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m

H I S ToRI
ULANA DAS
ILHAS A PORTUGAL SUGEYTAS
no Oceano Occidental,
COMPOSTA PELO PADRE
ANTÓNIO CORDEYRO,
Companhia da de JESUS,
Infulano também da Ilha Terceyra , & em idade de 76. annos,

TJ^J A COlhQFl^B^ACaU^ T>OS ^03^S


cojlumes af/tm moraes^ corno fobrenaturaes^ dos nO'
,

bres antepajfados hfulanos , nos prefentes


, C>

futuros y Defcendentes [em


ú^fo para 4 ,

faha<^ao defuds almas , c> mayor


gloria de T>eos^

LISBOA OCCIDENTAL,
Officina de ANTÓNIO PEDROZO GALR
Com todas m licenças necefjaridÃ.
Annode 1717^

wm
PR o LOGO
Ao NOBRE LEYTOR. iiJíiO.-

rtío:.- ciiiiL

Epois de ter compofto aFilofoíia inteyra, que


diétey na Univeríidade de Coimbra,ha quaren*
ta aniios, defde 676. ate 680. a Theologia Ef*&
colaftica, que namefmaUniverfidadeli,atèo
anno de 696. & a Moral Theologia,que enííney
-.-.„.,^->^- ^^. ..-. . na dita Univerfidade & depois dos dous tomos
;

que compuz de RefoluçõcsTheojurifticasem quatro aníios fe-


guintes na Primacial Cúria de Braga , & em os feguintes oyta
na Cúria do Porto, & jà quaíi nove em efta Regia Corte de Lis-
boa fuy obrigado a tudo dar àimprenía por N. M. R. P. Mi-
,

chael Angelo Tamburino , Prepofito Geral de toda a Compa-


nhia deJESUS;& por mais que me efcufey por minha incapaci-
dade,& idade, naõ tive outro remédio, fenaõ (como Religioío)
obedecerj & efta feja a defculpa, que ao nobre Leytor peço, me
admitta.
Vejo porém me diraõ que atnda que eu fahiíTe com os cin-
,

co tomos referidos (da Filofofia, Theologia Efcholaftica, ÔC


Moral & com os dous Theojurifticos) parece temeridade o ía-
,

hir com efte íexto tomo da Hiftoria & hiftoria vulgar, & Infu* ,

lana; porque com vulgar hiftoria deveria fahir hum íecular 8C ,

delia muy to erudito & naõ hum Religiofo & com hiftoria In^
, ;

lulana,hum que ínfulano nao para fer menos fufpeyto*


foíTe j

Mas a eftas duas duvidas refpondo , que fe de hiftoria naõ hou-


veííe Authores Rehgioíos , nem das mefmas Religiões haveria
Hiftoriadores, &
ficaria privada a Chriftandade da Hiftoria
mais utii :8c íenaõ foííe Iníulano o que Hiftoria Iníulana com-
puzeííe , jàporiíTo mefmo naõ feria entaõ menos , mas muyto
mais íufpeyto, por efcrever o quedeveriaignorar mais, pois
naais fabe cada hum , ou deve faber da própria cáfa , do que da ,

* ij aíheaj
P RfC^L O GO
âlhca; de outra íorte naôfe daria credito aos Reynòes, Hifto»
riadores de feas próprios Reynos, mas aos de Reynos alheyos,
de que nem tanta noticia , ou experiência tem.
Deyxados coratudo apontados motivos , que a com-
jà os
por a Hiftoriaprefente me movèraÕ , o principal foy,& ainda
íie, Pars que haja quem nella me emende porque havendo muy- j

to m^is de trezenjos annos que as Ilhas de que tiatamòs, fe def-


cubriraÔ , & poyoàraõ & tendo fahido
j muyto delias fugeytos
eminentes ,naô fó nas armas, governos, & nas letras mas ( ,

que a tudo vence ) em a Catholica Fé & fantidade comtudo , j

ainda naõ houve atègora quem fahiíTe com hiftoria deftas


,

ilhas, mas fó de huma ou de outra apontamentos alguns, & ef-


,

fes muyto diminutos & menos examinados & ainda fabulo-


, ,

íos, vendidos por verdadeyros: comrazaõ logo repito, que o


principal motivo de me arrojar a compor hiftoria tal foy Pa* , ,

ra que haja quem nella me emende & entaõ faya perfeyta & a
, ,

mais útil naõ fó à racional vida, nobre & humana mas à Chri-»
, ,

ftãa, & Catholica, que he o ultimo fim da tal hiftoria.


E íe alguém reparar defc tratar nefta hiftoria de muy tas
Genealogias repare também que quando he neceííario tratar
,

delias, atè a mefma Sagrada Efcritura emoíeu velho, & novo


Teftamento o faz tam diflfuíamente como vemos & claro ef-
, , :

táque para faber quem foraõ os defcubridores & povoadores ,

primey ro&.de huma nova terra , de força íe ha de dizer de quem


elles defcendiaõ , & quem defcende delles & fe mais fe reparar, ;

acharíeha, que fe naõ diz couía, de que alguém poíla fentirle,


&
mas a nobreza , virtudes dos Afcendentes , para que os Def.
çendentes as imitem , &
fe lembrem dos Chriftâos brios que

devem obfervar 8c a que naÕ devem deíeftimar os outros , que


;

íoquerem fer contados por netos de quem nunca os chamou 8c ;

de quem foraõ chamados,& lograo fuás riquezas,nem os appel-


lidos querem.
Porem difto mefmo alguns diraõ que o naõ deve examinar
,

peííoa Religiofa ; & na Verdade aííim he


quando naõ he necef- ,

íariojmasnaõhe affim, quando neceíTarioohe, como ofaza


mefma Igreja Catholica, aInquiílçaÕ do Santo Officio,&as
Religiões mais puras que naõ lendo neceííario , nunca fe met-
,

tem niíTo, & íendo-o o naõ fazem , íó por naõ publicar defey-
,

tos alguns alheyos , & menos por lhos impor ( que iífo he fó de
gente foberba , ambicioía , h ociofa ) mas por l'e confervarem
j

na

m
AO NÔÊ^f LEtídt;/
áa limpeza, & nobreaa, oS qae a tem , & ifto comii mâácje
pií^
ra,& naõ com a infernai emulação; E porque a verdade
ordina*
^riamentek nâ6 acha em a preímte. matéria fenaõ em os fugey*
,

tos de mais annos de mais liçaõ de iivros & de


, Religiofa con-
,

fcicnciâ pode o nobfe Leytordarfe por feguro que


,
naõ âchi-
,
ràneíla HíftoriaGDura,dequeíeu Authordavidâííekr
verdá-
de; Sc íe efta comeífeyto faltar em coufa alguma para
iííofteri
i
Ceyra vez repito j que a compuz, Para que haja
qmfk^eêmeft^
.TiCi J rj-fs

Vale.

Proteftaçaõ Catholica ,& Politica.


Religioío Authof delia hiftoria , como íempre firiiié , êè
^_^ fiel Catholico Romano confeíTa , 8c protefta , que o fcn*
,

lido com que em alguns lugares delia chama Santos , êc ainda


Martyrcs a alguns fugeytos de infigne fama de virtudes, nem
foy , nem he outro mais, que explicar a commua opinião
que ha
de fuás vidas , Sc mortes pois declarallos por Santos , ou por
5

Martyres, fó á Santa Madre Igreja Catholica Romana perten-


ce,& aflíim o confeíTa o Author.

Declara mais , que quando em algumas partes deíle íivrd


reprefenta ao Sereniííimo Rey, &
Senhor noíTo algum outro gé-
nero de governo, politico, ou militar, de mar,& terra, he fó hua
humilde propofta , que os foberanos Principes eftimao ouvir
a
íeusvaíTalíos, que íempre devem cftar promptos a ouvir 3 asa-
ceytar as Icys de fcus Soberanos.

é i ^

tlCEH-
'^w
<^p: w^ -^or -^- ^-^r w^
LICENÇA DA ORDEM.
António de Soufa,da Companhia de J E S U
S , Proviflcial da Pro«
EU vincia de Portugal , por particular conceííaó,
que para iflb me foy da-
GéraUou li-
da do N. M. R. Padre Miguel Angelo Tamburino Prepofico
das Ilhas
cença , para que fe imprima efte livro intitulado Hiflona Infulana
:

Padre António Cor-


« Portugal fugeytas no Oceano OcCidentàl.qae compoz
o
deyro da mefma Companhia , que foy examinado , &
approvado por pef-
foas doutas , St graves da mefma Companhia, &
por verdade dey efta affina-
Dada em Lisboaao»
da com meu final, & fellada com o fellode meu officio.
20. de Junho de 17 16, ^ , #>
• /»
'

AntomodeSouJa.

ii^ LICENÇAS DO S. OFFICIO. .•a

pí^a doM, R. Padre Mefire t>. António Caetano di Sòufa, ^alifcíi'^


dor do Santo Offcio,

ÊMlIÍENf iSSIMO SENHOR.


V 1 a Hiftoria Infulana das Ilhas a Portugal fugeytas nó
Oèéano Occii
Cordeyro da Com«
Vi' •dental, de que he Author O M. R. Padre António
iiefte Rey-
panhia de JESUS , a quem as fuás grandes letras tem adquirido
das gentes
no hum univerfal applaufo , & para que naô ficaífe na tradição
Filofofia , Theologia
a fua memoria * fez iramortal a fua fama nos livros de
Êfcolaftica & Moral , & nas Reíoluções
Theojurifticas , que imprimio , ôc
efteja o Pa-
tem para imprimir para que em todos os feculos vindouros,
;

doutrina , que com tan-


dre António Cordeyro enfinando , aquella mefma
ta admiração diftou nas Aulas, & refolveo nas
Cadeyras , fendo o Oracido a
Lisboa,_a Pri-
que todos recorriaó , de que íaõ fieis teftemunhas , a Corte de
macial das Hcfpanhas , a Univerfidade de Coimbra, & a
Cidade do Porto,
J' rcfpeytado o feu nome,
& outras muytas , aonde com veneração fera fempre
E quando o emprego de taô largos, & elevados eftudos , parece lhe nao da-
ria tempo para ler diíFerenteprofíífaôjO amorde
promover as glorias da
fua pátria , & faZer patente ao mundo a efcondida , &
fempre defejada Hit-
feriadas Ilhas, que compoz o Doutor Gafpar Fruauofo , a
recopilou , &
Hiftona Portu-
accrefcentou na que agora dà a luz. Em que os curiofos da
guezaacharáõ muytas novidades dignas de memoria, & os
Infulanoshuma
perpetua gloria das proezas de feus antepaífados , & nas
prodigiofas vidas

de muytos Varões infignes em fantidade,feus compatriotas, hum


eftimulo á
noífa Santa Fe»
virtude. Neftc livro naõ acho coufa alguma que repugne à
ou

w^m
bubonscoftumesi &àMlíêpSlBeÉepc!e1rfem daí a licehéá
que pede. Lisboa na Gafa dê JNoffa Senhora da Divma Providencia
ia
* de
bétembrodei7i6.
D António Caetano de Soufa CR.

CenfuraàoM.R.PadreMeJlreFr.yoaodè Santa Therefa §Malificador


,
dõ Santo Ojficw.

eminentíssimo SENHOR,
Gr mandado de V. Eminência vi com fummo
P lana , Aiithor
o feu natural o M: R. Padre Meftre António Cordeyro
da Preclariffima Companhia de JESUS , & louvando-lhc a
occupaçaõ taô
gofto a Hiftoria Infu=

íanta j & Religiofa com que fempre fe dedicou


às letras , o que com o cla^^
rim da fama em todo o Rey no fe publica, & com os feus efcntos
fe confeíTá-
Jiaòdeyxo deadmirar cm idade taõ ereeidâ qiiereríe occupar nas
, maravi-
lhas da fua terra > no que lhe defcubro de Sol magnânimo o
eftylo: porque
torna no feu Occafo para o Oriente, aonde teve o nafcimento,&
parecia ju=
fto j que como taõ fabio das letras , foubcíTe fer amante da fua
Pátria naô :

Jhe podemos Cenforesdar o titulo de fufpeytofo pelo amor


próprio por^ j
que moftra tudocom tanta clareza, que parece o obrigou mais a juftíçá
con-
tra os que referiaõ fabulas, & publicavaõ mentiras
j do que o amor da meA
Bia Pátria. E aíKm naõ devedizerfe que o louvor & as
, , maravilhas, que re-
fere da fua Pátria faõ eíFeytos amorofos , de quem fe confeífa
, feu peio naf-
cimento, fenaõ que foraõ partos de hum entendimento elevado à
viíla do :

que poíTo dizer deíle Gordeyro,o que diífe là outrojoaõ do do Apocalypfe:


&
Vignm efi Agnm ãccipereUbrum, aperire/ignaculaejm. Porque j o que pa-
ra os outros Authores foy hiftoria efcondida,porque nunca com
tanta clarim
dade manifeftá o Doutiflimo Cordeyro a poz com tanta clareza que nin-
,
,
guém lhe pode pòr duvida j nem eu lha ponho para que fe imprima, viftcí
naõ conter coufa à noífa Santa Fé, ou bons coftumes oppofta & a
Protefta^' ,

|a6do Author queeraprecifa. Lisboa no Convento de Noífa Senhora


dd
JESUS 22. de Dezembro de 1716.
O M. Fr. João de S. Therefa,
'1 ".. -. -'i-''

Vlílas as irlformaç6cSjpòde-fe imprimir o livro intitulado, Hiftoria In-


& imprcíTo tornará para
fulana, fe conferir, & dar licença que corra;
Lisboa 23. de Dezembro de 17 16.

fíaffe. Montêyro. Rikyro, Rocha. Fr.RrodrigoLancaftre. Gmrreyrêl

Do Ordinário.
COiicôdémos licença, para que fe poífa imprimir o íivro, Hiftoria ínfiú
lana , & impreífotorriarà para fe conferir & darmos licença que eorrai
,

©í lem ella naõ correrá. Lisboa 30. de Dezembro de 7 1 6.


1

M.BfJfodeTag^é,
í3a
./,

Do Paçoi
SENHOR.
ordem de V. Mageftade vi Hiftoria que í nfulana, tem compof-*
POr ,

to o Padre Antoíiio Cordeyro da Companhia


a
de JESUS. Dos elogios^
com que toda a forte de Efcritores celebrou efta Religião Sagrada , a quem
a Primogénita da Igreja,
fuás heróicas emprezas fizeraÕ verdadeyramente
volume j porem
ordenou o Padre Chriftovaó Gomes hum proporcionado
achao dados aCompa.
detodos os gloriofostituios, que naquelle livro fe
nhiade í ES US, nenhum me parece taO próprio,
como o dobo Heoboi.

fonte dos reíplandores. Pelo


aquelle Planeta Príncipe , euja fubftancia he a
beneficio dos feus eíFeytos fe conferva o mundo , &
a elle fe lhe deve a pre*
feus rayos. Depois de lUuf-
ciofa produccaô dos metaes , que faõ filhos dos
trar hum emisferio, para que naó haja parte
do mimdo , que naõ finta poc
parece que acaba no
experiência a benignidade dos feus influxos , quando
Antípodas , ate que
Oecidente, começa outra nova vida em utilidade dos
Naoíe lhe po-
como Feniz das luzes torna a nafcer do feu mefmo Occafo.
todo o ímpeto dos
dem extinguir as chamas, porque faó mayores do que
ventos, & do que todo o pezode hum diluvio.
Os echpfes fao embaraço
no feu curío , inal-
da noíTa vifta , naò faÓ defey to do feu fogo j he conftante
terável nofeu circulo, ôcoufeja no berço, oufeja
no tumulo, íempre he o
mefmo na diíFerença das eftações , na fucceífaõ dos tempos , & no giro
v\ dos
feculos. Todas eftas propriedades venera & admira , o mundo na Sagrada:
Companhia de JESUS , porque ella defde a fua fundação foy a oíficina de
todas as fciencias de tal forte declaradas , &: reduzidas a
methodo , que po-
o dizem
demos dizer , que parecerão feus filhos os feus inventores. Affim
com eéral acclamaçao as Efcrituras explicadas por Lorino , por & ALapi-
de, a?Hiftorias Bíblicas de Saliano , & de Gordono ,
aTheologiaEfpecu»
Bellarmino , & de Valença,
lativa de Soares , & de Vafques, a Polemica de
a Moral de Molina , & de Sanches , a Afcetica
de Alvares de Paz , & de Ia
Puente , a Hiftoria Ecclefiaftíca de Bollando, & de
Papebrochio , a í tofana
de Maffeo, & de Strada , a Fílofofia de Fonfeca , & de
Oviedoyas Mathe-
fe con^iece com evi=
maticas de Cláudio, & de Des Chalés , de maneyra que
Agofto do anno de-
dencia o grande fundamento, com que no dia 17. de
aeftrellade mayor grandeza
17 16. diíTe no púlpito da CafadeSaõ Roque
fobdamente.
da minha Sagrada Congregação, que fe naÕ podia difcorrer
em qualquer género de letras fem os refplandores defte Sol prodigiolo. i e.
la religiofa efficacia deftcs valerofos foldados todos os dias eftamos vendo
deftruidos os monftros das llerefias com tanta gloria da
Igreja , como tejror
do Inferno , de que refulta confervarfe a pureza da verdadeyra Rehgiao, Sc
vèrem-fearraftradas pelo mageftofo carro da Divindade as
Urfas dobep-
deCalvi-,
tentriaô, confundidas as impiedades de Luthero as blasfémias
l<.
,

no, &as loucuras de Zuinglio. ComofenaÔ baftaOTe ao


feu zelo, vetfe de-
de hum
fendido em Alemanha o rebanho de Pedro pelos vigilantes latidos
Cani-

W
m
.Canifio entrarão os rayos defte myftico Sol a doutrinar a barbaridade dp
,

^ovo mundo com os milagres de hum Jofeph de Anchieta , a falvar aos Át


bexms dasfuperítições de Neftorio pela prudência de hu André de (^v^e-
do, 6c dando liberdade á impaciência daquelle fogo, que herdarão do ar-
dente efpirito do feuPatriarcha Santo Ignacio, íizeraõ correra moeda d©
Euangeihono Reyno antipoda de Ormuz pelas mãos de hum Gafpar Barr
zeo, & íeguirem-íe os Cânones da verdade eterna pela doutrina de Marcel-
JoFrancílco iV3aftrilhiV& de Rodolfo Acquavivaj illuílrando comPacri-
archasa Ethiopia ,com Meftres aos Doutores da China , & com Aportolos
as Ilhas do Japaó. Por efta caufa naó pode extinguir ao Sol da Companhia aj
adividade do feu ardor a conjurada malicia de tantos Tyrannos, que íe apo-
ftaraõ para a fua deftruiçaõ em obfequio dos feus Ídolos mas de todos eítes
-,

eclipfes , que lhe caufáraõ as nuvens da infidelidade ,&; da inveja da fua


grandeza , naõ fe colheo outro fruto, fenaõ fahir exceffivamente lurainofo a
pezardo odiò,&da barbaridade, icoroando-íe comas palmas deinfinitos
Martyres , que fertilizarão aquellas íeàras Euangelícas com as vitoriofas
correntes do feu fangue. Naõ oífendem a eíle Sol as nuvens que fe lhe op-
,

poem, porque como a luz das fciencias, & das virtudes lhe he natural pou-
,

co importaó as contradicções dos que cegaõ com as fuás luzes , pois con-
fufo$,& defenganados de o naÕ poderem oífufcar, por fi mefmo fedefvane-
cem. Todas eftas prerogativas vejo Senhor recopiladas no Padre António
Cordeyro,quecomorayo procedido daquelle Sol difcorreo por todo efte
Reyno, allumiando com a fua doutrina as Univeríidades de Coimbra , & de
Évora , os Eftudos de Braga, de Lisboa do Porto , êc os da fua Pátria a fa-
,

raofa Ilha de Angra, & naõ fatisfeyto de lhe revelaras fciencias com fubti-'
lillimas novidades , começou a vida de Apoftolo nas fervorofas Mifíoês de
Vifeu , de Pinhel , de Torres Novas , de Peniche , & de outras muy tas po-
voações, em que ainda hoje na reforma dos coftumes que introduziò, fe
,

cílaõ vendo os documentos da f.!a piedade, &fe eftaó ouvindo as vozes,


com que os fez herdeyros do Reyno eterno. Comorayo daquelle Sol (ez
patentes na eítampa os fegredosda Filòfofía, os myftérios dá Theologiã
Eípeculativa, as regras da Theologia Moral 8c com duplicados volumes
,

guiou feguramente as confciencias, fervindo-fe para efte fim de ambos os


Direytos Canónico, & Civil taõ delicadamente interpretados, como fe efte .

fora o único cuydado de toda a fua vida. Hum talento taÕ admirável naõ fe
havia de coarílrara humafó profiííaô,era de razaó quefefizcfte conhecido
pelo eftudo de outras matérias. Aftim o moftra a prefente Hiftoria das Ilhas,
era que me parece o Padre António Cordeyro com o Padre António de
Andrada da mefma Companhia defcubridor do Graõ Cathayo , ou Reynos.
deTibet. Bemfepòde dizer que o Padre António Cordeyro defcubrioa-
gora nas Ilhas dos Açores huma das mais nobres porções do dominio de V.
Mageftade,pois ainda que ellas fe começarão adefcubrir pelos annos de
i432.eftavaõ atè agora como encubertas pela falta das fuás noticias; po-
rém agora o incançavel zelo da gloriada fua Pátria perfnadio,& obrigou ao
Padre António Cordeyro , a que de novo as defcubrifte com a relação da
fua grandeza & da fua fertilidade.Atè nefta propriedade parece o Author
,

verdadcyro filho do Sol da Companhia, porque nefta Hiftoria nosdefco-


breosilluftresafc€ndentes dos moradores daquellas Ilhas ,atè efte tempo
^ ** •
quaíi
F

^uâííocGultos j & pela aaividadeda faa penna refgata do cativéyroda ig-


norância canta , & taõ venerável Nobreza que deyxa em duvida quem íe^
,

de fangue nobre , a Província do Minho , ou as Ilha^s dos Aço-


ja mais fértil
res ? Mas diremos era obfequio de ambas , que fe huma lhe deo os
povoado-
res , naô degenerarão os povoadores da grandeza herdada dos feus
afcea-i

dentes. Entendo , Senhor , que efta Hiftoria , em que naõ vejo nada concrí
o Real ferviço de V. Mageítade, merece o beneficio publico daimpreíTaõs
para que confte ao mundo, que na peíToadc hum fo Vairallo íe acha uni-
do,© que ainda dividido.fez grandes, & celebrados a muytos homens. V".
Mageítade mandara o que for fervido. Nefta Gafa de NoíTa Senhora da Di-
vina Providencia, a 4. deFevereyro de 1 7 1 7.

D.JofephSarhfaC.R.

«*
•>^ii?E«-"S^ii^— #^:iH--"#^:i*i.^'""-*€^'iJ^^^^^^

QUe poíía iiTiprímir, viftas as licenças do Santo Officio , de Ordiná-


fe
&
rio , & depois de impreiTo tornara á Mefa para fe conferir, taxarj Sc

fem iíío naô correr à. Lisboa Occidental 1 1 de Fevereyro de 1 1


.
7 7.

Duque P, Cofia, Andrade, Botelho. Terejra. OUwyra, Noronha.

Stà conforme com ofeu original. Lisboa Occidental. 13. de Setem-


E bro de 171 7.
Z). António Caetano de Soufa. C. R.

VIfto eftar conforme com o original , pode correr. Lisboa Occidental


14. de Setembro de 1717.

Hafe. Montéyro. Ribeyro. Rocha. Fr. Rrodrigo Laneafife. Gmrreyro.

correr, vifto eftar conforme. Lisboa Occidental 15. de Setembro


Ode cor
Pode
dei7i7 Cardõfo^

Axaõ efte livro em dezafeis toftões em papel. Lisboa Occidental 14J

T de Setembro de 1 717.
OUveyra. Noronha.

INDECE
.TITULAR DOS LIVROS,
índice E SEUS CAPÍTULOS»
L IV R O P R I M E Y R O
Da creaçao dm Uhm Occidentaes , tocantes a Mmanhm
Voftugueza,

C^}SV^^^
CAI \ P.^ '"^^^^ II.
^^^ ^P^*^^^^ ^0^'^^ n<^ ^àteria.pai, ti
Dafabulõfa Ilha Atlanta. pag.
.
3.

CAI-. IV. Vos que metferao a Idolatria


talha que houve nella.pag.C.
em Hejbanha ,
^ & da tprimeyra
j h^
QkV.V Do decimo qmnto Reyde Hejbanha Atlante, fundamento âa
fà^
bulqfa Atlanta. pag.^. -^ -

CA P. V Dos outros Reys de Hejpanha defeendefiteí do Atlante,


I.
pag. i o.
CAP. VII. Dos Reys Lufo, é-jua Lufitana defcendencia.pag, 11. *

CAP. V III Dos Interregnos quehouveem a Lufitania.pag.


13.
CAP. IX. Dafundação de Lvsboa em tempo do Melhfluo Rey
GorgoriSiè'
é- Rey Abidú, fundador de Santarem.pag.
Utyjjes,
15.
CAP.X. Das eftenlídadesyà- incêndios deUef^mha^ vinda dos
Celtof.
fundação de Fizeu.pag.iG.
CAP. XI. Finda dos Carthaginezès, Lacónicos, Gregos,funda€aÕ de Bra-
ga,Coimbra,Aveyroy&Lagos.pag.iÒ.
CAP. XII. Vmda àos Romanos , a que venceo o Portuguez Príncipe Fu
rtato.pag.2o.
'

CAP. XIII. De outras guerras de Portugal i&dofiu grande Capitai


Sertorio.pag.2'^.
CAP. XIV. Fmda de Júlio Cefar a Portugal.pag. 30.
CAP. XV, Império de Augujlo Cefar, unido com Portugal ^ ate a vinda
de Chrijlo ao mundo. pag. 31. r^
"CAP. XVI. Conclufao do principio das Ilhas. pag. 55'

L I V R O S E G U N D O
Das llhm Canárias, & das de Cabo Verde.
CAP. I. Do Infante Dom IJenriquei primeyro defcubridor de Ilhas , é"
de novas terrasfrmes.pag.^y.
CAP. lí. Do antigo Hijloriadorde Ilhas, o Venerável Doutor Gafpar
. Frutiuojo. pag.^o.
CAP. í n. Das Ilhas chamadas Canariat. pag. 4^.
CAP. IV. Dodtreyto de Portugal as Canárias, pag ^^.
Cx4P. V. Dagrandeza^ér qualidades das primeyras quatro Ca$arias.
CAP. VI. Da Graa Canária, ^ mau Ilhas fuás.pag.i^ 2.
5©*
n
C A P. V 1 Da geral nettcta das Canárias, pag. 5 5
.

CAP. VIII. Das Ilhas de Cabo Fèrde^ é^feu clima. pdg. 57.
CAP. IX finalidades das principaes Ilhas de Cabo Ferde.p/^'jS.
.

TfTP
II LIVRQ
LIVRO TERCEYRO
mm^i^ Das lihasde Porto Santo ^ & Madeyra.
Vos prmeyros defiuhriàores ò- Povoadores de 'Santú\ 'Porto
CAP. pag.di.
I. ,

CAP.U. DoJltiOiqualidadeSi & Povoadores de Porto Santo, pag.6^.


CAP. III. Dos Capitães Donatários da Ilha de Porto Santo. fag. 64.
CAP. IV. Doprmeyro cafmly&fó parcid defcubnmento da Madeyra. djl
CAP. V. Dodefiubrimento detoda allhajfeytopor ordem do Infante Dom
Henrique. pag. 69.
^ ^
dÀP. VI. Do terceyrodefcubrimentoâo interior da Ilha de fuás duas Ca^
-,

pitanks,e_^malmentedadoFunchal. pag.72.
^.XJ4P. VIL Do intemr da Capitama do Funchal , defua
Cidade^ feufi-^ &
ti0.pag.y4,,
CAF.Wli. Dointerior da Capitânia de Machico.pág.j%.
CAP. IX. Dos Capitães Donatários de Machico. fag. 79.
CAF.X. Do primeyro Capitão Donatário do Funchal.pag.S^.
CAP. XI. Dofegundo Donatário > & Capitão do Fimchal.pag.%').
CAF.Xll. Do terceyro Capitão chamado o Mâgmfco. pag..%j.
i

'Si'
'Tl!
.CAP. XIII. Do quarto Capitão Donatário do Funchal pag.^S.
CAP. XIV. Do quinto Capitão, & prmeyro Conde da Calheta, pag.%^.
CAP. XV. Dofexío Capitão, é^fegundo Conde da Calheta.pag-S i
CAP. XVI. DoprincipiOi&atigmentodo Efiado Fcchfiafiico em a Ma*
deyra.pag.^2^
CAP. XVII. Conclue-fe com a Madeyra, Ilhas deferias, & outras, pag.^^.

L I V R O Q^U A R T O
r Da Ilha de Santa Marla^ que daí nove dos AJforeÈ ,foy a
pnmeyraque fedefcubno.
defcubrirem-, & das Formigaspri"
CAP. meyro
Dos fundamentos para
I.

apparecidas. pag.^J.
fe

CAP. giMemforao, & de que qualidade eraí osprimeyros defctíbndores


11. ,

da Ilha de Santa Maria. pag. 99.


CAP. III. Daafcendenday& defiendkiadosPovoadores datai Ilha.p.ioi,
CAP. IV. Da altura, povoações, & fertilidade da Ilha. pag.104,.
CAP. V. Do traâo do Norte, é-feu interior da Ilha &fmgularidades ,

delia. pag. IO"/.


CAP. VI. Doprmeyro Capitai Donatarioda Ilha de S.Maria. pag.iio.
CAP. VIL Dofegundo Capitão da Ilha.pag. 1 1 1.
CAP. VIIL Do terceyro Capitão Donatário de Santa Mana.pag. 1 14.
CAP. IX. Do quarto Capitão Donatário. pag. 116.
CAP. X. Do qmnto Capitão Donatário da Ilha.pag. 117.
CAP. XI. Dofexto Capitão da dita Ilha. pag. 1 20.
CAP. XII. Dofeptimo Capitão Donatário Bros Soares deSoufa. ibid.
CAP. XIIL Dos Commendadoresda Ilha de Santa Mana.pag. 122.
CAP. XIV.. Conclue-fe com a Ilha de Santa Maria, &fuasprerogativaSi
í^i-i^^
CAp'.

W
I ND ! e 1.

LIVRO Q^ U I N T Q
Da Ilha de Saõ Miguel. j^
CAP. Defiubnmento àa
I. tal Ilha, & defem t>efcuhridores.pag. % t^^
C AP, IL Do melhor defeubrmemo , é- defmpçatí da Ilhade Saí Mi>^
guel.^ag. 129. , ,

CAP. íli. Definfçaí geral de S.Mig.&f articular da bandada Sulp-J^i,


CAP. IV. Da antiga & nobre Fiíla Franca j Âgm de Pao , & Alagoa.
,

Q^V-V. Da Cidade de Ponta Delgada. fag.i^S. .

.ÇAP.VI. Continua adefirip^aõda Ilha, ó" ejpemlmmte do Norte MUi.


pag. 140. . .....

CAP. Vil. Dafamofa Filia de Ribeyra Grande^ & mais lugares do N0-^
^CAP. Vlíí.
j Je.pa^.14,2. r;.:^'
Do interior da Ilha,fem fogos, & tremores. pag. 14,6.
CAP. IX. Dfi outras furnas,fogos, & tremores, em ef^ecial de Filia Fràn-^
ca.pag- 151. í

CAP. X. Das partes a que chegou o terremoto de Vala Franca, pag.ii^j.


CAP. XI. Dapejie qfuccedeo ao terremoto, ér incêndios qfuccederao.p.itjSi
CAP-XÍÍ. Dos terremotos, e^ mcendtos maií modernos, pag, 164,. •>

•CAP. XllI. Dos prmeyros três Capitães Donatários da Ilha deSaoMi"


guel.pag. 167.
.CAP Xi V Do quarto Capitai Donatario,Joao R&drigueZiOU JoaÕ Gon*
. .

çalves da Camera- pag. 172.


CAP. XV. Do quinto Capitão Rm Gonçalves da Qamera ,fegUHdo don^
me. pag. 174.
CAP. XV Dofexto Capitão Manoel da Camera,prinieyro do nome.p. 1 76^
1.

CAP &
XVII. De alguns homes famofos , familiar que vierao povoar d
Ilha de Sao Miguel, pag. 1 79.
TIT . J. Dos Felhos, Cabraes, Mellos, Travaffos , Soares de Albergaria^
& Soufas. pag. iSo.
TlT.ll. DosCameraSiò- Betencores.pag. 1$^.
TIT. III. Dos Gagos,Rapofos,Fonces,Bicudos,Correas,Pachecos.p.i%j
TIT, iV. Dos Botelhos,Leytes, Jmaraes, Fafconcellos. pag. 190. &
TIT. V. Dos Meâejros, Jraujos, Borges, Soufas,Rebelos, Dias. p.i^/^,
TIT. VI. DosBarbofas, Silvas , Tavares , Novaes, g^entaes , FartaSi
Machados, pag. 201.
CAP. X VIII. í)as rendas i riquezas,ferttUdade,&frutos da Ilha de Saa
Miguel, pag. 20 /.
CAP. XIX. Da valentia, & defireza dos de tal Ilha ; do muyto quefe vivé
mlla,ò' dos monfiros que nelíafe virão. pag. 215.
CAP. XX. Da Fèneravel Margarida de Chaves ,tida commummente pot
Santa, é^ milagrofa.pdg. 221- '^

CAP. XXL
Dafundação doCollegio da Companhia deJESUSém Saè
.' Miguel.pag. 22%.
CAP.XXIÍ. Dos Reitores do dito Collegio de todos os Santos de
Pmtd
Delgada. paji.i^i).
CAP. XXIII. De outro temmato, é-figo.quehowve em SMguelp^^p
CAPí
,ÁÍ!
l ISf D I C H.
LIVRO SE X TO
!^
ba líha Terceyra, cabeça das Terceyratl
CAP. I. DodefcubrimentOi Nomes, é" Armas da Ilha Terceyra.p.t^ft
GAP. Dofnmeyrot>onatariOiò' Povoadores da Ilha. pag.2/\,7,.
11.
I i

CAP. III. Dos Capitães Donatários defó a Capitania da Praya.pag. 248,


CAP. IV. Dos Capitães, Cortereaes, da Capitania de Angra. pag. 250.
CAP. V. Defcreve-^fe a Capitania daPraya , &fuM povoações: pag. 2^5.'
&
CAP. VI. Da nobre Filia da Praya, termo defua Capitania. pagri^^.
CAP. VII. Da Capitania de Angra , defde a Villa de S. Sebajltão ate a Ci'
dade.pag. 260.
CAP. VIU. Das Fortalezas pe cercão por mar,& terra á Angra.p.iíj^
CAP. IX. Da mayor Fortaleza, ou Cajtello de Angra pag. 264. ,

CAP. X. Dafamofa Cidade de Angra , érfiu nome. pag. 268.


'íll
CAP. XI. Do governo Ecclefttfiico de Angra ò-^em Btjposfobre as mait
,

Ilhas TerceyraSim dos Ajjores.pagi 2 75.


CÀP.XIL Do EJlado Relígíofo, qne ha em Angra. pag. j8i.

é: CAP. XIII. Dos outros Rehgwfos Conventos de Angra. pag. 288^


CAP.Xl V. Do trato, & governo da dita Cidade, pag. 29 1
.
CAP. XV. Da Capitania de Angra pelo Sul, & Oefie. pag. 298.
•111 &
CAP. XVL Do Certao interior, fertilidade da Ilha "íerceyra.pag. 30Ò;
CAP. XVII. Da nobreza que entroUi povoou & ainda habita a Ilha Ter»
,

y ceyra.pag^ioj.
Dornellas , Nonh
li^
Dos Bruges, Arfas, Pains , Téves , Homés , Cameras ,
nhãs, Pamplonas, o- Fonfecas. ibid.
CAP. XVIII. Dos Cortereaes, CofiaSi Silvas, Monizes, Barretosy é- Sant*
'!!!
payos.pag.^ii-
CAP. XIX. Dos Cantosjó- Cafiros,& defuaafcendenciayó- defcend.p.-^i^.
CAP. XX. Dos Borges, Cojl as. Abarcas, Pachecos, as, Velhos, S- MeU Lm
los , ^ de outros, Homés Cojias. pag. 320.
'CAP. XXI. Dos Cafiellos-brancos, Carvalhaes, Lobos, Stlveyras, EJ^inO"
las, Lemos, Betencores,Dornelas, é^c.pag. 325.
C AF. XXI I. Dos Fafconcellos, Regos , Baldayas , Camelos , Pereyras , éf
Soufas,é^c. pag. 2,4.0.

CAP.XXIII. D0sBarretosdaRealcafadoS.Bõrja,do tronco dos Tava^


Vkyras, Machados, Pachecos,&c.paz-^4<^-
res,
CAP. XXÍ V. Dos Cordeyros, &
EJfmofas. pag. 348.
CAP. XXV. Das Guerras da Terceyra com Cajlella, pelofenhor Dom &
Antomôyé-fempre por Portugal pag. ^1)^.
CAP. XXVI. Dasprimeyras Armadas que invefiirao a Ilha Terceyra, &
da batalha dada defronte de S. Miguel, pag. 361
CAP. XXVII. De algua parcialidade quefe levantou em Angrapor Cafiel-
la, morte de humfidalgo, & perfegmção da Companhia, pag. 365.
CAP. X XVIII. Como chegou, & na Ilha Terceyra ofenhor D. An-
efieve
toniOfó-fzhio delia. pag. 2,6^.
CAP. XXIX. Da ultima Armada com qCafellarendeo a IlhaTercp.-^yj.
CAP. XXX. Do mais que Cajlellafez nas Ilhas,& da ida,à' cafamento de
D. Violante do Canto & Silva. pag. 3 74.
CAP.XXXI. Da Acclamaçao delReyD.Joao olVna Terceyra. p.2,%0.
CAir,

w
CAF. XXXII.
I NDr E. C
.Começa Angra a^mrnt^ rende a Fortaleza de Saa
SeUp.
tíaú,acclamaaElRejD.JõadolF.pag.^S^.
CA?. XXXXII. Da Acckmaçao feyta nas mau Ilhas, pag.it^^y.
CAP. XXXIV. Doprmeyrofoccorro de Cafiella, tomaáopela Armada
da.Tercejra :vmda do Padre FrancifcoCabrai.pag.^%^.
CAP. XXXV. Do cerco do CaJMo grande jó- dofegundo foccorro me a
j i j <=>
." ilha lhe tomou. pag.^(^i.
CAP. XXXVI. Do avifo qm o Çajiello mandava a Cajiella & lho tomou
,
r allha.pag.zs^.
CÁF.XXX\llDosfMccefos defiefatal cerco do grande CaJlello.pag.7,()G.
CAP. XXXVIII. Dasmvejiidas da Qdade ao Ca/Mo & do qm obrou ,

- oVifitador da Companhia d&JESUS.pag.i^^. . ^r ..j

CAP. XXXIX. Da entrega do Cajiello, & ejtado em qmfiçoii a Víteriofa


Terceyra.pag.^oi.
CAP. XL, Das circunjlancias gloriofaSi com que Angra^por hu anno intej-
' rOi cercQUi& conquifiou amconquifiavel Fortaleza.é- qmdejiachoipor
ijfofelhe derao.pag. ^07,.
CAP.XLI. Das pejjoas mais ínjignes em valor &fantidade quedajercey-^ ^

rafahirao.pag. 4,06. '— ,.

CAP.XLIÍ. De outros fugeytosfantos da mefma Ilha Terceyra.pag.^of).


CAP. XLIII. De muytas maU pejfoas, emperfeyçao ilkjlres,que da Terceyr
rafahirao.pag.^ii.
CAP. XLI V. Do illufirijjimo Martyr João Bautijla Machado^ da Compa-^
nhtadeJESUS.pag.^1%.
Da nohltffima Genealogia do inviBo Martyr. pag. ^2 j\f,^

LIVRO S E P T M O I

Das Ilhas de SaÕ Jorge, & Gr aciofa.


CAV l.Do
CAP. Dos II.
defcubrmentOialtura,& grandeza da Ilha de S.Jorge.p.^i^
primeyros povoadores i &
povoações da dita Ilha. p.^26.
C AP.III. Dos tremores de terrajé^ outros infortúnios que teve a Ilha de Sag
CAI IV. Das excellencias da tal Ilha.pag. 430.
.

CAP. V. Da mbiliffima Ilha chamada Graciofa^ &fuafituaçao.pag.j^i2,


CAP VI. Das põvoaçÕeSjÇ^feu interiori&fuajingularfertilidade, p-4,^^.
.

CAP. Yll.De quandOió" quem defcubrio aGraciofa,&prim.Donat.p.^^^>


CAP. VI II. Dafua nobre Genealogia , dos SodrhiBarretoS) Correas C«- ,

nhas,PereJlrelloSjFurtados,MédoçaSi^ outros povoad da Grac.p.4,^ 7.


^A^.lX.De outros CapitãesDonatariosd^ Gracwfãi dosfem Ferreyras
ò" Mellos^é^ defem Régios troncosj ér afcendentes. pag. 440
CAP. X. Dos Fajconcellos, EJpinolas, SoufaSió- outros de Portugal quepO"
voarão a tal Ilha. pag. 44^.

L r V R O O Y T A V Q
Das Ilhas do Fayaly &?ko.
Da altura ^grandeza &
C AP. I.

éf interior da Ilha.pag.
,

45 1
coJlí> do Fayal , da Filia de HortSi

CAiP.
ir
TN D I a E. -

-CAP. II. I>6 quanàoy&por quemfe defcubno.pag, 45f


C AP. III- 'Dos Capitães JJonatanos do fayal. pag. 45 7-
CAP. IV. Dospnmeyros povoadores & §uadros Siiveyras. Utras , ,
Cu^
nhãs, & Boémias. pag.^,')^^

CAP. V. T>os Brmn,& FriM^ Pereyras, & Sarmentos.pag. 463.


CAP. VI. Das mau excdknaas da Ilha do Fayalpag. 4Ó7. ;

doPtco.4,6^,
CAP. VII. Do defaérmento,altura,&gradeza da fatal Ilha
CAP. VIÍÍ. Das Filias, & Lugares dejía Ilha do Fíco.pag.^7 1

CAP. IX. Do interior, & dmaJerttUdadey &frutos defia llha.pag.4.7^.


mas na
CAP. X. Do Picoãltifmo & do tremor &fogo que nad nelle
, , , ,

m. Ilha houve, pag.^j^: j tu j t>-


CAP.Xl. Dos povoadores, riquezay nobreza »& gGwrm dallhadoPh
CO. pag. 477,

L I V R O N O N O
Das I/has, F/jr es, & Corvo, & das que fe e/pera âefctihrír
de novo.

CAP. I. Da altfira,grandezai defcubrimento, érpovoiçao da Ilha das


Flores, pag. à^%i>
p
GAP. II. D^- còjtas marítimas , & povos interiores defia Ilha , & dejens
, ,

frutos, pag. /^^2- Tií j .


CAP. IIÍ. Dogoverm Ecclefiaflico , civil , & militar , que ha na Uhaáas
III
Flores. pag. 4,^').
^ ^ a tu Qt
CAP. IV. Da qualidade, ou nobreza de familias^ povoarão eJtalim.^Vr
CAP. V. Da Ilha quefófe chama o Corvo. pag. 489.
CAP. VI. Donmcofeu lugarjunt0,rendimento,& frutos dejia Ilha. p.^^i.
CAP. VII. Do.Donatario,&fruto,áeftas duas llhas,Corvo,& Flores.^^2.
CAP. VII Das Ilhas quefe ej^era defcubrir de novo. pag. 494.
í .

^- CAP. IX. De outras Ilhas que ha nefie noffo Oceano ,por defcubrir amda.
,

pag.áif)^. p
CAP. X. Compendio da Htfioria das Ilhas,para ojuízo, queparaje conjer-
varem,fe deveformar delias, pag. 497
CAP.Xl. Contmua-fe o Compendio antecedente, pag.4.^^.
C A?. XU. Conckfao do Compendio acima. pag. lioi. ^
mas
CAP. XIII. Do com que fe deve acodir a efpiriíual necef/idade das
• '
Terceyras. pag. 503.
^^o^.
CAP. XIV. Complemento do governo Ecclefiaflico das Ilhas Terceyras.
CAP. XV. Comofe confervarà o governo poUtico,&juridico das Ilhas. 508.
militar, em
CAP.. X VI. Do que fera mau conveniente modo de governo
eflas Ilhas. pag. <) 12.
CAP. XVU.Do marítimo governo,que deve haver nas ditas Uhas.pag.<, ib.
CAP. XVIII. Da mayor fidelidade que as Ilhas Terceyras guardarão a
,

\\v,
Portugal, &
da que Portugal deve fuppor, aguardar com ellas.p.^^io.
CAP. XIX. Exhorta^aífnai das mefmas Ilhas. pag. 'ji^.

LIVRO
Pâg. tr

HISTORIA
INSULANA LUSITANA.
LIVRO P R M E Y R O I

Da creaçaõ, ou principio das Ilhas Occidentaes^


tocantes à Monarchia Portugueza.

T U L O
C A P I I.

DAS VARIAS OPINWENS, QUE HOUVE


em efta matéria*

RIMEYRA òpimâõdemuytosfoyjqiieto^ _ .

das as Ilhas que hoje ha no mar Oceano Ocei- ^/''^'r'* opinhòfo^


K'"'''
dental , foraó em feii principio partes
da terra
IZlZ"^'""
firme de Europa , & , Africa partes contíguas ^^ ^^^^^^ ^^ p^^^^^
comella,fem entre ellaSj& aterra ^'[^Qh^^-gal^drasdoPonoSã-^
ver entaó mar Oceano algum , como agora ve- to,& Madeyra toma
mosque hajôc que as Ilhas Terceyras , vul*^ ^*^r* de Monchique
garmentc chamadas dos Açores , fe continua- *"' f^''^f'f^ ^J ^"^^
VaÕ com a terra da Villa 4e Cintra,& por efta com aferra da Eftrella, qiíe XcmZtka!°^~'^'
em Cintra vem acabar, & ambas faó ferras bem celebres em Portugal : & ^ "
*

que as Ilhas do Porto Santo , & Madey ra eíaó contíguas com a ferra de
Monchique do Reyno dos Algarves; & atè das Ilhas chamadas CanariaSj
fente efta opinião que fe continuavaó com Africa, & eraó parte delia j Sc
muy to mais fente o mefmo das Ilhas chamadas de Cabo Verde.
2 Funda-fe efta opinião, em que de outra forte ficariaó fundadas
no ar, & naó póderiao fuftentarfe , como vemos fuftentarem-fe atègora.
Econfírma^fe porque vemos que quem das Ilhas Terceyras navega a
•,

Portugal, vay ordinariamente demandar a Rocha de Cintra, como cada


parte vay naturalmente bufcar ao feu todo lògõ defte todo eraó aqueU
:

las Ilhas parte ,& naó mediava de antes o Oceano. Efta opinião refere o
11
Doutor Gafpar Fruduofo , varão na virtude , & letras venerável, de que
em feu lugar faremos a bem devida memoria, & referera no feU tomo ma-
jiiufcripto lib. i.cap.iy. cujo original eftá no Collegio da Companhia de
JESUS da Cidade de Ponta Delgada da Ilha de Saó Miguel, que vi com
attençaó, & todo fielmente copiey.
A Pare*
% Livro I. do principio das Ilhas do Oceano Luíitanas.
Parece porém não ter fundamento , mais que imaginaripj cfta
3
opinião j porque para que ás Ilhas não ficaíTem fundadas no ár,mas pu-
''Afuprapofia <'/'f«^'«o

he chmertca.
deíTem fuílentarle, não he neceíTario continuarem -fe, a olhos viílos , com
algúa outra terra firme , íem mediar mar algum ; pois bafta continuarem-
fe erao feu próprio , & terreno fundo do niar , do qual fundo fobem aci-
ma fobreeííe mar vaftillimo , em o meyo do qual ficaõ feytas Ilhas ,&
mais firmes , de algum modo j do que a chamada terra firme porque al- ;

'1,
fim coroo a terra que não tem por cima mar , tem comtudo altos mon-
,

tes, & entre fimuy diftantes com profupdiíiimos valles,fem que porif-
|b os montes íiquçm fundados no ar, mas em fuás próprias raizes mais fir-
mados , & exemptos , do que os inferiores vallcs allim também a terra,:

que tem por cima de fi aovafto mar, (pois naó ha mar , que naõ tenha
por bayxo de fi a terra , & mais ou menos abayxo ) lá fe divide também
em feus vallçs rnais profundos , & em feus monteg táoaltos que faliem ,

íbbre o mar, & algús fobre as nuvens, êc formão em cima as Ilhas, de que
'ê algúas faõ ta6 grandes , que excedem a muy tas que chamaó terras firmesj
como ainda íe duvida, fe a America, ou o Brafil he terra firme , ou llhajôc
Ilhas fabemos que fap Inglaterra, Efcoçiaj &: Irlanda, & outras ainda ma-

yores.
ri 4 E quanto à confirmação
acima oppofta » de que, quem vem das
iliias Terceyras para Portugal , vem fempre bufcar a Rocha de Cintra,

como cada parte ao feu todo razão he ifta indigna de allegarfe j pois he
:

(^ argumentar das obras da natureza para as da liberdade humana, & efta


'!!',
coftuma ir bufcar a parte aonde temo aegocio a que vay & a natureza -,

fempre vay, & neçeíraríafnente,defnandar o feu centro: & aífim comofe-


yia muy to
aéreo dizer que as ditas Ilhas Terceyras faó parte de Inglater-
ra, de França , de Hollanda, do Maranhão, de Angola, ou do Brafil, por-
que a eftas partes le vay das ditas Ilhas, rnuy to amiudadamentej aíTi pa- m
rece dizer aéreo, que porque das Ilhas Terceyras fe vem bufcar a R ocha

de Cintra,por iíTo deíla laõ partf Não ha pois que tratar de tal opinião.
.

A ^ fegunda opinião he tomada ejfPz^/o^.P/áiíowííí, de Thymeo,


1- ,
'-"d
haviaiànovemilannos,queos Athe-
fSofJlTAdJ.^W^^^^^
ta vencedora de Hef. nienfes tinhâó vencido, &
íiibjugado o beílicoío povo da Ilha Atlanta, 6c
pmha , & dcftrmàa que houvera efta antigamente no Oceano Atlantico,de Africa para o Po-
depois, & convertida gute 5 & que OS Reys da Atlanta er ão tão poderofos , que vencerão aos
em o Occídentalvaf- |^eys de Hefpanha, & fephoreàrão grande parte delia ; & no colloquio
t9 Oceano.
^^^ intitulou também Atlanta, diz defta Ilha coufas admiráveis. Donde
inferirão algunsj com o raeímo Platlo, que pois a Atlanta era mayor que
Africa,& Afia juntas , extendendo-fe defdeCadiz ,ou boca do Eftreyto
atè ás que hoje chamão índias de Caftella , ou Antilhas , &c atè ás gran-
des Ilhas chamadas, a líabella , ou S. Domingos , ( que tem de compri-

mento cento & cincoenta legoas, 6ç de largura quarenta ) a Ilha que &
hoje chamão de S. Joaó,& outras varias Ilhas inferirão, que a tal Atlan-
-,

ta occupava a mayor parte de todo o Oceano &, que entre ella, & Heí-
,

panha naó havia mar algum^ accrefcentando que a Atlanta fe fobvertèra


,

eom immenfas aguas que por ella corriaõ , &: com os fataes incêndios,
as
& t6rremoto3,que dos mineraes de cobre, enxofre, falitre,pedra hume, ar-
rebentarão de talforte,quetodoofe,uvaítiflimo lugar ficou fey to hum
í- /. .
. mar

W
GJápi I. 8c II. Das primeyras duas, Sc falfas opiniões* j
mar apaulado , fem em muytos annosfe poder por clle navegar^ atè que
com o tempo fe purificou a lagoa tão fatal , & ficou hum Oceano Occi*
dental , & navegável & nelle
, miiy tas llhàs , como relíquias da Atlantaj
de que humas faó as fobreditas Terceyras*
6 Confirmaõ efte juizo com muytos , & mtiy vários ejíemplosa
tirados de António Galvaó no feu tratado de diverlos defcobrimentosi
porque naõpòde negarfe que houve já em outros tempos muytas terras^
lihas , Cabos, & Angras, ou Enfeadas , que desfizeraõ as aguasiôc aparta*
raó humas das outras , pela pugna natural dâ humidade da agua com afe*
cura da terra } & aflim dizem muytos , que junto a Cadiz houve as Ilhas
chamadas Frodifias, muyto povoadasj & que a mefma Ilha de Cadiz era
antigamente continuada com Hefpanha j & que de Heípanha a Ceuta íe
continuava a terra firme, & fe paflava por terra 5 a Ilha de Serdenha com
Corfega,a de Sicilia com Itália ,Negroponte com a Grécia i&confór*
meaPlinio lé. 2. cap.Òy. g^ loo. antigamente fe formarão de novo as
Ilhas de Delos, & Rhodesj & a húa o mar cortou da terra j como a Sicilia
da Itália, a Chipre da Siriaj & outras a mefma terra firme livrou do mar
parafi: femelhantemente pois podemos dizer com fundamento , que as
Ilhas Terceyras , ou foraõ partes da Atlanta ou de Portugal foraõ cor-
,*

~"
tadas.

ito«K

CAPITULOU.
DafabulofallhaAtlantà*

7
U
T^Eftafegundaopiníaój como de huma mais krgí explicação
da primeyra, & confirmação , fe pôde dizer fer mais falfa a* ^^XHnda epwiad dÀ
inda, pois ordinariamente húa mentira fó com outra fe confirma ; & airi* ^^^""^^ > ^^ fahalâ^,

da que a authoridade de Platão he muyto grande no que prova coma-f''?/^^f^ ''^^'**

razão , & mereça credito de tef ouvido o que conta que ouvio ^ nenhum ^""^ ^
credito merece quem lho diíTe , pois faó faáos, que fem fe provarem, íiâo
ié crem mayormcnte quando feus fundamentos, ou faó maiiifeftamentd
j

falfos , ou íonhos aéreos , & contra o commum fentir dos mais Hiftoria*'
dores. Vamos pois aos fundamentos.
8 O primeyro fundamento de Plataô he , havei* elií íêu teitipoji
nove mil annos que os Athenienfes tinhaõ vencido aos moradores da Ilha
Atlanta & ifto he tão falfo , que fe falia de annos folares de doze mezes
-,

cada hum , nem ainda hoje ha tantos annos que Deos creoU o Ceo j & a
terraj & fe fuppoem que o mundo dura ab sEterno , como parece fuppoz
depois feu difcipulo Ariftoteles, he húa quafi herefia, que fe fíão pôde di*
zer;fe porém falia de annos Egypeios, ou lunares j deites não contém
mais nove mil, que fetecentos & cincoenta annos folarcsj & como PlataS'
floreceo quatrocentos & cincoenta annos antes da vinda de Cíiriftó, qíie
juntos com os ditos 750. fazem mil& duzentos annos folares antes d<í
nafcimento do Redemptor , fegue.-fe que temerariamente diíTeraõ â Pia»
tão, (fem efcrita hiftoria alguma , ou outra prova ) que 75 o. annos útitest
*
çinhão já os Athenienfes vencido a Atlanta » pois nem teftemunhas VíVaâ
Ai) pofl

-j
4 Livro I. Do principio das Ilhas do Oceano Luíitanas.
podíaójà então ter de Ti^íQi.annosantepaflados &abayxo veremos que
i

J200. annos antes da vinda de Chrifto 3 naó tinha havido tal Atlanta^mas
p Oceano immediato fempre a Hefpanlia. ,<
y, »tvj ,....,>i.ii >
,.; .

9 O fegundo fundamento he, contar Plataõ da Atlanta, que efti^


vera antigamente nefte noíTo Oceano , lançada defdea boca do Eílreyto,
ou de Cadiz atè as índias de Caftella ,gu Antilhasj^ & que era mayor que
Africa , & Afia juntas & que entre ella , & Hefpanha não havia mar al-
-, .

gum i mas que , por fe fóbvérter com agiias, & mcendios , deyxára o feii
vaítiáimo lugar feyto hum paul,. & por muytos annos innavegavel 3 atè
que com elles purificado , ficou feyto o Oceano Occidental que hoje te--
mos. Ao quefe refpondcj qijeeom muyta razaó a hiftoria fe comparou à
pintura, pois o hiíloriar lem fundamento , he pintar como querer j ôc
quanto fem fundamento fe diga o fobredito,
10 Moíbra-fe primeyroj porque implica, & repugna com a razão,
:lt! ter eftado a Atlanta nefte nofíb Oceano , & com tudo fer mayor que Afri-
ca, & Afia juntas ; pois ( como confta por experiências ) de Portugal a
Goa vão cinco millegoas, & de Goaá China vão mais de mil , & duzen-
tasj & fabe Deps quantas vão ainda atè o fim da firme Afia j por expe- &
riência também conft^ , que efte Oceano todo não tem tantas íegoas}
pois ainda que a Atlanta não correíTe defta forte , de Occidente a Orien-^
te, (oquf? herontra onícfmoPlatão) mas correfl^e denoíTo Norte ao
Ill

Sul, ainda por^^eíía via não he mayor o Oceano , defde o noífo Norte , &
Pólo Arâiico atè a terfã Atiílralalèm do Eftrey to de Magalhães da parte
do Pólo Antartico: logo fe a Atlanta era mayor que Africa, &: Afiajun*
tas, & o noíTo Oceanq hémuyto menor que ellas[,'rfepugna ter eftado tal
Atlanta no dito Oceano , falvo fe diflerem que eftava no mais vafto , 6c
ajto ar, & ficará^ua opinião verdadeyramente aérea.
'

..

1 1 Moftra^fe fegundo j porque também contra â razaó natural


he, queeftando a dita Atlanta pegada com Hefpanha, fem haver mar eu-?:
nt^^r^móaj/ÍI.
tremeyoj & eftando Hefpanha , & Europa com Afia , & Africa pegadas,
ra ^dado qtte a. hott-
vejfe^omõeTa^ que comtudo ainda a tal Atlanta foíTe Ilha porque Ilha he aquella ter-
5

ra, que por toda à parte he cercada de agua j & fe a Atlanta pegava com
Afia, & Africa , bem fe fegue que não era Ilha & fendo mayor que as
:

,
4}:iasjuntas,& naó fendo eftas( como confta} em fi Ilhas, menos opo-
dia fer a tal Atlantaj & fe o mar deftruhio huma tal , & tanto mayor parte
queAfrica,& Afia, com máyor facilidade deftruiria alguma deftas que
era tanto meiior que a Atlanta: logo coufa he evidente, que Atlanta
tal nunca houve em efte noflt) Oceano ,& que as noíTas Ilhas delle nunca
foraõ partes de tal Atlanta. E fe quizerem dizer , que pofto que a Atlan-
ta pegaíTe com Hefpanha , pegava comtudo por tam menor diftancia,
ou por lingua de terra tam pequena , que a ficava fazendo peninfula , id
efi ,pene infula, & poriflíb ainda com razão a tal Atlanta fe chamava Ilha:

a P contraiftoeftá, que ainda (como dizem) a dita Atlanta em fi era ma-


^
Africa , & Afia juntas & fe eftas fendo menores , ainda não faó
^^AdaMavencef. ^^^ ^^^^ •,

ílhas, menos O podia fer a tal Atlanta mayor.


fem aos deHe/pmha,
'

hefalfidade, apanha- , 12 Moílra-fe terceyroj porque dizer Platão,í/íyí//'rP.,que OS Reys,


dnpelos Reys quefo- & povos de Atlanta (por efta eftar pegada com Hefpanha) vencerão aos
rAõde fíe/jíarjha^ Reys de Hefpanha , & fenhoreàraó grande parte delia > &c. he falfidade
*»f" evi-
Cap^IILDafabuIofallha Atlanta,& prim.Reys daLufit. 5
evidente , que como verdade creo Plataô , 8c Ç cuydando fer tal } a efcre-
veo. Prova-íej porque das liiílorias mais antigas, &c geraes do mundo , ôc
emefpecialdasderiefpanhajfabemos dos tCeys todos que nella houve
atè hoje , defde o diluvio de Noè j &
de nenhum delles conta Author al-
gum (mas fó o fonhou Platão} que foíTe vencido de moradores da Atlan-
ta^íiem que com eftes tiveííe guerras , nem ainda das taes guerras ha hifto-
ria algúa , havendo-a de muytas outras guerras: logo fó fonhada he^Ôc nXo
verdadeyra , taõ chimerica Atlanta de r latão.

CAPITULO III.

Dosprimeyros Reys de UeJ^anha^ &PortugaL

n 65 6. annos folares da creaçáo do mun*


Abemos pois que aos 1

S
do 5 em que acabou a primeyra idade delle com o diluvio de
Noè j repartio eíle o mundo aos três feus filhos. Sem , Cham, Japhet, &
&
dando Afia a Sem , a Cham a Africa , deo Europa a Japhet , que an-
tes de vir paraella, teve ainda Una Arménia hum quinto filho, cha- %^^''"T"f
.j-if^
mado Thubal , que efcolheo para fua habitação a mais cccidental , &: ul- i,^j'i^ilg'^gf/pi,g^ ^
tima parte dâ Europa, que fe chamou depois Hefpanhaj ôccomo Deos „etodeJS!oè &apri-
então a cada hum concedia copiofa defcendencia para reparação do Uni- t„tyrA povoarão de
verfo, entrou Thubal jà com muytos defcendentes pelo mar mediterra- Hejpanha foyCttH'^
neo atè chegar ao Eftreyto de Gibraltar, & defembocar por elle em o vaf- vai em Perta^aL
to Oceano, vifto o qual, & não querendo verfe em outro diluvio como
Japhet feu pay , & feu avò Noè fe tinhão vifto , voltou fobre a mão di-
reyta , coíteando por mar fempre a terra , & veyo a dar em a foz de hum
viílofo , & bem efprayado aqui , faltando em terra , fiindou nella
rio , &c
húa povoação , a que chamou Cethubala , que quer dizer , (Ajuntamen-
to, ou Povoação de Thubal) Villa hoje celebre, & celeberrimo porto,feis
legoas da Real Cidade de Lisboa. Efta Cetuval porém foy a ordenada
Republica primeyra que houve em toda Hefpanha, de que foy opri-
meyro Rey Thubal , aos 145 annos do dihivio ,
. &
aos 1 80 1 da creaçaó
.

do mundo, & 2 161. antes da vinda deChrifto Senhor noíro:& reynou


Thubal 1 5 5 annos , 6c faleceo aos 3 00. depois do diluvio, & foy fepuíta-
.

do no promontório , ou Cabo de S. Vicente ; tendo fempre obfervado a


ley da Natureza de hum fó Deos, & a lingua Hebrea , & deyxando já po-
voada muy ta parte de Hefpanha , & muyto mais a efta fua primeyra , que
depois fe chamou a Lufitania. O r*çude Rey deHet
14 A efte primeyro Rey Thubal fuccedeo no Reyno de toda Hef- ^/„£y^ mbWoJnA
panha feu filho Hibèro, nella jànafcido, que Hibèro fe chamou, por no mentor da. pefcaria-
mefmo tempo ter vindo da Hiberia da Afia a Hefpanha o Gigante Nem- & bifneto de JVcè,
broth, fegundo primo de Hibèro , & neto de Cam , 6c bifneto de Noè j o fegmdo primo do 6f^
II
qual Gigante deo também o nome ao rio Ebro , & foy chamado Saturno: £"»(« Nemkroth,
como também chamarão a feu bifavò Noè, por fer Saturno nome que da-
vâo aos primeyros fimdadores,& fer Nembroth fundador de muytos po»
vos em a mais Hefpanha como aos filhos dgs fundadores chamavão Joti
j

ves, ou Júpiter a cada hum,6càs filhas charaavãojunosa & aos netos Her«
A iij culesj
6 Livro I.Do principio das llEas do Oceano Luíitanas.

cules 5 & aíllm fingirão os Poetas miiytas fabulas j mas não obftantevir
Nembroth com varias companhias de gente , & ferem bem recebidc-s de
Tluibal, fempre efte foy o Rey abfoluto de Hefpanha:,& depois delle feu
filho Hibèro de quem Hefpanha fe chamou Hiberia èc foy efte Rey o
, ;

primeyro inventor da pefcaria , & reynando trinta ôc três annos , falcceo


aos 333. depois do diluvio univerfal.
?, T!^" n^?á^ 15 A
efte fegundo Rey de Hefpanha Hibèro fuccedeo feu filho

neto terceyro de Noe


f dubeda^ OU J ubalda , em CUJO tempo morreo em Itaha leu treíavo IN oe,
qite então morreo: &
^6 90O. annos de idade i &
Helpanha fe hia povoando muyto , &r muyto
o quarto Rey foy Bri- mais por Cantábria 5 &
o que hoje chamáo Caftella , reynando 66. an- &
^0 ,
^Kí/?í«áí-» wa;- nos Idubèda 5 morreo aos 400. depois do diluvio, aos 1905. antes da &
tas Ctdades trn Por- ^ -j^^^ ^^ Chrifto.
A Idubèda fuccedeo por quarto Rey de Hefpanha feu
tHga ,&n2m oíí po-
aftey coado aos Lulitanos , lhes fimdou muytas
&'1que rpor maisri.
^^^ Brigo,
Tjoar Htberma,& lhe jij- j j j i
fuccedtono Reymfen Cidades, que tomavao
O íobrenome de Briga, como a r^-
Cidade de Lagos
filho Tago fHe deo o 110 Algarve fe chamou Lagobriga, a de Coimbra Conimbriga,& em gran-
,

nome AO RioT ejo \ &


de parte de Hefpanha veyoonorne Briga a iignificar omeímo que Ci-
mandou povoar Ber. dade & efte Brlgofoyo que mandou povoar Hibernia, que de outro
:

beria em Ajrtca &


Hefpanhol, chamado Hiberno , feu defcobridor primeyro, tinha já toma-
mia em a jia^
n ^^ ^ nome de Hibernia. Reynou Brigo 5 1 annos , & feu filho Tago foy ,

quinto Rey de Hefpanha , &


deo o nome ao celebrado rio Tejo ; & em

•3
trinta annos que reynou, mandou povoar Berbéria em Africa, Fenícia, &
Ofexto Rey &fiího
, Albânia em a Afia. Succedeo-lhe em fexto Rey de Hefpanha feu filho Be-
dpmntoJoyBeto,^
f chamado por fobrenome Turdetano) &delletoda Hefpanha to-
to ,'v
àeoonome deBettca jt^^- r / " \ a
a Hefbanha, chama- ^°^^ O nome de Betica^ que ficou a que hoje chamao Andaluzia, & ao no
o t-u \

dahoje AnialHzÁa,& Betis, que paíía por Sevilha ,& a que hoje chamaó Guadalquibir , nome
ao fen rio Betis], hoje Arabigo j que quer dizet-Rio Grande. Reynou pouco mais de trinta an-
CHadalqtiíbir-^&por nos , morreo aos 2167^ da creaçaõ domundo,5ii. depois do diluvio,
nao deyxar filhos a.
^ 7^0. antes do nafcímento de Chrifto & nefte Rey Beto , fexto Rey de:

^doí^ReLd^elbanha
Hefpanha^ & de Noè neto fexto, & quarto neto de Thubal, acabou a pri-
defcendentes de Noe ífieyra, & mais Real defceudéncia dos Reysde toda Hefpanha porque ,

femg^atè entaõhon- morreofem deyxarfilhos algus !& com ferem já entaó de Portugal muy-
i/ejfe noticia algua da tos OS povos, & Cetuval a principal cabeça delles , & de toda Hefpanha,

fakítlofa Atlanta; & Hnádi em PorUigal fe guardava a léy da Natureza ^ & de hú fó Deos.
ficando ainda PortU'
galem averdadeyra
Ity da Natarez.a , & C A P I T U L O IV.
de hUfó Deos,

Dos qiíe metíeraÕ a Idolatria em Hefpanha ^& da prhneyra


batalha que houve nella.
O /étimo Reyfoy 9 ce-
lebre Geriaõ,ã vindo
de Africa a PortmaL
16 VAga aílim a Coroa de Hefpanha, veyo logo de Africa o am-
biciofo Gigante chamado Geriaó Deabo, & de forte tal
r ^ * .
5
foy oprtmeyro inven-
tor de minas de ouro ( com capa de piedade, & inventados novos facrificios de varios,& muy-
'&'prat7"&Zit"e'o"co
^°^ Deofes ) enganou aos devotos Portuguezes , que o elegerão Rey {tw^
elUi a Idolatria em ^ de toda Hefpanha, & foy delia o Rey íèptimo , & o primeyro inventor
Hejpanhíi, er a pri- de tirar da terra minas de ouro, prata , & outros metaes , & lhe chamarão
meyra guerra ejuefe Geriaó Chryíeo , que quer dizer Geriaó o Rico & affim com a riqueza ;

f^be haver no mudo; eíitroua Idolatria


em Portugal. Vendo iftoos Andaluzes chamarão fe-
'

\ ^ '
. creta-

iaÉHHHl IPP
Cap.IV.Dapnmeir.Idolatna,&guerraqentrouemHerp. 7
^r •
T^- r 1 j depoisvinãoOJins dê
cretamente de Itália o celebre Capitão Ofiris Dionyfio , de quem depois ^,^^^^_ ^ ^-^^^ ^^ y^^
fe inventarão grandes fabulas , &
vindo com muy tas gentes , deo batalha tdh» matou ao \ &
campai ao Geriaó junto ao rio Guadiana , o venceo , & &
matou j he CeHad &fcy &
opri- ;

meyrohomem ^ueen-
muyto de advertir , que com a riqueza riáo fó começou a Iddlatria , mas
a guerra pois dizem que foy efta a primeyra que fe fabe ter havido em o
mundo todo
,

; & foy efte Geriaó o primeyro homem , que em Heipanha


'^^X^l
^^ ^.rata,
-
íepultáraóem a terra>(coftumando-featèli,deytarem os humanos cor- '

pos em os rios, ou deyxarem-os nos campos em arvores pendurados)que


l'e eite foy o primeyro que abrio a ferra , para delia tirar fuás
riquezas , a
elle, também primeyro, a mefma terra fe abrio para o tragar. Morto pois
o Geriaó, &: fugidos da batalha três feus filhos , chamados Geriões Lomi-
nios, chamou-os outra vez Ofiris , & a todos três fez Reys de Hefpanha,
avifando-os não foíTem comofeii pay , para não morrerem como elle. E
,

voltando Ofiris para Itália , & Egypto , deyxou a Hefpanha fey ta idola-
tra de muytos & muyto falfos, & creados Deofes, em cuja idolatria con-
,

tiniiouatè avinda dos Apoftolos de Chrifto , que foy 1 760. annosde-


pois.
ij Foy o que metteo em Hefpanha o novo modo de
efte Ofiris
contar annos de quatro mezes, como entaó já contavaó em o feu Egypto,
& em Hefpanha durou efte modo de contar annos , atè que muyto de-
pois vieraó os Romanos com o outro modo de contar anhos por Eras de
doze mezes j & por iflb as hiftorias que fe achão de mais milhares de an^
nos do que ha qUe o mundo foy creado , fe devem entender dos annòs
lunares, ou deftes de quatro mezes. Donde fe fegue , que os noventa an-
nos , em que antes de Platão ( como elle diz) tinhaõ já os feus Athenien-
fesvencido a Ilha Atlanta , fenáo cráo annos lunares , eraõ os de quatro
mezes , dos quaes em noventa de lunares ha fó três mil de quatro mezes>
& em trinta de quatro, ha fó mil de doze , que com os 450. cm que Pla-
tão floreceo antes da vinda de Chrifto, fazem 1450. annos folares de do-
ze mezesi & como aeftes 145 o. vgo já chegando os Reys de Hefpanha,
veremos claramente que nem os da Ilha Atlanta vencerão já mais aos
Reys de Hefpanha nem os Athenienfes aos da Atlanta , nem tal Ilha A-
,
Oytavo, mno, & del^

tlanta houve no Oceano, nem efte deyxou de andar fempre junto aHef- """."/'l
Í'
^"''J'
panha. •' '

ílõtt^^T-
<
18 Sendo pois oy tavo, nono , & decimo Reys de Hefpanha os di- XfXceri"õ''D&.
tos três irmãos Gerióes, filhos de Gerião Deàbo , tam uniformes eraó en- ^g & fteraõ p^atar ^

trefi,&: muyto mais na crueldade, que temendo-fe què Ofiris voltaíTe KoEgyptoaOJíris.njoi
fobre elles alcançarão deTyphon Governador do '^^j^to i^irmzò
outro filho defie cha^
,

mais velho de Ofiris, que mataíTe a efte feu írmão, & ficaíTe Rey de Egy^
""cf^^tú^^^^
ptoj&crudeliíTimartienteaflímfe executou porém como de Ofiris fi- '^^uèo &Toí tt^^cíí
j

cou hum filho , chamado de antes Oro , & depois Hercules, ( por fobre- „-^^ '^ ^^ dejkfioí^^ ^

nome Libyco, em diíierença do Hercules Grego ) tanto que o Libyco jtf„to a Cadiz. onde ,

foube da cruel morte què os Gerioés ordiraó a Ofiris', nâofó deo a morte levantou ai coiHmnoí;
ao tio Typhon,& aos mais culpados na paterna morte,& ao Gigante An- &da<^mfe kvfMta-^
tèofenhor da Libya, mas também com grande exercito veyo aHefpa-
}em7So^m!^J
nha , & Portugal & vendo que os PortugueZes acodiaó pelos três Ge- 'J^jlJj^l^ aUuf
,

rioés, a eftes defafiou , a cada hum per fi , & á todos três matou j & oS eti- guerm
^«^^^^ ^sfom^i'^ <

terrou junto a Cadiz, ou Gadis,{ nome Hebreo 3 que qiier dizer coufâ fi
* .^' -1 flalj
B Livro I.Do principio das Ilhas do Oceano Luíitanas.

nal, ôcextrema , por alli acabar a terra firme ) &


alli levantou as celeber-
rimas columnas de feu grande esforço: &
eita foy a occafiaõ daqueiias fa-
do Gerião de três corpos com húa fó cabeça > do Gigante Antèo fí-
bulas
lho da terra , morto levantado delia & das columnas de Herculesj & de
-,

a Hercules Grego accommodarem as acções do Libyco , & ao Libyco as


do Grego, com outras fó poéticas ficções.
Vndecmo Rey àe i^ MortosjáosGerioés, queforáooytavo,nono, & decimo Reys
^^ Portugal, & toda Hefpanha , & não le atrevendo o mefmo Hercules
fílt^fffo^^hhl'^'
^^^^^ gu^rra aos Portuguezes
, delks alcançou , que por Rey de Hefpa-
b%Vihfj& aefie
[HccedcofelifilhoHtj-
"'laaceytaíTemafeu filho Hifpalo,&foy o undécimo Rey de toda eilaj
parjo,& deães a terra & governando-a fó quatorze annosjlheluccedeo feu filho Hifpano, ou
/echamoaHe/panha, Hifpáo, annos 604. do diluvío, i70 2.antesdonafcimento de Chnfto,&:
& os moradores
fefi- 2260. defde a creacaó do mundo; &
fundou tantos povos governando,
"^"^ ^^^^ Hifpano', &c do pay Hifpalo tomou todo o feu Reyno o nome
Z7hçes-&mortffí»
fiíLI*e}e '"Hifí?am
^^ Hefpanha,& de Hefpanhoes os moradores, do nome do íeu Rey duo-
/^fjAToa o 4í/à^w«Ne<^^"^" Hifpano rreynou trinta & hum annos, &morreo fem deyxarfí-
Us Italu por vir fer IhoSj O que fabendo em Itália feu avó Herculesjdeyxou Itália porvir fuc-
Rey de Portttgal , & ceder a feu neto , &
reynar em Portugal, & Hefpanha ,& nella teve ainBa
Bejpanhn , &
morto q fceptro vinte annos, &" morreoji velho , no de
65o. depois do diluvio,

Cadtz. 7o'7ofmm
^^^^" ^^ ^"^^^^^^ ^° mundo, &
1670. antes do nafcimentode Chriftoj
adorado°por''refDeZ\ &
^y e^^errado cm Cadiz } dos Gentios que vinhaõ á fua fepultura em
&lhefHccedeo //>/;' romaria, foy adorado por Deos ,& lhe chamarão os Antigos Apollo E-
/)í?>-o/?;íí>w4ií,y»eíigypciano;& por fuás grandes obras tomáraó muytos depois o nome de
Hejpanhadeo onome Hercules, de queo mais celebre foy o Grego Hercules Alcèo , filho de
d.e Hejpena
; &
efies Amphitrion , a quem attribuiraó
muytas das grandes obras defte noíTo
TaLllRe'ZZ7.^^^''^°^^'''^y'''
^ey Hercules.
panha ,&^Portu<raí ^° Pordecimo'quarto Rcy de Portugal , & Hefpanha nomeou
fem haver de Atíw' Hercules, antes de morrer , a hum irmão , ou parente feu , chamado Hef-
ta noticia algtía. pêro, famofo Capitão j que comfigo tinha trazido de Itália } & efte foy o
que a Hefpanha deo o nome de Hefperia , ou Hefperida porém como ;

Btcimcauimo Rey '^^^^ Hefpero foubeíTe hum irmão feu , por nome Atlante ítalo , que era
defíejpanhafoyofa. pòuco aíFeyçoado aos Portuguezes ^ & Andaluzes, com huns, & outros
m^fo Atiante, trmaõ veyo de Itália a ajuntarfe , & em varias batalhas defpojou do Reyno a
í/o^f«wo^»<ímí/>/: Hefpero, que para Itália fe voltou fugindo, tendo reynado fomente on-
pero,&por efiefe dar 2.Q annos em Hefpanha,
que começou Atlante a governar , fendo delia o
»?<í/r^»í osPortugue'
^ ' decimo-quinto, & o mais amigo
z.ts. chamarão ejíes ao -n
dos Portuguezes, & tanto , que em
^ ^
1t • • ^1 , ti 1 • /- t

átto Atlante ^é" o R'


"o^tugal vivia ordmanamente, &dahi governava toda Hefpanha.
Z.erao feu Rey , ven- —— . .
'
.

^
eendo, & lançando ^ ^ ^ •
fóraHcipero.
^
,,oÇ,A
«
P J T U vL O
^.^ ,
V-
,-

Do dedm-quinto Rey de HeJ})anha Atlante i fundamente

E porque jítlâteve^ dafabulofa Ilha Atlanta,


J/o por mar a Hejpa-
nha,& defte fez. fu- 21 T"' Aqui defcubro eu o fundamento que teve Platão para'dizer.
gir aoRey Hefpero feu %^^ que OS Rçys da Ilha Atlanta vencerão aos Reys de Hefpa-
trmaã^da^ut fe leva- nha, & fenhoreàraõ grande parte delia j porque como efte Rey Atlante
ro»A^í,fr«í^»;4^>«?-»
de Itália veyo por mar a Portugal, 6c em varias batalhas , ajudado dos
Por.

¥P
Cap.V. DoAtkntejquepormaryeyoaHefpanha. f
Porcugezes ,yenceo totalmente j 6c defpqjou ao Rey de Hefpanha Hei
tJç./Jdl^qleJen^
pêro, Atlanta cuydàraófer efte Atíknte j &: por vir com muytas gentes ceoemgmrraaHsf^
por mar , ao tal Atlante chamarão Ilha Atlanta , U
dos que, com elle vie-^^«^^,
r^ó jciiydáraó fer da Ilha Atlanta moradores , & daqui, inferirão que os
Reys, 6c, moradores dajlha Atlanta- vencerão -aos Reys de Hefpanhai
& como a Itália ^ entaó.mais.por mar do que por terra ,feGomraunicava
pom Hefpanha , fendo que tam bem por terra fe communicaj daqui tam*
ijem levantarão , que a Ilha Atlanta^ fendo Ilha , pegava também com
Hefpanha j 6c porque Platão , 6c os feus naó fabião ainda a largura , & '

comprimento do Oceano , por iíTo neíle cuydàrão ter eftado a Atlanta,


qiie muyto mayor fingiaõ do que na verdade he o Oceanoi & emfím , co-
mo jà em tempo de Platão fe fabia não haver jà tal Atlanta no Oceano, re*
foi V èráo , ^ diííeraó , que tinha fido do mar ^ &
de fuás próprias aguas,
fubmergida quafi toda j 6c eis-aqui porque cuydàraó alguns depois , que
as Ilhas do Oceano faó reliquias deyxadas da Atlanta , fendo tudo pura
falfidade levantada nos pès do noíTo Atlante.
22 A efte decimo-quinto Rey de Hefpanha Atlante chamavaó de
antes Kitim, 6c depois , íbbre Atlante , lhe chamarão ítalo
}}porque, co*
mo os Gregos aos bezerros das vacas chamem ítalos, 6c Atlante então
foíTe fenhor de muytos gados, que erâo as riquezas daquelles
tempos , 6c
Italo56c o fugido mpro fè
daquellas terras, por iflb a efte Atlante chamavão por fobrenome
ainda à mefma terra que mais abundante era de gados, 6c bezerros,
como fe^ taZfenhor de íta-
Ainda hoje he, chamarão Italia,6c lhe confirmou tal nome o mefmo
Atlan. Ita,
l^^fÍTllT
te ítalo, quando depois voltou, como veremos , a governalla.
Eftando
^^fora delia fpi lhe
f^/^^^^,^^
poisem Itália Hefpero, &Atlante em Portugal, 6c fabendoeftejue ^J^,^^
toda 6c que lhe chamava Hei- ,m
Hefperofehia fazendo fenhor de Itália , „ome de Hef^erta
peria agrande,páradiftinçaódanoíraHefperia, ou Hefpanha, (fendo Hefpanha;& porque
quaritrezen-. atlante M^^m do ex^
eftamuvto mayor do que Itália, pois a noíTa Hefpanha tem
tas legoasdecomprimento, 6c Itália tem fó 255. nolargo
tem Itália 250.
;rf yj;^^;^^-
legoas,6c 630. de
& fó foz. no mais largo, 6c Hefpanha tem de largo 25b. f- /7^,^;3;
circunferência , pouco mais ou menos , fallando fempíe , 6c
igualmente
EleUra,&outra cha.
de legoas de quatro milhas cada húa, ao modo Hefpanhol ) determmou- ^^^^ ^,^^ ^ ^^^ .

efte vendo-o la, com os [emTonugue^


fe Atlante voltar a Ital ia , 6c fazer guerra a Hèfperoj mas
& com muyta foldadefca Portugueza, logo veyo humilde íligeytarfelhe, x.tsfoyaque prmcU
& morreo dahi a poucos dias , 6c Atlante entaó cafou aEledra , fua filha ^;>«/"«J /^^^{J
Portugueza , com Saturno filho de Hèfpero, 6c os mandou povoar,6c g^- f^^^ ^;^,
Alpes Atente lentiQi.a0
^^^ ^ f,^^^^
vernar certa parte junto aos montes , 6c ficou-í^

toda Itália. ,« y ts 1 «
23 Tinha Atlante levado de Portugal comfigo (alem da Por-
tugueza Eleftra fua filha ) a outra Portugueza filha , chamada Roma j 6c
feus na-
como vio que efta goftava mais de tratar com os Portuguezes ,

turaes , que Atlante de Portugal tinha levado , deo-os por vaflallos à dicâ
filha Roma , ôc lhes fundou huma povoação em o monte
Capitolino de
Itália , ^ lhe deo o nome da dita filha , chamando à Povoação,
Roma, de
que a filha Portugueza ficou fey ta fenhora j 6c efte lugar he aquelle ,qúa
depois Rómulo , 6c celeberrimos irmaós, reedificarão, 6t âc«
Remo,
crefcentàraÔ , 6c he hoje a famofa Roma , que depois fby
cabeçadoffltitl^

do todo , aíTejnto de feus Emperadores , 6c hoje de toda a Igreja Cathôlica


IO Livro I. Do principio das Ilhas do Oceano Luritanas.

he a cabeça , &
Corteprimh fundada , &
povoada pela Nação Portugue-
2a,pofl:oque depois reedificada pelos dous irmãos Rómulo ,& Remo.
Nem pareça nova efta fentença , pois muytos Authores dizem que an-
tes de Rómulo, &
Remo era fundada já Roma , fe chamava Valenciai &
outros , que fora fundada por huma neta de Eneas , filha de Afcanio que
,
tinha por nome Roínai outros, que por alguns Gregós,que alli vieráo de-
pois de tomada Troyajêc outros, qUe pela Portugueza Roma, filha do
Xlito Atlante , nafcida, & creada em Portugal, como fe pôde ver no i .tom.
da Monarchia Lufitana Ub. j. câp> lo. & fe de Conftantinopla dizem
muytos , com Garibay lib. 3. cap. 6. que naô foy fundada , mas fó reedifi-
cada por Conftantino } & que também Lisboa foy fó reedificada , & não
fundada prima por Ulyfles , não he muyto que fe negue ter fido Roma
fundada pelos dous Rómulo, &
Remo, quando tão nobre principio lhe
damos, como huma Princefa Portugueza , filha dô grande Rey de toda
Hefpanha Atlante > de quem fe fingem Poetas que fuftentára ao Ceo fo-
bre feus hombros , com verdade nòs diremos que a Roma , como a cabe-
ça do Ceo da Igreja Gatholica,fundou a filha de AtlantejÔc niflb mais mo-
ftrou fer húa Real Portugueza, &
Roma hum Régio parto Portuguez.
'I!

C AP T U I L O VI.

í>õsfegumteiRey$deHeJpanhadefcendentes de Atlante.

H A Ntes pòrèM íque Atlante Vòltaffede Portugal para Itália,


,
r\além das duas filhas Roma, & Eledra , tinha mais há
tinha,
filho, âinda de pouca idade tliamado
^ Sícòro i & fazendo-o primey ro ac-
clamar Rey de toda Hefpanha , fe foy acudir a Itália
, & nella , pela dita
Pôrtuguêzaj filha fua Roma fez pnw^ fundar a Imperial
, Roma aos 678.
annos depois do diluvio, Í334. ^^ creação do mundo
,1628. antes do
nafcimento de Chrifto. Deyxo as Varias fabulas que defte Atlante
fingi-
- ^^o os Poetasi por continuai com oS antigos Reys de
, Hefpanha
r para
r o
:Decm(i.fextoReydeinitntoà2ih\Vtonz.

.J\ ^Decimo^fextoRey
^lXárf% ^^^^^^^ reynando quareiltâ
de Hefpanha ficou feyto Sícòro filho de
de AtLte;& òdfci' por tempo nafceo em aniios, efte là Egy p-
m9.fef^ti?»o foy ska* ^° °
Patriarcha Moyfésj & cà em Portugal onde principalmente Sicòro
,

hitm fetl filho chamado Sicàno , que ( morto o pay ficou


»», {filho de Sichro) o fefidia, naícíéo
)
^HalSickno,comPor. decimo-feptimo Rey de toda Hefpanha
tugnez. exercito foc- aflnos
> com reynar trinta hum & &
em Hefpanha guerías como nem feu pay Sicòro as ti-
, náo teve ,

'."^^s ,os Pórtuguezes que tinhão fundado Roma


ZZftlTJoTRl ?^' P^/q"f , erão per. ,

ma,&a livrou dos '^g^^^os la dos Aborígenes, & Enotrios, comarcãos do Tibre,Sicàno lhes
Cyclopas, & Letrigo- J^andou de cà, de Pórtuguezes & Andaluzes tal fodcorro, & após efte,
> ,

& venceo a Ilha foy O mefmo Rey Sicàtto com tal exercito que como famofo Capitão
ties^
,
de Si. venceo, & de todo deftrt^hio, não fó aos Efiotrios,
Trinacria, <jHe
U Aborigenes,ma$ aos
Cyclopas, & Letrigones que roubavão â Ilha Trinacria
'2t tZsi^cZ' ?'^T^' ,

por eftar formada em três quinas) que agradecida


( af- ,

;4-->tlt2 ^^^rtuguez Sicano


^'Vh^"^^^^
"^^
%'.^õ ,

mujtof Pmfsgftczes, , feu Reftaurador , delle fe chamou nome


Sicania ,
que o tempo mudou em Sicilia, & he hoje a famofa Ilha defte nome , não

W^^
Cap.Tí.DosReysdefcendeatesdoLuíítanoReyAtiãt. t%

íò reftaurada pelos Portugtiezes , mas por muytos delles , que ndla íicá«*
,
raó 3 novamente habitada. Dos Cyclopas ( por ferem os pnraeyros que
iabncáraó ferro, &
bronze, & armas delles j fabulizàraõ os antigos , que
•ímliáoem oraeyo da tefta hum fó olhoj queeraó os próprios miniftros
de Vulcano , Deos do fogo j & que faziaó os rayos , com que à terra ati-
rava Júpiter , quando irado. Dos Leftrigones íe diz que erão povos tam
ferozes, & indómitos, que comiaõ carne humana, & como muyto valeu-»
& huns públicos ladrões, fumraamente todos os temiaó,& delles fia-
jtes,

,
giaõmuycas fabulas. E a todos eftes comtudo venceo, & desbaratou o
Jt^ortuguez Rey Sicàno com os feus Portuguezes & Andaluzes & dey- , 3

xando tComa, & Itália já libertada, & pacifica fe voltou a Portugal com
, .

alguma parte de feu trumfante exercito , atè que cá morreo , tendo (co-
•mo já diífemos} rey nado trinta & hu annos.
26 A efte Rey decimo-feptimo Sicàno fefeguio SiceIeo,feU filho, .

& foy o decimo-oytavo Rey de Hefpanha , quando jà em Itália reynava ^J^lZlT/fo Si


Jazio , filho da Portugueza Eledra, irmã dò Rey Sicòro avò dõ dito Si- ^^p^^ iil" de Stcanô
celeoj& porque a efteJazio queria feu irmão Dardano defpojallo do Rey- ^ »í'ío de Sicoro &
no de Itália, pedio Jazio foccorro ao noflo Rey Siceleo,que ^^Síznáo bijaetode jitUnte-^&
logo a Itália com poderofo exercito fez amigos entre fi aos dous irmãos, por^fte da filha dtftc
hmúo'à ; mas o Dardano matando pouco depois ao irmão Jazio àtrey- oleara nafàrao fa.
çaó , & voltando com muytos Aborígenes a dar baralha a Siceleo feu fo- ^^^j^^^^^ ^^^/^^^
brinho , foy defte taõ vencido, que fugindo não parou fenaó na Afia , & ^ ^^^ exerciío de
neíla fundou huma Cidade, que delle tomou o nome de Dardania; & de Portugal Sicelh do ,

hum neto de Dardano , por nome Troyo , fe chamou Troya , & de lio fí- t^ual fendo vencido
lho de Troyo fe denominou Ilium , o qual lio foy pay de Laomedonte,&: Dardano, &fugindo
avò de Priamoj & atè de hum genro de Dardano , chamado Teucro , to- P""""^ ^f"* Jmda/à
moa a dita Cidade também o nome de Teucria & eila he aquella Troya ^"^'^ LldeDa^^
:
^

lamentada por Eneas, & feu Poeta Virgílio ; fe bem pôde ainda gloriarfe damfèchamou dI?:
de ter fido fundação de hum braço Portuguez , qual era Dardano , filho dania & de Troyo ,
'

deEledra, nafcida em Portugal, & filha do fobreditonoíTo Atlante: que neto de Dardano, fe
fe Roma foy fundada por huma tal Portugueza que Ihedeo feu nomci '^^^'"offroya^&de
Troya pelo filho de outra PortueueZa Eleftra , irmã de Roma , foy fun- 7'/^^" f/ Troyo ^f^
1,^ A ^ -n i-o rj^jT^
chamou Iíium\&ate
dada , como partos do Atlante Portugal. Foy a fundação de 1 roya pe- ^^ 7eHcro,aenro
%

de
los annos de 1509. antes da vinda de Chrifto. Ficando pois Sicelèo fe- Dardano Je dencmi-
nhor abfoluto de Itália, deo delia toda o governo a Coribantho feu pri- nouTeucrta,& ajfim
mo , filho do já morto Jazio & depois de alcançadas as vitorias daquel- como a famofa Roma
,

Jes rebellados Aborigenes, em Itália morreo o Rey Sicelèo jdeyxando/e?'/'*»^*"^'*/'^^'»^'"'-


declarado Rey de toda Helpanha a Lufo , feu filho , que com os mais fe V'^'* ^'''«"/f ^
„ ^ tnefmomme^aãmH
^eyòAllogo para TJ
Portugal.
1

fJalTroya^pihum
.^______ !_.. —— 1 "' f .
-

. '
— •- ' '

" -- '
'
fiJho dá Tortuguexjt

CAPITULO VII.
Mlélr.,m^upi,
mefra.

DoReyLufoy&fuaLuJttanadefcendencm» /

,ii
jj7
"O ^y decimo-nono de Helpanha foy o dito Lufo, & come»
\\ çou a reynar pelos ditos annos de 1509. antes da vinda dtí
Ckifto, Sc foy tam celebrada fua vinda pelos Portuguezes , que o cpíoâ-
,
ifá6
F
11 Cap.VII.Do antigo Rey Lufo, Sc fua defcendencia.^

Decimo-neM Rey de ^^^ folemnemente no celebre templo de Hercules , no Cabo que hoje
TortHgal & Hejpa- ^^j^g^^^Q ^ç. jj Vicente i
&tam aíFey coado lè moílrou aos Portuguezts,
Ihode Sic7leo-&do
^
^^^^^ fundou terras ,& j povoaçóes tantas queos mais povos deHel-
talLufo veyo\nome panha começáraó a chamar aos l^ortuguezes Lulitanos, & ás terras def-
ine Lufitania chjoí tes bulitania , nome que atè hoje conlervaó , allim a terra , como os mora-
,

demar cagões fe affi- dores delia j ainda que algus dizem que do dito Lufo, & do rio Ana, (que
*"*°'
he o Betis, ou Guadiana , que em mourifca lingua he rio Ana } tomou eí-
ta Província o nome de Luíitanaj outros> que de Liíias tomou o nomcjôc
-

Cs moradores de Luíitanos^
28 O
certo he que a antiga Luíicania comprebendia as Cidades
de Badajoz, Albuquerque, Merida , Guadalupe , Talaveyra , Alcântara,
Placencia, ^amòra, Aviia, Ciudad Rodrigo , Salamanca , & outros muy-
tos lugares daquella parte de Caílella , que chamáo Eftremadura yèc ain-
da toda Galiza, como diz o Agiologio Lufitano /owz.i. Hoje porém a
Lufitania comprehende náo fó o Reyno de Portugal , mas também o dos
Algarves, & por outras partes fe lhe accrefcentáraõ a Província de En-
tre Douro, & Minho , que era daGahza antíga,& a Província de Trás os
Montes, que era do Reyno de Leaõ, & a Província Tarragoneriíe, & ou-
troslugares daProvinGiaBetíca,ou Andaluzia, que Portugal hoje tem
além do Guadiana & por ííTo todas eftas terras , & feus moradores coii-
;

íervaó o nome de Liríitanía, & Lufitanos-


29 Jaz pois a Lufitania na ultima , 6c melhor parte de Hefpanha>
junto ao Oceano, em 33. gráos de altura , & acaba em 42. & hum quin*
toj tem hoje de comprimento 91. legoas, daponta do Cabo de Sao
Vicente para o Norte atè a foz do rio Minho j de mais largo tem trinta
& oyto legoasjda Rocha de Cintra atè a ViUa de AlegretCj em oucra par-
te tem trinta & cinco, da barra de Vílla de Conde atè a Cidade de Mi-
randa i & por outra parte tem vinte & féis legoas de largo , da foz do
GuadianaatèoCabodeS. Vicente: em círcumferencia temmaisdedu-
zentas & noventa èí húa legoas , ( failando fempre de legoas de quatro
milhas j & náo menores. } Do mais de Portugal , das Províncias , gran-
dezas5& Nobrezas que contèm,& das Monarchias que tem ultramarinas,
,
P
, & a íi fugeytas * como o mundo novo em o Brafil , no Maranhão, em An-
tmalfoySiculo filho
gola,^Ethíopiaa Alta,&emtodo o Oriente, defdeGoa atè a China;
deLuío;paffoff com tazaó de fer não fó húa das melhores partes de Europa , mas também da
lií;
exercito a Roma U- melhor dei las, de Hefpanha a cabeça , por fer quafi toda Hefpanha hum
\

ijroH.ados Aborige- Certâo de Portugal, & efte ter OS melhores portos delia, aonde entravão,
ties^.defiruhieaos Gí-
habitavão ,&fahiaó- os Reys delia $ naó he poílivel fallar de tudo ifto,
gantes deStcilta ,cfr
^^^ ^^ ^^^ convem tornarmos à feeuinte
''
fucceíTaódos noíTos Reys J , para
^r
confirmo» ejta Jlha .
,

mtalmme,&t4nto0^^^^^^oque\cvamos.
/« alargarão Portu. 30
^
A Lufo pois ( de Hefpanha odecimo-nono Rey} fuccedeo
guez.es, &Helj!anhaeí Siculo feu filho no anno de 1476. antes da vinda de Chrifto , 830. depois
por Itália ^ut dahi do diluvio , ôc 2486. da creaçaô do mundo. Eíle Siculo imitando a feu
,

lhe vej/o o nome de ^-^^


Siceleo , foy também de Portugal com grande Armada , & exercito a
Latiam: &vjltando
D'ey òiCHlo.
o Rey
c- I
& rey- Itália , „ôc t>fez que os Aborígenes reftituiífem
Siculo, C/
'

. - u
a Roma , & a feus Hefpa
o •

Dando feífenta anrios, TíhoGS, & Fortuguezes quanto Ihes tinhao roubado,ec indo logo a Trma
i rr-.

morreofemdefxarfi' cria,ou Siciliájem batalha acabou de deftruir aos Gigantes,que infeftavão


i i i i

ihof. aquella Ilha,que tendo tomado do noíTo Siceleo o nome de Sicília, defte
Siculo
Cap. VIIL DosantígosíntetregnosLufitâtiõs,' aj

Siculo o confirmou cm §iculia,ou comò (leanteSjSicilia5& tanto le alar*'


gáraó os Poítuguezes, &
mais Hefpanhoes por Roma, que aquella ter*
\ra fe chamou Latmmicouía. largajôc os Poetas fingirão chãmãviQ Latiur/ii
do verbo, lateoj que fígnifica eftar efcondido; porque ( como fabulizão}
naquelia terra fe tinha efcondido o Deos Saturno fugindo de feu filha
Júpiter , que o vinha perfeguindo > ao que alludio O
vidio t Fajlor. ibi:
.

'Di£ía quoqueejl Latium terra ^latente Veo : &


Virgilio no 8. da Eneida
ibi Latiumque vacari Mduit j his qmniam lattiijfet tutus in oru. Nome
:

que depois fe extendeo a toda Itália. E reynando Siculo feflenta annos*


morreo em fim fem dey xar filho algum , Sc nelle fe acabou a defcenden-;
cia do famofo Lufo.

CAPITULO VIIL

Dos Interregnos que houve etn ã Lujitamâà

31 VEndo-fe os Lufitanos femdofeU Lufo terem dcfcenden^" ^^


* - n ^
^ ^ .

de
r ,
puro fentimento eleger
_1
mais
r>
Rey 1 Como .
tSévie Fèi^itfl
te , nao quizerao ai-
^^iç.J^^^í^.í^ ^,.
gumjSc começarão a fe governar em liberdade aos i4ió.annos antes da 4/^;^^^ mftym an-
vinda de Chrifto, &aos 890. do diluvio j porém toda amais Yid^^z^ nos ,& fem poderem
nha, paíTados dous annos , elegeo por feu Rey hum Capitão Africa no^ -«/^««i -Rf;/ damAu
&
chamado Tefta , por fobrenome Tritaó , que rey nou na mais Hefpa- fí^íp^nhaptgeytalhj
nha fetentaôc quatro annos j & lhe fuccedeo Romo^ feu filho na opi- J^'^^*g^^^^-^-^'**'^j
niaãde alguns. No anno pois duodécimo do reynado defte Romo , por ^^^ HejplnhP^fin'.
medo dos Andaluzes entrou cm Andaluzia com grande exercito delindo ter a alma dt
Gregos o Capitão Bacho , de quem fingirão os Poetas muytas fabulas, Lufifoy dos Lufita'^
que de outros do mefmo nome fe diziaó efte pois de Andaluzia quiz «w acej/toporfeuRef^
:

por vezes entrar em Portugal , & flaò podendo vencer ao valor Portu- ^/^ confirmou o no-
guez, ufou de tal ardid,quc a hum filho feu pozpor nome ^1^^^^ ^YjtanT''''*''
^'"'^^

& lhe mandou que o mais que pudeííe , imitaíTe as acçoens de Lufo-
& inventou que feu filho Ly fias tinha a alma de Lufo , que feparada do
corpo fe paíTára para o de Ly fias, & feu nome,& acções a demonftraváoj
& como Bacho fabia que os PortUguezcs entaó criaó na tranfmigraçaò Vtgtjtmv primeyré
das almas , facilmente tudo lhes fez crer j & logo elegerão á Lyfias por ^'y <^' PMttgal fof
feu Rey, & não fó Lufitanos de Lufo , mas de Lyfias
^^'^^^^^^^^o^^yl^f„f„2'&Po7
3meçàraóachamar,&afcu Reyao Lyfitania ; 6c efte he o Mentido j em ,^^""^^'"^^^^^
que fe deve expor a oy tava vinte & húa do canto terceyro de Camões, i,erdade,fem reconhe*
^ de outros que em tal matéria falláraõ variamente. E confeguido ef- w^í;^4«/í»//ir/:
te engano , fe voltou o aftuto Bacho para Itália ,& na fua Lyfitania fi-/'^«Ã<»,<»«/« o t/?»«*,'
cou Lyfias , fendo o feu vigefimo pf imeyro Rey, & governando alguns ^ ^° *»«f»*'> Hercu>>
annos morreo fem defcendencia 3 & tornarão os Lufitanos à fua liberda* ^" "^^"J' ** ^*^*í*'

t /. 1 • •
T>
*io^& ficou livrcettÁ
dcj (em quererem admittir a outro Rey. ^^^^^
32 Tinha em a mais Hefpanha mccedido ao feU Rey Romo El- '

Rey Palatuo , ^ contra efte indo com hum exercito de Portuguezes o


Portuguez Capitão Licínio , o venceo de tal forte em batalha , que lhe
tirou o Reyno , Sc o fez fahir fugindo de Hefpanha } mas com os fetis
Fprtuguezes fc houve taó ingratamente , que Èibendo-Q Palatuo fs vol-
. B tm
14 Livro I.Do principio daslUias do Oceano Luíitanas.

íoa a Portugal , aonde no mefmo tempo aportou com mais foldados o


f^mofo Hercules Alcèo, ou Thebano,& juntos ambos como Porcu-
guez exercito deraó batalha a Licínio , (a quem cliamavaõ Caco} ôc
junto ao Guadiana o vencerão & obrigarão a ir fugmdo para Itália j
<,
&
ainda que Palatuo ficou reftituido ao mais Reyno de Helpanha , nunca
os Portuguezes o quizeraó por íeu Rey , mas fe confervàraó em íua a-
jmada liberdade j & atèo meímo Hercules fe foy logo para Itália ^ onde
era Rey Evandro, & encontrando-fe là com Licinio Caco , o matou j &
daqui fe levantarão as fabulas entre Caco, & Hercules , que Virgílio to^
caem fua Eneidalih.^.èco fingirfe de Caco fer filho de Vulcano, por
fer Caco o primeyro, que em Hefpanha inventou fazerem-fe armas de
ferro.

3 j Mas he tal a ambição de governar nos homês, que hum meí-


mo Portuguez tirou aos feus Portuguezes fua amada liberdade, fopor
vir fer Rey delles. Eraefte homem miiyto rico, & morador quaíi íèm-
pre em o campo j fuccedeo ver , & obfervar por muytas vezes ,que abe-
lhas entravão ,& fahião no tronco aberto de hiia arvore j& indo curio-
fo a ver o que alli bufcavaó , achou huns favos de mel dentro formados,
(Jcoufaatèli nunca vifta, nem fabida em Hefpanha }& vendo logo, &
provando© dulciííimo licor que os favos tinhaójfefez não fò inven-
tor, mas prodigiofo Author domei, & o dava aprovar, como hum
mannà vindo do Ceo } & tanto fe fez affim refpeytar , & venerar dos
Portuguezes , que dentro de pouco tempo o elegerão por feu Rey; .

Figefimofegunio Rey
de Portugal foy hum
& dahi a oy to annos (^ morto Eritrèo , que no mais Reyno de Hef-
panha fuccedeo a Palatuo , feu pay } também por íeu Rey Hefpanha
FortHgttez^ chamiido
Górgoris o Melifluo^
o elegeo, & fendo no nome Górgoris, ficou como fobrenome o de
far \er o primeyro que Mellifluo} mas porque aLufitania fódehuma vezefteve oy tenta Sc
defcol^rto o mel em oyto annos , & de outra vez alguns outros , governando-fe em fua lu

fíejpanha^íiuando na herdade, por fuás leys, & fem Rey, & neftes interregnos teve ainda feus
-^fa fe defiruhio Reys toda a mais Hefpanha (que forao Tejla, Tritão, Romo, PaíatuOi ò'
,
7_roja.
Entreo^ por iíTo o Mellifluo Górgoris foy de Portugal ò Rey vigefimo
fegundo, & o vigefimo quinto de Hefpanha todaj & governando feten-
ta & fete annos morreo aos 1227. depois do diluvioj &aos 1079. antes
do nafcimento de Chrifto Senhor noíío. E por efíes tempos dizem fuc-
cedeo a fundação deCarthago nacoíla de Africa , três legoas atraz de
onde eftà a Cidade de Tunes , a qual Carthago fundarão dous Capitães
da Phenicia,naturaes de Tiro, chamados Zaro , & Qiiarquedon. Item
fuccedeoadeftruiça5deTroyaaos2 787.dacreaçaÕ do mundo, 1131.
do diluvio, & 1 75 antes da vinda de Chrifto , & 3 34. annos depois d©,
.

fundada pelo grande Dardano. /

CAt
Cap JX.De qaândo,& por que/of aõ foíilLlsb.5c SStâr: í I

CAPITULO IX.

Da fundação de Ltíhoa em tempo doMeilifluo Rey G6rgorh,&


de lllyjjes , é do Rey Abidí^fundador de Santarém.
dizem muitos que da
34 NEfte mefmo reynado de Górgoris ,

deftruiçaódeXroya, &daluallha no marjonío^ltaca,


veyo hum Rey feu UlyíTes lançado ao Mediterrâneo , & entrando pelo ^^
Eítreyto de Gibraltar no Oceano, & dobrando fobre a cofta Lufitana, ^^^^ ^^^ \,,,efirrZ ^

veyo a dar fobre a grande foz do rio Tejo j & entrando por ella fundou y^^^„^^ J^ />orf*/^-a/
pouco adiante húa Cidade , á qual de feu nome poz o nome de Ulyííeaj f^y prirnepofundada
ou Ulyllipo , & nella ficou por feu primeyro Governador ) o qUe faben- Liièoai ou qmnao.
dooReydaLufitania Górgoris,& acudmdologo a lançar fora de feu
Reyno quem fem licença fua entrara nelle , de tal forte o aplacou Ulyf^'
áes que Gorgoris não fó lhe deo licença para a fundação da
Cidade
,

que tinha começado , mas retirando- fe com o exercito mandou huma


filha fua a Ulyííes paracafar com elle , & outras muytas Lufitanas para
cafarem com os Gregos & efta Princefa filha do Rey Gorgoris , hc
: ,

aquella, a quem chama Homero a Nympha Calipfoj & a quem, debay-


xo do nome de cafta Penélope , efcre vendo a feu marido Ulyííes cont- ,

poz Ovidio a epiftola ao principio das fuás Heróidas. Mas porque fa-
hindo , das de Ulyííes , algumas náos de Gregos a roubar as coílas dos
Lufitanos , eílcs fe levantarão contra aquelles com tal ímpeto , que tor-
nando a embarcar Ulyííes com muytos dos feus Gregos fe voltou á fua ,

Grécia , fem fe atrever a ter guerra com foldados Portuguezes o que -,

ainda que Gorgoris eftimou muyto , por ver já quieta a fua Lufitania,
muyto com tudo fentio pela aufencia da filha > &: por iíío affentou logo
paz perpetua com os Gregos, que ficáraó em a novaUlyflea , que hoje
he a fatal Cidade de Lisboa j fundada em 1180. antes da vinda de
'

Chrifto. . .

35 Outros, de Lisboa dizem i que não foy Ulyííes feu primeyro


f undadoi-i & que nem tal Ulyííes veyò alguma hora ao
Oceano, nem do
M.editerraneo paííou como fe colhe de Homero erti a fua Odifsèa de
(
&
Uiyííesi ainda accrefcentáo muytosque tal Ulyííes não houve em o
,

mundo & que


, Homero nâo Compuzera mais que húma pintada idèa,
ou exemplar de hum perfeyto Heroe , ou Capitão , como faziâoPoe*
tas, & Filofofos gentios. E aííim dizem , que
quando Thubal , neto dè
Noè , veyo depois do diluvio , & fundou Cetuval , coni elle veyo tam-
bém Eliza feu fobrinho , &c de Noè bifneto , & que no mefmo tempo
fundou adita Lisboa chamando-IheEUzon, ou Elisboon , ( quequeí
,

dizer, habitação de Eliza) o que provão dos taes nomes que teve
Lis- -^

boa ao principio & de hum celebre rio na Arcádia ^ chamado , Elizo,


;

ou Elizon, ou Elisboon & que deite Eliza tomàraó o nome os dampos


-,

Elyrios,& antigos povos Luzoés, & ainda a mefma Lufitania, porque a


!i«'oav;

tflre Eliza, primeyro que a algum outro, chamarão òs Antigos


Lufo, 6d
Liíias,& companheyros de Bacho,por terem acompanhado aNoèj
íeu híkvò. a quem por fer o primeyro que plantou vinha , denommâvlp,
B ij Bachoi

•'cnm-r
k^' Livro LDo principio das Ilhas do OceaaoLuíitanas.
Bacho, aíTim como ao dito Eliza chamarão também Phoroneo ou Pro*
,
metheo, por fer o primeyro inventor do fogo ; & eílehe outro novo
fentido da oytava 21. do canto 3. de Camões o que tudo pôde veríe
-,
no
Arcebifpo D, Rodrigo da Cunha, na Ecclefiafticahiftoria de Lisboa
i,
farí.cap.z.é" ^.
3Ó Conciliaõ poirèm
eftas fentenças muytos oittros affirmando,
que quando Thubal fundou Cetuval , ímidou frmo Ehza a Lisboa , &
delle tomou os nomes de Elizon,Elisboon, ou Élisbona,
mas q também
na verdade foy depois reedificada , & augmentada por Ulyffes &
que ,

defte fe chamou Ulyfseaj Uljfip, ou UlyfJipoltS; pois eftes faó tam


bem os
nomes que defde o antigo conferva a tradição de UlyJJipo em latimj& o«
có a letra, U,ou com a letrajO, ao principio, depois com a letra, /,& com^
.
J, & dous/^adiante , ou com hum fó > que dê todos eftes modos fe acha
efcrito tal nome , & no Portuguez idioma fe diz fempre Lisboa
5 com
que ambas as ditas opiniões ficão affim conciliadas. E fe alguém aqui
quizeíTe a perfey ta defcripçaô defta Cidade quereria não fó coufa
, que
he fora de noíTo intento , &- que por muytos he já principiada & por
,
nenhum completa j mas que também quereria a hum incomprehenfivel
çomprehender , & recopilar orhem m orbe , como nefta Cidade eftamos
vendo fempre , & eompreheiídendo nunca. Vamos pois adiante com o
intento.

37 Ao , Rey vigefimo fegundo da noíTa Lu-


dito Gorgoris pois
íitania
, & o vigefimo
quinto de Hefpanha toda , fe feguio no Reyno
Fí£e/tmo tèrcelroRey Abidis feu filho, a quem, além de muy tas fabulas , que lhe attribuirão os
^f/'o-/»^^//o^^^/. Poetas, com verdade fe Iheattribueo invento
de lavrar, & cultivar a
d^^j>,efmdoH aFil- terra plantar arvores ,
M ae òaniarem. , &
fazer enxertos -, &
em efpecial a fundação da
grande, &
Real Villa de Santarém , fítuada quatorze legoas de Lisboa
fobré o Tejo, &
primeyro fe chamou Abídis, &
depois Scalabvs, ou Sca-
la AbiduiOU Scâahicafiro^ &
t andem, k chamou Santa Iria , corrupto &
'vocábulo Santarém , de cujas grandezas não podemos por hora mais di-
zer , mas fó que foy Abidis o ultimo dos antigos Reys de Portugal, Sc
&
Hefpanha , porque com reynar trinta cinco ailnos, morreo fem dey-
Xar filhos, aos 1046. annos antes da vinda de Chiifto Senhor noíTo.

CAPITULO X.

I^as longas efterilldades , tempejlaâes , ér incêndios de Hejpa-*


-ÍÍÍ&2
' fiha j ir vinda a ella dos Ce hm , &
outrm naçoeSy
& fundação de Vizeu.

Tatat fecca \ é" efie-


'
3° NEfte tempo começou tal fecca, 6c cfterilidade em foáâ
riliàade de e^nafi to- Hefpanha, que em vinte & féis annos contínuos não cho-
da Hejpanha.é-def. veo nella nem huma gotta de agua , (outros dizem que por miiytó me-
povoaçao delia. nos annos) & o certo he que durou por tantos , que tod a Hefpanha fi-
cou abrazada , fem fonte alguma perenne; todos os gados morrerão á
fome, & fede > & os moradores fe foraõ bufcar outras terras em que po-
defiem viver j & nos caminhos morriaó os mais delks) & particular-:
i^>«»*^ ;' '1 mente
Cap.X.Dosíncedíos deMefpanli.&Nações aella víndâS. i^.

mente em Portugal fe defpovoou de todo a Província de Alem-Tejo, &t


o tieyno do Algarve j como terras mais vizinhas aos ardores do Sol ,&è
meyo dia ; 6c então fe acabou a antiga Corte de Cetuval & fó nos fref-
;

çoSj& altos cumes da Serra daEftrella, & em algumas terras d'Entre


Douro & Mmhoj & Galiza 3 ficarão alguns moradores. A tam fatal fec-
ca fe feguirão ventos tam tempeíluofos , que nem deyxavâo eHi pè edi-
fício j ou arvore atè que a ira do Ceo fe aplacou 3 & tiveraó fim elles
i

feus caftigos Sc os que tinhaó efcapado em as alturas ou em as terras


; ,

eílranhasj tornarão a vir outra vez para fuás pátrias , achavão tani
ôc as
ermas, & defertas, que de novo as tornaváo a povoar, exceptas por mais
annos as terras do Alem-Tejo 3 ôc Algarve , onde o caíligo do Ceo fora
mayor.
39 Com eíVaoccafiâo vierao de outras Províncias àHefpanha
muytas diverfas Nações a reedificalla. A Portugal vieraó huns France-
dõsFyancetM
zes chamados Celtas & entrando pelo Reyno do Algarve junto a Ta- Vt»<í'*
j

vila, ou Tavira, paffáraÓ ao Alem-Tejo, &fundáraÓ a celebre Cidade


^l^ZT^!^'*Zlnd$
de Elvas , Corte ao depois das armas Lufitanas , & theatro das vitoriasy^^^J^'^^^^^^^^^^ "
que Portugal alcançou de toda Hefpanha j & não fó no Alem-Tejo 3 &
Algarve , mas também na Província de A'quem-TejOjque hoje chamão
Eftremadura, fundarão os ditos Celtas muytas povoações ;& atèpaf-
fando o Guadiana fe communicáraó com os Hibèros atè o Guadalqui-
bir, & daqui lhes veyo o nome de Celtiberos porem da mais Lufitania
:

jião foraó reftauradores eftes Celtas, porque em Lisboa ficáraó defcen-


dentes ainda dos feus Gregos que vieraó com Ul yfles; nas Províncias di
Beyrajjôc Trás os Montes os que fe tinhaó falvado na Serra da Eftrellai
& Entre Douro , & Minho os Gregos , que vieraó áquellas partes coil^
Diomedes.
40 Chegados os 9 2 3 annos antes da vinda de Chriíío , fuccedec)
.

cm Hefpanha o fatal incêndio dos montes Pírinèos , que a <^ividem dé ^^^-^^^.^ ^^^^^.^^.^ v^.^
França, nos quaes , em fuás vaftas brenhas, & em fcús antigos matos,por dequefahiraSperen!»
defcuydo de huns paftores , fe pegou fogo , êc incêndio tal , que durou „„ „-^, gig py^ta é",
,

por muytos mezes contínuos, & ainda muyto longe fe fentiaó as lavare- ottrt, aqfte eenccni-
das 5 8c de tal forte abrazou jatè amefmaterra, montes , &pedreyras, raõ t>arm N^foetij
que os antigos metaes nella gerados fe derreterão , & formarão grandes ffi^^%^r^ *P*&*tí
rios perennemente correntes , atè de ouro , & prata ; & a eíl:a fama íogô, " ^
coma ambição da prata,& ouro, concorrerão da Plienicia embarcaçõeSj
que por mercadorias muy commuas fe carregavaó de ouro, tanta pra-. &
ta, que defta fazião atè as 'anchoras , por naó terem jà onde a levar j 6c hís
dos mais ambiciofos foy Síchèo , marido da famofa Rainha Dido , que
«m tantas riquezas levou para fi a morte, que refere Virgílio em fua
Eneida. Mas os Phenices tornando, jà hydropícos do ouro , & pondo
cm a Ilha de Cadiz feu aííento , para por Andaluzia entrarem à caça do
ouro , forão tam acometidos dos Celtiberos jáfey tos Lufitanos, qu®
(Tencídos,6c fugidos deyxárão de todo Hefpanha.
41 Pouco depois pelos annos de 75 8. antes da vinda de Chriftog
fby Roma edificada, & accrefcentada pelo feu Rómulo , Sr Remo ,87^*
annos depois deprimo fundada pelos Portuguezes, comojà diííemoL^; iC
a Hefpanha concorriáo Nações tam varias j Sc tanto mais ambicíofas â&
B iíj tlqút*
w
,.^5'

^ Livro í. 00 principio das Ilhas do Oceano Lufitanas:

do que, de a povoarem que atè hum Nabuchodonofor de


riquezas, 5

jStè NahHchoâonofor
Babylonia veyo,& chegoujunto a Toledo, anno 581. antes da vinda de
Veyo de Bubyloniii a
Hejpunhapclaprata^
Chnftoi mas ajuntando-fe logo osPhenices de Cadiz ,& Andaluzia
enveftiraõ a Nabucho , & aos
é" ouro & pelos Por- cora os Portuguezes Celtas, & Luíitanos,
que trazia , & a todos lançarão fora de Hefpanha. Quebrando
,

tttguez.esCeltas jàLu Judeos


Jitanosfe tornou f»gin porém depois os Portuguezes com osPhenices fobre o foldo, lhes to-
do fará Bahjlenia marão toda Andaluzia atè o Guadalquibir,&: atè junto de Cadíz3&: vin-
do entaó de Carthago muytos Africanos" em foccorro dos Phenices qué
em Cadiz tinhaó ficado contra eftes mefmos fe levantarão os que vi-
,

i nhaò a foccorreilos , & fe ficáraó com a Ilha donde fingindo pazes com
,

ôs Portuguezes Turdetanos de Andaluzia ,fe foraõ


mettendo , fun- &
dando algús lugares em Hefpanha, &
começou Carthago deftafortea
fenhorear parte de Hefpanha em o aríno de 5 G9.antes da v mda de Chri-
Senhor noíTo,
fto /-> - j r^ •

42 Naó muyto depois mandou Carthago por Capitão de Ca-


diz, &: dos Africanos que entravaó por Hefpanha , ao
famofo Annibal,
o qual por favorecer aos Andaluzes 5 chegou atai batalha com os Por-
p^mâAiesAfricmos^ tuguezes , que com vir no
meyo delia huma grande tem peftade, du-
do antigo Annibal rou a batalha todo hum dia , & de hiía, &
outra parte morrerão oy tenta
^
A HejpAnha a cjuem mil homés,fem a vidoria fe determinar > mas deve-fe conceder aos Por-
,

matarão em fatal ba- tuguezes pois fêu braço matou nella ao grande Annibal & na manha ;
,

outro dia fé fetiràraá ambos os exercitosi & atè os


talha os Portugttez.es Portuguezes Tur-
do
Títr4etanos,& os A- fua pátria Portu-
detanos, que andaváo eoi Andaluzia , fe recolherão á
frteanos ft voltarão
gal , deyxando a Andaluzia o nome de Província
Turdetana. anno No
deraó com hiis bár-
501. antes de Chrifto ,os já noífos Celtas Lufitanos
baros , que entre Cetuval, &
o Tejo tinhão efcapado da acima dita def-
truiçáo de Hefpanha , ainda que nos coftumes eraó bárbaros , eraó do
&
ílluftrefanguedosChaldeos, ( que comfigo Thubal tinha trazido) &
também eraó dos Turdulos antigos j &
não podendo eftes fós refiftir ao
''paffinia^ao de Vi valor dos já Lufitanos Celtas
,fíigiraÓ-llie 3 &
naÓ paráraó atè paífarem
li,ed ,& prtmeyros po o Tejo, &
o Mondego , pararem no deftriâo em que hoje eftá a Ci-
&
'^adorcj da Bejra. dade, & Bifpado de Vizeu em o CeftaÓ daProvincia da Beyra,náo
muyto longe da Serra da Eftrella , & lá multiplicarão eftes tanto , que
riaó he pequeno lou-
delles fe povoou a Beyf a toda 5 de cujoS moradores
Portuguezes em o fangue.
vor, o ferem os mais antigos , & verdadeyroá

CAPITULO XL
Da vinda 'dos Caríhagmm a Portuga/, & dos Lacomcos Gre-
gos-, fundação de Braga, Coimbra, Aveyro, & Lagos.
Chrifto, che^
42 /^ Hegado jâ o anno de 434. antes da vinda deAtncános a foz
Da chegada àotAfrl ^^ ^q^j bambem de Carthago hua Armada de
tanos afaz. do Doff. alU fez & que
tam miferavel naufrágio
jíoX)ouro junto ao Porto ,
^jp
,

r..d-á^/««^^p«d^ para Africa m.s


efcapatldodelle o CapitaÓ Himiliorè fe tornou logo
-,

pedirão aos
'^--r»^ os mais
dos foldados Africanos , contentando-fe da ter.-a ,
!;T-- i^""^^^'"
Imo de Chrtfio. moradores Gregos , lhes concedefiem lugar aonde fundaííem
.
Cap.Xl.Das fundações de Bragà,Coimbra,Aveyro,&c. 19
dade a feu modo, & que elles fó giõvérnaírem por fuás leys,& ritos Afri*
canos,& foíTe exempta de todo o tributo tudo lhes concederão os mo'
:

radores & efcolhendo íitio pela terra dentro fundarão a Cidade ceie-
j

berrima de Braga, oyto legoas além donde tinhaó naufragado , &: em q


&
mefmo kigar , onde hoje Braga eílá y derão-lhe efte nome em memo-
ria de hum rio chamado Braçada, ou Bragada , que corre pelas terras de
&
Carthago , âo qual depois os Mouros, os Turcos chamarão Magére-
da :& efta parece foy a fundação de Braga ; não obftante outros dize-
rem que a fundarão os Gregos, 1 150. annos antes da vinda do Salvador,
& trinta fó depois da fundação de Lisboa por UlyíTes 5 outros affir- &
marem quea fundarão EgypcioSi & muytos í que huns Francezes Cel-
tas chamados então Bracatos , ou Brácaros , 296. annos antes da vinda
,

de Ghrifto & que porque eftes Gallos Celtas fe forão mifturando com
;

©s Gregos daquella terra, veyo efta a chamarfe Gallogrecia 3 & ( andan*


do o tempo} Galiza i nome que em verdade teve toda a terra d'Entre
Douro & Mmho. Seguia-fe agora defcrever efta Augufta Cidade j mas
como nem a Real Lisboa defcrevemos, naó he bem que o façamos a efta
Braga Augufta, por não dilatarmos mais o intento a que vamos.
44 Trinta & hum annos depois de os Africanos chegarem , ôc
fundarem a Braga, chegou ode 403. antes da vinda de Chrifto,em que
houve taes terremotos em Hefpanha , & tanto mayores em as terras ma-
rítimas, que atè as mefmas feras vinhão dos matos metterfe entre as gen-
tes , feytas com o medo manfas & no anno de 372. antes de nafcido o
;

Salvador , chegarão á noífa Lufitania, ao porto de Alcacere do Sa],qua-


tro náas Gregas , vindas de Peloponnefo , & cora gentes da Provinciá
Lacónica , que enfadadas jà das guerras das fuás terras , vinhão bufcat
outras, em que paftaíTem a vida mais pacifica i entre âs quaes gentes vi- ^^
nhãohuns povos chamados Colimbrios 5 & indo-fe os outros aflentar jDw Gre£os Laiehl2
fua morada em o Alem-Tejo , entre os Turdetanos , èc Celtas qúe lá vi- cos CoUmbriot j«s ,

chegando à foz. de^


Viaó, os Gregos Lacónicos Colimbrios, fem defembarcarem navegarão
cofteando a Lufitania , atè darem em a foz do rio Munda , ou Monde- ^T^^J'f^^^J'
"^
go , pelo qual entrando acirila fundarão hCía Cidade , a que chamarão ^^^^^^^^ Cvimbr^
Cohmbria, & com poitca mudança ao depois fé chamou fempre Coim-
bra, que cinco legoas do mar eftá fundada j pofto que alguns accrefcen-
tão , fora fundada primeyro em hum lugar mais abayxo , que chamãp
Condeyxa a velha , & que ao depois íe mudara para |o lugar eminente
aonde hoje eftá & fe a brevidade que levamos o permittiíle', defta in-
5

clytá Coimbra defta Corte de aígús Reys de Portugal , defta Univer«


,

fidade que compete com as mayores do Univerfo, & com myfterio fun-
'dada por Lacónicos , & Gregos , por em fi corltér , laconicamente reco-
da antiga Grécia^ & atè da lingua Grega tèr em fi huma
piladas, as letras
Regia Cadeyra j defta nunca acabariamofí .fequizeífemos tocar fuás
grandezas. Da fxndaçaode^é^
i .
t j
45 Fundada aílim Coimbra aos 3 72^
annos antes da vmda de ^g^yg^^ de Lagosm
Chriftojpaftaraó dos Gregos adiante , com
ai guris muytos owXxo^Qf^- Algarve j/iosannosAi
tas, &
chegando a hum bom porto , aonde hoje eftá a excellente Villa trfi^entoi& ^mreHJ
de Aveyro, com o primeyro nome de Taíabrica , ou Talabriga , que no ta antes do^fitm^i
'íte>me de Avéyiro com o tempo fe mudou y he Villa tam grande 5 que ex- '" '^i
Çhrfji(>^
u
•il
^o Livro L Do principio das Ilhas do Oceano Lafitanas.
cede a muytas CidadeSi he de grande commercio niaritimo , pelo muy*
toj&bomíalqiieailiíefazj&nuiytalouça que lavra ,&: a melhor jôc
mais certa pelcariaj além dos mantimentos que lhe vem da Província da
Beyra , donde , pôde fer, tomaffe depois o nome de A veyro , que come-
çou em o Infante D. Jorge, filho delR.ey D. Joaó o II. de Fortugalj & if-
to baile dizer defta Villa excellentiffima.
46 Chegado adiante o anno de 347. antes da vinda de Chriílo,
& ode 3615. daereaçaõ do mundo 5 eítando o Capitão Bohodes de
Carthago em Andaluzia , & fingmdo familiaridade com os noíTosPor-
tuguezes do Algarve , fe paíTou a efte Reyilo com capa de mercancia, ôc
com licença delle fundou huma Povoação , que intitulou Lacobriga èc j

hoje he a Cidade de Lagos , cabeça daquelle Rey no, ainda que pela pe-
fte, que ha mais de feíTenta annos padeceo, ficou muyto diminuidajmas
tem bahiayôc porto capaciflimo. E nefte tempo, dizem, íloreceo o gran-
de Alexandre Magno. Depois, também com capa de amizade jfe veyo
também metter na Lufitania o Capitão Maherbal , Carthaginezy& am*
damaisdepoisynoannode 250. antes deChrifto nafcido, veyo outro
Carthaginez, Hamilcar &: eatrando em Lisboa com pretexto de huma
,

gomaria promettida ao templo de Minerva que em Lisboa eftava , nella


íe cafou com a filha de hum Cidadão nobililfimo, & riquiffimo , & dey-
3£ando pazes affentadas entre a Lufitania, &
Carthago, fe voltou a Afri-
ca com a fua Lufitana , &em huma das Ilhas Baleares , chamada a Coe-
Iheyra, nafceodefte matrimonio o famofo, celebre , &
verdadeyro Lu-
iitano Annibal, terror dos mefmos Romanos ,& gloria dos Portugue-
ses, que nafceo no aniio de 245 antes de nafcer Chriftobem noíToj com
.

o qual Annibal os PortUguezes derão grandes batalhas aos Romanos?


tomo também os Portuguezes de Braga, &
d'Entre Douro & Mmho
vencerão aos Romanos muytas vezes , com
outro Capitão feu natural^
chamado Africano, a cujo exemplo fizeraó também o mefmo os Portu-
.guezes de Lisboa com humíeu Capitão Ulisbonenfe. E aos 192. annos
antes da vinda de Chriftofoy Carthago cercada, deílruida, & queyma-
da pelo grande Scipião, 6f feits Romanos , & de tal forte
que dezafctc ,

dias, & dezafete noytes efteve ardendo & tendo féis legoas de circui-
;

to, & fetecentas mil peflbas , <:incoenta mil fomente efcapàráo dentr®
do grande Caftello que em fi tinha.

CAPITULO XIL

Da vinda dos Romanos a Hejpanha , & viâorias que delks con-


Jeguio o jnayor Portugueíz, &
Principe VmaiOy ate
morrer Jo por tveyçao*
CnenA Âe hlmõs «-^ Afiado o anuo de 200. antes dá vinda de Chriíto , U vlnd®
'.y
^,manejfeyta^Pn.
^^ Hefpanha OS Romanos para a conquiílarcm , & entranda
muytas entradas nas
fZplZZvTcrJt pela Província de Andaluzia , começarão a fazer
ír/miueíesemmm terras da Lufitania , querendo-a conquiftar,femmaisdireyto,oujuíl:i-
de -vinte dnnti, ça para ififo que a ingratidão com g_ue pagavão os bçneficios antigos , &
Câp.XIÍ.Do granáeViíiatOjVitonofo fempre dps Rom. ifc

fataes foccorros que dos Portnguezes tinhaó recebido Roma , & toda
,

Italiaj & cantos eítragos faziaó tantas crueldades & treyçóes , que os
, ,

verdadeyros, & antigos Portuguezes da Serra da Eftrella naõ podendo


já fofreilos fe refolvèraó abuícarj& deftruir aos Romanos ,& ajura-
j

mentando-fe com hum feu valerofo Portuguez ( nafcido naquella par-


te onde iioje eftáVizeu, em a Provincia da Beyra ) aíTentáraó todos
em andar íempre á caça dos Romanos ^ atè os lançarem fora de toda a
Lufitania bc de tal forte tomàraõ eíla empreza, & em taes embofcadas
;

fe mettiaó, que fahindo delias, lhes não efcapava Romano que não paf-
faíTem ao fio da eípada -, &: atè occupadas dos Romanos,
em as terras j

tam furiofamente davão de repente, que totalmente a todos deftruhiaái


& vendo que em Andaluzia andava jà por Capitão dos Romanos o Pre-
tor Sérgio Galba , acordarão aquelles Portuguezes 'em eleger também
íeu Capitão , que a todos os governaíTej ôc lhe obedeceíTem todos co-
mo a feu General , & ainda como a feu Rey , & com eíFeyto elegerão ao
dito valerofo Portuguez que primeyro os tinha convocado, & a quem
,

já tinhaó vifto obrar como infigne Capitão. Eftepois fe chamava Vi»


tinha o nome) nafcido, como diíTemos, £nt o amo de i6õ^
riato,( que atè de infigne varaó
&
em Vizeu, pelos annos de 200, antes de Chrifto nafcer , andando já antes da vnda de
era quarenta deidade quando foy eleyto Capitão , ou Rey dos Portu-
Chrifto , elegerão ot
PortHguez.es aogran -
guezes, & jà dos Romanos era tam temido , que fó em aufeneia , &.de
de Viriato por fett
palavra fe vingavaó delle os Romanos, chamando-lhe ladraó , faltea- Príncipe tendo elle ,

dor, &; Capitão de ladrões 5 como fe o defender a antiga , &


própria pá- quarenta annos de
tria, naõ foíTe acçaõ nobiliílima , &
honeftiíiima i& pelo contrario oin- idade fendo feit , &
vadir a terra , &: pátria alheya , não foíTe huma infame ladroice , como Portuguez., nafçi^ &
do tmFií^tH,
bem notou o douto Brito em a Monarchia Luíitana lib.i. capJè.
'
48 O
certo he, que contra tal Viriato nunca featreveo a fahira
&
Romano Pretor Sérgio Galba , íuccedendo-lhe no anno de 147. an-
tes da vinda de Chrifto, ofegundo Pretor Romano Cayo Vetilio , 8c
vindo logo bufcar a Viriato com mais de dez mil Romanos , outros &
muy tos Andaluzes, Viriato em huma embofcada o efperou , cora tal &
valor o aéometeo , que a quatro mil dos Romanos degollou , a muya &
tos mais Andaluzes ; &
do Pretor Vetilio huns dizeni que alli morreo»
& outros ,que entaó foy prezo pelo grande Viriato mas como êfca- :

pou fugindo o Tenente Qiiellor , efte terceyro , & Romano CapitaÓ


veyo depois cora cinco mil Celtiberos , & féis mil Romanos , & offere^
cendo em campo aberto huma batalha campal a Viriato , efte o venceo
de tal forte, que com vida fó efcapoú Qiieftor fugindo em hú cavalK
49 Qiiarto Capitão Romano tinha vindo à CaftellaGayo Piau-
cio, mas Viriato já com Portuguez exercito formado , entrou tanto pe^
lo Rèyno de Toledo, que chegou quafi ás portas de Madrid , aííolando
tudo quanto achava, atè que fahindo-lhe Píaucio com dez mil homens
de pè, & 1 5Ó0. de cavallo, & a tempo em que os Portuguezes andavao m
diftantes fàqueando â terra, Viriato dando moftras de aceytar a batalha^
de repente, & á vifta do inimigo fe retirou com tal preífa, que era poii4
cas horas fe hão viaó hum aooUtro exercito > de que irritado Plaucio,
mandou quatro mil dos feus que o detivèílem atè elle chegarjSc Viriato
entaõ virando com amefma prêffa íobre aqitelles quatro mil j&ííegol^ I
lando-os
ii LívroI.Dopííndpío das Ilhas áo Oceano Luíítanas,

iando-osa todos, com tal preíTa voltou a Portugal,'que quando Plaucio


chegou ,jà naó achou mais que os campos cheyos de langue dos Ro-
ananos, &
fe retirou aíTombrado igualmente do esforço, que do ardid de
Viriato. Ajuntando comtudo novas gentes , veyo Plaucio bufcar a Vi-
riato atè junto a Évora , que do alto de hum monte , aonde com íèu ex-
ercito eftava , defceo fobre Plaucio, & lhe deo tam porfiada hatalhajquc
vencidos tandem os Romanos ,fó poucos de cavallo ,& fugindo com
Plaucio efcapáraó, &
fe forão metter nas mais fortes pragas da Andalu-
zia} & fe perfuadião todos que Viriato fe faria abfoluto fenhor de toda
Hefpanha 3 & ainda paffaria a conquiftar a mefma Roma , & fugey tac
toda braço Portuguezj
Itália ao &
temendo ifto,
foQiiinto Capitão veyo entaó de Romão Pretor Cláudio Uni-
tnano com a mais, ôc melhor gente de toda Itália mas o grande Viriato,
:

anno de i^ó.antes de virão mudo Chi-ifto,o foy logo em o mefmo mez


defafiar dentro a fuás terras , & dandolhe batalha , que durando duvi-
dofa, 6c fanguinoíenta mUytas horas cedeo finalmente a Viriato de tal
,

forte, que de todo o grande exercito Romano fe livrou fó Cláudio fu-*


gindo} &
os defpojos foraó taes , que com elles não podião jà moverfe
os Portuguezes i &: Viriato contentando-fe com as infignias Romanas,
as collocou nos montes mais altos de Portugal , entre arcos triunfacs de
íuas vidorias.
f 51 SextoCapitão , vindo então de Roma , Gayo Negidio , Pre-
tor da ulterior Hefpanha, entrou em Portugal pela Província da Beyri
atè junto a Vizeu, & com hum exercito de gente innumeravel i acodio
logo Viriato áfua própria pátria, & achando a Negidio entrincheyra-
&
do, o cercou , á fome o obrigou a dar batalha ; mas vendo que fett
partido era muy to inferiorj & feparando metade dos feiís Portugueze»
em cillada, com a outra rijamente commetteo ao inimigo, que cuydani>|
do ter fó a Viriato em hua parte , onde o queria vencer , de repente pe-
la outra foy tam fortemente cominettido dos Lufitanos Viriatos,que ds
tam grande exercito Negidio fó efcapou, & à unha de cavallo, deyxan^
do os feus , fuás riquezas , & os Eftandartes Romanos ém as mãos dos
Portuguezes.
52 Septimo Capitão de Roma veyo logo , -íio anno de 145 an- .

tes de Chrifto nafcido , o Pretor Cayo Lélio } mas efte prudentemente


fugio fempre de da r batalha a Viriato; porém a muytos lugares de Caf-
'Conmomici^-Pnn-^
tella que eftavão pelos Romanos, Viriato deftruhio^^ aíTolou livre^
€ÍYe,&
J"^' mente;» & era tal o valor dos Portuguezes
^ , que
trezentos deftes encon-'
tuquez. ^*^^J^
, vier AO
de , •, t^ 1 r- ^ r> ^ '

Rtma & em diver- trando-fe com dez mil Romanos,com morte de lo 60. 1 ortuguezes ma-
fos amos ^ fete Gene- táraô a trezentos & vinte dos Romanos, & aos mais
puzeraó em vergo-'
raes, Pretores Âotw4 nhofa fugida i & affim o confeífa Garibay Ub. 6. caf.<^. de fua hiftoria Sc :

ws^&todosforao ve- q q^g j^^jg jjg juntos , encontrando no caminhei


^ ^^g muy tos Romanos
ctdos pelo
Viriato,
tnvtao
^ ^^^ Portuguez, & já ferido , &
commettendo-o todos , o Portuguez.
pelejou com tal valor, que matando dos Romanos ao primey ro , volta-
. ráo os mais as coitas, & fugirão.
53 Oytavo pois Capitão contra o noíTo Vitiatõ mandou Roma
entaó, anno 143. antes devir Chrifto ao mundo, não já fó Pretor al-
gum, más em peíToa a hum Conful , FabioEmiliano j que tinha vcnci-

Cap.XIÍ.DosexercitoSí&ConfulesRom.venc.porVir. 23^

do o Reyno de Macedónia , & era irmão


de Sei pião o menor que dei- -^r.^^^^^ .^
^^
truhio a Carthagoj & comíigo trouxe efte Fabio quinze mil Romanos ^J'J^^,„,Jl p^^*.
depè ,& dous mil de cavallo j & comtudo em chegando a Hefpanha, ttigiiez.es com Gene-
foy Viriato logo bufcalio , & defaíiallo j mas era tal lua fama là em Ro- raes Pretores , mati'
ma , que nem com tam grande exercito fe atreveo Fábio a aceytar h:it^- àou o ConfulIabioE-
«^'^"'«« (^«'^ ^j«^'«
íha com Viriato i& efte, deftrumdoentaó os campos , rendeo duas Ci-
dades, que eftavaó prefidiadas de Romanos, & deyxou nellas prefidios l'"//"" ioma^ era trmao '

Portuguezes & atè ao grande exercito doConlul que eivava entrm- deScspiaõvecedorde
j

cheyrado, lhe tomou Viriato huns comboys , & lhe degoUou muycos c^srr^oj^cõ^/-^-
Romanos, fem comtudo o Coníul fe atrever a fahir a pelejar com Viria- de exercito depè ,&
de cavallo,&com tw
tOi atè que paíTados algus mezes, & já em o de Septembro , & em huma
noyte elcura, no meyo delia era ponto defalojou Fábio de repente , &
^^ """* ^^»f^<' ^ ^^-
,

andando a toda a preíTa duas milhas, deo fubitamente com Viriato,que "
*''

pofto eftava ainda em vela, como lempre, quafi todo feu exercito eftava
no primeyro fomno , & com tudo Viriato , com os que pudèraó imitai-
& a íuftentàraó grande parte ainda do dia
lo , receberão a batalha , -, atè
que vendo bem que feus foldados entrarão na batalha & pelejavaó , fem .

ordem, & que atè a fortuna eftava jà de Viriato envejofa, retirou-fe com
tos feus efte Leaó ao alto de hum monte, deyxando a Fábio com fó as ar-

mas de algús foldados mortos & com a naó pouca gloria de ter fey to
,

retirar a hum Fortuguez V iriato , que com iflfo fe deo por fatisfeyto. No amo de ijí^r.An-
54 Nono Capiíaó por Roma, ÔcfucceíTor de Fábio, veyo o Pre-íf^í^^ i'/»^'«^^C^''í-
•-tor Pompilio, no anno de 142. antes de ao mundo vir Chnftoi
^^^p^l^^Z^^&Zndtt
quem Viriato aíTentou pazes largando-lheas praças que a Roma tinha Jo aPomptU^^a^en.
,

tomado em Andaluzia, & fe recolheo a defcanfar em fua pátria a Beyra: toHpaz.es comViria-
& paflados algús dias de retiro, eis-que fahe o retirado l^ohoY m^^-o to^mof pontue lhe ti-<
com exercito grande que ajuntou , & entrando pela parte que hoje cha- nha tomado algumas
mão Ribacoa em Caftella, & a tempo que com fecreto avifo de Viriato, P^^Ç'^ '^ Andalu-^
outras nações Hefpanholas entravaÓ também por outras V^^^,^^ ^ ^ ^^ r^PortuIr^ZT
nenhuma ficava Romano algum com vida. Attonito Pompilio lahio ^^^^^^^^^^^ ^^'^^,
com poderofo exercito em demanda de Viriato, mas defte foy taõ ven- ^^ ^ & pifando k ef-
cido em batalha , que morrerão nella todos os que nella entrarão , exce- pada os Romanos que
=pto o dito Pompilio, que com muy poucos fugindo efcapoUi& Viria- encontrava, ate ao
mefmoPomptUo ven-
to feguio com tal animo a vitoria , que a todas as terras dos Romanos a
que elle chegou, & ainda às que fe lhe entregavaó , a todas paftbu ao fio ^"^^/^/j* f^'^ r^l
da efpada j atè que enfadado jà de degoUar Romanos , fe voltou para a ^^^ç^^ p^J^^ copoa^^
fua Lufitania ; & tal terror metteo nas nações onde chegou efta acçaõ, c os maú fugindo , ef-
•que Hefpaaha quafi toda fe deo por libertada dos Romanos , que fó ou- capàraõ.
virem o nome de Viriato, lhes era grande terror.
.
55 Decimo Capitão Romano veyo , em 141 antes de Chrifto, r>,,;^oGeneralvey<,
.

contra o infigneLufiíano Viriato , Quinto Pompèo, nomeado Pretor ^^ ^^^^ py^tor ^ <,

d© Hefpanha j & comojà Viriato trazia era feu exercito muyta folàa- QeúntoPompeo.aqfJ
defca eftrangeyra, fem delia fe acautelar , como fempre he bem , poriíTo em batalha veceoVi.
•dando batalha Pompeo a Viriato junto à Cidade de Évora, & fendo
''^^^''.'^^^"«_J'^^^/^^^^
^xceíll vãmente o exercito do inimigo muyto mais numerofo que o nof- ^"Z^' JTf^a^T!^
lo,por culpa dos eftrangeyros ( que, quando menos íe cuyda,lao inheis j ^^^^ ^ .
^^^^ ^^^
foy forçado a Viriato retirarfe com os mais dos Portuguezes , com eí- & ^,,^^ prejldiada de
tes fój paíTados poucos dias ,. voltou fobre
L'
os. Romanos com tal impeto, Romanos.
V
m
que

\
2^4 Livro I. Do principio das Illiâs ào Oceano Lafítanas,
ii^r

que os venceo totalmente, & deftruhio matando4he& quatro mildô


pè,& mais de quinhentos de cavallo, trazendo vinte & fete cativos Ef-
tandartés dos de Roma j &
naó fatisfeyto ainda com ifto , entrou logo
em Andaluzia , & rendeo á força de armas a antiga Cidade Utica , pre-
fidiada entam pelos Romanos j de que era Roma pafmados mandarão
56 Undécimo Capitão contra oinvencivel Viriato, que foy
Roma QLiinto Fábio Máximo Serviliano , Conful de pouco eleyto com Lu*
^JJfom brada
tornou a manàAr Cõ- cio Metello CalvO}& trouxe comfigo Serviliano
dezoito mildepè,6c
fules , Quinto Fábio mil &
feiscentos de cavallo , & em
chegando a Hefpanha , lhe mandou
Máximo SertJilie.no ^
hum dos Reys da Africa dez encaftellados Elefantes , &: cavallos Nu-
& Lúcio Metello Cal-
midas trezentos j eftandoneftd tempo Viriato em Portugal , Servi-
&
t)B , com exercito de
Tuais de vinte mil ho-
liano lhe tomou com tal poder algumas praças da Fronteyra , ainda &
mes çfrdez. Elefan- com boa refiftcncia , &
capitulações muyto honradas j mas como Servi-

tes encafie liados, &


a liano lhas nâo guardaíTe depois , antes a quinhentos Portuguezes ma-
tudo Ftrtato com (ó taíTe a fanguefrioj fahio logo Viriato contra o falfario Romano , & lhe
{eiu Portu^*fez.<s4e- aprefentou batalha ;
porèm obfervando que os noflbs cavallos Portu-
guezes naó podiaó aturar os Elefantes armados , voltou com os Portu-
Arahio.

guezes^m fugida tam apreíTada, que vendo já ao inimigo afaftado bem


&
dos Elefantes , voltou entaõ fobre elle, o venceo tam fatalmente, que
ihedegollou 35600. fugindo Serviliano com osquepuderaõ, feguin-
do-o, efcapar.
'£ em o amo feguintty
57 Efte mefmo Capitão Serviliano ficou fendo Pretor o anno fe-
o mifmo ServiUano, guinte de 139. antes de Chrifto , & por fe vingar de Viriato poz-lh«
fondo cerco a huma cerco a húa praça importante masacudio tanto 5 & logo Viriato, qu«
i
fraca de Viriato,efit
quafifem o fentirem os Romanos fe metteo dentro da praça com muy-
haõfflhefez, levan-
tar o cerco , & fffgif & fahindo delia logo ao outro dia com cavallaria ôc
tos Portuguezes, , ,

para hum monteamos infantaria formada rompeo & deftruhio de tal forte aos
, ,Romanos,
710 monte cerco» aos que os fez recolher ao alto de hum monte , do qual nâo havia outra fa-
Romanos^ & hida fenaô a por onde tinhaó entrado , &tomando-lhe efta os apertou
ot obri-

gou a lhe pedir e paz.,


tanto, que fó por piedade os não paflbu todos á efpada, mas acey tando-
à vontade dos Portn-
Ihes tregoas, oíferecidas em nome da Republica Romana, &^uytoá
pieK.es.
vontade da Luíltania nofla ,deyxou^os Viriato, & fe veyo a Portugal.
'•'Dmdecimo^ & ulti 58 Duodécimo Capitão em fim , & no anno de 138. antes de
mo General que ma- Chrifto nafcido , veyo de Roma outro Conful novo , chamado Quinto
'M\
dou Roma contraVi- Servilio Scipiaó , irnlaó do antecedente Serviliano , & em feu lugarj ef-
riato,foy Quinto Ser-
quebrando logo, fem avifo , ou caufa algúa , as tregoas aíTentadas
te pois
i/ilio Scipiad irmão
com feu irmão , entrou pela Lufitania com exercito armado j o que fa-
,

do antecedente Servi-
varias terras dos Romanos , & lhe in-
liano\& quebrado lo- bendo Viriato lhe deftruhio logo
go a paz. ^JJentada,& viou tresEmbayxadores, ( &: infauftamente todos três eraô Eftrangey-
fendo lhe perguntada ros, dequejá fenaó devera confiar ) a lhe lembrar as pazes aíTentadas,
a ca»fa por três Em- &
ou dar a caufa de as quebrar , ou aflentallas de novo chamavaó-fc 05 :

bajx adores de Viria-


Eftrangeyros Diftalion, Minuro , & Hulaces a eftes pois fobornou , 8c •,

to ^{queríaoer ao Por-
t uguez.es, tKM Efira-
venceo o fempre infame , & falfario Servilio, & com taes promeflas,
çeyros traydores ) & que tornando eftes para dar a rcpofta da Embayxada ao Invido Viria^
efles , voltando alta to, o foraõ bufcar todos três no meyo da alta noyte , & achando-o dor-
noite ,&achando dor- mindo, ( porèm, como fempre, armado,& deytado em a terra fria , ten-
Tnindo a Viriato
do por cabeceyra o feu efcudo ) hum , que nome naó merece , hum def-
, co-

mo infames falfurios
hum tes três viliírimos,ôc abomináveis traydores, levantando a efpada, de-
(he cortarão de
gollqu

^PP^
€ap.XIÍI.DoÍnveciveIVinâto,inort.fópor tíayf aleira if
golpe a cabeça. é"}}»^^
gollou de hum golpe a cabeça do mayor Capitão que entaó tinha o
giradlogo.AjJlm moík
mundoj & fugindo logo todos três , naõ paráraó fenaó em oíeu centra rto (jHe tinha
aqnelle
de trayçóesj o falfo Conful Servilio. Vencido a doz.e Gene-
59 Deyxo o eterno lentimento que moftráraôos Portuguezes raes Romanot & a ,

da morte defte íeu Príncipe & mais verdadeyro R.ey, & as exéquias fa- muytM mau batí*lha$
,

taès que lhe íizeraõ , a hum vencedor fempre,& fucceffi vãmente de do^ deães, & formais

vinte annos & affim
ZG Capitães RomanoSjôc em muy tas mais batalhas tnunfante,& reftau-
i

ntorreo para fe ver,


rador de toda Hefpanha j pois o douto Ganbay ( com fer naó Portu-
;

^ atè dffois damor\


guez ) confeíTa , queefte grande Capitão fez em a guerra mais , 6l ma- té foy fempre vence {
yorcs façanhas que outro Hefpanhol algum j & que por muytos annos; dor,& Portugnez. in^
foy fempre de Romanos vencedor defde a Lufitania atè os Pirinèos, ventivtí.
paíTando Tejo, èc Ebro t & fempre triunfador ; & atè o Hiftoriador Ro-
mano Floroemofeu Ub. i. cap. 17. diz eftas formaes palavras Lufita-
;

nm ViTiatm erexit^ Dux, atque Imperator-, &


ÇJifortuna ceffijfet') Hijpa-^
nia Romnlus. E accrefcenta que morréo de tal trayçaõ, ibi; Utvideretur
aUíefumci nonptuijfej é^c. & dito ifto naÓ ha mais que dizer.

C A P I T U L O XIIL
Morto P'maté \ liiiè
Dm mais guerras de Portuga/,& do /eu grande Sertório^ ;pori(fo o animo ^ #^
vencedor de todo o poder Romafio. valor dos Portugue^,
zes morreo, pois vin^,
do Decio Bruto per
éô A /{ ^^*^° ^ grande Viriato fuccedeo-lhe no governo outro,
,

naó no valor Portuguez porque


Pretor Romano, anne
iVl ío no nafcimento , ( ) ;
dei"^^, antes davin-
em fím foy vencido dos Romanos j que porfe temerem ainda dos íol- da de Chrifio^foy em
dados Portuguezes , os dividirão por fora de Portugali& no anno 136. batalha campalvett'^
antes da vinda de Chrifto , fe apoderarão das principaes CidadeSjSc po- eido dos BracharenJ
vos da Lufitania, excepta a Província d'Entre Douro ôc Minho , aon- fes,& ate dai mulhe^
de por vezes foraô Vencidos os Romanos,atè pelas mulheres Portugue- res deftes, ejuepeleja-^,
vaõ naõ menos ^ueos
sas, que peleja vaó náó menos que os, maridos aflim Decio Bruto , que
:
maridos ; &o Brut$.
de Roma tinha vindo por Pretor da Lufitania , foy dos Bracharenfes fe reeolheo a Ronta^
vencido em batalha lio feguinte anno de 135. & voltando Decio Bruto [em efta tornar em
para Roma anno de 13o. pelos tumultos grandes , que lá entaó havia^ algus annos a fa^er^
nem voltarão a Portugal tantos Pretores de Roma , nem os que Voltà^ guerra a Portugal,
taõj tiveraó guerras dignas de memoria.
Cincoeta ^ cinco an ^
61 Chegado porém o anno de 8ó. antes da vinda de Chriílojdeo nos parOH a vivagttei^
Deos a Portugal hu digno fucceíTor de Viriato , que foy o grande Ser- ra àe Roma contrA
tório, com a occafiaó feguinte. Era natural Sertório de Itália , nafcido Portugal, ate tjue efi
de pays honeftoS entre os poVos Sabinos , & depois de fe fazer nas le- te, em anno de 80.'
antes da vinda dá
tras fabio , fe deo ás armas tanto , que foy mandado de Roma por Pre-
chrifto chamoit dé
tor a França, aonde vehceo muytas batalhas * & nellas perdeo hu olhoi
,

Africa aofamofò Ser


qual outro FelippeRey de Macedónia , Antigono , &; Annibal j &em tório Romano, &o ele -i

as guerras de Roma entre Sylla, & Mário, feguio Sertório a Mário con- geo por feti Principà
tra Sylla , & de Mário veyo por Pretor a Hefpanha, & em fabendo que contra os próprios Ro-
Sylla eíiavajàfenhor de Roma, fe paíTou Sertório a Africa, &
em feu manos dando- lhe por
,

Corte a gnerrejnk
lugar mandou Sylía por Pretor de Hefpanha a Cayo Annio j &; de Afri-
Évora tm ^Uni^
ca vinha tanta fama do valerofo Sertório , que os Portuguezes , naó fo^ Tejg^ f
" "
[ . ,
" G frendo

I'
%6 Livro I. Do principio das Ilhas do Ocearto Luíitanas. \

frendo feugeyçaô a Roma, mandarão Embayxadores a Sertório ^ pe-»


^!l
dindo-lhe que os witíÍQ. ajudar , &governar contra Roma j elle vendo&
a porta aberta para fe vingar de Sylla , aceytou, 6c fahio logo de Africa^,
& entrou em Portugal com 2600. léus foidados , Romanos , & com
&
700. Africanos , ôc efcolhendo em Portugal 4700. Portuguezes , com
cftes oy to mil homens fez feu aflento em Évora Cidade do Alem-Tejo,
& nella inftituhio hu Senado de Portuguezes, & Romanos, como o de
&
Roma; com o qual Senado confultava ; o primeyro aííento foy, que
os Portuguezes mandaflem os feus filhos , em a prinicyra idade , apren-
der latim 3 & Rhetorica , & aílinoulhes para iflb húa antiga Cidade, fi-
ta ern Andaluzia, & nella lhes poz Meftres.
Sertório, em a fideli- 62 Começou pois a guerra por confelho do Senado Lufitano, la"
dade , & valor não hindo de Portugal com húa Armada de Portuguezes,
,
em batalha na;, &
menos Portugnez. ^ vai deílruhio a outra mayor Armada do Capitão Cotta , celebre Ro-
,

f^iriato y

rioi logo, por


cincov-ão'
& mano
mar,
& logo com a Armada vidoriofa entrando o Guadalquibir acíf
; ,

terra alcançou dos Ca


ma, deo ao romper d'Alva fobre hum exercito Romano que gover-* ,

fitais Romanos & nava Didio, & eftava alojado em as ribeyras do rio não longe de Sevi-
\
,

ate ao exercito deFrã lha, & com tal valor o inveítio que entrando por vallos & trinchey-
, ,

^a ^Hefe veyo ajun ras, matou dentro quafi a todos os Romanos & tomandolhes as armas, ;

tar com o Romano go & defpojos armou aos fevis Portuguezes & foy o primeyro que a Por-

, ,

mrnado do Conful
tuguezes fez pelejar yeftidos de armas & fuílentar a pé quedo hiima ,
Qamto Mete a lio. htí
& outro venceo tan
batalha com aquella difciplina militar , em que os Portuguezes fahirao

to,^ com Meftres infignes. Vencida pois a primeyra , & naval batalha , &: logo a
tão Vilero-
fos Porttigiiez.es, cjue campal fegunda, deo com os feus Portuguezes Sertório
atcrc^yra a
jlittridates da /IJta Phidias Pretor Romano, em que atè a elle mefmo o matou , deftruido
mandou pedir muytos totalmente o exercito de Roma.
dellet fará vencer ao
63 Temerofo em Roma o Conful Sylla com taes novas de Ser?
fatal poder Romano^
tório , mandou logo contra Portugal ao valerofo Qiiinto Mctello, com"
& lhe farão \&m grã
mandou
de Meiellofez. Strto- panheyrofeu noGonfulado, o qual,naó podendo logo vir,
rio levantar o cerco 3 diante a hum afamado Capitão Lúcio Domicio, que começou a deÇ-
feu
tinhapojtoa Lagos, truir todas as terras , que por Portugal eftavaó em. Andaluzia mas fa^ ;

i&ofeK.dtUefugir. hindo-lhe ao encontro hum Portuguez exercito com o Capitão Hercu^


leo, deílruhio de tal forte aos Romanos, que atè o próprio Lúcio Do-
micio ficou morto , antes de chegar Metello que mandando ainda di-
-,

ante, & em feu lugar, outro Capitão afamado, por nome Toranio, tam-
bém efte , & todo feu exercito foy gloriofamente dos Portuguezes ven-
cido com a ordem, & deftreza do valerofo Sertório.
64 Com eftas cinco vidorias alcançadas voou tanto a fama Por-
tugueza , & o temor de Sertório , que atè de Navarra, & França veyo o
ProconfulManilio, ou (como outros lhe chamaó ) Lúcio Lolio, a-
traveífando os Pirinèos com groíTo exercito Romano , & Franceza ca-
vallaria contra os vidoriofos Portuguezes , mas fahindo-lhes eftes ao
encontro com o feU Hercujeo, & fendo menos em numero os acometèf
raó com valor taô grande, que a Romanos , & Francezes puzeraó logo
em fugida, ôcfeguindo-os atè dentro aos vallos ,& trinchey ras paífá- ,

raó a todos á efpada; &


fó o dito Proconful , com alguns mais de cavai-
lo,efcapáraó , atè metter-fe dentro era Leridaj & foy afexta viftoria
alcançada. • .

\ é5 E;}j

^P*iP
Cap.XÍII.Dofamoío Sertório Portuga no valor,& leald. ly

65 Étti Aíidaliizia andavajá o forte velho MetelIo,&jàbein


proféguido de Sertório , que por elle efperàra , & morria tanto por lhe
dar batalha , quanto o prudente velho por a defviar j atè que efte che-
gou a pòr forte cerco à Cidade de Lagos no Algarve ^ cortando- lhe as
águas todas j & acudindo Sertório , mandou logo dous mil aventurey-
ros Portuguezes j que em odres , &
à vifta do inimigo mettèraô agua
na praça;& Metello vendo ifto, fem o poder impedir, levantouo cerco,
&:íèfoy invernar a Tarragona.
66 Correo tanto pelo mundo nefte tempo da naçaó Portuguc-
Zaj &
de Sertório a fama , que o celebre Mitridates , Rey da Afia , anno
de 77. antes da vinda de Chrifto , mandou a Portugal Émbayxadores,
pedindo aos Portuguezes , que quizeíTem com elle ajuntarfe , para jun-
^aTcdet'''d%^''^^
cos deftruirem a potencia Romanaj & que os partidos feriaõ, ío concor-
«^^ ^ ajuntarft ^com
rer cíle a Portugal cora dinheyro , &
Armadas , & Portugal a elle com a Metello , eftavales
foldadefca Lufitana ; item que demais concederia a Portugal o ítnho- PortHgnez.es cercmA
rio de Afia , depois que elle o tiraíTe das mãos de Roma. ForaÕ c^çs^"^'*'»^ Cidade tzá
"Embayxadores recebidos mageftofamente pelo Lufitano Senado, que ^'"'^"f'*»^^^""*'»'
entaó eftavaem Évora , & em que o grande Sertório prefidia ; & em re- ^^^f^". ^p^"""^^*»^
^n-iur^ T-ij^T/-
poita lhe rorao outros Embayxadores Luhtanos com muytas , &
D
muyto
Sertório lhe matou 4-

luftrofas companhias de Portuguezes para ajudarem a Mitridates,


dez. mil homes &
«
áe,fez.irffigindoa]eA'
que ficou elle muyto agradecido , Sc paímado de ver a Lufitana folda- ragaõ & dtfirttinda ,

defca, & o valor Portuguez. a Cidade cercada fe


"
;új Temendo-fe pois já da Lufitania a mcfma Roma, contra Ser- "^ol^ouaEvera.&ne..
torió mandou o grande Pompèo a Portugal, & novofoccorro grande^^" ^^^l"'"*/'^'"''"
_i
para r ^»,riio^i • r» j^v .^rces.&real cano por
íe unir com Metello , & ambos contra os Portuguezes dobrarão
^,y^^^ perme mete»
entaó a guerra mas a Sertório também fe lhe veyo ajuntar hum ^^"pi- mCidadt afua açuA
:

taó Italiano chamado Marco Perpèna com mais trinta companhias áe da prata.
•foldados veteranos & eftando os Portuguezes cercando em Valença a
;

huma antiga Cidade chamada Lauróna & acudindo-lhe Pompèo, Ser- madoi ""^ "/"''^
* n ^'t^ ^
, JT"Í'
-11 forçasII é" ptr
tono, & os Portuguezes o acometerão em tal ciUada, que lhe matou dez diverj partes
• V 1 t 1 .

04 Pom-
mil homens & com prefla fe retirou Pompèoj & Sertório que comfi- p'eo.,& MetelU^a Pí^
,
(
gojà trazia féis mil de pè, & dOus mil de cavallo ) rendeo a dita Cida-;»^» deo Sertório talhtt
de & a deftruhio & recolhido Pompèo aAragaó, Sertório fe reco-
, : f«*^f"? «^t/?^»- ''*^^'*i

iheo a Évora & entam de fortes muros cercou toda a Cidade & cm ^^^ " 'f"*"" f'ri*
j , t

hum fó, &: grande cano por cima de fataes arcos , metteo copiofa agua V^TlrZl.^
,
"^í^*'' fe

dentro da Cidade, obra que tanto depois reítaurou LlRey D. J oao 111. ^i»^e loio Senorio
68 Anno de 75. antes de Chrifto, fahio por huma parte Pompèo, dtr batalha aMeteU
& Metello pela outra , cada hum com feu exercito ; & fahíndo Sertório (o, tambemaefiefe-
a Pompèo , lhe deo tam forte batalha, que naó fó lhe deftruhio ao exer- '''^o.é-lhe matou mny
cito , mas ao mefino Pompèo ferio, que fugindo lhe efcapou & logo in- ^'^M<^fH<"' 5 :
re- ^
^^ r iví 11 11 n. t?rando-íe outra vez.
1
ooembufcade Metello , taes encontros teve com elle, que polto ci^^^a Évora &rahindm
t ..

lhe matou muyta gente, & huma vez o ferio , Metello com tudo por feu ^ ; armadapelo
mar^^
biM ço , &
experiência de velho , a fi fempre , &
aos feus livrou melhor tomou tantosfoccorrot
que Pompèo , atè que o deyxou Sertório, & fe voltou a Évora. Mas naó mandados de Roma^
contente ainda com taes vidorias Sertório mandou apreílar \o2phím^^'^f'^^''f^f''y^'''
,

Armada Portugueza, &com ella entrando o Mediterrâneo tomou os^^^"" Z' ^/f'^'^ '^
c i-ir. TT/-«n XI
loccorros que vnihaode Roma para Helpanha & naodeyxando porto
Pompso fe foy meter
,
1

^oCertão mejulgAv*
ÍTJiimigo 3 que naó roubaífe , nem inimiga náo que naó vencefle poz a mmfegnro. ,
^~-
C ij Metello,
i8 Livro I. Do principio das Ilhas Jo Oceano Lufítanas. >


Metcllo,& Pompèoemtaleftado,queMetellofem ter jà que comerj
^ . - nem que gaítar,fe retirou a França a refazerfcj ôcFompèo indo ame-
fiem o ^Capitai Proho ^^^^^ "^ Ccrtaó mais feguro que achou j dahi avifou a Roma lhe acudif-
Smiltam & com a iem logo , fenáo queriaó cedo ver a Sertório em Roma & aflim vindo :

dt Portugal Htrctt- ibccorro a Pompeo , & voltando Metello jà de França reforçado , tor-
/M,T<r»í«rfí/r5mfl- nouaguerraaaccenderfe. ^j.;a
rio^&eftc com es Por- £ como aufente ainda Sertório , Hercúleo , que ficara em
^^
tH^Hez.esdto ulbA-
^^ ^-^^^ hãXÚh^^ com Probo Emiliano , Capitão de Roma , &
. •

rjfc o mato» , & dcf-


levando Hercúleo menos gente , & ainda nao tam exercitada , comtu-
trumÁolhe o exercito do Herculeo^&feus Portuguezes vencèraótanto a Probo,queatè aef-
vcltou carregado de te mefmo tiràraõ a vida , ganharão onze Eftandarces dos Romanos , 6c
di^ojo$yma4 ajfimte- comfigo trouxeraó tantos defpojos de armas, & cavallos , que ficou efta
t»erarÍ9mdo bi*fcar
^.^Q.^^^^ mxiNto illuftre. Mas Herculeo, foberbo com o fucceíTo , foy tam
que já tinha o feu partido exceíHvo , & aco-
*^eFrirafovi temerário bufcar a Metello,
de He , & fugindo fe veyo a Sertório que játi-
^udldeUel&vaUn. metendo-o foy vencido
Ào.fc dt Strtorio,^fte nha defembarcado j Sc eíle confolando a Hercúleo , & mandando-o
con-
d0 maninha voliad» duzir gente de novo , fahio logo com a fua em bufca de Metello que an-
fçm mait efperar fa- (Javajà em Catalunha quando eis-que de repente encontra em o cami-
j
Ajj/o^rí ^^'''1'j'' ^f
nho com a mayot parte do vidoriofo exercito de Metello , que cativos,
levava Jà por novas da vidoria aPompèo, & tam fubita-
ít«rX p^^^^^^
Sertório , que em breve os delpojou de tudo , &
A0i vidst açsmaií, mente nelles deo o fatal
& * todos dos defpojos aos Romanos das vidas, & voltou-le.
efue levavaõ ,enjtnan- 70 Porèm naó podendo jà a fortuna com tantas viílorias de
do affim aoEftrãgeirc Sertorio, começou a voltar a roda contra elle , 6c perfuadindo-o fe ajun-
Merc»leo, que Nem
^^^^ ^^^ ^^^^ Capitães Perpena , & Hercúleo , Metello & foííe bufcar
&juntos dous fataes
^limioXsLópm a° Reyno de Valença, achou comelleaPompèo,
tudo. exércitos em hum íó , & o poder Romano de huma parte , & o Portu-
.

guez da outra j & logo , fem efperar mais , Sertorio commetteo ao ini-
_ . ^ _ migo, & fe travou a batalha mais horrenda que tinha vifto o mundo , 6c
to tempo , com fucceíTos muy to vários de húa,
m}iel IT^rato foy depois de durar por muy
queficaíTe Sertorio húa
í^e dentro aFalença, &€ outra parte , finalmente oenvejofo fado fez
aa^cometer MeteJlò, vez vencido,mas ainda de tal forte, & tanto á cufta do inimigo , q deíle^
st acha»d^.o com kit entre de pè, & de cavallo, morrerão alli oyto mil homens?> 6c dos noíTos,
faderofo exercito , & ^jj^-f g mortos, prezos,6c feridos, faltarão mil & feiscentos de cavallo , ^
cBoHtroaPo^eojH.
^j^^^ ^-^ ^^ pèimasem fim ficou o campo pelo inimigo , 6c fe retirou
que em tantas , 6c tam
XidtohTSà&le Sertorio naó menos conftante nefta adverfa , do
,

paiídelhnmataroy- profperas fortunas ; 6c a Cidade de Valença , que por


Sertorio eftava,
ta milhowèi, & per fe rendeoao inimigo. E nunca tanto em Hefpanha ^ ainda em Roma, ,

dfrmaps defeií mtl, fe celebrou victoria, quanto efta por verem nella vencidos Portugue-
,

evtre mortos prt-


^^^^ coufa poucas vezes vifta em o mundo.
1^ Retirado pois Sertorio , 6c fabendo que Porapèo o vinha
'^'ferllrt^^vimtdo'
X^rZír"" ainda bufcar, marchou logo para cUecom o feu {já recolhido, &refor-
. mado exercito 6c achando a Pompèo fobre Placencia , o fez levantar o
j

Refaz.endo.fe porem cerco, 6c aceytar batalha , 8c nella O venceo tam fortemente, que fezfa^
de Portugueses & ^ p^j^^p^o & Sertorio ficou fenhor do campo, 6c de todos os defpo-
,
,

&2Zrca3oZ'PS 6c naó fatisfeyto ainda , foy bufcar logo a Metello que eftava cer-
: ,

PjJencia,o cãmetteoCraáo a Calahorra 6c aíTim como chegou , o j


acomereo , matculhe três
dt talforte q»e í/<4mil foldados vellioSs,6cofezirfugtndo avakrfedehum pofto inaccef-.
fivel
Cap.XIII.Dâsvidonas,qâLufitaníatcVec^trâRcma7 ip

li vel, & Sertório voltando


a Galahorra a confirmou em fua ohcdigncmi f^.^ /^-'JJ^^^^
como de antes eftava. ^ dooTredeftutxerl
72 Depois eílandoHuefca cercada por ambos juntos, por Me* «wjc^íado/cfí?^»/:}
tello, & &
Pompèo , acodindolhe Sertório , foy em hua madrugada trocar a Metdk ^etri,
fubítamente acometido, que obrigado femetteo em a Cidade ,& com **'^'*^^^'?^<'f'''*//*'^
''»'»*"»/»ç^'" "«»•*•-]
menos credito de feu valor , mas amda com quafi nenhuma perda de feu ^'de três mti
^ T^ • V • ^ r>
1 /-
Fortuguez exercito. Daqui tomando porem occaíiao alguns Romanos dos velhos, recuperãJ
fõlda'^
1

que andavaó com Sertório 5 julgando que efte já naó podia confervar-^o asCiátides. Mat.
fe, 6cquerendo congraçarfe com a fua Roma , tratarão com Perpena a acodindo a HuefeaJ
abominável treyçaó de matarem a Sertório, conjurândo-íèâiffo,ipa.mtami>emcereadd,fojf
recuperarem a graça de feu povo Romano. Teve noticia Sertório , ^^J''1^^"/^'f!"'í"''*\
Gueyxando-fe aos Portuguezes de fua euarda, eíles em ouvindo tal, f '7 "fr .

com tal runa derao logo nos Romanos , ( que com elles andavao ) que ^^ ^ praça. Masfa-
degollàraó a muytos, & a todos fariaó o mefmo , fe o próprio Sertório ^^^^ Sertório qut aá
lhes naó foífe á maó , & os impediffe > mas ainda aífim quâfi toáos os gnsfoldados Romano»^
traydores perecerão , excepto o falfo Perpena , de quem nem a S^no- tratavaõ de o matar
rio, nem a outrem fubio ao penfamento tal trayçaó j porém efte bufcan- ^
dttiendo.oaosPorJ^

-
do outros Romanos com elles tornou a machinar a morte de Sertório,
& fe
. ,

conjurarão
^
em
,
2
fingirem
. . ,
^'*í'*'^"^ eftesreme^,

huma novade outra viftoria


-o- repentina

,
n
&
tenao loqo aos
nos e^ui entre Porí^
Roma*
os
para a feftejarem mais , irem jantar com Sertório j que quando Per- & tuguex.tsandavaÕ,eà
pena derramaíTe hum copo pela mefa , atraveíTaíTem a Sertório a punha- degolarão a todos.tx-^
cepto ao Capitão Ptr-^
ladas
. í
73 Deraô pois a nova da fingida vitória a Sertório , & o con-/'^"^.'' ^«"» Sertoriq.
vidarão a jantar , para a feftejarem maisj aceytou Sertório ,( contra a""***"'"'*'"'*
fentença do Portuguez Poeta, que difle Porqm nunca louvarey Capitão
:

^ue dijfe i Na» cuydey ) Sc pondo-fe todos a jantar, começou Perpena nQ fajfari» Ptrpetim^
foltarfe em palavras pouco honeftas,quaes fabiaque defagradavaó muy-
emhu fingido bãijue*^
toaSertorio,& queo reprehenderia delias } mas efte efcandalizado de
J^^^^^^^^
ouvir tal, fe encoftou fobre a mefa , & cobrindo-fe com o Real fago mi- ^^^-^ ^- °-^^^ ^í"^
^
litar, fignificando aífim que naógoftava tal ouvir, entam Perpena per- ^«„)^^/^^^j^^yij,^,-^
fido fez o final dado , derramando o copo i& no, mefmo ponto hú dos logo com os traydores^
treydores Romanos atraveíTou a Sertório com hum puiíhal , &: outros & osFoi-tugaez.tsfa»

jiintamente com vinte &


huma punhaladas ; deyxando-o envolto em & ^^*'^1-'> ^^P"^, Ihefi^j

feu fangue, fugirão todos juntos, temendo,que fe o labiaó os Portugue-


^^MrdinaHas^&^ti
zes, vingariaôfua morte. Mas fabendo-o depois os Portuguezes , reco- ^^^^^ ^^^ ^l^^^
^
Ihendo logo o corpo morto , o leváraó fora da Cidade,& taó Reaes ejce- enterrara Evora,oH\
quias lhe fizeraó ao modo entaõ gentilico, 8c com fentimento tal , que á de lhe levantarão co-^
viftà de tal morto, fe matáraõ a fi proprios,naó fó muytos foldados Por- Ifímnos; & vendofetc
tuguezes , mas efquadróes delles inteyros, & as cinzas de tal ^^^o^'fl^ll''l^'rf^^^^
trouxeraó á Cidade de Évora , aonde lhe deraõ Regia fepultura , levan- //y^^aomgrjjl''^//'
tando-lhe columnas, Sc memorias immortaes. Entre os papeys fe acíiou ^^^ Perpena^&fe Ao""^
o teftamento feyto por Sertório j & nelle fevio deyxavapor ^'mxxm- bron o Çemimento era^^
verfal herdeyro ao falfo amigo Perpena. O
que vifto , fe dobrou ejii to- todos.
dos o fentimento da morte de hum Principe tam fiel a feu próprio vaf-
lillo, U da infidelidade de hum tam traydor vafl"allo para com íèu roef- FoySenono,nomaji&
',_,.. * * nattt' de naíctmento,
ino,&:talPrincip(?.
. ^ ral<z.ado , & cafado
74 Foy Sertório, Romano fegundo o nafcimento , porem fe- ^^ £^^4 egf„ pejfoa
gundooaftedojSc profiíTaófoy connaturalizado em Portugal & ca- iaufire , de qttenaa
.
"
C iij fado
íilii

^0 Livr© I.Do princípio das Ilhas do Oceano Luíitanag.

f^dJvida/fff^maií de Évora com Portugúezkiiluftíè, foâo qué


^ado na Lufitàná-Còrte
amãte jíHmais ama. "^õ deyxou filhos j pòde &
fer problema, fe foy mais aíFeyçoado aos
do dos iPm»|«íí.«; Portuguezes ,feos Portuguezes aclle. Ocerto he que nem elle dimi-
O amor que tmha aos Portuguezes , nem eftes o que a Ser-
éatefius eõptudores nuliio jamais
^"^^°' P°^^ ^"^^^ ^^ °^ Romanos o matarem , vingarão os Portu-
^r^^^f"«//Ir^^^^^^
i]f
dS'ZlpZ7pr7K.^^^^^^ fuamortei & achando-o morto depois, o honrarão com exe-
.
deraõMettllo.&Põ' 4"^^^ Reaes, & fuas cinzas trouxeraó àfua Corte de Évora j&lhe de-
p«,d' í^aMí/ir^ê por raó Regia fepultura, aonde comofeu Senado efperàraó oquefariao
^ffimlhis tiraraglo.^ Métello, & Pompeo i mas eftes vendo que o traydor Perpena com fó
ria de vencerem a híí outros Hefpanhoes
, mas fem Portuguez algum jcftavajà jambos oa-
Sertono &
^9;*'*»: cometèraÓ, ôc vencendo-o facilmente , o prenderão , & o matarão , ent
m I
:

do Portugal, fe forae • j
, • \^ ^ •• n-^ \
frara Roma.deyxan-
^^"ga^Ç^ de OS privar de ( quando o nao venceffem , como nunca vcn-
do Portugal ^««/o ceriap } ao menos pelejarem com hum Sertório, &: com feu Portuguezí
perdoHs amos atia fatal exercitOi& deyxando a hu AíFranio por íèu Capitão em Hefpanhaj|-
,

wW<i rfí/í»/w Cí/4r. ambos , Metello 5 & Pompèo, fc retirarão aRomaanno de 69. tendo a
morte de Sertório fuccedidò anno de 7 1 antes da vinda de .Chrifto.
.

CAPITULO XIV.
Dãvtndade Júlio Cefar contra PortugaL
'_
7^ A Tè o anno de Ó3.naó houve guerras outras cm Hefpanha,
í\ & Portugal porque o Portuguez exercito naõ vendo já
, ,

Cifmo fi w
Awtiges inimigo competente a quem ir bufcar , elegerão o defcanfo das
guerras
PprtHgHez.es , oh Pi' paíTadas:
porém os mais antigos Portuguezes da Serra daEftrella,de
ri<ttos da Serra da
repente fahiraó com
tal Ímpeto fobre as terras a Roma
obedientes que
Efirellafiz^eraÕ nova ,

guerra aos Romanos^ Hefpanha puzcraõ cm grande revolta, & a Roma obrigarão a
a toda

dr obrigarão a vir o mandar logo fobre Portugal o grande Júlio Cefar, Pretor de Roma , fi-
Romano Pretor fnito lho de Lúcio Cefar, & por aqui defcendente de Júlio Afcanio Rey de
Cejàr contra elles em Alba, & filho do grande Enèas,
donde veyo a familia dos Julios j mas a
o anno de^^ .antes do
1 }

mãydejulio Cefar foy Aurélia, filha de Cayo Cotta defcendente âk


nafcimento de Chrif-
to^&com ardid paci-
Anco Mareio, quarto dos Reys de Roma > & porque o tal Júlio Cefair-
n^fçeo no mez Qiiintil, que era defde Março o quinto mez) por iíTo'
ficando os dites Por- (
tHguèx.es fe tornou a o mez Qiiintil fe chamou Júlio , ou Julho & cafando Júlio Cefar com
'lí

•,

Roma^^ ^ lançando Cornélia filha do Conful Cina , teve por filha a Júlia que cafou com o
,
deUa a fe» próprio Pompèo de que acima tratámos.
fenro Pompeo , cada 76 Corria o anno de 59. antes da vinda de Chrifto , quando o
íídelles tratava de
ter por
Cefar entrou , bem à fua cufta , em íPortugal , & enveftindo a
tal Júlio
fia Portugal
contra o outro, dra if- Serra, & Serranos da Eftrella , foy muytas vezes por elles rebatido cont
fo tornou a Portugal morte de muyta gente} atè que , naó pelo braço , mas por ardid militar
fulio Cefar ^ &dey- venceo aos taes Portuguezes ,& pacificando a mayor parte da Lufita-
xãdo ca Lfgados fcHS nia deyxando nella
, por Pretor a Tuberon , fe voltou a Roma , onde no
tornou a tr para Ro-
anno feguinte foy eleyto Conful com Marco CalphurnioBibulormas
ma.
tornando a Lufitania a fazer guerra aos Romanos & vindo a acudirlhes
,

hunsLegidos de Pompèo, em quanto elle naõ vinha }& lançando en-


tre tanto fora de Roma a Pompèo omefmo feu fogro Júlio Cefar
,&
cada hum deftes procurando ter por fi a Lu fitania , & toda Hefpanha, a'
Cefat
Gap.XlV.De JuIío Cefai^Vmclo peíTòalmêtxõtra a Luf. 3

Céfar íe adiantou, entrou em Hefpanha , vcncco aos Legados de Pom-*


pèo 5 tornou a pacificar a Lufitania , &
deyxando nella por Pretor a
Qiiinto Caífio Longuinho , fe tornou a Roma anno de 44. antes de
Chrifto nafccr, tempo em que na Lufitania fuccedèraõ terremotos tani
fataes , como jà os tinha havido no anno de 63. &
taes fucceíTos , en* &
iradas do mar pela terra dentro, que muyta terra antiga occupou de no-
vo, &: a outra muyta nova defcobrío , onde nunca imaginarão a haveria*
'j'^ Voltado a Roma Júlio Cefar perfeguio tanto a Pompèo, Litnfândõ Je
Romi
que cm Grécia o foy achar , &: o venceo , & o fez ir a valerfe de Ptolo- fftlio aofeugenroPõm
meo Rey de Egypto , & efte infielmente deo a morte a Pompèo & os feo^foyefie morta na
;

dous filhos fugirão para Africa , Sc dahi pafa Hefpanha , 6c ficando em Egypto infielmente-y
Córdova Sexto Pompèo, & Cneu Pompèo em Sevilha , procurarão, mas vindo dmufilfá^
com hum bom foccorro de Portuguezes , vingarfe dós Legados de Jú- Çem»Hejpanha co^
tra e Cefar , vgttoit
lio Gefar, & os vencerão ; mas voltando a Portugal o Cefar , & vcncen*
também efie cõtraM^
do a Cneu Pompèo, por trayçaõ de hum criado defte o matou i & vin-^ çfuelUs , & fax.end9
do o Sexto Pompèo logo contra Cefar , fe fez forte em Sevilha ; Cefar matar hum delies à
fe veyo a Portugal , & com benignidade, mercês, & títulos , em chegan- trajfçaSf entrou em
do a Beja mandou Embayxadores de paz & amizade a muytas Cida^ Portugal de paz. , <^
,
dando diverfis titu-'
des Lufitarias , & recebendo delias também Embayxadores , eftcs lhe
los a alguma* terrat^
renderão vaíTallagem, & a Beja deo o titulo de Fax Julia , & de Coló- fètornou a
Roma uU
nia Romana} &
paífando a Évora , a confirmou em o titulo de Municí- timamente , inti» ^
&
pio Romano, taes favores lhe fez , que daqui tomou o nome de Lik- tulandó-fè Empera»
fditas Jiãia j &
lego veyo renderfe-lhe o Rey no do Algarve , & Cefar dormem » terceyr» an»
fez a Mertola Municipio Latino , &
a chamou Julta Mirtilis. De Évora
no o matarão eõ vinte

chegou Cefar a Santarém, intitulou-o Colónia Romana , chamoulhc & &


três punhuladM^
4Z. annos antes d/i,
JulmmPreeJidmm;^ paífando a Lisboa, delia foy bem recebido, &
vinda deChrtfioSt»
concedeoo fer Municipio dos Cidadãos Romanos , (coufa que ema nhornojfo.
Lufitania naõ teve Cidade outra alguma , pofto que às Colónias tinhaõ
ainda por mais nobres ) & lhe chamou Felicitas Jiãia^Ssc fem entrar mais
por Portugal, fe voltou Júlio Cefar de Lisboa para Roma ,onde cntant
ft intitulou Emperador do mundo } mas dentro de três annos fe lhe aca-
bou o Império , morrendo atraveíTado com vinte &
três punhaladas , às
& &
mãos de Bruto, Caífio, outros feíTenta Romanos Senadores , di- &
ante de húa eílatua do grande Pompèo feu inimigo , em 1 5. de Marçõj
anno 42. antes da vinda de Chriílo.

CAPITULO XV.
Dõprmipio do Império de Auguflo Cefar é* uniaõ com ,

Porttíga/aíeavmdadeCbri/io,Senhor,é*
Salvadornoffb,
BoTriuff/ifiratê fine

'78 Tl /[ Orto Júlio Cefar, começou em Roma a governar o Tj^iu.J^eeedetno governo*

iVlvirato de Odaviano, (fobrinho de Júlio Cefar)


^^^%yi2o^^^
Marco António , & do Conful Marco Lépido &• com eíla occaíiaó , & ^l ft^EmperadoT'^
;

chamanieneo de Roma, foy Sexto Pompèo a ella , fó por vingar a morteyj charmtt Augu^g
de feu pay> ô^ feu irmaõi i^^^s fendo o feu exercito de Italianos fomente. Cefar.
foy
|2 Lisrro r.Do príriGÍpio das Ilhas ão OGcàno LufitáfiaiJ i

^y emfim vencido por Odaviano j gfpòt Marco António foy prezo^


£c morto, &
acabou entaó a geração dos Pompèos. E entrando logo n®
mefmo Triuravirato a difcordia, Marco Lépido foy lançado fora delle,
por querer matar a Oftaviano, & pouco depois iez efte guerra a Marco?
António , & efte a íi próprio fe matou > por lhe dizerem fer morta a fua
iill" amada Cleopatraj a qual ( fendo amda viva, & fabendo a morte de Mar-
co António} a íi própria fe tirou ávida, & ficou Odaviano abfoluto
. . - Emperador. E acabou em Roma não fo o governo de Coofules , mas o

ii»!í;
do TriumviratO} 6c mudado o nome Odaviano , fe começou a chamar
AuguftoCefar.
79 Chegado o ànno de 2§. antes de vir Chrifto ao mundo , &:
Dm £fiirras «rf^* eftando quieta a Lufitania, os de Galiza entrarão pelas terras que eraó
Sra^a, ^ « Ferto. fy^^y^^^ a Braga, & efta fe perfuadio que tinháo fido chamados , &: aju-
dados pelos naturaes , & comarcãos da Cidade do Porto j &: vencendo
Braga facilmente aos que tinháo vindo de Galiza, declarou guerra con-
tra o Porto , & como efte chamafíe em feu favor aos Romanos que an-
davão em Hefpanha , entre os quaes fe achava já o Emperador Augufto
Geíar , com efta occafiáo entrarão a primeyra vez os Romanos na
Provincia d'Entre Douro & Minho , 8t fe accendeo mais a guerra de
Éraga contra o Portoj mas como da parte de Braga atè as mulheres pe-
lejaváo mais que os homens , depois de varias batalhas, & vidtorias, que
os de Braga alcançarão dos do Porto > Augufto emfim compoz eftas
Cidades com pados muy ventajofos de Braga fobre o Porto, & a Braga
concedeo o titulo de Colónia Romana, & de fe chamar Augufta } & da-
qui íempre ficou algúa antipathia entre eftas duas Cidades de Braga,Si
Porto.
8o E porque Augufto Cefar pof algum tempo fe deteve eni
Boi vários modos
^ Tarragona de Hefpanha, duas coufas nella fez, com que a fi fe fez mais
hoHve em contar <•»-
^gig^H^ primeyra foy, mudar o modo ác contar os annos, porque fe an-
.

"*'•
tes fe dizia v. gr. (fuccedeo ifto tantos annos depois da creaçaõdo mun-
do j ou , tantos depois do diluvio , cu , depois da Fundação de Roma,
êcc.) mandou que dahi por diante fe diffeífe ( tantos annos da Era de
,

Cefarj ) & porque trinta & oyto annos antes do nafcimento de Chrifto
Vchceoefte Augufto Cefar a feu competidor Marco António , mandou
que daquelle anno por diante fe contaflem de novo modo os annos di- ,

zendo-fe fomente alTim , ( Era de Cefar , tantos annos ) querendo que


nem feus annos todos ficaflem em memoria , fenaó os em que acabara de
vencer feus inimigos ; & aílim<iuem aos annos do nafcimento de Chrif-
to Senhor noífo acrefccntar trinta & oyto, fará juftamente os annos da
Era de Cefar j& pelo contrario quem defta tirar 38. annos juftamente
,

acertará os ànnps do nafcimento de Chrifto j coufa muyto neceíTaria


para bem fe entenderem os tempos das datas, ou aíTignaturas de efcritu-
ras antigas. Mas como o mefmo Cefar, fó dous annos antes do nafcimen-
to de Chrifto fe tornou de Hefpanha para Roma , & ainda neftes dous
annos acabarão feus exércitos de vencer por là os Alemães , Arménios,
& ParthoS} Sc por cà acabarão de íugeytar de todo a Hefpanha , & apa-
ziguar a Portugal na fua Provincia ultima d'Entre Douro & Minho;
çom mai§ razaô querendo o dito Cefar que a coma de feus annos come-
> çaíTe

ipPiíp
Cap.XVl. Concluefecõ o Ver dàdeyro pritic. das Ilhas. 3j
-çaíTedefde quando acabou de vencer feus inimigos , houvera de come-,
çalla defde que acabou de vencer a Portugal , que foy a ultima coroa
de todas fuás viftorias. Porém nifto mefrao ainda , &
muyto ao depois
venceo Hefpanha ao dito Cefar, que deyxando a era deite no contar,
começou em o Reyno de Aragão , &
logo no de Caftella , a contar os
annos, defde fóo nafcimento de Chrifto Salvador noflb, anno mil &
quatrocentos & quinze, & a eíla Divina conta tomou aCoroaPortugal^
reynandooinvido Rey D.Joaó I.
8r Ultimamente aíFedou efte Augufto celebrarfe com o edi-
.£to , que refere o fagrado Euangelho 3 que fe tomaífe a rol , & fe matri-
culaífe todo o mundo , como fe todo eftivefie debayxo de feu Império De como, imferand«
Romanoi mas ignorava que entaó {aos 3962. annos da creaçaó do mun- ^^g^flo Ctfar , «^
.do,23o6. do diluvio de Noè, em o Reyno de Judea , em a ditofa Cida-
^f^fe^^^nií^fh.
" *^
:<3e de Bethlem , aos 25 dias de Dezembro } o verdadeyro , & Divino
'
.
^^^J
;Emperador de tudo o que Deos omnipotente creou , & crearà ; nafceo
feyto homem por virtude do Efpirito Divino , & da fempre immaculai-
da, & facratiílima Virgem Maria , Senhora noíTa , na qual o Verbo Di-
;vino, fegunda peflbada Santiílimâ Trindade, & Unigénito Filho do
jiiefmo Padre Eterno fe unio á noífa humana natureza , & tam ineíFavel
Tçompofto ficou fendo, juntamente Deos, & Homem , & em quanto ho-
imem fem Pay , porém com a verdadeyra , & humana Máy & em quan*
,

to Deos fem Máy , & fó com feu Eterno Pay j & foy unicamente o que
trouxe a verdadeyra paz ao mundo todo , & na Cruz ( em que morreo
por nos remir do cativeyro das culpas ) a verdadeyra vi£toria de toda»
jioífas guerras.

CAPITULO XVL
Conclufaõ do principio das llhítí»


82 o Uppoíloaílí mo breviífimo compendio dos Reys,&guer*
O ras que houve em Hefpanha , & Portugal , defde o diluvid
de Noè atè o inefFavel nafcimento de Chrifto Salvador noífo j conclue-
fe primo jque nem as Ilhas do Oceano foraô alguma hora partes da terra De tudo $ Jhhrediti
firme, nem no Oceano houve a fabulofa Ilha Atlanta, pegada com Afri- fi eêHclueç/]ue nunat
tio Oceano houve 4
ca, & Hefpanha , mas immediato a eftas correo fempre o Oceano j nem
ditafonhada. Ilha A*
Coque mais falfamente fe oppunha ) nem Reys alguns de Hefpanha, tlanta^ nem Reys ntl-
ou Portugal foraó jà mais invadidos , & muyto meno^ vencidos em ba- la «jue •vencejfem ao$:
talhas pelos Reys, qiíe na Atlanta fe fuppoem terem reynado , nove mil de HejpAnha nèan^ ,

annos antes de JPlatam j porque , de annòs Solares , confta


fe fe fallava nos em ^ue poffa iti»^

que muytos menos tinha o mundo defde fua creação ; & fe Platam falla- rijicarfttâífahuld,^ ^

va de annos de quatro mezes, (como em algum tempo fe contavaõem o 1


Egypto) ainda vinhaô a fer três mil annos de doze mezes , & nem tan-
tos havia que tinha fuccedido o diluvio de Noè } & fe fallava de annos
Lunares,em nove mil de Lunares não ha mais que fetecétos Sc cincoen-
ía de doze mezes , que com quatrocentos & cincoenta Ç que de Platam
corriâo atè a vinda de Chrifto) faziâomil ^ duzentos antes devinda
do
34 Livro I.Do principio das líhasdo Oceano Lufitanas.

do Redcmptor j tempo em que noticia não havia da tal Atlanta cm


Hefpaiiha, &: Lufitania , & nem nefta havia Reys entam , & logo íe lhe
íeguio o Rey Górgoris Mellifíuo como vimos acima no Cap. 8.
,

83 Conclue-fe pois fegundo, que o verdadeyro principio, &


crcaçáo das Ilhas , que eftam no Oceano , he o que fe colhe da Sagrada
aonde creando Deos em o primeyro dia o Ceo , a ter-
Efcritura, Genef. 1 .

luz i & no fegundo dia o Firmamento no meyo das aguaSjôc cha-


ra, &c a
mando ao Firmamento Ceo, entam no terceyro dia mandou que as
'.
aguas , que eftavam debayxo do Ceo, fe ajuntaflem em hum lugar , 6c
I

appareceíTe fecco todo o lugar que deyxavâo , & a efte lugar , deyxado
fecco, poz Deos por nome Terra , & às aguas feparadas chamou Marcsj

Kwiadeyr» princifiê
&
porque a natureza do elemento da agua hebufcarfempre da terra os
valles mais profundos , a eftes fe recolherão as aguas & como febre os-
;
Àm ltí»M ajfim tmo
vallesfe levantava a terra em vaftiílimas alturas ,& deitas erãomuytas
frintifio do mundo ^
«orno depoú dodilu unidas húas com outras, &com menores valles entre íi , outras akuraS
vi» dl N»k porém eram entre fi feparadas com mais profundos valles intermédios,
a eftes também as aguas occupàráo, tanto em circumferencia das fuás
próprias alturas, que ficarão fendo Ilhas } porém as outras alturas mais
unidas entre íi com valles menos profundos, fícàraó fendo a que cha-
mão terra firme. E ainda que o fagrado Texto diz que mandara Deos
fe ajuntaíTem as aguas em hu lugar, ( Cengregentur aqua in locum ununí)
nem poriíTo quer dizer , que aquelle lugar foíTe hum fó per identidade,
ínas que foífe hum per continuativa uniaô, como em eíFeyto vemos,que
.1'

o Oceano Occidental com o Oriental fe uiie , & continua o Mediterrâ-


neo com o Atlântico, & aífim os outros maies.
84 ^
Defte mefmo modo pois , com que começarão as Ilhas cm
o pf incipio do mundo, também defte mefmo modo tornarão a começar,
depois do diluvio de Noé , & perfiftemainda hoje-: & fica mais manife-
fta a fabula daquella Ilha Atlântica , a uniaó delia com Hefpanha, &
Africa, os fingidos Reys que tinha, as imaginadas guerras que fizera , ^
qae vencera, ôcafuaíabulofa deftruiçaó,deyxando ao Oceano feyto
hum fatal paul , ou apaulada lagoa, que depois nefte Oceano fe con-
vertefle outra vez ; pois ifto fó faó fonhos , que a Platam occorrèraô,ou
lhe difleraó pois de tal não trata hiftoria outra alguma, havendo tan-
;

tas de antiguidades do mundo , aíTim de antes do diluvio , como ainda


tareceque a primei. mais depois delle.
ra IlbAfoy o Psraifo 85 E fe alguém perguntar 5 quando antes do diluvio , ou de-
terreal , frimeyros
pois delle foraô algúas Ilhas povoadas: ao tempo antes do diluvio di-
Jlheoi Adam^& He-
rão algus que o Paraifo terreal foy a primeyra Ilha fey ta porDeos noíTo
va , defde o principio
do mnndo;^ ^ de/de Senhor , & povoada por Adam, & Fleva logo no principio do mundo;
tdílHvio aprtmeyra & que parece que aílim fe colhe da Sagrada Efcritura , aonde fe diz^que
Ilha foy a Arca de
. tendo Deos feparado as aguas em hum lugar,& dêfcuberto a terrajC] cha-
Noe^&oi tjHe ntlhfe mamos terra firme, (Gm^i. w 9.} accrefcenta caf. 2.11. 8. que já defde o
falvaraõ^forao ospri-
principio tinha Deos plantado o paraifojSc q nelle poz o homé que creà-
meyros llheoj defde
então\(fr íjtie affim ne
DominusDemfãraâifnm àprimpio,ín quo fofuit ho'
v,z:Plantaverat atitem

houve , mm ha cre*- mimm^quemformaverati é^c. Logo efte paraifo quede antes, & deídeó
,

tura humana, n não principio tinha Deos plantado,era terra diverfa daquella terra firme,q
defeenda de Ilhoi. Deos apartou das aguas > logo eraalguma Ilha das aguas cercada , pois o
mefmo
Cap.XVI.Concluefecõoverdâdeyropnnc.dasIlliasr |f
meímoiexto accrefcenta num. 15. que da terra tomou Deos ao homemt
& o poz no Paraifoj & num. 23. conclue 3 que do paraifo Deos tirou de-
pois ao homem , & o tornou a por na terra , de que o formara Et immi* ;

jfitmm Dominm deparadifoj utoperaretur terramde quafumptm efi logo :

cila terra era a firme , & o paraifo era huma Ilha por fó Deos formada i
principio i & por Adam primo habitada mas ifto naõ toca a hiftoriador,
:

fenaó aos fagrados Expofitores , aonde fe pôde ver i pois defta forte pa"^
rece começarão logo as Ilhas com a creaçaó do mundo.
86 E quanto ao tempo depois do diluvio , coherentemente
outros diraó, que aílim como aparaifo terreal foy a primeyra Ilha antes
do diluvio, aífim depois defte a primeyra Ilha foy a arca de Noè,em que
os viventes efcapáraõ do diluvio , como efcapaõ do mar os navegantes
recolhendo-fe a Ilhas , que para eíTe fim também Deos as creou. E que
aífim como o mar j feparando-fe da terra firme , deyxou naó fó a Ilha do
paraifo intafta^ mas a outras muytas Ilhas , de que naó faz menção a Sa-
grada Efcritura aífim também as aguas do diluvio univerfal deyxárao,
:

além da fua Ilha, ou arca de Noè , a outras muytas Ilhas , quando fe re-
colherão , 8c ceíTáraó as aguas do diluvio j 6c deftas Ilhas não diremos
nós agora, mas fomente de algumas , quando , & por quem fe mandara^
defcobrir ,' & povoar j 6c por quem fe defcobrirão , & povoarão.

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LIVRO
i

í. l ^-- -if
p.

L IV R O II.
DAS
ILHAS CHAMADAS CANÁRIAS,
& das de Cabo Verde.
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•'"

C A P I T U L O I.

Do principal defcohridor de libas, & de ocou.lt aí terroM


firmesj o Serenifimo Infante D. Henrique»

ENDO decimo Reyde Portugal Dom João íi'


donome,& caiado com a Infante D. Felíppa^
neta delRey D. Duarte 111. de Inglaterra , & fi-
lha do Infante D. Joaó Duque de Alancaftre, 6c
de íua mulher Branca, herdeyra do Ducado, dos
quaes nafceo Henrique Duque de Alancaftrejôc
depoisRey de Inglaterra.teve o dito ReyDJoaÔ
I. datai Rainha D.Felippa,depois
do Infante D.Duarte,q lhe fuccedeo
no Rey no, & do Infante D. Pedro Duque de Coimbra , teve ao
noíTo

Intanté D. Henrique , Duque de Vizeu, Meftre da Ordem de


ChriílOj

fenhorde Lagos, ôc Sagres no Algarve , cujos irmãos mais moços forãa


D. Ifabel , que cafou com Felippe Duque de Borgonha , & Conde de
Flandres, & D. Joaó Meftre de Santiago, & pay de D.
lfabel,que cafou

com D. Joaó , Rey fegundo do nome , de Caftella & antes de fer Rey,
:

Sc ter os ditos filhos legitimos , tinha jà o noffo D. JoaÓ


o 1, de huma D.
lo-nèsjqUe ao depois foy Commendadeyra de Santos , a hum filho por
nome D. AfTonfo que cafou com D. Brites , filha única ,
,
& herdeyra do cy i/o-ía^

grande Condeftavel D.Nuno Alvrez Pereyra,& foy o


primeyro dos Se-
reniílimos Duques de Bragançaj cuja filha D.IÍabel cafou
có feu tio o In-
íante D. Joaó , Meftre de Santiago, de que nafceo D. Ifabel
Ramha de
Caftella, & D. Brites, que cafou com feu primo o Infante D.
Fernandoy
filho dei Rey D. Duarte , & irmaó de D. AíFonfo V. ílf ndádoReal^é-fd'
do Princips , & in^
. z Nafceo pois o noífo Infante D. Henrique em a Cidade bio

Portoa4.deMarçode i394naquartafeyra deCinza, nellecompeti-^^^^^^^


hum grande Principe com as de perfeytiíTimo Catho-^J ^ ^^J^^^^
Faó as. virtudes de £ ^^^
lico Nosprimeyros annosfedeo tanto às letras, que além de bom la- ^"^^ ^^^^^^ ^ ji^^^
tino, fahiohuminfigne Matheraatico, & fingular Cofmographo
'
^.& fó Minas Jndm,&e.
D P03:
Livro II. Das chamadas Ilhas Canariaí.
por melhor contemplar em as eftrellas do Ceo , cfcolheo para fua efpe*
ciai habitação a mais alta montanha no Cabo de S. Vicente ,ondc pou-
cas vezes chove , raramente o Ceo fe turba , & fua ferenidade fe vè oié-
dinariamente patentiííima i & daqui, & de antigos efcritos que ajuntou^
&
obíervaçôes que fazia , veyo a alcançar, que pela parte do jneyo dia
fe podia navegar à Índia Oriental ,& que na demanda deite defcobri-
mento fe defcobririaó muy tas, & varias llhasj que no noíTo Oceano , &
cm outros mares móftrava o Ceo que havia j Òc tanto fe aífeyçoou ao
cftudo das letras, fie a todos os que a ellas fe entregávaò, que atè fcu pró-
prio palácio que em Lisboa tinha ,odeo para nelle fe formarem eftudos
novos , em que as letras, 6t fciencias fe enfinaírem3& aprendeíTem, ,

r 3 A tam grande eftudiofidade ajuntou efte verdadeyro Priáel-


'

pe tara grande applicaçaó à nobiliílima arte da Ca vallaria em a terra, Sc


navegação por mar , que dos mayòres pilotos era elíe o mayor Meílre,
ôedes^nais déíkoshomensdecavallo eraPrincipe deftriílimo, co^io
Tm virtudes num- adverte Joaó de Barros i.fart. cap. 17. & veremos largamente neíla
rati^&doijo rena-
qj^j^í &daqui lhe Vevoa efte Infante aceytar o perpetuo governo do
.
j>yf„gipg,
Reyno do Algarve , por alli lhe vir a melhor cavallaria que havia em
*
- -
Africa, & dalli mais facilmente mandar embarcações a defcobriméntos
que intentava. A eftasmoraes,& Regias virtudes ajuntou tam Real li-
beralidade em premiar ferviços , tam inflcxivel juftiça em diftinguic
tíiins dos outros j6tcaftigar a culpados, que aofeu palácio, & ao feu fer-

tlfòacudiaÔ os melhores fidalgos ,& feguiaó apefloa de tal Principe


cmosmayores confíidos > & lhe defendiaóospóftos,&as praças com
toda a fidelidade, & valor , fabendo terem todos naó ió pontual a paga,
itiasfeguroo premio,j&augmento.
i%t-i^í>í: Competirão pois tanto tiefte Principe as virtudes naturaes,
fe muyto próprias de feu alto eftado , com as fobrenatuf aes da alma pu-
ra, &Catholica^ que não fó nunca admittio fallarfelhe em cafamentõj
mas ( com viver fetenta annos ) foy tam puro , & exemplar em feus co-
ftumes, que morreo virgem puriílimo j &c na verdade a quem tam bem
ocGupado andava fempre, & em taes virtudes moraes íe exercita va^naô
Goftuma Dêos faltar com fobrertaturaes auxilies , para confeguir tam-
bém as virtudes mais Divinas ; que a quem nunca eftáocicfo, mas fem-
pre bem OGCupado nem o próprio demónio fe atreve atentar. A' pure-
,

za pois ajuntou efte Catholico Infante tam Divina Fé , Efperança , &c


Cbaridade que pela defenfaó da Fè fe poz frontey ro perpetuo no Al-
,

garve contra toda a perfídia Mahometana de Africa j & ainda (como


em feu lugar veremos ) foy expor a própria vida pela. Fè nas Catholí-
cas praças que jà tínhamos entre os mefmos Mahometanos & com def- ;

cobrir tantas Ilhas , & tam novas terras firmes , nas em que havia gentes,
fez logo pregar a Fé Catholica, & povoar de Catholicos as que eftaváo
r defpovoadas- A Charidade( ainda com o próximo, quanto mais com
Deos ) moftrou com efFey to muytas vezes em arrifcar a própria vida
por falvar a de feus vaííallòs,nos encontros que a feu tempo veremos te*
ve com os Mouros & no mote , ou divifa que tinha em fuás Reaes nr'
;

mas, Qm AS <i\iã.es(e\iajFbntade de hemfazer.


V. . .

. .
5
., , Çgm efta tam Real , êc ajuftada vida adquirio tanto poder
..

^é em
t:apJ.DoSerenírintò.Henriq:prim.Invelit.íks ilhas, 3g

em eítaMonarchiáLufitanajXjuéxjualquer intento que emprendia^a-


cabava > &
aílim os Reys,feu pay , irmaó j &
lobanho , delíe confiara^
íempre naó o perpetuo governo do
fó Reyno do Algarvcjporta de Affír
ca para Hefpanha , mas também a grande adminiftraçaó > &
Meftrad.o
de toda a Ordem Militar de Clirifto, & fuás muyt^s , &
muy to grandes
terras, Commendas, &
datas, com que vinha a íer hum fegúíido Key de
toda a Monarchia Lufitana ; &
atè o mefmo Papa Eugénio ly. Ihçdep p^ ^^,^ ^ti o Papa ^
íua própria authoridade para reformar a Ordem de Chriftq> julgando, y^^ Reformador da
& com razaõ , que tam ajuftado í*rincipe, ainda que fecuíar , de tCegii:- Ordem deChrifio;&,
lares podia fer Reformador perfeyt0^,.CQmo de fado o foy jéc entre as do imperial
mg^en-
grandes datas que á Ordem de qhrifto deo , fóy , fundarlfee huma rica ^
?f^^ p,?«í f
Ermida junto ao Tejo,quaa legoa de Lisboa com a invotaçaóde N.Se- ^^^i^E^^f^àl^Ã
f
nhoradeBethlemj^dondetomouo nomea altatorre,ouCaftello3,que ^^ Real Convintodê^
dentro do mefmo no fe levantou depois defronte da dita. Ermida J & Beihlem.^
para efta mandou vir do Convento de Tomar Religiof^s Mílitares,que
ièrviííem à Senhora de Bethlem, & recolheífem, Sc lipl|)edaírem os que,
vindo cm nàos de fora, alli paraíTemjpara o que Ihe^^oy rendas copio-
fas, 6c com fó MiíTa cada Sabbado por fua alraa:;^ tanta-çra a devoção
hfla
com a Virgem &
Máy defte grande Princijçe , tanta a charidade com o$
próximos, efpecialmente navegantes.
6 Eíla Ermida porèm,& fuás rendas tirou da Ordem de Chrí-
ílo ElKey Dom Manoel fobrinho do dito Infante D. Henrique , & em
lugar delia deo à Ordem a Igreja de noífa Senhora da Conceyçaõ , que
eftá fora de Lisboa , & tinha fido de antes fynagoga dos Judeos , quan-
do ainda íe naó tinhâo convertido j 6c na Ermida de Bethlem fundou
hum magnifico Convento aos Rcligiofos de Saó Hieronymoj 5c por-
que o dito Rey morreo antes de o acabar , deyxou que feu corpo fe de-
pofitaíTe na Ermida velha de Bethlem , 8c depois em fe acabando a Re-*
gia Igreja nova, para elk fe trasladaflfe o dito feu corpo j 6c que feu fuc-
ElRey D. Joaó III. acabaíTe a Igreja, 6c Convento, como
ceíTor, 6c filho
tudo acabou, 6c com tal magnificência, que foy depois fepultura de ou=
tros Reys donde podemos dizer que ao grande Infante D. Henrique
:

deve conhecer também por feu Fundador primeyro o magnifico Con-


vento de Bethlem j 6c a dita Conceyçaó Ulyífiponenfe da Ordem de
Chrifto. \
7 finalmente a morte a efte , na fama , immortal Prin- j^ . à
Chegou -

cipe, em 1463. a 1 3. de Novembro , dia em que aó depois veyo a ceie-


^^ ^Jf^^ltl^y*Z7ai
brarfe a fefta de outro illuftre Principc o Santo Stanislao Koftka , Pola-y^^^^ (jrfabtb Pria^^
|

co, da Companhia de JESUS, 8c otranfito do Santo , chamado Ho- cipe o In/atite Dom *

mobonus, procurador infigne da pobreza, &c bem commum; para fe nos Himiqne.
enfinar que o noíTo Príncipe Henrique naó fó foy Religiofo > Santo ^
Príncipe, mas verdadeyramente homem em tudo pio, 6c bom. Morreo
pois de idade de quafi fetenta annos. De feu teftamcnto fe diz que dey-
xou a con^uiftà , 6c defcobrimento de novas terras à Coroa Real , que
entaó tinha feu fobrinho D. Aííbnfo V. ^ porque tinha adoptado por
filho a feu fobrinhoo Infante D. Fernandojque era caiado c6 D. Brites,
fobrinha também do mefmo D. Henrique 6c filha do Infante D. Joaó>
,

m dito D. Fernando devxou o Meíirado da Ordem de Chrifto, 6c com


Dy ellg
Livro II JDás chamadas Ilhas tíáíiarias."

elle àsllhàs daMadèyraj de Gabo VèMe , Se;' àas^TékeyràHa^^ád


( cqrao diz Dáíniáo de Goes ) confirmõct ElRey > & por morte do du
to D. Fernando paíTou tnãà ao Infante D. Diogo ^ ( a quem matou El^
Réy D. Joáõ ó 11. ) & defte D. Diogo páflbu cudo ao Infante D. Ma-
hoeí, que depois íliccedéo no Reyno a fétb^unbado Dom Joaó o II. mas
tirdo o dito' Rey Di Manoel encorporóú depois na Coroa, donde nunca
-^' ^'- .- - 3^. --. ..:
E ^^í.:Uit5>jirví^á-j -lU. inàís íahiò. ";[ .
• -
,

*''.•
-\ií->m^i\ s-^"^ 8 ^ Fàlecbd ho fetí Rèf flò dó^Aígaívé j èfti a Villa de Sagres , 6£
:.<ãi^^ò%^ ^^âW^O
dáhifoy feu corpo trasladado para a ¥illa dâ Batalha ,& nellajaz em
^'

'
-''llu?'?'' á^aelle Real Templo que íeup^^ edificou y fua fepultura
éftàjttntá à dô pay^ cohíòas dos rnâisífifantes íeus irmãos porem a dò -,

íioíTo D. Heiirrqueéftâdourâdaj & tem por divifa duas boifas, & letras
tàriíbem douradas , porquê pof fua induftria fe defcobrio também a Mi-
na, de que Viíiha muyto cJtirò a Portugal. £mfim que a eíle grande In^
fáíite D. Henrique patècè haó deve menoá à Coroa de Portugal, do què
ao grande Condi D. HehÀqlie , tronco dos Reys deftk Coroa , & feu
exemplar , naÔ^mèrt&s eiri ò nome , que rias obras j porque corn fuás vir*-
tiides! admiraríeis , còm fuas Divinas letras , ( ou revelações Divinas , na

ópihiaõ de muytos 5 & com feu bf aço invencível íligeytou mais Rey-
nos à Coroa de Portugal , do que rièftè õ outro Henrique térf as j fez
Converter mais Gentios, do que o outro venceo MouroS) & fe o primey-
fò Henrique yfó por dilatai ;a Fé de Chrifto obrou tanto tudo o que ó -,

ftoíTófeguridoemprendedi &" defcobrio, à Ordem de Chrifto o fugey*


tòtí; com que ficou efta Ordem tendo hum tam vafto Império , que nao
íe âílighâtá outra em o mundo que o tenha mais dilátado.Taiito fe deve
â tal Priricipe.
t> Mas como quem mais Ihè deV^a faó as Ilhas , de que em'ef- ,

pecial fe compõem efta hiftoria, para a qual fó tocamos efta noticia


preambula , & breviííima
pois fua vida requere penna mais fubida , Ô£
,

âmpki ra^aõ he continuemos com os mais prefuppoftos a efta obra.

vOa ;
C A P I TíMií. O
Do antigo , & fiel Hiftortador das Ilhas , o Reverencio, &
VenèraveÍDoutorGajparFruãuofo,

Vidi do mm Venf. ^° T*' M


Cidade de Ponta Delgada da Ilha de S. Miguel , em
a
fAvil,»iUytofanto,-&- ""^ JlL òanno do nafcímenCo de Chrifto Senhor noíTo de 1522.
'

ntMytofabia Doutor fláfceo O Doutor Gafpar Fruítuoíoi feus pays eraó Cidadãos da dita
,

G«(lP*rFmãHofo^an- CiàdÁQ ièi naófó defangue limpiíTimo, mas ricos, & muyto nobres;
tigoEfcmordoillhat, Defde
o pHmeyro ufo da razaó deo logo moftras de muyto devoto â
Virgem Senhora noíTa , & era de tara boa índole , & manfidaõ , que a to-
dos levava os olhos fuá grande inclinação á virtude; começando a ef-
tudar GrammâtiCa, foy logo conhecido não fó do Meftre , & mais con**
difcipulos, mas da nobreza da terra, por fugey to que ao depois viria aí
fer hum grande homem em fíutidade k. letras mas como ainda em ef- , ;

te tempo fe davaó de fefmaria as defcubertas terras daquella ..nova Ilha,


''
-
^ &
Cap.íL D o Re?. & vefier, Doutof GafparFrudaolo. 4M
& aos pays do eftudante fe tinhão dado múytas (|Ue elles mandavão la-
vrar, òí cultivarjordenàrão ao feu Gafpar , foíTe cm os dias de fcmana de
manha aíliftir aos homésj que cultivavaó as terras , para que o fizeíTem
com cuydadoj porém a applicaçáo do filho era tal aos feus Uvrinhos,quc
indo a vigiar os trabalhadores , pegava logo dos livros de tal forte qu^
não defpega va dellesi & achando-o alfim o pay por muy tas vczcsj & aos
léus t rabalhadores defcuydados do trabalho , enfadado rcprehendeo af-
peramence ao filho , &: lhe diíTe que jà que naó preftava para lavrador,
çlle o rnandaria fora de fua pátria a eítudar às CJniverfidades j Sc com cf-
feyto depois de pouco tempo embarcou o filho para Portugal , donde o
mandou a Salamanca , & nella lhe mandou aíliftir com mezada nobre,ôc
que eftudaíTe } donde fe feguio , que chegando o filho dahi a annos a fcc
Vigário da Parochial da Villa da Ribcyra Grande j & fazendo hum ri-
co frontal para o Altar mòr , mandou pòr nelleo feguinte quafi enig-
ma, que reprefentava em o panno do meyo do frontal , da parte do Eu*
angelhoj hum figurado arado , de bordado de ouro & por bayxo delle
-,

hiia letra que dizia, iVyò^^erá: & da parte da Epiftola hum femelhante-
j

mente figurado livro., & por bayxo delle outra letra que dizia, NaÕ fou-
hra j & ifto vio & reparou ha quafi cincoenta annos quem agora ifto
, j ,

cfcreve. Oh fe hoje os pays entendeíTcm bem efte enigma & melhor o ,

prafticaflemj não dando eftado a feus filhos contra a licita incUnaçaó, Sc


vontade dellcs , quanto mayores augmentos , & créditos de fuás caf^
lhes refultariaõ!
1 Chegando pois o mancebo a Salamanca j & já pcrfeyto La- Da ekempUt mbd^
tinoj começou & acabou de eftudar Filofofia , com tam cxccUente en- dade^eflHclos,& àou^.
,

genho , penetração tam profunda , que foy nella naó fó graduado , raas tw^rnem ^ue Mican^,
venerado de todos i & vendo-fej achegado á idade de poderfc ordenar P*^ í^-iTT^Il
&
de Sacerdote , fe voltou á fua Ilha para tomar as Ordés , todo fe dedi- **
"saeMncafn
car a Deos , & à fua Igreja. Chegado à Ilha > repararão todos vir naó íà^ - 4 ? -í
taó fabio com os eftudos,mas também taó exemplar em os coftumes,quô
naó fó lhe deráo todas as Ordés Sacras com geral applaufo j mas de to-
dos os eftados concorriaõ muy tos a pedirlhe confelho, 6c communicar
com elle fuás confciencias , & com ifto fez já então grande abalo', mu- &
dança nos que o tratavaó. Mas vendo que lhe faltava ainda a perfeyta
Theologia , & Moral, ( por mais que tiveíTe jà de Theologia myftica^
12 Voltou-fe da fua Ilha a Salamanca» por fe aperfey coar em
tam mayores fciencias; & fendo ncllas feu Meftrc o Doutiflímo Fr. Do-
mingos de Soto, da Sagrada Ordem de Saô Domingos', taes progreíTo»
fez em toda a Theologia , & tanto o reípeytava o dito feu grande Me-
ftr4 que cm lhe perguntando tal difcipulo alguma duvida , coftumava
o Meftre pedir tempo para a ver , & fatisfazerlhe. O
procedimento nos
coftumes , & o exemplo da vida que fazia efte fugeyto,era tal , com fef
ainda mancebo , 8c Cur^nte ainda, que com naquella celebre Univerfi-
dade haver tantos, &z tdm infignes talentos em virtude , letras , todoà &
veneravaó âo dito Fruâiuofo , &
concorriaó a elle por confelho , 6c to-
dos delle tíravão , ainda mais que do nome, grande fruítoj 6c allim con-i
cluhio os feus eftudos, graduado Doutor naó fó nas Artes, mas em toda
aXlieologia^
D iij ti t)é
4t Livro il. Dás chamadas Ilhas Canárias.

15 Dé tal Doutor corrco tanta fama de fciencia & fantidadcj» ,

que chegando ao Bifpo D. Juliaõ, cm cuja Diecefi eftá Bragança para ,

ella o pedio com muytainítancia, & por


confelho de feu Meftre boto
&
veyo o Doutor para Bragança, foy lingular alivio para o Bifpo no go-
verno do Bifpado. E porquejà em Salamanca tinha entrado a ainda no*
va entaõ Religião da Companhia de JESUS, cujo Collegio tinha ido a
fimdaroPadre Miguel de Torres, com efteteve o Doutor grande fa-
miliaridade , & tal conceyto formou da Companhia, que delia difíe ao
dito Padre muytas coufas , que ao depois fe viraó terem fido profecias j
& como também em Bragança havia jà Collegio da Companhia , cujo
Reytorera o Padre Ruí Vicente, cfteve o Doutor algum tempo em
Bragança, lendo alternativamente Cafos com os Padres da Companhia,
& tendo jà no Bifpado BenefiGÍos,que paíTavaó de mil cruzados de ren-
da cada anno j com tudo deyxando então D. Juliaó o Bifpado , & mor-
m D
rendo Jorge Bifpo das Ilhas Terceyras, a quem fuccedeo D. Manoel
de Almada, que ainda eftava em Lisboa , efte fe empenhou tanto em le-
var comílgo para as ditas Ilhas ao Doutor,que o mefmo Bifpo , & niuy-
tos nobres dellaSj que na dita Corte eftaváo ,efcrevèi:áo todos ao Dou-
tor, pedindo-lhe fe wíqUq para a fua Ilha , & lhe mandarão as cartas por
hum feu fobrinho, para mais o perfuadirem.
!l i
14, O &
Doutor Fruduofo vendo ifto, perfuadindo-fe fer ma-
W«jf » DoHtor tao h»- yor ferviço de Deos voltar á fua Ilha, fe foy logo ver com o feu novo
fiiilde^ eju^ ojfereetn-
Bifpo D. António Pinheyro , ( que tinha fuccedido a D. Juliaó } re* &
dolhe ElRtj o Sr-jpâ-
nunciando em fuás mãos os Benefícios que tinha , fem tirar penfaó algu-
do de Angra , oít ao
ustKBt o governo âeíle,
ma , confeguio delle licença ( que muyto fentido
,
a deo } fe veyo a &
nada nceytou é" fe Lisboa ao Bifpo D. Manoel }
,
&
& vendo elte , obfervando , na fciencia,
tomentoutomfô af^i- & virtude do Doutor, que fua prefença accrefccntava, &
em nada dimi-
g^ytaria de kibeyra &
nuhio a fua tam grande fama , tratou com elle, com o Rey, que aqueU
Grande ^& nem d*fia
le Doutor foíTe o Biípo de Angra , & que elle D. Manoel fe ficaria em
«fuÍTijamau admit-
Lisboa j mas nem o Rey pode acabar com o Doutor que aceytaíTej (tan-
tir afcenfo.
ta era a fua virtude , tam pouca a fua ambição ) &
porque eftava então
vaga a Parochial Igreja da Villa da Ribeyra Grande em S. Miguel , efta
aeeytou o Doutor , com fer de menos renda , do que era a dos Benefí-
cios que renunciara inftoulhe então o Bifpo , que ao menos em quanto
:

élle Bifpo naó hia para o Bifpado , aceytaffe delle o governo , & o avi-
faíie de tudo o que importaífe. Refpondeo-lhe o Doutor, que o bom
governo de que mais neceífitava oleu Bifpado, era de aver nelleCol«
Tegios da Companhia de J E S U S ; que tratafle difto , & defcanfafíc
então.
15 Chegado á fua Ilha de S.Miguel, foy nella recebido o Dou-
tor Gifpar Fruduofo como hum Pay da Pátria, & todos com elle com-
municavão fuás confciencias , tomavão veneravão
feus confelhos , &
fuás raras virtudes , & começou logo a fer o Diredor cfpiritual , o Mcí-
trr,& ConfeíTor daquelle grande cfpirito da Venerável Beata Marga-
rida de Chaves, natural da Cidade de Ponta Delgada, & nella tida , &
venerada por Santa ; cuja vida , & obras maravilhofas veremos em fca
lugar ; Sr ambos eftes dous fugeytos rogarão tanto a Deos puzeíTe na-
quellas Ilhas Collegios da Companhia , & tanto perfuadicao aos mais-
pios.

^
Cap.il. Do antigo Efcritor das Ilhas'^ 43
pios, &
nobres Cidadãos o procuraíTem aflím , que o Screhiífimo R.ey
D.Sebaftiãò fundou logo o Collegio de Angra na ilhaTerceyra,6c ^^^^-eaM annos fy
defta começarão a ir Padres em Miiraó á Ilha de S. Miguel , atè que uq- f^igario , &
incanft^,
vel pregador ^& ad-
Ik também , pelos mais devotos moradores delia fe fundou o Collegio
que hoje tem , & que yío começar o mefmo Doutor Fruduofo , & com ^^^^^^/^ eLctâl
tam extraordinário gozo feu, que vendo-o dizia publicamente ,& em Qg„j-efor ètaS. Ma-
voz alta 5 Nunc dimittu ftrvum tuum Domine , &c. £ aflim podemos di- trona Margarida d§
zer que ao zelo , & orações delle grande fervo de Deos , & da íua con^ Chaves^
feífada a Beata Margarida de Chaves fe deve a fundação do Collegio
da Companhia de JESUS da Ilha de S.Miguel.
i6 Em chegando efte Doutor a tomar pofle da fua Igreja da
Ribeyra Grande (que da Cidade de Ponta Delgada dilla fo^tres le^
,

goas} começou logo a tratar da dita Igreja , & em fua vida tanto a aug-
mentou de ricos ©rnamentos , & preciofas peças que todos diziaó que
,

jà nãD parecia fenâo huma Igreja de Padres da Companhia. Do púlpito


elle era o Pregador continuo ; & com fer zelofo , & no reprehender fe-
vero cada vez concorriaô mais ouvintes a ouvillo , & da Cidade o per-
j .

feguiaómuy tas vezes que lhes foífe là pregar, & ninguém jà mais fç /

fentio queyxofo delle , pela virtude , & exemplo que nelle admiraváo
todos. No adminiftrar dos Sacramentos era tam indefeftivel , que nif-
fo, quanto podia aliviava muyto aos feus Curas. Tendo gaftado toda a
,

manhã em confeííar , dizer MiíTa, pregar, & dar a Communhão, & vin-
do jà depois do meyo dia para cafa a hofpedar peífoas graves que efpC-
raváo por elle , 6c eftando todos pondo-fe á meíaj, chegou á porta huma
velha pedindo-lhe que a foíTe confeíTar, porque viera jà tarde; pedio
muyto aos hofpedes que jantaírem,& não efperaíTem por elle,& fem to*
mar bocado, o naó podèraó deter,& fe foy para a Igreja.
17 Mas quem poderá recopilar deftc admirável Varão fuás
virtudes As Theologicas, Fé , Efperança , & Charidade , nellc eftavap
?

tanto de aíTento , quanto em tam fabio , & tam fubido Theologo } poií v

perguntado por vezes , porqtie mais fe applicàra à Theologia , do que


a outras fciencias, coftumava refponder, que por melhor fe falvar ; & af-
fim pela grande Theologia que alcançou, & frequência que tinha de
toda a Sagrada Efcritura , nunca em matérias de Fé teve nem a minima
duvida antes ouvindo fer falecido o Padre Gonçalo do Rego da Com-
;

panhia de JESUS, natural da mefma Ilha de S. Miguel , & que tinha ef-
tudado em Salamanca, companheyro do Doutor,& a efte, paíTando por
Évora, o tratou fmgularfflentCi ouvindo pois fer falecido o dito Padre;
diííe advertidamente , que naó oufaria encomendallo a Deos , mas IhB
pediria o encomendafle ao Senhor porque fabia fer hum grande Santo,
,

& por tal julgado naProvinciada Companhia :& ouvindo o martyrio ^j^^ JíngulariffímBi
queoFrancez Jaqucz Soria, herege , dera ao Santo Padre Ignacio de exemplos de Fe\ Ef-,
Azevedo, Sc a todos feus companheyros , & como S. Pio V. Pontífice perança,& Charida-
entaó da Igreja mandara que por elles fe não diíTeífem MiíTaS} pergun- de.aindapurA opni
,
•"'""
xim:
tada a razão ao Doutor refpondeo que quem roga pelo Martyr, faz in-
,

juriaao martyrio & que a taes Santos Martyres haviamos nos rogar,
,

que elles rogaflem por nòs. E de tam grande Theologo me perfuadò eu


queeftas reíoluçoens naò foraõfenão revekçoens Divinas, & partos
da
44 Livro 11. Das chamadas ilhas Canárias,
dagrandc Fé de fitím^^táía^áfltcyDdu^rò^
i8 Pois de fua Divina Eíperança provas faô , a continua iní^
tancia , com que a Deos , &
ainda aos Reys , &
aos Bifpos , pedio hou-
i'iii.
da Companhia , èc o coníèguio ,
veíTe nas lihas Collegios &
vio em fua
vida & também a confiança com que eftando em Salamanca , èc cor-
:

&
rendo hum anno totalmente efteril, faminto > íem lhe chegarem a el-
le, nem aos
feus dous companheyros > os annuaes provimentos das luas
Ilha«, &
vendo-fe já em quafi extrema neceílidade,& por outra via re-
queridos pela paga do que tinháo tomado fiado , o Santo Doutor os cx*
hortou aefperaremem Deos, &
fe recolheo aíeuefl:Lido;&: paíTadas
poucas horas chamarão o Doutor á porta, & lhe entregarão hum copio-
io prefente de mantimentos , naó fe lhe dizendo mais do que , que húa
iiia devota efpiritual lhe mandava o tal foccorro pafmàraó os compa-
:

nheyros , & o Doutor gravemente os reprehendeo de fua pouca efpe*


rança na mifericordia Divina > & tirando logo o neceííario para aquella
noyte , mandou tudo o mais repartidamente aos outros neceílitados A-
cademicos , fem refervàr coufa alguma para o outro dia , cm que de re-
pente Deos lhes acudio com o largo provimento, que das fuás Ilhas lhes
tinha faltado.
19 Ejá daqui fevèquam ardente Charidade teria pafa com
Deos j & com o próximo , fugeyto a quem Deos amava tanto. Em dia
que o vulgo chama dos finados, veyo da fua Igreja tanto paõ deof-
ícrtas para a cafa de fcu Parocho o Doutor , que à fama concorreo gran-
de numero de pobres, & mayor ainda de meninos , dizendo, (" como co-
ílumaõ} paõ por Deos, &c. & pondo-fe o Doutor per fi mefmo a repar-
tirlhes o paõ, chegou a darlhcs o próprio que tinha para jantar,& a ficar
fem paõ a mefa, & cafa j o que vendo hum feu cunhado , nobre hofpedcj
Foy de EficolerejjX' enfadad<3 difle que muytos daquelles enganavão 6c naó
, o , erão pobres:

'^nlòT^dt^^fri ctrp
^ ^^^PO"^^ O Doutor /Pedem por amor de Deos , fe me enganaó, dcy^
também âíu '^^Y"^^ enganar por amor de Deos &:
: affim nefte , como em femelhantes
9^trttHíiesefmtlat, cafos o foccorria Deos logo. E chegando outras vezes a dizcrlhe muy*
tos, para que dava tudo por amor de Deos , pois, podia adoecer , & não
ter com que curarfe: refpondia , accefo em o amor de Deos , maravilho-
ías doutrinas, & concluhia: Se adoecer, & naõ tiver com que curarme^
venderey os livros; & fe eftes naõ bailarem, irey para o Hofpitalj & fe lá
me naó quizerem recolher, naó ofaberá ElR.ey: & continuava entaõ, tu-
do dando, & fó por amor de Deos , & charidade com o próximo mas :

húa, & outra charidade moftrava ainda mais, quando fabendoqueal*


guns piratas Francezcs tinhaõ entrado & roubado a Ilha da Madeyra,
,

perfuadio à Mifericordia de S.Miguel, que pelas cafas dos ricos tiraíTeni


efmola de dinheyro ,& o mandaíTem à Mifericordia da Madeyra , para
acudir aos mais roubados pobres ; 8c acompanhando o mcfmo Doutor os
que tiravaó a efmola tirou mayor fomma de dinheyro , com que fez lo-
,

go acudira roubada Ilha: atam longe fe extendia a ardente charidade


dcíle amante de Deos.
20 Nem fó com as efmolas corporaes que aos pobres fazia,
moílravaeíte fervo de Deos o amor que a Deos tinha, mas muyto, Sc
inuyto mais faó as eípirituaes efmolas. A peíToas que andavaó em pec-
cado.

wi^m
Cap. n. Do antigo Efcíitor áas lIWs.~ 41
cado , apartava delle j as que andavão ejtli ódio , punha em pâZ reconci-
íiando-as entre íi , & coín tal valentia de efpirito, que todos fe Iheren-
diaó } a todos dava o melhor confelho , fem íe negar a alguém que lho
pediffe i por quaíi quarenta annos pregou milhares de vezes naquella
ilha, & fempre com grande fru£to, eftranhando vicios,& encomendan-
do virtudes & comtudo mmca repetia a mefma pregação , & ordina-
-,

riamente a não efcrevia fenão depois de a ter pregado > & antes fó com
DeoSj Sc com a Sagrada Efcritura confukava as fuás pregações 3 & por
iíTo hellas provava o que dizia, nãofó com excellentes ,& fempre di*
verfos paflbs> mas com fubidiffimos conceytos: donde jà fevèomuyto
que exercitava a cada huma , & todas as obras de mifericordia , efpiri-
tuaes, & corporaes,
21 Nas mais virtudes moraes foytam ihfigrte, que para as
€onfervâr fempre todas , fe fundou na humildade , & defapego das cou-
fas defte mundo ) com que largou as rendas dosprimeyros Benefícios,
fem nem delles lefervar côngrua alguma > com que regey tou Bifpado,8c
governo, & fecontentou corafóaquella Vigayraria,femjà mais admit*
tir afcenfo delia, & fó nella fe confervou ate a morte, por melhor a Deos,

& ao próximo fervir. A' humildade ajuntou , defde o primeyro ufo


da razão , â devoção da Virgem Mãy de Deos , de quem a Virgem
Senhora noíTa lhe alcançou tal pureza virginal em toda a vida, que cora
tinencia, & peniten-
cia foy infigne. & por
Correr, & mancebo , tantas terras , não ió nunca perdeo a virginal pure- i/fomuytomrais ema
za, mas à guarda delia fe excita vão todos os que olha vão para elle , & virginalfnn^a , ath
elle a confervou com a continua eftudiofidade , fem à ocioíidade dar ai- <» morte.
&
guma hora lugar j muyto em cfpecial com a rigorofa penitencia , &
paciência invencivel , porque porfua morte lhe acharão cilicios de di-
verfas caftas , & afperas difciplinas j jejuava três dias na femana , quar-
tas, feftâs, & fabbàdos, &
na Quarcfma as feftas a pãoj& agua; & com fer
de cólica muyto achacado , fó depois de velho poderão acabar com elle
beber vinho, &
ainda o não bebia fenão com três partes de aguajSc quan-
do a cólica mais o apertava , 8c tanto , que pela tefta fe eftava vendo cor*
rer o íuor em fios , não fe lhe ouvia outra coufa mais que invocar a Pay*
&
xão de Chrifto', & o SantílTimo nome de JESUS , com efta paciên-
cia , & penitencia confervou tantas, & tam admiráveis virtudes, que fe-
ria nunca acabar , querer aqui recopilallas todas*
22 Tendo pois já efte fervo de Deos qUafi fetenta ânnos de
idade, ( defde 1 5 2 2. em que nafceo , atè dia do Apoftolo Saõ Bartholo*
meu do anno de 1 5 9 1 } parece teve revelação de fua ditofa morte por-
•,

que ainda que indifpofto , andava ainda de pè , & indo de manhã à fua
Igreja , difle MííTa com a paufa ,& devoção que nelle fe observava fem*
pie,&: recolhendo-fe acafajà em o fim da manhã, logo em começarldo
a tarde rezou Vefperas, & Completas ,& acabadas ellas, pedio>& rece-s
beo a Santa Unção , & &
invocando os fantiílimos, devotiífimos nomes
de JESUS, & de MARIA, entregou em íuas mãos aquelle ditofo efpi-
rito. Sabida fua morte , foy, não fó naquella Villa daRibeyra Grandcj
mas em toda a grande Ilha de S. Miguel tam chorada , & fentida * quò
,

todos clamavão, lhes faltara a columna de toda aquella terra , & de to-»
dos o feu Meítre j 6c Pay univerfal. Acudirão logo o lUuílriílimo Bif-
j)Oi'
*
Livro II. Das chamadas Ilhas Canária*.

po, &
o M. Rever, feu Vifitador ,& com elles toda a mais nobreza Ec-
Dífffaprevífiar,>9r' clcfmlhcâi &fecular , &
depofitando o defunto na fua meíma Igreja,
u executas , fepu/- que he de noíTa Senhora da Eltrella, acima dos degràos da Capella mòrj
,

9ura ,& epitáfio dd-g^o


pè do Altar lhe puzerão ^huma nobre campa com feu letreyro que
la -^
alem dai P''of«' A\.y.

f/UÀrou.'
' " Vigário, & Pregador dejU Igreja, vcxQ l/ã'

fao Jpojioltco em
j &
tnjigne letras, "virtude.

Compendiofo Epitáfio , mas muyto


myfteriofo , &
merecido ; porque
a fubftancia de hum Varáo Apoftolico he a virtude, &
letras , que neltc

compendio de tal vida fe tem bem manifeftado j ainda q^e das letras &
fe diz eftarem acima das Eftrellas , ( Sapens daminabmtr ajttu ) &:
aqui
aos pès de húa Eftrella ( titulo da fua Igreja) hè , que ficando
-,
o corpo
-aos pès da Eftrella da terra , fobre as eftrellas do Ceo fubio a alma , le-
íirando por humilde o lugar que por foberbo perdeo hum Lúcifer èc
,
:

comrazão fe intitula , amda depois de morto, ( Vere Varão Apoftoli^


co) porque aos fegundos Apoftolos , aos Padres da Companhia de JE-
&
SUS, em vida fempre ameu, eftimou tanto , que , bem como o Santo
Velho Simeão, em vendo no Templo a JESUS , não quiz ver mais ne-
fta vida , & fe partio para dizendo o feu Nunc dmatps aílitn
a outra , :

cfte noíTo, verdadeyramente Fruftuofo velho , em vendo aos


feus Jefui-
,

tas, aos Padres da Companhia , de aíTento naquella ilha ,


pouco depois
. fe partio para aBemaventiirança,não efperando outra mayorem efta

vida, & cumprindo fua promeíTa, de em ifto vendo, dizer o Num dimit-
tiSièc amda não de todo fe aufentoudos feus tam amados
Padres da
Companhia j porque além de lhes deyxar a livraria que tinha , de mais

•de quatrocentos volumes impreffos , & dezafeis manufcriptos


de fua
•Theologia , & fua própria letra j defta também lhe dey xou hum grande
tomo,chamadocommummente,I)^yfo^n/«í«í<?^^//^^} & aqueelle
intitulou , Saudades da terra Sc lhe hia ajuntando outro , a que chama-
-,

vão Saudades do Ceo & fe os livros , que hum Author compõem, faó o$
:

filhos da fua alma, que fempre faó muyto amados, & a alma aonde
ama^
coftumaeftac muyto mais do que aonde anima; bem podemos dizer,
que nem de todo fe aufentou dos feus Padres da Companhia efte Varão
Apoftolico , pois lhes deyxou fua alma , & muyto efpecialmente em hu
tal feu livro, que a Companhia tem , & guarda, como
relíquia fua , & de

fmgular eftima & com haver jà 123 annos, que morreo Varão tão fan-
:

to,emi 59 i.&haverjà perto de duzentos quenafceo,em 1522. ainda


agradecida efta fua Companhia de JESUS , lhe oíFerece efte reconhe-
cimento, & publicação de fua fanta vida ^ & fabedoria fingularj que pô-
de Deos amda, & cà na terra , canonizar alguma hora , como piamente
cremos canonizou em o Ceo.

CAP.
Gap. IH. Noticia das Canárias çm geral; 4^
, J.
l

jt' l
!
'
I
. ' **
- " ' :•" •'

.Úí''^

C A P I T UX O III.

Dasllhm chamadas hoje asCmarias,

25 COmmuyta razão & não


fem algum my fterio , começo* ,

feu livro o Venerável Doutor Galpar Fruduofo,por quey-»


xas da verdade, aquém coftuma afama muytas vezes encontrar > por*
que he tal a verdade defte fabio Doutor^ que fe por ella comef aj he por*
íque com tal verdade falia fempre , que com ella ninguém pôde encoa-
ítrar o que elle affirmajôc aílim feguindo efta hiftoria fempre no que del-
k tiraremos, & nem em hum ápice faltando à pura , & nua verdade, em
ç) muyto que de novo ajuntaremos aqui , de propofito paflamos em o li-

vro defte Doutor os feus oyto Capitules primeyros, qiie das ditas quey-
xas tratão j & paflamos ao nono , do defcobrimento das Canárias , que
poisfoyoprimeyrodeilhas nefte Oceano Occidental , também deve
^r primeyro na hiftoria & porque por algum tempo , & de algum mo- :

do foraó fugey tas à Coroa de Portugal , como veremos , por líTo ainda
as jnettemos entre as Ilhas Lufitanas j mas com mayor brevidade , pelo
menor commercio que com ellas hoje temos.
24 Canárias pois fe dizem hoje as Ilhas, que antigamente íe
vidiziaõ Fortunatas , ou bemafortunadas faó por todas doze em nume- ;

, at), pofto que cm algumas cartas náuticas fó fe apontâo onze , fem conta-
rem a que chamão I lha do Inferno j correm de Lefte a Oefte, aífentadas
«m 28. grãos da parte do Norte diftáo de Hefpanha 200. legoas , & a i

que eftà mais perto da cofta de Africa , treze legoas fomente difta del-
ia ,& 4o Cabo que chamão Bojador j mas outras Ilhas diftáo dezafete

tégoas! Os nomes hoje próprios, & as mais nomeadas deftas Ilhas , faõ
Os feguintes Forte FèMuraj Lancerote , Gram Canária , Temrife , Palma,
: ^

-ilha do FerrOi Gomeyra as outras cinco Ilhas faô de menos nome , & de }

todas hc tal a vizinhança de hCias com as outras , que algumas fó difta$


nove legoas entre fi & entre a Gomeyra , & Forte Ventura ha fó hum-,

quarto de legoa de mar k ainda aífim houve mulher na Gomeyra , quç ;

iabendoque feu filho hia em Forte Ventura condcmnadojàamorrefi


ella fem efperar barco, & com lua provifaó para livrar ao filho fe arro*
jôu ao mar, & nadando chegou à outra Ilh^ , St o livrou , dando-lhe me-
lhores az^s a efta mãy o amor , que o temor a alguns covardes homês. ,

25 Sobre quem , & quando , defcobrio a eftas Ilhas , ha varias


opiniões. O
primeyro defcobrimento feattribue a hum Capitão Car-
íhagínez chamado Hannon , que em o anno de 44o. antes da vinda de CâMriM tu eoM^ ,

Chrifto, fahindo de A ndaluzia com naval Armada fobre a cofta de AM^


c^CÍ!u prZerá
ca, & Guiné, cafualmente foy dar com a vifta nas Canárias ,6ç delias^*
^''^^^J dlTindét
naóteve mais quefó a vifta de fora, &a demarcação que feZi&cçm^g chriflo fegmdÁ
^

í784annps feguintes, fe não tornarão abufcaras ditas Ilhas, atê que :wíç;4<!Í<7>í«,«»«»ií«
chegado o anno 1 544. depois da vinda de Chrifto Senhor noíTo , & rey- nafumento de 1 595
^
j'

nandojàem Aragão D.PedroIV.quizDom Luis de Lacerda, neto de c^J'''^^''* «'*


D.JoaódeLacerda,irnãofó.adefcobriri mas também a conquiftar as"*''**4»7*.
társ Canárias, 6c pedio ao dito Rey ajuda para iíTo i mas parece que não
teyôs
Livro II. Das châmaáas Ilhas Cariarias;

teve eiíFeyto eftaempreza. Depois, reinando em Caftella D. Henrique


Ill.jàno anno de 1393. ou ( legundo outros } no de 1405. íahiraóde
&
França alguns Francezes , de Caftella muy cos B iícainhos , Anda- &
luzes j & com' a Armada tornarão em demanda das Canárias , naó fó &
•as defcobriraó,mas cativarão nellas cento &
cincoenta peííoaSjque trou-
^èraó a Hefpanha , & França j &
ficou fendo efte o fegundo defcobri-
'
-mento deftas Ilhas.
26 O terceyro defcobridor das Canárias
vendo-fe jà os natu- ,

raes deltas , fe accendeo mais em feu alcance v logo no anno de 1417*-&


•governando em Caftelh a Rainha D. Catharina , viuva do Rey Dom
t^.uhimo, f^Catho- Henrique
III. mây do Principe Dom JoaÓ o II. íb refolveo , (porfer
&
TMnàorcsáa. hum grande fidalgo , Almirante de França, que com muyta gente ti-
eMí^rm ,& Reys-íi\\^ bem fervido em guerra à Coroa de Caftella , & fe chamava Maíien,
primtyw Áelloi Jo' ^^ Ruben de Barcamonte) pedir à Rainha Regente *
fe refolveo a
raZ dotu grandes fi- ^onquifta das taes Ilhas com o titulo de Rey das Canárias, com a fucn- &
,&fohi-
^gfl-^5 p^^-a ijmjj fobrinho feu por nome Moífen Moflen Joaó
4Íalgos
,
tio Betencurtj

tm^T^^ínlíTda & tudo a dita Rainha lhe concedeo & ainda o ajudou a taÔ gloriofa em<
,

hoje dura legitima preza. ,r> r •

Prepararão logo os dous nomeados Reys pnmeyro, & le^.


o
defiendmciana Ma- 2/ < ,

deyra,&na Tercey gundodas Canárias, humagrande Armadaem Sevilha,&c animofos parr


ra\oprimeyroRej cã- ^.-j.^- conquifta mas GòÉio a Gram Canária tinhadentro em fi mais de
^
^HiftoH tresJlhas,&o
^ j

^.^ homens de peleja, naturaes feus, que brava , & barbaramentea


nunca os dous Reys invafores a podèraó conquiftar ; porém
uZl^n^Tt defendiao ,

tthií IchamUa Gr5 conquiftàraÓ


logo allhaque chamáo Ferro j & por fabula Inferno j&
Canária, por fcdefcn. depois defta, a que fe intitula Forte Ventura ; ôcem terceyro
lugar a^
der com dez. mil com- q^q chamaó Lancerote , 6c nefta Ilha fizeraó os novos Reys forte Caf-
*iíí*«í«i<^»o;rí«-çgllQ^g^^ç ^.Qjjag jfgg commcrciavaó com Hefpanha, mandai^do-lhe
d^otio , &prmeyro
^^^^,^^^^ muytos, muyta courama , mel, cera, urfelia , & muyto figo , 6r
deftes dous Reys, Barcamontes
á?frZnloB^un. fangue de dragaÓ. E nefte tempo faltou
çm. Betcncores , o primeyro , & tio do fegundo , & huns dizem que a falta
foy, porque como valerofo morreo em aquellas guerras 5 &
outros que,

por fe paífar a França , a bufcar mayor foccorro com que tornar à con-
quifta j mas o ceíto he(dizo noíío FruAnofo } quede
algum deftes
modos morreo o primeyro Rey j & lhe fucçedeo ,na,Cí)roa o dito fobri-,
nho Betencurt 3 a quem o tio a deyxou.
>
28 -
Continuou efte.fegundo Rey a conquifta , & com foccor-
ro de alguns Caftelhanos conquiftou a quarta Ilha,
chamada Gomey-
i-a, & ficou jà Rey de quatro Ilhas j mas
fentindo entam mais a falta do
valerofo tio , & foccorros que efperàra , & vendo que lhe
reftavaô por

conquiftar oyto Ilhas , & entre ellas a principal , que era a Gram
Caná-
ria cabeça das outras todas ,
,
de mayor numero de gente & mais bel-
& ,

licofa , aíTentou comfigo, que jà não era poftivel


fuftentarfe em feu rey-

nado , &: começou a tratar a quem venderia o que jà tinha conquiftado^


& para que parte paíTaria defta refoluçaó Veremos oeffeyto no ca-
i &
pitulo feguintc.

CAP.
Cap. IV. Do difey to de Portugal ás Canarías. 4^

CAPITULO IV. i
'líih. ',

í Do direjiío adquirido por Portugal as Canárias,

29 iTp Endo vez dcfcubertas antes da o dito fegkndo Eej


fido as Canárias primeyra
annos dè defconfimd» de «»•
l vinda de Chriftoi fegunda vez depois delia nos Bctenco- íwí/?"»- mais Cana^,
1202 ou i40<.&terceyra vez no de 1417. pelos feusReys
íesVôc a Ilha da Madey ra tendo fido defcuberta,& povoada
em I420.& 5;;«-
''"^^f/J^^l
J^ ^^^^^^^ ^ ^-
le-|
correndo logo grande fama delia, efta moveo finalmente ao fobredito
gúdo Rey das Canárias a vender as quatro,ehi que reynava,ao noílo Lu- ^i^^g^gy ff^^oi ^ lhe
íitano 5 &
Sereniílimo Infante D. Henrique , de que ao principio trata- deo em a Mtiaeyra';

mosj de fa£to lhas vendeo por certas fazendas , que o Infante lhe deo para onde (e pdjou-^
&
jia dita Ilha da Madeyra, para onde ( & para perto ) o dito Rey
de Ca- &
mandado o Infan^^

narias fe mudou, &


já em fim fem reynado, &
na Madeyra ficoui du- & l^^^GramcZ-
ra ainda hoje a defcendencia dos Betencores , como em feu lugar vere- ^.^ ^^^^ ihef^cee-^
mos. dendo, largou a CaJ^

30 Eftando jà pois o Infante , com titulo de compra , & ven- tella outra vez.,& eS

ãa, feyto fenhor das Canárias , expedio logo Armada , que conquiftafle RegMliheraltdade.as
delias as que faltavaó ainda por render , inviou a Dom Fernando de
& conqtuft^
J""'"*''^ eonqmju
Caftro por Capitão mòr da Armada Portuguezai mas naó foy Deos fer- «^ *^J^^^
-'
vido darlhes bom fucceífo , porque inveftindo logo a Gram Canaria,taó
forte , & porfiadamente foraô rebatidos delia , que fe retirarão , & muy-
to deftruidos voltarão ao Infante, que defgoftado de tal fucceíTojÔc con-
fiderando que Caftella dera o reynado daquellas Ilhas aos Betencores,
& que eftes com ajuda de Caftella tinháo conquiftadoas quatro Ilhas,
eftas quatro, & o direy to às mais largou liberalmente , como Principe, à
Coroa de Caftellaj&difto trata Joaó de Banos part. i. lé. i. cap. 22. Cã-
ftelhanos ha que dizem, que o fegundo Rey de Canárias Betencor, pri-
uieyro que ao noíTo Infante , as tinha de antes vendido a hú Pedro Bar-
ba de Campos , vizinho de Sevilha , &
efte a hum fidalgo , também de
Sevilha , Fernaó Peres, que por demanda de preferente as tirara ao In-
porem D. M*r3 Mo
unbo,CondedeAtou.
fante por fentença do Papa Eugénio IV. &
aífim os defcendentes do di-
to Fernaó Peres as tiveraÓ , atè que oCatholico Rey Dom
Fernando ^«'^^;^'^''^^^^^
V. de Caftella com grande Armada enveftio atè a Gram Canária , unm- \ai„i,aD.
fomn<x^
do-fe com hum de dous Reys delia , & vencendo ao outro & nXúma-fiiha
, d^ElRey DoZ
mente tirando-a a ambos. Dmne de Portugal^
"

1 7. Confta porém , que de Portugal levando Dom Martinho, «í-ow^í em doa^ad as


C<,nari^.& vender,,
Conde de Atouguia , a Rainha D. Toanna , filha delRéy D. Duarte de
Portugal, por mulher de Henrique IV. de Caftella, defte alcançou ^'«Z;^;; ^^;;^^
doaçaódas ditas Ilhas Canárias, & as vendeo depois ao Marquez ^<i^\es^^efieaoIt>fAnte í.'i|l

Pedro de Menezes, primeyro do nome , o qual também as vendeo ao d Fernando ^ lago ,

Infante D. Fernando , irmão delRey D. AíFonfo V. & o Infante man- mandou tomar pofe
dou logo tomar poíTc delias pelo Portuguez Diogo da Silva , que de- de Um, & a tomou; c5
pois foy o primeyro Conde de Portalegre: mas porque vindo logo de ^«^^^*'»^^''^^^''«^'*
Caftella o Cavalleyro FernaÕ Peres , ou de Peraza, & moftrando como 2Z'liberaímentZ
tinha comprado muyto de antes as taes Ilhas ao fegundo Rey delias ^^^^^^ ^ CAnanoio,
Betencor,& com todas as licenças do primeyro Rey feu tio,& dos Reys c^^deiu,
E pro-

^-ír*:^ -^Fir-
i0 Livro 11. Dai chamadas Ilhas Canariasi

próprios de Caftella , também o dito Infante D. Fernando as largou I(í-


go ao Cavalleyro Peraza , de quem as lierdou fua filha D, Ignes de Pe-
raza , mulher de D. Garcia de Herrera , fidalgo Caftelhano j dos quaes
( além de outros filhos ) nafceo D. Maria de Ayala , que cafôu com o
fobredito Diogo da Silva , primeyro Conde de Portalegre ; & porque
das ditas Ilhas a Gomeyra', & a do Ferro ficàraõ em morgado , èc Con-
dado aoirmaó D.Guilhelme de Peraza, partiraõ-fe as outras duas Ilhas,

( Lancerote, & Forte Ventura } & coube a Dom Joaó da Silva , fegurg.
do Conde de Portalegre , pela dita fua máy , renda de mais de trezen^
tos mil reis cada anno , que fe fe cobraõ ainda , fabelo-ha quem lhe toca»
32 Eternos dado a razaó de metermos nefta hiftoria Infula*
na as Ilhas Canárias, que eftaòhoje em a Coroa Caftelhana , por a Lu-
litania as ter poíTuidojà tantas vezes, & com os referidos titulos,& ain-
&
da hoje ter algum direyto a ellas i muyto mais por aííim as metter na
fua Hiftoria o Doutor Fruduofo , a quem feguimos , Sz de cuja verdade
& antiguidade devemos todos fiamos , ao menos fegundo aquelle tem-
po em que efcreveo; que hoje muy tas coufas poderàó já eftar muyto mu-
dadas-, o que fabendo-o nòs, o advertiremos j èc nefte ffentido vamos
com a hiftoria por diante.

C A P I T U L O V.

Da grandeza i& qualidades das quatro Canárias, que


primeyro fe dejcubriraõ.

