126
Jesus e o tempo................................................................................................. 131
Jesus Cristo nos Evangelhos .............................................................................. 133
Jesus Cristo é um milagre ................................................................................. 134
Jesus Cristo, um mito bíblico ............................................................................. 136
As contradições sobre Jesus Cristo ...................................................................... 139
As contradições evangélicas .............................................................................. 141
Algumas fontes do cristianismo ........................................................................... 142
Jesus Cristo, uma cópia religiosa ....................................................................... 145
Os deuses redentores ........................................................................................ 147
Jesus Cristo é um mito solar .............................................................................. 148
Outras fontes do cristianismo .............................................................................. 149
Judaísmo e cristianismo .................................................................................... 151
O cristianismo sem Jesus Cristo .......................................................................... 153
1 - Nem só Jesus Cristo tinha poder .................................................................... 155
2 - O Messias Desmascarado ............................................................................... 157
3 - Revelada a origem da construção do mito de Jesus ....................................... 166
4 - As mil faces de Jesus: O mau-caratismo religioso .......................................... 168
5 - Jesus Cristo e Super-Homem: A necessidade do herói mítico ......................... 185

Jesus, a maior invenção da indústria da fé

Quando confrontados com um defensor do cristianismo, imediatamente aponte que a


existência de Jesus não foi provada. Quando os defensores cristãos argumentam, usualmente
apelam mais para as emoções do que para a razão, e tentarão te deixar embaraçado ao negar
a historicidade de Jesus. A resposta habitual é qualquer coisa do gênero de ―Negar a existência
de Jesus não é tão tolo como negar a existência de Júlio César ou da Rainha Isabel?‖. Uma
variação popular desta resposta, usada especialmente contra os Judeus é ―Negar a existência
de Jesus não é como negar o Holocausto?‖. Então aponte que há amplas fontes históricas que
confirmam a existência de Júlio César, da Rainha Isabel ou de qualquer outro que for
nomeado, enquanto que não existe evidência correspondente para Jesus.

Para ser perfeitamente direto, arranje um tempo para fazer alguma investigação sobre as
personagens históricas mencionadas pelos defensores do cristianismo e apresente fortes
evidências da sua existência. Ao mesmo tempo desafie os defensores cristãos a mostrar
evidência similar da existência de Jesus. Aponte que embora a existência de Júlio César ou da
Rainha Isabel, etc. seja universalmente aceita, o mesmo já não acontece com Jesus.

83
No Extremo Oriente, onde as maiores religiões são o Budismo, o Xintoísmo, o Taoísmo e o
Confucionismo, Jesus é considerado como mais uma personagem da mitologia religiosa
ocidental, junto com Thor, Zeus e Osíris. A maioria dos Hindus não acredita em Jesus, mas os
que acreditam consideram que ele é uma das muitas encarnações do deus hindu Vishnu. Os
muçulmanos certamente acreditam em Jesus, mas rejeitam a história do Novo Testamento e
consideram que ele foi um profeta que anunciou a vinda de Maomé. Eles negam explicitamente
que ele tenha sido crucificado.

Em resumo, não há uma história de Jesus que seja uniformemente aceite pelo mundo inteiro.
É este fato que põe Jesus num nível diferente para personalidades históricas estabelecidas. Se
os defensores do cristianismo usarem o ―argumento do Holocausto‖, aponte que o Holocausto
está bem documentado e que existem numerosos relatos de testemunhas oculares. Aponte
que a maior parte das pessoas que negam o Holocausto eram semeadores de ódio
antissemítico com credenciais fraudulentas.

Por outro lado, milhões de pessoas honestas na Ásia, que fazem a maioria da população
mundial, não conseguiram ser convencidos pela história cristã de Jesus na medida em que não
há nenhuma evidência constrangedora da sua autenticidade. Os defensores do cristianismo
insistirão que a história de Jesus é um fato bem estabelecido e irão argumentar que existe
―muitas evidências que comprovam isso‖. Insista em ver essas evidências e se recuse a ouvir
enquanto eles não apresentarem.

Se Jesus não foi um personagem histórico, de onde veio toda a história do Novo Testamento
em primeiro lugar? O nome Hebreu para os Cristãos sempre foi Notzrim. Este nome é derivado
da palavra hebraica neitzer, que significa broto ou rebento – um claro símbolo Messiânico. Já
havia pessoas chamadas Notzrim no tempo do Rabbi Yehoshua ben Perachyah (100 A.E.C.).

Apesar de os modernos Cristãos afirmarem que o Cristianismo só começou no primeiro século


depois de Cristo, é claro que os Cristãos do primeiro século em Israel se consideravam como
sendo a continuação do movimento Notzri, que existia à cerca de 150 anos. Um dos mais
notáveis Notzrim foi Yeishu ben Pandeira, também conhecido como Yeishu ha-Notzri. Os
estudiosos do Talmude sempre mantiveram que a história de Jesus começou com Yeishu. O
nome Hebreu para Jesus sempre foi Yeishu, e o Hebreu para ―Jesus de Nazaré‖ sempre foi
―Yeishu ha-Notzri‖ (o nome Yeishu é um diminutivo do nome Yeishua, e não de Yehoshua.) É
importante notar que Yeishu ha-Notzri não é um Jesus histórico, uma vez que o Cristianismo
moderno nega alguma conexão entre Jesus e Yeishu e, além do mais, partes do mito de Jesus
são baseadas em outras personagens históricas além de Yeishu.

Sabemos pouco sobre Yeishu ha-Notzri. Todos os trabalhos modernos que o mencionam são
baseados em informação retirada do Tosefta e do Baraitas – escritos feitos ao mesmo tempo
do Mishna, mas não contidos neste. Porque a informação histórica sobre Yeishu é tão danosa
para o Cristianismo, muitos autores Cristãos (e também muitos Judeus) tentaram desacreditar
esta informação e inventaram muitos argumentos engenhosos para a explicarem. Muitos dos
seus argumentos são baseados em mal entendidos e citações errôneas do Baraitas, e para se
ter uma imagem exata de Yeishu devem-se ignorar os autores cristãos e examinar o Baraitas
diretamente.

A insuficiente informação contida no Baraitas é a seguinte: o Rabi Yehoshua ben Perachyah,


num dado momento, repeliu Yeishu. As pessoas pensavam que Yeishu era um feiticeiro,
considerando que ele tinha levado os Judeus a desencaminharem-se. Como resultado de
acusações feitas contra ele (os detalhes das quais não são conhecidos, mas provavelmente
envolveriam alta traição), Yeishu foi apedrejado e o seu corpo foi pendurado na véspera da

84
Passagem. Antes disto, ele foi exibido durante 40 dias com um arauto que ia à sua frente
anunciando que ele iria ser apedrejado e chamando por gente para avançar e o defenderem.
Todavia, nada foi trazido em seu favor. Yeishu tinha cinco discípulos: Mattai, Naqai, Neitzer,
Buni e Todah.

No Tosefta e no Baraitas, o nome do pai de Yeishu é Pandeira ou Panteiri. Estes são formas
Hebreu-Aramaicas de um nome Grego. Em Hebreu, a terceira consoante do nome é escrito
com um dalet ou com um tet. Comparando com outras palavras Gregas transliteradas para
Hebreu mostra que o original Grego devia ter tido um delta como sua terceira consoante, e
assim a única possibilidade para o nome Grego do pai é Panderos. Como os nomes Gregos
eram comuns entre os Judeus durante a época dos Macabeus, não é necessário assumir que
ele era Grego, como alguns autores fizeram.

A relação entre Yeishu e Jesus é corroborada pelo fato de que Mattai e Todah, os nomes de
dois dos discípulos de Yeishu, serem as formas originais hebraicas de Mateus e Tadeu, nomes
de dois dos discípulos de Jesus na mitologia cristã.

Os primeiros cristãos estavam também cientes do nome ―ben Pandeira‖ para Jesus. O filósofo
pagão Celso, que foi famoso pelos seus argumentos contra o Cristianismo, reivindicou em 178
D.E.C. que tinha ouvido a um Judeu que a mãe de Jesus, Maria, se tinha divorciado do seu
marido, um carpinteiro, depois de se ter provado que ela era uma adúltera. Ela vagueou em
vergonha e deu à luz Jesus em segredo. O seu verdadeiro pai era um soldado chamado
Pantheras.

De acordo com o escritor Cristão Epifânio (c. 315 – 403 D.E.C.), o apologista Cristão Orígenes
(c. 185 – 254 D.E.C.) tinha afirmado que ―Panther‖ era o apelido de Jacob, o pai de José, o
padrasto de Jesus. É de notar que a afirmação de Orígenes não é baseada em nenhuma
informação histórica. É puramente uma conjectura cujo objetivo era explicar a história de
Pantheras de Celso. Essa história é também não histórica. A reivindicação de que o nome da
mãe de Jesus era Maria e a pretensão de que o seu marido era um carpinteiro é tirada
diretamente das crenças Cristãs. A afirmação de que o pai verdadeiro de Jesus se chamava
Pantheras é baseada numa tentativa incorreta de reconstruir a forma original de Pandeira. Esta
reconstrução incorreta foi provavelmente influenciada pelo fato de o nome Pantheras ser
encontrado entre os soldados Romanos.

Porque é que as pessoas acreditavam que a mãe de Jesus se chamava Maria e o seu marido se
chamava José? Porque é que os não cristãos acusavam Maria de ser uma adúltera enquanto
que os cristãos acreditavam que ela era virgem? Para responder a essas questões teremos que
examinar algumas das lendas sobre Yeishu. Não se pode esperar obter a verdade absoluta
sobre as origens do mito de Jesus, mas podemos mostrar que existem alternativas razoáveis
para a aceitação cega do Novo Testamento.

O nome José para o nome do padrasto de Jesus é fácil de explicar. O movimento Notzri era
particularmente popular entre os Judeus Samaritanos. Enquanto que os Fariseus estavam à
espera de um Messias que seria um descendente de David, os Samaritanos queriam um
Messias que viesse restaurar o reino nortenho de Israel. Os Samaritanos enfatizavam a sua
descendência parcial das tribos de Efraim e Manassés, que descendiam do José da Tora. Os
Samaritanos consideravam-se como sendo ―Bnei Yoseph‖, ou seja, ―filhos de José‖, e como
acreditavam que Jesus tinha sido o seu Messias, teriam assumido que era um ―filho de José‖. A
população de língua Grega, que tinha pouco conhecimento de Hebreu e das verdadeiras
tradições Judaicas, poderia facilmente ter mal entendido este termo e presumir que José era o

85
nome verdadeiro do pai de Jesus. Esta conjectura é fortalecida pelo fato que de acordo com o
Evangelho segundo S. Mateus, o pai de José se chama Jacob, tal como o do José da Tora.

Mais tarde, outros Cristãos que seguiam a ideia de que o Messias seria um descendente de
David, tentaram seguir o curso de José até David. Chegaram a duas genealogias contraditórias
para ele, uma registrada no Evangelho segundo S. Mateus e a outra no Evangelho segundo S.
Lucas. Quando a ideia de que Maria era virgem desenvolveu, o mítico José foi relegado para a
posição de ser simplesmente o seu marido e o padrasto de Jesus.

Para se perceber de onde a história de Maria veio, teremos que nos virar para outra
personagem histórica que contribuiu para o mito de Jesus, e que é ben Stada. Toda a
informação que temos sobre ben Stada advém novamente do Tosefta e do Baraitas. Há ainda
menos informação sobre ele do que sobre Yeishu. Algumas pessoas acreditavam que ele tinha
trazido encantamentos do Egito num corte da sua carne, outros pensavam que ele era um
louco. Ele era um trapaceiro e foi apanhado pelo método da testemunha escondida, sendo
apedrejado em Lod.

No Tosefta, ben Stada é chamado ben Sotera ou ben Sitera. Sotera parece ser a forma
Hebreu-Aramaica do nome Grego Soteros. As formas ―Sitera‖ e ―Stada‖ parecem ter surgido
como más interpretações e erros de soletração (yod substituindo vav e dalet substituindo
reish.)

Como havia tão pouca informação acerca de ben Stada, muitas hípoteses surgiram sobre quem
ele era. É conhecido da Gemara que ele era confundido com Yeishu. Isto provavelmente
resultou do fato de que ambos foram executados por ensinamentos traidores e estarem
associados à feitiçaria. As pessoas que confundiam ben Stada com Yeishu tiveram que explicar
o porquê dele também ser chamado ben Pandeira. Como o nome ―Stada‖ se parece com a
expressão aramaica ―stat da‖, que significa ―ela se desencaminhou‖, pensou-se que ―Stada‖ se
referia à mãe de Yeishu e que ela era uma adúltera. Consequentemente, as pessoas
começaram a pensar que Yeishu era o filho ilegítimo de Pandeira. Estas ideias são de fato
mencionadas na Gemara e são provavelmente mais antigas. Como ben Stada viveu nos
tempos Romanos e o nome Pandeira se assemelhava com o nome Pantheras encontrado entre
os soldados Romanos, assumiu-se que Pandeira tinha sido um soldado Romano estacionado
em Israel. Isto certamente explica a história mencionada por Celso.

O Tosefta menciona um caso famoso de uma mulher chamada Miriam bat Bilgah que casou
com um soldado Romano. A ideia de que Yeishu tinha nascido de uma mulher judia que tinha
tido um caso com um soldado Romano provavelmente resultou da confusão entre a mãe de
Yeishu e esta Míriam. O nome ―Míriam‖ é, claro, a forma original do nome ―Maria‖. É de fato
conhecido através do Gemara que algumas das pessoas que confundiam Yeishu com ben Stada
acreditavam que a mãe de Yeishu era ―Míriam, a cabeleireira de mulheres‖.

A história de que Maria (Míriam), mãe de Jesus, era uma adúltera, era certamente não
aceitável para os primeiros Cristãos. A história da virgem que deu à luz foi provavelmente
inventada para limpar o nome de Maria.

Os primeiros Cristãos não inventaram isto do nada. Histórias de virgens que davam à luz eram
comuns nos mitos pagãos. As seguintes personagens mitológicas eram tidas como nascidas de
virgens fecundadas divinamente: Rómulo e Remo, Perseu, Zoroastro, Mitra, Osíris-Aion,
Agdistis, Attis, Tammuz, Adónis, Korybas, Dioniso.

86
As crenças pagãs em uniões entre deuses e mulheres, não considerando se elas eram virgens
ou não, é ainda mais comum. Acreditava-se que muitas personagens da mitologia pagã eram
filhas de pais divinos e mães humanas. A crença Cristã de que Jesus era o filho de Deus
nascido de uma virgem é típica de uma superstição Greco-Romana. O filósofo Judeu Phílon de
Alexandria (c. 25 A.E.C. – 50 D.E.C.), avisou contra a superstição bastante espalhada da
crença de uniões entre homens deuses e mulheres humanas que retornavam a mulher a um
estado de virgindade.

O deus Tammuz, adorado pelos pagãos no norte de Israel, era dado como nascido da virgem
Myrrha. O nome Myrrha assemelha-se superficialmente a ―Maria/Míriam‖, e é possível que esta
particular história de uma virgem que deu à luz tenha influenciado a história de Maria mais que
as outras. Tal como Jesus, Tammuz foi sempre chamado Adon, que significa ―Senhor‖ (A
personagem Adonis da mitologia Grega é baseada em Tammuz.) Como veremos mais tarde, a
relação entre Jesus e Tammuz vai mais longe que isto.

A ideia de que Maria tinha sido uma adúltera nunca desapareceu completamente na mitologia
Cristã. Em vez disso, a personagem de Maria foi dividida em duas: Maria, a mãe de Jesus, que
se acreditava ser uma virgem, e Maria Magdalena, que se acreditava ser uma mulher de má
fama. A ideia de que a personagem de Maria Madalena é também derivada de Míriam, a mítica
mãe de Yeishu, é corroborada pelo fato de o estranho nome ―Magdalena‖ se assemelhar
claramente ao termo aramaico ―mgadala nshaya‖, que significa ―cabeleireira de mulheres‖.
Como se mencionou anteriormente acreditava-se que a mãe de Yeishu era ―Míriam, a
cabeleireira de mulheres‖.

Porque os Cristãos não sabiam o que o nome ―Magdalena‖ significava, mais tarde
conjecturaram que isso significava que ela tinha vindo de um lugar chamado Magdala, a oeste
do lago Kinneret. A idéia das duas Marias assentava bem na forma pagã de pensamento. A
imagem de Jesus sendo seguido pelas duas Marias lembra bastante Dioniso sendo seguido por
Deméter e Perséfone.

A Gemara contém uma lenda interessante acerca de Yeishu, que tenta ilucidar o Beraitas, que
diz que o Rabi Yehoshua ben Perachyah repeliu Yeishu. A lenda afirma que quando o rei
Asmoneu Alexandre Janeus estava matando os Fariseus, então o Rabi Yehoshua e Yeishu
fugiram para o Egito. Quando voltaram, chegaram a uma estalagem. A palavra aramaica
―aksanya‖ tanto significa ―estalagem‖ como ―estalajadeiro (a)‖. O Rabi Yehoshua observou o
quão belo a ―arksanya‖ era (referindo-se à estalagem) Yeishu (referindo-se à estalajadeira)
replicou que os olhos dela eram muito estreitos. O Rabi Yehoshua zangou-se bastante com
Yeishu e excomungou-o. Yeishu pediu que o perdoasse muitas vezes, mas o Rabi Yehoshua
não o perdoava.

Uma vez, quando o Rabi Yehoshua estava a recitar a Shema, Yeihsu veio falar com ele. O Rabi
fez-lhe um sinal de que devia esperar. Yeishu não entendeu e pensou que estava a ser
rejeitado novamente. Ele zombou do Rabi Yehoshua fazendo um tijolo e o adorando. O Rabi
Yehoshua disse-lhe para ele se arrepender, mas ele recusou, dizendo que tinha aprendido com
ele que a alguém que peca e leva muitos a pecar não é dada a oportunidade de se arrepender.

Esta história, que começa com os eventos da estalagem, é bastante semelhante com outra
lenda em que o protagonista não é o Rabi Yehoshua, mas o seu discípulo Yehuda ben Tabbai.
Nesta lenda, Yeishu não é nomeado. Pode-se então questionar se Yeishu foi realmente ao Egito
ou não. É possível que Yeishu tenha sido confundido com algum outro discípulo do Rabi
Yehoshua ou do Rabi Yehuda. A confusão pode ter resultado de Yeishu ser confundido com ben
Stada, que tinha regressado do Egito. Por outro lado, Yeishu poderia ter mesmo fugido para o

87
Egito e regressado, e isto, por seu turno, poderia ter contribuído para a confusão entre Yeishu
e ben Stada. Qualquer que seja o caso, a crença que Yeishu tenha fugido para o Egito para
escapar à matança de um rei cruel parece ser a origem da crença Cristã de que Jesus e a sua
família fugiram para o Egito para escapar ao Rei Herodes.

Como os primeiros Cristãos acreditavam que Jesus tinha vivido nos tempos Romanos é natural
que tenham confundido o rei cruel que tinha querido matar Jesus com Herodes, pois não havia
outros reis cruéis adequados durante o período Romano. Yeishu era adulto no tempo em que
os Rabis fugiram de Alexandre Janeus; porque é que os Cristãos acreditavam que Jesus e a
sua família tinham fugido para o Egito quando Jesus era criança? Porque é que os Cristãos
acreditavam que o rei Herodes tinha ordenado que todos os bebês nascidos em Belém fossem
mortos, quando não há evidência histórica disso? Para responder a estas questões temos
novamente que recorrer à mitologia pagã.

O tema de uma criança divina ou semidivina que é temida por um rei cruel é muito comum na
mitologia pagã. A história usual é que o rei cruel recebe uma profecia de que certa criança vai
nascer e vai usurpar o trono. Em algumas histórias a criança é nascida de uma virgem e
usualmente é filho de um deus. A mãe da criança tenta escondê-lo. O rei normalmente ordena
a matança de todos os bebês que possam ser o profetizado rei.

Exemplos de mitos que seguem este enredo são as histórias de nascimento de Rómulo e
Remo, Perseu, Krishna, Zeus e Édipo. Apesar de os literalistas da Tora não gostarem de
admiti-lo, a história do nascimento de Moisés também se assemelha à destes mitos (alguns
dos quais afirmam que a mãe pôs a criança num cesto e o colocou num rio). Existiam
provavelmente várias histórias destas circulando no Levante que se perderam. O mito Cristão
da matança dos inocentes por Herodes é simplesmente uma versão Cristã deste tema. O
enredo era tão conhecido que um sábio Midrashic não resistiu a usá-lo para um relato apócrifo
do nascimento de Abraão.

Os primeiros cristãos acreditavam que o Messias iria nascer em Belém. Esta crença é baseada
numa má interpretação de Miquéias 5, 2, que simplesmente nomeia Belém como a cidade
onde a linhagem Davidiana começou. Como os primeiros cristãos acreditavam que Jesus era o
Messias, eles automaticamente acreditaram que ele tinha nascido em Belém. Mas porque é
que os Cristãos acreditavam que ele tinha vivido em Nazaré? A resposta é bem simples. Os
primeiros cristãos de língua grega não sabiam o que a palavra ―Nazareno‖ significava. A forma
primitiva Grega desta palavra é ―Nazoraios‖, que deriva de ―Natzoriya‖, o equivalente aramaico
do Hebreu ―Notzri‖ (lembre-se que ―Yeishu ha-Notzri‖ é o original Hebreu para ―Jesus, o
Nazareno‖.) Os primeiros Cristãos pensaram que ―Nazareno‖ significava uma pessoa de
Nazaré, e assim assumiu-se que Jesus tinha vivido em Nazaré. Ainda hoje, os cristãos
alegremente confundem as palavras hebraicas ―Notzri‖ (Nazareno, Cristão), ―Natzrati‖
(Nazareno, natural de Nazaré) e ―nazir‖ (nazarite), todas as quais têm significados
completamente diferentes.

A informação no Talmude (que contém o Baraitas e o Gemara) acerca de Yeishu e ben Stada é
tão danosa para o Cristianismo que os Cristãos sempre tomaram medidas drásticas contra ela.
Quando os Cristãos descobriram a informação, tentaram imediatamente apagá-la censurando
o Talmude. A edição de Basileia do Talmude (c. 1578 – 1580) tinha todas as passagens
relacionadas com Yeishu e ben Stada apagadas pelos Cristãos. Ainda hoje, as edições do
Talmude usadas pelos educadores Cristãos não têm estas passagens!

Durante as primeiras décadas deste século, ferozes batalhas académicas irromperam


violentamente entre educadores Cristãos e Ateus acerca das verdadeiras origens do

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Cristianismo. Os Cristãos foram forçados a enfrentarem a evidência Talmudica. Não podiam
mais ignorar isso e assim, em vez disso, decidiram atacá-lo. Afirmaram que o Yeishu
Talmudico era uma distorção do ―Jesus histórico‖. Afirmaram que o nome ―Pandeira‖ era
simplesmente uma tentativa hebraica para pronunciar a palavra Grega para virgem –
―parthenos‖. Apesar de haver uma parecença superficial entre as palavras, temos de notar que
para ―Pandeira‖ derivar de ―parthenos‖, o ―n‖ e o ―r‖ têm de trocar de posições. No entanto, os
Judeus não sofriam de nenhum impedimento linguístico que causasse isto! A resposta Cristã é
que possivelmente os Judeus alteram propositadamente a palavra ―parthenos‖ para os nomes
―Pantheras‖ (encontrado na história de Celso) ou para ―pantheros‖, que significa pantera, e
―Pandeira‖ é derivado da palavra deliberadamente alterada. Este argumento também é falho,
pois a terceira consoante da palavra ―parthenos‖ alterada e inalterada é theta. Esta letra é
sempre transliterada pela letra hebraica taw, cuja pronuncia durante os tempos clássicos
muito se assemelhava a essa letra Grega.

Contudo, o nome ―Pandeira‖ nunca é soletrado com um taw, mas com um dalet ou um tet, o
que mostra que a forma original Grega tinha um delta como sua terceira consoante, e não um
theta.

O argumento Cristão pode-se também voltar contra si: talvez os Cristãos deliberadamente
alterassem ―Pantheras‖ para ―parthenos‖ quando inventaram a história da virgem que deu à
luz. Também é de notar que a semelhança entre ―Pantheras‖ (ou ―pantheros‖) é muito menor
quando escrita em Grego, pois na formação original Grega as suas segundas vogais são
completamente diferentes.

Os Cristãos também não aceitaram que Maria Magdalena estivesse ligada a Miriam, a alegada
mãe de Yeishu no Talmude. Eles argumentaram que o nome ―Magdalena‖ significa uma pessoa
de Magdala e que os Judeus inventaram ―Miriam, a cabeleireira de mulheres‖ (mgdala nshaya)
para zombar dos Cristãos ou porque eles próprios se equivocaram quanto ao nome
―Magdalena‖.

Este argumento também é falso. Primeiramente, ignora a gramática Grega: o Grego correto
para ―de Magdala‖ é ―Magdales‖, e o Grego correto para uma pessoa de Magdala é
―Magdalaios‖. A raiz Grega original para ―Magdalena‖ é ―Magdalen-‖, com um ―n‖ distinto
mostrando que a palavra não tem nada a ver com Magdala. Em segundo lugar, Magdala só
obteve o seu nome após os Evangelhos terem sido escritos. Antes disso era chamada Magadan
ou Dalmanutha (apesar de ―Magadan‖ ter um ―n‖, falta-lhe o ―l‖, e, portanto não pode ser a
derivação de ―Magdalena‖.) De fato, a comunidade Cristã alterou o nome para Magdala às
ruínas desta área porque acreditavam que Maria Magdalena tinha vindo de lá.

Os Cristãos também afirmam que a palavra ―Notzri‖ significa uma pessoa de Nazaré. Isto,
claro, é falso, pois a palavra hebraica para Nazaré é ―Natzrat‖ e uma pessoa de Nazaré é uma
―Natzrati‖. O nome ―Notzri‖ não tem a letra taw de ―Natzrat‖, e assim não pode derivar daí. Os
Cristãos argumentam que talvez o nome aramaico para Nazaré fosse ―Natzarah‖ ou ―Natzirah‖
(como o moderno nome árabe), o que explica o taw que falta em ―Notzri‖. Isto também não
tem senso pois a palavra aramaica para alguém da Nazaré seria ―Natzaratiya‖ ou ―Natziratyia‖
(com um taw, pois a terminação feminina ―-ah‖ vira ―-at-‖ quando o sufixo ―-yia‖ é
adicionado), e além do mais, a forma aramaica não seria usada em Hebreu. Os Cristãos
também apareceram com outros argumentos variados que podem ser desmascarados uma vez
que eles confundem as palavras hebraicas ―Notzri‖ e ―nazir‖, ou ignoram o fato de que ―Notzri‖
é a primitiva forma da palavra ―Nazareno‖.

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Para resumir, todos os argumentos Cristãos foram baseados em mudanças fonéticas e formas
gramaticais impossíveis, e foram, consequentemente, desmistificadas. Além do mais, apesar
das lendas na Gemara não possam ser tidas como fatos, a evidência no Baraitas e no Tosefta
sobre a Yeishu pode nos levar de volta até Yehoshua ben Perachyah, Shimon ben Shetach e
Yehuda ben Tabbai, enquanto que a evidência no Baraitas e no Tosefta sobre a ben Stada no
leva até o Rabi Eliezer ben Hyrcanus e seus discípulos, que foram contemporâneos de ben
Stada.

Consequentemente, esta evidência pode ser encarada como historicamente certa. Por isso os
Cristãos modernos não mais atacam o Talmude, mas em vez disso negam qualquer relação
entre Jesus e Yeishu ou ben Stada. Eles desmistificam as similaridades como puras
coincidências. No entanto, ainda temos que estar atentos aos falsos ataques contra o Talmude
pois muitos livros Cristãos ainda os mencionam e podem ressurgir de tempos em tempos.

Muitas partes da história de Jesus não são baseadas em Yeishu ou ben Stada. A maior parte
das denominações Cristãs afirma que Jesus nasceu a 25 de Dezembro. Originalmente, os
Cristãos orientais acreditavam que ele tinha nascido a 6 de Janeiro. Os Cristãos armênios
ainda seguem esta primitiva crença enquanto que muitos Cristãos consideram que essa é a
data da visita dos Magos. Como já foi apontado anteriormente, Jesus foi provavelmente
confundido com Tammuz, nascido da virgem Myrrha.

Sabe-se que nos tempos Romanos os deuses Tammuz, Aion e Osíris eram comuns. Dizia-se
que Osíris-Aion tinha nascido da virgem Geb em 6 de Janeiro, e isto explica a data primitiva
para o Natal. Geb era, às vezes, representada como uma vaca sagrada e o seu templo era um
estábulo, que é provavelmente a origem da crença Cristã de que Jesus nasceu num estábulo.
Embora alguns possam pensar que esta afirmação é forçada, é tido como um fato que algumas
facções Cristãs primitivas consideravam Jesus e Osíris nos seus escritos.

A data de 25 de Dezembro para o Natal era originalmente a data pagã do aniversário do deus
sol, cujo dia da semana é ainda conhecido como Sun-day (inglês). O halo de luz que é
usualmente mostrado à volta da face de Jesus e dos santos Cristãos é outro conceito tirado do
deus sol.

O tema da tentação por uma criatura diabólica também é encontrado na mitologia pagã. A
história da tentação de Jesus por Satã, em particular, parece-se com a tentação de Osíris pelo
deus diabólico Set na mitologia egípcia.

Já tínhamos sugerido que havia uma relação entre Jesus e o deus pagão Dioniso. Como
Dioniso, o menino Jesus foi posto com fraldas numa manjedoura; como Dioniso, Jesus podia
tornar água em vinho; como Dioniso, Jesus viajou de burro e deu de comer a uma multidão
num ermo; como Dioniso, Jesus sofreu e foi objeto de escárnio. Alguns primitivos Cristãos
afirmavam que Jesus tinha de fato nascido, não num estábulo, mas numa caverna – como
Dioniso.

De onde é que a história de que Jesus foi crucificado veio? Parece ter resultado de várias
origens. Em primeiro lugar, houve três personagens históricas durante o período Romano que
as pessoas pensavam ser o Messias e que foram crucificadas pelos Romanos, a saber, Yehuda
da Galileia (6 D.E.C.), Theudas (44 D.E.C.) e Benjamim, o Egípcio (60 D.E.C.).

Dado que se pensava que estas três pessoas eram o Messias, elas foram naturalmente
confundidas com Yeishu e ben Stada. Yehuda da Galileia tinha pregado na Galileia e tinha
arranjado muitos seguidores antes de ser crucificado pelos Romanos. A história do ministério

90
de Jesus na Galileia parece ter sido baseada na vida de Yehuda da Galileia. Esta história e a
crença de que Jesus viveu em Nazaré na Galileia se reforçaram mutuamente. A crença de que
alguns dos discípulos de Jesus foram mortos em 44 D.E.C. por Agripa parece ser baseado no
destino dos discípulos de Theuda. Dado que ben Stada tinha vindo do Egito é natural que ele
tenha sido confundido com Benjamim, o Egípcio. Eles foram também, provavelmente,
contemporâneos.

Alguns escritores modernos até sugeriram que eles foram a mesma pessoa, apesar disso não
ser possível, pois as histórias das suas mortes são completamente diferentes. Nos Atos dos
Apóstolos do Novo Testamento, que usa o livro de Flávio Josefo ―Antiguidades Judaicas‖ (93 –
94 D.E.C.) como referência, é deixado claro que o autor considerou Jesus, Yehuda da Galileia,
Theudas e Benjamim, o Egípcio como quatro pessoas diferentes. No entanto, naquela altura já
era muito tarde para anular as confusões que já tinham acontecido antes do Novo Testamento
ter sido escrito, e a ideia da crucificação de Jesus tinha-se tornado uma parte integral do mito.

Em segundo lugar, surgiu a ideia de que Jesus tinha sido executado na véspera da Passagem.
Esta crença é aparentemente baseada na execução de Yeishu. A Passagem ocorre no Equinócio
da Primavera, um evento considerado importante pelos astrólogos durante o Império Romano.
Os astrólogos pensavam nesta época como a época do cruzamento de dois círculos celestes
astrológicos, e este evento era simbolizado por uma cruz. Deste modo, acreditava-se que
Jesus tinha morrido ―na cruz‖. O mau entendimento deste termo por aqueles que não eram
iniciados nos cultos astrológicos foi outro fator que contribuiu para a crença de que Jesus
tenha sido crucificado.

Num dos primeiros documentos Cristãos (os ―Ensinamento dos Doze Apóstolos‖), não há
menção de Jesus ter sido crucificado, e o sinal de uma cruz no céu é usado para representar a
chegada de Jesus. É de notar que o centro da superstição astrológica no Império Romano foi a
cidade de Tarso na Ásia Menor – o lugar de onde o lendário missionário S. Paulo veio. A idéia
de que uma estrela especial tenha anunciado o nascimento de Jesus e que um eclipse solar
tenha ocorrido na sua morte é típica da superstição astrológica Tarsiana.

O terceiro fator que contribuiu para a história da crucificação é, outra vez, a mitologia pagã. O
tema de uma divindade ou semi-divindade sendo sacrificada contra uma árvore, poste ou cruz,
e depois ressuscitando, é muito comum na mitologia pagã. Foi encontrado nas mitologias de
todas as civilizações ocidentais, estendendo-se desde um extremo oeste como a Irlanda até
um extremo leste como a Índia. Em particular, é encontrado nas mitologias de Osíris e Attis,
ambos os quais eram muitas vezes identificados com Tammuz. Osíris acabou com os seus
braços esticados numa árvore tal como Jesus na cruz. Esta árvore era, às vezes, mostrada
como um poste com dois braços esticados – o mesmo aspecto da cruz Cristã.

Na adoração de Serapis (uma composição de Osíris e Apis), a cruz era um símbolo religioso.
De fato, o símbolo da ―cruz Latina‖ Cristã parece ser baseado diretamente no símbolo da cruz
de Osíris e Serapis. Os Romanos nunca usaram esta cruz tradicional Cristã para as
crucificações, eles usavam cruzes com a forma de um X ou de um T. O hieróglifo de uma cruz
numa colina era associado a Osíris. Este hieróglifo representava o ―Good One‖ (inglês), em
Grego ―Chrestos‖, um nome aplicado a Osíris e outros deuses pagãos. A confusão deste nome
com ―Christos‖ (= Messias, Cristo) reforçou a confusão entre Jesus e os deuses pagãos.

No equinócio da Primavera, os pagãos do norte de Israel celebravam a morte e ressurreição de


Tammuz-Osíris, nascido de uma virgem. Na Ásia Menor (onde as primeiras igrejas Cristãs se
estabeleceram), uma celebração similar era feita para Attis, também nascido de uma virgem.
Attis era mostrado como morrendo contra uma árvore, sendo enterrado numa gruta e depois

91
ressuscitando ao terceiro dia. Agora se vê de onde a história da ressurreição de Jesus veio. Na
adoração de Baal, acreditava-se que Baal tinha enganado Mavet (o deus da morte) no
equinócio da Primavera. Ele se fez de morto e depois apareceu vivo. Ele teve sucesso neste
ardil dando o seu único filho como sacrifício.

A ocorrência da Passagem na mesma época do ano que as ―Páscoas‖ pagãs não é coincidência.
Muitos dos costumes da Pessach foram designados como alternativas Judaicas aos costumes
pagãos. Os pagãos acreditavam que quando o seu deus da natureza (como Tammuz, Osíris ou
Attis) morria e ressuscitava, a sua vida ia para as plantas usadas pelo homem como comida. O
matza feito da colheita da Primavera era o seu novo corpo e o vinho das uvas era o seu novo
sangue.

No Judaísmo, o matza não era usado para representar o corpo de um deus, mas o pão de
homem pobre que os Judeus comeram antes de saírem do Egito. Os pagãos usavam o
sacrifício pascal para representar o sacrifício de um deus ou do seu filho único, mas o Judaísmo
usou-o para representar a refeição comida antes de saírem do Egito. Em vez de contarem
histórias de Baal a sacrificar o seu filho varão a Mavet, os Judeus contavam como o mal‘ach
ha-mavet (o anjo da morte) matou os filhos varões dos Egípcios.

Os pagãos comiam ovos para representar a ressurreição e renascimento do seu deus da


natureza, mas o ovo no seder representa o renascimento do povo Judeu ao escapar do
cativeiro no Egito. Quando os primeiros Cristãos se deram conta das similaridades entre os
costumes da Pessach e os costumes pagãos, eles deram a volta completa e converteram os
costumes da Pessach de volta às suas velhas interpretações pagãs.

A seder tornou-se a última ceia de Jesus, similar à última ceia de Osíris, comemorada no
equinócio da Primavera. O matza e o vinho tornaram-se novamente no corpo e sangue de um
falso deus, desta vez Jesus. Os ovos da Páscoa são novamente comidos para comemorar a
ressurreição de um ―deus‖ e também o ―renascimento‖ obtido pela aceitação do seu sacrifício
na cruz.

O mito da última ceia é particularmente interessante. Como foi mencionada, a ideia básica da
última ceia ocorrer no equinócio de inverno vem da história da última ceia de Osíris. Na
história Cristã, Jesus está presente com doze apóstolos. De onde é que a história dos doze
apóstolos veio? Parece que na primeira versão a história era entendida como uma alegoria. A
primeira vez que doze apóstolos são mencionados é no documento conhecido como
―Ensinamentos dos Doze Apóstolos‖. Este documento aparentemente teve origem num
documento sectário Judeu escrito no primeiro século D.E.C., mas foi adotado pelos Cristãos,
que o alteraram substancialmente e adicionaram-lhe ideias Cristãs. Nas primeiras versões é
claro que os ―doze apóstolos‖ são os doze filhos de Jacob representando as doze tribos de
Israel. Os Cristãos, mais tarde, consideraram os ―doze apóstolos‖ como sendo alegóricos
discípulos de Jesus.

Na mitologia egípcia, Osíris foi traído na sua última ceia pelo deus diabólico Set, que os Gregos
identificavam como Typhon. Esta parece ser a origem da ideia de que o traidor de Jesus estava
presente na sua última ceia. A ideia de que este traidor se chamava ―Judas‖ vem do tempo em
que os doze apóstolos eram ainda entendidos como sendo os filhos de Jacob. A ideia de Judas
(= Judah, Yehuda) traindo Jesus (o ―filho‖ de José) é uma forte reminiscência da história do
José da Tora sendo traído pelos seus irmãos com Yehuda como líder da traição.

Esta alegoria seria particularmente apelativa para os Samaritanos Notzrim, que se


consideravam filhos de José, traídos pelos Judeus ortodoxos (representados por

92
Judas/Yehuda). No entanto, a história dos doze apóstolos perdeu a sua interpretação alegórica
original, e os Cristãos começaram a pensar que os ―doze apóstolos‖ eram doze pessoas reais
que seguiram Jesus. Os Cristãos tentaram encontrar nomes para estes doze apóstolos.

Mateus e Tadeu foram baseados em Mattai e Todah, dois dos discípulos de Yeishu. Um ou os
dois apóstolos chamados Jacobus (Tiago) é possivelmente baseado no Jacob de Kfar Sekanya,
um primitivo Cristão conhecido do rabi Eliezer ben Hyrcanus, mas isto é apenas uma
suposição. Como já vimos, a personagem de Judas é majoritariamente baseado no Judah da
Tora, mas poderá haver também uma ligação com um contemporâneo de Yeishu, Yehuda ben
Tabbai, o discípulo do Rabi Yehoshua ben Perachyah. Como já foi mencionada, a ideia do
traidor na última ceia é derivada da mitologia de Osíris, que foi traído por Set-Typhon. Set-
Typhon tinha cabelo ruivo, e esta é provavelmente a origem da afirmação de que Judas tinha o
cabelo ruivo. Esta ideia levou ao retrato estereotipo Cristão de que os Judeus têm cabelo ruivo,
não obstante o fato de que, na realidade, o cabelo ruivo é de longe mais comum entre Arianos
do que entre Judeus.

O apelido ―Iscariotes‖ é muitas vezes atribuído a Judas. Em algumas partes onde os Novos
Testamentos Ingleses têm ―Iscariotes‖, o texto Grego realmente tem ―apo Kariotou‖, que
significa ―de Karyot‖. Karyot era o nome de uma cidade em Israel, provavelmente o moderno
lugar conhecido em árabe como Karyatein. Portanto, vê-se que o nome Iscariotes é derivado
do Hebreu ―ish Karyot‖, que significa ―homem de Karyot‖. Esta é a compreensão do nome
aceita hoje em dia pelos Cristãos.

No entanto, no passado, os Cristãos entendiam mal este nome, e nasceram lendas de que
Judas era da cidade de Sychar, que ele era um membro do partido extremista conhecido como
Sicarii, e que ele era da tribo de Issacar. O mais interessante mal entendimento do nome é a
sua primitiva confusão com a palavra scortea, que significa ―bolsa de couro‖. Isto levou ao
mito do Novo Testamento de que Judas carregava uma bolsa, o que por sua vez levou à
crença de que ele era o tesoureiro dos apóstolos.

O apóstolo Pedro parece ser uma personagem largamente ficcional. De acordo com a mitologia
Cristã, Jesus escolheu-o para ser o ―guardião das chaves do reino dos céus‖. Isto é claramente
baseado na divindade pagã egípcia Petra, que era o porteiro do céu e da vida após a morte,
governados por Osíris.

Temos também de duvidar da história de Lucas ―o médico‖, que era suposto ser amigo de
Paulo. O original Grego para Lucas é Lycos, que era outro nome para Apolo, o deus da cura.

João Batista é largamente baseado numa personagem histórica que praticava imersão ritual na
água como um símbolo físico de arrependimento. Ele não realizava batismos sacramentais ao
estilo Cristão para purificar as almas das pessoas – tal ideia era totalmente estranha ao
Judaísmo. Ele foi condenado à morte por Herodes Antipas, que temeu que ele estivesse
prestes a começar uma rebelião. O nome de João em Grego era ―Ioannes‖, e em latim
―Johannes‖.

Apesar de estes nomes serem usualmente usados para o nome Hebreu Yochanan, é
improvável que este tenha sido o verdadeiro nome Hebreu de João. ―Ioannes‖ assemelha-se a
―Oannes‖, o nome Grego para o deus pagão Ea. Oannes era o ―Deus da Casa de Água‖.
Batismos sacramentais para purificação mágica das almas era uma prática que aparentemente
originou a adoração de Oannes. A mais provável explicação do nome de João e a sua relação
com Oannes é a de que João provavelmente ostentou o apelido ―Oannes‖, dado que ele
praticava o batismo, que tinha adaptado do culto de Oannes. O nome ―Oannes‖ foi mais tarde

93
confundido com ―Ioannes‖ (de fato, a lenda do Novo Testamento que diz respeito a João
providencia uma pista de que o seu verdadeiro nome talvez tenha sido Zacarias.) É sabido, dos
escritos de Flávio Josefo, que o João histórico rejeitou a interpretação pagã do batismo como
―purificação de almas‖. Os Cristãos, no entanto, voltaram a esta interpretação pagã original.

O deus Oannes era associado com a constelação do Capricórnio. Tanto Oannes como a
constelação do Capricórnio eram associados com a água (a constelação é suposto representar
uma mítica criatura marítima com o corpo de peixe e as partes dianteiras de um bode). Já
vimos que a Jesus é dado a mesma data de nascimento do deus sol (25 de Dezembro),
quando o sol está na constelação de Capricórnio. Os pagãos pensavam neste período como
onde o deus Sol imerge nas águas de Oannes e emerge renascido (o Solstício de Inverno,
quando os dias começam a ficarem maiores, ocorre perto de 25 de Dezembro.)

Este mito astrológico é aparentemente a origem da história de que Jesus foi batizado por João.
Provavelmente começou como uma história astrológica alegórica, mas parece que o deus
Oannes mais tarde foi confundido com a personagem histórica de apelido Oannes (João.)

A crença de que Jesus tinha conhecido João contribuiu para a crença de que a pregação e
crucificação de Jesus tenham ocorrido quando Pôncio Pilatos era procurador da Judeia. É de
notar que muitas das datas para Jesus citadas pelos Cristãos são completamente absurdas.
Jesus foi em parte baseado em Yeishu e ben Stada, que provavelmente viveram com mais de
um século de diferença. Ele foi também baseado nos três falsos Messias Yehuda, Theudas e
Benjamim, que foram crucificados pelos Romanos em várias épocas diferentes.

Outro fato que contribuiu para a datação confusa de Jesus foi que Jacob de Kfar Sekanya e
provavelmente também outros Notzrim usavam expressões como ―assim fui ensinado por
Yeishu ha-Notzri‖, apesar dele não ter sido ensinado por Yeishu em pessoa. Sabemos da
Gemara que o testemunho de Jacob levou o Rabi Eliezer ben Hyrcanus a incorretamente
concluir que Jacob era um discípulo de Yeishu. Isto sugere que havia rabis que não sabiam que
Yeishu tinha vivido nos tempos Asmoneus.

Mesmo depois dos Cristãos situarem Jesus no primeiro século D.E.C., a confusão continuou
entre os não-Cristãos. Houve um contemporâneo do Rabi Akiva chamado Pappus ben Yehuda
que costumava trancar a sua esposa infiel. Sabemos da Gemara que algumas pessoas que
confundiam Yeishu e ben Stada também confundiam a mulher de Pappus com Míriam, a infiel
esposa de Yeishu. Isto iria situar Yeishu mais de dois séculos depois do que ele atualmente
viveu!

A história do Novo Testamento confunde tantos períodos históricos que não há maneira de
reconciliá-la com a História. O ano tradicional do nascimento de Jesus é 1 D.E.C. Era suposto
Jesus não ter mais de dois anos de idade quando Herodes ordenou a matança dos inocentes.
No entanto, Herodes morreu antes de 12 de Abril do ano 4 A.E.C.. Isto levou alguns Cristãos a
redatarem o nascimento de Jesus entre 6 – 4 A.E.C.. No entanto, Jesus era também suposto
ter nascido durante o censo de Quirinius. Este censo teve lugar depois de Arquelau ter sido
deposto em 6 D.E.C., dez anos depois da morte de Herodes.

Era suposto Jesus ter sido batizado por João logo depois de João ter começado a batizar e a
pregar, no décimo quinto ano do reinado de Tibério, i.e., 28 – 29 D.E.C., quando Pôncio Pilatos
foi governador da Judeia, i.e., 26 – 36 D.E.C. De acordo com o Novo Testamento, isto também
aconteceu quando Lysanias foi tetrarca de Abilene e Anás e Caifás eram sumos sacerdotes.
Mas Lysanias governou Abilene de c. 40 A.E.C. até ser executado em 36 A.E.C. por Marco

94
António, cerca de 60 anos antes da data para Tibério, e cerca de 30 anos antes do suposto
nascimento de Jesus!

Além do mais, nunca houve dois sumos sacerdotes juntos, em particular, Anás não foi sumo
sacerdote juntamente com Caifás. Anás foi retirado do ofício de sumo sacerdote em 15 D.E.C.,
depois de ficar no ofício por nove anos. Caifás só se tornou sumo sacerdote em 18 D.E.C.,
cerca de três anos depois de Anás (ele ficou no ofício durante cerca de 18 anos, e assim as
suas datas são consistentes com Tibério e Pôncio Pilatos, mas não com Anás ou Lysanias.)

Apesar dos Atos dos Apóstolos apresentarem Yehuda da Galileia, Theudas e Jesus como três
pessoas diferentes, situa incorretamente Theudas (crucificado no ano 44 D.E.C.) antes de
Yehuda, que menciona corretamente como tendo sido crucificado durante o censo (6 D.E.C.)
Muitos destes absurdos cronológicos parecem ser baseados em leituras mal interpretadas e
mal entendimentos do livro de Flávio Josefo ―Antiguidades Judaicas‖, que foi usado como
referência pelo autor do Evangelho segundo S. Lucas e dos Atos dos Apóstolos.

A história do julgamento de Jesus é também altamente suspeita. Tenta claramente aplacar os


Romanos enquanto difama os Judeus. O Pôncio Pilatos histórico era arrogante e déspota. Ele
odiava os Judeus e nunca delegou nenhuma autoridade a eles. No entanto, na mitologia Cristã,
ele é retratado como um governante preocupado que se distancia das acusações contra Jesus
e que foi forçado a obedecer às pretensões dos Judeus. De acordo com a mitologia Cristã, em
cada Passagem os Judeus pediam a Pilatos para libertar um criminoso qualquer que eles
escolhessem.

Isto é, claro, uma mentira espalhafatosa. Os Judeus nunca tiveram o costume de libertar
criminosos culpados na Passagem ou em qualquer outra época do ano. De acordo com o mito,
Pilatos deu aos Judeus a chance de libertar Jesus, o Cristo, ou um assassino chamado Jesus
Barrabás. Os Judeus supostamente escolhem Jesus Barrabás.

A falta de evidência Histórica para Jesus

A resposta Cristã habitual para os que questionam a historicidade de Jesus é manusear vários
documentos como ―evidência histórica‖ para a existência de Jesus. Eles normalmente
começam com os evangelhos canônicos, ou seja, O Evangelho segundo S. Mateus, O
Evangelho segundo S. Marcos, O Evangelho segundo S. Lucas e O Evangelho segundo S. João.
A afirmação habitual é a de que estes são ―registros de testemunhas oculares sobre a vida de
Jesus feitos pelos seus discípulos‖. A resposta a este argumento pode ser resumido numa
palavra – pseudepigráfico. Este termo refere-se a trabalhos de escrita cujos autores ocultam
as suas verdadeiras identidades atrás de nomes de personagens lendárias do passado. A
escrita pseudepigráfica era particularmente popular entre os Judeus durante os períodos
Asmoneu e Romano, e este estilo de escrita foi adotado pelos primeiros Cristãos.

Os evangelhos canônicos não são os únicos evangelhos. Por exemplo, há também evangelhos
de Maria, Pedro, Tomé e Filipe. Estes quatro evangelhos são reconhecidos como sendo
pseudepigráficos tanto por escolares Cristãos como não Cristãos. Eles providenciam uma
informação histórica ilegítima dado que foram baseados em rumores e crenças. A existência
destes óbvios evangelhos pseudepigráficos faz com que seja bastante racional suspeitar que os
evangelhos canônicos poderão também ser pseudepigráficos. O fato de que os primeiros
Cristãos escreviam evangelhos pseudepigráficos sugere que isto era de fato a norma. Deste
modo, é quando os missionários afirmam que os evangelhos canônicos não são
pseudepigráficos que requer provas.

95
O Evangelho segundo S. Marcos é escrito no nome de S. Marcos, o discípulo do mítico S. Pedro
(S. Pedro é majoritariamente baseado no deus pagão Petra, que era o porteiro do céu e da
vida depois da morte na religião egípcia.) Até na mitologia Cristã S. Marcos não era discípulo
de Jesus, mas um amigo de S. Paulo e S. Lucas. O Evangelho segundo S. Marcos foi escrito
antes do Evangelho segundo S. Mateus e do Evangelho segundo S. Lucas (c. de 100 D.E.C.),
mas depois da destruição do Templo em 70 D.E.C., que menciona. Muitos Cristãos acreditam
que foi escrito em c. 75 D.E.C. Esta data não é baseada em História, mas na crença de que um
histórico S. Marcos escreveu o evangelho na sua velhice. Isto não é possível, dado que o estilo
de linguagem usada em S. Marcos mostra que foi escrita (provavelmente em Roma) por um
Romano convertido ao Cristianismo, cuja primeira língua era Latim e não Grego, Hebreu ou
Aramaico.

De fato, como todos os outros evangelhos são escritos em nome de personagens lendárias do
passado, o Evangelho segundo S. Marcos foi provavelmente escrito muito depois de algum
Marcos histórico (se houve um) ter morrido. O conteúdo do Evangelho segundo S. Marcos é
uma coleção de mitos e lendas que foram juntos de forma a formar uma narrativa contínua.
Não há provas de que tenha sido baseado em qualquer fonte histórica de confiança. O
Evangelho segundo S. Marcos foi alterado e editado muitas vezes, e a versão moderna
provavelmente data de cerca de 150 D.E.C. Clemente de Alexandria (c. de 150 D.E.C. – c. de
215 D.E.C.) queixou-se acerca das versões alternativas deste evangelho, que ainda circulavam
no seu tempo (os Carpocratianos, uma primeira facção Cristã, considerava a pederastia como
sendo uma virtude, e Clemente queixou-se da sua versão do Evangelho segundo S. Marcos,
que contava as explorações homossexuais de Jesus com rapazes novos!).

O Evangelho segundo S. Mateus certamente não foi escrito pelo apóstolo S. Mateus. A
personagem de S. Mateus é baseada na personagem histórica chamada Mattai, que era um
discípulo de Yeishu ben Pandeira (Yeishu, que viveu nos tempos Asmoneus, foi uma das várias
pessoas históricas em quem a personagem de Jesus foi baseada.)

O Evangelho segundo S. Mateus foi originalmente anônimo e só foi lhe foi imputado o nome de
S. Mateus depois, durante a primeira metade do segundo século D.E.C. A forma primitiva foi
provavelmente escrita mais ou menos ao mesmo tempo do Evangelho de S. Lucas (c. de 100
D.E.C.), pois nenhum dos dois parece saber do outro. Foi alterado e editado até cerca de 150
D.E.C. Os primeiros dois capítulos, que tratam da virgem dando a luz, não estavam na versão
original, e os Cristãos de Israel com descendência Judaica preferiram esta primeira versão.
Para suas fontes, usou o Evangelho segundo S. Marcos e uma coleção de ensinamentos
referidos como a Segunda Fonte (ou o Documento Q.)

A Segunda Fonte não sobreviveu como um documento isolado, mas todos os seus conteúdos
são encontrados no Evangelho segundo S. Marcos e no Evangelho segundo S. Lucas. Todos os
ensinamentos aí contidos podem ser encontrados no Judaísmo. Os ensinamentos mais
razoáveis podem ser encontrados no Judaísmo ortodoxo, enquanto que os menos razoáveis
podem ser encontrados no Judaísmo sectário. Não há nada nele que requeira a nossa
suposição da existência de um Jesus histórico real. Apesar do Evangelho segundo S. Mateus e
do Evangelho segundo S. Lucas atribuírem os ensinamentos neles contidos a Jesus, a Epístola
de S. Tiago atribui-os a S. Tiago. Como foi visto, o Evangelho segundo S. Mateus não
providencia nenhuma evidência histórica para Jesus.

O Evangelho de S. Lucas e o livro dos Atos dos Apóstolos (que eram duas partes de um
mesmo trabalho) foram escritos em nome da personagem mitológica Cristã de S. Lucas, o
médico (que provavelmente não foi uma personagem histórica mas uma adaptação Cristã do
deus Grego da cura Lycos.) Até na mitologia Cristã S. Lucas não foi um discípulo de Jesus, mas

96
um amigo de S. Paulo. O Evangelho segundo S. Lucas e os Atos dos Apóstolos usam o livro de
Flávio Josefo, ―Antiguidades Judaicas‖, como referência, e assim não podiam ter sido escritos
antes de 93 D.E.C. Nesta altura, qualquer amigo de S. Paulo estaria ou morto ou bem senil.

De fato, tanto estudiosos Cristãos como não Cristãos estão de acordo de que as primeiras
versões dos dois livros foram escritas por um Cristão anônimo em c. 100 D.E.C., e foram
alterados e editados até c. 150 – 175 D.E.C. Além do livro de Flávio Josefo, o Evangelho
segundo S. Lucas e os Atos dos Apóstolos também usam o Evangelho de S. Marcos e a
Segunda Fonte como referências. Apesar de Flávio Josefo ser considerado mais ou menos de
confiança, o autor anônimo muitas vezes lê ou entende mal Flávio Josefo, e, além disso,
nenhuma das informações acerca de Jesus no Evangelho segundo S. Lucas e nos Atos dos
Apóstolos vem de Flávio Josefo. Como se vê, o Evangelho segundo S. Lucas e os Atos dos
Apóstolos não têm valor histórico.

O Evangelho segundo S. João foi escrito em nome do apóstolo S. João, o irmão de S. Tiago,
filho de Zebedeu. O autor do Evangelho segundo S. Lucas usou tantas fontes quantas pode
obter, mas ele não tinha conhecimento do Evangelho segundo S. João. Assim, o Evangelho
segundo S. João não podia ter sido escrito antes do Evangelho segundo S. Lucas (c. 100
D.E.C.) Conseqüentemente, o Evangelho segundo S. João não podia ter sido escrito pela semi-
mítica personagem de S. João, o apóstolo, que era suposto ter sido morto por Herodes Agripa
pouco antes da sua própria morte em 44 D.E.C. (S. João, o apóstolo, é aparentemente
baseado num histórico discípulo do falso Messias, Theudas, que foi crucificado pelos Romanos
em 44 D.E.C., e cujos discípulos foram assassinados).

O autor real do Evangelho segundo S. João foi, de fato, um anônimo Cristão de Éfeso, na Ásia
Menor. O fragmento mais velho sobrevivente do Evangelho segundo S. João data de c. 125
D.E.C., e assim podemos datar o Evangelho de c. 100 – 125 D.E.C. Baseados em
considerações estilísticas, muitos escolares diminuem a data para c. 100 – 120 D.E.C. A
primeira versão do Evangelho segundo S. João não contém o último capítulo, que trata da
aparição de Jesus aos seus discípulos.

Tal como os outros Evangelhos, o Evangelho segundo S. João provavelmente só chegou a


presente forma por volta de 150 – 175 D.E.C. O autor do Evangelho segundo S. João usou o
Evangelho segundo S. Marcos frugalmente, e assim pode-se suspeitar que não confiasse nele.
Ele ou não tinha lido o Evangelho segundo S. Mateus e o Evangelho segundo S. Lucas ou não
confiava neles, pois ele não usa nenhuma informação deles que não tenha sido encontrada no
Evangelho segundo S. Marcos. Grande parte do Evangelho segundo S. João consiste em lendas
com óbvias interpretações fundamentais alegóricas, e pode-se suspeitar que o autor nunca
tencionou que fossem História. O Evangelho segundo S. João não contém nenhuma informação
de fontes históricas de confiança.

Os Cristãos afirmarão que próprio Evangelho segundo S. João declara que é um documento
histórico escrito por S. João. Esta pretensão é baseada nos versos João 19, 34 – 35 e João
21, 20 – 24. João 19, 34 – 35 não afirma que o Evangelho foi escrito por S. João. Afirma que
os eventos descritos nos versos imediatamente precedentes foram reportados corretamente
por uma testemunha. A passagem é ambígua e não é claro se a testemunha é suposta ser a
mesma pessoa que o autor. Muitos estudiosos são da opinião de que a ambiguidade é
deliberada e que o autor do Evangelho segundo S. João está a tentar arreliar os seus leitores
nesta passagem, bem como nas passagens em que conta histórias miraculosas com
interpretações alegóricas.

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João 21, 20 – 24 também não afirma que o autor é S. João. Afirma que o discípulo
mencionado na passagem é alguém que testemunhou os eventos descritos. É mais uma vez
notavelmente ambíguo no que refere à questão do discípulo ser a mesma pessoa que o autor.
É de notar que esta última passagem é no último capítulo do Evangelho segundo S. João, que
não fazia parte do Evangelho original, mas que foi adicionado como um epílogo por um redator
anônimo.

Deve-se ficar consciente para o fato de que muitas traduções ―fáceis de entender‖ do Novo
Testamento distorcem as passagens mencionadas para remover a ambiguidade encontrada no
original Grego (idealmente, uma pessoa precisa estar familiarizada com o texto original Grego
do Novo Testamento de maneira a evitar traduções preconceituosas e corrompidas usadas por
fundamentalistas e defensores Cristãos.)

De maneira a fazer recuar as suas pretensões de que o Evangelho segundo S. Marcos e o


Evangelho segundo S. Mateus foram escritos pelos ―reais‖ apóstolos S. Marcos e S. Mateus, e
que Jesus é uma personagem histórica, os defensores cristãos muitas vezes chamam a
atenção para o assim chamado ―testemunho de Papias‖.

Papias foi o bispo de Hierápolis (perto de Éfeso) em meados do segundo século D.E.C. Nenhum
dos seus escritos sobreviveu, mas o historiador Cristão Eusébio (c. 260 – 339 D.E.C.), no seu
livro História Eclesiástica (escrito c. 311 – 324 D.E.C.) parafraseou certas passagens do livro
de Papias ―Expondo os Oráculos do Senhor‖ (escrito c. 140 – 160 D.E.C.) Nestas passagens,
Papias afirma que tinha conhecido as filhas do apóstolo S. Filipe, e também reportou várias
histórias que afirmou terem vindo de pessoas chamadas Aristion e João, o Ancião, que ainda
estariam vivos durante a sua própria vida.

Eusébio parece ter pensado que Aristion e João, o Ancião eram discípulos de Jesus. Papias
afirmava que João, o Ancião tinha dito que S. Marcos tinha sido o intérprete de S. Pedro e
tinha escrito exatamente tudo o que S. Pedro tinha escrito sobre Jesus. Papias também
afirmou que S. Mateus tinha compilado todos os ―oráculos‖ em Hebreu, e todos os tinham
interpretado o melhor que podiam.

Nada disto, no entanto, providencia uma evidência histórica legítima de Jesus nem suporta a
crença de que o Evangelho segundo S. Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus foram
realmente escritos por apóstolos ostentando aqueles nomes.

Papias foi um bravateiro e não é de nenhuma maneira certo de que ele tenha sido honesto
quando afirmou ter conhecido as filhas de S. Filipe. Mesmo que tivesse, isto iria, no máximo,
provar que o apóstolo S. Filipe da mitologia Cristã tinha sido baseado numa personagem
histórica. Papias nunca afirmou explicitamente que tinha conhecido Aristion e João, o Ancião.
Além do mais, só porque Eusébio no século IV acreditou que tinham sido discípulos de Jesus
não quer dizer que tenham sido. Nada é conhecido sobre quem realmente seria Aristion. Ele
não é certamente um dos discípulos na usual tradição Cristã.

Já vi livros em que certos fundamentalistas Cristãos afirmam que João, o Ancião era o apóstolo
S. João, o filho de Zebedeu, e que ele ainda estaria vivo quando Papias era jovem. Eles
também afirmam que Papias viveu entre c. 60 – 130 D.E.C., e que ele escreveu o seu livro em
c. 120 D.E.C. Estas datas não são baseadas em nenhuma legítima evidência e são um
completo disparate: Papias foi bispo de Hierápolis em c. 150 D.E.C. e como foi já mencionado
o seu livro foi escrito depois, no período c. 140 – 160 D.E.C. Puxando a data para Papias para
60 D.E.C., ainda não o coloca durante o tempo de vida do apóstolo S. João, que, de acordo
com as lendas Cristãs normais, foi morto em 44 D.E.C.

98
Além disso, é improvável que João, o Ancião tenha tido alguma coisa a ver com S. João, o
apóstolo. De acordo com Epifâneo (c. 320 – 403), um primitivo Cristão chamado João, o
Ancião morreu em 117 D.E.C. Tenho mais a dizer sobre ele quando discutirmos as três
epístolas atribuídas a S. João. Qualquer que seja o caso, as histórias que Papias colecionou
eram contadas pelo menos uma década depois que os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos
foram escritos, e refletem rumores e superstições infundadas sobre as origens destes livros.

Em particular, a história sobre S. Marcos obtida de João, o Ancião, não é mais que uma
elaboração superficial da lenda de S. Marcos encontrada nos Atos dos Apóstolos, e assim não
diz nada sobre as verdadeiras origens do Evangelho segundo S. Marcos. A história sobre S.
Mateus ter escrito os ―oráculos‖ é simplesmente um rumor e, além disso, não tem nada a ver
com o Evangelho segundo S. Mateus. O termo ―oráculos‖ pode ser entendido como uma
referência à coleção de escritos conhecidos como ―Oráculos do Senhor‖, que é referido no
título do livro de Papias, e que provavelmente é o mesmo que a Segunda Fonte, mas não o
Evangelho segundo S. Mateus.

Além dos Evangelhos canônicos e dos Atos dos Apóstolos, os defensores do cristianismo
também tentam usar as várias epístolas Cristãs como prova da história de Jesus. Eles afirmam
que as epístolas são cartas escritas por discípulos e seguidores de Jesus. No entanto, epístolas
(do Grego epistole, significando mensagem ou ordem) são livros, escritos sob a forma de
cartas (usualmente de personagens lendárias do passado), que expõem doutrinas e instruções
religiosas.

Esta forma de escrita religiosa foi usada pelos Judeus nos tempos Greco-Romanos (a mais
famosa epístola Judaica é a Epístola de Jeremias, que é uma prolongada condenação à
idolatria, escrita durante o período Helênico na forma de carta pelo profeta Jeremias à
população de Jerusalém mesmo antes deles terem sido exilados para a Babilónia.)

Como no caso dos Evangelhos, há epístolas Cristãs que não estão contidas no Novo
testamento, que educadores tanto Cristãos como não-Cristãos concordam serem epístolas
pseudoepigráficas e de nenhum valor histórico, pois expõem crenças e não História. A
existência de epístolas pseudoepigráficas, e verdadeiramente todo o conceito de uma epístola,
sugere que as epístolas eram normalmente pseudoepigráficas. Ainda assim, os defensores do
cristianismo e os Cristãos fundamentalistas afirmam que as epístolas canônicas são cartas
genuínas que requerem provas.

A Epístola de S. Judas é escrita em nome de Jude (Judas), o irmão de S. Tiago. De acordo com
o Evangelho segundo S. Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus, Jesus tinha irmãos
chamados Judas e Tiago. Comparando com outros escritos mostra que a Epístola de S. Judas
foi escrita em c. 130 D.E.C., e assim é obviamente pseudoepigráfica. No entanto, não há
nenhuma evidência que o seu autor usou alguma fonte histórica legítima no que se refere a
Jesus.

Duas das epístolas canônicas são escritas em nome de S. Pedro. Dado que S. Pedro é uma
adaptação da divindade pagã egípcia Petra, estas epístolas certamente não foram escritas por
ele. O estilo e o caráter da Primeira Epístola de S. Pedro sozinhos mostram que não pode ter
sido escrita antes de 80 D.E.C. Até de acordo com a lenda Cristã, S. Pedro supostamente
morreu no decurso das perseguições instigadas por Nero em c. 64 D.E.C. e, portanto ele não
poderia ter escrito a epístola.

O autor do Evangelho segundo S. Lucas e dos Atos dos Apóstolos usou todas as fontes escritas
que conseguiu obter e tendia a usá-las indiscriminadamente, no entanto ele não menciona

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quaisquer epístolas de S. Pedro. Isto mostra que a Primeira Epístola de S. Pedro foi
provavelmente escrita depois do Evangelho segundo S. Lucas e dos Atos dos Apóstolos (c. 100
D.E.C.) Nenhuma das referências a Jesus na Primeira Epístola de S. Pedro é tirada de fontes
históricas, mas em vez disso reflete crenças e superstições.

A Segunda Epístola de S. Pedro é uma declaração contra os Marcionistas, e, portanto deve ter
sido escrita em c. 150 D.E.C. Como se vê, é claramente pseudoepigráfico. A Segunda Epístola
de S. Pedro usa como fontes: a história da transfiguração de Jesus encontrada no Evangelho
segundo S. Marcos, Evangelho segundo S. Mateus e Evangelho segundo S. Lucas, o Apocalipse
de S. Pedro e a Epístola de S. Judas. O não canônico Apocalipse de S. Pedro (escrito
provavelmente no primeiro quarto do segundo século D.E.C.) é reconhecido como sendo não-
histórico até pelos fundamentalistas Cristãos. Assim, a Segunda Epístola de S. Pedro também
não usa qualquer fonte histórica legítima.

Agora voltamo-nos para as epístolas supostamente escritas por S. Paulo. A Primeira Epístola
de S. Paulo a Timóteo avisa contra o trabalho Marcionista conhecido como Antithesis. Marcion
foi expulso da Igreja de Roma em c. 144 D.E.C. e a Primeira Epístola de S. Paulo a Timóteo foi
escrita pouco depois. Como se vê, temos novamente um caso claro de pseudoepigrafia. A
Segunda Epístola de S. Paulo a Timóteo e a Epístola de S. Paulo a Tito foram escritas pelo
mesmo autor e datam do mesmo período.

Estas três epístolas são conhecidas como as ―epístolas pastorais‖. As 10 restantes epístolas
―não pastorais‖ escritas no nome de S. Paulo eram conhecidas por Marcion em c. 140 D.E.C.
Algumas delas não foram escritas somente no nome de S. Paulo, mas estão na forma de
cartas escritas por S. Paulo em colaboração com vários amigos como Sosthenes, Timóteo e
Silas.

O autor do Evangelho segundo S. Lucas e dos Atos dos Apóstolos usou todas as vias para
obter todas as fontes disponíveis e tendeu a usá-las indiscriminadamente, mas ele não usou
nada das epístolas Paulinas. Podemos então concluir que as epístolas não-pastorais foram
escritas depois do Evangelho segundo S. Lucas e dos Atos dos Apóstolos no período c. 100 -
140 D.E.C. A não-canônica Primeira Epístola de Clemente aos Coríntios (escrita c. 125 D.E.C.)
usa a Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios como fonte, e portanto podemos reduzir a
data para essa epístola para 100 - 125 D.E.C.

No entanto, ficamos com a conclusão de que todas as epístolas Paulinas são pseudoepigráficas
(o semi-mítico S. Paulo supostamente morreu durante as perseguições instigadas por Nero em
c. 64 D.E.C.) Algumas das epístolas Paulinas aparentam terem sido alteradas e revistas
numerosas vezes antes de terem chegado às suas formas modernas. Como fontes usam-se
mutuamente, e ainda os Atos dos Apóstolos, o Evangelho segundo S. Marcos, o Evangelho
segundo S. Mateus, o Evangelho segundo S. Lucas e a Primeira Epístola de S. Pedro. Podemos
então concluir que não providenciam nenhuma evidência histórica de Jesus.

A Epístola aos Hebreus é uma epístola particularmente interessante, dado que não é
pseudoepigráfica mas completamente anônima. O seu autor nem revela o seu próprio nome
nem escreve em nome de uma personagem mitológica Cristã. Os Cristãos fundamentalistas
clamam ser outra epístola de S. Paulo e de fato chamam-lhe Epístola de S. Paulo aos Hebreus.

Esta idéia, aparentemente datando do final do quarto século D.E.C., não é, entretanto aceita
por todos os Cristãos. Como fonte para a sua informação sobre Jesus usa material comum ao
Evangelho segundo S. Marcos, ao Evangelho segundo S. Mateus e ao Evangelho segundo S.
Lucas, mas não fontes legítimas. O autor da Primeira Epístola de São Clemente usou-o como

100
fonte, e, portanto deve ter sido escrita antes dessa epístola (c. 125 D.E.C.) mas depois de,
pelo menos, o Evangelho segundo S. Marcos (c. 75 - 100 D.E.C.)

A Epístola de S. Tiago é escrita no nome de um servo de Jesus chamado Tiago (ou Jacobus).No
entanto, na mitologia Cristã havia dois apóstolos chamados Tiago e Jesus também tinha um
irmão chamado Tiago. Não é claro qual dos Tiagos é o pretendido, e não há entendimento
entre os próprios Cristãos. Cita declarações da Segunda Fonte, mas ao contrário do Evangelho
segundo S. Mateus e do Evangelho segundo S. Lucas não atribui estas declarações a Jesus,
mas apresenta-as como sendo de S. Tiago. Contém um importante argumento contra a
doutrina da ―salvação através da fé‖ exposta na Epístola de S. Paulo aos Romanos. Podemos
então concluir que foi escrita durante a primeira metade do segundo século D.E.C., depois da
Epístola aos Romanos mas antes do tempo em que o Evangelho segundo S. Mateus e o
Evangelho segundo S. Lucas foi aceito por todos os Cristãos.

Assim, indiferentemente de qual seja o S. Tiago pretendido, a Epístola de S. Tiago é


pseudoepigráfica. Não diz quase nada de Jesus e não há evidência de que o autor tinha
quaisquer fontes históricas para ele.

Há três epístolas com o nome do apóstolo S. João. Nenhuma delas é, de fato, escrita no nome
de S. João, e provavelmente só lhes foram atribuídas algum tempo depois de terem sido
escritas. A Primeira Epístola de S. João, tal como a Epístola aos Hebreus, é completamente
anônima. A ideia de que foi escrita por S. João vem do fato de que usa o Evangelho segundo
S. João como fonte.

As outras duas epístolas com o nome de S. João foram escritas por um único autor que em vez
de escrever em nome de um apóstolo, escolheu simplesmente chamar-se ―o Ancião‖. A ideia
de que estas duas epístolas foram escritas por S. João nasceu das crenças de que ―o Ancião‖
se referia a João, o Ancião, e que ele era a mesma pessoa que o apóstolo S. João. No caso da
Segunda Epístola de S. João, esta crença foi reforçada pelo fato de que essa epístola também
usa o Evangelho segundo S. João como fonte. Podemos então concluir que as primeiras duas
epístolas atribuídas a S. João foram escritas depois do Evangelho segundo S. João (c. 110 -
120 D.E.C.) Consequentemente, nenhuma das três epístolas poderia ter sido escrita pelo
apóstolo S. João.

Deve-se apontar que é bastante provável que o pseudônimo ―o Ancião‖ se refira à pessoa
chamada João, o Ancião, mas se tal assim é, ela certamente não é o apóstolo S. João. As
primeiras duas epístolas de S. João apenas usam o Evangelho segundo S. João como fonte
para Jesus; elas não usam nenhuma fonte legítima.

A Terceira Epístola de S. João menciona ―Cristo‖ escassamente e não há evidências de que


tenha usado quaisquer fontes históricas para ele. Além das epístolas com o nome de S. João, o
Novo Testamento também contém um livro conhecido como Apocalipse do Apóstolo S. João.
Este livro combina duas formas de escrita religiosa, a da epístola e a do apocalipse
(apocalipses são trabalhos religiosos que são escritos na forma de revelação acerca do futuro
por uma personagem famosa do passado. Estas revelações geralmente descrevem eventos
infelizes que ocorrem no tempo em que foram escritas, e também oferecem alguma esperança
ao leitor de que as coisas irão melhorar.)

Não se sabe por quantas revisões passou o Apocalipse do Apóstolo S. João, e assim é difícil
datá-la precisamente. Dado que menciona as perseguições instigadas por Nero, podemos dizer
com certeza que não foi escrita antes de 64 D.E.C. Assim sendo, não poderia ter sido escrita
pelo ―verdadeiro S. João‖.

101
Os primeiros versos formam uma introdução que é claramente entendida como não sendo de
S. João, e que providencia uma vaga admissão de que o livro é pseudoepigráfico, apesar do
autor sentir que a sua mensagem é inspirada por Deus.

O estilo de escrita e as referências à prática de kriobolium (batismo em sangue de ovelha)


sugerem que o autor era dessas pessoas de descendência Judaica que misturavam o Judaísmo
com práticas pagãs. Havia muitos destes ―Judeus pagãos‖ durante os tempos Romanos, e
foram estas pessoas que se tornaram nos primeiros convertidos aos Cristianismo,
estabeleceram as primeiras igrejas, e que foram provavelmente responsáveis pela introdução
de mitos pagãos na história de Jesus (eles são também lembrados pela sua crença ridícula de
que ―Adonai Tzevaot‖ era o mesmo que o deus pagão ―Sebazios‖.) As referências a Jesus no
livro são poucas e não há evidências de que são baseadas em nada mais que crença.

Além das epístolas aceitas no Novo Testamento, e além das epístolas que são unanimemente
reconhecidas como não tendo qualquer valor (como a Epístola de Barnabas), existem também
várias epístolas que embora não aceites no Novo Testamento são consideradas de valor por
alguns Cristãos.

Primeiramente, há as epístolas com o nome de Clemente. Na lenda Cristã, S. Clemente foi o


terceiro na sucessão a S. Pedro como bispo de Roma. A Primeira Epístola de S. Clemente aos
Coríntios não é, de fato, escrita em nome de Clemente, mas no nome da ―Igreja de Deus que
estadia em Roma‖. Refere-se a uma perseguição que é geralmente pensada como tendo
ocorrido em 95 D.E.C., no reinado de Domiciano, e refere-se à exoneração dos anciãos da
Igreja de Corinto em c. 96 D.E.C.

Os Cristãos acreditam que S. Clemente foi bispo de Roma durante esta altura, e esta é
aparentemente a razão pela qual a epístola lhe foi mais tarde atribuída. Os Cristãos
fundamentalistas acreditam que a epístola foi de fato escrita em 96 D.E.C. Esta data não é
possível dado que a epístola se refere a bispos e a padres como grupos separados, uma
divisão que não tinha ainda tomado lugar. Considerações estilísticas mostram que foi escrita
em c. 125 D.E.C.

Como referências, usa a Epístola aos Hebreus e a Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios,
mas nenhuma legítima fonte histórica. A Segunda Epístola de S. Clemente é de um autor
diferente do primeiro e foi escrita mais tarde. Podemos então concluir que também não foi
escrita por S. Clemente (não há evidências de que qualquer uma destas epístolas tenha sido
atribuída a S. Clemente antes da sua incorporação na coleção de livros conhecida como o
Codex Alexandrinus, no século quinto D.E.C.)

Como fontes para Jesus, a Segunda Epístola de S. Clemente usa o Evangelho dos Egípcios, um
documento que é rejeitado até pelos mais fundamentalistas Cristãos, e também os livros do
Novo Testamento que mostrei não ter valor algum. Assim, e uma vez mais, não temos
nenhuma legítima evidência de Jesus.

A seguir, temos as epístolas escritas no nome de Inácio. De acordo com a lenda, St. Inácio era
o bispo de Antioquia que foi morto durante o reinado de Trajano c. 110 D.E.C. (apesar de ele
ser provavelmente baseado numa personagem histórica real, as lendas sobre o seu martírio
são largamente ficcionais.)

Existem quinze epístolas escritas no seu nome. Destas, oito são unanimemente reconhecidas
como sendo pseudoepigráficas e de nenhum valor no que se refere a Jesus. As restantes sete
têm cada uma duas formas, uma maior e outra menor. As formas maiores são claramente

102
edições alteradas e revistas das formas menores. Os fundamentalistas Cristãos clamam que as
formas menores são as cartas genuínas escritas por St. Inácio.

A Epístola de St. Inácio aos Esmirnenses menciona a tripla ordenação de bispos, padres e
diáconos, que ainda não tinha tido lugar quando da morte de St. Inácio, que ocorreu o mais
tardar em 117 D.E.C.,. e que provavelmente aconteceu c. 110 D.E.C.

Todas as sete pequenas epístolas atacam várias crenças Cristãs, hoje consideradas heréticas,
que só se tornou prevalecente c. 140 – 150 D.E.C. A Epístola de St. Inácio aos Romanos
menor contém uma citação dos escritos de St. Ireneu, escrito depois de 170 D.E.C. e publicada
c. 185 D.E.C. Podemos então concluir que as sete epístolas menores são também
pseudoepigráficas.

A Epístola de St. Inácio aos Romanos menor foi certamente escrita depois de 170 D.E.C. (de
fato, se não foi escrita por St. Ireneu então foi provavelmente escrita depois de c. 185 D.E.C.)
e as outras seis foram escritas não antes do período c. 140 – 150 D.E.C., se não mais tarde.
Não há fontes para Jesus nas epístolas de St. Inácio que não sejam os livros do Novo
Testamento e os escritos de St. Ireneu, que apenas usa o Novo Testamento. Portanto, elas
contêm nenhuma evidência legítima para Jesus.

Há também mais duas epístolas que os Cristãos afirmam serem cartas genuínas, a saber, a
Epístola de S. Policarpo e o Martírio de S. Policarpo. As epístolas de St. Inácio e as epístolas
que dizem respeito a S. Policarpo foram sempre estreitamente associadas. É provável que
tenham todas sido escritas pelo escritor Cristão St. Ireneu e seus discípulos. Houve certamente
uma primitiva personagem histórica real Cristã chamada Policarpo. Ele foi bispo de Esmirna e
foi morto pelos Romanos provavelmente no período de 155 – 165 D.E.C. Quando St. Ireneu
era um rapaz, conheceu S. Policarpo.

Fundamentalistas Cristãos afirmam que S. Policarpo era o discípulo do apóstolo S. João. No


entanto, mesmo que aceitemos a lenda de que S. Policarpo tenha vivido até à idade de 86
anos, ele não poderia ter nascido antes de 67 D.E.C., e portanto não poderia ter sido discípulo
de S. João (é possível que tenha sido discípulo do enigmático João, o Ancião.)

Como St. Ireneu tinha conhecido S. Policarpo, também assumiram que St. Ireneu era de fato
seu discípulo, uma pretensão para a qual não há evidências. A Epístola de S. Policarpo usa a
maior parte dos livros do Novo Testamento e as epístolas de St. Inácio como referências, mas
não usa fontes legítimas para Jesus. Os Cristãos que rejeitam as epístolas de St. Inácio mas
que acreditam ser a Epístola de S. Policarpo uma carta genuína afirmam que as referências às
epístolas de Inácio são uma inserção tardia. Esta ideia é baseada em inclinações pessoais, e
não em nenhuma evidência genuína.

Baseada numa crença cega que a epístola é uma carta genuína, alguns Cristãos datam-na de
meados do segundo século D.E.C., pouco antes da morte de S. Policarpo. No entanto, as
referências às epístolas de St. Inácio sugere que foi de fato escrita pelo menos durante as
últimas décadas do segundo século D.E.C., pelo menos cerca de uma década depois da morte
de Policarpo, se não mais tarde.

O Martírio de S. Policarpo é escrito em nome da ―Igreja de Deus que estadia em Esmirna‖.


Começa na forma de carta, mas o seu corpo principal é escrito na forma de uma história
vulgar. Fala-nos do conto do martírio de S. Policarpo. Tal como a Epístola de S. Policarpo foi
escrita durante as últimas décadas do segundo século D.E.C. Infelizmente, não existe
evidência de que tenha usado quaisquer fontes de confiança para a sua história, apenas

103
rumores e boatos. De fato, a história parece ser altamente ficcional. As referências a Jesus não
são tiradas de qualquer fonte de confiança. Assim, vimos que as epístolas usadas pelos
missionários como ―evidências‖ são tão ilegítimas como os evangelhos.

Ainda assim, o leitor deve ter em atenção as traduções fáceis de entender do Novo
Testamento, dado que elas chamam ás epístolas ―cartas‖, e portanto implicando
incorretamente que elas são na verdade cartas escritas pelas pessoas das quais levaram o
nome.

Agora, além dos livros do Novo Testamento, e além das epístolas relativas a S. Clemente, St.
Inácio e S. Policarpo, há ainda mais um trabalho religioso Cristão que os Cristãos afirmam ser
uma evidência histórica de Jesus, a saber, os Ensinamentos dos Doze Apóstolos, também
conhecido como o Didache. Todos os outros trabalhos religiosos Cristãos primitivos ou são
totalmente rejeitados pelos Cristãos modernos ou pelo menos reconhecidos como não sendo
fontes primárias no que respeita a Jesus.

O Didache começou como documento sectário Judeu, provavelmente escrito durante o período
de tumulto em c. 70 D.E.C. A sua forma primitiva consistia em ensinamentos morais e
predições da destruição da corrente ordem mundial. Esta primeira versão, que obviamente não
mencionava Jesus, foi tomada pelos Cristãos, que o reviram e alteraram bastante, adicionando
uma história de Jesus e regras de culto para as primeiras comunidades Cristãs.

Os estudiosos estimam que a primeira versão Cristã do Didache não poderia ter sido escrita
muito depois de 95 D.E.C. Provavelmente só chegou à sua forma final por volta c. 120 D.E.C.

Parece ter servido uma comunidade Cristã isolada na Síria como uma ―Ordem da Igreja‖
durante o período c. 100 – 130 D.E.C. No entanto, não há evidências de que a sua história de
Jesus tenha sido baseada em qualquer fonte de confiança, e como havemos mencionado, a
primitiva versão Judaica não tinha nada a haver com Jesus.

De fato, este documento providencia informação de que o mito de Jesus cresceu


gradualmente. Tal como o Evangelho segundo S. Marcos e as primeiras versões do Evangelho
segundo S. Mateus, a história de Jesus no Didache não faz menção de um nascimento de uma
virgem. Não faz menção dos fantásticos milagres que foram mais tarde atribuídos a Jesus.
Apesar de Jesus ser referido como ―filho‖ de Deus, parece que este termo é usado
simbolicamente.

A evidência que temos em relação à origem do mito da crucificação sugere que uma das coisas
que levou a este mito era o fato da cruz ser o símbolo astrológico do Equinócio Vernal, que
ocorre perto da Passagem, quando se acredita que Jesus tenha sido morto. Assim, não é de
surpreender que a história no Didache não mencione Jesus sendo crucificado, apesar de
mencionar uma cruz no céu como símbolo de Jesus.

Os doze apóstolos mencionados no título do Didache não aparecem como doze reais discípulos
de Jesus, e o termo refere-se claramente aos doze filhos de Jacob que representam as doze
tribos de Israel. Assim, o Didache providencia pistas vitais no que respeita ao crescimento do
mito de Jesus, mas certamente não providencia qualquer evidência de um Jesus histórico.

Dado que nenhum dos textos religiosos Cristãos providencia nenhuma evidência aceitável de
Jesus, os defensores do cristianismo voltam-se a seguir para textos não-Cristãos. Os Cristãos
afirmam que vários historiadores de confiança registraram informação acerca de Jesus. Apesar

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de alguns destes historiadores serem mais ou menos aceites, veremos que não eles não
providenciam qualquer informação acerca de Jesus.

Primeiramente, os Cristãos afirmam que o historiador Judeu Flávio Josefo registrou


informações acerca de Jesus no seu livro Antiguidades Judaicas (publicado c. 93 – 94 D.E.C.) É
verdade que este livro contém informações sobre os três falsos Messias, Yehuda da Galileia,
Theudas e Benjamim, o Egípcio, e é verdade que a personagem de Jesus parece ser baseada
em todos eles, mas nenhum deles pode ser considerado como o Jesus histórico. Além do mais,
no livro dos Atos dos Apóstolos, estas pessoas são mencionadas como sendo pessoas
diferentes de Jesus, e assim o Cristianismo moderno rejeita alguma relação entre eles e Jesus.

Nas edições Cristãs revistas das Antiguidades Judaicas, há duas passagens que se referem a
Jesus como está retratado nos trabalhos religiosos Cristãos. Nenhuma destas passagens é
encontrada na versão original das Antiguidades Judaicas, que foi preservada pelos Judeus.

A primeira passagem (XVII,3,3) foi citada pela escrita de Eusebius em c. 320 D.E.C., e
portanto podemos concluir que foi adicionada provavelmente entre o tempo em que os
Cristãos detiveram as Antiguidades Judaicas e c. 320 D.E.C. Não é conhecido quando a outra
passagem (XX,9,1) foi adicionada. Nenhuma das passagens é baseada em qualquer fonte de
confiança. É fraudulento afirmar que estas passagens foram escritas por Flávio Josefo, e que
elas providenciam evidências para Jesus. Elas foram escritas por redatores Cristãos e são
baseadas puramente na crença Cristã.

A seguir, os Cristãos apontarão para os Anais de Tácito. Nos Anais XV, 44, Tácito descreve
como Nero culpou os Cristãos pelo incêndio de Roma em 64 D.E.C. Ele menciona que o nome
―Cristão‖ era originário de uma pessoa chamada Christus, que tinha sido executada por Pôncio
Pilatos durante o reinado de Tibério. É certamente verdade que o nome ―Cristão‖ é derivado de
Cristo ou Christus (= Messias), mas a afirmação de Tácito de que ele foi executado por Pilatos
durante o reinado de Tibério é baseado puramente nas afirmações feitas pelos próprios
Cristãos e que apareciam nos Evangelho segundo S. Marcos, Evangelho segundo S. Mateus e
Evangelho segundo S. Lucas, que já tinham tido extensa circulação quando os Anais estavam a
ser escritos (os Anais foram publicados depois de 115 D.E.C. e certamente não antes de 110
D.E.C.)

Portanto, embora os Anais contenham uma frase na qual se fala de ―Christus‖ como uma
verdadeira pessoa, esta frase foi puramente baseada em afirmações e crenças Cristãs, que não
têm nenhum valor histórico.

É bastante irônico que os modernos Cristãos usem Tácito para suportarem as suas crenças
dado que ele era o menos exato de todos os historiadores Romanos. Ele justifica o ódio aos
Cristãos dizendo que eles cometiam abominações. Além de ―Christus‖, ele também fala de
outros deuses pagãos como se eles realmente existissem. O seu sumário da História do Médio
Oriente no seu livro Histórias é tão distorcido que é ridículo. Podemos concluir que a sua única
menção de Christus não pode ser tida como uma evidência de confiança de um Jesus histórico.

Uma vez que Tácito pode ser rejeitado, os Cristãos afirmarão que uma das cartas de Plínio, o
Jovem ao imperador Trajano providencia evidências de um Jesus histórico (Cartas X,96.) Isto é
um disparate. A carta em questão simplesmente menciona que certos Cristãos tinham
amaldiçoado ―Cristo‖ para evitarem serem castigados. Não afirma que este Cristo realmente
tenha existido.

105
A carta em questão foi escrita antes da morte de Plínio em c. 114 D.E.C., mas depois de ele
ser mandado para Bitínia em 111 D.E.C., provavelmente no ano 112 D.E.C. Assim, ela
providencia nada mais que uma confirmação do fato trivial de que à volta do começo da
décima segunda década D.E.C. os Cristãos normalmente não amaldiçoavam algo chamado
―Cristo‖ apesar de alguns o terem feito para evitarem o castigo. Não providencia nenhuma
evidência de um Jesus histórico.

Os Cristãos irão também afirmar que Suetônio registrou evidências de Jesus no seu livro As
Vidas dos Imperadores (também conhecido como Os doze Césares.) A passagem em questão é
Cláudio 25, onde menciona que o imperador Cláudio expulsou os Judeus de Roma
(aparentemente em 49 D.E.C.) porque eles causavam distúrbios contínuos instigados por um
certo Chrestus. Se assumirmos cegamente que ―Chrestus‖ se refere a Jesus, então esta
passagem contradiz a história Cristã de Jesus dado que Jesus foi supostamente crucificado
quando Pôncio Pilatos era procurador (26 – 46 D.E.C.) durante o reinado de Tibério, e além do
mais, ele nunca foi suposto que ele tenha ido à Roma!

Suetônio viveu durante o período c. 75 – 150 D.E.C., e o seu livro, As Vidas dos Imperadores,
foi publicado durante o período 119 – 120 D.E.C., tendo sido escrito algum tempo depois da
morte de Domiciano em 96 D.E.C. Assim sendo, o evento que ele descreve ocorreu pelo menos
45 anos antes de ele ter escrito sobre isso, e assim não podemos ter a certeza da sua
exatidão.

O nome Chrestus é derivado do Grego Chrestos, que significa ―o bom‖ e não é o mesmo que
Christ ou Christus que são derivados do Grego Christos, que significa ―o ungido/Messias‖. Se
tomarmos a passagem pelo seu valor nominal ela refere-se a uma pessoa chamada Chrestus
que estava em Roma e que não tinha nada a ver com Jesus ou com qualquer outro ―Cristo‖. O
termo Chrestos era muito aplicado para os deuses pagãos e muitas das pessoas em Roma
chamadas ―Judias‖ eram na verdade pessoas que misturavam crenças Judaicas com crenças
pagãs e que não eram necessariamente de descendência Judaica. Assim, é também possível
que a passagem se refira a conflitos envolvendo estes ―Judeus‖ pagãos que adoravam um deus
pagão (como Sebazios) de título Chrestos.

Nas edições Cristãs revistas das Antiguidades Judaicas, há duas passagens que se referem a
Jesus como está retratado nos trabalhos religiosos Cristãos. Nenhuma destas passagens é
encontrada na versão original das Antiguidades Judaicas, que foi preservada pelos Judeus.

A primeira passagem (XVII,3,3) foi citada pela escrita de Eusebius em c. 320 D.E.C., e
portanto podemos concluir que foi adicionada provavelmente entre o tempo em que os
Cristãos detiveram as Antiguidades Judaicas e c. 320 D.E.C. Não é conhecido quando a outra
passagem (XX,9,1) foi adicionada. Nenhuma das passagens é baseada em qualquer fonte de
confiança. É fraudulento afirmar que estas passagens foram escritas por Flávio Josefo, e que
elas providenciam evidências para Jesus. Elas foram escritas por redatores Cristãos e são
baseadas puramente na crença Cristã.

A seguir, os Cristãos apontarão para os Anais de Tácito. Nos Anais XV, 44, Tácito descreve
como Nero culpou os Cristãos pelo incêndio de Roma em 64 D.E.C. Ele menciona que o nome
―Cristão‖ era originário de uma pessoa chamada Christus, que tinha sido executada por Pôncio
Pilatos durante o reinado de Tibério. É certamente verdade que o nome ―Cristão‖ é derivado de
Cristo ou Christus (= Messias), mas a afirmação de Tácito de que ele foi executado por Pilatos
durante o reinado de Tibério é baseado puramente nas afirmações feitas pelos próprios
Cristãos e que apareciam nos Evangelho segundo S. Marcos, Evangelho segundo S. Mateus e
Evangelho segundo S. Lucas, que já tinham tido extensa circulação quando os Anais estavam a

106
ser escritos (os Anais foram publicados depois de 115 D.E.C. e certamente não antes de 110
D.E.C.)

Portanto, embora os Anais contenham uma frase na qual se fala de ―Christus‖ como uma
verdadeira pessoa, esta frase foi puramente baseada em afirmações e crenças Cristãs, que não
têm nenhum valor histórico.

É bastante irônico que os modernos Cristãos usem Tácito para suportarem as suas crenças
dado que ele era o menos exato de todos os historiadores Romanos. Ele justifica o ódio aos
Cristãos dizendo que eles cometiam abominações. Além de ―Christus‖, ele também fala de
outros deuses pagãos como se eles realmente existissem. O seu sumário da História do Médio
Oriente no seu livro Histórias é tão distorcido que é ridículo. Podemos concluir que a sua única
menção de Christus não pode ser tida como uma evidência de confiança de um Jesus histórico.

Uma vez que Tácito pode ser rejeitado, os Cristãos afirmarão que uma das cartas de Plínio, o
Jovem ao imperador Trajano providencia evidências de um Jesus histórico (Cartas X,96.) Isto é
um disparate. A carta em questão simplesmente menciona que certos Cristãos tinham
amaldiçoado ―Cristo‖ para evitarem serem castigados. Não afirma que este Cristo realmente
tenha existido.

A carta em questão foi escrita antes da morte de Plínio em c. 114 D.E.C., mas depois de ele
ser mandado para Bitínia em 111 D.E.C., provavelmente no ano 112 D.E.C. Assim, ela
providencia nada mais que uma confirmação do fato trivial de que à volta do começo da
décima segunda década D.E.C. os Cristãos normalmente não amaldiçoavam algo chamado
―Cristo‖ apesar de alguns o terem feito para evitarem o castigo. Não providencia nenhuma
evidência de um Jesus histórico.

Os Cristãos irão também afirmar que Suetônio registrou evidências de Jesus no seu livro As
Vidas dos Imperadores (também conhecido como Os doze Césares.) A passagem em questão é
Cláudio 25, onde menciona que o imperador Cláudio expulsou os Judeus de Roma
(aparentemente em 49 D.E.C.) porque eles causavam distúrbios contínuos instigados por um
certo Chrestus. Se assumirmos cegamente que ―Chrestus‖ se refere a Jesus, então esta
passagem contradiz a história Cristã de Jesus dado que Jesus foi supostamente crucificado
quando Pôncio Pilatos era procurador (26 – 46 D.E.C.) durante o reinado de Tibério, e além do
mais, ele nunca foi suposto que ele tenha ido à Roma!

Suetônio viveu durante o período c. 75 – 150 D.E.C., e o seu livro, As Vidas dos Imperadores,
foi publicado durante o período 119 – 120 D.E.C., tendo sido escrito algum tempo depois da
morte de Domiciano em 96 D.E.C. Assim sendo, o evento que ele descreve ocorreu pelo menos
45 anos antes de ele ter escrito sobre isso, e assim não podemos ter a certeza da sua
exatidão.

O nome Chrestus é derivado do Grego Chrestos, que significa ―o bom‖ e não é o mesmo que
Christ ou Christus que são derivados do Grego Christos, que significa ―o ungido/Messias‖. Se
tomarmos a passagem pelo seu valor nominal ela refere-se a uma pessoa chamada Chrestus
que estava em Roma e que não tinha nada a ver com Jesus ou com qualquer outro ―Cristo‖. O
termo Chrestos era muito aplicado para os deuses pagãos e muitas das pessoas em Roma
chamadas ―Judias‖ eram na verdade pessoas que misturavam crenças Judaicas com crenças
pagãs e que não eram necessariamente de descendência Judaica. Assim, é também possível
que a passagem se refira a conflitos envolvendo estes ―Judeus‖ pagãos que adoravam um deus
pagão (como Sebazios) de título Chrestos.

107
Jesus Cristo nunca existiu

Os pesquisadores que se dedicaram ao estudo das origens do cristianismo sabem que desde o
segundo século de nossa era tem sido posta em dúvida a existência de Cristo. Muitos até
mesmo entre os cristãos procuram provas históricas e materiais para fundamentar sua crença.
Infelizmente, para eles e sua fé, tal fundamento jamais foi conseguido, e a história
cientificamente elaborada denota que a existência de Jesus é real apenas nos escritos e
testemunhas daqueles que tiveram interesse religioso e material em prová-la. Desse modo a
existência, a vida e a obra de Jesus carecem de provas indiscutíveis.

Nem mesmo os Evangelhos constituem documento confiável. As bibliotecas e museus guardam


escritos e documentos de autores que teriam sido contemporâneos de Jesus e que não fazem
qualquer referência ao mesmo. Por outro lado, a ciência histórica tem se recusado a dar
crédito aos documentos oferecidos pela Igreja, com intenção de provar a existência física desta
figura. Ocorre que tais documentos, originariamente, não mencionavam sequer o nome de
Jesus; todavia, foram falsificados, rasurados e adulterados visando suprir a ausência de
documentação verdadeira. Por outro lado, muito do que foi escrito para provar a inexistência
de Jesus Cristo foi destruído pela Igreja, defensivamente. Assim é que, por falta de
documentos verdadeiros e indiscutíveis, a existência de Jesus tem sido posta em dúvida desde
os primeiros séculos desta era, apesar de ter a Igreja tentado destruir a tudo e a todos os que
ousaram contestar os seus pontos de vista, os seus dogmas.

Por tudo isso é que o Papa Pio XII, em 1955, falando para um Congresso Internacional de
História em Roma, disse: ―Para os cristãos, o problema da existência de Jesus Cristo concerne
à fé, e não à história‖. Emílio Bossi, em seu livro intitulado ―Jesus Cristo Nunca Existiu‖,
compara Jesus Cristo a Sócrates, que igualmente nada deixou escrito. No entanto, faz ver que
Sócrates só ensinou o que é natural e racional, ao passo que Jesus teria se preocupado apenas
com o sobrenatural. Sócrates teve como discípulos pessoas naturais, de existência
comprovada, cujos escritos, produção cultural e filosófica passaram à história como Platão,
Xenófanes, Euclides, Esquino, Fédon. Enquanto isso, Jesus teria por discípulos alguns homens
analfabetos como ele próprio teria sido, os quais apenas repetiriam os velhos conceitos e
preconceitos talmúdicos.

Sócrates, que viveu cinco séculos antes de Cristo e nada escreveu, jamais teve sua existência
posta em dúvida. Jesus Cristo, que teria vivido tanto tempo depois, mesmo nada tendo escrito,
poderia apesar disso ter deixado provas de sua existência. Todavia, nada tem sido encontrado
que mereça fé. Seus discípulos nada escreveram. Os historiadores não lhe fizeram qualquer
alusão. Além disso, sabemos que, desde o Século II, os judeus ortodoxos e muitos homens
cultos começaram a contestar a veracidade de existência de tal ser, sob qualquer aspecto,
humano ou divino. Estavam, assim, os homens divididos em duas posições: a dos que,
afirmando a realidade de sua existência, divindade e propósitos de salvação, perseguiam e
matavam impiedosamente aos partidários da posição contrária, ou seja, àqueles cultos e
audaciosos que tiveram a coragem de contestá-los.

O imenso poder do Vaticano tornou a libertação do homem da tutela religiosa difícil e lenta. O
liberalismo que surgiu nos últimos séculos contribuiu para que homens cultos e desejosos de
esclarecer a verdade tentassem, com bastante êxito, mostrar a mistificação que tem sido a
base de todas as religiões, inclusive do cristianismo. Surgiram também alguns escritos
elucidativos, que por sorte haviam escapado à caça e à queima em praça pública. Fatos e
descobertas desta natureza contribuíram decisivamente para que o mundo de hoje tenha uma
concepção científica e prática de tudo que o rodeia, bem como de si próprio, de sua vida,
direitos e obrigações.

108
A sociedade atualmente pode estabelecer os seus padrões de vida e moral, e os seus membros
podem observá-los e respeitá-los por si mesmos, pelo respeito ao próximo e não pelo temor
que lhes incute a religião. Contudo, é lamentavelmente certo que muitos ainda se conservam
subjugados pelo espírito de religiosidade, presos a tabus caducos e inaceitáveis. Jesus Cristo
foi apenas uma entidade ideal, criada para fazer cumprir as escrituras, visando dar sequência
ao judaísmo em face da diáspora, destruição do templo e de Jerusalém. Teria sido um arranjo
feito em defesa do judaísmo que então morria, surgindo uma nova crença. Ultimamente, têm-
se evidenciado as adulterações e falsificações documentárias praticadas pela Igreja, com o
intuito de provar a existência real de Cristo.

Modernos métodos como, por exemplo, o método comparativo de Hegel, a grafotécnica e


muitos outros, denunciaram a má fé dos que implantaram o cristianismo sobre falsas bases
com uma doutrina tomada por empréstimos de outros mais vivos e inteligentes do que eles,
assim como denunciaram os meios fraudulentos de que se valeram para provar a existência do
inexistente.

É de se supor que, após a fuga da Ásia Central, com o tempo os judeus foram abandonando o
velho espírito semita, para irem-se adaptando às crenças religiosas dos diversos povos que já
viviam na Ásia Menor. Após haverem passado por longo período de cativeiro no Egito, e,
posteriormente, por duas vezes na Babilônia, não estranhamos que tenham introduzido no seu
judaísmo primitivo as bases das crenças dos povos com os quais conviveram. Sendo um dos
povos mais atrasados de então, e na qualidade de cativos, por onde passaram, salvo exceções,
sua convivência e ligações seria sempre com a gente inculta, primária e humilde. Assim é que,
em vez de aprenderem ciências como astronomia, matemática, sua impressionante legislação,
aprenderam as superstições do homem inculto e vulgar.

Quando cativos na Babilônia, os sacerdotes judeus que constituíram a nata do seu meio social,
nas horas vagas, iriam copiando o folclore e tudo o que achassem de mais interessante em
matéria de costumes e crenças religiosas, do que resultaria mais tarde compendiarem tudo em
um só livro, o qual recebeu o nome de Talmud, o livro do saber, do conhecimento, da
aprendizagem. Por uma série de circunstâncias, o judeu foi deixando, aos poucos, a atividade
de pastor, agricultor e mesmo de artífice, passando a dedicar-se ao comércio. A atividade
comercial do judeu teve início quando levados cativos para a Babilônia, por Nabucodonosor, e
intensificou-se com o decorrer do tempo, e ainda mais com a perseguição que lhe moveria o
próprio cristianismo, a partir do século IV.

Daí em diante, a preocupação principal do povo judeu foi extinguir de seu meio o
analfabetismo, visando com isso o êxito de seus negócios. Deve-se a este fato ter sido o judeu
o primeiro povo no meio do qual não haveria nenhum analfabeto. Assim, chegando a Roma e a
Alexandria, encontrariam ali apenas a prática de uma religião de tradição oral, portanto,
terreno propício para a introdução de novas superstições religiosas. Dessa conjuntura é que
nasceu o cristianismo, o máximo de mistificação religiosa de que se mostrou capaz a mente
humana. O judeu da diáspora conseguiu o seu objetivo. Com sua grande habilidade, em pouco
tempo o cristianismo caiu no gosto popular, penetrando na casa do escravo e de seu senhor,
invadindo inclusive os palácios imperiais. Crestus, o Messias dos essênios, pelo qual parece
terem optado os judeus para a criação do cristianismo, daria origem ao nome de Cristo, cristão
e cristianismo.

Os essênios haviam se estabelecido numa instituição comunal, em que os bens pessoais eram
repartidos igualmente para todos e as necessidades de cada um tornavam-se responsabilidade
de todos. Tal ideal de vida conquistaria, como realmente aconteceu, ao escravo, a plebe,
enfim, a gente humilde. Daí, a expansão do cristianismo que, nada tendo de concreto, positivo

109
e provável, assumiu as proporções de que todos temos conhecimento. Não tendo ficado
restrita à classe inculta e pobre, como seria de se pensar, começou a ganhar adeptos entre os
aristocratas e bem-nascidos.

De tudo o que dissemos, depreende-se que o cristianismo foi uma religião criada pelos judeus,
antes de tudo como meio de sobrevivência e enriquecimento. Tudo foi feito e organizado de
modo a que o homem se tornasse um instrumento dócil e fácil de manejar, pelas mãos hábeis
daqueles aos quais aproveita a religião como fonte de rendimentos. Métodos modernos como,
por exemplo, o método comparativo de Hegel, a grafotécnica, o uso dos isótopos radioativos e
radio carbônicos, denunciaram a má fé daqueles que implantaram o cristianismo, falsificando
escritos e documentos na vã tentativa de provar o que lhe era proveitoso. Por meios escusos
tais como os citados, a Igreja tornou-se a potência financeira em que hoje se constitui.

Finalmente, desde o momento em que surgiu a religião, com ela veio o sacerdote que é uma
constante em todos os cultos, ainda que recebam nomes diversos. A figura do sacerdote
encarregado do culto divino tem tido sempre a preocupação primordial de aterrorizar o espírito
dos povos, apresentando-lhes um Deus onipotente, onipresente e, sobretudo, vingativo, que a
uns premia com o Paraíso e a outros castiga com o Inferno de fogo eterno, conforme sejam
boas ou más suas ações. No cristianismo, encontraremos sempre o sacerdote afirmando ter o
homem uma alma imortal, a qual responderá após a morte do corpo, diante de Deus, pelas
ações praticadas em vida. Como se tudo não bastasse, o Paraíso e o Inferno, há ainda que
considerar a admissão do pecado original, segundo o qual todos os homens ao nascer, o traz
consigo. Ora, ninguém jamais foi consultado a respeito de seu desejo ou não de nascer.

Assim sendo, como atribuir culpa de qualquer natureza a quem não teve a oportunidade de
manifestar vontade própria. Quanta injustiça! Condenar inocentes por antecipação. O próprio
Deus e o próprio Cristo certamente se revoltariam diante de tão injusta legislação, se ao
menos existissem.

As provas e contra provas

A Igreja serviu-se de farta documentação, conforme já mencionamos anteriormente, com


intenção de provar a existência de Cristo. No entanto, a história ignora-o completamente.
Quanto aos autores profanos que pretensamente teriam escrito a seu respeito, foram nesta
parte falsificados. Por outro lado, documentos históricos demonstram sua inexistência. As
provas históricas merecem nosso crédito, porque pertencem à categoria dos fatos certos e
positivos, e constituem testemunhos concretos e válidos de escritores de determinadas
escolas.

A interpretação da Bíblia e da mitologia comparada não resiste a uma confrontação com a


história. Flávio Josefo, Justo de Tiberíades, Filon de Alexandria, Tácito, Suetônio e Plínio, o
Jovem, teriam feito em seus escritos, referências a Jesus Cristo. Todavia, tais escritos após
serem submetidos a exames grafotécnicos, revelaram-se adulterados no todo ou em parte,
para não se falar dos que foram totalmente destruídos. Além disso, as referências feitas a
Crestus, Cristo ou Jesus, não são feitas exatamente a respeito do Cristo dos Cristãos.

Seria mesmo difícil estabelecer qual o Cristo seguido pelos cristãos, visto que esse era um
nome comum na Galileia e Judéia. Segundo Tácito, judeus e egípcios foram expulsos de Roma
por formarem uma só e mística superstição cristã. As expulsões ocorreram duas vezes no
tempo de Augusto e a terceira vez no governo de Tibério, no ano 19 desta era. Tais expulsões
desmentem a existência de Jesus, porquanto, ocorreram quando ainda o nome de cristão
aplicava-se a superstição judaico-egípcia, a qual se confundiu com o cristianismo.

110
Filon de Alexandria, apesar de ter contribuído poderosamente para a formação do cristianismo,
seu testemunho é totalmente contrário à existência de Cristo. Filon havia escrito um tratado
sobre o Bom Deus ―Serapis‖, tratado este que foi destruído. Os evangelhos cristãos se
assemelham muito a ele, e os falsificadores não hesitaram em atribuir as referências como
sendo feitas a Cristo.

Os historiadores mostram que essa religião nasceu em Alexandria, e não em Roma ou


Jerusalém. Fazem ver que ela nasceu das ideias de Filon que, platonizando e helenizando o
judaísmo, escreveu boa parte do Apocalipse. A mesma transformação que o cristianismo dera
ao judaísmo ao introduzir-lhe o paganismo e a idolatria, Filon imprimira nessa crença, até
então apenas terapeuta, dando-lhe feição grega, de cunho platônico. Embora tenha sido de
certo modo o precursor do cristianismo, não deixou a menor prova de ter tomado
conhecimento da existência de Jesus Cristo, o mago rabi, e isto é lógico porque o cristianismo
só iria ser elaborado muito depois de sua morte. Bastaria o silêncio de Filon para provar
estarmos diante de uma nova criação mitológica, de cunho metafísico. Entretanto, escrevendo
como cristão, os lançadores do cristianismo louvaram-se nas suas idéias e escritos.

Tivesse Jesus realmente existido, jamais Filon deixaria de falar em seu nome, descreveria
certamente sua vida miraculosa. Filon relata os principais acontecimentos de seu tempo, do
judaísmo e de outras crenças, não mencionando, porém, nada sobre Jesus. Cita Pôncio Pilatos
e sua atuação como Procurador da Judéia, mas não se refere ao julgamento de Jesus a que ele
teria presidido. Fala igualmente dos essênios e de sua doutrina comuna dizendo tratar-se de
uma seita judia, com mosteiro à margem do Jordão, perto de Jerusalém. Quando no reinado
de Calígula esteve em Roma defendendo os judeus, relata diversos acontecimentos da
Palestina, mas não menciona nada a respeito de Jesus, seus feitos ou sua sorte e destino.

Filon, que foi um dos judeus mais ilustres de seu tempo, e sempre esteve em dia com os
acontecimentos, jamais omitiria qualquer notícia acerca de Jesus, cuja existência, se fosse
verdadeira, teria abalado o mundo de então. Impossível admitir-se tal hipótese, portanto. Por
isso é que M. Dide fez ver que, diante do silêncio de homens extraordinários como Filon, os
acontecimentos narrados pelos evangelistas não passam de pura fantasia religiosa. Seu
silêncio é a sentença de morte da existência de Jesus. O mesmo silêncio se estende aos
apóstolos, assinala Emílio Bossi. Evidencia que tudo quanto está contido nos Evangelhos
refere-se a personalidades irreais, ideais, sobrenaturais de inexistentes taumaturgos.

O silêncio de Filon e de outros se estende não apenas a Jesus, mas também aos seus
pretensos apóstolos, a José, a Maria, seus filhos e toda a sua família. Flávio Josefo, tendo
nascido no ano 37, e escrevendo até 93 sobre judaísmo, cristianismo terapeuta, messias e
Cristos, nada disse a respeito de Jesus Cristo. Justo de Tiberíades, igualmente não fala em
Jesus Cristo, conquanto houvesse escrito uma história dos judeus, indo de Moisés ao ano 50.
Ernest Renan, em sua obra ―Vie de Jesus‖, apesar de ter tentado biografar Jesus, reconhece o
pesado silêncio que fizeram cair sobre o pretenso herói do cristianismo. Os Gregos, os
romanos e os hindus dos séculos I e II jamais ouviram falar na existência física de Jesus
Cristo.

Nenhum dos historiadores ou escritores, judeus ou romanos, os quais viveram ao tempo em


que pretensamente teria vivido Jesus, ocupou-se dele expressamente. Nenhum dedicou-lhe
atenção. Todos foram omissos quanto a qualquer movimento religioso ocorrido na Judéia,
chefiado por Jesus. A história não só contesta a tudo o que vem nos Evangelhos, como prova
que os documentos em que a Igreja se baseou para formar o cristianismo foram todos
inventados ou falsificados no todo ou parte, para esse fim.

111
A Igreja sempre dispôs de uma equipe de falsários, os quais dedicaram-se afanosamente a
adulterar e falsificar os documentos antigos com o fim de pô-los de acordo com os seus
cânones. O piedoso e culto bispo de Cesareia, Eusébio, como muitos outros tonsurados,
receberam ordens papais para realizar modificações em importantes papéis da época,
adulterando-os e emendando-os segundo suas conveniências. Graças a esses criminosos
arranjos, a Igreja terminaria autenticando impunemente sua novela religiosa sobre Jesus
Cristo, sua família, seus discípulos e o seu tempo. Conan Doyle imortalizou o seu personagem,
Sherlock Holmes, assim como Goethe ao seu Werther. Deram-lhes vida e movimento como se
fossem pessoas reais, de carne e ossos. Muitos outros escritores imortalizaram-se também
através de suas obras, contudo, sempre ficou patente serem elas pura ficção, sem qualquer
elo que as ligue com a vida real. Produzem um trabalho honesto e honrado aqueles que assim
procedem, ao contrário daqueles que deturpam os trabalhos assinados por eminentes
escritores, com o objetivo premeditado de iludir a boa fé do próximo. E procedimento que,
além de criminoso, revela a incapacidade intelectual daqueles que precisam se valer de tais
meios para alcançar seus escusos objetivos.

Berson, citado por Jean Guitton em ―Jesus‖, disse que a inigualável humildade de Jesus
dispensaria a historicidade; entretanto, erigiu os Evangelhos como documento indiscutível
como prova, o que a ciência histórica de hoje rejeita. Só depois de muitos anos é que se
tornaria indiferente para com a pirracenta crença religiosa dos seus antepassados, como
aconteceu com mentes excepcionalmente cultas, tornadas ilustres pelo saber e pelo
conhecimento e não apenas pelo dinheiro. Diante da história, do conhecimento racional e
científico que presidem aos atos da vida humana, muitos já se convenceram da primária e
irreal origem do cristianismo, o qual nada mais é do que uma síntese do judaísmo com o
paganismo e a idolatria greco-romana do século I.

Graças ao trabalho de notáveis mestres de Filosofia e Teologia da Escola de Tübíngen, na


Alemanha, ficou provado que os Evangelhos e mesmo toda a Bíblia não possuem valor
histórico, pondo-se em dúvida consequentemente tudo quanto a Igreja impôs como verdade
sobre Jesus Cristo. Tudo o que consta dos Evangelhos e do Novo Testamento são apenas
arranjos, adaptações e ficções, como o próprio Jesus Cristo o foi. Através da pesquisa histórica
e de exames grafotécnicos ficou evidenciado que os escritos acima referidos são apócrifos. De
sorte que, não servindo como documentos autênticos, devem ser rejeitados pela ciência. Jean
Guitton diz que o problema de Jesus varia e acordo com o ângulo sob o qual seja examinado:
histórico, filosófico ou teológico. A história exige provas reais, segundo as quais se evidenciem
os movimentos da pessoa ou do herói no palco da vida humana, praticando todos os atos a ela
concernentes, em todos os seus altos e baixos.

Pierre Couchoud, igualmente citado por Guitton, sendo médico e filósofo, considerou Jesus
como tendo sido ―a maior existência que já houve, o maior habitante da terra‖, entretanto,
acrescentou: ―não existiu no sentido histórico da palavra: não nasceu. Não sofreu sob Pôncio
Pilatos, sendo tudo uma fabulação mítica‖. A passagem de Jesus pela terra seria o milagre dos
milagres: ―o continente, embora fosse o menor, contivera o conteúdo, que era o maior!‖ A
Filosofia quer fatos para examinar e explicar à luz da razão, generalizando-o.

No que se refere à existência de Jesus, é patente a impossibilidade de generalização,


porquanto, na qualidade de mito, como os milhares que o antecederam, sua personalidade é
apenas fictícia, por conseguinte, nenhum material pode oferecer à Filosofia para ser
sistematizado, aprofundado ou explicado. No tocante à Teologia, cabe-lhe apenas a parte
doutrinária acerca das coisas divinas. A ela, interessa apenas incutir nas mentes os seus
princípios sem, contudo, procurar neles o que possa existir de concreto, o que inclusive seria
contrário aos interesses materiais, daqueles aos quais aproveita a religião.

112
Os Enciclopedistas mostraram como eram tolos e irracionais os dogmas da Igreja, lembrando
ainda que ela era um dos mais fortes pilares do feudalismo escravocrata. Voltaire mostrou as
coincidências entre o Evangelho de João e os escritos de Filon, lembrando ter sido ele um
filósofo grego de ascendência judia, cujo pai, outro judeu culto, teria sido contemporâneo de
Jesus, se ele tivesse realmente existido. A filosofia religiosa de Filon era a mesma do
cristianismo, tanto que inicialmente foi cogitada sua inclusão entre os fundadores da nova
crença. Contudo, após exame rigoroso de sua obra, foram encontradas ideias opostas aos
interesses materiais dos lideres cristãos da época.

Devemos aos Enciclopedistas, bem como a Voltaire, o incentivo para que muitos pensadores
futuros pudessem desenvolver um trabalho livre, na pesquisa da verdade. As convicções de
Voltaire são o fruto de profundo estudo das obras de Filon. Os racionalistas, posteriormente,
servindo-se de seus escritos, concluíram que a Igreja criou seus dogmas de acordo com a
lenda e o mito, impondo-os a ferro e fogo. Bauer, aplicando os princípios hegelianos na
Universidade de Tübingen, concluiu que os Evangelhos haviam sido escritos sob a influência
judia, de acordo com seu gosto.

Posteriormente, interesses materiais e políticos motivaram alterações nos mesmos. Em vista


de tais interesses é que Pedro, o pregador do cristianismo nascente, que era pró-judeu, teve
de ser substituído por Paulo, favorável aos romanos. E Marcião teria sido o autor dos escritos
atribuídos ao inexistente Paulo. O mérito da Escola de Tübingen consiste em haver provado
que os Evangelhos são apócrifos, e assim não servem como documento aceitável pela história.
Levando ao conhecimento do mundo livre que os fundamentos do cristianismo são
mistificações puras, os mestres da referida Escola abalaram os alicerces de uma empresa, que
há séculos explora a humanidade crente, vendendo o nome de Deus a grosso e a varejo.

Tudo leva a crer que, no futuro, o conhecimento científico exigirá bases sólidas para todas as
coisas, quando então as religiões não mais prevalecerão, porquanto, não poderão contribuir
para a ciência ou para a história, com qualquer argumento sólido e fiel. Ademais, não parece
lógico que o homem atual, o qual já atingiu um tão elevado nível de desenvolvimento, o que
se verifica em todos os setores do conhecimento, tais como científico, tecnológico e filosófico,
permaneça preso a crenças em deuses inexistentes, em mitos e tabus.

Diz-se que a Bíblia, o livro sagrado dos cristãos, do qual se valem eles para provar a existência
de seu Deus e Jesus Cristo, seu filho unigênito, foi escrito sob a inspiração divina. O Próprio
Deus teria escrito, através de homens inspirados por ele, claro. A doutrina cristã ensina que
Deus, além de onipotente, é onipresente e onisciente. Sendo dotado de tais atributos
―onisciência e onipresença‖, seria de se esperar que Deus, ao ditar aos homens inspirados o
que deveriam escrever não se restringisse apenas ao relato das coisas, fatos ou lugares então
conhecidos pelos homens.

Sendo onipresente, deveria estar no universo inteiro. Conhecê-lo e levá-lo ao conhecimento


dos homens, e não apenas limitar-se a falar dos povos ou lugares que todos conheciam ou
sabiam existir. Sendo onisciente, deveria saber de todas as coisas de modo certo, correto,
exato, e assim inspirar ou ensinar. Todavia, aconteceu justamente o contrário. A Bíblia, escrita
por homens inspirados por Deus onipresente e onisciente, está repleta de erros, os mais
vulgares e incoerentes, revelando total ignorância acerca da verdade e de tudo mais.

Vejamos apenas um exemplo. Diz a Bíblia que o sol, a lua e as estrelas foram criadas em
função da terra: para iluminá-la. Seria o centro do universo, então, o que é totalmente falso.
Hoje, ou melhor, há muito tempo, todos sabemos que a terra é apenas um grão de areia
perdido na imensidão do universo, sendo mesmo uma das menores porções que o compõe,

113
inclusive dentro do sistema solar de que faz parte. Como teria Josué feito parar o sol, a fim de
prolongar o dia e ganhar sua batalha contra os canamitas, sem acarretar uma catástrofe?
Decididamente, quem escreveu tais absurdos, sendo homem, sujeito a falhas e erros, é
perdoável.

Entretanto, sendo um Deus onipresente e onisciente, ou por sua inspiração, é inconcebível. E


mais inconcebível ainda é que o homem moderno permaneça escravo desta ou de qualquer
outra religião. Dispondo de modernos meios de difusão e divulgação da cultura, o homem não
pode ignorar o quanto é falsa a doutrina cristã, além de absurda, o mesmo estendendo-se a
qualquer outra forma de culto ou religião.

Como entender que sendo Deus onipresente e onisciente, não saberia que todos os corpos do
universo possuem movimento, e que este os mantém dentro de sua órbita, sem atropelos ou
colisões? Quando Jeová resolveu disciplinar o comportamento dos hebreus, marcou encontro
com Moisés, no Monte Sinai, para lhe entregar as tábuas da lei. Fato idêntico acontecera muito
antes, quando Hamurabi teria recebido das mãos do deus Schamash a legislação dos
babilônios no século XVII a.C..

A mesma foi encontrada em Susa, uma das grandes metrópoles do então poderoso império
babilônio, encontrando-se atualmente guardada no Museu do Louvre, em Paris. No que
concerne aos Evangelhos, foram escritos em número de 315, copiando-se sempre uns aos
outros. No Concílio de Nicéia, tal número foi reduzido para 40, e destes foram sorteados os 4
que até hoje estão vigorando. A. Laterre, entre outros escritores, assinala ter sido o Evangelho
de Marcos o mais antigo, e haver servido de paradigma para os outros, os quais não
guardaram sequer fidelidade ao original, dando margem a choques e entrechoques de
doutrina. Após o Evangelho de Marcos, começaram a surgir os demais que, alcançando
elevado número, foram reduzidos. A escolha não visou os melhores, o que seria lógico, mas
baseou-se tão-somente no prestigio político dos bispos das regiões onde haviam sido
compostos.

A. Laterre patenteou igualmente, em ―Jesus e sua doutrina‖, que a lenda composta pelos
fundadores do cristianismo, para ser admitida pelos homens como verdade, fora copiada de
fontes mitológicas muito anteriores ao próprio judaísmo, remontando aos antigos deuses
hindus, persas ou chineses. No século II, quando começou a aparecer a biografia de Jesus,
havia apenas o interesse político e material em se manter a sua santa personalidade
idealizada.

Constantino, no século IV, tendo verificado que suas legiões haviam-se tornado reticentes no
cumprimento de suas ordens contra os cristãos, resolveu mudar de tática e aderir ao
cristianismo. Percebendo que os bispos de Alexandria, Jerusalém, Edessa e Roma tinham a
força necessária para fazer-lhe oposição, sentiu-se na contingência de ceder politicamente,
com o objetivo de conseguir obediência total e unificar o império. De sorte que sua adesão ou
conversão ao cristianismo não se baseou em uma convicção intima, espiritual, porém, resultou
de conveniências políticas.

Embora não crendo na religião cristã, percebeu que a cruz lhe daria a força que faltava para
tornar-se o imperador único e obedecido cegamente. Daí a história do sonho que tivera antes
de uma batalha, segundo o qual vira a cruz desenhada no céu e estas palavras escritas
abaixo: ―in hoc signo vincis‖, com este sinal, vencerás. Não era cristão verdadeiro, apenas
fingia sê-lo para conseguir os seus objetivos. Dujardin conta-nos que o cristianismo só surgiu a
partir do ano 30, graças a um rito em que se via a morte e a ressurreição de Jesus, o qual
seria uma divindade pré-cristã. Nesta seita, os seus adeptos denominavam-se apóstolos,

114
significando missionários, os que traziam uma mensagem nova. Os apóstolos desse Jesus
juravam o terem visto, após sua morte, ressuscitar e ascender ao céu. Entretanto, não era
este o Jesus dos cristãos.

O Padre Aífred Loisy, diante do enorme descrédito que o mito do cristianismo vinha sofrendo
nos meios cultos de Paris, resolveu pesquisar-lhe as origens, visando assim desfazer as
objeções apresentadas de modo seguro e bem fundamentado. Buscava a verdade para
mostrá-la aos demais. Entretanto, ao fazer seus estudos, o Padre Loisy constatou que
realmente a crítica havia se baseado em fatos incontestáveis. Por uma questão de honra, não
poderia ocultar o resultado de suas pesquisas, publicando-o logo em seguida. Sendo tal
resultado contrário fundamentalmente aos cânones da Igreja, foi expulso de sua cátedra de
Filosofia, na Universidade de Paris, e excomungado pelo Papa, em 1908.

O Pe. Loisy havia concluído que os documentos nos quais a Igreja se firmara para organizar
sua doutrina provieram do ritual essênio. Jesus Cristo não tivera vida física. Era apenas o
reaproveitamento da lenda essênia do Crestus, o seu Messias. Verificou-se também que as
Paulinianas, de origem insegura, haviam sido refundidas em vários pontos fundamentais e por
diversas vezes, antes de serem incluídas definitivamente nos Evangelhos. Do mesmo modo
chegou à conclusão de que os Evangelhos não poderiam servir de base para a história, nem
para provar a vida de Jesus, dada a sua inautenticidade. Por sorte sua, já não mais existia a
Santa Inquisição; do contrário, o sábio Padre Loisy teria sido queimado vivo.

Os documentos relativos ao governo de Pilatos, na Judéia, nada relatam a respeito de alguém


que, se intitulando de Jesus Cristo, o Messias ou o enviado de Deus, tenha sido preso,
condenado e crucificado com assentimento ou mesmo contra sua vontade, conforme narram
os evangelhos. Não tomou conhecimento jamais de que um homem excepcional praticasse
coisas maravilhosas e sobrenaturais, ressuscitando mortos e curando doentes ao simples
toque de suas mãos, ou com uma palavra, apenas.

Se Pôncio Pilatos, cuja existência é real e historicamente comprovável, que estava no centro
dos acontecimentos da época como governador da Judéia, ignorou completamente a existência
tumultuada de Jesus, é que de fato ele não existiu. Alguém que, pelos atos que lhe são
atribuídos, chega mesmo ao cúmulo de ser aclamado ―Rei dos Judeus‖ por uma multidão
exaltada, como ele o foi, não poderia passar despercebido pelo governador da região. O
imperador Tibério, inclusive, jamais soube de tais ocorrências na Judéia. Estranho que
ninguém o informasse de que um povo, que estava sob o seu domínio, aclamava um novo rei.
Ilógico. A ele, Tibério, é que caberia nomear um rei, governador ou procurador. Prosper
Alfaric, em L‘Ecole de la Raison, assinala as invencíveis dificuldades do cristianismo em
conciliar a fé com a razão. Por isso, a nova crença teve de apoderar-se das lendas e crenças
dos deuses solares, tais como Osíris, Mitra, Ísis, Átis e Hórus, quando da elaboração de sua
doutrina.

Expôs, igualmente, que os documentos descobertos em Coumrã, em 1947, eram o elo que
faltava para patentear que Cristo é o Crestus dos essênios, uma outra seita judia. O
cristianismo nada mais é, então, do que o sincretismo das diversas seitas judias, misturadas
às crenças e religiões dos deuses solares, por serem as religiões que vinham predominando há
séculos. A palavra ―evangelho‖ em grego significa ―boa nova‖, já figura na Odisseia de
Homero, Século XII, a.C.. Foi depois encontrada também numa inscrição em Priene, na Jônia,
numa frase comemorativa e de endeusamento de Augusto, no seu aniversário, significando a
―boa nova‖ no trono. E isto ocorreu muito antes de idealizarem Jesus Cristo.

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Conforme já mencionamos anteriormente, no inicio do cristianismo, os evangelhos eram em
número de 315, sendo posteriormente reduzidos para 4, no Concílio de Nicéia. Tal número
indica perfeitamente as várias formas de interpretação local das crenças religiosas da orla
mediterrânea acerca da ideia messiânica lançada pelos sacerdotes judeus. Sem dúvida, este
fato deve ter levado Irineu a escrever o seguinte: ―Há apenas 4 Evangelhos, nem mais um,
nem menos um, e que só pessoas de espírito leviano, os ignorantes e os insolentes é que
andam falseando a verdade‖. A verdade da Igreja, devo acrescentar.

Havia, então, os Evangelhos dos naziazenos, dos judeus, dos egípcios, dos ebionistas, o de
Pedro, o de Barnabé, entre outros, os quais foram queimados, restando apenas os 4 sorteados
e oficializados no Concílio de Nicéia. Celso, erudito romano, contemporâneo de Irineu, entre os
anos 170 e 180, disse: ―Certos fiéis modificaram o primeiro texto dos Evangelhos, três, quatro
e mais vezes, para poder assim subtrai-los às refutações‖. Foi necessária uma cuidadosa
triagem de todos eles, visando retirar as divergências mais acentuadas, sendo adotada a de
Hesíquies, de Alexandria; e de Pânfilo, de Cesareia e a de Luciano, de Antióquia. Mesmo assim,
só na de Luciano existem 3500 passagens redigidas diferentemente. Disso resulta que, mesmo
para os Padres da Igreja, os Evangelhos não são fonte segura e original.

Os Evangelhos que trazem a palavra ―segundo‖, que em grego é ―cata‖, não vieram
diretamente dos pretensos evangelistas. A discutível origem dos Evangelhos explica porque os
documentos mais antigos não fazem referência à vida terrena de Jesus. Nos Evangelhos, as
contradições são encontradas com muita frequência. Em Marcos, por exemplo, em 1:1-17:―a
linhagem de Jesus vem de Abraão, em 42 gerações‖; ao passo que em Lucas 2:23-28 lê-se
que proviera diretamente de Adão e Eva, sendo que de Abraão a Jesus teriam havido 43
gerações.

Eusébio, comentando o assunto e não sabendo como dirimir a questão, disse: ―Seja lá o que
for, só o Evangelho anuncia a verdade‖.(?) Tais divergências, entretanto, parecem indicar que
os Evangelhos não se destinavam inicialmente à posteridade, visando tão-somente a
catequese imediata de povos isolados uns dos outros. Os escritos destinados a um povo
dificilmente seriam conhecidos dos outros.

O Evangelho de Mateus teria sido destinado aos judeus, arranjado para agradá-los. Por isso,
não fala nos vaticínios nem no Messias. Por isso ainda é que puseram na boca de Jesus as
palavras seguintes: ―Não vim para abolir as leis dos profetas, mas sim para cumpri-las‖. Tudo
indica ter sido feito em Alexandria, porquanto, o original em hebraico jamais existiu. Baur
provou, entretanto, que as Epístolas são anteriores aos Evangelhos e o Apocalipse, o mais
antigo de todos, do ano 68. Todos os escritos do cristianismo desse tempo falam apenas no
Logos, o Cordeiro Pascoal, imolado desde o princípio dos tempos, referindo-se à personalidade
ideal de Jesus Cristo.

Justino, filósofo e apologista cristão, escrevendo em torno do ano 150, não emprega a palavra
Evangelho nem uma vez. Isto mostra que ele, ainda nessa época, ignorava-a, não tendo
conhecimento de sua existência. Justino ignorava igualmente as paulinas, Paulo e os Atos dos
apóstolos, o que prova que foram inventados posteriormente. Marcião, no ano de 140, trouxe
as Epístolas a Roma, as quais não foram inicialmente consideradas merecedoras de fé. Sofreu
rigorosa triagem, sendo cortada muita coisa que não convinha à Igreja.

Marcião fora contemporâneo de Justino. As Epístolas trazidas por ele eram endereçadas aos
Romanos, aos Gálatas e aos Coríntios. Apresentavam Jesus como um Deus encarnado. Teria
nascido de uma mulher e sofrera o martírio para resgatar os pecados da humanidade, isto é,

116
dos ocidentais, porque os orientais não tomaram conhecimento da personalidade de Jesus,
seus milagres e sua pregação e do seu romance religioso.

Engels constatou que as Epístolas são 60 anos mais novas do que o Apocalipse. E, ainda, os
cristãos contrários ao bispo de Roma rejeitaram-nas durante séculos. Foi o que se deu com os
ebionitas e os severianos, conforme Eusébio escreveu e Justino confirmou. O Apocalipse fala
em um cordeiro com sete cornos e sete olhos, o qual foi imolado desde a fundação do mundo
(13-8). O Apocalipse foi composto apenas em 68, sendo o mais antigo de todos os escritos
cristãos. Lutero e Swinglio disseram que o Apocalipse foi incluído nos Evangelhos por engano,
tendo a Igreja de inventar, por isso, a ordem cronológica dos seus livros.

Hoje se pode provar que o Apocalipse surgiu entre os anos 68 e 70; os Evangelhos, no século
II, e os Atos dos Apóstolos são os mais recentes de todos. Eusébio em sua ―História
Eclesiástica‖, 4-23, diz: ―Compus as Epistolas conforme a vontade do irmão: mas os ‗apóstolos
do diabo‘ taxaram-nas de inverídicas cortando-lhes certas coisas e acrescentando outras‖.
Irineu, ao mesmo tempo, ordenava ao copista: ―Confronta toda cópia com este original
utilizado por ti, e corrige-a cuidadosamente‖. Não te esqueças de reproduzir em tua cópia o
pedido que te faço.

Essas citações servem para medirmos que tipo de santidade havia entre os bispos e seus
calígrafos, na arte eusebiana de eméritos falsificadores de documentos importantes. Com isto,
deram autenticidade a todas as invencionices do cristianismo e legitimaram sua liderança na
posse material do que pertencia aos outros. Irineu ainda registrou o seguinte: ―Ouvi dizer que
não acreditam que isto esteja nos Evangelhos, se não encontrarem nos arquivos‖. Ao que
Eusébio respondera: ―É preciso demonstrá-lo‖.

Uma excelente prova da existência de Jesus seria uma comunicação feita por Pilatos a seu
respeito. Entretanto, tal documento não existe. Justino, a pedido dos falsificadores, referiu-se
a Jesus, contudo, dada a sua honradez pessoal, no caso do seu escrito ser autêntico, fê-lo de
modo inseguro e hesitante. Tertuliano, que é mais seguro do que ele, afirmou que esse valioso
documento deverá ser encontrado nos arquivos imperiais. Contudo, a Igreja apesar de haver
se apoderado de Roma a partir do século IV, não teve a coragem de apresentar essa
indispensável jóia documentária, a qual de certo seria refutada pela ciência e pelo
conhecimento.

Mesmo assim, a partir do século IV, essa prova espúria foi produzida; contudo, a Igreja não
teve a petulância de submetê-la à grafotécnica. Daniel Rops, embora fosse um apaixonado
cristão, reconheceu a veracidade dessa falsificação dizendo que: ―a que arranjaram era uma
carta enviada a Cláudio, que reinou de 41 a 44, e não a Tibério, sob cujo governo Pilatos fora
Procurador da Judéia‖. No Apocalipse João, escreveu: ―Se alguém acrescentar alguma coisa
nisto, Deus castigará com as penas descritas neste livro; se alguém cortar qualquer coisa,
Deus cortará sua parte na árvore da vida e na cidade santa descrita neste livro‖. Ai está mais
uma prova de como as falsificações eram usuais na fase da Igreja nascente. O mais
interessante é essa gente falar em Deus, como se fosse coisa cuja existência já tivesse sido
provada, não se justificando mais que o conhecimento e a razão estudassem as bases dessa
existência.

Os padres mostravam-se estar de tal modo familiarizados com Deus e sua vontade que por
isso achavam certo e justo julgar e queimar vivos todos que discordassem deles. Entretanto,
embora dessem a impressão de estar em contato com Deus, usavam de processos criminosos,
dos quais todos os ociosos usam para sacar contra o seu meio social. Assim é que hoje se

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pode provar que o cristianismo foi construído sobre um terreno atapetado de mentiras,
falsificações e mistificações.

O Novo Testamento atualmente oficializado é cópia de um texto grego do século IV. É


exatamente o sinótico descoberto em 1859, em um convento do Monte Sinai, onde vem
informada a origem grega. Os originais do mesmo estão guardados nos museus do Vaticano e
de Londres. Foram publicados com as devidas correções, feitas por Hesíquios, de Alexandria.
Um papiro encontrado no Egito, em 1931, apresenta-nos uma ordem cronológica totalmente
diferente da oficializada pela Igreja. Atualmente, as fontes prováveis aceitáveis são as do
século II em diante, provindas de Justino, Taciano, Atenágoras, Irineu e outros, os quais são
considerados os verdadeiros criadores do cristianismo.

Taciano foi o ―bem amado‖ discípulo de Justino. Ele, entretanto, omite a genealogia de Jesus,
dizendo apenas que ele descendia de reis judeus, de modo muito vago, divergindo assim da
orientação oficializada. Irineu foi quem sistematizou o cristianismo. Foi ele a fonte em que
Eusébio inspirou-se. Por isso é que daí em diante seria obrigatória a confrontação entre os dois
textos.

O bispo de Cesareia fora encarregado pelo todo poderoso bispo de Roma de falsificar tudo
quanto prejudicasse os interesses materiais da Igreja de então. De modo que, por onde
passou a mão de Eusébio, foi tudo alterado criminosamente contra a verdade. Eusébio foi
realmente um bispo que acreditava apaixonadamente na divindade de Jesus Cristo, contudo,
já conhecia o poder que possuía o bispo de Roma. Graças a Eusébio e outros iguais a ele,
tornou-se uma temeridade descrer-se na verdade oficializada pela Igreja.

Após tantas falsificações, todos ficaram realmente inseguros quanto à verdadeira origem do
cristianismo, tal a tumultuação impressa por Eusébio. Tertuliano e Clemente de Alexandria
lutaram um pouco para sanar essas fontes, anulando boa parte do que restara das criminosas
unhas de Eusébio. Jacob Buckhardt, examinando essa documentação, concluiu que o Novo
Testamento merece confiança. Em Coumrã, em 1947, como á vimos, foram encontrados
documentos com escrita em hebraico e não em grego, falando em Crestus não em Cristo.

Ali, Habacuc refere-se à perseguição sofrida por essa seita judia, assim como a morte de
Crestus, igualmente traído por Judas, um sacerdote dissidente. A Igreja, ao ter conhecimento
da existência de tais documentos, pretendeu informar que Crestus era o Cristo de sua criação,
contudo, verificou-se que eles datavam de pelo menos um século antes do lançamento do
romance do Gólgota.

Além disso, continham revelações contrárias aos interesses da Igreja. Eles relatam as lutas de
morte em que viviam as diversas seitas do judaísmo. A Didaquê não pôde entrar nos
Evangelhos, devendo silenciar completamente a respeito da pretensa passagem de Jesus pela
terra. De qualquer forma, a lenda que existia em torno no nome de Crestus foi aproveitada na
época porque, sendo uma seita comunista, suas pregações iriam servir para atrair ao
cristianismo a atenção dos escravos, em luta contra os seus senhores, a eterna luta do pobre
contra o rico.

Escavações feitas em Jerusalém desenterraram velhos cemitérios, onde foram encontradas


muitas cruzes do século I e mesmo anteriores. Todavia, apesar de já ser usada nessa época,
só a partir do século IV é que a Igreja iria oficializá-la como seu emblema. Levantamentos
arqueológicos posteriores provariam que a cruz já era um piedoso emblema usado desde há
milênios.

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Orígenes, polemizando contra Celso, um dos mais cultos escritores romanos de seu tempo, e
que mais combateram as bases falsas da Igreja e de Jesus Cristo, acusa Flávio Josefo por não
haver admitido a existência de Jesus. Flávio não poderia referir-se a Jesus nem ao cristianismo
porque ambos foram arranjados depois de sua morte. Assim, os livros de Flávio que falam de
Jesus foram compostos, ou melhor, falsificados muito tempo após sua morte, no decorrer do
século III, conforme as conclusões alcançadas pelos mestres da Escola de Tübingen.

Sêneca, que foi preceptor de Nero, cometendo suicídio e para não ser assassinado por ele, já
pensava mais ou menos como os cristãos. Do que se conclui que as idéias de que se serviu o
cristianismo para se fundamentar são emprestadas das lendas que giravam em torno de
outros Cristos Messias, assim como de outros cultos. Nada tendo, portanto, de original. Sêneca
acreditava em um Deus único e imaterializável. Por tudo isso, vemos que os líderes do
cristianismo nada mais fizeram do que se apropriar das ideias já existentes. Apenas tiveram o
cuidado de promover as modificações necessárias, com vistas a melhor consecução dos seus
objetivos materiais.

Sêneca, embora não fazendo em seus escritos qualquer alusão à existência de Jesus Cristo,
teve muitos de seus escritos aproveitados pelo cristianismo nascente. Em Tácito, escritor do
século II, encontram-se referências a respeito de Jesus e seus adeptos. Contudo, exames
grafotécnicos demonstraram que tais referências são falsas, e resultam de visível adulteração
dos seus escritos.

Suetônio, que existiu quando Jesus teria vivido, escreveu a ―História dos Doze Césares‖,
relatando os fatos de seu tempo. Referindo-se aos judeus e sua religião, apenas falou em
―distúrbios de judeus exaltados em torno de Crestus‖. Por aí se vê que ele não se referia aos
cristãos, porquanto, eles sempre se mostraram humildes e obedientes à ordem constituída,
evidentemente a fim de passar, tanto quanto possível, despercebidos. Desse modo, iriam
solapando o poder imperial, manhosamente, como realmente aconteceu.

Suetônio escreveu ainda que haviam supliciado alguns cristãos que eram gente que se
dedicava demasiado a tolas superstições, orientadas por uma idéia errada. Disse ainda que
Nero tivera de mandar expulsar os judeus de Roma, porque eles estavam sempre se
revoltando, instigados por Crestus. Os cristãos estavam sempre organizados de modo a atrair
os escravos, sem, contudo, desagradar às autoridades. Assim sendo, jamais provocariam
tumultos.

Os cristãos aos quais Suetônio refere-se poderiam ser os zilotas, os essênios ou os terapeutas,
mas nunca os cristãos de Jesus Cristo, porquanto, conforme já dissemos acima, os cristãos
eram ensinados a não provocar desordens. Plínio, o Jovem, viveu entre os anos 62 e 113,
tendo sido subpretor da Bitínia. Na carta enviada ao imperador, perguntava como agir em
relação aos cristãos, ao que Trajano teria respondido que agisse apenas contra os que não
renegassem à nova fé. Entretanto, não ficou evidenciado a quais cristãos, exatamente, eram
feitas as referências: se aos crestãos ou aos cristãos. De qualquer forma, a carta em questão,
após ser submetida a exames grafotécnicos e métodos rádio-carbônicos, revelou haver sido
falsificada.

Justiniano, Imperador romano, mandou queimar os escritos de Porfírio, através de um edito,


em 448, alegando que: ―impelido pela loucura, escrevera contra a santa fé cristã‖. Vespasiano,
ao morrer, disse: ―Que desgraça! Acreditei que me havia tornado um deus imortal!‖. Suas
palavras justificam-se pela credulidade supersticiosa.

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Partindo do preceito ensinado pelos judeus, aliás, um falso preceito, de que Cristo havia subido
ao céu com corpo e alma, não seria de estranhar que os imperadores pretendessem tornarem-
se deuses, a fim de escapar ao inapelável destino dos que nascem: a morte. Calígula, por isso,
fizera-se coroar como Deus-Sol, o Sol Invictus, o Helius. Nessa época o Império romano,
embora em declínio, ainda dominava uma porção de províncias afastadas de Roma. O homem
espoliado pela força bruta, unificada em torno das regiões, sentindo não ser possível contar
com a justiça humana, passa a esperar pela justiça dos deuses. Mas, mesmo assim, teriam de
apelar para os deuses dos pobres e não dos ricos, privilegiados e poderosos.

Conta a lenda que Osíris, o deus solar dos egípcios, foi morto por seu irmão Seth, o qual
dividiu o corpo em 14 pedaços e os espalhou pelo mundo afora. Ísis, sua esposa e irmã, saiu
em busca dos pedaços, levando seu filho Hórus ao colo. Todos os anos o povo fazia a festa de
Ísis, relembrando o acontecimento. Havendo conseguido juntar todas a partes do corpo, Osíris
ressuscitou, passando a ser incensado como o deus da morte e da sombra. Fora uma
ressurreição conseguida pelo amor da esposa. Ísis separou a terra do céu, traçou a órbita dos
astros, criou a navegação e destruiu todos os tiranos. Comandava os rios, as vagas e os
ventos.

Seu culto assemelhava-se muito ao de Astartê, de Adônis e de Átis, religiões muito


aparentadas entre si, dominando toda a orla do Mediterrâneo. Seu culto era uma reminiscência
do culto de Tamus, um deus babilônio, cuja doutrina ensinava que os deuses nasciam e
renasciam, ressuscitando-se. O judaísmo e, mais tarde, o cristianismo, beberam dessas fontes
grande parte da sua liturgia.

No cristianismo, encontramos Ísis representada pela Virgem Maria e Hórus transformado em


Jesus Cristo. Maria e Jesus, fugindo de Herodes e indo para o Egito, é a mesma lenda de Ísis e
Hórus, fugindo de Seth. O Deus-Homem que morria e ressuscitava já era uma velha ―crença
religiosa‖ naqueles tempos. O cristianismo apenas deu novos nomes e novas roupagens aos
deuses de velhas crenças.

A revelação de Deus aos homens é outra lenda cuja origem perde-se na noite dos tempos.
Muitos séculos antes do surgimento do judaísmo, Zoroastro ou Zaratrusta havia criado uma
religião, segundo a qual havia uma eterna luta entre o bem e o mal. Aura Mazzda ou Ormuzd,
o deus do fogo e da luz, representava o bem em luta contra Angra Maniú ou Iarina, o deus das
trevas. Nessa luta, Ormuzd foi auxiliado por seu filho Mitra, o espírito do bem e da justiça,
mediador entre Ormuzd e os homens. Ormuzd mandou seu filho à terra, o qual nasceu de uma
virgem pura e bela, que o concebeu através de um raio de sol. Morreu e ressuscitou em
seguida. Essa religião foi levada para Sicília pelos marinheiros persas, nos últimos séculos da
era passada. Inventando o cristianismo, os judeus nada mais fizeram do que sincretizar o
judaísmo ortodoxo com a religião de Mitra, sem esquecer-se de Osíris e Átis, cujas religiões
eram também muito aceitas em Roma e Alexandria.

Vestígios do mitraísmo foram encontrados em escavações recentes, feitas em Óstia, os quais


datam do século I. O mitraísmo era praticado em catacumbas, em grutas e em subterrâneos.
O cristianismo copiou-lhe a prática. Daí porque disseram ter Jesus nascido em uma gruta e,
nos primeiros tempos, o cristianismo foi praticado em catacumbas. Assim sendo, os cristãos
foram para as catacumbas, não fugindo das autoridades imperiais, mas tão-somente para
observar o ritual mitraico. Os mitraicos também davam seus banquetes subterrâneos, eram os
banquetes pessoais, comuns nos ritos solares e no judaísmo. Em ambos, havia o rito do pão e
do vinho.

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Mitra, o Sol Invictos, era festejada em dezembro, como Jesus. Outras aproximações entre o
culto de Mitra e o de Jesus, no cristianismo: o uso da cruz do Sol Radiante, a cruz do Sol
Invictus a qual expandia raios; o uso da pia batismal com a água benta, as refeições
comunais, a destinação do domingo para o descanso em homenagem ao Senhor; a águia e o
touro do ritual mitraico foram tomados para símbolos dos evangelistas Marcos e Lucas. Antigos
quadros e painéis trazem a figura dos evangelistas com a cabeça desses animais. Do judaísmo,
copiaram a crença da imortalidade da alma, a vida no além, o Inferno, o diabo, a ressurreição,
o dia do juízo; práticas e crenças igualmente existentes no mitraísmo.

Graças a esses espertos arranjos, durante muito tempo, o crente frequentou indiferentemente
o templo cristão, de Mitra ou de Ísis, crendo estar na Igreja antiga, onde iam consultar o
oráculo. Por isso, Teofilo, em Alexandria, mandou construir um templo cristão ao lado de um
templo de Ísis, onde se anunciava o oráculo quando as profecias vinham de uma revelação
astral, mediante a camuflagem das vozes de antigos bispos ali enterrados. Uma das coisas que
favoreceram o cristianismo foi a abolição do sacrifício sangrento. Muitos correram a abraçar a
nova crença para escapar da morte em um desses atos propiciatórios.

Spinoza e Hobbes, no século XVIII, mostraram que o Pentateuco foi composto no século II
a.C. graças ao que o sacerdote judeu havia aprendido no cativeiro babilônio, fato que
aconteceu no século IV a.C. Em seguida, mostraram uma série de contradições quanto à
cronologia. Em uma das fontes, apresentam Adão e Eva como tendo sido criados ao mesmo
tempo, enquanto em outra informam que ela havia sido feita de uma costela de Adão. Em
uma, o homem aparece antes dos outros animais, na outra os animais surgem primeiro.
Levantamentos arqueológicos do começo do século XX, levados a efeito nos subsolos da
Babilônia, provaram que o Deuteronômio resultou, em grande parte, do que os sacerdotes
judeus haviam copiado da legislação religiosa, civil e criminal de Hamurabi, a qual por sua vez
resultara do que se sabia da civilização acádia, e que naqueles tempos já era vetusta.

Isaías, ao profetizar acerca de diversos reis de várias épocas, mostra que seu nome foi
inventado séculos depois dos fatos haverem ocorrido. Um desses reis foi Dano, rei persa que
governou em 538 A.C., quando libertou os judeus do cativeiro. Herodes morreu no ano IV
A.C., foi responsabilizado pela matança dos inocentes, para compor o controvertido romance
da fuga para o Egito. Tudo o que até agora temos relatado constitui provas evidentes de que a
Bíblia não tem a antiguidade nem a veracidade que lhe pretendem imprimir.

Os zilotas que seguiam a linha comunista dos essênios combatiam tanto os judeus ricos como
a ocupação romana. Os essênios, ao professar, faziam votos de pobreza, quando juravam
nada contar da seita para os estranhos e nada ocultar dos companheiros. Era um dos ramos
do judaísmo em que não mais se oferecia sacrifício sangrento, o que foi copiado pelo
cristianismo. Os Evangelhos foram compostos para enquadrar Jesus no que está previsto no
versículo 17 do salmo 22. De modo que Jesus não passou de um ator arranjado para
representar o drama do Gólgota. Cumpriu as Escritas como ator e não como sujeito de uma
vida real.

Reimarus, filósofo alemão que morreu em 1768, estudou a fundo a história de Jesus. Chegou a
conclusões irrefutáveis, que assombraram a Igreja muito mais do que Copérnico ou Darwin.
Disse que, se Jesus tivesse mesmo existido, seria, quando muito, um político ambicioso que
fracassara completamente em suas conspirações contra o governo. Emmanuel Kant foi o
primeiro filósofo que conseguiu racional e inteligentemente expulsar Jesus da história humana,
através de uma impressionante e profunda exegese do herói do cristianismo. Volney, em ―As
Rumas de Palmira‖, após regressar de uma longa viagem de pesquisas sobre Antiguidade

121
clássica pelo Oriente Médio, elaborou o trabalho acima referido, no qual nega a existência
física de Jesus Cristo.

Arthur Drews igualmente viveu muitos anos na Palestina dedicando-se ao estudo de sua
história antiga; concluiu que Jesus Cristo jamais foi um acontecimento palestino. Examinou
todos os lugares pelos quais os evangelistas pretenderam tivesse Jesus passado. Constatou,
então, que o cristianismo foi totalmente estruturado em mitos; entretanto, organizado de
modo a assumir o aspecto de verdade incontestável, a ser imposta pela Igreja. Todavia, para
sorte nossa homens estudiosos e inteligentes contestam as falsas verdades elaboradas pelo
cristianismo, com argumentos irretorquíveis.

Dupuis disse que, aqueles que fizeram de Jesus um homem, conseguiram enganar tanto
quanto os que o transformaram em um deus. Em suas observações, deixa certo que o
romance de Jesus nada mais é do que a repetição das velhas lendas dos deuses solares.
Vejamos suas palavras: ―Quando tivermos feito ver que a pretensa história de um deus que
nasceu de uma virgem, no solstício do inverno, depois de haver descido aos infernos, de um
deus que arrasta consigo um cortejo de doze apóstolos, ‗os doze signos solares‘ cujo chefe tem
todos os atributos de Jano, um deus vencedor do deus das trevas, que faz transitar o homem
império da luz e que repara os males da natureza, não passa de uma fábula solar… ser-lhe-á
pouco menos indiferente examinar se houve algum príncipe chamado Hércules, visto haver-se
provado que o ser consagrado por um culto, sob o nome de Jesus Cristo, é o Sol, e que o
maravilhoso da lenda ou do poema tem por objeto este astro, então parecerá que os cristãos
tem a mesma religião que os índios do Peru, a quem os primeiros fizeram degolar‖.

Albert Kalthoft diz que Jesus personifica o movimento socioeconômico que no século I fazia
revoltar o escravo, o pobre e o proletário. O seu messianismo foi espertamente aproveitado
pelos líderes dos judeus da diáspora, aqueles que exploravam a desgraça do judeu pobre em
benefício próprio. Acrescenta que a divergência que existe entre os quatro evangelistas resulta
das várias tendências daquele movimento social revolucionário nascido em Roma, do qual a
versão palestina é apenas o reflexo.

Salonmon Reinach, em ―Orheus‖, salienta o completo silêncio dos autores contemporâneos de


Jesus Cristo acerca de sua pretensa existência. Tal silêncio verifica-se tanto entre os escritores
judeus como entre os não judeus. Examina em profundidade as ―Acta Pilati‖ e constata que os
acontecimentos que o cristianismo situou em seu governo não foram do que ressuscitou no
equinócio da primavera, de seu conhecimento, e assim sendo Pilatos jamais soube qualquer
coisa a respeito de Jesus Cristo. Pierre Louis Couchoud afirma que a existência real de Jesus é
indemonstrável, do ponto de vista histórico. E acrescenta que as referências feitas por Flávio
Josefo a Jesus não passam de falsificação de textos, sobejamente provada hoje pelos peritos
da crítica histórica.

Os maiores movimentos históricos tiveram como origem os mitos, cujo papel social é dar
forma aos anseios inconscientes do povo. Compara, inclusive, a lenda de Jesus com a de
Guilherme Tell, na Suíça. Todos sabem tratar-se de uma lenda nacional, todavia, Guilherme
Tell é ali reverenciado como herói verdadeiro e real. Seu nome promove a união política dos
cantões, embora falem línguas diferentes. É possível que o mesmo aconteça em relação a
Jesus e o cristianismo.

Estando em jogo interesses de ordem social, política e, sobretudo, econômica, os líderes


cristãos preferem deixar o mito de pé, pois enquanto houver cristãos, sua profissão estará
garantida e os lucros continuarão sendo por eles convertidos. O que se faz necessário é que o
povo seja esclarecido acerca dos assuntos de crenças e religiões nos termos da verdade, da

122
razão e da lógica, a fim de que, se libertando dos velhos preconceitos e tabus, possa enfim ver
o mundo e as coisas em sua realidade objetiva. E não ignoramos qual a realidade objetiva que
predomina no cristianismo: é a exploração dos menos abastados intelectual e
economicamente. Quem mais contribui para as campanhas da Igreja são aqueles que menos
possuem, cuja mente encontra-se obstruída pelas ideias e crenças religiosas. Sua pobreza
material alia-se à pobreza intelectual.

Uma boa dose de conhecimentos científicos certamente é a melhor maneira de remover os


obstáculos para a libertação do homem, criados pelos lideres religiosos, em suas pregações.
Entretanto, sabemos que nem sempre é possível a aquisição de tais conhecimentos. Muitos
são os fatores que se interpõem entre o homem pobre, o operário, o trabalhador, e a cultura.
Um desses fatores, por sinal, muito ponderável, é o econômico-financeiro. Como fazer para ir
à escola, comprar livros, etc, se tem que trabalhar duro pela vida, e o que ganha mal dá para
sobreviver?

Bem poucos são os que conseguem reunir os conhecimentos necessários que lhe permitam
enxergar mais longe e romper as invisíveis cadeias que os prendem aos dogmas e
preconceitos ultrapassados pela razão e pela ciência. O mais cômodo para aqueles deserdados
será esperar a recompensa das agruras da vida no céu, após a morte. Afinal de contas, os
padres e os pastores estão aí para isto: vender Deus e o céu a grosso e no varejo.

Tobias Barreto escreveu estes versos memoráveis: ―Se é sempre o mesmo engodo; Se o
homem chora e continua escravo; De que foi que Jesus veio nos salvar?‖ Poderá alguém
responder a tal interrogação satisfatoriamente? Provavelmente não.

É possível que, movido pela mesma razão, Proudhon tenha escrito: ―Os que me falam em
religião querem o meu dinheiro ou a minha liberdade‖. Desta forma, em poucas palavras, ficou
bem claro o sentido e o objetivo da religião: subtrair ao indivíduo a sua liberdade de
pensamento e de ação, e, com ela, o seu dinheiro.

As falsificações

Os únicos autores que poderiam ter escrito a respeito de Jesus Cristo, e como tal foram
apresentados pela Igreja, foram Flávio Josefo, Tácito Suetonio e Plínio. Invocando o
testamento de tais escritores, a Igreja pretendeu provar que Jesus Cristo teve existência física,
e incutir como verdade na mente dos povos todo o romance que gira em torno da
personalidade fictícia de Jesus. Contudo, a ciência histórica, através de métodos modernos de
pesquisa, demonstra hoje que os autores em questão foram falsificados em seus escritos.
Estão evidenciadas súbitas mudanças de assunto para intercalações feitas posteriormente por
terceiros. Após a prática da fraude, o regresso ao assunto originalmente abordado pelo autor.

Tomemos, primeiramente, Flávio Josefo como exemplo. Ele escreveu a história dos
acontecimentos judeus na época em que pretensamente Jesus teria existido. Os falsificadores
aproveitaram-se então de seus escritos e acrescentaram: ―Naquele tempo nasceu Jesus,
homem sábio, se é que se pode chamar homem, realizando coisas admiráveis e ensinando a
todos os que quisessem inspirar-se na verdade. Não foi só seguido por muitos hebreus, como
por alguns gregos. Era o Cristo. Sendo acusado por nossos chefes do nosso país ante Pilatos,
este o fez sacrificar. Seus seguidores não o abandonaram nem mesmo após sua morte. Vivo e
ressuscitado, reapareceu ao terceiro dia após sua morte, como o haviam predito os santos
profetas, quando realiza outras mil coisas milagrosas. A sociedade cristã, que ainda hoje
subsiste, tomou dele o nome que usa.‖

123
Depois deste trecho, passa a expor um assunto bem diferente no qual se refere a castigos
militares infligidos ao povoado de Jerusalém. Mais adiante, fala de alguém que conseguira seus
intentos junto a certa dama fazendo-se passar como sendo a humanização do deus Anubis,
graças aos ardis dos sacerdotes de Ísis. As palavras a Flávio atribuídas são as de um
apaixonado cristão. Flávio jamais escreveria tais palavras, porquanto, além de ser um judeu
convicto, era um homem culto e dotado de uma inteligência excepcional. O próprio Padre Gillet
reconheceu em seus escritos ter havido falsificações nos textos de Flávio, afirmando ser
inacreditável que ele seja o autor das citações que lhe foram imputadas. Além disso, as
polêmicas de Justino, Tertuliano, Orígenes e Cipriano contra os judeus e os pagãos
demonstram que Flávio não escreveu nem uma só palavra a respeito de Jesus. Estranhando o
seu silêncio, classificaram-no de partidário e faccioso.

No entanto, um escritor com o seu mérito escreveria livros inteiros acerca de Jesus, e não
apenas um trecho. Bastaria, para isto, que o fato realmente tivesse acontecido. Seu silêncio,
no caso, é mais eloquente do que as próprias palavras. Exibindo os escritos de Flávio, Fócio
afirmava que nenhum judeu contemporâneo de Jesus ocupara-se dele. A luta de Fócio, que
viveu entre os anos de 820 a 895, e foi patriarca de Constantinopla, teve início justamente por
achar desnecessário a Igreja lançar mãos de meios escusos para provar a existência de Jesus.
Disse que bastaria um exemplar autêntico não adulterado pela Igreja e fora do seu alcance
para por em evidência as fraudes praticadas com o objetivo de dominar de qualquer forma.

Embora crendo em Jesus Cristo, combateu vivamente os meios sub-reptícios empregados


pelos Papas, razão porque foi destituído do patriarcado bizantino e excomungado. De suas 280
obra apenas restou o ―Myriobiblion‖, tendo o resto sido consumido, provavelmente por ordem
do Papa.

Tácito escreveu: ―Nero, sem armar grande ruído, submeteu a processos e a penas
extraordinárias aos que o vulgo chamava de cristãos, por causa do ódio que sentiam por suas
atrapalhadas. O autor fora Cristo, a quem, no reinado de Tibério, Pôncio Pilatos supliciara.
Apenas reprimida essa perniciosa superstição, fez novamente das suas, não só na Judéia, de
onde proviera todo o mal, senão na própria Roma, para onde de confluíram de todos os pontos
os sectários, fazendo coisas as mais audazes e vergonhosas. Pela confissão dos presos e pelo
juízo popular, viu-se tratar-se de incendiários professando um ódio mortal ao Gênero
humano‖.

