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Ascaridíase

A ascaridíase é causada pelo Ascaris lumbricoides, verme nematelminte


(asquelminte), vulgarmente denominado lombriga, cujo corpo é alongado e cilíndrico,
com as extremidades afiladas.

O macho do A. lumbricoides mede cerca de 20-30 cm de comprimento e


extremidade posterior fortemente encurvada para a face ventral. A fêmea por sua vez
mede cerca de 30-40 cm, é mais grossa que o macho e apresenta extremidade posterior
retilínea. Ambos apresentam cor leitosa, branco-marfim ou rósea.

A transmissão se faz através da ingestão de ovos infectantes junto com


alimentos contaminados ou mesmo material subungueal.

Quando ingeridos pelo hospedeiro os ovos infectantes vão sofrer eclosão no


intestino delgado, liberando larvas que atravessam a parede intestinal, alcançam a veia
cava inferior e migram para os alvéolos pulmonares. Posteriormente sobem pela árvore
brônquica e traquéia, chegam até a faringe e podem ser expelidas pela expectoração ou
serem deglutidas, sendo novamente encontradas em estágio de adulto-jovem no
intestino delgado onde iniciarão a postura de novos ovos.

As larvas em infecções pequenas geralmente não causam nenhuma


alteração. Em infecções maciças podem causar lesões hepáticas e pulmonares. Os
vermes adultos, dependendo da carga parasitária, podem causar graves alterações como
a subnutrição (ação expoliadora), e obstrução intestinal.

Segundo Massara et al. A infecção do homem pelo Ascaris lumbricoides


ocorre em mais de 150 países, com uma estimativa mundial de 1,5 bilhão de casos,
podendo ser responsável por diferentes graus de desnutrição, deficiência cognitiva,
complicações e, ocasionalmente, morte em crianças acometidas em muitos países.

A epidemiologia da ascaríase, assim como das demais geoelmintoses, é uma


interdependência de fatores humanos (sócio-econômicos e culturais), ambientais
(temperatura, umidade, tipo de solo etc.) e fatores ligados à biologia do helminto. Os
fatores ambientais são dependentes dos fatores humanos, ou seja, só há prevalência
importante de doença onde as ações de saneamento básico são precárias. Quanto aos
fatores biológicos, os mais importantes são: as fêmeas botam milhares de ovos
diariamente, os ovos permanecem infectantes no solo por até um ano e podem ser
transportados na água ou poeira, além de contaminar alimentos. Porém fatores sócio-
ambientais são mais importantes na alta prevalência da doença. Dentre eles, destacam-
se: área geográfica estudada, tipo de comunidade (aberta ou fechada), nível sócio-
econômico, acessibilidade a bens e serviços, estado nutricional, idade, número de
pessoas morando no mesmo domicílio, densidade por cômodo, nível de instrução
materno, presença de menores de cinco anos no domicílio e o fato de não lavar as mãos
após defecar.

As enteroparasitoses representam um sério problema de saúde pública de


cunho mundial. No Brasil, essas doenças ocorrem nas diversas regiões do país, seja em
zona rural ou urbana e em diferentes faixas etárias. Essas afecções estão correlacionadas
com níveis socioeconômicos mais baixos e condições precárias de saneamento básico,
representando um flagelo, sobretudo para as populações mais pobres.

A espécie Ascaris lumbricoides é a mais bem conhecida entre os


nematódeos por ser muito comum na espécie humana. Ainda hoje constitui um
importante problema de saúde pública, especialmente nos países em desenvolvimento.
As crianças são as mais atingidas e apresentam as repercussões clínicas mais
significativas da infecção parasitária. No Brasil, diversos estudos realizados em pré-
escolares e escolares mostraram elevada prevalência dessa parasitose intestinal, o que
pode comprometer seu desenvolvimento físico e intelectual.