33 A Primeyra Ilha conquiftada das Canárias foy a que chamaÓ


Jt\, Ilha do Ferro i he tam pequena, que tem fo legoa,& meya
de comprido , & cftà doze lègoas ao Poente da Ilha da Palma , & corre
deSueftea Noroèfte com três legoas,& meya de circuito. Tem hum
Pefcreve pailhado fól^igar, hojc ViUa chamada Lhanos , ou Chãos , & àos vizinhos chã-
Ferro, & httmúagre
continue da
^^^ ^^ Ferrenhos > & da muyta pedra que tem , aflim no interior, corno
"Providencia,
nas rochas, & coftas do mar, parece toda efcorias de ferro , atè nacor, &
fe affirma que fe fabricou jà nella ferro , & daqui lhe veyo o nome nem :

rio, nem fonte, ou poço tem 5 porém junto do lugar, em huma fajá,
ou válle , ( aonde o vento naó chega fenaó brando } eftá huma grande
arvore , fobre a qual todos os dias , & muyto mais de manha fe aífenta
huma névoa, ou nuvem branca , que pelas folhas da arvore deftilla tan-
ta, & tam boa agua doce , & fe fórma:della hum tam grande tanque era
bayxo, que delia bebem não fó os animaes , mas a gence da tal Ilha: tan-
ta he do Creador a providfencia que tem de fuás creaturas , & táta a pie-
dade daquella arvore , & nuvem, em que o Creador Divino tomou nof-
fa humana natureza, que aífim acudia a eftes homens. O material da ar-
vore nem os mefmos naturaes o conheciaõ , & fó a viaó eftar fempre em
o mefmo fer , fem já mais envelhecer, nem crefcer , ou diminuir antes j

com as mefmas folhas, & taó verdes fempre como de antes.


34 Depois porém que entrarão nefta Ilha os Caftelhanos,fí-
zeraõ tam grande tanque ao redor da dita arvore ,] que leva três mil pi-
pas
Cap.V.Das prímeyfas quatro Canárias defciijertas
,|)asde agua, & lhe chamaô a Agua SantajSc à arvore a Santa Arvore j &
:& tudo íecharaó de tal forte , que fo pelas Juftiças íe reparte , três, ou

quatro vezes cada femana ; prudentemente coratudo íe fabricarão de-


pois cifternas varias nefta Ilha, em que recolhem muyta agua, de que
também fe provém: à dita Santa Arvore quizeraó fempre muytos co-
nhecer, & lo vieraó a ajuizar , que fe parece com aquella, que em outras
partes chamaó Til j 6c eu diíTcra , que por efte nome ter três letras , &;
^líTo fer emblema da Santifíima Trmdade, que fe emeíla tivermos a
Divina virtude da Efperança, nem nos faltara jà mais a fundamental ar-
.vore da Fé , nem a fobeíana agua da Charidade Divina. contrato da O
íerra hc de lã , queyjos 5 breu , cevada, muyto gado miúdo ,& muytos
porcos.
.35 A
fegunda Ilha conquiftada foy a que chamarão Forte
Ventura , por fe achar nella huma efcritura que dizia , que por Forte
Ventura fora povoada -, &
na verdade ventura grande foy , porque tem
mais de dezoytolegoas de comprimento,& quarenta em circuito^ & c6
fo quatro povoações ter então dentro de iljtinha comtudb três Reys,ou
Régulos ; mas por naó aver na Ilha arvores, de que os naturaes fizeífem
armas, foy mais facilmente conquiftada. Das fuás quatro povoações , a
primeyra fe chamava a Villa, a fegunda Oliva , a terceyra o Porto , a &
quarta oCurralejo. De gado miúdo ha muyto nefta llhajÔc também
muytos camelos. Foy conquiftada dia de S. FeUppe, Santiago,& def- &
tes Santos he a invocação da Igreja principal > &
o commercio então era
todo com a Ilha da Madeyra , por lhe ficar perto j toda a inimizade &
<:ra com a vizinha Berbéria , em que faziaõ aíTaltos , & de que traziao

prezas j mas com a entrada dos Catholicos ( adverte Fruítuofo } havia


jà nefta Ilha algús Fidalgos , de appellidos,Ferdomos, Sávedras, &c.
'
36 A terceyra Ilha que feconquiftou, foy a que fe chama Lan-
cerote, & de hum feu principal Rey tomou efte nome j he quaíi tama-
Terceyra Ilha fecha*
nha como a dita Forte Ventura , & eft-à delia a Oefnoroeftx , & muyto
ma Lancerotejoy cSJ
•perto. Dizem que foy conquiftada também por hum nobre Fortuguez
quiftadapelos Beten-
chamado Nuno Ferreyra, que fervia entaó aos R.eys Catholicos , era cores ^ QT por meyo dt &
parente dos Condes de Caftanheyra em Portugal. He Ilha em grande hum Pertuguez. cha-
parte infruftifera ; tem fó duas povoações , húa he a Villa , outra íé cha- maâo Nuno Ferreyi
iTia Faria ; & não fó foy fácil de conquiftar , mas os naturaes fe aparen- rei^&tsm algfísfidal'^
tarão muyto com tem huma Igreja Farochial , & duas,
os Caftelhanos :
goi , & dà muyttfiSÍ^
ou três Ermidas. Conde delia he hum D. Agoitinho Herrcra, de quem
he o muyto fal que allife faz. Duas vezes a faqueáraõ já os Mouros & ;

comcudo ha nella alguns Fidalgos, Ferdomos, CifuenteSjHerreraSjSà-


Vedras, & Betencores.
A quarta Ilha, que o fegundo Rcy dos Betcncorcs conqui- A ^Harta Ilha
37 cha^
ílou, ou mandou conquiftar por hum Joaó Machim & Dom Diogo de raaõ Cameyra, , ftl^

Ayala, foy a chamada Gomeyraj &


cuftou tam pouco a conquiftar , que mzytagema que Ufi-»
çaõ as arvores hci ;
aos conquiftadores receberão os naturaes com bayles. Chamarfe Go- mtfyto
fértil depai^
meyra (^ dizem huns ) foy por fe chamar aíHm a filha do Rey que tinha vinho ,& gados d* ^
a Ilha; outros dizem que por as arvores delia lançarem todas goma. tinha Ires EtigenhtA.
&
Tem de comprimento doze legoas , quatro de largo , he de figura de ajfacar^ &
evada j difta da Ilha do Ferro nove legoas , da Palma outras nove , &
, ^ E y .
cinco
5^ Ovfo II. Das chamadas Ilhas Canatias.
cincodoTenarifc, fallando de terra aterra. Tem cfta Ilha hua fófoii-
te, mas muy tos poços de agua doce , & boa j dà muyto paó , muy to vir
íiho, & muyto queyjo, & nâo fó muyto gado, & miiytos veados, mas dà
«melhor urzella, que feleva para Flandres ^ & tinha então tambera
três Engenhos de aíTucar, & tanta befta de albarda , que ( affirma o bom
Fru£tuofo } que iado alli dar roubado hum Gafpar Borges, artífice , lhe
ofFerecèraõ logo cafamentO)promettendo-lhe em dote,alèm de dinhey-
To , & bens de raiz , cincoenta afnos de carga } & que refpondèra logo o
artifice Se eu tal fízefle, feriamos então cincoenta & hum. E não lhe
! I

fallàraó mais em tal mateíia. Tem mais a tal Ilha húa boa, & nobre Igre-
ja Parochial da AíTumpção da Senhora ^ 6c hum Convento de Francif-
canos, & cinco Ermidas , &tam bom porto , que atè então fe não tinha
nelle perdido navio algum , mas fora da Villa , por toda a Ilha hão ha-
veria mais que feflenta moradores.

C A P I T U L O VI.

Da Gram Canária, & maà ilhas/uas,


38 AQiiinta Ilha conquiftada dizemos ter fido a Graó Canária,
porque aindaque o Doutor Fm^uoíoUb.i. cap. 12. diz
que foy a tcíceyra que fe conquiftou , feguio aqui efta opinião , tendo
atraz feguido a contraria , de que os Reys Betencores não conquiftáraó
a Gram Canária , mas fó as quatro acima apontadas & por irmos cohe-
-,

5Í 6y4j» CAnariafey rentes , dizemos ter lido efta a quinta conquiftada. E confirma-fe j por>.
k^Mittt/t Ilha eê^Hi' que depois de o fegujido Rey Betencort vender ao noíTo Infante Dom

j(?«á«, ííw5^«iírf«í<» Henrique odireytotodo que tinha às Canárias , ainda o dito Infante
UloM tm ctrcfttto,& mandou Armada Portugueza conquiftar a Gram Canária, & ainda mais

T^J-j-.ZÍ\lr! «depois
* a conquiftáraó os Reys de Caftella logo efta hc a verdade.
:
poríedtvtatre entre/i t tt ^^ ^^ •
r ^th j o
i 1

fgraiconquiftados to- 39 He pois a Gram Canária, na figura, Una reaondajõc de qua-


dos.IiceH fendo a ca. fcnta legoas tm circuito j fica ao Sudoefte de Lancerote , & Forte Ven-
Jfeçadoí mais Ilhas ^ tura ,das quaes difta vinte legoas , &
he terra alta. Chama- fe Canariaj
^om Bijpo de tedoí, não tanto pelos paíTaros Canaríosjque também nella fedáoi quanto pc-
IrtbHnaldo ^-^ffi; los
muytos cães que fe acharão nella, brancos j & malhados febre muy ,

^'^^^'^^^ i & ^^^ grandes , que excedem a grandes lobos , & por iíTo lhe
> 7efà & cmhtto &
I

Relação de Dezem. chamàraó a Canária , & a Gram Canária j fendo que tem tantas outras
bargadores -^draCi- grandezasj C como veremos logo } que por eilas lhe vem bem o titulo
dadt de s. Ama de de Grande. Tinha de antes cinco, ou féis Reys, que unidos a defendiaõ,
tris mtlvtz.tnhos te
, ^ por iffo cuftou tanto a conquiftar , que fó por fe dividirem entre fi,
^^° fovsLO por partes conquift-ados , & defpojados todos que de án-
^Teíde de^'*' inhemo) P^**
;

^^s não tinha fido de CoíTarios entrada, por mais vezes que foy acomeí-
viúnhes & aGnia
'i/inte& quatro En- ^ ^da, & dos de Berbéria vizinhos, & barbaroS} mas he tani fortificada to-
^e»/;wíi#4^c<jr ,€^daaIlha,&agentetambellicofa,que nâ® cedia a outra algúa.
^ftyta riquex^a eom 40 No militar, & politico he a cabeça das outras Ilhas Cana.
hm teperawento & fiaj^ ^ ^^^^ ^cfide O Govcrnador, que tem iurifdição de baraço , & cu-
'*^"°» P°"0 ^"^ ^ melma tem cada Governador das outras prmcipaes
& wffvtes Camlet Ilhas,
no que toca ao criminal j & para o que toca ao civeí > tem o Tri-
bunal.

^
.feunal, & Audiência Real , com Dcfembargo de Ouvidores fecuía*
três

ícs, & Regente , aonde vaó finalizar as caufas das outras Ilhas , &c. N©
jEcclefiaftico he a única Dieccfè , & Bifpado de todas as ditas Ilhas , po*
ito dizei emalguns que a Cadeyra Epilcopal eftivera algum tempo em
Lancerore , ou na Paíma. Na mefma Carlos V. fez pòr Tribunal do Si
OíRcio , com os neceíTarios M
iniftros , & officiaes. Aièm da fua Sè , tem
mais duas Igrejas Parochiaes, ôc hum Convento de Religiofos Fran-
cifcanosjOutiodeDominicosj&âlgumas Ermidas. O
Bilpado chega a
mais de fete mil cruzados de renda j o Inquifidor a dous contos de rcisj
o Deaõ a mil & quinhentos cruzados. A única Cidade de toda a Ilha fe
chama Santa Anna, & coníta de três mil vizinhos j & por fer allha con-
quiftada em o dia de S. Anna, tomou feu nome a Cidade.
41 Duas legoas da Cidade para o Sul eftà huma nobre Villaj
& de quinhentos vizinhos , onde ha três Engenhos de aíTucarj & fe cha-
ma Telde, que também abunda de algodão: de Telde fe vay à Guia,Vil-
la que também com Engenhos fe occupa & adiante da Guia fefegucm
;

Guimar, & Arucas donde dizem que he tal o aíTucar, que ao melhor da
, ^
Madey ra fe iguala em fim que de aííucar havia em toda a Gram Cana-*
:

ria vinte &c quatro Engenhos , & cada hum de féis , Sc de fete mil arro-
bas de aíTucarj fe hoje ha mais, ou menos , là o faberáõ como fe ha nella -,

ainda tantos mercadores como avia então, de quarenta, Sc cincoenta mil


cruzados para cima j que hoje he mais celebre em admiráveis Vinrhos, &C
antigamente em Camelos j & ainda em os frudos he tam têmpora, que
de meado Abril para diante haja uvas maduras , figos, meloés,&c. & tu- Títte^ife foy ã fe^té
do tam faz oado como em Hefpanha o faó pelo Eftio , & Outono j o qitc l^ha eõ^ui^ada, tem
parece provém do pouco , & poucas vezes que chove em efta Ilha , & ^«««^«''^^«''«'«^íwwJ
poriífonaôhc mais povoada j & pela parte do Sudoefte ha grandes fe-f'^f 'í
J^'*.''"f*^"»
bres, pela muyta vizinhança da ardente Berbéria, -y - "^^ ^ PUollTchL
,- . ^^

^
42 A fcxta Ilha das CanariaSj por ( na opiflía6 niais provável} meiõ7ejie,&u«AÚ
em fexto lugar fer conquiftada , he chamada Tenerife i difta trinta le- to, ijae dix.emexced<t
goas de Lanccrote, & Forte Ventura , &
quinze legoas da Gram Cana- <*» d* Jlh* do Pieo,^,
fia corre de Lefte a Oeftc com quinze legoas de comprimento , porém ']»ffevedífejféntalem
;

de largo com féis em humas partes, & oyto em outras , dez legoas em ^f^ '** w*'',^ «*«!
&
alguns lugares } &com fer toda a Ilha muyto alta, he altilTima no meyo, J<, tf!^/„*,''*>,'ij^^í^
aonde tem hum Fico chamada» Teyde , tam exceílivamente levantado, g^tyt , qHtpwéinda-,
^
que de feíTenta legôás ao mar fe eíta vendo, fèaffirmafer mais ako ain- r^m hum cêntra «á
da que o da Ilha chamada do Pico; &
com, em o mais doanno, eftar pe- outros,forao vencida.
las neves muyto alvo , tem comtudo tal vulcaó pela banda do Sul , Su- 'j"^"' ^'"* * Ctd^^ •

êíl-e,& Sudoefte , que femprc eftà lançando flimo ; Sc bem moftra efta '^'.;^^T*, '^ fT
linaque em muytos tractos ârdeo mais que as outras Ilhas ^ Sc parece /^ Or0tAVA de treJ
que em fua primeyra povoação foraõ por vezes, em diverfos tempos, «^íw ^ ^ tkât^ads.
^ higàres,lançando-lhe alguns cafaesdegerttes,ôcque cada povoação laade dedHicentes,^
dcftas feparadas fazia feu Reyno à parte , St tinhafeu particular Rcy, Sc Gmr*ehic§de ^m^^
âfiim havia nella nove ReYs,que ordinariamente andavaó cm guerras "f"*^*'-'j'*'^*'* *'"*'«
entre fi, Sc poriíToerao guerrevros muyto dèítros j Sc forao os mais cu- ,^, ^ f » "v ',, . ,

n c I -n „ ^ . -/v- n 1 r ^ ^
1
'Xe*U*ttteSgí»ettf.ig*
• •

mios de conquittar ; Sc também por líio deites he que fe tirarão mais ^^„^^ m*inrA (^ ,

ôatlVOS. pktsexefffive^degrã^
43 HaneftallhadozcjOi^i treze Povoações, cuja cabeça he a ííw.

E iij Ci'«

J^-ZKTJ:.*»^.
Livro IL Das chamadas Ilhas Gananas,

Cidade da Alagoa, quctemdous mil vizinhos , & duas Igrejas Paro-


chiaes j das quacs huma he da Senhora da Concey çaõ , & outra de Saó
Chriftovaó, em cujo dia fe conquiftou a Ilha tem mais três Conven-
-,

tos de Religiofos, Dominicos, Agoftinhos, & Francifcanos , & hú Con-


vento de Freyras de Santa Clara , que eftá fora da Cidade defta para ©
-,

Qefte, quatro legoas, eftava a Villa chamada Orotavaj de trezentos


vizinhos, que colhem muyto paõ, vinho ,& aíTucar. Em outra Villa
chamada Icade , de duzentos vizinhos , fe faz vidro de que muyto le-
j

vão para fora, por fer muyto rijo* Nove legoas da Cidade , da banda dq
Norte, eftá a Villa chamada Guarachico, povo de quinhentos vizinhos,
que lavrão.muyto vinho, & muyto aíTucar, que vay para Caftella,Flan-
dres, & Inglaterra} & ha nefta Villa hum Mofteyro de S. Francifco , de.
cuja Capella mòr (com fer toda de madeyra bem lavrada, & fer grande)
dizem fer toda fey ta de hum fó páo j & a quem vir a grandeza excelliva
dospinheyros quehanaquella terra, nâo parecerá incrível i & na mef-
ma Villa ha lavradores de vinte até trinta mil cruzados de renda de fuás
lavouras, & de Engenhos próprios de aíTucar. Da banda do Sul eftá hum
lugar chamado Adexe, aonde a família dos Pintos tem dous Engenhos
de affucar, que nos féis mezes da fafra moem oy to & nove mil arrobas,&:
tem quatro legoas de canaveaes. .

'
?
44 He geralmente efta Ilha muyto fértil , atê de pàos de muy-
ta eftima, & chey rofos , muyto abundante de mel , vinho , & aííucar , &
fó de efpeciarias, & azeyte he falta, mas não de pefcado em todo feu cir-
cuito i nella fe fabricáo muytos panos, fedas , & linhos > tem muytas , &,
frefcas aguas doces com que fe rega toda & he muyto falutifera , & de
,

bons ares, & nella fe d^o muytos, & bõs ginetes mour ifcos, & aíli m nu n-
ca tinha fido entrada, nem faqueada de inimígosi &: fobre tudo he de tão
^°°^ governo, que delia parafóra fe não^póde levar dmheyro algum, fe-
d Z at ha
nX,&%'ZTJlH^^^o^^V^^%^^^ nas drogasda terra, com o que náo fóhe muyto rica,
recJèraS a da mar- mas enriquece aos Eftrangeyros, que a ella vão commerciar.
tjrio tjHArenta Reli- 45 Septima conquíftada Ilha he a que chamaõ Palma , pelas
giofesdu Companhia muytas palmcyras, que ha nella, & carregadas de tâmaras ; eftà treze le-
d« fESVS; tem de-
^^ Noroefte de Tenerife, & da Madeyra feíTenta ; tem dezoy to de
de largura. Tinha de antes quatro Reys , & as
"tZmT&deíTete comprimento , dezafete
deTaZurs; a 'culde mulheres eraó tanto mais varonis
do que os homés, que ellas em a con-
heS.MÍ£HeldeSan. quifta pelejarão atè não poder mais ,& a mayor parte dos mandos fe
ta Cruz. &pajfa de metterâo em fuás covas atè morrerem àfome j mas jà hoje as mulheres
,

dm mil viz.inhor, f^^ muyto polidas, & os homens faó os mais guerreyros de todas aquel-
j^^ ^y^^^^ ^^^^^ ç^^^ ^^ ^^j-g^ ^^^y f^ceys de conquiftar. A terra he muy-
eahia nella miUgrofo

7H7cHtava'&dmL f o ^^^2> ^ calmofa a ; povoâçaÓ fua principal fe chamava de antes Apu-


ÁetlàenmH a Lr- fon , porém Carlos V. afez Cidade , & lhe deo por nome S.
Miguel de
Lkcm, nmca mais Santa Cruz da Palma, & paflfa de dous mil vizinhos. Os naturaesda
cahio: dk mttjto vi- Ilha contão que antes , & depois delia conquíftada cahião do Ceo np
,
,

nho,muitopaS,í>aJiã- .^l^Q c^me da Ilha huns como confeytos muyto


, alvos, & miúdos,
*'
'^^dlZ l7et'^'''m-
^"^ ^'^^^^ "^° ^° fuftento , mas grande conforto , a quem os comia , Sc

Vli que "daiVmldi. q"eos cozíaó.muyto cedo, & no mefmodiaos comiaó , & que lhes cha-
cénalfaniHt de dra. maváo Graça do Ceo , & mannà de grande cheyro mas que tanto quq
>

g0. na Ilha houve trato de mercadorias, defappareceojôc não cahio mais


aquel-

^
Capi VI. Concluc-fe com as Canárias.' jf
áquelíe manjar do Ceo. Repare bem G Leytor,
4,6 Qiiaíl toda efta ilha, cxceptas
algumas terras de aíTucafa çf>
ti plantada de vinhas pelo Sul, & pelo Norte , tanto aífim , que dà cin-
co , 8c féis mil pipíis ao dizimo,& o termo da Cidade duas mil, com que
rende de direy tos , de entradas , ôc fahidas na Alfandega , trinta mil cru-
zados. O
rendimento do paó he tam abundante, que huma fanega de fcr
mcadura dà cento & dez , &c mai-s. No meyo da Ilha eftá a Cidade com
doas Conventos de Dominicos, & Francifcanos j & fendo que de antes
naõ era fortificada , & por iíTo foy entrada , faqueada , queymada poí &
Francezes Lutheranos , a 2 1 de Julho de 1 5 5 3 & pelo Pè de Páo ,
. . &
Jaques Soria j comtudo em os primeyros dez annos foy reftaurada de
force , & de novo tam fortificada, que náo fó cftá mais luítrolà, 6f popu*
lofa, mas de todo inexpugnável. r; ^ -
'
-

47 Ha nefta Ilha fataes madeyras de pinheyraes , & humas a^


que chamão Tea , que dão o breu , <5c como em efte , aílim em taes ma^
deyrasfeatea o fogo. Ha outras arvores que dão aímecegaj & outras
chamadas Dragoeyros, como altas palmas, que feridos daó hum que pa*
tece fangue, & que logo íe coalha , & hco Drago medicinal , & que mal
derretido com pouca quentura tira das armas' untadas toda a ferrugemj
& faó arvores defczas de fe cortarem. Finalmente os ares defta Ilha fa6
tamfádios , que nunca nella houve pefte , nem ptificas , nem parlefiasji
nem ainda tempeftades atè no Inverno mas algumas névoas , que pelas
-,

manhãs faó medicinaes , & fó de tarde nocivas , por não terem viraçaâ»
do mar &c não fó de Caftella , & fuás índias > mas de nações eftrangey-^
:

ras , he a mais bufcada efta Palma-, porém a melhor palma lhe levàraó
quarenta Religiofos da Companhia de JESUS , que indo a pregara Fq
Catholica emoBraril,pouco de antes defcuberto , pela Fé , &àvifta
defta Ilha foraó todos quarenta marty rizados pelo dito Coflario here-
ge Jaques Soria , &: íem e'fte levar da Ilha a palma , defta , & delle leva-
rão a do martyrio os quarenta para o Ceo , fendo o feu valerofo Capi-
faõ, oilluftriflimoPadreDomlgnacio de Azevedo , mais illuftre ain-
da pela morte , ou fangue de feu martyrio , do que pelo illuftre ^ngue
herdado mas efta matéria pede mais alta , & fubida penna , & aílim va-^
:

mos continuando com a humilde noíía defta l^iftoria.

C A PI T U L p VII.
4' -.i? uíy f
-

ijénÉlm^ em geral com a noticiada CanariaL

v^ %^ T^ Os primeyros povoadores das Canárias não fabe quem Oy^^íyí fe aehkrATnè'

L/ ao certo o certo he que nem Gentios nem Malio-^**' ^^^^


fofle ; , > «'» 'rant
metanos, nem Mouros, ou Turcos foraõj porque os que as habitavaó, i'*"''"-'»
^''^'*J^"^'"
quando foraó conquiftadas por Catholicos,naó adoravaó mais que a hu
^oHMQHros^HHerèi
fó Deos, &
por iflb receberão com facilidade a Fé Catholica por fó^es^mas homes Sví^
-, &
algús outros ufos bárbaros fe coftuma dizer que eraó Gentios.Que nunca^z/Mõ em a primeyrà
funcmMahometanos,& menos Mouros ,ou Turcos, confta àe. ter ç,mhji da natureza ado-
fido povoadas eftas Ilhas muy cos feeulos antes de haver no mundoTur-f"''»'* ^*'/*^{*'>^
eo% ''
Livro 11. Dai chamadas Ilhas Canárias.

coSjOU Mouros, ou ainda MahometanoSj& de fempre as Canárias tereaa


foret fArtt tmrcnÃí; guerra com
amais vizinha Africa i& fó de alguma delias ,& em algum
^dtllts entrou n*Cõ. tcrapoantigomuytâs peflbas em Africa cafa vão, & ficàraó participan-
do dofangue Africano ; mas os mais fo de entre fi fe propagaváo , de- &
pois de conquiftados fe aparentarão mais com os Gatholicos conquifta-
ítiorrianeUa^á^Htlle
portento de funtidã-
dt^AJfombrodimiU.
dores , &
tanto , que já hoje nem ha daquelles antigos a que chamavaô
^rtJ,&tffe!ho de to- Gentios,
que não tinhaó outra Fé , ou outra ley mais do que crer em híí
foraò alguma hora , mas fo fe-
das Aí virtudes , o fó Dcos i donde fe fegue que nem Judeos
grande Padre fofeph guiaó a fubftancia da primey ra ley da natureza , 6c do primey ro ufo da
dtAnchieta.eujaCa- razaó que trouxeraó ou dos Hebreos mais antigos , ou dos primeyross
,
mnizAfAÕfiffferajà
povoadores da Africa, &
Garthago, como acima jà tocámos.
eada dia.
Hoje porém neftas ilhas commummente faó já todos Ga-
49
tholicos,fem razaó alguma de Idolatras, 6c menos de Hereges, 6c fó pe*
k vizinhança participaó alguma coufa de Africanos com cores meyo
morenas em muytos dos naturaes , 8c ordinariamente de eftatura a}ta,ôc
tam puros nos coftumes , que da faritidade deftas Ilhas fó aponto o ma-
yor portento, o Thaumaturgo em milagres , o prodigiofo Apoftolo á&
Braril,ogra0dei6c Venerável Padrejofeph de Anchieta, natural deita»
Canárias, 6c Religiofo profeíTo da Companhia de J ES U S,&; defta o fe-
gundo Xavier i pois já dafua Canonização fe temem Roma tratado
inuytOj6cdefuafantiírima vida, 8c morte fe tem compofto tanto, &c
portam fubidas pennas ,que fó da Santa Madre Igreja tfperamos porfa
acoroaatamadmiravelfantidade, como todos veneraó em hum An-
chieta , de quem efta hmitada penna naó pôde voar a fer elogiadora.
|ó Geralmente o clima das Canárias he tal, que nem chove
,iicllasmuyto, nem muytas vezes, 6c omayor dia nellas naôpaíTade
treze horas, nem de treze a mayornoyte. Em nenhuma deftas Ilhas ha
bichos peçonhentos , 8c nem ainda rans ha , fenaó em hCia alagoa da Ilha
qucchamaõa Gomeyraj fendo que de gados faó muyto abundantes , ôc
ainda decavallos, 6c camelosi 8c com tudo naó havia ao principio entre
cUes armas de ferro , ou de fogo , mas de páo fomente , com que fó bri-
gavaól, 6c fortemente. De aves ha muytas , de que as mais pequenas , 8c
que melhor cantaó , chamadas Canários , deraó, como dizem, o nome à
Gram Canária , &c efta a todas as mais Ilhas. Dos frutos da terra ha o»
mais 8c os melhores como vimos , excepto azey te ; 6c batatas fó as ha
,

na Gomeyra , 8^ Palma,.duas deftas Ilhas j mas em o feu mar de rodas ha


de bom peyxe abundância j donde vem ferem ordinariamente tam fá-
dias eftas Ilhas, que nunca houve pefte nellas, nem muyta outra cafta de
doenças, Sc aíTim faó terras falutiferas > 8c atè falinas ha em Forte Ven-
tura, 6c Lancerote, de que fahe muyto fal, 6c fe provém as mais Ilhas.

51
Particulares datas neftas Ilhas tiveraó alguns fidalgos po-
bres, que hoje faô ticos Titulares j aíftmtem os Condes de Lancerote
nefta Ilha, 8c na de Forte Ventura j 8c os Condes daAyala ema Go-
meyra, 6c Ferro, 6c em outras outros j mas a Gram Canária, Tenerife,6c
Palma, em nada a alguemoutrem eftaó fugey tas , fenaó fó à Real Coroa
de Caftella. Advirta o Leytor porém, que o que deftas Canárias fica di-
to he fó hum compendio puro, Sc verdadeyro do que em feu antigo eí-
,

ty lo, Sc em feu tempo, diz o Doutor Gafpar Fruáuofoem feu cicado


^
. - livrof

W^
Cap. VIII. Do dito Cabo Verde, & feú cíimà; $f
ktvro; que em o tempode hoje pode fer eftejaó mudadas muytais coa«
•faSj que aqui nem fe negaó, nem íe aíiirmaó.

CAPITULO VllL

Breve notma dmlíhas de Cabo Verde , &feu clima,

52 O E pouco diíTemos das nobres menos podere-


Ilhas Canárias ,

^
mos dizer das de Gabo Verde , aíiim pelo pouco que delias
dizem os antigos ChroniftaSj Barros, & Góes, como por o Doutor Fnu
cluofo cocar fó efta matéria no kh. i de lua Hiftoria cap. 2 1 & paffar lo-
. .

go no 22. ao defcobrimento das Antilhas iou índias Occidentaes,


í"<?|>.

que extende atè o cap. 2 6. & jà em o cap. 2 7. tratar das opiniões que hou*
ve do principio das Occidentaes Ilhas Luíitanas , como diíTemos jà no
líh. I. pelo que compendiemos agora, Sc com menos confufaò,o que

pudermos alcançar dcílas noíTas Ilhas chamadas de Cabo Verde.


53 O que fe diz hoje Cabo Verde , fe, dizia antigamente Ca«»
bo Aíinario , & âuidaque o Carthaginez Hanon ( que como acima dif- jy^ ohóIÍIõm ieCÀJ
femos foy o primeyro que vioas Canárias } teve juntamente entaó vií- borerdcjettífriméÚ
ta defte Cabo, & fó com a vifta fe ficou i depois comtudo em o anno de ros inventores jeuá,
,

1443. (já governando ElRey D. AíFonfo V. era Portugal ) hCi Efcudey- nomes &ptA*ttHr4i
ro feu , chamado Dinis Fernandez , morador na Corte de Lisboa , rico, '"*&^^'í^í'*lt
& de honrados feytos , movido com favores , & mercês pelo dito noíTo
Infante D. Henrique, foy de feu mandado j em hum fó navio , defcubrir
da cofta de Africa o mais que pudcíTc ; & partindo corri eíFeyto , & paf-
fando o rio Canaga , que divide os Mouros dos Jalofos , Sc eftà em a aU -
tura de quinze gráos Sc meyo da parte do Norte, tornou huma Alma-
dia de quatro negros Sc dando mais adiante com hiím Cabo, que Afri-
-,

ca lança alli fora contra o Poente, Sc reprefentando-felhe^om verdu-


ra grande , lhe chamou o Cabo Verde , fendo de antes chamado Afina.»
rio } &
hoje efte Cabo Verde he de Africa o mais celebre Cabo, que eftà
iio Oceano Occidental, em altura de quatorze gráos èc hum terço j Sc
porque o defcubridor Dinis Ferriandez experimentou aqui bravo teni-
porali não paflbu mais adiante , mas fahindoém huríia Ilheta muyto vi-
:ç^inha ao Cabo, fez grande matança, em cabras , com ais quaes, Sc com oS

hegrosXe voltou a PortugaljOride foy bsm recebido do Real Infante,naó


fó pelas novas que trazia , mas também por aquelles homés negros , que,
foraó os primeyros que era Portugal fe viraó.
54 Coirreo logo tanto afama do novo Cabo Verde ijàpelóã
Portuguezes defcuberCo, Sc que havia Ilhas junto a elle , que de Geno-
Vavieraó a Portugal três navios^ Sc por Cabos delles três GehoVeze»
nobres, António de Nole, ^
hum feU irmaô, Sc hunl feu fobrinho, of- ^
ferecendo-fe ao noífo infante para irem defcubrir as ilhas de Cabo Ver-
de, & datidolhcs o Infante por guia , Sc Cabo feu a hum Vicente de La-
gos, Portuguez, Sc a hum Luis de Cademufto, Veneziano ^ os mandou. I

defcubrir as ditas ilhas em o anno de 1445. Sc efte parece o verdadeyro


defcubrimeiítc de taes Ilhas> como fc colhe das Chroniças de Barros , &c

^f Livroll. l^^s Iliiasque chamaõ de Gabo Verde,

.de Gpes, 5c da do Principc D. Joaõ, que depois foy o grande Rey Dom
Joaõ o 11. de Portugal i pois jà no anno de 1460. fez leu payEÍKey Q,
^ffonfo V. doação das ilhas de Cabo Verde, & das Terceyras ao In-
fante D. Fernando feuirmaói donde íe fegue que as de Cabo Verdeja
eraó defcubertas, & primeyro que as Terceyras , & nos; annos fobredi-
tos, como feverá no defcubrimcnto das Terceyras.
5^ A
primeyrâllha que acháraô os ditos defcubridores , cba-
márão-lhe a Boa Vifta , mas ainda melhor nome lhe derão logo depois,
chamando-lhe SantiagOi àfegunda a Mayaj &
àterceyra S. Felippe,oii
Ilha do fogo i por defcubrirem em o primeyro de Mayo , dia
todas três
dos ditos dous Apoftolos j &
paliando logo o no Rha , ou Caramanca,
chegarão atè o Cabo Vermelho , &delle lè voltarão a l^ortugal. E por-
que eílas Ilhas de Cabo Verde laó onze , os nomes das outras oytofaó , o
da quarta S. Chriílovão , quinta a do Sul , fexta a Brava, feptima S. Ní-
colao, oytava S. Vicente , nona, Razabranca , decima, b>. Luzia , undé-
cima S. António, ou S. Antão, como (deftes nomes, &da ordem com
que vaó ) confta da doaçaò Real , que filRey D. Joaó o II. fez ao Du-
que de Beja D. Manoel , Rey que líie fuccedeo.
56 Eílaô todas eftas Ilhas arrumadas defde quatorze gráos 6c
ineyoatèdezoyto,ficando-llie o Cabo Verde em quatorze gràos , 6c
hum terço, conforme a Ptolomeu. A Ilha de Santiago eftá Leite a Oef-
te do dito Cabo noventa &. cinco kgoas , em quinze gràos &: meyo j 6c
conforme a outras cartas em quatorze , &: meyo. A Maya eftá de San-
,

tiago a Lefte doze legoas. A de S. Felippc eftà ao Sul de Santiago treze


legoas,&: meya^ também era quatorze gráos, & meyo. A Brava eftà cin-
co legoas , Lertc Oefte de S. Felippe. Entre Santiago , 6c a Maya ha hu
-Bayxo em quinze gràos & meyo , cinco legoas de Santiago j 6c a Nor-
te defta Santiago, emdezafeis gràos & dous terços, eftáo dous Bay-
-xios ruins. Saõ Nicolao eftá trinta legoas de Santiago ao Oefte , em de-
zafete gràos ; Sc ao Oefte de S. Nicolao, féis legoas, eftà S.Luzia em de-
-zafeis gràos, 6c hum terço èc ao Sul deftas duas Ilhas eftáo dous Ilhèos
j

degrandepefcaria. S.Vicente eftà ao Oeftedc S. Luzia cinco legoas,


em dezafete gràos & meyo esforçados S. António eftá ao Oefte de Sa6
Vicente em dczoyto gràos, menos hum quarto,6c entre eftas os Canaes
íaó muy to limpos. 1

C A PI TU L O IX.

Qualidades dasprimpaes Ilhas deCahoVevde.

57 A Ilha de Santiago, cabeça das onze de Cabo Verde, corre


l\ de Norte a Sul, 6c tem dezoyto legoas de comprido: a Ci-
dade fe intitula também de Santiago, confta de duzentos vizinhos,
C IlhAd ^dntUfo
6í:

eaheçd dlionL de ^ P^^^ meyo a corta huma ribeyra > he a cabeça


do Biípado das outras
C4l>$ itrde. fuás Ilhas, comBifpo,& Cathedral. Por efta Ilha vão asnàos deCaf-
' "
tella para as fuás índias , aífim como as da índia Oriental de Portugal
yem pela Tcrceyra , & por a de Santiago vaõ as de Portugal para An-
gola,
r
Cap. IX. Qualidades dai tàes Ilhas, S^
goiaj Guiné, Congo, 8c outras partes. Tem muytos gatos de algalia , 6c
também infinidade de Bugios, muytas galinhas, &; gulipavos. De fru-
ctos da terra dà muy to a£ucar , de que fe faz muy ta eoníer va , mas náo
chega ao da Madeyra j nem dá trigo algum j mas tanto milho branco,
grolfo, & miúdo , que carregaó navios para fora dà muyta fruda de ef*
-,

pmho, muy tas peras , figos, & melões , ôc todo o anno uvas , jà em agra^
ço , já que começaó a alimpar , & já maduras i feyjóes , & abóboras de
muytas caftas. Ha nella muytas arvores , como maceyras, que daó hús
bugalhos , dos quaes abertos tiraó muyto algodão. Ha também muytas
bananey ras , cujos figos partidos ao travez , em cada talhada moftraó a
figura de hum Crucifixo, ou Cruz, & dizem que daquelles era o frudo
vedado do Paraifo terreal. O mais veremos abayxo.
58 A Ilha de S. Felippe fe chama também Ilha do fogo , por- Da jiha de S. Fefíp-
que de hum altiílimo pico feu íahe continuamente tanto fogo , &: às vt-rpe^&defett alttffimo^
zes deyta de fogo taes ribeyras , que esfriadas fc convertem em cinzas, /<'<?''/^i ^ /''^'íg'^»'?
&: pedra pomes , ( como dizem } & vaõ dàr ao mar j & em tempo fere- /"^*i
nOa & de noyte chega a verfe elle fogo de quinze legoas ao mar j &: atè a
mais alta nuvem de fumaça , que fobre feu cume forma efte pico , chega
a verfe de mais de vinte legoas ao longe, quando o tempo eftá fereno, 6c
o Ceo limpo :defl:e pico dizem fertam alto, que porhnha imaginaria,
defde o bayxo lançada ao ponto Correfpondente à fua altura, tem três
Ifegoas, que em Hefpanha contém doze milhas j & naó obftante tal altu-
ra, & tal fogo delia, & diftar fó ícte legoas delia a oucra II ha que chamao
Brava , fete annos efteve efta encuberta depois de defcuberta a outra de
tanto fogo , & altura } & affim dizem que excede efte Vulcano de fogo
ao furiofo das índias de Caftella , ao bravo da índia Oriental , & ao tre-
mendo de Sicilia, com todos ferem Etnas efpantofos.
'
59 Dallha de S. António fe diz conftar de oyto legoas pouco -D'* ^''^'« ^''5' ^«'*"
íilàis.ou menos j & do mefmo tamanho he a Ilha de S. Luzia i Scaífim »'<>,& dcS.Luz,ta,&
efta, como a Ilha Brava, 8c a do Sal, & a da Boa Vifta, faó dos herdeyros
^^/^^.^f ^f ^^!
de D. Martinho de Caftello Branco, diz o Doutor Fruítuofo mas que -,
^^/ ^g V*^ nejíat
a de S. António era de hum fidalgo de Évora Gonçalo de Soufa , genro jihai & dos. corvos
de Bernardino de Távora, Repofteyromòrj porém que a de S.Vicente brancos & homens ,

era do Conde de Portalegre , Mordomo mòr delRey. «egros defia* Ilhas,

60 Em algumas deftas Ilhas fahe âmbar , & muyto , como na


Ilha Brava, na de S. Luzia , na do Sal,& da Boa Viftaj & por eftas Ilhas
vinha a Portugal baftante ouro , por comraercio quC/^inhaó com Cabo
Verde j hoje porém vemjà tanto ouro das novas minas doriquiílimo
Brafil, que vindo a Portugal corre pelo mundo todo. Alh corvos bran-
cos ha neftas Ilhas, que parece furtarão a cor aos homês ; tem grande d i-
verfidade de aves j innumeraveis pombas , mas também lagartos verdes
que as comem j rolas muytas, & adens , & daó-íe as frudas quafi todas
de Portugal , & excellentiflima hortaliça , & toda a cafta de legumes,
grande copia de algodão , muytos , Sc ligeyriftímos cavallos , egoas, &
outras beftas de ferviço , & muy to , & bom pefcado em quafi todas as
Ilhas vacaria de numero exceftivo, & mayor numero de cabras.
;

61 E com tudo não fem fundamento ainda dura a mà fama dê


alo ferem íádias eftas Ilhas para os que vão para là de Portugalj porque
m
todas
éo Livro 11. Das Ilhas que chamaõ áe Cabo Verdes
trigo algum i nem nel^
todas eftaó debayxo da Zona tórrida , S<i naó daó
D* mào , & doentio j^^ chove mais que quatro mezes do anno , Junho ,
Julho , Agofto , &c
s^ptembro j em todo o mais tempo .nem de dia, nem de noy te , nem
cima dejhu Ilhas, a- &
fereno , que fap
r/^"'« 1X1 ainda de madrugada cahe orvalho algum, ou algum
^mqHAtro mtz.es do humedecer húa folha de papel deyxada fora ao ar &
na prmcipal Ilha
:

mm . nem aindaor- Santiago he tam


nocivo o pefcado , que caufa muyta eíqumencia, ca- &
valho.ou ftreno, ain- ^aras de fangue 3 ainda affim o bom Doutor Fruduolo , que confeíla
&
madrHgada,& que fuás
da de ^^^^ ifto,perfiíle em affirmar ferem muyto fádias eftas Ilhas,&
ate opeyxehemcivo,
^^ &
^^^ ^a intemperança no comer , proceder dos que lá vaÕi Sc
LZÍt:'e7^^^ y
ZrdeJs^fàpZi 6z Ocertoporèmhe,quepara os que vao de fora he o clima
naturaes de la > fquebcm
falllhadeSmtia^B. muyto oppofto , ainda que o naÓ leja para os
fe íabe quam regrados faó em tudo
os Padres da Companhia dej bb U í>,
tendo na Ilha Epifcopal de Santiago muytos annos
& hum Collegio,
hiaó , & eftavaõ , fem
experimentarão fer hú natural açougue dos que lá
poderem lá viver , & fem terem entrada a pregar na terra firme aos
bár-

baros de Cabo Verde , aonde iriaó dar a vida


pela Fé , como vão por to-

do o mundo j & affim fe refol vèraÓ a largar, como largàraÓ,Collegio tao


inútil para a falvaçaõ do próximo, &
tam nocivo ao mais que nem Bif-
,

00 ha achar, que queyra ir para lá , nem o exemplar Fruftuoío


perten-
Companhia: logo, &c.
deo tal para fi, nem para os feus Padres da
5/ Ifto he o que ingenere fe fabe deftas Ilhas de Cabo Verde.
;íí/w4«fí^«; c^/>«. Q^,çggjjt.esfoíremasprimcyras que as habitarão * fupponho naóforao
cheyas de
^^^ff^^ defcubridores Portuguezes , pois já as acháraÓ tam
meyrounventores,&

là levado, & creado, & deviaó fer vizinhos de


rfZle7ktZ' gados, que outros tinhaó juntaMourama,osprimeyros^povoadores das
^Zosdc c.^<,r.r- Cabo Verde i como da
eftas Ilhas a Coroa de
dt,mAfrica,<jHe at Canárias. Finalmente com que titulo pertençaõ
tiêô qHix.eraõ habi. portugal, do fobredito fe vè , que por ferem mandadas
defcubrir , & re-
f

ur ;fe£Hndosos Por- j^^ir, pelo noíTo Infante D. Henrique , & pelos feus Portuguezes, que
tHgmz.es, ^uenellas
^joucomaquellestresnaviosGenovezes, & navios que depois fo-
"^*"^"
fómente acharão ga- j -o . 1

do , & naõ crmmA raô fempre


de Portugal.
hKtnAna.

LIVRO
L I V R o m.
DAS
JEl^ AS DE P O R T o S AJSITO,
6c Madeyra^

C A P I T U filÔ" 1;

Dos primeyros defcuhridores , \ & povoadores do


Porto Santo,

ANTA hc a confufaõcom que os Hiftoríado*'


res deitasduas Ilhas contaó feus defcubridoresj
que atè o noflb douto Fru£tuofo em o feu liv.i^
cap. 27. começando com o defcubrimento da
Ilha do Porto Santo , falta logo no cap. 3. a tra-
tar do primeyro Capitão da Capitania do Fun-
chal da Ilha da Madeyraj & de hum feu antece-
dente defcubrimento trata tmocaf. 4. &: com a dita Madeyra continua
®ra o cap. 5 6. 7. e^ 8. 6c entaó no cap. 9. torna ao defcubrimento,
. &
po-
voação da Ilha do Porto Santo, & profeguindo o mefmo no cap. 10. no
1 1. fe diverte com os enredos de huns falfos profetas , &
profetifas j &:
do í:^/>.i 2. por diante continua com a Madeyra: pelo que,aflim para evi-
tarmos confufaô 5 como para obfervarmos a regra geral, de que , He pri-
meyro em direyto, quem no tempo he primeyro , trataremos logo da
Ilha do Porto Santo, pois todos confeííaój foy primeyro defcuberta , 6c
povoadajôc depois fefeguirá a hiftoria da Madeyra. '' " "'

2 Os primeyros defcuhridores da Ilha do Porto Santo , dizem


mu y tos, que foraó aquel^es Francezes , & Caftelhanos , que de Caílella
foraó á conquifta das Canárias , & que na ida , ou na volta deraõ com a
dita Ilha , & por a verem fem gente , 6c pequena , a deyxáraó i mas que
pela tormenta que paífáraó, 6c fe falváraó nella , lhe puzeraõ logo o no-
me de Porto Santo. Outros dizem que hum Caftelhanodosque tinhaó
ido ao defcubrimento das Canárias , fabendo dos intentos com que o In-
fante D. Henrique de Portugal queria defcubrir novas Ilhas no Ocea-
no llie viera dar noticias da Ilha do Porto Santo, 6c que pelos íinae»
,

deíleCaftelhano mandara entaó o dito Infante a Bartholomeu Peref-


trello, & a Joaã Gonçalves Zargo, 6c a TriftaQ Va? Teyxeyra, a defcu.
'
; . F briE
í|; Livro III. Das Ilhas de Porto Santo,&Madeyra.\ ^
brit a tal Ilha , ôc que cites três a defeubriraó.
i 3 Àccrefcentaó outros, que o Infante D. Henrique , vindo d©
cerco de Ceyta, deiejofo deaugmentar a Ordem Militar de Chriftoa
mandou por determinação fua deícubrir a coftade Africa , defde o já
defcuberto Cabo de Nam , atè o Cabo Bojador jfeíTenta legoas adiartre
do de Nam , donde nunca puderaõ paflar os exploradores & que vifto
-,

ifto, fe ofFerecèraô ao dito Infante dpus nobres, & esforçados Cavalley-


ros defuacafajjoaõ Gonçalves Zargdde alcunha, & Triftaó Vaz Tey-
xeyra, para ireni a defcubrir a dita cofta de Berbéria, ôc GÓinèj & que o
Infante lhes dera huma barca, (queaíiimchamavão cntaõ aos navios
pequenos , como ainda hoje na Índia Oriental a grandes nàps } com pr-.
dem que çhegaflem ao Cabo de Mojador , & delTe ao díjnte foíTem defi
cUbrindoo que achaífem: & que a eftes Cavalleyros deu tal tempefta-
de, antes de chegarem à cofta de Africa , Qunto à qual entaó fe navega-
M vaiomente} quefem faber aonde cftavaó,&: pelo navio ferpequeao
correrão grave periga de aíFundirfe , & invocando os Santos do Ceo , fe
lhes defcubrio huma iiovà Ilha j à qual poriíTo chámàraó Porto Santo,
& vendo-a , demarcando-a , & notando-a eftar totalmente deferta de
"
gente, févoltàraõ ao Infante com as ditas novas. .

4 LogofelheoíFerecèraõmuytospara a irem povoar, & entre


elles Ç diz o Doutor Fruftuofo ) htia peíToa notável , a faber , Bartholo-
meu rereftrello, fidalgo da caía de D. Joaó, Principe , irmaó dé noíTo
!l[nfante D. Henrique j & cfte mandou logo apreftar , & dar três navios,
hum ao dito Pereftrello, outro a Joaó Gonçalves Zargo, & outro a Tri-
ftáo Vaz Teyxeyra mas porque o fidalgo Pereftrello, entre o mais que
:

levava para efta povoação , levou também huma coelha , que parindo
npmar,foy lançada na Ilha com os filhos, & multiplicou tanto, que
naó fe plantava , ou femeava coufa , que os coelhos não roeííém de que;

' - ' defgoftado o Pereftrello fe voltou a Portugal , deyxando a João Gon-


çalves, & a Triftão Vaz na dita Ilha, como adiante veremos. »

5 O certo pois he, que ( dado fejão


veráadeyras as duas opi-
Ihsprimeyrosàefcu.^^^^^^^^^^i^ fuccedeíTem nosannos de 141 7. atè 1419.} o certo he
hridores Àa Ilha do 4"^ no anno de 1420. João Gonçalves Zargo , &
Triftão Vaz Teyxey-
fortoSAnto.^kefornò ra, da cafa do noíTo Infante D. Henrique, & por ordem delle fahiráo de
PortHgHez.es , & da Lagos a aflaltear as Canárias,
& que indo, &: voltando com grandes tor-
cahJa com ejue lhe de- mentas perdidos
, foráo dar em huma Ilha, & por nella fe falvarem , Ihe-
' " ^^^^'^àrão a Ilha do Porto Santo , & delia tornarão com taes novas ao
^slnt^^'
Infante D, Henrique , que alegre com tal defcubrimento defta primey-
ra Ilha de Porto Santo ,deo logo delia a Capitania a Bartholomcu Pc-'
reftrello,fidalgo da cafa do Infante D.João, irmão do dito Dom Henri--
qucj &: com o dito Pereftrello mandou também para a dirá Ilha os dous
primeyros defcubridores delia João Gonçalves, & Triftão Vaz, que em
hum navio chegarão de Lagos a Porto Santo era o anno de 142 1. 6c
nella efti verão dous annos, nos quaes andava o navio trazendo novas
[ i; da Ilha a Lagos, & levando mantimentos de Lagos à Ilha, atè que o Ca-
pitão Pereftrello , enfadado daquella quafi praga de coelhos , fe voltou
a Portugal, deyxando là os dous companheyros, & os mais que com ell©
tinhão idoj & que depois , como diremos , defcubrirão a Madeyra.
6 Efta

^p
CâpilLDoi defcubndores,& qualidades do Porto S. 6ff

6 Eíla pois parece a mais provável opinião dos defcubrido-»


res , & primeyros
povoadores da Ilha de Porto Santo porque ainda -,

que primeyro
fofle vifta , &
vifitada de Francezes , Caftelhanos que &
andavaó em demanda das Canárias, foy depois não fó vifta ,& vifitada^
mas defcuberta toda, 6c habitada por mandado do Infante D. Henrique,
&; pelos fobreditosPortuguezeSjfem que obfte a variedade fobrcdita,
pois com adivcríidade,&diftinçaõ dos tempos fc concordaõ asopi-
aiões diverfas.

C A P I T U L Ô ií.
Dojitio , qualidades , & povoações de Porto Santo,
7 Stá a Ilha de Porto Santo em quafi trinta
TJ três gràos de ai- &
„ , ^: -
^,
11
tura da parte do Norte , cento &
quarenta legoas de Lisboa,
Zt^S^tTla^
.1 2.da Madeyra,de terra a tcrra,& 20. de porto a portoj leu comprimen-
^^^ /^^^ ^g compri-
to corre dcNordcfte aSuduefte, por quai^ quatro legoas, fempre mento , &
le^oa &, &
&
com legoa, meya de largura , &: de circumferencia mais de oyto, com nif^^ áe largue a,&^
&
varias pontas , enfeadas. Quafi no mcyo da Ilha fe levanta hum pico, ^'fi^ i*^B'it ^. T^i
alto,& redondo & em íima com terreyro & cafas cm que cm tempo
, , ,
^'**

de guerras com Caftella fe recolhiaõ da Ilha, & poriíTo lhe chamão o


Pico do Caftello & na verdade tem fubida tam trabalhofa que os de
,
,

cima fe podem defender de todos os que de bayxo os quizerem acome-


ter j Sc comtudo he àroda todo cuberto de mato. Toda a mais Ilha hc
de terra bayxa, & chã , da que chamão Mafapèz , como a do Alem- Te-
jo j &: do Sul atè o Norte fe lavra quaíi toda , & com dar muyto paó de
trigo, dà muyta mais cevada , centeyo , correfpondendo a terra a hum
moyo de femeadura com feífenta de colhey ta. ^'rv**^
^ <^^ í^
^ifc^^^**--^
8 O
principal arvoredo defta Ilha he de zimbro , & urzes , &
de tantos, & tam grandes Dragoeyros , que do tronco de hum fazent
naó fó gamela que leva moyo de trigo , mas também barco que leva feisj,
& fete homens a pefcar. A's frudas deftes Dragoeyros chamaó Mafai-
nhas , que faô como avcllãs , doces, & amarcllas , & com ellas engordaó
os pojcosj & dos taes Dragoeyros fahe o fangue de Drago , tam celebre
nas boticas mas tantas barcas , gamelas , & rodelas fizeraó deftas arvo-
j

res, que hoje faô poucas j & geralmente he pouco o arvoredo da Ilha.

9 Do Oriente vindo pelo Sul para o Occidente, eftá hum por-


to chamado das Cagarias, por aver muy tas alli , onde fahe da terra húa
ribeyra de agua falgada j &: huma legoa adiante , em pequena enfeada, I>*»nieaFílÍidefiÀ
fahe de agua falgada outra ribeyra fendo que de longe vem, & de entre ^^^"^ comais de ^«4-
,

ferraSjScallichamaÕoporto dos Frades, porhuns que derrotados fo- 'LTl'' y^í^í''^'"'


raõ alli dar. Meyalegoa mais para o Occidente eftá, afaftadoda ferra
ZmcUmlTlurZ
outra mcya legoa , hum Ilhèo chamado dos Dragoeyros por ter muy- ter_pdo de
, algt!iQH^
tos, & miiy ta cabra, & coelhos,& comtudo em cima dous moyos de ter- trem haHtadn.
ra de femeadura & pouco mais adiante fe íegue hila bahia de área bran-
:

ca, & fem pedra alguma & no mcyo defta bahia eftà a Villa, cabeça de-
,

fta Ilha, da parte do Sul , com freguezia Matriz , da invocação de Saô

F ij Sal-
<4 Livro III. Das íUias de Porto Santo, & Madéyra.^ -í

Salvador. He fituada efta Vilia em terra chã & afailada do mar hum ti-
,

ro de béfta por amor da área , & tem mais


de quatrocentos vizmhos , &
Ermidas de S. Sebaftião, & S. Catharinaj&c & pelo
meyo da Villa cor-
re do Norte a Sul huma ribcy ra de agua tam
falgada como a do mar , &
cora ella regão as hortas, & a hortaliça deftas
he excellente no gofto , &:
ainda junto à cofta do mar correm muytas, &
muyto boas vinhas.
10 Três quartos de Icgoa para o Occidente , & da Ilha hum
tiro de béfta,eftá outro Ilhèo alto, ôc de
meyalegoa de comprido, que
fe chama o BoqueyraÕ pelo que entre elle , & a Ilha vay , & em cuiia
,

tem terra chá , com infinidade de coelhos de varias cores , & aqui acaba
mais pequenos a ro-
a Ilha pela parte do Suljôc tem outros vários Ilhèos
da, de que não ha que dizer, j V7it >t.^<o
11 Pela parte do Norte , legoa &
meya da Villa, fahe, cahe
t'
&
fobre a área hua grande fonte de muyta , &
boa agua doce , de que bebe
M i

a Villa , & por fer o caminho todo plano , &c a V41a


a leva facilmente ,

aindaque da meíma par-


naóter agua fenáo de poços, & pouca^ porque
te do Norte, meya legoa da Villa ao pè
de huma ferra chamada Fetey-
ra, eftà a Igreja de noíTa Senhora
&
da Graça, juntas a ella eftao três fon-
pouca, & não bafta para a Villaj^:
tes de doe?, & boa agua, he comtudo
legoa, nafcem douS
também deftà Villa para o Norte, hum fó quarto de
delia náo bebe a gente , mas em tan-
olhos de asua , mas por íer falobra ,
aroupa, com queíica a
que as beílasíb,&: em outros tanques felava
Villa bem íervida. He porém de advertir, que com fer tam falta de agua
ou ( ao menos } íalo^^
doce efta Ilha, & fer tam cortada de agua falgada ,
frefca , & de bons ares , ( & nenhu
bra, he comtudo não fó muyto fádia,
fertiliíTima de trigo , centeyo,
bicho nocivo nella avia ) mas também he
cevada , &/ o que mais he ) hortaliça & efpecialmente
,"
de cardos , de
que alporcados, & doces , davão por hum vintém hum facco;
perdizes,

eallinhas, pombas, rolas faó muytas & aindaque os coelhos parecem


& -,

fuftentâo ratos não ha fenao


praga, iá hoje o não faÓ , mas com elles fe :

pequenos , & grande nenhum fe acha mas


muyto gado vacum ove.
; ,

Ihal, cabras , & porcos


, boas egoas ,
bons cavallos & outras beftas de,

algús habitaííem efta Lha an-


ferviço ; & de habitadores fe não fabeque
fua ViUa tem alguns outros luga-
tes dos Portuguezesi de que além da ,

res, pofto qu?pequenos , como o


Farrobo , a Fétey ra , & outros feme-
Ihantes.

C A P I TU L O IIL

Dos Capitães Donatários da ilha de Porto Santo.


Dos PcyeJ. Oceano,
-XJ Imos jà como de todas as Ilhas que neftc foy
noíío
illfifires
12 ,
trellos CíipitTieí Do-
HAtarios da ^rir/ieyrA V defcubrirão, & povoarão os Portuguezes
Infante D. Henrique lhe dco logo por
pri-
a pr imey ra,

Jlha Porto Santo & a de Porto Santo, & como o


,

como com elícfe apa- meyro Capitão , & Donatário a Bartholomeu Pereftrello (
ou como o •,

rentarão oj Capitães cognominaÕ outros, Paleftrello) & com razão fe pôde repnrar, em
que
de Machico ^^& do
atai Ilha primeyro dcfcubcrta por aquelles
fendo
dous Heroes João
funchal.
Câp.III. Dos illuftf es Donatários de Porto Santo.
,

6f
Gonçalves Zarco , & Triftão Vaz Teyxeyra , a nenhum deftes conitu*
do o Sereniílimo Infante fez Donatário da ií ha^ mas ao Perefl:rello,com
quem mandou os dous a povoalla j & aiodaque alguns dirão , que o Pe-
reftrello também teria fido companheyro daqueilcs dous primey ros in-
ventores defta Ilha , por refolver fica ainda , porque mais ao Pereílrel-
Jo, do que a algum dos outros dous fe deo a líha. Do Doutor Fruduofo
parececollegirfe,queaPereftrcllofez o Infante primeyro Donatário
deita primey ra Ilha defcuberta , por denotar aílim, que Pereftrello era>
por feu fangue, & fuás obras, da primeyra fidalguia, & em o premio me-
recia fer primeyro ,& por íffo dcllediz o citado Hiftoriador, não fo-
mente ícr huma notável peíToa, nem fó fer fidalgo da cafa do Infante D*
Henrique, mas também da cafa do Sereniílimo infante D. Joaõ > que do
Infante D. Henrique era irmão.
13 Temos pois que opriíneyro Donatário , & da primeyra
Ilha defcuberta foy Bartholomeu Pcreftrello , por fer huma eftrella da
nobreza , ôc fidalguia , além de o merecer por fuás obras: & alTimcfta
Capitania Donatária lhe confirmou Eliiey Dom Joaó o I. & lha deo de
juro para feus filhos, & defcendentes por Imha direy ta, & mafculina.Era ^"s Furtados ; ^
efte primeyro Capitão cafado com Beatriz Furtada de Mendoça, (que ^'^etidoçAi daprimei-i
'^' Capiíoa
pemnobilillimas mulheres ufavaõ de Dom, ainda então, cem a facili- Ae Porto
S. &de fna.
defcenJt
dade que hoje mulheres muyto ordinárias: )defte matrimonio nafcè-
ráofó trcs filhas i a primeyra foy Catharina Furtada, que cafou com
Mem Rodriguez de Vafconcellos , do Caniífo da Ilha da Madeyra j a v?ndeoaIlha aoCa^
fegundàfoy Izeu Percftrella, que cafou com Pedro Corrêa Capitão da pitão Donatário da
Ilha da Graciofa> tcrcey ra filha foy Beatriz Furtada. Graciofa Fedro Cor-
rta, a quem a tirou a
14 Superviveo eíle primeyro Capitão áfua mulher primey-
legitimo herdejro Àa
ra, & cafou fegunda vez com Ifabcl Moniz , irmã de Garcia Moniz , & ~
"
Porto Santo ^
de D. Chriftováo Moniz, Bifpo de annel. Carmelita, & defta fegunda
mulher houve fó a Bartholomeu Pereftrello , fegundo do nome , que,
morto o pay, ficou ainda menino j & então a mãy, não querendo morar
mais no Porto Santo , houve alvará dclRey , & vendeo a Capitania ao
íobredito Pedro Corrêa fenhor da Graciofa , & genro do primeyro Pe-
reftrello , & lha vendeo , affim como o marido a pofluira por preço de
,
trezentos mil reis em dinheyro , & trinta mil reis de juro , cujo capital
todo ainda não chega a dous mil cruzados ( tanta era [a barateza da-
:

quelles tempos ,ou tam pouco nelles era o dinheyro.) Governou Pedro
Corrêa como fegundo Capitão Donatário, a Porto Santo , atè que feu
,

cunhado, fendo jà de idade, & vindo jà de Africa, de fervira ElRey,


poz demanda ao cunhado Pedro Corrêa , & fe julgou por nulla affim a
licença dclRey, como a venda fcy ta , & que fe defcontaíTc ao compra-
dor o preço que dera , pela renda que recebera.
15 Foy fegundo Capitão Donatário de Porto Santo ( por
nullamente o ter fido Pedro Corrêa) Bartholomeu Pcreftrello , fegun-
do do nome , & ElRey o confirmou na cafa, como tinha confirmado a,
feu pay & cafou com Guimar Teyxeyra , filha do primeyro Capitão
;

de Machico em a Madeyra , Triftaó Vaz Teyxeyra , & houve delia hil


ló filho , Bartholomeu Pereftrello , terceyro do nome , que cafou com
Aldonfa Delgada, filha de Garcia Rodriguez da Camerai porém co^;
F iij mQ
66 Livro III. Dos Ilhas de Porto Santo, &Madeyra.

mo o marido matou cfta fua mulher & com dilpenfâ cafou com fua prí«
,

ma D. Solanda irmã do dito Capitão


, de Machico j & da primeyra lh«
tinha ficado hum filho, foy cfte.
16 O tercey ro Capitão de Porto Santo , chamado Garcia Pe-
reftreiío além do qual teve o pay da dita fua fegunda mulher os filhos
j

fcguintes: o primeyro, Manoel Pereftrello, que nunca cafou , & foy va-
lão de grandes virtudes 5 fegundo,Hierony mo Pereftrello , que cafou
com D. Elvira, irmã de Chriftovaò Martins de Grinaó, & de alcunha o
Perui terceyro,D. FrancifcaPereftrella, mulhei: dejoaò Rodrigucz
CalaíTa no mefmo Porto Santo > & todos eftes filhos da fegunda mulher
foraó, empena do pay ter dado a morte à primeyra mulher, forão no
livrameWdopayjulgadosporbaftardos,&foy acafaao primeyro fi-
lho Garcia Pereftrello,que cafou com hua filha de Diogo Taveyra, Def-
cmbargador , & Corregedor do Funchal ,& delia houve primeyro,
Diogo Soares Fereftrelioi fegundoi Ambrofio Pereftrello, que foy Fra-
de Carmelita; terceyro, & quarto, duas filhas, que forão Freyras na An-
mmciada de Lisboa. Mas como efte Garcia Pereftrello (feguindo a feu
pay) matou também fua própria mulher , & foy degollado por fenten-
$a,&:por diligencias do Defembargador feu fogro , ainda em vida do
pay, que morreo cm Aljezur do Algarve com féíTenta annos deidade,
^ vinte &
três do governo da Ilha, tornarão os filhos de D. Solanda a
pertender a caía de Porto Santo , fazendo-fe julgar cm Roma por legi-
times filhos i porém cegando o mais velho , & falecendo o mais moço,
ceifou a demanda, ^ o Deíembargador confcguio dellley a ca A de Por-
to Santo para o neto Diogo Soares Pereftrello, quejáeftavadepoflc
delia.
17 Quarto Capitão Diogo Soares Pereftrello cafou com D.
fc' mo le cm^rvoH *.*
joa^na de Caftro , mullier muyto principal do mefmo Porto Santo , ôc
'í^omefi'conf€rv0H
lelríiL defrende». àãhttvc OS filhos fcguintcs : primcyro, Diogo Pereftrello j fegundo,
cta doí Ptreftrellos, Manoel Soarcs, que cafou com D. Maria
Loba; terceyro, André Soares;
draindaje conferva & ertí quarto lugar teve a D. Joanna de Caftro, que cafou no CaniíTo da
m Porto Sántt, & Hha da Madeyra;& morto efte quarto Capitão Diogo Soares Peref-
""'"' '"""
mAk llhiu. trcUo , lhe fuccedeo na caía feu primeyro filho Diogo Pereftrello , fe-
gundodonome.
1 Defte quinto Capitão Diogo Pereftrello , fegundo do no-
me , diz o Doutor Fru^nofo que cm feu tempo governava , & era bom
Capitão , brando , &
de boas partes , Ôc artes , &
cafado na Calheta da
Madeyra ;& que cafára com D. Maria , filha de Gafpar Homem , fidaU
go, morador na dita Villa da Calheta, aonde o dito Capitão feu genro
refidia o mais do tempo , por a mulher naõ querer refidir no
Porro San-
to ; porém que todos os annos , no veraõ , hia efte quinto Capitão refi-

dir na fua Ilha, &


valerofamente a defendia dos Coflarios Francezcs,
pondo-fe na praya, ( que tem quafi três legoas de areal ) ^ impedindo-
Ihes a entrada, até de dentro de covas fey tas na arca, &
com tal valor,
que nunca , eftando efte Capitão na Ilha, foy cila tomada de Francezcs,
tendo fido três vezes faqueada , quando tal Capitão eftava aufente.
19 Finalmente foy efta Ilha de Porto Santo , naõ fó defcubcr-
ta pelos Portuguezesjfem ter fido antes povoada de alguém outrem >

^-i
Cap«lV.Doprím.defcubrím.ííaiam.ofaIlhidaMadeyra, 6^
Si naó fó povoada pela mayor nobreza de feus illuftres Capitães Pcref- . _ l_. .
"^,
'>***'^^
trellos , cuja defcendencia ainda hoje dura j mas ainda os mais povoado^- P*
^ ^cítfTs"
rcs nem foraó de delinquentes de cadeas , nem de degradados por feus j^^^ pj^^^ samo.
crimes, nem de Judeos ,ou infeda outra nação, fenaó de Portuguezeí "

limpos, & nobres, pois (como diz o citado Fruâiuoíb) foy povoada
cfta lljia de gente fidalga, & nobre , como Pereftrellos , CalaíTas , Pina%
Vafconcellos , Mendes , Vieyras , Caftros , Nunes , Peftanas , & que fc
aparentarão logo com a míclhor nobreza das outras Ilhas , como vcrc- _
mos.

CAPITULO IV.

Doprimeyro cafual, & foparcialdefcnhrimento da cek'


berrima ílhada Madeyra»

20 REynando em Portugal D. Joaó ol, &: ainda cm f Inglatet^


ra D. Duarte III. do nome , havia nella hum nobre CavaL-
leyro Inglez de alcunha chamado o Machim , que querendo cafar com ^"fyif^&rè í
'é' ca*

húa nobre Dama Anna Arfet, & naõ querendo defta os parentes , fe re^-^^^^^*/'''^'"' '^'^
Xolvèrâo ambos a paflar a França , que tinha guerras cntaó com Ingla- indel^Mlcll^ a
terraj & com tal prefla o fizeraó , que embarcando-fe em hum navio que quem tomou o mmé
partia de Briftol , nem efperando pelo Piloto, fe entregarão ao maneis- a Capitania Dona*
que fobrevindo-lhe huma forte tcmpeftade ,& não tendo i^iloto que otária «ieMaehieo^
governaíTe, perdidos por alguns dias , forão , femfaber por onde hiaó,
dar em híía ponta de terra , & em huma f refca ribcyra , que alli da terra
fahia ao mar j o que vendo a Dama Arfet , pedio ao leu Machim que ao
menos por dous dias a defembarcaíTe alli , para fe defenjoar i &
aílim o
fez Machim com outros fieis amigos que o acompanhavão $ mas na ter-
ceyra noy te tornou tal tempeftàde, que o navio defappareceo,& os que
jfícáraõ em terra fe deraõ por mais perdidos do que o navio no mar; & à
,

Dama Arfet deo tal accidente ^ quefem dizer mais palavra algua , den-
tro de três dias expirou.
21 VendoMachimtalfucceíTojcnterroualli mefmoadefim«
ta, & pondo-lhe de pedra huma campa em cima, & hum Crucifixo que
comfigo trouxera a defunta , levantou mais fobre ella húa grande Cruz
de pào, com hum letreyro em latim, que continha o fiicceííb , & pedia
aos Chriftãos que em alguma hora alli foífem , fizeííem era aquelle lu-' ,

gar húa Igreja da invocação de Chrifto Senhor noflbv& voltando-fe lo-


go aos companheyros , lhes rogou inftantemente , que cora as roupas,SÊ
peças que alli eftavaô , & aves que podião tomar , fe foílem feguindo a
ventura , que elle alli ficaria atè morrer , acom panhando aquella fepul-
tiira mas não querendo deyxallo os amigos fideliílimos , & ficando-fc'
;

com elle , foy tal o fentimento de Machim , que de pura dor da morte
de tal efpofa , morreo ao quinto dia ; o que vendo os companheyros lhe
abrirão fepultura junto à da defunta, &cnterrando-o nella, lhe puzc"»
ráo em cima outra grande Cruz de pào , & nella cfcrevèrão o fira do laf-
íiraofo fucceíTo. ... _ -

i2 Exg*í.
p% [Livro III. Dafamofa ílhadaMadcyrâ.^
22 Executada cfta obra de tanta piedade , fe refolvèraô entaô
os pafmados companheyros de Machim adçyxarem a terra, quevíao
brava, & deferta, & fe entregarem ao marj & com cíFey to em o batel que
tinha ficado do navioi ou ( como dizem outros ) em huraa canoa que fi-
zeraó do tronco de huma grande arvore ,fe mettèraó todos , & deyxanp-
do a Ilha, foraõ em poucos dias dar na cofta de Berbéria , aonde , lendo
cativos , foraõ todos levados a Marrocos eis-que achàraóalli todos a-
:

^uelles primeyros companheyros , que com a tempcftade tmhaó no na-


vio deyxado a Ilha , &
pelo mefmo ^rumo do batel tinhâo entrado na
mefma Berbéria, &
levados cativos àquella mefma Corte de Marro-
cos :& vcndo-fe todosjuntos,&de húâ, &
outra parte referindo-fe os
íucceíTos , reparemos como aqui fe ajuntou com o cativeyro a liberdade.
23 Prefentefe achou àreprefentaçaó deíla tragedia hum Pi-
loto Caítelhano 5 &
também alli cativo, por nome Joaó de Amores,
(em os quacs a tragedia começara ) & informando-fe com toda a atten-

^ çaõ dos ventos que trouxeraó com a primeyra tempeftade de Briftol de


Inglaterra á nova Ilha, &
os dias que gaftàraó atè dar nella , fez concey-
to prudente , & curiofo da altura em que devia eftar a Ilha , & comfigo
eonfervou efte fegredo , atè que refgatado efte Piloto , &
navegando ja
de Berbéria para a fua Gaftella, & Andaluzia , que entam com Portugaí
nadava em guerras, foy cativado no mar por hum navio Portuguez, cu-
io Capitão era Joaõ Gonçalves Zarco , que andava correndo a cofta do
aioffo Reyno do Algar vej &
querendo o Piloto ganhar a grr.ça do Capi-
tão , lhe communicou tudo quanto tinha alcançado da nova liba , èc co-
jno fe podia defcubrir , &
povoar j &
em ouvindo iíto o Capitão , vol-
tou logo com o Piloto a terra, Sc o levou ao noíTo Infante Dom Henri-
que ,& remettendo-os efte do Algarve a Lisboa a fcu pay EiRey Dom
joaó ol. vcyo logo também o mefmo Infante, & confeguio do pay dar,
como deo, logo hum navio a Joaõ Gonçalves Zarco , &
ordem que
com o tal Piloto foíTe logo defcubrir a nova Ilha ; & com eífeyto parci-
ráodo Algarveem a entrada de Junhodei4i9. &forãodarna Ilhad©
Porto Santo, que jà antes fe tinha defcuberta,& a governava feu primey-
ro Donatário Bartholomeu Pereftrello , como já diífemos.

C A P I T tJ L O V.

Do dejcuhr mento de toda a Ilha daMadeyra,feyíopor


ordem do Infante D. Henrique.

24 f^ gantes
Uarldó chegou a Porto Santo, jà entre os nave-
efte navio

V^ era fama publica que do Porto Santo fe via a pou-


cas legoas hum negrume tal, & tam medonho, & perpetuo, que nin-
guém fe atrevia a chegar a elle,& todos os mareantes fe afaftavaó dallii
& huns diziaõ eftar alli o abifmo & outros a boca do Inferno & quea-
, ,

quelje negrume era o fumo da fornalha infernal, &c. & como o Capitão
Joaõ Gonçalves, & o Piloto Caftelhanoefta vão no Porto Santo obfer-
yando tudo ifto, & viraó que nem nos Quarteyròes das Luas fe desfazia
oiie-

T^
Câp^V. Do íegundadefcubrimento datai Ilha. %
é ne<n-ume cipantofo, nem fe atreviaó a ir examinalio j atè que por voto
do Piloco j com que concordava o Capitaó íoraentej fahirào de Porto
Santo em hum navio com alguns barcos , três horas anteâ de fahir o So3»
& já junto ao meyp dia chegaram àquella medonha efduridade , que
delia à
cada vez lhes parecia tanto mais horrenda, quanto mais perto
obfervavãp5&: fem diftingairem ainda terra, mas fomente ouvindo
hop
rendos eftouros , & roncos do mar , com que todos bradavão ao Capi*
táo , & Piloto fe voltaffem., & náo fe metteílem em tam
mortal abif-
mo. .
n. •
j
25 &
Porém o animofo Capitão , feu Piloto inveftmdo ^^^^i-' segundo defcubrimí^
1

k efcuridão , lanharão feus bateis fora, &nelles a hum António Gago,íí» âa Madeyra por
rvarão nobre, dos Gagos do Algarve) &a Gonçalo Ayres,feu,amigoi foaõ Gõçalvti oZar-.
com ordem que foffem rebocando o navio junto àquelle nevocyro,&: por ^«*
'^',<^<^

J^^^^" '^J
^Í^Mtí'^
ondeouviíTem mais bater omariêc apoucoefpaço andado viram poí'"*,"^^"^-*
entre a névoa huns altos picos, fem diftmguirem ainda que era terra èc -,

logo mais adiante virão o mar mais claro , &huma ponta de terra , fem
ainda crerem que o era i & porque o navio fe chamava S Lourenço , en-»
.

tão o Capitão bradoUj(Oh S.Lourenço chega) Scaefta entam íícou por


nome , Aponta de Saó Lourenço j & paíTando efta para a banda do Sul,
&
onde jà a névoa não defcia tanto ao mar, virão, conhecerão a terra,le-s,
vantando altos gritos de alegria j &: vendo huma feguinte praya , fermo?
fa, &efpaçofa , alli lançarão ferro com folias , & cantares , & por fer jà
tarde fizerãoallinoyte,lem alguém fahir a terra. .:..-.-;;

26 Ao amanhecer do outro dia foy ao batel hú Ruí Paes com


ordem do Capitão João Gonçalves, que obfervaíTe o fitio , difpoíi- & 1

ção da terra , & lhe trouxeíTe as novas do que achaíTe > & efte Ruí Paes
foy oprimeyro Portuguez , que na Ilha da Madeyra poz o pè indo :

pois , & não podendo defembarcar na praya , pelo arvoredo que atè o
mar chegava,&: pàos que humagrande ribeyraalli trazia, foy o Paes pa-
ra o Nafcente defembarcar em huns calhàos , poílo a que chamão amda
hoje o defembareadouro , & aonde os Inglezes tinhão delembarcado
de antes , & vendo fer a terra imiy to agradável com vários prados , &
grandes arvoredos, & obfervando alguns cortados,&: raílo de gente por
entre elles , foy dar nas fepulturas , Cruzes , & letreyros dos falecidos
A nna , 6c feu Machim i & com eftas novas fe tornou ao Capitão , & feu
navio.
27 Então a dous de Julho de 1419. defembarcou do navio o Defcobre-feallhadA
Capitão Zarco, & com elledous Sacerdotes, & alguns dos nohrQS ({WC Madsjra em z. de
vinhão, & defembarcados todos no lugar das fepulturas ,derão as gra- 7'^^^'' á* 1419.
&
ças aDeospor lhes defcubrir aquella nova terra & fazendo ^^^^^^
JfJZÍ[27Z. ^
agua, na terra a forão lançando, &- tomando poíle delia em nome do
•'

'

&
mefmo Deos 5 achando húa cafa formada dentro do grande tronco de ^

huma arvore , alli prepararão altar, fizerão celebrar Miíla,& noíim


delia refponfo de defuntos fobre as duas fepulturas de AnnaArfet, &
Machimj & tudo em o dia da Vifitação de S. Ifabel a dous de Julho &; -,

ileílcmefmo lugar fe fundou depois huma Igreja a Chriíto dedicada &: ;

entrando logo alguns pelo arvoredo , & ribeyra acima , a ver fe encon-
trav ão algus bichps„oii animaes ferozes 3 não acharão ^oufa viva , fenão
\ muytasj

!r
?é Livro III. Ef a famofa Ilha da Madeyrar

&
muytasj muy diverfas aves que fe lhes vinhaó ás mãos o que veftdo,'
-,

colherão aves, &lenha, &terra de vários poftos , com outros vários íi-^
naes, & em as barcas fe voltarão ao navio»
28 &
Logo ao outro dia três de Julho, o Capitão , Piloto Ca-
ftelhano fe mettèraó em hum batel,& outros nobres em outro, a que go-*
&
vernava hum Álvaro AíFonfo, aííim foraó correndo a cofta junto a el-
la, & obfervando as pontas, prayas, ribeyras , & fontes de boas aguas j ôc
porque húa fahia de hum feyxo, fe lhe poz por nome Porto do Seyxo^
& porque emoutrapraya mais abayxo achàraó huns pàos derrubados
&
com o vento , mandou o Capitão fazer delles húa Cruz , arvoralla al-
limefmo, & ficou ao tal lugar por nomie Santa Cruz , que foy depois
nobre Villada Capitania de Machico. Chegando mais abayxo a huma
grande, &
alta ponta, que a terra allifaz ao mar, virão innumeraveis
aves que fe lhes vinhaó pòr fobre as cabeças , & remos , que por nome
lhe ficou Ponta do Garajaó , três para quatro legoas de Machico para o
Occidente. Defta ponta duas legoas adiante, fc vè outra ponta, que com
a. primeyra faz enfeada , muy to aprazivel , raza com o mar , &
de arvo-
redo muy to uniforme , fobre o qual fe deyxavaõ ver os cedros entaó al-
tiflímos. Logo entre as duas pontas acharão hua ribeyra, &lhe chama-
rão a ribeyra de Gonçalo Ayres, por nella defembarcar efte nobre ho-
mcmi ir ver fe achava animaes ferozes , & fó aves achar.
&
29 Repararão logo em hum vallc , que faz aquella bahia entre
as duas pontas, &porque o virão cuberto de feyxos fem arvoredo al-
&
gum , cheyo fó de funchos , por entre elles vindo três ribeyras , cha-
marão a efte pofto o Funchal , que depois foy , &
hoje he a nobre Cida-
de defta Ilha} no cabo da qual eftão dous llhèos onde paíTáraó a noy-
te,( com as aves que tomavaõ ) mas dormindo nos bateis pela manhã :

paíTáraó á fegunda ponta que tinhaó obfervado,& por arvorarem nella


huma Cruz , lhe ficou por nome Aponta da Cruz j & logo dobrando a
ponta deraó com huma fermofa praya, &: lhe chamarão a praya fermofa.
Mais adiante viraó entrar no mar huma grande ribeyra , a qual queren-
a vào huns mancebos de Lagos , delia fora© tam arrebatados,
do paíTar
CámeVk àe Lohês, que fe lhes naó acudira o batel , perigariaó nella , &
por iíTo lhe chama-
principio do appeãido rão a ribeyra dos Accorridos , &
paffando-a viraó duas pontas, queda
de Cameroi , cotifir Ilha entravaó em o mar , &
entre ellas huma grande lapa , ou camera de
mado por ElRey D. pedra , &
rocha viva , onde entrando os bateis , tantos lobos marinhos
foaõol. que tomou &
viraó nella , que lhe chamarão Camera de lobos , fe recrearão matan-
logo por fidalgo defita
cafa ao defcnhridor
do a muy tosjôc atè o Capitaójoaó Gonçalves Zarco,daqui tomou o cha-
^«aõGoçalves daCa- marfe Joaó Gonçalves daCamera ; como abayxo veremosi & porque lo-
mera^ & o fez. Capi- go fe leguio a ponta donde tinhaó começado efta voíra, que deraó pela
tão Donatário daCa- cofta a toda a Ilha por iflb à ponta chamarão Ponta do Giraó & defta ,
,
^itmiA do\Fftnthal. com a noyte fe recolherão ao Ilhèo donde tinhaó começado aquella

volta,& em a manhã fe recolherão todos ao feu navio.


30 Voltados logo em o outro dia para Portugal j & chegados-
a Lisboa &
com taes novas, finaes da nova Ilha, tanto o feftejàrão os Se-
reniíTi mos Senhores Reyjôc noíTo Infante, pay,& filho, que mandarão
fazer logo prociífoés publicas de acção de graças a Deos , derão nome à
nova terra de Ilha da Madeyra , pelamuyta de que eftava cuberta Sci ;

ElRey
Cap, VI. Dq terceyro defcubrim. 8í repartição d^ Ilha, ;?t'

ElRef tomou por fidalgo da fua defeubridorjoaô Gonçalves^


cala ao
& lhe coníirmou o appellido de Joaó Gonçalves da Gamera , & lhe deo
por armas hum Efcudo em campo verde , & nelle húa torre de home-
nagem , cora huma Gruz de ouro, & dous lobos marinhos encoftados á
tcJltre com paquife, & folhagens vermelhas , & verdes, & por timbre ou-

tro lobo marinho , aíTentado em cima do paquife j & demais lhe fe<z El-
Rey mercê deGapitaó Donatário da jurifdicção do Funchal, quehe
juriídicçaó de metade da dita Ilha,& de juro,Sç herdade para elle,ôc feus
íucceflbres & aflim cfte ditofo Gapitaõ ficou fendo o chefe , &: primey-
:

ro tronco das illuftres familias dos Gameras , tara cxtendidas , & aug-
raentadas , como adiante veremos. \
yv
31
:
Logonoannofeguinte,emMàyodei42ô.deraõ os ditos ' _. '

Princípes ainteyra Gapitanía da Ilha de Porto Santo a Bartholomeu^'/""'"''^^^'^^^^


Pereftrello , que já de antes era fidalgo da cafa do noífo Infante D. Hen- "^'^^ "^
'^J
%'
riquej &
a fegunda Gapitanía Donatária da Madeyra , também de juro,
'.^hlcTaTM f^í
& herdade , &: chamada de Machico j como a outra do Funchal , cada Teyxeyra, tendo ja
buma de meya Ilha da Madeyra , deraõ os mefmos Príncipes QlT n^2.o dado ade Porto S.aa
Vaz Teyxeyra , Gavalleyroda cafa do Infante, Sc por antonomafia ch^i-fida-go Pereftrello ^&
mado commummente o Triftão, de cuja illuftre afcendencia,&- defcen- ** """^^ *^ "'^''^
''."•'

dencia em feu lugar trataremos j Sc aos três Gapitáes fe derão três na- ^^^^« «««'^"'f^*
viosi &
dos hiftoriadores , huns difcorrem, que os dous vinhaó àth2iyyío%'^^J}^^^^ >

dabandeyra de Joaó Gonçalves da Gamera j outros que cada hum dos to Santo
, Pereflrell»
três vinha cxempto do outro , como exemptos vinhaó nas Gapitanias, >/?o/Am a gente
^»«
& jurifdicçóesj& aífim cada hiftoriador falia conforme a fua aíFeyçaóifo-/<"'»^ em ajtta Ilha»!
bre o que fe podem ver Joaó de Barros no principio da primeyra De- '

cada, António Galvaó no tratado dos defcubrimentos.


52 O
certo he que ElRey deo ampla licença a toda a pcíToa
q
quizeíTe embarcarfe entam , & ir povoar as duas Ilhas , de. Porto Santo,
& Madeyra, & efpecialmente aos homiziados, & condemnados que
houvcíTe em as cadeas do Reyno j & que os trcs Capitães naó quizeraó
levar culpado algum por caufa da Fé Divina , ou de trayçaó , ou de la-
droicci & demais levàraó diverfas caftas de animaes donaefticos , &
ga-
dos. E também he certo que todos foraó dar direy tamente na Ilha de
Porto Santo , da banda de Leite , & em hum porto , chamado o Porto
dos Frades, por hús Francifcanos derrotados terem ido alli darj &: def-
embarcando os trcs navios , o Gapitaó Pereftrello efcolheo de gentes,
&; animaes os que quiz , & os mais com os outros Gapitáes fe paíTáraó
brevemente à Madeyra. Eemfim he certo que oGapitáo do Funchal
Joaó Gonçalves da Gamera levava comíigo jà fua mulher Gonftança
Rodriguez de Almcyda, &: tres filhos delia, ainda menores
, João Gon-
çalves, Helena, & Beatriz.

CAP.
-
- /
^ - -

^ Livro in Da famofa Ilha da Madeyra.


.

CA PI T U L O VI.

'

1)0 Urceyro dejcuhnmento do interior da Ilha da Madeyrgl


'
- & da divifaõ das júri/dicções das fuás Capitanía^^
eJ^ecialmentedadoFumhaL

Eyxâdòol)onátario Baftholomeu PereftrcUo nafua Ca-


,

doiis Donatários par*


^
-giifc _, _ pitanía de Porto Santo , partirão os
'

a Madeyrrr& a entrarão pelo porto de Machim , donde tomou o no*


Torttãhdo antros os me efta Capitania de Machico j & logo ambos levantarão (
conforme a
t)onatanos da Ma- petição do Inglez alli fepultado ) a Igreja da invocação de Chrifto , fi^
dtjra a entrar nella cando a Capella mòr fobre a fepultura do Machim > & porque a pri-
for Machico Je /í- j^evra MííTa que nella fe celebrou, foy no dia da Viíitaçaó de Santa Iía'
,

9iaMadeyra,& a ca- que houve era toda a Ilha i aqui poz o Capitaó Tnitao Vaz a cabeça,
&
heça da Capitania de ou corte de fua Capitaniaj como ooutro Capitão Joaó Gonçalves a poS
Machico , & o outro em O Funchal, para ondefe foy logo. :-

Domtano Camera ^^ Chegando efte Capitaó ao Funchal , fez levantar huma


fox.afHa»oFmchal, ^
ao Nafcimenco da Virgem Senhora ,& por aver alli muytoca-
^fepafo^para ella,
^^^^-^^^^ ^^ ^^^^ j^^ g^^^^ ^ titulo de noíTa Senhora do Calhao j mas
porque daUi para dentro da Ilha era tanto ,& tam alto o ar voredo , que
'Vofego queoCapi- nem podia cortarfe , nem porelle abrirfe caminho , mandou o Capitão
ta~odoFmçhalpox.ao
^^^i^^ ^ fogo, que achando tanta matéria, &
tam difpofta , fe ateou ta6
no valle o fogo , naó fà
CaiuZ JeQu bravamente ,quefet e annos contmuo s_ardeo delias em infinita &
mnos ardei &foy de pelas arvores de cima^ &
muyto mais por bayxo , ca-

tantaperda\qHe nem hida, &


fecca lenha , mas também por bayxo da mefma terra andava la«
para os Engenhos de vrando cruelfogo pelos fubterraneos troncos fem fe poder apagar, 6c
ajfucar tem ià ma- tal foy aqueíle incêndio que as gentes por lhe efcaparem , fe tornavao
,
dejra hafiante.^
^^ ^^^^^ ^^^^ ^ ^^^^ ^ falvarfe em os naviosj atè que amaynando o fogo
na toíla mais junta ao mar , fez jfegunda morada o Capitão em humal-
tç> que ficava fobre o Funchal, & para defefa defta fegunda
cafa fundou

defronte delia huma Igreja à Concey çaó da Senhora, que a refpeyto de


outra fechamou nolfa Senhora de Cima i &: nefta fundou depois ofe-
gundo Capitão Joaó Gonçalves também hum Convento de Freyras
Francifcanas, & da Obfervancia , tam magnifico , illuftre i & obfervan-
tej como qualquer dos grandes de Portugal.
Aprimeyra CapitoaConftança Rodríguez deAlmeyda,
35
como pêíToade grande virtude , muyto devota & , fundou ,
nas cafas

que fiu marido o primeyro Capitão levantara para fi, fundoU hila Igre-

ja áglorioía Virgem, & Martyr Santa Catharina,& junto aefta Igreja


muycas outras cafas para viverem pobres merceeyras jqueferviíTem à
dita Igreja de Sanca Catharina &; lhes deyxou efmola competente a feii
,

fuftento; 8c o Capitão feu marido aos Frades de S. Franciíco , que com-


íigo trouxe, & aos que achou derrotados, & com elle vieraõde Porto
Santo, fundot^i-lhes hum Hofpicio , & huma Igreja de S. JoaÕ Bapriíl^
pela ribcyra acima mas depois fe mudàraó eftes Frades para dentro da
;

Villa, aonde hoje eftaõ defronte de Santa Catharina alem da ribeyra, &
fac
•Cap. VI Das
. duiát!fapkáliáí&(là%lilhi;. 7%
he já hum graviífimo Convento de cincoenta Frades , &
de grande obí
jfervancia, exemplo, &
muytas letras.
96 EltCcy,& o noffo Infante Dom Henrique tinhaó cada mez
avifoda felicidade , abundância ,& frefcura deita Ilha da Madeyra , 6c
lhe mandavaô navios com toda a cafta de gados, & animaes domefticos,
& fementes dos frutos neceflarios , &
tudo frutificava tanto que de cada
alqueyre de trigo femeado colhiaó ao menos feffenta j & as vacas , ma-
mando ainda , já pariaó.E o Infante fabendo das muytas aguas, ôc ribey-
rasque avia na dita Ilha, providentiíHmamente mand^ubuícara^Si^
lia^antas de canas deaílucar , 8c Mcftres de o fazerem , para o mandar - j it»
.

lazer nalfliai & tal eíFey tõtève , &


com tal fucccíTo^ queo aíTucar da ^'J'//"^
* S«
Madeyra he o melhor que fe fabe haver no mundo , & tem enriquecido \^'y.jig suitia^&p^^"
a muy tos mercadores , alTim forafteyros j como naturaes d^lVtia.: cuja. tott em aAíadeyra,s',
ijiadcyra era tanta , tam grande, & tam boa, & toda ferrada com enge- ond«fe det o metíxtt^
nhosdeagua,efpecialmente da parte do Norte defta Ilha , que à^^oL^^Stict^r do mundo: &
madeyra le começarão em Portugal afazer navios grandes , de gávea, ^'^ àivifao da Ilha á
& caftcllo de avante , naó avendo de antes mais que Caravelas do Al- '^^"/^'^^ f»tr«A
a T, T-' --i^-j v 1*-^ dons Don*taríO»
garve,& Barmeys em Lisooa , pois nao tinhao ainda então para onde ^^n^ atè íe apartarê
navegar mais & aílim parece fe confirma o erro d e fe lançar fogo em g cada hum aíua Cém
:

jprincigio a tanta madeyra^ que podia trazerfc a Portugal, &


efcufar ef- pitaniá.
te de a mandar vir de outros Reynos para fazer lá navios grandes^ & atè
na dita Ilha fe fente jà falta de madeyra, pela muyta que fe galla nos En-
'

genhos do aífucarjôc por iíTo atè dcftes haja menos.


37 PaíTados os primeyros dias, cm que cada Capitão fcaccõ*
xnodou na cabeça de fua Capitania , ambos entaõ fe ajuntarão para cor«
rçrem a Ilha, & repartirem igualmente ( conforme a ordem expreífa do
Infante} os termos da jurifdicçáo de cada hum: para ifto prepararão
gente de pè, & de eavallo, para por terra irem abrindo caminhos eftrey*
tos Jornas fempre perto do mar & barcos que junto à coita fempre hiao*
-,

pára que , quando foffe neceflario , a ellcs fe rccolhcflcm os Capitães.


Do Funchal pois partirão poir terra os Capitães com os de pè , ôc de ca-
vayo ç,
&chegando a hum alto que cftá fobre Camera de Lobos , traçou
logo alli o Capitão do Funchal húa Igreja dedicada ao Efpirito Santo,
& outra era humas altas ferras mais abayxo , com a invocação da Santa
CruZi & tomou eftes altos para fi j 3c feus herdeyros. E logo rnettcndo-
fe os Capitães em os bateis , forão adiante pela cofta domar , &
a mai»
gente por terra } mas eftes com perigos a cada paíTo, por fer a Ilha daqui
para bayxo muy to fragofa, de rochas altas, proflindas ribeyras, 6c afper-
ríraos caminhos }& fó depois de muy tos dias paíTárãotres légoas adi-
ante atè huma furiofa ribeyra , aonde os Capitães cm terra , & os bateis
V
na agua os eftavâo efpcrando , &
aqui ficou o nome de Ribeyra Brava,
que he hoje hum dos melhores lugares dallha,& he húa quafi quiutadã
Cidade , como dizem fer Sicilia de Itália. NJÇiSRÍ íitV»'^.- íAl.

3 Aqui fe tornarão os Capitães â mctter em os bateis , in* &


do huma legoa adiante viraó huma ponta de terra que entrava muyto
.tA^is t.;»^
no mar , & nos vieyros de fua alta rocha figurava ao longe hum Sol , & a >

Ponta do Sol a intitularão j Sc o Capitão do Funchal traçou logo aqui;


Jtiefmo híía Villajque foy a primeyra de fua jiirifdicçaQjSc fc íuiiúovLáèH
B*

74 Livf ô flir Da fíáíô&Ilha (la Mãííef nâ.

pois & nefte porto cftá hatíia tam grande fazenda


^ ,
que o dito jGapí»
taõ a tomou para feus filhos & hoje nenhum a tem
, j por fe dividir., 8í

^i.<- vender , fendo que houvèanno ,em que deo vmtexaiLangbas de aíTu-
c4^ú^
<^^yv^\ jcarj & chama-fe a Lombada. Pouco adiante ^ em huma ladeyra , traçou
p Capitão do Funchal huma Igreja do Apoílolo Santiago & naõ po- j

n dendo jà paífar por terra com o fogo que andava ateado , todos fe met-
-/^'^73.>^-3í^. tèraó em o mar j & paífadas duas legoas deraõ em defembarcadouro , a
que chamarão Calheta, fobre a qual tomou o Capitão para feu íilho,
Joaó Gonçalves da Camera, húa Lombada grande, & logo para a Poen-
te tomou outra para fua filha Beatriz Gonçalves , & mais adiante outra
para a mefma filha $ & em hum alto de boa vifta de mar , & terra traçou
a Igreja deN. Senhora da Eftrella , que muyto encomendou a feus fi-
lhos. E logo mais abayxo j junto a huma fermofa fibeyra,
fundou de- fe

pois a Villa da Calheta, que veyo a fer o illuftre titulo do Conde Simã®
Gonçalves da Camera.
— .

39 Da Calheta paíTáraó os Capitães à ultima ponta, & por há


'ÈdFikati^ààttay Pargo que acharão nella , lhe deraó por nome a Ponta do Pargoj & aqui
^Me ao depois veyo a vira a Ilha para o N orte duasj, ou três legoas atè outra ponta , que o Ca-
/fftitHjlidiCmdado. gitápde Maçhiçojfem o do Funchal, foy deÍGubrir,& poriífo fecha-
" ' " .
mou Ponta do Triftaô, aqualjaz ao Noroefte > &aqui fe dividem as
Capitanias , & fe reparte a Ilha defta ponta de Noroefte da banda do
Norte contra o Suefte da banda do Sul , aonde fe fixou hum pào de oli-
yeyra, que deo nome a eftoutra ponta , & para marco , & divifa das Ca-
pitanias o mandou de Portugal o Infante D. Henrique; & efta ponta da
eliveyra , & o feu lugar chamado Caniflo , he o fim da jurifdicção dé
Machico, & o principio dajurifdicçaò do Funchal, tudo conforme ao
Regimento do Infante Dom Henrique ; & aílim os Capitães ambos da
Ponta do Pargo fe tornarão ao Funchal, &• aqui fe apartarão, cada hum
cara a fua Capitania , ficando Joaó Gonçalves com quatorze leg oas da
Linda do Sul, que he o melhor da Ilha,^ôttres dabanda do Norte> ô< fí*
cando cõm. o mais Triftaó Vaz Teyxeyra.
ijijj '-il-r-fi^4^-fii, ..t^.. /t

C A P í T U L O VIL
Do interior da Capitania doFumhaly &. c^ejlafua Ci-
dade, &feu Jitio.

-40 I^T Aõ fem ratzão, da Ilha de que tratamos diz o Doutor Fru-
_ QíVíoíoliv. 2. cap. 15. que não fe houvera chamar Ilha da
Madcyra , mas Ilha das pedras por fer todo o feu interior chey o de ro-
,

chas & montes , em valles defpenhados com infinitos calháos. Jaz no


,

Í)A AliHrd emijHe ef- Oceano Occidental efta Ilha da Madeyra , na altura de trinta &c dous
tà Al/hadaMadíjr- gràos& dous terços nâ-parte do pólo Septcntrional fica diílante do
, -,

r4, grandeza &/Í.


, Qu^ntim em Africa , cento & dez legoas, do Lefte da Ilha ao dito Cabo
^Hra ddU.
^^ Qiiantim das Canuriasfeífenta legoas de Portugal cento & cinco-
; ;

cnt^> das Ilhas Terceyras quafi o mefrao. Na fuá figura he huma pirâ-
mide deytada', que corre de Lefte a Oefte , em comprimentp de quafi^
' " deza^
"^
Cap.VII. Da Capitania do Funchal: 71-

ãpz&ktt legoas , & era largura de q^uatro , & na bafe de féis legoas , que ^^-^•^^^*-t;G_
lêm da parte do Occidente na ponta dol^argo j & o cume da pirâmide A-^ z'^, •
^
tem na parte do Oriente na ponta de Saó Lourenço para onde eftailha ^^' ^^ «'Zíí**»^^
• •

vay fempre eftrey tando. '


r^l^^^^y^^ í>^_
41 Aqui , da banda do Sul faz huma bahia dequafi cinco le^ ^*- ^X^.wL <.£^^
goas de largo, defde a ponta de Saõ Lourenço atè outra ponta , entre as
quaes , fem mais temor que com tempeftade levantarem anchora 3 po-
dem anchorar os navios que quizerem. Da ponta de S. Lourenço para o
Occidente , huma legoa , eftá o lugar chamado Caniflal , de fo quinze
mpradores , com fer terra raza, & de paõ^ & vay por diante a Capitania DafaoiofaCidadeãi
de Machico, de que ao depois trataremos j porém dentro dafobreditai^wfW, & de fuás
mayor bahia, deídc a ponta do Garajào até outra chamada deS. Cruz,/'"'''*^'^'^^ ^^Ç" '^^
vay outra mais recolhida bahia , de legoa & meya de entrada , dentro da -^'^^ '^^' ^ '^'^'"''
'

qual , defde o Corpo Santo atè S. Lazaro , fe eitende a Cidade do Fun- "^'^"^ ^ ^'*'^ ^""^'-"^
chal por quarto de legoa com feu porto de calháo miúdo , & área, tam ^"^"^
curfado a íeus tempos em carregarjôc defcarregar navios, que tem íua fe-
melhança com Lisboa j Sc jeftá íituadaa Cidade e m terra chã ^8renrrp
duas ribeyras , huma da parte do Nafcente com a í reguefia de noíTa Se-*
nhorado Calhào ainda fora dos muros da Cidade ,& com asErmidas
,

de S. Pedro, & S. Joaó que eftão da parte do Poente & a outra ribeyraj
-,

chamada de Santa Luzia, por vir de hum monte, em que eftà a Ermida
defta Santa.
42 Pelo meyo da Cidade corre efta ribeyra tam caudalofa,qu©
comella, & dentro da Cidade moem vários Engenhos deaífucar, &
moinhos com pedras alvas , & fe regáo hortas & jardins , & toda a Ci-
,

dade fe alimpa} & pela tal ribeyra acima fe recolhem cada anno quatro-
centas pipas de rico vinho , & muy tas frutas. E com tudo a Cidade eftá
murada, & tem huma Fortaleza ao principio, na ribeyra de noífa Senho-
ra do Calháo , que chamão a Fortaleza nova , & da outra parte outra
Fortaleza , que chamão a velha, & com boa artelharià para o mar,& pa- .

ra a terra;& aqui tem o Capitão fua morada, que ainda fica fora do muro
da Cidade, mas com três portas no muro para o mar , & outras três para
a terra, com vigias. Perto da porta principal do mar eftà a cafa da Al-
fandega , fechada, & murada de cantaria, por terra, ôc por mar, que che-
ga a bater iiella , & tem dentro Regias officinas.
43 A principal rua defta Cidade, & dos muros para dentro, hc
a dos homens mercadores, Portuguezes , Inglezes , Francezes 5 Sc Fla-
mengos , em cujo principio , junto à Senhora do Calhào , eftà a praça,
não muyto efpaçofa , mas fermoía , com cafaria nobre à roda, & pelouri-
nho de jafpe , donde fahe a mayor rua da Cidade , onde o Bifpo tem o
feu Paço com jardim, & aonde eftà o CoUegio de Saó Bartholomeu da
f
Companhia deJESUSj defronte do qual morava D. Maria , viuva de
Duarte Mendes de Vafconcellos, fidalgo, em ricas cafas, com Enge-
nho de aíTucar, & toda a fabrica delle & logo eftà a Sè, com torre muy-
:

to alta, & toda de cantaria, coruchèo de azulejo, relógio que fcouve


duas legoas quando toca a rebate , & abayxo muytos , & bons íinos tem
:

a porta principal para o Poente , dentro varias Capellas , &c nove Alta-
í€Si & no arco da Capella mòr para dentro terá. o coro > bem ornado , &
"
G ij nos
f& Lívrô III. Dafamoíà Ilfiâ da Ma3eyra.

lios do cruzcyro fe dizemaEpiftola, & Euangelho.Tem mais-


púlpitos
"Dos Conventos Reli- (além do
:
pcrfeyto Coliegio da Companhia de JESUS, & íua rica Igre-
giofos qut ha no ínn ja) hum grande Convento de S.Francifcoda
Obfervancia, comfer-
mofa Igreja de oy to Capellas , fora o Altar mòr , grande cerca , & cin-
coenta Rcligiofos, cujo Guardião he Commiflario , ou Cuftodio de to-
da a Ilha, fugey to porém ao feu Provincial de Portugal. E nefta rua que
vay da Sè para os Francifcanos , não ha ( diz Fruduofo Uv. lé.cap. 1 6.)
mais cafaria fecular , que a de Joaó Dornellas, & a de António Barradas,
homês muy to principaeSj o mais tudo faó hortas.
44, Ha mais nefta Cidade hum Convento de Freyras de Santa
Clara, Francifcanas, de grandes rendas , &
mayores virtudes , de fef- &
fenca Freyras de vèo preto ; fica febre huma rocha muy to forte , com &
boa vifta para o mar, mas não para a terra, por razão dos altos muros, &
II com pequena cerca íeu vizinho era Francifco Gonçalves da Camera,
j

tio do Conde Capitão , por cuja morte ficou governando a.Capitaiiia.


Do meyo defta rua chamada de S. Francifco, fahe outra em que mora
, ,

André de Betencor , fidalgo dos mayores da Ilha , & morgado, filho de


Francifco de Betencor , & de D. Maria, òc mora em húas grandes cafas,
ou Paços defronte da Igreja de S. Pedro , que he o fim da Cidade , da
parte do Poente. Naruaquechamão deS. JVIaria,mora António Fer-
reyra, Contador da Cidade , & Francifco de Medeyros fidalgo, & D.
Maria, mulher de António de Aguiar, fidalgo & na rua da Olana mo-
•,

ra Mero Dornellas, fidalgo grande, como em palavras formaes diz o já


citado Fruótuofo.
45 Outras muytas ruas tem efta Cidade , que todas eílão cal-
çadas de pedra miúda, com que chovendo fica muyto lavada, &: Imipa.
Tem mais huma grandiofa Mifericordia , porque muyto rica , & muyto
caritativa. Foy oFunchalfcmpre Villaatèoannodc 1508. em queEl-
Rcy D. Manoel a fez Cidade , por ter fido fenhor da dita Ilha antes de
TtndoJídoVilUoFft' fer Keyi & lhe accreícentou muy tos privilegies ,&
aíTim não pagão di-
cha/por mau de trin- reycos dos mantimentos , mas com pado de pagarem o quinto dos af-
ta amoi foyfeyto Ci- fucares} &c logo o mefmo Rey lhe mandou fazer huma Alfandega Real,
,

tíad- for Ei&éJ D»m bem aca-


Sc húa íliuftre Sè , que aindaque não muyto grande , he a mais
Mmod , anno dt
bada do Reyno de Portugalj & tem dous Curas, & duas Freguefias mais
vifoSi. '& terh dotú
n>tlvfz.tnb(*s ,.&"&»* em a
Cidade , que toda confta de dous mil vizinhos i porque muyto de
/«« Cétp^tam^.e/ftraí feu mayor fitiò fe occupa em abegoarias ,
de aííucar , vinho , hortas , &
FillM^^ff Ingarts no- jardins, que a fazem não fó mais eftendida, mas mais rica , mais frefca,Sc
bres. aorazivel. '

46 N
ãoobftante termos dito defta Ilha da Madeyra, fer o feu
Do muyto fragofo in- Certâo interior tam fragofo , montuofo , & cheyo de pedras , que ape-
nas íe cultivão delia duas de dez partes j porque commummente não
terior da Capitania
do F»f}chaí,& cota- Scde^eiraniaííapcz^, preta & ruy-
ha nella terra chã, fenão a bocados j ,
do mMjto frutífero,
^ de ejHimíU mtiyto va, que chamão faloens jcomtudo tam frutíferos que cada falaó de-
faó ,

ricos frKtos.&horta- ftes vai outro tanto ouroj & aíTim tem muytos & excellentes pomares,
,

li^M excllentes, mas particularmente de fruta de efpinho j dà tanta noz,& caftanha , que vai
a quatro vinténs oalqueyre. Amêndoa dà muyta , &: também
TKHj/ta frJta de trtgo^ tanto fu-
^excejfiva abunda &
dando ordinariamente tanto
magre, que moido fe embarca para fora •,

cia de vinhos ri<^ftf-


vinho , dá trigo tam pouco , que fe de fór? lhe não forem, ao menos dez
fmos.
^ mil

íMI
Cap. VII. Dallíuftre Cidade d<5^tiftchtf yf-^-

n UJ
ifiiímoyos, paffarà mal. Dà porém muyta , & excellente hortaliça Vdé
alfácesj ôc couves Murcianas , mas eftas não efpigáo lá, & de fora lhe ha.
de ir femente todos os annos. Tem preciofos jardins, Ôc hervastam odo^ .

riferas , que affirmão os mareantes , que mais de dez Içgoas ao mar dcy-
tâ efta ilha de fihuma fragrância j & cheyro tam confortativo, & fuavet-
que em grande parte alimenta aos que o percebem.
47 Comtudo ainda no interior defta Capitania do Funchal
ha alguns póftos rendofos,&: lugares bonsi porque hum quarto de le-
goa da Cidade para o Occidente corre a ribeyra dos Accorridos coni
largura de hum tiro de arcabuz, & tanta agua , que parece hum bom rioj.
& de Camerade Lobos vem pela agua abayxo a madeyra cortada em.os
montes, & com marcas de feus donos aílinada atè o mar, oride aco-
iíiemj & às vezes com a fúria das aguas fe perde pelo mar dentroj & ou.»
tro quarto de legoa adiante eftá o lugar deCamera de Lobos com du-
zçntos vizinhos em huma fó rua, & a Igreja no fim com dous Engenhos
de aíTucàr de dous bons fidalgos, hum por nome António Corrêa, outro
Duarte Mendes de Vâfconcellos j & logo para o Norte , dous tiros dé
béfta, eftá hum Convento Francifeano, chamado S. Bernardino, com
oyto Réligiofos , & huma Freguefia de noíTa Senhora do Rofario com
trinta vizinhos, & muy tos pomares , vinhas , &c. & ao Occidente da
mefma Camera de Lobos eftá a Lombada da Caldeyra , por ter huma
grande cova dentro , que he dos herdeyros de António Corrêa, gente
muyto principah
48 Húa legoa adiante de Camera de LoboS eftá a grande quin*
ta de Luis de Noronha , com Engenho, cafarias, Capellão , ( como tem
as mais das outras quintas } & com pomares, vinhas , hortas, ^ci & dahi
meya legoa para o Occidente j eftá o Campanário, lugar de cem vizi-
nhosj & huma legoa adiante o lugar de Ribeyra Brava , que por ahi cor-
re, 6c tem trezentos vizinhos , com muytos pomares de caftanha,& no-
zes, & bom porto, que já pertehdeo por Vezes fer Villaj & adiante meya.
legoa lègue-fe a Ribeyra de Tabúa com trinta fogos, & daqui faó gente
nobre :& à outra meya legoa fe íegue a Lombada de João Efmeraldog
Genovez , & tam rica, que jà chegou aidarno anno vinte mil arrobasidc
alfucar , & foy a mayor cafa da Ilha , & toda herdõiTíeii fílho Chrifto-
vão Efmeraldo , que tinha oy tenta Efcravos j& além de Engenhos , ca* 7^^
íàrias , & Igreja , andava em a Cidade com oyto honrados homens por ,/^'
>3. ,..
criados, & com tam grande faufto, que com o Capitão do Funcjial
competia fobre quem avia fer o Provedor da Alfandega Real. OJoaô
Efmeraldo foy cafado com huma fenhora chamada Águeda de Abreu^
filha de Joaó Fernandez , fenhor da Lomba do Arco,& irmão de Gon-
çalo Fernandez , marido de Donna Joanna de Sà , Camareyra mòr dá
S^ainha.
49 Adiante da dita Lomba , hum quarto de legoa , eftà a Vil-
la da Ponta do Sol, com quinhentos vizinhos , 6c gente nobre ; 6c mais
Das Filiai', Ponin M
Sol^&Caiheta^^oftJ
acima para o Norte eftá hum lugar chamado tem boas três nobres Ingariti
aguas. Engenho, terras de pão, & centeyoj 6c vinhas, U daqui he a gera-
ção dos nobres Efcovares. Da Ponta do Sol meya legoa, 6c junto ao mar
«ftà a,Magdalena jlugar dctrinta vizinhos^ & tambcni com Engenhoi
G ' - — -
iij
^
7^ Uvfo III. Da famofa Ilha da Madey ra.
& daqui hum quarto delegoafica a Lombada de Gonçalo Fernandez,
Marido dcD. Joanna de Sà , Camareyra mòr da Rainha , & pay de An-
tónio Gonçalves da Gamera,com muytasterras,Engenho, Igrejaj&c. ôc
Gutro quarto adiante eftá feu irmáojoaó Fernandezjna Lombada do Ar^
CO, também com Engenho, &c. Humalegoa adiante fe fegueaVilIa
da Calheta por hua ribeyra acima , de rochas tam altas, que cahindo pe-
dras delias ,tem Jà derrubado muytas cafas, &: a Villa confta de quatro-
centos vizinhos com a Igreja do Efpirito Santo , & com porco dahi hâ
quarto de legoa para o Nafceneti & acima defta Villa pela terra dentro
cftà hum Engenho , o dos Cabraes , &: outro de hum Medico. Duas le-
goas defta meftna Villa eftá o lugar chamado Jardim , de quarenta vi-
zinhos, &t também com Engenho & outras duas legoas da banda do Sul
:

para o Occidente , eftá a Ponta do Pargo , íim da Ilha , & terras lavra-
dias de creaçóes.

C A P I TU L O VIIL

Do interior , & fitlo da Capitania de Muchko na


Madejra,

; 50 Norte para o Occidente duas legoas , come-


T) Ela coftà do
ta çando da ponta de Saó Lourenço , que chamâo Porto da
Cruz , eftà huma Aldeã junto ao mar com trinta vizinhos, além da gen-
te de huraEngcnho que ahi tem. Huma legoa adiante eftá noíTa Senho;-
rado Fayal, ( pelas muytas fayas que alli ha ) com cem vizinhos^ & fenr
<>-^^i '
doa Igreja bem grande, jdizemjer toda formada dehumfópao de ce-
dro que íe achou perto delia no dia da Senhora que he a oy to de Se-
: ,

tembro, íe faz alli huma Regia feyra de tudo, a que vem oyto mil almas
em romagem & temefta Freguefia dous Engenhos de aíTucar, & huma
:

admirável ferra de agua, com que hum fó homem , & fó com o pé, como
«leyro, chega, & tira para huma ferra o mayor pào & o faz em taboado.
,

Daqui huma legoa eftà o lugar de Santa Anna com quarenta vizinhos,
& muytas vinhas, & cerras de pão & meya legoa adiante eftá S.Jorge
:

com cem vizinhos , & bons paftos & meya legoa além , ou legoa &
:

meya eftá o lugar chamado Ponta Delgada, aífim chamado, por fe paf^
,

far alli de huma altiflima rocha a outra igual , por pàos atraveííados, fi-
cando o profundo mar em bayxoj tem feífenta vizinhos o lugar, boas vi^
nhãs, & bom porto.
5 1
Nefte lugar de Ponta Delgada morava António Carva-
lhal, fílho de Duarte , ou Pedro Ribeyro, & de fua mulher Anna Efme-

Dflí Carvaíh/tes EJ
ralda, filha deChriftováo Efmeraldo, Provedor da Fazenda Real da
veraldos fidalgos àn Madeyra , & Porto Santo. Era homem
.
magnifico , liberal , & de grande
Alad.eyra^& tao va- virtude, & tam valente , que pelas afperrimas ferras da Madeyra andava
lentes , efue \dellfsje a cavallo , fazendo cilhas de fó fuás pernas, porque era bem difpofto, al-
coiiaõ (afos eji/tpen
to,& largo das efpadoas & aíTim indo hum dia por bayxo de humas ar-
-,

dot.
vores a câvallo,& lançando a mão a hum groflb ramo, levantou o cavaU
lo mais de hum palmo no ar , & fó cora a força das fuás pernas cingidas?
'pijt &
Cap. IX. Dos Capitães Donatários de Machico. fp
& veodo outra vez hum Javalí,que commettia ao velho pay defté man-
cebo, íe avançou ao J avalí , êc com tal força lhe apanhou as orelhas, que
&
o fez parar, tirando de hum manchil, alii mefmo o matouj em aper- &
tando a hum homem pelo pulfo , o fazia defmayar. Diante do Bifpo D.
Jorge de Lemos , náo podendo ferradores ferrar húas mulas inquietas,
pegandoihes das orelhas asfezeftar fem bolirem. Sendo em Santarém
moço fidalgo delRey,&:jugando com elle pelo entrudo as laranjadas
putros dos moços fidalgos em o campo , vendo hiia grande mò de moi-
&
nho de atafona , arremeteo a cila, mettendolhe o braço pelo olho, não
fó a levantou , mas delia fez rodela , trazendo-a no ar ás voltas , & con-
tinuando o jogo. Vendo em huma occafião a certa Regateyra , que tra-
zia féis gallínhas muyto grandes a vender para cafta , & creação, pegou-
Ihes pelas cabeças,& com tal impulfo logo as facudio,que ficandolhe a$
cabeças em a maõ, cahiraó no chaó os féis corpos , dizendo elle á mu-
lher, Tomay lá voíTas gallinhas. Em fim indo elle, &outros fidalgos a
huma Igreja , & vendo nella huma campa de dura pedra febre huma fe-
pulturâ,&na mefma pedra aberto hum carvalho com fuás landes da
mefma pedra, elle com fomente os dedos as começou a tirar , 6r dar por
fruta aos fidalgos. Tudo o fobredito conta Fruítuofo no Uv.2. cap. 1 3.SC
conclue em 019. que feràpre houve nefta Ilha homés muyto valentes,
como os celebres BragaSj & muytos foraó a Africa, que deyxo.
52 De Ponta Delgada , huma legoa adiante , fe fegue o lugar
& &
de S. Vicente, com duzentos cincoenta vizinhos j três legoas deftc
cutro luMr , a que chamâo o Sevxal , com vinte vizinhos 1 & meva le- Dtvtfao
«^ v - dA
j. Ilha
//; ^ -

Hl
,. c» 'T^
1 Tl» 1 "'i n ^ • -1• na$
goa adiante hca o lugar da Magdalena , que conlta de trinta vizinhos, ^^^ Capitanias tgtt'
&eftápcla terra dentro em apontado Triftão, aonde fe dividem as aes^ '

duas Capitanias Donatárias da Madeyra , & donde vay a Ilha virando


para o Sul , & fazendo a ponta de fua figura de pirâmide deytada , com
três legoas mais atè a Ponta do Pargo, aonde acaba a Ilhaj poílo que era
algumas cartas de marear a trazem com a figura de húa folha de Alemo.

CAPITULO IX.

Dos Capitães Donatários de Machico,


r^/^
53 A Capitania de Machico ( conforme a Fruduofo liv. 2. caf
£\20.} tem da parte do Sul quafi quatro legoas de compri- JSTa
Capitania ãí
mento, &
quatorze da parte do Norte j he de muyto arvoredo, & tanta Machico deo spri-
fe
madeyra , que vay deíla Capitania para a outra j & dá muyto trigo no mtyro, &
melhor af-
íeu Norte. De aíTucar o primeyro que fe fez em toda a Ilha foraõ treze fucar da Madeyra,
arrobas em Machico,& vendeo-fe a arroba a cinco cruzados. De Cândia por ter confervado ,
#
mandou vir o SereniíTimo Infante D. Henrique a Malvazia, neftaju naõ queimado as ma^^
& dejrai-jf^fedeo epri;
jrifdição de Machico pegou melhor eíte vinho do que em alguma outra
meyro vinho de Mal'
parte de toda a Ilha. Segue-fe agora dizermos quantos Capitães Dona-
vatia , é° ha neã(6
tários tem tido, de quani illuftre fangue,&de quanto mais illuftrcs muyto
mais trigo.
obras.

54 O primeyro Capitão foy Triítap Vaz Tcyxeyra, que pela


fia-
80 tivrô líl. Da fâmofa Ilha d á Madeyrâ. '

líilííl; í ligular cavallaria , & obras foy fempre chamado o Triftaõ*


nobreza , ,

HosiUftfiresCapitãts fem iifar de outro appellido & ElRey lhe deo por armas huma ave Fe-»
,
àe Machtco
,^ erad ^[^^ que he fingukriílima entre as aves & cUe mefmo em feii teílamen^
j
^w ^"t^gos fidalgos,
^^^^ j^Qj^g^ fomente Triftaó j porém feus deícendentes ajuntarão á Fe-
r^^riZefuadlr^' ^^^ "^ ^fcudo húaCruz j &
huma flor de Liz, armas dos Teyxeyras, ôc
*ie»c\&4eruJari aíTim fe vemhojeefculpidas no arco da Capella de Saó Joaó
tíaptiíla na

f"^i
'

Igreja mayor de Machico deites Capitães. Foy caiado com huma fidal-
ga, que devia ter com elle algum parenteíco , pois fe chamava Branca
Teyxeyra , & procedia da illuítriílima cafa de Villa Real & defte ma- -,

trimonio nafcèraó quatro filhos , & oyto filhas. Dos varões o primeyra
foy Triftaõ Teyxeyra, & fegundo Gapitáo, de que fallaremos.
55 O fegundo foy Henrique Teyxeyra, muy to rico em Ma-
ehico , que cafou com Beatriz Vaz Ferreyra , & delia teve por filhos a

Joaó Teyxeyra o Velho , a Pedro Teyxeyra, & a Henrique Teyxeyra*


item a Maria Teyxeyra mulher de Joaó de Abreu 3 6c a Brites Teyxey-
ra mulher de Joaó do Rego iCavalleyro do Algarve. O terceyro filho
defte primeyro Capitão foy Joaó Teyxeyra, que cafou com Felippa de
'

Mendoça Furtada, de que nafceo outro Joaó Teyxeyra & Triftáo de ,

Mendoça, & D. Solanda mulher do terceyro Capitão de Porto San*


^tG, & D. Felippa de Mendoça mulher de
Diogo Moniz Barreto, & ou*
trás duas filhas mais que morrerão folteyras*
^^6 Defte mefmo primeyro Capitão o quarto filho foy Lança-
1, rote Teyxeyra, grande Cavalleyro, que cafou com Brites de Góes, de
4 11'
que teve a António Teyxeyra , morador detraz da Ilha , & a Francifco
de Gocsi & Lançarote Teyxeyra de Gaula j & teve mais por filhas a D.
Joannajmúlher de Vaíco Martins Moniz, & a D. Catharina, mulher
'!4

de Garcia do CaniíTal j & a Judith de Góes que cafou no Algarve , & a


,

Helena de Góes, que cafou com Fernaó Nunes de Gaula , & a An na de


J!':i

Góes, mulher de Gonçalo Pinto , & Iria de Góes j mulher de feu primo
Joaó Teyxeyra. Das oyto filhaá defte primeyro Capitão de Machico, a-
primeyra foy Triftoa Teyxeyra, que cafou com hum fidalgo Genovez,
Micer Joaói fegunda, Ifabel Teyxeyra , mulher de Joaó Fernandez de
Lardello; terceyra, Brites Teyxeyra , folteyra ainda então quarta, Ca- -,

tharina Teyxeyra, mulher de Gafpar Mendes de Vafconcellos j quinta,


Guimar Teyxeyra, mulher do fegundo Capitão do Porto Santo fexta, -,

Solanda Teyxeyra feptima , outra Catharina Teyxeyra que cafou em


; ,

Lisboa com hum fidalgo ; oytava, Anna Teyxeyra. Faleceo eftè pri-
meyro Capitão em Silves do Algarve^ aonde tinha ido a negocio, & fa-
leceo deoy tenta annos de idade, tendojá governado cincoenta.
57 Ofegundo Capitão de Machico Triftão Teyxeyra , por
fuás prendas foy chamado a LislyDa , & muyto eftimado das Damas de
t)ô fecundo C<ai;;Mo paiacio 6c em effey to cafou com Guimar de Lordelo 3 Dama da exceU
,

de Machico, <jfíe ca-


j^^^g Senhora , de que nafcèraó , primeyro filho também Triftão Tey-
fo^com h"^D^'l»^
xeyra, de que abayxojfegundojGutterre Teyxeyra, que cafou com húa
huma filha D. Vio-
£/;Jr;rí^^'" filha de Antão Alvares de Santa Cruz, terceyra ,
lanteTeyxeyraj que cafou com Joaó Rodriguez Negraó, filho de Gar-
cia Rodriguez da Camera , que viuvando cafou fegunda vez com Vaf^
Co Martins Barreto, filho de Vafco Martins Moniz.
58 Vi«v©


Cap. IX. D 05 Capitães Donatários de Machíco^ Sf

58Viuvo eftefegiindo Capitão cafoii outra vez com D. Al-


da Mendes , irmã do Bifpo que era então da Guarda , mas morreo km
deyxar filhos deite fegundoi & jaz fepultado na Capeila de Saõjoaõ
Baptiíla da Igreja mayor de Machico, que ellemefmo tinha mandado ^
fazer para fepukura dos Capitães Donatários daquella Capitania , fie

com Mifla quotidiana de que ficou ,depois por adminiftrador hum fea
dcfcendente , por nome Triftaó Caftanho.
59 O
terccyro Capitão Donatário de Machico foy Triftão
Teyxeyra, fegundo do nome, que por ficar governando em huma au-^ ^ ,

fencia do pay , fe intitulou Governador , & caiou com Grimaneza Ca- Yeyxeyrí
(ir do ^Irí.
bral, filha de Diogo Cabral, & fobrinha do Capitão do Funchal, & dei- tejço àoí ^^p.rí dê
la hoiíve os filhos feguintes. Primey ro , Diogo Teyxeyra , de que abay- Adachtco tom a Ca.
xo fatiaremos íegundo, D. Maria Cabral , mulher de Chirio Catanbo, hraís esmerai à^
j

(^irmão de Rafael Catanho, & de Federico Catanho , Capitão da Guar- -f^^f ^^^^
da de Francifco Rey de França } de que houve a Hierony mo Catanho;
terceyro 5 Catharina Teyxeyra, que morreo moça quarto , Manoel 5

Teyxeyra j quinto, outra irmã que morreo Freyra no Funchal. Morreo


efteterceyro Capitão, & jaz fepultado na Capeila de feupay, ôcfeus
^
avós.
éo O quarto
Capitão foy o dito Diogo Teyxeyra , Sc cafou
com D. Angela Catanha 1"**^^" 2^'^'"*
, filha de Rafael Catanho , de que teve duas fi- ^*

IhaSi primeyra, D. Margarida, que cafou com Aaconio Vieyra , Meyri- a'",^^*.^ ? l°7t
XÍ-ry^x-KXi-^r it-v»^- •i''-
r-i «Jt* Capitam^
nho da jurildicçaÓ de Machico j legunda D. Mana , ainda menma. El- ^5, Excellmuffutm
,
paUoft

Rey D.JoaóIlI. tirouefte quarto Capitão do governo por mentecap-Co»<<«<iíA^wío/â,


toi &efte morreo em 1540. & jaz na Capslla de feu pay, & avôs, & por
fua morte , naõ deyxando filho varaó , nem irmão , paífou a cafa á Co-
roa.
61 Quinto Capitão de Machico foy António da Silveyra, a X><7f«í«fíC<</>iV«»itó
quem ElRey D. Joaó III. deo efta Capitania no feguinte anno de 1541. ^^chii^o^D.Ajfenjò
Tinha fido efte António da Silveyra , por feus ferviços , Capitão na In- àePortugal,eiuepc9t&
diai & em 1549. vendeo efta Capitania , com licença delRey , ao Con- '^
Jljii^^
^
de de Vimiofo Dom Affonfo Portuga1,que ficou em Africa com ElRey ^ ' '- '

Dom Sebaítiaó & vendeo-lha a retro por féis


, annos em preço de trinta
&: cinco mil cruzados , &
morreo fem remir a Capitania , 110 anno de
1 5 5 2 &: com ella fe ficou o Conde de Vimiofo que a governava.
.
£><» fexto CapitAÒ CS
6i O
íexto Capitão de Machico foy o dito Conde de Vimio- de também deFimio-
ío, depois do qual paflbu a feu filho o Conde D. Francifco , que mor- fi.^fíe morreo por El-
reo na batalha defronte da Ilha de S. Miguel como em feu lugar dire- ^^y ^- ^»(omo »ét
,

& &
mos i aíTim tornou efta Capitania para a Coroa , já em tal eftado, ^^^^^^* J^^fronte da
que, cxceptas poucas peíToas, não havia nella já quem pudeííefuftentar^.^^ * '^^'^"^^ '

j ^1. 11 Arr ^ r
commodamente hum cavallo- AlTim acabaoas cafas , em íahmdo dos «^p), ^ C^^^,^
1 rtjj
^^£0» a Capitania
r^ ^
próprios, &
verdadeyros fenhores delias. menmtí muyto cont
63 O
oytavo Capitão de Machico foy Triftaõ Vaz da Vey- af^Ua dejeijhorFrt-
ga, que por fangue era filho de Manoel Cabral , &
de Antónia de l^c-frieturio.^
&
mos , neto por feu pay de Diogo Cabral , & de Beatriz Gonçalves da
Camera, filha mais velha do primeyro Capitão do Funchal Joaó Gon-
çalves Zargo ; &
por fua mãy Antónia de Lemos era o dito Triftão Vaz:
da Veyga da cafa da Trofa , Sc da dos Taveyras , 6c bifneto de Nuno.
Goii«
Livro III. Da faitioíalllia da Madeyra.
Gonçalves de Leaó, Chanceller mòr delRey D. Joaó II. em cuja Qhtoh
"Aofetimo Donatário nica fe faz menção dellé j & por outra parte vinha a dita Antónia de
de Machico que fojf Lemos dehumfídalgo chamado Luis Pires de Buarcos , ou Buacos, íi-
,

^ Coroa, fe fegHio lo-^ dalgo do tempo deliley D. AíFonfo V. a quem fervio nas guerras coii-
^''^'^''"
tra Caftella , & era fenhor de alguns kigares na terra de Coimbra, & de
Ç ^-^'T
1>'çrlZ/TlifiaiJ'l. ^^"S"^
Alemão i & emfim era o dito Triftào Vaz da Vey ga , por linha
daFeycra^da »,«v/(í niaículina , dos Veygas , fidalgos bem conhecidos em Lisboa notem-
mtiga fidalguia <<w podelR.cy D.Joaól. Scjà antes de Portugal fer Reynoerão illuílres,
Vtygas,&p*rente dos & mais ha de oy tocentos annos havia em Caftella illuftres Veygas^don-
T-yArí^rrfí d«>w«, d* de procedem os de Portugal.
dos Cabrafs & Ca-
,

tntroí do Fffnchal.
^ j^^^^ oytavo Capitão trata Fruauofo no liv. 2. defde cL
cap. 2 1 atè o cap. 26. & refere íuas obras , & façanhas. Foy moço fidalgo
.

delReyD.Joaó III. Sede dezafeis annos foy para a índia em 1552. &là
fervio muy tos annos à Coroa de Portugal , atè na China ,& Japão, &:
no cerco de Malaca , de que era Capitão , & teve os primey ros poftos,
'£fie oytavo Capitão
refiitHhio Mtichico a
& alcançou grandes vitorias , & emfim fe voltou a Portugal , & Felip-
fen antigo, é" major pe tendo Vaga efta Capitania de Machico , lhe fez mercê delia, & fobre
Itijire em tudo, como ^ fazenda Real tomou cem mil reis , que delia fe pagavão , & fobre lha

Frofrietariorefiãen- dar toda livrc , lhe deo mais huma Commenda de duzentos mil reis de

renda, tudo em 25. deFevereyrode 1582. & em 19. de Novembro de


te;fojijmtamíteGe-

Slíirir X585-CPO'- fer jà morto oCondeJoaó Gonçalves ) mandou o mefmo


Àejra , & Alcajde Rey ao noífo Triftão Vaz da Veyga por General da guerra de toda a
mor da Fortaleza do Ilha, & por Alcayde mòr da Fortaleza do Funchal , com o que naó fó a
Funchal & traria Capitania de Machico tornou logo ao feu antigo , & raayor luftre , mas
,

fempreem ornar htía também toda a Ilha, & fe defendeo dos inimigos ; & em 1589. tinha
^^^"^^ Sâlè de dezafete remospor banda , com fua esfera de bronze, Sc
^ht^a'ttfoguete
^'^^^^ fragata mais, que por banda lançava doze remos, & tudo mandou
CoffarioaZ'aríctal
Ilha^& tttdofufien- fazer efte Capitão com o dinheyro da Impofiçaó que ElRey lhe conce-
tava com fita muyta deo para fortificações > & toda a coita da Ilha andava entaó limpa.
riqnez^^&ufava das (,^^ Em 1 590 tinha efte Capitão cincoenta & três annos , era
.

fí^^^-f ^^á**^' alto, efpadaudo , & bem proporcionado, & de barba Portugu<?za,& me^
ya branca j tinha grande, &: rica cafa , hum Vedor , dous Efcudeyrosj
& doze efcravos tinha muy ta renda em Lisboa & algfia
cinco pagens, : j,

em Arronches & quarenta moyos de trigo na Ilha Graciofa que eram


, ,

parte de feu património ;além do habito de Chrifto com duzentos mil


reis de tença atè vagar Commenda , & novecentos mil reis da renda da
Capitania de Machico, & quatrocentos mil reis de General da guerra.
E além das armas dos Cabraes , & Lemos , tem as dos Veygas , que faó,
hum Efcudo de ouro , & azul , no quarto de ouro de cima huma Águia
cinzenta com as azas abertasiôc no fegundo quarto três flores de Liz de
ouro em campo azul , & em triangulo ; no terceyro quarto da parte de
bayxo tem as mefmas flores de ouro em azulj & no ultimo quarto outra
^ Águia como a primeyra j Elmo com guarnição de ouro por bayxo pa- ;

q^ jfg de ouro , vermelho , & verde , com dous azuis , & hum
7ao grande Capitão penachos
t,Hcacajoj*^tevemMt.
tos trmaos que lhe
j^ ^^ mevo;
,^ ^
&n ^
por timbre
^
húa Águia como
- i-
as outras.

naõ cederas emphfios 66 Teve efte Capitaó muytos irmãos legítimos pnmcyro,
;

degtterra^ &gover- Diogo Vaz da Veyga, que militou em Arzilla, & morreo eleyto Capi-
»«. taô de Tangere i fegundo j Lourenço da Veyga j de grandes fer viços,
~
.
que
Câp. X. Pic? pnmeyi^ Gapitáõ Dcína:íinòfdoFu&chal. , S^
^ue faleceo lendo Governador no Brafil,em ten^po de FelippelL Sc
4eyxou feis filhos , & duas filhas j Fernão da Veyga , quç depois de ir
à Índia duas vezes , morreo folteyro em Lisboa j iJomingos. da Veyga
que na índia morreo fervindo j Manoel Cabral da Veyga , & Sebaítiaá
Vaz da Veygíi que também na índia morrerão j & Luís da Veyga Re-
j

ligiofo i item D. Maria, mulher de Joaó Taveyra,& D.Eelippa,mulheri


de Diogo das Povoas, Provedor da Alfandega de Lisboa.
67 Terceyro irmão do Capitão Triftaõ Vaz da Veyga foy
X-uis da Veyga, que morreo no celebrado cerco de Ormuz, Quarto foyi
© dito Triftaó, que nunca cafouj quinto, Hierony mo da Veyga, que fa-*
leceo em Goa depois de fey tos grandes ferviços íexto , Simaó da Vey- ;

ga, famofo íbldado, & Capitão mòr de Armadas, que morreo em Africa
.jia batalha delRey D. Sebaftiao > feptimo, Galpar da Veyga que fendo ,

ferido no cerco de Mazagão , foy depois morrer na índia oy tavo foy ;

p. Brizida Cabral> mulher de Francifco Botelho de Andrade , Guarda


mpr do Infante D. Luis;& teve por filho a Diogo Botelho de Aadrâde>
que também morreo na batalha deíRey D. Sebaftiaó em Africa.
. 68 Finalmente efta Capitania de Machico na iVíadeyra, ainda
que não tem Cidade, como tem nella a Capitania do Funchal, tem ÍStaòtemefiaCa^hJ^
çomtudo, além de nobiliílima Villa, & cabeça de Machico', dequafi féis »^f'» OdMe alglÍA ^
centos vizinhos, tem demais a nobreza de fangue, 6^ fidalgos de gera- ^^'**"'*^^£'**"^'^'^f*
'*^^''^, ^ feu*
ça6taóantie;os,quenaõfemrazaó feprezaódeferema gema dafidal- '
•j JT11 T^rv^^r ^ Cintes mz.tnhet.&M-
gu ia de toda a 1 ha, como conta t ructuofo no Uu, 2. cap. i f & ainda de- ,„^^ ^ excede a rilln
1 r, • 1 ,
1 .

mais tem a nobiliílima Villâ de Santa Cruz com oytocentos vizinhos <íe5ít«MCr»«,f«fía
junta ao mar , & Com bom porto, & tam melhor terrenho j do primeyro oytocenm ^ txcel» ,

afllicar, & da primey ramal vazia , 6c <las primeyras j & mais frefcas fru- i'»te porto, drvfec:^
tas, que atè em Portugal naó faó algumas Cidades, mayores,Gu mais ha- ^^"^ terrenht ^ Jérà

bres que efta Villa, & que efta Capitania? & feus Doíiatarios foraõ tam-
Z''ln7^%fc%
bem Condes comoos do Funchal, Sc fabido he qUaçs hojeofaôi& opo- ,J/^ Çdi^ím^í7l
deráó moftrar os Excellentiílimos Condes do Vimiofo.
fi) ji prez.uv4 fet à
—^- ' '

, ... .. .
:
-..-,: ".
.'<::-''\a;^-.^ lem^d.ifid&fguUdé
V-.
C A P I T U L O X.
- -

Do primeyro Capitão Donatário do Funchal em a


Madeyra,

,,
69 /^ Om muyta razaô o douto k fempre Veiieravel Fruduo^1

Vj/ fo introduz efta matéria em o leu Ltv. 2 . cap. 3 . advertindo,


que como todos os homens procederão do mefmò pay j & mãy , Adam;, v
"
& Heva , claro eftá que nenhum nafceo fidalgo de leu primeyro princí- '
"*

pio, nern com o privilegio da fidalguia j mas a cada hum depois lho de- •»«
,
».: li
raõ fuás obras , ou de feus ailtepaíTados ; ou a aceytaçaó defeu foberanoí
Principe , que com ella Ihedeo a fidalguia, como a Abel a deraó fua«
gratas obras, & o acey tallas Deos y & a Caim a tiráràõ fuás ingratidoens
í iifticas') a Sem, & Ja pheth o refpeyto guardado ao pay Noè j & fez fer-
vo vil a Cham o perdido refpeyto ao mefmo pay j Sc eítifim aambiçáo
tirou a primazia a Efaíi, 6c a temperança de Jacob a alcângou com a ten-i
Livro III. Da famofa Ilha diMadeyva.

çaó de feu pay Ifaac } 8c fempre crefcerà mais a fidalguia ,


que comcft
cm obras próprias, para os feusdefcendentes, do que a que fó fejad*
dasdosalbendcntesjjáalheas.
70 Dos pays pois ,. &
afcendcntes de Joaó Gonçalves Zargo,
primeyroGapitaó do Funchal, não ha certeza alguma } porém de fuás
obras ha memorias illuftres , porque fe diz , que eltando o noffo
Infante,,

D. Henrique no cerco de Tangerc , nellc fe achou Joaó Gonçalves , Sc

Cavalleyrp.
pelejou tam valerofamcnte , que o mefmo Infante o armou
Mais fe diz , que defafiando hum Mouroaquem da dita praça fcatre-
&
veífe a pelejar com elle , que fahindo fucccffi vãmente três , ôcficando
todos em o campo mortos , fahira entaõ hum foldado , fó
com adarga
embraçada, & &
hum pedaço de pao em a mão direy ta , enreftando cohfi
o Mouro , não fazia mais que com o pao déftramente defviarlhe as lan-
eadas ,atè que depois de muytas , defviando huma , deo no
Mouro tal
pancada com o pao, que o deytou por terra,& prendendo-o logo o trou^
xe por feu cativo á praça , & que porque efte Mouro fe chamava
ZargOj
tomou efte foldado , & ficou com o appellido de Zargo & :
hus dizem
que efte fora o mefmo Joaò Gonçalves , de que agora tratamos j outros
que fora feu pay, ou outro feu afcendentej 6c muytos accrefcentáo , que
fe chamava Zargo , por ter perdido hú dos
olhos no dito cerco de Tan-
gerc em defenfa dos Infantes D. Henrique,& D. Fernandoiôc
como na*
quelle tempo fe chamava Zargo quem tinha hum olho menos
,fiçoulhc

ífte honrofo appellido ao noíTo Joaó Gonçalves. ^


-
^

71 O em que todos convém be , que efte grande loldado toy


da cafa do Infante D. Henrique , que delle fiou a guarda da fua cofta do
^4 rniyir tiolríx.*
Algarve, onde andava com algúas caravelas, que eraó as Guarda-cof-
dofrimtiro Capitai defcubrimentô
tas do tal tempo j 6c a elle principalmente commetteo o

«^í* da Madeyra } que voltando com as alegres novas de a ter já toda def-
6c
frimtyro 4 f «*»»
MlRty o nppíUido de eubcrta, Elíley D. Joaó I. o fez então fidalgo
de fua cafa, lhe confirmoti
Camera, é" deftiH o appellido , 6c deo as armas dos Camcras , 6c a Capitania Donatária de
^jeendentes. meya Ilha, como acima já vimos em o cap. 5 Sc todos também convém,
.

Almeyda,
que era efte Capitão cafado jà com Conftança Rodriguez de
6c virtuofa,
mulher ( diz Fruátuofo ) muyto principal , devota , fanta ,

Gonçalves da
da qual teve três filhos , 6c quatro filhas primeyro, Joaó
:

Camera, que fuccedeo em fegundo Capitão, de que abayxo tratare-


mosj fegundo Ruí Gonçalves da Camera , de quem fallaremos nos
Ca-
pitães da Ilha de S. Miguel terceyro , Garcia Rodriguez da
j
Camera>
que çafou com Violante de Freytas , de que houve a Aldonfa Delgada,
que cafou cora Garcia PereftreUo , Capitão Donatário dé Porto Santo.
l yi Para f.ias quatro filhas pedio o Capitão Zargo aElRcy^
lhe man-
lhe mandaíTe quatro homés que com ellas caíliíTem 6c ElRey
-,

Hl
dou quatro fidalgosj primeyro , Diogo Cabral , irmaó do fenhor de Beí^
^ti^cklgos <jue El-
Hey mande ft de Por-
monte , que cafou com a primeyra filha do Zargo Brites Gonçalves da
tugal para cafarem Camera , 6c defta houve a Grimane2:a
Cabral , mulher de Triftaó Tey-
cem M filloM do pri' xeyra, Capitão terceyro de Machico houve mais Joaó Rodriguez Ca-
j

meyro Capitão dnfn^ bral que cafou com Conftança Rodriguez a moça 6c houve também a
,
;

eltAl & de jtHi def-


,
Joanna Cabral, mulher de Duarte deBrito;6c houve mais a mãy de Tri-
éndentH,
ftaóVaz da ycyga,& mulher de R.UÍ dcSoufa oVelho,&a de Ruí
-
' •

Gomes
Cap.^^I)opnmeymDonâ^i:i<>dopanch4. lj|

Gomes da Grã , Guarda mòr da Excellehtc Senhora j & finalmente a^


mulher de Vafco Moniz , de Machico.
73 O fegundo fidalgo que ElRcy mandou, foy Diogo Affon*
jÍQ de Aguiar o Velho , que cafou com a fegunda filha do Zargo líabel

Gonçalves da Camera , de que nafceo Diogo AíFonfo de Aguiar o Mo- \


ÇO3 & Pedro AíFoníò de Aguiar, o Rapofo, Armador mòr do ReynO) Sc
Ruí Dias de Aguiar o Velho j & Ignes Dias da Gamera > mulher de Lo-
po Vaz de Camões fidalgo de Évora , & Confiança Rodriguez da Ca*,
mera, que nunca cafou. j

74 O terceyro fidalgo quede iPortiigaí mandou ElRey pari


a Madeyra , foy Garcia Homem de Souía, & cafou com a terceyra filha
do Zargo , Catharina Gonçalves da Camera , & delia houve a Leonor
Homem , mulher de Duarte Peftana. E aqui he de notar , que fendo o
Doutor Fruftuofo tam erudito, & verdadeyro, que nefte feu liv. 2. cap.
30. no principio, aíRrma terviílo a hiftoriados Capitães do Funchal,
compoíla primeyro por Gonçalo Ayres Ferreyra , & depois pelo Có-
nego Hieronymo Leyte , Capellão de S. Mageftade , & ter procurado
com grande trabalho ouvir, & faber efla hifloria , de outras peíToas dig--
nas de fé , & além das antigas Chronicas do Reyno & tendo efle mef-
-,

mo Doutor dito que as filhas do Capitão Zargo eraõ quatro, & que,
quatro fidalgos pedira a ElRey para cafarcm com ellas > comtudo nem
de quarta filha , nem de tal quarto fidalgo faz aqui menção algfia j pça^^
eu por hora acho com que foltar efla duvida. Veja-fe liv. G.cap.^. ,
ff
75 Gafadas pois as filhas defle grande Capitão, & primeyro .,
do Funchal, elle fe applicou todo a fazer Povoações., & repartir as ter- ^^ ^*'y^^ ^*^ V^'}
ras da íua Capitania , dando-as de fefmaria para fe cultivarem , confór* /' í
^^^"come atntú
me às ordens delRey , & do noíTo Infante, & conforme ao oíficio de iaõi/eího,eratoafft4
Ponatarioi & viveo ainda tantos annos, & chegou a tal velhice, que por vifia terror dos ini'^^
homés feus criados fe fazia levar ,& pôr ao Solj &: com animo ainda de migos;&comofanmJ
tam grande Gavalleyro , que havendo então guerras entre Portugal , & "^'"*' *"* ^^^'* "*^^i
Caílella , & vindo vários navios Caflelhanos para deítruirem a Ilha , el- *'"'* ^fi enterrou.^
le fe mandava armar, &: pôr a cavai lo , & capitaneava a fua gente de for-

t«, que obfervando-o do mar os inimigos , nem o pè oufavaó a pòr em


terra. E tendo affim governado a Capitania do Funchal por mais de
quarenta annos, morrco não menos Catholico ,& piedofo Chriílaõ, do
que tinha fido valerofo, & ditofo Gavalleyro j &jaz fepultado na Ca-
pella morde noíTa Senhora da Conceyção, que elle mefmo tinha man-
dado fazer para feu jazigo,& dos mais feus defcendentes.

C A P I T U L O XL li
ISeganão Cdipltaô di
Dofegundo Donatário y & Capitão do Funchal, funchal, cafado com
H. Maria de IStoro*
76 Gonçalves da Camera, chamado o da Porrinha, (^ por nha,bifnetadeDont
JOaõ
coftumar trazer hum pao na maó ) filho mais velho do infig- ^'«"V*"? ^'J <^^^'*'
o. 1íucredpnan
iie Zargo, navna
uccedeo ao pay na Capitania, &
Canífanía.^ governo
croví»rnnHn
do Funchal^Sc foy gj ,&d0sdefieffj
Fnnr^hal.^ fnv^"''^'* '

H tam
t^He tevff*

«^
fàm grande Cavalleyro,&: em armas tarh conhecido ;,efpccialmeh te era
Arzili^ , & em Ceuta de Africa , que cafou com D. Mana de N oronha,
filha de Joaô Henriques, que era filho de D. Diogo Henriques, Conde
de Gijon,& filho natural delRey de Caftella D-Henriquejôc da dita bif"
fieta defte Rey houve os filhos leguintesr primeyro, Joaó Gonçalves da
€amera,que morreo moço ; fegundOjSimao Gonçalves da Camera,que
foy depois o tercey ro Capitão tercey ro, Pedro Gonçalves da Camera
;

qtie cafou com D.Joanna de Sá, filha de Joaó Fogafla &: da Gamareyra
-,

mòr da Rainha D. Catharina , mulher delRey D. Joaó III. da qual D.


Joanna houvÉ a António Gonçalves da Camera,Monteyro mòr delRey
D.Sebaftiaó, & a Joaó Fogaíra,que morreo folteyro;&: a Pedro Gonçal-
ves daCamera, que chamavaó o Porráo 6c a três filhas que foraó
-, ,

Freyras no Funchal, das quaes vieraó duas reformar oMofteyroda


Efperançaem Lisboa, aonde hu ma delias foy muytos annos continues
ÁbbadeíTa.
y-/ O quarto filho defte fegundo Capitão foy Manoel de No-
ronha , que cafou , primey ra vez , com D. Beatriz de Menezes , neta do
&
Conde D: Duarte, defte cafamento nafceo António de Noronha,que
cafou em Caftella, & D. Maria que cafou com D. Simão de Caftelbran-
co. Cafou fegunda vez o dito Manoel de Noronha com D. Maria de

l!
Taide , filha do fenhor da Ericeyra , & defte cafamento nafcèraó Luis
<íe Noronha , Commendador de S. Chriftovaó de Nogueyra , acima do
Douro i& D. Anna , mulher de Pedro AfFonfo de Aguiar j & nafcèraó
líiáis féis filhas , D. Joanna, D. Cecilia , D. Elvira , D. Bartoleza , Dona
'


Conftança, & D. Antónia. Efte pois Manoel de Noronha, quarto filho
do fegundo Capitão , como grande foldado , á fua cufta íoy da Madey-
ia foccorrer a C,afim, &: com elleforaó outros fidalgos da mefma Ma-
deyra, como Joaó Dornellas , esforçado Caválleyro j & de grande no-
me, & &
fama entre os Mouros, que de huma fahida trouxe em o peyto
huma lançada ; &era cafado na Madey ra ; & foy também Henrique de
Betencor, fidalgo que lá o fez grandemente ,& o Capitão da praça era
entaó Nuno Fernandes de Taide.
78 Do mefmo fegundo Capitão, além dos fobreditos quatro
filhos, nafcèraó mais as filhas feguintes: primeyía,D. FelippadeNó-
ronha, mulher de Henrique Henriques, fenhor das Alcáçovas
Dosfilhosàefiefegíi- , de que

do Capitaõ.^uecafa- houve a D. Fernando Henriques , & a D. André Henriques & a Dom .

rad com os melhores


j^^^ Henriques, que ficou na Ilha , & foy pay de Dom Affbnfo Henri-
Jidalgos Ac TortHgal.
^^^^^ Segunda filha foy D. Mecia de Noronha mulher de D.Martinho
,

de Caftelbranco, Conde de Villa-Nova de Portimão , de que nafceo D._


Francifcode Caftelbranco,herdeyroda cafa,&: Camareyro mòr delRey
D.foaóIII.&D.Affonfode Caftelbranco Meyrinho mòr, & D. Joaó
de Caftelbranco, & D. António de Caftelbranco, Deaó de Lisboa, & D.
Maria de Npronha, mulher de Dom Nuno Alvarez Pereyra, irmaõdo
Marquez de Villa ReaU & a rtiulher de Joaó Rodriguez de Sà , Alcay-
de mordo Porto & a mulher de D. Rodrigo de Sà, Alcayde morde
;

Moura & a mulher do pay de Alonfo Peres Pantoja. Terceyra filha do


;

dito fegundo Capitão fe chamou como a mãy , D. Maria de Noronha,


,

& cafou com o Marichal , & delles nafceo o Marichal Fcrnaó Couti-
nho,

V
Cap.XII. Po tercèyro Capitão Donatário do FuncliaL t/
nho, que morreo na índia ; &.a mulher de D. Luis da Silveyra^ Conde
da Sortelha, &" outra que morreo Dama do Paço. Quarta filha do meC»
mo fegundo Capitão foy D. Conftança de Noronha, que nunca cafou*
Qiiinta foy D. llabel, pnmeyra Abbadefla do Funchal. Sexta,D.Elvira,
bí feptima D. Joanna , ambas Frey ras. Oy tava , huma que morreo me%
ninai &
ultimamente teve hum filho natural, &
legitimado, Garcia da
Çamera,pay dejoaõ Gonçalves daCamera^ de banta Cruz de Ma-*
chico. y
79 Fez efte fegundo Capitão o Mofteyro das Frey ras de San-
ta Clara, acima do Funchal, em a Igreja de noífa Senhora da Concey-
çaõ, para recolhimento de fuás filhas, &: das de homés principaes^ & co-
meçando-oem 1492. já em 1497. veyodaConceyçaódeBejaafilhaD.
Ifabelcom quatro Freyras mais parao novo Convento. Foy efte fegun-
do Capitão do Funchal , efpelho de bons Capitães em valor , & chrif-
tandade. Morreo no Funchal a 6. de Março de 1501. & de 87.annos,
íendo governado 34.

C A P I T U L O XII.

Do terceiro Capit ao chamado o Magnifico.


y

'
So ç imaó
^o
Gonçalves da Camcra , fegundo filho
( por falecer cc-
v3 o primeyro ) fe feguio na cafa ao pay Joaó Gonçalves da
Camera o da Porrinha , & no mefmo anno foy confirmado em tercey- Terceyro Ctífitao,
,

ro Capitão do Funchal por ElRey D. Manoel. Chamáraó-lhe o Mag- chamarão o M-^^nt-


^
nifico porque nunca alguém lhe pedio coufa , que elle, podendo, a fico,por naofer menos
,

não deíie. Foy taó dado á guerra , em honra de Deos , & da Coroa , con- liberal do queguer- ,

reyrox cafou duas ve-


tra Mouros , que nove vezes paíTou a Africa,& áfua cufta levava muy-
z.es^ambas
ta gente, & bons foccorros, além de outra gente,que da mais nobre tam- mamente ^é" ieam' illuftriffi-'-

bém hia , como o jà nomeado Joaò Dornellas , & acharfc com o Duque bos os matrimoniot
de Bragança na tomada de Azamor j & neftas idas a Africa gaftou tanto teve muytos filhos^ &
efte, com razaó chamado Magnifico Capitão que morrendo achou ter renunciando acafa na
,

gaftado mais de oyrenta mil cruzados , de que feus herdeyros pagáraõ primeyro veyo para ,

aindacincoenta. E por ferviços taó grandes ElKey Dom Manoel, em o Portugal ^& morreo
em Matoz.inhos à9
anno de 1508. fez Cidade a Villado Funchal j confirmou os foraes, &
Porto.
liberdades, que ElRey D. Affbnfo V. tinha dado à dita Villa, & lhe ac-
crefcentou outros que hoje tem , com que naó paga direytos de manti-
mentos algus, mais que o direyto do quinto do aíTucar. E o mefmo Rey
à fuacufta lhe fez a Real Alfandega, & a Sé Epifcopal, como abayxo di-
remos.
81 Cafou efte terceyro Capitão com D. Joanna, filha de Dom
Gonçalo de Caftelbranco, Governador de Lisboa , fenhor de Villa No-
va de Portimão, da qual houve os filhos feguintes. Primeyro,
Joaó Gon-»
çal ves da Camera , que logo lhe fuccedeo. Segundo , Manoel de Noro-
rilia,Bifpo celebre de Lamego ,& Camareyro do fecreto do Papa Leão
X. Terceyro , Joaó Rodriguez de Noronha j que cafou com D. Ifabel
-. ij H de
livro í 1 r* Da fitínbfí í Sá da Maciéy ra 'o

dé àe Jóaô Fernandez do Arco liamefma Mádeyi*a,d(S


Abrifeuvfiiííà
qiie não houve filhos,& foy Capitão de Ormuz em tempo dó Gover-
Hador D. Duarte de Menezes, C^iartOjD.Felippa de Noronha, mulheí
Ul 1
de-D. Duarte de Menezes, filho herdeyro de D. Jo«ô de Menezes , eha-í
mado o Conde Prior, poir fer Conde de Tarouca , Prior do Crato ^ Sc
©apítáó de Tangere , Coramendador de Coimbra , &: Mordomo mòr
éelRey D. Manoel, de que houveaD.Joaóde Menezes^ Capitão dé
Tangei:e,6c a p. Pedro de Menezes. -

*=!?;
82 Viuvou da dita primeyraimithérefteterceyroCapitáo3&:
éâ^fou fegundá vez com D. Ifabel da Silva , filha de Dom Joaò de Ataí-
de, Regedor da Jufl:iça,& filho herdeyro do Conde de Tarouca ,& dá
cafa deAtouguia,& o neto deite foy Conde de Atouguia, chamado
Joaó Gonçalves. Do fegundo matrimonio defte terceyro Capitão naf-
cèraó eíles filhos. Primeyro, Joaó Gonçalves de Ataídcjque morreo fol-
tèyro. Segundo, Liiis Gonçalves de Ataíde , fenhor da Ilha deferta , M
cafado com D. Violante da Silva , filha de FrancifcjO.Carneyro , Secre»
tario delRey, de que nafceo Joaó Gonçalves de Atâíde,& Martim Gon-
ÇalvêSr Terceyro, três fiihaSj-D.Bxites, D, Ifabel ,& D. Mar-ia, Freyras
no Funchal. QLiarto> hum filhp natural , Francifco Gonçalves da Ca-
mera , grande Cavalleyro , & foldado , <io habito de Chrifto com tença,
:!:• .

& depois Capitão General de guerra na Ilha, & caiado, & fçm filhos.
83 Porindifpofiçóes renunciou o governo eíle rérceyro Ca-
•f '! pitão no anno de 1528. em feu filho morgado, & fe foy para Matozi-
líhos dó Porto em Portugal , onde viveo retirado , & em 1 5 30. falédfeo,
8c depois fe trasladarão feUs oílbs para a Capella de Santa Clara doFua-
chal, jazigo defeu pay, &
avò. Por fua mortelevou Luís Gonçalves dé
Ataíde, filho dafegunda mulher,aliha defertajque também era do mor.^
gado mas por ter fido promettida em arras a fua mãy , poriíTo a levouj
5

& rende hum amio por outro duzentos mil reis. Defte terceyro Capi-
tão do Funchal trata mais largamente Fruduofo & de fuás idas a Afri-
,

ff c^) no Uv. 2. áddc o cap. -^2. âth 1,6. /*


:

CA P I T U L O XIÍI.

Do quarto Capitão Joaõ Gonçalves daCamera yter-^


ceyrodonome,

jQuartoCapitaõ, João
84 ç Eguioefte Capitão os illuftres paíTbs , Sr heróicas obras dé
Conculvts da Camt- O que con-'
^6U pay, levando vários foccorros aos Portuguezes
quiftavão praças em Africa , & efpecialmente ao Sereniílimo Duque dé
ra,fronteyro de Afri-
ca , como (em cvos^ Bragança,que andava em tam Realempreza,& tamCatholieaidóqú^
cafado com afilha do tudo trata largamente o noíTo citado Fruítaofo Uv.2. cap.-^J. & 38
Conde Prior D. foaõ
85 Foy efte Capitão cafado com D. Leonor deViihena, filha do
de MentT,es :fiy feu
íegundo filho o Vene-
Conde Prior D. Joaó de Menezes ,&: delia houve os filhou fcguintes.'
ravelPadre huiíGc- Primeyro, Simaó Gonçalves da Camera feu fucceíTor. Segundo Luís
, ,

çalvesda Camera^da Gonçalves da Camera, Padre da Companhia de JESUS, mayto eftima-


Companhia ác ]efíis^ dode feu próprio Fundador S. Ignacio,& njuyto valido de grandes, Sc.
'^.j
•é *^ fobe-

wmmM m
Cap.XlV.Bo 4.&5.I>onat.do Fucli.&i.Gõá.da Calliet. 8^
foberanos Príncipes. Tercey ro, Fernaó Gonçalves da Camera, que ma-í ^^ .^ ^y^- 2)'
//Jitò
faraó os Mouros em Tangere. QLiarto.jMartim Gonçalves da Camera, ^e Vilhena càíou cõ»
Clcrigo, Doutor,& Theologo em Coimbra, &
grande Privado delRey Almirante de Perta-
D. Sebaftiaó. Qiiinto, Ruí Gonçalves daCamera , celebre , ía.moíóialD.Lepedejii^tj &
, Capitão da índia emOrmuz. Sexto, D. Ifabel de Vilhena, que cafou'^.**^''>^fi
com o Almirante de Portugal D. Lopo de Azevedo , de que nafcèraó a
Almirante D. António de Azevedo, & D. Joaó de Azevedo.
86 Faleceo eftc quarto Capitão no Funchal de 47. annos de
idade , & dizem que de peite, em oanno de 1536. jaz fepultado com
feu payjSc avós na fua Capella mordas Freyras de Santa Clara > ôccom
,morrer tam cedo , fez na guerra acções muy gloriofas , que largamente
refere o citado Fruduofo no cap. 3 7 & 3 8 do liv. z de fua Hiitoria,
. .

^——«— ^—i^^^**^^—^M—i——^— — iiii rm ,1


—^W^^—^W— 11 —^— Mi m» III il i m tf

CAPITULO XIV.

Do quinto Capitão do Funchal ^éptimeyroCondú


da Calheta,

87Ç[ Imaó Gonçalves da Camera em vida do quarto Capitão fett


l3pay,noanno de 1533. foyfoccorrer a Vil la de Santa Cruz
do Cabo de Guè 5 & com tal valor, que fez que os Mouros deyxaífem ^^^^^^ CabitaTP
pcercp. Em 1537. & tendo ainda fó vmte & quatro para vinte & cinco ^^^o «»»»« em lifHJ
annos de idade, foy confirmado na Capitania do Funchal ^otE\R,Qy ca,ca[ottcemhuiiDíi
D. Joaó III. &logo em 1538.0 cafouo mefmo Rey com D.lfabcldemadaRaitthA^ueti'
Mendoça, filha de D. Rodrigo de Mendoça , fenhor de Moro em Caf- "^'^ '^*»'^o ^' Cofiei'-
tclla,aqual tinha vindo a Portugal por Dama da Rainha D. Cathari^»^^^*^^^'^^^"'»
na, &
deo-lhe ElRey emdoteoytenta mil cruzados c™ jeitos, dinhey-^^^^^^^/^^"^^^^
ro, &
oíficios. Em
1542. veyo efte quinto Capitão com fua mulher pa- eomtodosfe voltoud^
ta. Madeyra , trazendo já o primeyro filho feu Joaó Gonçalves da Ca- Madeyr* para Por*
a
mera, depois na Ilha teve o fegundo , Ruí Dias da Camera ,'grande foU tftg^ili
dado em Africa > terceyro , D. Aldonfa de Mendoça, que caiou com D. ^

Joaó Mafcarenhas Capitão dos Ginetes ; quarto , D. Leonor de Men-


,

doça, mulher de D. Joaó de Almeyda, Alcayde mor de Abrantes.Teve


mais filhas legitimas a D. Joanna , & D. Ignes , Freyras no Funchal j Sc
por filhos naturaes a Fernaó Gonçalves da Camera , eíludante em Co-^
imbra & a Pedro Gonçalves da Camera, que em Coimbra morreo, fen- Ficando o Funchal se
j

do também eftudante & com toda efta cafa voltou efte Capitão para Capitai rejidente, dr
;

Portugal, & ficou na Ilha governando feu tioFrancifco Gonçalves da.-^*^''''^"^'' hum/ete

Came^. ZhrlÕ! 1'Z'rVa


Governando pois efte Francifco Gonçalves,& já em o anno hotandoçenteemur*.
88
de 1566. a 2.ou3.deOutubro(dizonoííoFru£luofono//x'. 2, cap. 4.4,. ra,entraraõ a CtdaJ
45. 46. & 47. ) chegarão à Mádeyra três navios de guerra , ÇoíTarios de &fortalez.a é* , ,

Francezes Lutheranos, que hiaó para a Mina, 6c fentindo-fc jà faltos de /""" ^»f»z.e dias jaJ
gado para feu fuftento fe rcfolvèrão em o ir bufcar á terra , & para iíToJ^*"!''!? ^'*^''.* ^^
,

na praya fermofa hõa legoado Funchal , lançarão armados mil folda- ^.^^^^^yj-^* '/
,
*^/ly^^
dos, ou, como outros dizem, oytocentos deyxando os do marítimo ^p-pàcs Donatários,
, ,
#
vVerno nos navios: vendo, ifto os da Cidade acudirão a cayaUo,& itmfiaõfittsfHhJUmtls^-
H ly mi-
^ót Lmoin.Dafamo{aIlhádaMá^eyrí,. :JK.r|sD

çf^P , & quem ú


impedirem o paflb aos inimigos , fe puzeraó a obíervar
que faziaó , & por os verem armados lhes fugiaó j &
fabendo os inimi-*
vizinhos, ôcaquelles decair
gos que a Cidade tinha menos de doiismil
vallo lhes fugiaó , refokitamente os feguiraó , &
inveftiraò a Cidade , ^
poucos , por lhe fugirei»
onde o confiado Franciíco Gonçalves com j a
recolheo a Fortaleza & os
os maií , fez alguma refiftencia , & logo le i

eftava jádefcrta, comr


Francezes tomando livremente a Cidade , que
dentro , & muytas
metf èraó a Fortaleza, que tinlia trezentos homens
mulheres graves, & a tomàraò facilmente, &
degollàráo quafi todos, ôc
entre as mulheres, &
fbraóachar ao Governador Franciíco Gonçalves
fó por roffos delias eícapou cora vida^ii.áú.j^í.::^ ^
'- '•
,
:^
é '

Sabendoiítoos da outra: Capitânia de Machícoy&banta


89
Cruz,acudiraólogoparadarfobreosFrancezes, paràraômeya legoa
defronte da Cidade , por lhes vir avifo do
Capitão prezo Francifco
porque o matariaó a
Gonçalves, que nao commetteflem aos Francezes,
fe queriaó ir logo j Sz comtu-
clle, & a fua mulher, & que os Francezes
do quinze dias eftiveraÕJia Cidade,fem damno feu algú, roubando,&: fa-
CapitaÓ Fran-
queando grandes thefouros.Morreo-lhes comtudo ofeu
ôcdeílaliuma lafcadar na perna
ccz, por dar húa bala em huma pedra,
fobrcvirem herpes &
âo Francez, & naõ fazer efte cura alguma , & Jhe ,

morrerj & diziaô fer hum Conde, ou irmão de hum


Conde. Fàílados os
quinze dias fe foraÓ eftes hereges i naó fó faqueando &
levando tudo,
,

& mais de hum milhaÓ de ouro, mas deyxando deftruidas


as igrejas , &
90 ido avifo a Lisboa por diligencia da Vilb
De tudo tinha
&
de Santa Cruz de Machico , por mais depreíTa que
de Lisboa fahirao
oyto Galeões, por General Sebaftiaó de Sá, o do Porto,& diante del-
&
lesjoaó Çonçalves da Camera , filho do Capitão Donatário Simão
Gonçalves com mais dous navios , & muy tos parentes , amigos , ne- &
nhús chegarão já fenaó dous dias depois de partidos os Francezes j&c
. com a detença que fizerão em terra, com que ainda mais a dcítrKÍraó,
partirão já tarde em bufca dos Francezes, ôc já os naó
podera6 encon-
trar i & ainda que por tal fucceíío foraó depois
em Lisboa algus culpa-
dos, comtudo fó Francifco de Porres , fidalgo, filho do Capitão Dona-
do Faval, foyfentenciado a degoUar, &:a fentençafe^ mudou era
tário
fó degredo para o Brafil & depois veyo a morrer na
5
Ilha Tercey ra por

fentença capital doMarquez de Santa Cruzem o anno de 1583.


91 O que fica dito deftadefgraça do Funchal, he em fubílan-
cia totalmente o mefmo que o citado
Fruãuoío refere extenfamenteno
feu Uv. 2. cap. 44. 45 46. & 47. fem fe lhe addir , nem difcorrer mais- fo-

bre tal fucceíío. E no ca^. 48. accrefcenta o fegumte quafi por formaes
palavras. ^ j ^ 1
morgado
Com o fobredito Joaô Gonçalves da Camera ti-
92
nhaõ idonofoccorrodous Padres da Companhia de JESUS,
enviados
primeyros que defta Religião
Dafmdacaodoccl- pela Província dePortugal, &foraÕ os
le^,0da iompunhta entràraÓ naquella Ilha, &
pelo exemplo, pregação , devoção dos taes &
tu fE^VS em o Fu- Padres fe moveo o povo a pedir a ElRey lhe concedeííe , fundaíle hfi &
í*"^- ' "
Collegio dclles no Funchal -, & no anno de 1570. na Qiurefma , foraô
. .
leis
Cap.KV.Dolextò Capitãé(íòFSetité8i.Cãcl.dáíCalliet. ^%
fèf§ áeftesReligiolosvafaberjReytor Manoel <ieSiqu;eyra, Préfeyta
Pedro C^iarefoia, & o Padre Belchior de Óliveyra, & mais três Irmãos»
à quem o Key deo.de renda cada anno feiscencos mil reis, com os qíiacs^
& com outras efmolas , em 15 78. acabou de fazer, hum Collegio c^ íéf
«íundo Reytor Pedro Rodriguez , de muyta virtude ,& erudiça^j &
íundou hum magnifico Templo, em que prégaó, confeíTaó/azem dou*
trinas, ^ enfinaò Theologia moral, latim, &
Rhetoríca, envolto tudo
feom os bons coftumes, & virtudes, de que faófmgular exemplo aonde
quer que fe achão. N
áo fey qual deftas coufas foy mayor para a Ilha ,fe
ò que perdeo çom os Coflarios , fe o que ganhou com eftes Rcligiofos.
Oh bem aventurada, & mais que ditofaperda! i . -. í* 1

Si^io^Òiiçalves da Camera, pelos feúsferviços, & de feus avós , Con- ^-F' ^«'«^^ ^''.?'^'*^
de dá Calheta , Villâ da mefma Madeyra, na mefma Capitania do Fun^ ^{Jg^^J^ ^cSta
Chal, &lhe deo os oíficios do dito Condado, concedendo-lhe que os ofi j^fUada CapiíanUda
fieiaeS fé chamaíTem , em todos os autos , efcrituras , termos , &: manda- Fmchal.
dos públicos com èftas palavras, (pelo Conde noffo.fenhor , &porfeu/ilh&
herdeyroj depois qm vida , ) 6c porque no Func hal
forfervido levallo dejia
havia vinte & hum Tabelliáes do Judicial , ôc oy to das Notas , féis &
Enqueredores, ordenou ElRey D. Henrique em 1 5 79. que foíTemdez
Efcrivâes do Judicial , quatro Notários , 6c três Enqueredores , 6c em
fatisfação do que defmembrou de datas ao Conde , lhe deo mais os douí
oíficios de Efcrivâes dos Orfaõs, 8c o de Meyrinho da terra , ôc o de Ef*
crivaó da almotaçaria', 6c todos os do Judicial defta fua jurifdicção. Ti-
nha o Conde bons quatro contos de renda , em dinhey ro tudo , porque
atè a rendados moinhos fe lhe paga em dinheyro, 6c naó cm trigo.
04, Pelos feus vaíTallos fe intitulava aflim: O Conde Simão Gon-
çalves da Camera , do Confelho delRey N. Senhor , CapitaÕ , &
Governador
'4aJitpça na Ilha da Madeyra , & , Fedor defua.
najurifdtcçaÕ do Funchal
fazenda em toda a dita Ilha , &
na de Porto Santo , &fenhor das Ilhas de*
fertds^&c. ElRey lhe punha femprenas cartas, £><?»?, elle nunca o quiz,
nem que feus filhos o tiveííem j morreoa 4. de Março de 1 5 80. de idade
de 68. annos, 6c de governo 44. foy enterrado onde íeus antcpaífados na
Capella de S. Clara.

C A P I TU LO XV.
Dofexto Capim do Funchal^ & fegtmdo Conde
da Calheta.

filha de Dom Luís de Alemcaftro , neto delRey D. João IL 6c ( legun- ^^^^.^,,^^ hBfífiL
*
do dizem ) delRey Chico, ou Chiquito , de Granada > 6c por morte de ^ mmmiíinda.
ff I] pay moftrando as patentes que tinha delRey D. Sebaftiaó ,
que o fi-
izera priniey ro Conde da Calhia^ foy confirmado em fegundo Gonde>
mas
pt Livro lí L Da famoíâ, Ilha da Maideyra.
pouco foy ferido de pefte em Almeyrim , fendo de meya
fnas dáhi a
idade, & dey xando hum fó filho herdeyro , menino ainda de ítis mezes,
chamado Simaó Gonçalves da Camera. Depois mettendo-fe na poíTe
ileftes Reynos Fehppe II. mandou àllha da Madeyra por Capitão
mòr, & Governador delia o Defembargador Joaó Leytáo , & por Capi*
Pi; taó morda guerra a D. AíFonfo Ferreyra , Conde de Lancerote, &fe-
nhor de Forte- Ventura & no anno de 1582. foy António Carvalhal a
}
Sopnmeyro Carva-
lhal que foy à MA'
Cidade do Funchal com trezentos homés à fua cufta , para impedir o
deyra com 500. ho- defembarcarem os Francezes com ofenhor D. António 3 & nefte eftado
,

mis àfua cufia. ficou então a Madeyra.


96 Ifto he ( diz Fru£tuofo Cap. 50. ) o que foube por muytas,
& diverfas informações de muytas peíToas da Madeyra, & de outras par-
tes, & de muytos, & vários papeis que vi,& li, & elpecialmentc do quç
compoz o Cónego Hiefonymo Dias Ley te, da mefma Madeyraj o qual
tirou o que compoz , de hum caderno de três folhas de papel , que an-
da nos Efcritorios dos fobreditos Capitães , fobre o defcubrimento da
Madeyra , feyto por Gonçalo Ayres Ferreyra, (cujo original começa
com eftas palavras Chegamos a ejia Ilha , a quefuzemos nome da Madey-
:

ra } que veyo por companheyro do Zargo a defcubrilla o traslado do ;

qual mandou o fegundo Conde, &fexto Capitão Joaó Gonçalves da


.
1
Camera ao dito Cónego j & efte da fua letra lhe accrefcentou ao pè,
Que o tal Gonçalo Ayres Ferreyra era criado do Zargo porém che- 3

1! gando iílo á noticia dos defeendentes do tal Gonçalo Ayres na Madey-


ra, (qucíaóa mais illuítre, & grande geração delia} moíiràrãoaoditp
Cónego hum antigo Alvará do Intante D. Henrique , feyto em 1430.
em que chama a Gonçalo Ayres Companhey ro do Za rgo , & em que fe
continha o filhamento do tal Gonçalo Ayres & efte foy (accrefcenta :

Fruduofo } o primeyro homem , que na Madeyra teve filhos , & ao pri-


meyro chamou Adam , & ao fegundo Heva , donde procede a geração
í)o fidalgo Gonçalo
chamada da Cafta grande da Madeyra, que vem da grande cafa de
,

Ayres áe ^ue deÇ- Drumondo , & dos Reys de


Efcocia,& donde procedem os Ferreyras
,

cendto a família da Ilha de S. Miguel. Aífim acaba coma Hiftoria da Madeyra overda-
chamada da Cafia deyro, & douto Fruítuofo no fim do liv.j. f^/>. 50. mas porque no mcf-
grande , da Madey- mo livro mettc (comocoftuma) em diverfas partes outras material
ra , donde vem os a hiftoria que as ponhamos
que aquitinhaó o feu lugar, pede aqui.
Ferreyrai,

C A P I T U L O XVÍ.

Dõp/miptOj &augmejito doEjIado Ecclejiafiico em


a Madeyra, r

Dosprimtyros defcu-
97 /^ S primeyros Sacerdotes que entrarão na Ilha da Madey-
to & Madejret "(y- ^- ^^' foraó íem duvida da fempre venerável , Seráfica Or- &
jwff nefta diJferJoa ^^^ ^^ não íem fundamento fe podem chamar òs pri-
^- Fi^ancifco ; Sc
frimejra Mifi e^ meyros defcubridores Ecclefiafticos , naó fó deíla Ilha , mas da de Por-
,

forai Frades f/-rf«- to Santo, porque OS primeyros que naufragantes a habitarão algúsdias,
itfianos. fQj.35 Q5 Keligiofos Francifcanos , que nella com hum naufrágio foraó
dar,
'
Cap.XVI/DoBcclefiafticoEftâclQdaMaíteyra: ^|
lar , & que com ó§ |Jrimeyros defcubridores da Madeyrafe p.aííára^ ^
çlla i ôc outros dous Frades Francifcanos ,
que o primeyi:© Capitão dq
Funchal levou comfigo de Portugal para a Madeyra.y$c deftes Reli-
giofos devia fer aquelle que benzeo aguãj & com ella benta abendiçQoii
diffe aMifla , & oRefponfo íobr^
as Ilhasj & foy o primeyro que nella
âfepukurados defpofados Inglezes eraMachicOj como^tudoem (e»
ReUgiqfos o&
Jogar fica jà dito ; &: como coftumão fer eftes Serafiçpl
primeyros emoíerviçodeDeoSj&doproximo. --^vof" ítgfníííTí

98 PorèmotamCatholico^comoemtudoditoíb JoaóGont
Sc vio náotniha
çalves Zargo , logo que fundou a Villa do Funchal ,
Sacerdotes íèculares com jurifdicção Parochial , efcreyeo
ao In^
ainda
fante D. Henrique, pedindo que lhos mandaíTe, &
o Infante, como Mei
ftre da Ordem de Ghrifto, ordenou a D. Frey Pedro
Vaz , Prior entã<j
de Thomar , que proveííe aquella falta j &
o dito Ptior remettco logo à
Madey ra &
hum Sacerdote com titulo de Vigário , outros com titula
de Beneficiados j & da mefma provèo com outros femelhantes \
forte

Villa de Machico. Sabendo difto o Bilpo de Tangere,


fem mais licença j)^^yimejro\ &pr}2
delR^ey, impetrou do Papa hum Breve para annexar
a Ilha da Madeyra prÍ0 Bljpo do FMJ
mnc^ Ufoy ;&,
^o Bií pado de Taneere o que fabendo a Infante D. Brites, (como Tu-; que
5

torado Duque feullho,Meílre da OrderndeChrifto>pairou logo ^-^-^^^^^^


í>rovifaó em o anno de 1472. ao CapitaÓ do Funchal,
que nem a tal bil-
^^'^^^J^ ^^ ^^^^ ^^
po confentiííem na Ilha, nem o povo lhe obedeceíTe} & juntamente com ^^^^ ^^^ i^^^ji ^ol-
^

efta veyo outra Provifaó ào dito D. Prior de Thomar , notificando ao to», & tomoa logo •

povo , que ao tal Bifpo nao obedeceííe , & que cedo ElRey crearia Bif- Funchal a fer Bjjpn^.

padoproprionaIlhadaMadeyrai&omefmo efcreveoao Vigário dç do fomente &fof


MacWco ,chamadoJoão Garcia, que foy o primeyro De tudoifto ,& "^^^f^^^f/^f,:
das ditas Provifoés,& execução delias, confta do Tombo
da Camera do ^ '^^^ ,^^^,^
j^^ ^
.

'Funchal, aonde eftáo. . ^^ mnca là foy ; &


Ihè

99 Pouco depois em o annode 1508. mandou o Convento de^«p^<,^ío d. forgedá

Thomar à Ilha da Madeyra hum D.João Lobo , Biípo de anel , & foy o Lemos, frade Domi-
pr iraevro Bifpo que na Ilha entrou , chrifmou , & deo Ordens. Chega-
nico frtmeyro Bijfê
,

Lo aLodeÍ5iVSc decreto doSumn.0 Pontífice LeaõX.feytoao^


creada a Cida-
1 2. de íunho, foy por ElRey D. Manoel no mefmo anno J^2'c^^^olhe outr0
de do Funchal, & nomeado por feu primeyro Bifpo proprietário Dom jy^^i„ico D. Ferr.ã^
Dioo-o Pinheyro, Vigário que tinha fido deThomariSr com elle fe crea- ^^^ de Távora ^ne ,

nó,%: confirmarão quatro Dignidades , &: doze Cónegos êc depois á tambêUrgou


;
oBijpa-^

fupplicacâodo Bifpo fe creou de novo a Dignidade de Meftrò-efcola.


d^& IheÇnccedeoD.

M u nca o Bifpo Pinheyro foy à Ilha , por cm Portugal fer occupado em g^^^^^,^^^^^^^
ofcrviço, & negócios do Rey , & de todo o Reyno mas mandou
-,
hum jn^fi^i^aPatriari
Bifpo, d: Duarte , & hufn Provifor , & Vigário Gérál i & aíTim gover- ^^^ ^^ Ethiopia , D.]
íiou o dito Bifpo doze annos, Scfaleceonode 1506. foai NmesBarréto;

100 Seo 11 indo- fe logo na Monarchia de Portugal ElRey Dom d^ Companhia de fe^,
et ^^«A^F^-
loaõ III. & vendo quefe tinhãodefcubertas outras novas terras illtra-/^, )
marinas, fez , com approvação do Summo Pontifice , a D. Martinho de ^'Í^^^J^^
Portugal ( que era parente do Rey) Arcebifpo da Madeyra & do que ^ jj J^ ^^^^^^^ jj,
,

de novo era defcuberto ^ mas também efte Arcebifponurtca foy à Ilha, £^,,^ de' Figusyreda
^
^ íô a ella mandou hum Bifpo, chamado D. Ambrofio , que indo, chnf- Ums' De^Z dà ,

mando , Sc dando Ordens na Ilha , delia fe voltou a Portugal dentro de Sede A^ir.,,
f4 Livro III. Da famofa Ilha da Mâdeyra.'
^1 , i"yji luim anflò, de 1 5^9. para 1 540. &
o novo Arcebifpo deo Conftituições
á Madeyra , tomadas de outros Bifpados aos Cónegos concedeo três
:

mezes de eftatuto 3 feiís meyos dias de barbas ^ & outros dias de hofpe-
des , &de lavagens de fobrcpellizes , &e. & ainda nefte tempo naô ti-
nha cada Gonego de annual renda mais que doze mil reis cada anno j èc
inorreo cfte unico Arcebifpo em 1 547. fem jamais íahir de Portugal
f

loi Em 1548. veyo hum Bifpo das Canárias àMadeyra^ Sc


com licença exercitou nella o officio de chrifmar , & de dar Ordês , &:
logo pelos annos de i 550. pedio ElRey D.Joaõ 111. ao Papa fizeíTe Bif-
pados diftiniftos nas ultramarinas partes defcubertas , por ferem tam dif-
tantes entre íi ; &
que fícaífe a Madeyra com a de Porto Santo , &
o vi-
zinho Caftello de Arguim em Africa, fendo hum fó Bifpado 3 como já ò
craô as Ilhas dos Açores, & Saó Thomè, & índia j & que feu Metropo-
litano foífe o Arcebifpo de Lisboa > &: tudo o aílim pedido concedeo o
&
Papa , foy fey to Bifpo da Madeyra D. Gafpar , da Religião da Graça
de Santo Agoftinho j mas nem eíle foy à Ilha , & fó lá mandou hu Pi^o-
Vifor feu j & foy promovido a Bifpo de Leyria , &: dahi a Bifpo Conde
fem Coimbra &
para Bifpo do Funchal foy D.Jorge de Lemos , Frade
-,

Dominico , & foy o primeyro Bifpo proprietário que lá reíldio, a- &


chando que a Cidade do Funchal não tinha mais Parochias queamef-
xna Sé ,erigio mais dentro da Cidade duas Freguefiasj a de N Senhora
.

do Calháo, & ã de S. Pedro , & na da Sé poz dous Curas & em 1559.


;

renunciou o Bifpado^ & lhe fuccedeo D. Fernando de Távora , Domi-


nico também , & brevemente largou o Bifpadoj & foy pofto nelle Dorti
Hierony mo Barreto , Clérigo fecúlar , em 1 5 73. irmaó dos nobres Bar-:
retosdo Porto, & filho de hum irmão do Reverendiífimo Padre Joaô
Nunes Barreto , da Companhia de JESUS , Patriarcha da Ethiopia &c 5

efte Dom Hieronymo foy o que fez as Conftituições Synodaes da Ma-


deyra em 1578. per que fe governa o Biípado , conforme ao Concilio
Tridentino j &: depois foy promovido a Bifpo do Algarve ; & na Ma-
deyra lhe fuccedeo D. Luis de Figueyredo & Lemos , que era Deaõ da
Sè de Angra , de qUem em feu lugar trataremos mais largamente.

CA p I T u L O xvn.
Concilie-fe com a liba da Madeyra , Defertíís , &
outrm*

I02 "T^ Eílava dizer do governo civiljgt politico da Ilha da Ma-


Xv deyra , o qual he fabido,& muy to femelhanre ao de Por-
tugal , porque além do Capitão Donatário , que ha muytos annos não

Do governo politico^ affifte na Capitania do Funchal , mas em Portugal j &: na Ilha põem EI-

drdegfftrra^&da Rey Governador triennal j &


além do Ouvidor, (fe o Donatário o
fA:.enda Real em a querter diftinftode fi
) &
além do commum governo do Senado da
Ma da Madcjra;& Camera , tem Juiz de fora , & íobre elle Correíiedor com beca de Def-

t9 & frmoi ainda ri-^^^"^^^


do Porto com poíTe tomada , & com determinada alçada,
'

^uijjimoí. ^ pâflando delia vem de direyto as caufas a Lisboa aos Deíémbargado-


res

W
Cap. XVn.Concke-fe cõa Mad.& toastu^D^*
rês dos Aggra vos , aonde finaliz áõ na forffla; coftumada j &
além de tu-r-
do ifto ceiíi o governo da fazenda Real , cora Provedor que he Regia
«jfficiõ , Contador , Juiz da Alfandega y& outros officiaes , &
tudo ira-
médiato ao Confelho Real da fazenda em Lisboa 6c de toda
-, a Cidade
do Funchal , ôc ainda da Capitânia de Machico , he tam luftrofo o tra-
tb , como do fangue a nobreza j fendo que a abundância de frutos jà naã
he tantai , como nem he tanto oaíTucar , pofto que delle fe façaõ tantas
confervas ainda , ôc tam varias efpecies de idoces , que atè fe carregao
para fora como preciofa droga , 6c rendofa j mas a principal de todas he
a dos muytos , 6c excellentes vinhos , que para as nações eftrangeyras,
& para o Brafil, 6c Angola eft á indo continuamente , 6c enriquece rauy-
to toda a Ilha.
I02 Outras Ilhas demais ha junto à da Madeyra, que cha- .
^
maó Defertas huma he , a que ( depois de eítar ja na Madeyra ; o teli- ^^^^^- Dtfertfn
;
&
^
xiílimojoaõ Gonçalves Zargo, obfervou haver diftanteíó féis legoasj^^ç^^y^^ '

& mandando-a defcubrir, 6c achando que era de rochas , 6c fem agua do-
ce dentro , a naó mandou logo povoar , mas fó lhe mandou lançar algú
gado groíTo , 6c algumas aves , que multiplicarão logo, 6c ficou chaman-
do- fe a Ilha Pefertaj tem duas legoas de comprimento, 6c hum terço de
larguraj tem jà paftores, 6c hum Feytor, 6c fua Ermida, aonde hum Clé-
rigo lhes diz Miífa j 6c já tem agua , pofto que falobra y&c alguma ceva-
da, 6c trigo dà , ainda que pouco , mas muyto gado , 6c nâo tem coelho,
nem rato algum ; he por natureza inconquiftavel , por fer tam cercada
de continuadas, 6c altiífi mas rochas ,quefertão podem fubir fenão por
tal carreyro , que dous paftores dey tando a rodar penedos de cima , le-
vão com elles abayxo quanto encontrão , como jà de fado fuccedeo a
muytos Iríglezes, que queriáo ir bufcar gado. Eraô fenhores defta Ilha
os Capitães do Funchal mas efte fenhorio paíTou delles btevemente a
}

tuis Gonçalves de Ataíde , 6c chega a render duzentos mil reis cada


anno.
104 Défta primeyra Ilha deferta ,hum terço de legoa,
6c fó
eftá outra deferta Ilha , que cem fó huma legoâ de comprimento, 6c ain-

da menos de largo ^ 6c por iífo também a não povoarão , 6c fó lhe deytá-


raó cabras , que a ella vão bufcar com cães. A terceyra Ilha deferta , ou
lihèo ( què chamaó o llhèo Cham ) jaz entre a primeyra deferta , ôc a
Madeyra , &r de fó meya legoa de tamanho , porém de rochas altOjôc em
cima plano , mas por amor dos ventos fé não fêmea 6c difta quatro le-
;

goas da Madeyra, 6c fó meya legoa da mayor deferta , por cujo refpey to


eftâs três Ilhas le chamâo Defertas , como do nome da Ilha Terceyra fc
chamão Ilhas Terceyras , as mais Ilhas dos Açores , como diz Fruduo-
fo/M7. 2. cap.f^i.Scão Capitão do Funchal pertencilo cftas três Defer-
tas,por elle as defcubrir, pofto qyehojenem todas lhe pertençaô.
105 Ultimamente, trinta legoas da Madeyra para o Sul, 8c
indo para as Canárias , eftáo duas Ilhotas mais , a que chamaó as Salva-
gens com diftancia de três legoas entre fi , 6c huma tem meya legoa dè
,

ferra , &" a outra pouco mais ; a mayor tem algum gado , &
ambas fe-
nhor Caftelhano de quem faó , porque ambas devem entrar no nume-
.ro d^s doze das Canárias , ( de que no liv. 2. jà tratamos, 6c trata o Hif-
.: .
totia-
^ Livro III. Da fâmofa Ilha da Mádeyra. / x .qsO

toriâdor Barros ) por ferem defcubertas por Caftelhanos todas doze,


E aíllm conclue-fe , que na alturgi da Madeyra faó cinco as Ilhas, que
&
debayxo do domínio de Portugal eftaõ , que pela ordem de feu def-,
cubnmento íaõ,primeyra, Porto Santo, fegunda , Madeyra , terceyra,
quarta,&quinta, as três chamadas Deíerr as ; &:com eftas acaba Fru-,
&
^uofo o feu livro fegundo j he jà tempo que paffemos com efta noíTa
HiJftoria Luíitana Infulana à das Ilhas dos Açores, ou Terceyras.

«iiO"; LIVRO
L I V R O IV.
DA
ILHA DE SANTA MARIA, QUE
das nove dos Açores, foy a primeyra
que fe defcubrio.

CAPITULO I.

Fundamenmqueavtafarafehufcavem as ditas Ilhas ^ &,


d0formigas que primeyro apparecerab..

M o anno de 1428. do Nafcimento de Chrifto


Senhor noflb ( conforme aFruduofoem ofeu Biswais antms\<^
liv.'},.^'máo o Infante D. Pedro de Portugal a occulíos Mappoí qué
adejuirio o Infante D J
Inglaterra , França, Alemanha , Jerufalem , &Ci
HenriíjHt \oh dasDi •
& voltando a Itália Roma 6c Veneza defcu- vinas
, , ,
rtvelaçèes qne
brio & comfigo trouxe humJMappa, em que tfve Príncipe taÕfan
j «

o âmbito da terra , ôc jà o Eftrey- to,para mandar def-


eftava já todo
to,( que depois fe chamou de Magalhães ) a que chamavão Cola do cubrir OA mais apar-
Pragaó , & o Cabo de Boa Efperança' , & a fronteyra de Africa &: An- tadíU Ilhoi de ttiáA ^
:

fonioGalvaõ conta, que Francifco de Soufa Tavares lhe diíTerajque terrafirme.


em 1528. lhe moftràra o Infante D. Fernando oiitroMappa achado no
Cartório de Alcobaça , feyto havia mais de cento & fetenta annos , que
continha toda a navegação da índia , com o Cabo de Boa Eíperança', &:
devia fer o que o Infante Dom Pedro comfigo tinha trazido ; & de tal
Mappa fe devia valer o noíTo defcubridor o Infante D. HenriqueaSc das
noticias havidas dos Venezianos, para mandar fazer os deícubrimentos
deftas novas Ilhas.
2 Outros porém vendo o quam remotas eftaõ de toda a terra
fírmeeftas Ilhas dos Açores ,& que nem ainda no dito Mappa antigo
vinhaó aíTentadas taes Ilhas & advertindo juntamente na ajuftada , &
j

lanta vida do Infante D, Henrique , como ao principio defta hiftoria


contamos , ajuizão , &: nem fera fundamento , que o devoto Infante te-
ve alguma revelação, ou infpiração Divina em que , com a conftancia
,

que veremos, perfeverou em mandar defcubrir taes Ilhas. E na verdade


fe (como dizem os Theologos
) Deos efpecialmente çoncorreo , ainda
''- I com
0, Livro iV.Dallha de S.Maria,prim.dâs dos Açor.deíciibi
artes naturaes, como
cora Gentios, para ferem primeyros invenfores de
comHippocrates * Galeno para a invenção da Medicma , Gom Apel-
&
les para a da Pintura , com Plataó , &
AriHoteles para a da natural Fí-
, mas muyto poderofos , para def-
lofofia , dando-lhes naturaes auxílios

enfinarem aquellas artes em bem commum, não lerá de ad-


&
m cubrirem ,
mirar , fe Goijicorreíre com o noffo Infante para alcançar , & defcubrir as
mais remotas Ilhas, para commum bem do. mundo , & eípecial dos na-
vegantes. Mas foífe por onde foffe alcançada tal noticia , o certo he que
3 Rcynando em Portugal o ínviòlo Rey^D. Joaó I. mandou o
Infante D. Henrique, da Villa de Sagres no Algarve , hum grande Ca-
que navegafle direyta-
vallcyro ( de quç logo faltaremos } coni ordem
,

&
mente ao^Poente , defcubriíTe a primeyra Ilha, tomaíTe delia noticias^
òc lhas trouXêíTe. Navegou profperamente o Aventurey ro j e,m pou-&
cos dias de viagem , deo com a viJfta em huns penedos , que viõ fobrele-
vantadosemomarj&obfervandoque eíaó pequenos para Ilhas habi-
táveis, &que4uniO-a elles , &
entre elles (por fe ençarreyrarcm rauy-

Voderc b
'
â tos)ferviacontinuamente o mar, poz-lhes por nome Formigas, &ob-
-t

í^r VOU que eftavão em trinta


IFormiZ nTweyo do &
fete graoá &
meyo de altura , da parte
pceam. doNorte.Septentrional , &queco.ntinuaváoemdireyrura
de Nordef.
te aSwbfudoefte , & em comprimento do tiro de huma béfta,& com lar-
gura de vinte covados , ou feíTenta palmos , pouco mais , ou menos 5 ôc
em huma ponta tinha hum penedo , que fobre a agua fahia como huma
cafa de fobrado j &: na outra ponta tinha outro femelhante penedo , mas
menos levantado fobre o mar , como huma cafa terreyra ; & os que l^íaó
no meyo défta caxreyra de penedos eraò variamente mais bayxcs,
, &
algús afaftados dos outros , mâs tam pouco , que por entre elles podia fó
paífar hum barco de pefcar.
4 E
com effeyto hiaó da Ilha mais vizinha barcos a pefcar al-
li, 6c apanhavaó muyto peyxe , atè
Efcolares , & grande multidão de
marifc0i& no mayor penedo de húa das pontas tinhâo tal abrigada na-
tural , que fe podiaô recolher nella vinte barcos ; 6c faccedèra jà, que ef-'
tando os pefcadorcs em a terra, ou pedra do tal penedo giande, òc cean-
do, viera por vezes alli 5 ao faro do comer, hum lobo marinho, &: tam
grande como hum grande bezerro,&: junto á pedra comia o que lhe lan-
çavaõ os pefcadores, & por temerem cahir , lhe não lançavão o 2rpèo,8c
o matav^õ. E defte mayor penedo , humalegoa ao Suefte, fe obfervavaó
outras formigas , & tanto mais perigofas , quanto menos defcuberraSi
porque quando o mar eftava mais cheyo , ainda entaó não vencia eftas
fecundas formigas, mais que fcte , ou oyto palraosj ôc quando vazava o
mar, ainda fe não defcubriaó bem; & eraó ao modo de eyras de terra po*
lias em triangulo; & cada huma , fe fora de terra , 6c não
de pedra , leva-
ria hum alqueyre de femeadura ; 6c entre eftas eyras de pedra paífava al-
gum mar, 6c fundo, mas perigofo,
5 Obfervado tudo ifto no anrto de I43 1 fe perfuadíraó os en-
.

viados defcubridores que naó avia mais Ilha do que aquellas Formi-
,

gas, 6c triftes fe voltàraó,6c deraó de tudo ao Infaiíte noticiaj 6c cuydan-


doqueo Infante defiftiífe do intento, ou fe déíTepor mal fervido, elle
pelo contrario fe confirmou tanto, ou nas revelações , ou nas adquiridas
no-
€ap.II. DôíprítèíèetóbMdÉf Jàflh^ifeiSíana. ^p^

noticias que tinhajque iogo em o anno feguinte de 1432. tornou a man-


dar os mefmosdefeubridores das Formigas a defcubrir as Ilhas que per-
to delias eftavaó & porque jàhe tempo de dar noticia de quem erao
i

eíles infignês fugcytos , que de antes a primeyra vez , &: fegundã vez
agora , tòrnàraó a defcubrillas , vejamolo.

DSíHiii-O.: iií?:i.

c A p^t^gr u L o II.

Quem for m-i & de que qualidade os primeyros defcubri


dores da Ilha chamada Santa Maria.
':':)^>%^:;-t'l.

6 TT Ouve em Portugal ( diz o noffo Fruítuofo Uv.4,.ca^. 3.) híí


Jljl fidalgo chamado Martim Gonçalves dcTravaífos , caiado DoillufireFreyGoH^
cora huma fidalga cujo nome era Catharina Dias de Mello de que tc-^'f!^ ^^''^° Cabral &
, ,

ve dòus filhos j primeyro , N uno Martins de TravaíTos , cam abalizado ^'^' 'nTTJlf''''
tidalgo,& de tanta valia no Reyno , que teve por feu pagem a hu Pcr-.Jiofenhorde
Almott.
naóRodríguezPereyra, que [depois deo por parente aos Pereyras, òí rol, PÍM^Bez.elga,&
veyo aferamo da Infante Duqueza D. Brites , máy delR.ey D. Manoel^ Cardiga primeyra ,

& lhe creou os Infantes. O legundo filho do dito Martim Gonçalves de ^^fi^^f^idor & Ca- ,

TravaíTos , foy Diogo Gonçalves de TravaíTos , que cafou comDonz^'^^'' P""^^^"" ^'*-
Violante Cabral, filha de outro fidalgo em Portugal , chamado FernaÓ
fí^f/'i^^S'^ ^^'^
Velhoj & de fua mulher D. Maria Alvres Cabral , filha do Alcayde mòtp/ ^ ^ ' '

de Belmonte chefe dos antigos fidalgos Cabraes j da qual D. Violan


,

te Cabral, & de Diogo Gonçalves de TravaíTos ínafcèraó Ruí Velho de


Mello, Elbibeyro mòr delRey D. Joaó II. & Pedro Velho de Travaf-
fos,& Nuno Velho Cabral, ou de TravaíTos. Do mefraoFernaò Ve-
lho, Sc D. Maria Alvres Cabral nafceo outra filha, D. Tareja Velho Ca-
bral, que cafou com outro fidalgo , N. Soares , de que nafceo Joaó Soa-
res de Albergaria & aííim efta D. Tareja , como a outra irmã D. Vio-
j

lante Cabral eraô irmãs inteyras, & legitimas , não fó de Álvaro VellxQ
,

que ficou em Portugal, mas também de Gonçalo Velho Cabral, chama-


do o Famofo, de qué agora trataremos.
7 Chaniava-fe eftefamofo fidalgo, naófó Gonçalo, mas Frey
Gonçalo Velho Cabral, porque era Commendador do Caftello de Al-
niourol , que eftá fobre o Tejo acima da Villa de Tancos & Brito na :

Monarchia Luíitana/^t;. 3. f<a;p. 14. diz que antigamente houv^ehuma


Cidade chamada Moro, aonde agora eftá o dito Caftello de Almourol,
fundado em arrecife mettido pelas aguas do Tejo , que com fuás cor-
rentes o cerca & faz Ilha , para onde vaó em barcos , & no vera© he
,

huma das alegres habitações que ha, & de grande paíTatempo. Eerao
méfmo fidalgo também fenhor de vários lugares , como das Pias no ter-
mo de Thòmar, & deBezelga & Cardiga, & fobre tudo muy to pri-
,

vado delRey D. Aífonfo V. & do noíTo Infante D. Henrique.


8 Tal fidalgo, como efte, efcolheo pois o Infante para o pri-
meyro defcubrimento das Ilhas dos Açores , quando defcubrio as For-
migas cm 1431. &ao mefmo mandou no anno feguinte de 1432. a def-
cubrir as Ilhas , & com breve , 6c profpera viagem deo o dito fidalgo
- ..,,;., lij com

W
lOO livro I^ftÍ!^éllBádeSantâ Maria.

com hua Ilhaím quinze de Agofto N. Senhora da Affumpçaô,


, dia de

íendo entaôjà o quadragefinio nono anno do


Reynado delRey D. Joaó
I. tendo o mefmo Rey , & na
vefpera de oucro femeihante dia daAf-
batalha no cam-
furapçâo da Senhora ,.vencido a ElRey d^ Caftella.em
Mofteyro
po de S.Jorge, acima do lugar, aondç depois ie edificou o di»

Batalha , que tinha fuccedido em o anno de 1 383. & por


ííTo o dito deí-

cubridor da Ilha lhe poz por nome, Santa Maria; &


no mefmo anno de
1432. nafceoem Portugal o SereniíTímo Infante D/AíFonfo, filhodel-
Rey D. Duarte, & neto do que ainda reynava D. Joaõ I. ^^

"9 O- defcubridorj&ComméndadorFrey Gonçalo Velho Ca-


bral defembarcou na Ilha pela parte de Oefte,
em huma pequena praya,
que chamarão dos Lobos, &
do Cabreftante, por o parecerem aílim as
pontas da tal prayá & aqui fe fundou depois a
-,
primey ra-povoaçao,
.

junto a h;?ima ribeyra quetodo o anno corre logo foy o


Commendador
:

mar, por a ma-


correndo a Ilha toda á roda , parte por terra,& parte por
deyra da terra naó dar lugar a mais j &
tomadas as noticias , medidas, Sc
finaes da terra , vokàraó todos para Portugal y &
dando conta de tudo
dcytar gado em a
ao Infante , ficou efte taip alegre , que logo mandou
inteyra dellai & lo-
Ilha,& começou juntamente a preparar a povoação
so fez mèra^e<:apitào Donatário da dita Ilha de Santa
Mana ao dito
Commendador FreyGorfçalo Velho Cabral ; & Ihe^concedeo maiso
poder levar, para poyoarcmaditaIlha,nãofó os
que quizeflem com
elle ir^de íeusparentes, amigos , &
conkecidos , mas da raefma Real ca-
ía delle Infante ;& annos andou efte Commendador ,
affim qiiafi três &
grande, nobreza para
, , primeyro Capitão de Santa Maria ajuntando tam
'^agrmàe
»''^'''^rf;.a2ercomrigo,dueoveraciflimoi & erudito Frucfcuofo no feu/w. 3.
pnmeyros povoadores eftas
*^''1TZZ"Z' eap. 3. r & o continua<no4. ) diz dos ditos mtgto pnva-
V^lZà^n.veTir. plhv vls íormaes , ibi;^TodosforaUoconjmo dosReys^á
teyraischamadai dof ^qs, & dos mais honradosfidalgos que houve naquelk tempo o que tíidoyt
,
:

hefa- &
^^Qtei' for papeis authentkos em-forma devida pelasjfípças;&affim foy,
ma commtiaentre os anUgasi& modernos. '^'^^ r r
IO Mas porque o citado Fruauofo he difrufifitmo em íeu el-
tylo, 8c em Genealogias extenfiffimoj com tudo ferve nuiyto tal ma-
&
defeus afcendentes,
téria para os defcendentes attenderemàs virtudes
& os imitarem ,& ainda verem aos vicios, & caftigos
delles , os fugi- &
remi também para não ferem pombas covardiffimas aquelles que def-
&
cendem de generofas Águias-, por iíTo convém recopilarmos o
fuper-

fluo , &
não deyxarmos o iitil, &
ajuntar com a clareza a brevidade,nao
o que de outros
nos fazendo efcuros por fer breves; mas aecrefcentando
Hiftoriadores , & de papeis authenticos , & tradiçoens
fempre oblerja-
alcançar j fqa
das, pudermos nefta matéria, aindaque com trabalho,
pois

rayj
CAP.
CapJII.Danpbi:.^ícead.& deÍ€ãd4PÍ poyoadrcíe SÍ.M. i&^

0)i-
CAPITULO III,

Da afcendencia , & dejcendencia dos povoadores da


fobreáita ilha.
;tr>

.-rm Dito defcubridor de Santa Maria Frey Gonçalo Velho


Cabral, Commendador de Almoiirol da Ordem de Chri*:
fto , Sc fenhor dos lugares das Pias , Bezelga , & Cardiga , era filho do
grande fidalgo Fernão Velho, & de fua legítima mulher D. Maria Al- ,

Kares Cabral, & por efta máyera neto do fenhor da antiga ,& illuftre
cafa de Belmonte, chefe dos Cabraes porém como ainda então não po-
;

diaó eafar os Commendadores profeíTos da Ordem de Chrifto , não te-


ye Frey Gonçalo defcendcncia alguma ; & aílim fó trataremos dos ir-,
mãos que teve , porque além do primeyro irmão Álvaro Velho que fi-
cou em Portugal, teve mais irmãs, D. 1 areja Velha Cabral , mãy do fe-
gundo Capitão Donatário de Santa Maria, & S. Miguel, de que abayxo
fallaremos i item D. Leonor Velha , que cafou comFernaõ Vaz Pache-
co, como em feu lugar diremos.
. 12 A
terceyra irmã pois do defcubridor Frey Gonçalo foy D*
Violante Cabral , que cafou com Diogo Gonçalves de TravaíTos , fi-
dalgo que era Vedor , &
Efcrivaó da puridade do Infante D. Pedro , fi-
lho dei Rey D. Joaó , ( a quem ajudou a tomar Ceuta em Africa ) & do
Confelho delKey D. AíFonfo V. de cujos filhos tambeni foy Ayo,& Pa-
drinho} & eíle Diogo Gonçalves de TravaíTos era filho de Martim Gó-
çalves de TravaíTos , & de D. Catharina Dias de Mello, ambos da &
grande fidalguia de Portugal da qual D. Violante ,
: Diogo Gonçal- &
ves de TravaíTos nafceo Ruí Velho de Mello , Eftnbeyromòr delRey
D. JoaóIL &:aefl:e fobrinhodeFreyGonçalo foraõaCommenda de
Almourol ,& que o tio tinha }& por morrer o fobnnho fem fi-
as terras
lhos, delle paíTáraõ a Commenda, & as terras a D. Nuno Manoel que
, ,

depois foy Conde do Redondo.


13 Nafceo mais deíla D. Violante , irmã de Frey Gonçalo , &
dodito feu marido Diogo Gonçalves de TravaíTos , nafceo Pedro Ve- DosTravaJfos^Mef^
lho de TravaíTos , do qual cafado ficáraó vários filhos , & filhas , & ne- ios, Cabraes amigos ,

tos , não fó em Santa Maria , mas também na Ilha de Saõ Miguel. Item fi^'^lioi afcendemet ,

nafceo da dita D. Violante , & Diogo Gonçalves de TravaíTos Nuno '^° -'^''"'^^^g» àedn.
,

Velho de TravaíTos, ou Cabral, que cafou com huma fidalga chamada


£'*^^"''^^f^^'jj
Africanes, (de que abayxo fallaremos ) & defte matrimonio nafceo
^.temLilèStme^dtt
Grimaneza AíTonfo de Mello , que depois cafou com Lourenço Anes quaesfoy o Bijpo d<t
çieSà Leonardes, homem dos mais nobres da Ilha Terceyra niViWii ^^^^eyra D .L»is âe
de S. Sebaíliaó & defte cafamento nafceo Nuno Lourenço Velho Ca- ^^g^^pedo de Le*
;

bral, que cafou duas vezes , ambas nobre , & limpamente , de quem naf- mos.
ceo Balthefar Velho Cabral que cafou com Maria Manoel de Chaves,.
,

piys de Manoel Cabral de Mello , que com fó Ordens menores foy Co-
íiego do Funchal em a Madeyra , depois Cónego de Angra na Tercey-l
ra, & logo Arcediago, Vigário Geral, Provifor, & CommiíTario da Bui-'

la da Cruzada j & que fendo moço teve hum filho de mulher nobre êç ,
'
tiiá-x -
I iij lim*
Livro IV. Da líhale SatítaMâfia J 3

limpa , chamado Bernardo Cabral de Mello, Cidadão de Angra, & que


amdatemdefcendencia. -'
\t i. r>
14 Outro irmaó teve o dito Nuno Lourenço Velho Cabral^
\ que fe chamava Sebafti^õ Nunes Velho Cabral , que cafou com^Dona
^ Maria de Almeyda , de que nafceo D. Ignes N unes Velho , com quem
cafou Miguel de Figueyredo de Lemos de que nafcèraó Dora Luis de ,

í igueyredo de Lemos , (que de Deaõ da Ilha Tercey ra foy para iikif-


tíe Bilpo da Ilha da Madeyra ) & D. Mecia de Lemos , que cafou com
André de Soufa, filho dejoaó Soares, tercey ro Donatário de Santa Ma-
ria. E do mefmo Nuno Lourenço Velho nafceo
também Hieronymá
Nunes Velho , que foy quarta avò do feptimo Capitão Donatário de S.
Maria, Brás Soares deSoufa , & de feus irmãos , como veremos. Nafceo
mais do mefmo Nuno Lourenço Velho hum Diogo Velho , que là fi^
Cou cm Sanca Maria; & hum Mathias Nunes Velho Cabral , peíToa
muyto principal , & que tirou inftrumentos de fua fidalguia , & cafou
com Maria Simões de que deyxou filhos , & viveo nafua quinta da flor
,

da R.ofa em S.Maria. ^ ^ \ \r m e x^
-
1 5 A outra irmã do defcubridor Frey Gonçalo Velho foy Ul
Tareja Velho Cabral , que era cafada com o primeyro N.
Soares de Al-

bergaria , de que nafceo Joaó Soares de Albergaria,


que cafou com D.
Branca de Soufa , Dama da Rainha , & filha dejoaó de
Soufa Falcão,
prima com irmã do
fidalgo da cafa delRey & de D. Maria de Almada , ,

Conde de Abranches ôc efte foy o fegundo Capitão de Santa Mana, &E


j

SaÒ Miguel , como abayxo fe verá ; & teve por filhos,


naó fo a Pèdrol
cafou em Portugal , & a
Soares que morreo na Índia, & a D. Maria que
D. Violante , que cafou , ^ não teve -filhos , mas também
teve a Joaâ

Soares de Soufa, tercey ro CapitaÓ de Santa Maria,


que cafou a primey-»

CewawC4w<»'^C<a-j.^^g^^Qj^j)Q^^i-^3r^aC„nha, filha de Francifco da Cunha de AU


fiães dc_ S. Mtgml Capitão de Sa6
|,y ^^ ^^ , & de D. Brites da Camcra , irmã do quarto
Cc^P^rrllMiluel^fegu^^
»<! AllriA. Vaz, filhode Joaó Vaz das^ Virtudes Rezende.
, & de Anna de
y
i5 Do primeyro matrimonio nafceo Pedto Soares de Soulaf
de Moraes da
quarto Capitaó de Santa Mana , cafadocom Dona Brites
. ^ :
^^
lihada Madeyra & do mefmo primeyro matrimonio
^
nafceo também
Nuno da Cunha de Soufa, que cafou com D. Francifca Ferreyra, & dei
c" VV
ftes nafceo Joaó Soares de Soufa
quecafou em Santa Mana com Dona
,

Felippa da Cunha, dos quaes nafceo Manoel da


Cameia de Albuquer-
que , com quem cafou D. Marqueza de Menezes;, &
\ .:;
dcftes nafceo Joaó
:
',

Soares de Soufa, 6c cafou com D. Anna de


Mello, viuva do fextoCa*
nafceo Antonro Soares de Sou-
pitaó Pedro Soares de Soufa dos quaes ;

v^' - • i ^'-
fj^ que ainda vive cafado em Ponta
Delgada com D. Antónia já viuva^ ,

-^^ *^' >&


'
^^"
de que tem filhos.
:t£n 7 De Pedro Soares de Soufa ,
quarto Capitão de
_
Santa
/
Ma-
'

_ . . .

ria, & da dita fua mulher D Brites de


Moraes nafceo o quinto dito Ca-
Dorothea de Mello ,"fi-
pitaÓ Brás Soares de Soufa que cafou com D.
,

ihade Joaó Nunes Velho & de D. Maria da Camera &


,
o dito quinto ;

Capitaó era Commendador de S.Pedro do Sul em


Portugal. Deftcpois
caiou fegunda ve25
nafceo o fexto Capitão Pedro Soares de Soufa, que
»sa;i i V i com
Cap.III.Da nohtizkcã.à deíúê(l>dÒs povoad-lcle S.M. to^

cera D. AnnadeMello, & defte matrimonio nafceo o feptimoCâpi-


taõ Brás Soares de Soufa, fidalgo dacafa de S. Mageftade >,& c%fadp. Q
dito fexto Capitão Pedro Soares tinha fido cafado primeyravez coni
D. Vistoria da Cofta, de que houve hum filho chamado Brás Soaresj
Commendador de Santa Maria, mas morreo do Brafil, &:fò
nas guerras

hum filho natural deyxou i & também teve o dito fexto Capitão dous
filhos baftardos , huni chamado Lourenço Soares de Soufa,
fidalgo fi-

lhado, & de grandes ferviços , & a baftarda D. Ignes , que ficou nalllia
- -
deS. Maria. -

^ i8 Com b dito primeyro defcubridor Frey Gonçalo Velho


-Cabral Veyo mais á Ilha de Santa Maria hum nobre Gonçalo Annes,quô
por lhe morrerem os muytos filhos atèalliaâfcidoSj& nafccndo-lhe am-
da huma filha , fe refolveo a porlhe nome, que atè alli mnguem ti-
veflTe, & aílim lhe chamou Africa; & porque o fobrenomedelle era An^ Da nohre Africa ~A^
iaes, ficou a filha chamando-íe Africa AnneSj& vulgarmente achama^
nes ou yifricanes ^tro-
,

co de mífjta neheK,a^
vaó Africanes. Morto pois o pay, ou (como outros dizem} voltando dai
Ilha para Portugal , por hCia morte que fizera na IHia, alli deyxou afi-
lha encomendada ao feu grande amigo, companheyro , & tal vez paren-
tè,o illuftre Frey Gonçalo &eft© logo deo a dita Africanes por mulher
•,

ahumGeorge Velho, que era também dos mais nobres ,.& primeyros
povoadores que vieraó á Ilha, &: defte cafamento procederão os cha-
ftiàdos de fòbrenome Jorges, conforme ao eftylo antigo dos defcenderi-
tes tomarem por fobrenomes os nomes dos afcendentes. Morto Jorge
Velho, cafou Africanes fegunda vez com hum fobrinho dofobredito
Frey Gonçalo Velho , que fe chamava Nuno Velho j & defte fegundo
ínarido, & de Africanes nafcèraó Duarte Nunes Velho, ( de que houve
mais defcendencia ) & Grimane za AíFonfo de Mello , que cafou com a^-
^uclle nobre Lourenço Annes da Ilha Terceyra , & deftes nafceo Ignes
NunesVelho,que caiou com Miguel de Figueyredode Lemos, que fo-
raõ pays do illuftre Bifpo doFunchal D.Luis de Figueyredo de Lemos.
19 Deftes Figuey redos refere o douto Fruftuofo , que dando
hum antigo Rey de Portugal bajalha a inimigos, pelejarão de tal forte Do antigo appelUdol
dous npbres irmãos, que quebradas as efpadas,arremettèraó logo a húas Soares de Alberga.''
ria^ C^ FigHejredon
figueyrás que viaó , 6c tirando delias fortes páos, tornarão aos inimigos,
& os deftruiraó de forte , que acabada a batalha , a ambos chamou EU
Rey, & dando a hum o appellido de Figueyredo , ao outro perguntou
qúe appellido queria: efte refpondeo , que fua fama lhe baftava , & que
é1lafoariâ;&: defde então lhe chamarão Soares } &que oR.ey entaófi-
ízera ferihorde Albergaria a efte fegundoirrtlaó , &os feiísdefcendentes
fé chamarão, Soares de Albergaria •,& eftesfaóos legítimos Soares , que
bem podèràó chamarfe, Soares de Figueyredo.
fV- •
-jíq y)q faes Figueyredosera o antigo , & illuftre Bifpo de Vi-
'

Z€u Dom Gonçalo de Figueyredo, que teve hum filho > & três filhas; o
filho fe chamou Fernaô Gonçalves de Figueyredo , que cafou com Ma- , Vj'.,'; .^'-í-.í.i

( peífoa muyto principal ) & deftes


ria Dias ,
nafceo Diogo Soares de
Albergaria , de que não ficáraõ filhos, & foy Ayo delR.ey D. Joaó. Naf-
teo mais do dito Fernaô Gonçalves , Fernão Soares de Albergaria , que
íeafou com 0. Ifabel de Mello, filha de Efteváõi.Soarès j de^ que nafceo
104 Livro I¥. Dalffiâ die Sanrá Maíía?.
Siqueyra, ôc amada, Excellente fe-
D Brites, mulher de AíFonfo de
Antaó Gomes de Abreu,
nhora-& outra D. Ifabel de Mello, mulher de
mòr de Mou-
& outra D.Brites,mulher de Diogo de Mendoça,Alcayde
ra, Soares, mulher de Vafco Carvalho,
& Ifabel D. Bnolanja mu- , &
lher de ToaÓ Gomes da Silva , fenhor da
Chamufca. De Dona Brites , 6c

mulher de Jorge deMelio^


Diogo de Mendoçanafceo D. Margarida.,
Monteyro mòr , fegunda mulher do Duque
& D. Joannade Mendoça ,

deBragança, Pedro de Mendoça , Alcayde mòr de Moura , & Anto-


&
Dos Mendeçaí.Car- ^^^ ^^ Mendoça, & Chriftovãode Mendoça. As três filhas do fobredi^
velhos, & Silva,, to- Maria Gon-
t^Bifpode Vizeu foraó Ignés Gonçalves de Figueyredo,
Brites Gonçalves de Figueyredo ^ & todas ca.
dosap^rmados com
w Ff„redos. ç^ives de Figueyredo, &
ta defcendencia j da primey ra
deícendeo Gonçalo
^^^^^ ^ tivm6mUy
de Figueyredo , pay do Conde de Marialva y &
da fegunda; nafceo Ay.
terras de Freygedo,& Al-
resGonçalves de Figueyredo, fenhor das

de Figueyredo , mãy de
cayde mòr de Gay a. Da terceyra nafceo Tareja
.^^s^<- ^A
.^ernaó de Figueyredo Vice-Rey de Entre
Douro & Minho j &deíle ,

procedeojoaóde Figueyredo, que cafou com Mecia de Lemos ,& fo-


raópays de Miguel de Figueyredode Lemos , que veyo a IlhadeSan-
Velho,filha de Sebaítiaõ Nu-
ta Maria,ôc nella cafou com Ignes Nunes
«^nes Velho, de que acima fefalloujà. ^r-
21 Cafou tercey ra vez a fobredita , & nobre Atricanes cora
mas nobre , & delle teve
^Pedreanes de Alpoim, homem eftrangeyro,
morreofem defcendencia, & a
Dos Ah^hf de 5.S^indaa RuiFernandes.de Alpoim, que
Fernandes de Alpoim ; & dei:
X^Tturl '
Eftevão Pires de Alpoim , & Guilhelma
& da Tercey ra. E efta he a fubftancia
J., :tes vem os Alpoins de S. Miguel,
noíTo Fruauofo , & confta d^
^verdadeyra doque diíFufamente traz -o
outros papeis authenticos que fe examinarão.
E nefte mefmo feii /m 3.
>w/>.5.í trazFruauofo as armas, & brazócsdos Velhos , Cabraes,
4.
Mellos, Soares, & outros, que he efcuíado referillos aqui.
'')pfi't
•"?,
)'}'Í'J5?!'^'

r.4. rt-^v-- Da alma ,


povoações , é fertilidade da Ilha de
Santa Maria.

if Az a dita Ilha nefte noífo Oceaao em trinta & fete grãos da


) do Norte Septentrional ,& correfponde
parte
direytamente
efte Cabo com ella de
de Lefte a Oeftecom o Cabo de SaÓ Vicente & ,

diftanciade duzentas &


r r .,, j, OefteaLefte,em f^^^f^^l^^i^Sf^^..^^^^^''?
7.
fica aponta chaíiiada de Nordefte
da Ilha d^Sap
f^X^.«fw Mana lhe de Santa
/,ff:Ír;ÍMiguel,decu|aCidade,&p
fodoze de terra a terra. Com-
íiafiunco leg.as de^ do de Villa franca dezafeis porém ,

co>y>fndo & ^« .A mummente fc dizia ter pouco mais de três legoas de comprido , 6c naq
,

/m/íí/^-go.^wo^í^j^ç^,^^^ duas de largo imas examitiada averdade em oanno de 1666,


em redondo.
fe achou ter quafi cmcolegoas de com
prido, & de largo quafi três, &
Lefte a Oefte. Da par.
nove de redondo he de figura ovada, & corre de
,

te do Oriente delia tem huma ponta


bayxa atè o mar , ôc nelte hu l^hcQ
Gap-IV". pa,Mlà chamada, do Portp, çâbe^a da Ilha. i^|
redondo , & alto , mas pequeno, a que chamaó o CaílçUete j & come-?
çando daqui com a tèftaem o Oefte, aonde chamaó Lagoinhas da part;«í
do Norte, Óc da parte do Sul chamão Monte Gordo. , . ;í

23 Do Caftellete pois, por etta parte do Sul, meya lagoa , eílá


outro, llhèo mayor, a que chamaó o Caftello , onde fe abrigaô navios,6ç
tem leu porto para os bateis embarcarem os vinhos , que por aili fe daQ
muyto bons.' Adiante do Caftdlo eftá hum porto de pefcadores , qm
chamáo Calheta j 8c huma legoa adiante efta hiia ponta chamada MaU
bufca, rocha alta , Sc medonha j mas hu tiro de pedra mais alèín íefegu©
húa fajã com moradores pertencentes á Freguezia, èc lugar do Efpirito
Santo,queeftá meya legoa pela terra dentro. Da rocha Malburca , meya
legoa, vay outra rocha , a que chamaó Ruy va, tam alta, & tam mgreme,
quecahindode cima agua, ainda que feja pouca, fem tocar na rocha,
chega a bayxo. Mais adiante fe fegue huma praya de área , & para defl-'
trohumaÁldea de quinze vizinhes, com a celebre Ermida de N,iS§-
nhora dos Remédios , de nniytós milagres em enfermos & por toda^^ •,

Ermida , hum tiro de béfta do mar , fahc huma fonte de agua falobra , a-
onde fe tem lavado muytos enfermos, & cobrado faude,pelo que lhe
chamaó a fonte deN. Senhora, Eftá mais adiante hum areal, que eh*"
mão a Prainha , para dentro daqual vaómuycas ladeyras com vinhas, Djeal,f» "rtreret ($* .

& pouco diftantes outras vinhas chamadas o FigucyraUacima das quaes fino h -r- o^que ha «<-
em huma rocha fe tira pedra , de que fe faz muyta cal j & também fe çi- fi^ /lha.
raÓ pedras de mármore , de que fe fazem mòs , coufu que naó ha nas ou-
tras Ilhas.
24 Andando mais dous tiros de arcabuz, & entre duas vinhas,
eftaó duas furnas taes , que a huma fc nao acha o íim , mas com candpas
accefasfe tira delia hum barro cinzento, tam macio ,& tam fino, como
fabaó, & ferve para lavar panno , & tirar qualquer nódoa delle, pofto ao
Sol , porque chupa a nódoa & o deyxa puro , & limpo delia. Segue-fc
,

mais adiante a ponta chamada de Marvão & logo huma bahia paraa
i

parte do Occidentejôc depois delia íahe huma ribeyra tam grande, que
DaI>lã4dõPõrto,ils
com ella moem oyto moinhos j & aqui eftá hum areal , & porto , que éjxatrocentes vtz.i'
chamaó o Porto Velho, 6c adiante outro que chamão o Porto Novo, nhos,caheça da Ilhíty

com duas ribeyras que também fahem ao mar & entre eftes dous por-
; & dos maia isfgítre&

tos eftá huma fubida para hum alto , aonde eftá a Villa do Porto , cabe- delia.

ça de toda efta Ilha , para a banda do Sudoefte.;


;
25 Tem efta nobre Villa fobre a rocha para o mar , huma Er-=
,

mida de N. Senhora da Conceyçaó, que he a primcyra caía que fe vè de


fora. Tem a Igreja Matriz da Ilha, com hum Vigário, hum Cura, & prr'
quatro Beneficiados , hum Organifta , hum Thefoureyro , & quafi qua-
trocentos vizinhos, & mais de mil &: fetecentas peííbas de Coram u^
nhaó Sc pela Ilha tem mais três Freguezias menos principaes , que faÔs
;

adeSaó Pedro com Vigário, & Cura,& mais de trezentas peíToasde;


Communháo ; a do Efpirito Santo também com Vigário , & Cura,y&
quatrocentas peíToas de Communhaói & a de Santa Barbara com Viga<»
rio, & peflbas de Communháo duzentas & cincoenta. Tem mais a dita
Vii la três ruas grandes, que fahindo do adro da Igreja Matriz vaópaf
raraomaticom muytas ruastraveíTas» ôcfccontinua atèaErmidad©
§att«

r^"'"
tõ^ Livro IV. Da llhã 3e Santa MariaJ
- Santo Antaô que eftá pela terra dentro.
-, O
Orago da Igrejaprincipal
he N. Senhora da AíTumpçaó , & o Padroeyro da Igreja da Ilha bc Saa
Mathias.Ha na Viíla Cala da Santa Mifericordia com boa renda
fixa de

móyos de trigo cada annojôc o Senado da Camera conii igual renda;


Mèítrc de latira, &Prègadorcom três moyos de trigo de renda, &
dez
que.d'antes náo
mil reis em dinheyro i & hum Convento deFreyras,
eraõ proteíTas , fundado pelo Reverendo Clérigo Fernando
de Andra-
de,com dezoyto moyos de rendade trigo cada anno para quinze Frey?
ras i
tem , alem de Clérigos feculares , hum Convento de
& fobre tudo
Reíigiofos Francifcanos , que faó de grande bem efpiritnal náaXó para
eftaVilla, mas para toda a. Ilha. ^^ .-...;
26 AdefezadeftaVilla,&:detodaallha,eradeantespouca,
fer entrada, & o
-. .
r-^'y^r„,,^ fendo quetem humalegoa de pòftos por onde podia
entaó três vezes , de- Mouros Ingkzes , & Francezes ,
mas depois
Tz.l&Uha foy ,

' " '


fc lhe fizeraó no Caftello da.praya,dous Fortes com quatorze peças , &
'
adiante hum Fõrtecom algumas j na Villa dous Fortes
com fete peças;
outros Fortes com
na ponta de Marvaó, & no Figueyral,& na Prainha
Capitão Do^
lua artelharia i o que tudo Jiaó fó manda o Governador ,&
natario, ( como abayxo veremos ) mas immediatamente
hum Capitão
mor, officiaesj
de artelhariacom trinta Ar tilheyros, além do Capitão
por na-
& gente da ordenança y que quanto pelas mais partes da íiha,he
fó com pedras
tureza incónquiftavel, havendo alguém que das rochas

"2
7
'
Ao redor deíla Villa ,
pela terra dent ro , tudo faô terras de
.__ _ trfeo, & toda a Ilha he tam abundante de agua ,
que íó a dita V jlla tem

'
doce.
J ^
grandes, 6c ferinofas j &
na Freguez ia de N
Sen liora da berra na outras
.

tantas, Ôc na de Santa Barbara vinte três fontes, &


pela rocha á roda da &
Ilha faó innumeraveis , todas de boa,& &
doce agua a gente não fo da :

Villa, mas de toda a liba , he da afcendencia


que já vimos, onde ainda ha
& &
muytos nobres , fidalgos , deftes quafi todos faÓ de
cftatura altos,

proporcionados ,:& de prefença grave , grandes cfpiritos, & tam pre_.&


tanta 5 depor lííoíao
fumptuofos, que he pequena a terra para nobreza
muy incUnados à caça, & pefcaria &c affim fe confervaó huns com ou--,

.tros, &: raramente jihojccafaó fora,


'
oúadmittem de íoracafamentos.
28 quarto de legoa da Villa , indo pelo Sul 5 eíía no mar
Hum
femeadura, mas
hamllhèo, com terra por cima, de quatro alqueyres de
quatrocentos, ou qui-
«omtanto Garajào, que quem lá quer ir, traz
de gallmhas j po-
nhentos ovos dellesj & tam bons como os melhores
Dss Garajaos áCem rèm deve ir com a cabeça
bem cuberta , para náo vu' feni orelhas , por-
fZZJsT^iZqu, fó a eftas arremettem fortemente. Pela terra fe fegue adiante a
Lobos , & logo huma
f»emveii ovos. Ponta do Cabreftante, & adiante mais a Praya de
Ilhèo i & pou-
Ermida chamada dos Anjos , mais de legoa do fobredito
CO depois fe fegue o Monte Gordo, & adiante huma
rocha tam íngre-
de bay xo à fuper-
me, & tam alta,que ninguém com bua béfta chegará
ftcie da rocha & comtudo he de notar •,
que no mais alto de cima fahc
huma perpetua fonte de agua, & da groíTura do punho de hum homem,
fem haver em toda a Ilha terra alguma mais alta do que efta &
ainda he :

mais
Cap.V.Do interior da Ilha, & particularidades della^ lof^^

mais de notar que por bâyxo da dita fonte > & rodia vay húa taõ graa*
,

de furna , ou concavidade , que entra meya legoa pela Ilha dentro , & a»
fonte fahe por cima 6c aqui vay dando volca á Ilha para o Nordeftci
:

Na rocha porém le apanha muyta urzella , que he como mufgo do mãXt


& de cor cinzenta >& tal tinta azul deyta de fi , & tam fina, que vence á
que fe tira do Paftel , pofto que da urzella das Canárias dizem que ain*
da he melhor. Mais adiante feguem-fe as Fajans , a que chamaò Lagot-
nhãs, debayxo das quaes eftá outra furn^a junto ao mar , donde pefcado^
res de S. Miguel viraó huma vez fahir doze lobos marinhos , como em
alcatèa, & alli os pefcadorcs os vinháo perfeguir , & notáraój que ante*
dos taes lobos fe recolherem á fua furna , levantavão as cabeças , a ver fç
apparecia alguém. Aqui faz a Ilha tefta, &fim da banda do SuL

C A P IT U L O V.

Dotraéio do Norte )&/èu interior da í/^ay&Jh^


gu/ar idades delia.

29 \T OItando pela banda do Norte,Sc Nordeíicj outra ve2 atè


V onde começámos, eftá , dous tiros de béfta pela terra den- ^^ fertilidade &
,

f
tro) a Freguezia , & lugar de Santa Barbara , que paíTa de quarenta vi- ^'"'^f' " ^''*i*i®!
**"" -
zinhos, 6c duzentas 6c cincoenta almas de Communhão} 6c adiante,
mais de meya legoa, eftá a Ponta de Álvaro Pires de Lemos, aonde hum
genro feu vendeo terra boa , 6c de hum moyo de femeadura , por quatro
mil 8c fetecentos reis , fendo que no annode 1568. ( com feranno efte-
ril ) deo a dita terra quinze moyos de trigo. Mais adiante eftáo humas

fajãs com vinha, aonde não ha ( diz Fruduofo} alqueyre de terra de vi-
nha que não dè huma pipa de vinho 3 6c mais dahi a mais de legõa le fe-
j

gue a Ponta de S. Lourenço j aonde de huma alta rocha abayxo fahe húa
ribeyra, 6c chega ao m^r fem tocar na rocha, 6c nella eftá a Ermida de S.
Lourenço. Depois fe vèo Ilhèo chamado do Romeyro, coindezal-
queyresdeterraj6chervâ emcima,6cem bayxohuma tam comprida
furna , que parece atraveíTa o Ilhèo j a boca he de altura de três lanças, "'

6c dentro tem muy tas furnas, caminhos , retretes , tudo de pedra afpera, ^

6c que parece engeífada, 6c de agua feyta pedra , que de cima vem em


'

gottas, 6c como cera fe coalha , fe congela como vidro , 6c mUy ta fica no


ar dependurada , como regelo , ou neve oU como tochas , 6c círios que
j

fe váo fazendo ^ algumas tam compridas que chegaô a bayxo , ficando


outras penduradas em o ar 6c brancas como alabaftío ; 6c tendo o pavi-
,

mento huma lagem, as gottas que cahem ttcíla fe levantão cm outras


tochas outras ficáo em figura de confeytos 6c parece efta furna,oíi caía
; j

de cerieyro, ou de confeyteyro, ou Oratório de cera bem ornado,


30 Qj-iafi meya legoa adiante da tal furna eftá huma Ermida

de Santo António aonde tinha eftado a primeyra Freguezia de noíla


,

Senhora da Purificação 6c fuccedeo , qUe quereiído-a mudar , botàraá


,

forces, a que Santo ficaria a Igreja , 6c fahio a forte a Santo António 6c


;

poriífo mais adiante eftá a dita Freguezia chamada de Santo Antonioj)^


ÍOJ Livro IV. Da Illia de SântaMaria;
& com mais de cem vizinlios. E ainda mais delc^oã adiante eftá o Caf*
tellete ,donde começámos o circulo defta Ilha j mas ainda pelo mais in*
terior delia tem vários moradores,6c kigares,
pofto que menores,ôc hum
fmgular pofto , a que chamaó o Almagre, por fe dar alli. Toda efta Ilha
altura de terra , commum-
eftá tam firmada em pedra viva, que a mayor
mentenaópaíTa de dez palmos j donde vem que raramente ha nefta
Ilha tremor de terra, & fe algúa vez treme, he tremor pequeno, &
braa-

doi& ainda quando a Ilha de S.Miguel teve tremores fataes, alguma


coufa , mas muy pouco fe íentiráo nefta Ilha & poriffo também , ainda
j

que tem muy ta lenha para o gafto^ para obras de madeyra não tem muy-
ta,-por não terterra profunda donde fay a.
21 Em algumas partes a terra que tem he tudo barro verme*
lho, & eftcril para fruto porém para louça he excellente,&-
;
da tal lour
'Dá Ilha de S Maria
„^ y^^^^y^^ fg provê a dita lUia, Sc dà provimento delia a S. Miguel, &:

d^fí'^T''*'7/la ainda á Ilha Terceyra: mis em todas as mais partes a terra he tão fruti-
dejma oH^a c r^
^^^^ ^ ^^^ ^^^ ^^, ^ ^^ ^^.^^ ^^^^^ ^^^^^ ^ ^^^^^^ ^ ^^^ efpigas , não
^
"^
paífanáo em outras terras de quarenta ao mais ; &
o trigo he tão perfey-
to , que fempre vai mais que o das outras Ilhas , Sc faz pouco cufto era
&
mondas , leva menos femente j &
o mefmo fe experimenta na ceva-
èa. Tem muy to gado efta Ilha,& todo muy to mais gordo que o das ou-
tras , efpecialment€ o vaciun , &
de carneyros , &
ovelhas , pelo inuy to,
& melhor pafto que em fi tem , &
por iflb grande copia de laaicinios>
& queyjos os melhores das mais Ilhas. Vmho tem , fem neceffitar de
fora i toda a cafta de boa hortaliça, &
taó grande alguma que ha rabãos ,

de três palmos em roda , &: nabos como botijas ; èc os melhores melões,


pofto que de pouca dura. Pefcadotem muyto , mas algum delle he me^
nos goftofoj 8c de aves fó lhe faltâo perdizes, &
codornizesj que de coe-
4hos tem tantos , que davaõ a três por hum vintém tem muyto bons
; &
foroês, 6c cães de caça. Em íím he tam barata a terra, que delia a que le-
vava hummoyo de trigo de femeadura,fe vendia no anno de 1500. â
dous mil reis fomente , havendo já perto de oytenta annos que era po-
voada a Ilha. ; /* t j-
32 Houve nefta Ilha huma moça foltey ra tam defobedientc ,

coufa, nem
€o.w^í'/Ví«>»;>'í-fuamãy, que era efta chamando, ou perguntando alguma
da apraza de hnma hfa, nem refpondia & com ifto tanto exafperou a mãy ,que perdida a
j

may fohre a incbedi- p^^-igncia levantando a mão^ & voz ao Ceo lhe lançou por maldição,
^
j

ente filha,
^^^^ ^^^^^ ^-^fj-g ^ ^^^ ^ ^^^ ^^^^^ q^g quizeíTem não podeífem refpon-
j

derlhe veyo tempo em que cafou a


:
moça com hum Aflbnfo de Carva-
lho ,& teve delle dous filhos,6c huma filha, Sc
todos três totalmente
foraó mudos ; Sc aíTim caftigou Deos em eftes netos
adefobediencia da

mãy, Sc a impaciência da avô.


Da rara virtude de ^, Outro homem lioUve na mefma Ilha , chamado Joaõ Vaz
curar de híífoaiFaz.y^^'^,^^^^^^^^-^^^^^ tal virtude de curar enfermos , que porifib Ihecha-
^ue poriffo chamarão ^^^^^5
^oj^ag y^^ das Virtudes } efte fem fer Medico , nem ainda Ci-
cafa preparada fó para curar enfermos, ain-
Tle^&ft^ltinmu rurgiaÓ , tinha huma grande
*Vi.Xf««;/.«/..,da de outras Ilhas ,& fó por amor de Deos curava a todos, particular-
es nellejoy prodígio- mente de torceduras, pernas
quebradas, Sc femelhantes achaques, & ou-
/i. tros muyto diverfos j com tal fucceíTo , que nem
enfermo algú lhe mor-
reo.
Cap.V. Do interior da Ilha, & particularidades deíla.' lo^

reo , quando o curava j nem ferida alguma lhe parecia incurável , &
or«»

dinariamente fó com azeytc, ôc hervas fazia as fuás cura§^Aííirma-fc^


que naó havendo entaõ na Ilha azeyte algum , &: querendo elle curar
buns enfermos vindos de outras Ilhas , huma fua filha lhe reípondeoa
que a jarra do azeyte já nenhum tiihaj 6c porfiando o velho pay que
foíTebufcaroazeytej&pelo contrario a filha afiirmando que vinha de
ver â jarra, & nenhum azeyte eftava nella , replicou o pay Hora torna
:

lá com a graça de Deos, que a jarra tem azeyte , ôc não fejas defconfiadíj
Foy a filha, & achou a jarra chey a de azeyte. '

34 Foraó taes , & tantas as prodigiofas curas defte Joaõ Vaz


das Virtudes, que fuccedendo ir a Lisboa, era jà tal a fama de fuás curas, >

que vendo-o lá , o chamarão para curar a ElRey D. Manoel , & com tal
íuc;ceflb, 8c tam brevemente o curou , que o mefmo Rey lhe diíTe que
peáiífe. E o comedido velho obrigado lhe pedio humas cabeçadas de
terra, que na Ilha eftavaó ainda por dar i & todas não levariaõ mais de
vinte moy os de femeadura , dos quaes cada hum então valia a dous mil
reis fomente i[& com ifto fe contentou o bom velho , fendo que fe pedif.
fe todas as terras que na Ilha eftavaó por dar , todas lhas dana o Rey , &
os filhos do velho ficarião remediados. Maisfeafiirma de tão virtuofo
homem , que coftumando fazerle em aquella Ilha pelo Efpirito Santo p ...
-^^ jg jg«
hum Bodo commum para a pobreza que yem de fora , 6c íucceàQnáo p^^^^g Samo em o í/o-
faltar a carne , mandou o devoto velho tirar do feu gado vários carney- Áoâadoàfobreíi^an«^
ros, que deo logo, 6c fe matàraó , 6c comerão em o Bodo eys que ao OM-Jtn 4ia^
:

tro dia fe acharão em o gado do tal homem tantos carneyros, quantos ef-
tavaó d'antes , 6c entre elles repararão, que andavão tantos com osfi-
naes nas gargantas , por onde tinhão fido degollados , quantos fe leva-*
rão para aquella fefta do Efpirito Santo , que das três peíToas da Santif*
fima Trindade hetam poderofo , como o Padre Eterno , 6c como o Di-
vino Filho,
35 Finalmente feaííirma, que defte prodigiofo Joaõ Vaz das
Virtudes ficou como por herança tal virtude de curar emfeus filhos*
netos, 6c bifnetos, que parece milagrofa o certo he que, ou por fobrena^
:

tural auxilio , ou ainda por auxilio natural , ( de que tratamos na noíTa


Theologia Efcolaftica , na matéria da Graça , 6c Auxílios } pôde Deos
conceder a huma peflba , 6c a feus taes defcendentes , a virtude curativa l

de farar a outros enfermos para bem commum de outros , ^ muyto mais


em novas povoações , aonde naó ha outros Médicos , nem noticia de ,

outras medicinas applicavcisj 6c nem fer iíío prova de Santidade da pef-*


foa quetem tal virtude , nem fer em tal peíToa ou família milagre rigo-
,

rofo mas natural Providencia Divina 6c qual deftas caufas foíTc , Deos
, ;

o fabe que quanto o ferem verdadeyros os fados acima referidos, pare-


:

cp indubitável , pois he tradição antiga, &c femprecommua de toda a« -

quella Ilha , 6c os calos acima referidos traz por verdadeyros Frucluo-*

K CAP,
lio Livro íy^Da Ilha de Santa Mariá^ ] ^^.m'^

G A PI TU LO VI.

Do prtmejrõ Capitão Donatário da Ilha de Santa,


Maria^
j li.^iUU V, i-y^

36 QPrimeyro Capitaõ foy Ç como acima já tocàmt>5 Jorniiy*


toilluitrc,& famolo fidalgo Frey Gonçalo Velho Ca-^
bral, Commendador de Almourol da Ordem de Clirífto , êffenhor das
terras de Piâs,'Bezelga) & Cardiga, na jiirifdicçaó de Thomar 3 ,phama-
ya-fepor antonomafiao Famofo, pelas famofas acções qtte obrou jacom*
panhando aos Reys de Portugal na conquifta de Africa porque os Có* -,

inendadores profeíTos da. Ordem de Chriílo , ainda então nào caíavaói


& ElR.ey D. Manoel foyoprimeyro que lhes alcançou difpenfa: para
cafarem Frey Gonçalo ( que antes florecèra ) nunca caiou j
: como &
^efcubrio a Ilha de S. Miguel, diremos abayxo tratando delia ; confta
porém que a ambas governou com tanto valor, prudência , & brandura^
que de todos foy fempre muy to obedecido, & amado. .•:, . ., . .:

37 Depois vendo-fejáyelho o dito Fr. Gonçalo }.& que com*


íigo tinha trazido para a Ilha, a dous fobrinhos , ainda meninos , Nuno
Velho de TravaíToSa &
Pedro Velho de TravaíTos , filhos ambos da-
quelle grande fidalgo Diogo Gonçalves de TravaíTos , & da irmã dellô
Capitão D. Violante Cabral ,-& que ambos eraó já homens capazes , èc
muy Co aptos para governar , refolveo-fe voltar a Lisboa , como voltou,
& pedio ao Infante D. Henrique lhe confirmaíTe a renuncia que queria
fazer das duas Capitanias das Ilhas de Santa Maria ,,& Saó Miguel nos
ditos dous feus fobrinhos ; porém como na cafa do Infante tinha ficado:
outro fobrinho de Frey Gonçalo , filho de outra fua irmã D. Tareja Ve->
lho Cabral , &
do fidalgo da cafa dos Soares dç Albergariaj & efte fobri-*
nho tinha feyto grandes ferviços ao Infante , que o eftimava muyto , &
inclinava para elle, o mefmo foy faber iílo Frey Gonçalo, que renunciar
as Capitanias ambas no fobrinho Joaó Soares de Albergaria , aos mais &
fobrinhos repartir a Commenda, &
fenhorios de terras que mais tinha,
& tudo appro vou o Infante comefpecial agrado , & confirmou per car-
ta patente que veremos.
38 Aefte primeyro Capitão Donatário das Ilhas de S. Maria,
& S. Miguel paíTou o Infante o Alvará feguinte, que traz Frudluofo no
feu Iw. 3. cap. 1 2. & diz aíTim no feu antigo modo de fallar:

Carta Real da ^mlp-


Eu o Infmite D, Henriífm , Duqtie de Vizen , fenhor da Covilhã , c^c.
dicçaõ do primeyro
mando a -vh Frey Gonçalo Velho , meu CavaUeyro , é^ Capitão por mim em
Capitai des[ Maria, mnhos líhos de Santa Maria , &
Sao Migml dos Açores , que tenhais efia
é" S. Miguel. maneyra fufo efcrita , acerca da pijiiça , érfeytos civeys. Vis manàareys dos
Juizes das terras, que ouçao as Partes que em litigioforem, as mandem &
vir perantefi, é^ lhes façao cumprimento de direyto è^fe dasfentenças que
-,

os Juizes derem , quizerem appellar, appeílem para vos, &


vos confirmareis
asfentençasdosJuizes,ouascorregey, qual virdes que he direyto-, a-fede
vojfa fentençi elles quizerem appellar, vos lhes nao recebereis as appeilaçfics,

ner/i lhes dareis ,falvo efiromento deaggravO) ou catateflimiinhavelpara


fr A-
mim

W^
Cflp.VI.& VII. Do pnmeír.& feg. Capitaô Donatado* ui
0jm com ^'ojfa repofia } ér eu entoo denunciarey o que
vir que he dtrepSt cè^
vos ínandarey o quêfafaú iporèm vos nao deyxeis demandar executar asdtít
tasfentenças , pjio que com os ejiromentos , ou cartas tejitmunhaveis a mim
venhao. E fefor emfeyto crime , em que algum , ou alguma faça» o que ndi
devem » & mereçao pena de jujltça , vos manday prender , &
apenar em di"
nheyroj & degradar para onde vos prouver , &açoutar manday aquéUes que i\ir, I

omerecem,fem dardes para mim appellaçao. Efeforfeyto tam crime perquA


mereçao morte , ou talhamento de membro y vos mandaras aos Juizes que
4emafentençai& ojulguem y & da fentença que derem t appellaràÕ por^
farte dajufiiça , & inviaráo a mim a appellaçao , ^
de mim ira, k cafa deU
Rey meu Senhor , & eu vos inviarey a denunctaçao que de U vier. Outro/t a»
vtjhreys aos moradores deffas Uhas > que nao vao com nenhuns aggravos^ nem rr'
^ppellacoes, nem ejiromentos , nem cartas tejiimunhavets a outra jujiiçajfe-
pao Hmim , ou à meus Ouvidores,porque ajurifdicçao toda he minha, civel%
^ crime , & de mim iraÕ as appellaçoes das mortes dos homens , &
talha-
mentos dos membros k cafa delRey meu Senhor j porque vis, nem outro algum
Capitão, não tem poder de matar , nem de mandar talhar membro;ò' nos oU'
íros cafos vos tende a maneyrafufodita ó^quem quer que o contrariofizer%
:

ér em ejio ufurpar minha jurifdtcção , pagark por cada vez , ér cada hum,
milrets para minha Chancellaria. E outrojife oTabelliaÕ de fi errar emfetc
officioporfaljidade ,vos ofujpendereys do officio , & mefareis afaber o erro,
tomo he, ó" vos eu mandarey a maneyra que tenhais. E
outrojifereis avifado,
a
quefe effa Ilha forem Diogo Lopes, & Rodrigo de Bayona,fem vos mojira-
rem minha licença , que osprendays , <^ tenhays bemprezos, ate mofazeres a
faber, &vos mandar comofaçavs , & mos mviem prezos k minha cadea. B
quanto he k inquirição que me ck inviafies, vlsvedelk ofeyto ,ér odetermi-
nay,como virdes que he direyto , cumprindo todo ajfim, &
pelaguiza, que por
mim he mandado ,fem nelo pordes outra briga , nem embargo, porque aJfim hé
rmnha merch Feyto em minha Filia de Lagos a dezanove dias de Mayo.Joai
de Gorizo ofez,annodo Nafcimentodo Senhor de mil &
quatrocentos^
fetenta. Atèqtli o Alvará do Infante.
39 Renunciadas pois as Capitanias pelo primeyro Capitã©
Frey Gonçalo, detcve-fe efte tanto em Portugal,que lá morreo fem tor-
nar às Ilhas ;& jaz na íua Capellada Igreja Matriz de N. Senhora da
Afíumpçáo da Villa do Porto.

CAPITULO VIL
Dofegundo Capitão da dita Ilha:

40 1 0aô Soares de Albergaria de cuja fidalguia jà falíamos , fof


,

o fobrinho j em quem o primeyro defcubridor , & Capitão de


ambas as Ilhas,de Santa Maria, & Saó Miguel,Frey Gonçalo Velho Ca-
bral renunciou com effeyto ambas as ditas Capitanias; & a carta de con- >,_ ^ confirma^
;.^- ^-^
-

r > r» n- / !• ^ •
1
Carta ,(t
•! •

h rniaçao traz v ruòtuoío liv. 3 cap. 13. com as antigas palavras, ibi:
. ^5 ^^ Capitania dM
41 Ena Infante Dona Beatriz, Tutora, ér Curadora do Duque da ao fegundo Capè^
wcnfilho Dom Diogo ,façofabér a quantos efla minha virem, ig^^ o conheci- taõ^oao Sjjrjj^
K ij
'
ment9
. Livro I V. Da líKá dè Santa Mar íã;
mtentõ delia pertencert qtteeu deu carrego a João Soares, CavaUeyro dafim
-
cafã, na Ilha de Santa Mana ; que etlejeja o Gafitao
em ella , ajfim , pela &
qmehe em fita Ilha da Madeyra João Gonçal-ves , é- que elle a mantenha
pio dito Senhor emjufiiça , é- em dtreyto-, morrendo elle, a mim me praz, &
quefeufilho,primeyro , oufegmdo , tenha efte carrego ,por agmzafujodita,
^ ajjimdedefcêndente em defiendente for Unha dtreya : &findo em tal ida-

de o dttofeufilho , que a naopoffa reger , que o dito Senhor , ou fiem herdeyros


fOraoalU quem a reja, ate que ellefija em tdadepara reger. Item rnepraz,
que elles tenhae defta terra ajurifdicção pelo dito Senhor , meu filho, do civeh
& crime, morte , outalhamento de membro , que porappellaçaâ
refiervando
venha para o dito Senhor j por>mfob embargo da dita junfdicçao me praz»
^ue os mandados todos do dito Senhor , &
correyçao,fiejao ahi cumpridos , afi-
que o dito João Soares haja parafi
fim como coufia própria. Outrofi me pra^ ,
todos os moinhos que houver em efla Ilha, de que afilm lhe dou carrego,& que
ninguém fiaçaaht moinhosfienao elle, ou quem a elle prouver i emifiofienU &
'entendera mo , que afiaçaquemqmzer, nao moendo outrem em ellajé^na»

faça ahi atafona. ItQmme praz, que todos osfornos


depao,emque ouver
poya ,fiejaofiem -,
&
porem nao embargue , quem quizer fazerfornalha para
fieupao, que oJaca , &
nao para outro nenhum. Item mepraz , que tendo elk
dando-lho a razàh de meyo
fal para vender ,o naopojfa ahi vender outrem,
ítal de prata ú alqmyre , &mais nao-, & quando o nao tiver, que o vendaoos

dailha afim vontade ate que éle o tenha. Outrofi íne praz que de todo o que
houver de renda o dito Senhor em a dita Ilha , elle haja de dez hum-, o qm &
o dito Senhor ha de haverna dita Ilha ihe contendo no foral, que
para elk
ou
mandeyfiãzer &por efia guizà me praz , que haja efia rendafieufilho ,
:

mtfofieu deficendentede Unha direyta , que o duo carrega


tiver. Item me praz
pepojfa darperfims cartas a terra defiailha forra piloforal da dita Ilha,, ,

'a quemlhe parecer ^ com tal condição


que aqueUe , a quem der a dita terra , a
"nproveyte cinco émios ér nao a aprmMytando , que apojfa dar a outrem ,
-,
&
"depois que aproveytada fior,fie adeyxarpor aproveytar
ate outros cinco an-

nos, que por mefimo a pojfa dar a outrem : &tfio mo embargue ao dito Se-
iffo

hhor^que , je houver terrapor aproveytar , que naofieja dada , qm apnffid


ààr a quemfiuamercefor é" affim me praz que as de ofimfilho, ou herdey-
-,

ros defiendentlsyque o dito carrego tiverem. Emaú mepraz que os


vizi^

nhospojfao vender fiuas herdades aproveytadasaquemlhe


aprouver -,&fie
.^uizeremir de huma Ilha para outra , que fie vap,fiem lhe porem nenhumem-
bargo. E fiefizer
algum homem em cadahuma das Ilhas , que mere-
maleficio
ça fera coutado, &fiugir para outra Ilha , qUèfieja entregue onde tem o ma-
lefício , fe requeridojõr , &
pedir fier prezo , para fefiazer delle cumprimento
dedireyto. Outrojfmeprazque os moradores dalihafiejiprovcytcm dosgadoí
bravos que nella andarem ,fiegundo lhe ordenará o dito João Soares, os que &
depois delle por o dito Senhor , d^ porfieMõ herdeyros o carrego tiverem, refiah
vando os gados que andarem nos Ilheos , ou outro lugar cerrado , que ofienho^
rio o lance &
ifo mefimo mepraz, que os gados
:
fos pafçao ajfim cm hua mm
.5--. parte , como em outra , trazendo-os à maÕ , qtie nao fiçao damno fie ofi^ ; &
zerem , que o paguefieu dono. Feyto em a. Cidade de Évora a doze de May o.
Alvareanès a fez , anno de nojfiò Senhor JESU Chrifiodemil & quatrocen-

tos &fietenta'& quatro. A


qml carta vifiapormm , eu a confirmo , & hey
.v.iír.?o P<^
Capi Vil Do íegundoCíâpítâaBbnâtado^ ii|
f&r confirmada , affim , &^ela manéyra que em ella he contendo , fem outn
\emhargo que hum , éf outros a ellapnhàé. Dada em a Fala de 'forres Fé-
étrasjã 2^.4e Junho^anno do Nafcímento de nojfo Senhor JESU Chrtfiodt
mil & quatrocentos & noventa & dous. Atèqui a carta do Infaate , ôc aò
Duqi|e feu filho.. .