Conhecendo muito bem o grego e o latim, Tácito não confundiria referências feitas aos
seguidores de Cristo com os de Crestus. As incoerências observadas nessa intercalação
demonstram não se tratar dos cristãos de Cristo, nem a ele se referir. Lendo-se o livro em
questão, percebe-se perfeitamente o momento da interpelação. Afirmar que fora Cristo o
instigador dos arruaceiros é uma calúnia contra o próprio Cristo.

E conforme já referimos anteriormente, os cristãos seguidores de Cristo eram muito pacatos e


não procuravam despertar atenção das autoridades para si. Como dizer em um dado momento
que eles eram retraídos e, em seguida, envolvê-los em brigas e coisas piores? É apenas mais
uma das contradições de que está repleta a história da Igreja. Ganeval afirma que foram
expulsos de Roma os hebreus e os egípcios, por seguirem a mesma superstição. Deduz-se
então que não se referia aos cristãos, seguidores de Jesus Cristo. Referiam-se aos Essênios,
seguidores de Crestus, vindos de Alexandria.

A Igreja não conseguiu por as mãos nos livros de Ganeval, o que contribuiu ponderavelmente
para lançar uma luz sobre a verdade. Por intermédio de seus escritos, surgiu a possibilidade de
se provar a quais cristãos, exatamente, referia-se Tácito. Suetônio teria sido mais breve em

124
seu comentário a respeito do assunto. Escreveu que ―Roma expulsou os judeus instigados por
Crestus, porque promoviam tumultos‖. É evidente, também, a falsificação praticada em uma
carta de Plínio a Trajano, quando perguntava o que fazer sobre os cristãos, assunto já
abordado anteriormente. O referido texto, após competente exame grafotécnico, revelou-se
adulterado. É como se Plínio quisesse demonstrar, não apenas a existência histórica de Jesus,
mas sua divindade, simbolizando a adoração dos cristãos. É o quanto basta para evidenciar a
fraude.

Se Jesus Cristo realmente tivesse existido, a Igreja não teria necessidade de falsificar os
escritos desses escritores e historiadores. Haveria, certamente, farta e autêntica
documentação a seu respeito, detalhando sua vida, suas obras, seus ensinamentos e sua
morte. Aqueles que o omitiram, se tivesse de fato existido, teriam falado dele
abundantemente. Os mínimos detalhes de sua maravilhosa vida seriam objeto de vasta
explanação. Entretanto, em documentos históricos não se encontram referências dignas de
crédito, autênticas e aceitáveis pela história. Em tais documentos, tudo o que fala de Jesus e
sua vida é produto da má-fé, da burla, de adulterações e intercalações determinadas pelos
líderes cristãos. Tudo foi feito de modo a ocultar a verdade.

Quando a verdade esta ausente ou oculta, a mentira prevalece. E há um provérbio popular que
diz: ―A mentira tem pernas curtas‖. Significa que ela não vai muito longe, sem que não seja
apanhada. Em relação ao cristianismo, isto já aconteceu. Um número crescente de pessoas
vai, a cada dia que passa, tomando conhecimento da verdade. E, assim, restam baldados os
esforços da Igreja, no que concerne aos ardis empregados na camuflagem da verdade, visando
alcançar escusos objetivos.

O doloroso silêncio histórico

A existência de Jesus Cristo é um fato que jamais foi registrado pela história. Os documentos
históricos que o mencionam foram falsificados por ordem da Igreja, num esforço para provar
sua pretensa existência, apesar de possuir provas de que Jesus é um mito. E assim agiu,
movida pelo desejo de resguardar interesses materiais.

Ganeval apontou a semelhança entre o culto de Jesus Cristo e o de Serapis. Ambos são uma
reencarnação do deus ―Phalus‖, que, por sua vez, era uma das formas de representação do
deus Sol. Irineu chegou a afirmar que o deus dos cristãos não era homem nem mulher. Papias
cita trechos dos Evangelhos, mostrando que se referiam ao Cristo egípcio. Referindo-se ao
―logos‖, que seria Jesus Cristo, disse ter sido ele apenas uma emanação de Deus, produzida à
semelhança do Sol.

É bom lembrar que essas opiniões divergentes entre si são de três teólogos do cristianismo.
Essas opiniões foram emitidas quando estava acesa a luta de desmentidos recíprocos da Igreja
contra os seus numerosos opositores, ou seja, os que desmentiam a existência física de Jesus.
Então, criaram uma filosofia abstrata, baseando-se nos escritos de Filon.

Ganeval, baseando-se em Fócio, disse que Eudosino, Agápio, Carino, Eulógio e outros teólogos
do cristianismo primitivo não tiveram um conceito real nem físico de Jesus Cristo. Disse mais,
que Epifânio, falando sobre as seitas heréticas dos marcionítas, valentinianos, saturninos,
simonianos e outros, falava que o redentor dos cristãos era Horus, o filho de Ísis, um dos três
deuses da trindade egípcia, que mais tarde viria a ser Serapis.

Ganeval afirmou ainda que os docetistas negavam a realidade de Jesus e, para refutar a
negação, o IV Evangelho põe em relevo a lança que fez sair água e sangue do corpo de Jesus,

125
com o intuito de provar sua existência física. Segundo Jerônimo, esses docetistas teriam sido
contemporâneos dos apóstolos. Lembra ainda que o imperador Adriano, viajando em 131 para
Alexandria, declara que ―o deus dos cristãos era Serapis, e que os devotos de Serapis eram os
mesmos que se chamavam os bispos de cristãos‖. Adriano, decerto, estava com a verdade.

Documentos daquela época informam que existiam os atuais Evangelhos, assim como Tácito
informa que os hebreus e os egípcios formavam uma só superstição. Os escritos de Filon não
se referem a Jesus Cristo, conforme pretenderam fazer crer os falsificadores, mas a Serapis.
Quando havia referências aos cristãos terapeutas, afirmavam que se falava dos cristãos de
Jesus. Por sua vez, Clemente de Alexandria e Orígenes escreveram negando Jesus e falando
em Cristo, o qual seria Crestus. No entender de Fócio, tudo isso não passava de fabulação
mítica, não tendo existido Jesus nem Cristo, de que a Igreja criou o seu Jesus Cristo.

Duquis e Volney, fazendo o estudo da mitologia comparada, mostram de onde retiraram Jesus
Cristo: do próprio mito. Filon, escrevendo a respeito dos cristãos terapeutas, disse que o seu
teor de vida era semelhante ao dos cristãos e essênios. Abandonavam bens e família para
seguir apaixonadamente aos sacerdotes. Epifânio escreveu que os cristãos terapeutas viviam
junto do lago Mareótides, tendo os seus Evangelhos e os seus apóstolos. É sobre esses cristãos
que Filon escreveu. Se os cristãos seguidores de Jesus Cristo já existissem, Filon não poderia
deixar de falar deles.

Sobre o pretenso nascimento de Cristo, Filon contava apenas 25 anos de idade. Os


Evangelhos, tendo surgido muito tempo após a morte de Filon e de Jesus, não poderiam ser os
do cristianismo por ele referido. Clemente de Alexandria e Orígenes não criam na encarnação
nem na reencarnação, motivo porque não creram na encarnação de Jesus Cristo, embora
fossem padres da Igreja. Orígenes morreu em 254. Fócio escreveu sobre ―Disputas‖ de
Clemente e afirmou que ele negara a doutrina do ―Logos‖, dizendo que o ―Verbo‖ jamais se
encarnou, afirmação igualmente feita por Ganeval.

Analisando os quatro volumes de ―Principia‖, de Orígenes, percebe-se que o ―Logos‖ ou o


―Verbo‖ era o mesmo sopro de Jeová, referido por Moisés. Fócio, tendo-se escandalizado com
isso, disse que Orígenes era um blasfemo. Apenas analisando como se referia ao Verbo, a
Crestus e ao Salvador, é que se pode excluir a possibilidade da existência física de Jesus. O
tratariam de modo bem diferente, se tivesse realmente existido.

Um Jesus Cristo não histórico

A História, conforme mencionado, não tem registro da existência de Jesus Cristo. Os autores
considerados confiáveis e que seriam seus contemporâneos omitiram-se completamente. Os
documentos históricos que o mencionam, o fazem esporadicamente, e mesmo assim revelam-
se rasurados e falsificados, motivo pelo qual de nada adiantam, neste sentido, para a História.
É óbvio, portanto, que a História não poderia registrar um evento que não aconteceu.

Tomando conta da História, o cristianismo a deixou na contingência de referir o nome de Jesus


Cristo como sendo um deus antropomorfizado, mas nunca uma pessoa de carne e ossos que
tenha realmente vivido. Ao fazê-lo, principia por um estudo filológico e etimológico dos termos
―Jesus‖ e ―Cristo‖, e termina mostrando que os dois nomes foram reunidos em um só, para ser
dado posteriormente a um indivíduo. O termo ―Jesus‖ significa salvador, enquanto que ―Cristo‖
é o ungido do Senhor, o ―oint‖ dos judeus, o Messias esperado doe judeus.

Neste estudo, a História mostra que a crença messiânica havia tomado a costa do
Mediterrâneo a partir do século II antes de nossa era. O norte da África, o sul da Europa, a

126
Ásia Menor, estavam todos repletos de Messias e Cristos, e de milhares de pessoas que os
seguiam e neles criam.

Ao referir-se aos pretensos Messias, o Talmud deu esse nome até mesmo a diversos reis
pagãos, como no caso de Ciro, conforme está em Isaias 44:1, ou ao rei de Tiro, como está em
Ezequiel 28:14 e nos Salmos, quando se verifica que os nomes de Jesus e de Cristo já vinham
sendo atribuídos a diversos líderes religiosos da Antiguidade. As fontes pesquisadas pela
História mostraram que Jesus Cristo, ao ser estudado como fato histórico, só pode ser
encarado como sendo o ―ungido do Senhor‖, uma personalidade de existência abstrata apenas,
não tendo possuído contextura física pelo que deixou de ser histórico. É apenas uma figura
simbólica, através da qual a humanidade tem sido enganada há muitos séculos.

Cumprindo seu dever de informar, a História põe diante dos olhos do crente e do estudioso as
provas de que foi a luta dos líderes cristãos a partir do século II para que o mito Jesus Cristo
adquirisse a consistência sólida que levou a crença religiosa dos europeus da Idade Média sob
o manto do criminoso absolutismo dos reis e dos Papas de então. Este estudo demonstra que
Jesus Cristo foi concebido no século II para cumprir um programa messiânico elaborado pelos
profetas e pelos compiladores do Velho Testamento e das lendas, sob o seu pretenso nome.
Vê-se, então, que os passos de Jesus pela terra aconteceram conforme o Talmud, para que se
cumprissem as profecias que o judaísmo havia inventado.

Jesus Cristo pode ser considerado o ator no palco. Representou o drama do Gólgota e retirou-
se da cena ao fim da peça. Mateus 1:2 descreve-nos um Jesus Cristo que nasce
milagrosamente, apenas para que se cumprissem as escrituras. Em 2:5 diz que nasceu em
Belém, porque foi ali que os profetas previram que nasceria. Em 2:14 deixa-o fugir para o
Egito, para justificar estas palavras: ―Meu filho será chamado do Egito‖. Em 2:23 faz José
regressar a Nazaré porque Jesus deveria ser nazareno. Em 3:3 promove o encontro de Jesus
com João Batista, porque Isaías predissera-o. Em 4:4 Jesus foi tentado pelo diabo, porque as
escrituras afirmaram que tal aconteceria e que ele resistiria. Em 4:14 leva Jesus para
Carfanaum para conferir outra predição de Isaías. Em 4:12 Jesus diz que não se deve fazer
aos outros senão aquilo que gostaríamos que a nós fosse feito, porque isto também estava na
lei dos profetas. Em 7:17 Jesus cura os endemoniados, conforme predissera Isaías. Em 11:10-
14 Jesus palestra com João Batista porque assim predissera Elias. Em 12:17 Jesus cura as
multidões, quando pede que não propalem isso, igualmente dando cumprimento às palavras
de Isaías.

Em 12:40 permanece sepultado durante três dias porque os deuses do paganismo, os deuses
solares ou redentores, também estiveram; como Jonas, que foi engolido por uma baleia, a
qual depois de três dias jogou para fora, intacto como se nada tivesse acontecido. E tudo isto
aconteceu em um mar onde não há possibilidade de vida para esse cetáceo, portanto, só
poderia acontecer graças aos milagres bíblicos.

Em 13:14 diz que Jesus falava por meio de parábolas, como Buda também o fez. Assim
também falavam os antigos taumaturgos, para que apenas os sacerdotes entendessem; assim
só eles seriam capazes de interpretar para os incautos e crédulos religiosos, e, afinal, porque
Isaías assim o previa.

Em 21:14 Jesus entra em Jerusalém montado em um burrico, conforme as profecias. Em


26:54 Jesus diz que não foi preso pelo povo quando junto dele se assentou no templo para
ensinar, porque também estava previsto. Em 27:9 Judas trai a Jesus, vendendo-o por trinta
dinheiros e recebendo à vista o preço da traição.

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Em 27:15 os soldados repartem entre si as roupas do crucificado. Apenas o cumprimento
desta profecia choca-se frontalmente com a História. E, de acordo com ela, nessa época não
havia legionários romanos na Palestina. Lucas 23:27 diz que Jesus mandou comprar espadas,
para que assim fosse confundido com os malfeitores comuns, porque assim estava previsto.
Em seguida, diz que Jesus, ao ensinar aos seus apóstolos, afirmava que tudo o que lhe
acontecesse, era para que estivesse de acordo com o que escreveram Moisés e os profetas, e
como estava descrito nos salmos. Em 24:44-46 diz que Jesus afirmou ―Como era necessário
que Cristo padecesse e ressuscitasse ao terceiro dia, dentre os mortos‖.

Para ficar de acordo com as previsões testamentárias, João 19:27 diz que Jesus teve sede e
pediu água. Em 19:30, ao beber a água, disse que era vinagre e exclamou: ―Tudo se
cumpriu‖. Em 19:32-37 diz que não lhe quebraram nenhum osso, apenas o feriram com a
lança para verificar se havia expirado. E isto também estava predito.

Por ai, percebe-se que tudo ali é puro simbolismo, e que Jesus foi idealizado apenas para
cumprir as escrituras. Está ai uma prova de que a existência de Jesus nada mais é do que uma
fabulação evangélica. Do mesmo modo que inventaram as profecias, inventaram alguém para
cumpri-las. Tanto é verdade, que os judeus que ainda hoje acreditam em profecias, não
aceitaram Jesus como tendo sido o Messias prometido pelo Talmud. Além disso, os seus
escritores esgotaram todos os argumentos possíveis com o fim de provar que Jesus não foi um
acontecimento palestino, e que não passou de um romance escrito pelos judeus dispersos e
dos que se aproveitaram do messianismo judeu para criar uma empresa comercial, como tem
sido o Vaticano.

O messianismo não foi uma lenda que tenha atingido a todas as classes sociais judias. Essa
lenda foi criada pelos sacerdotes judeus visando com isso ajudar ao povo da rua a suportar
melhor as agruras da pobreza e não reagir contra as classes privilegiadas.

Essas promessas são cumpridas pelos sacerdotes, a seu modo, a fim de que o pobre viva de
esperanças e não sinta que o rico continua metendo as mãos em seus bolsos, impunemente. O
homem do povo raramente compreende a finalidade desse tipo de engodo. O Talmud traz uma
porção de profecias, e ao mesmo tempo critica aos que lhes dão crédito. A crítica representa
uma evolução do pensamento das lideranças judias.

Um estudo comparado do judaísmo e do cristianismo mostra a enorme quantidade de


crendices dessas religiões forjadas pelos seus líderes e afastadas pela evolução do
conhecimento. Em nossos dias, o conhecimento atingiu um ponto em que a própria Igreja
começou a relegar para um canto os seus ídolos de aspecto humano. O conhecimento humano
terminara por vencer definitivamente, provando que todos os deuses e ídolos têm os pés de
barro.

Nossos antepassados viram muitos ídolos cair. Certas práticas e crenças religiosas ainda
permanecem válidas porque os sacerdotes, como bons psicólogos que são, observam o
desenvolvimento mental do povo e sabem que uns encontram a verdade, enquanto outros,
jamais conseguiram alcançá-la. Idealizando um Jesus Cristo adaptado às profecias talmúdicas,
criaram um personagem incoerente e inseguro, o que nos dá a medida exata do quilate mental
dos seus criadores. Podiam ser espertos, mas nunca inteligentes ou cultos.

Não deve ter sido tarefa das mais fáceis adaptar um Cristo vindo para cumprir as profecias no
fanatismo das populações ignorantes. Foi um trabalho de titãs não acorrentados à verdade,
nem à sinceridade que o homem deve ao seu semelhante. Nunca foi fácil transformar uma
fantasia em realidade. Por isso, o cristianismo teve de valer-se da espada de Constantino e das

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armas de seus legionários para impor dogmaticamente o que a razão e o conhecimento jamais
aceitariam passivamente.

Nos dois primeiros séculos do cristianismo, cada qual queria ser o primeiro e mandar mais e,
se possível, ficar sozinho. Tivemos muitos reis e Papas analfabetos, atestando o primarismo
dos judeus dispersos, como dos lideres europeus da época do lançamento do cristianismo.
Tentando racionar a teologia do judaísmo e do cristianismo, fizeram de Jeová um deus absurdo
e de Jesus um ser irreal, ambos incoerentes, o que se tornou a essência do Talmud e dos
Evangelhos.

Através de Jesus Cristo, valorizaram as profecias do pretenso profeta Isaías, revitalizando


assim o judaísmo e dando seriedade ao Talmud, fazendo dos Evangelhos um amontoado de
mentiras e de impossibilidades humanas. Assim é que criaram um relato inconsistente, que
desmorona completamente confrontado com uma análise mais profunda.

Scherer escreveu que Jesus não foi um filósofo nem fundador de uma religião. Foi apenas
Messias. O sentido da vida de Jesus era apenas dar cumprimento às profecias messiânicas, e
tal ideia é o centro dos fatos evangélicos, a razão de ser Jesus. Tendo vindo ao mundo
somente para cumprir as profecias, deixou de ser humano e tornou-se um fantasma, ou um
símbolo do que nunca teve existência real.

A vida de Jesus e de seus apóstolos desenrola-se apenas como uma peça teatral, na qual
Jesus acumula os papéis de deus e de homem. Um dia o público há de convencer-se de que
esteve diante de um ser bíblico, sem uma realidade histórica.

Segundo Arthur Weigal, o único testemunho escrito por quem teria convivido com Jesus teria
sido a epístola atribuída a Pedro. Teria surgido quando começaram as pretensas perseguições
aos cristãos, na qual ele os animava. Entretanto, como a existência de Pedro é igualmente
lendária, a epístola em questão não merece fé, tendo sido composta por qualquer cristão,
menos pelo mitológico Pedro. Os escritos de Tácito, dadas as adulterações sofridas, carecem
de valor histórico. Dai não se poder admitir como verdade que Nero, entre os anos 54 e 68,
tenha realmente perseguido aos seguidores de Jesus Cristo.

Tertuliano, entretanto, afirma que Pedro foi martirizado no governo de Nero. Contudo, vários
pesquisadores, entre os quais Holmann e Weizsacker, demonstraram que essas perseguições
somente começaram a partir do século II. Irineu, no ano 180, achava que a epístola de Pedro
fora escrita em 83, mas não por Pedro. Nesta epístola, Pedro dizia que ―Jesus sofreu por nós,
deixando-nos um exemplo‖. Acrescentara ter sido testemunha pessoal dos seus sofrimentos,
após os quais subiu ao céu, de onde voltaria em breve. No entanto, sua volta não ocorreu até
hoje, apesar de terem se passado dois mil anos.

A falta de cumprimento dessa promessa invalida todas as suas afirmações. Disse Pedro, ainda,
que Jesus mandou que se amassem uns aos outros, pagando o mal com o bem, retribuindo a
injúria com a bênção. Recomendou a caridade, a hospitalidade e a humildade; o dever de
evitar o mal, fazer o bem e buscar a paz, assim como a abstinência da ambição da carne,
evitar o rancor, a inveja e a maledicência; a submissão às autoridades, crer em Deus e honrar
o rei. As epístolas de Paulo viriam em segundo lugar, como importância histórica. Pedro teria
aprendido a doutrina cristã na convivência direta com Jesus. Suas epístolas seriam
consideradas autênticas por terem sido escritas 20 ou 30 anos após a crucificação.

Pedro e Paulo afirmaram que Jesus voltaria em breve para julgar a humanidade. Contudo,
ambos estavam enganados e enganaram aos outros. Paulo teria conhecido pessoalmente a

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Pedro e a Jaques, um dos irmãos de Jesus Cristo, assim como referia-se a outras pessoas que
teriam convivido com Jesus. A crucificação e a ressurreição teriam sido fatos indiscutíveis para
Pedro e Paulo, cujos escritos estariam muito próximos dos acontecimentos.

Paulo, em I Coríntios 11:1, diz: ―Imitam-me como se fosse Jesus‖. Teria pregado o amor, a
paz, a temperança, a caridade, a alegria, a paciência, a doçura, a confiança e a boa vontade. A
lei divina deveria ser interpretada segundo o espírito e não conforme a letra. ―Amarás ao
próximo como a ti mesmo‖, seria um amor paciente, caridoso e humilde.

As epístolas procuraram estabelecer a historicidade de Jesus, assim como revelar muitos


pontos do seu caráter. Jesus teria vivido apenas para redimir a humanidade, não teria pecado,
sendo, sem dúvida alguma, o filho de Deus. Papias, em 140, escreveu que Mateus havia
colecionado as máximas de Jesus, e Marcos recolhera muitas notas para o Evangelho. Assim,
os Evangelhos seriam o espelho de Jesus, contado pelos apóstolos, espalhando entre os
homens o ideal de perfeição moral e mental.

As curas, milagres e pregações de Jesus, em pouco tempo, haviam espalhado o seu nome,
galvanizando as multidões, todos sentiam que havia surgido o Messias. Assumiu o papel de
Messias e com isso entusiasmou a multidão, pelo que entrou em Jerusalém cercado da emoção
e do respeito do povo. Ao anoitecer abandonou a cidade, e, no dia seguinte, ao regressar,
encontra muita agitação.

As autoridades haviam tomado medidas contra ele. Dois dias antes da páscoa, tomou sua
última refeição com os companheiros e ali permaneceu a espera dos acontecimentos, sabendo
que o seu reino não era deste mundo. À noite foi preso e, no dia seguinte, julgado. O povo
quis que o sacrificassem em lugar de Bar Abbas. Seria o sacrifício pascal, rito multimilenar que
iria mais uma vez acontecer. Após a morte, sai do sepulcro, ressuscitado, e vai ao encontro
dos apóstolos, pede comida, e depois de permanecer algum tempo com eles, ascende ao céu
prometendo voltar em breve.

Foi este o retrato feito de Jesus Cristo pelo cristianismo, e que ainda hoje milhões de pessoas
adoram. Entre nós, são bem poucos os que põem em dúvida a veracidade desse romance
contado pelos judeus da diáspora e aproveitado por seus seguidores latinos. No entanto, a
razão e o conhecimento estão se encarregando de destruir a pretensa veracidade desse conto.
Muitas coisas consideradas como milagres são hoje conseguidas naturalmente através da
ciência, da tecnologia moderna, da medicina, do conhecimento científico em todas as suas
modalidades, e mesmo através de hipnose.

Diante das conquistas que o homem tem feito, é possível que ele abra os olhos para a verdade
e perceba então que Deus jamais se preocupou com sua sorte e com o mundo. A História
desmente peremptoriamente que Deus tenha comparecido ao mundo nos momentos de festa
ou de dor. O homem foi abandonado à própria sorte e tem lutado muito para sobreviver
através dos tempos, e tem obtido sucesso porque está sempre acumulando conhecimentos, os
quais emprega em situações futuras.

Diante de tudo o que foi exposto, só nos resta dizer que a História, em dois mil anos, não
encontrou uma única prova ou documento que mereça crédito no que diz respeito à vida de
Jesus. Sua existência é fictícia e só encontra agasalho no seio da mitologia. Seu nascimento,
sua vida, sua morte, sua família, seus discípulos, tudo, enfim, que lhe diz respeito, tem
analogia com as crenças, ritos e lendas dos deuses solares, adorados sob diversos nomes e
modalidades e por povos diversos, também. Dele, a História nada sabe.

130
Jesus e o tempo

O mítico dia do nascimento de Jesus Cristo foi oficializado por Dionísio, o Pequeno, no século
VI, que marcou no ano 1 do século I, correspondendo ao ano 753 da fundação de Roma, com
um erro de previsão calculado em seis anos. Para chegar a essa artificiosa fixação, serviu-se
de diversos sistemas de cálculo. Calvísio e Moestrin contaram até 132 sistemas e Fabrício
arredondou para 200.

Para uns, teria sido entre 6 e 10 de janeiro, para outros, 19 ou 20 de abril, enquanto outros
ainda situavam entre 20 e 25 de março. Os cristãos orientais determinaram a data entre 1 e 8
de janeiro, enquanto os ocidentais escolheram a 6 de janeiro. Em 375, São João Crisóstomo
escreveu que a data de 25 de dezembro foi introduzida pelos orientais. Entretanto, antes do
ano 354, Roma já o havia fixado para esta mesma data, segundo o calendário de Bucer.

Essas diferenças foram o resultado da preocupação da Igreja em fazer com que o nascimento
de Jesus coincidisse e se confundisse com os dos deuses solares, os deuses salvadores, e
especialmente com o Deus Invictus, que era Mitra. E era justamente ao mitraismo que a
religião cristã pretendia absorver. No dia 25 de dezembro todas as cidades do império romano
estavam iluminadas e enfeitadas para festejar o nascimento de Mitra.

A preocupação de ligar o nascimento de Jesus ao de Mitra denota o artificialismo que


fundamentou o cristianismo. Foi a divinização do deus dos cristãos às custas da luz do Sol dos
pagãos. Foi um dos grandes trabalhos de mistificação da Igreja a convergência dos dois
nascimentos para a mesma data. Assim, o nascimento do novo deus apagava da memória do
povo a lembrança de Mitra, no fim do inverno.

A tradição religiosa, desde milênios, fizera com que todos os deuses redentores nascessem em
25 de dezembro. Quanto ao lugar de nascimento de Jesus, disseram ter sido em Belém, para
combinar com as previsões messiânicas que, fazendo de Jesus um descendente de David, teria
a adesão dos judeus incautos. O II e o IV Evangelhos não mencionam o assunto, enquanto o I
e o III aludem ao caso, mas se contradizem. Uns dizem que os pais de Jesus moravam em
Belém, enquanto outros afirmam que eles ali estavam de passagem. Essa insegurança deve-se
ao fato de pretenderem ligar a vida de Jesus à de David, conforme as profecias. Todavia, isto
confundia as tendências históricas ligadas ao nascimento dos deuses solares.

A preocupação apologética, contudo, invalidou a pretensão histórica. De tudo isto resultou que
a História pode hoje provar que tudo aquilo que se refere a Jesus é puro convencionalismo, e
sua existência é apenas ideal e não real. De modo que a morte dos inocentes nada mais é do
que a repetição da matança das criancinhas egípcias, contada no Êxodo. A estrela só pôde ser
inventada porque naquele tempo o homem ainda não sabia o que era uma estrela; tanto assim
que a Bíblia afirma que Josué fez parar o sol com um aceno de sua mão apenas. Assim, a
estrela que guiou os magos é coisa realmente absurda. Antes de tudo, ninguém soube
realmente de onde vieram esses reis e onde eram os seus países. Outros fenômenos relatados
como terremotos, trevas e trovões, assinalados pelo Bíblia, não o são pela História dos judeus
nem dos romanos. Só os interessados no mito puderam ver tais acontecimentos.

Os escritores que relataram fatos ocorridos na Palestina e no Império Romano não


transmitiram estes fatos que teriam ocorrido na morte de Jesus à posteridade. Muita coisa
pode ter acontecido naqueles tempos, menos as que estão nos Evangelhos. Pilatos, por
exemplo, morreu ignorando a existência de Jesus. Os legionários romanos jamais receberam
ordens para prendê-lo. Nenhum movimento social, político ou religioso contrário às normas da
ocupação surgiu na Judéia, para justificar a condenação de seu líder por Pilatos. Entretanto,

131
Jesus teria sido julgado e condenado pelos sacerdotes judeus, pois Pilatos deixara o caso
praticamente em suas mãos e do povo, lavando as suas próprias.

Nem Pilatos, nem Caiaz, nem Hannã deixaram qualquer referência acerca desse processo.
Nenhum deles poderia dizer qual a aparência física de Jesus. Tertuliano, baseando-se em
Isaías, disse que ele era feio, ao passo que Agostinho afirmou que ele era bonito. Uns
afirmaram que ele não tinha barba, outros que tinha. Sua cabeleira espessa e barba fechada
resultaram de uma convenção realizada no século XII. O Santo Sudário retrata um Jesus
Barbudo. Nada do que se refere a Jesus pode ser considerado ponto pacífico. Tudo é
discrepante e contraditório.

Ora, se aqueles que tinham e os que ainda têm interesse em defender a veracidade da
existência de Jesus não conseguiram chegar a um acordo no que lhe diz respeito, isso não é
bom sinal. Moy escreveu: ―Desde que se queira tocar em qualquer coisa real na vida de Jesus,
esbarra-se logo na contradição e incoerência‖. Por isso, até o aspecto físico de Jesus tornou-se
discutível, o que ajuda a provar que ele nunca existiu. De acordo com a História, não se pode
aceitar o que está escrito nos evangelhos como prova de sua existência. Também a Igreja não
dispõe de argumentos válidos, nesse sentido. A arqueologia, por outro lado, nada encontrou
até aqui capaz de elucidar a questão.

De tudo isto concluímos que a existência física de Jesus jamais poderá ser provada de modo
irrefutável e, como consequência, é muito difícil de ser acatada por homens cultos e amantes
da verdade. O romance, as lendas, os contos, a ficção, interessam como cultura, como
expressão do pensamento de um povo, e desse modo são perfeitamente aceitos. Entretanto, a
apresentação de tais modalidades de cultura como fatos reais, consumados e verdadeiros e
como tal serem impostos ao povo, é condenável. A atitude do cristianismo tem sido, através
dos tempos, justamente a que nós acabamos de condenar: a imposição das lendas, do
romance e da novela como realidade palpável, como fato verdadeiro e incontestável.

Em sua ―Vida de Jesus‖, Strauss diz: ―Poucas coisas são certas, nas quais os ortodoxos se
apoiam de preferência ‗as milagrosas e as sobre-humanas‘, as quais jamais aconteceram. A
pretensão de que a salvação humana depende da fé em coisas das quais uma parte é
certamente fictícia, outra sendo incerta, é um absurdo, que em nossos dias nem sequer
devemos nos preocupar, refutando-o‖. Ernest Havet, comparando Jesus com Sócrates, diz que
Sócrates é um personagem real, enquanto Jesus é apenas ideal. Homens como Platão e
Xenófanes, os quais conviveram com Sócrates, deixaram o seu testemunho a respeito do
mesmo. Em seus escritos relatam tudo sobre Sócrates: a vida, o pensamento, os
ensinamentos e a morte. E nada do que lhe diz respeito foi adulterado, e, portanto, é
autêntico, verdadeiro e indiscutível. Quanto a Jesus, não teve existência real, e aqueles aos
quais se atribui escritos e referências em relação a ele, uns foram adulterados em seus
escritos, outros não existiram.

Pilatos, que teria autorizado seu sacrifício, omite o fato quando relata os principais
acontecimentos de seu governo. Por acaso mandaria matar um deus e não saberia? Assim,
quem descreveu Jesus apenas imaginou o que ele teria sido, não foi sua testemunha. Renan
disse em sua ―Vida de Jesus‖: ―Nossa admiração por Jesus não desapareceria nem mesmo
quando a ciência nada pudesse decidir de certo, e chegasse forçosamente às negações‖.
Termina dizendo que o divino encontrado pelos cristãos em Jesus é o mesmo que a beleza de
Beatriz, que apenas resultou do pensamento de Dante ou de seu gênio literário. Da mesma
forma, as belezas de Cristina residem nos sonhos religiosos dos hindus.

132
As maravilhas de Jesus e a beleza de Maria são produtos do gênio inventivo da liderança
oradora dos mitos Jesus e Maria. Se de ambos apenas se diz o bem, há sinal que eles não
tiveram existência real. Jesus Cristo é uma criação do homem, o qual esteve em cena apenas
para realizar as profecias dos primários profetas judeus. Esta é também a opinião de Didon,
exposta em seu livro ―Vida de Jesus‖. Diz ele que é suspeita a sonegação de quase trinta anos
da vida de Jesus à história evangélica. ―Nós apenas sabemos um nada da vida de Jesus‖,
escreveu Miron.

Os redatores dos Evangelhos e os primeiros autores eclesiásticos, recolhendo as tradições


correntes na comunidade cristã, podem ter adquirido alguns fragmentos da verdade; mas
como assegurar que, entre tantos elementos mitológicos e legendários, haja algo de verdade?
Assim, a vida de Jesus em si é impossível. Acontece com Cristo o mesmo que acontece com
todos os entes legendários: quanto mais os buscamos, menos os encontramos. A tentativa
feita até aqui de colar na História, de arrebatar às trevas da teologia, um personagem que até
a idade de trinta anos é absolutamente desconhecido, e que depois da referida idade aparece
fazendo ―os milagres‖ humanos impossíveis é absurda e ridícula.

Labanca, em ―Jesus Cristo‖, impugna a possibilidade de uma biografia científica de Jesus,


baseando-se na inautenticidade dos Evangelhos, uma vez que os mesmos não tiveram
finalidade histórica, mas somente religiosa e propagandista.

Jesus não está nos Evangelhos por causa de sua esquisita divindade, mas porque isso convém
aos seus propagadores e aos que ainda hoje vivem do seu nome, como lucrativo meio de vida.

Jesus Cristo nos Evangelhos

Assim como a história não tomou conhecimento da existência de Jesus, os Evangelhos


igualmente o desconhecem como homem, introduzindo-o apenas como um deus.

Maurice Vernés mostrou com rara maestria que o Velho Testamento não passa de um livro
profético de origem apenas sacerdotal, fazendo ver que tudo que ai está contido não é
histórico, sendo apenas simbólico e teológico. O mesmo acontece com o Novo Testamento e os
Evangelhos. Tudo na Bíblia é duvidoso, incerto e sobrenatural. Tratando dos Evangelhos,
mostra que sua origem foi mantida anônima, talvez de propósito, não se podendo saber
realmente quem os escreveu. Por isso, eles começam com a palavra ―segundo‖; Evangelho
segundo Mateus; segundo Marcos. Daí se deduz que não foram eles os autores desses
Evangelhos, foram, no máximo, os divulgadores.

Igualmente deixaram em dúvida a época em que foram escritos. A referência mais antiga aos
Evangelhos é a de Papias, bispo de Yerápoles, o qual foi martirizado por Marco Aurélio entre
161 e 180. Seu livro faz parte da biblioteca do Vaticano. Irineu e Eusébio foram os primeiros a
atribuir a Marcos e a Mateus a autoria dos Evangelhos, mas ambos permanecem
desconhecidos da história, como o próprio Jesus Cristo. Além do mais, pouco ou nenhum valor
têm os Evangelhos como testemunha dos acontecimentos. Se só foram compostos no século
III ou IV, ninguém pode garantir se os originais teriam realmente existido.

Os primitivos cristãos quase não escreveram, e os raros escritos desapareceram. Por outro
lado, no Concílio de Nicéia foram destruídos todos os Evangelhos. Esse Concílio foi convocado
por Constantino, que era pagão. Daí devem ter sido compostos outros Evangelhos para serem
aprovados por ele ou pelo Concílio. Com isto, perderam sua autenticidade, deixando de serem
impostos pela fé para o serem pela espada.

133
Celso, no século II, combateu o cristianismo argumentando somente com as incoerências dos
Evangelhos. Irineu diz que foram escolhidos os quatro Evangelhos, não porque fossem os
melhores ou verdadeiros, mas apenas porque esses provieram de fontes defendidas por forças
políticas muito poderosas da época. Os bispos que os apoiaram tinham muito poder político.
Informam ainda que antes do Concílio de Nicéia os bispos serviam-se indiferentemente de
todos os Evangelhos então existentes, os quais alcançaram o número de 315. Até então eles
se equivaliam para os arranjos da Igreja.

Mesmo assim, os quatro Evangelhos adotados conservaram muitas das lendas contidas nos
demais que foram recusados. De qualquer forma, era e continuam sendo todos anônimos,
inseguros e inautênticos. Os adotados foram sorteados, e não escolhidos de acordo com
fatores qualificativos. Mesmo estes adotados desde o Concílio de Nicéia sofreram a ação dos
falsificadores que neles introduziram o que mais convinha à época, ou apenas a sua opinião
pessoal.

Esta é a história dos Evangelhos que, através dos tempos, vêm sofrendo a ação das
conveniências políticas e econômicas. Embora a Igreja houvesse se tornado a senhora da
Europa, nem por isso preocupou-se em tornar os Evangelhos menos incoerentes. Sentiu-se tão
firme que julgou que sua firmeza seria eterna.

Os argumentos mais poderosos contra a autenticidade dos Evangelhos residem em suas


contradições, incoerências, discordâncias e erros quanto a datas e lugares, e na imoralidade de
pretender dar cunho de verdade a velhos e pueris arranjos dos profetas judeus. Essa
puerilidade acumula-se à medida que a crítica verifica o esforço evangélico em tornar realidade
os sonhos infantis de uma população ignorante. Para justificar sua ignorância, se dizem
inspirados pelo Espírito Santo, o qual também é uma ficção religiosa, resultante da velha lenda
judia segundo a qual o mundo era dominado por dois espíritos opositores entre si: o espírito
do bem e o do mal. Adquiriram essa crença no convívio com os persas, os egípcios e os
hindus.

Os egípcios tiveram também os seus sacerdotes, os quais escreveram os livros religiosos como
o ―Livro dos Mortos‖, sob a inspiração do deus Anubis. Hamurabi impôs suas leis como tendo
sido oriundas do deus Schamash. Moisés, descendo do Monte Sinai, trouxe as tábuas da lei
como tendo sido ditadas a ele por Jeová. Maomé, igualmente, foi ouvir do anjo Gabriel, em um
morro perto de Meca, boa parte do Alcorão. Alá teria mandado suas ordens por Gabriel.

O conhecimento mostra que as religiões, para se firmarem, têm-se valido muito mais da força
física do que da fé. Quanto à verdade, esta não existe em suas proposições básicas. De modo
que, Anubis, Schamash, Alá e Jeová nada mais são do que o Espírito Santo sob outros nomes.
Stefanoni demonstrou que todos esses escritos não representam o Espírito Santo, mas o
espírito dominante em cada época ou lugar. Assim surgiram os Evangelhos, os quais, como
Jesus Cristo, foram inventados para atender a certos fins materiais, nem sempre confessáveis.
―Não creria nos Evangelhos, se a isso não me visse obrigado pela autoridade da Igreja‖. São
palavras de Santo Agostinho. Com sua cultura e inteligência, poderia hoje estar no rol dos que
não crêem.

Jesus Cristo é um milagre

No que diz respeito a Jesus Cristo, a teologia toma em consideração, sobretudo, o aspecto
sobrenatural e os seus milagres. João Evangelista foi trazido para a cena a fim de criar o
Logos, o Jesus metafísico, destruindo, assim, o Jesus-Homem. As contradições surgidas em
torno de um Jesus saído da mente de pessoas primárias e ignorantes o deixaram muito

134
vulnerável à crítica dos mais bem dotados em conhecimento. Então vem João e substitui o
humano pelo divino, por ser o mais seguro.

O mesmo iria fazer a Igreja no século XV, quando, para abafar, grita contra os que haviam
queimado miseravelmente uma heroína nacional dos franceses, tiraram o uniforme do corpo
carbonizado de Joana D‘Arc e vestiram a túnica dos santos. O mesmo aconteceu com Jesus:
teve de deixar queimar a pele humana que lhe haviam dado, para revestir-se com a pele
divina.

A Igreja, na impossibilidade de provar a existência de Jesus-Homem, inventou o Jesus-Deus.


Assim atende melhor à ignorância pública e fecha a boca dos incrédulos. Do que relatei
conclui-se que, no caso de Joana D‘Arc, a igreja obteve os resultados esperados. Contudo,
continua com as mesmas dificuldades para provar que Jesus Cristo, como homem ou como
deus, tenha vivido fisicamente. E não é só. Ela não tem conseguido provar nada do que tem
ensinado e imposto como verdade. Faltam-lhe argumentos sérios e convincentes para
confrontar com o conhecimento científico e com a história sem que sejam refutados.

A Igreja tudo fez para tornar Jesus Cristo a base e a razão de ser do cristianismo. E isto
satisfez plenamente a seus interesses materiais nestes dois milênios de vida. Da mesma
forma, os portugueses, os espanhóis e os ingleses, de Bíblia na mão e cruz no peito, foram à
longínqua África para arrastar o negro como escravo, para garantir a infraestrutura econômica
do continente americano. Jamais se preocuparam em saber se o pobre coitado queria separar-
se de seus entes queridos, nem o que estes iriam sofrer com a separação.

A Igreja está realmente atravessando uma crise. Acontece que os processos tecnológicos e
científicos descortinam para o homem novos horizontes, e então ele percebe que foi iludido
miseravelmente. Sua fé, sua crença e seu deus morrem porque não têm mais razão de ser.
Jesus Cristo foi inicialmente um deus tribal, que teria vindo ao mundo por causa das desgraças
dos judeus. Eles sonhavam ser donos do mundo, mas, mesmo assim, foram expulsos até
mesmo de sua própria terra. Contudo, o cristianismo ganhou a Europa, com a adesão dos reis
e imperadores.

Renan, não conseguindo encontrar o Jesus-Divino, tentou ressuscitar o Jesus-Homem. Mas o


que conseguiu foi apenas descrever uma esquisita tragédia humana, cujo epílogo ocorreu no
Céu. Jesus teria sido um altruísta mandado à Terra para que se tornasse uma chave capaz de
abrir o Céu. Teria sido o homem ideal com que o religioso sonha desde seus primórdios.

Existindo o homem ideal, cuja idealidade ficasse comprovada, o histórico seria dispensável.
Mas, ao tentar evidenciar um desses dois aspectos, Renan perdeu ambos. Mostrou então que,
para provar o lado divino de Jesus, compuseram os Evangelhos. Seu objetivo: relatar
exclusivamente a vida de um homem milagroso e não de um homem natural. Elaborando os
Evangelhos, cometeram tantos erros e contradições, que acabaram por destruir, de vez, a
Jesus. A exegese da vida de Jesus, baseada no conhecimento e na lógica, separando-se o ideal
do real, eles destroem-se mutuamente. Quem descreve o Jesus real, não poderá tocar o ideal,
e vice-versa, porque um desmente o outro.

Em suma, os Evangelhos não satisfazem aos estudiosos da verdade livre de preconceitos,


destruindo o material e o ideal postos na personalidade mítica de Jesus. A fabulação tanto
recobre o humano como o divino. Verificamos, então, estarmos em presença de mais um deus
redentor ou solar. Jesus, através dos Evangelhos, pode ser Brama, Buda, Krishna, Mitra,
Horus, Júpiter, Serapis, Apolo ou Zeus. Apenas deram-lhe novas roupas. O Cristo descrito por
João Evangelista aproxima-se mais desses deuses redentores do que o dos outros

135
evangelistas. É um novo deus oriental, lutando para prevalecer no ocidente como antes tinha
lutado para impor-se no oriente. É um novo subproduto do dogmatismo religioso dos orientais,
em sua irracional e absurda metafísica.

Por isso, criaram um Jesus divino, não por causa dos seus pretensos milagres, mas por ser o
Logos, o Verbo feito carne. Essa essência divina é que possibilitou os milagres. É um deus
antropomorfizado, feito conforme o multimilenar figurino idealizado pelo clero oriental.

Jesus não fez milagres, ele é o próprio milagre. Nasceu de um milagre, viveu de milagres e foi
para o Céu milagrosamente, de corpo e alma, realizando assim mais uma das velhas
pretensões dos criadores de religiões: a imortalidade da alma humana. Sendo Jesus
essencialmente o milagre, não poderá ser histórico, visto não ter sido um homem normal,
comum, passando pela vida sem se prender às necessidades básicas da vida humana.

Jesus foi idealizado exclusivamente para dar cumprimento às profecias do judaísmo, é o que
se verifica através dos Evangelhos. Tudo que ele fez já estava predito, muito antes do seu
nascimento. Jesus surgiu no cenário do mundo, não como autor do seu romance, mas somente
como ator para representar a peça escrita, não se sabe bem onde, em Roma ou, talvez,
Alexandria. O judaísmo forneceu o enredo, o Vaticano ficou com a bilheteria. E, para garantir o
êxito total da peça, a Igreja estabeleceu um rigoroso policiamento da plateia, através da
confissão auricular. Nem o marido escapava à delação da esposa ou do próprio filho. O
pensamento livre foi transformado em crime de morte. Os direitos da pessoa humana,
calcados aos pés.

Nunca a mentira foi imposta de modo tão selvagem como aconteceu durante séculos com as
mentiras elaboradas pelo cristianismo. À menor suspeita, a polícia religiosa invadia o recinto e
arrastava o petulante para um escuro e nauseabundo calabouço onde as mais infames torturas
eram infligidas ao acusado. Depois, arrastavam-no à praça pública para ser queimado vivo, o
que, decerto, causava muito prazer ao populacho cristão.

Desse modo, a Igreja tornou-se um carrasco desumano, exercendo o seu poder de modo
impiedoso e implacável, ao mesmo tempo em que escrevia uma das mais terríveis páginas da
história da humanidade. Durante muito tempo o sentimento de humanidade esteve ausente da
Europa, e a mentira triunfava sobre a verdade. Milhares de infelizes foram sacrificados porque
ousaram dizer a verdade. O poder público apoiava a farsa religiosa, e era praticamente
controlado pela Igreja. Aquele que ousasse apontar as inverdades, as incoerências e o
irracionalismo básicos do catolicismo, seria eliminado. Tudo foi feito para evitar que o
cristianismo fracassasse, devido à fragilidade de seus fundamentos.

O que a Igreja jura de mãos juntas ser a verdade, é desmentido pelo conhecimento, pela
ciência e pela razão.

Jesus Cristo, um mito bíblico

Folheando as páginas da história humana, e não encontrando aí qualquer referência à


passagem de Jesus pela terra, nós, estudiosos do assunto, nos convencemos de que ele nada
mais é do que um mito bíblico. Pesquisando os Evangelhos na esperança de encontrar algo de
positivo, nos deparamos mais uma vez com o simbolismo e a mitologia. A história que o
envolve desde o nascimento até a morte é a mesma do surgimento de inúmeros deuses
solares ou redentores. É notável o cuidado que tiveram os compiladores dos Evangelhos para
não permitir que Jesus praticasse senão o que estava estabelecido pelas profecias do
judaísmo. Assim, a vida de Jesus nada mais é do que as profecias postas em prática.

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O cristianismo e os Evangelhos são um modo de reavivamento da chama do judaísmo, ante a
destruição do templo de Jerusalém. É uma transformação do judaísmo, de modo a existir
dentro dos muros de Roma, de onde, posteriormente, ultrapassou os limites, alcançando boa
parte do mundo. O sofrimento que o judaísmo infligiu ao povo pobre deveria ser o suficiente
para que se acabasse definitivamente.

Acreditamos que a ambição de Constantino é que deu lugar ao alastramento do cristianismo,


ou melhor, dizendo, do judaísmo sob novas roupagens e novo enredo. Não fosse por isso, a
falta de cumprimento das pretensas promessas de Abraão, de Moisés e do próprio Jesus Cristo
já teria feito com que o judaísmo e o cristianismo fossem varridos da memória do homem. Há
muito o homem já estaria convencido da falsidade que é a base da religião.

Idealizaram o cristianismo que, baseado no primarismo da maioria, deu novo alento ao


judaísmo, criando assim, o capitalismo e a espoliação internacional. O liberalismo que surgiu
graças ao monumental trabalho dos enciclopedistas é que possibilitou ao homem uma nova
perspectiva de vida. A partir do enciclopedismo, os judeus e o judaísmo deixaram de ser
perseguidos por algum tempo, e com isto, quase perdeu sua razão de ser.

Ao surgir Hitler e seu irracional nazismo, encontrou quase a totalidade dos judeus alemães
integrada de corpo e alma na pátria alemã. O Führer deu então um novo alento ao judaísmo,
ao persegui-lo de modo desumano. Graças à perseguição de que foram vítimas os judeus de
toda a Europa durante a guerra de 1940, surgiu a justificativa internacional para que se criasse
o Estado de Israel. Talvez o Estado de Israel, revivendo sua velha megalomania racial, invalide
em sangue a tendência natural para a socialização do mundo e universalização do
conhecimento. A socialização do mundo acabaria com a irracional e absurda ideia de ser o
judeu um bi-pátria. Nasça onde nascer, não se integra no meio em que nasce e vive. Daí a
perseguição.

Os judeus ricos de todo o mundo carreiam para Israel todo o seu dinheiro e, com ele, a
tecnologia e o conhecimento alugados. Graças a isto, poderá embasar ali os seus mísseis
teleguiados, tudo quanto houver de mais avançado na química, física e eletrônica. Assim, terão
meios de garantir a manutenção da socioeconômica estruturada no capitalismo. Esta é uma
situação realmente grave, a qual poderá tornar-se dramática no futuro. O poder econômico
concentrado em poucas mãos é uma ameaça contra o homem e sua liberdade.

Apesar de o cristianismo liderar o movimento que faz do homem e do seu destino o centro das
preocupações das altas lideranças sociais, a grande maioria dos homens está marginalizada,
porque o poder econômico do mundo acumula-se em poucas mãos. E, se permanecemos
crendo em tudo quanto criaram os judeus de dois milênios atrás, isso é sinal de que não
evoluímos o bastante para justificar o decurso de tanto tempo. Se o progresso científico e a
tecnologia avançada não conseguirem nos libertar dos mitos, estará patente mais uma vez o
estado pueril em que ainda se encontra o desenvolvimento mental do homem.

O homem não será totalmente livre enquanto permanecer preso às convenções religiosas, as
quais possuem como único fundamento o mito e a lenda. Se assim falamos, não é que
estejamos sendo movidos por um antissemitismo ou um anticlericalismo doentio; de modo
algum isto é verdadeiro. O que nos motiva à colocar em pauta o assunto é o desejo de ver um
crescente número de pessoas partilhar conosco do conhecimento da verdade. Temos dito
repetidas vezes que tudo aquilo em que se fundamenta o cristianismo é apenas uma
compilação de velhas lendas dos deuses adorados por diversos povos.

137
Strauss diz que saiu do Velho Testamento a pretensão de que Jesus encarnar-se-ia em Maria,
através do Espírito Santo. Em números, 24:17 estava previsto que uma estrela guiaria os reis
magos. Cantu lembra que, juntando-se os livros do Velho Testamento com os do Novo,
teremos 72 livros, o mesmo número de anciãos teria Moisés escolhido para subir com ele ao
Monte Sinai. O Velho Testamento previa que o povo seguiria a Jesus, mesmo sem conhecê-lo.
Seriam os peixes retirados da água pelos apóstolos, e os mesmos da pescaria de São
Jerônimo.

Moisés teria feito da pedra o símbolo da força de Jeová, por isto, Jesus devia dar a Pedro as
chaves do céu. Oséias 11:1 e Jeremias 31:15-16-4-10-28 profetizam que o Messias seria
chamado por Jeová, do Egito, ligado ao pranto de Raquel pelo assassinato dos filhos. Então
arranjaram a terrível matança dos inocentes, a qual consta apenas em dois evangelhos, sendo
silenciado o assunto pelos outros dois e pelos relatos enviados a Roma. Strauss lembra
também que a discussão de Jesus com doutores do templo, assim como a passagem de Ana e
Semeão, bem como a circuncisão, estava tudo previsto no Velho Testamento.

Diz ainda que ele teria ido para Nazaré após o regresso do Egito apenas para que os
Evangelhos pudessem lhe atribuir o apelido de nazareno. Entretanto, Nazaré não existia, pelo
menos naquela época; era uma cidade fantasma, só passando a existir nas páginas dos
Evangelhos. Assim, Jesus foi nazareno, não por ter nascido em Nazaré, visto que não poderia
nascer em dois lugares, como também não poderia nascer em uma cidade que não existia. Ele
foi nazareno por ter sido um comunista essênio.

A anunciação e o nascimento de João Batista foram copiados do Talmud. As tentações de Jesus


pelo demônio, no deserto, segundo Emilio Bossi, foram copiadas das Escrituras. Os quarenta
dias passados no deserto são oriundos do cabalismo de Roma e da crença dos babilônios, os
quais atribuíam a esse número força cabalística. Por isso, tal número repete-se várias vezes no
decorrer das dissertações bíblicas: o dilúvio descrito na Bíblia durou quarenta dias; Moisés
esteve quarenta anos na corte do Faraó; passou quarenta anos no deserto, e os ninivitas
jejuaram quarenta dias.

Ezequiel teria sido conduzido por um espírito de um lugar para outro, através do espaço.
Abraão teria sido tentado pelo demônio; os mesmos episódios passaram ao Novo Testamento,
tendo Jesus como protagonista. Perguntamos nós: por que tais coisas não se repetem mais? A
resposta só pode ser esta: elas jamais aconteceram. Tudo isto não passa de lendas ou sonhos,
os quais foram impostos como fatos reais.

O Talmud diz: ―Então se abrirão os olhos aos cegos e os ouvidos aos surdos‖. Jesus teria de
dizer: ―Então o coxo pulará como o cervo e a língua dos mudos se soltará‖. Em Lucas 4:27
Jesus cura Naamã, reproduzindo uma cura efetuada por Eliseu, de um outro leproso. Elias e
Eliseu ressuscitaram mortos, por seu lado, Jesus ressuscitaria a Lázaro. Os discípulos de Jesus,
não sabendo como curar os endemoniados, recorrem ao Mestre. Passagem semelhante está
em Eliseu, cujo servo teria recorrido a ele para curar o filho da sunamita.

A multiplicação dos pães e dos peixes é a repetição de Moisés no deserto, fazendo cair maná e
cordonizes. Moisés transformou as águas do rio em sangue e Jesus transforma a água em
vinho. Em Jeremias 7:11 e Isaías 56:7 está escrito que o templo não deve se converter em um
covil de ladrões, o que leva os evangelistas a dizer que Jesus expulsou os mercadores do
templo. A transfiguração de Jesus é a mesma coisa que aconteceu a Moisés, ao subir ao Monte
Sinai, quando encontrou com Jeová. Aliás, Moisés havia prometido que viria um profeta
semelhante a ele.

138
A traição de Judas repete o mesmo acontecimento em relação a Crestus. A prisão de Jesus foi
descrita de modo igual no Talmud. A fuga dos apóstolos estava prevista por Isaías. Jesus foi
crucificado na Páscoa, representando o cordeiro pascal. Essas comparações patenteiam a
existência do cristianismo muito antes de Filon. De onde se deduz que Jesus foi inventado de
acordo com as Escrituras, sem esquecer-se de anexar as ideias de Filon ao relato de sua
pretensa vida.

Fócio demonstrou que os Evangelhos foram copiados de Filon. São Clemente e Orígenes,
embora fossem padres da Igreja, orientaram-se por Filon e não pelo bispo de Roma. Estas
citações seriam suficientes para se provar que Jesus jamais existiu. É apenas um produto da
mente clerical, a qual o compôs baseada em mitos e lendas.

As contradições sobre Jesus Cristo

Como tudo o mais que se refere à existência de Jesus na terra, também a sua ascendência é
objeto de controvérsias. Segundo Mateus e Lucas, Jesus descende ao mesmo tempo de David
e do Espírito Santo. Entretanto, como filho do Espírito Santo, não poderá descender de José,
consequentemente deixa de ser descendente de David e o Messias esperado pelos judeus.
Assim, Jesus ficará sendo apenas Filho de Deus, ou Deus, visto ser uma das três pessoas da
trindade divina.

Em ambos os evangelhos acima citados há referências quanto a data de nascimento de Jesus,


mas tais referências são contraditórias — o Jesus descrito por Mateus teria onze anos quando
nasceu o de Lucas. Mateus diz que José e Maria fugiram apressadamente de Belém, sem
passar por Jerusalém, indo direto para o Egito, após a adoração dos Reis Magos. Herodes iria
mandar matar as criancinhas. Todavia, Lucas diz que o casal estivera em Jerusalém e
acrescenta a narração da cena de que participaram Ana e Semeão. De modo que um
evangelista desmente o outro.

Lucas não alude à matança das criancinhas, nem à fuga para o Egito. Por outro lado, Marcos e
João não se reportam à infância de Jesus, passando a narrar os acontecimentos de sua vida a
partir do seu batismo por João Batista. Mateus que conta o regresso de Jesus, vindo do Egito e
indo para Nazaré, o deixa no esquecimento, voltando a ocupar-se dele somente depois dos
seus trinta anos, quando ele procura João Batista. Diz ainda que João já o conhecia e, por isto,
não o queria batizar, por ser um espírito superior ao seu.

Lucas narra a discussão de Jesus com os doutores da lei, aos doze anos de idade. Sendo
perguntado pela mãe sobre o que estava ali fazendo, teria respondido que se ocupava com os
assuntos do pai.

Emilio Bossi, referindo-se a esta passagem, estranha a atividade da mãe. Se o filho nascera
milagrosamente, e ela não o ignora, só poderia esperar dele uma sequência de atos
milagrosos. Mesmo a sua presença no templo, entre os doutores, não deveria causar
preocupação à sua mãe, visto saber ela que o filho não era uma criança qualquer, e sim um
Deus. Lucas diz que os samaritanos não deram boa acolhida a Jesus, o que muito irritara a
João. Contudo, João, o Evangelista, diz que os samaritanos deram-lhe ótima acolhida e,
inclusive, chamaram-no de salvador do mundo.

Os evangelistas divergem também quanto ao relato da instituição da eucaristia. Três deles


afirmam que Jesus a instituiu no dia da Páscoa, enquanto João afirma que foi antes. Enquanto
os três descrevem como aconteceu, João silencia. Na última noite Jesus estava muito triste,
como, aliás, permaneceria até a morte. Pondo o rosto em terra, orou durante muito tempo.

139
Segundo os evangelistas, ele estava de tal modo triste e conturbado que teria suado sangue,
coisa, aliás, muito estranha, nunca verificada cientificamente.

Enquanto isto, seus companheiros dormiam despreocupadamente, não se incomodando com


os sofrimentos do Mestre. Entretanto João não fala sobre esse estado de alma do Mestre. Pelo
contrário, diz que Jesus passara a noite conversando, quando se mostrava entusiasta de sua
causa e completamente tranquilo.

Lucas, Mateus e Marcos afirmam que o beijo de Judas o denunciara aos que vieram prendê-lo.
Todavia, João diz que foi o próprio Jesus quem se dirigiu aos soldados dizendo-lhes
tranquilamente: ―Sou eu‖. Lucas é o único que fala no episódio da ida de Jesus de Pilatos para
Herodes Antipas. Os outros caem em contradição quanto à hora do julgamento pelo Conselho
dos Sacerdotes em presença do povo. João não fala a respeito do depoimento de Cireneu, nem
na beberagem que teriam dado a Jesus. Omitem-se ainda quanto à discussão dos dois ladrões,
crucificados com Jesus, e quanto à inscrição posta sobre a cruz. De forma que seu relato é
bastante diferente daquilo que os outros contaram.

E as divergências continuam ainda no que concerne ao quebramento das pernas, ao


embalsamamento, à natureza do sepulcro e ao tempo exato em que ele esteve enterrado.
Quanto ao embalsamamento, por exemplo, há muita coisa que não foi dita. Teriam retirado
seu cérebro e intestinos como se procede normalmente nesses casos? Se a resposta for
positiva, como explicar o fato de Jesus, após a ressurreição, pedir comida? Como se vê, as
verdades bíblicas são além de controvertidas, incompreensíveis.

Lucas diz que Jesus referiu-se aos que sofrem de fome e sede, enquanto Mateus diz que ele se
referia aos que têm fome e sede de justiça, aos pobres de espírito. Uns afirmam que Jesus
tratara os publicanos com desprezo e ódio, outros dizem que ele se mostrou amigável em
relação a eles. Para uns, Jesus teria dito que publicassem as boas obras, para outros, que
nada dissessem a respeito.

Uma hora Jesus aconselha o uso da força física e da resistência, mandando até que
comprassem espada; noutra, ameaça os que pretendem usar a força. Marcos, Mateus e Lucas
dizem que Jesus recomendara o sacrifício. Entretanto, não tomou parte em nenhum deles.
Mateus diz que Jesus afirmou não ter vindo para abolir a lei nem os profetas, enquanto Lucas
diz que ele afirmara que isso já estava no passado, já tivera o seu tempo. Os três afirmam
ainda que Jesus apenas pregara na Galileia, tendo ido raramente a Jerusalém, onde era
praticamente desconhecido. Todavia, João diz que ele ia constantemente a Jerusalém, onde
realizara os principais atos de sua vida.

As coisas ficam de modo que não se sabe quem disse a verdade, ou, melhor dizendo, não
sabemos quem mais mentiu. Ora, se Jesus tivesse realmente praticado os principais atos de
sua vida em Jerusalém, seria conhecido suficientemente e, então, não teriam que pagar a
Judas 30 dinheiros para entregar o Mestre. João, que teria sido o precursor do Messias, não se
fez cristão, não seguiu a Jesus, pregando apenas o judaísmo no aspecto próprio. Entretanto,
depois de preso, enviou um mensageiro a Jesus, indagando-lhe: ―És tu que hás de vir, ou
teremos de esperar outro?‖, ao que Jesus teria respondido: ―Você é o profeta Elias‖. Talvez
houvesse esquecido que o próprio João antes já declarara isso mesmo. Contam os Evangelhos
que, desde a hora sexta até Jesus exalar o último suspiro, a terra cobriu-se de trevas.
Contudo, nenhum escritor da época comenta tal acontecimento. Marcos 25:25 diz que Jesus
foi sacrificado às 9 horas.

140
João diz que ao meio dia ele ainda não havia sido condenado à morte, e acrescenta que, a esta
hora, Pilatos o teria apresentado ao povo exclamando: ―Eis aqui o vosso rei‖! Emilio Bossi
assinala detalhadamente todas estas contradições, e as que se deram após a pretensa
ressurreição, dizendo que nada do que vem nos Evangelhos deve ser levado a sério. O
sobrenatural é o clima em que se encontra a Bíblia, e esta é apenas o resultado da combinação
de crenças e superstições religiosas dos judeus com as de outros povos com os quais
conviveram.

As contradições evangélicas

Mateus e Marcos afirmam enfaticamente que os discípulos de Jesus abandonaram tudo para
segui-lo, sem sequer perguntar antes quem ele era. Em Mateus, lê-se que Jesus teria afirmado
que não viera para abolir as leis de Moisés. Contudo, esta seria uma afirmativa sem sentido
algum, visto que hoje sabemos que os livros atribuídos a Moisés são apócrifos. Segundo João,
quando Jesus falou ao povo, foi por este acatado e proclamado rei de Israel aos gritos de
―Hosanna‖. Mas, um pouco adiante, ele se contradiz, afirmando que o povo não acreditou em
Jesus, e praguejando contra ele, o ameaçava a ponto de ele ter procurado se esconder.

Mateus diz que Jesus entrou em Jerusalém vitoriosamente quando a multidão o teria recebido
de modo festivo, e marchando com ele, cobria o chão com folhas, flores e com os próprios
mantos, gritando: ―Hosanna ao Filho de David! Bendito seja o que vem em nome do Senhor!‖
Aos que perguntava quem era, respondiam ―Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia‖. No
entanto, outros evangelistas afirmam que ele era um desconhecido em Jerusalém. Disseram
que Pilatos estava convencido da inocência de Jesus, razão pela qual teria tentado salvá-lo, o
abandonando logo em seguida, indefeso e moralmente arrasado.

João faz supor que Pilatos teria deixado que matassem Jesus, temendo que denunciassem sua
parcialidade ao imperador. Se ele não castigasse a um insurreto que se intitulava rei dos
judeus, estaria traindo a César. No entanto, tal atitude por parte de Pilatos não combina com o
seu retrato moral, pintado por Filon. Era um homem duro e tão desumano quanto Tibério.

A vida de mais um ou menos um judeu, para ambos, era coisa da pouca importância. Filon faz
de Pilatos um carrasco e mostra que ele, em Jerusalém, agia com carta branca. Além disso, as
reações de Pilatos com Tibério eram quase fraternais e ele era um delegado de absoluta
confiança do imperador. Mas como os Evangelhos foram compostos dentro dos muros de
Roma, teriam de ser de modo a não desagradar às autoridades Imperiais. Pilatos foi posto
nisso apenas porque os bens e a vida dos judeus estavam sob sua custódia. Entretanto, como
a ocupação romana foi feita em defesa dos judeus ricos, contra os judeus pobres e os
renegados do deserto, as autoridades romanas temiam muito mais ao povo do que a Roma.

Além disso, muitas eram as razões para não gostarem de Pilatos nem de Herodes Antipas. Eles
eram antipáticos aos judeus pobres, por isso teriam temido a ira popular. Esta é a razão
apresentada pelos historiadores que levam a sério os Evangelhos, justificando assim o perdão
do criminoso Bar Abbas e a condenação do inocente Jesus. Entretanto, se as legiões romanas
realmente ali estivessem naquela época, nem Pilatos nem Herodes tomariam em consideração
a opinião do povo, porque se sentiriam garantidos nos seus postos. Além disso, a opinião
popular é fator ainda bem novo na técnica de formação dos governos. Tudo o que sabemos é o
que está nos Evangelhos. Jesus era um homem do povo e um dos que temiam o governo.

Por isso é que em Marcos 16:7 encontraremos Jesus aconselhando os discípulos a fugirem. Em
Lucas 10:4 Jesus está aconselhando aos discípulos a não falarem com ninguém em suas
viagens. Em Mateus 35:23 encontraremos Jesus reprovando os judeus que haviam

141
assassinado Zacarias, filho de Baraquias, entre o adro do templo e o altar. A história, no
entanto, afirma ser esse episódio imaginário.

Flávio Josefo relata um acontecimento semelhante, registrado no ano 67, 34 anos após a
pretensa morte de Jesus, referindo-se no caso a um homem chamado Baruch. Isto evidencia o
descuido dos compiladores dos Evangelhos, que os compuseram sem levar em conta que, no
futuro, as contradições neles encontradas seriam a prova da inautenticidade dos fatos
relatados. Nicodemos, que teria sido um fariseu rico, membro de Senedrin, homem de
costumes moderados e de boa fé, não se fez cristão, apesar de ter agido em defesa de Jesus
contra os próprios judeus. Por certo ele, como João Batista, não se convenceram da pretensa
divindade de Jesus Cristo, nem mesmo se entusiasmaram com suas pregações.

Outra ficção evangélica é debitada a Paulo, o qual inventou um Apolo, que não figura entre os
apóstolos e em nenhum outro relato. Em Atos dos Apóstolos 18, lê-se: ―Veio de Éfeso um
judeu de nome Apolo, de Alexandria, homem eloquente e muito instruído nas Escrituras. Este
era instruído no caminho do Senhor, falando com fervor de espírito, ensinando com diligência
o que era de Jesus, e somente conhecia João Batista. Com grande veemência convencia
publicamente os judeus, mostrando-lhes pelas Escrituras que Jesus era o Cristo‖. Seria um
judeu fiel ao judaísmo que, segundo Paulo, procurava levar seus próprios patrícios para o
Cristo? Na epístola I aos Coríntios, diz que: ―Apolo era igual a Jesus‖.

Paulo, já no fim do seu apostolado, afirma que o imperador Agripa era um fariseu convicto, e
que sua religião era a melhor que então existia. Era, assim, um divulgador do cristianismo
afirmando a excelência do farisaísmo. Falando de Jesus, Paulo descreve apenas um
personagem teológico e não histórico. Não se refere ao pai nem à mãe de Jesus, sendo um ser
fantástico, uma encarnação da divindade que viera cumprir um sacrifício expiatório, mas não
fala do modo como teria sido possível a encarnação. Não diz sequer a data em que Jesus teria
nascido. Não relata como nem quando foi crucificado. No entanto, estes dados têm muita
importância para definir Jesus como homem ou como um ser sobrenatural. Está patente, desse
modo, que Paulo é uma figura tão mitológica quanto o próprio Jesus.

Em Atos dos Apóstolos 28:15 e 45 Paulo diz que quando chegou a Pozzuoli, ele e os seus
companheiros foram ali bem recebidos, havendo muita gente à beira da estrada os esperando.
Entretanto, chegando a Roma, teve de defender-se das acusações de haver ofendido em
Jerusalém ao povo e aos ritos romanos. Na Epístola aos Romanos 1:8, Paulo diz que a fé dos
cristãos de Roma alcançara todo o mundo, razão pela qual encerraria sua missão tão logo
regressasse da Espanha, onde saudaria um grande número de fiéis.

Mas, se fosse assim, por que Paulo teve de se defender perante os cristãos de Roma contra o
seu próprio judaísmo? Com pouco tempo Paulo já pensava encerrar sua missão porque o
cristianismo já havia se universalizado. Entretanto, ele continuava considerando como melhor
religião o farisaísmo. O cristianismo a que Paulo se referia deveria ser anterior a Jesus Cristo,
que era o seguido pelos cristãos de Roma, e não pelos cristãos dos lugares por onde Paulo
havia passado pregando. Eusébio disse que o cristianismo de Paulo era o terapeuta do Egito, e
Tácito disse que os hebreus e os egípcios formavam uma só superstição.

Algumas fontes do cristianismo

O passado religioso do homem está repleto de deuses solares e redentores. Na Índia, temos
Vishnu, um deus que se reencarnou nove vezes para sofrer pelos pecados dos homens. No
oitavo avatar foi Krishna e, no nono, Buda.

142
Krishna foi igualmente um deus redentor, nascido de uma virgem pura e bela, chamada
Devanaguy. Sua vinda messiânica foi predita com muita antecedência, conforme se vê no
Atharva, no Vedangas e no Vedanta. O deus Vishnu teria aparecido a Lacmy, mãe da virgem
Devanaguy, informando que a filha iria ter um filho-deus e qual o nome que deveria lhe dar.
Mandou que não deixasse a filha se casar, para que se cumprissem os desígnios de deus. Isso
teria acontecido 3.500 anos A.E.C. no Palácio de Madura. O filho de Devanaguy destronaria
seu tio.

Para evitar que acontecesse o que estava anunciado, Devanaguy teria sido encerrada em uma
torre, com guardas na porta. Mas, apesar de tudo, a profecia de Poulastrya se cumpriu, ―O
espírito divino de Vishnu atravessou o muro e se uniu à sua amada‖. Certa noite ouviu-se uma
música celestial e uma luz iluminou a prisão, quando Vishnu apareceu em toda a sua
majestade e esplendor. O espírito e a luz de deus ofuscaram a virgem, encarnando-se. E ela
concebeu. Uma forte ventania rompeu a muralha da prisão quando Krishna nasceu.

A virgem foi arrebatada para Nanda, onde Krishna foi criado, lugar este ignorado do rajá. Os
pastores teriam recebido um aviso celeste do nascimento de Krishna, e então teriam ido
adorá-lo, levando-lhe presentes. Então o rajá mandou matar todas as criancinhas recém-
nascidas, mas Krishna conseguiu escapar.

Aos 16 anos Krishna abandonou a família e saiu pela Índia pregando sua doutrina,
ressuscitando os mortos e curando os doentes. Todo o mundo corria para vê-lo e ouvi-lo. E
todos diziam: ―Este é o redentor prometido a nossos pais‖. Cercou-se de discípulos, aos quais
falava por meio de parábolas, para que assim só eles pudessem continuar pregando suas
ideias.

Certo dia os soldados quiseram matar Krishna, quando seus discípulos amedrontados fugiram.
O Mestre repreendendo-os, e chamou-os de homens de pouca fé, com o que reagiram e
expulsaram os soldados. Crendo que Krishna fosse uma das muitas transmigrações divinas,
chamaram-no ―Jazeu‖, o nascido da fé. As mulheres do povo perfumavam-no e incensavam-
no, o adorando. Chegando sua hora, Krishna foi para as margens do rio Ganges, entrando na
água. De uma árvore, atiraram uma flecha que o matou. O assassino teria sido condenado a
vagar pelo mundo. Quando os discípulos procuraram recolher o corpo, não o encontraram mais
porque, então, já teria subido para o céu.

Depois Vishnu o teria mandado novamente à Terra pela nona vez, receberia o nome de Buda.
O nascimento de Buda teria sido igualmente revelado em sonhos à sua mãe. Nasceu em um
palácio, sendo filho de um príncipe hindu. Ao nascer, uma luz maravilhosa teria iluminado o
mundo. Os cegos enxergaram, os surdos ouviram, os mudos falaram, os paralíticos andaram,
os presos foram soltos e uma brisa agradável correu pelo mundo. A terra deu mais frutos, as
flores ganharam mais cores e fragrância, levando ao céu um inebriante perfume. Espíritos
protetores vigiaram o palácio, para que nada de mal acontecesse à mãe.

Buda, logo ao nascer, pôs-se de pé maravilhando os presentes. Uma estrela brilhante teria
surgido no céu no dia do seu nascimento. Nasceu também, nesse mesmo dia, a árvore de Bó,
em cuja sombra o menino deus descansaria. Entre os que foram ver Buda estava um velho
que, como Semeão, recebeu o dom da profecia. Sua tristeza seria não poder assistir à glória
de Buda por ser muito velho. Buda teria maravilhado os doutores da lei com a sua sabedoria.
Com poucos anos de idade, teria começado sua pregação. Teria ficado durante 49 dias sob
árvore de Bó, e sido tentado várias vezes pelo demônio. Pregando em Benares, convertera
muita gente.

143
O mais célebre de seus discursos recebeu o nome de ―Sermão da Montanha‖. Após sua morte
apareceria também aos seus discípulos, trazendo a cabeça aureolada. Davadatta o trairia do
mesmo modo que Judas a Jesus. Nada tendo escrito, os seus discípulos recolheriam os seus
ensinamentos orais. Buda também tivera os seus discípulos prediletos, e seria um revoltado
contra o poder abusivo dos sacerdotes bramânicos. Mais tarde, o budismo ficaria dividido em
muitas seitas, como o cristianismo. Quando missionários cristãos estiveram na índia, ficaram
impressionados e começaram a perceber como nasceu o romance da vida de Jesus. O Papa do
budismo, o Dalai-Lama, também se diz ser infalível.

Mitra, um deus redentor dos persas, foi o traço de união entre o cristianismo e o budismo.
Cristo foi um novo avatar, destinado aos ocidentais. Mitra era o intermediário entre Ormuzd e
o homem. Era chamado de Senhor e nasceu em uma gruta, no dia 25 de dezembro. Sua mãe
também era virgem antes e depois do parto. Uma estrela teria surgido no Oriente, anunciando
seu nascimento. Vieram os magos com presentes de incenso, ouro e mirra, e adoraram-no.
Teria vivido e morrido como Jesus. Após a morte, a ressurreição em seguida.

Fírmico descreveu como era a cerimônia dos sacerdotes persas, carregando a imagem de Mitra
em um andor pelas ruas, externando profunda dor por sua morte. Por outro lado, festejavam
alegremente a ressurreição, acendendo os círios pascais e ungindo a imagem com perfumes. O
Sumo Sacerdote gritava para os crentes que Mitra ressuscitara, indo para o céu para proteger
a humanidade.

Os rituais do budismo, do mitraísmo e do cristianismo são muito semelhantes. Horus foi o deus
solar e redentor dos egípcios. Horus, como os deuses já citados, também nasceria de uma
virgem. O nascimento de Horus era festejado a 25 de dezembro. Amenófis III criou um mito
religioso que depois foi adaptado ao cristianismo. Trata-se da anunciação, concepção,
nascimento e adoração de Iath. Nas paredes do templo, em Luxor, encontram-se os referidos
mistérios. Baco, o deus do vinho, foi também um deus salvador. Teria feito muitos milagres,
inclusive a transformação da água em vinho e a multiplicação dos peixes. Em criança, também
quiseram matá-lo. Adonis era festejado durante oito dias, sendo quatro de dor e quatro de
alegria; as mulheres faziam as lamentações, como carpideiras.

O rito do Santo Sepulcro foi copiado do de Adonis. Apagavam todos os círios, ficando apenas
um aceso, o qual representava a esperança da ressurreição. O círio aceso ficava
semiescondido, só reaparecendo totalmente no momento da ressurreição, quando então o
pranto das mulheres era substituído por uma grande alegria. Também os fenícios, muitos
milênios antes, já tinham o rito da paixão, do qual copiaram o rito da paixão de Cristo. Todos
os deuses redentores passaram pelo inferno durante os três dias entre a morte e a
ressurreição. Isto é o que teria acontecido com Baco, Osiris, Krishna, Mitra e Adonis. Nestes
três dias, os crentes visitavam os seus defuntos, segundo Dupuis, em ―Lè Origine des tous les
cultes‖.

Todos os deuses redentores eram também deuses-sol, como Átis, na Frígia; Balenho, entre os
celtas; Joel, entre os germanos; Fo, entre os chineses. Assim, antes de Jesus Cristo, o mundo
já tivera inúmeros redentores. Com este ligeiro apanhado da mitologia dos deuses, deixo
patente a origem do romance do Gólgota. Acredito ter esclarecido quais as fontes onde os
criadores do cristianismo foram buscar inspiração.

144
Jesus Cristo, uma cópia religiosa

Os artigos anteriores nos permitem constatar que, nas diversas épocas da história, as religiões
transformam-se variando em razão da complexidade cada vez maior das sociedades em que
elas existem.

Vimos que a crença em um deus redentor é muito anterior ao judaísmo, sempre ligada à ânsia
da necessidade de redenção das tremendas aflições do povo. Quanto ao Jesus Cristo, este
resultou de uma série de mitos que os hebreus copiaram dos babilônicos, dos egípcios e de
outros povos, visando com isto dar consistência ao judaísmo.

Estudos filológicos forneceram as bases para o estabelecimento de um traço de união entre as


crenças dos deuses orientais e o judaísmo. Vejamos, por exemplo, as palavras Ahoura-Mazzda
e Jeová, que significam ―O que é‖. Partindo de velhas lendas orientais, e baseando-se na
origem comum da palavra, foi compilado o Gênese, numa tentativa de explicar a criação do
mundo. Segundo o Zend-Avesta, o Ser Eterno criou o céu e a Terra, o Sol a Lua, as estrelas,
tudo em seis períodos, aparecendo o homem por último.

O descanso foi posto no sétimo dia. Manu havia ensinado, muito antes, que no começo tudo
era trevas, quando Bhrama dispersou-as, criou e movimentou a água, em seguida produziu os
deuses secundários, os anjos dirigidos por Mossura, os quais posteriormente se rebelariam
contra Deus. Veio então Shiva, e os prendeu no inferno. Shiva tornou-se a terceira pessoa da
Santíssima Trindade Bhramânica em consequência das sucessivas invasões bárbaras sofridas
pela Índia. Os bárbaros, crendo em Shiva, o deus da lascívia e da sensualidade, impuseram
sua inclusão, surgindo assim a trindade divina de Bhrama.

Manu ensinara igualmente que Deus criara o homem e a mulher, fazendo-os apenas inferior a
Devas, isto é, Deus. O primeiro homem recebera o nome de Adima ou Adam, e a primeira
mulher, Heva, significando o complemento da vida. Foram postos no paraíso celeste e
receberam ordem de procriar. Deveriam adorar a Deus, não podendo sair do paraíso. Mas, um
dia, indo ver o que havia fora dali, desapareceram. Bhrama perdoou-os, mas expulsou-os,
condenando-os a trabalhar para viver. E disse que, por haverem desobedecido, a Terra se
tornaria má, porque o espírito do mal dela se apoderara.

Entretanto, mandaria seu filho Vishnu que, se encarnando em uma virgem, redimiria a
humanidade, libertando-a definitivamente do pecado da desobediência.

Ormuzd teria prometido ao primeiro casal humano que, se fossem bons, seriam felizes na
terra. Mas Arimã mandou que um demônio em forma de serpente aconselhasse a
desobedecerem a deus. Comeram os frutos que Arimã lhes deu, acabou a felicidade humana, e
todos os que nascessem daí em diante seriam infelizes. Sendo levados cativos para a
Babilônia, os judeus ali encontraram tal lenda. Libertos, voltando à Judéia, trouxeram essa
crendice, como também a crença da imortalidade da alma e da vida futura, dos espíritos bons
e espíritos maus, surgindo daí os anjos Gabriel, Miguel e Rafael, os querubins e serafins.
Nasceu daí o mito do diabo, o anjo rebelado.

A palavra paraíso é o termo persa que significa jardim. Os persas, os hindus, os egípcios e os
gregos acreditavam no paraíso. Da mesma forma, todos eles acreditavam no inferno.
Entretanto, as crenças antigas desconheciam os castigos eternos, que foram criados pelo
cristianismo, aliás, uma das poucas coisas originárias dessa crença. Também o purgatório,
naturalmente, é outra novidade do cristianismo, sendo desconhecido do judaísmo. A ideia do
purgatório vem de Platão, que havia dividido as almas em puras, curáveis e incuráveis.

145
Os filhos de Adima e Heva haviam se tornado numerosos e maus. Por isso, Deus mandou o
dilúvio para matá-los. Mas deu ordem a Vadasuata para construir um barco e nele entrar com
a família, devido ao fato de ser um homem virtuoso. Deveria levar consigo, além da família,
um casal de cada espécie de animal existente: esta é a história do dilúvio relatada nos Vedas,
e que foi incluída na Bíblia dos cristãos.

As origens do cristianismo repousam, incontestavelmente, nas lendas e crenças dos deuses


mitológicos, não apenas dos judeus, mas também de outros povos.

Os caldeus e os fenícios, como os judeus, haviam se especializado no comércio, e por dever de


ofício, se alfabetizaram. Assim, sabendo ler e escrever, puderam copiar as lendas e o folclore
dos povos com os quais comerciavam e conviviam, os quais puderam adquirir longevidade e se
fixar melhor na memória humana.

Sendo comerciantes por excelência, os judeus perceberam que a religião poderia se tornar
uma boa mercadoria, através da qual adviria o domínio de muitos povos e vontades. Desta
forma, tendo compilado o que julgaram mais interessante ou mais proveitoso em relação aos
seus propósitos, passaram a difundir pelo mundo as suas ideias religiosas. Com isto, o
conhecimento e a razão foram substituídos pelas crendices e superstições religiosas.

Desde há muito a religião tem servido para moderar os impulsos humanos, sobretudo daqueles
que pertencem a uma classe social menos favorecida. Saliento o prejuízo que o mundo tem
sofrido com o rebaixamento mental imposto com as crenças e superstições religiosas, com o
que o conhecimento sofre uma estagnação sensível.

No entanto, o homem tem se deixado levar pelas crenças e práticas religiosas sem que
nenhum benefício lhe seja dado em retribuição. O homem tem feito tudo para si mesmo,
apesar de sua religiosidade. A única classe beneficiada realmente com a religião é a dos
sacerdotes.

Bom, vamos retomar o assunto em pauta, após essa rápida digressão. A Bíblia cita dez
patriarcas que teriam morrido em idade avançada, antes do dilúvio. Contudo, essa lenda
provém da tradição caldeia, segundo a qual dez reis governaram durante 432 anos. Da mesma
forma, as lendas hindus, egípcias, árabes, chinesas ou germânicas fazem referência a homens
que tiveram uma longa vida, como a do Matusalém da Bíblia.

Igualmente, a lenda de Abraão, que deveria sacrificar o seu filho Isaac, procede de lendas
anteriores ao judaísmo. O livro das profecias hindus relata uma história igual. Ramatsariar
conta que Adgitata, protegido de Bhrama por ser um homem de bem, teve um filho que
nasceu tão milagrosamente como Jesus. Entretanto Bhrama, para experimentá-lo, lhe ordena
que sacrificasse o filho. Ele obedece, mas Bhrama impede-o no momento exato. Seu filho seria
o pai de uma virgem a qual, por sua vez, seria a mãe do deus-homem.

José e a mulher de Putifar foi a cópia de uma velha lenda egípcia, conforme documentos
recentemente traduzidos. Era uma história intitulada ―Os dois irmãos‖.

Emílio Bossi, relatando o achado, dá a palavra a Jacolliot: ―Um homem da Índia fez leis
políticas e religiosas; chamava-se Manu. Esse mesmo Manu foi o legislador egípcio, Manas. Um
cretense vai ao Egito estudar as instituições que pretende dar ao seu país, e a história
confirma isto dizendo que esse cretense foi Minos. Enfim, o libertador dos escravos judeus
chamava-se Moisés, que teria recebido as leis das mãos do próprio Jeová. Temos, então,
Manu, Manes, Minos e Moisés, os quatro nomes que predominaram no mundo antigo.

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Aparecem na hitória de quatro povos diferentes para representar o mesmo papel, rodeados da
mesma auréola misteriosa, os quatro são legisladores, grandes sacerdotes e fundadores das
sociedades teocráticas e sacerdotais. Esses quatro nomes têm a mesma raiz sânscrita. O
hinduismo deu origem ao judaísmo. Por isso, de Jeseu Krishna fizeram Jesus Cristo‖.

Documentos recentemente estudados mostram terem sido os hindus os prováveis


colonizadores do Egito. A documentação demonstra que o conhecimento nasceu do saber
hindu.

A assiriologia mostra que a lenda de Moisés foi copiada da de Sargão I, rei acádio, que
igualmente teria sido salvo em um cesto deixado no rio, à deriva.

A lenda de Sansão é outro exemplo. Sansão representa o Sol. O poder que lhe foi atribuído é o
mesmo dos deuses solares. E assim, examinando os escritos de antigas civilizações, chegamos
ao conhecimento das origens de tudo o que a Bíblia narra como fatos reais. Concluímos então
que Jesus Cristo nada mais representa que uma cópia das lendas e mitos dos deuses adorados
por povos os mais remotos e variados.

Os deuses redentores

Percebendo a importância da luz do Sol sobre a Terra, o homem imaginou que essa luz seria
uma emanação protetora de Deus. Da idéia de que existia um único Sol surgiu o monoteísmo,
isto é, a crença em um só Deus.

Das palavras Devv e Divv, que em sânscrito significam Sol e luminoso, originou-se a palavra
deus. Daí, em grego, a palavra Zeus; em latim, deo; para os irlandeses, dias; em italiano dio,
etc.

A parte do tempo em que a Terra recebe a luz do Sol recebeu o nome dia em oposição ao
período de trevas, a noite. O dia teria sido um presente divino, graças à luz solar. Conseguindo
produzir o fogo, aumentou a crença humana no deus Sol. Graças ao fogo, o homem pôde
libertar-se de um dos seus maiores inimigos, que era o frio, assim como passou a cozinhar os
seus alimentos. Devendo cada vez mais a vida ao calor, a gratidão do homem para com o Sol
cresceu ainda mais. Foi assim que nasceu o mito solar, do qual Jesus Cristo é o último
rebento.

Por uma série de deduções, chegaram igualmente à concepção do significado místico da cruz.
Dos raios solares foi criada uma cruz, espargindo raios por todos os lados. Da mesma forma foi
a ideia do Espírito Santo, um espírito caridoso que irradia a bondade divina. Depois a
sequência mística do Sol, o fogo e o vento, dando origem a Salvitri, Agni e Vayu, do mito
védico.

O rito védico celebra o nascimento de Salvitri, o deus-sol, em 25 de dezembro, no solstício,


quando aparecem as refulgentes estrelas. As estrelas trazem a boa nova, a perspectiva de
boas colheitas. Daí os sacrifícios e os ritos propiciatórios oferecidos ao deus-sol.

Assim os cristãos encontraram o seu Jesus Cristo.

A vida dos deuses redentores é a vida do Sol. Por isso, todos eles tiveram suas datas de
nascimento fixadas em 25 de dezembro: Mitra, Horus e Jesus Cristo. Também é simbólica a
ressurreição na primavera, tempo da germinação e das folhas novas. Baseando-se nisto,
Aristóteles e Platão admitiram certa racionalidade dos que adoravam o Sol.

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Heródoto e Estrabão diziam que Mitra era o deus-sol, tendo por emblema um sol radiante.
Plutarco conta que o culto de Mitra veio para a Sicília trazido pelos piratas do mar. Em
escavações feitas no solo italiano, foram encontradas placas de barro solidificados ao sol
trazendo esta inscrição: ―Deo Soli Invicto Mitrae‖, lembrando o deus dos persas.

Niceto escreveu que certos povos adoraram a Mitra como o deus do fogo, outros como sendo o
deus-sol. Júlio Fírmino Materno disse que Mitra era a personificação do deus fogo, enquanto
Aquelau considerava-o o deus-sol. São Paulino descreveu os mistérios de Mitra como sendo os
de um deus solar e redentor. Karneki, rei hindo-escita, no começo de nossa era, mandou
cunhar moedas em que se vê a efígie de Mitra dentro de um sol radiante. Mitra ainda era
representado com um disco solar na cabeça, segurando um globo com a mão esquerda.

Do mesmo modo os cristãos representam Jesus Cristo. Era o Senhor. Ao surgir o cristianismo,
os cristãos primitivos ainda chamavam o Sol de ―Dominus‖, com o que, lentamente, foi
absorvendo o ritual mitráico. No Egito, o Sol era o ―Pai Celestial‖. Um obelisco trazido para o
Circo Máximo de Roma trazia esta inscrição: ―O grande Deus, o justo Deus, o todo
esplendente‖, tendo um sol espargindo seus raios para todos os lados. Da mesma forma, todos
os deuses dos índios americanos pertenciam ao rito solar, assim como os deuses dos hindus,
dos chineses e japoneses. Os caldeus, adorando o Sol como seu deus, dedicaram-lhe a cidade
de Sípara, onde ardia o fogo sagrado, eternamente, em sua honra. Em Edessa e em Palmira
foram encontrados templos dedicados ao deus-sol. Orfeu considerava o sol como sendo o deus
maior. Agamenon disse que o sol era o deus que tudo via e de que tudo provinha.

Os judeus e os líderes do cristianismo, para a formação deste, só tiveram que adaptar as


crenças e rituais antigos a uma nova personagem: Jesus Cristo. Toda a roupagem necessária
para vestir o novo deus pré-existia. Apenas era necessário moldá-la um pouco.

Jesus Cristo é um mito solar

Tendo em vista o completo silêncio histórico a respeito de Jesus Cristo, bem como as evidentes
ligações deste com o mito dos deuses-solares, Dupuis escreveu o seguinte:

―Um deus nascido de uma virgem no solstício do inverno, que ressuscita na Páscoa, no
equinócio da primavera, depois de haver descido ao inferno; um deus que leva atrás de si doze
apóstolos, correspondentes às doze constelações; que põe o homem sob o império da luz, não
pode ser mais que um deus solar, copiado de tantos outros deuses heliosísticos em que
abundavam as religiões orientais. No céu da esfera armilar dos magos e dos caldeus via-se um
menino colocado entre os braços de uma virgem celestial, a que Eratóstenes dá como Ísis,
mãe de Horus. Seu nascimento foi a 25 de dezembro. Era a virgem das constelações zodiacais.
Graças aos raios solares, a virgem pôde ser mãe sem deixar de ser virgem… Via-se uma jovem
‗Seclanidas de Darzana‘, que em árabe é ‗Adrenadefa‘, e significa virgem pura, casta,
imaculada e bela… Está assentada e dá de mamar a um filho que alguns chamam de Jesus e,
nós, de Cristo.‖

Já mostrei que Jesus repete todos os mistérios dos deuses solares e redentores, pelo que
Heródoto, Plutarco, Lactâncio e Firmico puderam afirmar que esse deus redentor é o Sol. De
modo que Jesus é apenas mais um deus solar.

Ainda hoje, grande parte do rito cristão é de origem solar. Na Bíblia, encontramos estas
palavras: ―Deus estabeleceu sua tenda no Sol‖, e ainda: ―Sobre vós que temeis o meu nome,
levantar-se-á o Sol da justiça e vossa vida estará em seus raios‖. João diz que ―o verbo é a lei,

148
a luz e a vida, a luz que ilumina a vista de todos os mortais, a luz do mundo‖. E ainda chama a
Jesus de o ―cordeiro‖, o ―Agnus Dei qui tollit peccata mundi‖.

Com isto, o Apocalipse fez de Jesus o ―cordeiro pascal‖, e a Igreja o adorou sob a forma de um
cordeiro até o ano de 680. Era o Cristo o Áries zodiacal, vindo de Agnus, com a representação
de fogo, o Sol condensado. Orígenes justificava a adoração do Sol tendo em vista a sua luz
sensível e também pelo aspecto espiritual. Tertuliano reconheceu que o dogma da ressurreição
tem sua origem na religião persa de Mitra. Para S. Crisóstomo, Jesus era o Sol da justiça, para
Sinésio, o Sol intelectual. Fírmico Materno descreveu Jesus baixando ao inferno, esplendente
como o Sol. O domingo, o dia do Senhor, o dia do descanso, procede de Dominus, o deus-sol,
o Senhor. Segundo Teodoro e Cirilo, para o maniqueus Cristo era o Sol.

Os Saturnianos acreditavam que a alma tinha substância solar, deixando o corpo e voltando
para o Sol, de onde proviera, após a morte. O antigo rito do batismo determinava que o
catecúmeno voltasse o rosto em primeiro lugar para o ocidente, para retirar de si Satanás,
símbolo das trevas.

Igualmente, as festas do sábado santo são reminiscências do mito da luta do Sol contra as
trevas, na Páscoa. As orações desse ofício são cópia dos hinos védicos. A palavra aleluia, que
era o grito de alegria dos persas, adoradores do Sol, quando na Páscoa festejavam a sua volta,
significa: elevado e brilhante.

Foram necessários muitos séculos para que a igreja pudesse alienar um pouco do que
lembrava que o seu culto era de um deus solar. Entretanto, a história escrita é inflexível e
demonstra que todos os deuses redentores ou solares foram tão adorados quanto o mitológico
Jesus Cristo. E embora tenha havido longas fases em que foram impostos a ferro e fogo, nem
por isto deixaram de cair, nada mais sendo hoje do que o pó do passado religioso do homem.

O certo é que Jesus Cristo é mitológico de origem, natureza e significado. O seu surgimento
ocorreu para atender à tendência religiosa e mística da maioria, que ainda hoje teme as
realidades da vida e, portanto, procura, para se orientar, algo fora da esfera humana, na
esperança de assim conseguir superar a si mesmo e aos obstáculos que surgem diariamente.

O cristianismo é produto de tendências naturais de uma época, aproveitadas espertamente


pelos líderes do cristianismo. O judeu pobre e oprimido, não tendo para quem apelar, passou a
esperar de Deus aquilo que o seu semelhante lhe negava. O sacerdote, valendo-se do
deplorável estado de espírito de uma população faminta e, sobretudo, desesperançada,
ressuscitou um dentre os velhos deuses para restaurar a esperança do povo judeu.

E assim, surgiu mais um mito solar, mais um deus com todos os atributos divinos, tal como os
que antecederam. O novo deus solar em questão é Jesus Cristo.

Outras fontes do cristianismo

Conforme disse várias vezes, o cristianismo tomou por empréstimo tudo quanto se fez
necessário à sua formação. Assim, todos os ensinamentos atribuídos a Cristo foram copiados
dos povos com os quais os judeus tiveram convivência. A sua moral, a moral que Cristo teria
ensinado, aprendeu-a com os filósofos que o antecederam em muitos séculos. De modo que
não há inovações em nenhum setor ou aspecto do cristianismo. Antigos povos, milênios antes,
adoraram seus deuses semelhantemente.

149
Dentre as máximas adotadas pelo cristianismo, comento a seguinte: ―Não faças aos outros o
que não queres que a ti seja feito‖. Este ensinamento não teria partido de Jesus, conforme
pretendem os cristãos, não sendo sequer uma máxima cristã, originariamente. Encontraremo-
la em Confúcio, e ainda no bramanismo, no budismo e no mazdeismo, fundado por Zoroastro.
Era uma orientação filosófica e religiosa, adotada pelos hindus.

A originalidade do cristianismo consistiu apenas em criar as penas eternas, um absurdo


desumano e irracional. Enquanto isso, o mazdeismo cria a possibilidade de regeneração do pior
bandido, admitindo mesmo a sua plena reintegração no seio da sociedade. O perdão aos
inimigos foi, muito antes de Jesus, aconselhado por Pitágoras. Os egípcios religiosos
praticavam uma moral muito elevada. No ―Livro dos Mortos‖ encontramos a confissão
negativa, de acordo com a qual a alma do morto comparecia ante o tribunal de Osiris e
proferia em alta voz as suas más ações. O sentimento de igualdade e fraternidade para com os
homens foi ensinado por Filon.

O cristianismo adotou os seus ensinamentos, atribuindo-os a Jesus. São de Filon as seguintes


palavras: ―Os que exaltam as grandezas do mundo como sendo um bem, devem ser
reprimidos.‖; ―A distinção humana está na inteligência e na justiça, embora partam do nosso
escravo, comprado com o nosso dinheiro.‖; ―Porque hás de ser sempre orgulhoso e te achares
superior aos outros?‖; ―Quem te trouxe ao mundo? Nu vieste, nu morrerás, não recebendo de
Deus senão o tempo entre o nascimento e a morte, para que o apliques na concórdia e na
justiça, repudiando todos os vícios e todas as qualidades que tornam o homem um animal‖; ―A
boa vontade e o amor entre os homens são a fonte de todos os bens que podem existir‖.

Como vemos, não há nada de novo no cristianismo. Platão salientou a felicidade que existe na
prática da virtude. Ensinou a tolerância à injúria e aos maus tratos, e condenou o suicídio.
Recomendou o humanismo, a castidade e o pudor, e condenou a volúpia, a vingança e o apego
demasiado aos bens. Sua moral baseou-se na exaltação da alma, no desprezo dos sentidos e
na vida contemplativa. O Padre Nosso foi copiado de Platão. Quem conhece bem a obra de
Platão percebe os traços comuns entre a mesma e o cristianismo. Filon inspirou-se em Platão
e, a Igreja, na obra de Filon, que helenizou o judaísmo.

Aristóteles afirmou que a comunidade repousa no amor e na justiça. Admitia a escravatura,


mas libertou os seus escravos. Poderiam existir escravos, mas não a seu serviço. A
comunidade deveria instruir a todos, independentemente da classe social, com o que ensinou o
evangelho aos Evangelhos.

A abolição do sacrifício sangrento não foi introduzida pelo cristianismo. Não lhe cabe tal
mérito. Gélon, da Sicília, firmando a paz com os cartagineses, estipulou como condição a
supressão do sacrifício de vidas animais aos seus deuses.

Sêneca aconselhava o domínio das paixões, a insensibilidade à dor e ao prazer. Recomendava


igualmente a indulgência para com os escravos, dizendo que todos os homens são iguais.
Referia-se ao céu como fazem os cristãos, afirmando que todos são filhos de um mesmo pai.
Concebia como pátria o Universo. Os homens deveriam se ajudar e se amar mutuamente.
Enquanto isso, o humanismo cristão limitou-se apenas aos irmãos de fé. O bem visa somente
a salvação da alma, o que é egoísmo, nunca humanismo. Sêneca manifestou-se contrário à
pena de morte; o cristianismo, ao contrario, é responsável por inúmeras execuções. Admitia a
tolerância mesmo em face da culpa. Em vez de perseguir e punir, por que não persuadir,
ensinar e converter?

150
Epíteto e Marco Aurélio foram bons professores dos cristãos. Os filósofos greco-romanos foram
grandes mestres da moral cristã e da consolação, sem que para isto criassem empresas,
negócios ou castas. O cristianismo existente antes de Jesus Cristo já pregava a moral anterior
ao martírio do Gólgota. A moral cristã não veio de Jesus Cristo nem dos Evangelhos, mas
nasceu da tendência natural para o aperfeiçoamento do homem.

Não fosse a destruição sistemática de antigas bibliotecas, determinada pelo clero no intuito de
preservar os seus escusos interesses, hoje seria possível patentear com documentos à mão
que a moral anterior à cristã era bem melhor do que esta, tendo-lhe servido de modelo. Assim,
se vê que a moral jamais foi patrimônio de castas ou de indivíduos, sendo uma lenta conquista
da humanidade, com ou sem religião, e mesmo contra ela. Por isso é que o mundo racionaliza-
se continuamente, e avança sempre no sentido do seu aperfeiçoamento.

A bondade humana independe da ideia religiosa. A razão nos ensina o que devemos ao nosso
meio social, independentemente da fé e da religião. Para justificar o aparecimento de Jesus, se
fez necessário recorrer a uma moral que, no entanto, já era um patrimônio da humanidade.
Jesus nada mais foi do que a materialização de qualidades que já existiam. Por isso, mesmo
em moral, Jesus foi ator, não autor. O cristianismo apenas sistematizou e industrializou essa
velha moral, estabelecendo-a como um rendoso comércio. A Igreja é responsável pela
deturpação dessa moral.

Havia a moral pela moral, que foi substituída pela moral bíblica, em que só se é bom para
ganhar o céu. Superpondo-se um grupo empresarialmente forte, extinguiu-se a moral
individual.

Judaísmo e cristianismo

Pesquisas e estudos comparados têm demonstrado que a mitologia judaico-cristã é bem


anterior ao próprio judaísmo, quando se percebe que dogmas como o da imortalidade da alma,
da ressurreição e do Verbo encarnado são muito anteriores ao cristianismo.

A imortalidade da alma já tinha milênios quando os judeus foram levados cativos para a
Babilônia. Zoroastro ensinara, muito antes, ser a alma imortal, e que essa imortalidade seria
produto de uma opção humana. O livre arbítrio levaria o homem a escolher uma vida que o
levaria ou não à imortalidade. O erro e o mal produziriam a morte definitiva, a prática do bem,
a imortalidade. Do mesmo modo, na Ciropédia, bem anterior a Zoroastro, se lê que Ciro,
moribundo, disse: ―Não creio que a alma que vive em um corpo mortal se extinga desde que
saia dele, e que a capacidade de pensar desapareça apenas porque deixou o corpo que não
tem como pensar por si mesmo‖. Por outro lado Einstein, pouco antes de morrer, declarou não
crer que algo sobrasse do ser vivo após a morte. Os egípcios, os hindus, os sumérios, os
hititas e os fenícios criam na imortalidade da alma.

A ressurreição foi um dos fundamentos do Zend-Avesta. Zoroastro também ensinou que o fim
do mundo seria precedido por um grande acontecimento, a ser predito por profetas. Os persas
tiveram os seus profetas, que foram Ascedermani e Ascerdemat, os quais passaram à Bíblia
sob os novos nomes de Enock e Elias, entidades míticas, como se vê. Desses mitos surgiram o
Talmud e os Evangelhos, o que mostra que, em religião, a idéia original pertence à noite dos
tempos.

A doutrina do Verbo já era antiquíssima no Egito. Deus teria gerado Kneph ―a palavra, o
Verbo‖, que é igual ao pai. Da união de Deus com o Verbo nasceu o fogo, a vida, Fta, a vida de
todos os seres. O monoteísmo e a Santíssima Trindade eram crenças muito antigas na Índia.

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Os deuses únicos e os deuses secundários são uma velha doutrina oriental. A religião greco-
romana já possuía o seu Apolo e Zeus, rodeados por uma porção de deuses secundários. Essas
velhas lendas deram origem ao Deus do cristianismo, com toda sua corte de santos e anjos. O
politeísmo há muito vinha caminhando para o monoteísmo. Os gregos já haviam concebido a
ideia de um intermediário entre os homens e Júpiter, que era Apolo, tendo encarnado para
redimir os homens. Porfírio citou o seguinte oráculo de Serapis: ―Deus é antes e depois e ao
mesmo tempo, é o Verbo e o Espírito, como um e outro‖. O mundo antigo cria em um Deus
único, pai de todas as coisas, afirmou Máximo de Tiro. O povo então já dizia: Deus o sabe!
Deus o quer! Deus o abençoe! Os oráculos só se referiam a Deus e não aos deuses.

Os apologistas do cristianismo, tais como Eusébio, Agostinho, Lactâncio, Justino, Atanásio e


muitos outros, ensinavam que unidade de Deus era conhecida desde a mais remota
antiguidade. Os órficos, inclusive, a admitiam. Na Bíblia, ao ser traduzido para o grego e para
o latim, o nome de Deus passou a ser muitas vezes Senhor, Dominus, para ficar conforme o
nome do Deus-sol do mitraísmo.

O amor a Deus foi a base de todas as religiões copiadas pelo judaísmo. Isaías falava de Deus
como Pai Celestial. Ezequiel dizia que Deus não queria a morte do pecador, preferindo antes a
sua conversão. O justo viverá eternamente pela fé. São palavras de Habacuc, repetidas por
Paulo em Gálatas 3:2.

Como vimos a doutrina do Verbo vem de Platão, tendo sido este o intermediário entre os
metafísicos e os cristãos. Foi ele quem concebeu a ideia da separação do corpo e da alma e
pôs aquele na dependência desta. Na sua opinião, a Terra era o desterro da alma. Foi o criador
do sistema filosófico da decadência moral do homem, fazendo dos sentidos uma ameaça, do
mundo um mal e da eternidade o delírio, o sonho.

Cícero e Sêneca tinham ideias cristãs, mas não conheceram a Jesus Cristo nem ao
cristianismo. Agostinho leu as obras de Cícero e trocou o maniqueísmo pelo cristianismo. A
Igreja procurou destruir as principais obras de Cícero e de Sêneca para que a posteridade não
percebesse que eles não tinham sido cristãos seguidores de Cristo, mas apenas que as suas
ideias coincidiam com as que o cristianismo esposou. O cristianismo nasceu da helenização do
judaísmo.

Os cristãos terapeutas abandonaram o judaísmo ortodoxo porque este tinha posto de lado o
culto nacional do templo e o sacrifício Pascal, retirando-se para uma vida contemplativa nos
montes, longe dos homens e dos negócios. Estabeleceram uma sociedade comunal,
considerando o casamento um apego à carne, um empecilho à salvação da alma. Baniram os
principais prazeres da vida, exaltando o celibato e a pobreza, como os essênios, além de
aconselhar a caridade. Eusébio chamou aos terapeutas de cristãos sem Cristo. Para ele, um
terapeuta era um autêntico cristão. Isto levou Strauss a escrever: ―Os terapeutas, os essênios
e os cristãos dão sempre muito o que pensar‖.

A doutrina dos essênios, a moral dos terapeutas, a encarnação do Verbo, vinda do judaísmo
helenizado, é o cristianismo de Filon. Desse modo, Filon foi criador do cristianismo, sem saber.
Ele se refere ao Verbo nos termos da mitologia egípcia sem, contudo, mencionar a crença em
Jesus Cristo. Salomão fez da sabedoria divina a criação. O Livro da Sabedoria define a
natureza desse principio intermediário, transformando o pensamento vago do rei judeu sobre a
sabedoria da doutrina do Verbo.

Sirac, em ―Eclesiástico‖, faz a doutrina do Verbo ser mais precisa: ―A sabedoria vem de Deus,
estando sempre com ele. Foi criada antes de todas as coisas. A voz da inteligência existe

152
desde o principio. O Verbo de Deus, no mais alto do céu, é a fonte da sabedoria‖! Filon disse
que o Verbo se fizera humano. Segundo ele, Deus era infalível e inacessível à inteligência
humana, não nos alcançando senão pela graça divina. Para ele, ainda, o Verbo não era apenas
a palavra, mas a imagem visível de Deus.

O Verbo seria o Ungido do Senhor, o ideal da natureza — o Adão Celeste é a doutrina da


encarnação do Verbo — tomando a forma humana. O Verbo é o intermediário entre Deus e os
homens. Diz ainda que o Verbo é o pão da vida.

Por ai vemos que não foi o Cristo o criador do cristianismo, mas este é que o criou. Clemente
de Alexandria, Orígenes ou Paulo, assim como os primeiros padres do cristianismo, jamais se
referiram a Jesus Cristo como tendo sido um homem que tivesse caminhado do Horto ao
Gólgota, mas o tiveram apenas como o Verbo, conforme a doutrina de Platão e de Filon.

O cristianismo sem Jesus Cristo

Está patente a existência do cristianismo sem Cristo. A existência do clero, por outro lado, foi
uma exigência bramânica.

Pregando por meio de parábolas, os sacerdotes se faziam necessários para esclarecer o


sentido das mesmas. Assim se justificava o pagamento com as esmolas dos crentes.
Ensinavam a religião e se apoderavam do dinheiro. Suas terras e os templos já eram isentos
dos impostos. O sumo-sacerdote não se casava e era venerado como um deus.

No budismo, tanto os bonzos como os mosteiros são mantidos pela comunidade e os monges,
igualmente, não se casam. O Dalai-Lama é o Vigário de Deus, o sucessor de Fó, sendo Infalível
como o Papa se diz ser. Nos mosteiros todos se chamam de irmãos.

O clero persa era dividido em ordens hierárquicas, e tinha o direito a um décimo da renda da
comunidade. Os magos persas, como os profetas judeus, eram puros e não trabalhavam.

No Egito, a classe mais alta era a dos sacerdotes. Elegiam o rei e limitavam a sua ação. O
povo arrendava as terras do templo. Só o clero ensinava a religião e presidia aos sacrifícios. O
regime era teocrata e todos tinham de submeter-se às regras eclesiásticas. O sacerdote era o
adivinho, fazia os oráculos, as profecias, os sortilégios e os exorcismos. Afirmava ter força
sobre a natureza, para o bem da humanidade.

Os brâmanes procuravam afugentar os malefícios e as maldições. Para isto, cultivam certas


plantas, como o lótus e o cânhamo, das quais faziam licores como o ―amrita‖, que possuía
virtudes milagrosas. Tinham as mesmas modalidades de expiação ainda hoje adotadas pelo
cristianismo.

As mortificações hindus são as mesmas praticadas pelos cristãos medievais. Certos crentes
carregaram durante toda a vida enormes colares de ferro, outros, pesadas correntes de ferro.
Alguns se marcavam com o ferro em brasa, avivando a ferida todos os dias. Muitos vão
rolando deitados até Benares, pagar ali suas promessas. Também usam sandálias cravadas de
finos pregos, os quais entram pelas solas dos pés.

No Egito, os sacerdotes de Ísis açoitavam-se em sua honra, expiando, com isso, suas próprias
culpas e as do povo.

Entre os gregos havia a água lustral para as expiações e para as propiciações.

153
Os sacerdotes de Dodona feriam-se e os de Diana praticavam tais coisas em seus corpos, que
às vezes punham em perigo a própria vida.

Os romanos procuravam livrar-se das calamidades públicas oferecendo aos seus deuses
sacrifícios humanos.

Os Indostânicos tornavam-se celibatários, pediam esmolas, jejuavam e se isolavam do


convívio com outras Pessoas.

No budismo, as crianças eram ensinadas a fazer votos de castidade. O governo concedia


honras especiais ao que chegavam aos 40 anos castos. No Egito, existiam mosteiros
apropriados para os que faziam votos de castidade. Também os sacerdotes de Baco, na Grécia,
faziam tais votos. Os sacerdotes de Cibele eram castos e castrados.

Em Roma, as Vestais viviam em mosteiros, indo para eles até aos seis anos de idade, e
juravam não deixar extinguir-se o fogo sagrado e manterem-se virgens. A que faltasse ao
juramento seria enterrada viva e, o amante, condenado à morte.

Os budistas consagravam o pão e o vinho, representando o corpo e o sangue de Agni, quando


os bonzos aspergiam os crentes. Enquanto aspergem água lustral, cantam hinos ao sol e ao
Fogo, o ―Kirie Eleison‖ que os católicos copiaram e cantam ou recitam durante a missa.
Inicialmente o sacrifício constava da imolação de uma pessoa, a qual posteriormente foi
substituída pela hóstia. Tal como o padre católico, o sacerdote budista também lava as mãos
antes das libações. A cerimônia budista é em tudo semelhante à missa da Igreja Católica. Os
persas tinham, em seus ritos religiosos, a eucaristia, ou seja, a mesma oferenda do pão e do
vinho que também consta do ritual da missa, bem como o Pater Noster, o Credo e o Confiteor.

Na Grécia, rezava-se pela manhã e à noite. Os etruscos juntavam as mãos quando oravam.
Também a confissão lá era praticada pelos persas. O ritual do catolicismo tem muito do ritual
mitraico, assim como a vestimenta dos sacerdotes católicos foi copiada do figurino dos
sacerdotes de Mitra.

Muitas das religiões pré-cristãs já festejavam a Páscoa e a Natividade. Os persas inclusive


dedicaram um dia aos mortos. E, no dia em que o filho começava a receber instrução religiosa,
havia festa na casa dos pais. Entre os gregos, cada dia da semana era dedicado a um deus. Os
Hindus viviam peregrinando de um templo para outro. Criam na existência de dias bons e dias
maus, como também em sortilégios e malefícios. Cada pessoa era dedicada a um anjo que a
protegia desde o nascimento. Benziam as vacas, os instrumentos agrícolas e animais
domésticos.

A história do passado religioso do homem está repleta de virgens puras e belas, que são as
mães dos deuses. Maria, mãe de Jesus Cristo, é apenas mais uma dentre tantas outras.

Igualmente, as procissões constituem práticas multimilenares. É antiquíssima tal modalidade


de culto. Juno e Diana passearam em caminhadas durante muitos séculos. As cidades sempre
se enfeitaram à passagem dos santos e dos deuses.

Por aí vemos que nem Jesus nem o cristianismo têm nada de original. A veneração das
imagens já era muito anterior ao cristianismo. Por outro lado, o judaísmo, que as baniu, não
foi, entretanto, o primeiro a tomar tal atitude. Plutarco disse que os tebanos não as usavam,
assim como Numa Pompílio proibiu os romanos de as usarem, durante o seu governo.

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O batismo era uma cerimônia praticada pelos antigos muito antes de se cogitar, sequer, do
nome de cristão. Os hindus lavam o recém-nascido em água lustral, dando-lhe um nome de
um gênio protetor. Aos oito anos, a criança aprende a recitar os hinos ao Deus-Sol. A extrema-
unção também, desde muito antes do cristianismo, era praticada pelos hindus. Copiando
detalhes dos ritos e cultos de uma grande variedade de seitas, o cristianismo constituiu o seu
próprio ritual, tudo girando em torno do Deus-Sol, no qual, por fim, vestiram a roupa de Jesus
Cristo.

O cristianismo deve ser examinado com isenção de ânimo, ainda quando visto como uma das
melhores religiões. Ele propõe ter sido Jesus um messias. O termo é tomado do hebraico
messiá que quer dizer ungido. Da versão para o grego resultou Kristós. No caso, messias
assume o contexto, como quando se diz ritualmente ungido salvador, ou como em ungido rei.
Por influência grega a nova religião em vez de se chamar messianismo, passou a ser
cristianismo. Não obstante algumas diferenças semânticas, os termos se equivalem.

Jesus nasceu pelo ano quatro, antes de nossa era, ―ao tempo do Rei Herodes‖ (Mateus 2;1), a
quem o Evangelista ainda atribuiu a decisão de o matar. Para lograr seu objetivo ―mandou
massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo‖ (Mateus
2;16).

Sabe-se também que Herodes morreu no ano 4 a.C. Se esta narrativa, redigida 50 ou 80 anos
depois, for verdadeira, deve-se admitir coerentemente que Jesus já era nascido pelo ano 4
antes da era atual. No inicio da Idade Média o monge Dionísio, O Pequeno (ou o Exíguo) criou
a cronologia cristã, tendo errado por pelo menos 4 anos a data do nascimento de Jesus. Não
há escritos contemporâneos de Jesus que mencionavam sua existência e doutrina. Esta fato
oferece muitas dificuldades. O que se escreveu depois, e ainda em outra língua, em grego,
cujos conceitos mentais são mais evoluídos e poderão ter alterados nuances de conteúdo.

Pelos anos 60 ou após redigiram-se os 4 evangelhos, escritos respectivamente por Mateus e


Marcos, Lucas e João. O novo Testemunho compõe-se destes escritos, e mais os Atos dos
Apóstolos (de Lucas), Epistola (de vários Apóstolos e Apocalipse de João).

Como foi que surgiu o cristianismo?

Na interpretação histórico-crítica o processo de surgimento do cristianismo se desenvolveu


num espaço relativamente curto. No inicio do ano 28 passou Jesus a pregar, sendo levado à
morte no ano 30.

Morto Jesus, se processou uma institucionalização do grupo, com influências novas vindas do
helenismo, fato este que provocou uma separação mais profunda ao qual entretanto ficou
ligado umbilicalmente. Dali resulta a necessidade de examinar o cristianismo inicial sob duas
perspectivas. Numa primeira importa examina-lo frente às seitas judias. Numa segunda
perspectiva, quais foram suas fases de desenvolvimento, pelo qual se foi diferenciando, até
tomar feição mais ou menos própria.

1 - Nem só Jesus Cristo tinha poder

Ele nasceu do útero de uma virgem e seu nascimento foi anunciado por um anjo. Reuniu ao
seu redor um grupo de leais seguidores a quem transmitiu uma avançada mensagem de
igualdade e fraternidade. Foi um agitador das massas e suas palavras tanto desagradaram aos
romanos que acabaram por matá-lo. Em vida fazia inúmeros milagres: curava inválidos,
anulava pragas, expulsava o demônio das pessoas e certa vez até ressuscitou uma menina.

155
Mas o maior dos seus feitos foi sua própria ressurreição, é claro. Uma vez completada sua
missão, tomou seu lugar ao lado do Pai, do Espírito Santo e de sua própria mãe, também
alçada aos céus, deixando aos seus seguidores em terra a dura tarefa de explicar como tinha
tanta gente no céu se Deus era para ser único.

Ah sim, esqueci-me de dizer que não estou falando de Jesus Cristo. Estou falando de Apolônio
de Tiana.

Filósofo neo-aristotélico nascido na Capadócia no século I, um dos muitos profetas de seu


tempo que, apesar das semelhanças no currículo, não teve a sorte de se tornar tão popular
quanto seu colega de messianato.

Apolônio era basicamente um Cristo com maiores e melhores poderes. Além de fazer enxergar
os cegos e andar os mancos, transmutar água em vinho e outros milagres usuais, Apolônio
podia estar em dois lugares ao mesmo tempo, era capaz de ler pensamentos e falava línguas
que nunca tinha aprendido. Certa vez, aprisionado pelo imperador romano, que o acusou de
traição, escapou, milagrosamente é claro.

Mas não só de poderes mágicos se constrói um Messias. Um autêntico Messias precisa de um


plano de salvação espiritual, de uma mensagem revolucionária de paz e amor. Apolônio tinha
isso também. Como Jesus, Apolônio permaneceu celibatário e deu tudo o que tinha aos
pobres, que não era pouco, pois seus pais lhe deixaram uma polpuda herança ao morrer.
Como J.C., Apolônio se opunha às danças, aos prazeres carnais e aos violentos espetáculos
dos gladiadores (acho que Jesus não fez uma menção específica a isso nos testamentos, mas
suponho que ele teria algo a dizer sobre o assunto se alguém tivesse perguntado).
Contrariamente a Jesus, no entanto, Apolônio era vegetariano e condenava os sacríficos
animais, tão frequentes em seu tempo (o que teria garantido pontos extras se eu estivesse
considerando abraçar o cristianismo). Apolônio orava, mas considerava desprezível a ideia de
que Deus pudesse ser demovido de Seu supremo propósito para atender as súplicas
mundanas. Seres com que se podiam fazer pactos pregava Apolônio, não eram deuses, eram
menos do que homens. Começo a entender porque a audiência de Apolônio tornou-se tão
menor que a do Jesus… quem ia querer saber de um deus que não atende pedidos em plena
Copa do Mundo?!

Diz-se que Apolônio era sempre sereno e nunca se zangava, ou seja, não era do tipo que
armaria o maior barraco por causa de camelôs vendendo quinquilharias em pleno templo.
Nisso eu defendo o Jesus. Queria ver Apolônio manter a serenidade diante de uma banca de
adesivos ―Deus é Fiel‖ e camisetas camufladas escritas ―Exército de Deus, Aliste-se Agora―.

Apolônio, como Jesus, tinha um jeito com as palavras; quando, dias antes de ser morto,
avisou aos seus apóstolos onde estaria depois de ressuscitar, um deles lhe perguntou: ―você
estará vivo ou o quê?‖ ao que Apolônio respondeu: ―Do meu ponto de vista estarei vivo, do de
vocês estarei revivido‖. Como convém aos verdadeiros profetas, como Jesus, o Oráculo de
Matrix, o Mestre dos Magos e tantos outros, Apolônio sempre dava um jeito de falar por
enigmas. Se ele soubesse a confusão que isso poderia causar alguns milhares de anos depois
entre seus seguidores, teria sido mais objetivo.

Apolônio era popular em seu tempo; foi saudado por centenas ao adentrar os portões da
cidade grega de Alexandria, assim como Jesus o foi ao chegar a Jerusalém. Sua partida para o
reino dos céus parece ter sido mais teatral, entretanto. Depois de entrar em um templo grego,
Apolônio simplesmente desapareceu, enquanto um coro de virgens entoava cânticos em sua
homenagem.

156
O que a Igreja Católica diz sobre Apolônio? O argumento mais frequente é que a história de
Apolônio Cristo não foi escrita por testemunhas oculares. Bem, até aí nada, já que a de Jesus
Cristo também não foi. Aliás, se há uma coisa sobre a qual concordam todos os historiadores
modernos é que nenhum dos evangelhos do novo testamento foi escrito por alguém que tenha
pessoalmente conhecido Jesus (sobre isso recomendo duas fontes sérias: ―Jesus e Javé‖ de
Harold Bloom, um renomado intelectual judeu (que leio no momento) e ―A História do
Cristianismo‖ de Paul Johnson um dos maiores historiadores vivos, do qual li até hoje somente
os três primeiros capítulos). Pelo contrário: é geralmente aceito que os evangelhos foram
escritos baseados em tradições orais quase meio século depois da morte de Jesus.

Já de Apolônio quase tudo o que se sabe foi escrito pelo filósofo ateniense Flavius
Philostratus entre os anos de 205 a 245 D.C baseada nos escritos de um dos discípulos
contemporâneos de Apolônio: Damis de Nineveh. Philostratus foi instruído a escrever a
biografia de Apolônio por Domna Julia, esposa do imperador Septimius Severus, uma amante
da filosofia que tinha em seu templo particular estátuas de alguns grandes homens sábios,
como Orpheus, Jesus e o próprio Apolônio. Da biografia escrita por Philostratus nasceu o culto
Apolônico, que durou muitos séculos, mas, como se sabe, nunca foi tão bem sucedido quanto
aquele outro.

Em um jogo de ―Super-Trunfo‖ que trouxesse profetas em vez de carros ou tanques, a carta


de Apolônio certamente perderia no quesito ―popularidade‖ e ―flagelo‖ mas ganharia fácil em
―santidade‖ . Afinal, enquanto Jesus era visto com prostitutas, tinha uma história mal contada
com Maria Madalena (aquela história da lavagem dos pés não te lembra do diálogo sobre pés e
massagem em Pulp Fiction?) e regalava-se com vinho e carne, Apolônio era abstêmio, não
comia nada que não viesse da terra e era visto como um homem santo já em vida. Digamos
que Dan Brown teria mais dificuldade em fazer intrigas com a vida sexual de Apolônio do que
teve com Jesus (o que nos teria rendido um best-seller mal escrito a menos se a história
tivesse sido diferente). Sendo assim o velho jogo do ―meu messias é melhor que o seu‖
começou logo cedo e continua até hoje. Os primeiros historiadores cristãos, como Eusébio de
Cesáreia, no século III, até reconheciam os milagres e a santidade de Apolônio, mas diziam
que, enquanto os milagres de Jesus eram manifestações de Deus, os de Apolônio era coisa do
diabo (o original grego usa a palavra ―daemon―, que significa tão somente um ser espiritual,
mas a conotação negativa foi a empregada pelos sucessivos teólogos cristãos). Mais tarde a
tática para desacreditar Apolônio passou a ser acusar Philostratus de plagiar os evangelhos
cristãos, algo que Eusébio, que estava na época e no lugar certo para saber disso, nunca fez.
Hoje se discute se não foram os escribas cristãos que se inspiraram na biografia de Apolônio.

A história de Apolônio me fascina. Primeiramente porque mostra como as histórias de milagres


na antiguidade e de homens santos que voltaram da morte não são únicas nem tão especiais
quanto os cristãos imaginam. Em segundo lugar porquê como admirador das minorias
alternativas e geralmente fracassadas, como PDAs Newton, fitas Sony Betamax e Ceticismo
Brasileiro, é bom saber que tenho uma alternativa para o dia em que pensar em me converter;
só preciso aceitar Apolônio no meu coração.

2 - O Messias Desmascarado

Os judeus estão aguardando, pois eles são pacientes. Uma das coisas que eles mais aguardam
(e, para eles, a mais importante) é o advento do Messias.

Segundo a crença judaica, esse cara viria pra detonar geral e colocar tudo na sua devida
ordem, desfazendo tudo que há de errado no mundo e trará paz e prosperidade (para eles,

157
claro; eles que inventaram a crença). Só que atualmente, não são só os judeus que esperam o
Messias. Tem muita gente aguardando o cara. E o pior é que já vieram muitos.

Quem é (ou quem deveria ser) o Messias? De onde surgiu essa crença e como entender o
significado disso tudo? Herói ou profeta? General ou milagreiro? Homem justo ou um maníaco
homicida que terminou por praticar suicídio coletivo?

Aqui não usaremos de azeite, ungiremos a todos com a verdade.

Para início de conversa, vamos ao estudo etimológico e histórico da palavra ―Messias‖. Messias
(do hebreu ‫ מש׳ח‬, Mashíach ou HaMashiach – Ungido ou Consagrado) e se refere a como os
antigos judeus se referiam aos seus reis. Podemos ter uma boa noção disso, lendo um trecho
do livro de Samuel.

1 Samuel 10:1 - Samuel tomou um pequeno frasco de óleo e derramou-o na cabeça de Saul;
beijou-o e disse: O Senhor te confere esta unção para que sejas chefe da sua herança.

Conforme vocês podem ler, Samuca faz a cerimônia de coroação do rei Saul, ungindo sua
cabeça com azeite.

Mas, não é só isso. O Mashiach, com o tempo, adquiriu outras importâncias, sendo um líder
político e militar descendente do Rei David, que irá reconstruir a nação de Israel e restaurar o
reino de David, trazendo desta forma a paz ao mundo.

Os cristãos consideram que Jesus Cristo é o Messias, bem como o Filho de Deus e blábláblá,
cujo conceito foi estipulado no Concílio de Niceia de 325 E.C. A palavra ―Cristo‖ (em grego
Χριζηός, Christós, ―O Ungido‖ ou ―O Consagrado‖) é uma tradução para o grego do termo
hebraico ―mashiach‖.

No Velho Testamento, a palavra específica Messias aparece apenas duas vezes: em Daniel
9:25 e 26, quando um anjo anuncia ao profeta Daniel que o Messias surgiria e seria morto 62
semanas proféticas após a reedificação de Jerusalém, antes da cidade e do templo serem
novamente destruídos.

No Novo Testamento, a palavra grega Μεζζιας (Messias) está registrada também apenas
duas vezes: em João 1:41, quando o André (não, não fui eu) contou a seu irmão Pedro que
recém haviam encontrado o Messias (que traduzido é o Cristo), e em João 4:25, onde uma
mulher samaritana comenta com Jesus que sabia que o Messias (que se chamava Cristo)
estava vindo, e que quando viesse, nos anunciaria tudo, ao que Jesus prontamente lhe
respondeu: ―Eu o sou, eu que falo contigo‖. Muito conveniente. Vejamos as características que
o Messias Judaico deve ter.

a) Descendente do Rei David através de Salomão – O Messias será um descendente


biológico do Rei David através de seu filho Salomão que foi sucessor ao trono, o qual construiu
o Templo Sagrado em Jerusalém.

1 Reis cap. 8

15. E disse: Bendito seja o SENHOR Deus de Israel, que falou pela sua boca a Davi, meu pai, e
pela sua mão o cumpriu, dizendo:

158
16. Desde o dia em que eu tirei o meu povo Israel do Egito, não escolhi cidade alguma de
todas as tribos de Israel, para edificar alguma casa para ali estabelecer o meu nome; porém
escolhi a Davi, para que presidisse sobre o meu povo Israel.
17. Também Davi, meu pai, propusera em seu coração o edificar casa ao nome do SENHOR
Deus de Israel.

18. Porém o SENHOR disse a Davi, meu pai: Porquanto propuseste no teu coração o edificar
casa ao meu nome bem fizeste em o propor no teu coração.

19. Todavia tu não edificarás esta casa; porém teu filho, que sair de teus lombos, edificará
esta casa ao meu nome.

20. Assim confirmou o SENHOR a sua palavra que falou; porque me levantei em lugar de Davi,
meu pai, e me assentei no trono de Israel, como tem falado o SENHOR; e edifiquei uma casa
ao nome do SENHOR Deus de Israel.

1 Crônicas cap. 17

11. E há de ser que, quando forem cumpridos os teus dias, para ires a teus pais, suscitarei a
tua descendência depois de ti, um dos teus filhos, e estabelecerei o seu reino.
12. Este me edificará casa; e eu confirmarei o seu trono para sempre.

13. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e a minha benignidade não retirarei dele,
como a tirei daquele, que foi antes de ti.

14. Mas o confirmarei na minha casa e no meu reino para sempre, e o seu trono será firme
para sempre.

15. Conforme todas estas palavras, e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi.

(veja mais em I Cron 22:9-10 e 28:3-7).

Bem, Jesus não era descendente de David. Ele era filho do Espermatozóide Santo com a
vagaba da Maria (já vou falar da ―virgindade‖ dela). Só que as heranças eram patrilineares.
Isso significa que nãoi se herda nada de mulher na tradição judaica. Daí, a crentalhada inventa
que Maria era descendente de David. Nah Nah, só homens! Daí, inventam que José, o
―Anfitrião‖ Carpinteiro é que era descendente de David, mas que como adotara Jesus, a
profecia esta cumprida.

A cara de pau dessa gente me assombra!

b) Líder Espiritual e Político/Militar em Israel – O Messias terá um profundo


conhecimento da Torah, será uma autoridade que influenciará todo Israel para seguir a palavra
do Omni tripla Ação, num ambiente criado por sua liderança espiritual. Também derrotará e
conquistará os inimigos de Israel (mas sem nenhum sabre de luz). Ele será um ser humano
normal de carne e osso, habitante de um mundo cheio de exigências militares e alinhamentos
políticos, terá que lidar com essas realidades e sairá vitorioso, sua liderança política será
reconhecida em todo mundo. (veja Isaías 2:3, 11:2, Daniel 7:14)

Só tem um pequeno detalhe: Jesus de Escrituras e briga de galo não entendia nada.

159
Diz os evangelhos que Jesus aos 12 anos discutia sobre a lei com os sacerdotes, pois ele era
super conhecedor das leis da torá. Isso o qualifica pra ser messias, não é? NÃO!

Imaginem a cena: Os fariseus repreenderam Jesus porque ele e seus amigos fofos estavam
fazendo coisas ilícitas no sábado. Daí Jesus ―super ciente‖ das escrituras soltou a pérola:

Marcos 2:25-26 – Mas ele lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi, quando se viu em
necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros? Como entrou na Casa de Deus, no
tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da proposição, os quais não são lícitos
comer, senão aos sacerdotes, e deu também aos que estavam com ele?

Uma porrada e tanto nos caras, né? Humilhou geral, certo? Errado de novo.

1 Samuel 21:1 – Então, veio Davi a Nobe, ao sacerdote Aimeleque; Aimeleque, tremendo,
saiu ao encontro de Davi e disse-lhe: Por que vens só, e ninguém, contigo?

1 Samuel 21:2 – Respondeu Davi ao sacerdote Aimeleque: O rei deu-me uma ordem e me
disse: Ninguém saiba por que te envio e de que te incumbo; quanto aos meus homens,
combinei que me encontrassem em tal e tal lugar

1 Samuel 21:3 – Agora, que tens à mão? Dá-me cinco pães ou o que se achar.

1 Samuel 21:4 – Respondendo o sacerdote a Davi, disse-lhe: Não tenho pão comum à mão;
há, porém, pão sagrado, se ao menos os teus homens se abstiveram das mulheres.

1 Samuel 21:5 – Respondeu Davi ao sacerdote e lhe disse: Sim, como sempre, quando saio à
campanha, foram-nos vedadas as mulheres, e os corpos dos homens não estão imundos. Se
tal se dá em viagem comum, quanto mais serão puros hoje!

1 Samuel 21:6 – Deu-lhe, pois, o sacerdote o pão sagrado, porquanto não havia ali outro,
senão os pães da proposição, que se tiraram de diante do SENHOR, quando trocados, no
devido dia, por pão quente.

Conseguiram perceber o erro? Primeiro, o sacerdote do texto de Davi é Aimaleque, mas Jesus
citou Abiatar. Segundo, Abiatar nunca ia ser Sumo Sacerdote pq ele foi expluso por Salomão,
pois ajudou Adonias a Tentar usurpar o trono (1 Reis 1:5-7 ; 18-19). Terceiro, no texto de
Davi o sacerdote veio ao encontro dele,saindo do lugar onde estava e não que Davi entrou.

Mesmo que Jesus tenha existido (e não há provas a respeito), ele era um péssimo judeu, pois
só falou besteira quando citou isso. Os fariseus eram homens doutos, cultos, profundos
conhecedores das Escrituras. Tava na cara que nunca iriam acreditar no lengalenga de ser filho
de Deus. Em Lucas, ele até tenta inventar uma profecia que não existe:

Lucas 24:46 - E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e
ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos.

Escrito ONDE? Hein? Quero saber que foi o profeta que teve esta vidência. Mãe Dinah?

Resultado? Não só não era messias coisa nenhuma, como tascaram ele no pau pra deixar de
ser mané. Bem feito!

160
c) Será casado e terá filhos – Embora não sejam declarados o casamento e os filhos como
pré-requisitos para o Messias, há uma clara indicação de que o Príncipe que é o Rei Messias
(veja em Ezeq. 34:23-24, 37:24), durante a era messiânica terá filhos (por matrimonio), onde
receberão uma porção na herança. (Ezeq. 46:16-17).

Preciso falar? O pessoal de Constantino resolveu que JayCee tinha que ser virgem e pronto.
Lamento, pessoal, mais um cravo no caixão messiânico do Jóquei de Jegue.

Eu poderia continuar citando mais qualificações que o Messias deveria trazer. Bem, só os 3 aí
em cima já detona qualquer pretensão que o Hippie da Palestina tenha sobre ser o Mashiach.

APOLÔNIO DE TIANA

Nascido na cidade de Tiana (da atual Turquia), 2 séculos antes da era cristã - então integrante
do Império romano - Apolônio foi educado na cidade vizinha de Tarso, na Cilícia, e no templo
de Esculápio em Aegae, onde além da medicina se dedicou às doutrinas de Pitágoras, vindo a
adotar o ascetismo como hábito de vida em seu sentido pleno.

A principal fonte sobre Apolônio é a obra Vida de Apolônio, de Flávio Filóstrato, na qual alguns
estudiosos identificam uma tentativa de construir uma figura rival à de Jesus Cristo. Apolônio
também é citado nas obras A Vida de Pitágoras, de Porfírio, e A Vida Pitagórica, de Jâmblico.
Acredita-se ainda que ele seja o personagem Apolo, citado na Bíblia em Atos dos Apóstolos e I
Coríntios.

Atos 18:24-25 – Entrementes, um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem


eloquente e muito versado nas Escrituras, chegou a Éfeso. Era instruído no caminho do
Senhor, falava com fervor de espírito e ensinava com precisão a respeito de Jesus, embora
conhecesse somente o batismo de João.

Bom, aqui já começam os problemas. O camarada nasceu no século II A.E.C. e é relatado nos
Atos pregando sobre Jesus? Tem algo cheirando mal aqui. Típica forçação de barra para
sustentar que Apolônio era seguidor de Jesus. Mais um exemplo? Ora, ele é descrito como
tendo vindo de Alexandria, mas Alexandria ficava bem distante de Tiana. Oh, tudo bem que
nosso amigo Alexandre Magno criou muitas cidades com o nome de Alexandria, mas os indícios
é que a referida Alexandria era mesmo a que ficava localizada no Egito.

Bem, vejamos o que o Coríntios diz:

1 Coríntios 3:4-6 - Quando, entre vós, um diz: Eu sou de Paulo, e outro: Eu, de Apolo, não é
isto modo de pensar totalmente humano? Pois que é Apolo? E que é Paulo? Simples servos,
por cujo intermédio abraçastes a fé, e isto conforme a medida que o Senhor repartiu a cada
um deles: eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer.

Também nada muito esclarecedor. Ou seja, os crentes adoram dizer que ateus (na visão deles
qualquer um que não siga a vertente deles é ateu, incluindo agnósticos, muçulmanos, judeus
etc) vivem usando texto fora de contexto sobre pretexto (oh, que frase inteligente. Bleargh!).
Mas, tb vivem forçando a barra para adequar outros escritos à sua própria visão.

―Você pode ter a opinião que quiser, desde que concorde comigo‖

Diz-se que Apolônio era um bom orador, eletrizante e convincente, logo depois se transformou
num tribuno (o magistrado que atuava junto ao Senado Romano em defesa dos direitos e

161
interesses da plebe), ao mesmo tempo em que sua fama se popularizava, caminhando pelo
resto do mundo dando um exemplo justo, bom e perfeito. Curando doentes, fazendo milagres,
ressuscitando mortos e pregando a não violência Tá se lembrando de alguém? Exatamente!
Agia que nem Buda…

Ué, você imaginou alguém mais?

Há relatos que Apolônio ressuscitou a filha de um senador romano, oito dias depois que ela
estava morta. Alguém aqui imagina como ela devia estar cheirosa? Pois é, né?

Apolônio foi um espontâneo defensor dos injustiçados, capaz de praticar os mais arrojados e
difíceis atos de bravura. Sua firmeza e energia de propósitos, mesmo diante do perigo,
causavam a todos uma coragem estoica. ―Ele fora um Deus em forma de Homem!‖. E não, ele
não era Chuck Norris.

Ele viajou muito no tempo em que esteve na Terra, desde o Egito até a Mongólia, sempre
sendo ―iniciado‖ (ui!) nas Ordens que encontrava (um cara muito metido). Da Grécia à Índia,
absorveu o misticismo oriental de magos, brâmanes, sacerdotes e embusteiros em geral. Coisa
muito comum naquela época e mais ainda nos dias de hoje.

Bem, durante esta viagem, e subsequente retorno, ele atraiu um escriba e discípulo, Damis,
que registrou os acontecimentos da vida do sujeito. Estas notas além de cobrirem a vida de
Apolônio, compreendem acontecimentos relacionando a uma série de imperadores, já que
(supostamente) viveu 100 anos. Eventualmente essas notas chegaram às mãos da imperatriz
Julia Domna, esposa de Septímio Severo, que encarregou Filóstrato de usá-las para elaborar
uma biografia do sábio.

Apolônio, segundo dizem, era um cara cheio de si. Pediu para ser iniciado numa ordem lá de
maneira bem simplista:

―Bem sabes por que não queres iniciar-me. Se o dizes, revelá-lo-ei: o meu crime é justamente
conhecer bem melhor do que tu o rito da iniciação. Vim pedir-te por um ato de modéstia,
submissão e simplicidade, a fim de que passasses por mais sábio do que eu. Apenas isto!‖.

Como sempre, há pouca autenticidade nas publicações que foram feitas sobre os ensinamentos
atribuídos a Apolônio. Do seu evangelho existe uma pequena parte que já foi publicado, ou
mais apenas algumas poucas doutrinas ―iniciáticas‖ possuem e mesmo assim somente tem
acesso a eles iniciados de grau elevado. Fico imaginando porque nunca temos relatos seguros
e isentos de e sobre todos esses profetas. Paixão por hermetismo ou fraude descarada? Você
decide.

SIMÃO MAGUS

Simão Magus era outro bom candidato a Messias. Ele nasceu em Samária e viajou do Egito a
Roma pregando as ―boas novas‖. Deviam ser numerosas, por sinal. Com tanta gente contando,
elas ficariam velhas rapidinho. (tá, o trocadilho é infame, mas não abro mão dele )

O ―magus‖ do nome de nosso herói pode significar ―mago‖ ou ―sábio‖, dependendo de qual
contexto você quer usar. E ele se achou em disputa com J. Cristo Mega Star. Simão costumava

162
dizer: ―Jesus é a personificação da Eternidade Sagrada. E eu a personificação do Espírito
Sagrado‖.

A humildade desses mashiachs me comove profundamente…

Bom, pelo sim, pelo não, nosso glorioso Simão Copperfield, digo, Simão Magus andou
incomodando a galera de Jay Cee. Ele é mencionado nos Atos dos Apóstolos:

Atos 8:9-13 – Ora, havia ali um homem, por nome Simão, que exercia magia na cidade,
maravilhando o povo de Samária, e fazia-se passar por um grande personagem. Todos lhe
davam ouvidos, do menor até o maior, comentando: Este homem é o poder de Deus,
chamado o Grande. Eles o atendiam, porque por muito tempo os havia deslumbrado com as
suas artes mágicas (notem a mudança de tom). Mas, depois que acreditaram em Filipe, que
lhes anunciava o Reino de Deus e o nome de Jesus Cristo, homens e mulheres pediam o
batismo. Simão também acreditou e foi batizado. Ele não abandonava Filipe, admirando,
estupefato, os grandes milagres e prodígios que eram feitos.

Pelo texto, Simão M. passou a acreditar em Filipe e se tornou seu seguidor. E como a nossa
querida e amada Bíblia é cheia de contradições, vejam uma coisinha:

É dito que certa vez, Simão Magus estava entre seus seguidores e observa Pedro pregando
concedendo o Espírito Santo às pessoas. Eles ficam espantados vendo a posição das mãos ao
―conceder‖ o Espírito Santo.

O Novo Testamento descreve a cena em Atos 8:17-21:

Então os dois apóstolos lhes impuseram as mãos e receberam o Espírito Santo. Quando Simão
viu que se dava o Espírito Santo por meio da imposição das mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes
dinheiro, dizendo: Dai-me também este poder, para que todo aquele a quem impuser as mãos
receba o Espírito Santo. Pedro respondeu: Maldito seja o teu dinheiro e tu também, se julgas
poder comprar o dom de Deus com dinheiro! Não terás direito nem parte alguma neste
ministério, já que o teu coração não é puro diante de Deus.

Contraditório. Se ele passou a ser lambe-botas de Filipe, batizado inclusive, por que ele
―compraria‖ a graça?

A melhor interpretação que se pode fazer, então, é que ele testou Pedro a mandar o Espírito
de porco Santo. Mas, Pedro arregou. Qualquer semelhança com o Desafio de Randi é mera
coincidência…

Nisso, Pedro denuncia Simão por querer comprar uma benção, e daí vem o termo ―Simonia‖. O
pecado de tentar comprar bênçãos espirituais. Mas, isso é coisa do passado. Vocês nunca
viram isso acontecer. (não é mesmo, Lutero?)

Agora a coisa começa a ficar interessante. Iniciou-se uma disputa de milagres. No canto
vermelho: Pedrão, a Pedra! No canto azul: Simão, o Grande! Dom King esfregando as mãos e
a galera animada com a pancadaria. O ser humano não muda…

Bem, a briga foi intensamente relatada no livro apócrifo Atos de Pedro, escrito no século II
E.C. Pelo livro, Simão e Pedro competem em disputas para saber quem faz mais milagres. E
em todas elas, adivinhem, Pedro é sempre o vencedor. Imagino se eu for na sede do Vasco da

163
Gama e na do Flamengo, perguntando qual é o clube de futebol mais querido, faço bem uma
noção do que me responderiam.

Numa dessas disputas, Simão diz que se o Messias pode curar, ele tb podia. E que ele seria
levado ao paraíso. Com isso, ele começa a levitar. Atos de Pedro 3:32

Pedro ergue as mãos e chama Jesus para que venha humilhar seu adversário. Simão Magus
cai e é zombado por todos. Muito conveniente né Pedrão?

Podemos intuir que os cristãos estavam bem incomodados com o sujeito, pela ampla anti-
propaganda com o cara. Os especialistas afirmam isso com base numa premissa simples: você
não combate aquilo que não lhe atrapalha. Simão devia ser uma pedra na sandália e tanto.

O mais inusitado, são as pregações de Simão Magus. Para ele há 2 encarnações de Deus.

Segundo Irineu, o primeiro estudioso do cristianismo, ele teria dito que era o ―Poder de Deus‖
(messias masculino), enquanto que o ―Pensamento de Deus‖ (messias feminino) é uma mulher
chamada Helena, encontrada numa casa de prostituição. Lembrou-se de alguém?

Claro, afinal isso representa a capacidade de arrependimento dos pecados e redenção. Nada
de novo sob o Sol. Entretanto, isso vai de encontro com a única expressão de Deus sobre a
Terra. Claro que os misóginos de plantão não aprovaram isso.

Os seguidores de Simão aumentam da Samária até Roma. Ele mantém seguidores até o século
IV E.C. na Síria, Egito e Roma. Imperador Romano Claudius ergueu uma estátua com a
inscrição: Para Simão, o deus sagrado.

Isso até Constantino chegar e fazer com que as igrejas de Simão começassem a desaparecer.

Simão Bar-Kohba

Em 132 E.C., O entra em cena o judeu Simão Bar-Kohba. Muitos achavam que ele ocupa
melhor o posto de Messias, já que ele também era descendente da família real de Davi, um
líder carismático. Ele fala contra Roma, mas ele efetivamente luta contra Roma.

A coisa toda começa quando o imperador Adriano constrói um templo para Júpiter no lugar do
grande templo de Jerusalém. Para os judeus isso foi uma blasfêmia e o estopim da guerra de
Bar-Kohba, que dá ares de guerrilha em cerca de 125. Os homens de Bar-Kohba se escondiam
em túneis onde armazenavam armas e provisões e atacavam os legionários repentinamente.
Típico do Comando Delta.

Bom, o Rambo da Palestina consegue expulsar temporariamente os Romanos de lá, as pessoas


passam a vê-lo com dons messiânicos. Simão passa a chamar-se Nasiy’ Yisra’el (Príncipe de
Israel). As moedas cunhadas na época auferiram a Bar-Kohba o título de salvador e redentor.
Afinal, o Mashiach seria um líder militar que libertaria Israel (conforme Isaías 2:4) e não
apenas um carpinteiro jóquei de jegue

164
Os rebeldes ocupam Jerusalém e algumas fortalezas espalhadas pelo território judaico. Depois
de muita luta, um enviado especial de Adriano, Júlio Severo, consegue dominar a revolta,
vendendo, em seguida, os rebeldes como escravos. É o ano 135 D.C.

Após isso, as legiões romanas se espalham por todo o mundo conhecido. Com isso, há uma
mescla das crenças dos soldados com as crenças de cada lugar pelo qual eles passam. Assim,
surge um deus cultuado pelos soldados: Mitra.

Segundo as lendas, Mitra nasceu de uma virgem em 25 de dezembro. Dividiu uma última
refeição antes de ser chamado ao paraíso e voltou à Terra como filho de Deus. Em cerca de
200 E.C., o mitraísmo começa a superar, em número de seguidores, o Cristianismo. Mesmo
porque, era muito popular entre os soldados romanos, bem como os oficiais. Escavações
acharam muitos tempos em honra do deus Mitra pelo Império Romano.

Os iniciados ao culto participam de uma refeição sacramental, composta de pão e vinho, para
invocar o sangue e o corpo sacrifical de Mitra e do touro que ele matou, conforme as lendas.
Talvez o problema principal do mitraísmo tenha sido por ser uma seita secreta, composta
apenas por homens.

Entretanto, na mesma época havia um culto a uma deusa-mãe, conhecida por Rainha dos
Céus (em latim, Regina Coelli), cuja imagem retratava uma mulher com um bebê-deus no
colo. Seu nome? Isis (mãe de Hórus). Um culto que Roma absorveu dos egípcios.

Ela era reverenciada em grandes procissões e os sacerdotes e sacerdotisas (diferente do


mitraísmo, era uma religião inclusiva a ambos os sexos) usavam roupas de linho branco,
simbolizando sua pureza.

O problema principal era que as devotas a Ísis dedicava certas épocas do ano em sua honra,
ou seja, elas guardavam-se em castidade e nada de sexo. Claro que os marmanjos não
gostaram nem um pouco.

A partir do ano 500 D.C., o culto em louvor a Ísis passa a ser banido, e os templos são
convertidos em igrejas que cultuam a Virgem Maria (a partir do Concílio de Éfeso, a
maternidade divina de Maria é doutrina constante e unânime na Igreja). E no ano 350 E.C.,
um escritor cristão relata a discussão entre duas pessoas. Uma delas era seguidora de João
Batista, e este diz: ―João é o Cristo e não Jesus‖ - Reconhecimentos de Clemente cap.1:60

Os seguidores de João Batista, no séc. 2, vão parar no norte do Iraque. São conhecidos como
Mandeus. Eles não aceitam Jesus, mas sim João Batista como Messias.

Assim, como podemos ver, há uma zona dos infernos na determinação de quem deve ser o
messias. Constantino, que de bobo não tinha nada, aproveitou e fez um milk-shake com o
compacto dos melhores momentos desses personagens e declarou Jesus Cristo como sendo
―Pop Star da Palestina‖. Ele adapta um monte de crendices, estórias e mitos e constrói o seu
próprio herói. Nada a ver com as profecias ditadas no Velho Testamento. Por isso, os judeus
ainda aguardam aquele que vai libertá-los (do que mesmo?).

O que as pessoas crêem? Pouco importa. A verdade é uma só. Os fatos acima descritos têm
mais embasamento histórico que mortos dançando Thriller pela cidade, pães aparecendo do
nada etc.

Outros fizeram milagres? Também nada pode ser provado. Não passam de lendas.

165
O Cristianismo? Mais uma delas.

3 - Revelada a origem da construção do mito de Jesus

Por Israel Knohl

Traduzido por: Charles Coffer Júnior

A primeira menção do ―Messias morto‖ chamou-se Mashiah ben Yosef (Messias Filho de José) é
do Talmud (Sukkah 52a). No meu livro ―O Messias Antes de Jesus‖ (University of California
Press, 2000), considero que a história desse Messias morto é baseada em um fato histórico.
Penso que está ligada à revolta judaica na Terra de Israel na sequência da morte do Rei
Herodes, em 4 a.C.

Esta insurreição judaica foi brutalmente reprimida pelos exércitos de Herodes e do imperador
romano Augusto, e os líderes da revolta messiânica foram mortos. Estes eventos definem a
tradição do Messias morto Filho de Joseph em movimento e abriu o caminho para a
emergência do conceito de ―messianismo catastrófico‖. Interpretações do texto bíblico
ajudaram a moldar a convicção de que a morte do messias era um elemento necessário e
indivisível de salvação. A minha conclusão, baseada em escritos apocalípticos datados deste
período, foi de que certos grupos acreditavam o Messias iria morrer, ser ressuscitada em três
dias, e subir ao céu (ver ―O Messias Antes de Jesus‖, 27-42).

Ada Yardeni e Binyamin Elitzur recentemente publicaram o texto de um fascinante texto que
eles chamam de ―Hazon Gabriel‖ ou o Apocalipse Gabriel (Cathedra magazine, vol. 123). Este
texto, gravado em pedra, veicula a visão apocalíptica do Arcanjo Gabriel. Yardeni e Elitzur
datam-no pelos seus recursos lingüísticos e as formas das letras para o final do primeiro século
a.C.

Nas linhas 16-17 do texto, Deus aborda Davi da seguinte forma: ―Avdi David bakesh min lifnei
Efraim‖ (‖O meu servo David, Efraim pergunta―). Na Bíblia, Efraim é o filho de Joseph. Este
prevê a criação de uma equivalência entre David e Efraim e os Talmudicos ―Mashiah ben David
‖ e ―Messias Filho de Joseph‖, e confirma a minha teoria de que o Messias Filho de Joseph já
era uma figura conhecida no final do primeiro século a.C.

Embora Yardeni e Elitzur ofereçam uma excelente leitura do texto, na minha opinião, uma das
mais importantes palavras não foi devidamente decifrado. Linha 80 começa com a frase
―Leshloshet Yamin‖ (‖Em três dias―), seguida por outra palavra que os editores não podiam ler.
Em seguida vem a frase ―Ani Gavriel‖ ( Eu, Gabriel‖). Creio que este ―ilegível‖ palavra é
realmente legível. É a palavra ―hayeh‖ (viva), e que o Arcanjo Gabriel está dando ordens a
alguém: ―Leshloshet Yamin hayeh‖ ( ―Em três dias, você deve viver―). Em outras palavras, em
três dias, você deve retornar à vida (compare ―bedamaiyikh ha‘ee‖ - traduzido como ―viver no
teu sangue‖ - em Ezekiel 16:6). A palavra ―haye‖ (viver) está escrito aqui com alef. Ortografia
semelhante aparece nos Rolos do Mar Morto, por exemplo, no rolo de Isaías, onde a palavra
―yakeh‖ (30:31) é escrito com um alef após o Yod.

Esta é seguida por dois traços de duas outras palavras. As letras não são fáceis de fazer, mas
a primeira palavra que parece começar com uma gimmel e vav. A próxima palavra não é clara.
A letra lamed é perfeitamente legível, e a letra antes dele parece ser um ayin. Creio que a
frase pode ser reconstruída da seguinte redação: ―Leshloshet Yamin hayeh, ani Gavriel, gozer
alekha‖ (‖Em três dias, volte à vida, eu, Gabriel, comando a você‖). O arcanjo está ordenando
a ressurreição dos mortos dentro de três dias. Para quem ele está falando?

166
O que é o “príncipe dos príncipes”?

A resposta aparece na linha seguinte, Linha 81: ―Sar hasarin‖ (‖príncipe dos Príncipes‖). A
frase seguinte: ―Leshloshet Yamin khayeh, ani Gavriel, gozer alekha, sar hasarin‖ (Em três
dias, eu, Gabriel, comando a você, príncipe dos príncipes. ―Quem é o‖ príncipe dos príncipes ―?
A principal fonte bíblica para a Revelação de Gabriel é a narrativa do Livro de Daniel (8:15-
26), em que o Arcanjo Gabriel revela-se a Daniel pela primeira vez. Gabriel descreve um ―rei
da feroz semblante‖. Este rei ―está destruindo os poderosos e o povo dos santos … ele deve
também se erguer contra o príncipe dos príncipes ―(Daniel 8:24-25).

O autor do Apocalipse Gabriel parece estar a interpretar a narrativa bíblica da seguinte forma:
Um rei mal se levanta e praticamente destrói o povo judeu, o ―povo dos santos.‖ Ele ainda
consegue superar e matar seu líder, o ―príncipe dos príncipes‖. Este é o líder que será
ressuscitado, em três dias.

Foi o príncipe dos príncipes uma figura histórica? Creio que ele era. A chave para identificar ele
está na frase ―arubot tzurim‖, o que vem depois da referência ao príncipe dos Príncipes. Na
Bíblia eo Talmud, a palavra ―aruba‖ significa uma abertura estreita ou fenda. ―Tzurim‖ são
rochas (a palavra aparece aqui em uma forma subvocalizada, sem a letra vav). ―Arubot
tzurim‖ seria, assim, uma fenda. A morte do príncipe dos príncipes é de alguma forma
associada com uma abertura rochosa.

O Apocalipse de Gabriel, como já dissemos, foi datado, com base em lingüística e ortografia,
no final do primeiro século A.C. (antes de Cristo). As circunstâncias que envolveram a
descoberta da inscrição são desconhecidas. Tudo que somos informados pelos editores é que
ele pode ter sido descoberto na Transjordânia. Isto nos leva a Transjordânia ainda no final do
primeiro século A.C. Não sabemos de nenhum líder judeu ou rei que foi morto na Antiguidade
e cuja morte tenha algum tipo de conexão a um desfiladeiro rochoso?

A revolta em 4 a.C. consistiu-se numa ânsia de liberdade. Os rebeldes tentaram vencer o jugo
da monarquia Herodiana, que gozava do apoio dos Romanos. A insurreição, que começou em
Jerusalém, e espalhada por todo o país, teve vários líderes. Um estudo de ambas as fontes
judaicas e romanas mostra que o mais destacado deles foi Simon, que operava a partir de
Transjordânia. Simon declarou-se rei, usava uma coroa, e foi percebido como rei pelos seus
seguidores, o que pendia sobre ele a esperança messiânica.

Esta é a forma como historiador do primeiro século judeu Josephus (Flávio Josefo) descreve a
morte de Simon em combate: ―O próprio Simon, esforçando-se para escapar de uma ravina
íngreme, foi interceptado pela Gratus [um comandante do exército de Herodes], que atingiu o
fugitivo de lado com um golpe no pescoço, que cortada a cabeça de seu corpo‖. Com a sua
referência a uma fenda rochosa e o príncipe dos príncipes, o texto parece estar aludindo à
morte de Simon, o líder rebelde que foi coroado rei, em um estreito desfiladeiro em
Transjordânia.

Carruagem para o céu

Mas o Gabriel de Apocalipse menciona também outras mortes. Na linha 57, encontramos a
frase ―barragem tvuhey yerushalayim‖ (‖o sangue dos mortos de Jerusalém‖). A linha 67 diz:
―Ei Baser al barragem zu hamerkava shelahen‖ ( ―Diga-lhe sobre o sangue. Esta é a sua
Merkava [celeste carruagem]―). A mensagem a ser transmitida é a de que o sangue das
pessoas que foram mortas tornar-se-á sua ―carruagem‖ para o céu.

167
Pairando no fundo, é claro, está a história de Elias da ascensão ao céu: ―Eis, parecia existir
uma carruagem de fogo, e cavalos de fogo … e Elias subiu ao céu em um redemoinho‖ (II Reis
2:11 ).

Simon, o príncipe dos príncipes, foi o líder messiânico de um grupo ativo na Transjordânia. O
Apocalipse de Gabriel aparece, portanto, ter sido escrito por seus seguidores, e reflete uma
tentativa de lidar com o fracasso da revolta e da morte do seu líder, lembrando os versículos
do Livro de Daniel que incorporam as palavras do arcanjo.

O ―rei da feroz semblante‖ é identificado como o imperador romano Augusto, cujo exército
brutalmente reprimia a revolta. Simon, o líder rebelde consagrado rei, é identificado como o
príncipe dos príncipes. O assassinato de Simon por partidários do rei do mal é interpretado
como um cumprimento da visão de Gabriel. Afinal de contas, Gabriel profetizou que o rei de
feroz semblante iria contra o príncipe dos príncipes. ―Mas ele deve ser quebrado sem mão
alguma―, o versículo continua. A implicação é que com a morte do líder messiânico, os seus
problemas estão para chegar ao fim: A queda do inimigo e salvação estão próximos.
―Leshloshet Yamin tayda ki-nishbar hara melifnay hatzedek‖ (‖Em três dias você vai saber que
o mal será derrotado pela justiça‖), lemos em linhas 19-21.

Se o Apocalipse Gabriel data para o final do primeiro século a.C., como já foi afirmado, em
seguida, durante este período, que foi próximo ao tempo do nascimento de Jesus, havia
pessoas que acreditavam que a morte do messias foi uma parte integrante do processo de
salvação. Tornou-se um artigo de fé que o líder messiânico morto seria ressuscitada no prazo
de três dias, e subir ao céu em uma carruagem.

O Apocalipse de Gabriel confirma assim a minha tese de que a crença em um salin e messias
ressuscitado existiam antes da atividade messiânica de Jesus. A publicação deste texto é
extremamente importante. Trata-se de uma descoberta que apela a uma reavaliação completa
de todos os anteriores estudos acadêmicos sobre o tema do messianismo, tanto judaico como
cristão.

Israel Knohl é Yehezkel Kaufmann professor de Estudos Bíblicos na Universidade Hebraica de


Jerusalém e um investigador sênior no Instituto Shalom Hartman.

Texto retirado do blog A CRUZ DE CLIO - As Raízes Históricas do Cristianismo em


debate

Traduzido por: Charles Coffer Júnior do original em

http://www.haaretz.com/hasen/spages/850657.html

4 - As mil faces de Jesus: O mau-caratismo religioso

Você sabe como Jesus é, certo? Cabelos levemente cacheados, barbudo, alto e com cara de
quem nasceu na Palestina, não é mesmo? Mas, aí somos obrigados a perguntar: Tem certeza?
De onde você tirou esta idéia? Você sabe como era a aparência do X-Man Palestino ou sabe
apenas a descrição que lhe disseram? Para ser sincero, eu acho que você deveria rever os seus
conceitos.

168
Tomemos a única fonte confiável (eu disse ―confiável‖ ?) da existência de Jesus: A Bíblia. Dê
uma procurada lá pela descrição do Jóquei de Jegue. Pode ir, eu espero. Achou? Hummmm,
procura de novo. E então? Não achou nada, certo? É exatamente isso que examinaremos, pois
vamos analisar de onde veio a representação do David Copperfield Bíblico e como podemos
descobrir fraudes documentais através disso. Siga-me, Watson, e veja como é elementar.

Para princípio de conversa, não há NENHUMA descrição física de Jesus no Novo Testamento.
Ainda assim, apareceram milhares de ícones, pinturas, moedas, estátuas, desenhos, rabiscos e
pichações de todo tipo ilustrando-o. Interessante, não é? Mais interessante ainda é saber que
boa parte dessas representações muitas vezes não concorda entre si.