A maior susceptibilidade dos pré-escolares às complicações da ascaridíase


vem sendo explicada pelas menores dimensões da luz intestinal e coledociana frente ao
diâmetro habitual dos vermes e pelas infestações mais graves nesta população com
relação aos lactentes e escolares. Sugere-se que a população de pré-escolares é
particularmente prejudicada pelas más condições sanitárias no ambiente de moradia
(esgoto sem tratamento, pequena disponibilidade de água para higiene, adubo humano
em plantações domésticas) porque nesta faixa etária as crianças têm mobilidade ampla,
permanecem no ambiente doméstico e não são capazes de discernir cuidados próprios
de higiene no que concerne à contaminação fecal-oral.
O ambiente exerce um importante papel na transmissão da parasitose, já que
os ovos embrionados do Ascaris lumbricoides, quando eliminados no solo pelas fezes
do hospedeiro definitivo, não possuem capacidade de infecção. Essa capacidade só é
adquirida após processo evolutivo que dura cerca de três ou quatro semanas,
necessitando para isso de lugares úmidos, quentes e sombreados, pelo qual água e
alimentos podem ser contaminados.

Além dos ovos serem extremamente resistentes aos desinfetantes usuais, o


peridomicílio funciona como foco de ovos infectantes. Assim, é fundamental que as
estratégias de controle focalizem esse aspecto, priorizando ações de saneamento básico,
pois a prevalência elevada de A. lumbricoides está associada a precárias condições
sanitárias, constituindo importante indicador do estado de saúde de uma população.
Diversos fatores são capazes de interferir em sua prevalência: área geográfica estudada,
tipo de comunidade (aberta ou fechada), nível socioeconômico, acessibilidade a bens e
serviços, estado nutricional, idade e ocorrência de predisposição à infecção parasitária.

Em certos estudos as estratégias para controlar os fatores de ocorrência de


A. lumbricoides em grupos sociais e em indivíduos, mostrou-se que além da idade, o
número de pessoas que vivem no domicílio é um importante fator de determinação da
distribuição do parasito entre as famílias.

A identificação acurada de áreas de risco assegura uma maior eficiência em


ações de controle do parasito, otimizando recursos e minimizando gastos. É nítida a
necessidade da implementação de programas do governo que tentem reverter à questão
das precárias condições higiênico-sanitárias

Em 2008, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou que mais de 980


milhões de pessoas no mundo estariam parasitadas por esse agente.

A maioria das infecções por A. lumbricoides envolve pequeno número de


parasitos adultos e é assintomática, diagnosticada em exames coproparasitológicos ou
através da eliminação de parasitos nas fezes. A manifestação dos sintomas da
ascaridíase depende do número de parasitos adultos albergados pelo indivíduo.
Infecções maciças podem resultar em bloqueio mecânico do intestino delgado,
principalmente em crianças.
Sabe-se que a educação em saúde para crianças é fator essencial para
controle da ascaridíase, especialmente considerando as características da doença durante
a infância: alta prevalência, alta porcentagem de resistência ao tratamento, altas taxas de
eliminação de ovos e altos níveis de reinfecção. Portanto, sugere-se que de nada adianta
o empenho do governo em reverter o quadro de elevada prevalência de ascaridíase em
Tutóia se os moradores não adotarem medidas de educação preventiva, uma vez que a
criança tem um papel importante na manutenção do ciclo do A. lumbricoides e que seus
maus hábitos desempenham papel decisivo na disseminação dessas doenças.

Estudos realizados em crianças com menos de dois anos de idade e as mães


das crianças menores de um ano demonstraram a importância da ascariose já no
primeiro ano de vida e indicam a necessidade de aprofundamento na investigação desta
parasitose na população materno-infantil.

Apesar do crescimento em números absolutos dos indivíduos parasitados em


função do aumento geral da população nos últimos 20 anos (IBGE, 1997), verifica-se
que o país tem apresentado, em algumas áreas, um decréscimo na prevalência da
infecção entre os escolares. Contudo em relação à criança menor de dois anos, tem sido
relatada a ocorrência do parasitismo em crianças já nos primeiros meses de vida.

Segundo COSTA-MACEDO et al. alguns estudos para avaliar a prevalência


da ascariose, nesta faixa etária, mostram aumento significativo da infecção por A.
lumbricoides entre as menores de um ano em relação às de um ano.