42 Veyoeftefegundo Capitão das Ilhas de Santa Maria, 6c S.


Miguel, veyo de Portugal jà eafado com D. Beatriz Godiz , de compe- Doftgundo Capitai
tente nobreza,Sc com hum fobrinho chamado Fclippe Soares,6f jà tam- *'' S.Maria , & Sai
bem eafado com Conílança da Grela ifez feu ordinário aflento , & rcfi- ^'í«'^'
/*^«S
dencia em Santa Maria , por fer entaó mais povoada , & de tanta nobre-
a^ll^^íT^Madty.
,za, como já vimos, & naIlhadeSaô Miguel exercitava afuajurifdic-t^a^^.^^í/íWííaCW'
çaó , vifitando-a muytas vezes j mas porque aditafua mulher zdce-pitaniadeS.Mt^ftei
^eo, &: em Sanca Mana, & Saô Miguel faltavaó Médicos , com a doen- « ^«' Gonçalveida
ceie embarcou, & a foy curar á Madeyra , mas lá da doença , & abalo Camera^terçepofi-
da viagem brevemente faleceoi porém foy tam eílimado do primeyro ^f^ *•
^"^'^li^^^
CapitaÓ do Funchal JoaÓ Gonçalves Zargo, &de feu terceyro (ilho '^f^^f^aavcK.ci
RuíGonçalvesdaCamera,que por lhes agradecer a hofpedagem ,& /j^riwc^ deScuJa,
pelos grandes gaítos que fizera em a ida, & na cura, & morte da mulher^Jidaí^a parítadoBa-
Sc na vinda que havia de fazer , fe refolveo em vender a Capitania de raõ velho entaõ^ ,
&
Saõ Miguel ao dito Ruí Gonçalves , filho do Capitão Joaó Gonçalves, ^'""^' àeAbran-^
'^''

& ficarfe com a Capitania de Santa Maria j & vendeo-lhe tam barataa ^^''^-^-^
de Saó Miguel, como veremos , & admiraremos , quando tratarmos de-
fta Ilha i 6c tudo foy approvadõ, 8c confirmado pelas peíToas Reaes.

43 Já viuvo pois o íegundo Capitão de Santa Maria,8c fem fi-


lho herdeyro, voltou da Madeyra a Lisboa, 6c ElRey logo o cafou com
D. Branca de Soufa , filha de Joaó de Soufa Falcão , fidalgo da cafa
delRey, que refidia em Alter do Chaó , 6c era parente muyto chegado
do Baraó velho , 6c do famofo Poeta Chriílováo Falcaó , que fez a ce-
lebre Écloga , chamada ( Criftal } das primeyras fyllabas de feu nomc)
Sr por fua mãy era a dita D. Branca filhade D. Mecia de Almada, prima
com irmã do Conde de Abrantes; Foy celebrado efte cafamento em.
Xisboa a 20. de Junho de 1492. Vieraó os dous cafados para a fua Ilka
.
de Santa Maria , 6c viverão cafados fete annos , èc tiveraó os filhos íe-
guintes primeyro , Joaó Soares de Souía , terceyro Capitão j fegundo,
:

Pedro Soares de Soufa, que faleceo na índia ; terceyro , D. Mana que


,
eafou nobremente no Reyno com hum Fey tor delRey , chamado
Joaó
Fernandcz, de que nafceo outra filha, que cafou com hum fidalgo cha-
mado D. Joaôj quarto, D. Violante, que cafando com hum fidalgo Ca-
ftclhano das índias, morrerão ambos fem deyxarem herdeyros.
44 Faleceo emfím efte illuftre Capitão Joaó Soares de Soufa,
de mais deoytenta annos de idade , em a dita Ilha de Santa Maria , &r
com grande nome, 6c exemplo de virtudes. Foy valente Capitâó,8c taó
aniniofo , que commettendo-o huma vez , Sx. de repente quarenta hoi-i
mês armados, (que de huma nào Caftelhana tinliaó, fem poder pre-s^
verfe, faltado em terra ) elle lançando a dous de huma rocha
em bayxo,
(tz tornar os mais aos barcos, em que tinhaó vindo a terra : ^ em outra
pccafiaõ, com fó hum negro feu, òc quatro homês brancos pelejou três
,
dias Qom húm navio de Caftelhanos , atè que desfalecidos
os^cinco Por-
K iij tugue».
114 , ' Livro lY* P a Ilha êt Santa MaHà.
,tuguezes de pelejar ,foraõ prezos , &
levados a Gaftella , o valente &
^Capitão fe refgatou, &
voltou á fuallfaa, &
oy to dias depois fe ajuftá-
jaó as pazes entre D. Aífònfo V. Rey de Portugal, D.Fernando Rey &
,dc Gaftella, anno i4,8c?v . ^

W CÁ PI T U L O VIU.
...-.'._
i. ._

DotercejiroCapkaÕdeSantaMaría»

9 -c jr r 4,< "'OY terce vro Capitão de Santa Maria Joaó Soares de SoQ-
.^:";«ra" tía.^lhodlfeguídoCapitaôJoaõSoaresdeAlt^rgarla^c^
S.Maria, cajoHpri- fou com Dona Guimar da Cunha, da Ilha de Sao Miguel falha de l<ran- ,

tefyro com D. Guio- cifco da Cunha & de D. Bntes da Gamera , à qual era filha natural de
5

íw^rrfáCw»^^^/?/^^ Ruí Gonçalves da Gamera ^terceyro Capitão de Saó Miguel ,& neta
deFranetfco da Cu.
^e Joaó GoRçalves Zargo, Capitão primeyro do Funchal: & o Fran-
nha &àcD Bnm
^-^^^ ^^ Cunha era filho de Pedro de Albuquerque ( primode Affon- ,

I ciSiS^^^^^ fo de Albuquerque Governador da índia ) & de fua mulher D. Guimac


RmGõçaivesdaCa- da Cunha , prima de Nuno da Cunha, que também foy Governador da
n>era;&neudopri'lnàiâ,^onàe odito Francifco da; Cunha foy duas vezes Capitão mòf
nuyroCapitaõdaFM' (^f^fi^Qg.^g^ finalmente veyo a viver em Vilia Franca de Saó Migueí^^
ehaí JoaZ Gonçalves
q^ Ponta da Garça > por ter gaftâdo no ferviço dei Rey
& tudo o que ti-
Í^?;iwf:;^:"hav% req«erera:Lisboaa ElRey d JoaoH & (como contaGarcia
TUro de AlL^Her. ^^ Rezende ca^. 211. ) achou Francifco de
Albuquerque ao dito Rey
»f & D. Guimar oâo fó doente , masji fó duas horas antes de expirar & chegou comtu- i
f ,

.daCmha,dosyílhí- doa. fallarllie , & pedirlhc , que pelas cinco Chagas de Chrifto Ihefi-
zeffe alguma msrcè , porque era fidalgo , & muyto pobre & o Rey ou-
^^Her^ fies ^dr Cunhas, ;

^j^Jq ifto lhe fez paíTar logo, & com muyta preífa , mercê de trinta mil
Covemíidores da In-
,
"*'
reis de tença , & a aílinou &: de palavra lhe diííe que tomaííe a prata
j ,

que na cafa eftava que,náo tinha já que lhe darj & fahido o fidalgo, dif-
,

fe o Rey entre as agonias da morte aos que alli eftavão Ja agora pojfe :

Vevoçad delReyD àefctérír ífto: Nuncã m


minha vida me pedirão coufa a honra das cmc»
João o II. h cinco Chagas de Chrifto, ofue naoftzefe.
Oh devotiffirao Rey! ^
Chagai de Chrifio. \ 46 Defte terceyro Capitão, & datai D. Guimar da Cunha naf-
eeo Pedro Soares de Soufa quarto Capitão , de quem abayxo fallare-
,

mos ; fegundonafceo Manoel de Sòilfa , que por fazer huma morte f« ,

aufentou , & andou trinta & cinco aniios por Itália , &: França , & em
grandes guerras , & voltando já à fua Ilha , deo com CoíTarioS France-
zes, que em o mefmo lugar , onde tinha morto ao outro o matàraó a el- ,

le, que de tantos perigos tinha, para tal exemplo, efcapado.


Terceyro
nafceo Nuno da Cunha homem de muyta virtude, brando, & pacifi-
,

co que cafou com D. Francifca filha de hum nobre & rico homem,
,
, ,

chamado Sebaftiaó Luis da Cidade de Ponta Delgada pay de Hiero-


, ,

nymoLuis, homem principal da mefma Cidade da qual D. Francifca j

houve Nuno da Cunha hum filho Joaõ Soares como o Capitão feu ,

avo , o qual fendo de tenra idade & eftando em huma jandla raza que
,

naó tinha ainda grades , por ferem as cafas feytas de novo, Sc paíTando
para hum enfermo o Santililmo Sacramento , querendo o menino ver a
gente, & campainha que hia tangendo, cahio;Çipm a cabeça paÉraÍjayxof
. & dando nas pedras da calçada , lendo a altura grande , não morfetr, &í
:, íó lhe ficou hum geyto em huni olho o que todos
i julgarão por miW
que parece o guarda o Senhor, para dellc fazer hum grande Santoi
grej
como eftá moftrando íeu proceder , que hç agora de quinze aacosu dis

47 C^arto nafceo D. Joanna , que cãfou com Heytor Gonçal*


ves Mmhoto, tam rico que fe mais vivera j.acabàra de comprar toda a
,

Ilha i & deftcs houve muyta defcendencia primo D. Guimar , mulher


;

dejoaõ d' Arruda, filho de Pedro da Gofta , de Villa Fxmcâ-,fecunda


p. Branca , mulher de Fernaõ Monteyro de Gamboa , de que nafceo I>.
Felippa ainda fokeyra então iteríio Francifco da Cunha, que herdou
do pay muyta riqueza ,& cafou com huma fidalga da Madeyra, de que
houve filhos , mas vivendo depois eftragadamenteem Santa Maria,fou-
,beemfimarrependerfe,&indo-fe com toda afua cafa para a Madeyra,
la fe recolheo a fazer penitencia em huma furna de huma rocha do mar,
& alli em certas horas colhendo algum peyxe, delle tomava para fuften- ^' ^"'"JZ^tuX
tar a vida , & o mais punha fobre os penedos , aonde o vinhão buícar
27enitetiíe[°&^'»f''
moços da terra , & alli deyxa^o pedaços de paó , com que o ^tnittn- '

fintamente m<ir'
fi^^^
te , indo-os depois bufcar, fe fuftentavaj & porque os moços tinhão re- to.
parado em tal penitente , & lhe queriaõ fallar , & faber quem era, elle fe
efcondia de húas em outras furnas , &
penedos , de>tal forte , que fete pa- . .

^ra oy to annos vivco nefta penitencia , íem jamais fallar a pefiba algumaj '**^*''^^
^^'2 t!t
& alli mefmomorreo com fama de fantidadej tendo, antes de fe ir para .. .^ aJlviS^
tal dcferto,cafado honradamente na Madeyra a três. filhas que levou, -mx^ isífc-^&y^ «A»
.
.

&: cafadas as deyxou com o que ainda levara , fem delle poderem faber s;© », ««.^4t
mais. .,,,.. •"> .....--.

.-
48 Morta a dita primeyramnlhcr do terceyro Capitão de San-
ita Maria, fegunda vez cafou efte com D. Jurdoa Faleyra , filha de Fer. '

iiáo Vaz Faleyro , & de Felippa de Rezende da melma Ilha , & delia
feve ainda os filhos feguintes j ^nw^ Gonçalo Velho, queimorreo mo'
P^í"" ^'^^°^ ^fi''^''^' Álvaro de Souía , que cafou com semnda, & temym
ff" T? ™f 'Jm"^"
iJ.ilabei,h lha de Amador Vaz Faleyro, da qual teve huma MiíiTio-vkcAfoHcjli tercei-'
na Jurdoa j tertio Ruí de Soufa , que morreo na índia em huma batalhaj ro CapitaS, &detO'
ptarã André de Soufa, que cafou com D.Mecia,irmã do Bifpo do Fun- '^^ '^^^ ^^'"^ tanttsfi-
çhal D. Luís de Figueyredo de Lemos quinú Migual Soares que ca- ^^'"' ^"''°"' '^*"'
;
**
,

,
íbu com D. Antónia neta de Anna de Andrade, viuva de Gonçalo Fer-
,
"J.'ZZj fiZs"'"&
mndesi fexto Belchior de Soufa , que também cafou com D.Maria, fi-
^o^reo Ztn^ànms'^
lha doBacharel Joaó de Avelar. Terceyra vez cafou morta a
( ít^^vmà.^foj magnifico, liberal
mulher } o dito terceyro Capitão có D.Maria,filha de Nuno Fernandes & taõ grande efmol
Velho , & ainda delia teve eítes filhos^ D.Branca, & outra menina que ''^j 1^' deyxou difo
,
morrerão ambam; item António Soares,que ha pouco foy para a India,& ^^'^^'"^ '^dmira-oeis,
João Soares , enfermo incurável. Teve maiseíle Capitão muytos filhos
teliMo'"'"^'^'"''
'""
naturacs, &: com os legítimos , teve por todos vinte 6c quatro filhos. "*-


49 Era efte terceyro Capitão hú homem muyto altOjgroífojSc
animofo, magnifico fidalgo, &
taó liberal, &
efmoler , que diífo parece
morreo pobre , mas na verdade rico de muytas virtudes naô arrenda- :

ya as faas terras a hum fó, mas repartidanientc a muytos-, para remediai


1 atodos)
%t& .xf^iVfolV.ftâ Ilha de Santa M&ià^

A todoí } & o fcndeyro quéifce devia meyo moyo de trigo , fe era pobre,
com hum faço de crigo lhe pagava iíendo fenhor dos moinhos , quaíí
que por fenhorio o não conheciaó, Secada hum lhe pagava o que que-
ria, & nunca mandou citar a alguém por divida j antes em hum anno de
fome mandou lançar pregáô , que quem lhe tomaíTc ovelha , ou carney-
ro de feu gadoj, lhe tornaífe a pclle, & a lá, & o mais lhe
perdoava fobrc :

tanta charidade , & liberalidade, na juftiça era


tam redo, que fem fer le-
trado , nunca deo fentença , que na Relação fe revogaífe ,
ou mudaflej
gç atè em a arte Náutica fqy infigne.
Finalmente havendo fido traveffo
em fua mocidade,morreo como muyto bom Chriftaó,& com muytos fi-
naes de predeftinado,& etíi idade de fetenta &
três annos,a 2. dejaneyro

do anno de 1 5 7 1 .Foy fepultado na Capella mòr da Matriz da dita Ilha,


junto aporta daSacriftia , aonde eftavaõ- fepultadas fuás duas primey-
ras mulheres.

CAPITULO ÍX.

Do quartoCapitaÕ da Ilha de Santa Marta.

por linha varonil & legitima


tf
'
ô r^ Ontinuõu-fc efta Capitania
de Soufa quarto Capitaõ &
,

Ú^umo C4pitaoFe-
dro Soares -^"«/^
'

^^ fempre, em Pedro Soares foy ,

confirmado na Capitania ,&


, fi*

iho do terceVro j morto efte feupay ,


''^

cnouje na Corte ,& com D. Brites de Moraes da Ilha


^^^^^ ^endo-fe creado na Corte )
,

2-^X«?'(/-" da M , filha de Joaõ


W^
tl^L"i^Zies de mo de Vizeu , dos Moraes Gouveas
deJvloraes^^^^
& Azevedos de Portugal & a
, , ,

feupay, &jogr<, na ^^^ fg chamava Catharina Fernandes


,
Tavares dos Tavares & 1 ey., ,

Capitania, & Capitães de Machi-


benevolência, libera-
^^^^^^ moradores em Santa Cruz, da
W<í^^é-cW^-^*^^J.j^j^^.^^^ ^,^^çq^^el4tratámosjàmais propriamente.
com os pobres, & de- ^_
^^^ ^^^^^^ Capitão imitador nas virtudes do dito ter*
fua mulher foy
Zir4"^ J- ceyro Capitão feu pay ,&
hZ porqueamboscra6tamvirtuofos,quedellesnuncahouveaggravo,ou
efcandalo j eraÒ taõ charitativos , & liberaes
com os pobres , qne nenhu
poriíTo de todos eráo muy amados,
hia a íua cafa, q o náo amparaífem,&
& obedecidos eraô tam devotos , efpirituaes , & amigos
:
de Deos , que
Matriz da Villa do
morando em o paço da fua quinta , meya legoa da
antes álèm dos dias Santos
Porto , nunca comtudo perdeo elle Miífa j
perpetua ir três veze? cada fe-
de guarda, nos outros tinha por devoção
manaGUvirMiííaiqueaindaentaÓnaÓteymavaÓtancoos fidalgos per
as mulheres, & muyto menos para fi.
^er Miífa em câfa , nem ainda para
C2 Nafceo deite quarto Capitão, & de fua mulher, fnwí? João
náo a vaidade
SoaresdeSoufa, quefeguindoa virtude defeuspays,&
Religiolo em b. Hiero-
da Corte de Portugal onde andava , fe metteo
com fin-
nymo no Convento de Burgos em Caftclla , aonde procedeo
virtudes. Secmdo nafceo delles Eras
S^Lilar exemplo , & augmentode

Soares de Albuquerque, que fe feguionacafa.


Como abayxo diremos.
enia Corte de Lis-
Temo nafceo Henrique de Soufa , que faleceo moço
boa. Qiiarto António Soares,que morreo
nas índias de Caftella. §um
.
«^ ' nafceo

T^
Cap. X. T>o quinto DoíilâHo da dita Ilha; mp
iiafceo húa filha , Anna de Saõ Joaõ, que fe fez Religiofa nó Convento
da Efperança de Ponta Delgada na Ilha de S. Miguel j & uítimamence
teve efte Capitão huma filha natural , chamada Concórdia dos Anjos>
que cambsra metteo Religiofa conj a fobredita irmã paterna.
55 A efte quarto Capitão de Santa Maria, & filho fegtindo do
terceyrò, andando na Corte de Lisboa , deo ElRey o ínefmo foro de fett
pay,ôc avòsj &: elle íe achou, como quem eraj na Armada que fahio con-
tra os Coífarios Inglezes entre a Ilha Terceyra, & Sâo Miguel , em quê
também fe acháraó o Capitão Pedro Corrêa de Lacerda , Ayres Jaco-
me Rapofo,& Bartholomeu Favella da Cofta. A jurifdicçaó dos Capi-
tães de Santa Maria (! diz o Doutor Fruftuofo liv. 3. cap. 15.) he con-
forme àdos Capitães do Funchal tideji j atè quinze mil reis , 6c açoute
cm peaó, degredo , &c. E quanto à renda , a redizima de tudo , os moi-
nhos, os fornos communs3& que ninguém poífa vender fal fenãoelle>
tendo-o , & fó a meyo real de prata oalqueyrej como tudo confta dos
Alvarás acima jà trazidos. Foy efte Capitão , como feu pay, homem al-
to, groflbj & gentil- homem. Faleceo na fiia Ilha de Santa Maria a 30.
de Agofto de 1 5 80. jaz fepultadojcomo feus anteceflbres, na fua Capei*
la mòr da Matriz da Vi lia do Porto*

C AP T UI L O X.

Do quinto Capitão da Ilha de Santa Marias

54 A O quarto Capitão fuccedeo feu filho fegundo, f por o prí-


meyro fe fazer Religiofo, como vimos) & porque <i^- o.uinu Capitai
gundo le cognommava de antes , Soares de Albuquerque , chamou-fe,ó/f«í;a fe chamotí
cm fe entrando no governo i Brás Soares de Soufa , feguindo a feus an- Brat Saares deSoHfa,
.teceíTores atè nos appellidos , como he coftume. Sérvio em muytas Ar- como fim amepajfa^^
madasaoReynojachou-fe no cerco deMazagaó j& na conquifta dt '^"^'ifi^'^'" 'w-^j^*-
JPinhaÕem Africa. Cafou em Lisboa com D. Dorothèa, fidalga filha de
^li^rTaím"''"^''
MariadaCamcrâsSc neta de Antão Rodriguez da Camera , que era fi- T/q^ ^"*gthea
Ihodéjoaó Rodriguez da Camera Capitão de São Miguel j & o pay ^^^^fJl/c^p/Síí
da dita D. Dorothèa foy Joaó Nunes Velho, filho de Duarte Nunes de s. Miguel
^&f9\
Velho íóbrinho do primcyro Capitão ,& defcubridor Frey Gonçalo ^>''«^'* ^^^n^A do il-
,

Velho Cabral} cafou porém pobre , mas foy de grande governo, & àt ^"fi^f primeyro^Ca-
Gonçalo Velho-y
efpiritos grandes de excellente Capitão , pofto que o mUrmuraflem de
^Í^f
afpero. Teve trds filhos dá dita D. Dorothèa frimò Pedro Soares , a
;
VordeZ7eCh%
quem de dezoyto annos deyxou morrendo Fruduofo fegundo filho tl^ dég^nL gover->
j

Manoelde Soufa terceyroi António Soares & teve mais duas legiti- «o, & altos
; j ejpmtosi
mas filhas, Freyras na Efperança de Ponta Delgada em S. Miguel. v .

55 Confta porem que depois da morte do noíToFruftuoíb , o


fegundo filho Manoel de Sõufá Soares, (ou Soares de Soufa) cafou com
D. Joanna de que nafceo D. Ifabel , que Cafou com o Defembargador
,
-

Mígiíel Znzarte. Confta mais qUe do dito quinto Capitão oterceyro


iiiho António Soares foy Religiofo Francifcano & do primeyro filhe»
j

^^iremosabayxo./ifí'^ confta que efte quinto Capitão Brás Soares ,ná


t.ort-4
^?->Ag:^>SMftÍ3g ^

til Livro IV. Da llha^c Santa Maria,'


contenda de Felippe II. fucccder na Coroa de Portugal , fcgnio as pai".'
tes de Felippe, & com tal empenho , que levantou forca na Ilha de ban*
ca x\Iaria , & pelo mefmo Felippe foy depois feyto Commendador da
Ordem de Chrifto , com tença de feíTenta mil reis na Alfandega da Ilha
deS.Miguel.
ll! I
56 Porém antes da entrada em Portugal de Felippe II. do no-
, - . me,ReydeCaftella,fuceedeo em5. de Agoilo de 1576. chegaremâ
Com ejíe qutnto C^; jjj^^
^^ ^^^^^ ^^^.^ ^^^^ ^^^^ Francezas de noy te , & fem ferem fenti-
5rr«!»TA4X'f«f« huma hora antes da manhã botáraópelo Porto em terra trezen-
«las, 6c

inimigas armadas de tos homês CoíTarios bem armados , dormindo


de confiados os que nem
FrAncez,es: & quan- tal cuydavaói & os da Villa, fó ás vozes de huma moça , que mdo muy-
to importa que esCa' ^q
g^tes de manhã a bufcar agua , & vendo vir para a terra as barcas dos
fitães das Ilhas refi.
francezes , voltou gritando á Villa , Sc aos brados de huns moços pef-
dao^ll^2. '"* "'"J':
cadores que do Ilhèo vinhaó fugindo , fó a eíte eftrondo acoi;dáraó os
lit Y^ímit
ja YiWa i & ainda mal veftidos fe retirarão ao Certaó da Ilha , aonde ò
Donatário que jà governava , & o pay que ainda vivia , eílavaó na fua
quinta i & pofto que alguns homens , que primeyro acordarão aos gri-
tos, fi^erão alguma refiftencia aos Francezes ^ & deftes
matarão algun^
dos da Villa morrerão Amador Vaz Faley ro , Vereador adual, Manoel
de Soufa irmão do Donatário & foraó feridos Francifco de Andrade»
•,

homem fidalgo , 6c Duarte Nunes feu irmão , 6c Jacome Thomè Fa-


leyro j 6c fó o Vigário da Villa Balthetar de Payvà ,
quafi milagrofa-

jncnte paífou a cavallo por entre as lanças , 6c eípingardas , cora o San-

tilTimo que comfigo levava , 6c o feu Thefoureyro com a prata da


Igre-

jaj 6cde tudo o mais ficáraõ fenhorcs os Coílarios 6c faqueàraó a Villa.


,

57 Eis-que na mefma manhã pelas fete horas , os da Villa,quc


fe tinhaô ajuntado em huma Ermida de Santo Antaó , dous tiros de béf-
ta da Villa , 6c o Capitão velho , Pedro Soares de Soufa , que paíTava ]i
'
I
de feflfenta annos , voltarão fobre os Francezcsj 6c eftes, que eraó trezen-
tos bem armados , rechaçarão de forte aos menos nolfos que houve va-
,

rias mortes de parte a partej 6c os CoíTarios começarão a pôr fogo à Vil-


la, 6c os defta logo mândàraô a Saó Miguel pedir
íoccorro , 6c le fizeraó
fortes na dita Ermida 6c no mefmo barco vieraõ logo de Saó Miguel
;

o Sargento mòr de Ponta Delgada Simão de Quental , & feu filho An.
tonio de Quental, com muy tas armas ^ pólvora, 6C atambori ^ na fegun*
da feyra de madrugada jà eftavão com os da Ilha de que tendo avifo os
j

Coílarios, inveftiraó por Vezes os da terra, que já eraó duzentos 6c cin-


coenta , 6c t^ts]i armados os carregarão tanto , que na noy te da fegu n-
da para a terça feyra fe voltarão com tal preíTa , & tal defordem aos fcus
navios , que pelo caminho lhes ficáraó as trouxas , 6c grande parte do
. que Icvâvaó j 6c da terra morrerão fó dez homens , 6c ficàraó onze fe-

ridos.
58 Logo em chegarão de Saó Miguel , em^mayor
a terça feyra
íoccorro, muytos da principal nobreza, como o Capitão Francifco
d' Arruda da Cofta , fidalgo da cafa de S. Mageftade , Sebaftiaó da Cof-
ta feu filho , 6c Joaó de Mello feu genro, 6c André Botelho filho
de Jor-
ge Nunes Botelho, 8c Henrique MonÍ2 Cavalleyro de Africa , 6c An-

tónio de Benevides , & Chriílovaõ Cordeyro o moço i ôc Brás Coelho,


^
Capí'X/DoquiÃtô Gapiíáõ Donatah^, «if
^ Pedro Rodriguez de Soufa feii irmaõifilhDS ambos de JBálthezar Rol
díiguez de Soula j í/f«? Joaô de Frias filfao de Bartliolonieii de Frias»-
íâmbrofio Noguey ra filho de Eílevaõ N ogiíeyra ^ António Mendes fi*
)|ia de Joaó d' Arruda da Cofta, Amador Fernandez irmaó de Sebaítiaó
JLui§ , Antoniç Botelho Efcriviae- da Camera de Ponta Delgada ,Hict jDo grandefoccemê
ronymo Mendes filho de António Mendes , Gafpar Cameiío onjoçoj deS. Migutl veyoá
EUiQ de Jorge .CâmeUoj Ayres Dias .Correafilho de Gafpar Corrêa ,& S. Maria, mas jktari
neto de Lourenço Ayres, ManoelLol)o filho de Francilco Lobo , Luis ^'i^(i'íih^Jti
Mendes Viftoria Feytor délRey,J()a6 de Robles HefpanholiSc cô eftes
nobres vieraó. ma^is duzentos homês de peleja. E^não h^ que admirar de
aflim acudir Sa& Miguel -a Santa Maria , porque da primèVra nobreza
deíla defcendia a primeyra de Saó Miguel , & por também lhe dever X
feudefcubrímento^omo veremos }& por iffo cora tal foècoíf o, ííflèm ,- - ~^

deartelharia, armas, & munições, lhe levarão taiíibem muytos manti*


mentos.
-í:
59
. Mas pofto que o tal foccorro partio de Saõ Miguel logo
ém a dita terça feyra , não chegou fenâo na quarta a Santa Maria, quaa-*
do já fe tinhaó embarcado , & partido delia os Frahcezes. Ao outro dia
çhegáraõ a Santa Maria nove navios da Ilha da Madeyra com dinheyro
& bafcar trigo j &
dez dias depois , com os ditos nove navios , em cin* &
CO mais voltou o foccorro para Saó Miguel com o feu Capitão Francif-
£ô d'Arruda da Cofta , que nefta occafiaó , & em ferviço delRey gaftoii
iftuyto de fua fazenda. E ainda que fahido de Santa Maria o dito foc-
corro , tornou logo huma grande náo a acometer a Ilha por vezes , Sc
com lanchas , o Donatário Pedro Soares de Soufa ,& Belchior Velho
&
de Andrade, fidalgo do Porto , donde tinha vindo , fe cafou em Santa
Maria, defenderão fempre a terra com fó a gente delia, &
com tal va-
lor, qiie as barcas fe recolherão, &; a nàofe foy.
6o Depois cmdousde Novembro de 1589. apparecèraô ao
hrgó duas grandes nàos,& de noyte commcttèraô a entrada da terra
com barcaflas mas advertido tudo pelo Donatário Brás Soares de Sou-
;

fa, fez lançar ao mar dous tam grandes barcos, 6c tam bem armados,que
âsbarcaflas fugirão, & deyxáraó hum navio do Brafil, carregadoj &
qiie tinháo entrado, &tomado as duas nàos , & fe fahiraõ tam depreííaj
que nada mais levarão, mas deyxàrâo muytas armas , & de cem homens
que eraõ os das barcaíías, voltarão fó féis, ou fete. .
t

-^1 Idas eftasnàoSjaofegundo dia anchoráraõ em o Porto duas


-
•WFv^f
mais pequenas nàos atirando continua artelharia, mandando logo&
duas grandes barcaíTas , &
duas lanchas menores, &
todas cheas de muy-
ta gente de guerra, &
bem preparada , com miiytos atambores , trombe- '

tas, & bandeyraSj & a mayor das barcaíías cpra as armas dè lium Princi-
'

'

pe, ou Conde que alli vinha mas governando a gente da Ilha o feu Ca-
:

pitaó Donatário Brás Soares ,taes cargas de moíquetaria deo ao inimi-


go, &
por outra parte taes pedras derrubarão fobre os das barcas, que
atè ao dito feu Príncipe lhe matàraõ 5 & a barcaíTa da principal bandey-
ra fe voltou com ella a rafto para a nào , &
as outras a feguiraõ fugindo
todas,& em entrando na nào,aíIimfe tornarão huns contra osoutrosj
^He hum de furiofo fe lançou ao mar^ matando-fe a fi mefrao j & as nàos "
,

- .

'''' -
lêvan"»
-.«cíSmL

fio Livro IV. Da Ilha de Santa Maria?

levando anchoras, & largando velas ,fe foraó , deyxando a Ilha livre, 8ç
vicoriofa. Tanto vay em ter prefente huma praça o feu próprio , &; era«
penhado Capitão , &
naó viver aufente delia. E por iíTo outras vezes
fendo a mefma Ilka commettida de varias nàos , &
lanchâs , fempre foy

s * rx?*'.".'^^^. íV bem defendida , & ficou vitoriofa,por nella aínftir fempre o feu pro^
prio, & valerofo Capitão.

GAP I T U L O XI.

OofextoCapitad da Ilha de Santa Maria,

Ofim CaphA'S PêZ 62 Y\EdT0 Soares de Soufa foy o t^uefuccedco por Capitão Doi
dro Soares de Smfa^ X pay Brás Soares de Soufa, quinto Ca-?
natario da Ilha a feu
filho do quinto , gafou pitãoi cafou
duas vezes , primey ra com D. Viftoria da Cofta , filha do
duaiviz.es-, da pri-
Defembargador Diogo Mendes da Cofta,& dellarnafceo hum Brás Soa-
res de Soufa , que foy Commendador de Santa Maria , &
Tntyra mulher teve militou atè
^orfilho aBrat Soares que ca»
do Brafil j ôc fó deyxou humafilha natural,
de Souja 5 m flitou, morrer nas guerras
CaftrojSecretario da Mefa da Confciencia^
,

& morreo hoí guer- fou com Manoel Pereyra de


&foy que depois fedefquitou delia ; & deyxou
ras do Br afil mais outra filha natural , poc
^

Comendador da Ilha nome D.Marina, (ou Marianna ) que morreo folteyra.


deS. Aíaria drfó
63 , Teve mais efte fexto Capitão Pedro Soares de Soufa poc
deyxoK duas filhas foy homem de gran-
filhos baftardos, a Lourenço Soares de Soufa, que
naturaes-jé' dafegu-
Mageftade , que por iífo o fez fidalgo de fua ca*
da mulherfidalgaD des ferviços feytos a S.
teve por filha baftarda
Anna de Mello ttve fa i mas fe deyxou defcendencia , não o fey. Item
tutro filho Bros Soa- a huma D. IgneSj que na dita Ilha vivia ainda folteyra ,
quando morreo
res de SoHpt^ como o onoíío Fruduofoi&affim não havendo ainda então defcendente al-

gum varão , & legitimo do tal fexto Capitão Pedro Soares, que herdaf-i '

fe a Capitania. , .
.

\
a j
64 Segunda vez cafou efte fexto Capitão com Dona Anna de
Mello, fidalga de igual nobreza, & limpeza & defte matrimonio naf^
j

ceo D. Dorothèa, que efcolheo o eftado de Religiofa, & eatrou j &


pro*.

feíTou a Regra de S. Franciíco no Seráfico Convento


da Efperança da
Cidade de Ponta Delgada da Ilha de Saó Miguel j & emfim nafceo def-,
te mefmo fcgundo matrimonio do tal fexto Capitão
hú filho varaó, qu&
fc chamou Brás Soares de Soufa^ como feu avò
paterno.

C A P I T U L O XII.
Neflefetimo Capitão
Broi Soares de Soitja DdfeptimoCaphao Bros Soares de Soufa.
acabou a primeyra
baronia legitima dos
Capitães de S. Ma- Efte feptimo Capitão ( como também a feu pay ) jà ná^
6ç A
II ria , porque naõ dey- chegou com fua vida j ainda que larga, o noífo Doutor ve-
/\
xou filho legitimo al- lho Fruducfo; &
por iífo deftes fexto, &
feptimo Capitães não dize-
gíi , &
por fua morte
&
mos mais i fó fabemos que pelos fcnhores Reys de Portugal foy con-
fedtoacafa aoutre^
firmado naó fó na Capitania , mas também no foro , que na cafa Real
ti-.
éfue em Lisboa a ai' do fcx-
eanftit. nhaõ fcus muyío illuftres avòsj porque naó fó era filho legitimo
Cap.XII.DôsGommendacíoresdadítàilha. i-tt

^Donatário , mas prímeyro neto do quinto , fegundo neto do (^liartói


terce yro neto do Donatário terceyro , quarto neto do' íègundo Donata*
rio Joaó Soares de Albergaria , & quinto neto da legitima irmã D. Ta-
reja Velha Cabral , irmã ( digo ) do grande , éc Regular Frey Gonçalo
"Velho Cabral 5 da Ordem de Chrifto, Commcndador de Almourol,
Senhor de muytos lugares, como Pias, Bezelga, & Cardiga , privado
dos Reys de Portugal, & do noflb Infante D. Henrique , 6c primeyro
defcubridor 5 & Capitão Donatário de ambas as Ilhas de Santa Maria^
ôc Saó Miguel , & tam illuftre varão he o que fica fendo quaíi quinto
avo legal do dito feptimo Capitão , & efte fendo feu quinto neto legal,
& legitimo feu fexto fobrinho.
66 Porém
para defengano deíla fempre , Sc tam mudável vida^
confta que o dito feptimo Capitão foy o ultimo que teve a dita Capi-
tania ,
8^quc efta de fepaflou a outras diverfas, no tempo ^^
tal cafa
Por^mh^reiUia^i
que Caítella entrou cm a Coroa de Portugal j & fe porque efta Ilha não ^.^«^^ /Jl^y^^^^j
^^
íeguio em a Regia demanda a Portugal , mas aCaftella ,lhe deo Czí- Capitães Domtarioi
t€lla tal paga , fó os juizos Divinos , que fempre faó infcrutaveis , o po- de S.Maria^em An-
deráó fabcr j que outrem fó poderá dizer , que naó devia Caftella tirar à tmio Soares deSoiefa,
tal cafa a fua Capitania , porque ainda que o feptimo Capitão naó dey- J^^'*'^*' ^"*'J^o"^'"'^^
xaífe filho varão legitimo
,*'.^-ii-Tii, com tudo durava então , &
dura ainda a ba- "í^f í!f-^'
lhos em Ponta De/^a"
í^*

b..
gitimados pnmeyros Capitães da dita Ilha
V

, que tanto merece- dadeS.Mimel.&S

raó não fe lhes tirar a Capitania da Ilha que elles defcubriraô, povoa- feconfeítou fempre,
raój cnnobrecèráo , & defenderão tanto com as fazendas , Sc vidas. Por- naõ menos rico , &
que limpo y^íte HOfáttgfi»^'

6j He
de faber que do terceyro Capitão Donatário da Ilha '^*A** li'
de Santa Maria, Joaó Soares de Soufa , & de fua primeyra mulher Dona
Guimarda Cunha, não fónafceo o quarto Capitão Pedro Soares de
Soufa, mas nafceo também feu legitimo irmão Nuno da Cunha de Sou-
fa, que cafou com D. Francifca Ferreyra & deftes nafceo Joaó Soares
;

de Soufa , que cafou com D. Felippa da Cunha que foraó pays de Ma- ,

noel da Camera de Albuquerque , que cafou com D. Marqueza de Me-


nezes ; & deftes nafceo Joaó Soares de Soufa , que cafou com D. Anna
de Mello &: ultimamente deftes nafceo António Soares de Soufa, que
5

ainda hoje vive cafado com huma conhecida , Sc bera nobre , Sc hmpa fi-
dalga, de que fallaremos em feu lugar.
68 Em efte pois, que por legitima baronia he terceyro neto de
hum inteyro , legitimo irmaó do quarto Capitão de Santa Maria j Sc
Sc
quarto neto do terceyro Capitão, neftehe que fe devia continuar a Ca- ^^'^ ospiécméçk-
pitania de tam nobre, Sc fidals-aeeraçáo, efpecialmente tendo-fe con- "",''
T^T ff. **,

lervado enj igual nobreza, Sc limpeza ; aoque podia mover muyco que ^ s. Mimei, mnhiÍJt
a mefma mãy do feptimo Capitão Brás Soares de Soufa , D. Maria de toiíjà hje; para
<fué
Mello, enviuvando do fexto Capitão Pedro Soares de Soufa cafou fe- cada hum- trate mais
,

gunda vez com João Soares de Souí^i , de que nafceo o fobredito Auto- acabar bem ejuá ,
'^f
-''^''^^ ^"* csme^ar^
nio Soares de Soufa hoje vivo, Sc irmão materno do fobredito Capitão
ultimo, que jà por baronia c^ legitime, deícendia do terceyro Capicão;
,

mas emfím afllm quer Deos que vejamos a inftabilidade das nobrezas, Sc
grandezas defta vida, para que nos não fiemos delias, Sc tratemos das da
ourrai
L , CAP.
!m Livra ÍV. Da Ilha de Santa Maria.
«-i»

CAPITULO XIIL

DosCommendadores da Ilha de Santa Mariaé

'
^9 T? M todas
dízimos faó da Ordem de Chrifto , 5e
as Ilhas os

JC/ ordinariamente faô dos Reys de Portugal , como Meftres ,


U Adminiftradores da dita Ordem , com obrigação porém de darem o
deieroiiiiado, & neceffario para os MÍHÍftros,&: ferviço da Igrejaj & El-
Rey manda arrendar os taesdizimos aquém mais lança nelles, com a di-
ta obrigação > & afllm fe obfervou por algum tempo na Ilha de Santa
Maria , que ElK.ey dco fomente os dízimos- defta Ilha em particu-
atè
lar Commenda porque os direy tos Reaes de entradas , nunca os Reys
}

os deraó , nem os tem fenhor algum no Rey no 5 como nota Fru£tuofa


liv.i. cap. 2 2 mas ainda deftes , & dos dizimes dá lempre a redizima aos
.

Capitães Donatários.
70 O primeyro Commendador pois de noíTa Senhora da Af-
fumpçaô da Ilha de S.Maria (que afíim fe mtiuila efta Commenda)foy
trimtjro Comenda- D. Luis Coutinho, filho do Conde de Marialva, & irmaõ do ultimo

SSS.7Í;2: efte primeyro Commendador D Luis Coutinho coni Dona Leonor de


fante D. Fernãdo Mendanha filha de hum Alcay de mor fidalgo liluitre & naíceo dos
ir- , , ,

mão âelRej D. foda taes cafados D. Francifco Coutinho, (de quem logo fallaremos) & Do-
0JII.& dejxm na Joanna Coutinha & Dona Mana Coutinha porém o tal primeyro
filhe, , ;

4rfilhai. Commendador foy por Capitão mòr de náos à Índia , & foy a Saboya
com a Iiifante,& em fímtaleceodemorte fubita.
71 Ofegundo Commendadorfoy D. Francifco Coutinho, íi-
Stfunâo Comenda- ^^^ <^" primeyro Commendador , por cuja morte ficou a viuva D. Leo-
dorfoyoKiraD.Frã- nor de Vilhena adminiftrando a Commenda pela menoridade de Dom
cíjco Cominho filho Francifco feu filho, & foy tam fanta fenhora, & ram efmoler, queha-
\

dofrimejro,& áeD. vendo geral fonie em Lisboa , mandava pòr à porta taboleyros de pao
^^^^ ^g pobres , & dava muytas efmolas particulares , &c a ReligiofoSi
Leonor de Vilhena,
WÃ^r/^KM.é-^^í^
g^ ^.^gj^^ que milagrofamente fe lhe augmentava emcafatudo. Morta

rnlí^efJoL^Zlu, P°'^ '^^^ lenhora , cafoo


D. Francifco com huma irmá do Baraõ de Al-
unto maisfi Iheaug- vico D. Rodrigo Lobo , chamada Dona Felippa de Vilhena; & dous ir-
mentavatHdoemca- mãos deita cafáraó (I>.Felippe Lobo, Trinchante mòr delRey, que
fa^& mtlagrofaracte; ^q depoís foy à Mina, & outro irmaó que ao depois foy pagem do arre-
cafiiíco>n híía irwa ^^^-^
^^^ ^^^^ -^^^^^ ^j^ j) prancifco Coutinho, que eraó D. Joan-
>j

d« Barão de Alvito % -r\ -ka •

i)./?.^r/..L.^.,</^"^'^D.Maria.
j r .•
Teve efte fegundo Commendador Domr» r> t tr
.u^l tJ muymfi. n Francifco Couti-
lhos ^& filhas^foy com nho de fua mulher D. Fehppa cinco filhos, & duas filhas primeyro,D, :

•Infame D. Lms a Francifco, Commendador, como diremos abayxo> fegundo, D. Pedroi


tomadA deTftnes, &
tcrccyro, D. Gonçalo; quarto, D. Bernardo; quinto, D. Hieronymo: das
foy grande valido do ^^^^^ gu^^^, ^ ^^^^ ^^^ Antónia de Vilhena , que foy Freyra cm Santa
^
ftnhrr D. Aniomo. com Dom
Miguel de
^^^^^ ^^ Santarém ; a outra D. Joanna, que cafou
Noronha, filho fegundo de D.Aííbnfo de Noronha,irmão do Marque:^
de
Cap.XnL Dos mefmos Cõmeiidadoresda tã Ilha. it§
ãe Villa Real D.Pedro, filho do Marquez D. FernandoiSc o dito Dom
-Miguel de Noronha teve outro irmão chamado D.Jorge de Noronha^
que cafou com D.Habel filha de Antaó Martms da Camera,CapitaõDo*
natafio da Capitania da Praya da Ilha Terceyra , mulher de grande vif*
tude & a mây do mefmo D. Miguel de Noronha era D. Maria de Sàj
:

( ou Déça } cuja filha cafou com o filho mais velho do Conde de Ten*
tugalj&çlia morreodoprimeyro parto fem herdeyros. Ita Fruauof©
Uv. 3. ca^. 24. adfintm.

73 EftcmefinofegundoGommendadorfoy homem de gran-
des partes, &
artes liberaes , &
grande Cavalleyro j achou-fe com o In-
fante D. Luís na tomada de Tunes , &
foy muyto valido do Senhor D,
Antoniojfilho do Infante. Em hum dia eftando ElRey comendo , fe
veyo a fallar em hum negro do dito D. Francifco Coutinho , o qual ef-
•cava prezo, &
o mandavaó deforelhar por ladraó, querendo D. Fran- &
.çifcocomprarlhe as orelhas , tanto fe lhe pedio por ellas , que D. Fran-
cifco defittio da coraprai& reparando outro fidalgo em as naõ comprar^
diíTe f)ara ElRey Senhor, he muyto dinheyro para ca^rne tam ruim. E o
:

Rey ouvindo o dito mandou foltar logo o negro. Tinha eíte D. Francif-
co grande faufto em feu trato , nem fe fervia fenaó com Éfcudcyros no-
bres i& faleceo cm 1 8 de Outubro de 1 5 65.
.

74 O
terceyro Commendador de Santa Maria foy Dom Lui$
Coutinho , filho mais velho do fobredito fegundo Commendador ; fen-
&
do de vinte cinco annos , fez-lhe mercê da Commcnda ElRey D. Se*
baftiaó pçlo Alvará feguinte*

75 Vom Sebafitaè for graça de Veos Rey de Portugal^ é- dos Al- Tercèyfd CúmmeâÂ^
garvesdápiemt &
dalém martem Africafenhor de Gume y Nanjegaçao^ Co- dorfoy D Lhís CohJ
^ercio deEthiopía, Arábia, Perfia, &
da índias &c. Façofaber aos que ef- tinha pelos Reaes aU
ta minha carta virem , quepr parte de D. Luii Coutinho ,fidalgo de minha VArks fegtiintés ,($" d
safa, &
Cavalleyro da Ordem de Chrtjlo ,filho de D. Francifco Coutinho que graridet MCrtfcenta-
Deoshaja, me foy aprefentado hum AlvarÀ de lembrança delRey meu Se'- mentús na CommtH»
da-^fèrvie em muytíti
nhor, & avúi quefanta gloria haja , por elle ajjinado , perque lhe aprouve de praçoi
de Afnca,\&^
forfalecimento do D. Francifco fazer mercê a feufilho mais velho , quê Ikficou^indo cont El*
dtto
prfua morte ficaffe, da Commenda de noffa Senhora da AJfumpçao da Ilha
de Santa Maria, que o dito D. Francifco tinha, como he declarado no dito AU
vara, de que o traslado he ofegninte^
•jG Eu ElReyfaçofaber aos queefie meu Alvará virem, ^Uéhá^
vendo refpeytoaosferviços que metemfeyto D. Francifco Coutinho fidalga
,
de minha cafayé' aos que efpero que ao diante mefaça,hey por bem
, c^ me
praz, de porfeufalecimento fazer mercê afeufilho^mats velho, que porfia
morte ficar ,da Commenda de Santa Maria da Affumpçao da Ilha de Santa
Maria daí Ilhas dos Açores , que eUe Dom Francifco hora tem , parafuá
guarda , é- minha lembrança lhe mandey dar efie Alvará por mim affinadoi
&
o qual qutro que fe cumpra , éf guarde inteyramenk, como
fefora cartafey-
ta em mmnome ,pajfada pela Chancellaria , pofio que por ella naopafie ,fem
embargo da Ordenação do fegundo livro titulo vmte , que dijpoem o contra^
rio Andr'è Soares ofez
qmnhntos &
em Lisboa a vinte ó- cinco de Septembro de mil
,

cincoenta. Pedindome o dito D. Luis Coutmho que por quanto


^
e ditofeupay erafalecidoj ^ elle firofilho makvdho que^orfeufaleciménti
'
I* íl fickra^
> W— ^A*^! ti»

114 ; Liyj-Q ly.' 0a Ilha de Santa Máfia.

^cáray figfindpfez certo pw. certidão dejuftific/zçío do Voiítor António VaSè,


4e CaJteUohrartcoyJmz.dosmemfeytos áa fazenda j das Jttjiificaçoes del- &
í»!-*
Idi a quem vmha , experiência a dita Commenda , conforme ao dito Aharx
!l
4£ Lembrança yhowvejj^: for bem de lhe mandar fajfar carta èmforma delle.
E víjiofeu íequerimentOi &o dtto Alvará , havendo rejpeyto aosfervi ços do
ãiíojèu payi 0- aos que ejjeroque elleD. Luu a diia Ordem , é^ a mtmfaçdf
Hey por betpi &
me paz, , de lhe fazer mercê ycm Commenda com o habito
delUi dos dízimos da terça da dita Ilha de Santa Maria ^ ó" a dizima dopef
çadoj que antigamente je arrecadavapelos ojficiaes dos Reyspajfados parajua
fazenda -,
P
éf c^jf'^ d vintena do afiei da dita Ilha de Santa Maria , ér dos
doas Jlhèos que ejiãojunto delia no mar ,humquefe chama de Sao Lourenço^
que ejik detraz da hbay &
outro que ejiá defronte da Ilha > dos quaes Ilhèos
hejpor bem que o dito D. Luufe pofjdaproveytar no que lhe bem vier ,fem
dsUes pagar direytos alguns é^ por ejiaprefente carta lhos couto ,
, heypor &
coutados : & lhe faço ijfo &
merece da dizima do Pafiel, que
mefmo doação ,
fahtr da dita Ilha parafora do Reyno, que anda com d dita Commenda ^ como
tudo a dita Ordem , ò- a mim pertence , ó" pertencer pode , por qualquer ma*
neyra quefeja, & comotinhai t^pojfuhia o dito D. Francijcofeu pay pela car-
ta que da dita Commendalhefoy pajfada , porque de tudo faço , por efta doa-"
çaoy mercê ao dito D. huucom o habito da dita Ordem como dito he-, com tal
declaração yque elle fera obrigado apagar afua cufiaosmantimentos-yó' or-
denados do Kigarioy &
Clérigos , é^Thefoureyro , quaefqner outras Or^&
&
i, 1

jàinarias de Ofjictaes Ecclefãflicos da dita Ilha , dar o trigo necejfario pa-


ra farinhapara as hojiias , é^ o -vinho, velas, ò' candeas de cera para ofeT'^
viço da Igreja da dita Ilha , cada vez que para ijfofor pedido cr por tanto :

mando ao Capital) da dita Ilha , ò' ãofeu Ouvidor y Juizes , é^ OJjiciaes da,
dita Camera, &
povo delia, que hajao ao dito D. Luís por Commendador da
dita Comarcaycomo o era o dito D. Francifco feupay j ao Contador dà^mi" &
nhafazenda na Contadoria da Ilha de Sa'o Miguel , que lhe de apojfe delia:
& ajjim mando ao Almoxarife , ou Recebedor do Almoxarifado da Ilha de
Sao Miguel que hora he , ò" pelo tempofor , que lhe deyxe haver , arreca- &
dar afi, ou por quem lhe aprouver-, o rendimento da dita Commenda , que con*
forme ejia carta lhe pertencer haverá &
ifto de [de o dia do falecimento do di--
tofeupay em diante, na maneyrafohredita ò- cumprao ,•, guardem, fa- & ^
çao inteyramente cumprir , ó- guardar efia minha carta, que porfirmeza lhe
mandey dar, affinaàa, é^fellada com ofello da dita Ordem-, a qual fe regijia-^
ra no livro do regifto da dita Contadoria, para fe ver, ó-faber como tenho fey^
to efiamercê ao dito D. Luis ér aoaffinar delia fe rompa o dito Alvará de
-,

lembrança acima trasladado. Dada em Lisboa aos 2j.de Junho. Getfpar de


Magalhães a fez , anno do Nafcimento de nojjo Senhor JESU Chrifio de
1557. Sebaftiao da Cojia afez efcrever. E darlhe-ha pojje da dita Commen-
da Pedro Henriques , Contador da Ordem de nvfjo Senhor JESU Chriflo,.
fejio que acima diga que lha de o Contador de minl:afazenda da Ilha-, a qual
dará porfi , ou por fua commijjao, cada vez que para iffofor pedida. A qual
carta eftáaffi nada pelo Cardeal Infante, i

77 Fez também ElRey D. Sebaftfaómcrcè ao dito Dom Luísr


dos direytos da Urzella &
da penfaó dos Tabelliães da mefmailha,
,

porprovifaQfeytapoçSimaó Pimentel, a 6. de Julho de 1567. Tem


também

1 il
r Cap.XlV. CohcIaíaõdásexcellenciasdataUlha, ii|

lambem o Commendador de Santa Maria i dizima das moendas, por


provifaó delRey D. Sebaftiaõ, fey ta por Joaó Orelha Tabelliaõ, a 2 5 .de
i\goftodei568.
78 Foy efte terccyro Commendador varaómayto valerofo*>
Achou-fe no cerco de Mazagaõ ; efteve em Tangere com mais cinco
cavallos j Ôc féis homés à fua cufta j fendo entaõ iá Gapitaõ D. Louren-
ço Pires de Távora j achoufe na tomada de Pinhão i foy em foccorro á
Cidade do Funchal cntra4a pelos Francezes & ultimamente foy com
-,

ElRey Dom Sebaftiaõ a Africa , 6c naó houve mais noticia delle. Tev©
mais quatro irmáos, D, Pedro, D. Gonçalo, & D. Bernardo, todos Cou-
tinhos, ôc todos na índia acabarão em o ferviço delRey } &
o quarto ir-
mão foy D. Hieronymo Coutinho.
79 Quarto Commendador foy o dito P. Hieronymo Couti- Qjtarto Commthàaí
nho, quarto irmão do fobredito terceyro Commendador. Efte D. Hie- d$rfoy D. Hieronymo
ronymo foy em feus principies Collegialdo Real CoUegio da Purifi- CoHtinho'^ irmaõdo
cação de Évora j dahi foy à índia , aonde achou feus irmãos mortos em o tereeyro;fèrvto naln*-
dia^ & vindo lhe dei
ferviço delRcy j & comtudo o fervio ainda là cinco annos , depois dos
Felippe II. éi Commi-
quaes voltando, achou cà também que o Commendador feu irmão mais
da, & voltou para a
velho D. Luís tinha acabado em Africa com ElRey D. Sebaftiaõ,& ain- índia por Capitão
daquc tinha fido muyto privado do Senhor D. António , & feguido fuás mor de bítaArmádá
partes, não fó lhe perdoou Felippe II. mas lhe deo a Commenda do ir-
mão, pofto que com a penfaó de duzentos mil reis para fua mãy j & foy
por Capitão mòr de húa Armada da índia , mas ficando femprecoma
Commenda da Ilha.

CAPITULO XIV.

Cofíclue-fe com a Ilha de Santa Maria ,& fuáspn^


rogativas.

80
DO liv. 3. cap. I. o 26. do Doutor Frwftuofo he com tao
atè
da a verdade o mais do lobíedito , & de informações que
tive, eftando ha cincoenta annos na vizinha Ilha de Saõ Miguel. Qiien^
da de Santa Maria he hoje o feul Donatário Capitão ? Certo he , que
quem o he , não refide lá j & he tam grande o perigo de humâ Ilha , não
ter dentro de fi feu Capitão , quam grande he o da náo , em que não vay
Piloto, que por mais que outrem queyra fubftituillo, nunca o faz com©
o proprietário. O mefmo fe pôde dizer do Commendador que eftan- ,

do tam longe em Portugal, fó pôde mandar vir da Ilha os dizimos, fcm


com elles acudir à Ilha , quando tal vez he mais neceflario ( & fica ella
entaõ como gado fem Paftor)'para a vida humana. De melhor partido
eftão as outras Ilhas, que ainda que em fi não tcnhaó feus Capitães Do-
natários , tem por feu Commendador ao mefmo Rey fomente , que era
toda a parte eftá , &; por zebfos Miniftros acode a tudo , 6c cm toda a
parte.
81 Das rendas defta Ilha conftoume no anno de 1 666. qwe deo
^'I^^^^J^^^
de trigo ao dizima 137. moyos, que fuppoem ter dado quafi mil & qua- - -* 'Ss

^
L iij ^^0^^^:
xiã Livro IV. Da Ilha de Santa Maria ,r'r

trocentos , & he que o das mais Ilhas. Do que chamaS


trigo melhor
Miuças j rendeo duzentos mil reig: do vinho tambcmhebom odízir
moi & efte também fe paga das entradas de todas as couías , que de fora
dra Coroa de Portugal vão à dita ilha. Delouçadebarro,&do barro em
fer, de cal, urzella , & do mais que da Ilha vay para fora , rendem eftás
fahidas muyto bem ; & mais renderiaó aos Commendadoresjôc Donatá-
rios, não fó para efta vida, mas também para a outra, fe láeíliveíTem^ou
folTem eftar os mais dos annoSi& naõ menos ferviço fiuiaóao Reynocm
fegurar as Ilhas , do que lhe fazem indo à Índia, ou cortejando em o
Real Palácio.
82 Qiianto às prerogativas defta Ilha , a primeyra coníidero,
ferella a primeyra das nove chamadas dos Açores ,& como a morgada
.%!; de todas as outras, por primeyra em o nafcimento , ou feu defcubrimen-
£0. A fegunda he ter fido defcuberta, &
povoada fó por Portuguezes,&:
os mais nobres, &
mais limpos delles, como atégora fe tem viftoj donde
com razaó. fe deve lembrar efta ditofa Ilha , que ella das mais he a col*
Bièa da nobreza, &
limpeza, coma liaremos logo.

k ::

r. 1

J i* 4.

LIVRO

mm m
ii^
iiJàQ:M}'^^^
\%.
'

L l V R O V.
DA
ILHA DES. MIGUEL .

;
Ç A P I T U L O L
'
J^oprmeyrodefcuhrímentodallhadeSaõMigtiel3&
fem defcubridores^

(f UIZERAM dizer alguns , que pelos annos da


1
3 70. do Nafcimento de Chrifto, fetenta annos Fahlefis defcuH^
antes de fer defcuberta pelos Portuguezes a mentos da Ilha
àeSl

Ilha de Saó Miguel, dera com ella hum Grego, ^:g«í'- ^


^'""^'»

que tendoem Cadiz huma tormenta, àe^X^X^-^^TirZiílIi^


vadofoydaremeliaIlha,&vendo-a,aquizpo- - - - -

'

voar, & pedir, & para iíTo a quiz experimentar,


& voltou, & lançou nella muyto gado mas que todo morrera logo nel- j n
la, & por iíTo defiftira de a pedir, & povoar, & íicára como de antes en-

cubertaj & por fundamento tomáo, que quando muyto depois fe def-
cubrio achou , onde hoje he a Villa da Alagoa , muyta offada de ga*
, fe
dos efpecialmente de carneyros, & que affim puzeraõ áquelle pofto, o
,

Pojtodos Carneyros mas ifto (diz Fruduofo liv. 4. caf^ i. ) he huma


:

mera fabula , & eu julgo fe levantou de que defcuberta a Ilha de Santa


Maria , mandou o Infante D. Henrique muytas egoas , que lançaíTem
nella, & tal tempeftade deo no navio , em que hiaó as egoas , ( & là jà
junto a eftas duas Ilhas ) que por efcaparem os Navegantes^ lançarão as , \.

egoas ao mar, & daqui chamarão ao tal mar, o Vai , ou Valle das Egoasj
:& como a oíTada deftas podia lançar o mar àquella parte mais próxima
da Ilha de Saó Miguel , efte poderia fer o fundamento da fabula fobre-
ditâ.
2 O certo he que eftando já defcuberta , &: povoada a Ilhade Oprimt^ò^qM *oto<t
„,„ „
Santa Mariâ,& fugindo hu negro a feu fenhor para a mais alta íerra que ilha de Saõ Mi-gml^
tem da banda do Norte, doze legoas da atèli encuberta S. Miguel,& zn-foy hu, Ner^ro daLhá
4ando hum claro dia à caça para comer , reparou em o que via, defcu- '^f ^- M^hua, &
brio fer outra muyto mayor Ilha ,& voltando com a nova ao fenhor,
para por ella alcançar o perdaó da fua fugida , o dito fenhor ,&outrosj
fegurando-fe da nova^ deráo delia logo parte ao Infante > que achou
c .. o concoE-»
^\\m
•sííáftf

%tf Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguel.

concordar a nova com a noticia dos Mappas antiquiífimos, que o In*


fante lá comfígo tinha. E eftc negro dizem fer o primeyro homem que
defcubrio , & vio a Ilha de Saó Miguel que aíTim por infirmes meyos
-,

defcobre Deos muy tas vezes o que os homés mais fortes por feusmeyos
naõ defcobrem.
3 Ouvida pelo Infante a dita nova ) &: ãchando-fe com elle lá
então o famofo defcubridor de Santa. Maria Frey Gonçalo Velho , tor-
nou o Infante a mandallo que defcubriíTe também efta fegunda Ilha , 6c
vin^o, &
voltando ao Infante fem a poder defcubrir , ò Principe entáp
lhe advertio, que tinha paflado por entre o llhèo , &
a terraj ôc defte di-
to tirarão alguns que o dito deleubridor com feu navio paíTára por en-
tre a Ilha de S. Miguel, & o llhèo que chamáo de Vvilla Franca, íèm dar
fé da Ilha , ( coufa que , como veremos , era naturalmente impofli-
vclj ) &
o Intante queria dizer fomente , que tinhâo andado entre húa,
& outra Ilha & por a de Saó Miguel fer quatro vezes mayor
,
que a de
Santa Maria , por iífo a efta chamou Ilhèò , Sc Terra à outra ; que quan-
to do llhèo de ViUa Franca , nem dcUe os dcfcubridores derão noticia
jao Infante. <
a .

4 Segunda vez pois o Infante mandou que o ílluítre Fr. Gon-


çalo voltaífe a defcubrir a Ilha j & ainda aqui fabuUzáo , que chegando
ao fobredito llhèo de Villa Franca , (que eftá quafi pegado com a Ilha}
ainda efta fe não via , & fó fe ouviáo làhir delia grandes gritos , que di-
ziaõ, Nojja he efta Ilhat mjja he-, & que pareciaõ ferem vozes dos demo-
nios,que na Ilha andav ão. Mas deyxadas cftas fabulas, a verdade he,que
vindo defta fegunda vez o ditofo Frey Gonçalo Velho Cabral , & pon-
do a popa no Norte da Ilha de Santa Maria , foy dar direytamente na
Ilha que bufcava em oyto de Mayo do anno de 14+4,. dia da Appariçaa
& "T o Tãnde fí. ^^ ^' M'g"^^ ^ A"j° » ^ ^^™ ^ defcubridor lhe chamou logo Ilha de S.
Infante Dom Pedro , filho
dahoGonfah Velho Miguel, governando cntaójàem Portugal o
càral que defite- delRey D. Joaõ I. & irmão delRey D. Duarte , que também já era fale-
,

brioallhadeS Ma- cido,& tinha deyxado defó feisannos aD. AíFonfo V. a quem o dito
ria,defcftlfrio í^w^^D. Pedro feu tio entregou o governo do Reynoem I448.^&aquicha-

^àraò entâo a eftasduas Ilhas, de Santa Maria , & S. Miguel, Ilhas dos
adt^Migpíelem^.
que de íóra vinhào , ou por nel-
& aImbL chttt- Açores-, ou por fe verem alguns nellas
raõlltasdos Adores, las haver muytos bilhafres,
que no pilhar fe parecem com os AçoreS} &
fornellMosacharem^átÇízs duasUhas vulgarmente paíTou o dito nome às outras fece Iltia^,
Ilhas dos Açores, & uU
l» aves ^v pareciaõ. que depois fe defcubriraõ, chamando-fe todas ,
timamente Ilhas Terceyras, como em feu lugar veremos.
:
5 A primeyra parte de S.Miguel em que faltarão os dcfcubri-
dores da Ilha, foy, onde chamarão a Povoação velha ôc tomando logo
,

O llhflre C'*pit^'^
YzmosàQ arvores , pombos , cayxaó de terra, & outros fmaes de nova-
Donatário dallh^ de^ mercê ao illuf-
jjj^^^ voltàraÓ levando tudo ao Infante , o qual logo fez
da Capitania Donatária deS. M^uel
tTclpn^rZ::^^^^^^^
tario de toda a Ilha também, como lhe
tinha jà feyto da Capitania da Ilha de banta Mana,
de S.MigfttK& ftlo & ficou Capitão de ambas, tendo a outros dado fó metade de hua Ilha,
mefmo hfsinte Dom como na Madeyra, rcpartindo-a cm a Capitania de Funchal , & de Ma-
Hemi^ue, qm tanto çi^^^^ç^ Tanta mayor eftimação fazia aquelle Principe defte Capitão,
o efiimava.
qucdeoutros* , ; .v. ..

»*t!
m i->

Cap.I.&ir.Do^deícubr.&defcubnmêtosciaâitallhâ. 12^

; ' ó Tinhaó ficado na Ilha,6f em aquella chamada Povoação ve- „ , .^rw .

õjarnojo e(-
lha ', huns Cavalleyros naturaes de Africa , que o Infance de là tinha tra- V**/
11 ... cupnaer cvnt as »*-
••
.

íZido , &
mandado ao principio ,iiáo para povoarem , mas para cxperi- ^^v/^ ^^ ^.j,^ //^
mentarematerradaquella nova Ilha j & eltes qUe aílim ficarão, tal ar- para Fortf/gal dey- ,

roidoj bramido, eftiondos, & terremotos lentirâo na tal Ilha , por rnaís xou nelU,&no lugar
de anno que ficarão nella atè voltarem os Povoadores Portuguezes '^^'^'®'"''' f^voa^ao
'*"
com o novo Donatário da Ilha, que os ditos Africanos fe refolviáo erti ^jl^^^H**f^^fi^J*
delempararem a Ilha pelos horrendos tremores, que nclla experimenta- ^f^yt^j Mouros, »e
f
vão , & comeíFéyto a defemparariaó, fe lhes tiveíTe ficado navio erii olr^fante mando/* pa^
que podeflbm embarcarfe: &
fuccedendo entretanto que hum delles an- ra experimentarem a
dando alguns paflbs pela terra dentro achou hum homem morto , deo »<'i"' terra, & no t.4
parte logo aos mais 3 &: alvoroçados fe haveria gentio no Certão ^Q^íi^g^r fe gov^n
vaã

Ilha , deraõ com outro homem , &


o prenderão , & efte pofto a torfflen-
^'^^^'^^'""J/^^lia
to confeífou , ter vindo da líha de Santa Maria com hum feu amigo , & ^^ú
ftlxtLgmré íefi
a mulher deííe , com a qual elle vivo tinha adulterado , èc pelo não caf- d^iies ficar defcíndt*
tigarem em Santa Maria , fe vieraõ todos três para aquella Ilha deferta, cia alguma,
& que elle , por ficar com a mulher , matara o marido , que era aquelle
mortoj&em ouvindo o Mourifco que o Infante tinha mandado
ifto '

por mayoral , & Juiz dos outros Mourifcos , fem inquirir mais coufa ãl- :^

guma fentenciou que logo enforcaíTem o matador & querendo efte j


/
<3[ue lhe ouviíTem fua defeza , perguntara o Juiz , que pena fe dava em

Portugal , a quem commettia adultério & refpondendo-felhe que El- ;

Rey o mandava enforcar , o Juiz logo , fem querer , nem "do culpa do^
inquirir mais coufa alguma, a final fentenciou dizendo eftas palavras*
ForcarteiForcarte) ér depois tirarteinquiricione. E no mefmo ponto arre-
batarão o adultero,& o enforcarão. Ifto o que em breve fe colhe de Fru*
{kaoíoliv.^.cap.2.
— - I
-
• .. r ,
-. ,
, ,
-.....

CAPITULOU.
Doinelhordefcuhnmento-t&defcripçaÕdallhade
SaõMigueL

: f TJ AíTadohum anno, pouco mais, por mandado do Infante fby jsTo anHo figaiHte dè
i do Algarve outra vez o primeyro Capitão de Saó Miguel làf^^. tornou de Por ',

Frey Gonçalo a povoar a dita IMia com muytos , & mUyto nobres Po- tf^g»*^ S. Mignet « <»

voadores Portuguezes ,( de que trataremos em feu lugar } &: com ga- '^^Z^" ^"A»^'''^'"'.
eommujtoí, &
dos, aves, trigo, legumes para povoarem, & íemearem, & com o mefmo -^"^

iloto, com que a primeyra vez viera que tmha bem obfervado & de-^/^^^ ,
Umili<^ & ,
,

marcado a Ilhajchegando porém á fua vifta, reparou que a Ilha que ob- & da* de SanJ delias,
fervára tinha hum
, muyto alto pico na ponta do Oriente & outro na ta Aíaria,&daMa^ ,

do Occidente & que a Ilha quevia,naõ tinha mais que hum fó pico dejfraJepetjoouSa»
i

da banda do Oriente fobredito & dâ banda do Occidente era razaj item ^^g^^hé^ wr^õ, ^•
,

reparou
^
que
^
naquelle mar achava grande numero de folta pedra pomes, "^^^f'^^!" ."""" '"^"
Vi
que encontrava fobre a agua ,
a 3 r r
&
da mefma forte muy tas arvores j
^ tecedente tíHha apo-

que ^^ OccUêtaldalL^
^^^&
ift© denotava naõ fer aquella a Ilha que deyxára. com fataes fogos &^ ,

t
S E naó obftante ifto , animando-fe a entralla , foy dar no mef- tremores , V9ad(fii^\

mo
nl XJ0 ipitro V. Da fatal Ilha de S. Miguel.
fa » mar \ deyxAnào
"^° P^^^ donde tinha fahido , na Povoação velha , que foy a prittieyrâi
fepò vaíle funde o ^ <!"£ houve nefta Ilha , &
alli acabarão de entender , que o pico que fal^

tfantef era monte ai- Cava da banda doOccidente, tinha em o anno antecedente voado ao ar,
& hoje cha- & cahira efpalhado em o mar com pedras, terra,& arvores, pelo repen*
tijfimo , ,

""^' ^ funofifíimo fogo, que do fundo da terra rebentou & caufou os ,


^aÍT^&^l^lntfa
f^^^^^motos medos, & cftrondos que os que tinhaò ficado cm a outra
,
"^onuAnMofinm.
^- J
,
_ „
*bandadaIlha,experimentárãOi&nopofto, aonde o grande pico efti*
^

vera, íicàraó fete profundos , & planos valleSja que dalU por diante cha-
inaraó Sete Cidades \ & àquella occidental ponta da Ilha chamarão , a
Ponta dos Mofteyros , por o parecerem as formadas fete concavidades:
&
he efta a única vez que fubterraneos fogos , & taes tremores deterra,
edificarão Cidades, coftumando deftruillas, & arrazallas.
9 Foy efta fegunda vinda dos dêfcubridores 3 & povoadores
.'j -
^ . Portuguezes da Ilha de S. Miguel em o anno de 1445 do Nafcimento .

^oftpfi^u^do def de Chnfto, a 29. de Septembro , dia da Dedicação de SaÕ Miguel


o An-
fido a primeyra vinda,& appariçaó da tal Ilhaem dia da Ap*
lha7mzq.tsiptí' ^^> ^^^^^F
^ro de iA±f.diatã- P^iriç^õ do mefmo SaÕ Miguel a oyto de Mayo do anno antecedente de
éemdaDedicafabde H44- qucparece quiz Deos denotar , quefe atèH andaváo diabos na*
S.Mtpteh jímjo, dr quella Ilha, veyo o Anjo Saó Miguel lançallos delia , como em o prin*
ft cot^rmoH a Dedi- çipio do mundo lançou do Geo aos diabos & que fe de todo o género
j

^'^ humano hum Divino Guardamòr, hum S. Miguel o Anjoj quiz ferdef*
íflwí/T^ ^h*
mm^AllhAdcs'" ^^ ^^^ ^^^ eípecial Anjo da Guarda i vejáo agora là os moradores dellaj
^igHcl, quanto devem como Anjos proceder , ou fcguir a S. Miguel , lançando
íòra de fi o peyor diabo do peccado , & quanto devem celebrar a hú feu
tam grande Anjo.
10 Confirmados pois os povoadofes Portuguezes defta Ilha
no nome de Saó Miguel que lhe impuzera6,fundáraó logo fegunda po»
v^oação , deyxando aos Mourifeos a primeyra em que eftavão fós , & is-
^
V parados , fem os Portuguezes it aparentarem com elles ^ nem elles com
os Portuguezes, atè que oS taes Mourifeos chegarão emfím a excinguir<='
fe, & fiçáraó povoando efta Ilha os Portuguezes fomente , que foran»
logo aò principio de Portugal , 6c da Ilha de Saíita Maria , & atè da Ilha
da Madeyra. Em contar quem craó eftes povoadores , de quem deícen-^
diaó, & que defcendencias tiveraó , gafta o erudito Frudtuofo em o feu
Ivo. 4. défde o ca^. 3- atè o caf. 38. em perpetuas genealogias , cuja fub>
ftancia fomente em feu lugar recopilaremos , como muyras vezes faz a
Sagrada Efcritura , para nem faltarmos ao que deve fervir a cada hurti
para imitar a íéus grandes, & bons antepaíTados, & naó feguir aos màosj
& para intoleráveis naó fahirmos com repetidas, & idêntica* hiftoriasj
\ fcaiUm defcuberta a Ilha^ demos a plena noticia delia toda.

CAP.

WÊÊÊÊÊim m
Cap.in.Deíuas Villas, &lugaresck parte tío SuJ. ^ s?^
'

CAPITULO
VVVf *> *-' '

IIL

Defmpçaõ geral de Saõ Miguel ^ & particular


banda do 6uL

Norte de Santa Maria eftá a Ilha de Saó Miguel j & a«


II
AO
Sul defte fica a outra, doze legoas de terra a terra j mas hc
taõ húmida a de S. Miguel, & lançava de íi tantos vapores , que fem ef-
ta fe defcubrir, efteve a de Santa Maria doze annos deícuberta j porem Efi^ allha de $. M-
roçado o antigo arvoredo, ficou tam íugeyta a ventos , que eftcs lhe h-gueUo Norte dallhá
zem grande damno, & a tem já tornado menos fértil do que d'antes era: ^* S.Maria,dez.e
/e-

corre de Lefte a Oefte , & faz húa ponta para o Nordefte & outra ^^'^^^^^ll''^^l'"''*!.
,

a Noroefte , & tem de comprido dezoyto legoas mas naó he mais lar-^^^ J^ Cettípa!,&fi-
,

ga que duas legoas & meya , & no meyo huma fó legoa ,da Refaça do^^ direytamente a»
bui era a Villa da Alagôa,atèo Rabo de Peyxc da banda do Nortc,com Peeme de Pcrwgali
via tam raza aqui , que aos Navegantes parece continuarem-fe os dous corre de LefteaOef-
montes , & ferem duas Ilhas , & naó huma fó. Com o morro do Nordef- '"«»
J'"'^"'"'"^^''^*
te fica por linha direyta duzentas & cincoenta legoas de Cctuval & o }
^^^/C^^^^^Y^
dito morro he hum tara alto Pico , que os Navegantes que vem do Ori- ^^^ i^^^^ ^ ^^^^^
ente , o divifaó trinta legoas ao mar & geralmente confta cfta Ilha de ^eç^e ^ viUda Ala^
:

huma Cidade , cinco Villas, &: vinte & dous lugares, trinta Freguezias,|<j4 da farte do SmI^
de Rah»
mais de cem Sacerdotes fcculares , dos quaes faó Vigários trinta , nove -»'? o lugar
<i'P'yxe daparte 4f
Curas , &: quarenta & dous Beneficiados , & juntas as Igrejas com as Er-
midas , todas faó noventa & fete. Dos Religiofos, & Reiigiofas cm par-
'''^*

ticular diremos.
12 Da parte de Lefte começa efta Ilha com a Povoação cha-
mada Nordefte jque ao principio era humlugar , 6c da jurifdicçaóde Aprimeyrapc&oaçat
ViUa Franca, ( como diz Damiaõ de Góes ^.prt. cap.i^lt.) Sc E\R.cy da parte do N<*fien^
D. Manoel cm Lisboa ai 8. de Julho de 1514. o fez Villa, & tem du-i^fi^^'^''''»^ Nordef-
zentos & cincoenta ôcnove vizinhos, como fc raoftrou no anno de^'^/^"';^^^'/,'^'''^
,,,„,, r/i-" -j- -jcvT \r- Manoel feK f^íUa.íT
I666.& humafoFregueziada mvocaçao de Sao Jorge, com Vigário, ^^^ ^^^ viz.inhosi

Cura, & três Beneficiados j he terra de creações de gados , madeyra de f^^ ^^^^^ '^^ muytot
cedro, pouco vinho , cofta Íngreme , & fcgura de inimigos , & com hsL- gados ,muytA & bo* ,

téis por mar fe communica com as mais partes da 1 lha ; 6c tem o feu por- madeyra, & he cofi/t
to diftante bum quarto de legoa para o Sulj & vaó lá embarcações a buf- tf^iaita, & taofegí*-^
car trigo ; & fó hum lugar mais, chamado S. Pedro , tem por feu termo ^*/A'^;^*^^'J,^''^^^
efta Villa , & adiante huma Ermida de noíía Senhora de Nazareth j Sc
l^JtrJpTrTeTdaílhll
meya legoa mais adiante eftaó as chamadas Prainhas, que entre fi ^^^^f^ Çtu termo hehiên%
huma grande bahia de área , & logo a ponta de terra que fe chama To-|e/»^4r.
po, com o dito morro, ou alto Pico do Nordefte j & dahi a huma le-
goa vay virando a Ilha para o Nordefte , Sc fe continua em rocha talha-
da Sc alta com duas ribeyras , das quaes huma fe chama Agua Retorta^
,

outra a Ribey ra do Arco, porque o fez na terra para fahir ao mar.


13 Daqui para o Sul corre a cofta. St huma legoa depois eftá
a mais alta rocha que ha em toda a Ilha, èc fe chama a do Bodcj por del-
ia cahir Ivim-, Sc correndo para Noroefte dous tiros de efcopeta, vay dâf

em hum lugar chamado Fayal , por ter tanta Faya, que lhe deo o nomcj
íjs Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguei.

duas pontas, que lhe fazem huma bahia com bom porto,á qúi
eiffá eiatre
i I

fahe huma ribeyra , pela qual entra do mar muyto pefcado ha nefte lu-. :

gar muy ta fonte , muyto arvoredo, boa fruta, elpccialmente de eípinho,


& os melhores limões que ha em toda a Ilha , no tamanho , rioçumo: &
que tem por cmia das ditas rochas , de huma , & outra parte,
as terras
faó algumas de trigo , & paftel , & o mais de creaçóes de gados , vacum,
Sc cabrum j & em partes porcos montezes,6c pombos torquazesj& por-
que da Villa do Nordeíle difta já três legoas efte lugar do Fayal , por
iíTohedotermojáde Villa Franca >& com o lugar fer de poueo mais
de quarenta vizinhos , he de gente tam limpa Ôc tam nobre , que dclle ,

por vezes toma Villa Franca homens para o íeu governo , ricos , & apa-
rentados com toda a Ilha a Freguezia defte lugar he de noíTa Senhora
:

da Graça a gente nobre he dos Velhos , & Cabracs , defccndentes da


:

Ilha de Santa Maria.


14 Huma legoa do Fayal eíiá a Povoação velha , ( que foy a
^reslegífOí da Villa primeyra dcftailha, & habitada algum tempo dos fobrcditos Mourif*
de Nordefie fará o cos, como o foy Heípanha , Itália , & outras Frovincias ) lugar grande,
Sul eflk o lugar do & defó puros , & limpos Porcuguezes j do qual diz Fruftuofo liv.
3,
fayáil,jk do termo de
Villa Franca & de
caf. 39. que em feu tempo tinha cento & três vizinhos & eu na inqui- j

de 1666. achey que conftava de duzentos & vinte &tres vizi-


,

gente mbre dos de S.


riçaõ
Maria\ & htía legoa nhos tem nomeyo afua Freguezia noíía Senhora dos Anjos com Vi-
:

adiante eftaaPovoa- gário , & Cura , a qual mandou fazer Joaõ d'Arruda , & feus filhos, ho-
faÕ velha f»<? foy a mens fídalgos} tem mais a Ermida de Santa Barbara , que foy a primey-
y

dos Mouros frimey- f


ra Igreja , & em que fe diíTe a primeyra MiíTa nefta Ilha. Eftá efte lugar
ra de toda Ilha, &
em frefco valíe, cora nove fontes , & quatro ribeyras , que fe ajuntaõ em
a,

pouco depois foy depft •

ros PortHgMsz.es & huma , chamada entaõ


,
a Grande, que às vezes leva tanta agua , como hú
tm e^Hefe dijfe afri- grande rio & tanta madeyra &: penedia, que faz horrendo eftrondoj
; ,

. meyra Mijfa nefta ha por aqui muy tas aves, & pombos torquazes, muyra fruta de efpi-
Ilha ,
é" tem mais de
&0S
nho, & figos brejaçotes & vinhas em terra lavradia ( coufa rara cm ef-
, ,
^ro.vizjnhosy
tas Ilhas ) & tudo o que aqui fe dá, he o melhor de toda a Ilha. Pelo in*
^elhores frutos»
cendio das furnas ( que em feu lugar proporemos ) foy efta terra , dif-
tante huma legoa , cuberta de cinza, & pedra pomes , mais de cmco pal-
itios de alto , mas pouco depois fe cultivou como de antes , & melhor
ainda.
I ^ Pouco adiante, pela cofta do Sul, eftá hum pofto, que cha-
maó o Forninho por parecer fazerem-o as pedras
,
, defronte das quaes^

'MarfíVilhofoi fontes hum tiro de pedra ao rnar, fahe nefte, & do fundo delle, fihe, dez pal-
de /itgH-i doce ejHefa- mos acima , tal fonte de agua doce , que naó fo íe toma doce em cima,
hemào mar àtz.\>d- mas doce fe tira do fundo do mar , em trcs burbulhocns de dez palmos
elle\& híÍA
rrios [obre
de triangulo ; & naõ he coufa nova , pois fabemos ,
que o Alpheo met-,

de vinagre, ^ae entre


tendo-fe no centro da terra Grécia , vem íahir cem legoas adiante
em
duas de agua doce fã'
he da rocha frontey-
na fonte de Aretufa junto a Saragoça de SicUia , traz acjui o que lá no &
ra. principio lhe dcytáraó o Guadiana em Heípanha, depois de fe met-
: 6c

ter por bay xo da terra oyto legoas fahe canto depois fora da terra , re-
,

fufcitado rio & em Itália o Pado ( por outro nome Eridano ) fahe fe-
:

melhantcmente , onde fingem cahira Faetonte: & o Eufrates, enterran-


do-feprimeyro, refufcita ao depois fobre a terra, & heo chamado Ni-
lo i 6c aíiim não ha que pafinarde que fe na Ilha de Saata Maria ^ cqk\í,
fuás

ÉBI m WÊkx
Cap. IV. Daprim.Villâ de S.Míguel,Villa Branca. íiji

fuás impenetráveis rochas, 6c fubterranca abundância de aguas doceSi


jfe rebatefle deftas para o mais bayxo da terra algum
rio , vieíib a fahir

aqui,em fó doze legoasde diftancia, & onde fó duâs braças de agua fal-
gada achou para aíaítar , & vencer^ Mais pôde fer de admirar , que das
,

ditas três fontes , não fó da groíTura , & altura de hua lança vcnpo duas
ão mar, &
muyto mais a tercey ra j mas que da rocha fayaó & em direy-
>

to do fobredito Forninho , outras três fontes juntas , éc que duas deiias


íejaó de agua doce, & a terceyra de vinagrej ou quaíi tal.
16 Duas legoas da fotaredita Povoação eftá a Ponta da Garça»:
que por aílim o parecer , lhe deraó efte nome j & ahi mefmo hum lugar
Adiante daoí Uge^'^
chamado da Piedade , por fer dcfta invocação a fua Igreja , que fundou na ponta daCarça ^ef-
cm terra fua hum nobre varaô Lopeanes de Araújo > tem eíta Freguezia tk o lugar da Pigdai,
quaíi cem vizinhos com feu Vigario,& he da jurifdicção de Villa Fran- de qattemcsvlz.i- ^

caj mas tem poucas aguas, & poucas frutas porém muyto bom trigo,6c nhos^ & mujto^^ bí
j

paílel. Daqui mais húa legoa,& pelo meímo Sul, corre a Ribeyra Secca, trigo, & htí
Engenha

í que fó no nome o he } & aqui eftá hum Engenho de aíTucar , que fun- de ajfHçar , f
»« na,»
acaboHjk^comt
dou o fobredito Lopeanes de Araújo , & depois houveraó efte Engenho feyje acabarão ejitras qM,
os filhos de Sebaftiáo de Caftro', & o houveráo de hum Gabriel Coe- havia.
Ihoj ôc agora ( diz Fruduofo no feu tempo ) o tem Diogo Ley te , (fi-
dalgo , de que em feu lugar faremos mençáo} por falecimento de Ma-
noel de Caftro , & António de Caftro , & não ley fe ha ainda tal Enge-
nho de aíTucar , porque outros que havia cni Saó Miguel , jà acabarão^
xomo acabarão muytos dos muytos mais que havia em a Madeyra.

CAPITULO IV.

Da antiga , & mhre Villa Franca de Saõ Miguel^


AguadeVao ^& Alagoa. !' ' 'l'''

17 T^ A íobredita Ribeyra Secca,&: feu Engenho de aífucar, co«


meçaó os ricos Orredores da celebcrrima Villa Franca do
Campo chama-fe do Campo , por fer fituadacmhum quafirazocom Da prlmjra Ca^ii
}

oraarichama-fe Franca, porque defde feu principio começou com fran- '^'fi^ ^^^^ ** celebr6
qucza , & liberdade de pagar ella direytos i & Villa fe chama , por não f^^^^^'^'*"'**^"*^'^^
^^^^oo.
íoferfeytatal pelos Reys de Portugal, mas fer aprimeyra de todaa jjj"'^;
Ilha, &ter oprimeyrolugar,& fallar primeyro, quando fejuntaô as yjy^Vfl»-á,'4Ã^Co««fj
Cameras da Ilha toda j 6c logo em feu principio fe edificou de forte,que to deS.Frandfco^ow
jà entaó parecia huma pequena Corte, com illuftrcs Capitães , fidal* tro de ReligiofiuFrã^
guia , 6c nobreza , que fe extendeo por toda a Ilha , de que foy o femi- (^ifuanat , muyta fer^,
nario, origem , cabeça , 6c mây , como confeíTa o mefmo Fruduofo liv. ^""^'^'^^ > excellenu
r<í/j. 40. 6c ainda que veyo tempo , cm que fe arruinou,
4. ( como em feu ^Z^y "f* l^alecifa'
lugar veremos ) fe edificou comtudo , ^
tam nobremente , que aos no- (fr grande eommer*
bres delia concederão noíTos Reys os mefmos privilégios que tem os Ci- cio, a major N«i, &
dadaós do Porto em Portugal , além de lhe confirmar todos os que de brei^a^^

antes tinha.
18 Tem efta Villa fahidas excellentes , com ricos pomares , 5c
fcndofas qu intas, 6c dentro tera muyto nobres , &: groíTos contratadores
"
'H..:r M '
d« '
^H ; íi- 'Xíivrò V. Da fatalllha de S. Miguel,

4ctrigo, paliei, ôcafliicar: tem duas Fregiiezias j aMatrizhe dedícs&í


da ao Anjo Saô Miguel , Orago de toda a ilha , & confta de quinhentoí
& quinze vizinhos a outra Fregueziahe da invocação de Saó Pedra
-,

Apoftolojôc contém duzentos fogos, ou vizinhos, &


a Villa toda paíTa
de fetecentos, a que algumas Cidades de Portugal naó chegaó. Ma- A
triz tem oyto Beneficiados, Vigário, Cura, êcc. como também tem a ou-
rra Freguezia de S. Pedroj tem boa cafa da Santa Miíericordía , & dous
Conventos mais,hum de Religiofos Francifcanos, & outro de ReUgiOr
fas de Santa Clara , &
féis Ermidas , Saó Joaõ Baptifca , Santa Cathari-

na, N. Senhora do Defterro, Corpo Santo, Saó Pedro, & Santo Amaro.
Do Mofteyro de Frey ras dizem que foy o primey ro de todas as llhas,6c
he da invocação de Santo André , & de cincoenta Religiofas , & trinta
fervas, & de abundante renda , & por iíTo muyto obfervante o dos Re? j

ligiofos tem menos fugeytos, ôc não menos exemplares, & he dedicado»


a noíTa Senhora do Rofario,& por provifaódelRey tem o púlpito dà
Villa,
19 He governada eíla Villa pelo feu Senado dá Camera , feus
nobres Juizes Ordinários , Almotaceys, &c. &
na milicia tem feu Capi^
taó niòr, & três Companhias de duzentos homés cada huma^ com feuá
Capitães, que fempre faó dos mais nobres , dos quaes foy o primeyrq
Capitão Pedro da Cofta , & feu Alferes Jorge Furtado -,0 fegiindo foy
Pedro Rodriguez Cordeyro, cujo genro foy o feu Alferes Gafpar d^
;

&
Gouvea i nefta Villa , para a íegurar na fugeyçaó a Felippe II. de Cav
1 ftella , pozo Marquez de Santa Cruz fetecentos foidados de preíidio,
l que durou pouco j mas per fi a Villa eftá fortificada da banda domar,
1 & com portas fechadíi , & tem para o mar hum Forte com boa artelha-
ria, mas naó fey que tenha foldadefca paga, fenáo da ordenança, a feus &
1 &
tempos i fobre tudo o da milicia , o Capitão Donatário he o que go-
III"
verna em toda a Ilha. •

20 Defronte defta Villa , &


hum tiro fò de berfó , eftá hum
Ilhèo , que levaria três moyos de femeadurajfefe femeaíTej tem huma &
boca,feytapor arte^ por onde cabem navios de feííenta toneladas, &
Do Ilhè<t de VilU dentro mar capaz de vinte navios , mas fó quatro nadaráó nelle , por &
Franca , ^uefndera bayxo tem também fendas naturaes abertas , por onde lhe entra também
ferfeit (me Caftello^ agua do mar,& có tal fúria, que fe mette dentro do Ilhèo, q fe vem algiis
&defefa,& dos mve p^^^çós de páos , de navios perdidos ao redor deite Ilhèo , & entre
& :

iHgares^^Hí Iheeftao
lug.
gj^e^g^ ^^^^ra ha bom anchoradouro ,& ferve o Ilhèo mityto paraboaí
Çnee
pefcarias ; ferviria também de melhor Fortaleza como , a do Bugio em
do Tejo. Emíím tem Villa Franca nove Lugares, ou Aldeãs
a entrada
Dms íegeas adiante
^^^^^ ^^^jg ^^jq debayxo do feu governo , cinco da banda do Norte , Sc
^

/;V^ fV
^'í'*
da banda do Sul quatro.
toKtílT^è' 1 21 Segue-fe a Villa Franca, & pelo mefmo Sul para o Poentj.

fm 'porto chamado duas legoas ,a Villa de Agua de Páo , nome que deíde o mar lhe deraa
rol de Cabajfos ,onde OS primeyros defcubridores da Ilha , porque vendo cahir huma ribeyra
começou o pnmejro de hum alto, & a prumo a hum bayxo , pareceo a moytos Ter antigo , &
Mofteyrode Freyra, grande páo, quedebayxo chegava ao mais altoj &
aoutros pareceoquc
de toda6 04 Jlhoi. &^^^ ^ ^ ^^ ^jj.^ ^-^^^^ precipitada ao bayxo ,& achando logo fer
^^^^ » chamarão àquella agua , Agua de Páo , efte mefmo nome d&.
&
TJlaeAfriçl
\\:

CâpJV.Dãmefmaprímeyr,áV'iIlaFràilca. fjf

tsô á Villa , que alli depois fe edificou j eftá^ a Villa edificada cm hurat
valle, 6c tem a ribey ra fecca da parte do Occideate , &
da parte do Ori^
ente , a ribey ra do paul , a quem hum alto pico toma a vilta do mar : he
Villa bem providade lenha, &frutas i tem duzentos &
cincoenta fo-
gos, ou vizinhos , Vigário, Sc quatro BeneficiadQS,Thefoureyro,6c Gu-
ra i tem mais três Ermidas , huma da Trindade ,fey ta por huma Beata
chamada Margarida AíFonfo j outra de noíTa Senhora do Rofario , s. 0^ & íí* «\_^Vi'-\ RiVk ^l.

terceyra de Saõ Pedro , da parte do Poente. Era efta Villa d© antes hu A^^àô''^'-.^

Lugar de Villa Franca, ôc em 2 8 de Julho de 1 5 o 5 foy fey ta illa por


. . V
ElKey D. Manoel , com meya legoa de termo ao redor , èceftà junta a
hum pico grande chamado o da Figueyra. :; j

22 Abayxo hum tiro de berfo eftá o porto deíla Villa , cha?


inado Vai de Cabaflbs , porque quando os deícubridores da Ilha alli
chegarão , repararão eftar a terra cuberta de humas grandes flores bran-
cas, que em verdade eráo da erva que chamaó Legação , & pareceolhcs
íercm flores decabaflas , ou cabaflbs , & por iffo chamarão àquellc por-
to, Porto de Vai de Gábafíbs. He pois porto bom, & facilmente defen-
com pedras de cima 6c he fortificado com baluarte , 6c cavas.
íavel ate -,

Junto acfte porto eftá huma Ermida da Conceyçaóda Virgem Senho-


ra, 6c deftadizem que foy a primeyra , que da dita invocação houve em
aquellailha, 6c que aqui começou oprimeyro Mofleyro deFreyras,
que houve em todas as Ilhas j que para as Religiofas ferem > como de-
vem fer, immaculadas, pela immaculada Conccyçap da Virgem Senho-
ra nofla haviaó começar. Hatam nobre gente nefta Villa, que delia fo* \!4

raó muytos homés à fua cufta a Africa , ôc lá foraó armados Cavallcy-


ros , 6c tomarão aos Mouros Berjahamad , lugar junto a Arzilla ôc era -,

.i»Vi'T\ >*í
i521. tornarão para efta fua Villa.
: 23 Por efta cofta do Sul , de Occidente a Poente ,: Sc legoa Sz
j^^ j..^^^ ^^ Aiaçsd^
meya depois da Villa de Agua de Páo , eftá a chamada Villa da Alagoa, ^^^^^ °
^^^^^ ^/j ^
por huma que teve de agua nativa defronte da porta da l%rt]x^úncu a„tedeAgft*dtPa0;
pai, onde depois fe formou terra lavradia. Fez Villa aefte Lugar El- & de ^^'3,.vix,inhos,
ReyD.JoaõIII.em ii.deAbrilde 1522. A Igreja Matriz he da invo- hum porto chamada
«^^^ Mofieyros, a»nde
caçaõ da Santa Cruz , com duzentos 6c vinte 6c fete fogos, ou vizinhos.
'""*' '""
A fegunda Freguezia fe chama do Porto dos Carney ros, ( por os terem ZlVZZl
alU lançado os primeyros defcubridores que os traziao ) ôc conlta de ^^^^^^ ^g terra ^
duzentos 6c dezafeis vizinhos v 6c a Villa de quatrocentos &c quarenta ^^ ^^^/, trig» , ^ m-
& trcs , como conftou pelos roes do anno de 1 666. Tem mais efta Villa bh vinha*'
da Alagoa três Ermidas , primeyra de Saó Sebaftiaó , fegunda de N. Se-
nhora do Rofario , terceyra do Efpirito Santo; 6c acima da Villa hum
quarto de legoa , eftá a Ermida de N. Senhora dos Remédios 5 de muy-
tos milagres, 6c grande romagem, ao pé de hum monte chamado o Vul-
cão. A Matriz da Villa tem Vigário , hum Cura, òc quatro Beneficia-
dos. O termo defta Villa he de trigo , 5c paftel , 6c muytos , Sc bons vi- ;

nhosj 8c além de tudo iftofe carregaó aqui os frutos da Vilia de Ribey ra


Grande, 6c feu termo.
24 Adiante mais, coufa de huma legoa, 8c jà da jurifdicçáo da
Cidade, eftà o lugar de S. Roque, por ter defte Santo a fua Igreja , coití
Vigário, 6ê Cura, 6c cento 6c vinte 6c féis vizinhos , 6c a pouco efpaço fe
M
ij ' íegu«

m^
\t^ . Ê^Livm^.vDâ fatal I to (lèS^MiguièL^'/^
feguèharaa Ermida da Ssnta Magdalena , de muy frequente fomagem^
Do lugar deS. Roque depois logo a forca da Cidade , & defronte delia , hum tiro de béftaf
&
thamado Rofio de ao mar , eftá hum Ilhèo , que por reprefentar.a hum caó em a figura que
Caõ , jà dajurifdic- faZjdeoáquelle trado, &
lugar de SaóRoque^ o Vulgar nome de. Lu-»
faõ da Cidade, de
gar de Rotto de Caõ. E ha por aqui tantas vmlias, que ( como diz Fru^
I %6.vÍ!í.iiihos, & de

muyto vinho ; & do étaofo ) delias fe recoltie cada


anno mais de mil pipas de vinhaE quey-í
ittgétr da Fajã de 3 6. xaí-feodito Author, que valendo de antes
huma pipa de vinho dous»
Víúnhos. atètrescruzados, valiajáem feu tempo rres atè quatro mil reis. Pete
terra dentro também hum quarto de Icgoa da Cidade , eftà o lugar da.
Fajá, com Ereg-uem de nofla Senhora dos Anjos r ( que de antes tinha,
eftadoem outro lugar mais acima )&: com Vígario 3 &: trinta & íeis vi^
zinhos, & perto hCia Ermida' da EaearnaGáo; «uri .
,

;:i;:j^a^pl -ti" '--

_ . . jO U - . í. 'íí,ii'4Òn.ii'íí

C A ;:»
">
-.Hf !
'
ti
Da Cidade de Ponta Delgada*
» 35 "px Efcubeftâ afilha de SaóíMigtíel, & povoada 1444.6^, effii

- iii > jv ;jv


^L^ em 1445 eíVeve quaíi
.
cincoenta anhosi zth o de 1499. iem
fer dentíro de fi outra Gabéçâ,ou governo , fenão a fobrçdít^ ¥iila Fran-*
'A Cidade de Ponta ^^ ^j^ Campo , & Poní^Delgada lhe obedecia , como hum fomente lu-*
"^ Villaem toda allhaj mas como noditolugas
f/ JTr/S'^^^'^^"'^^"^^^^^^^°"^^
tolVãa WlSo]"^^ Ponta Delgada havia também
muy ta. nobreza^ &: fidalguia, a quem
fí;MFí7/ámi499."Cuftavá jà muyto recorrer', &
obedecer àsordens de Vilía Franca j&í
é- em 1 J46.>?/(?)'- entre huns j^- outros bôu-veíTe algiias brigas quando hiaõ a Villa-Fran-i
ta Cidade , ha quap ^3^ os de Ponta Delgada mandarão fecretamente a Lisboa hum Fernão
\<y().anmi;efikaÇ. forcre
Velho , fillio de Jorge Veího, & de Africanes , a alcançar que
^^tmtml'L7nTde í^^^^a Delgada M&
Villa,& naÓ obedeeeffe a Villa Francà,& diz FrU-
'm^Haf/o^iriegol, duofo que dentro de hum mez
Ponta Delgada vey o fey ta Villa por El*
^fitio cjHafi^lam/i^Q^ D. JVIanoel em i499. fervindo de Capitão
Donatário Pedro Ro«
'lex-if.vi^tnhos-.tem driguez da^Camera , pela aufeíiciadefeu irmão Rui Gonçalves da Ga-
na Cidade bom pa^o jj^^j.^ ^^^^ eftava ém Lisboa } & por mais embargos que Villa Franca
^
e C'<pitai Domtarto,
^^^ ^ ^^^ refoluçáo , huncâ fe lhe defefio , antes o mefmo Rey D. Ma-
&[obre o mar r**
nogigj^ ^í^y^j^^gg^ j^^ déMáyo de 1507.& em pergaminho Pvealcõ^^
ír^i^^tClfr. firmou Ponta Delgada em Vilía 5 êc-dépois Elíley D. JoaÓ III. a levan-
vios:temfHtz.dcfè- tou a Cidade de feu motu próprio a 2: de Abril de 1546. &
,
daqui S-
rA,deejneje ^í^f
o»;''^'cou fempre alguma oppofição entre Villa Franca ,& Ponta Delgada,
aoOuvidor.moi efte qúeatè em os rapazes dura quando fe encontrão :&alíim foy Ponta
cejfaem vindo o Cor-
j^gj^^da, quafi cincoenta amios, hum puro Lugar fugeyto aVilla Fran,-
n^'^0'/'^^;^';^^^. & quafi quarenta & fete annos Villa livre fobre fi ,& tem já 148. ani

fmz.de i6ra & tem «OS de Cidade, ate o prefente


anno de 1 714. ^^
a Cidade dè lerm»' 26 Por eftareíla Cidade junto a huma delgada ponta, que do
hãaíó legoa. interior da Ilha , & do bifcoutó miúdo vay quafi raza ao mar , poriflb fe
chama Ponta Delgada fendo que adita ponta chamarão já Santa Cia-
;

fa, por huma Ermida que alíi tem da mefma Santa. Eftà aflentada a Ci-

dade junto ao mnr, & em plano, fem fubidas , ou defcidas de muyta coni
fíderafaó y de comprido , à beyra mar , occupa quâfi hum qiurto de lei.
Cap.V^Da rica Cidade de Ponta Delgada. 13^

gòa,8cno mais largo do meyo, o tirO de huma efeopetai tem varias rwas,
correntes do N orte a Sul , ôc outras atraveíTadas j no anno de 1 666. ti-
nha pelos roes dos Parochos mil &c feiscentos & vinte & três vizinhosi
acafariade Nobres he também nobre, mas em nenhuma rua he unifor-
me, por fe metterem cafas térreas entre fobradadas ; tem os Donatários
hum rauyto nobre Paço com jardim dentrOjSc no meyo da Cidadci tem
fobre o porto huma boa Fortaleza com trinta peças de bronze, &: huma
de mais de vinte palmos de comprimento j náo tinha gente paga de
guarnição,mas de ordenança em guarnição fcmpre, & leu Capitão com
boas cafas para elle , graneys , & cafa de pólvora , & de muniçoens de
gucrraj 6c Ermida de São Brás i tem poço de agua de ferviço para a gen-
te, & além diíTo cifterna , que leva [mil ôc duzentas pipas de
agua j não
tem cava à roda, & parece fer tudo pedra viva. Hoje dizem que tem jà
f^'

foldadefca paga. .
,

27 O
porto defta Cidade he tam aberto, qúe da ponta de San-
ta Clara atè a ponta que chamão da Galè,vaótrcs Icgoas de eníèada,
fem abrigo algum para os navios , mais que fazerfe à vela com qualquer
tempeftade > eftejaó carregando , ou defcatregando , com que fuccede
às vezes levantarem , fem tornarem. AAlfandega efteve femprc era Tevy^ÍfMde£d',W^
Villa Franca , atè que ( como veremos ) Ic fubvertco a Villa , Sc ainda Mtmftm
d^d-'jfM
^"í^'*à
que fe reedificou , mudou-fe comtudo a Alfandega para a Cidade , ^H'P'>^ ^i
nella tem nobre alíento com feu Juiz que chamão Juiz do mar > & he
, ,

poftonobiliílimo, de que atè omcfrao Donatário depende, &fó aa


Provedor da fazenda Real da Ilha Tcrceyra cftá fugeyto j & tem Con«
lador da Alfandega, Fey tor, & outros miniftros inferiores.
28 A Cidade fe governa pelo feu Senado da Camerà , que de
antes conftava de dous Juizes Ordinários dos mais nobres da Cidade,6c
feu termo, ( que he fó de huma legoa) & ha muytos annos fe tiràraÓ,&;
fe poz. em lugar delles Juiz de fora , que ferve também de Corregedor
da Ilhadc Santa Maria , & de Juiz dos Rcfiduos em toda a Ilha de Sa6
Miguel defte Juiz de fora fe recorre ao Ouvidor do Capitão Donatá-
:

rio, fe tem, Ouvidor diftindo j ôc fe o naó tem , ao mefmo Capitão ; po-


rém fe o Corregedor vay a Saó Miguel em correy çaõ , ceifa a Ouvido-
ria, Sc fó ao Corregedor fe recorre do Juiz de fora. Tem mais o dito Se-

nado da Camera três Vereadores , hum Procurador , 8c hum Eferivaâ


da Camera Ôc hum Thefoureyro, ôc todos faô Cidadãos nobrcs,ôc qua-
,

tro Mifteres do povo, ôc da Cidade dous Almotaceys cada três mezcS,


além dos mais Efcriváes , Tabelliães , Alcaydes , ôcc. ôc tem praça baf-
tante perto do mar , ôc feu Pelourinho , cadea , ôc tudo o mais ncccífa-

29 Qiianto ao Ecclefiaítico fecular tem Ponta Delgada três Fregttez.ias a M*-


,

Freguezias a Matriz he de São Sebaftiaõ j he Igreja grande , Ôc de três triz. àe S.Sebafiiaõ.A


:

deS:
naveS) tem Vigário, Thefoureyro , ôc Cura^ Ôc dez Beneficiados s ôc feu de S.Pedr«,&a
Meíire da Capella 5 ôc ha nefta Freguezia quatro Ermidas , de S. Brás, ^''""'^^'^"^"^i
¥
das Chagas, de Corpo Santo, ôc da Trindade. A íegunda Freguezia he ^'*ô«t'iXr£'«//'
a de Saó.ÍPedro, que tem Vigário 3 Cura , &
oyto Beneficiados , ôc três ^j^^^^^ ^ ^„yf^ c/g}
Ermidas, huma da Madre de Deos , outra de Saó Gonçalo , ôc outra da rezÁ*4<q»^í^ rícer»
Natividadeicoma devota Confraria dos Pretos. AterceyraFreguc-rffdeJS/l-^Wtf^wgr^
M iij ^^

m^
zia hc a de Santa Clara com Vigário , & Cura , Sc tem huma Èrmid^i
,

da invocação da Piedade. Além deftes Eecleíiaíticos ha miiytos outros •

Clérigos extravagantes , &


a todo efte eftado Eccicíiaílico governa hú
Eecleíiaftico Ouvidor , pofto pelo Bifpo de Angra, aonde fo fe recorre
em todas as caufas Eccleílafticas , quando o dito Bifpo naõ eílá- vilitan-
do Saõ Miguel j ou naõ manda la feu Vifitador. Ha mais em Ponta
Delgada huraa Santa Cafa de Mifericordia como feu coftumado go-
v-crno^de Provedor, Mefa, &c.da qual diz Fruâruofo /zi;. 4. fí?^,43, que
não he tam rica de edifícios mortos , comd-he riquiíiima de corações vi-
vos, &accefos em muyta*charidade. '-
30 Qiianto ao eftado Religiofo henefta Cidade copiofo,-&?,
demuytofrutOj&exemplo. Tem hum Convento da Obfervancia de
Batiítmefma ^^'^«'- SaÔ Francifco,&:<Ía invocação da Conceyçaó da Senhora, que confia'

f' de mais de trinta Religiofos ,& tem feu Noviciado, & porprovifaó-
ielHoST-*'^'"
í/^S^fll'^ ^JI^^^^J ^^^^^P"^P^^'°*^^
S.Sebaftiaôj&devotiílima Irmandade de Tercey-
trma frades com ^^^J ^ Terccyras Iccularès. Tem outro Convento de Religiofos Ere'-'
Noviciado outro de mitas dc Santo Agoftinho,, chamadosGracianos, que fem fer muyto co-
\

6racianos , com Col- comofe ofofle , trabalha em a vinha do Senhor, como Religião
piofo ,

'^"^Z'^'*^*'* cm tudo muyto exemplar. Tem mais hum CoUegioda Religião da


^"^
'5^5
que ordinariamente tem doze Religiofos ao
2*T'^'^*'^''^'^^°"^P^"^^^^^J^^^^'
'uricã é-The T'' ™^"°^ 5 ^^"^ pateode
Eíludòs , & íeú Reytor, Prefeyto , Lente de Mo^^
^^^i & outr© de Rhetorica, outro de Latim &
** ''^^'*
MoraL os mais laó Pregadores*'
;

til
GonfcíTòres, &'muytâs vezes Miííionarios , naõ fo por toda a líha de S.
Miguel , mas jítambcm algumas vezes pela ílha de Santa Maria , com
aquclle Apoftolico zelo , que coftumaõ Religiofos chamados Apofto-
hede notar qiie efte CoUegio nem por ElRey he fujidade^nem
losi fe
per algum outro Fundador particular, com ordenado algum para o fu-
íiento dos Religiofos nem eftes o levaó por enfinar j pregar confeíTar,
, ,

& aconfelhar , & muyto menos por Miíías , que náó dizem por efmola,
mas fomente começou com particulai-és efmolas das mais devotas pef-
fóas defta Cidade, por quemfaz os méíhios facrifícios, &: orações-, que
faria pòr aquclle qile foíle feu total, & efpecial Fundador. Porém como
efte CoUegio veyo de Angra, & os Conventos de Saó Franciíco & , da.

Graça vieraó também dos feus principâes da Ilha Texceyra , por iíTo là^
&nãoaqui, nos deteremos mais. ( '^.;
* *-•
31 Nem fò varões Religiofos , mas também Religiofas obfer-
vantiíTimas ha ríefta Cidade , das quaes o primeyro Convento he o de
Õs Conventos de Re- p^ Senhora da Efperança , fundado por D. Felippa Coutinha , mulher
Capitão Ruí Gonçalves da Camera, fegundo do nome , onde am-
^T"^"*/"*! ÍT'-'^^
^""^^ fepultura , &^ fundado para vinte cinco Religiofas de vèo-
^ça'leZ»do*def'AK- ^^^ ^^^^
(" & hoje he de muytas mais Religiofas) & de-
dr'è ,ierceyro désam^^z^Oy & ciuco Noviças,

'foal, quarto o dA Cl- bayxo da obediência dos Prelados de Saó Francifco.


O
fegundo Con^
ctjí^aõ, fora vArios vento he O de Santo André , feyto , & dotado pelo nobre & pio Cida- ,

Recolhimentos.
jaó Diogo Vaz Carreyro para vinte & féis profeífas ,,& também cinco
Noviças, da Regra de Santa Clara , & da obediência do Ordmario. Ú
terceyro Convento he de SaõJoaõ,comoo de Santo André, fundado
por O quarto Convento começou ha cinccenta
fe

annos , com titulo da Conccyção, & Breve do Papa para cinccenta Re-
ligiofas
Càpl V. Da íua dita Cidade. ^W
li^iòfàs , & dez nomeará
das quaes cntraflem com dotes trinta &,novc ,
o i^adroeyro das parentas nobres 6ç pobres do Fundador, & hum lugar
,

livre para huma hlha do Padroeyro & renderá obediência ao Ordma-


,

rio:lea Jfiííidador foy oM. Rever. Franciíco de Andrade SclAlbu-


querque, nobre, 6c rico Glerigb da dita Cidade, que conheci muyto
bem. Além deites Conventos de verdadeyras Rehgiofas , tem efta mef-
ma Cidade vários Recolhimentos , & todos íaó nèceíTariôs.
32 Ha mais nefta Cidade muyta nobreza ,& fidalguia, que ao
principio tinhaó feus foros, &filhamentos tirados , mas como eílàvaó
-

fora jà de Lisboa , ôc tinhaó datas copiofas de terras , delias tratavaó , &


faziaó pouco cafo de fazendo mais cafo de fer fidalgos de
tirar foros i

geração por feus antigos brazões, & ricos , do que de fer íómente fidal- ,4
->•. í
^
gos de livro, & na verdade pobres, como faó muytòs no Reyno de Por- '^''*''1^'£^
]!emo
tugal,& ainda na Corte, & miferavelmente pobres Sc por iíTo havia ?^^^ âo me no na-
:

homés muyto ricos , como hum Gafpar do Rego Baldaya , qiie tinha to àoi 'ptjfcof y& de
txezcntosj.ôc feííenta& fcis moyos de renda de trigo cada anno ifórn /uai cajas ,& por ip
rendas, ôc foros de outro género i & o mefmoj& mais , teve fcu úlho ha wtfjt» ricos hemès
Francifco do Rego de Sá , chamado o Graó Capitão , de que em fcu lu- ^ menos filhados ms
sar trataremos mais. Mas também neíla Cidade o trato, ainda <ios mais .T ^^ "
«^, ..- j r n c -1 ,
poder A haver , mat
^'^t'

nobres , era antigamente de tam pouco faufto, que lo tratavaó de ter^^^^ CAvalleyros , &
bõs Cavaílos , boas armas , os criados neceíTarios para as lavouras ; & o com boas armas ; &-
leu veftir era tam commum , 6c ordinário , que todos por meyas de fe- hoje wào efik accref-
<Ja ufaváó fó de botas , & para eftas afíirma Fruftuofo , que naõ confen- centado.
tiaó fe caftraíTem os carneyros , por ferem dos não caftrados as pelles de
mais dura , 6c mais fortes para botas > 6c aífim fe tratavão mais como no-
bres, 6c iricos lavradores fartos , do que como Cavalheyros fantafticos,
^famintos.
33 Gonfefla mais Fruduofo , que neíla Cidade , 6c feu termo 7-^^ excellete d&aai
ha poucas carnes para tanta géhte ,6c que a mais delia fe mantém com maitaõ penca, s vai
pefcado a mayor parte do tempo, 6c que de pefcado ha muyto j mas iílo moerjegoas fora, #
deveentenderfe de gente ordinária, 6c pobre, 6c de alguma rica , 6c ava- ^'*^^'* aroftfa k %3
renta , porque para a gente nobre, 6c prudente , ainda que o carneyro he ^'* **"""•. >

i:uim,pornaócaftrado,ha baftante,6c boavaca, 6c tantacaça de coe-


IhoSj codornizes , 6c perdizes , que eftas valem a trinta reis , codornizes
a rres , 6c a quatro por hum vintém , ^ a vintém os coelhos. Ha ncfta
Cidade a melhor agua que ha em toda a Ilha j mas hc tam pouca , qu? 'ê'r'i'Â

nem moinhos de agua tem, fenão dahi três legoas eni Ribeyra Grande,
Gu naõ menos longe , em Agua de PàO} 6c nem a roupa fe lava fenão jun-
to aborda domar , 6c em maré vazia , com alguma agua falobra que
allifahe,6c comtudo ao redor da Cidade, 6c ainda dentro delia, h* y
muytos pomares , 6c jardins , ^ muyta , 6c excellente hortaliça j 6c c@tii II
ifto paliemos da Cidade. -

CAP.
w V^ «* ^i

140 Lívfay f Da fatal Ilha de S. Mígael,


(li!

CAPITULO VI.

Continua a defcripçaÕ i ejpecia/menie ao Norte da


llhadeSaõMigueL

^^ |-^ A Cidade de Ponta Delgada


pelo Sul, para o Poente, , &
1 meya Icgoa da Cidade , eftá hum lugar , chamado o Lu-
j
iDt TantA Delgada, ^^ Relva, pela muy ta que alli havia de antes , agora eftà o Lugar, &
feio Sttlp^ry Foen. Ferreyra , ( de quem
^ ^^^^^ ^ .^^^ ^^ himi JoaÓ Rodriguez
%ri afl diÍFruauofo/..;.4-^^p.440 que defcendia dos Reys de Efcocia,& da
&
^\7.viz.mhos,&oH grande caía de Drumond, &
que era homem grande Cavalley ro , de
na me) A legoa adia^ grandes forças, valentia & O
lugar he de noíTa Senhora das Neves , ôc
/í í/?4 o %^>' íi/^F^'- ^'j-eguezia que tem Vigário, cento & &
'^trinta &fete viziahos. Meya

adiante eftá o porto chamado dos batéis , por bayxo do lugar das
teyroí com 92, vix.i-
.
^

tlfj^aÍÍTe^^^^^^^^
dous vizmhos , & huma boa Igreja
w iZa dentro do Cer- Luzia , com Vigário, & noventa &
taô.fieab /»^-ír ^^ de Senhora de Guadalupe, que mandou fazer o generolo fidalgo
N .

Candelária de ^i.
JQ^ge Camello da Cofta
Colombreyro , cafado com D. Margarida 3 fi-
«/«.wí^síi^^^^^í^^-^jja^je Pedro Pacheco, & alli moravaóeftes fidalgos. Três quartos de
goa mais feda no Ih- efpingarda eílá o Lu-
adiante , & pela terra dentro dous tiros de ,

Í8 ':í^tfZt gar da Candelária com Igreja da


Puníicaçâo de Senhora , com Vi- N
.?«;!? Adiante \fik |ario , Sc quarenta
hum vizinhos ^ dah-i meya legoa eíla a Ermida
& &
o Pico daí Camarim gg N. Senhora do Soccorro i
&
outra meya legoa mais adiante elta o Lu-
<;ii

nhoi , OH Ferrarias, Sebaftiaó com Vigário , &: feíTcnta


^^ g oyto fogos, &
defronte do qnal ,&° '

^ Segue-febem perto logo o Pico chamado dás Camarinhas,

S r4--
^Hafhõa

TJfohe
/'^^'"^/''Vportej. arvores
rL^ por parecer
queàsdâo) a que também chamão o Pico das Ferra*
ferro o bífcouto que delle corre ,
cmar;& alli Vieyros de enxofre, falitre, marquezita, & ferro & ao pe do tal Pi*
mais adiante, ^o da banda de Lefte íahe huma ribeyra, em que pode
moer huma aze-
,
& fe fuppoem havcf
j

fçHco
ènde chamao os Ef ^^^^, ^ comtudo he de agua tam quente que fomente nella fe pelaô ley- j

m talvados, acaba o Sul


^^^^ ^ ç^ ^^^^ peyxe , atè que fe cobre com a
maré cheya. E aos três de
ma&
;

volta ejla
da .^^^^^ .^ fuccedeo ( cafo efpantofo ) que defronte do tal Pico, !

-''

rebentou & fahio, defdo fundo do mar, tal fogo, que lançava quantida-
,

torres poftas húa fo-


de de arèa negra, & alta, que venceria a três altas ,

bre outra k o fumo fe via fobre as nuvens &


cahindo a dita arèa fe2í
j
,
veyo a primey-
hum Ilhèo tal fobre o mar, que fó por cima,& fó quando
ra invernada, fe diminuhio ,
ainda deyxou alli hum bayxo tam peri-
&
gofo, como grandej & o fogo, que o caufou ,
durou , fahindo fempre fu-
ríofo, por três fcmariaá inteyras. Deftas
Ferrarias pois , dous tiros de bé-

fta adiante, eftá ponta que chamaõ os Elcalvados ,


a
àqui acaba a Ilha &
pela parte do Sul atè o Poente , ou Oefte , & começa a dobrar para o

Noroefte^ 5c Norte. xt j n. .
t .

26 Tornando agora a comef ar da ponta do Nordeíte outra


rindo ofítra vez. d» -^ pela banda do Norte, não ha defta
banda porto algum , k^
^^^ |^,

}i I

i=
.^ UC

Cap. Vl-Bídjcrévèíe a pàrée tlè í^ffeíia ítóa Ilha.

treytezacbIlha.Da Villa pois deNordcíle pelo Nort-e^legoa & meva,


eítaoLugar dç Saó Pedro com Igreja defte Apoâolo ,_§c leii yigaaQ,'S^^f^^^^
«som çenco &
vinte êc dous vizinhos , & commúmente íp cbanja o_ N or- >^^^„íí J/?^ o /^'-^^
delle pequeno, em comparação da Villa antecedente. Defte NQrdeíí& chamado Achada
pequeiiaj.hi.ima legoa adiante ,_ corre huma Lomba chamada Algara- Grande, de '^z.viz.i-
,

via, porter fidode hú marido,ôc mulher, ambos vindos do Algar ve^por "^"•'j mas pouco adi.
'^'*'
cuja morte veyoefta terra ao poder de- AfttaôRôdri^uez daCamera,'"^^!^'*,''^.'*^
& defte aXeus herdeyros. Meya legoa adiante eftá oTopo de Pedro Ro- ^^viz-inhe? a2^&
driguez^dà Gamera,;êc logo perto p Lugar de noíTa Senhora da -©raça, ^^^ adiantt fica a
&
chamadoa Achada Grande, com Igreja ,_&feu Vigário, trinta & dous c^ííw^ííí» Fenais da
vizinhos. Seguem-fe adiante varias ribeyras ,& entre ellas huma c^QMayacomjz.viz.i*
diamaõ da Salga i ou poi: alli dàr à còfta hum ilàvfo,-qu^tle fal hia ear- f^^o^Mi^r mhre, &
regadoi oU por fe fazer alli falga da montaria que ^oi^teriQr trado fe ca- ^^^^j^í^''^^?^^
^va j & aqui chamáo a Achadinha, em comparação da dita Achada '^°*^^ ví\ir:hò7'oMè
Grande; & aíiim Achada , como Achadinha fignificaó tierracháj& aqui hamotnhoi] 'i^fefaii
éftào Lugar de N. Senhora do Rofario, com Vigário, & quarenta &«r(?/^<«,é' tcmru<ã
fres vizinhos. tm^raídecafaidel^l-'
f
37 Pouco ponta chafíxada dos Fenais daMava/"' ^^^'I'' nopu^d^
adiante, eftá a
fpara diftinçáo dos da Cidade } & a Freguezia he dos Reys Ma?os,
r-''po^^^^''F:'rtcn.

com Vigário , & íetenta &: dous vizinhos , gente nobres & rica, Logo fe ^^L^ Parochial tem*
fegue o Lugar dà Maya , que tomou o nome de o começar huma mu- mm eineo Ermidat^
iher, chamada Ignes Maya, & tem pouco adiante feuç moinhos j he Lu*
gar que tem as ruas inteyras de cafas de telha , quando em outras Villas, ^
&âtèna Cidade ha muytas cafas cubertas de palha j fendo que a. telha .
, .,.

fe faz nefte lugar da Maya ; &: ainda que dç antes tinha fetenta & oytQ ... ..vs>i ,

fogos, ou vizinhos, (como affirraa Fruduofo //^'. 4. cap. 45} jà em 28» ^


cíc Julho do anno de 1666. achcy que tinha duz.entos & cincocnta vi-
zinhos , & por iíTo por vezes pertendeo fer Villa moftrando ter gent^
,

nobre , & eftar muy to longe de Ribeyra Grande em cujo termo fica ^
, :

Freguezia he do Efpirito Santo , tem Vigario,&: tinha Beneficiado que


fe lhe tirou para Ribeyra Grande ôc tem mais cinco Ermidas , duasde
-,

N. Senhora do Rofario ,húa de Saõ Sebaftiaó , outra 4e Saó Pedro , 6c


(biltra de S. Catharina.

38 Segue-fe mais adiante a ponta de Saó Brás , por ter huma


Ermida defte Santo, & ainda mais adiante eftá o Lugar de Porto Fer- Depois fe fegnè efeS
mofo, com Parochia de N. Senhorada Graça, & feu Vigário, &
^^^'^^'ÍZ''j,i'!^'"J^'hrâ
izinhos, como peíToalmente examiney;&: também teve Beneficiado,
^^^^^ ^^^ ^^^'^^'^^
mas mudou-fe para Saó Pedro da Cidade. Nefte Lugar moravaó os Pa- ^jà ^^ a; anarto dl
checos, antiga, & nobre geração j & em huma ponta diante do lugar ef- ífgoa de Ribeyra Grã-
tà hum morgado de trinta moyos de trigo juntos , & de renda cada an- de cflk o lugar cha.
no, que he huma parte da grande cafa dos Bruns, & Frias , de que falia- ^^'^'' Rf^fyrtnha, ^
'*''
4-emos em feu lugar. Mais adiante fe fegue o Porto de Santa Iria , de que "'"' ^'^'"'^ '^t^''^
fe fervia de antes a Villa de Ribeyra Grande j & daqui para dentro da'""^"lY'T«,/!fp!*
terra , pouco elpaço, eíta a Lrmida de Sao baivador , que era do ceie,-
( iieyr a Grande.
bre fidalgo , Sc ccleberrimo còmpofitor D. Francifco Manoel de Mel-
lo} & ifto junto às cafas de Catharina Ferreyra, mulher de Antão Ro-
driguez da Camera. Adiante logo eftà a Ribeyrinha , (para diftinçãp
tia Ribeyra, que difta ainda -hum quarto de legoà para O Poente) de
' •
' boas
i'«u'V V, il t^.Jf.

--'^,
Ovi'0 V. Da fatal Ilhade S.Míguét-
boas aguas, & bem avizinhada de tanta gente, que podèrafcr Preguei
zia à parte , & he fó arrabalde de Ribeyra Grande & aqui tinha a fua-
,

quinta Ruí Gago da Cameraj parente conhecido do Conde Capitã»


4a Ilha.

PA P I TU L O VII.

Da famofa Vilta daktheyra Grande.^éH.mm í ,«-


gares ííõ Norte.

Nobre Villa chamada Ribeyra Grande, tomou o nome?

rtlU di
A
de huma grande ribeyra, quejà hoje a corta pelo
Ribeyra fendoqueatè oannodei5l5. não tinha para a parte do Poente
meyo,
mai»
Crãdehe9m*yorpo. que
duas cafas além da ribeyra, onde hoje he a mayor parte da Villa :
ef-.

i/o ejue ha tm S- Mi- da Ilha , em hua grand©


tà fituada quafi no meyo ( da banda do Norte)
guel , abayxo da Cf.
ferra i era de antes Lugar da junfdicçáo de Villa
4adt:»a (tta Matriz. bahia ao pè de huma
tem \z\\. vizinhos Franca i porém em 4. de-Agoftode 1507.
ElRey D. Manoel , eftando
^ tiA fegunda Fre- em Abrantes >á fez Villa com huma legoa
de termo ao redor. Naotip
giiezja da Ribeyra nha de antes mais que huma fo Freguezia mas no anno de 15 77.0 Bit, -,

Sicca , tem vizinhas defta Villa , chamai


po de Angra D. Gaípar de Faria creou no arrabalde
Í40. -á Matriz, he com a invoca-
fagrada,&qitajt htia
do Ribeyra Secca, creou fegunda Freguezia deík Villa
da lurihca.
ifoa Se em tud/)'^& te cão de SaÓ
Pedro. A Matriz pois fe intitula, Noífa Senhora
ficar da parte da eftrella doNor,
mais a Villa três Er- cão, ou N. Senhora da Eftrella , por
R^ri-
mdaípftblicai. te & neíla Igreja gaftou também muyto o bom fidalgo Pedro
j
fepararem a nova Fre-
guez da Camcra & ainda efta Matriz com lhe
j
,

Sueziade SaÓ Pedro ainda ficou com mil & duzentos &
onze vizi.
,

fthos como achey ter no anno de 1 6Ó6. &


,
chega a muyto mais de mil &:
trezentos com a dita fegunda Freguezia. •
„ , r. /í

40 Tem a dita Matriz Vigário, dous Curas, & dez Beneficia-


dos, & hum Thefoureyro , bum Organiftâ, &
Meftre da Capella , alem
dous mo-
de Meftre de Latim que na ViUa ha com ordenado annual de
Dedicação, &fagraçao
vos de trigo ,& oy to mil reis em dinheyro. Da
a 18. de Março i efta h-
defta Ipreja trataoAgiolõgio Lufitarto í<?^.2.
parte daVil-
tuada em hum alto , da fua entrada fe eftà vendo a mayor
&
la tos campos, valles , montes ,
, muy o vafto mar. Pa nqueza de pe,
&
quefoy delia muy,
ças, ornamentos ,& acey o defta Igreja bafta dizer
tos annos feu douto , & fanto Vigário ,
& Pregador , o Venerável Dou.
no hv. 2. f^f 2. Dentro de,
tor Gafpar Fruduofo, cuja vida apontámos
faber , N. Senhora do Rcfar.o ,
Santg
fta Matriz ha muytas Ermidas , a
Luzia, Santo André, SaÓ SebaftiaÓ, Senhora da Conceyçao , N^Se.
N .

Colombreyros)N. Senhora
nhora da Confolaçáo, ( que he dos nobres
da Charidade , que era da muyto nobre JuUa
Taveyraj & Senhora, N .

fegunda Freguezia de
de hum Francifco Tavares Homem. E ainda na
Ribeyra Secca , C por fó dorrer no inverno)
que paíTa de duzenros 8c
quarenta vizinhos , ainda ha outra Ermida
da invocação da Madre de

^""41. -
De Religiofos tem efta Villa hum bom Convento da OV
Cap.VII.DQQUtrosnobfes lugares daipaite.do Norte. 145

férvancia de Saó Francifco, que he miiytp obfervante5& exfemplar j tem


f^ais .0 Mofteyro de J.ES US de Religiofas de Santa Clara, Ôc da iiegra^ jem hU hm Cmv^
éc obediência de Saò Francifco } fundou^o em fuás próprias c2iÍ3i.s ^q^ te de s .Francifio ,&
droRodriguez da Camera com fua mulher D. Mana dd JBctencorno outro de FreyrasFrã'
anno de 1 545 & depois o augmentou muyto feii filho Hçnrique de Be- "(<''»«f» *5^ l** ^^*'

>

tencor & íiái & ha nelle Noviciado de dez Noviças ao menos , & muy- ^X""f^'2 Cel,^^:
tas Religiofas de véo preto , & he muyto neceffario j & ainda útil ca- nhiadefESVS cem
da hum deftes Conventos em huma Villa tam grande. De novo ha /^^^õ 4e Theelegla
mais nefta Villa huma liçaó , & cadeyra de Theologia Moral, que def- Moral 9 m<u Mefire
de-antes do Adventoatè paflTar a Pafclioa, vay àquelia Villa ler hum Pa- ^^
Latim he Clérigo
dre da Companhia de JIiSUS,do CoUegio de Ponta Delgada , & affif-/'^''^''^-
te nefta Villa odito tempo com outro feu companheyro Religiofo , por
obrigação de hum legado que deyxou hum devoto Clérigo, & Revê- .
,

rendo Padre. E demais fazem os Padres todo o tempo que lá eftaó, prè-
gaçoens, doutrinas, & confiflbés de faós ,& enfermos, além d^rclo*'
'luçóes , &
continuos confelhos } &
lá vejaó os zelofos de tam grande
Villa, fe lhes convém mais, que ao menos três Religioíos da Compa-
nhia refidaó lá todo o anno , 6c em todo exercitem feus minifterios , ^
leaõ ta mbem o Latira para melhor criação da mocidâde,&:c.
42 Ha mais nefta Villa &: junto da praça delia , huma Igreja^ '^^"^ Santa Cafa de
,

de antes intitulada do Efpirito Santo , na qual com licença dei Rey , ^'^27uldl tfer\ &
Bulia Apoftolica fe inftituhio a Irmandade , &: cafa da Santa Mifericor- ^^^ S^capeltaimor--
dia, & feu Hofpital junto para enfermos defemparados, &
o Oràgo de com mais cinco Ca.
tudo he o de Santa Maria ; tem Capellaó mòr, &tres Cap^llães mais, &: felUem menores, q
&
dous meyos Capelláes } jà ha cincoenta annos qucefta Mifericordia, MiUtar defta FUla
&; feu Hofpital tinha vinte & féis moyos de trigo de renda cada anno, & eor^a de Capitai
dezafeis mil reis em dinhevro & que
*'/'**
^ cada Irmão
, de entrada dava três ^J^^^f '"V^"^
... ./, ^ •' /" 1 j taes de ordenança.^

mil reisj & ja hoje terá muyto mayor renda contorme a experiência de Q^y^rno Politico
,
&
muytos teftadores que fe fiáraô, & com razaõ da pontualidade & ver- civilhe o feu Senada
, ,

dade com que nas Mifericordias fe cumprem os legados. daCamera,com mais

43 governo defta Villa ( defde que o he, ha duzentos & fe- dom fMi2.es Ordina^
O
te annos} foy fempre como o das mais Villas , com feu Senado de Ga-
""'
^ "* i^*^ <?#" »

mera. Juizes Ordinários, Vereadores, & todos os mais Miniftros da po- "^"t^^'
litica; na milícia o feu Capitão mòr, &
muytos Capitães mais com muy-
to numerofas Companhias , &
aílim os Capitães como os Alferes eraõ
,
^y^ J^Z "r"' ^
os de melhor nobreza , como de fado foraó Ruí Gago da Camera , Ca- Grande es Ca'- /^
pitaó de huma Companhia , &
feu primo António de Sá por feu Alfe- b^>;í,j Donatários de
re5,atè que Ruí Gagofoyeleyto Capitão mòr, &o
dito Alferes cm 5^10 Miiuel^& mlU
Capitão, conforme á regra do Afcenfo que fe obferva na milícia } mas a eft<io «s pnncipaet
nobreza mayor que tem jà ha muytos annos efta Villa, he fer oúmXo^""^"^^^^'"^^ <*I'
" &
por iífo a devem efti- ^r f'^'* """)"* ,
dos Excellentes Condes de Ribeyra Grande , queiporiíroadevemefti-^^^^P'^;
IfiA t^tie tem^&
mar maisjpois fe faó de toda a Ilha Capitães Gencracs,fó defta Villa faô ijHe^^^^J
^ , - „ , , ^ , ^ «
Condes ; SraíTi ma devem defender , favorecer, Ôcaugraentar, como a ^í,„^^^^/^,
mnyto rendemas'

coufa mais particularmente fua; & muyto mais por nefta Villa eftarem
os moinhos mais commús de todaa Ilha, de que o Conde, por Capitão
Donatário , tem trezentos &
cincoenta moyos de renda cada anno,por-'
que faó féis os ra^tinhos , & cada hum tem duas pedras , delles os me* &
íhoresmoemfetemoyos em vinte & quatro horas i&fó^deMoley rofi
'
-y.-
. ,
qiÀ«

c
'<ir^4úKÍwC. ;' ««.jg nr ?í

íli.;'

tmm Í44 LívròVéiDafatal Ilha de S. Miguei.

que Icvaô , 6c trazem o pa6 , tem mais de cincoenta , 6c cada hitra anda
com duas bcftas de carga , 6c levaó a dez reis por cada alqueyrc de car^^
n reto. -••i - *•
-
•' '•-

44HemuytofartaeftaVillad€paÓ5cariíe,5clegumeS}6cfó
'Mityti abunàantt he ^jg favaschega a recolher quatrocentos moyos, & vende mais de duzen-
í/?<í^//<í dtpao.car-^^^ ^ j^ j-^j^^ recolhe mais de cinco mil pedras , 6c porque paflaó de
,

^^^ ^^ ^^^"^^^ ^^ ^^"^o nefta Villa , vende ainda três mil pedras; mas co-
"Jtalmthu^d^flvls,
*'mai mmto maif,dc S
"^o do porto de Santa Iria fó ufa para batéis , por fer a cofta brava , tem
féella tem mais <ií por íentença Real, O fervirfe do porto dâAlagoa,
aonde manda j6c car-
wiltearesde^man- xhpk<iwíimo vayparafóra da tal Ilha donde vem que , ainda que em
j

da Itnhos naãjó pard R^beyra Grande ha muyta nobreza grandes morgados , ôc os nobres fe
,
ai
trataó como taes j comtudo a gente de ferviço ganha tanto , que a ref-
«'J^^^^'»»*'^?^'
do que aquelles qua
^tmd&beZcmâ. peyto do menos que eftes gaftaô j faó mais ricos ,
dosein agua doce; & ^m feu trato , cavallos, armas , ôc criados gaftaó ainda mais
do que tem;
rfww^ía Ho^rí2:<,# efpecialmente depois que a grande ribeyra defta Villa, com enchentes
ri<jHiffimos morgados lhe levou ruas inteyras de fobrados , &
atè as pontes de pedra, 6c aos no-
é- que comt) tats fe ^^
gg^ ^
j^iç.^^ ^qj^q^ q refazellas. Finalmente he efta Villa mais que far-

í^€<»?i ta de agua doce , de feu nafcimento perfey tiíTima ; mas atè nefte naó
6c
he jà tam pcrfeyta , pelos novos incêndios que ao perto fe levantarão,
como cm feu lugar veremos.
^45 Continuando pois o Norte defta Ilha , eftà de Ribeyra
adiante de Riheyra
brande para O Poente , dous terços de legoa, o Lugar chamado Rabo de
Grande pelo l/orte Peyxe , nomc que fe lhe impoz, ou de o
parecer aílim na ponta que faz
,

para o Poente f »^/ ao mar i ou ( como diz Fruduofo liv. 4. cap. 47. ) por alli fe achar hum
legoa,efik o lugar cha tam defconhecido , 6c grande peyxe, 6c com tal cauda , que os Mouros
mado Rabo de Peyxe ^q^g ^q defcubrimento da Ilha vieraó a cortar o mato delia , 6c logo fe
repartirão a fervir pela Ilha ) pendurarão a dita cauda do peyxe em lu-
de zzj,. '^'^"^^'*^

quando vinhaó deite Lugar,


'dZlErVidr&hãa^^^^^^o, 6c perguntadosdondevinhaó,
^fW^^^^M,'*í^^««/refponderaÕ,DeRabo de Peyxe. Mas a Igreja defte Lugar hedamvo-
ao ShI da Filia d' A. cação do Bom JESUS, Sc tem Vigário , 6c de antes tinha Beneficiados,
lagoa ha fó hnma le- que fe mudáraô para Ribeyra Grande , fie confta de duzentos Sc vinte &c
goa de largura da quatro vizinhos , 6c duas Ermidas msãs^ huma de N. Senhora , que de
(
^^^*
rr'^''*í antes era a Parochia) S>c outra de SaÓ SebaftiaÕ no fim do Lugar para o

C^dfdemZa & Poente i Sc tem efte Lugar huma fermofa bahia , da qual à Villa d' Ala-
txcelleteca^adeper. goa , da parte do Sul , he o mais eftreyto da Ilha , 6c
o mais razo , com
diz.es, muyta* carnes, huma fó legoa de terra ; 6c jà defde Ribeyra Grande atè à tal bahia he

& o melhor pefeado continuado areal , 6i falto de agua ; 6c ainda ô Lugar tem fó poços de
4s Norte. gg^a falobra ; mas he abundante de tudo o mais , 6c de muyta , 6c exccl-
lente caça. de legoa adiante , eftà hum morro , ôc hiía
E logo, hum terço
muyto rendofa , Ôc grande quinta , com fua Ermida de S. Pedro , tudo
j rt
do antigo Jacome Dias Rapofo,pay de BaraóJacomeRaporo,&:avò
.

M^ante '^'^^^'^^^
de Ayres Jacome Rapofo, que alli moràraÔ , & he cafa tam nobre, S^ po-
Ilha , fe para ella tornar feu fenhor
(hamàdoFtnaesftã' ^erofa , que he das mais ricas defta
bem dezi/^. Jkí- Ayres JacomeCorrca (diz O noíío Fruftaofo.)
nhos . &
também de 46 Mais adiante de Rabo de Peyxe eftà o Lugar dos Fenaes^Cdo
muyta caça de perdi- muito feno que ha alli)cuja Igreja heN. Senhora daLuz,8c também tem
zes,carnes, ^'^''^-
duzentos vinte 6c vizinhos , com feu Vigário ,
ôc quatro Cura ,6c ti- &
Beneficiado , que foy para SaÕ Pedro da Cidade^
tem
^lldlllrfímZ "^^ ^e ^^^^^ h"ni

aia ^—
Cap.Vir.De outros nobres lugares da parte dô Norte.. t4j
efte Lugar muy ta abundância de carnes, de caçasj de perdizes, ôcmuy-
to bom pefcado, mas a agua tócâ de fálobTaj & porque dahi adiante,me-
ya legoa, podem inimigos deiembarcarj para os impedir, mandou o
Capicaõ Díògò Lopes de Efpinola levantar âlli humlfoítfc muro oh íè :

a eite Capitão , taó zelofo do bem commum , imitaflem outros , como Legoa, & mey/iàõi
cftaria eítallha nâo fó bem povoada , mas? fegura ! Aos Fenaes fe íegue Fsnaes rfik 9 hgAfàé
hum bifcoutal de mato , a que chamaó as Capelias , ou por alli as Lze- S. António de i jo^'
mm pelo Saó Toaò, ou por chamarem Capeilas às vaecas malhadas que
vtz.ínhos,(jHejap0r^,

alkandao. Adiante mais lahe ao mar numa pequena pontada terra,a^ , , , ,>
^^jy^j
©nde éllà o Lugar de Santo António, por deite Santo íer a Parochial J^ ^^ Parocho^
Igreja ; & no fim do Lugar eílá a Ermida de N. Senhora' do Rofario^que Ciíra,& Beneficiado^
mandou fazer o nobre Sc poderofo Álvaro Lopes da Coita , de quem tem Emtda dt San-
,

foy aquella terra j & outra Ermida da Madre de Deos eftà no principio w Barbara.
do Lugar 3 o qual diíla legoa j 6c meya dos Fenaes , & tem et nco & cm*
coenta & dous vizinhos , com Vigário , & Cura , ou Beneficiado , & jà
he do termo da Cidade i & meya legoa mais adiante eftà outra Ermida
de S. Barbara, & de muyta romagem.
'''-'
j^f
Paffadamais huma legoa ,& fobre huma ponta groffa à^ jj^^^f^goa adiante
bahia éftà o Lugar chamado Bretanha , Ç ou por aíllm chamarem os an- efia o lugn j^fe diz.
tigos a qualquer terra alta j ou por alli ter fua fazenda hum Bretaó} & Bret4nha,de y^.vi-
temParochia de N. Senhora da Ajuda , com Vigário , Scfetentaôc oy^ pinhos, &oKtr»^ííaJÍ
to vizinhos. Dous terços mais de legoa eftà o lugar dos Mofteyros em^'^"^
'^a^'^m'!1^^'*'
humafajá de terra tam boa que dà o melhor trigo da Ilha , de que fe faz ^^^_^ "^izj.nhos- &
|)aôfém tufo, como em algumas partes de Poítugal: a Parochia hede ^^^ aàimte ejla a,
N. Senhora daConceyçaõ,& temfetenta vizinhos com feu Vigario:^^^^^ chamada dos
chama-feMofteyros , porque hum tiro de béfta ao mar tem diante de Efcdvados .aonde
fi quatro llhèos com proporção entre fi tal, que reprefentaó qwãXro
P'ente acabaoNoru
àeS.Mtguel.
Mbfteyros edificados no mar ;& também porque alli pela cofta, & pon-
ta Ruy va atè os Efcalvados eftaó taes concavidades, que outros tantos
,

Mofteyrosreprelentaõj &:tem porto de batéis , que dos muytos ven-


tos fQ'abrigaõ com os llhèos :& logo, hum tiro de bèfta, fica aponta
Ruyva, por aílim o parecer nacori&niais adiante logo a ponta dos Ef-
calvados, que por efta parte he o fim da Ilha para ò Poente.
48' Portoda eftacoftadoNorte5& SuldallhadeS.MiguçKha
o r r oTLj r* n
muytos,ôc muy feguros pefqueyros,& poftos de pefcarA^ o melhor pey-
Dos exceílentes ma*
^^ ^^ ^^^^
xe fempre heo que fe toma da banda do Norte j ôc de ambas as partes o ^coíUdo mar defia
marifcó he muyto,& excellcnte,& o mellior he o que chamaõ Cracas, & 7//,^,
ém Latim Umhelicpí^ marinm , por o parecerem j &
no gofto , & íabor
delle vencem às Oftras , âmeyjoas,8c a todo o outro mariíco. Os Caran-
guejos, & em particular os que chamaó Mouriícos , fió os melhores que
ha, por mais delicados , limpos , &creados naó em lodo , mas em íizos,
& lavados penedos , & por iíío faó como os Ginetes de Africa mais li-
geyros. Ha também muytos camarões, lapas , búzios , occ. porèra as la-
goftas ( & não fó nefta mas em todas as Ilhas dos Açores } faõ as me-*
,

Ihoresj 5c mayores das que fe achaõ em qualquer outra parte.

N CAP,

m^
24^» Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguei,

CAPITULO VÍIL

Do interior (la Ilha y /emfogos j & tremores.


Ratado interior da Ilha de S. Miguel o Doutor Frudiíos
49

efpinhaço
T ,
{olíV.4..cap.4,S. & diz queemfeu comprimento hehum
todo montuofo , & defcálvado já, ou defcuberto fendo que j

emíeu defcubrimento [eftava toda a Ilha cuberta de efpefíb ,& alto ar-
voredo. Nos lugares aonde naó chegou a pedra pomes, & cinzeyro,tem
bons paftos de boa, &
varia herva , grande creaçaó de gado , & de car-
&
ne mais goftola , como he fempre a de paftos defcubertos ao Sol j & as
rezes tem mais força , & fofrem mais trabalho j Sc como neíta Ilha o pa-
ílo he muyto húmido , &
verde , he por iflb defgofbofo o carneyro , que
he mais húmido j &
muy goftofo o cabrito , cabra j aífim no açou-& &
&
gue fe corta chibarro em Abril , Mayo , Junho. Antigamente aqui fe
matavaõ chibarros capados , por melhor a carne j mas porque a pelle
fer

dos caftrados he mais delgada , & de menos dura , & na Ilha de Saó Mi-
guel em os primeyros duzentos annosnaó havia homem que naó trou-
xeíTe botas , antes queriaó melhor pelle para calçar, que melhor carne
para comer ; & tanto era o gado nefta Ilha , que a comer, & calçar^ a tu-
do acudia §c como jà ha mais de cincoenta annos fe calça , & veíte mais
:

politicamente na tal Ilha, já de botas fe naó ufa tanto , como nem tam-
bém do carneyro, & de o caftrar, como experimentey ha cincoenta.
annos.
50 Das celebres Furnas da Ilha de Saó Miguel deraó já notiu
cia alguns Authores Agiologio Lufitano tom. 2. a 11. de Abril & do$
:
-,

Eremitas das ditas Furnas fallou Frey Diogo da Madre de Deos, & o
Padre Manoel da Confolaçaój item o Padre Frey Joaó de Saó Bento,
Eremita da Serra d'Oíra Vulcão defogo y que rebentou na,
trat. dotiltimo

Da grande t & pro- llhade Soo Miguel amo 1652. &


o noíTo Doutor Fruduofo Uv. 4. cap.
fundijfimcicov^^ a 49. Mas porque no anno de 1664. para 65. vi,
&obfervey com meus
^
chamaõ Fumai. olhos na mefma Ilha as ditas Furnas, ha cincoenta annos,por líTonáo
. ^ He atai cÕcavidade
fó do que dizem os citados Auf hores\ nem fó do que lá ouvi , mas do
defigHra ovada , & que eom os olhos vi, & examiney, recoVilarey o principal que puder.
demais de duaí le-
Furnas chamão nefta Ubá a huma vafta , Sc profunda con-
geat em circuito , ^ 5 1
comprimento faz a terra em figura ova-
hiia de comprimento^ cavidade, que no meyodefeu
& meva Itgoa de lar- da , com circuito de mais de duas legoas , & huma de comprimento j SiZ
gtira-^&qua(i <w rnef- meya legoa de largo vaó, em cima entre as rochas , & outra quafi meya
mM meiídas no pro- legoa de largura em o profundo valle, mas tam profundo, que a quem
fundo valle em bay-
a eila chega , & quer olhar para o Ceo , defte lhe parece naó vè jà fenao
xo ^p6r ferem as ra-
chai ii roda de altura
huma carreyra de cavallo muy comprida, por terem de altura as rochas
demeya Ifgoa^ ò" taõ de huma, & outra banda, mais de meya legoa a
prumo Sc O peyor he, •,

dejJienh.idM (jHt nè que por mais que a arte abrio caminho pela
,
parte do Oriente da banda
gente a cavallo pode do Sul, ainda he tal que dcfcer por elle a cavallo , fera peccado morml^
,

defcer^ ou (uhir^ ntm


pelos mortaes precipicios a que evidentemente fe exporá comodivíVà- ,

ainda as bejioi car-


raójà lentes de MoraUSc aindáas beftas de carga não vão com cl li ahay-
regadas , mas fem
sarga. xo ,ma3 fe lhes tira logo ao principio da defcida,6cas cargas fe fobrc-
poeni

L
Cap.Vin.DoInfemOj&:ParâirojutosnomefmovalIe. 147
põem em & eftas a cordas per que os vaó enviando atè bayxo,
taboas , , _
rnas gente toda apè & atraz de beltas & cargas como vi defcer a ca-
, , ,

vallpyros famofos & ainda que tem aberto outro caminho da banda do
i

!N orte, a que chamaó Pè de Porco, ainda efte fegundo he mais Íngreme,


&: peyor que o primeyro,& fó para ruílicos fragueyros.
53 Saó comtudo eíles dous caminhos tam apraziveis , delicio-
íbs, ôc gratos em tudo o mais, que a vifta he dos melhores, & mais altos
arvoredos , & cedros altiífimos , habitado tudo de tam innumeraveis, &
novas caftas de aves , que nunca os olhos ficáo fatisfey tos de tal ver j 6c .

menos os ouvidos da celefte confonancia, §c harmonia dehumas fuavif-


íimas , & novas muficas & atè omefmo olfa£to fe fente
} arrebatado dos
odoríferos hálitos que fobem de hervas precioíiílimas , & viftoíiflimas
flores , que povoaó efte trado onde eftaõ taes caminhos: mas outros que Jk nnúi àm llhãt
fe quizeraó bufcar por outras partes, fe achou ferem, & pararem na ver- ^efcHbertoiftz. arre»
dadeyra reprefentação das furnas , & cavernas do profundo inferno; ^^«^^«'^<'«J%<? efiat
porque logo no defcubrimento dailha, & naprimeyra povoação ve--^*'''''^»^ ''^^•^"^ ''^
lha, reparando hum devoto Clérigo em humas linguas defoffo,&fu-;'*-^f''/''''li'f ^'í'*
maças que lobre a terra via ao longe , animoío le atre vco a ir com hum yj ^ ^ /^^^^ ^ i^^
companheyro examinar o que via j vio como meya legoa de rocha pre- goa reprefemando hâ
cipitada ao fundo, & tam medonha, & de mato tam envolto em fogo,& l»f«rm\
'

fumo, que não defcubrio por onde poder paíTar avante,& fe voltou pa-
ra a fua antiga povoação-, & contando a muy tos o que chegara a ver, ou-
tros íe refolvèraõ com elle tornarem a examinar aquelle abifmo , de que
o dito Clérigo tinha fido o defcubridor primeyro , & com eíFeyto , in-
do, & andando duas legoas pela parte do Oriente , derão em huma En-
cumeada de Garaminhàes , pela muyta que em toda ella havia , & rom-
pendo algum caminho com grande trabalho , & perigo , defcèraó meya
legoa de rocha Íngreme a bayxo , & examinando o que podèraó, fe vol-
tarão por balizas , ou por marcos, que tinhaõ deyxado para iíTo , &; con-*
tàraó o que fe fegue, & que viraó.
53 Viraó pois, ôc achàraó em bayxo hum valle de mais de ftic-
ya legoa de comprido , de largo quafi outra meya , & ao pè da deícida
huma ribeyra de claras , & frefcas aguas , & em pouca diftancia hum ri-
beyro de agua que fendo fria , parecia verde, vermelha , dourada, & fer-
rugenta 5 fegundo os diverfos fundos, ou laftros que embayxo tinha ; &
logo mais adiante para o Sul viraó duas abertas furnas grandes , com ef-
treyta, roas andavel , pedreyra viva entre fi j das quaes furnas a primey-
ra , que fica da parte do Occidente , he a mais alta , de agua clara , mas Fumas de continHi
tam quente , que nclla mettendo dentro leytôcs, cabras, & porcos ^tàn-fogo, &frio^ & tudã
des, & tirando-os logo, fahem jà pellados todos , & em mais tempo, vem i»»to,& deefirmdoí
cozidos } & de peyxe fe tira fó a eípinha; & fc eftaó ouvindo fempre hús **'*"'^ envidas, & te-

covados de altura , dej ^


;
j"* -cr
eftrondos muy tremendos no mevo devta a agua fervendo acima, dous
jji' c jí-t
*""'*/''^ efpantos dt

correntes
groílura duas pipas lunolas 3 a legunda í urna hc pg^^^^r^
nbejraseU
*
'.

como a dita primeyra , & não menos eftrondofa , & medonha. Da agua,
ou polme de ambas corre hum canal atè outras duas furnas para a parte
'ào Norte, que faó muy to mais largas , &: de agua mais medonha , & fer-
vendo fempre, & mais turva. Mais adiante eftava logo hum horrendo,
^ grande olho aberto na terra, que eftava fempre fumegando fumo ef-
N \y pelToi

^f
Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguel.
peíTo} U a elle vizinha hiima caldeyra fervendo por tantos olhos tan-
, ,

to, & tam cinzento polme, & figurando em cima tantos GÍrculos,coroas>
de cabeças calvas, que lhes chamão as Coroas dos Frades.

54 Logo mais adiante eftava.huma tam funda cova , ou furna,


que fe julga fer a mais tremenda de todas , porque ainda acima de fi lan-
çava hum tam furiofo borbulhaó , & de polme cmzento , &
efcuro , que
íobre a cova fubia quatro covados , & em groíTura de três pipas , & pela
eftrondo fe chama a Furna dos Ferreyros, &
parece fer a cova, ou a for-
ja do fabulofo Vulcano. Junto delia , ha coufa de feííenta annos, fe abrio
outra cova menor com três olhos do mefmo polme , cor ,& fervura. E
logo em huma gruta da parte do Oriente fe vè hú grande olho de agua,
que ferve,& fobe ao ar hú covado, com fer da groílura de hum quarto de
toneli & aquife ajuntáo as aguas das furnas antecedentes, & formão húa
ribeyra quente,que para o Sulfe vay juntar com outra quente , &: ou-
tra fria, & encontrando-fe mais com outras ribeyras frias, vaó todas, jun-
tas em huma , fahir ao mar do Sul, com realidade , & nome ainda de Ri-r
beyra quente, & cada vez mais quente.
55 Entre as ditas furnas , & a dita gruta eftá hum óuteyro de
3oenxefre,&fedr4 terra, que fe pôde chamar de furtacores , porque todas, & rauyto vivas,
hftms, i^Hcfe tira de- as reprefenta em divcrfas partes & fe diz fer todo de enxofre miftura^
;

fie tra£lo infernai. do com branda, Sc molle pedra branca> &: dalli huns levão muy to enxo-
fre,& fe fervem delle aflim como o achão j outros o apuráo fervendo-o

ao fogo , ôc deytandq-o derretido em feus canudos de cana , com que fi-


ca tam perfeyto, &fermofo como ornais fino que de fora vem ;& por
mais que fe tire da terrena fupcrficie daquelle outeyro quente , logo no
wtefmo lugar fe torna a achar exhalada da terra , & vaporada. Junto da
fobredita ribeyra quente 5 da banda do Sul para a parte do Poente , eftà
huma pequena caldeyra, & fervendo de tal forte , que paíTando pdr ella
huma fempre corrente ribeyra fria, fica fem pre ainda fer vendo, tant &
quente como de antes i daqui fe tira muy ta pedra hume , & de bora
&
rendinicnto. Das fobreditas furnas para Lefte, com inclinação para o
Sul , eftà furna fervendo polme cinzento , &
aqui chamão o Tambor,
porque propriamente o arremeda em feu eftrondo ^ como outras que
parecem difparar artelharia arcabuzaria outras & outras tocáo trom-
, ,

betas i tal he em bayxo a batalha de hús com outros metaes , & elemen-
tos oppoftos.
56 Hum de arcabuz das furnas para o Occidente eftà á
tiro
terra aberta em varias bocas , & ao redor algumas covas , donde fahemt
Dosfuntõl , &
fedo- tantos fumos, & de tacs fedores, que brutos que alli cheguem , & fe de-
tenhaô , aves que por cima pouzem em alguma arvore , em breve efpa*
rei que aqui faham,
líoctvos maií a aves^
çocahem ,& morrem & fo os caens, fe lhes cortaó as orelhas por ellas
A,r!

& Animc.es., do que a ;

pelos narizes receberão & deíla qualidade ha al-


,

homens & de hama lanção a peçonha, que


;
:

Ermida que adiante gus pequenos campos pela ribeyra quente abayxo & a tudo ifto cha- ,

efia é" íigua Medi- mão os fumos, & fedores


,
porém tem-fe obfervado que peíToa huma-
j ,

cinal como de excel-


na não recebe mal algum de taes fedores , fc em nenhum
dcftes fe de-

tém mais de huma hora ; & fe por mais fe detém , daó-lhe vómitos , def-
lentes calda*para to-
da a domça^tomande
a/li hanhos.
mayos , & accidentesj &
tirando-a logo para fora , torna em fi , &: pára
tudo. Pouco efpaço adiante fahe no bayxo da rocha chamada ( Pè de
Porco}
Cap.VIII. Continuaõ^fe as inGompiÊlienfiveís Furnas. í4§>

Porco) huma grande ribcyra de tão clara, fádia , & f refca agua , que di»
zem fer a melhor que ha em toda a Ilha , & comtudo vay íervendo pe-
los fundos mineraes fobre que corre , Sc aííim lhe chamão , Ribeyra que
ferve i mas nefta , hum pouco mais abayxo, fe mette outra agua queía-
be a ferro j & por iíTo quem quer a perfey ca agua daquella ribeyra , de-
ve-a tomar mais acima, junco à rocha donde fahe , & aonde eftà fcy-
ta a fabrica da pedra hume , que fez hum Joaó de Torres , Meftre
delia.

57 Da Ribeyra que ferve j


pouco eípa^o pára o Poente j cftà
jà huma Ermida de N. Senhora da Coníolação , & jà de muyta roma-
gem, feyta,ôc fabricada por hum nobre varão Balthezar de Brumda^*^T"!i ,..
bilveyra que depois loy para Caftella , & la morreo , & era tio do Ca- ^^ ^i
,
aueeõfer
pitaó mòr Manoel de Brum & Frias , da Ribeyra Grande > Padroeyro de agua deee vaz.a^ ,

de dous Conventos de Freyras de Ponte Delgada , nobiliílima peffoa, & enehe cemo mar,
de quem a feu tempo fallaremosj & perto defta Ermida nafce a Ribeyra ^p^rte delU fifeca
quente , & turva , a quem tempera logo outra muy fria , ficando a Er- "" "veraô^fà- da terra
alagoa
mida no meyo j & na ribeyracompofta de ambas , fe curão muy tas pef- ^'^^^''^ff^fi*
foas de varias enfermidades , & muyto mais de farna , tomando banhos
p^/'^j'*^^^^^'^^^P
allij & fó lhe faltaó officinas, &: edifícios
para poderem igualarfe às ce- ^^ terra aue efia en'
,

lebres Caldas da Rainha junto a Óbidos, &


vencerem as outras junto de tre as feheditaifftr*
Bouzella em Portugal. «at,

Eftá mais três tiros de bèíía da fobredita Ermida , tiua aía-


58
goa, cujo circuito chega a huma legoa, &
toda de agua doce , comtu- &
do por vezes fe vè vazar , &
encher como o mar , &
no verão feccarfc
parte da dita alagoa &
para a parte das furnas , por bayxo da rocha j 8c
:

cncumeàda grande j & por cima de hum terço eftâo ainda quatro , oii
cinco furnas fervendo , &
fumegando , como as fobreditas. Dizem que
de toda a terra ao redor da alagoa , fe pôde fazer caparrofa , fe houver
Meftrequeafaybafazer ,comojàfefez de alguma terra da que eftácn»
tre as furnas. Finalmente dizem que efte fatal valle, Sc tam profundo, Sc
cfpecialmente a parte aonde ficarão tantas furnas j devia fcr de anteS al-
guma grande montanha , a quem a fúria do fogo , & mineraes fubterra-
neos, rebentando levantarão aos ares, &: parte foy dar no mar j aonde fe
íiibmergio, & parte formou outros dos que fe vem nefta Ilha. E confor-
inando-rae eu com eííe parecer fó accrefcento , que ha quafi cincoenta
,

annosj que tudo o que delias eftà dito j vi , obfervey í & apontey , como
cm a idade então mancebo, cUriofo, &; defejofo de faber, & já então com
noveannos de Religiofo , & Meftrejàde Rhetoricaj &confefl!bque
tudo o fobredito he pura verdade , de que fou teftimunha ocular , & tu-
do concorda com o que o douto, & fideliílimo Fru£tuofo diz. Mas de-*
ve-le muyto advertir que como o tempo tudo muda muytas coufas
, , ,

poderàó eftarjàhoje mudadas como eu jà então achey mudadas muy-


tas & com ifto vamos à legunda ,& frefcá parte defte fatal valle.
j

59 Da grande legoa que vimos , & que occupa o fatal vállCj -^"^'^ ^^ fokeâitÃ]
em que eftaó as referidas furnas , nem todo elle hc delias mas quafi me- à- infernai meja u-^
j

ya legoa, começando o dito valle do Norte delle para o Sul, Ôt n^3r,tan-^^^>.^J^'


^eflkparAá
to tem de hum paraifo quanto a outra mayor parte tem de medonho
,
^^ ]vor/ff oMtnê
J^^^^
inferno &asduasdiíRcilliraas defcidas que apontámos , ác ema pã-ffiey^iggea de und^
}

N iij ratai

WF^
. 4 A xii^A^
.

150 Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguel.


com razaó as defcrevemos a todo o fentido deliciofas, por-
ra tal valle,
(^tít ma tudo parea que ambas vem a dar em a primeyra quafi meya legoa,que fe pôde cha-
húparaif», & nos dà mar valle de Pareceme pois cfte valle todo , & tam profuii-
deleytes-
a entender y«í què Jo , hum muyto alto, & grande Galeaó , lançado de Norte ao Sul , que
,

^mK.er nefta vida


^^^ ^^^^ ^jj.^ p^p^ para a terra em o Norte, de Íngreme rocha altiílima,
^deiu arHícJrJair
^ ^^'^^ íguaes coftados defemelliantes rochedos , defce algum tanto ao
darem o inferno ^^ convez dilatado pelo Oriente ,& Poente 3 atè ir dar com aproa em o
omra tjuem defiefe Sul, & vafto mar j mas com tal dcíTemelhança , que nem maftros nem
; ,

livrarem efte mun- ji fobrado algum tem dehumaoutrocoftado , porque comofe Ihepe-
do,e»trara no Parat-
gQu q fogo no payol dâ polvora que tinha deíde o cõnvez para a proa,
fo CeUfttal.
y Q^^j j.^^^ ^ ^i^Q interior, ficando íó a forte, comprida , & groíTa quilha
com as fuás fortiííimas paredes dos coftados : porém como o incêndio
defte fatal Galeaô fe levantou da polvora , & mineraes que 'eftavaõ no
payol debayxo da fua proa , & convez , por iíTo aqui ficou ainda a hor-
renda fonte do fogo com tantos regatos delle , quantas furnas vimos já^
& o lugar onde a cafa do leme Sc a Camera Real, & o Caftello de popa
,

tmhaó eftado , ficou tanto fera fogo finalmente , que com o tempo fc
fez hum parailo, ( como agora veremos ) mas paraifo da terra , & defte
mundo, donde fem jà fubida , mas com defcida fempre , fe vay facilli-
mamente áquellas furnas do inferno.
r.
f,
60 He pois efta primeyra parte de tam profundo valle, hehíía
> ^ ^^^^ P^^'* ^^
quadro com quafia mef-
reiaU^Sofo &dt*'^^^^^ ^^^^ ^^g^^ ^^
^^"''"^
,

ltÍ0joriode!nguad9''^'^^^^ZO3LáQàiÇL2.ná3L entre OS lados ,& perto de


duaslegoas em rodaj
cí, tantoi fontes , dr cõrta efte quadro hum ameniflimo rio de frefquiílima
agua doce , fa- &
frejiffttffimoí regatos^ lucifcra , fóra oiitras tas fontes , &: regatos , que fazem o ar
muy fá- muy
& her- ^io, & de bella viração tem muy tas arvores frudifeias, muy tos prados
txntoí floris , -,

Áii
v^ nnnc^ & deley cofos, muyta variedade de hervas fem alguma fer nociva & tan-
vtft^, , ,

ZnfeZiZr» IZ ^^í & ^^^ diverfas flores


f que faÒ a continua recreação da vifta as aves
, :

inaudita, &
úõvana^&agrada- faó infiumeraveis, & muytas não conhecidas ,& outras de
vslmufica de novoí, grata mufica & animal nenhum que poíTa fazer mal fearas 8c hortas
} : ,

ç^inntimeraveiépaj- commummenteas naó tem, por naó ter quem as cultive, pois nem mo-
farosjem na terra ^on radores continuos, nem Freguezia alguma ha là em bayxo , pelas defci-
m ar haver vivente
& fubidas mais difficultofas & comtudo ainda algúa gen-
^^^ ^[^^^^[^ ^ ;

7e!rameZ'chaLL ^^ "«^.re tem là feus paftores ou quinteyros, &


alguma habitação, aon-,

f/ííMfío depoíTaóeftarquandolàvaó.
a/'^/-^;^. , ,, l 1 ,

61 O
principal que rende efta bella parte de tal valle , he mel^-
5c cera, de forte que atè os Padres da Companhia de JESUS tem alli
Tela ^#«^'^'/"^^,
&fMa defiepofto, ^^^^^^^^ ^.^5 ^^^^^^ ^ que câda annolhes dá hum quarto , ou meya pipa
Zlr% InZ, de mel , & algús annos pipa inteyra , 6c mais dena pipa & a^^cera corref- ,

éportjjoncm hortas, pondente j & aíTim cera , como o mel , excede perfeyçao ao de qual-
nem Uvmrat ,&Jó quer outra parte , por também as hervas , as flores 6c as aguas excede- ,

no v;raõ fe hia la ,
muyto a todas as defta IHiaj 6c fó á tabrica defte mel, 6c cera, he que
a ^^^^n
colher n^uyto rr.el, & ^^^ abayxo gente de trabalho ; 6c em arcas , 6c quartòlas , poftas febre
7nr4y,a cera de coL-
^randes,6c fortes tabocs,que por corclas vão arraftandohomes adiante,
ZZrç.prepZZ he que tudo o do rochedo do Oriente , pelo cami-
fobredito fobe acima
vai,& o florido ter- nlio que acima defcrevemos que fe houvera bom cammho •,
de íahir de
renLf4hní^va:;,& tal proíunáidâáe a tam elevada altura, cultivarfehia o fertiliílimoval-
tutra vex. o hi^ó cre. j^. ^ ç^,^^^ frutos, 6c atè as excellentes , 6c preciofas madeyras que ha nel-
Cap. IX. Das Furnas, Fogos,& Tremores áeíla Ilha. if i

k, fc aprovey tariaõj & concorreriaó niorado'resj&: feria habitação ratiy-


&
ià tem os Padres não fò caía fuííiciente , mas Ermida/'*^
_tmndo «m
to appetecida > .

para le dizer Miffa naquelles dias, em que là vaõ, &


mandão fabricar,ôc ^,^{1*
^l^'^'^'
recolher o fobredito. -
^^'"'^'' ^xcellfnúffi*.
-r n.
62 Veja-fe agora lájfc com razão chamamos Paraifo a eftapri-^j,_ Moídiíemme
meyra parte deite valle , & Inferno à fegunda & quam facilmente , do ^pteja hoje mora tã^
-,

que efte mundo chama Paraifoj fc vay fem fubida, mas cora defcida fem- ta gente là , <i»t lhe

pre ao Inferno } quanto he diíEcultofo dos mais altos póftos defte dtvemfor [m
& mvá
/^g'*'^*'*'.
mundo chegar ao Paraifo , ainda da terra, quanto mais ao do Ceo. Con-
fidere-fe bem efte confiado de Inferno, & Paraifoj efta recopilaçaó dos
quatro Noviílimos do homem , juntos todos ) pois fó meditando nefta
vida os três primeyros de Morte,Juizo,& Inferno, chegaremos ao quar-
to do Cclefte Paraifo. E aílim apontada taó grande meditação , vamos ,

continuando a Hiftoria.
'
'

C A P I T U L O ÍX.

De outras Fiimm , Fogos , & Tremores dcfla Ilha ,


è"
em ejpecial deVilla Franca.

63 Ti y^ Eyalegoa além da grande Villà de RibcyrâGi-andcj&r


i.Vxniuy to antes de fe chegar às Furnas acima relatadas , eftá
huma pequena concavidade defó íeis alqueyres de terra-j ou de femea-
dura, ( que nas Ilhas he o mcfnío } donde já fe tirou muyta pedra hume,
& eftá cercada de humas quebradas , ou rochas mais pequenas , & mais ^^ ^^^ peauetiM^
facilmente permeáveis pela parte do Poente > &
porque tem também ^g„„itmero menoí
dentro algumas caldeyras , &
furnas de fogo, mas muyto menos cm nn-furnoi , ^ eflah meya
mero das outras já defcriptas, por iíío Fruduofo Uv.^. cap. 50.3 eftas de Ugoa de Ribeya
que tratamosjchama as Furnas pequenasj& às outras as Furnas grandcsi Grande,
lenaó quizermos chamarlhes a eftas o Purgatório , & ás outras o Infer-
no. A eftas vi eu também , ha quaíi cincoenta annos , & parece que algu
tanto já mudadas do que feriaó de anteSj do que vi pois 3 & apontey, Sc
do que lij digo o feguintc.
64 Entrando pois neftas furnas pela parte do Poente » cftà lo-
go humaalagoa, ou furna mayor que todas as acima referidas , mas de
cinzento polme & que fempre eftá fervendo & logo para a parte do
, :

Oriente , dez ou doze palmos , corre hum grande ribeyro de agua cla-
ra, &- fria i mas que correndo ferve, & fervendo corre feguem-fe algúas :

caldeyras , que tem de largo quinze , & vinte palmos cada huma , & de
comprido trinta: mais para o Oriente fc eftaó vendo quatro olheyros
pequenos , dos quaes faõ três de agua clara, 6c hum de agua cinzenta,&:
medonha; & em pouca diftancia outros de agua clara doce , & fria , ôc ,

por todo efte efpaço fahem outros muytos olhos de furiofo fumD,quen^
tura, & cheyro tam mào, que fe por cima pafl*aó algumas aves , cahem a-
bayxo, & morrem. Efta terra toda hc de pedra hume , como cal cinzen-
ta , o cheyro he de enxofre & logo abayxo da fuperfície de pedra hii-
,

ffip, hs tudo pedreyra dura^ & mais âcima na fralda jà da ferra^ eftaó ou-
'

,
trás

^^
IJi Liyro V. Da fatal Ilha de S. Miguel,

trás caldeyrasperpetua, & medonhamente fumegando^ Ba grande,


,

chamada bete Cidades s de que aqui torna a fallar Fruâuofo j jà falía-


mos, & nem nellas jà fe vèfogo algum a nem íinaes delle.
65 O
fatal tremor de terra que fubverteo Villa Franca , conta

jytítfltfliaa 4z/»/Ôí Fruducfo cap 69.70.


Uv.4,. &
-Ji. afubftancia pois he. Sendo Ruí

dãfdtalfni>verfa'éde Gonçalves da Camera, o quinto Donatário da Ilha de Saõ Miguel , &


FiríUFrmea. correndo o anno de 1522. em o mez de Outubro tinha vindo à dita
líha , por outra fecreta caufa , Frey AíFonfo de Toledo , irraaó do Ar-
cebifpo da tal Cidade , & parente bem chegado do Duque de Alva , 6c
Religiofo da Sagrada Ordem deSaó Domingos , & fazendo officio de
Pregador Apoftolico , exhortava à penitencia de peccados , affirman-
do que por elles eftava para vir àquella Ilha hum grande caftigo , &: in-
do de Ponta Delgada aonde prcgavaja pregar o mefmo em Villa Fran-
ca , chegado o dia 21. do dito mez, foy jà tarde à porta do Ouvidor
Ecclcfiaftico , dizendo querer fallarlhe j & mandando-lhe dizer o Ou-
vidor que ao outro dia lhe fallaria , refpondeo o Frey Aííbnfo , que po-
'i 1 deria fer que ao outfo dia jà ellc Ouvidor naó poderia fallarlhe j & reti-
rou-fe da Villa o dito Pregador j & jà alguns dias antes pelas ruas anda-
vaó os meninos pronofticando o caftigo , Sc claramente no diâ vefpera
delle diziaó os taes innocentes jl manha havemos morrer todos ,
: &eji<$

yillafehade alagar. E os mayores naó crendo ainda , diziaõ barbara-


mente Dizem que nos havemos de alagar ejla noyte , fois ceemos bem t
: &
morreremosfartos. Alguns porém com prudente , & Chriftão temor fe
retirarão da Villa , quando outros bemacafo vierão entaó de novo para
cila. O
Gapitaó Donatário, que na Villa eftavaj fe fahio para húa quin-
ta três legoas, & fó por ciúmes delle , o foy a mulher feguindo , & hum
filho ainda pequeno , chamado Manoel da Camera , por naó quererem
levallo, obrigado das faudadcs da máy , a foy feguindo a pè , atè que os
pays o mandarão tomar a cavallo por hum Efcudeyro que os acompa-
nhava.
6G Chegada pois a noyte dos 21. pára os 22. de Outubro de
1522. no quarto dia da lua , em huma quarta feyra j duas horas antes de
amanhecer , eftando o Ceo ainda eftrellado , &
fereniílimo o tempo,

Ba inmiAçaÔ de fem haver bafo de vento , que entaó era de Levante ^ 6c fem preceder
huma montanha que outro final da terra, ou do Ceo, eys que de repente dà hú tremor na ter-
C9m tremor de terra ra taó efpaiítolo, & impetuofo que a hii grande monte & rerra,que pela
,

eorreofohre toda Fih parte (Jq Norte eftava acima da Villâj fobre ella o lançou com taó hor-
la Frunca^á aftpfíU
j.g„ j^g penedos, tanta terra, & tanto lodo , que em elpaço de hii Credo
em.
ficou fubmergida a Villa, & nem altos edifícios, nem fumptuofos Tem-
plos , nem donde tinhaó eftado , fe vio jà pela manhã , & pelos poucos
quefe tinhâo retirado, & efcapado. Ao primeyro terremoto que ifto
fez , ou desfez , fe ícguio logo outro pelo dito efpaço ainda que mais-
,

moderado , & a horas de Tferça outro muy to efpantofo, 6c o quarto ter-


remoto ao meyo dia, 8c à vefpera o quinto.
67 Da ribeyra para a parte do Oriente, onde tinha eftado si
nobre Villa, tudo com ella jazia alta, &c profundamente enterrado, &f
razo por cima tudo para a parte do Poente tinha a Villa hum pequeno
:

arrabalde com algumas cafas , a que o terreno diluvio não chegou , por
CapJX.Dàsmaríi^{U}iis,\âftasric^|êfrçi^ ij'^

feteraelle recolhido o feu Noè Frey AíFonfode Toledo, que nefta


occafiaó , como de antes , andava pregando , & clamando , Penitencia,
Penitencia , a fetenta peíToas , que com elle efcapàraõ , & andavâo era
pranto desfey to , & desfey tas.O primeyro edificio que ficou totalmen-
te enterrado, foy ©Convento de baó Francifco ? por ficar mais perto
da ferra que eorreo , & delle fó três Frades efcapàraõ , que , fem fabe-
rem como , a terra impetuofa os levou, & foy pòr fal vos em huma parte
abayxo da Villa , aonde agora eftá o Convento das Freyras como tam-
-,

bém huma Negra fobre a terra foy levada ao mar, & lançada em hum ba- ^ y^^^^
w
--
j|^
tél, que là andava defamarrado, &de dia, & de terra foy vifto coma^ffi^fn^fjaçaâ.
Negra dentro , & bufcado, & trazido para terra. Também efcapàraõ os
prezes da cadea, por fe lhes abrirem as portas com o primeyro tremor,
èc eftarem ac ordados & atè ao mefmo mar queria enterrar o diluvio da
:

terra ; mas ao longo delle lhe efcapàraõ duas cafas , humas de hu Ruí --

Vaz^dedous fortes fobrados } outras de hum Joaõ de Outey.ro , ho-


mem dos mais ricos deftaIlha,ôcfogrodeD. GilianesdaCofta. O lu-
gar do monte, ou ferra que eorreo fobre a Villa j de que diftava hum
quarto de legoa , ficou todo feyto polme de fahão , & pedra pomes, & o
mayor penedo com innumeraveis outros , comofuriofas balas , paíTáraò
arrazando tudo,& fó paràraõ no mar , fem fazer damno algum a quatro»>
ou cinco navios, que no porto eftavaõ, & a gente em terra.
68 Ahúa inundação de terra, que vio vir correndo, húamu^
Iher, fugia efta , & naõ podendo jà efcaparlhe , fe pegou a huma taboa,
& aílim taboa , como mulher levou a inundação da terra ao mar , Sc dcfj
te veyo dar à cofta em hum calhao , 6c delle depois tirada fe falvou a tal
mulher. Da cama em que eflavaó dous calados, Negro , ôc Negra, fe le-*
vantou o Negro fugindo ao diluvio , & foy colhido, Sc morto ; 6c a Ne-
gra, fem acordar, na cama foy levada pelos ares, 6c pofta à borda do marj
acordou entaó, & fentindo agua, èí lodo, cuydou logo que chovia , mas
vendo mais o que era , 6c aonde eftava , arraftando-fe por cima do lodq
para a terra dura íe falvou. Outra Negra , querendo efcapar, fe pegou a
huma figucyra , porém efta com a Negra, foy , arrebatado tudo , dar no
mar, 6c indo gente de terra a bufcalla , entaó fó largou a figueyra j 6c ein
terra contou que no mar vira a feu próprio fenhor, èc a dous Frades, an-
darem envoltos em lodo, ludando com mar, &c terra. Hum Gomes Fer-
nandes , homem nobre , oyto dias antes defte fatal terremoto fe tinha
embarcado do porto da dita Villa Franca para a Ilha da Madeyra, 6c no
mefmo tempo , em que fuccedeo efte terremoto na Ilha de Saó Miguel,
fentiraó os navegantes tremer o mar , 6c o navio em que hiaó } 6c repa-
rando no tempo, fem poderem julgar que folTeaquillo; em chegando
à Madeyra , ouvirão dizer que era perdida a Ilha de Saõ Miguelj Sc rin-
do-fe elles de tal dito , chegou a noticia do fucceíTo em poucos dias , êc
entenderão que a má nova naõ fomente he quafi fempre certa , mas de
algum modo he adivinhada fem pre. .,,..:.>/;
.
.
'J.ju
69 Acabado em Villa Franca o lamentável terremoto 5^ di-»
luvio, acudio a gente que eftava em montes, 6c quintas , 6c o Capitam
Donatário, (que avifado do fucceíTo veyo logo } 6c todos chegando à
yifta do pofto onde a Villa eftivera , nem final delia já viaó , & menos?
cada
ij4 Livro V. Da fatal Ilhade S.Miguel,
Sc tanto que de
cada hum de Tuas próprias cafas, famílias , 8c riquezas i ,

Frey Affonfo de
pafmados , & attonitos , tornarão em fi , a brados de
Santa Ca-
Toledo 5 hunstomàraó logo por Parochia fua a Ermida de
tharina,que no arrabalde -efcapàra $ outros logo começarão
a edificar

huma Ermida à Senhora do Rolàrio , mais com perpetuas correntes de


lagrimas de feus olhos, que com outra alguma agua , & a
efta Ermida a-

veraõ por Parochia fua alguns dias & os mais com o


j
Capitaõ, antes de
por cima
hl procurarem defenterrar cada hum fuás enterradas cafas , foraó
de tudo ao pofto çorrefpondence à fubterrada Matriz
do Archanjo Saó
Miguel, & defcubrmdo-a em fim , ôc achando-a derrubada
com alguma
acháraó ainda cerrado,
sente dentro morta, & acudindo ao Sacrário, o
o cofre também , mas a fechadura defte aberta , &
delia húa pequena
&
lafquinha fora, & no cofre nenhúa forma. , ., ^ ...
Sentidiífimos todos ajuizarão que Anjos do Ceo tinhao
70 ,

tirado ao SantiíTimo , & levado para o outro Sacrário mais vizinho, que
li^e eant» fetiA$ nchott
era o de Agua de Páo & efte juízo confirmaó
:
com o dito de hum Fer-
» Sifíttijfimo Sacra-
, & outras peíToas
do mtado arrabalde , que
tninto no S(tcrario-y& não Vanhegas Caftelhano
Matriz huma grande cla-
pfinices^xe niffoha. affirmàraÓ terem viftolevantarfe do lugar da
que logo também ajuizarão, fer aquella claridade
huma
pro-
ridade, 6c
ciffaÓ de Anjos, que levavaÓ o SantiíTimo
para algum outro Sacrário j &
viuva dejoaõ Pires, ou-
accrefcentaó, que huma Conftança Vicente ,
rira no mefmo tempo prociííaó tal ,
que lhe pareceo levarem o Senhor
ôcc.Eeftes ditos refere Frudiiofo,
a algum enfermo com campainha ,
Igreja era grande , & no-
íbm dizer mais fobre elles. Porém como a dita
va, por iíTo os mais vizinhos que
podèraó, fe recolherão a ellaj pode íec
Sacerdote ) vendo come-
que akum bom ChriftaÓ ( foífe, ou naó foíTe
ao Sacrário , Sc rompendo com a
çar a iSreja a voar, & a cahir , acodiííe
prcíTa o cofre , de que quebrou à lafca ,commungaffe o Sacramento em
osraaisrpois os Anjos nao era
tal cafo,& finalmente ahimorreíTe como
tirarem delle ao Santiflimo , nem
neceííario quebrar lafca do cofre para
ftiáis difficil lhes era levar o
Sacramento a mais diftante lugar , que ao
mais vizinho ,& menos á Igreja de
Agua de Pào, que também cahio
fao confideraçoes
com o mefmo terremotoyôc os ditos daqucllas peíToas
pias, fehe que eftavaõencaó acordadas,
& em vigia. _

Logo começou a cava por muytocm cima das


calas da-
71
Cíiella grande Villa , & nas nobres cafas
do CapitaÓ Donatário nenhua
nellas vários filhos , huma irma,
'

peíToa viva fe achou , tendolhe ficado


outras caías fe achou gente
& muyta outra familia , porém em algumas
Agoftinho Imperial, fo-
alguma ainda viva. Nas cafas de hum Genovez
J)6 defenttrrAr dos lala ambos
t»terríKÍo:,& Inven- rãoachados,elle,&fuamulher Aldonfajacome,emhuma
fuás cameras a mais gente de
cafa morta toda. Hum
tos prodrgiofos qttefe vivos, & em outras ,

dfjctibrirítõ. moço , chamado Adam , acháraÓ debayxo de huma


cafa , & viveo amda
Mifencordia^como também fe
muytos annos,& fervindo fempre à
achou ainda vivo hu JoaÓ Cordeyro, ^
depois
S.SebaftiaÓ de PontaDelgada.E
W
jn;iy cos annos Bene-
dous dias depois do
fídado na Igreja de
tal diluvio ; indo hum filho pelo
alto,em cujo fundo ficava a cafa de feu
ouvio o pay, & efte clamou tan-
pav, por efte clamou tão altamente,que
6c viveo ainda muytos annos. E
to pelo filho , que cavando-fe o tiràráo,
Cap.íX^Dâsmaravilh.viílas no terrem.de Villa Franca. lyj

fem fer neceíTario cavar, foy achada huma menina de três annos emci*
rna de hum monte de lodo , fentada fobre húas tâboas 3 & brincando coiH'
jjaihinhas.
72 Nove dias jà depois defta fatal fubvcrfaóà indo huma pro-
ciííaó por cima donde eftivera a fubvertida Villa , ouviraõ-fe hús gritos^
& clamores do fundo da terra, & cavando-fe alli logo a toda a preíía, de-^
faó j jà depois de grande cava, com o fobradode huma logea , &
abrin»
do-o fahiraó três homés , naturaes de Guimarães , Marcos loires , &c Nki
çoiao Pires , irmãos , &
hum que de antes erajà morador alli j vinhãojá
quafi myrrhados , fem figura de homês, & póílos de joelhos , & pafma--
dos 3 com as mãos levantadas ao Geo não ceíTaváo de dar graças a DeoS}^
& olhando para o Gapitáo Donatário , a quem por vezes chamavão, Se^
nhor^Senhor iWits diíTe o Gapitão;iV^^ me ihameúfenhorif Senhorfó Deos
úhe. Perguntados logo , como tanto ainda viverão debayxo da terra , 6c
que peníamentos tinhão , refpondèraó, que humas vezes cuydavaó que
o mundo fé acabara ; outras que aquillo fora defaftre , que fo fobre elles
viera ; & que em fim de pafmados não fabiâo que cuydaflem ; ôc que nos
nove dias comiaô fó de hum pouco de bifcouto , que acafo tinhão là , 6c
bebiáo de hum vinhoj que eftava tornado jà vinagre j 6c para matar a fe-
de fe valiao de algumas gottas de agua,que cahiaó da terra fuperior que
os fubterràra } mas que o feu mayor tormento fora hum homem , que ao
terceyro dia , de pafmado lhes morreo, 6c de féis dias morto o tinhaó en-
tre fi;

.
fi Ouvindo iftonotàraõ os pfefentesi 6c repararão que huni
deftes homens trazia hum faquinho ainda comfigo, 6c nellc trinta mil
reis ; 6c que todos três diziaó que nunca mais tornariaõ a tal terra, 6c af- ^.

fim logo fe embarcarão para Portugal } mas ào depois fc reparou , que ^ff^y^"^ ^'* <**»%<««>
*'*^'*''*^'"'''''* ''''*""
em o anno feguinte foraô eftes os primeyros que de Portugal voltarão
aquella meíma ilha, Sc ao melmo porto. A que nao obrigara a ambição! mentes.
E a quantos nem abre os olhos feu caftigo Huma Felippa Gonçalves
!

foy tirada de debayxo de húa cala , viva ainda , porém tão pafinada> &c
attonita, que fallando de antes, & bem, vivendo depois cincoenta an-
nos j nunca mais falloiij 6c tendo ainda perfeyto ojuizo, refpondiaa
propofito eftas palavras fomente , Sim, Nao , fem poder pronunciar ou-
tra palavra. .

74 Sobre o lugar onde a Villa eftivera , durou a cava hum an-


no, fem terera comido, para a-
8c a ellalevavãocãesde caça, 6c fila,
pontarerh aonde lhe áé{^Q o faro de alguma carne humana , para alli ca-
varem os homês , èc chriftãmente enterrarem os mortos ; Sc feyto afíinii
âchàraó muytos mortos , quando jà fahiaó pelas portas , a muy tos mais
nas fuás camas, &c a outros indo jà para a fua Matriz de S. Miguel o An<.
jo, èc nefta a miiytos oucros^ Òc homem houve a quem acíiàrão em o me-
yoda portada da ília poftojàa cavallo com huma lança na mão^
cafa, 6c
& efporas em os pès, fem poder matar a morte , qUe primeyro o matou
ãírini a elle, conférvando-lhe a poílura a inundação de terra que o cer-
cou. E foy muy ta a gente qiíe fe achou cm vãos ainda livres de fuás ca-
fas, mas mortos de pafmo, 6c à fome , 6c algús ainda expirando. Os mor-

tos fe enterravão piamente no deftrifto onde de antes eftivera a Matriz


't5é Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguel.
da & feus adros, & como a Villa Franca tinha vindo entaõ muy-í^
Villa,
ta gente de fórá com navios, & muyta da meíma íiha & ainda na mef- ,

ma
noy te, a negociar, finalmente fe achou que a gente que faltava ,paf-
.

'Maií de cinco
««^faya de cinco mil peflbas , mavores,
pellooi morrerão nejte f ^
&
menores j &;muy tas mais feriaó,
- ^- rr r i j iu j r
*^ muytas nao tiveílem íahido as
^
coiheytas ae mas qiuntas , o a nego*; &
àíímio
-

terreng
t
cios de outros lugares da Ilha j &:tambem fenaómenos os qu&perigati;
fem, fe o tremor, & diluvio aconteceffe de dia , ôc nào pouco depois d^
meya noyte.
M '' que também de riquezas íe perdeo , foy muyto , de que
'75 ' ; - C)
algumas fe achàraó ainda à borda do mar , & muytas na fatal cava ; mas,
por mais que fe elegeo depoíitario do dmheyro que fe achava , ainda
rauytos que de antes erão pobres , fahirão daqui ricosj outros com muy-íj
tas propriedades que herdarão j mas dos mais foy a perda muy geral, ÔC
muyto grande. Porém a mayor que faltou na Viila , foy huma imagem
da Virgem Senhora noíTa, de vulto, que parecia de cinco annos , & mdú»
,

fobre o diluvio de terra ao mar , & paíTado quaíi hum anno , appareceo
em huma praya de arèa branca , da Ilha de Tenarife , ( huma das Cana-|
rias ) da parte do Sul , &: achando-a hims pefcadores , que do Norte d»
^^^^ ^^ ^^ tinhão vindo alli pefcar,&: levando-a comfigo para o feu Nor-
ÍÉ'h^ 1 a da
'Mãy ^àe Deoffey ao ^e a Guaracliico ,
onde hiáo vender o peyxe , & dahi querendo ir a O-
mar, & miUgrofa- rotiva, Freguezia dos ditos pefcadores & nella coUocar afua achada ,

mente appareceo em Imagem , nunca ( por mais que remavaó} podèraó fahir com a Imagens
sHtra mtti áifimte ^Ja Freguezia de Guarachico & dando conta de tudo ao Parodio , & ao
;

&-*t povo , lhes entregarão a imagem , que com folemne prociíTaõ íoy pofta
no altar mòr da Freguezia, & Igreja de Santa Anna ; & fuccedendo de-^'
pois ir là gente da dita Villa Franca , por finaes certos, que tinhão , co-
nhecerão a Imagem , publicarão mais o cafo , & fe augmentou muyto a
devoção defta Senhora.
76 E porque a primeyracoufa que fe fez , logo em entrando 6
, . dia depois da tremenda noyte do terremoto , & diluvio foy a nova Er- ,

y
^rj
,

©^ ^rmti^ (^ voto
,
g^^^^^ ^^ ^ç^hxio , ( como j.à diífemos ) todos fize-
feytoaSenhoradoRo'
íario,& como di novo ^'âo
^'^voij ^j
então voto a Senhora, de em todas as quartas leyras de noyte,
fe reedífícofi c»0ír^ OU de
madrugada , irem àquella Senhora em prociíTaó, & acção de gra<-
jTiUaFrmca.qveíi- ças j p qiie prudentemente fe commutou em irem huma vez todos os
ceo muyio ^^rí'»^/- annos com prociíTaó folemne ,& MiíTa. O que tudo fabendoElRey de
ra^&foy maisfrivi- poj-tugal , concedeo logo tantos privilégios, favores , & exem pçôes aos
iegiada pelos Rep de
^^^^^^^^^ ^^^^ ^^^^.^^ ^^ ^:^^^ yi^^ Franca & a tornaíTem a reedificar ,
Portugal,
fem fe irem a outras terras , & ainda aos que de novo foíTem viver nel-
la, que dentro de poucos annos, & no hígar do arrabalde que cfcapoii,

da outra banda da ribeyra para o Poente fe levantou a mefma & tanto -, ,

outra Villa Franca, que a excedeo & excede nos edificios, commercio,
,

povo, riqueza, & nobreza, que concorreo para ella, com que efta fecun-
da Villa Franca vence muyto à primeyra &: logra privilégios, & foros ,

muyto mayores, & mayor religião ainda, & piedade.

CAP.

ip*
Cap.X. Do mais aonde chegou o terremoto defta Ilha? 157

G A P I T U L O X.

Das outras partes a que chegou o terremoto deVilla


Franca,

77 TT ^"^^ ^^?P^ de Villa Franca pára o Nafcente


hum grande montaó de
levantou
taõ furiofo que levou dian?
terra
fe

J]^ ,

te quanto achava , atè de gados , & cafaes inteyros , & duas mulheres
levou ao mar j & matou trmta peflbas. Mais adiante onde chamaóo
Loural , fe levantou outra terra , ôc levou hum cafal com a gente delle*
M a Ribeyra Chã , entre Villa Franca , & Agua de Pào , cahio hum ca-
fal, 6c morrerão quatro peflbas. Na Villa de Agua de Pào cahio a Igre-

ja 3 muytas cafas , & morrerão quatorzc peflbas o mefmo fuccedeo em


:

Ponta Delgada, (que ainda entaó era Villa) & o mefmo na d'Alagoa. j^^ txíeKffio Aa íjí
Pentro em Ribeyra Grande nada houve , mas por fora cahiraó algumas 4uuvio a outras par^
cafas. Em a Villa de Nordefte cahiraó , a Igreja Matriz de Sáó Jorge, & tes d* Jlha.
muytas cafas, ainda cafas de campo , & de Aldeãs, & da parte do Sul , 6c
do Nordefte, correo jnuyta terra, ôc com tal fúria, que pareciaô balas de
bombardas.
78 No termo
dos Fenaes da Maya , 6c no da mefma May a,
correrão as coroas de quatro montes , ou picos , com altura de húa lan- j^^ .^^ fucceàid nd
ça de terra , 8c com tal ímpeto , que não fó muytas terras atè o mar , mas ji^aya deperdat de
,

levàraó curraes inteyros de gados,Sc os moinhos da Maya,ôc algúas cafas campos ^timdtjimi&i
com quarenta peflbas , 6c as i^ochas que eftavaó juntas ao mar , quebrà"^*w*.
raó} 6c não fó os picos ficáraó tam fatalmente tofquiados , 6c ( como fc
diz } defcalvados , mas os campos por onde hia atofquiada , & furiofa
terra , ficàraó fem mato algum , tendo-o de antes , 6c fem madeyra da
muyta que de antes tinhão , 8c por muyto tempo infrudiferos , poflo
que o tornarão jà a ferj èc comtudo , por mais fundo que fe lavre a terra,
a madeyra que de antes eftavadebayxo, ainda não apparece. Na mefma
Maya ficou debayxo da terra , em hum vão , huma mãy com hum feu
filho Frade, 6c jà de Mifla 3 efte a confeflbu , 6c animou a fofrer com pa-
ciência o cafl:igo da maó de Deos, 6c dahi a cinco dias foraô achados am-
bos,^ tirados vivos 6c viverão ainda muy tos annos.
,

79 Em algumas partes como nas defcriptas Furnas arreben-


, ,

tou a terra ^ de tal profundidade que fobre levou todas as arvores,


, , fi

fendo muytas as que tinha , 8c as foy collocar muyto longe j nellas fe


vio ir diante huma Faya, como General daquelle exercito à&^x^Q.^ettfrás^M forasi
-«^ w^^^ ^í' ''<^«"*-
res, que pelo ar fe via, 6c vendo-fe depois o lugar onde pouzáraõ,aGhou-
c 2 ^ c j ^ /i - j . 1?
le eltarem as arvores na meima ordem , em que eltavao de antes, h, co-
rao . cem as arvorei
^^ v^^ ^^ ^^^^ ^^
mo nenhuma terra fahio do centro delia , pois nenhum final , ou bura- ^„j^^ efiavaõ.
CO aberto deyxou diflb mas fó fe facudio aquella côdea de terra ^ (mais,
;

ou menos alta } que fobre as fundamentaes pedreyras dos valles , 8c


montes aíTentava ; daqui fe infere que os ditos terremotos , não tanto
foraó de fogo fubterraneo , ( que naô appareceo em Villa Franca , nem
era outras muytas partes } mas foy a converfaõ , que tfú o mais bayxa
O "da
iti..^^t^fr^*íssrs^

LivmV. Da fatal Ilha de S.MígiieI.


dá terra fé fez da demafiada humidade em ar , & vento mais demafiadoj
que naó achando por onde fahir ao íeu- centro , que lie fobre a terra
, en*
taófuríofamente atirou com a que em cima lhe impedia a fahidai&
com
os calhàos mais foltos,&: amovíveis , &
entre a tal terra páílos ; ôc-por if-
fo impellio tudo , não tanto para o lugar fuperior acima
, ( que efte vi-

&
nhaó bufcar o ar , vento impeilentes quanto para os lados , ou ilhar-
)
gas, que lhe deyxaffem livre a furiofa íahida para onde affim
fahiaõ. So-
bre ifto fe pôde ver a Filofofia que imprimimos jà, nos Fifieos
naturaes,
na matéria de ventos, terremotos, &c. .
^

-r: 8o Cafo he mais ponderável, que eftando na fobredita Mayà


os filhos de hum Luís Fernandez da Coita, junto da ribeyra chamada
do Preto, & hum Alfayate com ciles 5 chamado o Rebello, em huma ca-
la terreyra debayxo de outra fobradada, & eftando
jà dormindo alta
noyte,cahio com o diluvio repentino a Torre lobre ofobrado, em o
qual citava hum daquellcs filhos , chamado Belchior da Coita, moço
de
^^^^Y^^ annos & eítando huma Imagem da Sacratiííima Virgern poi-
míredA Ma de ;

^^ ^"^ huma.parede , de-^repente fe achou fora da cama o mancebo pof-


sai iZroí ,

«s que com aScnhora ^^ ^'^ ^ ^"-^^ > ^ com a dita Imagem da Senhora em fuas mãos , & fó com
huma leve ferida na maçl do roíto j & os que eftaváo debayxo do fo-
brado , todos também eícapàraó fem ferida } & o Alfayate Rebello tan-
to medo, 8r pafmo concebeo, que fem comer nem beber , ficou fempre a
tremer por muytos dias , atè que aílim expirou. Oh que devota medi-
tação deite , & femelhantes cafos jà acima referidos podemos todos toí.'
mar, para nos valermos fempre do maternal patrocínio, com que a Mãy
de miíèricordia , a puriCima Senhora Mãy de Deos , ftmpre acode a
íeus devotos , &: fe põem nas mãos daqueíles , que fe entregaó nas fuas
mãos, & fedeytaó a feus fagrados pès.
i 81 &
Deyxo outros particulares, idênticos prodígios que ne-
'íta Ilha eníão^ acontecerão j &
muy to mais o dilatado Romance , que à
dita fatal Tragedia fe compoz logo então , &
em eítylo antigo , & íin*
gello , que começa Em
Villa Franca do Campo , Otie de nobre precedia,
:

NãllhadeSao Miguel, A quantas Villashama^ò^c- Ê com taes confo-


antes procede,& chega quafi a quatrocentos verfinhos, de que faz men-
ção o citado Agiologio Lufitano. E também deyxo as feitas de cavallo^
qoe paraaliviar a tam aíHigida gente , fez pouco depois em Villa Fran-
ca o Capitão Donatário, que em outro lugar viráõ melhor.

C A P I T U L O Xí.

Dapefte que fuccedeo aoTerremoto ér heendíos que ,

a ellefuccedevad.

Ncadeados andaó muytas vezes os males em eíta vida Sc ,

aíTim mal tinhão parado na ilha de S. Miguel os tremores


\^

de terra em o anno de 1522. quando no de 23. entrou logo nellaapef-


te: & ainda mais encadea a Divina Mãy de mifericordia os favores que

nos faz, porque tendo jà acudido ,&.tanto quanto vimos , aos terremo-
tos
li' ''II

Cap.XI.DàPeíleq{uCCe<léoâfiiI)fèrí.JeViIIàrfâfíCâ^ íjf

jcs paffados j torna agora a aciidir à imniinente peílej pois junto à Vil^
jade Nprdçfte andando hum paftorinho guardando o Teu gado , vio di»
ante de fi huma mulher veftida de branco , &
entre duaç cortiflas levan*
tada em o arj & adorando-a o paftorinho, por lhe parecer a Virgem N"Y '^"^^ ^j
.
^'"^"^
penhora , ella o chamou , & lhe mandou , voltaíTc à Villa , & diíTeíTe aos
lo»!"rAap^e^^%
que encpntraflfejque emafeguintequartafeyra alli vicírem,& ^zh^rhõ feguio Sdilulio
alli juntas fete Cruzes j & que no caminho encontraria huma bicha com Ftlla Frama,^ ' '
i
H boca aberta para elle, mas que ícm temor pafiaflcjporqueaquella era / '

a pefte , que vinha à Villa de Ponta Delgada } & que aos de Nordeftç _
" ;;'

Jhes diflefle , queallionde achaflem as Cruzes, lhe levantaflem hum» .s^^a- ii

Cafa com a invocação de Nofla Senhora do Pranto ; porque ella roga-^


ria a feu Filho irado pelo povo todo j k ao paftorinho accrefcentou que
lhe trouxeíTe hum cordão , cm que lhe faria huns nòs , para por elles lhe
jrczar o feu Rofario i & a mefma Senhora , voltando o paftorinho com ^ mífrua Senhora
o cordão , nelle com fuás mãos fantillimas fez os ditos nòs, & encomen-/'^** cem^s for tndt
fiou ao moço , que a toda a mais gente défle os taes nòs a beyjar. O
c€r-~ ^'
^^^'Vfaõrtz^r ftf^
"'^''* ""* ^"^^-^
tó he, que tudo aílim fe achou no determinado tempo , &c que a Ermida
fe fez logo com a dita invocação , & he de grande romagem , & nella
tem a Senhora obrado muy tos milagres j & que aíHm encadeou com os
benefícios , em o tempo dos tremores, os que quer fazer agora na occa^
íiap defta pefte. vr^ o v ;

ítk '
?3 No dito anno pois de 1523. a quatro de Julho, tendo vin^ ComâeomiçoH apèf^
ào da Ilha da Madey ra , havia perto de hum anno , a cayxa fechada dei f* «m FSta Delgada^
hum joaó AjfFonío , o Secco de alcunha , & chegando clle ao depois nos ^ «'«''<'« »fli'* oyto
ditos quatro de Julho, & abrindo a fua cayxa , deo de repente tal pefte ^"'"''.^ ^'*^'"* »"*f^
junto da Igreja de Saõ Pedro em Ponta Delgada, que durou na dita
Lfke^J!dlr£be'Í
Villa oyto annos, atè o mez de Mayo de 1 5 3 1 & conhecida logo, muy- *
.
y/ c^^nde aonde
ta gente defemparou a Villa porque ainda que ceflava algumas vezes, morrerão máiá dtmii
;

logo tornava a atearíe tara mortal contagio & dentro de três annos , no pef^as,
:

de 1526. indo outro Joaó AíFonfo, de alcunha o Cabreyro , de Ponta


Delgada à Ribeyra Grande, comíigo levou a pefte a eftoutra Villa,
cm huma manta que levava de Ponta Delgada porque o mefmo foy
;

deytarfe nella huma Negra , que deytar a morte fobrcíi; Sclogo cam-
bem morrerão dous filhos do dito Aftbnfo,& de vinte de Feverey ro atè
Março morrerão na dita Villa, & de pefte,cento & fetenta peífoasj & a&
outras defpejàraó a Villa, deftelháraõ as cafas , & a Villa fe tornou hum
Ervaçal, que fó com gados, que comeífem a her va,tornou a parecer que
tinha fido Villa, &c fe tornou a povoar , mas faltando-lhe jà mais de mil
peflbaslevadasda pefte, que em Ponta Delgada continuou ainda atè
155 1.& lhe levou paíTante de duas mil peííoas,fóra muy tos Mouros,
que de Africa , & do Algarve tinhão à Ilha trazido 05 naturaes delia ,&c
por a verem jà com menos gente , & elles Mouros ferem tantos , que ti-
phaó ordido treyção de le levantarem com a Ilha , & colhidos , foraõ^
quafi todos mortos para que aprendão os Chriftáos , nfia fe fervirem
:

de MouroS} pois nunca de infiel Mouro bom Chriftaô.


84 Dos antecedentes terremotos , & da referida pefte tirou a
Virgem Senhora Mãy de Deos tam grande fruto , & bem commum da
ti
ilha de Saó Miguel , qual foy o principio de Conventos de Freyras Re í

p i) ligiO"

^
$^9 Livro V^ Daíatal HRa de S. Migdfeí,

liguDfiílinaas porquê a hum nobre Cavalleyro Jorge dâ Mota , de Vilíâ


-,

Franca, que do diluvio tinha eícapado na fua quinta, delia em huma


ooyce lhe fugio huma filha jà mulher , com quatro irmãs mais peque-
naí, ôc caminhando de noytejnaó paráraófeaâo em huma Ermida da
Vai de Cabaflos , jum
Coma a mAyieÚtos Virgem Senhora da Conceyçaó , aonde chamão
to à Villa de Agua de Páo j & perfiftiraó tam conftantes cm largar o
àonventojie t-TtyrM^ mundo , & fazer penitencia , que nem odito feu pay , nem Juftiças Ec-^
que hoftve em S. Mi cleíiafticas , & fecularcs , nem omefmo Capitão Donatário as podèrãd
guel^como titulo de
perfaadir ao contrario j & ainda as pequenas , tornando com o pay, vol-
fuafemfre mmacu-
tarão logo a metterfe com a irmã na claufura em que fe tinhão recolhi-
do. Chama va-fe de antes a mais velha Petronilha daCofta, &logo fe
chamou Maria de JESUS, & huma fua virtuofa Companheyra Ifabel
AíFonfo ,quc tinha vindo das partes de Braga as quatro irmãs peque-
}

f?.,:,VA.->r ^s'í\^' nas fe dizilo Guimar da Cruz , Catharina de SaÓ Joaó , Maria de San-
ta Clara, & Anna de Saó Miguel > & eftas féis foraó as primeyras Frey-
rasj na vida de rigorofa penitenciajôc eftreytiífima pobreza, da primey*
ra Regra de S. Clara, em que então ficarão.
;
.jSf PaíTados dousmezes vieraõ de Villa Franca duasprinci-
,

paes, & ricas donzellas filhas de Joaó d' Arruda da Cofta, Sc fem elle o
,

íàber,femettèrão, 6c ficarão no Conv^ntinho de Noífa Senhora da


Conceyção , não obftanteter o pay cafado por cartas a huma das filhas
IM
com peífoa gravilTima, que cada dia efperava de Portugal , & nunca as
poderão apartar daquella Virgem Senhora da Conceyção & logo coi
-,

meçàrão a vir tantas outras paíaaquclla Cafa, que o Capitão Donatá-


rio fe fez feu Padroeyro , lhes tez cafas , &: officínas , & lhes confeguio
Bulia de Roma com todos os privilégios de verdadeyras RelígiofaS}&
aífim eftiveraõ alli quafi dez annos , atè que por cftarem junm ao mar,

tKi
& expoftas a CoíTarios Francezes, fe repartirão dalli,& parte foraó fun^
dar o Mofteyro de Santo André em Villa Francaj ôc a outra parte muy*
to depois, noanno de 1540. em 23. de Abril, fe mudou para Ponta Del-
gada ,& lhes fundou Convento D. Felippa Coutinho debjyxo da in-
vocação da Efperança , & Regra de Santa Clara j &
por Confundádo-
ras vierão também da Ilha Terceyra , da Villà de Saó Sebaftiaõ , duas
irmãs, Maria da Madre de Deos, &
Ifabel dos Arcanjos. Tanto fruto ti-
rou a Mây de Deos dos caftigos dados com terremotos, &
pefte.


. Compendiemos como também pudermos, a incompendiaveí
narração de outros terremotos, & incêndios defla llh3,q o Doutor Fru-
duoío vaftiífimamem:efaz em o mefmo liv. 4. cap. 82. atè ocap. 90. Em
oannó pois de 1565. a 25. de Junho, em huma feftafeyra,á huma hora
Dí outros fataes ter.
remotos & incêndios
depois da meya noy te começou de repente a tremer a terra em a mefma
que começarão em fobredita Villa Franca, & atè pela manhã, em
,

quatro horas , tremeo

Jíl
VtllA Franca em 9n mais de quarenta vezes, & continuarão os tremores todo o fábbado ,
• &
Ih de if63. Domingo atè vcfperas , & tam furiofa , & medonhamente , que tornan-
doía repetir os tremores às Ave Marias , huns defem pararão a Villa pa-
ra a Virgem Senhora da Piedade na Ponta da Garça , húa legoa da Vil-
Ja; outros fe foraó para o Ilhèo do mar , atè lançando-fe a nado outros
;

para a Cidade jà de Ponta Delgada j & outros fc embarcarão nos navios


que aiídavão levantados , & nem pays de filhos , nera njaridos de mu-
/ Iheres
Cap.XLDos incêndios que faccedèraõ à Peíle* í6t
Iheres lembravaó , valendo-fe, apartados , dos naviosa, que primeyro
Te

diegavaõ , dos qiiaes algús foraõ dar derrotados na Madeyra.


87 Osquedaiiha,& VillatinhaóidoparaaPontadaGarça,
do caminho fe voitáraò paraa Villa, por vir fobre elles do Ceo hiima ef-
pantoíâ nuvem , & já de conhecido fogo , & fuzilando rayos tam con-
tinuamence , que debayxo da tal nuvem paráraó os fieis , &c clamando
pela Virgem Sacraciflima com a fua Ladamha, ( cafo milagrofo ) em ^^jfg^J^^ SenhorJ
!

chegando a começar a Ladainha da Senhora, &: dizendo as palavras, f^^^^V^^^^"


*

SanBa Mana 3 Ora po nobu , fe levantou a nu vera de fogo , & fe foy pa-
ra o Norte , deytando de fi tantos j & tam efpantofos relâmpagos, que a
gente ficou cahida em terra & logo veyo outra nuvem altiflima , que
j

com lançar de fi tanta cinza quente ,&: delia formadas tantas pedras , &
tam grandes, que algumas pareciaó grandes bolas & hum diluvio mais
,

do Inferno , que do Ceo j comtudo ainda que efcaldou & ferio a muy-
,

ros, a ninguém , por beneficio da invocada Virgem , a ninguém matoUj,


nem ferio de forte que neceífitaífe de cura. PaíTadas as ditas nuvens , fc
feguiraó logo outras, mas huma de cinza tam quente,que nem nas mãos
fe podia tolerar } & outra de cinza, & polme tam frio que enregelou a
,

todos5& logo começou a chover terra como pimenta em feus grãos for-
mada } & todos affirmáraõ , huns verem entaõ a Virgem Sacratiflima Como a Virgem Sei
em o ar rogando pelos peccadores j outros verem a meia da Divina Ct2ínhora,& Chrjf. St-
como SantiíTimo Sacramento nella j & outros ao Efpirito Santo emB.-cramentado & ^fpt^
guradehuma refplandecente Pomba tantos advogados fempre diante ''""^^"^"^"^'''^'^"'^
:

do Tribunal do Eterno Padre, queyraDeos que mereçamos, nos não ^*^''^P'^'^'"^*''"*


faltem. Durou eíla mortal tribulação defdeos25. de Junho atè os 29.
por todo o dia & noyte de Saõ Pedro, & comtudo nem caía alguaca»
,

hio, nem morreo peflba alguma. Affim mortifica Deos , & vivifica.
88 Nas mais partes da Ilha ainda duràraó mais os efpantofos
terremotos, fogos, dilúvios, &
caftigos , pois duràraó atè 5 Sc . 6. de Ju=
lho, donde foy tanta cinza ao mar, &
com ella tantos gados , & tantas
madeyras, que humas Caravelas que vinhaó de Alfama de Lisboa, &: de
yíanna do Minho , oy tenta legoas antes de chegar a eíla Ilha , lhe cho»
via cinza', &: com pás a lançavaó fora, & com tudo o fobredito fe viao
impedidos a navegar, &ufavaô de varas para paflfaremhum quarto de
legoa, cheyo tudo de pedra pomes em altura de oyto palmos. Na Villa Prodigio com qui a
de Nordefte , & feu termo cahirão muytas Igrejas , mas não a Ermida ^''^«'» ^^c^^i" <tos
^
da Senhora do Pranto, fobre a qual fe vio a merma Virgem Se n hora'' "'*'*''''^''^-
çom manto preto , & ao feu altar nada chegou , fobrepujando muyto a
inundação de terra ao redor delle , & muyto mais fobre o telhado , fem €omorehêtoííantayot\
que comtudo elle cahiíTe. E vindo fete homés em romaria a eíla Senho- *'^^^ chamadn r«/-'
ia do Pranto , ao voltar , & paífar de huma ribeyra , fendo meyo dia , fe '^^'^^"^õfófez tre^
lhes tornou noyte efcura , &
clamando à Senhora que lhes valeííe, de re- "LV ^^^''^"'''r^
pente a cada hum fobre o bordaÓ fe lhes poz huma tal luz, que paíTáraÓ
ZlTenTo^Zpml"
fem perigo. ga/,em £r,ga;
^
é- na
89 Na Villa de Ribeyra Grande foraó
ainda mais tremendos Rihjm Grmãe por,
os fucceííos porque como a ferra , ou monte de Vulcaó que he o ma- ^''" ^^'^':> ^ '^"
,
, «^J"
yorde coda a Ilha, inclina mais para Ribeyra Grande, do que para SfiV contmHaà<imsnt&
la Çranca, & deíle Vulcão he que queria fahir o fogo, ?jré
por iífoem a ^^'^\'Z7ol!7Íf'''^

^
^
i6i ;Livro V. Da fatal Ilha de S;MigueI,
ia de Ribeyra Grande que parecia andar aqueílà
fe fentiaó taes abalo» ,

Villa como barca fobre o mar, & mar mais de togo,qiie de agua.E qiiaíi
todas as cafas cahiráo , & as que ficàraó em pè , codas fe abrirão & em j

fim arrebentou o fogo arrancando o monte V ulcão, & com tal furia,que
pedras, ainda mayores que cafas intey ras , lançou duas legoas ao longe»
& fez tremer também a Ilha Terceyra, trinta legoaS diftante , & nãofo
t alli ehoveo cinza , mas ainda em Portugal & eípecialmente em Braga.
,
,
'' •
Seccárão-fe as fontes '& ribeyras de agua, & pela ribeyra do Salto cor-^
ria. ribeyra de fogo ao mar ;& no mais alto ar andâvão arvores inceyrasi

que pareciaó demónios ardendo em fogo. Com o fogo dos mineraes do


centro rebentou tamhem o Pico do Sapatey ro , perto da mefma ribeyra,
& rebentando em dous de Julho, correo ribeyra de fogo ao mar por três
dias ,& três noytcs. "

90 O Convento de JESUS de Freyras Francifcaiias (que era


1536. tinhaó fundado em Ribeyra Grande Pedro R.odriguez da Came-
ra,&:fua mulher D. Margarida deBetencor) efpiritualmente vieraó
fundar duas Religiofas do Convento de JESUS da Villa da Prãya da
Ilha Terceyra,D. Joanna da Cruzj& D. Catharina de JESUS, que paf-
fados quatro annos paflaraó para o feu Convento daPraya.Eítc Con ven*
to pois com os ditos terremotos , &
incêndios íe arrumou ; &
as Reli*

giofas fe paflaraó a Rabo de Peyxe , &


daqui ao Mofteyro da Efperança
da Cidade, &
logo a humas cafas de Dona Margarida TravaíTos Cabral^
viuva de Jorge Nunes Botelho, & depois a outras cafas & Diogo Vaz -,

Carreyro lhes offereceo o Convento de Santo André , que elle acabava


entaôde levantar, & foraó as primeyras Freyras que entrarão no tal
Çonventoj mas reedificando-fe o feu arruinado Convento,tornàraó pa-
ra Ribeyra Grande.
p 91 •
Em a Cidade de Ponta Delgada, no mefmoanno de 15 634
Ifo qus jíiccrdio etu
^ ^^^ ^^ Junho , em dia de Saó Joaó Baptifta, começou a tremer a teri-
B^mtldl^-JJoZ ra brandamente atè 2S.
do dito mez, em que ao Sol pofto começarão
I /4 *J«ràeJn.
mayores que nunca os terremotos , abalos , & eftrondos atè o primeyrò
lk$, de Julho, & fe vio ter fahido de feu lugar o grande monte Vulcão atè o
mais alto ar & eítar fey to huma horrendiíTima boca do Inferno , & efté
,

terfc paííado do centro da terra mais profundo para a regiaó do ar mais


. ^,, .
alta, & eftar jà ameaçando a ultima, & univerfal ruina a toda a terra; & o
^ i. . mefmo eftarem armando outros picos da terra arremeíTados , & noap
.'n.. fuftentados pelo fogo, com horrendas, eftrondofasj&infernaes batalhas
entrefi,feytade todas o alvo a negra terra j &
durando iílo tudo atèos
quatro de Julho > &: entaó tornando em fi a agonizante Cidade do mor-
tal pafmo , em que eftava, &
acudindo ao amparo da vencedora do In-
ferno , a immaculada Conceyçaó da Virgem fempre puriílima , o met
mo foy fahir efta Senhora em prociflaó , que pararem os terremotos,
Milagre da invoca- f^^^ fg fentirem mais em a Cidade , &
toda efta fe ver, de abrazada, fe- &
fa~o da *w'"'«f«^^''^l
peitada, que feimaginava jà, reftituida à vida pela May do Aurhor
Concej/çao da f^trge
11 ^
^^"^'''^'*'
j 'I
Deftruido pela vencedora Virgem da Conceyç.ió aquelítí
^2
acreo Inferno, lançado pelo ar atè o mar, os efFeytos que deyxou fo-;
& ,

raó primeyrò, que ceiTáraó as aguas todas com quefe mohia o


paó> &: hô
\.^ muyto
Cap.XI.De outros hortêdoíeffeytos dos taestèrremot. xSj
jBuytp de notar que no mefmo tempo em que o Capitap Í)onatariò,
,

,para lhe renderem mais os moinhos , tinha por ler^tença que alcançou ^^ '^'^J^^ teri^olem
mandado quebrar as particulares atafonas todas, no melmo tempo a ^^^ ^'*'''* ^^«"^'^'«»
aguafeleccou,& os moinhos com ella* E quando quinze dias depois "^Tj" ^J""^" /*
° 1 „ *
>
rnanaarao aurorar
tornou a correr a agua , vmha chea de cmza » & pedra pomes 5& em o ^ pamcftlarJs atafa.
! T ,

Ipico chamado das berlengaSjfefeccouhuma grande alagoa. Segundo noíftuoH a agitados


cíFeyto foy , que nefta Ilha , por trinta dias a fio , nunca le tornou a ver moinhos é'tfies na-
Sol perfeitamente claro, mas impedido fempre de obfcuras , & aíTom- ^^'ff^^^r^óemmtti'
brofas nuvens &
defteíegundo eíFeyto foy caufao tcrceyro efftyto/J"^^''''^f!^t^*'
:

que foy tanta a cinza, & leviíTima pedra pomes , que pela ribeyrada
Jfi'^//X''7,J!^'
Praya,dabandadoSul, correodetal forte pelo mar dentro que fez
, ^jT?»? Ljíiça Dtfs
nelle hum grande campo , &
areal , & vay agora caminho cõmmum de ambiciofisl
pè por onde de antes anda vaó os navios j a profundar v alies igualou !

com fuás rochasj encravou o Lugar de Porto fermofo ; ao da JMaya cu- '

brio de forte que jà nem parecia ter eftado alli ; mas a Villa Fraíica naõ
chegou, parando hú quarto de legoa antes da Villa. —
93 Pelo mefmo tempo quiz Deos coneíTe o vento do Poente,
onde ficaó as outras Ilhas vizinhas , fcnaó feriaõ alagadas} &
por iflb cin-
coenta legoas deita Ilha para o Nafcentc^ encontrarão navegantes hum
tam grande taboley ro de terra , &
com tanto fundo , que airtda confer*
vava levantadas muytas arvores em fi ; &: outros taboleyros viraó de
«nais de legoa de largo , & de mayof comprimento > & houve naviò^^uc
atèXisboa chegou , lançando às pàs a cinza fora j & em fim atè em Co^
imbra,&: em Braga choveocntaô cinza. Os Lugares dos montes qufe
voáraõ , ficàraô concavidades , & furnas profundiílimas porque atrai:
,

dos altos montes que por cima da Ilha cftavaó , voou o muyto mais que
enchia as ditas concavidades j & de curiofos que então as quizeraõ vef,
hum AíFonfo Pires foy tam temerário , que là mefmo expirou j outros '

correrão grandes perigos, & fe voltarão. A perda na Ilha foy tanta que
,
fó no termo de Ponta Delgada le perderão três mil moyos de novidade»
&: a terçaparte das terras frudiferas ficou perdida por algurts annos ôc
j

toda a perda caufada por efte terremoto , 8c incêndio le avaliou entam


cm trezentos mil cruzados.
94Algumasterras,qucficàrãocubertas de cinza, & lodo, 6c
pedra pomes, & &
em pouco menos de três palmos, íizeráo côdea j íícà-^
raó naturalmente irremediaveiSi as outras porém fe remedeaò facilmen-
te. Vivia então em Villa Franca hum Manoel Vieyra , filho de Fernaó

Vieyraj &
neto de Pedro Vieyra, ( irmão de D. Violante^ fegunda mu-
lher de Pcdreanes do Canto na Ilha Terceyra) &
bifneto de Duarte
Galvaó, cujo filho dito Pedro Vieyra , deyxando o pay em Lisboa ,fc
veyo cafado para cita Ilha ,& tomando depois para Lisboa em tempo
delRey D.AíTonfo V. foy por efte enviado Embayxador a Caftellaj por
ler principal fidalgo , &
homem de muyto faber k voltando de Caf-
;

telk tornou a efta Ilha , & levou para Lisboa a mulher que ncUa tinha
deyxado,mas ainda cà deyxou filhos j &
filhas, hum dos quacs era o
dito Fernaó Vieyra , que viveo na Villa d*Alagoa ^ homem principal,Sc:
abaftado , cafâdo com Heva Lopes , filha de Álvaro de Vulcão , ôedè
Mecia Affbnfo , da geração dos Machados da Ilha Terceyra, que tam-
(
'--'^
'--- '

^ bem
f

u^
.li
•Livro V. Da fatal ilha de Si Miguel,
l|i

:,'i
bem faõ fidalgos) cujo dtfo filho Manoel Vieyrafoy primeyra vez ca*
fado com Morda Ponte, filha de SebaftiaóAffoníb, nobre morador do
Lugar do Fayal,& de Confiança Rafael,fidalga do Tronco dos Colom-
breyrosjôc íegunda vez he agora caiado (diz Fruâiaolo liv. 4. cap. 90. ^
91.3 com Petronilha de Braga 5 filha de António de Braga , & de Fran-
cifca Fea, de Ribeyra Grande.Efte pois Manoel Vieyra,por fer homem
poderofo, bem entendido, & muyto amigo do Capitão Donatário Ma-
7"! noel da Camera, alcançou delRcy , & em 1566. tirou quantas aguas
pode ajuntar, & fazendo grandes levadas pelas terras, & por junto a el-
las, & com pouco mais trabalho , deo com toda a cinza levadiça,& com
toda a pedra pomes em o mar & com eíla arte , de que aqui foy elle o
,

''',1
'temedh com àjuefe primgyro inventor , alimpou de forte as terras que as reftituhio a to-
,

í-^/á^MrViõíWífrr^^QQ^g^^fçj,^
& fertilidade antiga j & imitando-o logo outros muytos,
fsr lAm.
confeguiraó o mefmoi & ficou a Ilha reftaurada da parte do Norte , 6c
íe ifto não fizera , fe defpo voaria.

C A P 1 T U L O XII.

Dos Terreffjotos, é" incêndios mais modernos,

95 QUafi quarenta annos dcÍ5ois da fanta morte do Dou to f


Gafpar Fru£tuofo , refidia em o Collegio da Companhia
de J t tj U 6 da Cidade de Ponta Delgada o Padre Manoel Gonçalves da
mefma Companhia, que era hum dos bons Pregadores do dito Colle-
gio , & morreo depois de Reytor de Braga a efte Padre ordenou a fan-
-,

ta Obediência, que pois eílava lano tempo do terremoto, & incêndio


ieguinte , apontaíTe em fumma o fucceíTo delle & porque juntamente ;

o Capitão Donatário , que então era o ultimo Conde de ViUa Franca


D. Rodrigo da Camera, tinha pedido ao mefmo Padre hua plena Rela-
ção do ditofucceífo , & o Padre a compoz & entregou ao dito Conde
,

^Êmmuytas folhas de papel , & delia tirou huma fumma , que fe ajuntou
ao livro do dito Fruáuofo, por iíTo fó a fubílancia deita fumma referi-

remos aqui.
.96 anno do Nafcimento de Chrifto Senhor noíTo de
Em o
huma fegunda feyra
-1 630. em o fegundo dia do mez de Septembro , em

-vinte & cinco da lua às nove para as dez da noyte, eftando o tempo
,

-fereno, & quieto de repente começou a terra a tremer taó forte,& con-
,

:tinuamente que o relógio da Matriz com fer fino bem grande , per íi
,
,

mefmo fe tocava como ^fubito rebate de inimigos que entravaôa Ci-


dadcj & a gente experimentando ferem fataes terremotos , toda defem-
parou as próprias cafas temendo a ruina a todas , & pelo campo anda-
,

-va, èz fe não dava ainda por fegura temendo que atè a terra lhe faltaíTe,
,

.&fó enchia os ares de clamores , pedindo todos aDeos mifericordia:


I durou íem parar tal terremoto quatro horas, defde anccs das dez da
noyte atè às duas horas depois delia eys que neílc ponto , com horren-
:

dos eftouros,& eftrondos , &


tremores mais horríveis , arrebentou a
terra de improvifo , & lançou de fi , atè o mais alto ar i tam efpantofo
in-
cendio.

m
€ap.XIÍ.Dos mais modem, ti^mof. Si incendida Ilha* i^f

icenãky, èc tam medonho , que todoSí & em toda a parte jicUydavaÕ é-


tiniiAÒ febre fi, &c os Iam bia a todos abrazando-os.

97 Os que porèra mais ao longe ( como em a Cidade J lhe fí-


earaõi tornando jà mais em fi , advertirão, & viraó ultimamente, queo
furiofo incêndio no mais alto ar continha muytas,,&muyto grandes
arvores , &
in volvia em a niuytos gado5 de toda a forte ,^ grandeza^
íi

&quefahiadehum valle,ou alagoa fcGca,náomuyto longe dasmai^


antigas furnas , & duas legoas de Villa Franca
item que na manhã áé
;

quarta feyra, quatro de Septembro , começou hum tal diluvio de cinza ^"^^^^fi^^rfidi tèf2
(smtodaa Ilha, que nas mais partes chegava a dez j &
doze palmos ^g ^^' ^""^"^'"j <'»'«*
altura , & em outras a vinte & a trinta
, , fubterrando cafasatè os telha-
eíl& nlnljk àL^ani,
dos> & depois fe foube que chegou a cinza não fó á Ilha de Santa Maria, tigMfHrBa{,ei6'io'^
mais de doze legoas diitantej mas também à Ilha Terceyra ,diftante *»»»««, ^»í^í»á^ »^
trinta legoas, &
com tal pafmo de todos , que na Terceyra ficou aquelle "^'^ceyra chamaõ a
anno por antonomafia chamado, o Anno da cinza j &
aindé hoje ha gen^ ***** '^^ cíns.A^aldim>
^"'"^^ '^'^^'' ^^*
te na Terceyra que fe lembra deita cinza , com ter fucccdido ha oy tenta
'^^'^"f
&quatroannos. Eoquemais he , que atè na Ilha das Flores, & na do
£"^"J/„^^Cr^^^^
C^orvo, que diftaó de Saó Miguel mais de feflenta legoas , atè lá cht^outon^^matoulogo a cl.
a cinza, & láchoveo com aíTombro dos feus moradores. toé' hMapefofU..
98 Sahio em outros fataliíTimos eíFeytos efte tal tferrçmoto, &'
iacendioj porque naquellc valle ou alagba feeca , aonde aírebentou , a-
.,

panhou varia gente, que andava parte guardando gado, parte recolhen-
do baga de louro , ( de que naqtiella Ilha fazem azey te para as candeas
&
do ferviço ordinário, para ifto hebaftanté azeyte) &
defta gente fe
achou faltarem cento 6c noventa &: hum fugeytos j que do incêndio , ôC
terremoto ficàraóqueymados, Sc fubterradòs. Dedous Lugares intey*;
ros ( a faber, Ponta da Garça, húa legoa das Furnas^ & a Povoação, duas
iegoas diftante)as cafas,&: as Igrejas arrazou; &
abrindo- fe depois»
quando fe pode caminho para acudirfe a hum Sacrário cavando^ <^''"^'' fuitagròfamêéi
fazer, ,

íe achou hum pedaço do te£to da Igreja ainda em pè , & debayxo o Sa-^' ^^'^tmugèâoMe.
cranodo Santiffimoi & reparoufe, que huraa Imagem de vultodo
^^^"J"oas'^iã ^^Ts'
ninojESUS , que de antes eftava no retabolo j a achàraó fora dellc, ^ crameto*"doZlviÔ-
em pè fóbre o Sacrário , com tal fito , 6c apparencia que fe via eíiar de- & hSs èremita4 dàt
,

fendendo-oj & abrindo o Sacrário, &: cuftodia de dentro achàraó o Sa-/*^'»'»* , por hyx0,
,

cramenío intaâro. Oihteftimunhoinfâllivel defte myfleriodaFé! Oh '*""^/**'/<',í'«M*;


convençaô-feevidentemente os ainda cegos hereges queonegaõ! 1^^^^^ <^<>f"<> SamijJimQ,
certa parte das furnas mais antigas viviaó em communidade huns Er-Í"'^^"^'''^ "^^^J S
mitaes penitentes, Sc devotos, que fentindo os tremores , & temendo os
gem frigindo, fó ha*
incendias , todos logo acudifaõao SantiíTimo, que em Sacrário tinhaõí;í#á chame» peU
& iahindo-fe com elle jáporbáyxo de incêndio altiffimo livrarão ao^<«'xe'w do Hofarit^
Senhori& pelo mefmo Senhorforaó fem perigo íivres:6c por oUtra parto ^I^ ^fi^ ^fcapm,
indo fugindo outra gente , clamou huma fó peííba pela Virgem do Ro-
fario, 8c fó efta efcapou , perecendo as mais todas que nem ao Santiífi-
3
mo, nem Virgem acudirão.
àSafjtiíTima

99 EmVilla Franca, que eftá duas legoas dasFurnas',forá6


também taes os terremotos que cahindo aígúas cafas , de feíTenta Frey-
,

fas ( que o íeu Convento tinha } fó quatro , õU cinco fícàraô por ferem
,

já velhas , & as mais todas juntas fe íahiráo , ôc vieraõ metter no Con-


vento
Livro V. Da fatal liha de S. Miguel.'

vento da Efperança da Cidade. Na quinta feyra , cinco de Septembro^


por todo o dia, & em toda a Ilha , fe efcureceo de tal forte o Ceo , que a
(dia foy todo noyte efcura }& tendo feyto o Collegio da Companhia de
JESL» S em todos os dias antecedentes , na íua Igreja , as Ladainhas doa
íiantos, depois da primeyra MiíTa, com todas as preces da Igrejaj&: fem-
pre com pregação do púlpito , em jejuns atè de paõ , & agua paíTava os
dias, & na mefaeftavafemprè hum prato de cinza da que eftavacahin-
'

do do Ceo, fora outras penitencias de cilicios , & difciplinas nas coftas;


na dita quinta feyra fahio o dito Collegio pela Cidade com huma pro*
i
_ .
_ .
ciíTaõ na ordem feguince A's onze horas para o meyo dia (^queentam
:

'J}aspemtemas,pro-^
parecia meya noyte } hiaõ diante meninos em grande numero, & todos
'"°^ ^^ iníignias da penitencia,& no meyo delles hum andor com o Me*
fira5os Paàres^a
CõpxnhiadefESVSf nino JESUS vcftido deludo, & cahindolhe cntaó de cima a cinza que
é" como pjtràraõ oi entaÔ chovia, ^eguia-fe logo a Confraria dos Officiaes dá terra i & logq
yrejiioreSf&jneêdios. a dos Eíluda^ites com a fua Imagem da Virgem Senhora , & tudo de lu*

â:0}& fe conçluhia a prociífaõ com hum palio preto, & o fanto , & faera*
tiflimo Lenhç da Cruz de Chrifto debayxo do palio , com os Padres
do Collegio Gominnumeraveis lumes J&: gente innumeravel, entoando
w
^.

fempre o Pfalmo de i\///^ríre £)í/íí. E corrida a Cidade fe reeolheo

Gutra vez à fua Igreja, &: acabou com pregação, cujo thema foy o^da Di-
vina Sapiência, & da Virgeni Sacratiflima , Cnm to tram tunUa compO'
nefíS; & fe affirma não ficar peífoa em toda a Ilha > queientaó fe não con-i

feíraífc.
loo Em o Domingo feguinte , oyto de Scptembro , fe abriraÕ
na Igreja do Collegio os Santuários das Reliquias, com a Rainha de
todos os Santos no meyo de todas, & a letra que dizia > Et inplemtudme
Sanõforum detentiomeau fobre que também foy a pregação defte dia. E
he muyto de notar , &: agradecer a Deos , & à Virgem fácfatillima , que
com ainda entaódurarem os terremotos todo o mez deSeptembro atè
à entrada de Outubro, com tudo defde efte Domingo por diante, fe
já defde a quinta feyra da prociflfaó , naó foraô jà fenão muy ténues , êc
brandos , nem fe levantou incêndio mais algum nem fe fabe pereceíTé
!,

mais alguma cafa j ou peíToa }& fó dahi a annos com algum tremor de
^ ,,
, terra arrebentou o Pico, chamado dejoaó Ramos, hum quarto dele-
'%" ^^'
« . p: 2oa da Cidade para o Norte , & fez huma pequena boca em cima , por ^
annos houve emo Ft.t» t'
j r j j / v

íò chamado dt ?oaô onde lempre eira lançando togo moderado, como le vecm outras muy-
Ramos. tas partes defta Ilha j 6c dizem que efta he a natural fegurança que já
tem, porque parecendo fer toda efta Ilha em feu centro hum contínua-
^

[
'
&
do Ethna de fogo, tantas chaminés tem jà , tam naturaes , que jà naó
lieceílita de abrir bocas , nem de abalar a terra , para as abrir , pois tem

Jà tantas, &taó grandes, ôcfempre abertas.

CAP.

m
Oap.XIII.Dos Capitães Donat.de S.Manâ/àS.Mig. léy

C AP I T U L O XIIL
Dosprimeyros ires Capitães Donatários da Ilha de
Saõ Migue ly

Qonçãlo Velho Cabral-, Joaõ Soares de Albergaria , & Rui


Gonçalves da Camera.

lOI /^ Primeyro Capitão Donatário da Ilha de Saó Miguel


_ foy ( como vimos jà no liv. 4. cap. 3. ) aquelle grande fi-
dalgo Frey Gonçalo Velho Cabral, cuja liluftre afcendenciajà acima [:

propuzemos, & a tranfverfal defcendencia das irmãs que tevej pois naó .1

teve própria defcendencia, por , além de fer de varias cerras fenhor , fer O primeyro, é-h^-
demais Commendador da Ordem de Chrifto, cujos Commendadores
^ ^''^'^^i^J»^^
amda entáo naó cafavaó , & fó de novo teve a fingular excellencia de fer
juntamente Donatário de duas Ilhas inteyras quando de húa fó , o Por-
ZZrT/ VurllZ
, fo.^6 àh M^gnã^
to Santo , o foy o fidalgo Pereftrello , como diífemos no \iv.
3 f^j». i
. . &
nem o Capitão Joaô Gonçalves Zargo o foy de toda a Madeyra , mas
de fó ametade delia, como da outra metade o Grande Triftaó Teyxey-
raj porém o famofo Fr. Gonçalo , de ambas
as duas Ilhas de Santa Ma-
na, & Saó Miguel , foy inteyra, & juntamentefeu primeyro Capitão,
ôc
Donatário.
102 O fegundo Capitão da Ilha de SaÓ Miguel foy JoaÒ Soa-
res de Albergaria , fobrinho do primeyro Capitão & filho
, de húa irmã
delle D. Tareja Velha Cabral , que era cafadacom outro Soares
de Al-
bergaria , tam grande , & antigo fidalgo , que com renunciar nefte fe- ,

gundo ambas as Ilhas o primeyro Capitão, ainda nem para fi , nem


para
íeus direytos fucceífores quiz ufar dos illuftres
appellidos de Velhos,
Cabraes , &c. mas coiifervar o dos famofos Soares & fó
, ajuntarlhe o
dos Soufas , aonde fegunda yez calou. Governando pois
efte fegundo
Capitão JoaÓ Soares de Albergaria, & adoecendo-lhe fua
primeyra mui.
Jher , a levou a curalla à Ilha da Madeyra, &
morrendo-lhe là,foy a Lis^
boa , aonde ElRey vendo-o viuvo , o cafou logo com
huma Dama do
laço, D. Branca de Soufa, filha de JoaÓ de Soufa Falcão
,& de D. Me-
cia de Almada , prima coirmã do que então
era Conde de AbrancheSi&r
daqui veyo ajuntarem os Capitães de Sanca Maria
o appellido de Sou-
ías ao feu antigo de Soares
, podendo ajuntarlhe os appellidos de
Ve-
lhos, & Cabraes em memoria do tio
, Gonçalo Velho Cabral , que def-
cubrio as Ilhas,& nelles ambas as renunciou.
103 Com a dita occafiaõ da doença, & morte de fua primeyra
mulher, & muyto mais pela pouca ambição
, & grande virtude deíle fe*

giindo Capicaõ de ambas as Ilhas , &


querendo agradecer ao Capicam
do b linchai, & a feu terceyro filho Ruí Gonçalves
daCamera , a gran-
de holpedagem que lhe fí zeraô em a Madeyra
, fe refol veõ a vender ao
dito Rui Gonçalves a inteyra
Capitania da Ilha de SaÓ Miguel , & em
preço.tam barato, que aífirmaFruauofo/íi;.4.r^^. ^
66. quelha vendeo

W.
i6S Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguel.

^r j -j por oytocentos mil reis em dinheyro de contado,


r •
quatro mil arrobas &
?ãltZZtdeAcar,^s quaes amda que então valeífem a três mil duzentos &
dteade 5^0 /W»gW reis a arroba , a toftaó o arrátel, ainda o capital preço da venda nao
&
for trinta &dons mH paíTavade trinta mil cruzados , ou de trinta & dous
mil, com os oyto-
<;r«<c^í<« <<í ^/>«'»/, centos mil fendo que naó muyto menos rende cada
reis em dinheyro ,

& pouco menos rende


^^^^^ ^^ Capitaó Donatário a Capitania vendida. Porém
naó ha que ad-
hoje cadzanno &íe
^.^^^ ^ ^.^^^ ^^^^^ ^ Capitania era de muyto , &: muyto menos
terremotos , & incêndios da Ilha
taMZ^ loTmaU rendimento do que he hoje , & com os
fovoada entsõ,&me. de SaÓ Miguel , atè ella mefma era ainda
entáo muy contingente, poc &
nosperigofa. iÇ[o o feu mefmo fegundo Capitaó quiz
antes vender a Capitania de b.
da Ilha de Santa Maria, fo com efta fe quiz entaó fi-
Mi^^Liel , do que a &
venda em fim a confirmou pela maó Real da Infante
Dona Bea-
carfôc a
triz , que do Reyno era entaó Regente , em
Évora a lo. de Março de
1474. & em nome delRey D.AíFonfo V. r^ .y,»- ,

104 terceyro Capitaó pois, &jáfó da Ilha de Sao Miguel,


O
para Sao
foyodito Ruí Gonçalves daCamera, que logo entaõ veyo
Oterceyro Capitão de j^j^yg} ygyo porém já cafado com Dona Maria de Bctencor , filha de
.

^^^^^^ t^^^ ^^ Betencor , que tinha fido fegundo Rey das Canárias, 6c
SM^gHel.&primei-
como diííemos /.u r.p.
itTcl^^^rL fuccedido nellas ao primeyro Rey feu tio jà 2.
( ,

mas deita Senhora Franceza não teve filho algum Rui Gon-
t^íeínZd^s
Ca. 3. &4.>
vida de em ambos, & ella ficou
Lrtas , nao deyxoH çalves, &
por iffo com ella fez partilhas
também de
dejcendícia/egitma, ^^^ ^ento cincoenta mil reis de foro cada anno ,
& & trinta
mas fá dlsgitima & fo^o em Ribevra Grande & outras fazendas de tal renda, que tudo jun-
, ,

éntao ella mandou vir da


^^^^ ^^^^ ^^^^-^ ^^^^^ ^^-^ cruzados &
firk mnlher veyofHc- j
^^
hum feu fobrinho legitimo , por nome Gafpar de
Betencor, &
t::koi:f:i7tc Madey ra
lT/w:;:r4.. inílituL morgado nelle , & nem ainda em vida do mando confentro
D. Mana.
nem ella fe intitulava íenao lo
ceffaõdos%tencores.nuQ lhe chamaíTem Capitoa ,

Franca dous moyos


deyxou em feu teftamento ao Confelho de Villa
que os gados que viel»
de terra , já limpa , & frudifera , com condição
fem de caminho , podeíTem dormir em a tal terra
huma noytc , & mais
ra, na Igreja de baoFrancif-
naó: mandou fazer no Funchal da Madey
Capella ,^& que a ella levaílem
cb, à mão direy ta do Cruzeyro , huma
os feus oíTos foy enterrada na Capella
:
mòr da Matriz do Archanjo^Sao
porque então la
Miguel em ViUa Franca , muyto antes de fe fubverter,
O fegundo ^&illtgiti- refidia o Governo da Ilha toda.
partilhas , com a
mo filho Antão Ro- io< Ficou pois efte terceyro Capitão , das
drigítez. da Camera ficar igualado com o
^ " , r.. lu. Capitania , que
rendia ainda tão pouco , que para
ainda ao Capitão h,im quarto da
^irAfriTfle. foWedito que a mulher levou , coube
;;t „frÍ::ifazenda,quechamãoRibeyradeagua de mel em aMadeyra. Vierao
lefantes cafau
; ^ da Madeyra cora efte terceyro Capitão (além de outros bornes honra-
,

fuccedeo em (eu gra-


^^^ n
^res fcus filhos, &c huma filha do todos naturaes, & reconhecidos
,

de morgado hu^fi/ha-^r^^^ ç^ f ^^o copiofa dcfcendencia, Como


veremos

íyÍ'r^X|agora.re'feí;andSporèmfW^
''''
fby olegUndo fiUionatural
f:^;^!:;: 'Tol ^'Xão Rodriguez da Camera
Capitão Icrvio a blKey em
Munoelde Mello, j^ ^^^ da Madeyra veyo com efte terceyro ;

d. tndU veyofHcce. ^^^.-^^ ^| q^ ^^^^^ ^ fua cufta , & fahio tam


grande Ca vallcyro que em ,

der em o morgado da
hu^^^ occafiâo indo elle commuytosi» cavallo cortejando aLli<.eyU.
Ilha, £íx^'
Cap.XIII.Do3.Donat.defóS.Migv&: i.dosCameras^ i6p

Manoel , què^ cavallo hia também pela Corte de Lisboa , êc fucGcdcn*


do paliar hum índio por diante com hum Elefante que levava amof-
trar todos os cavallos , atè o do meí mo Rey fe alterarão com tal viftaj
,

Sc fugirão, &
cahiraó alguns Cavalleyrosj mas AntaÓ Rodriguez de tal
forte governou o íeu cavallo , que enveftindo ao Elefante , fezquefeu !t..

càvallo puzeíTe abocafobrcaancado Elefante,& dando- lhe com o ter-


çado húa leve efpaldeyrada , fe voltou para ElRey , dizendo que nada
êra aquilloi & mandando ElRey logo a feu Eílribeyro mòr que tal ca-
,

vallo compraíTe a todo preço a Antaó Rodriguez, logo o oíFereceo,


efte

mas dado linia por preço algum não j & nem vindo ElRey em tal,
&
nem querendo vendello Antaó Rodrig4iez , voltou efte com o cavallo
para a Ilha donde o tinha levado , enfmado já por elle , &
de forte , que
'li'
cm ouvindo o tal cavallo algum repique de finos , ninguém o podia tec
em eftrebaria, atè montado fahir delia.

107 Antes de cafar efte Antaó Rodriguez da Camera, das ter-


ras que o pay lhe deo , & de outras que comprou , inftituhio hum mor-
gado de cem moyos de renda, & voltando a Lisboa cafou com D. Ca-
chârina Pereyra , fidalga Dama da Duquezadc Bragança , & tornando
com ella para Saó Miguel , delia houve dous filhos legitimes , Ruí Pe-
reyra da Camera, & D. Mecia Pereyra j & voltando depois a curarfe ao
Reyno , faleceoem Vianna de Caminha, aonde eftá enterrado > & a mu-
lher D. Catharina tornou viuva para Lisboa ,& vivco ainda quarenta
annos,&morreodeoytenta: feu filho Ruí Pereyra, depois de fervir
cm Africa, foy defpachado para a índia por Capitão de Sofala , Sc arri-
bando a Lisboa, morreo ahi folteyro.
108 A efte Ruí Pereyra da Camera fuccedeo em o morgado
fiia irmã D. Mecia Pereyra , que cafou com D. Gomes de Mello, (filho

de Diogo de Mello , & de D. Maria Manoel , & deíics nalceo também


D. Catharina de Noronha , mulher de Simaó Ribeyro, Commendador,
& Alcaydc mòr de Pombal, & de D. Anna Pereyra , & D. Leonor Ma-
noel , entaô ainda folteyras ) do qual D. Gomes de Mello, ôc da morga-
da D. Mecia nafceo D. Maria Manoel, Dama da Princeza mãy dei Rey
D. Sebaftiaô, que com ella foy para Caftella ; nalceo mais D. Rodrigo
de Mello , que cafou com Dona Antónia de Vilhena , filha de Pedro de
Tobar, & de D. Brites da Silva , St morreo em Africa na batalha delRey
D. Sebaftiaô i nafceo também , & ficou com o morgado Dom Francifco
Manoel, que vindo da índia cafou com Dona Urfula da Silva , filha de
Francifco Carvalho Efcrivaó da Cafa da índia. Tinha o dito Antaó
Rodriguez , antes de cafar , duas filhas naturaesj primeyra,Guimarda
Camera, de quem nafceo Ruí Gago da Camera; fegunda, Maria da
Camera , de que nafceo Joaó Nunes da Camera,Vigario, & Ouvidor da
Ilha de S. Maria , & irmão também de D. Dorothèa ,mulher do illuftre
Capitão Donatário Brás Soares de Soufa , da dita Ilha de Santa Maria.
Asamias dofobredito Antaó Rodriguez da Camera trazem accrefcen-
tadas às dos Cameras , dous puxavarttes ao pè da torre, cm íínal de fem-
pre irem avante, âflim na paz, como na guerra.
109 O
terceyro feu filho natural , que com efte Capitão Ruí
Gonçalves da Camera veyo da Madcy ra , foy Pedro Rodriguez da Ca-
-
'
. P meraj

1 41! >

•\
170 Livro V. DaTItãllltóde S.MigneL

mera, ( & tido , dizem, de hiinu mulher nobre , da geração dos Alber-
O terceyro filho ille-
názes ) cafou com D. Margarida de Betencor , íilha de Gaípar de Be-
gttimo do Captiai {-gncor , de que nafcèraó os tilhos feguinces: primeyro, Joaó
Rodrigues
R^í Gon^alve^ da
Camera , que cafou com D. Heiena, filha do Contador Martim Vaz
^_^
D. Joanna que faleceo folteyra. An-
rolTJh '^MarTa. àc Bulhão, da qual nafeeo huma ,

rU^d.Bète»cor;&àânáopoiscm Africa eítcjoaó Rodnguez da Camera com


outro ir-
fegunda vez. de que mão feu Manoel da Camera com quem andava mal , &
,
vendo-o ir ca-
,

ficoH Bernardim da nyo]i dos Mouros > arremetendo coma lança cnreftada ao Mouro, que
Comera ^ne cafou ^ i^y^^^^^ ^ pegando aoirmaó por hum braço o poz nas ancas do cavai-
,

& entrando ambos livres pela noíTa praça o refgatado ao diíTe entaó
rf' n t. ^^"'"^f io> ,

Refpondeo-lhe Joaõ Ro-


f
:ÍÍf 2.:1 n-maó eftas palavras Pomrmao comoficamos^com huma Commenda de
S. Mimei comPcdro dnguez: Como dantes. E ElRéy o
:

defpachou
JRodrtgtiez. de Sor^fa; mais de cem mil reis na Beyra , ao pè da Serra
da Lítrella , em liítrmtaj
do mefmo Pedro Ro- gonde eftando jà perto da morte , cafou com D. Cathanna, de que teve
drtgi^.e^ da Camera
^^^^ ^, j^^^ ^^^^^ Qonçalves da Camera que morreo fokeyro , com
. vin-
nafceo Henrujue de Camera , valente foU
^^ ^^^^^ ^^ krvxcos na Índia Item Bernardim da ;

na ViUa deNordefte. ItmA^


'r::í ll4;^:dado,8.grandeCavalíeyra,que cafou na jornada delRey D. Se-
Grande &caion lã. pollinario da Camera , que ficou em Afnca
filha D. Margartd^ baftiaõ. Tcve mais efte joaò Rodriguez
da Camera três filhasj primey*
comChrifiovaSDtas^ j-^^ D. Guimar quemorreo iiido para Dama da Emperatriz ; fegunda,
,
nobre, & rico homem eftá cafada em Ca-
£j ^^[^^c g ue com hum grande , & poderofo fidalgo
em Ponta Delgada,
ç^^^i^.^',^^ D. Margarida , cafadacom Pedro Rcdnguez
de Sou-
fa, filho deBaftbezar Rodriguez de Santa
Clara, onde morreo fem

filhos.
'-" '
^ '
, ^ r j C
I IO Do mefmo Pedro Rodriguez da Camera o fegundo h^
lho, & neto âti^ CápitaÔ Ruí Gonçalves
da Camera , foy o fobredito
Manoel da Camera, que deyxando fó hum filho
natural , riiorreo íol^
I>afT,erm9FedroRo. teyjfo na índia. fcrceyro, Simão da Camera grande Aítrologo,mor-
O
drlgtíet da Camera,
^^^ foiteyro em Lisboa. O quarto, Henrique
de Betencor & Sa , morou
y,4ceo D. Franciica
g,^ ^^ibevra Grande andoumuyto tempo
em a Corte, & caiou com
;

^'" Leonor Manoel,


^"^/f^r D Simoa, filha de Bakhezar Vaz deS-oufa,& decafou co«i I^iza a
daCamera,que
rr- :í:SiZ2teveeftesfilhos.RuiGonçalves
áo Prado ^& deftefe- ffilha de Hierony mo Jorge, U de
Beatnz de Viveyros)de que teve três
gundocaíaraBto naf fi]has uo Moftcyro de JESUS de RibeyraGrande,& era fidalgo
de msg-
ceoainda D. Dmu mais a Manoel da Camera
n^fica ^^>ndicaó,& de grande charidadevteve
deSouf^^ cajm em
.g difcerfadocafou com íua parenta
D.Maria, (filha de Rui Gago da
Port.g.l & ^7^ g,de!fabelBotelha)deque houve filho, & filha j-teve tam-
J^^^/
Jda L S.mJuI; bem O dito Hcnnque de Betencor & Sa a ^^^^" J""^^^'^^^'^^^^^^
fokeyro & a fet.
,
fí-
é-Mnàa (eu avLal morreo na índia & Francifco de Sá, que faleceo
,
3

terno Pedro .^.^ri- jh^j das quaes falecèraÓ tres folteyras ,


outras três noMolteyroío- &
j.^.„ .^ ^ „ fó
,
' r/ r _^: ^i..,^.,^^!^ Margarida, ralou com
Xyíorcrrjnn.T. cafou rnjT!
gue^ da Car^erafH-
jT.-í

^^,^,,q j^ profeííss ;
.

a feptima , cliamada D.
r-
&
doH Convrnto das r^u.:rt.
o
J^.Xnías, nobrc , & rico, da Cidade de Ponta Delgada.
Treyras ds fBSVS
Pedro Rodnguez da Camera o quinto filho foy
III dÍ dito
faleceo folteyro o
^iS^;^^ António de SàTqueikc;; fokeyní.como também
íalT^i^ej.MÍ fexto filho Luis Gonçalves da Camera. O fcptimo
foy Dona Francfoa,
fidalgo porem dos Soufas
tri^\ & governoH a quecafou com D. Antonfode Soufá viuvo , ,

jlha fete annos pelo dp Rçyno, & muytos annos Vereador da Cidade de Lisboa , ^ 1
cdro
moyos de renda jun-
^^^'^rigucz dá Camera lhe deo cm dote cincoenta
Capita-ofe^fohwho.
Cap.XÍII.J0tas^eícettá.ckílétei*jdjGápit/deS;Migue 171

íoa Riibeyra Gcandc , quecom'o mais-paflava então de dez inil eruza-


4oSi&contenco.ii-feD. Antqniode Souía , fêndo irmáo do Conde de
Pradojêc de D.Maria de Tavoraymulher dePedralv^Gãrvalho, Capi-
tão de Alcácer Seguèr de outra priraeyra mulher tinha jà D. António
:

de Soiifa a D. Martinho de Sôufa , & a i>/ Jorge de Soufa , que duas ve-
^eáíbraó por Gapitáes de.ná0sâlndiai&;dafegunda mulher D.Fran-
cifçá teve ainda a Dom Pedro de Soufa ,iCommendâdor da Ordem de
Chfiftoi& muy to. privado delRey D. João llI.ôrátX. Joaóde Soufa,
& ambos eftes itraãos falecerão folteyros jinas o terceyro irmão Dom
Dinis de Soufa cafow no Reyrio, 6c teve filhos , &filhas> a dita fâzen- &
da<iànÊftallha.Ecóm ter tantos filhos,o dito Pedro Rodriguez da Ca-
mera , ainda foy tam pio, & efmoler , que fundou o Convento das Frcy-
rasdçJESUS de Ribeyra Grande com dezoyto mqyos de renda cada
anno, Sc trinta mil reis de juro perpetuo j & deo muyta renda ao Hof-
pital j & accrefccntéu a Matriz -da ditaVilla , & lhe déo hum rico Pon-
tifical , & outro à Igreja da Maya j & foy Locotenente do Capitão Do-
"naçarib Rui Gonçalves feufobrinho, em cuja aufeheia governou fetc
annos com muyta paz , juftiça exemplo j vôc fempre bom nome 5 & fua
,'

ínulher D. Maria de Betencor faleceo vinte annos depois delle , & com
grandefama dê muyta virtude. - .
-

113 O
dito terceyro Capitão -Ruí Goi^çalvcs da Camera te-
ve mais huma filha ) também natural , quccafoucom hum fidalgo Fran- ^* j««'íf' H«*í^'<!
cifeo da Cunha, dos Cunhas do Reynoreíle appellido ganhou hum
j^j^JJ^^^/*/"^*'
antigo Alferes,que andando com a bandcyra em íiuma batalha,& vendo
queoinimigohiavécendo,metteoabandeyraem a fenda de húa grande
pedra,acunhando-a com outraSjSc inveftindo aos iiiimigos,com tal valor
pelejou, que recuperou a vitoria jàquafi perdida, &
vitoriofo fe yol-
touj êc entaô vendo o feu Capitão ao feu Alferes comfigo , fem ban- &
deyra , & perguntando por ella refpondeo , Bem acmhada a àeyxey j o
que fabendo o Rey , entre outras mercês que fez ao tal Alferes, lhe con--
cedeodc mais, que elle, & feus defcendentes fe appellidaflem Cunhas,
Do dito pois Francifco da Cunha , & da dita fua mulher nafceo D. Gui-
mar da Cunha , que cafou com Joaó Soares , terceyro Capitão Donata^
rio da Ilha de Santa Maria, & fegundo do nome j 6c aílim fícàraô liados
os Capitães Donatários deftas duas Ilhas.
'

Era efte terceyro Capitão de Saó Miguel Ruí Gonçalves


1

113
da Camera , homem alto , Sc groífo de corpo , dífcreto porém , & muy
Jòlicico em fazer povoar , & cultivar a terra > ao que peííoalmentc fahia t
vifitando-a,ouacavallo,ou emhúamuíai ficallim elle repartio ama-
yor parte das terras deita com o pado , ou titulo de fefmaria , a faber,
de que em cinco , ou féis annos , quem fe entregava da terra , a alimpaf-
fe, & fizeíle fru£tifera, & tiveíTe nella algum género de câfa, ou caf úa, Sc

curral; 8c naõ o fazendo aíTim, poderia o Capitão tiratlhe a terra , dai- &
la aoutro; & ifto fignifica a palavra fefmaria ; outros dizem que a pala- j^ ,

vrahe, feemariaiáinvada. da Italiana , feemOiOU feemato , que quer di- ^ ^" '^^>"' , -
^''^*'f^

zerdivilao, oucortaduraj ^ que também he palavra dirivada de ^^^ de t


fefmaria.
toutra palavra ^ fàfma , que fignifica o mefmo. Governou efte Capitão
vinte & hú annos para vinte &: dous, defde o fim de 1474. atè o de 1497.
P i] em

m3^
xjt ^ MáYi&f^.fí^feM^
; . Migue!. .ii^i..qÊl>

era quie fez fiafteftameretQ & por feu hcrdeyro & ccftatncnteyrô no-
, ,

meou ao feu filhotmais vclkp Joaó Rodriguez da Camera & a nwis fa- ;

zenda que pode fepaFOia para fua úwra j para pagar a quem de veífe,
,. &
Foy fepukâdo na meíma fcpultura em que fua mulher D. Maria de Be-
teacQf,;&; ao dito feu filho râandou que faoiiveíTe licença delRey para
fe enterrar tambeos na mefmaCapella mòr da Matriz de Villa Franca.
Fguco antes que tnGrreíTeiCbrreo fama qoe^irihaóCaftelhanos fobre a
ILhaj&fazendoríè logo alardo geral de toda a Ilha , para fe faher as ar-
mas que nella ha¥Ía j naôfeachàraõ mais que cento & fetenta lanças de
çofta, & triata & féis Gebanotcs^ com iftq que tiveráo ainda por muy-
íoy fe deraô por Ê0nteatcs paua (t defenderem j tal era então o feu bra-
fo,8cQÍeirvalor;-:' " ; :

i:-ijiíj/í':^vp/ ::-rnr': .
y ^ír\ji-'.