A referência iconográfica direta a Jesus começa no século IV, aproximadamente. Daí em


diante, todas as demais são apenas cópias dos estilos anteriores. Estas cópias geraram mais
cópias (com alguma ―liberdade expressiva‖ por parte dos artistas) e assim sucessivamente.

Claro que ninguém é maluco (ou não deveria ser, pelo menos) de desenhar algo sem o menor
vestígio ou indicação. Pois, é. E as Ovelhinhas do Senhor bradarão alto, insistindo que se há
representações artísticas, é porque aconteceu uma dessas duas coisas (ou as duas
simultaneamente):

1) Deus os inspirou divinamente

2) Os artistas tiveram em mãos documentos descritivos sobre o X-Man Palestino.

Isso é evidência de muita coisa, não é? Afinal, Deus em sua omnipotência, omnisciência e
outros ―omni‖ é capaz de fazer com que todos enxerguem a verdade como ela é. Isso somado
aos documentos e relatos históricos pode-se construir uma imagem do sujeito que alegam ter
ressuscitado mortos e bancado o serviço de buffet durante uma festança, certo?

ERRADO!

Vamos detonar de vez aquela babaquice falaciosa que os cristãos insistem em jogar aos quatro
ventos. Eles estão sempre enchendo o saco com as citações de Flávio Josefo, Cornélio Tácito,
Publius Lentullus, Pôncio Pilatos etc.

O mau-caratismo é imenso e só perde para a burrice de repetirem, que nem papagaio, o que
uma determinada fonte (completamente falaciosa, ridícula e estúpida) traz, usando isso como
se fosse a verdade definitiva.

Aqui estudaremos as mais comuns citações sobre G-zuis, inclusive os textos de:

 Flávio Josefo
 Cornélio Tácito
 Públio Lêntulo
 Pôncio Pilatos
 Volume Archko entre outros.

Na página a seguir, veremos a principal fraude que alegam ser uma das mais irrefutáveis
provas que Jesus existiu: Flávio Josefo.

Flávio Josefo, o Cristão?

169
Um dos alvos preferidos dos religiosos, tentando provar seu mito, é fazer uso de um dos mais
renomados historiadores judeus que já existiu: Flávio Josefo. O problema reside justamente aí
e se olharmos atentamente, veremos grandes discrepâncias e incongruências no relato de
Josefo. Entretanto, convém saber primeiro quem foi Flávio Josefo, afinal de contas.

Yosef Ben-Matityahu nasceu aproximadamente em 37 E.C. e faleceu entre o ano 100 e 103 da
Era Comum. Todas as informações disponíveis sobre Flávio Josefo são oriundas de sua
autobiografia. De acordo com esta, ele teria nascido em Jerusalém, tendo recebido uma
educação sólida na Torá. Depois disso, juntou-se aos saduceus para continuar seus estudos,
assim como aos fariseus e os essênios, optando por aderir ao farisaísmo. No ano 64, seguiu
numa embaixada a Roma onde defenderia com êxito a causa de alguns sacerdotes hebreus
condenados pelo procônsul romano Félix.

Josefo sempre preferiu dissuadir os revoltosos judeus a não se rebelarem contra Roma. Por
causa disso, ele foi várias vezes chamado de traidor. Mesmo assim, os judeus continuaram sua
oposição, fazendo com que Vespasiano tomasse Jotápa na Galiléia na mão grande com toda a
sua tropa.

Ao se entregar Josefo prediz que Vespasiano iria se tornar imperador, que por sinal acaba
acontecendo. Isso faz com que Vespasiano liberte Josefo. Josefo assume o nome romano de
seu protetor Flávio Vespasiano e ganha de presente cidadania romana, uma pensão em Roma,
assim como o livre acesso à corte de Tito e de Domiciano. Nada mal, hein? Daí vem seu nome
romano, pelo qual é mais conhecido: Flavivs Iosefvs (aportuguesando: Flávio Josefo).

Devido à sua adesão aos romanos, até os dias de hoje Flávio Josefo é considerado traidor do
povo judeu, como foi dito. De minha parte, ele apenas seguiu um antigo provérbio chinês ―Se
não pode vencer o inimigo, una-se a ele‖. Não que eu esteja dizendo que Josefo viu algum
chinês pela frente, mas imagino que vocês tenham entendido o que eu falei.

Bem, Josefo escreveu um relato da Grande Revolta Judaica, dirigida à comunidade judaica da
Mesopotâmia, em aramaico. Mais tarde, ele escreveu (em grego) outra obra de vertente
histórica, que englobava o período que vai dos Macabeus até à queda de Jerusalém. Este livro,
a ―Guerra Judaica‖, foi publicado no ano 79 E.C. A maior parte do livro é diretamente inspirada
na sua própria vida e experiência militar e administativa.

As Antiguidades Judaicas – escritas aproximadamente em 94 E.C. e em grego – é a história


dos Judeus desde a criação do Gênesis até à irrupção da guerra da década de 60. Neste livro
encontra-se o famoso Testimonivm Flavianvm, uma das referências mais antigas à Jesus mas
evidentemente se mostra uma fraude, levando em conta o estilo de Josefo, e considerado uma
grossa interpolação posterior por grande parte dos acadêmicos.

A última obra dele é sua Autobiografia. Que nos revela o nome do adversário (Justo, filho de
Pistos, de Tiberíades), ao qual essa obra vem responder e as censuras que lhe faz Josefo. Essa
obra é cheia de lacunas, confusa e hipertrofiada. E ela traz sobre a vida de Josefo informações
preciosas, que não encontramos em nenhum outro historiador da antiguidade.

O Projeto Gutemberg dispõe das obras digitalizadas de Josefo, as quais você pode ter acesso
aqui.

Vamos nos concentrar nas ―Antiguidades Judaicas‖ (mais precisamente no livro XVIII, capítulo
2, seção 3), que diz:

170
Agora havia sobre este tempo Jesus, um homem sábio, se for legal chamá-lo um homem;
porque ele era um feitor de trabalhos maravilhosos, professor de tais homens que recebem a
verdade com prazer. Ele atraiu para si ambos, muitos judeus e muitos Gentios. Ele era o
Cristo. E quando Pilatos, à sugestão dos principais homens entre nós, o tinha condenado à
cruz, esses que o amaram primeiramente não o abandonaram; pois ele lhes apareceu vivo
novamente no terceiro dia, como os profetas divinos tinham predito estas e dez mil outras
coisas maravilhosas relativas a ele. E a tribo de cristãos, assim denominada por ele, não está
extinta neste dia.

Os grifos são meus e vocês podem ler a referida citação de Josefo no grego, basta acessar
aqui.

Interessante passagem. E o que tem de interessante, tem de falsa.

Ora, vejamos, Josefo (supostamente) fala com um tom de admiração e respeito. De um modo
passional, até. Esse estilo de narrativa não aparece em mais nenhum trecho das obras de
Josefo, considerado um homem meticuloso, culto e possuidor de escrita elaborada, precisa e
desapaixonada. No referido texto, fica evidenciado a reverência a uma entidade que ele
mesmo induz a pensar que possui um dom divino principalmente na frase ―se é que se pode se
chamar de homem‖.

Bom, todo mundo tem o direito de mudar de opinião e de fé. E Josefo não seria melhor nem
pior se o fizesse. Só que isso não ocorreu. Nenhum dos biógrafos dele inferiu que ele tenha se
convertido ao cristianismo, pelo contrário. Ele sempre foi um judeu fariseu e manteve esta
postura até os seus últimos dias. A frase ―Era o Cristo‖ é totalmente impensável para um judeu
fariseu como Josefo.

Pra princípio de conversa, ―Cristo‖ não foi usado por Josefo, mesmo tendo escrito em grego.
Sendo um profundo conhecedor da Tanakh, Josefo não poderia ter usado esta expressão pelo
simples fato de conhecer muito bem as previsões messiânicas ao ponto de saber que Jesus
não poderia ser considerado como o Messias, posto que não cumpriu nenhuma das previsões.
Josefo, sendo um judeu fariseu, jamais – JAMAIS! – cometeria uma atrocidade religiosa dessa,
posto que não há uma só falha nesse sentido em nenhum de seus escritos. Sua escrita é fluida
e centrada. Mas, no referido texto ele fala com o amor de um devoto cristão. E nem mesmo
Justo de Tiberíades o acusou disso.

E ainda tem o fato de Jesus, segundo a citação falsa atribuída a Josefo, era seguido por
gregos. Interessante, ainda mais levando em conta que os gregos só tiveram conhecimento
da existência dele após as pregações de Saulo de Tarso. Antes do misógino vindo de Tarso ir
lá encher o saco dos pobres coitados, ninguém até então tinha ouvido falar sobre ele. Curioso,
não?

Josefo foi capaz de saber que ocorreu um eclipse da Lua próximo à morte de Herodes Magno
(conforme descrito em ―Antiguidades Judaicas‖, mais precisamente no livro XVII 06:04), mas o
pessoal devia estar meio cegueta durante a crucificação e morte de Jesus, posto que não
conseguiram ver uma escuridão de três horas (!), um terremoto que fendeu pedras e rasgou o
véu do templo e de santos mortos ressuscitando, invadindo a cidade e dançando Thriller!

O melhor de tudo (ou pior, dependendo do ângulo que se veja) é que isso ocorreu na Páscoa.

Ninguém mais viu tais eventos. Só Mateus.

171
Há ainda o fato de dizer que quem amou o X-Man palestino não o abandonou. Pelo visto, o
autor daquele parágrafo fraudulento esqueceu-se da passagem que o apóstolo Pedro negou
Jesus 3 vezes. Fazer o quê? Ninguém é perfeito, não é mesmo?

Desse modo, aquele parágrafo ridículo e fora do contexto em que foi inserido (após este
trecho, o Josefo começa a falar sobre assunto bem diferente no qual se refere a castigos
militares impingidos ao povo de Jerusalém) só pode ser considerado como notoriamente falso!
Só tendo muita fé para acreditar que tal trecho realmente pertence a Josefo. E fé não passa de
uma crença cega, independente de validações.

Resumindo a história, a pseudocitação de Josefo nos remete a uma descrição bem definida de
Jesus.

Homem sábio, era o Cristo (não é uma descrição, propriamente dita, mas um título), era
seguido por gregos, ressuscitou e fez coisas maravilhosas.

Tomem nota disso, crianças, pois ainda temos muita coisa para estudarmos. Agora, crianças,
façam o favor de virar a página de seus cadernos, pois agora estudaremos Cornélio Tácito. E
nada de gracinhas a respeito do nome dele, por gentileza.

Cornélio Tácito era analfabeto?

Públio Caio Cornélio Tácito nasceu no ano 55 E.C. e morreu em 120 E.C. Foi historiador
romano, questor, pretor, cônsul e procônsul da Ásia, além de um grande orador. Ufa! O cara
foi tudo. Se dessem oportunidade, ele teria sido até mesmo imperador.

Tácito é considerado um dos maiores historiadores da Antiguidade. Suas obras principais


foram ―Anais‖ e ―Histórias‖, que tinham por tema, respectivamente, a história do Império
Romano no primeiro século, desde a chegada ao poder do imperador Tibério até à morte de
Nero e da morte de Nero à de Domiciano.

A obra de Tácito passou por altos e baixos. Considerando que o declínio da literatura latina no
final do século II causou certo ―esquecimento‖ a respeito de Tácito e sua obra, o autor acaba
sendo redescoberto apenas na Antiguidade Tardia, quando o grego Amiano Marcelino inspirou-
se nele para escrever uma história da sua própria época, no idioma latino.

No começo da Idade Média (lembram-se? A chamada Idade das Trevas), sua obra voltou a cair
no esquecimento, para só readquirir notoriedade durante a Renascença, que marcou o fim
dessa Era. Assim, em consequência destas idas e vindas, os textos maiores de Tácito
chegaram muito fragmentados, de forma tal que os ―Anais‖, tais como podemos lê-los hoje,
contém apenas a descrição de parte do reinado de Tibério – a descrição do reinado de Calígula
estando totalmente perdida – parte do de Cláudio, e a maior parte do de Nero – estando
também perdida a conclusão da obra. Quanto às ―Histórias‖, seu texto preservado contém
basicamente a narrativa da guerra civil do ano 69, que levou à ascensão do amiguinho de
Josefo, Vespasiano, ao trono imperial.

Não se pode precisar se o que restou é relato fidedigno, mediante o texto original de Tácito. E
não precisa ter carteirinha de cético para duvidar da autenticidade total dos relatos que
sobreviveram até os dias de hoje.

172
Nos ―Anais‖, há outra passagem curta que fala de ―Christus‖ como sendo o fundador de um
partido chamado ―os cristãos‖ – um grupo de pessoas ―que foram anatemizadas por seus
crimes‖. (Leia aqui). Estas palavras aparecem no relato de Tácito sobre o Incêndio de Roma. A
evidência para esta passagem não é muito mais forte que para as passagem de Josefo.

Não foi citado por qualquer escritor antes do décimo quinto século; e quando foi citado, havia
só uma cópia dos ―Anais‖ no mundo; e era suposto que aquela cópia tinha sido feita no oitavo
século – seiscentos anos depois da morte de Tácito! Os ―Anais‖ foram publicados entre 115 e
117 E.C., quase um século depois do tempo de Jesus – assim a passagem, mesmo que fosse
genuína, não provaria nada de nada sobre Jesus.

―Nero, sem armar grande ruído, submeteu a processos e a penas extraordinárias aos que o
vulgo chamava de cristãos, por causa do ódio que sentiam por suas atrapalhadas. O autor fora
Cristo, a quem, no reinado de Tibério, Pôncio Pilatos supliciara. Apenas reprimida essa
perniciosa superstição, fez novamente das suas, não só na Judéia, de onde proviera todo o
mal, senão na própria Roma, para onde de confluíram de todos os pontos os sectários, fazendo
coisas as mais audazes e vergonhosas. Pela confissão dos presos e pelo juízo popular, viu-se
tratar-se de incendiários professando um ódio mortal ao gênero humano‖.

Como podem observar, Tácito não afirma que houve um Jesus Milagreiro na Palestina. Ele fala
de um arrastão de seguidores de Cristo (esse ―Cristo‖ não é um nome próprio e sim um título).

Desse modo, nosso amigo Cornélio afirma a existência de cristãos, membros seguidores do
que ele chama literalmente de ―perniciosa superstição‖. Logo, mesmo que Tácito tenha se
referido ao Jóquei de Jegue, ele não acreditou que o talzinho era filho de deus nenhum.
Superstição é superstição, e não passa de algo semelhante ao culto a um trevo de quatro
folhas ou dar sete pulinhos sobre as ondas na virada do ano.

Sem falar que Tácito concluiu que eles não passaram de terroristas que odiavam Roma. Um
argumento bem semelhante ao que se fala dos Palestinos nos dias de hoje. Tanto a ―verdade‖
na qual os Palestinos se baseiam, quanto à ―verdade‖ dos arruaceiros descritos por Tácito não
são muito diferentes dos contos da carochinha.

Assim, o que Tácito falou sobre Jesus? Nada! Descrição? Nenhuma! Reconhecimento como
filho de Deus? Fala sério! Tácito não disse nada de conclusivo sobre a existência dele e ponto
final. E se querem aceitar o que o Cornélio disse, então temos que levar todo o trecho em
consideração. Inclusive a parte de ser única e simplesmente uma superstição.

Tendo em mente o que os escritos de Tácito falam (e do caráter duvidoso de seus escritos), só
podemos deixar isso de lado e passar para outro mito inventado pelos cristãos: Públio Lêntulo.

Públio Lêntulo: Fato ou ficção?

É atribuído a Publivs Lentvllvs (aportuguesando: Públio Lêntulo) uma carta dirigida ao Senado
Romano, em que é feita uma descrição concisa de Jesus com alguns detalhes do X-Man
Palestino.

Alega-se, também, que este manuscrito foi copiado algumas vezes e uma dessas cópias está
presente na biblioteca de tal de Lord Kelly. Mas, quem diabos é este Lord Kelly? O máximo que
se acha na internet é sobre um compositor do século XIX, mas isso é pouco pra atestar que
este compositor é o dono da tal biblioteca, e possuidor da referida cópia.

173
E mesmo que fosse, o que isso prova? Para qualquer um que possua algo mais que meio
neurônio, não prova absolutamente nada! Eu tenho livros de ficção em casa. Daqui a 200
anos, poder-se-á considerá-los como livros históricos? Só se possuir muita desonestidade
intelectual.

Antes de prosseguirmos, vejamos o que essa carta diz:

Apareceu nestes nossos dias um homem, da nação Judia, de grande virtude, chamado
Yeshua, que ainda vive entre nós, que pelos Gentios é aceito como um profeta de verdade,
mas os seus próprios discípulos chamam-lhe o Filho de Deus – Ele ressuscita o morto e cura
toda a sorte de doenças. Um homem de estatura um pouco alta, e gracioso, com semblante
muito reverente, e os que o vêem podem amá-lo e temê-lo; seu cabelo é castanho, cheio, liso
até as orelhas, ondulado até os ombros onde é mais claro. No meio da cabeça os cabelos são
divididos, conforme o costume dos Nazarenos. A testa é lisa e delicada; a face sem manchas
ou rugas, e avermelhada; o nariz e a boca não podem ser repreendidos; a barba é espessa, da
cor dos cabelos, não muito longa, mas bifurcada; a aparência é inocente e madura; seus olhos
são acinzentados, claros, e espertos – reprovando a hipocrisia, ele é terrível; admoestando, é
cortês e justo; conversando é agradável, com seriedade. Não se pode lembrar de alguém tê-lo
visto rir, mas muitos o viram lamentar. A proporção do corpo é mais que excelente; suas mãos
e braços são delicados ao ver. Falando, é muito temperado, modesto, e sábio. Um homem,
pela sua beleza singular, ultrapassa os filhos dos homens.

Olha, sei não. Se isso é a descrição de um judeu do século I, esse Públio Lêntulo devia ter
grandes problemas de visão. Ou então, os secretários dele – que levaram a informação até
seus ouvidos – eram bastante incompetentes, pois seguiram o cara errado.

Claro que há a terceira hipótese: Fraude!

Pra princípio de conversa, não havia governadores na Judéia na referida época. Haviam
Procuradores (também chamados de Procônsules ou, como é mais aceito hoje, Prefeitos).
Em segundo lugar nunca houve ninguém chamado Públio Lêntulo que tenha governado a
província palestina onde o Jóquei de Jegue supostamente tenha passado.

E para detonar de vez esta fonte mais falsa que nota de três reais, aqui vai o tiro de
misericórdia:

Publius Lentulus é um personagem ficcional, que dizem ter sido governador da Judéia antes de
Pôncio Pilatos(…)

Dobschutz (―Christusbilder‖, Leipzig, 1899) enumera os manuscritos e dá um ―aparato crítico‖.


A carta foi primeiramente impressa na ―Vida de Cristo‖ por Ludolph, o Cartusiano (Colônia,
1474), e na ―Introdução para os trabalhos de Santo Anselmo‖ (Nuremberg, 1491). Mas este
não é nem o trabalho de Santo Anselmo nem o de Ludolph. De acordo com o manuscrito de
Jena, certo Giacomo Colonna achou a carta em 1421 em um documento romano antigo
enviado de Constantinopla para Roma. Deve ser de origem grega, e traduzida para o latim
durante o décimo terceiro ou décimo quarto século, entretanto recebeu sua forma presente às
mãos dos humanistas do décimo quinto ou décimo sexto século. A descrição concorda com o
quadro de Abgar denominado de nosso Deus; também concorda com o retrato de Jesus Cristo
puxado por Niceforo, São João Damasceno, e o Livro de Pintores (de Mt. Athos). Munter
(―Morra und de Sinnbilder que Kunstvorstellungen der alten Batizam‖, Altona 1825, pág. 9)
acredita ele pode localizar a carta até o tempo de Diocleciano; mas isto geralmente não é

174
admitido. A carta de Lêntulo é certamente apócrifa: nunca houve um Governador de
Jerusalém; nenhum Procurador de Judéia é conhecido para ter sido chamado Lêntulo, um
governador romano não teria endereçado o Senado, mas ao Imperador, um escritor romano
não teria empregado as expressões, ―profeta de verdade‖, ―filhos de homens‖ ou ―Jesus
Cristo‖. Os dois anteriores são expressões pertencentes ao hebraico, o terceiro é extraído do
Novo Testamento. Então, a carta nos mostra uma descrição de nosso Deus como a devoção
Cristã o concebeu.

Imagino que as Ovelhinhas do Senhor estão imaginando que este texto veio de algum site
ateísta e não merece crédito. Para infelicidade deles, tal citação é do site católico New
Advent. E se nem a Enciclopédia Católica leva em consideração esta bobagem (afinal, ela teria
grandes motivos para atestar sua autenticidade), por que eu a levaria em consideração?

Não, aquilo não existiu e é mais uma fraude de cristãos pessimamente intencionados.

Entretanto, eu gosto de me divertir. Um fraco meu, é verdade. Por isso, vamos examinar
cuidadosamente o texto.

Apareceu nestes nossos dias um homem, da nação Judia, de grande virtude, chamado
Yeshua, que ainda vive entre nós (…)

Como assim ―ainda vive entre nós‖ ? Jay Cee só apareceu lá pelo ano 30 E.C. Pôncio Pilatos foi
Procurador da província romana da Judéia entre os anos 26 e 36. Tem algo errado aí, já que
entre os 12 e os 30 anos de vida, os Evangelhos não dizem nada a respeito. Se ele tivesse
feito tudo o que consta na carta fake de Públio, os Evangelistas mencionariam.

Ademais, o procurador que mandava no pedaço antes de Pôncio Pilatos foi Valerius Gratus,
cujo governo foi do ano 15 ao ano 26 da Era Comum.

Até pode-se encontrar moedas do tempo dele. Veja aqui.

Outra coisa: Yeshua? Que Yeshua? Desde quando existe esta palavra em latim? No máximo
seria Iesu, cuja transliteração para o hebraico seria Yeshu. E uma coisa é uma coisa, outra
coisa é outra coisa. É forçar muito a barra querer que as duas palavras fossem iguais. E
mesmo que sejam não importa. Um romano não iria usar uma palavra em hebraico numa
carta oficial.

(…) que pelos Gentios é aceito como um profeta de verdade, mas os seus próprios discípulos
chamam-lhe o Filho de Deus – Ele ressuscita o morto e cura toda a sorte de doenças.

Gentios? Gentios era a expressão que os judeus usavam para designar os gregos. Só que não
há evidência disso nos Evangelhos. Os gregos só conheceram (?). Jesus através das pregações
de Saulo de Tarso. Por isso, Saulo é chamado ―Apóstolo dos Gentios‖. Nos Evangelhos fica
claro que Jesus veio para o povo judeu. E mesmo que não viesse, isso só tira dele a condição
de Messias, já que as previsões messiânicas inferem num enviado de Deus para libertar o povo
judeu e levá-lo de volta para Israel.

E como ele ressuscitou mortos (prestem atenção a isso) e curou doenças num período anterior
ao descrito nos Evangelhos e sequer há menção disso neles? Estranho. Muito estranho,
mesmo.

175
Um homem de estatura um pouco alta, e gracioso, com semblante muito reverente, e os que o
veem podem amá-lo e temê-lo; seu cabelo é castanho, cheio, liso até as orelhas, ondulado até
os ombros onde é mais claro. No meio da cabeça os cabelos são divididos, conforme o costume
dos Nazarenos.

Olha, um judeu do século I com essa descrição? Só se for porque Maria fora incubada com um
Espermatozóide Santo muito especial (ou andou pulando a cerca descaradamente mesmo).
Qualquer um que estude um pouquinho sabe que isso não se encaixa com o tipo étnico de
qualquer tribo semita da região na referida época. E é muito engraçado ele dizer que Jay Cee
era um nazareno, inferindo que ele fazia parte da seita dos nazireus.

De início, ele não poderia ser dessa seita, pois ela impede que se chegue próximo a pessoas
mortas. E como ele ressuscitou as pessoas? Por telegrama? E-mail? Ou aparecia na TV e dizia
―Liegue Djá!‖ ?

O voto de nazireu é descrito em Números, capítulo 9.

2. Quando um homem ou uma mulher fizer o voto de nazireu, separando-se para se consagrar
ao Senhor,

3. Abster-se-á de vinho e de bebida inebriante: não beberá vinagre de vinho, nem vinagre de
outra bebida inebriante; não beberá suco de uva, não comerá nem uvas frescas, nem uvas
secas.

4. Durante todo o tempo de seu nazireato não comerá produto algum da vinha, desde as
sementes até as cascas de uva.

5. Durante todo o tempo de seu voto de nazireato, a navalha não passará pela sua cabeça, até
que se completem os dias, em que vive separado em honra do Senhor. Será santo, e deixará
crescer livremente os cabelos de sua cabeça.

6. Durante todo o tempo em que ele viver separado para o Senhor, não tocará em nenhum
cadáver:

7. Nem mesmo por seu pai, sua mãe, seu irmão ou sua irmã, que tiverem morrido, se
contaminará, porque leva sobre sua cabeça o sinal de sua consagração ao seu Deus.

8. Durante todo o tempo de seu nazireato ele é consagrado ao Senhor.

E não me venham com história que ele ressuscitou à distância. O fato dele ter ressuscitado
Lázaro, por exemplo, não faz com que Javé tenha esquecido que Lázaro fora um defunto
antes. Nada no texto canônico faz esta exceção.

Examinando Mateus, o que encontramos?

Mateus 2:23 – E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora
dito por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno.

Que profetas? Não há NENHUMA previsão a respeito!

176
Tal profecia não é encontrada em nenhum lugar nas escrituras. E se tomarmos o texto em
grego, o que nos aparece?

θαὶ ἐιζὼλ θαηῴθεζελ εἰς πόλιν λεγομένην Ναζαρέη, ὅπφς πιερφζῇ ηὸ ῥεζὲλ δηὰ ηῶλ
προθεηῶλ ὅηη Ναδφραῖος θιεζήζεηαη.

A parte destacada ―eis pólis legomenem Nazaret‖ significa ―na cidade chamada Nazaré‖. Só
isso e nada mais. Nada a ver com nazireato.

Nazireu não tem nada a ver com Nazaré, já que é um voto em honra ao Senhor dos Anéis
Bíblico. Não se refere a ―rebento‖ como alguns alegam também. A passagem de Mateus se
refere a Nazaré e fim de papo. Mas, o fake Lêntulo disse que o Jóquei de Jegue era um
nazareno.

Para finalizar o “besteirol Lentuliano”

A testa é lisa e delicada; a face sem manchas ou rugas, e avermelhada; o nariz e a boca não
podem ser repreendidos; a barba é espessa, da cor dos cabelos, não muito longa, mas
bifurcada; a aparência é inocente e madura; seus olhos são acinzentados, claros, e espertos.

Na boa: se isso não é uma descrição ocidental (germânica até), eu não sei o que é. Olhos
claros e cinzas? Face delicada? Ora, façam-me o favor… Nem com uma grande fé dá pra
acreditar nisso. A menos que digam: ―Sim, Maria era uma devassa, colocou um par de chifres
em José e veio com essa que era filho de Deus‖. Afinal de contas, no Norte e Nordeste do
Brasil é comum o folclore do Boto Tarado, que vem à terra para dar uns pegas nas garotas e
as deixarem grávidas.

Fim de Lêntulo. Fraude demonstrada e devidamente aniquilada. Tá na hora de partirmos pro


próximo alvo: Pôncio Pilatos.

Pôncio Pilatos, o bonzinho

Pontivs Pilatvs (aportuguesadamente: Pôncio Pilatos) foi Procurador da província romana da


Judéia entre os anos 26 e 36 da Era Comum. Segundo o mito neotestamentário, ele foi o juiz
que, após ter lavado as mãos, condenou Jesus a ser pregado na cruz, mesmo sem ter visto
culpa nenhuma no Grão Cavaleiro do Burrico.

Detalhes biográficos de Pilatos não são conhecidos, e o que ele fez antes de ser Procurador da
Judéia também é desconhecido. Eusébio de Cesareia, em sua obra ―Historia Eclesiástica‖ (obra
que conta os primeiros anos da Cristandade), afirma que Pilatos caiu em desgraça junto a
Tibério e cometeu suicídio por volta do ano 37 E.C. Mas, há poucas informações a respeito.

Religiosos costumam usar como ―evidência‖ que Jay Cee tenha existido dada a uma suposta
carta de Pilatos enviada a Tibério, alegando-se que existe um reimpresso descrevendo a
aparência física do Jóquei de Jegue e que as cópias estão na Biblioteca do Congresso dos EU.A.
As alegações sugerem que tal carta tenha sido escrita nos dias que antecederam a execução
de Jesus.

Será mesmo? Antes de qualquer coisa, vamos examinar esta carta.

PARA TIBÉRIO CÉSAR:

177
Um jovem homem apareceu na Galileia que prega com humilde unção, uma nova lei no nome
do Deus que o teria enviado. No princípio estava temendo que seu desígnio fosse incitar as
pessoas contra os romanos, mas meus temores foram logo dispersados. Jesus de Nazaré
falava mais como um amigo dos romanos do que dos judeus. Um dia observava no meio de
um grupo um homem jovem que estava encostado numa árvore, para onde calmamente se
dirigia a multidão. Me falaram que era Jesus. Este eu pude facilmente ter identificado tão
grande era a diferença entre ele e os que estavam lhe escutando. Os seus cabelos e barba
de cor dourada davam a sua aparência um aspecto celestial. Ele aparentava
aproximadamente 30 anos de idade. Nunca havia visto um semblante mais doce ou mais
sereno. Que contraste entre ele e seus portadores com as barbas pretas e cútis morenas!
Pouco disposto a lhe interromper com a minha presença, continuei meu passeio mas fiz sinal
ao meu secretário para se juntar ao grupo e escutar. Depois, meu secretário informou nunca
ter visto nos trabalhos de todos os filósofos qualquer coisa comparada aos ensinos de Jesus.
Ele me contou que Jesus não era nem sedicioso nem rebelde, assim nós lhe estendemos a
nossa proteção. Ele era livre para agir, falar, ajuntar e enviar as pessoas. Esta liberdade
ilimitada irritou os judeus, não o pobre mas o rico e poderoso.

Depois, escrevi a Jesus lhe pedindo uma entrevista no Praetorium. Ele veio. Quando o
Nazareno apareceu eu estava em meu passeio matutino e ao deparar com ele meus pés
pareciam estar presos com uma mão de ferro no pavimento de mármore e tremi em cada
membro como um réu culpado, entretanto ele estava tranquilo. Durante algum tempo
permaneci admirando este homem extraordinário. Não havia nada nele que fosse rejeitável,
nem no seu caráter, contudo eu sentia temor na sua presença. Eu lhe falei que havia uma
simplicidade magnética sobre si e que a sua personalidade o elevava bem acima dos filósofos e
professores dos seus dias.

Agora, ó nobre soberano, estes são os fatos relativos a Jesus de Nazaré e eu levei tempo
para lhe escrever em detalhes estes assuntos. Eu digo que tal homem que podia converter
água em vinho, transformar morte em vida, doença em saúde; tranquilizar os mares
tempestuosos, não é culpado de qualquer ofensa criminal e como outros têm dito, nós temos
que concordar – verdadeiramente este é o filho de Deus.

Seu criado mais obediente, Pôncio Pilatos

Eu, sinceramente, estou em dúvida sobre qual carta é a mais estúpida: a do Lêntulo ou do
Pilatos.

O estilo amável e gentil, digno de um verdadeiro cristão, que ama Jesus verdadeiramente, e o
tem no lado esquerdo do peito, perto do coração, não combina muito com o camarada
arrogante, metido e prepotente como Pilatos é descrito em algumas obras. É de se estranhar
este modo ―Paz e Amor‖ dele.

Mas, vamos examinar as partes grifadas por mim.

Um jovem homem apareceu na Galileia

O besteirol de ―jovem‖ de novo? Desde quando um sujeito com 30 anos na cara é jovem? Nem
perderei meu tempo com isso. Ah, vamos para o próximo, ainda mais naquele tempo em que a
maioria das pessoas mal chegava aos 30 anos de idade.

Jesus de Nazaré falava mais como um amigo dos romanos do que dos judeus

178
Aqui temos uma contradição. Os religiosos querem usar a carta de Lêntulo, na qual fala de um
Jesus Nazareno (da seita dos nazireus). Aqui, Pilatos fala que Jesus era da cidade de Nazaré.
Qual dos dois está certo?

NENHUM DELES!

Eu já demonstrei que Jay Cee não poderia ser nazireu (ou nazareno). E ele não pode ser de
Nazaré, pois isso vai de encontro aos evangelhos. Não é dito que ele nasceu em Nazaré. E
alegar que ele era conhecido assim porque passou férias lá, depois de ter fugido pro Egito, não
convence muito. Alguém aí faz ideia da distância? Pois, é. O uso de tais cartas contradiz os
Evangelhos. Ou ele era nazareno, ou nasceu em Nazaré ou nenhum dos dois (o que é mais
provável).

Ademais, dizer que Jesus era um amigo dos romanos e ia de encontro aos judeus? Então,
temos um grande problema, já que o Messias não viria para romano nenhum. Mas, a
pseudoargumentação religiosa dirá que ele veio para os verdadeiros e puros de coração. Pura
extrapolação! Em nenhuma parte é dita que ele veio pra ser amigo dos romanos e fim!

Os seus cabelos e barba de cor dourada davam a sua aparência um aspecto celestial.

Essa é pra rir! Um palestino do século I loiro? Aspecto celestial? De repente, Júpiter apareceu
para Pilatos e disse que era Jesus só pra tirar onda com a cara dele.

Para terminar, deve-se mencionar a frase final de Pilatos: ―verdadeiramente este é o filho de
Deus‖.

Os imperadores romanos sempre se puseram como sendo enviados divinos. Eles se


consideravam verdadeiros deuses, com direito a templos, oferendas e tudo o mais que todo
Deus que se preza tem.

Desse modo, escrever para um César, dizendo que um determinado camarada era filho de
Deus era, no mínimo, uma burrice sem tamanho, já que ninguém seria tonto o suficiente de
despertar a ira de um Imperador, ainda mais quando você está gozando de um posto
privilegiado.

Se bem, que perder o posto seria o de menos. O suplício e execução por causa de uma afronta
a um imperador romano seria algo muito mais preocupante. E de idiota, Pilatos não tinha
nada.

Mais um mito detonado. Hora de vermos o Volume Archko.

O Volume Archko: WTF ?

Caso não saibam, o chamado Volume Archko é tão somente uma publicação de 1887, escrito
por um… reverendo cristão.

O reverendo W. D. Mahan alega que os textos desse volume se baseiam nos registros oficiais
do julgamento do Jóquei de Jegue, e que tais documentos estão guardados nos Arquivos
Secretos do Vaticano.

179
O problema com os arquivos secretos reside no seu próprio nome: São secretos, ora bolas!
Não estão disponíveis para qualquer um chegar lá e ficar fuçando à vontade.

Assim, como o ―reverendíssimo‖ reverendo Mahan conseguiu copiar os tais documentos? Indo
falar pessoalmente com o Papa?

Este Volume não é reconhecido por muitos religiosos. O site Bibleprobe.com faz uma ressalva
com relação a este pseudodocumento:

Keep in mind - these are:

Non-canon documents

Christians should keep in mind that only Holy Scripture is deemed to be inspired by God.

http://bibleprobe.com/archko.htm

Se este site (um site religioso e que defende a vertente cristã) diz para que os cristãos só
considerem textos bíblicos, inferindo que este documento não é confiável, por que alguns
religiosos insistem em vir com esta besteira?

O acadêmico Edgar J. Goodspeed escreveu um livro de nome Modern Apocrypha, Famous


“Biblical” Hoaxes (Apócrifos Modernos: Famosos Boatos ―Bíblicos‖). Nesta obra, Goodspeed
ataca o besteirol de Mahan.

Sugiro uma leitura da obra de Goodspeed Strange New Gospels.

Don Stewart, do site Blueletterbible.org responde sobre este mesmo Volume Archko e deixa
claro que se trata de um boato.

O Volume Archko

Um dos mais famosos boatos escritos é o ―Volume Archko‖. O trabalho é também conhecido
como ―Relatório de Pilatos‖ ou ―A Biblioteca Archko‖. O conteúdo deste trabalho é uma alegada
transcrição do julgamento e morte de Jesus, feito por Pôncio Pilatos ao Imperador Tibério. A
existência deste trabalho pode ser rastreada até certo reverendo W. D. Mahan de Boonville,
Missouri. Em 1879 ele publicou um panfleto de 32 páginas entitulado, ―Uma Correta
Transcrição da Côrte de Pilatos‖.

http://www.blueletterbible.org/faq/nbi/1224.html

O site ainda completa:

Estas entrevistas [de José e Maria feita por Gamaliel, bem como de alguns pastores
que supostamente viram o nascimento de Jesus] estão cheias de erros históricos.
Por exemplo, ele [Mahan] dá um número de referências ao livro de Josefo, Gerra
Judaica, que simplesmente não existem. Somado a isso, existe uma falsa passagem
nas Antigüidades Judaicas (também de Josefo) que se refere a Jesus em mais de 50
lugares. A entrevista diz que Tácito escreveu a biografia de Agricola, seu sogro, no
ano de 56 E.C. Isto é impossível, já que Tácito nasceu no ano 55 E.C. Ademais, não

180
existe nenhuma biografia de Agricola até o século XIX. (mesmo link acima)

Obviamente, eu não me furtaria de esmiuçar os detalhes deste pseudodocumento com relação


à aparência física do X-Man da Palestina, pois é disso que este artigo trata.

Eu lhe pedi que descrevesse esta pessoa para mim, de forma que pudesse reconhece-lo caso o
encontrasse. Ele disse: ‗Se você o encontrar [Yeshua] você o reconhecerá. Enquanto ele for
nada mais que um homem, há algo sobre ele que o distingue de qualquer outro homem. Ele é
a ―cara da sua mãe‖, só não tem a face lisa e redonda. O seu cabelo é um pouco mais dourado
que o seu, entretanto é mais queimado de sol do que qualquer outra coisa. Ele é alto, e os
ombros são um pouco inclinados; o semblante é magro e de uma aparência morena, por causa
da exposição ao sol. Os olhos são grandes e suavemente azuis, e bastante lerdos e
concentrados….‘. Este judeu [Nazareno] está convencido ser o messias do mundo. […] esta é a
mesma pessoa que nasceu da virgem em Belém há uns vinte e seis anos atrás…

O que diabos o sujeito quis dizer com ―a cara de sua mãe‖? Bom, ele diz em seguida que não
tem a face lisa e redonda. Mas, o que a carta fake de Pilatos disse? Não falou nada de rugas.

Este besteirol Archko é tão ridiculamente falso que insiste em dizer que o Jóquei de Jegue
tinha cabelos dourados (mas queimados pelo sol), tinha pele morena porque andou pegando
um bronze e tinha olhos AZUIS!!

Diz que ele era da seita dos nazireus e que nasceu em Belém. Isso tudo já foi rebatido antes.
Então, não preciso mais falar a respeito.

E ainda diz que ele nasceu há 26 anos! Muito curioso, já que ele aparece nos Evangelhos tendo
30 anos. Será que examinaram a carteira de identidade dele? É cada um que aparece…

Ainda há outras pseudo-referências a Jay Cee. Mas, isso fica pra próxima página.

Outras fontes: Será que Jesus aparecerá?

Especialistas concordam que que Fílon de Alexandria (também chamado de Philo Judaeus, ou
Filo o Judeu) foi um grande estudioso da religiosidade do seu tempo, sendo contemporâneo de
Flávio Josefo. Ele nasceu no ano 20 A.E.C. e faleceu em cerca de 50 E.C.).

Através dos seus relatos (veja aqui) sabemos que ele tinha conhecimento sobre o que se
passava na Galiléia.

Ele relatou sobre a Jerusalém da sua época várias vezes, os essênios e o governo cruel de
Pilatos. Lembra-se de Pilatos? Aquele cara ―emocionado‖ com a presença de Jesus. De acordo
com Fílon, ele não era tão bonzinho assim.

Pode-se dizer que Fílon era um fofoqueiro, mas é muito curioso que ele não menciona nada do
que ocorreu com o Jóquei de Jegue. Amnésia? Talvez. Mas, por que deveríamos esperar que
ele escrevesse sobre Jesus? Ora, bolas! Simplesmente porque, segundo os evangelhos, ele foi
a pessoa mais extraordinária que já existiu! Engraçado, não?

181
Já nosso amigo Justo Tiberíades escreveu até Agripa II (c. 50 E.C). É bem conhecido que Justo
era o rival de Flávio Josefo. Suas obras não sobreviveram, pois tinham sido destruídas; e por
que destruiriam suas obras? Tais obras deveriam ser bem incômodas.Contudo, através de
Fotius (leia aqui), patriarca de Constantinopla, sabe-se que Justus não fez a mínima menção a
Jesus. Opa! Assim, por que os mais prolixos escritores judeus que não deram bola para a
maravilhosa sabedoria, os milagres e os prodígios do famosíssimo X-Man Palestino? Era para
apresentarem relatos que demonstrassem o que foi dito nos evangelhos. Por que será?

Plínio, o Jovem, nos traz o seguinte relato:

―…os cristãos estavam habituados a se reunir em dia determinado, antes do nascer do sol, e
cantar um cântico a Cristo, que eles tinham como Deus‖.

(Epístolas, I.X 96)

Se isso não é a descrição de uma adoração pagã, o que mais seria? De qualquer forma, o que
isso prova? Que havia pessoas que entoavam cânticos a um tal de Cristo. Poderiam estar
rezando pra Shiva ou até mesmo arriando um despacho na encruzilhada. Se isso é prova que
Jesus existiu, então todo deus que receber uma veneração qualquer também existe.

Mas, Deus não é um só?

Suetônio, outro historiador romano, no ano 120 da Era Comum, referindo-se ao reinado do
imperador romano Cláudio (Vita Claudii, XXV), afirma que este ―expulsou de Roma os judeus,
que, sob o impulso de Chrestus (Chrestus e não Cristo. Uma coisa é uma coisa. outra coisa
é…), se haviam tornado causa freqüente de tumultos‖.

Iudaeos impulsore Chresto assidue tumultuantis Roma expulit. Germanorum legatis in


orchestra sedere permisit, simplicitate eorum et fiducia commotus, quod in popularia deducti,
cum animadvertissent Parthos et Armenios sedentis in senatu, ad eadem loca sponte
transierant, nihilo deteriorem virtutem aut condicionem suam.

Leia aqui.

O mau-caratismo religioso é tão grande, que este trecho foi usado em Atos dos Apóstolos
18:2, e modelaram da seguinte forma:

Encontrou ali um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, e sua mulher Priscila. Eles pouco
antes haviam chegado da Itália, por Cláudio ter decretado que todos os judeus saíssem de
Roma. Paulo uniu-se a eles.

Notem que ele não disse porque foram expulsos. Talvez porque este não poderiam encaixar
Jesus ali, posto que nenhum evangelho ao menos sugere que ele tinha ido a Roma.

Quem é esse Crestus então?

182
Tudo isso é muito curioso. Ainda tem muito mais! Muitos escritores do século I não escreveram
nada, nadinha, neca de pitibiriba sobre o Jóquei de Jegue. Entre eles, vamos citar:

 Apiano
 Apiano de Alexandria
 Apolônio
 Arriano
 Aulo Gélio
 Columella
 Dâmis
 Díon Crisóstomo
 Díon Pruseus
 Eptectus
 Favorino
 Fedro
 Filon de Alexandria
 Flávio Josefo
 Flegon
 Floro Lúcio
 Hermógenes Sílio Itálico
 Justus de Tiberíades
 Juvenal
 Lísias
 Lucanus
 Luciano
 Marcial
 Paterculus
 Pausânias
 Pérsio
 Petrônio
 Plínio, o Moço
 Plínio, o Velho
 Plutarco
 Pompônio Mela
 Ptolomeu
 Quintiliano
 Quinto Cúrcio
 Statius
 Suetônio
 Tácito
 Teão de Smyrna
 Valério Flaco
 Valério Máximo

Dessa lista aí, excluindo os documentos adulterados, forjados e intencionadamente mal


interpretadas (conforme tenho analisado durante este artigo), não há uma fonte confiável que
ateste a veracidade da existência de um Carpinteiro Mágico que foi aclamado por todos os
doutores, considerado o mais sábio, aquele que fez inúmeros milagres, ressuscitou mortos etc.

183
Na próxima e última página, veremos muitas imagens iconográficas. Algumas de Jay Cee,
outras não. Você não desistirá aqui, não é? Vamos, lá, Watson.

Representações iconográficas

A tabela abaixo mostra várias representações iconográficas. E se você não sabe o que é
iconografia, veio ao lugar certo. Pois nosso blog é altamente informativo e não apresentamos
―verdades‖ porque é assim e pronto! Isso deixamos as religiões fazerem.

Segundo Erwin Panofsky, a iconografia é um ramo da história da arte, cujo objeto de estudo é
o tema e significado das obras de arte em contraposição a sua forma. Assim, as iconografias
de Jesus mostram o significado de cada imagem, escultura, desenho, pichação etc.

Bem, deixando o lero-lero de lado, vamos às imagens. Para vê-las em tamanho maior, basta
clicar na miniatura.

Este baixo-relevo (chamado Alexamanos Graffito) data do ano 200 E.C. ou


anterior a isso. O desenho mostra alguém com cabeça de asno crucificado. O
texto em grego significa: ”Alexamenos adora o seu Deus”.

Desenho da imagem acima para facilitar a visualização.

Jesus sendo representado como o deus Apolo. Aprox. 350 E.C.

Jesus sendo representado como o bom pastor. Aprox. 450 E.C.

Jesus novamente sendo representado como o bom pastor. Século IV.

Jesus sendo representado como Orfeu (note a lira). Aprox. 450 E.C.

Jesus ensinando a Pedro e Paulo. Aprox. 360 E.C.

Jesus como guerreiro. Século V.

Mosaico de Jesus. Século IV.

Jesus Pantocrator (palavra de origem grega que significa etimologicamente


“todo-poderoso” ou “onipotente”). Aprox. 1090 E.C.

Jesus como visto pelos turcos. Imagem extraída de um texto islâmico.S/ data.

Jesus em uma representação dos mórmons. 1992 E.C.

184
Mais representações iconográficas poderão ser acessadas no site:
http://www.religionfacts.com/jesus/image_gallery.htm

Muita diferença não é mesmo? Algumas imagens com barba, outras sem, como e fosse um
romano. Umas com cabelos crespos, outras com cabelos lisos e dourados. Curioso!

Mas, será que ele seria assim mesmo? A meu ver, não. Não seria. Alguns cientistas também
discordam disso. Assim, entra em cena a antropologia forense. Cientistas forenses britânicos
aliados a arqueólogos israelenses conseguiram reconstituir a possível aparência de Jesus, caso
ele tivesse existido.

Para isso, foi chamado um ―médico artista‖, chamado Richard Neave, professor aposentado da
Universidade de Manchester, que foi responsável por reconstituir a provável aparência de
Felipe II da Macedônia e o Rei Midas de Frígia. Assim, senhoras e senhores, termino este
artigo com a mais provável aparência que Jesus, filho de José, nascido em Belém, morador de
Nazaré, suposto filho de Deus, fazedor de milagres e macumbeiro palestino:

Como os bons chineses dizem: Uma imagem vale mais que mil palavras.

5 - Jesus Cristo e Super-Homem: A necessidade do herói mítico

Com colaboração de Rafael Zeitouni & Fátima Tardelli

Todos os povos primitivos desenharam para si um herói. Alguém que trouxesse todas as
virtudes: forte em todos os sentidos, honesto e de grande moral. Servindo como baluarte
entre o povo em questão e a completa destruição (tanto física, quanto moral) do referido
povo.

Muitos são os heróis da Antigüidade: Perseu, Beowulf, Héracles (também chamado de


Hércules), Sigfried, Cuchulain, Tristão, Orfeu etc. E esta ―tradição‖, digamos assim, perdura
até hoje, quando vamos aos cinemas pra ver filmes do Rambo, Chuck Norris, 007 entre outros.

Entretanto, a maior expressão folclórica de heróis com superpoderes, numa eterna luta do
Bem contra o Mal, está presente sob a forma de Histórias em Quadrinhos (HQ‘s); sendo o
Super-Homem o primeiro, mais famoso e mais poderoso dentre eles.

Há muito tempo, discute-se sobre as várias semelhanças entre o Super-Homem e outra figura
mítica: Jesus Cristo – o qual, até que provem o contrário, também não passa de mais um
mito. Essas semelhanças são tão grandes que paramos para pensar se foram por acaso ou
fruto de uma clara ligação entre estas duas personagens.

185
Examinando as personagens

O mito do Jesus Bíblico é do conhecimento de muita gente. Críticas sobre sua existência real
são discutidas na série A maior farsa de todos os tempos; portanto, seria apenas
superlotamento de espaço aqui se retomarmos o tema. Entretanto, a referida série é
recomendada para estudo.

Muito bem, o Super-Homem é uma criação de dois amigos de origem judia, desenhistas de
quadrinhos, Joe Shuster e Jerry Siegel em 1938, aparecendo no primeiro número da revista
Action Comics.

Siegel e Shuster criaram um herói em sua tradição clássica, que lutava para corrigir os erros
daqueles tempos, combatendo a tirania e a injustiça social em prol da verdade, justiça e moral
da América. Depois, por causa de uma – digamos assim – ―globalização‖, os criadores fizeram
o favor de estender a benevolência do Super-Homem a todo o mundo e, depois, para o
Universo.

Os criadores presentearam seu herói com uma roupa e tanto! Um colant azul e vermelho bem
chamativos, cinto dourado e uma capa esvoaçante, além da famosa ―cueca sobre a calça‖
(que, por sinal, virou peça comum em qualquer uniforme de um Super-Herói que se preze). Da
mesma forma, como todo herói moderno, ele exibe o seu símbolo sobre o peito (por favor,
atentem para este detalhe, pois voltarei a isso mais tarde).

Além dos seus poderes sobre-humanos – como super-audição, velocidade quase infinita, força
imensa, visão telescópica, visão de raio X, visão de calor entre outras coisas – o que mais
caracteriza o Super-Homem é sua bondade extrema e caráter inigualável. Somando-se a isso,
ainda tem o fato dele ficar de guarda em órbita da Terra, usar um disfarce de repórter – a fim
de saber o que se passa no mundo –, ter a capacidade de ver tudo e todos (mesmo atrás de
paredes, exceto se forem de chumbo) e for capaz de ouvir até mesmo sussurros. Isso nos
permite afirmar com certeza que o Super-Homem é onisciente. Sua força incrível o faz
onipotente e sua velocidade permite que seja praticamente onipresente. Interessante, não é
mesmo?

Nada disso seria espetacular, mediante o conceito humano de qualquer entidade


superpoderosa. Muitos heróis são fortes, rápidos, inteligentes etc. Mas, somente deuses
possuem mais de uma, ou mesmo todas essas características.

O Jesus tal como descrito na Bíblia não foge a essa regra, já que ele foi capaz de caminhar
sobre as águas (vôo?), ter força pra expulsar demônios, mostrar-se ciente de tudo o que o
cercava e saber de antemão o que o destino lhe reservava, entre outras coisas.

Na página a seguir, estudaremos as semelhanças entre o mito da Palestina e o herói de


Krypton.

Semelhanças entre Jesus e o Super-Homem

Observando a tabela abaixo (observem também as ilustrações), podemos analisar bem as


semelhanças entre os dois.

ORIGENS
Super-Homem Jesus

186
Kal-El apareceu na Terra, vindo de Kripton. As
pessoas viram um clarão que riscou o céu. Jesus apareceu no mundo de modo
Uma nave espacial que parecia ser uma misterioso. Algumas pessoas viram um clarão
estrela que se movia rápido e chegou a um no céu. Uma estrela que se movia rápido e
casal humilde que morava nos arredores de que apontava até um casal pobre e humilde.
Smallville no Estado de Kansas.

Este casal percebeu que aquela criança era


especial. Um presente que veio do espaço, Este casal notou que aquela criança era
para um casal que não conseguia ter filhos. especial. Um presente vindo dos céus.
Decidiram não contar a ninguém sobre quem Decidiram não contar a ninguém sobre quem
era aquela criança e aproveitaram o inverno era aquela criança e o adotaram como se
que estava chegando, e o adotaram como se fosse deles.
fosse deles, dando-lhe o nome de Clark Kent.
Com o passar dos anos, esta criança se
mostra muito mais especial do que o casal
Com o passar dos anos, esta criança se
imaginava. Entre um susto e outro, com a
mostra muito mais especial que o pobre casal
revelação de seus poderes sobre-humanos,
pensava. Entre um sufoco financeiro e outro,
conseguem criar o garoto. Ele se mostrou
conseguiram criar o garoto. Ele se mostrou
mais forte, mais esperto, mais inteligente, e
inteligente, forte e destinado a uma história
parecia estar destinado a uma vida heróica e
grandiosa. Seus pais não tinham dúvidas que
surpreendente. Seus pais não tinham duvidas
o mundo inteiro o conheceria.
de que o mundo inteiro o conheceria e o
reverenciaria.
VIDA PÚBLICA
Ao chegar na idade adulta, sentiu que o
destino o chamava. Então se muda para uma
Ao chegar na fase adulta, o pai adotivo morre,
das maiores metrópoles do planeta, e de lá,
sobrando apenas sua mãe. Mas, o destino o
se revela como Super-Homem, se mostrando
chamava. Então, aos 30 anos, Jesus se
como o herói que defende os fracos,
mostra como aquele que veio combater o mal
oprimidos, combatendo a injustiça e o mal.
e a injustiça. Ele vai a todo canto e faz
Pode voar para todos os cantos do planeta
proezas que nenhum outro ser humano seria
para fazer o que fosse necessário para manter
capaz de fazer.
o mundo a salvo, coisas que ninguém mais
podia fazer sem medo de represálias.
Super-Homem inspira toda uma nova geração
de heróis, como Batman, Superboy, Aço, Jesus encontra homens que o seguem. Vai de
Lanterna Verde, Aquaman, Ajax, Mulher casa em casa e ajuda pessoas. Faz tudo de
Maravilha, Arqueiro Verde, Liga da Justiça etc. bom em busca de verdade e justiça, além de
que seguem seus passos, que irão surgindo proteger os oprimidos de pessoas ruins e
em diversas cidades do mundo, combatendo o maquiavélicas.
mal.

187
Clark conhece uma mulher em sua vida, a
Jesus encontra uma moça em seu caminho,
Lois Lane, e os dois vivem uma historia de
Maria Madalena, e esta se queda de amores
amor. Um amor capaz de mudar a vida de
por ele. Grande, forte e capaz de mudar o
ambos. Mas Lois sabe que terá de dividir seu
mundo, ela sabe que terá que dividir seu
amor com o mundo, porem esta disposta a
amor com o mundo, mas está disposta a
pagar o preço, sendo muitas vezes vitima de
pagar o preço, sendo muitas vezes xingada e
preocupações, angústias, ameaças e ataques.
ameaçada. Mas, Jesus sempre a defendeu de
Mas Super-Homem sempre a protegeu em
ataques infames.
todos os momentos em que ela precisou.
Porém, nem todos estavam satisfeitos com a
presença do Super-Homem no mundo. Entretanto, nem todo mundo estava satisfeito
Pessoas como Lex Luthor, interessado em com ele. Pessoas interesseiras em dominar a
dominar tudo e a todos, decide que e hora de tudo e a todos decidem que é hora de parar
barrá-lo e até eliminá-lo da Terra. Diversos com isso. Eles combinam com homens
vilões, como Zod, Metallo, Brainiac, Darkseid, poderosos para dar um fim no filho de Deus.
Intergangue, etc tentam dar um fim no
Super-Homem.

Fazem tudo para que caia em desgraça,


Fazem ele cair no descrédito, arrumam para
derrotá-lo por todos os meios possíveis, traí-
ele ser traído e cair uma emboscada.
lo, enganá-lo, fazê-lo cair em armadilhas.
MORTE
Ao se defrontar com Doomsday (Apocalypse,
na edição brasileira), os dois lutam brava e
furiosamente, se ensanguentam, num ato de Jesus resiste bravamente, mas apanha muito.
autodestruição. O sangue de Super-Homem Seu sangue corre pela Terra. Ele tenta se
corre pela Terra, ele tenta escapar vivo da salvar, mas não consegue. Ele morre.
luta titânica, mas não consegue. Após
derrotar o monstro. Ele morre.

188
As pessoas acreditam que Super-Homem se
fora, que não estaria mais no mundo para
protegê-las do mal, aquela esperança se fora. As pessoas acham que seu herói, seu
O desespero recai sobre a Terra, e os heróis salvador, fora morto. O desespero recai sobre
tentam preencher o vazio que fora deixado a Terra enquanto o mal se alastra.
por ele, enquanto o mal se alastra pelo
mundo.
Mas enquanto o mundo chora pela morte, a
Lois Lane sofre por ele, Super-Homem desce a
Mas, enquanto as mulheres choram, a
uma dimensão pós-vida, enfrenta diversos
população se desespera, Jesus desce aos mais
demônios que tentam fazê-lo se esquecer de
profundos abismos, vai ao inferno, enfrenta
sua heraça humana, se encontra diante de
demônios inferiores. E vence!
uma encruzilhada entre a luz e as trevas, e
acaba por fim vencendo.
RETORNO
O Super-Homem retorna, de forma triunfal,
sendo visto pela primeira vez por Lois Lane Ele retorna, grande e iluminado. É visto
que vai ao seu encontro. Se apresenta primeiramente por mulheres. Ele se apresenta
triunfalmente a todos, salvando o mundo de triunfalmente para seus amigos e se eleva aos
um grande perigo, com poder e gloria, céus com grande fulgor e poder, prometendo
prometendo nunca mais abandonar as estar com as pessoas até o fim dos tempos.
pessoas.

Seus inimigos foram derrotados, Super- Seus inimigos fogem, a terra treme, tudo
Homem está de volta para jamais abandonar desaba: Ele está de volta e promete jamais
a Humanidade, e resguardá-la de todo o mal. abandonar as pessoas novamente.

A próxima página estudará os pormenores sobre Jesus e o Super-Homem e como eles se


enquadram num exame teológico.

189
A teologia de Jesus e o Super-Homem

Muito representativo, não? Ainda mais se levarmos em conta as expressões iconográficas,


como as imagens que retratam o aparecimento de ambos, bem como suas mortes. A bem da
verdade, ainda tem muito mais similaridades do que essas. Foram apontadas apenas as
principais, e só estas já nos chamam a atenção para as personagens.

Tudo bem que o Super-Homem não nasceu de uma virgem, ele veio em estado embrionário de
seu planeta natal e aterrissou aqui já como bebê. Isso é fácil de explicar por causa da
Relatividade de Einstein. Quanto mais rápido um corpo viaja, mais lentamente o tempo passa
para este corpo. Assim, o jovem Kal-El viajou por milhares de anos, mas para ele foi só um
aninho (ou meses, as HQ‘s não disseram claramente e nem isso é importante de fato).

Não obstante, num mundo que não sabia o que era inseminação artificial e muito menos DNA,
tal desenvolvimento embrionário fora de um corpo vivo era totalmente estranho à época.
Miraculoso, até. Algo semelhante a uma ―imaculada concepção‖, já que não houve ato sexual
e, portanto, livrando o jovem kryptoniano de um possível caso de ―pecado original‖.

De qualquer forma, os Evangelhos não esclarecem (e nem poderiam) a natureza genética de


Jesus. Ele foi gerado no ventre de Maria, isso está bem claro. Mas, não informa se o Espírito
Santo a fecundou com alguma espécie de ―Espermatozóide Santo‖ ou se Deus implantou o
embrião já formado no ventre dela, criando a primeira barriga de aluguel da história.

Trocando em miúdos, os Evangelhos não conseguem informar se Jesus tinha características


genéticas de Maria ou exclusivamente do ―Espermatozóide Santo‖.

Isso pode até parecer que não tem importância, mas tem; e muita!

O Monofisismo era uma doutrina do século V, elaborada por Eutiques e admitia que Jesus
possuía uma só natureza: a divina. Esta doutrina foi considerada herética pelo Concílio de
Calcedônia em 451 E.C. (Era Comum) e isso gera um sério problema que mistura Ciência,
História e Teologia.

Se Jesus tinha a carga genética de Maria, então era meio humano e meio divino. Só que ela
(Maria) não é vista como ―santa‖ fora do círculo católico. A própria ―Ascensão de Maria‖ só
passou a figurar como dogma católico em meados do século XX. Assim, esta metade humana
de Jesus não pode ser levada em conta.

Entretanto, se Jesus fosse gerado apenas (e somente apenas) por um Santo DNA, ele seria
unicamente divino, como os Monofisistas afirmavam. Só que tal proposição é rechaçada pela
maioria das vertentes cristãs atualmente, e algumas nem sabem informar ao certo.

Os mitos de hoje são mais bem elaborados que os de antigamente…

Saindo do âmbito genético e indo para a filologia, o nome de ambos são, de certa forma,
similares.

Kal-El, segundo seus criadores, seria um nome que, em kryptoniano, teria o significado de
―filho das estrelas‖, já que ele veio na forma embrionária conforme foi dito. No entanto, o mais
curioso é que em hebraico o nome Kal El tem o significado ―amigo de Deus‖.

190
Religiosos costumam relacionar Isaías e Mateus para demonstrar que Jesus receberia o nome
de Emanuel.

Isaías 7:14 – Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e
dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel. (versão João Ferreira de Almeida)

Isaiah 7:14 – Therefore the Lord himself shall give you a sign; Behold, a virgin shall
conceive, and bear a son, and shall call his name Immanuel. (versão King James)

Mateus cap. 1

20. Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse:
José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do
Espírito Santo.

21. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de
seus pecados.

22. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta:

23. Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel, que significa:
Deus conosco.

É claro que isso não é mais aventado e só se pode sugerir que foi uma forçada de barra pelo
redator de Mateus. Ainda sim, é curioso ver que um dado amigo de Deus teria, em tese, Deus
próximo a si. Logo, que estivesse com o amigo de Deus, também estaria perto deste. Em
suma, Deus estaria com quem permanecesse próximo ao amigo de Deus.

As próprias representações gráficas do Super-Homem e de Jesus mostram incríveis


similaridades. Desde a representação do nascimento de ambos, até suas mortes, conforme
visto acima na tabela. É famoso o gesto do Super-Homem de abrir repentinamente a camisa,
mostrando o grande S que é seu símbolo; da mesma forma, Jesus é muitas vezes retratado
apontando para o próprio peito, mostrando o ―Sagrado Coração‖.

Examinando diversos heróis legendários, isso não surpreende muito. A maioria deles carrega
um amuleto, símbolo, desenho ou algo similar sobre o peito, de forma que possa ser bem
reconhecido. Desde a armadura dourada de Alexandre Magno, passando pelos romanos, a
armadura de Perseu, o escudo em formato de concha de Aquiles, os amuletos celtas etc. Todos
os heróis, seja em termos de ficção, como os reais (no caso, os brasões de cavaleiros, ordens
militares etc.) são ostentados logo no peito, para estarem bem evidentes e mostrar ao
opositor ―com quem eles estão falando‖.

A representação iconográfica de Jesus não foge a esta norma, já que fica patente que ele
―deseja‖ que você olhe bem de onde vem o ―poder‖ dele.

191
Na próxima página, estudaremos os contextos políticos durante a criação dos mitos Jesus e
Super-Homem.

Análise do contexto político quando da criação

O Super-Homem foi criado num período conturbado, às vésperas da II Grande Guerra. Os


E.U.A. tinham passado por uma grande crise econômica e a moral do povo não estava em
melhor condição.

Tal como na Palestina do século I, eles estavam em dúvida de sua própria identidade, já que a
chegada de muitos estrangeiros (italianos, irlandeses entre outros) estava mesclando
diferentes culturas com as da América do Norte. A ação de criminosos, mafiosos, políticos
corruptos estavam causando não só um enorme caos político como social também. A chegada
de uma figura messiânica acabou se tornando, portanto, uma necessidade.

Não é certo que Siegel e Shuster tenham criado o Super-Homem baseado nas escrituras
judaicas e nas promessas de um Messias. Afinal, o conceito de Messias refere-se a um líder
militar e tal como Jesus, o Super-Homem estava muito longe disso.

Entretanto, o plano de salvação da humanidade do caos absoluto sempre foi algo presente em
todas as religiões e no imaginário dos povos. Com isso, as pessoas sempre olhavam pra cima,
esperando a chegada de alguém vindo dos Céus, disposto a ajudá-las e se sacrificar em prol
delas, caso fosse necessário.

Um dia olharam e viram algo que se parecia com um pássaro… não, um avião… ou será…?

Os americanos sempre se julgaram uma Nação de Deus (o próprio George Bush usou esta
expressão), assim como os judeus se auto-proclamam o ―povo eleito‖. Podemos levar isso em
conta que o Super-Homem seja uma expressão do inconsciente coletivo e da cultura norte-
americana com raízes judaicas.

O messianismo judaico em nada se diferencia desse conceito, e dele apareceu o mito Cristão
afim de dar às pessoas o que elas precisavam: alguém que elas pudessem acreditar que seria
o salvador delas. Não importa se o criador e disseminador desse mito fosse o próprio Império
Romano em decadência. Pode-se inclusive afirmar que foi a substituição de um império secular
por um espiritual, mas que ainda sim se mantinha forte, usando as esperanças de um povo
como arma de dominação e influência política.

Alguns apologetas de péssima índole veem nisso como uma confirmação das Escrituras, o que
é estúpido. Afinal, porque o próprio Jesus não confirmou previsão nenhuma (como foi dito, o
Messias seria um líder militar). Então, ver que a história do Super-Homem é semelhante à de
Jesus, evidenciando a Promessa Divina é para, no mínimo, cair na gargalhada, pois evidencia
um total desconhecimento sobre as figuras heróicas e como elas se relacionam entre si; ou
também pode ser prova de uma manifestação de péssimo caráter, criando ligações que não
existem, unicamente para reforçar uma opinião própria e que não tem embasamento
intelectual nenhum.

Na próxima página estudaremos isso, mediante a Escala de Heróis de Lord Raglan.

Escala e Heróis de Raglan

192
FitzRoy Richard Somerset, o 4º Barão de Raglan foi um mitologista e acadêmico, cuja principal
obra é The Hero: A study in Tradition, Myth and Dreams. Nesta obra ele discute sobre o
conceito de herói no decorrer da história e como ele se aplica nos diversos mitos existentes.

Nessa obra, o autor introduz a famosa ―Escala de Raglan‖, a qual mostra uma espécie de
―ranking‖ de diversos heróis mitológicos (ou não, como veremos adiante). Para tanto, deve-se
fazer umas perguntinhas básicas e ver a pontuação do referido herói. As perguntas são:

1. A mãe do Herói é uma virgem de sangue real;


2. Seu pai é um rei e
3. Frequentemente parente próximo da sua mãe, mas
4. As circunstâncias da Sua concepção são pouco usuais e
5. Ele tem a reputação de ser filho de um deus.
6. À nascença é feito um atentado à sua vida, geralmente pelo pai ou avô
maternal, mas
7. Ele é misteriosamente levado e
8. Criado por pais adotivos num país distante.
9. Não sabemos nada da sua infância, mas
10. Ao atingir a idade adulta ele regressa ou vai para o seu futuro reino.
11. Após uma vitória sobre o rei e/ou um gigante, dragão ou animal selvagem,
12. Casa-se com uma princesa, muitas vezes filha do seu predecessor e
13. Torna-se rei.
14. Durante algum tempo, o seu reinado é pacífico e
15. Ele faz leis, mas
16. mais tarde perde a aceitação dos deuses e/ou do seus súbditos e
17. É afastado do trono e expulso da cidade, após o que
18. enfrenta uma morte misteriosa,
19. frequentemente no topo de um monte,
20. Os Seus filhos, se sequer os há, não lhe sucedem.
21. O Seu corpo não é enterrado, mas ainda assim
22. Ele tem um ou mais santos sepulcros.

Você conhece quantos heróis, semideuses ou mesmo deuses que se encaixam nessa
descrição?

Aqui vai uma listinha, com a pontuação ao lado.

1. Krishna – 21
2. Moisés – 20
3. Rômulo – 19
4. Rei Arthur – 19
5. Perseu – 18
6. Jesus – 18
7. Watu Gunung (da ilha de Java) – 18
8. Hércules – 17
9. Maomé – 17
10. Super-Homem – 16
11. Beowulf – 15
12. Buda – 15
13. Zeus – 14
14. Czar Nicolau II – 14
15. Nyikang (um herói da tribo Shiluk, do Alto Nilo) – 14

193
16. Sansão – 13
17. Sunjata (o Rei-Leão dos antigos Mali) – 11
18. Aquiles – 10
19. Odisseu (também chamado de Ulisses) – 8
20. Harry Potter – 8

Como vocês podem ver, Krishna, o deus hindu, possui mais atributos ―heróicos‖ do que Jesus.
Não obstante, nem por isso ele é aceito como sendo um deus fora do hinduísmo. Maomé é tido
como uma figura histórica, apesar do ceticismo que abrange seus contatos e inspirações
divinas (ou seja, ele pode ter existido, mas não da forma como os muçulmanos o vêem). De
qualquer forma, também não é aceito fora do islamismo. E o mesmo acontece com os demais
heróis e deuses.

O Super-Homem marca 16 pontos na escala Raglan e é um número alto. No entanto é curioso


notar que o Czar Nicolau II, uma figura histórica e bem documentada, marca 14 pontos. Em
face dessa escala ele estaria acima de muitos e quase chegou perto de Jesus.

Como é fácil notar, podemos usar esta escala com qualquer personagem e veremos que
muitas criações do imaginário humano marcam altos pontos. Por que, então, deveríamos crer
em uma personagem sem documentos claros, sem evidências históricas e nem arqueológicas?
A única ―prova‖ que o Jesus Milagreiro realmente existiu é a Bíblia, e esta é cheia de
contradições.

O primeiro evangelho a aparecer foi o Evangelho Segundo Marcos. E este apareceu 80 anos
depois da suposta existência de Jesus. Ele narra a destruição do Templo em Jerusalém, mas
isso só aconteceu na década de 70 do século I. Isso evidencia que não fora o próprio Marcos
que o escreveu, pois obviamente ele não é nenhum highlander para viver tanto.

Os demais evangelhos são vistos pelos especialistas como tendo sido baseados no de Marcos;
mas, se examinarmos algumas passagens, veremos que elas são muitas vezes contraditórias
(como no caso do julgamento e da ressurreição).

Assim, dizer que a Bíblia atesta a veracidade de uma personagem que não aparece em
nenhuma parte de documentos históricos (e os que aparecem são claramente forjados) é
subestimar a inteligência alheia.

Há uma piadinha ateísta que diz: Se a Bíblia é prova cabal para atestar a existência de Jesus,
então os quadrinhos também podem servir de prova que o Super-Homem existe.

As pessoas sempre precisaram, precisam e ainda precisarão de heróis. Sejam bombeiros


resgatando pessoas de um incêndio, policiais da Divisão Anti-Seqüestro, civis comuns que
esquecem sua própria segurança em prol do próximo ou de figuras a quem se recorre quando
nada mais resta.

É aí que entram as religiões para vender os seus planos de salvação. É aí que a venda de HQ‘s
obtem seu faturamento. Ambas são baseadas em uma necessidade de escapar da realidade e
viver num mundo de ficção, já que por vezes o mundo real é intragável. Sempre haverá
pessoas que irão se ajoelhar e implorar por um ente querido ou ligar seu relógio-sinal e
esperar que a ajuda venha rápido como uma bala, forte como uma locomotiva e que lute em
prol dos necessitados…

6 – Jesus não voltará

194
A grande promessa para os cristãos é a de que Jesus, o Pop Star da Palestina voltaria, depois
de ter sido executado como um criminosinho ridículo e comum (estamos somente imaginando
que ele existiu, coisa que sabemos não ser o caso). Examinado a Bíblia, essa promessa é
ratificada várias e várias e várias vezes. O retorno do Jóquei de Jegue deveria ocorrer de
imediato. Ou não? Já se passaram quase 2000 anos, desde que ele foi pregado no pau e posto
pra secar que nem roupa velha.

Vamos examinar o isso. Aproveitamos para agradecer aos verdadeiros autores das diversas
passagens deste artigo, a maioria tirada de comunidades do Orkut. Quer se tornar ateu? Leia a
Bíblia! Parafraseando um amigo nosso: Quem estuda, sabe. Quem não estuda, acredita!

Senhoras e senhores, nos acompanhe para mais uma mentira descarada da Bíblia!

1. JESUS ESTABELECE O PRAZO PARA SUA VOLTA:

Mateus 24:34 — ―Em verdade vos digo que NÃO PASSARÁ esta GERAÇÃO sem que TODAS
essas coisas se cumpram.‖ (Também em Marcos 13:30 e Lucas 21:32)

Mateus 24:34 — ―Eu afirmo a vocês que isto é verdade: essas coisas vão acontecer ANTES DE
MORREREM TODOS OS QUE AGORA ESTÃO VIVOS.‖

Isto mostra que a palavra ―geração‖ na passagem tem seu sentido usual, que naturalmente
ocorre ao leitor em uma primeira leitura do texto: o conjunto das pessoas cujos tempos de
vida de sobrepõem em uma determinada época, confirmando o prazo de meados do século II
para a volta de Jesus

Mateus 10:23 — ―Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em
verdade vos digo que NÃO ACABAREIS DE PERCORRER AS CIDADES DE ISRAEL SEM QUE
VENHA O FILHO DO HOMEM.‖

Embora esta passagem não cite o prazo de uma geração, é perfeitamente condizente com ela.
UMA GERAÇÃO seria tempo suficiente para que a ―boa nova‖ de Jesus fosse anunciada em
MENOS DA TOTALIDADE das cidades de Israel. É até inconcebível que TODAS as cidades de
Israel já não tenham ATÉ HOJE sido visitadas por cristãos pregando o evangelho!

2. O PRAZO É CONFIRMADO:

Mateus 16:27–28 — ―Porque o Filho do homem há de VIR NA GLÓRIA de seu Pai, com os seus
anjos; E ENTÃO RETRIBUIRÁ a cada um segundo as suas obras. Em verdade vos digo, alguns
DOS QUE AQUI ESTÃO NÃO PROVARÃO A MORTE ATÉ QUE VEJAM VIR O FILHO DO HOMEM no
seu REINO.‖ (Também em Marcos 8:38–9:1 e Lucas 9:26–27)

3. TAMBÉM CAIFÁS DEVERIA PRESENCIAR A VINDA DE JESUS:

Mateus 26:64 — Repondeu-lhe Jesus: ―É como disseste; contudo vos digo que VEREIS EM
BREVE o Filho do homem assentado à direita do Poder, e VINDO SOBRE AS NUVENS do céu.‖
(Também em Marcos 14:62)

Nada disso aconteceu. Aconteceu?

4. PRIMEIROS CRISTÃOS ACREDITAVAM QUE PRESENCIARIAM O ADVENTO:

195
1 Coríntios 15:51–52 — ―Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, NEM TODOS
DORMIREMOS, MAS TODOS SEREMOS TRANSFORMADOS, num momento, num abrir e fechar
de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e OS MORTOS RESSUSCITARÃO
incorruptíveis, e nós seremos transformados.‖

Paulo se inclui entre os que irão testemunhar a vinda de Jesus. Note o seu uso do pronome
―nós‖:

1 Tessalonicenses 4:14–15 — Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que NÓS, OS
QUE FICARMOS VIVOS para a vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que já
dormem. [...]

5. OS ROMANOS QUE MATARAM JESUS PRESENCIARIAM SUA VOLTA:

Apocalipse 1:7 — Eis que vem com as nuvens, e TODO O OLHO O VERÁ, ATÉ OS MESMOS QUE
O TRASPASSARAM; [...]

6. PRIMEIROS CRISTÃOS ACREDITAVAM QUE JÁ VIVIAM OS “ULTIMOS TEMPOS”:

1 Coríntios 10:11 — Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso
NOSSO, PARA QUEM JÁ SÃO CHEGADOS OS FINS DOS SÉCULOS.

Hebreus 9:26 — [...] MAS AGORA NA CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS uma vez se manifestou,
para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo.

Hebreus 10:25 — Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes
admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto VEDES QUE SE VAI APROXIMANDO
AQUELE DIA.

Atos 02:15–17 — Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira
hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E NOS ÚLTIMOS DIAS acontecerá, diz
Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas
profetizarão, Os vossos jovens terão visões, E os vossos velhos terão sonhos.

2 Pedro 3:3–4 — [...] NOS ÚLTIMOS DIAS virão escarnecedores com zombaria andando
segundo as suas próprias concupiscências, e dizendo: ―Onde está a promessa da sua vinda?
Porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da
criação.‖

7. OUTRAS DECLARAÇÕES QUE MOSTRAM A IMINÊNCIA DA VOLTA DE JESUS:

João 5:25 — ―Vem a hora, E AGORA É, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus.‖

Romanos 16:20 — E o Deus de paz esmagará EM BREVE Satanás debaixo dos vossos pés.

Paulo até mesmo sugeriu que não se fizessem planos para o futuro:

1 Coríntios 7:29–31 — Isto, porém, vos digo, irmãos, que O TEMPO SE ABREVIA; pelo que,
doravante, os que têm mulher sejam como se não a tivessem; os que choram, como se não
chorassem; os que folgam, como se não folgassem; os que compram, como se não
possuíssem; e os que usam deste mundo, como se dele não usassem em absoluto, porque a
aparência deste mundo passa.

196
Hebreus 10:37 — Pois ainda em BEM POUCO TEMPO, aquele que há de vir, virá, e NÃO
TARDARÁ.

Tiago 5:7–8 — Portanto, irmãos, sede pacientes até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador
espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba as primeiras e
as últimas chuvas. Sede vós também pacientes; fortalecei os vossos corações, porque A
VINDA DO SENHOR ESTÁ PRÓXIMA.

1 Pedro 4:7 — Mas já ESTÁ PRÓXIMO O FIM DE TODAS AS COISAS, por tanto sede sóbrios e
vigiai em oração

O Apocalipse, por ser justamente uma profecia simbólica da volta triunfante de Jesus, abunda
em avisos sobre sua iminência.

Apocalipse 1:1 — Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos
as coisas que BREVEMENTE devem acontecer;
Apocalipse 1:3 — Bem-aventurado aquele que lê e bem-aventurados os que ouvem as
palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o TEMPO ESTÁ
PRÓXIMO.
Apocalipse 3:11 — ―Venho SEM DEMORA―.
Apocalipse 22:12 — ―Eis que CEDO venho‖.
Apocalipse 22:20 — Aquele que testifica essas coisas diz: ―Certamente CEDO venho.‖
Apocalipse 27:7 — ―Eis que CEDO venho‖.

Como podemos perceber, o texto realmente quis dar a entender que O SEU RETORNO ERA
IMINENTE E ACONTECERIA AINDA NO TEMPO DE VIDA DE ALGUNS DOS SEUS DISCÍPULOS.
Isso aconteceu?

Cristianismo é tão real quanto a lenda da Fada do Dente ou as fantasias mirabolantes de uma
mente louca. Quer continuar esperando? Problema seu! Seu deus inventado não virá.

O que você prefere: Saber ou acreditar? Aqui tem uma pílula vermelha e uma azul. Faça a sua
escolha.

Doze provas da inexistência de Deus

Por Sebastien Faure

Há duas maneiras de estudar e procurar resolver o problema da existência de


Deus.

A primeiro consiste em eliminar a hipótese Deus do campo das conjecturas


plausíveis ou necessárias, por meio de uma explicação clara e precisa, isto é, por
meio de uma exposição de um sistema positivo do Universo, das suas origens, dos
seus desenvolvimentos sucessivos, dos seus fins. Esta exposição inutilizaria a
ideia de Deus e destruiria antecipadamente a base metafísica em que se apoiam os teólogos e
os filósofos espiritualistas.

A existência em Deus implica necessariamente a escravidão de tudo abaixo dele. Assim se


Deus existisse, só haveria um meio de servir a liberdade humana: seria o de deixar de existir.‖

197
Mikhail Bakunin

Dado, porém, o estado atual dos conhecimentos humanos, em tudo o que tem sido
demonstrado ou passa a demonstrar-se, verificado ou verificável, somos forçados a concluir
que nos falta esta exposição e que não existe um sistema positivo do Cosmos. Existem, é
certo, várias hipóteses engenhosas que não se chocam com o razão; sistemas mais ou menos
aceitáveis que se apóiam numa série de investigações, que se baseiam na multiplicidade de
observações contínuas e que dão um caráter de probabilidade impressionante. Também se
pode afirmar, sem receio de ser desmentido, que esses sistemas, essas hipóteses, suportam
vantajosamente as asserções deístas. Mas a falar a verdade, não há, sobre este posto, senão
teses que não possuem ainda o valor da exatidão cientifica; – cada um, no fim das contas, tem
a liberdade de preferir tal ou qual sistema a um outro que lhes é oposto; e a solução do
problema assim apresentado afigura-nos, pelo menos na atualidade, cheio de reservas.

Os adeptos de todas as religiões aproveitam assim as vantagens que lhes oferece o estudo
deste problema, bem árduo e bem complexo, não para o resolver por meio de afirmações
concretas ou de raciocínios admissíveis, mas tão-somente para perpetuar a dúvida no espírito
de seus correligionários, que é, para eles, o ponto de capital importância.

E nesta luta titânica entre o materialismo e o deísmo, luta em que as duas teses opostas se
empenham e se reforçam para conseguir o triunfo, os deístas recebem rudes golpes; e,
conquanto se encontrem numa postura de vencidos, ainda tem a petulância de se apresentar à
multidão ignara como dignos cantores da vitória! Uma prova concludente do seu procedimento
baixíssimo encontramo-la na maneira como se exprimem nos jornais da sua devoção; e é com
essa comédia que procuram manter, com cajado de pastor, a imensa maioria do rebanho.

Também é isto que desejam ardentemente esses maus pastores.

Apresentação do Problema em Termos Precisos

Todavia, há uma segunda maneira de estudar e de tentar a resolução da inexistência de Deus:


consiste em examinar a existência de Deus que as religiões apresentam à adoração dos
crentes.

Suponhamos que se nos depara um indivíduo sensato e refletido, que admite a existência de
Deus – um Deus que não está envolto em nenhum mistério, um Deus que não se ignora
nenhuma particularidade, um Deus que lhe confiou todo o seu pensamento e lhe transmitiu
todas as suas confidências, e que nos diz:

– Ele fez isto e aquilo, e ainda isto e aquilo. Ele tem precedido e falado com tal fim e com tal
razão. Ele quer tal coisa, mas também quer tal outra coisa. Ele recompensará tais ações, mas
punirá tais outras. Ele fez isto e quer aquilo, porque é infinitamente sábio, infinitamente justo,
infinitamente poderoso, infinitamente bom!

Ah! Que felicidade! Ora aqui está um Deus que se faz conhecer. Abandona o império do
inacessível, dissipa as nuvens que o rodeiam, desce das alturas, conversa com os mortais,
expõe-lhes o seu pensamento, revela-lhes a sua vontade e confia a alguns privilegiados a
missão de espalharem a sua Doutrina, de propagarem a sua Lei, de a representarem enfim, cá
em baixo, com plenos poderes para mandarem no Céu e na Terra.

Este Deus não é, com certeza, o Deus Força, Inteligência, Vontade, Energia, que, como tudo o
que é Energia, Vontade, Inteligência, Força, pode ser alternadamente, segundo as

198
circunstancias e, por consequência, indiferentemente, bom ou mau, útil ou inútil, justo ou
iníquo, misericordioso ou cruel. Este Deus é o Deus em que tudo é perfeição e cuja existência
não é nem pode ser compatível – visto que ele é perfeitamente sábio, justo, bom,
misericordioso – senão com um estado de coisas criado por ele e no qual se afirmariam a sua
infinita justiça, a sua infinita sabedoria, o seu infinito poder, a sua infinita bondade e a sua
infinita misericórdia.

Este Deus é o Deus que, por meio de catecismo, nos insuflam no cérebro quando somos
crianças; é o Deus vivo e pessoal, em honra do qual se erguem templos, a quem se rezam
orações em borda, por quem se fazem sacrifícios estéreis e a quem pretendem representar, na
Terra, todos os clérigos, todas as castas sacerdotais.

Este Deus não é o ―desconhecido‖, essa força enigmática, essa potência impenetrável, essa
inteligência incompreensível, essa energia incognoscível, esse princípio misterioso: hipótese,
enfim, que no meio da impotência para explicar o ―como‖ e o ―porquê‖ das coisas, o espírito do
homem aceita complacente. Este Deus também não é o Deus especulativo dos metafísicos: é o
Deus que os seus representantes nos tem descrito abundantemente e luminosamente
detalhado. É o Deus das religiões, e como estamos na França, é o Deus dessa religião que a
quinze séculos domina o nossa história: a religião católica ou cristã. É o Deus que nego e que
vou discutir. É o Deus que estudaremos, se quisermos obter, desta exposição filosófica, algum
proveito e algum resultado prático.

Quem é Deus?

Visto que os encarregados de seus negócios no Terno tiveram a amabilidade de no-lo


descrever com toda a pompa e luzimento, aproveitemos a fineza e examinemo-lo de perto,
detidamente: para discutir uma coisa, é preciso, igualmente, conhecê-la bem.

Com um gesto potente e fecundo, este Deus fez todas as coisas do nada: o ser do não-ser. E,
por sua própria vontade, substituiu o movimento pela inércia, a vida universal pela morte
universal. É um Deus Criador!

Este Deus é o Deus que, terminada a obra da criação, em vez de volver à inatividade secular,
ficando indiferente à coisa criada, ocupa-se de sua obra, interessando-se por ela, intervém
nela quando o julga necessário, rege-a, administra-a, governa-a: é um Deus Governador ou
Providência.

Este Deus é o Deus arvorado em Tribunal Supremo, obriga, depois da morte, a comparecer à
sua presença todos os indivíduos. Uma vez aí, julga-as segundo os atos de suas vidas; pesa,
na balança, as suas boas e más ações e pronuncia, em último extremo – sem apelo nem
agravo – a sentença que fará do réu, pelos séculos dos séculos, o mais feliz ou o mais
desgraçado dos seres: É um Deus Justiceiro ou Magistrado.

Logo, este Deus possui todos os atributos; e não é somente bom: é a Bondade Infinita; não é
somente misericordioso: é o Misericórdia Infinita; não é somente poderoso: é o Poder Infinito;
não é somente sábio: é a Sabedoria Infinita.

Em conclusão: tal é o Deus que eu nego e que por doze provas diferentes (em rigor bastaria
uma só), vou demonstrar a inexistência.

Divisão do Problema

199
Dividi os meus argumentos em três séries: a primeira trataria particularmente do Deus-Criador
e compor-se-á de seis argumentos; o segundo ocupar-se-á do Deus-Governador ou
Providência, e contém quatro argumentos; a terceira apresentará o Deus-Justiceiro ou
Magistrado, em dois argumentos. Em suma, seis argumentos contra o Deus-Criador, quatro
contra o Deus-Governador e dois argumentos contra o Deus-Justiceiro. Estes doze argumentos
constituem doze provas da inexistência de Deus.

Com este plano das minhas demonstrações será mais fácil seguir o curso do meu trabalho.

Primeira série de argumentos: contra o Deus criador

1º argumento: O gesto criador é inadmissível

Que se entende por criar?

É tomar materiais diferentes, separados, mas que existem, e, valendo-se de princípios


experimentados e aplicando-lhes certas regras conhecidas, aproximá-los, agrupá-los, associá-
los, ajustá-los, para fazer qualquer coisa deles?

Não! Isso não é criar. Exemplos: podemos dizer que uma casa foi criada? Não, foi construída;
podemos dizer que um móvel foi criado? Não, foi fabricado; podemos dizer que um livro foi
criado? Não, foi composto e depois impresso.

Assim, pegar materiais que já existem e fazer qualquer coisa com eles não é criar.

Que é, pois, criar?

Criar… com franqueza, encontro-me indeciso para poder explicar o inexplicável, definir o
indefinível. Procurei, contudo, fazer-me compreender.

Criar é tirar qualquer coisa do nada; é, com nada, fazer qualquer coisa do todo; é formar o
existente do não existente.

Ora, eu imagino que é impossível encontrar-se uma única pessoa dotada de razão que conceba
e admita que do nada se possa tirar e fazer qualquer coisa. Suponhamos um matemático.
Procurai o calculador mais autorizado; colocai-o diante de uma lousa e pedi-lhe que escreva
zero sobre zeros. Terminada a operação, solicitai-lhe que os multiplique da forma que
entender que os divida até se cansar, que faça enfim toda a sorte de operações matemáticas,
e haveis de ver como ele não extrairá, desta acumulação de zeros, uma única unidade.

Com nada, nada se pode fazer; de nada, nada se obtém. É por isso que o famoso aforismo de
Lucrécio ex nihilo nihil é de uma certeza e de uma evidência manifesta. O gesto criador é um
gesto impossível de admitir, é um absurdo.

Criar é, pois, uma expressão místico-religiosa, que pode ter algum valor aos olhos das pessoas
a que agrada crer naquilo que não compreendem e a quem a fé que se impõe tanto mais
quanto menos o percebem. Mas devemos convir que a palavra criar é uma expressão vazia de
sentido para todos os homens cultos e sensatos, para quem uma palavra só tem valor quando
representa uma realidade ou uma possibilidade.

200
Consequentemente, a hipótese de um ser verdadeiramente criador é uma hipótese que a razão
repudia.

O ser criador não existe, não pode existir.

2º argumento: O “puro espírito” não podia determinar o Universo

Aos crentes que, a despeito de todo o raciocínio, se obstinam em admitir a possibilidade da


criação, direi que, em todo o caso, é impossível atribuir esta criação ao seu Deus. O Deus
deles é puro espírito. Portanto, é inteiramente impossível sustentar-se que o puro espírito, o
imaterial, tenha podido determinar o Universo, o Material.

Eis o porquê:

O puro espírito não está separado do universo por uma diferença de grau, de quantidade, mas
sim por uma diferença de natureza, de qualidade. De maneira que o puro espírito não é, nem
pode ser, uma ampliação do Universo, assim como o Universo não é, nem pode ser, uma
redução do puro espírito. Aqui a diferença não é somente uma distinção; é uma oposição:
oposição de natureza – essencial, fundamental, irredutível, absoluta.

Entre o puro espírito e o Universo não há somente um fosso mais ou menos largo e profundo,
fosso que possa, a rigor, encher-se ou franquear-se. Não. Entre o puro espírito e o Universo há
um verdadeiro abismo, duma profundidade e de uma extensão tão imensos, que por colossais
que sejam os esforços que se empreguem, não há nada nem ninguém que consiga enchê-lo ou
franqueá-lo.

Reportando-me ao meu raciocínio, desafio o filósofo mais sutil, bem como o matemático mais
consumado, a estabelecer uma relação, qualquer que ela seja (e, com a mais forte razão, uma
relação tão direta quanto estreita, como a que liga a causa ao efeito) entre o puro espírito e o
universo.

O puro espírito não suporta nenhuma aliança material. O puro espírito não tem forma nem
corpo, nem linha, nem matéria, nem proporções, nem extensão, nem dureza, nem
profundidade, nem superfície, nem volume, nem cor, nem som, nem densidade. Ora, no
Universo, tudo é forma, corpo, linho, matéria, proporção, extensão, dureza, profundidade,
superfície, volume, cor, som, densidade.

Como admitir que isto tenha sido determinado por aquilo? Impossível.

Chegando a este ponto da minha demonstração, a conclusão seguinte:

Vimos que a hipótese de um Deus verdadeiramente criador é inadmissível; que persistindo


mesmo na crença desse poder, não pode admitir-se que o Universo, essencialmente material,
tenha sido determinado por um puro espírito, essencialmente imaterial.

Mas se os crentes se obstinam em afirmar que foi o seu Deus o criador do Universo, nos
impõe-se o dever de lhes fazer esta pergunta: segundo a hipótese Deus, onde se encontrava a
Matéria, na sua origem, no seu princípio?

De duas, uma: ou a matéria estava fora de Deus, ou era o próprio Deus (a não ser que lhe
queiram dar um terceiro lugar). No primeiro caso, se a matéria estava fora de Deus, Deus não

201
teve necessidade de criá-la, visto que ela já existia; e, se ela coexistia com Deus, estava
concomitantemente com ele, do que se depreende que Deus não é o criador.

No segundo caso, se a matéria não estava fora de Deus, encontrava-se no próprio Deus.

E, daqui, tiro a conclusão seguinte:

1º Que Deus não era puro espírito, porque encerrava em si uma partícula de matéria – e que
partícula! A totalidade dos mundos materiais!

2º Que Deus, encerrando em si próprio a matéria, não teve a necessidade de criá-la, porque
ela já existia. Assim, existindo a matéria, Deus não fez mais do que retirá-la de onde estava;
e, neste caso, a criação deixa de ser um ato de verdadeira criação para se reduzir a um ato de
exteriorização.

Nos dois casos não existe, pois, criação.

3º argumento: O perfeito não pode produzir o imperfeito

Estou plenamente convencido de que se eu fizer a um religioso a pergunta: ―Pode o imperfeito


produzir o perfeito?‖, ele responderia sem vacilar: – Não, o imperfeito não pode produzir o
perfeito!

Pelas mesmas razões, e com a mesma força de exatidão, eu posso afirmar – O perfeito não
pode produzir o imperfeito!

Mais: entre o perfeito e o imperfeito não há somente uma diferença de grau, de quantidade,
mas uma diferença de qualidade, de natureza, uma oposição essencial, fundamental,
irredutível, absoluta.

E mais ainda: entre o perfeito e o imperfeito não há somente um fosso, mais ou menos largo e
profundo, mas um abismo tão vasto e tão estonteante, que ninguém o pode franquear ou
entulhar. O perfeito é o absoluto, o imperfeito o relativo. Em presença do perfeito que é tudo,
o relativo, o contingente não é nada; em presença do perfeito, o relativo não tem valor, não
existe. E nem o talento de um matemático e nem o gênio de um filósofo serão capazes de
estabelecer uma relação entre o relativo e o absoluto: a fortiori sustentamos a impossibilidade
de evidenciar, neste caso, a rigorosa concomitância que deve necessariamente unir a Causa ao
Efeito.

É, portanto, impossível que o perfeito haja determinando o imperfeito.

Além disso, há uma relação direta, fatal e até matemática entre uma obra e seu autor: tanto
vale a obra quanto vale o autor, tanto vale o autor quanto vale a obra. E pela obra que se
conhece o autor, como é pelo fruto que se conhece a árvore.

Se eu examino um texto mal redigido, em que se abundam os erros de ortografa e as frases


são mal construídas, o estilo é pobre e frouxo, as ideias raras e banais, e os conhecimentos
inexatos, eu sou incapaz de atribuir este péssimo escrito a um burilador de frases, a um dos
mestres da literatura.

Se observo um desenho malfeito, em que as linhas estão mal traçadas, violadas as regras do
perspectiva e da proporção, jamais me acudirá o pensamento de atribuir este esboço

202
rudimentar a um professor, a um grande mestre, a um grande artista. Bem à menor hesitação
direi: isto é obra de um aprendiz, de uma criança, certo de que pela obra se conhece o artista.

Ora, a natureza é bela, o Universo é grandioso. E eu admiro apaixonadamente – tanto o que


mais admiro – os esplendores e as magnificências que nos oferecem estes espetáculos
incessantes. Mas, por muito entusiasmado que eu seja das belezas naturais, e por grande que
seja a homenagem que eu lhes tribute, não me atrevo o afirmar que o Universo é uma obra
sem defeitos, irrepreensível, perfeita. E não acredito que haja alguém que me desminta.

Sim, o Universo é uma obra imperfeita.

Consequentemente, digo: há sempre, entre uma obra e seu autor, uma relação rigorosa,
íntima, matemática. Ora, se o Universo é uma obra imperfeita, o autor desta obra não pode
ser senão imperfeito.

Esse silogismo leva-me a admitir a imperfeição de Deus, e por consequência a negá-lo.

Mas eu posso ainda raciocinar assim: ou não é Deus o autor do Universo (exprimo desta forma
a minha convicção), ou o é, na suposição dos religiosos. Neste caso, sendo o universo uma
obra imperfeita, vosso Deus, ó crente, é também imperfeito.

Silogismo ou dilema, a conclusão do raciocínio é esta: o perfeito não pode determinar o


imperfeito.

4º argumento: O ser eterno, ativo, necessário, não pode, em nenhum momento, ter
estado inativo ou ter estado inútil

Se Deus existe é eterno, ativo e necessário.

Eterno? – É-o por definição. É a sua razão de ser. Não se pode conceber que ele esteja
enclausurado nos limites do tempo. Não se pode imaginar como tendo tido começo e venha a
ter fim. Não pode haver aparição e desaparição. É de sempre.

Ativo? – É, e não pode deixar de ser. Segundo os religiosos, foi sua atividade que engendrou
tudo quanto existe, como foi a sua atividade que se afirmou pelo gesto mais colossal e
majestoso que imaginar se pode: a criação dos mundos.

Necessário? – É-o e não pode deixar de ser, visto que sem a sua vontade, nada existiria: ele é
o autor de todas as coisas, o ponto inicial de onde saiu tudo, a fonte única e primeira de onde
tudo emanou. Bastando-se a si próprio, dependeu de sua vontade que tudo fosse tudo ou que
fosse nada.

Ele é, portanto: eterno, ativo e necessário.

Mas eu pretendo e vou demonstrar que se Deus é eterno, ativo e necessário, também deve ser
eternamente ativo, e eternamente necessário. E que, por consequência, ele não pôde, em
nenhum momento, ter sido inativo ou inútil, e que enfim, ele jamais criou.

Negar que Deus seja eternamente ativo equivale o dizer que nem sempre o foi, que chegou a
sê-lo, que começou a ser ativo, que antes de o ser não o era. Dizer que foi pela criação que ele
manifestou a sua atividade é admitir, ao mesmo tempo, que por milhares e milhares de
séculos que antecederam a ação criadora, Deus esteve inativo.

203
Negar que Deus seja eternamente necessário equivale a admitir que ele nem sempre o foi, que
chegou a sê-lo, que começou o ser necessário e que antes de o ser não o era. Dizer que a
criação proclama e testemunha a necessidade de Deus equivale a admitir, ao mesmo tempo,
que, durante milhares e milhares de séculos, que seguramente precedeu a ação criadora, Deus
era inútil.

Deus ocioso e preguiçoso! Deus inútil e supérfluo! Que triste postura para um ser
essencialmente necessário.

É preciso, pois, confessar que Deus é de todo o tempo ativo e de todo o tempo necessário.

Mas então Deus não pôde criar, porque a ideia de criação implica, de maneira absoluta, a ideia
de começo, de origem. Uma coisa que começou é porque nem sempre existiu. Existiu
necessariamente num tempo em que, antes de o ser, não o era. E, curto ou longo, este tempo
foi que precedeu a coisa criada; é impossível suprimi-lo, visto que, de todos os modos, ele
existe.

Assim, temos de concluir:

a) Ou Deus foi eternamente ativo e eternamente necessário, e só chegou a sê-lo por causa da
criação (e, se é assim, antes da criação faltavam a este Deus dois atributos: a atividade e a
necessidade; este Deus era um Deus incompleto; era só um pedaço de Deus e mais nada, que
teve necessidade de criar para chegar a ser ativo e necessário, e completar-se).

b) Ou Deus é eternamente ativo e eternamente necessário, e neste caso tem criado


eternamente. A criação é eterna, e o Universo jamais começou – existiu em todos os tempos,
é eterno como Deus, é o próprio Deus, com o qual se confunde. E, sendo assim, o Universo
não teve princípio – não foi criado.

Em conclusão: No primeiro caso, Deus antes da criação não era ativo nem era necessário: era
um Deus incompleto, quer dizer, imperfeito, e, portanto, não existia. No segundo caso, sendo
Deus eternamente ativo e eternamente necessário, não pôde chegar a sê-lo, como não pôde
criar.

É impossível sair daqui.

5º argumento: O ser imutável não criou

Se Deus existe, é imutável, não se desfigura e nem se pode desfigurar. Enquanto que, na
natureza, tudo se modifica, se metamorfoseia, se transforma; que nada é definitivo, mas que
chega a sê-lo Deus, ponto fixo, imóvel no tempo e no espaço, não está sujeito a nenhuma
modificação, não se transforma, nem pode transformar-se. É hoje o que era ontem, será
amanhã o que é hoje. E tanto faz procurá-lo nos séculos passados, como nos séculos futuros:
ele é, e será constantemente idêntico em si. Deus é imutável.

No entanto, eu sustento que, se ele criou, não é imutável, porque, neste caso, transmudou-se
duas vezes.

Determinar-se a querer é mudar de posição. Ora, é evidente que há mudança entre o ser que
quer uma coisa e o que, querendo-a, a põe em execução.

204
Se eu desejo e quero o que eu não desejava e nem queria a quarenta e oito horas, é porque
se produziu em mim, ou a minha volta, uma ou várias circunstâncias que me levaram a querê-
lo. Este novo desejo ou querer constitui uma modificação que não se pode por em dúvida, que
é indiscutível.

Paralelamente: agir, ou determinar-se a agir, é modificar-se.

Esta dupla modificação – querer e agir – é tanto mais considerável e saliente quando é certo
que se trata de uma resolução grave, de uma ação importante.

Deus criou, dizeis vós, crentes. Então modificou-se duas vezes: a primeiro, quando se
determinou a criar; a segunda, quando resolveu por em prática sua determinação,
completando o gesto criador.

Se ele se modificou duas vezes, não é imutável. E, se não é imutável, não é Deus – não existe.

O ser imutável não criou.

6º argumento: Deus não criou sem motivo; mas é impossível encontrar um único
motivo que o levasse a criar

De qualquer forma que se pretende examiná-la, a criação é inexplicável, enigmática, falha de


sentido.

Há uma coisa que salta à vista de todos: se Deus criou, como vós dizeis, não pôde ter
realizado este ato grandioso – cujas consequências deviam ser, fatalmente, proporcionais ao
próprio ato, e por conseguinte incalculáveis – sem que fossem determinado por uma razão de
primeiro ordem.

Pois muito bem. Qual foi esta razão? Porque motivo tomou Deus a resolução de criar? Que
móbil o impulsionaria a isto? Que desejo germinaria em seu cérebro? Qual seria o seu intuito?
Que ideia o perseguiria? Que fim perseguiria ele?

Multiplicais, nesta ordem de ideias, as perguntas; gravito, conforme quiserdes, em torno deste
problema; examinai-o em todos os seus aspectos e em todos os sentidos, e eu desafio seja
quem for a que o resolve em outro sentido que não seja o das incoerências.

Por exemplo: Eis uma criança educada na religião cristã. O seu catecismo afirmou-lhe, e os
seus mestres confirmam, que foi Deus que a criou e a colocou no mundo. Suponhamos que a
criança faz a si própria a pergunta: porque é que Deus me criou e me lançou no mundo?, e
que quer obter uma resposta judiciosa, racional. Nunca obterá.

Suponhamos ainda que a criança, confiando na experiência e no saber de seus educadores,


persuadida do caráter sagrado de que eles – padres ou pastores – estão revestidos, possuindo
luzes especiais e graças particulares; convencido de que, pela sua santidade, estão mais
próximos de Deus e, portanto, melhores iniciados que elas nas verdades reveladas;
suponhamos que esta criança tem a curiosidade de perguntar aos seus mestres por que e para
que Deus a criou e a pôs no mundo, e eu afirmo que os mestres são incapazes de contestar a
essa simples interrogação com uma resposta plausível, sensata. Não lhe poderão dar, porque,
em verdade, ela não existe.

205
Mas, rodeemos bem a questão e aprofundemos o problema. Com o pensamento,
examinaremos Deus antes da criação. Tomemo-lo mesmo no seu sentido absoluto. Está
completamente só; bastando-se a si próprio. E perfeitamente sábio, perfeitamente feliz,
perfeitamente poderoso. Ninguém lhe pode acrescentar sabedoria, ninguém lhe pode
aumentar a felicidade, ninguém lhe pode fortificar o poderio.

Este Deus não experimenta nenhum desejo, visto que a sua felicidade é infinita. Não pode
perseguir nenhum fim, visto que nada falta à sua perfeição. Não pode ter nenhum intuito, visto
que nada falta ao seu poder. Não pode determinar-se a fazer seja o que for, visto que não tem
nenhuma necessidade.

Eia! Filósofos profundos, pensadores sutis, teólogos prestigiosos, respondei a esta criança que
vos interroga e dizei-lhe por que é que Deus a criou e lançou no mundo!

Eu estou tranquilo. Vós não lhe podeis responder, a não ser que lhe digais: ―Os mistérios de
Deus são impenetráveis‖! – e aceitais esta resposta como suficiente. E fareis bem, abstendo-
vos de lhes dar outra resposta, porque esta outra resposta – previno-vos caritativamente –
cava a ruína de vosso sistema e o derribamento de vosso Deus. A conclusão impõe-se, lógica,
impiedosa: Deus, se criou, criou sem motivos, sem saber por que, sem ideal.

Sabeis onde nos conduzem as consequências de tal conclusão? Vamos vê-las.

O que diferencia os atos de um homem dotado de razão dos atos de um louco, o que
determina que um seja responsável e o outro irresponsável, é que um homem dotado de razão
sabe sempre – ou pode chegar o sabê-lo – quando procede, quais são os móbiles que o
impulsionam, quais são os motivos que o levam a praticar aquilo que pensava. Quando se
trata de uma ação importante, cujas consequências podem hipotecar gravemente as suas
responsabilidades, é preciso que o homem entre na posse de sua razão, se concentre, se
entregue a um sério exame de consciência, persistente e imparcial, exame que, pelas suas
recordações, reconstitua o quadro dos acontecimentos de que ele foi agente. Em resumo, é
preciso que ele procure reviver as horas passadas para que possa discernir quais foram as
causas e o mecanismo dos movimentos que o determinaram a obrar. Frequentemente, não
pode vangloriar-se das causas que o impulsionaram, e que, amiúde, o levam a corar de
vergonha. Mas, quaisquer que sejam os motivos, nobres ou vis, generosos ou grosseiros, ele
chega sempre o descobri-los.

Um louco, pelo contrário, precede sem saber por que; e, uma vez realizado o ato, por grandes
que sejam as responsabilidades que dele possam deriva-se, interrogai-o, encerrai-o, se
quiserdes, numa prisão, e apertai-o com perguntas: o pobre demente não vos balbuciará
senão coisas vagas, verdadeiras incoerências.

Portanto, o que diferencia os atos de um homem sensato de um homem insensato, é que os


atos dos primeiros podem explicar-se, tem uma razão de ser, distinguem-se neles a causa e o
efeito, a origem e o fim, enquanto que os atos do segundo não se podem explicar, porque um
louco é incapaz de discernir a causa e o que o levam a realizá-los.

Pois bem! Se Deus criou sem motivo, sem fim, procedeu como um louco. E, neste caso, a
criação aparece-nos como um ato de demência.

Duas objeções capitais

Para terminar com o Deus da criação, parece-me indispensável examinar duas objeções.

206
Os leitores sabem muito bem, sobre este assunto, abundam objeções. Por isso quando falo em
duas objeções, refiro-me a duas objeções capitais clássicas.

Estas duas objeções têm tanto mais importância quanto é certo que, com a beldade da
discussão, se podem englobar todas as outras nestas duas.

1ª objeção: “Deus escapa-vos!”

Dizem-me:

―O senhor não tem o direito de falar de Deus segundo a forma que o faz. O senhor não nos
apresenta senão um Deus caricaturado, sistematicamente reduzido a proporções que seu
cérebro abarca. Esse Deus não é nosso Deus. O nosso Deus não o pode o senhor concebê-lo,
visto que lhe é superior, escapando por isso à suas faculdades intelectuais. Fique sabendo que
o que é fabuloso, gigantesco para o homem mais forte e mais inteligente, é para Deus um
simples jogo de crianças. Não se esqueça que a Humanidade não pode mover-se no mesmo
plano que a Divindade. Não perca de vista que é tão impossível ao homem compreender a
maneira como Deus procede, como os minerais imaginar como vivem os vegetais, como os
vegetais conceber o desenvolvimento dos animais, e como os animais saber como vivem e
operam os homens.

Deus paira a umas alturas que o senhor é incapaz de atingir ocupa montanhas inacessíveis ao
senhor. Qualquer que seja o grau de desenvolvimento de uma inteligência humana; por muito
importante que seja o esforço realizado por essa inteligência; seja qual for a persistência deste
esforço, jamais poderá elevar-se até Deus. Lembre-se, enfim, que, por muito vasto que seja o
cérebro do homem, ele é finito, não podendo, por consequência, conceber Deus, que é infinito.

Tenha, pois a lealdade e a modéstia de confessar que não lhe é possível compreender nem
explicar, não o cabe o direito de negar‖.

Eu respondo aos deístas:

Dais-me conselhos de humildade que estou disposto a aceitar. Fazeis me lembrar que sou um
simples mortal, o que legitimamente reconheço e não procuro olvidar-me.

Dizeis-me que Deus me ultrapassa e que o desconheço. Seja. Consinto em reconhecê-lo;


afirmo mesmo que o finito não pode compreender o infinito, porque é uma verdade tão certa e
tão evidente, que não está em meu ânimo fazer-lhe qualquer oposição. Vede, pois, até aqui
estamos de acordo, com o que espero, ficareis muito contentes.

Somente, senhores deístas, permiti que, por meu turno, eu vos dê os mesmos conselhos de
humildade, para terdes a franqueza de me responder estas perguntas: Vós não sois homens
como a mim? A vós, Deus não se depara como para a mim? Esse Deus não vos escapa como a
mim? Tereis vós a pretensão de moverdes no mesmo plano da divindade? Tereis igualmente a
mania de pensar e a loucura de crer que, de um voo, podereis chegar às alturas que Deus
ocupa? Sereis presunçosos ao extremo de afirmar que o vosso cérebro, o vosso pensamento
que é finito, possa compreender o infinito?

Não vos faço a injuria, senhores deístas, de acreditar que sustentais uma extravagância venal.
Assim, pois, tende a modéstia e a lealdade de confessar que, se me é impossível compreender
e explicar Deus, vós tropeçais no mesmo obstáculo. Tende, enfim, a probidade de reconhecer
que, se eu não posso conceber nem explicar Deus, não o podendo, portanto, negar, a vós,

207
como a mim, não vos é permitido concebê-lo e não tendes, por consequência, o direito de
afirmá-lo.

Não julgueis, no entanto, que, por causa disto, ficamos na mesma situação que antes. Foste
vós que, primeiramente, afirmastes a existência de Deus; deveis, pois, ser os primeiros a pôr
de parte vossas afirmações. Sonharia eu, alguma vez, com negar a existência de Deus, se vós
não tivésseis começado a afirmá-la? E se, quando eu era criança, não me tivessem imposto a
necessidade de acreditar nele? E se, quando adulto, não tivesse ouvido afirmações nesse
sentido? E se, quando homem, os meus olhos não tivessem constantemente contemplado os
templos elevados a esse Deus? Foram as vossas afirmações que provocaram as minhas
negações.

Cessai de afirmar que eu cessarei de negar.

2ª objeção: “Não há efeito sem causa”

A segunda objeção parece-nos mais invulnerável. Muitos indivíduos consideram-na ainda sem
réplica. Esta objeção provém dos filósofos espiritualistas: Não há efeito sem causa. Ora, o
Universo é um efeito; e, como não há efeito sem causa, esta causa é Deus.

O argumento é bem apresentado; parece, mesmo, bem construído e bem carpintejado. O que
resto saber é se tudo quanto ele encerra é verdadeiro.

Em boa lógica, este raciocínio chama-se silogismo. Um silogismo é um argumento composto


por três proposições: a maior, a menor e a consequência, e compreende duas partes: as
premissas, constituídas pelas duas primeiras proposições e a conclusão, representada pela
terceira. Para que um silogismo seja inatacável, é preciso:

1º que a maior e a menor sejam exatas;

2º que a terceira proposição dimane logicamente as duas primeiras.

Se o silogismo dos filósofos espiritualistas reúne estas duas condições, é irrefutável e nada
mais me resta senão aceitá-lo; mas, se lhe falta uma só dessas condições, então o silogismo é
nulo, sem valor, e o argumento destrói-se por si mesmo.

A fim de conhecer o seu valor, examinemos as três proposições que o compõe.

1ª proposição (maior): ―Não há efeito sem causa‖.

Filósofos, tendes razão. Não há efeito sem causa: nada mais exato. Não há, não pode haver,
efeito sem causa. O efeito não é mais do que a continuação, o prolongamento, o limite da
causa. Quem diz efeito diz causa. A ideia de efeito provoca, necessariamente e imediatamente
a ideia de causa. Se, ao contrário, se concebe um efeito sem causa, isto seria o efeito do nada,
o que equivaleria a crer no absurdo.

Sobre esta primeira proposição, estamos, pois, de acordo.

2ª proposição (menor): ―Ora, o Universo é um efeito‖.

Antes de continuar, peço explicações:

208
Sobre o que se apoia esta afirmação tão franca e tão categórica? Qual o fenômeno, ou
conjunto de fenômenos, na qual a verificação, ou conjunto de verificações, que permitem uma
afirmação tão rotunda?

Em primeiro lugar, comecemos suficientemente o Universo? Temo-lo estudado profundamente,


temo-lo examinado, investigado, compreendido, para que nos seja permitido fazer afirmações
desta natureza? Temos penetrado nas suas entranhas e explorado os seus espaços
incomensuráveis? Já descemos a profundeza do oceano? Conhecemos todos os domínios do
Universo? O Universo já nos declarou todos os seus segredos? Já lhe arrancamos todos os
véus, penetramos todos os seus mistérios, descobrimos todos os seus enigmas? Já vimos
tudo, apalpamos tudo, sentimos tudo, entendemos tudo, observamos tudo, afrontamos tudo?
Não temos nada mais que aprender? Não nos resta nada mais que descobrir? Em resumo,
estamos em condições de fazer uma apreciação formal do Universo?

Supomos que ninguém ousará responder afirmativamente a todas estas questões; e seria
digno de lástima todo aquele que tivesse a tenebridade e a insensatez de afirmar que conhece
o Universo.

O Universo! – quer dizer não somente este ínfimo planeta que habitamos e sobre o qual se
arrastam as nossas carcaças; não somente os milhões de astros que conhecemos e que fazem
parte do nosso sistema solar, ou que descobrimos com o decorrer dos tempos, mas ainda,
esses mundos, aos quais, com conjectura, conhecemos a existência, mas cuja distancia e o
número restam incalculáveis!

Se eu dissesse ―o universo é uma causa‖, tenho a certeza que desencadeariam imediatamente


contra mim as vaias e os protestos de todos os religiosos; e, todavia, a minha afirmação não
era mais descabelada que a deles. Eis tudo.

Se me inclino sobre o Universo, se o observo quanto me permitir o homem contemporâneo, os


conhecimentos adquiridos, verificarei que é um conjunto inacreditavelmente complexo e
denso, uma confusão impenetrável e colossal de causas e de efeitos que se determinam, se
encadeiam, se sucedem, se repetem e se interpenetram. Observarei que o todo leva uma
cadeia sem fim, cujos elos estão indissoluvelmente ligados.

Certificar-me-ei de que cada um destes elos é, por sua vez, causa e efeito: efeito da causa que
o determinou, causa do efeito que se lhe segue.

Quem poderá dizer: ―Eis aqui o primeiro elo – o elo causa‖? Quem poderá afirmar: ―Eis o
último elo – elo efeito‖? E quem poderá ainda dizer: ―Há necessariamente uma causa número
um e um efeito número… último‖?

À segunda proposição, ―ora, o Universo é um efeito‖, falta-lhe uma condição indispensável: a


exatidão. Por consequência, o famoso silogismo não vale nada.

Acrescento mesmo que, no caso em que esta segunda proposição fosse exata, faltaria
estabelecer, para que a conclusão fosse aceitável, se o Universo é o próprio efeito de uma
Causa única, de uma Causa primeira, da Causa das Causas, de uma Causa sem Causa, da
Causa eterna.

Espero, sem me inquietar, esta demonstração, porque é uma demonstração que se tem
desejado muitas vezes, sem que ninguém no-la desse; é também uma demonstração, da qual

209
se pode afirmar, sem receio de desmentido, que jamais poderá se estabelecer de uma forma
séria, positiva e científica.

Por último: admitindo que o silogismo fosse irrepreensível, ele poderia voltar-se facilmente
contra a tese do Deus-Criador, colocando-se a favor da minha demonstração.

Expliquemos: ―não há efeito sem causa!‖ – Seja! – ―o Universo é um efeito!‖ – De acordo! –


―Logo este efeito tem uma causa e é esta causa que chamamos Deus! – Pois seja!

Mas não vos entusiasmeis, deístas; escutai-me, porque ainda não triunfastes.

Se é evidente que não há efeito sem causa, é também rigorosamente exato que não há causa
sem efeito. Não há, não pode haver, causa sem efeito. Que diz causa, diz efeito. A ideia de
causa implica necessariamente e chama a ideia de efeito. Porque uma causa sem efeito seria
uma causa do nada, o que seria tão absurdo quanto o efeito do nada. Que fique, pois, bem
entendido: não há causa sem efeito.

Vós, deístas, afirmais, enfim, que o Deus-Causa é eterno. Desta afirmação concluo que o
Universo-Efeito é igualmente eterno, visto que a uma causa eterna, corresponde,
indubitavelmente, a um efeito eterno. Se pudesse ser de outro modo, quer dizer, se o Universo
tivesse começado, durante os milhares e milhares de séculos que, talvez, precederam a
criação do Universo, Deus teria sido uma causa sem efeito, o que é impossível; uma causa de
nada, o que seria absurdo.

Em conclusão: se Deus é eterno, o Universo também o é: e, se o Universo também é eterno, é


porque ele nunca principiou, é que jamais foi criado.

É clara a demonstração?

Segunda série de argumentos: Contra o Deus-governador

7º argumento: O governador nega o criador

São muitíssimos – formam legiões – os indivíduos que, apesar de tudo, se obstinam em crer.
Concebo que, a rigor, se possa crer na existência de um criador perfeito, como também
concebo que se possa crer na existência de um governador necessário. Mas, o que me parece
impossível é que, ao mesmo tempo, se possa crer racionalmente num e noutro, porque estes
dois seres perfeitos se excluem categoricamente: afirmar um é negar o outro; proclamar a
perfeição do primeiro é confessar a inutilidade do segundo; sustentar a necessidade do
segundo é negar a perfeição do primeiro.

Por outras palavras: pode-se crer na perfeição ou na necessidade do outro; mas o que não
tem a menor sombra de lógica é crer na perfeição dos dois. É preciso, pois, escolher qualquer
deles.

Se o Universo criado por Deus tivesse sido uma obra perfeita; se, no seu conjunto, como nos
seus pormenores, esta obra não apresentasse nenhum defeito; se o mecanismo desta criação
gigantesca fosse irrepreensível; se a sua perfeição fosse de modo que a ninguém despertasse
a menor suspeita de qualquer desarranjo ou de qualquer avaria; se, enfim, a obra fosse digna

210
deste operário genial, deste artista incomparável, desse construtor fantástico a que chamam
Deus, a necessidade de um governador nunca se teria sentido.

É que é lógico supor que, uma vez a formidável máquina fosse posta em movimento, nada
mais haveria a fazer do que abandoná-la a si própria, visto que os acidentes seriam
impossíveis. Não seria preciso este engenheiro, este mecânico, para vigiar a máquina, para a
dirigir, para a reparar, para a afinar, enfim. Não, este engenheiro seria inútil, este mecânico
não teria razão de ser.

E, neste caso, o Deus-Governador era também inútil. Se o Governador existe, é porque a sua
intervenção, a sua vigilância são indispensáveis. A necessidade do Governador é como que um
insulto, como um desafio lançado ao Criador; a sua intervenção corrobora o desconhecimento,
a incapacidade, a impotência desse criador.

O Deus-Governador nega a perfeição do Deus-Criador.

8º argumento: A multiplicidade dos deuses prova que não existe nenhum deles

O Deus-Governador é, e não pode deixar de ser, poderoso e justo, infinitamente poderoso e


infinitamente justo.

Ora, eu afirmo que a multiplicidade das religiões atesta que falta a este Deus poder ou justiça,
se não, ambas as coisas.

Não falemos dos deuses mortos, dos cultos abolidos, das religiões esquecidas, que se contam
por milhares e milhares. Falemos somente das religiões de nossos dias. Segundo os cálculos
mais bem fundados, há, presentemente, oitocentas religiões, que se disputam o império das
mil e seiscentas milhões de consciências que povoam o nosso planeta. Ninguém pode duvidar
que cada uma destas religiões reclama para si privilégio de que só o seu Deus é que é o
verdadeiro, autêntico, o indiscutível, o único, e que todos os outros Deuses são Deuses
risíveis, Deuses falsos, Deuses de contrabando e de pacotilha, e que, portanto, é uma obra
piedosa combatê-los e pulverizá-los.

A isto, ajunta: Se em vez de oitocentas religiões, não houvesse senão cem ou dez, ou duas, o
meu argumento teria o mesmo valor.

Pois bem, afirmo novamente que a multiplicidade destes Deuses atesta que não existe
nenhum, certificando, ao mesmo tempo, que Deus não é todo-poderoso nem sumamente
justo.

Se fosse poderoso teria podido falar a todos os indivíduos com a mesma facilidade com que
falou isoladamente a alguns. Ter-se-ia mostrado, ter-se-ia revelado a todos sem empregar
mais esforços do que o que empregou para se apresentar a poucos.

Um homem – qualquer que seja – não pode mostrar-se nem falar senão a um número
reduzido de indivíduos: os seus órgãos vocais têm uma persistência que não pode exceder
certos limites. Mas Deus… Deus pode falar a todos os indivíduos – por muito grande que seja o
número – com a mesma facilidade que falaria a uns poucos. Quando se eleva, a voz de Deus
pode e deve perpetuar-se nos quatro pontos cardeais! O verbo divino não conhece distâncias
nem obstáculos. Atravessa os oceanos, escala as alturas, franqueia os espaços, sem a menor
dificuldade.

211
E visto que ele quis – é a religião que o afirma – falar com os homens, revelar-se-lhes, confiar-
lhes os seus desejos, indicar-lhes a sua vontade, fazer-lhes conhecer a sua lei, bem teria
podido fazê-lo a todos e não a um punhado de privilegiados.

Mas Deus não fez assim, visto que uns o negam, outros o ignoram, e outros, enfim, opõe tal
Deus a tal outro Deus dos seus concorrentes.

Nestas condições não será mais sensato pensar que ele não falou a ninguém, e que as
múltiplas revelações que me atribuem, não são, senão, múltiplas imposturas, ou arma que, se
ele falou a uns poucos, é porque era incapaz de falar com todos?

Sendo assim, eu acuso-o de impotência. E se não quiserdes que o acuse de impotência, acuso-
o de injustiça. Que pensar, com efeito, de um Deus que se mostra a um reduzido número e
que se esconde das outras? Que pensar de um Deus que fala para uns e que, para outros,
guarda o mais profundo silêncio?

Não esqueçais que os representantes desse Deus afirmam que ele é o pai de todos: e que
todos, qualquer que seja o seu título ou grau, são os filhos bem amados desse Pai que reina lá
no céu! Pois, muito bem, que pensais desse pai que, exuberante da ternura para alguns
privilegiados, os desperta, revelando-se-lhes evitando-se as angustias da dúvida, arrancando-o
das torturas da hesitação, enquanto que, violentamente, condena a maioria de seus filhos aos
tormentos da incerteza? Que pensais desse pai que, no meio de seu esplendor de Majestade,
se mostra a uma parte de seus filhos, enquanto que, para a outra, fica envolto nas mais
profundas trevas? Que pensais desse pai que, exigindo de seus filhos a prática de um culto,
com o seu contingente de respeitos e adorações, chama só alguns deles para escutarem a sua
palavra de Verdade, enquanto que, com um propósito deliberado, nega aos demais esta
distinção, este insigne favor?

Se julgais que este pai é justo e bom, não vos surpreendas com a minha apreciação, que é
muito diferente:

A multiplicidade de religiões proclama que a Deus faltou poder ou justiça. Ora, Deus deve ser
infinitamente poderoso e infinitamente justo – são os religiosos que o afirmam. E se lhe falta
um destes dois atributos – poder ou justiça – não é perfeito: não sendo perfeito, não tem
razão de ser, não existe.

A multiplicidade dos Deuses e das religiões demonstra que não existe nenhum deles.

9º argumento: Deus não é infinitamente bom: é o inferno que o prova

O Deus-Governador ou Providência é, deve ser, infinitamente bom, infinitamente


misericordioso. Mas a existência do Inferno demonstra-nos que não é assim.

Atentai bem ao meu raciocínio: Deus podia – porque é livre – não nos ter criado; mas criou-
nos. Deus podia – porque é todo poderoso – ter-nos criado todos bons; mas criou-nos bons e
maus. Deus podia – porque é bom – admitir-nos todos, após a morte, no seu Paraíso,
contentando-se, como castigo, com o tempo de sofrimento e atribulações que passamos na
Terra. Deus podia, em suma – porque é justo – não admitir em seu Paraíso senão os bons,
recusando ali lugar aos perversos; mas, neste caso, deveria destruir totalmente os maus com
a morte, e jamais condená-lo aos sofrimentos do Inferno. E isto porque quem pode criar, pode
destruir; quem tem poder para dar a vida, também tem o poder para tirá-la, para aniquilá-la.

212
Vejamos: vós não sois deuses. Vós não sois infinitamente bons, nem infinitamente
misericordiosos. Sem vos atribuir qualidades que não possuís, eu tenho a certeza de que, se
estivesse em vossas mãos – sem que isso vos exigisse um grande esforço, e sem que, de aí,
resultasse para nós algum prejuízo moral ou material – evitar a um ser humano uma lágrima,
uma dor, um sofrimento, eu tenho a certeza, repito, que o faríeis imediatamente, sem vacilar
nem titubear. E, todavia, vós não sois infinitamente misericordiosos.

Sereis, por acaso, melhores e mais misericordiosos que o Deus dos cristãos?

Porque, enfim, o Inferno existe. A Igreja faz alarde dele: é a horrível visão, com a ajuda da
qual semeia o pavor no cérebro das crianças e dos velhos, e entre os pobres de espírito e os
medrosos; é o espectro que se estala na cabeceira dos moribundos, na hora em que a morte
os arrebata toda a coragem, toda a energia, toda a lucidez.

Pois bem, o Deus dos cristãos, esse Deus que dizem cheio de piedade, de perdão, de
indulgência, de bondade e de misericórdia, precipita para todo o sempre, uma parte dos seus
filhos, num antro de torturas as mais cruéis, e de suplicias as mais horrendas.

Oh! Como ele é bom! Como ele é misericordioso!

Vós conheceis certamente estas palavras das escrituras: ―Muitos serão os chamados, mas
poucos os eleitos‖. Bem abusos do seu valor, estas palavras significam que o número de salvos
será ínfimo, enquanto que o número de condenados há de ser considerável. Esta afirmação é
de uma crueldade tão monstruosa que os deístas têm procurado dar-lhe um outro sentido.

Mas pouco importa: o Inferno existe, e é evidente que os condenados – muitos ou poucos – aí
sofrerão os mais dolorosos tormentos.

Agora, pergunto eu: a quem podem beneficiar os tormentos dos condenados? Aos eleitos? –
Evidente que não. Por definição, os eleitos serão os justos, os virtuosos, os fraternais, os
compassivos: e seria absurdo supor que a sua felicidade, já incomparável, pudesse ser
aumentada com o espetáculo de seus irmãos torturados. Aos próprios condenados? – também
não, porque a igreja afirma que o suplicio desses desgraçados jamais acabará; e que, pelos
séculos dos séculos, os seus sofrimentos serão tão horripilantes como no primeiro dia.

Então?… Então, aparte os eleitos e aparte os condenados, não há senão Deus, não pode haver
senão ele. É, pois, Deus, quem obtém benefícios aos sofrimentos dos condenados? É, pois, ele,
esse pai infinitamente bom, infinitamente misericordioso, que se regozija sadicamente com as
dores e que voluntariamente condena os seus filhos?

Ah! Se isto é assim, esse Deus aparece-nos como carrasco mais feroz, como o inquisidor mais
implacável que imaginar se pode.

O inferno prova que Deus não é bom nem misericordioso – a existência de um Deus de
bondade é incompatível com a existência do inferno.

E de duas uma: ou o inferno não existe, ou Deus não é infinitamente bom.

10º argumento: O problema do mal

É o problema do mal que me fornece material para o meu último argumento contra o Deus-
Governador, e, simultaneamente, para o meu primeiro argumento contra o Deus-justiceiro.

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Eu não digo que a existência do mal – mal físico e mal moral – seja incompatível com a
existência de Deus; o que digo é que é incompatível com o mal a existência de um Deus
infinitamente poderoso e infinitamente bom.

O argumento é conhecido, ainda que o não seja senão pelas múltiplas refutações – sempre
impotentes – que se lhes tem apresentado. Remontam-no a Epicuro. Tem, portanto, mais de
vinte séculos de existência: mas, por velho que seja, conserva ainda todo o seu vigor. Esse
argumento é o seguinte:

O mal existe. Todos os seres sensíveis conhecem o sofrimento. Deus, que tudo sabe, não pode
ignorá-lo. Pois bem, de duas, uma: Ou Deus quer suprimir o mal e não pode; ou Deus pode
suprimir o mal e não quer.

No primeiro caso, Deus pretendia suprimir o mal, porque era bom, porque compartilhava das
dores que nos aniquilam, porque participava dos sofrimentos que suportamos. Ah! Se isso
dependesse dele! O mal seria suprimido e a felicidade reinaria sobre a Terra…

Mais uma vez Deus é bom, mas não pode suprimir o mal – não é todo poderoso.

No segundo caso, Deus podia suprimir o mal. Bastava que o quisesse para que o mal fosse
abolido. Ele é todo poderoso e não quer suprimir o mal; portanto, não é infinitamente bom.

Aqui, Deus é todo poderoso, mas não é bom; acolá, Deus é bom mas não é todo poderoso.
Para admitir a existência de Deus, não basta que ele possua uma destas perfeições: poder ou
bondade. É indispensável que possua as duas.

Este argumento nunca foi refutado. Entendamo-nos: ao dizer nunca foi refutado quero dizer
que, racionalmente, ninguém a pode ainda refutar, embora tenham ensaiado isso muitas
vezes. O ensaio de refutação mais conhecido é este:

Vós apresentais em termos errôneos o problema do mal. É um equivoco atirar para cima de
Deus toda a responsabilidade. Bem, é certo que o mal existe – é inegável; mas só o homem é
responsável por ele. Deus não quis que o homem fosse um autômato, uma máquina, que
obedece cega e fatalmente. Ao criá-lo, Deus deu-lhe completa liberdade – fez dele um ser
inteiramente livre; e, conforme com essa liberdade, que generosamente lhe outorgou,
concedeu-lhe a faculdade de fazer dela, em todas as circunstâncias, o uso que quisesse. E se o
homem, em vez de fazer uso nobre e justiceiro deste bem inestimável, faz dele um uso
criminoso, porque seria injusto: devemos acusar mais é o homem, o que é razoável.

Eis a clássica objeção. Que é que ela vale? Nada!

Eu explico-me: façamos distinção entre o mal físico e o mal moral. O mal físico é a doença, o
sofrimento, o acidente, a velhice, com o seu cortejo de vícios e enfermidades; é a morte, que
implica perda de seres que amamos. Há crianças que nascem e que morrem, dias depois de
seu nascimento, e cuja vida foi um sofrimento permanente. Há uma enorme multidão de seres
humanos para quem a vida não é mais do que uma longa série de dores e aflições: seria
preferível que não tivessem nascido. E, na ordem natural, as epidemias, os cataclismos, os
incêndios, as secas, as inundações, as tempestades, a fome, constituem uma soma de trágicas
fatalidades que originam a dor e a morte.

Quem ousará dizer que o homem é o responsável por este mal físico? Quem não compreende
que se Deus criou o Universo, dotando-o com as formidáveis leis que o regem, o mal físico não

214
é senão uma destas fatalidades que resultam de um jogo normal das forças da natureza?
Quem não compreende que o autor responsável destas calamidades é, com toda a certeza,
quem criou o Universo e quem o governa?

Suponho que, sobre este ponto, não há contestação possível. Deus que governa o Universo, é
o responsável pelo mal físico. Esta resposta seria suficiente, e, no entanto, vou continuar.

Eu entendo que o mal moral é tão imputável a Deus quanto o mal físico. Se Deus existe, foi ele
que presidiu à organização do mundo físico. Por conseqüência, o homem, vítima do mal moral,
como do mal físico, não pode ser responsável por um nem por outro.

Vamos, pois, ver agora na terceira e última série de argumento, o que tenho a dizer sobre o
mal moral.

Terceira serie de argumentos: Contra o Deus justiceiro

11º argumento: Irresponsável, o homem não pode ser castigado nem recompensado

Que somos nós? Presidimos às condições de nosso nascimento? Fomos consultados sobre se
queríamos nascer? Fomos chamados a traçar o nosso destino? Tivemos, sobre qualquer destas
questões, voz ou voto?

Se cada um de nós tivesse voz e voto para escolher, desde o nascimento, a saúde, a força, a
beleza, a inteligência, a coragem, a bondade, etc…, seguramente que todos estes benefícios
nos teríamos outorgado. Cada um de nós seria, então, em resumo de todas as perfeições, uma
espécie de Deus em miniatura.

Mas, afinal, que somos nós? Somos aquilo que queríamos ser? Não, incontestavelmente.

Na hipótese Deus, somos – visto que foi ele que nos criou – aquilo que ele quis que fôssemos.
Deus é livre, não podia nos ter criado. Ou podia ter-nos criado menos perversos, porque é
bom. Ou, então, podia ter-nos criado virtuosos, bem comportados, excelentes, enchendo-nos
de todos os dotes físicos, intelectuais e morais, porque é todo poderoso.

Pela terceira vez: Que somos nós? Somos o que Deus quis que fôssemos, visto que ele criou-
nos segundo o seu capricho e o seu gosto.

Se se admite que Deus existe e que foi ele que nos criou, não se pode dar outra resposta a
pergunta ―quem somos nós?‖. Com efeito, foi Deus que nos deu os sentidos, as faculdades de
compreensão, a sensibilidade, os meios de perceber, de sentir, de raciocinar, de agir. Ele
previu, quis determinar as nossas condições de vida; coordenou as nossas necessidades, os
nossos desejos, as nossas paixões, as nossas crenças, as nossas esperanças, os nossos ódios,
as nossas ternuras, as nossas aspirações. Toda a máquina humana corresponde àquilo que ele
quis. Ele arranjou e concebeu todas as peças do meio em que vivemos, preparando todas as
circunstâncias que, a cada momento, dão um assalto a nossa vontade, determinando as
nossas ações.

Perante este Deus formidavelmente armado, o homem é, portanto, irresponsável.

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O que não está sob a dependência de ninguém é inteiramente livre; o que está um pouco sob
dependência de um outro é um pouco escravo, e livre só para a diferença; o que está muito
sob a dependência de um outro é muito escravo, e não é livre senão para o resto; enfim, o
que esta em absoluto sob a dependência de outro, é totalmente escravo, não gozando de
nenhuma liberdade.

Se Deus existe, é nesta última postura – a do escravo – que o homem se encontra em relação
a Deus; e sua escravidão é tanto maior quanto maior for o espaço entre o Senhor e ele.

Se Deus existe, só ele é que sabe, pode, quer, só ele é livre. O homem nada sabe, nada pode,
nada quer, a sua dependência é completa. Se Deus existe, ele é tudo – o homem, nada.

O homem, submetido a esta escravidão, aniquilado sob a dependência, plena e inteira de


Deus, não pode ter nenhuma responsabilidade. E, se o homem é irresponsável, não pode ser
julgado. Todo o julgamento implica um castigo ou uma recompensa; mas os atos de um
irresponsável, não possuindo nenhum valor moral, estão isentos de qualquer responsabilidade.
Os atos de um irresponsável podem ser úteis ou prejudiciais. Moralmente não são bons nem
maus, como não são meritórios nem repreensíveis; julgados equitativamente, não podem ser
recompensados nem castigados.

Portanto, Deus, erigindo-se em justiceiro, castigando e recompensando o homem


irresponsável, não é mais do que um usurpador, que se arroga um direito arbitrário, usando
dele contra toda a justiça.

Do que fica escrito, concluo:

a) Que a responsabilidade do mal moral é imputável a Deus, como igualmente lhe é imputável
a responsabilidade do mal físico;

b) Que Deus é um juiz indigno, porque, sendo o homem irresponsável, não pode ser castigado
nem recompensado.

12º argumento: Deus viola as regras fundamentais de equidade

Admitamos por um instante que o homem é responsável, e veremos como, dentro desta
hipótese, a justiça divina viola constantemente as regras mais elementares da equidade.

Se se admite que a prática de justiça não pode ser exercida sem uma sanção; que o
magistrado tem, por mandato, fixá-la; e que há uma regra, segundo o qual o sentimento deve
pronunciar-se unanimemente, é evidente que, da mesma forma, tem de haver uma escala de
mérito e culpabilidade, assim como uma escala de recompensas e de castigos.

Admitindo este princípio, o magistrado que melhor pratica a justiça é aquele que proporciona o
mais exatamente possível a recompensa ao mérito e o castigo a culpabilidade. E o magistrado
ideal, impecável, perfeito, seria aquele que estabelece uma relação rigorosamente matemática
entre o ato e a sanção.

Eu penso que esta regra elementar de justiça é acerta por todos. Pois bem, Deus, distribuindo
o Céu e o Inferno, finge conhecer esta regra e viola-a. Qualquer que seja o mérito do homem,
esse mérito é limitado (como o próprio homem); e, no entanto, a sanção da recompensa não o
é: o Céu não tem limites, ainda que não seja senão pelo seu caráter de perpetuidade.
Qualquer que seja a culpabilidade do homem, esta culpabilidade é limitada (como o próprio

216
homem); e, no entanto, o castigo não o é: o Inferno o é: o Inferno é ilimitado, ainda que não
seja senão pelo seu caráter de perpetuidade.

Há, pois, uma grande desproporção entre o mérito e a recompensa, entre a falta e a punição:
o mérito e a falta são limitados, enquanto que a recompensa e o castigo são ilimitados.

Deus viola, pois, as regras fundamentais da equidade.

Finda aqui a minha tese. Resta-me apenas recapitulá-la e conclui-la.

Recapitulação

Prometi uma demonstração terminante, substancial, decisiva, da inexistência de Deus. Creio


poder afirmar que cumpri esta promessa.

Não percais de vista que eu não me propus dar-vos um sistema do Universo que tornasse
inútil todo o recurso à hipótese de uma Força sobrenatural, de uma Energia ou de uma
Potência extra mundial, de um Princípio superior ou anterior do Universo. Tive a lealdade,
como era o meu dever, de vos dizer com toda a franqueza: apresentado assim, o problema
não admite, dentro dos conhecimentos humanos, nenhuma solução definitiva; e que a única
atitude que convém aos princípios refletidos e razoáveis é a expectativa.

O Deus que eu quis negar e do qual posso dizer que neguei a possibilidade é o Deus, é o Deus
das religiões, o Deus Criador, Governador e Justiceiro, o Deus infinitamente sábio, poderoso,
justo e bom, que os padres e os pastores se jactam de representar na Terra e que tentam
impor a sua veneração.

Não há, não pode haver, equívoco. E este Deus que é preciso defender dos meus ataques.

Toda a discussão sobre outro terreno – e previno-vos disto, porque é necessário que vos
ponhais em guarda contra as insídias do adversário – será apenas uma diversão, e, ainda
mais: a prova provada de que o Deus das religiões não pode ser defendido nem justificado.

Provei que Deus, como criador, é inadmissível, imperfeito, inexplicável; estabeleci que Deus,
como governador, é inútil, impotente, cruel, odioso, despótico; demonstrei que Deus, como
justiceiro, é um magistrado indigno, pois que viola as regras essenciais da mais elementar
equidade.

Conclusão

Tal é, portanto, o Deus que, desde tempos imemoriais, nos tem ensinado e que ainda hoje se
ensina às crianças, tanto nas escolas como nos lares. E que de crimes se tem cometido em
nome dele! Que de ódios, guerras, calamidades tem sido furiosamente desencadeados pelos
seus representantes! Esse Deus de tanto sofrimento não tem sido a causa! E quantos males
provoca ainda hoje!

Há quantos séculos a religião traz a humanidade curvada sob a crença, espojada na


superstição, prostrada resignadamente!

Não chegará jamais o dia em que, deixando de crer na justiça eterna, nas suas sentenças
imaginárias, nas suas recompensas problemáticas, os seres humanos começam a trabalhar
com um ardor infatigável pelo vento de uma justiça imediata, positiva e fraternal sobre a

217
Terra? Não soará jamais a hora em que, desiludidos das consolações e das esperanças falazes
que lhes sugere a crença de um paraíso compensador, os seres humanos comecem a fazer do
nosso planeta do Éden de abundância, de paz e de liberdade, cujas portas estejam
fraternalmente abertas para todos?

Há muito tempo que o contrato social é inspirado num Deus sem justiça, como há muito tempo
que ele se inspira numa justiça sem Deus. Há muito tempo que as relações entre os países e
os indivíduos dimanam num Deus sem filosofia, como há muito tempo que elas dimanam uma
filosofia sem Deus. Há muitos séculos que monarcas, governos, castas, padres, condutores do
povo e diretores de consciências, tratam a humanidade como um vil rebanho de cordeiros,
para, em último lugar, serem esfolados, devorados, atirados ao matadouro.

Há séculos que os deserdados suportam passivamente a miséria e a servidão, graças ao


milagre procedente do Céu e à visão horrorosa do inferno. É preciso acabar com este odioso
sortilégio, com esta burla abominável.

Tu, leitor, que me lês, abre os olhos, examina, observa, compreende. O Céu de que te falam
sem cessar; o Céu com a ajuda do qual procuram insensibilizar a tua miséria, anestesiar os
teus sofrimentos e afogar os gemidos que, apesar de tudo, saem do teu peito, é um Céu
irracional, um Céu deserto. Só o seu inferno é que é povoado, que é positivo.

Basta aos lamentos: os lamentos são vãos! Basta de prosternações: as prosternações são
estéreis! Basta de preces: as preces são impotentes!

Levanta-te homem! E, direito, altivo, declara guerra implacável a Deus que, a tanto tempo,
impõe aos teus irmãos e a ti próprio uma veneração embrutecedora!

Desembaraça-te deste tirano imaginário e sacode o jugo dos indivíduos que pretendem ser os
representantes dele na Terra!

Mas, lembra-te bem, que, com este gesto de libertação, não terás cumprido senão uma das
tarefas que te incumbe.

Não te esqueças de que de nada servirá quebrar as cadeias que os Deuses imaginários,
celestes e eternos, tem forjado contra ti, se não quebrares igualmente as cadeias que, contra
ti, tem forjado os Deuses passageiros da Terra.

Estes Deuses giram em torno de ti, procurando envilecer-te e degradar-te. Estes Deuses são
homens como tu.

Ricos e governantes, estes Deuses da Terra tem-na povoado de inúmeras vítimas, de


tormentos inexplicáveis.

Possam, enfim, um dia, os condenados da Terra insurgirem-se contra os seus verdugos, para
fundarem uma Cidade na qual não possa haver destes monstros.

Quando te tiveres emancipado dos Deuses do Céu e da Terra, quando te tiveres


desembaraçado dos chefes de cima e dos chefes debaixo, quando tiveres levado à pratica este
duplo gesto de libertação, então, mas então somente, ó meu irmão, sairás do Inferno em que
te encontras para entrar no Céu que tu realizarás! Deixarás as trevas da tua ignorância, para
abraçar as puras claridades da tua inteligência, desperta, já, das influências letárgicas das
religiões!

218
O Autor

Sebastien Faure nasceu no ano de 1858 na França. Criado em uma família burguesa e muito
conservadora, recebeu ensino em um estabelecimento religioso. Os dirigentes do colégio,
padres jesuítas, detectaram nele inteligência e vocação para seguir o ―caminho de Deus‖, e,
aos dezessete anos entrou no noviciado. Foi um noviço exemplar. Por dezessete meses se
aprofundou numa fé rigorosa e cega. Até que num dia recebeu um telegrama dizendo que seu
pai estava gravemente doente. Visitou o seu pai, que disse-lhe que devia deixar a sua vida
religiosa para sustentar a família. Seu pai morreu. Ele voltou a sua vida normal e, com o
tempo, foi vendo a farsa em que ele estava acreditando. Tornou-se ateu e anarquista, pelo
qual lutou por quase toda a sua vida. Faleceu em 1942.

Onisciência versus Livre Arbítrio

Religiões, de uma forma geral, não gostam de assumir o caráter escravagista deles. Quando
falo escravidão me refiro ao fato de nós, pobres e toscos mortais, estarmos subordinados a
alguma entidade mágica, de forma que tal entidade faz o que quer e bem entende e nós temos
que seguir, de forma irremediável.

Acontece que escravidão não é uma coisa legal e religiosos procuram arrumar um subterfúgio
para dizer que a sua religião não é ruim e que não há nenhum tipo de escravidão. Dizem que
as pessoas são livres e daí surgiu o estúpido conceito de livre arbítrio. Não que ter liberdade de
escolha seja ruim, muito pelo contrário. O problema reside num paradoxo religioso, pois eles
insistem que o deus particular (os outros são falsos. Só o SEU é que é verdadeiro) é poderoso
e decide quem o seguirá e receberá recompensas. Para pessoas racionais, o problema fica
evidente; para quem apenas acredita, não há nada de errado. Vamos examinar isso de perto.

O conceito de liberdade frente às religiões, é algo sem sentido. Percebam: você tem o direito
de escolher não seguir um deus, só que se não o fizer – independente do tipo de pessoa que
você seja – você será condenado a penas eternas. Assim, levando em conta a brevíssima vida
que temos, teremos uma eternidade inteira pela frente de dor e sofrimento. Isso é justo?
Mesmo que eu seja uma pessoa boa, que ajude ao próximo, que não acumule excessivos bens
materiais, que lute pelos desesperançados, que faça por onde ajudar a melhorara vida dos
outros, pouco importa. O crime mortal de escolher não seguir um deus me condenará à penas
horríveis. Enquanto isso, o pastor ladrão, o padre pedófilo, o pai-de-santo safado, a cigana
estelionatária, o muçulmano terrorista etc., todos gozarão da Vida Eterna em esplendor porque
eles seguiram um livro religioso. Deus é amor? Que amor é esse?

―Mas Deus nos avisou.‖

Avisou? Quando? Não me lembro de ele ter aparecido. Eu ouvi alguns seguidores dizendo
assim, assado. Mas o que os seguidores de uma religião pregam é o mesmo que membros de
OUTRA religião, que rezam para OUTRO deus pregam. Como saber QUAL DEUS é o
verdadeiro? Isso é algum tipo de roleta russa divina, onde você sempre perde? Parece.

Cristãos sempre saem com o argumento que as pessoas são responsáveis pelos seus atos e
arcarão com sua responsabilidade. Mentira! Uma prova cabal que não há tal liberdade é a
própria Bíblia que cristãos não leem. Eles sempre dizem que todos os joelhos se dobrarão
perante Deus e coisa e tal. A citação completa está em Filipenses cap. 2:

219
5. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,

6. Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deusa,

7. Mas esvaziou-se a si mesmob, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos


homens;
8. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e
morte de cruzc.

9. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o
nomed;

10. Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e
debaixo da terra,

11. E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.

a
Como ele não teve por usurpação ser igual a Deus se ele era Deus? Obviamente, não espero
que religiosos expliquem isso.

b
Também não espero que expliquem o que é esvaziar-se em si mesmo.

c
Mentira, pois ele mesmo reclamou na hora dizendo ―Eli, Eli, lamá sabactâni‖/‖Deus meu,
Deus meu, por que me desamparaste?‖ (Mateus 27: 46 ; Marcos 15:34)
d
Deus exaltou a si mesmo?

Os versículos deixam claro uma coisa: TODOS os joelhos se dobrarão perante Jesus. Sem
exceção, independente do que seja ou o que aconteça. Toda língua confessará que Jesus é o
Senhor, para a glória de Deus. Por que Deus precisa que confessem isso para se sentir
glorioso, é algo que não consigo entender, nem os religiosos, mas eles estão acostumados a
aceitar qualquer coisa sem questionar, de qualquer forma.

Onde está o livre arbítrio? Eu não posso escolher NÃO CONFESSAR que Jesus é o senhor de
coisa alguma? Eu SOU OBRIGADO a fazer isso? Onde está a minha escolha que dizem que
tenho? A explicação vem a seguir, neste mesmo capítulo, bem nos versículos seguintes:

12. De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença,
mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor
e tremor;

13. Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa
vontade.

14. Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas;

Versículo 12: Ameaça. Você deve ter medo, trema! Obedeça-me, pois ou meu Deus te fará
sofrer de maneira horrenda!

Versículo 13: Não pense que você toma alguma decisão. Deus é quem decide o que você faz.
Mesmo que você não acredite neste deus, é porque ele FAZ você não acreditar. Para quê? Para
te punir depois.

220
Versículo 14: Cale-se! Você é escravo de minha vontade. Meu Deus disse que você deve me
obedecer, como falei acima. Não reclame, não murmure, aceite seu destino miserável ou não
importa, pois Deus é que comanda sua vontade.

Resumindo: as pessoas são marionetes e Deus, enquanto puxa as cordas, as ama tanto
quanto um ventríloquo ama um boneco de madeira. Mas ao final do show, o boneco vai para
uma caixa e ficará lá até seu dono resolver brincar com ele novamente.

Mas religiosos teimarão até à morte que temos liberdade de ação. Temos? Ok, vejamos, eu me
recusei a ter Jesus no meu coração e em qualquer outra cavidade do meu corpo. Assim, eu
estou destinado a ter sérios problemas daqui pra frente. Tomemos o caso do Haiti. As pessoas
escolheram morrer de forma bárbara naquele terremoto? Bem, teve tosco que falou que era
por causa da macumba. Cristãos estão ilesos? Zilda Arns morreu dentro de uma igreja, a casa
de Deus, sendo que ela era freira. De repente, era porque ela não era evangélica. Tão
evangélica como as pessoas que morreram no desabamento da igreja Renascer.

―Mas eles estão sentados ao lado de Jesus.‖

Preciso mesmo comentar isso?

Tomemos a primeira punição: Adão e Eva (estamos no folclore judaico, tomado emprestado
pelos cristãos). Para chegarmos a isso, temos que voltar um pouco no tempo.

Javé, num certo espaço de tempo – antes de existir o tempo, propriamente dito – resolveu
criar o mundo. Seu poder é imenso, sua sabedoria é vasta e seu conhecimento transcende a
realidade, podendo ―ver‖ as coisas de maneira não-linear. Em outras palavras, tudo está
ocorrendo ao mesmo tempo perante os olhos de Deus. Dessa forma, ele tem conhecimento do
presente, passado e futuro, independente das possibilidades. Ele é Deus e nada supera seu
poder.

Muito bem, Deus cria o mundo SABENDO que criaria a humanidade (não estou preocupado
com o ―porque‖ disso, posto que não é relevante para esta discussão). Deus SABE que a
humanidade surgirá de Adão e Eva, pois ele criará Adão e Eva. Como sua percepção é não-
linear, ele sabe TUDO o que vai acontecer. Ele cria uma Árvore do Bem e do Mal para pôr no
Eden. Para quê? Para testar Adão e Eva, sendo que ele SABE o que vai acontecer. Assim, por
que ele põe a droga da árvore lá? Para testar. mas para que ele precisa testar? Bem, Eva faz
Adão comer o fruto. Ok. EPA! Ok, não! Ela só fez Adão comer porque a serpente induziu ela a
comer. Mas Deus deveria saber que a Serpente faria isso. Em outras palavras: se Deus não
tivesse colocado a árvore lá NEM tivesse criado a Serpente, Adão e Eva ainda estariam no
Paraíso até hoje.

Se levarmos Filipenses ao pé da letra (e a Bíblia proíbe que se altere o sentido das palavras), a
Serpente fez o que Deus queria e tentou Eva. Eva fez o que Deus queria e deu o fruto a Adão.
Adão fez o que Deus queria e comeu a droga do fruto.

Façamos um experimento mental (é apenas mental, eu não sou psicótico para realizá-lo de
modo real). Eu coloco uma criança e digo: ―Coloquei um doce em cima da mesa. NÃO COMA O
DOCE!‖

Sento e fico observando.

221
Minha mulher chega e fala pra criança: ―Vai lá e pega o doce‖. A criança, lembrando o que
falei, dirá que não. Minha mulher insiste: ―Não, pode ir lá comer que não acontecerá nada‖. Eu
ainda estarei observando cada passo dos acontecimentos, sem perder nada.

De tanto minha mulher insistir, a criança vai até o doce e o come. Eu apareço de sopetão e
começo a bater na criança com uma vara de marmelo. Xingo, bato, machuco e a jogo porta
afora, condenando uma criança pequena a enfrentar o mundo sozinha.

O que o Conselho Tutelar pensaria disso?

Outro experimento mental: Eu vejo um cristão atravessar a rua, mas eu percebi que vem um
carro em alta velocidade. Eu tenho como chegar a tempo e empurrá-lo (ou puxá-lo) para fora
da pista. Se eu fizer isso, interferirei no livre arbítrio dele de andar no meio da rua. Ninguém
mandou ele ser relaxado e não olhar direito pra saber se vinha carro. Logo, o mais lógico seria
ele arcar com sua ação, certo? Se eu parar e ver o atropelamento sem dar nenhuma
assistência, nem mesmo depois do acontecido, com várias testemunhas certificando que eu
PODIA ter impedido, que eu tinha PODER para impedir a tragédia, o que elas falarão?
Lembremos que tudo são ações de Deus. Isaías cap. 45 disse que todo o mal e todo o bem
provem de Deus. Logo, ele é que decide o que vai acontecer. Omissão de socorro? Mas eu não
fiz nada, não fui eu quem disse pro cristão andar despreocupadamente pela rua nem era eu
que estava no volante.

Fica-se a pergunta: Por que existe o mal? Por que pessoas sofrem. Por causa do livre arbítrio?
Mas Isaías disse que o mal feito pelo próprio Deus. Filipenses disse que todas as nossas ações
são obra de Deus. Onde fica a responsabilidade dele? Assim, ele faz por pura maldade.

Terceiro experimento mental: Eu pego um pastor evangélico, padre pedófilo ou pai-de-santo


estelionatário e os amarro. Se algum deles conseguir se safar, a explicação está em duas
alternativas:

1. Ele(s) se soltou(aram) porque eu não foi eficiente em amarrá-los direito.


2. Ele(s) se soltou(aram) porque eu permiti.

Assim, eu não tenho capacidade de contê-los OU não tenho a intenção de contê-los presos.
Dessa forma, se eles escapam, é por minha culpa, em cada uma das duas hipóteses. Se eu
fosse o melhor amarrador do mundo, com poder infinito, eles JAMAIS poderiam fugir. Dessa
forma, ou eu sou um incompetente para amarrar salafrários, ou sou um canalha por permitir
que eles fujam.

Para os calvinistas, não existe o livre arbítrio, existe predestinação. Ou seja, você continua
sendo uma marionete e nem a falácia que você tem liberdade de tomar decisões lhe cabe. Eu
não sei como alguém consegue viver assim, baixando a cabeça, mas também devo admitir que
é o mais próximo ao que diz na Bíblia. Tudo foi pré-determinado, não há como fugir! Deus
escolheu todos os seus sofrimentos e nem você nem ninguém poderá impedir isso. As amarras
estão bem presas e você está completamente escravo de uma decisão superior e não lhe cabe
reclamar ou mesmo murmurar. Só lhe cabe o desespero.

Não, o conceito de livre arbítrio não coaduna com o de omnisciência e omnipotência


(características divinas), restando o paradoxo de Epicuro:

Para Deus e o Mal continuarem existindo ao mesmo tempo é necessário que Deus não tenha
uma das três características.

222
Se for omnipotente e omnisciente, então tem conhecimento de todo o Mal e poder para acabar
com ele, ainda assim não o faz. Então, Deus não é bom.

Se for omnipotente e benevolente, então tem poder para extinguir o Mal e quer fazê-lo, pois é
bom. Mas não o faz, pois não sabe o quanto Mal existe, nem onde o Mal está. Então, Deus não
é omnisciente.

Se for omnisciente e bom, então sabe de todo o Mal que existe e quer mudá-lo. Mas isso
elimina a possibilidade de ser omnipotente, pois se o fosse erradicava o Mal. E se, Deus não
pode erradicar o Mal, então, Deus não é omnipotente.

Se ele não é onipotente, onisciente e/ou bondoso, por que chamá-lo de ―Deus‖?

Grandes Mentiras Religiosas

Se existe uma coisa que é pública e notória – com nenhuma possibilidade de contestação – é a
capacidade de descaramento de um religioso na hora de lutar para impor suas opiniões. A
―cruzada‖ contra o livre pensamento lhes fazem mentir horrivelmente a fim de fundamentar
alegações tão sólidas quanto castelos de nuvens.

As mentiras são muitas! Histórias fantasiosas que circulam por aí com a popularização da
internet, escritas por pessoas totalmente burras, estúpidas, imbecis, incultas e fanáticas. Não,
não fui exagerado nas qualificações porque aqui provaremos o porque disso. Esta série de
artigos, escrita e cotejada por Abbadon, e organizada por mim – eu, André, um dos Sábios
Senhores do Ceticismo.net – abordará temas como frases feitas ameaçadoras. Cazuza foi
morto por causa de um baseado oferecido a Jesus? Hitler realmente era ateu? Darwin rejeitou
a Teoria da Evolução? Milagres existiram?

In Scepticismus Veritas!

Cada alegação será confrontada com fatos, cada alegação será pesquisada por fontes que
corrobore, cada alegação será DESTROÇADA sem dó nem piedade. Sendo assim, venham,
meus caros, temos algo a lhes contar. E contaremos beeeeeeem de perto…

Útimas palavras de ateus e “ateus”

As mentiras que os religiosos divulgam na Internet somam um número assombroso! Mas, aqui
derrumabremos todas as bobagens que os religiosos costumam divulgar por email, fóruns da
internet, comunidades do Orkut, Power Points, sites, etc. no tocante a últimas palavras de
pessoas que não professavam a religião mágica do Grão Cavaleiro do Burrico. Já pra preparar
o vosso apetite, diremos um segredinho: Nem todos eram ateus…! Hehehehe

De início, fica a pergunta: Por que divulgar mortes trágicas de pessoas que não acreditam no
Cristianismo? Simples: propaganda! É um recurso bastante utilizado por eles, religiosos, para
infundir o medo nas pessoas, ou convencê-las da necessidade de uma crença em seres
imaginários, de que precisam adorar um deus ou um jóquei de jegue para que não sejam
punidos por pensar, raciocinar, blasfemar, duvidar, criticar, etc. Sobre o motivo de uma
crença, recomendamos que leiam o artigo ―A necessidade de uma crença―.

Vamos analisar, então, as Famosas Últimas (e falsas) Palavras dos ―Ateus‖.

223
VOLTAIRE, o famoso zombador, teve um fim terrível. Sua enfermeira conta: ―Por todo o
dinheiro da Europa, não quero mais ver um incrédulo morrer!‖ Durante toda a noite ele gritou
por perdão.

François-Marie Arouet (21 de novembro de 1694 – 30 de maio de 1778), mais conhecido pelo
pseudônimo Voltaire, foi um escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês conhecido
pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis, inclusive liberdade
religiosa e livre comércio.

Voltaire foi um escritor prolífico, e produziu obras em quase todas as formas literárias,
assinando peças de teatro, poemas, romances, ensaios, obras científicas e históricas, mais de
20 mil cartas e mais de 2 mil livros e panfletos.

Ele foi um defensor aberto da reforma social apesar das rígidas leis de censura e severas
punições para quem as quebrasse. Um polemista satírico, ele freqüentemente usou suas obras
para criticar a Igreja Católica e as instituições francesas do seu tempo.

Voltaire não aceitava o dogma do pecado original e a doutrina crista segundo a qual o deus
cristão ―deixou‖ o homem livre para escolher entre o bem e o mal, a fim de ―testar‖ a sua
alma. E lutou a vida toda pela Justiça, que para ele, dependia da liberdade intelectual de
pensamento. E também, criticou a fé e pregava que o homem deveria resolver seus próprios
problemas, pela esperança de uma sociedade melhor e pelo amor ao semelhante. E Voltaire
acreditava na existência de um deus. É de sua autoria a frase ―Se Deus não existisse teria de
ser inventado―, constante no Dicionário Filosófico. Voltaire não era ateu e muito menos
agnóstico. Voltaire era deísta, tal como Einstein.

Voltaire foi um dentre muitas figuras do Iluminismo (juntamente com John Locke e Thomas
Hobbes) cujas obras e idéias influenciaram pensadores importantes tanto da Revolução
Francesa quanto da Americana. As últimas palavras de Voltaire, na verdade, foram estas:

―Pelo amor de Deus, deixem-me morrer em paz !‖

Mas, também existem histórias apócrifas que ele estava entre um padre e um missionário
protestante e pediu que ambos se pusessem um de cada lado dele porque ele queria morrer
como Jesus. Quando os dois estavam posicionados, ele riu e disse ―agora sim, posso morrer
entre dois ladrões―, ou ainda a história (também apócrifa) que um padre estava tentando
convertê-lo ainda no leito de morte e ele disse: ―meu caro, lamento, mas não é hora de
fazermos novos amigos―. Claro que nada disso ocorreu, porque Voltaire foi enterrado em
segredo, porque senão ele não teria recebido permissão de ser enterrado num cemitério de
Paris.