Alguns modelos construídos para avaliar os possíveis fatores relacionados à


infecção por helmintos em crianças têm procurado identificar a relação entre o
parasitismo nos demais membros das famílias e a ocorrência do parasitismo precoce. No
Brasil, o parasitismo intestinal nos dois primeiros anos de vida é menos conhecido que
em outras faixas etárias.

Contudo, é importante assinalar que o parasitismo já a partir dos seis meses


de vida pode estar relacionado ao período do desmame da criança, quando ocorre a
introdução de novos alimentos e inicia-se uma etapa do desenvolvimento que lhe
permite maior mobilidade no ambiente.
Os níveis crescentes da prevalência por idade observados nas crianças
devem estar relacionados ao processo de crescimento e desenvolvimento infantil
(mobilidade e interação com o ambiente) e ao maior tempo de exposição às condições
ambientais. Nas mães, ao contrário do que foi observado para as crianças, as
proporções tendem a diminuir com a idade. Uma hipótese para explicar a diferença
observada estaria relacionada ao nível de conhecimento sobre os mecanismos de
transmissão desta parasitose, a uma melhor educação sanitária e um maior nível de
escolaridade nas mulheres de faixas etárias mais elevadas.

Em relação à assistência materno-infantil, verifica-se que o atendimento


usualmente acontece de modo segmentado e descontínuo, sendo precários os cuidados
básicos de saúde dispensados a este grupo tão intimamente relacionado.

Pouco se conhece sobre o curso da infecção parasitológica intestinal na


gestante, ou sobre as possíveis repercussões dessas infecções para o desenvolvimento
fetal. Quanto à prevalência das enteroparasitoses durante a gestação, as taxas são
bastante variáveis, dependendo do local pesquisado, sendo que o Ascaris lumbricoides,
os ancilostomatídeos e o Trichuris trichiura são as espécies mais encontradas.

Admite-se o uso de medicamentos no caso do A. lumbricoides e dos


ancilostomatídeos para a interferência do parasitismo no curso da gravidez, com
possíveis repercussões para o feto e o recém-nascido. Não recomendam o tratamento de
parasitoses durante a gestação nos casos de parasitismo assintomático ou de sintomas
leves. A observação é para que o tratamento antiparasitário deva ocorrer antes da
gravidez.

Embora a classe mais carente da população brasileira seja também a mais


parasitada e a que mais se utiliza dos serviços públicos de Saúde, não existe no
momento nenhum projeto de controle de enteroparasitoses na gestação. A consequência
é que, embora as mulheres durante a gravidez procurem auxílio médico, objetivando a
busca e manutenção do seu bem-estar físico e de sua prole, passam simplesmente de
gestantes parasitadas a mães parasitadas. Se faz necessário diagnosticar, informar e
tratar efetivamente as gestantes. É preciso ministrar educação sanitária às mães de
forma a prevenir sua reinfecção e estudar drogas e esquemas de tratamento das
enteroparasitoses mais adequados a esses grupos analisados.
Estudos abordando a ocorrência de parasitas intestinais na população idosa
são escassos. Não obstante sabe-se que os enteroparasitas contribuem no
comprometimento do estado nutricional deste segmento populacional e da sua saúde
como um todo.

Geralmente, os idosos nestas áreas desenvolvem, no quotidiano, diversas


tarefas domésticas, tais como cultivo de hortas caseiras, limpeza do quintal, entre outras,
que podem favorecer a contaminação principalmente por geohelmintos, especialmente,
em áreas contaminadas por dejetos. Constata-se desta forma, que as altas freqüências de
parasitas intestinais registradas possam constituir um risco para os idosos com um perfil
nutricional comprometido, quadro favorecido por precários hábitos higiênicos, carência
de saneamento básico e pela realidade sócio-econômica.

Deveria haver um esforço das autoridades governamentais para implementar


medidas preventivas e curativas que permitam a melhoria do nível de vida desses
idosos, considerando a grave repercussão que esses parasitas tem no estado nutricional e
na saúde dos gerontes de baixa renda.

Embora vários estudos tenham sido realizados no sentido de estabelecer a


prevalência das helmintoses intestinais em populações carentes, as populações de rua
não vêm sendo estudadas com a mesma ênfase.