.Xi >*.. nròj'/*

'^i^íàvP.í .4i::,,l?KrS^
^^^

»^
CL
^Í}q qmriQ Capitão Jmo Rodriguez , ou j^oaõ Gon-
^ gaites' cia Camer a.

1 1^ A-^
tJarto Capitão Donatarioda Ilha de Saô Miguel foy 9
iJ
primeyro filWque ficou do fobredico terceyro Capitaói
jB^^^«4rífl G^iW porque ainda efte terceyro naõ' teve filho algum legitimo í legitimou
fo]i
Ugitimado por
comtudo por ElRey q primeyro filho dos nacuracs que teve , & confe^'
Nafceo JoaÔ Ro-
^IrZ^r^ÍTnt g"io licença para Ihefucccder na Capitania , &: cafâ.

cafo/com hHA !o«!drigiiezdaCameraamdanallha


da Madeyra , donde veyocom opay
m* do Paço D.Ignes para efta Ilha j mancebo ainda 'rnilitoii em Africa alguns aanos ^ & volV
da Silveyra, & teve tando a Lisboa cafou em vida do pay com D. Ignes da Silveyra > Damst
alem do primej/ro fi- ^q Yz<^o à qual ElR.ey Dom Joaõ li. tinha feyto mercê de dezafeis mit
,
IhoíjHt Ihejmcedeo
reis de tença em fua vida, & pagos nefta Ilha, para onde depois veyo
o primeyro , Ruí Gonçalves da
\7elmZ ínfimo com odito feu marido ti veraó filhos : :

eomamã^plraLú' Camera,deque abayxofallaFemoSjfegundo, Joaòde Mello, quefeíii^;


ha,&emi3uacara do moço teve de huma Maria Dias hum filho, por nome Ruí deMeí'-^'^
vela, nunca mais em lo, que cafou na índia, & o pay cà , jà reformado fe metreo Religiofo eín'
^ane íilgua fe foube Alcobaça terceyro , Diogo Nunes que foy defpofado com D. Maria
j ,
da ul caravela.
gjj^^ de foaÓ de Outeyro,& de Guimar Rapofa, viuva de Ruí Vaz Ga-
go do TratOi &: fendo moço de pouca idade, fem fazer vida com a efpoi.'
fa fe foy a Portugal j & dahi a Africa, & lá o matarão. Qiiarto filho foy
,

Garcia de Melloj & logo três filhas, D. Joanna, D. Brites j Sc D. Catha-


rina. ''• .•-•^-'.•

115 Governando efl!c quarto Capitão veyo huma Arfnada de


.. .... ^^^^^ Caftella , que entaó trazia guerra com Portugal & vendo o Capitão a ;

ufou defte ardid , ou


^L [fi/^Z7to'c7- P^"ca gente , &c poucas armas que havia de peleja ,
/^/f^õ<^í/fÍ7^«4//;í>^cftratâgema; mandou logo pôrnapraya onde o inimigo podia lançar
de hãa Armada de gente , em filcyra fíngelaos verdadeyros foldados armados com fortes
©ifttlla. lançasj &
aífim chegavão a toda afrente dapraya &r logo por detraz ;

dobrou tantas fileyras de moços , te tantas mais atraz de mulheres , &


com fingidas lanças de altas canas nas mãos que querendo defembarcar -,

o inimigo, & vendo talexercito na praya, deííftio do intento, & largan-


do
Cap.XlV. Do 4. Capitáõ Donatário de fé SMiguel. if§
Soas velas fe voitott , 6c ficou a Ilha livre pela difpofiçaõ de hum Ca-
experimentado.
pitão fabio, ôc
I ló
Já em vida de feu pay , que eftava em Lisboa , tinha efte
Capiraó governado a Ilha por provifaó do Graó Meftre , ou Governa-
dor da Ordem de Chrifto, o Duque de Beja entaô, que ao depois foy
Rey D.Manoelj & he de fe ponderar a tal Provifaó que diz aflim:
, . 117 Eiío Dfíqm vosfaçofakr avhs Jmzes, Officiaesj Fidalgos
CavalleyroSi Efcmieyros, &
homes bons , é^povo da minha Ilha de Sao Mt- Caria doÚõveYm iU,
gueli que a miindijje Ruí Gonçalves da Camerai fidalgo de mmha Cafa , ó' metttdo a foaS Jiá*^
4ú Confelhú delRey meu Senhor , &
Captai for mercê da dita Ilha ycomo el~ drigH<s,da Camrjti
ledeyxàr a em feu cargo de Cantão a João Rodriguez da Camera, fidalgo
da mmha cafa , feufilho j da qual couja a mim me apraz , prfentir delle que
he que ufárâ do dito cargo affim como per teme aofervtço delRey meu Se-
tal,

phoTi meuj & &


bem dajufiiça j pelo qual vos rogo j encomendo, ó- man-^ &
do a todos em geral, ér a cada hum em ejpecial, que obedeçaú ao dito João Ro^
driguez em todas as coufas, que ao cargo da dita Capitania pertencerem, aj^
fim tam cumpridamente , comofaneis ao dito Ruí Gonçalvesfeu pay, feUef
& de direytofoís obrigados afazer. O que de hum, ^ outro ajjím
tivejfe, ..,

cumprirdes vo agradecer , & urey emferviço é' do contrario ( què


lo ey , : o
de vos nao ejpero^ me defprezana , é^ tornaria a iffo , como foffe razão. E
por efie mando ao ditoJoaTi Rodriguez, que dar das terras tenha efiã m
ptaneyra, convém afaber , que as que forem dadas , nao lhes de ejpaço , nem
lhes bula com ellas nem de terra alguma de novo a homes , que tiverem ter*
-,

ras na dita Ilha-., (^fomente dará das terras maninhas áquelles qm terras
nao tiverem, afim aos moradores da dita Ilha, como áquelles que de novo vie*
rem a ella viver. E qualquer coufa que elle , em
acerca do que dito he, fizer
contrario mando que naofeja
, valiofa. Feyta em Santarém a 2^. de Dezem*
bro.Joao Cordovdofez em i^^-j.
118. Depois deo efte Capitão muytas terras de fefmaria a aU
guns homens principaes , que em feu tempo vieraõ para efta Ilha mas ;

adoecendo, & indo curarfe a Lisboa j faleceo lá em o anno de 1502. Ô£


ficou fua mulher três annos mais na Ilha, atè que feu filho Ruí Gonçal-
ves veyo da Corte com fua mulher a tomar poíTe da Capitania, co*
mo abayxo diremos & a máy fe refolveo a tornar para Lisboa com o
j

quarto filho Garcia de Mello , & com as três filhas acima ditas porém j

(^ohfado inevitável, oh inexcrutaveis juízos Divmos,oh cafos Jaíli-'


mofiílimos } em húa caravela fe embarcou máy, filho, & três filhas, ha
!

quafi duzentos & trinta annos , & nem de taes peíToas , nem de toda a
*

mais gente da caravela, nem defta em parte alguma houve atè hoje no-»
íicia, & parece que o mar fó a pôde dar.

119 Era efte Capitão Joaó Rodriguez da Camera ( diz Frii»


dmoíoliv. 4. cap. Gj.^ grande Gavalleyro, muyto difcreto , & tam bc
nigno, humilde, & cortês, que a muy tos fidalgos de Portugal affeyçoa-
va a irem viver com elle na Ilha porém governou tam poucos annos,j

morrco tam cedo & tal morte tiveraó lua mulher feu filho , & as três
, ,

filhas, que parece^ que quam venturofo foy feu pay (como jà vimos)
,

t^m pouco venturofo efte foy, com fer feu filho.

ly CAP,

F*
1/4 LiVi-oV. Da fatal Ilkâ de S.Miguel.
- . :
— '
~T«,.

C A P í T U LO XV.
Do quinto CapltàÕ Ruí Gonçalves da €amera ,
/egun'

do do nome,

1 2ò TJ Ste quinto Capitão, quando o quarto, 6c pay feu faleceo


X^ na Corte de Lisboa, eftava iá também com elle, pof &
Cí/ê« efie quinto Ca naõ ter ainda a idade competente , governou por «ile em a Ilha feu tio
puaõ com D.Felippa Pedro Rodriguezda Camera atè o anno de 1504. mas em vida ainda
Coutinho,Jííha de hã dopaytinhajà caiado efte Ruí Gonçalves da Camera comD. Felippa
irmão do Conde de
Coutinho , filha de Lopo Aíronfo Coutinho , irmaõ do Conde de Ma-
MAriaha^&do Cã-
:ÍiÍ
ele de Borba^que de-
rialva. , ( do Conde de Borba , que depois foy Conde do Redondo)
&
cuja filha do tal Conde de Marialva caiou com o infante D.Fernandoj,
foisfoy Conde deRe-
dondo. filhodelRey D. Manoel ,& irmão delRey D.JoaõIIL Defte antigo
appellido,Coutinho,como do dos Cunhas acmia tocámos,fe diz vir an-
tigamente do cafo feguinte. Em huma batalha indo-a jà perdendo os de
Donde veyo o afpelli.

dodeCoHtinhot.
huma parte, o feu valerofo Alferes , naõ obftante a bandeyra que aper-
tou bem comfigo, fe metteo também no mais árduo da batalha ^ & pe-
lejou de tal forte, & a feu exemplo os mais , que por fua parte fe decla^.
rou a vitoria j mas ao valeroío Alferes tiíihaó apertado tanto os contrá-
rios por lhe tomar a bandeyra, & o Alferes tanto mais pela confervar,
que com lhe levarem à efpada ambas as mãos , nunca lhe podèraô levar
a bandeyra, atè que os feus jà vitoriofos lhe acudirão , & o Alferes fe re-
colheo íem as mãos , mas com a bandeyra & perguntado entaó com
j

que guardara a bandeyra , tendo perdido as mãos refpondeo Com os , :

cotinhos dos braços a guardey. O


que fabendo o Rey , depois de apre-
miar ao tal Alf-res , determinou que dalli por diante fe chamaíTe, Catf
rói?, de fobrenome & o vulgo, naó fem myfterio,mudou efteappellido
:

de Cotinhos , em Coutmhos , porque o famofo Alferes , dos cotos de feus


braços fez invioláveis Coutos da bandeyra.
121 Era efra D. Felippa, Dama da Excellente Senhora, quan-
do caiou com o Capitão Ruí Gonçalves da Camera j o qual com ella
veyo a eftaliha tomar poífe em o anno de 1504, & governou algús an-
iios} mas naó faltarão logo aggravados , homens nobres, Cavalleyros,&

fidalgos , que por caufa ( diz "Fruauofo liv. 4. cap. 68. ) de defappare-
cerem humas efcrituras por caufa de m,ulheres , ou por íi recolherem
,

homiziados em fua cafa, contra o dito Capitão propuzeraõ a ElRey


capítulos 3 & foy mandado ir emprazado á Corte , & com elle forao
muytosfeus amigos em o anno de 15 10. & todos em chegando à Cor- ,

te , foraó logo com o mefmo Capitão mandados para Africa a Tange- ,

re, & dahi foraõ por ordem delRey foccorrer ArziUa cercada de Mou-
ros, & eraó quarenta de cavallo, & cincoenta béfteyros Ôc algús de pè, ,

CS que como Capitão foraó defta Ilha, & là andàraóem Africa o anno
intcyrode 1510.& fizeraófamofascavalgadas,& là foraõ^rmados Ca-
vallcyroSi& parece que fe equivocou Damiaó de Gocs na Chronica del-
Rey D. Manoel 3. fart. eap. 3. onde ifto põem nos annos de 1 509. 5 ro.
& 511. 6c tudo attribue ao primeyro Ruí Gonçalves da Camera , como
J. tam-
Cap.XV. Dos ruccelTosdtíle quinto Capitão. i^f
I:
11.:!

^
também diz a Relação dos Capitães da Madeyraj fendo que o primey-
fo Rui Gonçalves da Camcra èc ainda leu kiho Joap Rodriguez da
,

;Camera ,já ambos eraó então mortos j &a equivocação de Góes, & da-
queila Relação da Madeyra,efte vêem ambos eftes,terceyro,êc quin-
.to Capitão de Saõ Miguel, fe chamarem do mefmo nome Ruí Gonçal-
-Ves da Camera, & por iíTo fe attribuirem as acções de hú ao outro > & af- t-^

fim o fente o citadoj & douto Fructuofo.


122 O
certa he, que ainda não obílantestaesferviçoSj voltan-
do de Africa efte noíío quinto Capitão , ainda pelos capitulos que fe ti- Csmo tfit pinto Cà-
nháo dado contra elle , íahio centra elle a fentença , per que foy priva- P^^^f^) ^°^,^r^jl°^^
•dodajurifdicção, & Capitania de S. Migue],&: fem ella andou na Cor-
'^^ig^''* e^prllado'a
te eíle fegundo Ruí Gonçalves da Camera féis annos atè que pela ami- po^inLi remettide
,
,

iZadeque contraiiio com oMonteyro Mòr George de Mello, grande ^^/r/Cíi.é';'"^^'^*'


privado delRey, & por contratarem entre fi, que fe fe reílituiíTe âju- porfèatema da Ca-
rifdicçaó j & Capitania de Sao Miguel ao dito Ruí Gonçalves cafaria /">««'^. èrfetemnos^
,

ofílhodeftecom D.JoannadeMendoça,fiiha doMonteyro Mòr^ eíle'-/^^^'/''^^''^[^;''^^


egi breve tempo tudo confeguio,& fe cumprio tudo 3 & no annode^Ty^r^íí^^-
15 17. voltou jàreílituido à Capitania, & Ilha Rui Gonçalves àOiC^- de\valtdo,de cafarã
mera , com grandes fcftas defeus amigos j mas aos que o tinhaócapi-/«jJÇ/)!;4,/s^floí'^//i8•
tulado , vieraó também cartas Reaes, para que o dito Capitão nem com turofogro lhe fez, ref-
ellcs , ríemcom fuás coufas podeííe mais entender'i & nos antecedentes tituir a cafa •,
& aos
íete
dro Rodriguez
° T^
da Camera.
j •
^
j r r. j r
^
annos tinha governado a Capitania feu grande, & ^
accttfadores
prudente tio Fe-
'''!''
naS. poder enteder co
.
T"!Z%
vieram

. 125 Depois de tantos defgoítos, de leu emprâZamento> priva- ^gj Exemplo fatal
-Çaóde fua cafa, & fataes gaílos de Africa, & Lisboa, liie fobreveyo o in- ^a verdadeyra , &,
fauftiíTimo da fubverfaõ de Yilla Franca , &
defeftrada morte de feus antiga jafli^a.
filhos, &irm,ã, porque tendo de fua mulher três filhos legitimos , Si-
mão Gonçalves da Camera , Ivianoel da Camera j & Joaó de Soufa ,
j^^ ^^^^ ^
,ag &
ygfli^
duas legitimas filhas D. Hieronyma, & D. Guimar, & hum filho natural ,^,-^o Capitaõ Ihefo'^
Miguel da Silveyra j fó Manoel da Camera lhe ficou vivo , tendo-lhe hevejo a fuhvsrjaZ
falecido de antes o priraeyro , & acabando-lhe os mais cm Villa Fran- de FtlU Franca a ,

ca, enterrados, Gufubterradosvivos, com demais humairmã deftemef-/'*^^^*.^'^''''-/^^'"^^'*


mo Capitão, como ia laro;amente reterimos com eftes defgoílos pois»-^'*'"'^''*'^ '^ ^Jt •/"'
-^ j-jj
r n-
&com ja ieflenta annos de
o ^ 01 „
idade, & havendo trinta &
1
:

que entrara
três
"^v pou a morte {tibtta,
-^
J^-^^
deantes
a governar 3 fuccedeo íj^eem huma quarta feyra 20. de Outnbroàefe tinha hm prepara.
1535. indodepoisdejantaradefcanfar hum pouco em feuIeytOj&vin- í/o para ella. fatal
do fua mulher jà a competentes horas defpertallojfem ter dado íinal ai- exemplo da fupi*
gu de fi O achou morto. Divinal
1 24 Porém tinha tanto de antes lidado com a morte , & pre-
parado- fe para ella, qu€ tinha onze annos antes feytojà feu teftamento
em 29. de Janey ro de 1 5 24. tinha nomeado a mulher por fua Teftamen-
& por herdeyro feu a feu único filho Manoel da Camera ; tinha
íeyra ,

deyxado muy tas efmolas 3 & obras pias , & que de fua terça fe refgataf-
fem cada anno dous cativos de terra de Mouros os mais defempara-
,

dos, além de muytas MiíTas que mandou fe difleííem por fua alma & já ;

em Ponta Delgada tinha, Com zelo do bem commum ,& da pobreza^,


mandado fazer muytas atafonas junto a Saõ Francifco, & abay xo da Pa-
íochía de Saó Pedro j & tinha determinado fe fepultaíTe feu corpo na
^
Gapellá
tfS Livro. y. Da fatal Ilha de S. Miguel.
Capelk mòr de Saó Francifco j & aíTim fe executou cora que prtí<i ;

dentemente fe pôde julgar que quem tanto em vida fe preparou para


j

a morte, ainda que a teve fubita naó a teve improvifa j que he a de qu©
,

Deos nos livre.


Ficou D. Felippa fua mulher, cuja vida foy de muyto
125
exemplo fempre, de muyta oração , & de grande char idade, & efpccial-
exemplar de grandes mente dada a compor dílcordias fez da fua terça a mayor parte do
:

virtudes, mMytopa- Convento das Freyras da Efperança em Ponta Delgada, em terra que
,cificadora ixm-
,
&
para elle deraó Fernando de Qtiental , & fua mulher , & nefte Conven^
to recolheo as Freyras que fe vieráo da Viila d'Alâgoa & junto ao mef-
.fey tora grande doCo-
.
;
•vento da Ejperatiça
cafas , em que viuva íe recolheo , & que por
da Cidade f& morreo mo Convento fez humas
jkmupo velha y & fua morte deyxou ao mefroo Convento 5 por feu Teílaraenteyrodey-.
piupofanta. xou ao fexto Capitão feu filho, & trasladou os oííosdo marido para a
Capella mòr do tal Moftey ro, & nella , & em o habito de Santa C Iara fe
mandou enterrar, & aíTim fe executou em i 5 5 1 em que faleceo , fendo
.

Jà de
idade de oy tenta annoSi

CAPITULO XVL
Dofexto Capitão Manoel da Camera ,
primeyro
do nome^

120 ASeu Pay Ruí Gonçalves da Camera , fegundo do nome;


Q fexto Capitão ffâ' /\fuccedeo feu filho Manoel da Camera primeyro do no-
,

gindo fiopaj /f foy a me fendo jà de féis annos o vio hum grande letrado , que paliava por
:

Africa^ ^
chama Ao alli de índias de Caftella , & perguntando
que menino era aquelle , ac-
íer muy ri-
crefcentou , que ainda que tinha irmãos mais velhos ^ havia
a Portugal recebto a

fiha do Monieyro primeyro havia fer cativo^


co, &: grande fenhor dejurifdicçâo , mas que
Adory &
fendo atura
tudo affim fuccedeo , como veremos. De-
&
vez. mandado p^ra
&
paílar grande trabalho -,

elleentaó virniíTo, 6rpor ver hum


Africa ,ficoH cmvo pois, por feu pay o ter cafadofem
dos Mouros anno, & GaleaÓquetinhafeytofeupayemoPorto dos Carneyros & commu- ,

nicando íeus intentos com o Piloto & com algCis nobres


meyo ^ate voltar ref. ,
amigos da ter-
gatado aPoríugal-^& embarcou no GaleaÓ , deyxando o pay
fangrado deza-
ra , com elles fe
11: !
querendo ElRty fa-
féis vezes, &
fem noticia docafo; indo o GaleaÓ defgarrado a Madey-
&
z.ello Conde da f^illa
Mazagão,nefta praça oholpedou delia Antó-
o CapitaÓ
d^Alagoa,-nem acey- ra,& dahi a
do Padre António Leyte da Companhia de J b , que EhU
tofá a mercê, nem lor. nio Ley te,tio

noti a Ilha em quanto ficava em o Collegio de SaÓ Miguel>


logo o veyo bolear D. AíFonío de
•vweo o pay , qninto Caftellobrancoí feu parente, filhodo Conde de ViUa Nova ,
& com &
jàChriftovaÕ Soares tmha
Capitão.
gente de cavallo o levou para C,afim & ;

Lisboa também hum


vindo em huma caravela da Ilha a bufcallojôc de
JoaÓ de Mello com ordem delHey para lho levar, &
logo chegou carta

delRey que o chamava à fua Real prefença.


r ,

127 Naó pode Manoel da Camera ^ veyobufcar a


jà alfazer
ElRey o fez
ElRey a Portugal, & a Alconchete j aonde entaóeftava3&:
cafarlogocomadefpofada filha do Monteyro MòrD.Joannade
Men-
doca; 8c vindo depois a ElRey nova que o
Xanfe tinha cercado a Vil-
la de Cabo de Guè , mandou là Manoel
da Camera com gente , U com
pro-
Cap, XVI: Do fexto Capitão Donatário. iff^
proffieíTa de logo lhe ir foccofro foy Manoel dá Camera j€títrou na
:

VUla t defèndeo-a quatro mezts , atè qiiê fem lhe vir foccorro algumí
jffiorcos os mais dos lóldados , entupida a cava , batidos os muros, &: ar^

razados , &
queymado o baluarte da pólvora, com alguns duzentos bo-
rnes entrarão a praça os Mouros i &
á tomàFaõ j & eativàraó a Manoel
da Camera > & três dias depois chegou entaó o foccorfo prometrido.
&
Anno, meyo efteve prezo cm hiíma mafmorrâ 3 & ícmpre com braga
aQ pè, atè que por feu refgatc deo vinte mil cruzados , &c ElRey dous
Mõurõs que cà tinha , além de outras pey tas , erttaõ o Xarifc o dey- &
Xou vir, &: Ihedeohuma tam rica alcatifa que ficou em efta cafa pòr j,

memoria a feusherdcyros. .ntO^.i.' - rr .:íJic 1


-jí S . ;

128 El Rey, cm chegando Manoel da Camera, o fazia Conde


da Villa d'Alagoa , & por naó accytar efta itiercè lha fez dos dizimes ,

do pêfcado da Ilha, & de feflcnta moyos de renda para fcmpre, nas ter-
ras dos próprios que ElRcy tinha na Relva , termo da Cidadej ttetn lhe
eoncedeo b dar todos os oíficios da Cidade a quem quizeíFe , atè o de
Efçrivaó da Camera, & Orfaõs , fcm outra confirmação , & fem Chari- •WH
cellaria , tirando os oíficios de fua Real fazenda & fobre tudo lhe fez :

mercê de confl:ituir,& pòr o morgado defta Capitania de Saô Miguel,


fora da ley Mental que he hiima das may ores mercês que ElRey faz â
,

vaflallafeii. E aílim lè vio cumprida a profecia daquelle acima dito In-


diatico letrado.
»': «- rj j^>,
£ni qitanto virco o pay , nlo tornou o Capitão Manoel
?..
^ .
,

da Camera a efta Ilha, 5í tornando, morto o pay, a tomar pofle , breve- ^'«f '/í^fM* Jf^
T
, f Tl •
j T-ír» V
mente voltou para Lisboa. rorera vendo ElRey que os Luthcranos an-^^^^^ ^ ^^- Mimet-^
Ti
ptt AO Manoel da Cd*

dâvaó nitijrto irifolentes , ordtenaii que fe fizcífem Fortalezas em slí to?mi4 po0 d* capi*-
Ilhas, & que os Capitães delias reítdiíTem^ cada hum cm fua Capitania) tama , &(« voltou a
U afllm no fim de Dezembro de 1 5 52. tornou Manoel dá Camera para Lisbon, miu ElRey o
â Mha de Saõ Miguel; & com ellc reyo o Doutor Manoel Alvarez Ca- amãdar, .'''^*'
'Jf^f
brât j que na mefina Ilha tinha fido Corregedor , que trouxe muy tas ar-
CA^uJ*Don\
mas, §c ordem para fa2Íerhum lançamento de trinta & três mil ^^'['^^l^- tAriorefiàijfe ent^lHÀ
^^
dos ( avaliando primeyro todas as fazendas, & a Alfandega dclKey) CapttanSa.^m Dett.
para fc pagar a artelharia que ElRey mandava, &fe começar húa Vor^f^rode ^fiL.E volta-
taleza ; para atracar veyo hum Ifidofo dê Almeyda, Mathematico que "^ " ^efntet Capitão
cntaô compunha de Fortificações , & hlim irmão feu- Ignaçio de Gou- ?^'«>*^^^^<''*,*'«5'7 [,-
vea, & por primeyro Sargento mòr yêy o htim Joaó Fernandez
àt^^^^iréZZTclií^

130
^ ,
.....f.rf.
Correndo então o Capífaô állha toda, fez por ordem r»/ Gonçalvez. da
^ tanU,&afiHfil&§>

delRey Companhias ,& Ofiiciaesdellas ,os mais nòbrés em cada Vil- Camera,jà cafado.
laj em Ponta Delgada fez quatro Capitães, Jorge Nunes Botelho, Gã(^ Ohfeajjim [e fi^
par do Rego , Mendo de Vafconcellos , & A Iv aro Velho , &: lhes deô ^í' ^^A»"»* «^^*
Alferes, & Sargentos. Em Ribeyra Grande fez três Capitães Ruí Ga- ''*^'^' ,

go da Camera, Jóaó Tavares, & Gafpar do Monte , coái íuas Compái


nhias de duzentos & cincoenta homês cada huma & em Rabo de Pey- ;

xe , termo deRibeyra Grande, fez Capitão aFernaÔ de Anes ,& ifto


cudo fez em Junhode 554. & aílim duroU atè 57i.em quefe mudàraÕ'
eftes Capitães , & fe poz por Capitão mor em Ribeyra Grande a Rui
Gago da Cameraj & voltando entaó Manoel da Camera ao Reynoi tor-
'- .j nou .
i^% .•Lim.V7Dafa;tâlIlhâdeS.Migaei,f,j.

nou para eftallha por ordem delR.eyí cora feu fiího D. Ruí Gonçalves
da Camerajà caiado 5 & foy a pr imeyra vez que cá veyo & ambos aqui
}

eftiveraõ oyto annos. Ao bargcntomòr pagava EáKey do tributo dos


íJqus por cento das lahidas > depois lhe mandou pagar das inipofiçoens
das VillaSi& mais depois foraó dadas aos povos as ditas impofiçoens,
dando os povos porém , de fcgundo lançamento onze mil cruzados > p
«jue fez t ernaó Cabral Provedor áafazendajêc aflim fe julgou no Rey^
nò, quedas impofiçóes fe naò pagafleniais ao Sargento mor: &
tercey?
rplançamentoTe fez também por Duarte Borges de Bamboa , Prove-
dor da fazenda , & eni, tempo do mç fmo Çapitaó Donatário j & come-
çou a Fortaleza Manoel Machado , natural .4^ ilha, & feu primeyro
Meftrcdeobras. '"
'^-ob' -'^HTTl';.
[ <

I31 Teve efte fcxto Capitão cinco filhas,^ hum filho de fua
legitima mulher j defte filho chamado Ruí Gonçalves da Camera , teih
cey ro do nome , como ff-iccedeo na Capitania aõpay , & foy p primey-
ro Conde , delle íe tratará , quandofe tratar do feptimo Capitão Dona-
tário de Saó Miguel. A primeyra filha :foy D. Felippa de Mendoça.que
cafou com D. Fernando de Caílro^fílho de Dom Diogo de Caftro, Al-
cayde mòr de Évora , Capitão, & fenhor de Alegrete , & Conde de Ba.
fto. A fegunda filha D. Hieronyma de Mendoça quizeraó
feu§ pays ca-

far , quando ella já tinha quarenta annos , & ella lhes


refpondeo , que
pois fuás irmãs Grão Freyras pobres, queria ella fer Freyra rica, para

lhes acudir a ellasi&: aíBm acompanhou fcmpre afeuspays atè ambos


morrerem, & ficou por cabeça de cafal,atè chegar da ilha leu irmão , 6i:
"lhe caberem a ella quarenta mil cruzados i & foy femprc de talviday
que fó lhe faltava o vèo preto , para fer huma pcrfeyta Sc fanta Reli-
,

giofai&: como tal nunca fe chamou, nem aííinou íenâo, Hieronyma


das ChagaSi era muy to dada a jejims , cilicios, difciplinas, & oraçaõi fez
feutcftamento,& mandou que a enterraflem no habito de SaóFran*
Alim cifco , & na Capella rnòr de fua Igreja , que era de feu pay'i deyxou cin-
do filho her-

m deiro tcvt cinco filhat


Capitão,
co annaes perpétuos deMiíías, & que cinco criadas fuás, Terceyras
honradas, ouviíTem as taes Miííasfempre, & que a horas de Vefperas
tfie fexto
da* ejHAts hãaijá ca-
jou em Portugal, ou- foíTem encomendar fua alma a Deos,& as de feus paysj & que a cada húa
tra niUa (fftiz. cafar^ das taes cinco mulheres fe lhe deflem cada anno vinte & cincomil reis
Oi três for aõ Religio- de ordenado ; & nomeou por fua Teííamenteyra à Cafa da Mifericor-
fki,& todoí de tanta dia de Lisboa & lhe deyxou tudo o niais- remanecente de fua fazenda,
,

virttfde.^itanta teve
para pagar aquelles cinco ordenados , &- prover nelles gente virtuofaj
« mãjatè morrer.
& affim viveo,8c morreo fidalga cOm commua opinião defanra.
132 A tcrceyra filha foy D. Margarida , Freyra na Míidrc de
Deos em Xabregas j a quarta D. Joanna de Mendoça Freyra em Santa
'

\v.
,

Clara de Coimbra ^aquinta Soror Ifabel, Freyra cm JESUS deCetu-


vai , fenhora quejá cà fora era de rara abílinencia , & penitencia.^ Sua
mãy D. Joanna nunca foy à Ilha, por naõ paííar o mar j porém à fua
doutrina, & exemplo de virtude devem as filhas a muy ta que alcança-
rão, & o Capitão a boa morte que teve,porqueainda quecm Lisboa,
em hum Domingo às nove horas do dia, querendo ir à Miíía,lh€dco
hum accidente de parlefia ou de ar que lhe tomou a parte direyta Ôc
, , ,

para ella lhe inclinou a boca, & tirou a falia, não lhe tirou o juízo ,
com
que
W

W^
Cap.XVíI. Das gentes tiobil. qprim. povoarão a Ilha. 175^

que viveo ainda cinco dias , recebeo todos os Sacramentos , & faleceo
como piiffimo Chriftaó:deyxou em hum breve teftamento ao filho Ruí
Gonçalves da Camera por leu herdeyro ,& Teftamentey ro > de íua ter-
fua alma mandou
ça deyxou trezentos mil reis para três oíííicios por :

que o enterraíTem no habito de S. Francifco , & que aos Religiofos por


cada hum dos três Officios lhes deíTem cincoenta cruzados , & hum
moyo de trigo , & huma pipa de vinho j 6c na fua Freguezia mandou
fazer outros três Officios , com dez mil reis de efmola cada hum i mas
que o enterraflem os Keligiofos de Saó Francifco j fem pompa , em hú
ataúde, & fe naó chamaííe fidalgo algum , & fó feus criados o acorapa-
nhaíTemi & tudo afiim fe fez, Sc foy enterrado na dita fua Capella, aon-
de eílava enterrada fua mulher.
133 TendonafcidoefteCapitaoem1504.faleceoem13.de
Março de 1fendo já de 74. annos de idade j dos quaes per fi,& por MormeflefextoCai
5 78.
feu filho governou quarenta 6c três annos a Capitania. Era tam benig--?'2'',^'74 "J^V^^^
no, 6c miíericordiofo para com feus devedores , que nunca os quiz ve- "J/^i^Jf/^^ ^^ ^^ J^
xar era grandiofoem obras , como bem fe vè na fua Capella , que co- ^arlefia, com fite vi-
j

meçou a fazer no Mofteyro de S. Francifco da Cidade em Lisboa i era veo cinco áioá , ^
em fim muyto humilde muyto aífavel para
, todos , & para ninguém a- morres muytopiame.

varo de corteziaj virtude moral, que todos os fenho- ^^ .


fe aílim a tiveííem ^*«'^<' P^^F^ ^
res que governão, de todos feus fubditos feriaÓ mais obedecidos,6c nun- ^^«'J*^/^
.
PY'^'*J

ca experimentanaomtolencia alguma. Uberd, comedido,


-• Zl- oi.'iiM'^^^', ' - ^;:^;v^• •
. "'-'-i/ '

r^
- '
-.
— cortes.,

G..â P I T U L O XVII.

Deaígus homesfamofòs érfamtlm que vier ao povoar


,

a Ilha de Saõ Miguei

134 T
Nfuperâvel matéria aqui tomou o Doutor Fruâiuofo, &
1 depois delle o Padre António Ley te da Companhia de
JES US ,^ que no feu Collegio de Saó Miguel efteve muytos annos)
em quererem explicar Genealogias antigas, que tanto mais le implicáo,
quanto fe explicâo mais , como fe vè em os mais dos Nobiliários anti-
gos, 8c ainda na fonte delles todos, no alto Conde D. Fedro, Infante de
Portugal , filho delRey D. Dinis , U honra de toda Hefpanha , a quem
áddio fuás Gloíías o illuftre Marquez de Monte Bello , 6c fideliíTmio
fempre Portuguez , D. Feliz Machado pelo que refoluto quafi eftive
:

a paífar totalmente tal matéria; mas como vejo a Sagrada Efcritura cheâ
de Genealogias, nãofó em o Teftamento velho, mas também no No-
vo , nos fagrados Euangeliftas j 6c como o mefmo Deos nos manda pof
hum Santo Ifaías , que attendamos à pedra , de que fomos cortados , &:
àcovadequefahimos,Í/^i. 'Ji.wííw. i. Qiie confideremos bemnoíTos
mayores , como verte o doutiíllmo Padre Mariana; 6c Saó Paulo fó pro-
hiba tratar de Genealogias , de que fó nafcçm contendas, 6c que faó vãs,
& inúteis, como a Timotheo efcreve , Epifi. t. cap.^i. num. 3. 6c como
emfim todo o extremo , em matérias moraes , he ordinariamente vicio-
fo, por líTo me refolvi a nem tratar tanto delias 5 que fique mundanaj 6c ..

W^
Livro V. Da fatal líha de S. Miguel,

yâ, ou fantaftica hiftoria , nem tam pouco as tocar , que falte à fidelida-
de dos Religiofos , 6c Gãtholicos Doutores a que figo , & ao fruto que
dsvetn tirar os defcendentes , dos exemplos de feus antepaflados, imi-
tando os bons, Ôcdos mãos fugindo fcmpre. Recopilemos o muyto, 6c
õ melhor que fe diz difto, reduzindo a titulos de algumas Genealogias^
o que delias pôde fer de mayor utilidade, Sc imitação eommua.

TITULO L
" DosVelhos^Cahraes,M£lks,&TravaJJõSjS&aresdè
Albergariay& Sou/as.

1
3
5 TA deftas famílias tratamos no Uv. 4,.eap.2.é' ^-^ no liv. f
I mais das cafas
cap. 1 6c as
. nobres deftas duas Ilhas de Santa
Çafa dos Soares de Maria, &• Saó Miguel feacharàó ligadas com as ditas primeyras fami-
Alberg»rÍA\ & dt S, lias 6c o mefmo confta dos Soares de Albergaria , 6c Soufas porque o
:
-,

Senhorinha.
priraeyro chamado Soares traz o noflb Conde D.Pedro foi. 1 33. de que
nafceo D. Soeyro , pay de D. Ufo Soares Belfazer , de que nafceo Ufo
Ufes Soares , Governador da Beyra, Conde de Vizeu , Vieyra, 6c terra
deBaftojdoqual nafceo Santa Senhorinha, que morreo em 9 7 2. Monja
de Saó Bento j 6c logo eftes mefmos Soares fc chamarão de Soufa , dos
quaes o primeyro foy D. Egas Gomes de Soufa bifneto do Conde D. ,

Gocoy , irmaõ da dita Santa Senhorinha, 6c por nafcef na terra do rio


Soufa, 6c a conquiftar aos Mouros , tomou de Soufa o appellido , como
dos mefmos Soares, 6c de outra terra tomàraó o nomedè Soares dé Al-
bergaria 6: deftes Soufas, que de antes craó Soares , veyo 'depois Dom
}

Mem Garcia de Soufa , de que nafcèrão duas filhas húa foy D. Conf- ,

tançâ Mendes de Soula yda qual veyo efta linha de Soufas atè Henrique
de Soufa, priraeyro Conde de Miranda, de que nafceo Diogo Lopes
Ciifa âos Soufu & de Soufa, fegundo Conde, & defte o primeyro
,
Marquez de Arronches,
[fim diverfAS Unhas. 6c feu irmaó o Cardeal D. Luís de Soufa , Arcebifpo de Lisboa , ôc Ca-

m pelláo mòr delRey D. Pedro IL A outra filha de Dom Mem


Garcia de
Soufa foy D. Maria Mendes de Soufa , que cafou com Dom Lourenço
Soares Valkdares de que nafceo D. Ignes Lourenço de
,
Soufa, que ca-
dei Rcy D. Af-
fou com Martim AfFonfo , chamado o Chichorro , filho
linha de Soufas
fonfo III. de Portugal, 6c afíim continuou efta fcgunda
atè Fernão de Soufa ,fenhor dbGouvea ,que cafou
com D. Felippa de
Mello , & feu neto Fernão de Soufa Governador de Angola 6c pay de ,

D. Dio«-o de Soufa Arcebifpo de Évora , 6c Thomè de


,
Soufa, Alcayde

mòr deVilla Viçofa , de que nafceo o Arcebifpo de Braga , 6c depois


de Lisboa, 6: feu irmão Fernão de Soufa, pay de
Thomè de Soufa,
Conde de Redondo. E deftas illuftres familias bafta efta breve noticia.
Cafa dos Mcllos &,
136 Dos Mellosfó advirto, que o primeyro dcftetppelhdo
PimrKteís Con- D. Pedro tit.4.'^.^
foy D. Mem Soares de Mello ( como íe vè no Conde
dos
des de Benavente, &
,

o qual Mello era ca-


dos de Atalajfa ,& filho de D.Soeyro Reymondo, de Riba de Vizella; Pires Gatto, filho de
Ate»gf(((i, fado com D.Tareia AfíbnfoGatta,fílhade Aftbnfo
Fedro

%
III I

V
Tit.I.DosVelhos,Cabt'acs,Mel.&: Trávaf.Soar.&Souí. i8t

Pedro Nunes Velho , que era filho de Nuno Soares Velho , ( aíTim fc
ligáraó fempre entre ii eítas famílias } de Mem Soares de Mello
:
naf-

eco AfFonlo Mendes de Mello, que caiou com Dona Ignes Vafques da
Gunha, & deites nafceo Martim Affonfo de Mello calado com U. Ma-
rinha Vafques , filha de Eftevaò Soares o Velho, fenhor de Albergariai
(Ôcda^uiveyo oappellido de Soares de Albergaria) do cal Martim
^íFonfo de Mello nafceo outro do mefmo nome , fenhor da Villa de
Mello ,de que houve mais defcendentes do primeyro Martim AíFon-
:

fo de Mello nafceo mais Vafco Martins de Mello , Guardamòr


delRey
D. Fernando , èc Alcayde mòr de Évora , que primeyra vez caiou com
Terefa Corrêa, filha de Gonçalo Gomes de Azevedo Corrêa, de que
nafceo Gonçalo Vaz de Mello , avò de Pedro Vaz de Mello Conde
da
Atalaya, & pay de D. Leonor de Mello , que cafou com D. Álvaro
de
Ataide , filho de D. Álvaro Gonçalves de Ataide , primeyro Conde de
Atouguia.
137 Do mefmo Vaíco Martins de Mello ,& de fua fegunda
mulher D. Maria AíFonfo de Brito nafceo outro Martim AíFonlb de
Mello , Guarda mòr delfley Dom Joaó I. & Alcayde mòr de Évora, 6c
Olivença , que cafou primeyrocomD. Brites Pimentel, filha de Joaó
AíFonfo Pimentel, pi-imeyro Conde de Benavente & do tal primeyro
-,

matrimonio nafceo outro Martim AíFonfo de Mello , de que nafceo D.


Rodrigo de Mello , Conde de Olivença , & deíle nafceo D. Felippa de
Mello, que cafou-com D. Álvaro de Bragança, filho dofcgundo Du-
que, & neto do primeyro o Infante D. AíFonfo , filho delRey D.Joaó I.
do dito D. Álvaro nafceo D.Rodrigo de Mello , primeyro Marquez
&
de Ferreyra, & deíle nafceo D. Francifco de^ello, fegundo Marquez,
que cafou com D. Eugenia , filha do Duque de Bragança D. Jayme j &
Dos Condes deOlive'
ça M(irqttez.€s de
de Mello, fegundo Marquez , nafceo Dom Álvaro, Ferreyra ^& Dffqftes
,
deíle D. Francifco
terceyro Marquez , que foy pay de Dom Francifco de Mello , quarto do Cadaval,
Marquez, de que nafceo D. Nuno Alvarez Pereyra de Mello , quinto
Marquez de Ferreyra, & primeyro Duque do Cadaval, que cafou três
vezes primeyra com huma filha do Conde de Odemira^ de que lhe fi-
i

cou huma filha , a quem o Duque herdou , por lhe morrer pupilla fe- :

gunda vez cafou com hua Princefa da Cafa de Lorena', de que lhe ficou
outra filha que cafou com o Marquez de Fontes terceyra vez cafou
,
:

com huma fobrinha delRey de França , de que o primeyro filho cafou


com a Infante a Senhora D. Luiza, filha delRey Dom Pedro II. de Por-
tugal, de que naó teve filhos, 8c morrendo, cafou o íegundo filho o Du-
que Dom Jayme com a viuva de feu irmão, & também naó tem filhos
delia. Das rafas defienie',
138 Do fobredito Dom Álvaro de Bragança, tronco dos Mar- tts doprimeyroMaT'
quezes de Ferreyra, & Duques do Cadaval, nafcèrag mais varias filhas, ^uez. deTerreyra\áo&
huma das quaes cafou com D. Francifco de Portugal , primeyro Con- Condes deVimiofo , &
de do Vimiofo , de que nafceo o fegundo Conde D. AíFonfo de Portu-
Portugaes da.
, &
excellentiffima c ajtt
gal }& outra filha do dito D. Álvaro cafou com o Infante Dom Jorge de
de Aveyro & dos
,

Làncaftro, filho delRey D. Joaó II. & primeyro Duque de Aveyro, de Aíarc^ ftez.es de Gott'^

que nafceo o fegundo Duque D. Joaó de Làncaftro , 6c defte o terceyro vea, &CendtídeS«
Duque D. Álvaro , de que nafceo o quarto Duque de Aveyro , 6c defte CrHX,,
Ó oquin-

Ç^
itt Livra V. Da fatal Ilha de S. Miguel.
O quinto Duque D. Raymundo , que foy para Caftella , & morreo fem
delcendencia 5 & lhe fuccedeo no Ducado, por fexco Duque de Avey-
ra, D. Pedro de Lancallro, irmaó legitimo do quarto Duque , & Inqui-
íidor Geral, Arcebifpo de Lisboa, cuja legitima irmá caiou com o Con-
de de Portalegre, de que nafceo D. Joaõ da Silva , Marquez deGou-
vea, & D. Frey Álvaro , Bifpo Conde de Coimbra , & Dona Juliana de
Lancaftro CondeíTa de S. Cruz.
139 Nalceo mais do fobredito Martim AíFonfo de Mello,
favo daquelle Conde de Olivença D. Rodrigo de Mello ) & de fua fe-
Dos Copeiros mores, gunda mulher D. Briolanja de Soufa, nafceo, digo, Joaó de Mello, Co-
f^ Monteyres mores peyro mòr delRey D. AíFonfo V.& Alcayde mòr de Serpa,de que nafceo
da Cafa Real, & dos pnmeyroo Porteyro mòr Alcayde mòr de Serpa^fegundo, o Monteyro
Aíendoças de Aíoh- mòr Jorge de Meiio,que cafou com D.Margarida
de Mendoçajíilha de
raõ,& Cafiros aonde Diogo de Mendoça,
Alcayde mòr de Mouraó,& irm:ió da fegunda mu-
cafotí oDncjue deGa-
lher do Duque de Bragança D, Jayme j & em terceyro lugar nafceo D.
dia dí <i»e defcende
,

grandes Príncipes, CO' Leonor de Mello , que caiou com Nuno Barreto , Alcayde mòr de Fa-
mo de ha S. Francifco ro i & deíles nafceo D. Ifabel, que cafou com D. Álvaro de Caftroo do
de Borja, da Compa- Torraó ; dos quaes nafceo D. Leonor de Caftro , que fendo Dama da
nhia de 1ESVS. Emperatriz D, Ifabel, & do Emperador Carlos V. cafou com o Duque
deGandia, que vuvo delia profeflbu a Religião da Companhia de
JESUS, & nella morreo fantiífimamente , & foy terceyro Geral delia,
(8c he Santo canonizado S. Franeifco de Borja, de que defcendem muy-

tos Princípes.
140 ií^«^ nafceo do dito Joaõ de Mello, Copeyro mòr del-
Rey D. AíFonfo V. nafceo Garcia de Mello , Alcayde mòr de Serpa ôc ;

deíle nafceo D.Jorge de Mello , que depois fe fez Ecclefiaftico, & foy
Abbade de Alcobaça , & Bifpo da Guarda , de quem foy íilho D. Antó-
nio de Mello, que cafou com D.Joanna da Silva fua prima ; & deites
nafceo D. Jorge de Mello, que cafou com D. Maria da Cunha , filha
de Chriftovaó de Mello, Porteyro mòr delRey Dom Joaó IIL de que
nafceo D. António de Mello, do Confelho delRey por Pojrtugalem
Madrid,que calou com D.Francifca Henriques;8c deíles nafceo D.Jor-
ge de Mello , que com o Marquez de Ferreyra acclamou em Évora a
ElRey D.Joaò IV. levando a Bandeyra,Sc foy Mordomo da Rainha D.
Luizaj & cafou com D. Margarida de Távora, filha de Pedro Guedesi
Eftribcyro mòr. Governador da Cafa do Porto, & fenhor de Murfa; &
eíle teve os filhos feguintes D. Jofeph de Mello , que depois de mili-
:

Da eafa àts Guedes, tar cm Alem-Tejo, & indo bem defpachado para a índia , na viagem fe
Eftribeyros mores , metteoReligiofo da Companhia de JESUS,aonde depois morreo com

fenhores de Mttrfa, opinião de Santo item D.Joaó de Mello, que depois de Bifpo d'Elvas,
;

é- dos Mellos doBif


po Conde de Coimbra
& de Vizeu , morreo Bifpo Conde de Coimbra com fama confiante
de grande efmoler, & de exemplariílimas virtudes tíem Dom Pedro da
D. ^oaS de Mello ,
-,

faraSSantt, Mello, Governador do Maranhão, que deyxou por filhos legitimes a


D. António de Mello, cafado com D. Joanna de Mendoça irmã do Ef-
tribeyro mòr, & fenhor de Murfaj Luis Guedes de Miranda & Lima, fi-
lho de Pedro Guedes , Eftribeyromòr delRey D. Joaó IV. & de Dona
Maria de Mendoça , irmã de Luis de Mendoça Vifo-Rey da índia ; &
a Dom Francifco de Mello cafado na BeyraiÔc a Dom Luis Jofeph
de
lAjilãBBa

Tit. II.DoiCamerâ&,& Régios Betencórcs.

de Mello, Maltez j & a D. Jofeph de Mello, Ecclefiaftico, da Junta des-


aires Mados.

TI T U LO II.

DosCameras,& Betencores,

ailluftre família dos Came.


141 ASfim como vimos jà no/w.3. Capitania do Funchal mas
fò em a
, j^ ras multiplicada naó
,

também na de Machicoa 6c na da Ilha de Porto Santo -, afíim agora a ve-

remos extendida naó fo por toda a Ilha de Saó Miguel, mas também
pela de Santa Maria, & mais llhasj que fe os Reys foberanos fe
não def-
prezaó de le íervir em feus Reynos de feus próprios parentes , &
como
taes os trataõ & nomeaó , menos devem defprezarfe os
Capitães de
a ,

feferviremde íeus parentes ,& como a taes os tratarem j quando atè ''?

com vaíTallas fuás cafavaó os Reys antigamente , & entaó melhor con-
fervavaó em fua naçaó feus Reynos , & os livravaò deferem
conquifta-

dos de outros Reys & por iffo perguntado hum dos


-,
Capitães de Saó
Vjfe í«^
Miguel, de quem fe havia fervir na dita Ilha em occafiões de guerraj
refpondeo , que de feus parentes, de que a Ilha eftava cheya.
142 Vejamos pois agora efta verdade. Certo he, que o tcrcey-
ro Capitão de Saó Miguel Ruí Gonçalves da Camera, (
fendo legitimo
filho do prímeyro Capitão do Funchal Joaó Gonçalves
da Camera o
Zargo ) comtudo nem íilho algum legitimo , nem legítima filha tevej
mas lílegitímos teve muy tosj além do prímeyro , Joaó Rodriguez da
Camera, que em quarto Capitão lhe fuccedeo, teve porfegundo
fi-
^^ ^^^^j ^^j^,-
lho, Antaó Rodriguez da Camera, que cafou com D. Catharina Camera, fe.
^f^^- ^f^tz. dá
reyra, Dama da Duquezade Bragança jôc defte fegundo
filho naõfo^«„^o fiiho^ do pru

nafceo Ruí Pereyra da Camera , que morreo foltey ro , mas também


D. meyro Rm ConçaL
Mecia, que ficou com bom morgado em Ribeyra Grandç, & ahLca- J^.j^^ ^^^^/J ^ '

fou com D. Gomes de Mello , filho de D. Diogo de Mello,& de D.Ma- fjT^^fjf'"'''


ria Manoel k deftes nafceo D. Franeifco Manoel ,
;
que voltando da "" '•
^ '

índia fuccedeo no morgado ,& cafou com huma filha do nobre Fraii-
cífco Carneyro em Saó Miguel, de que ficàraó filhos j nafceo mais Dom
Manoel de Noronha , morto fem filhos em Africa , & D. Rodrigo úq
Mello, que também fem filhos , & em Africa morreo na batalha delRey
D. Sebaftiaói & D. Maria Manoel , Dama da mãy do mefmo Rey D:.Se-
baftiaójcomaqualfoy paraCaftella. .^-
Do mefmo Antaó Rodriguez da Camera nafceo D. Ma-
143
ria da Camera, que cafou com Joaó Nunes Velho ,
filho de Duarte Nu-

nes Velho , do qual cafamento houve a defcendencia em Saó


Miguel,
& em Santa Maria , que acima fe vio jà j nafceo mais D, Guimar da Ca-
mera que cafou com Paulo Gago , de que nafceo Ruí Gago da Came-
,

ra, que cafou com D. Ifabel Botelha de Mello 5 & deftes


nafceo outro
Ruí Gago da Camera , que caiou com D. Ifabel , oil Francifca de Oli-
^evra,dequenafceooutro,ôcterceyroRulGago da Camera, queca-
Liy ro V. D a fatal Ilha de S. Miguel.

fou com D. Anna de Betencor , filha de Brás Barbofa & deíles nafceo
,

Gonçalo da Camera, Alteres mòr , ôc D. Barbara da Camera, que ca-


lou com o Licenciado Duarte N ey maó Ôc do Icbredito pnmty ro Kuí
:

Gago da Camera nafceo também faulo Gago da Camera, que caiou


com D. Ifabel de Medeyros , filha deHieronymo de Araújo, fidalgo de
Villa Francaj dos quae"s nafceo Pedro Gago da Camera, que calou com
Maria da Coita , fiiha de António da Coita , de Ribey ra Grande ; ôí do
mefmo Faulo Gago «nafceo mais Hieronymo de Araujo da Camera,que
cafou com huma hlha de Luis Leyte , de Ponta Delgada & deites naf- j

ceo Manoel da Camera, que calou com Margarida Cabral, & foraó
pays de outro Manoel da Camera, ( que caiou com Ifabel Cobes} & de
Maria Leyte, que caiou com ManoelPereyrada Silveyra, nobre Cida-
dão de Ponta Delgada , irmão do Padre Joaó Pereyra da Companhia
de JESUS, &: filhos ambos de outro Cidadão António Pereyra d'£l-
vas, & de fua legitima mulher Apollonia da Silveyra.
144 O mefmo terceyro Capitaõ Ruí Gonçalves da Camera
Dí Pedro Rodrigtíez. teve por terceyro filho a Pedro Rodriguez da Camera, que cafou cora
da Camerít^ terceyro D. Maria de Betencor & Sà, de que (fora cinco que morrerão íoltey'
filho do primejiro Ruí ros} nafceo Henrique de Betencor & Sá, que cafou com D. Simoa,fí^
Conçíilves áa Cams- lha de Balthezar Vaz de Soufa , & de D, Leonor Manoel em Ribcyra
ra & qus ainda fe Grande dos quaes
,
, nafceo Manoel daCamera que caiou com D. ívia-
,
eenfcrva em nobre
ria filha de Ruí Gago , & tiveraó filhos j nafceo mais Ruí Gonçalves
vcronia & de [na
',
,

msdher Dona Maria da Camera, que cafou com D. Luiza, filha de Hieronymo Jorge, & de
de Betencor & Sá, D. Brites deViveyros, deque naíceo Simaõ da Camera, que cafou
nafceo HiinrtíjHe de com D. Cscilia Ramalha , filha de Francifco Ramalho & de Leonor ,

Betencor & Sá , ^ Neta , de que nafceo Valentim daCamera, que cafou comD.Jcanna
for aíjHí continuarão de Sà, filha de Simaô
Lopes,& de D.Maria de Sà , dos quaes nafceo húa
unidos os Cameras
única filha D.JVÍaria, que cafou porém duas vezes primeyra, com Ma-
tom os BeteMorcSi ;

noel Rebello de CaílellobranGo,filho do Capitão Balthezar Rebello de


-í-íí, Soufa j & fegunda. vez cora André da Ponte filho de Bartholomcu do
,

Quental, & de Meliciana Qtiental, & de ambos eiies maridos teve a di-
IS^rndMim'' ãk Cã- ta D. Maria filhos j item nafceo do dito Simsó da Camera, fegundo fi-
mera{filho dorhefwo lho JManoel da Camera , Sargento mòr, que caiou com D. Maria Cou-
Pedra RodrigKez.f&
tinha,filhade Joaó de Frias, & de D. Brites Pereyra, filha de D.Joaò
nsto do^rimeyroKuí
Peréyrâ , neto do Conde da Feyra nafceo mais do fobredito Simaó da
:
Gonçalves da Came-
tabafou no Nordefle Cahiera outro terceyro filho do mefmo nome , & quarto filho Rcdr:^.
,

de S.MigKel, & fuá go da Camera , & ambos eftes deyxàraó filhos em Ribeyra Grande;
filha D. Maria da 145 Do mefmo Pedro Rodriguez daCamera, terceyrofilho
CamerA cafeit com do terceyro Capitão Conatario Ruí Gonçalves da Camera,nafceo mais
António Borges da
Joaó Rodriguez da Camera , que.morou na Achada Grande , & era Co-
Cofia^&defies nafcee
outra D. Maria da
mendador de Eftrinta na Serra da Eítrella, & cafou duas vezes; primey-
Camera^íjue cafoa cõ ra com D. Helena filha do Contador Mattim Vaz de Bulhão fegun-
, ;

Gãfpar de Medeyros da vez cafou com D.Catharina na dita Serra da Eftrella, & dcílé fegun,
(írSonfa (^ foraõpays do matrimonio ainda que houve filhos , não ficou dellesdefcendenciá*
,

de Gafpar de Medey- porém do primeyro matrimonio nafceo Bernardim da Camera, que


ca-
ros da Camera\& do
fóíina Villa de Nordeíle, com D. Luzia Brandoa, filha de Manoel Dias
fobr edito Pedro Ro-
Brandão, & de Anna Affonfo, & deftes nafceo Dona Maria da Camera^
drignez, da Camera
que cafou a primeyra vez^ cora António de Brum da, Silveyra, &: léus fíi
{:j^. lhos
Tit. II. DâDefcendeiidâ dos fobredítõs* 1H5

lhos naó deyxáraó deícendencíaj &


a fegunda com António Borges da nafceomals D.IrõÈ'^,
Cofta , de que naíceo Duarte Borges da Camera , que cafou com Dona "fi^>^ <^^fo'* emLà^
jMaria de l rias , de que naô houve filhos & nafceo mais D. Maria da
-,

^7^^^/^\v^"7J-
Camera , que eafou com Gafpar de Medeyros de Soufa , dos quaes naf- ^^^^^ ^^ *Prado dos
ceo Gafpar de Medeyros da Camera , que cafou com D, Maria^ filha de ^naei o dito tjta em
Miguel Lopes 3 & de D, Ifabel do Canto 5 & emfim do dito Pedro Ro- SMignel^ & a def.
driguez da Camera nafceo também D. Francifca, que cafou em Lisboa cendída em Lisboa^
jcom D. António de Soufa , irmaó do Conde do Prado , de que nafceo ^.., ,

Dom Dinis de Soufa , com filhos là no Reyno j & a fazenda cà em Saó Dopmeyro RmGt^i
'
Miguel. -
ptofí «a/íw tambl
146 Nafceo mais do mcfmo terceyro Capitão Ruí Gonçalves D Brites àa comera
àe Irandjco
>da Camera, D. Brites da Camera , qu« cafou com Francifco da Cunha »»«^^«^
& Albuquerque , que tinha chegado da índia , & muy to rico , & deíles "^l^^f/ f^^ ^^^^^]
nafceo D. Guimar da Cunha, que cafou como terceyro Capitão Dona- IJ^Zc^j^çJfJar da
tario de Santa Maria Joaõ Soares de Soufa , como jà fe vio no Uv. ^.cap. cunha que cafott cà
•8. do terceyro Capitão Donatário da dita Ilha, & da muy ta defcenden- Br a» s»nres de Sonfa

ciaque delle houve, & ainda ha. Eeílahe a copiofa defcendencia quQ terceyro Donatário de
da illuftre familia dos Cameras ficou em eftas Ilhas , porque nellas naó ^'*"^'* Mana^dei^ue
% que dos feguintes Capitães Cameras ficaífe alguma outra ^^^^^^-
dencia nas ditas duas Ilhas , falvo filhas Freyras que em Saó Miguel 'v
^''l^'^'^rcg42'cia
J

entrarão , & morrerão muytas , & todas com naó menores refplandores
4e virtudesj que de íeu illuílre fangue. O fegmâo Rey dd
147 Da illuftre familia dos Betencores defcubrimos o feu tron- Canárias ^caõdeBíf.,
CO Bo Uv. 2. cap. 2. onde vimos , que hum grande Almirante de França ^l""J^ p^^JM p^iraa
c ^/^ 1 f n. Til- j /-. • Madeyra com kH le^
íoy o primeyro Cathouco que conquiftou três Ilhas das Canárias , '^n-çúimo filho &hu>»4
no de 1417. & foy legitimo Rey das taes Canárias, & fe chamava MoU piha 2jà tinha tra- ,

fen, ou Ruben , de Barcamonte , & por fua morte lhe fucccdeo na Co- z^ido de França: com
toa feu fobrinho MoíTcn Joaó de Betencourt , ou Betencor que con- ^fi^^^ t). Maria de
,
^'tencor cafou Ioga
quiftou a quarta Ilha das Canárias , & por não poder conquiftar a prin-
cipal , chamada a Gram Canária , vendeo as quatro que tinha ao noíTo ^^^
"^^ rce ^ fíih
SereniíTimo Infante Dom Henrique por certas fazendas & rendas que Ji^ cJpitaõ do Fun»
,

lhe deo na Ilha da Madeyra , Q que já depois das Canárias fe tinha def- chal/oaõ Gonçalves
cuberto } & para ella já fem o Reynado fe mudou o dito Betencourt, Zargo ^&dellesnaã
fegundo Rey das Canárias , (de cuja defcendencia agora tratamos.) "Pi. ficou defiendècia aí-
Iha legitima defte fegundo Rey das Canárias era D. Maria de Beten-.?^'**!^^''™'' ^"*
cor, que com elle tinha ido de França para ellas , & vindo delias para a
'*J^°
, A
'^*""^*

Madeyra , cafou com Ruí Gonçalves da Camera, filho legitimo do pri- ,,;j/,^ traz.idodeFrÃ^
jnéy ro Capitão do Funchal, & que foy o terceyro Capitão de Saó Mi- ça^nafceo naMadey^
guel ; mas porque defte matrimonio naó houve defcendencia alguma, raGnjpar de Bete».'
& a varonia dos Betencores fe continuou^ & dura ainda , de hum legiti- "o^^^ ^«ematiacha-
mo irmaó da dita D. Maria, & eftas duas illuftres famílias de Cameras, ^^^^^^''^''»"
^y^^
& Betencores começarão logo taõ liadas, por iílb as ajuntamos aqui. ^h cõ D^Guimar^d
148 Do tal pois fegundo Rey das Canárias Moften Joaó de ^k, Damado Paço >

Betencor, nafcèraó Miei Maciot de Betencor, êr a dita D. Maria de Be- fida de Henrique dl
tencor,raulherdoterceyro Capitão da Ilha de Saó Mi^uú ^^ o^mbos Sà, o do Porto, &trd^
nafcidos ainda em França de mulher com quem latinha cafado ò dito " dosMarejvez.es de
fegundo Rey das Canárias, como também de França tinha vindo jà ca- ^''*'^'' ^ *'^'' "^""^ '

de p,Vt»lante Cõde'
fado o tal irmaó da dita D. Maria. De Miei Maciot deBetencort naf-
çaka Cajianhejr0^
Q. "j ceo
:t6 Livro V. Da fatal ilha de S. MígueL
1)0 tal Henrií^Ht de
Betehcor,& de Dona
^^^ ^^ Madevra Gafpar de Betencor , que cafou com D. Guimar de Sâ,
de Sà , do Porto,
f""7 ""^unídr Dama do Real Paço de Portugal , filha de Henrique
que em S yj^/^«f/ dequedefcendemosiUuftres
Marquezes^de Fontes, &: prima coirmã
U &
efte Gafpar de Betencor
cafm som í?«m«r de D. Violante Condeça da Caftanheyra 5
Cofiçalvesfi/k^ de Cõ foy o fobrinho ,que a tia D. Maria chamou para Saó Miguel,&: fez mor-
^do Faz., chamado o ^^^ j^^^g ^ ^-^^ j-g^ fUj^Qs de feu marido Ruí Gonçalves da Came-
^«^r.»K & dehãa &^^ ^^^-^^^ DonaCario de S .Miguel
^^^^
filha de learo Lor-
jy ^
pois Henrique de Betencor nafceo o primeyro fi-

betencor & Sa era lho varaõjoaó de Betencor &


Sa , que cafou em Sao Miguei com Gui-
fenhar dai Saboartasm^Y Gonçalves , filha de Gonçalo Vaz , o
moço, chamado o Andrinho,
da-Madeyra & pc7^ & ^g huma filha de Pedro Cordeyro^ da familia dos Cordeyros, de que
,

ffojen filho Framif. trataremos em feu lugar abayxOi&do cal Joaó de Betencor ôcSànaf-
cod^ Betencor &Sá,fenhor dasSaboarias
^Z'» ceo prímevro filho Francifco de Betencor "

íríX'l1^'^^aMadeyra,para onde tinha- voltado de Saó Miguel, cafado já corii


D Maria dá Cofia D. Maria da Coíla &
Medeyros filha de Diogo Aftonío Colombrey-
,•

Medeyros,filha dero;èc deftas famílias abayxo fallâremos. Do tal Franciíco


íi
& de Betencor
Dom Afonfò Coíom- nafceo Aildrè de Betencor & Sà , que cafou com D. Ifabel de Aguiar,
hteyro. fidalgo deSaõ
^^ande fidalga da Madeyra, filha de Ruí Dias de- Aguiar, de D.Fran- &
^^ ^^j ^^^^^^ ^^ Betencór , & da dita lua mulher naf-
Miguel.D,fdmFrã. &.^^^
^^ ^^^^^ _
^
tnleo7nZ de cèraóprimeyroFranciícpdeBetencor , feguiido; Ruí Dtas de Aguiar,
na cafa o terceyro hoGaf-
BetJcor & Sa ^ue & ambos morrèraô fem filhos & fuccedeo

,
,

cafoH com D iÇahel par de Betencor & Sà a quem legitimamente,


fuccedeo feu filho Fran-
áe Aguiar de cifco de Betencurt & Sà que cafou com D. Anna de Aguiar dos quaes
.filha, ,
,

KtiiDMs de Aguiar, nafceo Gafpar de Betencurt , moço fidalgo da Gafa Rêàl , que càfoU
D
&de D.Framzfia
^^^ ^ Margarida de Mirandaj & deftes nafcèraô primeyro D. Manoel
affim morreo . fegtmdo , D. B^tho^n.eU
í^f ;;f tX : de Sà , que f? fez Clérigo , &
morreo fem filhos, terceyro, Doni i- rancifco de Be-
cafa fuccedeo o ter- de Sà, que cafou, &
ceyro filho Gajp^r de tencurt & Sà, que foy Religiofo profeífoda
Companhia de J tS U S , &
Betencor &Sa,a ^«5 morreo pregando em S. Roque de Lisboa com grande exemplo de viri
fmcedeojeu filho Fra ^^^^^ ^ ^^ ^^^ f^^^ jj. ^ QgQg ^ defprezar a grande cafa de feus pays,
^
&
cifio de Betencor &
^^^^ ^.^^^^ ^^ ^^ç^ ^^^^^ conforme ao de feus pays, & avos, & ujti-

2l7de2Zr& mamente íe feguio na cafa D. Bernardo de Betencurt & Sà , que ainda


eftà fokcyro; & por varonia, fempre legitima, &
lUuítre, he oy ta vo ne-
defiesnafceo D.Gaf-
par de Betecor &Sa , to do fegúíido Rey das Canárias Betencurt. - , - ^ •

^•»í cufofi com Dona j q


^
Muytas outras & rouy to nobres famílias
,
íahirao da dita
Margarida de Mi ^^^ ^^^g Betencores , que fe tem tocado , & tocaráó
|-^|^^
em feus luga-
randa-.dewHjtosfi^
res; porque do primeyro Gafpar de Betencor
, neto do dito Rey das
da cafade -
itiTt^^^ Canarias,nafceota™be.m Henrique de Betencor, fidalgo
como em Caftet
BernL Beten. Rcy D. Manoel, cujas filhas cafáraó aífim em Lisboa
i ,

cor&Sa cMJa trma la, com D. Al varo de Luna filho de D. Pedro de Gufmao , como tam-
,
,

cafoH em FunchaUi ^^^-^ g^^ 5^0 Miguel com OS Barbofas Silvas,& com os Gagos da Came-

mais Gafpar de Perdomo, que calou com


0 ricofidalgo FraciÇ. j^^r^gQ Brites Velha, dos
^^
Cabraes do qual cafamento nafceo D. Simoâ , que
CO derafcocdlos,^He
„rimeyrosVelhos
F^^^^^ J^^
;
temdeícendenc^a.
^^^^^ Pereyra , bifnetodo Condeda Feyra, aonde depois
Dcn>tiy!os «»<m/- ca faraó OS Frias. Item nafceo D. Margarida Betencor, que
cafou com
dalgosB-iencorcs &
Pedro Rodriguez da Camera, como vimos em os Ca rr: eras.
h emfírri
Sa.,,<]HcfickrM,&Je'^^,^^^^^jy
Guimardc Sà, que cafou com António Zuzarte de Mello, fi-
dalgo de Évora , de que houve illíiílre defcendencia.
E daqucllejoaõ
Í!'ií'
ZTll.Mgtr

IH
Tit.ííLDosGagós,Rapofos, Potes,Bicudos,CoiTeas. í8^

^e Betencor , bifneto do dito R.ey das Canárias nafceo Simão de Béf


,

íencor , pay de António de Sá , que cafou com D. Felippa Pacheca j fi-)


lha de Pedro Pacheco , & neta do primeyro Antaó Pacheco mais naí*^ ;

ceo D. Margarida de Sà , que cafou com Gafpar do Rego Baldaxa , dé


que defcendém os Regos. E emfim daquelle André de Betencurt,quar-
to neto do fobredito Rey^ nafceo D. Maria de Aguiar , que cafou com
Manoel Alvares Homem , de que nafceo Francifco de Betencor , que
cafou crom D. Maria Rebella ficdettés nafceo Joaó Borges de Betert^
}

côr, que cafou com D. Gatharina da Cameráj fiUia de Ruí Gago da Ca-*
mera , Sc de D. Anna de Betencor.

T I T U L d 'llí.

DõS Gagos^ RapofoSy Pontes , Bicudos^ Corre ã^y Pachecòs.

i^i Y~v E Beja veyopara Saô Miguel, no principio dodefcu=


JL^ brimento defta Ilha hum conhecido fidalgo chamado
, ,

RíiíVaz Gag05por alcunha o do Trato, pelo grande contrato que tinha


comoReynOj veyojàcafado com huma fidalga, chamada Gatharina
Gomes Rapofa &: era filho de Lourenço AnesGago fidalgo também
; ,

de Beja j & irmão de Efl;e vaó Rodriguez Gago , pay de Luís Gago, que
com o primo Ruí Vaz Gago veyo para efta Ilha & deftes dous primos j

veremos com diftinçaó a defcendencia. Luís Gago cafou na Ilha com


Branca AfFonfo .da Cofta fidalga dos Colora breyros era Capitão em
, j

Ribeyra Grande , & tam rico jà, que a cada huma das muy tas filhas que ^^"^ j^jl^el deále
teve , deo em dote vince moyos de trigo de renda cada anno que hoje ^gjcède mupa fidM. ,

rendem & valem dobrado delle nalceo Paulo Gago que cafou corp^^jj de Portugal &
, : , ;

Guimar da Camera filha de Antaó Rodriguez daCamera, de que já dosGagos Cornas.


,

acima tratámos & defte Paulo Gago nafceo Ruí Gago da Camera, Ca-
}

pitão mòr de Ribeyra Grande de que nafceo outro Ruí Gago da Ca-
,
\
mera , & defte fegundo outro terceyro Ruí Gago da Camera de que
, ,

nafcèraó Gonçalo da Camera, Alferes môr,& D. Gatharina, cafada com


Joaó Borges de Betencor, &: outra filha cafada comSebaftiaó Borges
da Silva, Lealdador mòr & dos defta linha de Luis Gago , & Branca
j

AfFonfo houve mais defcendencia que deyxo.


152 Do outro primo Ruí Vaz Gago,& de fua mulher Catha.-
rina Gomes Rapofa nafceo primeyra filha Ifabel Rodriguez Rapofa^
que calou com hum N. de Abreu fidalgo do Reyno cuja filha Anna
, ,

de Abi-eu cafou com Pedro de Azurar , Eftribeyro mòr do fenhor Dom


Jorge, Duque de Avey ro. Segunda filha foy D. Mecia , ou Maria Ra-
pofa que cafou com Eft-evaó Nunes de Atouguia em Portugal, de que
j

nafceo D. Gatharina que cafou com D. Diogo de Soufa , Vice-Rey do


,

Algarve, a quem peia mãy .ficou hum morgado de cento & trinta &
oyco moyos de trigo de renda cada anno em a Ilha & deíle D. Diogo ;
ã
riafceo D. Maria de Noronha , que cafou com o Conde da Caftanheyraj
de que nafceo o Conde D. Joaó de Ataíde. Terceyra filha de Ruí Vaz
Ga-
%n Livro V. Da fatal Ilha de S.Migiiell
Gago, & de Catharina Gomes Rapofa foy Brites Rodriguer Rapolãj
que cafou com Jacome Dias Corrêa , Cidadão do Porto j dos quaes nal-
ceojurdaô jacome Rapofo, que pnmeyra vez cafou com Francifca
Rodriguez Cordeyra , filha de Joaô Rodriguez Cordeyro , Feytor da
Rapofor, fazenda Real & fegunda vez com
Vos Pontes, -,
Margarida da Ponte,filha de Pedro
Stcifdft^ da Ponte o V elho i de Vilia Franca , & do primey ro matrimonio nafeeo
Sebaftiaô Jacome Corrêa j que cafou com Ignes da Ponte , filha de Pe-
dro da Ponte Rapofo , que cafou com Mana Carney ra , filha de Antó-
nio Bicudo Carneyroj fidalgo de Villa de Conde, de que nafeeo Ma-
noel Rapofo Bicudo , que cafou primeyra vez com
D. Anna de Vaf-
concellos Leyte , & fegunda vez com Anna de Medeyros , filha de An-
dré Dias , filho de Gafpãr Dias & defte Marioel Rapofo nafeeo Pedro
-,

da Ponte Bicudo, que cafou com D. ífabel Botelha de Sampayo, de


que nafeeo Manoel Rapofo Corrêa Bicudo >& outros filhos, & filhas
Freyras. ^ /. r • * t vt
153 Do lobredito Joaô Jacome Rapofo nafeeo mais André Jaco-
me,pay de Pedro Jacomc,de q nafeeo outro Pedro Jacome Rapofo,que
Lisboa. E de Ja-
por preferente tirou hú morgado da Ilha a hu Conde de
come Dias Corrca,&; Beatriz Rodriguez Rapofa nafeeo também D.lfa-
bel Correa,que cafou com Joaô da Silva do
Canto, fidalgo de Angra,de
que fâllaremos em feu lugar & nafeeo mais Baraó Jacome Rapofo , que
-,

Simaó, do lugar dos Alta-


cafou com Catharina Simoa^ filha de Martim
res da Ilha Terceyra , de que nafeeo
Ayres Jacome, que cafou com Ma-
ria do Couto , filha de Brás do Couto , de
Angra àt que ( além de três
,

filhas Freyras na Efperança da mefma Angra)


nafeeo Fernaó Corrêa de

Soufa , que-cafou com D. Bernarda de Lacerda , & deftes


nafcèraô vá-

rios filhos , que morrerão fem defcendencia &


D. Maria Clara
, , cafada

em Lisboa com Júlio Cefar, & D. Terefa , cafada com Hey tor Mendes,
&ambas também fem filhos.
154 Nafeeo mais de Jacome Dias Corrêa j& de Beatriz Ro-
cafou com Manoel Vaz
drigaes Rapofa, Catharina Gomes Rapofa,que
MecoSf Ripfos. p^^heco , fidalgo de Villa Franca , filho de Thomè Vaz Pacheco , &
Portugal cafado: da dita pois
neto de Pedro Vaz Pacheco , que veyo de
Catharina Gomes Rapofa, & de Manoel Vaz
Pacheco nafeeo Francif-
Catharina Manoel de Ataíde , filha
co Pacheco Rapofo que cafou com
,

Portugal , & deftes nafeeo Gafpar


de Manoel Lopes de Almeyda de ,

de Villa Franca ,de


Pacheco Rapofo, que cafou com IfabeldeBrum,
fe fez Ermitaô exemplar
que nafcèraô Manoel Pacheco Rapofo, que
cafou com Bento da t' onfeca, Cida-
das Fumas, & Barbara Corrêa, que
d'Arruda ^ de que ficàraô filhos
dão de Villa Franca , pays de JoaÓ
-, fi-i

Clara Rapofa , que ca-


do mefmo Gafpar Pacheco Rapofo nafeeo mais
fou em Ponta Delgada coríi Manoel
Gonçalves de Aguiar, de que naf-
Mananna. Naíceo mais de
eeo António Pacheco , que cafoil com Dona
Pacheco Brás Rapofo,
Catharina Gomes Rapofa, & de Manoel Vaz ,

Fernando Anes de Puga de


que cafou com Catharina de Frias', filha de ,

Dos funàédorci ^io que nafceoMariaJacome,que cafou com Manoel


Martms,& ambos fun-
Co^ventode S. foaõ ^^^^^^q^^^^^^,^ de Freyras de S. Joaô em Ponta Delgoda. Item ml-
dt PontA Delgada. ^^^^.
^^ ^g^^^ Catharina Gomes Rapofa ,
& de Manoel Vaz Pache-
• - CO5

•mtm
Tit. III. Córltinuaõ-fe ós ditos appellidos. i8p

fcbjAnna Pachecaj mulher de Hierony mo de Araújo, & Maria Jacome,


mulher de Lopo Anes Furtado.
155 L)ofobredicoJacomeDiasCorrea36c Beatriz Rodriguez .
_

^"^ /««pf?"''*" «'5'°


Rapola nafceo mais Aldonla J acome , que caiou com Agoftinho impe-
riai, & deites nafceo Alexandre Imperial , que caiou em Genovajôc nel-
's'^tfj'*Li
lateveoíceptroannualnoanno dei583. òcdepois foyporEmbayxa-
.doira Madrid j & delle nafceo Maria Imperial, que cafou na mefma Re-
nova com hum fenhor de titulo & outra irmá brites Im.perial , de que
;

íe não fabe mais. Ultimamente nafceo do mefmo Jacome Dias Corrêa,


Chriftovaó Dias Corrêa,, do qual cafado conforme a fua qualidade, naf-
cèráo os filhos feguintes primeyro, Jacome Dias Corrêa, que cafou na
:.

Yilla da Praya da Ilha Tercey ra; fegundo, Gafpar Dias , calado na mef-
ma Villa da i^rayaj terceyro, iíalthezar Dias cafado em Caftellai quar-
,

to, Belchior da Coita Ledefma que cafou com Anna Aífonfo na Yilla
,

de iS ordeíte em Saõ Miguelj quinto, AldonfaJacome,cafada em Villa


Franca com Salvador de Araújo cliamado o Fartoj fêxto,Jurdâo Jaco-
,

me Corrêa, que por fuás façanhas em a guerra foy chamado o Capitão


Alexandre, & não deyxou filhosi feptimo, Jorge Dias Corrêa, a quem
por Caítellâfoy dado o governo de huma Gale, & deite. nafceo Sebaf-
tiaó Corrêa , que teve o mefmo governo de huma Galé como o pay ^ &
do tal Sebaftiaó Corrêa nafceo Thomè Corrêa da Coita, Cavalieyro
profeífo da Ordem de Chriito , fidalgo da cafa de S. Mageítade, & her-
f^^Z^/ZtTat
deyrodo fobredíto feu tio o Capitão Alexandre , & viveo em Angra da ajlhl7erceyra''&
Ilha Tercey ra , & teve por filha a D.Maria Cayxa, que cafou com Joàõ foraS grandes càhs
do Canto de Caítro , fidalgo bem conhecido,6c a Sebaftião Corrêa Lor- demerra.
vela , famofo em armas , & em grandes póítos de guerra', de quefalla-
remos quando da Ilha Tercey ra. _

156 He porém ainda de notar , que aquella primeyra fidalga


Catharina Gomes Rapofa, que de Portugal foy.jà cafada com ò primey-
ro Ruí Vaz Gago , chamado o do Trato j eita enviuvando do maridd,
éc tendo jà tanta defcendencia , comtudo fe cafou ainda , & com hum
^

Joaó de Óuteyro , que tinha fido criado , & fey tor de feu defunto maí-
rido delia j & deite feu fegundo marido teve ainda huma filha , por nd*
me D. Maria Rapofa , com a qual , pela excefiiva riqueza de feu payjSc
mãy , fe defpoíou para cafar Diogo Nunes , filho de Joaõ Rodriguez da
Gamera , quarto Capitão Donatadode Saõ Miguel , & irmão do quiris
to Ruí Gonçalves da Camera & porque o tal defpofado foy fervira
;

ÊlRey em Africa , & là grandiofamente o fnítentava o fogro , & là mor-


reo, fem chegar a receber a defpofada , ainda comtudo eita fe defpoíou,
& cafou com D. Gilianes da Coílà , Vedor da Fazenda , & do Confelhõ
deEítado, filho de D. Álvaro da Coita ,Camareyro mòr, fie Armeyrõ Dg hií Moriaào qm
mòr delRey D. Manoel ;ma^ põrqtie deite matrimonio não ficou mais farelMô facome Ra-
que hua filha , & o ávó fe metteò de poífe do morgado delia , por iíTò f0^0, for parente mais
Jurdão Jacome Rapofo , que vivia em Saõ Miguel , & era parente mais chegado, tirou agrã^
chegado daquellà Catharina GomèS Rapofa, por quem viera o tal mor- desjtdalgos dePort»^^
gado à dita neta defunta, por juitiçá tirou para fi o dito morgado de Tef* ^ '
fentaôc cinco moyoí^de trigo de renda cada à-nno, ^

TITIJ-
Liviro V. Ba fatal Ilha de S Miguel/ .

TITULO IV.

Dos BotelhoSjLeyteSy Amar aesy Fa/cmcelloSf

1^7
U
tP^^s antigos j&Botelhos era Pedro Botelho^
illuftres
Commendadormòr da Ordem de Chrifto , que na ba-
.talha de Algibarrota deo ofeu cavallo ao Condeftavel Dom Nuno Al-
-Varez Pereyra , vendo-o fem cavallo. Defte Pedro Botelho nafceo Gon-
çalo Vaz botelho , que veyo com os primeyros povoadores da Ilha de
banta Maria , & Pedro Alvarez Botelho , que ficou em Lisboa , Prove-
Dos antigos , à-ff^f^^^ ^^ Fazenda em tempo delRey D.Joaó 11. &
defeu confelho,& pay
*""
três
"'""^^'"'^^''.de Lopo Botelho, que cafou com Brites de Mello, filha de Eíkvaó
dos.
iSoares de Mello , fenhor de Mello , de que nafceo Manoel Botelho,
Gommendador da Ordem de Chrifto que cafou com D. Joanna de Sà,
,

£lha de Pedro Vaz de Sà cujos filhos morrerão na Índia &: terceyro


, •,

filho do primeyro Pedro Botelho foy Diogo Botelho , cujo filho Fran-
'cifco Botelho foy Embayxador a Saboya & o filho defte foy também
;

Diogo Botelho , & Governador do Brafil , que foy pay de Nuno Alva-
rez Botelho, celebre em guerras na Índia, per que foy Conde o filho
D. Francifcb Botelho.
158 Do primeyro Gonçalo Vaz Botelho nafceo jà na Ilha de
.

Santa Maria Nuno Gonçalves Botelho , que na mefraa Ilha caiou no-
bremente , & delle nafceo Jorge Nunes. Botelho , que cafou com Mar-
garida Xravaííbs, fedeftes nafceo outro Nuno Gonçalves Botelho, que
cafou com Ifabel de Macedo , fidalga dos Capitães da Ilha do Fayal,
de que nafceo Ferná"© de Macedo , fidalgo filhado , que cafou em V illa
Franca de S. Miguel com D. Barbara d' Arruda , & tiveraô por filho a
Francifco em Villa Franca. Nafceo mais do
d' Arruda , fidalgo filhado
(dito Gonçalo Vaz Botelho , outro domefmo nome chamado de alcu- ,

nha o Andrinho, que cafou com huma filha de Pedro Cordeyro,de que
nafceo a filha que cafou com N. de Macedo fidalgo, irmão do fegundo
,

Capitão do Fayal , & do tal cafamcnto nafceo Brites de Macedo que ,

cafou com Gafpar Homem da Cofta , filho de Luis Fernandez Homem


da Cofta ; & do mefmo Andrinho nafceo outra filha Guimar Gonçalves
jBotelha, que cafou com Joaóde Betencor & Sà,fidalgo.
-IOíí: 159 Item do mefmô primeyro Gonçalo Vaz Botelho nafceo
Joaõ Gonçalves Botelho , que cafou com Ifabel Dias da Cofta , de que
nafceo João d' Arruda da Cofta , que cafou com Catharina Favella , fi-
lha de João Favella, fidalgo dallhá da Madeyra ,& de Beatriz Coelha
Dos Botelhos,'Cofiai, Dama do Paço delFLey Dom
Afíonfp V, &
defte Joaõ d'Arruda nafceo
Armias^é Anz.es. Amador da Cofta , pay de Manoel da Cofta, Cidadão de Ponta Delga-
da , &
de Ifâbel Dias da Cofta ,qu& cafou com António Borges , filho
de Balthezar Rebello , & de GuimarrBorges ; do qual António Borges
nafceo Duarte Borges da Cofta, que cafou com í'
;
• "

& deftes nafceo António Borges , que cafou com D^ Maria dá Gamera,
cujo filho Duarte Borges da Gamera , cafado com Dona Maria de Frias,,
-•y nao

v^
Tit.IV.DosBotelhos,Leytes,Amaraes,&VarconceL rçi

naó teve defcendentes , mas feutio, irmão legitimo de feu pay ,foy ò
Fadre Gonçalo de Arèz, da Companhia de J Kb U S, lanto, & labio,bom
Pregador, muyto humilde , ik exemplar,que foy Key tor de Angra , Ôc
Rey tor por vezes de Ponta Delgada íua pátria. IN alceo mais do íobre- J
dito Joaó d' Arruda da Coíla Beatriz da (Jofta , que cafou com Manoel
do Porto , Cidadão vindo do Porto , de que naícco outro Joaó d' Arru-
da da Coita, & deite outro Manoel do Porto , que foy pay de Maria
d'Arruda, cafada com Manoel de Medey ros, filho de Gaípar Dias.
i6o De Nuno Gonçalves Botelho, filho do pnmeyro Gon-
çalo Vaz Botelho , nafceo mais Diogo Nunes Botelho, Contador da
Fazenda Real , & Cavallcyro da Ordem de Chrifto,que cafou com
Ifabel Tavares , filha de Rui Tavares o Velho j & deites nafceo Jorge
Nunes Botelho, que cafou com Hieronyma Lopes Moniz, filha de Ál-
varo Lopes , ôc de Maria Moniz j & deite Botelho nafceo D. Cathari-
na Botelha , mulher de Jacome Leyte de Vafconcellos , fidalgo filhado
N
de que abayxo fallaremos. Do outro Jorge unes Botelho , filho do fo-
bredito Nuno Gonçalves , nalceo huma filha , que cafou com Fernão
Corrêa de Sou fa, fidalgo que veyo daMadeyra^ôc outra filha D. Ro-
queza , que cafou com Francifco do Rego de Sà , chamado o Graó Ca-
pitão , de que naó ficàraõ defcendcntesj porém do cunhado Nuno Gon-
çalves Botelho ,fegundo do nome , nafceo mais Pedro Botelho, que ca-
lou com Leonor Vaz na Villa da Praya da Ilha Terceyra j item nafceo j,^^ Botelhas daPra-
F^ieronymo Botelho, que cafou na Ilha de Santa Maria com Guimar ja da Ilha Tercevra.
Faleyra ; èc deites nafceo André Gonçalves de S. Payo , que cafou com
Maria Pacheca , filha de Antaõ Pacheco j & deites nafcèrão António de
S. Payo, que cafou em Ribeyra Grandej & Dona Maria , que cafou com
Francifco de Betencor & Sà na Cidade , & D. Ifabel Botelha , que ca-
fou com Pedro da Ponte Bicudo , morgado em Ribeyra Grande j & do
dito André Gonçalves de Saó Payo, foy também inteyro, & legitimo
irmão Gonçalo Vaz Botelho,& outros que tiverão muytadefcendencia
na Ilha, Brafil, índia, &c. ,

161 Da antiga família dos Lcy tes concordaó os mais dos Hif-
toriadores , que vem de Francezes , que por ferem muyto alvos fe cha-
&
marão Ley tes ,& que vieraó a Portugal, ajudarão a tomar Lisboa aos
Mouros. O certo he que nem todos os Francezes íe chamaó Leytes , St
que comtudo fefuppoem virem de França , & que de França tem os
Leytes as Lizes nas fuás Armas , com varias dívifas conforme as varias
familias, có que fe aparentarão. Dizem pois que o primey ro que fe acha
deita farailia , foy Álvaro Anes Leyte , & que era fenhor de Calvos , &
Baíto em Entre Douro & Minho ; & na verdade Ejntrc Douro & Mi-
nho, no termo do Porto , fe conferva ainda cita familia com nobreza , & d^^EnZnZ^P^
fidalguia muyto conhecida ; porque do dito Álvaro Anes Leyte nafcè-
Mtnll^rtTaays
raó três filhos', dos quaes o tercey ro foy Álvaro Lcytc, fidalgo jà , & fe- g^ S^lbrmtlss, *
nhor do morgado de Quebrantóes em Gaya , a pequena , junto ao Por-
to , & cm tempo delRey D. AíFonfo V. & deite morgado de Qiiebran-
tóes nafcèraó dous filhos , primey ro , Diogo Leyte, fenhor do dito
Qiiebrantóes , & Gaya , & cafado com Dona Violante Pereyra , filha de
Diogo Brandão , Contador, da Fazenda Real do Portoj & deite nafceo
Alva-
Ipl Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguel.
Álvaro Leyte, que cafou com D. Martha, filha de Sebaftiaõ Pereyra de
Braga, dos quaes naíceo Diogo Leyte Fereyra , & Sebaftiaõ Leyte Pe-
reyra , que calou com D. Luiza da Cunha , òc tiveraó vários filhos j &
do dito Diogo Leyte Pereyra nafceo outro Álvaro Leyte , que ( con-
forme a hum) caiou com D. Antónia , filha de Manoel Mendes de Vaf-
concellos i Ôí ( conforme a outros ) filha de Gafpar Peífoa , Defembar-
gador do Porco.
162 O
fegundo filho que iiaíceodo fobredito Álvaro Leyte,
foy Joaó Leyte , que teve por filho a António Leyte , cafado com huma
filha do famoíb Pedralves da Cunha , Africano j & deftes nalceo Ma-
thias Leyte Pereyra , Commendador da Ordem de Chrifto, que íoy^-
veyo da Índia, & cafou com D. Hieronyma Valladares Sotomayor , de
que viuvo já , & de outra mulher , & nobre , houve ao Padre António
Leytcj da Companhia de JESUS , legitimado de antes quando fe cha-
mava António de Bulhão, o qual foy grande Religiofo , fervorofo Pre-
gador, Prefeyto dos Eftudos do CoUegio de S. Miguel , & muyto eru-
dito em Genealogias. Nafceo mais do dito António Leyte húa filha,que
cafou com hum fidalgo da Cafa delRey , da familia dos Teyxeyras , de
que nafceo D. Francílca de Vafconcellos , que o fobredito tio Mathias
Leyte Pereyra levou comfigo àlndiaj & fuccedendo noannode 1551.
fazerfe Chnftaó o Rey Mouro das Ilhas Maldivas, ( que cftaó tre-
zentas legoasdeCochim) cafou o dito Rey, jà CathoUco, com a dita
D. Francifca, & delia teve dous filhos , D. Felippe Rey das Maldivas,
que tratado como Rey, morreo em Goa fem defcendencia ; & a Infante
Dona Ignes, que cafou com o fidalgo Portuguez Sebaftiaõ Tavares de
Das Reys das Mal- Soula, filho de outro Sebaftiaõ Tavares , & de D. Mecia de Menezes,
éiivas na/ndia^udes^ filha de D. Pedro da Silva & defta Infante, & de feu marido nafceo D.
:

drtratades comoReys j^^^-^ ^ç, g^^^^ ^^ Silva, que viveo em Goa, 6c veyo a Lisboa em 1 641 .&
ainda em FamgaL
£i|^çy po^j Jq^ó IV. o tratou como a Rey, com docel , chapeo , 6c Al-

1 65 Duasmais teve o dito Álvaro Leyte , ( terceyro fi-


filhas

lho do primeyro Alvareanes) primeyra , Dona Ifabel Leyte , que cafou


com Gonçalo Vaz Pinto, filho de Manoel Vaz Pinto, fenhor das hon-
ras de Peniche, & defcendente por linha direyta de D.Joaó
^ Garcia Pin-
to, neto do Conde D. Mendo SouzaÕ , &: bifneto delRey Dom Aftbnfo
Henriques da dita D. Ifabel, 6c de Gonçalo Vaz Pinto nafceo D.Fran-
:

cifca Teyxeyra , mulher de Luis Alvarez de Soufa , 6c


António Tey-
xeyra Pinto , marido de Donajoanna de Sài 6c deftes nafcèraó Gonçalo
Vaz Pinto , morto na índia , Sz Martim Teyxeyra Pinto , &: Ruí Vaz
Pinto de Góes. A fegunda filha do dito Álvaro Leyte foy D.Maria Ley-
te, que cafou com Lopo de Robles, Commendador da
Ordem de Chri-
™9 fto de quem nafcèraó Chriftovâo de Robles , Belchior de Robles, Ca-
,

tharina de Robles 6c a dita D. Maria foy em fim para Caftella com a


;

Emperatriz D. Ifabel, mulher de Carlos V.


164 Do primeyro Alvareanes Leyte ( além do fobredito ter-
ceyro filho) nafceo fegundo Diogo Alvarez Leyte, que cafou em
Gui-
marães com Maria Gonçalves Nogueyra 8c deftes nafceo Joaó Leyte,
,

Carney-
que «afou no Porto com Catharina Garneyra, filha de Vafco
ro.
^ Tit. IV. Dos mefmos âp^pellidos* I Tpji

CO j O velho , de que nafceo primey ro Alvar© Leyte ,


que cafoit com Dí|
Maria da Paz , filha de Diogo da Paz , &
forao pays de Jo^õ Dias í-ey^
íe,marido de D. BritesPereyra, filha de Duarte Percyra, dequemfoy,
filho Martim Leyte , morgado. Naíceofegundo de Joaó Dias Leyte
Maria Carneyra , mulher de Francifco do Couto , dos quaes nafce^
Magdalena de Vafconcellos , que çafou com Diogo de Soufa , o do Por-»
to. Nafceo mais do fobredito Diogo Alvarez Leyte,
António Leyte, fi-;
dalgo,fenhor,& Capitão de MazagaõjSc ultimo de Azamor,&c. o quô.
tudo largou pela Villa de Santo António de Aranilha no Algarve,& pe-.
la Commcnda de Arganil, & cafou com D. Maria de Vafconcellos $
fie^

daqui nafceo Luís Leyte de Vafconcellos, que cafou com D. Leonor dô^
Oliveyra , & ainda que teve três irmãs , & dous filhos , naó fe íabe d^ ....Mi!.''

défcendencia delles.
165 O primeyro filho pois do fobredito Álvaro Anes Leyte:,

foy Vafco Leyte , que fe achou em Cey ta pelejando, d^ & na batalha


Toro com Eltley D. AíFonfo V. &
cafou conforme a fwa qualidade na
nobre, antiga familia dos Amaraes , &; delia teve por filhos a Diogo
&
Leyte de Amaral, & a outro Diogo Leyte , pay de AíTonfo Leyte , Ca-
pitão da Moeda, & a Luís Leyte Defembargador do Duque de Bragan-
-çaj & nâole acha a mais défcendencia deites filhos -, acha-fe porém quâ
nafceo também do dito Vafco Leyte huma filha Aldonfa Leyte, que ca-
fou com o Doutor Joaõ Rodriguez de Amaral, irmão de Pedro Rodri-
guez de Amaral , aos quaes dous irmãos fez o Emperador de Conftan-
tinopla fidalgos Cavalleyros com muytos privilégios , & tudo depois
confirmarão, aíTim o Papa Alexandre VL como ElRey Dom Manoel
H'::!l

de Portugal.
166 Da dita Aldonfa Leyte , & do Doutor Joaõ Rodriguez Dis ierdMdeyyis Ai
de Amaral nafcèraó três filhos: Diogo Leyte de Amaral, que cafou com maraes ejue fe chaA ,

D. Maria Pereyra de Vafconcellos filha de Jacome Rodriguez de Vaf- maõ LeyteSf f^afcon^
,

celloj,&Botelh0S,nas
concellos de Alvarenga , & delles nafceo Diogo Leyte de Azevedo > fi-
llhoideS. Miguel,
dalgo filhado nos livros delRey , do habito de Chrifto , & o primeyro
& n* Tereeyra fi- ,

defta familia que de Portugal veyo á Ilha de Saó Miguel , & em Villa dalgos bem conheci',
Franca cafou com D. Helena de Caftro, filha de Sebaftiaó de Caílro, & dos.
irmã de Manoel de Caftro , ambos irmãos muyto ricos , & quetinhaó
vindo do Porto & dos taes Diogo Leyte de' Azevedo , & D. Helena
5

nafceo Jacome Leyte de Vafconcellos, fidalgo filhado , que cafou com


D. Catharina Botelha , (como jà diíTemos nos Botelhos ) & delles naf-
ceo Diogo Leyte Botelho de Vaíconcellos, fidalgo filhado, & que com
gente à fua cufta foy fervir a ElRey D. Joaó o IV. na conquifta do Caf-
tello de Angra , & teve por iíTo o habito de Chrifto com tença , & em
Angra cafou cóm D. Maria do Canto fidalga dos Cantos da Ilha Ter-
,

ceyra , como em feu lugar diremos & defte matrimonio nafceo em Saó
;

Miguel Jacome Leyte Botelho de Vafconcellos, que teve mais irmãos,


Clérigos, Religiofos,&: Freyras, & elleteve também o habito de Chri-
fto , & também cafou em Angra com D. Maria de Mello & Silva , filha
de Luís Coelho Pereyra, & de D. Ifabel de Mello, de que trataremos,
quando da Ilha Terceyra , & de Luis Diogo Leyte , filho morgado do
dito f acomc Leyte , & que nafceo jà em Angra , & là também ficou , &:

*
R . "
cafouí.

^W*
Livi-ô Vr Da fatal ílhâ de S . Miguel.

©aíou com íiiiní a filha do gíande morgado j Sc fidalgo Joaó de Teve à®-
VaÍGoncellos, da qual tèmjà muytos filhos.
u, lè^ '-'-i^
íO ícgundofilho da dita Aldonfa Leyte foy Vafco Leyte^
i^ue caiou coM Mana Corrêa de iVíartim Corrêa no Portoj & de-
, filha
ite eafamento naícèrâo Diogo Ley te , pay de Dona Brites Leyte^ cafáda
eOm Manoel de Moura , de que nafceo Dona J oanna Ley te , mulher de
Frahcifco Pinto Henriques , filho de Álvaro Pinto > fenhor das honra»
de Paramos j & do mefino Valco Ley te nafceo mais D. Francifca , que
cafou como Doutor Francifco Ferreyra, Defembargador do Porto,
pays de outra Aldonfa Leyte , cafada no Porto com Francifco Vieyra
da Silva , de que nafceo António Leyte de Amaral. O terceyro filho da
primeyra chamada Aldonfa Leyte j & do Doutor Joaó Rodriguez de
Amaral foy Briolanja Leyte , que cafou com Duarte Tavares y de que
nafceo Diogo Tavares cafado no Porto com Maria do Couto^ & deites
nafcèraó Manoel Leyte, pay de Martim Leyte, Mactheos Leyte, Sc
Diogo Leyte , & do dito Diogo Tavares, & Maria do Couto nalceo D.
Antónia, que cafou com Simaó Ribeyro Pcflba, que foraó pays de Dona
Maria Leyte de VafconcellOs.
i68 Dos Amaraes acima liados cóm os fobreditos fidalgos
Leytes, fó breviffimamehtc trata o èruditò Padre Leyte, fendo que
Destauftt tíohris\& (como do acima vimos} a varonia , oú linha
mafculina dos taes Leytes
antigos Amaraes dt he daquelle Joaó Rodrigues; de Amaral, que cafou com a primeyra Al-
Viz.eu,&dosqHede- donfa Ley te , dc que fe contiíiuou a varonia atè o fobredito fidalgo Luís
ftafamilU foraSRe- piogg Lç-yj-g ^as jà hecoufa muyto ufada nomearern-fe muytas fami-
.

lias pelos appellidos daí linhas femininas , fendo divcrfos os da linha


%*'^d
*^ '/?ESvT^^'
^ - mafculina, cu por affim ferem obrigados com as condiçoens de alguns
•'
-

morgados > ou com outro algum afFedo & titulo > certo he porém que
,

09 Amaraes faó família muyto antiga , & muyto nobre, & muyto multi-
plicada em Portugal , efpecialmente na Província da Bey ra , &: em Vi-
zeu, donde foy para S.Miguel o Doutor Jorge de Amaral Vafconcel- &
los, & na Ilha cafou com D. Brites de Medeyros. ^
.

169 Deftc matrimonio nafcèraó o Padre Francifco de Ama-


ral da Companhia de J E S U
S , a quem antes de fazer a ProfiíTaó dó
quarto voto veyo pela dita fua máy hum bom morgado na Ilha, de cuja
renda fundou o dito Padre a Capellâ de Santo Ignacio com boa renda
fixa que para ella comprou, & fez outras grandes obras
pias , efmolas &
Ij; que em feu teftamento deyxou ; foy tam exemplar , & que por náo lar-
gar a Religião , nem deyxar de fazer nella a ultima profiíTaó folemne,
largou o morgado a quem por fua morte pertencia, ôc na Rebgiaò mor-
reo fabio,& fanto>& da mefma forte,&: na mefma Companhia
de JESUS
morreo outro feu irmão , o Padre Chriftováo de Amaral da mefma : &
'1 família de Amaraes , poAo que de outras linhas , morrerão
na Compa-
nhia o Padre Francifco de Amaral, Valido , &
Pregador delRey D. Af-
fonfo VI. ôc o Padre Pedro dc Amaral , grande Lente da Sagrada Efcr
1-

tura no CoUegio de Coimbra, que compoz hum tomo fobre a Magmfi^


cat,&co imprimio , & foy celebre , &: incanfavel Pregador & paíTou ,

muyto de noventa annos de idade , & nella cftava ainda compondo Ser*
does para imprimir & emfim o Padre Miguel de Amaral, que fendo jà
:

^P
Tit.V.DoS Medeyíos, Af âujos,Boíges,Soufas,Rebel. i^§
I>oiitor,& Meílre em Artes na Univerfidade de Coimbra , fe metteo náP
Companhia } pedio , & foy para a Índia a pregar ao Gentio , & toman-
do depois de mu)í tos annos a Portugal yfem querer nelle ficar, voltou
com muytos outros Religiofos da Companhia , & na índia morreo com.
conftante opinião de Santo , & verdadeyro Apoftolo. E aííim naòfó no
fangue , mas muy to mais nas virtudes, illuftre a familia dos Amaraès.
170 A illuftre família dos Vafconcellos, quanto ao appellido^
ou nome , deduzem muytos de hum Caftelhano Rey, que mandando a
hum fidalgo para certa terra , & vendo que hia de mà vontade, por dey-
xar huma fenhora, a que andava aíFey coado, lhe difie então o Rey,/^2i-
con-zelloS) querendo dizer que hia com ciúmes i& o fidalgo eiítaó to-
^« p>"''««/'''f
do ap^^

mouofobrenome de. Vafconcellos.Qiianto porém ao fangue, os Nobi- ^^J "tiUaluU


liarios deduzem os Vafconcellos , & por linha direy.ta , de Kequçvcdo^^J^gJgJ^^ If/ihli
ReydosGodoSi&oprimeyroquefe acha com tal appellido,he hum ^/c cmfervM neJQ
D.J oaó Pires de Vafconcellos, em tempo de D.Sancho II. & D. AíFonfo lat,
111. Reys de Porthgal , & foy cafado com a Condeça D. Maria Soares
Coelha , de que nafceo D. Rodrigo Anes de Vafconcellos que cafou,

com D. Elvira de Soufa, neta de Martim Chichorro,filho delRey Dom


Aífonfo II. & do tal cafamento nafcèraó tantos filhos, & filhas, que deU
lesprocedem as mais das cafas grandes de Portugal , & a dos fenhores
de Alvarenga , donde huma filha cafou em Vizeu , & fe uniraõ os Vaf-
concellos com os Amaraes , como vimos jà na linha dos Leytes ; & dos
mefmos fobreditos Vafconcellos era aquelle Martim Mendes de Vaf-
concellos , que foy cafar à Madcyra com D. Helena da Camera , filha
do primeyro Capitão do Funch^j & delles nafceo outro Martim Men-
des de Vafconcellos , que foy cafar à Ilha Terceyra , aonde fe ajuntarão
os Tevês, & Vafconcellos, & com ambos agora outra vez os Leytes, co-
mo veremos depois nas famílias da Terceyra, Graciofa,&c.

T I T Ú L O V.
Dm Medeyros, AraujoSy Borges^ Soujas, RebelloSy Dias.
171
f^ Muy to nobre Ruí Vaz de Medeyros de Ponte de Lí-
,

\J ma & Guimarães, foy com os priraeyros povoadores


,
DosmUlijfLmosMe'^^
para a Ilha da Madeyra & nella cafou com Anna Gonçalves de Mendo- dijrts .vmdos de Põ-
,

ça, dos nobiliílimos Mendoças Furtados, & dahi com o terceyro Capi- te de Lima & Gui^ ,

taó de Saó Miguel Ruí Gonçalves da Camera paííáraó para S. Miguel, marães^ quefHmey:,^
êc neftailhativeraôos filhos feguintes primeyro, Vafco de Medeyros> ^^Z""^'*^ Z"*^'*
:
VJf'*
que cafou na Villa da Alagoa com Catharina da Ponte, com a qual dey- ^^
^*'^Tmi ueí'
xando hum filho Amador de Medeyros, fe foy com mais dous filhos fer-/ ''^*'^'* ^ *

vir a El Rey em Africa ; & foy tam ditofo , que fendo cativo dos Mou-
ros , foy delles emfim martyrizado pela Fé fegundo, Rafael de Me-
}

deyros , que cafou na Ilha de Santa Maria com hCía filha de Antão Ro=
drignez Carneyro & de Anna da Cofta , de que nafceo Maria de Me-
j

deyros , mulher de António Camello Pereyra j filho de outro António


R ij CameU
ípí Livro V. t)aíatal IlhadeS. Miguel,

Catnello , & foraõ páys de Dona Catharina , que caiou com Duarte de
Mendoça , fidalgo conhecido , de que ficou huma filha & foraó cam- j

bem pays de Gaípar Camello que ceve muyta defcendencia: cerç&yro,


,

Joaó Vaz de Medeyros, que caiou <:om Ifabel de Frias , filha de tCut

dê Frias, dos quaes nafceo outro R.ui Vaz de Medeyros , ÇavallèyrG»


do habito de Chrifto quarto Jurdáo Vaz de Medeyros,eafado,& coirt
:
,

filhos, em Villa Franca quinto , huma filha que calou com Diogo Af-
: ,

fonfo Colombreyro, de que nafceo Dona Mana da Coíla & Medeyros,


mulher de Franciíco de Betencorôt Sà,que voltou para a Madeyra:
fexto,Guimar Rodnguez de Medeyros * de que logo fallaremos :lep-
timo, Maria de Medeyros, que caiou com Rodrigo Alvarez , filho de
Álvaro Lopes do Vukaõ*
172 Com a dita família dos Medeyros , & pela dita lobredita
IDfi iUnfirít , Guimar Rodriguez de Medeyros ,fexta filha de Ruí Vaz de Medey^
ros, fê ajilncàraó os atítigos , & illuft res Araujòs , de que
fe tratar quizef-
ges Aratfjoí.
femos , ainda recopilando , feria nunca acabar. O pnmeyrò pois chama-

do Araújo ( conforme ao Conde D.Pedro M. 56. §. 8. j foy Payo Ro-


driguez de Araújo, & tomou talappellido dos Araus, ouAraus, dos
quaes defcendiâ, & que o témpo verteo em Araujos , com fer cafado &
com D. Brites Velho de Caftrò, fcmpre íeus defcendentes conferváraô
o appellido de Arauíds j & aífim foy pay de Vafco Rodriguez de Araú-
jo , fenhor de AraiijD ^ Lindozo i outras terras & foy primeyro avô
& -,

de Gonçalo x^^odriguez de Araújo, Sc fegundó avò de Pedreanes de


Araújo , Sc tciceyro avò de outro Payo Rodriguez de Araújo , Embay-
xador delRey Dom jdaó I. a GaMla & quarto avò de Aívaro Rodri-
•,

guez de Araujo , Comrtiendador de Rio Frio , & fenhor das outras ter-
ras> & quarcõ avò também dê térceyro Payo
Rodriguez de Araujo, que
fenhor de Re-
eafou com D. Aldonfa , filha de Pedro Gomes de Abreu ,
galados & quinto avò de D. Margarida de Abreu
que cafou com D. ,
;

Rodrigo Sótomayor , filho do Conde de Caminha Pedralves Soto-'

73
1 Deftes pois tâo illuítres Arâujos era Lopeanes de Araú-
jo, que fendo tara principal varaó de Entre
Douro & Minho, & de Vi-
anna; veyo para Saó Miguel em 1 506. &
cafou com a fobredita Guimar
Rodriguez de Medeyros , tiverlo cinco filhos primeyro , Mana de
& ;

Araujo que cafju "com António Furtado em Villa Franca , de que naf-
,
de Gonçalo
ceo Lopeanes Furtado , nlarido de Ignes Corrêa, filha
Corrêa > &: nafceo mais Leonor de Medeyros , mulher de
Fernão Vaz
Pacheco :íegundo, Brites de Medeyros, mulher dejoaóda
Motaiia
mefma Villa Franca, que era filho de Jorge daMota,de que n^fcèraÓ
Solanda Cordey-
Toaõ de MedeyroSjSc Migiiel Botelho, que cafou com
ra, filha de Joaó Rodriguez Cofdeyro
térceyro Miguel Lopes de A^
: ,

raujo , que cafou com Catharina da Coíla , filha de


Gafpar Pires o Ve-
Lisboa , &: Ma-
lho 3& delles nafcèraó Francifcode Araujo cafado em
noel de Medeyros, & Maria de Medeyros, que cafou com
Manoel Re-
bello, filho deBakhezar Rebello: quarto, Hieronymo
de Araujo, que
cafou com Anna Pacheca filha de Manoel Vaz Pacheco , &
,
de Carha-
rina Games Rápofa , dos quaes nafcèraõ
Gafpar de Araujo , & António
de

VP
Tit.V. Das mefmasiíiuyto nobres gerações.^ t^
d€ Araújo , & Francifco de Araújo , &
Ifabel de Medeyros , que cafou
eom Fauio Gago da Camera j filho de Ruí Gago quinto, Franciica de
:

Medeyros, que cafou com o Bacharel Jurifta Joaó Gonçalves ,a que al-
guns chamáo Joaó Gonçalves Ramalho , que da ferra de S. Gonçalo de
íimarante tinha vindo para efta Ilha de Saó Miguel > & delles nalcèrao
D. Brites de Medeyros , que calou com o Doutor Jorge de Amaral 6c
Vafconc^llos , que de Portugal tinha ido à Ilha , ôc foraó pays dos Pa-
dres Francifco de Amaral , & Chriftovão de Amaral da Companhia
,

de J ESUS , & do Doutor Joaó de Amaral Sc Vafconcellos , & de Gre- ^^^ MdmoTAmk^
gorio de Amaral , Sc de huma D. Joanna , Freyra em Cellas de Coim- ^^^^^
bra. De todos os fobreditos Medey ros,6c A raujos houve tantos mais def-
cendentes que toda a Ilha de S. Miguel eftá cheya delles.
,

1 74 Dos Borges Soufas Rebellos de Saó Miguel, o que fe al-


cança he, que houve na dita Ilha hum Pedro Borges de Soufa , que para
ella tinha ido de Portugal , Sc foy pay de Duarte Borges, & avò de An-
tónio Borges, que era feytor da Fazenda Real em Saó Miguel, Sc fidal-
go defte António Borges nafceo Clara Borges , que três vezes cafou
j

em Portugal , Sc com fidalgos, Sc là deyxou deícendentes, de que algCis-


foraó para a Índia, aonde também morrerão irmãos da dita Clara Bor-
ges , chamados Pedro Borges , & Hierony mo Borges nafceo mais do :

dito António Borges , Duarte Borges de Gamboa , de quem fe fabe que ^^^ BoriêsSottfas àÀ
foy Provedor da Fazenda nas Ilhas, Sc depois Thefoureyro mòr do j/hadei.Aí,giel,&^
Reyno , Sc Cavalleyro do habito de Chrifto com tença j èc defte nafceo inquifidores uefiafaj
António Borges, que ficou em Africa na batalha delRey D. Sebaftiaó, ?w»/f^.
&
cativo ficou lá outro feu irmaó chamado Vafco da Fonfeca Couti-
nho , a quem fugindo do cativeyro de Africa deo ElRey D. Henrique
ú habito de Chrifto com tença) Sc outro irmão dcftes Francifco Borges
de Soufa foy Inquifidor da Meia grande da Inquifiçaó da índia &c to- ;

dos eftes foraó terceyros netos do primeyro Pedro Borges de Soufa.


175 Nafceo mais do fidalgo António Borges , Guimar Bor-
ges 3 que cafou com Balthezar Rebello , Almoxarife da Fazenda Real,
^
Lealdador mòr dos pafteis , de quem nafcèraó três filhos primeyro, :

António Borges, que cafou com Ifabel Dias, & depois com Beatriz Ca-
ilanha filha de Pedro Caftanho Sc do tal António Borges nafceo Du-
, j

arte Borges da Cofta ,que cafou com Maria de Saó Pay o , filha de Ma-
noel Cordeyro de Saó Payo Benevides, Sc de Mecia Nunes de Arèz fi- ,

lha do Licenciado Gonçalo Nunes de Arèz, Seda filha do Almoxarife


de Angra Sc do tal Duarte Borges da Cofta nafcèraó os dous Padres
;

da Companhia , Padre Joaó Borges Sc Padre Gonçalo de Arèz, Sc Aní


,

tonio Borges, que cafou com D. Maria da Camera , que foraó pays de '1 ^^kswsii^-j
'^ei<>_
Duarte Borges da Camera Juiz da Alfandega '^ou do mar como là di-
,
,
^fe^í ./.Vias .i'\
..'.i»

zem, que cafou com D. Maria de Frias, Sc morrerão fem deyxar defcen- ^.. ^^_ ,.„^„,
..

dencia. Segundo filho de Balthezar Rebello , Sc de Guimar Borges foy jy^^ RehfhsBôrp/J
Manoel Rebello , que confervou o appellido de fua nobre varonia , & er Medeyros d» Vt^^
cafou com Maria de Medeyros , filha de Miguel Lopes, da 'SíiVí^àç.Uds AgHAdtPau
Agua de Pào Sc deftes nafceo Francifco Rebello, chamado o Senador,
;

alíim por fua nobreza , como por grandes talentos de que nafceo húa
j

iilha , Sc Balthezar Rebello , ( como feu vifavò) Sc cafou com húa filha
i
R
iij ^©

^HF^
^L.i»<kk

l$)\ Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguel.


de Francifco Soares de Mello , Capitão mòr da Villa da Aiagoa. Ter-
ceyro filho do dito Balchezar Rebello foy Pedro Borges, que cafou
com Anna de Medeyros, & por aqui fe mecceo na família dos Jorges Sc
Dias, de que agora trataremos*
^ 176 Os Jorges de appellido começarão do muyto nobre Jor-
'© è fa 'rd
ge Velhoj que caiou com a igualmente nobre Africa Anes, ou Africa-
w! ['LãlZ nes, ( de que tratámos jà quando dos iUuílres Velhos da Ilha de San-
trominicl tom Joio ta MariaO deftes nafcèraò , & defcendèraò muy tos ,
que por fobrenome
[entronco forgere- tomàraôo appellido Jorge ,( como fabeni todos os que alguma coufa
""
fâbem de Genealogias j ) nafceo pois Fernaó Jorge, que foy o que trou-
'
va.

xe o Alvará de Villa a Ponta Delgada, quando no principio era fó lu-


gar fugeytoa Villa Franca j nafceo mais Pedro Jorge, & foy pay de Ca-
tharina j orge , máy de Diogo Vaz Carreyro , que fundou o Convento
das Freyras de S. em Ponta DelgadaiSc também foy pay de Hie-
ronymo Jorge , que cafou hiima filha D. Luiza com Ruí Gonçalves da
Camera, pay de Simaó da Camera, de que nafcèraõ outros muytos Ca-
meras. Nafceo também do primeyro Jorge Velho , Ignes AíFonfo , que
cafou em Santa Maria com Jorge da Fonte , &: teve por filhos a Álva-
ro da Fonte , Joaó da Fonte , & Adam da Fonte & todos três Caval-
,

leyros da Ordem de Chrifto. E nafceo emfim o filho mais velho Joaô


vinda de Be-
Jorge , que primeyra vez cafou com Catharina Martins ,
ja, na Villa de Agua de Páo, & feguiída vez com Beatriz
Vicente , vin-

da do Algarve.
177 Da primeyra mulher nafceo Fernão Jorge, que calou em
Agua de Pao com IfabelVieyra, filha de Pedro Vieyra & outro Joaó j

da Cofta , & def-


Jorge nafceo da fegunda mulher, que cafou com Izeu
tes ambos irmãos houve muyta defcendencia ; item
nafceo da primeyra
*
mulher, Ignes Jorge, que cafou com Fernaó Gil Jaques , fidalgo de La-
gos noAlgarve,&Ifabel Jorge, que cafou com Vafco Vicente Rapofo,
também do Algarve; nafceo mais da fegunda mulher, Maria Jorge,que
cafou com Gafpar Pires Cavalleyro , filho de Pedralves Preto , fidalgo,
U de fua mulher Catharina Luis & deftes nafceo outra
,
Catharina Luís,
Lopeanes de Araújo,
que cafou com Miguel Lopes de Araújo , filho de
ÔcdeGuimarRodriguez de Medeyros, de quem nos Medeyros falía-
mos jà; & deíla Catharina Luis , & de Miguel Lopes de Araújo nafceo
Anna de Medeyros, que cafou com Gafpar Dias,& deftes Dias agora tra-
taremos, pois da hmilia dos Jorges baftajàofobredito.
178 &
Com a grande fama da fertilidade , riqueza da Ilha de
deícuber-
SaÓ Miguel, muy to mais em oprimeyrofeculo depois de
&
'
, j r>' ta, hiaõ de Portugal continuamente muytos , & huns a commerciar 6c
,

^ofay chamadoDfO' ^ ^^^^^^^ ^^^^^^^ ^^^ ^^^^ ^ ^ ^^^ j.^


^^^^^^^ ^ ^ 1^ ^^^^,^^ povoandoi
^^elZTfiZToap. entre eftes foy hum chamado
Manoel Dias , que fez em Ponta Delgada
particularmente com os Ingle-
Zlhdo de Dias &e feu aífento, & taó bem foube negociar ,
,

\rmeyro que de Por zes que hiaó là àquella Ilha , que neila fc cafou com Margarida b
einan-
tHgal emrtum Ma ^^^ ^ mulher nobre , irmã de Ifabel P^ernandez , caiada com António,
deS. Miguel JoyhU poisdefte ré
y^^^^^^ PereYra,& filhas ambas de FrancifcoFernandez,
r.l Manoel Dias;
'^r/ifrwf- ainda hoje hCÍa terça avinculada hú terceyro neto do
;'í^^''^'*"'^'*"'&efteenriqueceotLto>quehumfeufilho,chamadoChriftov^

p^
Tit.V. Conclae-fe com os Borges deflalHia." ípf»

cafou com tal fidalga como D. Margarida de Sà ^ de Henrique de


filha
D^yxouManotlúm
jBetencor&Sà, deRibeyra Grande, neto doprimeyro RuíGonçal- ^^^^^y^^^^^^^-^-^
ves da Camera , terceyro Capitão Donatário da Ilha & do dito Ma- cos que o primejrt
j
,

noel Dias , outro fiiho foy Gafpar Dias , que tal fociedade affentou com chrijhvaõ Dias ca-
huns ricos contratadores Inglezcs^ que embarcando-fe húa vez com d-fi»
nas illufires caféit
^* Betencores & Ca^
les , & morrendo-lhe os focios no mar , ficou herdando delles toda a ri-
TIL •
O,:- meras & oÇeotmáo^
queza que levavao & fe voltou para a Ilha , mais rico que pay , & ir- q^^^^ Diastaíon d
, ^ „ r 1 \,

maói & íendo jà Cidadão de Ponta Delgada , cafou com aquella fidalga ^ ^^^/^^ ^„„a de
Anna de Medey ros, defcendente dos Medeyrosjorges, & Araujos. Medejm.
1 79 Deíle pois Gafpar Dias , & da dita fua mulher nafcèraõ os
filhos feguintes primeyro, André Dias, que cafou com Margarida Pa-
:

cheea, fiiha de Antão Pacheco,&: de Ignes Ferreyrajde que naíceo Gaf-


par de Medeyros, primeyro do nome , que cafou com D. Maria da Ca-
mera , da illuftre familia dos Cameras , filha de António Borges , & de ^^^^^^^^ ^ ^^^^^ ^g
outra D. Maria da Camera , da Villa de Nordeíle , & tiveraó poí filho ^^^^^ Dias que tant
a Gafpar de Medeyros da Camera , fegundo do nome j & cafado com ^^^ cafárai com as
Nafcèrão mais do dito André mais noíiresfepaí d^
Dias três filhos , Antão Pacheco j pay de André da Ponte ^ por fer fua S. Miguel.
mãy filha de Pedro da Ponte Rapofoj item Joa6 de Soufa Pacheco> que
cafou com D. Marianna de Fana i item Anna de Medeyros qUe cafou -,

primeyra vez com Manoel Rapofo , & fegunda vez com Joaó de Mel^
lo d' Arruda , de que nafcèrão Jurdão Jacome Rapofo,6c André Dias de
Araujoj & D. Marianna Rapofa. Segundo filho de Gafpar Dias foy Mi-
guel Lopes de Araújo , cafado com Francifca de Oliveyra filha de Eí^
,

tevão de Oliveyra , & de Ignes Manoel, filha de Manoel Pavão, que de


Portugal fe mudou para eftailha. Terceyro filho foy Manoel de Me-
deyros, que cafou com Maria d' Arruda , de que nafceo outro Manoel de
Medeyros , fidalgo filhado , que cafou com D. Feliciana de Andrade^
&
forão pays de António de Medeyros, Cavalleyro do habito de Chri-
ílo,6c moço fidalgo, cafado com D. Maria Coutinho»
1 8o Quarto filho de Gafpar Dias foy Anna de Medeyros , ca-
iada com Pedro Borges de Soufa , filho de Balthezar Rebello , de que
nafcèrão Felippe Borges de Soufa , grave EcclefiafticOi & Frey Gafpar
da Boa Nova, Francifcano, & Miguel Lopes de Araújo, que cafou com
D. Ifabel do Canto , dos Cantos fidalgos da Ilha Terceyra> & defte ma-
trimonio nafceo D. Antónia, que cafou com feu primo Pedro Borges ^,

de Soufa , de quem viuvou ainda pioça , & cafou fegunda vez , & teve .

filhos Nafceo mais do fobredito Pedro Borges , & de Anna de Medey-


ros Agoftinho Borges de Soufa,Provedor da Fazenda Real de todas as w^

Ilhas Terceyras , que cafou com D. Maria de Betencor , filha do Dou-


tor António Ferreyra de Betencor, natural da Villa de Agua de Páo,
6;: Provedor também das ditas Ilhas , de cujo matrimonio nafcèrão os

filhos feguintes.
i8i Vicente Borges de Sóufa, que foy bom Jurifta na Uni-
verfidade de Coimbra , & íendo do primeyro provimento Juiz de fora
delia 5 largou a Judicatura , & fe Veyo para a Ilha acudir a demandas de
hum íeu bom morgado , & depois cafou com a filha de hum nobre Ci-
dadão António Pereyra d'Elvas na mefma Cidade de Ponta Delgada,
'-
Segun"

W
200 LivfoV. Da fatal ilha de S. Miguel
Segundo filho Pedro Borges de Soufa, o que cafou com a fobredíta prí-^
ma D. Antónia. Outro filho foy António de Betencor Juriíta cambem,
,

& Juiz de fora de Ponta Delgada , por fer jà nafcido em Angra da Ilha
Tereeyra, & morreo fem filhos > & huma irmá fua D. Anna Zimbron,
airim.cliamada, por nella nomear fua tia Dona Anna Ferreyrade Beten-
cor o morgado, que íeu marido D. Alonfo Zimbron , fidalgo Caftelha-
no, ôc mando da dita D. Anna Ferreyra lhe deyxàra ; & porque a dita
Dona Anna Zimbron de feu marido Francifco Pacheco de Lacerda não
teve filhosj foy o morgado nomeado em outro feu irmão , de que agora
trataremos ,& foy efte
182 Agoftinho Borges de Soufa, fegundo do nome, Prove-
dor da Fazenda R.eal de todas as ditas Ilhas , Cavalleyro profeíTo da
Ordem de Chrifto, fidalgo filhado, com grande tença,da cafa de S. Ma-
geftadcjôc Familiar do S.Officio da Corte de Lisboajque tinha eíhida-
do direyto em Coimbra,& foy não fó nelle prudencifiimo, mas o mayor
Miniftro delRey que tiveraó as Ilhas j porque fó o officio he verdadey-;
ramente Régio ,& fem efcrupulo muyco rendofo, & de quem atè os
Bifpos,Governadores,5c Donatários dependem, & ainda muycos Gran-
des de Portugal que aceytão tenças, ou confignaçóes na Fazenda Real
daquellas llhaSj & emfim he nellas como hum Vedor da Fazenda Realj
que fazendo feu officio como deve , então tem também grandes inimi-
gos , como teve o dito Agoftinho Borges ; cafou porém ilhiílremence
com huma filha de Vital de Betencor &Vafconcel los, hum dos mais
illuftrcs , & antigos fidalgos da Cidade de Angra > & teve delia por fi-
lho a António Zimbron de Betencor, que herdou a grande cafa do pay,
mas não o Régio cargo , por não fofrer os encargos , que o magnânimo
pay fofreo.
183 Porque chegou a tanto a inveja, (^ de que nem efcapão fo-
Çá indubitável Um- beranos Príncipes , nem os Santos mais juftificados
} que ao fobredito
feaa de fangué dos
Gafpar Dias , vifavò materno do dito Agoftinho Borges, com evidenrcj
fobreditos Dias,exa~
minou ^ é" fsntenciou & notória temeridade, ôcfalfidade levantarão que tinha raça deChri-
for vez.es ElRty D. ftaó novo , &
fem mais fundamento que terem o dito Gafpar Dias , ôc
foaÕ o ly. (ir o mef- feu irmaó Chriftovão Dias, &
o pay de ambos Manoel Dias, terem vin-
maS.Officio^ cã car- do de Portugal à Ilha de Saó Miguel, &
nella terem contrato muyco
:i ta de familiar da In-
opulento } como fe o contratar não foíTe de Chriftâos velhos tambem,6c
^uijiçai dt LUboÀ.
de fidalgos, & Príncipes mas tudo já totalmente fe achou fer eviden-
;

temente falfo por exadilfimas devaílas jurídicas &por dobradas izn-


,

tenças da maó Real do Sereniífimo Rey Dom Joaó IV. & ultimamente
peloexadiffimoTribunaldaSantaInquifição, queaodito Agoftinho
Borges tirou as inquirições, & achou fer limpiíTimo de toda a raça , & o
admittio em feu Santo Officioi ôc efta he a pura verdade , que não fó di-
go, mas finto aílim fer.

ti"í:

p» -
Tit.VI J)os Barbof.Silv.Tat.Notr.Quent Jár.Mach. joí

TI T y L O VL
t)osBarío/mySílv0 ^Tavares, No'Vaes^Õl^ntáeSi
FariaSi Machados.

AíFonfo V. ef a fidalgo de fua eàfai


1 84 Xy E^lo tempo delRey D. &
i..
iRuí Efteves Barboía, oriundo de Entre Douro Minho,
èc cafado com Felippa da Silva , illuft re fidalga ,&irmá do famofo Sil-
na , Regedor de Lisboa , de quem defcendem tantas cafas titulares def- Da
fecmdifmafiiSj
n>ilia,& nebrez.a doâ
ta Coroa de Portugal Do dito cafamento , além de outros filhos , naf-
Barbofas Silvas Be"
ceo Rui Lopes Barbofa da Silva, que caiou com Branca Gonçalves temores ^Façhecoí
(f^
de Miranda , & com ella Veyo para a Ilha de Saó Miguel em tempo de Rapofos^
íeutcrceyro Capitão Donatário Ruí Gonçalves da Camera» primeyro
do nomeado tal Ruí Lopes Barbofa foy primeyro filho outro RuiLo*
pes Barbofa , que cafou com Guimar Fernandez Tavares , filha de Fer*
Bando Anes Tavares j do tal cafamento nafceo Francifco Barbofa , que
câfpu a primeyra vez , & não teve filhos i a fegunda caiou com líabel de
Miranda na Ilha de Santa Maria, & teve delia a Hercules Barbofa da
Silva, que cafou com Ifabel Ferreyra , filha de Fernaó Lourenço , & de
Leonor Ferreyra, filha de Gafpar Ferreyra, Leàldador mòr dos pafteisj
do tal Hercules nalceo Brás Barbofa da Silva,Lealdador,& Alferes mor
em Ponta Delgada, que càfou com D. Catharina deBetencor , de que
iíàfceo D. Annade Betencoí , quecáfou cora Ruí Gago daCaraera , ô£
deíles nafceo D. Catharina da Camera, cafada com Joaó Borges de Be-
tencor.
185 -E ainda que pela dita via eftà jà a família dos Barbofas em
Jinha feminina , comtudo o primeyro Luis Lopes Barbofa teve outro fi-
lho , Sebaftiâo Barbofa da Silva , que cafou com Ifabel Nunes Botelha,
de que nafceo Heytor Barbofa da Silva , fidalgo que cafou com Guimar
Pacheca, filha de Fernaó Vaz Pacheco, & de Ifabel Nunes, de que naf-
ceo Nuno Barbofa , que da fegunda mulher Anna Jacome, filha de Jur-
daóJacomeRapofo, de Villa Franca, teve outros filhos j 6c do dito
Heytor Barbofa nafceo mais outro irmão chamado Pedro Barbofa , que
cafou com Maria de Medeyros , de que também teve filhos , & aíTim là

fe veja agora aonde eftá ainda a varonia dos Barbofas j que linhas femi-
ninas tem outras muytasainda,aífim de irmãs do mefmo Heytor Bar-
bofa, que cafáraó, & tiveraó filhos; como também por huma filha do fe-
gundoRuí Lopes Barbofa, de quem nafceo mais Ifabel Barbofa, que
«rafou com o fidalgo António Borges , fill^o de Duarte Borges ,& neto
de Pedro Borges de Soufa como já fica largamente dito no anteceden-
,

te ?ií.5. Além de que Hercules Barbofa (netodofobreditofegundo Ruí


Lopes Barbofa ) náofó teve varias irmãs cafadas mas também outro
,
Doí fidalgos It-it^a^^
íeu irmão chamado Duarte Barbofa, de que tal vez ficaria outra varo- res/Soíífas, &^oi^
nia dos Barbofas. Ifto poftodos Barbofas Silvas vamos já aos Tavares. raes vindos dg Por^
,
,

186 Fernão Tavares (que tinha dous irmãos fidalgos da ca- t alegre^ Avijr&^'^
ía dodefcubridor o Infante D. Henrique , & era dos Tavares oriundos

»W
^0% Líviro V. Da fatal líha de S. Migue!.
4e Poítalcgre j & Avey ro ) teve por primeyro filho a Fernaó de Ants
iTavares,que era primo coirmão de Simaó de Soiiía Tavares , Alcayde
jnòr de Aveyro , & pay de Francifeo Tavares de Soufa , cambem de A-
vey ro Alcayde mòr , & famofo na Índia efte pois Fernaó de Anes Ta-
:

vares, còm favor do dito Infante fe foy para a Madeyra por huma mor-
te , que le lhe imputava,-&: na Madeyra cafou com Ifabel Gonçalves de
Moraes , dos muyto nobres, & antigos Moraes de Bragança , & com a
dita mulher fe mudou pára São Miguel em companhia do primeyro
JR.UÍ Gonçalves da Camera , terceyro Donatário de São Miguel j da tal
mulher teve muytos filhos, &: filhas. :.,>....
187 Oprimeyro filho foy Ruí Tavares , Cavalleyro de^Afri-
ca , que em Saó Miguel cafou com Leonor Affonfo , filha de Francifeo
Enes, nobre morador de Ribeyra Grande }& defte matrimonio nalceo,
primeyro, Joaõ Tavares, que cafou com Luzia Gonçalves , filha de
Joaó Gonçalves da Várzea, que foraó pays de Balthezar Tavares , eáfar
,
do com Catharina de Figueyredo , filha de Lopo Dias , Cavalleyro do
habico de Santiago , 6c de Guimar Alvarez j & efte Balthezar levou o
morgado do avò , & deyxou por filhos a Leonel Tavares 3 & Balthezac
•Tavares 8c também teve muytos irmãos , ( tios dos ditos dous _) Ruí
:

|Tavares, que cafou primeyra vez no Porto , & teve filhos , 8c fegunda
vez em Vianna , 8c morreo Corregedor era Ponte de Lima: outro ir*
maõfoy Gafpar Tavares, que cafou em Rabo de Peyxe; 8c outro Ma-
noel Tavares , que no mcfmo Rabo de Peyxe cafou , 8c deyxou filhosj
& outro ainda foy Belchior Tavares , cafado com húa filha de Joaó Ca-
bral de Vulcão , de que nafceo húa filha , que cafou com Manoel de Pu*
gaj 8c as irmãs foraô, Catharina' Tavares , cafada com o Licenciado Mi-
guel Pereyra , fidalgo de Vianna , &c pays de Ifabel Pereyra, cafada com
António Machado , da Cidade, èc de Sufanna Pereyra , cafada com Mi-
guel Pacheco , Sc com filhoSi èc a outra irmã foy Maria Tavaresjque ca-
iou com Gypriano da Ponte em Villa Franca.
188 Do primeyro Ruí Tavares nafceo fegundo , Balthezar
Tavares, que cafou na Cidade de Ponta Delgada com Maria Cabral, fi-
lha de Sebâftião Velho Cabral, 8c dos ditos nafceo Daniel Tavares, pay
de Francilco Tavares Homem , que foy pay de Ruí Tavares , que ca-
fou cora huma irmã de Manoel de Brum & Frias } 8i do mefmo Balthe*
zar Tavares nafceo também Joaó Cabral , que cafou em Ribeyra Gran-
de com Catharina Jorge filha de Jorge Gonçalves , do habito de San-
,

tiago , 8f tiveraõ filhos. Nalteo terceyro Garcia Tavares , &c quarto


Joaó Rodrigucz Tavares j8c ambos forâo,8c morrerão faraofos na Indiaj
& quinto nafcèraó mais três filhas , Ifabel Tavares , Maria Tavares , 8c
Francifca Tavares , & todas três cafáraó na Ilha, Si tiverão filhos.
189 òfegundo filho do primeyro Fernão de Anes Tavares
foy Henrique Tavares, Cavalleyro em Atrica, que cafou na Ilha,8c tc-
í>osTàvareí ,Cor- ve por filho a Luís Tavares, Cavalleyro fidalgo, que cafou com Ifabel
rtas,& Furtados, de Yg^2,fh\h^dQ Pedro Vaz, Lealdador mòr dos pafteisj &c dotal Luis
ttA/n ta
gue morre» '"p^y^j-gj nafceo Henrique Tavares que cafou em Santarém com Leo-
,
oSanto Pa re^ uar-
^^^ ^^ ^^^ ^^ ^^^ ^^^^ filhos j 8c Pedro Vaz Tavares , que na Ilha ca-
^

èMh^a*defÃS'^^_- ^*^">
^ ^^^^ ^^^°^ ' ^ Fernaó Tavares , 8c Francifeo Tavares; 6c qua-
tro

^
Tit. VI. D os defcendentes das fobreditas Fatti ilias. 20^^

tfo filhas mais do mefmo I^vlís Tavares , ôc de todos houve ha Ilha def*
ecndencia. .

lâo O cexceyro filho do dito Fernão de ^Aaes Tavares foy


Gonçalo Tavares , Cavalleyro de Africa , que cafou coha Ilai>el Corrêa^
fi lha de Máícim Anes Furtado, & de
Solanda Lopes , & delles nafeeo a
Padre Duarte Tavares , da Compa:nhia de J ES US , que ^morreo na In».
dia feívindõ em hum Hofpital com fama , ôc exemplo de Santo nafeeo j

ínais d Lieenciado António Tavares, Juiz de fora de Tavira , &


cafado
com Branca da Silva , filha de hum fidalgo chamado Sebaftiaõ Barbofa
da Silva } & do tal Gáfamento nafcèraóo Capitão Gonçalo Tavares da
Silva, que cafou na Cidade de Ponta Delgada , &
deyxou filhos ; & ktí.
irmão joâo da Silva , que também cafou , & deyxou defcendentes ôc :

dos ditoádous irmãos houve ainda mais hfia irmã Joanna Tavares, que
cafou com Sebaftião Jorge Formigo , do habito de Santiago , de que fí-
èou múyta defcendencià em Ribeyra Grande.
'

191 Qiiarto filho do mefmo Fernão de Anes Tavares foyGui-


mar Fernandez Tavares , que cafou com Ruí Lopes Barbofa , fidalgo
que delia houve muy tos filhos. Qiiinto foy Felippa Tavares que ca- ,

fou corfí Lúis Pites Cabea, de que ficarão era Ponta Delgada, & em
VillaFraíicamuytos defcendentes chamados Cabeas. Sexto filho foy
Annâ Tavares, que calou com António Carneyro , Cidadão do Porto,
primo coirmão de outro António Carneyro j Secretario delR.ey, & pay
de Pedro de Alcaceva , Secretário também delRey defte cafamento :

náfcèraódous filhos cegos, Frey António Carneyro, Francifcano, &C


'

Miguel Tavares, que fendo cego fe formou Doutorem Medicinaj mas


tambetti nafeeo Simoa Tavareâ, que cafou com António Lopes,filho de

Álvaro Lopes , nobre Cavalleyro j & do tal cafamento nafeeo Franeif-
ca Carneyra, que cafou com Bartholomeu de Amaral, de que ficarão fi-
lhos, Amaraes da Beyra, & Carneyros do Porto.
192 Dos NovaesCoutinhos,& dos Qiientaes Serrões trata o
Conde D. Pedro tit. 65 & a Cbrõnica delRey D. Manoel. HouVe pois
.

hum grande fidalgo chamado Vafco Fernandez de Mendoça Couti-


iiho, fenhor de Coutimj& de outras terras, que teve os filhos feguintes
primeyro , de que logo faltaremos } fegundo , Lopo Aftbnfo Novaes
Coutinho , de que cafado nafeeo Ruí Lopes Coutinho em Lisboa , & Dos Cminhos fus
eraõjenhresda terra
D. Felippa Continha , que cafou com o quinto Capitão de Saõ Miguel

ccyro filho foy o Conde de Marialva que cafou


,
a hlha unica com o In- - --.—3
fante D. Fernando , irmão delRey D. João III. & o Conde de Borba,
depois Conde do Redondo. Oprimeyro filho pois do dito Vafco Fer-
inandes foy Francifco Botelho de Novaes Qiiental , ( que por Quental,
Sc Novaes, & parece que pela mãy defcendia da illuftre fidalguia de
França, & foy o primeyro que em Portugal ufou dos ditos appellidosj
deíle nafeeo D. Maria de Novaes Quental Dama da Rainha mulhef
,

delRey D. Aífonfo V. de Portugal , & dahi cafou com Ambrofio Alva-


rez Homem de Vafconcellos , de Pedralves Homem j èt de Dona
filho
Margarida MendeS de Vafconcellos , irmã do Capitão de Machico da
Madeyraiôc foy para a Ilha Terceyra o dito Ambiofio Alvarez Homem
com

*!W M
f'fl

%QJ^. Lirro V. Da fatal Hka de S . Miguel.

«om adita fua mulher , & cora datas de íerras , & o oííicio de Mempol-i
teyro mòr de Cativos em codas as ilhas.
¥ul èi93 Delia D. Maria de No vaesj& do dito Ambrofio Alvarez
jHomera de Vafconcellõs ( grandes Jidalgos ) foy primeyro filho Pe-
dro de Novaes , que calou em Saõ Miguel com Beacciz botelha, filha
de Antaò Gonçalves Botelho , & neta de Gonçalo Vaz , o Grande , ôc
por proviíaó JtCeal foy Locotenente do Donatário ,& deo muytas ter^
ras defefmaria ^ & delies úafceo Joaó Serraó de Novaes, que caiou com
Beatriz Lopes , filha de Lopo Dias , na Pray a da Tercey ra j-dos quaes
foy filho Miguel Serraô^quecafou com Ifabel Nunes , filha de Manoel
Galvaõ, & de Cathârina Nunes, Ôcnafceo delies (além deoutros fi-
lhos )humafilhá , que cafou com Manoelda Fopfeca ( fidalgo homem
da 1 erceyraj ) do dito Joaõ Serraó, dç Novaes nafceo também Manoel
Serraó , que calou com líabel Gonçalves^ & Catharinade Novaes , quq
cafou com Bartholomeu Botelho , varaó.fídalgo, & Ifabel Serra , que
cafou cm Villa Franca com Manoel da Ponte,
^ 194 Nafcèraó mais do dito Pedro de Novaes primey ramen- ,

te André de Novaes , Capitão das Galés de Carlos V. & Francifco de


Novaes , que cafou com Joanna Ferreyra de Drumpnd na Uhada Ma-
deyra, defcendente da Rainha de Efeociá D. Bella j item Margarida de
Novaes , que cafou cm Villa Franca , & delia nafceo JoaÓ de Novaes,
que cafou com Maria Jorge, filha de Jorge AíFonfo, do Nordefte , de
que houve filhoSi& finalmente nafceo do mefmo Pedro de Novaes, An-
tónio de Quental , que cafou com Ifabel Cardofa , fidalga de Lisboa,
19^ Da fobredita D. Maria de Novaes nafcçraó( além do di-
to filho Pedro deNovaes ) Fernaó de Qiiental , que cafou com Marga^
rida de Matos, filha de JoaÓ da Caftanheyra , fidalgo que veyo de Por-
tugal , & deo o nome a hum pico acima da Cidade de Ponta Delgada;
& deites foy filho AíFonfo de Matos , que primeyra vez cafou com Gui-
mar Galvoa , filha de Fernaó GonçalveSi& fegunda vez cafou com Bea^
-triz Cabeceyras , filha de Bartholomeu Rodriguez da Serra &: da pri- j

meyra mulher teve a Sebaftiaó de Matos , & outros filhos. Item foy pay
^ „ de Fernaó Quental, & Hieronymo Quental , que cafou com huma filha
^e PedroToree , de que nafceo Maria Qtiental que cafou com Balthe-
'Dos n0Íres 0^'^*",
,

Ramires &: Ifabel Quental,que


lZr7&dc7r"Ji zar Gonçalves , filho de Gonçalo Anes ,

do dito Gonçalo Anes


^ao dè Novaes ^ue cafou com Salvador Gonçalves , filho também
Quençal Ifabel de Qiien-
fundott o Convento Ramires. Nafceo mais do fobredito Fernaó de
Francifcano da Filia (-^1 que cafou em Villa Franca com André da Ponte de Soufa. Da fo-
,
daPraja, da ler-
Credita D. Maria de Novaes nafceo mais Lourenço
de Quental, que
(«jra. Qiientaes do dito
viveo em Portugal, & delle procedem os Novaes &: ,

Reyno ttem nafceo D, Violante de Novaes , que da Ilha Terceyra foy


j
nafceo SimaÓ de
para Dama da Rainha, & morreo folteyraj& emfim
Novaes que foy Frade Francifcano , & fundou o Convento da Praya
,

da Ilha Terceyra, & foy tido, & havido por varaó


fanto.

1 96 Dos mefmos Novaes Quentaes houve no Porto hum Fetr


que cafou
não de Novaes , de que trata a Chronica delRey D. Manoel,
do , &
Algarve
com Ifabel Alvarez , irmã de D. Joaó Camello , Bifpo
de Novaes, o moço, que cafou com
de Lamego; ^ & delies nafceo Fernaó •
Bri-

V
Tit.VI.DoVeileí.P.Barth.doQtíefitaIFud.íía.Côgn 20f

Brites Brandoajôc deftes nafceo Vicente de Novaes, que cafoii com. T>^
Branca da Silva , filha de Diogo Moniz , fenhor de Engeya , &
tive^

raó três filhas, D. Maria, mulher de Brás Telles de Menezes , filho de


Luís da Silva & D. Brites da Silva , mulher de D. Francifco de Atai*,
-,

de, filho de D. Francifco de Azevedo yêz D. Maria da Silva,


mulher de
Chnitovaó de Brito , irmaó de Joaó de Brito , & tios ambos da Condc-^
çâ de Atalaya , &c do tal cafamento nafceo Lopo de Brito.
Do dito fc-
gundo Fernaó de Novaes nafceo também húa filha , Francifca de No-f.
vaes, que cafou com Sebaftiaó Percyra Leytc, filho de Ruí Leyte,The-
íburey ro mòr do Rey no & do primeyro Fernão de Novaes nafceo ou-
:

tra filha, que. cafou cornLuis Carneyro , de que nafceo António


Car-
Reyro, 6c defte nafcèraô Luis Carneyro, ôc Francifco Carneyro. - p >á
/ TaAi^^
Dos muyto nobres Quentaes acima referidos teve a legi- Do Venerável 'm
197
à^Bartholomendo^^»^^
tima,& limpiíTima alcendencia o Venerável Padre Bartholomeu
Qliental, Fundador em Portugal da efclarecida Congregação de SaÓ '^^l^*'^ ^ congrega*..
FelippeNeri, do Oratório. Nafceo na Cidade de Ponta Delgada da-^^j gioOratorto é\
Ilha de SaÓ Miguel i feus nobres pays o mandarão eítudar a ^ottxx^dX^ ^g^gj^talPredica^á'^
foyCoUegialdo RealCoUegio da Purificação de Évora, ^úNtm^áo txcellentes virtudes^
com o^i-^
pelos Padres da Companhia de JESUS daquella fua Real Univerfida- & momo
Sánm
de i fahio tam grande Filofofo , & Theologo , & fobre tudo tam exem- wíViô àq
piar na vida , que vindo a Lisboa entrou por Capellão da Capella Real
do SereniíTimo Rey D. Joaõ IV. Reftaurador do Reyno de Portugal, &
foy tam infigne Pregador , que o dito fenhor Rey o fezfeu Pregador
do número com o falario Real de^règador da Real Capella , & pregou
no tempo em que pregava o grande Padre António Vieyra, da Compa-
nhia de JESUS, & o fubtil Padre Doutor Hieronymo Ribeyro, que ti-
nha vivido , & aprendido na mefma Companhia de JESUS , & foy ce*
lebre Lente da Sagrada Efcritura na Uniyerfidade de Coimbra , ôc
Chantre da fua Sé , & morreo com fama de grande fantidade 3 & com
tam grandes fugey tos pregou comtudo o dito Padre Qiiental , ôccom
tal fabedoria , 6c exemplo de virtudes, que querendo-o ElRey nomear
B ifpo Deaõ da fua Capella , & depois Bifpo de outros Bifpados de Por-
tugal , de tudo elle fe efCufou exemplariílimamente , 6c fundou a fobre-
dita Congregação primey ramente no principio da rua nova de Alma-
da, 6c fe começarão a chamar a eftes Padres Congregados, os Padres
Qiientaes i appellido que muyto lhes merece taó infigne Fundador.
198 Depois mudou de fitio o dito Fundador(6c ainda na mef-
ma rua } para a antigua Igreja do Efpirito Santo , 6c nella fundou hum
modo de Convento , com tal pobreza então , que cada cella delle era a-
penas capaz de habitar nella hum fó fugey to > & como quem ifto agora
efcreve , o communicava muyto então , lhe reparou em formar tal aper-
ro de ceílas ,6c não ter, nem poder ter em tal lugar cerca alguma para
alivio dos Congregados jde que podia íeguirfeao depois , não pode-
rem nas cellas aturar , nem em Convento fem cerca , 6c andarem femprc
por fora na Corte o Religiofiílimo Fundador refpondeo (ainda aíFey-
:

çoado á vizinhança da Capella Real 6c muyto mais à fanta pobreza


,

que tanto amava } refpondeo , que ficariaó á fombra do Efpirito SantOj


&: a Congregação fe chamaria, do Efpirito Santo do Oratório, como
3 * de

«3^ Pi
i^á Livro V. Da íatâí lihâ JèS. Miguel.
dè faéto hoje fe chama. E podo que tem ainda quafi o mefmo aperto de
cellas, 6c a mefma taka de cerca , tem jà comtudo tam magnifica fronta-.
ria para fora & tantos alugueres por bayxo , que honraó muyto a Cor-
,

te, Òc no mais interior deiia } 6c lobre tudo daó grande exeniplo com,
continuas praticas , orações , 6c confiíToéSj&commuytas miíioéspela
Arcebifpado, com grande fruto das almas.
199 abrirão efcolas de Filofofia , ôc Theologia , em
De novo
que publica , 6c perfeytamente enfmão, 6c tem já varias caías neite R.ey-;
no, como em a Cidade do Porto , em Braga no Alem-Tejo 6c cada
, 6c -,

hua fugey ta ao Ordinário do feu deftrido como Congregados Cléri-


,

gos Seculares , que com património fe ordenão , 6c fe íahem quando


querem , fcm terem ainda fugeyçâo de cafas, huma à outra , nem todas a
^""
'• '
huma, nem de todas Superior algumj 6c comtudo todas vivem , &c- pro-

cedem uniformemente , 6c com grande exemplo, doutrina, 6c fruto das
almas ,6c habito de honeftiílimos Clérigos Seculares. De confirmação
: da Sè Apoftolica em alguma efpecie de Religião naõ fey ainda , nem ,

* dos privilégios que tem fófey que merecem muyto , 6c tudo devem ao
-,

, Venerável Padre Bartholomeu de Qiiencal,f£U Fundador, 6c natural


•> dePonta Delgada da Ilha de Saó Miguel, (em cuja hiftoria Abamos.) 6c
fe pôde gloriar de dar tam egrégio parto, 6c em virtude, 6c letras tão in-
íigne, que eufo aqui toquey , èc de que efcreveràó feus Chroniftas pelo
tempo adiante , que fupponho fallaráó do dito feu Fundador , como
lhes merece pois não fey que fahiífem ainda com fua vida.
-,

200 Dos Machados, 6c Farias deSaó Miguel muyto havia


^'''^^'**''j'''^'Jxiuc dizer, porque por Machados defcendem de
hum Gafpar Macha-
ncosMacha^s,
few filho JoaÒ Machado Carmona, naturaes de Barcellos
lanaf de S.Migp. f .do,6c de
•'^'^''"•de Entre Douro 6c Minho , 8c da illuftre familia dos
Machados de
Montebello , grande fenhor de muytas terras , de que trataremos quan-
do dos Machados da Ilha Terceyra. Dos Farias diz o Doutor Fruduo-
fo Uv. 4. cap. 5 1 que lhes veyo efte appellido de hum antigo afcenden-
.

te feu , que obrando huma grande façanha , 6c ouvindo-a o lley


pergun-
tou quem a fizerai 6c nomeando-felhe a peflba, já famofa, accrefcenrcu
o Rey, Effe,faria-, 6c daqui tomou o obrador de façanhas , 6c todos feus
defcendentes , o appellido de Faria. Vejaó agora Já que illuftres obras
fe intitula Faria. Do dito pois Fernaó Machado ,
8c de feu fi-
faz quem
lho Joaõ Machado ficáraó três filhos, a faber , Gafpar Machado de Fa-
ria , Abbade rico em ViUa de Conde que morreo noanno ,
de 1637. 6c
deyxou por íeu herdeyro ahum feu primo Manoel Machado de Mi-
randa, fidalgo da cafa de S.Mageílade. Outro filho foy FrancifcoMa-
chado , que cafou com Ignes de Barros em Barcellos Sc o outro íijho. -,

foy António Lopes de Faria , que de vinte annos foy para a Ilha de São
Miguel, 6c là calou com D.Maria Pimentel na Villa da Alagoa com cem
moyos de renda de dote,8c morreo pelos annos de i640.Dei1:e matrimo-
nio nafceo António de Faria Maya que híia vez cafou com D. Margari-
,

da Nunes outra com D. Luizado Canto, irmã de D. Maria do Canto,


,

hiulherde Diogo Leyte Botelho, fidalgo bem conhecido, 6c cilas am-


mi bas fidalgas da Ilha Terceyra 5 Sí deíle António de Faria Maya
nafceo

'Francifco Machado de Faria, que cafou,6c tem muytos filhos,&


he húa
: , das

^
Cap.XVIII. Da fertilidade, acr^aezâdâllliâ de S.Míg.io>|
ããs principaes , Sc ricas cafas de Ponta Delgada. Mas vamos por dÍ3nt#
fomahiftoria.

CAPITULO XVIIL
Das rendas, ou riquezas , fertilidade , ér frutos defta Ilha*
ii

20 1 ASfim como no Capitulo antecedente ,& feus feis titules


jf\ recopilamos parte do muyto que o Doutor Fruítucfo
traz das Gerações daquelles que defcubriraó, ôc povoarão a Ilha de
Sa6
Miguel, &
muyto mais deyxàmos , que virá mais propriamente na hif-
toria das outras Ilhas > aíTim também agora recopilaremos o muyto
mais
que diz,& com exceíliva miudeza,das matérias apontadas nefte Capitu-
lo,que elle traz no/íí;.4. & em dez Capitulos,deídeo 5 i.atè 6o.por nem
faltar à fubftancia,nem também ufar mal da paciência do curiofo
Leytor.
202 Ha cento & vinte annos rendia a Ilha de Saó Miguel pa-
ra ElRey, do dizi mo do trigo, mil & duzentos moy os cada anno,8c
em J^o qm rende a ílhal
muytos annos jà mil & quinhentos do dizimo do vmho cada anno qui- "^^^^^l"
:

.J^ ^^^^/jj
nhentas pipas & muyto de outros muytos frutos , fora a renda incerta ^.^^ 7
**- > ** 3
j

do paftel, & do que chamaó miuçás, &: a grande 5 a dinheyro, das entra- *

das , ôc fahidas na Alfandega j &


ifto fem fe cultivar mais que a terça

parte defta Ilha. Rende ao Donatário Conde de Ribeyra Grande , affim


da redizima, que dos frutos da terra , &
direytos da Alfandega lhe dá
&
ElRey como dos moinhos de toda a Ilha, do inteyro dizimo do pef-
,

&
cado , ervagens , & faboaría , de outras rendas que là tem , ainda na &
Ilha daMadeyra , rende-lhe tudo licitamente trinta mil cruzados cada
anno ,& muyto mais eftando là licitamente digo, porque houve já af-
:

cendentefeu, que eftando na Ilha abarcava todo o navio que vinha,


compravalhe as fazendas que trazia, ôc delias fazia eftanque na terra, &
as punha a vender em logeas de cayxey ros feus , & lhes punha os preços
que queria & para pagar aos navios contratava com os Conventos de
;

Freyras, & homés ricos da terra , tomando-lhes os feus trigos , & obri-
gando- fe a lhos dar jà moídos em faíinhas nos moinhos ; porém como
os Conventos, & ricos não mandavaó trigo ao moinho & fó mandavão ,

bufcar farmha , & efta a não podia haver no moinho , fem ter ido a elle
trigo de que fe fizeííe , colhido efte engano , fe levantou tal motim em |

toda a Ilha, que correo grande perigo naõ fó a caía , mas ainda a fami-
lia, & a peflba do tal Donatário , fe logo logo não mandaífe por muytos

barcos bufcar trigo ás outras Ilhas , & metello nos moinhos &: comtu- ;

do foy mandado tirar da Ilha para Portugal o tal Capitão Donatário.


Veja cada hum come fe4m. \

203 Além das grandes rendas delRey , Sc dos Donatários , ha


homens tam ricos nefta Ilha , que fora outras grandes rendas a dinhey- 1>^ grande renda,' ^^
ro , Ruí Vaz Gago ( chamado o do Trato ) chegou a ter mil & trezen- i'
pmia^
J^^^^J"
^^" ""^^'i
tos moy os de trigo de renda cada anno. Ayres Jacome Corrêa teve qua-
trocentos moyos de renda, & feiscentos mil reis cada anno na Tercey ra
em dote de fua mulher , &: outras varias rendas j & jà feu pay Barão Ja-
com® Rapofo tinha duzentos moyos de renda j ôc trezentos moyos de
'
S ij renda

«Ita
íq8 Livro V. Dafataf llhide S. Miguel.

tenda tinhajaeome Dias Corrêa. 'Gafpar do Rego Baldaya chegou a


quatrocentos moyós de renda j & o melmo teve leu filho Franciíco da
Rego de Si , chamado oGrão Capitão. António de Brum ( der cuja no-
breza trataremos em feu lugar } tinha de renda annual, & fixa nefta Ilha
três mil cruzados, &dous mil cruzados de renda em outras Ilhas, 6c
tantas fazendas mais, que chegaVa a perto de trezentos mil cruzados
de feu. Gonçalo Vaz, o Grande , teve duzentos moyos de renda ; & o
meímoteve feu filho Gonçalo Vaz Botelho. Aiíbnío Rodriguez Ca-
beateve de renda quatrocentos moyos , mas porque foy Rendeyro dei-
1 R.ey, todos lhos levou. Boa fera a lembrança defte cafo.
204 Pedro AíFonfo Colombreyro tinha cento & vinte moyos
de rendaj cem moyos António Lopes de Faria na Villa da Alagoa , fora
©utras grandes rendas. AíFonfo Anesdos Mofteyros veyo de Portugal,,
& teve cento &; cincoenta moyos de renda. Gafpar Dias , o genro de
Miguel Lopes de Araújo, teve duzentos moyos , & mais de quinze mil
cruzados em moveis, & não menos feu irmão Chriítovão Dias. Manoel
Pires de Almada , fidalgo da cafa de S. Mageftade , teve muyta fazen-
da , & muytos filhos , dos quaes hum foy o Padre Gonçalo do Rego,
da Companhia de JESUS, & muyto fanto ,& letrado. Finalmente con-
clue Fruduofo, quejà naquelle tempo os Contratadores da Ilha de Saó
Miguel negociavaõ cada anno em trezentos mil cruzados , & que hiaó
àquella Ilha cada anno coufa de vinte & cinco náos Inglezas , & tanta a
verdade dos da terra, que nem dez cfcrituras fe faziaôjnem fe qucyxava
alguém, & as letras que fc paíTavaó, fe cumpriaó pontualmente. E eu di-
go que queyra Deos que fempre aílim feja.
205 Da fertilidade defta Ilha he grande prova , que naó fe fê-
mea nella ás folhas , como em o Alem-Tejo, & em outras terras de Por-
anno, & de trigoj & porque efte
rjir TA ^ A t ^"g^^-J ^^^ ^ mefma terra fe fêmea cada
í , / l,i«£fenáotornaa femear, fcnaòfeis mezes depois de fe colher o antece-
de trigo fe fêmea to- dente
trigo, amda neftes feis mezes íe torna alemearamelraa terrade.
dos os amos, & »«? varios legumes, & emjaneyro, ScFevereyro outra vez de
trigo, que
àsfoáaí ; & de m-^ defde Juaho atè Agofto fe recolhe , & rendia tanto no principio, que
troi mvidades da ^^^^ ^ feífenta por hum ainda hoje a vinte por hum rende ordinaria-
&
i
muj/toi no mtfmo an-
i^entejrecolhendo vinte moyos de trigo quem femeou hum íô moyo,&:
-"•
chamaó moyo de terra,a que leva hum fó moyo de femeaduraj& alquey-
re de terra a que leva de femeadura hum fó alqueyre & efte modo de
, j

fâllar paífou daqui aos mais campos , de hortas , de pomares , de vinhas,


de paftos & ainda de matos , dizendo-fe que Ticio tem dez alqueyres
,

de pomar, hum quarteyro de terra de hortas , meyo moyo de vinha, hu


moyo de mato, ôcc.
206 As terras, ou campos nos princípios da Ilha pelos Capi-
^^^^ Donatários fe repartiaó de graça aos povoadores , ao que chamavao
^e^aeln Z nht'he Italiana , Scmo , que ^x^p^v-
TelarZZtcj71 que dar de fefmaria , ( nome que vem da palavra
levaria de 'trigo,&fe fica dividir , desbaftar ) porque lhas davão , para em
os primeyros cin-
diz.em dez: alíjHeyres co annos as porèm cultiváveis , & íc ficarem com ellas para fempre; ou,
©«^^íwoyoáeíerr^dfeasnaõfizeíTemcapazesde cultura, as perdeflem &: fe deíTem aou- ,

^ue tanto levaria de


^^^^ & a ifto he que vinhaó dos mais nobres de Portugal a povoar as
.

(emeadHra, n-
j^j^^^ ^ ^^^ -^^ ^^ ^^^^ ^^^^ -^ vendiaó algumas de fuás terras , as ve
_

diaó

iPP
\ )

Cap.XVlíí.Dô pòu.cal Val^oantigínl^ãs tè.&Frut^ ^p-


éiaó tam baratas , que hum Pedro Anes , fapateyro , em a Villa de Nor-? __ . . ^.

defte comprou hum raoyo de terra por huns fapatos de vaca, ( que ^^^^^^fg^far^^Ta-
taô valiaó la três vinténs } &: hum Adam da Silva huma lomba de ter- J^^gj^yt^ (Up^
:

ra , que rendia mais de dez moy os de trigo cada auno , por euydar que^.
lha compraváo bem , a vendeo por quatro carneyros, 6c hua viola. Hunii
padraftode Pedro Teyxeyra, èi de Antão Tcyxeyra > em Villa Franca^
vendeo humas terras juntas à ribeyra do Salto de Ribcyra Grande pocj
,

huma cafmha de telha, ôcterreyra em Villa Franca. Fernaó AíFonfoií


avò materno de Francifco Pires Rocha que hoje vive, (diz Fruduofo^:
& governa em Ribeyra Grande , comprou a hum Pedro Aífonfo , efcu-j.
deyro do Conde deMonfanto, cinco moyos de terra, juntos à ribeyra'
&
da dita Villa, que hoje valem muytos mil cruzados , os comprou poc
cinco; mil reis i como confta da efcritura breve -, &muyto authentà?»;
ca, feyta em pergaminho. A hum AíFonfo Anes de Ribeyra Grande da*:
vaô três moyos de terra , no pofto chamado Pico do Ermo , por cineo
&
mil reis » dous moyos de terra no morro de Ribeyra Grande , por ou-^
&
tros cinco mil reis , & naó os quiz comprar , por fer já rico , lhe pâíQ^-^
cerem muyto caros. -ri

207 De tal barateza de terras de trigo fe íeguio valer o trigòj


tam barato , que hum Pedro Anes, morador na Ribey rinha , comprou af
Luís Gago , avò de Ruí Gago da Camera, oyto moyos de trigo por três £^»á«fo mats
mil & duzentos reis, & em paftel pagos ; & efte meímo Pedro Anes deo w valia ojrti9.
feis alquey res de trigo por nuns fapatos brancos para hum feu criado, os

quaes valiaó entaó trinta reis fomente :& hum Francifco Anes, fendo
eondcmnado em hum toftão para o Alcayde , por elíe lhe deo hum mo-*
yodetrigo. Noannodei5oo. & mais annos adiante j valeo o trigo. a;
quatro reis o alqueyre , & vendendo hum AíFonfo Anes de Ribeyra
Grande quatro moyos de trigo , o comprador, por não ter dinheyro
&
prompto , lhe deo em paga a efpada, fe embarcou, & o vendedor deo
a efpada por hum toftaó , & fe deo a fi por muyto bem pago. Depois no
anno de 1507. valia o trigo a cinco reis o alqueyre j & hum mercador
de Lagos do Algarve , fobejando-lhe da carga do navio dous líioyos d©
trigo, os dava por duas gallinhas,& dous frangos que hiaó a vender , èd
flãoquizerãodarlhos,&dcyxouotrigoahum feu cunhado. Em 1508*
Fernando Alvarez de Ribeyra Grande diíTe á mulher que fe alegraíTe*
poistinlia muyto trigo para vender , porque lhe trazia nova de Villa
Franca , quejá o trigo valia a féis toftóes o moyo.
208 Luís Gonçalves , fapateyro na Ribeyra ôrande , pedio a
hum Gonçalo Pires meyo moyo de trigo por hum as botas, que entaó
valiaó oyto, ou nove vintensj & a outro homem ^ por lho rogar muyto,
aceytou outro meyo moyo por outras botas. E por humas botas de cor-
dovaõ deo hum moyo de trigo , & três couros de vacca poftos na Villa
da Alagoa hum Fernaó Alvarez de Ribeyra Grande. E defta mefma
Villa hum Pedro Vaz ^ valendo então os fapatos a dous vinténs , man-
dou por hum vintém em dinheyro, & peío outro vintòm quatro al-
queyre^; de trigo ,& ainda o fapateyro Luis Gonçalves fe queyxavade
mal pago. E outro Fernão Alvarez 1 avò do Padre Balthezar Gonçal-
ves, Beneficiado em Ribeyra Grande , naó quiz dar hum barrete ver-
S iij xnelhòj

Bw
iw
.1; :; 3L»ri:o V. Dá fatal ríhàdeS/MíguajilVX^:^::^
.melho\ que trouxera de Lisboa ,p5fd<ôOsmoyos de vtrigõ. M^
qtié?
miiiyto j lè htun Joaõ Martins , de aicunha o Caicafrades > vendeo -Ue^í
"'•'(
Al\'?> ^5
para doze moyos de terra , onde chamaõ Agua retorta , a Jcaõ AfFonío
cívelho do lugar,doFayal,&: lhos Vendeo por pano de Londres azul
pára-hum gabão , & as taes terras deraõ muyto trigo,& paftel? £ por no-''
vemoyos de trigo comprou hum nobre hum capiís de do. E hum Lo-;.
p0 Gonçalves de Ribeyra Grande , naõ tendo onde já recolher o trigo
4âs eyras , rogou ao Vigário de Ribeyra Grande Frey AfFonfo , que na^
Efíaçaó da MiíTa a vifaflcj que quem quizeíTe trigo , foíTe bufcar quanto
quizeíTe a cafa do dito homemj & fó duas peflbas foraó lá, fendo o povo
de mais de mil vizinhos. rja-D ,g ;- ...^
. ..

ti
Í09
i Talfertilidadede terM ate flOnafceí do mefrtio trigo ftí'
©ft^Vá vendo 3 porque fe achou humaeípiga de trigo com feflenta filhas
Da multiplicação ío ao jpé j & cm o quintal do Beneficiado Joaó Soares da Cofta, da Igreja '

f«* o tri^o nafie cm de São Sebaítiaõ de Ponta Delgada, fe achou híim pè de trigo, em que fe
^i ílhM._ c5ontàraó mil &: trinta grãosj & de outros pès , hurtí tinha trezentos , ou-
tro quinhentos grâosj &: ainda em i (ièy<^. quem ifto efcreve , vio que fo-*
bre a palha do trigo , as efpigas delle tinhâo oyto^ Sc nove ordes , na ai-
rUra, de grãos de trigo, & havia à roda algumas de dez ordens de grãos.
E hum Manoel de Almeyda , homem principal do lugar de Fanaes, em
'

terra junta á Ermida de NoíTa Senhora d' Ajuda, achou em fua feara hu
> o pede trigo com cento & fetenta efpigas , & nellas fó quatro de quatro
ordens de grãos , as mais de fete atè doze ordens i a raiz deíle pè era taó
groíTa como a barriga da perna dè hum homem 6c a rama figurava hfia
*
,

gavella j & por iífo efte pendurou na Igreja da Freguezia , atè que efpi-
ga a efpiga o leVàraõ os devotos da Senhora & ifto fe vio em o anno de'
;

1 569. & da Ilha de Santa Maria trouxe Manoel Fernandez , Enqueré--


dor de Villa Franca , huma efpiga de trigo com quatorze ordés delle^ôc
jà não ha que admirar de hum Ruí Tavares , de Ribeyra Grande , feme-
andojunto à fua eyra dezoyto alqueyres de trigo , recolher delles vinte
fnoyos; & em muytas partes correfpondia a terra com feíTenta moyos a
hum de femente > & naó fe fazia o paó fenáo do olho da farinha & o ,

Biais fe não aproveytava> & no anno de 1 5 80. chegou a dar efta Ilha de-
zoyto mil moyos de trigo , com ficar muyto perdido em as eyras , pois'
jaem atè todo Outubro poder recolherfe todo. E nofeguinte anno de
I58i.aindahouvemaistrigOj&: de centeyo nenhum cafofefazia,fe-
naó para dar ao gado, & fazer da palha enxergões,
í 210 Porém como O tempo tudo gafta, parece que também
fby gàftando a grande fertilidade da mefm a terra, que jàdà menos tri-
go do que de antes , ^ fez crefcer delle o preço de forte que jà no an-'
>

no de 1 5 30. chegou a valer a três mil reis o moyo 6c no anno de 1 5 61."


,

chegou jà a féis mil reis,& no de 1 5 80.& 8 1 tornou a três mil reis o mo-
.

feU au^meto àagé- yo? 6c no de 83. a fete mil 6c duzentos cada


moyo 8c emfíni hum anno ^

te em as Ilhas /í por outrofe fuppoem jà hoje valer hum moyo de trigo oyro mil refsj
,

atigmemoH de trigo o ter mil cruzados de renda , quem de renda tem cmcoenta moyos , &' a
frií". éfta proporção quem mais renda tem de moyos s^ a caufa não he (ò &
ferem jà as terras menos férteis, mas também o multiplicar agentemuy-
to em as Ilhas , 8c gaftar là mais j 8c o mandai; muyto trigo a Portugal/
c -
i ' ao
Cap. XVIII. De como creCderâò os preços doi frutose St$
àó Algarve , a Africa , à Madey ra , ao Brafil , em farinhas jà} & haver jl
là mais dinheyro do que em os principios havia , &
jà fáuftos , 6c gãftosí
tnuy fuperfluos , em bufca dos quaes mandão para fora o trigo , póí &
iíTo lhes faita a mefma terra, por caítigo Divino de peccados.
211 XnI aò he domtudo , <ie fá trigo , a fertilidade dcfta Ilhaj

porque também nas carnes de toda a cafta he taò fértil, que lançados ga^jj^ nhmdancia \ &
dos nella , multiplicarão de modo j que em muytos ahnos naó houve karateta de toda ^
açougue na Ilha, mas cada hum mandava matar a vacca,& carneyro fo/í» í<í wrffw.
que queria , & a melhor carne tomava para fua cafa , dey xando de graça
a mais a quem levar a quizeíTejôc nem de cabeças,nem miúdos faziaõ ca^
ío êntáo & quando , paíTados alguns annos , chegou a vacca, & carney-
}

ro a porfc em preço de tantos feytis, & quando a real fe vendia o arrátel,


& o gado fem cuítar preço algum fe hia bufcar ao mato; mas cuftavaô os
porcos a tomar , por fe terem feyto bravos , & fe hia em montaria a: cl- i
les , atè que fe domeftieàraõ 6c toda efta cafta de carne he tão boa, que
;

a vacca he como a de entre Douro , & Minho j os porcos como os da = ,.

Beyra , & melhores , por fe fuftentarem com junfa , & leyte > & he a car*
ne taó excellente,&; barata', queleytócs bons, & gordos valiaó antigas»
mente a dez reis, ôí quando muyto, a vintém, & hoje valem a toftaó,ÔC
mais i & hum porco de chiqueyro, & de três annos valia hum cruzadoi
& já agora vai três ou quatro mil reis , & mais } & eraõ de antes taÕ gor*
dos, que dafua manteyga dava hú fó porco dozecanadas i mas ao dian*
te valeo" tudo tanto mais , que por careftia fe refere venderem-fe vintô
yaccas grandes , & jà prenhes , por vinte cruzados.
^

212 Nem faó menos as carnes de aves de penna , porque além


de algumas bravas que fe achàraó na terra , vieraó gallinhas'de toda a
cafta , & multiplicarão tanto , que fe davão trinta ovos por dez reis ^ 6c
pelo mefmo preço húa gallinha , 6c por quatro reis hum frango 6c com •,

Gvos jugava5 os rapazes as fuás laranjadas ; 8c de Guiné vieraô no prin- ,

ci pio gallinhas de outra cafta mais pequenas , 6c de mayorcs pennás , 6c


, .

no correr mais ligey ras , ainda que no voar mais tardas , 6c os ovos que '

punliaó,era5 pardos, 8c quaíi pretos, fendo ellas emmuyta parte de


cor branca, 8c cinzenta , 6c a eftas caçàraô tanto que as definçàraó.Pom-
bas , èc pombos fe acharão tantos nefta Ilha , 6c de taõ varias caftas , èt
iam confiados , que vendo de novo gente, felhe vinhaó pòr nas cabe- RataS jír<jue cha-
ças , em os hombros , & nas mãos , 6c por mais que as apanhavaó , cada mavM
pombos am,^
'''''*|''''" ^- '^'??
i-ezfe vinhaó entregar mais, fem faberem acautelarfc , por naÔ terem - '2,
^^^ '
ainda vifto gente donde veyo , que como os de Portugal, indo àquel-
j

la Ilha , com qualquer coufa enganavaõ aos primeyros Uhèos, 6c lhes le-
*

tavaó por ella os mais ricos frutos que da terra tinhaó, em compara-
''

çaõ de fua malícia , chamavaó àquelles Ilhèos pombos na candura j


, ^
«h prouvera a Deos que ainda hoje aflim foflem
215 Das outras aves ha tantas, que de huas que chamaô Efta- ^
^

pigados , na praya de Villa Franca caçadores tomáraõ a dez milj 6c de


ourras a que chamaô Pardelhas , três caçadores emhuma noyte matá^ ,,

rao {tto. mil, 6c feiscentas, 6c outras vezes em carros as traziaõ , Sc Como


èflas Fardeíhasfaô pretas como corvos , 6c de corpo tam pezado como
patas Sc bico de Gaviaó com que pilhaó o peyxe de que vivem , das
,

- - ípennas
%11 LÍVi'o Vi Dafatalllhâdc S. Miguel
pennas enchiaô os colchões , a pelle fe derretia como toiíeinho , èè
íe
delia ,& do corpo todo ( fe lhes tapaó a boca quando as apanhaó} fe ti-;
ra canto azeyte , que cada dez Pardelhas davaó ordinariamente huma
eanádaj & os caçadores delias em voltando pareciaó lagareyros de azey-*
te. Em
Africa ha ainda deftas aves , no inverno atè Março , no mais tem-
>.^ ^.., ponaõaturaõ a mayor quentura, & em Saó Miguel as deíinçáraó os fo"i
^' róes. Em alguns tempos fe vemna dita Andorinhas j de fora lhe vem
Falcões , Corvos, Açores a patas bravas^ &
ha muytos tintilhóes , algúas
alveloas , toutinegros , canários poucos nefta Ilha j mas innumeraveis
inelros , ôc muytos de cor branca , & de regalada mufica. jjj^^ ^.

, 214 Rolas fez trazer à Ilha hum dos Capitães Donatários»


outro fez levar perdizes, &
multiplicarão tanto , que já hiaó fendo pra-
ga , ôc faõ tantas ainda , que ordinariamente valem a trinta reis , & por
'Baj mtjtãs muytas dizem alguns, que de Portugal la vaó , que naó faõ tam boas,
perdi- &
zes , & ainda mais
na Verdade naõ íaõ taó preciofas , viíto ferem tam baratas j o certo he
todêrni^et , é" [tu
queda Ilha vem a Lisboa grandes barris cheyos dellas,& que faó as me-
'
^ ^ Ihores deLisboaapor lhe virem dadas. Codornizes faó tantas na tal
Ilha , que ordinariamente dão quatro , & mais por hum vintém , faó &
como pequenos perdigotos, & ainda mais fádias , que cozidas, fazem
humaexcellence,& temperada cea com hum vintém , como com efte
íambem afaz hum coelho aífado 3 & com pouco mais cufto huma per-
diz, ou bom frango j que quanto ocarneyro naó be demaíiado na Ilha
de Saõ Miguel. Mas das codornizes ha menos em Portugal , & nenhúaí
em muytas partes delle. Deyxo as mais caftas de carnes, como de patos,
perus, cabritos, borregos,&: toda a cafta de lafticinios , &: baratillimos.
215 Opeyxehc tantoem eílallha,que detodaacaíla oma-
êpejxi era tanto q tavao , tpmatido-o à mão , & à borda do mar fem anzol , atè aos por- &
Atnda do melhor, nem ^.^g
&
engordaváo com pevxe , ninguém o queria jà falgado. Os peyxes
íis eeas fe comia . mas
- '
u„-'/-.
que cnamao 11-..^
Cavallas erao tantos como as lardinhas onde ha muytas
rj-iji
\. o
, &.
asfaz,tae com aves .^^
r-
. , r- ^ n' rt n io/i-i^
^"i'^ davao leis Cavallas ao real , & lardinhas aos ceítos,&: noventa go-
foelhos çáèrim &c.
razes por hum vintém, &
atè dos pargos não fe aproveytavão fenão das
ventrechas i &
nem do mais regalado peyxe , que chamão Bicudas , fa-
ziaô muyto cafoj & chegou tempo que nem às ceas comiaó lenaó gajli-
nhas, frangos , coelhos, cabritos, borregos, aves,&c.
,»: 216 Do vinho fenão fazem neíla Ilha vinhas, (como nem nas
ú.., -^ „ outras IlhasMenão
Vinhas fenao plantão r
,

o/r
em campos de bifcouto, que da terra com o fogo foy
j rj--
j- *j r«-
n tiL
Kâjtas Ilhas em terra
lormado ,
' & aíhm le
.
, ,
,
admirao todos muyto de ouvir dizer , Ic cavao as
n /vi
lavradia mas ira^ vmhas, porque as nao ha aonde a terra le pode cavar, ou lavrar , & dar
, , 1 1

Uos de muytas pedras trigo, OU outras fearas 6c não fazem mais que plantar as vinhas entre o
j

A <jHe chamaô hif bifcouto, pedras, & lagens, podaras vides, mondallas das filvas & erva
,

coutos ,&daõ tanto, inimiga ,& vindimaras uvas eílendidas fobre as lagens Sc em muytas ;
[ah

f/h"'dVÂf'^T/'
MigHtl P^^^^^ ^^ ^^^"^ ^ vinho excellente , pofto que o não feja tanto neíla
/fȒ d
Ilha por mais húmida , & do Sol menos ferida }& tempo houve em
.

'^
,
linco milpipas.
que hum Jorge Gonçalves Cavalleyro, morador em Ribeyra Grande,
mandou com o vinho da terra amaíTar a cal para humas cafas quefazíaj
porém na verdade foy exceflfo , porque deita Ilha o vinho he bom, &
chega a dar delle cinco mil pipas, & da Madeyralhe vem mais excellen-
te, & vale dobrado,
3117 Das

^PP
Cap. XVIII. Da barateza das cames,51rpeyxes.^ ^i^

217 Das terras lavradias naó fó fe occupaõ em o trigo as mais


delias , mas também em linho, & tanto 3 que ainda vay para as outras
^^'"«"^
^^ cofiojtffi^,
Ilhas, pára o Brafil, & para Portugal , aonde lhe levantaó que he de me-
T/&cmido7oÍT
Hos dura , & curado com agua falgada j fendo que Ribeyra Grande, que ^ ^ ^^^^ é-emPar-
'

he a máy do linho , he cheya de ribeyras de agua doce , onde o linho íe tugal he o melhor '

cura i & o certo he que o que da Ilha vem de mimo , & fem preço , mas quando lhe vem àt
dado a Portugal he nefte o mais perfeyto , & eftimado linho, ( como lè '»'«^« &frefentts\
, .

vènas ricas Al vas, penteadores preciofos , fobrepelizes , linhas , botões ^^* ínetem a, ven-
admiráveis) & fó o que veraa vender,padece a nota de fer de menos du-
^l^f^os Ah'^^Í '^'*'
ra, porque cufta mais. maiscAr9. ^

218 Outras terras fe femeaõ de paftel , que he huma erva vin-


da de Tolofa , & femeada dá hum género de alfaces,cujas folhas íe fegaÓ
primeyra , fegunda , & terceyra vez , (^ & mais não , porque jà não fer-
vem para o feu fim } as folhas fegadas fe moem csn Engenhos', ôc a maf- Q^uefonfafeja a âre*
:

fa moída fe poememtaboleirosfeyta êmbolos, que na figura parecem X'» ^jutem at ilhat >

pães, ou pafteis , de que tomáraó o nome , & bem efcorrida fe coa ao eh^^mão pafiel , ^«<
lhesrendeo,&
tiol, 6í feca a metem em logeas ladrilhadas , a cada dez quintaes de pe- "^,V^°
nagjemeji»^
20 delia lhe deytaõ huma pipa de agua , para que ganhe calor, virando-a'''* °^^- -

ao nienos cada dous dias , Sc quafi fey ta em pò , fe vehde aos quintaes de


pezo , & no principio cuftava dous toftóes cada quintal atè paflar muy-
to de dous mil reis i & de Inglaterra, Hollanda, &: atè de Sevilha vi-
nháo navios a carregar de paftel , por melhor com elle pegarem as tin-
tas nos pannos , & ÈÍpeciaímente a cor preta. O
que fabendo ElR.ey fez
contrato com os moradores da Ilha, de lhes dar Engenhos promptos
para moerem o paftel , & a Cofta fegura de Coííarios , & lhe pagariaó,
além do dizimo, a vinten3,6í fe lhe puzeraó OíHciaes Reaes, cujo prin-
cipal fe intitulava Lealdador dos pafteisjmas porque os Ofiiciaes Reaes
brevemente faltarão com os Engenhos , para fi os fizeraô os lavradores,
& comtudo ficarão fempre pagando o dizimo, & vintena a ElRey , 6c
ElRey aos Ofiiciaes os feus falarios j porém Deos Noflb Senhor difpoz
que faltafle o contrato dos pafteis , & que os Eftrangeyros para as tin-
tas fe remedialíem lá de outro modo , & já hoje he pouco , ou nenhum
efte contrato , porque ( como lá dizem QLiien todo lo quiere , todo lo
}
pierdc.
219 Em lugar pois do fobrcdito paftel entrou neftas Ilhas o
milho, mas tam mal aceyco, que nem os ofiiciaes , nem ainda os efcravos ^ '»'^^''i^# ^^^fif-.
queriaó comer paõ delle, nem ainda de miftura com o trigo j & ha rne--^'"'\''""//J ^^''**'
nosdefeflenta annos,opouco que íemeavão,fó ogaftaváo em aífar,
^74j^/í/^'fX/I
tenras ainda , as maçarocas , & comer o milho afifado por novidade de- /<?, &jk hoje,&
-,
mif-
pois a exemplo de Portugal, & outros Reynos , vieraó afazer húnhz tarado com o trigo ^he
do milho, & mifturado com algum trigo comer o paõ delle , que já hoje ft^fi'»^^ ^^ pobrez^a^,
he là também fuftento de muy ta pobreza , & muy to mais em annos , em ^'^l'*^'^ ''*"''' ^ ^f»"
que houve menos trigo. Mas tem-fe experimentado queaffim como o '"'''^^^^^"T-^'^*'^'*
paftel purificava, & ajudava as terras, & de forte as eftercava , que o tri- ^"^J^^''>J^"^'' *M
go fcmeado depois do paftel fahia mais , & melhor afllm pelo contra-
, -,
"'

rio o milho groflbcom a fua grande , &: maciça cana, & feu grado , Sc
muyto graõ, attenua, & enfraquece as terras das Ilhas,&: as torna menos
ferteisjôc fe naó dá depois delle, nem tanto, nem tam bom trigo.

220 O
/

w
Livro V. D a fatal Ilha de S . Miguei.

220 O
tremoço porém ,já defdc oanno de 1550. hum Barãd
riemoço «^5^4/?^^ Fernandez, morador entre OS
Moíteyros,& Bretanha de Saó MigueJ,
nem attetina a terra\ foy O primey ro que o fenieQa.ao redor da feara de trigo , junto aos cami-
mtes a fertUtz.a & nhos em carreyrosj & depois femeou de tremoços per fi fos hum alquey-
;

tem entras fervemias j-g dg terra j ôc advertindo que depois o trigo femeado na terra que ti-
?'??': nha fido de tremoços , fahia melhor , mais limpo & mais , para iílo co- ,

meçarão a ufar delle no kigar de Santo Antonioiôc achoufe que com fuás
raizes , & ramas ( que quando muyto chega ácintura de hum homem)
eíterca a terra & com fua fombra lhe faz tanto bem , que debayxo del-
,

le nao nafce herva mà , antes a defmça das máshervas , porque , como


dos legumes he o mais groíTey ro , dos peyores, & mais groííos humores
da terrahe que fe cria , & por líTo a purga , & deyxa tanto melhor , que
fe depois do tremoço no anno feguinte femeaõ a terra de pafl:el,&: depois
de trigo i •& ainda /íè no mefmo anno femeâo o tremoço em Outubro, &:
o corcaõ cm Janey ro 3 Sc lavraó fobre elle a terra , &: femeaó o trigo , dà
'As htam 'okrS entaõ novidade excellente j
além de que o tremoço fe adoça em agua
das lnà:A? de Cajhl. doce,& fe cõme fem fartar, ou enfaíliar , & vai a
quarenta reis o alquey-
j.g^ ^ algum fe embarca para fora j & atè a
U,&i»f Portugal je^^ palha he para os fornos lenha
meadas n^ô fe daõ,
^ ^ ^^j ^ carrada a dous toftôeSi ôc emfim arremeda ao Girafol , para
ÍT'ZZ/Jdl' o Sol fempre inclinando com fuás folhas, & haftes.de fora IIha,vinhão
t^X Tídíep:-. 221 Com OS Contratadores que vmháo à

fytas em cayxas de muytas vezes frutos de novo, & fe


plantaváo na terra & aíTim .vindo -,

doceM<*^»'^*''°^ ^^' huns de huma nào de índias de Caftella , & poufando em cafa
de hum
Sebâíliaó Pires , deraó-lhe humas batatas , de que a mulher
hames porem, aindu^ plantou al-

^^^^^ ^ ^om virem jà murchas , nafcèraócomtudo, & fe multiphcà-


jaõfemelhantes.,&os_

/^^^''^.^Q dg í;3rte, que em navios vão muytas para fora, & na terra fervem jà
rnutí Tfijhcos

tTíhJhntãdiõ ido 2os pobres de fuftcnto , & aos ricos


de regalo , feytas em cayxas de doce
fe eftendem por bayxo da
,;ompaj ^mtijtage. a que chamáo batatada faó humas raizes que j

fí;;o^rf,é'B<íô.^í^í-terra,demeyo palmo, de palmo, & de mais, em comprimento,^


Uta» ^ terra. groíTura de hum braço humano, com cafca delgada,&
todo o ámego do-
fobre a terra com folhas
ce, & fem diííabor algum a rama fahe delgada;

á enxada debayxo
I>e arvores f;ííí,!;í4í como as da hera , &
plantaÓ-fe em canteyros feytos

cereijejrí^K&mií' da terra ; aíTadas ao lume faó excellentes, & muyto fadias, &
muyto me-
ras^ qovíz.rnho mar {[^ores que OS Inhames , ( a que chamão cocos } os quaes faó mais rufti-
mõ deyxa frMt>ficar,
^ ^^^^ ^^^^^ em folhas mais altas fobre a terra comoelcudos, ou adar-
,

ha mfi^s Ilhas
g^smimofosfe comem cozidos, & faó bons, &fâlutiferosj ha
^-f

&Z\7a. delies muy tos & mal cultivados que


picão algum tanto na garganta,

TdfeZõ , ,

tJ/í«^/^.í «f//^ &f6 pobres ufaÓdelles,&£iftentáo como páOi& nem dos Inhames,
como banmeyrjis, ca- nem das batatas ha em Portugal , por mais que alguns queyraõ , que jà
nas de apear ^^- càas viráo, mas enganaó-fe.
,

Olw:yras fó ha mra p^ ^^vores de fruto fó não ha na Ilha de S. Miguel cerei-


^^^
tiz^qtonas d. prato, .^ ^ oliveyras , nunca delias fe fez azey te algii,
domar; aíTim por poucas , a que o ar do mar
confome , como por lhe ir de Por-
Z faz.er o ar
Portugal ha la j & muytas fao melho-
poÁm toda afrnta de tugal; de todas as outras frutas de
e^nho, &
de macei, ^es, como toda a fruta de efpinho , &toda a caíla de maças & mayores
,

ras,&toda a cafla de ^^ ç.^ Portugal , & muytas de muyta dura j &: algumas que faó pro-
hortahus,hcamda
p^ias do Brafil,como canas de aífucarjfígos bananas, 8rc. que quanto
,

melhor j«í cm Por


^^^ ^^^^^^ ^^^^^ ^^^^ ^^^^^ ^^ ^ ^^^^ f^l^^^^ ^3,^35 figuey ras com cllcs.

'•P
C;ap.XIX.ÍorÇâ1,&VaIêta eftranha da gête dèfta Ilha. -ií f

& perfeytos como com perfey tas rofas èc cravos em o inverno , &: de
, ,

fertilidade_, a
toda a hortaliça em todo o anno tal he daquellas terras a
;

que ajuda muyto o nunca haver grandes calmas no verão, nem frio»
grandes no inverno, nem paíTarem muytos tempos emque deyxede
chover, & ferem Ilhas fundadas em fundamentos igneos,& conferva-
rem fempre igual cálido , &: húmido & por iflb atè com os -,
frutos pró-

prios de algum tempo,feanticipaóaelle,com albiquorques ,


damat
cos , & alperches , & infinidade excellente de amoras defde
Mayo por (

<Jiante, com uvas em todo Julho ,& vinho novo


a vender no mezde
Agofto, 6c alTim todos os mais frutos.
223 De lenha, & arvoredos della,fe achou tanto em S.Miguel^
& taó bafta, alta, que além de por cima delia fazerem em o prmcipio ^^^^^ ^^ ^ principia
&
as eftradas , fem poderem rompella pelo bayxoj atè
canas fe achaváo ^^^ ^«^ío alta, &,

jde tanta groíTura , que faziaó cangas , timoens ,


arados delias , &
n^o groffk, porque defen^ &
Ma hm coma outra;
efão as mais groíTas j & como do Maluco fe affirma haver là canas muy
altas,& de cinco palmos de groíTura , cheyas de tanta agua , que cada m^
& Jf^^lj^j^^^
huma leva huma pipa & de agua tão doce & excellente que delia be-
; .J^^ ^^;, , ^
, ,

bem os Reys aíTim affirmava


j hum homerh, & homem verdadeyro, que ^^^ ^^„^^ ^,,,^ ^ ,^ ,

em Ponta Delgada ( fendo ainda hum lugar) vira (onde entaô eftava o Engenhos ha jà hoje^
pelourinho, & defronte da cadca) vira ainda huma malva que fendo &aíenhatHfUKtti- ,

muyto alta era da groíTura de huma pipa que groíTura & altura pois te.
, j ,

teriaô outros pàos E com tudo cora a entrada do aíTucar, & Engenhos
? ,

dclle na Ilha & com ella fer eílrey ta & ter tão grandes & profundos
, , ,

valles , que dclles fe não podia trazer fora a lenha , tanta fe gaftou , que
foy também caufa de fe tirarem os ditos Engenhos, de jà hoje na Ilha &
lefcuftofaalenha.

C A P I T U L O XJX.

Da valentia^ & deftreza da gente defta Ilha, & do muy-


to quefe vive nelía , ér dos monftros , que
nella fe viraÕ»

224, DEÍla matéria trata Fruftuoío oem quatro capítulos def-


principal tocaremos. Em
,

a_^ de 60. atè 64. do feu livro 4.


os priricipios da Ilha eraõ nella os homens taó dados à montaria , ex- O exereics9 das fori &
«rcitados nella, que com o exercicio, continuo , forte mantimento çasasaHgmenta , ef.
& &
adquiriâo forças , & deftrezas eftupendas. A hum Pedro Ribeyro & de P^^^^^^^^/^JJ '"'- ,

Ribeyra Grande, inveílindo huma vacca brava, &:dando-lhe por dian- »

te hum furiofo encontráó ou focinhada elle immovel períiltindo fa-


, ,

hio neftas palavras , ( Talfois vos o vacca ? pois como a huma cabra vos hey
^e ordenhar^ Sc lançando-lhe a mao a huma perna deo com a vacca em "^

terra, & a fubjugou debayxo de feus joelhos com tal força , que quieta a
ordenhou, como fe foíTe huma cabra , fem ella mais fe atrever a olhar pa-
ra elle :a hum touro , a que ninguém fe atrevia a appar£cer , com def-
&
treza ganhando-lhe a volta, & lançando-lhe a forte mão á cauda, lhe
deo tal pancada em o efpinhaço , que derreado .cahio , &: para nenhuma
%% Lívfo V. Dâ fatal Ilha de S. Miguel.
cóufa mais prcftou. E com efte homem íèr grande de corpo , com fuaii
mãos levantava htima anchora grande de nav io , & a punha a feus pey-t
COS. E indo emfim a Africa com o Capitão Donatário Manoel da Ca-
,

fnera na occaíião da tomada da Villa , & Cabo de Guè , tomou efte ho*
memhum montante, & fahindo aos Mouros matou tantos »& fez tal
ierra de mortos> que não podião já chegarlhe os vivos ; & acometendo
muy tos mais à roda , depois qúe canfou de matar nelles , fe dcytoií no
chaó, dizendo cftas palavras, ( O' cáes comeyme agora) & allio matà-
raóentão,
225 Hum João Lopes , que morava nos Mofteyros , foy ho-
ínem de taes forças , que andando na debulha com huma cobra de gado,
j.. ,.^ &
por fc tirar acafo o tamocy rodo mourão, começando a ir cahindo pa-
ra a parte de hua rocha defpcnhada, elle pegando na rèz que andava no
mouraó , & fazendo fincapè , teve mão em todo o gado , que fe hia jà
, r -
" defpenhando , & fó duas rezes fe aíFogáraó , ainda da parte de cima , fí^
cando as mais todas vivas j rnas que muy to , fe efte homem , indo por
qualquer ladeyra com o feu carro,& boys, fe hum delles fe fahia, & cahia
canfado jà da canga , elle o tomava em léus braços , como fe foffe huma
ovelha, &
o levava à canga outra vez ? & a qualquer outro boy pegan-
do-lhc pelo pè, ou pelo cornOjO fazia eftar quedo>&: paraicafa,& de lon-
ge levava hum boy morto às coftas como fe levaífe huma cabra 3 & em
,

húa occaíião tomou fobre fuás coftas hum quarteyro de trigo emdous
íaecos grandes , &
huma tarrafa cheya de peyxe , &
tudo levou cami-
&
nho de huma legoa para fua cafa > o mefmo faziaó outros homés , ef-
pecialmente íeu filho, Joaó Lopes Meyrinho: &
atè huma fua filhajMa'

^ riaLopes , com fer mulher de Manoel de Òlivey ra , homem rico,& no-


j
l)re , chegando a húa mò de atafona , ( que difficilniente movião dous

\ homens ) k mettendo-lhc o braço pelo olho da mò, a levantava, & pu-


\ nha onde queria.
\ 226 BalthezarRodriguez de Soufa de Santa Clara, de Ponta
\Delgada, era homem tão valente , que pegando com hunia mãô pela
VaUntU àt f"f*^^f^
'aponta a hum touro, & com a outra pelo quey xo , o derrubava em terraj
& encontrando huma vez dous homés na rua, & à efpada brigando,lan-
çou-fe a hum grande cão que hia pafiando &c pegando-lhe em huma
,
,

perna, com elle em o ar, por não levar efpada , fe metteo entre as efpa-
das dos que pelejavão, & efgremio de tal forte , que os contendores paf-
mados de tal homem , fe apartarão entre fi , & do homem muy to mais;
''

ao qual dizendo-lhe hum feu efcravo , &: mouro huma vez , que o não
havia açoutar , arremeteo a elle ,& tomando-lhe a barriga com as mãos,
de tal forte lha abrio , que lhe começarão logo a lahir as tripas envoltas
em muyto fangue. Efte mefmo homem em lançando a mão a hum pol-
,

dro furiofo, o fazia parar, íembolir mais: a hum grande cão defila,fey-
'Moi valtMia de he-
taapofta, opartio cerceamente pelo lombo com húa cutilada jôc com
mes ^amáahe major,
outra, pelo meyo, totalmente dividio a hum grande porco pendurado:
encontrando a hum almocreve que derrubava huma parede para paflar
hum jumento , pegando defte o lançou, como péla, da outra banda: vi-
,

raõ-o por vezes quebrar entre as mãos duas ferraduras juntas ; &: com as
mãos levantar huma pipa cheya de vinho, & pelps pentes; vindo húa

egoa
Cap.XIX. De valentcg,& deftros Cavalíeyros. ii/;

egoa cabida em húa funda ribeyra j & a


homens juntos fem apode-
fcis

rem tirar chegou elle, & fincando os pèsj pegou pela cabeça à egoa > &:
, >

a lançou da outra partejchamando aos homens borregosj & o meímo fez


\

outra vez a hum feu cavallo , freado , & fellado 5 & as mefmas forças ti-
íiháo 5 feu pay , feu irmáo^ & dous feus filhos.
227 £ ainda
mais celebrado cafo foy j que levando o Ouvi-
dor, & muy ta gente cora elle, a Pedro Rodrigucz prezo , irmão do fo-
bredito Balthezar Rodriguez , fahio eíle com capa, efpada, tirou a & &
todos o prezo das mãos , pelejando mais de huma hora 6c Cornando o -,

irmúo a entregarfe à prizão , o irmaó Balthezar fegunda vez lho tor-


nou a tirar -, & vendo- fe já ferido
o Ouvidor , gritou da parte delRey,
qutí prendeflem aquelle homem & com ferem mais deduzentos os da
-,

parte da juftiça, nunca o poderão prender, & o deyxàrão. Querelou en-


tão o Ouvidor da ferida recebida j & defendendo-fe o Balthezar Ro-
driguez , fer a ferida taõ pequena , & elle homem de tantas forças , que
iiaó podia fer chegar a alguém com fua efpada, &tam pequena ferida
imprmiir , & que o mefmo Ouvidor fora o que fe ferira nas guardas da
fua efpadaj & emfim affim fe julgou. Eis-que eftando jantando o chama-
do feridor , lhe derão avifo que vinha o Ouvidor com muy ta gente ar- j)g ^g^^ CimReJré
inada a prendello ; & perguntando elle fe vinhaô já perto, ôc refponden- tremendo^
do-fe-lheque vinhão ainda longe, continuou o jantar com graó foíTe"
gO} mas tornando quem lhe diífe que jà vinha perto a gente a prendello,
4evantando-fe então, tomou a lança, & adarga, Sc montando acavallo
lhes fahio ao encontro j 6c vendo mais de cem homés que vinhão com o
Ouvidor a huraa carreyra de cavallo , metteo elle as pernas ao feu com
a lança enreftada,6c bradando, ^/<í/íí, afajia j todos logo fe afaftáraó,6e
paíFou livre, ficando attonitos todos.
228 O Cafco, de alcunha, mancebo morador em a Bretanha,
Sc que levava aos hombros vinte alqueyres de trigo, vendo em Ribeyra
Grande ir fugindo huma novilha, 6c muyto brava , fem querer entrar na
cobra da debulha , elle arreraeçando-le a ella 6c pegando-lhe pelos pès,
,
^
&: pelas mãos , a trouxe como huma ovelha , 6c a metteo em a cobra hú :

filho defte , aufentando-fe-lhe hum furiofo boy lançou-lhe a mão cora


,

tal força a huma ponta , que lha arrancou do lugar onde eftava outra :

vez em a ponta de Ribeyra Grande inveftindo-o hum touro , que vi-


,

nha fugindo do corro faltando os palanques elle com tal força lhe lan- _,
,
^ nálentffíí^
"^
çou huma mão à cauda èc outra à perna, que o derrubou , 6c acudindo ^^^
, '

mais gente o levarão para o corro. Vive ainda efte homem, 6c com fer
velho , tem fataes forças ainda (diz aqui o Fruítuofo cap.62.^ E outros
,

homés havia nefta Ilha , que lançando hua mão à ponta de hum bravo
touro, 6c logo outra mão à barba, o eítendiaó em terra.
229 Chriftovão Luis , filho de Pedro Luis , da Villa de Agua
de Pão, foy taõ forte cavalley ro , que a cavallo lançava hum dardo tão
longe com a mão como húa béfta lança huma fetta , 8c ainda mais. An-
,

tónio de Sà , filho de Joaõ de Betencor , 6c de D. Guimar de Sá , da Ci-


dade de Ponta Delgada, era tão valente homem, que em Africa, no cer-
co de Cabo de Guè , fahindo a defafio com hum valente Mouro , ( que
defafiava aos Chriftãos} arremetendo a elle , o arrancou , 6c lançando-o
T fobra
%i% LivroV.Dâíâtàl Ilha de S.Miguel.

foibrc feus altos ainda que lhe deo nclles huma ferida grande,
horabros ,

lhe fubjugonas mãos , &


o não largou , mas vivo o trouxe , entregou &
ao Capitão. E eftemefmo Sà fobre as duas palmas das mãos levantava
do cháo a quaelquerdous homens j 6c firmando- íe em pèiapoftava com
qualquer homem, que lhe deíTe com húa tranca em as curvas com quan-
ta força pudeíTe, que ainda o não faria acurvar j & allim faccedia.
230 Galpar Vaz, parente de Balthezar Vaz de Soufa, (am*
bos de Ribcyra Grande ) fendo Capitão de huma Companhia em guer-
ras de italia, tantos Eftandartes tomou aos Mouros húa vez , que a ban*
deyraReal com as mourifcas armas mandou àRibeyra Grande afeu
pay, & por muyto tempo andou na Villa atè fe romper, por a não guar-
darem cà com a eftimaçáo devida. A Gafpar Homem da Coílaforão
defafiar em Villa Franca hum Vianez , & outro Algaravio , & fahindo-
lhes elle fó, fomente ferio a ambos , &
os deyxou ir curarfe j porém cu*
rados elles , eftando já para fe embarcarem , tornarão com outros
&
muytos a bufcarâo mefmo Gafpar Homem
para fe vingarem delle,Sc ef-
te fahindolhes ao encontro com capa,&: efpadafeyta, nenhum fe atreveo
ao acometer, & elle os foy acompanhando, & voltando, lhes mandou hii
bom mimo para o mar.
231 Belchior Baldaya, nobre filho de Gonçalo do Rego,
.

foy homem de tão grandes partes , como fe vera. Na Cavaliaria foy taó
deftro, que andando cora Carlos V. &
vindo com elle a Hefpanhajnun-
ca achou quem o venceffe em armas de pè, &
de cavallo ; a dous cavai-
los faltava de hum falto, fem tocar com o pè em algum delles , ôr pondo
fó huma maõ em o primeyro. Correndo áeipora fita , lançava taó longe
huma vara de doze palmos , quanto hua béfta deyta hum virote 5 &: húa
vez na carreyra do cavallo defpedio com tal força huma cana, que ficou
em a anca do cavallo & fe tornou, à fella dentro da carreyra. Na Cida-
de de Évora ^úz publico cartel de defafio & , nenhum o venceo nem á
,

pè , nem a cavallo. Foy taó grande jugador de péla ,


que naó achou em
Htípanha quem o igualaífe , fenão hum chamado o PranchaSj & jugan-
do com o Infante D. Luis, acabado o jogo com huma pequena corrida
,

faltou a corda por cima , fem fe ouvir o cafcavel , & o Infante lhe
man-
dou dar vinte mil reis , que naquelle tempo era data grande. Veyo de-
valen °
tiffimos. correndo a
pois á Ilha, & enfinou a muytos a apanhar do chaó laranjas ,
cavallo. A mais groífa ferradura quebrava entre as mãos em cujas
pal- -,

mas pondo dous homés , os levava , como pélas, vinte paíTos. Na pra-
a
ça de Ponta Delgada vendo huma meya pipa , ou hum
quarto de tonel
cheyo de agua o tomou nas mãos , &: no ar o poz à boca & bebeo pelo ,

batoque , como por hum púcaro de agua. Por vezes dando húa palma-
da em a anca de hum ginete , defpedia tal carreyra , que o ginete corren-
do o naó pode alcançar atè o fim da carreyra :& vendo a hum cavai ley-

roem Évora correr em pè fobre hum cavallo, correo elle outra carreyra
eom huma lança na maó, 8c pelo coto applicada ao nariz; & naó poden-
do fazer o competidor , lhe refpondeo , Fique hua pela outra
tal
cor^ : &
ria a cavallo com duas lanças nas mãos, & o freyo em a boca. E
quarenta
& cinco pès faltava de três faltos }& quarenta & fete pès além, lançava
huma barra de vinte & cinco arrateys. Defafiado a huma luta, mandou
que


Câp.XIX.po muito q fe vhê,moh,^Ctvinõnc^A lih.itf
que lhe ãtaflem o braço efquerdo'a húa coxa j & atado dcfta^forte derru-í
bou a quatro homès; èc inveftido de hum touro , lhe deo tal cutilada cm Forttffmis LnBadéJ
húa coxa , que logo o jarretou. Seria nunca acabar ,xontar Codas as faça^- r«.
nhãs de tal homem. _ . .

232 ,Alguns Algaravies, indo à Ilha bufcar trigo, procurarão


por homés ludadores , para experimentar forças , & encaminhados lo-
go ao lugar dos Fenaes , em demanda de hum ludador celebre , & indo
ia o mais valente Algaravio , & dando com hum homem , que falqueja^
ya madeyra para huma grande cafa , & fem o conhecer , lhe perguntou
por aquelleludador} (lendo efte^pmefmQ que o outro demandava }ôc .. - ^
ouvindo-o o falquejâdor , lançou a maó á ponta de hum grande caybxo,
j8c meneando-onoarcomo a húa varinha, com ella apontou para huma

caía, & rei pondendo-lhc áíffe: Naqueliacafamora ejfe homem. Oqu©


vendooAlgaravio,acudio dizendo: F.M. deve fero aquém eubufca-^
^ay&nao tenha que ver^ mais , nem que mais experimentar iòz. attonito fe
íby. .":.. -ft^zÁ' '^

233 NomefmoZ/t;. 4. ír^/?.,é2.deFru£tuolo, emprovados bõs


ares, & bom clima da Ilha de SaõMiguel , fe conta de huma M2in2i. An-^Do ntuyu que fivt^
nes mulher de Joaó Moreno , que morreo de i o 8 annos , & com trinta ve na /lha de S.Mt-,
.

defcendentesfeus àcabeceyra ,& deyxandojámuytostresnetos Equei**^^-


cmRibeyra Grande houve húa Ignez Gonçalves, & Catharina Gon-
çalves fua filha , cafada com Fernando Alvarez o pequeno } & que a fi-
lha era de cem annos , & a mãy tam velha , que tornou a fer menina , &
chamava mãy à filha, 6c fó comia papa , & andava de gatinhas mas que :

na mefma ViUa houve também húa Bartholeza Francifca , filha de Joaó


Franco, a qual tendo cento &dez annos, andava pelas ruas íêm bor-
dão, & com tedos os dentes & toda a fua vifta & bom juizo ainda &
, , ,

que fem tudo ifto & com bordaó andava huma fua filha atraz delia &
, :

que hum homem deofficio pombeyro,& de mais de cem annos de ida-


,

de, andava a pè, & em hum fó dia , caminho de oyto legoas & muytos ;

com íuas mulheres viviaó cafados fetenta annos, & mais. E quem ifto
efcreve , eftando na dita Ilha em o anno de 1 665 . foube do Cura & Vi- ,

gário de Porto Fermofo, que havia quatro annos não morrera naquelle
lugar ( com fer grande} peíToa alguma mais que hum Anginho j nel- &
le haviamuytas peíToas de mais de cem annos & hum difcipulo tive eu
;

ià, que fobre ambos os pays , tinha ainda todos os quatro avos vivos , ha
cincoenta annos. ..;
234 Beatriz Fernandez 5 náVilla da Alagoa, morreo de cento
& vinte & dous annos, &
fua filha Ignes Annes de cento dez j hum & &
Pedro AíFonfo ( de alcu nha o das barbas } morreo de cento vinte j Sc &
outro de cem annos j hia no veraõ fegar ainda como de antes. Maria
Gonçalves , de Diogo Pires feu marido que tinha vindo de Põrtugâl>
teve quatro filhas ,& hum filho, &
deftes filhos teve netos, bifnetos, &
tresnetos tantos , que chegou a contar cento dous , &lhe aífiftiraõ à &
morte noventa & fete , &
faleceo de mais de cem annos. Outra Maria
Gonçalves, mãy de Luis Galvão , de Pont>a Delgada , fabendo que a juf*
çiça hia jà a huma quinta a prenderlhe o tal filho , de repente fe veftio
^m traje de homem , & montaado em hum cavallo com adarga , & lan-
'
T ij , ça^
f a, paflbii a juftiça , chegeu à quinta , Híftante hum quarto de legoa , èc
*^:-,'sI*^
- &
dando avifo , cavallo, armas ao filho, o falvou, & tirando a juftiça de-
vaíTa de quem dera tal avifo , íahio ella dizendo , que não culpafíem a
cutrem, que cila fora , como mãy, fal var a feu filhoj 6c contra cila fe não
'MaiordmArUmente jsrocedeo , &
morreo de cento, & tantos annos , fem parecer tinha tan-
vtvem maus as mu.
^^^ ^iç. porém de reparar, que nefta Ilha ( como reparev eftando nel-
' * • k^ vivem muyto , & muy to mais as mulheres , que os homens > a çaufa
Deos a fabe.
I 235 Monftrosdetodaacaftafèviraõfemprenatal llha.Emoan-
'3iA.^k r j

-^ no de «o.no termo de Ponta Delgada nafceo hú bezerro com duas ca-
I K

ttfra.
"
peças , em rudo pcrrey tas , &
lo pegadas huma a outra , ainda que com
huma fó orelha cada huma j porém com duas gargantas , quatro olhos^
duas bocas, &
morrendo foy aberto, & lhe acharão dous buchos dentro.
Em 1 5 80. no primeyro de Dezembro nafceo em Ribey ra Grande hum

ley taó ruyvo como a mãy, &


com todos os fmaes delia, a fabcr, com húa
orelha forcada , & outra levada da arreygada até a ponta , fem diíFeren-
ça alguma da mãy, que hurh anno antes fora affim aflinalada. Em Villa
.'.??•, ',?se. f -v* •'! *« Franca fe achou hum ordinário ovO^ie gallinha , &
dentro delle outro
- - c : ©vo mais pequeno , mas com cafca dura , gema , &
clara , como os ou-

' Mtros ovos. No lugar da Achadinha fe achou hum leytaó com dous cor-
pos perfeytos , & huma fó cabeça. Ern Villa Franca , a ó. de Agoíto de
1581. nafceo hum pintaõ com oyto pernas ,&viveo comellas, mas an-
dava fó com as primeyras duas, & arraílava três por cada banda. Em 20.
de Septembro de 1583. fahio em Ribeyra Granae hum pintaó da cafca,
ôclogo logo batendo as azinhas, cantou três vezes dentro da cafa, &
tamalto,queo ouviaónarua. Pelo mefmo tempo na Villa de Agua de
&
Pào vivia hum homem , que fendo cafado j com filhos , barbas no &
rofto, de feus peytos dava de mamar , &
tanto ley te , como hõa mulher
que cria,
236 E nem fó da terra , mas também do mar , fe virão neftâ
Ilha manftros notáveis , efpecialmente da parte do Norte , aonde por
vezes tem^ado baleas,em Rabo de Peyxe,por' fer porto aonde fe achão
^^*^
rahitir^'*'
muytas favas do mar, comer de que as-balèas goftaó muyto, comcudo &
nunca delias achou ambar.Em 1537. na ponta de Saó Brás, entre Por-
fe
to Fermofo , & Maya , fahio hum tam grande peyxe, que fem fcr balèa,
tinha quarenta-& dous covados de comprido , oyto de largo , & quinze
palmos de alto & da ponta da boca até a guelra , tinha vinte & cinco
•,

palmos: pela boca, fe a abrira, poderia entrar húa junta deboyscom o


íèu carro j achou-fe em maré vazia de hua grande tormenta ; da cabeça
até o rabo tinha taes cintas pela banda de cima , que por ellas fubiaõ os
homés a elle, como fe fobe a hum navio & comtudo nem efpinha nem
; ,

oíTo algum fe lhe achou. No primeyro dia andàraó cem homés com ma-
chados a cortar nelle 5 no fegundo dia cento & cincoenta j & todos jun-
tamente, huns de huma banda, outros da outra, outros decima, Sí fem
fe cftorvarem a primeyra parte por onde o arrombarão, foy o arcabou-
:

ço, donde logo fahio tanto azeyte,& tam bom, que encheria três pipas,
&: em dando na agua fe coalhou de forte, que o apanhavaó em paens
como de manteyga. Defte peyxe fe fez muyto azeyte , & tam bom,
que
Cap.XX; Da S.& pfodlg- râitrofiiMái/prlclai de CHav. iíi^

'Hmt íiaó fó íervia para a candeã, mas para curar farria , friâldadès, &c. ix-»
«ha hum modo de oíTo junto do peícoço , &; outro junto ià à rabadilhaj
-& tudo fe derretia em aze.y te. Os nervos eraô taõ rijos > que depois coni.
çlks arraftavaó troncos, traziaõ os boys , &
beftas prezas ,fem jamais»
quebrarem. Naõ feconheceo tal peyxe,pofto que alguns diziaó cha-
líiarfeTrebolha i porém hum homem de fora , que muyto tempo efti-
vera em Guiné, diííe que era Efpadarte , & que em Gume vira muytos.
237 Em 1580.3 10. de Junho, da parte do Sul, & da povoa-
ção velha até a Cidade , fe vio no mar hua travada batalha de três gran-
des peyxesj por efpaço de quatro, ou cinco dias , no fira dos quaes dous
barcos de Villa Franca encontrarão com hum dos peyxes morto , Sc
chamando mais batéis o trouxeraõ com cordas»para terra. Era o tal pey-
xe de noventa palmos de comprido , dezoy to de largo , &: outros tan-
tos de altoj & também , como navio , tinha cintas ao comprido cabeça ;

ée quinze palmos , & de outros quinze o rabo j em lugar de guelras ti-»,


nha ao redor da cabeça , ccmo taboas de ferro, com cabellos como fedas*
. em as pontas era tam lêco , que fó fe lhe tirou hum quarto de azeytc,
j

pouco mais , mas melhor do que o da balèa & o pey xe na cor era todo
;

negro diíferaó alguns que era peyxe Mulo j que nas índias de Caftella
:

viraó muytos , & que os que o matàraó , eraó peyxes Efpadas , de que
vinha muyto atraveifado pela barriga. Outro peyxe tinha fahido à Ilha,
como hú baleato j & concluhio-fe fer o peyxe chamado Boto.

C A P I T U L O XX.
Da Venerável Madre Margarida de Chaves , tida cojn^
mummenteporSanta-^érmilagro/a.

238 T~N Os primeyros que foraô a povoar a Ilha de Saó Miguel»


era hum AíFonfo Annes dos MofteyroS homem muyto ,

íiobrc, Sc Cavalleyro profeíTo do habito de Saó Lazaro , que era Ordem ^r- .„ j,„^í} ^^ ^^n^
Militar, & nobiliíTima entaój morou em Ponta Delgada, fendo ainda J Margarida 4&
Villa, & morreo já muyto velho em o anno de 1 540. fobre nobre era taõ chaves.
rico, que tinha cento SiC cineoenta moyos de trigo de renda cada anno,
além de outras muy tas fazendas ,& rendas. Fez huma rica ,& bem la-
vrada Capella na Miíéricordia de Ponta Delgada , & da invocação de
Saó Joâõ Bâptifta, & nella eftá fepultado em huma fepultura alta de pe-
dra negra com huma MiíTa quotidiana j & pata Capella & MiíTas dey-
,

xou trinta moyos de renda cada anno ; deyxou mais o fitio em queí^
fundou o Hofpitâl i & renda para huma cama & fuílento de hum poh
)>

bre. Foycafadocom Catharina Enes mulher de nobreza igual aelle,


,

êc delia teve huma única filha chamada Maria AfFonfo , que fuccedeOí
no morgado, que fundou o pay, Sc cafou com hum nobre Varaójque ve«;
yo da Ilha da Madeyra , de fobrenome ( Chaves } & foy p primeyro
,

deíle appellido que houve em S. Miguel.


239 Deíla Maria Aífonfo ,& do Chaves íeu marido nafcea
Mattheos- Fernandez que cafou com Brites' Rodriguez de Chavesj-
,

. .: ' T iij vin*»


211 lLi¥m V;l3atítèííha:áe S; Miguel.

vinda também da Madeyra , Sc eftc fuccedeo no morgado do avè ; êc a*^.


dito Mattheos Fernandez luccedeo feu filho Manoel de Oliveyra , pay
<ie Sebaftiaô de Teve, que empenhou o morgado,como fez também feu
filho Joaó Botelho , cujo filho Felippe Botelho também o empenhou,
!
I'
cada líiim em fua vida dos mefmos Mattheos Fernandez, & Brites Ro-
:

III
driguezdeChayes nafceo mais Catharina Fernandez ^que cafoucom
«t!
Françifco Gonçalves, & deft es nafcèraô M
argarida de Chaves , que ca^
fou com Belchior dà Cofta Ponte , & Maria de Carnide máy de Fran-
eifco AíFoíifo ; & do mefmo Mattheos Fernandez , & de Brites Rodri-
guez de Chaves nafceo também Maria Rodriguez de Chaves , que ca*'^
foii primeyro em Angra com Gafpax de Efpinofa , Caftelhano , & Cabo

de guerra do Caftello de Angra, & defte matrimonio nalceo a Madre


Joanna da Cruz, Religiofa grave do^nvelito de Saô Gonçalo & naf- ;

ceo mais D.Salvador de Efpinofa , que por fuás grandes partes foy Ca-

pellaõ da Capella Real de Madrid em tempo de Felippe 1 V.&: là mor-'
rco ha mais de quarenta annos.
240 Da fobredita Maria Arfonfo íiafceo mais Anna Fernan-
dez, que cafou com Fernaó Cârneyro,dos quaes defcendeo Annade
Tevesiôc defta nafceo AnnaCarneyra, máy do Clérigo Manoel Nico-
lao. Nafceo mais da mefma Maria Aftbnfo huma filha Magdalena Fer-
nandez , que cafou com AíFonfo Enes de Chaves j que da Madeyra vc-
yo também j & deftes nafcèraô féis filhos primeyro , Antaó de Chaves,
;

que morrco nas índias de Caftellaj fegundo, Gafpar de Chaves , de quç


nafceo Manoel de Chaves ^que foy pay de outro Gafpar de Chaves , ôc
efte de outro Manoel de Chaves Bènavides> tercey ro, Luis de Chaves,
de que nafceo Balthezar do Rego , pay de Anua de Chaves máy de ,.

Joaó de Chavcsj quarto, Leonor de Chaves máy de Francifco Affonfo


,

de Chaves, Vigário de Ribeyra Grande ,& dê Anna de Chaves, que


cafou com Thomàs de Torres, de que nafceo D> Margarida mulher de ,

Ignacío da Coila que foraó pays de Francifco Affonfo de Chaves^, &


,

'
de Martinho da Goftaj quinto, Barbara de Chaves, que nunca cafou, &
. foy femprepeíToa de grande virtude, &
geração. r»

241 Em fexto lugar nafceo de Magdalena Fernandez , &: dd

Affonfo Enes de Chaves a Venera^^el prodigiofa, & beatifiima Marga-


,

rida de Chaves , da qual contamos os fobrediros parentes, que pude-


1 Dospap, &
"* ^'"'^
"' Santa.
'
da tal
parentes
^^^^ defcobrirlhe pois de hum parente fanto íe ha de fazer mais cafo
;

que de mil parentefcos dé fidalgos & por iíTo digamos ainda o marido^
j

&c defcendentes defta bemaventurada , & logo referiremos fua fantiííi-


.!:;!P' mavida. Seus ricos ,& nobres pays cafáraó a efta fua filha com hum
fidalgo que veyo de Portugal , chamado António Jorge Corrêa, Ci-
dadão do Porto , irmaó de Jacome Dias Corrêa , de que jà tratá-
mos, & trataremos ainda emfeu lugar, pois delle procedera os prin^
cipaes fidalgos, & mais ricos de todas Teve da
as Ilhas Terceyras.
feu marido efta grande Heroina hum filho , que lhe morreo cftudando
em Coimbra, & já com fama de grande virtude & commua opinião de
,

Santo; outro chamado Manoel Jorge Corrêa de Soufa , também forma»


do em Cânones , & Cónego de Santarém onde morreo , &: na Ilha dey-
xouiiÀÍtituidahua rica, & nobre Capélla, fobre que fempré ha muyras
deman-
Gap. XX. Das virtudes deíla grande Heroina.' it|

íj^mandas de parentes a elía oppofitoresj &


também teve outro filho Fâr
dreda Companhia deJESUb, & luima filha Maria da TrindadejFrey-
rano Convento de Santo André de Ponta Delgada i ôc todos eftes H-i
lhos procederão fempre com tanta virtude , que moftravaô ferem filhos
&
de húa mãy lantaj de fua fantidade toquemos agora algua coufa. como mfceà \ & m*
242 Nalceo efta beata Margarida de.Chaves (que efteheo/i«, évinvou com
ainda mo^a.^
titulo, perque he commummente nomeada ) em o anno.de 1 5 15. de taó filhos
nobres , ricos , & virtuofos pays , que defde a infância a inftituiraó em
íin^Hilares virtudes i & ella em chegando à idade competente , & fó por
obedecerlhes aceytou o eftado de caiada que lhe deraõ , fendo de idade
de quatorze annos, em 1529.&: he muyto de notar, que dando-lheDeos
cinco filhos, & de taó rico, & nobre marido, que depois de nafcido o ul-
timo morreo , a nenhum deo ella o eftado do matrimonio , mas moirto o
primeyro ainda eftudante , & fazendo a dous Clérigos , ao quarto met^ Ul n

teoRèligiofo em a Companhia de JESUS & a filha metteo Religiofa


,

em o obfervante Convento de Santo André de Ponta Delgada mof- j

trando bem com ifto , que fó por obediência aceytàra o eftado de cafada, 4:

& que mais queria as virtudes por defcendencia de fua nobre cafa , do
que muy tos humanos defcendentes j & affim morto o marido, fe metteo
^
logo na tercey ra Ordem da Penitencia do Seráfico Padre S. Francifco,
fendo ainda de idadede vinte & féis annos , dos quaes foy cafada doze.

243
;': -
Nefte eftado de viuva Terceyra Penitente viveo trinta Como fe mettes «4 &
quatroannoseftaReligiofiflimapeíroa,& tamdada à penitencia , que l''"^'^.P''^'^f^
€m lugar das galas que em vida de feu nobre marido era obrigada a tra- ;JZTme»ci^ S
'
zer , trazia continuamente , debayxo do honefto habito de Terceyra, aí-^^^^^ ^
peros cilicios, & nem as noytes dormia em cama , mas no puro fobrado
da cafa com hum madeyro por cabeceyra , & o mais da noyte paífava
em oraçaó,& repetidas difciplinas j doze annos jejuou todos os dias, ex-
cepto os Domingos ,fem tomar confoada alguma > todas as Seftas feyras
a pâõ , & agua & da mefma forte todas
, as Qiiarcfmas -, & chegou a paf-
far huma inteyra feraiana Santa defde a Dominga de Ramos da Paf-
atè a /

choa, fem tomar comer alguraj & tendo fido taó rica, & naó faltando adr ^
^

filhos com tudo o neceíTario , conforme a fuás peflbas, officios, &: aulen- yiii.,1,

cias, tudo o mais que podia repartia em efmolas. Frequentava os Sa-


, "^-^
cramentos da Penitencia, & fagrada CommunháOi& para iflb tinha hum
ConfeíTor ordinário , que era o Reverendo Padre Brás Soares , Clérigo,
bom Moralifta , & de notórias virtudes -, &
para feaconíelhar , & fegu- De Çetu Confeforet^
rar, & confeííarfe também , recorria fempre ao grande , & virtuofifiimo/rí^»è«4 doí Sacras
Theologo o Doutor Gafpar Fruítuofo, & aos Padres da Companhia mentos, df era^ai
de JESUS , quandohiaó àquella Ilha em miíToês , por naõ haver nolh continfia.
ainda Collegio da Companhia, como depois houve, & ha. ,
>

244 Continuava tanto a oraçaó, que parecia viver fomente de


orar, & na oraçaó fe lhe communicava tanto Deos , que affirma o citado
Fruáttiofo liv.^cap. 95 .que o que dividido communica Deos a muytos
Santos , junto o communicou a efta fua devota } &
comtudo , quando al-
gumas vezes o Senhor fufpendia o darlhe na oráçaó confolaçoens mais
íeníiveis, então ella perfeveràva mais orando , &: tam transformada , & • \
i i
" {

conforme com feu Deos, como quando recebia do Senhor os mayores


f -
bene»
%%4 LiíTo Vi Dàfaíâíllhade S. M%uèf^
. benefícios , ainda exteriores , porque nem fabia., nem queria hiikát à
Deos por intereíTes próprios j mas íó por lhe cumprir fua Divina von-
tade i 6c por iffo quando mais fe fentia elevada em o Senhor entaó a fi
,

própria lè confundindo- fe em o profundo de fua in-


mortificava mais ,

dignidade, & bayxezaj juntamente como Martha retirando- fe, Sc como


Maria, nunca apartando- fe de feu Deos.
245 Affim chegou a lograr as virtudes Theologaes em taõ fu-
bido grào , que da virtude da Fé Divina afíirmàraó o grande Theologo
Fruftuofo, 6c o douto , & devoto Clérigo Brás Soares , que quandoa
confeflavaó, ou fallavaó de Deos com elta Santa, taes coufas lhe cuviaõ
da SantilTima Trindade , da Divina Euchariftia , Sc do amor Divino 6c ,

mais myílerios da Fé , & com taes palavras , tam novas comparaçoens,


tanto fervor r& firmeza , que lhes parecia ter efta creatura por Meftre
ao Efpirito Santo , & fallar nella, & que na fua oraçaó fe lhe revelara tu-
do, como fe tudo vira com feus olhos ; & que tanto fe ajudava com a Sa-
grada Efcritura , que moftrava tinha delia fciencia infufa. Na Efjjeran-
IJJ4 feUncU infufa Ç^ ^ achavaó tam firme, & tam regalada que eftando em
-
oraçaó , .& fen-.
,

'fvirtttdes7heolo^aes,ào arrebatada em efpirito ao Ceo,& vendo aos Coros dos Anjos, & ac^
'& Divino amor </e mais Bemaventurados, a eftes, & aos Anjos tudo era perguntarlhes,An^
Dtos a fue chegou, jos, & Santos do Ceo,
aonde eftá o meu Deos , & meu Senhor ? que aqui
fo atirava fua sfperança & nada do mais lha fatisfazia &: de muytas iU
, :

luftrações que tinha, fempre tirava hum faftio de todo o que Deos náo
era, &huma perpetua fome, &faudade de Deos ,& tíió intenfo ódio de
toda a culpa, que aíTentaváo comfigo os dous: citados fugeytos , que tal
'

alma como aquella, jà em efta vida eftava confirmada em a Divina


graça.
..vj, 246 Na Charidade,& amor Divino foy tam excellente efta
fanta alma , que reprefentando-fe-lhe ver a Chrifto Senhor noffo , aind^
fe naó dav5 leu amor por fatisfeyto , mas logo , como por humaobfcuri*
-dade, fem nella parar , hia infinitamente adiante em bufca da Divinda-
de , único fim, & final objefto de feu puriffimo amor & a humanidade
j

de Chrifto puramente a excitava a fe accender mais no amor Divino , Si


mais lhe agradecer o humilharfe a ttHnalla 5 &: a efta agradecer cadáver;
mais o muy to que fe humilhou a padecer por nòs , atè morrer em huma
i ;í
:Cruz por nos falvar & daqui tirava para fi a profunda humildade , em
j

que poz o fundamento de todas as mais virtudes, da devQÇâó admira*


;

.
,
'>
vel de Deos , do Senhor Sacramentado dos Anjos , & Santos todos , &:
,

da abnegação continua de fi mefma ,& perpetua morrifícaçáo de que i

-.
.
fe quizeífemos tratar , feria nunca acabar pois atè ir defta vida para ò
j

Ceo alma taõ fanta ,com ter tido larga vida nugmeiatou fempre as vir-
,

tudes fobreditas , & o mefmo Deos manifeftou tanto fua gloria , como
agora veremos.
/
247 Ainda em vida defta fua ferva obrou Deos por ella tam
grandes maravilhas, queo Doutor Fru£tuofo affirmou, que naó oufava
rogar a Deos por ella, ainda em feus íacrificios, viftos taes prodígios,
quaes Deos por ella obrara; mas que rogava a Deos que fe lembraíle dei-
le pelos merecimentos de tal Santa & não refere comtudo, & em par*,
;

ticular, osprodigiofcscafos,pornaô eftarem ainda declarados por mi-


lagres
Cap.XX. paíatitamorte,5c vener. qtetaôS.creatura. ii|
Romana, &c Catholica Igreja diz porém que o Doutiffimo
lagres pela >

Padre Francifco de Araújo, indo em miflaó do Coliegio


daCorapa-
iihia de JESUS da Ilha Terceyra a Saõ JVliguel , & fallando muytas ve-
delia , & de fuás maravilhas,
zes a efta Santa viuva , & ouvmdo fallar ,
^

que era, & lhe chamava Paf^


não fó julgava, & dizia que era Santa, mas
yÍT-i/á I>íí'/»<í i náo
fó pelo que padecera pelo amor de Deos , de perfegui-
çoes ,&: contradições do mundo , nem ló pelo que em.íi
mefma exerci-
tara de penitencias continuas j mas efpecialmente pelas
grandes , ad- &
miráveis obras que Deos noflb Senhor por efta Santa obrara , amda era
vida delia , como por huafua Ftf^i;^ Í>m»^.
248 Tal devoção tinha ao Santiílimo Sacramento, que naó
doSa^
fô çommungava muyto frequentemente, por mandado dos Coníd- Da dtvoçAÕ
Mi{-ífffmo,&daSant^-^
fores ^ mas eílando na Igreja naófahia delia em quanto houveíTe
fasi & quando o Sacerdote çommungava realmente ,
também ella ef- V^'^^'^^l^JJ^^
piritualmente çommungava , Ôc ( coufa rara! ) fentia em fua boca o ia-
'.2«" 1^*. — *
bor dos accidentes Eucharifticos , &
em fua alma os eíFeytos de huma
real , & perfeyta Communhaô j & aíTim foy a que entaó introduzio na
Ilha a frequência da ConfiíTaó , & &
Communhaô j tal familiaridade
tinha com o Senhor Sacramentado , que affirmou a feu Confeflbr , que
fe lhe moftraflem muytas hoftias , das quacs humas eftiveífem confagra-
das, outras não , conheceria , &
aífinaria , quaes eraõ , &
quaes não eraô,
as confagradas ? Da Virgem noíTa Senhora era taó devota , que toman-
.do-a por valia , par a que Deos lhe revelaííe quando havia morrer, & lhe
alcançaíTe que foífe em dia de alguma fefta
da Senhora , foylhc revela-
do que dalli a três annos morreria} & aífim fuccedeo , três annos depois,
&:nodiadoNafcimentodaVirgemSantiffima,cmoyto deSetembroj ^
*.•
p

com efta nova fahio da oraçaó taõ alegre , que admirada a filha lhe per-
guntou ,qiie alegria era aquella. Refpondeo, que era o faber jà, quando
havia morrer. Naô fcy de que mais me admire fe de tal deíapego de-
,

fta vida,fe de talfaudade,& taó firme efperança da eterna gloria.Em vi-


da teve o dom de profecia, & com elle avifou huma vez de hum perigo-
fo laço que o demónio havia armar ao feu ConfeíTor , 8c o livrou dellcj
Sc o mefmo Confeflbr , & a filha defta Santa , teftificàraó , que quando
actualmente tinhaó tentações fecretas em fuás almas, a Santa as conhe-
cia, 6c fem delias lhe darem final algum , ella acodia logo , & lhes dava
os remédios para as vencerem. Sabia quem tinha occultos livros profa-
nos, & quem delles ufava mal , & mandando a Lisboa comprar grande
numero de livros efpirituaes,Scdiverfos,hia-fe ter cora os quetinhaó
os profanos , & pedialhos empreftados , deyxando-lhcs os devotos, que
mais íhe rinhaó cuftado , & em òs tendo os queymava , 6c quando Iho^
tornavaõ a pedir , refpondia , que fe tinhaó queymado,que em feu lu-
gar lhes dava os que lhes tinha deyxado, 6c defta forte extinguio a muy-
£os livros profanos , 6c obviou muy tos peccados. Vivendo ainda em S.
Miguel efta ferva de Deos , outra peflba tentada do Demónio em outra
Ilha , hia já andando em bufca do feu peccado , eis-que de repente lhe
apparece diante a dita ferva de Deos , ( que eftava em outra Ilha , 8c a
quem o peccador conhecia d'antes muito bem)6c lhe difle eftas palavras:
©7^ mo temes a Deos 6c comiftofó, pafmado o peccador, defiftedo
^.

pecca-
Xl^ Livro V. Da fatal Ilha ác S. Miguel.
peccado j volta para fua cafa , & faz peíiitencia delle. Oh quantos milâ°
grés vaó cm cite juntos mas por brevidade deyxemos outros muycos.
!

mair f j l •; H9 Vendo emfim efta fiel ferva de Deos , que fe lhe chegava
dJe^&aJor doTan. ° ^^vclado tempo de fahir deita vida para a outra,& adv ertindo, que por
tapobrez.a^ &prodi- ^"^ morte fe achariaõ os inítrumentos de fuás morcificaçóes , & penicen-
'?!! I
gioi^nç Qbroft. -cias , a todos de tal forte os desfez , que não pudeílem acharfe , nem por

ieus próprios filhos j & a eíteS lembrava muycas vezes , que mais queria
vellos humildes , do que em póftos, Sc dignidades grandes. Oh exem-
plos raros de humildade deita lhe nafciao grande amor à virtude da
!

pobreza , & aos pobres j & aílim dizia , que fe não tivera filhos , nada
refcrvari.aem cafa, que em huma mortalha de efmola aenterrariaõ j ôc
fempre que via ás fuás portas muytos pobres , fe alegrava entaô muy to,
& a todos foccorria j & demais mandava faber de todos os foraíteyros
pobres, & honrados , & occultamente lhes mandava efmolas grandeSjSc
huma vez paíTando pela fua porta para a cadea hum pobre por dividas,
pedio á jultiça, lhe diííeífem que dividas eraó aquellas, & fabendo-o
as pagou todas , & dalli voltou o prezo para fua cafa j & porque coílu-
mava comer ámefa com algumas mulheres pobres, em as vendo mal ve-
ítidasjfe tirava feusveítidos , Sclhos dava,& por vezes os tirou à fua
própria filha, & os deo às pobres. E tanto fe agradava Deos deitas ef-
>inolas , que muytas vezes lhe crefcia o trigo em feus celleyros, o paó co-
zido nas arcas , & em fuás próprias mios tudo o mais que repartia aos
pobres :& huma vez que qucrendo-lhe huma pobre fallar, refpondeo
que não podia , diíto logo tanto fe arrependeo , que logo a foy bufcar a
fua caía, & lhe pedio perdaõ , & lhe deo a efmola que queria , 6c nunca
mais a pobre a negou.
250 Chegado pois o dia doNafcimento da Virgem Máyde
Deos, em oyto de Setembro de 1 5 75. tendo eíta Santa Matrona feííen-
taannos de idade, & recebendo eíta pura alma todos os Sacramentos
&
[Morte prevíjfa ,
^j^ Igreja , fem dar final algum de fua próxima morte , efpirou , & fe foy
fant^.
^Qj^ ^ Virgem Sacratiílima a renafcer em a Bcmavénturança porém a-,

gloria deita humilde alma , que ella queria taó encuberta , deícubria o
mefmo Deos com taes prodigios , que fó com agua tocada cm huma fua
relíquia , & bebendo-a em Saó Miguel hum Ruí Gonçalves, & na Uni-
vcrfidade de Coimbra huma Dona Ifabel , fobrinha do Doutor Gafpar
Barreto, Reytor do CoUegio de Saó Pedro , eítando ambos já ungidos,
& para logo efpirar , em lhe fazendo levar a dita agua , de repente tor-
narão em fi , abrirão os olhos , & ficáraó faós de todo. Em Saó Miguel
havia huma cafada , Petronilha Pereyra, que defde feu nafcimento nun-
ca teve o terceyro fentido do cheyrar , & huma fua criada eítava mortal-
mente enferma trouxeraó para a criada a agua tocada na relíquia da
:

Santa j & vendo-a a que carecia do fentido , logo o teve perfeytO)&: be-
bendo-a a criada , ficou de repente faâ. Em Villa Franca da mefma Ilha
de Saó Miguel huma Maria Francifca , fanguinaria antiga , & outra do
mefmo nome, & doente, que por incurável jà a tinháo dey xado os Mé-
dicos, em cada huma bebendo a dita agua, faràraó perfeytamente. Em
Coimbra , no CoUegio da Companhia deJESUS, hum Padre Joaó
Baptiita, que havia doze annos padecia mortaes aecidentes do cora-
ção.
Cap. XX.Daíântamóíte,&vcnc^qtctâQSxreãturâ. 117
caô, &c melancoliaj bebendo duas^ 011 três gottas da dita agua, naõ fó Ir.

vrou logo do mais forte accidente , mas nunc^-naais lhe tornarão , eom
viver amda muytos annos. No mefmo Collegio , 6c da mefma mortal
doença, chegarão dousjambosjàungidosa ás portas da morte: não oc«
çorreo darem a agua ao que ainda não era Sacerdote,Sc morreo j deraõ-a
ao Sacerdote , & ao fegumte dia fe levantou bom , & íaó. Deyxo outras
maravilhas , que fe podem ver na recopilada vida deita Santa impreífa
cm lingua Caftelhana, cujo titulohc (Breve Compendio de la vida fana-
ra de ia Venerable Matrona Margarida de Chaves , de gloriofa memo-
ria.} E eu a tenho em meu poder.
251 Depois do falecimento delia Santa f diz o noflfo Fruduo*
fo) a manifcftou Deos por tal com muytos milagres grandes , &: de di-
verfas caftas , que fez naõ fomente nefta Ilha, mas em Portugal, no Ar-
cebifpado de Évora , no Bifpado de Miranda , & Bragança , & no de ÚltlMIi

Coimbra , aonde os Padres da Companhia de J ES USlevàraó fuás Re-


líquias ; de tal forte , que oRcverendiílinio ,& illuftre Cabido da Sè de
Coimbra commetteo ao Revcrendilfimo Doutor Frey António de Saó
Domingos , Lente de Prima de Theolpgia na dita Univerfidade , o ti-
rar fummario dos milagres, & dar feujuizofobreellesi & otirou,&jul-
gou, não fo que os tinha por verdadeyros milagres, mas que a peíToa era
'
1

fanta. Seguio-fe aifto mandar o lUuílriíIimo Senhor Dom Manoel de


Gouvea , feu Bifpo de Angra , tirar outro fummario na Ilha de Saó Mi-
guel dos taes milagres , que fendo-lhe aprefentados em a Cidade de An-
gra , os fez ler por duas vezes diante de Letrados , Theologos , & Pre-
gadores , alguns Canoniftas , & cada hum per fi, & todos, fem difcrepar
algum , difleraó que a vida fora fanta, & que as coufas que noflb Senho?
fizera porfuainterceíTaójkírim em vida, como depois damortejeraó
milagres, & por taes os tinhãO} &: fe devia efcrever a fua Santidade , &
a Caitonhs '^PP.^J^^
S. Mageftade , para que favoreceílem efte negocio em Roraa j que &
á í'*"/^''
^'^"^fi^'^', r ii

fua fepukurafe devia ter rerpeyto,& acatamento, &fazerfe-lhe alguma J^''^''^^J ^^^^iJ
diíFercnça das outras,&c. O
que confiderando o dito Senhor Bifpo, jul- ^*~ ^ ^
^^^^^ ^^
gou a vida por íanta , &: approvou os milagres , 6c mandou que à fepul- jg^ftitHra.
tura aonde eftà o corpo da Santa,fe tiveíTe refpey to,& acatamento, 6c ao iri'

redor delia fe puzeífe huma grade 5 6c fobre ifto efcreveo a S. Santidade,


a El Re y, 6c ao Cardeal, 6cc.
252 A 13. pois de Junho do anno de 1587. por ordem do Se*.'
nhorBifpo,eftandoprefente o Chantre da Sede Angra, 8c feu Vigário
Geral, 6c com muyta folemnidade , 6c muficas de Pfalmos , fe transferi-
rão os oíTos deita Santa , fechados na mefma arca em que eítavão , para a
Capella mòr, Sz os levàraó debayxo de hum palio de borcado , cujas va-
ras levavão Sacerdotes , 6c o Conde D. Ruí Gonçalves da Camera j D,
Franciíco feu filho , o Doutor Gilianes da Silveyra Juiz de fora , o Ca-
pitão Alexandre 6c o Capitão António da Silveyra ; 6c foy muyto pa^
,

ra louvar a grande devoção de todo o povo , 6c a grande cova que fefc2


«m fua fepultura , com tirarem delia terra, que levavão por reliquias,8c
com que Deos fez muytos milagres em louvor da Santa. que demais O
íey he, ( como quem ha cincoenta annos eíteve lendo em eíta Ilha) qu«
aella he venerada , 6c invocada eíta illuítre Heroina , como fe fora já ca-
iioni«

W
í * 9íi
.
'
^v ;*ji. i^uctt.n I

X2^ Livro V. Da fatal Ilha de Si Miguei.


nonizada, &
commummente fe chama a Beata Margarida de ChaveSi&
naó pollo deyxar de eftranhar , de que húa Ilha taó nca , com tam ricos
Donatários , &
tam ricos parentes defta Santa ^ que não fizeíTem atègo-
ra mayores diligencias por fua Canonização j porque certo eílou que fe
as fizerem, terem nella Padroeyra fingular, & Medianeyra com DeoSi
para livrar toda a Ilha de terremotos , & incêndios deita vida , & nclla
enriquecer a Ilha mais , & defviar as almas dos incêndios da outra vida>
& mettellas em a Bemaventurança.

CAPITULO XXÍ.

Da fundação do Colleglo da Companhia de JESUS em


'
Ponta Delgada de S. Miguel.

253, T^ Êpois da admirável vida da beraaventurada Margarida


2)<« mtfoes do Colle.
gio de Angra manda'
L/ ^^ Chaves bem fegue fundação do Collegio da
, fe a

íl^!
Companhia de JESUS deSaó Miguel, pois por í"ua interceíTaó , & pe-
da» a Ilha de S. Aíi-
la do Doutor Gafpar FruftuofOi íoy radicalmente fundado. Sendo

fundado havia annos oColiegio de Angra da Ilha Terceyraj& fendo
feu Reytoro Padre Luis de Vaíconcellos, efte mandou em miífaó à Ilha
i de Sáo Miguel o Padre Pedro Gomes j que de nação era Andaluz, crea-
do porém, & recebido na Companhia ém Portugal, & o mandou noan-.
no de 1 5 70. & foy tal o exemplo de virtude ,& letras j que o Padre deo
naquella [lha , que aos moradores delia os accendeo em defejos dete-
rem aili femelhantes Padres j depois delle veyo do mefmo Collegio de
Angra o Padre Pedro Freyre , que foy o primeyro, que em miííaó tam-
bém foy à Ilha de Santa Maria, & a ambas eftas ilhas com fua pregação,
& muyto mais com fua raramodeftia , & grande exemplo de vida aug*
mentou muyto a todos no amor , &: dèvoçaò de taes Religiofos. O que
fabendo o Collegio de Angra , mandou em terceyro lugar por Miíliona-
rio a Saó Miguel o Padre Simaó Fernandez, natural de Gouvea na Pro-
vincia da Beyra, & Pregador de muyto nome em Portugal.
254 Juntos eftes três Padres fe recolhiaó na cafa da Santa Mi-
fericordia , & neila os fuílentava hum nobre Cidadão, chamado Joaõ
Lopes Henriques , natural do Porto , &: morador em Ponta Delgada,
que tinha dous irmãos na Companhia em a Província de Caftella cha- ,

mados os Padres Henriques, la muyto conhecidos, Sc eftimadosi da Mi-


fericordia fahiaó os três Padres a pregar , doutrinar , confeíTar , & exer-
de mifericordia , & com tal exemplo , que o mefmo
cit ar tantâs obras

Joaó Lopes Henriques foy o primeyro que concorreo para fe fundar


Do prmeyrúConftm- Collegio da Companhia em Ponta Delgada j porque não fendo cafado,
daUor do Coílegiâ de
nem tendo algum herdeyroneceíTariojlogo em fua vida, para fe come-
S. MigHel 9ctw Lopes
çar a fundar alli Collegio da Companhia deo pia , & liberalmcnre do-
,
fíenncfíiis , nataral
do íuno^qtie deo botu ze fixos moyos de renda, & com tal prudência , & zelo , que com pro-
çropríed(fdej£ curação da Companhia ficou cobrando ,& empregando os rendimen-
tos delles em propriedades , como fez , &
faó ainda hoje as terras , &
quinta chamada a Fajã i &
depois deo mais os primeyros ornamentos
de
i-
Cap.XXLDo Col.da Coiíip.dejeíús em PõtaDelgada.iz^

jde toda a forte para comporem Igreja, Si feu fobrinho Simaó Lopes aju^
4oLi também com varias efmolas.
255 Tratou-fe logo do íitio em que fe fundaria o CoUegiOjSc
logo fe aífentou no em que hoje eftá bom , & fadio, & livre de monte ai- J^of^gf^^^» Confatt-
gum à roda dentro ainda da Cidade , mas da parte ;do Norte para a ^'"^/'"' ^*'
,

terra & com boa vifta vindo para ó mar i & logo hum nobre Cidadão, r^^^^/^7 * "
fcTIa'^'^
,
*
chamado Manoel da Cofta , irmaõ da avò paterna dos Padres Gonçalo
deArèZj&Joaó Borges da Companhia de JESUS, filhos de Duarte
Borges da Cofta , deapara fe fundar o Collegio parte do íitio em que
eftá , & humas cafas que alli tinha , que foraó o nafcimento > & princi-
pio do dito CoJlegio foy ifto em tempo , em que o Padre Simão Fer-
:

nandez era Superior da Rcfidencia j & aííim fe deve chamar dos da


Companhia o primeyro Fundador do tal Collegio , como lhe chama o
Catalogo dos bemfeytores delle, aquém emjaneyro de i59i.deo a
Camera de Ponta Delgada a poífe do tal Collegio, que fó com titulo
fie Reíidencia ficou ainda ôc porque ao Padre Simaó Fernandez fuc- O pnmeyro ps ãÀ
;

cedeo em Superior o Padre Fernando Guerreyro, & poz a obra mais Comfanhia fmdoft\
çmfórma,poriíro chamaó primeyro Superior alguns ao dito Padre Collegio de S.Miguel
Guerreyro , que era natural de Alem-Tejo , de Almodovar , & depois í^ " ^f""' ^'"^"^.
em Portugal foy Secretario da Província , Vice-prepofito de Saô Ro. J^t:;, «/.ri
que , de grande prudência , & obfervancia, refpeytado dos Prelados, & c<imeTA dePmtaDel
Senhores do Reyno , & o que compoz as Cartas Annuaes do Oriente, gada deo apofe^&fi-,
<5c em S. Roque faleceo. coh fendo efieCollegia
256 No primeyro de Novembro de 1592. fe abrio o funda- ^^^ R*JidèciadoCol- w
mento ao Collegio, & Igreja onde ainda hoje eftá & para iíTo veyo da í^" ^"gr^iM'^^
,
''^

Matriz de SaÓ Sebaftiaõ huma prociffaõ graviflima , 6c com ella o Go-


ÍZTelt' ^^^e fm-
Vernador Gonçalo Vaz Coutinho , que tomando huma enxada na mãôcZeo o fegundo ShÍ
foy o primeyro que cavando abrio o alicerfe do Collegio , & Igreja, ôc perior o Padre Fer-
com elle ò Reverendo Vigário da Matriz Sebaftiaó Ferreyra lançarão «'«Õ Cfferreyro,em^
ambos a primeyra pedra de tal obra , 6c defdc entáo , com começar o /^ ^''"f* ^ ^^icerfe aa
inverno , nunca choveo agua que impediífe o trabalho atè Fevereyro ^£'"J*^^
^"^^Jg'"*^
doannodei593.emcujo ultimo dia veyo outra folemne prociífaó da ^^;J^"^^rnií1e«
Igreja Matriz , cujo Vigário trouxe o SantiíTimo , ôc o collocou na no- Collegio
de todos os
va Igreja. Com a prociíTaó veyo o Senado da Camera , Sc o dito Gover- Santos.
nador, que ajudou a primeyra MiíTa rezada dita pelo Padre Superior
,

Guerreyro ôc a fegunda foy cantada pelo fobredito Vigário da Matriz,


}

com boa mufica , 6c o Euangelho cantou o Vigário de Santa Clara Pe-


dro de Brum , Sc a Epiftola o Beneficiado da Matriz Roque Coelho,
peíToa graviflima, Sc pregou o mefmo Superior Padre Guerreyro.E por
aífim ao Collegio como à Igreja fe terem abertos os alicerfes enf o ptí-
,

meyro de Novembro, por iífo à Igreja, 6c Collegio ficou o titulo de


Collegio de todos os Santos , para que fe lembrem de lerem Santos, to-
dos íeus habitadores.
257 Nomefmotempõ começou logo a Confraria dosEftu-^ ,.„,^^.,^,^,,;
dantes com o titulo de Noífa Senhora da Confolação , que em breve fe
frJia dos Efiuda».
mudou em Noífa Senhora da Vidoria ; Sc pofto que efteve algus annos tes, dt outros Be^ &
fem carta de uniaõ à primeyra Congregação de Roma, 6c fem ^&.àt\x-ftytoresdo novo Cal'
tos, comtudo cm 5 de Julho de
. 1 62 7 o Padre António Carney ro ,
. Su.^'<2'<'i

V pçrior
Livro V. Da fatal Ilha de S. MigueL
perÍGrentaõ, lhe alcançou tudo de Roma. Ejàem 1591. para o novo
Collegioj&feuficio deoFranciíco de Rcdovalho oyto alqueyres de
terra que alli tinha, ík hum lhes accrelcentou Leonor Dias j 6:0 Li-
cenciado Joaó Moreyra hús foros de hunjas calas juntas à Fortana,, que
logofe derrubáraõi outros concorrerão com boas eí molas, como Gaf-
&
par Dias, &: fua mulher Annade Medeyros com dez moyos decai,
três arrobas de ferro ,& duas pipas de vmho,& quatorze tomos de
Theologia para a livraria i& o grande Doutor Galpar Fruduofo lhe
deo toda a fua livraria , & outros bés de grande conta , como já diííemos
em fua vida.
258 O fegundo Superior (depois do Padre Guerreyro) foy o
Padre Jacome da Fonte, peffoa muyto grave ,& muyto grande Reli-
giofo,em cujo tempo deo D.Brites para a Sacríítia boas efmolas,& qua-
trocentos mil reis em dinheyro pafaoCollegio} &Hieronymo Gon-
çalves de Araújo deo cento & trinta mil reis para o Gol legio em paftelj
& Álvaro da Cofta deo huma tulha com feu quintal na entrada da rua
Dtõs fegmntes Supe- doMeílreGâfpar,& humcaliz de prata, & cincoenta mil reis em di-
riores tjHc honva ^& nheyro. Naõ fe apontou donde era natural efte
Superior, nem o tempo
'5!

de outros ben^feyto- em que entrou por Superior , mas fó que fendo-o ainda, faleceo, & com
;

:
I I
I

fítdoCollegH.
'íiM
geral fentimento de todos.
^^t.%%«? 259 Terceyro Superior foy o Padre Luis Pinheyro , natural
de Aveyro , & começou em Julho de 1 596. & acabou em Fevereyro de
1600. & voltando ao Reyno foy companheyro do Provincial muytos
aníios , Vifitador das Ilhas , & Procurador na Corte
aondeimprimio a
,

Hiftoriado Japaó em lingua Hefpanhola. E em feu tempo também fe


deraó varias efmolas ao hovo Collegio, & hum grave Sacerdote Joaô
Soares deyxou huma terra de importância jqiie fe metteo na cercado
Collegio. '..
A* I j
260 O quarto Superior foy o Padre Sebaftiaô Machado, na"
tural de Serpa, 6i entrando em 1602. foy pouco depois
promovido a
Reytorde Angra foy grande Pregador, & emfim morreo em Évora.
j

Quinto Superior foy o Padre Gonçalo Simóes , natural daLouzáa j co-


meçou em Janeyro de 1603.&: acabou em Novembro de i6o4.foy muy-
t©s annos Meftre de Noviços & em Coimbra faleceo
,
com fama de San-
O Padre Mathias de to. Sexto Superior foyo Padre Marhias de Sà, natural de Braga > en-
Sà,de Superitr deS. trou em Septembro de 1 604. acabou em 1606. indo promovido a Rey-
JldígHeifoy por Rej- tor de Angra ;
acabado foy feyto Vice-provincialdas
CLtjo triennio

Ilhas, & as vifitou como tal , & voltando para


tor de Angra^ donde Portugal , foy logo Pre-
foy o frimeyro f^ice-
pofito de Villa-Viçofa , & duas vezes Reytor de Santarém , &:
ultima-
provincial doí Ilhas
&fcienGÍa
em 1 609. mente Reyror de Coimbra, fugey to de grande prudência,
o Padre Mi-
de governo,& excellente Pregador. Septimo Superior foy
guel Godinho, natural deEvora, que entrou em Julho de 1606.
&em
de Noviços
Julho acabou de 1610.& tornando a Portugal foy Meílre
em Évora, depois Reytor do Algarve , & de Portalegre , Vice- Reytor
da Purificação de Évora , Vifitador das Ilhas , êc Reytor de Santarém,
onde faleceo; & em íeu tempo Eras AfFonfo Rapofo e< fua mulher Ca-
,

alqueyres de
tharina de Frias deyxáraó ao Collegio de S. Miguel cinco
vinha,& dous moyos, & mey o de renda de trigo. .