Quanto à enfermeira, não há citação ao nome dessa suposta ―enfermeira‖ que ―relatou‖ as
últimas palavras de Voltaire. Não há nenhuma menção a isso, em toda e qualquer biografia
oficial de Voltaire, como a que foi escrita por André Maurois. Isso só existe em sites
religiosos. Não há nem mesmo menção à causa do ―fim terrível‖, simplesmente porque Voltaire
morreu aos 83 anos de idade.

Assim, temos: Voltaire não era ateu e muito menos teve um final horrendo. De qualquer
forma, eu nunca vi o que pode ser chamada de ―morte bonita‖. Você viu?

Myth Busted !

224
DAVID HUME, o ateu gritou: ―Estou nas chamas!‖

Na verdade, não se sabe se David Hume era ateu, se possuía alguma crença. Para alguns, era
ateu. Para outros, era um agnóstico.

Hume não acreditava em milagres porque nunca havia visto um, isso significa alguma coisa?
Se eu contar para um hinduísta que Jesus fez milagres ele acreditará? Então hindus são ateus,
né? Ah, bem… Para cristãos, quem não acredita em Jesus é ateu e ponto final.

De qualquer forma, não há indicação de que Hume afirmasse que eles não existiam. De acordo
com ele, a origem da religião é o sentimento, assim como a da moral. É temperando o lado
prático, sentimento, temor e esperança, que criamos a fé e os deuses. Moralmente aceitos, os
princípios céticos são os mais úteis e agradáveis para a maioria. As verdades morais não são
eternas. Hume coloca questão do que é o bem para o homem. Sua teoria moral tem um tom
altruístico.

Em algumas passagens de suas obras, Hume fala de um Ser supremo, bondoso, justo e
severo, senhor da mão natureza. Fonte: Hume vida e obra

Alem disso, não há citação em sua biografia essas ultimas palavras que os religiosos adoram
citar. Não há nenhuma fonte confiável, não há datas, não há testemunhas, não há nomes, não
há citação do local, nada de nada. Apenas outra mentira religiosa.

HEINRICH HEINE, o grande zombador, arrependeu-se posteriormente. Ao final de sua vida, ele
ainda escreveu a poesia: ―Destruída está a velha lira, na Rocha que se chama Cristo! A lira que
para a má comemoração, era movimentada pelo inimigo mal. A lira que soava para a rebelião
que cantava dúvidas, zombarias e apostasias. Senhor, Senhor eu me ajoelho, perdoa, perdoa
as minhas canções!‖

É interessante saber que Heinrich Heine nunca foi ateu. Na verdade era judeu, que se
converteu ao cristianismo luteranista depois. Foi um grande poeta de seu tempo e um crítico
mordaz da religião (bem, não só da religião, mas de tudo). A famosa expressão que qualifica a
religião como ―ópio do povo‖ - expressão posteriormente usada por Marx na Crítica da filosofia
hegeliana do direito (1844) havia sido adiantada por Heine. Em sua obra Ludwig Börne (1840),
Heine, com sua ironia peculiar, escreve:

Bendita seja uma religião, que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas
doces e soporíferas gotas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança.

Esse seu estilo irônico valeu-lhe a censura e vários problemas de recepção na Alemanha. Seus
livros foram banidos pela censura alemã, juntamente com as obra de outros autores tidos
como associados ao movimento da Jovem Alemanha de 1835. Sobre esse aspecto, seria
profético: ―Aqueles que queimam livros, acabam cedo ou tarde por queimar homens‖
(Almansor, 1821)

Ele morreu de sífilis, aos 44 anos de idade, em Paris. E daí? Muitos religiosos morrem se
arrependendo, gritando pelos seus deuses, aceitando um Jesus qualquer, escrevendo e
dizendo as suas famosas ultimas palavras. E só visitar qualquer hospital público no Brasil.

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De NAPOLEÃO escreveu a seu médico particular: ―O imperador morre solitário e abandonado.
Sua luta de morte é terrível‖

Mais uma vez, essa frase só consta em sites religiosos. Não consta na biografia oficial de
Napoleão, escrita por inúmeros historiadores. Não se cita o nome do médico particular, não há
a data dessa carta, não há copias gráficas para serem vistas pela internet, nada de nada.
Qualquer um pode consultar a biografia oficial de Napoleão, esta em qualquer livraria ou
biblioteca como esta AQUI.

Além do mais, o que essa frase tem a ver com o ateísmo ? Praticamente nada. E mesmo que a
frase fosse verdadeira, referia-se às derrotas que obteve nos últimos anos, principalmente na
Batalha de Waterloo e o seu exílio em Santa Helena. Napoleão jamais se declarou ateu. Ele
próprio reconhecia o catolicismo, apoiava-o, e declarou em certa ocasião: ―Uma sociedade sem
religião é como um navio sem bússola‖. É conhecida a sua aversão à hegemonia da Igreja
Católica nos assuntos políticos, assim como ele sabia do caráter controlador da religião ao
afirmar: ―A religião é o que impede o pobre de matar o rico―.

Em 1955, surgiram documentos em que Napoleão era descrito meses antes de sua morte,
pensando muitos que morto por envenenamento com arsênio. O arsênio era usado
antigamente como um veneno indetectável se aplicado em longo prazo.

Em 2001, um estudo de Pascal Kintz, do Instituto Forense de Estrasburgo, na França,


adicionou crença a esta possibilidade com um estudo de um pedaço de cabelo preservado de
Napoleão após sua morte: os níveis de arsênio encontrados em seu pedaço de cabelo eram de
7 a 38 vezes maiores do que o normal.

Cortar pedaços do cabelo em pequenos segmentos e analisar cada segmento oferece um


histograma da concentração de arsênio no corpo. A análise do cabelo de Napoleão sugere que
doses altas, mas não-letais foram absorvidas em intervalos aleatórios. O arsênio enfraqueceu
Napoleão e permaneceu em seu sistema. Lá, poderia ter reagido com mercúrio e outros
elementos comuns em remédios da época, sendo a causa imediata de sua morte.

Outros estudos também revelaram altas quantidades de arsênio presentes em outras amostras
de cabelo de Napoleão tiradas em 1805, 1814 e 1821. Ivan Ricordel (chefe de toxicologia da
Polícia de Paris), declarou que se arsênio tivesse sido a causa da morte, ele teria morrido anos
antes. Arsênio também era usado na época em papel de parede, como um pigmento verde, e
até mesmo em alguns remédios, e os pesquisadores sugeriram que a fonte mais provável de
todo este arsênio seja um tônico para cabelo. Antes da descoberta dos antibióticos, o arsênio
fazia parte de um composto químico usado sem muito efeito no tratamento da sífilis, levando à
especulação de que Napoleão poderia estar sofrendo de sífilis, uma doença venérea muito
comum naquela época.

Foi assim que ele morreu. Ao contrário do que os religiosos gostariam que tivesse morrido. E
Napoleão foi um importantíssimo personagem histórico que mudou o Ocidente como o
conhecemos e se duvidam disso, pensem o seguinte: D. João VI só veio aqui para o Brasil,
desenvolvendo a colônia, por ter sido ameaçado por Napoleão. Alguém aqui acha que D. Pedro
I sairia de Portugal e viria aqui declarar uma ―independência‖? Quem estuda, sabe. Quem não
estuda, crê em qualquer lorota que lhe contem.

NIETZSCHE: ―Se realmente existe um Deus Vivo, sou o mais miserável dos homens‖

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Nietzsche e seu imenso bigode é um dos alvos principais dos religiosos. E isso só porque ele
declarou que ―Deus estava morto―. Se religiosos parassem de ler versículos isolados da Bíblia e
estudassem mais, saberiam que Nietzsche estava falando da religião como era conhecida na
época. Examinando as ações do catolicismo e do advento do neopentecostalíssimo, vemos que
ele não estava errado.

Quanto à alegada frase, não é estranho que ela só aparece em sites religiosos e amplamente
divulgada em historinhas da morte de ―ateus‖ ? Se for feita uma pesquisa séria no Google,
veremos que tal frase não aparece em nenhum site sério (tradução: sites não-religiosos). Ela
não aparece em biografias oficiais, resumos, etc. Por que será? Tal frase não está registrada
em nenhuma de suas obras, não há testemunhas que dêem credibilidade, não há nada escrito,
não há documentos, não há data ou local onde foi proferida. Mas, é claro que os religiosos não
sabem disso. Eles não leram integralmente nem seu livro religioso, que dirá outras obras.

Nietzsche morreu devido a uma paralisia progressiva, causada pela sífilis. Na época em que
viveu, a sífilis era uma doença incurável, para o qual não haviam tratamentos (e não foi Deus
quem resolveu o problema e sim cientistas como Fleming). Esta doença produz danos mentais
irreversíveis. Esta doença ataca também os religiosos. É só ver quantos religiosos morreram
com demência mental, causada por ela inclusive papas como Júlio II, que foi quem deu a
realização da Capela Sistina a Michelangelo, e não foi só ele, não é mesmo, Rodrigo Bórgia?
Então qual a diferença? Nenhuma!

LÊNIN morreu em confusão mental. Ele pediu pelo perdão de seus pecados a mesas e
cadeiras.

Na verdade, Lênin morreu de sífilis também. Essa doença, em seus estágios mais avançados,
provoca irreversíveis danos mentais, além de alterações gravíssimas em sua personalidade
(aprenda sobre sífilis AQUI). Em seus últimos anos de vida, depois de sofrer vários derrames,
o tornou incapaz de falar, escrever e fazer operações matemáticas simples.

Então, como ele poderia ―pedir perdão‖ a mesas e cadeiras, se era incapaz de falar? E a
população JAMAIS soube de seu real estado de saúde, até que os arquivos russos foram
abertos recentemente para consulta pública, e esses arquivos revelam uma história
completamente diferente àquelas que os religiosos divulgam.

Uma vez mais, os religiosos mentem. Não são capazes de citar as fontes para as suas
alegações, datas, local, nem os nomes das testemunhas que o ―viram clamar a cadeiras e
mesas‖. E nem poderiam, já que os arquivos russos só foram divulgados há poucos anos atrás.
Não é mesmo? Chicão de Assis falando com animais é uma obra de Deus. Lênin dando bom dia
à cadeira é coisa do demo. hehehehe Só podemos rir, não é?

Uma fonte simples, para uma leitura rápida, já que os religiosos são preguiçosos demais para
ler um texto com mais de 5 parágrafos:

http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI346260-EI2418,00.html

SINOWYEW, o presidente da Internacional Comunista, que foi fuzilado por Stálin: ―Ouve Israel,
o Senhor nosso Deus é o único Deus‖.

Outra mentira religiosa. Pesquisando-se no Google pelo nome dessa personalidade, aparecem
apenas 31 resultados. Isso mesmo, 31 resultados. E todos localizados em sites religiosos.
Pesquisando-se os nomes dos presidentes da Internacional Comunista, não consta o nome

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dessa pessoa. Uma pesquisa mais acurada não encontrou o nome de Sinowyew. A lista
completa dos presidentes encontra-se abaixo neste LINK:

Que vergonha para vocês, religiosos….!

YAGODA, chefe da polícia secreta russa: ―Deve existir um Deus, Ele me castiga por meus
pecados‖.

Genrikh Grigor‘evich Yagoda, na verdade era judeu, nascido em uma família judia, e ele jamais
se declarou ateu. Não há nada na biografia dessa personalidade onde constasse tal declaração.
Tudo o que há é apenas a sua colaboração com o regime soviético, em particular para Stalin.
Na obra The Secret History of Stalin’s Crimes, de Alexander Orlov, escrita em 1953, no
capitulo ―Yagoda em sua Prisão‖, há a seguinte passagem:

―De Stalin eu não esperava nada, pelo meu fiel serviço. Mas de Deus, eu espero os mais
severos castigos por ter violado milhares de vezes os seus mandamentos.‖

YAROSLAWSKI, presidente do movimento internacional dos ATEUS: Por favor queimem todos
os meus livros. Vejam o santo Ele espera por mim‖.

Presidente DO QUÊ ? Nunca existiu o chamado ―Movimento Internacional dos Ateus‖, é uma
invenção dos religiosos! Podem procurar à vontade. Se houvesse um movimento desses,
estaria amplamente difundido pela Internet, com sede social, com carteirinha de membros,
reuniões anuais, publicação de revistas com artigos ateístas, personalidades atéias divulgando
o movimento, e sendo exaustivamente combatido pelos religiosos no dia a dia. Se não
acreditam, vão no site de Richard Dawkins, um dos mais intensos ativistas pelos direitos
dos ateus e veja se ele tem algum link ou fala alguma palavra a respeito dessa pseudo-
entidade. E ainda por cima, o individuo chamado Yaroslawski nunca existiu também. Se
existisse, haveria uma biografia citando o seu nome completo, local de nascimento, a relação
de seus ―livros‖ publicados. Em todos os portais das livrarias (Amazon, Saraiva, Submarino,
Tinta da China, etc) não há nenhuma citação a esta pessoa.

CESARE BORGIA, um estadista: ―Tomei providências para tudo no decorrer de minha vida,
somente não para a morte e agora tenho que morrer completamente despreparado.‖

Uma pesquisa revelou que essa frase só aparece em 5 resultados no Google, e todas elas em
sites religiosos no Brasil.

Como a maioria dos segundos filhos da nobreza italiana, César foi educado em seus primeiros
anos para se tornar um homem da Igreja, como seu pai. Indubitavelmente seu caráter não era
de um religioso. Como o pai, César foi um sensual, e suas ligações femininas são amplamente
reconhecidas desde sua adolescência. Foi apontado como amante de sua irmã Lucrécia Bórgia,
embora tal informação não possua grandes confirmações.

Abandona a carreira eclesiástica (para a qual tinha pouco gosto), utilizando como justificativa
o assassinato do irmão João, o qual deveria substituir nos assuntos temporais (João era
capitão das forças militares do papado). Feito Duque Valentino em 1498 pelo rei Luís XII de
França, que queria um papa aliado, César Bórgia era contemporâneo do escritor Nicolau
Maquiavel, tendo servido de modelo para o autor em sua obra O Príncipe, dedicado a
Lourenço de Médici. Calculista e violento, Bórgia tentou – com o apoio do pai – constituir um
principado na Romanha em 1501.

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No dia 31 de dezembro de 1502, para se livrar de seus inimigos (entre eles, Oliverotto de
Fermo), convidou-os para seu palácio de Senigallia, depois aprisionou-os e assassinou-os.
Após a morte de seu pai, foi encarcerado sucessivamente pelo Papa Júlio II e pelo rei de
Castela. Escapando daquele reino, serviu como soldado no exército de Navarra (que tinha por
rei o cunhado de César), e morreu aos trinta e um anos, no ano de 1507, em Viana, na
Espanha.

Pois é. O próprio filho do Papa!! Já imaginou o escândalo na Europa, se ele fosse mesmo ateu,
em pleno século XVI, onde o ateísmo não existia (e se existisse, eram todos automaticamente
condenados à fogueira por heresia). Seria a vergonha dos cristãos, em saber que o filho do
Papa Alexandre VI, era um sujeito mau, resolveram torná-lo ―ateu‖ para que o ateísmo fosse o
culpado das maldades dele? A mesma coisa com Hitler… (que sera objeto de um futuro artigo
neste blog, não percam !!)

TALLEYRAND: ―Sofro os tormentos dos perdidos.‖

Outra pesquisa revelou que essa frase só aparece em 9 resultados no Google, e todas elas em
sites religiosos no Brasil.

Outra mentira dos religiosos. Vejamos dados sobre a biografia dessa personalidade em:
http://www.talleyrand.org/

Vejamos aqui: ―Defensor dos privilégios eclesiásticos, suas atividades o puseram em contato
direto e freqüente com os ministros da coroa, o que lhe permitiu adquirir experiência
parlamentar e ser consagrado (1788) como bispo de Autun..‖ Não há nada na biografia dele
que indique se ele era ateu.

Observemos este trecho em francês, da biografia dele:

Quand elle eut achevé: « C‘est bien là ce que je pense et ce que je veux dire, reprit M. de
Talleyrand. Donnez-moi mes lunettes et une bonne plume. » - Et se dressant sur son séant, il
signa : « C‘est ma grande signature, celle que j‘ai mise au bas de tous les traités de paix avec
l‘Europe. Je devais la mettre au bas de ce dernier traité, qui est ma paix avec la Sainte Eglise.
» Il baisa les mains de Madame de Dino, et lui dit en souriant : « J‘imagine que l‘abbé
Dupanloup ne doit pas être bien loin. Voulez-vous l‘introduire et nous laisser. »

Les cinq témoins avaient assisté à cette scène derrière la portière, et étaient profondément
émus. L‘abbé Dupanloup entra dans la chambre du malade et y demeura près d‘une heure.
Quand il en sortit, il dit avec une grande émotion : « Je n‘ai jamais vu une pareille maîtrise de
soi-même, jointe à un repentir aussi sérieusement raisonné. » Le sacrement d‘Extrême-
Onction fut administré, le malade demanda que tous les serviteurs fussent présents. Les cinq
témoins entrèrent aussi. M. de Talleyrand répondit d‘une voix nette et intelligible à toutes les
prières ; au moment où l‘onction des mains allait lui être faite, il tendit sa main fermée, en
disant : « N‘oubliez pas, Monsieur l‘Abbé, que je suis évêque. »

Quand on administre l‘Extrême-Onction à un prêtre ou à un évêque l‘onction des mains se fait


« à l‘extérieur» sur le dos de la main et non « à l‘intérieur » dans la paume, où déjà a été faite
l‘onction sacerdotale. - « Et adverte quod Sacerdotibus, ut dictum est, manus non inunguntur
interius, sed exterius », dit la rubrique du Rituel Romain.

Quand tout fut terminé, il serra les mains de ses cinq amis, en leur disant « Adieu » et ils se
retirèrent. M. de Talleyrand mourut quelques heures après.

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Le 17 mai 1838 à trois heures trente-cinq minutes après midi.

Em miúdos, ele simplesmente disse ―Adeus‖. Fonte: Talleyrand Betrayer and Saviour of
France, de Robin Harris, publicado em 2007 pela Ed. John Murray.

É crentalhada… quando é que vão parar de mentir ? Mentir é pecado…

CARLOS IX (França): ―Estou perdido, reconheço-o claramente.‖

Carlos IX foi um dos responsáveis do Massacre de São Bartolomeu, um episódio que deu
inicio a 30 anos de guerras em nome da religião na Europa, onde católicos e protestantes se
mataram mutuamente em nome do mesmo deus. Interessante, não é?. E não, ele não era
ateu. Era cristão católico.

O reinado de Carlos IX foi conturbado, marcado pelos conflitos entre católicos e protestantes.
Os vacilos do soberano resultam numa carnificina que praticamente dizima os huguenotes.

Preciso dizer mais alguma coisa sobre o ―ateísmo‖ de Carlos IX ? Ah, e ele morreu de
tuberculose e as últimas palavras dele foram estas, de acordo com a biografia oficial: ―Quanto
sangue! Quantos crimes! Que Deus me perdoe o mal que fiz!―

Fonte: ―Charles IX, Hamlet couroné‖, da série Les rois qui ont fait la France, da editora
Pygmalion, de Georges Bordonove.

Ô crentalhada mentirosa…! Chamar Carlos IX de ateu, so porque foi responsável pelas Guerras
Religiosas ! Vocês não são capazes de assumir as cagadas que a sua religião fez, não?

MAZARINO: ―Alma, que será de ti?‖

Mais uma vez, os crentes mentem. Vejamos a biografia dele aqui:

Jules Mazarin (em italiano Giulio Raimondo Mazzarino), o cardeal Mazarino. Nasceu em
Pescina, reino de Nápoles em 1602, oriundo de modesta família siciliana, foi educado por
jesuítas em Roma. Estudou direiro canônico na universidade de Alcalá de Henares, na
Espanha, hoje pertencente à Universidade de Madrid. Voltou à Roma e prestou serviço militar
para o Papa, depois em 1628 tornou-se diplomata papal aos 26 anos de idade.

Como missão crucial, assumiu em 1630 as negociações de paz com o cardeal de Richelieu,
durante a guerra da sucessão de Mântua, e evitou que os exércitos da França e da Espanha se
confrontassem em Casales de Montferrat. Foi nomeado pela Santa Sé, vice-legado do papa
Urbano VII em Avignon. Foi, por algum tempo, núncio extraordinário em Paris, até que o
cardeal Richelieu o convocou para o serviço junto ao rei Luís XIII. Gozando então de grande
prestígio por parte de Richelieu e Luís XIII, ganhou em 1639 a nacionalidade francesa e foi
nomeado cardeal em 1641, sem nunca ter sido ordenado padre. Foi nomeado sucessor do
cardeal Richelieu, após a morte desse e, após a morte de Luís XIII em 1643, tornou-se
primeiro-ministro pela regente da França, Ana da Áustria.

Internamente submeteu os nobres franceses à autoridade da monarquia absolutista, porém


teve que sufocar várias revoltas quando aumentou os impostos para cobrir os gastos feitos
pela França na Guerra dos Trinta Anos, conflito que foi designado de La Fronde. Com as
brilhantes vitórias que conseguiu nessa guerra, assinou em condições vantajosas a paz de
Vestfália em 1648, o que converteu a França na principal potência européia. Continuou a

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cobrar altos impostos, o que favoreceu um novo e generalizado levante da nobreza e do povo
pelo país, e teve que fugir da França em 1651, mas Luís XIV conseguiu controlar a situação e
restaurou em 1653 o seu ministério. Formou a Liga do Reno contra a Áustria e, com a ajuda
da Inglaterra, à qual entregou Dunquerque.

Venceu a Espanha em 1659 e lhe impôs o Tratado dos Pirinéus que deu à França os
departamentos de Artois, Cerdagne e Roussillone. Resposabilizou-se pela educação do futuro
rei Luís XIV, seu afilhado, e promoveu o casamento desse com a infanta Maria Teresa, além de
assinar a paz no norte da Europa graças aos tratados de Copenhaga, Oliva e Kardis.

Morreu a 9 de março de 1661, em Vincennes, França. Quando morreu, segundo seus


biógrafos, teria concretizado grande parte dos objetivos propostos pelo cardeal Richelieu: a
modernização do Estado francês e a transformação da França em principal potência européia,
a restauração do absolutismo, a subjugação da nobreza francesa, além de concretizar o
declínio do poder dos Habsburgos na Europa, que governavam a Espanha, a Áustria e os
Países Baixos, também criou a Imprensa Real, iniciou a construção de um Jardim Botânico, e
fundou a Academia Francesa de Letras.

Perguntar não ofende: Existem cardeais que são ateus ?

As ultimas palavras dele só existem em sites religiosos !!!

HOBBES, um filósofo inglês: ―Estou diante de um terrível salto nas trevas.‖

Mais uma vez, essa frase so consta de sites religiosos. Não consta em sites bibliográficos,
científicos, filosóficos, nada de nada. Não há nada nas obras dele.

É tachado de ateu, por causa de suas obras, principalmente ―O Leviatã‖ e ―O Cidadão‖, e este
filosofo inglês teve um grande impacto na sociedade ocidental. Mais detalhes sobre a vida dele
podem ser encontrados em:

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2117

Citarei aqui um trecho:

O momento histórico vivido por Thomas Hobbes, era marcado por uma grande interferência da
Igreja no Estado, tinham o Estado como uma criação da vontade de Deus. O Estado era criado
porque era da vontade de Deus. Hobbes mais uma vez foi autêntico em seu pensamento. Ele
afirmava que o Estado era uma criação do homem, não tinha qualquer relação com a vontade
de Deus, era um ato puramente humano.

A prova do Estado ser leigo é o contrato social, que demonstra ser a criação do Estado nada
mais do que pura vontade política, criado pelo pacto entre os homens, um ser artificial,
independente da vontade divina.

Morreu aos 91 anos de idade. Teve uma vida bem longa, ao contrário da expectativa média de
vida dos religiosos naquela época, que mal passava dos 45 anos.

As verdadeiras últimas palavras de Hobbes foram estas:

―Estou prestes a partir em uma ultima grande viagem, que é um grande salto no escuro‖

231
Fonte: ―Hobbes: A Biography‖, de Aloysius Martinich, publicado por Cambridge University
Press, 1999, 390 páginas

Mas, podemos pensar que um salto no escuro, no vazio, também pode ser mostras que não há
nada depois da morte. Se o problema é interpretação…

SIR THOMAS SCOTT, o antigo presidente da Câmara Alta inglesa: ―Até este momento, pensei
que não havia nem Deus, nem inferno. Agora sei e sinto que ambos existem e estou entregue
à destruição pelo justo juízo do Todo-Poderoso.‖

Outra pesquisa revelou que essa frase so aparece em 20 resultados no Google, e todas elas
em sites religiosos no Brasil. Não há bibliografias em português. Não há nada sobre essa
personalidade. As únicas menções são a um personagem que viveu entre 1535 a 1594, que
era um alto mandatário de Kent. Isso diz alguma coisa a vocês? Porque a mim não diz
absolutamente nada!

Pega na mentira! Corta o rabo dela, pisa em cima, bate nela…

Além do mais, não existe uma chamada ―Câmara Alta Inglesa‖. O que existe são as ―Câmara
dos Lordes‖ e a ―Câmara dos Comuns‖.

O Parlamento também inclui a coroa (rei ou rainha) e a Câmara dos Comuns. A Câmara dos
Lordes tem 731 membros. Ela é um corpo não eleito, formado por 2 arcebispos e 24 bispos da
Igreja Anglicana (Lordes Espirituais), e 706 membros da nobreza (Lordes Temporais). Os
Lordes Espirituais mantêm-se no cargo enquanto ocuparem suas funções eclesiásticas,
enquanto os Lordes Temporais são vitalícios. Os membros da Casa dos Lordes são às vezes
chamados Lordes do Parlamento.

A Câmara dos Lordes foi estabelecida no século XIV. Foi abolida em 1649 pelo governo
revolucionário que tomou o poder durante a Guerra Civil Inglesa, mas foi restaurada em 1660.

Não há menção a ―Sir Thomas Scott‖ no site oficial da Câmara dos Lordes.

A única referencia, de 4 de junho de 1660, se encontra em:


http://www.british-history.ac.uk/report.aspx?compid=13968

Ô crentalhada mentirosaaaaa….!!

GOETHE: ―Mais luz!‖

E o que essa frase tem a ver, afinal de contas? Não prova nada, não quer dizer nada, não se
refere de forma alguma a um arrependimento, nada de nada. E ele jamais foi ateu, e em suas
obras, há varias referencias religiosas, apesar de não pertencer a nenhuma doutrina. Mas,
como foi dito, crenes não leem nem o livro religioso, quanto mais obras consagradas.

A verdadeira historia é esta:

Em 22 de março de 1832, na cidade de Weimar, Goethe está sentado na poltrona, ao lado da


cama. Seu estado de saúde havia piorado nos últimos dias devido à um resfriado. O dia
amanhece, mas o quarto mantém-se escuro. Goethe, que já respirava com dificuldade, faz um

232
sinal ao criado que se aproxima e ouve as últimas palavras pronunciadas: ―Abra a janela do
quarto, para que entre mais luz―.

Preciso continuar?

CHURCHILL: ―Que tolo fui!‖

Mais uma bobagem religiosa. O que essa frase tem exatamente a ver com o ateísmo?

A biografia oficial dele se encontra em: http://www.winstonchurchill.org. Se quiserem


algo mais simples, vejam na Wikipédia.

Churchill foi um dos homens que venceu a 2ª Guerra Mundial. Se não fosse por ele,
juntamente com Roosevelt, Hitler teria dominado a Europa, e a História seria bem diferente.

Ah e Hitler era cristão, não esqueçam.

Vcs religiosos, gostariam de viver em um mundo sob o regime nazista, capitaneado pelo
cristão Adolph Hitler? Bem, ele professava a mesma fé que vocês e agia com a mesma
intolerância, raiva, preconceito e beligerância que os toscos religiosos! Se vocês têm liberdade
hoje, meus caros, vocês devem, e MUITO, a Winston Churchill. O mundo em que vocês estão
vivendo hoje não existiria se alienados sádicos e psicóticos como Hitler, Mussolini e tantos
outros, que usaram e usam a religião com veículo de suas insanidades.

O último testemunho de Darwin

Charles Darwin foi um marco na Ciência!

Queiram os religiosos, ou não, a Teoria da Evolução é a melhor explicação até hoje para o
surgimento das espécies. Claro que ignorantes, burros, apedeutas e analfabetos científicos
procuram refutar usando de artifícios bobos como mencionar a 2ª Lei da Termodinâmica (que
não tem nada a ver com Biologia) e com o Big Bang (que pertence à Cosmologia). Ainda
procuram atacar pelo surgimento da vida, que não faz parte da Teoria da Evolução. Evolução
explica tão somente como surgiram as espécies.

Repitam comigo: Espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies,


espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies,
espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies,

233
espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies,
espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies, espécies…

Na ânsia desesperada em provar que seu deus existe, usam de artifícios descarados como
fazer com que Darwin renegasse a Evolução. Digno de risos. Vamos examinar as mentiras.

A conversão de CHARLES DARWIN no leito de morte, onde aceitou Jesus e renegou a Teoria da
Evolução.

Este boato se refere à história de Lady Hope (Lady Hope Story). Elizabeth Reid Cotton, Lady
Hope (9 de dezembro de 1842 - 8 de março de 1922) foi uma evangelista britânica da qual
geralmente acredita-se ser a Lady Hope que afirmou em 1915 ter visitado o naturalista
britânico Charles Darwin pouco antes de sua morte em 1882. Hope afirmou que Darwin
rejeitou sua Teoria da Evolução em seu leito de morte e aceitou Jesus Cristo como seu
salvador.

A família de Charles Darwin negou a história e sustenta que Lady Hope ―Não estava presente
durante a sua última doença ou qualquer doença‖. A história de Lady Hope é amplamente
conhecida, até mesmo por criaburricionistas, como sendo falsa - ou ao menos não verificável -
e se for verdade, é provavelmente exagerada. A história permanece como uma lenda urbana
popular, ainda que isto permaneça em nítido contraste com as publicações de Darwin e sua
conhecida opinião à respeito do cristianismo.

Curta biografia: Elizabeth Reid Cotton nasceu em 1842 na Tasmânia, Austrália, filha do general
britânico, General Sir Arthur Cotton. Aos 35 anos, casou-se com um viúvo, o aposentado
Almirante James Hope, que era 34 anos mais velho do que ela, tornando-se Lady Hope de
Carriden em 1877. Sir James faleceu quatro anos depois.

Ela e seu pai fizeram parte do movimento evangelista de temperança em Beckenham, Kent, a
cerca de 9 km de Downe (onde Charles Darwin faleceu em 19 de abril de 1882), próximo ao
ano de 1880.Hope casou-se novamente em 1893 com Thomas Anthony Denny, um
comerciante irlandês 24 anos mais velho do que ela. Ela continuou a usar o nome ―Lady Hope‖
ao invés de ―Senhora Deny‖. Deny morreu em 1909. Hope viajou para os Estados Unidos em
1913. Foi lá que, em 1915, 33 anos após a morte de Darwin, em Northfield, Massachusetts,
que a história apareceu pela primeira vez.

Hope morreu aos 80 anos de câncer em 1922 em Sidney, Austrália, onde está enterrada.

A história de Lady Hope apareceu pela primeira vez em um jornal batista (como sempre, só
aparece em publicações religiosas) americano chamado Watchman Examiner (Vol. 3, pag.
1071), em 15 de agosto de 1915. A autora foi apenas identificada como uma ―consagrada
mulher inglesa‖, ―Lady Hope‖, mas a pesquisa feita por Leslie Gilbert Pine, um antigo editor do
Burke‘s Peerage (Nobreza de Burke), não encontrou outra Lady Hope senão Elizabeth Hope
que já era adulta por volta de 1880 e que ainda estivesse viva em 1915.

O artigo foi precedido por um relatório de quatro páginas em uma conferência bíblica de verão
realizada em Northfield, que ocorreu entre 30 de julho à 15 de agosto de 1915.

Vamos dar uma olhada no texto original do artigo:

Aconteceu numa gloriosa tarde de outono, que nós desfrutamos algumas vezes na Inglaterra,
quando fui convidada a entrar e me sentar com o bem conhecido professor Charles Darwin. Ele

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estava acamado, tendo assim ficado meses até à morte. Erguendo-se da cama com o apoio de
almofadas, a sua face parecia inundada de prazer quando entrei no quarto.

Ele levantou a mão para a janela a fim de assinalar o belo pôr do sol que se esboçava no
horizonte, enquanto que com a outra mão segurava uma Bíblia aberta, que estava sempre a
estudar.

―O que é que está a ler agora?‖, perguntei. ―Hebreus!‖, respondeu. ―Ainda estou a ler Hebreus,
o Livro Real, como o costumo chamar‖.Depois, apontando o dedo para certas passagens,
comentou-as. Aludi, então, a algumas opiniões de peso expressas por muitos sobre a história
da Criação, e depois aos seus comentários aos primeiros capítulos do Livro de Gênesis. Ele
pareceu desolado, os seus dedos contraíram-se nervosamente, e sua face irradiou um
sentimento de agonia, quando disse:‖Eu era jovem e com idéias disformes. Levantei
interrogações, fiz sugestões, assombrando-me sempre com tudo; e para meu espanto essas
ideias espalharam-se, como o fogo tocado pelo vento. As pessoas fizeram delas uma religião‖.

– Fez a seguir uma pausa, e depois de mais algumas frases sobre a Santidade de Deus, e
sobre a grandeza deste Livro, olhando para a Bíblia que, com ternura segurava durante todo
aquele tempo, disse:‖No jardim tenho uma casa de verão onde cabem cerca de 30 pessoas; é
ali (apontou na direcção da janela). Quero que fale ali muito. Eu sei que você lê a Bíblia às
pessoas nas aldeias. Gostaria que amanhã à tarde alguns servidores do lugar, alguns
locatários, e alguns vizinhos, se reunissem ali. Falar-lhes-ia?‖

―Sobre que é que lhes falaria?‖, perguntei.

―Cristo Jesus‖ – replicou ele logo, numa voz clara e enigmática, acrescentando num tom mais
baixo – ―e a Sua salvação. Não é o melhor tema? E depois quero que cante alguns hinos com
eles. Você traz consigo o seu pequeno instrumento, não traz?‖

A radiância que a sua face emanou quando disse isto, jamais me esquecerei; pois ele
acrescentou: ―Se a reunião principiar às 3 da tarde, esta janela estará aberta, e saberá que me
unirei a vós nos cânticos‖

Seria lindo, não é? Papai Darwin se tornando uma Ovelhinha do Senhor após ler Hebreus,
certo? Errado! Toda a família de Darwin negou a história e fez campanha contra a mesma.

Francis, filho de Darwin, escreveu em uma carta em 28 de maio de 1918: ―O relato de Lady
Hope sobre as ideias de meu pai à respeito de religião são totalmente falsas. Eu tenho
acusado-a publicamente de falsidade, mas não vi nenhuma resposta. O ponto de vista
agnóstico de meu pai é citado em meu ―Vida e cartas de Charles Darwin‖, Vol. I, pags. 304–
317. Você tem a liberdade para publicar uma declaração sobre. isso. De fato, eu ficarei
satisfeito se você assim o fizer.‖

Após a história ter sido revivida em 1922, a filha de Darwin, Henrietta Litchfield, declarou em
The Christian em 23 de fevereiro de 1922, um artigo com o título ―Leito de morte de Charles
Darwin: História de conversão negada‖, por Sra R.B. Litchfield - Eu estava presente em seu
leito de morte, Lady Hope não estava presente durante a sua última doença ou qualquer
doença. Acredito que ele nunca nem mesmo a viu, mas de qualquer forma, ela não teve
influência sobre ele em qualquer departamento de pensamento ou crença. Ele nunca
desmentiu quaisquer de suas opiniões científicas, nem naquele momento e nem antes. Nós
achamos que a estória de sua conversão foi fabricada no EUA (…) A história como um todo não
tem fundamento de modo algum.

235
Em 1958 A Autobiografia de Charles Darwin foi republicada e editada pela neta de Darwin,
Nora Barlow, que restaurou várias passagens da edição original de 1887, retiradas por Francis
Darwin. Esta incluía a perspectiva de Darwin sobre Deus, bem como duras críticas ao
cristianismo.

Lady Hope deu seu próprio relato levemente diferente em uma carta datada por volta de 1919
- 1920, recebida por S. J. Bole, autor de Battlefield of Faith (Campo de Batalha da Fé - 1940).
O texto é citado no artigo do Dr. Paul Marston. A história se espalhou e se tornou uma
lenda urbana popular. As alegações foram republicadas em outubro de 1955 na Reformation
Review e no registro mensal da Free Church of Scotland em fevereiro de 1957.

Houve subsequentes investigações acadêmicas na história. The Survival of Charles Darwin, de


Ronald W. Clark, explica a estória mas não entra em muitos detalhes. Em 1994, o professor da
Open University, James Moore, publicou o livro The Darwin Legend, do qual alega que Hope
visitou Darwin entre 28 de setembro à 2 de outubro de 1881, quando Francis e Henrietta
estavam ausentes e a esposa de Darwin, Emma, estava presente, mas que Hope
subsequentemente enfeitou a estória. O artigo do Dr. Paul Marston dá uma analise diferente,
mas geralmente suporta esta conclusão. Ele chama atenção para a discrepância entre o artigo
de 1915 e a carta posterior de Lady Hope, da qual mais plausivelmente Darwin se encontrava
descansando em um sofá ao invés de uma cama, e não inclui a sugestão de que Darwin estava
―sempre estudando‖ a bíblia.

A alegação continua sendo usada por criacionistas modernos, incluindo Boniface Adoyo, o
presidente da Aliança Evangelical do Quênia.

Podemos concluir, portanto, que não passam de falsas histórias. Mentiras sobre a ―renúncia‖
em leito de morte são muito comuns. De fato, na biografia de seu avô, em 1879, o próprio
Charles Darwin relatou como começou a história de que seu avô Erasmus Darwin teria
chamado por Jesus em seu leito de morte em 1802, e ele conclui declarando que ―Tal era o
estado de sentimento cristão neste país no início do presente século… Nós podemos ao menos
esperar que nada do tipo agora prevaleça‖.

Por último, mesmo que Darwin tivesse abandonado os seus estudos em seu leito de morte,
isto não teria qualquer relevância pois desde a publicação de sua teoria em 1858 até os dias
atuais, a ciência vem acumulando toneladas de evidências à favor da evolução.

Inventar mentiras não alteraram as MILHARES de evidências que suportam a Evolução. E


mesmo que a Teoria da Evolução caísse hoje, não significa que o criaburricionismo seria a
sucessora. Criaburricionismo é mitologia, com suas cobras falantes e Adaltos que pregam que
o homem conviveu com dinossauros.

Fontes:
Darwin‘s Final Recantation
A creationist site reprints the text of the Lady Hope story.
Did Darwin become a Christian on his deathbed?
Creationist Malcolm Bowden on Lady Hope.
Did Darwin recant?
Answers in Genesis says that the story is probably false.
The Lady Hope Story: True - False
A creationist minister provides a case against the Lady Hope story.
The Lady Hope Story

236
The Stephen Jay Gould Archive adds some additional information to this account.
Mrs R B Litchfield, ―Charles Darwin‘s Death-Bed: Story of Conversion Denied,‖ The Christian,
February 23, 1922, p. 12.
Down, the Home of the Darwins: The Story of a House and the People Who Lived There by Sir
Hedley Atkins KBE, published by Phillimore for the Royal College of Surgeons of England, 1974.

Deus punindo quem blasfema

Neste artigo, iremos refutar todas as histórias inventadas envolvendo algumas personalidades
que supostamente blasfemaram contra o deus judaico-cristão, sofrendo posteriormente a ―ira
divina‖ com mortes violentas e horríveis. Histórias que têm circulado pela internet através de
correntes de e-mail, fóruns no Orkut, etc…

É uma tática usada pelos religiosos para infundir o medo nas pessoas que o recebem, para que
estas não blasfemem contra o deus deles, sob pena de sofrerem mortes horríveis e
prematuras.

Aliás, poderíamos argumentar que deus é esse que precisa recorrer a expedientes satânicos e
malévolos para punir as pessoas que, supostamente, possuem o ―livre-arbítrio‖ tão alardeado
pelos religiosos? Se tivessem realmente esse ―livre-arbítrio‖, as opiniões dessas pessoas
seriam RESPEITADAS e não seriam punidas por isso.

Mas se sofrem punição pela liberdade de opinião e de expressão, então em que exatamente
esse deus difere dos ditadores de regimes autoritários, repressivos, fascistas, nazistas,
chavistas, teocráticos? Esses tipos de regimes punem pessoas, com penas de morte e
encarceramento, só por causa da ousadia em criticá-los, em se expressarem, em apontar os
defeitos, em não aceitarem o estado de coisas.

Gálatas 6:7 – Não vos enganeis, de Deus não se zomba, pois tudo o que o homem
semear isto também ceifará.

JOHN LENNON: Alguns anos depois de dar uma entrevista a uma revista americana, disse: ―O
cristianismo vai se acabar, vai se encolher, desaparecer. Eu não preciso discutir sobre isso, eu
estou certo. Jesus era legal, mas suas disciplinas são muito simples. Hoje, nós somos mais
populares que Jesus Cristo. (1966)‖

Lennon, depois de ter dito que os Beatles estavam mais famosos que Jesus Cristo, recebeu
cinco tiros de seu próprio fã. 15 anos depois.

Mais uma estúpida mentira religiosa! Essa frase foi distorcida em seu sentido original,
reeditada e depois divulgada em inúmeros sites religiosos. A verdadeira frase encontra-se
abaixo.

No dia 4 de março de 1966, durante uma entrevista de John Lennon para o London Evening
Standard feita pela jornalista Maureen Cleave trouxe muita polêmica a respeito do
Cristianismo. John disse:

―O Cristianismo vai desaparecer. Vai diminuir e encolher. (…) Nós Beatles somos mais
populares do que Jesus neste momento. Não sei qual vai desaparecer primeiro - o rock and roll

237
ou o Cristianismo. Cristo não era mau, mas os seus discípulos eram obtusos e vulgares. É a
distorção deles que estraga o Cristianismo para mim.‖

Você pode ler a entrevista em sua íntegra, no original em inglês AQUI.

Ao ser publicada nos Estados Unidos, a entrevista causou polêmica. O cinturão bíblico (bible-
belt) norte-americano reagiu queimando os álbuns dos Beatles em praça pública. Várias
estações de rádio baniram as músicas dos Beatles. Em 11 de agosto do mesmo ano, John
Lennon deu uma conferência à imprensa em Chicago dizendo:

―Se tivesse dito que a televisão era mais popular do que Jesus, ninguém teria ligado.(…) Não
sou anti-Deus, anti-Cristo ou anti-religião. (…) Não estou a dizer que sejamos melhores ou
maiores, ou a comparar-nos a Jesus Cristo como pessoa ou Deus ou seja o que for. Disse o
que disse e estava errado - ou fui interpretado erradamente.‖

John Lennon diz que os Beatles são mais POPULARES que Cristo, isto é, simplesmente está
dizendo que a banda era tão famosa, mas, tão famosa, que chega a ser mais CONHECIDA
que Jesus Cristo, o que não chega a ser absurdo, se considerarmos que realmente em muitas
partes do globo Jesus é um completo desconhecido. Ou seja, de acordo com as estatísticas de
http://www.adherents.com/, apenas 2,2 bilhões de pessoas seguem as religiões baseadas
em Jesus. Todos os demais, em um total de 3,8 bilhões de pessoas, não sabem quem é esse
mito cristão.

Só para exemplificar, no Japão apenas 0,7% (!) da população é cristã, de acordo com o
World Factbook da CIA. Será demais achar que os Beatles são mais conhecidos que Jesus?
Pelé foi criticado por dizer a mesma coisa, mas ele jogou no Japão. Quem é mais conhecido?
Acham mesmo que os 127 milhões de habitantes em peso conhecem Jesus? E no que dizer de
China, Vietnã, Azerbaijão, Nepal e outros países do Oriente Distante? Mas, quem vai negar que
tanto Pelé quanto os Beatles são conhecidos pela maioria da população de lá? Todos esses
países têm rádios, vendem-se discos e participam da Copa do Mundo. Quem é mais famoso?

Dizem que após a referida frase, John Lennon levou cinco tiros de um fã. Peraí! Após? Após
quanto tempo? Falando assim dá a impressão que o maluco invadiu a sala onde estava sendo
realizada a entrevista e disparou os pipocos no John Lennon logo após suas palavras
supostamente hereges ou que Javé mandou um raio em cima dele. John Lennon foi morto
quando nem sequer fazia mais parte dos Beatles e daí vocês já podem tirar uma idéia de como
Deus demorou em mandar seu castigo.

Lennon morreu em 1980. Ou seja, esse deus demorou 15 anos para matá-lo. Se esse deus
existisse, o teria matado no mesmo instante em que fez tal declaração. Além do mais, que
deus é esse que se ofende por tão pouco? Ele não é ―infinitamente amoroso e misericordioso‖?

John Lennon foi assassinado por um doente mental, um sujeito que viajou da Nova Zelândia
até os EUA só pra matá-lo. Vamos ver algumas personalidades que foram assassinadas
barbaramente por maníacos homicidas?

 Mahatma Gandhi (assim como Indira Gandhi)


 Martin Luther King Jr.
 Malcolm X
 Yitzhak Rabin
 João Paulo I (encontrado morto e não há quem duvide que foi assassinato)

238
 João Paulo II (não morreu, mas sofreu um atentado no meio da Praça de São
Pedro)

Creio que é desnecessário falar mais, não é mesmo?

TANCREDO NEVES: Na ocasião da campanha presidencial, disse que se tivesse 500 votos do
seu partido, nem Deus o tiraria da presidência da República.

Os votos ele conseguiu, mas o trono lhe foi tirado antes de tomar posse. Fala sério! Morreu o
Tancredo e entrou o Sarney, ou seja, esta querendo dizer que o Sarney foi obra de Deus? E
outra: Desde quando Deus se mete com política? Quer dizer que basta um político se excitar e
dizer umas besteirinhas que Deus vai lá e tira ele do poder sem nem se importar com as
consequências que isso possa acarretar? Que mimado esse Deus! Expliquem, então, como é
que um sujeito ateu convicto e confesso como o Fidel Castro conseguiu fazer uma revolução
com 17 guerrilheiros, subir ao poder e escapar de mais de 500 atentados? Isso mesmo!
Quinhentos! Não é uma hipérbole, ele escapou de uns seiscentos e poucos atentados
registrados. Cadê Deus que não tira ele do poder?

E onde esta a fonte dessa afirmação? Em que jornal foi publicado? Em que dia? Em que
ocasião foi proferida? Além do mais, Tancredo não estava em uma campanha presidencial com
participação popular, e sim através de eleições indiretas (ele competia com o Maluf), onde os
membros do Congresso iriam eleger o seu presidente.

Nenhum dos sites religiosos, onde consta essa frase de Tancredo, cita a fonte dela! Apenas se
limitam a repeti-la, num copia-e-cola, sucessivamente! Dawkins ficaria orgulhoso em ver a sua
Teoria dos Memes sendo provada na pratica, e é o que eu chamo simplesmente de
―boataria‖. Sacam a história da Loira do banheiro? Pois, é…

BRIZOLA: No ano de 1990, quando houve outra campanha presidencial, disse que aceitava até
apoio do demônio para se tornar presidente. A campanha, quando acabou, apontou Collor
como presidente e não mostrou Brizola nem em segundo lugar.

Ah, bem… Tá explicado porque que o Brizola perdeu a eleição! Como não imaginei que ele
tinha dito algo comprometedor!? Olha o Lula, o Gabeira, o Enéas, o Marronzinho, o Afif, o
Ulisses Guimarães, até o Sílvio Santos, todos esses perderam a eleição de 1990 e… Ei! Desde
quando a primeira eleição direta para presidente foi em 1990? As eleições foram em 1989,
cambada de crente desinformada! Conforme podemos ver diretamente do site do Tribunal
Superior Eleitoral, a eleição pra presidente foi em 15 de novembro (1º Turno) e 17 de
dezembro (2º Turno) de 1989. A eleição para escolher Governadores, Deputados e
Senadores é que foi em 1990. Em 1989 foi a primeira eleição direta para presidente, após o
fim da ditadura militar. Aprenderam um pouquinho de História, crentinhos?

Ademais, essa besteira atribuída ao Brizola só existe em sites religiosos (como era de se
esperar). E são todas exatamente iguais, citando 1990 como ano de eleições, quando na
verdade 1990 foi o ano em que Collor tomou posse, após vencer Lula no final de 1989. Vão
estudar!

Agora, ainda temos outro detalhezinho: Só teve um camarada que não perdeu nessa eleição:
O Collor! E é bem lógico, já que só um poderia ganhar (there can be only one!). Enfim, Deus

239
só pra castigar a malcriação do Brizola fez com que um corrupto como o Collor ganhasse as
eleições? Um sujeito que é até suspeito de ter estuprado uma menina na adolescência, que é
suspeito de ter ligações com a máfia italiana subiu ao poder com a ajuda de Deus?

Para terminar, não esqueçamos que o Brizola morreu em 2004. Ou seja, 14 anos depois da
suposta declaração dele. A biografia dele pode ser encontrada na Wikipédia. Peçam pra sair,
crentalhada!

CAZUZA: Em um show no Canecão (Rio de Janeiro), deu um trago em um cigarro de maconha,


soltou a fumaça para cima e disse: Deus, essa aí é para você! Nem precisa falar em qual
situação morreu esse homem.

Precisa, sim! Fala! Em que situação ele morreu? Ao que se sabe, ele morreu de Aids, assim
como milhões de pessoas já morreram dessa mesma doença, inclusive tem gente que já nasce
com ela, muitas delas não fumam maconha e nunca ofereceram um baseado pro todo-
poderoso. Algumas até são cristãs, que tal isso?

Deus foi responsável por todas essas mortes? Todas essas pessoas fizeram piadinhas com
Deus? E outra: Cazuza pegou Aids depois de dizer isso ou já estava contaminado nesse dia?
Isso é importante de saber, porque se já estava contaminado me parece surreal que tenha
sido castigado antes do crime, por outro lado, se pegou Aids só por ter dito isso me parece um
castigo um pouco forte pra uma brincadeirinha bem boboca, esse teu Deus parece um pouco
desmedido.

E mais: é bem possível que os poucos anos de vida que Cazuza teve após o contágio possam
ter sido de verdade agonizantes, mas, no geral, acho que ele foi uma pessoa bem feliz e
realizada, ainda que bem incorreta para uma visão religiosa. Qual foi o castigo que Deus
preparou pra ele? Morrer? Mas, se todo mundo vai morrer, cacete! Até mesmo os idiotas que
escrevem esta merda de texto vai morrer também! De um jeito ou de outro, e não venha me
falar de tribulações, escolhidos a dedo (Ui!) e outras sandices mitológicas.

Todos os dias várias pessoas adquirem alguma doença ou sofrem um acidente fatal, e
morrerá. Lamentável, mas é o que acontece. Até mesmo crentes, padres, pastores, mães de
santo, rabinos e ateus. Até mesmo você, meu caro leitor, não está livre disso. Você gostaria
que atribuíssemos a SUA fatalidade a um castigo de Deus? Não, no SEU caso foi obra de
Satanás, para sacanear o deus Javé. Quando céticos morrem são castigos. U-hum, tá!

É uma proverbial falta de respeito com quem morre de maneira trágica, como no caso do
rapaz assassinado a facadas e que a crentalhada estúpida resolveu atribuir como castigo
divino.

E tem mais, porque Cazuza iria fumar um cigarro de maconha, no Canecão, diante de um
publico de milhares de pessoas? Se ele tivesse realmente feito isso, seria preso pela policia por
posse de entorpecentes e incitação ao uso de drogas pela juventude! E isso seria manchete em
todos os jornais do Brasil, já que a imprensa adora um escândalo de vez em quando. Mas
como todo bom site religioso, nunca citam as fontes, não dizem em que data ou ano em que
supostamente aconteceu, não mencionam os nomes das testemunhas, não há vídeos
mostrando ele fazendo isso, nada de nada.

Só mentiras, como sempre. Honestidade e religião nunca andam juntas!

240
O CONSTRUTOR DO NAVIO TITANIC: Na ocasião em que foi construído, apontaram-no como o
maior navio de passageiros da época. No dia de entrar em alto-mar, uma repórter fez a
seguinte pergunta para o construtor: ―O que o senhor tem a dizer para a imprensa
concernente a respeito da segurança do seu navio? ―; O homem, com um tom irônico, disse:
―Minha filha, nem se Deus quiser ele tomba o meu navio‖. O resultado foi o maior naufrágio de
um navio de passageiros no mundo.

Outra vez: Um sujeito diz uma gracinha e Deus pune um monte de inocentes. Havia gente
religiosa também no Titanic, havia protestantes, católicos e um montão de gente que tem
muito respeito por Deus e nunca disse nenhuma blasfêmia. Havia crianças também no Titanic,
um montão de criancinhas que morreram afogadas ou congeladas, uma morte horrorosa. O
navio foi afundando aos pouquinhos, o naufrágio durou horas, aquelas criancinhas ficaram ali
em pânico vendo o navio ser engolido pela água sabendo que mais cedo ou mais tarde elas
estariam mortas.

A maior parte das pessoas não morreu afogada e sim de hipotermia por causa das águas
geladas. Não havia barcos salva-vidas suficientes e quem se salvou era, predominantemente,
o pessoal da primeira classe. Pobre é tudo ateu, né?

Se querem saber mais da tragédia do Titanic, acessem AQUI.

O que é que essas pessoas tinham a ver com a frase do construtor do navio? Praticamente
nada. Foi apenas um extermínio injusto, malévolo, satânico, cruel e com pitadas de sadismo
da parte desse deus vingativo e odioso.

Talvez o engenheiro nem estivesse no navio no dia do naufrágio. E além do mais, cadê as
fontes? Em que jornal foi publicado? Qual o nome do engenheiro? Em que dia ele proferiu tais
frases? E o que dizer dos milhares de trabalhadores que também construíram o navio? E, mais
importante: Por que o deusinho de TPM não castigou APENAS o engenheiro?

A Arca de Noé, uma invenção mitológica dos judeus, não passava de um barcote vagabundo
comparado com os atuais porta-aviões de hoje.

MARILYN MONROE: Foi visitada por Billy Graham durante a apresentação de um show… Ele,
um pregador do Evangelho, na época havia sido mandado pelo Espírito Santo àquele lugar,
para pregar a Marilyn. Porém ela, depois de ouvir a mensagem do Evangelho, disse: ―Não
preciso do seu Jesus‖. Uma semana depois foi encontrada morta em seu apartamento.

Todas as pessoas que eu conheço que não são evangélicas e foram incomodadas por um
crente batendo na porta da sua casa disseram frases bem semelhantes a essa da Marilyn. Eu,
particularmente, já disse que estava ocupado sacrificando um bode preto (foi engraçadíssimo
ver o crentinho sair avoado hehehe). Nem eu, nem nenhuma das demais pessoas que deu
uma resposta mal-criada a um crente chato e inconveniente, amanheci morto uma semana
depois. A menos que este site esteja sendo escrito por psicografia.

E bilhões de pessoas no mundo também dizem a mesma coisa: não preciso de Jesus, não
quero Jesus, não sei quem é Jesus e não me interessa, não acredito em Jesus, Jesus é
imaginário, Jesus nunca existiu, Jesus é filho de um soldado romano que transou com Maria,

241
Jesus era gay, Jesus não gosta de mulher, Jesus nasceu por partenogênese ou brotamento,
Jesus tinha uma mãe adúltera etc.

5,8 bilhões de pessoas continuam vivas. Depois de dizerem tudo isso acima, milhões de vezes
todos os dias. Ademais, que diferença faz? Na própria Bíblia diz que não há problema nenhum
blasfemar contra o Jóquei de Jegue.

Lucas 12:10 – Todo aquele que tiver falado contra o Filho do Homem (Jesus, caso ainda não
saibam) obterá perdão, mas aquele que tiver blasfemado contra o Espírito Santo não
alcançará perdão.

Em suma, eu posso mandar Jesus à merda, mas não posso falar no tosco, ridículo, escroto,
estúpido, misógino, assassino, genocida, escravocrata, babaca, imbecil, animalesco e, por fim,
INEXISTENTE Espírito de Porco Santo, com a advertência que não receberei o perdão e serei
severamente punido…

Bem, eu ainda estou aqui e inteiro. Que coisa!

Ameaçar-nos com morte, se não aceitarmos Jesus, é uma coisa vergonhosa para os religiosos,
além de contrariar seu próprio livrinho religioso hehehehe. Não conseguem nos convencer de
boa-fé, não conseguem provar nada, não conseguem converter ninguém de forma espontânea,
não conseguem argumentar com pessoas inteligentes, não possuem provas ou evidencias da
existência desse ser chamado Jesus, nada de nada. Então, partem pra única coisa que sabem
fazer: ameaçar. Para pessoas crédulas e medrosas até pode funcionar.

Alguma vez pararam para pensar se os povos da Europa, no inicio da Igreja Cristã, se
converteram espontaneamente? Que nada! Se converteram à força das armas dos exércitos
imperiais, reais e principescos, tiveram seus templos e religiões destruídas, tiveram as suas
festividades adulteradas para que passassem a adorar o deus cristão e o seu Jesus para que se
tornassem um costume social mais tarde, e o que dizer dos povos das Américas, África e a
Ásia ? Tiveram que ser convertidos (e escravizados) à força pelos colonizadores europeus, com
o uso de armas, doenças, conquistas militares, escravidão, posse, exercício de poder das
metrópoles, etc. Vocês conhecem pelo menos UM povo que se converteu de forma espontânea
e de livre-vontade, sem coerção e ameaças? Nenhum!

BOM SCOTE: Ex-vocalista do conjunto AC/DC. Cantava no ano de 1979 uma música com a
seguinte frase: ―Don‘t stop me, I‘m going down all the way, wow the high way to hell‖(Não me
impeça… Vou seguir o caminho até o fim, na auto-estrada para o inferno). No dia 19 de
fevereiro de 1980, Bom Scote foi encontrado morto, asfixiado pelo próprio vômito.

É engraçado como religiosos vivem pregando que a morte não é algo ruim, é um retorno à
nossa verdadeira casa e coisa e tal, mas vivem atribuindo as mortes das pessoas como castigo
dos céus. Afinal, morrer é bom ou ruim, cacete? Tá certo, morrer afogado no vômito é bem
grunge, mas, e os outros integrantes da banda? Não são culpados pela frase herege da música
também? Só o vocalista pagou o pato? E todas as outras bandas de Heavy Metal que cantam
músicas com esse mesmo conteúdo? Vão todos morrer tragicamente?

Além do mais, milhares de pessoas morrem todos os anos no mundo, engasgadas com
pedaços de comida entalada na garganta ou nas vias respiratórias, e isso sem dizer qualquer
blasfêmia. Então, cadê a diferença?

242
Agora, a minha favorita!

UMA JOVEM ANÔNIMA: Uma jovem de 19 anos que começou a beber e usar drogas saiu para
mais uma de suas ―noitadas‖ com mais quatro jovens entre eles um menor de idade, com
apenas 13 anos de idade. Os rapazes passaram em sua casa e chamaram a moça, e pelo que
tudo indica já estavam embriagados com o som do carro em alto volume e bebendo. A mãe da
moça, desesperada, acompanhou-a até o carro e disse a seguinte frase para eles: ―Deus
acompanhe vocês―. Ouviu-se uma gargalhada dentro do carro e a moça tirou a cabeça para
fora e disse para sua mãe: ―Só se ele for ao porta-malas, porque aqui está lotado‖. Não
demorou muito o motorista em alta velocidade perdeu o controle do carro em uma avenida e
bateu de frente em um poste, os cinco ocupantes do carro vieram a falecer. Havia drogas e
bebidas dentro do carro.

Quando a perícia técnica e os bombeiros chegaram ao local ficaram surpresos, pois o carro
estava totalmente destruído, mas o porta-malas estava intacto. Quando os bombeiros abriram
o porta-malas ficaram assustados com o que viram: Havia dentro do porta-malas uma bandeja
com 34 ovos e nenhum deles se quebrou.

Essa figura entre as mais hilárias! Deus é mau, mata um, mata geral! Outra vez Deus dá um
castigo desmedido. A menina fala uma besteirinha e morre aos 19 anos de idade, com toda a
vida pela frente. Explica pra mim porque que cinco jovens que estavam indo pra uma noitada
levavam uma bandeja de ovos no porta-malas? Era pra dar uma moral pra história, entendem?

Será que queriam dizer que Deus estava no porta-malas? Sabe o engraçado que é pra eu
imaginar Deus encolhidinho lá no porta-malas? Enfim, é realmente difícil ter paciência com a fé
alheia quando eu leio coisas desse nível.

E essa historia foi divulgada como tendo ocorrida em Campinas, mas acontece que
simplesmente NÃO EXISTEM notícias sobre isso nos jornais da cidade (Correio Popular e Diário
do Povo), não há nomes das vítimas, não há datas, não há o local exato do acidente, não há o
nome da mãe da vítima, modelo do carro, nomes dos bombeiros e a companhia à qual
pertencem, nada de nada!

E porque diabos a história varia tanto de site para site? Uns dizem que eram 18 ovos, outros
que eram 12 ovos e assim por diante! A propósito, alguém pode me dizer o que é que uma
bandeja com ovos estava fazendo no porta-malas?

Enquanto isso, sempre aparece notícias sobre ônibus, caminhões e carroças, carregando com
romeiros em peregrinação, sofrendo acidentes onde quase todo mundo morre? Duvida? Veja
isso:

Carros descontrolados, entre os quais um ônibus cheio de romeiros, deixam rastro de


sangue nas rodovias mineiras.

Acidente com romeiros na Via Anhanguera

11 feridos no desabamento de igreja

Desabamento de teto de igreja deixa 26 mortos em Uganda

243
Creio que isso é o bastante. Mortes, acidentes, fatalidades etc acontecem com todo mundo em
todo o planeta. Má direção, imprudência, desrespeito às leis de trânsito, má conservação das
estradas, sinalização insuficiente ou apenas azar, mesmo. Tudo isso pode ser causa de mortes.
Mas, por causa de que aqueles ovos foram colocados no porta-malas, hein? Ninguém responde
isso.

Claro que é apenas mais uma historinha ficcional no estilo ―Ó que Papai do Céu castiga!‖

Só mentiras. Tudo mentira. Histórias tão falsas como o nenê que nasceu com o nome de Jesus
colado nas palmas de suas mãos, como ―prova‖ de que esta ―voltando‖!

Não me importa que as pessoas acreditem em Deus, o que me incomoda são esses
argumentos idiotas e distorcidos. Incomoda-me essa ideia de um Deus super descontrolado
que sai castigando a torto e a direito por qualquer coisinha besta. Na verdade essas pessoas
acreditam num Deus super pedante, ególatra, raivoso, vingativo, rancoroso, injusto, homicida,
que faz questão de ser idolatrado dia e noite, com o seu santo testículo sendo puxado pelos
crentes medrosos!

Nasa, Josué e o Sol que parou

Os religiosos odeiam a Ciência! Lamento, pessoal, mas essa é a verdade. Os fanáticos não
conseguem suportar a ideia que algo não necessite de explicações sobrenaturais para
acontecimentos. Eles abominam a ideia de que a Ciência pouco se importa se Deus, Shiva,
Isis, Quetzalcoatl ou o Monstro Espagueti Voador existam ou não. Fazem de tudo para atacá-
la, mas sempre saem perdendo, dado o seu analfabetismo científico.

E quando percebem que não podem vencê-la, tentam usar descaradamente o nome de
entidades científicas sérias em citações totalmente descontextualizadas, ou inventam torpes
mentiras. Uma das mais visadas é a NASA.

A Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (cuja sigla NASA vêm de seu nome em
inglês) é simplesmente uma agência de âmbito governamental que cuida exatamente do que
seu nome diz: aeronáutica e espaço, ou seja, qualquer coisa que voe, dentro ou fora da
atmosfera terrestre está sujeito à supervisão da NASA. Qualquer evento acima do solo
terrestre é de sua competência. Eventos climáticos NÃO SÃO estudados pela NASA e sim pela
agência irmã: o NOAA.

244
Na Bíblia, somente um evento é tão ridículo, estúpido, mentiroso e mitológico que o Dilúvio:
trata-se do famoso do milagre do dia mais longo, narrado no livro de Josué.

Vamos dar uma repassada rapidamente: Moisés (aquele cara barbudo que não existiu, mas
vivem puxando o saco dele) morreu e coube a Josué a liderança dos israelitas. Estes
resolveram passar a fio de espada qualquer um que cruzasse o seu caminho e assim começa
um dos capítulos mais sangrentos, selvagens, bárbaros, genocidas, maníacos, assassinos e
perversos da Bíblia (se bem que passagens assim é que não falta lá).

Josué, o Cap. Nascimento dos Baby Sitters de Cabras, resolve mandar todo mundo pro saco e
só não pôs na conta do Papa, porque ele só apareceria muitos séculos mais tarde. Ele clama
pela ajuda divina e Javé, vulgarmente conhecido como o Senhor dos Anéis Bíblico, dá uma
forcinha fazendo cair temporais, tempestades de granizo e até mesmo pedras nos outros
soldados!

Mas, eis que na sua perseguição brutal, Hannibal Lecter Josué olha pro sol (por favor,
sonoplasta, aumente a trilha sonora) e ordena que o Sol pare!

Josué cap. 10

10. O Senhor semeou no meio deles o terror diante de Israel, e este infligiu-lhes uma terrível
derrota diante de Gabaon, e perseguiu-os pelo caminho que sobe a Betoron, batendo-os até
Azeca e Maceda.

11. Enquanto fugiam diante de Israel, na descida de Betoron, o Senhor mandou sobre eles do
céu uma tempestade de granizo até Azeca; e foram mais numerosos os que morreram sob
essa chuva de pedras do que os que pereceram pela espada dos israelitas.

12. Josué falou ao Senhor no dia em que ele entregou os amorreus nas mãos dos filhos de
Israel, e disse em presença dos israelitas: Sol, detém-te sobre Gabaon, e tu, ó lua, sobre
o vale de Ajalon.

13. E o sol parou, e a lua não se moveu até que o povo se vingou de seus inimigos.
Isto acha-se escrito no Livro do Justo. O sol parou no meio do céu, e não se apressou a pôr-se
pelo espaço de quase um dia inteiro.

14. Não houve, nem antes nem depois, um dia como aquele, em que o Senhor tenha
obedecido à voz de um homem, porque o Senhor combatia por Israel.

Somente uma criatura extremamente idiota acreditaria numa historinha mítica dessas. Em
qualquer conto épico existe passagens mirabolantes como essa. Jasão e os Argonautas, o
Bagava-Gita, a Teogonia e tantos outros épicos mitológicos contém coisa ainda mais
maravilhosas e incríveis! Não é nada demais. Cada povo gosta de contar vantagem se
mostrando ―o tal‖.

O pior é que tem gente que REALMENTE acredita naquilo. O Sol parou! Uaaaaaau! É
fantástico saber que há quem acredite nessas histórias, sem ao menos se dar ao trabalho de
investigá-las, para chegar se há um fundo de verdade, se há credibilidade, se existem nas
biografias das respectivas personalidades.

Os sites religiosos apregoam que sim, a história do ―dia perdido‖ realmente aconteceu e, pior,
citam a NASA! Como é de se esperar, as histórias mudam de site pra site, de postagem pra

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postagem. Uma das histórias diz que um cientista da NASA, no Goddard Space Flight Center,
em Greenbelt, Maryland, estavam usando computadores sofisticados para plotar posições do
Sol, da Lua e outros planetas, 100, 1000 anos no futuro, para calcular as trajetórias de
naves espaciais. Subitamente os computadores pararam completamente. Porque desligaram,
eles tinham descoberto o ―dia perdido‖ no tempo. Os técnicos não sabiam como corrigir o
problema. Mas um dos cientistas presentes, havia freqüentado a escola dominical quando era
criança, e lembrava-se da história na qual Deus fez o Sol parar por aproximadamente um dia.
Quando ele sugeriu isso como uma possível solução, os outros cientistas o ridicularizaram.
Contudo esses mesmos cientistas abriram a Bíblia em Josué 10 e leram a história.

Os técnicos então alimentaram os computadores com os novos dados (cuidadosamente


fabricados no ―dia perdido‖ de Josué), e as máquinas uma vez mais passaram a funcionar
perfeitamente – ou quase. Os computadores subitamente pararam, mais uma vez, porque eles
não haviam descoberto um dia completo; alguma coisa estava faltando. Aparentemente (assim
diz a história) os computadores encontraram somente 23 horas e 20 minutos. Em outras
palavras, 40 minutos ainda estavam faltando. Mas o cientista da escola dominical sugeriu a
resposta a esse enigma. Ele lembrou-se que na Bíblia, em 2 Reis 20, havia uma narrativa em
que o Rei Ezekias, tendo sido prometida a suspensão da sua morte, teria pedido um sinal do
céu. Deus então fez o Sol se mover dez graus para trás – ou exatamente 40 minutos! Essa
informação foi colocada nos computadores, e a partir de então eles passaram a funcionar
normalmente.

Em outras, os cientistas estavam estudando a posição dos astros quando estavam prestes a
enviar o homem à Lua, como disse um de nossos comentaristas. Aliás, foi graças a ele que
resolvemos destruir de vez este mito. Obrigado, Renato. Seu ―ceticismo‖ nos fez melhorar o
site, ajudando a elucidar mais as pessoas e levando um pouco de luz às trevas da ignorância.

Minha resposta foi simples e avassaladora: MENTIRA! A NASA desmentiu esta lenda urbana
pregacional AQUI. No site, eles dizem (tradução minha):

A lenda urbana ―GSFC encontra o dia perdido‖ não faz sentido pelo seguinte motivo. Se nós
queremos saber aonde os planetas estarão no futuro, nós usamos um conhecimento acurado
de suas posições iniciais e suas velocidades orbitais (o que seria onde eles estão localizados
agora), e descobrir por suas posições por algum tempo no futuro. Nós solucionamos uma série
muito bem determinada de equações que descrevem estes movimentos. O principal elemento
dinâmico de qualquer movimento orbital de um planeta é determinada por resolver uma
equação (força igual a massa vezes aceleração, F = m.a), que é, talvez, a equação mais
fundamental da Física Clássica.

Ou seja, Newton rules, Kepler rocks, e eu sou mais eu.

Este cálculo que se estuda no Ensino Médio de qualquer colégio decente é tão preciso que e é
usado para determinar eclipses – Solar e Lunar – movimentos de planetas, envio de sondas
etc. O site ainda reitera: ―Esse cálculo não abrangeria qualquer momento, antes de
apresentar, de forma alguma dias faltantes muitos séculos atrás, se tivesse ocorrido, não
poderia ser descoberto com este método‖.

Tomaram papudos? Newton, apesar de ter sido cristão, destruiu os seus sonhos. Costumam
usar Zecharia Sitchin, um ufólogo maluco da laia de von Däniken, que alega que houve uma
noite comprida em outros lugares. E daí, que tenha havido? Nunca viram um eclipse solar na
vida?

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Não há NENHUMA indicação que tal besteira tenha ocorrido. E, se prestarem atenção aos
escritos, o texto diz que o Sol e a Lua pararam. Como? Só se levarem em conta que quando
esta narrativa foi escrita, achava-se que a Terra era o centro do Universo e que TUDO girava
ao seu redor. Alguns alegam que somente a Terra parou, mas e a Lua? Ah, a Lua também
parou. E os planetas? Er… Jesus te ama e vou orar por você!

Conseguem imaginar a CATÁSTROFE interplanetária que seria se o Universo todo parasse só


para que um bando de ridículos pastores de cabras pudessem usurpar uma terra que nunca foi
deles? O poderoso Omni³ dizimou plantações, animais e os primogênitos dos egípcios. Mas,
para que Josué pudesse perseguir igual a um alucinado os povos que estavam fugindo de sua
fúria insana ele precisou parar a porra toda? Você tá de sacanagem, zero-meia? Quem inventa
uma baboseira dessa deveria ser preso e quem acredita deveria ser internado.

Mais um mito que foi pro ralo.

Deus e o Diabo na terra da Internet

São muitas as historias que circulam na internet, e como não podemos tratar de todas, pois
esta série não teria fim, e ocuparia um extenso tempo pesquisando e refutando todas elas,
deixamos aqui as mais famosas ―histórias verídicas que não passam de mentira‖.

Se nossos leitores acharem mais dessas histórias por aí, compartilhem conosco postando
comentários a respeito. Nós temos interesse em que vocês usem a cabeça de vez em quando,
e se virem as besteiras aqui refutadas em comunidades ou fóruns de discussão, não se
acanhem em nos linkar. Entregamos de bandeja pra vocês quaisquer argumentos necessários
para derrubar este montes de asneiras. Então, sem mais delongas, mãos à obra!

Pasteur, o pastor de trem

Um senhor de 70 anos viajava de trem tendo ao seu lado um jovem universitário que,
compenetrado, lia o seu livro de ciências. O senhor por sua vez lia um livro de capa preta. Foi
quando o jovem percebeu que se tratava da Bíblia e estava aberta no livro de Marcos. Sem
muita cerimônia o jovem interrompeu a leitura do velho e perguntou:

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- O senhor ainda acredita neste livro cheio de fábulas e crendices?

- Sim, disse o senhor, mas não é um livro de crendices é a Palavra de Deus. Estou errado?

O estudante dando uma risadinha sarcástica respondeu:

- Claro que está! Creio que o senhor deveria estudar a história geral e veria que a revolução
francesa, ocorrida há mais de 100 anos, fez o favor de mostrar a miopia da religião. Somente
pessoas sem cultura ainda crêem nessa história de que Deus criou o mundo em seis dias. O
senhor deveria conhecer um pouco mais sobre o que os cientistas dizem sobre isso.

- É mesmo? - perguntou o velho cristão - E o que dizem os cientistas sobre a Bíblia?

- Bem, respondeu o universitário, agora eu não posso explicar, pois vou descer na próxima
estação, mas deixe seu cartão que eu lhe enviarei o material pelo correio.

O velho então, cuidadosamente, abriu ao bolso interno do paletó e deu o cartão ao


universitário.

O Cartão dizia: ―Louis Pasteur, diretor do Instituto de Pesquisas Científicas da École Normale
de Paris‖. Isso aconteceu em 1892.

Ainda não vi um único site, comunidade no orkut, fórum de discussão ou pregação que não
usassem esta historinha boba e sem sentido. Esta baboseira crente é facílima de refutar; mas
antes, vamos dar uma olhada básica na biografia de Pasteur, onde citarei algumas linhas bem
simples:

Louis Pasteur nasceu em Dôle, leste da França, em 27 de dezembro de 1822.

Químico por formação, em 1886 obteve licença internacional para fundação do Instituto
Pasteur, devotado ao estudo e tratamento de raiva, assim como a outros estudos
microbiológicos.

Em 14 de novembro de 1888, o Instituto Pasteur de Paris foi inaugurado. Em 1892 o Jubileu


de Pasteur (70 anos) foi comemorado na Sorbonne de Paris, com grandes solenidades. Louis
Pasteur faleceu aos 73 anos, em 28 de setembro de 1895, em Chateau de Villeneuve l‘Etang,
perto de Paris.

O resto dessa biografia pode ser encontrado no site do Instituto Pasteur de São Paulo, e
também no Instituto Pasteur de Paris. Mas para informações mais completas, pode ser
vista no site da Britannica.

Estudando-se a biografia básica e a oficial de Pasteur, coisa que crentes não se dão ao
trabalho de fazer, praticamente NADA indica que ele fosse o ―diretor do Instituto de Pesquisas
Cientificas da Ecole Normale de Paris‖. Essa história apresenta pequenas variações entre os
sites religiosos, indicando que era presidente, diretor-geral, coordenador, etc… só faltou
alegarem que ele era faxineiro de lá. Contudo, no fundo, a história é sempre a mesma. E essa
besteira tem sido repetida à exaustão, e se analisarmos bem, ela é cheia de furos!

A historinha relata que ocorreu em 1892, mas acontece que nesse ano, Pasteur já era o
presidente do Instituto Pasteur, que ele próprio fundou em 1888, então porque diabos ele
largaria o próprio instituto para ser diretor de outra instituição? Pesquisando-se na Internet, no

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site da Ecole Normale, simplesmente não há citação ao nome dele! Nunca foi o diretor desse
instituto!

E tem mais, por que não há citação ao nome desse jovem? Por que não dizem onde ele
estudava, já que era ―um jovem universitário‖? Por que não se cita os nomes das estações de
trem? Por que diabos um jovem iria meter a cara no meio desse ―livro de capa preta‖ para ver
qual era exatamente a parte que Pasteur ―estava lendo‖? Conseguem imaginar a cena, um
jovem se sentando ao lado de alguém e espiar o livro alheio, numa intromissão da
privacidade? Ainda mais em uma sociedade onde os jovens prestavam bastante respeito aos
mais velhos?

Ademais, devemos ter em mente uma outra coisa: QUEM? contou esta história? Um jovem
―humilhado‖ ou Pasteur, um homem tido como um genuíno cavalheiro pelos seus
contemporâneos? Um homem da classe de Pasteur, que mesmo sendo químico (e não médico)
não deixou de atender um menino que sofrera um ataque de um cão raivoso, empregando
todos os seus conhecimentos para buscar a cura da enfermidade, reunindo diversos
colaboradores afim de pesquisar o antraz e livrar a França de uma série de doenças,
expandindo seus conhecimentos e pesquisas pelo mundo afora, teria a arrogância de contar
este fato afim de se sentir engrandecido em honra ao grande deus bíblico?

Crente está acostumado a acreditar em qualquer coisa, mesmo.

O petulante ―universitário‖ menciona a Revolução Francesa, o nome dado ao conjunto de


acontecimentos que, entre 5 de Maio de 1789 e 9 de Novembro de 1799, que alteraram o
quadro político e social da França, e também do mundo.

Para quem não sabe, em causa estavam o Antigo Regime (Ancien Régime) e a autoridade do
clero e da nobreza. Foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência Americana
(1776). Está entre as maiores revoluções da história da humanidade, no qual não tinha nada a
ver com a religião. A verdade é que o combate contra o domínio da religião no Estado ocorreu
no período do Iluminismo, ocorrido entre o final do século XVII e as Guerras Napoleônicas
(1804-1815). Foi através do Iluminismo que o homem passou a empregar a Razão como
veículo de desenvolvimento pessoal e da sociedade, em contraposição ao uso de dogmas
impostos pelos religiosos. Autores como Voltaire começaram a examinar, com o emprego do
puro raciocínio, as questões impostas pelas ―verdades‖ religiosas. Voltaire, aquele que
alegaram ter morrido de uma maneira horrível (cuja história foi desmentida AQUI) era deísta,
e empregou seu intelecto no exame das escrituras e textos sagrados, opondo-se firmemente
contra as politicagens da Igreja Católica.

Mas os crentes estudam História? Claro que não! Mal sabem a historia de suas próprias
religiões, então como poderiam saber disso? Quem estuda, sabe. Que não estuda, acredita.

E para variar, colocar o jovem em uma situação ―desconcertadora‖ no qual se encontra ―sem
palavras‖ ou ―sem resposta‖ diante da indagação de Pasteur sobre a Bíblia, é uma tática
extremamente desonesta. Aqui mesmo em nosso blog, já deixamos centenas de crentes sem
resposta e desconcertados com as nossas respostas e refutações. Quando apresentamos
perguntas, eles não nos respondem, só ameaçam e terminam dizendo que vão orar por nós
(como coisa que isso nos diz alguma coisa, pobres coitados que são eles).

Basta olharem nas caixas de comentários! Mal conseguem defender a sua Bíblia, que possui
mais de 7000 contradições…

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Para finalizar, a idéia de que o mundo foi criado em seis dias ainda estava em voga no
Ocidente, mas graças às descobertas nas ciências geológicas, já se desconfiava que o mundo
era muito mais antigo do que dizia a teologia crista. Nessa época, no final do século XIX, as
pesquisas estavam em desenvolvimento e novas idéias estavam surgindo, graças a Alfred
Wegener, com a Teoria da Deriva Continental, a Lord Kelvin que estimou em 1863 que a
Terra era bem mais antiga, e o resto é história.

E ainda há crente que acredita que o mundo foi feito em seis dias, como os toscos da Young
Earth (Terra Jovem). A este pessoal damos o nome de CRIABURRICIONISTAS!

Mas, e se nós quisermos empregar nossos dotes de escritores? E se um dia alegarmos,


baseados em pesquisas que nunca divulgaríamos, encontramos uma ―continuação‖ dessa
história? Ora, bem que valeria a pena citar aqui, pelo cinismo que nela encerra, bem do nosso
agrado:

Cerca de um mês depois Pasteur estava no seu escritório, quando alguém bate à sua porta.
Ele mandou que entrasse e um jovem se apresentou:

- Bonjour, monsier! Eu sou aquele jovem a quem o senhor deixou o cartão durante aquela
viagem de trem.

- Ah! Sim - responde o ancião. - E o que o traz aqui?

- Como eu lhe prometi, vim trazer a prova que Deus não existe. - dizendo isso largou um
volume sobre a mesa do velho cientista, deu meia volta e saiu da sala.

O bom cientista, que usou a maior parte de sua vida na pesquisa e busca da verdade, toma o
volume e lê na capa: ―A Origem das Espécies‖ de Charles Darwin, leu tudo de uma sentada e
ao final se arrependeu de ter desafiado o jovem aquela dia no trem.

Sendo cioso de como a Ciência funciona e vendo ali uma descrição completa de um método
claro e definitivo, explicando como as espécies evoluíram, em contraste com as tolas histórias
contidas na Bíblia, Pasteur cuidadosamente guarda o volume em sua estante, enquanto jogava
o livro de capa preta no lixo.

Que tal, crentalhada?

Claro que jamais diríamos que o livro de Darwin NEGOU ou AFIRMOU a existência do deus
judaico-cristão (bem como de qualquer outro deus), como os crentes adoram espalhar por aí,
babando e urrando como alucinados que são. Mas, como poderíamos resistir a isso?

O Teólogo Cronch Cronch

Agora, daremos prosseguimento a outra historinha dos crentes, que é a do gosto da maçã,
mais uma história patética, inventada por alguém mais patético ainda.

Certa Universidade nos Estados Unidos, muito conceituada onde de lá saiam brilhantes
cientistas, realizava todos os anos uma conferência para debater religião, ateísmo e ciência.
Durante uma conferência um cientista ateu foi convidado para dar uma palestra, onde ele iria

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dizer os motivos científicos pelos quais ele negava a existência de Deus, Jesus Cristo e do
Espírito Santo. Ele foi.

Começou a dar a palestra para um grande publico que incluía jovens e idosos. Ele começou a
falar… E falou, falou, falou… Até que chegou em uma determinada hora que ele levantou a
seguinte questão: Eu queria saber porque ha tantos loucos e fanáticos por Deus no mundo, e
caminho há muitos anos como cientista e já vi e testemunhei pessoas que morreram para não
negar a Cristo… Então um senhor idoso que estava na platéia ouvindo a palestra se levantou e
fez uma pergunta ao palestrante, enquanto comia uma maçã: cronch… Eu queria… cronch.
Perguntar… cronch, cronch… Ao senhor… cronch, cronch, cronch… Que gosto tem essa maçã
que eu acabei de comer?

O palestrante o olhou com as sobrancelhas erguidas de cima da bancada onde estava a horas
dando aquela palestra, e indagou: Eu não experimentei a sua maçã, logo não posso responder
qual gosto tinha… Então o senhor o olhou e disse: Então como o senhor pode falar por mais de
2 horas, de algo que nunca experimentou?

Esta historinha é uma das mais ridículas que existem por ai. O que e que ela prova? Nada,
praticamente nada!

Não há citação ao nome da ―universidade muito conceituada‖, não há o nome da cidade, não
há a data do suposto fato, não menciona o nome da conferência e o tema deste, não cita os
nomes desses ―brilhantes cientistas‖, não se cita o nome do ―cientista ateu‖ que deu uma
palestra, não se sabe o nome do ―senhor idoso‖, não há os nomes das pessoas que ―relataram
o ocorrido‖, não há registros de tal acontecimento, praticamente nada de nada.

Em resumo, uma historinha falsa até o fundo da alma, se existissem almas…

Para comentar esta história, comer uma maçã não prova a existência de algum ser imaginário.
A maçã pode ter vários gostos diferentes, dependendo de diversos fatores (espécie,
subespécie, clima, terra, fertilizantes, irrigação, infestação por pragas, adubação, tratamento
químico, etc), e tendo gostos diferentes tais como o de uma banana-prata, levemente amarga,
doce, consistência aveludada, dura com pouco sabor, ou até mesmo o gosto de uma
beterraba, se a manipularmos geneticamente. E daí?

E isso prova alguma coisa? Não, praticamente nada. A mesma historia pode ser usada contra o
crente, bastando inverter o ônus da prova, basta trocar os nomes! Vamos dar um exemplo
abaixo:

Então um hindu que estava na platéia ouvindo a palestra se levantou e fez uma pergunta ao
palestrante que era pastor evangélico, enquanto comia uma maçã: cronch… Eu queria…
cronch. Perguntar… cronch, cronch… Ao senhor… cronch, cronch, cronch… Que gosto tem essa
maçã que eu acabei de comer? O evangélico o olhou com as sobrancelhas erguidas de cima da
bancada onde estava a horas dando aquela palestra, e indagou: Eu não experimentei a sua
maçã, logo não posso responder qual gosto tinha… Então o hindu o olhou e disse: Então como
o senhor pode falar por mais de 2 horas contra a existência de SHIVA, de algo que nunca
experimentou?

Ou então:

Então um muçulmano que estava na platéia ouvindo a palestra se levantou e fez uma
pergunta ao palestrante que era padre católico, enquanto comia uma maçã: cronch… Eu

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queria… cronch. Perguntar… cronch, cronch… Ao senhor… cronch, cronch, cronch… Que gosto
tem essa maçã que eu acabei de comer? O cristão o olhou com as sobrancelhas erguidas de
cima da bancada onde estava a horas dando aquela palestra, e indagou: Eu não experimentei
a sua maçã, logo não posso responder qual gosto tinha… Então o muçulmano o olhou e disse:
Então como o senhor pode falar por mais de 2 horas contra a existência de ALLAH, de algo
que nunca experimentou?

Essa mesma história pode ser transformada inúmeras vezes, revertendo ao favor de quem a
repassar, independente da religião a que pertencer o transmissor desta! Podem ser hindus,
muçulmanos, espíritas, sikhs, xintoístas, ateus, agnósticos, rastafáris, budistas, etc. E pode ser
usada para ―provar‖ a existência de qualquer coisa, até mesmo o Papai Noel ou o Coelhinho da
Páscoa!

Os crentes não gostariam de experimentar o fruto da árvore do ateísmo? Ou do agnosticismo?


Venham, nós temos de variados sabores, formas e tamanhos! Como podem falar de nós, ó
hipócritas!, se vocês nunca as experimentaram? Quem sabe vocês aprendem a deixar as
mentiras em casa, trancadas num baú? Hehehe

Superbonder nas mãos?

Agora, vamos um dos contos da carochinha crentais mais hilários! A historinha da menina que
nasceu anunciando que Jesus estava voltando (como sempre, está sempre voltando!):

Num hospital público de Itaguaí(RJ) nesse fim de semana que passou,nasceu uma menina com
as mãos coladas,como se estivesse orando.

Os médicos disseram para os pais que iriam operar as mãos daquela menina iria dar uma
anestesia.

A operação foi muito fácil porque parece que as mãos estavam coladas apenas por uma pele.
Quando abriram a mão daquela criança…

Vocês nem imaginem o que estava escrito…

―JESUS ESTÁ VOLTANDO!‖

Os médicos começaram a chorar e todos que estavam no hospital.

O bairro de Itaguaí está num movimento só.

As pessoas que estavam afastadas da igreja estão voltando e outras aceitando Jesus como
único Salvador.

Deus trouxe aquela criança ao mundo somente para transmitir aquela mensagem, depois de
algumas horas ela morreu.

Ai, ai! Vamos lá analisar mais uma besteirada!

Num hospital publico de Itaguaí (RJ) nesse fim de semana que passou, nasceu uma menina
com as mãos coladas, como se estivesse orando.

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Ok. Reparem que o besteirol começa falando sobre o nascimento de uma criança em Itaguaí.
Mas reparem numa coisa:

Os médicos começaram a chorar e todos que estavam no hospital. O bairro de Itaguaí está
num movimento só.

Esperem aí! Um bairro? Afinal, no começo da historinha, só era mencionado o município.


Depois, dizem que Itaguaí é um bairro! Por favor, acessem ESTE SITE (que por sinal, é o site
oficial do governo municipal de Itaguaí)e vejam que Itaguaí é um município do Estado do Rio
de Janeiro. MU-NI-CÍ-PI-O! Sinal de que quem inventou essa merda, ou não sabia NADA da
geografia fluminense, ou estava sob efeito de um alucinógeno brabo. Ou ambos…

Só isso seria suficiente para jogar esse boato no lixo, mas não. Tem gente que realmente
pediu para ser trouxa. Tem gente que não pode cair de quatro, senão sai pastando e não
levanta nunca mais… então resolvemos conferir a fonte dessa história, e obtivemos uma cópia
de um e-mail que Nóbrega, um colega nosso, enviou para o Jornal Folha de São Paulo, e
vejam só a resposta que ele recebeu:

De: ―ombudsman‖

Para: emenobrega@xxx.com.br (vamos preservar a privacidade dele, ok ??)

Assunto: Re: Está circulando na Internet

Grato, Nóbrega. Esclareço que informaram a fonte errada. Nada disso foi publicado na Folha.

Atenciosamente,

Mário Magalhães
Ombudsman - Folha de S.Paulo
Al. Barão de Limeira, 425 - 8º. andar
01202-900 - São Paulo - SP
Telefone: 0800 0159000

Como sempre, a crentalhada adora mentir descaradamente. Essa historinha é mais furada do
que os milagres evangélicos, mais falsa que a prosperidade dos empresários crentes do Folha
Universal!

Querem mais? Então, vamos lá!

Não há menção ao nome do hospital publico, não há citação ao nome dos médicos (em partos,
geralmente temos a assistência de um pediatra, enfermeiras, anestesistas, ginecologistas etc),
não se sabe o nome dos pais, não se sabe o nome da menina, não se sabe quando esta coisa
aconteceu, nada se sabe sobre a data de nascimento, não se fala nada sobre os sentimentos
dos pais com a morte inútil da menina, nada de nada! Não houve uma única notícia nos jornais
de circulação no Rio e Grande Rio. Um vácuo de informação total.

E porque diabos esse deus iria querer a morte de uma menina inocente só para transmitir uma
mensagem tão idiota? Um deus MAIS INTELIGENTE usaria outros meios mais práticos, mais
eficientes e menos cruéis, como aparecer em cadeia mundial! Imaginem, no maior Fla-Flu em
pleno Maraca, pára tudo e uma luz intensa desce dos céus e o Omni Tripla Ação vem
carregado por diversos arcanjos dizendo: ―Eu te amo, meus filhoooooooooos!!!!‖

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De repente, se ele fizer isso, os ateus desaparecem.

E cadê a foto da menina? Nem se deram ao trabalho de pelo menos usarem os celulares (que
hoje em dia pode-se usar um celular com câmera embutida para filmar qualquer coisa e postar
no YouTube a qualquer momento)? Normalmente, os pais levam filmadoras pra sala de parto.
Onde estão as evidências?

Cadê o cadáver da menina, para uma autopsia detalhada e conferir a veracidade dessa
história? Nem se sabe o cemitério onde foi enterrada, e mesmo que achassem a menina, os
microorganismos já a tinham devorado, decompondo a carne dela e restassem apenas ossos!

Por que será que não foi noticiado nos principais jornais do Brasil? Não me lembro de uma
única manchete de 1° página anunciando isso! Nem mesmo um resuminho para a Scientific
American, National Geographic, Discovery, Futura? Talvez no Ratinho ou no Faustão? Ah, já
sei… só saiu em jornalzinho crente de fundo-de-quintal de igreja de papelão, para depois
circular por e-mail, né?

Além do mais, Jesus não vai voltar mesmo. Ele não existe. Podem conferir em nossos artigos
aqui no blog.

Essa historinha crente é realmente uma forçada de barra, e há quem acredite! Tem que ser
muito idiota, não acham?

Jesus é babá?

Esta é para mostrar como os ateus são maus e Jesus é um cara maneiro. É história da menina
que teve os pais ateus mortos e viu Jesus depois, que e bem divulgada em PowerPoints, por
correntes de e-mails, com todas aquelas figuras bonitinhas, mágicas, divinas, sublimes… como
se religião fosse tudo de bom, maravilhoso, benéfico…

Penn & Teller diriam imediatamente na hora: BULLSHIT!!

Esta historinha é mais falsa que nota de 3 reais, como vocês leitores irão perceber na hora.
Como não dá para colocar o Power Point aqui em nosso artigo, resolvemos transcrevê-la aqui:

Se alguém colocasse uma arma em frente ao seu rosto e perguntasse se você acredita em
Deus, o que você faria?
Diria NÃO e se sentiria envergonhado pelo resto de sua vida, ou…
Diria SIM, eu acredito, e teria a coragem de morrer por Deus?
ESTA HISTÓRIA É VERÍDICA
Um casal de ateus tinha uma filha e jamais havia dito sequer uma palavra de Deus para a
criança
Uma noite, quando a menina contava com seus 5 anos de idade, em meio a uma briga,
O pai atirou na mãe, na frente da criança, e depois se matou
A menina assistiu a tudo
Após a tragédia, ela foi mandada para um orfanato.
A senhora que tomava conta do orfanato era cristã, muito devota, e ―apresentou‖ Deus para a
criança
No primeiro dia da catequese a senhora, informando à professora que a menina nunca ouvira
falar sobre Jesus Cristo, pediu-lhe que tivesse paciência com ela.

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A catequista, então, mostrando uma foto de Jesus ás crianças, questionou:
- Alguém sabe me dizer Quem é este?
E a menina levantou a mãozinha e disse:
Eu conheço, é o homem que estava me segurando no colo no dia que meus pais morreram.
Agora: Se você acredita que Jesus está constantemente presente em nossas vidas e nos
segura no colo nos momentos difíceis, você encaminhará esta mensagem para tantas pessoas
quanto você conseguir.
Mas, caso você não acredite na presença constante de Jesus, pode apagar, como se nunca o
tivesse lido. Como se essa mensagem não tivesse lhe tocado o coração
Não se preocupe, caso você não encaminhe, nada de mal irá lhe acontecer, mas lembre-se das
palavras do próprio Jesus:
―Portanto, quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho
dele diante de meu Pai que está nos céus. Aquele, porém, que me negar diante dos homens,
também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus‖ (Mateus 10,32)
Tenha um ótimo dia e que Deus te abençoe.

Como vêem, caros leitores, nos estamos vendo aqui um belo exemplo de uma anedota
religiosa, onde se prega que os ateus são maus, imorais, violentos, assassinos, incrédulos,
infelizes, sem amor-próprio, comunistas, comedores de criancinhas, adoradores do diabo, etc..
e quaisquer adjetivos que vocês quiserem imaginar.

E isso não é verdade, para infelicidade dos religiosos.

As pessoas ateístas são seres humanos, como todos os demais, e possuem sentimentos de
amor, compaixão, racionalidade, tristeza, moralidade, ética, e sofrem dos mesmos problemas
que todos, encaram os problemas, enfrentam, lutam pela vida, não são anti-religiosos, não
impõem as suas idéias e pensamentos em cima dos outros, não fazem proselitismo, não
ameaçam as pessoas para que deixem de ser crédulas, não são amargurados ou revoltados. E
nem mesmo são imorais ou anti-éticos, como ficam pregando os pastores e padres por ai. Ou
ate mesmo, nem mesmo saem de suas casas à noite para cometer assassinatos, roubos,
estupros, etc… porque não tem um ―deus ou Jesus‖ no coração.

Existem pessoas atéias má? Sim, existem. Seres humanos têm seu caráter individual
independente de facção religiosa ou posição filosófica. A não ser quando os líderes religiosos
mostram livros de séculos atrás e querem que aquela seja uma verdade a ser imposta hoje,
submetendo as mulheres ao véu da ignorância, homossexuais são condenados à exclusão
social, negros são vistos como inferiores e membros de outras religiões tidos como hereges.

Assim, por que os religiosos não podem aceitar os ateus? E se não aceitam, por que se
revoltarem e invadirem blogs, comunidades, fóruns etc onde ateus, agnósticos, céticos em
geral conversam sobre as SUAS visões, sem irem em igrejas pára ficarem ladrando como
fazem aqui em nossos campos para comentários? Pelo ódio que possuem contra os ateus, são
os próprios religiosos que estão com falta de ―deus e Jesus‖ no coração, afinal, o livro deles
manda amar os inimigos. Onde está esse amor, quando dizem que devemos ser torturados, ou
as inúmeras ameaças de morte que recebemos aqui?

Religiosos não conseguem amar nem os seus semelhantes. Vejam as inúmeras guerras que os
Católicos travaram contra Protestantes. E rezam pro mesmo deus, curioso, né? Eles só dizem
que amam, da boca para fora, mas JAMAIS dizem com verdadeiro altruísmo, sem a obrigação
religiosa de se amarem uns aos outros de forma verdadeira e recíproca. Sempre dizem essas
palavras ―eu te amo‖ ou ―eu te amo em nome de Jesus‖ ou ainda ―vou orar por você‖, na total

255
falta de sinceridade e sentimento. Não que nos importemos. Não damos importância a
falaciosos hipócritas.

Vamos relembrar uma coisa MUITO simples: Nos EUA, apenas 0,2% dos presidiários são ateus
(de acordo com o The Federal Bureau of Prisons), em um total de 3 milhões de americanos
encarcerados na prisão. Isso mesmo, vocês leram direito – ZERO VIRGULA DOIS – e os
restantes 99% pertencem às mais variadas religiões, sendo que a maioria dos criminosos são
de religiões cristas, protestantes, evangélicas, batistas, adventistas, etc. E o conjunto de
ateus na população dos EUA é de 16,1%. E no Brasil, é a mesma coisa. Nossos ateus que
estão nas prisões brasileiras são menos de 1% , e o número de ateus na população brasileira é
de 7,3% (dados do IBGE 2001 – e são o grupo social que mais cresceu nos últimos anos, e
em breve, passarão de 10%). Façam as contas, rapazes !

Baseado nisso, quem são realmente os criminosos? Hehe…

E sabem quais são as diferenças entre um ateu e um religioso?

O religioso pratica o bem ou faz o papel de bonzinho, esperando uma recompensa no final (ou
seja, o paraíso, a vida eterna, seja la o que for que chamarem). O ateu não, ele pratica o bem
ou caridade, sem esperar nada em troca. Nesse sentido, os ateus são muito mais altruístas
que os religiosos.

Vamos citar um exemplo: Bill Gates.

Bill Gates é ateu – e segundo os linuxistas, ele não tem pacto com o Diabo. É o próprio! – é o
2° homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em 52 bilhões de dólares, e ele é o
maior filantropo vivo, junto com Warren Buffet. A Fundação Bill e Melinda Gates possui 38
bilhões de dólares destinados à caridade, e ajuda a África, financia pesquisas para a cura da
AIDS, fornecimento de vacinas, acesso à educação. E ainda por cima, Bill declarou que,
quando falecer, ira doar quase toda a fortuna de 50 bilhões de dólares à caridade.

Vocês conhecem um religioso tao caridoso assim? Edir Macedo? R. R. Soares? Silas Malafaia?
Bento XVI? Pelo menos um pastor evangélico? Sabe se algum destes aí doou um reles carrinho
de mão? E suas declarações de renda? Bem, nem você viu a declaração de renda deles, nem a
própria Receita Federal. Isso não é significativo?

Outra diferença: o religioso é tão ateu quanto o próprio ateu. O religioso não acredita em
TODOS os demais deuses, exceto um (o dele), enquanto que o ateu apenas não acredita em
um deus a mais. Sacaram? Ou será que eles se predispõem a provar que Ganesh não existe,
assim como berram que não se pode provar que o deus deles não existe? Se bem, que não há
mesmo uma única prova que o tal de Jesus existiu…

Mas agora, voltemos à analise dessa historinha crente. E como sempre, não há menção sobre
as circunstâncias onde ocorreu esses assassinatos, não há nomes dos envolvidos, não há
nenhuma data, nenhuma menção ao local, não se diz o nome da menina, não se cita o nome
do orfanato, o nome da senhora ―cristã fervorosa‖, nada de nada.

E ainda querem dizer que a história é veridica? É tão verídica quanto eu afirmar que há um
Saci-Perere andando de patinete na Avenida Paulista!

E vejamos, essa historinha possui as Tipicas Justificativas Religiosas.

256
Se alguém colocasse uma arma em frente ao seu rosto e perguntasse se você acredita em
Deus, o que você faria?

Configura a TJR nº 29 (Falou “Meu Deus” na hora do apuro)

Não se preocupe, caso você não encaminhe, nada de mal irá lhe acontecer, mas lembre-se das
palavras do próprio Jesus:

Aqui são duas TJR:

 22 – O fim está próximo


 48 – Você vai pro Inferno
 51 – Pra Deus, tudo é possível
 52 – Testemunho dramalhão

E muitas outras. Na verdade, todo o texto é um exemplo completo e perfeito das Típicas
Justificativas Religiosas.

A Xuxa é o cão!

E a historinha da Xuxa, que fez um pacto com o diabo, para conseguir o sucesso que ela tem
hoje? Essa historinha ridícula tem sido veiculada em inúmeros sites e portais religiosos, e
vocês podem ler em mais detalhes no site do Tabernáculo (espero que eles procurem ver
quem os linkou, hehehehe). Essa babaquice data desde o tempo que a Xuxa era gostosinha e
fazia sucesso (atualmente, não é uma coisa nem outra). Até mesmo os ridículos da IURD
publicaram estas bobagens.

E vejam, não estamos fazendo propaganda ou marketing para defender a Xuxa (mas, se ela
quiser ser grata conosco, não acharemos nenhum mal nisso ), mas sim para desmascarar a
mentira por trás. E não só ela que tem sido vítima dessas calúnias, mas também vários
outros artistas brasileiros e estrangeiros que têm feito sucesso nas paradas. Bem, vamos ler a
transcrição do ―pacto do diabo‖ aqui :

Depois de acusar o boneco Barney de ―comer cadáveres humanos‖ e de afirmar que Bart
Simpson e o Homem-Aranha teriam ligações malignas, o pastor Josue Yrion, que mora nos
EUA, mira em Xuxa. Corre com força na ―web‖ um vídeo em que ele diz que ela vendeu a alma
a Satanás por US$ 100 milhões. ―Xuxa é satanista. Xu-Xa: é o nome de dois demônios
brasileiros, O-xu e Ori-xá.‖ A assessoria de Xuxa diz que não vai comentar essas barbaridades.

Para início de conversa, o que é necessário para fazer um pacto com o diabo? Vamos dar uma
olhada em um site que fala um pouco sobre o assunto, clicando AQUI.

Se isso tudo fosse verdade, e se o diabo existe, então praticamente TODOS os aspirantes à
fama como artistas, e TODAS as bandas de música (incluindo as Gospel), poderiam fazer o
pacto com o diabo, para serem TODOS famosos. Não importa a musica que tiverem, não
importa o talento que tiverem, não importa o ramo em que entrarem, TODOS teriam
oportunidades iguais. Se bem que eu não sei como o RBD fez sucesso…

Mas, a realidade mostra outra coisa. Dos milhares de pessoas que tentam fazer sucesso,
apenas pouquíssimas chegam lá, gracas à musica que criaram, às oportunidades que

257
agarraram, ao talento que possuem, aos agentes que foram competentes, à aceitação do
público pela novidade, pelo marketing pessoal, etc… ou seja, são inúmeros os fatores que
levam ao sucesso do artista em seu meio. E o meio artístico é de altíssima rotatividade, pois o
que é o hit do momento, amanhã não o sera mais, devido aos gostos e preferências do grande
público no mundo.

Se os crentes acreditam tanto assim na existência do diabo, então eu os desafio a chamarem


um pastor que faça um ritual de convocação de um demônio qualquer, em uma demonstração
pública, com o uso de pentagramas, símbolos mágicos, velas, pombas para sacrificar, com
direito a câmeras e máquinas digitais para filmar tudo, e comprovar em rede nacional a
existência desse ser imaginário.

Mas, isso nunca aconteceu, só nas igrejas (onde alegam, que fazem pernas e braços
crescerem também). Nenhum pastor, nenhum padre, nenhum clérigo, ninguém religioso
jamais chamou o diabo para uma demonstração pública, para exibi-lo ao povo crédulo, e
convencê-los da existência física desse ser. E olhe lá que métodos, rituais de convocação,
velhos livros de ocultismo, etc. não faltam para fazer tal demonstração!

E porque isso não acontece? Por que não ocorrem demonstrações públicas ?

Simples: Não existem diabos, demônios, figuras infernais etc (não, a banda Calypso não
conta) São imaginários! Se não conseguem nem provar que o Deus deles existe, que dirá o
diabo. Tudo isso não passa de alucinação coletiva de uma entidade que só existe na cabeça
dos crentes!

Outra coisa, acusar a Xuxa de um pacto com o demônio, só por causa do nome dela, é uma
calunia seria, que por sinal é crime previsto no Código Penal. Mas, quem disse que religiosos
respeitam as leis? Além disso, também temos a difamação e preconceito para com as
religiões de origens africanas, demonizando-as. Mas, já deveríamos saber disso, os
evangélicos são o grupo religioso que mais discriminam as religiões da Umbanda brasileira,
com ataques a terreiros, difamações contra mães-de-santo, pais-de-santos, depredação,
odio, expulsão de pessoas ligadas ao Candomble de suas casas por traficantes
evangélicos, etc. E não só da Umbanda, mas Candomblé e até Centro Kardecista.

Tudo bem que nós aqui achamos que cultuar deuses africanos não é muito diferente de cultuar
um cara que apanhou e foi pregado num pedaço de pau. Mas, nunca fui a um terreiro encher o
saco lá. Pra mim, não matando animais, podem ficar fazendo ―trabalho‖ até deixarem as
floriculturas podres de ricas. Mas, hoje não é mais tão comum o sacrifício de animais. O pior
são os ―animais‖ que sacrificam a paciência alheia falando um monte de merda na casa dos
outros.

O pastorzinho mequetrefe afirmou no vídeo que a Xuxa pagou US$ 100 milhões para o diabo.
Muito bem, cadê as provas? Ele pelo menos tem uma cópia do extrato bancário da Xuxa? e do
Capeta? A Xuxa teria esse dinheiro quando começou essa carreira? Nao vamos nos esquecer
que no começo, ela era só uma pobre aspirante, com uns trocados no bolso, que nem camarim
tinha. trocava de roupa num biombo, conforme ela contou numa entrevista. E o que merda o
diabo faria com esse dinheiro? Contratar o Spawn para chefiar suas legiões infernais? Tá de
saca, companheiro?

Por acaso ele vive entre nos, em uma mansão na Palma de Mallorca ou em Saint-Tropez? Ele
bebe champanhe Don Perignon, veste ternos Armani, um Rolex no punho, e comendo todas as
gostosas que aparecem em Monte Carlo?

258
O Diabo é dono da Microsoft e da Apple? Gente, fala sério vai!

O tosco do pastor alegou que o nome da loura é uma mescla de O-XU , um demônio.
Demônio? Se ainda fosse ―Exu‖, ainda estaria errado, mas seria mais condizente. A outra
metade é Ori-XA. Orixás são divindades africanas. Aliás, até mesmo um Exu (dependendo da
religião afro) pode ser considerado um Orixá. Logo, como todo pastorzinho de merda, ele não
passa de um ignorante que não deve conhecer nem a Bíblia dele. Conhece? Por favor, venha
aqui pra ter uma conversinha conosco.

Que mau exemplo os religiosos estão dando às crianças, com o uso de calúnias e difamações
contra uma mulher que foi uma inspiração para uma geração que viveu os anos 80 e 90,
assistindo às apresentações dela! E alguém ai conhece o caso de pelo menos UMA ÚNICA
CRIANÇA que se inspirou na Xuxa para fazer um pacto com Satã? Lembrando da história
acima, que tal… cronch, cronch, cronch, o pastor experimentar o satanismo para saber se é
isso o que ele está dizendo? Satanismo nem tem a ver com Satã, bando de ridículos, parem
de falar besteira! Existe até uma Associação Portuguesa de Satanismo.

Mas, fanáticos estudam? Não, não estudam. ―O Deus dos vencidos é o demônio dos
vencedores‖. Não existe uma única religião que não demonize a religião alheia.

Se Xuxa realmente tivesse feito o pacto com o Diabo, não acham que ela já deveria ter
morrido para ter a alma levada ao Inferno? Afinal, pactos são de curta duração, como dizem os
livros de ocultismo, variando de 1 a 7 anos, passíveis de renovação através de sacrifício de
seres humanos ao Diabo.

Os religiosos deveriam ter vergonha em replicar esta história incansavelmente em seus sites e
portais. Se a Xuxa resolver processá-los por calúnia, ela ganharia muito mais do que US$ 100
milhões em indenizações por danos morais e fechar todos os sites. E os crentes ficarão todos
com cara de tacho, porque não saberão e nem terão como provar o que estão alegando. Mas,
são bem capazes de organizarem uma cruzada, alegando que o Judiciário (a única coisa que
ainda tenho ―fé‖) está tomado por seres satânicos, dispostos a destruírem a moral e bons
costumes.

Iblis nos defenda!

CHIP MONDEX – A besta tá à solta

Mais uma mentira crente! Se querem saber como essa mentira é relatada, assistam este vídeo
no YouTube!

Trata-se, segundo os relatos, de um sistema novo de controle humano, o qual se constitui em


um chip a ser implantado sob a pele das pessoas, e que substituirá os atuais documentos,
além de poder rastrear a localização de qualquer ser humano na face da terra.

Porém, o que tem causado mais ―apreensão‖ por parte de alguns evangélicos (e Adventistas,
em especial), é o fato de o tal chip só poder ser implantado em 2 locais do corpo humano: na
testa ou na mão direita (entendeu o porquê da apreensão?). A alegação é de que as pesquisas
científicas comprovaram que apenas nestes 2 pontos do corpo é que a implantação do artefato
seria eficaz.

259
E dá para acreditar nessa besteira? Bem, eles acreditam em cobras falantes, precisa dizer
mais? Algum de vocês já viu levar um chip no meio da testa? Ouviram falar pelo menos de
alguém que tenha algo assim? E-mail não vale. Mais uma bobajada da crentalhada! Se querem
mais informações sobre como funciona realmente o Mondex, é só clicar AQUI!

Os religiosos dizem este chip seria a marca da besta, uma vez que ―cumpre‖ direitinhos as
características descritas em Apocalipse. Será? Eu sei muito bem quem são as bestas.

Todos nós temos conhecimento deste material ―publicitário‖ há mais de 5 anos. Desde aquela
época eles já diziam que o tal chip seria uma realidade mundial em pouco tempo (1 a 2
anos)… e até hoje nada!

Sabe qual o motivo? Porque tudo isso é uma grande fantasia paranóica!

Parece não passar de uma montagem que alguns fizeram utilizando-se de versos bíblicos
isolados para tentarem apresentar uma ―novidade‖… algo que pudesse ser original e chamar a
atenção. Infelizmente muitos idiotas caem nessa conversa mole!

Esta história toda de MONDEX partiu de alguma seita fanática americana (ou talvez até
brasileira), que existem aos montes por lá (e por aqui também), com o objetivo de alarmar as
pessoas. E essa história tem sido repetida à exaustão em inúmeros sites crentes, veiculados
por correntes de e-mail (sempre eles), apresentações em Power Point, etc..

Vamos ver algumas inconsistências que são facilmente detectaveis nesta história de chip sub-
cutâneo:

1. Uma tecnologia tão eficiente e moderna (com baterias de lítio, rastreamento por satélite,
chips milimétricos, etc.) não é nada barato. Se cada um custasse cerca de 1 dólar seriam
necessários quase 7 BILHÕES DE DÓLARES para colocar um chip desse em cada habitante do
mundo (pois a profecia diz que a marca da besta seria algo de proporções globais). Façam as
contas, pessoal, se o tal chip custasse 10 a 20 dólares ! A quantia a ser gasta seria absurda!

2. Um implante populacional desta magnitude, mesmo que houvesse tanto dinheiro para isso,
demoraria muito tempo para atingir populações que hoje vivem em situações econômicas e
sociais de total isolamento de qualquer desenvolvimento tecnológico (países da África,
Oceania, Ásia, etc.). Pode ser algo muito ―realista‖ para um morador do desenvolvido sistema
americano, mas certamente não passa de ficção e utopia para alguém que vive nos distantes
rincões africanos (ou do nosso sertão nordestino), sem o mínimo para se alimentar
diariamente. Considerando que muitos lugares do Brasil sequer têm luz elétrica e rede de
esgoto, deixo para vocês as considerações.

3. Por que na mão direita? O que, fisiologicamente, a mão direita tem que a esquerda não
tem? Só se for a possibilidade de coçar o cotovelo esquerdo. Isso é uma tentativa desesperada
de forçar o texto bíblico. Não vamos esquecer que aproximadamente 10 a 15% da população
mundial é canhota.

4. Se é tão simples para implantar, por que eles dizem que é tão perigoso para retirar? A
mesma ―intervenção cirúrgica‖ de colocação não seria semelhante à de retirada?

Além do mais, essa mentira do Mondex é apenas uma reciclagem das fantasias paranóicas dos
crentes, com nova roupagem. Os seus antecessores foram os códigos de barras, cartões de
créditos, tatuagens, o Windows de Bill Gates, etc..

260
Vocês não acham que essa história do número da besta é uma grande merda? Se formos usar
a associação entre as letras e números, para identificar o número 666 nos nomes das
pessoas de TODO O PLANETA, iríamos descobrir CENTENAS DE MILHÕES de pessoas com o
numero 666 em seus respectivos nomes! Até mesmo os nomes que as madames dão aos
poodles não escapariam!

E o que dizer dos 666 que aparecem em números de telefones e celulares, placas de carros,
cartões de credito, saldos bancários, datas do ano, IMEI de celulares, números seriais de
produtos, códigos de autenticação, paginas de livros volumosos, IP, DNS, SMTP, etc ? E uma
infinidade de coisas e lugares que podem ter esse número!

Além do mais, recentemente foi anunciado que o número da besta esta errado! O número
real é 616. Podemos ler uma transcrição aqui:

―Foi publicado no jornal canadense The National Post que o Número da Besta está errado.
Segundo um fragmento do Novo Testamento, datado do Século III, a marca do Anticristo
bíblico seria 616, e não o tradicional 666. ―Os acadêmicos têm discutido sobre esse assunto há
muitos anos, mas agora parece que chegamos a um consenso de que o 666 não é o Número
da Besta verdadeiro‖, informou o professor Ellen Aitken, que ensina história na McGill
University, do Canadá. ―Quando se fala de textos bíblicos, estamos falando de copias feitas
200 anos depois que o original foi escrito. Podem haver muitos erros de cópias causados por
razões políticas e teológicas.‖ O fragmento de papel foi encontrado recentemente na cidade
egípcia de Oxyrhynchus e está escrito em grego, a língua original do Novo Testamento, e
contradiz todas as versões convencionais da Bíblia, que consideram o 666 como o verdadeiro
Número da Besta. ―Muitos sermões vão precisar serem reescritos, muitos filmes precisarão
serem mudados‖, brincou o professor Elijah Dann, que ensina religião e filosofia na
Universidade de Toronto, no Canadá. Ao saber da história, o vocalista Paul Di‘Anno, ex-cantor
do Iron Maiden, reagiu com ironia: ―foda-se! Isso significa que a tatuagem atrás da minha
cabeça está errada. Se perguntaram, vou dizer que não consigo lê-la‖, brinca Di‘Anno.‖

E outros sites, como o American Vision dizem a mesma coisa. Quem está certo? 616 ou 666?
Ambas as fontes não são confiáveis!

Por mim, pode ser 1000, 54, 564, 23, 9986, ou qualquer número que seja. No fundo, não
passa de uma besteira sem tamanho, porque não prova nada!

Na próxima página, prosseguiremos com mais uma historinha. E dessa vez, envolve o nome de
uma das personalidades mais famosas do século XX: Albert Einste

Einstein fala sobre Jesus

Assim como adoram citar Darwin, Einstein também é sempre alvo de anedotas religiosas, na
tentativa de usarem a imagem de um dos maiores cientistas do século XX para defender as
bobajadas religiosas. Desse modo, inventam mais uma palhaçada sem nexo.

No ano de 1955, Viereck, um jornalista alemão, procura o grande Albert Einstein na


Universidade de Princeton, nos Estados Unidos e, ao encontrar o Pai da Relatividade, o mais
célebre físico teórico do século XX, pergunta-lhe:

―Professor, qual a influência que o Cristianismo terá exercido sobre sua vida?‖.

Einstein, tranqüilo e nobre, afirma:

261
―Eu, tendo sido criado sob a égide da Bíblia e do Talmud, na minha condição de judeu, quero
dizer que Jesus tem exercido influência sobre a minha vida. Sinto-me fascinado por essa figura
luminosa. Inquestionavelmente, ninguém pode ler os Evangelhos sem experimentar a
presença presente de Jesus. Em cada palavra pulsa a Sua personalidade. Jamais qualquer mito
estará saturado de semelhante vida‖.

Einstein, sempre tranqüilo, olhou nos olhos de Viereck, sorriu e atalhou:

―Ninguém pode negar que Jesus tenha existido, nem a beleza de Seus ensinos. E, mesmo que
alguns desses ensinos tenham sido apresentados antes, a verdade é que ninguém os
expressou tão divinamente, como Ele‖.

E mais uma vez, esta história só pode ser encontrada em sites religiosos; através de uma
pesquisa na Internet, não há menção a ela em nenhuma das biografias oficiais disponíveis.
Então resolvemos pesquisar o nome do jornalista alemão citado, cujo nome completo é George
Sylvester Viereck, cuja biografia encontra-se disponível na Wikipédia. Nela, não há nenhuma
menção à suposta entrevista com Albert Einstein. E tem mais! Viereck é um jornalista alemão,
que entrevistou o próprio Adolph Hitler e identificou os elementos que viriam a se seguir nos
anos seguintes, e ele se tornou conhecido por sua apologia ao nazismo! Acham mesmo que
Einstein daria uma entrevista a um jornalista simpatizante do nazismo?

Era um jornalista respeitado, mas só até o ano de 1933, quando revelou a sua adesão ao
nazismo alemão e a sua admiração por Hitler. Perdeu o respeito e a admiração das pessoas
nesse momento.

Pesquisando-se em outra biografia do jornalista, descobrimos que a entrevista não ocorreu em


1955, e sim em 29 de outubro de 1926, pelo Saturday Evening Post. De acordo com a
biografia de Albert Einstein, entre 1925 a 1928, foi presidente da Universidade Hebraica de
Jerusalém. No mesmo ano de 1926, o jornalista também entrevistou Freud, de acordo com o
livro ―Freud e a Religiao‖ publicada por David S. N. em 2003. Em outra fonte pesquisada,
encontramos outra data para a entrevista, que a situa em 26 de outubro de 1929 (citada na
obra ―Einstein – A Life‖ de Denis Brian em 1996).

E quero que tenham em mente que mesmo as informações contidas no Wikipedia não são
exatamente confiáveis, pois podem ser editadas e alteradas por qualquer um. Ou seja,
estamos avisando que essa frase sobre Jesus atribuída a Einstein pode não ser verdadeira!

Gente, agora estamos com 3 datas diferentes para a entrevista! Então encontramos uma
coletânea de frases de Albert Einstein, que provém de fontes confiáveis! Vejam AQUI e AQUI,
e notem que em nenhum momento ele cita Jesus!

A biografia oficial de Einstein pode ser encontrada no site do Prêmio Nobel, e mesmo nela,
não há nenhuma menção a essa entrevista. E não podemos nos esquecer que em 1955, o ano
da suposta entrevista, foi o ano em que Einstein faleceu. Interessante, não é? Será que a
entrevista foi através de psicografia?

E vejam só que máximo! Pesquisando-se em sites dos EUA, nós encontramos variações da
entrevista, mas em nenhum lugar nos encontramos o conteúdo original desta! No site da
Liberals Like Christ, encontramos esta variação:

The following comes from ―What Life Means to Einstein: An Interview by George Sylvester
Viereck,‖The Saturday Evening Post, Oct. 26, 1929, p. 17. The questions are posed by Viereck;

262
the reply to each is by Einstein. Since the interview was conducted in Berlin and both Viereck
and Einstein had German as their mother tongue, the interview was likely conducted in
German and then translated into English by Viereck.

Other portions of this interview might seem questionable, but this portion of the interview was
explicitly confirmed by Einstein. When asked about a clipping from a magazine article (likely
the Saturday Evening Post) reporting Einstein‘s comments on Christianity taken down by
Viereck, Einstein carefully read the clipping and replied, ―That is what I believe.‖ See Brian pp.
277 - 278.

―To what extent are you influenced by Christianity?‖

―As a child, I received instruction both in the Bible and in the Talmud. I am a Jew, but I am
enthralled by the luminous figure of the Nazarene.‖

―Have you read Emil Ludwig‘s book on Jesus?

―Emil Ludwig‘s Jesus,‖ replied Einstein, ―is shallow. Jesus is too colossal for the pen of
phrasemongers, however artful. No man can dispose of Christianity with a bon mot.‖
―You accept the historical existence of Jesus?‖

―Unquestionably. No one can read the Gospels without feeling the actual presence of Jesus. His
personality pulsates in every word. No myth is filled with such life. How different, for instance,
is the impression which we receive from an account of legendary heroes of antiquity like
Theseus. Theseus and other heroes of his type lack the authentic vitality of Jesus.‖

―Ludwig Lewisohn, in one of his recent books, claims that many of the sayings of Jesus
paraphrase the sayings of other prophets.‖

―No man,‖ Einstein replied, ―can deny the fact that Jesus existed, nor that his sayings are
beautiful. Even if some them have been said before, no one has expressed them so divinely as
he.‖

Outra variação também pode ser encontrada em Jew and Gentile. Mas, curiosamente, no
site da revista TIME, podemos encontrar um artigo sobre Einstein e a Fé. Lá, encontramos
outra coisa absolutamente diferente. Vamos ler um trecho aqui:

Viereck began by asking Einstein whether he considered himself a German or a Jew. ―It‘s
possible to be both,‖ replied Einstein. ―Nationalism is an infantile disease, the measles of
mankind.‖

Should Jews try to assimilate? ―We Jews have been too eager to sacrifice our idiosyncrasies in
order to conform.‖

To what extent are you influenced by Christianity? ―As a child I received instruction both in the
Bible and in the Talmud. I am a Jew, but I am enthralled by the luminous figure of the
Nazarene.‖

You accept the historical existence of Jesus? ―Unquestionably! No one can read the Gospels
without feeling the actual presence of Jesus. His personality pulsates in every word. No myth is
filled with such life.‖

263
Do you believe in God? ―I‘m not an atheist. I don‘t think I can call myself a pantheist. The
problem involved is too vast for our limited minds. We are in the position of a little child
entering a huge library filled with books in many languages. The child knows someone must
have written those books. It does not know how. It does not understand the languages in
which they are written. The child dimly suspects a mysterious order in the arrangement of the
books but doesn‘t know what it is. That, it seems to me, is the attitude of even the most
intelligent human being toward God. We see the universe marvelously arranged and obeying
certain laws but only dimly understand these laws.‖

Is this a Jewish concept of God? ―I am a determinist. I do not believe in free will. Jews
believe in free will. They believe that man shapes his own life. I reject that doctrine. In that
respect I am not a Jew.‖

Reparem bem nas palavras de Einstein. O contexto da entrevista é totalmente diferente


daquela divulgada em sites religiosos, distorcendo as palavras de Einstein, para fazer com que
ele pareça ser a favor do Cristianismo, quando na verdade Einstein atesta que não pode ser
considerado um judeu, pois ele não acredita no livre arbítrio (free will). Nem mesmo panteísta
ele é. No máximo ele acredita numa força que governa o Universo. A frase ―No one can read
the Gospels without feeling the actual presence of Jesus. His personality pulsates in every
word. No myth is filled with such life‖ pode ser traduzida como ―Ninguém consegue ler os
evangelhos sem sentir uma presença real de Jesus. Sua persolnalidade pulsa em cada
palavra. Nenhum mito é descrito com tal vida‖.

Para quem quer acreditar que Einstein adorava o Senhor Jóquei de Jegue, esta frase é linda e
expressiva. Para alguém que saiba interpretar textos, podemos ver que a posição de Einstein
sobre Jesus baseia-se UNICAMENTE nos Evangelhos. Só que os Evangelhos se mostraram
falsos sob a análise de fatos históricos, como judeus se reunindo na Pessach, soldados
romanos que só aparecem nos evangelhos, mas que não existiam na Galiléia na referida época
e muio mais. Assim, a personalidade de Jesus pulsa nos evangelhos, assim como acontece
com qualquer herói de um romance de ficção. Se tais descrições não acontecem em outras
mitologias, isso não quer dizer muita coisa. Lembremos que os Evangelhos muitas vezes não
concordam entre si. São histórias diferentes, escritas por pessoas diferentes, o que não
acontece com outros contos mitológicos.

Com o tempo, Einstein foi adquirindo uma postura diferente no tocante à religião. Alguns
alegam que ele seria um agnóstico, com diferentes declarações sobre a religião. Mas, o mais
acurado seria dizer que ele era deísta. Por fim, recentemente foi encontrada uma carta, em
que ele desdenhava a religião, em que citaremos aqui um trecho:

A palavra Deus para mim é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana, a Bíblia
é uma coleção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis.

Assim escreveu Albert Einstein que, apesar de ter origem judia, frequentou uma escola católica
na infância.

Myth busted again!

O Satânico Dr. Fofão

264
Lembram-se da Xuxa, pessoal ? Então, vamos nos relembrar de outro de nossos idolos de
infância: o Fofão, aquele que fazia parte do programa o Show do Balão Mágico (isso mesmo,
aquele que tinha a cantora Simoni que, para a nossa tragédia, virou evangelica e é mae de
dois filhos com um presidiário).

Fofão era um personagem infantil de muito sucesso Interpretado por Orival Pessini, era muito
querido pelas crianças nos anos 80, e chegou a ter seu próprio programa de TV, além de
discos e bonecos, como manda o bom capitalismo.

E com essa linha de confecção de bonecos Fofão, vinha consigo uma lenda que, segundo
dizem, todos os bonecos do Fofão que foram fabricados, vinham com uma ―surpresa‖ dentro!
Diz a lenda que dentro do boneco exatamente entre o pescoço e a cabeça do boneco haveria
um tipo de punhal (ou lâmina em forma de punhal) e uma vela vermelha e preta.
BUAHHAHAHAHA

Essa lenda, é claro, nunca foi confirmada. Muitos dizem ter aberto os bonecos e verem o tal
objeto, e há gente que afirma que nos bonecos deles tinham o tal punhal, mas obviamente,
nunca mostraram o tal punhal e muito menos a vela. Sim, eu sei o que vocês estão pensando
sobre onde eles enfiaram essas duas coisas, mas me abstenho de maiores comentários sobre
tais lugares escusos.

O ator Orival Pessini (que interpreta também o famoso personagem Patropi) nunca se
pronunciou de verdade sobre o ocorrido, não se tem nenhum registro oficial ou coisa do tipo
até porque se houvesse, ele com certeza não estaria mas na TV ou nos teatros, porque um
homem que faz pacto com o diabo e põe um punhal em seu boneco, não duraria muito na
mídia! Ou estaria muito bem de vida, sendo dono de uma imensa rede de TV, como é o caso
da Globo. Será que o Roberto Marinho era do demo? Vai saber o que anda na cabeça-de-bagre
dessa gente que inventa besteiras…

Pelo sim, pelo não, há inúmeros depoimentos de algumas pessoas na Internet. Umas afirmam
que realmente tinha outras que abriram e não viram nada demais, uma pessoa diz ter visto
um objeto de plástico que tinha forma pontiaguda, mas que fazia parte do esqueleto do
boneco, o que a fazia o boneco ficar com a cabeça presa ao corpo. Todavia não podemos
descartar a possibilidade de ser uma grande jogada de marketing para se vender mais.

Ou seja, jamais foi confirmada a veracidade desse mito de que Fofão fosse um boneco
devotado ao diabo, apesar de, convenhamos, ser feio pra cacete! Essa história , como vocês
podem bem imaginar, só é encontrada em sites religiosos; não há nada que indique a
veracidade desta, e também, só existem fotos que mostram o boneco, o rosto, as roupas dele!
Mas há blogs que mostram os supostos punhais, como vcs podem ver AQUI!

Mas se alguém quiser conferir se o bonequinho diabólico, é so vcs irem ao Mercado Livre para
comprarem um boneco, está uma pechincha! Só custa 80 a 120 reais!(só coloco link se o
Mercado Livre me der um Fofão e um Falcon).

Haja saco! O que eles vão inventar agora? Que a Hello Kitty é uma enviada do Diabo? Bem…
se formos prestar atenção, ela é um gato sem boca… Estranho!

Os alegres cantores do Inferno

265
Crente adora as histórias tristes de dor e sofrimento. Eles não conseguem seguir uma religião,
sem que haja a possibilidade de haver uma punição eterna com morte, dor e sofrimento para
aqueles que não professam a mesma religião/seita. É nisso que se baseia a última mentira
religiosa deste capítulo!

Aquela das vozes do inferno, cuja refutação encontramos em Quatro Cantos, site especialista
em mostrar como os seres humanos são idiotas em repassar e-mails imbecis e, claro, colocar
uma refutação à altura. Aqui, iremos transcrever o material publicado por eles. Obrigado,
pessoal!

Pesquisadores gravam lamentos das almas condenadas

Em meados de dezembro de 1989, um grupo de geólogos russos, fizeram um poço de 14.000


metros de profundidade na Sibéria; e eles afirmam terem ouvido lamentações que vinham do
centro da terra, pedindo água e misericórdia.

Segundo este cientista após ter perfurado vários quilômetros, os equipamentos começaram a
funcionar descontroladamente, dando a impressão que o centro da terra e oco.

A notícia se espalhou pelo mundo. Um jornal da Finlândia publicou a matéria, com relatos dos
operários e estudiosos que ouviram a fita. Um deles, o Dr. Azzacove declarou o seguinte: ‖
Como um comunista eu não acredito em céu ou na Bíblia mas, como um cientista eu acredito
agora no inferno. Desnecessário dizer que ficamos chocados ao fazer tal descoberta. Mas nós
sabemos o que nós vimos e nós sabemos o que nós ouvimos. E estamos absolutamente
convencidos que nós perfuramos pelos portões do inferno!

A perfuratriz, de repente, começou a girar velozmente indicando que tínhamos chegado a um


grande bolsão vazio ou uma caverna. O sensor térmico mostrou um aumento dramático da
temperatura para 2,000 graus Fahrenheit.

Nós abaixamos um microfone, projetado para descobrir os sons de movimentos tectônicos


abaixo da galeria. Mas em vez de movimentos de placas nós ouvimos uma voz humana,
gritando de dor! No princípio pensamos que o som estava vindo do nosso próprio
equipamento.

Mas quando nós fizemos ajustes nos equipamentos, nossas piores suspeitas foram
confirmadas. Os gritos não eram de um único humano, eles eram gritos de milhões de
humanos!‖

Os Sons

O arquivo anexado é assustador. No inicio, uma pessoa fala como recebeu esse arquivo e
avisa aos ouvintes que são sons asustadores. O narrador afirma claramente sobre a existência
do inferno. Os últimos 20 segundos de audio são as vozes de pessoas gritando.

Por motivos não esclarecidos na mensagem – se buscavam petróleo ou outra coisa –, eles
usavam uma poderosa perfuratriz e já estavam com a broca a 14.000 metros de profundidade.
De repente, a broca deixou de encontrar resistência e começou a girar livremente. Os geólogos
imaginaram haver encontrado um bolsão oco: o centro da Terra.

O Dr. Azzacove ou Azzacov, conforme a versão, cientista conhecido apenas pelo enorme
buraco que teria cavado no chão da Sibéria, ficou surpreso com a descoberta.

266
Segundo o relato, aos 14.000 metros de profundidade a temperatura encontrada foi de 2.000
graus Fahrenheit (1.093 graus Celsius). Apesar de tanto calor, os cientistas conseguiram
introduzir, através da sonda, um microfone e ficaram pasmos com o que escutaram.

Só pra início de conversa: se houvesse geólogos nessa história, eles saberiam que o diâmetro
do nosso planeta é de bem mais de 24 km. A espessura da litosfera, a crosta terrestre, varia
de 5 km sob os oceanos a 70 km sob os continentes. Os 14 km supostamente atingidos,
portanto, nada significariam diante do diâmetro da Terra.

Ao analisar as fitas gravadas com os estranhos sons os cientistas ouviram gritos horríveis.
Eram vozes pedindo água e misericórdia. (Acrescento por minha conta: aparelhos de ar
condicionado também seriam uma boa pedida

Mais ―estudos‖ e logo eles interpretaram os sons como sendo gemidos e lamentos das almas
dos ímpios, almas penadas, almas condenadas ao fogo eterno. E onde estariam essas almas
penadas, condenadas, perdidas e recém-achadas?

Elementar, meu caro Watson: no inferno, é claro!

Que pedissem por misericórdia, até que seria coerente, pois misericórdia é um ―sentimento
doloroso causado pela miséria de outrem‖ (Caldas Aulete) e bem adequado ao estado em que
as almas condenadas encontravam-se, mas pedir água? Estranho, muito estranho!

Água é coisa material e almas são, por definição, coisas incorpóreas e imateriais. Como
poderiam elas sentir falta de coisa material, pedir água, sentir sede?

Tudo foi publicado por um conceituado (!) jornal finlandês de nome Ammennusatia,
Ammennusastia ou Ammenusastia. Ao procurar no Google por esse famoso jornal, ele aparece
apenas nas referências ao enorme buraco que teria chegado até o inferno.

Não havia geólogos em tal suposta prospecção. Se houvesse, eles teriam informações sobre a
composição da crosta terrestre; tanto o nome do geólogo responsável pelo buraco, o Dr.
Dmitri Azzacove ou Dmitri Azzacov como o nome do jornal finlandês eles apenas são
conhecidos por conta da suposta descoberta.

Não dá para imaginar que a temperatura tenha chegado, de repente, aos quase 1.100 graus
Celsius. Alguns metros acima do inferno (?), a temperatura já teria chegado aos 1.000 graus.
Mesmo assim, a broca e a sua haste de sustentação não fundiram nem se tornaram maleáveis
e continuaram o serviço.

O microfone não fundiu certamente porque fora especialmente preparado para a missão, não a
de descobrir o inferno, mas a de ouvir os sons dos movimentos das placas tectônicas. De
qualquer forma, fica a pergunta: a que distância da ―porta do inferno‖ o microfone teria
chegado?

Numerosos sites reproduzem o texto e as afirmações parecem transformar-se em verdades


não porque elas mereçam crédito, mas pelo número de repetições delas. É algo semelhante ao
mote ―uma mentira apresentada muitas vezes transforma-se em verdade‖.

Muitos dos sites que reproduzem a história são sites religiosos fundamentalistas que tomam ao
pé da letra o texto da Bíblia. Alguns deles falam de demônios, do satanismo, do dia do
arrebatamento (!?), da besta do Apocalipse e de coisas semelhantes.

267
Um dos sites mostra foto borrada onde se ―vêem‖ o rosto de Jesus, o rosto do diabo, anjos,
gente sendo ―arrebatada‖, animais, carros e quem quiser ver verá muitas outras coisas como
uma bola de futebol e um radinho de pilha. Mesmo não apresentando simetria, a foto, ou
melhor, os borrões lembram as cartelas dos famosos testes de Rorschach: pessoas diferentes
vêem coisas diferentes nas manchas apresentadas.

Mas será que encontraram mesmo o inferno?

É mais embaixo, diz o site Tabernáculo.Net:

O assunto precisa ser analisado com cautela, antes de darmos ampla divulgação nas igrejas.
Não me parece fácil aceitarmos a idéia de que o inferno, possa, doravante, ser acessado por
qualquer pessoa, bastando que possua o equipamento necessário.

Se admitirmos a literalidade na interpretação de alguns textos bíblicos (Efésios 4:9: regiões


mais baixas da Terra ; Jó 38:16: Profundo abismo ; Apocalipse 19:20; 20:15; 21:8: Lago de
fogo e enxofre ; Marcos 9:43; Isaías 66:24: Fogo que não se apaga) e formos levados ao
entendimento de que o inferno é um lugar físico, devemos entender que esse lugar é no
profundo abismo, onde o fogo nunca se apaga.

Para maiores informações sobre a idéia do Inferno e como ele não se sustenta tomando a
Bíblia como base, leia o artigo Inferno Desmascarado.

Ainda que válida a interpretação literal, esse lugar de suplício eterno não se encontraria tão
próximo da superfície terrestre, e vulnerável, que uma sonda de um cientista ateu pudesse
descobri-lo. Uma voz ponderada, sem dúvida: antes de divulgar, convém analisar com cautela.
O autor desse texto nos esclarece o seu ponto de vista e diz da sua incredulidade sobre o fato
noticiado. (Veja a mensagem)

E mais: uma sonda comandada por um cientista ateu não poderia jamais encontrar o inferno.
Quem sabe, talvez um cristão bem comportado tivesse melhores chances…

Em Vozes do Inferno o autor apresenta algumas preocupações:

Excluída a hipótese de a sonda do cientista haver perfurado a litosfera até chegar a um bolsão
[...] nossa atenção estaria voltada, então, para a tese da região vulcânica. Ora, existem uns
600 vulcões ativos [...]. Perguntamos: em qual deles estaria o inferno? O inferno estaria
estratificado, dividido por seções, e assim espalhado por muitas regiões? Cada país teria seu
inferno particular? Onde estaria o inferno do Brasil?

Por outro lado, só com muito esforço poderíamos admitir a hipótese vulcânica, pelo simples
fato de que o inferno seria uma prisão vulnerável. A não ser que circundado com portas
invisíveis pelo Deus do impossível, o inferno nessas condições teria uma porta de escape, a
cratera por onde os mais rebeldes escapariam.

Não há dúvida nenhuma: um inferno vulnerável, sem controle de saída dos seus hóspedes iria
transformar a nossa vida na Terra em um verdadeiro inferno. (Perdão, eu sei que foi péssima.

Já pensou uma coorte, ou muito pior, uma legião de almas danadas, danadinhas e rebeldes a
atanazar a nossa vida? (Dá até pra imaginar a cena: ―Sai pra lá, sua alma danada! Desafasta!‖

Mais alguns pontos chamam a atenção:

268
O recorte do jornal tem a manchete Researchers record the screams of the damned. Por que
um jornal da Finlândia publicaria uma matéria em inglês e não no idioma da terra, o finlandês?

Ouviam-se vozes de milhões de humanos: como distinguir entre elas as vozes que faziam os
pedidos de água e os de misericórdia? (Considerando que, certamente, as almas estavam
bastante irritadas, elas não falavam palavrões? Nenhum f*d*p* ou s*o*b* foi registrado?)

Por que motivo os cientistas não tomaram nenhuma providência para atender os pedidos das
almas pecadoras? Misericórdia, certamente, não seria um sentimento presente nos corações
dos pesquisadores comunistas, ateus e comedores de criancinhas, mas por que não
forneceram água? Vejam que o Dr. Azzacove, um empedernido comunista, talvez até tivesse
coração, pois ele declarou, certamente num momento de fraqueza, que passara a acreditar no
inferno. A pergunta continua sem resposta: por que não puseram água através da sonda? (De
qualquer forma, usar água para esfriamento da broca e de equipamentos de perfuração de
poços e de sondagens profundas é um prodedimento recomendável.)

Qual o idioma usado pelas almas penadas ao fazerem os pedidos? Russo? Finlandês? Inglês?
Latim? Árabe? Quais os idiomas, além do russo, que o Dr. Azzacove e a sua equipe de
cientistas dominavam?

E como essa história começou?

Em 1984, foi publicado na revista Scientific American um artigo falando de um poço com 12
km de profundidade cavado pelos russos na Península de Kola. (Ye. A. Kozlovsky, The
world’s deepest well, Scientific American, vol. 251(6), December 1984, pp. 106-112.)

O artigo Mysteries of the Inner Earth menciona o poço de Kola e diz que, aos 10 km de
profundidade, registrou-se a temperatura de 180°C, quando o esperado era 100°C.

Segundo a revista Scientific American, ao atingir os 12 km de profundidade, a temperatura


registrada foi de 180 graus Fahrenheit (82 graus Celsius).

O poço teve a construção iniciada em 1970 e foi interrompida em 1994 ao atingir 12.262
metros. Quase dois quilômetros menos que os 14 relatados e a temperatura era de 180 graus,
bem menos que os 2.000 graus mencionados na ―reportagem‖.

Qualquer pessoa com um mínimo de informações sobre a Terra sabe qual o seu diâmetro (o da
Terra e onde fica o seu centro. O centro do nosso planeta encontra-se a bem mais de 12
quilômetros de distância da superfície. Os tais cientistas não sabiam disso?

Em 1989, o Trinity Broadcasting Network (TBN) da Califórnia, USA publicou matéria intitulada
Scientists Discover Hell (Cientistas descobrem o inferno). Dizia que cientistas russos cavaram
um poço, que o tal buraco ficava na Península de Kola e que, no fundo do buraco, eles haviam
encontrado as portas do inferno.

Um professor norueguês que, na ocasião, visitava os Estados Unidos viu a reportagem. Ao


retornar ao seu país, ele escreveu uma carta sobre o tema e a enviou para uma revista
religiosa da Finlândia que a publicou na sua seção de cartas (ou de opinião dos leitores).

A partir daí, o conteúdo da carta chegou a alguns missionários finlandeses que levaram a
―notícia‖ de volta para os Estados Unidos.

269
Ao chegar de volta à TBN, que divulgara a matéria original, o conteúdo do texto realimentou a
si próprio e espalhou-se entre missionários, agora com uma suposta certificação científica, pois
teria sido publicado por conceituada publicação científica finlandesa. No ano seguinte, 1990, a
lenda tomou a forma atual e espalhou-se pelo mundo através de publicações religiosas.

No meio dessa história toda, apareceu um adendo ao texto afirmando que um gás
incandescente havia saído pela abertura do poço e com ele surgiu um ser com asas de
morcego mostrando a inscrição em russo: Eu venci!

Rastreando a origem desse acréscimo, descobriu-se quem o produziu. Ele explicou tratar-se de
uma brincadeira para mostrar que muita gente iria acreditar nessa história sem contestá-la.

Não há dúvida de que, para quem acredita nessas coisas, tudo é aterrador.

Sobre as instalações de perfuração do poço, vale a pena comparar as duas fotos: a que
acompanha algumas versões do texto sobre as vozes do inferno e a apresentada no artigo
Mysteries of the Inner Earth.

A gravação é dividida em duas partes. Na primeira, o apresentador alerta para os sons


terríveis e diz que eles são muitos reais. Foi um tio dele quem obteve a fita de um amigo que
trabalha na BBC em Londres (é bem verdade que não se sabe qual o nome do tio nem o nome
do sobrinho, mas isso não importa). Os últimos 40 segundos do total de 2 minutos e 39
segundos reproduzem as vozes das almas penadas.

Não se impressione muito com isso não. Qualquer pessoa, com alguma habilidade no
manuseio de equipamento de gravação de som, pode produzir sons bem mais aterradores.
Prova disso são essas bandas de rock que aparecem por aí

Se querem saber mais sobre o assunto, vejam nesses sites abaixo!

 Litosfera
 Ambientes da Terra - Litosfera
 Ciência testemunha o inferno
 Geólogos descubrieron el infierno
 Han descubierto los científicos el infierno?
 Mysteries of the Inner Earth
 Os “Gritos do Inferno” desmascarados
 The Siberian Scientists who Drilled into Hell
 The Wayside Pulpit No.95
 The Well to Hell

Como é que sempre terminamos os capítulos desta série?

270
Astros de Rock são satanistas?

Desde sempre os religiosos atacam cantores e artistas em geral. Talvez por estes acabarem se
tornando mais populares que as missas e demais rituais chatos e sem graça como são quase
todos os cultos religiosos. O assunto aqui versa sobre uma das classes mais valorizadas do
show business: As bandas de Rock! Existem muitas mentiras circulando na Internet sobre as
causas do sucesso que eles tem hoje, e a maior parte delas provém de sites religiosos, como
não poderia deixar de ser.

Recentemente, foi publicada uma reportagem na (risos) Folha Universal (risos), com um artigo
comentando os ―pactos satânicos‖ da Xuxa, que já foi abordada Grandes Mentiras Religiosas
(coincidentemente, saiu dois dias antes da reportagem… será que leram a nossa mente?), e
como já abordamos o assunto anteriormente sobre o caso da Xuxa, vamos dar atenção ao
restante da matéria da Folha Universal, que fala de Paulo Coelho, Jim Morrison, Ozzy
Osbourne, Jimmy Page, os Rolling Stones e Raul Seixas!

Nos vem uma pergunta à nossa mente: O que é que os crentes têm contra os roqueiros?
Afinal, os roqueiros não invadem igrejas, não depredam locais de cultos, não agridem
religiosos nas ruas, não blasfemam de forma chula contra as doutrinas religiosas (salvo
raríssimas exceções), não incitam o ódio contra a religião, e por ai vai… Quantas notícias do
Cet.net vocês já leram que religiosos fazem isso? Se quiserem, podemos colocar aqui. E se
quiserem MAIS, ainda podemos colocar notícias de vários jornais. Telhado de vidro, sacam?

Muito provavelmente, esse rancor e ódio dos religiosos contra os astros do rock nasceu da
direita religiosa americana, nos anos 50 e 60, com o surgimento dos primeiros famosos, como
Elvis Presley, Beatles, Rolling Stones etc no qual eram atacados por ―levarem a juventude
americana à perdição, aos maus costumes, à rebeldia‖ entre outras bobagens. Depois, nos
anos 60, foi a vez de Janis Joplin, Jimmy Hendrix, The Doors e toda a contracultura americana.
Por fim, os anos 70 com o advento das primeiras bandas de Heavy Metal como The Kiss e os
grupos punk rock, e depois vieram os memoráveis anos 80, com Metallica, Iron Maiden, e
vários outros que fizeram fama e ficaram em nossa memória ate hoje (lembram-se do 1° Rock
in Rio?).

Os grupos de rock não são a causa da mudança no comportamento dos jovens, e sim um
reflexo da mudança dos costumes sociais nos jovens, que ansiavam quebrar o status quo de
uma sociedade conservadora, e inovar os comportamentos e hábitos, e com isso conseguiram

271
uma revolução em escala global, que teve o seu ponto culminante no final dos anos 60. O
resto é historia e não iremos nos demorar aqui, pois sugerimos a vocês, caros leitores, que
pesquisem sobre o assunto. Isso pertence na área de Antropologia e não faz parte do enfoque
desta série.

Assim, vamos examinar aqui alguns trechos da ―reportagem‖ da (risos) Folha Universal (risos),
e passaremos às refutações e desmontar essas mentiras. Não iremos nos alongar demais no
assunto, e trataremos do principal, pois queremos deixar o resto com os nossos leitores, para
quem façam as suas próprias pesquisas, e as coloquem em nossas caixas de comentários.

O rock é um campo frutífero para relações com o demônio. A banda inglesa Rolling Stones
tem, entre os sucessos, a canção ―Simpathy for the devil‖ (condolências com o demônio), um
disco batizado de ―Their Satanic Majesties Request‖ (A Serviço de Sua Majestade Satânica),
além de lançarem um outro álbum, ―Voodoo Lounge‖, com referências ao vodu e magia negra.
Mais claro, impossível.

Com a determinação dos jovens em criar um novo padrão de estética e valores distintos dos
de seus pais, as famílias tradicionais, que pertencem ao poder dominante, sentiam-se
ameaçadas por declarações diversas dos novos ricos, este novo grupo social, os rockstars.
Entre estes, Mick Jagger é chamado de ―a voz de sua geração‖. Com a fama dos Rolling Stones
de quebrarem as regras estabelecidas e continuarem seguidamente vencendo batalhas
jurídicas que tentam encarcerá-los, Mick Jagger e Keith Richard são acusados de se
associarem a Satanás em troca de controle sobre as massas e sucesso mundial. Eu preferia
pedir para ser arqui-milionário, dono de emissoras de TV, rádio e ter milhões de seguidores,
que nem o próprio ―bispo‖ Macedo…

De qualquer foma, a situação piora quando os Stones lançam uma música intitulada
―Sympathy For The Devil.‖ A partir desta canção, as histórias das relações satânicas da banda
são consideradas oficialmente confirmadas. Então é apenas natural que, quando Brian Jones
morreu em Julho de 1969, houvesse quem insinuasse que Mick Jagger o teria matado por meio
de magia negra, para tomar definitivamente a liderança da banda.

As mortes ocorridas no festival em Altmont e as conotações demoníacas que surgiram a


seguir, em relação a uma apresentação dos Rolling Stones, que foi na verdade uma oferta
gratuita, presente dos Stones para a cidade, só servem para fertilizar as imaginações da nova
geração de garotos pré-adolescentes impressionáveis e atraídos pela junção de rock pesado
com ocultismo. É a era de bandas como Iron Butterfly, Vanilla Fudge, Led Zeppelin, Blind
Faith, Moby Grape, Deep Purple e Black Sabbath. Os Stones continuam provocando, compondo
canções como ―Midnight Rambler‖ que fala sobre um serial killer; ―Street Fighting Man‖,
música que acabou sendo censurada nas rádios, por causa do medo de uma rebelião entre os
jovens e a polícia, e ―Dancing With Mr. D.‖, este último, fazendo parte de um álbum com o
título provocativo de ―Goats Head Soup‖ (Sopa de Cabeça de Cabra). Mick Jagger seduz sua
geração, como também a mídia, e acaba sendo comparado por alguns a Fausto (Goethe, meus
caros. Goethe).

E vejam aqui a letra da música Simpathy for the devil, e como podem ver, não tem
absolutamente nada a ver com simpatia com o demônio ou alusões ao satanismo. Alem do
mais, o que é que Voodoo Lounge tem a ver com vodu e magia negra ? Praticamente nada
também. É apenas o nome que deram ao álbum, e as letras das músicas não possuem
nenhuma relação com o diabo, ocultismo, maldade, nada de nada! E ainda por cima, os
crentes precisam parar de imaginar coisas e largar de lado sua mania obsessiva por
conspirações demoníacas. E não vamos esquecer que o outro álbum Their Satanic

272
Majesties Request, mencionado na reportagem, é apenas um trocadilho com um texto que
aparece em passaportes britânicos. Falta cultura nos religiosos. Mesmo uma piadinha inocente
demanda cérebro para poder ser entendida.

Muito antes porém destes roqueiros acusados de satanistas fazerem sucesso, um artista da
década de 30 é famoso até hoje por uma história de um pacto com o diabo que se tornou uma
lenda americana. Robert Johnson deixou apenas 40 canções fundamentais para o blues
moderno. Cantor, e sem reconhecimento, se tornou popular subitamente ao exibir uma
habilidade espantosa e única de tocar violão e gravar uma canção chamada ―Me and The Devil
Blues‖ (Eu e o diabo blues). A explicação seria um acordo com o diabo em troca do sucesso
feito numa encruzilhada do Mississippi, nos Estados Unidos. Mas Johnson não viveu para
saborear a fama. Morreu aos 27 anos, depois de passar três dias em coma, supostamente
envenenado por um marido traído.

Bom, pessoal, vamos falar aqui da biografia desse famoso músico. Vamos colocar aqui um
pouco do artigo publicado no site da Wiplash, sobre a vida dele.

Pouco mais que um século depois, apesar de nunca ter sido rico e com fama apenas regional
enquanto em vida, Robert Johnson oferece uma certa similaridade com a história de Paganini e
aqueles que o criticavam. Nascido em 1911, negro e descendente de escravos, foi criado em
uma fazenda de algodão. Assim, trabalhando no campo desde criança, teve pouca instrução,
aprendendo a tocar seu primeiro instrumento, a gaita, sozinho. Quando começou a entrar na
maioridade, fugiu de casa para aprender a tocar violão com Son House. Logo passou a tocar
junto com os músicos que mais o influenciaram, Charlie Patton e Willie Brown, além do próprio
Son House. Juntos, perpetuavam o que se costuma chamar de Country Blues; o blues rural ou
delta blues, pois vinham da região do delta do Mississippi.

Sacaram? Mississipi, maioria negra, descendentes de escravos, KKK, Ovelhinhas do Senhor…


Deu pra entender, né?

Bem, com vinte anos, Johnson descobriu como fazer sua guitarra chorar usando o gargalo de
uma garrafa quebrada, deslizando-a pelas cordas. Já se apresentando sozinho, foi o autor de
uma série de composições que retrataria diversas amarguras da vida, desde a rejeição carnal
até o desconforto espiritual. Suas letras falam de amores violentos, como em ―Ramblin‘ On My
Mind‖ e amores perdidos como em ―Love In Vain‖. Com um certo senso de sutileza, ele fala
sobre sexo em letras como a de ―Traveling Blues‖, onde utiliza analogias do tipo ―Squeeze my
lemon till my juice runs down my leg‖ (‖Espreme meu limão até o suco escorrer pelas minhas
pernas‖) frase hoje mais lembrada na voz de Robert Plant quando este pertencia ao Led
Zeppelin. Johnson também falava de perseguição e desespero em canções como ―Me And The
Devil‖ e ―Hellbound Trail‖. Essas letras ajudaram a amarrar a lenda de um pacto entre o diabo
e o bluesman, lembrado até hoje.

Conta-se que Robert Johnson ficou à espera em uma encruzilhada, com seu violão à mão, em
uma noite de lua nova. Quando deu meia noite, o diabo em forma de homem apareceu para
afinar o instrumento. A partir daí, todos que ouvem suas músicas são encantados por ela. Na
verdade, Robert Johnson tocava um violão excelente e é mais provável ser a inveja, a origem
das lendas que apareceram. Sua genialidade e dom natural são tão mais cativantes,
comparando-se aos outros músicos de sua época. Johnson costumava tocar quase que de
costas para o seu público. As pessoas então diziam que ele fazia isto para esconder o olhar do
diabo que surgia para auxiliá-lo. Mais coerente seria supor que ele se preocupava em esconder
os acordes que bolava sozinho e não queria que outros músicos na platéia o copiassem, ou

273
pode ser apenas um modo de entreter o público, demonstrando suas habilidades, como o
―caminhar de costas‖ de Michael jackson.

Por volta de 1935, Johnson perambulava entre as cidades dos estados de Tennessee a
Arkansas. Fez uma série de gravações em 1936, que circularam pelo sul e eventualmente
chegariam a ser ouvidos pelo norte do país. Acabariam editados em dois álbuns, anos depois
de o artista falecer. Em 1937, tocaria com ele em ocasiões esporádicas Alex Miller (Sonny Boy
Williamson, o segundo), como também Elmore James e Howlin‘ Wolf, mas em geral Johnson se
apresentava sozinho.

Morreu, acredita-se, no dia 16 de agosto de 1938. Como toda boa lenda, existem diversos
rumores para explicar sua morte, mas em geral inclina-se a acreditar que um marido ciumento
colocou veneno em sua garrafa de bebida. Johnson era famoso pela atração que causava nas
mulheres, como também por atrair as chamadas ―mulheres erradas‖. Ele veio a morrer três
dias depois de envenenado, sofrendo dores estomacais horríveis durante esse tempo. Isto
explicaria em parte as histórias que contam dele antes de morrer, andando de quatro e
uivando como um cachorro, animal muitas vezes associado com o demônio.

Mais uma mentira crente detonada!

Ícone rebelde do rock, o vocalista Jim Morrison, do Doors, esteve sempre envolvido com
práticas ocultistas até a morte misteriosa dele. Ele se casou com uma suposta bruxa num
ritual pagão, em que os noivos teriam bebido sangue um do outro diante de um pentagrama,
um dos símbolos do mal. Morrison, que compunha canções atormentadas, dizia incorporar o
espírito de um feiticeiro índio, um xamã, e chegou a admitir ter visões demoníacas.

Para quem quiser conhecer melhor a biografia de Morrison, basta clicar aqui e aqui, onde
poderão obter informações mais acuradas. Mas iremos transcrever aqui um pouco da vida de
Morrison, para entendermos um pouco das razões por trás de suas canções atormentadas:

Jim Morrison era filho do almirante George Stephen Morrison e sua mulher Clara Clark
Morrison, ambos funcionários da marinha americana. Seus pais eram conservadores e
rigorosos, todavia Jim acabou por tomar para si pontos de vista completamente antagônicos
aos que lhe foram ensinados. Ainda jovem, foi escoteiro.

De acordo com Morrison, um dos eventos mais importantes da sua vida aconteceu em 1949
durante uma viagem de família ao Novo México, que ele assim descreveu:

A primeira vez que descobri a morte… eu, os meus pais e os meus avós, íamos de automóvel
no meio do deserto ao amanhecer. Um caminhão carregado de índios, tinha chocado com
outra viatura e havia índios espalhados por toda a auto-estrada, sangrando. Eu era apenas um
garoto e fui obrigado a ficar dentro do automóvel enquanto os meus pais foram ver o que se
passava. Não consegui ver nada – para mim era apenas tinta vermelha esquisita e pessoas
deitadas no chão, mas sentia que alguma coisa se tinha passado, porque conseguia perceber a
vibração das pessoas à minha volta, então de repente notei que elas não sabiam mais do que
eu sobre o que tinha acontecido. Esta foi a primeira vez que senti medo… e eu penso que
nessa altura as almas daqueles índios mortos – talvez de um ou dois deles – andavam a correr
e aos pulos e vieram parar à minha alma, e eu, apenas como uma esponja, ali sentado a
absorvê-las.

Os pais de Morrison afirmaram que tal incidente nunca ocorreu. Morrison dizia que ele ficara
tão perturbado pelo caso que os seus pais lhe diziam que tinha sido um pesadelo, para o

274
acalmar. Em qualquer caso, tenha sido real ou imaginário, o incidente marcou-o
profundamente, e ele fez repetidas referências nas suas canções, poemas e entrevistas, como
por exemplo no tema ―Peace Frog‖.

E o que dizer da história de que ele teria se casado com uma bruxa? De fato, o vocalista Jim
Morrison casou-se com uma wiccana em um típico ritual neo-pagão. A cerimônia de casamento
foi selada com o sangue de Patricia Kennealy e ocorreu em janeiro de 1969 no Plaza Hotel, em
Nova York. Em sua biografia ―Strange Days Morrison‖, é categórico ao responder se não tinha
medo de ter que acertar as contas com Deus: ―Problema Nenhum. Cancelem minha inscrição a
ressurreição.‖

E qual e o problema dos crentes com a religião wiccana? Só mostra um profundo


desconhecimento sobre o que realmente significa a Wicca, e ela não significa necessariamente
sobre o mal ou que tenha relações com o satanismo. Para quem quiser saber mais, cliquem
AQUI.

E depois ainda tem a história do pentagrama… Ora, mais um ―nada a ver‖ dos crentes. O
Pentagrama, originalmente um símbolo da deusa romana Vênus, foi associado a diversas
divindades e cultuado por diversas culturas. O símbolo é encontrado na natureza, como a
forma que o planeta Vênus faz durante a aparente retroação de sua órbita. Hoje em dia o
termo ―pagão‖ se tornou quase sinônimo da adoração ao demônio - Um erro grosseiro. Os
pagãos eram literalmente pessoas do meio rural.

Trata-se de um dos símbolos pagãos mais utilizados na magia cerimonial pois representa os
quatro elementos (água, terra, fogo e ar) coordenados pelo espírito, sendo considerado um
talismã muito eficiente. O pentagrama é conhecido também como o símbolo do infinito, já que
é possível fazer outro pentagrama menor dentro do pentágono regular do pentagrama maior ,
e assim sucessivamente.

Possui simbologia múltipla, sempre fundamentada no número cinco, que expressa a união dos
desiguais. Representa uma união fecunda, o casamento, a realização, unindo o masculino (o
3), e o feminino (o 2), simbolizando ainda, dessa forma, o andrógino, mas não
necessariamente o homossexual. Seria algo mais que transcende os limites das diferenças
entre os sexos.

O pentagrama (estrela de cinco pontas, dentro de um círculo) é o símbolo da religião Wicca.


Assim como a cruz é para o cristianismo e os dois triangulos, em direções opostas, é para o
judaísmo, o pentagrama é para os wiccanos. Mas, para crentes, qualquer coisa que não venha
com o rótulo ―Jesus é o Senhor!‖ para eles é coisa do diabo.

Atualmente, muitos Wiccanos usam um Pentagrama no pescoço, como símbolo de orgulho da


sua religião, representando a sua fé e também mostra-se útil para que os Wiccanos se
reconheçam entre si. Mas deve-se deixar claro que isso não é nenhuma obrigação. Muitos
praticantes da religião Wicca usam o Pentagrama também pelo fato de ele ser considerado um
amuleto de proteção, além de mostrarem assim, seu respeito aos Deuses e aos Cinco
Elementos.

Qual seria o mal disso? Os cristãos usam uma cruz. E o que é a cruz, senão um simples
instrumento de tortura? Poderia ser uma forca, um cepo de decaptação, uma guilhotinha ou
um sistema de dar choques elétricos. Calhou dos inventores do cristianismo usarem a cruz
como modo de tortura e morte, mas não significa que seja melhor ou pior símbolo que
qualquer outra religião.

275
Voltando ao pentagrama, cada ponta representa um dos Cinco Elementos da Natureza: Ar,
Fogo, Água, Terra e Akasha (espírito). Os adeptos à religião Wicca crêem que TUDO foi criado
a partir dos cinco elementos. Por isso, no treinamento para o sacerdócio wiccano, o domínio
dos elementos é visto como o primeiro ato para a iniciação.