A reunião em grupos nas ruas, dividindo os alimentos, utensílios e espaços


para dormir pode facilitar a circulação dos enteroparasitas entre estes indivíduos.

O estudo parasitológico das chamadas populações de rua tem muita


importância, não apenas pelo fato de avaliar-se seu estado de saúde e condições
sanitárias, como pelo seu potencial de contaminação de logradouros públicos com
formas de transmissão de parasitas.

Para que o controle do patógeno seja eficiente, é necessário que áreas de


risco sejam identificadas para sua ocorrência. E modelar a distribuição espacial da
ocorrência de ascaríase, utilizando mapas de risco mediante técnicas de
geoprocessamento e análise geoestatística é um recurso.
A infecção por Ascaris lumbricoides é um importante problema de saúde
pública, especialmente nos países em desenvolvimento. Estima-se que 1,5 bilhão de
pessoas (um quarto da população mundial) estejam infectadas por este nematódeo,
chegando a uma prevalência de 73% no Sudeste Asiático e cerca de 8% nas Américas
Central e do Sul. Mesmo nos Estados Unidos, há quatro milhões de pessoas infectadas,
localizadas sobretudo em comunidades de imigrantes vindos de países em
desenvolvimento. As áreas identificadas como de alto risco têm, consequentemente,
maior potencial de contaminação do ambiente. Essa situação leva não apenas a um
maior número de indivíduos infectados, mas também à manutenção do processo de
regulação natural do parasito, caso não haja intervenção. A identificação exata de áreas
de risco poderia assegurar uma maior eficiência em ações de controle do parasito,
otimizando recursos.

A ascaridíase biliar corresponde a cerca de 10% dos casos de complicações


de ascaridíase. Este verme tem alta prevalência em comunidades pobres e países
tropicais. Uma minoria apresenta complicações, em especial crianças menores,
desnutridas, imunossuprimidas e maciçamente infestadas, principalmente com
suboclusão intestinal e ascaridíase biliopancreática.

Mesmo os casos complicados costumam ser tratados por métodos clínicos.


Poucos precisam de cirurgia. A utilização de óleo mineral no tratamento de
complicações da infestação é tradicional, porém controverso pela broncoaspiração do
óleo e a conseqüente pneumonia lipoídica representam um risco alto para o seu uso. As
complicações da ascaridíase são mais prováveis em infestações maciças, obviadas pela
eliminação de vermes.

Os vermes nas vias biliares podem causar obstrução mecânica, espasmo do


esfíncter de Oddi, inflamação e estenose. A migração biliar dos vermes está relacionada
à superinfestação, à idade jovem (o pequeno calibre das vias biliares complica a
apresentação e o tratamento), à imunossupressão e à desnutrição.

Casos não complicados de ascaridíase biliar devem ser tratados clinicamente


com anti-espasmódicos. O uso de antibióticos é controverso.
O óleo mineral é usado tradicionalmente no tratamento de suboclusões por
Ascaris lumbricoides no Brasil, embora não haja evidências de boa qualidade para
defendê-lo. Há riscos envolvidos, já que a bronco-aspiração do medicamento pode
causar pneumonia lipoídica – eventualmente fatal – e o óleo mineral oral está contra-
indicado em bebês com idade inferior a nove meses e em crianças com alteração de
consciência ou problemas de deglutição. Lavagens bronco-alveolares repetitivas para
remover o agente agressor não são aceitas porque o óleo mineral limita a ventilação e
pode induzir à fibrose pulmonar.

A dermatite atópica ou eczema atópico é uma doença inflamatória que


geralmente ocorre em pacientes com história familiar de atopia. Nos países
industrializados, é a mais frequente dermatose inflamatória em crianças. Padrões
genéticos, período de aleitamento materno, alérgenos ambientais, uso precoce de
antibióticos e até a diminuição do tamanho das famílias têm sido relacionados como
fatores de risco para dermatite atópica. Por outro lado, infecções virais, bacterianas ou
imunização com o BCG ajudam a explicar a dicotomia TH1-TH2.