.
,2Bi Cly-
Cap,XXL'Dos Siípdó tal C!ólitó(Juãtofbf RefídencI iji^

.' zéit^^^'''- Oytavó Superior fòy o Padre Aíitonio Góriçâlves , natu*'


ralde Alvito , & começando errí julho de i6ro. acabou em Mayodé
i6i4.tinhalido douscurfosde Filofofiaj & muytosannos Moraljòc cO"
ino letrado grande , era muyto éonfultado j &
em feu tempo dco Igna»
cio de Mello efmola de cincoenta Sc tantos mil reis aoCollegio. Wond
Superior foy ò Padre Manoel Viey ra , natural de Arrayolos , & come*
çando em Mayo de 1614. foy logo em Julho promovido a Reytor dó
Angra foy depois pôr vezes Vice-Reytordâ Purificação , & indo a vif
;

fitar o Algarve , trouxe de là doença de que morreo em Évora , com fa-


ina conftante de grande virtude. Decimo Superior foy o Padre Anto*
nio Dias, natural de Coimbra j cònieçou era Julho de 1614. & acabou
em Outubro de 1 6 1 6. era Pregador infigne , & dè excellenté voz mú- :

rou a cerca do Collegio pela parte de cima, qiie he cerca boa, & grandéj
mas lendo Superior morreo, &èftâfepultadonaCapella mòr. AsRelii
gióes, & Clerefia vierâõ fazer fuás exéquias fumptuofamente , tendó-aS
clle fey to na morte do M. Rever. Padre Geral da Companhia Cláudio'
Aquaviva , na mefma Igreja com Eça levantada j& ornada de muy tos
lumes coufa que foy tam approvada em Roma, que logo fe fez decre-
}

to de aílim fe fazerem as exéquias dos Gérâes da Companhia quando


falecerem. * .
— .. ... .yy

262 Undécimo Superior foy o Fadré Felíppe- Dias , natural*


de Maçaó na Beyra governou defde Outubro de 1616. atè Abril de
j

i6i 8. tendo vindo de Reytor de Angra , para onde tornando morreo làf
Duodécimo foy o Padre Roque de Abreu natural de Lisboa, começoii^
,

em Abrilds 1618. &em27.deMarçode 1620. faleceOjfendoSuperiorf ji;.:


:"
porém em feutempo deo o Licenciado António de Frias noventa &-^"»/'Í'^'' i Cândia

íeis mil reis ao Collegio j & Ifabel Luislhe deyxou trinta alqueyrcs de
-O-ww^^íWí/rf-íÇ*:^
'*''^'**
renda fixaj 6c o illuftriíTimo Conde Capitão D. Manoel da Camera dep
huma alampada de prata que cuftou entaó cento & quarenta mil reisf»'
,

&huma Cuftodia de prata dourada, & hum púcarode prata para ola-
vatorio,6c por outras vezes deo dinheyro, trigo, vinho, taboado,& pof
ília morte deyxou hum legado de oyto miltruzados em dinheyrOi& tal

aíFedo tinha à Companhia, que defejou muyto entrar nella; ôro faria
emfim , fe a morte o naô impediíTe. Decimo tercio Superior foy o Padre?
Manoel Nunes, natural deNizajveyo de Reytor de Angra, entròir
neffe Superiorado em Mayo de 1620. & fahio em Septembro de i62ii^
tendo fido em Coimbra Méftre infigne de Grego,&: Hebreo.
-

263 Decimo quarto Superior foy o Padre António Leyte,^n^'--


tural de Lisboa, entrou em Septembro de 1621.& em feu tempo áeo D.
Gatharina Botelha, mulher de Jacome Ley te de Vafconcellos,jà viu-'
va , huma capa de Afperges de tela branca. E porque atèlli fe naó lia no ^^^ ^l*** "^^'* f" ^
Collegio mais que Moral, cujo fprimeyro Meftre foy o Padre Manoel 5"/'^'''* '^'^"''''jk
^ ^n. ^ r ^
J ^r j
.^-jt- oj -i &Io?o entrarão oi de
Seccon, nelte tempo íe mctteo a prmieyra claíle de Latim , oc depois lo- j^^gtorica & Lati^^
go a fegunda , & efta fegunda metteoa Companhia de pura graça , fem nidade, * ' ^ "^

para fuftento do Meftre fe lhe dar côngrua alguma i Sc a primeyra met-


teo com algumas efmolas temporaes , &c não perpetuas para perpetuo
Meftre ; 8c afllm deo o dito Jacome Leyte , & fua mulher cumprío por ,,,

faa morte , dezoy to mil reis em féis annos, para fuften,to do dito Meftre \^i,c «mí» . ui».

y ij
•:p.ii

vÍ3Í ;^â5JLívfôV.Dafatal11haácS. Migud, ^


^aprimeyra^Jrlieronyqio- Gonçalves de Araújo deo hum moyo de res«
ea a retro j Sêbíiftiaó Luis J^obo , èc Manoel de Araújo deraó dous mo-r
yos em quatro annos j p Çapitaõ 3althezar Rebello de Soufa , & Ma-
noel da Goíla deraó ern quatro annos hú moyo ; Pedro Borges de Soufa
4^0 por huma vez doze mil reis & o Capitão Sima6 da Camera de Sà
j,

pieyo moyo de trigo por quatro annosj & o Cápitaó António Borges da
Coita hú 'quartèyrotambem por quatro annos i & Manoel de Figuey-
redo três quarteyrosi & Catharina de Araújo, mulher do Licenciado
Joaó Moreyra húrn moyo.em dous annos do que tudo bem fe vè o de-
-,

íejOj & zelo que tinhaó taes Cidadãos de que os Meílres de feus filhos
íoíTem da Companhia dej .ES USí& p agradecimento que efta teve em
lhes porem cadeyras perpetuas fem perpetua côngrua para psMeílres
deilas , nem ainda para as ridas , & vjiidaç.de Portugal , pois atè o Lentç
Wl:
djçTheologia Moral naó te,ve congrú^ determijiada nem a tem o da
f

primey ra, §c o da fegunda teve alguma,;ínas fó por algum rempoj que as


^(molas da fundação foraó para pregarem, confeííarem,fazerem miííoês,
como faziap çs primeyFps,^que alli vieraój, & as tres.í;a.d,çy..ras çqetteofeni
I çpngruaaÇpropanhiav ::. nvoín
-
: n--; t r^;--)

I
!l
264 i0|,Pecimo quinto Superior rfoy o Padre António Carney-
ro,naturaÍde LÍsboa,& governou defde Outubro de 1623. ate Novem*.
brp de 16*7; ;& vindo faleçêo depois no Collegio do Porto. Em leu
tempo, & epmvdinheyrodpllluftriírimp Conde Capitão D. Manoel da

Da ^ r »., Camera , fe comprou a Ouinta da Grimaneza ,.& fuás terras , & vinhas.
€onfraría de N. ii
. .
'. r A' í-' A/r 1 -n t-\ j
Confraria dos Officiaes de Ponta Delgada , cem a invoca-

, .. 1

Senhora da Fida c5' ^^W^'^'^ ^


traos insendios ção de NoíTa Senhora da Vida, contra os incêndios da Ilha, & veyoem
pj^pciíTaó dalgreja Matriz com toda a folemnidade , & fefta , preíentes
i«Ç'.v,HoReverendo Padre Doutor Luis Brandão, o lllufl-riffimo Bifpo de An-

gra í),Pedro da Cofl:a,&: p feu Reverendo Chantre Sebaíliaó Machado,


&p Illuftri0jmo Senhor Conde Capitão D. Rodrigo da Camerà com a
Senhora Condeíí^ Dona Maria de Faro , $c pregação. E tinha vindo de
^n] Portugal a Imagem., feyta là , &- fe colloçpu no altar cm 23. de Julho de
1625. cuja Irmandade Ihedouroulogooretabolo, & à imitação osEf-
tudantes dourarão também o feuj& a Irmandade dos Officiaes , na pri-
meryra fefta feyra da Semana Santa começou logo a fazer a prociíTaõ do
Enterro , com o Senhor morto que tem dentro do íeu altar. No mefmo
tempo , & no mefmo lugar fe deo principio ao Collegio novo, ou à obra
reformada eoí 13.de Septembro de 1625. preíente o Padre Vifitador
liUis Brandão mas parou depois a obra.
j

265 Decimo-fexto Superior foy o Padre Diogo Luis , natural >

4e Alpaíhão , que começou em 1627. & acabou em i63i.foy depois


stttt
K:e'.*Í.tA Meftre de Noviços em Évora, & Reytor do Porto , &: Bifpo eleyro do
yi Confraria deSãto]^P^o,
& homem de grandes partes, & talentos; em feu tempo fe repar-
hnactofoyinftittiida tioo andar de bayxo do Collegio em Refeytorio & Cozinha & Ma- , ;

forD. Rodrigo Lobo noel de Andrade, caiado com Maria Alvarez de Aguiar, dco cem cru-
natural zados, que fe gaftáraóeni ornamentos da Igreja ;
dít Silvej/ra^ a viuva fua mulher &
dalerccjra, Ca- &
deooutras efmolas. Inftituhio-fe aConfraria de Santo Igjnacio porde-
SfÕapitáo General da Ilha D; Rodrigo Lobo
''«í^'rltÍ^/ê^°Ç^°'^°^°^^'""^^°*'^
*^*
" da^Silveyra , naturaí da Ilha Térceyra , Sc neto do Fundador do Con-
^odit9^Sant9. *
" -
-'
£,^
vento

fP
Cap.XXI. Conclaere com a dita RtíIdencU da CompI 251
•?reato'deSaõ Gonçalo de Angra , fidalgo de grandes partes 3 & fempre
bem aceyto em Sao Miguel elle pois tez que fe fundaíre a dita Con-
:

frafiaj & que os Governadores foííem os feus Juizes , Mordomos os Ca-


ipitães, ôc lifcriváes os Alferes , & os Sargentos foíTem os ProcuradoreSi^
^ Theíbureyros mandou fazer do bantó dous retratos , hum de foL
j &:
dado, outro de Religiofo & lhe fez humà fólerane prociffaój & feíla,ôc'
,

outra quando veyo a confirmação de Roma ;& ido para Portugal o taF
Governador , então o Padre Luis Lopes desfez a Confraria, por razées^
que teve para iíToj mas fuccedèraó logo os terremotos do anno de 1630.
26Ó Decimo- feptimofoy o Padre Simaó de Araújo , naturaí
S. íramlCcõ Xdvie?^
deCoimbra, que começou em de Septembro de 163 1. atè 13.de Fe-
2.
Concedido por PadrO'
vereyrqde 1Ó3Ó. &em i632.concedeo o Reverendiflimo Padre Geral eyro de Ponta DelgH'
à Camera de Ponta Delgada por feu Padroeyro o Santo Xavier , por da , por Bfílla d^
^Bullade pergaminho que eftá nõ Collegio, & fe confirmou em 1658. 1658,
& a Camera fez afiento de aíTiftir à fefta do Santo, & dar cada anno cin-
co mil reis para a tal fefta , & de ficarem fervindo na Confraria os Offi-
eiaes da Camera que tinhaó acabado. Em tempo de fte Superior íe aca-
bou o Corredor grande de cima, & o pequeno que 'acabava na varanda,
como jogo do truque junto aellaj&o llluftriílimo Senhor Dom Joaõ
Pimenta de Abreu , com omuyto Reverendo Arcediago Manoel Ca-
bral de Mello, & com Pontifical, & folemnidade grande benzeo os Cor-
redores de cima , & de bayxo, & no fim da manhãa praticou ,& ficou no
Collegio atè a tarde , em que fe viraó os Altares, & armações , & fe leraó
as Poefias & depois fahiraó o Padre Manoel Monteyro por húa parte
-,

da Ilha, & por outra outro Padre, &: correrão allha em miíTaó Apoftoli-
ca. E no mefmo tempo fe deo de efmola para a Igreja húa alcatifa gran-
de , Sc outra pequena, & a cadeyra das praticas, & outra efmola com que
fefez a bandeyra das doutrinas }& o Reverendo Manoel Fernandez, Do fMHyto Revirin^,
Vigário de Saó Pedro de Villa Franca , deyxou ao Collegio dous mo- do Manoel Perna»
yos de renda perpetua-, &: deo três moyos por hiima vez à Sacriftia , ten- des Vigário de Saõ ,

do jà dado efmolas de importância em fua vida. E vindo por Vifitador Pedro de nila Fran-
cajnjigne Bemfejtor^
o Padre Diogo Pereyra (depois de ter fido Lente de Theologia) al-
,
do Collegio^
cançou de N. Rever. Padre Geral que os Superiores do Collegio de
Ponta Delgada foflem dalli por diance Rey tores com patente de Roma;
&logo o Licenciado Ruí Pereyra de Amaral, Irmão da Companhia,
fez as novas duas ClaíTes , de Primeyra, &c Segunda.

CAPITULO XXIÍ.

Dos Rey tores do Collegio de todos os Santos de


Ponta Delgada.
Cef»o fihío A Rejt'
267 ^T^ Endo fido eíle Collegio fomente hua Refidencia do 'È^túdenda de S. Miguel

i Collegiode Angra por quarenta & cinco annoSjdefde o ^ íigorofo Collegia

de 1591. atè o de 1636. então em 13. de Fevereyro veyo por feu pri- "^.^^'''"^^'^'f^/:
meyro Reytor cora patente de Roma , o Padre Luis Lopes , natural da ^/^*^73rff Lni
dç Junho de.i639..Em
Vidigueyra em Alem/
m-Tejo, &: o foy atè 1 2. feu - -
^JJ^
"Eii
viy teni-
" Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguei. j
$^4
tempo, a 3. de Julho de 1638. tremeo a terra eípecialmente em S. Joaé
,

dos Ginetes , defronte do qual íitio , & huma legoa ao mar , Sc no meyo
delie , & de repente , arrebentou do fundo tal fogo íobre o mar jquelò-
bre cllefez hum tal llhèo decinza j terra , ôc pedra pomes , que durou
muytos dias, & noy tes, & matou grande copia de peyxes & íe na terra ;

tivera arrebentado, toda aeonfumiria. Acudio poiso novo Padre Rey-


tor com huma miíraó.aotal lugar para animar ,êc confolar a gente > 6c
©utra miflaó de Padres mandou pela Ilha toda.
2é8 Porém eni 3. de Movembro de 1 637. tinha mandado El-
Rey de Caílella lançar taes, & taó novos tributos na Ilha , que
amotina-
^
do, ôc armado o povo, ao cllrondo do fino do Rebate , acudio tanto , Ôç
com tal fúria à praça , que arremetendo logo à Audiência , lhe puzera^
fogo ás portas , & aíTentos, & fobre a cafa da Camera Jançáraó tantas pe-
dras, que o Governador N
uno Pereyra Freyre, & o Juiz de fora, com os
^^'^ ^^ Governança^que dentro eftavaõ} correrão perigo de vida. Acu-
'Áíiíío ue do Col
""s

Icfivforas ptU Ilha.


^iraõ entaó com Cruz alçada o dito Padre Reytor3& feu Collegio,& ou-
tros Eccleíiaílícos , &
trazendo para o CoUegio os fobreditos do Gover-
no,os livrarão damprte,& aquietarão o motim. Nefte mefmo Reytorado
o Reverendo Chantre de Angra Sebaftiaó Machado deo vinte mil reis
!!'!ll'! de efmola ao Collegio para o Sacrário da Igreja, &
de outras eímolas fc
íizeraõ nella vários ornamentos, & fe fizeraó dous finos novosjôc o Col-
:i1l'

legio comprou avinha nova, que foy deCofme Sarmento: ^íç^z naç
Furnas a Cafa ,& Oratório para quando lá va6 os Padres j <k em 1636.
deyxou Hieronymp Ggnçalves de Araújo cem mil reis para ajudada
retabolo do Altar morda Igreja nova.
269 ChegadoJulhodei639.paírouporSaóMigueloMefl:re
de Campo D. Diogo Lobo da Silveyra , natural de Angra, que hia para
o Braíil.& com elle hia por Vifitador do Brafil o Padre Pedro de Mou-
ra, que levou por feu companheyro , ou Secretario o Padre Luis LopeSf
'
'

que acabava de fer Reytor do Braíil voltou o dito Padre Luis Lopes
;

para Portugal & não fó foy Prepoíito de Villa-Viçofa , raas chegou a


,

fer Provincial da Provincia de Portugal , & depois Reytor do Colle-


gio de Coimbra, & fempre varaó muyto regular, & exemplar, & de
grande dom de bom governo , que venerey fempre fendo feu ínháito^ ha
mais de cincoenta annos.
270 Ofegundo Reytor deSaÓ Miguelfoy 'o Padre António
- ,, ,
da Rocha,natural de Alvayazerej teve o governo defde 2. de Julho r

ÁíytVdlcoll7JZZ ^e 1639. atè 3. de Fevcreyro de 1643.


Em feu tempo chegou a feliz no-
toda a Ilha & per va da Real Acclamaçaó do Invifto Reftaurador da Monarchia Luíita-
,

maiídedom mez.es. na o Senhor Rey D. Joaó o IV. & foy logo recebida com repiques , &
luminárias géraes,que duràraó por muytos dias,& com o Senhor expo-
fto na Igreja do Collegio em o primcyro de Mayo de 1 641. & aos cin-
co fez o Collegio prociíTaóde acçaóde graças, com a Irmandade de
Noíía Senhora da Vida, com muy tas figuras , & Anjos , &: d -'ante os me-
ninos da efchola , todos bem veftidos ,& com capellas de flores nas ca-
beças, & triunfantes palmas cm as máos. Neíte Reytorado fe accrefcen-
tou muyto o Santuário da Igreja,& fe comprarão os órgãos ao Conven-
to da Efperança , para o que concorreo Francifco de Moraes Homeny
"com

^P
Câp.XXIl.Dos noms Kcyt.da Rcfid. levanta Collcg. ^tj^

com eímola de trinta cruzadoSiSc Maria Nunes, mulher de Jofeph Eer-


.nandez Fereyra, deyxou ao CoUegio feíTentamil reis de elmolá i 6co
dico Reytor fez as caías , &
cifterna da Fajá para as Qiiintas ordinariaSi
comprou mais tresalqueyrcsde vinhajuntaà que jàtinhaòemBethléj
& morada de cafas na Cidade, &c.
iiua '-^ íí

í
.j^s: Terceyro Reytor foy o Padre Diogo Pereyra, natural de
Viana de Alem-Tejoi começou a 3.de Fcvereyro de 1643.&: acabou ém
i3.deSeptembrodei646. Nefte Reytoradofe fez huma Miífaõpor
toda a Ilha que durou dous mezes , com grande fruto das almas eora- ;

praraõ-fe mais cinco alqueyres de vmha em Bcthlem j fez-fe o Retabo-


lo novo da Capeila mòr com efmolas da Camera, êc do Provedor da fa-
zenda Real de todas as Ilhas Agoftinho Borges de Soufa. António Mar-
tins de Oliveyra, & fua mulher D. Guimar Ferreyra deraó quarenta òc
tantos mil reis em dinheyro, & as duas Imagens do Santo Borja, & San-
ta Terefa de JESUS & D. Catharina Botelha, & fua nora D.Maria do
:

Canto, 6c airmâa deft a, D.Lu iza deraó outras varias efmolas & hum :

Cidadão de Angra, Luis Coelho Pereyra , mandou trinta mil reis ao


Padre António de Abreu Procurador defte Collegio , com que fez a in-
terior Capeila delle pagáraó-fe nefte tempo mais de quatrocentos mil
:

reis de dividas íizeraó-fe as exéquias de noífo M. Rever. Padre Géral


-,

Mucio com grande folemnidade , & o Rever. Vigário , & Beneficiados


da Matriz , & diíTe a MiíTa o Vifitador da Com panhia o Padre Gafpar
»ml
de Gou vea, & ainda íe com pr àraõ as terras,quc foraõ de Cofme Sarmen-
to :reftaurou-fe a Confraria do Santo Xavier àinftancia defeu grande
devoto o Licenciado Ruí Pereyra de Amaral,Juiz dos aufcntcs,& Efcri-
vaõ da Camera , com a qual fez que fe tomaíTe ao Santo por terceyro
Padroeyro da Cidade , ficando 05 primeyros Saó Sebaftiaó , & Santo
André , & que a Camera vicffc no tal dia em prociííaó à Igreja do Col-
legio.
272 Qiiarto Reytor foy o Padre Joaõ Frey re.E porque o Pa-
dre Manoel Gonçalves que apontou os fobreditos Superiores , Rey- & j^^^ff^rto, & f«^»^
rores parou no fobredito terceyro Reytor ,
,
nâò achey mais aponta- & ^g Reytor , & de«tt.

racn tos dos outros , por iíTo defte quarto Reytor naó digo mais i & fer- tra Mijfaifepa pU
virà iílo de avifo para haver quem aponte o digno de fe apontar.O quin-
Ilha,

ro Reytor foy o Padre Manoel Alvarez , natural d'Arruda , que parece


entrou pelos annos de 1653. &
também em feu tempo mandou miííaó
pela Ilha de dous Padres, como he próprio da Companhia,
273 Sexto Reytor foy o Padre Gonçalo de Arèz , que achey
|à Reytor no anno de 1664. era natural da mefma Cidade de
Ponta Del- UofsxteReytsr oPa2
gada ,&: da melhor nobreza delia , & a cujos afcendentes ,& parentes dre Gonçalo deArè^
deve muyto o tal Collegio , aílim em fua fundação , como na continua- natard da me- , &
Ihormhezadaillh^
caÔ, 6c augmento delle 5 mas a e^lle deve muyto mais a Companhia , pe-
h grande virtude , letras, & prédica com que a honrou porque na vir- ^^^^^^^Çl
,

tudQ era exemplariíTimo ; nas letras foy excellente Moralitta tmha ^^^^ -, &
J^^^^ ^ '^^.^^/^^
grande voto nas matérias de Moral j na predica era &
bem ouvido ,
j^^^j^ „^^^^
"^
&
com grande atrençaô pelo que dizia ,
pofto que fem forças para aturar
de Adventos, & Qiiarefmas. No ultimo dia de feu trien-
iriuyias tarefas
aio chegou licença para fe começar Igreja nova , poucas horas antes & •

de
^3^ Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguei.

de:acabar , &jà de noyte, mandou logo abrir os aliceríes


coufa qite al- ,

guns lhe eftranharaó, devendo-fe-lhe iauv ar o zelo que niíTo tinha , po-
isrèm vindo encaópor Viíitador o VeneravelPadre íviánoel Fernandez,
/de. quem fareiaos a devida mençaó em feulugar, leguio-fe o Keytor fe-
guinte. ...u: ./ i.i.

:.: 274 SeptimoReytorfoy o Padre ManoelGonçalves, natura!


.depertode Comíbraj para levantar a Igreja nova fahiO oditoReytor
'Dofetime Reytor « cQm o feu Padre Frocurador
,& com ô governador Luis Velho pelas
J^adre Manoel Gon-
cAlves qne mandou
^.^^ ^^ Cidade, pedindo eímola i
,,^ também íe pedio em Kibeyra Gran-
^
&
-xr ^^ v- n n - pl- ,

iiirfi
entra Mtjfaõ pela, "^í ^^ \ú1íl ^ ranca}&: nefte tempo vierao os quatro caííiçaes de pra-
Mha , &
depois /o; ta do Altar mor, o prato, & &
jarro desagua às mãos , com dmheyro da-
Reytor de Braga , & dó de efmolas à Sacriitiaj & logo foy o Padre Pedro Lcy taó com outro
morreo na Kefidencia^Padre companheyro emmiíTao pela ilha por efpaçOjde hum mez j & a- ,

denoffa Senhora
Camcra da Cidaae à inftancia do Licenciado Rui Pereyra de Amaral,
<^^.

-
'^^*'-
& para a fefta .do Santo Xavier , mperpetuum, deo hum pedaço de ter*
ra ao Collegio i & ifto heo que le fabe.defte leptimo Reytor, que ao de-
;.poís foy Reytor de Braga, & zeloío da obfervancia , & morreo na Re-
lidencia de JNoíTa Senhora da Lapa, entre o Bifpado de Lamego , & de
Vizeu. .

275 Gytavo Reytor foy o Padre Meftrejoaõ de Soufa,natural


Coimbra, que vindo por Viíitador das Ilhas, ôc para
O oitavo Rèyter foyo^^^^^ de junto a .

Tadrtfoaõde 5o»y^ficar por Reytor de Angra, aportando primeyro em S.Miguel,efcolheo


dffo^ de Çer ^r^i/ranteso ficar Reytor alli i tinha lido Curfo em Braga, & fido Prefeyto
hente dtCoimbra^& das Efcholas menores de Coimbra , & neilas por muy tos annos Lente da .

'Pregador exeelleme, Sagrada Efcritura , onde foy Meíbe. Era exceilentiíTimo Pregador,
worreo fendo Rejtor
j^unianiíta fingular, & muy to copiofo tn dícendo , & tantoem os íingu-
-- '^
^ '-
lariflimos conceytos , que de cada Sermaó feu fe podiaõ fazer muy tos
Sermões, & jà quaíi todo brancoj & eftes eraó os Reytores que entaõ fe
donde vindo pregou em Coimbra comgéral
mandavaó para as Ilhas j

aceytaçaÓ , & foy promovido a Reytor de Braga , aonde faleceo fendo


;j ., . Reytor, & com grande exemplo, eípeciauiience de grande humildade^
que he o timbre dos Letrados da Companhia , ferem humildes ; & alllm
acabado o Reytorado de Saó Miguel íem lhe ter chegado fucceíTor, fí-
cou por Reytor o fobredito Padre Gonçalo de Arèz que com feu zelo

,

reedificou as duas aulas da Primeyra, & do Moral , & as cafas novas que
fe feguiaõ no canto do terreyro da Igreja; Sc tirou quatrocentos mil reis,

!'rí
de que o Collegio pagava cambio em Lisboa.
276 Nono Reytor foy o Padre Manoel Soares natural da ,

Provincia da Beyra} entrou em 2. de Junho de 1665. & tinha jà fido


Do nono ^7?<»'oP'«2
Prefeyto do grande pateo de Braga, & em Saó Miguel foy também,
dre Manoel Soares,^
^^^^^^^^^^^^^^ muyto prudente, maníb, &: pacifico, & de muyto
JrlçaíZ llTorio, ^^^ exemplo &
aflim vindo da Ilha foy Reytor de Bragança , & de-,
;

(fr Secretario detPro-


pois Reytor do Porto , &: emfim Secretario da Provincia , & em todos
gineta. os governos fe houve com grande acey taçaõ & muyto exemplo de vir^, ,

tilde 5 & em efpecial de paciência & de nenhum


, género de vingança,
Dos mais Reytores ^thc[\xQ morreo com o mefmo exemplo. Dos mais Reytores deíleCoí-
digaõosqueos achA^ legio naó tenho noticia, dalaha quem ativer.
rtm apontados,"
:
'

GAP.

fp
'

\í :

Cap.XXIII.De aôvòsierr^Hiotos fiõlÈívéM âitallha^ í^


<ns í
!'jt,\

TU
'.

G A P I L O XXIIL
De outro terremoto -,& fogo que houve em S.MigueL
277 ini M huma Relação
manurcrita pelo Reverendo Antoni®
f>
Fernandez Franeifco . Vigário na Villa d'Alagoav6c tefe
íimirahade vifta,achey o que recopiladamente agora digo. huni Em
Sabbadoa de Outiiijro de 1652. antemanhâa começou a tremer a
12.
terra continuadamente atè os 19. do dito mez , & com tam fortes aba- ^
j^n^y^g 's'«nho¥ík
los,que na Villa d'Alagoaj& em particular na Freguezia de Santa Cruz^^ Rofario no terre-
çaliiraó feíTenta cafas , & nenhuma na de NoíTa Senhora do Rofario , & meto, & fogo do Pico
ÍQ ficou abalada fua Igreja , conio as mais das outras cafas , & o Conven- chamado de foaõRa,'^
to dos Capuchos, & comtudo nsaô morreo pcíToa alguma. As Freyras »»of f w 19. deOu-^
deRibeyra Grande fe fahiraó do Convento, bem acompanhadas do "
^*^*^
Ecclefiaílico, & Nobreza, & eftiveraõ quatro dias fora, atè fe tornarem
a recolher & os feculares' largavaó fuás calas , com tudo o que tinham
}

nellas, $c fó andavaóem proeiífoés , & confiífoés pelos campos , atèque


no Sabbado 19. ao Sol pofto , quando todos cuydavaó eftar já livres, do
repente rebentou o Pico chamado do Payo i & o feu vizinho chamado
de Joaõ Ramos , & com tal fúria de fogo , que o vizinho lugar de Saó
Roque fe defpovoou todo , & os Parpchos levàraó o S jntiflimo para a
Cidade , lègoa boa do fogo, & com fer de noyte já todos deyxáraó as ca-
fas, & atè as Freyras queriaó deyxar os Conventos , fe as naõ impedif^

femos Religiofos , & Nobreza } & na Villa d'Alagoa, que menos de


legoa eftava do fogo , todos fe aufentavão , & fó os Parochos , & o Ca-
pitão raòr António de Faria Maya, tiverão maó^em muyta gente , pon-
do vigias por toda a noyte , advertindo para que parte tomava o fogo,
para fhe fugirem a tempo ; mas o fogo era tal , que fubindo da terra ao
Ceo, parecia defcer delle em nuvens de fogo toda a noyte j & nofe-
guinte dia eraó taes oseftrondos da horrivel pedraria que os montes de
fi lançavaó & tal diluvio de cinza, quente, negra, & medonha,que naé
,

fó cafas, Qiiintas,& cercas, mas ainda muytas terras fe perderão , 6c


tornarão infrudiferaSi & peyor feria , fenáo fora o vento norte , 6c rijo,
que lançava ao mar vizinho do Sul aquelles grandes dilúvios de cinza,
ôcfogo.
278 Qiiafi dezafeis dias depois hiaõ aventureyros ver os lu-
gares do fogo , & achàraó que o Pico de Joaò Ramos fó abrira huma tal
charainè^m cima , que ainda hoje lança fumo, 8c fogo , porém que o vi-
zinho Pico chamado do Payo , de tal forte arrebentou, que fazendo ou>
tros dous picos como elle , do que do centro lançou acima , ficou ells
tam inteyro , 8c alto como de antes 6c foy mifericordia Divina , que as
;

grandes, Sc innumeraveis pedras que o fogo levava acima, nenhuma ca-i


hio fenaô a prumo, formando montes novosjuntosao doPayo. Tam^
bem fc reparou que hum Hieronymo Gonçalves de Araújo (homem Milagre da Cruiâè
,

pio, bom Chriftaó,6c muy to efmoler } tinha, muytos annos antes a leva- Chnfto contra «i/jíí»
do às coftas ao alto do Pico de Joaó Ramos huma grande Cruz , 6c a ti- ^** f^ofog^t
nha era cima delle collocado j & jà por iíío o fogo tomou o caminho do
13^ .:LívfoV,Dafataí[íiiadeS.MigueOíX}Lqi; >

monte do Payò vizinho, & riaó do de Joaó Ramos flendo que defte fe
dizjquejáantçsda Ilha defcuberta, tinha em cima aberta a chaminé
Cafllgjí de ptccados
do fo^o , que lhe tapou a Cruz , para o naó lançar mayor. Defta forre
eíte fucceíToj fem morte que fe fayba de peíToa alguma j mas com
fá pára com a tmin^ paroví
4(1 delles. deftruiçaó de terras. ,„
. ^
m \

279 TambeníemiS'^ de Outtíbrò dé 1656. pelas duas horas


da madrugada houve muytos terremotos , & no dia feguinte pelas fetc
horas da tarde houve humtaõ vehemente, que fez abalar os edifícios,
m ôc a gente defemparar as fuas^caíâs ,& confeíiarem-feos mais em dia de
Santa Iria, & com iíío parou tudo j que o remédio dos caftigos defta vi-
da he a emenda nella dos peccados. -4 ^

280 Refta vermosjque fe acha no antigo tombo da Camcra de


Ponta Delgada,aonde a foi. lo/.eftaõ os privilégios da Cidade doPortoj
\m I & fe declaraõ miudamente os concedidos aos antigos Infanções , & to-
!i W
dos fe concedem aos Cidadãos de Ponta Delgada , por Felippell. em
oanno de 1583. E a foi. 172. ,eftâ o privilegio Real , para que os The-
'Privilégios Reâei dos
fouteyros da Camera de Ponta Delgada que fáhirem no pelouro , go-
Cidadãos de Ponta
Delgada dos Fami- zemos mefmõs privilégios que os Juizes, &
Vereadores, como já de
,

liares do S.Officio^& antes eftava concedido à Villa de ViUa Franca. A foi. 327. eftaõ os pri-
dos Offieiaes daCra- vilégios dos Familiares do Santo Ofíicioi & a foi. 432. eftaõ também os
s;,ndit.
privilégios dos Officiaes da Bulia da S. Cruzada.
281 E porque alguns Capitães Donatários excediaõ os pode-
res de fuajurildição, por iflb a foi. 159. & 167. declara ElRey , como,
^ioncederfe ao Capitão de húa Ilha em fuás doações a jurifdiçaõ do eivei,
& crime , não he fazello Governador da Juftiça por ElRey , &
que ne-
-fihúa poífe, ainda immemorial,val contra ajurifdição Real.E que nem o
tal Capitão, nem os mais Capitães das Ilhas não erãofenhores das Ilhas,
mas Capitães fómente,queheofficio de Governador: &afíim a foi. 130.
cftáaprovifaõ de Felippe Segundo de 1584. em que mandou quey-
mar , aílim/como eftava cerrada, Huma eleyçaÕ de pelouro da Ca-
mera , que o Capitão da Ilha tinha feyto em falta do Corregedor ,& a
«fte fe manda, que com o Juiz de fora a faça i & ao Corregedor fe avifa
que venha a tempo da Terceyra para a fazer em São Miguel era então :

Corregedor Chriftovão Soares de Albergaria. E aíTim também fc vè jul-


Do qtte n»o poàem^
gado a foi. 159. atè 167. nâo poder o Capitão fazer as eleyções ,& pe-
^ do cjue podem fa-
louros. E a foi. 217. eftà a fentença de Felippe II. dada em 608. para não
z.er, es Capitães Do-

natários, poder o Conde Capitão embarcar feu paó fem licença da Camera,&r pa-
ra não quebrar as pofturas,&: acórdãos feytos na Camera. E a foi. 25 1. atè
258.eftâooutrasfentenças havidas pela Camera contra o Ouvidor do
,- -

Conde Capitão em matéria de jurifdições. . ... .

282 E he ainda tam grande ajurifdição dos ditos Capitães das


Ilhas, que no eivei, & atè quantia de quinze mil reis, ( não concando as
cuftas) fentenceaó a final, fem appellação, nem aggravo 5 falvo allegan-
do a Parte condemnada alguma nuUidade , porque então dará cartas
teftimunhaveis com o teor de todos os autos , para fever pelos Defem-
bargadores , & fe fazer o que for juftiça. E no crime podem degradar
por dez annos para além , a qualquer peíToa , & açoutar a quem for de
qualidade em que caybão os açoutes, & os cafos taes , que lhes de vão fer
dadas

*P-^
Cap.XXIII.Dosprivil.dePõt.Delg.&dosCapIt.Doriat.ij^

dadas femelhantes penaSi &


em penas de dinheyro atèa alçada de quin-
ditos Capitães haver appellaçáo , nem aggravo.
ze milreis, fem dos
ou em degredo
Mas fendo condemnados em mayor pena , ou degredo ,
paraas Ilhas de S.Thomè, do
Príncipe, &
de Santa Helena, ou em ta-
natural,dâraó appellaçáo , & aggravo
Ihamento de membro , ou morte
appellar,appellaráó por parte dajuftiça. E darão
aparte, ôcfeefta não
carta de feguro de
todos os crimes , de qualquer qualidade que fejáo. E
a tormento pelos ditos
quando algumas peííoas forem mandadas mctter
Capitães, ou feus Ouvidores ,fe deve receber appellaçáo às Partes , ou
appellar por parte dajuftiça. ,

285 E quando algfias peflbas fe chamarem às Ordês ,& fe pro-


fer remetidas a ellas appcUaráÓ por parte dajufti-
nunciar que devem ,

ça, ou receberáó a
appellaçáo interpofta , pofto que os cafos^caybaó na
alçada-
pronunciandoquenãoremettema peífoa , entáo nãoferaó o-
&
dajuftiça j porem fe a Parte appellar , re-
brigados a appellar por parte
cafo cayba emfua alçada. E quando
ceberão a appellaçáo, pofto que o
à immunidade da Igreja ,os ditos Capitães, ôc
as Partes fe chamarem
Governadores terão niflb a maneyra que pelas Ordenações he
manda-
Comarcas. E ifto fe guardará af-
do que tenhão os Corregedores das
provifoés que os ditos Capitães tenhão
fim fem embargo de quaefquer
contrario, por mim confirmadas, &c.
Aírimlelèafol.3io.emcarta
em
Realdei6.deMayodei62o. 4 j • ^
&
• •
n. o
284, Conclue-fe pois com as noticias delta grande, rica, no-

bre Tlha de São Miguel,


por não ter eu mais noticias que delia pofla darj
& comtudo ainda viràó muytas nas hiftorias que fe feguem das outras
Ilhas, aonde melhor cahirem; queyra Deos que haja quem continue ef-

U obra para gloria de Deos.

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L IV R O VI.
DA
ILHA TERCEYRA,
CABEÇA DAS TERCEYRAS.
C A P I T U L o I.

Do dejcuhrimento , nomes , & Armai da liba -; ^


\
Terceyra.

UPBOSTO primeyra das Ilhas Ter^


fer a
ccyras, que fe defcubrio , a Ilha de Santa Ma-
ria , & a fegunda a Ilha de Saó Miguel , (naó
obftante fentir o contrario Damiâó de Góes na
Chronica , fobre que tambcm Gomezea-
fua
nes de Zurara na Chronica mòr do Reyno, 6c
delRey D. Joaó o L) naó he fácil averiguarj
quem , nem quando defcubrifle primeyro a
Ilha TerceyrAj porque, fuppofto também que as Canárias (já antes po-
voadas de Bárbaros )foráo defcubertas pelos Reys Betencores em o
annodoNafcimentode Chrifto 1417. &as Ilhas de Cabo Verde fo-
rão por Portuguezes defcubertas muyto depois em 1443* &
muyto
mais &
em 1445. da Ilha do Porto Santo confta ter fido propriamente
defcuberta,& jà antes , em 141 por Joaó Gonçalves Zargo, & Triítáo
7.

Vaz Tcyxeyra atè 1419. & que nefte mefmo annofe defcubrio pelo di-
to Zargo a Madeyraj &: a Ilha de Santa Maria defcubrio o illuíire Gon-
çalo Velho Cabral em 1432. & dahi a doze annos , em 1444. fe defcu-
brio a Ilha de S. Miguel-, nâo concordáo comtudo os Authores, em por
quem, & quando foy defcuberta a Ilha Terceyra.
2 Confta porém que pouco depois de defcuberta a Ilha de S,
Miguel jie defcubrio a Ilha Terceyra porque tendo fido defcuberta a
;

de São Miguel em 1444. jà em 1450. o Infante D. Henrique fez Capi-


ráo Donatário da Terceyra ao fidalgo Flamengo Jacome de BrugeSj
por eftar erma , & inhabirada , & elle a querer povoar ( como veremos
,

abayxo na dita doaçáo; ) &como também confta que foy defcubertas


íiaó aittes , mas depois de defcuberta a de Saó Miguel pois foy no
,
def-

X cubíí"

it!!l'

/'

«Mm laUMÉi wV
i i i
ié*
t4£ Livro VI. DâHegia IlhaTcrceyra,

'«' III
cLibrimento a teiceyra i fegue-fe que fe defcubrio em algum
daquelles
cinco para íeis annos, defde 44,. atè 50. &
como nefte de 50. jà havia al-
iit

guns annos quèeftavadefcuberta, mas erma j&inhabitada,conclue-fc


íogâ efots t efcH-^
'lil il ç^^^ defcuberta pelos annos de 1 44^ .pouco mais ou menos, perto de
kerta a Ilha de Sao .^ j r . c v^ 1 j j r ^ e
Miguel em i C44. dousânnos depois de deícuberta b. Miguel j quatof ze de delcuberta ô.
1

i<!ií

logoemij^j.fedef. Maria, & 25. depoisde defcubertaa Madeyra. Dodia que fe defcubrio,
cHhrioaIlhaTercei- confta que foy «m
diafeílivo, 6v efpecialmenfe dedicado ã Chrifto Sal-
ra, & na qmntafey- vador noffo poisj)or iflb fe chama Ilha de ES
, J Chrifto , U
tem por &
TA da Semana Santa
^tit
^^mas hCi Chrifto crucificado,& a Sè fe denomina, S. Sè do Salvador, A
ú^Hdlemm.
í«lill»ílii ^^^^ ^^^ ^ Q^^^ào tem por Armas,& feu fello a hum Menino JESUSj
donde hús dizem que o dia foy oprimeyrode Janeyro,da Cincumcifaõ
de Chrifto 0utrQS,que o dia da fefta do Corpo de DeoS}8c o mais prova-
rei parece, quefoy o da quinta feyra da Semana Santa em que foy int ,

tituido o Santiílimo Sacramento, &; começou a Fayxào do Salvador.


3 Mayor duvida he, quem foy o primeyro que deícubrio a Ilha
Tercísyra porque dizerem alguns, que foy o mefmo defcubridor de
i

SantaMaria,& Sáo Miguel, o ilkiftre Commendador Frey Gonçalo


Velho Cabral , he fó conrideraçáo , & que parece menos crivei , pois fe
o fofle , também feria o primeyro Donatário delia, & a ella\iria algúa
hora , & fariáô ménçâo diíTo os Authores , que deftas Ilhas tratarão, co-
mo Guedes, Góes, Barros, Fruítuofo , & outros. E dizerfe que o foy o
fidalgo Flamengo Jacome de Bruges , também não he crivei , pois nem
o infante D. Henrique na doação que lhe fez nem elle mefmo na-pe-
'

tição que lhe fez , aUegãotal,devendo-o allegarj antes o mefmo Bru-


ges confeffaeftar já havia tempo defcuberta, ôc ainda deferta,&inhabi-
Oi primiyros defcK- ^^^^ a d ita Ilha. Pelo que o meu parecer he que como as Ilhas de Cabo
,
tridoresdaTercryra.y^^^^^^
parecejne tor^^ns
dcfcubrirão em 1543. &
avinda delias para Portugal, &ida
mareattStjHt vinhas
^^^ r ij^^
'
^^
f j j^^^ ^ Tercey ra j &
como efta foy defcuberta
j >« -ir j r J
pelo Norte , para onde ficao alem , as de Cabo Verde , he de crer que
J

á<ií Iihaide CaboFtr

depara Portugal, &


deftas vindo navio para Portugal , deo no Norte da Terceyra,& por
í/íV4õoiVí>r/í<^«»rír- afperoodeyxàrão,contentando-fecom trazer as novas ao Infante 5 &
ffjíz-íí.d-íiíí-^^-tw quepornãoferernhomés capazes de lhes entregar a nova Ilha,&an-
vaaoJnfame^Ono^^^^^^^^^^ ^^ outrasda Madeyra, & de Santa Maria, &S.

X^/por7//íXe^^^g^^e^^i^^^o"^^ Po^o^Çâo^^Terceyra para peíToa capaz que a pe-


ane então chamavaõ diíTe. E não ha que admirar , de que efcolhendo
Chrifto , para em tod®
/Ihoí dos Afores a o mundo plantarem a Fé Catholica homés de menos nome , huns pcf-
, ,

^Ke em terceyro /»- câdoreSjquizeííe que huns mareantes foflem os que defcubriílem a Ilha
gar fe defcdbrio ; (^ Xerceyrai pois também quiz que a Madeyra foííe primeyro defcuberta

r-^'^';^'''^f'^'''^'-porhumIn2lezMachim,& adoPorto Santo por huns pobres Fm n-


peça aos nove Je cha- ».,, R, «nito^^/r- 11 ~
ciícanos naufragantes, & a Ilha de Sao Miguel por hum negro , que pri-
mara'0 tan,beÍ toda.
IlhoiJerceyrM. meyroa viodefde allha de Santa Maria, como jàdilTemos.
4 Qiianto ao nome da Terceyra , tocámos acima jà por vezes,
1 & não ha duvida que lhe ficou tal nome, de entre as mais I!has,que tam-
bém fe chamão dos Aflores, ter fido a terceyra que fe defcubrio , depois
de Santa Maria, &Saó Miguel. E quanto a rodas as nove dos AíToresfe
chamarem também Ilhas Terceyras , nenhuma duvida ha que aílim fe
chamão todas, atè em algumas Doaçoens íieaes-, mas a razão nãohe,
(como alguns quizcráo dizer) por nos defcubrimentos das Ilhas defte
Oceano

fP
Cap.í I.Do prim. Donát. & FõvSMíSfes 3é tòdl a Ilha." Í4j
Oceano ferem eftas defcubertas em terceyro lugar , pois ifto hemani-
féftamente falfo ,
de Cabo
pois primeyro fedefcubriraó as Canárias , as

Verdejas da Madeyra , & em quarto lugar eftas i & Gafo negado que
naó contem por Ilhas de Portugal as Canárias j nem por iflb as de Cabo
Verde , ou as da Madeyra , fe chamaó as fegundas ; logo nem eftas poc
iífofechamáo as Terceyras a verdade pois heque defta Terceyra he,
:

quede Terceyras tomarão as demais o nome j 6c com razão, por fec


(como veremos} a cabeça de todas , & mais frequentada , a que mais a*
codem todas as nações , & a que recorrem as outras todas , como de fua
cabeça ( Nápoles) tomou o leu Reyno o nome.j& femelhantemente ou-
tros muy tos , & atè da fua Cidade do Porto tomou Portugal o nome > $c
já por ilibnem a Ilha de Santa Maria & Saó Miguel foraó chamadaá
-,

Terceyras , fenáo depois de defcuberta , & povoada efta por antonoma-


fia a Terceyra.

CAPITULOU.
Do primeyro Donatário , & Povoadores de toda a Ilha,
^ T-^ Efta matéria trataóGonies de Zurara , Chronifta mordo
&
\ ij Reyno, & Góes, & Barros, Guedes j & o noífo Fruftuo-
ioliv. 6. cap. 1. &c no cap. 7. traz o primeyro provimento que o Infante
D. Henrique fez de primeyro Capitão Donatário da Ilha Terceyra,
em 21. de Março de 1450, cujo inteyro,& formal traslado , he ofe-
guinte.
6 Eu õlnfanteV.Henriqííetkegedoriò' Governador da Ordem
éa Cavallana de N. Senhor JESUS C rijioy Duque de Fizeth&fenhor da ^^ f^^y^j^^ Boã^àt
Covilhaaifaçofaber aos que efiammha carta virem ^ que Jacome de Bru-f^^taaoprimt/roCa'^
ges , meufervidor , natural do Condado de Flandes , veyo a mm
, ò- me dijfe, pttaode toda a ilh^

que por quanto de/de ab tmuoy &


memoria dos homens ,fe naofabiao as Ilhas Terceyra facome dà
dos Afores fob outro aggrejforfenhorio Jalvô meu , nem a Ilha deJESU^^H"^
Chrijto , terceyra das ditas Ilhas a naofouberao povoada âe nenhuma gente
,
"^*"^^^F*^'F'. —5
'^'^^^''.P^j

que atègorafojfe no mundo , &


aoprefente efiava erma ^ tnhabttada que & --
-y

me pedia por mercê , que porquanto elie a queria povoar ^ que Ihejizejfe delia
mercê i &
lhe dcjfe mmha Real authoridade para ello^ comofenhor das Ilhas,
E eu vendo o que me ajjlm pedia )ferferviço de DeoSj ó' bem, proveyto da &
dita Ordem . quercnâo-lhe fazer graça , c^ merc} , me apraz de lha outor^
gar , como ma eUe pedio. E tenho por bem , ó' me apraz que elle a povoe de
mmlquer gente que lhe a elle aprouver, quefeja da Fé Catholtca , érfanta de
N. Senhor JESUChrifio &porfer caufa da prmeyra povoação da dita
-,

Ilha, haja o dizimo de todos osdizimos , que a Ordem de Chriflo houver ,pa^
rafempre,&ãquelles quede fua geração defanderem tenha a Capita^
-, &
nta, é^governan ça da dita Ilha , como a tem por mim João Gonçalves Zar-
go na Ilha da Madeyra , na parte do Funchal ; &
Trifiao na parte de Machi-
€0 ò' Pcreftreh no Porto Santo , mem Cavalleyros ò' depois delle a qual-
. ;

qnerpefoa que d a geração delle defender ; &


a hajao affimpelaguizd que a
r/ies Cavalleyros a tenho dada , &
queda dita Ordem a hao ^^t^ro quà -j &
X ij dk

tmm
I

^44 Livro VI. Da Regia ilhaTeixeyra,


m elle tenha todo o meu poder , ó' regimento âejiijiiça na dita Ilha
vel como no ciíme i J alvo quevejwadfor appeUa^aÕ de ante
,

elle
aj/lm no
osfeytos de
ci"

mortes de homéSj o" taíhammto de membros , que rejalvo para mim , ó-- para
major alçada , ajjim como nas ditas Ilhas da Madeyra , ò" Porto Santo. E
me apraz ypor aíg Ús Jerviços que do dito Jacome de Briig es tenho recebido,
for quanto me dijje que elle naó tinhajilhos legítimos ^ &
jõmènte duas filhas
de Sancha Rodriguezjua mulher y que,Je elle nal howverfilhos varões dadi^
tajua mulher, que ajua filha major haja a dita Capitania , ó" os que defua
geração dejcenderem Cf na o havendofua filha major filhos , havemos por
,

^^^" í'^^ afilha feg unday que depois da morte dapnmeyraficar,poj[a haver a
iii t d ide íen prin-
g3lfoya Capitania dita Capitania par afilhos,ó'filhas,netos,& dejcendentes,& ajtendentes, que

de A figra privilegia- dos âitos defcenderem,com aquellas kberdades,é^- púderes,que aos ditos Capi-
da contra aley men- $ges tenho dãdos,porque affim Ofinto porfcrviço de Deos,iér accrefcentamento
tal^ coufa que a fit- ^^ ^^nta Fé Catholica,& meu-, feio ditojacome de Bruges povoar a dita Ilha
1:1!

nhnm
;

^'*^J[^f"'^TJ t^olmgeda terrafirme , bem duzentas é-fejfenia kgoasdo mar Oceano a -,

Capitão je con .
^^^^^ n^afe nunca fioube povoada de nenhuma gente que no mufídofojfe ate-
gora: & rogo aos Mefires, éf Governadores da dita Ordem que depois de
mimvierem quefiação dar & pagar ao
, Jacome de Bruges,&fem her^
, dito

dejros, que dejcenderem a dita dizima do dizimo iquea dita Ordem na


delle ,

dita Ilha houver como , por mm he dada, & outorgada ò" nao confim ao
lhe ,

\êv.
Weferfiejto [obre nenhum agg ravo & peço por mercê a ElRej meu
ello ;
Se-'

nhor, & fchnnho ér aos Rejs que


,
vierem que ao Jacome de Bru-
delle , dito

ges, & aos herdeyros que defcenderem ,façao pagar


delle dizimo a dita o dito

Ordem do que na Ilha je houver & que Ihejação pagar a dita dizima
dita' ,

do dito dizimo aos Me/ires ou Governadores da dita Ordem, como


, por lhe

mim he dado, & outorgado para fempre em todo faça & tenha a , lhe ter, di-

ta mercê , que Ihepr mim hefejta. E porfegur ancafua lhe mandejferfejta


^^, .
.

efia mmha carta, affmada por minha wao ,&fellada do felio de minhas ar-
. mas. Fejta em a Cidade de Silves ,a 2. dias do mez de Março. Pedro Lou-
renço afez annodo NafcimeMo denojfo Senhor JESU Chrifio de mil ó"
quatrocentos ò" cincoenta annos.
-
-

7 Oditojacomede Bruges, a quem fe fez tam Real mercê,


"" ,
'

não fó era Cavalleyro do ferviço do Infante, & natural do Condado de


^amili* de
^^^j^^ Flandres , mas tam bom fidalgo , & tam conhecido já em Portugal, que
Fantili
^He outros
'càcafcu com huma fidalga Portugueza , Dama da Senhora Infante D.
'

AreM.
•Brites 3 Sc a Dama fe chamava Sancha Rodriguez de Arca; & junta-
mente era tam rico, & taó Catholico, que fiou delle o povoar a Ilha, le-
var bons povoadores , & ir para ella ,& tudo àfua cufla ,0 que não fez
outro algum Defcubridor Donatário ; & por iílo mercê mayor que a al-
gum outro , pois lhe concedeo a Capitania não fó para elle, & para o fi-
lho varão mais velho que delle ficaííe , mas também para a filha mayor,
em cafo que náotiveííe filho varaõ & para fens defcendentes, fem ex- ,

<epção alguma,exceptuando já defde então a fucceflaó defta cafa da ley


mental do Reyno coufa que fe não concedeo a outro algum Capitão,
;

fenáo depois de muytos annos , Sc de muyto antiga pofie , & muyto re-
petidos ferviços.
8 Enquanto ao que diz a Doação, que a Ilha Terceyra cííá,
bem duzentas &z feflenta legoas pelo mar Oceano dentro, Scc: gílim fe
fuppu-

^^
Cap.II.Do piim.Capit.JâCom.Bmgc~s,ac fuaReal carta. 24 jr

íuppunha então j porém hoje dizem alguns , que eftá de Portugal tre-
zentas & dez legoas, & a Ilha de Sáo Miguel duzentas & oytenta, trin-
ta legoas antes da Terceyra 3 &: quafi na mefma carrey ra j outros affir^
ináo que a Ilha de São Miguel eftá de Portugal duzentas &: cincoenta
h llh'
legoas, èc a Terceyra duzentas & oy tenta j & os mais concordáo, que S. J^'JT J^ ^^ ,^^
Miguel eftá duzentas & fctenta legoas de Portugal , & a 1 erceyra tre- ^ ttrrajime^
~

zentas &: ifto he o mais certo , ôc experimentado j & que fora deftas -
j

Ilhas Terceyras , fe não fabe de outra alguma Ilha mais diftante de toda
a terra firme j pois asde Cabo Verde cftáo mais perto dellaj as Canárias
mais perto da barbara Mouramaj as da Madey ra muyto menos longe da
Mourifca Africa & ainda as de Inglaterra eftáo mais perto de França,
-,

&: muyto mais as de Itália, de Alemanha , de Olanda, & das índias Ori-
cntaesj ôc Occidentaes, a refpey to de outras terras firmes,& vizinhaSj&:
^or iíTo também efta razão a/fina o noífo Infante para tam ampla mercê
fazer logo ao primeyro Capitão Jacome de Bruges.
9 Pertradição de algus velhos (refere Fruduofo/w.ó.rííf. 7.)
dep©is de defcuberta , como já diflemos , a Terceyra , veyo a ella hum
Fernão Dulmo, de nação Flamengo, ou Francez, &í: entrando çúo pyi^eyra I^eja^iA
N orte habitou no lugar que alli fe fez,das quatro Ribcyras,& com trin- Fregne^^ dd ilha^
ta peflbas que comfigo trouxerai& pôde fer q efte foíTe o que alli levan- Terceyra^
tou a primey ra Ermida , ou Igreja , dedicada a Santa Beatriz , primeyra
Frcguezia que houve em toda a Ilha j & querendo abrir , & cultivar a
terra, ( de que parece não entendia muyto} impaciente de logo lhe não
refponder como elle defejava , fe voltou a Portugal & ou defte , ou de
-,

•outrem , informando- fe o fidalgo Jacome de Bruges, fe oíFereceo ao In-


fante a ir povoar a dita Ilha , & lhe pedio , & alcançou a Doação refe-
rida.
10 Feyto pois efte Capitão, Donatário de toda a Ilha Ter-
ceyra, partio logo para ella com dous navios á fua cufta , carregados de
gado de toda a cafta , de vacas , porcos , ovelhas , &c. & lançando tudo
cm a Ilha, fe voltou a Portugal a bufcar gente capaz de a povoari& por
não tam facilmente a achar , fe foy à Madey ra com alguns Flamengos}
nella tomou amizade com hum bom fidalgo, chamado Diogo de Teve,
& com elle , & outros nobres da Madeyra fe veyo à Terceyra , aonde jà Dofidalgo Diogo dó
achou grande multiplicação de gados & eftando na Terceyra algum ^'^* » f** ^'* ^^'
;

tempo , lhe chegarão cartas, ( que diflerão alguns , ferem fingidas pelo ^^''^ ^^J"* f^^-^- ^
***
amigo Teve } em que fe lhe dizia fer morto hum tio feu em Flandres, '
& tão rico que lhe deyxàra a elle hum morgado de muy ta renda j o que
fabido, ou crido pelo bom B ruges, fe embarcou logo , & em tal conjun-
ção, que atè hoje nunca mais fe foube dellej & accrefcentárão algús que
o Diogo de Teve o mandou matar , por fe levantar com a Capitania^ 6c
com eííey to fe levantou logo com hua ferra chamada de Santiago, que o
Capitão Bruges tinha tomado para fi, & rende atè quatrocentos moyòs
de trigo cada anno.
1 Succedeo depois ir Diogo de Teve a Lisboa , & fer là pre-
zo por culpas lá commettidas , & então a Dama , mulher do Bruges , fe
foy queyxar a ElRey de que Diogo de Teve lhe matara feu marido , Sc
requererlhe o mandaíTe notificar que defle conta delle ^ Sc aílim o fez
Wi'' .^ ^y ElReyj"

MD
246 Livro Vi. Da Regia Ilha de Tcrccyra.
ElRey, Sc à prizâo lhe mandou dizer , que dentro de dez dias áeí^Q co-
IP« fidalgos Pains pia do Capitão Bruges , ou aonde eftava , vivo ou morto , fob pena de
J»glex.es , que haviaõ jnandar fazer juftiça delleTeve jôc tanta pena tomou o fidalgo Teve
fucceder na Capita- deita Real notificação que ao fexto dia morreo.E aílim não apparecen-
,
nia de toda A Ilha
do o Capitão Bruges , a viuva fidalga fua mulher caiou a mais velha fi-
Terçej/ra.
lha Antónia Dias de Arceeom hum fidalgo Inglez , chamado Duarte
Paim, Commendador da Ordem de Santiago, ác filho de outro fidal-
go Inglez , por nome Thomás Elim Paim , que tinha vindo a Portu-
VillW! gal por Secretario da Rainha Dona Felippade Lancaliro , mulher del-
Rey D.Joaó 1. & p tal Duarte Paim, começando a demanda comos
poíTuidores da Capitania da Terceyra, morreo, & continuou-a hum
filho feu , chamado Diogo Paim , & por fe não achar a própria Doação
feytaajacomede Bruges, (que dizem lha furtarão, & queymàráo}
;iiii I

foy excluido Diogo Paim do direyto que tinha à tal Capitania.


12 Eitando pois vaga a Capitania da Terceyra pela faltado
íprimeyro Capitão Jacome de Bruges , fuccedeo aportarem á Terceyra
dous fidalgos , que vinhão da terra do bacalhao , que por mandado del-
Rey de Portugal tinhão ido defcubrir, hum fe chamava Joaó Vaz Cor-
tereal, & o outro Álvaro Martins Homem &informando-fe da terra,
5

lhes contentou tanto, que em chegando a Portugália pedirão de mercê


por léus ferviços: & por fer então jà mortoo noíTo Infante Dom Henri-
que, & lhe ter fuccedido no governo da Ordem de Chrifto o Infante D.
Fernando , de quem era já viuva a Infante D. Brites , S: poriíTo Tutora,
& Curadora de feu filho menor o Duque D. Diogo, fez efta Infante
m mercê aos dous fidalgos pertendentes da Capitania da Terceyra, repar-
tindo-a entre ambos em duas Capitanias, húa de Angra, outra da Praya,
comoadaMadeyraem huma do Funchal outra deMachico. E por-
,

<][ue a Doação dá Capitania da Praya , dada a Álvaro Martins Homem,

deve eftar no tombo da Camera da dita Praya & a de Joaó Vaz Corte-
;

realeftá,& vi no livro antigo do tombo da Camera de Angra foi. 24^.


& nella fe faz menção da Doação fey ta a Álvaro Martins Homem , por
iíío no feu antigo eílylo ponho aqui a Doação feyta ao dito Cortereal
Capitão de Angra.
1-2, Eu a Infante V. Brites Tutor
, , & Cwador do Senhor Du-
que meujilho, é^c. façofaber a quantos efia minha carta virem que haven-
,
J)a divifao da 7 er-
ceyrantu duat Capí- do eu por informação ejiar
vaga a Capitania da Ilha Terceyra de JESUS
taníat de Angra & Chrijloj do ditofenhormeuflhojporfeaffirmarfer morto Jacome de Bru-
,

Praya & Adi Doa- ges que atègoraa teve , do qual ha muyto tempo que alguma nova fe nÍo ha,
j

ções.
pojio quejà por muytas vezes mandeyafua mulher que a verdade delo fou-
,

heffe , & me certificajfe


-, & ajinandolhe para elo tempo de hum anno S- de-
,

pois mais, ao qual em alguma maneyra em todas as diligenciai que dijfofizef-


fe ,nao trouxe delo certidão alguma-, pelo que havendo por certo oqueaffim
me he dito , efguar dando o damno que he , a dita Ilha ejlar affmfem Capitão,
que haja de reger ,& manter em direyto , é^jufiiçapelo dito Senhor , ò-- co-
mo em ellapela caufafefazem muytas coifas quefao pouco fervi ço de Deor,
é- do dito Senhor mm filho determiney prover a elo por dej cargo de minha
-,

confciencia , é^ fervi ço do dito Senhor. E confederando eu de outra parte os


ferviços que João Vaz Cortereal -^fidalgo da cafa do dito Senhor meufãho,
; tem

f^*»
m

Cap. II. Das duas Capitan.huadeAngra,outrada Praya.147

ter» feytoao Infante meu Senhor ifeu padre que Deos haja , ér depoúa minh
'é- ãelle , confiando em afm bondade, lealdade, &
vendo afua diJ^ofiçaOt &
ãquaihe para poder fervtr o dito Senhor ,& manterfeudireyto, &jujttpi
em galardão dos ditosfervtços lhefiz mercê da Capitania da Ilhalerceyrii,
aj]im como a tmha dito Jacome de Bruges ,
lhe mandey delo darfua car- &
ta ante defta. por quanto a dita Ilha não era partida entre o dito Jacome de
E
Bruges, & Álvaro M artins & parte pela Ribeyra Secca, que dita
-,
he à quem da

Rtteyra de Frey João ficando da parte de Angra & da


,
Ribeyfui
efia >

Secca pela ametade da dita Ilha ate a outra banda , como fe


vay de Suefie a
Noroefie, &
partida a dita Ilha pela mefma maneyra , mandey ao dito Jodé
&
Vaz que ejtolhefe, efcolheo da parte de Angra,& leyxou da parte da Brâ-
ja, em que o dito Jacome de Bruges tinhafeytoftu ajfento ,
a mim aprou. &
ve delo , &
lhe heyporfeyta a mercê da dita parte, porque da outra
mandey
Ciar Çua carta ao dito Álvaro Martins.
14 Eme apraz , que o dito João Vaz tenha pelo dito Senhor a dita
mantenha por elle emjujliça ,
parte, que em direyto que morrendo elle, & -,
&
que tenha o carre^
ijjomefmofique afeufUhoprtmeyro , &fegundo , fetalfor,
oopelagnizafufodita;& affim de defcendente em dejcendente pela linha di-
%eyta : &fendo em tal idade o dttofeufilho que nao poffa reger , o ditofenhor,
ate' que ellefeja em idade par a reger.
érfem herdeyr os porão hi quem areja ,
Item me apraz, que elle tenha na fobr edita Ilha ajurtfdicçao, pelo ditofenhor
meufilho emfeu nome, do cível, &
crime ,refalvando morte , ou talhamento
de membro , que difto tal venha perante o ditofenhor
porem fem embargo da -,

dit ajurtfdicçao , a mm apraz , que todos mem mandados , & correyçaofe-


apraz,
jaõ hl cumpridos affim como couja própria do ditofenhor. Outrofime
,

que o dito João Vaz haja par afi iodos os moinhos de pao que houver
na dita
Ilha, de que affm lhe dou carrego , &
que ninguém nao faça ahi moinhos ,fo-
mente elo, &
quem lhe aprouver-, ifio nãofe entenda em mo de &
braço, que a
tenha outrem^
faça quem qmzer nao moendo a outrem nem atafonas nao
,
-,

fomente & a quem


elo, lhe aprouver.

I^ Item me apraz , que haja todas as ferras de agua quefe ahi


fizerem , de cada huma hum marco de prata ou em cada hum anno feu
certo ,

valor, ou duas taboas cadafemana , das que hi cofiumar em ferrar ,


pagando
portem ao ditofenhor odfzmo de todas as ferras ditas, &fegundo pagão daí
outras coufas, quandoferrar a ditaferra.Efio haja também o dito João
Vaz
ou outros
de qualquer moinho quefe ahtfizer , tirando vieyros deferrarias ,
metaes. Item me praz , que todos osfornos depom, em que
houver poy a ,feja9

fem aporem nto embargue quem quizer fazer fornalhas para feu pom ,
que

'ãsfaça,& nao para outro nenhum.ltem mepraz, que tendo ellefalpara ven-
meyo
der , vender outrem fomente
o 7iaopojfa dando a a razão de ,
elle , elle

realoalqueyre,oufua direyta valia, & mais & quando nao que na^Õ-, o tiver,

os da dita Ilha opofao vendera vontade , ate que elle o tenha. Outroji me
fraz que de todo o que o ditofenhor meufilho houver de renda em a dita
,

Ilha, que elle haja de dez hum , de todasfuás rendas , direytos , quefe con- &
tem em oforai, que para elo mandey fazer.
16 Epor efiaguiza que haja efia rendafeu filho , ou outro defcen-
,

ItQmtme praz, que ellepofa


dente Dor linha direyta que o dito carrego tiver.
dar por fuás cartas a terra da dita Ilha , forra peloforal , a quem Iheaprou-^
Livro VL Da Regia Ilha Terceyraí^
veVi com tal condição que , ao que der , a terta aproveyte ate cinco annos , ^
não a aprovèytando , que a pojja dar a outrem-, <^ depops que aproveytàdafof,
é^ a leyxarpor aproveytar atè outros cinco annos , que tjjò mefmo a pojfa dar,
E tjio mm embargue ao ditofenhor,fe houver terra para aproveytar que nio
fejá dada que eUeapoJfa dar a quemfua mercê for é^ ajjim me praz que a
, -,

dèfeufilhOi ouherdeyros defcendentes , que o duo carrego tiver. Item me praz


que os vizinhos po^^ao vender fuás herdades aproveytadas aquém lhe pare^
cer. Outroji me apraZj que os gados bravos pojjao matar os vizinhos da dita
-Ilha, (em haver ahí contradefeza , nem licença do dito Capitão , refalvando
.algum lugar cerrado em que o lançafeu dono : &
mefmo me praz , que oi
tjfo

gados manfospafcem por toda a Ilha, trazendo-os com guarda que nãofacão ,

damno; é^fe ofizerem^ que o paguem afeu dom j &


as coymasfegundo a pof-
tura do Concelho.
17 por E efia minha carta peço ao dito fenhor meu filho , que pra-
zendo a Deosque em idadefor , lha confirme^ &
éajapof boa , affim o fa- &
cão fem herdeyros , &
fuccejfores , quando a elles vierem 3 por quanto da dita

Capitania lhe fiz mercê pela maneyra em todo fobiredita , comfatisfaçao , c^


contentamento do muytoferviço que temfeyto , como dito he. em tejiemunho E
de verdade lhe mandey dar efia minha carta, ajfmada , érfellada de meufel-
io. D^da em a Cidade de Évora a dousdias do mez de Abril. Rodrigo Alva^~

rezafez, anno doNafcimento de noffo Senhor JESUS Chnftode milé"


quatrocentos &feffenta ér quatro.

CAPITULO III.

Dos Capttaem Donatários àefo a Capitania


da Praya , cia Ilha Terceyra.
V

1% ALvaro Martins Homem naõ era de mellos qualidade , 6ç


fidalguia que feu companheyro J oaó Vaz Cortereal , pois
igualmente a ambos tinha Elíley mandado a defcubrir a terra do baca-
Iháo , & delia vindo ambos juntos aportarão na nO'/a Ilha Terceyra,^
de a verem vaga com a morte de feu primeyro Donatário, ambos a fo-
raó pedir por feusferviçps aElReyj &porfenaó antepor algum doS
Dos dons Donataries^^^^^'^^^^^^^' fe lhes rcpartio a Ilha em duas iguaes Capitanias pelos
ds 'trígra ^& Fraja^ous igualmente pcrtendentes , & com méritos iguaes } & repartida a
mnhum frecedia ao Ilha efcolheo Joaó Vaz Cortereal a Capitania de Angra, &: Álvaro
,

eftíro. Martins Homem fe ficou com a Capitania da Praya , em que o Donatá-


rio da Ilha tinha no principio pofto feu aítento , & a tinha mais cultiva-
da. Defte pois primeyro Capitão da Praya, que fidalga foíTe fua mu-
lher , naõ dizem os Hiftoriadores , masfuppoem-feque feria de igual
qualidade a tal marido S: fó dizem ( refere Fruítuofo liv. 6. Cap. 8.
;

que vivendo com fua mulherna Praya , faltou de Portugal embarcaçaa


para aTerceyra, m ais de oy to annos, & emtodaella fefentio muyto
efta falta, & efpeeialmente no veftir,que de comer jà havia muy to gran-
de abundância na Ilha.
19 De

^
Cap.ííI.DosFid.chamacI.Mai't.Hoines,Capit.daPrâya.i4^

j 19 De Álvaro Martins Homem & de


, An- fua mulher nafceo
tão Martins Homem , que fuccedeo ao pay ern Capitão Donatário da DosCapitass daPrâ^
Praya , ( íem fabermos quando o pay morreo>} cafou porém efte Aiítíòjl^ chamados Mar-
Mareias com Ifabel Dornellas da Camera,íilha de Pedralves da Camera *^'^^ Homens & doi ,

irmaó do Capitaó do Funchal da Madeyra, como fe vè à margem do ci-


"^llZiíUs^^TaaM^
tado Fruduofoj que m corpore faz a dita Ifabel Dornellas naturalda ^^ forlTpara"a
.

mefma Ilha Terceyra , & pode fer que foífe jà nafcida na Terceyra , & jircejra, '
~

do fobredito Pedralves da Camera , que da Madeyra teria ido para a


Terceyra com oprimeyro Capitão delia Jacome de Bruges, como o
Teve &c. Sc aíTim fe aparentaváo então os Capitães de húas Ilhas com
,

os das outras, como vimos nos das Canárias com os da Madeyra, & com
os deíla os do Porto Santo & com os mefmos da Madeyra os de São
,

Miguel , & com eítes os de Santa Maria para nenhús terem que notai
,

aos outros na qualidade do fangue. Morou efte Capitão fempre na fua


Villa da Praya & também delle não fabemos nem o dia nem o anno
, , ,

em que morreo; mas fabemos que de faa mulher Ifabel Dornellas da Ca-
mera. teveoprimeyro legitiilio filho feu fucceflbr , que foy

ir 'zo
• -,
Álvaro Martins da Camera, quarto Capitão da Praya,con«
- . r

tando o Bruges por primeyro3 cafoU efte quarto Capitão com D.Brites
de Noronha, também fidalga da Madeyra. Ofegundofilho de Antão
Martins Homem foy Domingos Homem , que cafou com Rofa de Ma-
cedo, filha de Joz de Utra Capitão Donatário da Ilha do Fayaljôc
defte cafamento nafcèrão, Manoel Homem que morreo na índia fervin- Do Fmdador do m^^
doa ElR^ey , & duas filhas Freyfas no Mofteyro das Chagas da mefma f^i» Convento da*^
Praya, que o mefmo íeu pay D jmingos Homem tinha edificado. O ter- Ghagoíja Praja.
B\-

ceyrofilho do dito Antão Martins foy Pedralves da Camera como o ,

avò materno , &: fe fez Clengo , & Theologo, & foy Vigário da Matriz A
da Praya.
Nafceo mais do mefmo Antão Martins Homem, & de fua
21 •

mulher Ifabel Dornellas da Camera nafceo Catharina da Camera, que


,

cafou com hum fidalgo chamado Diogo Paim, viuvo jà de Branca da


Camera, tia da dita Catharina, &irraaâ da fobredita Ifabel DornellaSi
do qual cafamento nafceo António Paim, com Merita Euangelha,& fo-
raõ pays de Duarte Paim, que cafou com Dona Bernarda filha de Paulo
Ferreyra, de que naó ficou filho algum (^diz Fruftuofo} no meímo tem-
O
po vivo. fcgundo filho de Diogo Paim , & de Catharina da Camera
foy Hierony mo Paim que cafou com húa filha de Joaó de Teve o mo-
,

çoyda qual houve filhos, & filhas , Sc hum Manoel da Camera , que em
tempo de Fruftuofo era Vigário de Nofla Senhora da Penna, das Fon-
tainhas.
22Dodito pois quarto Capitão Álvaro Martins da Camera,
& de D. Brites de Noronha , o priraeyro filho foy Antaó Martins da
Camera , de que ab.iyxo fallaremos. O fegundo foy Luis Martins , que
morreo fsm dcfxndencia fervíndo aElRey na índia. terceyro foy O
António de Noronha , que também na índia fervio , Sc lá cafou , Sz teve
filhos, 8c filhas. O
quarto foy Brás de Noronha, que primeyro foy Fra-
de Francifcano da Òbfervancia, Sc depois por Bulia Apòílolica foy Có-
nego Regrante no Mofteyro de Cárqiiere em Portugal, 6c emfim fe foy
para

iiits .(ir

KM
Liviro VI . Da Real Ilha Tercèy ra«^
para o Brafil. Emquinto, fe^to,^ feptimo lugar nafcèraó três filhas, D'^ wh-

Brianda , D. Ignes 3 êc D. Jb ranciíca j & todas trts foraó Religiotas no


,
Moftcyro dej £SU S da Praya,&: de tanta virtude^que duas delias foraó
AbbadeíTasmuyto tempo }& viuvando a máy D. íJrites de Noronha,
ao mefmo Mofteyro das filhas fe recolheo , & depois de muy tos annos
morrco nelle fantamente.
23 Qiiinto Capitão da Praya,& filho do quarto foy o dito
Antaõ Martins da Camera , cafou com D.Joanna Dama da fenhora D.
,

ITabel , mulher do Infante D. Duarte , fi lho dei Rey í) Manoel & ha-
. ,

vendo defte cafamento outros filhos que falecerão moços , fu pervi ve-
rão três filhas, das quaeshúa calou com D.Jorge de Noronha em Lis*
boa 5& não teve defcendencia j outrachamada Clemência , nunca quiz
''tetho ÈlRey tbriga- cafar , por mais que ElR.ey lhe dotava a
Capitania j &: a terceyra D. Fe-
vtaes Capitães Do- UppafemetteoReligiolaem Portugal Obrigou ElRey aopay que vi*
nataries a rejtdir tiM ^^g refidir na fua Capitania, & vindo fem a mulher hleceo na Praya, Sc
'{Hití_ ÇapitmfOí,
ç^^ fucceíTor varaó. E tanto cafo ainda fazia ElRey defta cafa da Pra-
ya, que tornou a oíFerecer a Capitania a D. Clemência , & a cafava com
lium grande fidalgo , & tornou ella a perfiftir em não cafar , & fe ficou
aíTim com a irmãa cafada que não tinha defcendencia.
24 Vagaaíllm a Capitania, dizem que ElRey D. Henrique
deo palavra delia a D. Leoniz , filho do Conde da Feyra por grandes
ferviços na índia, &: na Africa em Cey^a porém morto ià Dom Leoniz
i

^, pedio o Conde da Feyra a dita Capitania para hum feu irmaõ nacuralj
D.Jorge Pereyía , que vivia retirado na Ilha de Saó Miguel j & tendo
palavra da ferventia delia por três annos, também dizem que neíle tem-
po chegou da índia o irmão do ultimo Capitão , chamado António de
;Í Noronha ^ 6cem paga de feus ferviços pedio a dita Cápitania:,& não ob*
ftantc a palavra dada, ElRey lha deo a efte António de Noronha , poc
fer irmão do Capitão morto, & defcendente dos paflãdos mas deo-lha ;

ElRey com condição de mandar logo vir da índia fua mulher, 6c filhos,
Sc ircomelles refidir na Capitania; & pouco depois morreo em Lis-
boa, & de pefte o dito António de Noronha , de cuja mulher , & filhos
,

náó acho mais noticia porém nefte tempo os da Praya pedirão a El-
Uw Pmfhm ^«í :

gíivernàraõaCaptta- Rey quem Os governafle & lhe propuzeraõ hum muyto nobíe & rico
, ,

-ttk déFraj*. varaó , da mefma Ilha Terceyra, & da antiga familia dos Pam ploiaas, &
dizem que governoii a Capitania alguns anhos àtè que ElRey Felip.
,

|)C II. a proveoem D.CÍvriltovaô de Moura, como veremos abayxo.



r\. ^1 :•-'

CAPITULO IV.

bosCapitãcsdeAngrayCQrtereaeSjdaTevceyra,

2tj
T^ £fta celebre família dos Cortereaes trataremojí nuis, quí*
JLJdò abayxo tratarmos das familias que foraó povoara
,

Ilha Terceyra; por hora fó diremos os que foraó da Terceyra,&: da par-


te de Angra, feus Capitães Donatários , depois de Jacome de Bruges o
ter fido de toda a Ilha Terceyra i por cuja morte íe rcpartio a Ilha cm
dwas

^
Cap.IV. Das Corte reaès^Ç^itães de Angra, 2Jí

alias Capitanias, huma chamada da Praya , por efta Villa fer a íua Cor^

fé,ou Cabeça ; outra chamada de Angra, por íer eita Cidade fua Cabe-
ça & Corte i & porque vimos já os Capitães que na Praya fuccedèraõ
,

ao Bruges i dos que lhe fuccedèraõ cm Angra digamos agoraonecef-


íario. . 1 -

26 O
fegundo Capitão Donatário de Angra, depois do pri-
meyrp que de toda a Ilha o era, foy Joaó Vaz da Coila Corte real, (co-^
mo jà vimos acima } porque vindo com o outro Capitaó da Praya Ál-
varo Martins Homem , eíle trouxe o poder de repartir a Ilha em duas.
iguaes partes , ou Capitanias i & o Corte real trouxe o poder efcolhec
das duas Capitanias, & partes,quâl quizefíejôc dizem que Álvaro Mar-
tins Homem imaginando que oCortereal efcolheria a parte da Praya,
por haver nellajá melhores terras , 6c já cultivadas , & mais povoadas,
fez de forte a partilha, que ficou muyto mayor a parte de Angra,& a ef- Segunda & mau ,

ta então por iílbmefmoefcolheo o Cortereal i fobre que ao depois en- igual dívifdõ doiCít-'
'"
ih

tre os fucceíTores de hum, & outro houve tal demanda, que durou vinte pitamai dalerc^r^*,
annos , & per fentença final fe tornou de novo a partir a Ilha , 6c com
igualdade, & cada hú ficou na Capitania em que eítava de antes. j

- :^r].
:.
i' . Efte íegundo Capitão de Angra foy cafado com huma fi-
.}-., .

dalga chamada D. Maria,de alcunha a Galega, por íer oriunda da Pon-


te da Barcaem Entre Douro & Minho,& o tal J oaó Vaz da Coita Cor-
terealjá tinha fido Porteyro mordo Infante D. Fernando , pay delRey Das filhai do pymey*
D. Manoel. Da dita íua mulher teve féis filhos primeyro , Vafqueanes ro Cortereal que cM
:

faraÕ nas Ilhas &^


Cortereal fegundo, Miguel 5 terceyro, Gafpar, todos CortereaeSiquar-
,
-,

em PortMgaL
to,Dona Joanna Cortereal , que na mcfma Ilha cafou com hum fidal-
go chamado Guilherme Moniz quinto , D. Iria Cortereal que cafou
; ,

com outro fidalgo Pedro de Góes da Silva fexto D. Ifâbel Cortereal,


j ,

que cafou nas mefmas Ilhas com Joz de Utra , Capitão Donatário da
Ilha do Fayal , & da do Pico. O íegundo filho do dito fegundo Capi-
tão de Angra Joaò Vaz Cortereal, que diíTemos fora Miguel de Corte-
real,efl:e foy Porteyro mòr delRey D. Manoel & cafou com D. Ifabel ,

de Gaftro, filha de D. Garcia de Caftro, irmaó do Conde de Monfanto,


%-:\\
da qual houve a D. Catharinade Caílro,que cafou com Diogo de Mel-
lo da Silva, Vedor da Rainha D. Catharina, mulher delRey Dom Joaó
IÍÍ.& houve mais a D. Joanna de Caítro, mulher de Leonel de Soufa,
fenhorda Ericeyra. O terceyro filho Gafpar Cortereal nunca cafou,mas
filho feu natural foy D.Joaõ Cortereal, Bifpo de Leyria, Sc outro filho
que morreo fcm defcendencia.
28 O terceyro Capitão de Angra foy o dito Vafqueanes Cor-
tereal Vedor delRey D.Manoel, &: Alcayde mòr de Tavira no Algar-
,

vej & foy também Capitão Donatário da Ilha de S. Jorge, como em feu Dofegudo Cortereal^
lugarveremos. Cafou com D. Joanna da Silva, filha de Garcia de Mel- Capitão & a ejtie fs ,

lo^ Alcayde mòr de Serpa; & delia houve os filhos feguintes: primeyro,
finto a Capitania da

Ilha de S.^orge.
Chriftovaó Cortereal , que morreo mancebo fem defcendencia fegun- ;

do, Manoel de Cortereal que fuccedeo ao pay; terceyro Hernardo de


,
,

Cortereal, que foy Alcayde morde Tavira U cafou com D. Maria de


,

]Víenezes,filhade Manoel de Brito, Alcayde mòr de Aldeã Galega }&


tlella houve a D. Joanna de Menezes, que cafou com Martim Coirea

mHmaám
iji LivroVI.DaR^egiallhaTerceyra.^

da Silva} quarto^ Hierony mo Cortercal, que morreo fem delcendcncíaí


quinto, D. Mana da Silveyra, que cafou com D. Pedro Deça i fexto, D,
í elippa que náo cafou.
29 Qiiarco Capitão de Angra foy Manoel de Cortereal , fe-
2>tf ureeyro Corte gundo filho do terceyro Capitão } cafou com D. Brites de Mendonça,
real, Capitão de An filha de Henrique Lopes de Mendonça, a qual tinha fido prmieyra veZ
^aj^àeS.prge. cafada com D. Manoel de Lima, Capitão de Ormuz Ôc depois íoy ter-
>

ceyra vez cafada com D. Francifcode Faro fenhor do Vmúofo,6c Vé*


dor da fazenda delRey D. Sebaftiaõ. Defte quarto Capitão de Angra
nafcèraõ, Joaõ Vaz Cortereal , que em vida p.ào cafou , & fó dizem al-
guns que na hora da morte recebera naó fey que mulher , de cujos filhos
também fe naó fabe j nafceo mais Hieronymo Cortereal , que cafou com
D. Luiza da Silva, filha de Jorge de Vafconcellos , Armador mòr. Pro-
vedor dos Armazéns , & Commendador , porém nenhúa defcendencía
deyxou: nafceo também Vafqueanes Cortereal,& efte herdou a Capita-
nia do pay, & aíTim
30 Qiiinto Capitão de Angra foy o tal Vafqueanes Corte real,&
cafou com D.Catharina da de D. Joaó MafcarenhaSjCapitâo
Silva,filha
dos Ginetesjfenhor de Lavra, Alcaydemòr de Montemôr,&: de Alcace-
'Como é Capitama de
re do Sal; do quál cafamento nafceo outro Manoel de Corterealj q mor-
Angra vejo a ficar
«mfilha^qtte cafon cõ reo na batalha delRey D.Sebaftiaõ,
fem mulher ainda,& fem fiihosj mas
Dom ChfifiovAÕ de como efta Capitania eítava jà dada de juro > & herdade, U tirada da ley
M<iHra^ mental , & confirmada por ElRey Dom Sebaítião no livro do tombo da
Camera de Angra/o/. 308. & 41 9. poriíío ficou efta Capitania a Dona
Margarida Cortereal, irmãa do &
dito ultimo Manoel de Cortereal , fi-

lha do ultimo Vafqueanes Cortereal , que cafou com Dom Chriftovão


de Moura.
3
1 Era eítcD.Chriftovão de Moura filho de D.Luis de Mou-
ra, & de D. Maria de Távora, irmãa de Lourenço Pires de Tavora,Em-
Pa tllftfire afctnâen- 45ayxador que foy a Roma, & Capitão de Tangerc; & o dito D.Luis de
eia dos Monrof.
Moura foy Eftribeyro mordo Infante D. Duarte, & Thefoureyro mòr
da Infante D. Ifabcl. Defta cafa dos Mpuras de Portugal era Miguel de
Moura, que antes de Felippe II. entrarem Portugal já era do Confe-
,

lho delRey D. Henrique , & feu Secretario & também defta cafa foy
j

para Caftella Fernando de Torres & Moura , que em Córdova cafou


com D. Ifabel, filha do fenhor de Setina em Aragão , de que nafceo Fer-
não de Moura , que cafou com D. Leonor de Mendonça emSiguenfa,
ondetevedous filhos D. Miguel de Moura >& D. António de Moura,
,

O
& era cafa de morgado rico. lobredito D. Chriftovaó de Moura tinha
íido pagem da Princeza D. Joanna mãy delRey D.Sebaftiáo, & filha do
Emperador Carlos V. & irmãa de Felippe IL & mulher do Principe
de Portugal D. Joaó , & com a Princeza foy defte Reyno para Caftella
por feu pagem , & mettendo-fe em hum Mofteyro de Freyras Defcal-
fas, por fua morte deyxou a D. Chriftovão dous mil cruzados de rendaj

& entrando D. Chriftovaó por pagem de Felippe II. tal privançacom


elle alcançou, que veyo com o Duque de OíTuna,6c com outros por Em-
bàyxador a Portugal fobre a fucceffaõdo Reyno,&: foy Vedor da fazen-
,da do mefmoFeiippe II.& do Cõfelho d'Eftado dcPortugal,& Caftella.
i '
~ 32 Sex-
Câp.V.Deícreve-fe a Capitania da PrayaT ij^
'52 Sexto pois Capitão de] Angra fôy o tal D. Chriftovaó de
&
Moura, por Felippe II. o cafar com D. Margarida Cortereal i por ef- ^"f ^*** Chrifio^.
*•

'^'
tar vaga entaó a Capitania da Prava , a deo também ao dito D. Chrifto-
Z'r ^'T
'rft
vao, & hcou Capitão Donatário de toda a Ilha Terceyra, como o tinha
Margarida, Cone.
fido no principio o Flamengo fidalgo Jacome de BrugeSi &: juntamente realjevon m msCa.
Capitão Donatário da Ilha de Sam Jorge,que jà andava unida à Capita- ^tani» de Angra,
nia de Angra> & além do fobredito,o fez Felippe II. feu GentiUhomem ^'''7'».^ S.forge,&
de Caraeraj & Marquez de Caftello Rodrigo, fenhor de Cabeceyras de f'yp]'>^'P'''^ 5*
Bafto, Commédador mòr de Alcântara em Caftella,&: emfim Vifo-Rey
dTc^amtSs \Z
de Portugal. Da fobredita Dona Margarida Cortereal nafceo o fegun- tiLTIõ
/«2 filhas,
do Marquez de Caftello Rodrigo , que a Roma foy por Embayxador &e.
em 1632. nafceo mais huma filha, que cafou com o Duque de Alcalà ; Sc
outra Dona Maria de Mendonça , que cafou com o Conde de Vimioío
D. AíFonfo de Portugal ; & outra Dona Margarida , que cafou com D.
Manrique, Conde de Portalegre.

CAPITULO V.
Defcreve-fe a Capitania da Praj/a, &/uas Povoações pek
Noroejle, & Norte , ate acabar pajjado o Lejie da
llhaTerceyra,

33 PElafegunda repartição, que per final fentença fe mandou


_ fazer na Ilha Terceyra em duas iguaes Capitanias, & ficou
o marco em aquella parte da Ilha que chamão Folhadáes & ficou cor-
,

refpondente ao Oefnoroefte , fendo que de antes ficava ao Noroefte , &: Dos primeiros lagi^*
mais pequena a da Praya. Chama-fe eftefitio Folhadáes , por íer mato ''" '^^^'"'•'^''•' ^''^^^"
pheyo defta lenha de folhado ; mas jà hoje eftá muyto cerrado , & tem ^""^ '^^^'"'«1 M'.
'""'"*
muytas vinhas , Sc muyta fruta por efpaço de legoa & meya atè o lugar
de Saó Roque , a que chamaõ os Altares , por ter junto ao mar hum pi-
co que parece hum altar, a que vem renderfe o mar , & he tam alto o pi-
co, que ferve de marco aos pefcadores que vão peícar daquella partejSc
varias legoas ao mar > & atè por alli a Ilha hc de rocha viva , & alta & o
,
mar perigofo pelos muytos bayxos que ncUe ha ,em dircytura do pico,
& da Capella mòr da Igreja de São Roque j porém com ferem compri-
dos os bayxos, & fó terem lobre fi cincoenta braças de mar , faó comtu-
do muyto eftrey tos , &: para qualquer das partes fe não acha fundo j oc-
os ditos bayxos faó pofto de grande pefcaria he eíle lugar dos Akaresj
:

ou Saó Roque , de Parochia dedicada ao Santo , paíTa de cento & cin-


coenta vizinhos, &delles muytos faó ricos, & nobres, como Pamplo-
nas, Valadões, &c. ôc tem Vigário, & Cura , & duas legoas de termo,
5c Kl ii-i
^

duas Ermidas, humade Saó Mattheos , de grande romagem outra de


;

Santa Cathariíia, que he a cabeça do grande morgado dos Pamplonas.


34 Segue-fe adiante , duas legoas dos Altares, ou Saó Pvoque^
o-lugar de Saó Pedro, chamado os Bifcoutos , de que alguma
parte he
do morgado dos Pamplonas , mas tudo o mais he do mayor morgado
que fundou Pedrsanes do Canto , de que trataremos em feu lugar. Def=.
^54 Livro VI . Da Regia Ilha Terceyra.^
he de Saõ Pedro Apoftolo , & tein fó Vigário , St
te lugar a Parochial

Iks prkcipm Mor- cen^o & trinta vizinhos , mas


tem as Ermidas fegiuntes huma de noira -,

gados dePamplonoi, Senhora do Loreto, fundada em hum akopeloiviorgado Pedreanesdo


& Cantos , & fms Canto, junto das grandes, & ricas cafas em que eiie viveo , boa meya ie-
Mrmidas. goa do mar , 6i com MiíTa na Ermida , que he a cabeça do morgado ; ôc
le eílájà cahida , deve-íe mandar levantar j como também a
outra Ermi-

da chamada Vera CruZj 6c a terceyra Ermida he de Saó Sebaíliaó. Eíte


bifcouto íe chama o biícouto gordo , por fer em partes terra alta,& tam-
bém fe chama. De Materramenta, por fer a alcunha do homem que o
vendeo aPedreanes do Canto ,& tem huma legoa de comprido pela
coita do mar, & meya legoa de largo para o interior
da ilha , & tudo he
1 de vinhas, & pomares, &: a mais freícacoufa que havia em toda a Ilha. A
coíla do mar he raza , mas muy to brava , & tem comtudo hum poftofi-
nho , chamado a Cafa da falga, U outro chamado de Pedreanes do Can*
to, com hum forte, que de antes tinha quatro peças
por alli carregar o
,

fidalgo fuás rendas. ,


r ^ i , n

Do dito bifcouto para o Oriente fefegue o lugar chamado,


"^

35
Quatro RibeyrassÔc efte lugar foy a primeyra Igreja de toda a Ilha, aon-
Praya, três boas legoas diftante,aouvir
jyokg^ rÃ.««á»l,devinhaó no principio os da
he brava, & tem humale-
O^Jro RiheyrJ\ MiíTa ,femprejuntoao mar j a cortado lugar
frimeyra Freguesa goa de comprimento , & huma bahia , & quatro nbcyras de agua í reíca
^^g ^jg ^jeraó o nome , & coiji ellas moem três
de toda a Ilha. moinhos para os lugares
vizinhos efte porém tem fó quarenta vizinhos &

fomente hum Viga-,

muyta romagem;
do, & junto a elleeftá a Ermida doBomJESUSi de
& não fo o lugar hede outeyros,& valles, mas também a rocha he muy-
vezes fe carregão bar-
to alcantilada, porém de tanta pomba , que por
cos de pombinhos. ^ , -,1 T

Adiante fe fegue para o Nafcente huma grande


legoa de
26
Do ^guaj
t,ifcouto , chamado de Pamplona , com
lugar de duas legoas j:\ quafi entupidas,
a huma das quaes chamáo de Frey
Gil , Frade qne no principio alli vi-
Ts^ZITguL
lÍ^^^o. veo,&agoraheterradoPamplona3&logofe fegue olugar chamado
deAgua-alva,cujaParochiahehojede Noíía Senhora de Guadalupe,
quehe|muytomilagrofa,&: de grande romagem 5 atè das outrasllhasi
foy no principio Ermida, & fundada
por hum Joaé Homem da Co to,
(fidalgos de que abayxo í^illare-
filho de Heytor Alvarez Homem,
mos ) & pertencia ao legar chamado Villanova , &
hoje o lugar da

Agua-alva he Freguezia feparada^ nefte lugar


ha hua fonte, em que dey-
pedracon-
Ponte èm<}tee espáos
xando dentro hum páopor efpaçodehumanno,oachaóem
^^^^.^^ ^ ^^ ^^^ g^^^^^ experiências o Bifpo Dom
fc convemm ernfe. Gafpar de Faria , o
pcíroasilluftres,&a!limoat-
Bifpo Dom Pedro de Caftilho,& outras
firmarão- & lavando
neáafontearoupafemfabaóalgumjafaztam alva.
Do grande & nobre
,
^^^^ f^ com fabaó. He efte lugar de muylos pombaes , muy-
^ lavaííem
iHgar, chamado Fd- ^^^^ ••
^ ^ ^^ recreaçaÓ de toda a Ilha ,
pela muyta , & excel-
tanta, que ainda junto à Igreja da
Senhora eftava hú cafta-
l:7/;,r;í':: •; lente fruta, &
/.. ;.r^«í.. Lrnheyrojqueíòelledavamaisdemeyomoyodecaftanhas
,
da Agua-alva fe fcgue o
fendo o melhor \& 37 Com pouca diftaiicia defte lugar
chamado Villa-nova & com tudo pela celebre romagem
wapr lugar. da Se-
i^aar ,

fc chamaÕ commumcnte Agiu-


nhora de Guadalupe ambos efl-es lugares
^. alva

^^
CapvV. Defcreve-fe à Câpltank da Prayai 2 jj:

alva i p©rêm o de Villa-nova he lugar rauy to mayor , & de gente muy-,;


fG nobre i fua Parochia he do titulo do Efpirito Santo , tem Vigário , 6c
dous Beneficiados , & & &
hum Cura , hum Thefoureyro , he Igreja
&
de três naves, bem ornada jôc tem raais duas Ermidas jhúa de NoíFa
'

Senhora da V ida , que eftá fobre o porto , & he cabeça de hum grande
jnorgado , que neila tem dous Annaes de Miffas pelas almas de feus Fu-
madores , Heytor Alvarez Homem, pay de Pedro Homem da Cofta, &c
avòde Heytor Homemda Cofta Colombeyro , que cafou com Dona
Luiza , filha de Pedro Ponce de Leaó, fidalgo de Lisboaj junto da qual
Ermida tem efte morgado huma rica Quinta , & caiaria nobre , na tal &
Ermida eftáo fepultados os ditos Morgados.
38 A outra Ermida defte lugar he a da Madre de Deos, na quai
m magnifico fidalgo Joaô da Silva do Canto , com Bulias Apoftolicas
que de Roma alcançou , fundou huma Santa Cafa da Mifericordia j Sc
logo fundou outra Ermida de Saó Joaó, & huraas muy nobres cafas , tu-
do cabeça de hum morgado , que além de outros frutos , & foros , fó de
trigo rende feííenta & cinco moy os cada anno ; a qual Qiiinta eftá tam
kinca , que entre todas fuás terras fe não mette terra de outrem alguém. - , j ^
, .
!»:':

Xerceyra Ermida ha nefte lugar , a qual he de Saó Pedro , & também Exemp!ar io íthAc

cabeça de hum menor morgado fundado por hum Joaó Euangelho , ho- ^'^f^J^Y^^^
--^
xnem muy to nobre da familia defte titulo. Hanefte terrenho tanto ga- ^^^^^^ - -

4o, que-o zelofo fidalgo fobredito Joaó da Silva do Canto , vendo abay- '

xo de fuás terras fahir huma grande , & frefca fonte , tam fora efteve de
a tomar para a fua Qiiinta , que junto à fonte mandou à fua cufta fazer
três grandes tanques,& caminho para elles,para irem alli beber os gados,
,€omo vão , & á fonte ficou por nome\, a fonte de Joaó da Silva. Oh fe
aífim hoje houveífe fidalgos do bem eommum mais zelofos , que ambi*
-ciofos!
.39 T em efte lugar ( diz Fruduofo) trezentos moradores, 8c
aièm de muy tos nobres, & outros tratantes mercadores, tem de officiaes
Oy to Carpinteyros , cinco tendas de Ferreyros , féis de Carpinteyros,
oy to de Alfayates, & muytos de outros oííicios , & quarenta Tecelóesj
êc he lugar tam bem provido naó fó de frutos , & frutas da terra , mas a-
inda das coufas de fora, (pelo grande, & continuo comraercio que tem
com a Cidade de Angra ) que naó havia nelle peífoa alguma que pedif-
íe efmola , porque os pobres refpigando no verão apanhaváo com que
paífar o inverno & emfim querendo o Capitão Donatário Antaõ Mar-
:

tins da Camera fazer Villa a efte lugar , não o quiz efte aceytar , & ref-
pondeo , que mais queria fer o melhor lugar da Ilha , como he , do que
fazerem-o Villa. A cofta defte terrenho he muyto alta,&: cora tudo tem
bahia grande ,& nella feu porto de barcos , mas diaqte da bahia tantos
bayxos que per fi fe defendem de inimigos , & enriquecem a terra de
,

excellente pefcaria.
40 Pouco adiante defte celebre lugar de Villa-nova fe fegue
lium areal, & logo huma rocha alta 6c depois delia hú pofto de calhàos
,

junto ao mar & de grande & recreativa caça de coelhos & logo hum
, , ,

pefqueyro chamado, a Cafa velha; & aqui acaba o termo do lugar de


Viiía-novaera huma^ibeyra chamada a Ribeyra Sccca,por mais tempo
« y ij fer

mmmÊíÊtimmm
í;jÍ
'
Livro VI. Da Regia Ilha Tercéyrà. ::)

íèrde arca , do que de agua ôc começa o termo do lugar que chama6.


;

Do lugar chamado LagenSjCom aParochialde Saó Miguei, diftante himia iegoa da do Eí*
' pirico Santo de Villa-nova. Tem baó Miguel das Lagens hum Viga-
Í^^'oh 'f'^"^""
is Meríaàò^'"^^
' ^^®*^"°^ Qwcsí , Sc hum Beneficiado, &
duzentos moradores efpalhados
èm Quintas, & entre elles , muy tos nobres, ôc ricos, &: de appellidos no-,
bres j & he terra muyto fértil de trigo , & vinho plantado em biícouto»
que veyo do interior da Ilha , & chega ao mar fazendo huma caldeyra,
ou muyto razo, & frutifero ha neíte lugar huma Ermida de São.
valle, ;

Brás , cabeça de hum morgado que poíTuhia Francifco de Betencor, &


,
V4 feda ^me fe la.
havia neíte fitio tanta amoreyra, & fazia-fe tanta criação de bichos de
** ^"^'
^ena ^^^^ > ^ ^^ ^^^ ^^^^ » 'l^^^ ( <^o*^o affirma Frudluofo } naó a vence a de
Granada/ -

41 Daqui começa a correr junto ao mar , & por efpaço de hua»
grande Iegoa , & com muyto alta rocha , a Serra de Santiago , que cha-
jDa Serra de Santia- mão de Joaó de Teve, por efte fidalgo ter fido de quati toda ella fenhor,
fer tam Comprida, & ter hum quarto de Iegoa de largura, & dar
go, chamada de foai com
de leve porferdos
fidalgos Jtves Q.
^p^ ç^^^^ muyto, & O melhor trigo da Ilha j defronte deita Serra , &
me-
jvj^j.
^^ ]ggQ3 j,Q gf^^ \i\xm grande |penedo , chamado o Ilhèo Efpertal,
ou de Sebaítião Pires j & detraz da Serra , para a banda da terra , fe fe-
gue hum grande valle , de que o dito João de Teve , & outro fidalgo
Diogo Paim eraó fenhores , & tudo tam plantado de vinhas, pomares,ôC
hortas , que fica fendo huma viítá admirável & logo lè feguem terras
-,

muyto chans, onde chamáo o Juncal, pelo junco que alli havia , & ainda
boje ha, mas jà muyto mais trigo; & aqui eltá a rica Qiiinta do antigo fi-,
dalgo Eítevão Ferreyra de Mello, dequefó em trigo lhe pagaó cada
ãnno mais de feíTenta moyos j & nella eftá huma bayxa, & larga furna,
que hum negro, fendo deleunaf€Ímento mudo, com repetidos finaes
fez abrir alli , & achou-fe huma perenne fonte de agua doce , & excel*
lente, & taó copiofa , que não fó fe divide para a gente, gados , & lavan*-
deyras, mas com outra parte delia moe hú moinho.
42 E naó íóneftalarga,& clara furna,que em boas defcidas,êc
fubidas tem a altura que levariaõ trinta degraos ^ mas também na terra
de cima , aonde quer que cavaó , defcobrem poço da raèfma excellenté
água & no meyo da rocha da Serra de Joaó de Teve eftá huma fonte
;

do mefmo nome , & de boa agua; & na alta ponta da dita Serra , com fer
muyto alta , eftá outra fonte de femelhante agua ; acima ainda da qual
eftá o Facho , & Atalaya de perpetua vigia , que defeobre todo o mar,
& tem doze mil reis deíoldoj fem mais obrigação que levantar aban-
deyra no facho quando apparece navio ; & a dita fonte fe chama a fon*
te da Fortuna, por ter vivido alli hum homem que fe cbamaiva Joaó AU
varez da Fortuna, '

CAP.

-•w
csp.m.^âs^gimèãs&^rm. . %|7
i>«*
t^:7rr. -mr •
".í. lâ •icjij- ç TT" aU. i3^ p
til^:
C A P I .'*-'j

7 ••
n /-
ba nobre Villa da Praya ,
é^ dotermadefua Capitania','^i

:.ó45 - "pv Opofto onde ficamos começa já a Tetceyfa^ a vóItPcfe


-

^^ j *-^ Norte, &jà também do Náícétite pa^í o Sul , & cc»íi%à


fazendo hõa enfeada de arèa , que tem raeyaíegoa dt comprido
, & nas ^-si^i , , ^^

mais das partes deftabahia fe náo pôde chegara


defembákar, pèloà: 4^hVA,w^; '

grandes, &perigofos bancos de arèa, a que hao^ podem


chegar navióá i), Rtiô'étl^mã
amda pequenos nas outras partes em que podiáo apoirtar , eftavaÕ
; an- FtU da Prajt, Orl
^^^
tigamentetrmcheyras,&eltacadasdepáopique,&nôíTieyodaenfea.ííá^Ç^Í»w^^^^
da hum bom defembarcadouro de pedra que lefvia de bom
, porto para
a Villa , que fica mais para dentro da terra mas no
principio do areaí
que corre para o Sul, eftá encreaarèa, & a Villa, huma grande
alagoa,
que tem no meyo humllhèo dequafi humíalqueyre delemeadura,
com hum pombal dentro,& ao Ilhèo fe não vay fènáo em barco, ou corti
&
aaguajáatò os peytos; porém muradaa Villa,hacoufade duzentos an-
nos fez-fe porto & defembarcadouro muy to apto , & fe fegurou toda'
,

bailia com fortes, &artelha ria. «<!í>í*«.> -. . ;

- 44 ,
O
primeyro Forte eftá na ponta dó Nafccnte para a Sul,
chamado do Efpirito Santo, & tem onze peças de artelharia de ferro, &
bronze i logo o Forte de Noífa Senhora da ConceyçâO com três , -^ --^
peças ., -

de ferro j adiante o de Santa Catharina com féis peçasi de>óis o de


ia Cruz , o das Chagas , & de Santo Antâoi &eftes três
San- ff
'^'f''"^"^'*'^^-^'^-^^
,'^fJn
tem a duas pe-
ças cada hum i 8r para o fim da bahia tem duas Fortalezas,
que chamao WíH t,v; .

as Velhas , & ambas com muyta , & muyto grofla


artelharia de bronze,
&,huma nobre peça chamada a Águia , outra chamada a Esfera, & muy- ^-ij.:
tos Pedreyros, & peças de Dado, & de Berfò
, &c. com que eftá taó for-

tificada a dita enfeada , ou bahia , que nunca foy


entrada de inimigos al-
gus , excepto no cafo feguinre. ,.

; 45 (guando ainda começava a povoarfe aquella parte da Pra-


ya, & havia ainda guerras de Portugal com
Caftella , chegou alli huma
Armada Caftelhana , & cm muytos bateis por mais lho náo permitti-
(
rem os bancos do areal ) lançáráô gente bem armada em terra
j & fugin- z,^
..'«..V^ .^,-^.i
do os poucos povoadores do lugar pnra o vizinho mato que
tao era muyto, & muyto alto , & bnfto ficarão os
,

Caftelhanos
ainda
rouban-
,
en- é- viãorU
Pray* & Ilhateve
4
,
Z
doo lugar, carregando-fe todos dos fcus roubos ; eis-que hum
& '^"^ Caftelhanos en^
Pórtu- ,

guez querendo ver o que hia no lugar , fobe-fc a huma alfa


tando jà no mais alto reparando no inimigo , càhe
arvore, ef- & '^^ ''»''»íí<'^i.

pela arvore abayxo,


pegando-fe a outras juntas , que tal eftrondo fizerão, que fe
perfuadio o
inimigo vmha humCerfáo de gente fobre elles,
alargando armas, &:
trouxas começou a fugir para os bateis^ o Portuguez
cabido , levantan-
do-fe animofo chamou aos mais que fahindo
, todos , vaíendo-fe das &
armas que oinimigo deyxava por fugir , & fe
embarcar,deraÕ nelle com
tal funa , que ou feridos , ou afFogadòs ,
nenhum ficou com vida, ou to-
mou os navios, & Sites feforaõ de tal forte, que não apparecèráo mais, Sc
Y iij
os
JL5.8 ,IiivroVl.DâRegiaIlkaTeiceyra.
osPortuguczes fe ficàraó com os bateis, com as armas, & com todos
feus bens jà reftauradosmandarão logo a nova deita primey ra vitoria,
j

ou guerra daquella occafiàõ } & em a Villa de Angra , que jà então era


Villa, foy nova muy feltejada , & attribuida àquelic Portuguez que fu-
bío^àfua arvore. Tanto pôde ogallo em olèupoleyro!
46 Defte vidoriofo lugar pois fe veyo a formar a Villa , que
d;aqjijeUaenfeada,ou^areal tomou o nome de Praya,& ficou cabeça, 6c
Corte da fegunda Capitania Donatária defta llha.Eftá a dita Villa (diz
íiá muralha , halu- JTruítuofo /íi;. 6. c&ç. cm campo plano , defronte do princi-
a..) íituada
artes,& Governo pe-
pio do areal que volta pára o Sul , 6c com a fobredita alagoa entre-çlle,
litico,& militar def.
^ít^r/m4ellha. 6c a Villa j he cercada dg muralha cora quatro baluartes , 6c quatro Cr-
eias, a do PortOjíido Rpeio, ade NoíTa Senhora dos Remédios , 6c a das

Chagas dentrodas muralhas paíTa de quinhentos vizinhos j ôc com os


:

que vivem ao redor paflkde fetecentos , por fer cercada de muytas , SiC
muyto ricas Qiiintas 6c aííifn ha nella Villa , 6c fua Capitania , mais de
-,

vinte morgados grandes, 6c naVillahamuyta, 6c muyto antiga nobre-


za, 6c por iíFo he de edifícios fumptuofos de milicia de pè tem aliftadas
;

quatro companhias , mas muyto grandes, 6c cincoenta foldadosde ca-


yallo, 6c teve jà duzentos , 6c todos os Cabos de milicia , Capitão mòrj
Sargento mor. Capitães, Ajudantes , Alferes , 8cc. Senado da Camera,
que além dos Vereadores , tem Juizes Ordinários, 6c da melhor nobre-
2)a, 6c Ouvidor do Donatário , 6c excellentes Cavalleyros , que correm

em fqftas grandes-
JíiíIoEccleíiaftico tem a dita Prayahúanobre,8c rica Igre-
47
ja Matriz ,tem'pJo de três naves ,6c da invocação da Santa Cruz , por-*
j^oroftàefo Eeclefiaf'
6c pilares de mármore , Capei la mòr de abobada , 6c toda he cer-í
tico5 ^ de ReUgie[o taes ^de Capellas de morgados , 6c he Igreja fagrada tem feu Vigário,
duoíefma Ftlla. fada ;

dous Curas , oyto Beneficiados , Organifta, Sacriftão, Pregador , 6c ou-


tros oíficiacs,&: na Viíla outros muy tos Clérigos Sacerdotes^ 6c porque
ha muytas Miflas, 6c fuffragios que deyxavão os antigos , 6c com deter-
minadas efníolas grandes , Sc algumas de hum moyode trigo por cada
MiíTa , daqui vem que naõ fó a Vigayraria he fobre tam grave , muyto
rendofa , 6c com fua proporção os Benefícios , mas aos Clérigos extra-
vagantes rendem ainda fó as fuás Ordês muyto , porque dentro da mef-
ma. Villa ha ainda, (6c jà houve mais} fete Ermidas, Noífa Senhora
dos Remédios , São Sebaftiáo, NoíTa Senhora da Graça , Saõ Salvador^
Saó Lazaro, Santo Amaro, 8c Saó Pedroj 6c algumas delias tam luf-
trofas , 6c tão ricas, que cada huma tem a cincoenta moyos de trigo de ,

renda cada anno , para fe repartirem em Miíías , &z outras obras pias.
48 Tem Cafa da Mifericordia com duas Igrejas , huma do Ef-
Da fua Mtjericor. pirito Santo, outra de NoíTa Senhora , 6c a renda da Cafa chega a cento
diaJBojpitAes^ &c. 6c vinte moyos cada anno , 6c afeíTenta mil reis de foros em dinheyro,
iz por iíTo tem também Hofpital famofo. Meya legoa tem a fua Matriz
hum lugar fuíFraganeo , onde chamão a Cafa da Ribcyra , com húa Er-
mida de Saó Joaõ de Latraõ, 8c muytas Indulgências para os que avi-
íicáo, ou fefepultão nella, 8c de tudo Bulia Apoftolica & tem o lugar
;

f.'íTenta vizinhos, 6c demais hum Hofpital de Lázaros com Ermida de

Saó Lazaro, 6c renda cada anno de vinte 6c cinco moyos de ttigo: 6c pa-
ra

li»**'
p«i

Cap. VI. Das grandezas da dita Villa.'

m tudo tinha a Villa grande numero de poços & de muyto boa agua dè
,
m
& ainda hoje tem muycos mas ha coula de cento ôc quarenta án-
feneber, ,

nos que de cima da Caía da Ribeyra, meya legoa ,trouxeraã dentro á


,

lYiUa agua nativa , & perenne , que repartirão em fcis chafarizes,&: hojô
faó cinco, & fó quatro correntes , porque o quinto , que he dçjnarmore,
''"
eíTe não corre & he agua ainda melhor que a dos poços.
i
'

49 DepeflbasReligiofastemaditâ Villa vários Gonventosj


.Jium da Obfcrvancia de Saõ Francifco , que paíTa de trinta Religiofos, ,.

S>c em cuja Igreja ha algúas Capellas de antigos morgados j mais o Con-

tento de Noffa Senhora da Luz , com feííenta Erey ras de vèo preto da
mefma Ordem, & Obediência Seráfica ^ & outro também da mefma Or-
dem, 6c Obediência , intitulado das Chagas porem efte , ou pelo íitio
j

vizinho ao marjOU por outro titulo, fè toy extinguindo com o tem-


jnais
po, &
em i668.jà não rinha mais que huma Freyra ; porém ha na Vilk
ferceyro Convento , chamado de JESUS , da Obediência do Ordiná-
rio, &: tem fetenta Freyras de vèo pretoj&todos eftes Conventos foraô
fempre de grande Obíervancia , & de pcflbas de grande exemplo,&: vir-
tude. Denovo, &já ha mais de feíTenta annos ,no de 1650. junto à Vil-
la, Ufora delia, era huma Ermida de Santa Mónica fundou D. Maria da
Silva hum Convento de Eremitas de Santo Agoftinho que fe chamáo
,
Frades Gracianos , dando-lhe principio com dez moyos de renda fixos,
& coftu mão habitar nelle íeis Religiofos , com grande fruto efpiritual
de toda aquella Villa. .
,' .

50 Da fazenda Real tem a mefma Villa huma nobre Alfande-


ga, com todos os Olficiaes que as Alfandegas eoftumãoter, mas tudo ^'* '''V*^^'* dosma^
fugeyto ( como em todas as mais Ilhas } ao Provedor da fazenda Real '^.^''7' &fa'^*ná% »

de Angraj & he tara abundante de trigo efta Villa , &: toda a fua Capita-
nia , que cada anno embarca três , ou quatro , & ás vezes cinco mil mo-
yos de trigo & gaftando na terra ao menos outro tanto , já fe vè que di-
j

rimo cabe a El Rey^ & não fendo menos abundante de vinhojSc dos mais
frutos, fe augmenta mais a fazenda Real , & com o dizimo defta , & dos
direy tos Reaes ,& a renda dos moinhos , crefce também muyto a renda
dos Capitães Donatários , que hoje temrudo a Coroa em fi ; &
ate de
peyxe heabundantiflima efta Praya, & tanto mais goftofo , quanto par-
ticipa mais do Norte; & efpecialmente de muytos,& muyto
grandes,6G
excellentes Chernes, & Corvinas, que vem à Cidade a vender.
51 PaíTada a Villa da Praya fe legue ainda de fua Capitania, &
hum terço de legoa adiante da ponta de Santa Catharina , hum pofto
que chamáo Porto Martim Scaquieftá huma grande fazenda ,& mor- DahgArS.CatUri^
;

gado que ficou de hú fidalgo, chamado Joaó Dornellas Capitão morda «'»»<'» ^"''^ ^^^runs.
mefma Praya , 6c poíTuhio depois o illuftre Francifco Dornellas da Ca- ^ ^°' ^^''^^'" ^'^*
mera , Alcayde mòr da mefma Praya, & depois feu filho o Alcayde mor *''^'^ ^^^^""^-t
Eras Dornellas da Camera, a quem fe feguio feu irmão Manoel Paim,da
Camera, a quê fuccedeo {ç.ví filho Francifco Paim,que hoje vive em An-
gra;& no mefmo pofto eftáhiia Ermida de Santiago, ScoutradeS. Mar-
garida, onde chamáo os Graneys;& pouco pela terra dentro eftá o ugar 1

chamado S.Catharina, Freguezia de cem vizinhos, chamada o Cabo da


Priíyaiêc entre efte Cabo,8c Porto Martim cftgaErmida dcN.Senhora

*m
&6q .LivíciVL;Dalleál;llba T&ctfmnO
do RofajrÍQ;, que era,dabÇManoel Borba, defceíidente dos nobres Bói*
basj& Ciitiyps^o Akmí-JXiejo, por hwro Gil de Borba ou Giiiaiies ,qug a

do Alem-TçJQ veyo por kiima mprrteque lá íizera,& pori^ffo mudara o


nome ern Gilknes & foy o .tronco dos Borbas da Vilia da JPraya., como
.,

^.içu lugar díremos.„:,::u;;.: .^.ujrj ^,;... ..;.«.-- ;^I:'Í^ ^cj^,:.; \jui


J-. , ,;; . ...

52 De Porto Maftim , pfâtdoiís terços de- Jegoaj-corre a c<kí


Mc^a Captama^ ^^^^ mar j;>toda razá pas de ealhao groíTo , ate a Ribeyd-a Secca que
tt
,. ,

fahir,^ piar, aoSti^e j:& pela terra todos os dous terços de legoa
stccadapltte doSn^ c>^0
é- »o mire lugar de í^óde biíepjito , plantado em pomares , &; vinhas ;;.& juntoí tía^Ribeyrá
S.Barbara.&Ermi- eftá huqi^rtô, emqjújeyâraõ bafcos., &
fe chama. o Portd'jdeGaípat
da de s. Anna,& ri- Go.nçalveSiJVlachadoíj Africano , por ter fido o melhor CavaHeyro que
fw Morgados. fg achouem Africa j^êc, defte procedem OS Machados dalli ; & meya le-
goa pela' terra dentro fica o lugar de.Sanfa Barbara , muyto antigo , Ô£
dié fetenta vizinhos , Sc-muytos déiles muy nobres } & aqui eílâo as ricast
(fintas dfe Joaõ de g^tencor , & de Joaó Cardofo , 8f de Ghriftovarrt
i'aim,& de Antoijioda Foflfecaj^nefta ponta da Ribeyra Secca eíla
iiuraa Fortaleza nova, & .para dentro da terra huma Ermida de S Annaj
i8c aqtii acaba a Capitania da PrayaV fendo dcUatudoo que atèquificat

defcriptOvÈtepipohejáquepaíieHios á Gap itaniade Angra, -í

£ojneça aCapitania de A^2grayáefde al^iih


Sebajlíaõ ate a Cidade, ^

f3^T-«Emofeu|)ritícipíôaCapitaniade Angrajpouco abayXâ


X donde ficamos , em huma fermofa bahia , em que podem
'tom^A ataftuníaÁTichútáx muytos navios ,& tem bom porto, &: defembarcadouro; mas
de Angraporhiia «<?- por iíTo mefmó , & logo huma grande Fortaleza de artelharia j & para a
ire. hahiA ,& grande ^2iVtQ de terra,
meya legoa, a antiga Villa de Saõ Sebaftião; chamo4he
Fonalet.* m '»'*»'.'«^
antiga, porque deila affirma o Doutor Fruduofo , que he a mais antiga
expreííaProvilaÕ delRey
ZTapSPdll^'^^'^ ^etoda aílhkTerceyrai& que por
-nella fe ajuntáo as Canieras, ou Senados de toda a Ilha, quando fucccde
'

Sthaftial,
ajuntarfe para alguma refoluçáo tocantea toda allha j & pôde fer a ra-
záo, por fer Villa que eftá mais no meyo defta Ilha , & para a parte do
fó, podem querer defembarcar inimigos, & ef-
7oTj^ilml7ede Sulmais inclinada, onde
afr.^é^o/^w^^Mo-f^rquafiem igualdiftanciada VilÍadaPraya5& da Cidade de Angra,
ires',&com a melhor fem deftasduas ãlgua ir bufcar , ou fugeytarfe à outra , mas ufarem am-
kgua de todat Milhas bás defte terceyro meyo de paz.
^4 Eftá fitúadaefta Villa entre hus picos, ou montes, delia &
fe diz tinha antigamente quinhentos vizinhos, de gente muyto nobre &
daqtièlles primeyros povoadores da Ilha ; Sc deftes ainda hoje chega a
duzentos &cincoenta, repartidos em duas grandes companhias de pè,
que de cavallo não tem tropa alguma aliftada & dos lugares que a ella;

faõ fugeytos , diremos cm feu lugari Goza efta Villa da melhor agua
que ha em todas as ditas IJhas , como confeíTa o mefmo Fruftuofo k. ;

laafcedentr.o da Villa, & em tanta copia , que moem quatro moinhos.


com

^
Cap.VlI.ComecaaCap.deAng.pelaguer.Vil.de S.Seb.26j|
com a agua -, & & fó dez braças da fonte corre delia huiA
antes diíTo j ,
grande chafariz com três bicas de pedra & de boca de baila de dez li*
,

bras, & ainda tresborda a agua & comtudo ainda as mais das cafas tem
,

poços de excellence agua j ik aílira ha neíta Villa grandes lavouras de


mgo, muyta criação de gados , & de todos os mais frutos da terra, & de
pelcado do mar, he muy to abundante.
i..
55 A Matriz defta Villa tem feu Vigário , & Cura, &: quatro
Beneficiados ; ha nella Gafa da Santa Mifericordia com oy to moy os de
íenda, & algum dmheyro de foros annuaes. Tem mais três Ermidas, de
S. Joaó, de Santa Anna , Sc de NoíTa Senhora da Graça do adro da Er* -,

mida de Saójoáo tem admirável viíta j a de Santa Anna eftà perto da


Matriz, & três braças delia he que nafcc a fobredita fonte, que com gua-
íita ahi eftá fechada ; & a Ermida de NoíTa Senhora da Graça eftá
mais
abayxo, & ainda com melhor vifta para o mar. Tem mais efta Villa
, jà ^ „ , .,

para o Sul, não menos que féis Fortalezas em feu deílrido. Á primeyra,
pelo que diremos a feu tempo , fe chama a cafa da Salga , & tem quatro
IT-m
fr
/^'lIX coTZ/t^
peças de artelhana j íegunda a das Cavalas , & tem outras quatro ; ter-, £rmida,,&jiií For-,
ceyra, a de Santa Catharina, & também com quatro peçasj quarta , a do. t^iezi^í , & he mftyta
Bom JESUS, & tem cinco quinta fc chama o Pefqueyro, Sc fó três pe-/*^''"''
;

ças tem} fexta a de São Sebaftião &


com cinco peçasj com eftas vinte &,
cinco peças fe pôde bem fegurar a entrada de inimigos por alli.
'

56
'
O
primeyro lugar fugey to a efta Villa de Sáo Sebaftiáo,he
o que eílá mais junto ao mar , mas tão perto ainda da Villa que por iíÍD ^P^*'"^^'' ^^^i^rde2
,
fe chama Arrabalde , & he muyto fértil , & para a Mifía ufa
de NoíTa Senhora da Graça. O
da Ermida
fegundo lugar he o quecftá da banda
V
?fí ^r '^Ti
do Norte, junto ao acrnia dito lugar dos Altares, &fc chama oRami- r^oNorte.acimados
í wj^^^if
Rho, mas por eílar tam longe vay a gente delle ouvir MiíTa a Sáo Ro- Altans-^m Militar,
&
que dos Altares , da companhia dos Toldados do lugar
, ( por elle ef-
("&'y^o ^ Praya ^ »« K-'
tarna Capitania da Praya) em ella Villa daPrayafefaz alifta dostaes ^'f'fi4i<io, &ci*
Toldados porém nos dizimos , ôc no eivei ,
j &
juftiça he fugcyta á Villa ,
'^^'^^^^Y^^^ \
de São Sebaftião. O terceyro lugar
fby antigamente o que fc chamava ^^£/™^^
Portalegre, &cftava pela terra dentro , huma legoa do mar , indo defte deflrnhU
por dema^
paraoscmcoPicos,quechamãooPaúl} paíTavade trinta vizinhos, &/«« dehansjuens^d*^
ília Freguezia do Orago de Santa Anna, de que hoje
fó ha as paredes,& ni»tíosfolg;teigs.^^
porhavernotal lugarmuytos Impérios com muytos folguedos profa-
nos, fe deftruhio de forte todo o lugar que fó íí cou nelle hum
, morador
por nome Rodrigo Alvarez; & de três poços que tinha de boa agua, fó
hum exiftia ainda, & o íitio das cafas fe converreo em pomares , & nem
as paredes da Igreja, nem outro íinal de lugar haverá jà agora. A fllm ca-
ftiga Deos divinamente a quem tam profanamente aílira vive. .

57 Oquarto lugar fugeyto à Villa de Sáo SebaftiaÓ hc o vul-


^f'"'/"
^'^i'*'' ^*

garmente chamado do Porto [udeo, cujo nome próprio lie o lu^ar '
f'^-í^f''-
de Santo António , quafi huma legoa da Villa de Sáo Sebaftião he h,.
gar de cento & qúatorzc vizinhos, que fazem huma 'boa companhia
tofllXZlkt
;

ecmviJnhos^udttas
de foldados, & a Freguezia he do Santo ; & tem mais huma Ermida de Fortalt^asfaraomar
NoíTa Senhora da Efperança , & de muyta romagem ; & para o mar tem ^^ ^^ ^^-p^g^ào^ ^
duas Fortalezas huma fc chama Santo António ,
, &
tem três peças, ou- ' ^ '^^ entrada
^^Jí'
tra a Ponta dos Coelhos com outras três peças o porto : he pequena , & ^"^' ,

eílà

iPMii ma
h6i LivfôVl.DaRegiaílhaTerceyrâ.
que hum ca-
cftàdebayxodehuma rocha vermelha ,qwe não tem mais
,
ininho,porondecabehumíôcarrOiadiantedoIugarparaocercaofa6,
terras de muyto gado , 6c muyto
trigo yêc hum terço de kgoa abayxo
a terra he biícou.
paraomarhe collaaka,&de calhao groffo , ôc para
to de vinhas pomares , & nefte Uigar acaba o termo da Vilia de ba©
, &
Defronte do dito bifcouto, & meya kgoa
'
mar ao eftáo dous
cS
de três moyos de terra outro de
Ilhèos muyto altos , hum do tamanho ,

que pelo meyo paflaó navios,


metade menos ,& tam divididos entre fi ,
nãos da Índia. Dettes Ilheos
por entre elles , & a terra podem paíTar
&
d'agua huns cachopos que fazeni duas
para o Lefte correm por bayxo
rrdefrétf em o mar pontas para os navegantes perigolas , & proveytoías
para os peícado-
outros dous llhéos ,que íe chamao da Mma,
,

J^^. ^ iJ^^^ fg dcícobrem


doHs Ilhèos grandes,
por bayxo dos cjHíies
^^'^ Frades, OU Uhèos pequenos , pois quaíl os lava,& encobre o mac

^^Zíí
rrJÍ^S-^^Saô
em tempo de inverno mas daqui para o buefte
Miguel corremeyale^^
:
em direyto da Ilha de:

feíTenta & daqui por diante cinco le.


de aeua por cima, & em partes fo ,

goas vão fendo os bayxos mais profondos,


& }à menos bravos , & dizem
deSaó Miguel, por fmaes
!kús Pilotos que chega eftebaxioatè a Ilha
chamao Cavalas , quelo
que tomaó para iíTo , como de hús peyxes que
o certo porem hc que da-
andaõ em pouco fundo , ôc junto a calhaos ;

fe nao tem achado fundo em tal


.
quellas cinco kgoas atè Saó Miguel
^^^'
<q AosfobreditosIlhèòs,quejáfóhumakgoadiftão daCí-
alta rocha, fobre aqualcor-
r., ,
-
. , c /dade de Aneraicorrefponde a Ilha em

tardaR^i>eyrLha, gar chamado a Ribey rinlia, Freguezia de Sáo


Pedro, de cento qua- & &
a^i ^o.viúnhos, &
?enta vizinhos em huma fó companhia ,
&
perto defte lugar efta a Lr-
pouco adiante a ce- njidadeSantoAmaro,de grande romagem da Cidade, a que hca jamais
Idre romagem de S.
^ ^^^ ^^^ ^uma das mais altas rochas que ha na Ilha , 6c
f.:;::r;:fr;LmaVonta aomar chamadaaPontaRu^^^^^^^
ro de navios & daqui ate a Cidade
tJayxo à Uhià, & feada de calhao que ferve para laft ,

cS. Qiimtas muyto rendo-


p.r4ue chamai A^ vav meya kgoa muyto fértil de terras de pao,
gftasdeS.Seíafiiaõ, marhumaboabahia,& porto quechamaoas Aguas de b.
fas,&juntoao
^''"^tfrçodílegoada^^^^^-^^Q^
Cidade, ^ _.

CAPITULO VIIL

Bas Fôríakzas que cercão por mar y& terra a Ci-

dade de Angra»

de SaÔ Sebaftiaã fe fegue logo híi


6o A O dito porto das Aguas
pequeno monte &£ nelle huma For-
como hum
Pi outeyro ,
,

para a Cidade & em cima den-


taleza cercada de muralha, com porta
,
,

rcs & trinta foldados,a que vem


tro com cafas para o Capitão , attilhey ,

grande, ( de que 1 ogo falinre^


lender outros foldados do outro Caftello
& tem mais feu Armazém de munições de guerra,^ huma
ciíter.
mos}

^^
ip

Cap. Vi ÍI.Das fottal.q fe feguê jà'para a defeía daCidad.iííj


ííã que leva quinhentas pipas de agua > por dentro do alto defta Forta-
leza defce abayxo huma abobada , ou cuberta atè huma plataforma , em 2?^ Fortaltza de Sâo
que bate o mar , & tem quatorze peças de artelharia , §c quafi todas de SebaftiaÕ^fobreaCi^
bronze, & calibre grande, que não fo defendem o porto da Cídade,den- '^^^^ ^J^ fi^" '^ >

trodoqual jàeíláo,mas também defendem achegada de inimigos ao ^^g^*^ '^«S^õ Sebaf^


antecedente porto das Aguas de SaóSebaftiáo,& daqui parece tomou J^''^'^'.^'""^f*
£fta h ortaleza o nome de bao Sebaíliao fenao he ( como algus dizem)
}
o magmr.imit fidalg<^
por ter fido fundada, ou reformada pelo bellicofo Key D. Sebaftiaó , de foao da Silva do Ca-
áaudofa memoria. to & em cujo valU
^

6i Ao pé defta Fortaleza, efpaço de hum tiro de bèfta,eftá hú *»(frier fe fix.irad jà


moderado valle , quechamáo Porto de pipas, por alli defembarcarem os 7*-^^*'^ navios grm^^
caraveloés ,ou barcos de duas , & três velas , que ordinariamente tra- *'- ií

zem , & levão pipas das outras ilhas , &c ainda que para a parte do Sul,
ou marhecoftadecalhaojtemhum muyto bom cães, & por entre ellc,
& a terra, ou cofta da Ilha entra brandamente o mar , & fe recolhem bar-
cos, & caravelas , & ás vezes alguns navios & ficâo feguros da tempef-
,

tade do Suefte , que quando corre forte , faz grande damno nas embar-
cações anchoradasj & fe o porto fe alargaíTe para os groíTos calhaos, que
entre elle, & o mar vão, feria Régio porto , & dos navios feguro eftaley-
ro i mas havia viver algum outro fidalgo tam republico como o grande
Joaó da Silva do Canto , que foy o que fez o dito cães á fua cufta , &
piuyto mais o pôde fazer o Senado da Camera de Angra , ainda que pa-
ra iíCo pediífe algum fubfidio ao povo , & contratadores mais intereífa-
dos; & entam no mayor rocio interior do dito porto fe poderião fabricar
não fó caravelóes, & caravelas , mas também navios grandes , como ahi
^à fizeráoosnobres Cidadãos , Joaó de Betencor,& Nicolao Dias, &
Joaó Cordeyro, & outros muytos que no tal porto fizerão jà não fó ca-
ravelóes, caravelas, & navios, mas também duas nàos bem grandes. Fru*
ctuofo liv. 6. cap. 3

62 Para eíle porto ha húa fó porta da parte da Ilha , que vem


defcendo a igualarfe com elle , & per caminho largo , & bom ; defte &
porto para o Poente vay a Ilha encurvando/e para dentro com rocha t)d maUão^ro da&i
alta, &parapeyto por cima, & em bayxo hum campo, que ferve de ma- '''='^<^ ^""^ ^í"* ""^^
íadouro da vaca , que dalli vay para os açougues da Cidade , donde a ef- ^'*^'* f^mpe^a^
^^^^^J
te campo vem humaribeyra , que vay dar no mar , ainda mais bayxo , &
J
cotpTdTcí^ardÀ
deyxa fempre o matadouro com muyta limpeza, & com caminhoem ro- da Cidade,6"feunt'
da para a Cidade, & muralha por cima, atè dar na principal parte da hc^&grAndecaef,
'

Cidade , donde.fahe para o mar huma larga ,& boa calçada ,& logo co-
meça a entrar pelo mar hum largo, & alto cães de cantaria com varias ef-
cadas para o mar , &: ferros^ que fe prendem os caravelóes , que vão , &
vem das outras Ilhas carfegados , & da melma íorte os barcos de pefcarj
& os barcos de defcarga , &: defembarcos dos navios , fem fer neceflario
que mariola algum metra o pè na agua , pois tudo vem fecco , & limpo
acima do cães, que entra pelo mar hum bom tiro de eípingarda; & huni
tiro de mofquete do Caft'ello de S. Sebaftiaó , & pouco menos do fobre-
dito porto de pipaS;
65 DaditaprincípaíportadaCi^ade vay jamais bayxo o cir«
culo da Ilha, outro tiro de piftola , a dar em lium areal , que chamáç^^
~
r Frainliaj

I II r i
Livro Vi. Da Regia IlhaTerceyra.^
2?. mtros pertos qne Prainha
, & tem porta
grande para a Cidade , que chamio o Portão da
ppguempara ala- Prainha, com muralhada parte da Cidade, & aqui nefte areal fc faziâo
hia da Cidade o da também muytos navios , & ainda galés ^ que defendião as Ilhas de pira-
,

Prainha o de Porti- x^s-^ & agora em tal areal fò fe desfazem navios , quando em algua tem-
,

pgftade quebráo as amarras , & vem à cofta com pouco entremeyo de


Kho novo, tjuejá fer- :

t/ír;jí tíV fa^r «a-


j-Q^^j^a ^ & com O mefmo circulo fe fegue
em bayxo outro menor areal
Fortaleza grande , & cele-
JZZjlcÓmloo chamado o Porto Novo , que pega jà com a
t>moSHefte,qJfo. brequechamão omonte doBrafil, de
que logo trataremos v & para o
de remediarfe com o dito porto, OU portinho novo , por fer alli rocha alta da Ilha , não ha fe-
ttmedio do Porto de
não humâ eftreyta aberta por onde a pè fe defce abayxo , & não tem ou-
fipM,&c^ para a Cidade.
traíerventia

CAPITULO IX.

Da mayor Fortaleza iOtiCaflello de Angra.


5^ w^OditoportOjOuPortifthoNovOjqueíicadapartedoNaí-
Ilha para o Poente, coufa de hum quin-
I J cente , continua a
to de legoa , ou tiro de bèfta , &
vay dar em outra mayor bahia , a que
t>efcrex)e-fe aí mon- chamão o Fanal j defte quafi pefcoço da Ilha ( que ainda não he pofto
tanhoída ^'"'^'«j*^'*
muy to alto ) vay fubiiido a Ilha moderadamente em direytura do Sul,
fatal doCaficllo de S
^ ^^^ ^^^^^ ^^.^ ^^^^ planicie em cima quafi redonda que terá meya
, ,

&r?ZiíptX
'
legoa em circuito j & defte pefcoço da Ilha fahe, & fe levanta huma ca-
'--''-- ^
beça tam alta , que confta de quatro altos montes } hum que vay por hu
terço de legoa ao Sul, inclinando ao Suefte,& outro queda parte do
Poente vay para o Sul também, 6c inclinando ao Sudoeftei de huma, &
& outra banda , com rocha fempre talhada , & altiílima fobre o mar , &c
por entre eftes dous montes , como por entre as orelhas de tam grande
cabeça , fobe da dita planície outro terceyro monte , que chamão o das
CruzeS) & já menos alto , mas que jà fe fobe todo , & não ainda , fenão
em caracol, por ainda fer Íngreme & bem alto & defte terceyro mon-
, :

te em direytura ao Sul vay abatendo tanto efta


montanha que entre os ,

ditos montes das fobreditas montanhas faz huma caldeyra tam profun-
da> que dizem alguns eftar ao olivel com o mar, que corre
pelo Nafcen-
te, & Poente dos dous montes , ou orelhas , como fe a tal caldeyra foíTe
a cova do ladrão defta horrenda cabeça & o fundo defta
; cova tem mais
de moyo de terra de femeadura , & fruòtifera, & nella não ha final de fo-
go algum.
65 Adiante da caldeyra em direytura ao Sul fe levanta o quar- .

to monte , & na meíma altura dos primeyros dSus reprefentando a tef-


,

ta de cabeça tão ^nonftruoía , & todos os taes três


montes dianteyros
fazem frente ao Oceano com tam alta , & defpenhada rocha , que pôde
fer queft ão , qual dos dous ao outro mette mais
pavor , fe {o Oceano ao
rochedo fe tal rochedo ao Oceanp.
, O
certo he que o Oceano fempre
lhe fica debayxo, & mais fuperior fica o rochedo , do que profundo o
Oceano , & efte em bay xo corre tam hu milde , que nem fe fabe quede
cima lhe cahiffe alguma hora , nem que o mar atègora tirafte do tal ro-
"^-vi.:.,-i\ chedo.

-^
^fw*

G ap.IX. Da damfalmcxpugnabitidadé do grãd^^Caftel. 1^1


chedò, pedra alguma , &
affim corre tam limpo alli omáfVquê pàffaõ aS
Shayores náos bem junto á rocha , &que com todo o cuydado de nella
nem tocar j porem luccedeo já que huma grande nào foy tão impellidà
de furiofo Sul , que tocou na rocha , & fez-fe em pedaços , fem tirar pe^
&
daço delia i de muy tos homés que fe atreverão a lançarfe à rocha , 8c
Querer fubir por ella , cuydando a feus pés , &
mãos dana o temor azaSj
càhiráo defpenhados tantos , que fó hum ( & conta alguém que outro
áiais) chegou finalmente onde efcapou ,& teve que contar toda a
vida.
-'

66 Chegado pois o tempo em que Caftella entrou no gover-


no de Portugal, &: em que emfim entrou na Ilha Terceyra , ( como adi*
ante diremos } fez o prudente Felippc 11. tal concey to de quanto lhe
&
importava efta Ilha, como cabeça das mais , tal juizo do fobre defcri-
pto monte do Brafil , que logo logo tratou de fundar nelle hum Caf-
tello,quenáofó lhe dcfendeíTe a Terceyra , mas ainda as mais Ilhas, ou
-asreftauraíTe ao menos , fe por inimigos foflem entradas j & affim paíía-
dooannode 1590. & o decimo depois de ter tomado a Coroa de Por- Cofuo
lelifpe II. em
'tugal, (tempo em que faleceo o Doutor Gafpar Fruduofo , annode tntrAtfdq a 7 erttyra^
1591. quando ainda defta Fortaleza não podia dizer mais) então , ha- fundoH togo efia For-^
verá 1 24. annos pouco mais , ou menos , fendo nomeado para Governa- talet* & d* profe-l
,

dor da dita Fortaleza hum Caftelhano, chamado Don António dela cia tjue logodtUtt hotè
Tuebla, & Bifpo de Angra D. Manoel de Gouvea , por ambos foy lan- vCf &fe ettmprio de*^
hada, & com grande fefta , 8c affiftencia , a primeyra pedra da tal Forta-
foií.

leza i Sc he muyto de notar que houve logo alli quem exclamou , & dif-
fe, que nella fundaváo hum grilhão para toda aquella llha,&:c. 8c: o tem-
ípo depois moftrou ( como veremos ) quanto efte dito parece ter fido
hiia profecia.
67 Começa pois da parte da Ilha a entrada para efta Fortaleza
em hCia Ermida de Noíía Senhora da Boa Nova que tem feu Hofpital
,

para os doentes foldados do Caftello 8c com agua dentro, 8c cerca ca-


,

paz de tudo , &í em diftancia do Caftello hum tiro de mofquetej adian-


te, & pouco mais de hum tiro de efpingarda eftá huma fonte perennc
,

com feu chafariz , bicas, èc tanque , agua boa de que ordinariamente be-
be gente do Caftello , èc tem cafa , 8c guarda do Caftello , èz aíTentos
a
Da entrada dej^á
com bella Viftaj Sc daqui começa já a fubir a Ilha , mas moderadamente, FortaUz.t*t^fi*ai i»'
C por aquelle feu pefcoço que fica entre o Porto Novo , 8c o do
Fanal a-
expHgnaveis,& nem
címa ditos ) atè dar em hú grande foífo de muy tas cavas quadradas , Sc mináveis *uHrAlh(f$^ w
muy fundas, abertas ao picaó ,quc entre fife dividem com paredes de
dous palmos de groíTura, Sc pedraria atè a fatal muralha da Fortaleza,
,

que alíim fica inacceffivel ; mas ainda mais o ficaria , ( dizem muy tos}
fe o tal foíTo fe cavaíTe tanto ( como fe pôde fazer ) que o mar paíTaíTc
do Porto Novoao Fanal, pois he diftancia breve, (como acima vimos} Hl-:
& ficaria a grande Fortaleza fey ta huma fegunda Ilha; mas fe convém,
''ii!

tal fazerfe,íà o veja quem melhor o entende, pois não pôde viver muy-
to o corpo, a quem pelo pefcoço cortão a cabeça Sc a ferventia atè ago^
-,

rafe remediou com larga, 8c forte ponte de madeyraque vay fobre o


fòíTopara amuralha, 8c acaba com grande alçapão deporta levadiçaj,
que per correntes de ferco fe levanta por toda 9/noy te inteyra , Si com
2 fâtaeâ.

mm
téé Livro VI. Da Régia Ilha Teixey ra.
fataes guardas fempre, ôc perpetuas fentinellas. Â j

6S Seguerfe pois a muralha, que por aqui corre entre Nafcen*


te, & Poente, &
para eíles com algum, mas pouco circulo, &
toda de pe*
idra, & cal, .& tufo & he tam alta
3 , que ainda aonde os foíTos jà náo che*.

gaõ, ( por abater muyto a terra os ditos dous portos , JN ovo , &: Fanal}
«em ahi lua altura , ôc leu folo he capaz de efcadas lhe chegarem j & jun-
tamente he tam larga, que pafla de doze palmos de largura , & em cima
iam inclinada, & tam liza para fora , que cafo negado que acima fe ehe-
gaíTe de fora com efcadas , ainda delias para dentro difficillimamente
poderia alguém faltar , fem que o derrubafle qualquer homeni que de
dentro eftivefle j porque da banda de dentro he o terrenho de tufo , Sc
tam alto , que já por dentro náo paífa a muralha do pey to de hum ho-
mem, com que fica a Fortaleza incapaz atè de minas , & de fe lhe abrir
brecha i & fò pelo ar com bombas fe lhe pôde fazer damno , coufa que
ha menos annos fe inventou > §c nem padraftos tem perto de íi , donde
poffa artelharia prejudicarlhe muyto & alTim corre eíla muralha dcfdç
:

o Porto Novo, & Oriente atè o do Fanal dabanda do Occidente.


69 No meyo defta diftancia, & immediatamente aos foflbí
-

fobreditos eftá a foberba porta do levadiço portão , & por ella fe entra
vadtça,& fatal Çer- em hum tal corpo de guarda, que duzentos homens armados cabem
fgdaCffarda.
nelle, & he de alta abobada por cima , fobre a qual corre o folo de tufo
junto á muralha & debayxo corre o dito corpo da guarda com cala-
, ,

bouços terríveis , gohlhas de foldados aellas condemnados,& outros


inftruraentos de caftigos militares & acaba o corpo da guarda com ou-
j

tra grande porta, pela qual fe entra em huma grande praça, que de com-
primento tem hum tiro demofquete de Lefte a Oeíle , & de largura híí
bom tiro de efpingarda de Norte a Sul, atè começar a levantarfe o mon-
te das Cruzes,que tem adiante em direytura a profunda caldeyra fobre-
dita, que acaba com o quarto monte da altiílimarocha para omardo
•Sul, a que tudo acompanhão os outros dous montes, que.corrern pelo
-Nafcente, & Poente.
70 A dita praça
ou terreyro defta Fortaleza tem logo ao en-
,

-trar , & para o Oriente , huma Igreja que tem feu Capellão mòr com
,

boa côngrua delRey, & fica do N orte amparada não fó com ô mais alto
folo que por cima correjunto amuralha, mas também com ella mefma,
í
"^ItJ^knSie fraca de* fera poder receber damno de fora para a parte do Suefte eftáo humas
j

ft a Foytalez.it feui taes cifternas mil pipasdeagua}& voltando paraoPc-


, que levaõ três
,

nobres quartéis fará


ente , antes de chegar aos pès dos montes , eftá jà bem começada fegun-
quinhentos morado-
res & do Kegii) Pa-
,da, êcfumptuofa Igreja, que parou por muytos annos, & talvez quea-
,

inda não eíleja acabada i&adiantre delia, & para omefmo Poente cor-
lácio ^em íjue habitoH

ElRejD.AjfonJoFI, rem tantas ruas, ou quartéis de cafas de pedra , & cal , & de dous fobra-
dcs, que podem alojar quinhentos foldados , & ordinariamente tem trer
zentos vizinhos, &
nellesquaíi toda a caftade oihciaes,& cafaes intey-
rosi & correndo para o Norte fe fegue o nobre Palácio dos
Governado-
res do Caftello , que fica com afrontaria para o Nafcente defronte da
primeyra, & antiga Igreja , &
fobre o grande Rocio, vendo os exercí-
cios de guerra que nelle fe fazem & ainda outro menor Rocio corre de
;

Palácio para o Poente , & he tam nobre efte Paço , que nelle morou an-
nos
€ap. IX. Das deferas,ãrtelhar.gaamiç.dâ tal Fortalczi^ iij
nos o Senhor Rey D. AíFonfo VI. & nelle mais que em Lisboa o deq
por íeguro de infiéis alvitres feu irmão o Senhor Rey D. Pedro 11.
-ji Continuandopois com a muralha (que nunca defpega)
vay ella por diante da parte do Norte dobrando paí:a o Sul , & defcendo ** ^*^'^' 'égrJnã
f
íempre junto ao fobredito Porto , ou Portinho Novo, &jà daqui ^oi^T^a'**''!"^^'*'^^
diante vay fobre o mar, ou porto grande, & bahia da Cidade,
&
vay mu- JchârjàZU ''SH
ralha mais bayxa, para melhor afleftar a artelharia aos navios
, &he ma-fervir deLochamL
ralha também de cantaria, &
tufo, a quem faz coftas a penha continua- d" Rej D. jinmh
da do alto monte, & por cima , junto à muralha, não fó vay caminho lar- ?** ^^' ^"^ * nome;
go, &
aberto na rocha ao picão, mas também em algumas partes vão pe- "^^ ^'^'f^' ** *''^'* *
daços de vinha bem plantada, que formão fuás Quintinhasde grande
2'Xw^'^"'^'"^
recreação , & com algumas arvores , & fuás pequenas fontezinhas , & de mdl
e^nifij''^-^
excellente agua docej chegada efta muralha hum terço de legoa
ao mar,
cm direytura do Sul , aonde eftá hum Forte de muyta , muy to grof-
&
fa artelharia de bronze, aíTim de alcançar ao longe,
como de baterão
perto , & com cafa nelle de foldadcs , & muniçocns , &
fua fontinha de
agua docej & aqui começa aquella rocha altiíTima , & talhada atè o mar.
E a eíle Forte chamão o Forte, ou Ponta de Santo António j & porque
defte Forte de Santo António faz jà menção Fruducfo
liv. 6. cap. 3. an-
tes de Felippe entrar em Portugal,fegue-fe que foy
fundado muyto an-
tes pelos Portuguezes Reys , & que primeyro fe
chamou toda efta For-
taleza a de Santo António, & depois fe chamou de São
Felippe , por
Felippe II. a acabar, & reformar , ôc hoje fe chama de São
JoaÔ Baptií-
ta, por o Reftaurador de Portugal , o Senhor
Rey D.Joaô I V.a conquif-
tar, & reftaurar. ' "

72 Continuemos pois com a muralha , que deyxamos no can-"


to que da outra parte fica olhando para o Occidente
m
mtrã íandam
, & caminhando oíh^para o Occilni
também para o Sul fobre o porto do Fanal, & continua ainda fempre, & te.&je chama a Põ^
talhada em rocha viva atè a outra ponta do Sul porbayxo
do fegundo '** ^^ '^''^^'''^'''>'?/^^
monte , cuja ponta fe chama o Zimbreyro , & aqui eftá outro Forte com ^"^^'' W-^^^^o^t^yf^or-
tanta, & tam boa artelharia, como o da Ponta
de Santo António, que da 'tZtTlZtndi
parte do Oriente lhe correfponde , & tanto
jà para o Sul , & em tal cor- ilr^/.f^t«!
relpondencia que jà não pôde paífar navio algum de
, huma parte para rando ambls m marl
a outra , íem cahir nas balas de hum,&: outro Fortej
nefte do Zimbreyro comfatal mtlhami^
eftá huma mcrderada lapa , de cuja natural
abobada eftá fempre gotte-
jando boa agua doce em hum tanque inferior que nelle
, faz igual fonte
para efte Forte, do que a do Forte de S. António.
7^ Em feu circuito tem efta muralha, em a altiíTima rocha do
^ÍZuT^^ ^'^°^ ' ^ ^^ '"? inacceffivel, que junto à porta Do. n,upos hl.arl
principal fahe fora com dous 'ut
baluartes, &
nelles taes pedreyros de bron- tes, plataforma,, cak
2e, de huma, &outra parte, que lhes não pôde cfcapar, quem
temera- y^'W''í'»,€^W'« íw»-
namente quizeíTe inveftir a porta}& além diífo tem logoem o fundo da ^ertoi.&mào fobre <%
muralha quatro poftigos falfos com interior via de de
abobada para o alto (^^i^'^'^'^')" for.
dedentroda Fortaleza i &
em o reftante da muralha que eftá fobre a
Cidade,atèalèmdo Portinho Novo, vãoembayxoalgumasplatafor.."<^^^^^ fSf'-^«'fd "'^'
mas com fortiflimos Pedreyros, & interiores cafamatas
, & vias para ci-
'*

maj mas da parte do Occidente & já fobre a bahia do


, Fanal , não vão
©m bayxo plataformas , mas a muralha por cima atè o Zimbreyro já
, &

Z ij
í^vm

w Mm
lêí Livro VI. DaReal llhaTeixeyra.

fpmpre talhada atè amar , & por cima artelharia ,efpecialmeat e de al-
cance para os navios, que nem chegar poíTaó ao perco.
74 Finalmente tem efta Fortaleza cento Sc feíTenta peças de
artelharia , repartidas todas pela jàdita muralha, & entre ellas canhoens
de quarenta & oy to de calibre , 6c huma ainda mayor peça , & muy to ce-;
lebre , a que chamáo a Malaca , mais comprida , & mais groíTa com ex-
ctííòi & efta artelharia quaíi toda he de bronze: tem mais de quinhen-
tas praças de foldados , & hum Auditor de letras , que com o Governa-
dor os julga a todos 3 tem todas as munições de guerraj tem agua , & le-
^oipeçaSfde calibre
nha dentro erii abundância i & atè pedreyras de pedra de cantaria j ôç
de ^S.&de alcance^
&áo rigor ofi efiylo de além deeftar fempre bem provida de mantimentos , & ter fcis atafonas
guerrafempre objcr' dentro , & muyta caça de toda a forte , & pudera ter gados , de cabras,
vado. cot» agua den- & ainda de vaccas , aílim como tem de peyxe , íè houveíTe mais provi-
tro,atè nativa^lenha, dencia em os Governadores , como ha em a vigia pois atè em o mais al-
,
& algãíU carnes & to monte , fobre o Forte de Santo António , temhum Facheyro,ou Ata-
,

mnyto mais provime-


laya com fua cafa , & foldo , & dous pilares altos , hju m para a parte do
to de peyxe^é' perpe-
tuai vigias fachos, Nafcente atè o Sul fe vigiar j outro para divifar do
,
Sul atè o Poente j &
&c. da parte donde apparecem alguns navios , íe põem outros tantos íinaeSj
ou fachos embandeyrados i fe porém apparecem mais de fete , poem-fe
huma fó bandeyra grande , & de guerra , & entlo a Fortaleza diípara
peça de leva a recolher os foldados que andarem fora , & a Cidade toca
a rebate. Emfim que, fe fequizeíTem dizer as particularidades defta in-
expugnável Fortaleza , feria nunca acabar > & aííim bafta dizerem eru-
ditos, que naõfefabe haverem toda a Europa Fortaleza mais incon-
quiftavel, que efta da Ilha Terceyra, chamada o Caftello de Angra.

C A P I T U L O X.

Dafamofa Cidade de Angra, & feu nome.

¥~^Efcuberta a Ilha Terceyra pelos annos de 1446. haquaíi


75
U
duzentos & fetenta annos,
que vinhão das Ilhas de Gabo Verde , &
&defcuberta pelos mareantes
pela banda do Norte no pofto
chamado QLiatro Ribeyras , então dos que alli íicàraó , paíTárão alguns,
quatro legoas abayxo para o Sul, & derão na bahia que acháfáo junta ao
monte do Brafil , & alli fizerão fua tal , ou qual povoação & lhe cha-
m ,

marão Angra , por fer eftylo antigo de mareantes, & dei ciibridores,que
às melhores bahias que achavão,chamaváo Angras , como fe lè muy tas
vezes emjoaó de Barros; dos outros primeyros povoadores , que en-
trarão em as quatro Ribeyras , fe paííáraó outros para a banda do Orien-
JSJao confia qttal fe
te & derão em huma grande praya de área , com muyto terrenho à ro-
,
fovoajfe frimeyro ,fe
Angra ^fe ta Pmya-^ da plano, muyta agua, & capaz de em breve cultivarfe, & allifízeraó
jpoífemfre Angrafoy também fuás povoaçoens como puderaó. Qtial porém deftas duas po-
li a cabeça^ d}' primey. voações fofle primeyro que a outra , iífo não confta & fó confta ( co-
-,
,

ro Filia, que a Praya:^


mo cocamos acimacap. que Angra nunca à Praya foy fugeyta,& pri-
& foy feyta Cidade^ meyro foy Villa do que6.a )Praya ; pois da fua primey ra vitoria dos Caf-
ha perto de dítz,(tít6S

annts. telhanos mandou logo a nova a Angra, como afiu cabeça: & aindaque o
'
único
Cap. X. Da Corte das Ilhas, Cidade de Angn, ^iêf
Mnico Capitão de toda a Ilha ( Jacome deBruges) refidia omaisd®
tempo em a Praya , iffo era por ter là terras para íí tomadas , &
naõ poE
fer a Praya cabeça de toda a Ilha, pois efta logo fe dividio em duas Ca-
pitanias , & o Cortereal foy o que efcolheo das duas j ôc a de Angra foy
aqueeícolheo. ~
76 Tanibem quando foíTe crcada VillaAngra , também naõ
fonfta , ( que eu fayba } & parece o foy logo ao principio pbla voz do
"
'

povo ,& com confenfo tácito dos Reysi mas confta quando foy levan-
tada ao foro de Cidade , pois em fua hiftoria diz Guedes cap. 7. que por
ElRjey D. Joaó III. foy Angra feyta Cidade em 22. de Agofto do aniio
i533.ha mais de cento «Sc oytenta annos,& havendo jàcento& fete
que a dita Ilha Terceyra era defcuberta mas da Madeyra o Funchal
-,

havia jà mais de vinte annos que era feyto Cidade por ElRey Dom Ma-
noel em 1508. havendo quafi noventa que tinha íido defcuberta por
Jpaó Gonçalves Zargo em 14 19. porém Ponta Delgada em Saó Miguel
foy fey ta Cidade em 1 5 46. treze annos depois, de o fer Angra , & pelo
méfmo Rey D.Joaõ IIL
77 Começa pois Angra com a fua bahia fobredita j que fíca en-
tre o Caftello ^"^'^
de SaÓ Sebaftiaó , ou Porto de pipas , da parte do Orien-^;(^^ •^'''* '

tome» o fiO"
te, & o outro Caftello , ou praça grande de Saó JoaÓ Baptiíla
..
, que fó ZueAmr» hêct
diftaõ hum pequeno quarto de legoa entre fi , & outro quarto atè a C\.-gur* de tnimlges í5
,

[, dade,& he bahia capaz de grandes frotas que fe recolhera , & çtovhm a* Fortaiesju de hiU;,
^ alli com toda a fegurança de quaefquer inimigos , pela tanta, & taó pro- ^ «atra partem drfó
xima artelharia de huma, & outra bandaj & o anchoradouro he limpo de " ^'*'fi' *f' ** ntuyt»
, cachopos, & bancos de area,& firmão nelle as anchoras tam feguramen-^"'^"'-^^ quelfrAr m
Cl -^ o c 1- j ji- - •/-
te , que nunca arraítao , & lo quebrando , defemparaó o navio j fica po-
menos fertes ítmarrat
^ dartttavh à eof.
rèm cíle porto em dircytura ao Suefte , a quem chamáo lá o vento Car- ta,falvAndo.fe 4»^<«-;
pinceyro, porque algumas vezes he taó rijo, que feas zmãvrâsnaóíãótel&pArtídafaiíen^
.
boas, & de bom fio , as faz arrebentar , & dà com a embarcação no areal ^''i
da Prainha, ou no Porto Novo, & fempre a gente fe falva, & ainda par-
te da carga fendo que, ainda atè em rios , como no Tejo , & no DoUro,
-,

muytas vezes fe perdem embarcações fem fe falvar coufa delíaSi & ou-
tras vezes acontece , que o mefmo dono , Meftre, ou Capitão do navio,
por fe livrar a fi de dividas que tem tomado fobre elle , o deyxa perder,
^ para iíío tal vez chega a darlhe furo fecreto , & então faz mayor nau*
fragio, perdendo a própria alma.
78 Termina-feefte grande porto com o já dcfcripto cães, que
começa a fahir da principal porta da Cidade,em que eftá corpo de guar-
da, & cafas por cima de foldadefca paga , & perpetua ; ao entrar da Ci-
dade, à mão efquerda,eftà aRealcafaria da Alfandega com terreyro
ladrilhado de cantaria , & muralha fobre o mar , capaz de artelharia , &
aqui he o paííeyo, principalmente dos homens de negocio , & Meftres
dos navios , com boaviftadelles , & do porto todo: adita A\hndcgai^^^^^l,é'fetf/prê oíii

além dos feus Tribunaes , tem grandes defpejos , &: armazéns para to- ^**'/"''''^^^'* /í//4«a
do o defembarco de navios, de Frotas , & de Armadas , & para o provi-
mento neceííario à maó direyta fe alarga hum terreyrode calçada com
:

hum chafariz no meyo , alto , &: de muytâs bicas de doce , & boa aguaj
& ainda mais à maó direyta volta fobre o marjSc ao pé da rocha da Ilha,
Z iij jua-

'I.

«dÍMMIi tÊKimmmÊ^
'í7^ Livro VI. Da Regia Ilha Terce yra.
junto á muralha dcbayxo,hum capaz caminho, &
quali rua que che-
ga ao matadouro mas nem fe communica nefte bay xo cem o Porto de
-,

pipas, & menos com o Caftello


de S. Sebaíliaõ.
79 Dofobredito chafariz do porto, correndo do Sul para a
Tew efiá Cidade, ci- Norte,, vay huma rua tam larga, & tam direyta , & tam unida , & nobre
mifeve^mau de vtn-
rafaria , que por antonomafia lè chama a rua Direyta , & de cada banda

%rtanobre&f!cbA'
vay ladrilho , que tem de largo cada hum três pedras de cantaria, por
da do ShÍm Norte-, ^"de coftuma ir a gente que anda a pc ,62 pelo meyo
ainda vay tam lar-
do Nafeente a foen- ga , & boa calçada , que a gente que por ella anda a cavallo , ou cm car-
te,& è contra , & ruagem jnáofe encontra huma com outra chega efta rua com baftantc
-,

todae Umpifmat , & &


comprimento á praça da Cidade , na mefma direy tura torna a conti-
kem ladrilhadas, nao -^^^
^^ o\xtTi parte da praça atè outro alto chafariz de mu y tas bicas , a
que chamáo o Chafariz do Collegio, por o da Companhia de JESUS
{f«*£.TÍÍlTJr'
travej/of. nenés afta- ^ /«.,,,r»
tre bajrroB do Corpo lhe ficar da banda do
roente j
«-i
& r*i-
ainda a rua vay com a melma direytú-
Santo,deS.Bento,derã, èícaínriz atèoPaço do Marquez de Caftello Rodrigo do melmo :

S.Luz.ia,&de S.Pe- porto outra vez torna a fahir outra rua , chamada de Santo Erpirito,quc
Wr#, dos ^uaes cada ^g mefma forte vay dar quaíi junto á mefma praça , & da banda do Po-
hHmtemittHytasoH.
^^^^. da banda do Oriente vay terceyra rua, chamada de Sãojoaó, def-

hmfaUàHdonat7{'^^ ° portão do Porto da Prainha , &


tam larga , tam direyta , tam la-^ &
aí#,e^»í^rí^»w«c45drilhada,6ccalçada, como a primeyra rua, chamada Direyta j logo
do Çajielle ; j»*»» «4 mais adiante, &
da mefma banda do Poente corre também a quarta rua
pHblieafra^ada Ci- do mefmo mar , ou do Sul para o Norte , que chamaõ da Palha, fendo
^^t que nella não ha cafa alguma de palha , nem terreyra alguma , ou defu-
nida , mas toda tam fechada de cafaria , tam ladrilhada , & direyta , co-
: &
mo as fuás parallelas fobreditas j do mefmo modo mais avante corre
defde o Sul, rocha, ou muralha do mar, corre, digo , quinta rua, que nef-
te principio hc muyto larga, atè detraz da Sé , chamada a rua de Salinas,
mas continua mais eftreyta , & direyta com cafaria unida pela banda fó
'

'
do Oriente,& pela banda do Poente lhe fica o grande vão da Sè, de que
fallaremo*.
80 Da mefma parte do Poente , também do Sul para o NortCí
corre a rua chamada dos Cavallos por deftes fc fazerení todos 0$ an-
,

nos feftas na tal rua, que he capaz diflb, & por iífo nem he lageada, nem
calçada , m as de terrey ro feu , Sc plano , & começando defde a muralha
do mar, a que efpecialmente chamão a Rocha,& com hum Chafariz pa-
ra dentro da Cidade, continua efta rua bem comprida para o Norte,
paíTando pelo pé do Aljube , & Paços do Bifpo , vay parar defronte do
Mofteyro das Freyras da Efperança. Oytava rua corre da fobredita ro-
cha do Sul para o Norte , & fe chama a rua de JESUS , muyto com pri»
da, & baftantcmente larga ^ do mefmo modo corre adiante jâ defde o
; ,

Portinho Novo & do Sul para o Norte a nona rua chamada dos Ca-
, ,

nos Verdes & vay parar já defronte do campo a que chamão as Co-
, ,

vas , junto ao Convento de NoíTa Senhora da Graça : era decimo lugar


vão ainda varias ruas com menos ordem defde o cimo do Portinho No-
vo para o Norte , as quaes chamão o Quartel , por aqui fe alojarem osí
foldados do Caftello grande , quando nelle todos não moravâo ; vay &
parar efte Quartel pela banda do Caftello à Boa Nova, &
mais por bay-
XO ao Convento das Freyras de S. Gonçalo , atè o dito Campo das Co-
vas.
Cap. X. Da largueza, li£típezâ,& cdificíos de Angra^ 17 j
Vàs/tudo jàfronteyro do Caftcllo , com fó a campanhadèeriírèmcycr/
de hum bom drodemofquece.
81 Tornando agora á praça da Cidade , delia fahe huma lar- _ . __,
ga, bem direy ta, 6c a mais comprida rua, a que vem defembocar as dez ^^fi'^*'^ ^*'
tS
ábbreditas ruas, que vem do Sul para o NortCi a que ctta fatal rua úndc-
*'''?*ÍL*ÍXírr
-_'»<*
cima corta de Oriente a Poente j & para a parte do Sul tem quaíi no
"*
'^
^

íneyo a dita Sè , & a rua da Sè fc diz j & para a parte do Norte ttm o Li

&
Convento de Freyras da Efperança , no topo em cima acaba com o
éampo dasCovas de huma parte , ( que dà também nome à rua} & da
miÁ
outra o Convento dos GracianoSi & logo da parte dellcs eftá hum gran-
de Chafariz de bicas , & tanque , & de cxcellentc agua j & daqui come-
ça hum bayrro da Cidade , chamado Saó Pedro , que dá o nome à rua,
donde logo ao principio fahe hum viftofo , & bem comprido caminho
para o Caftello grande , & fem mais cafa alguma , que da parte do Ori-
ente a cerca , & Convento de Saó Gonçalo , & da parte do Poente cam-
pina de hortas , fie fearas atè a bahiá do Fanal , vifta muy recreativa , 3c
alegre mas a rua de Saó Pedro continija direyta ao Poente , atè a porta
:

da Cidade , que fe diz Santa Catharina , diftancia de tiro de hum gran-


de mofquetc, ou efmerilhão i porém da parte das hortas também não
tem cafaria , mas da parte do Norte a tem continuada, & boa,& com al-
gumas Qiiintas para o Norte, que quanto para o Sul, no meyo defta rua
fahe hum caminho plano , & largo, & boas carrcyras de cavalb atè a ba-
hia do Fanal , donde fahem algumas ruas com cafas terrcyras, mas de t#-
íha, & as mais de pefcadores.
83 Dey xo as travcíTas perque fe communicáo cftas ruas , por-
que defde junto à Alfandega , & porta da Cidade , vay logo hua tal rua
de Oriente a Poente , que chega direyta ao Quartel do Caftcllo gran-
de, & ainda fe reparte para a K.ocha,âc Portinho Novo}& outra tra-
Vefla vay por detraz da Sè atè Saó Gonçalo & atè da grande rua da Sè
;

indo huma traveífa para a Portaria das Freyras da Efperança , volta cm


'

huma boa rua para o Oriente, a qual por iflo fe chama a rua da Efperan-
ça, & vem dar em outra traveífa , muyto larga, & fcrmofa , que também
fahe da rua da Sè , & volta continuando cm direyto da rua da Efperan-
ça com a rua dos Eftudos, que lhe ficaó da parte do Norte , com o pateo
dos Eftudantes, & o Collegioda Companhia, & © terrcyro da fua Igre-
ja, atè dar efta rua em o Chafariz que eftá acima da praça , & abayxo dos
Paços do Marquez; & daqui vay, jà mais por cima , outra larga , tão &
Comprida rua, de cafaria continuada de huma ,& outra parte, que vay
acabar na Graça , &: nas Covas ,onde acaba a da Sè , & ambas ornando
muyto o terreyro do Convento j & efta rua de cima fe chama a rua do
Rego,
85 E aquella larga traveíTa , que da rua da Sè vem , rcpart*
&
asduas ruas da Efperança, & dos Eftudos , daqui na mefma largura vay
fubindo fempre ao Norte , cortando a rua do Rego , & chega atè Santa
Luzia, Parochial que fica bem cm cima ; &
efta ladeyra fc chama a Mi'
ragaya , a que era o alto cerca o bayrro chamado de Santa Luzia , quí
por cima da Cidade tem muytas outras ruas, que por brevidade deyxoj
& também tem feu Chafariz da mefma boa agua da Cidade > ao rcdoí

i:í!';

lill
ã
mk mmmÊÊm
%7Í .ni^?íj\. 'Livro Yl.Pa Regia Ulia^Tercéyrâk ;;

i;3aqualvaypo/,.cima efte bayrro enteftar com o Gaftello de Saõ Chrií*»


tovão, ( de que abayxo fallaremos ) & chega a partir com o. bayrrQ^^&;
wm ParqchiadeS.JBento, como veremos logo. :3
s!s í-t^ '^«
^4 ,jA praça pois que deyxamos he hum Rocio muy plano,
, &
S>ÍPr4c« Wd Cida- ^^ytp direytjQ yém que fe fazem os exercicios da milícia , & fe correm
We^/?« ierreyro, corpo toidos OS annos toUros ,tranquey radas as ruas que á praça vem. Nella ef-
da Guarda Pa^o do tão os Paços 4o Senado da Camera > &.do Tribunal da Juftiça ,
, Au- &
Senado,dajtffifça,& diencia geral, &, as eadeas,& enxovias por bayxo,& no meyo hCia aíta
dascadeas^Ermdat, j.Qj.j,g
^^ cantaria, em cima os fmos , & relógio da Cidade , com nobre
&
í^f/s/^rw.
;náp para fora , que fempre moftra as horas que faó i & por bayxo defta
_ torre as caías do Garcerey ro, & prezos menos culpados, & mais nobresj,

écnocantop^raoNorte eftà o açougue commum da Cidade. Detraz


deifte edifício vay hum pequeno campo ladey rento , por parte do qual
,;

átícç, huma boa ribey ra , qiie vay lavando as cadeasi& por bayxo da pra-

„ ça cm abobada paíTa o entreraeyo da rua direyta , & Santo


^
Efpirito, &
vay defpejar ao mar. E aíHrma Guedes em fua hiftoria , que os da gover-
nançadaCidadefizerãpefta praça em 1610. &em 1611. levantàrãooS
íbbreditos Paços, torre, & cadeas, &: gaftárão nove para dez mil cruza-
dos, que mais ern dobro cuftariáo hoje ; & devem alargar mais para traz
,

, o edifício da publica Audiência , & da Camera inda que feja compran-


,

do alguma morada de cafas, por fer aííim neceffario ao bem commum,&:


_, à decência.
. -
85 Da parte do Sul cerca a eíla pra^â nobre caiaria , & da meí-
da parte do Norte corre o largo cor-
ma forte da parte do Occidente j

po da Guarda da Cidade , bayxo , & alto & logo fe fegue huma ceie- -,

i^ bre Ermida de Nofla. Senhora


da Saúde , ao depois da qual fahe da mef-
ma praça huma traveíTa que fe chama ada Saúde , vay dar no Chafa- &
riz que eftá junto ao CoUegio j &
na outra quina da traveíía fe fegue a
{ çafâ da pólvora da Cidade
, cora interior cerca dentro,que vay por den-

'í)o Têrreyro di 5^5 tro toparem a grande cerca


dos Francifcanos yèc nafronteyra da Praça
Francifco, e^<!Íf/»<íiefeguem ainda algumas caías que acablo defronte do Paço da Audi-
eerca, encia , entre a qual , &
as ditas caías fahe da mefma praça para o Poente
.huma larga , &: fubida calçada para o terreyro de São Francifco , com o
jnuro de fua larga cerca da parte do Norte , & outro muro da parte do
Sul, por bayxo do qual vem a fobredita ribey ra que pafla pelas cadeasj
,

& porque eftas ficão da parte do Nafcente olhando para o Poente, por
; iíTo defta parte, & na parede das cafas que alli eftáo , fica hum Oratório
alto, & com altas portas , que nos dias Santos de guarda fe abre de ma-
nhaã ,Ôc nelle Capelláo diz Miíía , a que afliftem, & vem bem os
hum
>
frontey ros prefos,& fe encomendão a Deos.
86 Em o outro lado das cadeas, defronte da rua de Santo Efpi-
r rito , fahe da mefma praça , acima para o Nafcente , outra & muy com-
prida rua de boa calçada pelo meyo , & de cada parte ladrilhos de can-
, taria3&: caiaria fempre continuada, mas fubindo fempre para o Nafcen-
te em competência da rua da outra banda que fobe a São Francifco,
porque affim para o Nafcente , como para o Norte , he de terrenho al-
',

toefta Cidade , fendo que para o Sul , & Occidente he de muy plano
terrenho fobe pois a dita rua ( que chamão , não fey porque , iiua do
:

Gallo}
Gap. X. Continua-fe a defcripçaõ da tal Cidade. 271
Galla} atè a nobre Collegiada , & Parochial grande da ConGcyçâo } &
atè aqui , defde a rua de Santo Efpirito , não ha traveíTa alguma para®
Sul, & mar delle j mas da outra banda fahe huma larga ruajque vay tam-
bém dar a São Francifco , & com outro Chafariz de boa agua j & defta
Conceyção, aílim como continíia pelo Oriente a Cidade para o Norteai
aílim também continua para o Sul, ôcSuefte, atè parar cora ojà dito Ca-
ítellodeS.Sebaftiáo, que defcrevemosjà no Capitulo VIII.
^
87. Entre pois o tal Caftello , & a dita Conceyç ão fe eftende
oviftofo, & alto bayrro que chamão do Corpo Santo, de quea mayor jj^ celebre ErmidÀ
parte.hede mareantes, que tem cm hum alto para o mar dLÍw^^cÚQhtt doCorpoS<into,& da
Ermida do dito Corpo Santo , & tem tantas ruas , ou traveflas , que fe- grande vifia dejlt
ria importuno em eontallas j ló digo que para o mar para ambos os ^'*J''ro,iiara mar^ #;
,

Caftellos de São Joaõ Baptiíta, & de São Sebaftiáo , & ainda para o me- ^^''^-°
Ihor da Cidade tem eíle bayrro a mais ampla & melhor viíta > & não
,

íó pela cofta do mar , &: junto à fua muralha , mas também pelo mais a-
dentro tem ruas para o porto da Cidade & para a rua de Santo Efpiri-
,

ío a rua que chamão a Ladeyra , acima da qual , & jà perto da Concey-- Pi

ção eítá hum alto , &; grande tcrreyro , & nelle hum bem comprido Pa- '

lacio do Morgado , Sc Chefe da nobiliíTima familiados Cantos , fidal-


gos de que abayxo em feu lugar trataremos como também dos chama-
j

dos Homens Coftas, que habitão bem junto à Conceyçáo , & de outros
jnuytos pegado porém com os ditos Cantos fica huma fua nobre Er-
;

mida, chamada Noífa Senhora dos Remédios que eftá nobremente re-
,

edificada, & ornada, & he de grande concurfo, ôc devoção , com o ter-


ÇQ cantado cada dia.
88 Por cima da outra rua, ou fubida que da praça fahe para o
,

Norte, fica hum bom terreyro plano, & quafi redondo , aonde eftào
Convento do Patriarcha Seráfico , & para a banda do Sul aquella larga
rua que com feu Chafariz vay ao meyo dado Gallo, & mais por cima
outra que vay à Conceyçáo, & defta volta correndo pelo Oriente com
grandes terras, & hortas para elle, & em longa direy tura ao Nortej mas
de bayxo,&: da parte do Poente lhe vem huma larga rua chamada de S.
Sebaflião, pomella ficar hum novo Convento de Freyras de fingular
Obfervancia que tem fora outro Chafariz da Cicade & pouco adian»
, ;

a parte do Noroefte vay por fora das portas de São Bento huamuyto dosCapuehos
Fraa^
recreativa , & moderada fubida atè o Convento de Santo António dos cifcanesj^
Capuchos , devotiflima fahída da Cidade , & muyto recreativa com fua
deliciófa cerca mas antes de chegar às portas de Sio Bento , 8c da parte
:

do Poente fica o Convento da Conceyção das Freyras , por amor da '


'

qual a outrajà dita fe chama a Conceyçáo dos Clérigos & defronte da


;

das Freyras para o Nafcente ficão as antigas cafas, & aííento , ou Chefe
dos Monizes fidalgos muyto antigos , com grande jardim, ou Qiiinta,
,

como as mais das nobres caías delia grande rua para 'a parte do Nafcen»
te. Qiiequanto pardetraz da Conceyção das Freyras vay
jà mais ordi^
paria povoação , como para o Noroefte atè hfia antiga Ermida de Noífa
I

Senho»

II ji

hl.

mt má
Livro VI. Da Regia líhâ Terceyrâ."

Senhora do Dcfterro , & atè chegar por fora ao mais antigo, & terceyrci
Caílello, de que agora fallaremos.
89 ÊfteterceyroGaftellofoyoprimeyro qtiehoiiveemtoda
^ a Ilha Terceyra , & fe fundou quando ainda Angra nem era Cidade,
í
Sh ut^'^ ""*'
•^''"nem tinha canta gente que a pudelTe defender das Armadas de Caftella,

%^ — Aí" \_.í <i"e com Portugal tinhaentaó guerra , & nem tinha aigum outro Caf-
tello, ou Fortaleza em feu porto , & para fe recolherem a efte o funda-
raô os Angrenfes em hum outeyro alto que fica fobre a Cidade para a
parte do Norte, inclinando a N ornordefte,6f lhe deraõ logo o nome de
Caftello de Saõ Chriftováoi & delle diz Fru£tuofo/íi;.6. €ap. 3. que
era forte Caftello ,& que fe renovou depois , & prov€o em feu tcmp©
&
com munições , artelharia j & mais no tal tempo de Fruâ:uofo já ha^
via em o porto o Caftello de Saó Sebaftião.j êc o Forte de Santo Antó-
nio. E accrefcenta o Doutor que o Capitão Donatário Manoel de Cor*
tereal morava em o tal Caftello , tendo-o por capaz diíTo, & que depois
íe mudara para o bayxo domefmo Caftello, & habitava no Faço que
ainda hoje chamão do Marquez de Caftello Rodrigo , leu fucceíTor na
Capitania, & que tem bello jardim5& que tudo herdou Manoel de Cor-
tereal de fua irmãa D. Iria , mu Iher de Fedro de Goes^ nobre fidalgo.
90 Já hoje porém não fey que nefte Caftello de Saõ Chrifto*
vaõ haja mais que as muralhas em feu circuito , & interior deftrifto dei",
lej fendo que na Acclamação de Portugal , com artelharia que fe poz
ftefte Caftello de Saõ Chriftováo,fc fazia grande damno aoCaftelha*.
na, que eftava em o mayor Caftello ^ chamado então Saõ Fclippc ; & fe
cfte outra vez for tomado de inimigos , (ou por trey çaõ de quem o go<-
vcrnar , ou por fucceífos marítimos } cuftarà muyto à Cidade não tec
capaz ainda o Caftello de Saõ Chriftovão-, para delle fe valer & muy-
;

to mais porque fendo o fítio defte Caftello hum valente padrafto da Ci*
dade, fe devia naõ defem parar , antes confervarfe fempre , & fortalecer-,
fc, para que fuccedendo alguma hora entrar na Ilha inimigo por algum
porto da Praya atè Angra , & vir fobre a Cidade , não íe faça forte com
o dito Saõ Chriftovâo, & dalli mais facilmente arraze a Cidadej mas ef-
ta pelo contrario dalli o repulfe , & faça voltar atraz & quem na Cida-
:

de ferve de Capitão da artelharia^ ou de Sargento mòr, em efte Caftello


pôde morar fempre com pequena efquadra de foldados , como para o
raar fe faz no Caftello de Saõ Sebaftiaõ) & não fe deyxar perder tam im-
portante Caftello por incúria j do que virá tempo em que muyto fe
arrependaõ , pois quem ao diante não olha j atraz fica & cu nunca lou-
;

Varcy ( dizia o outro} Capitão que difle, Não cuydey^


91 Também efte Caftello Saõ Chriftovâo fe chartia vulgar*
menre o Caíí:ello dos Moinhos , porque não menos de doze moinhos
Bus Í6z.e minhas ju- tem perto do tal Caftello a Cidade > donde regiamente he provida , &
mà Ctdadcy&gra- ^.^^ j-g^f^ abundância dé agUa ^ que quando a Cidade quer , faz vir tal
pim^tna e .
ribey ra delia, qiie entrando nas largas ruas, por as calçadas delias corre
entre os ladrilhos^ dèyxando-os feccos,& vay parar em o mar ; & o mef-
mo também fuccede quando chove muyto, & fempre as ruas eftão muy-
to limpas, atè de noyte , fem ncceflltarem de outros alimpadores , por-
que das janellas não fe lança na rua coufa alguma , & aíTim nunca fe ou-
ve,

r » •
Cap.XI.Do Bccleí!& Epifcop.gbvemopofto em Angra^^l
|fé^ A^wâvay ipQpque nãohacafa, qúe por detfaz naó tenha fea qqint
tâjj & algumas muyco grande 3 & muytas, tem da fonte agua dentro , &;
nunca nas ruas fe vè dei^ejo humano algum , o que tanto fe eftranha em
iãifFas terras.

CAPITULO XI.

Do governo Eccíefi&flicode Angra^é' de fem Bi^os/ahre 'i>

todasasmvel/hasTercejiraSjOUíiõsJffores»

92 /^ Oníla a Cidade de Angra de féis Freguezias , ( contando


V-/ também por Freguezia a nobre povoação , que eílà np
grande Cafteilojôc là tem Capelláo mòr com alguns privilegios,& ex-
empções efpeciaes.) A priraeyra Freguezia he a da Santa Se do Salva?
dor , a cujo lado da Epiftola , mettendo-fe fó o largo da rua dos Cavai-
los, eftá o Paço dos IlluílriíTimos Bifpos , com bom jardim para traz,6c
agua de beber dentro, & de regarj & podèra o Paço eftenderfe mais atè
o canto acima próximo da rua chamada de J ESUS,& algum zelofo BiÇ-
po virá que affim o faça pois lhe rende o Bifpado fempre oyto mil cru-
-,

zados , & alguns annos atè dez , & mais. Foy creado efte Bifpado á inf-
táncia delRey D. Joaó III. pelo Papa Paulo também III. a três de No-
vembro de 1534. & com o titulo de Bifpo de Angra ,6c de todas as Ilhas
Terceyrasj porque ainda que por ordem delRey D. Manoel em 1508*
foy à Ilha da Madeyra D. Joaõ Lobo Bifpo de anel , que nelle deo Or-
dens,& chriímou , & fe voltou a Portugal & no anno de 15 14. em 12*
de Junho, & por decreto do Papa Lcaó X. o mefmo Rcy Dom Manoel
nomeou primeyro Bifpo da Madeyra a D. Diogo Pinheyro , nunca efte
foy à dita Ilha , mas de Portugal a governou doze aimos atè o de 1 5 26.
per Provifor, & Vigário Geral , que lhe mandou. E ainda que a ElRey
D. Manoel fuccedendo feu filho Dom Joaó IIL nomeou com confenti-
mento do Papa a D. Martinho de Portugal , feu parente, por Arcebif-
po da Madeyra , & de todo o ultramarino defeuberto , também efte unU^
CO Arcebifpo da Madeyra nunca a ella foy & fó lhe mandou hii de anel,
,

chamado D, Ambroíio,quedentro dehuniailno íe voltou a Portugal


na entrada do de 1 5 40.
95 Logo no anno de íf5ô. o mefmo Rey D. Joaó llí. alcan-
çou do Papa , que por ferem as ultramarinas terras defciibertas , taõ dif-
tantes entre fí, fizeft^e nellas Bifpados entre fi diftin£tos , como na índia, O prítfièyrofeH fff*
Saó Thomè , &: fícafte a Madeyra fendo fó Bifpado com a do Porto San- frio St/po, na Ãfa-_
^
to, comojà o eraó a Terceyra com as mais Ilhas dos Aftbres , & que feu dejra tntroji ^foy Z),'
Metropolitano fofie o Arcebifpo de Lisboa j & tudo aííim concedeo , & Jorge de Lemts, i>òi'
creoude novo o Papa & fendo então feyto Bifpo da Madeyra hú Re- mir.ico, & voltando^
j

lhe fHcctdeo oUtrA


ligiofo Gráciano, D. Frey Gafpar 3 ainda efte á Madeyra nunca foyj & o
Dominico D.Fr. Fer^^
primeyro próprio Bifpo feu, que nella entrou, foy D.Frey Jorge de Le-
nando deJíi-vora,
mos, Dominico & em 15^9. fe voltou a Portugal , &: lhe fuccedeo D,
;

Frey Fernando de Távora, também Dominico, & que também krgou


o Bifpado, étie lhe feguio D. Hierony mo Barreto, Clérigo fecular , 3
quem

«MH «tt
Lino Vi. Oà Regia IlhaTercef ta;
queni fuccedco outro fecukr Clérigo tai3ibeni,D. Lais dcF'igueyrc»
ào de Lemos , que de Deaó da Sè de Angrafoy a Bifpo do Funchal di
Madeyra. .

94 Donde fe vè^que na Madeyra nunea entrou Arcebrípò dçl*


la, &que o único D, Martního de Portugal , que da Madeyra foy íêyto
Arcebifpo , nepi là foy , nem em tal Arcebifpado teve algum outro fuc-
ceíTor, nem à Madeyra foy jà mais áppellaçaó , ou recurío algum da In»
dia, ou de Saó Thomè, ou do Biípado das Ilhas dos Aflores j mas por-
que todas as Ilhas defcubertas eraó da Ordem dè Chrifto , por iíTo antes
que nellas houveíTc Bifpos próprios feus, mandava o Dom Prior de
Thomar, com ordem delRey alguns Bifpos de anelas ditas Ilhas i&
aífim no anno de 1487. foy ás Terceyras Dom Joaó Aranha Bifpo Ze-
phienfe^ &
deo ordês nellas > &
depois , jà quafi em 1 507. veyo às ditas
Terceyras D. Diogo Pinheyro , oqualfendoD. Prior, Vigário Gé» &
ralde Thomar , deo licença a D. Joaò Lobo Biípo de anel de Tangere,
para ir à Ilha Terceyra , &
nella fagrou a Matriz da Praya j no anno &
de 15 1 7. outro Bifpo de anel Dumenfe , D. Duarte , depois de ir à Ma-
deyra exercitar a Ordem Epifeopal , paíTou a fazer o meJTmo em as Ter-
ceyras , & fagrou em Saó Miguel a Parochial de Ribeyra Grande aí- :

lim , ainda que primeyro foy erecto o Bifpado da Madeyra , primeyro


comtudo entrou Bifpo próprio feu no Bifpado de Angra, do que na
&
Madeyra entraíTe algum feu próprio Bifpo > efla he a verdade , que da
Variedade , ou confufaò , com que em tal matéria fallaô Guedes , & Frii*
Trimeyro fe nomeeu â:uofo vários lugares , pude com paciência,
em diligencia colher, co- &
Bijpopara a Madey' mo
jà diífe no li-v. 3 ca^. 16. .

ra,do^uef»ra aTer-
95 Creado pois o Bifpado de Angra em 1 5 34. pelo Papa Pau*
ceyra , masfrimeyto
lo IIL no primeyro anno de feu Pontificado , logo no de 1 5 3 7. foy para
na Terceyra entrou
Bij}ie [eu proprio^do
a Terceyra o feu primeyro Bifpo Dom
Agoftinho, do qiialfe diz que
^ &
que tendo de antes vindo de Lisboa com
na Madeyra entrajjè era tam fanto, como pobre,
algíipicfriofeft. Antaó Vaz Vigário da Ilha das Flores , efte o puzera por Parocho,
hum
do Corvo, mas que depois de alguns annos
ou feuGura na junta Ilha
Trimeyro Bijpo dt tornando para Lisboa o dito Cura Agoftinho, fe fez Frade Loyo,&
^ngrafoy D y^gofii • porfua exemplar virtude chegou aferCapellaódelR,ey ,& nomeado
.

nho. Clérigo Santo,q


depois primeyro Bifpo de Angra , donde paíTados já mais annos , vol- ,
depoií Reformador da
"Unrverjidadede Co- tou efte mefmo
D. Agoftinho por Reformador da Univerfidade de Co-
imbra,& morrioBtj- imbra, & acabou fendo Bifpo de Lamego. Oh ditofo tempo , em que da
po de Lamego. virtude fe fazia mais cafo, que do fângue , & ainda que das letras & o ;

Segundo foj D, Ro- mais pobre Cura , por mais fanto , era eley to por Bifpo! & hoje (oh def-
drigo Pmheyro , <fue
graça !
) nem o mais virtuofo , &: mais letrado de hum inteyro Cabido,
(emir kt Ilhoi ptjfou
Bijpo do Porto
fè elege em Bifpo delle
fegundo Bifpo de Angra foy Dom Rodrigo Pinheyro,
it

'Ttrceyro D . 96
Fr. for O
ge de Santiago Do- Doutor em Theologia , de quem dizem , ter jà fido
Governador,ou Re-
,

winico t^uefoy aoCõ gedor da Cafa do Civel ; porém não foy às Ilhas & fó lhes mandou
y ,

filio Iridenúno & por feu Vigário Geral hum Doutor em Cânones, & hum Biípo de anel,
,

voltando fez. Synodo^


chamado D. Balthezarj & o proprietário D. Rodrigo foy promovido a
«^ imprimia Oí Conf-
timiçêes & efià en-
,
Bifpo do Porto. O
terceyro foy D. Frey Jorge de Santiago, da Ordem
terrado na Sc de An- de S.Domingos,Meftre
em Theologia,Varáo de grandes letras,& virtu-
dcjôc entrou no Bifpado em o anno de 1 5 5 1 .& foy por ElRey mandado
ao
Cap. XLDosIiluííresBirpôiÊ Sè Real das Ilhas Teíc." 2^;^
ao Concilio Tridentinojôc aífiftio nas primeyras feffoés dellci voltanda
celebrou Synodo em Angra pela fefta do Elpirito Santo, em 1559. Sc'
foy o único Concilio Diecefano queatè agora fe celebrou nefte Bifpa-
doj haja mais de cento &
cincoenta annos fez Conftituiçócs tam fan-
:

tas > & fabias como elle era & voltando a Portugal
, imprimir , Sc
as fez
com ellas voltou para allhaemi^ói.ôc faleceo em Angra a 2 6. de Óu^
tubro feguinte , & com tanta fama de Santo , quanta tinha já em vida,
poisvindo dalndia oPatriarchaD. Joaó Bermudes, ScpaíTandopor
Angra a Portugal , ncfte perguntava muytas vezes pelo Bifpo de An-
gra, & dizia que nâo fe havia chamar D. j orge , mas Saó Jorge eftá en-
:

terrado na Capclk mor da fua Sè com o letreyro feguinte ii/í-J^íff/ Do-


:
5

minm Georgius a Sanão Jacobo , Pajlor Jlngrenjís , míer ovesfuás ^rimm


fepultuSy&c.
97 OquartoBifpofoyDomManoelde Almada, Doutorem -

Cânones, Chantre da Sè de Lisboa , Confervador das Ordens ,& Juiz y'*ff^f-^^«'oi'^


Apoftolico , Deputado da Mefa da Confciencia, & Inquifidor , & Bif-
tflZtaflZcZ
po de Angra , mas renunciando o Bifpado , nunca foy ás Ilhas , & ficou pe/laõ mor da* Ra^
feyto Capelláo mòr da Rainha D. Catharina , mulher delRey D. Joaó inha.
IH.QiiintoBifpofoyem 1568. Dom Nuno Alvarez Pereyra, Doutor O quinto d. Nhm
Theologo , & Vifitador do Arccbifpado de Lisboa , fendo Arcebifpo o -^^^'^^'^ Pereyra, ^
Cardeal D. Henrique, & faleceo em Angra , dous annos depois , cm 20. ^*>gra^&
^^J""'^
de Agofto de 1 5 70. & jaz lepultado na mefma Sè de Angra.O fexto Bif- ^';?'''''« '^/«'* sè-

po toy D. Galpar de r aria , que fuccedco ao quinto em 1 5 70. & foy o Faria '

que em 1577. creouemSaó Miguel afegunda Freguezia deRibeyra OfeptmoD. Peiré


Secçaem Ribeyra Grande, como diííemos acima /íi;. ^.cap. 7. Senão àtCaftiiho^que voU
pudemos alcançar mais defte fexto Bifpo. O feptimo Bifpo foy D. Pe- ''*"'''' morrn Bijpa
dro de Caftilho', filho de Diogo de Caftilho , dos Cadilhos da Monta- j" ^'y''** ^ ^''Z:
nha de Bifcay a , & depois de Meftre em artes , & de começar a Theo- '"'^ ''* ^''^"'

-
logia ,fe paíTou aos Cânones , & feyto Licenciado per exame privado,
foy Deputado, 6c Vifitador do Bifpado: feyto Bifpo de Angra , foy
grande obfervador do Concilio Tridentino , & no de 15 82. eftando em
Saó Miguel, & efcandalizado dos motins dafoldadefca fe voltou para
Portugal ,& nelle foy feyto Bifpo de Leyria,& depois Prefidentedo
Paço. Nefta mudança , o Cabido de Angra vendo feu Bifpo aufente , ^ "J'^'^'^" ^- Manotl
&
que era contra o feu Rey natural , julgarão a Sè por vacante , elegerão t^ ^^'"'^ q»e }a^ ,

Provifor,& Vigário Geral, &


mais Mmiftros, & naó obedecerão mais a {y''^^'*^^,f /«" S':

98 O oytavo Bifpo foy D. Manoel de Gou vea


irmão , atè na moTeyxeyra ubral
,

fantidade, do Santo Padre Ignacio Martins da Companhia de JESUS, f^f voltou , moA ^
celebre pelas doutrinas em Lisboa , & por fucceíTos nellas milagrofos} ^'° ff^do Bijpo dt
foy Bifpo de grande charidade & jaz fepukado na Sè de Angra.
, O
no- í T"**
noBifpofoyD.HieronymoTeyxeyra Cabral , entrou no Bifpadoem ^^""^''^-^l^fti'-
1 599. &
depois voltou a Portugal , & morreo fendo Bifpo de Miranda.
y«^ Sè/eoft fJpttlta-
'
O decimo Bifpo foy D. Agoftinho Ribeyro , &
entrando no Bifpado do.
cm lói^.ogoveniouatè 12. de Julho de 1 621. em que faleceo, Scnafua Onfidesimo D.Fre)
Sèjazfepultado. O
undécimo Bifpo foy D. Pedro da Cofta,&: entrou Ptdro da Cofia , qne
noBifpadoa24.de Agofto de i623.&indoavifitar São Miguel, lâfa.'"*'''''" ""* ^'/^«,^!
leceojêc foy fepukado ua Matriz daCidade4ePonta Delgada. O
duo- ^-
^'^'*'-'

- : . Aa decimo

«MH mu
•>
^^S . j jj, i^ ílívf a trí . t>a-R^ía^lliâ. Tercey r a>i « i
i ^=.
.

o inoãicmeT) .foao décimo Bifpo foy D- Joaó Piraentade Abreu ,.que entrando no BiTpá*'
j>twetitA de ÁrtH-., dJDçm 19, de Abril de 1626. indo. cambem vilitar Saó Miguel , \i fak^
é" tambtm morreo eeOj & tambcm jaz fepultado na fua Matriz. O decimo terceyroBifpo
Frey António da ReíarreyçaájReligiofa Dominieo ^ & entran-
víjítando s. Miguel, foy -D.

^^ no^^^P^doem i635.foy vifitar Saõ Miguêlem 1637.& a /.de Abril


^f^AmZlT/Re
(urreyçaõ 'Domini
^^^^^^ là & porque íogo em 1640. fuceedeo a^feliz acclamação do §e-j
:

eo fiilecèo vtfttm- ^^^^ '^^Y PJoaõ O IV^paráraò os provimentos dos Bifpados por muy*
,

<ío5áõ j^3fi,í/»tosànnos. '^q >> '':^'^?-!íi^:jil 0:0^ /iin ..;-^-; .

Abril àt 1 6"^-]. '99 O


decimo quarto Bifpo foy D. Frey Lourenço de Gaftroj
nomeadopelo Senhor Rey D. JoaôolV. & em Novembro de 1671,,
Oàecimo amrtoJD entrounofeu Bifpadoj&depois de viver nelledez annos- voltou pro-»
Fr. Lourenço de Ca. iftovido ao Bifpado dç Miranda, ôcnelleviveo pouco mais dehúm an-
flro Dommico em no, & foy enterrado na fua fegunda Sè. Era Religiofo Dominico , fídal*
j 67 1 merreo Bijpo go de fangue, & de letras , & -virtudes grandes , & como tal foy muy to
.

mMtrAtida. eftimadoda nobreza de Angra, & morreo com opinião de Prelado fani
to. O decimoquinto foy D.Frey Joaó dos Prazeres, Religiofo Fran*

O decimo cptinto D. ciícano, da Província de Xabregas ,varaó de grande candura , & fanta^.
Fr. foaõ dos Pror^e- mente morreo no Real Collegio da Companhia de JESUS de Angra,
xesjrmçtfcmo^ejik O
& eftá fepultado na fua Sè. decimo fexto Bifpo foy D. Frey Clemen.
O decimo ZirDcm ^^' B^eligiofo de SantocAg-oftinho dos Eremitas^ doutiíTimo Theolo-
FrnClemml GrZ ^' ^ Lente da Univerfidadede Coimbra morreo na viíita de Saó Mi- j

cmnoyfaheeovijttã' gwcl j & làjaz fepLiltadò no- Conventóde-NoíTa Senhora da Graça. O


do S. Miguel. decimo feptimo foy D. António Vieyra Leytaõ , que de Prior de San-
Ç decimo feptimo D. to EfteVaó de Alfama em Lisboa foy promovido ao dito Bifpado , &!
jímomo Vieyra Lej- nelle tev6 defgoftos com a Nobreza de Aiigra,-& com o feu Convento
^^ ^^° Gonçalo j & em fim riiorrco vifitando a IlhadeSaÓ Jorge, & nel-
TnCdeTMiZd
^ la eftá fepultado , na Igreja Matrizdã Vitlà das Velas. É quanto ao nu-
' '•^*' *
'

mero dos' vizinhos de Angra bafte por hora dizer que (não faltando em
A Cidade d* An^ra Religiofos, & Religiofas } paífa de três mil vizinhosj & que naõ fó nas '

p^fa muyte de três


j^^^jg ^^^^ ^^^^^ Oceano , fuffevtas â Portugal , mas ainda no tal Rey no

todo (excepta a mnumeravel Lisboa j nao na mais que duas Cidades,


que em numero de vizinhos excedaó a efta de Angra as quaes faõ Evo? ,

ra, & Portoi como melhor fe verá nos Capitulps que fe feguiri6 ^&íió
"
^ quâtorzefine. . :

'

'

100 A SèCathedral dos fobreditos Bifpos foy edificada por


"
: ElRey D. Joaó o III. pouco depois doaniíq de 1 5 34. eftá fituada bem
no meyo do comprimento da Cidade de Angra & mais para o Suljqiia
,

para o Norte da largura da Cidade com grande , & livre adro. à roda,
,

cercado de parapey to alto de cantaria , 8r nobres ruas por todos os qua-*


tro lados, fem caía alguma que pegue com a dita Sè, mas com boas três
entradas, & fahidas para as ditas ruas & a principal entrada hc que vay
-,

da grande rua chamada da Sè, correndo igualmente coma rua de Naf-


. .
cente a Poente , & retirando-fe para o Sul com muy to larga fubida j &
de famofos degràos de cantaria, atè dar no grande adro playno , 8í todo
decantaria lageado ; feu frontefpicio he nobre com duas altas torres
parai lei as, & varanda fobrc omeyo da portada; corre de Norte a Sul
" '
com primeyras luzes por toda a parte ,*&: com trcs naves, & coro capi-
tular em cima na entrada , & em bayxoi patté do Euangelho a pia bap-
4 ..-. tifmal
Cap.Xí .Das FregueziaSjMiferíc. áEfttiídasdá Cidad. ip'^

tifmál com boa, & fechada cafa j adiante feguem-fe duas grandes portas
correfpondentes a N
afeente , &
Poente , &: logo quatro Capellas de ca:- D^ Rtal S^ d< ^a^
&
á& parte , duas menos fundas , duas tão grandes , que podiaó íer C3L<rgra^
pelJas mores , entre as quaes na nave do meyo eftá o capitular coro de
báyxo j Sc logo fe fegue a Capella mòr , redonda em columnas particu-
lares, com via circular à roda j èc da parte do Euangelho lhe fica corref-
N
pondendo á nave do afeente a Capella nohiliílima do Santiíiimo, co-
mo Capella mòr daquella nave , & da parte do Poente lhe correfpon-
de outra femelhante Capella de Chrifto crucificado por detr^z da do ;

Santiíiimo fe fegue a Sacriftia com feu alto , 6c particular altar por cima,
& da outra parte a cafa da Mufica, &
efcola com outra em cima i por &
detraz do circulo da Capella mòr vay jardim com fonte dentro j as &
cafas do Cabido , &
de entrada dos Cónegos para o primeyro Coro ai-,
to ficaó d-e cada parte delle com fahida para a varanda da entrada prin-
cipal.
lon Serve-feefta Real Sè com cinco Dignidades, DeaójArce-;
diago. Chantre, Meftre-efcola, Sc Thefoureyro mòr , mais doze Cóne-
gos , &
quatro meyos- prebendados , &
vários Capelláes de fò fobrepc-
liz , & muy tos moços do coro j tem mais três Curas , & hum Meftre da
Capella, hum Organifta , hum Arpifta Sc competentes muficos hum Dm Dignidades, Ctíi
, ,

Sacriftaõ , hum Altareyro , hum porteyro da maíTa, hum fineyro, & Re- negss, Capitulares,
mais Mmfim dá,
lojoeyro , &: outros ferventes da Igreja, além dos officiaes do Bifpo,Pro-
vifor, Vigário Geral , Meyrinho , Efcrivâes , &c. Sé he Templo tam '*'^'* ^^'-^ A
grande , que raramente fe vè toda chea , com ter Pregadores obrigados
porElReyjdas Ordens dos Francifcanos , Gracianos^mas vio-fc &
chea toda , quando pregou nella o Venerável Padre António Vieyra
da Companhia de JESUS, em a fefta do Roíàrio,ha feíTenta annos.
Suas torres faó tam altas , que fugindo acima de huma delias hum me-
nino do coro , a quem o Meftre queria caftigar , & arremeçando-fe fora
da mais alta fineyra , o apanhou o vento pela opa vermelha,& o foy pòr
fobreo telhado do Convento das Freyras da Efperança,diftanciade
moy to mais de três largas ruas fera receber damno algum & foy de-
, ,

pois hum bom Ecclefiaftico. Eftaôeftas torres bem providas de nobres,


& grandes linos em que ha diftinção em o tocar aos defuntos fidalgos,
,

ou da governança, &: aos lómente nobres,&- aos plebeos.


I02 A fegunda Freguezia ( fe aíTim podemos chamarlhe } he
a do Ciiftello grande que pelo grande relógio da Sè he que íe
, -
governa, •
ir
D^oatroicmccFrc^
dando là as horas com a mão huma fintinella no feu fino do Caftello , &:
gftez.ias da mefmit
no mais lá fegovernaó,& provém, pelo feu Capellaó mòr, no Eccle- ^^.^^^^ hnmã daí ^

jfiaftíco. A terceyra Freguezia da Cidade he a nobre Collegiada da ^^^„ ^^ ^ ]S[ohre

Concey çaó dos Clérigos que no tamanho & ferviço da Igreja pudera co/legiada da cvw-
, ,

fer huma Sè tem íeu rico Vigário dous Curas , oyto Beneficiados, Sa-cí/po dos Clsrigos.^
^ ,

rrífí aó, Thefoureyro, &:c. muyto grande numero de freguezes, Sc muy-

tos delíes fidalgos, Sc morgados muyto ricos. A quarta Freguezia poí


aquelbpnrte,deLefte para Nordeííe ,he a de Saô Bento, que também
chamáo Vai de Linhares , que tem Vigário Cura & Thefoureyro. A , ,

quinta he a de Snnta Luzia que também eftá no fim da largura da Ci-


,

díde correndo em hum alto do Sul para o Norte , &: também tem Vi-
5

. Aa ij gario3

lifl

mm má ^ÊÊá
ito Livro Vi. Dâ Regia Ilha Terceyra.^
& Thefoureyro j & hum feii Vigário , AmiDrofio de Soufa
gario. Cura,
Fagundes, Theologo &í bom Pregador , dahi foy para Cónego da Sè.
A lexta Freguezia he a de Saó Pedro , que íica no fim do grande com-
primenco da Cidade , correfpondendo à mais diftante de Saó Bento , ôc
tem Vigário, Cura, Theíoureyro, & dous Beneficiados, & comfer
grande Freguezia , & nella algumas cafas nobres , o mais faõ mareantes,
òc fc eítende a muytas parceS tora da Cidade , & da fua porta , que cha-
máo de S. Catharma.
103 Tem mais a dita Cidade > ao entj^ar do porto, pela famola
2)>» ií///fwír<<í<í,^ rua direyta , & á mão direyta também, a Real Mifericordia com feu
Nojpitaí , Reats , & Hofpital annexo , & tudo frimo fundado por ElRey , & augmentado
rtees. depois por varias pefíbas ; he Igreja que corre com a rua ,lem fe afaftar
da direy tura da caiaria, & por iífo muyto larga, de três naves, & três co-
m© altares mores , & outros varios à roda , & menos funda , do que pe-
dia a largura , por lhe correr por detraz a rua de Santo Efpiritoj mas
ainda aflim tem todas as eafas , & repartições quecoftuma ter huma no-
bre Mifêricordia} & logo na rua de Santo Efpi rito tem feu Real Hof-
. pitai, & com mais largueza para traz a Miferieordia chega a cincoenta
:

moyos de renda cada anno , & cincoenta mil reis em dinheyro o Hof- :

. pitai paífa muyto de feííenta moyos de renda , 6c de foros cento & cin-
coenta mil réis , além de lhe dar ElRey o dizimo dos frangos j & affim
Miferieordia , como Hofpital , teraó a renda que a confciencia de quem
.

. ©s governa lhes der , porque já cm tempo de Fruduofo tinhão eftas ca-


fasmuyta mais renda de trigo , & dinheyro , & fó hum Religiofo de S.
Agoftinho Frèy António Varejão ,de adquiridas eírnolas lhes doou
)

dez moyos de trigo de renda cada anno ; & tem a Miferieordia tantos
Capelláes cora feus ordenados , quecelebraó cada dia os OfBcios Divi-
nos em feu coro juntos.
I>af muytof Ermi- ^^4 Ha mais em Angra tantas Ermidas, êc de tanta devoção,
daí & muytM mau
,
^uc todos OS diàs em três delias fe canta o Terço da Senhora , na da Boa
Confrariof^ & orna- Nova, na dos Remédios , & na da Saúde em a praça que de antes fe cha-
to delloí. mava de Saó Cofme , & Saó Damiaó j & aqui inftituhio efte Terço , &:
Confraria dos Efcravos da Senhora , hum Mercador chamado Agofti-
nho de Oliveyra, homem de vida igualmente devota , & exemplar 6c -,

outras Ermidas faó a de Saó Lazaro com feu Hofpital, a do Corpo San-
to dos Mareantes , a de Saó Joaó Baptifta dos Cavallcyros a de Sanca
,

Catharina , a de Saó Joaó de Deos , a de Noíía Senhora do Deílerro , &


a da Natividade , que he dos pretos que fervem a Cidade & por Bul-
,

ia Apoftolica heimmediataa Roma & afiim neftas Ermidas, como nas


:

Fregueziás,& Mofteyrosha mais de cincoenta Confrarias com muy-


tas MiíTas cada femana, cada huma com fua Fefta cada anno, & quaíl
todas muyto bera ornadas , & tudo fe fuftentade efmolas da Cidads.

CAP.

p^
Cap. XIÍ. Da Religião Franciícána dás Ilhas.' it

C AP T U LO
I XII.

DoEftadõRelígiofoquehaem Angra,

105 COufa parece fem duvida que os primcyros Religiofos


que entrarão nas Ilhas Terceyras , foraó os do Seráfico
Padre Saó Franeifco, porque jà quando a Saó Miguel veyo aquelle Re«
ligiofo Dominico Frey AíFonfo de Toledo , em o anno de 1 5 2 2 como^^
.

diflemos acima liv. f cap. 9. já entaõ havia em Villa Franca de Saõ Mi- 0, prlnufros Reli:
.

guel o Convento de Francifcanos , que com a dita Villa fe fobverteoiôc giofis que entrkraS
,

Ilhas, eraõFran'^
já na Villa da Praya da Ilha Terceyra havia outro Convento de Fran- nas
cifcanos,&: mais antigo que o de Villa Franca, pois muyto antes do
"/''^*J'^^**/"'*'^''^
dito anno de 1 5 2 2. havia na Praya o tal Convento , & jà também outro
^
j. '/í,J'^Çír<r*y4
emaIlhadoFayal, & o principal em Angra, conforme a Fruâ:uofo^^'J";J,^j;c'tf»'»í»íH
Uv. 6. cap. 1 5 onde confeífa não faber quem fofle o Fundador do Con- ats, a quem fuceedi^^
.

vento de Angra,fabendo, & nomeando os Fundadores do Convento ra«»Ol>fervtfliii:i


da Praya, & do Fayal donde fe vè que o de Angra era mais antigo i
j &
como da Religião de Saó Domingos nem ha , nem houvejà mais Con-
vento algum nas ditas Ilhas , mas fó aquelle Pregador Frey AíFonfo de
Toledo, &: depois fó houve Collegios da Companhia de JESUS, &
depois ainda Conventos da Graça,ôc no Fayal hum de Carmelitas Cal-
çadosj fegue-fe que de Religiofos osprimeyros que entrarão neftas
Ilhas, foraó os Francifcancsi & parece que os primeyros dous Conven-
tos fe fundarão na Ilha fercey ra mas fe primeyro o da Praya , ou o de
j

Angra, diíTo não confta ainda, mas parece fer o de Angra.


1 06 Mayor duvida he , de que regra de Saõ Franeifco eraó cf-
tes primeyros Francifcanos , que foraó ás Terceyras. Do que pude def-
cubrir julgo que naó dos chamados Obfervantes , mas dos que chamao
Conventuaes , eraó}& aílim parece fe colhe do citado Fru6tuofo f^?^.
1 5. aonde diz que antes da fubverfaó de Villa Franca não havia em Sa6

Miguel outro Convento mais que o que fe fubverteo & que na Ter-
}

ceyra havia já o de Angra, & o da Villa da Praya, & que defte fora Fun-
dador hum Frey Simaó de Novays , irmaó de Pedro de Novays , & de
Fernando de Qiiental, & que do dito Convento fora Guardião , & nelle
morrera fantamentej & que Frey Vafco de Tavira fundou depois o
Convento de Ponta Delgada no anno de i^ 25. mas que também antes
de fe fubverter Villa Franca , fundou o Convento do Fayal Fr. Pedro
de Atouguia & accrefcenta que o primeyro CommiíTario de Saó Fran-
:

eifco, que veyo às Ilhas, foy Frey Lopo Teyxeyra fegundo, Frey Ro*
;

que Bocarro-, tercey ro, Frey Pedro Galego i quarto, Frey António Sar- "'"'!':
na nde quinto Fr. Nicolao Barradas.
; , J)e todos is ConvenZ
107 Depois deftcs Commiírarios,&já noanno de i^^j.detos das ilhas dos Af-
Portugal veyo ofeu mefmo Provincial o Meftre Frey Simaó de Sonkfi^^^ fi /<"''"<"* ^^C-
em\'^\-j\&-
à Ilha Terceyra,& em Angra celebrou Capitulo de todos os Frades que
^J^^'*
já havia nss Ilhas , & fahio Guardião de Angra Frey Gafpar da Eftrella, ^^''anng/atfT^&í'
Sc Guardião de Villa Franca Frey André de Coimbraj & de Ponta Del-^^^ come^ott aferdé
Aa iij gada
ISI Livro VI. DaJR.çal Ilha Tcrccyra.

, ,
gada Frey Diogo de Coimbra, &FrcyJoaó de Sande do da Prava, 5c
:'!T'/^T 7 fic^raó todas as Ilhas Terceyras conftituidas Guftodia Francifcana, ôc
*^ ^o^toii O dito rroviiicial para Portugal ao primeyro Capitulo que fe
Ciffiodia porem, eiue
tem fempre agente í^z cm a Cidade do Porto no annode 1550. & deile fahio por Cufto-
em Lisboa , & já Isa dio para as Ilhas Frey Francifco dé Moraes , a quem fuccedeo Fr. An-
ferto de 8o. annos tonio de Alarcaõ, grande Prégadoir,& a efte Frey Thomè de Eftremozj
çiH^eftaCufiodtAàM acè que noanno de
1568. vieraõ os Franciícanos Obíervantes para as
^^^^^ Hhas , & eítando fódous annos nellasforaó mandados outra vez
fenaProvineia'íeía.
rada. P^^* Portugal, & tornarão a ficar os Con ventuaes nas Ilhas &
> lhes vc-
yoporfeu Commiflario ,& Guardião de Angra, Frey Lourenço de Pi-»
na: porém pouco depois vindo o Reverendiííimo Geral Francifcanoa
Lisboa , o qual era Frey Francifco Gonzaga , irmão do Duque de Man-
tua,& ajuntando-fe O
bfer vantes , &
Conventuaes , todos por ordem
delRey renderão obediência ao Geral da Obfervancia, o íobredito Gon-
zaga, &
em Capitulo feyto era Xabregas de Lisboa , fe deraõ os Con-
ventos todos das Terceyras áProvincia dos Algarves, cuja cabeça he
Xabregas de Lisboa j & a Madeyra á Província que chamaó de Portu-
gal vCujacabeçatambera em Lisboa he o Convento chamado da Cida-
de, & ficáraõos Conventos das Terceyras fendo em tudo Obfervantes,
como o faó atégora.
108 Porém tanto fe multiplicarão nas ditas Terceyras os Cô-
vcntos Francifcanos, que já ha muytos annos fubiraõ a fer Pro vincia Ic-
parada , &
tam grande Provincia , que creyo paíTa de trezentos fugey-
tos, & doze Conventos &
tem cm Lisboa fempre Cuílodio para os ne-
,,

gócios da Provincia j &


a Madeyra ficou feparadaraente governada pe-
la Provincia chamada de Portugal & como da tal Provjncia das Ilhas
-,

Terceyras naó tem ainda fahido Chronica, tendo também muytos Con-
ventos de Freyras j & naó fó tem falecido muytas Religiofas , mas tam-
bém muytos Religiofos defingulares virtudes, & exemplos & , ainda,
Miffionarios exemplariflimos não fó para as Conquiftas de Portugal,
,

mas ainda para Jerufalem , creyo que cedo algum dos doutiílimos Me-
ftres da tal Provincia fahirá com fua hiftoria, & fupprirá osdefeytos
que nefta achar , & com os melhores apontamentos , que lá de tudo h^
verá ; que nós nos reduzimos outra vez a Angra.
109 Oyto pois íaõ os Conventos do Eftado Religiofo que ha
Dogratide Convento na Ciàâàe de Angra; quatro de Religiofos, êc de Religiofas outros
de Nojja Senhora da quatro. O
primcyro de Religiofos he ode São Francifco , intitulado
Guta em Angra, ca
^íoíTa Senhora da Guia , & he Convento em tudo magnifico, porque
tja e to a a Pro-
paff^ de feíTenta Religiofos ; tem hnma f^rande ,& frudifera cerca com
copioia agua dentro , amplo edincio de grandes corredores, rsovicia-
dodcntro,& bem provida Enfermaria, &" hum magnifico, &fump-
tuofo Templo, com nobre, & grande Capeiía da Ordem Terceyra dos
feculares , com grave Religiofo CommilTario, &c feculares Miniftros, &
outros Officiaes,& outras muytas Capei las, & corocontinuo, até pela
meya noyte , com excellente mufica , & hum largo terreyro da Igreja
quafi redondo, & pouco acima da praça da Cidade, com bella viftada
melhor parte delia j & no mefmo Convento tem muy to doutos Lentes
para os feui Religiofos , de Filofofia , & Theologia altcrAadamente eni
triennios.

*
^'ÈÊ.
~\

Cap. XII. DaReiigiao da Companhia de JESUS, ilj


^ienniõs, muytos,& bós Prègadores,& fempre Religiofos de vida muy-^
to obfervante, & exemplar.
»! ,: iio Emfirn he Convento a cabeça de toda a Província
efte
das Ilhas ,& nelle refide mais , & cem feu Definitorio o Provincial. D©
tudo illo não fey q houvefie outro elpecial Fundador fenãoos mefmos
Religiofos, & a devoção dos Cidadãos de Angra j mas íegiindo Funda»
dorjou Reformador de tudo foy o Meftre Fr. Fernando da Conceyçaõ^
que comniumehte chamavaó ir. Fernando Laranjo; efte foy Guardiáq
de Angra, muyto douto Lente , & Pregador , Prelado defta Provinda
muytas vezesjôc o Padre mais digno nellaiclte por vários meyos ajútou
( com zelofa nota de algús _) tantos mil cruzados, que não fó fez, & re*
tormou todas as fobreditas obras, mas reformou também o Convento de
Ponta Delgada, & alguns outros Conventos da Provincia, & com tu-
do era era íua peíToa em feu veftir , habitar , & comer tam exemplar-
,

mente pobre , que delle pôde dizerfe , que quam largo era para o bem
çõmum da Religião , tam apertado era para comrigo,&: por efta grande
virtude , depois de grande velhice , lhe deo D&os huma morte defape-
gadadetudoodeftemundo, com renuncia de tudo,em fua Religião,
com naõ menos exemplo de Catholico, que de douto , Sc com grandes
finaes de fua eterna predcftinaçaõ.
111 O
fegundo Convento de Religiofos foy em Angra o Real
Gollegio da Companhia de JESUS > a efte , & ao da Ilha da Madeyra, ^ %««^'« Religiaâ
no mefmo dia , & anno de 1 5 69. em o mez de Março mandou fundar de f*' ^"^^'"* "'^ .^^^f
fua Real fazenda o Senhor Rey Dom Sebaftiâo , fendo então Provin-
%*svrcZo'ltfâl
ciai da Companhia o Padre Leaó Henriques $ mas com a pefte que en-
ColUfio de Atiíra.
tio havia em Lisboa , não partirão os Padres fenâo em Março do anno
íêguinte de 1 5 70. onze para o Funchal da Madeyra , Sc outros onze pa*
ra Angra da Ilha Tercey ia , Sc os que hiaõ para efta , embarcarão em fe«
te nàos de guerra com o General Dom Francifco Mafcarenhas , que hia
efperar as nàos da índia, & como eftas jà vinhão da Tercey ra com com-
boy de caravelas , arribarão os Padres na Armada, Sc tornarão a partir
nas caravelas a dous de Mayo , & no ultimo chegarão àTerceyra ,&
defembarcàraó em oprimeyro de Junho, indo por primcyro Reytor
do Collegio o Padre Luis de Vafconcellos , não menos fanto , & íãbio,
que illuftre, (por fer neto do Conde de Penela) & que também hia por
Meftre dos cafos , tendo já ido a Roma duas vezes por Procurador da
Provincia de Portugâl,6c com elle hião os Padres Pedro Gomes,ôc Bal-
thefar Barreyra por Pregadores , & também dous Meftres para lerem
Primeyra, & Segunda, Pedro í^reyrCjSc Sebaftiâo AlvareZi& féis Reli-
giofos mais para eftudarem, & fervirem ao Collegio.
112 Antes de os Padres defembarcaremíahio o BifpoD.Nu*
nO Alvarez Pereyra ,& muytos Ecclefiafticos a efperallos ;& o Senado
da Camera com o Capitão mòr Joaõ da Silva do Canto , mettendo-fe
&
em duas barcas alcatifadas, ornadas forão a bordo bufcar os Padres,8c
trazendo-os ao Bifpo que os efperava , elle os abraçou dizendo: Agora
rae vem todo o meu defcanfo Sc todos aflim levarão os Padres ,
: & 0$
hofpedárão logo na Mifericordia, Sc o magnifico fidalgo Joaõ da Silva
do Canto tomou logo fobre fi darlhes tudo o neceflario , & fuftentallosi
cm
Livro VI .Da Regia Ilha Terceyra.'

tm quanto não cfcolhiaõ habitação i 8c pofque o dito fidalgo tinha jà


feyta huma Igreja , & religiofa habitação , para nella metter meninos
órfaós, como os tem Lisboa, pedio múy to aos Padres acey taíTem aquel-
Ic edifício, & ornato delle & liberalmente logo
, lhes fez doação de tu*
do, &de muyta outra madeyra quepara mais obra tinha junta j fe re* &
colherão os Padres ao dito primeyro feu CoUegio , de que podia cha»
Fundador o dito fidalgo João da Silva do Canto , que có tal libe-
Hiárfe
ralidade lho deo feytOjôc o pofto era no fítio da Cidade aonde chamão a
Racha, fobre a bahia do porto, & mais febre o Portinho Novo, com
dilatada vifta para o mar , & adiante da rua dos Cavallos para o Sul , Sc
não longe do Paço Epifcopal , & fua Sè j mas dahi a annos fe mudarão
pára onde hoje eftaõ.
iij/i <í=Deíle primeyro CoUegio, que pelo Orago da jà feyta
^omf*» ^ -W#<> Igreja fe intitulava NoíTa Senhora das Neves, começarão logo afahií
do CeHegioài Angra é)s Padres, & á frutificar nas almas efpiritualmente como do Ceo vem
,

ás neves , &: fertilizão as terras Sc muyto mais com a occafiáo de huns


^tlá llha^ ,

tremores de terra , &: com fuás pregações movèraò tanto a Cidade , & a
tanta penitencia, ConfiíToés, & Communhôes, que todos fe perfuadiâo
que fe então morreíTem , fe falvavâo todos paíTados os terremotos ta-
: ,

hio logo o Bifpo D. Nuno a vifitar , levando por companheyro ao Pa-


dre PedroGomes , que tal fruto fez , que era a Villa da Praya , Sc em
humMofteyro deFreyras da obediência do Bifpo, ouvidas do Padre
todas fuás praticas, lhe trouxerão á grade quantas peças tinhâo efcufa-
das, & ainda fó curiofas & as de prata fe converterão em cálices ,
-,
pe- &
ças da igreja > o mais fe entregou à Abbadeça para o commum ufo da
&
Enfermaria, Communidade , & não para próprio de alguma Frey ra:
&
&:logoemSeptembrodo mefmoanno de i57o.adoeceo, ôcfaleceo o
Bifpo, que porfuas virtudes fe crè eftar na gloria , & íe vio cumprida a
fua profecia, quando aos Padres que defembarcàrão diíTe Agora me :

vem todo o meu defcanfo j pois logo fe foy para o Ceo.


1 4 Então o primeyro Reytor o Padre Lu is de Vafconcelloj
mandou ao Padre Pedro Gomes em mififaó à Ilha de Saó Miguel & foy ,

ò primeyro da Companhia que nella entrou , & andou nella atè Agoílo
^^ 1 7 1 em que voltou para Angra & no anno de 72 forâo de Portu-
'7)M Mifees manda- -, .
.

d^ pela ^"^'";/gal 5
para Angra o Padre André Gonçalves por Meftre dos cafos, &o
jingraAi*.
g Meftre Joaó Garcia para ler a Segunda, 8c o Irmão Balthefar de Almey-
"

da para fervir no CoUegio , voltando outros para Portugal donde lo- -,

go no anno de 1573. veyo o Meftre Simão Martins a ler a Primeyra}


em 1 5 74. para 75 vierão o Padre Luis Pedro Pmhâo para Miniftro de
.

Angra, 8c outro Meftre para aPrimeyra, 8c o Irmão Francifco Dias,


Meftre de obras, para dirigir as doCollegio; èz no anno de 1576. en-
Dt, grande P. Pedro trou em a Terceyra por
fegundo Reytor do CoUegio o Padre Eftevão
Comes, primtyro Vi- Dias, grande Pregador, 8c bom Theologo. Noanno de 1577. fabendo
/tudor daCoryipmhia ^ Ciàã^Q ^Q An^rac\nQ mandavão voltar para Portugal ao Padre Pe-
"'— Confefor
- - llhof
ttat
^iroGomes , efcreveo O Senado da Camera, pedindo ao Provincial que
'"^'^'"
daRealS.D.Catha
lho não tiraíTc, 8c no feguinte anno lhe veyo patente de Viílcador , Sc
*

rina , & MtJJi


Santo de fapM foy o primeyro Vifitador da Companhia que houve nas Terceyras j 8c
te noOriente, ucabada a Vifita , querendo o Padre com capa de vir dar conta da Vifi-
ta
Cap. XIL Do Real Collegio,Sc Eftudos de Angra. i8|
ta a Portugal , a Caínera o impedio » atè com pregão publico , & gran^
iV.a Su"*V
des penas a qualquer barqueyro que o kvafle a embarcar , ou coufa fuai
& porque alguns da Cidade , a rogos do Padre , diziáo que o deyxal"-
V
fem embarcar , contra eftes chegarão a metter mãos às efpadas j & fó o
mefmo, pofto de joelhos, & fegurando^os que íe voltava para o Gollé« '*^tK%«>V
gio, como fez, apazigou a civil contenda. . . ^u^í.-

115 Mas porque então eftava em o porto de Angra a Armada


Realjde que era General D.Jorge de Menezes, o Padre Pedro Gomes,
depois de muy ta oraçaó , fantamente perfuadio a huns barqueyros fof-
fem a hum portinho de huma vinha dos Padres , hum quarto de legoa
fora da Cidade , para de lá mandar bum refrefcp ao General , & ir a vi*

litalloj& affim fem mais que o feu Breviário fe foy da Qiiinta à Armada,
& lá ficou , clamando os barqueyros , de fe verem fem niào dolo enga-
nados ,& fugeytos às penas do Senado } porém efte, por jà não poder
mais , &
por petição do Padre , perdoou aos innodentes barqueyros , &
&
ao Padre mandarão matalotagem nobre, para o Padre Provincial car-
tas, em que lhe tornavaó a pedir o mefmo Padre. Chegado o Padre a.
Lisboa, o pedio logo para feu Confeífor aSereniíIimaSenhoraD. Ca-
tharina Duqueza de Bragança} ôc pouco depois o Padre partio por -
Miílionario para o Japão, por o ter muyto pedidoj & porque nunca lhe ' ^
pedirão couíá por amor da Virgem Senhora que não concedeífe , & hú
aReligiofo da Companhia lhe pedio o feu cilicio, & difciphnas,eftas
lhe deo com grande repugnância , por eftarem todas vermelhas de feu
fangue, & o cilicio , por fer de cruel ferroj mas ficando-fe com outros fe-
meihantes inftrumentos , de que tinha muytos j & finalmente morreo
cfte Santo Padre em a índia , & com muy tas revelações do Ceo , & no-
táveis profecias fobre os facceííos futuros da Coroa de Portugal.
116 Logo em o anno de 1580. emSeptembro veyodaTer.^^,^^^^^5^^^^3.
ceyra em outra Miflao a São Miguel o Padre r rancílco de Araújo > & ^^,4 ^ 5. Mknth
por companheyro o Irmão Domingos de Góes , & vierão ambos com o
Bifpo D. Pedro de Caftilho , que vinha a vifitar , 6r todos fe detiverão \

cm Sáo Miguel dousannos &i pelo mefmo tempo chegou huma cara-
i

vela a São Miguel com hum António da Cofta, que em São Miguel ac-
clamou logo ao Senhor D. António por Rey de Portugal j & ao tercey-
ro dia elle ^ & cinco Irmãos da Companhia , que com ellc vinhaõ, fe paf-
fáraó logo à Tercey ra ; & defta o Padre Reytor Eílevão Dias remetteo
Jogo em Dezembro de 1580. a Lisboa o Irmão Balthefar Gonçalves
com negócios de importância &
tornando o dito Irmaó à Terceyra, de
•,

là voltou mandado para São Miguel, &dahi a anno &meyo partirão


*

para Lisboa o Padre Francifco de Araújo com os dous Irmãos , & o Bif-
po D. Pedro de Caftilho. E muyto depois em 1 5 89. paíTáraó por S.M i-
guel para a Terceyra o Padre Francifco Fernandes , & com elle hú Me-
ílre do mefmo nome para ler a Primeyraj em 1590. veyo o Padre Pedto
de Almeyda para Reytor de Angra, (^ tendo já fido Reytor da Madey-
ra) 8c então faleceo em Angra ,34. de Julho de 1590. o Padre Luís de
Vafconcellos Com grande fama de rara fantidade , & prudência grande
degoverno.
117 Defta forte foy continuando o Colíegio da Com jw^nhia
' ^-
^ .. eni
'i%6 LÍT^iíôVl.DaRegiallhaTerceyfa.

/ j - ^^ Angra , & no primeyro fitio chamado da Rocha(como áiz , até qiie

fco^MoL^An^Ta^^^^^^^ ° Collegio para fitio maiscommodo àCi-


fez do primeyro fito
dade, aos &
eftudos delia, que he pouco acima da praça , no fim da rua
chamado, da Rocha direyta àmaó eíquerda , ficando à mão direyta , 6c amda Imm pouco
parao/egUdo entreamsXs acima , O Paço do Marquez Donatário, & abayxo do jardim do
Fraca , &
o Paço do Marquèz fica huma cerca do Collegio , a qual
chamão o Sitio , com hú
^' ^*^'^'
l^mrTo
ngo,
^^^ ^°^° ^^y^^' ^ ®'^^^° *^^° '
^°°^^ ^^ ^^ ° melhor da Cidade , & nef-
ç ^^ ^^^^ corta huma ribcyra de agua doce, com que naõ fó tem horta,mas
inuy tas, & grandes arvores , & atè Bananeyras do Brafil defte fitio da :

maò direyta fe pafla por boa abobada, & por bayxo da rua publica, a ou-
tra cerca mais pequena , que fica da parte efqucrda, com fonte de aguai
dcntro,&de beber, & com boas hortas ,& latadas , tudo contíguo ao
Collegio, detraz delle; -í,,{:: , ,.o..
ii8 A
Igreja defte fe feguelogo com o alto fronteípicio cor-
rente da parte do Sul para o Norte , com largura, &
comprimento pro-
porcionado , fermofo, & grande Coro
ao principio , & adiante delle fc
,

feguem três nobres Capellas, depois amplo cruzeyro, com não fó gran-
'DaKtd Igreja nova des grades i entrada, mas adiante as pequenas da Communhão , & na
do novo {^çllegto de
frente mais três altares , dous das ilhargas riquifíimos , & ainda de mais
^"^^-'-
ricas Relíquias , &
a nobre Capella mòr , como cabeça grande , &" díg-^
na de tam régio corpo , & tudo
ricamente dourado por cima das Ca- :

, fera cftas ficarem bayxas , vão taes tribunas , que cada huma he
pellas
huma linda fala , donde os mais nobres vão ouvir as pregações , fe ou- &
vem bem, & para ellas fe entra com boas entradas do Coro por cada par-
te, & todas tem primeyras luzes , que vão dar em a Igreja já como fe-
gundas , fora as de cada parte do cruzeyro , & as do grande frontefpi-
cio,quefaõluzesem tudo primeyras. Ótedo defta Igreja he todo de
abobada , porém de cedro finiílimo , ( & todo admiravelmente lavrado,
&: repartido em payneis} que fe foy bufcar à Ilha das Flores , aonde ain-
da então melhor, & mais chey rofo o havia.
119 Do frontefpicio de fora, & do de dentro, que cerca a Ca-
pella mòr, muyto podia dizer, porque ambos faó altos, mageftofos
.proporcionadamente,com as Reaes Armas humanas do SereniíTimoRey
leu Fundador , & do feu Divino Padroeyro o Santiílimo Nome de JE-
SUS; & não menos poderia referir do nobre , & largo terreyro , &: fuás
boas entradas que ha para a tal Igreja j & ainda muyto mais do excellcn-
Do Rtgio Pateo dos te Pateo dos Eftudos, que fe fegue logo para a mão tfquerda da Igreja,
Efiudos^&da obra ^om aula de perpetua Theologia moral ,8c outra de Filofofia rauytas
^^^es , & outra que chamão Primeyra , aonde íe lè fempre Rhetorica,
do Cellegto junto,

& a que chamão Segunda, aonde fe enfina a Lati n idade , & outra fala
principal dos Ados literários , tudo com portada principal dos Eftu-
dos para fora , &: com feu Guarda , & Meyrinho; & fe lhe puzerem mais
hiima cadeyra de Theologia Efcolaftica, & outra de fó Gramática com
feu Prefeyto , ou Decano , ficaria huma muyto útil Univerfidade pa- ,

ra de todas as Ilhas Terceyras virem alliformarfe Moraliftas Prega- ,

dores i & Parochos perfeytos , & ainda tomarem alli feus grãos de Me-
ftres em Artes de Bacharéis formados & Licenciados em Theologia-»
, ,

&
com hum anno fp de raais virem a Coimbra , ou a Évora a tomar o
srào.
™»;l' íT

»«i

Cap.XíIvDoFandíadoi-cletadoofoteeáíb. ttf
^

1^07 Cãpello & , borla de Doutores i como da Bahia vem , & de ou-
tras partes. Haja maiSLzelô-dobenv conimum, & menos ambiçaô 3 & lo-^
gotudohaverài
120 Ar^cima^oditoPateodosEftudospara a banda do Norte
corre o Collegio contíguo de Lcfte a Deli e com quadra de corredo-
fçs, que: pelo bui pegaó com o Coro da lgreja,& pelo N orte cora aaCa^
pelia mòrj .& tribunas para ella mas do tal buí ao JN orte vay v ia larga,
i

ík aberta para o -Ceo , para ficar a Igreja com pnmeyras luzes i &: fican-
do da parte do Sul huma nobre Portaria olhando para o Ocfte , & para ^

© vafto terreyro da Igreja , com que pega pelo Coro em cima da Por-
:

taria fica a Regia fala delRey D. Scbaftiaõ Fundador do Collegio , & --'

da parte do iMorte fica em bayxo huma nobre fala, ou Ante-lacriftia - '

com porta para o Cruzeyro da igreja j & logo para diante a fermofa Sa-
criítia que corre com o lado do iitiangelho da Capella mòr, & cora ou-
,

tras cafas de defpejQS da Igreja & por cima vay a via para as triburias
;

do Santifllmo, & mais para o Norte huma tam copioía livraria, quenãp
fó dasmais Artes, & Sciencias , mas atè de Medicma tem muytos,&: ex*
cellentes livros, além dos que os Lentes , & Pregadores tem neceflaria-
mentefempre nos cubículos. n j
j.

; 121 A fundação Real defte Collegio foy,confignando4heEl^f^^7^^^^^


Rey feis-centos mil reis de renda cada anno j dous terços em àinheyro fefJ„4o„\^ /^ '§'/_
4ias' Alfandegas i èc o outro terço em trigo , & obrigação de doze-Kcli-Jídendaí'^
ColUgiôt
gíofos , dos quaes leflem três, latim, Rhetorica , & Moral , & os mais fe ?»* "»> ell* fundo»
KJccúpaíTem nos minifterios da Companhia, de pregar j doutrinar ,& '^""** HitatdeSaè
confeíTar, ficando competindo a cada fugeyto cíncoenta mil rcispari^'^'"^*^^'^'*^''(i
todos os gaílos j ainda communs de hum Convento j & continuas nave-
gações de idaSj Sc vindas porém he tal a prudência , & temperança dó
:

governo da Companhia, & tanta a benevolência dos naturaes das Ilhas


para com os Padrss que em lugar dos doze fugeytos ^ tem ordinária*
,

mente quinze j ou dezafeis Religiofos & em lugar àss uts Cadeyras


j

metteojà por vezes quarta de Filorofiaj& metterà as maisjà aponta-


das, fe nos naturaes houver mais zelo do feu mayor bem próprio^ 8c em
lugar do pregar doutrinar, & ConfeíTar^, excedem tnnto que a todas as
, ,

nove Ilhas tem ido &: vão muytas vezes em miííoes , com que em Sa6
,

Miguel fundárãoo Collegio, & Refidencia que là tem no Fayal outro


,

Collegio, 6f das mais Ilhas lhe pedem Refidencias, &


feas tiveííemj
'

não fó Deos, mas aindaa Coroa Portugueza teria asfuas Ilhas mais fe- t
guras j porém não tem o Collegio com que acodir a tanto , pois fó tem
huma Qiiintinha de rendimento nenhum 5 mas depura, &honefta re-
creação para os dos Eftudos,onde chamáo a Silveyrsj ou Penedo
fuetosí
do Álcayde & outra onde chamâo o Pofto Santo , para alguns dias âe
;

ferias deMeílres em Agôftoj & Septcmbro, como cm feu lugar di-


remos.

CAf>

NW mm^mm
Llvfo Vi. Da Régia Ilha Tcrcey ra:

C A PI T U L O XIII.

De Outros Re/igio/os Conventos de Angra.


1

!lí22

O Terceyro Convento, vulgarmente chamado da Graça,


hc o dos Religiofos Eremitas de Santo Agoftinho. A oc-^
^^^^D de fe fundar foy, que ( como diz Fruftuofo Iw. 6. caf 19.) pelos
^ terctyrA RelmaB annosde
^ne entrou nat Ilhas i57o.foy de i-'ortugal à Ilha Terceyra hum mancebo Anto-
foy a dos EremitM denio Varejão, natural de Freyxo de Efpada na Cinta , o qual fendo vir-
S.AgofiíKho, chama- tuofo, & de bom engenho , fe voltou da Ilha a eftudar em Salamanca , Sc
dos Graetanoj. ^efla brevemente fe metteo Religiofo em hum Mofteyro de Santo A-
goftinho , onde acabou os eftudos 5 & jà Sacerdote voltou à Ilha Ter^
ccyra , onde pregou muyto bem , & com muyto fruto & paíTando-íe
-,

da Ilha ás índias de Caftella , & nellas , aílim de fuás Miífas , & prega-
ções j como de reftituiçoens a elle entregues , para as applicar às obras
pias que elle cfcolheíTe, ajuntou muy ta riqueza , & com ella terceyra
vez voltou à mcfma Ilha Terceyra, & comprando nella muy tos moyos
de annual renda de trigo , começou logo na Ilha hum Hofpital para a
gente quê alli chegaíTe das índias j & tendo a cafa jà fey ta , mudou de
intento , & dando parte dos moyos à Miíericordià de Angra , da outra
parte, & do lltÍ0,ôc cafa fey ta fez logo doação ao feu Provincial de Por-
tugal,para fundar em Angra hum Convento de Frades Gracianos.
123 Em o anno pois de 1579. mandou o dito Provincial três
Religiofos, Frey Pedro da Graça Pregador , & Frey Domingos Côri-
fta, & hum Irmão Frey Pedro da Reíurreyçáo ; & voltando logo o di-
to Pregador a Portugal a dar conta do que convinha entretanto come-
,

çarão as guerras entre Felippe II. & feu primo o Senhor Dom António,
C de que adiante trataremos } & os outros dous que ficarão na 11 ha , por
, ^ „ ^,
.
^
ferem da parte de Dom António , forão prezos , & levados a Lisboa> Sc
ms"eZZnode'is^ ^^^^^^ no anno de 1 5 84.fe fundou com eíFey to o Convento,& fua Igre-
m Tírreyro^ou cam. jh & O primeyro Prior foy hum Frey Pedro, natural da Ilha de São Mi-
fochamadoCovas,& gucl, filho de Sebaftião de Soufa Camello , & de fua mulher D. Ifabel,
defie Convento fe fã' filha do Doutor Francifco Tofcano j & correrão logo tantas Indulgen-
tlon defois o de Ponta
^[^^ concedidas à dita Igreja, & Corrêa de Santo Agoftinho , que o pio

/ ^"c nto P^^° ^^ Angra chamava Roma ao dito Convento, & indo a elle diziaõ:
daTílla daPraya na Vamos a Romaj & aílim fe fundou efte Convento da Graça em Angra
7ercejré. haijo.annos.
1 24 O fitio defte Conventohe no fim da grande rua da Sè,pa-
raapartedoPoente,& no principio da mais comprida rua de SãoPe->
dro , que vay longe acabar na porta de Santa Catharina da parte do:

Euangelho fica junto a efte Convento o campo chamado das Covas;


no frontefpicio da Igreja para a parte do Nalcente lhe fica outro baf-
tanteterreyro a ao qual também vay defembocar a dilatada rua do Re-

m go. A Igreja defte Convento he grande , & bem aceada o Covento he


-,

competente , & ainda fe pôde eftender mais, pois por detraz para o
Noroefte já não corre a Cidade mas fó afaftadamente a nobre cafa Sc
, ,

Qilinta de Joaõde BetencorSc Vafconeellos, fidalgo que foy Capitão


mòr
Cap. XIII. Bos Eremitas de Santo Ágoílinhor %B^

tiíòrde Angra para efte Convento j além do feu primeyro Prior acima
:

dito, forâo logo no principio três Pregadores mais, & hum fó Sacer-
dote para primeyro ííicriftao , chamado Frey Pedro de Santa Maria , 6c
nefte Convento chegarão a morar tantos Keligiofos , que delle fe foy
tundar o Convento de Ponta Delgada em Saó Miguel, & o da Villa da
Praya na Tércey ra , & nelle houve fempre bós Pregadores, & Confeflo-
res , & Coro às Communidade acompanha os defuntos ás
fuás horas a :

fepulturas,&; em fim ferve de muyto a toda a Cidade,& fobi:e tudo com


líiuyto exemplo de virtude, &: letras.
125 O que mais fe deve approvar,he,que affim como os Fran-
E defiei três CoHvS'
cifcanos no feu Convento de Angra inftituiraô cabeça de Provincia
tíS Gracianos, ptlâ
com feu Provincial , Definitorio , Ikc. aíTimos Gracianos no feu Con- difiancia ejue tem de
vento de Angra inftituiráo Vice-Provincia com Vice-Provincial, não PertHgal,jefez.Vice-
íendo mais que três Conventos em eftas Ilhas porque na verdade a- Província cuja ca-
j ,

chàraó, que parecia contra juftiça morarem tantos íleligiofos em Ilhas beça he oConvetito de
t^am afaftadas de toda a terra firme , & naó terem lá alguma cabeça fupe-
Angra^mdi íemN0^
viciado.
KÍor de todos a quem os fubditos de cada cafa poflaó , quando lhes for
j

licito, recorrer dos locacs Superiores , pois o recorrer cá a Portugal , em


(como fe diz ) a fegunda inftancia , he quafi impoíTivel, fallando moral-
mente 5 por fe tomarem , ou fe perderem muytas embarcações , que pri-
meyro morrem là,ou_perdem a paciência os recurrentes, do quede
Portugal lá chegue a refoluçaó de feus recurfos & por iíTo muytos fe ,

cfcufaó tanto de irem para as Ilhas , por náo haver là a quem poíTaó re-
correr quando for licito & jà por íífo também atè a Religião da Com-
,
:

panhia , naó fó do Japaô , & Malavar , ou Cochim fez Provincia , & da


China Vice-Provincia , & do Maranhão mas atè nas ditas Ilhas poz já
;

Vice-Provincial, que foy o Padre Mathias de Sà pelos annos de 1609.


depois de ter fido Reytor de São Miguel, & de Angra , & mais ainda
então naó havia em Saó MiguelaRefidenciade Ribeyra Grande nem ,

110 Fayal o terceyro Collcgio , como jà tocamos Uv. 5 cap. 2


1 & muy- . .

tas vezes nas mefmas Ilhas fe tem pofto Vifitador triennal , para fe não
faltar ao bom governo dos feus CoUegios.
126 Eainda he mais de approvar, que as ditas Religiões Frã-
cífcana, Sc Graciana tem feus próprios Noviciados em Angra, onde tem
entrado muytos, & muyto limpos , &: nobres fugey tos das mefmas Ijhasj
porque parece contra a razão ,que fuílentando-fe huma Religião nas
dita^ Ilhas , & havendo nellas fugeytos capazes de nella entrarem , os
obriguem a virem entrar em Portugal, trezentas legoas de mar diftan-

te, iiaõ fó com os perigos do mar cativeyro naufrágio &c. mas com
, , ,

TDuyto grandes gaftos j & por iíTo de là não pedem tantos , quantos ha-
viaô pedir ,fe là entraííem Noviços , & depois viefiem para cà como ;

nem tantos entrariaó cà das Provincias Tranfmontanas, Minho,5c Bey-


ra, fcnâo tiveíTem Noviciado em Coimbra } nem do Algarve , &
todo o
Aieni-Tejo entrariaó tantos na Companhia , fe em Évora naó tiveífem
outro Noviciado j êc atè da Eftremadura , da raefma Lisboa muytos&
ão entrar iaô,fe em Lisboa não tiveífem Noviciado em que entrárj
ji

íendo que em taes Noviciados nenhum entra vindo do dizimo das le-
goas de terra , que de Portugal vaõ atè as ditas Ilhas ,& de mar.
Bb 127 O
Livro Vi. DaReanihaTèrceyrâ.V

O
quarto Convento de Religiofos em Angra he o de S.
127
Aistonio, Rccoleta Francifcana, que eftáaoíahir da Cidade pela porta
de São Bento , tomando logo para a mão cfquerda , fahida recreativa, &
de bom pafleyoi he Convento exemplariflimo , nem íey que haja ou-,
^A quarta Religião , troem as ditas nove Ilhas i &
de nenhuma outra fe fuftenta, mais que
«« Convento he dos de puras efmolas que ou lhe mandão , ou vem pedir pelas ruas em dia
,
,
Capuchos Dtfcalços determinado para líFo porque nem levaó efmolas de
, MiíTas , nem tem
de Santo Antonioyfa
Capellas de anniverfarios , ou muficas , nem efmolas de enterros > ou de,
kida, Convèto, Igre-
hábitos de defuntos i nelle fempre houve Varões fantiílimos, & alguns,
ja, &etrca degran-
çaô. paílados da Obíervanciâ para eíla Rccoleta ; & comtudo fempre pafla
muyto de doze Frades. Tem huma linda Igreja & Convento & de*,
, ,

votiílima cerca , & agua dentro em abundância. Qiiem foíTe feu Funda-,
porém que o Capitão Joaó de Ávila Ç rico fidalgo
dor, nâo fey ; confta
de Angra,dequcfâ liaremos} ajudou muytoaefte Convento ,& jun-
to à Capella mor tem cafa fua, & na tal Capella fepultura.
128 O quinto Convento (& jade Religiofas Freyras} heo
chamado de Saó Gonçalo 5 da Regra da Obfervancia de Santa Clara,
porém tam antigo j que em feu principio foy da obediência do Bifpò
Oprimiyro dos qua-
tro Convêtos defrey
do Porto em Portugal , & depois por Bulias Apoftolicas ficou debay-
TOS que ha em An- xo da obediência dos Bifpos de Angra. Seu Padroeyro foy Brás Pires
gra heo de S. Gon. do Canto , & feu Fundador , cuja filha D. Maria do Canto cafou com
,

^lo^ da rtgra At SaS D. Diogo Lobo, que fuccedeo ao fogro no padroado de São Gonçalo^
Francifco^d^ daobe-
dteneia de Ordina
& do tal D. Diogo Lobo nafceo D. Rodrigo Lobo da Silveyra que foy ,

natural da Cidade de Angra da Ilha Terceyra , & foy Governador , Sc


rio fundado por fi-
Capitão General da Ilha de SaÓ Miguel pelos annos de 1630. & do di-
,

dalgo de Angra Br as
fires do Canto ^&feH to D, Rodrigo nafcco D. Diogo Lobo, íegundo do nome, que por Me-
Genro D. Diogo Lo- ftre de Campo, & Governador da Armada foy para o Brafil no anno de
bo, & pajfn de cem 1639. &a25. de Julho levou comfigode Saó Miguel o Vifitadorda
Freyroi de véo preto
Companhia o Padre Pedro de Moura, cujo Companheyro, 6f Secreta-?
com boa Igreja, ter
rio era o Padre Luis Lopes. Fundou-feo dito Convento em fítio def*
reyro é" vifia ^tè
, ,

do mar. cuberto para o Poente da Cidade de Angra , próprio tiro de peça do


grande Caftello de Saó Joaó Baptifta , com larga viíta para as hortas,
bahía do Fanal , bayrro de S. Pedro , &
vafto mar de Oefte , & he Con-
vento tam grande , que jà paflfou de cem Freyras de vèo preto , muy- &
tas mais tem tido, não fó nobiliflimas , mas de religião, exemplo, &
fantidade excellentc , como em feu lugar veremos j & com bom terrey^
ro para o Sul , & Igreja em tudo muy perfeyta.
O fegutido Convento 129 O
fexto Convento he o de N
Senhora da Efperança, que
.

de FreyrM heo daEf- eftá fituado bem no meyo da Cidade , & quafi da Sè Cathedral , & d«
perança qite naô jó prmcipio da rua dos Cavallos ; & por incúria dos antigos não acho no-
,

na rfcra mas tam- ,


ticias do feu Fundador, & fupponho feria o grande zelo dos Religiofos
bém na obediência
& de Saò Francifco & também heda Regular Obfervancia
,
; de Santa Cla-
he francifcam ,

ra , mas da obediência Seráfica , & não fó no efpiritual , mas também no


efiá bent no meyo d.*
Cídadt & com fef. temporal bem governado pelo Provincial daquella Província , & por
,

fenta Freyroi de véo \vS feu Padre Vigário das FreyraSjque he lugar,& poílo muyto gravej&
preto de mhiUffima feu Companheyro Confeflor , & Aliviadores , & Pregadores Serafícosj
,

Igreja (^ txcellente
mujica.
,
& ainda que não he tam antigo , nem taó grande , nem tem tam boa vífta
como o Convento de 5. Gonçalo, cótudo he Convento de quafi feíTenta
Frey-
Cap.Xni.De quatro GoftVèntos de Reli giofas. ipí

Frey rasi & muy tas muy to nobres, & de grande recolhimento, &r obfer*
vancia , & muy to grave , mufiça, com indefedivel conti*
&c perfeyta

nuaçaó do coro , &


rico culto de íuaexcellente Igreja j&aífim tem neC»
Ce Convento havido, &
fempre ha Religiofas de grande efpiritoj de
quem comporá quem quizer compor a Chronica daProvincia Infula*
na , & facilmente a imprimirá
á cuíla dos Conventos que tem de Reli-
giofas, que pòdemjôc goftaràõ muyto de imprimilla.
1 30 O fcptimo Convento he o que commummentc chamão
da Conceyçáo das Freyras para diftinçaó da Collegiada Conceyçaó
dos Clérigos. He efte Convento de eftatuto, regra tam fmgular, èc q & terceyro Con-vim
pertey ta , que dizem que em Portugal fó ha hum Convento femelhan- áeFrtyras he o áaCZ.
te a efte o certo he que com ferem de grande recolhimento ,
: &
obfer- ceyt^aò , àe regra taS
vancia os dous Conventos acima , confeíTaò todos que efte os vence no ''f%>/^, ^tefó hum
menor trato comfeculares no mayor retiro fó a Deos, & no çíçQCÍd\f^""^j"^^J^^'*"f^°^'
,

exceíTo do culro Divino faó da obediência do Ordinário, de quem tzm "^. ^ " 1,'^'
j
^ *

Gapellâo , & ConfeíTor commum ,& ordinariamente Aliviadores,& „y^„^, ^^'^./^ ^


praticas dos Padres da Companhia de JESUS. Do íitiojàdiiíemoSjque/^f maú de trinta
he na ultima grande rua da Cidade para a porta de São Bento , fem ín- FrejrM de veo^ma,^
quietação de cafaria nos lados , com os fidalgos Monizes da outra fron-
teyra parte j com ampla , &
boisi cerca , defempedida vifta, devotiílimaa

j& bem ornada Igreja , numero de mais de trinta Freyras , miíytas fi- & ^<.

daigas exemplariíTimas. De quando fe fundafle , & por quem me não


, ^

chegou noticia.
í^t: 131 O oytavo Convento he o que fe intitula de SaôSebaftiaôj,
por fer fundado em huma nobre , Sc grande Ermida do Santo , que eftá
indo de São Francifco para a fobireditaConceyçâo das Freyras, á face O àaartoCoK^ento
di
da rua , olhando para o Sul, & com hum retiro para o Norte ; era Ermi- Freyrat he de S. Se-
da do Senado da Camera que deo a efta fundação para Freyras Capu- bafiiaõ, d* mais Ca-
,

chas da regra mais apertada , Sc da mayor pobreza de Saó Francifco i ha f^f^^^.&eflreyta re-
perto de cincoenta annos que fe fundou com puras efmolas, & foy gran- ^''* ^'^- francifco,
'" ''^"^*'
de parte em fua fundação o Capitão Jofeph Leal, cafado em Angra por '*i"'*
^ j ^
'^j

j /->j j" í c j .• j j do Ordinário


vezes , Sc nella morador , Cidadão , & Senador antigo do governo da ^^ maispehre
o 11 i
et
Cidade jpofto que nafcido em a Corte de Lisboa. A efte Convento no-porifo mais bem aco-
vo concorrerão logo Donzellas nobres , &: de grande efpirito, & he dedido ^ tem trinta ,

todos o mais pobre, & por iflb mefmo o mais foccorrido de efmolas,que:^'''J^'»/'^°/'^ &,
principalmente delias fe fuftentá , & he huma Capucha de tal claufura, ^'^y^o^ohes^é^eíçg^
.

m
retiro, & oração ,que confunde a todos feu raro exemplo , virtude , Sc ^
^rtjjimoí.^

íantidade-, he da obediência dó Ordinário Angrenfcj que lhes deter-


mina Capellães, ConfeíToreSjSc Pregadores, & chega jà a Convento de
trinta Religiofas, de que a.íeu tpmpofe putáÍGaràó fuás virtudes.