Além do seu significado primordial, dos cinco elementos, o pentagrama também representa o
corpo humano (os 4 membros e a cabeça); sendo assim conhecido como ―estrela do
microcosmo‖ (pequeno universo), que simboliza o(a) mago(a) dominando o espírito sobre a
matéria, inteligência sobre instintos, mente sobre o corpo. Se você gosta de teorias de
conspiração à lá Dan Brown, olhem um pentagrama e uma reprodução do Homem Vitruviano
e tirem suas conclusões.

Nos rituais da religião Wicca, além de ser um dos símbolos da Deusa, o pentagrama às vezes é
usado como símbolo da terra, outras vezes para consagrar os instrumentos ritualísticos,
objetos e amuletos. O pentagrama utilizado na religião Wicca pode ser feito de qualquer
material (metal, madeira, argila, vidro, etc.) e até desenhado em pedaços de pano ou mesmo
no chão.

Muitas pessoas que se intitulam Satanistas usam o Pentagrama invertido (com duas pontas
para cima), afirmando significar o triunfo da Matéria sobre o Espírito, ou a vitória do Mal sobre
o Bem. Ainda que, originalmente, o Pentagrama com duas pontas para cima já aparecia, no
paganismo pré-cristão, como um dos símbolos da Grande Mãe (pela semelhança com um canal
vaginal, um útero e duas trompas). Assim sendo, o pentagrama invertido possui significados
paralelos.

Devemos ter em mente que apenas após o advento do Cristianismo, a igreja o associou como
símbolo do Mal, numa tentativa de conversão dos pagãos ao culto cristão. Aliás, é engraçado
saber que durante as guerras entre católicos e protestantes, católicos e ortodoxos, ortodoxos e
protestantes e protestantes de uma vertente contra protestantes de outra vertente, ambos os
lados acusavam o adversário de heresia e pacto com o diabo.

Mas, eles não rezam pro mesmo deus?

Como os Beatles, Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin, um dos grupos mais importantes e
populares do anos 70, era díscipulo do bruxo Aleister Crowley. Ele comprou a ―casa dos
horrores‖ onde morava o satanista, próximo do Lago Ness, na Escócia. Era lá que aconteciam
rituais de magia negra.

Buaaaahahahahaha! Tem gente que realmente acredita nisso. Se querem conhecer mais sobre
esse famoso inglês, chamado Jimmy Page, basta consultarem a biografia oficial dele clicando
AQUI.

Segundo umas pesquisas que realizamos, em 1982, foi convidado pelo realizador Michael
Winner para gravar a banda sonora do filme Death wish III. Page fez um retorno bem sucedido
aos palcos com a série de concertos de caridade ARMS Charity em 1983. Desde 1990, Jimmy
Page envolveu-se em vários concertos de caridade e trabalhos afins, particularmente em The
action for Brazil‘s children trust (ABC Trust), fundado pela sua esposa Jimena Gomez-Paratcha
em 1998.

E então, surpresos? Ele faz shows em prol da caridade! Qual é a caridade que os pastores
fazem? Ah, sim… dizem que curam pessoas. Sei…. Page até mesmo fez alguns shows para
ajudar as crianças brasileiras! E os religiosos? O que e que tem a dizer a respeito do assunto?

276
Como podem atacar o caráter de um roqueiro, associando-o ao satanismo e à magia negra,
alguém que faz caridade pelos outros?

Será que cristãos acham que ajudar o próximo é coisa de Satã? Deve ser por isso que uma
ENORME parcela de cristãos não faz nada pra ninguém. ALELUIA!!!

E o que dizer das histórias que circulam, de que ele comprou uma mansão que pertenceu a
Aleister Crowley? Grandes Coisas! Esperavam o quê? Que a casa ficasse abandonada para
sempre? Essa casa de que estão falando se chama Boleskine House, construída no século XVIII
por Archibald Fraser, e possui até site oficial. Segundo o site, existem muitas histórias
envolvendo a casa, que mencionam o pai de Abraão (pode isso?), ordens secretas de magos
(Merlin, por exemplo), ocultismo, depois comprada por Aleister como local de residência, e só
se tornou famosa nos anos 70, quando começaram a circular histórias envolvendo o local, por
causa de um acidente de carro envolvendo a família de Plant, na ilha grega de Rodes, no qual
os fãs associaram à compra da casa. Mas, essa casa é sobrenatural? Macabra? Com ares de
lugar mal-assombrado? Claro que não…. para quem duvida, cliquem AQUI para ver a foto da
casa!

É mais fácil o Hotel Overlook existir do que essa casa ser mal-assombrada. Aliás, existe casa
bem-assombrada?

A fama de Boleskine House surgiu em 1970 quando Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin, a
comprou e fez uma declaração com histórias macabras de uma pessoa que teve sua cabeça
decapitada na casa, antes mesmo de Aleister Crowley comprá-la, de suicídios que foram
cometidos após Crowley e coisas desse tipo! E para que servem as histórias? Para atiçar o
interesse das pessoas e atrair mais atenção à banda, ora. O que um pouco de publicidade não
faz, hein?

Em 1990 Jimmy Page vendeu a casa e hoje ela pertence ao Clan MacGillvray.

Agora, respondam: Existem historias de satanismo envolvendo o novo morador da casa? Que
nada! É um clã típico dos Higlanders (não, o Christopher Lambert era de outro clã, o dos
MacLeods). Enquanto isso, crentes malucos ficam delirando com histórias envolvendo
satanismo e rock. Mas, bem que eles curtem um Ratos do Porão também, hehehe

O rock pesado sempre fez alusões explícitas à magia negra e ao satanismo, que foi adotado
como tema recorrente para embalar performances teatrais e letras. Hoje, com 60 anos, dois
veteranos do gênero, Alice Cooper e Ozzy Osbourne ajudaram a disseminar essas práticas
entre os jovens. Cooper se apresenta com uma maquiagem pesada e utiliza efeitos típicos de
filmes de horror para atrair os fãs, e muitas vezes se exibe enrolado numa cobra.

Outra mentira! O Rock não está associado à magia negra e ao satanismo. De acordo com um
estudo realizado por Graham Garvey, publicado na Revista de Estudos da Religião, que
refuta essa associação feita por religiosos, o autor afirma que:

―Além dos membros adultos dos grupos assumidos como satanistas, há, sem dúvida,
adolescentes que se identificam como satanistas. O que eles querem dizer com isto varia
consideravelmente. Mesmo em um grupo ad hoc de adolescentes masculinos, com quem me
encontrei nas ruas de uma cidade da Grã Bretanha em 1995, as compreensões variaram. Só
um tinha lido os livros de La Vey e conhecia a revista Black Flame. A maioria não se
interessava por tais fontes que pareciam muito próximas a um conhecimento teórico. O
satanismo deles era uma afirmação de sua ―rebelião‖ e se manifestava em roupas pretas e

277
simbolismos ocultos. Não importava que os símbolos fossem amplamente ocultos para o
grupo; a única coisa que importava, era a hostilidade e/ou o medo que os símbolos
provocavam nos outros. Estes adolescentes consideraram as pinturas grosseiras dos grafites
―satânicos‖ como infantis, especialmente em comparação com o complexo trabalho artístico de
grafiteiros (graffiti artists) mais talentosos. Deste modo, enquanto a polícia e alguns cristãos
do lugar estavam preocupados com o que geralmente eram representações criativas ou
imagens fantasiosas (de histórias de terror, literatura infantil ou iconografia de bandas de
rock), estes ―satanistas‖ se contentavam em ser e vestir suas próprias auto-representações.
Nenhum foi abordado por membros de outros grupos de satanistas, nenhum sabia sobre
satanistas mais velhos (exceto aquele que havia lido La Vey, e até esse conhecimento era
apenas literário). Atualmente, é bastante improvável que qualquer um daquele grupo continue
com tal auto-imagem ou auto-apresentação. Alguns podem ter se transformado em ―góticos‖
(goths), mas minha suspeita é que uma vez que seus hormônios sosseguem, eles mudaram.‖

Ou seja, o autor deixa bem claro que o uso de temas como satanismo é uma afirmação, um
símbolo de rebeldia, mas que não necessariamente é seguido, praticado ou transformar as
pessoas em entes diabólicos que saem por ai ―matando, roubando e destruindo‖. O estudo
completo pode ser encontrado clicando no link acima.

Nós tivemos uma geração de jovens que cresceram ouvindo rock, e são centenas de milhões
de pessoas. Pergunto aos crentes: quantos desses jovens freqüentam Igrejas Satânicas?
Quantas dessas pessoas possuem objetos de cultos a Satanás em suas casas? Quantas delas
praticam magia negra? Quantas delas sacrificaram seres humanos em um culto a uma
entidade diabólica?

A resposta é simples: nenhum!

Foi publicada uma notícia afirmando que o mundo de hoje é mais feliz do que 25 anos atrás.
Mas não podemos dizer o mesmo dos religiosos, que usam as igrejas para afogar crianças em
pias batismais, ou padres que abusam de sua posição clerical para assediar sexualmente
menores de idade e causar-lhes traumas permanentes, pastores que queimam crianças e saem
impunes, um Papa omisso em punir crimes de pedofilia e não incluiu entre os ―novos pecados‖,
ou as praticas dos pastores evangélicos em usar e abusar de musicas que conduzam à
lavagem cerebral de seus fieis. E ainda tem muito mais! Aqui mesmo no Ceticismo.net
publicamos várias notícias assim, como o caso do avô que engravidou a própria neta, entre
outras mazelas. Agora, vocês conhecem alguma musica de rock, onde os astros pedem
dinheiro aos seus fãs? Não? E o que dizer da letra de musica da Renascer, que transcrevemos
abaixo?

O segredo de dar
Renascer Praise

Dê e Deus te devolverá
mui grande medida sacudida
e transbordante
dê e Deus te devolverá
então dê, dê ao Senhor

Dê em amor
dê em fé

278
Dê feliz com um sorriso no rosto
como o Senhor tem dado a você

Quando você der a Deus


Ele te abençoará
dê de coração
dê o melhor
crê em Deus pois as bençãos vem Dele
não segure e nem retenha

Quando você der a Deus ele te abençoará


muita gente erra quando não oferta a Deus
e não entende que só é essa forma
que as bençãos vêm
e a vida abundante você pode ter

Quando você realmente der..


prove Ele então

Dê e Deus e Ele te devolverá


mui grande medida sacudida
e transbordante
dê e Deus te devolverá

Aleluia! Glória! Mas, não esqueçam a sacolinha, para fazermos o pastor feliz!!! Pois é pessoal,
só mentiras, mentiras e mais mentiras! É tão difícil para esses crentes serem honestos, não se
meterem na vida alheia, e se absterem de lançar falsas acusações contra os outros?

Já Ozzy Osbourne, famoso como vocalista da banda Black Sabbath, sempre entoou canções
sobre a morte e o diabo e chegou a morder um morcego vivo que foi atirado no palco, depois
de achar que se tratava de um brinquedo de plástico. O equívoco fez com que ele fosse
submetido a uma bateria de vacinas contra a raiva.

Vamos falar aqui sobre a vida pessoal de Ozzy. Em 1982 casou-se com Sharon Osbourne, com
quem teve 3 filhos: Aimee Osbourne, Kelly Osbourne, Jack Osbourne, além de ter adotado
Robert Marcato. Ele ainda tem três filhos do casamento com Thelma Riley: Elliot Kingsley
(1966 - adotado), Jéssica (1972), e Louis (1975). Ozzy Osbourne considera-se católico, apesar
de ter um Buda completamente de ouro em sua casa, que deu de presente para sua mulher
Sharon, que se considera budista.

Observando a vida pessoal dele, vocês religiosos ainda acham que ele tem um pacto com o
diabo? Um roqueiro que se diz católico, adotou uma criança, e ainda respeita a religião da
mulher? Quantos crentes vocês conhecem por ai, que adotam crianças e respeitam a religião
alheia?

Sobre o episódio do morcego, podemos encontrar a seguinte resposta que ele deu em relação
ao ocorrido:

―Eu não sabia que era um morcego, até que eu mordi a cabeça. Oh meu Deus, o que eu fui
fazer?‖

279
A revista Rolling Stones, uma das mais conceituadas do mundo em matérias sobre o Rock,
publicou uma reportagem sobre o assunto:

Some myths are so perfectly suited to the legend they‘re too good to be true. Others just turn
out to be true. Although many fans dismiss the story as myth, Ozzy Osbourne — reality TV‘s
rock & roll Prince of Darkness — actually did bite the head off a bat. After the 1981 release of
his second solo album, Diary of a Madman, the former Black Sabbath vocalist hit the road for a
tour nicknamed ―Night of the Living Dead.‖ Onstage, Ozzy pelted his audience nightly with 25
lbs. of pig intestines and calves‘ livers. Fans began bringing meat, and then dead animals, to
throw back. One night in Des Moines, someone threw a live bat onstage. Stunned by the
lights, the bat lay motionless. Osbourne, thinking it was a rubber toy, bit into its neck. He was
rushed to the hospital and tested for rabies. Rumors that Osbourne once bit the head off a
dove during a meeting with CBS Records have also been confirmed. But even this madman
can‘t live up to the reputation every time: One rumor has it that Ozzy used to throw three
dogs into the crowd before shows, refusing to begin until their dead carcasses were returned
to the stage. That one is, in fact, a myth.

E em resposta a acusações de que ele teria feito um pacto com o diabo:

―Não tenho nenhuma ligação com o demônio. Faço música para me divertir‖

―Uma banda aparece e o publico a ajuda, mas quando atinge certo nível, começam a atacá-la.‖

Se quiserem saber mais, é só visitar o site oficial de Ozzy. E depois a crentalhada fica
falando que ele canta músicas sobre morte e o diabo. Mas perai! Os crentes não costumam
falar o tempo todo no diabo em suas igrejas, com sessões de desencapetamento, os pastores
berrando como loucos sobre Satanás, acusando os outros de terem o diabo no corpo? E ainda
por cima, ameaçando-se mutuamente e aos outros de morte, inferno, sofrimento eterno, os
castigos divinos, uma mão pesada de um deus em cima dos outros, os ―avisinhos‖ aos outros
para que se cuidem e ―não ser tarde demais amanhã‖?

Se fôssemos comparar os crentes com Ozzy, sobre quem fala mais em diabo e morte, os
crentes ganhariam de longe. Querem uma prova? O dragão da garagem tem uma postagem
excelente sobre os discos crentais mais bizarros. Vejam AQUI.

Os repórteres associados a jornais religiosos precisam é de aulas para fazer uma investigação
jornalística seria para cavar a verdade por trás das alegações, além de um pouco de ética,
coisa rara nesse meio. Mas vocês sabem como são os crentes…

280
O Fim do Mundo em 2012

Hoje em dia, ler o jornal de manhã ou consultar as notícias pela internet pode ser uma
experiência desagradável para qualquer um. Bombas terroristas no Oriente Médio, os ataques
de Israel contra Gaza, as enchentes no Brasil, a recessão nos Estados Unidos, a crise
econômica mundial, o genocídio em Darfur, as revoltas sociais pipocando pelo planeta. Para
milhões de pessoas, esses pequenos fatos dramáticos da vida cotidiana indicam uma tragédia
terrível - o fim do mundo.

A boataria sobre o fim do mundo previsto para 2012, baseado no Calendário Maia, está
crescendo cada vez mais em popularidade entre as pessoas em geral, em vista da proximidade
da data, e também pelo momento atual que estamos atravessando, que tem sido
particularmente difícil no mundo graças à crise econômica mundial (devido às políticas
irresponsáveis de Bush).

E agora muitos religiosos ficam profetizando que o fim do mundo está chegando, que estamos
nos últimos dias, que logo vai ser a hora do Juízo Final, que o retorno de Jesus é iminente, e
que a cada dia se vêem mais e mais sinais do Apocalipse.

Vocês mesmos já ouviram isso inúmeras vezes em conversas do dia a dia, em pregações, já
leram várias vezes na Internet e em diversas mídias impressas, já assistiram reportagens e
documentários sobre o assunto, e alguns de vocês já até acreditaram nessas coisas, e muitos
outros nem acreditam nessas bobagens e não levam a sério.

Porém, muitos fins de mundo já foram previstos, profetizados, tiveram as suas datas
marcadas, muitas pessoas acreditaram, falou-se muito sobre o assunto, criaram-se inúmeras
expectativas, e os dias vieram e passaram, e nada aconteceu, para decepção geral dos que
acreditavam nessas coisas. Acabam caindo em descrédito, e ainda por cima ficam
amargurados com a sensação de que fizeram um papelão ridículo.

Essa será mais uma decepção futura. Podem ter certeza disso.

Mas mesmo assim, não ira parar por ai. Haverão outras datas em que predirão o fim do
mundo, outras ocasiões em que pessoas irão se reunir esperando o fim (como naquele caso do
profeta russo que se escondeu dentro de uma caverna por algumas semanas, até que duas
pessoas morreram e tiveram de sair para que o cheiro pútrido não os envenenasse), e mais
sensacionalismo movido pelo combustível da credulidade das pessoas (precisamos educar
melhor as pessoas), de qualquer jeito, sempre tem pessoas que se auto-intitulam ―profetas‖
naquelas pequenas igrejas, com as suas previsões que possuem uma elevada taxa de
―sucesso‖ de 0,00000001% e etc.

Iremos abordar aqui essa crença que está vigente em nossa sociedade ocidental (excluindo os
orientais e outras sociedades não-ocidentais), que está na mente do povo, amplamente
difundida pela mídia sensacionalista, em artigos publicados em sites religiosos apocalípticos,
em pregações de pastores (evangélicos, adventistas, TJs, pentecostais, etc), em revistas e
jornais pseudo-científicos (que mascaram idéias religiosas com uso de linguagem científica
para enganar os seus leitores e levando-os a acreditar que são reais - isso te cheira a
Criacionismo?), são divulgados em conversas pessoais, rodas de amigos, fóruns da internet e
do Orkut, correntes de emails, em esforços de evangelização (sob a alcunha sutil de

281
―arrependa-se antes que seja tarde demais‖), e até mesmo no próprio tecido social herdado
das religiões monoteístas e abraâmicas.

Inúmeras vezes, esse tipo de coisa aconteceu nos dois milênios da Era Comum, principalmente
entre os cristãos, e não iremos falar deles por ora. Isso ficará para um artigo futuro, em uma
abordagem mais direta, pois reconhecemos que o tema é extenso e exige muito trabalho em
pesquisa histórica e bibliográfica.

O mais estranho de tudo isso, é a mistura de apocaliptismo cristão com um calendário


produzido por uma cultura totalmente diferente, que desapareceu após a chegada dos
espanhóis durante os séculos XVI e XVII nas Américas. Uma das razões deste artigo estar na
série GMR é justamente a fusão (uma espécie de sincretismo) entre essas duas coisas.

Enfim, vamos refutar esta tremenda bobagem de 2012, usando a lógica e a razão, e com todas
as ferramentas científicas às nossas mãos, e dissecar todas as previsões cuidadosamente e
mostrar o lado real das coisas. Claro que temos de admitir que, um dia, tudo o que
conhecemos em nossas vidas terá o seu fim, que a sociedade como a conhecemos poderá
deixar de existir, que a Humanidade será extinta, e que nada sobrará de nos. Pode acontecer
hoje, amanhã ou daqui a mil anos. Falaremos disso também, das ameaças mais prováveis à
nossa civilização humana. A diferença é que usaremos a lógica e a razão com serenidade, em
vez do irracionalismo, credulidade e o fanatismo religioso.

O Calendário Maia

A ―profecia maia‖ já tomou uma grande proporção na internet pelo mundo todo com milhões
de adeptos acreditando firmemente que o mundo vai acabar em 2012. A profecia maia está
vendendo muitos livros e rendendo muitas palestras, documentários e DVDs pelo globo. Há
uma infinidade de teorias diferentes, espalhadas em diversos cantos.

Mas de onde veio a idéia de que era uma profecia ? De onde tiraram isso ? E como isso se
encaixa nos dias atuais em que estamos vivendo em nosso planeta ? Primeiramente,
precisamos investigar a história desse calendário, que iremos descrever aqui, usando diversas
fontes.

História

Os maias se originam de uma região chamada Mesoamérica, ou América Média. A região fica
entre o México e a América do Sul e era o lar de muitas outras culturas, incluindo os astecas,

282
os olmec, os teotihuacan e os toltec. Os maias viveram onde hoje está a Guatemala, Belize,
Honduras, El Salvador e o sul do México (Yucatán, Campeche, Quintana Roo Tabasco e
Chiapas).

A história maia é dividida em três períodos:

 formativa ou Pré-clássica: 2000 a.C. até 300 d.C;


 clássica: 300 d.C. até 900 d.C;
 pós-clássica: 900 d.C. até a Inquisição espanhola em meados de 1400.

Os mesoamericanos começaram a escrever na metade do período pré-clássico . Os maias


foram os primeiros a manter um tipo de registro histórico e então, surgiram os primórdios do
calendário. Os maias utilizavam os stelae, ou monumentos de pedra, para marcar os eventos
civis, os calendários e o conhecimento em astronomia. Eles também registraram suas crenças
religiosas e a mitologia em cerâmicas.

Os maias não foram os primeiros a usarem um calendário - existiram calendários antigos


usados por civilizações do mundo todo - mas eles realmente inventaram quatro calendários
diferentes. Dependendo de suas necessidades, os maias usavam diferentes calendários para
registrar cada evento, sejam sozinhos ou uma combinação de dois calendários.

Veremos agora o primeiro calendário utilizado pelos maias, o calendário Tzolk‘in.

O calendário tzolk’in foi o primeiro utilizado pelos maias. A maioria dos calendários utilizados
na Mesoamérica eram compostos por 260 dias. O calendário tzolk‘in, ou círculo sagrado,
seguiu a mesma convenção. Uma teoria para essa duração de 260 dias é a duração da
gravidez, e esse calendário foi baseado nisto. Outros dizem que era o tempo usado para
cultivar milho. É mais correto que tenha sido baseado em números.

Os números tinham grande significado na cultura maia. Por exemplo, o número 20 significa o
número de dígitos que uma pessoa possui - 10 dedos nas mãos e 10 dedos nos pés. O número
13 se refere às juntas principais do corpo humano por onde se acredita que as doenças entram
para atacar - um pescoço, dois ombros, dois cotovelos, dois pulsos, dois quadris, dois joelhos
e dois calcanhares. O número 13 também representava os níveis do paraíso onde os lordes
sagrados reinavam sobre a Terra.

São estes números, 20 e 13, que são utilizados para fazer o calendário tzolk‘in. No calendário
gregoriano, nós temos sete dias da semana e, dependendo do mês, de 28 a 31 dias. O
calendário tzolk‘in é feito de 20 nomes de dias e 13 números. Os dias são numerados de um a
13 e os nomes também aparecem em uma seqüência. Para entender mais sobre a matemática
maia, clique AQUI.

O início do calendário tzolk‘in começa com o primeiro nome de dia , imix‘, e o número um. Os
dias continuam em seqüência até que todos os 13 números sejam usados. Então, os números

283
começam novamente com um, mas os nomes dos dias continuam com o 14° dia. Quando
chegar no 13 b‘en, você deve continuar com 1 Ix, 2 men, 3 kib‘, e assim por diante até 7 ajaw.
Neste ponto, os nomes dos dias começam de novo, mas os números continuam: 8 Imix‘, 9 Ik‘,
10 ak‘b'al, e assim por diante.

Pense em duas engrenagens trabalhando em conjunto. Uma possui os 20 nomes dos dias e
seus hieróglifos correspondentes. A outra menor possui os números de um a 13. Se você
prender essas engrenagens uma na outra no número 1 com o dia Imix‘, e depois girá-las até
chegar no um com Imix‘ novamente, você terá 260 dias, completando todo os calendário
tzolk‘in.

Para saber mais detalhes sobre o assunto, clique AQUI.

É fácil perceber a importância que os maias colocavam no calendário tzolk‘in. Por exemplo,
eles acreditavam que a data do seu nascimento determinava as características que você
demonstra em sua personalidade - quase a mesma crença que as pessoas têm sobre na
astrologia atual.

Os maias também utilizavam o calendário para determinar a agenda da colheita: É preciso um


ciclo de 260 dias para preparar a terra e plantar o milho, e um ciclo de 260 dias para cultivar e
colher o milho.

Os homens sagrados utilizavam o calendário para determinar quando eventos aconteceriam ao


longo do ano. No início de cada uinal (período de 20 dias), um xamã contaria a partir daí para
determinar quando os eventos e as cerimônias religiosas aconteceriam. Então, ele ajustava as
datas que seriam as mais prósperas ou mais afortunadas para a comunidade.

Enquanto estas foram algumas das utilizações do calendário tzolk‘in, ele não podia ser
utilizado para qualquer coisa. Por exemplo, ele não media um ano solar, o tempo necessário
para que o Sol complete um ciclo. Por causa disso, os maias precisavam de um calendário
mais preciso para medir o que nós conhecemos como um ano completo.

Agora veremos as próximas tentativas, o calendário haab e o ciclo do calendário.

O calendário haab e o ciclo de calendário

O calendário haab é muito parecido com o calendário gregoriano que utilizamos atualmente.
Ele é baseado no ciclo do Sol, e era utilizado nas atividades de agricultura, de economia e de
contabilidade. Muito parecido com o calendário tzolk‘in , também era composto de uinals e
cada dia tinha seu próprio hieróglifo e um número. Todavia, ao invés de usar 13 uinals para
260 dias, o calendário Haab tinha 18 uinals, resultando em 360 dias.

Os astrônomos perceberam que 360 dias não eram suficientes para que o Sol completasse o
seu ciclo. Eles argumentaram que o calendário deveria seguir o ciclo o mais próximo possível a
fim de se obter uma precisão. Entretanto, os matemáticos maias não percebiam dessa
maneira. Eles queriam manter as coisas mais simples, em conjuntos de 20, assim como o seu
sistema matemático. Os astrônomos e os matemáticos finalmente concordaram com os 18
uinals, com cinco ―dias sem nomes‖ chamados de wayeb.

O wayeb, ou uayeb, é considerado um ―mês‖ de cinco dias e é conhecido por ser uma época
muito perigosa. Os maias acreditavam que os deuses descansavam durante esse período,

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deixando a Terra desprotegida. Os maias realizavam cerimônias e rituais durante o wayeb na
esperança de que os deuses retornassem novamente. Mais detalhes, clique aqui.

Enquanto esse calendário era mais longo do que o tzolk‘in, os maias queriam criar um outro
que pudesse registrar ainda mais tempo. Por essa razão, os calendários tzolk‘in e Haab foram
combinados para criar o ciclo de calendário.

No ciclo de calendário, os 260 dias do calendário tzolk‘in são combinados com os 360 dias e os
cinco dias sem nome do calendário haab. Os dois calendários são combinados do mesmo modo
dos dias e números do tzolk‘in (lembre-se da ilustração das engrenagens da segunda página).
Isso dá ao ciclo de calendário 18.890 dias únicos, um período de tempo de cerca de 52 anos.

Nem o calendário tzolk‘in e nem o calendário haab contavam mais do que um ano. Os maias
queriam registrar a história e decidiram criar um calendário que os daria um período maior do
que um ano. Na época, o ciclo de calendário foi o mais longo da Mesoamérica. Os historiadores
da época, entretanto, queriam registrar a história maia para as gerações futuras. Eles queriam
um calendário que os levaria através de centenas ou até milhares de anos (o que nós
descreveríamos como séculos e milênios). Entra o calendário de longa contagem.

O calendário de longa contagem

Infelizmente, o calendário de longa contagem não é tão simples como combinar dois
calendários para se ter novas datas. É um pouco mais complicado e abstrato. A fim de
entender a longa contagem, você primeiro precisa estar familiarizado com alguns termos:

 um dia - kin
 20 dias - uinal
 360 dias - tun
 7.200 dias - katun
 144.000 dias - baktun

A duração do calendário de longa contagem é chamada de o grande ciclo, e tem


aproximadamente 5.125,36 anos. Para encontrar a data do calendário de longa contagem
correspondente a qualquer data gregoriana, você vai precisar contar os dias a partir do início
do último grande ciclo. Mas, determinar quando o último ciclo começou e combiná-lo com uma
data gregoriana é um desafio e tanto. O antropólogo inglês, Sir Eric Thompson se encarregou
de determinar a data e ele pesquisou a Inquisição espanhola para auxiliá-lo.

O resultado ficou conhecido como a Correlação Thompson. Os eventos da Inquisição foram


registrados no calendário maia de longa contagem e no calendário gregoriano. Os estudiosos
então reuniram datas que combinavam em ambos os calendários e as compararam com o
Código Dresden, um dos quatro documentos maias que sobreviveram à Inquisição. Esse
código confirmou a data há muito tempo tida por Thompson como sendo o início do grande
ciclo atual - 13 de agosto de 3114 a.C.

285
Agora que encontramos o início do grande ciclo, vamos colocar a longa contagem em prática.
Nós iremos usar uma data que é familiar para muitas pessoas - 20 de julho de 1969, o dia em
que a Apollo 11 pousou na Lua. No calendário de longa contagem, esta data é representada
como 12.17.15.17.0. Você perceberá que existem cinco números nesta data. Lendo da
esquerda para a direita, o primeiro lugar significa o número de baktuns desde o início do
Grande Ciclo. Neste caso, existiram 12 baktuns, ou 1.728.000 dias (144.000 x 12) desde 13
de agosto de 3114. O segundo número está relacionado ao número de katuns que passaram.
Então, ele continua à direita com o número de tuns, uinals e kins.

Agora que já explicamos como funciona o calendário, iremos proceder agora à raiz de toda
essa celeuma, que é o ano de 2012.

O calendário de conta longa é apenas um entre os vários que os maias usavam. Assim como
os nossos meses, anos e séculos, ele se estrutura em unidades de tempo cada vez maiores.
Cada 20 dias formam um ―mês‖, ou uinal. Cada 18 uinals, 1 tun, ou ―ano‖, cada 20 tuns
faziam um katun e assim sucessivamente. Enquanto o nosso sistema de contagem de séculos
não leva a um fim, o calendário de conta longa maia dura cerca de 5.200 anos e se encerra na
data 13.0.0.0.0, que para muitos estudiosos (infelizmente não há um consenso a respeito)
corresponde ao nosso 21/12/2012 no calendário gregoriano.

Isso não significa que eles esperassem pelo fim do mundo naquele dia. Ou seja, os povos
ameríndios não tinham apenas uma concepção linear de tempo, que permitisse pensar num
fim absoluto. E em nenhum lugar se diz que o ciclo que estamos vivendo seria o último. A
maioria dos estudiosos acredita que, após chegar à data final, o calendário se reiniciaria. Assim
como, para nós, o 31 de dezembro é sucedido pelo 1 de janeiro, para eles o dia 22/12/2012
corresponderia ao dia 0.0.0.0.1.

A realidade é que a profecia maia é, do ponto de vista científico, apenas um mito. E mesmo
se existisse uma profecia, porque uma cultura que fazia sacrifícios rituais humanos deveria ter
qualquer credibilidade em afirmar o que aconteceria séculos depois com o planeta?

Pior ainda, nem puderam prever o próprio fim..!

Tudo começou com a divulgação das descobertas arqueológicas sobre a civilização maia, em
que se desvendou a história de sua ascensão e queda, o desenvolvimento científico e
tecnológico antes de sua queda pelas mãos dos espanhóis, a tradução dos escritos maias e
depois divulgadas, um melhor conhecimento de sua cultura e religião.

286
Porém, como sempre acontece com toda e qualquer descoberta científica de relevante
interesse publico, há aquelas pessoas que vivem com a cabeça cheia de bobagens, teorias
conspiratórias, escritores em busca de fama e reconhecimento, aproveitadores de má-fé,
religiosos fanáticos, jovens mergulhados na besteira do New Age, pseudo-cientistas
obscurantistas, alem de crédulos, o legado da civilização maia foi entendido de forma errada, o
seu sentido original distorcido e interpretado de maneiras não cientificas, a fim de satisfazer o
apetite do público leigo e ávido por novidades pseudocientíficas que os entretenham e possam
ter um assunto fútil com quem conversar com os seus amigos e colegas.

Um exemplo dessa bobagem, são as Sete Profecias Maias. Cliquem nesse link, mas advertimos
que não passa de puro besteirol, o mesmo tipo de matéria que pode ser encontrado facilmente
nas revistas Planeta da vida ou em jornais da imprensa marrom (que nem os tablóides
ingleses, onde com freqüência noticiam aparições de OVNIs, ressurreições de Elvis Presley ou
que Jesus foi visto em Jerusalém).

E quais são as profecias previstas para 2012 ?

Iremos dar uma olhada em um desses sites apocalípticos (há vários pela internet toda – basta
digitar 2012, Apocalipse, Maias, Calendário Maia, etc - e você terá uma longa fila de links,
tornando muito difícil encontrar um site confiável com fontes idôneas). Por exemplo, temos o
site Porque 2012, que lista as seguintes profecias:

 Inversão dos pólos da Terra


 Tormentas solares
 A passagem do planeta Hercolobus (ou vários outros planetas misteriosos)
 O apocalipse cristão e o retorno de Jesus
 Chegada de extraterrestres em discos voadores
 Mudanca de consciência da Humanidade
 O fim do sistema econômico

E por ai vai, com um desfile de inúmeras bobagens. Muito mais podem ser encontrados em
sites religiosos, sobrenaturais, mistério, entretenimento fútil, etc. Vocês podem até mesmo
encontrar inúmeros vídeos no You Tube (alegando que foram produzidos pela History Channel,
Discovery, BBC, etc - para dar um ar de credibilidade e confiabilidade), ou vastas bibliotecas
de livros sobre o assunto, cada qual abordando o ano de 2012 sob um aspecto diferente e
misturando várias coisas (como civilizações antigas que ―previam‖ o fim no século XXI, o
momento atual pelo que estamos passando na Terra, etc) e dar a sua interpretação, para os
crédulos digerirem e depois defecarem por aí, contaminando a mente de outros crédulos
(teoria do meme, lembram?) e espalhar-se cada vez mais, até chegar ao seu ponto
culminante, que é o ano de 2012.

Podem ter certeza de que, quanto mais próximos estivermos desse ano, maior sera a
enxurrada de livros, artigos, filmes, vídeos, reportagens sensacionalistas, camisetas, canecas,
kits de sobrevivência pós-2012, religiosos se escondendo em cavernas ou bunkers esperando
Jesus voltar ―em glória‖, pregações apocalípticas, igrejas ficando cheias de pessoas com medo
e se arrependendo de seus pecados, aproveitadores levando os bens das pessoas à espera do
fim, etc

Onde foi que já vimos esse filme antes ?

A última vez em que isso aconteceu recentemente, foi o famoso Bug do Milênio. E como todos
sabem, o mesmo drama que descrevemos acima, se repetiu, e adivinha só o que aconteceu?

287
Isso mesmo… não aconteceu nada! No máximo uma meia dúzia de computadores deu pau,
mas nada mais que isso. O mesmo acontecerá com 2012, o ano virá e passará, e o mundo irá
continuar girando como sempre.

A única coisa interessante é o filme ―2012″ que irá chegar ao cinema, e poderemos nos divertir
um pouco, dar umas risadas e comer uma pipoca com a namorada. Só que ele vai estrear
neste ano, e poderemos ter uma idéia antecipada das maluquices que pipocam na mente dos
pobres crédulos. Mas não esperem uns fanáticos religiosos carregando tabuletas do lado de
fora dos cinemas. Isso so existe na Igreja de Westboro (aquela mesma que vive pregando o
ódio aos gays).

Mas e a refutação?

Na minha opinião, não vale a pena perder tempo refutando essas bobagens proféticas, pois
basta pensar um pouco, pesquisar no Google, que poderemos encontrar diversos artigos
explicando muito bem as coisas. Mas como sempre temos muitos leitores preguiçosos (e
alguns até mesmo querendo saber mais sobre as profecias e acharam que nós, da Ceticismo,
pudéssemos dar credibilidade e afirmar que o fim do mundo está mesmo chegando), nós
iremos colocar uns resumos explicativos das profecias citadas acima.

A inversão dos pólos

Segundo um resumo fornecido pelo Observatório Nacional, não se conhece qualquer relação
entre inversão dos pólos e eras glaciais (que mais tem a ver com o movimento dos oceanos).
Há duas questões, aí. Falamos de inversão dos pólos magnéticos. Como se sabe, a terra possui
um campo magnético e as linhas de fluxo deste campo seguem aproximadamente nossos
pólos geográficos. Temos indícios que esses pólos se invertem (o norte vai para o sul e o sul
para o norte, mas nada tem a ver com a rotação da terra). Não se sabe exatamente porque
esses pólos se invertem. O modelo é que a terra possui um núcleo rico em metais ferro-
magnéticos (ferro inclusive). O alinhamento do campo magnético se dá, provavelmente, por
influência do sol. Com esse modelo, os pólos não se inverteriam. Para saber mais precisamos
de informações que estão próximas ao centro da terra e ainda não temos tecnologia para
alcançá-lo (a não ser em Hollywood). Outra questão é o ―deslocamento‖ dos pólos geográficos.
Regiões, hoje cobertas pelo gelo, como a Antártida, sabemos que já floresceram grandes
florestas tropicais. Outras, hoje sob calor de torrar, já foram cobertas de gelo.

Explicações para isso terminam no deslocamento do pólo, coisa que também não sabemos por
que e como se dá. Observamos, atualmente, deslocamentos mais ou menos caóticos, de
ordem de dezenas de metros, o que, tampouco sabemos explicar.

Vale acrescentar que a revista Scientific American Brasil publicou em maio de 2005 um artigo
sobre o assunto, Viagem ao Geodínamo, por Gary A. Glatzmaier e Peter Olson, onde relatam
pesquisas sobre os mecanismos das inversões magnéticas.

Além do artigo você pode ver em outro site, clicando AQUI. Para detalhes bem específicos,
clique AQUI.

No artigo de capa da edição de abril de 2004, os pesquisadores do INPE, Aracy Mendes da


Costa e Odim Mendes Júnior, trataram da Anomalia Magnética do Atlântico Sul, que também
parece estar relacionada com o que você pesquisa.

Tormentas solares

288
Os ciclos do sol exercem influência nos ventos solares e conseqüentemente sobre a terra no
que diz respeito a formação das Auroras Boreais e Tempestades Geomagnéticas (ver
organograma). Nos períodos de menor atividade solar à formação de Auroras Boreais somente
em regiões próximas dos pólos. Já nos períodos de maior atividade solar, além das auroras
ocorrerem próximas dos pólos elas se estendem a regiões próximas ao equador, sendo que
fisicamente elas são bem mais extensas e largas que as anteriores, que ocorrem nos períodos
de baixa atividade solar. Alem disso, neste mesmo período, ocorre as chamadas Tempestades
Geomagnéticas. Mais detalhes, clicando aqui.

A aparente hiperatividade do Sol alimenta especulações sobre bombardeio radioativo. Mas a


estrela está se comportando conforme o previsto.

Muitos dos cenários para 2012 baseiam-se na idéia de que o Sol estaria passando por um
período de atividade sem precedentes. Os defensores dessa tese ressaltam o fato de que,
entre 28 de outubro e 4 de novembro de 2003, ocorreram algumas das maiores explosões
solares já registradas. Em 20 de janeiro de 2005, a Terra registrou o maior bombardeio de
partículas de alta energia oriundas do Sol. Como 2005 foi o ano do furacão Katrina, há quem
vincule os fenômenos, sugerindo que o clima é governado por variações na atividade solar.
Como a previsão dos astrofísicos é de que 2012 registre um ponto de alta atividade em nossa
estrela, há quem acredite que a soma de tudo isso seja uma catástrofe.

As variações na atividade solar são causadas por mudanças na configuração do campo


magnético que ocorrem a cada 11 anos. Para Adriana Silva Valio, pesquisadora do Centro de
Radioastronomia e Astrofísica Mackenzie, basta dar uma olhada nos dados dos últimos oito
anos para ver que o Sol tem se comportado normalmente. De lá para cá, a atividade reduziu-
se, e a tendência é que, nos próximos anos, volte a se intensificar, alcançando patamares
elevados em 2012. Tudo isso está dentro do esperado.

O decréscimo da atividade aconteceu mesmo com as superexplosões de 2003. ―O fato é que a


tecnologia para acompanharmos o fenômeno é muito recente. Talvez eventos semelhantes
tenham acontecido no passado‖, afirma Adriana. Ela também diz que o ciclo solar de 11 anos,
por si só, não parece ser capaz de afetar significativamente o clima da Terra. ―No ponto de
maior atividade, a quantidade de energia solar recebida pela Terra cresce apenas 0,1%.‖

Porém, ela diz que fatores desconhecidos e ligados ao Sol parecem sim afetar o clima na Terra.
―No século 18, o Sol não apresentou manchas por sete décadas. O mundo ficou mais frio, e os
canais de Veneza congelaram. Mas parece que para que mudanças assim ocorram levam
décadas ou mesmo séculos‖, diz.

Veja mais sobre o assunto, clicando AQUI.

289
O apocalipse cristão e o retorno de Jesus

Isso já descrevemos em nosso site sobre o ―retorno‖ de Jesus, como vocês podem conferir
clicando AQUI. Não vamos perder nosso tempo reescrevendo tudo, quando já podem
consultar nosso próprio acervo de artigos.

Mas porque os religiosos que são crédulos, insistem em misturar as coisas ? Nós acabamos de
falar como funciona o calendário maia (que, como já vimos, não tem nada de mais, apenas
mais um sistema de contagem do tempo - e observem, muito mais preciso que o calendário
gregoriano) e de sua importância para a cultura do povo maia (que infelizmente foi extinta
pelos espanhóis - lembrem que em relatos históricos, foi citado de que os espanhóis batizavam
as crianças indígenas e depois rebentavam-lhes as cabeças com a coronha de suas
espingardas para que pudessem ir ao céu).

Podemos dizer que tal coisa é ridícula, é a mesma coisa que uma cultura paleolítica inventar
um sinal, um marco, ou qualquer coisa que indique que o mundo vai acabar em 2050, e la
vem um grupo dizer que isso é um sinal de que Jesus está voltando, que tudo isso confirma as
profecias nas Escrituras, e que todos vamos penar no inferno.

A isso damos o nome de sincretismo. Sabem o que e isso, não ? De acordo com a nossa
querida Wikipedia, esta é a explicação:

Sincretismo (originalmente ―coalização dos cretenses‖) é uma fusão de doutrinas de diversas


origens, seja na esfera das crenças religiosas, seja nas filosóficas. Na história das religiões, o
sincretismo é uma fusão de concepções religiosas diferentes ou a influência exercida por uma
religião nas práticas de uma outra.

Resumindo, para quem é um religioso de verdade (se e que existe algum…), o mesmo diria
que é uma blasfêmia misturar crenças pagãs com a crença ortodoxa de sua religião, que esse
tipo de coisa é uma heresia, punível com morte, sofrimento eterno no inferno, ou qualquer
linda ameaça (e não é novidade, não…). E nos ainda veremos muito dessas coisas, muitas
vezes.

Logo, qualquer alegação dos religiosos de que o fim do mundo está próximo, baseando-se em
antigas profecias de culturas não-ocidentais, não passa de puro beiteirol. Sim, isso mesmo.

290
Besteira. Da próxima vez que você escutar uma coisa dessas, mande educadamente o seu
amigo ir à merda estudar e se informar melhor.

O resto das profecias

Quanto ao restante das profecias, que tratam da passagem do planeta Hercólobus, uma visita
não muito amistosa de alienígenas, uma mudança de consciência na Humanidade ou até
mesmo o fim do sistema econômico mundial…

Eu realmente preciso refutar essa bobagem, preciso? Fala sério, vai!

Em termos das previsões ―acertadas‖, lembremo-nos que as previsões são sempre bastante
vagas e muitas interpretações cabem lá dentro; cabendo sempre as interpretações que nós
queremos dar… após os acontecimentos! Por outro lado, a estatística explica bastante bem as
previsões que até possam ter sido específicas e acertaram. Todos os dias no mundo há
imensas previsões feitas e estatisticamente falando algumas têm que ser acertadas! Dar
relevância às que pensamos ser certas, não percebendo que existem muitas mais que são
erradas é um erro muito comum em estatística.

Em termos históricos, basta lermos alguns livros para percebemos que em todas as eras
existiram pessoas a prever que o fim estava perto. Sempre foi assim e sempre será, porque
isso é que fará do nosso tempo o mais importante para viver. É uma mentalidade
temporalcêntrica. E é bom relembrar que todas essas pessoas, sem exceção, estavam
enganadas.

Se quiserem ler mais algumas refutações, vejam AQUI e AQUI.

Enfim, você não precisará entrar para nenhuma igreja ou religião e muito menos gastará seu
dinheiro com charlatões ansiosos para lhe explorar ou perder seu tempo ouvindo os ―sábios e
gurus‖ com receitas tiradas de umas porcarias quaisquer de livros de autoajuda encontrados
em um sebo obscuro por 1 real. Não passam de bobagem, podem ter certeza disso.

Assim decretaram os deuses do ceticismo:

O fim de mundo previsto para 2012 é uma besteira ! Mas se você acreditar nessas coisas, nós
teremos o maior prazer em lhe vender um kit-sobrevivência !

291
O Milagre de Lanciano Desmascarado

Assim disse o Senhor: Não tentarás o teu Deus. Mas como aqui não acreditamos nessa
baboseira e não temos medo de sermos desafiados, aqui está mais um deleite para vocês.
Fomos desafiados por email a fazer um artigo sobre a palhaçada conhecida como Milagre de
Lanciano. Caso contrário, ―se este fato fosse comprovadamente verdade, a ciência teria de
assumir a veracidade e a seriedade da Igreja Católica, bem como um de seus dogmas mais
peculiares, a Eucaristia.‖

Isso aquece me sangue e faz meus caninos crescerem de satisfação, ainda mais que o próprio
e-mail traz a refutação ―(…) basta procurar na internet, existem dezenas de sites católicos que
relatam este ocorrido‖. Imagino que sim, eles até ―provam‖ que os judeus libertavam
prisioneiros na Pessach, mesmo sem apresentar prova alguma.

Senhoras e senhores, este é mais um artigo da série: Grandes Mentiras Religiosas – O


(pseudo)Milagre de Lanciano.

Tudo começa em Lanciano, claro, na Itália. Lá, no mosteiro de São Legoziano viviam os
―monges de São Basílio‖. Durante uma missa, o pão que ia ser consagrado (não havia a hóstia,
como conhecemos hoje), no momento do ato da consagração, converteu-se em carne e o
vinho em sangue, conforme diz o mito. Imagino o auê que não foi. Milagro di Dio!

Ah, sim… esqueci de dizer que isso aconteceu pelos idos do século VIII da Era Comum, uma
época de luzes e com um grande avanço científico, não é mesmo?

O pão-que-virou-carne apresentava, como ainda hoje se pode observar, uma coloração


ligeiramente escura, tornado-se rósea se iluminada pelo lado oposto, e tinha uma aparência
fibrosa; o Sangue era de cor terrosa (entre amarelo e o ocre), coagulado em cinco fragmentos
de formas e tamanhos diferentes. Inicialmente essas relíquias foram conservadas num
tabernáculo de marfim e, a partir de 1713, até hoje, passaram a ser guardadas numa custódia
de prata, e o Sangue, num cálice de cristal.

Isso é o que se sabe do ocorrido. Só isso, nada mais.

No entanto, desde longa data a Igreja Católica sempre precisou de relíquias, de algo físico e
palpável que pudesse ser mostrado à população, de modo que acreditassem no deus deles.
Mais tarde, eles fariam de outra forma: a ferro e a fogo, através do poder da infame
Inquisição.

O tempo passa, o tempo voa, e as pessoas sensatas se recusam a acreditar em qualquer


bobagem só porque lhes disseram que era verdade. E aqui começa a verdadeira mentira. A
mentira que a Ciência provou ser verdade o acontecido em Lanciano. O texto publicado pelo
Zenit em Português segue abaixo, para depois fazermos considerações.

ROMA, quinta-feira, 5 de maio de 2005 (ZENIT.org).- O doutor Edoardo Linoli afirma a Zenit
que sustentou em suas mãos um verdadeiro tecido cardíaco quando analisou anos atrás as
relíquias do milagre eucarístico de Lanciano (Itália), o mais antigo dos conhecidos.

O fenômeno se remonta ao século VIII. Em Lanciano, na igreja dedicada a São Legonciano, um


monge basiliano que celebrava a missa em rito latino, após a consagração, começou a duvidar
da presença real de Cristo sob as sagradas espécies.

292
Nesse momento, o sacerdote viu como a sagrada hóstia se transformava em carne humana e o
vinho em sangue, que posteriormente se coagulou. Na catedral estão custodiadas estas
relíquias.

Professor de Anatomia e Histologia Patológica, de Química e Microscopia Clínica, e ex-chefe do


Laboratório de Anatomia Patológica no Hospital de Arezzo, o doutor Linoli foi o único que
analisou as relíquias do milagre de Lanciano. Seus resultados suscitaram um grande interesse
no mundo científico.

Em novembro de 1970, por iniciativa do arcebispo de Lanciano, Dom Pacífico Perantoni, e do


ministro provincial dos Conventuais de Abruzzo, contando com a autorização de Roma, os
Franciscanos de Lanciano decidiram submeter a exame científico as relíquias.

Encomendou-se a tarefa ao professor Linoli, ajudado pelo professor Ruggero Bertelli –da
Universidade de Siena–. Com a maior atenção, o professor Linoli extraiu partes das relíquias e
submeteu a análise os restos de «carne e sangue milagrosos». Em 4 de março de 1971
apresentou os resultados.

Evidenciam que a carne e o sangue eram com segurança de natureza humana. A carne era
inequivocamente tecido cardíaco, e o sangue era verdadeiro e pertencia ao grupo AB.

Consultado por Zenit, o professor Linoli explicou que, «pelo que diz respeito à carne,
encontrei-me na mão com o endocárdio. Portanto não há dúvida alguma de que se trata de
tecido cardíaco».

Quanto ao sangue, o cientista sublinhou que «o grupo sanguíneo é o mesmo do homem do


Santo Sudário de Turim, e é particular porque tem as características de um homem que
nasceu e viveu nas zonas do Oriente Médio».

«O grupo sanguíneo AB dos habitantes do lugar de fato tem uma porcentagem que vai de 0,5
a 1%, enquanto que na Palestina e nas regiões do Oriente Médio é de 14-15%», apontou.

A análise do professor Linoli revelou também que não havia na relíquia substâncias
conservantes e que o sangue não podia ter sido extraído de um cadáver, porque se haveria
alterado rapidamente.

O informe do professor Linoli foi publicado em «Quaderni Sclavo di diagnostica clinica e di


laboratório» (1971, fasc 3, Grafiche Meini, Siena).

Em 1973, o conselho superior da Organização Mundial da Saúde (OMS) nomeou uma comissão
científica para verificar as conclusões do médico italiano. Os trabalhos se prolongaram 15
meses com um total de quinhentos exames. As conclusões de todas as investigações
confirmaram o que havia sido declarado e publicado na Itália.

O extrato dos trabalhos científicos da comissão médica da OMS foi publicado em dezembro de
1976 em Nova York e em Genebra, confirmando a impossibilidade da ciência de dar uma
explicação a este fenômeno.

O professor Linoli participa esta quinta-feira no Congresso sobre os milagres eucarísticos


organizado pelo Master em Ciência e Fé do Ateneu Pontifício Regina Apostolorum (Roma), em
colaboração com o Instituto São Clemente I Papa e Mártir, com ocasião do Ano Eucarístico que
a Igreja universal celebra até outubro.

293
«Os milagres eucarísticos são fenômenos extraordinários de diferente tipo», explicou o diretor
do Congresso, o padre Rafael Pascual LC, em «Rádio Vaticano»: «por exemplo, há a
transformação das espécies do pão e do vinho em carne e sangue, a preservação milagrosa
das Hóstias consagradas, ou algumas hóstias que vertem sangue».

«Na Itália, há vários lugares onde ocorreram estes milagres eucarísticos –declarou–, mas
também os encontramos na França, Alemanha, Holanda, Espanha» e alguns «na América do
Norte».

Leram tudo? Ótimo! Vamos à refutação, para depois vocês perguntarem: ―Como não percebi
isso antes?‖

O texto diz que foi encomendado ao Professor Edoardo (o nome na verdade é Oduardo) Linoli
que pesquisasse a autenticidade em 1970. Que maravilha! Depois de 39 anos, ninguém mais
testou o sangue? Hummm… Por quê? Mas isso não é tão importante. O importante é saber,
segundo o texto, Linoli foi ajudado pelo professor Ruggero Bertelli, da Universidade de Siena.
Já temos o primeiro erro!

Ruggero Bertelli JAMAIS poderia dar qualquer ajuda na análise. Uai! Por que não? Porque
Bertelli não é químico, biólogo, patologista ou médico do SUS. Bertelli é ECONOMISTA!
Duvidam? Que ótimo, vocês têm mais que duvidar, mesmo. Não se pode aceitar nada sem
provas. E a prova está AQUI. Ainda não acreditam? Tudo bem, que tal uma publicação
indexada do próprio Dr. Bertelli? Quantos Ruggero Bertelli lecionam na Universidade de Siena,
hein? Por que o crente mente? Por que mente o crente?

O texto, copiado na cara de pau por tudo que é site católico, na íntegra, diz que em 4 de
março de 1971 apresentou os resultados. Mas, que resultados? Não vi uma publicação
indexada atestando isso. Encontro referências, mas não O artigo. Não foi publicado na Science,
Nature etc. Dando uma olhada na Wikipédia em inglês, quase todas as assertativas vêm com a
observação Citation needed, indicando que não há fonte que sustente. Interessante, não?
Olhando as imagens dos supostos laudos, o que vemos são folhas impressas sem nem um
timbre sequer. Nada que uma criança não possa fazer no MS-Word ou qualquer processador
de texto. So, what?

O texto menciona que sim, aquilo é carne. Tá, vamos dar um pequeno crédito de confiança. O
que isso prova? Que ali tem um pedaço de carne E SÓ! Não prova que um pedaço de pão
virou carne e vinho virou sangue. Sobre a ocorrência do dito ―milagre‖ ser um pedaço de carne
que se liquefaz e volta a se solidificar, realmente trata-se de um milagre… Um milagre
chamado Química! O blog De Rerum Natura trouxe um apanhado muito bom, explicando
sobre os chamados ―milagres de sangue‖, e que podem facilmente ser simulados com solução
coloidal de óxido de ferro (III) hidratado. Recomendo a leitura.

A cereja do bolo é a parte onde o texto diz: ―Em 1973, o conselho superior da Organização
Mundial da Saúde (OMS) nomeou uma comissão científica para verificar as conclusões do
médico italiano. Os trabalhos se prolongaram 15 meses com um total de quinhentos exames.
As conclusões de todas as investigações confirmaram o que havia sido declarado e publicado
na Itália.‖

Sabem qual é o nome disso? CANALHICE! Da mesma forma que alegaram que a NASA
confirmou o dia perdido por causa da batalha de Josué, arrolaram a OMS com uma história
envolvendo um conselho que NON EKZISTE! Fazendo uma busca por esse nome, ou sua
alternativa em inglês (Higher Council of the World Health Organization), encontramos isso

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AQUI… É, pois é. Não encontrou-se NADA! Simplesmente, não existe este conselho superior
sei lá das quantas. Mentira da grossa!

Sempre a Igreja dependeu dessas lorotas para se mostrar presente. Para um povo tosco e
ignorante da Idade Média, é até explicável isso.; O que não é explicável é como no século XXI
as pessoas ainda acreditam nestas baboseiras que circulam pela internet, num cópia/cola ad
aeternum. Não faz mal, estamos aqui para desvendar estes mitos e expô-los ao que realmente
são: mitos.

A Escadaria de Loretto Desmascarada

Era uma vez um povoado localizado em Santa Fé, no Novo México. Lá, uma coisa milagrosa
aconteceu! Ao concluir a construção de uma capela, em 1878, as irmãs perceberam que não
havia como chegar ao coro, o pavimento superior. Elas passaram nove dias numa novena para
São José, o carpinteiro cujo filho foi parar num pedaço de pau. No entanto, como em toda
história sobrenatural, algo misterioso acontece: Um desconhecido bateu à porta da capela no
último dia. Disse que era carpinteiro e que poderia dar conta da tarefa (sendo que ninguém
sabia sobre isso). Ele construiu, sem ajuda de ninguém, a escada que é considerada um
prodígio de carpintaria: ninguém sabe como ela ficou de pé. O homem exigiu que teria que
ficar sozinho na capela, e as irmãs aceitam sem questionar. Então, ele começa a construir.
Com o quê? Nada! Ele só tinha suas ferramentas. Depois de um tempo, as irmãs foram
averiguar e – OH! – havia uma belíssima escada em hélice. Mas havia algo de errado! A
começar pelo homem que sumira, desvanecera! Depois, viram que a escada não tinha pregos
nem cola, além de não possuir nenhuma forma de sustentação, sem eixo central nem nada. A
escada estava de pé por milagre! MILAGRE!!! Quem poderia ser o homem que construiu
aquela maravilha? Só mesmo um carpinteiro muito especial poderia fazer aquilo: SÃO JOSÉ!
Sim, o pai adotivo de Jesus esteve na pequena e humilde capela e proveu-a de um belíssimo
milagre, mostrando o poder e supremacia do Senhor! Aleluia!

295
Fico tão… tão… tão… Estupefato com a tola crendice humana, espalhando este monte de
besteiras que vocês não fazem idéia. A escadaria de Loretto realmente existe, mas não existe
milagre nenhum. Aquilo é mais uma fraude religiosa, afim de ganhar seguidores, peregrinos e
casaizinhos apaixonados que querem se casar na capela (pagando, é claro), posando que nem
dois bonecos de vitrine na frente da escadaria, para depois de um ano se divorciarem, por
descobrirem que um dos cônjuges (ou ambos) andou pulando a cerca.

É muito interessante a mente humana, onde vemos coisas que não estão lá, ou mesmo não
enxergando coisas que estão num determinado local. Vamos dar uma boa olhada na escadaria
de Loretto na imagem à direita.

Conseguiram observar bem? Olhem de novo, pois HÁ SIM um eixo de sustentação, mas não da
forma como as pessoas imaginariam ver: um pilar. Vejam estas duas imagens abaixo (cliquem
para ampliar).

Conseguem ver agora? Um dos lados da escada está quase apoiado na parede. Não chega a
tocar, mas não faz diferença, pois há uma haste de ferro que sai da escada e é fincada na
parede. De outro lado, uma haste maior é soldada na pilastra. Querem mais sustentação do
que isso? Ok. O interior da espiral possui um raio pequeno, e isso confere resistência,
funcionando como um eixo quase sólido. Só que mesmo assim, não é muito seguro subir nela.
O formato do tipo ―hélice‖ é similar a uma mola estendida, e não é de admirar que as pessoas
que subiram lá tenham sentido uma vibração vertical, quando a escada se comprime um
pouco; mas mesmo assim, a força aplicada era direcionada às hastes.

296
Ainda deve-se levar em conta os materiais, pois não é porque é feito de madeira que é
necessariamente muito frágil. Algumas madeiras conseguem suportar uma boa quantidade de
carga sobre ela, como o freixo, por exemplo; sem levar em conta que usando a madeira sob a
forma de pranchas aumenta a resistência da peça.

Obviamente, todo e qualquer material tem seus pontos fortes e fracos. Assim, visando manter
a integridade estrutural da escada, diminuindo qualquer possibilidade de risco, fecharam o
acesso ao patamar superior desde a década de 1970. Tirar foto na base da escada é permitido,
mas só isso. Assim, até escada de papel fica em pé.

Sobre o carpinteiro misterioso, é de bom grado que se tenha cautela ao afirmar que foi o
Santo Carpinteiro Corno. Não é porque não sabiam o nome que ele tinha que ser São José. No
entanto, uma mulher chamada Tamar Stieber escreveu um artigo para uma revista do Novo
México, em janeiro de 2000, que revelou a verdadeira identidade do carpinteiro. Acredita-se
que Jean-Francois ―Frenchy‖ Rochas, um trabalhador especialista em madeira, foi quem
construiu a dita escada milagrosa. O crédito para a descoberta vai para um historiador amador
chamado Jean Mary Cook, que foi capaz de desbancar a lenda depois de encontrar o obituário
de Rochas; e aqui há um certo ponto pitoresco, já que o Rochas construiu uma escada de
madeira. Em escada do Rocha, degrau de pau. (tá, foi horrível, mas agora vai ficar aí).

A escada é fantástica, realmente. Muito bonita até, do ponto de vista estrutural. No entanto,
devemos separar beleza de misticismo. Não é necessário que acreditemos que ela é milagrosa
a fim de admirarmos sua beleza. O homem desde cedo foi hábil com materiais, construindo as
grande pirâmides e até um gigantesco aqueduto, onde as pedras não são coladas ou
cimentadas, mas simplesmente justapostas, mesmo nos arcos, que distribuem tranquilamente
as forças atuantes, no mesmo princípio físico que atua sobre a fabulosa escada de loretto, um
primor artístico, mas sem nada de sobrenatural nela.

Católicos acham que esse conto da carochinha é muito lindinho, mas encerra uma tolice
incrível! Com tantos problemas no mundo, pessoas passando fome, privação, sem lar, abrigo
ou uma gruta pra passar a noite, dizer que o Santo carpinteiro Corno preferiu ignorar as
súplicas de católicos devotos, para construir uma escadinha para apenas dizer:

Eu sou o servo do SENHOR! Posso resolver muitos de seus problemas, mas pouco me importo
com eles ou com você e sua existência medíocre. Prefiro fazer uma escada, para um bando de
freiras ficarem me bajulando, pois tive uma infância difícil, minha mulher me corneou e meu
filho é pirado,me causando grande desgosto. Quero que vocês, Zé Povinho, se lasquem. No
máximo mostrarei que eu posso sim fazer milagres, mas não farei nada, pois sou egoísta e só
penso nas missas em minha homenagem que eu ganharei por ter atendido um monte de freira
chata a interceder perante o seu deus, para que ele dê algum benefício a vocês, formiguinhas
tolas e insignificantes.

O mito de Loretto, tal qual o mito de Lanciano é lindo se lermos or alto e corrermos pra
primeira igreja. Mas um exame acurado mostra que não passa de uma fraude ridícula, com
intenções torpes, como o de trazer turistas até a distinta capela. O tempo que as irmãs
gastaram pedindo a São Zézinho que construísse a escada, poderiam ter feito a seguinte reza:

Senhor Deus-Pai, Todo-Poderoso. Infinitos são os seus poderes e misericórdia. Concedei a nós,
pecadores, uma vida plena de felicidade, eliminando para sempre o mal dom mundo, acabando
com as mortes, desavenças, guerras, fome e peste. Nós te ikmploramos em nome de Jesus
Cristo, Deus-Filho, que nos ensinou que tudo que vo-lo pedíssemos, vossa divina presença
concederia sem hesitar. Atendei-nos, ó Senhor, Amém!

297
Nunca vi um cristão rezar assim, ou algo parecido. Eles sabem que não vai acontecer nada,
inutilizando o escrito bíblico, demonstrando a grande mentira que é. Mentira similar como dizer
que uma escada apareceu no meio do nada, quando há milhões de pessoas famintas no
mundo. Mas pessoas famintas não possuem dinheiro pra dar, nem fazer peregrinações, à guiza
de pólo turístico.

Um outro estudo bem escrito, que serviu de referência para este artigo, foi escrito
por Joe Nickell, do Committee for Skeptical Inquiry.

A “Riqueza” das Nações Protestantes

Nós estamos trazendo um assunto que nos interessa a todos, ou seja, a alegação dos
religiosos que as nações protestantes estão no topo do mundo, em matéria de
desenvolvimento econômico e social, e ficam espalhando isso em vários fóruns pela internet,
no Orkut, correntes de email etc.

Vejamos o texto original, que encontramos em uma dessas comunidades crentes:

Por que as nações protestantes são referência mundial?

INGLATERRA - 59% da população é protestante.

NOVA ZELÂNDIA - 41% é protestante.

SUÍÇA - 40% da população é protestante.

ESTADOS UNIDOS - 57% da população é protestante.

SUÉCIA - 87% da população é protestante.

NORUEGA - 88% da população é protestante.

ALEMANHA - 43% da população é protestante.

298
AUSTRÁLIA - 44% da população é protestante.

DINAMARCA - 89% da população é protestante.

FINLÂNDIA - 85% da população é protestante.

ISLÂNDIA - 94% da população é protestante.

Será que o Brasil teria Jeito se o padroeiro da nossa nação fosse o próprio Jesus e não Maria?

―Feliz a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que ele escolheu para sua herança.‖ Salmos
33.12

Muito bem, já vimos a lista aqui e a alegação dos crentes de que somente os países
protestantes podem chegar ao topo do mundo.

Vamos começar definindo o que é o protestantismo, para deixar as coisas bem claras. De
acordo com a definição da Wikipédia, vemos que:

Protestantismo é a denominação do conjunto de igrejas cristãs e doutrinas que se


identificam com as teologias desenvolvidas no século XVI na Europa Ocidental, na tentativa de
Reforma da Igreja Cristã Ocidental (Católica), por parte de um importante grupo de teólogos e
clérigos, entre os que se destacam o monge agostiniano Martinho Lutero, de quem as igrejas
luteranas tomam seu nome. Porém, a maior parte dos cristãos europeus (especialmente na
Europa meridional) não concordavam com as tentativas de reforma, o que produziu uma
separação entre as emergentes igrejas reformadas e uma reformulada Igreja Católica
Apostólica Romana, que reafirmou explicitamente todas aquelas doutrinas rechaçadas pelo
protestantismo (Concílio de Trento).

Perceberam? O protestantismo é um conjunto de igrejas cristãs e doutrinas desenvolvidas na


Europa Ocidental do século XVI.

Na época da Reforma, originaram-se o Luteranismo, o Calvinismo (com as suas subdivisões


Igrejas Reformadas, Presbiterianismo e Congregacionalismo, o Anglicanismo e o Anabatismo.
Depois se desenvolveram posteriormente os Batistas, o Metodismo e o Adventismo. E nos dias
atuais, surgiu o Pentecostalismo, que se ramifica em Pentecostalismo tradicional, o Deutero-
pentecostalismo e o Neopentecostalismo.

Até ai, já temos uma bela salada de frutas com o protestantismo se dividindo em várias seitas
e sub-seitas. O protestantismo não é uma religião no sentido figurado, e sim uma sub-religião
que se originou do ramo principal, o Cristianismo. Para mais detalhes, cliquem aqui.

E quantas denominações protestantes existem no mundo hoje em dia? De acordo com um


estudo realizado por Tom Smith em 1987, existem centenas de denominações protestantes
pelo mundo, a maioria delas desconhecidas e ignoradas solenemente pelo resto do mundo, por
agruparem pequeno número de fiéis Outras definições sobre o tema podem ser encontrados
clicando aqui.

Para fins estatísticos, contam-se apenas as maiores denominações protestantes (no qual
dentro dessas, agrupam-se outras sub-divisões), no qual podemos conferir no site da
Adherents, e podemos conferir lá, que os protestantes possuem apenas 395 milhões de fieis
(de acordo com os dados da Enciclopédia Britânica de 1995).

299
E o que isso significa para nós ? Significa que, em termos numéricos, eles são inferiores em
número de fiéis, comparados com os islâmicos, ateus, agnósticos, seculares, não-religiosos,
hindus, budistas e religiões tradicionais chinesas!

E isso considerando-se que a população atual do planeta é de 6,67 bilhões de pessoas (dados
da ONU, 2007), que podem ser conferidos aqui.

Ou seja, a participação dos protestantes na população mundial mal passa de 5,92 % !! Isso
mesmo, apenas quase 6% da população mundial, ou em termos mais precisos, apenas 6 em
cada 100 pessoas no planeta.

Enfim, já esclarecemos aqui o significado do termo protestantismo, as suas ramificações, as


subdivisões, origem, história e desenvolvimento.

Agora, vamos ao termo seguinte: riqueza. O que é a riqueza? A riqueza medida pelo PIB?
Qualidade de vida oferecida à população residente de uma nação? Escolaridade? Poder de
compra? Influência sócio-econômica? Crescimento do PIB Renda per capita?

São várias as definições de riqueza existentes no mundo de hoje. Porventura, iremos adotar
dois sistemas diferentes de classificação que são muito comuns hoje em dia, e são calculados
todos os anos, usando-se vários critérios estatísticos.

O primeiro critério é o tamanho do PIB (Produto Interno Bruto) da nação, que não mostra a
renda per capita da população, indicadores sócio-econômicos, escolaridade, etc., mas sim a
quantidade total de bens, produtos e serviços produzidos pela nação no período de um ano, e
isso é amplamente divulgado todos os anos pela OCDE, FMI, BIRD, Banco Mundial, ONU, etc

E o segundo critério, é o Índice de Desenvolvimento Humano, desenvolvido pela ONU. Iremos


transcrever aqui o significado desse indicador, que hoje em dia possui grande importância para
medir a qualidade de vida nas nações do planeta:

O conceito de Desenvolvimento Humano é a base do Relatório de Desenvolvimento Humano


(RDH), publicado anualmente, e também do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ele
parte do pressuposto de que para aferir o avanço de uma população não se deve considerar
apenas a dimensão econômica, mas também outras características sociais, culturais e políticas
que influenciam a qualidade da vida humana.

Esse enfoque é apresentado desde 1990 nos RDHs, que propõem uma agenda sobre temas
relevantes ligados ao desenvolvimento humano e reúnem tabelas estatísticas e informações
sobre o assunto. A cargo do PNUD, o relatório foi idealizado pelo economista
paquistanês Mahbub ul Haq (1934-1998). Atualmente, é publicado em dezenas de idiomas e
em mais de cem países.

O objetivo da elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano é oferecer um contraponto a


outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas
a dimensão econômica do desenvolvimento. Criado por Mahbub ul Haq com a colaboração do
economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998, o IDH
pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano. Não abrange todos os
aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da ―felicidade‖ das pessoas, nem
indica ―o melhor lugar no mundo para se viver‖.

300
Além de computar o PIB per capita, depois de corrigi-lo pelo poder de compra da moeda de
cada país, o IDH também leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a
educação. Para aferir a longevidade, o indicador utiliza números de expectativa de vida ao
nascer. O item educação é avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em
todos os níveis de ensino. A renda é mensurada pelo PIB per capita, em dólar PPC (paridade
do poder de compra, que elimina as diferenças de custo de vida entre os países). Essas três
dimensões têm a mesma importância no índice, que varia de zero a um.

Apesar de ter sido publicado pela primeira vez em 1990, o índice foi recalculado para os anos
anteriores, a partir de 1975. Aos poucos, o IDH tornou-se referência mundial.

Muito bem, agora já temos uma definição mais clara sobre o que significa a riqueza das nações
(por favor não confundam com a obra de Adam Smith, que é outra coisa absolutamente
diferente).

Mas e as alegações da chamada ―ética protestante‖? Aquela desenvolvida por Max Weber? A
posição de Max Weber consiste em afirmar que para o calvinismo a riqueza é uma bem-
aventurança e um sinal de predestinação. Essa crença teria levado os calvinistas a procurarem
o sucesso comercial e influenciado a gênese do capitalismo.

Embora seja uma posição tremendamente simplista, há algo de verdadeiro nisso.

Ainda que se admitisse ser essa tese totalmente verdadeira, ela mostra apenas como para o
calvinista a caridade é inútil, pois os pobres, além da miséria desta vida, já são predestinados
ao inferno. Isso está bem de acordo com a mentalidade capitalista bruta, de só valorizar o
lucro comercial.

E quanto ao resultado histórico desse processo, o argumento é grosseiramente falso: o Brasil


no período colonial era muito mais rico que os EUA. A França era a nação mais rica do mundo.
Os países de forte influência colonial católica são todos hoje, senão ricos, pelo menos
culturalmente avançados (Brasil, Argentina, México, Filipinas, etc.) enquanto muitos países de
colonização protestante continuam na semi-barbárie (Nigéria, Botswana, Ruanda, etc.). Tome-
se como exemplo a comparação entre o Equador e a Guiana Holandesa.

Em alguns dos países protestantes que se tornaram ricos, é preciso não desconsiderar um fato
importante: a grande riqueza desses países pode ser explicada também pelo fato de que os
grandes banqueiros do mundo nos séculos XVI e XVII eram judeus, e seus bancos se situavam
em Londres e Amsterdam. Nesses casos, a riqueza dos protestantes não é propriamente
protestante, e sim judaica.

De qualquer forma, ainda que se admitisse que o argumento da protestante fosse verdadeiro,
o que ele provaria? Que o protestantismo é uma forma melhor de produzir dinheiro que o
Catolicismo.

Sei que poderíamos escrever muito mais sobre o assunto, mas optamos por não nos
prolongarmos demais, sob risco de acabarmos escrevendo um tratado extenso, para não
cansar os nossos leitores. Fiquemos em explicações mais simples, mas nada impede aos mias
ávidos por conhecimento, procurem as fontes bibliográficas adequadas para estudar os
tratados de economia e desenvolvimento das nações durante os séculos XVI ao XX.

Finalmente, passemos à refutação!

301
Começaremos expondo as verdadeiras estatísticas da composição dos protestantes nas
populações dos paises citados pelos crentes, utilizando a base de dados do CIA World Fact
Book. Também usaremos outros bancos de dados demográficos que estiverem ao nosso
alcance.

Inglaterra - 71,6% pertencem ao Cristianismo (dividido entre Anglicanos, Romanos


Apostólicos, Presbiterianos e Metodistas). Estatísticas mais apuradas podem ser encontradas
clicando-se aqui e aqui. Uma olhada nas estatísticas do Reino Unido dizem que os protestantes
na verdade estão apenas entre 6% a 15% da população britânica. Mais detalhes sobre os
valores atuais da sociedade européia podem ser obtidos clicando-se aqui.

Nova Zelândia - Apenas 1,7% da população é protestante

Suíça - Apenas 35,3% são protestantes

Estados Unidos - 51,3% são protestantes. O caso dos EUA é bem particular, pois os EUA foram
fundados por cima da Constituição de 1776, elaborada pelos Pais Fundadores, que previa a
separação entre o Estado e a Igreja, o que permitiu ao pais progredir velozmente nos séculos
que viriam a seguir, com a expansão de sua economia, sociedade, poder militar. Os EUA só
emergiram como potencia após a Primeira Guerra Mundial, mas ainda não tinham o status de
potência político-militar, que só foi adquirido após o final da Segunda Guerra Mundial. Não
vamos nos esquecer das desgraças que a Era Bush trouxe ao mundo, que contribuíram e
muito para o declínio dos EUA como a única superpotência mundial, surgindo a partir daí um
mundo multipolar (com vários centros de poder emergentes, como a China, Rússia, União
Européia, Japão, Índia, Brasil), o retrocesso da educação americana (com a emergência do
criacionismo e os péssimos resultados dos alunos em avaliações internacionais do OCDE), a
rejeição americana em assinar vários tratados internacionais (o mais famoso deles, o Protocolo
de Kioto), a política unilateralista (guerras em duas frentes, sem o apoio da ONU e do mundo),
e entre várias coisas ruins que desagradaram o planeta, podemos citar a ultima grande pisada
na bola da Era Bush: a grande crise econômica que levou o mundo à recessão. Leia mais sobre
o assunto na obra de Fareed Zakaria, em ―O Mundo Pós Americano‖.

Também não podemos esquecer muitas das coisas ruins que os americanos fizeram, tais como
a segregação racial, a guerra civil americana (a primeira guerra moderna), o uso de armas
nucleares contra o Japão, as várias guerras que promoveu pelo planeta (começando com a
guerra Hispano-Americana, e depois indo pelas do Vietnã, Coréias, Nicarágua, Iraque,
Afeganistão, etc), o fato de que são o pais que menos contribui com a ajuda externa ao mundo
(comparando-se em termos de PIB, estão muito atrás de todos os países desenvolvidos), são o
país que mais polui o planeta, são o país que mais se recusou a assinar tratados internacionais
(que poderiam melhorar e muito a situação do planeta), etc..

Mas é claro que eles tem feito boas coisas pelo mundo, porem nos últimos 8 anos, tem sido
terríveis, graças ao Bush, que é um evangélico renascido…

Suécia - 87% são luteranos, porém isso não significa nada, pois a taxa vem declinando todos
os anos e atualmente situa-se nos 76%. Uma razão para o elevado número de suecos
associados ao luteranismo reside-se no fato de que as crianças nascidas são automaticamente
computadas como membros da Igreja da Suécia. E dados recentes, divulgados pela mesma
igreja, revelam que menos de 4% da população freqüentam a igreja uma vez por semana, e
menos de 2% são membros assíduos. E levem em conta que a população da Suécia é de
apenas 9 milhões de pessoas, e foram divulgados em várias pesquisas demográficas que as

302
taxas de ateísmo na população sueca vem subindo a cada ano, e atualmente situam-se no
patamar de 17%. Mais informações podem ser encontradas clicando aqui.

Noruega - Apenas 1% da população é protestante. Vejam mais sobre isso aqui.

Alemanha - Na verdade, são apenas 34% da população alemã, e os índices de ateísmo são
bem altos entre a população alemã, chegando a ser quase metade (41 a 19%). Na região
da ex-Alemanha Oriental chega aos impressionantes 88%.

Austrália - Na verdade, a população australiana compõe-se de 26,4% de católicos, 20,5% de


anglicanos, 20,5% de outras denominações cristãs.

Dinamarca - 95% é dita como luterana, mas na realidade mais de 40% da população não
acredita em nenhuma divindade. De acordo com Phil Zuckerman, cerca de 40 a 80% dos
dinamarqueses não acreditam em Deus.

Finlândia - 82,5% da população é contabilizada como luterana, porém estima-se que 28 a 60%
dos finlandeses não acreditam em nenhuma divindade. Mais detalhes sobre as antigas religiões
finlandesas podem ser encontradas aqui, e devemos lembrar que a população da Finlândia é
de apenas 5,2 milhões de pessoas.

Islândia - 82,1% são luteranos, e mesmo assim, estima-se que entre 16 a 23% da população
não acredite em nenhuma divindade. E essa ilha só possui 300 mil habitantes. Grande coisa,
não? E ainda por cima, é sustentada com a ajuda vinda da Dinamarca, e recentemente passou
por uma quebra generalizada da economia, com falência do governo graças à crise hipotecária
dos EUA.

Engraçado como essa lista se compõe em sua maioria de paises pouco populosos, não acham?

Enfim, qual a verdadeira classificação das maiores nações protestantes do mundo ? De acordo
com uma lista obtida aqui, temos os seguintes países, por ordem:

1. Estados Unidos
2. Reino Unido
3. Nigéria
4. Alemanha
5. África do Sul
6. Quênia
7. China
8. Brasil
9. Indonésia
10. Congo

Reparem que, entre as nações classificadas, apenas 3 são países desenvolvidos !! E não
podemos esquecer que Reino Unido e a Alemanha são países com altas taxas de ateísmo,
sociedades secularizadas, cujas populações deixaram de freqüentar a igreja e já não acreditam
mais nas religiões organizadas.

E entre esses, temos dois países emergentes, que são a China e o Brasil, paises ricos mas
ainda subdesenvolvidos em vários indicadores sócio-economicos. No Brasil, 73,6% são
católicos e 15,4% são evangélicos (IBGE). E a China ? Segundo dados da CIA World Factbook,
ela possui uma população de 1,3 bilhoes de pessoas, e menos de 4% pertencem às religiões

303
cristas (não há dados precisos sobre o número de protestantes) e ela é oficialmente ateísta,
já que as religiões chinesas não estão organizadas em torno de uma divindade e sim em torno
de uma filosofia de vida (budismo e taoísmo, além das religiões tradicionais chinesas).

Enfim, o restante dos paises na lista pertencem ao 3° Mundo, com péssimos indicadores sócio-
econômicos, pouco expressivos no cenário mundial, e estão na periferia do sistema
internacional. Sobre esses países, vale a pena mencionar que a Indonésia é um dos países
com a maior população muçulmana no planeta e os protestantes nesse pais são apenas 5,7% !

Sobre os paises africanos, não é preciso dizer mais nada, preciso ? As nações africanas
realmente são ―felizes por terem o Jesus como senhor‖ e são ―referência mundial‖. E todo
mundo conhece a situação atual da África, que nem preciso me prolongar sobre o assunto.

E por ordem de PIB ? Vamos ver aqui quem são os países mais ricos do mundo, com dados de
2005 e uma lista completa pode ser baixada clicando-se aqui.

Bem, estamos vendo que a maioria dos países ricos não são protestantes. Tirando os EUA,
temos o Japão e a China (que recentemente passou à condição de 2° maior economia mundial,
conforme divulgado pelo BBC - e o Brasil poderá ser a 4° economia mundial dentro de 15
anos), são países ateístas (possuem como já falei, religiões organizadas em torno de uma
filosofia de vida e não em torno de uma divindade), e os países europeus na lista são nações
secularizadas, com pouca influência da religião na sociedade (ao contrario dos EUA) cujos
índices de ateísmo e agnosticismo crescem a cada ano (veja a tabela abaixo). Quanto ao resto
dos países, vale lembrar que a Índia possui uma população de 900 milhoes de hindus (que

304
adoram mais de 20 mil deuses diferentes), a Turquia é muçulmana, a Rússia segue as religioes
ortodoxas.

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Uma tabela mais completa pode ser encontrada clicando-se aqui. Agora, vamos brincar mais
um pouco? Vamos ver a lista dos 10 paises com a maior população protestante do mundo, e
comparar com a lista do Índice de Desenvolvimento Humano (dados de 2006), e vermos as
classificações deles. Mãos à obra!

1. Estados Unidos em 15° lugar


2. Reino Unido em 21° lugar
3. Nigéria em 154° lugar
4. Alemanha em 23° lugar
5. África do Sul em 125° lugar
6. Quênia em 144° lugar
7. China em 94° lugar
8. Brasil em 70° lugar
9. Indonésia em 109° lugar
10. Congo em 177° lugar

305
Ou seja, de 10 países, apenas 4 se encontram nas faixas de Alto Desenvolvimento Humano, 3
se situam em Médio Desenvolvimento Humano e os restantes no Baixo Desenvolvimento
Humano. O pior colocado é o Congo, que quase ficou com o indigno ultimo lugar, posição essa
ocupada pela Serra Leoa. Quase todos os primeiros colocados são ocupados por paises não-
protestantes..!

Enfim, já expusemos aqui a verdade por trás da ―riqueza das nações protestantes‖ e a
verdadeira relevância destas nações em nosso mundo atual.

Podemos afirmar que mais uma mentira crente foi detonada..!!

Para concluir, precisamos esclarecer umas coisas. O que é que faz uma nação feliz? Com
certeza, não é através de um amiguinho imaginário, e sim por um conjunto de fatores que
destacaremos abaixo:

 Livre Pensamento e Expressão


 Império da Lei
 Sistema Democrático de Governo
 Livre Imprensa
 Qualidade de Vida
 Estabilidade Econômica e Política
 Altas taxas de Escolaridade
 Sistema Universal de Saúde e Previdência
 Acesso à Informação e Cultura
 Liberdade de Crença
 Livre Iniciativa Econômica
 Pouca Burocracia
 Crescimento Econômico
 Preservação do Meio Ambiente
 Paz com os seus vizinhos
 Tolerância e Respeito
 Infra-estrutura adequada
 E muitos outros fatores que não da para mencionar aqui

Enfim, e não vai ser nenhum amiguinho imaginário chamado Jesus que vai fornecer tudo isso
para a felicidade das nações. A felicidade se constrói com trabalho duro, com o suor de
milhões de pessoas, com o respeito e tolerância ao próximo, construir condições de vida para
as populações, estabelecer metas e objetivos que possam ser alcançados, pensar nas gerações
futuras, conservar o meio em que se vive, etc

O ser humano não precisa ficar de quatro no chão, adorando um Jesus qualquer. Tem é que
ficar de pé, cabeça erguida, olhando para frente e se juntar aos seus semelhantes para
construírem um futuro em comum.

O que os crentes tem contra a verdade? Porque os crentes não conseguem parar de mentir
compulsivamente, em suas tentativas de mostrar as suas religiões como porta-vozes do
progresso, moralidade, ética e desenvolvimento?

Depois eles ficam lá dando uma de galardões da verdade… bah, fingidos e falsos! E nós
estaremos sempre aqui para detonar as GMR!!

306
Hitler era Ateu ?

Ele é, com certeza, a figura mais emblemática do século XX. Suas ações modificaram a
História. Suas ações moldaram o destino de muitas nações e mergulhou o mundo numa névoa
negra. Seu nome é odiado, a não ser por insurgentes esporádicos, mas, ainda assim, sua
participação na História Contemporânea deixou marcas que serão conhecidas pelos que
viverão daqui pra frente. Seu nome é Adolf Hitler.

Dia 20 de abril é seu aniversário e seu nome é associado a tudo o que tem de pior nos seres
humanos: dor, ódio, preconceito, guerra, genocídio, desumanidade etc. A este nome é
associado todos os xingamentos e vilipêndios possíveis e imagináveis. Qualquer coisa
relacionada a este nome gera repulsa e nojo. Não é por acaso, então, que muitos religiosos
resolvam dizer que Hitler era ateu.

Aqui, iremos tratar de uma das mais famosas mentiras que os religiosos têm divulgado mundo
afora, e não só pela internet, mas sim em vários meios de mídia (TVs, jornais, revistas, rádio,
panfletos, pregações em igrejas, etc). Esta mentira tem sido repetida à exaustão, já que –
parafraseando o próprio Goebbels – mentira repetida à exaustão torna-se verdade. A baixa
taxa de escolaridade e a despreocupação em não estudar nada muito profundamente faz com
que as pessoas alienem-se e não tenham conhecimento sobre o que realmente aconteceu no
passado. para isso que nós estamos aqui, pois certas coisas devem ser lembradas, pois aquele
que não estuda a sua própria História corre o risco de repeti-la.

307
Hitler saindo da Igreja Sta Marina, em Wilhelmshaven

―Como um Cristão amoroso e como um homem, leio a passagem que nos conta como o Senhor
finalmente se ergueu em Sua força e apanhou o azorrague para expulsar do Templo a raça de
víboras. Como foi esplendida a sua luta em defesa do mundo e contra o veneno judeu. Hoje,
depois de 2 mil anos, é com muita emoção que reconheço, mais profundamente do que nunca,
o fato de que foi em nome disso que Ele teve que derramar Seu sangue na cruz. Como cristão
tenho o dever de não me deixar enganar, tenho o dever de lutar pela verdade e pela justiça. E
como homem, tenho o dever de zelar para que a sociedade humana não sofra o mesmo
colapso catastrófico que sofreu a civilização do mundo antigo 2 mil anos atrás - uma civilização
que foi levada a ruína por esse mesmo povo judeu.‖

– Discurso do Adolf em 12 de abril de 1942, em Munique

A verdade é que os fundamentalistas religiosos, com as suas mentiras, querem que Hitler não
seja associado à religião cristã, porque em suas mentes e em seus conceitos deturpados, a sua
(deles) religião é a única coisa que faz o ser humano ser ―moral, bondoso com o próximo,
agregar o grupo social em que vive, colaborar com a manutenção da estrutura e do tecido
social do meio em que vive, inibi-lo de cometer atrocidades ou malefícios contra o seu
próximo, etc‖; mesmo ao vermos que a Bíblia (em especial o Velho Testamento) prega justo o
contrário. Alguns alegam que o advento do Novo Testamento aboliu as leis sanguinárias do

308
Velho Testamento, mas o próprio Jesus, segundo a Bíblia, diz exatamente o contrário, que ele
não veio abolir nada. Problemas à vista!

A verdade nua e crua é que a religião cristã produziu alguns dos maiores horrores que o
mundo já viu, com o saldo de centenas de milhões de mortos. Não vamos nos demorar aqui,
citando uma lista de crimes do Cristianismo, mas podemos recomendar a leitura do livro ―O
Livro Negro do Cristianismo‖ de Jacopo Fo, e uma lista desses crimes no site ―A Pagina Negra
do Cristianismo - 2000 Anos de Crimes, Terror e Repressão‖.

Ao afirmarem que Hitler era ateu, os religiosos querem dizer, de forma desonesta, que o
ateísmo é uma coisa má, que torna os homens imorais e que podem cometer qualquer
atrocidade e crimes que lhes der na telha, já que não possuem ―temor‖ a um deus qualquer,
que não temem um ―castigo divino‖ após a morte, enfim… uma serie de acusações nada
elegantes dos ―amorosos‖ cristãos, cujo deus mandou entrar em acordo com os adversários de
forma mansa e pacificadora. Se nem os religiosos acreditam nessa passagem, que podemos
fazer, a não ser dizer: ―que diabos de religião é essa, em que só se segue o que quer?‖. Sobre
o ônus da prova? Muito engraçado! Os religiosos são mestres em ignorar essa parte. temos
que aceitar na palavra deles e pronto Muito interessante…

Quem foi Adolf Hitler?

Nascido em Linz (Áustria) no dia 20 de abril de 1899. Quando tinha 10 anos Adolf Hitler já
exibia um comportamento antissocial, que foi detectado pela família e amigos. Sendo apenas
adorado por sua mãe, Klara, que pensa que ele é um menino normal. Quando se torna um
adolescente Hitler aspira se tornar um grande artista, apesar das objeções da sua agonizante
mãe, que tinha câncer nos seios. Em 1907 tenta ser aceito na Academia de Artes Visuais em
Viena, mas foi rejeitado. Imensamente desapontado e zangado, Hitler ouve um discurso
antissemita proferido por Karl Lueger, o prefeito de Viena. Ele começa a aderir às teorias de
Lueger, que dizem que os judeus são culpados por tudo aquilo que está errado na Alemanha.
Sem casa, emprego e apenas com uma pequena herança do seu falecido pai, mas com um
frenético patriotismo, Hitler se une ao exército alemão quando em 1914 estoura a 1ª Grande
Guerra. Apesar de pressionar os superiores, ele acaba ganhando a Cruz de Ferro, a maior
honraria que um soldado alemão poderia receber, e se consterna ao saber da rendição
incondicional do exército alemão. De volta a Munique, Alemanha, Hitler conhece os membros
do Partido Alemão dos Trabalhadores ao agir como espião para o exército, que quer se
resguardar contra possíveis rebeliões. O Ano era 1919.

Quando Hitler diz suas opiniões sobre a pureza da raça alemã em uma reunião é convidado a
se juntar ao grupo, do qual se torna orador. Ele encontra uma audiência ávida, que luta contra
a indiferença, invasores estrangeiros e principalmente os judeus, que são considerados a
maior ameaça para a Alemanha. Ernst Hanfstaengl, um alemão que vivia na América, e sua
esposa Helene formam um aristocrático casal, que retorna à Alemanha quando Hitler está se
tornando mais popular entre as massas. Quando Ernst conhece Hitler vê uma oportunidade
para usá-lo em proveito próprio para defender seus grandes interesses. Ele se torna
conselheiro de Hitler e, por sua sugestão, Hitler adota o pequeno bigode que se tornou sua
marca registrada e a suástica, que com o tempo virou um símbolo de opressão, apesar de ser
um símbolo muito mais antigo. Ernst convida Hitler para ir à sua casa para jantar com ricos
alemães, mas nem Ernst, Helene ou nenhum dos convidados estavam preparados para as
observações de Hitler, que anuncia a necessidade de matar os judeus.

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Este é o pano de fundo exposto de forma muito resumida. agora, começaremos a
desmascarar esta mentira do ateísmo de Hitler, com um breve artigo escrito por John Patrick,
publicado na Free Inquiry Magazine e traduzido aqui.

A História está sendo distorcida por muitos pregadores religiosos e políticos. Conta-se de
forma rotineira de que Hitler era ateu, e com isso condenando de forma rotineira os ateus. Mas
Hitler era um católico, batizado quando era um bebê na Áustria, em uma igreja católica. Ele se
tornou um coroinha em uma igreja em sua infância e na juventude, e foi confirmado como um
―Soldado de Cristo‖ em sua Igreja. As piores doutrinas católicas naquela época nunca o
deixaram, e elas estavam mergulhadas em sua liturgia, que continha em sua essência litúrgica
as seguintes palavras ―perfidious jew―. E esta declaração odiosa não foi removida ate o ano de
1961. ―Perfidy‖ significa traição.

Em seu tempo, o ódio aos judeus era a norma corrente; e em grande medida, foi patrocinado
pelas principais religiões da Alemanha, o Catolicismo e o Luteranismo. Ele foi um admirador de
Martinho Lutero, que odiava abertamente os judeus. Lutero condenou a Igreja Católica e a
corrupção desta para objetivos escusos, mas ele apoiou as políticas papais de pogroms contra
os judeus. E Lutero afirmou: ―Os judeus merecem ser enforcados em penhascos, sete vezes
mais elevados do que os mais ordinários ladrões‖, e ―Temos de ser vingativos com os judeus e
matá-los‖. ―Ungodly wretches‖ assim ele chamou os judeus em um de seus livros.

Em sua busca pelo poder, Hitler escreveu em Mein Kampf, ―… estou convencido de que estou
agindo como o agente do nosso Criador. Combater contra os judeus. Estou a fazer o trabalho
do Senhor‖. Anos mais tarde, no poder, ele citou essas mesmas palavras em um discurso no
Reichstag em 1938.

Três anos mais tarde ele informou ao General Gerhart Engel: ―Eu sempre fui um católico e irei
continuar a sê-lo sempre‖ (grifo nosso). Ele nunca deixou a Igreja, e a Igreja nunca o deixou.
Vários livros importantes da literatura foram proibidos pela Igreja, mas a sua obra pérfida Mein
Kampf jamais apareceu no Index de Livros Proibidos. Ele não foi excomungado ou condenado
pela sua igreja. Os papas, na verdade, acertaram com Hitler junto com seus colegas fascistas
Franco e Mussolini, dando-lhes poder de veto na decisão papal de designar bispos na
Alemanha, Espanha e Itália. Os três concordaram que os católicos desses países podem ser
livres e enviar ajuda financeira a Roma em troca da certeza de que o Estado poderia controlar
a Igreja.

Aqueles que afirmam que Hitler era um ateu deveriam prestar atenção na Historia antes de
começarem a pregar, pois o biografo de Hitler, o aclamado John Toland, explica em detalhes a
seguinte redação: ―Still a member in good standing of the Church of Rome despite the
detestation of its hierarchy, he carried within him its teaching that the Jews was the killer of
god. The extermination, therefore, could be done without a twinge of conscience since he was
merely acting as the avenging hand of god.―

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Na Alemanha de Hitler, com a união da Igreja com o Estado, os soldados da Wermacht usavam
em seus cintos com fivelas com a seguinte inscrição: ―Gott mit uns‖ (Deus está conosco). Suas
tropas eram muitas vezes aspergidas com água benta pelos sacerdotes. Foi um verdadeiro
cristão, em cujo país os cidadãos foram doutrinados, ou seja, o Estado e a Igreja e seguiu
cegamente todas as figuras competentes, política e eclesiástica.

Seria algo totalmente sem sentido um exército de um regime que não defende nenhuma
religião e, pelo contrário, é abertamente ateísta e se posiciona contra religiosos em geral ter
um capelão no exército. Mas a Wermatch tinha.

Hitler, como alguns dos políticos e os pregadores religiosos de hoje fazem, politizava os
―valores familiares‖. Ele gostava de punições corpóreas em casas e nas escolas. Falar de Jesus
se tornou obrigatório em todas as orações escolares sob sua administração. Embora o aborto,
antes de Hitler, era ilegal na Alemanha, ele tornou possível o aborto, com a aplicação de uma
lei exigindo que todos os médicos informassem ao governo a situação de todos os abortos
espontâneos. E desprezou abertamente a homossexualidade e a criminalizou. Se passado é um
prólogo, sabemos o que podemos esperar do futuro se dermos a liberdade de passar a licença
de fazer as coisas. Fanáticos como Pat Robertson mostram que não estamos exagerando.

Com isso, já podemos ter uma ideia básica de quem era Hitler, a influência da Igreja em sua
vida e nos assuntos de Estado durante o governo dele na Alemanha Nazista. Agora, iremos nos
aprofundar mais ainda, abordando outros aspectos, sobre a vida de Hitler, os pensamento
dele, a essência do nazismo, o Cristianismo Positivista, etc. A imagem popular do nazismo é
que eles eram fundamentalmente anticristãos devotos, enquanto que os cristãos eram
antinazistas. No entanto, a verdade é que os cristãos alemães apoiaram os nazistas porque
acreditavam que Adolf Hitler foi um presente de Deus para o povo alemão. Uma espécie de
Messias. E Hitler? O que ele era? Na próxima página aprenderemos mais sobre ele e a
ideologia Nazi.

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Adolf Hitler era ateu?

Adolf Hitler foi batizado em uma Igreja Católica em 1889 e nunca foi excomungado ou
condenado oficialmente de qualquer outra forma pela Igreja Católica. Hitler frequentemente se
referia a Deus e ao Cristianismo, em suas várias de suas palestras e em seus escritos. Em
1933, em um discurso ele disse que ―Para fazer justiça a Deus e à nossa própria consciência,
nós temos nos virado cada vez mais para o povo alemão―. Em outro ele disse: ―Nós fomos
convencidos de que as pessoas precisam e exigem essa fé. Temos, portanto, de empreender a
luta contra o movimento ateu, e isso não apenas com algumas declarações teóricas: nós
temos carimbado o documento‖. (grifo nosso)

Em 1922, ele disse em um discurso:

O meu sentimento como cristão pôs-me diante de meu Senhor e Salvador como um lutador.
Recordo-os de que este homem uma vez na solidão, cercado apenas por alguns seguidores,
reconheceu estes judeus por aquilo que eram e dos homens convocados para lutar contra ele,
e que era um Deus de verdade! E foi maior, não como um doente, mas como um lutador. No
seu amor sem limites, eu como um cristão e como um homem, onde eu leio a passagem
através do qual o Senhor nos diz como subiu em Suas apreensões e uso do flagelo para fazer
sair do Templo aquele bando de víboras. Como foi terrível a sua luta contra o veneno judeu.
Hoje, após dois mil anos, com profunda emoção que reconhecemos mais profundamente do
que nunca o fato de aquele homem que teve o seu sangue derramado sobre a Cruz. Como um
cristão não tenho o direito de permitir-me a ser enganado, mas eu tenho o dever de ser um
lutador da verdade e da justiça. E se há algo que poderia demonstrar que estamos a agir
corretamente, é que o sofrimento cresce diariamente. Como um cristão, eu tenho também um
dever para com o meu próprio povo. E quando eu olho o meu povo e vê-los trabalhar e
trabalhar, e no final da semana eles têm apenas para si mesmos um salário miserável e a
miséria como companhia. Quando eu saio de manhã e ver estes homens de pé em suas filas e
olhar em seus rostos amargurados, então creio que seria eu não cristão, mas um grande
demônio se eu não sentir pena deles, como fez o nosso Senhor dois mil anos atrás, por sua
vez contra aqueles por quem hoje estas pessoas pobres são pilhadas e exploradas.

E para quem deseja saber mais detalhes sobre as crenças religiosas de Hitler, os leitores
podem acessar aqui um artigo em inglês, que discorre de forma um pouco mais extensa.

O que é o Nazismo?

O termo Nazismo (do alemão: National Sozialismus) designa a política da ditadura que
governou a Alemanha de 1933 a 1945, o Terceiro Reich. O nazismo é frequentemente
associado ao fascismo, embora os nazistas dissessem praticar uma forma nacionalista e
totalitária de socialismo (oposta ao socialismo internacional e totalitário marxista). O nazismo
também é anticapitalista e antiliberal.

A generalidade da esquerda rejeita que o nazismo tenha sido de fato socialista, apontando
para a existência, ainda antes da tomada do poder por Hitler, de uma resistência comunista e
socialista ao nazismo, para o caráter internacionalista do socialismo, totalmente oposto à
teoria e prática nazista, e a manutenção, pelos nazistas, de toda a estrutura capitalista da
economia alemã, limitada apenas pelas condicionantes de uma economia de guerra e pela
abordagem àquilo a que os nazistas chamavam o ―problema judeu‖. Porém esta questão é
controversa, com alguns autores a referirem-se ao nazismo como uma forma de socialismo,
apontando para a designação do partido, para alguma da retórica nazista e para a estatização
da sociedade. Ludwig von Mises argumenta, por exemplo: ―O governo diz a estes supostos

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empreendedores o que e como produzir, a quais preços e de quem comprar, a quais preços e a
quem vender (…) A autoridade, não os consumidores, direciona a produção (…) todos os
cidadãos não são nada mais que funcionários públicos. Isto é socialismo com a aparência
externa de capitalismo.‖

Adolf Hitler chegou ao poder enquanto líder de um partido político, o Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, ou
NSDAP). O termo Nazi é um acrônimo do nome do partido (vem de National Sozialist). A
Alemanha deste período é também conhecida como ―Alemanha Nazista‖ (‖Alemanha Nazi‖ PE)
e os partidários do nazismo eram (e são) chamados nazistas. O nazismo foi proibido na
Alemanha moderna, muito embora pequenos grupos de simpatizantes, chamados neonazistas,
continuem a existir na Alemanha e noutros países. Alguns revisionistas históricos disseminam
propaganda que nega ou minimiza o Holocausto e outras ações dos nazistas e tenta deitar
uma luz positiva sobre as políticas do regime nazista e os acontecimentos que ocorreram sob
ele.

Basicamente, é isso ai. Mas para quem quiser saber mais, podemos recomendar a obra
―Origens do Totalitarismo‖ de Hannah Arendt, cujo resumo pode ser encontrado aqui, em
formato PDF.

O nazismo era uma ideologia ateísta?

O Programa do Partido Nazista declarou:

―Pedimos a liberdade no seio do Estado para todas as confissões religiosas, na medida em que
não ponham em perigo a existência do Estado ou não ofendam o sentimento moral da raça
germânica. O Partido, como tal, defende o ponto de vista de um Cristianismo construtivo, sem
todavia se ligar a uma confissão precisa. Combate o espírito judaico-materialista no interior e
no exterior e está convencido de que a restauração duradoura do nosso povo não pode
conseguir-se senão partindo do interior e com base no princípio: o interesse geral sobrepõe-se
ao interesse particular.‖

O positivismo aderiu ao cristianismo ortodoxo em algumas doutrinas básicas e afirmava que o


cristianismo deveria fazer uma diferença positiva na vida das pessoas. É difícil manter a idéia
de que a ideologia nazista era ateísta quando se vê que era expressamente apoiado e
promovido o cristianismo na plataforma do partido.

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O comunismo e o socialismo foram as duas tradicionais ideologias intensamente odiadas pelo
partido nazista que alegou que eram ideologias ateístas e judias, ameaçavam o futuro da
civilização alemã e a civilização cristã. Naquele tempo, a maioria dos cristãos na Alemanha e
em outros países concordaram com essa posição e isso explica muito o apoio popular aos
nazistas.

A resposta cristã aos nazistas

A chave para compreender a popularidade do nazismo entre os cristãos é a condenação


nazista a tudo que era moderno. A República de Weimar foi considerado como um ente sem
Deus, secular e materialista, traindo todos os valores tradicionais da Alemanha e das crenças
religiosas. Os cristãos viram o tecido social de sua comunidade se desfazer, e os nazistas
prometeram restaurar a ordem, atacando os agnósticos e os ateus, a homossexualidade,
aborto, liberalismo, prostituição, pornografia, obscenidade, etc.

No início, muitos líderes católicos criticaram o nazismo. Após 1933, mudaram de lado e
passaram a elogiá-lo e evitar as criticas. Os laços em comum entre os católicos e o nazismo
eram o anticomunismo, antiateísmo, e antilaicidade. A Igreja Católica ajudou a identificar os
judeus para o seu extermínio. Depois da guerra, os líderes católicos ajudaram os antigos
nazistas a trazê-los de volta ao poder, e os protestantes foram mais ainda atraídos para
nazismo do que católicos. Eles, e não os católicos, produziram um movimento dedicado à
mistura da ideologia nazista com a doutrina cristã.

Sacerdotes dando a saudação a Hitler em um comício da juventude católica no estádio de


Berlim-Neukölln –agosto, 1933

A ―resistência‖ cristã foi principalmente contra os esforços nazistas no sentido de exercer


maior controle sobre as atividades da Igreja. As igrejas cristãs estavam dispostas a tolerar a
violência generalizada contra os judeus, o rearmamento militar, as invasões militares de
nações estrangeiras, a proibição dos sindicatos, a prisão de membros do Parlamento, prisão de
pessoas que não tinham cometido crimes, etc.. Por quê? Porque Hitler era visto como alguém
que iria restaurar os valores cristãos tradicionais e a moralidade da Alemanha.

Cristianismo em privado e público

Não há nenhuma evidência de que Hitler e a elite nazista utilizaram o cristianismo para o
consumo do público alemão, ou como um truque político - pelo menos, não mais do que
partidos políticos de hoje, que enfatizam o seu apoio aos valores religiosos e tradicionais, do
qual dependem fortemente do apoio de cidadãos religiosos (isso não lhes lembra o Partido

314
Republicano dos EUA nas eleições de 2008 ?). Observações particulares sobre a religião e o
cristianismo eram as mesmas que as observações públicas, o que indica que eles acreditavam
que eles eram destinados a agir de acordo com o que lhes era reivindicado. Os poucos nazistas
que professavam o paganismo o fizeram publicamente, e sem o apoio oficial.

Os nazistas cristãos não abandonaram as bases das doutrinas cristãs, como a divindade de
Jesus, por exemplo. As ações de Hitler e os nazistas como ―cristãos‖, eram como os das
pessoas durante as Cruzadas ou a Santa Inquisição. A Alemanha, de modo fundamental, viu-
se como uma nação crista, e milhões de cristãos apoiaram entusiasticamente Hitler e o Partido
Nazista, vendo nelees como as incorporações dos ideiais cristãos e alemães.

Bispos fazendo a saudação nazista em homenagem a Hitler. Notem Joseph Goebbels (extrema-
direita) e Wilhelm Frick (segundo à direita).

Se quiserem saber mais sobre o assunto, em profundidade, recomendamos que acessem estes
sites abaixo:

Adolf Hitler & Christian Nationalism: Nazis‘ Program of Positive C…

Weren‘t the Nazis Pagans? The Holy Reich: Nazi Conceptions of Christia…

Adolf Hitler Quotations: Adolf Hitler on Religion, God, and Christianity - …

Pictures of Hitler - Hitler and Goebbels Pose With Local Nazi Party Officia…

Pictures of Hitler - Adolf Hitler Speaks to the Widow of a Nazi Party Membe…

Como mencionamos acima, precisamos antes de tudo, esclarecer sobre o que significa
exatamente o Cristianismo Positivista.

O Cristianismo positivo (em alemão Positives Christentum) foi uma expressão adotada pelos
líderes nazistas para se referir a um modelo de cristianismo coerente com o nazismo. Adeptos
do Cristianismo Positivo argumentavam que o cristianismo tradicional enfatizava os aspectos
passivos em vez dos ativos na vida de Jesus Cristo, acentuando seu sacrifício na cruz e a
redenção sobrenatural. Eles pretendiam substituir isso por uma ênfase ―positiva‖ do Cristo
como um pregador ativo, organizador e combatente que se opôs ao judaísmo institucionalizado

315
de sua época. Em várias ocasiões durante o regime nazista, foram feitas tentativas de
substituir o cristianismo ortodoxo por sua alternativa ―positiva‖.

O Cristianismo Positivo surgiu da Alta Crítica do século XIX, com sua ênfase na distinção entre
o Jesus histórico, e o Jesus divino da teologia. De acordo com algumas escolas de
pensamento, a figura do salvador do cristianismo ortodoxo era muito diferente do pregador
histórico galileu. Enquanto muitos de tais eruditos buscavam colocar Jesus no contexto do
antigo judaísmo, alguns escritores reconstruíram um Jesus histórico que correspondia à
ideologia antissemita. Nos escritos de antissemitas tais como Emile Burnouf, Houston Stewart
Chamberlain e Paul de Lagarde, Jesus foi redefinido como um herói ―ariano‖ que lutou contra o
judaísmo. Consistente com suas origens na Alta Crítica, tais escritores frequentemente ou
rejeitavam ou minimizavam os aspectos milagrosos das narrativas do Evangelho, reduzindo a
crucificação a uma cota trágica da vida de Jesus, em vez de sua culminação prefigurada. Tanto
Burnouf quanto Chamberlain argumentaram que a população da Galiléia era racialmente
distinta daquela da Judéia. Lagarde insistia que o cristianismo alemão devia tornar-se de
caráter ―nacional‖.

O que a História nos conta

Os problemas políticos e sociais de um país devem ser resolvidos utilizando trabalho árduo e
bom planejamento, e não com a fé. Face aos problemas e resolve-los, um governo à base de
fé, em vez de enfrentar a raiz do problema com o uso da cabeça com soluções razoáveis, em
vez de deixar tudo para a fé irracional. Os dirigentes rezam para o problema para que ele vá
embora. Religião para eles, como Karl Marx escreveu uma vez, é ópio. Em vez de resolver o
problema no presente, eles querem para escapar à realidade, e criar uma fantasia de vida
após a morte. Isso não os leva a pensar profundamente e com conformidade - um país onde o
trabalho é punido e a mediocridade uniforme é recompensada.

Um governo à base da fé também leva a cidadãos profundamente egoístas. Encorajados por


esse ambiente, a população irá ignorar os problemas do país em completa apatia. Muitos vão
deixá-los até com o deus deles que supostamente esta nas nuvens. A nação vira a cabeça
quando se defronta com um mendigo. E buscará assistir à distância uma mãe esquálida
transportando dois bebês desnutridos para uma barraca miserável. Há apenas o desejo de que
o país so irá trabalhar duro o suficiente, para que baste comprar apenas bens comerciais, do
que simplesmente impedir o pensamento de seus cidadãos, que este é ―não é o meu problema
‖ que por si só não irá desaparecer. Um governo baseado na fe nubla a consciência social por
convencer as pessoas de deixar a simpatia de lado e somente ajudar a si próprios quando é
necessário. Esta tendência política e egoísta do uso da fé com base em regras, foi o que
ocorreu com a Alemanha de Hitler.

―Um homem de comportamento ético deve ser baseado efetivamente na simpatia, educação,
laços sociais e necessidades. Nenhuma base religiosa é necessária para tal. Seria de fato uma
péssima maneira de controlar os homens, se forem contidos por medo de uma punição e
também, por uma esperança de recompensa após a morte.‖

– Albert Einstein, New York Times Magazine, 9 de novembro de 1930

Quando a Alemanha chegou perto de um colapso econômico, Hitler recorreu ao apelo para a
conformidade egoísta do país. Para os desempregados e famintos, ele prometeu empregos - e
eles se tornaram o seu exército privado. Para a classe média, ele prometeu a proteção de
grandes empresas. Para os industriais e políticos, prometeu a prosperidade. A verdade é que
ele nunca manteve sua promessa.

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Houve uma controvérsia na Alemanha quanto aos motivos pelo qual ele subiu ao poder. Hitler
não era por muitos considerado alguém que poderia ser eleito para ser um Führer, por causa
de suas raízes políticas que eram da maior parte dos estados do sul. Quando um edifício pegou
fogo, ele proclamou-o como um ato terrorista, e também como um sinal de Deus. Ele começou
a pregar uma guerra contra o ―terror‖, culpando os judeus.

―Existe um mal que ameaça cada homem, mulher e criança desta grande nação. Temos de
tomar medidas para garantir a nossa segurança interna e de proteger a nossa Pátria.‖

- Adolf Hitler

Tal como a ficção do Deus autoritário de punir Adão e Eva por sua inocência (que não sabiam
nada sobre o bem do mal quando eles comeram o fruto proibido), Hitler se tornou um ditador
absoluto. Ele aboliu o governo, fez as grandes empresas aos seus amigos, baniu a liberdade de
imprensa, estabeleceu o julgamento secreto nos tribunais, proibiu todos os partidos políticos,
sindicatos dissolvidos, e assassinaram vários comunistas. Os desempregados pobres que se
tornaram as suas tropas privadas e oficiais foram massacrados às suas ordens, por causa do
seu receio paranóico de insurreição.

―Que boa sorte para os detentores do poder, pois as pessoas não pensam!‖

- Adolf Hitler

Livros democráticos e pacifistas foram queimados. E a História foi reescrita para caber o
nazismo. E nas escolas, os livros de ciência foram revistos e reescritos com o fim de que ―a
raça ariana superior de pele branca‖ iria aparecer como um fato científico. E a propaganda de
Hitler foi toda controlada em seus meios de comunicação (rádio, jornais, revistas, filmes,
livros, artes) para um projeto de uma próspera Alemanha. Não é muito diferente do que os
movimentos criacionistas tentam fazer, dando ―de presente‖ livros onde subvertem todo o
conhecimento científico, só para que consigam fazer sua doutrinação, baseada numa
pseudoaula de ciências, mas que não passa de religião disfarçada.

―As escolas seculares não podem ser toleradas porque essas elas não têm instrução religiosa e
moral. E uma instrução geral sem uma fundação religiosa é construída no ar e, por
conseguinte, todos os caracteres de formação e de religião devem ser obtido a partir da fé.‖

- Adolf Hitler, a partir de um discurso feito durante as negociações que conduziram à


concordata entre o Vaticano e o Nazismo.

Hitler, batizado e criado como um católico, cresceu conhecendo o poder da religião como
qualquer cidadão médio.Quando ele estava no poder, ele procurou definir uma meta para fazer
da Alemanha uma pura nação crista. Ele, como Napoleão que afirmou acreditar que ―a religião
é excelente para manter as pessoas comuns calmas‖ procurou unir cada seita cristã no país
junto com os católicos e os protestantes também.

Influenciado por Martinho Lutero, um anti-judeu que foi líder da Reforma Protestante, Hitler
desejava que a Alemanha fosse uma nação cristã. Mas alguns cristãos protestantes se
opuseram a ele em publico, porem, junto com os judeus, homossexuais, ateus, comunistas,
ciganos e não-brancos, foram todos presos e enviados para os campos de concentração.

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Medalha comemorativa do Dia de Martinho Lutero na Alemanha - 10 de novembro de 1933.

―Até agora, as seitas e as confissões das igrejas protestantes, estão preocupadas com a nossa
determinação e nossas formas de organização para por fim às divisões existentes e, com isso
criar uma única Igreja Protestante para o Reich.‖

- Adolf Hitler, em sua Proclamação ao Parlamento em Nuremberg, em 5 Setembro de1934.

O dinheiro e os bens da classe média dos judeus, homossexuais, comunistas, ateus, ciganos, e
de não-brancos eram confiscados, saqueados ou destruídos. Milhares deles foram enviados
para lugares imundos, superlotados, e para campos insalubres onde foram forçados a
trabalhar duro, com pouca ou nenhuma comida. Malnutridos e com práticas cruéis que se
tornaram prevalentes nos campos - muitos morreram de fome e de doenças contagiosas em
massa.

―Tratam-se de não-cristãos e ateus internacionais que agora se postam à frente da Alemanha.


Eu não vou apenas falar do cristianismo, mas também vou professar que eu nunca me aliarei
com partidos que destroem o cristianismo.‖

- Adolf Hitler, num discurso emitido em Sttugard, 15 de fevereiro de 1933.

A política da eliminação em massa de pessoas, adotada pelos nazistas durante a 2ª Guerra


Mundial, foi um fenômeno até então único na história da humanidade. Esse crime porém foi
inspirado em várias doutrinas que passavam então por ciência, como o racismo e a eugenia,
que tiveram larga difusão e apoio nos países mais adiantados dos anos vinte e trinta.

―Seu negrume não surgiu no deserto de Gobi ou na floresta tropical da Amazônia. Originou-se
no interior e no cerne da civilização europeia. Os gritos dos assassinados ecoaram a pouca
distância das universidades; o sadismo aconteceu a uma quadra dos teatros e dos museus (…)
Em nossa época, as altas esferas da instrução, da filosofia e da expressão artística
converteram-se no cenário para Belsen.‖

- George Steiner - Linguagem e Silêncio, 1958

O massacre de grande parte da população judaica da Europa perpetrado pelos nazistas entre
1941-45 ocultou o fato de que a política de extermínio adotada por aquele regime não

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circunscreveu-se à perseguição antissemita. Foi muito mais ampla de que se supõe. Tratava-se
de um vastíssimo plano de eugenia que englobava outros setores sociais, cujas vidas os
nazistas consideravam ―indignas de serem vividas‖ (Lebensuntwertes Leben). Mas a política
nazista da eugenia tinha as suas ambigüidades. Ao mesmo tempo em que se praticava a
esterilização, a eutanásia e o genocídio, por outro estimulava-se a proliferação da ―raça
superior‖, concedendo aos homens selecionados o direito de acasalar-se com várias mulheres,
desde que elas fossem de origem ariana.

Quando os soldados alemães ocuparam os países vizinhos, essa prática foi estimulada para
que novos seres arianos viessem ao mundo para poder substituir as baixas de guerra que a
Alemanha estava sofrendo. As crianças nascidas nessas circunstâncias seriam criadas em
orfanatos especiais (Lebensborn), sob orientação e supervisão do Estado nazista. Nenhum
regime político até então havia se inspirado tão fortemente no darwinismo social e numa
concepção tão radicalmente biológica - quase zoológica - como os nazistas o fizeram entre
1933-1945. Assim, a eugenia era tanto o pretexto para a eliminação dos indesejados como
para a seleção dos escolhidos. Mais detalhes podem ser obtidos clicando-se aqui.

Os cristãos da Alemanha abandonaram a sua força política, rezaram para o homem nas nuvens
e resolveram seguir a Hitler e fizeram vista grossa às atrocidades. Hitler, com o seu método de
pseudociência da eugenia, propõe que qualquer pessoa que não se encaixe em sua perspectiva
(ou seja, pessoas de raça branca) e qualquer outra pessoa que não seja cristã deveriam ser
mortos.

Crianças foram tomadas de seus pais nos campos de concentração. O que esses pais não
sabiam, é que os nazistas cristãos de Hitler jogavam os seus bebes em fornos, onde eram
queimados. E aqueles que eram de uma idade avançada, deficientes, e de mães que não
queriam ceder os seus bebes, foram mandados a um chuveiro em uma sala que ficava lotada.
Posteriormente, foram envenenados com gás. Eles tentavam escapar de todos os jeitos, mas
em vão. Depois de muitos minutos, seus corpos foram encontrados, quimicamente
envenenados e empilhados uns sobre os outros, com os seus dedos quebrados de tanto que
arranhavam a parede, os idosos com as pernas torcidas, os braços rasgados das mães, e os
crânios dos bebês esmagados pelo peso dos outros.

Os que foram envenenados, eram jogados ao forno para alimentar as chamas. As áreas
próximas à fábrica de fornos, parecia um inverno negro de cinzas vulcânicas, onde flocos
negros de neve caiam a partir do céu. Muitos cristãos nazistas, impacientes ao saber que a
taxa de mortalidade não era suficientemente rápida para diminuir os milhares de prisioneiros,
ordenaram aos prisioneiros desses acampamentos a cavar grandes buracos ao lado das
fábricas de morte, e fizeram saltar os recém-chegados para dentro da fossa. Eles então
disseram aos prisioneiros a derramar gasolina em seus companheiros. Os corpos de mães,
pais, filhos, filhas foram todos queimados vivos - com muitos gritos angustiantes - e tinham os
cabelos, a pele, os olhos, e os dentes derretidos pelo calor. O cheiro pungente de carne
humana queimada empestava os campos de concentração. E os prisioneiros, para que
queimassem melhor e mais rapidamente, tinham os seus órgãos e rostos perfurados pelos
guardas nazistas, para que a gordura servisse de combustível.

O judaísmo europeu, rico em cultura e milenar em tradição, fora dizimado e convertido em


uma pilha de ossos humanos na mais horrenda máquina de extermínio jamais criada chamada
de Holocausto, apesar de nenhuma palavra inventada pelo homem ser adequada. Como
descrever tamanha crueldade? O programa cumprido pelo governo alemão contra os judeus foi
tão sinistro e horripilante em seus detalhes que palavras são insuficientes para descrevê-lo.
Talvez sintamos um pouco das atrocidades nazistas ao lermos o resumo oficial apresentado

319
perante o Tribunal Internacional que julgou os criminosos de guerra na cidade de Nüremberg,
em outubro de 1945:

―Os assassinatos em massa e tortura foram efetuados por diversos meios que incluíam
fuzilamento, forca, asfixia por gases, inanição, incineração em massa, desnutrição sistemática,
imposição de trabalho calculada para superar as forças físicas dos que recebiam ordens para
executá-lo, completa insuficiência de serviços médicos e cirúrgicos, pontapés, espancamentos,
brutalidades e torturas de toda espécie (…) Os nazistas matavam impiedosamente inclusive
crianças junto com adultos, filhos com seus pais, em grupos ou sozinhos. Matavam em asilos e
hospitais infantis, enterrando os vivos em túmulos, lançando-os aos montes, usando-os para
experiências, extraindo seu sangue para o exército alemão, prendendo-os em prisões e
câmaras de tortura da Gestapo e em campos de concentração, onde crianças morriam de fome
ou como conseqüência de torturas ou epidemia‖.

Seis milhões de homens, mulheres, idosos e crianças. Não eram soldados ou representavam
qualquer perigo. Segundo o professor Shalom Rosemberg, ―a capacidade humana fica
impossibilitada de contá-los um a um. Cada qual com sua família, seu trabalho, sua fé, suas
esperanças e seus temores. Como encarar o horror? O horror do indivíduo em sua última
caminhada pela estrada sem volta; o horror dos pais impedidos de defender seus filhos; o
horror das crianças arrancadas de seus pais; o horror do grupo às portas da morte coletiva; a
morte de cada um em separado e de todos juntos no pesadelo comum. Uma só destas
experiências é suficiente para perturbar a sanidade mental e quem quiser conhece-las, uma
pós outra, uma a uma, individual ou coletivamente, está se condenando a viver por toda sua
vida além dos limites do mundo lúcido‖.

A cegueira da Igreja

O Vaticano sabia que havia um genocídio em curso na Alemanha, mas não fizeram nada para
denunciar Hitler. Tal como muitos dos cristãos alemães, eles o seguiram e fecharam os olhos -
e o culpado pela omissão é o Papa Pio XII que muitas vezes sem conta, se recusou a assumir
uma posição contra os nazistas. No fim, Hitler conseguiu unir as igrejas alemãs em uma só
Igreja no Cristianismo.

Muitos clérigos, entre padres, bispos, cardeais etc são vistos saudando a bandeira nazista ou
ao próprio Führer. A argumentação comum é que eles não tiveram outra escolha, que apenas
seguiam um roteiro orquestrado por um louco psicótico, e não tinham como se negar a isso. É
uma argumentação plausível e convincente, mas desmorona perto dos fatos apresentados. A
Igreja não fez a menor menção de nada, pelo contrário. Ela muitas vezes participou
ativamente, seguindo uma doutrina de ódio e separatismo, como ainda o faz hoje em dia,
ainda que de forma mais amena. Mas o ódio a homossexuais ainda é visto hoje em dia.

320
Bispo Nacional da Alemanha, Friedrich Coch, dando uma saudação de Hitler. Dresden, 10 de
dezembro de 1933.

O ódio de Hitler contra o mundo

Era apenas uma questão de tempo antes que Hitler realizasse um ataque insano aos governos
seculares.

Hitler de forma tão sorrateira, fez um pacto de não-agressão com Stalin (outro louco demente
- que foi para um seminário cristão de estudos para o sacerdócio, e torceu as ideias filosóficas
de Karl Marx e criou a sua própria doutrina dogmática). Mas o que Stalin não sabia, é que
Hitler abateu milhares de comunistas na Alemanha. Hitler desprezava Karl Marx (um judeu que
se tornou um ateu comunista), pretendia ao longo do tempo erradicar o comunismo. Quando
Hitler invadiu a União Soviética e seus países vizinhos, o tratado foi quebrado.

A França defendia a democracia, que também foi alvo pelo anti-democrático Hitler. Uma vez
que a democracia permite a liberdade de diferentes religiões e raças, a França era
contraditória com a meta de Hitler - uma população que poderia ser dominada por cristãos de
pele branca. À semelhança do que aconteceu na União Soviética, Hitler conquistou os países
vizinhos, antes de passar para a invasão desta, na famosa Blitzkrieg na Holanda e Bélgica.

Hitler invadiu praticamente todos os poderes mundiais, e apenas três dos mais poderosos
países se mantiveram firmes, e um deles era um aliado. É por isso que o ainda enigmático
Imperador Hirohito concordou em tornar-se um aliado de Hitler. O Japão é um país de não-
brancos e tem cidadãos não-religiosos (por filosofia, a maioria dos japoneses são ateus). Hitler
tinha traido os soviéticos, ele também teria traído Japão se tivesse a oportunidade. Mas o
Japão tinha um culto quase fanático de fidelidade ao Imperador Hirohito, que foi declarado um
―deus vivo‖, como regra.

A Grã-Bretanha e a sua poderosa Commonwealth (do qual faziam parte o Canadá e a


Austrália, por exemplo), já tinha abolido há muito tempo a escravidão negra, e um século
antes, aboliu uma lei que exigia o juramento de ―uma verdadeira fé de cristão‖, permitindo
que outras religiões como o judaísmo. Hitler queria invadir a Grã-Bretanha e conquista-la, e ao
mesmo tempo por meio do Pacífico, o Japão atacou os Estados Unidos, que deixou de lado a
sua neutralidade na Guerra.

321
Nos Estados Unidos, os Pais Fundadores, expressavam em seus escritos, uma antipatia ao
cristianismo. Eles elaboraram uma Constituição laica, e uma lei para a separação do Estado e
da Igreja.

―O Governo dos Estados Unidos da América não é, em qualquer sentido, fundado sobre a
religião cristã‖

- George Washington, sobre o Tratado de Trípoli

A escravidão negra nos Estados Unidos foi abolida por Lincoln quando ele venceu a guerra civil
com o sul religioso.

Os Estados do Sul pretendiam se separar da União, porque eles acreditam que a escravatura
era uma necessidade economica e religiosa. Após a derrota do Sul, pouco a pouco, a América
se tornou um país multi-racial.

A queda de Hitler: a ação dos governos seculares contra a fé cega como regra

Hitler, depois de ter conquistado quase todos países da Europa, ele partiria ao ataque contra a
Bretanha e depois contra os Estados Unidos sucessivamente. Porém, uma defesa coordenada
entre os Estados Unidos, Reino Unido e a União Soviética, resistiu aos ataques nazistas, e
combinado com a cooperação de demais países no mundo, entraram em uma guerra que foi
de longe a mais sangrenta e destrutiva que o mundo jamais assistiu, e Hitler foi derrotado
juntamente com os países do Eixo.

O Imperador Hirohito, diante da derrota, emitiu uma declaração renunciando à sua pretensão
de ser um ―deus vivo‖ e a rendição incondicional do Japão. Ele foi despojado de seu poder, e
foi reduzido a ser um símbolo da realeza japonesa. Em seguida os Aliados, com uma
Constituição democrática, foi instituída para substituir Hirohito da adoração como um pseudo-
deus, introduziu a separação entre a Teologia e o Estado de Direito no Japão. A maioria dos
japoneses hoje são pessoas não-religiosas, e mesmo o xintoísmo é uma religião não-
confessional animista. O xintoiísmo não se baseia num deus pessoal, mas atribui
características ―vivas‖ a tudo que existe no mundo.

Mussolini, um outro aliado de Hitler, e o chefe dos fascistas da Itália, fez um pacto com a
Igreja Católica para permitir que o Vaticano seja um Estado Independente. Mussolini, como
Hitler, é um anti-comunista, um movimento que granjeou o apoio da Igreja Católica. Quando a
Itália foi derrotada, e as forças aliadas foram quase ao seu centro de comando, Mussolini e a
sua amante foram alvejados por um comunista italiano. Apesar dos protestos do Vaticano, o
divórcio e o aborto são legais por lei na Itália de hoje.

De todos os poderosos aliados de Hitler, apenas o ditador Franco, que governava uma Espanha
fascista, permaneceu até a sua velhice. Ao longo de seu mandato, ele aplicou regras estritas
sobre os costumes sociais, baseados na Igreja. Homossexualidade, prostituição e outras
coisas, fez dessas praticas proibidas e encaradas como uma ofensa criminal. Os casamentos
civis que ocorriam antes da Era Franco, foram declarados nulos e sem efeitos e tiveram de ser
reconfirmados pela Igreja. Após a sua morte, uma seita da direita católica, declarou-o como
um santo. O Vaticano, por questões de conveniência, manteve-se afastado da questão e
rejeitou a canonização.

Após a morte de Franco, varias das suas estátuas e outros símbolos públicos de Franco, foram
removidos. E uma pesquisa investigativa foi iniciada para localizar as valas de suas vitimas

322
executadas. Adicionalmente, a União Européia tem tomado medidas no sentido de reescrever a
Histórica e mudar os pontos de vista sobre Franco. A Espanha, depois de Franco, passou a ter
partidos constituídos por democratas, socialistas e comunistas. O divórcio, abortos,
casamentos gays foram todos legalizados. A lei machista que exigia a permissão dos maridos
às mulheres para fazer qualquer coisa também foi abolida. A educação sexual é agora parte do
currículo escolar, e foi descriminalizado o adultério.

Hitler, o homem cuja fantasia ilusória de um mundo exclusivo para pessoas de pele branca,
para que os cidadão possam ser facilmente manipulados por meio de sua fé inquestionável em
uma única Igreja Cristã - falhou. Quando as forças aliadas avançaram ate o seu quartel-
general - os Estados Unidos e a Grã-Bretanha no oeste da França, e a União Soviética a partir
do leste - ele sacou a sua arma, apontou-a em sua cabeça, e com um ato de covardia, tentou
escapar à realidade.

Boas pessoas vão fazer coisas boas e pessoas más vão fazer coisas ruins. Mas para que
pessoas boas façam coisas ruins, é preciso ter uma religião.

- Steven Weinberg, Prêmio Nobel

O Julgamento de Nuremberg

O termo ―Julgamentos de Nuremberg‖ (oficialmente o Tribunal Militar Internacional vs.


Hermann Göring et al.) aponta inicialmente para a abertura dos primeiros processos contra os
24 principais criminosos de guerra da 2ª Guerra Mundial, dirigentes do nazismo, ante o
Tribunal Militar Internacional (International Military Tribunal) em 20 de novembro de 1945, na
cidade alemã de Nuremberg.

Após estes julgamentos, foram realizados os Processos de Guerra de Nuremberg, que também
levam em conta os demais processos contra médicos, juristas, pessoas importantes do
Governo entre outros, que aconteceram perante o Tribunal Militar Americano e onde foram
analisadas 117 acusações contra os criminosos. Os resultados do julgamento podem ser vistos
aqui, e recomendamos um filme lançado em 2002 sobre o mesmo tema.

A Igreja católica apóia ativamente o crescimento dos totalitarismos na Europa. Na Áustria, o


seu apoio ao Austro-Fascismo é total. Na Itália, ela assina com o regime fascista uma
concordata que faz do catolicismo a religião de estado: os italianos podem de novo votar sem
serem excomungados, pena que isso de pouco serve em período de ditadura. A Igreja sacrifica
em grande parte as suas próprias associações: todas, exceto a Ação Católica, devem integrar
as organizações fascistas. O Vaticano promete a Mussolini de fazer com que a Ação Católica
não se deixe tentar por ações antifascistas.

Em 1929, Mussolini, depois de ter assinado a concordata dita ―Patti Lateranensi‖, é qualificado
pelo papa como ―o homem da providência‖. Em 1932, o ditador recebe das mãos do papa a
Ordem da Espora de Ouro, que é a mais alta distinção concedida pelo Estado do Vaticano.

Essa bela harmonia vai resistir mesmo ao momento de tensão causado pela estátua de
Giordano Bruno. O papa aproveita a concordata para pedir ao seu amigo ditador que destrua a
estátua erigida em 1889. O ditador, que tem um filho com o nome de Bruno, toma a defesa do
livre-pensador e declara à Câmara de Deputados que ―A estátua de Giordano Bruno,
melancólica como o destino desse monge, ficará onde ela está. Tenho a impressão que seria se
encarniçar contra esse filósofo que, se equivocado e persistiu no erro, no entanto já pagou‖.

323
Para mostrar que não se arrepende de nada a Igreja canoniza então Roberto Bellarmino, o
acusador de Giordano Bruno, nomeando-o ―Doutor da Igreja‖.

Na Alemanha, em janeiro de 1933, o Zentrum, partido católico, cujo líder é um prelado


católico (Pralat Kaas), vota plenos poderes para Hitler: este último pode assim atingir a
maioria de dois terços necessária para suspender os direitos garantidos pela Constituição. Com
uma caridade toda cristã, o bom prelado aceita também fechar os olhos para os discutíveis
processos nazistas, como a prisão dos deputados comunistas antes da votação. Depois a
Igreja começa a negociar uma nova concordata com a Alemanha: nesse cenário, ela sacrifica o
Zentrum, então o único partido significativo que os nazistas não tinham proibido. Na realidade
ele tinha-o ajudado a chegar ao poder. Em 5 de julho de 1933, o Zentrum se dissolve sob
solicitação da hierarquia católica, deixando o caminho livre para o NSDAP de Hitler, então
partido único.

Hitler declara-se católico no ―Mein Kampf‖, como foi dito. Também afirma que está convencido
ser ele um ―instrumento de deus‖. A Igreja católica nunca colocou no seu Índex o ―Mein
Kampf‖, mesmo antes da ascensão de Hitler ao poder. Podemos acreditar que o programa
antissemita do futuro chanceler não desagradava à Igreja. Hitler mostrará o seu
reconhecimento tornando obrigatória uma prece a Jesus nas escolas públicas alemãs e
reintroduzindo a frase ―Gott mit uns‖ (Deus está conosco) nos uniformes do exército alemão.

Em 1933, a Igreja Católica Romana firmou uma concordata com os nazistas. O cardeal
católico-romano Faulhaber escreveu a Hitler: ―Este aperto de mão com o Papado . . . constitui
um feito de imensurável bênção. . . . Que Deus proteja o Chanceler do Reich [Hitler].‖

Em 1938, as SS e SA organizam a ―Noite de Cristal‖: com trajes civis, os milicianos nazistas


atacam sinagogas e lojas pertencentes a judeus. A população alemã está horrorizada e
aterrorizada. O bispo de Freiburg, monsenhor Gröber, declara então, em resposta às perguntas
sobre as leis racistas e os pogroms da noite de cristal: ―Não podemos recusar a ninguém o
direito de salvaguardar a pureza da sua raça e de elaborar medidas necessárias a esse fim‖.

Na Espanha, um general tenta um golpe de estado militar, que aborta mas degenera em
guerra civil. A Igreja o apóia, padres e bispos benzem os canhões de Franco, celebram com
muita pompa Te Deum pelas suas vitórias contra o governo republicano legítimo. A guerra faz
mais de um milhão de mortos, e Franco fuzila todos os prisioneiros. Franco se mostrará
reconhecido por seus piedosos aliados, nomeando diversos membros da Opus Dei para o seu
governo. A influência da Opus Dei crescerá ao longo da ditadura franquista, ao ponto de se
chegar a mais de metade dos ministros serem membros dessa venerável instituição católica.

Na França, a Igreja declara, desde 1940, que ―Petain é a França‖: ela prefere de fato o
Trabalho-Família-Pátria do estado francês às Liberté-Égalité-Fraternité da República, que
sempre a horrorizaram.

Durante a 2ª guerra mundial, o Vaticano estava ciente do extermínio dos judeus pelos
nazistas. Saber-se-á, após a guerra, que o papa diversas vezes esteve para fazer um
pronunciamento público, mas que finalmente se absteve essencialmente pela sua fobia ao
comunismo e achando que uma vitória russa seria ―pior‖. No entanto ele chorou em 1942,
junto às ruínas de Roma, bombardeada pelos aliados. Também ele se esquece de mencionar
que o seu aliado político Mussolini tinha solicitado a Hitler para ter ―a honra de participar dos
bombardeamentos sobre Londres‖, é verdade que o papa não habitava em Londres…

324
O Vaticano anunciou que divulgou que irá liberar documentos que contêm informações sobre a
relação entre a igreja e a Alemanha nos tempos do Nazismo. Os documentos, que até o
momento só podem ser lidos por estudiosos por convite especial, contém registros de 1922 a
1939, que cobrem o período em que o papa Pio XII, que ocupou o posto no Vaticano durante a
Segunda Guerra Mundial, era o embaixador do Vaticano em Berlim. No entanto, o Vaticano
admite que arquivos relativos ao período entre 1931 e 1934 foram ―quase completamente
destruídos ou perdidos‖ durante o bombardeio de Berlim e um incêndio. Muito conveniente!

O historiador católico Paul Johnson estimou que 40% dos integrantes da SS (um verdadeiro
―Estado-dentro-do-Estado‖ do Regime Nazista) eram católicos praticantes que se confessavam.
Nenhum chegou sequer a ser ameaçado de excomunhão.

Um caso interessante: Joseph Goebbels foi o único nazista a ser excomungado da Igreja
Católica. Motivo: se casou com uma protestante divorciada! Cômico, não?

Avalia-se em 50 ou 60 milhões o número de pessoas que morreram em consequência da


guerra. As perdas foram superiores na Europa Oriental: estimam-se 17 milhões de mortes civis
e 12 milhões de mortes militares para a União Soviética, 6 a 7 milhões para a Polônia
(primariamente civis), enquanto que na França o número rondaria os 600 000. O Holocausto
comandado pelas autoridades nazistas, como parte da ―solução final‖ para o ―problema judeu‖,
levaria ao genocídio de cerca de seis milhões de judeus nos campos de concentração, para
além de outras pessoas consideradas indesejáveis, como membros da etnia cigana, eslavos,
homossexuais, portadores de deficiência, ateus e dissidentes políticos. Milhares de judeus
eram usados como cobaias em diversas experiências, o que acarretou a propagação de
doenças como tifo e tuberculose. Após a guerra cresceram as pressões sobre a Grã-Bretanha
para o estabelecimento de um estado judaico na Palestina; a fundação do estado de Israel em
1948 resolveria a questão dos judeus sobreviventes na Europa, já que parte considerável deles
migrou para o novo estado.

Um bom filme que mostra a ascenção de Hitler, desde que era um reles soldado até mostrar-
se como líder político na Alemanha é ―Hitler - The Rise of the Evil―, produzido pelo diretor
Christian Duguay, e ganhou dois Prêmios Emmy, alem de receber outras cinco indicações
importantes. Começa por fazer o retrato da mente jovem e em desenvolvimento de Hitler,
acompanhando-o nos seus anos de formação e em como evolui no homem que explorou a
Alemanha, que apelou por um líder que pudessem seguir. Motivado pela raiva e distorcido pelo
ego, Hitler luta num mundo que acredita dever-lhe algo, seduzindo a Alemanha numa dança
macabra de rendição e controle.

Não, Hitler nunca foi ateu e seus ministros, menos ainda. Foi religioso desde o nascimento e
morreu religioso, independente de como ele pensava que a religião era ou devia ser, não
importa. O que importa é que a mentira descarada que ele era ateu, fazendo com que todas as
pessoas que decidiram optar por não venerar nenhuma entidade supranatural tenham sua
moral e ética questionadas por pessoas que seguem pastores que tentam passar em
aeroportos com dinheiro escondido em Bíblias, e promovem ódio a membros de outras
religiões, ou padres pedófilos ou que possuem a moral tão rasteira que qualquer grão de areia
parece o Everest.

Ser ateu não é garantia nenhuma de que uma determinada seja imensamente boa ou
cruelmente perversa. É uma filosofia pessoal, onde pessoas boas e más decidem se querem
seguir uma divindade ou não. O mesmo serve para os religiosos, pois nenhuma crença fará
com que você seja melhor pessoa, e se o fizer, é pena. Se você é bom só para ganhar um
lugar no céu ou para fugir do Inferno, então – parafraseando Albert Einstein – você faz parte

325
de um grupo bem miserável. Assim, o problema não é se você acredita num deus será
imediatamente mau. Mas também não fiquem vociferando por aí que qualquer um que siga
uma religião é bom-moço, cumpridor de leis, amável e justo. A História demonstra que nem
todas as pessoas religiosas são tão éticas e possuintes de bom caráter,e sim: podem nascer
verdadeiros monstros que se apegam a um livro religioso.

Pense nisso quando você sentar na sua igreja ou templo favorito e veja o mais fervoroso
membro de sua congregação rezando com fervor. Nunca se sabe que mal se esconde nos
corações humanos.

Evangelismo: a maior mentira da História

Introdução

Este não é um opúsculo acadêmico, no sentido estrito do termo. E nem mesmo poderia ser:
qualquer professor ou pesquisador ligado a uma universidade estaria se expondo a perder sua
cadeira ou ajuda de custo para pesquisa, se se atrevesse a publicar algo de teor parecido com
esta obra. Pois, de fato, para muitos esta obra será considerada execrável, blasfema, digna de
ser queimada após a leitura. E isso, pelo simples fato de que aqui, em não muitas páginas
repletas de citações, viemos desmascarar a maior mentira que já foi propagada em toda a
história da Humanidade. Fazemos isso não por desconsiderar aquele que teve seus
ensinamentos criminosamente deturpados por grupos fanáticos, sedentos de poder, coisa que
ele mesmo certamente desaprovaria de forma extremamente veemente.

Estamos, sim, honrando a memória de um número gigantesco de inocentes que foram


massacrados num espaço de vários séculos, unicamente porque não queriam se curvar
perante a grande mentira. E também em honra a esses heróis inocentes, que decidimos que
este trabalho seria lançado apenas virtualmente, no formato de um e-book, podendo ser
livremente distribuído por quantos assim o desejem desde que inalterado em seu teor (‖sine
adulterare―). Num mundo corrompido, em que mercenários se levantam em todos os campos
com a única intenção de saciar sua sede por dinheiro, optamos em reverenciar o nobre
costume da Velha Tradição, que não permite que se faça da religião um comércio. Estamos
certos de que fundamentalistas de todos os matizes não aprovarão esta obra, que certamente
tentarão desacreditar como ―coisa do demônio‖; afinal, estaremos aqui gritando para todo o
mundo a respeito do mal que fizeram e ainda fazem à Humanidade. Porém, não serão mais
inocentes os fundamentalistas que conseguirem ler todo este trabalho; as mentiras que

326
divulgam, muitas vezes crendo tratarem-se de verdades incontestáveis, caem como castelos
de cartas diante do vento poderoso da História das antigas civilizações, notadamente da
gloriosa Civilização Egípcia, por razões ligadas estreitamente às mesmas mentiras que tem
sido apregoadas há tantos séculos.

Também teremos uma pequena parte demonstrando os métodos utilizados para que a grande
mentira fosse imposta à força às populações de todo o mundo, com ênfase na Europa, por
termos relatos históricos confiáveis à disposição, e por nos mostrar que, basicamente, os
mesmos métodos baixos de caluniação e descrédito estão em uso até hoje contra os que não
querem mais seguir a grande mentira. Nos abstivemos deliberadamente de encerrar o
presente com uma ―conclusão‖; não porque nos faltem condições para tal, mas sim para
deixar ao leitor espaço para tirar suas próprias conclusões.

O início da trama

É crença muito difundida, e pouco analisada, de que os cinco primeiros livros da Bíblia teriam
sido escritos por Moisés. Os próprios teólogos não mais crêem nisso, embora praticamente não
se comente a este respeito dentro das igrejas, e quando se comenta, o piedoso objetivo do
comentário quase sempre é classificar os teólogos como ―hereges‖. De acordo com o que em
Teologia se chama de ―alta crítica‖ – que trata de questões referentes à autoria e integridade
dos textos bíblicos – , os referidos livros foram escritos por volta de 700 a.E.V 1, ou seja,
muitos séculos depois dos acontecimentos narrados. A respeito de Moisés, o suposto autor
desses livros, os pesquisadores Knight e Lomas, em sua obra ―A Chave de Hiram‖, informam
que:

―[...]Mas antes de nos aprofundarmos na questão das datas é importante lembrar aquilo que
sabemos sobre esse homem chamado Moisés e o que a Bíblia nos conta sobre os israelitas e
seu novo deus. Percebemos que o nome Moisés é verdadeiramente muito revelador.
Estranhamente, a Bíblia Católica Romana Douai informa a seus leitores que significa ―salvo das
águas‖, quando na verdade quer simplesmente dizer ―nascido de‖. Esse nome Moisés sempre
requeria um outro nome que o prefixasse, como por exemplo, Thotmoses (nascido de Thot),
Ramsés (nascido de Rá) ou Amenmosis (nascido de Amon). Apesar do elemento ―moisés‖ ser
soletrado de maneiras diversas em outras línguas que não o egípcio, significa sempre o
mesmo, e nos parece provável que o próprio Moisés ou talvez algum escriba posterior tenha
abolido da frente de seu nome o nome de algum deus egípcio, alguma coisa assim como tirar o
Donald de um nome escocês, deixando-o apenas com o Mc, em vez de McDonald. A definição
católica romana está provavelmente errada, mas se existir alguma verdade histórica nessa
idéia, pode ser que o nome de Moisés tenha sido nascido do Nilo‖, e então ele se chamaria
Hapymoses‖ (grifamos).

―[...]. Qualquer Faraó que desse uma ordem dessas estaria abrindo mão de seu direito a uma
vida eterna quando seu coração fosse pesado. Além do mais, em termos práticos teria sido
muito desagradável e pouco saudável ter milhares de corpos em decomposição flutuando na
praticamente única fonte de água potável da população. De acordo com o Antigo Testamento,
a mãe de Moisés estava decidida a não permitir que seu filho morresse, portanto, colocou-o
nos juncos da beira do Nilo em uma cesta impermeabilizada com piche, na qual ele foi
encontrado pela filha do Faraó. Faz tempo já se percebeu que esse episódio de nascimento é
quase idêntico ao de Sargão I, o rei que dominou a Babilônia e a Suméria centenas de anos
antes de Moisés. Uma comparação rápida mostra as similaridades óbvias:

Sargão

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Minha inconstante mãe Concebeu-me: e me teve Em segredo Ela me colocou em uma cesta de
vime, com betume selando A tampa. Ela me atirou ao rio, Que não me cobriu.

Moisés

… uma mulher Levita. concebeu e teve um filho… ela o escondeu por três meses. Mas não
podia escondê-lo mais. Então ela conseguiu uma cesta de vime, tornou-a impermeável com
barro e Piche, colocou-o na cesta. E a colocou nos juncos da Margem do Nilo.―(grifamos)

Temos, logo de início, três valiosas informações: primeiro, o nome de Moisés estava
originalmente ligado ao de uma divindade do panteão egípcio. Os autores sugerem que isso se
deva ao fato de que Moisés teria de fato um papel importante na corte egípcia de então.
Segundo, a monstruosa ordem atribuída a Faraó no sentido de que todos os bebês hebreus do
sexo masculino que nascessem fossem eliminados, estaria em total desacordo com os
princípios éticos e religiosos do Egito, e faria com que o Faraó perdesse seu direito à vida
eterna. Curiosamente, o Livro dos Mortos egípcio mostra que uma das perguntas do Tribunal
de Osíris, que tinham que ser respondidas pelos mortos, era se a pessoa havia sujado as
águas do Nilo – que seria então do egípcio que enchesse o Nilo de cadáveres! Em terceiro
lugar, temos a constatação da semelhança entre as histórias de Moisés e Sargão I da
Babilônia. É interessante notar que o atual alfabeto hebraico é, na verdade, assírio, e foi
adquirido exatamente durante o período do exílio na Babilônia. Isso parece reforçar a visão da
Alta Crítica segundo a qual os livros do Antigo Testamento foram escritos a partir do ano 700
a.E.V.

A narrativa bíblica diz que Moisés teria libertado o povo hebreu da escravidão do Egito, e que
seus pedidos a Faraó eram no sentido de que o povo fosse ao deserto oferecer um sacrifício a
Yahweh, o deus do povo de Israel. Porém, a esse respeito a História registra que

―Após a expulsão dos hicsos, semitas de todos os tipos, ai incluídos os Habiru, devem ter-se
tomado bastante impopulares, e isso explicaria porque os sempre amigáveis egípcios
subitamente escravizaram muitos ou todos os remanescentes em seu país durante a década
de 1560-1550 a.C. Inscrições dos séculos XVI e XV a.C. foram encontradas dando detalhes
desses escravos Habiru e de seus trabalhos forçados. Uma delas conta como era grande o
número dessas pessoas forçadas a trabalhar em minas de turquesa o que deve ter sido
extremamente perigoso sem ventilação e com archotes queimando todo o oxigênio. Foi
interessante perceber que essas minas estavam a muito pouca distância da montanha de
Yahweh, o Monte Sinai, nas montanhas ao Sul da península de Sinai. Seria isso uma
coincidência, ou poderia ser que o movimento de escravos Habiru tivesse se dado aqui em vez
de no próprio Egito? Achamos registros que indicam que apesar desses protojudeus falarem a
língua canaanita, eles adoravam deidades egípcias e ergueram monumentos aos deuses Osíris,
Ptah e Hator, o que não combina com a imagem dos nobres e escravizados seguidores de
Yahweh ansiosos para serem levados a Jerusalém pelo ―deus de seus pais‖ (grifamos).

Quem quer que já tenha ao menos lido a Bíblia conhece a expressão ―Eu sou o SENHOR, que
te tirou do Egito‖, repetida inúmeras vezes em todo o Antigo Testamento (como em Êxodo
20:2 , Deuteronômio 8:14 e Deuteronômio 20:1 , por exemplo). Esta expressão vem
comumente após alguma determinação apresentada como uma ordem direta de Yahweh, que
não poderia ser desobedecida. Porém, acabamos de perceber que toda a história de Moisés
está extremamente ―mal contada‖; há a inegável cópia da história de Sargão I da Babilônia, o
nome Moisés tem significado totalmente diferente do que fomos acostumados a acreditar e,
fato igualmente ou até mesmo mais importante, há registros históricos de que os hebreus
(habirus) no Egito não cultuavam Yahweh como seu deus, e sim, as deidades egípcias. Os

328
mesmos autores lembram da divergência existente a respeito da data em que Moisés teria
vivido, sem mencionar, porém, uma questão decorrente da narrativa bíblica: segundo a Bíblia,
Moisés feriu o Egito com dez pragas devastadoras; pela narrativa, o Egito teria ficado
completamente arrasado, devido à natureza e extensão das pragas. Porém, não há nenhum
registro na história do Egito que pelo menos sugira que semelhantes calamidades possam ter
ocorrido na extensão narrada pela Bíblia; de outra forma, nos parece evidente que teria sido
extremamente fácil fixar a época exata da existência de Moisés e do tão falado ―êxodo‖! Já foi
mencionado o fato de que, excetuando-se a praga da morte dos primogênitos, todas as outras
nada mais são do que fenômenos naturais, que já foram observados várias outras vezes,
inclusive a vermelhidão das águas do Nilo, como mencionado pelo próprio Werner Keller em ―A
Bíblia tinha razão‖.

Estas observações são extremamente importantes, uma vez que os dogmas explicitamente
autoritários utilizados como pretexto para se fazer um número absurdamente alto de vítimas
de todas as idades, em vários séculos de história 2, baseiam-se em narrativas que, à luz de
fatos históricos documentados, mostram-se notoriamente manipuladas em seu teor. Não
entraremos aqui em investigações sobre os diversos (e possivelmente ímpios e sórdidos)
motivos que poderiam ter levado os antigos sacerdotes e escribas a legitimarem tamanha
falsificação; nosso objetivo é, antes de mais nada, provocar a reflexão do leitor, despertar o
desejo de conhecer a verdade por si próprio, para que o mesmo jamais se deixe levar por
―verdades‖ supostamente absolutas, ―reveladas‖ por algum ―profeta‖ ou ―iluminado‖. Nem
mesmo nos arvoramos em detentores de nenhuma verdade absoluta; o único ―título‖ que nos
habilita a falar sobre este assunto é o de ex-seminarista, tendo cursado o primeiro ano do
Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro, com aprovação em todas as disciplinas,
durante o ano de 1999 E.V. Outrossim, fazemos questão de citar as fontes das informações
aqui reproduzidas, a fim de que qualquer pessoa interessada em desmascarar a presente ―obra
do diabo‖ possa descobrir por si mesma onde estão, respectivamente, as verdades e as
mentiras.

O grande “mestre iniciado” e incompreendido

É amplamente difundida no mundo a crença em que Jesus era o ―cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo‖ (Evangelho de João 1:29). Já vimos, anteriormente, que a definição de
―pecado‖ está inserida em um contexto dogmático que se baseia em narrativas que, à luz da
História, mostram-se comprovadamente deturpadas. Estariam também deturpadas as
narrativas que temos a respeito de Jesus?

A maioria das pessoas conhece apenas as narrativas bíblicas sobre Jesus, contidas nos
evangelhos atribuídos aos apóstolos Mateus, Marcos, João e Lucas (sendo que Lucas não
chegou a conhecer Jesus pessoalmente, como ele mesmo admite), e tende a acreditar que são
os únicos relatos disponíveis a respeito do Mestre. Entretanto, isso não é verdade; segundo os
próprios teólogos admitem, existem pelo menos mais onze evangelhos datados da mesma
época dos quatro evangelhos chamados canônicos 3. De acordo com os gnósticos, esse número
seria de algumas dezenas. Porém, nos limitaremos aos onze mencionados, por estarem já
relativamente bem difundidos, inclusive pode-se fazer o download dos mesmos via internet
com bastante facilidade. Estes outros evangelhos, doravante chamados aqui de ―evangelhos
apócrifos‖, trazem suas próprias versões da história de vida de Jesus. Alguns episódios
lembram bastante os canônicos, porém, há algumas narrativas ligeiramente diferentes, outras
completamente estranhas ao contexto bíblico como o conhecemos normalmente. No evangelho
de Pedro (que não possui divisões em capítulos e versículos por não se tratar de texto
canônico e sim apócrifo) podemos ler as seguintes passagens:

329
―[...]Como Maria havia lavado as fraldas do Senhor Jesus e as estendera sobre umas
madeiras, o menino possuído pegou uma das fraldas e colocou-a sobre sua cabeça.
Imediatamente os demônios fugiram, saindo pela boca, e foram vistos sob a forma de corvos e
serpentes. O menino foi curado instantaneamente pelo poder de Jesus Cristo e se pôs a louvar
o Senhor que o havia libertado e rendeu-lhe mil ações de graça‖.

―Havia lá um filósofo, astrônomo sábio, que perguntou ao Senhor Jesus se ele havia estudado
a ciência dos astros. Jesus, respondendo-lhe, expôs o número de esferas e de corpos celestes,
sua natureza e sua oposição, seu aspecto trinário, quaternário e sêxtil, sua progressão e seu
movimento de leste para oeste, o cômputo e o prognóstico e outras coisas que a razão de
nenhum homem escrutou.‖

―[...]José concordou e também Maria. Levaram, pois, a criança para o professor e assim que
ele o viu, escreveu o alfabeto e pediu-lhe que pronunciasse Aleph. Quando ele o fez, pediu-lhe
para dizer Beth. O Senhor Jesus disse-lhe: - Dize-me primeiro o que significa Aleph e aí então
eu pronunciarei Beth. O professor preparava-se para chicoteá-lo, mas o Senhor Jesus pôs-se a
explicar o significado das letras Aleph e Beth, quais as letras de linhas retas, quais as oblíquas,
as que tinhas desenho duplo, as que tinham pontos, aquelas que não tinham e porque tal letra
vinha antes da outra, enfim, ele disse muitas coisas que o professor jamais ouvira e que não
havia lido em livro algum. O Senhor Jesus disse ao professor: - Presta atenção ao que vou te
dizer! E pôs-se a recitar clara e distintamente Aleph, Beth, Ghimel, Daleth, até o fim do
alfabeto. O mestre ficou admirado e disse: - Creio que esta criança nasceu antes de Noé.
Virando-se para José, acrescentou: - Tu o conduziste para que eu o instruísse, mas esta
criança sabe mais que todos os doutores. Depois disse a Maria: Teu filho não precisa de
ensinamentos.‖

A narrativa de Pedro mostra Jesus versado em Astrologia, apesar da clara e severa proibição
da Torah:

Deuteronômio 17:3-5

indo servir outros deuses ou adorando o sol, a lua, ou o exército dos céus - o que eu não
mandei -, se te derem aviso disso, logo que o souberes, farás uma investigação minuciosa. Se
for verdade o que se disse, se verificares que realmente se cometeu tal abominação em Israel,
farás conduzir às, portas da cidade o homem ou a mulher que cometeu essa má ação,
e os apedrejarás até que morram.

Em relação às letras do alfabeto hebraico, mostrou também conhecimentos da Kaballah


judaica. A primeira passagem é de um notório exagero: as fraldas que Jesus usava quando era
um bebê tinham poder sobre espíritos malignos! Isto mostra que estes relatos, tendo sido
escritos décadas depois dos acontecimentos, contém diversas imprecisões e mistificações. De
qualquer modo, é de se notar que, descontado o exagero de se dizer que Jesus, ainda criança,
já era um exímio conhecedor de Astrologia e Kaballah, a menção a esses conhecimentos
mostra que ele era certamente um iniciado, ou seja, não era um homem comum. Outro fato
digno de nota em relação aos apócrifos é que nem todos mencionam a ressurreição de Jesus,
apesar de ser o dogma fundamental do Cristianismo como o conhecemos. Alguns sequer
mencionam a crucificação. Eis uma explicação lógica para o fato de que, na própria Bíblia,
podemos facilmente verificar que os primeiros cristãos consideravam-se judeus, e porque não
havia consenso entre eles em relação à necessidade ou obrigatoriedade de pregar o evangelho
aos não judeus: como, de fato, um evento monumental como a ressurreição poderia ter
passado despercebido por diversos autores destes evangelhos apócrifos? Como a alegada
―grande comissão‖ de Jesus para que os discípulos pregassem ―a toda criatura‖ poderia, como

330
o próprio Novo Testamento deixa claro, ser notoriamente desconhecida entre vários destes
discípulos, se fosse verdadeira?

Podemos considerar, por sinal, que a doutrina conhecida hoje como ―cristã‖ é, na verdade,
―Paulina‖, ou seja, de autoria ou pelo menos grandemente influenciada por Saulo de Tarso.
Bittencourt afirma que

―Logo após a morte de Paulo em Roma por volta do ano 64, surge naquela mesma cidade o
Evangelho de Marcos, provavelmente no ano 65, e que serviria de base a duas outras grandes
obras futuras. Cópias deste Evangelho logo encontraram seu caminho até as mais distantes
partes do império.

Partindo do trabalho de Marcos, cuja conexão com Pedro e com a cidade de Roma lhe dava
grande autoridade, Mateus escreve seu Evangelho provavelmente em Antioquia da Síria e
Lucas na Grécia, o primeiro entre 80-85 e o último entre 85-90.

E por fim, parecendo desconhecer os outros três, o Quarto Evangelho surge na última década
do século, provavelmente em Éfeso‖(grifamos).

Podemos inferir claramente deste texto, extraído de um livro de Teologia Cristã, é bom frisar,
que Paulo teria exercido uma considerável influência sobre os autores dos quatro evangelhos
considerados canônicos pelas igrejas, uma vez que suas cartas teriam sido escritas antes de
qualquer um deles. A respeito de Paulo de Tarso, Knight e Lomas nos informam que

O assassinato do Rei dos Judeus pelo procurador romano criou muita publicidade, em toda
Israel e mais além, e pessoas começaram a se interessar pelo movimento messiânico. Uma
dessas pessoas foi um cidadão romano de nome Saulo, vindo de uma área que hoje é ao sul
da Turquia. Seus pais haviam se tornado judeus da Diáspora e ele era um jovem que tinha
sido criado como judeu mas sem nenhuma das atitudes e cultura dos puros seguidores de
Yahweh em Qumran. A idéia de que seu trabalho era perseguir cristãos é uma insensatez
óbvia, porque esse culto não existia nessa época. Os Nazoreanos, agora liderados por Tiago,
eram os judeus mais judaicos que é possível imaginar e o trabalho de Saulo era simplesmente,
por conta dos romanos, desarticular qualquer movimento remanescente que buscasse a
independência.

Os Mandeanos do sul do Iraque, como já discutimos, são Nazoreanos que foram expulsos de
Judá e cuja migração pode ser datada com precisão em 37 E.V.: portanto, é quase certo que o
homem que os perseguiu foi o próprio Saulo, aliás, Paulo. Saulo deve ter sido o terror do
movimento judaico de libertação por dezessete anos, já que era o ano de 60 d.C. quando ele
subitamente se viu cego na estrada para Damasco. Hoje em dia se acredita que Saulo não
tinha autoridade para prender ativistas em Damasco mesmo se lá houvesse algum, o que
parece bastante improvável, e seu destino era, no entender de muitos estudiosos, a
Comunidade de Qumran, que era sempre chamada de ―Damasco‖. Sua cegueira e a
recuperação da visão foram simbólicos de sua conversão a um dos partidos da causa
Nazoreana. O fato do destino de Saulo ser efetivamente Qumran está claro em Atos 22:14, em
que lhe informam que ele seria apresentado ao ―Justo‖, uma referência óbvia a Tiago.
(grifamos)

Logo no primeiro século, a doutrina dos Nazoreanos, os verdadeiros seguidores de Jesus, já


havia chegado em vários outros países, inclusive nas Ilhas Britânicas, onde foi estabelecido o
chamado Cristianismo Celta. Os cristãos celtas não acreditavam na divindade de Jesus, nem
aceitaram a supremacia de Roma e, por estes motivos, seus líderes foram massacrados pela

331
igreja romana. É de se notar, pela leitura das cartas paulinas, que o cristianismo paulino já
surgiu com uma evidente vocação para a anatematização de pensamentos discordantes. Sobre
isso Knight e Lomas nos esclarecem que

―Uma seita chamada de os Ebionim ou Ebionitas era descendente direta da Igreja de Tiago,
seu nome sendo exatamente o mesmo que os Qumranianos usavam para descrever-se -
Ebionim, que como sabemos significa ―os Pobres‖. Esta seita tinha os ensinamentos de Tiago,
o Justo, em alta conta, e acreditava que Jesus havia sido um grande mestre mas um homem
comum, não um deus. Eles ainda se consideravam como judeus e acreditavam que Jesus tinha
sido o Messias após sua ―coroação‖ por João. Há registros que também mostram que eles
odiavam a Paulo, a quem viam como o inimigo da verdade. Por muito tempo depois da morte
de Jesus e Tiago, os termos Ebionita e Nazoreano eram usados para significar a mesma coisa,
e essas pessoas eram condenadas, sob ambos os nomes, como hereges pela Igreja de Roma.
No entanto todos os descendentes da Igreja de Jerusalém, exceto o desvio Paulino,
acreditavam que Jesus tinha sido um homem e não um deus, portanto, é apenas o próprio e
enfeitado Vaticano e seus seguidores que são os verdadeiros pagãos ou ―hereges‖(grifamos).