Assim como a dermatite atópica, a infecção por helmintos é muito frequente


em países em desenvolvimento e tem sido associada a doenças alérgicas.

A alta prevalência de atopia em áreas urbanas de países em


desenvolvimento foi relacionada à redução de exposição aos geo-helmintos.

A presença de A. lumbricoides de crianças em estudo protegeu-as da


dermatite atópica grave possivelmente por mecanismos imunológicos. A redução das
infecções parasitárias pode ser fator determinante para o aumento de doenças alérgicas
em países desenvolvidos e em desenvolvimento. O mecanismo imunológico desta
relação é ainda controverso. A resposta talvez esteja no modelo envolvendo a dicotomia
TH1-TH2 quando a exposição aos helmintos favorece uma maior estimulação TH2, o
que também é observado nas doenças alérgicas. Deste modo, a presença de ascaridíase
mostra um efeito inverso na gravidade da doença alérgica.

A asma é uma doença crônica muito freqüente em crianças, traduzida pelos


episódios de sibilância pulmonar, e a sua gravidade vem aumentando em vários países
do mundo. Como se sabe, a predisposição genética é o fator de risco mais forte, mas
muitos outros participam, como fatores ambientais, hábitos alimentares, tabagismo,
industrialização e aumento da poluição do ar nas grandes metrópoles.

Por outro lado, a ascaridíase é uma das parasitoses mais freqüentes no


Brasil, especialmente nas áreas rurais. Com a ocupação urbana caótica das periferias,
sem estrutura sanitária básica, acredita-se que ocorra o aumento significativo das
enteroparasitoses.

A possível associação entre asma e ascaridíase foi estudada em dois grupos


de crianças do mesmo nível socioeconômico, e com igual exposição a helmintos,
diferenciando-os apenas pela prevalência de asma. Apesar das mesmas condições de
vida, a intensidade da infecção parasitária foi maior nas crianças não alérgicas.

A asma e a ascaridíase são consideradas agravos frequentes em todo o


mundo. No Brasil, onde as condições socioeconômicas interferem diretamente na
qualidade de vida das pessoas, expondo-as a todos os tipos de risco e exacerbando, cada
vez mais, a pobreza e o dualismo social. Apesar da falta de evidências de associação
entre a asma e a ascaridíase nas crianças estudadas, as elevadas prevalências observadas
desses agravos indicam também a necessidade da adoção de medidas sanitárias urgentes
na área de estudo, bem como programas de promoção de saúde e de prevenção de
doenças, os quais não só cabem aos três níveis de governo como devem ser necessários
a várias outras populações semelhantes do Brasil, especialmente das regiões Norte e
Nordeste.

Segundo Valentim et al. a Doença de Grumbach-Auvert pertence ao grupo


das Doenças Obstrutivas das Vias Biliares intra-hepáticas (D.O.V.B.I.H.). É
caracterizada pela fibrocolangiomatose. Os episódios repetidos de colangite são
creditados ao acometimento dos grossos vasos biliares, apanágio da Doença de Caroli, à
qual se acha freqüentemente associada. Sua terapêutica cirúrgica inclui ampla
anastomose bilio-digestiva para evitar a estase biliar, além da realização de jejunostomia
de fácil abordagem em casos selecionados. Dos 55 casos de DOVBIH acompanhados
no Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Geral de Jacarepaguá, desde 1976, destaca-se
o caso relatado, onde o abscesso hepático, fruto da obstrução da via biliar, foi resolvido
por extração endoscópica de Áscaris através da abertura da jejunostomia de fácil acesso,
associada à antibioticoterapia.
O Ascaris lumbricóides é conhecida por sua tendência para invadir os
orifícios ao longo das alças intestinais, como pode ocorrer nas papilas duodenais,
causando obstrução do Wirsung e acarretando pancreatite aguda. Pode também ganhar a
via biliar principal, obstruí-la e causar colecistite aguda ou colangite. Pode mesmo ir
além, chegando até o parênquima hepático e levando consigo bactérias do trato
gastrintestinal. Uma vez obstruídas as vias biliares, ocorre extravasamento de bile para
dentro do espaço-porta, levando à necrose séptica dos hepatócitos periportais.