C..A, p i3a;oiíké-'ô"''xi\r.
Do trato &gpveyno da Cidade
, de Angra*
'.!;:

;13i COnftando a Cidade de Atígrâ de viste grandes ruaS , to^


das largas,ladrifhadas,&: calçadas, como jà as apontàmoSi
Bb ij U
j,j>j.;.tTOfJi?ai'

Livro VI. Dá Rcgià Ilha Terceyrà; ^^Di


& fendo todas dé nobre cafaria j duas circunftancias a fazem muy to víf*

toíaj primeyra, que nas taeis ruas (excepsos alguns arrabaldes daCí-
m ^^^^^ nenhuma çafa ha defpegada da outra, nem nos altos, nem nos bay.
nobre tafariít de
Angra naò fóporfá- ^^s da parte da rua, nem cafa terrey.ra fe mette entre as fobradadas, nem
ra, mas for dentro, Qivintal, ou jardim làhe àrua j com que ficáo as ruas có grande fermofu-
fem moirar w çontinuadas íemprie. Sçgunda circunílaucm hejquecomferemasca-.
«//«.íflÁo

^/jf«;»Ã»ffl?/c^rítf»-fasquarit'9das de paredes fey tas de pedra, & cai, & havendo muy tas
'^*'-
de dous fobrados na face, & por detraz de três comtudo não coftuma >

ílayer moradores divêrfos huns que morem por bayxo & outros por , j
cima, nem que pela mefma portada feíirvaó diverfos moradores, mas
do mefmo he todo o Quintal que tem cada cafa para traz ^ com que àtè
por dentro as cafas faõ mais limpas , mais; defembaraçiadas j &
mais lar-c
ga3}.d,Qnde vem queatè vão dehuma
âS;traveflras,que. rua para aou-r
tra^ íâó ruas;ba.ftantes, muyta largueza que vay dehúa a outra rua;
pela
comos Quintaes que medeaõ de húa,& outra parte.
'

í 33 .:•, . Q
JEfato da Cidade he tão nobrej que alè^
Bifpo, & algumas Pignidades Ecclefiafticas , & do Governador do Ca-?
ítello, Capitão mor da Cidade > ha outras muy tas ha Cidade dos ricos
morgados depa, & ainda otitrascaríuagens de homens, & de mulhe-»
Toio trato, & «»- res; das quaèi as ttiais nobres antigameot-e flaô hiaó à Igreja j & menos a

*meZ & ^^-^J


""^iíii^aSjfenÁoemrícas cadeyraS fechadas, de mão, que chamavão ca* &
7h7rwnTe)mul!dâ,^^^^^^'^^!^^^^^^ ^^^^^ negros , às ilhar^ &
& menos nas praças] %^^ ^ P^ ^^^9 ^^ criadoâ , Criadas i as outras nobres &
mulheres , por íeo

etf^í^fj^r^at.wííKfía-í^^ín ttômaílentada a Cidade iôc ter tam-pefto ás IgrejaSihiaó apè,mas


fii algua apregoa pe- nunca fem criada , riem fem homeip diante, que bera veftido acompa^
ioí rtiot , mm nellas nha por criado, & algum fiibo, ou irmâo.léva) & traz a mãy õu a irmãa,

fr encontrão , fenao pda mão, & a criada , OU criadas váio I020 atraz & de outra forte fe não
cm atoi òantos . & via mulher nobre pelas ruas ,& nem. ainda aíIim,fenão
.
•• -

nos dias Santo»


;

mHjtocompofiof.
paraas igrejas de manhãa , 6c4e tarde a pagar as vifitas } fempre con» &
recado antetedéflce que là vão aquella tairde > & das mulheres piebeas|
,

nem a vender pelas ruas , nem em tendas a vender , ou a vcriderfe , fe vi»


mulher alguma, nem ainda liapublica-Ribeyra j mas todas em:fuas ca-í
fas cuydando, &
tratando delias j ôc fó/homés apregoaó j ven^iém enr &
toda a parte. Elle era o eftylb ha menttísrde cincoenta annos, Sx. de entâa
para cà nãofey o que ó tenipo tem mudado. -í

1 34 iO contrato defta Cidade fe divide ém mercadores de lo^


,,
.'

gea onde vendem acouta jTpezío j &


medida , de que ha muytos j ôc em
Dos muytos ricos ho. o^itros a que chamâo contratadores de fobrado» que defpachão as partia
mens de negocio [eus à^^ inteyras.na .Alfandega,
.
repartidàUTente as vendem , como de prí-&
navios, &eòmercios, meyra mâo aoscompradorèsiídclQge^ ^iquedefegunda mão as vendem
&daverdade, &fi- aos particulares compradoj;es & além
deftes j que faó muytos mais, hai

^^^^ Contratadores de fobrado, que muytos tem mais de cento ,& de


VchriTem
ao^jentqnt
'daõ^leL
''^'''^'^' t^uzentos mil cruzados, Senão fó Poríuguezes mas eftrangeyros de j

quafi todas as nações & alguns que entrando alli com hum pào na mão
,

fem mais riqueza, chegarão por annos àfobredita exceíliva pelas com-
miííoês de fuás terras pelas compras que fazem aos morgados da terra
,

de feus trigos & pelas letras de câmbios que lhes paflaô para Portugal,
,

& outros Reynosi Sc tudo fazem com tanta verdade , & fidelidade, que
rara-
Cap. XIV. Do tempoíaítràtOjSí governo Ja Cidade; i^f
raramente fe vè Mercador , ou contratador quebrado em efta Ilha, porí
que nenhum hc Judeo , &
raro he Chriftão novo &
alHm também potf
-,

tal fahe raramente algura no Santo Oííicio , prezo em a dita Ilha , cob|.
"'
ter lâfempreCommiírarios,& Familiares feus.
135 Nem íó da terra , mas também do mar foy tam grande <i-
contrato delta Ilha, que (como em muytas partes aífirma o antigo Frui"
éluofo} tinha muytos navios próprios íeus j & de alto bordo , com qué*
commerciava com Portugal, com o Braíil , cora Angola ,& Maranhãoi
èc não fó as frotas do Bralil , mas as nàos da índia Oriental , ôc as das In*
dias de Caftella, quando com Portugal eftava em paz, vinháo pela Ilha
,Terceyra , & nella fe refaziáo , náo fó de mantimentos , mas também de
íoldadefca da gente de guerra do Caftello, & continuavaò fegur^ a via-
gem no fim mais perigofo j porém depois como os Provedores da fa-
zenda Real da mefma Ilha, & os Provedores das Armadas impediaó o
navegarem os navios delia, & os occupavão , & divertiaó com feus pre-
textos, & conveniências } & como as nàos da índia Oriental derão ,ha
poucos annos , em vir da índia ao Brafil , Sc por efte para a índia j pre-
occupando o Braíil o que havia ir à índia, & o que havia vir a Portugal,
& fazendo de dous annos a viagem , que nem de hum era dantes } pot
iíToem a Terccyra os perfeguidos contratadores deyxáraó de fazer lá
embarcações i & atè ás mefmas Ilhas , cujos dizimos fe deraõ aos Reys
com obrigação de as defenderem , & a feus mares , nem já vaó lá Arma-
das que as defendiaô, nem as dcyxaõ defenderfe com feus livres navios,
E fe ifto allim he jufto , lá o veja quem lhe toca. *'

136 Quanto ao governo de Angra, o Politico conforme a Or-


denação de Portugal confta do Senado da Camera , (feyto por pelou- ^'^ fMÍz.tiy Ferèâ',
TOS annuaes) de dous Juizes Ordinários , que fempre faó dos mais pru- ^oiety&wais
J"***
dentes, zelofos , &: nobres Cidadãos , & três Vereadores , & hum Pro-
\tinles*priviltíiL"
curador da Camera, & Cidade, & hum Thefoureyro , & o nobre ^^-^HUcLtoAou
"
crivaõ da Camera , que naó fe elege cada anno, mas heofficio perpe-
tuo , dado por fua Mageftade. Naô fe fabe que tiveíTe alguma hora An-
gra Juiz de fora , Bacharel , por mais que lho quizeraó metter,& aílim
atègora fe governou muyto bem. Tem os que ferviraõ nefte Senado , 6c
os que andarem nos pelouros delle os privilégios dos Cidadãos do Por-
to , como confta do tombo da dita Camera ^fol. 6. & do privilegio da-
do em Lisboa a 20. de Mayo de 1 5 78. & confirmado a/ol. 20. no arano
de 1602. & os taes privilégios dos Cidadãos do Porto faó os dos Infan-
çóes, que faó os filhos dos filhos fegundos dos Reysj & dos taes privilé-
gios gozão naô fó os Juizes & Vereadores do dito Senado , mas tam-
,

bém os Procuradores delle , pelo privilegio dado em Lisboa a 12. de


Dezembro de 1 5 8 2. como fe vè no dito tombo ayò/.8é. & ainda os The-
foureyros da dita Camera gozaó do raefmo privilegio, que alcançou
^-^^^^^ 4 j^^^ j^^j
Bartholomeu da Rocha Ferraz fahindo por Thefoureyro no anno de ctfra tm mme daí ,

1632. como do dito tombo confta a/fl/. 187. mais llhat ,manda
137 Coftutiia efte Senado de Angra , quando fe chama a Cor- Procnrador ^U4tidí$
tes em Lisboa ,mandarem nome das mais Ilhas íêu Procuradoras Cor- ^'"'^" '^ Ponn.
^''*

ttSy o que não vem de algania das outras Ilhas , & o Procurador de An-'^"^' ^
'^'"^ ^^'
"f""
'^^^"''^'"^'^^''
gratemnastaes Cortes lugar era o primeyro banco , como Ihs couce Cí.
Pb iii deo
%^4 PMÍJ>a,RegiâJííi^ej:ceyfa;
^co o Senhor Rçy D. Joaõ o-I V. êc g teve Francifco de Betencor Cor".-:
Kça & Avik nas Cortes do anno de 1 642. ôc fe vé no dito tombo a
foL
345- ^ ^fii- 456: cftá o Alvará do meímo Rey, paíTado cm 15. de Junho
de 1 654. em que a petição dos Procuradores de Angra , & com aflento^
çomadonas antecedentes Cortes de 1653. ^^ ordena, Sc concede que
j?unca haverá Vifo-Rey, ou Governador General nas ditas Ilhas Icr^
ceyras , & quando o contrario parecer conveniente , fe não tomará af-,
fenco,nemrefoluça6em tal matéria >iemfer ouvida priraeyro a Carne-,
ra de Angra daqui veyo que querendo ElRey pòr Vifo-Rey , ou Go^
;

irernador General de todas as Ilhas Terceyras , & não confentíndo hunt


bom fidalgo de Angra Procurador delias em as Cortes, & eftranhando*
]Jio o Rey , dizendo que queria que as Ilhas foflem huma bicha de tan-"
tj9S cabeças, quantas fuás Ilhas eraójCom valor refpondeo o Procuradorj

que a bicha que nafcep,; & fe creou com muytas cabeças , fe lhe cortarent
as mais, & lhe deyxarem húa fo, entaó, ou morrerà,ou mudará de vida,6c
que pois aíTim as Ilhas foraó taõ fieis à Coroa de Portugal , naó fabia o
^
fariaó, fe de outra forte as quizeflem governar. E naó inftou mais o Rey.-
138 Põem mais eftc Senado de Angra dous Almotaceisfem-'
pre, & fempre Cidadãos nobres , com feu Efcrivâo de Almotaçaria ,06
Juiz do povo , Sc feus Mifteres i & fobre tudo tem muyto baftante ren*
da, & bom governo delia, jcom que acode ás obras publicas j & fó ha na
Cidade grande falta de mais Médicos , Sc mais letrados leygos, Sc Jurif-.
tasjvifto 9 não ferem os Juizes Ordinários j apodera a dita Camera
mandar fempre a Coimbra hum fugey to ao menos jà bom latino , & bomc
Filoíbfo, para dentro de féis annos fe formar cmieys , Si outro em ou-
tro fexenio em Medicina, &:affim alternadamente fe proveria a Cida-
de de Médicos , Sc Juriftas &c com fó a congruâ de cincocnta mil reis
,

cada anno, obrigando-fe o eftudante, Sc feus pays, ou parentes por elíc


a tornar para a Ilha em acabando os eftudos , ou rípftituir o que tiver ga^*
ftado , conforme a fiança que paraiíTo dará ainda que fera mais louva^
j

vel, fe das peíToas ricas , que morrem em Angra , Sc deyxão muytas ve^
zes legados fancafticos , ou de menos bem commum , deyxaíTera algum
para o fobredico, pois he huma obra das de Mifericordia, Sc muyto me-
ritória, enfinar, ou ajudar a enfínar qs ignorantesj &í tal vez mais meritó-
ria, que mandar dizer exceffivQ numero de MiíTas , íem faber fe na ver-

dade fe dirão.
139 Dogoverno dajuftiça temocuydado em Angra,alèm
^^^^°^^^^^^^^^^ Ordinários , humDeíembargador com beca , Sc poíTe
Dos Corregedores de
^figra combecA & ton^^da no Porto Sc a fua correy çaó k extende a todas as nove Ilhasj Sc
,

Vefembargo da cafa quando a Saó Miguel vay , ceifa a do Ouvidor do Donatário. Começou
do Porto , dr de fua efta correyçaóem os anrtosde 1503. em o primeyro Corregedor , que
jttrifdi^aoemaímais foy Aííbnfo de Matos, chamado Cabeça de vacca, conforme
a Fruftuo-
llhoí.
íqIw.6. capr 12. Continuarão fuccedendo Corregedores huns aos ou-
tros atèo anno de 1530. em que faziao officio Ayres Pjres Cabral;6c de
I534.atè i'^40. vieraómais dous Miniftros por particulares Correge-
dores de Saó MigueljSc Santa Maria» (não fey com que caufa) mas nem
ainda então deyxava de haver fempre. o Corregedor das Ilhas em An-
gra i Sc logo depois dos dous fubílitutos Corregedores cm Saó Miguel,
... >
tornou

-r»-
Cap. XtV. Dos Tribujoa^ do Civel , & Crime, ?of
tornou a unirfe a correyçaó de todas as Ilhas no Corregedor de Angra»
que foy Galpar Touro , em 1 544. a que íe feguiraó os mais, &
entre el-
içs Chriftovaó Soares de Albergaria , que tinha fido oprimeyro Juiz
de fora de Ponta Delgada > &
por fer por Caílella no tempo da compe,*»
tencia entre ella , & o Senhor Dom António , fervio entaó de Gorrege*
dor de S. Miguel , &
Santa Maria , Sc Caftella o promovco a Correge«
dor de Angra, & de todas as Ilhas, &porefta via fubio depois muyt^i
mais, como outros muytos por feus merecimentos, como Diogo Mar-
chaóThemudo, Bento Gafado Jacome,& outros muytos.
,. 140 Dosquaes Gorregedores o exemplar de Juftiça foy o
quarto que entrou noofficio em oanno de 1515. chamado Jeronyma
í,uis, ( o Bom , a refpeyto de outro Jeronymo Luis , que chamarão o
Máo. } Ao Bom pois , eílando de correyçaó em Saó Miguel , foy a jul-
gar hCia «aufa ,em que hum homem muyto rico do lugar da Maya per-
tendia tirar a húa viuva , por demarcação de terras , humas que dizia ^xe^fh r*n dã :;!:' r

liie pertenciaõ a elle j & achando o Gorregedor que a juftiça eftava pela ^^^
^^^
'

f
if'^'.
viuva, Sedando logo por ella a fentença contra o rico, appellou ^^^*XqJanu>
EiR^a
para a Relação de Lisboa, Sc deraó os Defembargadores a fentença pelo iof,ygu ^ (^prenúen}.
rico, reprehendendo nella ao Gorregedor j chegou a efte a fentença,
cftando ainda em Saó Miguel, Sclogonellc o zelo da juftiça foytam,
grande, quefubftituindo emfua aufencia noofficio a hum Francifco
Pires Bacharel , fe metteocm hum navio, que para Lisboa entaó partia,
& defembarcando fe foy aprefcntar a El-R.ey Dom Manoel , & lhe pro-
poz que fe vinha ofFerecer a fuftentar a juftiça da viuva , & que os De-
fembargadores que tinhaõ dado a fentença pelo rico, a fuftentaífem , Sc Ir' 5
que fe nomeaflem Juizes à caufa: & mandando logo El-Rey quefe fi-
^eíTe aíllm , Sc que os Defembargadores do Paço foíTem os Juizes , por
mais que coda a Relação arrezoáráo,fahio a fentença pela viuva contra
o rico , Sc o Gorregedor logo logo fe voltou a S. Miguel, louvado muy-
todo Rey, & accrefcentado com muytos privilégios; & acabando a
Corrcyção em São Miguel, fe voltou para Angra, Sc foy depois promo-
vido a grandes lugares. Oh exemplo de juftiça , Sc zelo delia!
141 Além dos ditos Gorregedores Defembargadores,que tem
feu Meyrinho geral , & Efcriváo da Gorreyçlo, (fora muytos Efcri-
váes , outros Tabelliães , Sc Enqueredores } coftumaváo ir a Angra, al-
gumas vezes, outros Defembargadores a particulares devaíTas, Sc hum li

delles foy Fernão de Pina Marècos , cafado com Mòr de Faria , filhi de ^' fftf ^ttalídade
"^ Defembarga.
Sebaftiáo Lopes Guedes , fenhor de Arzila em Africa , por a ter toma-
'J''*"
dó aos Mouros Sc do tal Fernão de Pina nafccráo os filhos feguintes: lu^tu »AcvêÍM ^^
,
*
Máximo de Pina^ Commendador; Valério de Pina, Gavalleyro de
Chrifto com tença; Nicolao de Pina, Sc Marcos de Pina , todos fidal-
gos da caía de S. Mageftade. Nafcèráo mais D. Margarida , D. Marcel-
lina, D. Violanfe , Sc outra filha que cafou com Nuno Pereyra de Ara-
gão, filho de Pedro Peflba , (" que morreo Gapitãoem Africa na batalha
delR^ey D. Sebaftiáo ) Sc da DamaD. Joanna Manfi! , filha de D. João
MinoelCommendador dasldanhas: Sc o fobredito Máximo de Pina
cafou com D. Maria de Lemos , filha de Manoel de Lemos , Gorrege-
dor de Thomar poièm o pay Fernão de Pina Marècos era filho de Ni-
-,
li-lí
t;- cola®
%Í '
Livro VI. Da R^íàífíiaTerGeyra:
colao de Pina 5 da grande cafa dos Pinas de Florença, &cafàdocom
Branca Anes Marècos, defcendente das Montanhas de Caftella i &
o di-
to feu Filho Fernão de Pina, na contenda da íueceíTaó de Portugal com
Caftella foy Procurador de ambas as Coroas , Vereador perpetuo, ôc
Coníervàdor da moeda , & Chanceller , & Provedor mòr da Saúde no
tempo da pefte, & fem morrer delia foy morto à treyção por hum man-
éebo em Lisboa , por naó feguir a parte do fenhor Dom António j do
que tudo ]z[c\hy de que qualidade eraó os Miniftros , que então fe
mandavaõ a Angra.
'.
142 Ainda outros Miniftros ha em Angra de que fó fe appelU
jjârà Lisboa, como Provedor dos Refiduos ,Capellas,&c. &Juiz dos
GrfaÕs, & Aufentes i & eftes grandes ofíicios andão em famílias de no*
2)« Provedores dos bres,
& fidalgos Cidadãos de Angra, & tem cada hum feus Efcrivães,8c
RefiáHOS , & ^«
oíEciaes , & huns , & outros faõ de grande rendimento j & nem o Pro-
futres dos Orfaõsy
dos ^mts *mbos fe vedor dos Refiduos , nem O Juiz dos Orfaôs faó letrados , fendo que fe
itpfelU fó p/ira a eftende fua jurifdicçâo a muytas das outras Ilhas aonde vão vifitar ; po-
JleiaçaS de Liiha, rém a jurifdicção do Auditor de Guerra do Caftello grande , que fem-
& do Auditor do prehe letrado Jurifta,efta fóaos militares do dito Caftello fe eftende,
Cafieda para jó o
Confelho de Gnerra.
& delle fó fe appella para o Confelho de Guerra de Lisboa , & não par»
algum outro Tribunal.
^
143 Mayor Tribunal que todos he em Angra o da Fazenda
Real, chamado, da Alfandega jGonfta de hum Provedor, quehe hurti
quafi Veador da Fazenda , & tem jurifdicçâo fobre a Fazenda Real de
Do Provedor dafa-
x.enda Real,fftas Al-
todas as nove Ilhas Tereeyras , ôc a todas pôde ir vifitar , & paíTa ordés
fandegtti , & feus a todas , & &
tem privilegio , pofle de nas ditas ordés fállar por (vos) a
grandeigrivitegios. todos os inferiores Miniftros da Fazenda Real das outras Ilhas , ainda

áosjuizes das Alfandegas, como os Vedores da Fazenda em Lisboa*


Abayxo do dito Provedor fe feguc na Alfandega de Angra ojuiz, Con-
tador della,& logo dous Efcrivâes daAlfandega,& o feu q chamão Fey-
tor, Mey rinho da vara , & outros officiaes inferiores , como Pezador da
Alfandega, Scc. & de todos eftes , não fó da Ilha Terceyra , mas de to-
das as mais Ilhas , o Superior mayor heo dito Provedor de Angraj & de
ÍLias ordens nunca ha appellação , fenâo em alguns cafos,para o Real

Confelho da Fazenda em Lisboa j donde vem que do tal Provedor , atè


os Bifpos de Angra, & todo o Ecclefiaftico &: os Governadores do Ca-
,

&
ftello, os mefmos Capitães Donatários das Ilhas, & todos os que tem
algum falario, ordenado, ou tença, ou a querem aíTcntar na Fazenda
Real das Ilhas , todos dependem muy to do dito Provedor.
144 E ainda que também ha em Angra outro Provedor, que
fe intitula Provedor das Armadas para acodir às Armadas Reaes quan-
,

Do Provedor das Ar- do là vaó as frotas do Brafil , às nàos cia índia & efte he hum dos prin-
;

madíU. cipaes fidalgos de Angra (como foyPedreanes do Canto , & Joaó da


Silva do Canto feu fegundo filho, & quafi femprc nefta cafa dos Cantos
andou o dito titulo} ainda efte Provedor depende muyto do da Fazen-
da Real, porque ao das Armadas toca o requerer,8í: pedir ao da Fazen-
da , como também lhe fazem os mefmos Cabos das Armadas , & frotas,
& os Capitães mores das nàos da índia mas ao Provedor da Fazenda
-,

toca o defpachar, & acodir com ella , fem o qual nada terá eíFeytO} pois
'-h'- nem
nem aiiida embarcação alguma para viagem , nem çaravelaõ paírà outra
lihapòde fahir do porto de Angra fem defpacho dó .Provedor da Fã>
genda 3 & menps fe pôde arrematar direy to algum dos Reaes a peffoa
alguma fero ordem do dito Provedorj ôc fianças porelle approvadas , Si:
Jiavcr confentimento leu. Em fim hctam Régio ofíicio efte, que por
encarecimento dizia hum^^jdifcreto,q,uiênaô lábia ^E^^ o que davàj
guando dava tal officiOi& que he ofíicio capaz deoRcy o daraiiurade
feus filhos fegundos. ,, , c.
;.'
..^
.

1 45 Mas também por iíto mefmo tem tantos êc tam podero- ,


^ ~^ -

fos contrários, & os que maisjnnos.o tiverão, tiveraó mais & mayores ^íIoTITr/ío oãcíà
,

inimigos, Sc naõfó feculares,&: nasdifas, Ilhas , mas tambeim Ecclefiaf-^/ Fróvedfr dffL íffKf^p
''

ticos, 6cna meíma Corte de Pprtug4i porque deyx;indo jà os. mais an- aenãn cm m Itím.
tigos, dos quaes o primeyro foy Francifço de Melquíta j fegundo j Fer-
^làoCabraliterceyro, Duarte Borges de Gamboa i quarto, Sebaftiaõ
Coelho i quinto , Garcia Lobo j fexto, Ruí Gonçalves deFigueyroa;
&
deyxadòs, digo, eftes , outros j os últimos três Prpvedores perpétuos ^
foraõ António Ferrey ra de Betencor , natural da ViUa de Agua de Pào,
de Saó Miguel , cuja filha D. Maria de Betencor cafou com Agoftinho
Borges de Soufa , primeyro do nome íquçina Proveidoria fuccedeo ao
íogro ,& foy pay de outro Agoftinho Borges de Soufa , que ao pay fuc
cedeo na mefma Provedoria, (comojà tocámos noUv.^.caf. 17. ttt.f^.y
& cafou com huma illuftre fidalga de Angra , filha de Vital de Beten-
cor & Vafconcellos, de que nafceo Antoiíio Zimbron de Betencor , que
fuccedeo na muy to rica cafa do pay ,& np grande morgado , que rio taí
pay tinha nomeado fua tia D. Anna Ferreyra de Betcncofi mas taes def-
goftos tiveraó com o ofíicio os ditos , iSc últimos Provedores , que o fe-
gundo Agoftinho Borges livrando-fe era Lisboa , morréo de doença, &
dedefgoftos,& o filho António de Zimbron naôq*iiiz*mais procurar
oíficio tal , cujas filhas ríao faó mais que a foberba de quem tem o officioj
a enveja dos quc o não tem, 6c a defgoftofa mdrte de huns j Sc outrosj &
âíTim ,ha muytos annos,andajà o oflScio feyto triénnal em Bacharéis
de bsca Sc fe aíllm convém , ou fer perpetuo, Sc em cafa-nobre , 8ç rica,
i

ifl
là fe coníidere. ,,
'-'

Í46 ' Concluindo.pois com as notieiasdâ tal Cidade de An- ffii li


gra, nem.dtívidar fe pôde qiíe he a cabeça das riove Ilhaé Tèrceyrás , af-
fim no Ecclefiaftico por Teus illuftreaBífpoSj como nojiiriftico , Sc Ju- ii
dicial porfeus Corregedores , Sc cabeias de comarca.iCÒmo na Fazert.
da por feús Régios Provedores , Sc atè rios Religioíos pelos Provín-
ciaes de Saó Francifço , pelos Vice-Provinciaes de Santo Agoftinho Si ,

pelos Vifitadores, Se Vice-Provinciaes também da Companhia deJEé


SUSj Sc êm fim he Afigra cabeça tal das ditas Ilhas , què o mefmo Fru-
íluofo 7n». Gcap. 5 ( fem fer natural de Angra , mas da I lha de Saó Mis
.

gael) confeíla que parece huma Lisboa pequena. E eu confeífo pela ek-s
periencia que tenho de quafi todo Portugal , que abayxo de Lisboa naói
ha nelle Cidade com qUem mais fe pareça Angra , que a famofa Cidade \vM
do Porto , porque ainda queeftahe mayor no numero da gente jpoisí
Angra nlo paíTa de três mil vizinhos* riáo he mayor comtudo, nem mâisf
bem aííenráda no fitío que occupa , no numero , largueza , Sc direytura la n^.\\ I

das

m
HEI
if^S Llvm VI. Da Regia Ilha Tefceyra:
^as ruas, em a nobreza das cafarias, no concurfo, &
commercio das Na-
ções eftrangeyras que com Portugal tem pazes, no real porto,
& bahiaj
nos fortiífimos Caftellos , &
ainda na fidalguia aflentada nos livros de
S, Mageftade , como pôde vernelles , & veremos adiante em feu lu-
fe
gar. E ifto fuppofto, vamos a acabar jà com a coita do Sul,
& Capitania
deAngra.

CAPITULO XV.
Ac ah a a defcripçaõ da Capitania de Angra pelo
Stílj&Oefte,

^47 TyAffzáo o grande monte, ou


Caftello grande , doBrafil,
1
pelo Sul para o Poente , &
Bahia chamada dos Fanaesj
i2>4 Cidade p&rà o que he frente para o mar do
bayrro de Saó Pedro ultimo da Cidade pa-
"Poente feio Snl^ dat ra aquella
parte, vay por terra huma legoa de caminho plano defde as
'portas de Santa Ca-

tharina , &
bayrro
portas de Santa Catharina atè Saó Mattheosj &
he tam recreativo , cur*
deS. Pedro ate Sao
fado , &
continuado efte caminho que para a interior parte
, do Norte
'Matthecf,hêa legoa^
parece huma fempre continuada rua de exceílentes Quintas , & cafas
corre tanta cafaria^ nobresjde que algumas fe podem dizer Palácios , como as do grande
tantas £r- líiorgado dos Pamplonasj & a todas as Q.iintas vera agua decima
tjtiintat ,
do
midat , & Fortale. Certáo da Ilha , com que faô Qiiintas não fó mu y recreativas , mas fer-
'z,ai ejHe parece con.
,
tiliífimasde paó, vinhas, hortas, &,arvoredos & da mefma forte para a
-,

tinuar a mèfma Ci.


banda domar do Sul,q confta mais de vinhas,& amoreiras,que de outros
4ade,
frutos i mas com a mayor recreação da pefca do mar , & praya vaza
i &:
porque de antes não hav^a ainda a continuada artelharia da cortinado
Zmibreyro,& Caftello grande para efta parte do Poente, por iíTo na di-
ta corrente cofta^havia antigamente vários Fortes de
arteíharia,&fol-
dadefca de guarnição j hoje porém os não ha atè onde chega bem a ar*,
telharia do Zii|ibreyroi & também por ííTo hum Forte,que eftava quaíi.
hum quarto^e legoa do dito Caftello , he hoje huma .QjAintihha de vi-
nha de recreação dos Meftres do Collegio da Companhia de JESUS,
que chamãoa Qtiinta da Silveyra , ou dó Penedo do Alcayde , com re-
creativa pefça, & cafaria nobre, aonde algiis íerthores Bifpos goftáo de
ir ver pefcar os Padres.

^ 148 Muyto poucoadiante daparte.do Norte a devota


eftá
Ermida de Saó Bernardo c»m & Qiiinta pára aparte do Norte,,
cafas,
^também para aparte domar, & boa fabida a elle , aonde o mar faz
num bom tanque de agua cercada de cachopos , qúechamaó a Poça dos
Padres, por eftar junto á fua Qiiintinha do Penedo do Alcayde; &: a di-
ta Ermida dç Saó Bernardo , & fua Qiiinta foy
fundada pelo M. R. Ar-
cediago Manoel Cabral de Mello , natural da Ilha de Santa Maria
, U

defcendente dos mais nobres defcubridoresdella, & deyxou a tal Ermi-


da , & Quinta em cabeça de morgado que inftituhio , & hoje poífuem
kus Bctos , com obrigação de Miíía em todo o verão, & fervir como de
Freguezia a tantagente. Continuaó as Qitintas outro quarto de lego;i
adiante , atè outra Ermida de NoíTa Senhora da Luz, da parte da terra
Cap.XV.Segaeíe 4,íeg.de nob.Qpintas ate p fim dallha.ipp

&jà 4a parte do mar vão alguns Fortes com artelharia , & fpl4adefcaj
pofto qué por aqui ainda o mar he de tantos calhaosi que mal pôde che-»
gar ainda lancha, &
muy to menos navio a defembarcar.
149 A outra meya legoa que fe fegue , vay ainda com mayo-
res Quintas de huma,& outra partejporèm da banda do mar , aonde pò*
de haver algum defembarcadouro , logoalli ha Fortaleza com artelha-
ria, foldâdos, 6c Capitão , &: em três fitios diverfos , a nove , & mais pe-*
ças cada Forte , & no fíni da legoa eftá a Freguezia, & lugar de S. Mat-
theos, de mais de cincoenta vizinhos , pofto que efpalhados pouco a- Do Ingarde S. Mau
:

d-iapite eftá huma bahia de área branca , & calhao miúdo , aonde fe toma ii^e<n &[Mat Mona'^ ,

muyto peyxe , & falmonetcs & ahi em rocha bayxa eftá huma Forta- ''***•
-,

le,za com cafas dentro , Capitão, & foldadefca, &: quatorze peças de ar-
telharia. E meya legoa adiante de S. Mattheos eftà a Freguezia , & lu- ^^ kgarde S. Bar2
gar de Saô Bartholomeu , de coufa de cem vizinhos ,& muytos tam- thelomtH^mejaíeioa
bem efpalhados & nelle huma Ermida de São Jofeph j & dahi fe fegue '*^*'"''^*-
,

rocha de alta penedia & porque aqui havia huma defcida , & algum
;

defembarcadouro , mas de hum fó batel, tudo eftá cortadoj & da mefma


forte o eftá outra defcida muyto mais adiante, onde chamão o Negrito,
cortada também.
150 Daqu por diante atè a Igreja de NoíTa Senhora da Aju-
í

da, ("que já pertence ao lugar de Santa Barbara) nem entrada, nem Legea^ meyâ ádU
defcida ha, fenaó no fim huma pequena bahia, donde atè a ponta da Ser- <*ntejt fegue a Ermi*
reta que também chamaõ da balea , tudo he rocha talhada & muyto d^d<* míiagrofa St^
, ,

alta para diante , huma legoa, mas pouco para dentro da Ilha , Sc afafta- "^"'^ ^'* ^i'*^**
^ *
do do mar iica o famofo lugar de S. Barbara , com Freguezia da Santa, ^ T"'* ^^T ./>«
€,
'

L- •
o ^ r 11
Ui quali trezentos vizinhos, & quatro Companhias de loldados, & gra-

I «
1 _'
1 Barbara.
I
de treíen-f

^^^ yiz,inhot Antigot,


des campinas de trigo , & outras de paftos communs do Concelho , a- ^^ nobres,
onde quem quer bota feus gados fem pagar coufa alguma a Igreja tem :

Vigário, Cura, & Thefoureyro, & quatro Beneficiados} &: não fó


para o mar tem a dita Ermida de Noífa Senhora da Ajuda que dizem al-
li appareceo, êc por alli vem à vifta as nàos da índia, & íaivaó a efta Se-

nhora, & lhes refponde o Forte da terra & manda logo nova à Cida-,

de. Segunda Ermida he Noífa Senhora do Defterro de não menos ro- ,

magem, & devoção, que adminiftra o morgado dos Monizes. A tercey-


ra Ermida tem alli o CoUegio da Companhia de JESUS de Angra, em
hua rendofa fazenda que alli tem do património do Collegio.
151 Adiante do lugar de Santa Barbara hum quarto de legoa, ^
£,^ id^arde S % &
cabo jà Occidental da Ilha , eftá a Igreja , & lugar de S.Jorge com mais hã^ttarto de ilgoÁde
de oytenta vizinhos , & feu Cura , fugeyta a Santa B-.rbara , & podèra S.Barbara^&dapo-
ler Vigário feparado com feu Cura &: Santa Barbara devia ler yúh^ ta da balea onde acar-
j

por fer lugar tam grande & tam rico & que tem muy ta gente nobre, *** " comprintsmo d,4
, , ,

de quejá vierâo alguns a fer do Senado da Camera de Angra } & daqui


por diante corre a cofta tam alta, & tam brava por quafi legoa atè a dita A Capitania de An2
Serreta , ou ponta da balea fendo que por dentro faô tudo terras de tri- gra corre ainda para
,

go, & de creaçóes de gados & daqui começa a voltar a Ilha do Oefte Noroefie é- Nortel
: ,

para o Norte, continuando ainda a Capitania de Angra. pelolngarFolhadaet^


^
152 Defte pois cabo Occidental da Ilha corre ainda a Capita-
t"ktJ!'imil%
nla de Angra legoa & meya para oNoroeftejCora cofta para mar alto, p^l/ -^^'^-^-^ V^
èc "^
' •
39á liyíoVI.DâRegiallhaXci-ccyra.'

èc defpcnhada fem caminho atè o lugar chamado Folhadacs , pela muyí


ta rriadcyra de Folhados que alli havia ^ de que j à por terra fe tem roça*
do^anta, que já poralli ha muytos tractos de vinhas, & terras depaó, 6c
fajans fertiliílimas i ôc aqui em direyto do Qefnoroefte, fem chegara
Noroefte, acaba a Capitania de Angra, & começa ada Praya, com
igualdade huma à outra , cujo primey ro lugar he o de SaÕ Roque , que
thamáo os Altares^ como acima já diíTemos cap. 4. & 5 & concluída af- .

íim a circumferenciâ, & coita do mar da Ilha Terceyra, feguc-fe tratar*


ittos do interior delia.

C A P I T U L Q XYI.

Do Cartão interior , (infertilidade da Ilha Terceyra,

^Yi '-í^ y- maritimas das duas Capitanias da Ter*'


jjj-g^gj^ 2s coftas
y
ccyra, fegue-fedarmos noticia do feu interior Certáoj Sc
ainda que quaíi todos os lugares, povoações , Villas, Cidade , eftão á &
Bo Uigar cí'áw<íáo beyra-mar , ou muyto perto delle>comtudo roais no certão,fahindo da
jFont4inhas , no Cer- Villa da Praya para Óefnoroefte ^ efta hum lugar, chamado Fontaínhas,
tai, humalegoada
^^^^^ muytâs fontes que nelle ha , cuja Parochial fe intitula NoíTa Se-
^^^^
GiZroéZ!*
nhor2i da Pena , 6c tem feu Vigário , &
atè cineoenta moradores , húa &
•^* - {-' Ermida de Santo António , cabeça de hum baftante morgado , que inf-
tituhio hum Antão Fernandes de Ávila & ha nefte lugar lavradores ri-
j

cos, por fer o íitio muy fcrfil , & ficar em diftancia da Praya fó huma le-*
goa ; porém defde o Nafcente da dita Villa da Praya para o Poente cor-
re o interior da Ilha com vaftas campinas, a que chamão os Cinco Pi-
cos, porque os tem á roda ; 6c outra parte chamaó o Paul , por naõ fó fer
terra play na & farta de agua, mas detaõ vaftos, & enxutos paftos , que
,

ambas etos campinas paííaó de três legoas , ^ innumeravel ereaçaõ de


gados , í< para a parte do Sul acabaõ em fertiliflimas terras de trigo , Ôc
-)5araaparre do Norte vários matos , 6c muytos , 6c fertilifii mos po-
mares-
154. Da Cidade
para o Poente , além daquclle tam povoado
caminhojôc quaíi rua de legoa atè S.Mattheos, (como jà vimos) vay ou-
tro , que chamâo caminho do meyo , que continua afaftando-fe quarto
. de legoa do mar , 6c todo de vinhas , pomares , 6c Qiiintas de huma , 8c
,

Boi umpmidetns
' ^ ^^^^^
hqpm ck Amadeu fãMl
^^^^^^
,^r
í?Í£;cKco/'2Vc!í,KoCí?--^e forte
/ltilt ti
divididas com muros , ou paredes altas de pedra,
"U-
que nem amdavmhas neftallha le communicaohuas cornou-
taSenirea pl(iya,& tras de diverfos donos j 8c por iflb aos caminhos , que não faõ eftradas
Çià^ic largas, 6c abertas , mas que laó de paredes continuadas de huma 6c oti- ,

tra parte, fe atraveífaõde huma eftrada para a outra , como traveíTas de


huma para outra rua a taes caminhos chamaÔ Canadas 6c nenhúa def-
: :

'-
tas Quintas dcyxa deter fuás caí as feparadas, 6c á face do caminho, ou

'I>M ires efiy*dM de


Canada; 6c algumas com Ermida de Miíía , 6c entrada do caminho para
0oatinnadM j^mntai clla. Mais para o Norte , 6c quafi legoa do mar do Sul vay de Oriente ,

^ue daCidade fíihtm a Pocnte,6c da porta de Santa Catharina , huma eftrada, que chamaõo
^ítm o Posntt, caminho de cima , que ao principio, 6f para a parte do Norte he de ter-
ras

;t
Cab.XVI.DofertiIíffim6,& fecréatlvô mtê^

râs de trigo -, tem a nobre Quinta , 5c caiaria , com £rmi«


Sc mais adiante
da; publica , chamada do Provedor, & dalli por diante fe chama efte ca-
miiiho o Pedregal , por fer de huma , &í outra parte de bifcouto de pe-
dra j^& vinhas, & acabar em cima com huma Quinta de vinha , horta, ôc
pomá|rcs,&dahi entrar no mato feguinte que inclina para o Norte. f

155 Além deftes três caminhos, (ode bay xo, o do meyo , o ^


& .

de cima ) que fahemda porta de Santa Catharina , &: da Cidade , vay ^'*^*5''** £],£
mais pelo JNorte de cima fubindo brandamente outra eftrada
^^^^^^^J^a*CUadf*^h^p^?a
trado que chamâo o Pofto Santo , ou Porto Santo , aonde eftá húa po- ^ ^^^^^ ^fg o nohré^
voaçaó de tam fadios ares , tam nobres cafarias, Ermidas, & Quintas tzo ^tio chataadi lofi_i
recreativas , & fruftiferas , Ôc mais para cima delias a Quinta das ferias Sam**
do Collegio da Companhia , que com razaó fe chama Pofto , ou Porto
Santo, porque tèdahitantaj& tam excellente agua fahe,& de beber,
que aprovey tando-fe todos delia , corre ainda copiofa , & huma valente
legoa atè o bui , atraveííando todos os fobreditos três caminhos, & a to-
dos feusvinhagos, pomares, hortas, &
Quintas, & ainda chega aentrar
no mar do Sul , & no meyo da legoa que vay do monte do Braíil a Saó
Matheos :&dafahida da Cidade para o tal Pofto Santo, afíirmaFru-
6:uofo que não havia dia que por ella não paíTaflem mais de mil peíToaS
paraQtíintas,& parecia huma rua das principaes de Lisboa. E alguém
dirá que em o tal Pofto Santo, &
em alguma Ermida delle deve infti-
tuirfe Igreja Parochial , & feu Vigário, ou Cura , pois tem muy tos mo-
radores, & lavradores continuos^&muytodiftantes os Sacramentos na
Cidade.
156 Outro lugar ha no interior da Ilha, no fim da Capitania
da Praya, & meya legoa do Sul & Ribeyra Secca, do qual lugar fize- jy^
, -, ^ .
i,

mos jà menção no fim do cap. 6. & fe chama Fonte baftarda , & he da in- Fg,^^^
lafflrda^&Ã
vocação de Santa Barbaraj porém para o Norte mais ao interior da Ilha» chamado Caldtyra
& por cima da campina chamada o Paul, eftá huma grande cúáeyvQi mico donde fahia fo-j
ou profundo valle cercado de rochedos j & fó com huma bayxa aberta, ^«, anus defe de^s»^
& fahida para o Sul j de largura do tiro de huma béfta j & foy efta cal- ^^**'^{^k*'^
dcyradehum fidalgo chamado Sebaftiaó Moniz j & defua mulher Do- ii<i': ^M
na Joanna , & depois de feu filho Guilherme Moniz , & nella eftà huma
furna de fogo, que dey ta continuo fumo ,& não ha em toda a Ilha Ter-
ccyra outro algum fogo da terra , ou final delle & por líTo confidera
-y

Fruduofo , que defta grande caldcyra fahiriaó os bifcoutos de pedra,


quafi todos que ha nefta Ilha , & fe achàraò já formados , 8c compoftos
de muy tos annos antes que a Ilha fe defcubriíTe êc eu daqui tiro que
•, V
não ha neftas Ilhas outra mais livre de fogo que a Ilha Tercey ra , que &
poriflb treme menos do que as outras excepto quando a Ilha de S. Mi-
•,

guel treme muyto, porque como efta he toda em mineraes de fogo fun-«
dada , & fó trinta legoas diftante pelo fundiíUmo centro do mar , che-
gaõ Gs eíFeytos do grande fogo de Saó Miguel ao único mineral de fo*
go que ha na Ilha Terceyra , 8c a faz entaó tremer ; 8c aflira também tre«
raeo poucos annos antes do de 1640, antes da Acclamaçaó do Scnhof
Rey Dom joaô IV. em que cahio grande parte da Villa da Praya , & fô ^

tornou a reedificar j 8c tremco também no anno de 1 647. mas fem dam-^


nos coíifideraveis I como cu yi. : ...

Ce £5^7 Quan^^
3©! ILivro VI. Dá Regia Ilha Terceyra,

15
7 Quanto á fertilidade da Ilha Terccyra , pofto que eíla
he (nayor na largura que a de Saô Miguel , pois tem quatro legoas de
largo, &Saó Miguel pouco mais deduas,& em parte jiuma fó, he com-
"JrlgoefHtda a Ter-
^^j^^ menos de metade da Ilha de Saõ Miguel no compnmento j po»
tejra, chega 4 ^«4-.
^^^ ^ moHtuofa a de Sao Miguel, & tam cheya de lugares de con-
^jjj^^
-^ ttnuo fogo, & tam mcultaem muytas partes oc pelo Contrario a 1 er-
i

"
r ceyra he tanto mais play na, ôctantornais cultivada, que quanto 30 tri-
•5 go , dá quafi o mefrao que Saó Miguel nos annos que não faó eftereisp
,

£i chega a quatorze mil moyos cgdâ anno , & a mai§ i & efpecialraencej
^ porque já íc não faz era a TerceyraPaftel, como fe fazia muyto, ôc fc
faz ainda algum em Saõ Miguel & nem na Tereey rá fe admittio tanto
-,

milho groflb, ou zaburro , como em Saó Miguel íe admittio pois co- j

nheci a Terceyra fem algum tal milho , mais que poucas njaífarocas pa-
ra aflfar, & comer por appetite , lèm , nem de miftura fe fazer delle paó
algum} nem convém em Ilhas plantallo muyto, porque faó de menos
terra,&demaispedreyraporbayxo, ôcatteníia otal milho,pugafta a
terra tanto, que em poucos annos não fica capaz de dar os fratosjác do-
I>râdos, do que d'antes dava j o que fe não Teguc do milho miúdo , nem.
do trigo , nem de outros legumes , que não gaílaó tanto a terra com ca-
nas tam altas, & tam groí&s cada anno.
158 De vinho he fértil, mas agente hetanta,& tam grande
de fora o concurfo , que nem para a Ilha baila o vinho delia , nem he.o
melhoP} mas excellcnte Iheyem da Ilha do Fico, do Fayal, & de S. Jòr-
Do mtsytoy & exceU ge, com que abunda ilão fó para fi , mas para as nàos da índia. Armadas,
ientt vinho que vay & Frotâs, que a proverfe Vão alli , como também às continuas çmbarca-
ftmfrt à Terceyra çôgg eftfangeyras & atè da Ilha da Madeyra lhe vem exeellente vinhoj
}

das outras vwnhas


^ levão trigo, de que ha na Cidade de Angra celleyros jou Graneys ef^
7 delira fráç9 * J P^ciaes, que faó grandes còvas abertas na terra, & cada cova he muyto
"

mtmt, funda , & leva muy tos moyos de trigo com feu boi:al redondo em cima
de três palmos de diâmetro ,,que fe tapa com huma fó pedra de cantaria
redonda, como huma mò de moinho, com o final em cima do dono de
quem he aquella cova , & no grande, Sc fundo vâo, redondo, da cova fe
conferva o trigo , como no ventre de fua mãy a terra , tam puro, & lim-
po de todo o bicho, & vicio, que fe tem experiência de fer melhor, & fa-
«er melhor paÓ o trigo das covas , do que ode Graneys ou celleyros
,

das caías de fora j & náo fe fabe que em algum tempo fe furtaíTe trigo
de cova alguma, nem que alguma fe abriííe fem o mandar feu dono Sc $

para iflb ha officiaes Éncovadores, & Dcfencovadores > que o fazem de-
fira, & perfey tamente. E efte he o grande campo das covas que em An-
gra eílá fto terreyrodo Convento de N- Senhora da Graça & em taes,

còv^as cliega a eftar o trigo anno intey ro,&: fempre perfeyto.


159 De pey xe he tam abundante todo o mar à roda deíla í lha>
qlie não he neceíTario que os barcos fe afaftem muyto delia para virem

^ Y^^^ carregados de peyxe, & quando ha tempeftade de huma parte vem


'««r^»- ,
peyxe ^rect.oios
^^ ^^^^^ ^ ^ ^^^ ^^^^^ ^ ^^^^ ^^ 'SJ^Wsl da Praya , U do Norte a Cidade
,

marifcoit
de Angra & náo fó ha o peyxe ordinário , & da pobreza , como fardi-
;

nhasj cavalas, chicharros, & em exceíHva copia nem fó peyxe {tco que
-,

Icvaõ os Eftrangeyros ,& o vendem alli maií barato pelo que com elle
•s > com-

-r*'
Câp.Xyi.Daab&d.de tng.pcke,cames3.Si menos vliiti.jêj

compraó mas também muyta


} de peyxes raimofos , como garou^
cafta
pas, abroteas, falmoneces, tartarugas , ( que atè a doentes íe dão} doura-
das, bicudas, chernes, gorazes, fargos, mugens, tainhas,&c. ôc toda a ca*
fta de marifcosj & as mayores, & melhores lagoftas que ha no mar,& fo-
bre tudo cracas , que todos confcflaó fer dos marifcos o rey 3 & o que
mais he , que muytas calas nobres tem barcos ieus , que os pefcadores
trazem arrendados, & o melhor peyxe que tomão he do Senhor do bar-
co,Sc o maás muyto barato.
160 De toda a cafta de carnes he tam abundante a Ilha Ter-
ceYra,que affirma Fruítuofo /w. 6.cap.^. que havia nella mais de cem ^^ -- -i*-,
mil cabeças de gado vacaril , & havia creador ,que tinha mais de qui- ^ perf,jtai carnes âé
nhentas rezes deftas , & mais de cento & vinte vacas parideyras ; & ha- ^aca carmyro caf-
,

via na Ilha dezafete açougues continues ,& na Cidade cmco ácmú^i trado ^& forcos mais
Bos quaes cinco fe matavão cada femana vinte rezes vacarís , & que def* fadiis.é-exctlltntif-
**
íegadofecreava tanto fó nallhaTerceyra, como em todas as outras ^'""'''^"''^'''j?'"'
Ilhas dos AíTores juntas & difto dá a razão o mefmo Frua:uofo,di-^'^^''/'
:
^''* l"^-^- ^
zendo que fe não matava nos açougues outra carne , & fer a vacaril def- '
*
—— —
,/^m
tailha tam branda, & goftofa como a melhor de Entre Douro & Minho
de Portugal. Confta porém hoje , que nos açougues fe mata também
carneyro , & não fenâo caftradoj & cabras não vão ao açougue, cora ha-
ver muyta creação delias para ladicinios ôc defta abundância faó tef.
:

timunhas os preços , porque cada arrátel de vaca cuftava fó dez reis y^


pouco mais o arrátel de carneyro j &
por mais Frotas , Armadas , & na-
vios que vieflem a proverfe , fe não levantava o preço ; mas jà hoje hs
may or, por ter multiplicado muy to a gente da terra, Sc fer mayor o con«
curfo das Nações de fora, &
o dinheyro muy to mais.
161 &
Das outras carnes da terra, do ar he tanta a copia , que o
mayor porco cufta quatro , cinco , atè féis mil reis, &c humleytão féis
vincéis, & como he carne creada com junça, he menos nociva, 6c que em
todo o ahno fe pode comer fem fazer mal , & muyto goftofa , & muyto
mais os toucinhos, de que vem muytos de mimo a Portugal} como tam-
bcnl- vem a junça , que verde he pafto na mefma terra ainda para os por-
cos j & quando jà Colhida , & avelada, he maftigada,regalo para a gente,
6c delia, moida em farinha , com aflucar, & agua de flor fe fazem caldos
peytoraes, & preciofos. De coelhos he tanta a multidão , que os fcnho- i)aâranâeeõpiá dd
res de Qiiintas, & vinhas pagaõ a caçadores , que para fi os vão mataf) outras carnts dt coe.
êc os mcfmos caçadores os vendem ao depois , & a vintém cada hum , ^ lhos, & avts,& fre-
a muyto menos os laparoS} Sc para itto ha là muytos, & muyto finos caés f ^^^^ií
de caça , & excellentes foroés , & atè com laços , poftos em feus cami-
nhos , os apanhão. De aves ha toda a boa cafta , gallinhas a toftão , fran-
gos a vintém , codornizes três por hum vintém , perdizes a cincoentá
reis , mais caras que em outras Ilhas , porque nefta ha mais riqueza, 8>€
nvãis compradores delias de outra infinidade , & de íuas varias , & fua-
:

viílinias muficas, feria nu nca acabar , o referillas: bafta dizer, como diz
Fruduofo cap. 6. do liv. 6. que na Terccyra havia ^uytos , ôc muy fer-
mofos Aííores, quejà não ha , mas que na Falcões , Gaviões , Bilha»
fres,&: Cqfvos j Sc alèm de pombas bravâs , muytos pombaes de pombas
maníiís.
Ce ii 162 D®
3©í Livro VI. Da Regia Ilha Terceyra.'

162 De laáticittióiS íie abundante Ilha,com tantas vacaSjOyei


efta
lhas,ôc cabras^q ao fahir da Cidade,acima do Gaftelio dos moinhosjme-.
ya legoa quaíi para o i>i orte, onde fahe a grande fonte , que por ancono*/
&
Da ahmãaneia & ^naíia ehamaô,(Onde nafce a agua} com que amda mais perto da Gi-.
/'r«/íi/íy<*ííífl(í' /<*ííí-dademoeni doze nioinbos: toda eílameyalcgoa de bella faliida anda

ciniís , é'^fteyjíidaí. fempre cheya de moços carregados de queyjos freícos de toda a cafta»

queyjadas, requeyjoés ,tam grandes ,ôc táiii baratos j que hum req-uey-;
jaój que enche hum lenço , cuíta hum vintém ; &
he eííe o gazeo. ceie«
bre dos Eftudantes ; & tomo nefta Ilha ha fempre muyto aííucar , pela
iíiuyta cayxaria que alli vay" do Brafil, nella le fazem queyjadas tamt
grandes, & detam vários , ôc prèciofos doces ,que nem bolo de bacia^
nem outro doce lhe chegajôc quem comCj & acaba huma come bem
, , fe
he das que fazem no Convento das Freyras da Efperança , que mais
fe
efpecialmente fazem eftas queyjadas, &: nem em outra Ilha algúa j nem
. ainda em Portugal íe fazem tam perfey tas ao que ajuda mais j haver :

nefta Ilha nâo fó muyto mel , ( que ehamaó de canas por vir feyto da ,

BrafiljSc tirado do aíliicar} mas tanto mel de abelhas,que diz Fruduofa


haver homem no Pofto, ou Porto Santo, que tem quinhentas colmeas,
& o melhor pafto delias. ^ -

Damtiltiàao ãe ma- 1 63 Atède arvoredos, lenhas, & matos he mais povoada , Sc ,

dtjmf & lenhui. bem provida efta Ilha porque tomo tem o interior de quatro legoas de
-,

largo, & fete de comprimento, & nunca teve Engenhos de aííucar , que
confomem toda a lenha & por fer de^nenos fogo , tem mais no funda
-,

âs pedreyras, & por cima mais alta a pura terra, por iffo fe achão nella ar-
vores tam grandes , que de pereyros tal havia que do mefmo tronco
fahiaó treze à roda, & tam eheyos de fruta , que vendendo-fe os peros a
dous, & a três por hum real rendia cada anno féis mil reis, fó em os que
,

fe vendiaó ; & em foutos de caílanheyros , tal fe achava & tam antigo, ,

que feu tronco tinha de groíTo circuito trinta & cinco palmos & em ,

cima infinidade de caftanhas & para a banda do Norte,& de Oefte, poc


:

cima das campinas chamadas Patalugo, ha tam grandes madeyrasde


paos brancos, fanguinhós, louros, folhados, Sc cedros, & de tanta, & tão
efpeíía altura, que nella chega a gente a perder caminho dos cedros po- :

rém ha menos já, por ferem muyto bufcados , &


haver muytos officiaes
'

quedelleslavráoriquiílimas peças', que para Portugal, doutras partes


fe embarcão; que quanto mato ordinário para o fogo , bafta fahir de ma-
nhãa da cafa de feu fenhor o feu efcravo com machado, &beíla, para
voltar com ella carregada a jantar a cafa, & tornar logo depois de jantar,
& voltar da mefma forte à noyte j tam prompta , & tam barata & tanta ,

he a lenha defta Ilha.


164 Bafta pois dizer das excellencias da Ilha Terceyra , o que
( fem fer delia , mas da Ilha de Saò Miguel ) diz o douto & verdadey- ,

ro Fruduofo liv. 6. cap. ^ §lue he a tmiverfal efcala do mar do Poente ,


. &
por todo o mundo celebr^dk, aonde rejide o coração , o governo de todas as&
Jlhas dos JJfores mfua Cidade de Jngra^&c. Ôc no mefmo liv. 6. cap. 6.
^
fine, accrefcenta tbi ; Alem dafiiafertilidade , he muytofert.il e/ia Itht com
que lhe vem defora , das outras Ilhas dos JJfores com que he , co^p Rainha^
-,

de todas as Ilhas bem fervida 3 porque de Sao Jorge lhe vem gado maàeyxa ,

para
Cap.XVI.0o maritímo cÔínefCiPilotóS mCigú.Scãtog. lof
pamcayxas ,^ navios ,frutas , vinhos ydoFayal carnej/rosy Inhames osmc"
ihoresj &ateo excelkntepeyxe Efcolar j dç Ptco os melhores vinhos , que & o
vence a todos , que he o vtnhopajjado da Gracwfa as cevadas , as manteygas^
-,

meligallmhasy& muyto carneyro ^ da Ilha das Flores , &


da do Corvo , Cf*
drosy& outras ricas madeyrasymuyta Ua , &
muyto pano da terra , comfó a
<;orda mefma Ua-tfacas , &facos,gallmhas i toucinhos t & muyta coura* &
ma-f^ ate da Ilha de Santa Marta lhe vay o barro para O; melhor louça , éf
muytopeyxefeco; &de Sao Miguel toda, a cajta de Unho em rama 3 g^ empa--^
mSi£mJàcaSi é^facos-y deforte ÇfaÕ palavras de FruãMofo^ deforte quepode
Szer a Ilha Terceyra, que todas as outras Ilhasfao fuás efcravas , pois quanr
tonellasfe crias vay para aTerceyra, éf dejia fao fuás Gitmtas as outras
Ilhas^
165 E naõ obftaftte toda a Terceyra tam permeável, que
, fer
«m menos de vinte & quatro horas fe anda toda àroda pelos devotos
do Santiílimo jjdefde que fe expõem o Senhor em Quinta Feyra da Se-
jnana Santa atè fe acabar o Oíficio da Sefta feyra , & a pè , por lavrado* DaCÀtfalíarídíitfê ?l
dd ^&ft enjin^ núlihd.
íes devotos que andáo aquellas dezafete legoas em redondo > ainda
Tíretjfa,
comtudo tem tam copiofacreaçáo deEgoas , que com cobras delias fe
debulha o trigo nefta Ilha , o que fe não faz nas outras Ilhas fenáo com
trilhos de gado vacum j &
afiim ha na Teaceyra muyta , muy cxccl- &
lcntecavallariaj& fidalgos curiofos de crear,& enfinar generofos Gi-
netes i &
fe tam defenfavcl era a Ilha por fó gente de pè , que em vinte
&c quatro horas acorre á roda , quam inconquiftavel fcrá , tendo tanta^
Sc tam boa cavallaria ,que a corra , vigie , èc defenda em menos horas?
Sobre ifto he de tal temperamento , &
de clima tam fadio, ôcmanti?
mentos tam digeriveis , que nella vivemos homés temperados mais do
. que em outras Ilhas, &
ainda os mais nobres, de que conheci muy tos fi-
dalgos de oy tenta, noventa, &: cem annos: & defte temperamento vera
&
ofahirem dalli engenhos fuperijores para todas as artes, fciencias, (co- He muito ^Htitivi^
mo adiante veremos ) pois atè Pilotos fahiraõ dalli tam deílros , que hú oihomes nAdiUilhàl
Ayres Fernandez foy por vinte vezes Piloto à índia fem alguma hora ,

arribar, & o feguio leu filho Luís Ayres :& hum Manoel Fernandez
foy tam infigne Piloto de toda Hefpanha , que foy o primeyro que def-
:cubrio a derrota de Portugal a Malaca fem antes defta tocar na Indiaj
,

-& em Goa ò faziaó Piloto mòr do Sul , mas ElRcy D, Sebaftiaó o cha-
mou, & levou por Piloto morda fua Galé Real , & feu Real Galeaó Saô Doígratidêf engénhbí
Martinho em que a ultima vez paíTou a Africa, & o honrou com o ha- para tudo ejUé da tai
,

bito de Chrifto, tenças , & outras honras & tendo fido examinado pe- Ilha tem fàhído.^i
:

los mayores Pilotos de Portugal, confeíTáraó todos a ElRey que aquel-


le homem fabia tudo o que elles fabiaó , & que todos elles não fabiaõ ò
que mais fabia elle. Outro infigne Piloto fahio da mefma Terceyra, por
nome Joaõ Fernandez , que foy o primeyro^ que do mar do Sul das ín-
dias de Caftella lahio pelo Eftreyto de Magalhães & partindo da Ci- -,

dade dos Reys em a Capitania, & com a Almiranta, efta fe perdco, & el-
le paffou todo o Eftreyto , & em breve aportou na fua Ilha Terceyra , ôc
dahi logo em Sevilha, levando comfigo dous Gígantes,macho,ôc feraeaj
que tinha achado, & tomado em as coftas do Eftreyto.
., 166 Támfubidos Engenhos para tudo , também vem das me^
•' Ce iij dicinaes
Livro VI. Da Rcgiá Ilha Terceyra^ '"--^

que crk a dita Ilha porque acima dos moinhos da A-


dicinaes coufas ;

'DMttaturaet 2líedi. B^^^^^ >^^^^^^^ pequena furna, le tira almagre tam fino, quedey-
sinanjue ha na Ma t^sLiido GOHi eile emplaltrosnos câvallos , os cura períeytamcnte , como
Tercejra. íq fora bolo ar memeo ,ou bonarmenico &
na mefma parte junto à dita
:

Agualva ha campos cubertos de muytos eubres , hervà muy medicinal


para muytas enfermidades , &
efpecialmentc para quaefquer queymai-
duras de fogo-, tanto aífim , que hum grande herbolario , &
Fifico, que
das índias de Caftella aportou em a Terceyra , vendo, &
conhecendo a
hervá mandou eftillar as flores delia , colhidas antes do Sol nafcer j &
com a tal agua curou a muytas peíToas de varias doençaSi& levou muy-
to^ vafos cheyos da dita agua , dizendo que levava nella riquiífima me*
dicina , em que efperava fazer muy to dinhey ro nas índias de Caftella,
'para onde elle voltava } ôc accrefcentava que havia na tal Ilha a mais fi-
lia falfa parrilha que fe dava nas índias de Caftella donde elle viniu} &
nãoquerendodizer quchervafofle, fufpeytou-fefer a que càchama*.
mos Hera , por cfta na Terceyra fe parecer muy to com a falfa parrilha
&
das Índias, por na tal Ilha fe ufar muy to da dita fua hera nas enfermii
&
dades, fc darem com ella fuadouros , & delia haver páos tam grandesi
&
que delles fazem copos , para mais fegura , falutiferamente beberem.
167 Dirá ainda alguém Se tanto fervem à ilha Terceyra os
:

2)tf
f«* da Ilha Ter- de fora delia , ella em que ferve aos de fora ? Refponde-fe , que como a
"'*'
^^^^ Terceyra , 6c a fua Angra he a cabeça das mais Ilhas, delia leváo as
r^* /I""'^'"^''*'
trss Ilhoí,
anais, o que de fua cabeça coftumaó levar os membros de hum corpo j &
aílim como a cabeça he a que vendo, ouvindo , examinando j &provan-
do, he a que julga o que convém a cada membro humano , & eftes delia
recebem os bem formados efpiritos vitaes , afllm as mais Ilhas da Tef-
&
ceyra; &
como a efta vay dar toda a cafta de fazendas,drogas, efpecia-
rias que ha não fó em Portugal, & fuás ricas Conquiftas, mas nas Na-
ções eftrangey ras , de tudo fe vão prover a Angra as cutras Ilhas , que
tudo nella achaõ , o aíTucar , eourama , & madeyra do Brafil , & Mara-
&
nhão } o marfim , efcravos de Angola , & Cabo Verde ; a canela , pi-
&
menta, cravo, coufas preciofas, & ainda a pedraria, as pérolas, &
aljô-
far da índia Oriental ; toda a efpecie de panos , &
de fedas de Itália , In-
glaterra, França,& Hollandaj & o azey te, fal, &
cera de Portugalj & atè
õ ferro , breu, enxárcias , velames , anchoras , & amarras de navios } & fe
nada difto querem as outras Ilhas , levaó em prata , & ouro o preço do
que trouxeraó ; pelo que a Ilha Terceyra , & Cidade de Angra íem al- ,

&
gúahora fcrvir, fenaó fó a feu Deos , a fcu Rey , he bufcada, & fervida
de todas as outras Gentes. O que fuppofto, vamos jà com a hiftoria por
diante.

CAP.

r»-
;.-,ti^^-;-rsíf
^' '.:^iR[*sr

Cap. XVII .Dos povoadores que ficàraõ ân a Ilha. ^^


!^

'bo
CAP T U L O XVIL
I l

« '
Da Nobreza que entrou & povoou & ainda habita é
, ,

í
lllja Terceyra. -omociv^íT.^T^^

Í)í>í Bruges^ Arcas, Paims, &


Tevês j &
dos Homes , Cameras,
Dornelím , Noronha^, Pamplonas , <z^ Fonfecas, >

168 r^ O primeyro
& verdadeyro Povoador da Ilha Tcrcey-
,

_ ra, & Capitão Donatário de toda ella, & dos dous Dona-
'

tários fcguintcs cm que fe repartio a Ilha & da fidalguia, & afcenden-


, ,

^ia de todos trcs & fucceíTaõ nas Capitanias já diíTemos acima neft©
, ,

dizermos , que povoa^


Irv. 6. defde ocaç. i. atè o caf. 10. fcgue-fe agora
jdorcsmais levarão comfigOj & que defcendentcsjaífim dos taesCapi^
táes , como dos companheyros, ficarão aa Terceyra, & mais Ilhas , pa-
xá fe reconhecer a nobreza delles.
169 Do primeyro pois Donatário da Terceyra, o fidalgo Fla-
mengo Jacome de Bruges , & da Dama fua mulher Sancha Rodrigucz ^^ iaufiresfamilÍM
de Arca , não ficou filho varaó algum , mas a primeyra de fuás legitimas dosPains.qtte havU»
'filhas, chamada Antónia Dias de Arca, ou Arce, cafouna
mefma Whi^ fucetdir na capita*
-Terceyra com hum fidalgo Inglez chamado Duarte Paim , filho de ou- »«
de toda « Ilbâ^

tinha vindo "^freejra.


"tro grande fidalgo Thomàs Elim Paim» quede Inglaterra
por Secretario da Rainha D. Felippa de Lancaftre , mulher delRey D.
Joaó o I. & conforme à doação feyta a Jacome de Bruges , & nomeada-
mente a fua primeyra filha , não tendo filho varão , efta filha D. Antó-
nia, & por ella feu marido Duarte Paim, crão os que fe feguiaó na intey-
,ra Capitania de toda a Ilha Terceyra , mas como o pay , & fogro , pri-
meyro Capitão , era já morto , & dentro de poucos annos morrco tam-
bém Duarte Paim , por mais queefte fez demanda á Capitania,& a con-
tinuou feu filho legitimo Diogo Paim , comtudo por lhe íurairem a
Real Doação feyta a feu avo materno, & a fua mãy , foy negada por
fentença a Capitania a quem pertencia , & dividida , &c dada aos dous
que fe feguirão nella como veremos ; & nem a Commcnda de Sanriag*
que tinha Duarte Paim , nem eíTa fe deo ao filho Diogo Paim.
1 70 Caiou porém Diogo Paim com Branca da Camera , filiia jy^^ legitimai Cme^
dePedralvesda Camera, irmão do fegundo Capitão do Funchal j& ras da Madejra <jttt
ainda que defta mulher fe não contão filhos que tiveíTe Diogo Paim, ca- feaniraicomoíPatm
foueftefegundavezcomCatharina da Camera, fiíhade Aacâo IVIaf- dalmejini.
tins Homem, & de Ifabel Dornellas da Camera , filha também do dito
Pedralves da Camera,& teve o dito Diogo Paim defta fua fegunda mu-
lher Catharina da Camera , fobrinha da primeyra Branca da Camera;
teve,digo, a António Paim, qu4 cafouna raéíma Ilha Terceyra com
Merita Euangelha , defcendente da familia dos antigos fidalgos do ap-
.pellidoEuangelhos, dos quaes Joaó Euangelho inftituhio o morgado
de Saõ Pedro em Villa Nova & do tal António Paim ilafceo Duarte
:

Paim , como o bifavò paterno , & çafou com D. Bernalrda , filha ds Pau-
<:í
3©8 Livro VI. Da Regia IlhaTerceyra;
íõ Fer feyra, & pofto que defte cafamento fe não fabem deícendenteSjÊ^
be-fe comtudo que Diogo Paim teve íeguado filho , chamado Jerony».
mo Paim, irmáo do fobredito António Paim, & tio do Duarte,
J^ifi-v OtalJeronymoPaim calou com huma filha de Joãp de
íiPw NeíilífimosTe- Tcvc o moço , & defte calamento houve , & ha ainda na Ilha muyta
t/es, tfuefe eompui.e- delcendencia, & hum Manoel da Camera, Clérigo, & Vigário
das Fon-
fM com es Patnsptr tainhas , primeyro neto de Diogo Paitp , fegundo neto de Duartç Paim
"""*
to primeyro do liome, & terceyr ó neto de Thomàs Elim Paim , o Secre-

tario da Rainha D. Felippa , por linha de varonia j & também terceyro


neto , por linha feminina , do primeyro Donatário de toda a Ilha Ter^
^ceyra Jacome de Bruges j & da Regia Dama , fua mulher. E daqui fevè,
que ainda que a fortuna, contra a verdadeyra juftiça , tirou a Capitania
aos defcendentes de Jacome de Bruges , &: de fêu genro Duarte Paim,
íiáo lhe tirou comtudo aconfervaçáo de fua nòbililíima defcendeneia,
que ainda hoje fe conferva em a Ilha com nobreza limpeza, & riqueza,
,

de que também era hum Chriftovâo Paim^ fidalgo da Villa daPraya.


He porém de advertir j que defte Jâcome de Bruges quizerão alguns
dizer que vinháo os Borges da Ilha Tcrceyra , mudado o appelUdo de
Bruges em Bbfgesj porém he engano, como adiante veremos.
I/i- I»^a ordem de tempo em que entrarão na Ilha Tèrceyfsí
feus mais nobres Povoadores , feguem-fe os da familia dos Tevês, (dey-
icada a precedência na nobreza de humas famílias a outras , que eíTa , co«
moodiofa, nos não toca a nòs julgar} porque como o Capitão Dona-
tário Jacome de Bruges , vindo de Lisboa pela Madeyra , trouxe à Ter-
ceyracomfigo , entre outros fidalgos , a hum Diogo de Teve, do quajL
confta defcender de outro Diogo de Teve j que da Madeyra foy pari,
Caftella em tempo delRey D. Henrique , &: lhe foy tomado o feu mor-
gado para a Coroa & efte primeyro Diogo de Teve deícendia de hum
;

Joaô de Teve, celebre fidalgo em Portugal , filho de António de Teve,


^ irmaó de Dona Maria de Teve , que cafou em Portugal com Fernão
ÍMartins de Soufa, dos quacs nafceo Chriftovaó de Soufa & defte ou-,

-tro Fernaõ Martins de Soufa , pay de Chriftovaó de Soufa , fenhõr de


Bayaõ , cafa bem conhecida em Portugal } & como fuccedeo que o Ca*
pitaõ Bruges fe fahio da Terceyra , & nunca mais appareceo & o feu ;

companheyro Diogo de Teve , fem dar conca do Capitão , morreo na


prizaõemLisboa. '^
- ' -^i;;i^>
' >

173 Ficoiide'DiogodéT*eve,feufilhoJoáódeTevejoqual
trouxe demanda com Diogo Paim , por o pay de João de Teve ter to-
mado a Serra de Santiago ao Capitão Bruges avo materno de Diogo
,

Paim mas como fe compuzerão cafando Diogo sPaim a feu filho Jero-
;

nymo Paim com huma filha de Joaô de Teve ( chamado o moço } di-
,

vidirão a Serra entre fi, que rendia entaó quatrocentos moyos de trigo;
& ficou a cafa dos Tevês muyto rica , & a Serra de Santiago chamando-
fe, a Serra de João de Tevej Sceftacafa fe conferva hoje aparentada
com a mayor nobreza de todas as Ilhas pois a ultima filha do ultima
,

Joaó de Teve cafou com Luis Diogo Leyte do Canto & Vafconcellos,
filho morgado de Jacome Leyte Botelho & Vafconcellos, fidalgos bem
conhecidos em Angra da Terceyra , & em Ponta Delgada de Saó Mi-
*-'
^ gueh

t»*
Éi IÉfc>jÉ i> áfc tu nfn .1 m !•

€ap.XVíí.DosBruges,Tevcs,PainSjHQmês,Camef.&c,^çf

guel: porém efta eafa dos Tevês lie dos Têvçs por linha fenjinina, ,

^uepprvâroniahedos antigos fidalgos Vafconcçlios , pois Joa6 Meli- D 01 F'afcmc'eHts t^m


a
des de Vafconcellos cafou com D, Maria de Teve , Ôc.por obrigação de faô varotiia dssTt'
vei.
morgados , heefta de Tevês , como em leu lugar mais largamente vere-
mos, quando fallarmos dos Vafconeellos. ^ j-^.. .

,1 74 Aos appellidos, & famílias de Bruges, Arça3Paímj& Te?


ve fcgucm-feos appellidos de Homés , Cameras , Dorndlas , Noror Dos Martins
,
Uomh
nhãs, & Pamplonas pois já vimos acima cap. 2. & 3. qxie o íegundo Ga- Noronhas Ce^itaem
-,

pitão da Capitania da Praya foy Álvaro Martins Homem ; 6c efte ap- Donatartosd^fraja^

pellido he de tam grande fidalguia, &í tam antiga, que dos fidalgQS,que
ElR.ey de Portugal mandou para cafarem com as filhas dopriraeyro
CapitáOj&defcubridor dailha da Madeyra,hum delles foy Garcia
Homem de SouXa que cafou com Catharina Gonçalves da Camera, fi-
,

Iha.do ditoprimeyro Capitão do Funchal, como vimosjá no//T;.3.í'tí^


I o. E como a efte fegundo Capitão da Praya le feguio na Capitania feu
filho Antão Martins Homem, que cafou com Ifabel Dorneilas da Ca-
mera, filha de Pedralves da Camera, irmaõ do fegundo Capitão do
Funchal Joaó.Gonçalves da Camera , & filhos ambos do primeyro Joaó
Gonçalves Zargo, daqui vem os Cameras da Ilha Terceyra , & vem
por Imha legitima; pois do dito Joaó Gonçalves Zargo , primeyro qus
tomou oappellido de Camera, fe nâo fabe filho algum natural , & fódo
leu terceyro filho Ruí Gonçalves da Camera confta que nenhum filho :'S*T,v»'\-

legitimo teve, mas illegitimos todos , de que defcendemos Cameras de


S. Miguel.
lyy: .'Qiiando Pedralves da Ganiera vieíTe da Ma*
porem efte
deyra para a Tercey ra, parece que veyo logo no principiolíom Jacome
de Bruges ( cortío veyo o Teve da mefma Madeyra , ôc o Paim de Lis*-
j

boa,&: outros fidalgos , que por faberem da nova Ilha Tcrceyra defcu* ' 'I,

bertà, vinháo para ter doações de terras nella ) o certo he que o tal Pe-
dralves da Camera foy caiado com Elvira Fernandes de Sávedra, &
que delles nafceo afobredita Ifabel Dorneilas da Camera, mulher âo
terceyro Capitão da Praya. Antão Martins Homem , & deftes foy filha
•aditaCatharina da Camera, que cafou com Diogo Paim ,vk a dica Bri-
tes de Noronha,qiie cafou com o quarto Capitão da Praya Álvaro Mar»
tins da Camera, fegundo do nome.
176 Da appellido de Dorneilas, ou Oraellas, confta que veyo
também da Madeyra coijii o dito fidalgo Pedralves da Camera , pois fua
filha fe chamava Ifabel Dorneilas da Camera & eraó eftes Dorneilas fi* Dos DsrnelUs Ca^
•,

dalgos tam conhecidos, que entre os mayores da Madeyra íe conta Joaó meras <^h^ fe v'eraS
Dorneilas , Cavalleyro de grande nome , & fama , que à íua cufta foy
com os Noronha} to. t

dosfamilfoí iUnfirett.
íoccorrer a C,afim em Africa , fendo cafado na Madeyra ( coíao vimos
jinolw.7,.cap. II. do fegundo Capitão do Funchal Joaó Gonçalves da
Camera) 6c ainda hoje dura na Madeyra efta nobiliílima família de
Dorneilas, & fe conferva na Ilha Terceyra , como huma das j>rimeyras
fidalguias delia, cm Manoel Paira da Camera & DorHelias,irraâo,&
feerdey ro do Alcayde mòr da Praya Brás Dorneilas da Camera , filhos i.ijk*

ambos do Governador, & Alcayde mòr Francifco Dorneilas da Camep


^«5 de. quem abayxo trataremos, &í do neto que hoje vire.
'
^77

«ta
;^ío Livro VI. DaRj^alJIhaTeréeyra*^

i"]-} Dos Noronhas tamoem confta que em fi os trõtixe da


Madeyra o mefmo Pedralves da Camera , pois da dita fua filha Ifabel
Dorneilas da Càmera , que cafou com o tercey ro Capitão da Praya An-
tão Martins Homem , naõ fó nafceo D. Catharina da Camera , que ca-
fou com o Diogo Paim , mas nafceo também D. Brites de Noronha, que
foy mulher do quarto Capitão da Praya Álvaro Martins da Camera j 6c
ainda que acima com outros muytos diíTemos que o dito Pedralves da
,

Camera era irmaó do fegundo Capitão do Funchal) agora nos parece


que devia fer filho , ou neto feu , pois o dito fegundo Capitão do Fun-
chal he o que caiou com D. Maria de Noronha, bifneta delRey Dora
Henrique de Caftella, & por aqui he q a dita lha de Pedralves da Ca-
fi

mera fe chamou Noronha ( como diflemos na vida do fegundo Capi*


>

tao do Funchal } & deftes N oronhas trata Damião de Góes & diz que ,

ElRey D. Fernando de Portugal teve huma filha natural chamada D.


,

Ifabel, & queefta cafou com D. AfFonfo , Conde de Gijon & fenhor de
,

Noronha , filho também natural delRey D. Henrique II. de Câftella,&:


quedaquiprocedeoa illuftretamiliados Noronhas ,ou N. N. em Por-
tugal de que tanto ufaó os da Madeyra ,& tam pouco o? da Tercey ra,
,

com igualmente lhes pertencer.


178 Dos Pamplonas tratamos , porque neílefim dafeparada
*% ' .•- - /»j
I
Capitania da Prava foraô propollos para o feu governo : pois Tcomo
pL acima- diílemos cap. 2. 7í«í) quando por morte do qumto Capitaó da
PamfhnM &
p^».»/««r. rÃ. Fon
Praya,nemfilhovara5ficou que lhe fuccedefle, nem filha que tiveíTe
fucceíTaój & atè António de N oronha , irmaó do ultimo Capitão, vindo
da índia , morreo de pefte em Lisboa , entaó os povos daquella Capi-
tania vaga pedirão aÊlReylhes deíTe Capitão Donatário , que osgo-
vernaííe, & lhe propuzeraó para iífo a hum fidalgo da mcfma Ilha Ter-
ceyra, & Capitania da Praya , 6c da família dos Pamplonas , que (como
refere Fru£tuofo } a governou alguns annos. O
que fabemos deftes
Pamplonas he, ferem das primeyrasjôc nobres famílias que foraõ povoar
a Ilha Terceyra , Sc que no lu^ar de Saó Roque , chamado dos Altares,
fundarão a Ermida de Santa Catharina , & a fizeraó cabeça do morga-
do 3 chamado dos Pamplonas , que fó em trigo paíTa de cem mõyos ca-
da anno,fóra outra muy ta renda de vinhos,fóros, &c. & demais tem por
fua inftituiçaõ efte morgado , que todos os fuccelTores nelle , deyxeni
fuás terças avinculadas ao mefmo morgado ,& que ande fempre nos fi-
lhos mais velhos por linha direyta como na Inftituiçaõ fe pôde ver.
5,

1 79 O primeyro que de tani antiga nobre , & rica família a-


,

ehey, fe chamava Gonçalo Alvarez Paraplona, ds quem foy fílho^quá-


to pude alcançar } Manoel Pamplona de Azevedo , que cafou com húa
irmáa da may do Santo Martyr Joaó Baprifta Machado &; do tal ma-
•,

trimonio nafceo Gomes Pamplona ;Sc bifnetopor linha direyta Joaó


Pamplona , que cafou com Dona Maria de Miianda èc terceyro neto
j

Joaó Pamplona de Miranda , que cafou com D. Margarida do CantO;


& quarto neto Gonçalo Alvarez Pamploraa fegundo do nome que ca-
, ,

fou com D. Maria daFonfeca, filhade André f^emandes daFonfeca,


Sargento mòr , & Ouvidor de Angra , 8c fidalgo da Cafa de S. Magef-
tade,5c filhode Domingos Martins da Fonfeca que teve o mefmo fo-
,

ro.

t*"
Cap.XVm. Dos Cortereaes,Coftas,SiIv.Mònízes,ê^c. Jí í
fo, & pofto que paflaraó ao ditoiilho, & ao primeyro neto , & morga*
,

do rico Domingos Martins da Fonfeca , que cafoucom D. Igncs Pam*


|)Íonaj filha herdey ra do fegundo Gonçalo Alvarez Pamplona, & dá ir-
mi do dito Domingos Martins, em quem fe juntarão dous muyto grair*
(des morgados , o dos Pamplonas, & o dos Fonfecas;& o mefmo Domin-

gos Martins da Fonfeca ceve outro irmão intey ro chamado André LuiS
da Fonfeca, fidalgo que morreo ha pouco,de muyto roais de oytenta ân-
uos , dcyxando muyta defcendencia da dita D, ígnes (^ quinta neta do
:

primeyro Gonçalo Alvarez Pamplona , & filha única do fegundo ) naf-


í:èraõ lèxtos netos , & feptimos que hoje vivem j & da irmã de feu pay^
Dona Margarida Pamplona, que cafou com o grande fidalgo Diogo
Moniz Barreto , nafceo D.Joanna da Silva, que cafoucom Bartholo-
meu Pimentel: em fim que defta familia dos Pamplonas bafta dizer que
jà naquelles tempos era tal , que pelos povos da Praya foy propofta
para feu Capitão, & Governador j mas tiroulho o valimento de Dom
Chriftovaó de Moura com Caftella.

CAPITULO XVIIL
Dos Cortereaes, Coftas^ Sí/vaSj MonizeSy Barretes , & Sam* ;TI "U

payos^quefe coíi/èrvaÕfíaléaTerceyra,

i8o ç Uppofto que tocámos no cap. 4. dos Cortcreaes , MouÍ



dosMarquezes de Caftello Ro*
râs,ôcdaexcellentecafa
drigo devemos tocar também o principio donde veyo efte appellido ^*' ^''íí^* àoaffell
,

de Cortereal.Todos cónvem quedo Algarve veyo hum famofo Cavai- '*«^^* '^'"'^'''*'»'»f«*,
leyro, cujo appellido era ( Coita) & que andando na Corte, ou delRey ^^^/^^^J^jj^^"^^^^^
'" ^
D. Duarte, ou jà de feu pay D. JoaÓ o 1. tam luzidamente fe tratava,que
cm huma occafiaó chegou ElRey a dizer publicamente ao Cofta Com :

voffa^uinda, Còjia, minha Corte he Real & que daqui o Cofta fe chama-
:

ra Cofta, Cohereal outros dizem , que a occafiaó fora, de que vind»


:

dous Francezes a Portugal a procurar homés tam valentes , que íe atre*


veflem a ludar,& defafiarfe com elles, ( ao eftylo antigo ) fahira odito
Cofta , & em final de cortezia lançando a maó ao braço de hum dos
dous Francezes, lho apertou de tal forte , que gritando o Francez , pe-
dioolargaíre,que naô queria luíbar com quem emhúamão tinha taes
forças j & que entaó diíTera o Rey ,que com tam valente Cofta era fua
Corte Real } & lhe ficou o appellido de Cofta Cortéreal & ainda que
:

paÕ confta, fe o dito primeyro Cortereal foy o mefmo Joaõ Vaz da Co-
fta , à quem fe deo a Capitania de Angra , ou fe foy feu pay Vafqueanes
da Cofta , a quem as hiftoriasjáchamâo Cortereal j o certo hequcto-
do o Cortereal defcende dos taes Coftas , que erão Fronteyros mores
do Algarve em Tavira , & Silves , fidalgos que deícendiaó do grtnda
D. Reymaó da Cofta Francez , que ao primeyro Rey D. Aííbnfo Hen-
riques ajudou a tomar Lisboa. <, v; ,>;
181 Deftes Coftas Cortereaes ficou tasta, & taó legitima def*
cendencia na Ilha "Jerce^íia^Sc. ça do Fay ai « que o. dito Joaó Vaz da iF'!l: 'M;

hr. Cofta
|ii Livro VI. Da Regia Ilha Tciíeeyra.'
=
Coíla Gortereal, (além de cafar fua filha Dona Iria na mefma TerceVííi
com hum fidalgo chamado Pedro de Goes-da Silva , a quem deyxou o
íèu paço, & jardim por bayxo do Caftcllo de Saó Chrifto vaò, chamado
Gâftello dos moinhos, do qual cafamcnto não fey a defcendencia que
ficou: ) além defte caíamento , cafou outra filha , chamada Dona Ifabel
Cortcreal com Joz de Utra, fegundo do nome^ fegundo Gapicão Do-

natario das Ilhas do Fayal , & Pico , cujo filho Manoel de Utra Corte-
real cafeu também com D. Angela Gortereal , fua prima , filha do ter-
ceyro Capitão de Angra Vafqueanes Gortereal , irmão da mãy do dito
Manoel de Utráj & da defcendencia deíles cafamentos fallaremos, quã-
do tratarmos da Ilha do Fayal ; & o mefmojoaõ Vaz da Cofta Cortc-
real cafou na Terceyra outra filha, chamada D. Joanna Gortereal, com
Çíuilherme Moniz , que fendo illuílre fidalgo dos Monizes de Portu-
gal, mas filho fegundo , tinha ido para a Ilha Terceyra a adquirir nellas
terras do Donatário , & efte com a filha lhe deo tantas que fundou hum
,

bom morgado com obrigação de os fucceíTores lhe avincularem as íuaS


terçaS} ôc fe verdadeyramente ofizeflfem aílim , feria jà hoje muytoma-
yor ainda do que he.
182 Dos taesMónizes Cortereaes ha não fó na Ilha muyta
^tânfirii eaptí ^ defcendencia , mas também em Portugal, na índia, &c. porque o fegun-

tm PortHgàl , cí* »« do filho ( que do primeyro, Sc morgado trataremos logo } do dito Gui-
^íÍM á*/«»^«« dos Iherme Moniz , & Dona Joanna Gortereal foy Balthefar Moniz Cor-
tereal , que da Terceyra fugio ao pay para a índia , fendo ainda de qua-
AT^*\'írA!*^**'*
^* ^*JJJ - tor2;c annos , pouco mais , & depois voltando da índia cafou cm tis-
boa com D. Violante, natural da mefma Ilha Terceyra, & tornando pa-
ra a índia lhe morreo cá a dita primeyra mulher , & elle fe cafou fegun-
da vez em Moçambique com D. Maria Paes da Cunha , & voltou para
Lisboa, & defte fegundo matrimonio nafceo D. Maria da Cunha , que
cafou com Diogo de Mendoça , & deftes nafceo Dona Joanna de Men-
doca , que cafou com Manoel de Soufa da Silva , fidalgo bem conheci-
do, que morava no feu Palácio das portas da calçada de Santo André, 8c
teve duas filhas , a fegunda cafou com feu primo o Conde de Valdc-
Reys, fobrinho patruo do Arcebifpo de Lisboa D. António de Mendo-
çai & a primeyra filha de D. Joanna de Mendoça , & Manoel de Soufa
da Silva ( que fuccedeo a efte no morgado} cafou com o Marquez de
Montebello Dom António Machado , filho morgado do Marquez de
Montèbcllo Dom Feliz Machado fenhor da antiga , & illuftre Gafa de
Entre Homem, & Cavado j o qual Dom António foy Governador de
Pernambuco aonde agora eftá também governando feu filho herdey-
:,

ro D. Feli2!; Machado , fegundo do nome , que cafou com D. Eufrafia,


filha de D. Luis da Silveyra , das primeyras qualidades de Portugal , Sc
tem filhos; & bafte tocar por hora ifto da grande cafa de Montebello.
'
183
!
' O
primeyro filho pois do dito Guilherme Moniz, & de
D. Joanna Gortereal foy o morgado da Ilha Sebaftiaô Moniz , que csl*
íoucomDona Joanna da Silva, filha de Gonçalo da Silva, Regedor da
Juftiça em Lisboa , & de D. Ifabel de Noronha j & já aqui temos outra
vez na Ilha os melhores Silvas Regedores & ôutra vez os Noronhas.
,

Do dito Sebaftiaô Moniz foy o primeyro filho morgado outro Guilher-


..»..".
'
5
"^
'

me

"V^
..i áaa&aáfe. -

Cap.XVHí. Bos:Cortíçréacs,CQftâs,8ilvâS, Mônlzes. |i|


jífèMõniz coffio ô âTÒ,& com o foro de moço fidalgo da cafa de S. Màfi^
^eftade j & dcfte nafceo Francifco Moniz Barreto & Silva , também
Morgado, & moço fidalgo, a quemfe feguio feu legitimo filh® mor-
^ado'Manoeld.a bilva Moniz ^ & feu irmaó o Cónego JoaÔ Moniz ôc i

de Manoel da Silva nafceo Guilherme Moqiz como leu vifar ò, & quar-
to avò ,que era o genro do Capitão Donatário de Angra Joaó Vaz da
Cofta Cortereal. Nafceo mais de Guilherme Moniz , lejgundo do ao-
€ne , Egas Moniz Barreto , que cafou com D. Maria da Silvey ra naCi :

ceo também António Moniz , o famofo na índia , & feus irmãos Sebaf-
tiaó Moniz , moço fidalgo , & cafado com D. Brites Merens , & deftes
nafceo o Morgado Joaó Merens , que morreo lem filhos, & fe lhe feguio
feu fegundo irmão Diogo Moniz Barreto, que cafou com D. Margar
rida Pamplona , & diífipou a cafa , & deyxou vários filhos j & o tercey-
fo irmaó foy Henrique Moniz Barreto , que cafou com fua prima Dona
,Violante, filha do fobredito Francifco Barreto da Silva.
1 84 Do primeyro Sebaftiaó Moniz , & da dita D. Joanna da
Silva, filha do Regedor, & do Noronha nafceo em fegundo lugar Dona
Francifca da Silva , que cafou com hum fidalgo chamado Ruí Dias de
Sampayo, & deftes nafceo D. Antónia, que caiou com Manoel do Can-
to de Caftro , como veremos abayxo nos Cantos , & Caftros } mas por-
que o tal Ruí Dias de Sampayo viuvou , & cafou fegunda vez com D^
Iria , filha de outro fidalgo chamado Conftantino Machado , & o dito
Ruí Dias de Sampayo era filho de Mem Rodriguez de Sampayo, & de
D. Brites Homem da Cofta , & era neto de Gafpar de Sampayo , Sc de
D. Joanna de Ataíde , fidalga illuftre, por iíTo do fobredito Ruí Dias
de Sampayo , & da dita fua fegunda mulher nafceo outro Ruí Dias de
Sampayo, pay de Eftevãode Sampayo de Azevedo-, & do mefmo fe- ^- ,

gundo cafamento nafceo mais Manoel de Cortereal & ^^^?^y°*^^^deConerealdes!!m4


foy para a índia , & là cora tal valor teve tam grandes póftos de guerra, p^^g Governadora
^

que chegou a fer Governador de todo oEftado da índia, & nomtzáo todo o Efiado dal»i
nas vias por Viz-Rey , & m«rreo antes de o chegar a fer ; & de fua def- di4 Oriental*^
cendéncialàna índia , conftará lá. E finalmente de feu pay Ruí Dias de
Sampayo , primeyro do nome, & de fua primeyra mulher D. Fran cifcâ
da Silva nafceo mais D.Ifabel ,que cafou com Luis Homem da Cofta,
de que trataremos em feu lugar.
1 85 Viftas pois aílim as famílias dos Cortereaes , Coftas, Mo-
nizes. Silvas, Barretes, Sampayos, & Noronhas ,
que fe confervaô
na Ilha Terceyra , tempo he jà que cheguemos , na ordem de tempo , á
illuftre família dos Cantos Caftros , & outros, Silvas , Ferrcyras , Mel*
los,&c.

TW!
DõsCaníõSy&CaJfros de Angra ^ &familías donde
vemy&quevemdeíks.

ANtes de haver nas Ilhas Bifpos pfoprios , vinhaó por o*,


dem delíiey,Ôc do D.Prior da Ordé de Chrifto de Tho,
jRjar, algús Bifpos às Ilhas de novo povoadas! , para nelJas chrifmareni,
4ar Orúèsy & exercitarem o córaum oifiçio de Bifpos Coadjutores , ou
(como charaáo} de annel j na raefma embarcação , em que hía hum de»
Ites Bifpos àMadeyra, foy também hum varão chamado Pedro Anes

&
4q Ganco , da mefma forte paflbu depois da Madeyra à Ilha Teroey,
ra pelos annos , & em tempo do fegundo Capitão Donatário de Angra
Jõaó Vaz da Gofta Cortereal, que muyto antes foy provido, como dif-
femos acima no cap. 2.
187 EfteFedro Anes do CaHto era ainda folteyro,& filho fe-
Do primejro Pedro gundo de Jacome ( ou Joaõ) Anes do Canto, & de fua mulher Francifi-
Anes doCanto ,de ffta
ca da Silva , filha de hum Joaô Soares da Silva , & pelo dito feu pay era
fidalgnia afctnden-
,
jietode VafcoAnes,ou VafcoAíFonfo do Canto , Cavalleyro , natural
eia c^ primfjro ea-
,

famtmo. de Guimanies, antiga Corte do Conde D. Henrique, pay do primey-


ro Rey de Portugal D. AfFonfo Henriques j & era ja o dito Pedro Anes
do Canto tam famolo Cavalleyro , que tinha militado em Africa , & dô,
fendido hum baluarte em Arzila, & pelos muytos feus ferviços ElRey
de Portugal o tinha fey to fidalgo filhado de fua cafa Real,& lhe deo por
armas hum Caftello com peças de arttlharia em campo vermelho,a que
II
ao depois fe ajuntarão as armas dos Caftros, como vereraos-
188 Pofto na Terceyra o dito fidalgo Pedro Anes do Canto
eafou com D. Joanna Abarca, ( que fegundo huns, era irmã, & fegundo
outros,era parerata muyto chegada de D.María Abarca, mulher do Do-
natário Joaó Vaz da Cofta Cortereal) & o certo he, que era irmã de D.
líabel Abarca, ( da qual diremos no cap, zo, ) mulher do antigo fidalgo
Joaõ Borges o Velho, de que abayjío mtarcs^os 3 como também dos A-
barcas, que defcendem de hum dos Reys^que havia cia Hefpanha, cha-
mado D' Sancho Abarca/ '••- r^í
; 189 De Pedro Anès do Canto, & de D. Joanáa Abarca nafceo
António Pires do Canto, qucjnáofo era fidalgo 3 &: provedor das Ar-
J}a primtyra Unha
madas, como oerajà feupay , mas Cavalíeyro profeíTo da Ordem de
d^s Cantos (jKe cafon
Chrifto, & cafou ijluftremente com D. Catharina de Caílro, filhado
na cafa dos Conde de
Afonfanto^ (^ May- D. Francifco de Cafl:ro,& de D. Joanna da Coíla 5 & neta por tal pay
qmx.es de Cafcaes, de D. Garcia de Caftro, irmaõ inteyro de D. Álvaro de Caílro, primey-
Caftros. ro Conde de Monfanto> & filhos ambos de outro D. Francifco de Caf-
tro,& de D.Ifabel de Menezes, & netos de D. Joaó de Caílro, fenhor do
Ccdaval;& o dito D.Garcia de Caílro era caiado eom D.Brites da Silvg,
filha de D. Lionel de Lima, Bifconde de Villa Nova , 8c de D. Cathari-
na de Ataíde & ainda que tam illuílres famílias, 6í appellidos fe accref-
:

ce/itáráoaos Cantos, tam nobrcseraõ jàeíles que nunca mndàraó do


'
"
appelli-

•^t^
Cap. XIX. Da pniíieyfà linha dos Cânbij:^ Caftroi j||
appellido de Canto , & fó lhe ajuotiraõ ode Caftro , & as armas dos
Cattros ás dos Cantos j com o efcudó coroado j & aílim muy to fe eríga*^
nou queradiíTe qtie o appellido de Canto era alcunha, pois não heíeW
naó appellido muyto antigo , & muy to nobre, que por nenhum dos ou-^
irosíe deyxou. Do dito António Pires do Canto , & de D, Catharinà
de Caftro , nafceo D. Joanna de Caftro , que cafou em Lisboa com Lo-
po de Soufa , 6c deftes nafceo Ayres deSoufa,primeyrodo nome,quéí
cafou com D. Leonor Manriques i & deftes. nafceo fecundo Ayres de
Soufa,& D, Leonor Telles, quecafotí com Francifco de Mello, prú '

m
mey ro Conde da Ponte, & Marquez de Sande , que cafou com a filhai
do Marquez de Niza j & outra filha cafou em Lisboa com Luis de Sal*
danha, odo Alemo:tantos fidalgos em Portugal defcendem de Anto-»
nio Pires do Canto, & do pay Pedro Anes do Canto»
Wi.
190 Defte António Pires do Canto , & da illuftre D. Catha*
íiiia de Caftro nafceo Pedro de Caftro do Canto, que como feu pay , 5c

aVò , não fó <:onfer vou a mefma fidalguia , & o meímo pofto de Prove-
dor das Armadas , mas tudo augraentou > cafoU pois com D. Maria de
Mendoça, filha deEftevâo Ferreyrade Mello , 6c de D, Antónia de Li*
maj 8c neta paterna de Gonçalo Ferreyra da Camera , filho de Duarte
jFerreyra de Teve, & de D. Felippa da Camera & pela mãy D. Anto*
:

ília de Lima era neta materna de Manoel Pacheco de Lima , & bifnera

de Joaó Fernandes Pacheco, & terceyra neta do grande Duarte Pache-


co Pereyra j da fidalguia dos quaes abayxo fatiaremos.
191 O dito Pedro de Caftro do Canto teve três filhos > prí-
meyro, Manoel do Canto de Caftro, ( de que logo abayxo trataremos)'
íegundo, D. Violante , Freyra em S. Gonçalo de Angra j terceyro, Dio-
go do Canto & Caftro, que cafou com D. Ifabel Teyxeyra, filha de Gil
Fernandes Teyxeyra , fidalgo filhadoi & do fal Diogo do Canto & Ca-
líro nafceo Pedro de Caftro do Canto , qúc cafou com D. Brites , filha
do fidalgo Sargento mòr de Angra André Fernandes da Fonfeca ; &
deftes nafceo Hieronymo de Caftro & Canto , fidalgo que ainda hoje
vive, & que por varonia he neto de Diogo do Canto , bifneto de Pedro,
jdc Caftro & Canto, terceyro neto de António Pires do Canto , & quar-
to neto do pnmcyro Pedro Anes do Canto. De Pedro de Caftro do
Canto o primeyro filho Manoel do Canto & Caftro fuccedeo em tudo
a feu payj & avos & foy Capitão mòr de Angra cafou com D. Antónia
, j

da Silva , fílha de Ruí Dias de Sampayo, & de D. Francifca da Silvaj 6c


pelo tal íogro era neto de Mem Rodrigues de Sampayo, & de D. Brites
Homem da Cofta, & bifneto de Cifpar de Sampayo,& deD. Joannade
Ataidsa iodos fidalgos muyto conhecidos & pela dita D. Brites Ho-
-,

mem da Cofta era bifneto de Gonçalo Mcpdes Homem ,& de Ignes


Affbnío Çarneyro pela fogra D. Francifca da Silva era o dito Manoel
:

do Canto & Caftro neto de Sebaftiaõ Moniz ,& bifneto de Guilherme


Moniz3,( de que já falíamos nos Monizes)& deD. Joanna Corterealj
& por efta terceyro neto do Capitão Donatário de Angra Joaõ Vaz da
Cofta Cortereal , & de luâ mulher D: Maria Abarca , como já vimos i &
pela dita fogra D. Franeiíca da Sííva,& pela mãy delia D. Joanna da
SilVa, era bifneto de G©nçalo ( o» Joàó) da Silva Regedor ^ & de D.Ifa-
Wl de Noronha, ^ Dá ii igí
192 O
p0 : -Lii^ VLDâllegiâlihà Tereeyí-ar- -"^
-?3
192 O
ditó Manoel do Canto & Câftro poraeyro do
, noméj
âc fua mulher D, Antónia da Silvateve filhos legitimas , hum Alexan-
dreque morreofem alhos j&huma D. Maria , (Sc outra D. Urfala, que
morrerão Ffeyras na Eíperança de Angrâ^ &: hum Manoel do Canto de
Caftroj feguftdo do nome j que era. do habito de Chrifto , & em Câftel-
la cafou eom huma illuftre fidalga D. Felippt de Lara
, & teve em An-
gra a cafa foros, & póftos de íeus avos por muytosannos , & morreo em
fim fem algum legitimo defcendente j & outro irmão que fe lhe feguia
Pedro do Canto ôc Caftro , nunca eafou, & morreo primeyro, & fem fi-
Ihosi & tamhem outro irmáOíAntonio do Canto & Caftro que foy Ca-
,
pitão de Cavallos delRey D. Joaõ o IV. na batalha de Momigio, & de»
pois Sargento mor da N obreza em Lisboa, & do habito de Chrifto
èC
-,

Sargento mòr deteda a Ilha Terceyra com grande tença , & Governa-
dor do grande Gaftello de Angra j efte ainda que cafou em Angra
,&
muyto fídalgaraente^ com D. Maria de Mendoça , filha de joaó de Be^
tencor & Vafconcellos, (de que abayxo trataremos) eòmtudo naó dey*
xõu delia filho varaô , mas duas filhas , que <:onfórme a fua qualidade
cafáraõ , como veremos j & como ainda a eftê António do Camo & Ca«
ftro precedia por mais velho outro feu legitimo itmâo
Joaõ do Canto
& Caftro, efte fuccedeo na cafa ao dito irmão Manoel do Canto ScGaf*'
lro,feguhdodonome» ;

195 Efte pois Joaó do Canto & Caftro não fó ficou com a cafa
de feus avôs , mas foy do habito de Chrifto eom grande tença , & Pro-
vedor das Armadas , & do Confelho de S. Mageftade , & ainda antes dô
%varaçafa cafou dentro em Angra com hisma fidalga chamada D. Ma*
ria Gayxa,filha do bom fidalgo Thomè Corrêa da Cofta
, & de fua mu-

lher D. Gatharinâ Cayxaj, de que fallaremos em feu lugar $ defte cafa-


mertto nafccrão muytõs filhos , & de hum fó ha hoje defcéndencia; por-
.
que ò mais velho Carlos do Canto Sc Caftro^ fendo fidalgo de grandeí
efperançâs, & jà Meftre de Campo de hum Terço, morreo mancebo,
St
folteyroi outro chamado Thomè do Canto 8c Caftro , fe metteó Fradó
Eremita de Santo Agoftmho na mefma Cidade de Angrá,5t raorreó ceí
do} outro chamado Manoel do Canto & Caftro , na mefma Angra en*
trou,& profefibu a regular obíervancia de S.Frartcifcoi & outro chama*
do SebaftiaõCaf los do Canto Sc Caftro,fendo meu difcipulo,ha mais dtí
cincoenta annos, no latim em o Coílegio de Angra , toniou o habito de
Chrifto no Convento de S. Gonçalo com boa tença , & íè feguío ao paV
já falecido porém o mais velho irmão Francifcano , annullando a pro-
;

fiflâó fe fez lecular, & fe oppoz ao morgado, &r o Sebaftiaó Carlos fa-
lecco em a demanda } & por mais que fe oppuzeraõ ao que tinha fahido
da Religião , afíim feu tio Pedro de Caftro do Canto, filho de Diogo do
Canto , & neto de outro Pedro de Caftro, como taiiibcm huma irmã do
meímo que annullou â profiíTaôja tudo efte venceo.
194 Seguio-fe pois na cafa , foros , &: póftos delía o dito Ma*
aôel do Canto Sf Caftro , terceyro do nome, (aquém alguns chama-
íaóFreyPfetetitò, por ter fido Frade muytos annos )& efte em Lis-
boa caiou com huma fidalga, fua parenta' ainda, de que faremos men-
ção em fèU lugar j 6c lcVândo»a pàtâ Awgrá côm grande ímíkoi dei ia te-
K* ' '

v-

-rr-
Câp.XIX/Dâfcguniâl|nHadosCant0sSilvasr |í|

ve muytos filhos que faó quintos netos do piiiíieyro Pedro Anesdõ


,

Canto , dos quaes vieraõ douseftudar a Coimbra, & hum delles entrou
<em Lisboa, & profeffou na Religião de São Domingos j èc o morgado
com outros vivem em Angra com a máy viuva jà & o marido viveoíôç
j

faleceo, lembrado fempre, &muyto devoto da Seráfica Religião eni


queeftivera,& deyxando nome de bomChriftáo. E concluida atèqui
cila primeyrâ linha dos Cantos & Caftros , vamos à fegunda. ^fi

195 Do primeyro matrimonio não teve o primeyro Pedro A-


nes do Canto outro filho algum , mais do que aquelle António Pires dò
Canto ; èc morrendo.lhe logo a mulher veyo a Lisboa , &
íegunda vez
cafou com huma fidalga chamada D. Violante dá Silva , filha do antigo
fidalgo Duarte Galvão da Silva, que era Secretario delRey Dom Joaó Dgp^/^^g iafamP^
lli. ôcdoíeuconfelhosSc feu Embayxador , & irmão de D. Joaó Ga.\- to do dito Pedro Ams
vaõ Arcebifpo de Braga Primas das Hefpanhas , & ambos filhos dé Ruí do Carne , & dafe-',
Galvão 5 ôcdefte Duarte Galvaóda Silva tratão o Padre Telles na^E- gf^n^l* Unha que dei-,
thiopiãliv.2.cap.'i.S(o noflb Fruduofo em vários lugares i como no 'fM'<';í«;A;^^r^;'
mais largamente cap. 30. aonde do também unico hino,
lív. 6- cap. 4. 6c
^^^^^^l^^^^

tj[ue Pedro Anes do Canto teve deftefeguiido caíamento, diz erafub- '

líancia o citado Fruftuofoeftas palavras, ibi:


'

1 96 Joaó da Silva do Canto, fidalgo muy to honrado, era mo-


ço fidalgo accrefcentado , tinha huma Commenda da Ordem de Chrif-
to, alèra de Coimbra , qUe ganhou em Africa j & tinha oyto cavallos na
eftrebaria; foy Capitão mòr de Armadas, & General do mar ncftas Ilhas^
& Provedor das Armadas Reaes , Sc da Fazenda , & Capitão mòr de
Angra,& do Confelho delReyj tinha poder para enforcar,&: para pren^
der os Capitães das Armadas , que a eftas Ilhas vieíTem ; finalmente era
hum Rey pequeno neftas Ilhas, muyto venerado ,& temido de todos:
feu pay Pedro Anes do Canto foy mais que elle , que fez três morgados
de três filhos que teve ; & teve couto , que aquelle que matafle, aco-
Ihendo-fe a terra fua , o não podcflem prender, & outras Goufas grandes.
Cafou feu filho Joaó da Silva do Canto com D. IfabelCorrea , filha de .

Jacome Dias Corrêa, da Ilha de Saó Miguel, & delia houve huma filha
chamada D. Violante do Canto da Silva , de grande virtude , & pru-
dência. O dito Jacome Dias Corrêa veyo da Cidade do Porto , onde era
homem Cidadão, & fidalgo j teve neíta Ilha muyto eftado , aílim de ef.
cudeyros, como de homés de efporás, efcravos , & muytos cavallos j ti-
nha trezentos moyos de renda , a fora outros muytos bens. A mulher
(& avô materna de D. Violante) fe chamava Beatriz Rodrigues Ra-
pofa , filha de Ruí Vaz, que chamarão do Trato , porque o tinha em
muytas partes veyo à Ilha de Saó Miguel, fendo homem fidalgo , & de
;

muyto credito ; fua mulher chamava-fe Catharina Gomes Rapofa. Joaó


da Silva do Canto era dos SoufaSaSc Menezes. Atèqui o citado Fruduo*
íoUv.6. cap.iQ. '

'
^
197 Eftejoaó da Silva do Canto, ainda que èra filho dafc-
gunda mulher do primeyro Pedro Anes do Canto & o irmão António
,
r\
Pires do Canto era filho da primeyrâ , comtudo neíle fegundo filho fez
o pay igual morgado ao que fez no primeyro filho , porém efte fegun-
do nâO teve outro filho legitimo 5 fenáo adita D, Violante do Canto 6c
í)d iij ,
.
Silvaj
$1$ Livro Wí. DáKegiaIlha Terccyra^

Silvg, ( OU tia Silva &


Canto) da qual largamente trataremos em feií
lugar imas .antes de cafar teve de húadgnjzcUa nobre, chamada Simoa
Pranciica, que entrou , &
morreo np Conveíito da Efperança de An.*
gra^ teve, digo,huma filha naturalj chaiBada P. Maria da Silva j a quera
canto amou, que a legitimou por ElJCey , &
lhe dotou a terça de Teus bês
livres avinculada em morgado, &
a cafou çom Manoel Borges da Cofta,
fidalgo filhado, 6c Commendador da Ordem de Çhriilo , de que trata-
remos, quando dos Borges de Angra , que íaó a varonia defta: fegunda
linha dos Cantos, de que ha âindâmuyta,& muyto nobre defcenden-

198 A terceyra linha , 6c terceyroiilho do primeyro Pedro A-


nes do Canto, foy humilho natural que teve , chamado Franciícodo
Canto , o qual imitando a feu grande pay , & irmãos , procedeo tâm fi-
Dã tereejra linha ^é ^ dalgamente,
que foy fidalgo filhado nos livros delRey , & Cavalleyro
ttreeyro filho legiti
wade,& fidalgo^ Çõ^ profeíTo da Ordem de Chrifto,& Commendador de Saó Thomè de
.

jfíeHdador^&c. TravaíTos , & eom Thomè de Soufafoy fundar a Cidade daBahígno


Brafil , & foy inftituido
pelo pay em terceyro morgado, que nomeou
nelle , pofto que de muyto menor renda do que cada hum dos dous fi-
lhos legítimos j &
emfim çafou nobiUffimamente com Dona Luiza dç
Vafconcellos , filha de Pedro Alvarez da Camera, dos Ipgitimos Ca-
jneras da Madeyra , &
de D. Andreza de Vafconcellos, de que mais a-
bayxo fallaremos j & defte matrimonio defcendc hoje muyta fidalguia
de Angra. .Ni-v-.fly.p.
,
,v.^ír;íw; .
-

199 O priméyro,ScinoTgadoj filho do dito Francifco do Can-


to, &da dita fua mulher , foy Pedro Anes do Canto, fidalgo, & Caval-
iey ro da Ordem de Chrifto , que cafou com D. Maria Serra , primey ra
vez,& fegunda vez cafou com D. Apollonia Teyxeyra, filíia de outro
^áidalgo chamado Gil Fernandes Teyxeyra. Do primeyro matrimonio
Dos Cantos, Fafiort
eoncellos
, Silvejrat ^oafceo Francifco do Canto , que levou o morgado , { fçndo fegundo fi-
& Cafiroí. lho, por fcr já morto o primeyro , & fem fílh<a varaó ) &: cafou eom Do-
na Ahna da Silveyra , filha de Eftevão da Sil^ey ra Borges,da fidalga fa-
jnilia dos Carvalhaes ; &
do tal matrimonio hafceo Ignacio do Canto,
-morgado, & fidalgo filhado , que cafou eom D; Ignes de Caftro , filha
de Joaó do Canto de Caftro , pela qual pertendco o primeyro morga-
do dos Cantos , que lhe levou o cunhado , que tinha fido Frade. Do taí
Ignacio do Canto da Sih eyra fie V^afconccUos 6c de D. Ignes de Caf-
,

tro nafcèraõ muytos filhos ; o morgado que eílá cafado , fie fem filhos a-
inda, Mattheos do Canto fie Caftro , que foy Religioío da Companhia
de JESUS ,excellente Humanifta , & Filo fofo , 6c que lendo em Co-
imbra nas Efcolas menores daUniverfidadeoslatinSjadoeceo deeftu-
dar, 6c doente aindadurou algos annos, 6c morreo no Real Collegio de
Coimbra, 8c com grande exemplo de religiofa humildade , U obfervan-
cia. Outros irmãos defte vivem ainda , como ainda também vivera 0%

ditos pays.
200 Deftes últimos filhos o vifavò Pedro Anes do Canto , fe-
DuCantos deS. Ml gundo do nome, &í da mefma primeyra mulher nafceo outro filho,
Sc
gHel,por linhoá femi
mais velho , chamado Luis do Canto, que cafou na Ilha de Saó Miguel
com D. Barbara daSilveyraiScdeftecafamentoentaó na© nafceo varaó
-<^<'
algura

v»-
:.ít:.jartii;« teA«:^ar?- er^.^í.

VâfeoftCellos. f ^
Cap.XíX. Datercêf tá Unha dôs Câíitôs
algum queeufayba,mas três filhas que todas também c^áraÓ em SaÕ
,
Diogo Leyte
Migoehaprimeyra,D. Maria do Ganto com o fidalgo
Botelho & \ alconcellos, fidal-
Botelho,, de que nafceo Jacome Leyte
queveyo a cafar em Angra
go ,& Cavalleyro da Ordem de Chrifto ,
Pereyra , & de D. Kabel
com D, Mana de Mello , filha de Luis Coelho adualmente, tas
deMelb, da Ilha da Graciofa j o qual Jacome Leyte
tirar o morgado que
demanda afeu tio Ignacio do Canto, & lhe quer
poffue, 8c poíTuhio íeu pay. Outra filha
de Uu$ do Canto foy D Lu jza
Maya, Sc de qUe nafceo D.
do Canto , que cafou com António de Faria
Pacheco, todos da mefma
Mariànade Faria, mulher dejoaóde Soufa
Ilha de Saó Miguel. E a tercey ra filha
do mefmo Ignacw do Canto toy
Miguel , com Miguel
D Ifabeldo Canto , que também cafou em SaÕ
primeyra vezcaloa
Lopesde Araújo, de que nafceo D. Antónia, que
houve a António Bor-
com feu primo Pedro Borges deSoufa,de que
António Soares de boula , dclccn^
ses & vuiva cafou fegunda vez com
Sente leeitimo dos Donatários de Santa
Maria, S. Miguel & i'5i;í6")vt..'ri

, :. òiWDii ^!' Do dito Pedro Anes do Canto, & de fua fegunda mulher
do Canto ras\ & Cofias por\lij
P ApolloniaTeyxeyra nafceo hum fiiho chamado Manoel ,

Cofta , iraiá de João nha VÃroniL


Tevxcvra, fidalgo que cafou com D.Margarida da
Teyxeyra;
Hoincm da Cofta , & prima da may delle Manoel do Cauto
que cafou prmieyro
& defte nafceo Luis do Canto da Cofta, fidalgo egundavezca-
comD.Francifca,filha de D. ChnftovaÕ Spinola^ôc
íoo com Dona Antónia, filha de Manoel
Corrêa de Mello, da Gracioía,
Sc da primeyra nalbeo quem hoje vive, &
da fegunda também outros.
^
20- Do dito Pedro Anes do Canto,& da fegunda mulher naf- Doj CantosCafteâoi'^
cafou com D. Pedro de Caf-
ceo maiÍD.Luiza de Vafconcellos, que èrmeos #* Aíelios.
tirllobranco , &c deftes nafceo D. Manoel
de Caftellobranco , mando de
Mello , o da Gracioia^
D. Ifabe^ de Mello , filha de Manoel Corrêa de
de Dora
& deftes mfceo D. Francifco de Caftellobranco. Outro irra âo com hua
tambem.cafou
Míinoel foy D. Ignacio de Caftellobranco que ,

filha de António do Canto & Caftro, & de


Dona Mana de Mendoça,5c
foy D. Mana^
devxou filhos i & outra irmã de D. Manoel, & D.Tgnacio
Mendes de
que cafou com JoaÓ de Teve deVafconcellos,filho de Joaó
Vafconcellosjdequehamtiytadefcendencia. „

203 Do fobredito Francifco do Canto , tercey ro filho do pri-


Canto, fi^%oq"e
mevro Pedro Anes do Canto, nafceo mais Joaó do Dos Cantos Vieyrm
Baptifta Macha- Machados ào
eafoucom D. CatharinaVieyra(irmâdo
morreo
Padre JoaÕ
martyrizado &
degollado
, Santê m
do,'daCompanhia de JESUS que ,
, Martjr,
lugar diremos^. & do tal João
pela Fé Catholica em JapaÔ,comoem feu
do Canto nafceo Francifco do Canto & Vafconcellos-moço
fidalgo Ca=

valleyro da Orde de Chrifto, Alferes mòr,&


Cháceller de Angra^o qual
Furt,5do,& de D.Mana
cafou com D. Paula da Veyga filha de Fernão
,

irnúos , èc aelíenâlceo
da Veyga; & efte Francifco do Canto teve mais
Canto
loaÕdoCantode Vafconcellos (aquém cliamárão joaÓ do
,

caiou com D^ Maria;


Saúde ^ fidalgo do mefmo foro de feu pay & que ,

Tenente doCaftelia
Gortereal, filha de SebaftiaÕ Cardofo Machado ,
mnde , que também deyxou defcendencia-,& outra umãdo dirojoao
Cidadão:
So-CantoSaudeeafõuemS, Miguel cora hum nobre , Sc rico
mto-
po tmoVl.DaReaíIlhaTerceyfa:
António Pereyra Botelho de que também
, là ha defcendencía.
204 Nafceo mais de Francifco do Canto
, ( terceyro filho d«
0- Lima^, ~ ' com Manoel Pacheco de Lima , ( grande fidaLo
^^^^^^^?^' ^"^ "^oií
de que fanaremos abayxo & deftes nafc.o
) Joaõ Pacheco de Vafcon-
cellos,que cafou três vezes, fem ter fiJhos
da primeyra, ne^n da tercev-
ra teve^os da fegunda, que fe chamava
, D. Urfulade Lacerda filha da ,
Álvaro Pereyra de Lacerda, nobiliífimo Cidadão
de Angra, de que naf!
ceoFranafco Pacheco d€ Lacerda , que caiando a
pnmeyra vez coi
JJ. AnnaZimbron fidalga morgada viu vou delia fem filhos
, , mas te. ,
vc-os da legunda mulher com que cafoisj
, & teve mais outroirmão cha
piado Diogo Pacheco de Vafconcellos , &
de ambos eíles irmâoS houC
""^ * ^"^ ''^*°" com Pedro Homem da Coíla fidalgo
lonhecldo , muy
; 205 Finalmente feria nunca acabar quem
quizeíreexhaârira
DosCmm, jyí^lí,;g"almentenumerofa, que fidalga familia dos Cantos, cuia prime
vra
p/^, legitima ôc^varonil defcendencia fe
conferva nos filhos de Joaõ do
Canto&Caftro,& com nobre Palácio, de virtaampliffima pira
mâr^
& terra ,
jardim junto a
elle , 6c fua Capeíla de NoíTa
Senhora dos Re-
médios ,& cafa taó rica que fó em trigo
,
paíTa de trezentos moyos de
renda cada anno
, &
em vinhos , foros, & tenças , alèm de grandes quin.
tas tem certamente de renda muy
,
deide quafí logo gu principio pois por
tos mil cruzados cada anno
ifto: &
5 morte do íegundo filho legiti-
mo do primeyro Pedro Anesdo Canto.quefoy o magnifico
va do Canto , fo ficou fua legitima Joaó da Sil.
defcendencia na famofa fidalga D
Violante, que morreo fem filhos , &
fe unio com o prinieyro
morladck
outro Igual a elle mas porque do dito
: Joaó da Silva ficou Ccomo já
mos) a outra filha legitimada D. Maria da Silva
, que cafou na cafa dos
Z
I liorges, razão he que a eftes
, &
outras familias jà paliemos.

^'1 CA I^í T U LO XX.


''DosBorges,Coflas,Âhàreas,Pachecos,&Umm,Ve^
lhohé'Melloí.yérdeoutro$,^^

206 A em&lw. ^.cap.


17. tit. 5. tratámos dos Borges , Medev-
I
til, T ^ r-^'^' ^^ ^"'^ "^^ .^'^ ^^^"^^ "^^^ Po^-q^e os Borges da
IlhaTerceyrafaomuyto
*

diverfos, &ertesfuí,cedèráo
nomaisparticu-
"'"'g^^^' ^"5 ^^ í"^ l^^re terça fez o grade fidalgo Joaó da Silva
D.. da Tcrceyra vin n do
/osí I^Zy::
ges, CofiM,Abarcas.
PT T r
''^'"'^'^ *^°^
^" '^"^'•''^ ^"^ defcendencia por lífc tÍndo
Cantos,pede a razão que
,

tratemos dos
tratado da
Borges da Terce vra.
em que também fe conferva dos mefmos Cantos a fegu
nda linha Para o
que le ha de fuppor, que depois de Portugal
lançar fora de todo aos
Mouros, ficou o Reyno do Algarve fendo a «nica
Fronteyra, que a Co-
roa Luíitana fuftentava contra os
Mouros & por líTo o Sereniílimo In-
j

"" Ff °"f^y« "^ò»- ào Algarve


rwf
rava, S" ITu^^^^r
^°y
í^^^r"
ôí os filhos fegundos dos melhores fidalgos
, & là mo-
Portuguezes feguiaó
ao

v^
IHI
TlirhiV''

C^p.XX.D€dutrasilíuftíesfámilíâs,' jij
áo dito Infante j éc crã entaó o Algarve a mais celebre Praçá de tôdâ k
fidalguia Luílta^ajqué do Algarve fahio a povoar as Ilhas do Port@
^anto 3 Madçyra ,& também a povoar as Terceyras. Ifto fiippofto,
. 2Q7?t. .Qjtronco dos Borges da Tercey rafe chamava JoaóBor*
gesj.fip Velho para diftinçaô de outros _) o qual era fidalgo i 6c Cavai",
leyro do Algarve j ôc cafou com D, Ifabei Abarca , irmã de Dona Mari*
Atí^rça, mulher do primeyro Capitão de fó Angra Joaó Vaz daCofta
Corterealj & também irmã de D. Joanna Abarca , primeyra mulher do
primeyro Pedro Anes do Canto. De Joaô Borges o Velho , &de Dona
Ifabel AUrcanaíeeo D. Catharina Borges Abarca , que cafou com Af-
^ q, . ;-., g^^z
fonfo Anes da ÇoJfta Cortereal j fidalgo da cafa de S. Mageftade » & de cofiasio Ahnt^
Xayirado mefmo Algarve j & aqui fe ajuntarão eftes Borges com os i,e,quefe mirai com
Çortereaes & Coftas , de que fallaremos logo j &
do tal cafamento naf- os Cantos Silvas^Pa^^
ceo Chriftovaõ Borges da Coita Cortereal , fidalgo que cafou com D. elitcos &^ fi^i^h,
Izeu Pacheco de Lima , filha de Gomes Pacheco de Lima j também fi-
dalgo grande, de que logo diremosi & do tal cafamento nafceo Manoel
Borges da Cofta , que naõ fó era tara bom fidalgo , mas também Com-
inendador da Ordem de Chrifto , & cafou com D. Maria da Silva, fí-"
lha legitimada do fobredito Joaó da Silvado Canto, & Morgada por
elleinítítuida.
208 Defte pois Manoel Borges da Coíia nafcèraó dous íílhoS}
primeyro , Chriftovaõ Borges da Cofta chamado o dos Altares, poí
,

pefte lugar morar em quinta fua & cafou com D. Catharina Coelho de
,

Mello , da boa nobreza da dita Ilha Terceyrai&: a eftes fuccedeo feu fi- •

Jhojoaó da Silva da Gofta no morgado inftituido por feu bifavò João


da Silva do Canto, & foy dos quatro Capitães pagos do grande CafteU / ,

lo de Angra , & cafou com D. Maria de Toledo fuccedèráo


-, mais ao di-
to Chriftovaõ Borges outros filhos, & fidalgos do mefmo foro, como
Salvador Borges da Gofta , & Manoel Borges da Cofta , 6c D. Izeu Pa- li
I
\i
checo, que cafou com o Capitão Jofeph Leal, êc D, Maria Abarca Cor-
tereal, que cafou com Bernardo Cordey rode Efpinofa, das quaespcf-
foas ainda hoje vivem muyras.
209 Ofegundo filho de Manoel Borges da Cofta, o Corti' jy^^ Cdwendaidrgp
raçodador , foy Pedro Borges da Cofta , que teve o mefmo foro de feus Borees^ Cofiai c^ ,

avòs,6cGafou com D. Annada Camera, filha de Diogo Gonçalves da C<?r/rrM« da 7«p^


Camera, da Vil la da Praya da Terccyrai6c dcfte cafamento nafceo Joaó ^{y^**»
Borges da Silva que com o foro de feus ávòs foy para a índia , 6t nelía
,

teve grandes póftos de guerra & governos , conio tevê feu tio Manoel
,

de Cortereal Sf Sampayo Sc feu fobrinho Roque Pacheco Corteíeal,


, ,

íiihoda fobredíra D. Izeu Pacheco & rtafceò mais D. Margarida, com


;

quem' o diro Bernardo Cordeyro de Efpínofa cafou fcgunda vez depois


de viuvo da primeyra mulher D. Maria Abarca; ^ finalmente nafceo Dó
Maria qu© cafou em Angra com kiirn António Pereyra, 6c deixou fi-
,

lho chamado Joaõ da Silva do Canto.


210 Dos iliuftres Abarcas , Çortereaes, Silvas, Sc Cantos , qug
com eftes Borges Coftas fe uniraõ já temos dito o que bafta fegue-ife
, j

agora dizermos que fidalgos eráô aquelles Pachecos Limas , que por
,

meyo de Dona Iiseu Pacheco de Limafe ajuntarão coi^aqaelle Ghrifto^^


|iâ Livro VI. Dá Regia Ilha Terceyfa^
jaó Borges da Cofta Gortereal do nome.
prihieyro
"211 Os
,

Pachecos ( conforme a Fruauofo ) vieraô a Portu*

ides PacheccÊ, Limai, ^^Y ael^ortugal para a índia aquellejlà na índia chamado o Grande Du-
& Noronhoí^é-mait arte Fat;heco,pelas façanhas que obrou no Orientejdcfte famofo Heros
etlijbrti na Mi^, Duarte Pacheco, o da índia , foy filho Joaõ Fernandes
Pacheco , que
cafou em Portugal com D. Brites de Noronha , filha
Gomes Fer^
de
«andes de Xima,fidalgo dos da primeyra qualidade , & primo
irmaó dtí
D, Fernando de Lima, o Velho, ôcaífim fe ajuntarão os Limas
com 03
Pachecos , Sc Noronhas do tal cafamento nafcèraô dous filhos
:
j huiri
dos qiiaes foy Manoel Pacheco de Lima que foy para
, a Ilha Terceyr^
«t domar, Sc Contador da Fazenda Real em todas as outras
fiíf-^"^^
Ilhas,& na Terceyra caiou com húa fidalga chamada
D. Francifca Netay
filha de Joaó Alvarez Neto fidalgo da
,
cafa de S. Mageftade ,& Ga vaU
Içyro que tinha militado em Africa , & na Terceyra
eílava por Prove-
dor da Fazenda Real j & do tal Manoel Pacheco de Lima nafceõ
Anto*
mo Pacheco áeLima,que éafoucom D. Catharinade Menezes,
filha-
Dias de Sampayo, & de D. Franeifca da Silva que era
^^1^
Sebaíhaõ Moniz , & neta de Guilherme Moniz , & peía
, filha da
- '
mulher deftd
era bifncta de Joaõ Vaz da Cofta Cortereal
, Capitão Donatário d»
Angra.
.
212 Do tal António Pacheco de Lima diz o Doutor Fruduo*
^^^^^"^ """y^" honrado , & do habito de Chrifto Contador*
T^^l^
T». .« •.' j /í D o ,

"^"^ ""'' ^' ^"^""^^ R^^^ «^


fhecZTJfF^'^^'^^ ' ' J"í^ ^°s <^^faós em Angra & de ,

Çmes, ^ ^"^ de todos , bem inclinado , & de muyto refpcyto,


^^^ honrador
grande amigo de feus parentes , Be defejofo de acerefcentar a dita
gera»
çaó 5 gentil, homem , graciofo, alegre , liberal , virtuofo , &
temente á
Deos, &: de rauyta virtude , & deílntéreflado, &c. Eftas as palavras
for*
jnaes do fanto^ & fabió Fí údlruofo. Gh fe quizefle Deos que muy tos ou^
tros imitaffem a efte fidalgo & feríaó ainda
! neíla vida mais venerados
de todos.
213 De António Pacheco de Lima, Sede íua mulher Ca- D
tharinade Menezes nafceo Mai-íoel Pacheco de Lima, fegundo
, do no-
i\
.
^ *"e,quecafoucomD.AndrezadeVafconcel!os,fiIhadeFrancifcodo
Canto , & de D. Luiza de Vafconcellos, & pelo tal pay , neto de
Pedro
Anes do Canto o Velho , & neta peía mãy de Pedro Alvarez , dn Ca»
m mera , & de D. Andreza de Vafconcellos. Defte íegundo
Manoel Pa-
checo de Lima nafceo Joaõ Pacheco de Vafconcellos, que depois de ca-
Mo , & viuvo primeyra vez cafou fegunda com D. Urfula de Lacer-
,

da , filha de Gatharina Madruga mây do nobre fidalgo Álvaro


,
Perey-
ra de Lacerda , que cafou coní D. Umbehna de
, que nafcèraÕ Diocro
Pereyradé Lacerda , que cafou com D. Maria de Betencor & D.
Anna
,

de Lacerda, que cafou com Mattheos Pacheco filho


de Fabrício Pa.
,

checo, que era dos Pachecos outra linha; porém ofobredito


foaõ Pa-
checo de Vafconcellos tinha naó fó os fórcs da fidalguia
de feus avòs,&
os officios de Contador, & Juiz da Fazenda
Real , mas foy fempre o
mais defiro Cavâlkym 4 havia eni Angra, & o moftrou
fempre nas pu-
^'.'
i. blicas

"V^
Cap.XX.Dos Velh òs,Fef f eyras,Mellos,&: ôntos^êcc. 5 1.§
de cavallo j & igualmente o imitou feu filho Fnmiieo Fâ-
plicas feftas
•checo de Lacerda , que primeyro cafou com a morgada D. Anna Zim*.
hvon , de que viuvou fem filhos , & depois cafou com D. Paula de Gàf-
CrOj & todas eftas illuftres famílias eftáo neftes Faehecos.
214 O fegundo irmão do primeyro ManoelPacheco de Li*
mafoy Gomes Pacheco de Lima ,filho também de Joaó Fernandes Pá- De^omesPacbèeoS
checo , & neto do Grande Duarte Pacheco , da índia , & defte Gomes Lima^ neto tamhê do
Facheco fe diz que morreo Capitão mòr de huma Armada , Sc defronte ^'''««'^í Duarte Pa^
ée Guiné i & de outro feu irmão , chamado Manoel Pacheco de Lima, ''^"o^ o da índia, & I :
i

íe diz também que fora o defcubridor de Angola , & Embay xador dei- 1 "f"
*"*'^'° "^^'^

Rey p Joa® IIL ao Rey de Cengo , & que la morrera o certo he , que ^^^ p,„,,^,,, 4^
:

do tal Gomes Pacheco de Lima ficàraó duas filhasj primeyra , D. Ignes Graciofa & com iss ,

Pacheco de Lima, que cafou com Manoel Corrêa de Mello, filho de Ferre^m MtUos.
AíFonfo Corrêa, & neto de Duarte Corrêa, Capitão Donatário da Gra^
£Íbfai& do talcâfamento nafceo outro Gomes Pâche<<) de Lima, que
cafou na Ilha do Fayal em 1 5 80. com D. Ignes da Silveyra , de que naf- ?.

terão António Pereyra da Silveyra, Manoel Pacheco Pereyra,ScChri-


ftovaó Pereyra de Lima , de que fallaremos , quando das Ilhas do Fa- ^
yal, & Graciofa. A fegunda filha do dito Gomes Pacheco de Lima foy
D. Izeu Pacheco de Lima , que cafou com Chriftovão Borges da Coi-
ta, de que nafceo Manoel Borges da Gofta ,pay de Chriftovaó Borges
da Cofta , & Pedro Borges da Cofta, fidalgosde que jà falíamos Porém
do primeyro Manoel Pacheco de Lima , naõ fó nafceo o fobredito An-
tónio Pacheco , mas também D. Antónia de Lima , que cafou com Eíte-
Vão Ferreyra de Mello , avò dos Cantos ,& Caftros , que por aqui def-
cendem também dos Pachecos.
215 Eftes Ferreyras, &Mellos da Graciofa vieraó para a Ter-
eeyra, como na hiftoria da Graciofa diremos entre tanto baftarà faber-
5

mos que Duarte Ferreyra de Teve fidalgo muy conhecido, cafou com
,

D. Felippa da Camera; & deftes nafceo Gonçalo Ferreyra da Camera^


que cafou com D. Felippa da Cunha , & foraó pays deEftevaó Ferrey-
ra de Mello não fó itiuy to rico , mas muy to fidalgo & que cafou com
, ,

a fobrcdita D. Antónia de Lima , dos referidos Pachecosi & défte cafa-


mento nafceo Luis Ferreyra de Mello , que cafou , & morreo em Lis-
boa & lhe fuccedeo feu filho Jofeph Ferreyra de Mello mas as
, irmãs
$

de feu pay & filhas do dito feu avò Eftevão Ferreyra de Mello
, , foraò

tantâs,&tantas cafáraó na Ilha Terceyra, que delia a melhor nobreza .?.

dçfcende defte Eftevão Ferreyra de Mello i & comtudo a cadahuma de


tantasfilhas deo o pay grande,ôc igual dote,& a cada hiía em bes de raiz,
& livr«, fem diminuir o grande morgado quea cafa tinha: as príncipaes
filhas foraó D. Luzia , D. Joanna , D. Francifca , D. Viftoria , &: Dona
Ignes, fora outras, como a Dona Maria que cafou com o morgado dos
,

Cantos.
2ié Nera.pareçaaalguem que abaterão os fobreditos Borges m- ^,
Coftas no cafamento daquélle Chriftovaó Borges da Cofta ( o dos AU
,
r/M
^^^ deAnfm ^^ '
tares)comD.Catharina Coelho de Mello porque eftadefccndia de
j

Belchior Fernandes de Mello, que voltou de Chiloa da Indiaj & porif-


';";;'
I'

folhe chamàráõ oChilaõs 6c no ditolugar dos Alfarés c;ifoti com Pei^


'-
.petuíi
fZ4 Liv«sy3. Da Regia Ilha Terccyra;
petua Coelho, fidalga dos Coelhos , que vieraó de Caftella , como com
Itado Filhamento Real de feu filho , & neto o filho pois foy Hierony-
:

mo Fernandes Coelho , fidalgo filhado , de cujo primeyro cafamento


&
não ficou defcendencia } fegunda vez cafou com D. Maria Redova-
lha 5 filha de Diogo Vaz Redovalho, Commendador da Ordem
de
^iíriftoj que de
Portugal para a Ilha levou a dita filha, & o dito feu ma-
i- '

rido tirou o brazáo dafua fidalguia dos antigos Coelhos de


Portugal,
& outro irmaó teve chamado Francifco Coelho de Mello porém do
j
primeyro irmão Hieronymo Fernandes Coelho nafceo Diogo Vaz de
Mello , fidalgo do foro de feu pay , que cafou com D. Maria de Caftro,
filha do Capitão de artelharia que tinha vindo de Viana do
, Minho , Sc
defua mulher Joanna Mendes Pereyra , natural da Cidade do Porto: 6c
também efte Diogo Vaz de Mello foy infigne Cavalleyro , como o rao^
fira va nas Feitas.
217 : A ninguém
também pareça que os antigos , & nobililH-
Dw chamados Ho- "^^s Còftas das Ilhas fe reduzem íó a aquelles Borges Cortereaes de
mis Cofi^ & VaÇ- «l^e jà falíamos , porque além dos que deyxámos jà na Ilha de Saõ Mi-
,

tmeeUos àm Bom- guel , outrds vieraó â Ilha Terceyra ,.& eíles fe chamaó Coftas Homês,
,

taHosàtMachicoAaoxxYloiat^ daCofta, &faÓ fidalgos muy to conhecidos. Veyo


pois à
^S.
^- -JA»'-
'^'^ -^^^^ Terceyraem feus princípios Heytor Alvarez Homem

comBritesAfi*bnfodaCofta,fílbade Aífonfo Anesda Cofta, queda


,& cafoa
Ilha da Madeyra tinha vindo para Villa Franca de São Miguel , & era
de Joaõ ( ou Pedro ) Anes da Cofta , que do Algarve tinha ido a
.filho
povoar a Madeyra & o dito Heytor Alvares Homem era filho, ou ne-
:

to de Ambrofio Alvarez Homem de Vafconcellos , & de fua mulher


Margarida Mendes de Vafconcellos, irmájdo Capitão Donatário de
JMachico na Madeyra pofto na Terccyra Heytor Alvarez Homem ad-
:

quirio logo tantas terras, & bens de raiz , que fundou hum bom morga-
do em Villa nova, 8c para cabeça delle fundou a Ermida de N
.Senhora
da Vida.
218 Defte Heytor Alvarez Homem, & de Brites Afíbnfo da
Cofta nafceo Pedro Homem da Cofta , que cafou primeyra vez com
Antónia Quarefma , filha de Catharina Qiiarefma , & neta pela tal raáy
de AíFonfo Anes Quarefma , muy to nobre, &: rico , que de Portugal foy
para a Ilha Terceyra j & fegunda vez cafou o dito Pedro Homem da
Cofta com D. Brites , filha de Fernaó Camello Pereyra, & de D. Brites
2^5^<,.^°'*<^ey"5po''èm da primeyra mulher nafceo outro Heytor Homem da
Dw imm Cofta, que cafou com D. Luiza de Noronha, filha do grande fidalgo
nhM, & Ponfet ^,
Leas\ ^tteft unirão Pedro Ponfe de Leaó , Veador mòr da Rainha D. Catharina , mulher
tometHtmet Cofta* delRey Dom Joaó III. & delles nafceo outro Pedro Homem da Cofta
,

dt qu* defeedio £er- que cafou com Dona Luiza de Vafconcellos , irmã de
Joaô Pacheco de
nardo Homem daCa Vafconcdlos , & filha de Manoel
Pacheco de Lima, de que acima jà
li
ítoTordfrí ^^^iTf; ^ "ííf
Chriftv

^"ríf- "rr
"^^ Cofta, que cafou com D. Ifa-

&
& grande °^^^f ^"^^» "^"^ ^^ ^^^ ^'^^ ^^ Sampayo, tiveraó mais defcen-
,

"^orgadoetnAnira. Vencia ;& do ultimo Pedro Homem da Cofta nafceo outro Luis Ho-
mem da Cofta , pay de Bernardo Homem da Cofta , fidalgo filhado , &
Cavalleyro do habito de Chrifto , que he hu m dos Morgados mais no»
Wes, &; ricos da Cidade de Angra > ac que cafou cora Dona Margarida,
lÀ'^' filha
Wa

€ap.XXí.DõsCafteIlosbiãccs,CaítraIhacs,Loboi,&^32|^

filíiade Belchior Machado de Lemos, da primeyra nobreza da Capi*,


taiiiadaPraya. ... /?

,5 219 Com o primeyroHeytor Alvarez Homem foy também


para a Terceyra outro feu irmio chamado Joaó Alvarez Homem,&: ca*
íou com Anna Luís da Colla ,& depois com Ifabel Valadão Homem;
filha de Joaó Valadaõ Hemem j & daqui procederão muytos outros
HomésCoftaSjGomo Ifabel Homem,
quecafou com Ruí Gonçalves ^^'^'''*^^*' ^'^^'^t
Teyxeyra , dos quaes nafceo Gil Fernandes Teyxeyra , que cafou com *f ^f"»^'*^tii 4^
Maria Cardofa Homem ,M deftes nafceo D. Ifabel Teyxeyra , que ca- -^- ----*
fou com Diogo do Ganto &
Caílro, filho de Pedro de Caftro & Canto,
que cafou com D. Britesda Fonfecajôc nafceo também Dona Apollonia
vTeyxeyra , que cafou com Pedro Anes do Canto , fegundo do nome,
pays de Manoel do Canto Teyxeyra , como acima jà tocamos na famí-
•"
fc Wlti
lia dos Cantos i & não faó menos fidalgos eftes Cantos
Teyxeyras ,d©
que os outros Cantos 6c Callros , como fe pôde ver nos Teyxeyras da
Madeyra, &: Machico , donde eftes vieraó. v 1

CA p I T u L O xxr.
PosCafíellosbrancoSy Carvalhaes, Lobos, Siheyr as ^Ef"
pinolas , Lemos y & dos Betencores-, DárnellaSj
-'
Vl^ outms.
>.,.

.220
COm, a entrada- de Cáftelk em Portugal pela morte dei*
Rey D. Henrique Cardeal , , & com a mefma entrada naí
Ilha Terceyra, naõ.fó para Portugal , más também para a Terceyra, ve-
yo muyta nobreza de Gafte lia > efpccialmente com póftos de guerra pa-
ra o grande Caftçlio de Angra j & entre os que vieraó, hum foy D. Gaf-
par Munhòs de Caftelbranco , Alferes mòr , & depois Capitão da dita
.Fortaleza, H cafou-epn^ D. Helena Eícocia, fidalga da Madeyra,& del-
Jcs nafceo D. Pedrode Caftelbrancoieftepoís cafou em Angra com D,
Liiiza de Vàíconcellos, filha.de
Pedro Anes do Canto , fegundo do no-
me, & neta de Francifço do Canto , & de D. Iria de Vafconcellos , filha
dePedralvesdaCamera ,&de D. Andreza de Vafconcellos & o dito
i
Francifcodo Canto era o ttrceyro morgado de Pedro Anes do Canto o
Velho nafceo mais- do dito D. Gafpar , & da Efcocia , fua mulher, D.
i

Qonçalo.dç Caílelbranco que foy Abbade na Serra da Eftrella ôc T>,


, ,

Mâiíha depaftelbranco , que cafou com hummuyto nobre vara© cha-


íuadpSimao^e Aguiar Fagundes. ... ,,
:. ,. :

221 De D. Pedro de Caftel branco nafceo D. Manoel áe Caf-


telbranco, que caiou com D. Ifabel, filha de Manoel Corrêa de Mello,
18c de D. Anna de Alme;yda ^de que fatiaremos quando das Ilhas Gra- ,

ciofa, & Saó Jorge j naízeo também do mefmo D. Pedro


, D. Ignaciò

de Caftelbranco, qoekerdoua cafa de fua tia D. Martha, mulher deSi^


maõ de Aguiar Fagundes & cafou nobiliífimamente com D. Maria do
,

Ontpjiilhadç AntQnio do Canto & Caftro , & de D. Maria de Men*


' ' £6 doca.

r
^isTEaVí . D^Re4Uha Ter ceym»
.''?*^

$i6
dpça, do bom fidalgo Joa@ de Betencor & VafcOBcellos , Capí
filha
taó mòr de Angra , de quem largamente fallaremos em feu lugar. Naf*
c€o mais do dito D. Pedro , D. Maria de Vaíconcêllos , que caiou com
Joaõ de Teve de Vafconeellos , de que nafeèrâó filhas que hoje faõ ca* ,

fedas, & de cujos defcendeates dirá outrem. Do dito D. Manoel de Caf-


telbranco nafceo D, Francifco de Caftelbrane© , de cujo cafamento , Sc
defcendencia outrem efcreverà.
^
222 Outra muy to fidalga familia<ie Angra he a dos appelii-
dos de Carvalhaes , Borges , SilvÈyras , & Camêras. primeyro Car- O
Do pYimeyr$ fidalgo valhal que íey houveíTe em Angra , do Carvalhal,
fòy Fraflçifeo Dias
Carvalhal^cfue cafou& efte câfou com Catharina Neta, (filha dê Joaó Alvarez Neto , fidat-
na cafa dos chama- go , & Cavalleyro de Africa, &
Provedor das Armadas na Ilha Tercey-
dos Netos, ^»e dnah
j^^^y ^^ ^^^^^ naícèraó duas filiias pr imeyra, D. Franeifca Neta, que ca*
}•

eaíamentos a melhor r ^ xs a J
''
r> ^ ^ J j a r • •

fiialmia de Anora
^^^'^^ Manoel Pacheco de Lima , &
i i.
foraÓ pays de Antónia de Lima,
i

-píulher de Eftcváo Ferreyra de Mello , bifavòs de Joaó do Canto &r


Caftro , como vimos na família dos Cantos afegunda filha foy Mar- :

garida Neta , que cafmi com Fernão Furtado de Mendoçaj, de que.â»


bayxo falíaremoSi & deftes Netos defcende muyta nobreza j ainda que
náo ufem do appeilido de Netos.
223 Do dito Francifco Dias do Carvalhal, & de Catharina
Dos Borges yí^^r- ^^l* iiafçep Jpaé Dias d© Ç«fValhâl,que eafou com Máfia Borges
cai aonde cafáraõ os AbarCa , dos «orges Abarcas de q^ie já faílsmos , & deíles nafceo Elte-
Carvalhaeí, come váo da Silvéyrâ Bcrges s maridd de D. Barbara Machada , dès muyro
tamhem com os 5í/. nobres Machados de que trataremos âs do tal cafamento nafceo Fran-
, ,

Carvalhal Borges , qu^ cafou com D. Maria da Camera , irmã


Xr^ifT?Í/S^'^'^'^'''^°
"^^ "^
'
''^'''"^
do Padre Manoel da Camela, da Companhia de JESUS , & ambos da
illuftíic fâi^iliados legiçimos Cameras j & do tal cafamento nâfccojoaó

do Carvalhal Borges, que eafoa , & teve muycos filhos , que ainda hoje
V vivera, &:dõus vieráôfervir a ElR.«y y^ hum ji mõrreô , outro eafoU
mbie^ & ricamente na Província de Tfâí 0$ MouCês & huma irmã dê }

* feu avò paterno Eftevio da Silveyfa Borges, chamada Dona Joanna da


Silveyra,câfou com Franeifeodô Câfito, filho fegundô de Pedreanês
áo Canto ,0 moço, Zc ào tú cafamento nafceo Ignacío do Canto da Síl-
*eyra , & D, Maria do Gariio ? fe^^undâ mulher de Vital de Betencor Sc
.Vafconeellos j Capitão mòr dê A ngra aonde toda
, a nobreza fidalga
^i aparentada com eftes fidalgos Carvalh^es.
í 224.Daquellè fidalgo Joaó Alvarez Neto , Cavalleyro de
AfrJêa, & Provedor das Armadas
, nãofó nafceo adita Catharina Ne-

fa 3 que cafou com o primeyfo Carvalhal ^ nem fó â ôUtrâ irmá D.Fran-


^os FHrtados^^Me^ cifca Neta , mulher de Manoel Pacheco de Lima , Si fogra de Eftevão
Margarida Neta, que cafou
7 encena d7»de o ^^"^^^J^^ de Mello j mas nafceo também
JUiifllifímoArcebif-
^^m Femaó Furtado de Mendoça, que fegunda vez cafou com D, Ma-
po Primai do Orten- Ha da Veyga j &
o dito Fernão Furtado era filho de Gafpar de Lemoà
te em Goa, aparenta- dc Faria, que tinha vindo de Lisboa )
( &
caiou com hila filha de Mun^
dos todos com oj ditos (Jos Furtado de Mendoça, filho de Fernão Furtado de Mendoça
, fi-
Ça/valhaes,
dalgo dos povoadores da Graciofa , come em fua hiftoria veremos dá :

dita pois Margarida Neta , &


de FernaÓ Furtado nafceo Chriftovaõdc
Lemos de Mendoça > que da primey ra mulher ceve ham filho , qtíe foy

V*"
'i^:

Cap.XXI. Dos NetoSjLemoSjFartàdoSjMendoç.tob; 31?,


Frade dòs Eremitas de Santo Agoftinho , Reytor do Collegiodc Co^
imbra, & Arcebifpo Primas do Oriente em Goa, chamado Dom Frey
ChriftovaõdaSilvcyra, & outro fecular chamado Guilherme da SiU
veyra 3 que conheci fer jà velho de feflenta annos , & fendo o payjá de
oy tenta, cafou a fegunda vez,& teve terceyro filho chamado Luis Fur-
tado de'Mendoça , que foy ineu difcipulo nos latins em Angra, onde
amda o pay me foy viíitar ao CoUegio, fendo quafi de cem annos.
225 Do fegundo cafamento de Fernão Furtado de Faria com
D. Maria da Veyga nafceo D. Paula da Veyga , que cafou com Francif-
CO do Canto da Camera j & defte cafamento nafceo Joaó do Canto , a
quem chamarão Joaõ do Canto Saúde, que cafou comiD. Maria Cor-
cereal, filha do lenente Sebaftiaó Cardofo Machado que cafou com
,
D. Brites Cortereal , filha de Manoel Pamplona de Azevedo j & o tal
iit
Sebaftiaó Cardofo Machado era filho de huma irmã da mãy do Vene-
rável Padre Joaó Bautifta Machado,da Companhia de JESUS que em
,
Japão morreo pregando a Fé, & degollado por ella , como verdadeyro,
Apoftolo,& Padre da Companhia. Outra irmã teve o dito Joaó do Can-
to Saúde , chamada D. Joanna,que cafou em Ponta Delgada de S. Mi-
guel com hum muyto nobre , & rico Cidadão, chamado António Pe-
reyra Botelho, quelà tem defcendencia. Do martyrio do Venerável
Padre trataremos quando abayxo efcrevermos das mais illuftres virtu-
,

des de alguaspeíToas defta Ilha.


226 Outras famílias ha na Ilha Terceyra , de que não pude a-
char plena noticia húa delias he a dos illuftres Efpinclas , que vicraó à
;

Ilha com a vinda dos nobres Cabos do grande Caílello de Angra , entre
©s quaes veyo hum fidalgo chamado Felippe Efpinola ; & defte nafceo Dâí Ejpimlas deAn^
gra , & fe* grandi
D. Ghriftovaó Efpinola bem conhecido em Angra , onde cafou nobilif-
tronco ^ue na Ilha.
fimamente , & teve por filha a Dona Francifca , que cafou com Luis do
,

fe aparentar aÕ com
Canto da Cofta, filho de Manoel do Canto Teyxeyra , & de D. Mar- a melhor Notrcítt^
garida da Cofta: o qual Manoel do Canto era filho de Pedro Anes do
Canto , fegundo do nome , & neto de Francifco do Canto , terceyro fi-
lho do primeyro Pedro Anes do Canto & eafado com Dona Luiza de
,

Vafconcellos , filha do primeyro Pedro Alvarez da Camera & de Do» ,

naAndrcza de Vafconcellos , como fe pôde ver nafamilia dos Cantos


acima & do tal caíamento de Luis do Canto da Cofta com a dita filha
;

deD.Chriftovaó Efpinola, nafceo Jofeph do Canto Efpinola j &por


morte dt mãy defte cafou o pay fegunda vez com D. Anronia de Mel-
lo,filhade Manoel Corrêa de Melloi& aílim fc uniraõ os Efpinolas com
toda a nobreza das Ilhas.
2 27 A outra illuftre familia , de que naó tenho muyta clareza, "De Brás Pirfj dè
heados Lobos Silveyras, que cafáraó na familia dos Cantos porque Canto fundador dé
5 ,
em o Doutor Fruduofo, & em outros, papeis dignos de fé , acho que hCi Convento de S. Gon~
Brás Pires do Canto foy o Fundador, & Padroeyro do Convento de calo cuja filhei cafo»,

Saó Gonçalo de Angra mas não acho quem foflem os pays defte Brás com D. Diogo Loh^
;
dos i^ffaes nafceo Z>»
Pires do Canto, ( & tal vez fe achem papeis antigos do dito Convento,
Rodrigo Loho da Sií^
fe cm poder de mulheres fe naó perdeífem
} podia fer que o tal Brás Pi- veyrafidalgograndf^
resdo Canto nafceíTe de António Pires do Canto, Filho primeyro, &*>afHrd 4t Angras
moFgado do primeyro Pedro Anes do Canto, & que o tal Brás Pire^j.
• Ee ij do

mmm
LiVfó^ri.DaRegia íihaTerceyra.

àó Cântô toihaíTe êfte nome do dito feu pay, ppiS eni toda a família dos
Cafítos fiaó fe acha queni fe denoiniflalfe i^ues dg Canto , fenaó prú
jiieyramente o dito António Pifes do Canto, ôc íegundo , o dito bras
Pires do Canto j &í como em angra fundou o íobreduo Convento, dei*
'
: la dipvia lèr natural 5 rnaS tambçra naó acho com quem foíTe caiado o >

/ €crto he que do cal Bras Pires do Canto ficou huma filha chamada D.
Maria do Canto.
228 Efta pois Dona Maria do Canto caiou com hum fidalgo
chamado D. Diogo Lobo, & défte cafamento nafeeo D. Rodiigo Lobo
da Silveyra , &: n^ifceo em Angra , como affirmaõ as hiftorias cicadasi^
foy efte D. Rodrigo Lobo Commendador de duas Comraendas , da ás
Santa Maria de Monção , êc de outra de Santa Mana de N iza , ôc do
Confelho de S* Mageítade, & Governador General da Ilha de Saõ Mi-
guel, ôí emfim Governador da Armada Real de Portugal j donde pare-
ce que o tal D. Rodrigo Lobo da Silveyra &c feu pay D. Diogo Lobo, ,

crao das illullres cafas dos Sil veyras Condes da Sortelha, & dos Lobos,
Barees de Alvito, & que aífim como o primeyro Fedro Anes do Canto
cafou primeyra vez na Cafados Abarcas hoje Cortereaes , Marquezes ,

dé Caftelló Rodrigo ^ & fégunda vez cafou nas dos Silvas de Lisboa^
& feu filho António Pires do Canto, cafou na cafa dos Caftros de Mon-
fento , Marquezes de Cafcaes hoje j aílim também cafaria em Lisboa
Bras Pires do Canto , cuja filha cafou com D. Diogo Lobo de D. F,o- :

drigoLobo nafeeo outro D. Diogo Lobo da Silveyra, como o avò,&jà


no anno de 1 639. foy com Armada Real por Meftre de Campo para o
Brafil, êc não fabemos dê defcendencia fua mas fó de húa fua irmã D. ,

Mariana de Caftro, que viveo, & morreo Freyra.


229 Da Regia familia dos Betencores ,& dos feus troncos
I.
Reys das Canárias, & feus defcenden-tes aííi m na Madeyra , como em S.
Do tlMl tronco dds Miguel , tratamos jà quando das taés ilhas fegue-íe agora tocarmos
,
;

Seter>corei,& de fua dos Qutws Reáes dêfcendentes, que vieraô para allha Terceyra,& nel=
Kegiafidalgmã co. lafeconfefvaõ. Deftes pois foy em Angra o mais refpeytado, Sccele-
,

"'^
^^^^° fidalgo , hum Joa5 de Betencor & VafcoBcellos , de qUem mais
^M^TerlZa"
Jíha Terceyra.
largamente fallaremos quando tratarmos das gtierras do Senhor Dom
,

António , neto delRey D. Manoel , com feu primo F^lippe IL de Ca-


álella, neto rambeníi do mefmo Rey.Qiíem porém foííeopay defte Joaô
tie Betencor diz huma Relação de Authcr de viib da'qcelle tempo,
,

que foy Francifco de Betencor & que ainda era vivo , & viveo ainda
,

depois muy to tempo, Sc que era natural da Villa daPraya, Sccafado


com mulher niuyto nobre & aparentada , & era legitimo deícendenrc
,

dos ditos dous Reys das Canárias 5 £<: quedosqire deftes vieraÕ paraa
Ilha da Madeyra , veyo piara aTerceyra o tal pay do dito Joaô de Be-
tencor & Vafconcellos como conítará dos fiU-ameutosReaes deíle«f
,

fidalgos & tambe>i'he certo qu-efoy caíado-com D. Maria da Camera


i

&Vafconcellcrs, de Pedro Alvarez da Camei-a fegundo do no-


filha ,

me & bifneto de outro Pedro Alvarez da Camera , que da Madeyra


;

veyo para aTerceyra, & era filho leí:^rtiimG do fegundo Capitão dó


Funchal Joaõ Gonçalves da Camera > & dos Vafconcellos diremos a-
bayxo,. . .
^ . '

^^^-
.
v3 . 230 Dcf-
iéoííífe:- mrn^

€ap. XXI. Da illuftre llhha dos Beteticores de Angra^ J3^


230 Deftejoaô deBetencor&Vafconcellos,que hamaisd©
cento & trinta annos vivia , nafceo Vital de Beteneor & VafconcelloSj,
Morgado, & do habito de Chrifto, com cem mil reis de tenf a,que cafou
com huma das filhas do grande fidalgo Eftevaõ Ferreyra de Mello , gc
fegimda vez cafou com D. Izeu Redovalha , filha de Vafco Fernandes
kedovalhoj & de D. Maria Abarca , das antigas , & nobres familias dos
Redovalhos, & dos Abarcas nafceo mais do mefmo Joaõ de Beteneor
:

outro, &fegundo filho, que viveo , & morreo Religiofo ,& Padre da
Companhia de JESUS, como duas irmãs fuás , Religiofas do Conven-
to de Saò Gonçalo de Angra. Ao dito Vital de Beteneor fe feguio no
morgado o primeyro filho , & da primeyra mulher , Joaô de Beteneor
& Vafconcellos Capitão de Angra , & Governador da guerra contra a
,

Fortaleza do Caftello grande , no anno da Acclamaçaõ de Portugal , 6c


Commendador da Ordem de Chrifto , da Commenda de Santa Maria
de Tondella & cafou com D. Joanna filha de D. Francifco , & de húa
} ,

irmã de Manoel Corrêa de Mello , illuftre fidalgo , de que fallaremos,


quando da fua Ilha da Graciofa & cfa tam conhecida , & refpey tada a
j

fidalguia defte Joaò de Beteneor & Vafconcellos , que lhe charaavaõ o


Sol da nobreza, 6c limpeza.
231 Outro irmaó defté ultimo Joaô de Beteneor, foy Vital ^

de Beteneor comofeupav, filho porém da fegunda mulher, ôc fucce- ^


>
,
, j^^
deo no foro de fcu pay , òc avos , 6c ao irmao na Capitania mor de An- ^ .^ ^í,BetenLes,M
graj & foy do habito de Chrifto com tença , &: Provedor dos R^fiduos ^„gra, & defeuifi*
'

das Ilhas j viveo muytos annos , 8c fempre bemquifto , 6c eftiniado de d^lgot cafamtnttt^
todos cafou duas vezes , primeyra com D, Violante , filha de Francif-
:

co de Beteneor Corrêa &c Ávila , de que trataremos quando da Gracio-


fa, 6c da Ilha do Fayal fegunda vez com Dona Maria do Canto , irmá
;

de Ignacio do Canto da Silveyra 6c Vafconcellos do dito Vital pois


:

nafceo D. Branca, que cafou com Agoftinho Borges de Soufa, fidalgo,


Sc Cavalleyro da Ordem de Chrifto, 6c Provedor da Fazenda Real das
íiove Ilhas Terceyras , de que nafceo António Zimbrou mais nafceo -,

do mefmo Vital outra filha , que cafon com Diogo Pereyra de Lacerdaj
6c além de outras filhas nafceo Francifco de Betencor,(como o avò ma-
terno } o qual cafou cora huma filha de Francifco Dornellas da Camc-
ra, de que abayxo fallaremos,

232 Do fegundo Joaô de Beteneor nafceo o morgado Felicia-


no de Beteneor, que cafou com huma fua prima, filha de feu tio Vital
de Beteneor , 6c da fegunda mulher D. Maria do Cantoj 6c além de ou-
tros fiihos que nafcèraó do dito Feliciano de Beteneor , nafceo também
huma filha, que cafou com o filho morgado de Ignacio do Canto da Sil-
veyra, 6c de D. Ignes de Caftro porém como o dito Feliciano achacou
-,

de forte que a adminiftraçaõ de fua cafa foy dada a fua mulher , êc a elle
alimentos 6c com tudo ainda vive por iífo paflamos a huma fua irmá
, -,

chamada D. Maria de Mendoça , que cafou com António do Canto 8c


Caftro , tetceyro neto do primeyro Pedro Anes do Canto 6c quarto fi-
j

lho de Manoel do Canto 6c Caftro , primeyro d© nome , ( como já Vi- .

mos acima, 6c a fua defcendencia.)


233 Hecomtudo de advertir que o dito Joaô de Beteneor 6í
Ee iij Vaf-
140 livmVl.DítRegiânhaTércêyf^^
yafeoncellos j fegimdo dõnome, teve primeyro outro filho
morgado,
Do ultimo fritai d* çhaâiado Vital de Bet^ncotôc Vaícóflêellos como oavò,&:que
efte
Betencor^ quemorrto chegou a idade de mai^dê viate annos , & náo fó com talentos , 8c
Vital
moçofolteyro ,i^ ex-
pâftesaaturàes que levíamfefn duvida aCommenda,& póftos defeu
emplar de grandes
íliuftre pay , mas também cem taês virtudes fobrenacuraes
, & tamafaf-
virmAes,
tado de todo o vicio, qu€ a todos le vava os olhos , & parece os levou
ao
metmo Deos, qUê naquella idade o chamou pára fi, & o metteode pof-
fe (como piamente cremos) do verdadèyro morgado
da Bemaventu*
rança porém como do. avò Vital nafceo hun>à irniâ doditojoaóde
;

Betencor, charoádá D. Felippa , & efta cafou com Francilco Dornellas


da Camera fidalgo de não menos qualidade , razaô he que deftâ famí-
^

lia dos Dornellas demos aqui noticia pois he caía tam


j unida àdosBe-
tencores.
254 Porèmcomojáacimar<?/>. 17. referimos o illuftre princí-
pio dos Dornellas Gameras ; & ainda mais acima no ca^. 3. vimos tam-
i)cm como aos Pains tocava a Capitania de toda a Ilha Terceyra pelo
cafamento da filha do primeyro Capitão , á qual filha fe fez mercê de
Tios grandes fidalgos fucceder ao pay na Capitania , como conila do í-d/>. 2. & por eftes PainS
Dornellat Camertu pertencia aos Dornellas
^etencores.
, que dos Pains também defcendem , &
fe moí.
irou nós lugares citados ; fe^ue-fenaó haver mais que dizer, ou
referir
do fõbredito fidalgo Franciíco Dornellas da Camera , fenáo que fendo
Capitão mòr da Praya da Terceyra , foy o que com feu cunhado
Joaó
de Betencor & Vafconcellos , fegundo do nome , forão ambos os douí
Governadores da guerra da Acclamaçáõ contra o grande Caftello de
Angra, & ambos ocònquiftàráOi& Francifco Dornellas foy Commen^
dador de Saó Salvador de Penamacor, & depois Governador do mefmo
Càílello,&: ao diante defpachado com a Capitania Donatária ,
&A1-
eaydâria mòrdaPráya, emquefe feguio feu primeyro filho Brás
Dor-
nellas da Camera , que em Lisboa morreõ íbltéyro
, & fe lhe feguio nà
Cnfà feu irmão fegundo Manoel Páim da Camera que também
, já mor-
reo,& deyxou filho , que he neto do dito Francifcò Dornellas da Ca-
mera.

C A PI T U L O XXII.

J^osVafconcelloiàaTerceyra .éfamihm que deííesde.f*


.cendem. Dos Regos Baldúyas Qamdlos yPe-
, ,

rejiras,Sou/aSy& outros.

, *55 I^Eyxadas tradições em nada canonicasjdaoccafiaõ de que


L/ veyo o appellido de Vafconcellos, ou F^ fé?« ^f?(7í, é^r.
J)e(^(íat}tõ Regia, & ^ certo he que efte appellido
he antiquiíTimo, &
nobiliífimo. prí- O
anttgafeja afamiltA meyro quefe chamou Vafconcellos , foy D. Joaõ Pires de Vafconcel-
Àos rajcontellos. los, que íe achou na tomada de Sevilha com o Santo
Rey D. Fernando
de Caftella , & cafou com Dpna Maria Soares Coelho , filha de Soeyr»
Viegas Codho i ®f efa filho dé D. Pedro Mofiiz ,& iseto^e D.Marcim
Mo-
'm^f:;- '**É^^.

Cap.XXlI.DosVafcôncelJos daâ llhaS,& feus Defcend.j^t


Moniz, & bifneto de D. Moninho OzGrio,& terceyronetodo Conde
I).Ozorio jque no anno de 1050. conquiftou grande parte de Entre
Douro & Minho aos Mouros, quando veyo àeonquifta de Portugal o
Conde D. Henrique , pay delRey D. AíFonfo Henriquesj^ emfim ter»,
ceyro neto do Conde Dom Rodrigo Velozo , & nono neto do Infante
Velozo , & decimo neto do Rey de Leâó D. Ramiro III. defcendente
delRey D. AíFonfo de Leaó, & do famofo Rey Dora Pelayo, fendo Re-
<jueredo Rey dos Godos.
236 De tam altos
Príncipes era decimo neto, &
por varonia,
«quelle priraeyro D.Joaò Pires Vafconcellos , &
defte naíceo D. Ro-
drigo Anes de Vafconcellos, quecafou com D. Elvira deSoufa, filh*
de Ruí Vicente ,6c neta de Marcim de Soufa Chichorro , filho delRey
D.AíFonfo II.de Portugal^ôc do dito D.Rodrigo nafceo D.Mem Rodri-
gues de Vafconcellos >6Í daqui le começou a ajuntar o appeUido deMen-
des ao de Vafconcellosjporque defte D.Mem Rodrigues deVafconcel-
Jos nafcèraõ vários filhoSi primeyro, Joaõ Mendes de Vafconcellos,quc
caiou com D. Leonor Percyra , irmã do grande Condeftavel D. Nuno
Alvarez Pereyra, & delles nafceo D. Mana de Vafconcellos , que cafoa
com D.AíFonfo de Cafcaes,filhodeD.Joaó,& neto delRey D. Pedro
&
o Crij, da Senhora D. Ignes de Caftro, & do tal cafamento naíceo D.
Fernando de Vafconcellos, que cafou com D. Ifabel Coutinha, filhado
frimeyro Conde de Villa-Real D. Pedro de Menezes, & do tal Dom
ernando nafceo" D. AíFonfo de Vafconcellos , primeyro Conde de Pe-
nella, & D.Joanna de Vafconcellos,que cafou com Álvaro Pires de Tá-
vora fenhor do Mogadouro ; & D. Brites de Vafconcellos , que cafou
com D. Joaõ de Ataíde fenhor de Atouguia. Segundo filho do fobre-
dito D.Mem Rodrigues de Vafconcellos foy Gonçalo Mendes de Vaf-
concellos, que cafou com D. Therefa Ribeyra filha de Dom Pedro de
,

Aragaõ,irmaó da Rainha Santa Ifabel de Portugal , & do tal caíamen-


tonafceooMeítre de Santiago, chamado como oavòMem Rodri-
gues de Vafconcellos & nafceo também Ruí Mendes de VafconceL
i

los fenhor de Figueyrò. E dcyxados outros de tam illuftre família,


237 Oterceyro filho do mefmo D. Mem Rodriguez de Vaf-
concellos, foy aquclle Marfim Mendes de Vafconcellos,que por ordem
delRey D. Joaõ o I. foy à Ilha da Madey ra de novo entaõ defcuberta, &
^X! t^l^rft'^
lá cafou com Helena Gonçal ves da Camera , primey ra das filhas do def- ^^^^^ iarseo A^JrT^
cubridor da dita Ilha , & primeyro Cnpitaô Donatário do Funchal, o yj/^^^^^^.; ^g raíUn-
celebrado Joaõ Gonçalves Zargo. Defte tam illuftre Martim yiç.víà.t'^ cellos.^^aefoy cafar k
de Vafconcellos, &
da dita Helena Gonçalves da Camera nafceo outro Maàeyra com iMc'^
Martim Mendes de Vafconcellos , que como tinha vindo feu pay de *"* Gonç&lves â^ Ca.-'
Portugalc»
a cafar nanovailhada Madeyra aíTim elle da Madeyra foy ^/Z'' /'J'T;."^ *^f
,
'

. „ - . ,11 ^r^ n c  filhai defoíioGer.çal-


habitar , & cafar na mais nova Ilha Terceyra , & o tempo em que tez el-^^^^
'

, ,

z-jrx? ,cVímõ
ta mudança , parece que foy com o primeyro Donatário de toda a Ilha do FhhcIouI ç-Àjoft- ,

Terceyra Jacome de Bruges , que vindo pela Madeyra trouxe á&^es lho tamhum Martim
Vafconcellos, & dos Tevês, aílím como de Portugal trazia os Pains 58c Mendes ác f'afcen..
outros que quem pôde dar , & he Donatário , leva comfigo a muytosj '^'^^'''fi? daMadty^
;

& muy facilmente com quem porém cafaífe na Terceyra efte Martim l^/fç^rg'^ ^rcejra
:

Mendes de Vafconcellos , fcguadôdo nome, naõ meconfta ainda ; çer*


m

Hl Ml
541 ^ ttVf o Vli Da Régia Ilha Tei-ceyra:
to he porém , que cafaria com peflba naó indigna de fua qualidade , Ôd
confta que delia teve por filho a Gonçalo Mendes de Vafconcellos, que
çafoucomBartholeza Rodriguez Colombreyra,da família dos nobi-
liílimos Coitas , como aífirma em fua hiftoria o Doutor Fruduofo.
u. 238 Dcfte pois Gonçalo Mendes de Vafconcellos naó fónaf-
®w Fafeoneeãoi 0- ^^^ ^' ^^"^ ^^ Vafconcellos, que cafou com Joaó de Betencor , (avò
Cameroi ie£itmosda'^^'^^^^° ^^ mefmonome, Capitaó morde Angra, & Commendador
^ha Ttrcejra. ^^ Tondella , & tronco de tanta defcendencia quanta jà vimos ) mas
,

também nafceo Pedro Mendes de Vafconcellos , de què nafcèraô os fi-


lhos feguintes em Angra, a faberJoaó Mendes de Vaíconcellos, que ca-
iou com Catharina Machada de Lemos , pays de Balthezar Mendes de
Vafconcellos , marido de Dona Joanna de Barcellos , filha de Diogo d«
Barcellos j & dos ditos nafceo Manoel de Barcellos , que cafou com D.
líabel , filha de Gonçalo Pereyra , da Ilha do Fayal nafceo mais do fo-
-,

brcdito Pedro Mendes de Vafconcellos , Martim Mendes de Vafcon-


cellos, que cafou com Aniia Vaz Fagundes,& foraó pays de Joaó Men-
des de Vafconcellos, que cafou com D. Maria de Teve, (os quaes já co-
nheci rauyto bem)&: foraó pays de Joaó de Teve & Vaíconcellos,& de
Martim Mendes de Vafconcellos , que comigo andou em Coimbra , &
de António Mendes de Vafconcellos , que em Angra cafou , & tem def-
cendentes; porém o Morgado Joaó de Teve,com cafar nobiliíTimamen-
te,& deyxar filhas , que igualmente caíáraó,naó deyxou filho varaó que
IhefuccedeíTe, mas fóas ditas filhas. Do dito Gonçalo Mendes o avò
paterno , que cafou com a Camera na Madeyra, lá ficou com outra tan-
ta defcendencia , que feria molefto em referilla. '
"

239 Porém do mefmo Martim Mendes de Vafconcellos , pri-


meyro do nome, he de advertir, que depois de viuvar da prímeyra mu-
lher Helena Gonçalves da Camera, cafou fegunda vez com Dona Igncs
Martins, filha de Martim Pires de Alvarenga, ( defcendente do famofo
Egas Moniz, & de feu filho D. AíFonfo Viegas ) & de D. Ignes Paes, fi-
lha dePayo Rodrigues, CommendadoreSs& Alcaydes mores de Ce:»
iorico, & Alvarenga: defte pois fegundo cafamento do dito Martim
Mendes de Vafconcellos nafceo primeyro Joaó Mendes de Vafconcel-
los fenhor de Alvarenga, que cafou com D. Ifabel Pereyraj& defi:es naf-
ceo Ruí Mendes de Vafconcellos , fenhor também de Alvarenga, & ca-
iado com D. Maria de Moura , filha do Alcayde raòr de LamegOi de que
(além de huma filha , que cafou em Vizeu} nafceo Jacome Rodriguez
de Vafconcellos, que cafou com D. Maria Déça , filha de D. Joaó Déça,
Alcayde mòr de Villa-Viçofa , & de D. Maria de Mello, & do tal cafa-
mento nafceo D. Maria Pereyra de Vafconcellos , que cafou com Dio-
go Ley te de Amaral,pays de Diogo Leyte de A2evedo,& avós de Jaco-
me Ley te de Vafconcellos , êc bifavòs de Diogo Ley te de Vafconcellos,
i & trefavòs de Jacome Leyte de Vafconcellos cujo filho Luís Diogo
,

Leyte tornou a unirfe com eftes mefmos Vafconcellos , cafando na cafa


dos Tevês, que não í 6 faó Vafconcellos,mas Cameras tambem,por def-
cenderem do primeyro cafamento de Martim Mendes de Vafconcellos,
que foy cafar á Madeyra com a primeyra,& legitima filha dejoaõ Gon-
çalves da Camera o Zargo.E bafte efta noticia de taó inexhauriveis Vaf.
concellos. 240 Conj
í^vfíí^''-
>
%!M^

Cap, XXII.DosRegos Baldayâs,Camel.Pereyf .&SouCj4|


240 Com
outros Vafconcellos Oliveyras fc uniraô também
,os nobres Regos Baldadas, Camélias , Pereyras , Sciifas , &c.
a Ci- De rafcenn^ Em mm
dade do I^orto havia antigamente hum Joaõ Vaz do Rego , homem fi- /w Oliveyrtu, Regos,
dalgo ,& oriundo da antiga, & nobre Villa da Feyra j de que nsiicQoBMayai .Camélias,
Gonqúo do Rego, Cidadão, & fidalgo do Porto , que cafou com Maria ^^W^ » ^ ^^'^i*'^
.Baldaya,ôc viuvo delia veyo com quatro filhos para a Ilha de S.Miguelj
& ncfta caiou fegunda vez com Ifabel Pires Rcdovalha,fidalgados pri-
jTieyros Redovalhos do primeyrocafamentonafceo Belchior Baldaya
:

do Rego, que calou com Ifabel ( ou Brites ) Rodrigues Rapoía, da no-


biliííima familia dos Gagos Rapofos de Saó Miguel j deftes nafceo &
Manoel do Rego Baldaya , que cafou em Saõ Miguel com Hieronyma
Ferraz de Figueyredo , da antiga nobreza de Saó Miguel, Santa Ma- &
ria, &
foraó pays de Belchior Baldaya do Rego que fendo proprietá-
,
iríjí

rio do grande officio de Provedor dos Refiduos de Saõ Miguel , fe mu-


dou para a Villa da Praya da Ilha Tercey ra , & nel!a foy Vereador , 8c
Juiz , & mu y to refpeytado Cidadão j &
o qual com fua familia ajuntou
©utra de Vãlconcellos Oliveyras, porque
241 Cafouo dito Belchior Baldaya do Rego com D. Marga-
rida de Vafconcellos filha do Doutor Marcos AfFonfo de VafconceL.
,

los, Provedor dos Refiduos, & netade Guimar de Oliveyra & Vafcon-
cellos , & bifneta de
Ignes de Oliveyra Vafconcellos , &
trefneta de &
Pedro de Vafconcellos , & quarta neta de Pedro de Oliveyra Vaf- &
concellos , 6c quinta neta de Martim de Oliveyra Vafconcellos , fi- &
dalgo da cafa dos Infantes Dom Henrique , D. Fernando , &
cafado &
com Tareja Velha , irmã do grande Frey Gonçalo Velfi^abral , prí- T
mey ro defcubridor , &
Capitão Donatário de ambas as Ilhas , de Santa
Maria , & Saó Miguel , como vimos jà em os feus defcubrimentos j &
emfim fextanetade Ruí Mendes de Vafconcellos, fidalgo defcendente
(dízFru£tuofo)de hum grande fenhor de Gafcunha, ou Vafcenha,
cm França que parentefco porém tiveífem eftes Vafconcellos Olivey-
:

ras com os
outros já ditos Vafconcellos , naó me confta fó acho que -, &
da dita fexta neta deftes,& do dito feu marido Belchior Baldaya do Re»
go nafceo v

242 Joaódo Rego de Vafconcellos, que cafou duas vezeS} _ „, » »,


primeyra com D. Maria Pacheco de Mello j fegunda vez com D. Vio- '^^
''''Xtí S
!antedeEfpinofaCordeyra,deque faiiaremosem feu lugar } pela prí-
•iweyra fe uniraó eftes Regos com os Camellos , Pereyras , Pachecos
^Xw ^í ^.«irJi'
^
Soufas, & Mellos
porque a dita D,.xVíaria Pacheco de Mello era filha
, •

de Gafpar Camello Pereyra 5 Sargento mòr, & Ouvidor da Villa da


Praya, & neta de André de Soufa Pereyra , & bifneta de Gafpar Camel"
lo do Rego , & trefneta de Gonçalo do Rego Baldaya
, & quarta neta

/iaquelle primeyco Gonçalo do Rego de quem também era trefneto


, o
í-Ut© Joaó do Rego de Vafconcellos , marido da tal D. Maria
Pacheco
de Mello & efta por fua niãy D. Leonor Pacheco de Mello era neta de
;

Fabiícto Pacheco de Mello ,& bifneta de DomingoíTVieyra Pacheco*


& de D. Ifabel de Mello filha de Luís de Efpinola fidalgo filhado
,
, ^ 1 : 1
!',

-por fuá cerceyra avo D. Brites Camello mulher


, de Gonçalo do Rego
Baldaya,era.quarta.neta de Gafpar Camelló Fofeyra ,êc quinta oeta de
.
Fem

wm
Livro Vi »"Ba Regia Ilha Terceyra.

Fernando Camello Pereyra , & de D, Brites Cordeyra filha de Feiro ,

Cordeyro j & pelo Fernando Camello era bifneta de Álvaro Camellôi


Pereyra , fidalgo tara grande , que era filho de Álvaro Gonçalves Ca-
mello, antigo íenhor de Bayaõ , que caiou com D. Ignes de Soufa filha ,

de D. Lopo Dias de Soufa Meílre da Ordem de Chrifto êc a mulher


, j

!flo dito Álvaro Camello Pereyra era D. Ilabel de<^aftellóbranco filha j

de Joaõ Camello Pereyra , que era neto de D. Álvaro Gonçalves Perey»


ra, pay do Condeftavel D. Nuno Alvarez Pereyra & o dito Joaõ Ca--,

mello Pereyra êra eafado com Leonor Paes de Caftellobranco , filha de


Gonçalo Vaz de Caftellobranco o Velho , tronco das excelientes eafas
dos Condes de Villa Nova, &; dos Almirantes &: outras. ,

243 Daquelle Gafpar Camello do Rego , que de Saõ Miguel


foy cafar á Villa da Praya da Terceyra com Catharjna de Soufa , nafceo
mais Dona Ifabelde Soufa, que cafou com Manoel de França Macha-
do, & deites mafceo Joaõ Camello do Rego Pereyra & Caftellobranco,
que de tudo tirou inftrumentojuridico em 1626. como já tinha tirado
feu pay Manoel de França Machado em o anno de 160 1. & do dito
Joaõ Carpello do Rego nafceo Mandei de Soufa de Menezes , que co«
nheciem Angra, morando defronte daSè,ha íeííenta annos: nafceo
também da dita D. Ifabelde Soufa, &do dito Manoel de França Ma-
chado , nafceo , digo , Dona Paula , que cafou com D. Chriftovão Efpi-
nola , de que nafceo Dona Francifca , que cafou com Luís do Canto^da
Cofta, fidalgo da familià dos Cantos, aonde/epòde ver. E ifto bafta de»
ftas, vamos jà a outras famílias.

I I
III —»^»^»A

CAPITULO XXIII.

Dos Barretos com a Real ca/a do Santo Borja. E


liados

mi do tronco dos Fonfecas , Vieyras , Machados , Pa-


checos, & ainda dos Cantos.
244, I^T A6 obftante o termos já tocado em o cap. iS. nos Barre-
tos Monizes da Terceyra , naó os podemos privar da
mayor gloria à nobreza , de que de humdosmefmos Barretos defcen-
deo o gloriofo , & Real
Príncipe Saõ Francifco de Borja , da Compa-
nhia deJESUS, Sede antes quarto Duque de Gandia, Vice-Rey de
Catalunha, &
bifneto delRey D. Fernando o Catholico , & tronco das
mayores cafas que ha na Hefpanha , & por efta via todas deícenderera
dos illuftres Barretos de Portugal, donde também defcendem os da Ilha
Terceyra } pois ainda à mayor cafa , mais exalta hum defcendentejOii
Doprimeyro Gonçalo parente confanguineo que chegou a fer Santo canonizado , do que os
Nmes Barreto Ftce- que não paííáraó da fidalguia do fangue.

fo^J^IJvlZk^l ^^^ ^ primeyro pois que acho do appellído de Barreto , foy


'^3' Gonçaío Nunes Barreto , Fronteyro mòr do Algarve, ou Vice-Rey do
mor de Faro àe
/»4 illftfire dèfcende-^^^ R-^J "O , & Alcayde mòr de Faro ; & efte deyxou quatro fi lhos pri- -,

ffw. «meyrOjFernaò Barreto, que morreo em Ceutaj fegundo Francifco,Na-


ncs
^í^jm:^

Cap.XX!íLDos.Bârretos,alced.dâRea! caiado S.Borja^

ms BarretOfterceyr©, Joaõ Telles BarreCQi& quarto, Gonçalo Nunes


Barreto , fegundo do nome como o pay , &
eaíou com D. llabel Pâ:ey-
ra> filha de Diogo Pereyra , Commendador de Santiago
5 &
defte Gon-
çalo Nunes Barreto nalcco D. Ignes que caíoa com rienrique
, Moniz,
Aleayde mor de Silves , em quem fe ajuntarão os Êarretos com os Mo-
nizes jnafceo mais do mcfmo fegundo Gonçalo N
unes, D.lfabel de Me-
nezes , que eafou com Gil de Magalhães lenhor da N
obrcga > &nafceo
também D. Leonor Barreto , que caiou com Martim Mònf© de Mel-
lo, Akayde mòr de Serpa &
deyxados outros muytos irmãos varões^
-,

que nafcèraô do dito Gonçalo N unes Barreto , fegundo áo nome, o pri-


mey ro foy N uno Barreto , Aleayde mòr de Faro , que cafou com D.
Leonor , filha de Joaó de Mello, Aleayde mòr de Serpa j & do tal cafa-
mento nafceo hum filho , & huma filha j o filho foy Ruí Barreto que
com D. Branca de Vilhena , filha de Manoel de Mello , AlCayde
cafou
,
^
mòr de Olivença ,& irmão do Conde de Olivença Dom Rodrigo de
Mello , com cuja filha cafou o íenhor D. Alvaro, primeyro Marquez

Ferreyra, tronco da Excellentiffima cafa dos Duques de
Cadaval.
_ 246 A filha pois do dito Nuno Barreto ,& irmã do dito Ruí
Barreto, foy D. Ifabel, que cafou com D. ALvarodeCaftro, í>^^»^f*t^* '^«G^'
chamado
O dõ TorraÓ , & defte cafamento nafceo D^ Leonor de Caftro que de
,
^"^ •
'"'^'*'''* "'" ^'*^

Portugal foy por Dama da Emperatriz Dona Ifabel , mulher deCarlos ^'^"''I'' '^^ ^''J^*^

y. Sc dahi tafõu Com o fóbredito Duque de Gandia Dora Francifco de


Borja , da qual viuvo encfòu na Companhia de JESUS , & o poz
a Gâ-
tholicà Igrejaem feus altafeS , & venera por Santo canonizado, & mi^
i &
lagrofô irmá era tattbem da dita D. Leonor de Caftro huma
Dona
FehppaBâffetõjqucCâfoa tom Franciícoda Cofta Cortereal o dfe
Tavira.
Entre os iSlhos defte gloriofo Duque Saó Francifco
^ 247
Borjâ,fôy hum chamado D.JoaÓde Borja, o qualeafou com outra
de
Por-
tugueza,& prima fua era terceyrogrào de confanguinidade ,
chamada
p.Francifca deAragaó, filha de Nuno Rodrigues Barreto,
&
de D.
Leonor de AragaÔ , filha de D. Nuno Manoel íenhor de Salvaterra
, 8c
Guarda mòr delRcy D. Manoel , o qliaí Nuno Rodrigues era
filho do
fobredito Rui Barreto , irmão da mly da dita Duqueza
de Gandia D.
Leonor de Caftroj & aífim fegunda vez tornarão os fenhores da cafa
de
Gandia a defcender dos Barretes Fortuguezes > & podèra quem
com-
poz as lições da Reza do Santo Borja , quando começou a quinta liçaÕ
com eftas palavras, Mortm Eleomra de Cajirâ , accrefcentar, ao menos,
cfta fó palavra , Lujitma, pois tanto amou o Santo aos Portuguezes,que

naÓ fó cafou elle com húa , mas também o dito feu filho
com outra Por^
tugueza j ec fe aparentou com Portuguezes tantas vezes que
, naõ fó õ
fez com os Barretos, mas cem os Perey ras, MeMos,
Caftros,&c.
^^ ^^^^ ^"^ Barreto , írmãoda mây da Duqueza , nafceS
L^*^ r»
também D. Brites de Vilhena, qu& cafou com D. Henrique de Mene-
ses, Governador do Civel de Lisboa; &
nafceo mais D. Francifcade
Vilhena , que cafou côm D. Fernando de Lima pays "de Diogo
, de Lu
ííia. Seguindo porém a varonia
direytados Barretos , nafceotambem dó
tebrediÊo NunoRodriguez Barreto, outro Ruí Barreto,
fegundo do
nomcj

mmmm
KvtQ^I, Dã RegiàllhaTerceyra.
nome, fenhor do morgado da Quarceyra no Algarve, &que foy graixí
de Capitão na índia , & das Galés era Hefpanha , & caiou com D. Bri«
tes de Vilhena , filha de Dom Pedro de Menezes, ( que matàraó fendo
.Capitão de Tangere ) & era filho de D^Duarte de Menezes, famofo na
-índia. E outra irmã teve cfte Ruí Barreto chamada D. Branca , que foy
fegunda mulher de Dom J oaó de Caftellobranco. Do tal fegundo Ruí
Barreto nafceo outro NunaRodrigues Barreto,eomo o avò,&: delle naf.
ceo Jorge Barreto, Eftribeyro mòr delRey D. Manoel , & Commenda-
dorda Azambuja^&cafou primeyra vez com D. Ifabel Coutinho, fi-
lha de D. VaÍGO Coutinho , primeyro Conde de Bor ba,&- do Redondo;
Scfegunda vez cafou com D. Leonor, irmáde D. Francifco de Moura,,
fenhor da Azambuja, de quaficàraõ mais filhos porém do dito feu avò
-,

N
Uuí Carreto , fegundo do nome , nafceo mais Gonçalo u nes Barreto,
Alcayderaòrde Loulé, que morreo na batalha delRey D. Sebaftiaõj^Sc-
tinha fido cafado com D. Mariade Mendoça, filhadeD. Francifcqde
Soufa Veador delRey D. Joaó III. & delle nafceo Nuno Rodrigues
,

Barreto , Alcayde mòr de Loulé. Do que tudo, & do já dito no cap. i â*^
bemfetiraqueparentefcotem osBarretos Monizes daTerceyra com
o Santo Bprja, & feus defcendentes aílim queyra Deos que os imitem^
-,

249 Nem também obftante o que diiíeraos n& cap. i /.par^ò


fim , da antiga nobreza dos Pamplonas , & Fonfeeas ^ue não fó coir^
,

DíjfFfl»/aír<« /?^rf^w Cantos, & Gaílrosfe ajuntarão, mas também com o.s fobreditos Moní-
-
da IJhaTercejra., zes Barretes, pede ainda a hiftoria que defcubramos mais^'o radicaKprih-
cipio dos Fonfeeas da Terceyra. Nó defcubrimento pois da dita Ilha
(quehamais de250.annos) hum dos primeyros ,'8? mais nobres po-'
jfoadores qucnella entrarão., foy Gonçalo Anes da Fdnfeca ,: a quem è
primeyro Capitão de toda a Illia fez grandes datas de terras , & efpe»'
cialmentede muy tas que eftáo navafta' campina chamada o Paul , koje
demarcada com os marcos que dividenias duas Capitaíiias da Praya, Sc
Angra quem porém foífem os immediatos filhos defte Gonçalo Anes
}

da Fonfeca naô o acho , mas do que^chey confidero que ou filho , oii ,

neto íeu foy hum Pedralves da Foníêca que fendo na Terceyra cafa,
, ,

do com D. Andreza Mendes , Sc que viuvando eíla daquelle, tornou a


cafar com Francifco de Betencor & Vafconcelios que da Madeyra ti-
,

nha vindo para a Terceyra também viuvo, §£ deftçs dous viúvos ma- ,

ndo, & mulher , nafceo aquelle Joaõ de Betencor & Vafconcelios , de


queíalleynof^p. 21. quandodos Betencores de Angra, & quando ain-
da naô tinha achado efte feu legitimo pay,que da Madeyra veyo para a
Terceyra i & porque o dito Joaó de Betencor & Vafconcelios calou
com húa filha da dita fua rnadrafta Dona Andreza Mendcs,& de feu pri-
meyro mando Pedralves da Fonfeca, poriíTo á mulher do dito Joaó
de Betencor & Vafconcelios , huns lhe chamaó D. Maria da Camera St
Vafconcelios, como no citado lugar dizemosj outros lhe chamãca Dona
Maria da Fonfeca, porque tudo tinha. ~

250 Deites mefmos Fonfeeas acho hum muyto nobre Jâcome


da Fonfeca, parente do Bifpo D. Hieronymo Tey Keyra Cabral, & vin-
do de Lamego, &là cafado rica, & nobremente ;& deftes nafceo Antó-
nio da Fonfeca, Ecclefiaíiico, & Agente de Portugal em.Roma } & naf-
ceo
t^

Cap .XXIII Dos íonfecai, Vièy fâs^ èc ainda Cantos.


.
|^
«jeomais Grack daFonfeca,Damada Duqneza de Bragança /que ca-
iou conforme a fua qualidade, &delia nafceo Genebra da Fonfeca , mu*
Iher de hum feu parente Hierony mo da Fonfeca, que foraõ pays de ou*
tra Gracia da Fonfeca,que em Angra caiou com António Dias Homem*

&
Deftes pois antigos , nobres j tam aparentados Fonfecas defcendem
aquelies Fonlecas fidalgos^ de que tratámos nocap. 17. no fira.
251 E ainda naõ óbftante o muy to que acima tocámos no ca^,
Cantos , & Pachecos > devemos accrefcentar o que acha-
19, ôc 20. dos
mos de outros Cantos Vieyras , & de outros Machados Pachecos. Dos De entras Cattt&s ¥^\
Vieyras pois he de faber, que reynandoElRey Dom Joaõ III. haviaem *J^^ ^'^'"^i > ^5
Lisboa hum fidalgo chamado Duarte Galvaô da Silva, cafado com D, <:^*<^<^h^H
Catharina de Soufa , & elle Secretario do Rey j Sc do feu Confelho , &r
que foy íèu Embayxador a Caftella , como já diíTemos no caf. 19. deftè _;,$<

fidalgo , âlèm da filha D. Violante da Silva , que cafou com o príraeyra


Fedreanes do Canto, da Terceyra , & já viuvo , nafceo mais Pedro Vi-
cyra, que veyo á Ilha de Saó Miguel , & tornou outra vez para Lisboa
onde morreo , como affirma Fruétuofo em fua hiftoria i deyxou porèrií
em Saô Miguel hum filho,chamado Fernaó Vieyra, que calou com He-
va Lopes, filha de Álvaro Lopes , fenhor do Vulcaõ de Saó Miguel, &
de Mecia AíFonfo da família dos Machados da Ilha Terccyra5 & do di-
to Fernaó Vieyra nafceo cm Saó Miguel Manoel Vieyra , que duas ve-
zes cafou em Saó MigueL
'
252 Porém, fedo dito fidalgo Duarte Gaívaó da Silva def-
cendeo D. Pedro Vieyra da Silva, que primey 10 também foy Secretario
de Eftado , & Valido delRey D. Joaõ o IV & depois de viuvo fe fez
.

Ecclefiaftico , & foy illuftriílimo Bifpo de Leyria, de que ficou illuftre


defcendencia , & o illuftre Senhor Luis Vieyra da Silva, que ainda 1::

liojeviVe,tambeni Ecclefiaftico, & hum dos inais graves barretes que


hojeteíTi Portugal, & de tam exemplar virtude i que tendo fervido
Jnuytos annos de Deputado da Mefa da Confciencia , & do Santo Offi»
cio , nunca quiz aceytar o fer Valido dos Reys, nem Secretario de Efta-
do , nèm ainda Bifpo } de tal fua afcendencia naõ me confta , porque à
exemplar modeftia defte illuftre fidalgo naó dà lugar afe lhe pergun-
tar.

25^ Depois foubé eu por boâ via j que o Ibbredito Pedro Vi-
eyrada Silva era único filho de Gafpar Vieyra Rebello , em cuja boa ca-
ía fuccedeojeftudouem Coimbra, foy CoUegialdo CoUegio Real de
Saó Paulo , Defembargador do Porto, & em Lisboa da Supplicaçaõ, &:
dos Aggravos,& depois Confelhey roda Fazenda, & logo Secretario
de Eftado de ElRey D.JoaóoIV.&da Rainha D. Luizâ,&: dos Reys
muyto cftimado. Cafou com T>. Leonor de Noronha , filha de Martim
de Távora de Noronha , & ambos fizeraó em Leyria o Convento de S,
António da Província da Arrábida, de qUe ficou o Padroado a feiis def-
cendentes ; dos quaes o primeyro filho foy Gafpar Vieyra da Silva, quê
fuccedeo ao pay lia cafa do Padroado ^ & Commendas, & cafou com D.
Felippa 1 filha de António de Almada & Mello j &de D. Urfula da Sil-
va. Outro filho foy Felippe de Távora dê Noronha , Maltez profeífdj
^uefoy General das Gales de Malta , ôc depois de lograr outras Gom>
'•\. Ff mendasí
S45Í
LiymVLDâ Regia UbtTerceyra;
mendas, foy, & morreq Baulio de LeíTa, & fenhor de grande eftimaçáo}
& além de miiytos outros filhos, & filhas do fobredito Pedro Vieyrada
Silva, (que foraó Religiofos, & Religiofas ) foy cambem feu filho ojá
referido, & iIluftreEcclefiattÍGO Luís Vieyra da Silva.

254 Deyxada taó copiofa defcendejicia, viuvou o illuílre pay,


&fe fez EGclefiafticOi &foy feyto Bifpo illuftnflimo do Biípado dç
Xieyriaino governo Ecclefiaftíco moftrou ainda mayores virtudes do ,

qiieos grandes talentos que no Gonfelho dos Reys tinha moftrado, &:
foy vcrdadeyramente hum exemplar de Bifpos ,& feus fu^cceíTores go-
zaó hoje do Epifcopal 9 & Régio palácio j que lhes fundou j& deyxou
dentro da mefína Cidade de Leyria. Do que tudo ainda quenáoconílíi
p juízo, que acima já formamos, deeftes Vieyras Silvas defcenderenj
daquelle Duarte Galvão da Silva, Secretario também , & do Gonfelho
deElRey D.JoaôIU.Ôc feu Embayxador a CaftellaiConita com tudo ?
probabilidade como q ajuizávamos , aflim por ambos os appellidos jun-
tos de Vieyraí& de Silva, que tantq cõnfervou o llluftriílimo Bifpo,
& feus principaes filhos,Gon3tpk,gf|osOfficios de Secretários, Confe?
Iheyros ,& Validos dos Reys.-^-t r
255 Confta porém qiiè dos fobreditos Vieyras naõ fó em Sa6
Miguelficàraó os defcehdentes daquelle Manoel Vieyra , mas também
em a Terceyra ficàraó no fidalgo Joaõ da Silvado Canto j neto mater-
no do fobredito Duarte Galvaõ da Silva, & nos muytos defoendentes
qfiie ainda hoje lá ífem , com os appellidos de Borges , Coílas , & Cantos

Silvas , & outros que fe ehamáraó Cantos Vieyras j ôc huns Vieyras an^
tigos que fizerao feu aíTento em o nobre lugar de Santa JBarbara daTerr
çeyra, onde viveo cora nobreza hum Scbaftiaó Vieyra ^ de que já Fru*
|P;uoíb faz mençâò*
256 Dos Machados Pachecos toco fó , que houve em Angrs
Jium bom fidalgo chamado Conftantino Machado que cafou com D. ,

Jpatharina Pacheco Cortesr^aljSi: deites nafceo Manoel Machado da Çp-


áa , que conforme a fua qualidade cafou cora Barbara Cabral , de quç
liafceo outro Conftantino Machado da Coíia como .0 avò , D,
Sc fcuma

Margarida 5 qUe cafou çdmFabrieio Pacheco > & deftes nafceo Maty
'íft« 'e^' theos Pacheco^ que cafou com D. Anna , filha do conhecido fidalgo AU
varo Pereyrade LacerdaiSf outros muytos na mefma Ilha Terceyra, do
^ppellido de Machados , & particularmente na grande Villa da Praya,
dos quacs também faz mençaô o mefmo Fruduofo & affirma ferem fi- .,

dalgos , como em feu lugar mais Jargamente ainda moftr.aremQS.


AhMiÍMÉMÍã(âMÍiik4iAM«^

wá C A P r T tJ L o XXIV.
»i D afamília dosCovdeyros & E^inof^. ^

à^7
EM com
muytos lugares defta hiftoria temos encontrado
efte appellido de Çordeyros, <& algumas ve-
£es com o de Èfpinofas , razaô he qUe também delle^ demos algum»
noticia. Q rauyto erudito Fru^uofo, tratando 4ps Xeye^ ;dc Saô Mu
fe>ifc»f
,
.

Cap; XXIV. Dos CofáeyfbsÊipítlôÍs2


|^
fuêlVàiz que houve antigamente eiíii^riz Mtnf^moíò Capitão dãil '

&
Rsy de França > chamado Gonçalo Dornellás Paim , que efte tivera
tamfaçanhoíos encontros militares , ^ue querendo negar outros que o^
teve, o mefmo Rey tantas vezes o affirmára, que lhe mudou o nome, sé
mandou que fe ehamaíTe Gonçalo de Teve, êc que èfte foy o principio
famofo do tal a ppellido a efte Gonçalo dè Teve ( diz o mefmo Frii^
-,

ãiwfo) fuccedèráo três filhos, ou frcs netos , hum chamado António


<Je Teve, que veyo para Portugal , & foy Thefou rey ro mor do Rey
no^
& defte naó diz mais. O
feguníio foy Gonçalo de Teve Paim,què veyo
á nova Ilha de Saó Migueljôc eira varáô de tanta couta , que com o Ca-
pitão Donatário da Ilha repartia, & dava as terias delia > & defte fica-
rão em Saó Miguel dous filhos, hum Joaõ de Teve Almoxarife da Ilha,
'que cafou na Villa de Agua de Pao , & de que ficoU pouca defcenden*
tiaj & o outro filho de Gonçalo de Tevb Paim fo^õaõ de Teve
, pày
de Amador de Teve , & avò de Gafpar de Teve, Cabitaó na Cidade de
Ponta Delgada. ?l;:., f.v :;/--,:

,'ii: i
c\2^ 8 O terceyro filho
ou iiètòclò primeyro Gonçalo de Teve
,

(chamado de Paim ) foy Pedro Cordeyro, & efte foy o -^^ primèj/ro ehãmài
antes Dornellás
|)rim.eyrode talappellidoemtodasasllhas,quedeParizveyo com o "^^ ^'"''^^''?' ^""""^^'

irmaô Thefoureyro morde Portugal, dcpaíTÓu aSao Miguel como';g'"7/L ip2«j


teutro irmaõ Gonçalo de Teve Paim,& deyxando os appellidos de Dor- ' ' ^
nellas, Paim ,& o de Teve, conícrvou ode Cordeyro que devia feí
,
também de feus pays , &: avôs Francezes , & fez feu aíTènto , & morada
cm Villa Franca , que era a cabeça entaò de Saô Miguel. Defte Pedré Ym
Cordeyro ficàraó em Sa6 Miguel quatro filhas i a primeyra câfóu com
<íonçalo Vaz Botelho, o moço, da nobiliffima familia dos Botelhos, dô
que jà tratamos nas de Saó Miguel. A fegunda filha , chamada Leonoí
Gordey ra, caiou com Fernaõ Camello Pereyra , de qile teve muyta def-
cendencia , atê na Ilha Terceyra , & muyto nobre , como vimos já na fa*
íniliados Camellos i& Regos. A terceyra filha foy Catharina Cordey-
ra, que cafou no Reyno de Portugal com hum fidalgo chamado
Vicen^
te de Abreu. A quarta filha foy Maria Cordeyra, que cafou com huríi
Cavalleyroda cafadelRey, chamado Jòaõ Rodriguez de Soufa, Fey^
for da Fazenda Real em São Miguel & vitiva defte cafou fegunda vez
-,
,
'*"'^
*"'^^''M
com Jorge da Mota , filha de Fernando da Mota, Cidadão do Porto,&
arTscoZÍlTTÁ
parente do Bifpo do Algarve D. Hieronymo Oforio ; & o dito Mota
w, " -" --^^
era Cavalley ro do habito de Aviz > & também depois de viuvar
cafou
fegunda vez com Bartholeza da Cofta.
259 Defta Maria Cordeyra , quarta filha do primeyro Pedro
&
Cordeyro, de feu primeyro marido Joaõ Rodriguez de Soufa, nafceo
Pedro Rodriguez Cordeyro, que cafou com Catharina Corrêa, filha
deMartim Anes Furtado de Souía , & foraõ pays de Joaó Rodrigue2í
Cordeyro , cuja filha cafou com Miguel Botelho, filho de
Joaó da Mo^
ta, & de Brites de Medcyros. Nafceo mais da
dita Maria Cordeyra , &
de Joaõ Rodriguez de Soufa , nafceo digo) húa filha que cafou
( , com
Sebaftiaô Rodriguez Panchina,irmaó de outros Panchinas,&
defteá
, & cafado coiit
nafceo Chriftovaõ Cordeyro, Efcrivaó da Alfandega
Solandâ Rodriguez Beíievides, &éfí!esfora6 pays de outro Chrifto-
Ffij Vàâ
yaó Gofdeyro vfegundo do nome , de que iiâfceo , terceyro no nome,
Ghriftovaq Gordeyro,. chamado o Sol , por fua nobreza. Nafçeo tam^-
bem do primeyro Chriftovaõ Rodriguez Cordeyro , & da Benevides,
foa mulher, nafceo( digo) Manoel Gordeyro de Sampay o, Cavalleyro
do habito de Chrifto , & de Juiz do mar , & da Real Alfandega , o qual
çafoucom Mecia Nunes de Arèz^ filha do Licenciado Gonçalo Nu^
nes de Arèz , & de huma filha do Almoxarife de Angra dos principâes
,

delia: defteeafamento pois nafceo Maria de Saõ Payo ,que cafou com
Puarte Borges da Goftajdos muyto nobres MedeyrosCoftas, de que
fátratámos , quando dos Medeyros de Saó Miguel; & dotal calamenCQ
nafceo, primeyro, António Borges que cafou com D. Maria da Car
j,

mera , fidalga dos Gãmeras , Condes de Villa Franca, & Ribeyra Granf
de i & do dico cafantónto nafceo Duarte Borges da Camera , Juiz do
«lar, & da Real Alfandega , & que cafando com D. Maria de Frias , d^
nobiliííimá cafa dos Bruns , ( de que fallaremos , quando da Ilha do Fa^
yal} morreocomtudofem deyxardefcendencia porém fua irmã intey-
;

íà D. Máfia da Gamera, como a máy , cafou com Gafpar de Medeyros,


primeyro do nome , de que nafceo íegundo filho Gafpar de Medeyrô^
? ,.
dá Gamera, & defte jâ terceyro Gafpar de Medey ros, cafa naõ fó taò fi-
.*?•
dalga , mas húa das mais ricas que hoje tem S* Miguel.
260 Nafceo fegundo filho do fobredito Duarte Borges da
Cofta , & de fua mulher Maria de Saó Payo , nafceo Dionyfio Borges,
que foy pay do M. Reverendo Arcediago de^ Angra Maíioel de S.Payo,
que ainda hoje vive na Gorte de Lisboa , & bem conhecido nella de to-
da a fidalguia, cujo irmão inteyroj chamado Francifco Borges, ficou
-|ia fua Gidade de Ponta Delgada ,8c lá fe continua a fua cafa. Nafçèrap

mais dos mefmos Duartes Borges da Gofta , & Maria de Saó Payo , naG
cèraõ dous varões dignos de memoria ,por fe metterem Religiofos na
Companhia de JESUS, hum chamado o Padre António Borgçs,outro
é Padre Gonçalo de Arèz, Gomo feubifavò Gonçalo Nunes de Arèzjôc
Jà defte Padre
falíamos acima, quando do Gollegio de Saó Miguel, ôc
do Gollegio de Angra , poisem ambos foy Reytor , & de grande reli*
giaô, virtudes, êc letras.
261 Da mefma acima dita Maria Gordeyra ,( quarta filha do
primeyro Pedro Gordeyro ) & de feu fegundo marido Jorge daMotaj
nafceo também hum filho , chamado António da Mota , que cafou com
FrancilcadeTeve,(fua ainda parenta, por ellaíer filha de Pedro de
Teve , & neta de Gonçalo de Teve Paim ; ôc por elle António da Mot?
"^er filho da dita Maria Gordeyra ,& neto do primeyro Pedro Gordey-
'|rp , irmaó de Gonçalo de Teve ) do tal cafamento pois nafceo hum fí-
'

-'iho , chamado Pedro de Teve , ( como o avo materno } & cafou com
éuimar Socyra , filha de Manoel AíFonfo Pavaõ, & de fua mulher Leo-
'

-'ttor Soeyra, que era filha de Garcia Rodriguez Gamello , 6c de outra

%. Leonor Soeyra j & defté Pedro de Teve, Sede Guimar Soeyra naí-
'
ceo A ntonio da Mota , que cafou com Anna da Gofta Pimentel Sc àcU
>

|es nafceo Guimar Soeyra , que caíoU com Manoel de Brum & Frias,
'Átèqui o que largamente úiz o Ddutòf FruÊtuoío da antiga & nobre fa-
'

fMliz d^^s CordeyróSji^uepbvoáràÔ alHia de Saô Miguel, de que como


'liatwrâl, teve mais noticia, ^^- ^^ »<»* ^^

k
Câp.XXI V.Dês Dof iiei.Pams,5:TeVes,trQC.dos Cõr d, j|f
.•-'''''262 Dafamiliados Cordeyros das outras Ilhas, fegue-fedt^j
sermos o que puramente achamos que aflim como da primeyra Ilha»
-,

do Porto Santo fe paflaraò muytos dos povoadores à fegunda Ilha d^


Madeyra, & defta muytos à Ilha de Santa Maria , & São Miguel , aflim
defta íe paflavaó , como ainda hoje paíTaó , à Ilha Tercey ra , & defta às
outras Ilhas , que pouco depois íe defcubrirao j porque como aos pri*^
zneyros povoadores de cada Ilha , fe lhes davâo as melhores terras dei»
ias , poriffo os que mais tarde vinhaõ a huma Ilha 5 em vendo ou-
tra de novo defcuberta , fe paflavaõ logo a ella , para ahi terem também
mayores datas de terras , pois ainda entaõ nâo eraõ defcubertas as vaftif-,
íimas Conquiftas da índia Oriental , do Brafil , de Angola , ôc Mara-^
jihaõ donde bem fe fegue, que os que em a Tercey ra. & nas outras pof»
:

teriores Ilhas fe achaó do appellido de Cordeyros , todos procedem da-


quelle primeyro Pedro Cordeyro , que de França veyo com os irmãos
ITeves a Portugal , & de Portugal á nova Ilha de Saó Miguel , & nella
nmltiplicáraô tanto, como vimos i & de fado aífirma Fruftuofo , que
aquella fegunda filha do dito Pedro Cordeyro , chamada Leonor (ou
Brites) Cordeyra, cafou com Fernão Camello Pereyra à&Câú.el\o- DgsCúrdijrõsqiíe dá
branco , fidalgo que veyo de Portugal , & foy dos primeyros povoa- Ilha de Saõ Migael
dores de Villa Franca , & de que depois viecaõ alguns para a Tet.papraoàllhá TerJ
-; ^-ú-y^ "y^^'
feyra.
263 Deftes pois Cordeyros houve na Cidade de Angra hum
'Cidadão delia chamado Joaõ Cordeyro , Cavalleyro profeíTo da Or-
dem de Chrifto,& cafado eom Leonor Dias , & delles nafceo Jofeph
Cordeyro, Cidadão também de Angra, que teve três filhos, hum Fran-
ciíco Cordeyro que morreo folteyro , &duas filhas que metteo Freyras
po Convento da Efperança , & fe chamavaõ a Madre Maria do Nafci- til

Enento,& a Madre Leonor da Gloriai& do ditojoaó Cordeyro naó ficou


outra geração mais que húa irmã fua , chamada Anna Cordeyra , de que
íiafceo Maria Dias Cordeyra , que cafou com Pedro Moutofo , filho de
Gonçalo Moutofo , & de fua mulher Catharina Lourenço, filha de An-
íonio Dias, que leguio em Angra as partes do fenhor D. António con-
ffra Caftella,& foy tercey ro arò dos Padres Joaó Madeyra ,& Manoel
Gonçalves, primos irmãos, & graves Religiofos da Companhia de
JESUS, & ambos muyto letrados , & muytos annos Lentes de Moral,
& muyto confultados , &o fegundo morreo no CoUegio da Ilha de S.
Miguel, & o primeyro em Lisboa na Cafa de S. Roque.
264 Dos ditos Gonçalo Moutofo , & Catharina Lourenço
nafceo mais António Lourenço, que foy pay de Barbara Borges, que
cafou com Manoel Leal em Lisboa , filho de Diogo Leal , & neto de
Dionyfio Leal , & do tal cafamento nafceo Jofeph Leal , que fe paflbu
de Lisboa a viver em Angra, & nella foy Cidadaõ,& do habito de Aviz,
& da governança do Senado da Camera , & fugeyto de grande conta,&
juizo, & que tirou Brazaõ Real da geração, & Armas dos Leaes. Cafou
em Angra três vezes , & fempre com limpeza, & nobreza ; & na tercey-
ra vez cafou com fidalga muyto conhecida , qual era D. Izeu Pacheco,
como acima já vimos nas familias dos Borges Coílas Pachecos, &:c. mas
jdos prinieyros dpuíi çaíamencos naô fey que haja defçendenci^ al.gumà>
'
''
"
';,
.
"
Ff iij .&

m «p
II* livro VI Da Regia Ilha Tcrceyrâ^
& do terçcyro fó fey que d@ muy tos filhos que ficáraõ, fó hum chama*
>

(èo Joaó Borges da Silva eíleve muytos annosem Lisboajfervio a ElReyy


D. Fedro 11. & akançoudeile o foro de fidalgo filhado , & voltou para^
Aiígra^Ôc làeítàeafado* .vj,
2^5 Porém do fobredko Pedro Moutofojôc Maria Dias Gor*,
deyra nafceo Manoel Cordeyro Moutofo » Cidadão de Angra & dos, ,

da governança do Senado delia j & foy aquelle a quem em três d^


Julho do anno de 1657. & no juízo do Doutor Diogo de Gouvea dq;
Miranda 5 do Defembargo de S. Mageftade , 6í fea Deíembargador dos
Aggravos, & Corregedor com alçada do Civelda Corte , julgou ao di-r
to Manoel Coídeyro por legitimo defcendente da nobre , & antiga li-v
nhagem dos Cordeyros j & ElRey lhe mandou paíTar 3 & fe lhe pafíbu oç
feu Brazâo de fidalgo de geraçaôjêc Cota de ArmaSjque nomefino Bra^
2aó vem diviíadasy&: ilkiminadas jcomo nelle fe podem ver jfeyto pe-,
lo Capitão Francifco Luis Fefreyra j Eícrivaõ da nobreza neftes Rey-
sos, &: Senhorios de Portugal. Mas porque o dito Manoel Cordeyro
Gafou em Angra com Mana de Efpinofa , familia Caftelhana , força he
- dar noticia delia. •

266 Daântiga fidalguia dos Efpinofas, nos livros dos Reys


lançada, trata Pineda na Monàrchia Eceldiaftiea 2. />^?rí. cap. i6.§. x,
trata-fe mais na celebrada hifto-ria da viagem do grande Magalhães j em
que fe faz menção do Capitão Gonçalo Gomes de Efpinofa , natural
da Villa de Efpinofa de los Monteros >& Meyririho mòr da dita Arma-^
da de Magalhães j & Capitão mòr da nào Trindade §c atè o Padre R;í* j

badenera na vida de Saõ Francifco de Borjaim. 3. cap. 14,. faz mençaÔ


de D. Diogo de Efpittofa Cardeal da Santa Madre Igreja, Bifpo de Si^
,

guença , Prefidente do Confelho Rèaí de Caítella , &.muyto privadcs


'-
ou Valido de FelippelL '

267 A origem que fé fabe deftes Efpinolks 1 foy hum Cava-^


Dos ÊpnofM de los Iheyfo chamado Francifco de Búftamante natural do V alie de Tora*
3,

^^s, & cafado com D. Leonor de Buílamante & eftas duas cafas tinhaó
Monteros^ y Enfia- ,

«lireytoâo grande officio de Montêyros mores de S, Mageftade Hefpa-


ZZanof'^"^^''^'*^'
hhola , por ferem dc« Efpinofas de los Monteros » da Villa de Efpinofa,
fic'4 nò Afcebifpâdo de Burgos cm Caftella porém outro Cavalheyro
j

Efpinofa & oppofitor do dito oíRcio j & com dous fí lhos mais> Gafparj
,

& Francifco matàraó ao fobredito Francifco de Búftamante ^ & eomtu-


do delle fícàraô os filhos feguintes primeyro Francifco de Buftamaq-
j ,

fe, como o pay, & Familiar do Santo Officio,que cafou com Dona Bi-
guetdade Êfcalante , de que teve duasfilhas Freyras em o Convento
chamado Ifabella Real de Granada o fegundo filho foy Manoel de El*
•,

pinofá, que cafou primeyra vez em Guadalupe & fegunda vez em Se* ,

vilha, Sc deyXou filhos hum dos quaes fe chamou Fratleifco de Bufta-


,

ttiante , como o arò. Oterceyro filho foy Maria de Efpinofa & Búfta-
mante) que nafceo em Bornosde Sevilha,& foy may deGafpar Molcro
-
de Efpinofa que refidia mancebo em Madrid em cuja cafa foy feu ea*
, ,

marada D. Pedro Orciz de Mello ( fidalgo bem conhecido da Cidade


,

de Angra de quem trataremos quando em feu lugar dos Melíos da


, ,

Ilha da Graciofa ) h efte mefmo fidalgo teftimunhando depois em-Ao-'


''^^^^Jf^* ,

Cap. KXl% Dqs Eípmo&s <3e los MQnter.cm Caftella.


311

^'\'^^lj^^'^''^^'^^^^^^^ da Companhia
de J t bU S , neto do dito Gafpar Molcro de Efpinoía jura
, nâo ío teilo
conhecido em Madrid como camarada feu, mas conhecer là
cambem aos
parences do meímo, & de muyta qualidade & o
mefmo teftimunhàraô
-,

hum ManoelGonzales, Caftelhano de là mermo,& outro fidalgo Chri-


ílovaõdeLemQS de Mendoça,& muy tos outro*.
1-^1 ^,v^^>'^«dQ poisem Madrid, &fokeyro ainda, efteGafpar
Tv/f
Molero.de hípinofa , ^ tratando fempre muyto o Rey de Cafteilà de
fegurar enj fua obediência a Ilha Terceyra
, que contra elle de antes ti^
nha acdamado por feu Rey ao fenhor D. Aatonio
, &
tahto ( como ve-
remos;) lhe tinha cuftado a conquíftar, k
poriffo tinha feyto em Angra
aquella tatal , &grande Fortaieíía , a que chamou de feu Hoijie o Caf-
teilo dcbao Feiíppe mandou o Rey de Caftella ao dito Efpinofa
, que
;

¥icíle railuar no tal Cafteilo , como


mandou a outros muytos Cava-
Iheyros, ôc aos mefraos nomeados D.Pedro
Ortizde Mello Chrifto- ,

vao de Lemos deMendoça, &c. para affim fegurar em fua obediência


a
k ortaleza, & com ella a l]ha toda, & com eftaas mais Ilhas, como com a
cabeça delias todas.
^269 Chegado o Efpinofa á Fortaleza de Angra,
tal
agra-&
dando-lhe os ares^, & mantimentos da Ilha
, tratou de fe cafar , & ficar
«ella ^porque foube que a. vizinha Ilha
Dc prmeyro È/bin^
, do Fayal tinha fido povo.ázfalZTAí
de muyto nobres h lamengos , com huma defcendente
delles , chamada drtd a miiitar m
k. ranciíca Vicente , filha de Vicente
Martins , &
de Francifca Luis , fe í^"»^' ^4*^0 dê
cafou a primey ra vez o dito nolTo Efpinofa , &
dentro dé poucos anhos "^"í'"*--
morrendolheefta mulher, lhe não ficou delia mais doquc
humafilhaj
& tornando^fe logo a cafar cora..huma fenhora
da Cidade de Ponta Dél-^
gada , Ilha de Saô Miguel , que era muyto
chegada ,& nobre parenta
daquella nobre Matrona ,.& Venerável
Beata Margarida de Chaves,
cujajidaja acima efcreveraos no fim do liv.
5. &
poriíío efta fegunda
i«ulher do Eípinofafe chamava Mana
Rodriguez de Chaves que atè
em a virtude, & íantidade fe parecia muyto á Santa fua parenta & def.
,

te kgundocafamento naicea outra filha que foy grave Rejigiofa


, pro^
fella do Convento dcSaÕ Gonçalo
em Angra , & fe cbamavía Madre
J oamia da Cruz.j&mfceQ mais hum filho, que fe fez Clérigo em An^
gra, & íendo de talentos & partes
, exce] lentes fe foy a Madrid pouco
,
antes da Acclamaçâa de Portugal , & fe
chamava D Salvador de Efpf.
iiola, & nem feus nobres parentes
, Efpinofas Buftamantes
, o quizeraÓ
deyxar voltara Ilha , nem ElRey Felippe
IV. o quiz deyxar fahir de
iiia Real Capella em que o tinha,
& morreo em Madrid pelos anhos de
1672 como a irmã Frey ra morreo no feu Convento
de Angra , haven*
do falecido o pay muyto antes da Acclamaçaõ
, & a máy depois , maã
muyto antes dos dous filhos, ^ ^
270 Ficou pois a primeyra filha Maria de Efpinofa,
que mais
^02:eannos antes da Acclamaçaõ cafou com
A o dito Manoel Cor- J^'' '^"«"/^ «»^w ^
deyro Moutofoem aCidade de Angra, & defte matrimonio fícàraô (-«rdeymçom^Ef^
leis filhos i o primeyro foy
Pedro Cordeyrode Efpihofa, qiíe pouco f'*'''^*
antesdoannodei65ô.veyoeftudaraCoimbra,&íielÍafefezDoutor,Sc
iVieitreem Artes, & examinou Bacharéis
j & tomou todas as Ordês Sa-

mmm
aj4
Lívifo VI. Dâ Régtóliliâ TerceyrS
eras 3 & efltudando o direytofe formou em Cânones, & nelles íe ícz

Doutor per exame privado , & fubftituhio algumas cadey ras de direy to
/em Coimbra , & pairando-fe a Lisboa , viveo nella huns poucos annos?
fendo Juiz Apoltolico de caufas Romanifeas atè que per confelho do
;

Do Dmtor Pedro Arcebifpo de Lisboa D. António de Mendoça, & do grande Valido Pe-
Cordeyrg deEjpinoja, droFernandes Monteyro, foy provido em o Deado da Bahia cabeça d«
gue no Ecclcftofiico^ todo O Braíii,& feyto Commiffario Geral em todo elle da Bulia da Cru-
&»offtftiçofogover- 2,^^^.^^ poucodepois de eftar na Bahia por fuás muyto conhecidas
,

T^
7,"""-^^" **''^' letras difpenfou com elle S. Mageftade , & fem ter lido no Paço , o fez
°
fèu Defembargador dos Aggravos na Relação da Bahia & oíFerecen- -,

d0'fe- lhe depois a Prelazia do Rio de Janey roj a naõ acey toujôc gover-
nou miiytos annos no Ecclefiaílico,& fecular aquelle mundo novo,pois
linda là nao ha via Bifpos.
271 Foy varaó de tantas letras , & Miniftro tantos annos, que
alèni de htima muy copiofa livraria de que ufava deyxou vários tomos
,

manufcriptos que eompoz fobre as Ordenações de Portugal, obras que


feriaó de grande bera commum & não obftante iíTo fc lhe divertirão
s ,

por fua morte, & por mais que fe procurarão , naõ apparecèraó atè ho-
je. Foy em fua vida tam exemplar Prelado
Ecclefiallico , que com vi-

ver tantos annos em o feculo,&feculo do clima do Brafil, naõ fó naõ


deyxou nota alguniia de menos honefto procedimento , mas nem depois
de fua morte houve creatura alguma , que arguiíTe fer fea natural her-
deyro nem que pediíTe alimentos do muyto que deyxou indo emfim
,
:

dizer Miffa á jua Sè, ô achou Deos em eft ado de o le var para fi , & aca-
badaa MiíTa , lhe deo hum tal accidente , que nunca mais deo final al-
^utn j com que os Religiofos doutos, & Prelados, que logo acodiraô, o
podcífem abíolver, &: aílim expirou , fem viver mais dia algum, fenáo o
em que lhe deo o accidente & comtudo houve peflbas , que acodindo
:

logo, lhe fabricarão hu teftamento,& difpofiçaó de toda a cafa,& rique-


za , na forma que a clles lhes fervia , & tudo teftimunhàraó fer dito pe-
lo doente & de tudo com fentenças contra os irmãos , & herdeyros ne-
;

ceíTarios, mas tam aufentes , em Angra da fua Ilha Terceyra. Do chama'


do teflador fua exemplar , & ajuftada vida nos perfuade que fe foy ao
Geo i mas dos que fe fizeraô teíladores, teftamenteyros,8í: de fado her-
deyros, fabe Deos onde eftaraó.
O fegundo filho foy Gafpar de Efpinofa, que na melhor
4 í
2/2
idade fe metteo, & profeflbu Religiofo de Saó Francifco em o Conven-
to de Angra , & delle veyo tomar todas as Ordens Sacras a Lisboa , &:
dahi foy a Coimbra aonde cfteve com o fobredito feu irmaõ, & voltan-
,

do depois para a Ilha, morreo dahi a annos com o exemplo de humil-


de, & penitente Religiofo , chamado Fr. Gafpar do Rofario. O tercey
ro filho foy Joaó Cordeyro de Efpinofa , que fe fez Ecclefiaftico , &
fendo Sacerdote fecular , era tam virtuofafua vida que parecia hú per-
,

BeDmaFio}ant0 de
ç Religiofo , &: mais em efpecial em a Miífa fempre quotidiana
, &
& que a todos ^mirava &mettia devoção, íc
íf:fX^^7c;." tam devota, pairada,
èrais &MeUcs,fi. foy muytos annos Thefourcyro geral da Bulia
da Cruzada , oíhcio que
,

emdhttíi dos Regos fazia pontualiffimamente , fem querer jà mais outro algum Beneficio.
Valeencíjos,
27^ Oq[uartofilhofQy P* Violante dçEfpinofa 3 a quem che-
gando


.^tó3Kí*v

Cap.XXíF» Dos áefcendltntes Gçrdeyros Efpinoras, 555


gando à idade caíáraô feiís pays com Bernardo Cabral de Mello , filho
de Manoei Cabral de Melio, legitimo defcendence dosprimeyros defí»
€ubridores , & Capitães Donatários das Ilhas de Santa Maria , & S. Mi*!
guel,& morgado rico inftituido por feu pay. befteçaíamento nafcèraq
áèis filhos primeyro Joanna Cabral de Mello , que raetteado-fe Reli°
i

giofa Bo Convento de Saõ Gonçalo de Angra, nelle morrco profefla , &


cedo , chamada Joanna doEfpirito Santo, ^ com efpirito verdadeyrã-
mente fanto. Segundo filho foy Bartholqmeu Cabral de Mello , que
morreo aindamenor,& fe Ihefeguio Manoel Cabral de Mello terceyrf
filho & de grande juizo , Ôcexcellentes partes , mas eftando para íe re*
j

ceber com peflba de ília qualidade , morreo apreíTadamente , & dizem


que de veneno, (fera falfo ) & fe Ihefeguioem o morgado o quarto ir-
mão António Cordeyro de Efpinofa, que era jà Sacerdote feçular,6c ain-
da hoje vive logrando o morgado. .

^74 Qiiinto filho foyjofeph Velho de Mello, que tambenj


jnorreo íoíteyro, mas tinha huma filha natural ,& de boa^ & limpa mãy,
& legitimada por ElRey, & educanda no Convento de Saó Gonçalo, gc
na occafiaõ da morte a re vocou a fua cafa, & a nomeou por fua herdey ra,
«& efta chamada D Joanna Cabral de Mello eafou na mefma Cidade de
Angra com hum nobre mancebo chamado Ignacio Qarvalho Pedroíb
de Briones filho de Manoel Carvalho, & netode Pedro Carvalho,^
,

foifneto de líabel Pedrofa , & terceyro neto de Beatriz Calfa , & quarcp
netodeSimaõ Pedrofo, & quinto neto de Gonçalo Pedrofo, que foy
naó fó antigo Cidadão de Angra , mas jà então fidalgo da çafa delRey,
CUJO primeyro filho Francifco Pedrofo inftituhio hum morgado , fobre
que tem andado em grave demanda o fobredito Ignacio Carvalho com
o Padre Francifco Pedrofo da Congregação do Oratório, por também
cfte fer bifneto da dita Beatriz Calfa,terceyra avò do tal Ignacio Carva-
lho. Sexto filho foy Nuno Velho de Mello , que morreo ainda menino.
E a mãy dos ditos féis filhos, depois de viuvado primeyro marido Ber-
nardo Cabral de Mello , cafou fegunda vez , por ordem de feu irmaó o
fobredito Deaõ da Bahia , com o Capitão Joaó do Rego de Vafconcel-
los, de que já tratamos, quando dos Regos Baldayas,& VafconcelloSi§£
defte fegundo matrimonio naó ficou defcendenciaalgúa.
275 O
quinto filho de Manoel Cordeyro , &
Maria de Efpi-
nofa foy Bernardo Cordeyro de Efpinoía,que ficou com a cafa dos pays,
Df Mtrnardo Cpr3
& ainda hoje vive , &: foy fempre homem de tanto gov«rnp , que naó fó deyro de Effinofa^
&^
ha mais de 50. annos he Familiar do Santo Oíficio da Inquifiçaó de Lis- dtfens dont cafórní^
boa , mas teve por ElRey o donativo das Ilhas , a cafa d© Marquez de fo* nçkiíijfm»^
Caftello Rodrigo , & dar o determinado para o fuftento delRey D. Af-
fonfo VL qitando efteve na Ilha, &
por vezes foy Vereador da Gãmera
de Angra,& Prefidente da Vereação. Cafou duas vezes , primeyra com
Dona Maria Abarca Corcereal j fidalga bem conhecida , de que jà trata»
mos , quando dos Cantos , Borges , & Coftas j & defte cafamento teve M.^
hum filho chamado Pedro Cordeyro de Eípiíiofa, como opatruotio
Deaó , mas morrco-lhe ainda menino^ teve mais hfia filha chamada D,
Catherina, que entrou3& vive hoje FreyrapfofeíTa em S. Gonçalo de
Angra, Morta efta primeyra m«lher> (íafoa %unda vez comjp^. Mar-

i«M
-garida , de Pedro Borges da Cofta, 6c de D. Maria da Camera , 8i
fílha
irmã, única hoje daquelle famoíb Jòáó Borges da Silva , que governou
tanto na índia , & là morreo , como já dííTemos j aíTim na fidalguia deU
tes Borges Coftas > como na dos Cantos j mas defte íegundo eafamento
aaõ teve defcendencia* .

276 A' antiga nobreza de feupay 3 que vimos jà em o referi-*


do Brazaó delia , & ha antiga familia dos Cordeyros , ajuntou o dito
Bernardo Gordeyro o Brazáo Real dos Efpinofas defua máy; & no
inefmo efcudo fe ajuntaõ cm diverfas palas a limpeza 3 & brandura dol
Cordeyros, com a generoíidade do Leaó i a advertência do Cometa, Sc
conftancia do Efpinheyrò , ( que nem com o fogo fe afoga) & as armas
^ue tOcãõ dos Efpinofas de los Montèros, com tanto que todos tenhaõj
como tem as armas, por feu timbre a pureza, manfídáo , & paciência de
hum Çordeyro, que fó fe fez defta forte hiá Leaó temido , 6c venerado,
ícvitoriofo Salvador de rodo feu povo.
^-^277 O íexto, &ultimo fílhodo dito Manoel Cordeyri^Sé
•Maria de Èfpíhofa , foy António Çordeyro de Elpinofa , que paífando
'sAmníoCorde)'
apuericiá crti Atígra i &
nos eftudos dos Padres da Companhia de JE-
TO
Ztf^H
depESVS.
nliZJhL SUS' %mandado por feus páys a eftudar a Coimbra ^ acompanhar
,

ao dito feu irmão Deaó dá Bahia &z fahmdo a bulcar a Armada de ror-
de^ESVS. -,

tugâldoannode 1656. de que era General o famofo António Tellest


deo com a frota das Índias de Caftella > era que vinha o Vice-Rey Dom
Marcos dei Puerto , que fe tinha defencontrado da mayor Armada ds
Portugal , &
cativo entaõ da de Caftella , em que andou dezaíeis dias,
além de nella acharão fidalgo D, Álvaro Buftamânce , que o reconhe-
ceo porfeu parente , foy pelo contrario dar com a Armada de Inglater-
ra , que eftavâ à fombra da terra atraz de Cadiz , com quarenta nàos de
guerra, General o Blaque i deftas fahiraó fó oyto pelas três para as qua-
tro da madrugada jdcraó batalha a féis de guerra, que fó trazia a frota
Caftelhanajôc eftanaval batalha durou continuada nove horas, arèá
humadepoisdomeyodiai& entaõ he que de Cadiz, pouco ^mais de
hualegoa,acodirâô duas gales , mas a tempo jà, que eftava ainda pe-
lejando a Capitania Hefpanhola com duas ínglezas,& com outras duas
a Almirante ^ porém èfta em o mefmo tempo fe deo fogo , como jà em o
princípio da batalha tinha feyto anáo do Capitaõ Calderon , & outra
afíundida, & duas tinha vencido , & cativado o Inglez ; &í acodindo as
galesa Almirante, cuja gente jà tinha voado com o fogo, apagarão o
docafco,6caefte troUXeraó ainda: com que das féis Caftelhanas fó a
Capitania , para Oíide tinhaó levado o Eftudante Porruguez , foy a
que efcapou , 6c fe reeolheo a Cadiz com as galés , Sc o cafco da Almi-
íante.

M 278 Recolhido o Eftudante a Cadiz , foy logo prefo em a ca-


dea, èc fentenclado á morte , por lhe imporem que tinha fabido da Ar-
mada IngleZâ , 5c o naõ defcubrira no juramento dado quando o cati-
varão i mas por coilfelho daquelle feu parente D. Álvaro Buftamantei
appellando logo da fentença para o Duque de Medina Celi, que fervia
entáo de Capitão General das Coftasde Andaluzia, foy remettido a el-
~ 4 6í por
ie elle examinado j ôc vendo que fó repetia Virgilio , 6c outros
livros
ICap. XXI Vlf Conciliei, por hor^ ,€Qm Genealogias. ^^
livros hunianifticos , o julgou folto , &
Uvre, &
lhe deo logo pjaflaporte
|)arâ ir a Portugal, & a eftudar a Coimbra para onde vinha &c aílim fç. -,

j)aírou o Eítudante a Saó JLucar de la Reyna j defte a Sevilha pelo Guái?^


(dalquibir , dezoy to legoas acima j & de iíeyiiha a Ayamontc , & defte %
Cralto Marim do Reyno do Algarve , donde vindo aTavira , Faro , 6c
Lagos, deo aqui com as relíquias da pefte , que ainda alli duravai& che-
gando 5 paflado todo o Algarve , a Secuval pela dita pefte foy preCo , èç.
,

cpndemnado a defterro para hum foiitario areal , Sc por quarenta dia%


jnas revogada também efta íentença , fe paíTou logo a Lisboa , 6c de JL-is*»
boaaCoimbrajrcynandoaindaoíenhorReyD.JoaõIYj..--, .-,

279 Em Coimbra achando aíeu irmão o Doutor Deaô da Ba-


hia, por ordem fuafe matriculou nos Sagrados Canqnes ,& juntamente Defea MtfireoVe'
na Filofofia do Venerável Padre Joaó de Carvalho da Companhia de ^l'^"
^*"*-
Y"'"'''
Carva 0.
JESUS , iníigne Lente, que depois foy de Theologia , & morreo Rey- •
tor de Braga , fanto & fabio j 6c vindo-fe p dito Doutor feu irmaó parãí
,

Lisboa, ficou o dito Eípinofafó, ôc continuando a Univerfidade, ate


quefe refolveo entrar na Companhia de JESUS, 6c entrou nellaem
%i. de Junho de 165 7. 6c acabado o noviciado , teve ainda mais de hum
anno de Rhetorica , 8c logo quatro ainda de Filofofia , 6c hum de Mef^
trede Latim na Nona de Coimbra , 6c depois quatro nas Ilhas de Saó;
Migtiel, 6c Tercey ra , 6c logo quatro de Theologia em Coimbra , onde
tomou as Ordés de MiíTa 6c voltando para o rerceyro anno de novicia-
;

,4o de Lisboa , foy em miflaó a Peniche > ^ dahi chamado pelo Illuftrif-
limo Primas de Braga D. Veriflimo de Lencaftre , andou em miíTaó feiç
mezes , correndo aquelle vafto Arcebifpado , atè que em certo lugar
lhe deraó veneno, & por mais que logo fe lhe acodio com vomitórios,
lhe fobreveyo huma maligna , com que o trouxèraó a Braga , 6c chega-
do com ella às portas da morte , quiz comtudo Deos, que efcapafle ain-
daj& entaó o mandarão outra vez para Lisboa , èí no Collegio de San-
to Antão foy três annos contínuos fubftituto daquelle grande Pateo i%z
acabado o tal triennío, o mandarão para Coimbra.
280 Chegado pois a Coimbra em o anno de 1676. vinte an-
nos leo naquella Univerfidade as Cadeyras de Filofofia, Theologia
^oral,6cEfpeculativa,atè oannodeógó. naó deyxan,do comtudo de
Cazer varias miíToés a Vizeu , a Pinhel , a Torres novas, 6c ao celebre
Santuário da Senhora da Lapa no Bifpado de Lamego, aonde fez, que a
Refidencia dosReligiofosda Companhia de JESUS ,que alli femprç
havia , mas interpolada por vezes cada anno , íc confirmaíTe perpetua
com nova, material , ^ capaz habitação , 6c Religiofos fufficientes para
pregarem , confeflarem , 6c lerem. Concluídas as Cadeyras de Coimbra,
& vendo- fe entrar jà na velhice,fe retirou a Braga,6c quatro annos nell^
refolveo os cafos que fe ofFereciaõ j 6c dahi foy mandado ao Porto fazef
p mefmooíficio , que fez em aquella Real Curía oyto annos donde ,^ j

obediência o mandou outra vez para Lisboa , 6c expreífamcnte lhe or-


denou imprimiífe o que tinha raanufcripto mas era Saó Roque o obri*
:

gáraó a refolver ainda nas duas Cadeyras que alli ha de refoluções íZ^ in-*
tra , ^ aâ extra, que de antes occupa vaó a dous homens, 8c taõ grandes
bon^íis , Qpmp,QjptigaP^4dçg |4#rg^^ç^^^
'" : ' " '""" "" "

Dou*
IfB Livt^VI.DâReglallhâl^rceyra^ *

í)outor Jofeph de Brito j òí lidas eftas Cadeyras , o obrigàfaõ ainda s


ir ler a de Primano celebre Seminário de Saó Patricio ema mefma Cor^
te de Lisboa j mas repetindo de Roma o Reverendiffirao Geral da Cò-
panhia a fua ordem, de que imprirniíTe efte Padre os feus manuferiptosj
entaó o ptizeraó noColiegio eharaadodo Paraiíbj dentro da mefmi
liisboa, em três annos ^ &
meyo que là eftevej jà mais dons que tem de
Prefeytodo efpirito do grande Collcgio de Santo AntaÕ neftes ulti*
;

mos preparou íeis tomos grandes defolio,que começarão a,impnmir-


fe, quando feu Autiior jà vay emfetenta 5c íeis annos de idade,& de Re^

ligiaõ perto de feíTenta.


281 Defte pois ultimo íilho dos acima ditos Manoel Cordey-
rOjSc Maria de Efpinofa, tocado (;como pedia a hiftoria } o material áê
fua vida , naõ fey do efpiritual que deile pofla dizer virtude alguma»
innumera veis benefícios, que Deos ,& a Virgem Senhora da
viftos os
•Lapa lhe fizerão, & o pouco j èc muy to mal que os tem agradecido ; &
fó fey que por tneyo daquella milagrofiíljma Senhora eípera ainda o
perdaõ de feus peccados , ôc huma hora da morte em a Diviíia graça, go-
mo fepeffuade que alcançarão feus pios j & muy devotos pays j& que
também a élle lha alcançarão de Deos.
282 De outras nobres familias da prefente Ilha Tefceyra , di-
remos quando tratarmos das outras Ilhas, donde fe pafTáraõ à Terceyra,
pois naôhe bem moleftemos ao Leytor com mais genealogias $ todaS
juntas. Vamos agora às guerras que a Terce^ra^mais que as outras llhas^
experimentou atè hoje.

-èm

C A PI T U L Q XXV,
Í)as gtíerras que a Terceyra experimentou j ef^ecialmen^
'
te pelo Senhor D. António , & Coroa de Portugal
contra a de Cãftefia^

283 "1]^ é. defte#y.6. deyxàmòs jâ tocada aprimeyra


MocíZp.
, que em o lugar
\2y guerra
tjuafi daPraya, naó fendo ainda
*VÍlla , houve contra huma Armada Caftelhana , ^
a vitoria prodigiofa
&
que delia entâó alcançarão , que foy prenuncio das que efta Ilha ha-
via depois ter de Caftella pela fua Coroa Portugueza, que defendeo
fempre tanto como agora veremos , & tendo já paííado mais de cento &r
trmta annos,qne a Ilha Terceyra era defcuberta, antes do annode 145Q.
íiaõ fe fabe dè outra guerra qite contra a Ilha Terceyra íizeíTe naçaõ al-
guma, atè que depois da morte dofenhou' Réy D. Henrique, entáo Fe-
lippe II. de Caftella fe introduzio na Goroa Luíitana , íem haver quem
então fe lhe oppuzeíTe , fenaõ o íenhor D. António , &: por èlle ultíma-
SnenreallhaTeí^ceyraj&affim lie força dar difto a noticia devida.
^ , , 284 Sabido, &conftantehe, que na Coroa de Portugal a El*

clrçlTpmTíl.1 ^^y.^- ^^nod fuccedeo feu filho ElRey D. JoaÔ IH. do nome, & por
& ^ Único filho defte morrer antes de chegar a reyoarí&deyxar já filho
Dom

1^
Caílel:te^ré,êíVec.all!iâ.§5|
Cap.XXT.Í^a prim:gaef4de
0ôm Sebáftíaõ , fuceedeo no Reyno ao avò D. Joaõ III.
eftc &
também
lhe fuceedeo a elle na
por efte feu neto faltar aa fatal batalha de Africa ,
fobredito Rey D-^
Coroa hum feu tio, o Cardeal D. Henrique, filho do
defcendencia
Manoel i& que por o Cardeal Rey também naõ deyxar
tendo rey nado hum an-
alguma /morrendo era ji.dejaneyrode 1580.
neceíTario tornar a bufcar outra das
no, cinco mezes , ôc cmco dias , foy
tnuYtas linhas que havia do mefrao Rey
antecedente DomiManoelj &
porque defte Rey tinha cafado huma filha D. Ifabel
com o Emperadot
Saboya , por iffo deí*^
Carlos V outra D. Brites, com Carlos Duque de
,

Philisberto Duque deSaboya,& o filho da


ca fegunda o filho Manoel
oppuzerao à Juccei;
primeyra Felippe II. Rey de Caftella , ambos fe
^Õ da Coroa Lufitana porém como do mefmo Rey D. Manoelficarap
j
Duarte>ôca
mais duas precedentes linhas mafculinas , a do Infante D.
primeyra. Dona
& do primeyro ficàraô duas filhas
do Infante D. Luisi ;

Maria, que cafou com Alexandre Farnezio


Duque de Parmaj legunda,
Duque de Bragançaj
D. Gatharina , que cafou no Reyno com D. Joaò
também eftas duas Reaes cafas fe oppuzerao á Coroa
v«ga. ^
Mas porque o Infante D.Luisdeyxou filho varao.&amda- Dofenh6TJ>: Rejj^
Anti-,
;
.285
neto del- nio acclamado
que naõ era de legitimo matrimonio,era comtudo verdadeyro
D.Manoel,& homem já taó perfeyto, q era Prior do Crato
çm Por- em Lisboa contra fi»
Rey primo Ftlifjit //. d»,
Portugal le aíteyçoou
tugal aonde eftava ; por iíTo tam grande parte de CaficlUi
tanto a elle, que muytos Lugares, & Cidades
o acclamàrao por feu
Rey & naò pouca fidalguia o feguia j & logo mandou avifo
a Ilha 1 er-
,

cey ra que o acclamaíTe , & o fizeíTe acclamar em


as mais dos AÍTores, cq-
feu primo irmao, Fe-
ino abayxo veremos i porém vindo brevemente
exercito a Portugal,8c taltan-
lippe II Rey de Caftella, cò hCi poderofo
tandoos mais dos Portuguezes ao feu natural Rey , &
deyxando-oas
António tam
terrasqueotinhaÒacclamado,foy o exercito doRey D.
II. que o Portuguez
vencido, & deftruido pelo dito feu primo Felippe
Rey foy obrigado a fe valer de França , & Inglaterra , para
poder tornar

a Portugal que tinha por próprio Reyno feu.


E aflim vamos agora ao
ra , & ao que fuceedeo em
fucceflb da guerra que fe fez contra a Tcrcey
as mais líhas , rccopilando o que larga , &
confufamente conta o noíTo
ra, & outras
Fruauofoj teftimunha daquelle mefmo tempo, & verdadey
Relações daquelle tempo.
286 Nofimdejulhode 1580. veyo cartada CameradeLis-
ao fenhor Dom
boa à Camera de Angra , como tinhaõ acclamado Rey
feyto Santa-
António, & pedia o acclamafiem também y como já tinha
anno & a- Úà decUmãçaS dó
rém em 19; de Junho de 1580, & no fim de Julho do mefmo ,

inda de Lisboa tinha mandado o dito Rey D.


António (.diz Fruauofo fenhor D. António re-
caminha
Uv. 6. cap. 18.) hum António da Cofta à Ilha
Tercey ra , para nella o ae- cebida de
Miguel, o em S. Miguel & ,

clamarem por Rey de Portugal ; & paffando pela Ilha de SaÕ mupo de propofito etti
vendo efta que
deyxou acclamado nella & chegando à Ilha Terceyra ,
;
a Ilha Terceira,
& que varaõ neto dei Key D^ Ma-
ficava acclamado em Portugal » era j

noel ,& natural do Reyno , como a Rey Portuguez


o acclamàrao por
Ilha do Fayal , para
feu Rey ; & paffando o mefmo António da Cofta â
fazer nella acclamar o meímóRey, motreo dentro
em oy to dias. Era õ
de Angra ,Sc
Bífpo das Ilhas nefte tempo D. Pedro de Caftilho aufente
gít Livrd¥írDaR%íailkç^T6rcçyra> i
Maria y & em Angra eftava por Corríií
eftava' viârartdo a Ilíiade^ Santa
gedor de todas õ Doutor Cypnano de Figueyredo de Lemos»
as Ilhas
^fc poaeo depois foy fèyto Governador da Tercey ra por ElRey Dom
António , & pafladofraílm muytos mezes,& ©ílando já de pofle da Co-
reia de Portugal Felippe II. de Caftella , & o feu competidor D. Anto-;
Aio , aufenfe jà por França , & Inglaterra depois de vencido em AIcan,t
,

tara de Lisboa ,aiviíbii eftaentaó a Angra , que já tinha aceytado por íèu
Rey a Feiippe, que oaeeytaíTe também j U nunca quiz Angra mudar
do primeyroRey jurado.
í 87 Entaó em 20. de Abril do anno feguinte de 1581. 8c poé
ordem do dito Felippe íahio de Lisboa o Galeaó baó Chriftoyaô,&; nel-
k Ambroíio de Agiíiár Coutinho com o titulo de Governador das Ilhas
Da eÕfiancia daTer- Tercey ras, Sc enl dircytura à Terceyraj & com grandes poderes era eff ;

cejfra peiofenhor D. íe fidalgo filho de Pedro AfFonfo de Aguiar > Provedor dos Armazéns

1 António,^ áa incoj-
tancia de S. Mtgtitl êc
fará primo Felippe, nando
o
em& já tinha ido por Capitão mor de huma Armada à índia,
Portuga],
ElKey D. Sebaftiaó a Africa donde veyo refgatado & goverr
cóni ,

Cetuvalfoy prezo por ElUey D. António & na batalha de Al- ,


>

^ refifimcíA mÒa^ cântara Kcou livre por' Felíppêj&fey to Commendador da Ordem de


iiaiò S. Chrtjfovaõ,
Ghriftd; efte pois vindo agora por Governador para a Tercey raj& pafr
fando pelo Norte de Saõ Miguel , lançou ema ponta dos Moíleyrosa
bum Thomè Rodrigues Tibao ^ veador feu , que levaíTe a nova a Ponta
&
Delgada > de eftar'Felippe já Rey de Portugal 5 deíle fe ter fahído
&
ElRey D. Ariconiõ ; &: ainda que cm Saõ Miguel j efpecialmente em
V^il la Franca foy por muytos muy fentida elía novaj comtudo bailou
ella para quaíi toda a Ilha fe mudar do Rey D. António para o Rey Xh
Felippe.
Continaando pois ô Governador Ambrofio de Aguiaf
288
éòm feuGaleaÕem demandada Terceyra , chegando à vifta de Angra
tnandou avifo da partedelRèy Felippe j declarando quera era, & a que
Vinha, 6c que efperava repcíía para poder' entrar , & entregar as cartas
DopOHCo cafo quefez.
de feu Rey. Refpottdeo a Cidade que os do barco fe voltaíTeni logo par
a 1 trctyra Aos avi-
ra o Galeão ^ & què- efle cortí ò feu chamado Governador fe foííe logo
fosda/ihadeS.Mí-
guel & áe como o dallijôc naó paraíTê aíli mais. Voltou logo o Governador para SaoMi'
,

Comríiador de cada gue], onde foy bem récebidoj Sc o Rey Felippe acclamado atè pelos de
hun dm ditai Ilhas Villa Franca , bem contra fua vontade, eíiando jàem Saó Miguel rç«
frocurava mandar colhidode Santa Maria o Bifpo E). Pedro de Caftilho
cujo Arcediago $
matar ao da entra
Manoel Gonçalves, cuydandõ fazer bem á Ilha Tcrceyra por fer na-
,
,
&nad(i[uGcedio.
tural delia, voltou a ella em hurn barco de remo, & com novas cartas
para o Corregedor Governador de Angra , 6c para outros 6c chegando 5

em 2. de Junho de 1581. foy prezo debayxo da Fortaleza o tal barco


com os que vinhâõ helle , & tomando- fe-lhe os remos, alli os tiveraô
í?.v..
oytodias prezos, fem lhes acodirem com coufa alstuma , nem lhes con-
fenrirenr faílar corri gente dá Ilha, atè que dando-lhes os remos, ôc as vi-^
das, os deyxàraó voltar a Saô Miguel, fem feretti nem ainda ouvidoâ
da Ilha Terceyra.
289 Nos feguintes dias não fazia mais ,0 que governava na
Tcrceyra, que fuííentar a voz delRey D. António 6c pelo contrario d
;

que governava em Si Miguel , tônfirín-ar fua mudança para Eiílcy Fe-


mM
C;ap.XXVlí.Da íêguá.guèt4Call;et\fez âlllia1*efcèf ^3^
lipp&i&fó de mais traravacadahum de por tereeyras peffoas hláiidail •

matar ao outro , & liénhuma das mortes fuctedeoi& ifto conta Fruâruo-
fo em outro lugar hv. 4. cap; '98. &
taes erudições mette nellei & de ma-
terias difíererices da que hia hiftoriando, que por naõ confundir o qúe
tratamos, as naõ metto ,&ifó Vou continuando com ainfulana Accla-
snaçaõ delRey D. António.