As discordâncias entre os cristãos do primeiro século eram notórias, sendo inclusive admitido
pelos teólogos que os livros do Novo Testamento foram escritos, entre outros motivos, com o
propósito de combater heresias. Esta vocação para amaldiçoar os que crêem de outra forma
fez com que a igreja escrevesse algumas das mais infames e vergonhosas páginas de toda a
História da Humanidade.

Discípulos envergonhando seu Mestre e sua doutrina

Logo no início da história da igreja, seus seguidores já estavam divididos em vários partidos,
sendo que o partido paulino, para infelicidade da Humanidade, acabou prevalecendo sobre os
demais e veio a se tornar aquilo que conhecemos como igreja cristã. Outros grupos de
seguidores, além dos Nazoreanos, eram os vários grupos gnósticos, sendo que alguns desses
já existiam antes de Jesus, e absorveram seus ensinamentos. Os gnósticos também não
acreditavam na divindade de Jesus, considerando-o como um iniciado. A ligação entre Jesus e
a comunidade de Qmram, bem como seus conhecimentos de Astrologia e Kaballah,
demonstrados no evangelho apócrifo de Pedro, mostram que, de fato, ele teria sido um
iniciado. Os ensinos contidos em alguns evangelhos apócrifos mostram, entre outras
diferenças em relação ao cristianismo conhecido, que a doutrina de Jesus, ao contrário do
cristianismo paulino, era tolerante e valorizava as mulheres, considerando-as tão dignas de
honra quanto os homens.

Infelizmente, não foram estas as idéias que prevaleceram na igreja, que acabou se
transformando numa monstruosa máquina totalitária, exterminando comunidades inteiras,
como na cruzada conta os cátaros (uma seita cristã gnóstica) no sul da França do século XIII.
Depois de perseguir e quase eliminar os gnósticos, que passaram a praticar suas religiosidades
em sociedades secretas, o totalitarismo eclesiástico de Roma voltou-se contra os pagãos, não
porque eles realmente praticassem as absurdas torpezas descritas no infame ―Malleus
Maleficarum―– o famigerado ―manual da caça às bruxas‖ da Inquisição – mas simplesmente
porque a Antiga Religião fazia felizes os seus praticantes, que não viram razão para abandoná-
la e filiar-se à igreja, apesar das reiteradas e mentirosas pregações no sentido de que os
Antigos Deuses nada mais eram do que diabos disfarçados, e que as alegres reuniões pagãs,
os sabbaths, eram cultos demoníacos. Nesta insana campanha de perseguição e difamação, as
mais grotescas e inverossímeis histórias foram criadas sobre sacrifícios de bebês,
transformação de pessoas em animais, e refeições imundas durante as celebrações. Até
mesmo animais, supostamente associados ás bruxas, foram considerados amaldiçoados, e

332
ainda hoje há quem acredite, por exemplo, que gatos ―trazem má sorte‖, que ouvir uivos de
cães ou pios de coruja significa que alguém conhecido irá morrer, e outras tolices do mesmo
tipo. Porém a despeito do absurdo conteúdo do ―Malleus Maleficarum‖, ele foi aceito até
mesmo pelas igrejas reformadas como ―referência‖ em relação à bruxaria e, em nome dessa
estupidez, estima-se que nove milhões de pessoas tenham sido executadas pela Inquisição
entre os séculos XV e XVIII. Este nefando livro, certamente uma das mais abomináveis coisas
já engendradas pela mente humana, advogava o uso da tortura para obtenção de confissões, e
fornece detalhes sobre instrumentos e métodos de tortura a serem utilizados. Sobre o Malleus
Maleficarum, seus autores e demais autoridades eclesiásticas que apoiaram esta obra
hedionda, cabe o comentário de Gardner que ―enquanto existirem padres assim não haverá
necessidade de se evocar demônios‖. Gardner reproduz o comentário de um piedoso clérigo
que reclamava que, numa região da Europa, ―ninguém comentava sobre outra coisa a não ser
o último sabbath, e não se esperava outra coisa que não fosse o próximo‖.

Em nome de um ―Mestre Iniciado‖ que jamais pregou a violência ou o extermínio de


seguidores de quaisquer outros cultos, pessoas inocentes foram, durante vários séculos,
cruelmente torturadas e assassinadas, pelo simples fato de seguirem outra religião.
Comunidades inteiras foram exterminadas. Culturas inteiras perderam-se totalmente, sem que
nenhum registro seja conhecido, devido ao vandalismo e à intolerância dos missionários. Em
nome de um Mestre Iniciado que jamais amaldiçoou seguidores de outras crenças, quaisquer
que elas fossem, seus pretensos seguidores, ainda hoje, espalham o veneno da intolerância
religiosa, inclusive utilizando-se dos mais modernos meios de comunicação para essa hedionda
tarefa. Em nome de um Mestre Iniciado que ensinou seus discípulos a serem verdadeiros, seus
atuais seguidores não hesitam em mentir descaradamente a respeito de outras religiões, a fim
de apresentá-las como ―enganos do diabo‖ e, dessa forma tão pouco digna, conseguir novos
adeptos. Não somente os espíritas, esotéricos e praticantes das religiões afro são assim
caluniados: até mesmo o catolicismo tem sido reiteradamente atacado por outras igrejas, que
o consideram ―idólatra‖, sem considerar a ―idolatria‖ que tem sido praticada e divulgada, com
ampla cobertura de mídia e dentro destas mesmas igrejas, em relação aos ―artistas gospel‖, e
mesmo em relação a alguns pastores ―famosos‖.

Em nome de um ―Mestre Iniciado‖ que teve seus primeiros discípulos entre os mais pobres de
Israel, sendo ele mesmo um dos pobres, as atuais lideranças religiosas que dizem ―seguir seus
ensinamentos‖ utilizam-se de diversas formas de pressão psicológica sobre seus
desventurados rebanhos, a fim de amealhar a maior quantia de dinheiro possível. Não se
contentam com o mandamento bíblico do dízimo, certamente insuficiente para financiar o
escandalosamente milionário estilo de vida de muitos dos atuais líderes religiosos: utilizam-se
dos mais variados, absurdos e às vezes manifestamente ridículos pretextos para ―levantar
ofertas‖, fazem permanentes ―campanhas de associação‖, divulgadas através de programas de
televisão e de emissoras de rádio adquiridas por essas lideranças, campanhas estas com os
mais variados nomes, porém, todas com o intuito em comum de arrecadar mais dinheiro.

Em nome de um ―Mestre Iniciado‖ que teria ensinado certa vez seus discípulos a ―dar a César
o que é de César e a Deus o que é de Deus‖, seus atuais seguidores, pretensos
―representantes de Deus na Terra‖, desenvolvem cada vez mais uma obsessão pelo poder
político, muitas vezes deixando clara a intenção de legislar no sentido de impor a observância
de seus dogmas a toda a sociedade, desprezando o conceito de separação entre Estado e
Religião. A atuação de vários destes pretensos ―representantes divinos‖ na política se
caracteriza por uma repulsiva desfaçatez, sendo que vários se envolveram em escândalos de
corrupção política.

333
Em nome de um ―Mestre Iniciado‖ que ensinou seus discípulos a serem fiéis á verdade dos
fatos, alguns de seus pretensos seguidores, logo no início da história do cristianismo, não
hesitaram em falsificar deliberadamente relatos a fim de fazer parecer que estavam pregando
não a doutrina de um grande iniciado, mas do próprio Deus que teria se encarnado na Terra a
fim de livrar a Humanidade do ―engano dos demônios‖, como os atuais seguidores alegam até
hoje quando se referem a qualquer religião de origem não cristã. Estes mesmos pretensos
seguidores do primeiro século não hesitaram em caluniar nem mesmo seus próprios
companheiros, estes sim, discípulos verdadeiros, mas que eram considerados ―hereges‖ e
acabaram sendo perseguidos e anatematizados pelos falsificadores da doutrina.

Em nome de um ―Mestre Iniciado‖ que, segundo os seus atuais seguidores, veio para libertar,
prega-se abertamente contra a liberdade humana, e aqueles que se colocam a favor da
liberdade são considerados ―hereges‖, ―blasfemos‖, ―inimigos de Deus‖. Formas novas de
expressão, novos estilos musicais, livros e filmes tem sido reiteradamente apontados como
―obras do diabo‖, unicamente por apregoarem a liberdade. A pregação insistente de que
manifestações artísticas populares, não cristãs, são necessariamente ―demoníacas‖, com a
conseqûente e pouco disfarçada interdição da apreciação destas manifestações por membros
de várias igrejas, não somente é uma maneira hipócrita de criar um ―mercado alternativo‖
para que ―artistas‖ de talento muitas vezes questionável possam ter seu público, mas mostra
também que o caráter totalitário ainda está bem presente nas mesmas.

Em nome de um ―Mestre Iniciado‖ que, segundo se diz, curava todas as doenças, ainda se
insiste em condenar o uso de preservativos, mesmo diante da epidemia mundial de AIDS, e a
se condenar o sexo antes do casamento, sem se levar em conta que nos tempos antigos as
pessoas casavam-se praticamente ainda na adolescência e não desenvolviam os problemas
psicológicos que podem surgir, decorrentes de um adiamento da experiência sexual em uma
espera muitas vezes longa e absolutamente contrária à natureza humana.

Em nome de um ―Mestre Iniciado‖ que, segundo afirmam, teria prometido o derramamento do


―Espírito Santo‖ e dons espirituais genuínos a todos os que cressem, vemos hoje em inúmeras
comunidades cristãs pessoas enfrentando problemas seríssimos causados por médiuns
exatamente iguais aos médiuns espíritas, sujeitos exatamente aos mesmos acertos ou erros;
porém, ao contrário dos médiuns espíritas conscientes e sérios, estes são extremamente
pretensiosos, ignorantes e irresponsáveis. São tão ou até mais perigosos do que alguns
médiuns espíritas mal orientados, pois estes nem sequer sabem que são simplesmente
médiuns, conhecimento que certamente faria um grande bem às suas almas, embora possa
certamente fazer um grande mal a seus enormes egos. Tais pessoas se julgam revestidas de
santidade e, consequentemente, investidas de infalibilidade, ―profetizando‖ curas e bênçãos de
todos os tipos para pessoas que continuam, porém, doentes e cada vez mais distantes das
bênçãos anunciadas pela própria mente do ―profeta‖ ou por espíritos zombadores, que
encontram amplo terreno para se manifestar livremente em um meio onde muitas pessoas,
geralmente detendo um baixo nível de instrução, se consideram ―espiritualmente infalíveis‖,
simplesmente por se dedicarem a práticas absolutamente inócuas e manifestamente ineficazes
contra a empáfia dos mesmos, como jejuns regulares, e orações prolongadas no alto de
morros tidos como ―locais consagrados à oração‖.

Em nome de um ―Mestre Iniciado‖, que segundo se diz, pregou a humildade, seus atuais
discípulos fazem questão de ostentar vestuário dito ―social‖, numa tola demonstração de
vaidade que, muitas vezes, compromete parte considerável dos rendimentos destes mesmos
discípulos. É de se notar que, apesar de ninguém saber exatamente como os primeiros cristãos
se trajavam, ainda existem muitos que julgam seus companheiros de crença em função do
vestuário utilizado. Existe atualmente, em boa parte das igrejas cristãs, uma crescente

334
obsessão por uma ―prosperidade‖ que, em muitos casos, não passa de mal disfarçada
megalomania, a qual muitas vezes leva a pessoa a uma situação financeira pior, às vezes até
mesmo desastrosa. Apesar disso, e em flagrante constraste com o conceito de humildade, esta
obsessão por bens materiais é estimulada de forma deselegantemente explícita por muitos
chamados ―líderes‖ de comunidades cristãs.

Em nome de um ―Mestre Iniciado‖, que enfrentou e escandalizou os hipócritas do seu tempo


afirmando que meretrizes os precediam no ―Reino dos Céus‖, muitos dos seus atuais pretensos
discípulos, demonstrando total ignorância em relação à misericórdia de tal afirmação, ainda
agem exatamente como os falsos religiosos daquele tempo. Ainda hoje há frequentadores de
comunidades cristãs de diversas orientações que se julgam membros de uma casta superior,
desprezando e referindo-se às pessoas de outras religiões, às vezes até mesmo de outras
comunidades cristãs, como se fossem ―seres inferiores‖.

Em nome de um ―Mestre Iniciado‖, que teria dito a seus discípulos que eles conheceriam a
verdade e ela os libertaria, ―líderes‖ totalmente despreparados, sem um mínimo de cultura, ou
seja, conhecimento (em algumas comunidades ditas cristãs, há ―líderes‖ e ―autoridades da
igreja‖ que mal sabem ler!), nem um mínimo de condições emocionais para cargos de
liderança, oprimem seus rebanhos, impondo-lhes de forma despótica suas próprias opiniões
como verdades absolutas, cujo questionamento ou é ameaçado com o ―fogo do inferno‖, ou dá
lugar a uma sumária e piedosa exclusão da comunidade em questão.

Notas e referências

1 - ALMEIDA, Prof. João Luiz Carvalho - INTRODUÇÃO E ANÁLISE DO ANTIGO TESTAMENTO -


ed. do autor para uso no Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro.

2 - É bom lembrar que, embora em escala um pouco menor, ainda hoje os mesmos dogmas
são utilizados para legitimar discriminações contra pessoas que não seguem cegamente as
ordens das lideranças das religiões dominantes, e.g., a proibição pelo Vaticano do uso de
preservativos e do sexo antes do casamento.

3 - BITTENCOURT, B. P. - O NOVO TESTAMENTO Cânon Língua Texto Rio de Janeiro e São


Paulo, JUERP/ASTE

Cisma do Oriente

Um dos eventos mais significativos na história das religiões é a dissenção entre a Igreja
Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa. Esta dissenção vem de
longa data e tem um nome: Cisma do Oriente. Esta briga entre católicos e ortodoxos e foi a
causadora de sérias disputas e perseguições na Idade das Trevas.

Aqui estudaremos os fatos que levaram a esta briga e tentar entender o motivo das diversas
vertentes cristãs não se entenderem (se é que algum dia seremos capazes de entender).

Relembrando – No século IV Constantino I, primeiro Imperador de Roma a aceitar o


Cristianismo como religião oficial do Império Romano, reuniu no ano 325 E.C., na cidade de
Nicéia, o primeiro concílio ecumênico, que ficou conhecido como 1º Concílio de Nicéia, onde
ficou definida a divindade de tal de Jesus Cristo.

335
As Igrejas Ortodoxas, foram divididas em 5 partes:

 Igreja Católica Ortodoxa de Alexandria;


 Igreja Católica Ortodoxa de Constantinopla;
 Igreja Católica Ortodoxa de Antioquia;
 Igreja Católica Ortodoxa de Jerusalém;
 Igreja Católica Apostólica Romana;

Ainda foram feitos mais seis concílios antes do cisma das Igrejas Ortodoxas e Romana. São
eles:

? Constantinopla I (381)

 Divindade do Espírito Santo, com o ensino da fórmula ―Creio no Espírito Santo, Senhor
que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e
glorificado‖(Símbolo Niceno-Contantinopolitano).
 Condenação de Macedônio, bispo de Constantinopla, que defendia que o Espírito Santo
não era Deus.
 Divisão das Pentarquias.

? Efésio (431)

 Maternidade Divina de Maria. Sim, até aquela época ninguém tinha se decidido se a
gravidez fora divina ou não.
 Condenação de Nestório que se opôs ao termo ―Mãe de Deus‖, porque abordava a
divindade de Cristo de tal maneira que poderia ofuscar sua natureza humana, além de
não aceitar o emprego de imagens, a não ser a cruz.
 Em Cristo uma Hipóstase, a Divina. Jesus era Deus e pronto, acabou-se!

? Calcedônia (451)

 Dualidade da natureza em Jesus Cristo, reafirmando que ele era homem e deus ao
mesmo tempo.
 Condenação de Eutiques, que ensinava o monofisismo, ou seja, a doutrina que admitia
em Jesus Cristo uma única natureza, a divina. Como podem ver, uma hora não sabiam
se a natureza de Jay Cee era divina, humana ou ambas. Eles esqueceram de perguntar
ao próprio o que ele achava, mas aí é uma questão de fé de cada um.

? Constantinopla II (553)

 Condenou as obras escritas pelos seguidores do herege Nestório.

? Constantinopla III (680)

 Dualidade de Vontades em Jesus Cristo, não contrariadas uma pela outra, mas a
vontade humana sujeita à vontade Divina, uma espécie de ―esquizofrenia santa‖.
 Condenação do Monotelismo, que defendia que o Jóquei de Jegue detinha apenas uma
única natureza (a divina, é claro). Eutiques, arquimandrita dum mosteiro de
Constantinopla, defendeu que, havendo uma só pessoa em Jay Cee, também devia
haver uma só natureza, admitindo que a humana fora absorvida pela divina.

? Nicéia II (787)

 Condenação do Iconoclasmo, para a erradicação da adoração de ícones religiosos, como


as figuras sacras. Não sei qual é a diferença entre adorar ícones e imagens. É bem
similar a adorar três figuras e se dizer monoteísta. Enfim…

336
Entendendo a Ortodoxia

Muito bem, depois de um breve resumo dos concílios, vamos examinar a


Ortodoxia.

A Igreja Católica Apostólica Ortodoxa (mais conhecida hoje por Igreja Ortodoxa –
do grego ?????, reto, e ???? doutrina) tem entre seus fiéis os chamados de
―cristãos ortodoxos‖. A Ortodoxia é formada por diversas igrejas cristãs orientais
que professam a mesma fé e, com algumas variantes culturais, praticam
basicamente os mesmos ritos.

A autoridade suprema na Santa Igreja Católica Apostólica Ortodoxa é o Santo Sínodo


Ecumênico, que se compõe de todos os Patriarcas chefes das Igrejas Autocéfalas e os
Arcebispos Primazes das Igrejas Autônomas, que se reúnem por chamada do Patriarca
Ecumênico de Constantinopla e sob a sua presidência, em local e data que ele determinar.

A autoridade suprema regional em todos os Patriarcados autocéfalos e Igrejas Ortodoxas


autônomas é da competência do Santo Sínodo Local, que é composta dos Metropolitas chefes
das arquidioceses sob a presidência do próprio Patriarca ou Arcebispo que convoca a reunião,
marcando a data, o local e a ordem do dia.

Hoje em dia, tais Igrejas Ortodoxas Autocéfalas incluem os 4 antigos patriarcados orientais
(Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém), assim como as outras dez Igrejas
Ortodoxas que surgiram nos séculos posteriores, quais sejam: Rússia, Sérvia, Romênia,
Bulgária, Geórgia, Chipre, Grécia, Albânia e Repúblicas Tcheco e Eslováquia.

Por iniciativa própria, o Patriarcado de Moscou concedeu o status de autocefalia a maior parte
de suas paróquias nos Estados Unidos que passou a se denominar Igreja Ortodoxa na
América; não obstante, o Patriarcado de Constantinopla reclama para si a prerrogativa de
outorgar autocefalia e, por este motivo, outras Igrejas Ortodoxas ainda não reconhecem o
status da Igreja Ortodoxa na América.

Existem 5 Igrejas Ortodoxas Autônomas que funcionam de modo independente no que diz
respeito aos seus assuntos internos, porém, sempre dependendo canonicamente de uma
Igreja Ortodoxa Autocéfala. Na prática, isto significa que a ―cabeça‖ de uma Igreja Autônoma
deverá ser confirmada em ofício pelo Santo Sínodo de sua Igreja-Mãe. Pensou que era feito de
qualquer jeito? Não é não.

As Igrejas Ortodoxas de Finlândia e Estônia são dependentes do Patriarcado Ecumênico,


enquanto que a de Monte Sinai depende do Patriarcado de Jerusalém. A estas 3 Igrejas
Ortodoxas Autônomas deveríamos acrescentar as outras 2 Igrejas que Moscou outorgou
autonomia: a Igreja Ortodoxa da China e a Igreja Ortodoxa do Japão, ambas filhas da Igreja
Russa. Tais ações ainda não tiveram o reconhecimento oficial do Patriarcado Ecumênico de
Constantinopla.

Entendendo a Igreja Católica Apostólica Romana

A Igreja Católica Apostólica Romana, ou simplesmente Igreja Católica (ou


abreviadamente ICAR), na perspectiva do número de fiéis, é considerada a principal
organização religiosa do mundo e o ramo mais importante do cristianismo. Ela se
define notavelmente pelas palavras do Credo, como:

UNA – Nela subsiste a única instituição fundada por Cristo para reunir o povo de
Deus;

SANTA – Esposa de Cristo, por sua ligação única com Deus e que visa, através dos
sacramentos, santificar e transformar os fiéis;

337
CATÓLICA – Espalhada por toda a Terra e portando a integralidade do depósito da fé;

APOSTÓLICA – Fundamentada na doutrina dos apóstolos cuja missão recebeu sem ruptura.

Um dos traços que a caracterizam é o reconhecimento do Bispo de Roma (Papa para os


íntimos), como sucessor direto do apóstolo Pedro e como vigário de Jesus Cristo. A adjetivação
―católica‖ tanto é aplicada à Igreja Latina (de ―rito latino‖) quanto às Igrejas orientais
católicas. Entretanto, é mais empregada referindo a primeira, sendo ―católicos‖ os fiéis nela
batizados, ou batizados em outras Igrejas particulares, de rito diferenciado, mas que nela
tenham professado fé.

Segundo Marcos 16:14-15, aos apóstolos foi cabido divulgar o evangelho (boa nova) a toda
criatura de todas as nações. Conseguem imaginar o camarada pregando o evangelho para uma
ema? Eu também não. Que tal um pigmeu antropófago? Um pensamento que não deixa de ter
certo ―sabor‖.

Muito bem, Deus (supostamente) concedeu a Pedro, o pescador de homens (ui!), a ser
transmitido a seus sucessores, da mesma forma permanece todos apóstolos de apascentar a
Igreja, o qual deve ser exercido para sempre pela sagrada ordem dos bispos. Vocês queriam
saber porque a ICAR ensina que os bispos, por instituição divina, sucederam aos apóstolos
como pastores da Igreja, já que aqueles que os ouvem, ouvem a Jesus Cristo em pessoa, e
quem os despreza, despreza J.C. da mesma forma. A boa e velha ameaça. Típico, não é
mesmo?

Os católicos acreditam na Santíssima Trindade. Os pontos de vista católicos diferem dos


ortodoxos em alguns pontos, incluindo a natureza do Ministério de S. Pedro (o Papado), a
natureza da Trindade e o modo como ela deve ser expressa no Credo Niceno, assim como o
entendimento da salvação e do arrependimento.

Os católicos divergem dos protestantes em vários pontos, incluindo a necessidade da


penitência, o significado da comunhão etc. Esta divergência levou a um conflito sobre a
doutrina da justificação (na Reforma ensinava-se que ―nós justificamo-nos apenas pela fé‖). O
diálogo ecumênico moderno levou a alguns consensos sobre a doutrina da justificação entre os
católicos romanos e os luteranos, anglicanos e outros.

E os cristãos continuam se entender maravilhosamente bem entre si

Sobre a Cisma do Oriente

O Cisma Ocidente-Oriente, Cisma do Oriente ou Grande Cisma foi a cisão (cisma) formal da
unidade da igreja cristã em igreja Oriental Bizantina (Ortodoxa) e a Ocidental (Romana), que
tornou-se documentalmente evidente em 1054.

A palavra cisma, do grego ??????, schisma (de ??????, schizmo, ―dividir‖), significa uma
divisão, normalmente ocorrida numa organização.

Bem, dá-se o nome de Cisma do Oriente ao período compreendido entre 1378 e 1417, durante
o qual dois e, mais tarde, três papas reclamavam a sua legitimidade na direção da Igreja.
Todavia, alguns autores (na visão dos ortodoxos, ―errônea e abusiva‖) designam de Grande
Cisma esta divisão da Igreja do Ocidente nos séculos XIV e XV.

Qual foi a motivação da referida Cisma? Bem, o distanciamento entre as duas igrejas cristãs
tem raízes culturais e políticas muito profundas, cultivadas ao longo de séculos. As tensões
entre as duas igrejas datam no mínimo da divisão do Império Romano em oriental e ocidental,
e a transferência da capital da cidade de Roma para Constantinopla, no século IV. Uma
diferença crescente de pontos de vista entre as duas igrejas resultou da ocupação do oeste
pelos outrora invasores bárbaros, enquanto o leste permaneceu herdeiro do mundo clássico.

338
Enquanto a cultura ocidental se foi paulatinamente transformando pela influência de povos
como os germanos, o Oriente permaneceu desde sempre ligado à tradição da cristandade
helenística. Era a chamada Igreja de tradição e rito grego. Isto foi exacerbado quando os
papas passaram a apoiar o Sacro Império Romano no oeste, em detrimento do Império
Bizantino no leste, especialmente no tempo de Carlos Magno.

Havia também disputas doutrinárias e acordos sobre a natureza da autoridade papal. A Igreja
de Constantinopla respeitou a posição de Roma como a capital original do império, mas
ressentia-se de algumas exigências jurisdicionais feitas pelos papas, reforçadas no pontificado
de papa Leão IX (1048-1054) e depois no dos seus sucessores. Para além disso, existia a
oposição do Ocidente em relação ao cesaropapismo bizantino, isto é, a subordinação da Igreja
oriental a um chefe secular, como acontecia na Igreja de Bizâncio. Uma ruptura grave ocorreu
de 456 a 867, sob o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, patriarca Fócio.

Quando Miguel Cerulário se tornou patriarca de Constantinopla, no ano de 1043, deu início a
uma campanha contra as Igrejas latinas na cidade de Constantinopla, envolvendo-se na
discussão teológica da natureza do Espírito Santo, questão que viria a assumir uma grande
importância nos séculos seguintes.

Roma enviou o cardeal Humberto a Constantinopla em 1054 para tentar resolver este
problema. No entanto, esta visita acabou do pior modo, com a excomunhão do patriarca
Cerulário. Isso foi entendido como a excomunhão de toda a Igreja Bizantina e ao qual o Sínodo
e Cerulário responderam do mesmo modo a Roma, excomungando o papa Leão IX. As Igrejas,
através de seus representantes oficiais, também anatematizaram (denunciaram formalmente)
uma a outra. A porradaria começou e ninguém mais se entendeu.

Todo mundo excomungou todo mundo. Todo mundo foi condenado ao inferno um do outro. O
Rabudão lá de baixo estava rolando de rir e o mundo começou a ficar ainda pior para aqueles
que já não sabiam mais a quem estavam rezando. Foi preciso muita fé para ter-se apegado a
alguma coisa nessa altura.

Pelo sim, pelo não, a deterioração das relações entre as duas Igrejas contribuiu largamente
para o triste e célebre episódio do saque de Constantinopla durante a 4ª Cruzada (1204) e o
estabelecimento do Império Latino (Ocidental) por algum tempo. Isso aprofundou ainda mais a
ruptura.

Houve várias tentativas de reunificação, principalmente nos conselhos eclesiásticos de Lyon


(1274) e Florença (1439), mas as reuniões mostraram-se efêmeras. Estas tentativas
acabaram efetivamente quando os turcos otomanos tomaram Constantinopla, em 1453, e
ocuparam quase todo o antigo Império Bizantino por muitos séculos. As mútuas excomunhões
só foram levantadas em 7 de Dezembro de 1965, pelo Papa Paulo VI e o patriarca Atenágoras
I, por forma a aproximar as duas Igrejas, afastadas havia séculos. As excomunhões,
entretanto, foram retiradas pelas duas Igrejas em 1966. Somente recentemente o diálogo
entre elas foi efetivamente retomado, a fim de sanar o cisma.

Podemos resumir isso tudo no fato de que, após tantos conflitos, divisões, papas sem visão
pastoral e universal, não é de se estranhar que, aos olhos do povo cristão, uma Igreja
nacional, controlada pelo poder do Estado, fosse a melhor solução. Isso aconteceu e foi uma
das causas que explicou o sucesso da Reforma Protestante na Europa. Ou seja, ―já que está
zoneado mesmo, vamos dar ouvido àquele teólogo doido ali. De repente, ele resolve a
parada‖.

Na França, em 1438 se ratificou como lei estatal a Teoria Conciliar, a proibição de apelar para
Roma como última instância, limitações dos direitos da Santa Sé nas nomeações para ofícios e
benefícios na França. Somente em 1905, o Papa voltou a nomear os bispos franceses.

339
Na Alemanha, os príncipes usurparam a jurisdição eclesiástica em seus territórios com a
imposição de taxas sobre os bens eclesiásticos. O sentimento anti-romano é muito forte,
cunhando-se até a expressão ―doutor em Roma, burro na Alemanha‖.

Na Inglaterra, a descrença em relação a Roma se fortaleceu com o cativeiro de Avinhão: aos


olhos dos ingleses o papa era instrumento do soberano francês contra quem a nação inglesa se
empenhou em longa e violenta luta. Vários decretos do século XIV negam ao papa o direito de
nomeação para os ofícios eclesiásticos ingleses, proíbem o apelo a Roma e a introdução das
Bulas papais. De fato, a Igreja inglesa era independente de Roma.

Na Espanha, a unidade religiosa foi considerada básica para a unidade nacional. Em 1478
nasceu a Inquisição espanhola sob controle estatal. Em 1492, com a conquista da América,
Portugal e Espanha adquirem o direito do Padroado, pelo qual assumiram o governo da Igreja.

Esses fatos podem explicar, em parte, o porquê da tragédia religiosa do século XVI, qdo Lutero
provocou a divisão religiosa e política da Europa cristã. Séculos de relaxamento pastoral no
coração da Igreja Romana afastaram numerosos povos e nações. Lutero simbolizou, com seu
gesto, as numerosas gerações que clamavam pela reforma da Igreja. Mas, isso fica para outro
artigo.

A falsificação do Sudário de Turim

O sudário de Turim é uma peça de tecido com cerca de 4,25m por 1m, que tem sobre ela a
imagem de um homem. Na verdade, há duas imagens, uma frontal e uma de costas, com as
cabeças se encontrando no meio. Já se observou que se o sudário tivesse realmente envolvido
um corpo, deveria haver um espaço onde as duas cabeças se encontram.

Além disso, a cabeça tem o tamanho exagerado em 5% em relação ao corpo, o nariz é


desproporcional e os braços são longos demais. Assim mesmo, a imagem é considerada por
muitos como de Jesus de Nazaré, e o sudário sua mortalha funerária. A maioria dos céticos
acredita que a imagem seja uma pintura e uma fraude piedosa. O sudário é conservado na
catedral de São João Batista em Turim, na Itália. Aparentemente, a primeira menção
histórica do sudário como ―O Sudário de Turim‖ é do fim do século 16, quando ele foi trazido
para a catedral daquela cidade, embora alegadamente tenha sido descoberto na Turquia,
durante uma das assim chamadas ―Santas‖ Cruzadas, na Idade assim chamada ―Média‖. Em
1988, o Vaticano permitiu que o sudário fosse datado por três organizações independentes – a
Universidade de Oxford, a Universidade do Arizona, e o Instituto Federal de Tecnologia Suíço
— e cada um deles datou-o de épocas medievais, em torno de 1350. O sudário esteve
alegadamente num incêndio durante a primeira metade do século 16, e, segundo os que
creem na sua autenticidade, isto explica por que as datações por carbono não lhe deem mais
de 650 anos. Para os descrentes, isso parece uma hipótese ad hoc. Segundo o Dr. Walter
McCrone, microquímico,

A sugestão de que o incêndio de 1532 em Chambery teria alterado a data do tecido é risível.
As amostras para a datação por carbono são rotineira e completamente queimadas e
transformadas em CO2 como parte de um bem testado procedimento de purificação. As
sugestões de que contaminantes biológicos modernos seriam suficientes para modernizar a
data também são ridículas. Seria necessário um peso de carbono do século 20 correspondente
a duas vezes o do carbono do sudário para se alterar uma data do século I para o século XIV
(veja o gráfico do Carbono 14). Além disso, as amostras do tecido de linho foram limpas com
muito cuidado antes da análise em cada um dos laboratórios de datação por carbono. *

Talvez interesse aos céticos saber que muitas pessoas de fé acreditam haver evidências
científicas que suportem sua crença na autenticidade do sudário. Naturalmente, as evidências
se limitam quase que exclusivamente a apontar fatos que seriam verdadeiros se o sudário

340
fosse autêntico. Por exemplo, afirma-se que ele seja uma imagem em negativo de uma vítima
de crucificação. Afirma-se que ele seja a imagem de um homem flagelado brutalmente de um
modo que corresponde a como a Bíblia descreve que Jesus foi tratado. É também alegado que
a imagem não é uma pintura, mas uma imagem milagrosamente transposta. Os céticos
discordam e argumentam que o sudário é uma pintura e uma falsificação.

O mercado de relíquias

Os céticos acreditam que o sudário de Turim é apenas mais uma relíquia religiosa, inventada
para impulsionar o mercado da peregrinação ou para impressionar os infiéis. (outra pintura
igualmente famosa, que também se alega ter milagrosamente aparecido em um tecido, surgiu
no México no século 16, ―Nossa Senhora de Guadalupe.‖) Os argumentos para a falsidade do
sudário são expostos mais vigorosamente por Joe Nickell em Inquest On The Shroud Of Turin,
que foi escrito em colaboração com um painel de peritos científicos e técnicos. O autor afirma
que as evidências históricas, iconográficas, patológicas, físicas e químicas apontam para a
falsificação. O sudário é uma pintura do século 14, não um tecido de dois mil anos de idade
com a imagem de Cristo.

Uma das teorias é de que ―um modelo masculino foi impregnado com tinta e envolvido no
lençol para criar a figura sombreada de Cristo.‖ * O modelo foi coberto com ocre vermelho,
―um pigmento encontrado na terra e amplamente utilizado na Itália durante a Idade Média, e
pressionaram sua testa, ossos da face e outras partes da sua cabeça e corpo contra o linho
para criar a imagem que existe hoje. Salpicou-se então vermelhão, feito com sulfeto de
mercúrio, sobre os pulsos, pé e corpo da imagem para representar sangue.‖

Walter McCrone analisou o sudário e encontrou traços dos produtos químicos que era usados
em ―dois pigmentos comuns usados por artistas do século 14, ocre vermelho e vermelhão,
com um aglutinante de têmpera de colágeno (gelatina)‖ (McCrone 1998). Ele expõe sua
argumentação completa de que o sudário é uma pintura medieval em Judgment Day for the
Shroud of Turin (Março de 1999). Por seus trabalhos, McCrone foi agraciado com o Prêmio de
Química Analítica da Sociedade Americana de Química.

As evidências da autenticidade

O sudário, porém, tem muitos defensores que acreditam ter demonstrado que o pano não é
uma falsificação, data da época de Cristo, tem origem milagrosa, etc. Afirma-se que há sangue
do tipo AB no sudário. Os céticos negam. Não foi identificado sangue diretamente no sudário,
mas sim na fita adesiva que foi usada para coletar fibras do tecido. Quando seca, o sangue
envelhecido fica negro. As manchas no sudário são vermelhas. Exames periciais no material
vermelho o identificaram como tinta de têmpera vermelhão e ocre vermelho. Outros testes
feitos por Adler e Heller identificaram sangue. * Se for sangue, poderia ser o de uma pessoa
do século 14. Poderia ser o de alguém que foi envolvido pelo tecido, ou o sangue do criador do
sudário, ou de qualquer um que o tivesse manuseado, ou o de qualquer pessoa que tivesse
manuseado a fita adesiva. Mas ainda que houvesse sangue no sudário, isso não traria qualquer
apoio à sua idade ou autenticidade.

Afirma-se que o pano tem um pouco de pólen e imagens sobre ele que são de plantas
encontradas apenas na região do Mar Morto de Israel. Avinoam Danin, um botânico da
Universidade Hebraica de Jerusalém, afirma ter identificado pólen do cardo Gundelia
tournefortii e de uma alcaparra no sudário. Ele alega que esta combinação é encontrada
apenas nas imediações de Jerusalém. Alguns crentes acham que a coroa de espinhos foi feita
deste tipo de cardo. Entretanto, Danin não examinou o sudário pessoalmente. Suas amostras
de pólen se originaram de Max Frei, que extraiu com fita adesiva amostras de pólen do
sudário. Frei, que certa vez declarou os forjados ―Diários de Hitler‖ como autênticos,
provavelmente introduziu ele próprio o pólen, ou foi enganado e inocentemente colheu pólen
que outra fraude piedosa havia introduzido (Nickell, Shafersman).

341
Danin e seu colega Uri Baruch, também afirmam ter descoberto impressões de flores no
sudário, e que estas flores somente poderiam ter vindo de Israel. Entretanto, as imagens
florais que eles veem estão ocultas em manchas mosqueadas, de forma bem semelhante à de
que a imagem de Jesus está oculta em uma tortilha, ou a imagem de Maria está oculta na
casca de uma árvore. O primeiro a ver flores nas manchas foi um psiquiatra, que era
provavelmente um perito em ver traços de personalidade em
manchas de tinta (Nickell, 1994)

Danin observa que outra relíquia que se acredita ser o pano


funeral de rosto de Jesus (o Sudário de Oviedo na Espanha)
contém os mesmos dois tipos de grãos de pólen que o sudário de
Turim, e também está manchado com o mesmo sangue do tipo
AB. Desde que se acredita que o sudário de Oviedo existia antes
do século 8, de acordo com Danin, existem ―claras evidências de
que o sudário teve origem anterior ao século 8.‖ Acredita-se que
o tecido esteve em um baú de relíquias que data no mínimo da
época da invasão Moura da Espanha. Afirma-se que ele estava no baú quando ele foi aberto
em 1075. Mas, como não há nenhum sangue no sudário de Turim e não há nenhuma boa
razão para se aceitar a suposição de Danin de que o pólen estava no sudário desde sua
origem, esse argumento é espúrio.

Em todo caso, o fato de que pólen encontrado próximo ao Mar Morto ou Jerusalém estavam no
sudário significa pouco. Mesmo se o pólen não tivesse sido introduzido numa uma fraude
piedosa, ele poderia ter sido transportado para o sudário por qualquer pessoa que o tivesse
manuseado. Em resumo, o pólen poderia ter-se originado em Jerusalém em qualquer época
anterior ou posterior ao aparecimento do sudário na Itália. Essa não é uma evidência muito
forte.

Além disso, o fato de haver dois panos que se acredita terem envolvido o cadáver de Jesus não
fortalece a afirmação de que o sudário seja autêntico, mas a enfraquece. Quantos panos além
desses existem sobre os quais não sabemos? Teriam sido eles produzidos em massa, como os
pedaços da verdadeira cruz, palha da manjedoura de Cristo, toras da arca de Noé? O fato de
panos na Espanha e na Itália terem pólen e manchas de sangue idênticas é um pouco menos
que ―claras evidências‖ de que eles se originaram ao mesmo tempo, especialmente por
existirem claras evidências de que a alegação de que eles possuem pólen e manchas de
sangue idênticas não é verdadeira. Mas mesmo se ela fosse verdadeira, teria pouco valor em
estabelecer como fato que algum destes tecidos tocou o corpo de Jesus.

Desfazendo a trama

Afirma-se que a textura do tecido é típica das que os Judeus ricos teriam na época de Jesus. O
tecido do Judeu rico não parece coerente com o tipo de pessoas com que Jesus supostamente
convivia. Entretanto, conforme um leitor, Hal Nelson, argumentou, ―O tecido de linho foi
fornecido por José de Arimatéia, descrito em Mateus 27 como um ―homem rico‖ assim como
discípulo.‖ (A trama de Turim é espinha-de-peixe; a trama de Oviedo é tafetá, provando,
suponho, que Jesus tinha discípulos de todo tipo, até mesmo AB.)

A imagem é de um homem de aproximadamente 1,80 m de altura. O tamanho e tipo de tecido


do pano convenceram a um pesquisador/crente de que o ele poderia ter sido usado como pano
de mesa para a Última Ceia. Poderia ter sido usado também para muitas outras coisas,
suponho.

Para o crente, entretanto, não é a prova científica da autenticidade do sudário que dá a ele seu
significado especial. É a fé na origem milagrosa da imagem que define sua crença. O milagre é
considerado um sinal de que a ressurreição realmente aconteceu e de que Jesus era divino.

Apenas mais uma relíquia?

342
Talvez o aspecto mais fascinante da controvérsia do sudário de Turim seja o modo que os
crentes continuam trazendo à tona pistas falsas, e os céticos continuam mordendo a isca.
Danin criou seu argumento imagem de plantas/grãos de pólen em 1998, uma continuação de
outro argumento que ele criou em 1997. Ele afirmou no artigo de 1998 que suas evidências
mostraram que ―o sudário somente poderia ter vindo do oriente próximo.‖ Um artigo da AP de
Traci Angel (3 de agosto de 1999) cita Danin dizendo que as evidências ―claramente apontam
para um grupo floral da área ao redor de Jerusalém.‖ Sem dúvida, um exaltado debate irá se
seguir (mais uma vez!) a respeito da origem das plantas e pólen. Como se importasse. Mesmo
se ficasse estabelecido além de qualquer dúvida razoável que o sudário se originou em
Jerusalém e que envolveu o corpo de Jesus, e daí? Isto provaria que Jesus se ergueu dos
mortos? Eu acho que não. A crença de que alguém se ergueu dos mortos não pode ser
baseada em evidências físicas porque a ressurreição é uma impossibilidade física. Apenas a fé
religiosa pode sustentar tal crença. Acreditar que alguém flutuou subindo às alturas e
desapareceu (ou seja, foi para o céu) também não será provado de um jeito ou de outro pelos
argumentos do sudário. Finalmente, nenhum volume de evidências físicas jamais poderia
demonstrar que um homem era Deus, que era também pai dele mesmo e que foi concebido
sem mesmo que sua mãe tivesse feito sexo. Logo, não importa quantos cientistas brilhantes
divulguem seus brilhantes artigos com evidências de imagens de cordas, esponjas, espinhos,
esporas, flores, cardos, sangue, etc. bíblicos, nada disso tem a menor relevância para provar
estas questões de fé.

Últimas notícias

Dr. Raymond Rogers, químico aposentado do Laboratório Nacional de Los Alamos, estado do
Novo México, alega que partes do tecido testado e datado como de cerca de 1350 não faziam
parte do sudário original. Segundo Rogers, os testes de laboratório que dataram o tecido como
do século 14 testaram um remendo feito para reparar danos causados pelo fogo. Como será
que ele sabe disso, já que o retalho foi destruído nos testes? Segundo Joe Nickell, investigador
do sudário, Rogers ―apóia-se em dois pequenos fiapos que supostamente sobraram das
amostras‖ e na palavra de ―pesquisadores pró-autenticidade que supõem que a amostra de
carbono-14 tenha vindo de uma ‗área novamente tecida‘ como reparo‖. Segundo Nickell, um
artigo de P.E. Damon de 1989 publicado na Nature alega que ―peritos em tecelagem
esforçaram-se especificamente para selecionar um local para se retirar a amostra do
radiocarbono que estivesse fora dos remendos e costuras‖.

Nickell afirma,

Rogers comparou os fios com pequenas amostras de outros locais do sudário, alegando ter
encontrado diferenças entre os dois conjuntos de fios que ―provam‖ que a amostra de
radiocarbono ―não fazia parte do tecido original‖ do sudário de Turim.

Entre as diferenças relatadas está a presença — supostamente apenas na ―amostra do


radiocarbono‖ — de fibras de algodão e uma cobertura de tintura de raiz de ruiva num meio
aglutinante que seus testes ―sugerem‖ ser goma arábica…. No entanto, ao contrário do que
Rogers afirma, tanto o algodão quanto a ruiva foram encontrados em outras áreas do sudário.
Ambos foram especificamente relatados pelo renomado microanalista Walter McCrone.

O Dr. Rogers estimou a data real do sudário entre cerca de 1000 AEC e 1700 EC. Ainda assim,
todas as evidências apontam para a hipótese da falsificação medieval. Como observa Nickell,
―não se conhece nenhum exemplo dessa trama complexa de espinha de peixe na época de
Jesus quando, de qualquer forma, tecidos mortuários costumavam ser de trama simples‖
(1998: 35). ―Além disso, a prática de sepultamento judaica utilizava — e o Evangelho de João
descreve isso especificamente para Jesus — múltiplos panos mortuários com um separado
sobre o rosto‖. *

Outra evidência de falsificação medieval é a falta de registros históricos do sudário anteriores


ao meio do século quatorze — quando um bispo relatou a confissão do artista — assim como
os sérios problemas anatômicos, a falta de distorções decorrentes da envoltura, a semelhança

343
da figura com representações medievais de Jesus e as manchas de ―sangue‖ de suspeita cor
vermelho-vivo e com aparência de pintura, que não passaram numa bateria de testes
sofisticados feitos por sorologistas médico-legais, entre muitos outros indicadores. (Nickell
2005).

Naturalmente, o tecido poderia ter 3.000 ou 2.000 anos de idade, como especula Rogers, mas
a imagem nele poderia datar de um período muito posterior. Qualquer que seja a data correta,
tanto para o pano quando para a figura, não prova em nenhum grau de probabilidade razoável
que o tecido seja o sudário em que Jesus foi envolvido e que a imagem seja de alguma forma
milagrosa. Acreditar nisso sempre será uma questão de fé, não de provas científicas.

A farsa

O Sudário de Turim foi aberto para uma rara visitação pública de dois meses no sábado, 12 de
agosto, em Turim, Itália. O arcebispo Severino Poletto assegurou aos repórteres que ―a igreja
não está com medo da ciência.‖ Ele e os outros guardiões do sudário disseram que estão
abertos a um reexame científico do tecido. Mas algum teste colocará um fim à disputa sobre a
história do sudário? A maioria dos pesquisadores está ansiosa para testar hipóteses que se
concentram em um aspecto limitado do sudário. Uma delas promove a evidência do pólen,
outras questionam a datação com o radio carbono, uma terceira procura por provas na
tecelagem do tecido.

Joe Nickell, Pesquisador Sênior do Committee for the Scientific Investigation of Claims of the
Paranormal (CSICOP) [Comitê para Investigação Científica das Alegações do Paranormal]
aponta que mesmo testes definitivos são vulneráveis a disputas sectárias. Os cientistas
insistem que a datação com radio carbono de 1988 — realizada em três laboratórios
independentes — demonstrou de uma vez por todas que o sudário é uma farsa do século XIV.
Entretanto, aqueles que têm a esperança de reforçar a alegação de autenticidade do tecido
têm sugerido que bactérias ou que queimaduras do incêndio de 1532 podem ter contaminado
a amostra.

Nickell acredita que examinar a preponderância da evidência e demonstrar como cada peça
sustenta a outra torna o caso mais sólido. Ele empregou este método em sua pesquisa e está
convencido que o sudário é realmente uma falsificação medieval. Nickell é autor de Inquest on
the Shroud of Turin [Investigação do Sudário de Turim] (Prometheus, 1998) — um estudo que
se baseia na evidência dos próprios documentos da Igreja Católica e da narrativa do evangelho
de São João, além da evidência científica ―forte‖ da análise química, microscópica e do radio
carbono. Para Nickell, os achados documentais e forenses corroboram um ao outro e apontam
para uma resposta. ―A preponderância da evidência‖, disse Nickell ―leva a conclusão de que o
sudário é o trabalho de um artesão medieval.‖

Os registros do sudário de Turim começaram abruptamente no século XIV A.D. O documento


mais antigo é o relato de um bispo ao Papa Clemente VII, datado de 1389. O relato declarava
que o tecido fora criado como parte de um esquema de cura pela fé, ―a verdade sendo
confirmada pelo artista que o tinha pintado.‖

Amostras do que era alegado ser sangue falharam em uma bateria de testes em 1973. No final
dos anos 70, o microanalista forense Walter McCrone, um especialista em examinar a
autenticidade de documentos e quadros [pinturas], identificou o ―sangue‖ do sudário como as
tintas vermelho ocre e vermelhão tempera, e concluiu que toda a imagem fora pintada.

A datação do sudário com carbono em 1988 — conduzida por laboratórios em Zuriquee, Suíça;
Oxford, Inglaterra e pela Universidade do Arizona, EUA — trouxe resultados próximos, dando
uma data limite de 1260-1390 A.D. Este limite coincide com a confissão de falsificação no
relato ao Papa Clemente. Alegações de que a datação com carbono foi imperfeita ignora o fato
de que o sudário teria que ser contaminado com duas vezes o seu próprio peso com material
contaminante para retroceder a idade do tecido para o primeiro século A.D.

344
Finalmente, o sudário de Turim contradiz a narrativa do sepultamento de Jesus no Evangelho
de João. No Novo Testamento grego, é dito que Jesus teria sido envolto em faixas de othonia
de linho, não um lençol de linho bruto (João 19:40 e 20:6-7). João também diz que o corpo de
Jesus foi sepultado em uma grande quantidade de aloés e mirra: nenhum traço destas plantas
foi encontrado no sudário.

―Os defensores do sudário tipicamente iniciam com sua conclusão desejada e trabalham
retrogradamente à evidência; a ciência começa com a evidência e avança em direção a uma
conclusão,‖ disse Nickell. Juntos, os fatos corroboram um ao outro em rejeitar a alegação de
que o sudário data à época de Jesus.

Leitura adicional

 The Shroud of Turin Research at McCrone Research Institute


 McCrone Walter C. ―Red Ochre and Vermilion on Shroud Tapes?‖ Approfondimento
Sindone 1998.
 Recent Shroud Claims Based on Earlier, Scientifically Discredited Data de Joe Nickell
 CSICOP Press Release on Turin Shroud (23 de agosto de 2000)
 New ―Shroud‖ Claims Challenged as Spurious (CSICOP - Junho de 1996)
 The Shroud of Turin de Al Seckel e John Edwards
 The Skeptical Shroud of Turin Website
 Cloudy shroud Is the linen a holy relic or just a pious fraud? Jeffery L. Sheler
 Debunking the Shroud - Made by Human Hands de Gary Vikan
 ―Shroud of Turin Survives Suspicious Fire,‖ de D. Trull, editor da Enigma
 Barry Schwortz‘s Shroud of Turin page
 Verification of the Nature and Causes of the Photo-negative Images on the Shroud of
Lirey-Chambéry-Turin de Nicholas P L Allen
 The shroud on display in Turin‘s San Giovanni Cathedral
 Science, Archaeology, and the Shroud of Turin PAUL C. MALONEY, diretor geral de
projetos da Associação de Cientistas e Estudiosos Internacional do Sudário de Turim

Damon, P.E., et al. (1989). Radiocarbon dating of the Shroud of Turin. Nature 337 (fevereiro):
611–615.

McCrone, Walter. Judgment Day for the Shroud of Turin (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books,
1999).

Nickell, Joe. (1998). Inquest On The Shroud Of Turin: Latest Scientific Findings. Prometheus
Books.

Nickell, Joe. (1993). Looking For A Miracle: Weeping Icons, Relics, Stigmata, Visions and
Healing Cures. Prometheus Books.

Nickell, Joe. (1994). ―Pollens on the ‗Shroud‘: A study in deception,‖ Skeptical Inquirer, verão
de 1994.

Nickell, Joe. (2005). Claims of Invalid ―Shroud‖ Radiocarbon Date Cut from Whole Cloth.
CSICOP On-line.

Rogers, Raymond N. (2005). Studies on the radiocarbon sample from the Shroud of Turin.
Thermochimica Acta 425: 189–194.

Schafersman, Steven D. (1998). ―Unraveling the Shroud of Turin,‖ Approfondimento Sindone,


Ano II, vol. 2.

345
Santíssima Trindade desmascarada

Para os cristãos, a Santíssima Trindade não pode ser derrubada pela Ciência (com suas provas
e pesquisas), pela História dos Concílios (com seus registros e evidências) e muito menos com
o exame racional do tema. Então, apresento o único veículo aceitável pelos cristãos e que
derruba definitivamente essa farsa, e é incontestável para eles: A BÍBLIA !

Na história a Trindade é realmente formada por três pessoas: Tertuliano (inventou),


Atanásio (defendeu) e Constantino (decretou).

Vamos deixar os fatos históricos de lado, pois os mesmos já são de conhecimento mais do que
suficiente para todo. Existem estudos claros e transparentes com base exclusivamente nas
escrituras e os mesmos deixam nitidamente esclarecidos a inexistência de uma Trindade na
Divindade.

João 17:3 – E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviaste.

Muitos debates têm sido travados e todos afirmam ter base bíblica para defender suas idéias.
Uns entendem que a divindade é composta por três Deuses (o Deus-Pai, o Deus-Filho e o
Deus-Espírito Santo) que são autônomos, mas que agem em cooperação. Outros afirmam que
há apenas um Deus que se manifesta de três formas diferentes, mas é o mesmo ser, uma
única pessoa. Há ainda quem defenda que há um só Deus composto por três pessoas divinas,
co-iguais, co-eternas, co-substanciais, a Santíssima Trindade.

Esta última forma de crença, a mais comum, é adotada pela ICAR e pela maioria das igrejas
protestantes. Para eles, Deus não é um ser pessoal, ou seja, Deus não é uma pessoa, mas três
pessoas. Não são três deuses, nem uma só pessoa, mas um Deus Composto, um Deus-
Tríplice, ou Deus-Triúno. Complicado? Sim… Na interpretação dos Trinitarianos este ensino é
um mistério! Por que um mistério? Como tais ensinos carecem de uma base mais sólida e
contêm contradições internas de difícil conciliação, seus defensores também ensinam que há
um grande mistério por trás destes fatos e que ao ser humano não é dado compreender os
mistérios de Deus.

―A Santíssima Trindade é um Mistério para ser aceito, não para ser compreendido‖, foi a voz
de muitos sacerdotes ao longo da Idade Média e que continua ressoando no século XXI.

Diante de tais interpretações questionáveis, muitos acabam aceitando a ―doutrina do mistério‖


e acreditando que sua salvação não depende do pleno conhecimento de Deus, já que o mesmo
é um mistério não revelado. Cristo afirmou que a vida eterna depende do conhecimento do
único Deus verdadeiro e de Jesus Cristo, o enviado de Deus (conforme João 17:3). Entretanto,
em nenhum lugar na Bíblia é revelado o nome do Espírito Santo, pois ele é o próprio pneuma
de Deus, ou seja, um princípio espiritual que (segundo os estoicos) seria a causa da vida.

Existem várias concepções da Trindade. Parte dos trinitarianos creem em três pessoas divinas
co-iguais e co-eternas, outros admitem diferentes níveis hierárquicos e de natureza entre
Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo. Independente da crença, todos dizem ter razões
bíblicas para acreditar que existem realmente três pessoas divinas e que esses três seres
representariam um único Deus. Desse modo, tentam livrar-se da acusação de politeísmo.

Pois bem, tendo somente a Bíblia como critério de avaliação, consideraremos essas
afirmações:

Para serem co-iguais, as três diferentes pessoas da Trindade deveriam possuir idêntica
autoridade e plena igualdade de poder. As Escrituras Sagradas são muito claras quanto ao fato
de que Deus, o Pai, é evidentemente superior a Seu Filho.

346
Jesus refere-se a Deus como o ―Altíssimo‖ em Lucas 6:35.

Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será
grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os
ingratos e maus.

Isto é, aquele que ocupa a posição mais elevada, que está isolado em nível máximo, numa
condição inatingível por qualquer outro ser.

Jesus afirma explicitamente em João 14:28:

Ouvistes que eu vos disse: vou e volto para junto de vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de
que eu vá para o Pai, pois o Pai é maior do que eu.

Jesus afirma categoricamente em João 13:16:

Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o
enviado, maior do que aquele que o enviou.

Deus, que enviou Jesus (Seu Filho) é, portanto, obviamente, maior do que Ele, que, repetidas
vezes, como em João 5:37:

O Pai, que me enviou, esse mesmo é que tem dado testemunho de mim. Jamais tendes ouvido
a sua voz, nem visto a sua forma.

Também o espírito Consolador é inferior ao Pai, uma vez que também seria enviado por Ele,
segundo informa Jesus em João 14:26:

Mas o Consolador, o espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará
todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.

Jesus afirma e Paulo confirma na epístola a Coríntios, que Deus, o Pai, é maior do que tudo e
todos como nas seguintes passagens:

João 13:29 – Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das
mãos de meu Pai.

I Coríntios 15:27-28 – Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos pés. E, quando diz que
todas as coisas lhe estão sujeitas, certamente, exclui aquele que tudo lhe subordinou. Quando,
porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se sujeitará
àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.

Se o espírito Santo fosse realmente uma terceira e distinta pessoa divina, nada poderia
justificar sua omissão e ausência em textos bíblicos como estes:

I Coríntios 8:6 – Todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e
para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós
também, por ele.

Quando Paulo define o único Deus, ele omite qualquer referência ao Espírito Santo.

Quando Jesus, no Evangelho de Marcos, menciona aqueles que poderiam conhecer a data de
sua volta, omite qualquer referência ao espírito Santo. Observe:

Marcos 13:32 – Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu,
nem o Filho, senão o Pai.

347
João 16:32 – Eis que vem a hora e já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para sua
casa, e me deixareis só; contudo, não estou só, porque o Pai está comigo.

Se o Espírito Santo fosse uma 3ª pessoa divina, não poderia ―Ele‖ fazer companhia para Jesus
em lugar do Pai? Contudo, Jesus nem sequer o mencionou nessa ocasião. Jesus Cristo nunca é
chamado ―Deus Filho‖ no relato bíblico. Tudo que fez e disse foi realizado por ordem e
permissão do Pai, a quem ele (Jesus) mesmo se referia como ―Meu Deus‖, conforme os trechos
abaixo:

Apocalipse 3:2 – Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho
achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus.

Apocalipse 3:12 – Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais
sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a
nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome.

João 20:17 – Recomendou-lhe Jesus: Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai,
mas vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e
vosso Deus.

No evangelho segundo João, Jesus ainda afirma:

João 5:19 – o Filho nada pode fazer de si mesmo

Essa ideia se repete no versículo 30. ―Eu nada posso fazer de mim mesmo.‖

O mesmo pensamento aparece em João 5:17, 19, 30, 36; 8:28, 29; 9:4; 10:25, 32, 37;
14:10,11, 31; 17:4.

João registra 14 vezes em seu Evangelho, que as obras de Jesus não foram feitas por Ele
próprio, mas realizadas pelo poder de Seu Pai. Jesus diz que até as palavras que proferia não
eram suas próprias em:

João 12:49 – Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse
me tem prescrito o que dizer e o que anunciar.

Esse pensamento é novamente expresso em João 7:16-18; 8:28, 29, 38; 12:49, 50;
14:24,31; 16:15.

João 9 vezes retrata Jesus revelando que as palavras que proferia eram de Seu Pai!

João 12:44: ―Quem crê em mim crê, não em mim, mas naquele que me enviou.‖

Bom, se o Espírito Santo fosse uma 3ª e distinta pessoa divina, o Pai não seria o pai! Ou seria?

Mateus 1:18 – Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe,
desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo espírito Santo.

Mateus 1:20 – Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um anjo
do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que
nela foi gerado é do espírito Santo.

Lucas 1:35 – Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o espírito Santo, e o poder do Altíssimo
te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será
chamado Filho de Deus.

348
A ausência de terminologia bíblica apropriada impede a aceitação da doutrina da Trindade.
Alguns exemplos de expressões-chave ausentes da Bíblia, mas encontradas apenas nos
credos: ―Deus Filho‖, ―Deus espírito‖, ―Deus triúno‖, ―Filho eterno‖, ―Co-igual‖, ―Co-eterno‖,
―triunidade divina‖, ―Trindade‖, ―substância‖ (divina) e ―essência‖ (divina). Nisso, pode-se
notar que as pessoas que, inspiradas por Deus, escreveram a Bíblia em sua linguagem
original, não acreditavam na Trindade. Os judeus eram uma nação estritamente monoteísta,
portanto, eles jamais poderiam sequer imaginar ―um Deus em três pessoas‖, Jesus disse que
eles estavam corretos em seu culto a Deus.

João 4:22 – Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a
salvação vem dos judeus.

Há vários textos bíblicos em que forçosamente a ―Trindade‖ deveria ter sido mencionada, caso
fosse uma doutrina verdadeira:

A oração-modelo, ensinada por Jesus Cristo, não menciona a Trindade, nem dois de seus
supostos componentes (―Deus Filho‖ e ―Deus espírito‖), como destinatária (os) de nossas
mensagens de comunhão com o Céu.

Mateus 6:9-13 – Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja
o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão
nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos
perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal pois
teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém!

Quem ora unicamente ao Pai e pede que o atenda em nome de Jesus, como seu mediador, é
porque, na prática, não crê na doutrina da Trindade. Quando Jesus foi transfigurado diante de
Pedro, Tiago e João, de Moisés e Elias vieram ter com ele, não seria mais lógico que o Pai e o
espírito viessem confortá-lo? Por que apenas Deus se manifestou?

Marcos 9:7-8 – este é o Meu Filho amado, a ele ouvi.

Jesus descreve o Pai como o único e verdadeiro Deus ele não deveria ter incluído também o
―Deus Filho‖ e o ―Deus espírito‖, isto é, a Trindade?

João 17:1-3 – Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é
chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti, assim como lhe
conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os
que lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a
Jesus Cristo, a quem enviaste.

Avaliando atentamente, a doutrina da Trindade subsiste ao crivo das Escrituras Sagradas? Se,
um dia todos nós estaremos diante de Deus e a sua direita está seu filho, esse Deus que exige
adoração. Ou está na hora de você rever suas crenças?

A Bíblia é a palavra de Deus. O veículo através do qual Deus se comunica e inspira os homens
através de Seus ditos, Seus costumes e Seus mandamentos. Estariam os trinitarianos,
portanto, incorrendo na transgressão do primeiro mandamento?

―Não terás outros deuses diante de Mim‖

Bom, já mostramos que não há menções ligando Jesus a Javé (Deus para os íntimos). Vamos
analisar agora quem é esse Espírito Santo e qual é o meio que Deus usa para transmitir os
dons espirituais:

Atos 2:38 – Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome
de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do espírito Santo.

349
Atos 10:45 – E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se,
porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo.‖

O Espírito Santo é o espírito de:

I Coríntios 2:11 – Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio
espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o
espírito DE Deus.

O Espírito Santo procede de:

João 15:26- 27 – Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o
espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim; e vós também
testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio.

Vamos observar como Jesus fez para transmitir o Espírito Santo aos discípulos:

João 20:22 – E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.

Em outras palavras, o Espírito Santo procede de Deus (João 15:26-27). Por ser filho de Deus
(o Pai), Jay Cee possui a mesma essência do Pai, sendo assim, possui o mesmo espírito do Pai.

E é através do espírito de Deus que Jesus convence os cristãos do pecado, da justiça e do juízo
(João 16:8), habita nos cristãos (Gálatas 4:6) e está presente em todos os lugares ao mesmo
tempo (Salmos 139:1-10).

Bom, uma das tentativas de refutação é aquela famosa frase em

João 10:30 – Eu o Pai somos um.

Quem defende a Trindade afirma que a mesma é um mistério e de difícil compreensão, nisso
eu tenho que concordar, uma vez que realmente é muito difícil entender algo que segundo a
Bíblia não existe, uma vez que JC afirma claramente que ele e o Pai são um. E não que Ele, o
Pai e o espírito Santo são um, como afirmam os trinitarianos.

O problema não é a ausência do termo ―Trindade‖ na Bíblia, mas a ausência do conceito de um


Deus triúno. Onde na Bíblia está claramente descrito o conceito de um Deus formado por três
pessoas?

É valido destacar que versículos onde simplesmente citam o Espírito, o Pai e o Filho não são de
maneira nenhuma, suficientes para provar a Trindade – há a necessidade de provar que o
único Deus é composto por três pessoas: Pai, Filho e espírito. Enquanto isso, a Bíblia está
cheia de passagens afirmando a existência de um Deus único, e que este Deus é o Pai.

Outra refutação (idiota) é citar Gênesis 1:26 e seu famoso ―Deus disse a Seu Filho: FAÇAMOS
o homem à Nossa imagem‖

Uma clara tolice, já que o verbo: ―FAÇAMOS‖, é um verbo coortativo.

―O coortativo é o volitivo da primeira pessoa. Pode expressar a manifestação da vontade da


pessoa que fala, ou um apelo à vontade de outra (s) pessoa (s) com quem ela se identifica ou
associa.‖

Fonte – PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Fundamentos para exegese do Antigo


testamento: manual de sintaxe hebraica.

350
―O coortativo é o modo volitivo da 1ª pessoa, sendo formado pelo acréscimo da desinência
(ah). …‖

Fonte – BUDDE, Hollenberg – Gramática Elementar da Língua Hebraica. 8ª edição

Para vc ter outro exemplo de verbo coortativo o mesmo está em:

Gênesis 11:7: Eia, DESÇAMOS, e confundamos ali a sua linguagem, para que não entenda
um a língua do outro.

Bom, para finalizar, vamos analisar a fonte de onde saiu grande parte desse estudo. O Site
A verdade acima de tudo e http://www.adventistas.com

―Vale ainda salientar que a Bíblia não revela muitos mistérios e não devemos especular, mas
existe uma grande diferença entre ―Mistérios não Revelados ao Homem‖ e atentados à lógica.
A doutrina da trindade não é um mistério, é um atentado à lógica, especialmente por violentar
o mais elementar conceito sobre quantidade: Três deuses constituem um só Deus.‖

5.1 – ―Estes Três São Um‖ – I João 5:7


5.2 – Batismo em Nome do espírito Santo? – Mateus 28:19
5.8 – A Autenticidade de Mateus 28:19
5.9 – Se a trindade Não Existe, Como Entender Mateus 28:19?

Muito interessante o estudo nesses sites, mas há algo de estranho neles. O que é estranho?
Ora, os Adventistas ACEITAM a Trindade. Então, como pode ter sites falando sobre a doutrina
Adventista ou que se intitulam ―Adventistas‖ dizendo o contrário? Como pode um site que só
fala mal da doutrina Adventista ser Adventista?‖ Que coisa, não é mesmo?

Bem, pesquisando em fontes OFICIAIS, podemos encontrar o seguinte:

A Trindade

A Trindade sem Mistério I

A Trindade sem Mistério II

A trindade nas Escrituras

O Espírito-paraklétos no 4º Evangelho

O debate adventista sobre a Trindade

Trindade: Um dogma de Constantino?

A Divindade e a Personalidade do Espírito Santo

Bom, podemos imaginar que o Centro de Pesquisas Ellen G. White entenda alguma coisa
sobre a doutrina Adventista.

E depois isto, não que o CACP seja uma fonte confiável e não tendenciosa, mas vale a pena
ler: Flagrante analogia: Comparação doutrinária entre as seitas TJ e ADSD

Agora, o melhor! Em alerta da IASD para um dos inúmeros sites contra a doutrina da
Trindade: Link

―Doutrina da TRINDADE – Tão verdadeira quanto o próprio Deus

351
Ultimamente, a doutrina da Trindade tem sido alvo de inúmeras críticas. Pessoas estão usando
diversos meios para tentar levar os irmãos Adventistas a questionarem e rejeitarem esta
doutrina bíblica.

Há inclusive um tal ―Ministério 4 Anjos‖, que está enviando correspondências às igrejas em


todo o Brasil, para ―alertar‖ os irmãos sobre a doutrina da Trindade, que eles consideram uma
grande ―heresia‖. E o mais curioso é que, para enganar os Adventistas, eles utilizam-se até de
slogans próprios de nossa Igreja (―Seus Amigos Adventistas‖), carimbados nos envelopes, para
dar a impressão de que são membros regulares e fiéis da Igreja. Grande engano! A grande
maioria desligou-se da Igreja por não se adequarem a outros ensinos, principalmente quanto
ao uso dos dízimos e a validade dos Testemunhos do Espírito de Profecia.

―Por não concordarem com estes pontos doutrinários, estas pessoas passam agora a usar os
mesmos argumentos utilizados por outras denominações (Testemunhas de Jeová,
principalmente), para tentar confundir a mente dos irmãos Adventistas, especialmente os da
liderança, uma vez que os tais ―envelopes‖ sempre são dirigidos aos líderes dos
Departamentos.‖

Site acusado : Ministério dos 4 anjos

Agora, vejamos como as outras religiões encaram a Trindade.

O Cristianismo contradiz a teologia judaica

―a – D-us em três? A idéia cristã da trindade quebra D-us em três seres separados: o Pai, o
Filho e o Espírito Santo (Mateus 28:19). Compare isto com o Shemá, a base da crença judaica:
―Ouve, ó Israel, o Eterno nosso D-us, o Senhor é UM‖ (Devarim 6:4). Os judeus declaram a
unicidade de D-us todos os dias, escrevendo-a sobre os batentes das portas (Mezuzá), e
atando-a à mão e cabeça (Tefilin – filactérios).

Esta declaração da unicidade de D-us são as primeiras palavras que uma criança judia aprende
a falar, e as últimas palavras pronunciadas antes de morrer.

Na Lei Judaica, adorar um deus em três partes é considerado idolatria – um dos três pecados
cardeais, que o judeu prefere desistir da vida a transgredir. Isto explica porque durante as
Inquisições e através da História, os judeus desistiram da vida para não se converterem.

Alguns pesquisadores ficam com os judeus de que Jesus NÃO é YHWH, ou fica com os cristãos
de que Jesus é YHWH.

Essa confusão sobre YHWH realmente existe, encontrei um artigo bem interessante aqui: Qual
é o nome de D’us?

Visão Islâmica sobre a Trindade:

―Deus: Só existe um Deus verdadeiro, e seu nome é Alá. Ele é Onisciente, Todo-Poderoso e
Juiz Soberano. Contudo, ele não é um Deus Pessoal. Acha-se acima do homem em todos os
sentidos, não podendo ser conhecido como uma personalidade. O Islamismo ensina a unidade
da essência de Deus, excluindo explicitamente a doutrina da Santíssima Trindade. Não aceita a
divindade de Jesus nem o Espírito Santo. Os muçulmanos não creem na morte e ressurreição
de Jesus nem na salvação por seu intermédio.‖

Fonte desse texto: http://www.proveg.com.br/igrejabatista/sermoes/islamismo.htm

352
A improbabilidade de Deus

Muito do que as pessoas fazem é em nome de Deus. Os irlandeses mandam-se uns aos outros
pelo ar em nome de Deus. Os árabes mandam-se a si próprios pelo ar em nome de Deus. Os
imãs e os aiatolás oprimem as mulheres em nome de Deus. Os papas e os padres celibatários
destroçam a vida sexual das pessoas em nome de Deus. Os shohets judeus cortam a garganta
de animais vivos em nome de Deus.

As proezas da religião no passado? Cruzadas sangrentas, inquisições que praticavam a tortura,


conquistadores que assassinavam em massa, missionários que destruíam culturas, resistência
reforçada legalmente e até ao último momento possível a cada nova verdade científica? São
ainda mais impressionantes. E tudo isto para quê? Creio que se torna cada vez mais claro que
a resposta é absolutamente para nada. Não há nenhuma razão para que acreditemos que
existam quaisquer espécies de deuses e há muito boas razões para que acreditemos que não
existem e nunca existiram. Foi tudo um gigantesco desperdício de tempo e de vida. Seria uma
anedota de proporções cósmicas se não fosse tão trágico.

Por que é que as pessoas acreditam em Deus? Para a maior parte das pessoas a resposta é
ainda qualquer versão do antigo Argumento do Desígnio. Olhamos em volta para a beleza e
complexidade do mundo? Para o movimento aerodinâmico de uma asa de andorinha, para a
delicadeza das flores e das borboletas que as fertilizam; por intermédio de um microscópio
para a vida luxuriante existente em cada gota de água de um tanque; por intermédio de um
telescópio para a copa de uma sequoia gigante. Refletimos na complexidade eletrônica e na
perfeição óptica dos nossos olhos que veem tudo isto. Se tivermos alguma imaginação, estas
coisas conduzem-nos a um sentimento de temor e reverência. Além disso, não podemos deixar
de nos impressionar com a semelhança óbvia dos órgãos vivos com os projetos
cuidadosamente planeados dos engenheiros humanos. A expressão mais famosa deste
argumento é a analogia do relojoeiro de William Paley, padre do século dezoito. Mesmo que
não soubéssemos o que é um relógio, o caráter obviamente concebido dos seus dentes e
molas e de como engrenam uns nos outros para um propósito, forçar-nos-ia a concluir ―que o
relógio teve de ter um autor: que teve de ter existido, nalguma altura, num lugar ou noutro,
um artífice ou artífices, que o concebeu com o propósito a que o vemos agora responder; que
compreendeu a sua construção e concebeu o seu uso.‖ Se isto é verdade de um relógio
relativamente simples, não é muito mais verdade do olho, do ouvido, do rim, da articulação do
cotovelo e do cérebro? Estas belas, complexas e intrincadas estruturas, que foram
evidentemente construídas com um propósito, tiveram de ter o seu próprio autor, o seu
próprio relojoeiro? Deus.

Tal é o argumento de Paley, e é um argumento que praticamente todas as pessoas que


refletem e têm sensibilidade descobrem por elas próprias em certa altura da sua infância.
Durante a maior parte da história deve ter parecido absolutamente convincente e de uma
verdade autoevidente. E, contudo, como resultado de uma das mais espantosas revoluções
intelectuais da história, sabemos agora que é errado ou pelo menos supérfluo. Sabemos agora
que a ordem e a aparente intencionalidade do mundo vivo aconteceu por intermédio de um
processo completamente diferente, um processo que funciona sem a necessidade de qualquer
autor e que é uma consequência de leis físicas basicamente muito simples. Este é o processo
de evolução por seleção natural, descoberto por Charles Darwin e, independentemente, por
Alfred Russel Wallace.

O que têm em comum todos os objetos que parecem ter de ter tido um autor? A resposta é
improbabilidade estatística. Se encontrarmos um seixo transparente a que o mar deu a forma
de uma lente imperfeita, não concluímos que teve de ser concebido por um oculista: as leis da
física por si só são capazes de alcançar este resultado; não é muito improvável que tenha
meramente ―acontecido‖. Mas se encontramos uma lente composta trabalhada,
cuidadosamente corrigida contra a aberração esférica e cromática, revestida contra o brilho e
com ―Carl Zeiss‖ gravado no rebordo, sabemos que não poderia ter acontecido meramente por
acaso. Se pegarmos em todos os átomos de tal lente composta e os lançarmos juntos ao acaso
sob a impulsionante influência das leis vulgares da física na natureza é teoricamente possível
que, por puro acaso, os átomos se agrupem segundo o padrão da lente composta da Zeiss e

353
até que os átomos em redor da orla se agrupem de modo a que o nome Carl Zeiss seja
gravado. Mas o número de outras formas segundo as quais os átomos poderiam, com idêntica
probabilidade, ter-se agrupado é tão extremamente, imensamente, incomensuravelmente
elevado, que podemos pôr completamente de lado a hipótese do acaso. Como explicação o
acaso está fora de questão.

A propósito, este argumento não é circular. Pode parecer circular porque, depois da ocorrência,
podemos dizer que qualquer organização particular de átomos é muito improvável. Como já
alguém disse, quando uma bola cai num determinado pedaço de relva no campo de golfo, seria
loucura exclamar: ―De todos os bilhões de pedaços de relva em que a bola poderia ter caído,
caiu efetivamente neste. Quão admiravelmente e miraculosamente improvável!‖ Claro que a
falácia aqui é que a bola tinha de cair nalgum lado. Só podemos ficar admirados com a
improbabilidade do acontecimento real se o determinarmos a priori: por exemplo, se uma
pessoa de olhos vendados girasse sobre si no tee, acertasse na bola ao acaso e conseguisse
um hole in one. Isso seria verdadeiramente espantoso, porque o destino alvo da bola tinha
sido estabelecido previamente.

De todos os trilhões de formas diferentes de juntar os átomos de um telescópio, apenas uma


minoria poderia na realidade funcionar de forma útil. Apenas uma pequena minoria teria Carl
Zeiss gravado ou, na verdade, quaisquer palavras reconhecíveis de qualquer linguagem
humana. O mesmo é verdade para as partes de um relógio: de todos os bilhões de modos
possíveis de juntá-los, apenas uma pequena minoria dirão as horas ou farão qualquer coisa
útil. E, claro, o mesmo é verdade, a fortiori, para as partes dos corpos vivos. De todos os
trilhões de trilhões de modos de juntar as partes de um corpo, apenas uma minoria
infinitesimal viverá, procurarão comida, comerá e se reproduzirá. É verdade que há muitas
formas diferentes de estar vivo? Pelo menos dez milhões de formas diferentes, se contarmos o
número de espécies diferentes que estão atualmente vivas? Mas, por mais formas que possam
existir de estar vivo, de certeza que há muito mais de estar morto!

Podemos com segurança concluir que os corpos vivos são bilhões de vezes demasiado
complicados? Demasiado estatisticamente improváveis? Para terem surgido por puro acaso.
Como é que surgiram, então? A resposta é que o acaso entra na história, mas não um único e
monolítico ato de acaso. Em vez disso, toda uma série de pequenos passos ocasionais, cada
um suficientemente pequeno para ser um resultado credível do seu predecessor, ocorreram
uns atrás dos outros em sequência. Estes pequenos passos do acaso são causados por
mutações genéticas, mudanças fortuitas? Erros de fato ? no material genético. Originam
mudanças na estrutura corporal existente. A maior parte dessas mudanças é perniciosa e
levam à morte. Uma minoria revelam-se pequenas melhorias, que conduzem a um aumento
da sobrevivência e da reprodução. Por este processo de seleção natural, as mudanças ao acaso
que se revelam no fim de contas benéficas espalham-se pela espécie e tornam-se a norma. O
cenário está agora montado para a próxima pequena mudança no processo evolutivo. Depois
de, digamos, um milhar destas pequenas mudanças em série, cada mudança fornecendo a
base para a próxima, o resultado final tornou-se, por um processo de acumulação, demasiado
complexo para ter surgido num único ato de acaso.

Por exemplo, é teoricamente possível que um olho se forme do nada, num único passo de
acaso: digamos que a partir apenas da pele. É teoricamente possível no sentido em que
poderíamos escrever uma receita com a forma de um grande número de mutações. Se todas
estas mutações acontecessem simultaneamente, poderia mesmo surgir do nada um olho
completo. Mas embora seja teoricamente possível, é na prática inconcebível. A quantidade de
acaso que envolve é demasiada. A receita ―correta‖ envolve mudanças num enorme número
de genes simultaneamente. A receita correta é uma combinação particular de mudanças em
trilhões de combinações de acasos igualmente prováveis. Podemos certamente excluir tal
miraculosa coincidência. Mas é perfeitamente plausível que o olho moderno se tenha formado
a partir de algo que fosse quase igual ao olho moderno, mas não exatamente igual: um olho
ligeiramente menos elaborado. Pelo mesmo argumento, este olho ligeiramente menos
elaborado formou-se a partir de um ainda menos elaborado, etc. Se assumirmos um número
suficientemente grande de pequenas diferenças entre cada estádio evolutivo e o seu
predecessor, somos capazes de derivar um olho completo, complexo, a funcionar, a partir

354
apenas da pele. Quantos estádios intermédios podemos postular? Isso depende do tempo de
que dispusermos. Houve tempo suficiente para os olhos evoluírem por pequenos passos a
partir do nada?

Os fósseis dizem-nos que a vida evolui na Terra há mais de 3000 milhões de anos. Para a
mente humana é quase impossível apreender tal imensidão de tempo. Nós, naturalmente e
felizmente, tendemos a ver a nossa própria expectativa de vida como razoavelmente longa,
mas não podemos esperar viver nem sequer um século. Passaram 2000 anos desde que Jesus
viveu, tempo suficiente para esbater a distinção entre história e mito. Podemos imaginar um
milhão de períodos desses colocados lado a lado? Suponhamos que queremos escrever toda a
história num longo e único rolo. Se amontoássemos toda a história da Era Comum num metro
de rolo, que tamanho teria a parte do rolo da Era pré-Comum até ao começo da evolução? A
resposta é que a parte do rolo da Era pré-Comum estender-se-ia de Milão a Moscou. Pensemos
nas implicações disto para a quantidade de mudanças evolutivas que podem ser incluídas.
Todas as raças de cães domésticos? Pequineses, poodles, spaniels, São Bernardos e
chihuahuas? Provieram de lobos num espaço de tempo medido em centenas ou no máximo
milhares de anos: não mais que dois metros ao longo da estrada de Milão para Moscou.
Pensemos na quantidade de mudança envolvida na passagem de lobo a pequinês; agora
multipliquemos essa quantidade de mudança por um milhão. Quando olhamos para isto dessa
maneira, torna-se fácil acreditar que um olho pode ter evoluído por pequenos passos a partir
do nada.

É preciso ainda convencermo-nos de que cada um dos mediadores na rota da evolução,


digamos da mera pele para um olho moderno, teria sido favorecido pela seleção natural; teria
sido um progresso em relação ao seu predecessor na sequência ou pelo menos teria
sobrevivido. Não serviria de nada provarmos a nós próprios que existe teoricamente uma
cadeia de mediadores quase perceptivelmente diferentes levando a um olho se muitos desses
mediadores tivessem morrido. Afirma-se às vezes que as partes de um olho têm de estar
todas reunidas ou o olho não funcionará. Metade de um olho, diz o argumento, não é melhor
que nenhum olho. Não podemos voar com metade de uma asa; não podemos ouvir com
metade de um ouvido. Portanto, não pode ter existido uma série de passos intermédios
conduzindo ao olho, asa ou ouvido modernos.

Este tipo de argumento é tão ingênuo que podemos apenas perguntar-nos quais os motivos
subconscientes para acreditar nele. É obviamente falso que meio olho seja inútil. As pessoas
que sofrem de cataratas a quem removeram cirurgicamente os cristalinos não podem ver
muito bem sem óculos, mas ainda assim estão muito melhor do que as pessoas que não têm
quaisquer olhos. Sem o cristalino não é possível focar uma imagem detalhada, mas é possível
evitar chocar com obstáculos e seria possível detectar a sombra vaga de um predador.

Quanto ao argumento segundo o qual não podemos voar com apenas metade de uma asa, é
refutado por um grande número de animais planantes bem sucedidos, incluindo mamíferos de
gêneros muito diferentes, lagartos, rãs, cobras e chocos. Muitos gêneros diferentes de animais
que vivem nas árvores têm abas de pele entre as suas articulações que são de fato asas
fracionadas. Se cairmos de uma árvore, qualquer aba de pele ou alisamento do corpo que
aumente a nossa área de superfície pode salvar-nos a vida. E, por muito pequenas ou grandes
que as nossas abas possam ser, haverá sempre uma altura crítica tal que, se cairmos de uma
árvore dessa altura, a nossa vida poderia ter sido salva por precisamente um pouco mais de
área de superfície. Portanto, quando os nossos descendentes desenvolverem essa área de
superfície extra, as suas vidas serão salvas precisamente por um pouco mais, mesmo que
caiam de árvores de uma altura ligeiramente maior. E assim sucessivamente, por passos
imperceptivelmente graduados até que, centenas de gerações depois chegaram a asas
completas.

Os olhos e as asas não podem surgir num passo único. Isso seria como ter a sorte quase
infinita de acertar na combinação que abre a caixa-forte de um grande banco. Mas se girarmos
os discos da fechadura ao acaso e, de cada vez que nos aproximarmos um pouco mais do
número da sorte, a porta da caixa-forte rangendo abrir outra ranhura, em breve teremos a
porta aberta! Na essência, é esse o segredo de como a evolução por seleção natural realiza o

355
que pareceu impossível. Coisas que não podem plausivelmente ser derivadas de predecessores
muito diferentes podem plausivelmente ser derivados de predecessores apenas ligeiramente
diferentes. Contanto que haja uma série suficientemente longa de predecessores ligeiramente
diferentes, podemos derivar qualquer coisa de qualquer outra coisa.

Portanto, a evolução é teoricamente capaz de fazer o trabalho que antigamente parecia ser
uma prerrogativa de Deus. Mas há alguma prova de que a evolução tenha de fato acontecido?
A resposta é sim; a prova é esmagadora. Milhões de fósseis encontram-se exatamente nos
lugares e exatamente à profundidade a que devemos esperar que estivessem se a evolução
aconteceu. Nem um único fóssil foi alguma vez encontrado num local em que a teoria da
evolução não previsse que estivesse, embora isto pudesse ter acontecido com muita facilidade:
um fóssil de um mamífero tão antigo que os peixes ainda não existissem, por exemplo, seria
suficiente para refutar a teoria da evolução.

Os padrões de distribuição dos animais e das plantas pelos continentes e ilhas do mundo são
exatamente os que seriam de esperar que fossem se eles tivessem evoluído de antepassados
comuns por graus lentos e graduais. Os padrões de semelhança entre animais e plantas são
exatamente o que esperaríamos se alguns fossem entre si primos chegados, e outros mais
distantes. O fato de o código genético ser o mesmo em todas as criaturas vivas sugere
esmagadoramente que todas descendem de um único antepassado. As provas a favor da
evolução são tão conclusivas que a única forma de salvar a teoria da criação é assumir que
Deus deliberadamente colocou enormes quantidades de provas para fazer com que parecesse
que a evolução ocorreu. Por outras palavras, os fósseis, a distribuição geográfica dos animais e
tudo isso, são todos um gigantesco conto do vigário. Alguém quer adorar um Deus capaz de
tal embuste? É certamente muito mais respeitoso, assim como mais sensato do ponto de vista
científico, tomar as provas pelo seu valor facial. Todas as criaturas vivas são primas umas das
outras, descendem de um antepassado remoto que viveu há mais do que 3000 milhões de
anos.

Por conseguinte, o Argumento do Desígnio foi destruído como razão para acreditar em Deus.
Existem outros argumentos? Algumas pessoas acreditam em Deus por causa do que sentem
ser uma revelação interior. Tais revelações nem sempre são edificantes mas para a pessoa em
questão são sem dúvida sentidas como reais. Muitos habitantes de hospícios têm uma fé
inabalável em que são Napoleão ou, na verdade, o próprio Deus. Não há dúvida do poder de
tais convicções para quem acredita nelas, mas isto não é razão para que o resto de nós
acredite. Na verdade, uma vez que essas crenças são mutuamente contraditórias, não
podemos acreditar nelas.

É preciso dizer um pouco mais. A evolução por seleção natural explica muitas coisas, mas não
poderia ter começado do nada. Não poderia ter começado sem que houvesse algum gênero de
reprodução e de hereditariedade. A hereditariedade moderna baseia-se no código de DNA, que
é ele mesmo demasiado complicado para ter surgido espontaneamente por um único ato de
acaso. Isto parece significar que teve de existir algum sistema hereditário anterior, agora
desaparecido, que era suficientemente simples para ter surgido por acaso e pelas leis da
química e que forneceu o meio no qual uma forma primitiva de seleção natural cumulativa
pôde começar. O DNA foi um produto posterior desta seleção primitiva e cumulativa. Antes
deste gênero original de seleção natural, houve um período em que foram construídos
compostos químicos complexos a partir de compostos químicos mais simples e antes desse um
período em que os elementos químicos foram feitos a partir de elementos mais simples,
seguindo leis físicas bem compreendidas. Antes disso, em última instância foi tudo construído
de hidrogênio puro no imediato seguimento do big bang que iniciou o universo.

Há a tentação de defender que, embora Deus possa não ser necessário para explicar a
evolução da ordem complexa uma vez que o universo, com as suas leis fundamentais da física,
tenha começado, precisamos de um Deus para explicar a origem de todas as coisas. Esta ideia
não deixa Deus com muito que fazer: somente iniciar o big bang, e em seguida sentar-se e
esperar que tudo aconteça. O físico-químico Peter Atkins, no seu livro maravilhosamente
escrito The Creation, postula um Deus preguiçoso que se esforçou por fazer tão pouco quanto
possível para iniciar tudo. Atkins explica como cada passo na história do universo seguiu, por

356
simples lei física, o seu predecessor. Reduziu assim a quantidade de trabalho que o criador
preguiçoso precisaria fazer e no fim de contas concluiu que de fato não precisaria fazer nada!

Os detalhes da fase inicial do universo pertencem ao reino da física e eu sou biólogo, mais
interessado nas últimas fases da evolução em complexidade. Para mim, o ponto importante é
que, mesmo se o físico precisa postular um mínimo irredutível que teve de estar presente no
começo, para que o universo começasse, esse mínimo irredutível é certamente extremamente
simples. Por definição, as explicações construídas sobre premissas simples são mais plausíveis
e mais satisfatórias do que as explicações que têm de postular começos complexos e
estatisticamente improváveis. E dificilmente poderemos encontrar algo mais complexo do que
um Deus Todo-Poderoso!

Por Richard Dawkins

A verdadeira História da Páscoa

Muito antes de ser considerada a festa da ressurreição de Cristo, a Páscoa anunciava o fim do
inverno e a chegada da primavera. A Páscoa sempre representou a passagem de um tempo de
trevas para outro de luzes, isto muito antes de ser considerada uma das principais festas da
cristandade. A palavra ―páscoa‖ - do hebreu ―peschad‖, em grego ―paskha‖ e latim ―pache‖ -
significa ―passagem‖, uma transição anunciada pelo equinócio de primavera (ou vernal), que
no hemisfério norte ocorre a 20 ou 21 de março e, no sul, em 22 ou 23 de setembro.

A páscoa judaica (em hebraico ‫פסח‬, ou seja, passagem) é o nome do sacríficio executado em
14 de Nissan segundo o calendário judaico e que precede a Festa dos Pães Ázimos (Chag
haMatzot). Geralmente o nome Pessach é associado a esta festa também, que celebra e
recorda a libertação do povo de Israel do Egito, conforme narrado no livro de Êxodo.

A festa cristã da Páscoa tem origem na festa judaica, mas tem um significado diferente.
Enquanto para o Judaísmo, Pessach representa a libertação do povo de Israel no Egito, no
Cristianismo a Páscoa representa a morte e ressurreição de Jesus (que supostamente
aconteceu na Pessach) e de que a Páscoa Judaica é considerada prefiguração, pois em ambos
os casos se celebra uma ―libertação do povo de Deus‖, a sua passagem da escravidão (do
Egito/do pecado) para a liberdade.

De fato, para entender o significado da Páscoa cristã, é necessário voltar para a Idade Média e
lembrar dos antigos povos pagãos europeus que, nesta época do ano, homenageavam Ostera,
ou Esther – em inglês, Easter quer dizer Páscoa.

Ostera (ou Ostara) é a Deusa da Primavera, que segura um ovo em sua mão e observa um
coelho, símbolo da fertilidade, pulando alegremente em redor de seus pés nus. A deusa e o
ovo que carrega são símbolos da chegada de uma nova vida. Ostara equivale, na mitologia
grega, a Persephone. Na mitologia romana, é Ceres.

Estes antigos povos pagãos comemoravam a chegada da primavera decorando ovos. O próprio
costume de decorá-los para dar de presente na Páscoa surgiu na Inglaterra, no século X,
durante o reinado de Eduardo I (900-924), o qual tinha o hábito de banhar ovos em ouro e
ofertá-los para os seus amigos e aliados.

Por que o ovo de Páscoa?

O ovo é um destes símbolos que praticamente explica-se por si mesmo. Ele contém o germe, o
fruto da vida, que representa o nascimento, o renascimento, a renovação e a criação cíclica.
De um modo simples, podemos dizer que é o símbolo da vida.

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Os celtas, gregos, egípcios, fenícios, chineses e muitas outras civilizações acreditavam que o
mundo havia nascido de um ovo. Na maioria das tradições, este ―ovo cósmico‖ aparece depois
de um período de caos.

Na Índia, por exemplo, acredita-se que uma gansa de nome Hamsa (um espírito considerado
o ―Sopro divino‖), chocou o ovo cósmico na superfície de águas primordiais e, daí, dividido em
duas partes, o ovo deu origem ao Céu e a Terra – simbolicamente é possível ver o Céu como a
parte leve do ovo, a clara, e a Terra como outra mais densa, a gema.

O mito do ovo cósmico aparece também nas tradições chinesas. Antes do surgimento do
mundo, quando tudo ainda era caos, um ovo semelhante ao de galinha se abriu e, de seus
elementos pesados, surgiu a Terra (Yin) e, de sua parte leve e pura, nasceu o céu (Yang).

Para os celtas, o ovo cósmico é assimilado a um ovo de serpente. Para eles, o ovo contém a
representação do Universo: a gema representa o globo terrestre, a clara o firmamento e a
atmosfera, a casca equivale à esfera celeste e aos astros.

Na tradição cristã, o ovo aparece como uma renovação periódica da natureza. Trata-se do mito
da criação cíclica. Em muitos países europeus, ainda hoje há a crença de que comer ovos no
Domingo de Páscoa traz saúde e sorte durante todo o resto do ano. E mais: um ovo posto na
sexta-feira santa afasta as doenças.

Por que o Coelho de Páscoa?

Coelhos não colocam ovos, isto é fato! A tradição do Coelho da Páscoa foi trazida à América
por imigrantes alemães em meados de 1700. O coelhinho visitava as crianças, escondendo os
ovos coloridos que elas teriam de encontrar na manhã de Páscoa.

Outra lenda conta que uma mulher pobre coloriu alguns ovos e os escondeu em um ninho para
dá-los a seus filhos como presente de Páscoa. Quando as crianças descobriram o ninho, um
grande coelho passou correndo. Espalhou-se então a história de que o coelho é que trouxe os
ovos. A mais pura verdade, alguém duvida?

No antigo Egito, o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida. Alguns povos da


Antiguidade o consideravam o símbolo da Lua. É possível que ele se tenha tornado símbolo
pascal devido ao fato de a Lua determinar a data da Páscoa.

Mas o certo mesmo é que a origem da imagem do coelho na Páscoa está na fertilidade que os
coelhos possuem. Geram grandes ninhadas! Assim, os coelhos são vistos como símbolos de
renovação e início de uma nova vida. Em união com o mito dos Ovos de Páscoa, o Coelho da
Páscoa representa a renovação de uma vida que trará boas novas e novos e melhores dias,
segundo as tradições.

Outros símbolos da Páscoa

O cordeiro é um dos principais símbolos de Jesus Cristo, já que é considerado como tendo sido
um sacrifício em favor do seu rebanho. Segundo o Novo Testamento, Jesus Cristo é
―sacrificado‖ durante a Páscoa (judaica, obviamente). Isso pode ser visto como uma profecia
de João Batista, no Evangelho segundo João no capítulo 1, versículo 29: ―Eis o Cordeiro de
Deus, Aquele que tira o pecado do mundo‖.

Paulo de Tarso (na primeira epístola a Coríntio no capítulo 5, versículo 7) diz: ―Purificai-vos do
velho fermento, para que sejais massa nova, porque sois pães ázimos, porquanto Cristo, nossa
Páscoa, foi imolado.―

Jesus, desse modo, é tido pelos cristãos como o Cordeiro de Deus (em latim: Agnus Dei) que
supostamente fora imolado para salvação e libertação de todos do pecado. Para isso, Deus

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teria designado sua morte exatamente no dia da Páscoa judaica para criar o paralelo entre a
aliança antiga, no sangue do cordeiro imolado, e a nova aliança, no sangue do próprio Jesus
imolado. Assim, a partir daquela data, o Pecado Original tecnicamente deixara de existir.

A Cruz também é tida como um símbolo pascal. Ela mistifica todo o significado da Páscoa,
na ressurreição e também no sofrimento de Jesus. No Concílio de Niceia em 325 d.C,
Constantino decretou a cruz como símbolo oficial do cristianismo. Então, ela não somente
é um símbolo da Páscoa, mas o símbolo primordial da fé católica.

O pão e o vinho simbolizam a vida eterna, o corpo e o sangue de Jesus, oferecido aos seus
discípulos, conforme é dito no capítulo 26 do Evangelho segundo Mateus, nos versículos 26 a
28: ―Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos,
dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho,
dizendo: Bebei dele todos, porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado
por muitos homens em remissão dos pecados.―

Por que a Páscoa nunca cai no mesmo dia todos os anos?

O dia da Páscoa é o primeiro domingo depois da Lua Cheia que ocorre no dia ou depois de 21
março (a data do equinócio). Entretanto, a data da Lua Cheia não é a real, mas a definida nas
Tabelas Eclesiásticas. (A igreja, para obter consistência na data da Páscoa decidiu, no Concílio
de Niceia em 325 d.C, definir a Páscoa relacionada a uma Lua imaginária - conhecida como a
―lua eclesiástica‖).

A Quarta-Feira de Cinzas ocorre 46 dias antes da Páscoa, e portanto a Terça-Feira de Carnaval


ocorre 47 dias antes da Páscoa. Esse é o período da quaresma, que começa na quarta-feira de
cinzas.

Com esta definição, a data da Páscoa pode ser determinada sem grande conhecimento
astronômico. Mas a sequência de datas varia de ano para ano, sendo no mínimo em 22 de
março e no máximo em 24 de abril, transformando a Páscoa numa festa ―móvel‖. De fato, a
sequência exata de datas da Páscoa repete-se aproximadamente em 5.700.000 anos no nosso
calendário Gregoriano.

Tabela com as datas da Páscoa até 2020

 2000: 23 de Abril (Igrejas Ocidentais); 30 de Abril (Igrejas Orientais)


 2001: 15 de Abril
 2002: 31 de Março (Igrejas Ocidentais); 5 de Maio (Igrejas Orientais)
 2003: 20 de Abril (Igrejas Ocidentais); 27 de Abril (Igrejas Orientais)
 2004: 11 de Abril
 2005: 27 de Março (Igrejas Ocidentais); 1 de Maio (Igrejas Orientais)
 2006: 16 de Abril (Igrejas Ocidentais); 23 de Abril (Igrejas Orientais)
 2007: 8 de Abril
 2008: 23 de Março (Igrejas Ocidentais); 27 de Abril (Igrejas Orientais)
 2009: 12 de Abril (Igrejas Ocidentais); 19 de Abril (Igrejas Orientais)
 2010: 4 de Abril
 2011: 24 de Abril
 2012: 8 de Abril (Igrejas Ocidentais); 15 de Abril (Igrejas Orientais)
 2013: 31 de Março (Igrejas Ocidentais); 5 de Maio (Igrejas Orientais)
 2014: 20 de Abril
 2015: 5 de Abril (Igrejas Ocidentais); 12 de Abril (Igrejas Orientais)
 2016: 27 de Março (Igrejas Ocidentais); 1 de Maio (Igrejas Orientais)
 2017: 16 de Abril
 2018: 1 de Abril (Igrejas Ocidentais); 8 de Abril (Igrejas Orientais)
 2019: 21 de Abril (Igrejas Ocidentais); 28 de Abril (Igrejas Orientais)
 2020: 12 de Abril (Igrejas Ocidentais); 19 de Abril (Igrejas Orientais)

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No final das contas, a páscoa é mais um rito de povos antigos, assimilado pela Igreja Cristã de
modo a impor sua influência. Substituindo venerações à natureza (como no caso da Lua ou do
Equinócio, tipicamente pagãs) por outra figura da mitologia, tomando os significados do
judaísmo, os símbolos celtas e fenícios, remodelando mediante os Evangelhos e dando uma
decoração final, criou-se um ―ritual colcha de retalhos‖.

A verdadeira história do natal

Origens Pagãs

Quando buscamos a verdadeira história do Natal, acabamos diante de rituais e deuses pagãos.
Sabemos que Jesus Cristo foi colocado numa festa que nada tinha haver com Ele. O verdadeiro
simbolismo de Natal oculta transcendentes mistérios. Esta festividade tem sua origem fixada
no paganismo. Era um dia consagrado à celebração do ―Sol Invicto‖. O Sol tem sua
representação no deus greco-romano Apolo e, seus equivalentes entre outros povos pagãos
são diversos: Ra, o deus egípcio, Utudos na Babilônia, Surya da Índia e também Baal e Mitra.

Mitra era muito apreciado pelos romanos, seus rituais eram apenas homens que participavam.
Era uma religião de iniciação secreta, semelhante aos existes na Maçonaria. Aureliano (227-
275 d.C), Imperador da Roma, estabeleceu no ano de 273 d.C., o dia do nascimento do Sol em
25 de dezembro ―Natalis Solis Invcti‖, que significava o nascimento do Sol invencível. Todo O
Império passou a comemorar neste dia o nascimento de Mitra-Menino, Deus Indo-Persa da
Luz, que também foi visitado por magos que lhe ofertaram mirra, incenso e ouro. Era também
nesta noite o início do Solstício de Inverno, segundo o Calendário Juliano, que seguia a
―Saturnalia‖ (17 a 24 de dezembro), festa em homenagem à Saturno. Era portanto, solenizado
o dia mais curto do ano no Hemisfério Norte e o nascimento de um Novo Sol. Este fenômeno
astronômico é exatamente o oposto em nosso Hemisfério Sul.

Estas festividades pagãs estavam muito arraigadas nos costumes populares desde os tempos
imemoráveis para serem suprimidas com a advento do Cristianismo, incluso como religião
oficial por Decreto por Constantino (317-337 d.C), então Imperador de Roma. Como antigo
adorador do Sol, sua influência foi configurada quando ele fez do dia 25 de dezembro uma
Festa Cristã. Ele transformou as celebrações de homenagens à Mitra, Baal, Apolo e outros
deuses, na festa de nascimento de Jesus Cristo. Uma forma de sincretismo religioso. Assim,
rituais, crenças, costumes e mitos pagãos passam a ser patrimônio da ―Nova Fé‖,
convertendo-se deuses locais em santos, virgens em anjos e transformando ancestrais
santuários em Igrejas de culto cristão. Deve-se levar em consideração que o universo romano
foi educado com os costumes pagãos, portanto não poderia ocorrer nada diferente.

Todavia, o povo cristão do Oriente, adaptou esta celebração para 6 de janeiro, possivelmente
por uma reminiscência pagã também, pois esta é a data da aparição de Osíris entre os egípcios
e de Dionísio entre os gregos.

Jesus, o “Filho do Sol”

No quociente Mitraísmo/Cristianismo se observa surpreendentes analogias. Mitra era o


mediador entre Deus e os homens. Assegurava salvação mediante sacrifício. Seu culto
compreendia batismo, comunhão e sacerdotes. A Igreja Católica Romana, simplesmente
―paganizou‖ Jesus. Modificou-se somente o significado, mantendo-se idêntico o culto. Cristo
substituiu Mitra, o ―Filho do Sol‖, constituindo assim um ―Mito‖ solar equivalente, circundado
por 12 Apóstolos. Aliás, curiosa e sugestivamente, 12 (n. de apóstolos), coincidem com o
número de constelações. Complementando as analogias astronômicas: a estrela de Belém
seria a conjunção de Júpiter com Saturno na constelação do ano 7 a.C, com aparência de uma
grande estrela.

Nova Ordem

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Uma nova ordem foi estabelecida quando o decreto de Constantino oficializa o Cristianismo.
Logo, livres de toda opressão, os que então eram perseguidos se convertem em
perseguidores. Todos os pagãos que se atrevessem a se opor as doutrinas da Igreja Oficial
eram tidos como hereges e dignos de severo castigo.

Culto às “Mães Virgens”

No Antigo Egito, sempre existiu a crença de que o filho de Isis (Rainha dos Céus) nasceu
precisamente em 25 de dezembro. Isis algumas vezes é ―Mãe‖, outras vezes é ―Virgem‖ que é
fecundada de maneira sobrenatural e engravida do ―Deus Filho‖.

Tal culto à ―Virgem‖ é encontrado entre os Celtas, cujo a civilização, os druidas (sacerdotes),
praticam o culto baseado em um ―Deus Único‖, ―Una Trindade‖, a ressurreição, a imortalidade
da alma e uma divindade feminina: uma ―Deusa-Mãe‖, uma ―Terra-Mãe‖ e uma ―Deusa Terra‖
também virgem, que se destinava a dar à luz a um ―Filho de Deus‖.

Este culto as ―Deusas Virgens-Mães‖ está reiterado em muitas religiões e mitologias, inclusive
civilizações pré-colombianas, como em numerosas mitologias africanas e em todas as seitas
iniciáticas orientais.

A reconfortante imagem do arquétipo ―MÃE‖ é primordial para existência humana. Este


arquétipo pode assumir diversas formas: deusas, uma mãe gentil, uma avó ou uma igreja.
Associadas a essas imagens surgem a solicitude e simpatia maternas, o crescimento, a
nutrição e a fertilidade.

Culto ao “Deus-Herói”

Como afirmei, a concepção de uma ―Rainha dos Céus‖ que dá à luz a um ―Menino-Deus‖ e
―Salvador‖ corresponde a um arquétipo básico do psiquismo humano e tem sua origem nos
fenômenos astronômicos. Enviado por um ―Ser Supremo‖, que é o PAI, o FILHO assume
suprimindo o PAI, como acontece em todas as sagas gregas, indo-europeias e diversas
culturas. Coincidentemente, existe um padrão constante que quase sempre expressa o mesmo
propósito: fazer do FILHO um HERÓI, que cumpre o mandato do PAI, sucedendo-o. Este
HERÓI se faz causa de um ideal primeiro que se move ao longo da História como MODELADOR
de uma cultura.

A versão do nascimento e infância de Jesus é uma repetição da história de muitos outros


Salvadores e Deuses da humanidade. Ilustra bem a figura do ―Arquétipo Herói‖, comuns em
qualquer cultura e que seguem sempre a mesma fórmula. Nascidos em circunstâncias
misteriosas, logo exibe força ou capacidade de super-homem, triunfa na luta contra o mal e,
quase sempre, morre algum tempo depois.

Este arquétipo reflete o tipo de amadurecimento sugerido pelos mitos: nos alerta para
ficarmos atentos as nossas forças e fraquezas internas e nos aponta o conhecimento como
caminho para se desenvolver uma personalidade saudável.

―Anexo a nossa consciência imediata‖, escreveu Carl Jung, ―existe um segundo sistema
psíquico de natureza coletiva, universal e impessoal, que se revela idêntico em todos os
indivíduos‖. Povoando este inconsciente coletivo, afirmava, havia o que chamava de
―arquétipos‖, imagens primordiais ou símbolos, impressos na psique desde o começo dos
tempos e, a partir de então, transmitidos à humanidade inteira. A MÃE, o PAI e o HERÓI com
seus temas associados, são exemplos de tais arquétipos, representados em mitos, histórias e
sonhos.

Eis que nasce Papai Noel

Com o passar do tempo, de gerações que foram sucedendo-se, veio o esquecimento e nem
Mitra, nem Apolo ou Baal faziam mais parte do panteão de algum povo. Acabou restando

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somente símbolos: a árvore, a guirlanda, as velas, os sinos e os enfeites. Até que no séc. IV,
mais exatamente no ano de 371, uma nova estrela brilha em nosso céu e na Terra nasce
Nicolau de Bari ou Nicolau de Mira. A generosidade a ele atribuída granjeou-lhe s reputação de
mágico milagreiro e distribuidor de presentes. Filho de família abastada doou seus bens para
os pobres e desamparados. Entretanto, tecia um grande amor pelas crianças e foi através
delas que sua lenda se popularizou e que Nicolau acabou canonizado no coração de todas as
pessoas.

No fim da Idade Média, ainda ―espiritualmente vivo‖, sua história alcançou os colonos
holandeses da América do Norte onde o ―bom velhinho‖ toma o nome de ―Santa Claus‖. Ao
atravessar os Portais do Admirável Mundo, muito sobre o que ele foi escrito lhe rendeu vários
apelidos, como: ―Sanct Merr Cholas‖, ―Sinter Claes‖ ou ―Sint Nocoloses‖, e é considerado
sempre como padroeiro das crianças.

O Papai Noel Ocidental

Até aproximadamente 65 anos atrás o Papai Noel era, literalmente, uma figura de muitas
dimensões. Na pintura de vários artistas ele era caracterizado ora como um ―elfo‖, ora como
um ―duende‖. O Noel-gnomo era gorducho e alegre, além de ter cabelos e barbas brancas.

No final do século XIX, Papai Noel já era capa de revistas, livros e jornais, aparecendo em
propagandas do mundo todo. Cartões de Natal o retrataram vestido de vermelho, talvez para
acentuar o ―espírito de natal‖. A partir daí o personagem Papai Noel foi adquirindo várias
nuances até que em 1931 a The Coca-Cola Company, contrata um artista e transforma Papai
Noel numa figura totalmente humana e universalizada. Sua imagem foi definitivamente
adotada como o principal símbolo do Natal.

A imagem do Noel continuou evoluindo com o passar dos anos e muitos países contribuíram
para sua aparência atual. O trenó e as renas acredita-se que sejam originárias da
Escandinávia. Outros países de clima frio adicionaram as peles e modificaram sua vestimenta e
atribuíram seu endereço como sendo o Polo Norte. A imagem da chaminé por onde o Papai
Noel escorrega para deixar os presentes vieram da Holanda.

Hoje, com bem mais de 1700 anos de idade, continua mais vivo e presente do que nunca.
Alcançou a passarela da fama e as telas da tecnologia. Hoje o vemos em filmes, shoppings,
cinemas, no estacionamento e na rua. Ao longo desses dezessete séculos de existência,
mudou várias vezes de nome, trocou inúmeras de roupa, de idioma e hábitos, mas
permaneceu sempre a mesma pessoa caridosa e devotada às suas crianças. E, embora
diversas vezes acusado de representar um veículo que deu origem ao crescente consumismo
das Festas Natalinas, é preciso reconhecer que ele encerra valores que despertam, revivem e
fortalecem os nossos sentimentos mais profundos. Sua bondade é tão contagiante que atinge
tipo ―flecha de cupido‖, qualquer pessoa, independente de crença ou raça, o que evidencia a
sua magia e seu grande poder de penetração no mundo.

Espero que todos tenham um feliz dia de Mitra!

Deus feito em casa

Muitas culturas têm um deus. E considerando que todas essas culturas são diferentes entre si,
todos esses deuses acabam sendo diferentes entre si também.

Se você quer ter um deus particular (um só seu), não é tão complicado assim. Diga que seu
deus existe e mande que os outros provem em contrário. Muito simples, não é? Ah, mas aí é
que está! Para se criar um deus, é preciso seguir certas ―regrinhas‖.

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Este artigo mostra como criar seu próprio ―Deus Home-Made‖. Come with us e que seu deus o
acompanhe.

1 – SÓ ELE EXISTE

Bom, pra princípio de conversa, somente o seu deus existe. Ele é único e exclusivo. Você
acredita nele e isso é o suficiente para provar tal existência. Quem duvidar que prove o
contrário, ora essa! Assim, quem não acreditar em seu deus é ateu. Pouco importa se são
judeus, cristãos, muçulmanos, seguidores de deidades pagãs etc. São todos ateus e ponto
final!

Ignore os princípios da Lógica. Exija que provem que seu deus é apenas uma piada e que não
existe de fato. Não dê a mínima se te disserem que não se pode provar uma inexistência, isso
é papo de ateu ignorante. Seu deus existe, é real e o ama de verdade. Os ateus? Ora, seu
deus os odeia (assim como você os odeia também) e vai mandá-los para inferno, para
sofrimentos terríveis. Entretanto, sendo você uma pessoa boa e justa, estará orando para que
seu deus os perdoe (coisa que você sabe que nunca acontecerá). Você fica parecendo um cara
legal, seu deus fica com duas personalidades e todos os que o contrariarem irão pro inferno,
tendo medo e se afastarão de você, mostrando o quanto você está certo.

Quer coisa melhor que isso?

2 – SEU DEUS SABE TUDO

Ora, convenhamos, um deus que se preze tem que saber tudo. Senão, para que alguém
precisaria dele? Contrate um economista e fim de papo! Mas, você está criando uma religião e
não um cargo no Ministério da Fazenda. Assim, seu deus sabe tudo de tudo sobre tudo. Sabe
até o que as pessoas não fizeram, mas queriam fazer. E o que é melhor: Disse tudo a você,
pois você é o enviado dele (não, não foi um trocadilho com relação à sua opção sexual).

Desse modo, você – oh, Profeta! – também sabe tudo; e não caia na conversa de incrédulos
que dizem que suas acusações são infundadas. Seu deus nunca o enganaria, não é mesmo?
Condene severamente, amaldiçoe e execre em público todos aqueles que o contrariarem, não
se esquecendo de orar pela graça do seu deus a essas pobres almas pecadoras (coisa que você
não faz a menor questão que aconteça).

3 – SEU DEUS ESTÁ EM TODO LUGAR

Olha só, seu deus tem que estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Se aquele deus lá (o
tal daqueles caras largados no deserto, junto com bosta de cabra) era onipresente, por que o
seu não seria? Afinal, o seu deus é único e verdadeiro, enquanto que o deles é falso,
obviamente. Se o deusinho deles fosse verdadeiro, ele teria se apresentado para você. Ele fez
isso? Não, mas o seu deus sim! Em quem você prefere acreditar?

Assim, o seu omniultrapowermegafucker deus pode ver onde estão os pecadores, para ferrá-
los depois. Afinal, é estando em todos os lugares que ele sabe de tudo, não é mesmo? E se te
perguntarem como ele precisa estar em algum lugar se ele sabe tudo, chame esta pessoa de
herética, berre que é blasmacho… quero dizer, blasfêmia condene-a ao inferno, jogue algumas
maldições sobre a família dele e grite alucinadamente. Nossa legislação ainda está proibindo
assassinatos e este seria o único método de fazê-lo parar. Logo, NÃO PARE!!!

Não se esqueça de terminar com a frase: Meu deus te ama.

4 – SEU DEUS É BOM

Claro! Afinal, ele é deus. E todo deus é bondoso, certo? Errado! O SEU deus é bondoso! Os
deuses dos outros não são porque não existem. Se existissem, não haveria monoteísmo. E

363
você sabe muito bem que seu deus lhe disse que ele era o único deus que existia; e você,
como um bom fiel (e poderoso profeta), vai acreditar em tudo o que o senhor seu deus fala, é
óbvio!

Entretanto, convém notar que seu deus fica irritado às vezes e pune as pessoas. Isso acontece
sim, é verdade, e é tudo por culpa de quem? Dele que as criou? Claro que não, ora bolas! A
culpa é de quem não entendeu o que seu deus disse. E se ninguém mais ouviu o que seu deus
falou, é porque são pecadores. E nós sabemos que pecadores merecem ir pro inferno.

Pode ser que algumas pessoas inocentes sofram, mas quem garante que bebezinhos não se
tornariam pérfidos ateus? Seu deus sabe de tudo, logo ele vai punir o bebezinho logo de uma
vez. Esta geração atual já nasce endiabrada mesmo. Vide aquela garota do filme do exorcista.
Aquele padre molenga achou que ela era boazinha. Se ela realmente fosse, teriam feito uma
continuação do filme? Pense nisso.

No final das contas, seu deus é o cara mais legal que você conhece. O pessoal que sofre, mas
dizia acreditar nele, não passam de mentirosos. Somente o verdadeiro fiel tem graças infinitas.
Se não tiver, é porque seu deus quer testar a fé deles, mesmo sendo omnisciente. Logo, é
necessário que você seja instrumento do seu deus e comece a perseguir e imputar dor e
sofrimento a quem o rodeia. Vai que eles são espiões dos falsos deuses? De qualquer forma, a
pessoa tem que saber que não é fiel ao seu deus. Mesmo sendo um bebezinho de colo. E você
– oh, Profeta! – é aquele que ajudará o seu deus nesta Missão Santa, que não tem nada de
impossível. Ou você acha que Tom Cruise faria melhor?

5 – DEUS TE ESCOLHEU

Bom, tomando por base que você criou o deus, é justo supor que você (e ninguém mais) é o
mensageiro dele. E é simples de entender.

Você criou um deus. Mas só fez isso porque seu deus existe e lhe disse isso pessoalmente.
Você sentiu ele penetrar em… humm… err… bem, ele entrou em você (espiritualmente, é claro)
e isso o inspirou divinamente. Seu deus só fala com você e ninguém mais, porque mesmo
sendo onipresente, ele sente que precisa de um porta-voz na Terra. E sendo o porta-voz dele,
você usa a inspiração para espalhar a Boa Nova. Qual é a Boa Nova? Seu deus existe, ama
todo mundo, mas vai destruir todo aquele que pensar em dizer que o profeta dele (no caso,
você) é totalmente maluco.

Quem não acreditar, terá a misericórdia do seu deus (enquanto arde no fogo do inferno). Até
mesmo o Hank pensa duas vezes de contrariá-lo e Chuck Norris passa batido.

Qualquer mente esclarecida ao mínimo saberá na verdade que você não criou nada. Seu deus
é que lhe fez ter esta ideia – esta inspiração divina, digamos assim – pois ele precisava de um
mensageiro fiel e um profeta à altura da grandiosidade dele. Logo, o escolhido foi… VOCÊ!!
Pouco importa se a descrição do seu deus se pareça contigo. É normal, já que fomos feitos à
imagem e semelhança dele, mesmo tendo tantos indivíduos completamente diferentes um dos
outros.

Portanto, cabe a você – oh Escolhido – impor… hã, quero dizer… pregar o culto ao deus
supremo. Quem vai lhe contestar? Um bando de céticos que não sabem de nada? Condene-os
ao inferno e está tudo certo. Teu deus te ouvirá. Afinal, quer maior teste de fé que aceitar
você, meu caro Profeta, que seu deus é único e que todos devem fazer o que você manda?
Afinal, você é o Escolhido. Mas, evite andar de casacão preto e óculos escuros e jamais –
JAMAIS!! – tome qualquer pílula ou comprimido na cor vermelha. Isso é coisa do diabo (daqui
a pouco saberemos mais sobre isso).

6 – SEU DEUS FEZ TUDO

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Precisava dizer isso? Ora, se o seu deus é único e poderoso, claro que ele fez o Universo há…
bem, não importa quando foi, importa? E não acredite em cientistas. Como diz o reverendo
Homer Simpson: ―Fatos… Bah! Pode-se provar qualquer coisa com eles‖.

A parada é a seguinte: Numa hora de ociosidade, seu deus resolveu criar tudo. Muito bem, ele
criou. E para quê? Para que nos mundos… digo, neste mundo aparecessem seres que o
adorassem. Simples, não? Afinal, se ele é deus, a nossa obrigação é cairmos de joelhos
perante ele (e a você também, já que é o emissário); e quem não quiser… bem, é um ateu
desgraçado e vai sofrer penas infernais de dar dó.

Mas, como você avisou antes, seu deus não terá pena de ninguém. Mas, tenha certeza: Seu
deus ama todo mundo, pois é clemente e misericordioso.

7 – O NOME DO SEU DEUS

Deus, ora bolas! Que outro nome ele precisa ter? Os outros que tenham, já que não passam
de demônios mesmo. O único deus que existe é o seu, lembre-se disso.

8 – HISTÓRIAS CÓPIA/COLA

Em qualquer religiãozinha ridícula, vagabunda e mequetrefe que vemos por aí, os deuses (bem
chulés também) passam por histórias grandiosas e épicas. Tendo isso em mente, você pode se
perguntar: O que meu deus fez de extraordinário?

Bem, meu caro Profeta, a resposta é simples: Tudo aquilo e ainda mais!

Pensa comigo. Seu deus fez tudo de tudo, certo? Os outros deuses não passam de historinhas
inventadas (que perdem de 1000 a zero para as do Cebolinha). Seu deus hiper-mega-ultra é
muito superior. E se as outras culturas possuem aquelas histórias é porque copiaram das
aventuras de seu deus.

Não interessa se você o criou agora, isso não é relevante. Seu deus sempre existiu, isto é fato!
E se ele sempre existiu, todos falavam dele, apesar de darem nomes diferentes. Não importa!
Seu deus é ―O Cara‖ e todos os pecadores estavam falando dele, quando criaram suas
mitologias estúpidas.

Assim, eles apenas tiveram contato com seu deus, mas como porcos pecadores que são,
ignoraram o ―hômi‖ e agora estão pagando por isso. Isso significa que todas aquelas histórias
foram baseadas em acontecimentos VERÍDICOS ordenados pelo SENHOR seu deus.

E tudo começou com uma chuvarada imensa que alagou tudo inclusive as montanhas mais
altas (o fato da água ter aparecido do nada é irrelevante. Seu deus fode pode tudo).

E quem duvidar só pode ser um ateu desgraçado e você sabe melhor do que eu o que
acontece com hereges. Afinal, você é o inspirado.

9 – O DIABO

Não existe somente mocinhos bons numa história. Sempre há aqueles que matam, estupram,
pilham, saqueiam, mutilam, escravizam, massacram e agem com selvageria extrema em
guerras sangrentas e desnecessárias.

Um cético pode lhe interromper neste ponto e dizer que tudo isso fora muitas vezes causadas
em nome das religiões. O que você fará? Resposta: Rirá com desdém. Por quê? Ora, Profeta,
simplesmente porque não foi o seu deus (o único e verdadeiro deus que existe), mas sim obra
do diabo.

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O diabo, cramunhão, pé-de-bode, capiroto, bicho-feio, demo e nomes afins retratam a mesma
coisa: qualquer pseudodeusinho pé-rapado que não seja o seu deus. Afinal, seu deus é único.
Os demais deuses (todos falsos) são contra ele. O diabo é uma figura que se contrapõe ao seu
deus, assim: todos aqueles deuses são demônios. Simples!

Aqueles dois céticos chatos de certo site inconveniente podem argumentar dizendo que se seu
deus criou tudo, logo criou o diabo também e, assim, é responsável por tudo. E daí? Eles que
falem! Eles foram tocados pelo seu deus? Não, mas você foi (espiritualmente, claro). Eles
entendem a beleza disso? Claro que não. São alarmistas fantasiosos e, pior de tudo, céticos
(arghhhhhhhh).

Assim o que lhe resta? Sacudir a cabeça, insistir que seu deus é bom, o capeta não é, eles
estão influenciados pelo maligno e acabarão no inferno. Mas, como você é uma boa pessoa,
rezará muito para que eles encontrem a luz do seu deus, amém.

10 – CONTRADIÇÕES

Seguinte. Seu deus precisa dar algumas instruções. Essas instruções (devidamente repassada
por você) podem ser compreendidas ou não. Não é problema seu se tem idiotas no mundo que
não compreendem o senhor seu deus. Esses são infiéis e merecem o inferno.

E o fato de haver discrepâncias e contradições, só ressalta o valor espiritual de suas palavras,


pois a letra cata e o espírito mexirica. Ou algo similar a isso.

Isso significa que seu deus é sábio e confundiu todo mundo para que ele pudesse saber quem
é o verdadeiro fiel. Afinal, ele é omnisciente, mas as pessoas não. E estes precisam ser
testados, para que usem seu livre arbítrio e sigam da melhor forma possível tudo o que já
tinha sido predestinado pelo seu deus omnibondoso, já que ele mandará quem não fez direito
nenhuma de suas instruções lá pras profundezas do inferno.

Isso não é lindo? Ai, Ai…

Esquecendo Deus

Não sou contra a religião assim como não sou contra a literatura, o sexo e as drogas. Todos
eles podem ser fonte legítima de prazer para quem os usa. E não dá para negar que muita
gente encontra conforto junto à religião. Alguns experimentam até mesmo o êxtase. Há ainda
quem dela se valha para formar e cimentar um círculo de relacionamentos sociais, mais ou
menos como um clube. Para nenhuma dessas funções, entretanto, é necessário que ela seja
verdadeira. Aliás, afirmar que determinada religião é falsa é uma asserção com a qual a
esmagadora maioria da humanidade tende a concordar, desde que o juízo não se refira a seu
próprio credo.

Para que a prática religiosa se mantenha legítima, isto é, mais benigna do que maligna, é
necessário antes de qualquer coisa que ela não sirva de pretexto para imposições e violência.
Se alguém, mesmo contra todas as evidências, quer acreditar que vinho se converte em
sangue, e a hóstia, em carne, tem o direito de fazê-lo. O que não dá para aceitar é que, em
nome dessa e de outras ideias às vezes exóticas, derive um código moral e busque empurrá-lo
goela abaixo de toda a sociedade, incluindo os que não partilham das mesmas crenças, as
quais, vale insistir, têm uma base empírica extremamente frágil, para dizer o mínimo.

E, infelizmente, a história está repleta de guerras e massacres cometidos em nome da religião.


Mesmo hoje, em pleno século 21, muitas vezes é a fé que define aqueles a quem podemos
matar. Terroristas jihadistas têm o ―dever‖ de matar infiéis. Sunitas e xiitas no Iraque estão,
em nome da verdadeira sucessão do profeta, autorizados a dizimar-se uns aos outros. Nós, no
Ocidente, lançamo-nos na missão sagrada de semear a democracia no mundo islâmico.
Fazemo-lo, é claro, atirando bombas. Aos que inadvertidamente morrem no processo

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chamamos eufemisticamente de ―danos colaterais‖. Em geral, são muçulmanos árabes,
africanos ou asiáticos.

Não estou, evidentemente, atribuindo à religião toda a violência de que o homem é capaz. Ao
contrário, estou convicto de que, não fosse a fé, encontraríamos outros pretextos para nos
massacrar, como a coloração da pele, o idioma de origem ou alguma outra bobagem do tipo a
mão que usa para escrever. É inegável, entretanto, que a religião serviu e está servindo de
motor à barbárie. Nesse contexto, e dada a virtual impossibilidade de simplesmente
acabarmos com os credos, a medida óbvia que se impõe é conter o fervor religioso das
pessoas. Se todos forem um pouco mais relapsos na implementação de mandamentos que
cobram a destruição dos infiéis, teremos um mundo mais pacífico.

Também não nego que a religião esteja na origem de coisas, senão boas, pelo menos
interessantes, na música, na arquitetura, na pintura e, acrescento por minha conta e risco, na
sutil arte metafísica. Só que vale aqui o mesmo argumento da violência. Não é porque essas
realizações se deram sob o signo da religião que não teriam ocorrido sem ela, que, de resto,
esteve com o homem desde que ele desceu das árvores. Daí não decorre que ela seja a
responsável direta por todas as obras humanas, sejam elas boas ou más.

Isso nos leva a uma pergunta interessante. Por que diabos a religião existe? A resposta é mais
ou menos óbvia para o crente: para honrar a Deus e pedir-Lhe que interceda por nós.
Curiosamente, é entre agnósticos, ateus e outros que buscam uma abordagem científica do
fenômeno religioso que a questão se torna controversa. ―Grosso modo‖, há os que lhe
reconhecem algum valor, como o de reforçar os laços sociais entre as pessoas numa
comunidade, e os que a consideram um mero efeito colateral– e adverso – da circuitaria
cerebral humana. O biólogo Richard Dawkins, por exemplo, aposta que o pendor humano pelo
sobrenatural é o resultado inopinado do módulo cerebral que nos torna crianças obedientes,
acreditando, sem nenhum espírito crítico, nas histórias que nossos pais nos contam.
Especialmente no passado darwiniano, obedecer cegamente aos mais experientes ajudava a
manter-nos longe de perigos. Outros autores, como o filósofo Daniel Dennett, elabora um
pouco mais a questão, sugerindo a concorrência de outros módulos neuronais, como a
tendência a ver agentes onde só existem sombras (o seguro morreu de velho) e a inventar
explicações, ainda que infundadas, para tudo – característica que, embora nos faça pagar
alguns micos, pode contribuir para a sobrevivência do grupo.

Sei que nós, seres imperfeitos, não devemos questionar as decisões do Altíssimo, mas
convenhamos que não faça muito sentido para um Deus onipotente e benevolente revelar-se
na forma de colecionador de prepúcios para os judeus e, para os maias, como um espectador
ávido por sacrifícios humanos. A hipótese de que deuses são criações humanas explica muito
melhor a universalidade do fenômeno religioso do que a teoria das ―sementes de verdade‖
propugnada pelo catolicismo.

Alguns de meus interlocutores partiram dessa universalidade da religião para concluir que ela é
necessária e benéfica. Até admito que, no passado, ela possa ter ajudado. Já não é o caso. A
religião acabou tomando rumos que a tornaram uma força mais maligna do que benigna,
atuando muito mais para separar as pessoas – e de forma violenta – do que para uni-las. Um
dos responsáveis por essa transformação foi o advento do monoteísmo, tão celebrado por
judeus, cristãos e muçulmanos.

É claro que os povos já guerreavam muito antes de Abrão deixar a cidade de Ur, na Caldéia.
Só que os combates não costumavam vestir as roupagens da religião. Aliás, nem havia
necessidade. Uma das vantagens do politeísmo é que ele favorece o livre intercâmbio de
deuses. Um babilônio e um grego tinham inúmeras diferenças, mas, se havia algo que podia
uni-los, era justamente identificar as semelhanças entre Ishtar e Afrodite, que se tornavam
apenas diferentes nomes da mesma deusa. Com o monoteísmo, veio o exclusivismo. Deus não
apenas pedia para ser louvado como passou a exigir a destruição de seus, digamos,
concorrentes. Estava aberta a avenida para a intolerância religiosa, que até hoje segue
contabilizando vítimas. Nesta semana mesmo, o Vaticano soltou um novo documento que volta

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a proclamar sua superioridade sobre as igrejas ortodoxas e as ―seitas‖ protestantes. ―Quod
erat demonstrandum―.

A forma como encaramos Deus é, felizmente, mutável. Ishtar, Afrodite, Mitra, Wotan e vários
outros panteões foram esquecidos. O próprio Iahweh do Antigo Testamento se tornou, de
algum modo, menos raivoso: a grande maioria dos judeus e dos cristãos já não apedrejam
aqueles que levam Seu santo nome em vão. É um progresso. E, já que todos os sinais são de
que a religião não desaparecerá tão cedo, resta esperar que ela continue se modificando para
assumir formas menos destrutivas. Não creio que isso ocorrerá no horizonte de nossas vidas,
mas quem sabe no dos netos dos netos de nossos netos.

Fonte: Folha Online

Inferno Desmascarado

Ah, o Inferno!! Aquele lugar maravilhoso de sofrimento eterno, onde o fogo que nunca se
apaga e a besta voraz, que rói sem clemência, irão nos torturar e atormentar para sempre. O
mundo pós vida onde seremos impingidos de dor e sofrimento, gritando e implorando por uma
misericórdia que nunca virá, por séculos e mais séculos, a mando de um deus justo, bondoso e
que nos ama infinitamente.

Aquele belo recanto agradável que os amantíssimos religiosos – ciosos de seu amor cristão –
fazem questão que nós, céticos, sejamos jogados para nunca mais sairmos de lá.

Infelizmente, para os religiosos, aí está mais um sério problema teológico: O que é o Inferno?
Onde ele fica? De onde veio esse mito? Será inteiramente bíblico? Hummm… É exatamente
isso o que examinaremos agora.

Os toscos religiosos podem sapatear, espernear, arrancar os cabelos e esbravejarem o quanto


quiserem; mas não há NENHUMA menção de ―Inferno‖ – como sendo um lugar de tormento
eterno – na Bíblia, conforme as religiões cristãs pregam. A bem da verdade, o que temos são
traduções canhestras de quatro palavras diferentes: Sheol, Hades, Geena e Tártaro.

Será que tais expressões representam a mesma ideia, ou seja, a de um inferno ardente, onde
as pessoas são torturadas por toda a eternidade? Bem, nas páginas a seguir examinaremos
atentamente cada uma dessas expressões, analisaremos as vertentes cristãs que pregam o
tormento eterno, o tormento temporário e o aniquilacionismo, bem como as prováveis origens
desse mito. Senhoras e senhores peguem as suas roupas de amianto e me acompanhem, pois
este será um artigo quente.

SHEOL

Sheol ( ‫ ) שאול‬é uma palavra hebraica que tem como significado ―mundo dos mortos‖. Poderia
ser traduzido também como ―sepultura‖; o que tem tudo a ver, já que mortos não se
hospedam em hotéis 5 estrelas. Algumas vezes, atribui-se a ele o conceito de inferno, mas
isso soa um pouco estranho.

Todos nós morreremos um dia. Ok! Mas, isso significaria (em termos teológicos) que todos nós
acabaríamos no mesmo lugar? Nem mesmo o Omni Tripla Ação seria tão injusto, não é
mesmo? Hummm… bem, levando em conta outras passagens da Bíblia, isso é um tanto
questionável. Bom, deixemos isso de lado e sigamos em frente. A estranheza dessa expressão,
portanto, advém do conceito que todas as pessoas do mundo irão parar numa sepultura
(melhor ou pior, não importa) e, portanto, esse pessoal todo iria para lá, não configurando um
tormento eterno, pois nem todos (em tese) merecem isso, não é mesmo?

368
Dando uma repassada nas diversas traduções pelas quais a Bíblia passou, encontraremos
diferentes abordagens desta palavra. Por exemplo, podemos citar inicialmente Deuteronômio
32:22 , cujo texto em hebraico é visto abaixo:

‫באפי קדחה כי־אש‬


‫עד־שאול ותיקד‬
‫ארץ ותאכל תחתית‬
‫מוסדי ותלהט ויבלה‬
‫הרים׃‬

Confira no HTML Bible

Creio que deu pra perceber que ―inferno‖ não é a principal tradução, segundo o site. É apenas
uma referência secundária, por causa dos significados que relacionam que o verbete principal.
E é agora que a porca torce o rabo!

A versão João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada traz o seguinte:

Deuteronômio 32:22 – Porque um fogo se acendeu no meu furor e arderá até ao mais
profundo do inferno, consumirá a terra e suas messes e abrasará os fundamentos dos
montes.

Mesmo porque, a versão King James traz:

Deuteronomy 32:22 – For a fire is kindled in mine anger, and shall burn unto the lowest
hell, and shall consume the earth with her increase, and set on fire the foundations of the
mountains.

Conforme comprovamos AQUI.

Mas, como nada nas religiões é perfeito, na versão Nova Tradução na Linguagem de Hoje vem
escrito:

Deuteronômio 32:22 – A minha ira se acenderá como fogo e acabará com tudo o que há na
terra; ela queimará até o mundo dos mortos e incendiará as bases das montanhas.

A questão é que ―Sheol‖ nunca teve (segundo a etimologia em hebraico) a ideia de lugar de
suplício para os mortos. Hebraico não é uma língua simples; ainda mais num texto tido como
sendo da Idade do Bronze (mas que provavelmente fora escrito no início da Era do Ferro). No
link supracitado é apresentado igualmente a American Standard Version, que diz:

For a fire is kindled in mine anger, And burneth unto the lowest Sheol, And devoureth the
earth with its increase, And setteth on fire the foundations of the mountains.

O mesmo acontece com a versão Young‘s Literal Translation (Tradução Literal de Young),
traduzida diretamente por Robert Young em 1862. Young era um especialista em idiomas
antigos, cujas principais obras são (além da referida versão bíblica): Analytical Concordance to
the Bible (para a versão King James) e Concise Commentary on the Holy Bible.

Young preferiu manter a palavra ―Sheol‖ em seu original em hebraico, por não ter encontrado
nenhum paralelo no idioma de Shakespeare; e o mesmo acontece no idioma de Machado de
Assis. O que fizeram, portanto, foi adequar ao sentido mais aproximado a um contexto
idealizado pelos tradutores, mas isso traz alguns problemas.

Examinando Gênesis 42:38 (versão Almeida Corrigida e Fiel), encontramos:

369
Ele, porém disse: Não descerá meu filho convosco; porquanto o seu irmão é morto, e só ele
ficou. Se lhe suceder algum desastre no caminho por onde fordes, fareis descer minhas cãs
com tristeza à sepultura.

Se um só exemplo é pouco, examinemos Jonas 2:1-2 (mesma versão):

E disse: Na minha angústia clamei ao SENHOR, e ele me respondeu; do ventre do inferno


gritei, e tu ouviste a minha voz.

Ou, para mostrar como este livro é uma zona infernal, vejamos a versão Ave Maria:

Em minha aflição, invoquei o Senhor, e ele ouviu-me. Do meio da morada dos mortos,
clamei a vós, e ouvistes minha voz.

Mas a versão Almeida Atualizada traz ainda:

e disse: Na minha angústia clamei ao senhor, e ele me respondeu; do ventre do Seol gritei, e
tu ouviste a minha voz.

Nesta versão, as ocorrências de ―Seol‖ (sem H) nunca aparecem traduzidas. Que tal isso?

Bem, bem… Faça a sua escolha! Tem Bíblia para todos os gostos.

No site Conversão Judaica, podemos ler o seguinte¹:

Muitos pensadores judeus tradicionais teceram considerações sobre o modo como os


indivíduos seriam recompensados ou punidos após suas mortes. Há poucas e raras descrições
da vida após a morte. Os tradicionalistas deram o nome de ―Guehenôm‖ para o local onde as
almas são punidas. Muitos pensadores judeus notaram que uma vez que D‘us é,
essencialmente, pleno de misericórdia e amor, não se deve considerar que a punição será
eterna²; longe disso – muitas vezes considera-se que esse período, para a maioria das
pessoas, dura menos de um ano.

Ao mesmo tempo, há muitos conceitos diferentes de Paraíso: um deles defende que o Paraíso
é o local onde nós finalmente entenderemos o verdadeiro sentido de D‘us. Ademais, melhor do
que pensar em céu e inferno separados é imaginar que há somente uma distância maior ou
menor de D‘us após da morte. Além disso, a punição poderá ser auto-determinada, ou seja, o
indivíduo receberá um sofrimento equivalente àquele que proporcionou enquanto estava vivo.
Portanto, o judaísmo não tem uma noção de céu e inferno, com diferentes lugares no inferno
para diferentes punições. Em vez disso, prevalece a idéia de que D‘us usa a vida após a morte
para conceder a justiça definitiva e como uma última oportunidade para que as pessoas
predominantemente más busquem algum tipo de redenção final.

O judaísmo não acredita que as pessoas não-judias irão automaticamente para o inferno ou
que os judeus irão automaticamente para o céu somente por pertencerem a uma ou outra
religião. Em vez disso, o que realmente conta é a conduta ética individual. Muitos judeus
tradicionais acreditam que o judaísmo fornece o melhor guia para conduzir essa vida ética.

Fonte: http://www.conversaojudaica.org/diferencas.php

¹ Os grifos são meus.


² Os cristãos deveriam aprender com os judeus, ao invés de virem aqui para nos mandar pro
inferno.

Como vocês podem ver, os judeus sequer usam a palavra Sheol como inferno, tormento
eterno ou qualquer bobagem nesse sentido. Sendo assim, é totalmente estúpido, tolo, imbecil

370
e idiota achar que o Velho Testamento faz menção a isso. Não que no VT não haja coisas
estúpidas, tolas, imbecis e idiotas.

Dessa forma, todo o conceito de Sheol – como sendo o Inferno Eterno – é totalmente
detonado. Há muitas e diferentes traduções, muitos contextos mudados. Não se pode dizer
com certeza qual é o mais certo, devido à precariedade das traduções. Logo, basta analisar as
tradições do Judaísmo (não só a sua religião, mas os preceitos morais), em fontes
especializadas, para constatar que aí não passa de um erro grosseiro e despropositado.

Na página a seguir, estudaremos sobre o Hades e como a cultura grega influiu na redação do
cânon bíblico.

HADES

Hades (do grego Αιδη, que significa ―invisível‖),


segundo a mitologia grega, é o deus do mundo
dos mortos e das riquezas dos mortos, isto é, se
você era um defunto, quando fosse para o reino
de Hades, não só você, mas suas posses
passariam a pertencer a ele. Parece algo com
certa conotação sexual, mas vocês sabem como
eram os gregos.

Hades era descrito como austero e impiedoso,


insensível a preces ou sacrifícios, intimidativo e
distante. Era geralmente representado com o
elmo mágico que lhe dava essa habilidade, que
ele ganhou dos ciclopes quando participou da
guerra Titanomaquia contra os titãs. Para fins de
esclarecimento, Titanomaquia é o relato da
guerra entre os titãs liderados por Cronos e os
deuses do Olimpo liderados por Zeus, que
definiria o domínio do universo.

No fim da luta contra os titãs – e terem vencido os adversários – Zeus, Poseidon e Hades
partilharam entre si o universo; Zeus ficou com o céu, e a terra, Poseidon ficou com os mares
e Hades tornou-se o deus do inferno e das riquezas.

Sim, eu sei! Eu sei! Você ouviu esta história antes: Um deus lutando contra um adversário
poderoso, chamando vários deuses, semideuses e espíritos para lutarem contra este
adversário e seus seguidores perigosos. O grande deus e seu exército vencem, enquanto o
adversário e seus asseclas são atirados para fora do Universo e fica tudo bem. É claro que
você deve ter lido isso, não é mesmo? Principalmente na mitologia… NÓRDICA.

A propósito, sugiro a leitura do livro ―As melhores histórias da mitologia nórdica‖, de


A.S.Franchini e Carmen Seganfredo. Ele pode ser baixado AQUI.

Odin (o deus caolho) e sua trupe saíram na porrada com os Gigantes em várias batalhas. Nada
de anormal nisso. Ou você achou que esses mitos aparecem do nada?

Bem, como vocês podem ver, o relato mitológico dos gregos tem tanto a ver com a Bíblia, o
Judaísmo e o Cristianismo, como um jogo de futebol tem a ver com xadrez, certo? Errado.
Tem e muito! Estes mitos sempre acabavam se misturando num grande milk shake teológico
de vários sabores, pois o mundo não tinha a população e o povoamento de hoje em dia. As
sociedades viviam muito próximas umas das outras, favorecendo uma espécie de intercâmbio
cultural.

371
Voltando a Hades, seu nome era usado para designar tanto o deus como o seu mundo. Ele é
também conhecido por ter raptado a deusa Perséfone, filha de Deméter. É interessante
observar que ao contrário de seus irmãos, Zeus e Poseidon – que tiveram dezenas de filhos –
Hades não teve filhos, dentro ou fora de seu casamento.

Hades, el malvadón, é o senhor das várias instâncias do Mundo dos Mortos (de acordo com a
mitologia grega). Seriam essas instâncias: Érebus, Rios Sinistros, Tártaro e os Campos Elísios,
e essas instâncias juntas formam o reino de Hades, a morada dos mortos, destino último ou
qualquer bobagem neste sentido. E se você se lembrou da passagem ―muitas são as moradas
de meu pai‖, também não verá coincidência apenas. A menos que Jesus seja filho de Hades.
Mas, isso será abordado mais pra frente.

Nesse ponto, somos forçados a perguntar: Hades? Na Bíblia? Uádafâkisdéti? O mito de Hades
tem tanto a ver com a Bíblia como a Bruna Surfistinha tem a ver com um convento! Se bem
que nos conventos também rolam umas put… bem, deixa pra lá. Se você está prestando
atenção neste texto, verá que eu acabei de explicar isso logo acima. Se você não entendeu,
vou repetir: Houve uma mescla de mitos, fazendo com que a redação final da Bíblia se
tornasse essa colcha de retalhos doida, onde aparecem unicórnios, dragões e por pouco não
aparece um hobbit também. Nada no livrinho mágico cristão é original. E pior! Trata-se de
uma cópia muito da relaxada!

De qualquer forma, este ―mix‖ mitológico pouco importa para fins de uma análise apenas
bíblica. Afinal, o Hades Bíblico não é um lugar físico como a designação do estado da alma
após a morte. É, supostamente, um mundo invisível (qual era a tradução do nome ―Hades‖,
mesmo?) dos espíritos daqueles que morreram. Seria, em tese, um estado intermediário entre
a vida e a ressurreição (para os salvos) ou o juízo (para os que perecem).

Agora, vamos dar uma olhadinha em Mateus 11:23, em três versões bíblicas diferentes:

João Ferreira de Almeida Corrigida e Fiel: E tu, Cafarnaum, que te ergues até aos céus,
serás abatida até aos infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que
em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje.

Nova Tradução da Linguagem de Hoje: E você, cidade de Cafarnaum, acha que vai subir
até o céu? Pois será jogada no mundo dos mortos! Porque, se os milagres que foram feitos
aí tivessem sido feitos na cidade de Sodoma, ela existiria até hoje.

João Ferreira de Almeida Atualizada: E tu, Cafarnaum, porventura serás elevada até o
céu? Até o hades descerás; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em
ti se operaram, teria ela permanecido até hoje.

Em grego: θαη ζσ θαπερλαοσκ ε εφς ηοσ οσραλοσ συφζεηζα εφς αδοσ θαηαβηβαζζεζε οηη εη
ελ ζοδοκοης εγελοληο αη δσλακεης αη γελοκελαη ελ ζοη εκεηλαλ αλ κετρη ηες ζεκερολ

Preciso falar mais alguma coisa? Escolha o sabor do seu milk shake favorito e seja feliz, pois
na próxima página estudaremos Geena

GEENA

As coisas começam a ficar um pouco confusas agora. Geena é a transliteração comum para o
português do termo de origem grega ―géenna‖. Por sua vez, géenna origina-se do termo
hebraico Geh Hinnóm ( - ) que significa literalmente ―Vale de Hinom‖, e que veio a
tornar-se um depósito fora de Jerusalém onde o lixo era incinerado.

372
Exatamente! Geena (do grego
não um lugar ardente onde as almas iriam parar; pelo menos, não a princípio. Como os
muçulmanos adoram copiar tudo, eles pegaram o nome ―Geena‖ emprestado e transformaram
em ―Jahannam‖.

Geena é mencionado nas seguintes passagens:

Mateus capítulo 5

22. Mas eu vos digo: todo aquele que se irar contra seu irmão será castigado pelos juízes.
Aquele que disser a seu irmão: Raca. Será castigado pelo Grande Conselho. Aquele que lhe
disser: Louco, será condenado ao fogo da geena.

[...]
29. Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti, porque te é
preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo todo seja lançado na geena.
30. E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a longe de ti, porque te é
preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo inteiro seja atirado na
geena.

Prestando bem atenção, Mateus infere que o fogo da geena é o lugar para aqueles que estão
impuros. E não é exclusivo do Judaísmo a crença que a purificação vem pelo fogo. Culturas
muito mais antigas, como assírias e babilônias também possuíam tal crença.

Mas, a citação acima está na versão católica da Bíblia. Vejamos o que está escrito na versão
João Ferreira de Almeida do mesmo livro, capítulo e versículos:

22. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será
réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe
disser: Louco será réu do fogo do inferno.

[...]
29. Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te
é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no
inferno.
30. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é
melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.

Mais uma vez, temos o problema anterior.

Mateus era um judeu. Não existe o conceito de inferno como lago de fogo no judaísmo, como
as religiões cristãs pregam, conforme dito antes. Então, de onde veio essa tradução doida?

373
Tanto em Mateus 5:29 como em Mateus 10:28 , Jesus dá a entender que não só a alma,
mas o corpo também vai parar no Geena. Bom, a única explicação para isso é que, quando o
sujeito bate as botas, seu corpo é atirado lá no tal crematório. E fim de papo.

Entretanto, isso seria até o corpo se consumir. Mas, e depois? Depois… nada! Volto a lembrar
de o que foi dito no site Conversão Judaica: não existe tormento eterno! E se você não
entendeu isso até agora, leia quantas vezes precisar até entender.

Mateus era judeu. Ponto! Não havia tal crença entre judeus. Ponto! Segundo a Bíblia, Jay Cee
nada mencionou a respeito. Ponto final! Mateus teria que seguir as tradições judaicas, pois o
próprio Jóquei de Jegue teria dito (supostamente) que não viera abolir as leis. Ora, se não veio
abolir as leis, ele mudaria as ―regras‖ de punição depois da morte? Só tendo um bom motivo.
Mas, isso não é o momento para discutirmos isso.

Bem, bem… Como fica, então?

Simplesmente isso: não fica! Pegaram passagens isoladas e tornaram-nas mais assustadoras,
assim como um velho Chevrolet Plymouth Fury 56 não coloca medo em ninguém, mas
Christine é algo realmente apavorante nas mãos de Stephen King.

O medo e a ameaça tem uma origem remota. O Vale de Hinom possuía uma elevação
denominada Tofete, onde supostamente os Amonitas queimavam seus próprios filhos em
honra ao deus Moloch (ou Molekh).

Este deus é citado em Levítico 20-2:

todo israelita ou estrangeiro que habita em Israel e que sacrificar um de seus filhos a Moloc,
será punido de morte. O povo da terra o apedrejará.

Matar madianitas (incluindo velhos e crianças), assim como transformar as mulheres em


escravas sexuais, pode. Matar os filhos em honra a outro deus, não.

Os mais ortodoxos alegam que, posteriormente, judeus apostatados continuaram com esta
prática, conforme é dito no Segundo Livro de Crônicas 28:3.

Também queimou incenso no Vale de Hinom, e queimou a seus próprios filhos no fogo,
segundo as abominações dos gentios que o Senhor lançara fora de diante dos filhos de Israel.

Infelizmente, como sempre, não há referências históricas claras sobre isso ter acontecido. É
bem semelhante à antipropaganda que Roma promoveu contra os cartagineses, para tentar
justificar o massacre que aconteceu em Cartago, durante as Guerras Púnicas.

Delenda est Cartago (Cartago precisa ser destruída) tornou-se uma frase terrível, dita pelo
senador Catão, que selou o destino de uma civilização, cujo único pecado foi ter-se posto no
caminho de uma Roma em ascensão.

Mas, os ―tofetes fenícios‖ não passavam de um lugar onde cremavam as crianças mortas. Ao
lado, a foto do marco de um desses tofetes (observem o relevo da deusa Ishtar). Eles não as
jogavam no fogo estando vivas. Da mesma forma que a Bíblia mostra que amonitas,
caananitas, madianitas etc. eram povos maus, enquanto tece imensos elogios ao rei Josias, a
quem é atribuído a proibição de tais supostas tradições e ritos.

Como a Bíblia Rabínica diz:

E Josias conspurcou aquele lugar, reduzindo-o a um lugar impuro, para nele se lançarem
carcaças e toda impureza, a fim de que nunca mais subisse ao coração do homem fazer seu
filho ou sua filha passar pelo fogo para Moloque.

374
Alguma evidência arqueológica? Não. Josias existiu? Sim. E é a ele que se atribui o ―achado‖
da Torah, a quem ele disse que fora escrita por Moisés. Os israelitas eram meio tolos e caíram
na conversa dele.

Em suma: não se sabe se realmente haviam sacrifícios humanos no Vale de Hinom. Só se sabe
o que está escrito na Bíblia, com suas imensas incorreções científicas e históricas, fazendo-a o
livro mais impreciso e tosco do ponto de vista histórico.

Pelo sim, pelo não, o conceito de inferno – como sendo sofrimento eterno – ainda não foi
sustentado, mesmo sabendo mais sobre Geena. Geena não é ainda um lugar definitivo para a
punição dos ímpios. Pelo contrário.

Segundo o que vimos até agora, quem jogasse seus filhos lá no Tofete (Geena) é que seria um
ímpio. E seria exatamente o ímpio, e não a pessoa que foi sacrificada, aquele que será
(supostamente) punido no pós-vida.

Tendo encerrado a questão de Geena, vamos para a próxima página e a última palavra a que
se relaciona (supostamente) com o lar do capetão: Tártaro.

TÁRTARO

A palavra grega ―tártaro‖ (em grego: Τάρηαρος , local profundo ou ―mundo inferior‖)
representa a mais inferior das instâncias do reino de Hades (veja a página sobre Hades). O
Tártaro é o abismo mais profundo e inespugnável. Foi lá que os Titãs foram aprisionados, para
nunca mais saírem de lá (prestem bastante atenção a este detalhe).

É de Hesíodo a obra que descreve bem este reino de Hades. Esta obra chama-se ―Teogonia‖,
que descreve o conjunto de divindades e sua origem na mitologia grega. Tal obra descreve a
genealogia dos deuses olímpicos e de muitos heróis e semideuses.

E nove noites e dias uma bigorna de bronze cai da terra e só no décimo atinge o Tártaro.

Cerca-o um muro de bronze. Nix em torno verte-se três vezes ao redor do gargalo. Por cima
as raízes da terra plantam-se e do mar infecundo.

Aí os deuses Titãs, sob a treva nevoenta estão ocultos pela vontade de Zeus reúne-nuvens,
região bolorenta nos confins da Terra prodigiosa.

Não têm saída. Impôs-lhes Posseidon portas de bronze e lado a lado percorre a muralha. Aí
Giges, Cotos e Briareus magnânimo habitam guardas fiéis de Zeus porta-égide.

Aí, de Gaia trevosa e de Tártaro nevoento e de Pontos infecundo e de Urano constelado, de


todos, estão contíguos às fontes e confins, torturantes e bolorentos, odeiam-nos os Deuses.

Vasto abismo, nem ao fim de um ano atingiria o solo quem por suas portas entrasse, mas de
cá para lá o levaria tufão após tufão torturante, terrível até para os Deuses imortais este
prodígio. A casa terrível de Nix negra eleva-se aí oculta por escuras nuvens.

De frente, o filho de Jápeto sustém o Céu amplo de pé, com a cabeça e infatigáveis braços
inabaláveis, onde Nix (A Noite) e Hemera (O Dia) se aproximam e cumprimentam-se cruzando
o grande muro de bronze. Uma desce dentro, a outra vai fora, nunca o palácio fecha ambas,
mas sempre uma delas está fora do palácio e percorre a Terra, a outra está dentro e espera vir
a sua hora de caminhar.

Hemera dá aos homens vivos a luz multividente, Nix funesta leva nos braços Hipnos (O Sono),
irmão de Tanatos (A Morte), oculta por nuvens cor de névoa.

375
Aí os filhos de Nix sombria têm morada, Hipnos e Tanatos, terríveis Deuses, nunca Hélios (O
Sol) fulgente olha-os com seus raios ao subir ao céu nem a descer o céu.

Um deles, tranquilo e doce aos homens, percorre a Terra e o largo dorso do mar, o outro, de
coração de ferro e alma de bronze, não piedoso no peito, retém quem dos homens agarra,
odiado até pelos Deuses imortais.

Diante, o palácio ecoante do deus subterrâneo, o forte Hades e da temível Perséfone eleva-se.
Terrível cão guarda-lhe a frente não piedoso, tem maligna arte: aos que entram faz festa com
o rabo e ambas orelhas, sair de novo não deixa: à espreita devora quem surpreende a sair das
portas.

Aí habita a deusa detestada dos imortais, terrível Estige, filha de Oceano refluente a mais
velha. Longe dos deuses em ilustre palácio coberto de altas pedras, todo ao redor com colunas
de prata se apóia no céu.

Pouco a filha de Taumas, Íris de ágeis pés aí vem como mensageira, sobre o largo dorso do
mar: Quando Éris e Neikos surgem entre os imortais e se um dos que moram no palácio
Olímpio mente, Zeus faz Íris trazer o grande juramento dos Deuses num jarro de ouro, a longe
água de muitos nomes fria. Ela precipita-se da íngreme pedra alta. E abundante sob a Terra de
amplas vias, do rio sagrado (Oceano) flui pela noite negra, braço do Oceano, décima parte ela
representa: nove envolvem a Terra e o largo dorso do Mar [Mediterrâneo] com rodopios de
prata e depois caem no sal, ela só proflui da pedra, grande castigo aos Deuses.

Tal juramento os Deuses fizeram de Estige imperecível água ogígia que brota de abrupta
região.

Aí, de Gaia trevosa e de Tártaro nevoento e de Pontos infecundo e de Urano constelado, de


todos estão contíguos as fontes e confins, torturastes e bolorentos, odeiam-nos os Deuses
Olímpicos.

Aí resplandecentes portas e muro de bronze inabalável, embutidos em raízes contínuas nascido


de si mesmo. Diante, longe dos Olímpicos, os Titãs habitam além do Caos sombrio.

Os ínclitos aliados de Zeus estrondante habitam um palácio no alicerce do Oceano, Cotos e


Giges, a Briareu por sua bravura o gravitroante Posseidon fez seu genro, deu-lhe por esposa
sua filha Cimopoléia.

Hesíodo – Teogonia

Interessante, não é mesmo? E, é claro, você deve estar me perguntando o que isso tudo tem a
ver com a Bíblia. A resposta é simples e complicada ao mesmo tempo: Não tem nada a ver e
tem tudo.

Antes que você pense que eu sou o Mestre dos Magos, por estar falando por enigmas, preste
atenção e verá que não tem enigma nenhum, pois está bem às claras.

A única menção de Tártaro na Bíblia situa-se no Novo Testamento (que, não por acaso, como
veremos, foi escrito em grego). A passagem está na segunda epístola de Pedro, capítulo 2,
versículo 4.

Ora, se Deus não poupou a anjos quando pecaram antes os precipitando no inferno os
entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo.

Ou, se examinarmos o texto em grego:

376
εη γαρ ο ζεος αγγειφλ ακαρηεζαληφλ οσθ εθεηζαηο αιια ζεηραης δοθοσ ηαρηαρωζας
παρεδφθελ εης θρηζηλ ηεηερεκελοσς

Como vocês podem notar, Pedro fala da suposta guerra dos anjos e esta é a única menção no
cânon bíblico. Lembrem-se que o Livro de Enoch é apócrifo.

Nele ele faz a menção de um lugar profundo, tais como as descrições dos mitos grego e
nórdico, onde deuses enfrentam deuses, gigantes enfrentam deuses, titãs lutam contra heróis,
em verdadeiras batalhas épicas, assim como deus e os anjos lutam contra os demônios e o
resultado final é sempre o mesmo: os deuses vencem e mandam os revoltosos (titãs,
gigantes, demônios etc.) para o abismo mais profundo, sem a menor possibilidade de
salvação.

O problema é que – como eu falei antes, e torno a repetir – reside na questão judaica a
respeito dos tormentos eternos. Pedro, ou melhor, Simeão, ou melhor, Simão, ou melhor
Kephás era um judeu e eu já deixei claro (sustentado por fontes adequadas) o que o judaísmo
pensa sobre tormentos eternos.

De qualquer forma, o que isso significa? Nada! A epístola de Pedrão diz que os cramunhões
foram parar lá nas profundas, mas não que você, seu pérfido pecador, vai acabar lá também.
Legal, não é mesmo?

Deus (supostamente) não poupou aos anjos que pecaram, mas os rebaixou e os entregou às
cadeias de trevas. Não existe nenhuma ideia de fogo ou tormento nesta palavra, ela
simplesmente declara que estes anjos estão reservados para um julgamento futuro. Assim,
esta frasesinha ridícula não quer dizer absolutamente nada. Não se refere a pessoas que
pecam (viram? Vocês se livraram de uma boa!) e nem a nenhum tormento em especial.

Mas, para terminar, vou jogar mais uma bomba no colinho dos crentes: As epístolas de Pedro
são uma fraude!

Isso mesmo que você ouviu; não se faça de surdo, ora essa! E você aí no canto, fecha essa
boca! Acadêmicos concordam que as duas cartas – alegadamente serem de autoria de Pedro –
são incongruentes! De acordo com o que o Dr. Eric Eve, especialista no texto neotestamentário
e professor de teologia do Harris Manchester College, nos dizem:

A despeito de I Pedro, é muito improvável que o autor tenha sido o apóstolo Pedro. O grego
culto da epístola é, talvez, a composição mais literária dentro o NT. O apóstolo Pedro
provavelmente soube algum grego, mas I Pedro não se parece o produto de um pescador
galileu analfabeto (Atos 4:13). Emprega um vocabulário e seu autor parece ter algum domínio
das técnicas de retórica helenística. Ele também se familiariza intimamente com o VT em torno
do ano 70, considerando que nós deveríamos esperar que o Pedro galileu tivesse estado mais
familiarizado com o aramaico targum ou o hebraico‖. (The Oxford Bible Commentary, p. 1263)

Já W. G. Kümmel, considerado um dos maiores especialistas do Novo Testamento depois de


Rudolf Bultmann, afirmou:

I Pedro pressupõe a teologia paulina. Isto não só é verdade no senso geral, que o leitor
judaico-cristão – o ―povo de Deus‖ (2:10) – já não se preocupa com o cumprimento da Lei,
mas também no senso especial que, como em Paulo, a morte de Jesus reconciliou para os
pecados de cristãos e realizou justificação (1:18 f; 2:24). Os cristãos são os que sofrem com
Cristo (4:13; 5:1), obediência para com as autoridades civis é exigida (2:14 f), e a fórmula
paulina en xristw é encontrado (3:16; 5:10, 14). A proposta freqüentemente alegada que I
Pedro é literariamente dependente em Romanos (e Efésios) é improvável, porque os contatos
lingüísticos podem ser explicados em base de uma tradição de catequese comum.
(Introduction to the New Testament, p. 424)

Fonte: http://www.earlychristianwritings.com/1peter.html

377
Durmam com um barulho desses, crianças, pois a seguir veremos de onde veio esta baboseira
de lago de fogo, e sobre o que os cristãos acham que acontece depois que a pessoa bate as
botas. Stay with us.

AS ORIGENS DO INFERNO

Se você chegou até aqui, e pensou em tudo o que foi dito, conseguiu perceber que não tem
nada no livrinho mágico que sustente a ridícula crendice do Inferno Cristão. Se você ainda
acredita nele, você tem duas opções: Fique com o popozão aí sentado e prestando atenção no
titio, ou feche a janela do seu navegador e vá pro Inferno que você acredita, mas sem encher
o saco dos outros. Ninguém tem culpa por saber usar a cabeça, além de ficar balançando-a
para cima e pra baixo, dizendo ―amém‖ a qualquer bobagem que seu pastor, padre ou pai-de-
santo fala.

Muito bem, se você está lendo este parágrafo, você usou o seu livre-arbítrio para ficar aqui e
aprender alguma coisa. Ótimo! Assim, eu lhe pergunto: Você seria capaz de me dizer de onde
diabos veio este mito chamado ―Inferno‖?