Em estudo de caso relatado por VALENTIM et al., em uma paciente


portadora de Doença de Grumbach-Auvert a moléstia é uma das formas de Doença
Obstrutiva das Vias Biliares Intra-hepáticas, sendo representada pela associação dos
achados da Doença de Caroli à fibrocolangiomatose. Seu substrato anatomo-patológico
é o complexo de Meyenburg.

Durante a intervenção optou-se pela realização da jejunostomia de fácil


acesso às vias biliares, associada à anastomose biliodigestiva ampla, em razão da
possibilidade visível de recorrência da colangite. A recidiva da infecção pode ser
causada pela existência de estenoses ou cálculos, e facilitada, como no caso presente,
pela presença do parasita. Colocar as vias biliares intra-hepáticas ao alcance do
fibroscópio permite a terapêutica endoscópica através da abertura da alça subcutânea,
evitando-se intervenção cirúrgica maior.

Usualmente o verme da ascaridíase se instala na luz intestinal, porém em


alguns casos, os vermes podem migrar para outros locais como ductos pancreáticos,
ductos biliares, vesícula biliar e apêndice cecal podendo complicar com colangite,
colecistite, abscesso hepático, pancreatite, apendicite.

A ascaridíase das vias biliares, embora rara, constitui- se na mais freqüente


ascaridíase ectópica sendo mais raramente encontrada na vesícula biliar. A invasão das
vias biliares por Ascaris é justificada por alguns autores como uma tendência dos
vermes em penetrar em pequenos orifícios. No entanto, é raro haver invasão da vesícula
biliar devido à tortuosidade e ao diâmetro reduzido do ducto cístico.

O quadro clínico da ascaridíase biliar quase sempre assemelha-se a outras


colecistopatias, sobretudo as litiásicas. O paciente apresenta-se com dor no quadrante
superior direito, por vezes associada a febre, vômitos e icterícia. A ultrassonogria da
vesícula biliar com ascaridíase pode revelar espessamento da parede, imagem linear
ecogênica sem sombra acústica, com ou sem movimentos e uma fina linha
hipoecogênica.

O tratamento preconizado para ascaridíase das vias biliares consiste na


administração de drogas anti-helmínticas e a remoção do verme por via endoscópica ou
cirúrgica. No caso da colecistite por áscaris o tratamento de eleição é a colecistectomia ,
convencional ou laparoscópica. A abordagem laparoscópica é melhor que a
convencional por diminuir o período de hospitalização e a morbidade pós-operatória. A
terapia com drogas anti-helmínticas pode ser feita antes ou depois da cirurgia.

Os casos de ascaridíase biliar em sua maioria (>90%) se resolvem


espontaneamente, porém o espectro de problemas superpostos que tornam um caso em
particular cirúrgico é amplo.

Constatou-se uma incidência máxima de ascaridíase complicada nos pré-


escolares crianças em condições sociais precárias e do meio rural. A disponibilidade
precária dos sistemas públicos de saúde primária, ligada ao difícil acesso (mais grave no
meio rural), disponibilidade pequena de profissionais e dependência do sistema na busca
voluntária pelos usuários complementa a cultura inadequada dos responsáveis com
relação à necessidade de cuidados profiláticos de saúde em suas crianças.

As formas complicadas da ascaridíase são responsáveis mundialmente por


60000 mortes/ ano, a maioria absoluta em crianças e pacientes atingidos por
complicações cirúrgicas.

Na ascaridíase biliar as lesões são causadas diretamente pela presença do


verme nas vias biliares (obstrução mecânica) ou induzindo espasmo esfinctérico e
reação inflamatória, granulomas do tipo corpo estranho, fibrose e estenose.