CAPITULO XXVL
Dmprmeyrm Armadas que tnvefliraÕ à líbaTèrceyra^
étdufMal batalha das Armadas Reaes defronte
ds SaÕ Miguel,

290 TT» M 1581. CGiifórmeFruítuofo tío feu liv.^. cap. 100.


à &
jà entrada a primavera , fahio do porto de Santa Maria Di
Pedro Valdês com fete náos grandes , & mil foídados nellas, fora muy-
ta fidalguia , que fc embarcou, além da muyta mais gente de mari& che-
gando a Sáõ Miguel qúe tinha a voz de Gaftella , com ordem do Go-
vernador de SaÕ Miguel , o fobredito Aguiar , levou o Valdês comfigo
a hum feu primo Joaõ ( ou Diogo) Valdês, Meftre de CâmpOj& gran-
de Gavalleyro, & fe foy com a Armada íobre a Terceyrajôc tprnando há
barco que vinha do Fâyaljhú homem do barco lhe fez fácil aíeíitradâ dà
Ilha,& o por onde a entrariajo qúe ouvindo o Meftre de Campo perfua-
dio ao primo General , que commetteffem a Ilha j &
naõ perdeflem tani
boa occafiaõj & com eíFeytoj em dià de Santiago , de maidrugada ladçà-
raó em terra quatrocentos hoinês bem armados com varias peças de ar-
telharia, em hú pofto, antes chamado Cafa da fâlga,& ganhando outras
peças que da Ilha alli cftavaó,fe pUzerâo òis Caftelhanos a lançar foigo às
poucas cafas daquellê fitio , & a queymar as fearas de ttigo que por alli
havia, fem poderem os poucos lavradores refiftirlhes, mas fò darein avi'
ío à Villa da Praya.
291 Vindo porem logo geiité átmádâ da Villa i & lançando DàprmejràÀma^
diante aos Caftelhanos muy to gado para os perturbar j inveftiraó com dadcC»fieila ^ /<a»J
ellesde tal forte , & com tal fúria por verem queymadas as fearas do feu P* í^"^'. ^'
^X"^^'
trigo j qúe desbaratando os Cáftelharioà , hão deyxaVaõ algum que naõ
"nhum^Stàuc^vi^l
paíTaíTem á efpada , & vencidos j Sc mortoS qiiafi todos nerii ainda aos ,
^^ ^^^ morreo ate <t
que fe rehdiaõ vivos j perdòavaò, ánteS a D. Joaõ de Bafari ,fobrinho do maior fiddlg»ia^&cj
Marquez de Santa Cruz i & á outro fobrinho do Duque de Alva , que
rendidos lhes pediaõ as vidaâ , os màtàraô a fangue frio , & o mêfmo fí-
zeraõao Meftre deCamjio Valdês, & d múyta fidalguia dé Caftellá
que alli vinha i 6c naõ fó recobiráraõ a artelhària qúe o inimigo tiíiha to-
mado ao entrar na Ilha más também d qúe tinha trazido , & riqúiífimás
3,

armas com qúe vinhaó , & múyto mais i 6c tudo ò que tinhaò roubado
da terra , fem ficar peííoa qúe lêvaííê nova às nàos do que paíTavaj p que
Vçiido o General Valdês , fe levantou doíií aâ fuás fete nàos , Sz voltou a
SaÕ Miguel a defeulparfe os da terra daftdo Íogo a nova da batalha, 6ç
; P '

Gg ij "^'itó'
m ^i Livro VI* DaRegia Ilha l^erceyra.

vitoria que tinhaóconfcguidoj^^erâó prociífaó emacçaódc graças, 6c


•JDaffgmda, &
ma- Angra, 6c toda a Ilha íe preparou mais para o feguinte.
jor armada dcCafitU . 2^i Em O principio logo de Agofto do mefmo anno de 1 5 8 1
/«, qne junta «w « ^hegou a Saõ Miguel outra Armada de vinte & duas velas, denàog
frimeyra.cõmettirai
^n^ra,& da antiha
^^^^^^^^^ ^ gaiçóes, dequchumD, topoera O General,& tomando em
Miguel, além do refrefco , a hum Frade Francifcano, chamado Fr.
^uefe voltará m^y Pedro, ( Guardíao que
tinha fido em a Praya da Terceyra , & em Fon-
tt deJirHidoi, ta Delgada , & Coramiflario das Ilhas ) por imaginir que o tal Frade
podenareduzir osdâTerceyra ifaeçàodeCâftelIajlevando-o fefoy
logo juntar com o D. Pedro Valdês que ainda andava junto à Tercey-
,

ra , & unidos ambos com as fuás quafi trinta nàos de guerra, mandarão
barco à terra com ò dito Frade , & cartas de eabayxadaj mas Jiera que
o barco chegaíTe confentiraó os da Tercey ra» & fugmdo o barco aos ti-
,

ros fe voltou para a Armada & efta bordeando oyto dias em húa noy-
i

teeaveftio a terra ,& querendo lançar nella exercito jfoy tanta aarte-
Iharia & mofquetarii , que a terra dilparou fobre os Caftelhanos , que
,

eftes fe retirarão logo fera pòr pè em terra , &: ambos os Generaes das
ArmadâS fe voltarão a Lisboa , aonde a Dom Lopo foy muyto louvado
naò fe arrifcar mais & o D. Fedro Valdês foy fenteneíado a cabeça fó-
5

ta , por fe ter havido como fe houve , 5c comtudo ainda fe lhe perdoou


depois , & fe foy para as montanhas de Oviedo fua pátria , fem mais ap-
parecer, \ , _ ^
r. .
293 atrevendo tara cedotornar à Ilha Tercey ra os Ca-
Naó fe
ella conftante pelo feu Rey D. António , quando em o
Dí ãiím p'tittet)at Àelhanos , eftava
jírmadascoítraria,, principio de Mayo do annode Hg2.
chegou à Ilha de Saó Miguei húa
^uejãtoaS. Af^^»// pequena Armada de féis velas, cujo Capiraõ mòr era Pedro Peyxoto da
pelejàraõ.cada huma Silva, que vinha no Galcaó S. Chriftovaò , com outra nào almirante , Sc
feio fett Rey & fem ^^^^ caravelas mais , & hum pataxo de avifosj & tomando mais em Pon-
,

m^yor empenhe, ntm


^^ delgada duasnàoslnglezasquealU eftaváo, & da terra nellas varia
<vitona ^igumA,(e a-
^^j^^^gf^^ ^ appareceo logo, fobre efta,oucra pequena Armada de Fran-
cartarão.
ceses, que governava Monfieur Landroy , ^i emfim pelejando ambas,
iít apartarão fem conhecida vitoria de huma à outra, & deyxàraô a terra
como de antes, retirando»fc osnaturaes a ella, com alguns mortos, Sc
feridos outros , mas não em numero cônfideravel , pofto que Fruauofo
chame a ifto batalha , & com fò ííko defcrcya a Ilha de Sap Miguel muy-
to revolta. ,

Nefte mefmo tempo , mas depois da dita peleja , chega-


294
rão também a Sâõ Miguel quatro nàos de Génova
por parte de Caftel-
la & por Gabo delias D. Lourenço Cenoguera
,
que deyxando ancora-
,

do ao diro Pedro Peyxoto , fe recolheo à Fortaleza , fugey to ao Gover-


nador Ambrofio de Aguiar} porém morrendoefte de natural doença, &
com pouco mais de hum anno de governo ,& em 5. dejulho dei582.
lhe fucccdeo no governo hum feu enteado chamado Martim
, Aífonfo
de Mello de Jorge de Mello Coutinho , & de D. Joanna da Si\
, filho

D
PTril
va,6r foyeleytopeiâílha, & peJoBifpoD.PedrodeCaítilho.
Eys-que aos 14 & 15. do mefmo Julho de
,

i582.chcgoa
. ^

295
a Saõ Miguel huma grande Armada do acçlamado Rey
Dom António^
que nella vinha em peffoaj & em demanda da Ilha Tejrçeyra , que nnha
€ap.XXVí.Decomo fòi Gafte!.vêcíA&diml Arm.fuâs^|(S|
firme por fi , &decamintio queria fegurar a Saõ Miguel , em que havia
grandes diviíoês. Vinha na Armada por General do mar, &Condeíil;a«'
vel o Excellentiflirao Conde de Vimiõfo , do Porcuguez fangue Realj jyi granât ãmadi
&porGovernador,&: General da guerra que fe oíTereceííe, o FrsLncGZtm^uevwhaofenhor,
Conde, ôcMarichal Fehppe Eftroífe, qucjà o tinha fido do dm^o
D. Antome,& comú
delReydc França,&: conhecido era jà por celebre Governador deAr-"^'*'**'*'^ Aíigutl,
lhas: vinhaõ mais com eftes Príncipes outros muytos fenhores , &
fidal- ^.'*'^^Jf'*P'^^^fi^{'
gos de França , Ôc de Portugal ; &conftava a Armada de feíTenta velas, fH)lada&ra^ta!i
& &
de Galeões, nàos de guerra, outras neceffarias } & fora outra muyta 4a,& o novo Rty DJ.
jmais gente 3 trazia oyto mil homens de guerra, foldados quafí todos /íntonh fifojparai^
Francezcs. Da Armada veyo logo à terra Enviado , requerendo íè en- "^j/c^jra:.
tregaffem em boa paz j &
fe refpondeo que eftavaò por CaftcUa , fe &
haviaõ defender j & acodio gente da Ilha a defender a coíla do Sul,
ti !;•

coufa de mil & quinhentos homés j mas fem terem na cofta de Rofto de
Caó muralha alguma , nem artelharia , mettendo-fe fomente em trin-
cheyras de cavas fey tas no areal, &
pondo vigias nos pòftos decalháo
jnais altos.
í
&•
i^é" Emos 15. 1 Ó.Sc 17. do dito Julho fazendo a Armada coa-
tinuos acometimentos à Ilha, & difparando fempre muyta artelharia
atè canfar a gente da terraj emfimao meyodi^ dos i6.de Julho ^ com
dez lanchas, ou galés , lançou coufa de três mil homés em terra, cm hum
pofto de calháos entre a Alagoa, & Rofto de Caõ , & logo mais adentro
fe formarão em tòm de exercito , & batalha , & fem nem as vigias com
a fumaça os verem , nem da terra fe lhes refiftir mais do que fugirem pa-
ra o fcrtaô da Ilha j & entaõ he que acodio da C idade o Governador da
Ilha com gente da Fortaleza, & vendo jà em terra o inimigo, & com
poder tam fuperiorlè voltou logo para a fua Fortalezas & defembar-
cou mais no raefmo pofto a Real pcíToa de Dom António com dous mil
foldados de fua guarda , 8c muyta fidalguia } o que vifto , os Francezes
entrarão pela Ilha dentro faqueando lugares, & Villas,& dos que faziaõ
alguma refiftencia matàraô a duzentos, & alguns Francezes também
morrerão, & muytos ficàraô feridos } & fó a grande Villa Franca ficou
fem fer faqueada , nem oíFendida , por ter de antes mandado vifitar , af-
íim no mar como na terra , ao novo Rey Dom António. Foy faqueada
também a Cidade de Ponta Delgada , mas naõ a Igreja Matriz , que pa-
ia o naõ íer , lhe mandou o Rey por guardas > & difpondoelle jà render
ípor armas a Fortaleza, fuccedeo de repente o feguinte.
297 A0s2r.de Julho de 1582. teve avifo oRcy D. António
de víi" já chegando outra poderofa Armada delRey de Caftella, & que- j)aír4tide
'^hu l
rendologo oíFerccerlhe batalha, fe embarcou nanoytedos 2 1. para os ^^J^^^ ^J Fttippà
21. & deyxáraô os Francezes a Ilha de Saõ Miguel, & todos os da Ilha, //. contra a de ft»
que tinhaõ fugido para os montes , voltarão para Tuas caías. Na Arma- primo D, António ^(è^
da delRey D. António fe refolveoquenaó convinha que fua Real pcf- "»* '»«;'«" Frãce.
foa alTiftiffc na batalha , Scaífim o obrigarão a retirarfe para a Ilha Ter- ^^' "^° ^'^^j;^"
'^f*
ceyfa,aonáepor hora odeyxamos. A Armada Caftclhana tinha fahido
tlfVItalhav^eãA
d€ Lisboa em 10. do mefmo Julho cora 28. nàos de guerra & por ou* a de D Amónio ep»
,

trás que atraz delia vicraõ , chegou a Saõ Miguel com quafi quarenta t4Kd9 tSt mTersfj^
yeks j fora patax®s de avifos» Vinha nella por General o Marquez ds »"<».
'

Gg iij Santa
Livro VL DaReal IlhâTerceyraJ
m.
Saata Cruz D. Álvaro Bafa», & por Meftre de Campo GeneralD. Lo^
pode Figueyroa, & muycos outros feRhores,&; fidalgos Caftdhanos,
& por Capitania oGaleaóSaõ MartinhO} &
em toda a Armada Cafte--
lhana vinhaõ íeis miihoraês de peleja, fora a fidalguia, innumeravel &
marinhagemiôc comtud© não foy admittida efta Armada em Viila Frá- ,

ca, que eftâva pelo feu Rèy D. António. —..tr^.


298 Em
23. de Julho fe aprefentàrâó batalha âs Armadas,
com igual valor , & efpantofo terror de quem as via j porém três dias
'

íeandáraó acometendo com íurriadas de tiros, fem lhes perniittir ptem.,»


po chegarem a formar batalha j atè que aos 26. do dito Julho , dia dq
Santa Anna , fe travou com tal fúria a batalha , queíe abalroarão gs Ga-
leões, Capitanias , & Almirantes , &
atracados batalharão por mais de ,

cinco horas continuas , fem fe ver mais que a defenfreada morte em to-
da a parte, atè morrerem da Armada Franceza o General Eftroffe, q
Conde de Vimiofo , & muy tos outros fenhores , & fidalgos , & da fol-
dadefca mil &du2€ntos homens, &
alguns navios Francezes foraó af^
fundidos s muy tos déftroçados , 6c os mais deyxàraó a batalha , & fe fo-
raõ, fem poderem já feguillos os Caftelhanos , porque deftes a Armada
ficou muyto derrotada , &
com muyta gente morta 5 porém eotno o feq.
General Marquez de Santa Cruz foube guardar fua peíToa na praça d^
arteíharia governando-a debayxo da cubcrta > & o General Francez,8ç
,

li o Conde de Vimiofo, &


outros femelhantes fenhores morrerão , ficou
èm fim a vitoria pelos Caftelhanos.
-
299 Ifto em fumma he, o que Fru8:uofo , teftimunha de vifta,
lá diz deita batalha naval no íít;. 4. defde ocap. 10 1. atè 104. mas deyxoij
de dizer que efta vitoria naó foy tanto de valor dos Caftelhanos , quan-
to da fugida, &
treyçaõ de muytos navios Franceze$,que não quizeraq
pelejar, &: fugirão logo. Nos feguintesfíZ/?. 105. & 106. conta como lo^
goVilla Franca fe mandou entregar ao Marquez de Santa Cruz , co- &
mo os navios Francezes que efcapáraõ , & hum pataxo dos que tinhagi
ficado em terra , fe foraó para a Ilha Tereeyra , &
que detendo-fe o vi,
toriofo Marquez três dias ainda era o mar,mandou depois a Villa Fran-
ca feu Ouvidor , gente de guerra , & fentença que em publico cadafal*
fo f^ leíTe , & nelkfe degolláraõ a trinta fenhores,& fidalgos Françezesj
por perturbadores da paz conftituida entre França ,& Caftella i Scãq
maisfe enforcarão cincoenta &
três Francezes de menos qualidade. Lof
em 5 de. Agofto foy de Ponta Delgada a Villa Franca o Bifpo Dom,
.

fo &
'edrode Caftilho , &
da Villa foy ao mar vifitar ao Marquez , no
mefmo dia dcfembarcou o Marquez , & entrou na Villa com grande re- ,

cebimento , &
applaufo, & o Bifpo voltou para a Cidade, o Marquez &
fe embarcou , & chegando a Ponta Delgada foy nella recebido com
grande triunfo da Cidade , & Fortaleza, &
fó a hum fidalgo, Vereadoí*
de Villa Franca mandou degollar > &
os outros culpados fó condenou
em penas menores.
300 Tendo fahido de Lisboa o Marquez em ip. de Julho , Sc,
ficando-lhe là três nàos de guerra, fahiraô eftas aos 1 1 8c
. com vários en-
contros dos Francezes defapparecèraò já perto de Saõ Miguel. Em 3,
de Agofto chegou a Armada de Sevilha com dczafeis. oàos de guerra.
Cap.XXVII.DehUíidalg. que felevantoacm Angra, j^f '11" 1

que vinhaó ajudar ao Marquez ; mas efte tendo avifoque viniiaó náoi
4a índia , em tai altura as foy bufcar , & trazendo-as a baò Miguel , da- !>* Amada iinM
hi as remetteo a Lisboa com fete nàos em fua deifeza , & nellas fe foy àç^^^y^i^^t^om^oMár"^
Sa^ Miguel o Bifpo D. Pedro de Caftilho para Lisboa &: o Marquez ^*^^^^^*^P*^ '*' ,

deyxando em Saõ Miguel quaíi três mil foldados de guarnição , paf ti© "^ f **,, ** f^'^
em 3 de Agoíto com ambas as luas Armadas, & em três dias ie poz lobre f^^fg /^^ re/ijho que
.

a líha Terceyra mas efta fem fazer cafo das cartas , 6c embayxadas do/i voltkrao asArma*
-,

Marquez, Sc fuás Armadas , lhe refpondeo com tantas & tam forte arte- dat dt Cafiella aLis»
Iharia, que o Marquez defiftio de tal empreza , &: fe voltou a Lisboa. E boafemfe atreverew%
aqui com pouco mais , & fora da hiftoria i acaba Fruduoío o feu Uv. 4. ^*"^ '^ Ttrcejr^^ \
:"'.'*
ca^, III. .

,

"' '

C A P I TU LO XXVIL
Dehutna parcialidade que houve em Angra contra o Senhor^
£>. António ; & da morte de humfidalgo^ &per/eguí-'
çao contra da Companhia
o Collegio
de Angra.

301 jk Gclamado (^como vimos no


caf.i^. ) o Senhor D. Anto.
nio em Rey de Portugal
na Ilha Terceyra , Cidade de &
Angra , naó deyxou de haver nella alguns , que mais inclinavaó ainda a Como è hm fidalgi
Caftella i defta inclinação foraó algús fidalgos , &
com occafiaó de ha- ?"''' ^' ?
f/^^T''^'**
'^/"'"^* "i*
ver já quaíi dous mezes que lhe faltavaõ novas do novo Rey D, Anto-
o^ verem que qualquer r^ n. 11
' ' to» em Angra poP',
mo &,
tr
nao que panava 1
para Galtella por alguma
Q^figH^ ^Âjprtgj»
1
'

daquellas Ilhas, dizendo-lhe que eftavaó por Felippe, a tomavaój jun-


tos os ditos fidalgos aíTentàraó entre fi de fahirera todos a cavallo arma-
dps.pela Cidade , & acclamarem a Felippe II, por feu Rey , & de Por-
tugal ima&altercando qual delles feria o que fahiíTe acclamando, para
os outros o feguirem , refolvèraó lançar fortes , &
nellas fahio Joaó de
Betencor & Vafconcellos , de cuja Regia fidalguia já falíamos no cap.
'"!
2i.dosBetencores, &ceap. 22. dos Vafconcellos j & o animofo fidalgo m
aceytou a forte, & prometteo fahir em dia de N. Senhora da Nativida^
de,8.deSeptembrode 1580. >

302 Chegado o dito dia, promptiílímo o fidalgo cavalgou ar-


mado, & brandindo huma lança ( por mais que feu filho morgado Vital
de Betencor & Vafconcellos lhe quiz impedir a fahida } fahio comtu-
do pelas ruas da Cidade , dizendo cm alta voz , Viva ElRey D. Felippe»
éf quem o contrario dijfer , morra & fem haver dos da junta fey ta quem
:

fahiffe , & o feguiíTe , chegou diante do Corregedor , jà Governador,


laçando as meímas vo2es,& acclamaçôes de Felippe,& junto jà muy to
povo , clamando ; Morra o traydor , o prendeo , & com fua guarda o li-
vrou de o povo o matar alli logo, & o levou , & metteo na cadea da Qu
dadcj àviftadó queosde antes conjurados íe retirarão aos montes , ^
quintas fuás j & o prezo fe ficou em a cadea, fem nem delia pertender fa*
hir , nem jamais darem algum ^osoutrps > mas hmnàQXú vida na ca»
..:t-,-. .í deaj
|ád l-ívfo Vi. Da Regia Ilha Terèeyra?
^lea, &
conforme com os precey tos Divinos , que eftando perto de
taííi

dous annos prezo , nem palavra , nem obra fahio deile , que cheyraíTe a
peceado, ainda leve.
•^
\ 303 TinhajàElíley Dom António pofto em ilngra Relação
(Çimnpehjen ÊeyD. fua fobre todas as Ilhas, que conftava de quatro Deputados,& huniJ^re-
^*^^°f ^ * ^^^ ^^ o.Corregedor, & Governador Cy priano de Figuey re-
tTjflalcídeD
MãHottda SHvAeõ ^°'* ^^ Deputados eraò Joaô Gonçalves Corrêa, Balthezar Alvarez ila-
todoj os pederesReaes Biires, Domingos Pinheyro,& Domingos Louzcl ,êí em oyto raezes
^fez. logo íí/^<,//rfr fentenciàraõ o fidalgo prezo a moírer degolladoi mas dilatou-fe a exe-
fubhcamente <»«?/• çuçap, atç que entrou em Angra o Conde Manoel da Silva emFeve-
^*lg9pr«x.9.
reyro doannode 1582. com os poderes do dito Rey D. António fobre
todas as Ilhas. Mas o dito Conde , para eohoneftar mais eftas execur
çõesde juftiça , levantou em Angra, com os Reaes poderes que tra-
zía, levantou Caía da Supplicação,do Civel, & Crime & fobre efta j

levantou outra Mcfa de Defembargadores do Paço }& também outra


Meia j chamada da Confciencia $ creou Chanceller mòr i fez Efcrivâc^
& Meyrinhos da Corte, & Procurador do Fifcoi & poz Preíidentes em
cada hum dos ditos Tribunaes j & o era da Mefa da Goníciencia hú Re-
ligiofo de Santo Agoíiinho , & outro da mefma Ordem era Deputadoj
& demais entra vaó nos ditos Tribunaes o Reverendo Vigário da Con-
ceyção , o Thefoureyro mòr da Sè , & alguns Letrados Juriftas , dos
mqytos que èntâo havia yôc a outros deyxou de fora, por os imaginar
fufpey tos ao íèu Rcy D. António ,& a todos os ditos Tribunaes aílinou
cafas,& dias de defpacho na forma da Ordenação Real.Porèm o Gover-»
nador Cypriano de Figueyredo , vendo tam exceíli vos , & executados
poderes, & as defordens do dito Conde, fufpendeo-fe de mandar cou-
3a algua , ate que chegou o mcfmo Rey D, António.
304 E porque nas ditas Ilhas havia pouco dinheyro,& era ne»
ceflario muy to para o foldo dos militares, & gaftos das fortificações , in-
ventou o dito Conde Gafa Real de Moeda , & a coUocou no pateo do
Hpfpital da Cidade >com Miniftros , & officiaes peritos i & febricando
ao prmcipio moeda de prata , ouro , & cobre , a levantou toda em doA
bro, as de ouro de quinhentos reis íubioa mil reis ; as de niilreis a douS}
as de prata de cruzado a dous cruzados, as de toftaõa dous toftóes , as
4e vintém a dous vinténs, &aílim as mais de cobre. Chegou pois odi»
to Conde a ir em peflba pelas ruas, &
pelas cafas com muy tos nobre»
&
da terra a pedir ouro , prata para a moeda , &
para fuftcntarem ao fea
Rey D. António, defta &
forte recolheo grande numero de cadeasde
ouro, de aneys, de joyas, &
de peças de prata , &
fe recolheo com tudoj

6c com muy CO âmbar, que também lhe oíFerecèraõ , & de tudo não ap-
pareceo coufaalguma em a cafa da moeda; & chegou a infolencia do tal
Conde a tanto, que fem fentença de Juizes dava tormentos, & intolera*
veis, & atè a homens nobres \ & ainda nos coftumes procedia efcanda4
lofamente.
'-.
; i Í505 dous parágrafos acima naõ
Ainda que o fobredito neftes
traz o Doutor Fruftuofo, por lhe naô chegar là a Saó Miguel , confta
com tudo de hua Relação manuferipta cm caderno de quarto , de quafi
hum cento de quartos de papel vôccompofta por huma teftimunhíido
t,=3íi^-
vifta
Cap.XXVILDadég©í.dofidâlg. 6cextérmín.áosPP. ^fy
vifta fecular jique em Angra vio , & apoatou tudo , 5c vivéo ainda acè o
^anno de i6i i Òc tenho a tal Relação em meu poder Sc por vçrdadey»
. ,

ra, & muycas Vezes a figo, & feguirey ainda. E logo era Março de 1 5 8 Jí
na quarta feyra á tarde , mandou executar a fencença , & com gente
Franceza de guerra , pofta por todas as ruas da Cidade » & teado fido
mandados fahir delia todos os pareotcs do condemnado, foy eftedegol-
ladoem cadafalío publico, 3c com tal valor do padecente, que nem pès,
nem mãos, nem corpo confentiolheataíTemimas com grande animo
deo elle mefmd a cabeça ao talho , 6c com tal conformidade com a dif- ™"
pofiçaó Divina, 6c com taõ Catholicos Sc pios ados daquella hora,quc
,
•VS'*'
todos le pérfuadiraó ,que por aquelles meyos o tinha Deos predellina*
doi 6c à boca da noyte foy a enterrar à Mifericordia com grande , 6c no-
bre acompanhamento. E depois ElRey Fclippe fez à viuva , 6c ao filh®
*norgado grandes mercês de habitosj tenças, &G.
^06 Defte trágico fucceflb tomou o diabo occalÍa6{ôomoco-
iftuma ) para mctter em cabeça ao povo de Angra, que o fidalgo morto £><, aieyve t^perfi^
,

fora períuadidoa acclamar a ElRey Felippe por confelho dos Padres^»<f45 ^»e em An*,

da Companhia daquelle CoUegio, por faberem todos que o dito fidú' grafe levantou citra
go tinha fido em moço menos ajudado, &c tratado fó de cavallarias , co. " ^'"\'"g "^^ ^"'"f^'^
mo Capitão de cavallos que era, 6c depois de tratar com os Padres, 6c fe "*** í^^'^^j.
aconfelhar com elles , fe ter totalmente mudado , &c teyto vida , mais d«
K.eligiofo 5 que de Gavalleyro leygo j por eftes fundamentos impoz o
povotemerariamente aos Padres queeraó da facção delRey Felippe,6{
naó da delRey D. António &: a efte lho eícrevèrão logo aífim & por
, -,

ifci'11
mais que todos os ditos Padres depuzeraò , òc juràraó o contrario , ain-
da aíTim , cm quanto não vinha refoluçaó delRey D. António , confif-
m
cáraó as rendas do Collegio , 6c os bens móveis delle , prohibiraô-lhes
dizer Mififa , fechàraõ-lhes as portas , atè da Igreja , com traveíTas , 8>c
ferrolhos, 6c as janellas lhes tapàraõ de pedra,6c cal, 6c fó ás quartas fey-
ras lhes deytavao algum comer Sc tudo ifto íe fazia por militares Fran-
,

ceZes 6c aííim eftivcraó os Padres entaypados mais de hUm anno, deí-


}

dcJulhodei58i.atèJulho deSi.
^07 Tam falfa temeridade deraonftrou o Ceo com cafosma-
íavilhofos porque chegando hum zelofo a afrontar de palavra com
;

graves contumelias ao Padre Reytor do Collegio , em vokainido para


fua cafa íè lhe poz a boca à orelha, 6c efteve muyto tempo íem poder fal-
larcomgraviflimo accidentc , 6t depois deftcrrado por ElRey Felip-
pe acabou mal em terras alheas outro indo governando húa foldadeC.
:

ca de mofquetaria , 6c vendo a hum Padre do Collegio poz a pontaria


nelle com hum arcabuz &: o Religiofo fe efcondeo porém outro dif»
,
j

parando-Ihe hum tiro , a fi próprio fe tirou hum de feus olhos. E outros


femelhantes cafos f uccedèraó quando depois os Padres foraô manda-
,

dos embarcar, 6c a rapazia lhes atirava pedradas, 8c com apupadas Iheg


diziaô muytas contumelias, o que tudo deyxo porque afilm como per-
;

mittio Deos que aquelle fidalgo Joaõ de Betencor fe perfuadiíTe fa-


zer grande ferviço a Deos em acclamar Rey a Felippe II. para por efte
occulto Divino juizo falvar ao fidalgo j aflím também permittio que fe
levantafie tal aieyve aquelles Religiofos, para os provar mais na pacicn*
ciâ)& lha apremiar depois. 508 Che*

pi
a«8 Livro Vi. Da Regia líhá Teréeyf â.
Chegado de Saõ Miguel ElRey D. António à Ilha Teri
308
DeeômèosPadresJaceyrâ em O fim de Julho do anno de 1682. mandou logo defencaypat
Companhia foraõ ti- OS Padres , & depois de outras refoluçoens tomadas & naó > executadasi
r«íiM <<í /í»^r<i,jw;?-
mal informado mandou metteros Padres em duas nàos grandescom
^'^j'it outra gentej& levallos todos a Inglaterra , a cinco em cada náo , por íe-
^"4!^^'^''1*

fJff/Ji"ar'''''^Gm os Padres dez. A


nào em que hia o Padre Rey tor do Collegio Ef-
* tevaõ Diasj& o P.Andrè Gonçalves LentedecafoSjchegou ao porto de
'

Antona em Inglaterrajôc foraó recolhidosj& curados pelo Embayxadot


de Caftella D. Bernardino de Mendoça & o Padre Andiè Gonçalves
-,

morreo em Londres dos trabalhos padecidos j & náo fó com todos os


; Sacramentos , mas com morte exemplar de grande Religiofo: os outros
Padres da meímanáo vieraó de Inglaterra a Lisboa , aonde depois mor-
reo também o Padre Reytpr Eftevaó Dias. N a outra nào hiaó os outroâ
cinco Padres , de que era Superior o Padre Pedro Freyre j 3c ji junto a
Inglaterra foraó baldeados em duas Urcas j 6f lançados no Reyno do
Algarve , donde paíTáraó a Lisboa. O
Collegio de Angra, & todo p foi
movei deo o meiTmo Rey Dom António a outros Religiofos , que comA
figo trazia j & nos apofentos do Collegio fe fez poUco depois enferma^
ria de Francezes , &
Armazém de munições de guerra. Efta he a fub-
ftancia das ditas duas tragedias , que o Doutor Fruftuofo tra2 mais lar^
gamente, em diverfa partej no feu //*y. 6. fíí/'. 16. 1 7. 1 8. &

CAPITULO .^
XXVIIL
Da chegada i recebimento, & affíflencia do Senhor Dom
António na llhaTerceyray& de fuapm tida
ira Franca,

m
Tiá VnifAàá^^ réeil
%^^
U
TT^Éyxandofcomo jàvÍ!tios)ElRey
"i^da defronte de Sàó Miguel para dar batalha â Arma-
timtntoRtgionallhít <ia de Caftella ^ fe recolheo à Ilha Terceyfa em 26. de Julho do anno de
D. António fúa Ar-

"Ttrcejrs^dofeitRe) ii^%i.UQnuo\jL no porto da ViUa de Saó Sebaftiaõ, acompanhado de


p. Anmié. jn ji homês de pè, &
de cavaÍloj& recufando o recebimento folemne que
logo a Villalhe queria fazer , &
ouvindo Miífa na fua Matriz , fe foy
por terra com a dita fua guarda para a Cidade de Angra , duas legoas
mi diftante , & parou antes da Cidade
em hum pofto, a que chamavaõ o
Ajuntamento i por virem allijàbeyjarlhe a mão os da Cidade >& che-
gando em primeyro lugar o Governador Cypriano de Figueyrcdo-o
Rey o abraçou & o poz à fua mão direyta & ao Conde de Torres Ve-
, j

dras Manoel da Silva o poz à efqu:erdai & de cada hiim que hia chegan-
do perguntava ao Figuey redo que homem era o que vinha } & fe o dito
Figueyredorefpondia que fe chamava N. 6c N.& eramuyto do fervi-
ço de S. Mageftade ^ o Rey o recebia com miiyto agrado, & benevolên-
cia i mas naó conícntia que algum o àbraçaífe , nem ainda pelos pès , &
fó lhe lançava o braço pelo pefcoço: fe porém de algum dizia o Figuey-
iedoj que era homem muy to riep , mas que lhe não fabia o nome, ò Rey
logo

Tfml

if^
Cap.XX VJÍ í .Da affiílêidía delRey D Antónií naTerc.3% .

Ig^o O- mandava retirar, & O tiâo recebia & affi


i
a hum grande j & mu y to rico fidalgo chamado Ruí
, Dias de Saó Pay O,
a quem não adraitcio
, &
mandou para traz ,, fendo; que a dous negros
do íidaigo ,por fe lhe dizer que eraô feus fervidores , o Rey os abraço^
& lhes tez a honra , que não fez ao fenhor dos efcravos
i defta diltin- &
çaõ uíòu com todos os mais.
3 10 Ch egou logo toda a milicia da Ordenança da Cidade, Sc
jnais Viilas da Jlha , & a gente de guerra paga & a todos moítrou gran-
j

de benevolência , & chegando com elles junto às portas da Cidade , que


chamaô de Saó Bento , alli na Parochial do Santo lhe fahio o Senado a
^ecebello cora magnifica , &
Real folemnidadè j &
alli lhe fez a falia hu
Religiofo , chamado Frey António Merèns que já tinha ido , & vmdo
,
de França com avifos da 11 ha , ^
do Rcy era ja bem conhecido , & era
filho da mefma Cidade, & de huma das faniilias mais nobres delia j & o
Rey com poucas palavras , mas com muyto agrado acey tou a falia , 6c
entrando logo na Cidade fefoy recolher no Convento de SaõFran-
,

í:ifco,& pela cerca dos Frades fe paíTou no dia feguintepara os Paços


do Capitaõ Donatário da Ilha, que eftavaó regiamente preparados, 6c
oy to dias efteve recolhido fem fahir de cafa, era final de ludo pela mor-
te dó Conde de Vimiofo , feu parente , &: de feu
.Gemcal4a, Arxnada q „
--.í^í^.^.-..^ .-.;,,,- '--^^
Conde Eftroíle. ^

fr r PâíTados os oyto dias de lu£to , fahio o Rey com rhitytos ^


fenhores a cavallo^ Sc todas fuás famílias diante , &
foy vifitar a D. Vio- naprinteyra vifft4 Í H 3]
lante do Canto &C Silva > filha única, Sc morgada daquelle grande fidal-
fez. o dito Rtj kgr4-
go Joaô da Silva do Canto, de quem já falíamos largamente j 6c tendo dtfidalga D.ritjía»:^
ficado efta fenhora de feus jà defuntos pays com mais de cem mil cruza- ^' '^o C*»«í« é- Stha^
dos de feu, tudo era pouco para gaftar em lerviço do dito Rey, aflim &
lhe tinha efcrito , 6c oíierecido por vezes , Sc o mefmo Rey por cartas
fuás lho tinha agradecido. Em
tani Regia vifita fe houve a dita fidalga
com tal çomedimenro, prudência, 8c grandeza, que aos que aíUftiaõ pa-
reciahuma foberana Rainha Sc naõ ceifava de offereccr toda fua rique-
,

eaao do Pvey , Sc pedirlhe inftantemente a aceytaífe , 6c difpu-


ferviço >
!iT' 'li!'

zeífe de toda i o Rey porém âgf adecendo-lhe o muyto que ella


'

o tinha
fervido, accrefcentou , que por mercê de Deos nâp i«;l*
neccflitava de fuás
riquezas, Sc fó defejava fazerlhe muytas mercês , 8c huma grande fenho-
ra em feu Reyno, 8c ficar fendo feu pay, viftoo naõ tinha
jà, 8c com ifto
íe fahio o Rey defta vifita.

912 Sahindo daqui ElRey fby ver a Alfandega, Sc a Armada,


que eftava ho porto , 8c correo as ruas da Cidade que eftavaó ricamente
arrnadas, levando cófigo fempre a fua guarda de quinhentos Archeyros,;
& Mofquetey ros,8c fe recolheo âo feu Paço,8c ao oUtro dia(fem fe faber.
que fahia) foy com o Governadorjôc o Conde, Sc poucos mais, a N. Se^
nhora dos Remedios,Ermida fundada por António Pires do
Carito,rio
paterno da fobredita D.Viçlante do Canto,8c ouvida alli MiíTâ,foy vifir.
tar o Convetíto da Efpcrança,
de Freyras Francifcanas,&: de muyto fer-
viço do Rey, 8c tornando para o feu Paço não fahio
mais delle nos doze
dias feguintes, com ofentimentQ da batalha
perdida defronte de S. Mi-
guel.E porque fó a Cidade deAngra he como a cabeça de todas as Ilhasfi
(di25
lp9 Livro VL Da Regia Ilha Terceyt-âi^
(diz Fruétuofo liv. ô.cap. 22.) íahio entaõ a vifitar a Ilha toda ySc todaá
iúàs Fortalezas.
313 Em vifitar a Villa de Saõ SebaRiae*
primeyro lugar foy
por fer a primeyra Villa c[ue houve naquella Ilha , &
em efpecial o pof»
to aonde tinha vencido, &
morto atantps Caftelhanos,& da nobreza da
Villa ( que tinha muyta) foy magnificamente recebido} dahi foy adiart^
^^te.huma legoa à Villa da Praya, que he povo muyto mayor, & de muy-
.ta mais nobreza , que o veyo efperar muyto fójra da Villa i o Senado &
da Camera, & Clereíja o recebeo à porta do muro da Villa , & tendolhe
preparado nella Régio apofento , não quiz o Rey ir para elle , & fe foy
ihofpedar em S. Francifco , aonde paíTou a noyte com a fua Real guarda
'íill

^ao redor do Convento j & dernanháa ouvida Miííacorreoas ruas da


que todas eftavaó armadas de ricas fedas , &; viíitou as Freyras
Villa ,

deJESUSj&logoasdo Convento das Chagas ,& depois as do Con-


vento da Luz & em todos eftes Conventos achou muytas Religiofas
i

de grande qualidade , &: grandes tenças; & a três naturaes de Lisboa , fi-
lhas de Pedro Poncede Leaõ, Veador mòr da Rainha Dona Catharina,
mulher delRcy P. Joaó IIL porém em hum deíles não confentiolhe ap-
pareceífem diante oyto Religiofas , que fabia ferem da facçaõ de CaA
tella.

3 14 Daqui fe voltou para a Cidade , na qual em


três legoas ,

Patreyçao crdida por chegando mandou dobrar o valor à moeda , com fó lhe porem húa cor
kttm Cafitlloarig, ^ne nas cruzes. Mas he de notar , que tendo vindo com nàosfuas, & acom*
foydtfsubirto^^ de-
panhado ao mefmo Rey Dom António , hum rico Caílelhano chamado
goliado.
Duarte de Caftroj comtudo trazia ordida comfigo huma treyçao para
matar, ou levar prezo a Caftella ao dito Rey com quem vinha hum ; &
Capitão Francez , chamado Carlos reparou nefta
, treyçaó , que o Caf-
telhano queria executar em Angra , &
dt^fcabnndo-a logo , foy prezo o
Duarte de Caffcro , &
por mais diligencias que fe fizerâó , nunca fe pode
faber de algum outro cornplice de tal treyçaò que houveífe na dita Ilha
.Terceyra^ Bi aífim fó o dko Duarte foy prezo, fentenciado , Sc degolla-*
.do no pelourinho de Angra , &: os bens que tinha, foraõ confifcados pa-
ra a Coroa.
315 Chegados os 15. de Outubro de 1582. foy o Rey Doni
.António confeíTarfe, & conmmngaraSaò Francifco 5 & dahi a defpedir-
,fe deNofia Senhora dá Conceyçaõ, Igreja que novamente fe fazia então,

DadejpeiiiA t^El' êclhedeo deeísnola quinhentos cruzados para fe acabar, & dahi tor-
Reyfez. dafidalgaD. nou a vifitar aD. Violante do Canto & Silva, & ao Convento de Frey-
Violante do Canto &!ras da Efperança ; & tomando logo oytocentos homés das Ilhas & oy- ,

Silva]^ de como tm
tenta mais dos nobres que mal o tinhaó íerv ido , & comando mais com-
a Armada fe embar'
cottpxra FrançA & figo todos os Francezes
que trouxera', de repente fe embarcou em húà
,

foy la bem recebido^ .Armada de quarenta velas mas logo lhe fobreveyo tal tormenta , Sc
-,

d^ mandou logo foc' tempeíiade que defgarrando-fe muytos navios hus foraó dar em Lis-
,
,

corre k Jerceyra, boa, outros em França & outros em Inglaterra Sc fó com vinte nàos
5 ;

fe tornou o Rey â recolher à Ilha Tercey ra em o fim de Outubroj & en-


taõ deyxando em Angra os oytocentos homés que levava das Ilhas & ,

tornando a levar comfigo os outros oytenta , que lhe tinhaó delatado de


inconfidentes, fe embarcou fegunda vez com vinte & nove velas nofíni
de

1
Cap.XXIX.Douldmo emp.de Caftel.em cònq.a Terc.37£
áe Novembro }& dos oycentâ delatados morrerão por là trinta &fet@
de fuás doenças, & contra os outros fe naõ procedeo j & o dito Rey D.
António foy bem recebido em França & mandou logo à Terceyra a
i

Monfieur Lanxara com mil & quinhentos homésde guerra , munições,


& artelharia,& oy tenta fidalgos Francezes.
316 A eíle Senhor D, António chamamos algumas vezes Rey,
mas naó íenaó depois de acclamado em Lisboa , Porto , Aveyro , San-
,

tarém, Cetuval , & no melhor de Portugal j & nas nove Ilhas Tercey-
ras j que conftituem hum bom , & grande Reyno , aonde naó tumuitua-
riamente, ( como alguns difíeraó} mas com toda a folemnidade foy ac*
clamado, & fuftentado Rey, como única varonia do Senhor Rey D.
Manoel. Que defcendcncia ficaíTe defte Senhor Dom António? Muy tos
dizem quecafou em Olanda com aPrincefa Emilia de NaíTáo, filha
,

de Guilhelme Principe de Oranje , & da Princefa Anua de Saxonia , fi-


lha única do Eley tor Duque de Saxonia & que do tal matrimonio naf-
:

ceo D. Luis de Portugal, ( a quem Felippe IV. por ferviços feytosem


Flandres fez Marquez de Trancofo ) cafou efte D, Luis com D. Anna
:

Maria Capechi Galiota, filha de Joaõ Baptifta Capechi,& de D. Diana,


de Spinelo Principes de Monte Leaó em Nápoles j & dos taes bifiíetos
,

do Senhor D. António nafcèraó D. Manoel Eugénio de Portugal , & D.


Fernando Alexandre , que no fitio de Recroy foy famofo,& feyto Con-
de de Sindira , Villa em Portugal & a hum deftes dous irmãos mandou
)

ElRey D. Joaõ o IV. afliftir na Dieta de Monfter. Ifto o que fe diz , Fi"
des fit penes Jmhores.

CAPITULO XXIX.
Da ultima Armada ,& batalha que Cafiella deo a
,

Ilha Terceyra & a rendeo.


,

317 y^ Epois de vencida a batalha & Ilha de Saô Miguel em


,
Da n»vaLé'fof>erèA
JL/ Julho
26.de de
15 8 2.& depois de
vir o Marquez de San- Armada, tjue em hit
ta Cruz com mayor poder , & duas Armadas juntas fobre a Ilha Ter- annointeyro ajunto»
ceyra no fim deAgofto, & naó podendo lançar gente em a Ilha pela Cafiella para a con-
muyta , & groíTa artelharia com que de toda a parte o rebateo , & vol- tjHifia da /lha Ter-
tando a Lisboa no principio de Septembro , quaíí hum anno em Portu- ceyra , & eom tjue a
eíU veyo o Marque^
gal, & em toda Caftella fe gaftou em preparar nova & mayor Armada,
de Santa CrnSé,
& muyta mais gente de guerra , para a fatal conquifta da Terceyra , atè
que em 23. de Julho de 1583. partio de Lisboa o dito Marquez de San-
ta Cruz com huma Armada de noventa & fete velas , nas quaes vinhao
cinco Galeões , trinta nàos grandes , & groífas , doze galés , & duas ga-
leaças , quinze zabras , doze pataxos , quatorze caravelas , & fete barcas
grandes ;& foldados infantes vinhaô nove mil Caílelhanos , Alemães,
Italianos , & Portuguezes ; & demais quafi quatro mil homés de mar, &
cincoenta fidalgos conhecidos j & de toda efta Armada era o General o
dito Marquez de Santa Cruz dos Alemães era feu Cabo hum Conde
;

D. Hieronymo do Lodrom jdos Italianos Luis de Pinhateli ^ dos mais


Hh eraô
3r* Livro VL Da Real lihaTcrcqrrâ.
efftôMeftres de Campo , D. Lopo de Figucy foâ , D. Francíifc<!> de Bo-
vadiiha , Dom Joaô d« Sandoval, Dom Feliz de Aragaó, muytos &
outrps.
|i8 Com uõ grande Armada, tanta gente de guerra íèani. &
mou o Marquez a Voltar jàfobre a Ilha Terceyra, & vindo ainda pela
át Saõ Miguel, que jâ íè liíihâ paíTado a Gâftella, mais da dita ilha al- &
guma gente , chegou á Terceyra em 24 de julho de 1583. &:íepoz
lobre a prayada Villadè Saó Sebaftiaõ ás nove horas do dia èc fendo -,

logo rebatido de rauyta , êc groíTa arrelharia j que em Vários Forres ti*


nha alli a Ilha, mandou entaõô Marquez boiatim com pêrdaó devir
Lançando a Armada ^^^ ^ fazendas & dè dar navios aos eltrengeyros para fe embarcarem^
^ ,

gente em terra, & ^ fg^irem com fuâS armas bandeyras & tambores & a repofta única
, , :

^^J í^uytaartelhafia fobre a Armada. Vendo ifto


o Marquez começou
Filia d"s SeÍ7fí'iaè'
fahiolhe o exercito d^^^ogo com toda a Armada dividida a fazer contínuos acometmicntos
Jlha CO nove mil ho. & muy diverfos ^óftos da Ilha a Em de dividir, & canfar a
por muy tDs, ,

mens , & oyto peças & ultimamente por huma enfeada aonde chamavaô a Ca-
gente delia j ,

áeartelharia & pt-


{^ ^^j jj^^g
,
^^^g legoas da Cidade & huma da Villa da Praya com-
^ , ,
lejando as vanguar-
dasatenoyteJe deoa
fatalhatalha ao ou-
.
j tt j^1-1
j^^gj-^g^ ^ ^^^^^ ^ Marquez com às galès, & barcas grandes & com mor-

^^ "^ muyros pelos repétidos tiros dos r ortes da terra poz nella em^
,
^
,
,
11

tro dia fendo quaft fim quatro mil & quinhentos homés
de guerra & atraz delies muyta
, ,
,

dez. mil de ca- mais gente, h formou exercito em terra com féis peças de campanha,
horftês

da parte, & igual a $c ênveftindo logo à efcala os Fortes que alli avia a hum fó rendeo Ôs , ,

acabou de formar o feu exercito, com muy tas mais mortes fuás.
319 Feyto illo em huma terça feyra 26. de Julho de 1 5 83 íá> .

hiraÕ os da Ilha com exercito formado de nove mil homés de guerra , &
oyto peças de campanha , dos quaes eraõ mil & quinhentos Francezes,
a que governava Mohfieur de XatreSj primo irmaó do Duque de N.N.
cunhado dei fley de França; & todo o mais dia atè a noyte eftiveraô
fempre pelejando as vanguardas de ambos os exércitos com perda, &
mortandade igual de parte a parte. Mettida a noyte , & vendo bem o
Marquez o perigo que havia , tornou a mandar boiatim , oíFerecendo a-
inda os mefraos partidos que de antes tinha ofFerecido ; & naó faszendo
diíío cafo algum o exercito da Ilha ,fe prepararão ambos para a batalha
dodiafeguinte.
Porém chegado o ini-
Nefte dia, quarta feyra 27. dejulhó jtendb oexercitodt
cio
tdLrUdo Zcenl'o ^'^^ ^QJ^o vtr mil vacas, & kvando-as na vanguarda * cammctteo logo^
da /lha, logo os Frã- ^ primeyro ao exercito inimigo porém efte abrindo-fe 3 & dando lu*'
;

tez.es fe puz.eraõem gar às vaccas , ^ tornando-fe logo a fechar , fe travou tal batalha entre

torpi fífgida comfe» ambos que depois de muytas horas delia & de grande mortandade de ,
,
Cinerai & atraz. parcca parte foy ganhada a artelharia do exercito da Ilha , Sc tam car-
;

'^g^^o efte com ella , que primeyro que todos fe puzeraô em fugida oS
^dAStL^atl^oln-
gUze'!'Jdcl7Ldo aos
Francezes & logo o Conde Manoel da Silva com, outros Inglezes &
i
}

Portugueze^fóspele- ficando fós OS Portuguezesda Ilha, morto o feu GeneraljvSf fobrinhodo


j^fídoamda, í3/è^«r dito Conde , fe retirarão entaõosPortuguezes a por cobro em fuás ca-
mortoofeu Gíwí^^/, fas , &: ficou defemparada a Villa deSaõ Sebaftiaõ , entre a qual, oco
fe retirarão , &ficou .^^^^ fç f i^ha dado â batalha.
""" " Lembrados 05 Caftelhanos dos muy tos que naquelta Vil-
iZlT'"^ ?^^
la lhes tinhaõ morto, naô achando jàgente nella ,.fe. vingarão. em ia*.
quealla
Cap.XXIX.0â treyçaõ cô q ò Cõdc&Frãcehfr.a ííha. j^|
queállà cruelmente , mas com ambição mayor do faeo da Cidade for-'
mados outra vez com feu exercito , marcharão para a Cidade , & cn-
trando-a femreíiftencia,porjádellafeteraufentadoa genteparaofer- _ ..
.

tão da llha,deraó faço à Cidade por três dias i primeyro os foldados>^^íC''^" '^^'^ *^,

logo os marinhey ros , & ultimamente ãtè os Turcos , & canalha que vi- '^/""
^'^"J^ ài^tií
nha nas galés , êc eftes atè os ferrolhos das portas arrancavaó, naó achan-''^^ ^ ^ gente mttidà
do jamais que levar, por tudo os moradores terem retirado comíigov^yí^í^jèjé-^wW^í/J»-
para os montes. No porto de Angra acháraó ainda , & tomàraó <imnzQ^HekrAõ aCidsdt p»r
navios j quatro Galeões, cinco caravelas,& outros bayxeisjSc noventa èít^tf '^*** inteyrts Ate ,

hua peças de bronze , & ferroj no Callellode Sa6 Sebaftiaó fete peças a^^^osferrolhos àupr-^
'**
indade bronze, & oyto de ferro ; & por todas dos Fortes da terra tre-
zentas & huma peças de bronze i & ferro. Mandou cntaõ o Marquez?
lançar bando pela Ilha, que a todos os naturaes fe perdoava a morte*
que podiáó vir viver a fuás cafas, & governar fuás fazendas^ porém vin-i»
do algús pouco a pouco, o Auditor geral de guerra hia procedendo j Sé
prendendo aos que tinha por culpados. ,

322 Os Francezes,& mais eftrangeyros, que tinhàò fugida


da batalha , &: o Conde de Torres Vedras 3 em lugar de fe recolherem k
Cidade, & fe fortificarem nella em algum Caftello ou pofto bom, coni
,

tanta artelharia como a Cidade tinha , foraó-fe metter no Sertam da


.

Agoalva , de Nofla Senhora dé Guadalupe, & no pofto dos moinhos


fe fizeraó fortes atè três de Agofto do mefmo anno , em que fe entrega-
rão , largando todas as armas , excepto a efpada ; mas logo foy apanha-
4o,& prezo o fobredito Conde Manoel da Silva,cujo fim veremos logoj
& de tudo atèqui he teftimunha daquelle tempo o Doutor Fruduofo

323 Porém a mayof Verdade he,( conforme a outra Reiaçaó


de quem,teftimurihadévifta,hamaisde i30ianrtosodeyxouaílimefcri-£j^^j^ infoUnit^
to) a verdade he que o dito Conde de Torres Vedras , Manoel da Sil- o Conde f^zM de <»-
Va, naõ fó foy a caufa dos mayores tumultos , & dèfgoftos da Ilha Ter- tes n* Itrceyra j ^
ceyra, por ( ficando com o abfoluto governo delia ) naó tomar confe- '">'^'> '^^' *- ^ "^I'***
lho com peíToâ alguma, & fó fe governar por fua cabeça , traçando- fe P>''"l'^^^f^ ^ ^"i^^-
*

como Rey em tudo, & mandando por hum Manoel Serradas Camello ''ZitTJír&Zaõ
(da Ilha da Madeyra ) com Armada de dez velas , de Portuguezes, In-fj yi„cid$s & nniti
glezes j & Fraricezes dentro , a tomar os navios que eiicontraíTem de naturaet dà Ilha^
Caftellai & a reduzir» ou faquear a Ilha de Cabo Verde , como com ef-
feyto fizeraó j& faqUeáraó j & trouxeraó tudo ao Conde à Teíccy raj
& efte nella, por meyo de hum Amador Vieyra , de fora da Ilha , pren-
der a muytos moradores della,& os pòr-a cruéis tormehtos,& querellos
dar a hum Cidadão muy nobre , & muyto velho , por nome Álvaro Pe-
reyra, Scconfentif a fetecentos Francezes y & Inglezes que tinha em
Angra) & a mil & trezentos Francezes que vieraó demais em Junho de
1583. conferttirlhcs inexplicáveis roubos j iilfoleftcias , & motins na ter-
ra , com que a Cidade fe vigiava , &: trazia fempre grandes contendas
contra todos elles > & em nada o Conde impedia aos eftrangeyros. Naô
fó pois era tam grande a infolertcia do 'Conde , mas relata a citada Rela-^
Çaõ cap. 81. que elle foy a caufa toda de fer rendida efta Ilha por Caf=s
tellaj & foy elle , & naõ ella, o que a entregou, Forque primeyramentô

Hh ij teat*
J74 Livro VI. Dâ Regia IthaTerceym.^
tendo avifo do grande poder que vinha deCaftella, foyfe á VilUdé
Praya , & aíliftíndo elle à obra , fez hunua caravela tara perfcyta , corrt
ularte,&tamligeyra, dizendo fer para avifos repentinos, que logo
houve quem difle , que era para clle fugir , 6c deyxar a Ilha ao inimigos
Scfabendo.ocUc mandou açoutarão pobre homem , & com huma mor*
daça na boca pregarlhe huma maó no pelourinho , onde eftevc duas ho-
ras } mas o certo he , que chegando ao dito Conde cartas delRey de
ÇaftelIaparaoditaR.€y D. António feu primo, cm que lhe offerecia
bons partidos^ o Conde as guardou comfigo, abríndo-as,& Icndo.as, &
naõ as mandando a quem vinhaõ; & tendo por vezes cartas do chega-
do Marquez de Santa Cruz , com partidos excellentes para elle , & pa*
ia a Ilha, nem defta deo parte j Sceftando jà em terra o inimigo com
quafi quatorze mil homcs , {diz eftoutra Relação ) &os noflbs já de-
fronte dellç com quafi nove mil, & quatrocentos de cavallo, &
queren-»
do por duas vezes dar batalha ao inimigo, o Conde os impedio , atè que
chegou a noyte,& entaõ o mefmo Conde ordenou fccretamentea Fran-
cezes, & ínglezes que fugiffem, &
primeyro que todos o fez elle, dey-
xando os Portuguezçs , os quaes vendo a treyçaó do Conde , &
eftran*
geyros, & muytos dos Portuguezes mortos , &
morto feu General , re-

tirando-fe foraõ recolher a riqueza de fuás cafas ; &


ficou vencedor o
Caftelhano , na6 tanto do Portuguez , &
Ilha , quanto do infiel Con»
de, èc fcus eftrangeyros , que eraõquaíi três mil mas o Conde o pagou
,

na mefma Ilha com a cabeça , que nem lhe deyKàraó ir ã caravela que ri-
nha preparada para fugir nella.Atèqui a dita Relação, o mais veremos
logo.

C A P I TU L O XXX.
Do mats que fítccedeoemaTerceyva,& lihm annexa9'i
é'datdaaCaftetla^è' Portugal^ cafamento &
de D.Violante do Cama Silva, &
ifll

324 /^^Onquiftada a Terceyra pelo Marquez de Santa Cruz,


D# ow Hdd ^^^^ mandou efte logo a D, Pedro de Toledo , Marquez de
iih'tetctyra Çert ^'^^^ França ,&
* Duquedc Fernandina, a reduzir a Ilha do Fayal pa^ j

diyíTo M omras féis ta o que lhe deo doze galés, quatro pataxos, dezaíeis pinaflfas , &
outras
JlhM, barcas grandes j & com Dom Pedro de Toledo hiaó mais alguns homés
da Ilha de Saõ Miguelj como Manoel Çordey ro de Saò Payo , Cavai-
kyro do habito de Ghrifto & Juiz domar , & outros & mil & qui-
, ,

nhentos homés de guerra chegada efta Armada à Ilha do Pico , fahio


:

logo delia o feu Capitão mòr , &: juntamente Juiz naquelle anno & o ,

N ítn Efcrivaõ da Camera , & em hum batel forao logo render obediência
ao Marquez & a Caftella o que fabendo a gente da terra , em os dous
, j

voltando os matàraó logO} & a mefma obediência rendeo também a Ilha


de Sao Jorge. Porém como a Ilha do Fayal tinha prefidio Francez de
quinhentos foldadoSâ cujo Cabo era o Capitão Carlos i & tinha mais
mili"
li
Câp. XXX.€omocõ aTerc. fe renderão as inalslliiasl pt
ínilitares da cerra governados por hum António Guedes deSoufaj por
íflb ..•:
325 Mandou D Marquez ao Fayalhum Enviado natural dá
fiil •i'i

terra, & da principal nobreza delia , chamado Gonçalo Pereyra,quelà


çinha mulher, & íilhosi mas o fobredito Capitão Guedes em ouvindo a
embayxada, deo huma bofetada ao Enviado , & o matàraô logo às efto*
cadas o Guedes, & hum Francez.Oque vifto,em 2. de Agofto deytou
&
o Marquez gente em terra , inveftindo aos que lhe refiftiaó , os Fran-
cezes , com morte jà de hum cento delles , fe recolherão ao feu Caftel*
lo. Entregou- fe a Ilha , tendo-fe jà entregado também o Francez ,
dey-
xandolhes fó falvas as vidasjSc no Caftello j & outros poftos da Ilha fef-
fcnta & tantas peças de artelharia ; & ficou por Governador delia Dora
António de Portugal com duzentos foldados, & mantimentos para
quatorze mezes j§c nem fe faqueou a Villa, nem lugar algumj mas foy
logo enforcado o fobredito António Guedes de Soufa j & fe voltou a
Marquez D. Pedro de Toledo com a fua Ar mada,6c chegou à Ilha Ter-
ceyra aos 8. de Agofto.
326 Além do fobredito accrefcenta a outra Relação, que na
-Ilha Terceyra eftava entaó por Capitão mòr hum Gonçalo Pereyraj
muy to nobre , & do habito de Chrifto natural da Ilha do Fayali & que
,

cftàvaó mais Gafpar Gonçalves de Utra , que tinha fido Capitão mòe
do Fayal, & Pico, & feu irmaô Eftaeio de Utra ,homés fidalgos , natu-
raes também do Fayal , & parentes da mulher de Dom Chriftovaó de
Moura , Marquez de Caftello Rodrigo a cada hum dos quaes deo o

Conde Manoel da Silva o habito de Chrifto com cem mil reis de tença*
Aos fobreditos pois Gonçalo Pereyra,& Gafpar Gonçalves de Qtra deo
o dito Conde Manoel da Silva as galés caravelas, & Armada acima di-
,

ta com feu Capitão mòr pofto pelo dito Conde. Da Ilha do Fayal tinha
^ntaó o governo hum bom fidalgo , chamado António Telles da Ilha ;

de Saõ Jorge hum Joaó Velho j & fuccedendo


no avifo enviado ao Pi^
CO a fobredita morte de Gonçalo Pereyra , lançou entaõ o Capitão mòí
da Armadatres mil homés de guerra na Ilha do Fayal , & a rendeo co-
mo acima diíTemos }&: ao dito Capitão mòr do Fayal, por ter cntradc»
na morte do fobredito Gonçalo Pereyra fe lhe mandou cortar a maõ
,

direyta , & logo o enforcarão & rendido aflim o Fayal , logo as Ilhas
i

de Saõ Jorge , Graciofa, & a das Flores , & Corvo fe renderão, fem mais
guerra alguma. r .

327 O dito Conde Manoel da Silvâ , quando da batalha fu-


gio, & fez fugir todos os eftrangey ros , logo fe perfuadio que qualquer
da terra conhecendo-o , o havia entregar , por lhes ter fido traydor ; &
aflimfe veftioiogodeCaftelhano , &: comofoldado ordinário de Caf-
tellafemetteo entre os Caftelhanos foldados queperguntavaõ porcl-^^^^^^ . ^
le,& elle os ajudava â perguntar , & aflim vinha comeííes para a Cida- bt^to ,prev> ,& pti-
de , determinando embarcarfe na Armada , & defconhecido paííar nellaj yucamente AtgolUdé
até delia fe livrar ; eys-qUe encontrando o Capitão deftçs foldados a o Conde Manoel dâ
outro que levava preza huma mulata , &: queyxando-fe de naô poder SHva,& còfejfoa,
tèt^^

oqtte entras
achar ao Conde que bufcava havia dias, entaó a mulata ao tal CapitaõM?//*
«mfegredo perguntou, que fe lhe daria , fe deíTe prezo ao Condej &<í^'''»'*I^''^'/''^i
; Hh iij ref-

mÊÊmB m
37^ Livro VI. Dâílegiâ ííhaTGrceyra.

íefpondendo-lhe o Capitão qtié a vida,, &


a liberdade , Sc com que v£=
veífcj &
aceytando a mulata, &
indo pegar em o veftido do CondCj àií-
fe logo: Poiseu-aqut o Conde MâmelÂà Mva. Pafmou de repenqe o Con-
de, & o Capitão com toda a cortefia o prendeo j o que fabendo c Mar-
quez de Santa Cruz o mandou metter prezo em huma galeota & ajgfis j>

dizem que lhe mandou dar tormentos , mas naô conftou que fe Jhe def-
fem, porém mandou-o preparar para morrer, & o Conde o fez por
dousdías, &
duasnoytes j &
levado] ao cadafalfo publico da praça,
confeíTou ao Capitão que o prendera y eftas palavras O Marquez tanto :

defejou de me frenàn , eu o mereço porque elle nao ganhou a Terceyra , eu


.,

lha deyi ò^c. &c logo lhe foy de hum fó golpe de efpada cortada a cabeça
por hum algoz Tudefeo , & foy a càbeçaf pofta no lugar donde entaõ ti-
rarão a de Belchior AíFonfo , para pòr a do Conde , como efte mefmo
tinha dito; & no mefmo dia foy degolkdo hum Amador Vieyra , em &
terceyro lugar Manoel Serradas , que difle morria por feu Rey D. An-
tónio , clamando fem fe defdizer , com pafmo de todos. E muytos ou-
tros foraõ enforcados. Atèqui a Relação de vifta.
328 Dos caftigos que o General Marquez de Safita Cruz exc"
cutouem Angra, trata Fruâruofo no feu Itv. ^.caf. i^. ^o. &3i.cuja
fubftancia he Foy logo, & publicamente queymada toda a moeda dêl-
:

Rey D. António & defte Rey fe naó foubemajs do que fe fabe delRey
j

D. Sebaftiaóí nem fe por França ficôu defcendenciafuâ algOa. O Con*


de de Torres Vedras Manoel da Silva foy degollado na praça de An*
gra,&: fua cabeça pofta no mefmo lugar aonde elle tinha mandado pòr a
de hum Belchior Aífonfo Portuguez,a quem o ditoConde tinha degol-
lado por traydor aElRey D. António j &fe conta que pedindo-lhea
mulher do dito degollado, que lhe mandaíTe tirar daquelle lugar a ca-
beça de feu marido para lhe dar fepultura refpondèra o Conde , que
,

Exemplo fatal daíó entaõ de tal lugar fe tiraria aquella cabeça , quando no mefmo lugar
Divina ^Hjíiça con- fe puzefle a fua delle Gonde 5 & por Divinos juízos aílim fuccedeo. Ef-
ira a i»jnfiíça ^«- te cafo comtudo appíicâó outros à cabeça do fobredito fidalg&Joaõdc
Betencor & VafcôDcellos , 6f que efte
"^'"^'''
mefmo quando o degoUavaõ,
prediíTe o tal fticceffo, Sc fe vio depois cumprido. O
caio he certoj ofu*
geytoDeosolabe.
529 Foy degollado hum Manoel Serradasi liaturâl da Madey«
ra , &Capitão de Armadas. Enforcados foraõ Ayres de Porres , Capi'.».
De aIgHs outros f «í o taó de huma Companhia , Gonçalo Pitta » Ca pitaó dá Fortaleza de Sa5
Marquet. àt ^^aM Sebaftiaô de Angrsj & António Merelía Alferes mór da Cidade , & o
,

Cruz. mandott matar


q^j.^ç^q^ç,^^qI\^ Gafparde Gamboa. De hum Mathiâs Dias, chamado
et» tfigYá,
de alcunha O Pilatos , confta que na vitoria da Vílía de Saõ Sebaftiaõ
contra o Governador Caftelhano D. Pedro Valdês, depois delia acaba-
• . da tirou os fígados a hum Caftelhano , & aíTando-os os comco , & de-
,

pois fe gabava muyto defta acçaó, pelo que foy enforcado, Sr depois ef»
quartejado.Foraó ultimamente enforcados dezafete Francezes,& onze
fortuguezeSj&dous degolladosj&da gente bayxaforaó alguns poucos
açoutados , & outros condemnados a gâlèsj &
â vários degredos. Exe-
cutado ifto tudo atè os 15. para os 20. de Agoftode 1583. refolvco-feo
Marquez de Santa Cruz era íc voltar para Portugal, Cafteila , eo^ &
' - mo
Câp.XXX.Como foy levaàa a Caft^l.& cafaáa D.Viol^^^^
*ino veremos.Mas porque tefta fabermos que foy feytodaqiiellá famofa
HÊdalga D. Violante do Canto & Silva , de quem por vezes jà tratamos,
6c de íeii iiluft re da Silva do Canto , & feus grandes avós ma-
pa.y J oaó
ternos, bem heque agora o digamos , & com mais brevidade do queò ! 1

Doutor Frmduofo em o feu liv. 6.cap. 29. & 30.


330 Entre as ordens Reaes, que ò General Marquez de San- .

^ff^gfàfica ida cB
«^ta Cruz trazia delR.ey Felippe 11. huma muyto efpecial era, que toma-

-da a Ilha Terceyra , tiveíTe grande cuydado da peíToa de D. Violante J^^ ^^ ^^^
cltlf
do Canto & Silva pois fó ella tinha liiítentado na Ilha aos Francczes, afiâaifa D Violante
,

^ Inglezes, que feguiaó a ElR.ey D. António & aílim o dito General, do Canto & Silva^&
j

& D. Lopo de Figueyroa, tanto que entrarão em Angra, mandarão da grand£z.a eom<^
logo pòr duas companhias de foldados aporta da dita fidalga,para que fojf f^o^edajtaemCa-
máô fofle moleftada por algum , & fabendo que eílava já recolhida em-^^^'*--
hum Convento,là lhe mandarão pòr as ditas duas companhias de gUar-
úii&c logo lhe confifcáraó toda fua muyta,8c grande riqueza de bens de
todo o generOi& fó de grande numero de criados,6c eícravos que tinha,
naõ prenderão algUnS;por andarem já todos a montejraas mandoulhe di-
zer oGéneralj que feu R.ey lhe ordenava , lha levaífe a Caftella, & aílim
que fe preparaífe para fe embarcar. Ouvindo a fidalga efta ordem ^ tarii
'modefta, catholica, difcfeta , & varonil repofta deo ( oíFerecendo-fe a
,

logo fe embarcar } que o General fc deo por obrigado a logo a ir v^íitarj


& confolarj & fey to ifto com a mayor decência poíliveli ,

331 Mandou o General fazer todos os gaftos heccflarios , &


preparar logo a Capitania de Bifcaya por fer nào muyto grande , & ò
,

feu Capitão mòr Manoel de Azevedo fer homem já velho ^ & de grani
de capacidade j fnandou mais prepararlhe a Camcra Real^ ricaj 8c magi
tlificameníé , 6c na prainha de Angra huma Real barcaíTa grande j coni
eílrado nella alcatifado de alcatifas da China, clieyas de almofadas dé
veludo» & outras grandes barcas para todas as criadas j & criados da fi-
dalga. Feyta efta preparação por ordem do General Marquez de Santa
Cruz, fahio do Mofteyro a fidalga com fete mulheres graves que a a-,
companhâvaó, & duas Donas j & cinco Ayas , & vinte & hum criadosi
entre efcudeyros , pagens , &iiomés de efporas; & ainda nem todos feus
criados a acompanharão > por andarem aufentes com medo de pegarem
delles j mas â acompanharão demais vaíios fidalgos , & parentes feus^
como Manoel Borges da Coita, joaô da Cofta & Vafconcellos Gonça- ,

lo Corrêa de Soufa j Brás Dias Redovalho j & outros j & a dita fidalga
hia veftida toda de baeta negra , 6c fuás Damas ,& Ayas i vertidas todas
de roxo.
33i Antes de fe embarcar foy outra vez viíítada , Sc confoladá
^ídj^ General Marquez de Santa Cruz, èc de D. Pedro de Toledo, 8c dos
outros Grandes de Hefpanha ; Sc embarcada j Sc méttida em fua riào, co**
meçàraô logo ,& em toda a viagem a vir barcos dos Galeões à nào dâ
fidalga trazendo-lhe fempre paó molle, pafteis, 8c todo o otítro mímoi
,

âtè que depois de hum met de viagem chegáíaõ todos a Cadiz 8c fi- j

cando à bordo tres dias , em quanto fe preparava , ét ornava èfcada def-


dè o meyo dâ rtào j para fáhir por ella a fidalga , 8c no fim dos tres dias
chegou à nào huma fetmofagalè * & bem ornada j em que entrou corri
tOÚÁ

EÚwm
I^g
Livro VI. Da Regia Ilha Terceyra;
&
toda a fua gente , parentes que levava , & muy tos fidalgos Caftelhá-
nos , & com falva de toda a Armada j & a efta galé veyo outra vez viíi-
taila o General Marquez de Santa Cruz com outros fidalgos, & lhe de-
clarou entaó , como ElRey lhe mandava dar todo o neceflario para fua
peíToa, & para toda a fua gente , &í naÕ a mandara vir fenaó para lhe fa-
zer muytas mercês, & cafar.
333 Chegando defta forte ao porto de Santa Maria, vcyo ao
defembarcaro General das Galés D. Pedro de Villavincencio com ou-
tros fidalgos , cujas mulheres a eftavaõ efperando na praya com muy to
povo junto } pela fama que havia da fidalga que entrava, & allim foy le-
vada ao Mpfteyro de Freyras , aonde todas à porta fahiraõ a recebelía
com Te Deum lauâamm. & foy logo vifitada de todas as fenhoras da ter-
ra paíTados fete mezcs , por ordem delRey commettida ao Cardeal
:

de Sevilha , foy mandada palTar a Jaem, & o Cardeal a mandou logo vif
fitar por dous feus Cónegos velhos , & lhe mandou hum Miniftro por
Apofentador com doze homés de cavalloj & o Duque de Medina Sidó-
nia lhe mandou hum coche para ella, & cavalgaduras para os criados, 6c
filhões para as criadas , & dez homés de eavallo & aílim fe partio de dò
:

ainda , & muyto mais , por lhe chegar nova de fer falecido feu primo
Alexandre Imperial , Embayxador de Génova em Madrid. Deíla forte
foy andando, & em todas as terras por onde paíTava , a fahiaõ a receber
/ ©s Grandes delias, & cm nove dias chegou a Jaem.
^ 334 Aqui a fahio a receber o Biípo Dom Francifco Sarmiento
de Mendoça com todas as Dignidades, Cónegos, & fidalgos do termOg
& a levàraó ao Mofteyro de Santa Clara da dita Cidade , onde o Biípos
tomando-a pela maõ, a entregou à Abbadefia, & as Religiofas a recebè-
íaó com repiques de finos j & paliados dous mezes, lhe mandou ElRey
oíFerecer cafamento pelo dito Bífpo , & ella por obedecer o aceytou j 8c
.
omefmo Rey Iheefcreveo entaõ, que lhe faria muytas mercês , depois
de cafada com quem S. Mageftade lhe dava por marido.
335 Efte marido era Simaó de SoufaSc Távora, filho de AI-
Do granàê fidalgo '^^ro de Soufa & Távora , & de D. Francifca de Moura , irmã de Dom
Tortugutz. cem que Chriftovaõ de Moura , Marquez depois de Caftello Rodrigo, & Capi*
Feli^pell. fenrece- taó Donatário da Ilha Terceyraj era mais irmaõ do grande Bauliode
ber A ditafiçialga, Leflfa Luis Alvarez de Távora , Fundador do Collegio da Comp.mhia
de JESUS da Cidade do Porto ; & jà tinha duas boas Commendas , de
dous mil cruzados de renda cadahuma , & outras tenças , & tinha fido
Governador de Eftremoz, Sc o faziaõ depois Governador de Cey ta em
Africa, o que naó aceytou , fó por cafar com a dita D. Violante do Can-
to & Silva. Mandou efta procuração fua a Diogo de Soufa , Arcediago
da Sè de Lisboa , & depois Inquifidor da Mefa grande , feu parente -^,

irmaó de Ruí de Soufa Chanceller da Relação do Porto , para em no-


,

me delia fe receber com o dito Simaõ de Soufa & Távora & logo efta
;

fidalgo, por ordem delRey a foy bufcar a Jaem com grande eftado,on-
de fendo hofpedado pelo Bifpo , efte os recebeo outra vez com as cere-?
montas, & folemnidades que enraõ fe ufavaõ em Caftella & ncornpa-»
;

ííhados de toda a nobreza atè fora da Cidade , íe paflaraô a Córdova,


donde os íahiraõ a receber duzentos de eavallo com tochas aceefas, por
fer
Cap.XXXÍ>ogoVçr4 fioou emaTerc. & iieft.dâ Ilha. |^
& aífif» foFaó recebidos ém todas a& imis Htfm âcèebega-
ièr j à noy te j
rcra a Lisboa» & aefta foraÕ vifitados de todos os GrandeSj fenhores, &E
fçnhoras.',..,

336 Porém defte tam illuCtrc cafomcnto oaõ íicoa defcendcn»


€ia alguma, & aflim paflbu o grande morgado da dita D, Violante do
Canco & Siiva a unirfe cora outco igual morgado , iaftituido Cambem
|)elo mefmograadeavò Pedro Anes do Canto-, &
deites unidos fcfor*
mou o mayor , que ainda boje íc conferva em a Cidade de Anjgra: Ôc ae*
fta poz Felippe II. por Governador , & das outras Ilhas a hum fidalgo
Caítelhano chamado Joaõ de Urbina , da cafa dos Urbinas em 0$ con^
Éns de Bifcaiya j filho de outra N. de Urbina >, &
neto de Pedro de Ur-
bina , que foy Meflrre de Campo General do Eraperador Carlos V. 6c
morreo Marquez de Dória. Poz mais em An^ra por Biípo a D. Manoel
de Gouvca} & por Corregedorcom alçada ao Doutor Joaó Soares de
Albergaria, &
todos entre fi,& com a gente da terra fc davaó muyto
bem. ;:

^37
E ainda aíIim,partido o Marquez da ilha, logo o dito Ui"
^'''
bina le fez ao principio tam abfoluto fenhor , como o mefroo Marquczi ^'
^f'J^P
&
porque tomando por Adjuntos o Corregedor , cinco mais Bacharéis, ^ç^l^f/
«eVTJ^I
& naõ Bacharéis, fez com elles tal tribunal de íete , que fem admittirem
'/jrceyra \&ào m»l
embargos , nem aggravo, nem appellaçaó, fentenciou à forcaj& execu- t^utft hmvt Mpin-^
tou a fentença em hú Capitão chamadoTrigueyroS}& em hú muyto no- «/»w.
brc Cidadão de fetenta annos Balthezar Alvares Ramires y &: a outros
degradou ; & a algumas mulheres mandou açoutar , fó por fallarem em
tal governo. E da mefma forte a hum Cidadão Balthezar Gonçalves de
Antona , & a hum letrado Joaó Gonçalves Corrêa , que tinha fervido
de Corregedor , & a hum Capitão da Villa da Praya , a todos condcm-
hou a galés, & degredos , Sc fem admitcif lhes aggravo * ou appcUaçaõ
vieraó a Lisboa, Sr prezos os Ouvirão ,& lhes mandarão receber fua ap-
pellaçaó, & ainda o Urbina a naó queria receber, & tmàtm a reccbeo , Ôe
foraõ foltos, & livres.
338 Fey to iftoi imoderado aílím o goVcrnò,ao principio in-
folente, do dito Mcftre de Campo Urbina , começou dahi por diante
a governai" com grande moderação, & aceytaçaõ do povo. E aqui hc de ^' ''"^^P thodêrêà

advertir , levantou pela floveleyra plebe , que tinha ficado impoíèa


fe
TJ"'"'^ "^'f^j!*"*}
pena aos moradores da Ilha Tcrceyra , que naõ podeíTem mais trazer
J^í/^^^yf;^^^
comfigo algumas armas , mas fó faca fem ponta > donde tomàraõ os de Tereeyr*
(F*ciuím
outras Ilhas , chamarem por opprobrio , aos daXerceyra, Facas íem^íwM.)
ponta i mas o indubitável he ^ que tal pena nem Felippc II. nem o Mar-
quez de Santa Cruz ,nem outro algum feu fubftituto, nenhum tal pena
impoz , nem fe moftrarà juridicamente cm Author algum & fó foy im-
;

poftura levantada da emulação que huroas Ilhas tem cora asoUtfas,&


cfpecialmente com a qUe Deos fez Cabeça de todas , qual he a Ilha Ter-
ceyra, & o envejâó as outras, & por ifío he que levantarão eíle,que cuy-
davaó fer ; como a outras Ilhas , à de Sáõ Miguel
afrontofo appcUido
chamarão, Unha na palma querendo fignificar ferem ladroes; & hc fal-
•,

fiílimo, por fempre ferem os da tal Ilha homens de rtiuyto jufta cóntaj
pefo, & medida. Quanto mais que querendo niíTo infamar fua cabeça a
Ter*
'V
Uivio VI.Dá Regia f lha TèrCeyr^
,>- -TJ-

Terceyra , niffo mcfmo a acreditaõ mais , pois fiiflo fignificaõ fereíift

tam valcrofos os naturaesda Terceyra , que bailaria terem faca com


ponta , para vencerem a Caftella , & por itto efta liics prohibiria o tra-
zerem faca com ponta ; & poderia efta prohibiçaò fer ( fc verdadeyra
fofle ) a may or gloria, & honra da Terceyra , & muy tomais por fer ( fér
ofoflfe) de ferem os mais verdadeyros Fortuguezes, acodindo pelei
mais verdadeyro ,& varonil único Portuguez que entaõ havia para á
fucceflaõ do Reyno, & a quem- tinhaó acclamado, Lisb9a, Porto,Avey.
ro , & as melhores terras de Portugal. Atèqui a fubftancia da R^elaçaõ,
que tenho em meu poder.
3 39 Donde le íegpio (diz Fruâruofo Uv. 6.cap. g i. ) que com
DMferttlidadtem^kr entaõ a Ilha Terceyra tam perfeguida de Armadas , & de tantas na-
toda A Ilha Terciyra çôes eftrangey ras , he tal fua fertilidade , &
tal a bondade da terra j que
tornoHlogokf«ama. jogotodafe recuperou, &poz tam rica como era dez annos antes , &
yvr riqnt^a^&irm-
^^^^ jj^^ terem morto , gaftado ,/& levado tantos gados, que a todos pa*
^- recia naõ haveria mais nella gado , em breve teve tanto, que nunca teve
mais, & logo tal concurfo de navios ,que por vezes paífavaó de cento
juntos no fcu porto, de índias, Brafil, &-eftrangeyras naçóeS} fendo que
fó a Cidade paíTa de tres mil vizinhos , & de muytes mais as Villas , &
cí b^^ lugares todos.
•?^9»>S^-V.. ^iMm

C A P I T U L Q XXXI.
? -Da glorio/a Âccíamaçao delRey Dom João IF, na
Ilha Terceyra,

Evidente juftiça da Screniffinia Cafa de Bragança àCo4


34° A roa de Portugal anda já taó demonftrada, & por tantasj&r'
f\
tamfabias pennas,que parece efcufado demonftralla mais ; & fó he de
reparar , que aflim como na intrufaó Úc Felippe II. em a Coroa Luíita*
na, nem houve quem acodifle pela Sereniífima Senhora D. Catharina,
nem quem fuftentaíTe ao Sereniífimo Senhor D. António, ainda depois
de o acclamarem , & por elle acodio unicamente a Ilha Terceyra , & o
fuftentouRey acclamado quaíi tres annos, & com as jà ditas guerras:
aflim agora também fó a mefma Ilha Terceyra padeceo a guerra que
veremos, porfuftentar aacckmaçaódefcuRey Portuguez Domjoaó
IV. E porque defta guerra fez Diário , quem a toda ella afliftio na mef-
ma Cidade de Angra & naó fó era teftimunha de vifta , mas de grande
,

credito^ a efte Diário feguiremos , com apura verdade da fubftancia


dos fucceflbs, fem attender ao que outros de vaga ouvida dizem.
J)e como chegou a no-
341 Acclamado pois ofeliciflimo , & fempre invifto Rey D.
tfada acclamaçaÕ à
TtrcejYA & hêuve Joaõ IV.
na Corte de Lisboa em 6. de Dezembro de 1 640. & logo por
,

fjHem * deu 40 Qo- todo o Reyno de Portugal , &


Algarve çom geral acclamaçaó , fem ha-
vernador deCdfiel/o, ver guerra alguma , mas toda a paz , & applaufo , logo cm o principio
& efie fè" A Cidade dejaneyro dei64i. mandou onovo Rey huma caravela à Ilha Ter-
,

Jimfí declararem fe ceyra, &• nella ao Capitão mòrdáVillada Praya Francifco Dornellas
biítõ prgparMÀo fára

ngHerrm
da Camera , natural da mefma Ilha , & fidalgo bem conhecido , que cn-
ca6

1:^

^*
.Cap.XXXI.Dàs prepar.q o Càftel.fez contra â Cidade. jgs

tao íc achava Lisboa; chegou âcârâ?êiââdità Villà da Pràyà ém f


cííi

do dito JaiKyro, aos 3. pelas quatro da madrugada eftava jà o envia«


&
do Francifco Dornellas na Gidade de Angra , em cafa de outro fidalga
quatro
Joaó de Efpinola, com quem era aparentado i êc porque jà havia
mezes que era morto o Corregedor em Angra , com quem também ha^
via communieâr ofegredo, commumcoU-o entaó àt^dit© Efpmolaô
fegredo, & ordens que trazia o que ouvindo o Efpinola , & fahindo-fè
-,

de cafa, deyxando nella ao Dornellas, fe foy ter com D. Pedro Ortm


de Mello, Alferes mòr do Caftello > & ambos foraô logo à Fortalezai
& deraò conta de tudo ao Meftre de Campo que a governava , chama-
do Don Álvaro de Vivèros o qual em ouvindo tal , véyo logo abayxo
-,

à Cidade , & fallandocom o Provedor da Fazenda Agoftmho Borges


de Souía , foy logo bufcar o dito Capitão mòr da Fraya , que .acaucela-
do fe tinha jà tornado para a dita fua Capitania , &: o Caftellaô fe reco-
Iheo ao feu Caftello.
342 Logo o dito Governador do Caftello mandou tirar a pól-

vora que èftava no Caftello dé Saò Sebaftiaó , & a metteo no feu mayor
Caftello de Saó Felippe & nâó fó fe proveo de todos os mantimentos
-,

para fuftentar qualquer cerco que fe puzeífe à praça j mas tarnbem mi-
portunava continuamente aõs do governo da Cidade pormais, 6c mais
provimentos & pofto que nâ Cidade andava jà rota a nova da Accla-
:

maçaó do novo Rey ; comtudo como a Camera ainda naó tirtha carta
delHey y & a efperava , naó fe declarava ainda , Sr fo contemporizava
com o Governador do Caftello , permittindo-lhe algumas coufaS,&: ne-
gando-lhe outras , & preparando- fe occultamente o mais que podia; pa-
ra o que comprarão humas boas cafas^o canto da praça , èí nellas arma-
rão hum corpo de guarda, com bayxos,&: altos para mettérem nelle fol-
dadefca dé guarniçaô}Ôf defta forte fehiaõ preparando, fèm fe declara-
rem, os do Caftello grande, & os da Cidade , hunS contra os outroSi re-
íjuerendo o Caftello à Cidade , que arrazafle a Fortaleza de Saõ Sebáf-
tiaô , por temer que ficafle a Cidade com ella , & naó veyo nííTo a Cá-
rnera.
rtiòr da Prayá mettiá de guar-
343 .
Já néfte tempo o Capitáó
da foldadefca nà praça de fua Villa , & chegado o Domingo dé Ramos, Como etn %^.àtMat
ço de 16^1. foypH^
25. de Março, com a Camera da Villajôc todo o poVo acclàmou folem-
blica mente accUma'
nementc a ElRey D. Joaó o IV. & nefte tempo o Prior do Convento do ElRey D fom o .

de NoíTa Senhora da Graça, & hú fidalgo da Cidade , chamado Eftevaõ IT. na f^f liada Pra- ll- !
da Silveyra, por efte fcr dos principaes da Cidade,& o Prior fer Confef- j/a pelofida Igo fett Ca •
for do Governador do Caftello, foraõ ambos fallar ao Governador, que pi^dõ mor Francifco
fequizcfle entregar, por evitar tantas mortes, como fe feguiíiâõ do Dornellof da Cam»»
ra.
contrario porèní o Caftellaô , naó obftante ter dado a entender , viria
:

ein borts partidos , prendeo logo aos dous, &


em a prizaó morrerão am-
bos; &: no mefmo dia 25 de Março, mandou o dito Governador do Ca^
.

ftello chamar os oíRciaes da Camera de Angra para negocio que im-


porta va ao fer viço delRey mas ellés mais acautelados fe efcuiílraô &
:
-,

Jjara mais disfarçarem , mandarão logo pòr duas companhias


de íoldíi^
dos nos caminhos queda Praya chegavaó á Cidade dando a entendes:>

que naô confentiaó na Acclamaçaõ da Prayâj & nos mefmós í 5 de Mar» .

§0

'tt'1i
Livro VI. Da Regia líha Tcfceyra,
ço puzeraõ outra Companhia no novo corpo da guarda da Cidade.
344 Ja neíte tempo íabiaô os da Cidade , que o Çafteliaõ ti-
nha d'antes determinado dar de repente j na fefta feyra antes de Lazaro,
repentino afialto à Cidade,&
^ P^^^ ^ íentir amotinada , o dilatara para a
quinta feyra da Semana Santa , quando mais defcuydada eftiveííe a gen-
te, & á matar , & roubar quanto^udeííem , & recolherfe outra vez ao

Caílbllo i & dilatando mais efta refolução , mandou na fefta feyra de


Trevas o Sargento Rofelhon com efquadra de dez foldados, o qual no-
tificou da parte do Meftre de Campo do Caftello ao Capitão Hiero-
nymo da Fonfeca,& ao Sargento mòr André Fernandes da Fonfecaj
que lhe deííem ajuda para prender a António do Canto & Caftro, fidal-
~ go principal da ilha ; porque o dito Meftre de Campo ordenava , que
°" "^^^"^^ 'O'^ vivolho levaíTem ao Caftelio. Refpondeo o Capitão da
^''ZZoVvTdJci
TJeTcciamar leiú
g"^^^^ 1"^ nâo podia fazer tal fem ordem de feu Capitão mòr j & indo
ElRey Dom foado ^mbosao Capifaó mòr , & jà defronte da rua . & Ermida de Sac Joaõ,
IF. & começar
çat a períuadindo-fe o povo que o Capitão hia prezo , correrão a elie folda-
guerra. dos da guarda , & povo, & o trouxeraõj & os foldados Caftelhanos ven-
do ifto Òc acodindo ao feu Sargento ,difparàraó as píftolas , que alèai
,

dos arcabuzes traziaõ > & entaõ o povo levando dascfpadas, levanta-
rão as vozes, & clamàraõj Viva ElRey D. João olV. & querendo ainda
os Juizes,& Vereadores do Senado apaziguar a contenda,para declara-
rem a guerra quando eftiveííem mais preparados, o povo jà junto, & ai=
voroçado o naõefperou , mas indo fobre os Caftelhanos,matàraõ logo a
hum, &: ficando ferido em hum braço Manoel Gonçalves Cacvaõ , A1-»
feres que alli entaõ fe achou com o Sargento Mattheos Cardofo, os Ca-
ftelhanos fe rei;iráraõ ao feu corpo da guarda da porta do mar junto
4
-Alfandega, & dahiao Caftelloj& o povo todo, junto jà,naõ fazia mais
que acclamar a ElRey D. Joaõ ,& pedir armas aos do governo.
345 Nefte tempo tinha o grande Caftello quinhentas praças
de foldo , & com ellas mais de quinhentos vizinhos , mas fó quatrocen-
tos capazes de peleja , fora os que lá tem officios particulares , tinha
mais todo o género de armas em grande abundância , & pólvora rnuy to
de fobéjo ; & cento & feíTorita peças deartelharlM , quaíi toda de bronze,
& muytas de calibre de mais de trinta & féis arráteis de bala ,
& quaren-
ta & oyto artilheyros pagos , além de outros ; & niantimentos de boca
em grande abundância 5 & tinha também com prefídioCafteihanoo ou-
tro fronteyro,& menor Caftello, chamado deSaô Sebaíl:ia5,& com
quatorze peças de bronze , com que de huma , & outra parte dominava
&
o porto, a Cidade, .k com o corpo da guarda que niettia na principal
porca do mar, & da Cidade junto à Alfandega.
346 Pelo contrario a Cidade, qued'antes fe fiava nos ditos
Caftellosj aguardas, como em fua principal defeza,naô tinha folda-
defca alguma paga , mas fó a fua Ordenança , & nem ainda no Caftello
dos moinhos tinha artelharia ou gente algúa j & nem o corpo da guar-
,

da, que com efta occafiaõ de novo fez , eftava ainda expedito na praça,
:

& nas cafas da Audiência fez o primeyro corpo da guarda , & nefte en-^
trou de guarda o Capitão Conftantino Machado , & o Alferes Manoel
Cordeyro Moucofo com a fua Companhia j que foy a primeyra que en-
troa
Cap. XXXIÍ .De como a Cidad-fez trinchelr. cõt .o Caft.3 fj

ciou de guarda em a tarde da fegunda feyra 25 dç Março ,


. &
aos 26. na
terça feyra íahio, &
entrou çra teu lugar o Capitão Hieronymo da Fon-
íeca , fiino do íobredito Sargento mor , ôc cfteve acè a quarta feyra , em
que o povo acclamou a ElKey Pomjoaói &: nem pólvora , nem armas
expeditas tinha ainda a Cidade , por eftarem ainda fechados os Arma-
zens,&: as chaves na maÕ do Capitão Chriftovaõ de Lemos de Men«
d-oça, que fe tinha recolhido ao Caftello , &
nem feu filho as querer cn-»
tregar » Sc fendo prezo, fó ao outro dia as entregou.
3 47 Impaciente porem o povo de fe ver fcm armas, remetteo
logo às portas dos Armazéns com machados, & ferralheyros para as ar- cgmmilainrsmHi
rombar, & arrombada a primeyra, & achada a fegunda porta aoerta , dev ^^ ^ Virgem Senhora
íaó com a tercey ra porta , mais forte , &
mais fechada i entaõ o Padre Áa Saúde em a prsfa
António de Abreu da Companhia de JESUS, valendo-fe áãVk^cm da cidade fez. abnr
Senhora dâ Saúde , entrou na fua Ermida aUi vizinha , & trazendo dei-" ^"^
dapohora, d^
'*'''*'*'^'*'''*
la a chave , com ella abrio logo â porta , fendo chave totalmente diver-
^f^'"^-i

íiíTima ; o que todo o povo lq||o attribuhio a milagre da Virgem facra-


Eiííimai & acodio a todos com pólvora , bala , & armas j &
o provimen<
to de tudo commetteo ao Licenciado Manoel Rodrigues Prcto,íino,&
valerofo Portuguez i & ao mefmo fe cntfegàraô a$ chaves , que no dia;
feguinte apparecèraò. '

54,8 Ainda na mcfma quarta feyra de Trevas , vendo o MeftrC


de Campo do Caftello o alvoroço grande que andava na Cidade, man"
dou âfleftâr huraa peça ao corpo da guarda da praça da Cidade , & ma- ^w q»àrtA feyrK áè
toa a hum foldado pedreyro, & ahuma mulher Terceyra que vmhade^'''*''** ^7 -de Mar^
Sao Francifco & ferecolhèra ao ditocorpo daguarda: logo difparou ''tr,TZ'*rVT'.
,

fobre a Cidade muytas outras peças de artelhana que por ficar o Caf- ^^^p^^arre k cidade
,

tello muyto alto , & muyto çm bayxo a Cidade pdflavaô as balas por ^ fi morreo hi ho.
,

fima,ou cahiaõ , matarem alguém mais. Parou pois o mem,&hHA mulher,


<em naquelle dia
Meftre de Campo , & cíperou fe hiaÕ alguns da Cidade rccolherfe ao ^^j"^ ^« Caftdha^
no tinha fidopHmey
Caftello ,& vendo que ningucm hia , mandou hum Sargento abayxo,
dizendo que queria raandaT metter guarda na porta do mar,& Alfande- ^*
J//!" ^f^ojl^!^'
^*
ga;&refpondendoa Cidade que lalnaò confentiriaiO que vendo o "

Caftello , fe fechou com toda a fua gente , & a Cidade logo tocou cay-
xas de guerra em todo d feu termo j & hum Mattheos de Távora dos ,

principaes da Cidade, & hum Clérigo Vigário das Fontainhas , ambos


foraô pela poftà de çavàllo à Praya , pedindo ao Capitão mòr Francif-
co Doraellas da Camera , que acodi^e íogo com a mais gente , & armas
«juepodcfle,

CA P I T U L O XXXIL
Cmne^a êgueffaplm tYimheyrms rende^fe o Caftello de
Sm SebafimÕ j ét aeclama-fe ElRey D. Joaõ o
'

ÍV. na Sefolemnemente.

N A mcíina tarde & jà tarde


, da quarta feyra de Tre^^âs
,

1% de Março , veyo a fqldadefca de Sao Bento , & Vai


s
Livro VI . Da Regia Ilha Terceyra.'
de Linhares çop\ o Sargento Álvaro Martins Mayaj & logo veyo oCá^
pitaõ da R.ibey rinha com bons foldãdoSj & porque os da Cidade tinhaõ
tomiado as bocas das ruas do quartel que confina cora o Caftello,& nclr
»-<«que (epo^loíPâv
^^ «"R^^^^âõ formandp trinçheyraSí para delias impedirem ao Gaftello
Cajiello &cõmba- ^^ inveôidas abayxo,,p©i; ifíb as ditai Companhias que tinhaõ vindo
us com que je for- <àDt&ttcyo daCidade,fora©logoajudar a fabrica das trincheyras. Venr
mkrai. dpifto o contrario Caftíello( além de eftar fempre batendp a Cidade
com artelharia , qwe pqr alta lhe naó fazia damno) lançou duzentos ho-
mens bem armados a impedir a fabricadas trinche yr as mas diante dos i

. .,- que as fabrica váó íe lhes oppoz a nofla foldadefca cem tal valor,& con?
Ôançiajque a pey to defeuberto , por naó eftarem ainda aíTentadasas
. trincheyras, durou efte fatal combate defde o principio da noyte de
quarta fey ra de Trevas para a quinta atè pela manháa , fem parar jamais
a mofquetariaj &
ainda a lançâj& efpada de huma &
outra parte, fendo
muy em que fe pelejava.
tas as

350 Os lugares , 6c póftos aonde íe deo efte combate , foraõ et

primeyro , & mais perigofO) aquelieonde chamayaó os quatro Cantos^


& nelle fe poz o valerofo Capitão joaõ de Ávila eom a fua Companhia;
o fegundo pofto foy aonde eftava encaó o Collegio velho da Compa*
íihia de JESUS, fobre a rocha, & nelle pelejava o Capitão Balthezar da
Cofta , & fua gente o terceyro lugar foy junto à Ermida de Noífa Se-
:

nhora da Boa Nova , que era pofto mais perigofo por mais patente ao
,

Caftello ,& nefte pelejava o valerjte Capitão Joaó Teyxeyra } porém


foy importante hurea peça de artelharia, que o fobredito Capitão Joaó
de Ávila tinha comíigo , que carregando.a de pelouro ,&: munição , &
difparando-acm boa occafiaó , fez tal eftrago nos Caftelhanos, que lo-
go fe retirarão com vários feridos , & mortos , & pela manhã fe achàraõ
os ttoflbs com as fuás trincheyras fufficientemente já formadas, comos
reparos feytos de fortes taboados , pipas cheas de terra', guarnições de

^51 Aòromper damanhtdaquintafeyraSanta, zS.dieMar-»


Da chegadd chegou á Cidade o Capitão morda Villa daPraya com muytos
à.à Ca^. ço^
fitaomor da Pray* Capitães feus & com mais de oytoçeyntos foldados de peleja , & todos
,

/"*""•* bera armados & grandes atiradores & logo chegarão mais fcis Com-
, j
'íh7'-orrT
* '
pantóâ&âinda do termo da Cidade, de Santa Barbara, de SaõBartholo-
raàorei.
meu 5 & Sao Mattheos , & três ainda mais da Villa.de Saõ Sebaftiaô, &
do feu lugar do Porto Judeo , & todas com feus Capitães , &: mais Ca-.
bos, & boas armas, & munições; & foraõ logo ás trincheyras com tal im-»
peto, & valer, quê dos Caftelhanos que ainda brigâvaó," matàraó a vá-
'i3l rios, & em appareeendo na muralha , o derrubâvaõ os iníígnes atirado-
res da Prayaj&r fendo qoe naõceíTava o Cafteílo dedifparar fua forte ar-
telharia Çohíe a Cidade, por mercède Deos lhe naõ fazia damno; Scgiem
aos moinhos que eflavaó atirodireyto do Cafteílo, fizeraódamnoal-
,

gum,8: mohiaõ pata o povo como d'antes mas nas trincheyras morre- $

rão algús , porém mais dos Caftelhanos.


551 Nefta mefma quinta fey ra Santa eftava ainda o menor
Cafteílo de Saõ Sebaftiaõ com foldadefca Caftelhaha , ^ com a voz do
Cafteílo grande de Saõ Felippe,&: com quatorze peças de artelharia,
Sc
Cap.XXXif.Das batarias fataes entre àlCidà(í.áí: Caft.

Scasraais de bronze, Sc debomcalibre,&importâva


muyto o render _ .. . .4.

efte Caftello , offereceo-fc a iíTo a forte


Companhia da Ribey rinha, ter-' g«;j;;£^^^^^^^^
filó & ajuntando-fe-llie logo de outra Companhia fó algus ^^. ^ ^ .^-^^^ ^^.^
da Cidade -,
^

aventureyros íoldádos deraô tal & tam repentino aflalto ao Gaftello,^^/;^ ^, s.Sebaftiaoi
, ,

q vie logo o entrarão , 5c feridos muytos


prenderão ao Capitão , &
com ^^ fickraõ frt^Jh <,

eile trouxeraó aos outros prèzos: o dito Cabo


fe chamava o Capitam andq^

Refpenhoj que deyxou naò fó huma mina de pólvora feyta , a que naô
pode lançar fogo , mas também a artelhaaia encravada , que os da Cida-
de deíencravàraó logo , & no tal Caftello puzeraõ de prefidio a dita
Companhia da Ribey rinha , que o tinha rendido j &: ao depois puze-
raõ por Capitão do tal Caftello a Luis Cardofo Machado ,
da nobreza
priíicipal da Cidade j & coufa maravilhofa foy, que era fe arvorando no
tâlCaftello o Eftandarte das Armas de Portugal , veyo do Caftello
ígrandé huma bala defgarrada , que deo no Eftendarte deCaftella , que
Sndaeftava adiante da Ermida dá Boa Neva i &
o derrubou. Foy tatu
importante ô termos efte Caftelloi que com elle feguramos o naõ poder
pelo porto vir foccorro ao Caftello grande, & o fegurarmos nòs por de-
traz delle os noílbs navios» que eftavaõ aos Ilheos & o
fegundo porto
;

das aguas de Saó Sebâftiaô ^ donde íe fahia a pefcar , & fe vinha entaô
vender o peyxe.
353 Ema própria manhã da quinta fey ra Santa foy faqueado
Cafte-
pelos noíibs foldados o quartel aonde tinhaó vivido os foldados
Ihanoscafados , de junto a Saó Gonçalo atè a Boa Nova , &: tudo bem
defronte do Caftello , que com fua artelharia acabou de arrazar
o tal
quartel continuando a furia dos foldados faqueàraó mais a nobre ca-
•, &
Alferes do Caftello D. Pedro Ortiz de Mello, fidalgo bem
co-
ía do
nhecido, mas que em razaõ de feu pofto fe tinha recolhido com caía, Sc
familia ao Caftello faqueáraõ mais as cafas de
:
Chriftovaó de Lemos
de Mendoça , de Joaó de Efpinola , ambos muyto nobrcs,&: que tam-
&
bém fetinhaó recolhido ao Caftello-, por femelhantes titulos fe fe i &
naõ fora á mão aos foldados , outras muy tas mais cafas fe faqueariaó,poi:
ferem de pefíbas , que fendo Portuguezes , tinhaó jà d'antes , incul- &
pavelmente, algum pofto, ou ofíicio no Caftello j mas impedio-fe o cf-
^
feyto. j •
rt ji-

354 Continuava porém fempre ( ainda neftes dias de quinta,


fefta , & fabbâdo da Semana Santa ) a defeza , & fortificação das
trin- Em ^i. de Mar^ól

cheyrasfeytas, por o inimigo nem neftes dias ceflardè as acometer j &ífMadada AIUIhíà
tanto aflim que nem pouèraó celebrarfe os Officios Divinos da Semanal
««''»^«« o circo das

Santa por choverem as balas do Caftello fobre a mefma Sè, & mais 'ZtZ'*
, dlXl
Igrejas , & âtè fobre os Conventos de Religiofos , &
Religiofas j & nef-
J^„^^ ^^ de\uerr^
tes fe naó faZiaô mais , que com vivas preces j
penitencias , novenas , ^^ continnos cmU- &
orações a Deos pelo bom fucceflo defta guerra ; & com taes maravilhas tes com os do Cafitllo

«<? vinhAõ impíM^:


a favoreceo Noíto Senhor , que miíytas balas cahiaó dentro das Igrejas, ^
outras davâó aos pès da gente , fem fazerem damno a alguém i atè o «^'''»-
'^
&
povo fecular que náo hia à guerfâ , não ceflava de dià , nem de noyte,
de andar em continuas romarias, rogativas, & prociííbés , por ofids me-
lhor podiaõ, pedindo a Deos fofte fervido de concederlhes vitoria.
355 Dos que sntravão , ou podiaõ entrar na guerra , muytos
; li ij alènl
^^ Livro VI, Da Regia Ilhst Terccf ra.
alem das trincheyras feytas nas I^pcas das ruas que fícavaô defronte dir
Caftdlo ) inventarão fazer aovos Fortins, ou Baluartes j & deites foy
. hum o Capitão Galòr Borges da Gofta , fidalgo dos pnncipacs de An-
1í'*Zra%^^r4 gra.fiiho de Chnftovao Borges da Cofta, & irmaõ de outro Chrifto^
íft* e»^0 f»*tkítU,
vaõ Borges o mof^o , & cunhado de Joaô Merens da Silva, & cora eftes,
res Fortts contra o pay, irmac, & eunhado , foy toraar o arrifcado pofto da Alfandega, vi-
Cafiello^como chnf- zmho pelo iwar ao grande Caftello , ^ nefte ^ofto cfteve , & lhe mata*
tovaò Borges da Cof- j.^5 alguns foidados. Outro Fortim ) ou Baluarte fe fez no pofto acima

^^^^^^ Luzia. com trcs peças de artelharia , de cuja altura fe dcfcobre


T "^cfmffperelíw ^^^Caftello grande , & daqui fe mettèráo varias balas dentro do dito Ca-
aíTde T.cattJim-
os mercadores Irgul fteilo , & lá lhe fazJâõ grande damno j & efte
Fortim fe commetteo ao
K.ti no mais alto deS. Alcayde da Cidade Bartholomeu Gomes Doeyras, que o governou va*

Luzita, donde gran^ Jerofamenie, & ao Câftello fez dalli grande prejuízo*
des peçoí de hronz,e
^^^ &
^^^^ AfFonfo Gomes Feres , homem ricOj grande con-
^«"^f^^»^ > ^^'^ o^t^^o Redução . ou Fornm em o pofto que eftá acima ds
7rTd7tSellfZct
'
T" Santa Catliarina, onde poí- vinte foidados efcolhidos ,& alguma arte«
iharia, & tudo à lua culla, ^' smpediadaili 3 communicaçâo com a pon-
ta do Zifribrey o do CaftclIo , a qual fica para o Occidente, & defendia
t

a larga bahia do Fanai j & íicou rnetitaiiientepara femprc efte homeai


chamacdo-feoCapiíac Aífonfo Gomes Feres. Outro grande Fortinj
fizeiaõ os contratadores Inglezes que havia era Angra ,& no fobredico
lugar acima de Santa Luzia, ^ nelle puzeraõ j entre outras, duas pcçaS
de bronze muyto graíjdes » com que mcttiaõ as balas dentro do Câftel-
lo, & com tanto damno dos Caftelhanos, que fe repafavaõ muyto , & ef*
pecialmente do tal Forte dos Inglezes, pelo que lhes ficou muyto o-
brigada a Cidade , como a valerofos, & verdadeyros amigos. Outros vá-
rios Fortins íe fizeraõ mais por particulares, de que abayxo fe fará men-
ção & em todo efte tempo a Cidade tinha femprc na frontcyra do Ca»
:

ftello dez Companhias continuas, &ç continuamente pelejando com os


muyuos, que o Caftcllo tinha também fora das fuás muralhas,& a peyto
defcubertOk
357 Eftando tudo ji pofto ncfta férma , famofo j & ântig©
Capitão mòr de Angra Joaó de Betencor & Vafconcellos , neto do ou*
Solem-neAccUmaçao tro fidalgo do meftno nome, que tinha fido em Angra degoUado , fe
re-
feytaem ^"g*'^ •
f" foiveo entaõ com fua grande prudência , & madureza , a folemnemente

^^'^^^^^^ EUiey D. Joaô o ÍV. & para iíío efcolheo o dia de Fafchoa,
^I^^p^oreaUpitld
mirfaaõdeB:t!Kcor ^"^ entaó cahioem 31. de Março de 1641. & indo notai dia bem de
& FafcoMcellas em manha á Sè, & fazendo celebrar a prociífaõ da Refurreyçaô de Chrifto
,

Adargo, dia de Senhor noíío , fez logo armar outra prociífaõ com todo oCabido,Cíe-
5 1 Jc
Tafchoá^^fueficoHgo- relia, Religiões, Senado da Camers , & Povo , além de toda a nobreza,

TeuZthtâoTca "t ' ^


^ ^^^^g"'a chegando todos ao meyo da praça da Cidade , pegando
tad 'mhr 'da '^Praya
° ^^^^ CaprCaô mòr J©âò dtí Betencor & Vafconcellos da Real Ban*
wxndãdo ambos mi- deyra das únicas Armas de Portugal, a levantou bem alto , acclamando
dos o <j(itfekiviafa a grande voz por Rey de Portugal , ôf feu verdadeyro Reftaurador , ao
Ktr^com toda Annuõ In vido Rey D. Joaò IV. do nome j & logo fe feguirao innumeraveis
femfrt. vozes, & applaufos , repetindo a mefma acclamaçaó & fe foraõ acodií
i

aos que tinhaõ ficado nas trincheyraí pelejando , ôc continuando com 4


maisverdadeyraAcclamaçaõ. »

35 S Kcm
Cap.XXXÍIl.ÇGmo acckm.as Ilhas^íucef.de dous nav.^S^í
^
-'^f^
Nem
deve reparar, cm que o dito Capita© mor de
fe

iAngra dilataffe tanto eftaAcclamaçaõ , tendo-a tanto anticipado o oU*.


tro Capitão mòr da Capitania da Fraya na tal yilla > porque aífim ara»Í
fcos fizeraó o que deviaõ fazer j pois o Capitão mòr da Praya naõ tinha
alli inimigo aígum , contra quem fe prevenir, & prepararj & o CapitaS

mòr de Angra tinlia nella a grande , & inexpugnável Fortaleza de Saô


Felippe, o Caftellode Sao Sebaftiáo , o corpo da guarda do mar , Scú*
guns dos muy to nobres, obrigados à Fortaleza grande &
contra tudo
-,

ifto íe devia primcyro preparar , & prevenir j & aílim procederão acer-«

fadiíiimamente j donde veyo ficarem entaõ ambos os Capitães mores


por Governadores da guerra contra Caftella, &
nenhum detcrminac
coufa alguma fera o parecer do outro, &fó preceder femprc o Capitão
mòr de Angj:a por ellar em feu deftriélo , mas com tanta uniaõ feraprc>
,

como de tão grandes fidalgos fe efperava, & fe verá no feguinte

G APITULO XXXIIL
,Vs'-

Da Acclamaçaõfey ta em ouíras líbas^ &/òccorrò que


'y manítavaQ a Terceyra i&doque fuccedeo a dous
navios que eftavao noporto ae Angra.

159 A Nenhuma outra Ilha das


quechamaõ dos AíToreSjtiníia
- ElRey mandado âvifo,& ordem defua Acclamaçaõ , íe-
i: -
ir\
íião à Ilha Terceyra , & Cidade de Angraj porém a 6. de Abril de 1 64 1 ^'^^^ ««yíò

'^'^'"y^''f'^"l*^~
'''*
vieraô cartas do novo Rey D. Toaô ao Conde Donatário de S. MigueL
íàCamera de ronta Delgada,& Juiz de tora para o acclamarem , & aju- Mkttet^& S MariA
darem a Ilha Terceyra a cobrar a Fortaleza de Saó Felippe , correfpon- é" os Governadores
dendo-fe com o Padre Francifco Cabral da Companhia de E S
J U
S, ^í Angra o mãdkra»
que S. Mageftade mandava então para os Capitães mores da Terceyra "^f^'*''''*'' "'** "'"^
reduzirem a dita Fortaleza, &c. Recebidas eftas cartas , foy logo accla- ^'^^ ^^^'*''-
jnado o novo Rey em toda a Ilha de Saô Miguel fem contradição algúaj
& da mefma forte na Ilhade Santa Maria. O
que fabido pelos dous Ca-
pitães mores, & Governadores da guerra da Terceyra , mandarão logo
pedir a S. Miguel algum foccorro , & lhe vieraô de là duas peças gran-
des de bronze, & alguma pólvora , Sc algum ferro. O
que vifto em An-
gra , mandou efta às outras de bayxo o Capitão Vital de Betencor , ir-
mão do Capitão mòr de Angra Joaô de Betencor & Vafeoncellos , & o
Padre Frey António Euangelho , Francifcano , para que aGclamaíTem à t>ofbettrfe em quê
ElRey , como fizeraô ^rinib na celebre Ilha do Fayal , & na grande vi- *>* "yto llhai acediraS
zinha Ilha do Pico. à )ua cabeça a Ilha
360 O
Fayal concorreo logo para Angra com alguma polvo- '^''rcejra & do Ca-
,

ra, murrão , chumbo , & ferro. A' Ilha da Graeiofa foy mandado o Pa- ^"'^'^ '"'"^ daGraciò-

dre Frey Diogo das Chagas, também Francifcanoj & acclamado là El> ^'"^""^ Correada
Rey vieraô de là para Angra peças pequenas de bronze, falcões,& ber-
,

ços , & fazendo-fe o mefmo na Ilha de Saô Jorge , acodio efta também
^J^, ^ZZlfl
ctnèraídl ArmÍM
^om o m|is que pode, & muy to mais com a peffoa do Capitão mòr Ma- dt Angra, '

^ *
^ li iij
f,i!

B
Uyro VI. Da Regia ilha Ter ceyrâr
i!

HgeU iÇpírf a de Mello , fidalgode que abayxo faremos larga CíJençâo}


porque f§ lhe deo iogo o polto de Capicaò mòr da Armada de Angra.
I^ç, pçíèm de advertir que eílas ordés de Angra para as outras Ilhas ia»
]bia.^ (ta Prainha , ou porto dç Sa5 Mattheos , huma legoa da Fortaleza

çfiiricada i &
outras íaiiiaõ da Villa da Praya , três legoas da Cidade , &
áilguinas do porto da Villa de Sáo Sebaítiáo , &
também algumas vezes
49 pi^incipal porto, ou hahia de Angra, mas de noyte, &
em bateis,
pQf que o demais ira pedia a artelhana do Forte de S. António , que fo-
tmha a Fortaleza grande.
^lê@, porto
|6i IModitoportode Angra, quando começou o ccreOj& a
gmfn centra o Caftello j naô eftavaõ mais que dous navios , dos quaes
te.m já eftava carregado àe>, farinhas, &
vinhos para o Brafil,Sc outro na-
,v«jt<a^Inglcz, & demais huma caravela, já encalhada no noflb portinho de

pipas ao do Brafil queria o Çaílelldlevar junto às fuás muralhas , pa-


:

ra, fe aproveytar dos mantimentos qvie levava j& havendo na Cidade

quem fe oíferecia a lhe ir cortar a amarra , & dar com elle à coíla , foy
defcuydo grande nao fe fazer affim , & contentarem-fe com lhe atira-
rem algumas peças para o aífundir , porque ainda aíTim o Caftello o pu-
xou * ôí encoftou a fi de forte que fe aprovey teu dos mantimentos que
,,

levavai& fó depois o navio, com hum temporal queveyo, & com ef-
tar aberto da nofla artelharia , fó éntao fe foy apique & os Caftelhanos
-,

com taes mantimentos fuftentá^^o cerco ^muyto mais tempo do que


fem elles o podiaõ fuftentar.
; 362. Pelo contrario© Meílre do navio,fendo de noyte por húa
barca chamado ao Caftello , animoib foy ; & perfuadindo-o o Meftre
teUkoarâiãcm 9«f4e Campo que lhe quizeífe ir a CaftelJa levar hum avifo feu, contratcij
« CafitaZ. Ingltx. de cincoenta mil reis , & manti-
&
t^^;
^ j^ ^ que fe lhe deíTem logo cento

gZ^ZIÔtTcI «^en^i^os P^^a a jornada , que fim iriaa Caftella levar o dito avifo^ & con-
L
telh, & lhe levou fiado O Meftre de Campo lhe deo logo tudo o que pedia , & mettend©
nhtyro,mantímenm, mais na barca huns poucos Caftelhanos , que levavaõ o avifo, o Meftre
^^algãsfoldadoi.fem Ingkz fe foy com elles metter no feu navio j porém tendo avifo dos
ir daravifv^CaJiel.
fo^j. contratadores que na Cidade eftavao , determinou fahirfe para Inr
ia, maia Inglaterra.
^;^^^ç^^^^^ ^ OS Caftelhanos, fufpeytando-o , huns fe lançarão à barca,
fugindo para o Caftello , outros íb lançarão a nado , & foraõ logo apa-
nhados ,
da Cidade i & o navio Inglez fe
& prezos pelos Fortuguezes
fâhio logo, Sc deo comflgo no porto da Villa da Praya ,& dahi para In-
glaterra, dey xando ao confiado Meftre de Campo fem o dinhey ro, íem
os mantimentos qne lhe tiroa , & fem aquelles foldados que fe lhe

prenderão. x

GAF.
Cap.XXXíV.DaArmâd.^ levitou aIlha,&foc.aoCaft.§8f

C A P I T U L O XXXIV.
iM
Do.frmeyrofoccofro que Deyo deÇaflella , &foy tofnêh *

do pelos noffos da Armada peia Ilha conftitmdáy


j

é' vinda dõ Padre Framifio Cabral

â63 A Os
7.deAbril,cmhiimaterçafeyra,appareccodefroii*
/\
te da Villa da Praya hum navio , que Ghegandojunco ao De outrú àyàii toM
porto do lagar chamado Porto Judeo ^ foy conhecido fer de Caftellai i^e fidalgo MM»d
o

nelle vinha Manoel do Canto &


Caftro , filho de outro primcyro do '^^
C*»^» C4r^ &
&
nome , & neto de Pedro de Caftro Canto , & bifneto de António Pi- ^f;;^''« 7«t ^^
rcs do Canto , & terceyro neto do fâmofo Pedro Anos do Canto ^ todos f^^,^^-^ ^/y ^^ ,^^^
nacuraes, morgados, & fidalgos principaes da dita Ilha Terceyra > & ò Çoecono vinha aoCa',
dito Manoel do Canto que vinha no navio , andava militando por Ca-fitllo , (^fiy a pri^
ftella em fuás guerras , k achando-fe em Madrid * 6t fâbendo o
levanta- ffe^a fragata dê

mento da Ilha contra ó~Câftello , fe offereceo a Felippe II. para yiti^'''\ j'*" f
^^
compor' os tumultos daquclla lua Ilha , onde os melhores eraõ ífeus pa-
^'''»*«'« «'
^W^i
rentes , &com elles comporia tudo. Creo-o Felippe, & entregoulhe
humariào comCapiraô, & Piloto Portuguezes > Ôcmuytos foldados
Caftelhanos: chegado efte navio ao dito Porto Judeo , tomou hum ba-
tel,&: linguanelle do éftado em que eftavaa terra,& aíTim perfuadio aos
da nào podiaó defembaírcar fegufos ; &-fazendo-o aflim j foraó os Caf*
telhanos prezes ,& os Portuguezes livres,& anào confifcada pela Ilha
para principio da Armada que queria levantar j & o Caftello ficou fem Mc
ofoccorfo» ^ j r
paíTadoipoucos dias àpparecèraÕ mais duas fragatas qUè
364
vinhaó com avifos de Sevilha, 8c querendo chegar, &
fallar aos

Caftelhanos na ponta do Zimbreyro , o Capitão AíFonfo Gomes Peres,


Comi CapitdS Af.
^%MoGome,Per«sa
doReduaoque elle tinha feytopor aquella banda, difparou íobre
duas nàos tam boas peças , que as impedio chegarem ao Zimbreyro j & %ZlátTcathaH
paíTando adiante as ditas nàos para o Porto Judeo j em as vendo os tiof- ^^ impÀiochig^nin
fos , fé embarcarão logo muytos foldados , U
vários nobres na iiao em ^^ zimbreyro do Ca-
que tinha vindo Manoel do Canto &
Caftro ^ôc foraõanimofamente/í//í^»^ ^áw^^wí
fobre as ditas de Sevilha j & por eftas conhecerem o navio , fer o que ti^
nhaõ emfeufoccorro\

nha vindo deCaftella» odeyxáraó chegar tam perto, que lançando


^^-^^ j»»^-» to-
gcntcdentro nas duas fragatas , as renderão a ambas , ainda que com aL 2s^erZdaadTdt
guma refiftencía , mas fem morte da nolía parte } & matando a dous Ca- ^„y,^„j^ ^ ^^^^ J
ftelhanos,& ahum cortandolhe hum braço, de qiic depois morreo ^Of^^^^^^^^j^^^^^^
Hofpital de Angra , os mais Caftelhanos foraô prezos na cadea da Ci-
dade & as fragatas Sevilhanas foraó logo bem providas da noflfa gen-
;

te de guerra > & com a primey ra andavaô efjDerando quaefquef outras


que víeffem de Caftella j Sc as cartas que vinhaô nas fragatas para o
Meftre de Campo j leraó os dous Capitães mores , Governadores nof-
foSj& de nada entaó foube o Meftre de Campo fetião muyto depois
365 Em 1 i. de Abril apparecèraô huma nào, & huma carave- !

la, & cm os ftoíToS as veiido, mettèraó logo mais geíite de


guerra nas
.•';..
,. moíTâS
..•I,

ÍP Livro VI. DaRegiâ Ilha Terceyrâ:


que eftavao ancoradas nos Ilhèos , & foràô fobrc as
noífas três fragatas ,
que vinhaõ j porém chegando/ouberaó que vinhaó da Ilha de Saó Mi-
^"^^' ^ "^í ''° ""íí^^^ ^^^"^ Dom Joaó o IV. para Angra. Vinha mais
D^s deu, Capitães .'
vicraõl sVl^X "^ ^ "^/^°
hum Capitão da Ordenança de Ponta Delgada , chamado
Diogo LeytcBottlho, Diogo Leyte Jtiotelho de Valconcellos , que comfigo trouxe foldados,
& Manoel de Me- & dclles fez húa Compaíihià , com que aíiiftia no cerco do Caftèllo, em
deyros da Cofia, &o as trincheyras de noy te , & de dia , & fervio fempre taô
honradamente
pnmeyro trouxe híía como tam cenhecido fidalgo que era. E no fim de Mayo
feguinte vevo
Companhia de frUa-
^j^ g^g Miguel também outro Capitão, nobre, & rico, por nome
dos.comque mmte/t ijn^j j/->n.o^rrL 7-
Ma-
"*"v-^**
noí trincheyras & o,
"^^^ ^e Medcyros da Cofta , & a lua culta trquxe comfigo emcoenta
.

fegmdo trouxe outra homens j & andou quafi três mezesem hum navio da Armada da Ilha
companhia com e^ue Terceyia , fervíndo a S. Mageftade com grandeza , & valor , coma
andou na Armada (^UQm era..
de Angra.
^55 Defde meyâdodéFevereyro atei 5. de Abril partirão da
Ilha Tercey ra a Lisboa quatro avifos ai ElRey \ o primey ro foy hua caí
ravela de Gafpar Martins , vizinho de Angra , & a tomàraó os Mou ros^
& ievàraõ a Argel O fegundo foy outra caravela , que partio em Do^
A mingo de Ramos ,& tinha vindo das índias. O
tcrceyro foy terceyr*
'
'
caravela,que tinha vindo da Bahia, & partio em 25. de Abril, jàde4
pois de começada a guerra vinte & fete dias antes j.& nella foy com o
a^i
vifo o Capitão Joaò Teyxeyra ,& hum Religiofo Fráncifcanochama-^
do Frey António Paim O
quarto a vifo foy huma das duas fr^gatas,qué
.

tinhaõ vindo de Sevilha , & nella foy o fidalgo Manoel do Canto de


Caftro, &o Capitão Roque de Figueyredo eom dous Pilotos da llhaj
Gafpar AíFonlo , & Manoel Godinho } & efte quarto a vifo partio dous
dias depois do tecceyro , já em 26. de Abril, & fe dava conta de eftar
j^
S. Mageftade acclamado em toda a Ilha , & o Caftello cercado , & dos
fucceffos do cerco , & que foíTe fervido S. Mageftade mandar também
Galeões, que por mar o cercafleiii,&c. v.

^67 Partido o quarto avifo, chegou depois ( & ainda no mcf*


mo dia 25 de Abril } huma nào Olandeza , vinda de Lisboa , que leva-
.

va cartas delRey para os Capitães mores, Camera, Cabido da Sè, £r pa*


outras peflbas principaes , lou vandolhes muytooque tinhaõ obra-?
'Sanao Olandiz./tá ^^
de Lisboa trouxe ^° >

^
mandou também vinte cinco quintaes de pólvora ,&&
outrojf
pólvora , & bala & tátos de bâlajalèm do murraô,&: outras munições;& na raefma nào man*)'
,

€anai do Padre Fra- dou O Padre Francifco Cabral da Companhia de JESUS


, que jà d'an^
eifco Cabral daCom^tesúnhie^âdo
na mefma Ilha com o cargo de Vifitador daConjpa,
pan ia de /^<rp''^,
nhia,
ip^ra Superintendente ..
&
agora O mandava ElRey por Superintendente da guerra con-*
^'^ y-^n
r> lí u n r^ " y^i j
daguerra;com atjual^^^ ^ Caftello. E O Capitao Olandez entregou a ordem das pazes , que
.. 1 t

nko^ & com outrat á^ ElRey tinha fey to com os Olandezes da Linha para cà ; logo aos 2 /,' &
yieraõdo F^j/4/,' (^ de Abril fepublicàraõ na praça com toda afolemnidade militar }&
a
Jndioí.chegou aonít bamo
Olandeza, ficou afoldo tomada para andae
mc{m(yC^^ix.i.6 y
uaoi a 'í^w^í^^ííe
com a Armada da Ilha, que com mais outra nào Olandeza queveyodo
^^y^^' ^ ^",^^^ ^^^ ^"^^^^ *1"^ também do Fayal veyo, chegou a Arma-
JfdZ^Ja/l^jI'
etadapfla/lhaler-
7ejra,
da a onze nàos, que íuftentava, & pagava a Ilha Terceyra , efperandqi
âS contrarias que de CaftcUa vieflèm em foecorro do Ca ftello. í

Ainy zí. 30 «<: V-' tvíi

CAI?:
Câp.XXXV,Reb.& càoq.Sí iJoc.qaôCaft.tom. Ang.j^t

G A PITU L O XXXV»
í "afe^ís

De vários rebates,& choques ^mhõuveentaÕfiefiecet*


co;i^ do(ègmdofoccorrodeCafteliayqueAngra
tomou ao Cajleilo^ ;'

^6B TJf M de Mayo j quiótã feyra às onze horas do áia , fakiô


J.

XZ^ da Fortaleza o Gaftelhano commettendo as noíTas trin*


cheyras a molquctaíTos , & tiros de attelharia j mas foy tal da nofla par-
te a repofía dê humas , & outras baia$j que o inimigo fe retirou com
íious íoldados mortos de hu ma peça de artel haria jque difparou o Capi-
tão Affonlb Gomes Peres do feu Reduâro j de que fentido o ininiigo»
logo em o meímo dia às onze da noyte , tornou a fahir com tal fúria jque
durou o combate duas horas inteyras j atè entrar o dia da Vera Cruz na jy^ ehmtefataldè £
íí&i teyra j em a qual naó fó com innumeraveis tiros de huma , & outra ^ Mayo, de dia , &
parte i mas com peflbaes , & continuos encontros , à lança , & à efpadaj de nojte, vencendo ei
cm queda Companhia do Capitão Vital de Betencor chegou hum A\^ ^opt ,fem mnerè,
feres feu , por nome Manoel Gomes , com huma efquadra fua , a levar ^
TZ^.JÍ^l''
diante os Gaftelhanos atè o feu foíTo do Caftello, aonde ninguém tinha ' **•(
ygT^gg^yg'^ ^
chegado , & com tal valor, & tal fuccelToj que nem morto , nem ferido ji„tmm,
^
houve entaõ da noíTa parte , chovendo continuamente tanto as balas, ->
que da artelhaf ia deraõ rauytas no fronteyro Convento de Sa6 Gonça- [ ^
lo,& lhe íizeraó grande damno ; porém ( milagrofa coula ) dando húa \ c^i/r^^í^
!

bala de doze libras em humà parede de pedra , & cal , & de groíTura de (

três palmos, & furando a parede por onde eftava hum paynel de Santo
António, cahio a bala em bayxo entre caliças j Sc pedras que comfigo í

levou , & o paynel ficou iliefo , &: em fima , como d'ant©s j coufa que os '

que a viraô> julgarão por milagrofa.


569 AíTim continuava a guerra defte cerco, éctamporfiadaj^
trabalhofa? que nem de noyte , nem de dia fe parava nella j & em 20. do *'** *^p, ^ „
^
^y^
rnefmo Mayo, dia da Santiflima Trindade, commetteõ oCaíiello ^^^m^tur atnoBai trin*
ftoíTas trincheyras com tal fw ria , que durou efta peleja toda a noyte atè cíjeyras & houvá
pela manhã femdfífcanfo algum ,& morrerão doUs noiTos,& três fica- monos, ^ feridos^
raó feridos , & ainda mais dos feus , fem poder íaberfe o numero & lo- »"" ntuym mais dos
:

go no feguinte dia o valerofo Capitão Joaó de A vila com toda a fua CafielhaMos,& nofi-
Companhia foy por huns campos de trigo qUe ficaó debayxo da zrte-^J!'"^* ^L* - J^í** !*
Jharia do Caltello, & comtalreparo damolquetaria,que
^"^^^'^^^^^ lacdmfuaCõpanhia
Redudodo inimigo, & o inveflio de tal forte , que o entrou, & desfez, (^ i(^f„o„ ^ desfez, ,

fem poderem mais fervirfe delle & foy efta huma das mais perigofas>& ao CafieRo hu Red».
;

airifcadas batarias, que houve ncfta gaerra.Ê nefte tempo levantou An- ^0 'juefahira (jue <* ;

era duas Companhias de Averttureyros , & por Capitães a hum Pedro fojffaçaaha fatal ;Je
de Betencor , natural da Ilha da Madeyra, & á outro JoaÓ Ibre, filho de
'4Z"amaílTZ '^
Belchior Machado de LemoS , com foldo de quatro mil reis ao princi-
Avtntmyros.
pio^ & três vinténs cada dia logo hiim joaô da Foníèca Chacaõ , caI^-
:

tratador rico levantou à fua cufta outra Companhia com foldadoS que
,

íez vir das Ilhas dfi bayxo*


3/0 Aos
' '

LiybYI. Pákeàllliísf crceyfâ;


""^70 de Mayo cKégáraó àTilla d^ Praya dous navios
Aos 29.
^ornara» a vir áíFrancezes de I^isboa »& em huin delles Vinha Roque de Figueyredog
Líshea mais muni- que tinha ido de avifo , & hum Corregedor , por nome Manoel Fi-»
p« é- pólvora, & gueyra Dfelgado j & com elies vieraó cinçoenta quintaes de poivora, &:
,

haU-.eb- demaài^ar.
^uy to murraó & baks de artelharia, das quacs havia jà falta ^ pelas
,

_
muy tas que continuadamente fe gaftavaõ 6c juntamente Vieráó cartas
y

de b. Mageftade affim paraa Camera ,& Capitães mores, como para


,

as raayores peflbas com grandes agradecimentos de fuftentarem tal


,

cerco poftó ao Caftello & com grandes píoraeflas de foccorro /& de


j

prémios, &defpachos, aos que tanto os mereciaõ ; & ifto fó bailou pa-
ra todos íè animarem a continuar o cerco» &
a perder fazendas, & vidas

por conquiftarem a fortaleza tantaanima o premio a foldados!


:

^ 371 Nefte tempo lidava já o Vifitador da Companhia de JE*


SUSj o Padre Franciíeo Cabral , como Superintendente da guerra , déf
dar noticia ao Meftre de Campo do Caftello das ordés que trazia de S.
.
'
Mageftade para lhe communicarj & por mais efcritos que fez lançar no
foffo dos Caftelhanos de nenhum teve repoíla atè que com confelha
, ,

dos Capitães mores & outras peíToas do governo , mandou hum mu^
5

latinho do Capitão Manoel do Canto Teyxeyra da Villa da Praya ,&


das noíTas trinçheyras fahio com tambor , & bandeyra branca , & recado
}
por efcrito,&ò vieraõ tomar junto ao feufoíTo alguns foldados Cafte-
lhanos, & o leváraõ com rofto tapado ao feu Meftre de Campo , em 3 li
do mez de Mayo;& por hú Sargento,6c por eícrito mandou logo o dito
Meftre de Campo repoft a, que fe entregou ao Capitão JoaÕ de A vilai
que eftava na frontey ra & em 3. de Junho veyo do Caftello o feu Te4
j

nente âbayxocom o Alferes D. Fedro Ortiz de Mello &da parte dá ,

Cidade lhes fahiraó Sebaftiaô Cardofo Machado, & Thomè Corrêa da


^ofta , ( peffoas principaes da Cidade) & na guarita acima da Boa No^
nos tram de P.^ i
9 Padre Frãeifco ct va, Ihes
moftráfaó as ordens deS. Mageftade , que ao Meftre de Cam-
bral communicou ao po, entregando o Caftello , o fazia Conde em Portugal^ &
com dez mil
Cmtrnador do Caf. cruzadosde renda, & outros partidos ao Tenente, & Alferes do CaC
iello é ejuenada a- tello &: communicando tudo ao Meftre de Campo , dizendo que ha-
,
j

via dias fabia da offerta que fe lhe fazia , mas que naõ cabia em fua pefr*
^'^*^*'"*''*
S^ílf
'
"""*
foa,&c. E affim ficou a guerra como d'antes,& nem parou nos dousdias
deftasembayxadas jfenaõ fó nas horas em que hiaô , ^ vinhaô j & nem
em 30. de Mayo fe fez a prociíTaõ de Corpus Chrifti , mas fomente a fe-
fta em a Sè , onde pregou o dito Padre Vifitador da Companhia j & de
tudo logo veyo avifo a S. Mageftade a Lisboa em 5 de Junho. .

372 Continuan.doomezdejunho,&:jáaos20.delle, àhuma


hora depois do meyo dia chegou nova à Cidade, que da banda da ViUa
de Saõ Sebaftiaô eftavaõ dous navios de Caftella & tinhaô deytado jà ,

gente em terra , aonde chamaVaõ o Porto das mòs; o que ouvido mant ,

dàraó logo os Capitães mores gente de cavallo, & três Companhias de


Infancana , & da Villa da Praya acodiraõ outras três , & huma da mef-
rna Villa de Sao Sebaftiaô, & outra do lugar do Porto Judeo , as quaes
oyto Companhias tinhaô mais de fetecentos homés , além dos de cavai.*
lo ^ logo mandarão aos navios da Armada da Ilha foíTem fobre os de
s

Caftella, como fizeraõíogo. Os nofíbs da Ilha achàraõ jà a trezentos


Cafte^í
Cap.XXXV.do Vlitadof Ba Côp. Padre Fric.CabraL iff
^Caftelhanos formado* em teiTa,& conto ©CípitaÔ uaòie FraácifeoDof-
iieílas da Camera , Ç que era hum dos dous Govefófdore* } ciíihâ tam-
bém acodido, qurzeraô logo os noflbs inveftir , & deftruif a.Qç CílítsUw-
lios i que vendo em terra , & por mar tam fuperior poder , fem puxar
nem por efpada, no mar, & na terra fe enoregáraõ ,çom íhes darem íó as
vidas. . . ,

373 í*^^y tanto mais importante efta vitoria ,quanto feffl fan*

gue, ou fejrro j apparecerem alcançada,
&ç ió cojB & £em parar Angra
j -. ^

com o cerco, & çonquifta doCaftello, nem efte com fua artelharia, Ded^Asnaoseleg^erS^ &
JHveftidas abayxp & «indamais, porqaeácow privado o Gaíteíio naõ ^tf"
:
'/^/^^^jXgo*
fó dos mantimentos, mas das mumções, & gente que os navios lhe tra- ^emaÂor do Cafltllt
ziaõ, que fó de pólvora eraõ caaío &
ciacoeataquintaes ^ ôcoutros tan- ^uevinba emftfijos'
tos de murraô j & miiyto ehumbo,inuy tas armas, piques, & inftrtimen^ corro com toda age»'
t&s beUicos. Por Cabo da íoldadfiíca. vinha hum D. Luis de Viveyros, ^'i ^ muniçoem f«^
irmão d© Meftre de Campo do Cafteilo ceFcado,&; dous Capitães mais "'^^^'*'
jEom fkias mulher^, filhos, & &
com fees Al feres , Sc Sargentos , & hum
Corregedor Pertuguez pa raj! Ilha , &
todos , tomadas as armas , íorao
prezos naquellâ noyte para a Cidade j IscoCabo D.Luisfoy kvadopa-
r^ oCaftfillo de Saõ Sebaftiaé com hutlia pataca cada dia para feu fuf-
teníQ 2í o Corregedor na Goliveuto da Grafa cora hum Clérigo <5af-
i

telhano que também vioha, chamado o Padre Gaizaro, Da foldadeíca


íbraó logo duzentos & ciocoenra.paflados a Saõ Miguel , outros para â
ilha de Saó Jorge ^ outros a Lisboaj & a oueros dividwaé pelas ViMas, Sc
]t,ugares da uiefma Ilha Tereeyra.

3 74 Na vefpcf ado fuceeíFo Cobrcdito tiníiaó chegado de Saõ


Miguel duas nàos para andarem cora ú Armada de Angfa , & «Igús fol-
dados eona duas peças de bronze ,&: algumas farinhas j & aos z i do di- .

ío Junho chegarão de Li$lw5a à Vilía da Praya dous na^vios Franceses a


carregar de trigo, &
nelles cartas de S. Mageftade para os Capitães mò- i^^ ^^^^"^
lemhreií*

res, &: para o Collegio d» Companhia de JESUS nas quaes agradecia íjj^'^^'
,
^rímefl^é'
muyto à dita Ilha a lealdade ,& valor com que fe havia no cerco da l^^^içZes"é-neníònta
Fortaleza, dizendo: que tinha a tal Ilha nas meninas de íeus olhos, s„iseyrel &
que continuafl*em em tal cerco atè elle acodir, o que faria logo, pois fí»
cava ordenando huma nio de muniç6€S,&: atraz delia maíidaria hiia Aiv
mada de foccorro &
a todos pagaria bem feus fervicos.
\

575 E chegados os 12. de| Julho, ehegáraô também à Ter-


cey ra j & de Lisboa , hum pátaxo , & huflia caravela com repetidas car-
ias de Sua Mágeíladc para a<5aniera, ^governo de Angra, eheyas
de agrajdecinsentos , &
liovos oíFereciraentos de mereès 8c aos 17^. do 5

roefmo meZ aportou Ua Villa da Praya huma nàaOíandcza, vinda tam-


O 0% «V
bém de Lisboa,& iieílas três embarcações vieraõ fete Capipães cem feuS
officiíK^ , êc o principal delíes era Pedro de Cafiíro do Canto jfilíibo de
&
Díogo doGanto Caftro , ^dáígos natitraes da mefma Angra & eoni ;

çlles vicraó qilatro peças de brottze , huma de bala de 44. livras , oiitra
de 25. Sc outras de meisoí calibre , & cincoenta qoíntass de pólvora , 8c
duzentas &
cincoenta balas, 8r miíyto chumbo, quantidade grande áé
Riurraõ, duíetltas pàs , trinta pijdâíefâs , diazentas enxadas , qoatrocèn*
{^cípjadas j ácc. Ãctti^o era n€c#íla*ÍQis poí^^ue agu^erra mo ceffaTí.
íizm
M.

J94 Livro VI. DáRcgíâllhaTéícêyra:

nem de dia nem de noytc, & todas as munições de guerra eram poucaaíj
,

-por fe gaftarem logo.


il

' I'
'
' I n '

I nm i

CAPITULO XXXVL
, , Do avtffl que o Caftelh mandava a Cafiella , que lho to*
mouaCtdadeié' de outrosfuccejfosdefie cerco.

376 X T Endo-fe o Caftello fortemente apertado da Cidade U ,

y tendo tantas enxárcias dentro em íi» fez là huma embar-"


caçaõ para avifar a Caftella do aperto em que fe viai& logo por hum ne-
^f grododito Pedro de Caftrodo Canto, que do Caftello veyo à Cida*
de fugido, fe fòube nella do tal intento , & logo a Cidade poz no mar a,
Armada de vigiaj & em 12; de Julho ao romper da manhã lançou ao
mar o Caftello , pela ponta do Zimbfcyro, aíua embarcação com dez
Cafietto mandava a Caftelhânos
nellaj porem huma das noíías embarcações , que era a de
CafielU^^foy toma.
Francifco Duarte, o Sardo de alcunha , & do Piloto Lourenço Rodri-
do pilo Piloto Fra».
eifto Dftarte o Sardo
guez , com foldadefca , & dous Faljcóes de bronze , viraõ , & feguiraõ o
de al6Hnha^& entre' Caftclhano avifo, & jà o naõ podéraó alcançar fenaõ trinta & cinco le«
f«« aos Gsvernad»- goas ao Sul da Ilha , & invieftindo logo a embarcação Caftelhana ,ella
res. logo fe rendco , & a trouxe o dito Sardo , & a entregou aos Capitães
mores da guerraj & poftos os Caftelhanos a perguntas , defcobriraõ to«
do o aperto em que a praça eftavajái foraõ prezos, & mandados com
outros mais prefos Caftelhanos para a Ilha de S. Miguel.
377 Feyto ifto, mandou o Meftre de Campo da Fortaleza hí5
tambor abayxo com recado, & levado na forma de guerra aos Capitães
mores, feentendeo que vinha mais por efpia, afaber fena verdade era
tomado o feu navio de avifo,& fe eftavaó prezos feu irmaõ D. Luis , Sc
o Padre Guifarrò} porque aflimo diziaõ os noflbs foldados das trin-
cheyras. Mandarão os Capitães mores levar com rofto tapado ao dito
Caftelhano cnviadQ,Sc moftrarlhe os ditos prezos & certificado o Me- :

ftre de Campo , tornou a mandar outro recado , cheyo de ameaças de


fua artelharia , & fuás balas i ao que fe lhe refpondeo , que balas , & ar-
telhariatinhatambema Cidade, & que não tornaífe a mandar recados
femelhanteis , porque naõ tornaria quem os trouxefle-
378 Em dia de SaÕ Joaô Baptifta , & em memoria donoíTo
'Bafejla ^ite fefez. ao Rey D. Joaõ o IV. fe fez em toda a Cidade, & nas trinchey ras taõ gran«
fiove Rey dia de SaÕ de, & militar fefta de artelharia, arcabuzaria , foguetes , & invenções
de
foítÕBaptifla^& co- fogo, & tantas bandeyras fc arVoràraõ
de mais , que os do Caftello fe
mo fe ganhou ao Caf-
perfuadiraõ que os noflbs naquella noyte queriaó dar aflalto à Fortale-»
tello aguaritét que ti-

ttha^& fe deo forte zaj & nem de dia , nem de noyte parou a artelharia, & arcabuzaria de
bataria de fartt a huma, & outra parte atè que pendo os noflbs huma boa peça na trin-
3,

farte. chey ra da Ermida da Boa Nova,& difpárando-ade repente contra a


trincheyra inimiga queeftavacm a guarita dos alemos, naõ obftante fer
de telha, & ter reparos , tal eftrâgo fez nella, que matando-lhe dous ho-
més , & ferindo a muy tos
logo a defemparàraõ os Caftelhanos porèift
, •.

fuccedeo Ioga, que pegando por duas vezes , por dcfaftre o fogo na> &
noflas

"PP
li JÉII

Cap.XXXVI.Do avifo do Caft.a Caíl.tomad.pela Cíd. 39^


trinchey ras ,
jQoflas acodindo todos os noffos a apagallo , choveo tan-
&
ta artelhana, moíquetariafobre elles , &da noflVparte fobre os Caf-
&
telhanos, que durou a bataria atè toda a noyte, &
foy huma das mayores
.^ue houve nefte cerco , mas o fogo fe apagou & lem , morte de algum
:•!'

Seguio-fe logo vir fugido hum foldado do Caftelloa


279
metceríe com os noíTos , pouco depois outro , levados ambos aos
& &
Capitães mores , feparados confeíTáraò , o mefmo cada hum , o aper-
&
to em que eftava o Caftello , que de gente que pudçfle tomar armas, fó

viaó, & os eomèraõ & dos couros faziaó feus fapatos


,
,&c. o que ouvm- ^^ ^^: dt fulho, at\
d© os Capitães mores , mandarão a cada hum dar féis mil reis para fe ve- quajíojim do mex.^

ftirem, & mey o toftaò de foldo cada dia.


280 Aos 2 2, de Julho fe levantou tal maritima tormenta, de
vifto da
Nordefte, & tam furiofos mares , que nunca iguaes fe tinhaô :

noffa Armada anchorada aos llhèos , alguns


navios fe levantarão à vela,
fazenda den-
©utros íicàraò abrigando-fe, & ainda hum fe virou,Sccom
tro, dous dentro do porto deraó à cofta , que hiaõ para Saô MigueU
&
hum, que vinha do Pico ,le perdeo na Ponta de Saó Mattheos:
& du- &
.rou efta fatal tempeftade , com chuvas , &
furiofos ventos fobre efpan-

tofos mares , quatro dias , noytes , fem parar nem de noyte , nem de
&
dia- prevenindo osnoífosjnâo vieíTemos Caftelhanos ao
& comtudo
próximo a elles Portinho novo a bufcar bens naufragantes &
madey- ,

ras, tudo lhes preoccupàraó, pondo


fogo a tudo, & nem por líTo parava,
elharia , mof-
nem aqui , nem nas trmcheyras o continuo combate de arf
quetaria, & lança. ^ , a a n. j
581 Succedeo porém em o primeyro de Agolto, que citando
cm huma trincheyra o Capitão Balthezar da Cofta Pereyra ,& tendo
dado licença a muytos de feus foldados para virem à Cidade , &
as fm-
^^ ^^^^,,^^^^^-^n
tinellas poftas a dormir , defceó hum Sargento do Caftello a oblervar,
^^ ^^^ ^^^^^ ^^ ^
ík: vendo odefcuydo, & voltando com quafi fetenta homês , derao na '^rimejro de Agofia^

Companhia ào dito Balthezar da Cofta com tal repente , & fúria , que
lhe matàraô quatorze foldados, & ferirão fete, ou oyto, &
ao dito Capi-
taõ deyxàraó por morto com féis, ou (ç.t& feridas crivado: acodio porém
o Capitão Conftantino Machado como fcu Alferes Manoel Cordeyro 111 A
Moutofo, que eftavaõ àlcrca em outra trinchey ra vizinha,^ de tal forte
deo eftáCompanhiâ fobre os Caftelhanos,que dos noííos morrerão fó fe-
te,& outros fete ficàraó feridos, & fizeraõ retirar ao inimigo
com morte
de três, & muytos feridos, 6: ainda da outra Companhia defcuydada le- ^w^*!^
varão prezo o Sargento & dous foldados mas a que acodio , naó fó os
*

, ;

livrou de morrerem todos nem fó fez retirar o inimigo, mas


,
ainda lhe

matou, & ferio tantos, que do Caftello o Meftre de Campo mandou


loo-o pedir quartel para enterrar os mortos, & os noíTos de
enfurecidos

lho negáraõ -, &


affirma a dita Relação no cap. 1 5 que ao dito Capitão

Machado, & ao Alferes Cordeyro fe deveo efta defeza , & final vitoria,
uela mwvta vis;ilancia,animo,& valor com queacodiraô
nefta occafiaô,
-
^
KK ^

m
5P^ Livro YL Da Regia líha Terceyra;
& oíinhaÔ fempre moftrado nefte cerco, & fe vè ainda hoje no capace-
te, peytos, &
efpaldares do Alferes , que moftra-õ as cutiladas , & jança-
das que aturou j &
logo os Capitães mòrcs melhorarão as fintinellas , &
reformarão as guardas das trmcheyras, pelos motins que o povo le-
vantou.
-
381 Em
o mefmo principio de Agofto de 164 1. chegou de
Inglaterra carta dos Embay xadores Portuguezes que là efta vaò , para
osJuizes,& Vereadores da Cidade de Angra da Ilha Terceyra ,& diz
aííim.

(Cm* àos Tértuguei 383 Naopõdemos deyxar àe dar a ejfa Ilha ^éfãK M. S, emfeti
KesEmbayxadoresde nopíes os pãfahns do modo com que tem procedido contra os Cajielbams,que
JngUterra fará a /. occupm ã Fortaleza de Sao Felífpe, porque a^s novas que checarão a efie Rey.
{ha Têretjra, „Q^g Inglaterra , aonde ficamos por Embayxadores delReynoJfo Senhor , do
valor i&fidelidade dos moradores dejfa ilha na occajiàoprcjenteypofio que
bem conhecida em outras pajfadas ^ acreditarão mêfó a elles , mas aos Por-
tuguezes emgeral , que devemos todos darlbcs as gfaças particulares pr efta
facçao^de quefabemospnmeyropelo Fadrt Francifco de JESUSnatural def-
. fas Ilhas i que aqm veyo ter com ofim CufioAio , fica em no a companhia & ff
fiazendo algunsfervi ços a Deos. V. M. S. terãoj a noticia das mercês com que
Deos em Fortugalvay contirmando efta obrafiua dejlas partes do Norte :
fia-
remosfaber a V
M. S. que temos affemadas pazês com eftc Reyno de Ingla-
.

terra^ &
com França , ér Hollanda eftdoyl caj)ituladas j é^ afifim para lo-
grarmos perfieytalthtrdade ^efperamos brevemente amfio de eftar ganhada
efi-
Fortaleza no que , ainda que hayadijficuUade
fia j
( que he notória } nao pode
fialtarfimventnrofo doque teve principio tamfieliz, mau quando ofuc- &
€effo efta librada nos braços de taes Portuguezes^ que Deos guardii^cLon'
dres^.de Julho de 16^1.

D. 4ntóã4e-AImada.
Aos Juizest ^
Vereadores da Cidade «qrrío í-ty^ír ;

"^^ Angra^Hha Terceyra. Francifco de Andrade Lcytaõ.'


"vw[Srt&"t> À
I ~^%KUK'
i ', -, <!•i.
2Mi '..v.U;:.
'
- ' '
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í; A ]p:j t u lo xxxvii.
Dos fuccejjos âefte cerco defdeofim de Agofto ate o fim
de Novembro»
?j-sVí)í . fc! í.tO íiij >-.-i .;Sí; i;'«,V-S'!'i ..n>,J>'-ÍCii*

Os
dé Agofto puzeí^aò os Gof erniadoíes nó Rêduâro
384
A 18.
novo , acima de Santa Luzia ( lugar ímminente jpofto
que diftante do Caftello ) puzeraó duas grandes peças > huma de 44. de
,

^^^^^^^ ' ^ °"^**^ de 2 5 & de cada húa fizeraò dous tiros ao Caftello as
^'ãeS 'L^-^l^mct- .

r ^ atide^t'^íal 7de ^^^^ ^^ t3.Tâe,^z por naò faberem ainda o que curfavaõ/e vio dar hú tiro
iro do Caftello,&lhe
no campanário da Fortaleza, o qual eftáfobre as muralhas, & matou hõ
fezirandt dawKt. Cafteihano , & ferio outro j a outra bala deo na galaria do Meftre de
Campo 3 & lhe fez notável damno i & logo na manhã feguinte veyo fu-
gindo hum foldado do Caftello, & naô fó contou o referido , mas o ci-
tado miíeravel em que o Caftello eftava , & da nofla parte fe dobrarão
AÍ as
as vigias, & guarnições das fronteyras, ou trincheyras, pela temeridade
comqoe podiaófahir,defefperadosjà, .

. 385 NomeímoAgoftoemos zS.çhegou humanàoFranceza,


'que andava a corfo , com quafi eem homens de guerra , vinte & quatro ^-''^^'«•«^o Py^sèl
peças, & tudo o mais neeeirario , & tendo no mar noticia da guerra que ^^ ^^í
jer/eZa
a Ilha tinha dentro em fi , fe lhe veyo oíFerecer a foldo , & logo Angra Arraada f1^ titm
contratou com a dita nào , que fe ajuntaíTe ^ &
ferviíTe em a Armada da HolaHdtz.a | daM*.
Ilha, &: cada mez lhe dariaõ duas mil & duzentas & cincoenta pata- ^*y^'* veyo a fervir
casj &anàofemetteologo debayxoda Armada de Angra i 6í omeímo^"*" f'^fi^'^9\ &^tl
contratou com outra nào Hollandeza » que da Madey ra fe veyo à Ter- ^f*^^^"* vejofoldd^
ceyra militar a foldo j com que a Armada da Ilha jà lhe íegurava o mar:
ultl%vliik umr
& para o cerco da Fortaleza , ainda para a prefidjarcm depois de rendi- at nof^s trtnchewae
da, vinha das outras Ilhas concorrendo àTerceyra muyta foldadefcaj f«*;<» /i/»4 <íyíí/é«-
iSc fó das Flores , & Corvo vieraõ mais de feflenta foldados, que em húa ^''* *" "^0 f^^ía U-

caiavela trouxe o Piloto Lourenço Rodriguez > & hum fidalgo do$ de*'*" "**^. '^ ^^ '"'fj
Angra, Joaõ Mendes de Vafconcellos, levantou húa Companhia mais ?«*''»''''»/*>«íg^^«-.
à ÍUíí cuíki & as noíTas trincheyras fe reformarão tanto de fortiílimo pâo
piquç , ôc tanto fe chegarão à muralha do Gaftello , que jà a fua artelha-
ria naõ podia a ellas fazer tiroi &
tal vallado fe fez entre nòs, & a mura-
lha, que nem de pè podiaõ jà os Caílelhanos chegar às noflas trinchey-
ías, & &
fó mofquetaria fe jugava continuamente de húa, outra parte.
386 Em s.deSeptembro chegou caravela de Lisboacom hú 51^^ Setembro *-,
rf^-j 4-jA^T'-'T- ^ ef*t
«. . í
jir»
o f* , chtm ^
Gidadao de Angra João Teyxeyra,& cartas delRey pafa o§ Capitães ^^«My^z,^/^^^
X^.-
mòres^ & fomente ordens que fuftentaíTem ofitio & promeflas fó de boa, maij com cari
j

femetterem foecorro & novas das treyçõe^ que em Portugal fedef-


, j &p'romtffm^tm^ ^-w,

cubriraô. Dos cercados porém veyo à Cidade noticia , que atè dia de S. '"''*'*
^<^i
AligueloAnjoefperàvaô foecorro de Caftella„& naõ vindo traráriáô
f ntaó de bõs partidos êccntendeo-fe fer ifto , fó querer que nos def-
;

JcuydaíTemos j porque iia noy te da vefpera do Anjo vieraõ com fi lencio,


& fegrcdo grande j lançar fogo às noflas trincheyras ; mas os noíTos , jà
J)em deftros , naõ fó apagarão logo o fogo j mas com arcabuzaria , &
mofquetaria carregarão tanto fobre os Gaftelhanos , que fem morte al-
gúa da nofl*a parte, fe retíroUt) inimigo mais depreíra,& bem ferido.
.!: 387 Chegado o mez de Outubro fez a Cidade mais quatro
Companhias de nobres, de que os Capitães foraõ , dous da Cidade*
Piogo do Canto & Caftro j & Ghriftovao Borges Machado,& dous dà
Villa da Praya , Sebaíliaó Cardofo Machado , & Francifco de Andra-
de, Sc fe lhes fez huma grande barraca de telha no campo das Covas,en-
coílada ao muro do Convento de Saô Gonçalo , & cada Companhia ef-
tava vinte & quatro horas , & ronda fem pré , & vigia ás trincheyras , 6c
lintinellas dellasi &muyco fe emendou com efte ardid,
388 Aos
do dito Outubro ápparecèráõtres nàos , aque os
19.
da^Fortaieza fizeraô logo final defde a ponta do Zimbreyro , & recebe-
rão huma barca com doze homens -.mas do Gaftello de Saõ Scbaftiaó
íis6 fó impedirão mais o ufo da tal barca , mas fizeraô fiigir a$ três hàosj
& fobre ellas mandarão outras três da Armada da ílha , reformando-as
com munições de guerra , & demais cento & cincoenta foldados , cuy-
di>ndo que as três vindas feriaó foecorro de Caftella mandado ao Caf^
".^^xi^^ KK i] telío^i

m II
&foiiberaõ as noflas , por hum» baFqttmba, q-iie do Caftello voltava
píHraas ílíâã ôaoscoia cinco homê&dtíS do^c^ite tishaò éntracía no Ca-
..v.%-n ciiiwn
Á asBí.'
5i«
ítcllo , ííArtierraõ ferei® Hólkiíd€2afi?áigtrts ftàos , &
vmh^ô«iallhadeSaõ GMftova^tíift asIlldiaâ'deCâfteHí^i Sc eng?nar
! ès *!6**it. ^*^ dõ Gaftello, ftm hberem&éâáào em qut elíe eftava cenra Ilha , fã."
^jvv '
bieníte^-Q fe aufentàraõ.
"'"-
3.8^ ]>íom€Íi3ieteai.fF<?felTíttdiõa€ft^r^chí5^eaiâc V
tantoyque huma djs nofe praya dê Sao MatEhe©^
líáosáecráeôftâ 11»
pÈ *#««M>Aíj^gj faívando-fea gente ffe peídêoôCaiéo,& atargâ quêjàcinha pârà^
foMado fugidcí d^ CâftdlOs
^f^fat* J^Í^ para Lisboa. EneíJeRidiífâo dia vephs«¥¥
£wl«/M* tnejkiT}» & aos í|. de Outubro ^ no Pprt-infho tmo , fe
íhe fótnàrâé doti^. fôlda-
eomi^ir^ms, »»- do3 j gutí levados a©s Capitães mòu^iU pé>fto$ a p^fgttríCais , unani-
&
jr<« ímmítnd»cimi,ée irieineBtB GonfeíTáraõ todes á úkimá ittiferiâ ,efffi ^uéo Caftdlo eftava^,
^t haviaJkt»m0f*^çp^ç^ atèôNacallhe podêriaô thêgm os ittitytô liffíitaddS manti-
tas^tUttMt '" J^*
*"' '^"'**" em ^^^^
mente», & que já clsegavaó â com&t tam^ outras irti muhdicias, & vô^ U
ftidos jà ffâõ tinhaõ .) nem maãs que atè %vt%mm peffoas que podeíTem
tomar armífôi & vindo aos 34 do m^ cartas dô^ fere HõUandczesj que
no Caftello tinhaõ fido âpanllados éiiganâdãiftente j
pedindo os tdpt-
tafíensjfelhesrefpondeo>qtí€ vieífem pafa bayxo j Sreàos trâtapiam
bem , &
naõ tiôhaô fido caufa dê fcu câíil^eyrío ^ ^«ra m deVerei» tti-
gatar- -^-
.
'

^ .'- ^-
39<à Em z8.de Õatubrõvé^ofugiruiôôUtrôCâftélhano^óU'
«$tK« ii-õ eto dia de todos ps Santos , ác éftf tâ t© fidalgo Pédrô de Gaftr© dó
Canto que lá eftâva;c3livo>ôií dírentdj pedindo matitiffiêntos ,éc nlo fe
lhe deferiò ôc aos 6. de
f veml&fo vitraó mâiã èms fugido* para bay»-
Nd
TtQiU confeíTáraõ demais , quéjáfiéâVâô íioGâfreliótnaisde qiiafen*
tà doentes j outros qtle de foiíieiSc fràqttóZá jà na6 podiaõâíidar. Doí
&
^.atèos i2. deNoveiiibro viêtaè ftlâtó (ftâctò fugidos i & pelas trin*
cheiras íe declarou ao Caftellaj qtíe<^â ttâõ úr^ qaê êípefâr foçcor-
ro, pois lhe tinhaõ totíiâdo oàviíbq<Í?4ia âp#Uoj âí os Gaftelhainõí
certificadosdiâodfiíma^árâ6;i^>:'^d^io"r$tíJiiii^i'nfc^- *
391 (^inta feyfa 2S. áeHòvefnbi^o ehegotti^^^
Lisboa com caftas dè S. Mageí^ader- qoe áviando dof e ha-
fe eftavtaõ

yios córtí mil & quinhentos homêà & , íeu General Tfiftaó de Mehdo-
ça Furtadoi&quefe cefcd átèfuâ chegada- Logo a 3. dé
foftèntaíTe
Deè^embro os Capitães mores, com voto poí éfcrito dôs mais CapitâeSj
íequerèraó também por carta aõ Meftre dêCâmpô do Caftello , man-
daíTeabayxo reféns nobres par ã tratar erti rtcgociósdeinlportancia.Refj
pondeo, que fitiados na6 coftumàVaÔi de que, fe qiveriaó alguma coufa^
à com municáíFem por efcrit© , & reipííadefia } & líàõ fê f f atott-^âis dé
t«lintento<: ^
?: 1 B^

iii

„», t'.tí' ^r:-


.:oOÍ>-"ht <:•,;. ni
)í[^ CAP,
Câp.X5tXVlII.I)asnotííícaç/eitâiáõCaft.^eloVífit.3p^

.:
CAPITULO I
XXXVIII.
^

Bm inveftídits que os noffbsfizer aõ aos Reduãos Ct^fie*


íhmos;& díUembayxaddSjefcritoSy&peJfoã^iqm '&M
o Vífitadurdâ Companhia de JESUS fez
ao Cajlelío,

39 2 T^ de S;NicoIao, 6. de Dezembro, às fete horas dânoy^


ia
L/ fendo efta bem efcura , tenebrofa , & de chuva , o Ca-
te,
pitão Francifco Pires de Ávila , natural da Graeiofa j & o Capitão An-
tonioNogueyra de Araújo, &Joaô Falcaô, Sargento mòr da Ilha de D<^s tufyiosReduHe»
Santa Maria , & hum D. Vicente , & Manoel Xudrè , Sargento do Ca- t!".V''^'' -*'^'*'^^
pitaó Galor Borges da Cofta , cora ácus Caftelhanos avmdos , & huma
Í^^C^^^^j^^^:
boa manga de Aventureyros , & fubita, & intrepidamente inveftiraõ"^ ^upos a
, outros
epm hum Redudio dos Caftelhanos, & matando logo féis trouxera© fe- trof{xeraõprez.os,ati
te,&naõobíl:antefedifpararem da muralha quatro pedreyros fobre« ^o CaftcUo fe fe*
ellesj nenhum perigou, & fó dous foraõ feridos levemente ; & naõ que- í^^''"^ "'}'' » ismaa^
rendo renderfe hum Caííelhano , houve Portuguez que fe arremeçou ^^'-^i^/*'^-'-?-"
aelle, &otoraou às coftas, & o trouxe perneando atè as noífas trin-
cheyras, §c todos foraõ mettidos na cadea.
393 Em outra noyte , de chuva também, & efcurâ, 28. de Dé«
zembrojforâô dar os noíTos de repente em outro Redufto Caftelhanoj
êc cativàí'aG dous , que levados a perguntas difleraõ o melmo que ti-
nhaó dito os mais antecedentes ; & logo tornarão os noíTos a outro Rc-
dud:o Caftelhano & trouxeraõ outro inimigo o que verldo os do Ca-
, :

kU
ttello, defemparàraô todos feus Redutos, &fe fecharão dentío da
Fortaleza , fem delia mais fahiremi & os noíTos deraõ com tal fúria nos
Redutos, que os arrazàraô a todos , & atè as madeyras lhe trouxeraõj
paraasqueynaaremem noíTas trincheyras pelo horrendo frio que na-
quelleannoi& tempo entaõ fazia; porém vigiando fempre em fuás
trincheyras. E entaõ mandarão os noíTos Capitães mores embayxada
ao Meílre de Campo , que largaíTe logo o Caílello como ElRey Dom
Joaõ o IV. o mandava. Refpondeo que tinha dado deíle homenagem a
ElRcy Felippe,& queprimeyro havia morrer entre as balas.
394. Entaõ os Capitães mores com o Padre Vifirador da Cõ*
panhia de JESUS , no feu Collegio fizeraõ varias juntas , & confelhosi
De como ^&lz.AMia
êí aíTentàráõ de dar aíTalto ao Caílello por mar, & por terra} paira o que levar 6 Caftdh de af. m
fizeraõ quarenta efcadas para amuralha da terra, mUytos,& muycòMí'/'^'»''^''. ^/""^
^'^'"* .éoim^^Aioj
j & tudo d
fortes barcos para por mar aíTaltarem em o mefmo tempo
reais iieCeíTario,& ^"^'^z^" f
convocando âsmiliciásde toda a Ilha, defencertà- "^ J/ *-

raÕoSenhcrnaSè.emoprimeyfódeJáneyrode 1642. pregou odito V^^^^^, //«/S


ladre Vilitador , Sc fé mandou a todos confeíTar , &
conlmungar , & fe mnrdhM.
paííáraõ as ordés particulares ; &
pof eícrito a todos os Cabos , para aos
g.dejaneyrofedar oaíTaltopoí^todáapârtejde màr ,& terra, no mef-
mo tempo porém como o
i mar rio táí dia fe alterou de forte que impe-
dio o aíTalto marítimo , &; fe fufpendeo o da terra, & fó aos 6. de Janey- li

KK iij m

lilíi.
400 Livro VI. Dá Regia IlliaTerceyra.
ro hottve hum bravo choque ao pè da muralha, mas íem mortes de par-
te a parte,& fe tomou nova refoluçaô de lhes deyxarem acabar os man=
cimentos, &
tornarem- fe a propor alguns bõs partidos , com que íe en-
tregaflem*
3^5 Em 30. de Janeyro efcreveo o Padre Viíltador da Com-
panhia de JESUS ao Meltre de Campo do Caftello a carta fegvinte.
Peuco depou que mm
a efia Ilha enviado por ElRey Dom joao , nojjo
pá carta do Superitt' Senhor , efcrevt aV.M. com osfenhofes Capitães mores dellayprocmandope^
, tendtntf o P. Fra»>
Fortalezafem rigores de^uer^-
ciíco Cabral para o
^^^
V'^ tratamos encaminhar a reducçao dejfa
Coveraador d^ Caf-raj&comcommodídadedeV. Mmtflrosy& comofi naoconfr* M.&fem
tella, guio ú effeyto que pertmdt em cumprimento das o) des delRey , na& pajfey adi-

ante comtudo vendo agora que efles fidalgos tem, ceffado com as diligencias
:


'" ' "
• ^
ordinárias emfitiosfemelhantes ao em que V- M. efta, me parecefazernova
lembrança a V.M. da parte de S.Mãgeftadejpâraqm.vifto o ejiâdo das C0U--
faSi éy o aperto em que me eonjia efiar porfalta de mantimentos , & enfermi-
[ _ \[ áade da fua gente i trate V.Mde entregar ejfa Praça tpoú hedelRey Dom
.
Joav , noffo Senhor ifeyta em fuás terras , &com dmheyrode feu patrimoniot
fará que affímceffemmayoresdammSy&F.M.pojfafahirdefia Ilha com
beapaffagem que defejamos levando emfua companhia a fuagenteyé^ aofe-
5

nhcr D. Luú de Fiv^os ^fa tufazendo-fe com ter. dafua parte procedido com
tanto valor i &
ventagem , em tempo que nejie Reyno , ó^fuas Conqmjtas naò
ha Praçay que nao ejlejafugeyta a S. Magefiade que Veos guarde. E crea V,
M- de 'mm., que tanto me move a ijio oferviço do dito Senhor., como o de Deos,
ér quietação deV-M-é" certeza de quefe ijiofe dilatar hao de fucceder rui-
^

nas, que não poderey atalhar , &


me moflrarfavorável a noffa parte,
por não
VM digo a KM. o muyto qiie pudera dizer em razão dijto &
tomey licença,
:

com a de V. M. para efcrever a quê fera com efia a D. Pedro Orttz de Mello,
qtieK M.mefarãpermittir fe lhe de ^porfatúfazer a huma obrigação dt
qmme emarreguey. Guarde Deos a F. M.como dèfejo. Angra 30. dejaney-
fo de 164.2. Frâncireo Cabral , .

396 Foy eíla carta por hum Sargento noíío com ta mbí^j Sc
por outro Sargento com tambor da Praça veyo a repoíla feguinte:
Governa' Reconozcoel zelo con que Fueflra Paternidad trata las matérias conte-^
'Mepolia do
^^à,as enfu carta iperofontàles^y tan graves ^ que mfepueden tratar por car^
der do Caftello para o

fadre. tas, mas a boca trate FuefirdPaternidad los médios que para eflopuede hà"
:

ver, para que affife dij^ongalo que mas conveniere dfervíCio de Dios^y de S,
Mageflad. Guarde nueflro Senor a Vuefira Patermdad. Cafiillode San Fe~
.lippe,á:^í. de Ener o 64.2. Don Álvaro de Viveros;
397 Com efta repofta fe refolveo
o dito Padre Vifitador a ic
p^a jio Goverfta P^-^^oalmente fallar ao dito Meftre de Carápõ, &debayxo de reféns,
Caftello , & o Alferes D. Pedro
4or7om plTr7,& 9"^ ^raô O Gapitaõ da artelharia do
"o

refém de parte a par* Orciz dé Mel lo que íicàraõ em ás noílas barracas entre
,
os noflbs ; & o
Zf , &fófe conclHirah Padre Vifitàdor com fèu companhey ro o Padre Màncel Monteyro,que
iregoas ate onz.e de depois foy Provincial de Portugal foraõ ao Meftre de Cam po , que os ,

lez/ereyro em
^ tor- efl-^va efperaudo etf) mais de roeyo caminho, em o pofto quc chamao, a
noH o Cfello^ d,f.
g^^^.^^ cuberta, que he pof onde os Caftelhanos defciaÓ aos feus Redu-

& a efta
«^^os alh veyo acompanhado de Chriftovao de Lemos ac Mendoça ,
reftonder, ; ^
&aperullocadavtl dejoaõ de Efpinola , & de feu Veador, &: Pag-adorj & fentados todos
em
Miii

^sm cadeiras que para iííb tinhaó vindo dò Gaftello , tiveraó taiíí larga
.pratica, que durou atèxarde , & fem fe cojicluir couía alguma > íóíe ã;^ ;' &vieri»% ^
laííentáraò tregoas ,por féis dias j & fe voicàraòos Padres com os feus re- Léí^-í /jíew ««'^s
^fenSj,debayxo,dDsquaes crés vezes voltarão os Padres ate osonztáQ.Í''»o*t^^*í^_^i'JLt*h
.Fevereyroi & acabadas eftas tregoas , tornou logo a Fxjrtaleza a chòV«r<S®^i
balas fobiq a Cidade ,& efta a correfponderíhe ,& apertaila cada Vèi! -^is.

& de Lisboa vieraõ dous avifos > mas avifos fó, & naÓ os foecortbs

jmaisj
.|)rpmettidos, fendo onze jà de Fevereyro^

^ „ fia ultima re/õhçaõ da Fortaleza y & conclufao defkã


entrega-, itrefiado em quajicouaTetceyra.

39S
HL'
T7
de
'^
H- ^e Fevereyro , diâ de SaÔ Mathias , veyo à Cida: cmo/ipateoU a
embayxada do Meftre de Gartipo da Fortaleza com ffg^a da Fortaleza,
^
idaas cartas , huma para os Capitães mores j outra para o Padre Viíita- ^ íw 4. de Mar^à
dor da Companhia de J ESUS , dizendo que tinha de tratar coufas im-y* <#'»«..
portantes & que debay xo do eftylo coftumado fe viffem. Aos 1 5 veyo
-, .

abayxo o Capitão daartelharia da Fortaleza, &: o Alferes* delia D. Pe-


:drOj & paràraõ na Baracha j eftando toda a noíTâ gente riiilitâr com as
'

armas nas mãos j & em tal ordem, que os Embayxadores fe admiràfaõ • M'^

,de ver tam luzida gente i& pofta em tam militar ,& prompta ordem:
daUi partirão da nofla parte para a Fortaleza Sebaíliaó Cardofo. Ma-
&
chado, o Capitão Jorge Corrêa de Brito &
Mefquíta êc os Envia- 5

dos da Fortaleza foraó levados aos Capitães mores dá Cidade. E o que


deitas juntas refultoU , foy huma tregoa de quarenta õz oyto horas , pa-
ra nellas fe tíatar dos éapitulos da entrega da Fortaleza^
399 Aos ty. de Fevereyro, durante ainda 'adita tregòâ>veyo
o Tenente da Fortaleza > & o fobredito Alferes D. Pedro ,& em reféns
da noíTa parte foraõ o Capitão Diogo do Canto & Caftro, & o Capitão
Francifco Pires de Ávila, dâ Ilha da Graciofa , & os da Fortaleza- aprc-
íbntàraó os capítulos do que pediaõ que viftos pêlos Capitães mores
;

da Cidade , determinarão , & mandarão o que fe lhes havia coriceden


Em o primeyro<jle Março tornarão abayxo os ditos Tenente, & Alfc- ^

reSiÔí: da noíTa parte acima foraó o Capitão Chriftovaõ Borges Ma-


chado, & Pedro de Betencor , Gapitâ5 de Aventurey rosj & neftas ida:^,
& vindas, êt fempre com reféns de parte a parte,& a milicia fempre com
as armas nas mãos, le gaftàraõ os dias atè os 4. dé Março.
400 Em o dito pois quarto dia de Março feaílíriàráõ de parte
pane as capitulações da entrega da Fortaleza;& nem palavra diz mais
SI

a Relação que àtèqui fomos féguindo,recopilando aífibftancia do priti-


Cipál que tra^ ém virtte 8c feiS capitules , cfcritos naquélle tcmjpo, ha
5

miais de fetetitá ailnos êt pofto qoe nella naõ fe affina Author algum^
-,

delia fe colhe fór homem feèular íer verdadèyrò & lifo fem fe lhe no-
, , ,

tar payxaô a parte aígCiâ, pelo què a temos j §£ julgamos por rauy to vet-^
dadeyrãi
401 Eriá

m WÊmm
4^i LivíoVLDaRealUhâTercéyí-âr
401
'
Entregada a Fortaleza aos Capitães mòreSvque goVèf-
^apofeijiuefetâmofí^^^^^ a Cidade de Angra, tomàraó eftes poííe deila em nome do felii
ida Fortaltía, ^ftefe GÍÍIimo Rey D. Joaó o IV. & mudàraó-lhe o nome de Fortaleza de SaÔ
0kamoH d* Sãò ^eaS Felippe , em o de Saõ Joaó Baptifta 3 como fe chama atè hoje & fendo
j

a Fortaleza tinha , quando fe fechou em refiftencia j mais de quí-


£/£ Z)'Sr/ê^"^
é'd7comorahftíi0or^^^^^'^^^^^^^
de armas, poucos mais de duzentos fahiraó capazes del-
las, mortos OS mais , ou na guerra j ou de fomes & doenças & da parte
fite eftavaSneUa (^; , j

feforaô os ^He^Híít- ^a Cidade fe achou morrerem em todo o cerco cento & vinte , & muy-
íFMpara C^fidla. tos das feridas que tiveraó. Sahiraõ os da Fortaleza com pa£tos honro-
fos, de efpada , & bom trato & muy to em efpecial o Meftre de Campo^
\

5c feu irmaõ & aflim a eíVes , corrlo aOs qlie com elles ít quizeraõ ir , fe
}

deraõ embarcações feguras , & mantimentos para a viagem ; porém na©


potiGOS quizeraõ ficar na Ilha , por ferem calados nella j & naõ fó a ef-
tes fe lhes naõ deo trato mào algum , mas nem ainda aos PortuguezeSj
que por terem ofíicio na praça , tinhaó là ficado , antes fe lhes reftitui-
raó todas fuás kzendas de raiz 3 &fervira6 ao depois com mais fideli-
dade a leu Rey Portuguez , do que a tinhaó guardado ao Caftelhano
Reyj & a eftes conhecii como a D; Pedro Ortiz de Melloi a Chriftováô
de Lemos de Mendoça, ao Efpinola,&:c.
402 O eftado em que ficou a dita Fortaleza , foy o mefmo ent
que de antes eftava , porque as balas da Cidade naõ podiaõ commum^^
mente fazerlhe damno confideravel ; & depois fe reformou muyto , Sc
®<í eÈAào Sm mt S- ™^"y^° ^^'^ quando o Sereniffimo Rey D; AíFonfo VI. deyxando o go-
foti aFertalgz,a &do^^^^^^^^^^^^^^^^ Lufitanaj foy de Portugal para a dita Fortaleza,
em queficou a Cida' ^ nelk efteve alguns annos no Palácio dos Governadores j que entam
I de de Atigra^é" Ilha ficou Palácio Real j atè vditar para Portugal j aortde viyeo no Real , ^
'•
ÍL altillimo Palácio de; Cintra, quatro legoas de Lisboa, atè morrer de
feiis naturses achaques j & lhe fuccedeo na Coroa feu legitimo irmaõ o

Senhor Rey Dom Pedro lí. que afíbmbrOu o mundo não fó em tudo o
mais, mas niuyto efpecialmeote na fidelidade, ámor,&: grandeza , com
que tratoii íempre da vida , & Régio regalo do dito Rèy feu irmaÕ } &
por ifib Deos lhe deo larga vida no Reynado, copiofa defcendencia le*
gitima, & hõa morte de verdadey ro predeftinado.
403 Ficou também a Terceyra no méfmd eftado que dean*
tes, quanto a toda a mais Ilha, porque a artelharia da Fortaleza naõ po--
dia paífar muyto da grande Cidade de Angrai& nem efta experimentou
Tuinas coníiderâvcis , porque fó o bayrro , a que ainda hoje chamaó o
Quartel , por nelle de antes morarem os mais dos foldados da Fortale*
2a, & a efta ficar fronteyro , & próximo ^ fó efte Q^iartel padeceo ruina
pelas baías de artelharia , & já hoje eftá , & muyto melhor , reedificado;

I porém em toda a Cidade naõ cãhio edifício algtim & fó em alguns


;

Conventos, & em algumas cafas fe defeobrem ainda hoje os furos , & íu


naes de algumas balas j que mnytoí coníervaõ por gloria fiía , & muyto
mais para renderem fempre a Deos as graças da milagrofa protecção
comqueacodio a não ficar deftruida eftá Cidade de tantas fnil balaSj
quefobre ella vieraõ; que quanto dos militares da Fortaleza, nunca,
nem ao principio de íeu cerco , foraõ fuás trincheyras cxpugnadas , mas
pelos infulanos íèmpre rebatidos delias.
404 r^a
l^ir/ijfá-tóSftifift ..t_-!í)vVxTw:''-i "íií:**ÍMí'»ç*- -

.
«V c^si^ , : Na FoTcateza p©0 fogo <J> S^fâfíiâínl© R.e^y ffeittjêáêb

í V^, ^t&àéio
àsffi^^Portaguezes da llJia ,òmeícao ás aaíeí tiirhà j Z)í m^s]? cenférv^ qm ^
ftô® om«dEfí)oxi^of decomtiiiuaexerekio i®'iUc»r , p6Fp€€iiaS'g^^ &govtrnah9je 9_td^
vigias j 6c todos os poftoS)^ Cabos de gtíerra q-iíe- havia ée aíiÊgS£,lc ^'«/'^
f^,ptefeK wieana)! Goyes^^iMdoc,. com ©$ meffllos; âatig^
éetrâzgr.ffortifigo guarda de alabardeyfos , &s de ja^ar ^ êt eafl%aí ò$
.feddsdos m>mi o £m Aiidicoir de guerra , & à& lhe d^are^ os- íòldiadorfc*
ífúmúãi âc dâ meccer guarda no poícodat Cidade > 6c no Cáfteiíô' de SaÔ
^baíliaój poíèra íbbre a Cidade imô CÉ£»)urií^kçãõ a-lgmnâ i ínenos &
íúhsc e G^pitaó asòrqiíe agóvcprta j Sc muyÊo rn&aos íbbre o Seaadú dá
.Camera> & feus Miniftíos> nemfofepe algaffi» êttdr^ f>ârte , ou peíToa dl
Cidad©, & (ktoda a Ilhai & poí ^o n^i^àCatiiefa^Váy * flem eoáhima
.^r ndla liígâí > ôc fó q lttgar-teBen€c d© CàpittÒ Dúú&t^tio de Aiigrai
^attdoí abafí Sc vay âlgamavez à Camera, tem lagaf àcimã dos Jttizes
ordinários >t«asaiíidâ,abayxod0Corregõáot, èôittô êOrtfta da fenteff-
'Çs^ que ÉÍtó flõ roíiftbo dá, melma Camera de AfigFâ /í?l. í 84. & da pofle

SD«iíick,p«if D®'mJago$.Mai:tii» da Fonfêca, fie Oafpaí de Freytas dá


!Qoiíl[a>lugâc-ten$:fl£âS do Marqiáex Capitão Donátari^^.
g-Mij»";- -3>'V -tO»fc»-s
::v,.i7j^... ^-v
T-^-'^'^'^'-''

CA I* l T 11 L O XL.
í^í& cmmjlànáa^ghriofas , cornam a Tereeyra rende§
tfi âgt ande hrt akm y & qtt^ de^aíhnfe lhe

mi^ii'- A
Pifimeyc«foy,fer âiUnica teríajq^^iepelá AcclattíáçaÓdo
i r:. ;Oi Luíifcaflc^Rey Joaô o IV. teve^ Se fúftenf ou gttórra
Dom
íBontFa* íua inexpugnável Fortáleza^èc atôVecôrCada humatirlointey-
«Qinenoiviíice&trcSdiiasjde if.dô Mâr|ode 164,1. acè 4.4© Ovitro
Março de 1642. & naó fó por cerra com rrineheypas j fem jamais peíder
alguma j mas Cambem com fortes dèàftòiharias,férti algum the fer to»
«pado i & dqiic mais he y com Armada pôt mar , Ic íortiar à Fortaleza
saõ fó os avifos que enviava a Gaftellajma^ cambem ósfeons foceòrros
qpe lhe vinbaõ * atè com oirraaó do mefiílô Meftre de Gampô Cafte-
thi

4/ 406 À feguhdi ciréunlkricía hfi qtie cudo itto obfoií a Ilha

^Terceyra fei»ií>utra nação eltrangeyra alguma, âc ainda fem fòceorro de


jPíiíf u^âi i niai^: que cartasi prómeítas j &
íó treS j ou quat ro foldados &
fefviraõ aos CájfjitãeJ mòrcs Intiilartos » Goviernadofe? da guerra ; por-
que oqweaso depois fo^ de Portugal , foy depois dá Praça rendida , 8e
ttabadá a gwclrira , podcado-fe-lhe ch^mst PfiJÍ bellum duxãmf^ j porém
i^çiodâs as oufras ilhasdfcvefemprecortfeiTaf gfahdes obrigações a Ter-
Cieyraj a^ueni conio a fira cabeça acodiraô femprô tatíl VâlêrofoS braços,
§í efpecialmfintc ã famôfa Ilha de 9áõ Mígiíel i còffl múriiçÔeS de gtíer-
?'as Ss dinda dê mantiinentos Sc corii ^eíire ^ & Capitães ifluyt© ftobrésfj
,

|c esforçacbí v & o meímo fizeraõ aà flHas do Fayàli fií Pieo, ôf a de Sàô


Jorge , & |Mff ticularrtiente á da Graeiofa , que além de 0««ôS foetícHT ©S'
.
..' , deoi

HM
m
'

^404 LiríoVI.DaRêgIaIlhaT'erc€yrâ;i.JX,r-ia
deo a Angra ,( & o tirou da antiga fidalguia que a povoou , como ve^
remos ) hum naó menos valeroío , que liiuítre General da Armada An-
grenfe j & atè da Ilha de Santa Mana , &: da mais diôanteilha das Fio*
res, & da do Gorvo concorrerão foceorros á Terceyra.

407 Porém a terceyra circunítanGia- he , que tudo ifto fuften-»


tafle Angra, fem de Portugal, nem de outra Ilha lhe ir dinheyro algumj
& pagando fempre aquaíi quatro mil homés que andavaõ em o cerco,
nosFortes ,&: na Armada. Mas he que os mais eraõ ío Portuguezes
Infulanos, & fieis a Portugal & naó havia entre elies Eftrangeyros
, , fe-
naõ alguns contratadores já naturalizados em a Ilha , Ôc aella fidehflii
mosj que fe allim fora no tempo do Senhor D. António, naõ feria a Ilha
infielmente entregue aCafl;ella,mas ou fe defenderia em quanto poi
á&íÍG 3 ou a feu tempo fe entregaria , com bons , & honeftos partidosj
donde aprendaõ outros a naõ fe fiar mais de outrem que defi>& dos
íeus próprios j pois do contrario ha tam defgraçados exemplos.
408 E quanto aos prémios, & defpachos que teve allha Ter*
ceyrade vencer tam dilatada ^ & porfiada campanha de hum annoin*
teyro , por inverno > & veraõ , & cora tam grandes perigos , tantas mor*
tes, tantos gaftos^ tudo fe rcfumío, em aos dous Capitães mores, & Go*
vernadores datai guerra, darfe a cada hum fua Commerida ao $daí* ;

gojoaõde Betencòrâc Vafconceílõs, Cap^itáo mòrdé Angra j a Com-


menda de Santa Maria de Tondella , da Ordem de Chrifto; & ao fidal-
go Fratícifco^ Dôrnellás dá Caniera, Câpitaõ mor dá Pi-a^a > a Òom-
menda de Saõ Salvador de Penamacor , também da Ordem de Chrifto^
Ejie de notar, que com efte fer oprimeypo j mandado áe Lisboa (on-
de entaõ fe achava } a acclámar o novo K.ey na ilha j & elíe primeyro o
acclamar ria Villa j & Capitânia da Pray a, & depois vir rom as niiifíias
defua Capitania à Cidade de Angra , & com o Capitão defta governar
a guerra, nem poriíToaeftes Governadores fe deo mais coufa alguma*
&fódepois de ânuos fe deo o governo dá Fortaleza rendida ao dito
Franeifco Dornellas da Cameraj ao qual, vindo depois a Lisboa ,& pctí.
tendendo fer intitulado , Conde da Praya , & Capitão Donatário dell^
fó fe lhe concedeo o fer Alcayde mòr da Praya j & nem ainda èfte titu*
lofe concedeo a feu filho ptimogenito Brás Dornellas da Camera , que
era Lisboa morreo nèfta demanda &uem as ditas Comraendas fe coii*
$

fervàraõ nos filhos dos que as ganharão, & muyto menos nos netos.
m'úí4^^ Pois aos mais qtie ferviraõ nefta guerra, a António do
Canto & Caílro ( fidalgo de quem mais fe temia o Meftrede Campo
,

da Fortaleza, & por ilTo o defejava prender } foy neceífario vir fervir a
Portugal de Capitão de cavallos na batalha de Montigto , para por iflo
cntaõ lhe darem o pofto de Sargento mòr de toda a Ilha Terceyra, & o
habito de Chriílocombòa tença ,& chegar a fervir de Governador da
Praça que o queria prender j que quanto o fílhamcrito ^ ^ nòtotio pat-
;:entefco com muytos dos grandes de Lisboa, tinha elle já por feus paySj
& avós, & celebre trefavò Pedreaiíes do Canto. A outros muyto nobreSj
que ferviraõ com peflbas & fazendas nefta guerra, o que fe lhes deo bcj
,

que aos que por fua negligencia tinhaõ perdido o foro de feus avós ou ,

;iunca o tinhaó logíado , de novo fe lhes pafíbuo filhamento,& moradia


ti'í- deíle.

1
1^
Cap.XL.Dos íimiÊados prem.d0sqrendef.ailitaF0rtaI.4oj
. j^a^y^ • Uiv>«.iH^

deíle. A muy conceaèraó vários hábitos das Ordens Militares i 6c


tos fe
aos mais nada, por naó pertencierem ,êí gaitarem niíTo mais do que lii-
cravaõi & tomtudo deita forte fe augmentàraõ muytas cafasdefídal-
gc« filhados cm a ilhas , aíFim em Sãé Miguel , comt> efíl outías , pelos
ierviços feytos na Terceyra.
410 Ao Senado de Angra , além dos privilégios que já tinha
dos Cidadãos da Cidade do Fofto , &c os dos Infançôás , que faôóídos
filhos fcgundos dos Reys, para todos os que ferviraõ de Vêrcadores,ou
Frocuradores da Camera de Angra, & filhos dellesj conéedeo^ittiiáte
^fl3Ç^'»w.^

Senhor Rey D. Joaõ o i V. que a Cidade de Angra , &m nome dâS títah
lllias,mandaííe, havendo Cortes , Procurador a elkf ylt qt8g áía;l Pró*-
curador de Angra tiveffe lugar em Cortes no priraeyfo bá-iKo dèltá*, Bt
com effey to o teve aííim FrarK:ifco de Betencor Avila lías Côf teâ &
Reaes,quefe celebrarão ean Lisboa noanno de 1642. Côítm cofrííadd
tombo da Camera de Angra 2 foi. 545. & o mefmo kgaf féve D.Prdrd
Ortiz de Mello , que depois veyo tatnbem de Angra aôuttâs Géftes. E
df&L 456. do mefmo tombo da Caraeráêfta o alvará dG>aiefn*ó Rey Di
Joaô o IV. pelo qual , a petição dos Procuradores de Atigrà f Sc pút aU
ienco tomado nas Cortes do annode 1653. a 2 2. de Qufubro j& pâíTâ*
doem 15. de Julho de 1654; concede© á Cidade deAiigra, é[tíèrtirncâ
haverá nella Vice-Rey , ou Governador Gtíneraí daís taes líhaí^ y Sf qtíé
quando o contrario paírecer conveniíote cm' âtgufii tem^, Í6 naé tOttta»
rà aííento , ou refoluçaõ nefta rojâtefíã , ítm prííweyrd- fef oMtiéá á Ca*
jmera da dita Cidade de Angra. iw^-;,,' -^i-r.í.

411 Aofobredito fefeguiaifcfolver, fefõraiõ os taeS^áêí^í


chos, ao menos fufficientes aos fer viços , & méritos , &
áiS pf ontóffafá re^

petídas. Forem tal refoLuçaã naó toca ao Hiferiádòí occftó he,'qutí :

ao Meftre de Campo Caitelhano fe lhe àe , Sé


oífeccicigd'© cíttílo Có^
Grande cm Portugal , com dez roil cíSHzaidosde readâ cada afino , fé etí*
tregaffeoCaíleltov& «o Alferes mèr delle , D. Pedro: Ortiz; dé MelFo,
fe lhe fizeraó também grandes promeíTas fe viefle naditá cfttrc^: èC
,

comtudoaos dous CapátáejUíòrefsvÔc Go^efmdof!^i da gueíri»j que


renderão o tal Caftelb,^ huma Commend* fómeríCé fêdeou cíiê^hMtrt,
& de lote fó de:mil craza^tos de renda & fórtííefíte peífot-éiTípo' ^1 víd*
,

década hum , S?a ninguém maiso defpachopaíFowidéhtirttf fiíhâttítefrto

de fidalgOj a quem era capaz delle , & o ftaô tiwhà? j oiícPe hum haíbíto d'ô
Chrifto, deSantiago , de Aviz com mwtyCô péqitórlà rettçá;^ todos òi
maisficàraõfemfatisfaçaô alguma, dontra o e%íò dei Deõs , qiie feUl'-
pre au graenta o premio) & diminue o caftigOj^pois^ria^clwer feí beM fet^
vidovquom naõ fabe p»gaT bem.

:)ní:Wff.

CAP
4p6 Lívm VI. Da Regia Ilha Teíceyra;

CAPITULO
•».-\tv-ri<\-t
fim t

XLI.
Daspejjoas mau injignes em valor é'fanndade
, que da
ilha Tevceyra temfahido.
• /
412 VArões em armas aíFamados & naturaes daTerceyra te-
,

mos jà vifto tantos nefte Uv. remettemos


6. que fó nos
©w píjjreytot im i» ao que diffemos já dos Cortereacs , Monizes , &
Barretos j dos Borges,
í?!!*^ '*f^^d9/. Coitas, Pachecos, Limas, Silvas > & dos feus próprios Cantos,& verda-
deyramente Caftros fortes i 6c de muytos , dos quaes ainda hoje dura a
fama, naó fóera Portugal, mas na Africa, na índia , na America, a cu^ &
josdefcubrimentos precederão os deitas Ilhas, em que entrarão Pi* &
lotos iníignes delias. Ainda porém tocamos fó varoens iníignes em ar-
mas, & em fidelidade Portugueza, que nas guerras de fua Acclamaçaõ
moítràraó bem feu valor , qual foy hum Dom António Ortiz de Mello,
(_
irmaõ de D. Pedro Ortiz de Mello , naturaes de Angra ) que às por-
tas da Praça de Olivença em Alem-Tejo morreo para defendella , & a
defendeo } &
hum Sebaítiaô Corrêa Lorvella , que nas armas chegou a
fcr Governador dè Elvas em o mefmo Alem-Tejo , & fucceder no go-
verno da tal Praça ao Conde de Villa-flor D. Sancho Manoel , dahi &
paíTou a General da artelharia da Provincial & por jà doente, & gottofo
foy pofto por Governador do Caftello de Angra, onde morreo. E hum
&
Manoel da Camera Mello , filho de Luis Coelho Pereyra , & de D.
Ifabel de Mello da Terceyra., que depois de militar em Portugal fe re-
colheo à fua Ilha com o pofto de Capitão da Artelharia , & morreo ncl-
le. Ede huns fidalgos , filhos de Joaó de Carvalhal da Cidade de An-

gra ,que vieraõ iniíitar na Provincia de Trás os Monteis , em póílos &


gfandes , que por viver ainda hum delles, & o naó permittir fua modef-
tia , naó refiro mais , como nem dos que governarão em a India,em Afri-
ca, & no Brafil.

413 Para a principal noticia, & mais importante, das peíToas


cm virtudes ,& fantidade Terceyra , temos muyto
illuftres defta Ilha
que queyxarnos do pouco que os antigos efcrevèraõ , ou ainda aponta-'
raõ,em quafi duzentos & fetentaannos ,que ha que foy defcuberta , &
povoada a dita Ilha pelos annos de 1445. do Nafcí mento de Chriítoj
porque ainda que o louvor em boca própria he vileza , o merecido por
outrem, & em boca alhea,& quando jà naó feja adulação, o« ambição,
he obrigação, & divida, para gloria de Deos , & feus antigos fervos , Sc
imitação dos vindouros mas muyto mais ainda queyxar nos devemos»
:

de que tendo começado o eruditiílimo Licenciado Jorge Cardofo o feir


nunca aííaz louvado Agiologio Lufitano , & parando com a morte era
os primeyros três tomos , ou féis mezes do anno , naó hou veííe atè hoje
quem continuaííe tal hiítoria, (fendo taó erudita } nem Príncipe, ou Se-
nhor que a mandaííe continuar, continuando-fe tanto , & tanto fedif-
pendendo cm outras reprefentações bem efcufadas,5c deyxando-fc as da
hiítoria , &: híftoria taõ fanta pelo que vamos ao pouco que pudemos
-,

alcançar da prefcnte matéria, & de tal Ilha.


414 Ha

V"
Cap.XLI.Do Beato jfoaô Êftacio,tido,& haTÍdò por S. 40^
414, Ha mais de duzentos an nos eraõ Cidadãos dos nobres em
a Cidade de Angra da Ilha Terceyra hum Álvaro Pires , & fua mulher Bo injigue \ é-SaBè
das In-
Aldonfa Martins ,& deftes nafceo hum filho chamado Joaô Eííxcio ^a Miffionario
quem os honrados pays mandarão eftudar a Salamanca , & nefta naó fó dt^
F^f^^Ta^Zl
ehegou a tomar o grão de Meítre , & Lente j mas tanto fe accendeo em J"':^ ErtmZ.de S. .
^
o zelo da falvaçaò das almas com as novas que entaó vinhaõ das índias ^Jfttnhó^ ^ '
de Caftellà deícubertas , que deyxando a Univerfidade , & todas fuás
cadeyras , & Dignidades feguintes , fe metteo Religiofo Eremita de S./
Agoltinho no Convento damefma Salamanca ,& fe fez difcipuloda^
quelle grande exemplar de fantidade , o grande Santo Thomàs de Vil-
,h- Nova com cujo exemplo , & doutrina tanto fe augmentou nelle ò
;

defejo dê converter Gentios, que fe foy embarcar para as ditas índias de


Caftellaa converter almas, 6c com tal fervor de efpirito chegou là , que
em cinco annos,& em climas de nocivos, 6c doentios ares, 6c abomina-
x^eis coftilmes de Idolari-as j cohverteò milhares de almas j ^ com tal

exemplo de virtude , & fantidade^ que os íeus mefmps Religiofos o ele-


gèraõj& obrigarão a ferfeu Vice-Provincial da Provinciade México,
que fendo dilatadiíTima, aípera , & mpntuofa em feus caminhos, toda a
vifitoLi & fempré a pè 6c cumprido o trienniõ , 6c chegando ao Perá
, j

por Více-Rey D. António de Mendoça irjuaõ do Marquez de Mon-


j

dejar j o tomou por feu aíTiftente no governo , por feu Confelheyro , 6c


Confeflbr , por efpaço de doze atihos inteyros , ^ comtudo a Religião
jD obrigou a ferdáqúellá nova Provincia do Peru feu Vice-Provincial, 6c

no mefmo tempo fe lhe encarregou o governo Eccleftaftico daquelle De cerfio fo) tteytè
'^#<"=''» Cidade déa
VaftoBifriado, 6c provendo dê idóneos Miniftros as Igrejas , ajudando
^"J^^e»^? Mexm^
no governo aó Yice-Rey 6c náó faltando no Religiofo á Ordem, de
j

tal forte a tudo aeodia qué julgavaõ todos fer coufa milagrofa; 6c muy-
,

to mais à converfaô dos índios i de que atè pelo Bautiímo eráò innume-
íaveis Rlhos feus 6c g.iftados tre^e aiinos em tam Apoílolicas occUpai
}

ções,defdei539. atè 1555. foy obrigadoa voltara Hefpanha pelo beni


da converfaô dos feus Gentios , 6c fó com a fama de fua admirável failti-
dade concluhiò quanto qUeria mas o prudente Felippe II. contra á
;

vontade do Santo Religiofo j o nomeou Bifpo em a Cidade dos Anjos


cni o México , que éntaõ vagou ; o qUe vendo Deos , 6c querendo dar
hum Angélico defcanfo â efte feu taó grande fervo, o thamou eritaõ com
húma morte Angélica , ^ breve , para o coro dos Anjos Celeftiaes o ;

que chegando às índias de Caftellà chorarão por muytos annos a fal-


,

ta deftc íeu taÕ grande Pay, 8c verdadeyfo A poftolo.


415 E em verdade tantas foraô as virtudes prodigiofas defte
iUuftre varaô) que nem fa6íeicopiíaveis,&í6 algumas tocaremoâ. je-O ^^
jum era perpetuo ; a cama á dura terra j continuas as difcipliriaS , & ci- Defitet rárk
""'
iiWt^
licios de ferro, 6c o andar fempire á pè > 6r emfim inimitáveis as peniten-
cias que fazia. A paciência foy taíi que oppondo-fe-lhe muytos com in-
jurias , ^ ainda com contUmeliaS, riunca de algurri fe vingou, tendo po-
der rauytas vezes para iífo. A pobreza Religiofa foy nelle tam admirá-
vel, que vivendo treze anhos riòPotoli das nquezas, no México , 6c
Feríi, 8c fendo Prelado cías Igrejas íeciiíares , Valido dos Vice-Reys , &
,'*"
sra aqwelles priacipios , em que a prata , 8c o ouro era immenfo , nunía
Li lhe
J0,. . Li^mV^I.>OaIle;giaIllia.T€rceypâ.. )

lhe yeyo à maõ que o naõ


j deflc logo aos pobres j ôc/ó fe queyxâ*
feits

vaáenaoter rnviycomais, para ainda mais dar. A humildade leguia ai


pobreza , lem aceytar jàrnais j nem &
ainda appececer Prelazias, LÍigni*
dades defte mundo j íenaõ obrigado da obediência , que perfeytiílima-
mente fempreobfervouj 6c ainda vendo-fejà eieyto Bupo , & de Biípa-í.
. 3fe feíisv.
4o taó rico , pedio a Deos , & alcançouj que defte mimàp o levafle para
íiianíes de íe ver fagrado Bifpov & foy tam grande fua Angélica pure-
za, ôc çâftidade,que ordenou Deos que morrerfe nomeado Biípod©
Anjos.
416 A tam canonizou nefternundo o mefmo
raras virtudes
peoscom prodigiofos exemplos externos > porque-fendo continuo na
DMprofttm,&fro
digios cem ZueDeos ^^^Ç^^ > vinhaõ os Santos da
gloria converfar comelle, & lhe revela-*
o htnrou. ífaq quanto havia íucceder em íeus governos , & aílim teve efpirito no-
toriamente profético. Quando celebrava a MiíTa , afeus elevados olho*
eprporaes fe lhe moftrava Chrifto Senhor aoíTo em fua própria carne
ferido, & crucificado ;& oque maishe, lhe oíFerecia muytas vezes a
fpnte manancial de feu Div jno lado , & lhe dava a beber aquelle Divino
fangue , ou leyte de celeftiaes deleytes , & lhe dizia eftas palavras /^è :

^uepadecípor ti^ é^ animate a padecer também por mim. E daqui vinhaõi


os admiráveis extafes, & externos raptos corporaes j quefe lhe viaó terá
as lagrimas que corriaó de feus olhos , como de perennes fontes , & gim
trás vezes a alegria interior, que no exterior tanto brotava, que a tO-i
dos alegrava fó com a viíla. Na© fe falia em outras obras railagrofas de-^
íle varaÓ Santo , porque ainda de algumas das \i ditas , fó fe foube,pDf-*

íf::.: :-ii^s
que por virtude de obediência lhas mandarão defcubrir,& apontai
. os Superiores, & as mais calou fua profunda hurnildade. '
;

417 Donde fe feguio , que naó fó em fua vida todos o tinháS


por Santo, mas depois de fua morte parece que a voz unanime de todot
Dn tpiniad de Santo ^ P^vo, quc o tratou , o canonizou por Santo, & foy défde entao,& Iife
aue tm todos deyxof/. ^^^^^'^'^ oBeato Joaõ Ellacioj & comefte titulo efcrevem delleosí,
Hiftoriadores , o Padre Joachim Brulei na Hiftoria Peruana Itv. 5. cap*
3.oPadreFelippe Eloyno Auguftin.Encomiaft.fíí^.^/i.oPadre Mi^
guel Solonio na vida de Santo Thomàs de Villa-Nova } o Padre Antó-
nio dela Çalancha nos Varões illuftres da Ordem liv. i. cap. 26. o Pa-
dre Nicolao Crufenco na Hiftoria Peruana i.fart.çap. 38. & 39. Jofeph
Pam philo in Chronic. Ordinis^ô/. 116. & 119. Frey HieronymoRò-
man. nas Centúrias ad annum 1550. Frey Thomàs Herrera in Alphà-
bet. Auguftin. lit. Z, Duarte Pacheco no Epitome da vida de Santo
Thomàs de Villa-Novaííi;. ^. eap. 1 2. & o citado Agiologio Lufitano
twn.i.m J^. de Abrilyèi no h\iComm^iií3i.no>

tcn
Cap. XLIÍ .De alguas ^elígiof. Saht.de S.Gohç.de hnfj^of

CA PI T U L O XLIL
Beo^^^i^y^^s^flfii^^^ cm fantldade da ditallh^
lerceyra.

* ip Ntrè os quatro Conventos de Freyras que ha na Gida^,


418 j

C/ ^^ ^^ Angra bum delles he o de Saõ Gonçalo de regr«


, i

Francifcana, & de habito mas no governo fugeyto ao Ordinário-, nef»


, ,

te faleceo a Venerável Madre Maria Bautifta com grande opinião de


Santa i tinha nafcido porém na principal Ilha de Cabo Verde , aonde
paflbu a mocidade com tal recolhimento ,& virtude, que jà là era tida^
ê£ reputada por peíToa lanta, & para creíccr cada vez mais em as
virtu-

des, pertendeo paffar à Ilha Terceyra , & entrar Religiofa no fobreditò


Convento de Saõ Gonçalo, pela fama que lhe tinha lá chegado da gran-
derelígiao , com que nelle íe vivia j & aílim como o pertendeo , aflim o
executou , & eonfeguio , &
jà de idade mayor , mas jà de tam grande ef-
piritp, & vocação tara Divina , que por fugir do mundo , 6c de fua pró-
pria terra metteo no mar em bufca de vida religiofa j donde fe tira
5 fe

também, que devia de fer filha de pays honrados i& ricos , dos quaes
herdou bensíSc animo para fazer tantos gaftos , &: fó por melhor fervir
a DeoSi&: de fua geração fc naó diz mais.
419 Chegada, &mettida em Angra rio feabufcado Conven-
hCia rcligio- D4 ReJigiifaMaâri
to, & paíTado o noviciado j como quem jà lá no mundo era
Maria Èantifial
tííTima Noviça nos coftiimes j proteflbu , & viveo ainda
muytos annos,
Freyra ie S. Gth§a%
& com tam raro exemplo de virtudes que todos os dias corria em o de Angra.
,

Convento os fantosPaflbsdefcalfaj& com huma pezada Cruz ás coi-


tas, & huôias vezes ligada fortemente com cruéis cordas da cintura pa-

ra cimaatè os hombros; outras vezes com fó hum jubaô afpero de efpar-


tOi & dè cama naõ ufava , fenaô do puro chaô , & por breve tempo i &
porque huma fua tia , Religiofa tanábem , lhe reprehendia efte exceíTo, Dm fenittneiai qt^
de tal cama ufava algumas vezes , que fó era huma taboa com húa nian- faíia.
ta por cima. Tomava muytas vezes defapiedàdas diíciplinas , & ordiria-
íiamente as offerecia aDeos noflbS&rthor pelas almas daquellas Reli-
giofasi que em o mefrao Convento tinhaó falecido & com tâl charida- ;

dé,& dcvoçaó fazia ifto, que fazeiído-ohumá vez por determinada al-
ma que havia pouco tempo falecera , èfta lhe appareceo , & deo as gra-
ças pela difciplitia com que tanto a aliviará,
'

)

420 Na
oraçaõ mental foy ícmpre tam continua , devota, &
que o mefmo Chrifto JESUS , em tWá efcolhendo o paflb em que que-
ria meditar o mefmo Seiíhor lho iinprifnia na alma tanto
ào vivú , que
i

eHanemfentiavagueaçaô ,oU divertimento algum outro Sc em huma :

occafiaô lhe appareceo a Sacratíffima Virgem Maria , trazendo em húa


ijiaò o Menino JESUS , & ém outra ú» méfmo Senhor
crucificado ôc ,

olhando para a fua devota, lhe difle eftas palavras: Afaria yVivo, mor^ &
tv,{empré e/ie tm E(pofi. Com que
Senhor he efta Religiofa ficou confo-
-
ladíílima, êc de fe ver com Êfpofo taôOivino defejofa j continuamente
'-"''•'"
LI ij
yn-oVí.DâReálllhlTerceyTà.- :: - >

pedia a 0êos , qtae lhe defle o Purgatório neftà vídá , para qíiei emlâ*
hindo delia , foíFe gozarjogo da íua vifta, &
i naõ impédiíTe o Purgatoi
rio, que por feus peccados merecia j & nifto bem moftrava fua profun-
da hugiildade > fiia firme efperança , Scafàudade ^ ou amor de Peos em
quefe abrazava.
421 Ouvio-a peis oScnKorj&contrahio logoem amaÔdii
reyta huma queymadura tal 3 & de taô terríveis dores j & abrazadoí^
ií\qeíídi<^? eái o braço, q quem a via , paíinava de eomo podia tal (bfr.eri
feni fe lhe notar final de impaciência alguma ^ ou queyxâ 1 antes fera ro-
gíirpoj:íÍ,fófe lembrava então mais das penas que pãdeciaõ as almas
dp^Purgatorioj & por ellas maiidava eataõ dizer muy tas MiíTas, & Of.
« , . ^ ficios Pivinos i & experimentou ( cafo admirável! } que em quanto 0$

ZTkld0 ^^"^'^^^ ^ ^^^^s fe celebravaõ, naõ fcnf ia dor alguma. Taato moftr»
fT/Z
*'^'*"
tmo, O mçAno Deos como aprovey taõ às almas do Purgatório os fuSrâgiosi
que por ejlas fe oíFerecem , quanto ao Senhor agradaó> &: âs almas os a»
gradecem, & ainda aos que 05 oíFerecem âproveytaõ.
, 4?.? E ainda que éfte purgatório lhe durou largo tempo, mais
por lhe qperer Deos augnientar o mçritOj6í accrefeenrar o premio, che»
gou çomrudoo tempo de íua mortej & perguntando à outra Religiof^
que hiçrais teria ainda de vida êc refpondendo-lhe quis três atè quatrO|
,

iiniy to y ifi velmente fe alegrou, cç rendeo âs graças por taõ alegre nova.
Elogo a vicraôyifitàr, Sc acompanhar naquella hora as onze mil Vir-»
gens , & com ellas huma irmã fua j que havia pouco tempo havia falecia
do là em o feu Cabo Verde , fem ainda fe fabsr etjí a Terceyra porque
:

as onze mil Virgens aflim pagaõ ás almas fuás devotas , & a irmã feria
huma das que eila com os feus fuíFragiois tinha livrado do Purgatório^
^
" Sc defte as almas fàô muyto agradecidas. Finalmente aíTim fefoy efta
Religiofa Efpofa de Chrifto para feu Divino Efpofo , acompanhada de
cantas , Sc taõ fintas Virgens ; &
de'yxou com mua , ôégèral opinião de
&
huma fanta Religiofa ^ de cafta fanta. Véja-fe o Agiologio Lufitano
tom.i. iQ. de AbrilJit.l.
. .
ç éH No mefmo Convento de Sa5 Gonçalo da Ilha Terceyra^
^5Jâ^'^'íformçaomefmoAgioÍog!oZ(?.»».s. 26. de JM jit.Hi he dignado
Ij

Uioí*BritTt
eterna memoria Brites de Saõ Gonçalo , que fendo nafeida de pays no-
^onçWéxempíar de
humildade, & cha- bresamou tanco a humildade ,& vida Religiofa , que no principio da
fidádc. fundação do Convento veyo a elle pedir qile a admitf iífem para fervai
i & viíl© o efpirito dé fua vocação a admittiraõ,8E
do dito Convento
corneçou logo a excrcitarfe iios oêícios mais trabalhofos, bayxos,& hu-
mildes da cozinha j forno , éhférmariaj êfc. êc por tantos annos 5 & coni
íal exemplo, & charidade, que todas as Relígiofás a chamávaõ fuá
Má yj & a Com munidade agradecida de unanime voto de todas a fize#
j

ra6 ReHgiofa profeíía comttido nem por iito deyxou de continuar


; &c
nos mefmos oíHcios de ferva da Communidadé , Sz com a mefina chari-
dade , modeftia, & compoftura ; & atè ás peífoas pobres que vinhaô à
portaria era taó charitativaj que á toda a hora, & com tudo ò que podia»
lhes açodia femprê.
424 Com taôíantos,& exemplares exercícios chegou ainda à
Velhice ,& nefta a qúiz í)eòs àperfeyfoar ainda mais cora huma grave
cnfer-
Cap.XLíLDs cfousRcIig. Seráficos, iritiãosm fantidad.4ii*
enferm idade, fia qual deo tal exemplo de paciência, penitencía,& amor
4o proxiaió , que naõ fó nirnea fe queyxou , nem iignificou falcarlhe DefuaJAeiencUMl
-çoiifaalgumájttiasnem aceytava comer algum fenaó o que í&ázvs^knitencU^é-amorÀà
Coramunidade , & defle ainda cornava taò poueo , que
mayOr ij^ttGprokmó.
a
niandava áos pobres j & de dia , & de noy te naó eeíTavadé encomendar
a Peos todas as Religiofas do Gonventoi & a pobreza de fora. Chegan- como lhe aMlo nd
do emfim às portas da rrtprte taõ grande ferva de Deos , a veyo bufcar ã morte a rirgem Se-,
lâGiraciffi ma Virgem cercada de innumeraveis Anjos ^ íSc eftes lhe deraõ nhorâ^è' os Anjos ãa^

liiuíica taõ Angélica, que a mcfma moribunda conteíTou que ouvindo-aj ^'^ <:<>«*['** muficai
tnconmto a
i|he pareeeo eftar jà na gloria 3 & de taõ celeftial cheyro encherão o ano- ^Z^"*'
fento, qae todas as circunftantes o perceberão , & admirarão ^^^^*^^^^- stnhor
omat muta^"
pirar, & fe ir com a Senhora, & Anjos para o Ceo. vilhai, "
9*'. -425 ' Deo o Senhor com milagres teftimunho neáe mundo da
gloria que eftafuà ferva tinhajà^no outro porque logo húa Religiofa,
j

jque tinha o olho direyto gravemente offendido j & inchado , pegando


das contas da Santa & applicattdo-as ao olho , de repente ficou faõ j Sc
*

fem lefaò alguma ,nÊmfelhô applicar outra alguma medicina. Dahia


«íuy tos arlnos ) aberta a fepalturadefta. ferva de Deos j appareceõ fea
corpo incorrupto , & odorofo^ & taõ inteyro o vèo , que fe repartio era
reliquias pelas mais Religiofas & naõ podia deyxar de exaltar Deos a
:

hum vèo , que com tanta humildade j & taes virtudes tinha íido dado a
taÕfantapeífoa.
426 EmoGoiiventodeNoííâSenhoradaConceyéaôdeAn- „ e. «.i^ é^T
i

gra (quando de antes era de Religiofos FranciicanoSi que depois oioy, Ma,teti peoenahã^
& hojehci de Rcligiofas da meíma invocarão ) viveo o Venerável Pa- eifiata,
dre Frey Manoel Pereyra jvaraô deihtulpavel vida ,& de obedienciaj
zelo, & candura exemplariílima fendo eíie Guardião do dito Convcni
:

TO pelos annos de 1604». fuccedeo que o Bifpo de Angra excommun-


gou,ôc declarou ao Meftrede Campo qúe governava o Terço de Cáf- Dâiebdaoíftrva^l
tellai^: indo o tal Meftre de Campo ao fobredito Convento , o zelofo cia dM CtHpàm.
i;'Í;!'

Guardião lhe fahio ao ertcòntroà& fe poz na porta impedindo-lhe 3 eii-


íradái como hum Santo Ambrofio a Theodofio Emperadorj & inftarido
o Gaftelhário por entrar jpeffiftioimmovél o Guardião em o impedir*
iHtèquç p fidalgo disfarçando i lhe diíTe difcretaitieilte , qiiè fó viera alli*
& faber fe íhe faltava aigUmà coufa i $c á ifto refpondeoj que tudo íhe fal-
tava grilas liaó a rhifcricordià Divina, que dos bichinhos da terra tem
cuydado , Sc o teria também delíe ^ & de feus fubditos porém qUe fe ;

lhe queria mandar aígilmá còitfa j iífo podia faZer , itias que ào feu Con-
vento naõ tornaíTe , íem prirtteyro obedecer ás cenfuras da Igreja. Eri-
taô o Mèftre de Campo edificado íhe liiandou logo húa taõ boa cfraola,
que pàraTariosdias lhe bártotli

427 Comeíleexempío.ácrtltíytosotitrosdefingulares virtu-
des foyeílevatâô tidoj & julgado de todos por hum Santo ,& como Déòúirè (èH tf-àfàí^
tal teve huma fanta morte ,& foy íeptiltãdo nc» Capitulo do feu Coii-^f"^^*"J''''*""fy''^i
vento i naó com menos kgriliiaà , do que íoUVores de toda a Cidade. E ^"'"^í* f''^^ í2
*
teve outro irmaõ fea na mefma Religiaõi chamado Frey Vafeo Garcia, ^^^^^
riaõ mcrios abalizado em fantiáâdéiéc de ambos faz mençaõ o Agiolo- *
^ :' l'

& do feguíido promette tratar


.

gio Luficâno tm.^. á 18, àè Abrú, , mais .^nv- a;


^c-

LI iij âz.dê

'll.í./l
4** I-OToVLDaRêgiaIlhit*èrceyrà»

a 7>.de Jgofio i em que fakcço. Ambos os irmãos erao n^turâçs d a JJhg


da Graciola , &, de li^ngue miiy to nobre , como quafi codos faõ os dâ-
qiieib Ilha, & por iffo de muyco nobres efpiriros mas eomo ambos vi- ;

r : vèraó , ôç moErèraó na ilha 1 erGeyra por iíTo os ponho aqui > porque
,

«raentaõ da Província dos Algarves, aijo primeyro CuftodiOjOU Com'


^ miJ9f«rÍQ foy Frey Pedrade Leiria, & logo Fr.ey Maodei
Bautifta , quç
^^ M»^^»'*,^^^'^' ^Q^oi^ Ynoxito Siipo de Angola i& muyfo mais depoíS no Capitulo
^S^'g^r^^^^"^^^639. foy ^eaaeftaGuttodia emProvincia^&con,
^ .- ^v, ,1^
firmada debayxo da tutela de Saójoaõ EvangeUfta.jÇ*ija imagem. %x^^
J-

izemnòfellQdaProvinciai&affirmaoeiçado AgiíílogÍQ-que temhojê-


cfta Província das Ilhas Terceyras quatorzeConvençQidç Frades, Sc
íeis de Freyras da íua obediência, alem dos que da raefmâ Ordem obe-
decem ao Ordinário cuja cabeça he o Régio Convento de Angra > dè-
i

feíTenta íieligiofos debayxo da invocação de N. Senhora da Guia. a ,;

Mrd%t% Diraõ pois algús & qiieyxarfe-haõ de le mô


, tratar aqui
de muytos & muytos , mais Religiofos exemplariílimos v obferyantiíií,

mos, & illuftres era íantidade, & de muytas Religiofas fantas, que flore-
cèraõ em muytos Conventos de huma Província taó Seráfica j & aind*
de TerceyrQSj& Terceyras da tal Ordem , que em virtudes
feculares,
foraô infignes. Refponde-fe porém com outra mais jufta queyxa, de
que, havendo quafi oytenta annos que efta Religião Seráfica eftá coní-
tituida em Província das llhaS; &hâvendo já mais de cento &; vinte an-
nos que foy Cuftodia , & muyto mais de duzentos qiie eftá nas ditas
^

Ilhas , ainda a Luz Chroniea algum*


comtudo atè hoje naõ tem fahido
de tam antiga , vafta , fanta &
Província j tendo íempre doutiílimos/vai;
róes, que a podèraô ter compoíla i &
facilmente imprefia , de que po^
deriamos comafj &
aprender, para fatisfaZer à dita queyxa j mas malfe
podem queyxar de outros fe naõ lembrarem delles , os jque dosfeus fe
naó lembraõ ; que nefta hiftoria fe tem já dito , & fç
& ainda aíiim do
dirá era varias partes dos mais Conventos Seráficos , de Frades , & d»
Freyras j qiie da Ilha Terceyra fe foraó fundar nas outras Ilhas y bem fe
colhe que quem mais naõ diz , he fá por naõ ter noticia de mais} que fe
a tivera,a daria, pela deVoçâõ que íempre teve a tam fagrada Ordem.
*^' I

C A PI T Ú L^Q XUÍL
DemupaimakpejJúíí3emperfeyçaõíHuflres^que âít

Terceyra fahtr ao ^

4^9 T7 ^^^^ ^^ famoíbs varoeS , que da Cidade de Angra tern


JlI- fahido,deveter lugariníigne o lUuftrifiimOjSc Reveren-
tio mfiriffmopom diflimo Senhor Dom Frey Chriftovaõ da Silveyra conheci efte varaó :

t-p ChnPvão da ha quafifeffenta annos no de 1656. andando eu entaõ na Univerfidade


,

do Collegio de Santo Agoftinho de


Pr'lmktd/Goa& ^^ Coimbra , 8r fendo elle Rey tor
JnMaOntntl/Jell. NoíTa Senhora da Graça » na rua celeberríma
de Santa Sophia ; per- &
giofo Eremita de. S. fuadindome elíe éHtaõ que entraííe rta fua Religião, Deos ordenou ou-
^gofiinhti tra doufa^ perfuadindome a entrar em â Companhia de JESUS , como
entrey

^F-
Câp.XLíILDoIllaftnf.Pnmàsa.oDiicn4:€D.Fr.Chr.4t|
entrcy no íeguiijÇíignnQ de i6^f- & dahi à poucos aí^íios, refpeytajido*
,{q 35» jníígneç içír.93 ^tíileotos > ik virtudícs. ao aitp x<.eytor , to) eieytOj
§>c nomeadg por Friín^s da índia :Ç)rien.tal , èc Arcebiipo de. Goa onde
,

viveo njuycQs annoç,^ governou tam fanca , & prudentemente , quAW-


to teíli/içar pod.eip osque U 9 çoiihecèraõ j êc iiicltíor tçftifioou a raor-
tçreiígíofiflim^qjiif teve con^fórmeafanta vid;3:eu íopioirD.accrefcen*
í.ar>^uejgaò Ip foy pa Dignidade que teveiraas que atè cm o fangue foy
illutlre , pois foy jfilho do Ca{)itaó Chriftovaó de Lemos de Mendoçag
húmidos da pripieyra nobreza da Cidade de Angra , de quem nafceo
jambee? outro graviíTuno Religiofo, chamado Frey Joaõ de Lemos, da
jriçfei^a Ordem de Santo Agoftinho doutro (eeular Guilherme da Sil' ;

veyra -, &
ultimamente teve outro filho , fendo jà o pay de quaíi oy tenta,
aijnos } ôc depois , fendo de. noventa &: féis de idade , mo foy âo Colle-
^iQ de Angra.eBicppiendar, para lho enfmar ena a Rhetorica , que eu^u*
taõiàlia. , .,,;
.-..- ::- .---
Aqui pòdè ter lugar o Venerável Padre Lourenço Ré-
430
belloda Companhia de f ESUS, porque ainda: quefoíTe natural de Lis- Do Venerável pAdri
boa, quafi toda a vidapâíTou emeftas Ilhas,& na Terceyra mais de qua-
renta annos. Foy difcipulo de latins , Filolofia , & Theologia em Go- ç,''^'2ht^Tt9lí^
^'"f*^ 'ri'^5
'**

imbra,ôc ahientificou de muytoeftiado ,& melhorando em Pedrofo


^Ljnço ao Porto , ainda ficou com huns accideijites de coração , que cha-
fnaõ ^Qtta coral por melhorar de ares pedio ir para as Ilhas , & foy
; &
para aMadeyraí&íicUaeftev® melhor huns poucos deannoSjlendoca-
fos, & pregando com tanta aceytaçaó, & cora taes exemplos do zelo da
ialvaçaõ das almâs j que com haver mais de feíTenta annos , qUe de là fa»
hio, aiada hoje he celebre fua muy viva memoria. Da Madeyra foy pa-
ra a Terceyra pelos ann.os- de 1650. & nella fe achou quaíi de todo faój
^ delia naó fahio íenaó quatro annos ao Fayal , a promover , & gover-
nairo novo Collegio da tal Ilha, &r dahi voltou para a Terceyra , aonde
eíteve atè morrer , (5c já de muyta idade: foyqualifemprePrefeytodo
Pateo dos Eftudos , Lente de Theologia Moral , & Pregador taõ con-
tiniiOj ôc taô fácil , que os íieytores tinhaó nelle todos os Sermões fe-
gLiros, tanto que adoecia j ou faltava algum outro Pregador } & com taõ
grande excelleneia , taõ novos., &
doutrinaes aíTumptos , & com efpiri-
to tam grande o fazia ^ que depois , & ainda hoje em Portugal , prega-
rão muy tos , & inuy grandes Pregadores j o que lhe tinhaó ouvido j &
copiado. /

. .
43 i Na 'Theologia Moraí, qile leo qiíafi toda a vida, foy huni
Oráculo t^\i<\\xQoQ3\iiàQySeãevacamey os Bifpos todos feguintes 6ç ,

ainda as outras Religiões porellefe governavaõ j & naõ fó nos pontos


de eenfciencia mas ainda rios politicos , & governo da Cidade , todos
^

vinhaó com elle refolvellos,& o feguíaõ ainda os mais letrados em hum,


jBc outro Direyto que quanto os moribundos
j
naó fó com elle tratavaõ ,

de.fuas almas , mas fem elle nem faziaõ os teftamentos & taõ commu- ;

picavei era a todos que feus Seriiioes pareceres & poftillaS , a todos,
, , ,

-OS que qtieriaõros dava à trasladar para os levarení. Cheyo emfímde


j

ânnumeraveis fcrviçosfeytos a DéoSf & ao próximo, chegou jà de muy-


ca idade à hora da morte^Sc a tev« taõ exemplarj&Câõ edificativajque to-
tivío VL Da Regia Ilha TerGeyrâí

dos confeffáTaõ fcr morte naõ íb de fabioi mas de Santo.


.432
Sabida pois a morte de taõ Venerável Padre, concorreé
,^ . - toda a Cidade de Angra ás fuás exéquias no Collegio i
- em outro dia &
fegundas a bèCâthedralj&terceyrâsvieraó fazer lhe os Reve-
^"iZlXadTeTe-^'^^^^^
aufoí.
^matt
xendos Padres da Seráfica Ordem Francifcana j todos choravaõ « &
morte do comraumMeftre de todos j& em todas as mais Ilhas íeteve
© mefmo fentimento de lhes faltar ham Pay taô felicito de todas j na &
yerdade as amava tantO!,que no clima, mantimentos j & no recolhimen*.
to, &
quietação de vida as antepunha à fua mefma pátria Lisboàj & a to*
dos os da Companhia j que de Portugal hiaó para aquciias Ilhas íficí^
fuadia fempre, que nem pediflem, nem ainda ( podendo ) ace^tãffem d
voltarfe delias, & aíEm demuytoso confeguio , & muyco mais com d
exemploj pois rogando-©^ muyras vezes que voltaflíe a Lisboa, para ef«
ta lambem fe aproveytar de fuás letras , fua predica , & virt^des^pela»
quaes piamente cremos , que ,de tantas eftá gozando o merecido premia
emoCeo.
433 fiá mfeíma Gidâde áe Ángíà eraô riaturaes o ?adre Ma*
noel Fernandes, infigne letrado, que viveo muytosannos em Saõ Ro*
que de Lisboa, refol vendo em tal Corte todo o geneyo <ie cafos , & na5
„ .
^os Fadres
Fernandes & Ma.
_ f^V^^^^os
Md.
Padres Manoel ^^ „ jj
com a exemplar vida, & ardente zelo iQué com fuás grandes le*
jrrr..L a
°^ '**o''''«o pouco depois do anno de 1650. li também era Angrcn*
'

ftoel de Farta
fe o Padre Maneei de Faria j q^e depois de illuftrar a Univerfidade de
xatU'
,

vafs de Angra^ Coimbra na primey ra cadeyra de Rhetorica , em que foy eloquentiíli-


mo, fe foy á miíTaó de Angola j & lá em lugar da humana defenrolou â
eloquência Divirta na converfaó dos Ethiopes ide entre os quaes fahio
mais alva a eftola de fuaàlma paira o templo da gloria. Deyxo os Vene*
'Dos primos irmams raveis Padres joaõ Madeyrk ,& Manoel Gonçalves , no íangue primos
mofangtie & nat le- irmãos, & ambos Aflgrenfes também dos quaes o Padre Madeyra foy
, ,

Meftre derauyfafidalguiâ em o grande Patéo de Santo Antaõde Lis*


^ZrfpoadMlde^
ra & o Padre ^M*-
^^^ ' grande Lente de Moral em Angra , & eni Saq' Miguel Rcy toi^, Sê *

mel Gonçalves^ ^^ augmentador do Collegio de Elvas > Miniftro, át VieeiPrepoílttr <|s|.


M mefmA Angra. Real Cafade Saó Roque , da Corte j 8c atè do Rey corifultado por fuas
letras, & grande promovedor do novo Collegio Ulyífiponertfe ^ cha*»
mado do Paraifo j & ííngulariffimo na charidade para com todos, atè
que jà ratiyCo Velho deo a alma a Deos em a mefma Gafa de ^aõ RoquCé
Ê da mefma forte o primo morreo-Cm Saõ Miguel depoi$ de ler m«y*
,

tos annos Moral, & viver íempre com tal religião, & obíervancia , que
nunea fe lhe ©uvio palavra, nemacçaõ fe notou nellé que cheyrafle a
peccadoi & âífím em o Collegio d^ Ponta Delgada acabou verdadeyrO
exemplar de fantidade* •.
\
Deftes grandes Padres foy ContcttiporaneCí otitro,natu*
434
-
M ejempUr raí da II ha do Faval, &: da primeyra nobreza delia , chamado o Padre
De / *. .

Padre f^ 1 j c-i / f . ^ j ^ *j lu j
Carlos da Silveyra
^arlosda bilvcyra, O qualnao qiierendoaceytar Cadeyras que Ihcda*
vtorto Mtffiofiario^^^i^^^ muyros Pregador no Collegio de Angra 8è'
antios infigne
^oí^f«íí(?íía»oj/«. competia na predica cora oPadre Rebello acima dito, & foy detant
imhaõ. grande efpirito, & zelo da fal Vàçaõ das almas, que fendo jà quafi de ctn*
coenta annos, pedio com tal inlbancia a friiíTaó do Maranhão, que íe Ihé
concedeo, ôc là foy pòr a coroa das virtudes à fua cxcellente predica , &
ofim*

T*"
^'XKMl

Câp.XLííLDe ourros Infuíanos PJP jn%nçsèm virtuíl4if


p- tPfobre à fua nobreza , coEv^ertendo a Gentios Maranhões , eiitre joâ
míaçs acabou. Seguio-o o outro Infulanoi Padre ^icolâQTGy^&yxAy Be fa^í0,& Janto Pj
riacural dailha de iiaõ Jorge , & dos mais nobres delia , que entrando na Nicoíao Tejxeyra^
jÇompaíjhia pedjo também a Miflap do Maranhão, & padecendojà jun- ^»«
^fpis degrande

ío aeile hum fatalnanfragio j foy mandado tornar a Fortngal, & ^^^^^"'^^^^4^''*'^^^^^


,
«í*'^?'^^
a ler Filoiofiaem o Coiíegio de Angra j ^ de tal forte a leo , que o ^^^„ar^IlhM^
raõ vir le)Ía a Coimbra j& íby hum dos que melhor nella a leo, & logoò
jnettèrapna Xfeeologia Morai na mefma UniVerfidade > & de tal forte
p fez por. muytos annos , que por eíiefe governava-aqacllc grande Bíf«
jjadoii çntaô íè vacantò & ultimamente o mandarão v ificar , Sc gover-
-,

par as Ilhasj ( que femelhantes homés eraó os que encaó fe mandavaõ a


oovernoslníulanos^&Iá ficou atè morrer com grande fama de letras,
^ raayor de virtudes exemplares j eípecialmente de paciência ,&: hu-
jnildade. -

'
435 A eíie Padre feguío hum fea foibrihho j por nome o Pa^ ^^ . ^^^^, ^^^^
(dre Joaõ Teyxeyra , que naõ fo «ntrou na Companhia fendo natural o^^- j-tyxeyra m» ,
,

da ciita Ilha de baõ Jorge, mas eftando , coríio humanilta exteUente, c^m^, „ próximo (ek
lendo huma clâíTe em Lisboa no CoUegio de Santo Antaó , pedio tam- /w, eftando lendo em
tem niiflaõ, &: confeguio a da Índia Oriental para onde foy em ò anho Lisboa, 'pedio,& foy
,
^
de 1673.com outro-feu contemporâneo^ & também Meftre como elle ^Í'""/''? f*^*
"'"^
cm outra claíTe do mefmo CoUegio de Lisboa o Venerável Padre JoaÕ " "*' -*-

^e íiritq, que dáhí a v inte anuoS raorreo martyrizado na niiíTaó de Ma-


dure em o Reyno do Malavar j &o dito Padre Joa-5 Teyxeyra niorreo.
brevemente em chegando á ladia , & foy diante gozar de fua Apoftci-
Jicamifraó. Ejà muytoantes em 1657. ^ ^'^^^ precedido à mefma rtiif-
faõ do Oriente o Padre Francifco Ribeyro natural da Ilha do Fayal, E do Padre Fr^eif»
,

dircipuloquefoy,&meucondifcipulo na Filofoíia do Padre Meftre ^^ ^^^'J'^M«V^"«t


Joaô de Carvalho em Coimbra , & íias miííoés do Oriente morreo glo- '///'^^^^;J^*"íi
^^^
riofo MiíTionario, & a todos eftes tratey, & conheci ^ choro ainda ho- ^J^^j^ ,

jçna© aventura de os acompanhar, i&c participar de feus taõ avante-


ter
jjados mereçimehroS. ,:•.

436 Mas também cá em Portugal ilorécèraô outros Relígio-


íbs da Gompanhia de J ESUS j & Infuíanos , que foraó fugey tos de ta« j^g gutrot FaroesRe^i,
lentos, & virtudes íingulares , entre os quaes pôde já contarfe o muy to UgioftjfLmos da Ilha
Religiofo Meílre Mactheoà do Canto , natural da Cidade de Angra, & Jeree/rà,
tía primeyra fidalguia delia j filho de Ignacio do Canto da Silvcyra Se

Vafconcellos 3 & de D. Ignes dé Caftro , o qual entrando ria Compa»


phia haverá dofce arínoâ , nella tévé o Noviciado éomo hum Anjo, o re-
tolhi mento como hilmá Intelíigenciá Angélica, da Filofofia fahio &
jperfeyto Filofofojèc poriííoem Coimbra omettèráô logo a ler rias
clâíTes daquellâ infigne Uiiiveifidade , &: còm til applicaçaó fez o Ma-
gifterio, que acábadoo primeyro anno entificou de forte, que naõ hoii-
Ve medicinai que o reílituiffciil àfaude,& dentro de poucos annos mor>-
feo de potíco mais de vinte & íeis. Às rriais notórias virtudes nelle foraójí,
qUe íèndo de illuftre fangue, & podendo airida fegairfe fio morgado dá
feafa de feús pays, tal conformidade tiriha coni a vontade Divina , que

íiern para nella fcféguir i rieni jSara riella cobrar faude , riuriea ffe lhe eri»

çènde^ defe|era%«rii de querct largar a Religião j t;al foy fempre a íif$


Livro Vi . Da Régia Ilha Terceyrà.'
meza de fua primeyra vocação ^& fendo de tal nobreza , foy humiÍ4i!«
fimo fempre ,& taó devoto , que como hum Serafim íe foy para oCeoi-
deyxandocheyosde envejaatodosos-quelheâiriíliraó. *^
437 E pois foy Deos fervido levar parafi o Reverendo Pâ«
dre Joaó Pereyra, em Saõ Roque deftaGortedc Lisboa, ha pouco mais
de hum annojdelkfc deve faber* que era natural da Ilha de Saõ Mu
guel, da Cidade de Ponta Delgada 5 filho de hum Cidadão dellà , cha-
mado António Pereyra «âe Elvas j entrou na Companhia cm 166 1. em
33. de Dezembro jleo humanidades féis anno? nas Ilhas ,& no Portoj
Èftudpu Filofofia , òc Theologia em Coimbra foy Pregador de excel-
-,

Jente cftylo , como fe vè em hum tomo feu impreííb ; & foy tam exem-
plar, & de tantos talentos & governo^ que foy Reytorde Aragrai de El-
j

vas jde Santarém , Secretario daProvincia de Portugal , Provincial da


Provincia do Brafil 3 Rcytor do Còllegio de Coimbra, &
Vifitador Ge-
ral, & Vice- Provincial de Portugal , &
ultimamente obrigado de Roma
a fer Prepoíito de Saõ Roque de Lisboa 5 & fentia taato o governar jà
tanto, que a pouco tempo defteoyravo governo morreo com breve do-
ença^ & grandes demonftraçcesde fcntimento , atèdas pcíToas ReaeíSj 3c
pelo zelo com que gusrdâva as òrdésde Romajpadeceo muyto,& eom
talexemplo de virtudes 5 & conílancia tal que aos qué pefibalmentô
,

lhe merecèraQ menos a favorecia, & provia elle mais emfím foy Varáõ
;

digniffimo dç fer contado: entre os illu ftres Varões da Companhia de


JES USi morreo de quafi fetenta annos de ià ade.
438 Também das Ilhas Terceyraâ , & natural da Cidade de
Angra, era Fraricifco Pereyra de Lacerda ^ a quem recebeo na Compa^
nhia o Reverendo Padre Vifitador das Ilhas Luís de Brito ^ & o trouxe
paracàí& entrou no Noviciado de Lisboa em 14. de Dezembro de
165 2. &
cife chamou fó (conforme ao eftylo defta Provincia) fó Fraa-
cifco Pereyraj foyiiihodeAlvaroPereyrade Lacerda, fidalgo bem co-
nhecido em Angra, & de Dona Umbelina Madruga, cujo morgado her-
deyro foy Diogo Pereyra de Lacerda com cafas nnuyto nobres na praça
da Cidade de Angra, de quem tratamos jà em otitro lugar jteve-o feií
Noviciado em Coimbra , êc quafi dous annos de recolhimento , & fem-
pre com taó raro exemplo de virtude , & penitencia , que ( como diz a
;
publico livro da Provincia , in margine ihi) morreo Santo em Coimbra^
aos 20.de Agoftode ié^6£t confummatus in brevi^ex^levit tempera muÚ
ia: placitaeratJ}eo anima tllim. , , .

43^ De muytos outros Heroesiiifulanosfenaõ faz aqui men-'


çaõ , porque fó fê faz dos pertencentes à Ilha Terceyra , deque he efté
Jivro féxto i & ainda deíles naõ , fenaó fó dos que pude ter noticia , &

falecidos j que dealgUns que ainda viy6m,muyto podèra dizer, mas fua
grande modefl:ia o naó permitte. Porém, porque ha pouco faleceo jà
nefte Còllegio de Santo Antaô de Lisboa , o memorável Padre Paulo
Pereyra ^ natural da Cidade de Angra da Ilha Terceyra ^ pede a fua ex-
emplar vida ^ façamos a devida tíiemoriadelle. Nafceo poisem Angra
cm 1656. <k de pays nobres, & militares , por fer feupay Ajudante de
guerra do Terço do Gaftello de S.Joaõ Baptifta,no anno de 1667. &
^âffada a innoceate puericia , entrou a eftudar latim nas clafíes do Còl-
legio
\Mà

Cap.XLIÍLDe outros ínrulanosPP.iníígnesém virtud.417

iegío de Angra, & em poucos annos fahio taõ perfeytó Latino, Poeta,6c
K.hcí:orico,Ò£ taõ exemplar em procedimentos que a Gompanhiítde
,

J ESUS o eÍGpiheo para feu Religiofo teve o Noviciado com exem*


>

plarííllma obíervancia de Angélico Noviço, o recolhimento fem nota


alguma , & muy to menos penitencia , por fe naõ ver nelle , d« que lha
podeíTem dar j a Filofofia eftudou em Goimbra, com tanta applicA-
çaõ 5 & tal engenho para ella i que nenhum de feus doze condiícipulos
o Yenceo,& poucos p igualarão dahi foy metido a ler humanidades*
j

& RhetGrica,& o fez em Braga, & em Lisboa com tal perfeyçaó,aC-


fombro, & exemplo de vida j que não fó os Grandes da Corte ( como o
Excellerite, & íabio Marquez de Alegrete } o confultavaõ , mas outros
jmitando-o, tomáraó a vida Religioía> naõ fó em a Companhia, mas emi
outras Religiões, que fe naõ referem, por ainda ferem vivos paflbu a
:

eftudar Theologia , também cm Goimbra, & nella íahio taõ confumma?


do,& graduado, que ( porftaõaceytar cadeyras} perdeo niíTo a Com-
panhia hum dos mais mfignes Lentes queentaó teria; maselle fòfoy
,

para a celebre Ilha da Madeyra , & nella pregou , & leo Theologia Mo-
ral por muytos annos , & por outros fez o mefmo na Ilha Terceyra fua
pátria^ & dahi paífou a fer Rey tor da Ilha de Saõ Miguel , aonde pelo
zelo fmgular da perfeyta obfervancia Religiofa,lhe deo alguém muyto
que fofrer } & elle fe paíTou para Lisboa , ficando ainda là durando a fa-
ma , Sc continua memoria de taõ grande fugeyto , em todas as Ilhas on-
de eftevCi
44,0 Em Lisboa o efcolheo Saõ RõqUe por feU Pi-ègador, de-
pois o grande Gollegio de Santo Antaõ por feu Lente Real da Moral i

Theologia, & o Eminentiífimo Senhor Cardeal, & Geral Inquilldor


ihe offereceo o fecQiialificador do Santo Officio , de que por pura hu-
mildade fe efcufou j & a Mageftade Real deÍRey noíTo Senhor D. Joa5
o V. o obrigou aptègâllhêem fua Gapella j & por mais que fe dizia tel-
lo efcolhido para o Régio poílo de feu Confenbr, a taõ pio,& Real ze-
lo venceo a canonizada piedade do gloriofo SaõPio V. pois tendo a
fua efclareoidaReligiaõ dos Pregadores efcolhido ao noíío Padre para
Jhe pregar a Canonização , chegada eníaõ do feu novo Santo Pio , efte
.
alcançou de Deos que lha foíTe pregar là em o Ceo ; & affim nas quaíi
,

vefpéràs do Sermaõ àdocceo de forte , que outro grande Pregador da


Companhia fubftituhiò ao pulpitOi& quafi de repente, ao moribundo,
& efte fe foy pregar o feu SermaÓ à Bemaventurança , onde piamente
cremos que eftá, porque
441 Sua obfervancia Religiofa foy taõ grande fempre, que
na pureza nunca nelle fe notou nem algum leve defcuydo iia pobreza
;

foy taõlingular,quenac fóem li, mas ainda em outros RetigíofoSj nun- ,;;st

ca pode fofrer quebra aigúa de pobreza. A obediência moftrou em tantas


navegações, que aceytou fem feefcufar;& a fua humiídadè^funclamehto
das virtudes ) vimos já em náó querer acey taras honras que fe lhe oíFe-
,

reciaõ & a tantas virtudes coroaVa com tal amor de Deos , da falva-
j

çaõ própria, & do proximoj qiie acabada a Filofofia i pedio ir para a ín-
dia a converter gentios, & naõ fe lhe concedendo , fempre com efta mif-
fa© t'«nto lidou , queatèjuncd á iiioitê declaroií j que vários tomos mà-
,'
- .•.::,.-.,•-: .
íxuíeriá
41^ Livro VI. Da Regia ílha Tercèyfà.
mifcriptos, que de Sermões deyxava , tudo o que impreflbs fendefe
feus
fem , toíTem para os Miflionarios do J apaó , ôc China ) pois tinha licen-
ça dos Superiores para o determinar aflira j ^<: de fado fahio jà hum to-
mo impreíTo , & íahiráõ os outros , para gloria de Deos, & de tal varaõ^
verdadeyramente fanto,& fabio & quem ifto delle efcrevcj o fabe tan^
:

to , que foy o primeyro leu Meftre na latinidade em o Collegio de An-


gra , & em Coimbra foy feu Meftre de toda a Filofofia , & Theoíogiai
& em Lisboa o tornou a tratar , & conheeer féis annos , atè lhe morrei
nas mãos de idade jà de leíTentâ annos.
44,2 De outros varões illuftres Infulanos , iSt de algum modo
Lufitanos , feria nunca acabar , fe os quizcííe ainda fó referir j pois baf.
hum
Anchieta, verdadey ro Thaumaturgo da Companhia ^ prodi-
taria

Í>es mafá
giofo obrador de innumeraveis milagres ,
.
&
efpelho de fantidade , Sc
dos de out ^7lh'
P^^i^^^cia , para encher muytos livros, como jà tocámos nas fuás Ilhas
OccidtpaHti,
Canárias & baftaria o grande Padre Leaõ Henriques , a quem em Roi
>

ma queriaõ eleger por Geral da Companhia em premio das virtudes, &


. illuftre fangue que tinha j natural da Ilha da Madeyra j donde tambenl
era o fapientiííimo Padre Manoel Alvarez , primeyro Compofitor da
I Arte Latina, & Meftre univerfal do mundo todo > &
ainda emfím bafta-
ria bum íadre Francifco de Betencurt j legitimo defcendente dõs dou$
1 Í5rimeyros j &
Catholicos Reys das Canariasj & natural da miefma Ma»
deyra , onde deyxoú o morgado de feus illuftres pays j por entrarna
Companhia de j ESUS, aonde morreo pregando em Saõ Roque , ajuni
taiidoGom o zelo Apoftolico o exemplo dás virtudes: baftafiaõ poisf
fugeytos tacs , para honrarem , &
acreditarem a todas as líhas > porèni
por jà concluirmos com efte fexto livro dâ Tercey rà , poíihamos-lhe á
coroa com a mayor gloria delia*

C A P I T y L O XLíV.
Bê iiiuilrijjtmo Martyr ^oao Bautifla Machade.

4i!
DA fanta vida j & gloriofa morte
deft§ illuftriflimo Mar-
tyr fc faz raençaô no Manulogio , oii M
ar ty relógio doss
'BafnaúgUriofeAn-^ Martyres , ConfeíTores 5 &
varões illuftres da Companhia de a JESUS
grenfto Faáre ?oai ^ ^ ^g Msi^o Sc mais largamente na gloriofa Coroa de esforçados Re-
j
Samifta Machado, j. -^^
" , txde -^1 ESUS,
^^ Companhia mortos pela Fé Catholica nas Con-
morto peia Fe Catho- " , „ , n 1 t» j d 1
Padre Jtíartholomeu
u
Uca em fapaõ co quiftas do Reyno de Portugal , corripofta pelo
j»ff prof6tiz.o}t íií / Guerreyro
da mefma Companhia j &
impreífa erh Lisboa no annode
mefm&emfm meni- i642.porAntotíio Alvarez , Impreflbr delReynoíTo Senhor, 4. fart,
^^i: cap. 38. mas porque fó recopikdan>enre fe faz a dita mehçaô & de tal ,

InfulanoAngrenfe he aqui o feu próprio lugar, diremos delle, para


gloria de Deos ^ o que fó pudemos alcançar ^ rcfervando d mais para as
Catholicas diHgencias que a Santa Madre Igreja eoftuma fazêr em fe-
melhantes matérias,
444 Nafceo o Padre João Báutifta Machado ém a Cidade de
Angra ^cabejad^P Ilhas chamadas Tereeyras ,ou dos AíTores , no annd
de

»
Cap.XLíV.DomayoíA mais illuílre Angrenfe, Mart 4^^-
depois mettida na fegunda fundação
<^€i<82 Acafaemquenafceofoy
fobredita Cidade j para que
do Coiiegio da Companhia deJiiSUS da
aíTim fe veja que efte fortiffimo Martyr
naõ fó com fuás excellentiílimas
virtudes » mas também com o material
de íua cafa, foy, hum como Fun-,
dador do dito Collegio de Angrai &
muyto mais porque efte fanto Paw-
dre, fendo ainda de leis para fete annos
de idade , coftumava jáentaô du
ir ao Japaó , & dar là a vida pe-
zer , que havi^t de Ter da Companhia , &
la Fé Catholicajôc tanto affim
tudo aconteceo depois , que parece que
como a ou«
Deos nofloSenhor jà em taô tenra idade lhe communicou (
que o Collegio Angrenfe dei-
tío Samuel ) o efpirito de profecia , para
Ilhas , ôc Con-
letomafíeo rniílionario elpiritoque tem para as outras
quiftas de Portugal & reconheceífe por feu
;
Fundador também efpiri-
tual a efte taô fanto Miílionario. ,

u 445 Seus pays forao da antiga , nobiliílima família dos Ma-


&
mais largamente em
chados, na qual jà tocámos nefte Uv. ò.cap. 23. 6c
atè na geração era efte
feu lugar fallaremos por hora bafte faberfe que
;

Fadre joaõ Bautifta taô illuftre j que com haver em


Angra famílias
quemuytofe
miytas de fidalgos da cafa deS. Mageftade , raro fera o
isaô preze de fer parente deíle illuftre
Martyr , cuja cafa poííuhia hum
feom, &: patrimonial morgado , & dèfte era o
fucceíTor herdey ro o mef-

mo Padre-, caufa porque feus próprios pays o mandarão a Lisboa & de ,

Lisboa a Madrid, para viver neftas Cortes * & tratar


dos augmentos de
tal filho , fendo ainda entaó
fua caía tanto era o que fiâvaõ do juizo de
-,

fó de dezafeis annos de idade. Porém


querendo Deos que o mefmo fi-
a Lisboa, fe foy logo
lho fizeííe verdadeyra a fua profecia, em chegando
Religiofo na Companhia de
a Coimbra , & pedio & alcançou o entrar ,

TESUS & taô religiolamentc procedeo no Noviciado , que tendo en- t)efua tntradd nÂ
i

ao Santo que fe fahif- Companhia, Novi\


trado com elle hCi feu primo , & perfiiadindo efte
ouvillo quíz jà- ciado,& mifaÕ efco^
fem da Religião o Angélico Joaô nem fallarlhe nem
, ,
Ididaparao^apao^
maisj & o primo deyxando a Companhia, experimentou
depois gravif-
fimos perigos, & foy aquelle Chriftovaô de Lemos de
Mendoça, & pay
do Primas do Oriente, Arcebifpo de Goa,Dom Frey Chriftovaô da Sil-
veyra, de que acima jà falíamos.
446 Porém o Santo Noviço com tal exemplo acaboti ofeU
depois, Da pregação, &
con\
feiennio do Noviciado & fez taó religiofa profiífaó , que pouco
,
que fez. em
vtrfag
& fendo ainda Humanifta , pedio com tanta inftancià, & fervor a miífaó fapao, & cemofoj eM
da índia & determinadamente a de Japaó , que fe lhe concedeo com fó terminado dellc &x
, ,

quaíi três annos de Religião, & logo no de i6oi.com outros muytos ficou OCCPfltO.
Miffionarios partio paraaindia: chegado aGoa eftudounella aFilo-
fofia , & em acabando partio para a China & no Collegio ,de Macao eí-
tudou a Theologia & efta acabada , navegou para o feu profetizado
,

Jariaõ noanno de 1609. & pondo-fe em o Collegio de


Arima taô bre- ,

vemente & taô deftro fe fez em a lingUa Japoneza que foy logo pre-
, ,

gar à Corte de Meàco, & à Cidade, & Fortaleza de Fuxini & os cin- ;

co snnosíeguintes atèode 1614. gaftou nefte continuo , fervorofo , 8c


Apoftolicoofficio. Mas conioemM^cáofahiííeenraó o impio decreto
de fahirem defterrados do Japaõ todos os Pregadores da Ley de Chrif-
to, 5c deftes peftendeffem logo niny tos fieai: eícondidos em Japaõ ,
«c
r , Mm q«aíi
410 Livro VI. Dâ Regia ílliaTerceyra.
qnafi todos foffem mais antigos Miflionarios do que o noífo Bautíftâ^
tanto recorreoefte a Deos, ék com cães orações , penitencias , Miffâs^ &
quQ fez com que o Senhor moveíle a muy tos Catholicos Japões, que na
vefpera de fahirem os Padres , pediffem hum , oíferecendo-í« ao terem
taô fecreto 3 &
eícondido , que nunca deíTem com elle os miniílros do
Tyranno j & ao Superior dos Padres inípirou o mefmo Deos que lhes ,

á^s o Padre Joaô Bautifta Machado , & affim ficou com elles.
447 Os Gatholicòs Japões recolherão o Padre 6c o puzeraó ,

ms lilias de Confura, & nas de GottOj porém naõ fe dando o Padre por
iatisfeyto ainda , pertendeo logo tornar para a firme terra de Arima S^ ,

JÍiniabâráj a pregar publicamente , defejando mais depreíTa morrer pe-*


k Fé Cathoiícai & naÕ lho coníentindo os Japões zelofos que o tinhaó
eícondido , três annos ficou o Padre prégandoj confirmando, & confef-
fando a Ghriftandade toda das taes Ilhas , acè que no principio de Abril
de 1 6 1 7. eftando o Padre confeííando os feus Chriftãos , deraõ com elle
QS mímftros do Tyranno , &
lhe notificarão a ordem de o prenderemi ôc
ouyindo-os o Padre, rompeo em graças a Deos por taò defejado bene-
& aos miniftros por tal nova lhe trazerem & ainda ao Tyrari*
ficio feui
;

De c*m6 foy "°' P^*^ mandalla executar & logo accreícentou que aflim ao Tonoj
defcw j j

^íríOjC^/írííLí,^/*. C*!'^^^'** o Tyranno mandante} como a elles feus miniftros perdoava


vado at Cíjrffír? íií tudo o que contra elle obra vaõj&obraflem.
OntHra. 448 Ecomtudoportaltâdetempoparaapaííagèm daqueíias
Ilhas a Omura , fe détiveraõ todos quafi quatro dias em que todos os ,

Chriftãos fe confeíTáraó & deípediraó do Padre, admirados de lhe ou^


,

virem que deíde menino defejárá fempre ir dar a vida éhi Japaõ poç
,

pregar a Fé Gatholica j & o Padre , em entrando no navio , inftante--


niente pedio ao Capitão que o mandaííe logo atar , porque a fua honr^

m era ir prezo por amor de Chrifto ^ & pelo contrario os raefmos Gentios
otratàraõ fempre com toda acortezia, atè o metterem no cárcere de
Omura, a que chamaõ Corij & neíta prizaõ eftéve ate22.de Mayo,&
efcrevèo aos Padres da Companhia eftas formaes palavras:
4.49 j^s dores que aqMtpadêp fao too grandes , quefe parecem côffi
à mfma mortehemdiíofeia o Senhor , pais hefervido daUas^jà que os apeV"
:

Be huA cartAfua ef- do


^oscarcerenao fao too ngorofos , como eu ejperava j he que tenha por hm
arita no dito cárcere outra njia occafito de padecer , por enfdyo de outros torrdentús mayoresy que por*
.

amor de Deos ej^ero levar dou graças afuaDiVma Magejiade j que defde d
:

hora que me prenderão ate ejia prefente ? nao cuydojenao qua-ndo me verey em
huma eriiz , ou debayxo de huma
catana bemdito feja Deos , que ajjim con^
:

fola aos que por elle tao pouco padecem. Haver k quarenta di^s , ou mau , qué
me tratao mal eftas dores , ò" por efte lugar fer tao húmido me moleftao tan- ,

tOi que nem de noyte , nem de diapojfa repoufar j teriho-o por grande mercê de

Deos, j a que me nao da'o outros tormentos, receber de fua Divina mao eftas
dores qmfao como de morte dou^raÇas a Hoffo Senhor por me dar hua fe-
, :

rènidade , ^ quieta çao grande , qite ndo ha còufa que maii defeje yqueo efa^
padecer porfeua^or,&C.
temi, i,uvio,&^ceyJ^'^''^^^'^^^^à'
afenterça defiu
íoft 45° de Mayo do anno de 1617. &t
Chegado poisodia de 2 2.
martyria,& ds qm a fendo efte fanto Varaõ trinta Br cinco annos de idade , dezanove da Cò-
fda rtfjitndeo. panhia de JESUS j deZafeis de Miffionario da índia , & oyio de Prega-
" ~ "
'0 . dor '

r^
Cap.XLl V.Da ida pàraJapâOjpágfprilfáò JÍ.Joaõ Bâp.^i f
dor de japaô j entaó eftando prezo no cárcere de Omura , entrou nellé
o Governador Tomonanga Lino com a íentença que tinha chegado de
&
Yendo èc vendo ao Padre, o viíitou j converfou taõ familiarmentej
-,

que naó fe atrevia a lhe notificar a íentença que levava , atè que fez o
que mandava o Príncipe Xagum. Ouvio o Padre a fentença , & fomen-
te reípondeo eftas palavras: Três dias tenho ttdo nejiê mundo dejmgular a»
legrm frimejro , quando entrey na Companha de JESUS em o Colkgio d&
-,

Coimbra ifegundo, quandofuy prezo pela Fé nas Ilhas de Gotto j terceyro ef*
te^ quandojè me da, taí ditoja nova , como para mim he o morrer por tal cau*
iíto, perguntou logo o fervorofo Padre , que cafta de morte fe
fà. Dito
lhe mandava dar. E naõ fe atrevendo o Governador a dizer mais, fenaõ
que naquelle mefmo dia havia fer , o Padre mais aceefo no amor Divi-
no inftou que o perguntava , porque defejava que feu facrificio foíTe de
amiudados tormentos ,& que IhefoíTem cortados os membr«s hum a H:

hum, como o faziaó aos Martyres antigos era outras perfeguiçóeS.