Voltemos a Hades e seu reino. Idiotas podem achar que ele estaria mais próximo, numa
teologia comparada, a Lúcifer. Mas, não é bem assim. Pelo contrário! Se você prestar muita
atenção, Hades se assemelha mais ao próprio Javé, cognominado Senhor dos Anéis Bíblico (ou
Omni Tripla Ação). Analisa comigo:

 É Hades quem decide o destino das almas dos mortos.


 Hades quem comanda os Campos Elísios (na mitologia judaico-cristã, seria o
Céu, Paraíso, Heaven ou as Bahamas. Dê o nome que quiser. ). E não só isso,
mas também o Érebo e o Tártaro.
 Hades quem recompensa os bons e justos e abomina os injustos, sendo as
Erínias (deusas encarregadas de castigar os crimes, especialmente os delitos
de sangue) recrutadas para ajudar a Hades nesta missão.
 Hades seria um princípio de castigo implacável após a morte, na melhor
semelhança “Deus castiga”.

Assim, Hades, el malvadón, não seria apenas o deus fidamãe que vai te punir. Se você foi um
cara maneiro, ele o recompensará. Logo, tome bastante cuidado com o que você anda
armando, então. Está bem?

Com isso, fica clara a semelhança entre Hades e Javé. Com relação a ser deus criador ou não,
nem mesmo Javé começou como um deus criador na mitologia judaica. Tanto é que muitas
vezes ele é chamado de Senhor dos Exércitos (I Samuel 1:3 , I Reis 18:15 e I Crônicas 17:7 ,
só de exemplo). Mas, eu deixarei o desenvolvimento desse assunto para outro dia, kids.

Tudo muito bem, tudo muito legal, mas e o lago de fogo? Nós o encontraremos em outra
mitologia ainda anterior à dos gregos: A mitologia egípcia.

Isso mesmo, pessoal! Mais um Ctrl+C / Ctrl+V hebraico dos mitos da galera do Nilo. Aqueles
―baby sitters‖ de cabras nunca foram muito bons em criar uma mitologia própria; desse modo,
o que fizeram? Copiaram o deus do Zoroastrismo dos persas, a Criação dos babilônios, a lenda
de Sargão dos sumérios, até chegar no conceito de inferno, que não ficou bem explicado até
hoje.

Daí, o que aconteceu em seguida? Os primeiros cristãos, que logo de início se apossaram da
Bíblia hebraica (com aquele besteirol de cobras falantes, insetos com quatro patas e
chuvaradas torrenciais) e cozinharam com um monte de mitos egípcios (mais uma vez),
gregos, romanos etc. Mas, ainda não tinham uma coisa: algo que fosse empregado para
controlar as massas, isto é, alguma coisa pra punir pessoas. Pessoas como os mantenedores
deste site, que vivem contribuindo com a venda de analgésicos a crentes que tentam defender

378
as bobagens bíblicas (eu deveria pedir um percentual de lucro das companhias farmacêuticas
por causa disso).

Pelo sim, pelo não, é fácil observar que uma religião em ascensão precisa amarrar lacunas
teológicas que sobram à beça, num texto que é uma evidente ―colcha de retalhos‖. Assim, o
que os religiosos fazem? Pulam e sapateiam através do uso de hermenêutica (ou seria
embromenêutica?), contextos apologéticos absurdos e terminam numa teologia doida,
buscando uma ―explicação‖ satisfatória para o pós vida, unicamente como ferramenta de
controle de massas, para que os interesses da igreja se mantivessem firmemente estipulados
e controlando a população com ameaças macabras e promessas lindinhas. Para qualquer
questionamento, vinha a ameaça de arder nas profundas. MUAHAHAHAHAHA

Essa era apenas a cultura de uma época que aceitaria com muita naturalidade que tanto
sacerdotes como os governantes criassem histórias divinas favoráveis as leis que redigiam,
pois era anterior ao conceito de divisão entre estado e religião. O governo era o representante
divino de acordo com a época e o que alegassem seria provindo da divindade, de modo que
ficasse incontestável a autoridade do governante.

Isso nos faz lembrar o que Napoleão disse: ―Religião é o que impede o pobre matar o rico‖. Foi
assim com os egípcios, gregos, sumérios, babilônicos, romanos, hebreus e todos os povos que
viviam por ali na época. Todos apresentando leis que afirmavam ter recebido de alguma
divindade. Verdade inquestionável. Cala a boca!

De qualquer forma, existem fontes diversas sobre os egípcios de textos gregos e traduções de
hieróglifos mencionando a idéia de cidades egípcias que possuíam ―lagos sagrados‖ onde seria
a área de enterros e funerais. Lembrou-se do Geena e o lixão? Pois, é.

Se tomarmos muito da mitologia egípcia, sempre é mencionado um ―lago sagrado‖ como no


caso de Acherusia, o lago próximo à cidade de Menfis (me refiro ao do Egito e não o lar do
Elvis). Lá seu corpo seria conduzido a um julgamento de 42 juizes e se não houvesse
acusações ele receberia a benção do sacerdote, e viveria feliz pra sempre noi reino dos
mortos. Lindo, não?

Nisso, Hórus conduziria o corpo do defunto num barco para a terra dos mortos (lembrou-se de
algo?). Anúbis, o deus-cabeça-de-cachorro (tudo bem, era um chacal. Deixa de encher o saco)
então iria pesar o coração da pessoa numa balança e se fosse mais leve que uma pena ele
receberia as ―bênçãos‖ de uma vida eterna num paraíso entre os deuses.

Seus outros dois destinos seriam uma forma de purgatório em que a alma iria reencarnar em
outros animais até voltar a reencarnar na forma humana durante um período de 3mil anos ou
para os pecadores a destruição de ser pelo fogo eterno. Hummmm, interessante, né?

Tudo isso você pode ler AQUI, para não dizer que estou inventando lorotas.

Bom, se você tem mais de meio neurônio percebeu que Hórus serviu de base para Caronte, o
barqueiro, da mitologia grega, indo direto para o reino de Hades. Abaixo, mostramos a foto de
um papiro de Bakenmut, da 21ª dinastia (cerca de 1069 – 945 A.E.C.). Podemos perceber os
corpos dos condenados sendo cozidos no Lago de Fogo.

379
Outras representações do Lago de Fogo dos egípcios podem ser vistos AQUI.

Visto isso, pergunto: Como surgiu o Inferno Católico?

Não se sabe com clareza. Sabemos que Dante o apresentou na Divina Comédia (na verdade,o
título original é Commedia. Mais tarde que recebeu a alcunha de ―Divina‖ por Giovanni
Boccaccio). Na obra, Dante viaja por todas as instâncias do pós-vida (segundo a doutrina
católica), desde o Inferno até o Paraíso. Você pode lê-la AQUI.

Obviamente, a obra de Dante é recheada com os mitos gregos e romanos. Seu guia durante a
viagem é ninguém menos que Virgílio, o autor de Eneida (a obra pode ser encontrada tanto
em português, como no original em latim, AQUI) e isso é bem esclarecedor.

Em resumo, a Igreja Católica pegou o que aparecia de mais aterrador e vestiu com uma
fantasia cristã e pronto! Controle das massas no capricho, saindo do forno.

Uma punição exemplar é útil em qualquer sistema político ditatorial. E nisso incluem-se as
religiões. Um conceito como o do Inferno Eterno é muito útil e o catolicismo se atirou nisso
como raposas atacariam um galinheiro. As pessoas não prestam muita atenção nas bem-
aventuranças que podem conseguir sendo boazinhas, mas erguem logo as orelhas por causa
de uma boa ameaça. E é isso o que o Inferno é: AMEAÇA!!

Eu nunca vi um religioso te chamando pra igreja pra você ser um cara legal e sentar no colo
de Jesus (mesmo porque, eu sou heterossexual e não curto isso). Mas, toda hora aparece um
chato pentelhando aqui e nos ameaçando com essa besteirada de lago de fogo, sofrimento
eterno e que meu time será rebaixado até a terceira divisão do campeonato. Afinal, é só o que
estes idiotas sabem fazer: ameaça, ameaça e ameaça. Bem, azar o deles.

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Você não vê crente tentando converter os outros alegando ―venha comigo e vamos para o
paraíso‖. O que você vê é ―fique aí e queime no inferno então, seu porco infiel‖. Obviamente,
eu daria muita risada com a primeira frase, mas riria ainda mais com a segunda. Enfim, o
negócio é rir da cara desses idiotas.

Agora, chegamos ao fim do artigo. Na última página onde mostraremos que dependendo do
bestão cristão, você irá para um lugar diferente.

DOUTRINAS INFERNAIS

Tá na hora de acabar o artigo, não é? Bem, vamos encerrar mostrando que o livrinho mágico
chamado ―Bíblia‖ pode ser usado por qualquer doutrina, pregando qualquer ideia absurda que
você tenha.

Basicamente a Bíblia apoia os três tipos de interpretação existentes sobre o que acontece no
pós vida:

 A aniquilação
 Tormento eterno
 Tormento, sim. Mas, talvez não eterno.

A aniquilação prega que ao morrer, aqueles que não se dedicaram ao sinhô G-zuis serão
simplesmente aniquilados, apagados, limados da existência. Quem foi um cara legal, irá para o
seio do Jóquei de Jegue.

Os adventistas e testemunhas de Jeová pregam isso. Essa doutrina, junto com os seus
proponentes, é vista com desdém até mesmo por outras vertentes cristãs. Isto é, quando
querem lavar a mão, enxergam os TJ como pia batismal e lavam a mão neles.

Obviamente, para esse pessoal, não existe inferno. e nem poderia, já que o castigo, para eles,
é deixar de existir.

A principal citação bíblica que os TJs usam para tentar justificar o aniquilacionismo é
Eclesiastes 9:5

Com efeito, os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem mais nada; para
eles não há mais recompensa, porque sua lembrança está esquecida.

Um versículo isolado tem qual valor? Até mesmo um ateu pode usá-lo pra provar que não tem
mais nada depois da morte. E aí? Mas, se levarmos em conta o que Paulo disse, que o salário
do pecado é a morte (Romanos 6:23), então podemos intuir que sim, que o aniquilacionismo
seria a punição-mor, certo? Errado. Tome todo o capítulo 6 de romanos e veja que o texto não
é literal.

Agora, e as outras teses?

Tormentos eternos, largamente defendida por todos os protestantes, são muito eficazes na
imposição de dogmas por força do medo, como falei antes.

Um dos melhores exemplos bíblicos para justificar isso está em Mateus cap. 25

24. Veio, por fim, o que recebeu só um talento: - Senhor, disse-lhe, sabia que és um homem
duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste.

25. Por isso, tive medo e fui esconder teu talento na terra. Eis aqui, toma o que te pertence.

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6. Respondeu-lhe seu senhor: - Servo mau e preguiçoso! Sabias que colho onde não semeei e
que recolho onde não espalhei.

27. Devias, pois, levar meu dinheiro ao banco e, à minha volta, eu receberia com os juros o
que é meu.

28. Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez.

29. Dar-se-á ao que tem e terá em abundância. Mas ao que não tem, tirar-se-á mesmo aquilo
que julga ter.

30. E a esse servo inútil, jogai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de
dentes.

Um perfeito exemplo de amor cristão, não é mesmo? Não, meu caro. Não tão rápido.

Mateus cap. 25 fala através de parábolas. Fica difícil, e mesmo desonesto, separar toda a
narrativa no que é real e o que é apenas uma expressão literária. Eu não vejo mau nenhum
em um servo guardar o dinheiro do seu patrão, por medo de perdê-lo. E por que seria este
medo? Por causa de um único talento? A resposta lógica é que tal patrão é mau e violento e
puniria severamente o servo. Como de fato foi observado.

A questão é simples. Ou se considera tudo como verdade, ou se aceita que é uma linguagem
poética e que não pode ser tomada como sentido literal. E se é linguagem poética, podemos
esquecer este besteirol de trevas exteriores.

O mesmo vale para purgatório, o tormento temporário da liturgia católica.

O purgatório seria, segundo a doutrina da ICAR, um estado de limpeza em que os fiéis seriam
purificados depois da morte, antes de entrar no Paraíso. Infelizmente, para os chatólicos, não
há também NENHUMA menção de purgatório na Bíblia. Esse dogma vigora desde o século XIII
e é muito conveniente.

Afinal, você é um cara que não é tão ruim assim. Morre e vai pro Inferno? Sacanagem, né?
Mesmo porque, no Inferno não há perdão, ou seja, caiu lá JÁ ERA!!

Aí, o cara vai parar no Purgatório e fica tostando lá. Mas, por uma módica quantia, o Papa em
pessoa pode interceder junto ao Omni Tripla Ação e tirar o cara de lá. Que tal isso?

Isso posto, só temos que reconhecer que o conceito de Inferno é absurdo, hipócrita e de uma
perversidade sem limites. Só uma mente doentia teria uma ideia tão estapafúrdia e misturar
isso com um mito de um deus bondoso que lhe ama, mas que o atirará nas profundas se você
não obedecê-lo e nem ao seu representante aqui na Terra.

Assim, a última coisa a ser a ser dita é um trecho da música do John Lennon que retrata muito
bem isso:

Imagine there‘s no Heaven


It‘s easy if you try
No hell below us
Above us only sky

Para saber mais

http://mythome.org/Avesta.html
http://www.what-the-hell-is-hell.com/HellStudy/HellCharts.htm

382
http://ggreenberg.tripod.com/ancientne/gener.html
http://www.bibleorigins.net/hellsorigins.html

Noite de São Bartolomeu: O massacre dos huguenotes

Os católicos perderam a calma e partiram pra porrada! Ignoraram os preceitos lindinhos do


Príncipe da Paz, Rei dos Reis, Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Filho do
Homem, blá blá blá… entre outros epítetos idiotas de um ser mitológico que não é levado a
sério por nenhum historiador sensato – o famoso Mega Star da Palestina, Jóquei de Jegue,
Grão Cavaleiro do Burrico, J³, Jay Cee etc. Ah, também o chamam de Jesus, mas isso não é
importante agora.

O que importa é que os católicos, fiéis do que eles próprios chamam de ―verdadeira e única
depositária da fé cristã‖, resolveram acabar de vez com o papo e aniquilar os seus rivais
protestantes. Amai-vos uns aos outros? Piada!

Mas, o que será que tem por trás disso? Será apenas briguinha do ―eu sou melhor que você‖?
Aqui analisaremos isso a fundo e veremos os fatos históricos a respeito.

 Data: 24 de agosto de 1572 da Era Comum.


 Fato: Mais de 3 mil protestantes foram brutalmente assassinados numa só noite.
 Culpados: Muitos. Entre eles o rei Carlos IX, então com 22 anos, cujo reinado foi uma
mixórdia de conflitos entre católicos e protestantes.

A estúpida incompetência de Carlos IX como monarca acabou numa selvageria sem limites.
Não que ele efetivamente tivesse controle de alguma coisa mas, afinal de contas, para que ele
estava com o rabo gaulês dele sentado naquele trono? Enfeite? Sim, isso mesmo! Mas ainda é
cedo para analisarmos isso.

Assim, teve início uma carnificina que praticamente dizimou os huguenotes, ou seja, os
protestantes que seguiam a linha calvinista – proposta por Jean Cauvin (aportuguesando: João
Calvino) – e que se seguiu por vários meses, acabando por vitimar entre 70 e 100 mil
pessoas no total.

Marcos 7:21 – Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus
pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos

Esta data foi um dos marcos em que as sangrentas lutas religiosas atrasaram e muito a
chegada do absolutismo francês, e que caracterizou a fase final da dinastia Valois, a qual
governava a França desde a Idade Média.

A conjuração de Amboise tomou lugar pouco antes da coroação de Carlos IX, em 1560. Os
grandes do reino, como os Montmorency, os Guise e os Bourbon, saíam no tapa por causa do
poder, escondendo-se sob o pretexto da religião e, enganadoramente, em nome de um jovem
monarca que pretendiam derrubar.

A mãe de Carlos, Catarina de Médici, a rainha-mãe (e quem efetivamente detinha o poder nas
mãos), manipula a todos, de modo que consiga garantir a herança de Henrique II e agradar as
duas facções disputantes. Como vêem, a coisa já tava indo de mal a pior e o final… Bem,
continuemos.

Apesar da derrota imposta pelo duque de Anjou, irmão de Carlos IX, nas batalhas de Jarnac e
de Moncontour, os calvinistas se reagrupam e recompõem as suas forças. Tendo por capital La
Rochelle, chamada de a ―Jerusalém Marítima‖, eles formam um estado dentro do estado, sob a
autoridade do almirante Gaspard de Coligny, da rainha de Navarra, Joana d´Albret, e de seu
filho Henrique (que se tornará o rei futuro Henrique IV). Eles têm agentes diplomáticos (em
outras palavras: espiões), exército, armada, finanças e, como aliados, a gloriosa (que de

383
gloriosa não tinha nada) rainha protestante Elizabeth I da Inglaterra e seus correligionários de
Londres.

Este grupinho, que poderia se considerar uma matilha de lobos, se mostram uma verdadeira
ameaça à autoridade real, ou o que resta dela, significando que a boa vida de Catarina de
Médicis estava com os dias contados e ela seria uma perfeita idiota se permitisse que isso
acontecesse. Só que ela não era idiota.

Deuteronômio 32,41 – Quando afiar a minha espada reluzente e tomar a minha aljava,
vingar-me-ei dos meus inimigos e darei a paga aos que me odeiam;

Catarina, não se amedrontava facilmente, isso fica claro pelo seu modo de agir. Em nenhum
momento se desesperou. Pelo contrário. Ela decide negociar Margot, sua filha e irmã de
Carlos, como esposa ao protestante Henrique de Navarra (filho de Antonio de Bourbon, Duque
de Vendôme e Joana III d‘Albret, Rainha de Navarra), junto à Rainha Joana III.

Catarina acreditava que esse casamento seria um bom modo de reconciliar os franceses,
pretendendo também conseguir a conversão do futuro genro e, dessa forma, enfraquecer o
partido calvinista. E foi aí que ela cometeu um erro. O casamento entre os dois não paralisou
as lutas religiosas entre católicos e protestantes. Catarina ficou horrorizada com a
intransigência de Joana III, a qual não tomou participação no casamento. Para abrandar a
poderosa e impertinente Rainha de Navarra, Catarina solicita o apoio de Coligny, convocando o
almirante a comparecer à Corte.

Carlos IX era um fraco e não largava a barra da saia da mãe por nada. Um sujeito medíocre
que nunca teve opinião própria, mas que estava ficando de saco cheio de ser apenas uma
sombra no reinado. Aos poucos ele foi percebendo que não era coisa alguma lá e que sua mãe
é que mandava e desmandava na França, tendo que se contentar em ser um reles fantoche,
cujas vontades e determinações sequer eram ouvidas, quanto mais consideradas.

O cara estava ficando puto da vida, em outras palavras, mas ele sabia de quem tinha que ter
medo. Por isso, acabou tendo grandes crises existenciais. Carlos sequer era o preferido de
Catarina e só estava no poder por causa das regras de sucessão. Só isso e mais nada!
Considerando Freud que só nasceria alguns séculos depois, Carlinhos teve que ficar remoendo
isso interiormente, enquanto mommy não estava nem aí pro que ele tinha na cabeça. A
verdadeira paixão dela era o duque d‘Anjou, a quem ela assegurou sua fortuna e sua glória,
sob pretextos falaciosos e em detrimento de Carlos, o filho mais velho, que se vê obrigado a
conceder ao irmão o título de Intendente Geral do Reino, com poderes astronômicos. Como diz
um amigo meu: ―família só é bom em retrato‖.

Entretanto, Carlinhos tinha sangue de militar. Ele se perdia em sonhos, tentando imitar seu
avô Francisco I e superar seu pai Henrique II.

É de Thomas Edward Lawrence (mais conhecido como ―Lawrence da Arábia‖) a frase ―Todos os
homens sonham, mas não da mesma maneira. Aqueles que sonham de noite nos recantos
poeirentos das suas mentes acordam, de dia, para descobrir que tudo era vão; mas os que
sonham de dia são homens perigosos, pois podem realizar os seus sonhos de olhos abertos,
para os tornar possíveis.‖

E é este jogo perigoso que o almirante Coligny espertamente irá explorar.

Eu não vou dizer que Catarina fosse burra. Mas, há de se convir que ela subestimasse muitas
pessoas em termos de política e anseio pelo poder. Quando chamou Coligny à Corte, ela
acabou fazendo uma burrada! Assim que o almirante calçou a chuteira e entrou em campo, ele
usou outra tática e se bandeou pro lado do bestão… digo, do jovem rei. Escuta-o com atenção
respeitosa, isto é, o bajula, infla sua ambição (e seu ego), atiça seu ódio contra Filipe II da
Espanha entre outras coisas, ganhando, assim, a simpatia de um rei deprimido.

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Romanos 1:22 – Pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos.

Carlos sente prazer em conversar com esse homem maduro e inteligente. Fica felizinho,
faltando apenas dar a patinha e ir buscar um graveto.

Obviamente, o molecão (com 22 anos??) não partilhava da fé religiosa do coroa, mas admira
sua coragem (será que estava rolando um clima? Vai saber…). O almirante o aconselha a
governar sozinho, já que ele tem o poder, a idade e as capacidades para desafiar a rainha-mãe
e sua roda excessivamente italiana, e, sobretudo, d‘Anjou que está a serviço de Filipe II. Como
veem, puxa-saquismo não é de hoje. Para Coligny, o fim justificava os meios, concordando
plenamente com o que Maquiavel escrevera 40 anos antes.

Coligny ficava que nem papagaio, dizendo que Carlos tinha o porte de um grande rei, de um
conquistador e blá blá blá, bastando apenas querer sê-lo. Essas palavras foram como música
aos ouvidos de Carlos, apesar de soarem vazias a qualquer rei mais experimentado. Bom, o
aprendizado vem dos erros… Assim, Carlos passou a nutrir um sentimento quase filial pelo
almirante, a quem passou a chamar de ―meu pai‖, certo de ter encontrado nele a figura
paterna que perdera muito jovem, o conselheiro que tão penosamente lhe faltara. Tocante,
não é mesmo?

É até hilário saber que os familiares de Carlinhos começavam a temer que o reizinho se
convertesse ao Protestantismo. Acho até que faltou pouco pra isso e tenho certeza que o
almirante bem que estava com essa ideia na cabeça. Ah, a política…

O almirante tece pacientemente a sua teia, vislumbrando que logo terá influência para levar
Carlos IX a apoiar os rebeldes flamengos contra Filipe II, com o risco de provocar uma guerra
com a Espanha. Uma ocasião logo se apresenta. Em abril, um vasto movimento de revolta
incendeia a província de Zelândia. Os rebeldes imploram a ajuda da França e da Inglaterra.
Coligny convence o Carlos a autorizar Ludovico de Nassau a montar uma tropa. Carlos doa-lhe
dez mil francos. Em 29 de maio, Nassau toma Mons e Valenciennes.

Entretanto, o marechal de Tavannes e o duque de Longueville, ambos militares experientes,


entram na disputa. Eles declaram a Carlos que com a ajuda aos rebeldes flamengos, ele expõe
seu reino a um perigo maior. A França é incapaz de sustentar uma guerra que pode se
prolongar por muitos anos. Sua economia está enfraquecida, seu exército reduzido e dividido.
O rei está confuso, ainda mais que duvida da lealdade de d‘Anjou, em caso de conflito.

Catarina não ia deixar por menos e dá uma de atriz de novela mexicana, caindo aos prantos,
censurando Carlos (só faltou algum prenome e sobrenome escrotos como Carlos Rodolfo de
Villeroyal para completar o mau-gosto desta pantomima barata) por sua ingratidão e a
imprudência. E que se ele perdesse a guerra, seu reino será no mínimo desmembrado e
submetido por muito tempo à Espanha; se ganhar ficará a reboque dos huguenotes. Ela ainda
ameaça abandonar os negócios reais e se retirar para Florença se ele persistir no projeto.

Mas Coligny introduz um novo argumento: a guerra estrangeira é o único meio de reconciliar
os franceses. Se Carlos IX alcançar a vitória, ele anexará Flandres e será reconhecido como o
maior soberano da Europa! Nas sessões de 16 e 26 de junho de 1572, o conselho do rei
examina a questão e rejeita o projeto do almirante. Rejeição confirmada no dia seguinte por
um conselho puramente militar.

Coligny, chato e pentelho como ele só, não desiste e fica enchendo o saco real: ―Senhor, como
o conselho destas pessoas persuadiu Vossa Majestade, não posso mais me opor a vossa
vontade, mas estou seguro de que vós vos arrependereis‖.

Agora, crianças, prestem atenção que agora é que a porca torce o rabo, o jacaré vai abraçar e
a Cuca mandou telegrama dizendo que já ta chegando.

385
Em 12 de julho, o glorioso Carlos IX, rei de França, permite que um contingente expedicionário
parta da França para socorrer os rebeldes sitiados em Mons, que acaba simplesmente
esmagado pela tropa espanhola! Nos dias 9 e 10 de agosto, durante uma reunião do conselho,
o plano de guerra é definitivamente abandonado. O rei fora humilhado.

Coligny havia se comprometido a não dar mais um pio sem falar com Catarina. Assim, a
rainha-mãe pode ocupar-se dos preparativos para o casamento ―misto‖. Como todo político
que se preze, Coligny dá um ―que se dane‖ para o juramento que fez e estimula Carlos IX,
dizendo-lhe que é livre para seguir ou não o voto de seus conselheiros. O rei quer a guerra,
mas se recusa a ser empurrado: ele escolherá o seu momento.

Quando a rainha-mãe retorna a Paris, constata que o rei prossegue nos preparativos de guerra
e que um contingente de arcabuzeiros está a caminho da Picardia. Então, seu filho ingrato a
enganou mais uma vez, cedendo às pressões de seu grande amigo. Razão a mais para acabar
com o sujeito. Ela entra em contato com Ana d‘Este, duquesa de Nemours, viúva de Francisco
de Guise, que fora assassinado em 1563. O jovem duque Henrique de Guise jurou vingança
pela morte de seu pai e responsabiliza Coligny. Catarina avisa que o rapaz tem carta branca
para agir e ele, mesmo contra a vontade da mãe, aceita. Agora as coisas andam depressa.
d‘Anjou encontra o duque de Guise. Juntos eles fixam a data, a hora e o lugar da execução.
Eles escolhem o matador, certo Maurevert, atirador de elite.

O casamento de Henrique de Navarra com Margot se desenrola sem incidentes, apesar da


hostilidade dos parisienses. d‘Anjou e sua mãe aplacaram as desconfianças dos senhores
huguenotes, que comparecem para homenagear Henrique de Navarra. Alguns partem antes do
fim das festividades. O almirante permanece. O rei lhe prometera resposta sobre a declaração
de guerra, em quatro dias. As advertências, porém, se multiplicam. Há rumores sinistros, mas
além da coragem, Coligny tem guarda pessoal.

Catarina não duvida que a única maneira de retomar o seu poder sobre o filho é assassinar
Coligny. Entretanto, o atentado falha e quando Carlos soube da tentativa de assassinato fica
irritado. Ordena que todas as armas dos parisienses sejam confiscadas.

Carlos vai visitar o amigo e Catarina, finalmente recuperando sua argúcia, manda que se
prepare uma caravana e que toda a Corte acompanhe o rei. Ela sabia que a ala católica se
recusaria, estendendo assim o convite aos huguenotes. Mas, estes (diferente de Carlinhos) não
são tão tolos assim e veem com desconfiança a amabilidade dela. Carlos manda que se
instaure um inquérito pra saber que quis passar o cerol em Coligny, e este inquérito levou
direto a Henrique de Guise e, deste, a d‘Anjou e a sua mãe. A bosta bateu no ventilador.

Nas ruas começou a haver agitação. Muitos querem que Guise (o perpetrador do atentado)
seja degolado. Outros pressionam o almirante para deixar imediatamente a capital, mas este
se recusa, se apoiando na promessa do rei em fazer justiça. Henrique de Navarra e o príncipe
de Condé se apresentam ao rei, exigindo o total esclarecimento do atentado e uma punição
severa para os culpados.

Agora que a coisa realmente começa a perder o controle.

O soberano responde que o inquérito está em curso e reitera a ordem de reagrupamento dos
senhores huguenotes da rua de Béthisy para garantir a segurança do ferido e oferece aos dois
príncipes a sua suíte pessoal no palácio. O rei escreve aos governadores de suas províncias
para lhes informar do infame atentado que vitimou Coligny e imputa, com certa precipitação, a
responsabilidade ao duque de Guise.

Catarina realmente fica com medo. Ela sabe que quando Carlos souber da cagada que ela
armou, ele é bem capaz de apunhalar o irmão. Isso sem falar na vingança dos huguenotes! A
noite interminável transcorre nessa angústia. Na manhã de 23 de agosto, o rei recebe um
enviado de Coligny. Este lhe pede a guarda prometida para vigiar a rua de Béthisy. O rei
concede. D‘Anjou, que assiste à audiência, designa o capitão Casseins, criatura dos Guise. A

386
chegada de Casseins e de 50 homens reacende a ira e a inquietude dos huguenotes. Seguem-
se discussões acaloradas das quais participam dois ―espiões‖, Bouchavannes e Gramont. Estes
correm ao Louvre e espalham a desinformação de um complô que se prepara: no dia 26 de
agosto, 4.000 huguenotes se reunirão no bairro de Saint Germain, sob as ordens de
Montgomery, atacarão o Louvre, degolarão a família real e proclamarão rei Henrique de
Navarra.

Catarina tem todos os motivos para desconfiar de Montgomery: ele já matou Henrique II,
involuntariamente, é fato, é um exaltado e um furioso. Mas ela percebe, subitamente, que
esse complô, apesar do perigo que representa, a tirará dos apuros. Ela chama seus leais
servidores, Tavannes, Rirague, o conde de Retz e o duque de Nevers, aos quais apresenta um
plano: decapitar o partido huguenote suprimindo Coligny e uma dúzia de seus auxiliares.

Obviamente, nenhum deles faz objeções. Discute-se apenas a lista dos condenados. Catarina
diz que lamenta chegar a esse extremo. Depois da entrevista de Bayonne, Filipe II não cessara
de lhe aconselhar essa solução. É de convir que ele tinha razão. Portanto, a decisão de
princípio está tomada. Resta fazer o mais difícil: para torná-la exeqüível, é preciso obter a
ordem de Carlos, único detentor da autoridade.

Isaías 11:8 – A criança de peito brincará junto à toca da víbora, e o menino desmamado
meterá a mão na caverna da áspide.

Carlos IX se preocupa com a manutenção da ordem na capital. Ele envia d‘Anjou para sondar a
opinião pública. Os parisienses aclamam o herói deles e d‘Anjou saca logo que os Guise
simularam uma falsa partida e que tratam de agrupar seus partidários. De volta ao Louvre, ele
declara que está tudo calmo e que os huguenotes se alarmam à toa.

Os líderes huguenotes começam a falar mais duramente, ameaçando a rainha-mãe que se algo
acontecer a Coligny, que haverá um imenso derramamento de sangue católico, ao ponto do
Sena ficar totalmente vermelho.

Enquanto isso, Carlos IX, novamente alertado pela roda de Coligny, reforça as medidas de
proteção. Ele convoca Le Charron, preboste em exercício desde 16 de agosto, e ordena que
feche as portas, multiplique as patrulhas, tire os navios do lado da cidade. Mas o preboste que
saíra Claude Marcel é o verdadeiro dono de Paris. O rei, à sua própria revelia, acaba de
fornecer aos chacinadores os meios de perpetrarem seus crimes.

Catarina manda um de seus protegidos, Gondi, falar com Carlos que o atentado a Coligny fora
necessário para evitar os perigos a que submeteria o reino ao intervir nos Países Baixos e que
o real objetivo do almirante era manietar o rei e ―huguenotizar‖ todo o reino. Depois do
atentado frustrado, seus partidários clamam vingança, conspiram contra ele. Todos são
culpados de lesa-majestade. Algumas execuções, diz, desmantelarão o complô. Carlos
protesta, mas Catarina, d‘Anjou e outros aliados católicos fazem pressão ao jovem monarca.
Este acaba sucumbindo e ao ser acusado de covardia pela própria mãe, ele dá a ordem fatal:
“Vós o quereis! Pois bem! Matai! Matai todos!”

E assim aconteceu.

Não se sabe com certeza se era pra haver aquele morticínio todo. Mas é fato que chamaram
Claude Marcel, cujo fanatismo era bem conhecido. Seu ódio pelos protestantes era patente.
Seus quaterniers (chefes de bairro) recebem a missão de agir de forma que nenhum ―desses
ímpios‖ possa escapar. Ele já mandou levantar a lista das casas huguenotes. E como se pode
ver, Claude Marcel teve responsabilidade esmagadora na organização do massacre.

Ao raiar do dia 24 de agosto, o rei convoca Henrique de Navarra e Condé, ambos príncipes de
sangue, e os intima a escolher entre a abjuração e a morte. Do lado de fora, os cavalheiros de
seus séquitos são desarmados e massacrados. Os que tentam escapar são caçados como
animais.

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Nos pátios do palácio, abate-se tudo que seja huguenote. Soa o rebate em Saint-Germain
l‘Auxerrois. Os sinos graves de Notre Dame e de todos os relógios de Paris respondem. O sinal
está dado. Rua de Béthisy, os acólitos do duque de Guise acabam de assassinar o almirante e
de jogar seu corpo pela janela.

Este fora o sinal inicial para um massacre mais vasto. Começando em 24 de Agosto e durando
até outubro, houve uma onda organizada de assassínios de huguenotes em cidades como
Toulouse, Bordéus, Lyon, Bourges, Rouen, e Orléans. De início, os alvos eram apenas os
líderes huguenotes, mas a selvageria ganhou um tamanho sem precedentes. Homens,
mulheres e crianças… todos os huguenotes, não importante sexo ou idade, foram brutalmente
assassinados. Os soldados perderam o bom senso (se é que tiveram algum) e começaram a se
divertir ao que se podia descrever como uma das mais bárbaras atitudes de um ser humano.

Êxodo 20:13 – Não matarás.

Êxodo 23:7 – Abstém-te de toda palavra mentirosa.

Não matarás o inocente e o justo, porque não absolverei o culpado.

Deuteronômio 5:17 – Não matarás.

Mateus 5:21 – Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás, mas quem matar será
castigado pelo juízo do tribunal.

Mateus 19:18 – Quais? Perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás
adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho.

Mateus 5:21-22 – Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás, mas quem matar será
castigado pelo juízo do tribunal. Mas eu vos digo: todo aquele que se irar contra seu irmão
será castigado pelos juízes. Aquele que disser a seu irmão: Raca, será castigado pelo Grande
Conselho. Aquele que lhe disser: Louco, será condenado ao fogo do geena

No dia 26, quando Carlos IX se dirige ao Parlamento para uma sessão solene, ele é aclamado
pelos parisienses. Essa súbita popularidade o conforta em sua ilusão de ser, enfim, o monarca
que sonhava ser, todo-poderoso e venerado pelos súditos.

Carlos reiterou a tese do complô para justificar a execução de Coligny e de seus subalternos.
Depois, cumprindo os desejos da rainha-mãe e de d‘Anjou, acrescenta: ―Tudo o que se passou
em Paris foi feito, não só por meu consentimento, mas por minha ordem e de meu próprio
movimento.‖

O que foi mostrado na verdade é que este covarde não passou de fantoche, mas isso não é
desculpa. Sendo rei, ele tinha a obrigação de zelar pelo bem-estar de seu povo, pouco
importando a crença deles.

Sempre digo que religião e ânsia pelo poder andam juntas. Religião sempre foi uma das
melhores armas para conter populações e, ao mesmo tempo, serve de bode expiatório para
loucuras como genocídios que nem o que ocorreu na França.

NÃO MATARÁS!!

Baseado em texto de Georges Bordonove

388
O Dilúvio desmascarado

Uma das histórias mais absurdas do Velho Testamento com certeza é a que relata o dilúvio e a
Arca de Noé. Um besteirol sem limites, digno das mais profundas fantasias de uma psique
desvairada da natureza humana. E o mais incrível é saber que existe gente tão ignorante que
afirma por A + B que aquele monte de bobagens ocorreu tal como descrito no Gênesis.

Aqui analisaremos os absurdos científicos, geográficos e históricos. Calce seu pé de pato e


venha conosco, pois tudo começa em Gênesis cap. 6

1. Quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e lhes nasceram filhas,


2. os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram belas, e escolheram esposas
entre elas.

3. O Senhor então disse: ―Meu espírito não permanecerá para sempre no homem, porque todo
ele é carne, e a duração de sua vida será de cento e vinte anos.‖

4. Naquele tempo viviam gigantes na terra, como também daí por diante, quando os filhos
de Deus se uniam às filhas dos homens e elas geravam filhos. Estes são os heróis, tão
afamados nos tempos antigos.

5. O Senhor viu que a maldade dos homens era grande na terra, e que todos os pensamentos
de seu coração estavam continuamente voltados para o mal.
6. O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem na terra, e teve o coração ferido de
íntima dor.

7. E disse: ―Exterminarei da superfície da terra o homem que criei, e com ele os animais, os
répteis e as aves dos céus, porque eu me arrependo de os haver criado.―

Primeiramente, não eram todos filhos de Deus? Ou apareceram mais pessoas do nada?
Estranho isso, posto que Deus (supostamente) criara tudo e todos. E estes ―Filhos de Deus‖
apaixonam-se pelas filhas dos homens. Curioso. Então, deve-se admitir que são semideuses,
certo? Isso é evidenciado no versículo 4, quando se diz que viviam gigantes sobre a terra.
Mas, a religião judaica não é monoteísta?

No versículo 6, acontece algo desconcertante: Deus se arrepende!! Muito curioso mesmo, já


que em Números 23:19 diz: Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para
que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?.

A melhor enganação argumentação para isso, seria que Deus depois de ter se arrependido por
ter criado os homens, seria imune ao arrependimento. Só que isso não se sustenta, tomando
por base a atemporalidade de Deus. Isto é, Deus estaria (supostamente) fora das barreiras do
tempo-espaço. E olhe que eu nem questionei o porque do arrependimento, já que Deus
deveria saber de antemão o que ia acontecer por ele ser onisciente…

Observando o versículo 7, ficamos numa outra dúvida: Se foi o homem a causa do


arrependimento de deus, por que aniquilar os animais também? Deus não poderia ter
exterminado só o Homem? Afinal, Javé é onipotente, não?

Muito bem, agora vamos examinar como a gloriosa Arca foi feita, descrita Gênesis, cap. 6

14. Faze para ti uma arca de madeira resinosa: dividi-la-ás em compartimentos e a untarás de
betume por dentro e por fora.

15. E eis como a farás: seu comprimento será de trezentos côvados, sua largura de
cinqüenta côvados, e sua altura de trinta.

389
16. Farás no cimo da arca uma abertura com a dimensão dum côvado. Porás a porta da
arca a um lado, e construirás três andares de compartimentos.

17. Eis que vou fazer cair o dilúvio sobre a terra, uma inundação que exterminará todo ser que
tenha sopro de vida debaixo do céu. Tudo que está sobre a terra morrerá.

18. Mas farei aliança contigo: entrarás na arca com teus filhos, tua mulher e as mulheres de
teus filhos.

19. De tudo o que vive, de cada espécie de animais, farás entrar na arca dois, macho e fêmea,
para que vivam contigo.

20. De cada espécie de aves, e de cada espécie de quadrúpedes, e de cada espécie de animais
que se arrastam sobre a terra, entrará um casal contigo, para que lhes possas conservar a
vida.

Caso você não saiba, o côvado é uma antiga medida de distância; equivalente a mais ou
menos dezoito polegadas (45,72 centímetros). Assim, temos uma arca com as seguintes
medidas:

Comprimento: 300 x 45,72 = 137,16 metros


Largura: 50 x 45,72 = 22,86 metros
Altura: 30 x 45,72 = 13,76 metros

Gostaram? Mas o melhor é saber que só havia duas saídas. Uma porta lateral (citada no vers.
16) e uma janelinha (!) no topo com um côvado de dimensão, ou seja, 45,72cm. Uma arca
meio abafada, não acham?

Para efeito de comparação, aqui estão as dimensões do Contratorpedeiro Pará:

Deslocamento (toneladas): 3.320-padrão / 3.585-plena carga


Dimensões (metros): 126,3 x 13,5 x 7,3 (sonar) / 4,4 (quilha)
Velocidade (nós): 27,5

Se considerarmos que a Arca tinha um formato estilo ―caixa de sapato‖, fácil é calcular o
volume que ela ocupa para qualquer aluno do Ensino Fundamental. Basta multiplicar as
dimensões. 137,16 x 22,86 x 13,76 = cerca de 43.144,17 m³. Parece muito? Mas, não é.
Leve em conta que todos as espécies de animais estavam lá. Deveria haver um lugar para a
comida, não só dos animais, mas para a família de Noé também, afinal se eles matassem um
carneiro, estariam descumprindo as ordens de Deus. Outro detalhe importante é que haviam
animais carnívoros. Como impedir que os leões atacassem as zebras? Como impedir que as
raposas comessem os coelhos? E os gaviões, águias, abutres (estes últimos só se alimentam
de carniça) etc? Para os herbívoros seria mais fácil? Fazem idéia do quanto os elefantes
comem por dia?

Vamos examinar agora o critério para encher a Arca coma bicharada. Está muito bem descrito
em Gênesis cap. 7

1. O Senhor disse a Noé: ―Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque te reconheci justo diante
dos meus olhos, entre os de tua geração.

2. De todos os animais puros tomarás sete casais, machos e fêmeas, e de todos animais
impuros tomarás um casal, macho e fêmea;

3. das aves do céu igualmente sete casais, machos e fêmeas, para que se conserve viva a
raça sobre a face de toda a terra.

390
4. dentro de sete dias farei chover sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites, e
exterminarei da superfície da terra todos os seres que eu fiz.‖

5. Noé fez tudo o que o Senhor lhe tinha ordenado.

6. Noé tinha seiscentos anos quando veio o dilúvio sobre a terra.

7. Para escapar à inundação, entrou na arca com seus filhos, sua mulher e as mulheres de
seus filhos.

8. Dos animais puros e impuros, das aves e de tudo que se arrasta sobre a terra,

9. entraram na arca de Noé, um casal macho e fêmea, como o Senhor tinha ordenado a Noé.

O versículo 9 contradiz o versículo 2. Afinal, no vers. 2, Deus estipula sete casais de animais
puros. Mas, o vers. 9 diz somente um casal. Conseguem imaginar tanto bicho assim junto? E
numa caixa de sapato com apenas uma janelinha de menos de 46 cm no teto. Javé não
pensou muito no conforto de seus passageiros. Parece a administração dos trens urbanos.

Agora, vamos nos ater ao período e eventos durante a chuvarada, descritos ainda no cap.7.

17. O dilúvio caiu sobre a terra durante quarenta dias. As águas incharam e levantaram a
arca, que foi elevada acima da terra.

18. As águas inundaram tudo com violência, e cobriram toda a terra, e a arca flutuava na
superfície das águas.

19. As águas engrossaram prodigiosamente sobre a terra, e cobriram todos os altos montes
que existem debaixo dos céus;

20. e elevaram-se quinze côvados acima dos montes que cobriam.

21. Todas as criaturas que se moviam na terra foram exterminadas: aves, animais domésticos,
feras selvagens e tudo o que se arrasta na terra, e todos os homens.

22. Tudo o que respira e tem um sopro de vida sobre a terra pereceu.

23. Assim foram exterminados todos os seres que se encontravam sobre a face da terra,
desde os homens até os quadrúpedes, tanto os répteis como as aves dos céus, tudo foi
exterminado da terra. Só Noé ficou e o que se encontrava com ele na arca.

24. As águas cobriram a terra pelo espaço de cento e cinqüenta dias.

Bom, vamos analisar melhor alguns pontos do que foi dito.

Primeiramente, vamos imaginar a seguinte cena: Noé, família e bicharada numa arca feita de
madeira, impermeabilizada com betume (de onde ele tirou tanto betume?). Bom, as
emanações dos gases hidrocarbonetos (que são inflamáveis) deveriam ter empesteado o
ambiente (lembrem-se que só havia uma janelinha). Imagino que para alimentar os animais,
deveriam usar lamparinas (não tinha como entrar luz, pois o aguaceiro não parava e, como
dito antes, só havia uma janelinha.

Portanto, uma dessas duas coisas deveriam ter acontecido:

1) Todo mundo teria se asfixiado.

391
2) A Arca explodiria por causa da inflamação dos vapores combustíveis com uma mísera vela.

Agora, vamos imaginar uma cena pós chuvarada: Tudo alagado, nada vivo sobre a superfície
da Terra. Corpos de animais e pessoas boiando (inclusive mulheres, velhos e crianças). A ação
das bactérias e fungos iria causar o apodrecimento e o mau cheiro tomaria conta do mundo
todo. Enquanto isso, Noé e família pouco se importavam, pois eles eram os únicos justos e
Javé estava feliz com eles. Imagino o quão ruins eram aquelas criancinhas de colo…

Mas, e os fatores climáticos? De onde veio aquele aguaceiro? Bom, primeiro, vamos aprender
sobre nuvens.

As nuvens são classificadas com base em dois critérios: aparência e altitude.

Com base na aparência, distinguem-se três tipos: cirrus, cumulus e stratus. Cirrus são nuvens
fibrosas, altas, brancas e finas. Stratus são camadas que cobrem grande parte ou todo o céu.
Cumulus são massas individuais globulares de nuvens, com aparência de domos salientes.
Qualquer nuvem reflete uma destas formas básicas ou é combinação delas.

Com base na altitude, as nuvens mais comum na troposfera são agrupadas em quatro
famílias: Nuvens altas, médias, baixas e nuvens com desenvolvimento vertical. As nuvens das
três primeiras famílias são produzidas por levantamento brando sobre áreas extensas. Estas
nuvens se espalham lateralmente e são chamadas estratiformes. Nuvens com
desenvolvimento vertical geralmente cobrem pequenas áreas e são associadas com
levantamento bem mais vigoroso. São chamadas nuvens cumuliformes. Nuvens altas
normalmente tem bases acima de 6000 m; nuvens médias geralmente tem base entre 2000
a 6000 m ; nuvens baixas tem base até 2000 m. Estes números não são fixos. Há variações
sazonais e latitudinais. Em altas latitudes ou durante o inverno em latitudes médias as nuvens
altas são geralmente encontradas em altitudes menores.

Devido às baixas temperaturas e pequenas quantidades de vapor d‘água em altas altitudes,


todas as nuvens altas são finas e formadas de cristais de gelo. Como há mais vapor d‘água
disponível em altitudes mais baixas, as nuvens médias e baixas são mais densas.

TIPOS BÁSICOS DE NUVENS

FAMÍLIA DE TIPO DE
CARACTERÍSTICAS
NUVENS E ALTURA NUVEM

Nuvens finas, delicadas, fibrosas, formadas de


Cirrus (Ci)
cristais de gelo.

Nuvens finas, brancas, de cristais de gelo, na


Nuvens altas Cirrocumulus
forma de ondas ou massas globulares em linhas. É
(acima de (Cc)
a menos comum das nuvens altas.
6000 m)
Camada fina de nuvens brancas de cristais de gelo
Cirrostratus
que podem dar ao céu um aspecto leitoso. As
(Cs)
vezes produz halos em torno do sol ou da Lua.

Altocumulus Nuvens brancas a cinzas constituídas de glóbulos


Nuvens médias (Ac) separados ou ondas.
(2000 - 6000 m) Altostratus Camada uniforme branca ou cinza, que pode
(As) produzir precipitação muito leve.

Stratocumulus Nuvens cinzas em rolos ou formas globulares, que


Nuvens baixas (Sc) formam uma camada.
(abaixo de
2000 m) Camada baixa, uniforme, cinza, parecida com
Stratus (St)
nevoeiro, mas não baseada sobre o solo. Pode

392
produzir chuvisco.

Nimbostratus Camada amorfa de nuvens cinza escuro. Uma das


(Ns) mais associadas à precipitação.

Nuvens densas, com contornos salientes,


ondulados e bases freqüentemente planas, com
Cumulus (Cu) extensão vertical pequena ou moderada. Podem
Nuvens com ocorrer isoladamente ou dispostas próximas umas
desenvolvimento das outras.
vertical
Nuvens altas, algumas vezes espalhadas no topo
Cumulonimbus
de modo a formar uma ―bigorna‖. Associadas com
(Cb)
chuvas fortes, raios, granizo e tornados.

Observação: Nimbostratus e Cumulonimbus são as nuvens responsáveis pela maior


parte da precipitação.

Fonte: http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/cap6/cap6-2-2.html

Bom, segundo Gênesis 7:20, o nível das águas chegou a quase 7 metros (15 côvados x
45,72cm) dos picos mais altos. Considerando que o Everest tem cerca de 8.844 metros, as
águas chegaram a 8.851 metros. É muita água! E mais um detalhe: As chuvas viriam de um
lugar ACIMA das nuvens. Curioso hein? Ou seja, as nuvens estariam chovendo debaixo
d‘água. Claro que sempre há aqueles que defendem a idéia das fontes do paraíso. Uma idéia
absurda. Mesmo porque, não há vapor d‘água a determinada altura. E mesmo que houvesse, o
frio transformaria a água em granizo. Então, as pessoas e animais não morreriam afogadas,
mas de traumatismo craniano dado o tamanho das pedras de gelo.

E ainda há alguns crédulos que alegam uma analogia estúpida de uma torneira imersa num
balde. Muito conveniente… Ainda mais pelo fato desses indivíduos esquecerem que a água
NÃO BROTA da torneira. Ela vem de um reservatório que fica em lugar alto. Mais alto que o
referido balde. Assim, defender esta besteirona é, ou estupidez cavalar ou mau-caratismo
intelectual. Você escolhe.

Para cada 10 metros que um mergulhador desce no mar, a pressão (em atmosferas) sofre um
acréscimo de uma unidade. Se ele descer a 20m, estará sob uma pressão de 3 atm (1 atm da
pressão ao nível do mar, mais 2 atm porque ele desceu 20m). Com 8.851m, a pressão no que
seria originalmente o nível do mar sofreria um acréscimo de mais de 880 atm !!!

Sob essa pressão, nada existiria sobre a Terra. Nenhuma pintura rupestre, fóssil ou mesmo as
Pirâmides do Egito!! Mas, elas estão lá. E , mais engraçado, não há nenhum relatos dos povos
sobre tal acontecimento.

Não tem? Tem sim!

Chama-se Epopéia do Gilgamesh. Foi dele que o Gênesis foi grandemente copiado. Afinal, o
Gilgamesh é o escrito mais antigo que se tem notícia. Para baixar o texto do Gilgamesh, clique
AQUI.

Bom, o resto do relato do Gênesis descreve as peripécias de Noé e Cia Ltda.

O dilúvio não passa de CBD (Conversa pra Boi Dormir). Uma cópia descarada de escritos mais
antigos, travestido aos interesses dos judeus em explicar como Deus gosta de matar tudo e
todos quando não seguem exatamente o que ele manda. E pior: Ainda insistem no chamado
―livre-arbítrio‖.

Para terminar, só nos resta algumas perguntas.

393
1. No meio daquelas pessoas todas, APENAS Noé e família prestavam?
2. Bebês, velhos, pessoas doentes e deficientes físicos mereciam o aniquilamento?
3. Mesma pergunta para animais e plantas.
4. De onde veio aquele aguaceiro? e Para onde ele foi? (favor responder sem violar as Leis da
Termodinâmica)
5. Como o planeta resistiu a enormes pressões e forças?
6. Por que ninguém mais viu o ocorrido?
7. Se é apenas um conto alegórico, como é que há gente que atesta que é tudo verdade?
Baseado em que, elas falam isso?
8. Será que Noé não demonstrou compaixão por aqueles que foram mortos? Ele era de boa
índole, não era?
9. Se Deus é tão poderoso, por que não fez as pessoas más ficarem boas? Onde está o perdão
e a misericórdia divina?
10. Se Deus é onisciente, por que ele permitiu que a maldade se alastrasse? Por que ele não
impediu antes?

Perguntas, perguntas e mais perguntas… Todas elas sem resposta.

Afinal, não se justifica o injustificável, nem se explica o inexplicável…

Enquanto isso, Noé e família descarregam tudo. Mantimentos, roupas e animais. E eles fazem
isso cercados pelos cadáveres de pessoas, animais e plantas que foram mortos pelo dilúvio
enviado pelo misericordioso Deus…

O Protestantismo visto pelos católicos

No século XVI, o Protestantismo apareceu com uma intuição muito válida e oportuna:
restaurar a estima e o culto da suposta ―Palavra de Deus‖, com todo o seu poder de
santificação. Martinho Lutero revoltou-se com a absurda venda de indulgências e determinou
que aquela não devia ser a forma que as pessoas pudessem adentrar o reino dos céus. Os
reformadores bem que tentaram abrilhantar, digamos assim, o Cristianismo numa única
―Igreja de Cristo‖. Afinal, a Palavra de Deus na Bíblia, em tese, deveria remeter
constantemente à ―Palavra‖ viva da Tradição Oral, que passa de geração em geração.

Muito bem, esta ―Palavra‖ seria a Tradição Oral, em cujo critério se entende e interpreta-se
melhor a Bíblia. A Igreja seria, segundo a visão dos católicos, a única depositária e intérprete
da Palavra; entretanto, os protestantes admitem da mesma forma que a autoridade da Igreja
para santificar o homem, mediante a Palavra de Deus, pois, segundo muitos protestantes, esta
é não apenas um ensinamento para a inteligência, mas força viva que restaura o homem.
Nesse ínterim, os católicos vêem a Palavra de Deus como desenvolvedora de toda a sua
eficácia quando se torna não apenas audível, mas VISÍVEL nos Sagrados Sacramentos da
Liturgia Católica; assim os sacramentos, como a própria Igreja, estão implícitos na
revalorização da chamada ―Palavra de Deus‖ apregoada pelos reformadores do século XVI.

Tudo muito bom, tudo muito bonito, mas acontece que os Reformadores deixaram, a princípio,
se influenciar por teses da filosofia nominalista e do subjetivismo dos séculos XV/XVI. Os caras
tiraram a Bíblia do seu bercinho dourado e a tornaram popular (caso não lembrem, Lutero foi
quem traduziu a Bíblia para o alemão vulgar, permitindo que toda a população tivesse acesso
às ―Palavras de Deus‖). Desse modo, os católicos torcem o nariz por causa disso e consideram
que a Bíblia fora desvalorizada, ridicularizada até. Afinal, a Bíblia fora transcrita em ―letras
mortas‖, sujeita ao arbítrio tanto de ―profetas‖ fantasiosos como de estudiosos racionalistas
liberais. A confusão tava armada!

Bom, o glorioso fenômeno protestante, com seus blá-blá-blá‘s todos, vai tomando a atenção
do público e, especialmente, a dos seus ―inimigos‖: os católicos! O Protestantismo clássico,
também chamado ―histórico‖ ou ―tradicional‖, é o de Lutero, Calvino e Knox (séc. XVI),
enquanto que o Protestantismo recente veio principalmente dos ―Isteites‖ (como os

394
pentecostais, mórmons, adventistas etc). Bem, os católicos tomam como mais fácil a conversa
com o ―Protestantismo moderno‖, já que (na visão deles) o mesmo se distancia do
Cristianismo: os mórmons têm uma ―nova Bíblia‖ (o Livro de Mórmon); os adventistas e as
testemunhas de Jeová retornam ao AT com, segundo muitos católicos e protestantes clássicos,
algo que seria como uma ―deturpação‖ da mensagem propriamente cristã. Nisso, os
pentecostais enfatizam os fenômenos extraordinários. Dessa forma, os católicos vêem muito
mais docemente o Protestantismo moderno, já que ele (em princípio) não interfere nos
dogmas da ICAR. Em resumo: ―Deixem eles falarem as bobagens deles que, assim, passam
longe de nossos dogmas e não nos afetam‖.

De modo oposto, o bate-papo com o Protestantismo clássico tem sido efetuado basicamente
entre teólogos num clima sereno, que permite remover atitudes passionais e favorece a
compreensão mútua. Mas, fora do âmbito acadêmico, há sérias divergências, contra-posições e
disputas. Eu, particularmente, fico imaginando o que Jesus (caso tivesse existido) teria
pensado disso. Ah, bem, ele é onisciente, não? Bem, continuemos.

Segundo alguns acadêmicos (tanto católicos como protestantes), a estima pela Bíblia é um dos
fatores mais típicos encontrados nos protestantes; foi analisando a epístola aos Romanos que
Lutero descobriu a verdade mais fundamental da ―revelação‖ cristã: Não somos nós os
primeiros a amar a Deus, mas é Deus que nos ama primeira e gratuitamente, sem mérito da
nossa parte.

Romanos cap. 5

6. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo a seu tempo morreu pelos ímpios.
7. Em rigor, a gente aceitaria morrer por um justo, por um homem de bem, quiçá se
consentiria em morrer.
8. Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda
pecadores, Cristo morreu por nós.
9. Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos por ele
salvos da ira.
10. Se, quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho,
com muito mais razão, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida.

Coríntios 1, cap. 4

10. Nós, estultos por causa de Cristo; e vós, sábios em Cristo! Nós, fracos; e vós, fortes! Vós,
honrados; e nós, desprezados!
11. Até esta hora padecemos fome, sede e nudez. Somos esbofeteados, somos errantes,
12. fatigamo-nos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Insultados, abençoamos;
perseguidos, suportamos; caluniados, consolamos!
13. Chegamos a ser como que o lixo do mundo, a escória de todos até agora…
14. Não vos escrevo estas coisas para vos envergonhar, mas admoesto-vos como meus filhos
muitos amados.
15. Com efeito, ainda que tivésseis dez mil mestres em Cristo, não tendes muitos pais; ora, fui
eu que vos gerei em Cristo Jesus pelo Evangelho.
16. Por isso, vos conjuro a que sejais meus imitadores.
17. Para isso é que vos enviei Timóteo, meu filho muito amado e fiel no Senhor. Ele vos
recordará as minhas normas de conduta, tais como as ensino por toda parte, em todas as
igrejas.
18. Alguns, presumindo que eu não mais iria ter convosco, encheram-se de orgulho.
19. Mas brevemente irei ter convosco, se Deus quiser, e tomarei conhecimento não do que
esses orgulhosos falam, mas do que são capazes.

Assim, não é o homem que toma a iniciativa de procurar a Deus, mas é Deus quem começa
por procurar o homem.

395
Romanos 9:16 - Dessa forma, a escolha não depende daquele que quer, nem daquele que
corre, mas da misericórdia de Deus.

O que não deixa de ser engraçado, já que Mateus afirma claramente que as pessoas devem
pedir e estando reunidas.

Mateus 18:19 - Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir,
seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus.

Três capítulos depois, nosso amigo Mateus deixa bem claro que somente a fé é necessária é
necessária para tal.

Mateus 21:21-22 - Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos declaro que, se tiverdes fé e


não hesitardes, não só fareis o que foi feito a esta figueira, mas ainda se disserdes a esta
montanha: Levanta-te daí e atira-te ao mar, isso se fará… Tudo o que pedirdes com fé na
oração, vós o alcançareis.

Interferência divina? Não deixa de ser uma possibilidade.

Enquanto isso, João afirma que qualquer um que apenas crer em Jesus será capaz de fazer qq
coisa que ele tenha feito ou maiores ainda.

João 14:12-13 – Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também
as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai. E tudo
o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.

Entretanto, 2 capítulos depois, nosso amigo João propõe que basta pedir que Deus concederá.

João 16:23-24 – Naquele dia [do reaparecimento de Jesus depois de ressucitar] não me
perguntareis mais coisa alguma. Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai
em meu nome, ele vo-lo dará. Até agora não pedistes nada em meu nome. Pedi e recebereis,
para que a vossa alegria seja perfeita.

Confuso? Pois é o que diz a Bíblia. Vamos tentar elucidar. João propõe que basta crer em Jesus
para que as graças sejam alcançadas. Um pouco adiante, ele diz que tem que pedir (o redator
do Evangelho segundo João era meio confuso). Tomando por base a onisciência de Deus, seria
de se supor que o ―poderosão‖ soubesse das suas necessidades e, portanto, o proveria delas.
Afinal, você pode pedir mais do que precisa (como na maioria das vezes acontece). Cruzando
os dois fatos, eles não se sustentam. Pois, se Deus só lhe prover do que você precisa, então
seu pedido não será atendido na plenitude, contrariando a proposição; e se der o que você
pediu, estará sendo injusto. E agora?

Bem, de qualquer modo, essa mescla de crer em Jesus, crer em Deus, pedir a Deus etc. é um
dos argumentos para a tese da Santíssima Trindade. Interessante não é? Só esquecem de
mencionar onde está o Espírito Santo nesta confusão toda. (ver Santíssima Trindade
Desmascarada)

O protestante que segue a linha ―clássica‖ coloca-se diante da Palavra de Deus como o
pecador necessitado de salvação, e ouve a mensagem de que só a graça o salva; isto o leva a
uma atitude de confiança no chamado ―dom de Deus‖; a este, e não a si mesmo, o crente
atribui a sua purificação interior; a Deus só, e não a si (homem), o protestante tributa a glória.
Os protestantes clássicos devem a salvação ao Cristo Vivo, ressuscitado e ―vencedor‖ (sabe-se
lá de que), enquanto o católico vê a salvação no momento da crucificação, quando Jesus
(teoricamente) morrera por nós. Isso explica porque a ICAR usa a Cruz como símbolo de fé e a
maioria dos protestantes não. Para estes últimos, todos os pecados foram lavados, passados e
engomados depois da ressurreição.

396
Bem, bem. Desde as suas origens, o Cristianismo sempre incluiu a leitura da Palavra de Deus
acompanhada de cantos e orações; a Eucaristia antigamente era, não raro, celebrada na
madrugada do domingo após uma noite de vigília em contato com a Bíblia. Típico de muitos
cultos pagãos, onde havia oferendas (música e canto) a relíquias sagradas, bem como a leitura
e releitura de textos ―divinos‖. Nada de original nisso, como ocorre na maioria das religiões,
onde sempre se copia uma coisa ou outra de culturas mais antigas.

O uso do Latim tornou-se obrigatório em todas as cerimônias católicas, inacessível à população


comum que seguia, quais a cordeirinhos, o que o padre entoava. E se hoje o entendimento da
Bíblia, durante séculos permanecido no obscurantismo, é devido à boa vontade de Lutero e de
seus seguidores. Hoje o latim se acha removido dos cultos católicos, de modo a possibilitar a
compreensão dos fiéis interpelados pela S. Escritura, mas há grupos que insistem em que ele
volte a ser oficial em todas as igrejas!

A chamada ―Sagrada Escritura‖ sempre ocupou lugar primordial; S. Jerônimo foi um dos que
insistiram junto aos discípulos o recurso às Escrituras; ele afirmava: ―Ignorar as Escrituras é
ignorar o Cristo‖. Para S. João Crisóstomo (assim como para Lutero) o conhecimento íntimo
das epístolas de São Paulo é a entrada obrigatória para a compreensão mais profunda do
Cristianismo. Nos mosteiros, a lectio divina (leitura meditada das coisas de Deus) versava
sobre a Bíblia, como alimento de oração e união com Deus.

É também clássica na Tradição cristã a afirmação de que a Palavra de Deus é viva, eficaz ou,
em linguagem católica, um ―sacramental‖; pois santifica não apenas na medida da
compreensão que dessa Palavra temos, mas também na proporção da fé e do amor com que a
lemos. Por conseguinte, as afirmações protestantes a respeito da Palavra de Deus procedem
do coração de um vasto movimento de retorno às fontes que se iniciou no séc.XV e que no
séc.XVI teve protagonistas entre os próprios católicos. O próprio Cardeal Caetano de Vio, um
dos mais firmes adversários de Lutero, considerava que o único meio eficaz para renovar a
Igreja no séc.XVI seria a restauração bíblica, no seio da qual a Reforma protestante ia
surgindo. Não é, portanto, o amor à Bíblia uma característica exclusiva do Luteranismo. Isso
dá a imaginar que os católicos acham que os Luteranos não passaram de copiadores, enquanto
que os Luteranos pregavam que tinham criado algo novo.

Os católicos, entretanto, acusam que a Bíblia, por motivos independentes dela mesma, veio a
ser utilizada no séc. XVI como arsenal de heresias propaladas pelos Reformadores. Foi isto que
tornou as Escrituras um livro suspeito aos olhos dos católicos.

Diante dos variados profetas (digamos assim) de ―novos Cristianismos‖ pretensamente


deduzidos da Bíblia traduzida para o ―vulgar‖e diante da confusão assim instaurada, a ICAR
julgou oportuno, naquela época, proibir aos fiéis o uso das Escrituras traduzidas para o vulgar;
e nisso fica evidenciado a doce capacidade de misericórdia dos católicos da época. Em nome
do mesmo Senhor JC dos Protestantes. Tocante, não é mesmo?

Fica-se em dúvida, nos meios teológicos, o que degenerou entre os protestantes em fonte de
heresias ou de doutrinas contrárias à própria ―Tradição cristã‖, a tal ponto que hoje algumas
denominações oriundas do Protestantismo, conservando a Bíblia nas mãos, já não são cristãs
(tendo em vista as Testemunhas de Jeová, os Mórmons…). Alguns acadêmicos argumentam
que, para salvaguardar a autoridade da Bíblia, não é necessário negar a autoridade da ICAR;
não há oposição, e sim uma complementação entre uma e outra. Quem realiza essa
separação, deixa de reconhecer aos poucos a autoridade da própria Escritura, pois cada
intérprete faz, em princípio, a Bíblia dizer aquilo que ele subjetivamente concebe ou pensa; e
isso acarreta uma distorção da dita ―Palavra de Deus‖, que propicia (em tese) a fragmentação
do Protestantismo; este se desmembra em correntes que se opõem umas às outras,
baseando-se em textos arrancados do seu contexto.

Bom, muitos dos intérpretes das correntes protestantes são acometidos de um


―individualismo‖, que desliga os ideais assumidos da Tradição oral viva na Igreja e no seu
magistério, em princípio. Alguns vêem na Bíblia um “milk shake” de mitos, ou um discurso

397
mítico do qual só se pode raciocinar um apelo à conversão ou a exortação a que passemos de
uma vida não autêntica para uma vida autêntica; tem-se assim a morte da Palavra Sagrada e
do próprio Cristianismo que ela veio anunciar. Mais uma vez, que confusão que os caras
armam!

O principal galho dos protestantes em relação à ICAR é a autoridade doutrinária que ela
reivindica. Julgam que tudo o que se conceda à autoridade da Igreja, é subtraído à autoridade
da Palavra de Deus na Bíblia. Já que um dos principais dogmas da ICAR é que somente a ela
cabe a interpretação das Escrituras Sagradas. E mesmo assim por uma minoria de teólogos
escolhidos a dedo (Ui!).

A autoridade da ICAR poderia também, segundo os protestantes, ser considerada uma forma
de opressão das consciências individuais. Você já se perguntou porque os protestantes da
primeira geração pensavam dessa forma? Simples! Porque, segundo os católicos (sempre tão
bonzinhos), confundiam certas interpretações subjetivas e errôneas da Palavra de Deus com a
própria Palavra de Deus. Em conseqüência, a ICAR, ciosa de conservar o autêntico sentido da
Palavra, depositária responsável, só podia parecer-lhes um estorvo. E mais: a fobia da
autoridade da Igreja facilmente se transformou em fobia de toda autoridade doutrinária no
protestantismo liberal e racionalista dos séculos XIX e XX. A ICAR só faltou chamar os
protestantes de feios, caras de mamão e que nunca mais queriam jogar bola com eles. Blé!

Os Reformadores Protestantes e seus sucessores perceberam que, rejeitando a autoridade da


ICAR, estavam dando ocasião à anarquia doutrinal. E isso significava grandes problemas,
tendo em face que a ICAR mandava e desmandava no âmbito político das mais poderosas
nações da época. Os reformadores procuraram desesperadamente algo que servisse de
substitutivo.

Nosso grande amigo Lutero intuiu que a religião, como sendo religião do Estado, o Estado
deveria zelar pela incólume preservação das verdades da fé ou pela autoridade da Bíblia, tal
como o mesmo Lutero a interpretava. O príncipe civil seria tipo um ―bispo supremo‖. Este
princípio não podia deixar de ocasionar arbitrariedades ou o predomínio de interesses políticos
sobre os religiosos. Esse Lutero não não tinha nada bobo.

Na Renânia (um dos 16 estados da Alemanha) foi estipulado que magistrados eleitos pelo povo
luterano teriam a incumbência de defender a autoridade da Palavra de Deus. Verificou-se,
porém, que a solução era precária, pois os magistrados de uma cidade ou região não diziam a
mesma coisa que os de outra cidade. O que não quer dizer muita coisa, já que as doutrinas
cristãs nunca entraram num acordo.

Muito bem, o glorioso Calvino procurou uma fórmula mais, digamos, bíblica: verificou que
Paulo Misógino de Tarso, ao evangelizar as cidades da Ásia Menor, constituía em cada qual um
colégio de presbíteros ou anciãos, que ficavam responsáveis pela respectiva comunidade sob a
jurisdição do Apóstolo.

Atos dos Apóstolos 11:29-30 - Os discípulos resolveram, cada um conforme as suas posses,
enviar socorro aos irmãos da Judéia. Assim o fizeram e o enviaram aos anciãos por intermédio
de Barnabé e Saulo.

Atos dos Apóstolos 14:23 - Em cada igreja instituíram anciãos e, após orações com jejuns,
encomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham confiado.

1 Timóteo 3-7 - Torno a lembrar-te a recomendação que te dei, quando parti para a
Macedônia: devias permanecer em Éfeso para impedir que certas pessoas andassem a ensinar
doutrinas extravagantes, e a preocupar-se com fábulas e genealogias. Essas coisas, em vez de
promoverem a obra de Deus, que se baseia na fé, só servem para ocasionar disputas. Esta
recomendação só visa a estabelecer a caridade, nascida de um coração puro, de uma boa
consciência e de uma fé sincera. Apartando-se desta norma, alguns se entregaram a discursos
vãos. Pretensos doutores da lei, que não compreendem nem o que dizem nem o que afirmam.

398
Calvino, malandro como ele só, resolveu instituir presbíteros ou anciãos nas comunidades
calvinistas, encarregados de tutelar a autoridade das Escrituras e a organização eclesial.

Na Inglaterra e na Nova Inglaterra, a autoridade foi confiada à própria congregação dos


Protestantes: estes não poderiam desfazer-se dela em benefício de pessoa alguma. Assim teve
origem o ―Congregacionalismo‖, segundo o qual os fiéis, de comum acordo, devem submeter-
se à autoridade da Sagrada Escritura e dela tirar as diretrizes concretas, dia por dia, para a
vida da Igreja.

Algumas comunidades protestantes conservam o episcopado; tais foram as da Prússia e da


Escandinávia (Luteranas) e as anglicanas (episcopaliarias). A autoridade de tais prelados
nunca foi bem definida: ou seriam simples funcionários da Coroa, incumbidos principalmente
de aplicar as decisões do ―supremo bispo‖ (leia-se Monarca) ou seriam moderadores de
Concílios ou assembléias, representando o conjunto dos crentes ou grupos destes.

A bem da verdade, nenhuma destas soluções substitutivas do magistério da Igreja foi capaz de
garantir a conservação intacta e fiel da dita Palavra de Deus; mas esta foi sendo, no decorrer
dos quase cinco séculos de protestantismo, mais e mais estraçalhada mediante centenas e
centenas de interpretações diferentes, que deram origem a centenas e centenas de ramos do
protestantismo. Se o Catolicismo já era uma zona, o Protestantismo tornou-se algo bem pior!

A ICAR atribui a si uma autoridade doutrinária pelo fato de ser a Igreja instituída por Cristo
sobre o fundamento dos Apóstolos. O significado? Para os católicos, Jesus Mega Star se
apresentou como o enviado do ―Póóói‖ e, por sua vez, enviou os Apóstolos a continuar a sua
missão, conforme João 12:44, João 13:20, João 17:18, João 20:21, Mat10:40 etc.

Assim, vemos que a ―Boa Nova‖ cristã procede do Pai; passa por Cristo e é confiada aos
Apóstolos para que a difundam no mundo inteiro. E tem mais: Jesus prometeu aos Apóstolos
sua assistência infalível até o fim dos séculos; onde haja a continuidade da sucessão
apostólica, existe a certeza da presença atuante de Cristo na sua Igreja, conforme diz Mateus
no capítulo 28.

18. Mas Jesus, aproximando-se, lhes disse: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra.
19. Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo.
20. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até
o fim do mundo.

Está claro que a autoridade dos apóstolos e, conseqüentemente, a da ICAR é a autoridade do


próprio Cristo, que se serve de instrumentos e os adapta à sua obra, recorrendo a critérios
objetivos: a apostolicidade ou a sucessão apostólica através dos séculos.

A esta altura do campeonato, porém, coloca-se uma objeção, formulada pelo famoso exegeta
protestante Oscar Cullmann:

―Dado que os Apóstolos e, em especial, Pedro tinham o poder de ligar e desligar de maneira
autêntica, é de crer que essa autoridade era intransferível; não passou para os sucessores dos
Apóstolos. Sim; os Apóstolos eram, após Cristo, os fundadores da Igreja; ora tal função não se
podia repetir. Após os Apóstolos, toca à Igreja tão somente permanecer na doutrina dos
Apóstolos, fixada por eles nos livros do Novo Testamento; por isto a Igreja pós/apostólica não
precisa de uma autoridade que continue a dos Apóstolos e a de São Pedro em particular;
bastam-lhe os livros sagrados que os Apóstolos lhe entregaram‖.

A ICAR não afirma que os bispos e os Papas sejam outros Apóstolos no sentido de fundadores
da Igreja, independentes da primeira geração. Os bispos e o Papa são apenas guardiões e
transmissores, credenciados por Cristo, do depósito sagrado que receberam dos
Apóstolos. A fé da Igreja é simplesmente a fé dos Apóstolos; a Palavra que os seus bispos

399
anunciam, há de ser aquela que os Apóstolos ensinaram por primeiro. Não se criam novos
dogmas mas explicita-se o que está contido no depósito sagrado ou no tesouro ―do qual se
tiram coisas novas e velhas‖ (Mateus 13:52). A autoridade dos bispos, assim entendida, pode
manter viva a Palavra que os Apóstolos trouxeram à Igreja primitiva, com uma vida tão
pujante quanto a tinha naquele tempo.

Ademais, no tocante a Pedro em particular, pode-se observar o seguinte: se Cristo o constituiu


fundamento visível da sua Igreja (Mateus 16:16-19) e se a Igreja deve perdurar
indefinidamente, apesar das investidas adversárias, é lógico que o fundamento de Pedro
deverá perdurar em seus sucessores; em caso contrário, o edifício, sem fundamento, cairia por
terra. Que coisa, não?

Aliás, podemos notar que através de toda a história da Igreja, jamais e em documento algum
aparece a idéia de que a autoridade, após os Apóstolos, passou a residir unicamente nos
Livros Sagrados. Todos os dizeres dos doutores e escritores antigos e medievais professam
que a verdade do Evangelho continua presente na Igreja por uma tradição viva, que passou do
Pai a Cristo, de Cristo aos Apóstolos, dos Apóstolos aos seus primeiros sucessores, e depois de
bispo para bispo, iluminando os escritos sagrados que procederam dessa Tradição Oral.

Os católicos observam que, a partir da própria Sagrada Escritura, tão cara aos protestantes, se
pode demonstrar a necessidade e a existência real da Igreja com seu magistério assistido por
Cristo. E que se os reformadores fossem ―conseqüentes‖ consigo mesmos, não teriam
abandonado a Igreja fundada por Cristo para garantir a incolumidade da Palavra; dizendo
―não‖ à Igreja, expuseram as Escrituras à perda de sua vitalidade e ao arbítrio dos homens.
Em suma, se os reformadores fossem, segundo a ICAR, conseqüentes consigo mesmos,
continuariam católicos.

Das páginas de qualquer cartilhinha de escola dominical, lemos: ―Os Sacramentos são os 7
ritos pelos quais a graça do Pai, feita presente em Cristo e na Igreja, é aplicada a cada
indivíduo desde o nascer até a morte―. Para os católicos, ser cristão não é apenas ser discípulo
de Jesus, mas é ser ―ramo do tronco de videira‖ (João 15:1-5) e membro (ops!) do Corpo de
Cristo (1Cor 12:12-27), isso significa: comungar com a vida mesma do Tronco ou da Cabeça…
Com a vida de Cristo e, mediante Cristo, com a vida do Pai. Amém!

Já no Protestantismo, a maneira como os católicos entendem os sacramentos é absolutamente


rejeitada. Aliás, guardaram apenas o do Batismo e o da Eucaristia; o matrimônio no
protestantismo é um contrato que o ministro ou pastor abençoa sem lhe atribuir o valor de
sacramento.

Mesmo em relação ao Batismo e à Santa Ceia os protestantes têm conceitos um tanto vagos:
apontam a ordem explícita do Salvador, conforme dito em Mateus 28:18-20 (transcrito acima)
e João 3:3-5:

3. Jesus replicou-lhe: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá
ver o Reino de Deus.
4. Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode
tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?
5. Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do
Espírito não poderá entrar no Reino de Deus.

Entre outros, mas explicam de diversas maneiras o significado desse rito. O Batismo, por
exemplo, em algumas denominações, só é ministrado a jovens e adultos que ―se tenham
convertido‖; é um testemunho da fé e da mudança de vida já existentes naquele que recebe o
Batismo; é, portanto, mais um gesto do homem para Deus e a comunidade do que um gesto
de Deus em favor do homem. Os luteranos e as denominações mais antigas conservaram um
conceito mais tradicional ou mais próximo do Catolicismo com relação a este sacramento.

400
A Santa Ceia, em caso nenhum – para os protestantes – é a perpetuação do sacrifício do
Calvário. Lutero ainda admitiu a empanação ou a presença de Cristo dentro do pão
consagrado; Calvino condicionou essa real presença à fé do comungante. Zwínglio, porém,
rejeitou-a por completo. A Santa Ceia geralmente no Protestantismo é a memória ou a
recordação simbólica da última refeição de Cristo, mediante a qual os crentes em sua fé e seu
amor se unem a Cristo.

Muitos perguntam por que o Protestantismo mostra-se muito diferente do Catolicismo. A


piedade do fim da Idade Média se apegara demais às coisas ou aos sinais concretos: relíquias,
medalhas e outros sacramentais eram objeto de estima por vezes excessiva, ao passo que o
sentido da Eucaristia era menos compreendido e vivido pela piedade popular; as práticas
religiosas assumiam caráter mecânico, desligadas que eram de uma perspectiva teológica mais
profunda.

Na teologia católica, opus operatum é toda ação sagrada eficaz pela realização do próprio rito,
independentemente dos méritos daquele que a efetua.

Assim são os sete sacramentos: algo de objetivo através deles se processa, desde que os
sinais sagrados (água, pão, vinho, óleo e palavras) sejam aplicados aos fiéis por um ministro
devidamente instituído, mesmo que este NÃO TENHA as qualidades morais desejáveis; pois,
em tais casos, é Cristo quem opera os efeitos de santificação mediante o ministro, que é mero
instrumento. É sempre Cristo quem batiza, quem consagra o pão e o vinho no seu corpo e no
seu sangue, quem absolve os pecados… Por isto é que num hospital, quando uma criança está
para morrer sem Batismo, qualquer pessoa (mesmo um ateu!) pode batizá-la, desde que
tenha a intenção de fazer o que Cristo e a Igreja fazem no caso, e aplique água natural com as
palavras: ―Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo‖. (alguém consegue
imaginar um ateu dizendo essas palavras? Pois bem…) Assim, os sete sacramentos não são
obra nossa, mas (segundo os católicos) obra de Deus nas mãos dos homens; são os mais
belos dons da misericórdia divina. Os Reformadores, entretanto, não aceitam este conceito.

Ora, bem… o que temos, no final das contas?

Temos duas doutrinas baseadas no mesmo Princípio Criador (Deus, para os íntimos), mesmas
bem-aventuranças e mesmo emissário de libertação (Jesus Cristo). Mas, as semelhanças
terminam aí. Cada vertente, do Catolicismo Ortodoxo até o Catolicismo Apostólico, dos
Protestantes ―Clássicos‖ aos ―Modernos‖, estes últimos entre si, e todos os anteriores, em
contraposição um ao outro, NUNCA chegaram a um denominador comum.

Intrigas, poder, dinheiro, controle das massas…

É nisso em que sempre se baseou as vertentes cristãs. Nada mais, nada menos.

Baseado nos textos:


Para entender o Protestantismo, D. Estevão Bittencourt
Palavra, Igreja e Sacramentos no Protestantismo e no Catolicismo, L Bouyer.

Os Anjos: Para que servem?

Uma das coisas que sempre me chamou a atenção foi a necessidade que Deus teve para criar
anjos. Para que um deus todo-poderoso iria querer anjos? – eu sempre me perguntei. Afinal,
Deus é omnipotente, onividente e outros ―oni‖, não é mesmo? Há algum sentido em um ser
hiperpoderoso necessitar de anjos? E isso não acontece só na cultura judaico-cristã. Em várias
culturas, os anjos aparecem. Mas, quem ou o que são eles? Para que um deus (seja ele qual
for) necessita de ter anjos? É o que analisaremos daqui em diante e, de princípio, vamos saber
mais sobre o que são anjos.

401
Os anjos estão presentes na mitologia de muitas culturas. Eles seriam, segundo essas
mitologias, entidades sobrenaturais a serviço de alguma divindade (tanto boas quanto más).
Os mitos sobre estes seres acabam se assemelhando, dado que a tradição oral acabava por ser
passada entre os povos. Ou seja, cada povo pegou um pedaço da mitologia do outro e daí
construíram as suas próprias, mediante as adaptações inerentes às idiossincrasias de suas
culturas.

Bom, a palavra ―anjo‖ deriva do latim, angelu, e do grego, ángelos (αγγελωσ), com o
significado de mensageiro. É muito comum usar-se a expressão ―oh, fulano é um anjo‖,
significando que tal pessoa traz boas notícias. Entretanto, anjo mesmo (no sentido que
empregamos atualmente) era chamado de ―Daimon‖ (δαιμωσ) pelos gregos, que foi
adequadamente corrompido para ―demônios‖ pelos autores canônicos. Ôpa! Interessante, não
é mesmo?

Segundo os gregos, eles eram o que se podia chamar de ―espíritos da condição humana‖, isto
é, personificações de vários estados de existência, emoções, ações e moralidade. Os Daimones
de moralidade foram divididos em Agathoi (o Bem, Virtudes) e Kakoi (o Ruim, Vícios). Foram
classificados Daimones de ação humana e condição semelhantemente como Agathos (Bom,
Favorável) ou Kakos (Ruim Prejudicial).

Os nomes deles (ou seria ―delas‖? Ah, tanto faz. Anjos não têm sexo mesmo) foram
simplesmente extraídos de substantivos gregos: Por exemplo, Hypnos é justamente a palavra
grega para ―sono‖ (hypnos) determinado por uma letra maiúscula, o Eros é amor (eros),
vitória de Niki (niki), e assim por diante. Os romanos traduziram os nomes/palavras para
latim da seguinte forma: Hypnos se torna Somnus, da palavra latina para sono, Eros/Amor,
Niki/Victoria, etc. À esquerda, a escultura da Vitoria de Samotrácia que representa a deusa
Atena Niki (deusa Atena que traz a vitória).

A maioria do Daimones não passava de personificações com pequeno ou quase nenhuma


mitologia. Alguns eram, porém determinados por uma caracterização feita pelos poetas da
época, como no caso de Eris (Senhora da Discussão) e Hypnos (Deus do Sono). Outros
similares ao Deus do Amor Eros e Niki, personificando Vitória, ganharam cultos alcançando a
dedicação das pessoas e a construção de altares e templos. Acabaram por se tornar deuses
assim.

Saindo da Grécia e indo ao Japão, encontramos os Yôkais. Outras possíveis escritas para essa
palavra são: yokai e yookai. Y?kai é a palavra que os japoneses usam para designar
fenômenos, objetos e criaturas sobrenaturais – e que estão além da compreensão das pessoas
– cuja melhor tradução seria ―estranho‖, ―inacreditável‖ ou mesmo ―bizarro‖.

Bom, para os japoneses, essas criaturas também podem ser chamadas de ―ayakashi‖.
Frequentemente, Yökai é traduzido errôneamente (mas, muitas vezes proposital) como
demônio ou diabo, embora sejam, em essência, entidades que não possuem qualquer tipo de
conotação religiosa. Eles não estão ligados diretamente a divindades, simplesmente porque o
Xintoísmo não é o que pode se chamar de ―religião confessional‖. O Xintoísmo possui uma
teologia e liturgia quase que inteiramente voltada para práticas e costumes relacionados com o
relacionamento familiar (deve-se lembrar de que o Japão medieval também era dividido em
castas e clãs), não restando espaço para o que pode-se chamar de códigos de ética e moral na
sociedade em si, como ocorre com as religiões abraâmicas (Judaísmo, Cristianismo e
Islamismo), por exemplo. Como exemplo, podemos citar o culto aos ancestrais e o respeito e
veneração aos mais velhos.

Por não ser uma religião voltada diretamente para o estabelecimento de valores sociais, o
Xintoísmo guardou sua identidade, não se mesclando com as religiões de outras culturas,
apesar de ser fundamentada nos princípios budistas. Fundamentada, mas com características
próprias. O que sobrou de mais parecido com o budismo, foi o fato de não haver a quantidade
de divindades que existem nas religiões nascidas na Ásia Menor e Palestina. Como exemplo de
contra-ponto ao Xintoísmo, temos a Igreja Católica, que se relacionou (e ainda se relaciona)

402
com diversas estruturas da sociedade, acabando portanto como religião confessional e voltada
para o ordenamento da sociedade, inserindo-se rapidamente nas mais variadas esferas sociais
como a política, economia e o direito.

Ao contrário do Catolicismo, o Xintoísmo é uma religião animista (atribui uma ―alma‖ a todas
as coisas, semelhante à alma humana), mas que inexistem deuses personificados em sua
liturgia. Por um lado poderíamos considerar como sendo uma religião ateísta, posto que não
há divindades definitivamente caracterizadas; entretanto, também podemos considerá-lo como
sendo uma religião politeísta, já que tudo que existe no Universo seria, de certa forma, um
deus. Confuso, não é? Mas, devemos lembrar que isso não acontece apenas no Xintoísmo, mas
também em outras religiões do Extremo-Oriente.

Voltando aos Yökais, podemos dizer que são entidades do imaginário popular japonês que
estão mais próximos de duendes e elfos da Europa, sacis e curupiras do folclore brasileiro e
das lendas urbanas da atualidade. Tão reais quanto o Coelhinho da Páscoa, a Iara, Arcanjo
Gabriel e outros seres mitológicos, criados nas profundezas da psique humana.

Enveredando pela mitologia árabe, podemos observar que o que mais se aproximam dos anjos
são os chamados ―Gênios‖. Não se sabe ao certo se a referida palavra é um aportuguesamento
da palavra árabe Jinn (‫)جن‬, ou provém da versão em latim: Genius. Na mitologia árabe pré-
islâmica (e depois absorvido pelo Islã), um jinn – também escrito na forma ―djinn‖ – é um
membro dos jinni (ou ―djinni‖), uma raça de criaturas. A melhor tradução para a palavra ―jinn‖
seria literalmente alguma coisa que tem uma conotação de dissimulação, invisibilidade,
isolamento e distanciamento. Em suma, Gênios seriam todas e quaisquer criaturas com a
faculdade de se tornarem invisíveis e/ou detentoras da arte da dissimulação.

Maomé faz referência a eles no Alcorão. A sura de número 72 recebe o nome de Al-Jinni e
Maomé se diz enviado para ser profeta tanto da humanidade, como dos jinni. Aí fica
evidenciado que ele dividia as entidades do mundo sobrenatural do mundo material, enquanto
Allah interage com ambos, tendo poder supremo sobre os mundos natural e sobrenatural,
sendo portanto supranatural, assim como YHWH dos hebreus e Deus (Jeová) do Cristianismo.

A mitologia árabe, de início, conferia peculiaridades boas e más aos gênios. Mas, com o tempo,
eles acabaram tendo personalidade pérfida e malévola. Com a chegada do Islamismo, eles
foram banidos de vez do panteão, sendo relacionados, majoritariamente, como sendo
entidades negativas. Um exemplo é o jinn Iblis, orgulhoso e ciumento do poder de Allah, que
lidera uma revolta de outros jinnis maus e muito poderosos contra o poder supremo de Allah,
mas que acabam sendo atirados (ele se sua trupe) à Terra, onde passarão a tentar os seres
humanos para que caiam no lado negro da Força, reunindo forças para um confronto final.

Qualquer semelhança entre esta e outra mitologia bem conhecida, NÃO É mera coincidência.
Sim, exatamente! Estou falando dele: Ahriman, dos persas.

Com tantos povos vivendo juntos, conforme dito acima, nada mais natural que a maioria dos
mitos seja bem parecida. Conforme dito por Dan Brown, usando os lábios do acadêmico Robert
Langdon: ―Muito pouca coisa em qualquer religião organizada é original‖. Então, Ahriman dos
persas acaba se convertendo em Iblis, no qual foi moldado a Chtan dos hebreus. Apesar dele
não ser claramente citado na Tanakh (Bíblia hebraica) – em que a única referência a Chtan (ou
Satã/Satanás) feita no Velho Testamento seja uma clara referência ao imperador babilônico
Nabucodonozor – Chtan é uma entidade bem presente na mitologia hebraica, ainda que não
seja escrita. Devemos lembrar que se os hebreus (e atuais judeus) sequer escrevem o nome
de Deus, e quando se referenciam a ele, escrevem D’us, por se acharem tão pequenos
perante Jeová (ou Javé ou ainda YHWH), que seria um desrespeito escreverem seu nome com
todas as letras, imaginem escrever o nome de uma entidade demoníaca.

Muito bem, já que mencionamos os hebreus, está chegando o momento de examinarmos a


mitologia judaico-cristã.

403
Podemos perceber que na mitologia judaico/cristã que os anjos terminaram com um encargo
mais, digamos assim, humilde; sendo rebaixados a ―paus-mandados‖ e garotos de recado. Não
passando, portanto, de mensageiros mandando notícia pra lá e pra cá, servindo de X-9 para
Javé (também chamado Jeová ou YHWH).

Uma hora são mensageiros benfazejos (vide Gabriel saudando Maria), outra hora são seres
perversos e chegam que nem a PM em meio a arrastão (como no caso do ―bondoso‖ Lot, mas
isso veremos a seguir). Tudo variando de acordo com o interesse do escritor da referida
estória. E como há escritores para todos os gostos…

Entretanto, há coisas muito estranhas nos textos bíblicos. Sendo uma religião monoteísta,
Deus faz muito uso dos anjos para, digamos, trabalhinhos sujos. Bom, o melhor é começar do
princípio.

Gênesis 2:1 - Assim foram acabados os céus (por Deus), a Terra e todo seu exército.

Exército? Mas, ué? Contra quem? Não existia nada lá, afinal de contas. E não, não se pode
começar com a história sobre o demo e a revolta dos anjos, pois ele sequer é mencionado no
Velho Testamento, não é mesmo? Ou será…

Bem, de qualquer forma, segundo as atuais versões da Bíblia, a representação da maldade no


Gênesis é uma cobra.

Gênesis 3:1 – A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor
Deus tinha formado. Ela disse a mulher: ―É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de
toda árvore do jardim?‖

Não há indicação que era um anjo ou coisa do gênero. No máximo poderia se imaginar que as
serpentes eram animais malignos, mas não entidades sobrenaturais. No original em hebraico,
a palavra empregada é nachash (‫ )היה והנחש‬e a Vulgata Latina confirma:

Sed et serpens erat callidior cunctis animantibus terrae quae fecerat Dominus Deus qui dixit
ad mulierem cur praecepit vobis Deus ut non comederetis de omni ligno paradisi.

Perante isso, não se pode aceitar que era um ser sobrenatural, mas sim um dos animais
criados por Javé e colocado no Jardim do Éden. Só aconteceu que este animal desenvolver
uma personalidade má.

O que eu sinceramente não entendo é como um ser omnisciente faria uma imensa burrada
dessas, posto que deveria (em tese) saber que a ―cobrona‖ faria aquilo. No final das contas, o
Omni³ acabou punindo Adão e Eva por uma ―distração‖ dele mesmo. Mas, isso é assunto pra
outro artigo.

No versículo 24 deste mesmo capítulo, Javé (também conhecido como Deus ou Senhor dos
Anéis Bíblico) expulsa Adão e Eva do Éden e coloca querubins (que seria, supostamente, uma
das ordens mais altas entre os anjos) para servirem de sentinelas, com espadas flamejantes
nas mãos, guardando a Árvore da Vida.

Gênesis 3:24 – E (Deus) expulsou-o; e colocou ao oriente do jardim do Éden querubins


armados de uma espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da vida.

Querubim (do hebraico kruwb – ‫ )כרוב‬deriva do nome do deus assírio Kirabu, com rosto de
homem, asas e corpo de touro. Alguns acadêmicos discordam disso, afirmando
categoricamente que deriva da palavra babilônica Karabu, significando ―um ser abençoado,
bendito‖. Bom, deve-se levar em conta que na descrição da feitura da Arca da Aliança
existem dois querubins em cima dela (não se diz explicitamente que tenham corpos de
homens, apenas que estejam com os rostos inclinados, conforme é dito em Êxodo, cap. 25:

404
17. Farás também uma tampa de ouro puro, cujo comprimento será de dois côvados e meio, e
a largura de um côvado e meio.

18. Farás dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa,
um de um lado e outro de outro,

19. Fixando-os de modo a formar uma só peça com as extremidades da tampa.

20. Terão esses querubins suas asas estendidas para o alto, e protegerão com elas a tampa,
sobre a qual terão a face inclinada.

21. Colocarás a tampa sobre a arca e porás dentro da arca o testemunho que eu te der.

22. Ali virei ter contigo, e é de cima da tampa, do meio dos querubins que estão sobre a arca
da aliança, que te darei todas as minhas ordens para os israelitas

As atuais representações da Arca da Aliança (que nunca ninguém achou o menor vestígio)
mostram os querubins com aspecto quase humano. Mas, como as descrições bíblicas se
referem a seres alados, pode-se muito bem intuir que eles aceitavam tais figuras com corpos
de animais, pois é muito provável a leitura do termo keruvim araiot (querubins-leões) como
uma expressão hebraica relacionada a figura em forma de leão (shedu), ao contrário do
querubim na forma de um touro (kerubu). Nunca foi dito na Torah que tais entidades
mitológicas tinham que ser antropomórficas.

Voltando um pouquinho nos textos (mais precisamente em Gênesis, cap.19), dois anjos
chegam em Sodoma e acabam batendo um papinho com Lot.

1. Pela tarde chegaram os dois anjos a Sodoma. Lot, que estava assentado à porta da cidade,
ao vê-los, levantou-se e foi-lhes ao encontro e prostrou-se com o rosto por terra.

2. ―Meus Senhores, disse-lhes ele, vinde, peço-vos, para a casa de vosso servo, e passai nela
a noite; lavareis os pés, e amanhã cedo continuareis vosso caminho.‖ ―Não, responderam eles,
passaremos a noite na praça.‖

3. Mas Lot insistiu tanto com eles que acederam e entraram em sua casa. Lot preparou-lhes
um banquete, mandou cozer pães sem fermento e eles comeram.

4. Mas, antes que se tivessem deitado, eis que os homens da cidade, os homens de Sodoma,
se agruparam em torno da casa, desde os jovens até os velhos, toda a população.

5. E chamaram Lot: ―Onde estão, disseram-lhe, os homens que entraram esta noite em tua
casa? Conduze-os a nós para que os conheçamos¹‖

¹ Esse conheçamos significa ter relações sexuais. Os caras estavam afim de traçar os anjos )

Notem que eles são descritos anteriormente (capítulo 18) como homens. Logo, nada de asa.
Como Lot sabia que eram anjos? Bem, ele deve ter recebido um sinal ou apenas adivinhou.
Isso não é relevante agora, pois o melhor ainda está por vir, pois vejam só o que se diz no
versículo 8:

Gênesis 19:8 – Ouvi: tenho duas filhas que são ainda virgens, eu vo-las trarei, e fazei
delas o que quiserdes. Mas não façais nada a estes homens, porque se acolheram à sombra do
meu teto.‖

Lot era um cara bom e justo. Livrou a cara (ou devo dizer que foram outras partes?) dos
anjos, mas liberou a ―pureza‖ das filhas pra galera se divertir. Se isso não demonstrar o quão
puro, bondoso e exemplo de pai Lot era, não sei mais o que demonstrará. Quem ver isso

405
acontecer hoje, achará perfeitamente normal, não é? Um pai oferecendo a virgindade das
filhas para salvar o brioco de dois desconhecidos… Legal, não é mesmo?

Bom, infelizmente, o povo estava afim mesmo era de experimentar carne fresca, que nem o
pessoal da presídio quando chega prisioneiro novinho. Isso devia incluir velhos (viagra??),
adolescentes (não havia ―Playboy‖ nem site pornô na época) e crianças (essa juventude
transviada…). Pois, TODA a população significa que era toda mesmo. Ou não?

13. porque vamos destruir este lugar, visto que o clamor que se eleva dos seus habitantes é
enorme diante do Senhor, o qual nos enviou para exterminá-los.‖

Bom, aqui podemos ver que os anjos deram uma de PM em meio a um arrastão, e saíram
varrendo todo mundo. Caiu fogo e enxofre na cidade (novamente me pergunto sobre os
velhos, doentes e crianças de colo. Tudo tarado, né?) e ela foi riscada do mapa.

A mulher de Lot era curiosa e, enquanto eles estavam fugindo, ela deu uma espiadela para
traz para ver o que se passava. Isso a transformou numa estátua de sal. Com isso, as filhas de
Lot se viram num dilema: Eles tinham se escondido numa caverna perto de uma cidade, mas
sem condição de procriarem (estava faltando homem?) e acabaram transando como próprio
pai. Em caso de qualquer dúvida, favor consultar Gênesis 19:31-38.

As sacanagens que estão na Bíblia eu deixarei para outro artigo . Continuemos falando sobre
os anjos.

Finalmente, achou-se uma real utilização para os anjos no Livro de Enoque. Lembra-se de
Gênesis 2:1, mencionado acima? Pois é.

O livro de Enoque (ou Enoch, como queira) é um livro apócrifo. Livros apócrifos (άπόκρσθος
– secreto) são os livros escritos por comunidades cristãs e pré-cristãs (ou seja, há livros
apócrifos do Antigo Testamento) nos quais os pastores e a primeira comunidade cristã não
reconheceram a pessoa e os ensinamentos de Jesus Cristo e, portanto, não foram incluídos no
cânon. Ou seja, somente aceitaram juntar livros que condiziam com a opinião deles. Muito
esperto, não? Os livros apócrifos são muitas vezes chamados de livros pseudo-epigráficos e
somam um total de 15 livros. Há ainda livros que a ICAR adicionou mais tarde (e rejeitados
pelos protestantes) são chamados Deuterocanônicos (a saber, os sete livros apócrifos mais
importantes são: I e II Macabeus, Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico e
Baruque. Os quatro primeiros são históricos; Sabedoria de Salomão e Eclesiástico são
poéticos, mas também chamados de Sapienciais, Baruque é profético).

O livro de Enoque estava entre os diversos documentos encontrados numa caverna em


Qumram. Ele é, digamos curioso. Relata coisas bem interessantes quando no início dos tempos
(pelo menos, segundo a visão do autor, é claro), um bocado de tempo antes do Dilúvio
(imagina-se que Enoque seria, em tese, antepassado de Noé).

O livro de Enoque, catalogado como 4Q201, nomeia os nomes dos vinte chefes dos anjos
caídos (o texto está escrito em aramaico). Nele, faz clara menção aos Nefilim, como sendo
estes anjos caídos. Isso lhe diz algo? Não? Tudo bem, mas com certeza eles são conhecidos na
Bíblia; portanto, se você pensa que o livro de Enoque tem mais é que ir pra fogueira, saiba
que os Nefilim são mencionados várias vezes na Bíblia; mas nas traduções, eles receberam
(espertamente) outros nomes. São os Gigantes.

No artigo O Dilúvio Desmascarado o que era mesmo que vinha escrito no capítulo 6 do
Gênesis?

1. Quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e lhes nasceram filhas,

2. Os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram belas, e escolheram esposas entre
elas.

406
3. O Senhor então disse: ―Meu espírito não permanecerá para sempre no homem, porque todo
ele é carne, e a duração de sua vida será de cento e vinte anos.‖

4. Naquele tempo viviam gigantes na terra, como também daí por diante, quando os filhos de
Deus se uniam às filhas dos homens e elas geravam filhos. Estes são os heróis, tão afamados
nos tempos antigos.

‫להם ילדו ובנות האדמה פני על לרב האדם החל כי ויהי א‬

‫בחרו אשר מכל נשים להם ויקחו הנה טבת כי האדם בנות את האלהים בני ויראו ב‬

‫שנה ועשרים מאה ימיו והיו בשר הוא בשגם לעלם באדם רוחי ידון לא יהוה ויאמר ג‬

‫אשר הגברים המה להם וילדו האדם בנות אל האלהים בני יבאו אשר כן אחרי וגם ההם בימים בארץ היו הנפלים ד‬
‫השם אנשי מעולם‬

Agora, sim! As coisas começam a fazer sentido.

Este trecho é muito controverso e os religiosos pulam que nem pipoica quando se aponta esta
passagem. Isso faz com que eles pulem (espertamente, segundo eles) esta menção aos
Gigantes. Mas, quem eram esses Gigantes? Não faz sentido nenhum. Não se adequa ao
contexto nem nada. No entanto, quando se examina o Livro de Enoque e estuda-se o original
em hebraico do Torah, começamos a entender muitas coisas obscuras. Duvidam?

Nefilim (ou Nephilim, em hebraico ‫ )ה פלים‬significa ―os [anjos] que caíram‖. Mesmo porque, é a
forma plural (im) do verbo Nephal, cujo significado peculiar é ―cair, fazendo cair‖. E isso faz
toda a diferença, vamos analisar o texto do Dilúvio de novo:

Naquele tempo viviam gigantes na terra, como também daí por diante, quando os
filhos de Deus se uniam às filhas dos homens e elas geravam filhos.

Claramente se demonstra a existência de diferentes classes: Homens, filhos de homens e


seres filhos diretos de Deus. Ora, Deus não criou o tal exército antes? Para quê? Por quê?
Omnisciência? Mas, se ele se arrependeu (conforme Gênesis 6:6), então ele não previu o que
ia acontecer com antecedência. Para que o exército então?

Ora, é óbvio que está faltando um pedaço entre a criação do mundo e o capítulo 2, versículo 1
do Gênesis.

É claro que vocês podem pensar que isso é idéia minha, só que outros historiadores
conhecidos reconhecem os Nefilim como parte da Tradição Judaica: Flávio Josefo e Fílon de
Alexandria. Santo Agostinho, chato como ele só, era contrário a esta idéia, cujo motivo é bem
lógico de se supor.

Afinal, Agostinho defendia a mesma Igreja que fez o ―milk shake‖ de livros, somando e
subtraindo livros segundo seus interesses. Óbvio que ele seria contrário, não é mesmo? Prefiro
a opinião de Josefo, um dos maiores historiadores judeus.

Outro autor de peso, aceito por acadêmicos cristãos, é o teólogo George Hawkins Pember.

No livro ―Earth‘s Earliest Ages‖, Pember defende o estudo teológico que a Terra não fora criada
completamente vazia, mas que esse estado foi resultado da suposta rebelião de Lúcifer.

Muitos artistas retrataram a Queda dos Anjos, entre eles o pintor flamengo Pieter Brueghel ―o
velho‖ (1525-1569), conforme o quadro abaixo.

407
No Concílio IV de Latrão vem dizendo o seguinte: ―O Diabo e demais demônios, por Deus
certamente foram criados bons por natureza; mas eles, por si mesmos, se fizeram
maus‖.

Interessante. Deus além de não saber o que vai acontecer, cria seres tão maravilhosos que
fazem o que querem, desobedecem como querem e suas vontades se impõem perante o
Omni³.

A ICAR ensina, mediante o Concílio Vaticano II, Const Gaudium et Spes, n.º 37, que ―toda a
história humana está invadida por uma tremenda luta contra o poder das trevas, que iniciada
desde o princípio do mundo durará até o último dia, como diz o Senhor‖.

Apocalipse 12:7-8 – ―Houve uma batalha no céu. Miguel e seus Anjos tiveram de combater o
Dragão. O Dragão e seus Anjos travaram combate, mas não prevaleceram. E já não houve
lugar lá para eles‖.

E o Catecismo da ICAR é taxativo.

A narrativa da queda (Gênesis cap. 3) utiliza uma linguagem metafórica, mas afirma um
acontecimento primordial, um fato que teve lugar no princípio da história do homem (conforme
Gênesis 13:1). A Revelação dá-nos uma certeza de fé de que toda a história humana está
marcada pela falta original, livremente cometida pelos nossos primeiros pais (conforme
Concílio de Trento: DS 1513; Pio XII: DS 3897; Paulo VI: AAS 58(1966), 654).

Agora, é hora de sentarmos e nos entregar a reflexões.

Deus, o famoso Omni³, sabe de tudo que se passa (pelo menos, é o que dizem). Ele cria anjos
que sabe (ele sabe, não é?) que vão fazer um furdunço danado e declarar guerra. Daí, O
poderosíssimo, omniultrapowerfulmegafucker Javé cria anjos e monta um exército pra deter a
invasão dos Céus. Qualquer semelhança com um traficante arrebanhando ―soldados‖, que
acabam querendo tirar o ―manu‖ da posição principal e controlar o movimento, ta ligado? Daí,
o Chefão cria outro exército pra conter a investida e os pobres moradores em volta é que
acabam sofrendo as consequências. Típico.

Se o Senhor dos Anéis Bíblico era tão incrível e poderoso, porque ele precisa de um batalhão
pra se defender? Se ele é o tal, um estalar de dedos e Plóink!!! Tudo limpo de novo.

Além de ser um incompetente em termos de criação (eu teria feito coisas melhores e mais
eficientes), é um péssimo administrador e um péssimo visionário, posto que não sabe nem o
que ai acontecer no dia seguinte.

408
As pessoas deveriam ir ao PROCON reclamar…

Os Evangelistas eram historiadores confiáveis?

Por Richard Carrier

Trad. Sky Kunde

A qualidade ou confiabilidade de uma fonte requer uma avaliação de todos os fatores


relevantes. Os evangelhos são falhos como relatos confiáveis porque falham em todos os
critérios, não porque falham em um ou dois. Para encurtar a conversa, Lucas, o melhor deles,
não oferece nenhuma das marcas de um historiador crítico e cuidadoso, em vez disso prega e
propagandeia, e implicitamente serve uma agenda ideológica, não uma objetiva investigação
em direção a verdade.

Para uma boa comparação extrema, compare os explícitos métodos de Arrian com Lucas-Atos:
Arrian relata a história de Alexandre o Grande quinhentos anos após os fatos. Mas o faz
explicitamente oferecendo um método seguro. Arrian diz que ignorou todas as obras não
escritas por testemunhas. Em vez disso, confiou somente em antigos textos disponíveis de
testemunhas oculares da campanha de Alexandre. Ele os nomeia e discute suas conexões com
Alexandre. Ele então diz que, sobre cada ponto onde eles concordam, simplesmente registraria
o que eles disseram, mas onde discordam de modo significativo, ele citaria ambos os relatos e
identificaria as fontes que discordam.

Contudo, este não é o melhor método – métodos modernos foram melhorados


consideravelmente –, mas está entre os melhores métodos empregados na antiguidade. Isso é
consideravelmente diferente do que apenas escrever histórias quinhentos anos mais tarde.
Deixando claro, se Arrian fez o que disse, ele é quase tão bom quanto a fonte de uma
testemunha ocular (de fato, argumentavelmente melhor). Agora, perceba como Lucas não faz
nada disso (nem nenhum outro evangelista).

Não temos ideia sobre as fontes que Lucas usou e para quais informações. Também não temos
ideia sobre como ele escolheu em quem confiar ou quem incluir. Lucas, portanto, não pode ser
associado a Arrian como historiador crítico. Ele consegue ser ainda pior quando comparado
como Polybius ou Thucydides. Nem mesmo alcança o nível de historiadores inferiores como
Tácito e Josefo – que apesar de não oferecerem uma clara discussão dos seus métodos,
frequentemente nomeiam suas fontes e explicitamente mostram um senso crítico ao escolher
entre relatos divergentes e confusos.

O significado disso é simples: consideramos um fato que esses historiadores executaram ao


menos alguma pesquisa decente, criticamente examinaram a evidência e admitiram a dúvida
ou as informações conflitantes.

Não confiamos em nenhum historiador antigo tanto quanto confiamos em um bom historiador
moderno – todos os antigos historiadores erraram em uma variedade de pontos por uma
variedade de razões (então, por extensão, podemos estar certos que Lucas também). Mas
confiamos nos antigos historiadores na medida em que eles demonstram as qualidades de um
historiador confiável, como ser um pensador crítico com um interesse explícito em averiguar
alegações contra documentos e relatos de testemunhas.

Todos os evangelhos discordam. Mesmo Lucas, que alega ter seguido tudo precisamente, deixa
de fora muitas coisas. Lucas também reescreve o que Jesus disse ou fez de modo levemente
diferente da sua fonte (provavelmente Marcos) e oferece uma cronologia muito diferente da de
João. Obviamente, deve ter havido discordâncias. Um historiador crítico comentaria as
discordâncias e, se possível, as resolveria nomeando e citando fontes. Por exemplo,
considere os atuais esforços dos cristãos para harmonizar os relatos dos evangelhos. Isso é

409
exatamente o que um autor como Lucas teria feito, tivesse ele sido um historiador crítico e não
apenas um porta-voz defendendo uma ideologia.

Mas o problema, de fato, não é apenas que Lucas não se esforçou para resolver as disputas e
diferenças entre suas fontes, assim como não fez qualquer esforço para nomeá-las, averiguá-
las ou estabelecer os méritos de qualquer uma das suas fontes. Estes são problemas sérios.
Mas o maior é que Lucas não diz nada sobre seus métodos – assim não podemos saber quão
confiáveis são - ou suas fontes –, então não podemos saber quão confiáveis eles são – ou
mesmo quem eram. Muitos outros historiadores ao menos nos dizem isso em algum lugar –
alguns, como Appian e Josefo, mesmo ao escrever autobiografias inteiras.

Mesmo no geral, Lucas não se comporta como um pensador crítico. Um pensador crítico
começa cético e somente termina crendo após encontrar fortes evidências - e então esperar
que sua audiência se aproxime da verdade do mesmo modo. Consequentemente, ele expressa
dúvidas sobre alegações incríveis e então vai adiante explicando porque não acredita, ou
admite no que ele acredita, mas não é certo, e assim por diante. Historiadores antigos nem
sempre são bons nisso. Mas ao menos o faz um pouco. Lucas não. Entretanto, como eu havia
dito, Lucas e os outros evangelistas estão, em termos de sinais de confiabilidade percebível,
entre os ―historiadores‖ do mais baixo escalão (e apropriadamente falando, em todo o Novo
Testamento somente Lucas diz estar escrevendo história). Não são observadores neutros, mas
crentes vendendo uma religião.

Notas

1- Richard Carrier permite que todos seus textos sejam traduzidos, desde que sem fins
lucrativos.

2- O texto é uma adaptação, pois o artigo é uma refutação dirigida a James Patrick Holding,
apologeta cristão fundamentalista.

Fonte: Infidels

PARTE 2 – CETICISMO

Lógica & Falácias

Por Matthew

Traduzido por André Díspore Cancian

Sumário
Lógica & Falácias .................................................................................................... 410
Introdução .......................................................................................................... 412
O que a lógica não é ............................................................................................ 412

410
Argumentos ......................................................................................................... 413
Proposições ......................................................................................................... 413
Premissas ............................................................................................................ 413
Inferência............................................................................................................ 414
Conclusão ............................................................................................................ 414
A implicação em detalhes .................................................................................... 414
Exemplo de argumento ........................................................................................ 415
Reconhecendo argumentos ................................................................................. 416
Leitura complementar ......................................................................................... 416
Falácias ............................................................................................................... 417
Acentuação / Ênfase ........................................................................................... 417
Ad Hoc ................................................................................................................. 417
Afirmação do Conseqüente .................................................................................. 418
Anfibolia .............................................................................................................. 418
Evidência Anedótica ............................................................................................ 418
Argumentum ad Antiquitatem ............................................................................. 418
Argumentum ad Baculum / Apelo à Força ........................................................... 418
Argumentum ad Crumenam ................................................................................. 419
Argumentum ad Hominem ................................................................................... 419
Argumentum ad Ignorantiam .............................................................................. 419
Argumentum ad Lazarum .................................................................................... 420
Argumentum ad Logicam ..................................................................................... 420
Argumentum ad Misericordiam ............................................................................ 421
Argumentum ad Nauseam ................................................................................... 421
Argumentum ad Novitatem ................................................................................. 421
Argumentum ad Numerum .................................................................................. 421
Argumentum ad Populum .................................................................................... 421
Argumentum ad Verecundiam ............................................................................. 421
Audiatur et Altera Pars ........................................................................................ 422
Bifurcação ........................................................................................................... 422
Circulus in Demonstrando ................................................................................... 422
Questão Complexa / Falácia de Interrogação / Falácia da Pressuposição ........... 423
Falácias de Composição ....................................................................................... 423
Acidente Invertido / Generalização Grosseira ..................................................... 423
Convertendo uma Condicional ............................................................................. 423
Cum Hoc Ergo Propter Hoc .................................................................................. 423
Negação do Antecedente ..................................................................................... 424
Falácia do Acidente / Generalização Absoluta / Dicto Simpliciter ....................... 424

411
Falácia da Divisão ................................................................................................ 424
Equivocação / Falácia de Quatro Termos ............................................................. 424
Analogia Estendida .............................................................................................. 425
Ignorantio Elenchi / Conclusão Irrelevante ......................................................... 425
Falácia da Lei Natural / Apelo à Natureza ........................................................... 425
Falácia “Nenhum Escocês de Verdade…” ............................................................. 425
Non Causa Pro Causa ........................................................................................... 426
Non Sequitur ....................................................................................................... 426
Pretitio Principii / Implorando a Pergunta .......................................................... 426
Plurium Interrogationum / Muitas Questões ....................................................... 426
Post Hoc Ergo Proter Hoc .................................................................................... 426
Falácia “Olha o Avião” ......................................................................................... 427
Reificação ............................................................................................................ 427
Mudando o Ônus da Prova ................................................................................... 427
Declive Escorregadio ........................................................................................... 427
Espantalho .......................................................................................................... 427
Tu Quoque ........................................................................................................... 427
Nota 1 ................................................................................................................. 428
Nota 2 ................................................................................................................. 428

Introdução

Há muito debate na Internet; infelizmente, grande parte dele possui péssima qualidade. O
objetivo deste documento é explicar os fundamentos da argumentação lógica e possivelmente
melhorar o nível dos debates em geral.

O Dicionário de Inglês conciso de Oxford (Concise Oxford English Dictionary) define lógica
como ―a ciência da argumentação, prova, reflexão ou inferência‖. Ela lhe permitirá analisar um
argumento ou raciocínio e deliberar sobre sua veracidade. A lógica não é um pressuposto para
a argumentação, é claro; mas conhecendo-a, mesmo que superficialmente, torna-se mais fácil
evidenciar argumentos inválidos.

Há muitos tipos de lógica, como a difusa e a construtiva; elas possuem diferentes regras,
vantagens e desvantagens. Este documento discute apenas a Booleana simples, pois é
largamente conhecida e de compreensão relativamente fácil. Quando indivíduos falam sobre
algo ser ―lógico‖, geralmente se referem à lógica que será tratada aqui.

O que a lógica não é

Vale fazer alguns comentários sobre o que a lógica não é.

412
Primeiro: a lógica não é uma lei absoluta que governa o universo. Muitas pessoas, no passado,
concluíram que se algo era logicamente impossível (dada a ciência da época), então seria
literalmente impossível. Acreditava-se também que a geometria euclidiana era uma lei
universal; afinal, era logicamente consistente. Mas sabemos que tais regras geométricas não
são universais.

Segundo: a lógica não é um conjunto de regras que governa o comportamento humano.


Pessoas podem possuir objetivos logicamente conflitantes. Por exemplo:

– John quer falar com quem está no encargo.

– A pessoa no encargo é Steve.

– Logo, John quer falar com Steve.

Infelizmente, pode ser que John também deseje, por outros motivos, evitar contato com
Steve, tornando seu objetivo conflitante. Isso significa que a resposta lógica nem sempre é
viável.

Este documento apenas explica como utilizar a lógica; decidir se ela é a ferramenta correta
para a situação fica por conta de cada um. Há outros métodos para comunicação, discussão e
debate.

Argumentos

Um argumento é, segundo Monthy Phyton Sketch, ―uma série concatenada de afirmações com
o fim de estabelecer uma proposição definida‖.

Existem vários tipos de argumento; iremos discutir os chamados dedutivos. Esses são
geralmente vistos como os mais precisos e persuasivos, provando categoricamente suas
conclusões; podem ser válidos ou inválidos.

Argumentos dedutivos possuem três estágios: premissas, inferência e conclusão. Entretanto,


antes de discutir tais estágios detalhadamente, precisamos examinar os alicerces de um
argumento dedutivo: proposições.

Proposições

Uma proposição é uma afirmação que pode ser verdadeira ou falsa. Ela é o significado da
afirmação, não um arranjo preciso das palavras para transmitir esse significado.

Por exemplo, ―Existe um número primo par maior que dois‖ é uma proposição (no caso, uma
falsa). ―Um número primo par maior que dois existe‖ é a mesma proposição expressa de modo
diferente.

Infelizmente, é muito fácil mudar acidentalmente o significado das palavras apenas


reorganizando-as. A dicção da proposição deve ser considerada como algo significante.

É possível utilizar a linguística formal para analisar e reformular uma afirmação sem alterar o
significado; entretanto, este documento não pretende tratar de tal assunto.

Premissas

413
Argumentos dedutivos sempre requerem um certo número de ―assunções-base‖. São as
chamadas premissas; é a partir delas que os argumentos são construídos; ou, dizendo de
outro modo, são as razões para se aceitar o argumento. Entretanto, algo que é uma premissa
no contexto de um argumento em particular, pode ser a conclusão de outro, por exemplo.

As premissas do argumento sempre devem ser explicitadas, esse é o princípio do audiatur et


altera pars*. A omissão das premissas é comumente encarada como algo suspeito, e
provavelmente reduzirá as chances de aceitação do argumento.

A apresentação das premissas de um argumento geralmente é precedida pelas palavras


―Admitindo que…‖, ―Já que…‖, ―Obviamente se…‖ e ―Porque…‖. É imprescindível que seu
oponente concorde com suas premissas antes de proceder com a argumentação.

Usar a palavra ―obviamente‖ pode gerar desconfiança. Ela ocasionalmente faz algumas
pessoas aceitarem afirmações falsas em vez de admitir que não entendem por que algo é
―óbvio‖. Não hesite em questionar afirmações supostamente ―óbvias‖.

* Expressão latina que significa ―a parte contrária deve ser ouvida‖.

Inferência

Umas vez que haja concordância sobre as premissas, o argumento procede passo a passo
através do processo chamado inferência.

Na inferência, parte-se de uma ou mais proposições aceitas (premissas) para chegar a outras
novas. Se a inferência for válida, a nova proposição também deve ser aceita. Posteriormente
essa proposição poderá ser empregada em novas inferências.

Assim, inicialmente, apenas podemos inferir algo a partir das premissas do argumento; ao
longo da argumentação, entretanto, o número de afirmações que podem ser utilizadas
aumenta.

Há vários tipos de inferência válidos, mas também alguns inválidos, os quais serão analisados
neste documento. O processo de inferência é comumente identificado pelas frases
―conseqüentemente…‖ ou ―isso implica que…‖.

Conclusão

Finalmente se chegará a uma proposição que consiste na conclusão, ou seja, no que se está
tentando provar. Ela é o resultado final do processo de inferência, e só pode ser classificada
como conclusão no contexto de um argumento em particular.

A conclusão se respalda nas premissas e é inferida a partir delas. Esse é um processo sutil que
merece explicação mais aprofundada.

A implicação em detalhes

Evidentemente, pode-se construir um argumento válido a partir de premissas verdadeiras,


chegando a uma conclusão também verdadeira. Mas também é possível construir argumentos
válidos a partir de premissas falsas, chegando a conclusões falsas.

414
O ―pega‖ é que podemos partir de premissas falsas, proceder através de uma inferência válida,
e chegar a uma conclusão verdadeira. Por exemplo:

– Premissa: Todos peixes vivem no oceano.

– Premissa: Lontras são peixes.

– Conclusão: Logo, lontras vivem no oceano.

Há, no entanto, uma coisa que não pode ser feita: partir de premissas verdadeiras, inferir de
modo correto, e chegar a uma conclusão falsa.

Podemos resumir esses resultados numa tabela de ―regras de implicação‖. O símbolo ― ‖


denota implicação; ―A‖ é a premissa, ―B‖ é a conclusão.

Regras de implicação

Premissa Conclusão Inferência

A B A B

Falsa Falsa Verdadeira

Falsa Verdadeira Verdadeira

Verdadeira Falsa Falsa

Verdadeira Verdadeira Verdadeira

– Se as premissas são falsas e a inferência válida, a conclusão pode ser verdadeira ou falsa
(linhas 1 e 2).

– Se a premissa é verdadeira e a conclusão falsa, a inferência é inválida (linha 3).

– Se as premissas e inferência são válidas, a conclusão é verdadeira (linha 4).

Desse modo, o fato de um argumento ser válido não significa necessariamente que sua
conclusão é verdadeira, pois pode ter partido de premissas falsas.

Um argumento válido que foi derivado de premissas verdadeiras é chamado ―argumento


consistente‖. Esses obrigatoriamente chegam a conclusões verdadeiras.

Exemplo de argumento

A seguir está exemplificado um argumento válido, mas que pode ou não ser ―consistente‖.

1 – Premissa: Todo evento tem uma causa.

2 – Premissa: O Universo teve um começo.

3 – Premissa: Começar envolve um evento.

4 – Inferência: Isso implica que o começo do Universo envolveu um evento.

415
5 – Inferência: Logo, o começo do Universo teve uma causa.

6 – Conclusão: O Universo teve uma causa.

A proposição da linha 4 foi inferida das linhas 2 e 3. A linha 1, então, é usada em conjunto
com proposição 4, para inferir uma nova proposição (linha 5). O resultado dessa inferência é
reafirmado (numa forma levemente simplificada) como sendo a conclusão.

Reconhecendo argumentos

O reconhecimento de argumentos é mais difícil que das premissas ou conclusão. Muitas


pessoas abarrotam textos de asserções sem sequer produzir algo que possa ser chamado
argumento.

Algumas vezes os argumentos não seguem os padrões descritos acima. Por exemplo, alguém
pode dizer quais são suas conclusões e depois justificá-las. Isso é válido, mas pode ser um
pouco confuso.

Para piorar a situação, algumas afirmações parecem argumentos, mas não são. Por exemplo:
―Se a Bíblia é verdadeira, Jesus ou foi um louco, um mentiroso, ou o Filho de Deus‖.

Isso não é um argumento; é uma afirmação condicional. Não explicita as premissas


necessárias para embasar as conclusões, sem mencionar que possui outras falhas *(Nota 1).

Um argumento não equivale a uma explicação. Suponha que, tentando provar que Albert
Einstein acreditava em Deus, disséssemos: ―Einstein afirmou que ‗Deus não joga dados‘
porque cria em Deus‖.

Isso pode parecer um argumento relevante, mas não é; trata-se de uma explicação da
afirmação de Einstein. Para perceber isso, lembre-se que uma afirmação da forma ―X porque
Y‖ pode ser reescrita na forma ―Y logo X‖. O que resultaria em: ―Einstein cria em Deus, por
isso afirmou que ‗Deus não joga dados‘‖.

Agora fica claro que a afirmação, que parecia um argumento, está admitindo a conclusão que
deveria estar provando.

Ademais, Einstein não cria num Deus pessoal preocupado com assuntos humanos *(Nota 2).

Leitura complementar

Esboçamos a estrutura de um argumento ―consistente‖ dedutivo desde premissas até a


conclusão; contudo, em última análise, a conclusão só pode ser tão persuasiva quanto as
premissas utilizadas. A lógica em si não resolve o problema da verificação das premissas; para
isso outra ferramenta é necessária.

O método de investigação preponderante é o científico. No entanto, a filosofia da ciência e o


método científico são assuntos extremamente extensos e explicá-los está muito além das
pretensões deste documento.

Recomenda-se a leitura de livros específicos sobre o assunto para uma compreensão mais
abrangente.

416
Falácias

Há um certo número de ―armadilhas‖ a serem evitadas quando se está construindo um


argumento dedutivo; elas são conhecidas como falácias. Na linguagem do dia-a-dia, nós
denominamos muitas crenças equivocadas como falácias, mas, na lógica, o termo possui
significado mais específico: falácia é uma falha técnica que torna o argumento inconsistente ou
inválido.

(Além da consistência do argumento, também se podem criticar as intenções por detrás da


argumentação.)

Argumentos contentores de falácias são denominados falaciosos. Frequentemente parecem


válidos e convincentes; às vezes, apenas uma análise pormenorizada é capaz de revelar a
falha lógica.

A seguir está uma lista de algumas das falácias mais comuns e determinadas técnicas retóricas
bastante utilizadas em debates. A intenção não foi criar uma lista exaustivamente grande, mas
apenas ajuda-lo a reconhecer algumas das falácias mais comuns, evitando, assim, ser
enganado por elas.

Acentuação / Ênfase

A falácia a Acentuação funciona através de uma mudança no significado. Neste caso, o


significado é alterado enfatizando diferentes partes da afirmação. Por exemplo:

―Não devemos falar mal de nossos amigos‖

―Não devemos falar mal de nossos amigos‖

Seja particularmente cauteloso com esse tipo de falácia na internet, onde é fácil interpretar
mal o sentido do que está escrito.

Ad Hoc

Como mencionado acima, argumentar e explicar são coisas diferentes. Se estivermos


interessados em demonstrar A, e B é oferecido como evidência, a afirmação ―A porque B‖ é um
argumento. Se estivermos tentando demonstrar a veracidade de B, então ―A porque B‖ não é
um argumento, mas uma explicação.

A falácia Ad Hoc é explicar um fato após ter ocorrido, mas sem que essa explicação seja
aplicável a outras situações. Frequentemente a falácia Ad Hoc vem mascarada de argumento.
Por exemplo, se admitirmos que Deus trata as pessoas igualmente, então esta seria uma
explicação Ad Hoc:

―Eu fui curado de câncer‖

―Agradeça a Deus, pois ele lhe curou‖

―Então ele vai curar todas pessoas que têm câncer?‖

―Hmm… talvez… os desígnios de Deus são misteriosos.‖

417
Afirmação do Conseqüente

Essa falácia é um argumento na forma ―A implica B, B é verdade, logo A é verdade‖. Para


entender por que isso é uma falácia, examine a tabela (acima) com as Regras de Implicação.
Aqui está um exemplo:

―Se o universo tivesse sido criado por um ser sobrenatural, haveria ordem e organização em
todo lugar. E nós vemos ordem, e não esporadicidade; então é óbvio que o universo teve um
criador.‖

Esse argumento é o contrario da Negação do Antecedente.

Anfibolia

A Anfibolia ocorre quando as premissas usadas num argumento são ambíguas devido a
negligência ou imprecisão gramatical. Por exemplo:

―Premissa: A crença em Deus preenche um vazio muito necessário.‖

Evidência Anedótica

Uma das falácias mais simples é dar crédito a uma Evidência Anedótica. Por exemplo:

―Há abundantes provas da existência de Deus; ele ainda faz milagres. Semana passada eu li
sobre uma garota que estava morrendo de câncer, então sua família inteira foi para uma igreja
e rezou, e ela foi curada.‖

É bastante válido usar experiências pessoais como ilustração; contudo, essas anedotas não
provam nada a ninguém. Um amigo seu pode dizer que encontrou Elvis Presley no
supermercado, mas aqueles que não tiveram a mesma experiência exigirão mais do que o
testemunho de seu amigo para serem convencidos.

Evidências Anedóticas podem parecer muito convincentes, especialmente queremos acreditar


nelas.

Argumentum ad Antiquitatem

Essa é a falácia de afirmar que algo é verdadeiro ou bom só porque é antigo ou ―sempre foi
assim‖. A falácia oposta é a Argumentum ad Novitatem.

―Cristãos acreditam em Jesus há milhares de anos. Se o Cristianismo não fosse verdadeiro,


não teria perdurado tanto tempo‖

Argumentum ad Baculum / Apelo à Força

Acontece quando alguém recorre à força (ou à ameaça) para tentar induzir outros a aceitarem
uma conclusão. Essa falácia é freqüentemente utilizada por políticos, e pode ser sumarizada na
expressão ―o poder define os direitos‖. A ameaça não precisa vir diretamente da pessoa que
argumenta. Por exemplo:

―…assim, há amplas provas da veracidade da Bíblia, e todos que não aceitarem essa verdade
queimarão no Inferno.‖

418
―…em todo caso, sei seu telefone e endereço; já mencionei que possuo licença para portar
armas?‖

Argumentum ad Crumenam

É a falácia de acreditar que dinheiro é o critério da verdade; que indivíduos ricos têm mais
chances de estarem certos. Trata-se do oposto ao Argumentum ad Lazarum. Exemplo:

―A Microsoft é indubitavelmente superior; por que outro motivo Bill Gates seria tão rico?‖

Argumentum ad Hominem

Argumentum ad Hominem literalmente significa ―argumento direcionado ao homem‖; há duas


variedades.

A primeira é a falácia Argumentum ad Hominem abusiva: consiste em rejeitar uma afirmação e


justificar a recusa criticando a pessoa que fez a afirmação. Por exemplo:

―Você diz que os ateus podem ser morais, mas descobri que você abandonou sua mulher e
filhos.‖

Isso é uma falácia porque a veracidade de uma asserção não depende das virtudes da pessoa
que a propugna. Uma versão mais sutil do Argumentum ad Hominen é rejeitar uma proposição
baseando-se no fato de ela também ser defendida por pessoas de caráter muito questionável.
Por exemplo:

―Por isso nós deveríamos fechar a igreja? Hitler e Stálin concordariam com você.‖

A segunda forma é tentar persuadir alguém a aceitar uma afirmação utilizando como
referência as circunstâncias particulares da pessoa. Por exemplo:

―É perfeitamente aceitável matar animais para usar como alimento. Esperto que você não
contrarie o que eu disse, pois parece bastante feliz em vestir seus sapatos de couro.‖

Esta falácia é conhecida como Argumentum ad Hominem circunstancial e também pode ser
usada como uma desculpa para rejeitar uma conclusão. Por exemplo:

―É claro que a seu ver discriminação racial é absurda. Você é negro‖

Essa forma em particular do Argumenutm ad Hominem, no qual você alega que alguém está
defendendo uma conclusão por motivos egoístas, também é conhecida como ―envenenar o
poço‖.

Não é sempre inválido referir-se às circunstâncias de quem que faz uma afirmação. Um
indivíduo certamente perde credibilidade como testemunha se tiver fama de mentiroso ou
traidor; entretanto, isso não prova a falsidade de seu testemunho, nem altera a consistência
de quaisquer de seus argumentos lógicos.

Argumentum ad Ignorantiam

419
Argumentum ad Ignorantiam significa ―argumento da ignorância‖. A falácia consiste em
afirmar que algo é verdade simplesmente porque não provaram o contrário; ou, de modo
equivalente, quando for dito que algo é falso porque não provaram sua veracidade.

(Nota: admitir que algo é falso até provarem o contrário não é a mesma coisa que afirmar.
Nas leis, por exemplo, os indivíduos são considerados inocentes até que se prove o contrário.)

Abaixo estão dois exemplos:

―Obviamente a Bíblia é verdadeira. Ninguém pode provar o contrário.‖

―Certamente a telepatia e os outros fenômenos psíquicos não existem. Ninguém jamais foi
capaz de prová-los.‖

Na investigação científica, sabe-se que um evento pode produzir certas evidências de sua
ocorrência, e que a ausência dessas evidências pode ser validamente utilizada para inferir que
o evento não ocorreu. No entanto, não prova com certeza.

Por exemplo:

―Para que ocorresse um dilúvio como o descrito pela Bíblia seria necessário um enorme volume
de água. A Terra não possui nem um décimo da quantidade necessária, mesmo levando em
conta a que está congelada nos polos. Logo, o dilúvio não ocorreu.‖

Certamente é possível que algum processo desconhecido tenha removido a água. A ciência,
entretanto, exigiria teorias plausíveis e passíveis de experimentação para aceitar que o fato
tenha ocorrido.

Infelizmente, a história da ciência é cheia de predições lógicas que se mostraram equivocadas.


Em 1893, a Real Academia de Ciências da Inglaterra foi persuadida por Sir Robert Ball de que
a comunicação com o planeta Marte era fisicamente impossível, pois necessitaria de uma
antena do tamanho da Irlanda, e seria impossível fazê-la funcionar.

Veja também Mudando o Ônus da Prova.

Argumentum ad Lazarum

É a falácia de assumir que alguém pobre é mais íntegro ou virtuoso que alguém rico. Essa
falácia é apõe-se à Argumentum ad Crumenam. Por exemplo:

―É mais provável que os monges descubram o significado da vida, pois abdicaram das
distrações que o dinheiro possibilita.‖

Argumentum ad Logicam

Essa é uma ―falácia da falácia‖. Consiste em argumentar que uma proposição é falsa porque foi
apresentada como a conclusão de um argumento falacioso. Lembre-se que um argumento
falacioso pode chegar a conclusões verdadeiras.

―Pegue a fração 16/64. Agora, cancelando-se o seis de cima e o seis debaixo, chegamos a
1/4.‖

420
―Espere um segundo! Você não pode cancelar o seis!‖

―Ah, então você quer dizer que 16/64 não é 1/4?‖

Argumentum ad Misericordiam

É o apelo à piedade, também conhecida como Súplica Especial. A falácia é cometida quando
alguém apela à compaixão a fim de que aceitem sua conclusão. Por exemplo:

―Eu não assassinei meus pais com um machado! Por favor, não me acuse; você não vê que já
estou sofrendo o bastante por ter me tornado um órfão?‖

Argumentum ad Nauseam

Consistem em crer, equivocadamente, que algo é tanto mais verdade, ou tem mais chances de
ser, quanto mais for repetido. Um Argumentum ad Nauseamé aquele que afirma algo
repetitivamente até a exaustão.

Argumentum ad Novitatem

Esse é o oposto do Argumentum ad Antiquitatem; é a falácia de afirmar que algo é melhor ou


mais verdadeiro simplesmente porque é novo ou mais recente que alguma outra coisa.

―BeOS é, de longe, um sistema operacional superior ao OpenStep, pois possui um design


muito mais atual.‖

Argumentum ad Numerum

Falácia relacionada ao Argumentum ad Populum. Consiste em afirmar que quanto mais


pessoas concordam ou acreditam numa certa proposição, mais provavelmente ela estará
correta. Por exemplo:

―A grande maioria dos habitantes deste país acredita que a punição capital é bastante eficiente
na diminuição dos delitos. Negar isso em face de tantas evidências é ridículo.‖

―Milhares de pessoas acreditam nos poderes das pirâmides; ela deve ter algo de especial.‖

Argumentum ad Populum

Também conhecida como apelo ao povo. Comete-se essa falácia ao tentar conquistar a
aceitação de uma proposição apelando a um grande número de pessoas. Esse tipo de falácia é
comumente caracterizado por uma linguagem emotiva. Por exemplo:

―A pornografia deve ser banida. É uma violência contra as mulheres.‖

―Por milhares de anos pessoas têm acreditado na Bíblia e Jesus, e essa crença teve um
enorme impacto sobre suas vida. De que outra evidência você precisa para se convencer de
que Jesus é o filho de Deus? Você está dizendo que todas elas são apenas estúpidas pessoas
enganadas?‖

Argumentum ad Verecundiam

421
O Apelo à Autoridade usa a admiração a uma pessoa famosa para tentar sustentar uma
afirmação. Por exemplo:

―Isaac Newton foi um gênio e acreditava em Deus.‖

Esse tipo de argumento não é sempre inválido; por exemplo, pode ser relevante fazer
referência a um indivíduo famoso de um campo específico. Por exemplo, podemos distinguir
facilmente entre:

―Hawking concluiu que os buracos negros geram radiação.‖

―Penrose conclui que é impossível construir um computador inteligente.‖

Hawking é um físico, então é razoável admitir que suas opiniões sobre os buracos negros são
fundamentadas. Penrose é um matemático, então sua qualificação para falar sobre o assunto é
bastante questionável.

Audiatur et Altera Pars

Freqüentemente pessoas argumentam partir de assunções omitidas. O princípio do Audiatur et


Altera Pars diz que todas premissas de um argumento devem ser explicitadas. Estritamente, a
omissão das premissas não é uma falácia; entretanto, é comumente vista como algo suspeito.

Bifurcação

―Preto e Branco‖ é outro nome dado a essa falácia. A Bifurcação ocorre se alguém apresenta
uma situação com apenas duas alternativas, quando na verdade existem ou podem existir
outras. Por exemplo:

―Ou o homem foi criado, como diz a Bíblia, ou evoluiu casualmente de substâncias químicas
inanimadas, como os cientistas dizem. Já que a segunda hipótese é incrivelmente improvável,
então…‖

Circulus in Demonstrando

Consiste em adotar como premissa uma conclusão à qual você está tentando chegar. Não raro,
a proposição é reescrita para fazer com que tenha a aparência de um argumento válido. Por
exemplo:

―Homossexuais não devem exercer cargos públicos. Ou seja, qualquer funcionário público que
se revele um homossexual deve ser despedido. Por isso, eles farão qualquer coisa para
esconder seu segredo, e assim ficarão totalmente sujeitos a chantagens. Conseqüentemente,
não se deve permitir homossexuais em cargos públicos.‖

Esse é um argumento completamente circular; a premissa e a conclusão são a mesma coisa.


Um argumento como o acima foi realmente utilizado como um motivo para que todos os
empregados homossexuais do Serviço Secreto Britânico fossem despedidos.

Infelizmente, argumentos circulares são surpreendentemente comuns. Após chegarmos a uma


conclusão, é fácil que, acidentalmente, façamos asserções ao tentarmos explicar o raciocínio a
alguém.

422
Questão Complexa / Falácia de Interrogação / Falácia da Pressuposição

É a forma interrogativa de pressupor uma resposta. Um exemplo clássico é a pergunta


capciosa:

―Você parou de bater em sua esposa?‖

A questão pressupõe uma resposta definida a outra questão que não chegou a ser feita. Esse
truque é bastante usado por advogados durante o interrogatório, quando fazem perguntas do
tipo:

―Onde você escondeu o dinheiro que roubou?‖

Similarmente, políticos também usam perguntas capciosas como:

―Até quando será permitida a intromissão dos EUA em nossos assuntos?‖

―O Chanceller planeja continuar essa privatização ruinosa por dois anos ou mais?‖

Outra forma dessa falácia é pedir a explicação de algo falso ou que ainda não foi discutido.

Falácias de Composição

A Falácia de Composição é concluir que uma propriedade compartilhada por um número de


elementos em particular, também é compartilhada por um conjunto desses elementos; ou que
as propriedades de uma parte do objeto devem ser as mesmas nele inteiro. Exemplos:

―Essa bicicleta é feita inteiramente de componentes de baixa densidade, logo é muito leve.‖

―Um carro utiliza menos petroquímicos e causa menos poluição que um ônibus. Logo, os carros
causam menos dano ambiental que os ônibus.‖

Acidente Invertido / Generalização Grosseira

Essa é o inverso da Falácia do Acidente. Ela ocorre quando se cria uma regra geral
examinando apenas poucos casos específicos que não representam todos os possíveis casos.
Por exemplo:

―Jim Bakker foi um Cristão pérfido; logo, todos os cristãos também são.‖

Convertendo uma Condicional

A falácia é um argumento na forma ―Se A então B, logo se B então A‖.

―Se os padrões educacionais forem abaixados, a qualidade dos argumentos vistos na internet
diminui. Então, se vermos o nível dos debates na internet piorar, saberemos que os padrões
educacionais estão caindo.‖

Essa falácia é similar à Afirmação do Consequente, mas escrita como uma afirmação
condicional.

Cum Hoc Ergo Propter Hoc

423
Essa falácia é similar à Post Hoc Ergo Propter Hoc. Consiste em afirmar que devido a dois
eventos terem ocorrido concomitantemente, eles possuem uma relação de causalidade. Isso é
uma falácia porque ignora outro(s) fator(es) que pode(m) ser a(s) causa(s) do(s) evento(s).

―Os índices de analfabetismo têm aumentado constantemente desde o advento da televisão.


Obviamente ela compromete o aprendizado‖

Essa falácia é um caso especial da Non Causa Pro Causa.

Negação do Antecedente

Trata-se de um argumento na forma ―A implica B, A é falso, logo B é falso‖. A tabela com as


Regras de Implicação explica por que isso é uma falácia.

(Nota: A Non Causa Pro Causa é diferente dessa falácia. A Negação do Antecedente possui a
forma ―A implica B, A é falso, logo B é falso‖, onde A não implica B em absoluto. O problema
não é que a implicação seja inválida, mas que a falsidade de A não nos permite deduzir
qualquer coisa sobre B.)

―Se o Deus bíblico aparecesse para mim pessoalmente, isso certamente provaria que o
cristianismo é verdade. Mas ele não o fez, ou seja, a Bíblia não passa de ficção.‖

Esse é oposto da falácia Afirmação do Consequente.

Falácia do Acidente / Generalização Absoluta / Dicto Simpliciter

Uma Generalização Absoluta ocorre quando uma regra geral é aplicada a uma situação em
particular, mas as características da situação tornam regra inaplicável. O erro ocorre quando
se vai do geral do específico. Por exemplo:

―Cristãos não gostam de ateus. Você é um Cristão, logo não gosta de ateus.‖

Essa falácia é muito comum entre pessoas que tentam decidir questões legais e morais
aplicando regras gerais mecanicamente.

Falácia da Divisão

Oposta à Falácia de Composição, consiste em assumir que a propriedade de um elemento deve


aplicar-se às suas partes; ou que uma propriedade de um conjunto de elementos é
compartilhada por todos.

―Você estuda num colégio rico. Logo, você é rico.‖

―Formigas podem destruir uma árvore. Logo, essa formiga também pode.‖

Equivocação / Falácia de Quatro Termos

A Equivocação ocorre quando uma palavra-chave é utilizada com dois um ou mais significados
no mesmo argumento. Por exemplo:

―João é destro jogando futebol. Logo, também deve ser destro em outros esportes, apesar de
ser canhoto.‖

424
Uma forma de evitar essa falácia é escolher cuidadosamente a terminologia antes de formular
o argumento, isso evita que palavras como ―destro‖ possam ter vários significados (como ―que
usa preferencialmente a mão direita‖ ou ―hábil, rápido‖).

Analogia Estendida

A falácia da Analogia Estendida ocorre, geralmente, quando alguma regra geral está sendo
discutida. Um caso típico é assumir que a menção de duas situações diferentes, num
argumento sobre uma regra geral, significa que tais afirmações são análogas.

A seguir está um exemplo retirado de um debate sobre a legislação anticriptográfica.

―Eu acredito que é errado opor-se à lei violando-a.‖

―Essa posição é execrável: implica que você não apoiaria Martin Luther King.‖

―Você está dizendo que a legislação sobre criptografia é tão importante quando a luta pela
igualdade dos homens? Como ousa!‖

Ignorantio Elenchi / Conclusão Irrelevante

A Ignorantio Elenchi consiste em afirmar que um argumento suporta uma conclusão em


particular, quando na verdade não possuem qualquer relação lógica.

Por exemplo, um Cristão pode começar alegando que os ensinamentos do Cristianismo são
indubitavelmente verdadeiros. Se após isso ele tentar justificar suas afirmações dizendo que
tais ensinamentos são muito benéficos às pessoas que os seguem, não importa quão
eloqüente ou coerente seja sua argumentação, ela nunca vai provar a veracidade desses
escritos.

Lamentavelmente, esse tipo de argumentação é quase sempre bem-sucedido, pois faz as


pessoas enxergarem a suposta conclusão numa perspectiva mais benevolente.

Falácia da Lei Natural / Apelo à Natureza

O Apelo à Natureza é uma falácia comum em argumentos políticos. Uma versão consiste em
estabelecer uma analogia entre uma conclusão em particular e algum aspecto do mundo
natural, e então afirmar que tal conclusão é inevitável porque o mundo natural é similar:

―O mundo natural é caracterizado pela competição; animais lutam uns contra os outros pela
posse de recursos naturais limitados. O capitalismo – luta pela posse de capital – é
simplesmente um aspecto inevitável da natureza humana. É como o mundo funciona.‖

Outra forma de Apelo à Natureza é argumentar que devido ao homem ser produto da
natureza, deve se comportar como se ainda estivesse nela, pois do contrário estaria indo
contra sua própria essência.

―Claro que o homossexualismo é inatural. Qual foi a última vez em que você viu animais do
mesmo sexo copulando?‖

Falácia “Nenhum Escocês de Verdade…”

425
Suponha que eu afirme ―Nenhum escocês coloca açúcar em seu mingau‖. Você contra-
argumenta dizendo que seu amigo Angus gosta de açúcar no mingau. Então eu digo ―Ah, sim,
mas nenhum escocês de verdade coloca‖.

Esse é o exemplo de uma mudança Ad Hoc sendo feita para defender uma afirmação,
combinada com uma tentativa de mudar o significado original das palavras; essa pode ser
chamada uma combinação de falácias.

Non Causa Pro Causa

A falácia Non Causa Pro Causa ocorre quando algo é tomado como causa de um evento, mas
sem que a relação causal seja demonstrada. Por exemplo:

―Eu tomei uma aspirina e rezei para que Deus a fizesse funcionar; então minha dor de cabeça
desapareceu. Certamente Deus foi quem a curou.‖

Essa é conhecida como a falácia da Causalidade Fictícia. Duas variações da Non Causa Pro
Causa são as falácias Cum Hoc Ergo Propter Hoc e Post Hoc Ergo Propter Hoc.

Non Sequitur

Non Sequitur é um argumento onde a conclusão deriva das premissas sem qualquer conexão
lógica. Por exemplo:

―Já que os egípcios fizeram muitas escavações durante a construção das pirâmides, então
certamente eram peritos em paleontologia.‖

Pretitio Principii / Implorando a Pergunta

Ocorre quando as premissas são pelo menos tão questionáveis quanto as conclusões atingidas.
Por exemplo:

―A Bíblia é a palavra de Deus. A palavra de Deus não pode ser questionada; a Bíblia diz que ela
mesma é verdadeira. Logo, sua veracidade é uma certeza absoluta.‖

Pretitio Principii é similar ao Circulus in Demonstrando, onde a conclusão é a própria premissa.

Plurium Interrogationum / Muitas Questões

Essa falácia ocorre quando alguém exige uma resposta simplista a uma questão complexa.

―Altos impostos impedem os negócios ou não? Sim ou não?‖

Post Hoc Ergo Proter Hoc

A falácia Post Hoc Ergo Propter Hoc ocorre quando algo é admitido como causa de um evento
meramente porque o antecedeu. Por exemplo:

―A União Soviética entrou em colapso após a instituição do ateísmo estatal; logo, o ateísmo
deve ser evitado.‖

Essa é outra versão da Falácia da Causalidade Fictícia.

426
Falácia “Olha o Avião”

Comete-se essa falácia quando alguém introduz material irrelevante à questão sendo
discutida, fugindo do assunto e comprometendo a objetividade da conclusão.

―Você pode até dizer que a pena de morte é ineficiente no combate à criminalidade, mas e as
vítimas? Como você acha que os pais se sentirão quando virem o assassino de seu filho
vivendo às custas dos impostos que eles pagam? É justo que paguem pela comida do
assassino de seu filho?‖

Reificação

A Reificação ocorre quando um conceito abstrato é tratado como algo concreto.

―Você descreveu aquela pessoa como ‗maldosa‘. Mas onde fica essa ‗maldade‘? Dentro do
cérebro? Cadê? Você não pode nem demonstrar o que diz, suas afirmações são infundadas.‖

Mudando o Ônus da Prova

O ônus da prova sempre cabe à pessoa que afirma. Análoga ao Argumentum ad Ignorantiam,
é a falácia de colocar o ônus da prova no indivíduo que nega ou questiona uma afirmação. O
erro, obviamente, consiste em admitir que algo é verdade até que provem o contrário.

―Dizer que os alienígenas não estão controlando o mundo é fácil… eu quero que você prove.‖

Declive Escorregadio

Consiste em dizer que a ocorrência de um evento acarretará consequências daninhas, mas


sem apresentar provas para sustentar tal afirmação. Por exemplo:

―Se legalizarmos a maconha, então mais pessoas começarão a usar crack e heroína, e
teríamos de legaliza-las também. Não levará muito tempo até que este país se transforme
numa nação de viciados. Logo, não se deve legalizar a maconha.‖

Espantalho

A falácia do Espantalho consiste em distorcer a posição de alguém para que possa ser atacada
mais facilmente. O erro está no fato dela não lidar com os verdadeiros argumentos.

―Para ser ateu você precisa crer piamente na inexistência de Deus. Para convencer-se disso, é
preciso vasculhar todo o Universo e todos os lugares onde Deus poderia estar. Já que
obviamente você não fez isso, sua posição é indefensável.‖

Uma vez por semana aparece alguém com esse argumento na Internet. Quem não consegue
entender qual é a falha lógica deve ler a Introdução ao Ateísmo.

Tu Quoque

Essa é a famosa falácia ―você também‖. Ocorre quando se argumenta que uma ação é
aceitável apenas porque seu oponente a fez. Por exemplo:

―Você está sendo agressivo em suas afirmações.‖

427
―E daí? Você também.‖

Isso é um ataque pessoal, sendo uma variante do caso Argumentum ad Hominem.

Falácia do Meio Não distribuído / Falácia ―A baseia-se em B‖ ou ―…é um tipo de…‖

É uma falha lógica que ocorre quando se tenta argumentar que certas coisas são, em algum
aspecto, similares, mas não se consegue especificar qual. Exemplos:

―A história não se baseia na fé? Então a Bíblia também não poderia ser vista como história?‖

―O islamismo baseia-se na fé, o cristianismo também. Então o islamismo não é uma forma de
cristianismo?‖

―Gatos são animais formados de compostos orgânicos; cachorros também. Então os cachorros
não são apenas um tipo de gato?‖

Nota 1

Jesus: Senhor, Mentiroso ou Lunático?

―Jesus existiu? Se não, então não há o que discutir. Mas se existiu, e se autodenominava
‗Senhor‘, isso significa que: ele era o Senhor, um mentiroso, ou um lunático. É improvável que
ele tenha sido um mentiroso, dado o código moral descrito na Bíblia; seu comportamento
também não era o de um lunático; então certamente conclui-se que ele era o Senhor.‖

Primeiramente, esse argumento admite tacitamente que Jesus existiu de fato. O que é, no
mínimo, algo questionável. Ele possui uma falácia lógica que poderemos chamar ―Trifurcação‖,
por analogia com a Bifurcação. É uma tentativa de restringir a três as possibilidades que, na
verdade, são muitas mais.

Duas outras hipóteses:

– A Bíblia apresenta as palavras de Jesus de modo distorcido, pois ele nunca alegou ser o
―Senhor‖.

– As histórias sobre ele foram inventadas ou então misturadas com fantasia pelos primeiros
cristãos.

Note que no Novo Testamento Jesus não diz ser Deus, apesar de em João 10:30 ele ter dito
―Eu e meu pai somos um‖. A alegação de que Jesus era Deus foi feita após sua morte pelos
seus doze apóstolos.

Finalmente, a possibilidade de ele ter sido um ―lunático‖ não é tão pequena. Mesmo hoje em
dia há várias pessoas que conseguem convencer multidões de que são ―o Senhor‖ ou ―o
verdadeiro profeta‖. Em países mais supersticiosos, há literalmente centenas de supostos
―messias‖.

Nota 2

Einstein e ―Deus não joga dados‖

428
―Albert Einstein acreditava em Deus. Você se acha mais inteligente que ele?‖

Einstein uma vez disse que ―Deus não joga dados (com o Universo)‖. Essa citação é
comumente mencionada para mostrar que Einstein acreditava no Deus cristão. Mas nesse caso
ela está fora de contexto, pois dizendo isso ele pretendia apenas recusar alguns aspectos mais
populares da teoria quântica. Ademais, a religião de Einstein era o judaísmo, não o
cristianismo.

Talvez essas citações de sua autoria possam deixar a ideia mais clara:

―Eu acredito no Deus de Spinoza que se revela através da harmonia do existente, não num
Deus que se preocupa com o destino e vida dos seres humanos.‖

―O que você leu sobre minas convicções religiosas é uma mentira, uma mentira que está sendo
sistematicamente repetida. Eu não acredito em um Deus pessoal e nunca neguei isso, mas o
afirmei claramente. Se há algo em mim que pode ser chamado religião, é a minha ilimitada
admiração pela estrutura do mundo.‖

―Eu não acredito na imortalidade do indivíduo, e considero a moral como algo que diz respeito
somente aos homens, sem qualquer relação com uma autoridade supra-humana‖.

Uma Introdução ao Ateísmo

Este artigo foi concebido como uma introdução geral ao ateísmo. Embora haja tentado ser o
mais neutro possível, deve-se sempre ter em mente que este documento representa apenas
um ponto de vista. Aconselho fortemente que cada um faça a leitura no intuito de tirar
conclusões próprias sobre o assunto.

A fim de manter a coesão e um desenvolvimento linear, o artigo apresenta-se como uma


conversa imaginária entre um ateísta e um teísta. Todas as perguntas feitas pelo teísta
imaginário foram selecionadas por serem muito frequentes nas discussões do tipo ―teístas
versus ateus‖.

Importante salientar que este artigo é inclinado a abordar as questões do ponto de vista
cristão. Isso se deve ao fato de as perguntas aqui apresentadas terem sido
predominantemente feitas por cristãos.

Quando falo ―religião‖ me refiro primariamente ao cristianismo, judaísmo e islamismo, as quais


envolvem a crença em alguma espécie de ser divino supra-humano. Muitas das respostas
abrangerão também outras religiões, mas algumas talvez não.

O que é Ateísmo?

O ateísmo é caracterizado pela ausência da crença na existência de quaisquer deuses. A


descrença geralmente vem de uma decisão deliberada ou de uma dificuldade para acreditar
nos ensinamentos religiosos que parecem literalmente inverossímeis. Não se trata
simplesmente da descrença advinda do desconhecimento sobre as religiões.

Alguns ateus vão além da mera descrença: afirmam categoricamente que não existem deuses
particulares ou quaisquer deuses. A simples descrença em deuses é comumente denominada

429
―ateísmo passivo‖; o ―ateísmo ativo‖ seria literalmente acreditar que não há (ou é impossível
existir) deuses.

Em relação às pessoas que nunca tiveram contato com a ideia de ―Deus‖: se são ―ateias‖ ou
não, isso é matéria para debate. Mas já que provavelmente não encontraremos qualquer
indivíduo nessa situação, promover tal debate passa a ter pouca importância.

É importante salientar a diferença entre os ateísmos ―ativo‖ e ―passivo‖. O ―ateísmo passivo‖


trata-se simplesmente de ceticismo; descrença na existência de Deus. O ―ateísmo ativo‖
afirma positivamente a inexistência de Deus. Não cometa o equívoco de classificar todos ateus
como ―ativos‖. Há uma diferença qualitativa entre as posições ―ativa‖ e ―passiva‖, não se trata
tão-somente de uma variação no grau de ―intensidade ateística‖.

Alguns ateus acreditam na inexistência de todos os deuses; outros se limitam a deuses


específicos, como o Deus cristão, em vez de fazer negações generalizadas.

Não crer em Deus não significa a mesma coisa que acreditar em sua inexistência?

Definitivamente, não. Descrer significa não julgar ser verdade. Não crer que algo é verdade
não equivale à crença em sua falsidade; certos indivíduos simplesmente dizem não saber se
isso é verdade ou não, o que nos leva ao agnosticismo.

O que é Agnosticismo?

O termo ―agnosticismo‖ foi cunhado pelo professor T.H. Huxley em uma reunião da Sociedade
Metafísica em 1876. Ele definiu um agnóstico como alguém que nega tanto o ―ateísmo ativo‖
quanto o teísmo, e também que acreditava que a questão da existência de uma força superior
não foi e nunca poderá ser resolvida. Outra definição para agnóstico é alguém que acredita ser
impossível saber com certeza se Deus existe.

Desde essa época, entretanto, o termo agnóstico também foi utilizado para designar aqueles
que não julgavam a questão intrinsecamente incognoscível, mas também alegavam que as
evidências contra Deus eram inconclusivas, permanecendo, então, neutros sobre o assunto.

Para reduzir a confusão acerca do termo ―agnosticismo‖ recomenda-se nomear a definição


original como ―agnosticismo estrito‖ e a segunda como ―agnosticismo empírico‖.

Palavras são traiçoeiras e a linguagem abunda em imprecisões. Mantenhamo-nos, então, longe


da ideia de podermos deduzir o ponto de vista filosófico de alguém simplesmente baseados no
fato dele denominar-se ateu ou agnóstico. Por exemplo, muitas pessoas usam o termo
agnosticismo no sentido de ―ateísmo passivo‖ e a palavra ―ateísmo‖ designando ―ateísmo
forte‖.

A palavra ―ateu‖ possui várias significações, e assim fica muito difícil fazer qualquer
generalização. Tudo que pode ser dito com segurança é que ateus não creem em Deus. Por
exemplo, certamente nem todos julgam que a ciência é o melhor método para desvendar os
segredos do Universo.

O que significa a expressão “livre-pensador”?

Um livre-pensador é alguém que está preparado para considerar qualquer possibilidade. Uma
pessoa que determina quais ideias estão certas ou erradas através da razão, valendo-se de um
conjunto de regras consistentes, como, por exemplo, o método científico.

Quais são as bases ou justificativas filosóficas do ateísmo?

430
Há muitas justificativas filosóficas para o ateísmo. O modo mais eficiente para descobrir por
que algum indivíduo tornou-se ateu certamente é perguntar diretamente a ele.

Muitos ateus acham que a ideia de Deus, tal como apresentada pelas religiões, é
autocontraditória e assim seria logicamente impossível a existência de tal Deus. Outros são
ateus devido ao ceticismo, porque não veem evidências da existência divina.

Obviamente, algumas pessoas são ateístas sem qualquer justificativa muito consistente. Para
outros ser ateu é simplesmente uma questão de bom senso.

Não é impossível provar a inexistência de algo?

Há muitos exemplos que vão contra essa afirmação. Por exemplo, é relativamente simples
provar que não existe um número primo maior que todos os outros números primos. É claro,
estamos falando de ideias e regras bem definidas. Se Deus ou o Universo são similarmente
bem definidos é outra questão.

Entretanto, admitindo por um momento que não seja impossível provar a existência de algo,
ainda há razões sutis para afirmar, a princípio, a sua inexistência. É sempre possível provar a
invalidez desta ―negação por antecipação‖ encontrando um contraexemplo, ou seja, provando
a existência.

Se admitirmos que algo existe e não é impossível de ser comprovado, demonstrar a invalidade
dessa hipótese pode requerer uma exaustiva busca por todos os lugares em que esse ―algo‖
poderia ser encontrado, simplesmente para mostrar que não está lá. Tal busca comumente é
impraticável ou impossível. Não há esse tipo de problema com os maiores números primos,
pois podemos provar sua inexistência matematicamente.

Desse modo, geralmente admite-se como uma premissa sensata que nada existe até termos
evidências do contrário. Os próprios teístas seguem essas regras a maior parte do tempo.
Sabemos disso porque eles não acreditam em unicórnios, apesar de não poderem provar
conclusivamente que não existem.

Dizer que Deus existe é fazer uma afirmação que provavelmente não estará sujeita a testes.
Não temos como promover uma busca a todos os lugares onde Deus poderia estar para
simplesmente mostrar que não está lá. O ateu cético (―ateu passivo‖) admite a inexistência de
Deus apenas por ver nisso algo sensato e lógico, mas que pode ser refutado com um
contraexemplo (ou seja, uma prova de sua existência).

Os que professam o ―ateísmo ativo‖ normalmente não afirmam a inexistência de todo e


qualquer tipo de deus; em vez disso, vão geralmente restringir suas afirmações aos deuses
descritos por fiéis de várias religiões. Apesar de provavelmente ser impossível demonstrar
conclusivamente que nenhum deus existe, talvez seja possível provar a inexistência de um
deus descrito por um livro religioso em específico. Talvez até seja possível provar que
nenhuma divindade descrita por qualquer religião contemporânea exista.

Na prática, acreditar que nenhum dos deuses descritos pelas religiões existe está muito
próximo de acreditar que nenhum deus existe. No entanto, os contra-argumentos baseados na
impossibilidade da negação de todo tipo de divindade não são aplicáveis neste caso.

E se Deus for essencialmente indetectável?

Se, de um modo qualquer, Deus interage com o Universo, os efeitos de tal interação
necessariamente implicam uma manifestação física. Logo, qualquer interação Deus-Universo é,
a princípio, detectável.

431
Se Deus for essencialmente indetectável, então ele não interage com nosso Universo em
absoluto. Muitos ateus argumentariam que se Deus não interage com nosso Universo, não
faria diferença alguma se ele existe ou não.

Se o que a Bíblia diz é verdade, Deus pode ser facilmente detectado pelos Israelitas;
certamente deveria ser ainda hoje, mas por que a situação mudou?