As etiologias do sistema de drenagem lacrimal estão ricamente descritas e


pesquisadas na literatura médica, com uma gama de fatores que acometem o indivíduo
segundo sua idade, presença de patologias sistêmicas, exposição a trauma facial,
malformações congênitas, iatrogenia como a migração de plugs de silicone após oclusão
de ponto lacrimal para tratamento de olho seco, presença de neoplasias envolvendo as
vias lacrimais, entre outros fatores. Porém verificou-se um caso incomum de obstrução
nasolacrimal em uma criança devido à parasitose intestinal por Ascaris lumbricoides.
Relatou-se o caso de uma paciente de 1 ano de idade, leucoderma vítima de desnutrição
acentuada que foi levada por sua mãe para consultório oftalmológico devido a epífora
intensa no olho direito.

Ao exame oftalmológico apresentava hiperemia conjuntival universal no


olho e excesso de secreção purulenta e viscosa no local com a parte anterior de um
verme se exteriorizando pelo ponto lacrimal inferior direito. O verme analisado
laboratorialmente foi identificado como a fêmea do Ascaris lumbricoides.

O habitat natural desse helminto é o intestino delgado do homem,


principalmente o jejuno e íleo. Chama-se "Ascaris errático" ao verme que se localiza
em habitat anormal, como no apêndice cecal (causa apendicite aguda), canal colédoco
(sintomas hepatobiliares), canal de Wirsung (pancreatite aguda), boca e narinas, trompa
de Eustáquio (otite média, intra-hepático (abcesso hepático), rim e uretra (pielonefrite e
hidronefrose), e cérebro (abcesso cerebral).

Já que a ascaridíase é uma doença de ampla distribuição em países


subdesenvolvidos e já que as crianças nesses países constituem o grupo
predominantemente acometido pela doença, é necessário que se passe a pensar na
possibilidade do helminto intestinal como provável vetor de patógenos bacterianos ou
mesmo causando obstrução direta das vias lacrimais em uma criança desnutrida, com
exame parasitológico de fezes positivo para o Ascaris, que resida em regiões de alta
prevalência da doença, mesmo que o parasita não se exteriorize pelo ponto lacrimal.

A infecção por Ascaris lumbricoides decorre da ingestão de ovos


embrionados deste parasita, o que justifica a pesquisa de substâncias que tenham efeito
deletério sobre estes ovos.

Cada fêmea adulta do verme produz cerca de 200 mil ovos por dia, que são
expelidos com as fezes na forma não embrionada, não infectante, podendo sobreviver
no solo por mais de um ano, em condições adequadas. O embrionamento dos ovos
ocorre após um período de, pelo menos, vinte dias e a infecção do homem se dá pela
ingestão destes ovos, quando levados à boca por mãos sujas ou alimentos contaminados.
Ovos de Ascaris são resistentes a diversos fatores: terapêuticos, químicos e
ambientais. Eles têm sido encontrados em resíduos de esgotos, mesmo após o
tratamento e em sanitários de escolas públicas. Esses dados mostram a amplitude do
problema da contaminação ambiental por ovos de Ascaris.

Ovos de Ascaris possuem grande capacidade de aderência a superfícies, o


que representa um fator importante na transmissão do parasita. Uma vez presente no
ambiente e em alimentos, estes ovos não são removidos com facilidade por lavagens.
Com isso, a avaliação de substâncias quanto à sua aplicação segura em ambientes,
alimentos e sua capacidade de impedir o desenvolvimento destes ovos é de grande
importância para o controle da transmissão.

Devido à grande resistência dos ovos de Ascaris a vários agentes químicos e


à extensa utilização de produtos detergentes e desinfetantes comerciais para a
descontaminação de pias e utensílios domésticos, de bancadas e materiais de
laboratório, de frutas e verduras, foram feitos estudos para avaliar a atividade destes
produtos sobre a capacidade embrionária dos ovos de A. lumbricoides.

Considerando-se a importância de medidas preventivas das helmintoses


intestinais em populações de regiões tropicais e subtropicais, sobretudo nos países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, onde tais medidas constituem um dos mais
sérios problemas de saúde pública, os resultados de estudos permitem questionar as
prescrições encontradas em muitos produtos desinfetantes comercializados no mercado
nacional. Também se faz necessário reavaliar os procedimentos de descontaminação de
ambientes, utensílios e alimentos, quando se tem por objetivo prevenir a infecção por A.
lumbricoides.
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