Não estou dizendo que Deus precisa manifestar-se em ambientes controlados e situações
cientificamente verificáveis. Alguma revelação, alguma experiência direta com Deus: isso seria
incomunicável e não sujeito à verificação científica, mas, ainda assim, seria muito convincente.

Através de uma revelação direta ou da observação certamente deveria ser possível perceber
alguns efeitos da presença divina; caso contrário, como poderíamos distingui-la de todas as
outras coisas que não existem?

Deus é único. É um ser supremo. É o criador do Universo. Existe por definição.

As coisas não existem meramente porque foram definidas. Conhecemos muito bem o exemplo
do papai Noel. Sabemos qual é sua aparência, o que ele faz, onde vive, os nomes de suas
renas, e assim por diante. Infelizmente, isso não prova a existência do papai Noel.

E se eu provasse logicamente que Deus existe?

Antes de se engajar nessa tentativa você deve explicitar claramente significado da palavra
―Deus‖. Uma prova lógica requer uma definição clara do que se está tentando provar.

Mas todos sabem o que “Deus” significa.

Religiões diferentes tem concepções diferentes sobre o que é ―Deus‖; chegam mesmo a entrar
em desacordo sobre coisas primárias como, por exemplo, quantos deuses existem, se é
homem ou mulher, e assim por diante. Para um ateu a palavra ―Deus‖ pode ter um significado
muito distinto do que tem para você.

Se eu definir o que quero dizer com “Deus” e depois provar logicamente que ele
existe, isso seria suficiente?

Mesmo com séculos de esforços ninguém conseguiu provar a existência de Deus. Apesar disso,
as pessoas geralmente acham que podem provar logicamente a existência de Deus.

Infelizmente, a realidade não é regrada puramente pela lógica. Mesmo provando com uma
rigorosa lógica formal que Deus existe, isso não seria de grande valia. Pode acontecer de as
leis da lógica não preservarem a verdade fielmente. Assim, mesmo um sistema rigorosamente
lógico ainda pode ser falho. Talvez o erro esteja nas premissas; talvez a realidade não seja
logicamente previsível. No fim, o único modo descobrir como as coisas realmente são é
observando e/ou testando experimentalmente. A lógica serve meramente para termos ideia de
onde ou como promover uma investigação, e mesmo os argumentos mais lógicos sobre a
existência de Deus não dão margem a isso.

A lógica é uma ferramenta útil para analisar e inferir o que está acontecendo; mas se a lógica
e a realidade entrarem em desacordo, a realidade vence.

Parece-me que nada vai convencê-lo da existência de Deus.

Uma definição precisa do significado do termo ―Deus‖ e a apresentação de algumas provas


contundentes e objetivas suportando tal teoria seria o suficiente para convencer muitos ateus.

432
A prova deve ser clara; evidências anedóticas baseadas em experiências religiosas de terceiros
não são suficientes. Uma evidência consistente e objetiva é necessária porque afirmar a
existência de Deus é uma alegação extraordinária e, deste modo, requer evidências
extraordinárias para sustentar-se.

Você acha que tem uma justifica filosófica para o ateísmo, mas ela não equivale uma
crença religiosa?

Um dos passatempos mais comuns na filosofia é o ―jogo da redefinição‖. A seguir está um


exemplo da visão cínica desse jogo.

Uma pessoa A começa fazendo uma afirmação duvidosa. Quando a pessoa B mostra que aquilo
não pode ser verdade, a pessoa A redefine gradualmente as palavras utilizadas na afirmação
até chegar a algo que a pessoa B esteja preparada para aceitar. Ele então repete a afirmação
para confirmar que a pessoa B está em concordância. O indivíduo A continua a argumentar
tomando como pressuposto que os dois estão em acordo com a afirmação nova, mas A usa as
definições antigas das palavras (que B não aceitou) em vez de as redefinições novas
necessárias para convencer B. Apesar da inconsistência, B tende a dar-lhe razão.

O objetivo dessa digressão é responder que a questão ―o ateísmo é uma crença religiosa?‖
depende diretamente do que a palavra ―religião‖ significa. ―Religião‖ é geralmente
caracterizada por uma crença em uma força sobre-humana – especialmente algum tipo de
Deus –, algum tipo de fé e adoração. Alguns tipos de budismo não podem ser considerados
―religiões‖ tomando por base essa definição.

O ateísmo certamente não é uma crença em qualquer espécie de poder supra-humano e


também não é caracterizado pela adoração em qualquer sentido relevante. Ampliar a definição
de ―religião‖ o suficiente para abarcar o ateísmo faria com que muitos outros aspectos do
comportamento humano repentinamente se tornassem ―religiosos‖ – como a ciência, política e
a televisão.

Talvez não seja uma religião no sentido mais estrito da palavra, mas certamente a
crença no ateísmo (ou ciência) é um ato de fé, como na religião.

Em primeiro lugar, não algo é muito claro se o ateísmo cético é algo em que se crê.

Em segundo, é preciso adotar um certo número de premissas para embasar as explicações de


nossas experiências sensoriais. A maioria dos ateus adotará o mínimo de premissas possível; e
até as poucas adotadas sempre estarão sujeitas à experimentação caso haja dúvida sobre sua
veracidade.

A ciência tem certo número de premissas. Por exemplo, é geralmente aceito que as leis da
física são as mesmas para todos os observadores (ao menos para todos que estão no mesmo
sistema inercial). Esses são os tipos de suposições que os ateus fazem. Se ideias básicas como
essas podem ser denominadas ―atos de fé‖, então quase todo nosso conhecimento deve ser
encarado como fé, e o termo acaba por perder seu sentido.

A palavra ―fé‖ é mais comumente utilizada no sentido de completar algo em que se acredita.
De acordo com tal definição, o ateísmo e a ciência certamente não podem ser classificados
como ―atos de fé‖. É claro, indivíduos ateus ou cientistas podem vir a ser tão dogmáticos
quanto os religiosos ao afirmarem que possuem ―certeza absoluta‖ sobre algo. Entretanto,
essa não é uma tendência muito comum. Alguns ateus se mostram relutantes até para afirmar
que o Universo existe.

A fé também é usada para justificar crenças sem a necessidade de evidências ou provas. O


ateísmo cético certamente não cabe nessa definição, pois não possui crenças. O ateísmo ativo
está mais próximo disso, mas ainda não pode ser classificado como tal, já que até o ateu mais

433
dogmático ainda apresenta a tendência de argumentar com base em dados experimentais (ou
falta desses dados) quando estiver defendendo a inexistência de Deus.

Se o ateísmo não é uma religião, certamente é contra elas.

Uma infeliz tendência humana é rotular todos sem meio-termo, ―a favor‖ ou ―contra‖, ―amigo‖
ou ―inimigo‖; as coisas não são simples assim.

O ateísmo é uma posição que, logicamente, opõe-se ao teísmo; neste contexto pode ser
denominado como ―anti-religião‖. Entretanto, quando os religiosos falam que ateus são
essencialmente ―anti-religião‖, costumam deixar a impressão de que há uma espécie de
antipatia ou ódio aos teístas.

Tachar os ateus como hostis à religião é relativamente injusto. As atitudes dos ateus em
relação aos teístas cobrem um grande espectro.

A maioria dos ateus toma uma posição de ―viva e deixe viver‖. Se não forem questionados a
respeito provavelmente nem chegam a mencionar suas opiniões, senão talvez a amigos
íntimos. É possível que isso se deva, em parte, ao ateísmo não ser ―socialmente aceitável‖ em
muitos países.

Poucos são os ateus que se mostram efetivamente contra a religião, procurando até converter
outros quando possível. Historicamente, tais grupos ateus e anti-religião tem tido pouca
influência na sociedade, salvo nos países do Bloco ocidental.

Uma pequena digressão: A União Soviética dedicou-se, originalmente, à separação entre a


Igreja e o Estado, assim como os EUA. Os cidadãos soviéticos eram legalmente livres para
professar a crença que desejassem. A instituição do ―ateísmo estatal‖ surgiu quando Stalin
tomou o poder da União Soviética e tentou destruir todas as igrejas a fim de obter poder
absoluto sobre a população.

Alguns ateus tornam-se bastante comunicativos em relação às suas crenças quando vêem a
religião intrometer-se em assuntos que não lhe dizem respeito. Por exemplo, o governo dos
EUA. Tais indivíduos costumam ser ativamente favoráveis à separação da Igreja e o Estado.

Impedir que a religião opine sobre o funcionamento do estado não corresponde a um


“ateísmo estatal”?

O princípio da separação entre a Igreja e o Estado diz apenas que o Estado não deve legislar
assuntos concernentes à crença religiosa. Isso significa não apenas que o Estado não pode
promover uma religião em detrimento de outra, mas que também não pode promover
qualquer crença de natureza religiosa.

As religiões ainda podem opinar em assuntos puramente seculares. Por exemplo, religiosos
foram historicamente responsáveis pelo encorajamento às reformas políticas. Mesmo hoje,
muitas organizações que defendem um aumento nas verbas para ajudar países estrangeiros
têm fundamento religioso. Desde que apenas tratem de assuntos seculares e não usem a
religião como fator discriminatório, a maioria dos ateus sente-se satisfeita em ver que eles têm
liberdade para professar suas crenças.

E as rezas nas escolas? Se não há Deus, por que você se importa com isso?

Porque pessoas que rezam também votam e são legisladoras; elas possuem uma tendência a
fazer coisas que os que não rezam simplesmente não podem ignorar. Rezas cristãs em escolas
são constrangedoras para os não cristãos, mesmo se for dada a liberdade para não
participarem.

434
A grande diversidade de crenças religiosas e não religiosas implica a impossibilidade de
formular uma reza que abarque toda essa variedade a ponto de torna-la aceitável para todos
indistintamente.

Esse é um motivo pelo qual nos EUA não é permitido que escolas públicas apoiem certos tipos
de crença através de rezas religiosas. As crianças são, é claro, livres para rezar, se desejarem,
em seu tempo vago; não há, neste caso, motivos para querer evitar que isso aconteça nas
escolas.

Você mencionou a campanha cristã em favor da ajuda a países estrangeiros. E os


ateus? Por que não há ateus visitando hospitais ou fazendo caridades? Eles são
contra as caridades religiosas?

Há muitas caridades voluntárias e sem motivos religiosos que ateus fazem. Alguns contribuem
para caridades religiosas também, pois no fim o que importa para eles é o bem que fazem.
Outros até trabalham voluntariamente em movimentos que tiveram início por motivos
religiosos.

A maioria dos ateus acha que conciliar sua descrença à sua caridade não é possível nem
importante. Para eles o ateísmo é algo trivial e, de modo equivalente, também a caridade.
Muitos acham que é baixo, para não dizer hipócrita, usar a caridade como uma desculpa para
promover um conjunto de crenças religiosas.

Para ateus ―passivos‖ construir um hospital e dedicá-lo à sua descrença em Deus é uma ideia
muito estranha; seria como dar uma festa e dizer ―hoje não é meu aniversário‖. O ateísmo
raramente é espalhafatoso.

Você disse que o ateísmo não é anti-religião. Ele não seria, talvez, uma resistência à
formação educacional, uma espécie de rebeldia?

Talvez para alguns, mas muitas pessoas têm pais que não tentam incutir-lhes ideias sobre
religião, e muitos desses pais denominam-se ateus.

Sem dúvida há os casos de religiosos que usam a crença como desculpa para lutar contra a
difusão do ateísmo, mas apenas querem sentir-se ―especiais‖. Em contrapartida, muitas
pessoas veem a religião como um modo de estar em conformidade às expectativas dos outros.

No fim, não fica muito nítido se o ateísmo ou a religião são um subterfúgio ou conformismo;
mas vale lembrar que, em geral, as pessoas têm a tendência a agir em grupo em vez de
pensar independentemente.

Qual a diferença entre ateus e pessoas religiosas?

Ateus não creem em Deus. A princípio isso é tudo que pode ser dito com certeza.

Ateus podem ouvir heavy metal – de trás para frente também – ou então preferir um réquiem
de Verdi, mesmo que conheçam as letras. Podem usar camisetas havaianas, se vestir todos de
preto ou mesmo usar mantos alaranjados (muitos budistas não creem em divindades). Alguns
ateus até carregam uma Bíblia consigo (para argumentar contra, é claro).

Seja você quem for, provavelmente já encontrou vários ateus sem aperceber-se disso. Eles
são, geralmente, pessoas de comportamento e aparência comuns.

Mas os ateus não são menos morais que pessoas religiosas?

435
Isso depende. Se a ―moralidade‖ é medida pela obediência a Deus, claro que ateus são menos
morais, pois não obedece a deus algum. Normalmente, quando alguém fala de moralidade, se
refere ao que é ―aceitável‖ ou ―inaceitável‖ em relação a comportamentos em sociedade.

Humanos são animais sociais, e para utilizarem seus potenciais plenamente devem cooperar
uns com os outros. Esse é um motivo bom o suficiente para que um ateu não se torne ―anti-
social‖ ou ―imoral‖.

Muitos ateus são ―morais‖ ou ―compassivos‖ simplesmente porque esta é uma tendência
natural neles. O porquê dos ateus se importarem com os outros eles não sabem explicar;
simplesmente são assim naturalmente.

Obviamente, há os que se comportam imoralmente e tentam usar o ateísmo como justificativa.


Entretanto, há igual número de pessoas que se comportam de modo idêntico e tentam usar
como justificativa suas crenças religiosas. Por exemplo:

―Este é um dito confiável que merece aceitação total: Jesus Cristo veio ao mundo para salvar
pecadores… por esse motivo, foi-me demonstrada misericórdia, para que em mim… Jesus
pudesse manifestar sua paciência ilimitada como uma prova de que todos os que nele creem
terão a vida eterna. Para o rei eterno, imortal, invisível e único, sejam, a honra e a glória,
eternas.‖

A citação acima foi feita numa corte no dia 17 de fevereiro de 1992 por Jeffrey Dahmer, um
notório Serial-killer canibal de Milwaukee, Wisconsin. Parece que para cada assassinato em
nome do ateísmo, há outro em nome da religião.

Mas e a moralidade do dia-a-dia?

Uma pesquisa conduzida pela Organização Roper concluiu que o comportamento moral se
deteriora após o ―renascer‖ para a religião. Enquanto antes da ―conversão‖ 4% dos indivíduos
pesquisados disseram já ter dirigido bêbados, após a conversão 12% confessaram tê-lo feito.
Similarmente, 5% deles haviam usado drogas ilegais antes de comparecer à pesquisa, e 9%
depois. 2% haviam admitido ter feito sexo ilícito antes da ―salvação‖; 5% depois.
(―Freethought Today‖, Septembro 1991, pág. 12)

Parece que a religião, na melhor das hipóteses, não possui o monopólio do comportamento
moral.

É claro, uma grande parte das pessoas é convertida ao (e do) Cristianismo durante a
adolescência e o começo dos 20, a exata época em que começam a beber e se tornar
sexualmente ativas. Talvez a estatística apenas demonstre que o Cristianismo não tem
qualquer influência no comportamento moral, ou pelo menos um efeito insuficiente para
resultar numa queda significante do comportamento imoral.

Há uma moral ateística?

Se você quer dizer ―para os ateus existe moral?‖, a resposta é sim, como explicado acima.
Muitos ateus têm princípios morais que são no mínimo tão fortes quanto os embasados em
princípios religiosos.

Se você quer dizer ―o ateísmo tem um código moral característico?‖, então a resposta é não. O
ateísmo em si mesmo não diz muita coisa sobre como a pessoa vai comportar-se. A maioria
dos ateus segue muitas das regras morais originalmente teístas, mas por motivos diferentes
dos deles. Ateus veem a moralidade como algo criado pelos homens, sendo que essas regras
de comportamento não passam de uma aplicação das noções que eles possuem de como o
mundo ―deveria‖ funcionar.

436
Os ateus não são teístas que negam Deus?

Um estudo feito pela Fundação ―Liberdade da Religião‖ constatou que mais de 90% dos
indivíduos que se tornaram ateus o fizeram porque a religião não funcionou para eles.
Perceberam que suas crenças religiosas eram fundamentalmente incompatíveis com o mundo
que observavam à sua volta.

Ateus não são descrentes por ignorância ou simples negação; escolheram a descrença através
de uma escolha deliberada. A grande maioria deles passou tempo estudando uma ou mais
religiões, às vezes muito profundamente. Tomaram a decisão de rejeitar, conscientes do que
isso significa, as crenças religiosas.

Essa decisão pode, é claro, repercutir na personalidade do indivíduo. Para uma pessoa
naturalmente cética, o ateísmo geralmente é a única opção que faz sentido e, assim sendo, ser
ateu, para ele, é ser honesto consigo mesmo.

A palavra ―negar‖ pode ser usada no sentido de ―não aceitar‖. Apenas neste sentido os ateus
podem ser considerados ―negadores‖ de Deus. Não estão negando cegamente e ignorando
evidências; e também não afirmam necessariamente e categoricamente a inexistência de
Deus.

O simples fato de estarmos discutindo acerca de Deus não é uma admissão tácita de
sua existência?

Absolutamente, não. Pessoas falam sobre o papai Noel todo natal; isso não quer dizer que ele
realmente escala nossas chaminés e deixa presentes. Jogadores de RPG discutem todo tipo de
criatura estranha, desde orcs e góblins até ciclopes e minotauros. Tais seres também não
existem.

Os ateus não gostariam de acreditar em Deus?

Ateus vivem suas vidas como se ninguém os estivesse observando, e muitos deles não gostam
da idéia de serem permanentemente observados, não importando quão ―bem-intencionadas‖
sejam as intenções de Deus.

Alguns ateus gostariam de acreditar em Deus, mas o que isso prova? As pessoas devem
admitir coisas como sendo verdadeiras simplesmente porque assim desejam? Os riscos de tal
atitude são óbvios. A maioria dos ateus tem consciência de que querer crer não é suficiente:
deve haver, também, um motivo.

É claro que os ateus não veem evidências a favor da existência de Deus, pois, no
fundo de suas almas, eles não querem ver.

Muitos ateus, senão a maioria, eram anteriormente religiosos. Como explicado acima, a grande
maioria deles já considerou seriamente a possibilidade da existência de Deus. Muitos ateus
passaram tempo rezando e tentando ―encontrar‖ Deus.

Claro que alguns ateus não possuem uma mente aberta, mas inferir a partir disso que todos
ateus sejam preconceituosos e desonestos é, em si mesma, uma atitude ofensiva e que só
poderia vir de outra mente fechada. Entretanto, argumentos do tipo ―é claro que Deus está lá,
você apenas não está sabendo procurar‖ são comumente encarados como fanáticos.

Certamente, se você deseja engajar-se numa discussão filosófica com ateus, é de vital
importância aceitar possibilidade da dúvida em relação à existência de Deus e admitir que eles
estejam sendo sinceros quando dizem que realmente já procuraram por Deus, mas sem obter
sucesso. Se você não consegue aceitar que eles estejam sendo sinceros ao se dizerem ateus,
então qualquer tentativa de promover um debate eficiente será vã.

437
A vida não é sem sentido para um ateu?

Muitos ateus têm uma vida com sentido. Eles inserem, através do que pensam, um sentido na
vida, e lutam para conquistar seus objetivos. Fazem suas vidas valerem a pena, não
esperando por uma recompensa no além, mas trabalhando para que sua influência repercuta
nas pessoas futuras. Por exemplo, um ateu pode dedicar sua vida a reformas políticas na
esperança de deixar sua marca na história.

É uma tendência natural no ser humano procurar por um ―significado‖ ou ―propósito‖ em


eventos esporádicos. Entretanto, não está muito claro se a ―vida‖ é o tipo de coisa que tem um
―sentido‖ em si mesmo.

Colocando de outro modo, nem tudo que se apresenta na forma de um questionamento é


verdadeiramente algo sensato de ser perguntado. Alguns ateus consideram a questão ―qual o
sentido da vida?‖ uma coisa tola como perguntar ―qual o significado de um copo de café?‖.
Eles acreditam que a vida não tem propósito ou significado, simplesmente existe.

Onde os ateus encontram conforto em tempos de perigo?

Há muitos modos para se obter conforto:

– Família e amigos
– Animais de estimação
– Comida e bebida
– Música, televisão
– Literatura, artes e entretenimento
– Esportes ou exercícios
– Meditação
– Psicoterapia
– Drogas
– Trabalho.

Isso pode parecer um modo vazio e vulnerável de encarar o perigo, mas e daí? Os indivíduos
devem acreditar em coisas porque são confortantes ou aceitar a realidade não importando
quão dura seja?

No fim, a decisão é de casa um. A maioria dos ateus não é capaz de acreditar em algo
meramente porque isso os conforta. Eles primam pela verdade antes do conforto. A busca pela
verdade é, por vezes, fruto de tristeza e frustração, e frequentemente a verdade machuca.

Os ateus não se preocupam com a possibilidade de estarem enganados?

A resposta é: ―não, e você?‖

Muitos indivíduos são ateus há bastante tempo. Já se depararam com muitos argumentos e
supostas ―evidências‖ da existência de Deus, mas julgaram-nas todas inválidas ou
inconclusivas.

Religiões existentes há milhares de anos não foram capazes de obter qualquer prova da
existência de Deus. Assim, os ateus tendem a considerar muito improvável que alguém prove
que estão errados, e por isso simplesmente não se preocupam com tal possibilidade.

Então porque os teístas devem questionar suas crenças? Os mesmos argumentos não
se aplicam?

438
Não, porque as crenças sendo questionas não são similares. O ―ateísmo passivo‖ é a ―posição
cética padrão‖ a ser tomada; ele não afirma nada. ―Ateísmo ativo‖ é uma crença negativa. O
teísmo, por sua vez, é uma crença positiva muito forte.

Os ateus às vezes argumentam que os teístas deveriam questionar suas crenças devido ao
dano que podem causar (não apenas aos crentes, mas a todos ao seu redor).

Que tipo de dano?

A religião representa uma gigantesca despesa para a humanidade. Não é apenas questão de
crentes desperdiçarem seu dinheiro na construção de igrejas; pense em todo o tempo e
esforços gastos na construção dessas igrejas, e também nas rezas. Imagine quantos objetivos
existem nos quais esse esforço poderia ser mais bem empregado.

Muitos teístas acreditam em curas milagrosas. Há muitos casos de pessoas doentes que após
serem ―curadas‖ por um padre deixam de tomar os remédios prescritos pelos médicos e
acabam morrendo. Alguns teístas morreram porque se negaram a receber, por motivos
religiosos, transfusões sanguíneas.

É muito provável que a posição da Igreja Católica em relação ao controle de natalidade – em


particular as camisinhas – agrave ainda mais o problema da superpopulação em muitos dos
países de terceiro muito e ainda contribua na disseminação da aids.

Alguns religiosos tornaram-se notórios por assassinar seus filhos em vez de deixá-los
tornarem-se ateus ou casar-se com alguém de uma religião diferente. Vários líderes religiosos
sabidamente justificaram assassinatos tomando a ―blasfêmia‖ como argumento.

Houve muitas guerras religiosas. Mesmo admitindo que a religião não seja a verdadeira causa
dessas guerras, foi eficientemente usada como justificativa.

Eles não eram crentes verdadeiros. Só diziam ser.

Essa parece a falácia ―nenhum escocês de verdade…‖ *1

O que é um crente verdadeiro? O que faz de alguém um crente verdadeiro? Há tantas crenças
alegando serem ―a verdadeira‖ que é difícil saber. Olhemos o cristianismo: há muitos grupos
competindo entre si, todos convictos de serem os únicos verdadeiros. Por vezes até lutam e
matam uns aos outros. Como um ateu poderia discernir qual o ―verdadeiro‖ cristão quando
nem as maiores igrejas cristãs como a Igreja Católica e a Igreja Inglesa conseguem entrar em
acordo entre elas mesmas?

No fim, muitos ateus tomam uma posição pragmática e decidem que todo indivíduo que se
denomina cristão e usa as crenças ou dogmas cristãos para justificar suas ações deve ser
considerado um cristão. Talvez alguns cristãos estejam simplesmente pervertendo os
ensinamentos de Cristo para seus próprios fins; mas, certamente, se a Bíblia pode ser usada
tão facilmente para justificar atos acristãos, não pode ser encarada como um código moral
muito consistente. Se a Bíblia é a palavra de Deus, por que ele não a fez com menos margem
para distorções? E como você pode saber se a sua visão não é uma perversão das intenções
divinas?

Não há uma interpretação ―pura‖ e ―definitiva‖ da Bíblia, então por que um ateu deveria adotar
uma interpretação específica em detrimento de outra? Baseados no fato de você se auto-
intitular correto? Se alguém alega crer em Jesus e assassina aos outros porque na Bíblia
estava escrito para assim proceder, indistintamente também devemos classificá-lo como um
indivíduo cristão.

1 – Falácia “Nenhum Escocês de Verdade…”

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Suponha que eu afirme ―Nenhum escocês coloca açúcar em seu mingau‖. Você contra
argumenta dizendo que seu amigo Angus gosta de açúcar no mingau. Então eu digo ―Ah, sim,
mas nenhum escocês de verdade coloca‖.

Esse é o exemplo de uma mudança Ad Hoc sendo feita para defender uma afirmação,
combinada com uma tentativa de mudar o significado original das palavras; essa pode ser
chamada uma combinação de falácias.

Obviamente os extremos da crença devem ser questionados. Mas já que ninguém


provou a inexistência de Deus, deve ser muito improvável que as crenças mais
fundamentais, as compartilhadas de todas as religiões, sejam sem sentido.

Os aspectos básicos que as crenças religiosas possuem em comum dificilmente serão


surpreendentes se você perceber que a religião é um produto da sociedade. A partir desse
ponto de vista, as religiões apenas tomaram emprestado ideias que contribuem para a
estabilidade de uma sociedade, como o respeito à autoridade, a proibição do assassinado, e
assim por diante.

Ademais, alguns aspectos compartilhados pelas religiões têm sido reciclados de religiões
anteriores. Por exemplo, é possível que os Dez Mandamentos do Velho Testamento tenham
sido baseados no Código de Hamurabi.

Afirmar que algo, por não ter sido desmentido, tem menos chances de ser sem sentido, é
absurdo. Como mostrado anteriormente, afirmações categóricas concernentes à existência
(positivas) de entidades são inerentemente mais difíceis de desmentir que as afirmações
negativas. Ninguém jamais provou que unicórnios não existem, e há muitas histórias sobre
eles, mas nem por isso os unicórnios deixaram de serem mitos.

É muito mais coerente admitir a inexistência das coisas até termos motivos do contrário. No
entanto, a maioria dos ―ateus passivos‖ diria que não afirmar nada é ainda melhor.

Se o ateísmo é tão bom assim, porque há tantos teístas?

Infelizmente, a popularidade de uma crença não tem muita relação com sua veracidade;
considere quantas pessoas acreditam em astrologia, grafologia e outras pseudociências.

Muitos ateus acham que crer em Deus é simplesmente sinal de fraqueza. Certamente, em
sociedades primitivas, a religião permitia aos indivíduos lidar com fenômenos que não podiam
compreender adequadamente.

É claro que a religião é mais que isso. Em nosso mundo industrializado encontramos pessoas
acreditando em explicações sobrenaturais para fenômenos que possuem explicações
perfeitamente naturais e coerentes. A religião pode ter começado com a intenção de explicar o
mundo, mas hoje em dia também tem outros propósitos. Por exemplo, para muitas pessoas a
religião possui uma função social, provendo uma sensação de comunidade e congregação.

Muitas culturas desenvolveram religiões. Isso não significa nada para você?

Na realidade não. A maioria só possui semelhanças superficiais; por exemplo, vale lembrar que
religiões como o Budismo e o Taoísmo não possuem qualquer conceito de Deus no sentido
cristão. Em suma, não há consenso entre os religiosos sobre o que Deus realmente seja. Logo,
um dos problemas a serem solucionados antes de travar uma discussão sobre Deus com um
ateu é explicar exatamente o que você quer dizer com esta palavra.

A maioria das religiões é bem diligente em denunciar os problemas de suas rivais, por isso não
faz muito sentido usar uma religião para justificar outra.

440
E todos os cientistas e filósofos que chegaram à conclusão de que Deus existe?

Em primeiro lugar, pesquisas tipicamente chegam à conclusão de que 40% dos cientistas
acreditam em Deus; ou seja, os crentes são uma minoria.

Para cada cientista ou filósofo que acredita em Deus, há outro que não. Além disso, como já
demonstrado acima, a veracidade de uma crença não é determinada pela quantidade de
seguidores que possui. Também é importante salientar que os ateus não veem os cientistas
famosos ou filósofos como os religiosos veem seus líderes.

Um cientista famoso é apenas um humano; ele pode ser especialista em alguns campos, mas
quando estiver falando de outros assuntos suas palavras não possuirão qualquer relevância
além das de outra pessoa qualquer. Muitos cientistas respeitáveis acabaram passando
vergonha ao falarem sobre assuntos que fugiam das suas áreas de especialidade.

Até os cientistas famosos são tratados com ceticismo pela comunidade científica. Cientistas
muito experientes em seus campos também devem prover evidências para corroborar suas
teorias; a ciência apoia-se em resultados reproduzíveis e confirmáveis independentemente.
Teorias novas que sejam incompatíveis com o conhecimento científico existente serão
submetidas a um escrutínio ainda mais rigoroso; mas se as novas teorias se mostrarem
verdadeiras e os resultados que levaram a essa conclusão forem reproduzíveis, então as novas
teorias tomarão o lugar das antigas.

Por exemplo, a mecânica quântica e a teoria da relatividade são altamente controversas; foi
necessário deitar por terra muitas teorias científicas para sustentá-las. Ainda assim, ambas
foram aceitas prontamente após uma grande variedade e quantidade de experimentos terem
confirmado sua veracidade. Teorias pseudocientíficas como o criacionismo não são rejeitadas
por serem controversas, mas porque simplesmente não estão sujeitas a qualquer investigação
científica.

Então para você o crescimento das religiões não indica nada?

Não totalmente. Certamente indica que a religião em questão tem propriedades ajudam em
sua difusão.

A teoria memética fala sobre os ―memes‖, conjuntos de ideias que se propagam na mente
humana por analogia com os genes. Alguns ateus veem a religião como um conjunto bem-
sucedido de memes parasitários que encorajam seus ―hospedeiros‖ a converter outros
indivíduos. Alguns memes evitam sua autodestruição desencorajando o questionamento da
crença pelos fiéis ou, usando semelhante pressão, evitam que ex-crentes admitam
abertamente que estavam errados. Alguns memes religiosos até mesmo encorajam seus
―hospedeiros‖ a destruir os possuidores de memes diferentes.

É claro que na visão memética não há qualquer ―virtude‖ associada com a propagação em
larga escala. O número de seguidores que uma religião possui é tão significativo para
considera-la como ―boa‖ quanto uma doença é ―boa‖ ou ―ruim‖ em função do número de
pessoas que infecta.

Entretanto, a abordagem memética do assunto não tem muito a dizer sobre a ―veracidade‖ da
informação contida nos memes.

Mesmo se a religião não for totalmente verdadeira, ela traz importantes mensagens.
Quais são as mensagens fundamentais do ateísmo?

Há várias mensagens importantes que o ateísmo promove. A seguir estão apenas algumas
delas; não se surpreenda se algumas das ideias abaixo também forem encontradas em
religiões.

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– O comportamento moral não é simplesmente seguir regras resignadamente.

– Devemos ser céticos, especialmente com asserções positivas (que afirmam a existência de
algo).

– Se você quer que sua vida tenha algum sentido, cabe a você encontrá-lo.

– Primar pela verdade, mesmo que não seja agradável.

– Se quisermos mudar, mudemo-nos a nós mesmos. Não devemos esperar a ação de ―poderes
externos‖.

– A popularidade de algo não implica que esse algo é bom.

– Se você quer defender algo, defenda o que estiver sujeito à comprovação experimental.

– Não creia em coisas simplesmente porque você ―gostaria que fossem assim‖.

…e o mais importante:

– Todas crenças devem estar abertas ao questionamento.

Autor: Matthew
Tradução: André Díspore Cancian
Fonte: The Atheism Web

Considerações sobre o Espiritismo

Por H. Gil

O Espiritismo, atualmente, possui um número considerável de adeptos pelo Brasil.Vamos


conhecer um pouco mais sobre a referida doutrina, que proclama como seu diferencial ter ―a
ciência andando lado a lado com suas proposições‖. Abro um pequeno parêntese aqui,
deixando claro que esse texto trata-se de um artigo simples e que não tem como objetivos um
estudo exauriente de modo que os conceitos aqui apresentados são os, mormente encontrados
dentro do conhecimento popular.

Tem-se como ponto inicial o caso das irmãs Fox, pelo que se encontra em livros e matérias
relacionadas, as irmãs Fox (Margarida e Catarina) faziam parte de uma família canadense que
emigrou para os EUA, passando a morar em Hydesville um vilarejo do condado de Rochester, a
casa onde foram morar era alugada e segundo algumas fontes, já era tida como assombrada.

Há relatos de que barulhos estranhos haviam sido escutados pelos antigos moradores, mas
ninguém conseguia descobrir a sua origem, conta-se que em determinado momento Catarina
Fox desafiou a entidade que ela acreditava ser o Diabo (aqui vale um estudo sobre qual era já
a influência da religião sobre estas pessoas) a reproduzir os sons que ela fazia (estes sons
seriam o mesmo som produzido por um simples estalar de dedos) o que segundo é relatado
veio a acontecer.

Dessa forma diz-se que essa suposta entidade por meio de um código de letras, onde um
determinado número de pancadas corresponderia a certa letra do alfabeto, teria afirmado ser o
espírito de um homem que fora assassinado naquela casa. Em 31 de março de 1848 diz-se
que os supostos barulhos atingiram tal intensidade que já eram escutados por vizinhos e
continuaram a ser produzidos mesmo depois que a mãe e as meninas saíram e foram dormir
na casa de Léia Fox que era a filha mais velha.

442
Assim como as irmãs Fox outras pessoas também começaram a afirmar ter tais dons, o que
depois foi nomeado de mediunidade, na França o pedagogo Hypolite L. D. Rivail, passou a
estudar com alguns companheiros os supostos fenômenos, Hypolite sob o pseudônimo de Allan
Kardec, publicou livros e editou a Revista Espírita, foi ele o encarregado de codificar, pois
acreditava não ser ele o autor e sim os supostos espíritos. Tem-se então em Kardec um divisor
de águas na doutrina espírita.

Os chamados fenômenos espíritas são variados, indo supostamente desde a produção de sons
diversos, inclusive com a possibilidade de voz direta, ou seja, a possibilidade de um espírito
falar com você em alto e bom tom, ainda estaria inclusos, produção de sons, efeitos
luminosos, deslocamento de objetos, formação de figuras em graus diversos de densidade,
moldes de partes do corpo humanos em outros objetos etc.

Ainda haveria os fenômenos subjetivos, quando sob a ação de espíritos, um médium fala,
escreve, podendo ser em seu idioma ou em outro que lhe é desconhecido, desenha ou pode
ver e ouvir coisas que não são percebidas em condições normais. Dessa época para cá muitos
foram os estudos sobre o Espiritismo que teve certa explosão na Europa com foco principal na
França, atualmente decaindo pela mesma Europa.

O Espiritismo crê que seu diferencial esteja na não refutação da ciência, os espíritas acreditam
que a ciência ande em consonância com seus princípios, dizem eles também não ser preso a
dogmas, e ser o espiritismo uma constante evolução onde cada vez mais a ciência comprovaria
as afirmações emanadas dessa doutrina, sob este aspecto é que iniciaremos nosso
questionamento.

―Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque se novas
descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria
nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará‖ (A Gênese).

O mundo sofreu diversas mudanças, dentro de todos os ramos das ciências pode-se ver
quebra de paradigmas, seja ela na Física, Matemática e na área das humanas, no entanto
nessa escala de evolução e de novos conceitos que hoje permeiam o senso científico, se
analisarmos o Espiritismo fica óbvio sua estagnação frente as demais chamadas ciências. Tem-
se em vários artigos tais fatos e aqui irei reproduzir em parte o conteúdo de um artigo
intitulado Espiritismo, Ciência e Lógica. 01 A qual aborda de uma forma muito clara tal
distância que encontra a doutrina espírita.

Como veremos no quadro abaixo, há a demonstração do modelo geral da descrição do que se


entende por Ciência e do que tem-se no Espiritismo que almeja ser científico.

Ciência Espiritismo

Resistência de se distanciar da
Comum as novas gerações de cientistas refutarem ortodoxia kardequiana. Culto à
trabalhos anteriores. Aversão a critérios de autoridade contido no espírito da
―autoridade‖. Verdade ou Kardec. Havendo claro,
exceções.

Obra de grandes mestres como (Principia Mathematica,


Livros de Kardec ainda utilizados
Origem das Espécies, etc.) ainda lidas como referência,
sem alterações mesmo no que há de
como fonte de valor histórico e como forma de adentrar
errado. Em alguns casos há notas de
no raciocínio do autor. Todavia o estudante utiliza
roda pé corrigindo alguns erros.
bibliografia recente, expandida e corrigida.

A lógica é utilizada como meio de


A lógica é usada apenas como ferramenta. O raciocínio prova ou refutação de hipóteses, não
precisa estar corroborado de evidências. havendo verificação de se a natureza
pensa igualmente.

443
O bom senso e a experiência usual nem sempre são
seguidos. (Relatividade e Mecânica Quântica são bons
O senso comum, ao lado da lógica é
exemplos, ainda pode ser citada a ―Ação à distância‖ de
superestimado.
Newton). Opta-se por soluções pragmáticas ainda que
esdrúxulas.

Há grande discussão em torno da filosofia da ciência O conhecimento espírita ainda é


quanto à questão de melhor metodologia para o majoritariamente indutivo, baseado
estabelecimento de novos conceitos (refutabilidade, em moldes científicos do século XIX
crise de paradigmas, etc). (positivismo).

Persiste a presença de hipóteses ―ad


hoc‖ inverificáveis para sustentar
Teorias inverificáveis, mas belas, são postas de lado.
pontos nebulosos da doutrina. Ex:
vida ―invisível‖ em outros planetas.

Enfim, esse quadro trás apenas alguns pontos que mostram o quão distante a chamada ciência
espírita encontra-se da Ciência atual. Enquanto uma tratou de renovar-se de otimizar-se, outra
permaneceu estática, imóvel baseada nos mesmo moldes, onde cabe a pergunta: Será válida
essa ciência? Ou pretende-se ela também ser um dogma inquestionável?

Bem, o fato em questão é: Terá o Espiritismo a resposta para a tão conturbada pergunta; O
que acontece após a morte? Ressaltando que se entende no presente texto, morte o estado
onde o corpo humano já não consegue mais sobreviver por si só. É interessante uma
explanação histórica rápida apenas para demonstrar que tal assunto, não é um produto de
questionamento contemporâneo, pelo contrário, as aspirações para responder a tal
questionamento já vêm de longa data.

Como se pode encontrar em livros de história egípcia, essa civilização acreditava assim como
as outras, possuir a resposta, dentre seu conjunto de crenças, acreditavam que o corpo
possuía um espírito dividido em duas partes, e que para que parte desse espírito sobrevivesse
era preciso preservar o corpo, daí o desenvolvimento da tradição de embalsamarem-se os
mortos. Entretanto, nesse processo é interessante observar que vários órgãos eram retirados,
o coração por ACREDITAR-SE ser o órgão onde residiam todos os sentimentos, raciocínios e
emoções, permanecia dentro do corpo.

Outros órgãos ainda eram tratados e conservados em vasos com substâncias químicas,
entretanto o cérebro, esse conforme SE ACREDITAVA não teria muita utilidade sendo
descartável, era removido pelas narinas com auxílio de ganchos. Outrossim, fica claro se
observado com o que sabemos hoje, como era errônea a CRENÇA desse povo. É fato que o
cérebro é o responsável, pelos sentimentos, pelo raciocínio, pela nossa própria consciência,
sendo que, ao sofrer danos, seja devido a um acidente, uma doença, ou por influência de
substâncias químicas, a personalidade da pessoa pode ser alterada.

Mas então porque ainda hoje existe a CRENÇA na imortalidade, na continuidade das
lembranças, dos sentimentos e da consciência após a morte do órgão que fica responsável por
isso? Em um artigo de Ronaldo Cordeiro, publicado no site da STR trás algumas explicações
bastante plausíveis, as quais tomo a liberdade de transcrever.

―(…) a noção da imortalidade da alma é a base de muitas das religiões mais populares do
mundo. A idéia da morte após uma vida breve num mundo repleto de injustiças, violência,
miséria e desgraças desigualmente distribuídas, parece ser bastante angustiante para a
maioria das pessoas. Sem a doutrina da vida após a morte, em que haveria a vida eterna e em
que os bons seriam recompensados e os maus punidos, dificilmente as religiões conseguiriam
ser tão influentes sobre seus adeptos como o são hoje e sempre foram. É inevitável mencionar
os recentes atentados suicidas de 11 de setembro nos EUA, cometidos por homens
convencidos de que seriam recompensados com o paraíso. Antes que alguém pense que isso
só acontece com terroristas fanáticos, que tal o caso do suicídio coletivo do Templo do Povo,

444
em 1978, quando morreram 912 seguidores de Jim Jones? E os 39 da seita Heaven‘s Gate? Ou
os mais de 700 mortos do Movimento da Restauração dos Dez Mandamentos em Uganda?

Como disse Richard Dawkins em Os Mísseis Desgovernados da Religião, ―Não há dúvida de


que o cérebro suicida e obcecado pela vida após a morte é uma arma poderosa e
perigosíssima‖. É pouco provável que as religiões venham a abrir mão de uma arma formidável
como essa em nome de simples e meras constatações científicas. (…)‖

Nesse mesmo artigo, a qual também se debate o tema aqui proposto encontramos, mais
informações úteis, como a existência de uma corrente que acredita que os espíritos sofreriam
conseqüências do que acontece com o corpo, e dessa forma estaria explicado o porquê da
personalidade, memórias e o humor mudarem, ou seja, o espírito estaria passível de sofrer
influências de tais coisas materiais, entretanto sendo ele influenciável dessa maneira, o que
oporia a concepção da sua morte concomitantemente com a do cérebro?

Ainda SUPONDO a existência de espíritos, e que tais espíritos continuassem a existir com a
morte do cérebro, porque teríamos cérebros tão complexos? A natureza é inteligente e
certamente possuiríamos cérebros muito menores, consumiríamos menos energia, seríamos
mais leve, os partos seriam menos dolorosos e mais fáceis. Ainda encontra-se frequentemente
e aqui friso, que não é exclusividade do Espiritismo mais de todo sistema de crença religioso,
todos eles procuram respaldo para provar sua veracidade, na incapacidade da ciência de
provar que aquilo que eles afirmam não existe.

Ou seja, é o chamado ―Inversão do ônus da prova‖ que resulta em uma das ações mais
covardes e de mau caráter que os religiosos se valem, e que só convencem os mais leigos.
Pois bem, a ciência só poderia tentar comprovar, que algo é ou não é verídico se fosse possível
se fazer provas sobre o que se afirma. Desse modo é impossível provar-se algo que nem
sequer foi apresentado evidências. Agora CRER em algo assim, é totalmente insano e
desprovido de inteligência, Bertrand Russel exemplifica muito bem tal falácia ao propor:

―Imagine que há um bule de chá chinês orbitando ao redor do sol, você não pode provar a
inexistência deste bule porque ele é muito pequeno para ser visto pelo telescópio. No entanto,
ninguém além de um louco diria: Eu estou disposto a crer no bule porque ninguém provou que
ele não existe‖.

Tal mau-caratismo é encontrado muito com qualquer pessoa que queira defender seus dogmas
religiosos, como sempre digo, o fato de a ciência AINDA não responder a todas as perguntas,
não faz com que as versões contadas pelos religiosos sejam verdade, aceitar isso é aceitar
uma bobagem, uma falácia. Ainda como sistema de provas dos espíritas temos um vasto
arsenal de provas que se encaixam como pseudoprovas, sendo em sua maioria, experiências
pessoais, testemunhos de fenômenos isso sem contar as inúmeras fraudes que a ciência, e
mais os mágicos desmascaram.

Interessante se faz a observação desses últimos profissionais, que atualmente tem sido de
grande auxílio nas descobertas de fraudes utilizadas para fazerem as pessoas CREREM em tais
bobagens, como é bem conhecido entre o meio cético, o mágico James Randhi que possui um
instituto nos EUA onde estuda os supostos casos de paranormais, oferece um prêmio de US$
1.000.000,00 para quem demonstrar seus ―poderes‖ e passar pela bateria de teste que os
comprovem, entretanto é engraçado que até hoje ninguém se propôs para tal.

Dentre as desculpas mais ouvidas, e aqui sim principalmente pelos espíritas, estaria à escusa
de que o médium não estaria ―autorizado‖ pelas forças divinas a utilizar-se dos ―poderes‖ para
benefício próprio. Mas então eu pergunto, e porque ele usaria bem beneficio próprio? Porque
não deixar então que após ganhar o tal premio a mesma ―entidade‖ decida qual a melhor
maneira de beneficiar outras pessoas, dado ao SUPOSTO fato que ele tem um nível de
―Iluminação e evolução‖ maior?

445
Mas ainda restaria, a última desculpa, onde com certeza alguns diriam que os espíritos, não
estão aqui para trazer benefícios materiais, mas para auxiliar no nosso desenvolvimento, nem
que isso envolva fazer o suposto ―paciente‖ passar por dificuldades. Que discurso lindo não?
Entretanto é hipócrita e falacioso também, pois em nada ajudam as pessoas que lá vão
procurando pelo auxílio para seus problemas, pelo contrário, gostaria de saber como ficaria um
médium ao saber que seu conselho acabou por prejudicar ainda mais uma pessoa. Com
certeza a resposta seria a mesma: ―Ele precisava passar por isso para alcançar o seu grau de
evolução‖. Ou seja, se procura achar mais uma vez a justificativa em algo que ninguém prova
ninguém tem certeza, apenas CRÊEM.

Se ninguém vê problemas nisso, não sei por que então criticam outras religiões, até mesmo as
mais radicais como as que dão sustentação aos extremistas, porque afinal de contas todas
lidam com isso a CRENÇA. Cada um como sua insanidade obedecendo as ordens de seus
próprios Deuses, que ironicamente sempre vão de acordo com a vontade dos seus
interpretadores, sejam eles, padres, pastores, médiuns, sheiks, ou qualquer outro tipo de
sacerdote que exista, como bem disse Nietzsche umas das piores criaturas que existe sob a
face terrestre é o sacerdote que acredita ser o único com autoridade e competência para
interpretar leis divinas.

Uma variante desse tipo de falácia é comumente encontrada entre os espíritas quando querem
explicar algumas das teorias amalucadas, geralmente para isso empregam meios que para eles
e tão só para eles fornecem uma explicação satisfatória. Deixem-me explicar. Uma das
principais questões que me veio a mente quando comecei a me questionar sobre o espiritismo
foi: Considerando que cada pessoa tem uma alma, ou seja, quando ela morre o espírito
aguarda uma nova oportunidade para reencarnar.

Após essa assertiva tentemos imaginar o seguinte, no ano de 1200 digamos que a população
mundial fosse e 1 bilhão de pessoas, hoje em 2008 é fato, e todos sabem que esse número
aumentou e muito, como não tenho a informação com precisão, vamos supor que estaria em 3
bilhões, pois bem a pergunta é: Esses dois bilhões a mais de pessoas não tem almas?
Poderíamos sugerir sarcasticamente que existe um ―criador‖ de novas almas? SUPONDO haver
esse criador como poderia afirmar-se que os espíritos reencarnam? Como saber se não é um
novo?
Enfim, as explicações que já escutei são das mais variadas, mas sempre sem nenhuma
evidência ou base que a comprovasse a não ser a FÉ daquele que a professou, dessa forma
ouvi coisas como:

1. Haverias diversos planos onde a vida na terra seria apenas mais um, com outros por
ascender e outros abaixo. O problema aqui ainda poderia ser questionado, mas de onde
vêm essas almas? Quantas são? Qual o último plano? Qual o primeiro?
2. Outra explicação esdrúxula seria de que existem almas em outros planetas, e que por
isso a quantidade de almas poderia variar conforme fossem enviadas de um planeta
para outro. Nem preciso dizer nada né? Os espíritas não conseguem demonstrar que
existem espíritos aqui na Terra, mas se acham com autoridade de afirmar que existem
espíritos em outros planetas.
3. E por último, mas com certeza deve haver outras, pois a capacidade do ser humano de
inventar histórias, mitos e lendas para justificar seus apontamentos é algo muito vasto,
mas como dizia, existem alguns que afirmam que tudo possui um espírito, as pedras,
os animais, as árvores e que TALVEZ com o aumento da população humana, outras
formas teriam se reduzido. Aqui também quando perguntadas no que se baseiam,
resistem em negar que são meros ACHISMOS querendo sempre justificar dizendo que
leram em algum lugar, mas nunca se lembram das fontes, o que é um fato quase
sempre comum entre os religiosos pouquíssimos deles usam fontes, na sua grande
maioria apenas ouviram falar algo a respeito.

Outras questões interessantes que me vem a mente é que a maioria dos religiosos, e não
diferente com os espíritas, eles tem sempre exemplos para citar, mas esses exemplos
acontecem em um passado obscuro, onde os meios científicos ainda não eram tão exigentes, é
de se espantar que com o avanço e progresso da ciência, da filosofia, da racionalidade os tais

446
fenômenos tenham diminuído de forma brutal. Mas aqui os espíritas podem ficar tranquilos, os
milagres dos católicos e evangélicos também tiveram a redução no supostos ocorridos, arrisco
a dizer que tornaram-se extintos.

Atualmente com a globalização das informações, nada escapa dos noticiários, entretanto, é
rara a reportagem que traga algum caso de fenômenos sobrenaturais ou milagres que não
sejam desvendados (leia-se explicados, resolvidos) por algum órgão especializado. Ocorre sim
uma mercantilizarão de informações estúpidas, quase todos os casos que lembro a respeito de
coisas sobrenaturais apresentadas em reportagens, tinham um apelo escancarado para
prender a atenção do público, ou seja, é aquela reportagem que é anunciada desde o começo
do telejornal, mas só apresentada no final, com a óbvia intenção de manter o telespectador
somente naquele canal durante todo o programa, ou seja, sensacionalismo puro.

Todavia, após passar a reportagem sobre o tal fato misterioso, são raros os veículos de mídia
sérios, que procuram alguém que os explique. Geralmente a reportagem ou documentário é
apresentado e na outra semana, nada mais é dito, ou seja, mostra-se aquilo como sendo uma
verdade, como sendo um fato, talvez para um ignorante ingênuo (e só consigo definir com
essas palavras as pessoas que aceitam sem se questionar as informações que a TV e seus
programas passam) até seja. Pessoas desprovidas de qualquer discernimento, talvez até
acreditem que aquilo seja verdade, mas felizmente alguns jornais, e veículos de investigação
mais sérios tratam de mostrar a fraude que ocorre por de trás dos fenômenos sobrenaturais.

A internet tem se mostrado uma ferramenta útil nesse sentido, são muitos os blogs que
trazem informações sobre publicações sérias com explicações bem compreensíveis e nada
miraculosas dos supostos fatos sobrenaturais, entretanto, o povo em geral não tem muita
curiosidade, nem vontade de pesquisar tais coisas, preferem ater-se a coisas que julgam mais
importante, como os últimos capítulos da novela, ou os jogos de futebol. Não desmerecendo
tais meios de entretenimento, mas alguém que quer ter sua opinião levada a sério deve
inteirar-se o mínimo possível sobre o assunto que se fala, e não achar que todos serão
convencidos por meros ACHISMOS da pessoa que professa como mera replicadora do que viu
na TV, achando-se com autoridade inquestionável.

Ademais, veio-me agora ao pensamento um fato muito estranho, acredito que 99% das
pessoas, que já tenham relatado terem passado por contatos mediúnicos, nenhuma delas
relatou que viu, ouviu ou sentiu a presença de ―espíritos‖ de animais. Seja sincero com você
mesmo, alguma vez você escutou alguém falando que viu o fantasma de uma vaca? Ou que
conversou com a alma de um cachorro? Bom, se isso não aconteceu, poderia pensar que os
animais não teriam ―espíritos‖. Mas eu como cético, se precisasse achar uma desculpa para
tentar justificar isso (ainda que não tivesse provas) me apegaria, no seguinte discurso: ―Nós
humanos não conseguimos ver esses espíritos, porque eles estão em um plano diferente de
evolução, e por isso os seres humanos são incapazes de ―conectar-se‖ com eles‖.

O que vocês acham? Acredito que esse engodo funcionaria com muitas pessoas, mas não com
aqueles que conseguem ver o ―mau-caratismo‖ que se expõe em tais assertivas desprovidas
de provas e evidências, mas quem sabe após alguns espíritas lerem esse texto eles comecem
a ―enxergar‖ alguns ―bichinhos‖, mas já vou advertir; os usuários de drogas e os enfermos de
doenças mentais tal como demência e esquizofrenia também veem bichos, formas, pessoas e
todo tipo de coisa que o cérebro humano seja capaz de pensar. Quero ver qual é o médium
que vai ver o primeiro espírito de um ser jurássico como um Raptor, afinal de contas eu nunca
ouvi nada a respeito, ou quem sabe assombrações de vacas em frigoríficos, coisas desse tipo.

Tantas evidências apontando para a não existência de tais crendices, entretanto, ainda assim
temos pessoas que CRÊEM serem verdadeiros tais relatos, nessa hora só posso acreditar que
há um fator psicológico que explica essa necessidade que tantas pessoas têm de conceberem
um ser ou seres em outro plano que estão protegendo e fazendo ações para tornar nossa vida
melhor. Eu classificaria isso como ―crise existencial mesclada com carência afetiva e
insegurança crônica‖, ou de uma maneira mais reduzida, como é de praxe, digo que é a
―bengala psicológica‖ que foi passada de geração para geração, mas quando as pessoas vão

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abrir os olhos? Quando elas realmente vão evoluir ao ponto de perceberem que não precisam
de ―amiguinhos‖ imaginários, quando elas perceberam que podem cuidar uma das outras?

Acho que isso ainda levará muito tempo, enfim, o progresso pode ser lento, mas como cunhou
Darwin, só os mais adaptados permanecem.

Texto adaptado para o Ceticismo.net, do original de H. Gil no site Tribuna Cética.

Veganismo Desmascarado

Talvez, vocês tenham presenciado uma cena semelhante: Você vem andando pela calçada e é
abordado por uma moça. Ela pede um minuto de sua atenção e você, como todo bom idiota,
para para (maldito acordo ortográfico!) dar atenção - e depois lamentar de não ter continuado
andando. Ela diz que quer falar com você e lhe entrega um panfleto. Ela, com seu sorrisinho,
fala pra você mudar de postura, pois a mesma é errada, que você deveria ver o mundo com
outros olhos, ser mais ético. Que, assim que mudar, sua vida melhorará e ajudará a fazer um
mundo sem sofrimento.

Você deve estar pensando em alguma Testemunha de Jeová, com sua revista Sentinela, mas
não. Estou falando de uma das novas religiões que apareceram nos últimos tempos: o
Veganismo. Sim, pois a onda Vegan está mais parecida com religião do que qualquer outra
coisa, e aqui eu demonstrarei o por que.

Primeiro de tudo, vamos entender o que é veganismo e, para isso, vamos ver sua origem: o
vegetarianismo. Não, os dois não são a mesma coisa.

O vegetarianismo não tem nada de complicado: A pessoa não gosta de comer carne e prefere
alimentar-se apenas de vegetais. Simples assim. Há alguns que se alimentam de ovos, leite e
derivados (seja de vaca, cabra ou outro animal qualquer), ovas (de peixe, claro) etc. Não é
muito diferente se eu não quiser comer ovos mexidos, por exemplo (detesto ovos mexidos),
ou quiabo (odeio quiabo!). A pessoa come o que quiser e pronto! Fim da história. É mais ou
menos como acontecem nas religiões: Um camarada cisma que existe um deus (chamemos
Coxarrebolante). Ele faz umas preces a Coxarrebolante, venera Coxarrebolante e continua a
sua vidinha. Outros acham que isso deve ser seguido com maior rigor, daí constroem um

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templo para Coxarrebolante, fazem ―UUUUUUhhhhh‖ para Coxarrebolante, dedicam oferendas
e assim tem início a religião do Coxarrebolantismo. Todos TÊM que ser coxarrebolantistas, pois
caso contrário serão considerados hereges e atirados no inferno.

Com o Veganismo não é diferente. Em 1944, Donald Watson (1910 - 2005) fundou a Vegan
Society, por ter se indisposto com a Vegetarian Society por diferenças ideológicas - coisa que
não ficou muito bem explicada, mas isso nós vemos acontecer em quaisquer religiões. Assim,
Watson (que não é aquele Watson) se juntou a mais 6 pessoas, e decidiram criar uma nova
sociedade, criando até mesmo um novo nome. Watson foi criado numa fazenda quando garoto
e resolveu ser vegetariano quando ele viu o que acontecia com os porcos, de modo a virarem
o amado bacon nosso de cada dia. Ele (Watson e não o bacon) surtou com pena dos animais e
achou que a humanidade era boba, feia e chata; e essa humanidade boba, feia e chata tinha
que defender os animais.

Sinceramente, não acho nada de errado defender os animais. Mas há algo sinistro que governa
os destinos dos seres vivos. Há algo malévolo, pérfido, indiferente a qualquer coisa que nasce,
vive e morre. Essas coisas como já falaram várias vezes, é a Seleção Natural. Ela é quem
comanda a sua vida, seu mortal idiota! Antes de prosseguir, demonstrando porque o
veganismo está caindo para as raias do absurdo (se é que não começou lá), vamos dar uma
repassada básica em certos detalhes do mundo biológico.

Nós, seres humanos, somos apenas uma ridícula e insignificante porção da biodiversidade.
Somos tão ridículos que só há uma única espécie do gênero Homo. Nenhum dos outros
sobreviveu. Apesar de sermos ridiculamente insignificantes, a Seleção Natural demonstrou que
somos vencedores, dados os milhares de anos que o Homo sapiens anda por aí. Todos os
demais indivíduos do gênero Homo não sobreviveram para contar a história, pois foram
extintos. Se algo contribuiu para isso foi a nossa dieta onívora (comemos qualquer coisa, ou
quase) Antes, éramos caçadores-coletores, isto é, vivíamos exclusivamente da caça e da
coleta de víveres que estavam facilmente ao alcance das mãos. Isso perdurou até que
inventamos a agricultura. Nosso cérebro era pequeno e não muito bom para formar o que
poderíamos chamar de civilização tecnológica (emprego ―tecnologia‖ como o conhecimento de
usar ferramentas, mesmo as mais rudimentares). Alguma coisa fez a diferença, e essa
diferença foi a ingestão de proteínas de origem animal.

Esse é o ponto que o vegan fica estarrecido, arregala os olhos e diz: NOOOOOOOOO!!! Mas,
esperem! As plantas também produzem proteínas, logo o que há de diferente entre elas?

Vegans, como costumam serem os religiosos fanáticos, não leem nada que divirja de sua
opinião pré-concebida e preconceituosa, isto é, eles costumam não entender NADA de
bioquímica. Façam um teste: peguem um livro de bioquímica e tomem um capítulo. Escolham
um vegan e peça para ele explicar. Digamos, ciclo de Krebbs. Se você estiver num debate
online, o co-debatedor correrá pro Google, acessará a Wikipédia e dará copy/paste. Peça para
ele explicar o que está escrito ali. Ele não saberá. No máximo, recorrerá a sites como o Go
Vegan, o Answer in Genesis do Veganismo.

Muito bem, a maioria das plantas sintetiza seu próprio alimento através da fotossíntese, como
qualquer criança de Ensino Fundamental sabe. Mas é um processo MUITO complexo. A planta
sintetiza também proteínas - que nada mais são que junção de vários aminoácidos - além de
enzimas que possibilitam muitas reações químicas no organismo (às vezes elas participam da
reação, às vezes só agem como catalisadores, acelerando - mas não participando - da reação).
Os animais sintetizam proteínas de forma diferente. Eles montam e desmontam proteínas,
absorvem e reciclam os nutrientes absorvidos, até produzirem as proteínas necessárias ao seu
funcionamento.

Os animais não produzem todas as proteínas igualmente. Alguns animais produzem uma
determinada proteína, outros não. Por causa disso, e de nossa dieta onívora, os seres
humanos que desenvolveram a capacidade de metabolizar quase todos os tipos de proteínas
tiveram melhor chance na corrida evolutiva, pois a população que apresentou esta capacidade

449
ficou em vantagem nos tempos de escassez. Assim, o que REALMENTE interessa aos animais
são os aminoácidos provenientes das proteínas, pois eles serão usados para suprir o
organismo de forma que o metabolismo faça a síntese do que for necessário. Dessa forma, o
que importa não é a proteína em si e sim de quais aminoácidos ela é constituída.

Um detalhezinho que os fanáticos religiosos vegans - também chamados Talibãs da Couve-Flor


- não sabem (ou não querem saber): as proteínas animais são mais facilmente metabolizadas
do que as proteínas vegetais, pois as proteínas vegetais são formadas por outros aminoácidos
que seriam necessários para o nosso organismo, mas não todos. Se determinados aminoácidos
estiverem presentes, não servirão, pois cada proteína é formada por uma série de aminoácidos
característicos. E eu ainda nem entrei na questão das vitaminas e complexos vitamínicos.
Logo, não basta ser proteína, tem que ser formada pelos aminoácidos certos.

O que isso significa? Significa que bioquimicamente, não há sentido ser apenas (notem o
―apenas‖) vegetariano. Basta considerar que nem todas as proteínas vegetais possuem os
aminoácidos que nós, seres humanos, precisamos. De onde iríamos conseguir estes
aminoácidos? Comprando no Mercado Livre? Hoje é fácil, há 20 anos era difícil, há 50 anos era
praticamente impossível e de 100 anos para trás era COMPLETAMENTE impossível.

Mas… mas… mas, e os estudos que as carnes fazem mal? Simples: Não fazem.

As carnes, enquanto fonte de proteínas, não fazem mal; o que faz mal é a taxa de gordura
associada a ela. Escolhendo carnes mais magras, o problema diminui substancialmente. E aí
vamos para outro ponto em que o veganismo é semelhante às religiões: Desonestidade.

Sites como o Go Vegan, como todo antro de fanatismo religioso, omite certas informações.
Costumam tecer comparações entre as dietas onívoras e as vegetarianas, dando (é claro)
vantagem para a dieta vegetariana. O que eles ―esquecem‖ de mencionar é que comparam
uma dieta onívora desbalanceada com uma dieta vegetariana balanceada. Trapaça pouca é
bobagem! ―Esquecem‖ também de mencionar que, embora os vegetais também apresentem
proteínas, a maior parte da planta é composta por celulose, um carboidrato (e não proteína)
que não é absorvido pelo organismo humano; se fosse você poderia comer algodão ou mesmo
papel, mas você sabe que não é assim que a banda toca. Por certo, nem mesmo o sistema
digestório de animais herbívoros, como os boizinhos lindos, estão completamente adaptados
para isso. O que eles têm que nós não temos são micro-organismos que atacam a celulose,
quebrando-a em moléculas menores que podem ser absorvida pelo organismo dos distintos
herbívoros.

No caso dos animais, digerimos a sacarose e o amido (dois outros exemplos de carboidratos)
porque eles são ―quebrados‖ em partes menores. Nossa saliva contém uma enzima camada
amilase, responsável por quebrar o amido em unidades menores, facilitando sua absorção. No
tocante à proteína animal, o fato é que sua ingestão nos propiciou o desenvolvimento do
encéfalo [1] [2] [3] . Da mesma maneira, houve um aumento de estatura considerável no povo
japonês depois da Segunda Grande Guerra. Com a chegada de norte-americanos nas ilhas do
Pacífico, começou a haver uma mudança de hábitos alimentares, com a introdução de mais
proteína animal na dieta dos que lá viviam. Isso acarretou um aumento na estatura média do
povo japonês [4] [5] , somando-se também um melhor estilo de vida [6] ; e é óbvio que apenas
a ingestão de proteína animal não acarretaria isso, mas também é um fator a ser levado em
conta. Se fosse nociva, tal desenvolvimento não seria observado, ou seria em menor grau. Em
uma reportagem da revista Época (edição de 24 de agosto de 1998), é demonstrado como os
tanques japoneses possuíam cabines pequenas, adequadas à estatua média do soldado
japonês. Atualmente, entrar numa cabine assim é muito, muito complicado para um adulto.
Ainda no tocante à população japonesa, estudos sugerem que o consumo de proteínas animais
- em comparação com os povos ocidentais - não está relacionada com casos de Acidente
Vascular Cerebral ou infartos. Credita-se então à ingestão de altas percentagens de gordura
animal e colesterol. Fica claro que o problema não é a carne em si, e sim a gordura, como
banha de porco etc.

450
Ao lermos sobre os efeitos de uma alimentação pobre em proteínas, encontramos um artigo
que relata (grifos meus):

A suplementação, com proteínas, de uma dieta na qual esse nutriente era deficiente, tanto em
quantidade quanto em qualidade, levou a resultados diversos, dependendo da qualidade da
proteína usada na suplementação. Quando se suplementou a dieta carente com uma proteína
de baixa qualidade (de origem vegetal), os efeitos sobre a DA [depressão alastrante da
atividade elétrica cerebral] não foram revertidos. A reversão só foi conseguida quando a
proteína usada na suplementação era a caseína, a proteína animal de excelência para os
mamíferos. Com base nessas observações pode-se concluir que os efeitos da desnutrição no
início da vida sobre o desenvolvimento e as funções cerebrais não podem ser completamente
evitados, se a alimentação deficiente for suplementada apenas com proteínas de baixo valor
biológico, isto é, de baixa qualidade, definida pela falta de alguns aminoácidos essenciais.

Guedes, Rubem Carlos Araújo, Rocha-de-Melo, Ana Paula Rocha-de-Melo e Teodósio, Naíde
Regueira Teodósio - NUTRIÇÃO ADEQUADA: A BASE DO FUNCIONAMENTO CEREBRAL, Ciência
e Cultura vol.56 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2004

Em (pseudo) refutação a isso, costumam linkar o artigo da American Dietetics Association


como prova que a dieta vegetariana é mais saudável. Ou não sabem ler em inglês, não sabem
usar o Google translator ou são carentes de honestidade (mais provável, uma soma dos três).
O abstract (resumo) do artigo começa com:

It is the position of the American Dietetic Association and Dietitians of Canada that
appropriately planned vegetarian diets are healthful, nutritionally adequate, and provide health
benefits in the prevention and treatment of certain diseases. Approximately 2.5% of adults in
the United States and 4% of adults in Canada follow vegetarian diets. A vegetarian diet is
defined as one that does not include meat, fish, or fowl. Interest in vegetarianism appears to
be increasing, with many restaurants and college foodservices offering vegetarian meals
routinely. Substantial growth in sales of foods attractive to vegetarians has occurred and these
foods appear in many supermarkets. This position paper reviews the current scientific data
related to key nutrients for vegetarians including protein, iron, zinc, calcium, vitamin D,
riboflavin, vitamin B-12, vitamin A, n-3 fatty acids, and iodine.

É a posição da Associação Dietética Americana e Nutricionistas do Canadá, que dietas


vegetarianas apropriadamente planejadas são saudáveis, nutricionalmente adequadas e
fornecem benefícios de saúde na prevenção e no tratamento de certas doenças.
Aproximadamente 2,5% dos adultos nos Estados Unidos e 4% dos adultos no Canadá seguem
dietas vegetarianas. A dieta vegetariana é definida como aquela que não inclui carne, peixe ou
ave. O interesse pelo vegetarianismo parece estar aumentando, com muitos restaurantes que
oferecem refeições vegetarianas rotineiramente. O crescimento substancial nas vendas de
alimentos atraentes para os vegetarianos ocorreu e estes alimentos aparecem em muitos
supermercados. Este artigo analisa a posição atual de dados científicos relacionados aos
nutrientes essenciais para os vegetarianos, incluindo proteínas, ferro, zinco, cálcio, vitamina D,
riboflavina, vitamina B-12, vitamina A, ácidos graxos n-3, e iodo.

Com o detalhe que as vitaminas do complexo B são majoritariamente (e no caso da vitamina


B12, exclusivamente) pertencentes a alimentos de origem animal, isto é, carnes. Vegetais não
apresentam vitamina B12, a qual é essencial ao nosso organismo [7] . Qualquer um que estude
um pouquinho de fisiologia sabe que além da vitamina B12, o ferro é muito importante,
principalmente sob a forma heme, que é essencial para nós, devido ao seu trabalho junto à
hemoglobina. Esta forma de ferro é muito mais fácil de ser absorvida pelo nosso organismo do
que o ferro não-heme. Alimentos de origem animal contém não só ferro sob a forma heme,
como a não-heme. Os vegetais normalmente só possuem a segunda [8] [9] [10] .

Nisso, cabe repor os nutrientes e vitaminas essenciais com o uso de suplementos alimentares.
Mas que diabo de dieta perfeitamente saudável é essa que precisa de suplementos? Isso faz
sentido? Na mente vegan, faz..

451
Sim, eu concordo que a obesidade é um caso grave na saúde norte-americana, mas
precisamos guardar as medidas. Já publicamos uma pesquisa que informa que a obesidade
infantil tem origem genética também. Ademais, o que o norte-americano médio come? Um
monte de porcarias industrializadas ou nos fast-food da vida. Compre um imenso Big Mac com
fritas e preste atenção no quanto de gordura animal você estará ingerindo. Batatas são
vegetais e o óleo onde elas são fritas (e saem deliciosamente crocantes) também são de
origem vegetal. Assim, o problema não está na carne em si (frita na chapa e não na fritadeira,
imersa em óleo) e sim no percentual de gordura ingerido, que pode ser tanto de origem
animal, como vegetal. Dessa forma, se eu tirar o hambúrguer e o queijo, eu poderei comer o
Big Macapado e ficar tranquilo, já que não estou comendo nada de origem animal? Assim é
fácil!

O Go Veg é um site tão escroto, tão mentiroso e sem-vergonha, que não se importa em
estuprar o conhecimento científico que temos hoje, publicando um monte de sandices
despropositadas sobre a fisiologia humana. Eles tiveram a pachorra de dizer que a formação
dos dentes e do trato digestivo foi selecionado biologicamente para se alimentar apenas de
vegetais. Só alguém completamente ignorante nesse assunto vai acreditar nisso. E eu falo
ignorante na pureza do significado, isto é, de realmente não saber nada sobre o assunto.

Lá, afirma-se que o pH normal do estômago está entre 4 a 5. Mentira! O ácido produzido no
estômago é o ácido clorídrico, que junto com a pepsina age fortemente contra o alimento que
você ingere. O HCl é um ácido inorgânico com alto grau de ionização (Química de 1º ano de
Ensino Médio). À medida que o pH do estômago vai aumentando (como quando você bebe
leite de magnésia), o corpo produz mais HCl. A ação do HCl possui um rendimento otimizado
entre o pH 1 e 2, isto é, se o pH começar a subir, o corpo corre em corrigir isso. Eu já fiz este
teste em laboratório, com solução de HCl e solução de pepsina, e comprovei isso. Mas tal coisa
não foi feita pelos ―gênios‖ do Go Vegan.

E sobre atacar o estômago? O HCl não ataca as paredes do seu estômago por duas razões. A
primeira é que o HCl possui o cloro no seu estado de redução máximo, logo, ele não pode
oxidar nada (também é ensinado isso em Química do 1º ano do EM). O ácido clorídrico NÃO É
um agente oxidante. A segunda é que em conjunto com a pepsina ele não ataca o estômago
por causa de uma grossa camada de muco estomacal. Este muco - que normalmente se
regenera competamente a cada 3 dias - contém, entre outras coisas uma substância chamada
―bórax‖, que ajuda a neutralizar a alta concentração de íons H +. Úlceras têm diversos fatores e
um deles é a presença da Helicobacter pylori, que ataca o muco. Com menor camada de muco,
o ácido clorídrico começa a atacar o tecido estomacal.

Outra besteirada na versão verde da Montfort é dizer que o intestino delgado tem cerca de 10
a 11 vezes o tamanho do ser humano. Considerando que tal tamanho está entre 3 e 7 metros
de comprimento, então o corpo deveria ter entre 30 e 70 cm de altura. Ou o pessoal do
GoVegan é completamente analfabeto em matemática ou, então, eles examinaram algum
gnomo de jardim.

Chegaram, inclusive, a me mandar este artigo da Scielo para fundamentar a argumentação em


prol do veganismo. Infelizmente, a própria conclusão do artigo desmonta o castelo de cartas:

CONCLUSÃO: A alimentação onívora desbalanceada, com EXCESSO de proteínas e


gorduras de origem animal, pode estar implicada, em grande parte, no desencadeamento
de doenças e agravos não transmissíveis, especialmente no risco cardiovascular (grifo meu).

Qualquer dieta desbalanceada é danosa à nossa saúde, na linha do ―tudo o que é demais faz
mal‖. Mas e os vegetais? Eles não seriam mais saudáveis? Dificilmente. A maioria sequer
entraria em nosso cardápio se não fosse o nosso desenvolvimento e aprendizado na prática
culinária, o que desmonta a tese absurda que o homem nasceu pra ser vegetariano. Muitos
vegetais JAMAIS poderiam ter sido consumidos por nossos ancestrais, como é o caso do feijão
que é altamente tóxico, pois possui inibidores de tripsina, uma enzima que ajuda no ataque a
fibras musculares que foram ingeridas, além de agir nas fezes impedindo que haja prisão de

452
ventre (e muitas vezes causando diarreia, quando em altas concentrações). Como se resolve?
Através de tratamento térmico (cozinhando, em outras palavras). Claro que podem alegar que
hoje ninguém como feijão cru, mas nossos antepassados não apareceram na terra com uma
cozinha completa. Caçadores-coletores comiam o que viam pela frente (muitas vezes o que
viam pela frente os comiam também, mas faz parte).

Ainda sobre o feijãozinho nosso de cada dia, convém que ele fique ―de molho‖, pois não
conseguimos digerir uma substância chamada rafinose, um trissacarídeo também presente na
soja, que só faz bem na mente vegan, mas não é essa maravilha que apregoam. Os fitatos
contidos nela agem como fatores anti-nutricionais, já que reduzem a biodisponibilidade no
organismo de minerais divalentes como: cálcio, ferro, magnésio, manganês, cobre e zinco,
principalmente. Alguns estudos mostram que estes fitatos são importantes na mesma medida,
mas deve-se ressaltar que ao se ingerir soja é preciso ingerir mais dos íons acima descritos. E
tome suplemento alimentar! Isso soa plausível numa dieta tida como ―melhor‖? Bem, vegans
continuarão achando que sim. Comer mandioca crua, alguém se arrisca? A mandioca
consumida comumente, não nos traria problemas, mas o preparo original da mandioca brava é
todo um ritual, por causa dos glicosídeos cianogênicos. Não, você não leu errado. É quase
como comer cianetos (quase; e embora não seja a mesma coisa, pode ser fatal também).

Antes de terminar esta parte do artigo, deixem-me dizer-lhes uma coisa, afim de acabar com
um mito: vegetais também se defendem.

Analisem. A Seleção Natural favorece quem estiver mais apto a gerar descendentes. Uma
espécie não duraria muito tempo se não puder se reproduzir suficientemente para garantir a
sobrevivência. Logo, se muitos herbivoros comessem vegetais direto, sem que esses
pudessem ter tempo para se reproduzirem, não haveria vegetais, não haveria herbívoros e não
haveria carnívoros. Os vegetais, contudo, desenvolveram táticas de defesa, muitas vezes mais
cruéis que muitos animais. Alguns são extremamente venenosos, outros trapaceiam,
mimetizando pequenos insetos para que os maiores possam ser atraídos. Outros exalam cheiro
de carne podre, para que moscas pousem neles ávidas por um lanchinho, acabem se sujando
com o pólen e indo para outra flor semelhante, perfazendo a polinização.

Mas que é sacanagem, é. A Natureza não se importa em manipular os seres.

Ainda mascarando informações, os membros da Seita Vegan parte para falácias de apelo à
misericórdia e apelo ao mundo, dizendo que ―o grão que alimenta o gado é o grão que faz falta
na mesa das pessoas‖. Mais uma alteração da verdade! Já começa que o gado não é tratado
de forma intensiva, só no caso do gado leiteiro. Isso por que ele criaria capas de gordura, e
ninguém quer comprar apenas gordura. De acordo com a EMBRAPA, a dieta completa do gado
leiteiro ―é uma mistura de volumosos ( silagem, feno, capim verde picado ) com
concentrados (energéticos e proteicos), minerais e vitaminas. A mistura dos ingredientes é
feita em vagão misturador próprio, com balança eletrônica para pesar os ingredientes. Muito
usada em confinamento total, tem a vantagem de evitar que as vacas possam consumir uma
quantidade muito grande de concentrado de uma única vez, o que pode causar problemas de
acidose nos animais. Além disso, recomenda-se a inclusão de 0,8 a 1% de bicarbonato de
sódio e 0,5% de óxido de magnésio na dieta total, para evitar problemas com acidose.‖

O gado bovino de corte, é tratado com base de cana-de-açúcar como volumoso (cerca de 40
kg/dia) e apenas 3 kg de concentrado (milho + farelo de soja). E obviamente, depois do que
os ingleses fizeram, só se alimenta gado de corte com constituinte vegetal (mesmo porque,
são herbívoros). Para quem não se lembra, foram alimentar gado com farinha de carcaça de
carneiros e resultou no chamado ―Mal da Vaca Louca‖.

Argumentar que isso faz com que haja falta de alimentos é uma falácia gritante. Qualquer um
que vá no CEASA ou no CEAGESP pode ver o tanto de comida que é desperdiçado. ESTE é o
problema! Desperdício! Em reportagem da Folha de São Paulo, fica demonstrado que 30% dos
alimentos que o Brasil produz são desperdiçados. O desperdício pode acontecer até mesmo em
unidades de saúde, como no Hospital das Clínicas. Além disso, há o caso que o mundo está se

453
tornando superpopuloso, e o que seria realmente efetivo seria um controle de natalidade mais
sério. Só que com mais gente no mundo, existem mais eleitores, mais gente que servirá de
―decoração‖ para as campanhas eleitorais, mais massa de manobra, mais formas de haver
doações, as quais poderão ser desviadas, enriquecendo o bolso de muita gente.

Em resumo: podem plantar o quanto quiserem, ainda haverá falta de alimentos na mesa das
pessoas, pois o problema não é a existência do alimento, e sim na chegada até a casa das
pessoas. Não há nenhum motivo político ara resolver isso, pois a fome é uma grande arma na
mão de ditadores, como podemos comprovar nos países africanos, onde a ONU despeja
toneladas e mais toneladas de alimento, e nem um grama chega à boca dos famintos. Se os
campos são destruídos para fazer pastagens, segundo a visão vegan, eles seriam destruídos
para transformá-los em produção agrícola. Fazem ideia da logística por trás disso? Bem, com
certeza, eles não sabem.

Lógico que eu não diria que seres humanos não devem comer vegetais. Devem! Mas também
não podem deixar de ingerir carnes, ou então estaremos todos condenados a viver de
suplementos alimentícios pelo reso da vida. Reitero a pergunta: Que dieta saudável é essa que
não supre nossas necessidades nutricionais?

Sobre a preocupação com os animais

Na página anterior, eu demonstrei que a religião vegan não entende nada de bioquímica, não
sabe nada sobre fisiologia e muito menos sobre criação de gado. Se seus adeptos entendem,
possuem falta de caráter ao deturpar as informações. Agora, vamos no ponto que realmente é
nevrálgico a eles: a preocupação com o direito dos animais.

A essa altura, eu estou sendo taxado como um maníaco antiético, porque eu provei que
alimentação vegan é não natural. Afinal, pessoas éticas devem ter respeito para com animais,
certo? Mas o que é ética e o que ela tem a ver com o mundo natural? E por que eu estou
mencionando mundo natural?

É um assunto vasto e denso; então, procurarei resumir, sem ficar muito raso. Inúmeros
tratados foram escritos sobre Ética, desde os tempos de Aristóteles. Cada um dando o seu
palpite, mas que - em última análise - trata-se das relações do homem com a sociedade na
qual ele está inserido. Ou seja, é um conceito extremamente subjetivo, pois o que pode
parecer ético em uma sociedade pode não o ser em outra. Assim, a sua relação com seus
vizinhos será diferente da relação de um beduíno com os seus primos, ou de um tibetano com
os moradores da mesma vila. Ética é uma coisa, moral é outra e justiça é outra totalmente
diferente, e nenhuma delas está diretamente relacionada com as demais. O que rege tudo isso
é a evolução comportamental de um determinado grupo em questão. Assim, quando você
mata um indivíduo, trapaceia, rouba velhinhas, bate em aleijados, estupra crianças, entre
outras coisas lindas desse quilate, você está saindo do que a sociedade onde você está
inserido tem como parâmetro de ―certo‖. Você queda-se à margem da sociedade, tornando-se
um marginal (etimologicamente falando). Mas nem sempre a falta de ética é motivo para
punição.

Sendo um médico, é antiético você falar mal de outro profissional, mesmo que o outro seja um
salafrário, cachorro, estúpido, ridículo, bandido, sem-vergonha, trapaceiro, ladrão e explorador
de pessoas doentes, fazendo com que os tratamentos sejam longos, dando diagnósticos
errados (por imperícia ou mau-caratismo mesmo). A ética médica regula isso, mesmo que
você queira ser honesto e alertar o paciente, isto é, por mais que você queira agir certo, você
é impedido por princípios éticos de sua profissão. É errado, mas não culpem a mim por isso.

Isto posto, vamos fazer uma viagem ao mundo natural. Por que seria antiético André comer
um bife? A resposta na ponta da língua vegan seria por causa do sofrimento do animal.
Hummm, ok. Então, vejamos a imagem abaixo:

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Leões se banqueteando com um búfalo. Fazem ideia do que é ser atacado por um leão? Ser
rasgado vivo e o bicho começar a devorá-lo, quando a presa nem ao menos morreu direito…
não deve ser algo agradável. Bom, até que é agradável… pro leão! Ele precisa comer, e, não, a
Natureza não é boazinha. Existe, inclusive, o caso de formigas que escravizam (sim, você leu
certo!) outras formigas[1] [2] [3]. Pois é, não é só o ser humano que é canalha, mas quem disse
que o mundo natural tem que ser delicadinho?

Claro que isso poderá abrir margem para uma falácia da falsa dicotomia. Não justifica o caso
que um ser humano possa escravizar outro. Lembram-se do conceito de Ética dado acima?
Pois bem, há alguns anos, não era nada antiético ter escravos. Aliás, em algumas culturas é
plenamente normal ter escravos (na Antiga Atenas, cerca de 80% da população era constituída
de escravos, e nem Aristóteles ou Platão escreveram uma linha contra isso. Pelo contrário!);
no entanto, como eu falei antes, o que é ―normal‖ numa cultura, pode não ser em outra
cultura. Quanto à Natureza? Ela está pouco se lixando se você mata o seu vizinho ou não.
Alguns insetos até travam guerras entre si[4].

Há algo de errado na Natureza? Talvez não. Vida se alimenta de vida para continuar viva. Não
importa o quanto achemos que um coelhinho se eu fosse como tu seja fofinho. Harpias não só
os acharão fofinhos, como deliciosos:

Aqui começa o apelo melodramático. Onde os adeptos da religião vegan apelam para o
sentimentalismo tosco, mostrando fotos de bezerrinhos recém-nascidos. Dizem que somos
especistas por preferir seres humanos àquelas doces criaturinhas. Lindo, não? Lindamente
falacioso!

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A resposta para essa empatia com os bezerros é simplesmente fruto de nossa herança
evolutiva. Traçamos um paralelo entre os lindos bezerrinhos e nossos próprios filhos. Ambos
são pequenos (relativamente, claro), ambos precisam de cuidado, ambos são mamíferos
(opa!), ambos têm desenvolvimento similar. Nós possuímos um desenvolvimento maior por
que quando criança nós brincamos mais, manipulamos peças, descobrimos o mundo. Cada
etapa é um aprendizado e isso cria novas ligações sinápticas, desenvolvendo mais ainda o
nosso cérebro. Em suma: quanto mais aprendemos, mais temos condições de aprender.

Também mostram cartazes relacionando cães e bois no mesmo grau de afetividade, como no
cartaz ao lado, o que é interessante, pois estes mesmos vegans SÃO CONTRA ter animais de
estimação, pois os estamos ―escravizando‖[5]. Este povo é tão ridiculamente idiota que
defende que alimentemos cães e gatos (decididamente carnívoros) com alimentação vegan! [6]
[7]
Que classe de pessoas é essa que defende o direito animal e não respeita a sua biologia,
impondo as mesmas loucuras? Que espécie de idiotas é essa que critica pessoas que vestem
seus animais com roupinhas similares às nossas, mas querem mudar os hábitos alimentares
moldados por milhões de anos de evolução biológica? Estamos vendo bem o que a falta de
proteína animal fez com o encéfalo dos vegans. Mais para ferente eu voltarei a essa questão
dos animais de estimação.

Agora, vamos acabar com as falácias vegans.

Ai, que lindinha! Cuti-cuti-cuti! Quem quer dar um beijinho?

Pois é. Ninguém gosta de cobras. Tanto é que ficou conhecida como símbolo da maldade, não
só na Bíblia, como em muitas culturas (mas não em algumas outras). Isso, possivelmente,
deriva de nosso medo herdado de nossos ancestrais, quando estes eram presas das cobras
(sim, cobras também não são nada éticas quando estão com fome). Ninguém vê cobras com
afinidade, ninguém quer pegá-las no colo, ninguém gosta de pensar nesse distinto animalzinho
se esgueirando até você e subindo pela sua perna. Tá, ok. Algumas sociedades hindus criam
cobras, apesar de tal criação como bichinho de estimação ser proibido desde 1972, mas
preservemos a ideia que cobras são mortíferas e perigosas e quase todos as querem bem
longe. De qualquer forma, dificilmente vegans usarão a foto de uma cobra para mostrar que
você deve ser ético.

Aliás, que mané ética? Vegans ficam nesse blábláblá defendendo animais, mas eles não
desdenham em usar inseticidas e venenos pra ratos!

―Ah, mas aí é diferente! Eles transmitem doenças.‖

Então, vamos matar cães também, já que transmitem raiva (qualquer mamífero pode
transmitir raiva). Matemos pombos, pois eles transmitem toxoplasmose (eu detesto pombo!).

456
Vamos matar gatos, pois eles podem nos arranhar. Vamos matar logo os toscos seres
humanos, pois eles também transmitem doenças. Se for assim, podemos matar qualquer
animal, pois alguma doença será transmitida por eles. Ética, hein? Só quando interessa! No
link acima de número [6] o autor joga uma conversa fiada que ―éticos vegans‖ não matam
moscas, apenas as pegam como quem pegaria uma borboleta com um puçá e a libertaria fora
de casa. Ok, meu filho, fique o dia inteiro caçando mosca, sim? Tente isso com mosquitos. Se
aparecer um rato em sua casa, convide-o para um almocinho vegan.

Só sendo muito sarcástico para com esse tipo de gente “ética”.

De outra partida, façamos um experimento mental (sendo apenas mental, ninguém sairá
ferido), só que usaremos um cão ao invés de um bezerro. Imaginem a situação: Duas casas
pegando fogo. As chamas estão descontroladas. Um ético vegan está mais perto de uma, com
um cãozinho latindo desesperado. Na outra casa, um pouco mais longe, uma criança de 10
anos berra alucinadamente. Ambos são seres vivos. Ambos são animais. Somente um pode ser
salvo a tempo.

A questão é: Qual dos dois você, vegan, salvará? Para qual casa você correrá
primeiro? Avalie sua ética, meu caro vegan, e me responda. Depois veremos quem será o
especista. Segundo Wittgenstein, não existe problema filosófico ou moral, portanto, você não
terá muitos problemas em decidir pelo correto, não é mesmo?

Sejamos francos qual ser vivo não é especista e não vise a sobrevivência de sua própria
espécie. E ainda digo mais: cada membro de cada espécie preocupa-se mais em preservar a si
mesmo, muitas vezes praticando canibalismo! Até mesmo protozoários tendem a ser canibais,
mediante alguma pressão evolutiva e, segundo algumas teorias, foi assim que teria surgido as
primeiras reproduções sexuadas com fertilização (cf. MARGULIS, O que é sexo? Ed. Jorge
Zahar). Entretanto, como os ―reis da ética‖ sempre gostam de pagar lições de moral, eu ainda
gostaria muito de saber, com base no experimento mental supracitado: Quem viverá? O
cãozinho bonitinho ou o ser humano que come carne, polui o ambiente, assassina bebês foca,
mata piolho e urina em postes (se bem que cães também urinam nos postes)? Tudo bem, não
estou sendo imparcial. Mudemos o cenário. Duas casas pegando fogo, cada uma de um lado
da rua. O vegan ético está bem no meio da rua e tem que decidir se correrá para a casa de
uma calçada ou para a casa da outra calçada. Ele consegue ver bem quem está em cada casa:
em uma, a criança humana, na outra, o cãozinho fofinho. Quero saber: Para qual casa o ético
vegan correrá primeiro? Vegans não podem responder a isso; no máximo usarão algum apelo
melodramático de novela mexicana de quinta categoria.

Como adeptos de uma religião pós-moderna, eles se recusam a olhar qualquer situação sobre
outro prisma (oh, meu deus! Os lindos ratinhos brancos!). Eles sempre terão uma visão idílica
sobre a Natureza, não importando o quanto você mostre as coisas mais feinhas (sai pra lá,
inseto desgraçado!). Usam de dois pesos e duas medidas. É como o pessoal que defende o
bem e a paz que as religiões trazem, mas ―esquece‖ dos homens-bomba, o fanatismo
religioso, as guerras travadas em nome das religiões etc. Ah, mas não eram religiosos de
verdade. Se… Com os seguidores da religião vegana não é diferente, principalmente quando a
barra começa a pesar pro lado deles, em cujo momento tentam escapar pela tangente com o
eterno blábláblá sentimentaloide, alegando que animais possuem sensciência, pois sentem dor
e coisa e tal. Mas e os demais seres vivos?

Plantas - alegam os vegans - podem ser consumidas sem dó nem piedade, pois elas foram
criadas (Design Inteligente?) para servirem de alimento. Só que muitos vegetais, apesar de
não possuírem sistema nervoso central, respondem a estímulos, como é o caso da Dormideira
(Mimosa pudica L), que basta um leve toque e ela já se fecha. As inúmeras plantas
―carnívoras‖ (plantas são antiéticas?) reconhecem quando não conseguem extrair nutrientes
necessários do solo (como nitrogênio inorgânico, por exemplo), e possuem verdadeiras
armadilhas que aprisionam e devoram insetos. Há, inclusive, pesquisas que visam determinar
que algumas plantas reagem ao som de música clássica, por exemplo. Confesso que, do meu
ponto de vista, a pesquisa é questionável, mas também é questionável dizer que devemos ter
pena dos animais (mas só alguns), pois eles são senscientes e sofrem. Quer dizer que se eles

457
não sofrerem dor, eu posso passar o rodo, então? Onde começa a sensciência dos animais?
Onde eu posso utilizá-los a meu bel-prazer, sem problema ou dor de consciência? Mais uma
vez, com a palavra, os vegans.

Levemos em conta ainda que algumas plantas ―não querem‖ ser comidas. Por isso, a Seleção
Natural privilegiou aqueles espécimes que possuíam um sistema de defesa, quer sob a forma
de espinhos, quer sob a forma de toxinas. Mas os vegetais não são mais saudáveis? Eu falei na
página anterior o que acontece se ingerirmos feijão e mandioca sem tratá-los adequadamente.
E, obviamente, alegarão que desenvolvemos métodos culinários para isso. Mas reitero o meu
ponto: se são tão mais saudáveis, por que alguns deles podem nos matar em questão de
minutos? E por que é preciso de cozimento, se o domínio do fogo demorou muito, muito
tempo? Levando isso em conta, é significativo que devemos ser cruéis com os animais?
Podemos fazer despachos, meter-lhes a marreta, sangrarmos, colocar venenos para cães de
rua, atirar em gatos com chumbinho e dar uma porrada na bunda de um cavalo?

A questão é que a relatividade moral está encerrada em grupos e não em indivíduos. Isto
significa dizer exatamente o que eu falei antes: que os conceitos morais e éticos variam de
sociedade para sociedade. Claro que isso não exclui o fato de algumas coisas serem erradas
seguindo nosso modo de ver, em nossa sociedade. Assim, aquilo que eu chamo de ―Macumba
Judaica‖, que engloba os rituais do Yom Kipur é algo totalmente desnecessário. Matar galos,
peixes etc. só para… para o quê, mesmo? Da mesma forma que outros rituais sem sentido,
sacrificar um animal em honra a um deus qualquer não é algo que se possa ter como
―aceitável‖, começando pelo fato que ninguém sabe se tal entidade existe (mas,
provavelmente não). Da mesma forma, o emprego de selvageria para matar animais indefesos
pode servir para autoafirmação de uma masculinidade de caráter questionável. Ambos beiram
o sadismo, e podem ser reflexo de personalidades doentias, capazes de perpetrar ações más a
qualquer um.

Mas, espere um instante! Qual é a diferença entre dar um teco num pombo e abater um boi?

Toda ou nenhuma, dependendo do ponto de vista. Se você me perguntar em termos simples


de vida e morte, não há, de fato, diferença. Só que as coisas não são simples.

O abate de gado para alimentação (que eu demonstrei ser essencial na dieta humana) não é
feito de modo selvagem e sádico - ao contrário do que a apocalíptica religião vegan alardeia -,
a não ser em abatedouros clandestinos. Para isso existe fiscalização (se essa fiscalização é
falha, é outra história). Assim, o animal é abatido da forma menos traumática possível. O boi -
que é um touro que passou por uma terrível decepção - é abatido de forma pouco dolorosa,
embora eu conceda que alguma dor existe, mas eu demonstrei acima que muito pior a
Natureza faz. Assim, eu sou antiético? Não há resposta em níveis lógicos, pois a Lógica não
ajuda nessa questão, nem os conceitos morais, éticos e filosóficos. Talvez, no futuro, toda a
nossa alimentação será sintética, sem a necessidade de matarmos mais nenhum animal, onde
nós seremos alvo de vergonha de nossos descendentes, ou não. Só que atualmente
precisamos, e isso é fato! Postar cartazes de lindas mulheres beijando uma berinjela (um tanto
quanto freudiano, se prestarem atenção) não fará diferença no mundo natural. Precisamos,
enquanto entidades biológicas, dos alimentos de origem animal. Ponto.

Uma coisa interessante salientar é que o gado (de abate, leiteiro etc.) só existe pela pressão
seletiva do meio e das necessidades do homem. O que isso significa? Muito simples: a espécie
das lindas vaquinhas só existe após milênios de seleção natural e seleção artificial. E não só as
vaquinhas, mas cães, gatos, pássaros, peixes, crustáceos etc. Em termos de História
Ambiental, todos os ecossistemas foram alterados desde que o Homem pisou pela primeira vez
na Terra. E não só os seres humanos, pois no caso de espécies invasoras também ocorre
mudança no ecossistema. É nisso que se sustenta uma teoria sobre o que aconteceu na Ilha
da Páscoa.

Vegans têm a mania idiota de alegar que escravizamos os animais (coisa que eu provei que
eles já fazem entre si, e com referência sólida). Mas a verdade é que vivemos numa imensa, e

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necessária, simbiose (não necessariamente endossimbiose). Bem, deixem-me contar-lhes
sobre os cães. Eles são descendentes diretos dos lobos. Ao invés de imaginarmos uma cena
onde nós, malditos seres humanos, escravizamos lobos para servirem em nossos rituais
mágicos, até que fossem formados os cães, aconteceu algo um tanto diferente. Eles é que nos
adotaram.

Registros arqueológicos mostram que os lobos começaram a seguir os nômades humanos


Afinal, estes tinham alimentos, fogo (luz e proteção) e abrigo. Os primeiros homens podem ter
matado alguns lobos, assim como alguns lobos podem ter tentado ter alguns humanos pro
jantar. Com o tempo, os homens acharam legal ter sua companhia. Jogavam seus restos de
comida pros lobos e estes agradeciam efusivamente. Aos poucos, chegaram mais e mais perto.
Ajudavam a espantar outras feras, enquanto os humanos usavam o fogo para espantar feras
maiores ainda. Foi um bom relacionamento e só deu certo ao longo desses milênios.
Estabelecemos amizade com os lobos, que aos poucos (por pressão seletiva, natural e
artificial) se tornaram nossos companheiros. Recomendo a edição nº 120 da National
Geographic Brasil (março de 2010), que traz um interessante artigo sobre isso. Ou não. Deve
ser alguma propaganda anti-vegan propalada por carnívoros sem moral ou ética. A decisão é
de vocês.

Confesso que gosto muito de gatos. Eles são arrogantes, inteligentes, independentes,
carinhosos (quando querem) e fiéis; mas os cães, também confesso, conquistaram uma
amizade sem precedentes. O termo ―fidelidade canina‖ serve bem para exemplificar a sua
importância. São amigos, companheiros, defensores, cuidavam e ainda cuidam de nossos
filhos, guardam nossas casas, dormem fora, mas alguns dormem dentro. Nos ajudavam a
caçar, dar alarme contra invasores, uivavam ao menor perigo, lamentavam-se por uma caçada
improdutiva, avisavam se o tempo mudaria, puxavam nossos trenós, faziam-nos companhia,
consolavam-nos, olhavam para nossos olhos e víamos que os seus era o reflexo de nossas
próprias almas. Por que não ter um cão? Qual o crime de termos um animal de estimação, se
cuidarmos dele com atenção, amor e carinho? Conheço muitas pessoas que tratam melhor os
seus cães do que o próprio filho. Vegans ainda acharão que isso é escravidão, o que me força
a vê-los com pena, pois não devem ter muitos amigos, não se dão ao luxo de ter a companhia
de um cão ou um periquito. Os únicos amigos que possuem são outros membros de sua
religião, para falar exatamente da religião vegan, tentando subsídios para se justificarem dia
após dia, como qualquer religioso fanático. Não desfrutam da alegria de ir passear com seu
amigo peludo num parque, brincar de jogar freesbe, pescar (ops! Pesca não é vegan!), não
pode ter um amigo aconchegado perto dos pés, ou até que durma ao pé da cama. Alguns
dormem literalmente aos pés, dividindo cama, compartilham nossa comida, vibram quando
chegamos e ficam tristes quando temos que sair.

Português maravilhoso, não?

Mas, não. Para a religião vegan tudo isso é criminoso! Vamos libertar os cães. Vamos deixar
aquele poodle lindinho no mundo afora, de modo que ele consiga sobreviver sozinho (se
alimentando de forma ética e saudável, sem ferir nossas amiguinhas vacas). Seus
antepassados conseguiram facilmente, quem sabe se o poodle de hoje não reaviva alguma
memória guardada em seus genes? Bem, se ele não fizer isso, Darwin estará de olho. Ou o

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poodle bonitinho esteja pronto para enfrentar a vida sem nós, humanos, ou ele perecerá em
questão de dias, de fome, sede e frio. O que é mais cruel? Se tem um grupo realmente
especista são os vegans, pois eles acham que são melhores que os demais e se puseram na
posição de guardiães da vida animal, mas só alguns. Eles escolhem quais as espécies merecem
seu pseudocarinho, pois amor e carinho mesmo é algo que vegans não têm e jamais terão. O
que eles possuem são egos do tamanho do Himalaia, e tão inóspitos e vazios quanto.

Assim, vegans não se importam com os animais. Eles se importam apenas com sua ideologia
retardada, criada por meio de mentes atrofiadas por baixa concentração de proteínas e
vitaminas. Fazem protestos e passeatas, alguns idiotas até querem que substituamos o leite
de vaca por leite materno, onde as estúpidas voluntárias forneceriam leite para fazer queijo,
coalhada etc. Quantas mulheres seriam necessárias? Na mente vegan, tudo isso faz sentido.
Ah, mas isso é coisa do PETA e nem todos são escoceses vegans de verdade.

PETA. A entidade mais fundamentalista da religião da Nossa Senhora da Alface. Os xiitas do


Brócolis Sagrado, que pensam ser o arauto da Nova Era, oferecendo ―a pílula verde‖ ou
alguma metáfora idiota imitando Matrix (deve ser por causa das letrinhas verdes). Uma
entidade imbecil que faz comícios com mulheres (nem sempre bonitas) que andam peladas
para dizer que não usam peles. Curiosamente, nenhuma delas desfila no norte do Alasca e sim
no meio de Nova York, só para chamar a atenção pras suas (nem sempre) gloriosas bundas.
Ainda bem que não dependem de usar a cabeça.

Eu particularmente acho o uso de peles algo sem meio significado, mas não apenas pela morte
dos animais. Acho sem necessidade mesmo, devido às modernas tecnologias têxteis. De
qualquer forma, também não entendo porque alguns idiotas se tatuam completamente ou
enchem a cara de piercings. Mas que uma mulher num casaco de vison fica sexy, isso fica
(ainda mais se não tiver mais nada por debaixo). Mas lembremos das referências freudianas
entre os vegans e as berinjelas.

Para terminar este bloco, recomendo aos vegans que demonstrem seu amor pelos animais
oferecendo um grande abraço a uma píton ou a um dragão de Komodo. Eles adoram gente que
os defendem e lembrarão que vocês são éticos e lhe devolverão todo o carinho e afeto
despendidos para com eles.

Experimento com animais

Esta é a última parte sobre o desmascaramento da religião pós-moderna do veganismo. Vimos


que vegans agem que nem religiosos fanáticos ao não saberem (e nem se interessarem em
saber) sobre conhecimentos básicos de bioquímica, de mentirem descaradamente - querendo
que as mentiras sirvam de embasamento para o rol de bobagens que pregam - e como a
alimentação vegan é tão rica e nutritiva que eles vivem necessitando de suplementos
alimentares. Vimos também que a falsa preocupação que eles têm para com animais é apenas
especismo, o mesmo especismo que acusam as pessoas onívoras. Alegam, mediante uma

460
arrogância em níveis estratosféricos, que são mais éticos num mundo onde a ética não existe
per se, mas não se dedicam a defender animais como lacraias, baratas, insetos e outros tipos
de animais.

Observamos também que a filosofia embusteira que usam fecha seus olhos quando defendem
animais, mas esquecem que durante a colheita de seus preciosos vegetais, milhares de
animais morrem, quer sob o efeito de inseticidas (naturais ou não), quer seja por causa das
colheitadeiras que matam ratos, pássaros, insetos etc. Mas, a religião vegan só quer saber dos
mamíferos, por causa da simpatia adquirida durante o processo evolutivo. E considerando que
isso já explica o porque dos vegans agirem assim - o que eles negam com veemência - a
conclusão óbvia é que os seguidores dessa nova religião tenderão ao Criacionismo. Afinal, um
Projetista Inteligente não fez o mundo para que nos matemos uns aos outros, e sim nos
alimentarmos de vegetais, como é dito no Gênesis; mesmo porque, os tigres transportados
pela Arca de Noé devia comer sucrilhos Kellogg‘s.

Agora, nesta última parte, veremos a maior canalhice, hipocrisia e completa falta de vergonha
na cara desse pessoal: Quando vegans querem impedir a Ciência de progredir, por causa dos
experimentos com animais. Só faltam querer usar aquele lixo de livro pseudocientífico da
Fundação Templeton para ensinar Ciências nos colégios. Antes, contudo, de entrarmos no
verdadeiro assunto em questão, deixem-me explicar umas coisinhas básicas sobre a pesquisa
científica.

A começar, existem dois tipos de Ciência. A Ciência Pura e a Ciência Aplicada. Ciência Pura
versa apenas o conhecimento de nosso sistema natural (e isso inclui todo o Universo) e
conceituações matemáticas. Assim, estudamos estrelas, planetas ou a menor partícula
subatômica da mesma forma que estudamos sobre conjecturas como as de Fermat ou sobre o
número Ômega. Estudamos o comportamento dos animais e como os rotíferos bdelóideos
resolveram não fazer mais sexo há alguns milhões de anos. Ponto. Ciência Pura não tem uma
―utilidade‖… ao menos, não uma utilidade do modo como você pensa, e nem é uma ―utilidade‖
imediata. Assim, para que estudar tais coisas? Deixemos isso de lado por enquanto.

A Ciência Aplicada, em contraposição, fornece-nos utilidades práticas para o dia-a-dia. É


através dela que desenvolvemos novas tecnologias que serão aplicadas em nosso benefício,
como um forno de micro-ondas. Dessa forma, por que não estudar apenas coisas que nos
sejam diretamente úteis? Ponto de interrogação.

Voltemos à Ciência Pura. Quando os cientistas avançaram para o mundo da Mecânica


Quântica, a Física Moderna se distinguiu da chamada Física Clássica (a de Newton, sabem?). O
mundo quântico é estranho e as previsões eram absurdas, como por exemplo: Se você quiser
observar o comportamento de alguma coisa, só em você estar observar altera o
comportamento dessa coisa. Mal comparando, é como você querer ver o que sua vizinha faz
ao sair do banho (notem que vizinhas sempre são úteis em experimentos mentais, ainda mais
quando nossas esposas não são telepatas), invadir a casa dela e ficar sentado numa cadeira
bem de frente pro banheiro. Ao sair enrolada numa toalha e dar de cara com você, meu caro
tarado pesquisador, ela não agirá naturalmente. No mínimo vai te convidar pra uma cerveja e
no máximo ligar pra polícia, com a opção de pegar um revólver na mesinha perto e te encher
de tiro. Da mesma maneira, o mundo quântico é cheio de surpresas, e uma dessas surpresas é
o efeito fotoelétrico, o mesmo efeito que impede que você tome uma trombada da porta do
elevador ou banque o ―Abra-te Sésamo‖ na porta de algum Shopping Center. O que era
apenas aprendizado sem utilidade passou a ser empregado de forma útil, da mesma maneira
que o estudo de ondas eletromagnéticas propiciou o uso do radar e, quando Percy Lebaron
Spencer estudava como melhorar seu desempenho viu que o chocolate que ele tinha no bolso
tinha derretido, evidenciando a ação de certas emissões eletromagnéticas conhecidas como
micro-ondas.

Mas o que isso tem a ver com vegans?

461
Cientistas precisam fazer experimentos. Mesmo físicos teóricos necessitam estudar
experimentos já existentes para estudar os acertos e falhas de suas teorias. Médicos,
químicos, farmacêuticos, biólogos etc. não vivem sem experimentos. E quando o experimento
visa à criação de um remédio, há um problema: como testar se o remédio realmente faz o que
deveria fazer? O que comumente se faz é um teste bioquímico, depois uma construção de
modelos computacionais, para em seguida fazer-se experimentações em animais e só depois
em humanos. Só que os fanáticos da religião vegan acham que isso é um absurdo, a ponto de
chamar cientistas - que estudam por anos a fio, pesquisam, investem tempo, conhecimento e
nem sempre recebendo financeiramente por toda essa dedicação - de assassinos, psicopatas,
torturadores, maníacos etc.

É gritante a extrema imbecilidade de um bando de idiotas que mal terminaram o Ensino Médio,
ou quando muito estudaram uma faculdadezinha vagaba, sem nunca produzir nada, nenhum
um único artigo para o jornaleco da faculdade, quanto mais um artigo pra Nature, Science,
PNAS etc! Não passam de um bando de apedeutas que só porque se acham melhores do que
os outros por comerem alfaces, achando que a espécie humana é melhor que todas as demais
e deve zelar pelos animais, enquanto chamam os outros de ―especistas‖. Normalmente a
religião se sobrepõe à razão.

Da mesma forma que não se pode mostrar a um seguidor do Ministério da Arca de Noé (sim,
isso existe), que toda aquela bobagem de Noé e sua bicharada é um atentado ao bom senso,
tendo todas as evidências geológicas e arqueológicas mostrando que aquilo não passa de
crendice, não se pode convencer a um fanático seguidor da religião do Brócolis Sagrado que o
desenvolvimento da medicina precisou, precisa e ainda precisará por um bom tempo do
experimento com animais. Mais ainda: é impossível convencer a alguém que vive numa fé
cega que cientistas NÃO SE DIVERTEM fazendo isso. Se vegans tivessem um mínimo de
humildade (ou capacidade cognitiva) de ler artigos e blogs de cientistas de verdade, ao invés
daquele monte de lixo similar ao GoVegan, teriam visto o comovente relato do Rafael do blog
RNAm, onde ele fala sobre o dia que teve que sacrificar um de seus ratos.

Mas, da mesma forma que os seguidores do Silas Malafaia só entram em sites céticos para
espalhar seu monte de besteiras, sequer lendo (e muito menos entendendo) os artigos
postados, os fanáticos religiosos da seita da Santa Alface jamais lêem coisas nesse sentido, ou
se lêem é para xingar o pobre cientista, responsável por ajudar a salvar as vidas desse
pessoalzinho que deveria rasgar as roupas e ir morar numa savana, sendo éticos e amorosos
com a fauna selvagem de lá. Garanto que os leões os convidariam para o jantar.

Vegans são tão ridículos e dissimulados que marretam todos os cientistas, mas na primeira dor
de cabeça correm pra farmácia. Religiões são todas iguais: a hipocrisia é algo tatuado bem
fundo no ego desse pessoal.

Vendo a conversa de alguns desses seres ensandecidos, vejo que chamam cientistas de
―nazistas‖, por ofenderem pobres ratinhos. Assim, o que eles sugerem? Que se usem…
CRIANÇAS HUMANAS! Oh, admirável Mundo Novo! Claro, por que não? Criancinhas famintas
da África, que não teriam chance de qualquer forma, pois a mortalidade infantil em muitos
daqueles recantos é tão elevada, poderiam servir à Ciência, pois não? Claro, claro! Que tal
arrancarmos crianças da mão de mulheres na rua? É odioso, o pensamento vegan e eu nem
lamento que estes débeis mentais idiotizados por sua religião estúpida sejam assim. Eu
lamento é por ver muitas vezes estes retardados terem liberdade de espalhar seu monte de
merda, por causa de um tosco argumento de ―liberdade de expressão‖, no qual se baseiam
para ofender qualquer um, mas quando mostramos o quanto são idiotas ficam de choradeira
dizendo que estão tornando o mundo mais ético. É essa mesma liberdade que estes fanáticos
são contra, pois se dependesse dessa corja, a Ciência ainda estaria na Idade Média, basta
analisar o monte de besteira que dizem. Mas os cientistas é que são maníacos nazistas. Eu
processaria se algum imbecil que ousasse falar assim de mim.

Estes imbeciloides continuam usando remédios, vestem-se com roupas de lã, não se importam
que vários animais morressem durante o cultivo de suas comidinhas (agrotóxicos), nem

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durante a colheita (quando ceifadeiras matam muitos animais pelo caminho) e nem mesmo
sentem remorso de usar um inseticida.

Hipocrisia, teu nome é veganismo!

Está na hora de terminar o artigo. Não tenho ilusões de algum vegan venha aqui discutir
comigo e desmentir cada ponto que eu abordei e muito menos aparecer om argumentações
convincentes e/ou artigos isentos provando suas alegações. Isso nunca acontece nos meus
artigos, no máximo é o mimimi sentimentaloide de sempre. Mas, como vão discutir? Falta-lhes
conhecimento, falta-lhes cultura, faltam-lhes subsídios e, pior, falta-lhes vergonha na cara de
assumir o que realmente são: um bando de tolos iletrados que seguem modinhas e não sabem
nem de coisas simples sobre seu próprio sistema digestório, nem sobre o mundo animal, nem
sobre conceitos éticos e nem sobre pesquisa científica. Não obstante, estou aqui e pronto para
debater, mediante argumentos sólidos e pesquisa embasada com artigos publicados em
periódicos indexados sérios e isentos. Quem será o primeiro a tentar?

Homeopatia desmascarada

Por: Ana Luiza Barbosa de Oliveira

Introdução

Quase todo mundo já deve ter tomado remédios homeopáticos. Eles são considerados seguros
e não causam efeitos colaterais como os remédios da alopatia (medicina tradicional), sendo
frequentemente usados por pais zelosos no tratamento de doenças infantis. No entanto, a
maioria das pessoas que utiliza a homeopatia tem apenas uma vaga ideia de como estes
remédios são preparados.

Apesar de largamente difundida, a prática da homeopatia tem inúmeros críticos. Sua forma de
preparação faz com que os remédios homeopáticos não contenham um princípio ativo químico
em quantidades mensuráveis, sendo sua ação baseada em uma suposta transmissão de
energia capaz de curar a doença em questão. Este conceito é largamente contestado por não
estar de acordo com o conhecimento científico atual e a eficácia deste tipo de remédio ainda
não foi claramente determinada por estudos experimentais independentes.

No Brasil, a homeopatia é reconhecida como especialidade médica pelo Conselho Federal de


Medicina, o que faz com que as críticas a esta prática partam, geralmente, de profissionais de
outras áreas, como a química e a biologia. Profissionais da área médica que não concordam
com a homeopatia são impedidos de criticá-la abertamente devido a seu código de ética.

Os princípios da homeopatia

O pai da homeopatia, o médico alemão Samuel Hahnemann (1755-1843), tinha bons motivos
para ir contra as práticas médicas comuns do século XVIII, que incluíam sangrias,
sanguessugas, purgas e outros métodos que realmente causam mais mal do que bem.

Durante seus estudos, Hahnemann percebeu que a administração de quinino (uma droga
empregada no tratamento da malária) a um paciente saudável causava alguns dos sintomas
associados à esta doença. Assim, seguindo esta linha de pesquisa, Hahnemann eventualmente
concluiu o seguinte princípio terapêutico: o caminho certo para tratar uma doença é dando ao
paciente uma determinada droga, a qual numa pessoa saudável causa os mesmos sintomas
apresentados pela pessoa doente. Por exemplo, os óxidos de enxofre SO2 e SO3 causam crises
de tosse semelhante a crises de asmas, então estas substâncias são prescritas para pacientes
asmáticos.

Hahnemann expôs sua teoria na frase em latim similia similibus curentur (semelhante cura
semelhante), ou melhor, ainda, doenças semelhantes curam doenças semelhantes, pois ele

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achava que determinadas substâncias causavam, quando ingeridas, uma doença artificial no
doente, que fazia o corpo curar a doença verdadeira. Este é o princípio da similitude ou a Lei
da Similitude, que foi apresentada ao mundo em 1796. A palavra homeopatia vem do grego
homoios (similar, igual) e pathos (doença, sofrimento).

Hahnemann e seus seguidores começaram a fazer experimentos com várias substâncias de


origem vegetal, animal e mineral, que foram compilados em livros chamados matéria médica
que são utilizados para associar os sintomas de um paciente com a droga adequada.

Ele declarou ainda que as doenças eram perturbações na habilidade do corpo de se curar e
que, portanto eram necessárias apenas quantidades ínfimas para iniciar o processo de cura.
Ele também declarou que as doenças crônicas eram uma manifestação de uma coceira
reprimida (psora), um tipo de miasma ou espírito maligno. Utilizando inicialmente doses
pequenas de medicamentos, Hahnemann posteriormente passou a empregar enormes
diluições, teorizando que quanto maior a diluição maior o efeito. Desta forma, os remédios
homeopáticos são ―dinamizados‖, isto é, diluídos até o ponto em que não mais exista mais
uma única molécula do princípio ativo. Hahnemann justificou este procedimento com uma
teoria de que não são os átomos das substâncias que curam, mas sim uma espécie de efeito
indutivo causado pela presença destas moléculas durante a diluição. Este princípio é conhecido
como Lei dos Infinitesimais.

Estas idéias são a base da homeopatia moderna. Muitos homeopatas afirmam também que
algumas pessoas possuem uma afinidade especial com um remédio em particular (o chamado
―remédio constitucional‖) e que serve para curar várias doenças. Estes remédios são prescritos
de acordo com o tipo constitucional da pessoa. Alguns exemplos destes tipos são:

 Ignatia - pessoa nervosa e muitas vezes chorona e que não gosta de fumaça de
cigarro
 Pulstilla - é uma mulher jovem com cabelo louro ou castanho claro, olhos azuis,
gentil, temerosa, romântica, emotiva, amiga, porém tímida.
 Nux Vomica - pessoa agressiva, belicosa, ambiciosa e hiperativa.
 Sulfur - gosta de ser independente.

O ponto de vista bioquímico

Quimicamente, os remédios homeopáticos são diluições tão extremas que sua composição não
passa de solvente puro (água, álcool, etc) ou outro veículo qualquer no caso de comprimidos
(usualmente lactose, um tipo de açúcar) ou outras apresentações. Os homeopatas partem de
substâncias de origem vegetal, animal ou mineral, daí a confusão com um ramo da medicina
de eficácia realmente comprovada, a fitoterapia, que utiliza extratos botânicos que contém
princípios ativos que realmente tem efeitos terapêuticos.

Um extrato bruto é preparado e seguido de ―dinamização‖, ou seja diluições sucessivas até


que não haja sequer uma molécula de princípio ativo. Estas diluições são feitas da seguinte
maneira: toma-se uma parte do extrato bruto e mistura-se a 9 ou 99 partes do solvente ou
veículo. Esta etapa é repetida várias vezes e são chamadas de dinamizações. Estas
dinamizações são indicadas pela ―potência‖ do medicamento. A letra X indica diluições 1 para
10 e a letra C, 1 para 100. Desta forma, um medicamento 6X significa uma diluição de 1 para
1.000.000, por exemplo, um 1mL de extrato bruto para 1000 litros de água/álcool.

A maioria dos ―medicamentos‖ é da ordem de 6X a 30X, mas alguns produtos são da ordem de
até 30C, ou seja, a substância original sofreu uma diluição de 1 para 10 60 (1 seguido de 60
zeros). Em outras palavras, é água pura. Se partíssemos de cerca de 1 gota de substância
ativa o recipiente para fazer tal diluição teria que ter cerca de 10 bilhões de vezes o tamanho
da Terra!!!. O princípio dos infinitesimais diz que se colocássemos uma gota de fel (uma
substância muito amarga) em um recipiente deste tamanho e dele retirássemos uma gota,
esta única gota conteria a essência do amargor.

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Um remédio comercializado mundialmente conhecido como Oscillococcinum, é um produto
200C, utilizado para alívio de sintomas de resfriados e gripes. Seu ―ingrediente ativo‖ é
preparado da seguinte maneira: o coração e o fígado de um pato recém morto são
incubados por cerca de 40 dias, o líquido resultante é filtrado, liofilizado, reidratado,
―dinamizado‖ e impregnado em comprimidos de açúcar. A diluição, neste caso é de 1 molécula
de princípio ativo em 100200 (1 seguido de 400 zeros) moléculas, que é mais que todos os
átomos existentes no Universo conhecido. Ou seja, os comprimidos são realmente ―pílulas de
farinha‖. Ainda, com apenas um pato é possível produzir todo o medicamento vendido no
mundo em um ano, um faturamento de cerca 20 milhões de dólares. Até hoje somente um
teste clínico foi realizado, de forma que os resultados são totalmente inclusivos, já que
nenhum medicamento pode ser considerado eficaz após ser aprovado em apenas um teste [1].

Os homeopatas dirão que a ideia é realmente atingir uma diluição tão alta que não reste
nenhuma molécula do princípio ativo, já que Hahnemann acreditava que o processo de diluição
que envolve intensa agitação ou maceração deixava para trás uma essência, imperceptível
para os sentidos, mas capaz de revitalizar a força vital do corpo. Entretanto, estas noções não
têm embasamento científico nenhum e nunca foram comprovadas por investigadores
independentes. Mais do que isso, se a teoria de Hanhnemann fosse verdadeira, este fenômeno
de transmissão da energia de uma molécula deveria se apresentar em inúmeros outros casos,
além da preparação de remédios homeopáticos, o que também nunca foi observado. Algumas
perguntas que surgem imediatamente são:

 Por que esta transmissão de energia inclui somente os efeitos terapêuticos do


princípio ativo, e não seus efeitos colaterais?
 Por que esta transmissão não ocorre também com outras substâncias com as
quais a solução tem contato durante a sua preparação? Por mais cuidado que
se tenha na sua preparação, as soluções serão sempre contaminadas, em
menor ou maior grau, por um enorme número de substâncias presentes no
ambiente. Como o efeito destas substâncias se “perde”?
 A teoria homeopática diz que a “energia” do princípio ativo é transmitida para
a solução durante o processo de diluição. Mas e quanto às pílulas, que
consistem principalmente de lactose? Mesmo que acreditemos, por um
instante, na transmissão de energia para uma solução, como essa energia é
transferida para o açúcar?

De qualquer forma, mesmo que a teoria de Hahnemann não tenha fundamento, é concebível
que os remédios homeopáticos sejam eficazes, agindo por algum outro mecanismo
desconhecido. O verdadeiro teste da eficácia deste tipo de remédio consiste, portanto, na
realização de estudos experimentais adequados. Infelizmente, os resultados dos estudos
realizados até agora também não indicam um efeito terapêutico significante dos remédios
homeopáticos.

1. Ferley JP, Zmirou D, D‘Adhemar D, Balducci F. A controlled evaluation of a homeopathic


preparation in influenza-like syndromes. Br J Clin Pharmac 1989) 27, 329-335. (abstract)

Pesquisa científica

Inúmeros estudos sobre a eficácia de remédios homeopáticos já foram realizados. Entretanto,


a qualidade destes estudos varia consideravelmente e suas conclusões são muitas vezes
influenciadas pelas crenças pessoais dos autores (tanto a favor como contra a homeopatia).
Assim, citaremos uma série de reviews onde foram avaliados os resultados de vários estudos
abordando remédios homeopáticos:

 Hill C, Doyon F. Review of randomized trials of homeopathy. Rev. Epidme et


Sante Publ 1990; 38: 139-147. (abstract): “Na nossa opinião, os resultados não
apresentam evidências aceitáveis de que tratamentos homeopáticos são
eficazes.”

465
 Kleijnen, J., Knipschild, P. and ter Riet, G. Clinical trials of homeopathy. BMJ
1991; 302: 316-323. (abstract): “No momento, a evidência resultante de
estudos clínicos é positiva, mas não suficiente para se chegar a conclusões
definitivas porque a maioria dos estudos tem baixa qualidade metodológica e
por causa do papel desconhecido da falta de imparcialidade nas publicações.”
 Cucherat M, Haugh MC, Gooch M, Boissel JP. Evidence of clinical efficacy of
homeopathy. A meta-analysis of clinical trials. HMRAG. Homeopathic Medicines
Research Advisory Group. Eur J Clin Pharmacol. 2000 Apr;56(1):27-33.
(abstract): “Existe alguma evidência de que os remédios homeopáticos são
mais eficazes que placebo; entretanto, o valor desta evidência é baixo em
função da baixa qualidade metodológica dos estudos.”
 Linde K, Melchart D. Randomized controlled trials of individualized
homeopathy: a state-of-the-art review. J Altern Complement Med 1998
Winter;4(4):371-88 (abstract): “Os resultados dos estudos disponíveis
sugerem que a homeopatia individualizada tem um efeito superior ao placebo.
As evidências, entretanto, não são convincentes por causa de falhas e
inconsistências metodológicas.”
 Jonas WB, Anderson RL, Crawford CC, Lyons JS. A systematic review of the
quality of homeopathic clinical trials. BMC Complement Altern Med
2001;1(1):12 (abstract): “A pesquisa clínica homeopática está claramente em
sua infância, com a maior parte dos estudos usando amostragem e técnicas de
medida de baixa qualidade.”
 Linde K, Hondras M, Vickers A, Riet Gt G, Melchart D. Systematic reviews of
complementary therapies - an annotated bibliography. Part 3: Homeopathy.
BMC Complement Altern Med 2001;1(1):4. (abstract): “A maioria dos estudos
disponíveis parecem relatar resultados positivos, mas as evidências não são
convincentes.”
 Bellavite P, Andrioli G, Lussignoli S, Bertani S, Conforti A. [Homeopathy in the
perspective of scientific research]. Ann Ist Super Sanita 1999;35(4):517-27
(abstract): “Uma resposta clara e definida ainda não é possível devido à baixa
qualidade de alguns estudos publicados, a falta de reprodução por
investigadores independentes e a incerteza a respeito das metodologias a
serem usadas ao testar as alegações da homeopatia.”
 Linde K, Clausius N, Ramirez G, Melchart D, Eitel F, Hedges LV, Jonas WB. Are
the clinical effects of homeopathy placebo effects? A meta-analysis of placebo-
controlled trials. Lancet 1997 Sep 20;350(9081):834-43. (abstract):”Os
resultados de nossa análise não são compatíveis com a hipótese de que os
efeitos clínicos da homeopatia são totalmente devidos ao efeito placebo.
Entretanto, não encontramos evidências suficientes, nestes estudos, de que a
homeopatia é nitidamente eficaz para qualquer condição clínica.”
 Aulas, J. Homeopathy update. Préscrire International 1996; 15(155): 674-684.
(artigo):”Como os medicamentos homeopáticos são geralmente utilizados em
condições com resultados variáveis ou que apresentam recuperação
espontânea (portanto respondem a placebo), é amplamente aceito que estes
medicamentos tem um efeito em alguns pacientes. Porém, apesar do grande
número de testes comparativos conduzidos até a presente data, não existe
nenhuma evidência de que a homeopatia seja mais eficaz do que a terapia com
placebo quando administrada nas mesmas condições”.
 Wise, J. Health authority stops buying homoeopathy. British Medical Journal
314:1574,1997 (artigo integral): “Uma autoridade de saúde de Londres decidiu
parar de pagar tratamentos homeopáticos em virtude da falta de evidências
que justifiquem seu uso.” Nota-se que a decisão não foi influenciada por
algum preconceito contra terapias alternativas, uma vez que “… a autoridade
continuará a pagar por tratamentos de acupuntura … já que concluiu que
existem boas evidências de que este tratamento é eficaz.”

Pode se argumentar que vários dos estudos mencionados acima citam alguns resultados
positivos em relação à eficácia da homeopatia e que a consideração de que estas evidências
são fracas seria causada por algum tipo de preconceito. Entretanto, considerando que a

466
homeopatia é praticada há mais de cem anos, seria de se esperar resultados muito mais
óbvios a seu favor, se ela fosse realmente eficaz. Por fim, o ônus da prova cabe aos
homeopatas, isto é, antes que sua prática seja aceita pela comunidade científica, cabe a eles
provar clara e confiavelmente sua eficácia.

Ao contrário dos medicamentos tradicionais, que cumprem longos períodos de testes em


laboratórios para, enfim, se tornarem candidatos a testes clínicos rigorosos para tentar provar
sua eficácia, os chamados remédios homeopáticos não passam por nenhum destes testes. O
critério para sua inclusão na Farmacopeia Homeopática são as chamadas provas realizadas
durante o século XIX e início do XX. O fato de entidades como o FDA (Food and Drug
Administration, a vigilância sanitária dos EUA) reconhecerem os medicamentos homeopáticos
não significa que estes sejam eficazes, justamente porque destes ―medicamentos‖ não são
exigidos os mesmos testes que os medicamentos comuns. Pelo contrário, a comunidade
homeopática resiste a que estes testes sejam realizados (veja este documento).

A aparente eficácia

Apesar da falta de comprovação científica, inúmeras pessoas atestarão a eficácia dos remédios
homeopáticos a partir de suas experiências pessoais. Por quê?

Dois efeitos contribuem para a aparente eficácia dos remédios homeopáticos. Em primeiro
lugar, várias condições médicas de menor gravidade (por exemplo, uma gripe) têm uma
regressão natural, mesmo que nenhum medicamento seja empregado. Ao observar esta
regressão após tomar um medicamento ineficaz, a pessoa frequentemente associará a cura ao
medicamento, mesmo que este não tenha tido nenhuma participação no processo.

Outro efeito importante é conhecido como efeito placebo. Placebo significa em latim ―eu vou
agradar‖. O termo foi introduzido no século XIX para denominar remédios que eram receitados
somente para agradar o paciente. Um placebo é definido como um tratamento que causa um
efeito no paciente, apesar de não ter nenhuma ação específica na doença. Em outras palavras,
é um medicamento ―falso‖, cuja função é apenas fazer o paciente acreditar que está sendo
tratado. O efeito placebo é bem documentado, sendo empregado nos testes de avaliação de
novos medicamentos. Nesses testes se adota um procedimento conhecido como duplo cego.
Isto significa que parte dos pacientes recebe o medicamento real e o restante recebe um
placebo, sendo que nem os pacientes nem os médicos que aplicam os medicamentos sabem
quem está recebendo o quê. Desta forma, é eliminada qualquer influência de fatores
psicológicos na evolução da doença. Se o medicamento em teste apresentar resultados
significativamente melhores que o placebo, sabe-se então que isto é realmente conseqüência
de sua ação química no organismo. Dependendo da doença em questão a fração de pacientes
que apresentam melhora após a administração do placebo pode ser superior a 30%.

Pode-se argumentar que se o efeito de um medicamento baseia-se unicamente no efeito


placebo, isto não constitui um problema, já que a pessoa irá se curar de suas doenças sem
sofrer efeitos colaterais resultantes da administração de remédios tradicionais. Isto é
realmente válido para doenças autolimitadas, que não apresentam consequências graves. Por
outro lado, a administração de um placebo para doenças graves pode levar a sérias
consequências (inclusive, em alguns casos, a morte). Este é um risco assumido
conscientemente por pacientes que se oferecem voluntariamente para participar de pesquisas
de novos medicamentos.

Outros fatores podem influenciar a percepção da eficácia de um medicamento. Um excelente


texto sobre este assunto pode ser encontrado aqui.

Conclusões

 Os princípios que formam a base teórica da homeopatia não têm nenhuma


comprovação científica; pelo contrário, eles estão em flagrante desacordo com
o nosso conhecimento atual de física, química e biologia;

467
 A princípio, o fato de uma teoria ir de encontro ao conhecimento atual em
qualquer área da ciência não significa necessariamente que esta teoria esteja
errada. Existem inúmeros casos na história da ciência onde novas teorias,
inicialmente descartadas, foram posteriormente comprovadas. O verdadeiro
teste de uma nova teoria é a sua coerência com resultados experimentais
observados e sua capacidade de prever novos resultados anteriormente
inesperados. Entretanto, até o momento, as teorias da homeopatia não
atingiram nenhum destes requisitos.
 Mesmo que as teorias homeopáticas estejam erradas, é concebível que os
remédios homeopáticos sejam eficazes, agindo por algum outro mecanismo
desconhecido. Mais uma vez, o verdadeiro teste é a obtenção de resultados
experimentais confiáveis. Infelizmente, apesar de serem empregados há mais
de um século, ainda não foram obtidos resultados convincentes de que os
remédios homeopáticos são realmente eficazes contra qualquer tipo de
doença.
 O fato de que os remédios homeopáticos não são submetidos a testes tão
rigorosos como os medicamentos tradicionais e, principalmente, a oposição
(de pelo menos parte) da comunidade homeopática a que isto seja feito,
contribui para a descrença em sua eficácia.
 Um argumento clássico a favor das chamadas terapias alternativas, onde a
homeopatia se enquadra, é de que os resultados que comprovam sua eficácia
são descartados pela comunidade científica em razão de preconceito ou da
ausência de uma atitude “aberta” a conhecimentos originados fora das linhas
tradicionais de pesquisa. Apesar de isto poder ser verdade para certos
indivíduos, o método científico é, em sua concepção, imparcial. É difícil
acreditar que a comunidade médica em geral descartaria qualquer tipo de
tratamento cujo efeito fosse realmente comprovado, por simples preconceito.
Isto é especialmente válido para o caso dos remédios homeopáticos, em
virtude de seu baixíssimo custo de preparação.

Informação e Conhecimento

Extraído do livro “O Mundo assombrado pelos demônios”

Quando desci do avião, uma pessoa me esperava, tendo nas mãos um papel com o meu nome.
Era o motorista que os organizadores da conferência de cientistas na TV amavelmente haviam
me providenciado. ―Permite que lhe faça uma pergunta?‖ ele disse, enquanto esperávamos
minha bagagem. ―Não dá confusão você ter o mesmo nome do daquele cientista?‖ Eu não
entendi. Estaria ele me gozando? ―Sou eu o cientista‖, respondi. Ele sorriu: ―Desculpe. Pensei
que você tinha o mesmo problema que eu‖. Estendeu a mão e se apresentou: ―Meu nome é
William F. Buckley‖. O nome era muito parecido com o de um polêmico entrevistador de
televisão. Já no carro, me confessou que estava encantado por saber que eu era ―aquele
cientista‖ e indagou se havia algum inconveniente em que me fizesse algumas perguntas sobre
ciência; mas não foi sobre ciência sobre o que falamos.

Ele estava interessado em OVNI‘s, bola de cristal, astrologia etc. Falava dessas coisas com
genuíno entusiasmo. Não me restava outra saída senão desiludi-lo. ―As evidências são
escassas‖, repetia. ―Para isso, existem explicações muito mais simples.‖ Sua expressão ia
ficando mais sombria. Eu não apenas atacava a pseudociência como algumas de suas
convicções mais íntimas. Não obstante, a autêntica ciência trata de muitas coisas que são tão
ou mais emocionantes e misteriosas, que representam um grande desafio intelectual e que,
além disso, estão muito mais próximas da verdade. Por exemplo, saberia ele algo das
moléculas da vida existentes na fria e tênue atmosfera gasosa interestelar? Já teria ouvido
falar das pegadas de nossos antepassados, impressas há 4 milhões de anos nas cinzas
vulcânicas? Que saberia da origem da cadeia de montanhas no Himalaia, que se elevou
quando a Índia se uniu à Ásia? Teria conhecimento de como os vírus destróem as células, ou
de como o rádio pode ajudar a descobrir inteligências extraterrestres ou informações sobre as
antigas civilizações?

468
O motorista Buckley, um homem realmente inteligente e curioso, não tinha ouvido falar quase
nada sobre ciência moderna. Ele queria saber. Só que toda essa ciência foi filtrada antes de
chegar ao seu conhecimento. A sociedade somente permitia que ele tivesse acesso a gotas de
engano e confusão. Tampouco lhe haviam ensinado a separar ciência autêntica e sua imitação
barata. Nos E.U.A., há gente inteligente, esforçada, que tem verdadeira paixão pela ciência.
Mas é uma paixão não correspondida. Um estudo recente indica que 94% dos americanos são
ignorantes no assunto. Curiosamente, vivemos numa sociedade dependente da ciência e da
tecnologia, mas que não sabe quase nada disso. Trata-se de uma clara receita para o
desastre. É perigoso e tolo continuar a ignorar o aquecimento da Terra, ou o buraco na
camada de ozônio, o lixo tóxico e radioativo, a chuva ácida etc. Devido ao baixo índice de
natalidade nas décadas de 1960 e 1970, a Fundação Nacional para a Ciência prevê para o ano
de 2010 um déficit de quase 1 milhão de cientistas e engenheiros. De onde eles virão? O que
fazer com a fusão, com os supercomputadores, o aborto, as reduções de armas estratégicas,
as drogas a TV de alta definição, a segurança no tráfego aéreo, os aditivos alimentares, os
direitos dos animais, a supercondutividade, os mísseis da Guerra nas Estrelas, a chegada a
Marte, a descoberta de remédios para a AIDS e o câncer? Como poderemos decidir a política
nacional se não entendemos as questões fundamentais?

Sei que a ciências e a tecnologia não são apenas uma fonte de maravilhas. Nossos cientistas
inventaram os arsenais nucleares e fabricaram 60.000 unidades dessas armas mortíferas. A
tecnologia produziu a talidomida, os clorofluorcarbonos, o agente laranja e indústrias tão
poderosas que podem destruir o clima do planeta. São razões suficientes para que as pessoas
se sintam intranquilas em face da ciência e da tecnologia. Mas não dá para voltar atrás. Não
podemos chegar simplesmente à conclusão de que a ciência põe muito mais poder nas mãos
de tecnólogos moralmente fracos e corruptos ou nas de políticos com delírios de grandeza… e
nos livrarmos dela. Pois os avanços na Medicina e na agricultura salvaram mais vidas do que
se perderam em todas as que se perderam em todas as guerras da história. A ciência é uma
faca de dois gumes. Seu imenso poder obriga a todos – incluindo os políticos – a prestar mais
atenção às consequências a longo prazo da tecnologia, sem os apelos fáceis do nacionalismo e
do chauvinismo. Os erros estão custando caro demais. A ciência é muito mais que um corpo de
conhecimentos. É uma maneira de pensar. A ciência convida a admitir os fatos, mesmo que
não estejam de acordo com as nossas ideias. Ela nos aconselha a incluir nos cálculos hipóteses
alternativas e a considerar qual delas se acomoda melhor aos fatos. Estimula o equilíbrio sutil
entre a abertura a novas ideias, ainda que heréticas, e o exame rigorosamente cético de tudo
– tanto das inovações como dos conhecimentos já estabelecidos. É uma ferramenta essencial
para a democracia em época de mudanças.

Daí não se tratar apenas de formar mais cientistas, mas também de aprofundar a
compreensão pública da ciência. A situação é crítica. Em algumas manchetes de jornais já se
lê: ―Nosso conhecimento científico está abaixo do mínimo‖. Menos da metade dos americanos
sabe que a Terra gira em torno do Sol e que leva um ano para percorrera sua órbita, um fato
descoberto há vários séculos. Em testes realizados com jovens de 17 anos, de vários países,
os americanos ficaram em último lugar em Álgebra. Em provas similares, as crianças
americanas acertaram 43% das respostas contra 78% no caso dos alunos japoneses. Nas
provas de Química realizadas em 13 países, os E.U.A. ficaram em antepenúltimo lugar. Cerca
de 25% dos canadenses de 18 anos sabiam tanto quanto 1% doa americanos que já cursavam
o segundo ano da Faculdade de Química.

Enquanto 22% dos estudantes americanos confessam não gostar da escola, apenas 8% dos
coreanos dizem o mesmo. O que está acontecendo? Na década de 1930, durante a Grande
Depressão, os professores tinham segurança no emprego, bons salário e respeitabilidade. O
ensino era admirado em parte porque se reconhecia no estudo o caminho para sair da
pobreza. Hoje, resta pouquíssimo disso. O ensino de Ciências (como nas outras disciplinas)
tornou-se insuficiente e pouco estimulante, os professores têm pouco ou nenhum preparo em
seus campos e muitas vezes nem sequer conseguem distinguir entre ciência e pseudociência. E
os melhores sempre conseguem empregos mais bem pagos em outra parte.

Os estudantes americanos de curso médio gastam apenas 3 horas e meia por semana com
lições de casa. O tempo total dedicado ao estudo, dentro e fora da escola, é de vinte horas

469
semanais. Comparando, os japoneses da quinta série estudam cerca de 33 horas por semana.
Isto não quer dizer que a maioria dos estudantes americanos seja estúpida. Se não estudam, é
em parte porque não costumam receber benefícios palpáveis quando o fazem. Nos primeiros
oito anos depois de formados, não auferem nenhuma vantagem econômica por saber mais
Língua, Matemática ou Ciências. Em compensação, fábricas correm o risco de sair do mercado
porque seus operários iniciantes mal sabem fazer contas. Uma importante indústria eletrônica
informa que 80% doa candidatos a um emprego não conseguiram passar no exame de
Matemática da quinta série do primeiro grau. Os pais deveriam perceber que o sustento de
seus filhos pode depender de conhecimentos de Matemática e Ciências. Deveriam também
incentivar os professores a dar cursos avançados, compreensíveis e bem dirigidos, e persuadir
os filhos a participar deles. Deveriam ainda limitar o número de horas que as crianças passam
em frente da televisão.

Nos E.U.A., só os homens jovens, brancos, de bom nível econômico e que cursaram colégios
respeitados possuem um razoável conhecimento científico. É verdade que os estudantes
negros e hispânicos obtêm agora melhores resultados nas provas de Ciências que no final da
década de 1960. Mas ainda existe um abismo separando a média dos alunos brancos e negros
em Matemática. Já os universitários negros, filhos de pais também universitários, são tão bons
quanto os brancos da mesma condição. Seriam igualmente necessários estímulos econômicos
e morais para que os cientistas dedicassem mais tempo à formação do público, mediante
conferências, artigos em revistas e jornais, entrevistas na televisão etc. Isso por sua vez
exigirá dos cientistas um esforço maior para se tornarem compreensíveis e interessantes. A
mim me parece estranho que alguns cientistas, que dependem de dinheiro público para as
suas pesquisas, se mostrem arredios em explicar à população o que fazem. Por outro lado,
praticamente todos os jornais têm uma seção diária de astrologia. Mas, quantos têm uma
seção diária de ciência? Quando eu era jovem, meu pai trazia todo dia para casa um jornal
onde lia avidamente os resultados dos jogos de beisebol. Os textos eram cifrados e áridos,
mas eu os entendia perfeitamente. Às vezes, também ficava aprisionado no mundo das
estatísticas do esporte. Hoje reconheço que me ajudaram a entender os decimais.

Vejamos agora as páginas econômicas. Não se encontra nelas nenhuma introdução


esclarecedora nem alguma nota explicativa ao pé da coluna nem o significado das abreviações
utilizadas. O leitor ou nada ou afunda. Mesmo assim, as pessoas leem os tijolaços repletos de
estatísticas. Trata-se apenas de uma questão de motivação. Por que não podemos fazer o
mesmo com a Matemática, as Ciências e a tecnologia? O meio mais eficaz para incrementar o
interesse pela ciência é a televisão. Não obstante, a TV exibe grande quantidade de
pseudociência, um volume aceitável de temas de Medicina e tecnologia, porém muito
raramente algo sobre ciência, especialmente nas grandes redes comerciais. Por que não existe
um programa cujo herói seja alguém dedicado a explicar o Universo?

Os projetos mais excitantes de Ciência e tecnologia despertam o interesse dos mais jovens. O
número de PhD‘s em Ciência chegou ao ápice na época do projeto Apolo (a ida do homem à
Lua) e caiu posteriormente. Este é um importante efeito secundário potencial de projetos como
o envio de seres humanos a Marte ou a operação de aceleradores de partículas para explorar a
estrutura da matéria ou ainda o programa destinado a traçar o mapa genético humano. De vez
em quando gosto de dar uma aula para crianças pequenas. Muitas delas são curiosas, fazem
perguntas provocativas e demonstram grande entusiasmo pela ciência. Em comparação,
quando falo para estudantes de nível médio, as coisas mudam. Quando adolescentes, os
estudantes aprendem a memorizar fatos e datas, mas em geral perdem a alegria de fazer
novos descobrimentos, de encontrar a vida por trás dos fatos. Desistem de fazer perguntas
que consideram estúpidas, aceitam respostas inadequadas, não levantam questões derivadas
do tema e vivem olhando para os lados, em busca da aprovação de seus companheiros. Algo
aconteceu entre a primeira e a última série – e não foi exatamente a puberdade.

Eu acreditava que isto ocorria em parte por causa da pressão dos colegas para ―não
sobressair‖ (exceto nos esportes); em parte, porque a sociedade ensina aos jovens a buscar o
sucesso a curto prazo; e, em parte, por causa da impressão de que as Ciências e a Matemática
não servem para comprar um carro esporte. Há algo mais, porém: muitos adultos ficam sem
saber o que fazer quando os jovens lhes fazem perguntas científicas. As crianças indagam por

470
que o Sol é amarelo, o que é um sonho, até que profundidade se pode mergulhar num buraco,
quando é o aniversário do mundo ou por que temos dedos nos pés. Elas logo se dão conta de
que essas perguntas aborrecem os adultos. Algumas situações desse tipo e pronto – mais
outra criança perdida para a causa da ciência. Não posso compreender por que os adultos
devam aparentar onisciência diante uma criança de 5 anos. Que há de errado em admitir que
não sabemos? Se não temos uma idéia da resposta, podemos recorrer a uma enciclopédia.
Também podemos dizer: ―Não sei, talvez ninguém saiba. Pode ser que você seja o primeiro a
encontrá-la quando crescer‖.

Mas, além de estimular as crianças, temos que lhes dar as ferramentas necessárias para que
saibam separar o joio do trigo, inquieta-me a perspectiva de uma geração incapaz de perceber
a diferença entre realidade e fantasia, agarrada cheia de esperanças às suas bolas de cristal
em busca do bem-estar. Gostaria de salvar o motorista Buckley que foi me esperar naquele
aeroporto americano e milhões de pessoas como ele. Acho que precisamos e merecemos
conviver com cidadãos de inteligências despertas e dotados ao menos de conhecimentos
básicos sobre como funciona o mundo. Estou convencido de que o conhecimento da ciência é
mais importante para a segurança nacional do que meia dúzia de armamentos estratégicos.
Deveríamos estar em alerta vermelho e fazer soar um alarme urgente diante do desempenho
pior que o medíocre em Ciências e Matemática dos adolescentes americanos e diante da
apática, generalizada ignorância dos adultos.‖

Comentários sobre o artigo de Carl Sagan

O que o brilhante cientista, já falecido, nos disse é muito interessante. A divulgação da Ciência
é algo digno de uma piada (pena que não tenha graça nenhuma). O livro de onde o trecho foi
extraído foi escrito em 1989, mas pouca coisa mudou. A maioria das pessoas continuam tendo
a visão de que cientistas são criaturas lunáticas, prontas para efetuar algum ato tresloucado
como criar uma bomba, veneno ou um monstro horroroso. E pior: Também não fazem questão
de saber se o que acham tem algum fundamento. Simplesmente compartilham deste senso
comum e pronto! Cala-te boca. E se você se interessa pela Ciência, então também é algum
desequilibrado (sim, porque ninguém em sã consciência vai se interessar por isso, não é
mesmo?).

Na TV só se fala em cientistas quando acontece algo desagradável, como o caso de algum


acidente . Aí descem o pau: ―Tá vendo o que estes cientistas ensandecidos aprontaram? Quase
mataram todo mundo com essas loucuras‖. Se perguntarmos a essas pessoas o que é uma
bactéria, não saberão dizer. E nem vão se interessar em saber que sem bactérias não haveria
degradação de lixos, fermentação etc. É um pequenino ser diabólico e fim! O que a televisão
explica a sobre Ciência? Muito pouco. Só se interessa pelo sensacionalismo, afinal desgraça
―dá IBOPE‖. Ótimo, não precisa tocar-se mais no assunto. Enquanto isso, nas eliminatórias da
Copa… E mais informações deixam de ser divulgadas, e mais e mais o povo mergulha na
ignorância. É lógico que perde o interesse. E se tiver, não encontrará nenhuma fonte de
informação nos meios de comunicação.

A maioria só vê o que há de mal na Ciência. Uma vez ou outra dizem que foi descoberto uma
nova técnica cirúrgica. E mais nada. Duas linhas a serem lidas e só. Enquanto que quando
houve a explosão em Alcântara (que algumas pessoas me perguntaram se era a que fica perto
de Niterói, estado do Rio) foi dias e mais dias de entrevistas, repetição das fitas do sistema de
vídeo das instalações e tudo mais. Isso é concorrência desleal. Horóscopos e colunas sociais
ocupam páginas inteiras.

Nosso bravo cientista, que tanto nos abrilhantou com a minissérie Cosmos (disponível em DVD
ou nos eMules da vida), relatou o resultado dos testes realizados com estudantes de vários
países, em que os estudantes americanos tiraram os últimos lugares. Pobre Carl. Se ele
soubesse que mais de 10 anos depois de sua morte, o Brasil conseguiu um resultado ainda
pior, não teria ficado tão chateado.

471
Da mesma maneira que lá, há muito a profissão de professor deixou de ter o seu brilho. Oh, é
uma profissão linda. Muito nobre. Mas, quando um aluno diz que quer ser professor a família
cai logo em cima. ―Professor? Mas ganha muito pouco!‖. Sejamos realistas, a maioria dos pais
ainda tem a ilusão que uma profissão ―chique‖ é ser médico, engenheiro ou advogado. Quem
quer na família um meteorologista? Físico? É aquele que trabalha como personal trainner (ai,
Deus! Perdoe-me pelo anglicismo) em academia? É isso? Particularmente, eu nunca ouvi
ninguém dizer que queria que a filha fosse fonoaudióloga para ajudar às pessoas com
distúrbios da fala entre outras coisas. Não! Prefere que seja DÔ-TO-RA! O nível intelectual da
família influi neste preconceito. Às vezes sim, às vezes não. Normalmente, um pai que é
advogado não ficará muito satisfeito de ver um filho formado em Estatística.

Bem, mas preconceito não se atrela à cultura, não é mesmo? Isso gera pressão sobre os
jovens que, além de tudo, não têm a menor noção da diferença entre seguir uma profissão ou
outra. Um dos alunos me perguntou certa vez se ser químico era para fazer xampu, creme
para cabelo ou (ah, eles sempre tocam neste assunto) bombas. Acham que meteorologista só
serve para dizer se amanhã vai dar praia. Se fizermos uma enquete sobre o significado de uma
profissão ou outra junto a alunos de Ensino Médio, garanto que teremos muitas surpresas. E
muitas delas desagradáveis.

Mestre Carl Sagan apontou que os alunos gastam cerca de 3,5 horas semanais com lições de
casa. Por aqui não é diferente. Mas, isso é culpa do sistema ou dos pais que não exigem maior
empenho dos filhos. Não é um erro dizer ―Desligue a televisão e vai estudar, que amanhã tem
prova‖? Não seria melhor dizer todos os dias ―Desligue a televisão e vai estudar‖? Oh, eu sei
que há casos em que o pai e a mãe trabalham fora e não ficam em casa para verificar o
estudo. Alguns são filhos de pais separados. Mas, os pais dormem na rua? Não voltam para
casa? E quando voltam, por que não inquirem pelo estudo do filho. Lembro que meu pai fazia
isso. Apesar de minha mãe estar em casa comigo e meu irmão. Nem por isso, deixou a
responsabilidade somente nas mãos dela. Alguns chegam no quarto do pimpolho e o vêem no
computador. Bem, depois que inventaram os sistemas multitarefa, basta ter duas janelas e
quando papai chegar perto, maximizo a janela com o dever. Fácil, fácil. Ele não vai tomar a
lição mesmo. hehehe

O idioma? Céus, um desastre! O tipo de desastre que podemos acompanhar em muitos


comentários postados aqui ou em qualquer blog. Só sabem falar ―tipo assim‖ e ―paradinha‖.
Quando insisti a uma aluna para que me fizesse a pergunta que a atormentava, mas sem dizer
―paradinha‖ ou ―tipo assim‖, ela ficou me olhando de modo estranho, pois não sabia como se
expressar. E nem vou entrar no mérito do hediondo ―miguxês‖, onde adolescentes aprendem a
escrever como retardados, só porque é ―fofinhux‖. Bleargh! Tentam me convencer que é a
modernidade e que isso é apenas para a internet, mas cansei de pegar provas e trabalhos
onde mal se entendia o que estava escrito, pois este pseudoidioma derivado de mentes
acéfalas reinava em absoluto.

Tudo bem, eu sou um dinossauro e não acompanho a ―realidade‖ deles. Mas, os pais não vêem
isso? A primeira coisa que se perde com a faculdade de se expressar, é a capacidade de
entendimento. Por isso, muitos alunos têm dificuldade de entender um simples roteiro de uma
aula prática. Mesmo que se diga que basta seguir o que está escrito, não conseguem. E essa
dificuldade é levada junto ao entrar numa faculdade. Daí, sai as aberrações que volta e meia
os jornais publicam. Os mesmos jornais que não fazem nada para ajudar. Uma vez por
semana (no JB, O Globo e O Dia) há uma coluna onde professores de português deslindam
dúvidas. Por que não todos os dias, como Mestre Sagan sugeriu? Nas primeiras edições da
Super Interessante (que eram melhores que as de hoje em dia) havia uma coluna do prof. Luiz
Barco chamada ―2 + 2‖, onde ele comentava certas curiosidades envolvendo a matemática e
criticava a péssima formação dos profissionais da educação que não conseguiam desmistificar
a matemática.

Infelizmente (não sei por que), a coluna não existe mais. Mas, mostram ―reportagens‖
ridículas, por meio de assuntos ridículos, postado por pseudo jornalistas ridículos. A
pseudociência lá impera. Mas, não é difícil de compreender. A dita revista é uma publicação

472
com fins lucrativos, logo será veiculado o que o povo gosta e matérias que dão retorno
financeiro, por meio de coisas mais que esquisitas e informações errôneas.

Deixando isso de lado, podemos imaginar situações como falar para um aluno que há cerca de
2000 anos Eratóstenes foi capaz de determinar a circunferência da Terra (com um erro
considerado ridículo), utilizando… 2 estacas de madeira! A primeira atitude do aluno será
cair na gargalhada, como aconteceu quando eu disse que helicópteros não possuem hélices,
mas conjunto de asas chamadas ―rotores‖. Mais uma agora: os alunos simplesmente não
acreditam nos professores, já que são bombardeados com informações errôneas por toda a
parte. Mas com paciência e didática podemos trazê-los à luz do conhecimento (Nossa! Essa
saiu bonita). Mas, e daí? Como Carl disse, o mercado diz que isso não vai te dar um carro
esporte, mas se você tomar a cerveja X, a Luana Piovanni vai se interessar por você. Em uma
palavra? Patético!

Mas, assim é o mundo. Cabe a nós mudarmos isso. Triste sina a do professor. E é nisso que
nosso Blog insiste: tentar mostrar o que existe de real e imaginário. Diferenciar Ciência de
pseudociências.

Dados do SINE (Sistema Nacional de Empregos) diz que muitas das vagas não são preenchidas
devido à falta de especialização do trabalhador brasileiro. O significado? Que muitas pessoas
deixam de entrar no mercado de trabalho por não saber fazer uma conta de dividir ou
multiplicar. Atendimento? Ora, boa parte dos jovens não sabem nem pedir licença ao entrar
numa sala, quanto mais atender em um balcão. Imagine só pedir um emprego mais, digamos,
elevado.

Como disse Carl Sagan, os cientistas também devem se fazer inteligíveis. Mas, não. Por aqui o
pensamento é ―Ora, estudei muito e não tenho motivo para simplificar. Senão, vão saber tanto
quanto eu‖. Hipócritas! Não são donos de nenhuma verdade. Mestrado e doutorado no Brasil
virou piada. O número de mestres e doutores produzidos no ano passado quase superou o de
graduados (guardadas as proporções, é claro). O ensino nas faculdades, universidades,
centros universitários melhorou? Não! Os alunos saíram com melhor preparação? Não! As
pesquisas científicas no Brasil sofreram algum salto? Não! Tem gente séria que defendeu teses
importantes? Sim! Onde estão essas pessoas? Dando aula, por que não há mercado de
trabalho. Fora as piadas que apresentam como tese, como a de um doutorando que defendeu
uma tese sobre a espessura da casca da batata!

Quando um membro da banca perguntou para que serviria aquela tese, ele disse ―Não sei. De
repente alguém cria uma tese explicando uma utilidade…‖. E, pasmem, a tese foi aceita. Mais
um incompetente científico que não desenvolverá nada, não melhorará o país em nada e vai
para uma sala de aula falar sobre casca de batata (sim, pois há muito perdeu o contato com a
ciência em termos gerais), e o Brasil formará mais especialistas em casca de batata.

Basicamente, muitas pessoas estão fazendo uma faculdade para depois tentar um concurso.
Devo lembrar que um fiscal de renda (com qualquer curso superior) ganha mais do que um
pesquisador da FIOCRUZ. Isso sem contar os ―por fora‖.

Voltando ao tema do Tio Carl (desculpem a liberdade, mas o meu primeiro contato com a
ciência foi com ele), a mídia não faz nada para tornar palatável a ciência. Aliás, não faz nada
mais palatável. As seções econômicas, para mim, são mais complicadas do que hieróglifos. As
revistas de informática são para iniciados. Para um pobre mortal, que quer usa um
processador de texto, acessar a Internet (que na minha opinião é 99,9999% lixo) etc., ter que
enfrentar siglas como CKO, CEO, CIO, CRM, ERP entre outras é uma dor atroz, mesmo por que
não informam o que é essa sopa de letrinhas. Ora, afinal, como posso fazer para que o
processador de texto faça isso, o sistema operacional deixe de dar respostas enigmáticas e a
planilha ajude a organizar meus parcos recursos financeiros? Raramente dizem, mas informam
que não-sei-quem, passou da empresa A para a empresa B, por que produzia um software que
custa US$250.000,00. Dizem que Bill Gates é o homem que fez a maior doação do mundo ou
que construiu uma mansão de zilhões de dólares. Muito legal, mas e daí? O preço do cartucho

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de tinta vai abaixar por isso? Enquanto isso, os jornais além de notícias inúteis, como dizer
que o ator tal teve uma briga com a namorada ou que beltrana apareceu na festa de alguém
outro. Ah, e não percam nossa seção de simpatias (pelas quais eu tenho verdadeira antipatia).

Criaram o Futura – O Canal do Conhecimento . Certo, muito bem. Por que ele não está na TV
aberta? Pode as pessoas da camada mais baixa assinar uma TV por assinatura ou comprar
uma antena parabólica? Só podem estar brincando! Os documentários que passam são sempre
os mesmos e eu já cansei de ver o tucunaré em quase todas as reportagens do Globo
Repórter. Troca-se de canal e vê-se o maravilhoso e instrutivo Programa da Luciana Gimenez.
Socorro!

Mestre Sagan (que não teve a infelicidade de ver a TV brasileira) mostrou-se em dúvida com o
que acontecia com as crianças. De início a curiosidade era o ponto principal delas e, com o
tempo, verifica-se que o interesse pela ciência vai caindo a zero; bom, isso até eu notei.
Parece, como o próprio cientista disse, é uma questão de aceitação. Quem quer um colega
CDF (recuso-me a dizer nerd), salvo nos dias de prova? Entre um indivíduo meio calado, de
óculos e que se sai bem nos deveres e um verdadeiro atleta, com cara de ator de novela, às
vezes desleixado com os estudos, mas que frequenta essa ou aquela academia, qual será a
preferência das meninas? Isso reflete nas aulas, já que ninguém quer ser a atração fazendo
perguntas ao professor. De repente, se eu não falar nada a aula acaba mais rapidamente e eu
posso ir pra casa para jogar no micro. São todos assim? Não, não são.

Sabemos que o homem é fruto do meio e aos poucos se pode ir convencendo as pessoas do
que o grupo realmente espera delas. E os pais não fazem por onde os filhos se interessarem.
Lembro que certa vez, quando eu trabalhava numa livraria, vi a seguinte cena: duas mães
estavam com as filhas conversando na porta da livraria. Uma das meninas (que devia ter uns
12 anos) entrou e começou a folhear alguns livros. A mãe chamou uma vez e a menina pediu
um instante porque estava vendo algo interessante. Realmente, notei que a menina estava em
estado de graça com o livro na mão (infelizmente, não lembro qual era). À segunda chamada,
a mãe disse para ―largar isso, para ela ver um arco-íris lá fora, que era mais importante‖. A
menina suspirou e foi-se. Pensamento meu: Mais uma criança ensinada que livros e a leitura
em geral não são importantes. Obrigado, mamãe. A verdade é que muitos pais têm medo que
os filhos façam perguntas que eles não saberão responder. Afinal, como alguns pais, se acham
repositórios de todas as verdades universais (se é que isso existe), nenhum deles quererão se
rebaixar frente a crianças. Então, ao invés de dizer ―Não sei, vamos pesquisar juntos‖, dizem
―Deixe isso para lá. Venha ver o arco-íris‖. E o que essas crianças farão quando tiverem os
próprios filhos? Talvez o mesmo, e com mais ênfase, o que fizeram seus pais. E assim vai.

A informática que, dizem, veio para auxiliar a desenvolver a humanidade está fazendo o
contrário. Boa parte não sabe mais escrever à mão, por usar demais o teclado. Contas feitas
de cabeça? Piorou! Como disse com o mal-fadado Miguxês, por causa de salas de chat,
criaram-se aberrações como ―entaum, naum, blz (beleza) etc‖. E, por vício, escrevem assim
em provas, redações etc. E quando vão prestar um concurso ou vestibular… A história ensina
que a primeira coisa que um povo faz quando domina o outro é impedir que o dominado
continue usando o seu idioma. Um exemplo? A Inglaterra teve a brilhante ideia de fazer um
processo de anglicização na Irlanda, impedindo principalmente o uso do gaélico. Bem, ela não
conseguiu e a cultura do povo celta (do qual eu tenho orgulho de ser descendente) não se
perdeu de todo. Se um povo destrói a língua de outro e impõe a sua, pode impor a sua cultura
também, fazendo com que os dias anteriores à invasão sejam esquecidos com o tempo.

Está havendo isso conosco e não estamos percebendo. A começar pelos New York City Center
da vida até a comemoração de… Halloween! Desde quando o Brasil foi colonizado por tribos
celtas? Daqui a pouco vamos substituir a proclamação da república pelo dia de ação de graças,
com direito a peru com tortas de abóbora.

Há um certo tempo, ouvi a seguinte pérola: ―enquanto outros navegam em caravelas, nós
navegamos na Internet‖. Boa colocação. Pena que às vezes a própria Internet não tem
caminhos a seguir ou quando tem, falta-nos uma bússola a nos orientar. Sou contra a
tecnologia? Não, só sou contra o mau uso dela e sua veneração, como se o ―Deus

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Computador‖ fosse o oráculo que guiará os passos da humanidade. Computadores são
ferramentas e deverão ser encarados como tais. Um artigo na Info Exame certa vez disse uma
coisa interessante: Que entre o computador e o ábaco, só se dá bem que usa os dois. Uma
verdade que é provada pelos japoneses com o seu soroban – um ábaco esquisito, que até hoje
não entendi como se usa, mas tudo bem. Se uníssemos o velho e novo, a origem e o fim, o
alfa e o ômega, não estaremos realmente criando uma sociedade nova e melhor?

Mas, deve-se dar esta consciência aos jovens desde o iniciozinho de suas vidas. Dar-lhes a
curiosidade e estimulá-la cada vez mais. Pais e professores. Se todos se engajarem nisso, ao
invés de termos seres humanos dominando o planeta, talvez tenhamos seres com humanidade
que saibam dominar a si mesmos.

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