451 Ouvindo taes palavras o dito Governador, ficou taõ pé- ,

iletrado , & taõ admirado delias , que tendo fido filho depays Catholi- ^"^^ «i
'^^»i^f*-fjé
.

cos & irmaõ de hum Padre da Companhia j & tendo ( no exterior ao ^"^'P^f"^
'^'* P^^
,
^ jTn'o/--jr • •/-' ri tença do martyrto^
ríienos } negado a t e , & esrriado-le muyto no interior , lo por ler hum ^ L?^ ^^^^^ ^
9em mor'
âos primeyros Governadores do Omurandono ,& lerfeu Valido, com- reopeU Fe,é'dafe\
tildo obráraõ tanto nelle as ardentes palavras do fervorofo Martyr, qucj^unda carta qut e«4
fiaõfó afimefmofe reduzio áFèCatholica, mas perfuadio a mw^tost^õffcrjytOi
íjue fizeflfem o meímo; & em vendo o martyrio do Padre , foy diante do
próprio Omurartdono, & publicamente confeíTou , & protettou fer elle
também Chriftaô Catholico , & eftar ptompto a morrer pela tal Fé. E
tuftou tanto ifto ao Omurandono , que furiofo fez logo alli em fua pre-
fcnça matar às cutiladas ao ditofo reduzido Tomonanga Lino.
45 2 Tanto pois que o Padre , feyto de amor Divino hum no-
Vo Etna, diíTe ao Tomonanga as íobreditas palavras , pegou da pennaj
iSc efcreveo ao Padre Sebaftiao Vieyra da Companhia de JESUS a car-

^a feguinte:
Agora , Padre meu , me derdo d alegre nova de minha morte , morr»
'muyto confoladojé^confadojpoiíhe pelo bom JESUS y&lhe doumuytas
J^ra^asi porque Ç ainda que a indigno ) mefez, t ao grande mera.
45 3 Companheyro deite Serafim humano foy em o martyrio
iium Venerável Religiofo da Seráfica Ordem de Saõ Francifco , cha- ^^-^^ iamèem M/d ir 'i

Ihado Fr. Pedro da AíTumpçaõ j o qual ouvindo a fentença de fiia mor- Pemorreo o gkriefò
te, refpondeo j que aquella era a morte , qUe elle tinha pedido a Deos Padre Fr. Pedro dÀ
todos os dias ná Miíía defdeo dia de Pentecoftes atè aquelle prefente, '^jftmp^aò FranciJ^
que era ó da Santiffima Trindade. E aflim morreo também martyrizá-/'*'''^*.
do, & com tal amor Divinoj que todos o conhecerão por Seráfico.
454 Chegada emfim no mcfmo dia a determinada hora para 6
martyrio, foy tirado do cárcere o Padre Joaõ Bautifta Machado ^ & le- I' 'mj:

vado fora da Cidade pííra lhe fer cortada a cabeça ; raas para iíTo naõ
foy ordinário algoz algum j fenaõ hum honrado ,& nobre homem ; por
fer em Japaõ cofturae, naó fe cortar a cabeça a peflba de refpeyto, íenão
por quem de refpeyto também feja :& he muyto de reparar ( como
|)ondefáremos mais ^.bayxo ) qiie com offerecèr o Padre a cabeça ao ta-
''
Mm ij

ym
Lif ró 1^4 D a kérsia Ilha Ter cèy^â:

Ih© conftantc, Sc âkgrernente, 6c cor» lerem as catanas dejapaõtàõ afi^


€^mnm <i^rí/w<rv. fiadas,^ taô facilmente cortad€yrâS>comEudo oem xia primeyra veZ|
ro.nemofegundoj^ol- nem éâ feguada , mas fomente dá terceyra degoiioú eftú ao Sanco Mar«
fe da catana ojfendeo typ^ \i vendo tal maravilha hum Gatholico mancebo Japonez ^ por no-
ao Santêmmfó o ter-
^^ £^^^ ^ ^^g j^q Seminário da Gom paahia de J ES U S fe tinha cread©,
Mo ufT^òmsr ^
^^ miaiftenos Sacerdocaes ajudava fcmpre ao Padre, fem qiiírer jà
livrarfe de íàc prezo , antes tanto fe
fet hi^.flpAò^&^feL
'
«»'âis.
( podendo) apârtarfe delle^ ôc
Fímoneo, aecendeona Fè, com que vio ao Santo padecer , que dentro de poucos
4iás fe oíForeceo à morte , alcançou a coroa do Ma r cy rio. &
455 Degoíiadoo Santo Padre em 22. de Mayo de 161 7. poÉ
Tyranno Príncipe Xagum commettida â Omurandonol'
fcnttnça dó
De ««rwr/o^^ííio^-^r que pelp Governador de fua cafaj & eftado Tonionanga Lino aman^
9 for/io íiego/Zííí^õi í^/»
<jo^ ^^xecutar jà os devotos Ghriftáos cinhaô preparadas duas pre*
,
€fiyellatqHtifoi>re eU
ciof^s cayx^f emqtíe recolhèrãõós hiartyrízados corpos dos dous in*

«wTr^TvrLL I Vidos Mârtyresb Fadre Joaõ Bautifta MaGhaQo,& í^rey Pedro da Af;
manAoit Unc«r m fttnipçàÓ & 5 depois de innumeraveis Ghriíiáos os venerarem , &ado^
uíw*-.
'
lâreítij em diftintas covas os íepultàraô a ambos porem vendo o impió ;

Omurandono o exceflivo número de Chriftãos que concorria avene^


rar relíquias taq iníigaes j mandou logo ao outro dia cercar as fepultu,
ras com foldados , & oífieíaes Gentios ,
que impediííem o cohcurfo , 5t
veneração que líies davaò eys-que na noy te ( prodigiofo ca*'
: priíiíey ra

fo! } viraô naõ fó os Chriftãos j más ainda os mefmbs Gentios , que ío^
fere as duas fcpalturas eftavaô duas eftrellas, & de taó exceflivo refplaa-í

dor, que attonítos j & confufos foraô dar conta de tildo ao Tyrannoj
Cõm que cfte , cada vez raaiis Dbftinado , & empedernido i mandou lo-
go lançar os fantos corpos, com as cayxas em que eftavaõ 3 no meyod^
alto maf, paraiHâõ tornarem a fer bufcados, & venerados.

'
456 O Ceoporèmfez também qiíedeJapaõaMacáo,&dé
Macáo a Goá , & de Goa a Portugal, & de Portugal à Cidade de Angra
daIlhaTerceyra vieffem ta5 verdadeyras novaS da gíoriofa morte 8c ,

Venerável martyrio do Padre João Bautifta Machado, que depois dè


fem Portugal fe celebrar com o citado Manuiogio , ou Martyrologio da

"
Companhia dê JESUS & cottí o eitadoj & impreíTo Elogio do Padre
,

Barthoiómeu Guerreyro paffou Gom tanto appláufo à Angrenfe Pa*


,

triadétal Santo, qiie conclue o dito Elogio com as formaes palavras


feguintes Dagloria de taí abalizado Cmifeffor de Chnfio ,fem nobres pa^
:

:. rentes -fizer ãò a eftimaçao qué deviao à qmrã erao com fefiejareM âs vião* ,

t • *"-
riaSié' triunfos que o Fadre João Bautifia wvè da idolatria Japonica.
45 7 Ao que tudo acCrefcento , que em á Santa Sè da Cidade
de Angra, ha Capella do Bautifterio , eftá pofto o retrato defte Venerá-
vel Marcy r por ,
allicomter fido bautizado •, U confeíTo ,
que riaõ fey
Hè éjúdnio feftfitjou
efta Âpoflolica mone
quem deva comparar taò admirável CorifeíTor de Chriftojporque jà me
afer Profeta & Saut
em Portugal "^^na parece hum Samuel ,que defde menino começou
,
,

fita Pátria d llhà tO;,jjà a infigne


„ Martyr,
j
& Doutora Santa Catharina, que
"j
naõ fÓ deo poc
'

r •

Terceyra, ^ na Ca- amor de ChriAo à vida ,


sr
ma* para o mefmo Chrifto reduzio ^ fez feus &
pelUdapia em ^«í gloriofos Martyres a Porfírio ,Governadbr dos foldados doEmpera*
f»j kami^aÀ$. j^^^^ ^jj,da à meíma Eriíperatríz como o noífo Padre ao Governador
,

TómonaHga Lino, & ao leu próprio & illuftre Ajudante Leaô além j ,

( de

IW
Cap. XLl V.Dt eomo deve horâr Ahgr.aqaê tato a hor^4iJ

de innumeravcis Gentios , que de antes jà tinha convertido, & bautiza*.


(do ijàenifim parece hum tervorofiffimo Santo Ignacio Martyrj qví]o j)gs Santoíexempk^
ardente efpiritOj & defejo de padecer mais tormentos trasladou t&Qresa^uemfegHioefit
Santo em li , & Jliè bebeo o fervor daquelles , em que tanto ( como vi-- Santo Padrt,
mos} o imitou.
458 A dous porém exemplares, hum humano i outro Divinoj
'

iJieparece feguio mais efte admirável Padre por exemplar humano :

tomou logo em fu^ puerícia o Santo do feu nome , o Angélico Precur-


sor de Ghnfto , pois como eiie , Sc defde a primey ra idade ainda largan-
do a cafa-de feus illuftres pays^ a pátria em que
famofas Cor- nafceo , as
tes de Lisboa i & Madrid , aonde queriaõ foííe , fe foy para o deferto,
entrando na Companhia de J ESUS j como elle , do tal deícrto , fahio a
pregar à Corte de tantos cruéis Herodes, quantos achou no Império do
Japaój como elle fe occupou no cilicio do Bautifta j bautizando , 6c
pregando a milhares de Gentios como elle, naõ defiílio de pregar fem-
$

&
^

pre a pureza da Santa Fè Catholica, & por ella dar a vida, degoUado
também diminuindo- fe a fi por augmentar a Chriílo parece logo que
, :

foy hum retrato verdadeyro do fantiffimoPrecurfor Bautifta.


459 Pois mai^ verdadeyro ainda parece o foy do mefmoChri-'
fto, porque à fua imitação, defde a primeyra idade fe oífereceo a dar a
vida pelaredempçaó das almas, que oSenhor tinha remido > defde a
mocidade ainda começou a lhes pregar , &
de tal pregação naô defiftioj
&
podendo, atè fer prezo, chegar a dar a vida por ella|, perdoando a ini-
migos, como o mefmo Senhor ; convertendo ao mefrao Xomonanga*
que o fazia degollar j como Chrifto a hum ladraó } morrendo ferido &
de três golpes , como o Senhor de três cravos em dia da SantiíTima >; &
Trindade, querendo a cada Peflba oíferecer huma vida , pela que por
elle oífereceo a feu Eterno Padre ; &
também fendo fepukado em cay-
èca, ou fepulchro novo, & com guardas a elle poftas ultimamente in- -, &
do á altura mayor do mar , & fendo nelle fubmergido , como o próprio
Chrifto no mar de fua Payxaó.
460 Oh retrato fideliílímo j naÕ fó de hum Samuel , de humâ
Santa Catharina, Sc de húm Ignacio Martyr , mas de hum Precurfoí
Angélico í& atè de hum Divino Chrifto Oh ditofa Angra, aqueni De Quanto fi de'Úi
!

Oeosconcedeo o fer May de tal filho! Oh adverte Mãy ditofa, que /"'^f»'''»' '*/''^^'«'"'*-^
atè a Virgem Mãy , naõ fó pela honra que niífo lhe deo o Filho , mas Ç^õ Catholica dejue
^*
pelo que a tal Filho deo com feu preciofo levtea méfma MâVj poriííof'-" /*' V!f f
-
toy)u]gAdztsoditoixBeatmventer,qiitteportavit-,&úbera,quaiuxifit. ^^^^ -

E o mefmo Chrifto diííe que mayor dita he dar, qite receber Beatiuí :

eJldarCi qi^àm accipcre.Aàvçnei digo, qtie pois recebefte de tal filho tan-
ta honra, obrigada' eftás a lha procurar,&: dar a elle j &: como haja quaíi
cem annos, que efte teu filho te deo á mayor honra j de morrer martyri-
Zado pela Fé de Chrifto em Japaó Sc té deo a honra de feres Mây de
,

hum Santo Manyr , ficafte obrigadiílima a lhe dar á elle a hoiíra mayor
de lhe alcançar da Santa Mad re igreja Catholica Romana, que o decla-
Fe, &canonize por glóriofo Martyr de (jhrifto,&: que por talentaõea-
lionicamente o tenhamos, Sc adoremos.
461 Nem fe retarde mais diligeiiciataógíoriofa das qu€fç de?-
i
*
Mm ul vem

Livro vi: D^toallIhaTíícèyrà^

vera fazer para tal declaração , ou Canonização } porque eftas dilígeti*


cias devem pedir os Senados de toda effa Ilha a feu Illuftriffimo Bifpo
&
que as faça , achará a manifefta verdade j naô fó de ter fido a vida de,
talvaraõ immaculada , & fanta , &
o martyrio padecido pela Fé Cacho*
liça, 6f por a pregar em Japaõ j mas também de o ter jà Deos declarado
affim , com a maravilha de fó da terceyra vez a Japonica catana o degol-
Jar , &de o mefmo Tomonanga j que ofezdegollar, fe converter j a &
-maravilha mais celeftialde fe coUocarem fobre o fepulchro de tal Mar*
tyr as eftrellas , teftimunhando a verdade do martyrio : &
emíim achar-
feha , que por huma Reliquia do veftido defte Santo 3 que foy á Cidade
de Angra, fua pátria, obrou Deas muytos milagres , como depor áô as
teftimunhas perguntadas.
462 E tudo ifto affim, & canonicamente bem provado, &re*
mettido tudo pelo Illuftriílimo Bifpo de Angra ao Summo Pontifice
Romano , com cartas dos Cabidos j dos Senados,& dos Prelados das Re-
ligiões da Ilha j naõ deyxará o zelo de S. Santidade de deferira taõ juf-
ta , èí pia petição a favor da innumeravel Chriílandade , que íloreceo
cm Japaõ & muytomais deferirá ,fe a Mageftáde delRey de Portu^
-,

gal o pedir por Real carta a S. Santidade ,& ao Sereniífimo Rey o pe-
dir a Ilha, allegando o quanto lhe merece interceder porella como
Papa , efpecialmente por fer ElRey o Graô Meftre da Ordem de Chri-
ftoj&deíla Ordem a Ilha & de todas as dos Aflores , ouTerceyras a
,

cabeça , de que tantos fugeytos tem fahido para as Conquiftas da Co-


roa Portuguezaj & eonverfaó da Gentilidade &
; cora tal declaraçaó,Qii
canonização, animará muyto maisa fervirafeu Deos ,& a feu Rey.
fe

463 E ainda que neccífaria j &: fantamente fe coftuma gaftat


rauyto na Canonização de hum Santo, para fe executar com adevidat
decência, & culto , naõ deve ifto obftar a huma Ilha Terceyra, que fem
pedir a outrem coufaalguma , pôde j per fi fó> fazer por tal caufa os taes
gaftoSipois fepara eaccluir aos Reys de Cáftella da Coroa de Portu-
gal, & fuftentar o feu chamado Rey D. António &
fe para confervac
;

ad legitimo Rey, Sc Reftaurador da Coroa Lufitana,o feliciflimo Dom


Joaô o IV. & fe para guardar , & fervirao vi£toriofo Rey Dom AíFonfõ
VI. fe para tudo ifto unicamente efta Ilha gaftou tantos j & tantos mil
cruzados , como vimos jà i claro eftá que poderá gaftar menos na expe-
dição da Canonização de hum feu filboSanto,& que temtaatoSj 5c
taõ ricos morgados por parentes na mefma fua II ha, da qUál deve fer to*
inado porfingular Padroeyro,& a enriquecerá naõ fó de temporaes
bés, mas de efpirituaes.

G E N E A L Ó G I A
Do ínviBo Mavtyv,

464 ^Tp Éndo o dito [admirável ConfeíTor de Cbriílo taó excel-"


1 de que pudera denominarfe,
lentes outros appellidos ,

nenhum entro para fitomou fenaô o de Maehado; porque ( além da ra-;


zaÕ moral que abayxo apontaremos ) he humanamente taó excellente,
&: taó Regia a origem dos Machados, que mercceo fer preferida a mu y-
cas

-•*-
Câp.XLIV.Posiliiiftres Âfcehdentèsdo Veheravei P. 4i|

tas wuras. O prinieyrodefte ^ppellido foy Martim Martins Machado,


filho deliiey O. Sancho o primeyro de Portugal , que por ter nafcido Da antiga, & Regia
em dia de Saõ Martinho aii.de Novembro de 1154. fe chamava ãof'*^^^^'* do appí-ihdé
principio Martim , & por iffo a eíle feu filho chamou Martim Martins
^^jf/Jl's'Jtl
*" /Jf
Machado, & o dito Rey o houve de huma Dona Maria Moniz, filha do ^J^^" " ^" " -'
Conde D. Moninho Ozono, & neta do Conde Dom Ozorio, & bifneta
do Conde D. Rodrigo Velofo , & terceyra neta do Infante D. Vélofo,
filho delRey Dom Ramiro Terceyro de Leaó ,como fe pôde ver no
Régio Nobiliário de noíTo Conde Dom Pedro ttt. 44. §. 4. & já o dito
Martim Martins Machado foy íênhor de Riba do Cávado , & da Qtiin-
ta. Torre, & folar dos Machados 5 &deÍlenafeeo Martim Machado , a
quem fe ajuntarão outras terras de Barrofo por feu cafamento , de que /j^í fenhoresãe f»2
naíçeo Pedro Martins Machado, que foy o primeyro intitulado fenhor tre Home &Cávadá ''*'

de Entre Homem, & Cávado , & de outras terras & foy paj de Diogo dr de Dornella^^Faf*
,.

-,

Machado, fenhor também deDornelIaSi a quem fuCcedeo {tn {Aho ''"'^'^'^^"^^^ ^^fi^"*
Gonçalo Machado, que cafou com D. Mayor Mendes de Vafconcel-
los, íènhora defta cafa, &: da dé Caftro , por primeyra filha cje D. Mem
Rqdriguezde Vafconcelíos, quarto neto do fobredito Conde D. Mo-
ninho Ozorio que era terceyro neto legitimo do dito Rey D„ Ramiro
,

Terceyro de Lcâõ.
465 Dotal Gohçalo Machado, fenhor de Entre Homem Sc
Cávado, 6c das mais terras & Alcayde mòr de Lanholb , nafceo Vafco
,

Machado , Alcayde mòr de Guimarães de c[uem nafceo Pedro Ma-


,

chado , que cafou cora Dona Ignes de Góes fenhora da Louzã, em eilja
Capella mòr eftáelle fépultado} 6c foy pay de Francifeo Machado, que m
ao, Duque de Coimbra D. Jorge largou a Louzã, Villarinho, & Pedrc- \

gal pela Commenda de Souzel , & cafou com D. Joanna de Azevedoj Dos Machadarfekhó-
filha de Joaõ Peyxoto, fenhor da Calçada y & de Penhafiel , &c. Do di- rts daLoMsúi.Alcay^
to Francifeo Machado nafceo Manoel Machado de Azevedo fenhor ^"'«^''"í^f (?»*>»<*-
,

das fobreditas ten-as 3 & Commcndador de Souzel , que cafou com D, ^'^"i
^"0,

Joanna da Silva, Dama da Rainha i&r filha de Manoel da Silva, Alcay-


de mòr de Soure, Apofentadormòí delRey D. Manoel , & de D. Ignes
da Cunha , ambos dos verdadeyros Silvas & Cunhas j & do tal Manoel
Machado de Azevedo nafceo Frâncifco Machado da Silva , fenhor de
Entre Homem & Cávado, &c. & Comendador de Souzel j que foy bau-
tizado por ElRey D. Henrique^ Arcebifpo de Braga, &: feus Padrinhos
forao o Infante D. Luis, & D. Pedro , & cafou depois com D. Maria da j^^'*
^'^f "bía^^ã
^"
Silva , filha de Manoel de Magalhães de Menezes fenhor da Barca i^^g'„fz.er^
, '
''"

'

de P. Margarida da Silva, filha de Leonel de Abreu , fenhor de Rega-


ladoSi & do dito Francifeo Machado nafceo D. Margarida Machado da
Silva & Vafconcelíos j que levou comfigo o fenhorio das terras de En-
tre Homem & Cávadojác cafou com Manoel deAraujo,Soufa & Caílroj
que era a varonia dos Caííros , 8c rtaô fó oytàvo neto delRey D; Pedroi
de Portugal,& da Rainha D. Ignes de Caftro, mas pela fua Varonia duo-
décimo neto delRey D. Affonfo I. de Caftella, & Leàõ , & dècimo-ter-
cio neto do Infante D. Fernando o de Navarra ,& da Condeça D. Ma-
íia Alvarez de Caftro , fenhora de Caftro , & decimo-quartõ neto del-
ReyD.SanchoI-de Aragaôjoquemorreodafetta. > \

;.; 466 Deíié


il^ Livro VI. Da Regia Ilha Tç,rçeyrâ.
466 Dçftc ultimo poi« Manoel de Araújo Soufa & Caftro j &
Ddi ArMjts^Saujoiy d* ^^^^ P« Margarjida Machado da Silva & Vaíconceilos nafceo o gran-
& Cafiraf, de Félix Machado da Silva Caftro & Vafconceilos , primeyro Mar-
que^ de Montebello,qiie cafou regiamente em Caílellaj & teve porfi-*
lho a D, António Machado Silva & Caftro, fegundo Marquez de Mon*
'
tebellò , com as pazes veyo para Portugal & nelle cafou com Do-
qiie j

na Liiiza de Mcndoça primeyra filha do conhecido fidalgo Manoel


,

dç Soufa da Silva , cujo palácio eftà às portas de Santo André j &^ fe^^
gunda filha cafou com feu primo o Conde de Vai de Reys & do dito -,

fegundo Marquez nafceo D. Félix Machado, que cafou com D-Eii*


fjrafia da Silveyra , filha de D. Luis da Silveyra, que ainda hoje vive , 6ç

he taô grande fidalgo , que efcufado he dar outra noticia de fua grander
za. O
dito fegundo Marquez foy varaõ de grande juizó , & prudência»
&
cpmo tal governou Pernambuco no Brafil, & agora o eftá governan-r
do D. Félix Machado , feu filho. E ifto bafta de noticia dos Machados»
de que foraõ os da Ilha Terceyra , pois também de lá defcendem aíTim
Q dito D. Félix , como feus filhos , por fua avò D. Luiza deMendoça,
que era filha de D. Joanna de Mendoça j &
defcendente legitima dos
primeyros fidalgos Monizes de Angra.
467 Dos taes Machados era o avo materno do fobredito Mar-
tyr, Manoel de Barcellos Machado , filho de Catharina Machado de
JDoí Bareeliss
, Li Lemos, &: por eftaneto de D. Ifabel Fereyra Machado, bifnetode &
wosyé' Ptrejroi. &
Gonçalo Pereyra Machado , terceyro neto de Pedro Enes Mâchadoj

de quem o noflb Martyr ficou fendo quinto neto porque a dita bifavò -,

do Santo Padre Catharina Machado de Lemos era caiada com Joaõ


Mendes de Vafconceilos , filho de Bakhazar Mendes de Vafconceilos»
^
neto do outro Jpaõ Mendes de Vafconccilos,&: fegundo neto de Pe-
dro Mendes de Vafconceilos ,& terceyro neto de Gonçalo Mendes de
Vafconceilos, &
quarto neto de Martim Mendes de Vafconcelíos,(qué
d^ Madeyra fe foy para a Terceyra ) &
quinto neto do primeyro Mar*
tim Mendes de Vafconceilos , que de Portugal foy cafar com a quarta
filha do grande Joaõ Gonçalves da Camera o Zargo , de quem ficou
fendo nono neto o dito Martyr*
468 Mas porque muytos defcjavao faber a paterna afcenden"
,
ciá do martyrizado Padre , confta que feu pay fe chamava Chriftovaõ
Dos Viiyras, também
Nunes Vieyra j Sr fua mây Maria Còtta da Malha,& que por ambas cf*

Àiani
"
^^^^ ^^'^ ^ illuftres j & antigos Vieyras , pois nao lo a dita may era
filha de outra Maria Cotta da Malha, cujo pay Pedro Cotta da Malha
era cafado com Catharina Vieyra ma§ também o dito pay do Martyt
;

era filho de Branca Vieyra & de Domingos Fernandez , a quem cha-


,

marão o Rico, porque o era muyto mais, & mais fidalgo, do que ou-
tro que na Terceyra havia do mefnlo nome Domingos Fernandez , &
ambas as duas , Branca Vieyra , & Catharina Vieyra , eraÕ irmãs j & íí-
fhas de Álvaro Vfey ra, & netas de Domingos Alvarez Vieyra, & a mu-
lher do dito Álvaro Vieyra * &máydas ditas duas irmãs, fe chamava
Iria AíFonfo de Azevedo , filha de AfF©nfo Vaz de Azevedo , dos kzç."
vedos em Portugal famofosj & efte Azevedo fica fendo quarto avò , &
o t)omingos Alvarez Vieyra terceyro avò do ditofo Martyr.
469 Eai^uí

-r^
Câ^.XLlVliDos illuílrésAftcn4éntes do Venerável P. ^t^

sh f ^469 E ^qui he de reparar ,


Domingoé Alvarez
qiie dâqtieltó
Vieyra , alciado primeyro filho Álvaro Vicyra , nafcèraõ Baais cinco fi-

liios j Joâõ Dias Yieyra que cafou no JPicP , Gonçalo Dias VieyrajGo-
mes Dias Vieyra, V icente Dias Viey râ,& Ifabcl Vieyrâ, que cafou coni
Fedro Rebclio, o^al veyo de Lisboa a fortificar a Ilha Terceyra , éc
foy o que fez o Caíteilo de Saó Ghriftovaõ i chamado o dos Moínho«j
(Sç dos cães Vieyras ficàraõ muytas linhas na Ilha Terceyra , & empar-

f icular no grande lugar de Santa Barbará. Porém como daquelle illuC


tre Duarte Galvaó da Silva naô fó nafceò D. Violante da Silva, que foy
íègunda mulher do primeyro Pedreanes doGanto,&mây do grande |),,,'|»|yç|/*^r^
Joaõ daSilvado Ganco j mas também nafceo Pedro Víeyrã da Silva, ií/v^.
que vindo a Saô Miguel deyxou ncfta Ilha feu filho Fernaó Vieyrâ
i

<ia Silva, que emSaõ Miguel cafou muy to rica i &: rioBre mente, &;fe
voltou para Lisboa o dito pay Pedro Vieyra da Silvà j diefte me per-
jfuâdoéuque foy bifneto, ou terceyro neto feu ,0 illuílriílimo Pedr»
Vieyrâ da Silva Secretario de Eftado delRey Dom Joaó o IV. que de-
,

pois viuvando fe fez Clérigo í & foy Bifpo illuílriílimo de Lcyria i de


qiie melhor faberà o infigne Liiis Viey ra da Silva, legitimo filho do di-
ío Bifpo feu pay , a quem parece Venceo o dito ícu filho , em regeytai:
-naó fó Bifpados , mas outras Dignidades , que por vezes fe IheoíFerecè-
faôj & de tal defprézó he vivo exemplar , &
por iffo delle i ainda vivoj
íSnem fe diz, nem fe inquire maia. ,

E 470 Porem como da linha dos Machados aquelle quinto avô


dolnvifto Martyr Pedro Enes Machado foy cafado com D. Ilabel Pe- .'*^ %..^. •>

reyráj filha de António da Silveyra Pefeyra, o qual era filho de outra ^»i^*^vtjim7

Anna da Silveyraj que cafou com hum conhecido fiaalgo chamado Tri-
íf aõ Pereyra de qiie fallaremos no liv. %.cap. 5 & efta fua mulher Anna
, .

da Silveyra era filha fegunda do ílliiftire Guilherme da Silveyra, o do


Fayal, como fe pode vernò citado /íl;. 8.í'tf/^.4. fegué-fe que defte oy-
taVo avò do noífo Martyr demos alguma noticia 3 & de feus dcfcenden*
tes. Como de parentes confangiiineos do Martyr gloriofo.
471 Os filhoâ pois que nafcèraõ do dito fidalgo Guilherme
da Silveyra, & de fua mulher Margarida da Silveyra , (por as mulhcreí
ipntaõ tomarem os appellidos dos maridos } nafcèraõ além da dita An-
,

jia daSilveyraífete filhos mais, hum Joaõ, outro Jorge


dá Silveyra, &
liiima filha ,& deíies três naõ pude alcançar defcendencia alguma , riem
<Íe Maria da Silvfeyra , & Cátharina dá Silveyra , que cafáraõ has ditaá
Jlhas, & tivéíaô defcendénciàs , & as faberàõ melhor os a quem tocaõi
que en as naõ pude faber. Em fexto lugar nafceo, Margarida da Silveyra^
que cafou no mefmo Fayalcom Joz da Terra , fidalgo Flamengo , qUc
veyo com os primeyrcs povoadores5& deftes nafceo Barbara dá Silvey-
ra, que cafou com António de Brura ,deque defcendem os Bruns Sil-
veyras de Saó Miguel, & os Bruns Terras do Fayal. Septimo filho foy
Francifco da Silveyra, nafcido jà rio Fayal ^ondc çafoii com húa filha
àú primeyro Donatário do Fayal joz de Utra &
de fua mulher BriteS
,

de Macedo , Oaiiia do Paçoj &


do tal Francifco da Silveyra , da dica &
iiia mulher nafceo joz de Utra da Silveyra 5 Sc dos defcendentes defté

'iiadaíèy j &
nafceo mais Maíioelda Silveyra 5 qtíechamaô o Defcubri-
iiíHnflfttí

4Eg LivfoVI.DàRegíallhaT^rceyrâ:
dor dá Ilha nova , & defte fey que nafceo Dona Ifabel (ou D.Ignes ) ài
Silveyra, que cafou com Gomes Pacheco de Lima/oda Gracioía,& de-
ite matrimonio mlcèraó Chnftovaó Pereyra de Lima , António Perey-
ra da Silveyra, & Manoel Pacheco Pereyra, & por eftas vias fe encherão
as Ilhas dos illuílres Silveyras, & Bruns , como fe vè Uv. 7. de Saõ Jor-
ge, & Graciofaj & no /rá. 8. do Fayal, & Pico.

472 Relatada allim a illuítre afcendencia do illuftriííimo Mar-
JJw^«< ^í/íítfám j.yj.^^ggyg |-g
agora declararmos fua defcendencia porque ainda quô 5

viãoAíartyr & Caò ^^"^J


como dc hum lempre caítiíiimo , & puriííirao varão > nunca hou-
(msfmfangulneos^ ve deícendcntes , hou ve-os comtudo de feus pays , & avós & aílím co- ;

mo todos os Gonfanguineos de algum afeendente de hum fugeyto^jâ


também defte naõ podem deyxar de fer confanguineos afíim todo o ;

4"^ deícende de afeendente algum do tal fugeyto , também jà defte naõ


pôde deyxar de fer conhecido por confanguineo Sc parente rigorofo: ,

&: pois vimosjà quanta^ & quam grande nobreza era a dos afcendentes
do noíTo Martyr, bem he que agora vejamos quanta ainda he a dos deC*
pendentes de íeus pays, & avos.
>
473 A primeyra, & mais pfoxima defcendencia dos afcenden-^
tes do noííb Martyr he huma legitima irmã íua , chamada D. Cathari*
sia Vieyra , filha dos mefmoS pays dos qUaes já tratámos acima , quan*
,

,do dos Vieyras. Gafou a dita D. Catharina com Joaó do Canto dc Vaf-
concellos & Camera , filho de Franciíco do Canto & de D. Luiza de j

-Vafconcelios , filha do da Camera, ( dos legitimos


aíítigo Pédralves

D*s€aHtos'
C-áwíí-^^n^^^^^s^iaMadeyra) &deD. Andreza de VafconceMos , daquelles
rof &Fafi0ncellos.
Vafconcelios , de que também já tratámos nefta mefma Genealogia j 8e
oditoFrancifcodoCântoerao terceyrofilhodo primeyro Pedreanes
-
.do Carito i que no tal tefceyro filho fundou terceyro morgado, ainda
ique menor, mas naõ em menos illuftre varaô j ( como jà vimos no ca^.
19. §. A terceyra Unha-, ) & do do Canto nafceo outro fe^
tal Francifco
gundo Pedreanes do Canto & Vafconcelios que cafou primeyra vez ,

com D. Maria Serra , & fegunda com D. Apollonia Teyxey ra da pri* j

meyra mulher nafceo Luis do Canto , que cafou em Saõ Miguel com
D. Barbara da Silveyra legitima defcendente de outra D. Barbara da
,

Silveyra, & de António de Brum, & filha de D. Margarida da Silveyra,


'&deJozdaTerra,aquál Silveyra era filhado illuftre Guilherme da
Silveyra, oytavo avò do Santo Martyr & já fe vè como todos eftes Sil-
:

veyrasj Terras, Bruns , & ainda os grandes Utras ,


por aquelle Francif-
co da Silveyra que cafou com huma filhado faraofo Joz deUtra, pri-
meyro Donatário do Fayal , todos faó notórios confanguineos do dito
Santo Martyr.
474 Do mefmo Luis dó Canto , fem nafcer varaõ algum , por
morrer cedo , & de fua mulher D. Barbara da Silveyra , naícèraõ três fí*
t>esLtytes Botelhas^ Ihas; primeyra, D. Maria do Canto, que cafou com o bom fidalgo Dio*-
Medejros, (^Soares, g^ y^^yj-ç Botelho & Vafconcelios em Saó Miguel & deftes nafceo
Ja- ;

come Leytejqueveyocafar à Terceyra ,& nellatem filho cafado Lui»


Diogo Leytedo Canto, que por cafamento fe tornou a unir com os Vaf-
concelios Tevês da Terceyra, Sctem muyta defcendencia. A fegunda
filha foy D. Luiza , que cafou com António de Faria Maya em S. Mi-
guel

^T
Cap.XLlV.Dos defcendentes ciacafa do mefmo Padre. 4
giiel Cambem : & D, Ifabel do Canto , que também
a tereeyra filha foy

em Saó Miguel cafou cora Miguel Lopes de Araújo, de quemnafceo


p. Antonta ,que primeyra vez cafou com fèu primo Pedro Borges de
Souía,& feguada vez cora o antigo fidalgo António Soares de Soufa,
em que eltá a varonia dos prímey ros Donatários de Santa Maria, & Saõ
Miguel, & de ambos eftes ha muyta deícendencia,& confanguinea toda.
doMarcyrglorioío.
475 Do fobrediro Pedrcaries do Canto & Vafconcellos, fc da
fnefma fua primeyra mulher D. Maria Serra nafceo fegundo filho , cha-
&
mado Francifco do Canto Vafconeellos , irmaõ mais moço do dito
Luís do Canto } mas porque efte morreo primeyro que o dito pay , ic
naô deyxou filho varaõ, mas fó as ditas três filhas, poriflb o irmaô Fran-
cifco do Canto fe metteo depoíTe do morgado ^ que em terceyro lugar
inftituhio feu bifavò Pedreanes do Canto, primeyro do nome, fera que
alguma das três filhas do irmaõ mais velho, nem os maridos delias fô
oppuzeíTem a tal morgádoi & defte o poíTuidor Francifco do Canto &
Vafconcellos câfou com D. Joanna da Silveyra , que também era legiti-
ma defcendente do primeyro Guilherme da Silveyra, oytavo avòdo
noíTo Martyr & defte matriáionio naíceo Ignacio do Canto da Silvey-
-,

ta & Vaíconcellos, que ainda vive, & jà bem velho, & pofliihiofempré
o tal morgado , como o poíTiihio íeu pay, & feu avò , & bifavò patcrnoS}
& cafou efte Ignacio do Canto com D. Ignes deCaftro, filha dejoaõ
do Canto de Caftro, & irmã de Manoel do Canto de Caftro, quarto ne-
to do primeyro Pedreanes do Canto,& fucceflbr do feu prinleyro mor-
gado , & do fegundo também que depois fe lhe ajuntou i & cm ambos
fefeguio jà ò primeyro filho varaõ de líiuytõsque deyxou o ultimo
Manoel do Canto de Caftro como também do dito Ignacio do Can-
i

%o ha muytos filhos varões, que por fua morte lhe fuccedaõ no tercey-
ro inorgado do primeyro Pedreanes do Canto. ^ ,

j^j6 É demais teve o dito Ignacio do Canto da Silveyra huma Dcs Rc^m ÉltiHil^

iègitima irmã , chamada D. Maria do Canto que foy fegunda mulher rn.
,

de Vital de Betericor , do qilal cafamehto nafceo huma filha , que cafo^


rom feu primo irmaõ Feliciano de Betencor i filho do Capitão mòr de
Angra Joaõ de Betencor & Vafconcellos irmaõ do dito Vital , & am-
,

íbos eraó filhos de outro Vital de Betencor ,& netos de outro Joaõ de
Betencor, odegollado , & de fUa mulher D. Maria de Vafconcellos , fi-
lha de Gonçalo Mendes de Vafconcellos, neta do fegundo Mártir^
Mendes de Vafconcellos , & bifneta do primeyro Martim Mendes de
Vafconcellos que cafoíi com a quaf ta filha do primeyro Capitão dò
,

Funchal foáó Gonçalves da Camera o Zargo, de quem o noífo Mar-


tyr por feu bifavò Joaõ Mendes de Vafconcellos era riono neto & o
,
, j

degollado Joaõ de Betencor era marido da dita tereeyra neta dò mef-


mo Camera &t quarto neto era o primeyro Vital de Betericor, cujo de-
•,

gollado pay Joaõ de Betencor èírá filho de Francifco de Betencor, pri-


meyro do Home, & de fuá mulher D. Maria da Camera , filha do fegutí-
tío Pcdralves da Cámerá , & neta do primeyro Pedralves da Camera,'
que da Madeyía veyò pára á Tèi-ceyra , & bifneta legitima do fegundo
Capitão do Fujichal Joaó.QoriçalVeç da Camera, & tereeyra neta dtí
Livro Vi. Da Regia Ilha Tei-ceyrs;
primeyro Capitão Joaô Gonçalves Zargo , que por tantas vias he af^
cendente doínviótoMartyr.
477 Mas porque do dito degollado naó fónafceo homfíiho,
que morreo Religiofo da Companhia de J ESUS3& outro chamado Vi-
tal de Betencor , primeyro do nome , que caiou priraeyra vez com hua
61ha de Eftevaó Ferreyrade Mello j 6c fegunda vez com D. Izeu Re-
dovalha , filha de Vafco Fernandez Redovalho , & de Maria Abarca^
& defte primeyro Vital naícèraõ três filhos , primeyro , o fegundo Vi-
tal, que cafou primeyra vez com D.Violante , filha de Francílco de Be-
tencor Corrêa &c Ávila, & fegunda vez com a fobredita Dona Maria do
Canto , de que nafceo a que cafou com o primo Feliciano de Betencor:
& o fegundo filho do primeyro Vital foy D. Felippa de Betencor , que
cafou com Francifco Dornellas da Camera, Donatário, & Alcayde mòr
da Praya, de que nafcèraó Brás Dornellas, que morreo fem filhos legíti-
mos em Lisboa, & Manoel Paim da Camera, que naó fó herdou efta
cafa , mas também o grande morgado de fua mulher j filha de Francifco
Borges de Ávila, & neta do Capitão Joaó de Ávila , Cavalleyro da Or-
dem de Chriíto , & fidalgo da cafa de S. Mageftade , & he hoje húa das
mayores cafas de todas as Ilhas, de que ha muytos defcendentes Sc ou-
:

tra irmã do dito Manoel Paim cafou com Francifco de Betencor , filho
mais velho do fegundo Vital , & neto do primeyro Vital , & bifneto do
degollado Joaõ de Betencor, & de fua mulher D. Maria de Vafconcel-
los, & por ambos eftes bífavôs legitimo defceiídente dos afeendentes do
Santo Martyr. Deyxo as duas filhas mais do dito fegundo Vital , huma
D. Branca , que cafou coni Agoílinho Borges de Soufa , & outra que
cafou com Diogo Fereyra de Lacerda, & de ambas ha defcendencia. E
o terceyro filh© do primeyro Vital foy o outro Joaõ c?e Betencor &Vaf-
Dos Perenoí d- La~^^^^^^^^^ ,
CapitaÔ morde Angra , que cafou com D. Joanna , fiíhrs de
ftrdM. D. Francifco, o cja Graciofa, de que nafceo ojà dito Feliciano de Be-
tencor, & D. Maíia de Mendoça , que cafou com António do Canto &
'
Caftro, terceyro neto do primeyro Pedreanes do Canto, & de fua pri-
meyra mulher > & do tal cafamento ficara© duas filhas , que cafáraõ em
Angra. \
478 Do fegundo cafamento do fobredito Pedreanes do Can-
to, fegundo do nome , com Apollonia Teyxeyra , filha do fidalgo Gil
Fernandez Teyxeyra , nafceo Manoel do Canto Teyxeyra , que cafou
com D. Margarida da Cofta ,parenta fua ,& irmã de Joaô Homem da
Cofia, §r defte cafamento nafceo Luis do Canto da Cofta , que cafou
primeyra vez Com D. Francifca , filha de Dom Chriftovaõ Efpinola, Sc
^^^^^^^^ "^^^ ^om D. Antónia , filha de Manoel Corrêa de Mello , o dá
tiom^lUào Homem
dlcofia^&dosCaf. Graciofa ;5ç de ambos eftes cafamentosha
muyto nobre, & fabidadef-
tfllof Brancos,&Ef- cendencia. Nafceo mais do dito fegundo
Pedreanes do Canto , &da di-
ta fua fegunda mulher , nafceo Dona Luiza de Vafconcellos , que cafou
com D. Pedro de Caftellobranco -, &
defte cafamento nafcèraó três fi-
lhos, primeyro, D. Manoel de Caftellobranco feG;undo , Dom Ignacio,,
,

terceyro, D. Maria.O Dom Manoel cafou com D. Ifabel de Mello, fi-


lha daquelle Manoel Corrêa de Mello da Graciofa, de que nafceo Dom
Francifco de Caftellobranco. O Dom Ignacio cafou com huma filha de
Ante-

TT"
tilllif"''!'''!

Oàp.XLI V;0os Dèfceiidentes da cafá do meílno Pâ(Írc42|


itníoílio do Canto & Caftro ,
de D. Maria de Mendoça , de que tams
ôt
bem ha filhos. A D. Maria de Caftcllobranco cafou com Joaõ de Teve
de Vafconcellos , cuja filha cafou com Liiis Diogo Ley te, filho do bom
fidalgo Jacome Ley te, & tem muy ta defeendeneia.
479 :Ainda éomtudo os mais chegados confanguineos do Mof-;
íoihfigne Martyr foraó Francifco do Canto da Camera & Vafeoncel"
los , filho da fobredita D. Catharína Vieyra , irmã do Santo Martyr , 8c
de feu marido J oa6 do Canto de Vafconcellos, filho de outro Francifco
do Canto, (gue era o terceyro filho do primeyro Pedreanes do Canto)
<8cde D. Luízá de Vafconcellos, filha de Pedralves da Camera, & de
D: Andreza de Vafconcellos; Do dito primeyro fobrinho do MartyC
nafceo fegundo fobrinho , chamado também Joaô do Canto de Vafcon- m
cellos, & o vulgo lhe chamava Joaõ do Canto Saude,&foyeafado com J »
JA
J>. Maria Cõrtereal filha do grande Tenente SebaftiaÓ Gardofo Ma-
chadOj &
,

de íua mulher D. Brites Cõrtereal , de huns , & outros ha


&
j;^^2'síTJédrÈi
'^ -- — {]'''

yiva defeendeneia, Nafceo mais do dito primeyro fobrinho do bom


!'»•
Martyr hu ma filha , que cafou em Saõ Miguel com hum muy to nobre*
& rico Cidadão , chamado António Perey ra Botelho , & também defte
ha muy ta defeendeneia viva. Mas vamos jà à fegunda defeendeneia da
afcendencía do Martyr.
.
480 A íegunda defeendeneia da afcendencià do Martyr foy ^^ dttctnâtnciA ià
huma irmã de íua mãy^ & filha de feu avò materno Manoel de Barcel- „^ mattrna &J^^ ,

los Machado , da qual naó pude faber o nomej fey porém que cafou com P^mflonm'j^
Manoel Pamplona de Azevedo , filho do primeyro Gonçalo Alvarez Wh
Pamplona , fidalgo dos primeyros que foraó povoar a Terceyra, & que
parece erá oriundo do Rcy no de N avarra j & da fua Corte de Pamplo*
fia, Sc de taô conhecida nobreza jque logo teve grandes datas de tcrrasf

no lugar chamado dos Altares , aonde fez hum grande motgado i & hú
deftes Pamplonas pela Capitania da Praya foy eleyto em Capitão Do-
natário, 18c tjoVernaddr delia j & por annos a governou atè que lhe fuc-
,

cedèrao os Cortereaes , por mais validos na Corte. Da ditatia mater-


na do Maftyri èc de Manoel Pamplona de Azevedo nafceo Gomes
Pamploíia de Azevedo , primo irmaõ do Martyr , èc neto do primeyro
Pamplona & logo íe feguio Joaõ Pamplona , que de fua mulher Dona
•,

Maria de Miranda teVe outro JoaóPamplotíade Miranda , que eàfott


com D. Margarida do Canto , & deftes nafceo Gonçalo Alvarez Pam-
plona, fegundo do nome, & quarto neto do primeyro , & terceyro neto
da tia do dito Martyr.
481 Eefte Gonçalo Alvarez Pampíonàifegiíndo do riome,'
cafou com D. Maria da Fonfeca^ filha de André Martins da Fonfeca , fi-
dalgo filhado , Sargento mòr , & Lugartenente do MarqUéz de Caftel-
lo Rodrigo em Angra, &
íílho de Domingos Martins da Fonfeca, jà
tambemfídalgo,qiíe pelo dito filho André Martins teve dous netos,
hitm, Aíídrè Luis da Fonfeca, qiíé cafoti com outra fidalga dos Cantos,
&: viveo muytO mais de oytenta annos, &
deyxou muyta defeendeneia^
queaiiidavivie outro filho do dito André Fernandez foy Domingos
;

Martins da Fonfeca como o avò j &


cafou com D
Ig'nes Pamplona , fo^
hrinluíimy 6í filha de fuá iímã j & do ultimo Gonçalo Alvarez Paraplo-
V :- Nii na5
I
VíiTt^li^' V

fffe í Livra Ví. Da Regia Ilha Terceyrá. !"''

naj &aquiíè ajuntáraÕ os dous grandes morgados dos P3m{)lonas ,&


Fonfecas em a defcendencia dos aícendentes mais próximos do Mar-»
tyr}& jádafòbrédira D.Ignes Pamplona, ôí do tio Domingos Martins
da Fonfeca > ha filhos, & netos que hoje vivem & atède huma írm^ da
:

dito ultimo Gonçalo Alvarez Pamplona chamada D. Margarida Pam-


j

plona,que cafou coirí Diogo Moniz Barreto nafeeo D. Joãrina da Sil^


,

va , que eafou com Bartholomeu Pimentel & affim também es Moni-


j

ECS, Cortereaes, Silvas, & Barretes ,ficáraõ eoníaugiiineos parentes d«


Martyrtaóilluftre. /.
482 NemfedevepaíTarem íileneio,que Francifcodo Cant^'
iDes FUrtaàoi , & ^^^^^^^^^^^^'^^^^^^^^ direyto do dito Martyfi de cuja
>^^^
jÍZdvc^^&"Lènw
'-
/ *
Jrmãfoy filhojefte foy cafadocom
'
D. Paulada Veyga, queera filha des
Fernaô Furtado de Mendoça, filho de Gafpar de Lemos de Faria , qu©

/ era filho de Mundos Furtado de Méndoça, & neto de Fernaõ Furtadcí


de MédoçajComo fe vè ria nobreza da Graciofajêc porque do outro Fer*
naõ Furtado foy também filho Chriftovaó de Lemos de Mendoça, poí
iíTo èfte &-ÍÒ Martyrie tratavaô por parentes taó chegados i & o fica*
,'

raÕ fendo os filhos j & netos do dito Chriftovaó de Lemos. Como tam-;
bemnaõfedeveemfilenciopaíTar, que Dona Andreza de Vaíconeellos
'

era irmá de Joaõ do Gantóde Váfeoncellos cunhado do Santo Martyr,t


^-f[..' <. ,& era neta materna deoutra D. Ahdreza de Váfeoncellos, & de Pedr^
.

ves da Camera j & porque afobredita D. Andreza cafou còífi o illufwi


fidalgo Manoel Pacheco de Lima , ( que naô fó foy pay de Joaõ Pache-Í
DosPacheeos Limoi, CO de Vafconcellôs , & avo de Franeiíco Pacheco de Váfeoncellos que
Momz.et Cortereaes
,
ainda hoje vive, mas também já eri fiihode António Pacheco de Limai
#" Sumfayos.
& neto de outro Manoel Pacheco de Lima,ôc bifneto de JoaÒ Fernan-< '

dez PaGheco,'& terceyro neto áo^rande Duarte PaeHecOj o da Indíaji


por iflb também os taes Pachecos k devem prezar muyÉo do parentefi
CO com tal Martyr.
483 Em\,iyto mais porque o dito António Paeheto de Lima
foy caiado com D. Catharma de Menezes , filha de Ruí Dias de Sam-»
payo & de D. Francifca dá Silva, a qual era filha do fidalgo Sebaftiaõ
,

Moniz, Sf de D. Joanna da Silva, filha do Regedor Gonçalo da Silva,


(kv. S.cap. 18. ) ko Sebaftiaõ Moniz era filho de Guilherme Moriizi
& de D. Joanna Gortereal ^ filha de Joaó Vaz da Cofta Cortereal Ca, ,

pitaô Donatário da Terceyra 5c alem de tudo ifto o mefino fobredito


•, ,

Antottio Pacheco de Lima era pay de D. Antónia de Lima, que cafoit


com aquelle antigo fidalgo Eftevaò Ferreyra deMellOj o oriundo da
Graciõfai cuja filha D. Maria de Mendõca cafou com Pedro deCaftro
& Canto 5 neto do primey ro Pedf eànes do Canto , & pay do primeyro
Manoel doCanto Sc Caftro^&j: avòdcjoáò do Canto, & biíavò do ul-
timo Manoel do Canto Sc Caílro, de que jà ficarão filhos, que faõ jà poí
efta linha quintos netos de António Pacheco de Lima.

Tios Carvalhaes . "Bcr 484 E porque do mefmo António Pacheco de Lima foy feií
pe.<.S!ivejra4, er J- P^Y « *^"'^f^ primeyro Manoel Pacheco dé Lima , que caiou com Dona,
ifurcai.
'
Francifca Neta, filha de João Alvarez Nero,quedíifronteyrade Afri-.
ra veyo à Terceyra por Provedor da Fazenda Real ,& ouirá fuá filha
D. Catharina Neta cafou na Terceyra
^
com Francifco Dias de CarVâ-s.
Ihal,

TT
Cap.XLlV* I^im da Genealogia dfe taõ illuftiré íageytó^ 41
lhal,que de grande Fronteyro de Africa tinha taajbèlfiYÍSdo para a
Ilha, por ifío aqui cambem entraõ os fidalgos Garvalhacs. Do dito pois
FrancifcoDiasde Carvalhal nafceojoaõ Dias de Carvalhal, que cafoii
«oní D, Maria Borges Abarca, filhado grande fidalgo do Algarve Joaó
Borges o Velho , Sc de fua mulher D. Ifabel Abarca , irmã da primeyra
.mulher de Pedreanes do Canto o Velho , & da mulher de Joaõ Vaz dá
Cofta Cortercal; & por eftes Borges deyxáraõ os Carvalhaes o feu pri-
meyro appeliidode Dias, & pelo de Silvcyras > & aífim o filho do dito
loaó Dias de Carvalhal fe chamou Eftevaõ da Silveyra Borges * quê
Ipafou com D. Barbara Machada j & já fe vè que por eftes Machados , ôt
Silveyras,ficàraó eftes fidalgos Carvalhaes fendo dobradaraentc con-
fanguineos do noflb illuftre Martyr Joaõ Bautifta Machado. DotalEf-*
m
tevaó da Silveyra Borges , & de D. Barbara Machado nafcco Francifco
de Carvalhal Borges j que cafou com D. Maria da Camera & Canto, &
deftes nafeeo Joaõ de Carvalhal Borges , terceyro neto do primpyrei
Francifco , fegundo neto do primeyro Joaó Dias de Carvalhal , & pri-
meyro neto de Eftevaõ da Silveyra , & filho do fegundo Francifco,& jè
defte Ultimo Joaõ de Carvalhal ficáraó filhos,& netos, que ainda vivem
nobilillimos.
485 Deyxo a defcendencia daqueíle Joâô Borges o Velhoj
(de quem os Carvalhaes tomàraõ o appellido de Borges} porque a ou- ^^ vamiããet 'Íèr2
tra fua filha D. Catharina Borges Abarca , cafando com AíFonfo Anes ^'^''"^^^í^'"'**^
*
da Cofta Cortereal , o de Tavira do Algarve , accrefcentou aos Borges '*

Abarcas os appellidos deCoftas Cortereaes , com que Ihesfuccedeo


Chriftovaõ Borges dâ Cofta Cortereal, quecáfou com D. Anna Pache-
co de Lima pays de Manoel Borges da Cofta Cortereal , Commenda-
,

dor de Chrifto, quecáfou com D. Maria daSilvaj filhado grande Joaá


da Silva do Canto j & do tal Manoel Borges da Cofta Cortereal ficàraõ
os dous filhos , primeyro , Chriftovaõ Borges da Cofta , fogro de Ber«
nardo Cordeyro de Efpinofa, & avò de D. Càtharína do Ceo , Religio-
fa de Saó Gonçalo } & o fegundo filho foy Pedro Borges da Cofta , fo-
gro também de Jofeph Leal , & avò de Joaõ Borges da Silva hoje vivo*
Deyxo pois eftas , & outras defcendencias , & o grão em que tocaõ ao
Santo Martyr , porque jà delles falíamos em vários lugares defte livro
ffxto.
486 E fe ainda alguém diíler
que ainda efta fegunda defcen-
,

áencia dos afcendentes do Saiitõ Martyr i ainda em alguns nomeados


siaó he de confanguineos, mas fó de aíHns d© Santo: refponde-fe que fó-» .

mente âíiins tíaõ íaõ , os que fao defcêndentes conhecidos dealgu uni-'^-^ ^ffimdaãéi fa§2
CO tronco 3 pois por efta via então jfaõ já verdadeyros confa!iguineí)3,^T\*"T'" "^^^"^
pofto que por outras via§ poíTaÔ também fer affins pela afíinidade ton-ZJfV/f'''' V^'-^'^
trahida per caiamentos doS de humà com os da outra Imhà & manifef- "
:
mãadcs.
to he que todos os acima nomeados defcendem de algum dos afcenden-
tes troíicosdodito Martyr3afaberíOúdo tronco dos Machados, ou do
dos Vieyras, Silvas, 5c Coftas oU do dos Cantos Pachecos , Mellos, 6c
;

Limas ou do dos Borges Coftas ^ Carvalhaes j ou do dos Pamplonas,


;

Zz Monizes j ou do dos Betencotes j Vafcoticellos , Cortereaes & Ca- ,

«leraSj m çmfím do tronco dos Sil veyras j Pereyras , & Bruns & ver»
-•'
:

--•;-•»- •'' '


Nii y .dadcV"
ili /l
Livro VI. Da Real ilha Terceyra.'
dadeyraments íeria nunca acabar , qiierer , ainda em breve , & fó tocâr*
quantos defcendèraõ dos taes troncos de que vimos que o Marcyr def-
cendia i veja-os pois todos quem de Genealogias tiver mais plena noti*
cia, & liçaô i & quem de tal matéria a aaó tiver, naó falle nelia,

487 Concluç-fe finalmente com a níoral ,& fantiílima razaôi


que o noíTo illuftre varaó teve , para fobre o nome de Joaó Bautifta , to-
Araz.aomra eej-
^^^ ^^\^ ofobrenome de Machado, do que algum dos outros appelli-
maii o appsllido de 4os iUuílrilíiraos j & a razaÓ parece fer , que como a fi próprio fe tinha
Machadando que ai- profetizado , O vir a morrer como o Bautifta degolladoj & em Japaõiôc
gum dos outros <7te/- qomo nefte as eatanas cortaõ ainda là mais facilmente , do que cà forte»
três appeUidfi. machados j quiznos moftrar os defejos ardentiffiraos de alcançar elt»
mafty rio, com a continua lembrança daquelie feuappellido, que me-
lhor lho trouxeíTe íempre à memoria. Vejaò agora os mais ricos,& mais
iíluftres parentes de Varaó taõ efclarecido, o quanto áevem honrar a
quem tanto, i& a todos honrou , procurando feja declarado Martyr pe-

la Santa Madre Igreja que


,
fó o pode fazer i & nòs nunca lhe damos el*
íe tituloj fenaõ fó por coní outro naó podermos explicar nos.

.^^•.'

il

LIVRO

TT
^t

LIVRO
DAS .
VIL
ILHAS DE S. JORGEyl GRAGIOSAv

C A P I f UL í.

Do defcuhrintenio , altura , & grandeza da Ilha


de Saõ Jorge.

E o antigo , &
eriíditiílimo Doutor Gafpar
Fruftuofo, entrando a fallar das Ilhas feguin-
tesno liv. 6. ca^i 32. confeíTa j que fe pouco ti-
nha dito da Ilha Tereeyra , por naó alcançar
mais delia , havendo grandes coufas que delia
dizer i que muyto menos ainda diria das fe-
S| guintes Ilhas por delias ter alcançado muyto
j

pouco , fendo que compoz ha quafi i30.an-;


tios, & eftando nas ditas Ilhas , & fendo natural delias que poderemos
;

f pergunto ) dizer nôs , que ainda que também fejamos das ditas Ilhas,
eftamosjá ha quafi cincoenta afanos fora delíàs j km' tornarmos là , &
compomosjà tanto mais tarde? Mas taes diligiencias puzemos em al-
cançaras noticias Vei'dãdeyras qile com á graça Di^/ina èfperamós ,de
,

além do que Fruftuofo diz , dizer a pura verdade que he a alma da


,
liiftoHai
2 Duvida ainda he,fe á Ilha de Sao Jorge he à quaí-ta Ilha
, depois de Santa Maria , Sa5 Miguel, & da Tereeyra ; & fe-
defciiberta
poy defcderià 'eftà
guindo ao citado Fruduofo^ & a tradição & fama eommuniííima , que Ilha
, pêlo primeyrs
em antiguidades muyto prova , nos parece foy a quarta > eftá íituada ao Cottereal Bomiarie>
Oefte quafi da Tereeyra ^ &
oyto legoas de terra a terra j mas dezafete ^* ^"?/'^ '"* ^^^o^
legoas do porto das Velas de Saõ Jorge ao porto de Angra da Tercey- ^'^ """"^ ^/°' í*"
f'
ra 5 & da Ilha do Pico fica ao Siidoefté , dezafete le^o^s , naõ fó de terra !7''* "^"^ ^^ '

a terra , mas também de porto á porto. Foy achada em vinte 6^ três de '

Abril í dia do Divino Cavalleyro , &


Martyr valerofilTimO Saõ Jorge,
Sr por iffo lhe dcraô o feu nome mas em que anno foíTe defcuberta fe
;
,
mò acha ; prefumo porém cjue o foy no anno de 1450. pouco mais , ou
fUenos, ha mais d© duzentos &feííenta annos,8c poucos depois de -icha-
Nh iij dí\

l^g
Livro VIL Dà Ilha de Sâojorgè^

da a Ilha Teíceyra , porque aos Donatários da Terceyra ficou fempré


unida a Capitania de Saô Jorge j com que ainda que feja a da Terceyra
mais illuftre , & mais rica , he também mm
obrigada a acodir à de baõ
Jorge. .

3 Qiiem foííe o primeyro defcúBrídor áe^i Ilha de Sa5 Jon


ge^ huns dizem que foy o primeyro Capitão Donatário de toda a ilha
Terceyra Jacome de Bruges 9 & que à íua Capitânia dú Terceyra lhe
ficou logo unida a de Saô Jorge outros que foy o primeyro , & jà fó
:

Donatário efpecial da Capitania de Angra & que por iflb a efta fe unáo
,

adeSaõJorgej&parece iftoinais provaveU porque nunca achamos


que Donatário algum dos eípeciaeS da Capitania da Praya fe denomi-
iiaíTe também Donatário de Saô Jorge jSc pelo contrario achamos qué
o primeyro Donatário ffpecial de Angra , Vafqueannes Cortereal fe ,

chamava de Saõ Jorge Donatário também i& as libas quede novo fè


defcubriaó, fó a quem as defcubria , fe coítumavaÕ dar 3 & ficavaó Do-
natários feuSi
4 A figura da tal Ilha he de hum comprido & inuyto alto ef-
5

pinhaço , que corredo Noroefte para o Sudoefte em comprimento de


mais de dez legoas j & de ponta a ponta vay pelo alto cume caminhoi
mas trabalhofo & comtudd fó por curiofidade hum Defembargador,8c
;

. Corregedor daS Ilhas o andou todoipairavero múytoqtie deftal al-


^"'"^ ^^ ^^ ^ Doutot Fernando de Pina de largtira porém tem eíla Ilha
t0 maii de7r^oaí^
:

&
^ ie largara muno pouço mais de huma legoa , ainda tnehois nas pontas ; & de huma , Sc
waii debita. outra ilharga, aífim para o Norte, cortio para Ò Sul tem boa meyalegoá
de terras fru£tiferaSi que vaó defcendo ate o mar j mas tambism com
&
muyto mato , muytas ribeyras, que aos que vaõ pelo mar fazem muy
viftofa efta Ilha , por todo o feu comprimento de mais de ãez legoaS} éc
os que andaô por terra , experimentaõ caminhos fragofos , Sr trabalho»
fôs.

C A P I T tr L o IL

Dos primejir os Povoador eSy & Povoações da ta! liba,

Mais antigo Povoador que fe íabe dá Ilha de Sao Jorge


^

. .
-. J (diz o jà citado Fruduofo) foy hum fidalgo Fllmeiigo,&
Zfr^tllufllrFU
muyto rico natural da Cidade de Bruges, chamado Guilherme Vani
à

Zr^go GmieLé da ^^^^'^, ' rafado com igual mulher , & ambos Catholicos , &
ella fe cha-

Silvejra. mava Margarida Sabuya por fua qualidade , & riqueza alcançarão li-
:

cença para virem povoar huma daS Ilhas novamente defcubertas, qual
mais lhes cohtentaífe trouxeraq de Flandres à fua cuíla dous navios
:

eheyos de gente j &


de muy tos oíficiaes de offieios diveríos; por que- &
rerem primeyro experimentar aterra daí lha qué haviaô povoar,de-
fembafcàraô ém a Ilha de Sao Jorge i que ainda eílava por povoar :&
porque o Flameilgoáppellidode Vandagara quer dizer em Portuguez
(Bofque de Silvas pequenasjou Silveyras) & com Portuguezes haviaô
de tratar os tacs FkhieíigoS J)or iífo o dito Guilherme ie chamou dahi
i
por
Cap. ti. Des que povoarão, k povoao a S. Jorge. 41^
|ferdiante Guilherme dâ Silvcyra } &
defte appellido ufáraõ feas defc
ceiídentes, &c outros fidalgos parentes , que com o dito Guilherme ri-
nhaóvindoi&efteheoprmcipio danobiUffima familiados Siíveyras i
@m as Ilhas. u
é Qiiercíido pois o fidalgo experimentar da Ilha de Saõ Jor- f

ge fe feria bsm fruftifera , mandava era cada hum de diverfos fitios abrip.
na terra homa boa cova & aberta
tornava a mandarlhe deytar a tcrrá
,

rirãda, câkando-amoderadamente , & fe a cova fe naô enchia outra v«2


como de ^ntes eftava ma$ faltava terra para fe encher , jdgava aquell©
,

iitio & infru£tiferoi & fe cheya a cova, fobejavá terra', julgava


por tóào,
porbemfrudiferoofitioj & porque defte ultimo modo IhefuccedeO
cm huma ponta da Ilha quecharaaò o Topo, com efte mefmo Home
fundou logo alli a mais antiga Villa que ha em Saõ Jorge , chamada st ;« ,

Villâ do Topoj & tam bem lhe fuccedeo a íua experiência , que das fe-
ímenteyras que fez naquelle íitio , houve anno que deo feílenta moyos
de trigo ao dizimo porem comoi lavradas ,
: &
cavadas àqucllas terrasé
vieíTem da alta kxjk , ou efpinhaço da Ilha fobre as terras âè muytas ri*
beyras , &
levaflem a terra folta ao mar , em poucos annos fe tornou et
teril áquellc fitio de terra , &
mais para cabras , do que para fementey-
rasj &
o Guilherme da Sílveyrá deyxou aquella Ilha de Saó Jorge , fe &
paíTou à Ilha do Fayal , jà também defcuberta , como em feu lugar ve-
iemos, ficandoos mais dos companheyros em Saó Jorge, que povoarão
a Ilha na forma íeguirite.
7 Adita Villa do Topo foy a primeyra da Ilha die Saõ Joi-gej .

eftá fituada em hum alto j cercada de hum alto rochedo pela parte da "^ »'*»^»'í?^ >*»«•
terra, & pela do mar do Sul com rocha tal , que fó bum caminho tem, & ^
T! Í"^^
amda que de carro ^ tanto em caracol j que trmta homens de cima fe po- ^eçar a Ilha comeis
dcm defender de mil^que eftejaó em bayjco.A dita Villa confia de quafi /a pela parte do Sal;,
»oVertta vizinhoáícuja Parothia hé da invoeaçaó de N.Serihora do Ro- & confia dt perto dé
farioj & defronte defta Villa do Topo em o mar eílá \iã raio Ilheo , eni "'" viúniíos, &tem
cuja terra lavradià,que leva tihco moyos de femeadúraj fe produz muy- ^f ^^^^^ defronte ^ut
to trigo, fora muyto gado , que lio dito Ilhèo fe cria , & eftá apartado da *"'-'^' ^rigo^^g^ii
j^
"'
Ilha fó dous tiros de arcabuz, & com tudo paífaó navios enti-e o líhèo,
1
& a Ilha , aonde fahe huma ribeyra de agua doce de huma pèfenne fon«
i
liri

te da Vilía , ràás á rocha delia he de tufo & feyta ao picaô , com que fi= li
,

ta a Villa bem fègura^ & o llhèo corn ellâ. Meya legoa adiante eftà huiii
m
higar j charnâdò á Ribeyrâ fcca , por levar pouca água , mas todo o an-
»o correi & os tafáes que aqiii ha, faô da jurifdicçaõ do Topo, & là vaS
euvirMiíTa.
8 Diias legoas adiante, peid mefmò Sul, fahem pouco diftan-*
,

tes ehtrè fi j onze ribeiras j com alguas fajãs intermédias , & cinco moi-
nhos, & vários morádoresj & logo o lugar, & Fregiiezia de Santiago, de ,

^
, .

íeífcnta vizinhos efpalhados por huma legoá de terra & tudo o mais ao
redor teri-as de paõ, & bifcoiitos de vinhas & huma legoa adiante eftà
fSLaíe '
,

j
J;;.,i w/r" & '

a Villa chamada dá CJalhetd cuja FregUezia he de Saíitá Catharina &


j ^nltem mlpi , ricos,
tem eeritp & dez vizirihoè pela beyra-rhar & interior da Ilha & muy- i^o^& vinho,
, , ir
to honrados, riobres, èt ficoè liiofadòreS por íer íitio de muyto paó &
, ,

yyahQ. Meya legoa adiante fe íegue a Freguezia chamada das Manadas;


is

m mm
Livro VÍI. Da Ilha de Saojorger
íèu Orago he de Santa Barbara tem fetenta fogos , mas tatttfeeni ef«
,&:
palhados , com huma legoa adiante de rauytas vinhas, & depois deftas
muyta lenha , & mato j ôcdahia meyalegQaeíVá a ErrRidade Nofla Se-
nhora da Luz que fundou com fó efmolas húa Beata chamada Catha-
,

rina Cardofaj & nella viveo com raro exemplo de devoça6,& virtudes
& mqrreo de cento & dez annos j & andando raais hum quarto de legoa
fahe ao mar outra ribeyra , onde eítá outra Ermida de Santo Amaro , Sc
outro tanto adiante fica outra Ermida de^.. Senhora dos Remedios,oU
da Piedade.
9 Segue-felc^o adiante voutiro quarto de iegòa ia principal
&
mais nobre Villa, que chamaõ das Velas , cuja Freguezia , Matriz &
ttYetfrA &
prinei-
he Saõ Jorge tem Vigário , Cura ^ Thefoureyro ,
: &
quatro Beneficia-
,

* .IP^iUa he.a^uecha- dos, & chega a duzentos &


cincoenta vizinhos j & nelles rauytos de
mko dai VcIm com muyta nobreza , ôc que à ley delia fe trataó» & comiuftre5> & riqueza^
,
&
bom^ &feguro porto cem hum excellente porto, onde os navios fe recolhem feguros; tem no-
Ó" tez^o. viíinhoj,
bre Senado da Cameraj & Capitão mòr da miliciacam outros Capitães
fente nobre, &nítíy-
to rica & como
fubordinados ,
cjue
&
hum Religiofo Convento de Sa5 Francifco SeraficoJ
appeliidosdanobr&za-faój Silveyras , Sarmentos jCorreas , Mellos*'
,

talfe trata , tem Os


&
Senado^Capitaõ MÒr^ Teyxeyras,&: outros ,de que mais largamente
trataremos nos Nobiliá-
Collegiada^ &
hum rios das outras Ilhas j dondevieraõ a S. Jorgej comojà tocámos nos das
Cortvento de S.Fran- Ilhas já paíTadas. .
^

tifee.
I© Indo por diante humquarto de legoa da dita Villa das Ve-
las, eftá a Ermida de Saõ Pedro, &dahi a quafi legoa eílá o lugar de
Tem ofítrós maym Noífa Senhora do Rofario^ de cincoenta vizinhos &na5fó o lugar, ^i

higares para oSulatè mas efta ponta (em que acaba a Ilha da parte de Oefte} fe chama a
Acabar a Ilha dapar- Ponta de Rofales & logo hum tiro de béfta ^o mar eftá hum Ilhèo , fi"*
}

tt deOefie, cjue eha-


gura de hú,pico agudo para cima. ;

fnao aPonta de Rofa-


1 1 -Daqui volta ã Ilha pela part€ do Norte 6r naõ tem nellâ ,

mais lugares , ou Freguezias ( por fer afperrima ?c nao poder habitar^


',

fe) doquehumaquefez introduzir o Bifpo D. Manoel


de Gouvea , êó
Para aparte doNor.
efta íe chama de Santo António. Defta ponta dé Rofaks
para o NortCj
te ^for Cerrai for ci-
feguem algumas terras de paílo i ribeyrasj&r fajâs peque-*,
ma tem hum fóltt- meya legoa jfe
nas com grande numero de cabras & dUas legoas de Rofales eftá
,
5
hum^'
^ar^ S. Antonto.
ponta tao fahida ao mar, que fe chama a Ponta Furada,porque por bay-
xo delia paíía o mar ,& comaido tem em cima muytas terras de paõ j &
fajãs atè
adiante fe feguèm rochas altiíTimàs. Depois fecontinuaõ varias
a ponta da ferra aonde fe levanta hum alto pico, &• outra fajã adiante
,

delle, & daqui fe vaô continuando quatro legoas de fataes


roch3S,todas

de matos, & cabras , atè fe chegar á Villa do Topo j donde começàmo»


o comprimento da Ilha»

hT
GAP-

W '**
mm

Cap.íIÍ.De hôs terfemòtôs,& fogos qliouve nefêa Ilha 41

C A P I T U L O III,

Dos tremores de terra , & Qutros infortumos , que tem


llhadeSao Jorge,

-li f^T O ann© de 1 5 8o. em 28. de Abril no dia k. noyte tre , > ,

USI meo êfta Ilha oy tenta vezes, & outras tantas em o terceyi
ío dia depois, no qual, & fó meya legoa da nobre Villa das Velas, & na
fajique chamaó de Eftevaó da bilveyra, rebentou tal fogo por duas ba»
cas, que deytava pedras taõ grandes, & taõ altas , que íe perdiaõ de vi-
j^^ ribeirtu dí^o à
fta, & hiaó cahir no mar feytas pequenas a terra fe abria era gretas, for- ^«^ dos
:
terremotos
mando horrendos vallados eahiaõ as cafas do campo j ao primeyro/íí;E?íV<í5 ao mar
) & , &
de Mayo correrão duastaes ribeyras de fogo por toda amanhã ^tèon^llefizeraõhufatsí
meyo dia que huma
, foy direyta ao mar , &z paííando por huma alta ro- '^'^^U^ defirttiçaõ ^
cha , cahindo delia a desfez , & no mar esfriando fez hum
que fí.^-/^^*'''**' cães ,

cou como feyto , & compofto de forte pedraria èc a gente pafmada naõ -,

fabia para onde hou vefle de fugir, & do pafmo morriaõ as mulheres quê
fe achavaõ pejadas, & a mais gente andava em prociíToés pela Villa pc*
dindo a Deos mifericordia.
I
13 Do dito tempo a féis horas fahio outro fogo de outro pico,
& tanto mais furiofo, & mayor que correndo fobre as melhores vmhas,
,

correo dous dias inteyros deyxando ás vinhas o nome de queymadas,


,

& a terra em pedras , ou bifcoutos convertida depois três legoas da: ,

Villa, §:; no íitioonde chamaó a ribeyra do Nabo, rebentou outro alto


pico em tal fogo , qae correndo por hum valle de huma legoa de vinha,
deyxou efte feyto hum novo pico, & o antigo pico feyto taõ profundo
valle, que o fundo fe lhe naõ via: & dèfta forte as ribeyras de fogo que
correrão, foraõ cinco , & èobriraò de vinhas legoa & meya , & três le-
goas de paftos com que de vacas , ovelhas , & cabras morrerão quatro
j

mil cabeças, & todas as abelhas que havia naquelles traâ:os;&foy Deos
fervido que correffe entaó vento Oefte & Sudoeftc , que tudo levava
,

aos matos, & nem chegava ás fearas de Lefte , nem à ponta de Rofales,
&; Villa das Velasj & neíla ainda aílim , nem à Igreja fahia de cafa a gen^
te jpor naõ fe aíFogarera com tanta inundação de cinza , que três dias
depois fe naõ podiaõ abrir as portas com a cinza de todo entupidas.
14 Duràraó os taes terremotos quatro mezesi& cada vez mais
íremendosi& de vários portos da Ilha fugiaõ em barcos muytas pef- -^'/''^^' ^^* ^'"'^
^^rrcmom, &
foas para outras Ilhas j Sc a Villa das Velas naÕ deyxando embarcai pef-^^^J'
í,oa alguma, tinha jà comtudo preparados muytos barcos , ;ltè de outras **

Ilhas , para ( fendo neceííario paíTarem â ellas


) refolvendo-fe quin-: &
ze homés a ir pela cofta do mar ao íitio.das vinhas queymadas a tirar de
là alguma fazenda fua, de que fakàraô em terra, hum fó efca-
vários
poucom vida , & ainda muyto creílado , ou queymado de huma terri-
vel Buvemquequeymava como fogo caufa porque varia gente, por
;

portos particulares , & efcufos , fe fahio dailha , & a deyxou.


^5 Qtiiz Deos que fabendo-fe logo ao principio dos prirney-

iirfi r

n"k
Livro Vil. Dá Ilha de Sa6Jorge.
ws teríemotos , acodio ã Ilha Terceyra iiaó fó com manfiííi€Btos j 'M
embarcações, mas eora o douto, 6c Réligiofò Padre Pedro Freyre,Mif-
íionaFioinfigne da Companhia de JESUS , a eujas prègaçoens fe fize-
Ihfictdno,& Mif- raõ grandes penitencias na tal I lha, feconfeílavaô todos, &íe compu
^7^'S L
^ZmvSH^lm ^
"h^^ ^^^ ^°^ ^®°^ i fabendo o dito Padre dos muy tos ódios , de &
& &
mi mandou 4 Ilha quarenta demandas, querelas âfrontofas , as teftimunhas falfas que
Ttrttjm* havia , foy tal o zelo das pregações do Padre , que naõ fó todos , pu- &
blicamente fe perdoarão , &
fatisfizeraó, mas indo ás cafas dos Efcri-
váes das querelas , de commum conlentimento , naõ deyxàraô delias
feyto, ou papel algum, q»ue naõ queymaflem: &
Gom ifto paràraó em[
fim aquelles terremotos , &: caridentes caftigcs de Deos i que naõ quer ^
morte do peccador , mas que fe converta , & viva j &
defde entaõ par^
cá, taó horíendos terremotos, que faybamos , naõ houve na tal Ilha ,maà

m mayores haverá , fe as culpas forem raayores > ou fe fe repetirem as mef»


mas, ou femclhantes outras.
i6 De outros inforfunios,&taè graves, que houveífe nefta
Ilha, naõ fe fabe , nem que de inimigos fofle em algum tempo conquif*
tada, ou faqueada , ou entrada j & fó de piratas Mouros fe lhe tem cati*
vado algus feus Garavelóes, como tatobem outras peííoas j que fem cau*
íela andaõ pelas píayas que naõ tem fortalezas , &
fe deyxaõ enganar

das lanchas que appareccm , podendo com tempo recolherfe acima da


Ilha, 3c:das rochas com fó pedras deftruirem ao inimigo^ Qiie quanto
das outras guerras do governo do Senhor D, António & da Acclama* ,

Çaó do invido Rey D. Joaõ o IV» nunca a Ilha de Saõ Jorge fez mais
que feguir fua cabeça a Ilha Terceyra yO que fe fizeííem todas as mais
Ilhas naõ dariaó tantas cabeçadas , como em feu lugar já vimos ,
, & ve-
remos fempre, tanto que fe defunirem.

C A P I T U L o IV.

Das excelkmas da Ilha dè Saõ Jorge,

tf jk Primey ra he fua gr'andeza , pois de dez legoas em o com-


f\primento j tem mais de vinte em roda , & excede a muy-
tas das outras Ilhasj Sc tem três Villas,Topo, Calheta, & Velas, &^in^
^dtfex.a natural, ^o Lugares^ além de muytos lavradores efpalhados , com que tem mais
^*"^^
%a/!h!i
^^ ™^^ ^^^^^ ^^ armasi os quacs baftaõ para fe defender de muytos mil
que a cõmettaõ) porque da parte do Norte não fó o bravo ,& perigofo
mar , mas ás efpantofas rochas a defendem j & pela parte do Sul , tam-
bém o mais he de rochas , que pofto que menos altas, ainda o faô tanto,
& taõ precipitadas febre o mar j & com taõ difficeis , & poucos cami-
nhos jque poucos homés de fima fó derrubando calhàos, totalmente im-
pedem a entrada a inimigos , por mais , & mais que elles fejaó & na :

parte onde a Ilha dá entrada boa j como em a principal Villa das Vclasi
^li)
& feu feguroportoj ahifem Fortaleza, 6«artelhariaj&: algus quinhen-
toshomés de armas que baftaõ para da
, terra impedirem aquém pelo
mar quizer nella faltar.
Io A
Cap. IV. De algUâ^ cxcellenciás áa talUliâ* 4| t

•* § A fegufida €XC€lIencia hc i ter cfta Ilha por fetf Otpitiõ


Donatário o meímoqueohede Angra/ êc de toda a ilha Tercèyirâ,com Dopatrocmlo l^fieíe
que eíla he obrigada a acodirlhe maJS do que ás outras Ilhas» como ÍQm-fempré na Ilha Ter-
pre fez & da mefma íbrte he mais obrigada a Ilha de Saõ Jorge ã aeo- c«yra,& do que tr(a>
j

dir à Terceyra quando neceíiitar diíTojèomo nô annoda AcCiâmaçaó ^


ievaaelUj^

lhe acodio com o General para a Armada i com a foldadefcg , &Gom as


armas 5 & munições jCõtò qiie pode acodirlhe , alèsn dps mantimentos
que íempre leva à Terceyra , pois he huma quaíi emphy teuta , ou feu-
dataria da Terceyra , & nifto também tert) Saó Jorge grande alivia ^de ^

punca ter dentro em fi a oppreffaõ do Capitão Donatário refidente íà^


«nas ter ^ha mais de cento &
trinta annos , ao Rey de Portugal por feu
Donatário » como tem a Ilha Terceyra , defdé que g Marquez de Caf- Vhàv
telío Rodrigo naò tornou á Terceyra.
.
-
, . 19 A terceyra o clima defta Ilha i & tam bom
excellència I16

temperamento de feus ares » que naõ Tè fabe que nella houveííe alguma
D<}c!ifiía\é' aèm^i
hora pefte , teado-a já havido em outras Ilhas ; ao xjue ajuda muyto a
^^'^^^Jç ^//^«"í*
grande abundância de aguaquqha neftá Ilha, porque atè o altiílimoef- //^^^e5.a,rge,c^<Í4
pinhaço , ou ferra que lhe divide o Sul do Norte > & que corre de Lcfte Urgm^iàA^ ^Çmàt
â Oefte j contém muyCas àlagoas, fora as muy tas ribey ras > fontes que f ««r neiln (e logra,^ &
&
tem por Norte, Sul, Sc todas de agua doce, & fadiaj com fer raô ef-
íreytaallhaemalargura,& fobre terras raõ frefcas o ar raramente fè
(Corrompe , ou fe perverte em pefte ôr.por iflfo nefta Ilha ícvivc muy*
-,

£p, Sc cora boa faude o que rouf niuradores attribuiraó a naõ haver nel'
;

la Médicos de proíiíTaô » que parece j onde faõ rauytos j ahi faõ mais aí?
doenças jfendoqueeljesas naÕ fazem , & fó pertendem desfazellas 3 &
prefervar delias aos fnõs , &: os vícios faó os que as caufaõ.
20 Qiiarta excellència he a qualidade , abundância dos fru- &
tos da tal Ilha porque primeyramente he taô abundante de miiyta r^
j
q^ f yfíHiiaáe dê
boa madeyra > que naó fo para o gafto ordinário & neceflfario fempre, ^^^^^^ grandeKj* dè
,

inas ainda para fazer navios, 8c navios grandes tera toda a que fe reque- matos & màdeyrat^
,
,

rPi & íobre ella toda a cafta de aves^ de perdizes codornizes gallinhâs, & de imtimeravsis
, ,

golipavoSj & innumera veis ades, & atè das de mufica excellente como g<*^<>^% Uãiamos &^ , ,

canários j melros, &c. muyto^ coelhoá 6c também muyto foraõ ^ & infi- excellentes
vinhos.^
,

nidade de gados, vacas , porcos^ carneyros, ovelhas & multidão de ca- ,

bras, & das ovelhas os melhores queijos que ha nas Ilhas , Si: excellentcs
lâíSticinios de arvores tem de toda a cafta , & excellentes ôc fru-
: frutas ,

tx?s da terra copioíiíTimos o trigo he muyto , Sc o vinho tanto , que dá


:

três mil pipas de vinho cada anno,&era alguns aftnos maís; porque^
ainda que fe queyraàraõ tantas vinhas em o fogo dos tremores , com tu-
do neftas Ilhas fe planta , Sr da o melhor vinho entro o bifcouto quey-
niado; íc affim odefta Ilha he generofoj & bufcado,
21 Finalmente detodos feus frutos tem a Ilha de Sao Jorge
gafto certo , porque ainda que naõ feja muyto frequentada de navios*
tem tantos barco;; grandes, &i de duas, ou três velas á que charhaó Ca-; ,

ravelóesi qttè levando tudo à Terceyrajnaô fó lhe vay defta o dihhey roj
nus tudo o mais iieceííarío , Sc faz o officio de Qjínta grande , Sc nobre
dá Real Cidade de 4 ngra.

ts^/sJTq
4P Livro VIÍ. Dáeicielleiítc Ilha, dracioíâ*
ii : iJ_

C A P I T U L O V.

Dá nobiliílima Ilha chamada Graeiofa*


DafituaçaÕi grandeza > eofta y & nome da tal Ilha,

ifiõ iegàdi ao
& fica
32

em
A Norte da IlhaTerceyraiOyí
Ilha chamada Gjfâtiofàeftá ao
to legoas de terra à terra ,& de porto aporto doze legoas^
trinta êcnóVe gtáos, &meyo fua altura corre deLefteã >

iNorte da Ma Ter- Oefte em comprimento de perto de quatro legoas ,em largura de mais
cejfrajcorrt de Lejte de huma legoa de Norte âSulj & com oyto legoas em circuito ,fazeH*
n Oefie cem quatro do figura ovada , U com póUGos montes taô playna , & aprazivel que
$ ,
itgoat d» conàfrimê-
por iíTo lhe chamarão Graeiofa > & com mpy ta razaô porque não fó ni j
f.^&mais diUgiaa
^ Urgura^é' co»ifi. terrai & na planicie,. mas também nos frutos lhe fez Deosefpecial gra*
gura ovada, é- mais çaí& muyto mais na illuftre nobreza de que fe povoou j como neceíTaJ*
4* tyto UgoÀs em >;#- ria, & largamente veremos abayxó.
àondo^^em fima taS 23 A maritima colla defta Ilha, de Lefte a Oeílc, & pela ban*
> & a ra*
flayna^&aprazÀvtl, da do Sul , começa erh hús Ilhèos que chamaô os Homiziados
^for ijfolht ehamk. zaô foy notável
ipofque noannade 1541. indo da Ilha certos mance-*
tai Graeiofa.
bos doá principaes recrearfe aollhco, &
mettendo-fe fós em humbatelà
fem homem algiim do mar , chegando , & tendp jà apanhado muyta eaw
Começa de Lefie, & ça , pefcado, &
marilco j &
voltando jà tarde ao batel , que tinhaõ dey*
fela parte do Sul ^cõ xado em huma poça, ou defembarcadouro único dotal Ilhèo> naô po*
h»s llbios cjue cha'
mavaõ os Homtn.ia.
dèraõ embarcar, por fer jà noyte, &
a maré fer vazia^ & o mar alli fey ai?

4P'3fO^G*^P>notavtL
to,& de coíla brava , & medonha , &
allim fe tornarão para o Ilhèo, 5c
menos no outro dia fe atreverão a paíTar tal mar. /.'"i

,24 Oque Vendo na Ilha cinco primos feus j partirão em oií^


tro bardo 3 mas também fós, como moços , & chegando começarão a lhe
dar vaya de Homiziados, Carneyrada, que fe vieííerri embarcar^ que os
íevariaõ atados, & por laftro do feu barco ; &
naó querendo os que efta*
vaô no Ilhèo , por medo do mai',& fendo já huma hora de entrada iioy*
te efcura , eys-que veyo huma tal onda, que ao barco que vinha bufcar
aos do Ilhèo , lançou fobre huma bayxa , &
o virou fobre os cinco que
trazia , & o batel dos do Ilhèo ficava afaftado , &
hum tiro de roim pafb
íagem com que por mais que os naufragantes lutavâõ com as ondas, fic
;

chamavaõ pelos do Ilhèo, eftes lhes naó podiaó acodir, & dos ditos cin-*^
CO fó hum fe naõ aíFogou , António Vaz Sodrè a quem hum mar lan- ,

çou em huma furna do Ilhèo < aonde nunca tihha ido homem algilm.Ao
outro dia pela manhã íe foraó os {çx.ç, do Ilhèo , com o que dos cinco ti-
Mey* UgoA adiante nha efcapadò,&:jà mais acautelados de feus folguedos tomàraô outro
«fia, hum bam porto caminho de legoa & meya atè o poíto da Villa da Pfaya mais defviadof ,

chamadoCarapacho^ porém por mais brando mar, U caminho menos perigofo.


X^ com Fortaler^n de 25 Na coíla da Ilha defronte dos ditos IlhèoS & ao pè de
j ,
ar telhar ia, pofio cu a
huma rocha muyto alta chamada a Reftinga , eftà huma furna, don^e
,
rocha per /? fe defen.
fahc huma ribeyra de agua quente & dahi a hum tiro de bombarda pela
411 eit;Ó' logo ttttro Ilhso j

limpo.^& de bõ porto. parte do Sul, cftá hum porto , a que chamaô Carapacho , mas de batéis
fóí
i
:

Cap.V.Dagraiide^a/áccòftasclaCjraciofá. 43)

fó, c}Me nelíe entraô com niarecR^a, & 6 ma r^eTora neTaç íimpoj que
podem ancorar quarenta & por líTo alli ha Fortaleza com artelharia
3

para impedjr o ancorarem, que a entrada per íi fe defende. tiro de Hum


beíta idefte porto eíla outrO llhèo , chamado das Gay votas , pelas muy-
tas que ha nelle , he muyto limpo , de área branca 3 èc bom couto de na- &
meya adi'
i,egoa
vios, leguros de tormentas. Daqui legoa & meya começa huma rocha ^«f comera hítn U*
éebumàlegoa decomÍDriracnto , com hurna fonte no meyode excel-^04 de rocha mujta
ieritc agua , que dos arredores vaó alíi bufcar porém a rocha he taóal- ^^^'*-> ^ dejpenhada^
;

ta , que em 1 5 81 . &
no raeyo do caminho ti moreceo hu m homem Sè ^^^ ^^'^^ ' ***
,

caíiio. .em bayxo & dahi a hum anno cahio outro , & mais eraó ambos ^
j

naturaes da terra & por iíTo atai rocha vaó moçoszinhos, que perdem
i

o. medo, & depois vaó correndo , &


faltando , &; os que naõ tiveraó ex-
periência ,fe vaó arrojando nefta rocha pela terra , de medo ainda. Na
tái rocha ha huma erva , com que fe dà tinca azul , como ha também na
liha ds Santa Maria , & os Inglezes vem carregar delia , mas cufta muy- í: !ii.

toaapanhar,^ ;:
Maisoutr^ íe^oaaZ
^,,
- i26 . Deita rocha a numa legoa eíta huma ponta ao mar, com 4i^„ieejUoHiropor^
hum porto chamado de ÁíFonfodo Forto, que he ló debateis para pef- to, cnjaumca defci-
car; &c no veraó aos inimigos lhes cortaó o caminho , 6c naõ fica porto, d^,&fuhdi,faz.dr_
nem caminho por onde và alguém abayxo, & menos por onde lubaaci- desp.i. cada tti^ .

í^'*^''»'*!''''''^''^^'^**-
ma. Pela mefma cofta do Sul, huma legoa adiante começa a voltar a
cofta da Ilha para a partedo Noroefte , & fe fegue huma tal furna , cha- outraUgoa adiante;
msdadejoaó Moreno , quefe continua por. bayxo da terra meyale-y^^^jríjo Aom/<?,ytf
goa,&;ià vay fahiraoutra terra ;& correndo vento Noroeíle,ou Oef- a^^rea horrendafur^

te, faz por huma das bocas eííra furna taes eftrondo.s , que parece eílar "<* » f^* chamaõ de
fempre difparando contmuadas bombardas & a corta por aqui, ainda /" ** ^"^^"^ ^
'»-
i

que he raza , hc tam brava, Sc de tanto calhao, que nelia nem o pe íe po- i^^y^oLtena '

depor.
27 Daqui corre a cofta peto Nofoefte legoa & meya, & entaõ
fe fegue a princrpal Villa de toda a Ilha com o nome de Santa Cruz de ^<> Noroefie
para ,

cue íoco fallaremos depois , paflada huma legoa de rocha alta , & logo
^o'''*/''^'"»
? •-,
:

j-
^fr^f
efia â principal FiRa
„ j ,

&
o •

homa alagoa & hum lugar de trinta vizinhos L •

,
1
meya legoa adiante J^^ ^ ^^^^. ,
1

^^^^^^
fe iheiegue a Villa da Praya , de que mais abayxo faremos roda a men- ig^g'^ ^g rocha fe fe-
ijão que merece ; & defronte delia , hum tiro de bombarda ao mar , ertà gae o lugard^Abgea
hum ílhèo redondo , & com rocha alta para o mar , & com planície pa- & dahta meya iegoa \3ii

ra a Ilha mas entre efta , & o tal llhèo naõ podem paífar navios pelo
-,
^'^^"^ ^'* ^^'«7'* -«
.
& ilViii

perieodos bayxos que alli ha porèmo llhèo em fi tem bom & feguro ^^/'^'^/'^ ^^^f^''^-
•, ,

porto, & em Cima terra boa de femcadura. Logo le legue pelo ^'^'^^^ ,o^mMentrfelle& a
huma legoa de alta rocha talhada & huma enfeada íío fim , com huma //^^ perigofojl;ayxos,
>

fonte , que chania5 a fonte da Rocha , que fempre corre , Si com hum é- da rccha da Ilha
torno de agua da groííura de hú braço , de que bebe todo aquelle Nor-,^^-'* foíta itoa^c^grlí-
te ,& tem tanques" apartados para o pido beber & fe lavar a roupa 8c dí
fonte, &dahi-^i*a. -,
,

pafl*adameva1eeóa eftàoporto,& ílhèo dos Homiziados, donde co--^^'«^'"'


''í''''^'' ""
H.T
meçamos, & acabamos eíta coita. 4os Homi^Mdos,

Oo CAP*

m ;m.r"jigãájB
434 Li vf o Vi I . D a cxGellentc I Ih a da G r aciofa,

G A P I T U LO VI.

DlUpovoações & interior da Ilha Gr aciofa


, , &fua^
fertilidade.

i8 A Mayor, & principal povoação da Graciofa he a Villa cha^


t\ mada de Santa Cruz i eftá fituada defronte do N oroeíle,
/ & por iflb he de bons ^res , &viraçaó frefca , & fadia ; tem hum grande
A grande VilU Hf S, porco, quie cliamaÕ Calheta , &
he o principal de toda a cafta de embar-
Cruz. he a cabeça da cações que vaò carregar de paój cuja bahia corre do Nordefte ao Oesfu-
Jlha ; tem bomforto^ doefte pela
terra dentro ,
^ii-o &
iceo na entrada tem huma Fortaleza de at-
^Fortíilez.!t de arte-
w •
^ /i r^ II
telharia :'& para
-j- _ ^i
entraremos navios icrfípeneo no ralporco ,hao de ir
„u-j-^
de 600. viz.mhos & ^ahados pelos padrões , que para 1110 èítao
peitos na terra , &: entrando
htía boa ColUgtaiia, de outra lorte í'e perderáó. Da parte -do mar ao N oroeíle eftá huma tal
é" de hstm Convento pefqueyra , que he como hum curral de peyxe porque no .meímo mar ,

ãe ^!Èranctfco,& da [q fecha com huma porta ao.fundo que abrindo- le para cima , em ama-
,
S. '^af' da 'Mtfèrt-
nhecendo entra o pevxe ao engodo i & depois fechando (outra vez
& boM-ErmidJi. * pot^i-^j ^ vacando a maré , nca tanto peyxe em íeco , que aos carros o
kvaó i aílim fe fazia antigamente , &naó íey fefefa^: ainda hoje.
29 Conftâ efta Villa de quaíi feiscentos vizinhos , com que
vence a algumas Cidades , naó fódo Reyno do Algarve mas também ,

de Portugal ; & a nobreza veremos em íeu lugar. A principal Igreja de


-j'. -T^n 7 - Santa Cruz tem Vigário, Cura, Thefoureyro 5 Sc quatro BeneíiciadoSi
Tema AitctVtlU
«T-
»» „ v , • ^1 r-< i r- - t- r • 1

bom paul dt. uma pa- ^ regador com ordenado , SíjC. tem mais hum Convento de bao Jb rança-
ra osgador,hiamisj- CQ, Mifcricordia, & muytas Ermidas , como a de Sajito Ándrè , Saô Pe-
to Hmpa praça, em ^ dro, Corpo Santo Santa Catharina , j&c. No meyo tem a VilJa hum
,

correm os Cavaiioj- paul de agua para o gado , & junto logo hum rocio de trezentas braças
roij& na meimard'
^^ comprido , & cem de largo , & tap Hmpo , & playno , que nem pe-
u i.cv a o ivi-
drinhas fe vem nelle, & nelle correm os nobres Cavalleyros da Villa : &
'£r.,„d.u de mmtA ^^ í^nefma Vala cita hum Pico muyto alto, repartido
em dous , & em
romagem, hum eftá â Ermida de Nolía Senhora da Ajuda com caía de Romeyros,
'

por fer de mu y tos milagres & em outro outra Ermida de Saõ Joaó , èC:
-,

naó menos milagrofo.


30 A fegunda Villa hc t chamsda áa Praya por eítar fituada ,

ao redor de hum bom areal ée área. branca , fobre que eahem muytas das
""^"^^^ ^^ Villa tem huma enfeada , 6c porto de toda a navegação & con-
: j
'Àf"lU d P r.

ufoVehtbomportl^^^f^^^^^'^^^^'^-' de trezcntos vizinhoSi&a principal


Igreja he de
& com .bom Cijhllo ?'a6 Mattheos i tem naõ fó Vigário , & Cura , mas também feu Thefou-
de ar telharia co*,fta reyro, & feu Beneficiado, &: além diflb Mifericordia , & outra Igreja de
;

de-j^oo.-viz^mhds.boa Noíía Senhora. No irreal tem grande Fortaleza de quatrocentas braças


ParochM & outra
de comprido , muralha de vinte palmos de alto, & à^^ de largo, & cada
JereindeN.Senhora, 111 j
& oMtra da s M;fe* cjucoenta braças tem hum cubcllo com duas peças de artelharia; & tem
t i j ^ it, o •
-.

rkor-dta.
' huma fó porta muyto ferie , & efpaçofa , que por ella as Caravelas aba-
tiaÕ os maílros, &" entraô varadas fechada aporta fícaó dentro o
, &:
tempo que querem. Da nobreza defta Vill' trataremos quando da de ,

toda a Ilha, pois meyalegoâ adiante da tal Villa acaba a Ilha nopotto

dos Homiziados por onde começámos.


31 Do
Cap. VI DásVillaSjác lúg&Ycs^Ôc
. fertilidade da tal Ilha. 43

31 Do do Doutor Fru^
interior defta Ilha fâltaó nahiftoria
<3:uofoduas folhas que faõ os dous Capítulos 44. & 45, do feu hv.6. 7^» maia elfa IlhÀ
,

iem fe íaber quem as tirou , ou furtou, nem porque caula ; porém como vários íngares a rod^ m
'a Ilha hèeftreyta de Norte a Sul, & temos já dito as povoações que tem & »« interior ^mj^ ^

de huma, & outra parte , & também algumas intermédias , & o coftume "'*" ^^fifevem,
4as Ilhas he povoar junto ao mar, naõ nos faz grande falta efte defey to
4as folhas deve porém advertirfe , para que nem tudo o que fe diz que
:

tra2> Fruduofo fe naõ crea logo, quanto nelle fc naõ acha, fó querem &
algús que traga o que elles querem.
^i- 32 A fertilidade da Graciofa ainda he mayor que â das outras
Ilhas, porque como he menos montuofa, & mais playna por cima, & ffee^allIfAmaisfer',
«luyto regada , & frefca , com varias , Sc boas aguas , toda fe desfaz em ^*^<^^»^*^° ^ m oh-
frutos, de trigo, cevada, legumes , vinho , frutas de arvores , & hortali-
j'*'* ' '"íí"»»*^*^^-.

f as, tanto aíiim, que otngo, &


acevada excede ao das mais ilhas , oc ^^-^^^ todos os Ul &
vai mais , efpecialmente nos gados vacum , & Ovelhum , nas czrney- gumes,frutM,^her' &
íadas, gallinhas, & mais aves fó tem muyta falta de matos , & lenha pa- ta/içaf^&mityto maid
:

ra o lume porém a Divina Providencia deo tal vigor , ou quafi folidez ^' ^'"^° ^ género da
i

ás palhas dos paesdefta Ilha,& muyto mais às vides, & podas de arvo- <|'"t'^»^'*-^*''''''*^''
res, &
ainda à bofta do gado vacum , quefupprem a falta de lenha mais
meyos remed^iou^^a
groíTa , & também defta fe provém da vizinha Ilha de Saõ Jorge j &í fó, providencia Divi-
como nas mais Ilhas , ha falta de azeyte de oliveyras , que comtudo lhe ««.
vay de fora para o prato , & alampadas das Igrejas ; que quanto para o
mais tem outras caftas de azeytes , &
manteygas , & pefcados femprc
frefcos , & excellentes , & abundância grande de toda a forte de ladici-
íiios.

CAPITULO VIL
De quando , & (jfiem defcubrio a Graciofa^ & de fem
primeyvos Donatários^

35 /"^ Ue cfta Ilha fofle defcuberta em quarto lugar , 8r depois


V^ da Ilha Terceyrajaffirma Guedes na fua hiftoriaír<?p.6.mas DefcuhiritS a Úr42
cm que dia mez , , ou anrto, naõ eftá determinado , & muyto menos por eioja ha z6^ ahnos^
quem foííe pr imeyro deícuberta donde, parece podemos dizer que »" d' i/^^oMs >»<<-
,
W:\
, ,

âlll.m como a Terceyra foy primeyro defcuberta por mareantes que vi- reantes^depalfagem^
nhaõ das Ilhas de Cabo Verde para Portugal í como diíTemos liv. 6. ^rt ^'"."^^/^^^
,r
aiiJt

v„ ._.-, f^v ,
deícmerta loçoaepou
caf, i.jdi por líTo efteve algum tempo por povoar; aíiim tambema ^^^^ ^ forve. Sen
Graciofa, parece j fòy primeyro defcuberta por outros mareantes , que primsyro povoador
das mefmas ilhas de Cabo Verde vinhaó , ou para a mefma Terceyra,ou/a; [^afco Gil Sodre^
também para Portugal 5í ao Norte por onde fe vem de Cabo Verde, C&villejro de Afri,
, ,

deraõ com a Graciofa , & por fer gente ordinária, & de poucos cabe^ !f'f^* com mulher^
dacs , nem pedirão, nem fe lhes daria o povoarem tal Ilha, que Deos ti- ^ '^'*"'!i^^^^
ilha refervado para outros Povoadores , & tam nobres , &: illuftres, co^paífoJà
Graeiofa.
mo abayxo veremos & muyto mais , eftando entaõ os infantes Portu*
i

guezes occupados êm povoar as outras Ilhas pouco de antes defcuber-»


CaSi ^ também fe naõ fabe o dia,mez,pu annoj em que primeyro fe def-*
^- - Oo ij GubrÍQ
Livro Vn. Dâ escellencc Uhd Gracioía,
m^
ciibrio , por naó tratarem <^i(Ço mareantes j porem parece que fe dcfcu-
brio noanno de 1450. ha duzentos & feOcata & cinco annos , poucfl»
maisjou menos. ^

34 O primcyro que , conforme ao Doutoí Gafpar Fruííruof©


hv. 6. cap, 43 entrou a povoar a Graciofa , foy Vafco Gil Sodrè , natiír
.

ral d« Montemor o Velho em Portugal , o qual militando em Africa, &


€)Uvindo fal.lar na Ilha Terceyra de novo povoada , fe paíTou adita Ilha
Terccyr? com íua mulher Brites Gonçalves, & çom dous filhosj Diogo
frimjfro Denaurh Yio. Sodrè , & Fernão Vaz Sodrè > & algumas filhas , &: doze criados
rff^íWíMí/í^Cjr^-fçyj^gj.
fabcndo na Terceyra do novo deícubrimento da Graciofa, &
*lBalrttofii»lgB^d*t
4"^ já Ihetinhao mandado deytar gado, paya a Graciofa fe paíTou dg
Sarrttoí do Aljiar- Terceyra com filhos 3 filhas, & criados , & eftando
nella , veyo i meíma
iie M/^<!Ía com htia Graciofa , por femelhante noticia . hum Duarte Barreto , dos Barretos
,

irmã deVafco Gil Sõ' fidalgos do Algarve, com íua mulher, irmã do dito Vafcp Gil Sodrè»
drè,frmqr9'Fov0a- ^ veyo o tal Barreto com titulo jà de Capitão Donatário de metade
^^í da Ilha Graciolà , &
a povoou da parte do Sul * aonde eílá a Villa da
Praya.
35 Succedeo porém Caô mal à eftc primeyro Capitão Barrçp
to, que defgoftando de hum Frade que por íeu Capellaõ tinha levado
,

comfigo chegou a efpancar o Frade , & efte fentido fe paííou à outra


,

parte da Ilha & vendo paífar huns navios Caftelhanos , ( que entam
,

andavaõ era guerra com Portugal) lhes fez fínaesjque eíitraffemjSc taeí
coufas lhes diíTe do Çapitaõ Barreto, que os Caftelhanos o commettè;.
raõ 9 àn prenderão .,t& a feusxriadQs & os levàraÕ comfigo , Si fó hum
,

lhes efcapou , que levou a nova do fucceflb á mulher do Barreto, & def?
te nunca mais fe foube j & ainda que cuydàraô que iflo fuccedèra a Vaf-
co Gil Sodrè, êc qué efte fora o prezo j & morto pelos Caftelhanos , to-
talmente fe enganarão , pois o mefmo Vaíco Gil Sodrè muytos anno»
viveo ainda depois,& morreo na mefma Ilha Graciofa;&("o que mais he}
a meíma mulher do Barreto , vendo-fe jà fem feu marido , chamou para
fua companhia ao dito feu írmaó Vafco Gil Sodrèi & com ellc ficou ten-
do cuydado da dita fua Capitania , & fendo o tal Sodrè hu quafi fegun*
do Capitão delia.
36 Já porem em efte tempo
Fedro Correâ da Gunha (que
nunca tinha vindo à Graciofa , &: eftava na Ilha de Porto Santo, goyer-»
'

S$£nndoÇapitg»De-mnáo-atm lugar de leu fobrinho, ainda fmenor) jà dizem quetinh^


patario, & primeyro mcrcè Real de Capitão Donatário da outra meya Ilha Graciofa > & por
à» tod^aGraeicfí,-^^ç^-^^)^^ O Doutor Fruítuofo que na Graciofa ao principio houv«
,

fajf Pedro Corrêa da


^^^^ Capitács Douatarios , Câda hum de meya Ilha mas a verdade he,
:

Cunha, caiado com r,


, ^ \ i* t-x n s X> A^^f^
Barreto & a Fedro Cor^
^
D. jju pirtfireUa q»e fo haveria âs duas mercês feytas a Duarte ,

4eMend»çaJlhado te$ , poís que nunca ambos juntos tiveraò poííe de taes Capitanias, nem
DoM^Mm ii4//i;<a cio exercitai ao o governo delias mas "com adefgraçadc Duarte Barreto,
j

JPortoSA»t9. vendo Pedro Corrêa que a outra Capitania de meya Graciofa eftava
vaga,foyfe a Lisboa , pedio-â cambem ai legando fer pequena a Ilha pa-
,

ra duas Capitanias, & foy defpachado por Capitão Donatário de toda


a Graciofa, &enta6ellecom fua mulher D. IzeU Pereftrella de Men-
doça filha do Donatário de Porto Santo & Com outra mayta gente íe
, ,

veyo para a Graciofa, & fundou a principal Villa de Santa Gíuz j ^ ^^Z,
] cafãâ

vr
Câp. VIII. Dà Nóbreiâde Dònatanôs,8c Povoadaíes. 43;^

fãÉi&ruasnoPico,ouOuteyroquechama5das Mentiras*
- 37 E porque efte Capicaó Pedro Corrêa da Cunha foy o pri* •.fttS.

ineyro Capitão Donatário de coda a Ilha Gracioía ,& o que mais a po-
voou, por ifiodellediíTeraõ alguns , que fora o primeyro defcubridor
da dita Ilha , que muyto antes tinha fido defcuberta, & ainda governada Bjâdlto Peirótoft
^"^ jftntamentt Do,
pelo Capitão Donatário Duarte Barreto j mas a verdade he o que fica
dito. E he de notar , que naõ contente o tal Capitão Pedro Corrêa com "pl^^^lmto
ml hÍ •

a Capitania da Graciofa toda , pertendeo haver também a Capitania de ^^^^^^ ojohinho vai
Porto Santo i porque vendo que morrera fuafogra;»& que delia naõ fi-y^õ ^^^^jj^/o^^^/j,.
çára ao Capitão de Porto Santo filho varaó , mas que o dito Capitão fe refirello tfegnnAo 4|
Câfára fegunda vez com Ifabel Moniz , & delia morrendo deyxàra hum *t<tme.
filho varaõ chamado como o pay Bartholomeu Pereftrello,entaõ fcm.
Xèfpeyto a iflb j tratou Pedro Corrêa com a viuva , que lhe vendefle a
Capitaniade Porto Santo ,& de fado ,& com licença delRcy lha ven»
deo por trezentos mil reis em dinheyro, & trinta mil reis de juro cada
anno, (taó baratas valiaõ entaó as fazendas, outaõpoucoeraodinhey-
ro que entaô havia ) Sc aííim fe ficou Pedro Corrêa feyto Donatariodo
ambas as Ilhas, Graciofa, &
Porto Santo porém duroulhe pouco, por-
;

que crefeendo o pupillo Bartholomeu Pereftrello , fegundo do nome,


tirou por demanda a Capitania de Porto Santo a Pedro Corrêa, nem &
o preço delia lhe tornou , mas defcontou-fe tudo pelas rendas, que
de Porto Santo tinha cobrado j que quem na praça o vefte , na praça o
defpe.

CAPITULO VIII.

Da nohrezay& qualidade dos primeyros Donatários^ Sõ"


íirhyB arreios-, Correaifiunhm, Pereflrellos^Fur- \\:.\,

íadoSyMe^doças, &
outros Povoadores
da Ilha Graciofa,

38 /^ Uafí prímeyro Capítaô da Craciofá foy ("cOmó já vimos)


_ Vaíco Gil Sodrè, que fendo nafcido em Montemor o j)ig^gp^^£sdd^e,p
Velho, foy hum dos grandes Cavalleyros , que ferviraõ a Portugal em lho do ^rimeyro Po-,
Africa j &: porque de fua mulher teve por primeyro filhoaDiogo VaZ voador t^afcoGtí So'
Sodrè, &: querendo cafar efte com D. Branca 3 filha do Capitão Dona- '^'^. cafou com Dona
tario Pedro Corrêa da Cunha,& impedindo cfteo cafameilto, tachando 1"^'%
1",

if^cT
a Diogo Vaz Sodrè de menos fidalgo que ellej Diogo Vaz voltou logo ^ Z^"
a Portugal, &
à fua pátria Montemor o Velho, & tornando para a Gra- *

ciofacomoauthenticoBrazaõ defeu pay, &


outros juridicos inftru-
mentos per que conílava ter fido fua avò paterna cafada em Inglaterra
,

&
çom hum Conde da Villa, Caílello de Bedaforte , & fe chamava D.
Brifida Sodrè de Bedaforte , tudo ifto moftrou logo ao Capitão Pedro
Correada Cunha, que em o vendo, fedelêngar!0Uj& lhe deoafilhá
emcafamento, & tíveraõ eííescafados tantos filhos j que aílirma Frti-
â:uofo proceder dellés muyto grande gcraçaõjSc de muyto nobre gente,
Í.I Oo iij 39 Do
fmf

41^ Livro Vil. Daexcellcnté Ilha Graciofa.

3^ Domefmo VarcoGil Sodrènaõ fó era irmã a mulher^


Vôsmaia defeenden- priffieyro Donatário Duarte JBarreto > fidalgo do Algarve j mas também
usdodtto VaÇco Gfltoy feu fegundo filho , &
de ília mulher Beatriz Gonçalves BèStafottèf
Sodre , dos quaes fe tiernaõ
Vaz Sodrè ,que da Graciofa foy para a Ilha de Saó Miguel fo* :

2!'^^J^'^'*^'^^^raõ também filhas do mefmô ValcoGil Sodrè Maria VazSodrè,què


•-~ '"'''^"
cafou Êom Ruí de Mello , Leonor Vaz Sodrè j Ignes Vaz Sodrè» & &
que também cafáraó em a mefiila GrâGiôfa , & com homens tam nobres»
^

que viviaó apartados da ôutra gente ordinária , & tiveraô tanta defcen*
d€ncia> que défta gente fe povoou a Villa da Praya j da Graciofâj & tan*
f ta,queíendo a Vdia de mais de duzentos & cincoenta vizinhos, fô
cinGoentàeraõ de outra geração , pela qual raZaô ( ajunta Frudaoío)
dizem que todos os da Graciofa faõ fidalgos & eu diíTera que tanta
:

honra j& tanta defcendencia mereceo a Deos efte fidalgo VafcoGil


Sodrè por nunca
, as perítnder com damno algiim de terceyrô nem aA ,

ambíciaf j anticipando-fe a pedir a Capitania de fua cunhada , mas aco-


dirfòmeifttêá viuva fua irmã; que emfim as honras dcík vida faé com»
alfombra, que fegue a quem lhe foge, &
foge a quem fe torna a ella.
40 Primeyro, pois, Câpitaõ Donatário (mas fó de mcya Ilha)
foy o fobredito fidalgo Duarte Barreto j que fendo dós illúftres Barre-»
J^o prmepo í>«»<»-^ tos do Algarve , cafou com a irmã do dito VafcoGil Sodrè, & achou
tario Duarte que cafava bem j final d© que o tal Sodrè era de mtiyto fidalga qualida-
to ,
dos
retot do Algarve, n ao
^'J»'*-
fia gos Bar-
^ '
^
^^^ primevro Capitão Haõ ficou na Graciofa defeeftdencia al^
f ^ /^ -
guma, pois ate os criados (exccpto hum)^ rforao com elle ^- o
. , 1 11
dtfcendecta ai-
cativos, õc
ficoft

fíía,maís<jtiefHavi' mortos pclos Caftelhauos i & a viuva que -ficou i nem tornou a cafar,
Mva mulher ^irmã do nem deyxou defcendencia fua Sc da qualidade dos Barretos jà fallá-
:

frimeyro Povoador mos, quando da dos Povoadores da Tcirceyra Ui). 6 Cãf. 1 7. & nos fe-
,

Fafco Gil Sodre. guintes. He porém de reparar , quanto , ainda neíla vida , caftiga Deos^
a quem fe atreve â pôr mãos violentas em Ecclefiaftica peíToa , pois" de-
ite primeyrò Capitão Barreto , que efpancou o Frade nem filhos, nem ,

fucceíTores , nem criados ficarão , mas todos com elle, & logo, acabarão
defventuradamentei
41 Segundo Capitão Donatário , & já de toda a Graciofa , foy
Pedro Corrêa cia Cunha , fidalgo nos livros delReyj cafado com D.&
Izêu Pêréftreíla de Mendoça ,fegunda filha do primeyro Capitão de
Porto Santo , de fua mulher Beatriz Furtada de Mendoça & daef-
& :

trellada fidalguia dos taes Pereftrellos tratámos jà no /m 3. fí?/?. 3. qué


dos Furtados Mendoças diremos abayxo. O
dito fegundo Capitão Pe-

l dro Corrêa da Cunha eí-a filho do antigo fidalgo Genialo Corrêa, fe-
'^«jillufires Correoí nhorde Farelães em Portugal * & nefte ^ cafa bem conhecida j pelos &
ée Farilãn is/ , ^ Ciínhas íie de taõantiga fidalguia, que defcende de Dom Gotterrede
amigos, Gafconha , qtic cóm o'^Conde Dom Henrique veyo a Portugal, & delle
&
illHftriíJi-

mos Cunhai Afcen- ^^^^ muytas datas de terras em Guimarães , Bra2;a , & Porto & de Gaf-^
, ;

^"^"^^ "" GafcunHa de França trouxe comfigo a feu filho Dom Payo»
'
^'-tcTlt^-hdaGrn
Tiofa Pedro Conea
Gutterres da Cunha ^ que foy o primeyro que ufou defte appcllido|, &:
dacmha. delle fe continuou ate Vâfco Martins da Cunha fenhor de Pinheyro ,

de Angeija que cafou com Brites Gomes, filha de Eftevaó Soares d«


,

Albergaria, & do tal Cafamento nafceo Gil Vaz da Cunha, fenhor dft
Celorico de Baí^o , & Alferes mor delRey D, Joaô o I. que o cafou com

vr
Cap.VnLDosSodrès,Bâfretõg5€ofreâs,CuíiÍia55â:c, 435Í

feõâ iriíiâdo CõndéftâVêl D. Nuno Alvaícz Pereyra, do qual ríiatri*


fiaonio dcfcende a mayor fidalguia Portuguesa, & o dito Pedro Corrca
da Cunha, <|u€ a levou á Graciofa.
42 £ niaislevouem amulhcr,naõfó os Pcreíirellôs dê fêií d F i~i
n
fogro, mas também os Furtados , &: Mcndoças , por fer filha de Beatriz ^J^ ^f^doZi C*ri VA
Furtada de Mendoça, primcyra mulher do primeyro Donatário Peref- ^alhags^de tjuetami
iréllo de Porto Santo &: fabido he queos fidalgos de Portugal, que fe bem dt^cendê os Dh^
j

denominaõ Furtados Mendoças » deicêndem de Affonfo Furtado , Ge- ^«« de Avtyro, &
neral do mar de Portugal em tempo dos Reys D. Pedro, D. Fanando, f»iiyt$s da RealCafé
& D. J oaõ ol.òc deite AíFonfo Furtado nafceo outro do mefmo nomej **' ^^^i'"S^i
que era Anadel mor de Béfteyros , que eafou primeyra vez Com Dona
CJonftança Nogueyra , Alcayde mòr de Lisboa , &: íegunda vez cafou
cooi Brites de Lagarete, Valenciana da primeyra nafceo Nuno Fur-
:

tado , que foy Apoíentador mòr delRey Dom AíFonfo V.& cafou cora
D. Leonardada Silva , filha de Fernaõ Martins de Carvalhal 6c deftô -,

matrimonio nafceo D. Anna de Meftdoça 5 da qual jfendo Daftia do Pa-


ço, (át depois Commendadora de Santo* } houvé o Pfirtcipe D. Joaó
(^Rey depois fegundo do nome) ao Senhor D. Jorge j único Duque dg
Coimbraj& o primeyrõ,8í tronco da Real Cafa de Aveyró:&: do dito feU
bifavò Affonfo Furtado nafceo também Diogo de Mendoça, Alcaydô
mòr de Mouraõ & Apofentador mòr delRey D. AíFonfo V. & cafado
,

com D. Brites Soares filha de Ferna6 Soares de Albergaria & do tal


, ,

cafamento nafceo a excellentiííima fenhora D. Jôanna de Mendoça , fc«


ganda mulher do Real Duque de Bragança D. Jay me. Eiílobaíle dizer
deílâ excellente familia dos Furtados Mcndoças , que levou à Gracio-
fâ Izêu Pereílrel la de Mendoça.
43 Do tal fegundo Capitão Pedro Correâ da Cunha, Sc da di-
ta fua mulher Izeu Pereftrella de Mendoça , nafcèraõ os filhos feguin-
Dai ttes jilhM ió fiii,

us Duarte Corrêa, ( que foy o terceyro Capitão , como veremos


:
ò^^rlaZZ^lJÍ
três filhas , D. F elippa D, Branca , OU Briolanja, Sc D. Maria,& a todas
,
^^^^ aprimeyracá^
três levou o pay a Lisboa para Damas da Rainha porém a D. Felippa|-gj^„^f<,yi de Penâ-i
;

cafou là com hum irmaÔ de Joaõ Rodrigitez de Sá , o do Porto , da ca- gniaè, & Fontes , &^
h dos Condes de Penaguião , hoje Marquezes de Fontes &: do tal ca^ m duMfè tornara» dê
;

íàmento naó ficáraô íilhos a D. Branca, & Dorta Maria, depois de efta^ ^,*^^'"* P^'^^ * ^''^
:

rem dous annos em Lisboa , naõ quizer-aó là íicar , & fe voltarão coni o j'"'** fomj''* M^^^
ri-^roT-.TTT
pay para a fua Graciofà 8c a D. Branca calou
-,
r iu ^ -^ ^dejxarao grande dei*
na Ilha ( como ja vimos j cendencianat Ilhíâ
com Diogo Vaz Sodrè & a dita D. Maria também cafou , & de ambas
;

ficou muy ta, êc hiay to grande defcendencia na dita Graciofà ,& mais
Ilhas paj^a onde í&c^cnáoo. (^utrâ linha de verdadeyros Mendoças
,

FoVtados he a qae procede de Fernão Furtado de Mendoça , cujo filho


Mundos Furtado de Mendoça vevo da mefma Caftella à ílhl da Ma»
deyra, Sc deita à Graciofà k fuá tia D. Catharina de Mendoça era neta
-,

de huma irmã de D. Anna de Mendoça , may do Meílrede Santiago, DtRe^tâ tritiée eUi
Duque de Coimbra , St Aveyro, do qual falíamos acimajôc fó da mefma Fartados, & como Pt
família eraó diverfâs linhas. uniraS com às MenJ
44 Dos Furtados porém O primeyro , , Sc mais antigo trortcoj j^g*^
'^Jf^lla^fé
fby D. Ferrtandoja quem chamarão o Furtado, ( & foy o primeyfo dcfte
p„"úiatCaneUa ^ ^
âppellido) por o Conde D.Gomcs haver a fití to o tâl íilho de D.Urraca j /^^/^^°
'
/ '

•i íilhâ
44® Livrú VIÍ . Dâ excellente Ilha Graciôíâ."
delRey D. AíFonfo VI.de Gaftella em o ànno de i io8. eomo diz o
jfilha

Príncipe de todos os Genealogiftas de Hefpànha o noíTo Gonde D. Fe-


dro tit.^S. m notu Ut.B, &
tit.^.n.'^. E o primeiro tronco dos Mendoça*

foy Lopo Lopes de Mendoça , que por varonia era neto do fenhor de
Bifcaya, antes de haver Reys em Gaftella j &í por outra via era neto do
hum irmaó delRey de Inglaterra 5 de que fugmdo veyo a Bifcaya , a &
^.., ^ ,
'
'
livrou do Conde das Afturias, &
foy eley to lènhor delias, como conft*
t^-, do mefmo Conde D. Pedro ííí. 9. &
lO' /^í- C. Uniraõ-fe Furtados , Ôc
Mendoças no caíamento de D. Leonor Furtado com Diogo Lopes de
defcendem em Gaftella os Duques do Infantado,
Mendoça i& deftes
os de Lerma, & outros j em Nápoles os Principes de Melito , & os Du-
ques de Peftranai em Portugal os Mendoças deMouraõ, os Condes
de Vai de Reys ; & também a priraeyra mulher do Duque de Bragan-
ça D. Jay me , chamada Dona Leonor de Mendoça , filha do Duque de
Medina Sidónia D* Joaô, terccyro do nome j & jà D. Fernando , fegun-
do Duque de Bragança j tinha cafado com outra Mendoça.
45 Dcftes Mendoças ha huns que trazem nas armas efta letra,'
Do$ MtniojM shA.^ ^qje Maria > & o principio difto foy que eftando hum Rey de
, Gaftel-
fronteyra fahio hum valente Mouro a cavallo defáíí ando aos
^•ào^àe Laffh oh ^^ "^ ,

Chriftâos , que fahiffem a pelejar com


elle , & jà tinha morto alguns , &
clreilafo de laVega,
^ Atfeit Efcttdo, & trazia no pefcoço huma faxa , & nella cfcritas de letras azuis , ou celef-
Ari»(t4, tQSi as duas palavras ^Ave Maria, em defprezo daquella Virgem San*
tiflima, que Deos fe nao defprezou tomar por Mãy. Vendo ifto hum fi-
dalgo dos de LaíTo de la Vega , fahio ao Mouro , & taó confiado em a
Virgem Sacratiífima j que do primeyro golpe deytou o Mouro do ca-
vallo abayxo,&cortando-lhe a cabeça, recolheo a faxa, & venerando
nella com todo o refpeyto a Saudação Angelicaj^vf Maria^ tomou ef-
ta letra, & a poz por fuás armas em o feu Efcudo j & porque hú feu def-
cendente o famofo GarcilaíTo de la Vega , levava efte Efcudo na bata-
,

lha do Salado do anno de 1 340. atè o paíTar de huma agua matou a três
Mouros & unindo-fe depois por cafamentos os de LaíTo de la Vega
}

com os dos Mendoças tomarão eftes também as mefmas armas & em


, ,

diftinçaõ dos mais fe chamaó Mendoças da Ave Maria , & em cada Ef-
cudo feu tem mil Efcudos pendentes da femprc viíkoriofa devoção de-
fta Senhora.

r
CAPITULO IX.

Dos outros Capitães Donatários da Gradofa-^& dos Ferreji'


Dottrceyro Cdpitao ras & Mellos que da Gractofa paffàraÕ a Tercey-
,

da Gracioja Dttarte
ra & defem Régios troncos^ & Ajcendentes.
,
Corrêa, fiiho dofegS*
do Pedro Corrêa da
Cunha , &
como ca»
4^ y^ Terceyro Capitão Donatário da Graciofa ( & filho do fc*
foH riH ca(a dos illaf-
três Me lios dePortn- 1 . / gundo Pedro Corrêa da Cunha
, ) foy Duarte Correaj
gal^ doí^ftaes ttbdj- porque ainda que Guedes no citado f//^. 6. diz que do legundo Capi-
~
^9^ taõ Pedro Correada Cunha ficàraô dousfilhoSj&delles o chamado
Du-

wr-
Cap.IX. D^ outros Donatários,!? 4ps FecreyraS,^ Mel. 441
Puarte Corrêa lhe fucccdeo nã Gâpitaiiia 5 com nwis noticiais falia nif»
£00 Doutor Fru£tuofo Uv. 6. í?^/>.42, & nosfeguintes j don4? confta
que o tal terceyro Capitão Duarte Corrêa cafou com Dona Leonor dç
Jvleiio, 4os illuftres Mellos de Portugal , como veremos abayxoj & dei- ^

Capttâm^
te cafamcnto nafceo Jorge Corrêa , que foy o quarto Capiia.0 Donata- ^^ f*^''^*'
fio da Graciofa }& nafcèraò mais três irmâS} que todas foraõ Damas ^^^Tm^íí» '!!«»».«
jBLainhai Sc conforme a fua qualidade cafou efte quarto Çapitaõ, & teve ^
Rainha,ttvedoui
por priraeyro filho a Triftaõ da Cunha, & por fegundo íilho a AffonCojuhos^TrijiaôdaC»^^
Corrêa de Mello & porque Jorge Corrêa, pay de ambos, fe foy i Cor- nha, & yíffonfo Cor^
;

tje de Lisboa , & já o hofpedou o Marichail feu parente , entaõ lhe defap-
rea de Aíelh,

parecco o filho mais velho Triftaõ da Cunha , fucceíTor da caf^, & de


Çal forte defapparcceo, que nunca mais fe íbube delle , & logo morreo o
p,ay em cafa do mefmo Marichal.
47 Seguia-fe ao pay morto Jorge Corrêa para lhe fiícceder
,

Ija Capitania , o fcgundo filho ÁíFonfo Corrêa de Mello , vifto ter def- ^^^^^^j"^"
l^fríi
apparecido o primeyro, chamado Triftaõ da Cunha; mas porque ao tal J^ J^^°^ doiufUhos
jTegundo filho nem conftava da vida , nem da morte do primeyro, dey- ho^edandafe etnia*
&
j|íou paííar anno , & dia, fem procurar a tal Capitania , & fe fupppz Bcâtfa d» Manchai fitt

yaga para a Coroa; & entaõ o dito Marichal fez petição a Elíiey , a\\e- parente, delia defaf.
gando nella, que pois a Capitania fora de hum feu parente que lhe mor-^^''^"" opnmtyrofi:
íèra em caía, foíTe fervido fazerlhe mercê delia, & ElRcy ^^''^^^^^^^
^'^^,^^ZZ'i
pio fe o fegundo filho vivo,& irmâõ do primeyro írmaó defapparecido,^^^ ^^^^ ^ CapitanU
Haõ foíTe mais chegado parente do tal feu irmaó , & do ultimo Capitão ao fegundo filua, &
feu pay. Porém parece caftigo de Deos, que, porque o fegundo Capitão /«y/í^/o quinto Câ*
da Graciofa Pedro Corrêa da Cunha tirou com eífeyto a Cz^itííT\h.át ptaõ daGramJa^
*
rorto Santo ao legitimo fobrinho PereílreUo,na5 fó pcrdeífe , como
perdeo, a Capitania alheya de Porto Santo, mas também perdeíTe á.
|?ropria da Gracio,fíi,&nem efta paíTalTe de feu neto Jorge Corrêa a bif».
Hetos; que como diz o provérbio ^ten todo k qujerti to4o lo pierde.
,

4$ Qiiinto pois Capitão da Gracioí a íoy o dito Marichaí,quc jy^ piinuCfiphao ià


íe chamavíi D. Fcrnaõ Coutinho, & cafou com Leonor de Menezes, fi- Gr»cit)féi^oMaricl$ai
lh^4€ FranciícoCorrea> ifmãde Manoel Corrêa ,fenhor de Bellas & D. Femaõ Coutinho:
;

4otai quinCo Capitão nafceo ofexto , chamado também D. Fernando ^ ^^ fi'^'" GafitaS
ipOUtinho o que tudo confta do citado Fruífeuofo; de fó com efta difte-^^^'
j f «'«^*) f^^'»-
'^''

rçnça , que Fruiíluoío nos Donatários da Graciofa naõ conta por r pri- ^^
r
*
-1^ '."*, "T
%í; • - »< /*1 i 1«< rv. T> Fernão C"ftt(nhoJ4^-
jpoeyro Capitão aqueíle hdalgo do Algarve Duarte barreto, como na j,^;,^^,^^^^;^-,
y.eí'4ade o foy, ainda qite de fómeya Ilha; & fó conta por primeyro Ca- ,

piti^Ç) delia ao dito Pedro Corrêa da Cunha, que na verdade foy ofe-*

gtindo, & por ifib ao filho Duarte Corrêa contamos por terceyro,& por
qif arco Capitão ao neto Jorge Cof rea, §í por quinto , & fexto aos dous
Çoittinhos Marichaes que chegarão jà ao tempo do go\'erno de Fe-
, es
lippc JL çlonde jà para ca fera , a quem quizer , fácil faber quem foraõ .
•:.

.os fegyintes Capitães da Graciofa , que a nós nos nas cuftou poucoo

tjrallos atèqui da muyta erudição, ou confufaô do Doutor Fruítuofoí '^

^^
fey comtudo, que El8.ey D. Pedfo IÍ. do nome , nonleou Capitão Do-
©ataíio , 6f Alcayde mór da Graciofa a Pedro Sanches Farinha , feu Se-
tretar lo d^s Mercês, & expediente k por feu falecimento nomeou no
;

tónasLíitMlQ^QiilhpEpdrigo.SaQí^hss deBaettâ F^^^


SJp ccdeoj

m
fmrsttii\~

44* Livro VII. Daexceílente Ilha Graciòfa.

cedeo, & vive hoje na fua Qiiinta dâ Palma. E aeíle mefmo Rodrigo
Sanches nomeou cambem o mcímo Rey D. Pedro li. por Donatário, Sc
Aicayde mòr da Ilha do Fayal , em remuneração dos ferviços , naõ fo
do dito Rodrigo Sanches , mas da Senhora ( com quem caiou ) Dona
:'
líabel Franciíca da Silva , Dama do Paço , filha de D. Luis de Almada|
& de D. Luiza de Menezes i & do tal matrimonio houve hum fó filho
Manoel Jofeph, que morreo fem cafar: mas fegunda vez cafou o dito
Rodrigocom Dona Mariana Jofepha de Álemcaftre, filha de Manoel
de Vâlconcellos, & de D. líabel de Soufa , & defte matrimonio ficàraõ
filho, & filha , que com o pay já viuvo , vivem na fua Quinta da Palmaj
oc aflim he adual Capitão Donatário das duas Ilhasj Graciofaj & Fayal,
o dito Rodrigo Saches de Baèna Farinha,fem que elle,nem feu pay,fof«
fem alguma vez là. Segue-fe agora dizermos quedefcendentes ficára6
na Graciòfa ,& mais Ilhas dos íeus primcyros quatro Capitães.
í^^ 49 Do primeyro Capitão da Graciòfa Duarte Barreto naõ po«
I ^e ficar na Ilha defccndencia alguma pois fó ficou, & viuva a mulheri
-, ,

que naó tornou a cafar , pela fobreáita defgraça que fuccedeo ao rnari»
doj & a toda a mais fua gente j & fo parece ficàraò na Terceyra alguns
parentes íeus doilluftrc appellido de Barretos , & que por noticias dei-
íes fe refolveria a vir também povoar a dita Ilha. Porém do cunhado, &c
companheyro fidalgo Vafco Gil Sodrè , naô íó ficou o primeyro filho
iíuií.-.: i.j
Diogo Vaz Sodrè, que cafou cora afilha do fegundo Capitão Pedro
Dos deJcenâtHtes dos Corrêa da Cunha, de cujos defcendentes diremos abayxo j nem fó fi*
Captães da Gracio. cou O fegundo filho Fernaõ Vaz Sodrê
, que foy para Saó Miguel j mas

'"^ também ficáraó mais três filhas, Maria Vaz,LeonorVaz,& Ignes Vaz*
drSoZl?*
que todas na Graciòfa cafáraô muy nobremente j & deyxàraó muyta, 6c
boa defcendencia.
••
50 DofegUrtdo Capitão Pedro Corrêa da Cunha (além do
íucceíTor filho} ficou aquella filha legitima D. R rança , ou D. Briolanja»
que caiou com Diogo Vaz Sodrè, & tiveraó muyta > & muyto nobre
Como femiraoosCor defcendencia. O cerceyroCapícaõ Duarte Corrêa j fucceífor do pay Pe-
reas Cmhat da Gra, dro Corrêa da Cunha , cafou com D. Leonor de Mello , ôc efta era filha
eiofacom os ^e//flí
de D. Brites de Mello, & legitima neta de Álvaro Martins de Mello,
dosCondes da ^''»:
irmaÕ de D. Pedro Martins de Mello,CondedaAtalaya5 &com adi*
para a Graciofa trei ''^ Dona Brites de Mello vicrao para a Graciola três irmãos j que íe ena»
varões fiàalgoi Mel- ma vaó Roque de Mello, Diogo de Mello , &: Jorge de Mello ^ & todos
/flí. caíáraõ na 11 há com peílbascottipeteiíteSjmasoJorgedeMellonamef*
ma Ilha morreo degollado por matar fua mulher j & o Roque de Mel-
lo, por empobrecer com lançamentos que fez nas rendas delRey,fe
foy para Lisboa com duas filhas , & hum filho , &: a todos recebeo , &
Hoi Mellos Aa Gra. hofpedou em íèu Palácio, Sc com toda a honra , o Marquez de Ferreyra,
cio(a^<jmo Mar^Mez. tratando-os como â parentes>íeu$ , atè morrer o Roque em caía do Mar-
de Ferreyra em Por-
qygZj & eíle lhe mctceoas duas filhas Ffeyras & ao irmaô delias Fran«
,

tugal hopdoH
, & cifcode Mello chamado de alcunha oBarbarraô,o mandou para aln^;
,
trMoH como f Antes,
dia, & lá morreo, cOmo taô riobre fidalgo.
51 O Doutor Fruduofo diz a(^ui , que dos fobreditos ficou na
Gfaciofa Aííonfo Corrêa de Mello , &: que no feu tempo havia na mef-
«la Graciòfa filhos do dito AíFonfo Corrêa de Mello & defte colho eu
-,
"
t-
que

ty
Câp.íX.Da Nobrezajq da Gracrafa paíToa às ou-tras llh.^m
^we erao fegundo filho do terccyro Capitão Duarte CórPèaj & dteíu*
iMiilhcr D, Leonor de Mello , & que erairmaõ do quairto Gapitaõ- Jof*^
ge Gôcrea , a quem devia fueceder na Capitania, da GEacfôfa , & ltà,-lc**
You q Marichal D. Peruando Coutinho,priraeyro do norae. Deftepoi#
Aftonío Corrêa de Mello íicáraó na Griúcwfa dous-fúhmt Nuno i2m-^ Como os àkos MíSas
rea de Mello , & Manoel Corrêa de Mellcy & efte Manoel CcM-rea (ofJ^ juntarão ci
e, Pa^^

aiioma buícar Breve para caiar com fua tiaD. Ignes Pacheco de Lima^-*'^'- '''^-
fijha de Gorues Pacheco de Lima & da tal D. ignes aâirma Fruâruofo
-,

fertaôrica, diíbreta,6c liberal, &


de tanta auchoridiade na Graciofa^
qit€ le naó fabia, quizeffe fazer couík alguma que-naõ-cenl^guiâTejôè qu«-
della fícáraó dous filhos , Gomes Pacheco de Lima , ( o do Faya-l > p^*
diftÍDçaõ do da Terceyra } & outro AíFonfo' Corrêa de Mello que nas ,

virtudes, èc authoridade imita a máy & terceyro filho Chriítovaõ de


;

Mello , que com EIKcy D. Sebaftiaõ paíTou a Africa , &r depois d© deZ'
gnnos de prizaò fiigio , 6c era maiicebode gcandcsi partes ,& altos efpi-
ritos y & quarto filho foy Pedro Corrêa de Mello , filhado no foro de
fcus avós , coufa que nao tem os^ mais irmã<3S , porque o naó pediraõ.Af*
fim o aíSrma o citado Fruduoío.
52 Domefmo terceyro Capitão da Graciofa» Duarte Correajti
{alem dos dous filhos, Jorge Cor rea,quartoCapita5j& Affonfo Coe-)
rea de Mello feu írmaõ } & de fua mulher D. Leonor de MellQ,nafceoi
tombem huma filha, chamada. D. Felíppa da Cunha & Mello, neta par,
terna do fegundo Capitão Pedro Corrêa da Cunha , & da Pereílrclla
Furtada & Mefidoça , & neta materna de D, Brites deMello , dos Mel'
los do Conde da Acalaya D. Pedro Martins de Mello atai pois Doiu :

Felippa da Cunha & Mello cafou com huns fidalgo chamado Gonçalo
Ferreyra da Camera, filho de Duarte. Fecrcyra deTeve,& deD. ^o^comódaúraciofafõ^
lippa da Camera, dos legitinios Caniier^ da Villa da Prãya da llhaTer- raõ « Meíi')s cafcf ii«'
.1

ceyra; & do tal Gonçalo Ferreyra dACamera,& de Dona Felippa da í^"»« osFempas dá
Cunha & Mello naíceo Eftevaò Ferr&yra de Mello , fidalgo da Cafa áçP^ erceyra,
S. Mageftade, &- Cavalleyro profeflb da Ordem de ChriTto , pi-incipail '

pèíToa da Cidade de Angra , que cafou com D. Aníonia de Lima , filhai


de outro fidalgo Manoel Pacheco de Lima,§c de Dona Françifca Neta,
( fenhora do morgado mftituidq por fua tia DJoanna Neta) & filha de
Joaõ Alvarez Neto.
53 Porefte pois E.fteva6 Ferreyra de Mello c|iegou também
â Ilha Terceyra a fobredita nobreza dos illuftres Capitães da Graciofaj
porque do tal Eílevaõ Ferreyra de Mello naícèraÕ os filhos feguintes
primeyro Luis Ferreyra de Mello , que caíou com D. Guimar da Ga- ^ ->
>
^ Da umao> dos Melloi , .,
, .

T r j
ma, & morreo em Lisboa , & aeyxaraopor filho a Joíeph r erreyra de ^^^ Q^mas Fafcon-
- o T •
t j ri /L-11 ^ T- 1

Mello, que foy pay de D. Juliana de Mello morgada em Angra , que cellos Cantis de Caj^
,
,

cafou com Bartholomeu de VafconcellQS Governador da Ilha da Mâ- tro^Betenconsfirtí"


,

x^cyra êc Capitão mordas nãos da índia dôs quaes foy filho o í*adre ^es,Pimentm,EJpi^
, ;

Francífco de VafcoacelloSj da Companhia de JESUS. Foy fegunda fi- "*'^'*'*.


lha D. Maria de Mendoça , que cafou na mefma Angra com Pecirode
Caflro do Canto , como fe vè acima na familia dos Cantos Uv. 6. caf. 19..
Nafceo terceyra íilha que cafou com Vital de Betertcor & Vaíconcel-
,

hs , & forâô pays do Capitão mòr de Angra Joaõ de Çjetencor §ç V^f->

ii
444 Liyro Víí. Daexcellentè Ilha Gràciofa.

concdios , de quê vive ainda feu filho Feliciano de Betencor. A quarta


cambem na ilha 1 erceyra com hum fidalgo CaftelhanOjcha-
íiiha caiou
madoFelippeOrtiz 3 cujos filhos foraó Eftevaõ Feneyra ( ou Ortiz}
de Mello,& Dom Pedro Orciz de Mello , Alferes mor do Caftello de
Angra, de quem , mortos os mais filhos ficou fó D. Luzia de Mello,^,

que caiou com hum nobre varaó chamado Chnílovaó Pimentel do ,

.«MIK'íJ.''
qual trataremos aquando da Ilha das Flores. A quinta filha cafou com
Feiíppe Eípinola Qiiiròs , fidalgo Caftelhano Tenente do Caftello de ,

Angra » & deites naíceo D. Chnílovaó Eípinola , cuja única filha cafou
com Luis do Canto,ôc tem defcendenciajde que diremos na familiadoaí'
Cantos. •„...>-
j ,
-•-
' .. ;,-i. -'

54
aquelle Efte vaÔ Ferreyra de Mello , i^âf'
Más íiem fó por
ídbreditas , mas ainda mais atraz , por leu avò materno o Gapicao"
Coyreoí 'Meltos da ^^*
Iihi doFayd,&Sáõ Donatario Duarfe Corrêa, marido da fobredita D.
Leonor de Melloi-
forge,& dalerceyra paffáraóeftâs taò nobres gerações à Ilha do Fayal, de Saõ Jorge, à & &
comCaftelbrmcos,& mefma Ilha Terceyra , porque do dito Duarte Corrêa foy filho AíFon*
com Coelhos Pirey^
fo Coffea de Melio:, & deites foraó filhos Nuno Corrêa de Mello , &:
Paulo Corrêa de Mello , & Manoel Corrêa de Mello que cafou com-
roí do Porto.
,

a^tia, de que nafceò Gomes Pacheco de Lima , o do Fayal , de cuja def-

cendencia trataremos quando da tal Ilha & de hum dos taes três ir-*
, 5

mãos nafceo outro Manoel Corrêa de Mello, (do Pedro Corrêa de


Mello: } defle fegundo Manoel Corrêa de Mello nafceo outro Pedro
Corrêa de Mello , que cafou , & foy Capitão mòr em Saõ Jorge , como
feu pay jà otinha fido do qual pay também naíceo huma D. Ifabel , qua
5

cafou na Terceyra com D. Manoel de Caâ-ellobranco i5c huma> D. An- ;

ttonia, que na mefma Terceyra cafou com Luis do Canto da Coita 3 èc


us-^t> Í.-V também daquelle Paulo Corrêa de Mello (neto , & biineto dos Dona-
xAV.VK IS» « tarios Duarte Corrêa, 6c Pedro Corrêa da Cunha } nafceo mais D. Ifa-
'^
j^gi ^g Mello que eftando educanda no Convento de Saô Gonçalo de
-"'•"' • V

Angra , cafou com Luis Coelho Pereyra nobre Cidadão do Porto, que
,

em Angra foy do melhor governo delia & a dita fua mulher foy vene-
,

rável fidalgaj & deftc matrimonio nafcèraô Manoel Coelho Pereyra, fi-
dalgo filhado, & pay de Miguel Pereyra de Mello, os quaes ambos
morrerão no Porto com defcendencia; & outro irmaõ Lazaro Pereyra
de Mello que duas vezes cafou era Portugal para onde foy &c húa ir-
,
;

mã que ficou na Terceyra, cafou com hum morgado 5 fidalgo de S. Mi-


guel ,jacome Leyte Botelhode Vaíconcellos , que tem já filho , & ne-
tos. E ainda a dita D. Ifabel de Mello teve mais dous irmãos , hum cha-

,r.'\^v^ ,^5. mado Diogo de Mello, cuja filha D. Catharina cafou com hum muyto
nobre Cidadão de Angra Manoel do Rego Borges de que ficou def- ,

cendencia o outro era huma irmã j que também cafou & tem em An-
;
,

gra illuílre defcendencia. ,

55 alguém ainda reparar , em que fendo os fobreditos Ca^


E fe
pitães da Gracioía em feus appellidos Correas Cunhas , Pereftrellos, ,

Furtados, Mendoças, Vafconcdlos,8fc. comtudo os referidos feus def-


eendentes naó pegáraõ ordinariamente fenaô do appell cio de Mel!os«
&- Correas a razaó parece fer naõ fó porque o tronco deitas familias fe
: ,

chamou Pedro Corrêa , o filho Duarte Corrêa, & o neto Jorge Corrêa^
(&

fr-
'

II

Gap.iX.DasReâesCàfasáóiMelloSj&Lãncàftrós. 44f
^&eifle heoquefoy filho daquella D. Leonor de Mello ) mas
íenhoira
tâmbem pelas excellencias íingulares que fe achaõ nefta famiUa dos an-
tigos Mellos , de que já tocámos algúas na nobreza dos primeyros Do-
nacarios da Ilha de Sanca Maria , & Saõ Miguel j &: o mais agora tocare-
mos.
.56 GonfórmeàoRegio, & mais antigo Genealogifta o GoH-£»tt/r(7»wioiiÍM«í
âeD. l^edro, no íeu /??. 45. oprimeyro que feacha com o âippelUdo de dosMontejirosmòreJi
Mello, he Dom Mcm boáres de Mello, filho de D. Sueyro Reymon- *^ í^orttjfm mores-
do de riba de Vizella j do dito D. Mem Soares de Mello nafceo AíFon-
ío Mendes de Mello , que cafou com D. Ignes Vafques da Gunha j &
^^/Tft^^í
^ exemplar Siíba
deites nafceo Martim Aífonfo de Mello, que cafou com D; Marinha coAd* d« Ceimbra-y
Vafquds, dos quaesfoy filho Vafco Martins de Mello, Guardamòr dei- (^ dos Dn^net di^
Rey p. Fernando , 8c Alcayde mòr de Évora, & pay de outro Martim Gandia.
AfFonfo^e iMello,Guarda.mòr delRey D. Joaõ o I. & Alcayde morde
^ vora, & Olivença efte pois Martim Aftbnfò de Mello , fegundo do
:

-nome , foy pay de Joaô de Mello , Alcayde mor de Serpa , & Copey ro
mor delRey Ú. Affonfo V. & delle nafceo Jorge de Mello, Monteyro
TOÒr, que eafoú com D. Margarida de Mendoça,irmã de D.Joannade
Mendoça, fegunda mulher do Duque de Bragança D. Jayme & ambas ,

filhas de Dídgo dé Mendoça, Alcayde mòr de Mouraõ nafceo mais N.


;

de Mello, Portfeyro mòr, & Alcayde mòtde Serpa & Dona Leonor dê
;

Mello que cafou com NunoBaíretOj Alcayde mòr de Faro, de que


,

foy filha D. Ifabel que câfou com D. Álvaro de Caftro o do Torraó,


, ,

& eftes fòraó os pays de D. Leonor de Caftro Duquezâ de Gandia &


, ,

mulher do Duque Saõ Francifco de Borjai& depois Religiofo da Comi"


panhia de JESUS :& do mefmo fobreditojoaó de Mello, Alcayde mòf
de Serpa , & Copey ro mòf delRey D; Aííonfo V. foy fexto neto Dom
Joaõ de Mello , Bifpo de Elvas, & de Vizeu , & de Coimbra^ Conde dé ^

Arganil, & fempre com fama de Santo, &ifmaó do Padre Jofeph dê


Mello da Companhia de J ES QS, que com fama também de Santo riior-
reo na índia.
57 Porém do fobrcdito Martim Affonfo de Mello , fegundo ^w Me/los 'àfidrdà2
dònomejGuarda-mòrdelReyD.Joaóo L &:Akayde mòr de Evòra, "'f '""> ^ ^Icajdei
& Olivença, & de pfimeyra mulher D. Brites Pimentel j filha de
ftía
otiiln'f''&'finkè
Joaõ Affonfo Pimentel, primeyro Conde de Benavente, nafceo taiis Cmle^de' Olivença'
outro Martim Affonfo de Mello ^ tefceyro do ftome , k pay de D. Ro- Marquez.es deFerre}
drigo Affonfo de Mello 3 Conde de Olivença^ dé que nafceo unicamen- ra & Real cafa dói
,

te D. Félippa de Melloj que cafou còm o íenhor D. Álvaro filho de D. £>»?»« ^9 CadavaL
,

Fernando, fegundo Duque de Bragança j& neto do primeyro Duque


D.AffonfojfilhodclReyD.Joaõõ L Srdo taHetihor D. Álvaro, Sc D,
Felippa de Mello nafceo D. Rodrigo de Mello , primeyro Maí-qiiez de
Ferreyra , & defte nafceo o fegundo Marquez D. Francifco de Mello,
que cafou com D Eugenia de Bragança filha dó Duqud D. Jayme , 8c
^

deíles foy filho D. Nuno Alvares Pereyrâ de Mello, rerccyro Conde de


Tentúgal, qoe foy pay de D. Francifco dè Melíõ ,teí:ceyro Marquez
de Ferreyra , de que nafceo o quarto Matqiíez , St pfimey fo ÍDuque dé
Cadaval D. Nuno Alvares Pereyira de Mello j cujo fiího D. Luis Am-
brofio de Mello fegundo Duque, cafou com a fenhora D. Luiza , filha
j

Pp dsl-

mm
^elRey D, Pedro 11. que ^capdo; yiava eaíbu com feu cunhado 'Doiíj
Jayme de Mello, tcrceyro Duque , do Coníelho de Eftado , Eftríbeyra
tnòr delR.ey Dom Joap o V. tíQÍTo penhor » & Prefidente da Meia da
Çon(çiençÍ3yêc Ordés t^ó Regia he» & p:Qr taijtas vias, a excellentilíi"*
.•

ma cafa de Ferreyra, & Cadaval. '


,. ,i

Í,VÍ;\f,
^ . 58 Doíobredito fenhoíA Álvaro &da difa D. Felíppa de ,

; Mello nafcep a fenhora D. Brites de Mello > q tie caCau com o fenhor Di
p-.i; .-;<v.
í /^ -t Jorge, filho delR^ey Dom Joaò o IÍ. U
primeyro Duque de Aveyro, òc
•JHellcfdafermJJtma defte riafceo o lêgu.ndo P. Joaõ de j^ancaítío , que foy pay |do tercey*
,

OafA dtBKagmfa,&. ^q Diique de AveyrpD. Álvaro , & defte aafcep o quarto Duque quá
,

^"^y P^y ^^ quintp Duqu@í), Ray mundo , que morreo fem defcenderi*
^^^^"âoi^M-MaZ-
^0s àtQotiwa & di ^l^ í
^ entrou entap por fexto Duque de Aveyro , feu tio patruo Dora
Sarna Cruz.^ ^«. Pedro de Lancaftro , Arcebifpo > & Inquifidor Geral em Pprtugal j 6c
porque dejfle também naõ havia defcendenciaj íe feguio em feptimo lií»
gar dos Duques de Aveyro fua fobrinha a fenhor4 D. Maria, irmã do
quinto Duque D. Raymundpi a qual j ainda que cafou em Madrid , &
ídeyxou filhos varões , em quanto nenhum_,vem para Portugal , nenhum
tema cafa. Huma irmã do quarto Duque ,& fiiha do terceyr-o D. Ai*
varo, cafou com o Conde de Portalegre, & defte eafamento naõ fó naí^
çeo D. Frey Álvaro de Saõ Boaventura j Bifpo Conde de Coimbra , 6è
p. Joaõ da Silva, Marquez de Gouvea, que morrerão fem defcenden*
cia i mas também nafceo huma. filha , que cafou com o Conde de Santa
Crtiz , de que nafceo Dom Joaõ MafcarenhaS) q'JÍnto Conde de Santa
Cruz que foy pay de D. Martinho Mafcarenhas, fexto Conde de San*
,

ta Cruz, & por mereè delRey D. Joaõ o V. noflb Senhor Maí-quez de ^

Gouvea :& outras excellentes caf$s,, &: cà em Portugal > defcendemd^


Regia cafa de Aveyro,& todas peía primeyra Duqueza defcendem do9
fobreditos Melíos.

C A P I T U L O X.

Conclue-fe com os mhres Vovoadores da Ilha Graciofay^ap' .

concellos, Ejf^inolm^ SoufíU-, & outros de PortugaL \


.
;•

f9 AÕ acaba o antigo i& erudito Fru£tuofo/w. è.excap.^ié'


com â íingular nobreza dos primeyros Povoadores defta
Ilha, atè niíTo Graciofa, 6c veoturofa mas também com tal confiifaõ, &:
;

generalidade de muytas outras coufas entremettidas que naõ fera pou- j

co diftinguírmolâs , & fazermolas intelligiveis j fem faltarmos à verda-


deda hiftoria. Diz pois no lugar eirado que hà também na tal Ilha Vaf-i
,

concellos & que procedem daquella D. Izeu Fereftrella de Vafcon-


,

ccllos, filha do primeyro Capitão Donatário da Ilha de Porto Santo,


que cafou com huma irmã da primeyra Baroneza de Alvito , euja dita
filha foy cafadacom o fegundo Gápitaô daGraciofa Pedro Corrêa da
Cunha. Porém como dailluftre defcendencia dos Vafconcellos, &d0'
feu tropco falíamos jà por vezes flefta hiftoria ^baft© deftâ matéria ojà
,

ditpjôc vamos á outra. . -' ;;-':-^,-ír ;.C, o:/^ní?rí:^i'.oiií/M^h-íib*ici


^ 60 Da
Cap.X.Dòs Vaícõc.EfpinoíâSjâc Régias lính.(loS Sout 44^^.
60 dos Efpinolas( ou Efpindolas) que ha tam<
Da geração
feem na dita Ilha, diz que de Génova procedem, & de hum
Fedro Efpi- i)^ $^itiof^ «.^
quatro,,^^vg^yr^* qff^^hda^
Eola , filho de António Efpinoia , fidalgo de Génova , aonde ha
por mais principaes eafas là tidas , & reconhecidas , ôc huma delias he a da de G«My*A
dos Efpinolas , que deites era Fabrício de Efpinoia , & Leaô de Ef-
&
pinoia, & Regmaldo de Efpinoia i & deftes vimos jà que por Caftella
paíTáraô alguns á Ilha da Graciofa ,& à Terceyra , aonde já falíamos de
D. Chriftovaõ Efpinoia , deo demais o Dom , como
a quem Caftella
coftuma , naò fe coftumando affim em alguns outros Rcynos. E pofta
I

que aqui também mette Fruftuofo os nobres Quadros j deftes fallare-


mos nòs mais abayxo, pois propriamente pertencem à Ilha do Fayal, Sc
naõ repetiremos o mefmo.
61 Dos Soufas de Portugal diz o Doutor Fru^nofo , que fao
gente illuftre, & conhecida , & muyto parentes de Gonçalo Ferreyra
Porteyromòr,& naõ diz mais. Suppriremos pois agora o que deyxou
de dizer pois naõ fó na Graciofa , mas em as mais Ilhas Terccyras ha
,

dos ditos Soufas. He taõ antiga , & illuftre a familia dos Soufas Lufita- ^
nòSj que coiifta defcender dos Godos , de hum D. Soeyro Belfazer , fi- Do primeiro tmeil
lho de D. Foaõ Soares, & de D. Munia , ou Menaya Ribeyra , que flo-d-
apptlUdo f^Soufá

recèraõ ha quafi mil annos no de 800. da viiida de Chrifto, conforme ao ê^ ^''^!'^''\^!7:^


^»«^'' «^^-3
Conde D. Pedro i & do tal D. Soeyro Belfazer foy quarto neto D. Go^ -E^«J''^
«jes Echigues , Governador de Entre Douro & Minho pelos annos de
" *

1050. & cafado com D. Gotrode Moniz , filha do Infante D. Moninho,


filho do antigo Rey D. Fernando , primeyro do nome , & chamado o
'Magnoj & do tal matrimonio naó fó nafceo D. Sancha Gomes , que ca^ M" 1

fou com o Conde D. Nuno de Cellanova , iriliaó de Saô Rofendo j 6^


tronco de grandes cafas de Hefpanha i mas também nafceo D. Egas Go-
mes de Soufa, que foy o primeyro defte appellido Soufa , por nafcer na
terra do rio Souía , que feus avós tinhaó ganhado aos Mouros, & foy ca-
iado com D. Gontinha Gonçalves em tempo do primeyro Rey de Por-,
íugal D. AíFonfo Henriques- :'. -v

éLthf.f Defte pois D. Egas Gomes de Soufa nafceo D.Mendo Vie^


gas de Soufa, pay de D. Gonçalo Mendes de Soufa , que cafou com D.
Urraca Sanches , neta dclRey D. AíFonfo Henriques, deftes nafceo o &
Conde D. Mendo de Soufa , que chamarão o Souzaô , que ganhou Sil-
ves aos Mouros no Algarve, tomou por armas as meyas luas, & cafou
&
com D. Maria Rodriguez , filha do Conde D. Rodrigo Velofo , & def-
tes nafceo D. Garcia Mendes de Soufa , pay de D. Mem Garcia de Sou-í
ia, que cafou com D. Garcia ( ou Tereja ) Anes de Lima j & defte mâf
tf imonio além de outros filhos de que naó houve defcendencia ,
,
fica-

rão duas filhas huma foy Dona Conftança Mendes de Soufa, que
j
cafoU
com D. Pedro Anes Portel , & deftes nafceo D. Maria Ribeyra, que foy
legitima mulher do Infante D. AfFonfo Dinis j filho legitimo delRey
D. Affonfo III. de Portugal, & da Rainha D. Brites , filha delRey Don*
i!lífonfode Caftella, & Leaôi? ?oíish .•>:f:h.p -?, íí, .• .•>:..;;.(>(: d:;:; v.:.r!,i.

, .. 63 De taõ Real troflcó & do dito Infante D. k^çmo Dinísj


,

& mulher j nafceo D. Affonfo de Soufa , que com fer legitimp


ftiâ dita

aeto delRçy D©m Aftbnfo III. de Portugal , & bifneto materno dei Rey
'- Don^
..,

pp -^
Llvr® VII. Da excdlente líKa Graçíoíà.

Dom Afonfo de Caftella & Leaõ


, , ainda comtudo naõ largou o ílliiC
PáfHmèyraj&Riéíi cre appellid© át Soufa , &
caiou com D. Violaace Lopes Pacheco, íiihi
Unha fmnimna. din de Lopo Fernandes Pacheco , íenhor de Fetreyra Dàves que cafou
>
S9HjiC6,.^tgmi>tm com l>. Maria Gomes Taveyra jÒc deftes naíceo Álvaro Dias de Sou-
miniílVo7JZríl'. ^^ ^^^^^^ ^^ ^^^^^' Ericcyra, &c. & cafou com D. Maria Tellesj irmã
x.es4c ArrohchTcâ. ^^ ^^^"^^^^ Leonor Telles , & foraõ pays de D. Lopo Dias de Soufa,
fada porem com òse. Meftre da Ordem de Chriftoj que íeguio ao iMeftre da Ordegi deAviz
nhor D. Miguelfilha cofltra Caftella, & difpenfado cafou,& ceve por filho a Álvaro de Sou-
'^^^^'J^D.FtiiroJL fe, ( Mordomo mòr delRey D. AíFonfo V. ôccafadõcom D; Maria do
do nome.
Galtro , filha de Fernaó de Caftro , Governador da cafa do Infante Dj
Henrique } & dos taes foy filho Diogo Lopes de Soufa , Akayde mòí
de Arronches, Mordomo mor de D. AftbnfoV.& deD.Joaõ o 1162
Cafou com D. Maria de Noronha j filha de D. Pedro de Mello , Conde
ác Atalaya , dos quass naíceo Henrique de Soufa, Anadel mor dos Ef*
pmgardeyros , do Coníelho delRey D. Joaô o 111. & foy cafado com
D. Francifeade Mendoça, filha de Jorge de MeRdoça, filho de Fernaô
<la SilVeyíà , Regedor, & íenhor de Sarzedas.

64 Neto do tal Henrique de Soufa foy outro Henrique dô


Soufa, primeyro Conde de Miranda , Akayde rnòr de Arronches , Go*
vernador da cafa do Porto, & cafou com D. Meeia de Vilhena, filha de
Fernaõ da Silva, Commendador de AlpalhaÕ3& dejflés nafceo o fegurí*
do Conde de Miranda Diogo Lopes de Soufa , que cafou com D- Leo*
»ôr de Mendoça 5 filha do tereeyro Conde de Penaguião JoaõRodri-
guez de Sà , donde vem hoje os Mapquezes de Fontes^ & do dito fe^
gundo Conde de Miranda nafceo o tereeyro C^nde de Miranda , que
foy o primeyro Marquez de Arronches, &deílepn:nbu o Marquezado,
& Condado a hí5a filha herdeyra , que cafou com o Príncipe de Ligni>
de quetambera ficou outra fi^tha herdeyra , que cafou com o fenhor D.
Miguel , filho reconhecido , & dotado em feu iéilamento por ElRey
D. Pedro jfegundo do nome nafceo mais do dito fegundo Conde de
:

Miranda Dona Mecia de Soufa, que cafou cõm D. Manoel da Camera,


primeyro Conde de Ribeyra Grande , de queo fegundo Conde de Ri-
beyra Grande nafceo em Villa Franca da Ilha de Saó Miguel ^^ vivg
ainda, & foy cafado com húa grande fenhora de França , de qiie ficarão
muytos filhos. Nafceo também do dito fegundo Conde de Miranda ou-
tro filho, chamado D. Luis de Soufa, que primeyro foy Bifpo de Bona^
êc Capellaô mor delRey D. Pedro IL & juntamente Arcebifpo de Lis-
boa, & Cardeal da Santa Igreja Romana , & tinha fido Governador do
Bifpadô do Porto, & Governador também da Juftiça, & Guerra , & ul-
timamente eile , & feu irmaô , ambos do Confelho de Eltado de PortLi-
|al.Edefta linha de SoUfasifto bafte.
65 A outra linha dos taes Soufas ( pof outra irmã da fobredí*
ta D. Conftânçd Mertdes de Soufa, undécima avô do primeyro Mar-
quez de Arronches ) foy D. Maria Mendes de Soufa, que cafou com D.
Lourenço Soares de Vaíladares, & deftes nafceo tampem D.Ignes Lou-
renço dte Sotifa , que cafou com o Infante Marfim .Aífonfo , ( que cha-
niàra6 Chichorro ) filho delRey D. Affbnfo III.de Portuga! & defí-e?
•,

iaafceo mtío Martim Affoafo Chichorro de Soufa, que foy pay de Vaf-

VT"
Cap.X.DosVafcôc.EfpínoIaij&Regiâs íínhas dos Sour.40

€0 Martins de Soufa , que cafou eom Dona Ignes , parenta dos Reys de
Caítella , & do tal matrimonio naíeeo Martim AíFonfo de Soula, (^^Dafegmãa^&keã.
quem algús fazem írmaõ, & nao fi|ho , do fobredito Vafeo Martins } & Unha^ tantbcmfemi4:
cafou cora D. Aldonfa Rodriguez de Sà , êc delles nafceo Martim Af- »^«'»
'^o' Sonfas
,^
fonío de Soufa, fenhor de Gouvea , que cafou com D. Violante Lopes
J;'^»'j«^^j'''^'^^^^^
de Távora, & foraò pays de Fernaó de Soufa , fenhor também de Gou- hmvv o'*S^Arcel^M
vea de Tâmega , que foy cafado com D. Mecia de Caftro , dos quaes ^g Évora D. Diogú
nafceo António de Soufa ( marido primeyro de D. Branca de Vilhena, de Soufa, é'ofeftim^ Pi

que foraó pays de Fernão de Soufa , fenhor de Gouvea } fegundo cafa- tador fobrinho Donè
do cora D. Feiippa de Mello, &: deites nafceo Martim AíFonfo de Sou- f-*^ de\Sc»fa Arc^
íoanna de Távora, dos quaes nafceo outro Fer- ^^ f^/^^^"'* »
fa, q ue cafou com D. "^1
"i^r n/-. ^^ 1 \ f
^
^P^ ^"je a safa no
nad de Soufa , tereeyro do nome j & Governador de Angola , que caiou £xeellentifftmo Còn-^
1

com D. Mecia de Caílro, &: tiveraó dous filhos, hum D. Diego de Sou- ^g do Redondo^ thn^
fa, chamado o Míi , que foy illuftriffimo Arcebifpo de Evorá j & rauyto mè de Soitfa.^ i
mais illuftre por fuás grandes , & exemplares virtudesj 0|)Utro filho , &
fuccefibr da cafa foy o grande T home de Soula í Alcayde mòr de Villa-
Viçofa, & de Mecejana , & delta também Commendador, & cafou com
D. Francifca de Menezes , de que naleeo outro Fernaó de Soufa , quar =•

to do nome , & herdeyro em tudo de feu pay , & cafado com D. Luiza
de Portugal j pays de Thomède Soufa , fegundo do nome * & jàexcel-
lente Conde de Redondo , cujo tio paterno foy D. Joaô de Soufa , Bif-
po do Porto , Arcebifpo Primas de Braga,& ultimamente Arcebifpo de
Lisboa, & verdadeyro exemplar daquelle feu grande tio Arcebifpo de
Évora, & imitador de fuás heróicas virtudes.
66 De outras familias de Portugal , que vieraõ povoat a Gra-
ciofa> diz o Doutor Fruduofo Uv. 6. cap. 42. que ha nella Dornellas , &
Cameras, que vieraõ por via da Praya , & de Angra , filhos j & netos de
Álvaro DornellaSj de que jà tratámos j & que ha também Quadros , de
&
que trataremos, quando da Ilha do Fayalj que também ha Limas , &
Pachecos de tal qualidade , que D. Diogo Lopes de Lima , Submilher
delRey D. Sebaftiaõ, & Jorge de Lima, & Francifco Barreto de Lima, ii'i

Vedor da Fazenda Real , quando de armada hiaõ ás Ilhas i vifitava5


por parentes aos taes Limas, & corti elles fe hofpedavaó,& comiaó, com
Manoel Pacheco de Lima , Contador da Fazenda Real j & com outro
do mefmo nomc,que foy por Embayxador delRey a Congo; dos quaes
Pachecos, & Limas jà tratámos, & ainda na nobreza do Fayal os tocare-
ínos. E acaba o mefmo Frufíbuofo dizendo, que na mefma Graciofa há
demais a geração dos Silvas , que procedem de Niino da Silva , primo
com irmaó do Conde de Portalegrej Ik deites também faremos a devida
toeilf aô em feu lugar.

íp iij LiVRO

ma
•ny
m •M' ,

LI V RO
DAS
vm.
ILHAS DO FAYAL, É PICO. )(!i

C A P I T IJ L o 1.

Da altura, grandeza, ércoltai da Ilha do Fayal , èrfúa Filia


de Horía ,& míémr da Ilha.

M trinta & oy to gráos 6c mcyo j esforçados,

fica o Fayal , ao Sudoefte , & quafi Oelle da


^^^^^ dõFayaldipJ
Ilha Terceyra j do & feu monte do Brafil,vin- ^^ ^^ jerceyra vime
te legoas de terra a terra chamou-fe Fayal, íegoat de terra mas
: ,

por fera tal Ilha de muytas , & grandes Fayas mHytoimaú


deporta
^'
toda cheya corre efta Ilha de Lefte a Oefte,& ^C'" 5 ^ff
J
:
^1 Df te tem mau de C.
. /- 1

lattiàca, atèonde chamaô o Capello , por ordinariamente ter hum Ca- ^ c^uafi redonda ^, ,

pello de nuvéSi& outras cinco legoas tem da Ribeyrinha atè o òxX.o emcimamuyto pUj.
Capello jainda de Leílc a Oefte j porem de Norte a Sul fealargapor «^.^^/^^'«^^'íSSí'
mais de três legoas & em partes mais de duas com que à vifta repre-i:''^*^ ^ ^'P'
, -, .

fenta figura quafi redonda, pouco montitofa , & muyto playna^ & delia
trata Fruftuofo no feu \w. 6. defdte o ca^. 3 5 por diante , que por erro

da pennafe conta por ca^, 36. fendo na verdade fó 35. fem lhe faltar fo-
lha alguma.
% í)e Lefte a Oefte j da pohta da Ribeyrinha & da de Eípá^ úot lagares que eor^
,

lamàca, pela coita do Sul paílada legoa hz meya , eílá a Freguezia & nmplo Suí ,
pri- ,
o
,
N.Senhora da
lugar de NoíTa Senhora da Ajuda com cento & vinte vizinhos, Vigário, ^^F^
& Cura da banda do Norte clmma-fe o lugar de Pedro Miguel mais J^^^^ '[Va^,^^, ^"
; ,

adiante fe fegue ò lugar chamado Prata do Almoxarife , Freguezia de SenhoradaGra^a tí


Noíía Senhora da Graça , qtie tem ceiíto & dezafeis vizinhos, com Vi- j j 5.
gario j &- Cura -, &
hum areal 8? hom Forte nelle , que mandoil fazei-
,

Gomes Pacheco de Lima , no tempo das alterações com o fenhor Dom


António i fendo Provedor das Fortificações , &r aqoi eílá hitm poço da
melhor ágita de toda a Ilha , &" eííá oiitro femeíhante no Qiiintal do Vi-
gário dolugár. juiito da tal Freguezia eftá a ponta chamada da Efpala-
4f t LiVro VIU. DâS celebres Ilhas do FâyaÍ,& Pico,

tnàca,queem Flamengo fignifica o que em noííb Portuguez poftta dê


agulha , ou de alfinete & aqui eftá humjardím > que fez Joz da Terra»
-,

hum dos priraeyros Flamengos nobres , que vieraô àquella Ilha, & fo-
gro de António de Brum , dos quaes ambos fallaremos mais abayxo.
5 Logo, meya legoa acima , inclinando para o Poente ,eftà a
A cabeça àefia Ilha principal Povoação , ou Corte defta Ilha, chamada a Villa de Hórtai
hf a Villa da Horta, ^ chama-fe aílim , porque cada cafa delia tem tal Qiiintal , & hum , ou
k entrada te o lugar dous poços, que pareeexada huma ter fua Qiiihcaj ou Horta á entrada :

deN.SenhoradaCõ. deita nobre Villa eftá huma Freguezia de NõíTa


b^éíihora da Concey-
^^"^ ^^''
ST. '^ai Ç^^' Ql^^^ ^^ ^íif^s era Ermida ) junta a huma ribeyra que vem da ferra,
nhej^& outra dt 64. ^^^ 'v^zes enche tanto , que alaga a t reguezia, & tem huma ponte de
pedra, por onde fe fervem paira a Villa,m2s com a enchente nroem moi-
nhos; & à porta da Freguezia defte lugar eftá huma Cruz de pào, pofta
fobre degràos de pedra , & chapeada de ferro que mandou fazer hujji
,

homem , por condemnaçaõ que lhe deo a juftiça Ecclefiaftica , peía cuL
pa que tinha comnieiÇido. Oh íequi^efle Déosqué às penas pecuniárias
da juftiça ( ainda fecular, quanto mais Ecclefiaftica) foííem aílim applí-
cadas a pbras dp bem commum , mais do que ao particular dos mefm©s
Miniftros que as daõ,Gom capa de defpezas da Relação , de efportulas,
^c. ! Ha nefta Freguezia,& lugar,ou arrabalde da Villa
demais de du-*
,

zentos & vinte & dous vizinhos , Vigário , Cura , & de novo outra
&
Freguezia de NoíTa Senhora das Anguftias eom cento &
feífenta êc
quatro vizinhos.
Entrando pára a nobre Villa de Horta, eftá ao lotigo do maÉ
4
^ ^iílajó dentre im^^i^ mais antigo pedaço delia j que por ãlli fe começara povoar , cha-
Jt,pajfa de 500. vi- maõ ainda a Villa Velha , &
o mar atem jà levado muyto ^ fegite-fe lo-
Xitihaj', tembrs Col. go o principal da Villa que tem em hum alto a íua Igreja Matriz da iri'
,
'lepaíU,tresFregífe'
&
vocaçaõ do Salvador, tem hoje mais de quinhentos vizinhosjSc duas
Jericó dia & dom
^''^i^ ^
^^^ ^centas &
ciiicoenta almas com feu Vigário , dous Ctiras ,&

Conventos de frtffui ^^^^ BeneficiadoSj &


Thefoureyro,&: falario para Pregador. Perto def-
defefítitacadahíim, tã Igreja eftá hum Mofteyro deFreyrasj da Ordem de Santa Clarajde
hum Convento de S. mais de feflenta Relígiolas de vèo preto , & da invocação de Saõ Gon-
Trancifco de trinta, ç^Iq^ (hojefe chamadeSaó Joaõ Bautifta) que fundou hum Cavalley-
^^^ ^^^^^^^ Diogo Rodriguez, que tinha fido Fronteyro de Africa em
ÍTh»mc7l io^^Ta
^""^^^^» ^ sra filho de Paulo RodrigueZj Alemaó j que tevedotis filhos
Compmhia cem Ef'
indositiblitos^ Glerigos,& fundou efte Mofteyro , metteo nelle as filhas Freyras,& he
da obediência dos Frades de Saõ Francifco. Outro Convento chama-
do o da Gloria, de quaíi feífenta Freyras de vèo preto, que foy fundado
por D. Cathariíia Cortereal , ha perto de cem anrios , & vieraõ fundallo
duas Religiofas da Conceyçaó de Angra , Anna de Deos > & Maria da
Afcenfaõ.
5 No meyo delta Vilía eftá a Cafa da Mifericordia com feil,

Hofpital, & mais de vinte moyos de renda, além de outros foros & lo- j

go fe fegue huma Ermida, chamada Noífa Senhora da Beata, junta às


cafas do Capiraó Donatário, & outra da invocação de Santiago. Depois
abayxo eftà o Mofteyro de Saõ Francifco ^ de que dizem foraflindado
três vezes primeyra na Prayado Almoxarife; fegund a em hum monte
-,

de Porto Pim j aonde eftà huma GoVa,ehamáda a Cova do Fradei; & ter-
ceyra
Câp. I . Bcferevc-fe a Ilha do FayaL 4|^
^yra vez aonde agora eftá j & he Convento grande & de trinta Reli- ,

giofos da Província Francifcana daquellas Ilhas. Logo raais aiaayxo pa-


ra o mar para onde fica a porta do Moíteyro efta va de antes huma £r- , ._ ^

mídade NoíTa Senhora da Piedade, com huma eícada para o mar , poí ^'*V^'*Í'%,J j'x
u j tienhora da rtedaae^

onde encrava a gente , & comtudo amda por bayxo


,

hia caminho de
,
ear-
, I

^ ^^ Uvada fC' .

IO com cngQ, & tudo o mar levou depois , & ellá tudo cofta brava & iaiondas^& andar «• ,

chega às vezes a entrar o mar na horta dos Religiofos Francifcanos j & ^ar muytos di^, ap^
chegou a levar a Imagem de NoíTa Senhora da i^iedade j que depois de pare6eomtlagr0fartte»
andar fobre as ondas muytos dias , appareceo em hum ferrado jiinto à ttn^ terra , &fe
l»*. 111

tj^ettal Cai
Senhora da Conceyçaó , &: depois de a renovarem , a coilocàraó em hu- '^^^''<'»

ma Capeila, que para iffo fe fez na Igreja de Saó Francifco , com a mef-^*
ina invocação da Senhora da Piedade. -

6 Ha mais nefta nobre Villa hnm GoríVcnto de Carmelitas


Calfadõs, de acè doze Frades , & o fundou Helena da Silveyra , viuva
do Capitão mòr da Ilha Francifco Gil da Silv«yra,S£: o fundou ha mais
de lefienta annosj & naò fey que haja outro defta fagrada Ordem em to-
da?; as nove Ilhas Terceyras. Ha também hum Colkgáo da Companhia
de JESUS, que cambem ha mais de feíTenta annos fundou o Capitão
Francifco de (Jtra & Qiiadros, & íua mulher D. Ifabel da Silveyra , de
cujas nobiliílimas famílias trataremos mais abayxo doCollegio de j &
Angra vierâÔ" Religiofos a fundallo * efpfícialmence o grande Padre Ma-
noel Fernandes , íendo Viíitadof das Ilhas , ( que depois foy iníigne
Rey tordo Noviciado de Lisboa PrcpofitodeS* Roque, & fempreatè
,

morrer, Confefíor da Mageftade delRey D. Pedro II. &exemplarifii-


mo na viáâ,èz em doutrina doutiíIimo,como moftraõ os livros que com- 'i li

poa ) Sc o muy conhecido Padre Lourenço Rebello, Prefeyto, & Len-


j

te de Theelogia Moral do Collegio de Angr^, letrado &: Pregador de ,

grande nomei& nefte Collegio tem os Padres efcola de latim,&: de Mo-


ral, além de pregarem confeífarcm & exercitarem os mais minifterios
, ,

da Companhia de jESUS;& nao ía em toda a Ilha do Fayal, mas nado


Picoj aonde fazem varias miíToés.
f Tem pois efta Villa de Horta, alem de três Ffcguezias feu
'•

,
>

";
. .

Vifitador ou Ouvidor Ecdcfiaftico de toda a Ilha & muyf as outras '^'^^ ,


i
^JllkTP^
liobres Ermidasj & da de Nofla Senhora da Guiaj que eftá fotjre hum àl- ^^^-^ ^^^ bonForÁ
to monte, foy Fundadoro Capitão rnòr Jorge Gularte Pimentel & da talex.a com forte ar^ ;

de N. SenhoradâsAnguftiasfadiz ter fido a primeyralgfeja que hou- telharia mJIa.&eetià


venefta Ilha ,& fundada pela mulher do primeyro Dortatario joz âef^ldadoí pagos de prtm
Utra & outra de Noffi Senhora do Firmamento fundarão os fobredi./^*'"/*'*'?^? .c^'»" ^^.
i

tos Francifco de Utra & Qilâdros & fua mulher D. Ifabel da Silvey-
n^ « ^
-íé-nr -i-
,
r
'^'"' ^ '^''^'^
oHtroi Fortalex.íu ,a-
ra, Sc ngllatem perpetuo Capellao , & Miíla quotidiana por íivas almas; />^ de roihoi
1
V .

inaièc^
& a de Santiago fundou ]oí de Utra fegundo do nome & a que eftá yj^^^^
j •,

junto' do porto , Noíia Senhora dâ Boa Viagem , lis Confraria dos Ma-
reantes , 5c muyto rica. A de Santo Amaro foy fundada por Francife*
Pereyra Sarmento ^,á de Saô Louferiço poí Thomàs de Porres Pemy-
ra, irmaó do Capitão mòr Jorge Gularte PiítienteL Tanta era a piedad^
dos moradores da íltia do Fayal. ;
% Naohemertos guarnecida adita lííiâ com Fortalezas coíiv
tra a guerra temporal, do que com tantas ígrejas, & Conventos eo^t ra á
'' '^- eípij

mm
4J4 Livf o VIU. DâSoelekc^Illlâs áo Fa;^al,8£; Pico;

A primeyra Fortaleza da Villa he a chamada Santa


cfpiritual guerra.
Cruz, que cem cem homens de guerra pagos & de preíidio com boa
> ,

arcelharià>, & artelheyros competentes


j a fegunda he a que ehamaõ da

Boa Viagtyn com muytas peças de bronze, ôc de alcance j logo na &


Praya tem í^es Fortalezas mais , 6c outra mais adiante no Portinho que
ehamaõ de Pedro Miguelj & naõ tem mais pela banda do Norte por-» ,

que a rocha j & o mar per íi fe defendem: da banda porém do Sul, & em
toda a parte onde fe pôde defembarcar , tem íua Fortaleza , & platafor-
ma, que laõ por todas oyto, &' com boa artelharia além de todo o areal
5

da Villa, & Praya chamada do Almoxarife , effar murado, & com muy*
to bom muroj com que fe naõ fabe que efta ilha foíTe entrada em algum
tempo por inimigos j excepto no das alterações do fenhor D. António^
quando ainda naõ eftava taõ fortificada.
9 As outras Freguezias, ou lugares da tal 11 ha temo nlimerd
de vizinhos , ou fogos feguintes da banda do Norte a Freguezia de N.
:

'^lem dos àom luga- Senhora da Graça, tem cento & dezafeis vizinhes a de N oíTa Senhora
•,

Ves acima ditot tem da Ajuda tem cento & vinte a de Saõ Mattheos , lugar da Ribeyrinha,
, }

mais o àeS.Mattheos cento, & oy tOi a de Santa Barbara , lugar dos Cedros , tem duzentos 2ç
tom 10%. viíiinhos\o noventa vizinhos ade NoíTa Senhora da Luz, junto à Villa, duzentos
j
dos Cedros tem 290.
;& quarenta & kisj & fe chama a Ribeyra dos Flamengos a do Efpirito $
S^ oda Ribeyra dos
flamengos tem 2.46.
Santo duzentos & trinta & féis j a de Santa Catharina , que chamaó Ca-
edo Efpirito S,i,\^(>. ftello branco , paíTade trezentosvizinhos j a da Senhora da Efperança»
ede Caflello Branco lugar cha;mado Capello, tem cento & vinte &: hum vizinhos a da San* $

pajf*dt-2^oo.& o do JiiíTima Trindade, que ehamaõ Praya do Norte tem cento & vinte Sc
,

j & fe bem fe advertir, acharfeha, que muytos dos taes lugares faó
Capello 111. o da três
Traya do Norte cen-
mais populofos , & mayorcs que varias Villas em Portugal }& que a in-
to & vinte três.
ligne Villa de Horta excede muyro em numero, nobreza, &" riqueza
-dos moradores, a algumas Cidades de Portugal , ôc outros Reynos , co-
mo adiante veremos.
10 Indo da fobredita Villa de Horta, do Oriente pela banda
do Sul para o Poente , & defronte de Santa Cruz , hum tiro de béfta ao
O princípAl porto da mar , eftá hum llhèo pequeno , mais adiante a grande enfeada de Por-
&
VUl^fr chama Porto to Pim5& porto tal, que nelle defcarregou & tornou a carregar humâ
já ,
fim ; capaz, de muy~
tos (^ grades navios
grande nào da India,& he o porto principal da Villa de Horta, mas cor-
\
;

0.oittroje chama Ca- rendo Sudoefte forte, correm perigo também os navios que achaden'
merade Lohosjé'he tro, & à entrada do porto eftà huma pedra perigofa , &
já fabida } pa-» &
&
de caravelétí ; a- ra dentro da terra eílá hum Pico, no qiialfediz que os primeyros Po-
diante algum ILhtos^ voadores fundarão
afuaVilla de Horta, & que depois fe mudou para
4^e>
onde hoje eftâ ; adiante mais de legoa & meya eftá o Pico, chamado Ca-
ftello branco, de altura de dous altos Caftelíos, todo em figura quadra-
do,& em cima com hum playno de três raoyos de íèmeadura , muyto &
fértil de trigo , & com eftrey ta defcida para a terra , & rocha para o mar

era que elle bate , &


do mar fe vè muyto ao longe j & com tudo junto ao'
Pico eftá hum porto chamado Camera de Lobos, onde entraõ, carre* &
gaõ caravelaSi &
adiante , mais de duas legoàs para o Norte eftaÓ dous ,

Ilhèos ao mar tiro de béfta ,& logo a ponta do Capello , onde acaba a'
Jlha no Poente, &: volta pelòNorte atè o lugar da Ribeyrinha d|i ban-
dadoOriente. '
fí r- > v:^ ,;'>n<íf -i
li He
V^^Càp^irDodeícQbrimentbliaííliâJâfáyal. •

4ff

l^í ? í i He o Fayal aira Ilha em o Meyo & iegoa & meya da Vil- j

£ o Noroeíle tem huma grande çaldey ra, ou furna, de huma Iegoa Com ftr o Tayal ílU
p.-vra

çm redondo, & de altura ou tundo meya Iegoa aonde íe defce por hCi muyto alta, & em ci-
, ,

caminho eftreyto, ôc a piquej em bayxo he em parte mato, & ix)fques ^^


""^'^if-ZTj f

áeleycofosjôc cm parte he prado ameno, mimofo,Ôc muyto playnoj mas
'£^^J'J^ll^ ^lyta
a terceyra parte he huma alagoa , que tem hum quarto delegoa com ^^- p^^goí fontes^ & me-
te outeyros à roda , cheyos de arvoredo, de variedade de paíTaros iC^- ftosribeyríu^matmfí}
liarios, melros , toutinegros & muytas vaccas, ovelhas 6c cabras de di-
, poços.,& de boa a- , m
vcrfos donos, baò poucas as vinhas nefta Ilha, por ferem (dizem algiis) gua^&poriffhemtè.
os coelhos mu ytosi mas a verdade he por terem junto a fi a grande Ilha P''/^» «Z'»
«^' "^''Z*'-
,

do Fico que fe pôde chamar a mãy do vinho. Do paftel que fe lavrava "^'^l^^2it[%*'
,

antigamente , jà hoje fe naõ ufa , & as lavouras hoje faô quafi todas de ^^ ^-^j^^ ^ \oHca. ^

crigo tem muyta abundância de lenha & mato , mas pouca fruta por j-yff^a,per íhevirè da
i
, ,

lhe vir fempredo Pico tem poucas,& fracas fontes, porém muytos po- grande IlhadoPico,
:

fos, &: de boa agua , mas nenhum ribeyra que corra todo o anno & por^ ,
a
-

iffú nem fempre tem moinhos de agua , mas atafonas no tempo da íecaj
6 comtudo tem toda a cafta de gallinhas & caças, & muyta junca ; & o ,

áiolherio he de naõ menos perfeyçaõ efpintual que corporal & todaá , ,

tem Oratórios em fuás cafas com que faó muy recolhidas, & devotas. ,
.,": •'
'
" -'1 ^i
.1- V .- r

: CA Al T V t o II.

7 .Dequandoy&porquemfeàefcuhrioaLlhadoFayaL ;;

j2 T7 M que anno do Fayal primeyrà


j mez j oií dia fbíTe a, Ilha
'

j[j^ yez defcuberta , naõ fe acha fó fe fabe que o foy


em fexto j

Ibigar depois de Saõ Jorge &: Graciofa & como eftaS o foraõ pouco de- ^^^ defcuberto o ?ã2
, j

pois doannode 1450. também pouco depois fe deícubrio o Fayal , hâ^ahwannede 145:3*
quafi 260, annos do dia, ou mez em que fe defcubriíTe, nem conjeftura pouco mais otf menos,
:

ha.Sobrequemfoíreoprimeyrodefcubridor dallhi do Fayal houve f»^ riAvegames da ,

fempre grande duvida o Doutor Fruftuofo hv. 6; cap^ 3 6. inclina a que V^"l'^^'.^J^^if'^
:

feria ,0 grande Gonçalo Velho, que tinha defcuberto as Ilhas de Santa ^^"^^õle fabe-.ò nú-
Maria, & Saõ Miguel porém do que contra iílojà moftrámos no def- ^^^^^^^ da muyta
5

cubrimento da Terceyra ,fevè que naõ fubfiíletal confideraçaó. an* F^iya i^ue tinha, cpri- O
tigo Joaó de Barros Década i liv. 5. cap. 1 1 & também no ClarímUndo, mejro Povoador /o)>
. .

S.& quê^
dà a entender que a defcubrio o grande íidalgo Joz de Utra, que depois hUErmitaõ ;|ii.
"*'"''*
íovo feu primevro Capitão Donatário porém tal naõ declara Barros, '^^^ -
;

&fo declara que o Utra roy o leu pnmeyro Donatário j &: nos conlta
que os prímèyros defcubridores da Terceyra &• Saõ Jorge , que jà de ,

antes èraõ defcubertas, botàraó na Ilha do Fayal algum gadoj & que hú
Ermitão de boa vida, por a fazer mais folitaria, fe foy para a Ilha do
Fayal de morada liiaõ no veraó algús a^ver as fazendas , que là tirshaô
:

roraado, & fèu gado, & vifitavaó o dito Ermitão, & achando qUé elle ti-
nha' preparado huma embarcação a feu modo ,& perguntando-lhe pard;
qíie^era aqttélla embarcação , refpondeo , que da parte da vizinha Ilha
dbiPífcò lhe áppãrecia huma mulher veftida de branco, que o chama-
va-dé làj que fé foíTè pára eílá, & que por lhe parecer qtiç era a Virgerri
4$i LiVfo VIU. Dàs célebres Ilhas do Fayal j êc PIcò;

Senhora i fazia aquelle barquinho de couro por fora j & determinavt


quando a Senhora outra vez o chamaíTe os que o ouvirão , o
paíTar là, :

tiravaõ diíToj & comcudo o Ermicaõ fieou acabando o feu


barquinho,6c
fe metteo nelle ao mar, & nunca mais foy vifto , nem achado
; & aífim •
demónio com capa de fantidadefez morrer aquelle Santo Ermitaõ/em
delle, nem do barquinho fe faber mais; ;

13 Aííihi o conta o citado Fru£tuofo ; êc fuppofto iéo , Certd


he , que a Ilha do Fayal foy primeyro defcuberta pelos mareantes d»
Ilha Xcrceyra , & Saó Jorge que como mais vizinhos deraò
, com a Ilha
do Fayal , & lhe lançarão gado & por ferem gente ordinária , fe naõ a*
-,

treveraõ a pedir a Ilha. Gonfirmafe efta opinião porque aífim foy


; dcf*
cuberta a Ilha Terceyra pelos mareantes de Cabo Verde a de Porto
j
Santo pelos que vinhaõ defgarrados j & a da Madeyra pelos que de In-
glaterra vinhaõ , de que ha muy tos outros exemplos & daqui veyo
i fi-
car a Ilha do Fayal reconhecendo íempre a Terceyra como a fua Inven*
tora, & tomando defta muytos nomes de fuás Povoações , de fuás
Ermi*
das , & imitando feu trato , & commercio , & começando a povoarfe dô
puros Portuguezes das Ilhas Terceyra, & Saó Jorge, cõmò veremos
nos Povoadores do Fayali & eíía me parece a verdade. ?:

14 He verdade que efta Ilha do Fayal foy depois íiiais povoa«


da por muyto illuftres Flamengos , & por ordem dos Reys de Portu-
gal, ( como veremos logo nos Capitães Donatários çleíla
) mas antes
diíTo tinha fido em parte povoada pelos mareantes
j & Portugue2es da

.
___. T^^^ceyrajácSaô Jorge. He potèm de reparar qtie entre os Flamengos
j
SiumÀOitHtHs fn- veyo hum que fe chamava Arnequim , aquém
por muyto valente, &
^^^^^"^^"^^^ %"ia5 alguns outros Flamengos , com os quaés , vendo
7o^7rnZlimZm
^Hejtfccedfoalcor. '^5^^<l"i'" «1"^
o Corregedor de Angra acabava em o Fayal os trinta
reiedor a «/fÍM<í^ ^'^^^^ ^"^^o""^^)^?^», foyfe ao Corregedor, &
difle- lhe eftas palavras:
^ijloria do ttx$9 . Senhor Corregedor ,Ji íua mercê tens acabado teu tempo nas nojfaí Ilhas do
Fayal,vaytt embora logo, nao ejiejas aqui mau , que nao te queremos eh. Ref*
pon(íeo o Corregedor j que naõ tinha tempo para fe ir , que quando o
houvelle, fe Arnequim, & os feus dizeftdojque fe foíTe logo.
iria Jnftou
Replicou o Corregedor, que como fe havia ir fem vento & os Fia- í

i
mengos entaõ levantando-fe contra o Corregedor , começarão a dizer
em altas vozes Senhor Corregedor ^ quer uentes, quer nao ventesy bicha ma-^
í

la fira de noffas terras. E com ifto atemorizado o Corregedor fe recp-


íheo, & efcondeo em huma cala,& naõ appareceo maisj mas nella com
mayor fegredo que pode, fez autos dos ditos Flamengos, & os mandou
a ElRey, & fe voltou para a Terceyra-
I % Vendo ElRey os autos mandou logo ao Capitão Donata-
íiòdo Fayal que lhe mandaíTe prezos aquelles homens indo o Ca-
•, &
pitão correndo para prender ao Arnequim que via , &
voltando efte ao
Capitão , lhe diííe aífim Senhor Capitão , vayte embora ,
: &
deyxame Çe^ -,

nao yheyte de matar com efiabéjla. E o Capitão vendo ifto fe voltou ,&
deo conta a ElRey; & ElRey lhe refpondeo, que os naõ prendeííe, mas
fó da fua parte lhes diífeífe que foíTem ao Reyno requerer diante de S.
,
Mageftade. Obedecerão ellesj & vendo-os ElRey lhes diíTe , que fe naõ
admirava do que fízef ao a& feu Corregedor , que era Portuguez, & el-
les
/
Câp. III. Dos Utras Donatários do Fayal, 4^f
Ics Flamengos, & naõ entcnderiaõ com ellc j mas que fe maravilhava
fe

miiyto do que fizeraõ ao feu Capitão com quem vieraô, feu natural , &
Flamengo como elles , querendo-o matar , & naõ lhe obedecendo. A if-
m reíponÓGo o AvnQquim: §laes que te diga i Senhor Reyí Cães som ray-
vaiem donos mordem. Ouvindo ifto EltCey virou orofto, forrindo-fe»
& vokando-o aos Flamengos lhes diffe ,que fe foflem embora para fuaS
w. \

cafas, mas que outra hora naó fizeíTem mais aquillo. Fora5-feentâ6,&
HCom Provifoés delRcy , para fe naô fallar mais no cafo j &: daqui toma-
rão os do Fay ai por timbre feu dizerem , que laõ de terraj aonde fe diz:
Bicha malafora de mffa terra.

CAPITULO III.

Dos illujlres Capitães Doftatarios do FayaL


; 'i

V ^ *^ U Stando já em parte ( ainda que pouco ) povoado o Fayal


ti/ por particulares Portuguezes , que da Terceyra , Saó Jor-
ge, & Graciofalhe foraõ , tratavaõ as peflbas Reacs de nomear algum Primm pónatariè
Çapicaó Donatarioda Ilha , para que com mais riqueza , & nobreza a
f,'1í^{^^2Svl'fâ
povoaíTe toda ; & porqíUe entaõ andava em Lisboa , & no ferviço das ^Z^f
^ii,/^"}^^.
peflbas Reaes huna^grande fidalgo Flamengo , chamado Joz de Utra, ^„ f^^ ^^,^^^ ^^^^
( ou como diz Guedes em fua hiftoria , Jorge de Utra , dando a entcn- cedo^Dam* do Paç»i
clcr que em Flamengo o nome Joz, he o mefmo que Jorge em Fortu- &eom navios àfuM
guez ) a efte fidalgo nomeou ElRey de Portugal por Capitão Donata- *«/?* , &
fUmtngoà
rio de toda a Ilha do Fayal , & o cafou com huma Portugueza Dama do '"'l"
C»thoUcos,we*^

jPaço, chamada Brites de Macedo,da antiga fidalguia dos Macedos. De^


**' '*""'' ? ™
ftc Jqz de Utra diz o citado Barros , que era Flamengo , natural da Ci-
dade de Bruges no Ducado de Flandres , & que era fenhor de certas
ViUas do mefmo Ducado, & que tinha vindo mancebo a Portugal,com
afama dos defcubrimentos feytos pelos Portuguezes , & fó a ver terras,
& aprender línguas, como coftumavaõ entaõ fazer os illuftres , & ricos
fidalgos em fua mocidade.
17 Pafladas pois as cattas de Capitão Donatário do Fayal ao
dito Joz de Utra, na tórma em que fe tinhaò pafl*ado aos Donatários da
Madeyra ,& mais Ilhas , voltou de Lisboa â Flandres o dito Utra , ÔC
vendendo lá o muy to que lá tinha , metteo fuás riquezas em navios, to-
mou ^or companheyros a muy tos outros fidalgos , & parentes feus , de
que abayxo trataremos, & a outros mais ordinários povoadores , & com
tudo á fua cuftâ fe tornou a Lisboa , & com fua mulher fe veyo metter
em o Fayal i & porque tinha em Flandres convidado também a outro
rico fidaígp , chamado Guilherme Vandaraga, com promefla de lhe
dar parte da Ilha & efte Vandaraga preparando primeyro três navios
;

â fua cufta , nelles com muytos cafaes de Flamengos veyo pouco de-
pois ao Fayal, onde jà achou ao Utra , & ambos com fuás gentes conti*
nuàraõ logo, &: acabarão de povoar toda a Ilha , o Utra comp papitaâ
Ponatario,& o Vandaraga como principal Povoador,
. 1% Priraey ro Capitão pois, &: Donatário da |aUlha,foy o di-^

WÊm
45 S ^^^^^ VíII. Dâíceldbres líhas dò Fayál, & Pico:
tojoz de Utrg, ^ç ^ dica fua mulher Brites de Macedo, Dama do
Paçc%-
• porque amda qwe Barros diz que fe chamava Ifâbel de Macedo
, Gue-
des,& a conftaflte tradição, & mais provável;, aífirmaõ chamarfe Brites
de Macedo & aindaque dizem alguns quç ô Joz de CJtra cafára
:
com
feuma chamada Correreal ,enganáraõ-fe , naó diftinguindo o
primeyrô
&
Joz de Utra , Capitão primeyrô , de hum íeu fiiho j & do mefmo no^
nic, que he í uccedeo na Capitania , & efle foy o que
j
cafou çomàquella
Corterealjcornojàdiflemosnos Córtereaes Capitães de Angra.- Do
tal
Çapitaõ Joz de Utra , & da dita Brites de Macedo nafcèráõ
varias fi-
ma filha doprimef.
j^as , que cafáraó com outros fidalgos em Portugal
, huma côm & hum
ro foz. de Vtra cafou lUuftre Alemaó , chamado Martim de Boémia , a quem ElRey de
Por-
comha fidalgo ^le- trigal eftimava muytopor fua grande nobreza,
fingular fciencia ,"de &
rx r.i.ií: tiiTfz"'
Macedo
^^' f ^^^^ ^^vhoz de utra &
rnafceo
'f mais hum ,

Donatário ^^^^^
que chamou também filho varaó, fe
figmdo f "J^
foy ofegando foz. deJ^^
^^ UtraiComoo pay,eom quemuytosfeequivQcàra6,& foy fegup-
Vtra filho doprimey. do Capitaõ Donatário do Fayal.
ro^&do fegHdo naj- 19 Tercey ro Capitão do fayal foy Manoel de Utra Coftc-
f .

ceo Manoel de Vtra^xeaUc^iúmo


fílhodofegundo,&efte fecafou naimefma Ilha do Faval
^"' ^"''^ ^^^'^"'^^ filha de hum grande laxrrador, chamado Joa^
Tr!!endo^Lèbã ^^^ '

"^ Anes das Grotas , &deíua mulher Catharina Vicente j & defta teve
^[eHfilkoGajparde
'Vtr»Çortereal\legmo K^s filhos varoes.Gafparde Utra Cortereal, Hif ronymode UtraÇor-
â\4emanda o /í^/f«- tgreal & Salvador de Utra Corterealj & teve maisq«atro filhas , Dona
,

dfiirm^iõ nieranymo Çatharina, D. Barbara, Dona Antónia, & D.Ifabel, mie faleeeofem
dcf"
^VtraÇ9n*r,é^ ceqdçnGta. o primeyrô Manoel de Utra , indo a Lisboa a confirmarfs
/f % tkTOH: a.^apit^- na Capitania, houve na Corte de tal modo, que chegou a ElRey , ter
fe
"^' ^í'e huma^Iha de huma Dama do Paço, & naõ
fercafado legitimameni-
• • tecom a dita Maria Vicente o que ouvindo ElRey mandou-lhe qu« ; ,

Ipgo recebeíTe a Dama do Paço & o fidalgo o fez com tal temor, & pe- ,

pa que defta em breve tempo faleceo & chegando a nova de fua mor-
, 5

çp à dita Maria Vicente, veyo varonilmente logo a Lisboa , a provar co-


mo tinha fido legitima mulher do Donatário morto & delle eraô legf. ,

timos feus filhos os que lhe ficàraô & a Dama do Paço nunca fua mui
, ,

Iher legitimasse affim fe julgou tudo por final fentença, & a fídâígá
Jiama íe- gietteo Freyra; ;:'. õí.^..;-: ,
.

.;

r' 20 Oppoz-fe logo à demanda da Capitania do Fayal Gafpar


de Utra Cortereal , filho mais velho do terceyro Donatário morto , &
no raeyo da demanda faleceo também & pofto que jà era cafado com ;

' Quarto , & quinto ma fidalga fua parenta delia naó |deyxou mais que húa filha. Seguio
111) ,

Do?rata-aofoyaõ Dõ a demanda Hieronymo de Utra Cortereal fegundo irmaó legitimo


do ,

^^"^ "^ demanda tinha falecido ; & comtudo contra elle fe deo a fenten-
adZnt'tfr7rru
puto, & D. Fr.wcffo ^-^ í"^'.*
, & para eíta
fejulgou por vaga a Capitania ; & alcançan-
í-oroa
yt/^/^«re»^.«í,-«f «o ^<> Hieronymo de Utra revifía dafeaufa, alcançou também final fen-
me.ido Conde de Ftí. fença por fi contra a Coroa porém correndo a revifta , deo ElRey
j
la de Honafoy^ ^ifo. D. JpaÕ Capitania a outro fidako chamado Dom Alvarode
III. a dita
fnp^ra a Inat.,&Q^,0.. _,,,.. ....:'./> «l
,, , . . , •.
^'i

taJaaodno H.ero.^ ^^ Oiiâíto Capitao Dottatario doF^yàl" foy efte dito D. Al-'
:
"

nymo Cortereal, ^ ^^'"o & > 3 teve cincOannos, atèque o mefmo D. Álvaro deCaíí:ro(6?
foy ofexto Capitão, dizçm que poi: grave efçrupulo } largou adita Capitaniaa:.ElRey}& fe-
<>-' ' guin-

^rr
Cap.lF^Dos áobr.& prim.Povoad.do Fâyál;tltfâS#c. 4^
*«w.fe na Coroa, Luficana ElRey D. Sebaftiaõ , fez quinto Donata-
px^io Fayal a D. Francifco Mafcarcnhas, que vinha entaó dà Indiá , &
- docerco de Chaul. Naó defjftindo porém > mas perfev^rando nade*
.Manda o dito Hierony mo de UtraCorteíeal , foy-lhe emfim reftituidW
a Capitania do Fayal, annode 1582. reynandojaCaftelIa. Sexto Capi-
tão pois foyefte Hierony mo de Utra , &
caiou em Portugal com a filha-
. dehum fildalgo, N.
Figueyra , & o quinto Capitão D. Francifeo Maf--
carenhas foy defpaehado por Vifo-Rey da Índia , & com fó o titulo de
i Conde da Villa de Horta no
Fayal -^ emfim venceo i alcançou, qu© &
tudoalcança, & venCe, que he a conftancia,& pacienciaj qual teve Hic-
ronymode Utra j & como ifto paflbu , haverá cento & dez annos ,dos
GUtrosfucccíToresdiraõ outros. Eu fó digo que hoje faó Donatários do
Fayal por mercê deElRey DomPedro 11. Rodrigo Sanches de Baèna
/Farinha, filho de Fedro Sanches Farinha,&: juntamente Donatários da
<SraGÍofâ , como jà diíTemos livro 7. capitulo 9.
' \' ;. \

CA PITU L O iV.

moPos outros primeyros y & tnais nobres Povoadores do Fa-


yal, UtraSj & QuadroSj Silvejiras, é" Cunhas^
(tr Boemim.

32
OS nobiliflímos Utrastem o priuieyro lugar entre as nobres
familias, que primeyro povoarão o Fayalj das quaes foy o
tronco principal , feu primeyro Donatário Joz de Utra, illuftreknhor
de terras em Flandres , muyto eftimado dos Re^s de Portugal , ôc cafa* Dos omm Àefcehdí:
t" do primejro Ca^
do com a Dama do Paço Brites de Macedo i deftes naó ^nafcèraõ fó os
defcendentcs acima ditos nem fó as filhas que cafáraõ em Portugaly^^'^''''^^^^^^^^
,

mas também Rofa de Macedo , que cafou com Domingos Homem na " j^TíCyrl V
Villa da Praya da Ilha Terceyra, & outra filha que cafou com Marfim -J^ ^„, ^^p^^J ^^
,

de Boémia , fidalgo AlemaÕ de que abayxo fallaremos & hum filho, Lisboa & de eutrot
, i ,

Nuno de Macedo, que foy calar a S. Miguel, & de que lá nafceo Guio- VtrM que com opri^
mar Botelha , que cafou com Joaõ Mendes Pereyra donde procedem mejjoCapttaS viera» ,

"^'^^
os Macedos de Sâó Miguel 8f verdadey ros Utras. Vieraô mais com o
,
^J"^^*'"^"'
'^"'
dito primeyro Capitão Joz de Utra outros feus parentes , hum o febre-
dito Arnequim & outro também chamado Joz de Utra , & outro por
,

nome António de Urra, de quem diz Frudiiofo Uv. 6. cap. 3 7. que erà • , ,
-

peíToa muyto principal , & que cafou na Ilha & delle procedem os U- ,

trás que hoje ha nella, como huEftacio de Utra Machado, cafado com -

Paula da silveira, de que jà em 1 5 80. tinha duas filhas, &: féis filhos.
23 Dos QLiadros fabemos fer familiaPortugueza muyto no- ^ /^''''
*V
-^

bre, & antiga. Seque com os primeyros povoadores do Fayal veyo


^/^2'/^^^^^^
dos nobres Quiadros de S;mtarem , & no Fayal logo fe aparentou^^^^^^^^^^^^^^j
eom os melhores fidalgos Utras, k Silveyras, dos quaes àtfcendeo comos Viroí, &Sil'
o Capitão Franciíco de Utra &: Qiiadros , que cafou com Dona Ifa- vejrxi ^&âgfies erã
bel da Siiveyra-, aos quaes deyxou fua muy ta fazenda Dona LuizafuâFr^»f'/faí^«'^í»-<»^
Q,q ij "Si

WÊÊÊm msm
46o LlvíO:VIIL Dâtcelekes lllaas dQFayal,& PicQi»!
"^

tia j^filbade Gafpar de tllra CortereaL, primcy ro filho do tercevra


Qaadrbs.&fftamu- C^pitaõ DQHatario do Fayal Manoel de UeraCortereali & os ditoj
Iher D.lfabeUaSil' F^iipilço de Utra& QuaaE®s> & Dona ífabel da Silvcyra fundarão
o
vtyra, que fundarão Çoliegk) da Companhia de, JEísUSdallha
do Fayali; & deites Utra«
^nhiUT? isvsdo
^ ^^^^^^ ^^ ^i»^a n* ^^ i^a> rauy to5 » outros encràraô na Compa^
&
Fayal^&dos mtijmos
n^^,^9S^\m^ vive Dcák hum » Padre oiuy CO grave , que foy jà Reytoc
vemograveP.Pedro d<> GoUegip de Sa5 Miguel, depois Vifiíadordas mâis Ilhas , Sc depoi»
de Quadros, <jue hoje VíTitador de AogoU , & logQ Kjeytor do Noviciado de Lisboa , & de-»
vive na mefma Com' poi^ Cpnfukor da Frovincia em Saõ R,oque, & actualmente R.ey tor
da
fanhia. Çojmbra j & fua exemplar religião , zelo , & modeíHa rae naõ permiti»
ç^íSaindadízer mais } fique para os que fobrcviverem, -.i
í
;

^4 Já porem depois difto e£cnto> fobreveyo em Coimbra ao


4ií:o! Venerável Fadre Qtiadros. hum accidente de tal defiuxaó, que rc-

lí^ntou logo em hum pleuriz , taò maligno,& mortal, que era cinco dia$
o matou , às dez horas da noyce ,em 5. de Abril defte anno de 1 7 1 6. ci-
tando em 63. de fua idade j chamava-fe là fora Fedro de Utra 6c Qua-
dros, & o Meítre de Noviços eftranhando cora candura o appelíiSo,
Utra, lho tirou, & lhe ordenou ufaíTê dáappellido de Quadros que

tinha,tirando à illuftre família dosUtras o defcendéte que mais aautho-
rizacom fuás grandes virtudes^ porque foy femprehumiidiíEmo, com
fer de fangue illufl-re, foy de paciência, k. obediência tal que nunca
,
fe excufou de tantas viagés , & taô trabalhofas , como fazer lhe manda-
rão, & no exemplo da vida,& mais virtudes: foy Meftrede Noviços,&
exemplar de todos elles , & Confultor da Província , tao reào, & igual
para todos , os qup o conhecerão i fem já mais por pay xaõ inclinar maÍ3
a huma, que a outra parte ,& governando féis mezes*o Gollegio de Co-
imbra, 5c o das Artes, morreocom tal fama de virtude, & fantidade,quc
a Uníverfidade , & as Religiões delia , em fabendo fua morte vieraó af-
fiftir a fuás exéquias , & os noííos Religiofos
obfervàraó a perfeyta con-
formidade com a vontade Divina , o juizo que fempre confervou , a de-»
;^;VQta. percepção de todos os S3cramentos,&apaz daalmâ com que a
expirou , fendo dito muyto antes , aos dous feUs companheyros amanu-
enfes, &
o dia, hora em que h^via morrer,^ aílím morreo.Eftc foy o Pa-i
drc Fedro de Qiíadros, ou Pedro de Utra ^
Quadros , queyra Deos N.
Senhor, que todos ® imitemos.
25 Dos Silveyras do Fayal, & mais Ilhas foy tronco aquellc
Guilherme Vandaraga , de que falíamos no cap. antecedente §. 2. por*
que efte nome Vandaraga cm Flamengo , hc o mefmo que Sil veyra em
Do iKtillre tronco dos ''^^^^^^^^'^' ^"^ pois efte Guilherme, hum taõ conhecido fidalgo em
Sihtyras Guiíhtr^é ^^l^^dres queera neto de hum Conde,&: natural de Bruges, mas aea-
,

Vandaraga^ejue vin- ^ dos Vandaragâs era de Maftrich , & elle era cafado com Margarita
do AO Fayal paffau k
,
de Zambuja , chamada também Silveyra , ou Vandaraga ao eftylo do
lerceyra ,& defta atempo em que as mulheres tómavaõ os appeilidosdos maridos. Rogou
^ ^í^^ ^dalgo, o primey ro defpachado Capitão Donatário do Fayat,que
^Cor^ví' &d7ue\
^"'2^^'^ ^irfe para a fua Ilha , que lhe daria parte delia & comoentaõ
;
Jlhj4fifoyaS.?o!'af
(írdaíjui outra vel^^^ ^ tempo de defcubrímentos uteis , refolveo-feofídalgoavír,éc ve-
«« FAjfalondtJicM. yo Como jà diíTemos quatro annos depois de p ertar o Utra em o Fa-
,

yalj & como o dito Guilherme da Silveyra, por fua grande qualidade, &j
Ca-

TT
Éâp . I \r. Da multiplicada defcendencia doi SilveyjràS i^t
Catholieos coftumes foíTe muy to fegaido,& applaudido no Fayal, cio*
ÍQ o Gapitaõ Joz de Utra , lhe naó deo as terras promectidas » 6c pcdin*
ido o fidalgo algúas, lhe refpondia o Capitão que jà eftavaó dadas.
26 Vendo ifto o tal Guilherme da Silveyra fe paflbu com to-
&
da a fua familia para a Ilha Terceyra , habitou sas quatro Ribeyras da
&
banda do Sul, ahi teve grandes lavouras de trigo , &paftelj que man*
dava vender a Flandres, aonde indo voltou por Lisboa, &: neftaoeoii*
vidou D. Maria de Vilhena , fenhora das Ilhas das Flores , & Corvo
Jà defcubertas, & acey
tando-as o dito Guilherme,& voltando pelaTer- Vi

ceyra , fe lhe pegou nefta o fogo em fuás cafas j & atè os papeis perdeoj
& paflando ás Flores, fete annos efteve nefta Ilha, atè que achando-fe
enganado , fem provey to , nem honra , nem commercio , fe paflbu aO
Topo da Ilha de Saõ J orge , & riella viveo com fua mulher Margarida
da Silveyra , & taó rico , que das lavouras de trigo que mandava fazer,
pagava leíTenta moyos ao dízimo 3 & teve muytos filhos , & filhas , que
cafáraõ honradiflimamente em S. Jorge, Fayal, & Terceyra, & faõ dei*
lasas principaes familias.
l 27 Era efte bom fidalgo, naô fó grande Catholico > mas de
grande bemfazer > fua cafà era eftalagem para quantos hiaõ , & vinhaó; Dai virtudes, fHfél
êc por iíío muytos dias antes, ainda em boa faude, conheceo a hora, & cin defita morte ,
& ^
tempo de fua morte, & tanto, que a hum feu filho , que fe defpedia del- morte Janta que tevê
le.para o Algarve , diíTe que havia de morrer pelo N atai feguinte t & de eftefrimtjro Silvej»
faào morreo em dia de Saô Thomè } & primeyro que morrefle , andou
ra.

faõ , & bem difpofto , defpedindo-fe de íeus filhos,& netos , por fuás ca-
ías delles & recolhendo-fe á fua cafa própria ,
'y &dey tando-fe na cama,
mandou que defronte delia lhe diffeflem humaMiífa, & adorando ao
Senhor ao levantar da hoftia, & commungandoaoconfumir della,& re-
cebendo a extrema Unçaõ, expirou entaõ com todos os Sacramentos,
como naô menos Catholico, que honradiílimo, & exemplar fidalgo.
28 &
DeyXGU efte grande Heroe três filhos varões , cinco fi-
lhas os filhos foraó , o primeyro, Francifco da Silveyra natural do Fa- De tresfih9St& eitii
:

yal, o fegundo,Joaõ da Silveyra i& oterceyrojjorge da Silveyra. Do CO filhas que enchera^


primeyro Francifco da Silveyra nafcèraò Joz de Utra da Silveyra, ('ne* ai outroíllhoi dagri*
de nobrez.a do dit9
to materno do primeyro Donatário do Fayal Joz de Utra } & Manoel
primejro Silveira.
da Silveyra defcubridor da Ilha nova ,& defte nafceo Dona Ifabel (ou
Ignes) da Silveyra,tjue cafou com Gomes Pacheco de Lima , o da Gra-
ciofa } &
eftes foraó pays de Manoel Pacheco Pereyra , &de António
Pereyrada Silveyra, & de Chriftovaõ Pereyra de Lima. Do fegundo fi-
lho Joa5 da Silveyra , 6c do terceyro Jorge da Silveyra naó tenho noti-
cia dos dcfcendentes. Das cinco filhas do grande tronco Guilherme da
Silveyra , a primeyra foy Margarida dà Silveyra , que cafou com Jorge
(ou Joz} da Terra, fidalgo Flamengo, &
dos principaes que vieraõ
comoprimeyroCapitaó Joz de Utra a povoar o Fayal, & deftes naf-
ceo Barbara da Silveyra , que cafou com António deBrumjêc deftes
Terras, Sc B runs trataremos maisabayxo. As outras filhas de Guilher-
me da Silveyra foraó, Anna da Silveyra , Catharina da Silveyra , Maria
da Silveyra, & óutra cujo nome efqueceo de fe declarar } &
deftas cinco
filhas diz o antigo Fruátuoíb que todas foraõ cafadas com homês muy-^
C^qiij ta
m

r|^g wj3iga^g
i
'1 ^6% Llyr0VllLD0c^khíállhi^áQfàyA,ScVico,
xo |>rincipâcs ,& ti veraô filhos > & filhas jde queha rmiyta. geração ci»
codas as Ilhas dos Aflores, como tocaremos.
29 Confta porém de outras boas noticias , que aquella Anna
4a Siiveyra , fegunda filhado Guilherme da Siiveyra , caiou com Trif-
3>oí iUnfiris ferey. tap Fereyra, fidalgo que de Portugal , & da Villádo Pombal veyo lol*
m do Fayd , <}Heie teyrp a eítas Ilhas, & delle, & da dita Anna da Silveyra nafceo António
" ^'''' "^^ Silveyra Pereyra, que cafou com D. Hieionyma de Arèz j & deftes
^'siherT
^^ ' safçeo D. Ifabel Pereyra , que cafou cora Pedro Anes Machado, &; eftes
fbraõ pays de Gonçalo Pereyra Machado , que caiou com outra D. An-p
ijia da Silveyra, dos quaes najfceo D. Ifabel Pereyra, que cafou com Ma-»

noel de Barcellos, dos damayor nobreza da Vilía da Praya da Ilha Ter*


«eyra , para onde veremos ainda mais dilatada eíla grande familia dot
Siíveyras.
30 Dos Cunhas defí:a tlha do Fayal ha também noticias yer*
qadeyras, que procedem de hum Fernando da Cunha &
Andrada > na*
Cmhoi ^«^Mí/ííí, tiiral do Porto,& Gafado com D. HelenaCarneyro, daTorredeMon-
^^^^^ "^^"° António da Cunha de Andrada, que cafou com
^"^""^^
SX^^^Í Tv'^" í '

Molcorvo JpIyJ,
E>Joannada Silveyra , 6c elle era fidalgo Portuguez,& Almirante da
^'deftes Aafeeo An-
-Armada de Antuérpia era Flandres ,^ Commendador de duas Com«
mio da Cmha mendas na Ordem de Çhrifto deftes nafceo António da Cunha daSil-»
(rf,? ;

4ndrada, ^ftecafm veyra , graviffimo Clérigo do habito deSaó Pedro ; & nafceo mais D.
eemD. Atina da sil" Helena da Silveyra que cafou coiíi Jorge Cardofo Pereyra , das princi-
,

^^"^^^^^^ ^^ Ilha de SaÓ Jorgc, cuja deícendencia vive ainda na Ilha


l;?fL^&verlvt'l P^^^
lahbo's filhídeDiofo
^^ F^Y*^'- ^ dita D. Joanna da Silveyra 4 mulher de António da Cunha
Gomes da Silveyra^ ^^ Andrada , era filha de Francifcoda Silveyra Villalobos, que foyfi*
CaptaõmordoFayaíÚioào. Diogo Gomes da Silveyra , Capitão mòr do Fayal, cuja mãy
^«5 er<« JÍ//70 íie C<«-foy Catharina da Silveyra, terceyra das cinco filhas doprimeyro Gui''
tbanna da Silveyra, iherme da Silveyra, &
cafada com hum Jorge Gomes de Ávila , fidalgo
filha terceyra do prs.^^Q^^^-^^^^
meyro bmihermt.
^^ j^^ ^ .^^ Françifco da Silveyrâ Villâlõbos,& de fua mulher
.. Maria de Faria, nafcèraó mais ( além da dita D. Joanna da Silveyra)
Pps Stl-úeyrat irmãs, Religiofas no Convento da Gloria , & hum irmaô Frade de
Fariai tres

Saõ Françifco, Frey Diogo de Santo António, & outro irmaõ chama-
S-S ^'"'^''f^jf'
^^^"'^^^^^^'^ Silveyra, que foyhum muy to grave Padre da Compa-^
neravei'p Carlos da
Stlveyra, da Csmpa- ^^^^ de JESUS, de quem jà falíamos j cuja avô paterna,
mulher de Dio-
nhta defESVS. go Gomes da Silveyra, fe chamava Margarida Gil, & era filha de Frasi^
çifco Gil, avelho 5 natural da Provincia da Beyra, & de fua mulher Ma-
ria Nunes de Utra , parenta dos Donatários do Fayal. E aquella Maria
de Faria , mulher de Francifcoda Silveyra Villalobos, era filha de Gaf-
par de Lemos de Faria , que foy o príméyro Capitão de ínfantaria,q«e. >

houve na Ilha do Fayal, Portuguez , o qual era filho de Fernaò Furta-"


do de Mendoça &: de Maria de Faria, da Província da Beyra; & defics;
,

nafceo também outro Fernaõ Furtado de Mendoça , que foy cafar àj


Ilha Terceyra ,& teve por filhos ao Capiraô Chriftovaó de Lemos de.
Mendoça, pay dcO. Frey Chriítovaô da Silveyra j Arcebifpo de Goa*'
Primàsda índia Oriental, de que jà falíamos. u\ ,^)í í/w-.ví!
, ^
>. :si«
,. i

52 Com as mefmas famílias dos Silveyfàs,?? Cunhas feuniPaS^


©utras antigas, & muy to nobresj porque de huma Cathariçíi da Silvev+i'

V ''i ra.

TT
Cap.V. De outras lamilias do íayâl irÊs,Fíias,l?©ifeyr. 4^^
iiiiii

ta, (neta do priraeyro Guilherme da Silvieyrã ) êcde fea l^aridè j^íjíiè


tíiáha vindo de LeíTa de Macofmhos > naícieo AMoríía Martins y queca- DúsPorres,GuUries]
fou com Thomás de Porres , filho de Jorge Gularce, & de fua muliíer Pimêteis,& dosTer*
Montojos.Vtr^
Roía Garcia & dos ditos Porres, & Aldonfa ,nafoeò Jorf e Gularte Pi- »'«.
-,

meneei , Capitão mòr do Fayal , fidalgo , & do hàbitõ dfeChtiftí) ,^ue ^J*j^*}^%^*'^m:.
cafoLi com Maria de Montojo, filha de António da Terra & S ilveyr"a,'& * ^^'l „ " ,

de iíabel Per eyra Cardofa , que era neta de Jorge da 1 erra da biívey raj ,,v^ç,q^Í^o^
'

homem fidalgo , & de Maria de Porres , & bifneta 4e outro Jorge, da -..» ...

Terra, & de Ifabel de Utra. Jorge da Terra d^ Silvçyra , fidalgo fííhâ* i

do , era irmaô de Francifco Gil , que cafoii com a v^uva D. Aii-ôa Fer*
yeyra Zimbroa em Angra, ôcnaõ teve filhos algús delia,
t;/. 53 Muyto mais fe aparentarão muytos nol>res no Faya! com oS ^^ ícs de AtintankA
|idalgos Boémias de Alemanha, porqae,confórmeá Fr^ft^iofoè^B'. 6. Boémias, ^uecafáraS
cap. 38.0 pnmeyro Capitão Joz de Utra cafau humadefuas filhas com m Fayal cõ os Vtrat,
h«m grande fidalgo Alemaô , chamado Martim àt Boémia , do qual & fe voltarão para
ElRey de Portugal fazia muytaeftima-çaõ pof fua nobreza ,^ fabedo- AUmanhaJem fcar
ria, & fer tam infigne Mathematico, & Aftrologo, que pelas eftrel las "^^
^g^J^^'"^^'*^
adivinhava muytas coufas, que ao depois fc viraÕ certas, como veremos
também no fim defta hiftoria , & nas novas Ilhas que ellaõ por defcu*
brir i & daqui veyo julgarem tcmerariamentc alguns > que efte fidalgo
Boemiò era Nigromantico. Refidio muytos annos no Fayal, & tev©
dous filhos hum , como o pay, fe chamou também Martim de Boémia,
;

por cujo falecimento o pay voltou à íua pátria Boémia , & tornando de
lá com muyta mais riqueza, & vivando mais annos no Fayal , fe tornou
tàii
iil
de todo para Alemanha , &: nem delle , nem de feu fegundo filho ou -,

defcendentes feus , fe acha mais noticia , mas fó a que diremos ]de fuás
chamadas profecias no lugar jà promettido.
..^i O ' ^v.
*-V'..
.
'^ .'!;.-' -v' .r-

C A P I T UL O V.

Dos Bruns & Frias , Pereyr aí Sarmentos^ da liba


doFayai,

34117 ^tf* os botts lldâlgos qUé coilcorrèraê também a poVoaf i


|_L' Ilha da Madeyra j foy hum Guilherme Brum , natural de
Alemanha a bavxa, & Flandres; &: na Madevra cafou com huma fidalga Tronco dos famofià
chamada Violante Vaz Feneyra Pin>^ntel: deftes nafceo Antosiio de ^^'^'^^'j^'^^^^^^
Brum , que cafou com Barbara da Silveyra no Fayal , filha de Margári- ^^"^^^^^j^. "
dadaSilveyra,& deoutro fidalgoFlamengochamadQjoÉ (ou Jorge} c^
da TeiTa, dos primeyros povoadores do Fayal , & ellá filha do prin?ey-
ro Guilherme da Silveyra , troneo dos Silveyras do dito Antottio d? :

Brum nafceo outro António dè Brum da Silveyrajque cafou eom Ma-


ria de Frias Pimôntel j filha de Domingos Aííbnfo Pimentel Aimoí(t=i ?

nfeda Fazenda Real em Sàô Miguel; & do tal Antottio de Brum dãSIN
veyra nafceo Hierônymo de Brum dã Silveyta qUé cafou eooi Jiilis ^

Taveyra,íilhá de Francifco Taveyra de Neyvâ, Cavalley ro fidstlgo dá


<5afa delRey j jiáfceo mais D. Barbara da Silveyfâ qtlê eafou c*® í-tti§
j

í .\. dl
'f^-' li 111

4(^4 LinoVlII. Dás telebrés Ilhas dèFayal,&PÍc«;


do Canto , de Angra , & avo materno de Jacome Ccyte Bote4
fidalgo
lho de Vafconcellos , que ainda vive eafado em Angra , fidalgo bem c©^
•>3.r5íií'jíw,''- nhecido.
» 35 Do dito Hieronymo de Brum da Silveyra nafeeo Manoel
'9a grande eaja do de Brum da Silveyra &
Frias, que cafou comGuiomar Soeyra , filha de
Capttaõmer Manoel Amónio daMotaj&de Ignesda Cofta Pimentel , ambos
damclhof
"^^^^22 ^e SaÓ Miguel. Ao
f/''T j ^í'" íí' Manoel de Brum ehamava^ o Padroey*
tal

^uymCoZnl ^^i^ ?^,^^.^^^? ^^


Ae
'°' P^'^ Conventos de Freyras , & Recolhi-
varios
Trejras & do aug. '"^^tos de bao Miguel i & naõ fó a renda & nomeação de muy tos k-
,
,

mento ainda major g^í^^s , mas O lugar, cadey ra , & preemincncias dos Canónicos Padroey*
^

tmque tfia hojt tal ros j & era Capitão mòr de Ribeyra Grande , & peífoa de tanto juizo,
.?^' ,
tantalibcralidade,&caridade,& taô exemplar Càrholica,& de tanto
-^
governo , & Chriftaõ trato, & brio j que em toda a Ilha de Saõ Miguel
^
onde eftive ha cincoenta annos,naô conheci fidalgo que o excedeíTe em
as fobreditas cxcellencias j nem em Portugal
ha muytos que tcnhaõ
iguaes padroados, & &
com tanta preeminência, riqueza junta.
36 Defte Manoel de Brum da Silveyra & Frias nafeeo outro
Hieronymo de Brum , que feu pay cafou nefta Ilha do Fayal com húa
parenta fua, &
morgada muyto rica, chamada D, Maria de Montojo, fi-
lha do Capitão mòr do Fayal Jorge Gularte Pimentel, fidalgo , & Ca*
valleyro da Ordem de Chrifto, & eafado com outra D< Maria de Mon-»
tojo , filha dos fidalgos Terras * & Porres, de que jà falíamos no §. pe*
nultimodoc<«/>. 4.&taô grandes cafasfe ajuntarão por efte cafamento,
que naõ fey que hoje nas Ilhas Tereeyras haja cafa mais rica , & de mais
preeminências do que efta j nem mais limpa; &defte cafamento nafeeo .

Thomàs de Brum, q hoje eftá nefta Corte de Lisboa, pertendendo feus


deípachosjôc cafou,& tem jà.filhos cafadoSjmas viuva fcia mây D.Maria
de Montojo, fe cafou em o Fayal com o Corregedor que là foy, o Dou-
tor Joaô de Soveral Barbuda,& com elle fe veyo para Lisboa,& naõ teve
delle filho algum , & morreo defcríganada do. erro que fizera em fe vir
da fua Ilha i ofilhoporèm Thomàs de Brum íafou illufti;emente coiti
hua filha de Manoel Paim Dornellas da Camera , filho do Alcayde mòr
da Prayay & Governador do Caftello de Angra que elle tinha reftaw-
(
rado para ElRey D. Joaõ o IV. } Francifco Dornellas da Camera & i

era toda a cafa fucçedeo o dito Paim a feu irmaõ mais velho, Alcayd®
mòr 3 Brás Dornellas da Camera, que morreo , defpaçhando-fe em Lis- ;

boa, fem filhos legitimes. ^r. rJ

37 Dos Frias o que fabemos he,que o primey ro, que das mon-
tanhas de Caftclla veyo á Ilha de Saô Miguel , &
nella cafou conformo
^^"^ qualidade , foy Ruí de Frias , fidalgo Montanhez , de que foy fi-
DosFriai dat montai
nhof de cajie/la, Pw ^^^ Genebra de Frias que cafou com Fernaõ
, de Ames de Puga , fidalgo
gai de Galiza,& Fe- de Galiza, & natural de Ponte de Lima ; &
à.ç^t% nafeeo Bartholomeu
reyra* da cafa ex- de Ffias, formado em direyto , & eafado com f urdoa de Rezende (^^ ,
eeUentiffma ^/«/"e/- lha de Domingos AfFonfo Pimentel) & èftes foraô pays de JoaÓ de
^''
Friasí que cafou com D. Brites Pereyra & também eftes foraô pays do
;

fegundo Bartholomeu de Frias , de que nafeeo terceyro Bart holomea


de Frias j defte hum Lourenço de Frias , todos Pereyras dos da cafa da
Feyra, por fer a dita D. Britej.Çereyra filha deD. Joaò Pereyra, o qual
era

TT
^Conde
fSj;
filho de P jQíge PeFeyra,A^ueni o Conde D.Maíioêl iFcxjáz ¥&íef^
da feyra, tev*e de Cidade d&Foríí^
hwtíia aob/e doazelladíi
^depois de fe crear em íegrçdo , Sc ir defconhecidopara a Ilha de Saé
Miguel, foy eoiâtn reconhecido pelo íeguinte Coade da Feyra feu ki
jnao Jt>. Diogo Forjáz Pereyraem VíshosLâi^-ás Novembro de 1573.
CUJO dito fobrinho D.Joaõ pereyra cafou em Saô Miguel com Dignes,
Jlha de Gafpar Perdomo, & neta de Gafpar de Betencor fobrinhod* ,

p, Maria Betencor , mulher de Rui Gonçalves daCaraera, primeypi^


Çapitaõ de Saõ Miguel I conao dsíFw&mente conta qírgíÍo Fru^u^ft^
;;/,«. 0»^!^ -,-•••;." -t^^j
hfu. 6.
m principio. ,

38 Do dito Bartholotneu de Frias { primeyt o dcrnomc ) nalff


«CO mais aquella Maria de Frias Pimentel , que cafou cotn o dito Antjo- Dosrit»inteis,&BU
p^ode Br um da Silvcyra , pays de Hicronymo dcBrum da Sílveyra,
priineyro do nome , que cafou com JuUa Taveyra , filha de Ifabei Oal-
dcyra de Mendoça > ôc de FrancifcQ Taveyra de Neyva, Cavalleyro fi- com osfolfrtdit«i§il^^
dalgo da caía Real } cuja dita mulher era filha de Hieronyma Nunes , ôe vejratt
de Pedro Affonfo Caldeyra, Cidadão do Porto j & da tal HieronynMi
Jslunes foraÔ pays Vicente Anes Bicudo , nobre tronco dos Bicudos d^
íl.ibeyrâ Grande de S. Miguel. E efta noticia bafta da nobreza dos ditoi
Frias, Ta veyras, Bicudos» Ôçc.
59 Os Pereyras do Fayâl fc podem ter por legitimes Pcrey^ Dis legitimas ftrej*
ra?, ( conforme a Fruòtuofo hv.ò.cap.^S.òc 39.) porque naõ defcen- TM Sarmenm^dtG*'
dcin daquelle filho baftardo do Conde da Feyra, que çafon , & teve fua liía & d» ftttpri' ,

tronco & ap*


dcíccndenciaem SaÔ Miguel & mas legitimamente dcfcendçmdos iUnf* mejro ,

ftUfdo dt FtriÀK,, 1
trss, & antigos Pereyra^Í3armento$,que procedem de Dorta Maria Sar-
menta, fenhora de Vigo em Galiza , de quem os Condes da Feyra efti-
niâvaô parcntefcoi ík dcftes Pereyras havia no Fayal Sebaftiaô Perey*
ra Sarmento, Staquellc Gonçalo Perey ra Sarmento, que matàraô rio
Fayal, por nclle querer mcttcr a Voz de Felippell. em lugar da dofe*
nhor p. António.
., ,40 O
primeyro que fe acha deftc appeílido ( Perey ra, } he Di
Pedro Rodrigues Percyra , filho de D. Gonçalo Rodrigues Forjáz > &ç
0cto de outro D. Rodrigo , fenhor de Traítamàra , &
bifneto de D. Pe*
dro Forjáz ,& terccyro neto do primeyro D. Rodrigo Forjáz do fq^ :

brcdito pois D. Pedro Rodrigues Pereyra nafcco o Conde D. Gonçalo


DosPenyrat Pimêu^
Pereyra, que cafou com Dona Urraca Pimentel ,& eftes foraõ os payí
teis,de qnt deftendei
de D. Gonçalo Pereyra ArcebifpK) de Braga ) do qual nafceo D. Álvaro
M mais R*gÍM Baf0
Gonçalves Pereyra , Prior que hoje chamaó do Crato, de queficàraÔ d* Eftrofa*
niuytos filhos á: filhas; Sc o Grande Condeftatel de Portugal D. Nu-^
,

no Alvares Pereyra , que cafou com D. Leonor de Alvim, 6c a filha dcf*


tes , chamada D. Brites Pereyra, cafou com o fènhor Dom Aífonfo, pri-
meyro Duque de Bragança, & filhodelRey D. Joaô, primeyro do no-
me em Portugal, & do tal fenhor naõ fódefcendcm as mais eXcellentcs
Cafas de Portugal j como a dos Keaes Duques de Bragança , dos Mar*
quezes de Ferreyra, Duques do Cadaval, Duques de Aveyfo, Marque*
zes deVilla Real, Marquezes de Montemor , Condes' de Vimiofâ»
Marquezes de Valença, de Faro , de Bafto, da Feyra, &" outros muyto$|
& em Caftella também as grandes cafas do«. Condes de Lemos , dos Dit*

mmmm
466 Livro VIII. Das celebres Ilhas do Fayâl,'& PícoP
quesde Maqueda, & Naxcra, dos Duques de Efcáioha i^pòt Vâfô^f
niaos de Oropezai mas por dizer tudo em poucas palavras naô
haja ,

Coroa Gatholkaem toda Europa , que daSereniílima Gafa de Bragan-


ça.naõ defceflda,& dos antigos, & exçellenciirimos Pertyras.
.-41 JPorèmcomo-tambem naõ haja Reyaigum que naô terrha
cònfanguineos,femquefejaõ Reys} nem ainda fidalgo que naõ tenha ,

eonfanguineos fem ferem fidalgos 5 aífim naõ he de admirar que dos ex-
cellentiffimos Pereyras haja taó legítimos parentes na nobre Ilha
do
Fayal deftes pois diz Fruduofo , que naõ fo eraó aqueiles Pereyras
:

Sarmentos , mas também hum Thoniè Pereyra , Clérigo , fu-a irmã &
Ifabel Pereyra , ambos filhos de Tríftaõ Pereyra & netos de Diogo
> Pe-
-ia^ií .^it«viV„^ "^^y^ ° ^^^í'^ * P""*° com irmaó de Joaó Rodrigues Pereyra, fenhor de
^*^^»^ Vizellaj & muyto parente do Duque de Bragança, & do Gon-
J>es Pereiráífamo-
^e de Marialva, & doda Feyra j & adita Ifabel Pereyra foy cafadacom
fiscal a índia Ori-
*)àfk:^*'*«M' Manoelda Silycyra, daquelles fidalgos Silveyras de que acima fallá-<
,v ,, .
.
mos, & foy irmã de DiogoPerey ra , o da índia , fogro de D. Pedro de
Caftro, irmaõ de D. Fernando de Gaftro Gonde de Bafto, & de D. Mi^
guel de Gaftro, Arcebifpo de Lisboa i& outra filha do dito Diogo Pe-
reyra cafou com Manoel de Saldanha, irmaõ de A yres de Saldanha,quc
morava junto a Santo Amaro para Bethlem & de Joaó de Saldanha ó
,

iiiliewsisjiAi*!', Gato, de Santarém.


.'•lAi/iS; ^ .42 O mefmo Diogo Pereyra da índia era também irmaó de
Guilherme Pereyra, que duas vezes foy por Gapitaó à Ghina, & tinha a
rnayorcafa que na índia havia , abayxodo Vifo-Rey, pois tinha trezen-
tas peflbasem fuacafa, Meftre da Gapella, mufica, charamelas, & to*
&
dó,o ferviço era de prata, &ouro } &
querendo vir cafàrfe a Lisboa , fa»
leceo cm Goa ,€m cafa de feu irmaõ Diogo Pereyra, & ainda deyxando
mais de duzentos mil cruzados ; & o dito feu irmaõ , tendo ido de antes
por Erabayxador delRey de Portugal ao Rey da Perfia,& parecendo-
lhe pequeno o que levava para prefente de hfi Rey de Portugal ao Rey
da Perfia s do feu lhe accrefcentou peças de tanta eftimaçaõ que fó no
,

puro valor valiaó muyto mais de féis mil cruzados o que ElRcy muyl }

toapprovou , & lho agradeceo muytO;& emfim era taõ liberal efte Dié*
go Pereyra, que mandando-lhe huma vez feu aufente irmaõ Guilherme
Pereyra feííenta mil cruzados, pedindo-lheque lhos guardafle atè elle
^^^* ^ ^'"^° dentro dè quatro mezes achou quejà o irmaõ os tinha ga-
,
"l^^^-^^S?'"^^^'
ftadp todos em acções de honra, & íer viço de Deos ,& delRey &nem }

palavra lhe fallou niíTo o dito Guilherme.


.ftíO-'.-;-.

j,í.i 43 Taes homês como eftes deo a Ilha do Fayal naquelles tem-
pos, que bem mcjftravaõ ferem filhos do fobredito Tnílaõ Pereyra Sc ,

netos do outro Diogo Pereyra o velho, que fervindo cà em Africa a El-


Comô õi âitoi Perey- Rey j Si vendo que os Mouros levavaõ jà cativo a Joaó Rodrigues.de-
roi doFayalfe exten- Fafconcellos, fenhor da cafa de Figueyrò
os ínveftio & lho tirou das'
, ,

derao ajerceyra, & niãoSi & atè O mefmo


noíToRey D. Joaó o 11. lhe louvou muyto taõ he-
nHtrMlíhM.
roíca acçaÕ, & com D. Anna,mãy do Meftre deSantiago, o mandou'
VxMnXy & defcançar na Villa de Figueyrò onde paflou o reftante da vií
,

dajôc de tal avò como efte naõpodiaõdeyxardeíahir huns netos taes^'


como osfobreditos Diogo Pereyra o moço , & Guilherme Pereyra fect
^>íJJp irmaõ,

vr
,G:,iCâ[p:VI.Í3CeeIlenciâsáaIlhà(ía1?áfy. 4!^

ÍCifiap, v^Gje^caõ famigerados era a índia j Se defte Diogo Pereyra


jaioço fiisàraôcà naò fó varoens , Luís Pereyràj
filhas , mas três filhos

í^rancifco Tofcano Pereyra, &- outro Guilherme Pereyra, dos quaeSjSÉ


^
I

jda dita irmã fe extcndeo eíla ilkiftre fâriíilia de taes Pereyrâs ásoutraâ
ÍlhaS,&: eípeeiaknente à Terceyra, aonde fe aparentarão com os Pach^i
'
<3€»ísMííerdaSiBetencores,& com todos os fidalgos de Angra.
7. ;'^-^Mr ;,;^. :;íj
'

o"-;.
V<Í A P I T U L O VI.

Dm mais exeeHemios âefta Ilha do FayaL


44 A
Primeyra ©xcellencia defta Ilha ( alèra das de feus Povoâ«» '.1 Vi%

dores) he ter quafi imraediata afi, & como por húa Re- ^^ páyaUprifueyra
gia Quinta fua, a grande ,& rica Ilha do Pico, cuja grande parte he dé ^^^^^/^^^^ ^^ ^^^ ^^^
Vários fenhorios do Fay ai, que como lhe fica taõ próxima , dê todos os quinta fua a grande
íèus frutos logra principalmente a do Fayalj & os mais dos moradores ilh^do Pico.
do Pico faó como huns Rendèyros , ou Quinteyros dos principaes àú
Fayal ,& com quafi immediata vizinhança j porque ainda que a Ilha
de Santa Maria acode à de Saõ Miguel, deita fica dozò legóas j & aiííá
da que eftas ambas acodem à Ilha Terceyra , delia ficaô mais de trinta
iégoasj atè a Ilha de S. Jorge , & Gracioía , pofto qtie à Terceyra tam-
&
bém firVaó , delia diftaõ mais de oyto legoas > mas o Pico do Fayal ape-
nas difta huma legoa; & ainda a Ilha das Flores , & a do Corvo , mcnoS
tíiftaó do Fayal , do que de outra alguma Ilha, com que o Fayal fica
íendo a mais farta, & abaftada Ilha , pois quanto quer', lhe vem de taiii
Regia Qtiinta fua. E daqui vem ,fer
«..' 45 AfegundaexcellenciadoFayal,quênemfome, peíle, ou v-

guerra (quèfoíTe confideravel ) íabémos ter havido em talllha, com^^^^^


^^ ^ p j
ter fido defcubertajôc povoada ha mais de duzentos feíTenta annosj
;,^^^^yj,^^ oupejte,
&
porque de Eftrangeyros nunca foy entrada , nem ainda acometida } à mm guerra^ fenaõa &
Ilha Terceyra, quando a Caftella fe tinha jà entregue fe entregou tam?- de hzm dia ^ue por ,
,

bem o Fayal , como a fua cabeça , òc com breviffimo choque de pouco Portugal lhe fcn i^e-
mâis de hani dia. Pèfte porém naô fe fabe que -a padeceíTe alguma horaj^W* ^^- ^^ €afieila^
como nem fome taitibem de aperto grande porque da dita fua Qiiinta, ,

a Ilha do Pico, como de tanto mayor grandeza , & tanto menos povoa-
da, vem ao Fayal fefnpre, & êm abundância quanto em algum tempp ,

lhe falta, & fempré muyto a terrípo lhe vem , como de taõ perto &'^ ;

que mais he, nem tremores de terra, ou incêndios houve já mais no Fa^
ya],renaõ ha poucos aiinos pelos de 1700. hum furiofo fogo que arre-
bentou , & Gorreo em ribeyra efpantofa para o mar, abrazando a eftráda
que abr»o> Sc fazendo mar em que entrou , noVo firmamento% ou càes
,

de ferro ou pedra quéymada, fem outro mayor perigo de povos, otí


,

gentes, maá caufando a todos o efpanto, & pavor devido. ;'^

46 A terceyra excellencia defta Ilha he o grande commerciò" Tent vafiiffmo csrâ^,


marítimo, que ha nella naõ fó com as outras Ilhas, mas com nações ef- mercio atè com írfi
, ,

trangeyras que a feus portos vaõ j tanto aífim , que nenhuma outra fe diai Ortentaes,
,

iauala qi^afi à Ilha Terceyra no coramef cio, como efta do Fayal,em rá-
^1 ,: '^J 2âê
46S Livro VíII. Das celebras Ilhas doí ayal,
ôc Vk@]

zaó da grande copia, & gencrofidade dos vinhos da Ilha do


Pico,& doS
bons portos que tem & affim tem també
: muytos contratadores Eftran-
geyros, &, que nella em breve fe fazem
fenhores de muytos mil cruza-
doSi& como jà antigamente, agora fera mayor efcala
de commercio com
as novas pazes feytas entre Portugal
, & Caftella
, porque naõ fó de to-
do o Oriente, & Índia de Portugal, Minas do Brafil
, Maranhão, & An-
gola, mas também das índias de Caftella
vinhaõ jà de antes, & viràõ a-
gora, muytas nàos, quecnriqueeem muyto
ò Fayal , êc o fazem huma
imda Corte, cheya de muy tas, & ricas joyas, & peças
, atè no luzimento
com que fe trata, & ferve.
,'^4"3»'<^aexcellçnciahe a dos governos defta Ilha, Eccle-
r n.'^^T.
ihgovirm EecleJÍ. hzihco, Politico, &
Militar i porque ainda que no Ecclefiaftico heco»
'^ ^' mais Ilhas, fugeyta ao Bifpo de Angra , tem feus
ípLf
ao tayM.
^? Vifitadores,Ou-
vidores, & Mmiftros Ecclefiafticos
, como também Prelados
Reíigio-
fos,pofto que fugeytos aos mayores de Angra. No
Politico le governa
pelo fcuSenado da Camera , feus Juizes Ordinários
4.,Ht , &
os mais Minif-
'
...
^^osdaOrdenaçaóPortugueza,raasnemCorregedornella âffiftente,
jem Juiz de fora , nem homens formados em o direyto civil porém
; rio
Canónico teve , & tem Ecclefiafticos muyto doutos , de que
conheci
grandes eftudantes cm Coimbra ^ & bem pôde efta Ilha
do Fayal fuf-
tentar cm Coimbra alguns que eftudem direyto
civil , & Medicina, pa-
ia que melhor fe defenda a fazenda , fe guarde ju ftiça
, & fe conferve , &
reftittia a faude, pois affim efta Ilha, como a do Pico, faõ muyto faltas de
Médicos, &Juriftas leygos.
4.8 E quanto ao militar , jà acima vimos quam fortificada eftá
a Ilha do Fayal, quantos Fortes, ou Fortalezas tem
, & quanto prefidio
r>/;^wfrw «,7,W, pago em a fua Vilía fó refta
dizer, que quando D. Pedro de Toledo,
:

Ç^^^í^^''^' Marquez d. Villa Franca, no anno de 5 83 fe voltou para a


tl^íZ tLdc
erceyra, deyxou no Fayal por feu fucceíTor no governo da guerra a D.
.

^ȣra,
António de Portugal ( nçto do Conde de Valença , & primo irmaô dó
Duque de Naxera ,& fendo taô eftirado fidalgo, o deyxou ainda fub-
ordinado na guerra ao Meftre de Campo do Çaftello de Angra da
Ilha Terceyra. Succedeo porém que os foldados doprefidio do Fayal
levantarão motim contra o dito feu Governador D. António de Portu-
gal , por lhes naõ dar o foldo inteyro , como ElRey mandava darlhesj
pelo que os foldados levantados foraõ mandados logo para oCaftello
de Angra, & defte foraó outros /oldados para o prefidio do Fayal & o ;

4ito D. António de Portugal foy também tirado do pofto que tinha no


Fayal, & levado para a Terceyra ,& para o Fayal foy por Cabo de guer-
ra o Capitàõ Diogo Soares -de Salazar affim fe procedia antigamente,&
:

em tempo que governava a prudência de hum Felippc II. nem cafti-


gandomais ao levantado povo bellico pela jufta queyxa com que fe le-
vantara nem deyxandode caftigar ao Cabo infolente ( por mais fidal-
;

go que foífe ) para exemplo de outros , & fatisfaçaõ devida aos quey-
Xofos.

CAP.

TT
Cap. VII. Da fatal llhá do PIcd:

G A PI T U L O VIL
Do defcubrimentOy altura , è' grandeza da fatal
Ilha do Piío. ^

Ilha toca alguma coufa o Hiftoriador Guedes, & diz


^0 Y^ Efta
que foy defcuberta em fexto lugar depois da Terccyrai
JL/
iGraciofa» & Saô Jorge & que a povoara aquelle grande fidalgo Joz de
i

Utra, Donatário pnmeyro doFayaUmas nem quem primeyro , nem


quando a defcubrifle , diz o dito Guedes j & parece que a fuppoera def-
cuberta juntamente com a do Fayal, & por iíío ajuiza que a do Pico foy
também a fexta defcuberta. Gom mais diftinçaõ porém falia o noflb an-
tigo^ &: douto Fruftuofo liv. 6. cap.40. aonde aíTenta, & fem duvidai
que a Ilha do Fayal primeyro foy defcuberta do que a Ilha do Pico j ô£
que defta dizem huns que fe defeubrio nove annos depois defedefcu-
fcrir a do Fayalj & outros , que depois fim , mas menos annos
depois do
que os nove j mas ainda que os nove eftiveíTe por defcubrir , naõ le ad-
mirará , quem tiver erudição de defcubrimentos vários } porque ainda m
que o Pico efi:ejado Fayal huma fó legoa , de terra a terra , com húa fua
ponta, & tenha o altiflimo Pico de que lhe deraò o nome fabemos que i

das Canárias a Gomeyradifta da chamada Forte Ventura, hum fó quar-


to de legoa de mar , & comtudo efta foy muytos annos primeyro defcu-*
berta do que a outra & o famofo Joaó Gonçalves Zargo , defcubridor
:
m\
da Madeyra, quando jà eftava immediato à Ilha da Madôyra, ainda na6
cria que era terra a efcuridade que via , como fe efcreve acima liv. 5,
£ap. 4. que muyto logo que de diftancia de huma legoa de mar ,
,
nunca
de antes navegado , ninguém fe atreveífe a inveftir com o niedonho af-
pefto da grande Ilha fronteyra, de feu altiflimo Pico i &
fuás horrendas

fombrasjdefdeacreaçaõdomundo , oU defde acabar ouniverfal dilu-

vio de Noè?
50 Conáa pois que efta Ilha foy defcuberta aígus arinos depois
da do Fayalj & como a do Fayal fe defeubrio depois do anão de 1 45 ó. Foy âeÇcnherlà ailh4
fegue-fe que no de 1460. jà a Ilha do Pico eftava defcuberta, ha perto de do Pico aígtins annos
36o.annos;mas em que annOjnlez,6c dia fe defcubrifleíiflb naõ coftaj co- depoií de eftarja dej-

mo nem quem também foíTe O feu primeyro defcubridor ^ porque dize- cubertà a do Fajai
iaõ viminha.
rem algús que o foy o illuftre Joz de tJtra jDonatario do Fayal,pois foy
também Donatário dá dita í lha do Pico difto fó, mal fe infere porque
j j

do mefmo Fayât foy o Utra Donatário primeyro fem ter fido o leu pri-
,

meyro defcubridor & o níéfmò vimos jà nos primeyros Donatários dá


i

Ilha do Porto Santo, & no primeyro da Ilha Terceyra ,kem outros^ &;
áflim parece queaquelles niafearités PortugUeZes,queda Terceyra hiaó
às Ilhas de Saò Jorge í &
Graciofa primeyro defcubertase eítesdefca-
Qttepriffiéjró ddef'
brindo primeyro a do Fayal , defcubriraõ a do Pico ao depois fenaô cuhri0,foy a Firgèni
:

quizermos confiderar , qtie pois aquelle Ermitaõj morador em o Fayal, Sacrattffima.for Ttit'
julgou ver a Virgem Senhora nioíía da parte da Ilha do Pico, <kqueo yo de hum (eu devtítÁ
€hamavaparalà, a Virgem Senhora foy a Divina defcubridora defta ÈrmitAÕ,
i'(t^ %.t Ilhas
^
" r» I fi

4^6 Li\rfo VHL Dâs celebresllhâs Ho Fayal, & Pico.'


Ilha , por meyo
daquelle Sanco Erraitaõ ^ que fó no feu batel foy para o
Fico, & naõ le (oube mais deilei &
íe ifto aíiim he , como parece , a San-

tiffima Virgem Máy de Deos foy a primeyra defcubridora da Ilha do


Pico, & ó defÉubridõr fegimdo foy por meyo da Senhora aquellè feu de-
voto Ermitão ; & naõ podemos defcubrir mais Divino invento a efta
Ilha. Veja-fe o que jà diííemos iieííe hv. 8. cap. z.

51 A altura em que efta Ilha eftá ^ he em trinta & oyto grãos,


Eflà em •^%.grko'.& & doUs térços , quafi a Oefte da Ilha Terceyra j & do porto de Angra
doMs terços ; daTer-^o da Calheta de Néfquim vaó vinte legoas } mas porque a tal Ilha do

^^^° ^^ ta6 comprida, & íó com huma fua ponta chega à do Fayaí^
"mei^Toí^""^
por9Htrâ'io'"deVaõ
^^^ «lenos diftancia de huma legoa de mar j por iíTo a Ilha do Fayal
MigHti difiaporli' ^^^^ ainda trinta legoas da Terceyra j &: muyto menos efta do Pico*
nha direyta 5-0. le^ das Ilhas de Saõ Jorge j & Gracioia j porém da Ilha de Saõ Miguel, 6c
gooi , mas pela ler- ainda por linha direyta , difta mais de cincoenta legoas , & quaíi felíen*
cejfradifia 60. ta por via da Ilha Terceyra & das Ilhas das Flores , & Corvo , difta
-,

as legoas que veremos em feu lugar*


-
52 A grandeza natural da líha do Pieo tem dezoyto legoas de
éompridOjdefde Lefte j ou Ponta que chamaõ do Calhaõ Gordo , atè
^^fté' ^ ^^^^^ chamado da Magdalenai & de largo tem quatro legoas
dJ^Tatf^/ufhír
teriadat L^eTa Ilha
*^^^^^ O Sul , & ViUâ das Lagens atè o Norte >& Villa de Saõ Roquej

do Pito, donde fe vè, que de todas as Ilhas, de què temos hiftoriado , naõ ha ou-
tra que a exceda na natural grandeza 5 porque a Ilha de Saõ Miguel j a*=
ifida que tem de comprimento dezoyto legoas ^ naõ chega a mais que a
duas legoas ô£ meya de largo , & em o meyo tem de largo fó huma ie-
^
goa, da refâca ái^ Villa da Alagoa , da banda do Sul j atè o lugar de Ra»
bode peyxe^ da banda do Norte ^ como vimos já no liv.^.cap. 3. Pois a
famofa li ha da Madeyra , também vimos jà Iw^ qj. tap. 7. naõ ter mais de
eompríriíento j que quaíi dezafete legoas j& ainda que na bafe daPy-
ramide j què reprefenta deytada, tem féis legoas de largo na parte do
Occidente-, onde chamaõ a Ponta do Pargo, dahi por diante para o O*
riente , & ponta dá tal Pyramide , vay fempre eftreytando , & a niayor
largura he de quatro legoas, & menos para â ponta da Pyramide} mas a
do Pico a excedes pois fobre outras qUatro legoas que tem j & fempre,
,,
- .
'
de largo, tem dezoyto de comprido 5 & mais de quarenta em cireumfc*
f encía,alèm dàs três legoas do feu eftupendo Pico em alttlra para o Ceo^
Peio que fó a Graó Canária pertenderá fermayor do que a Ilha do Pi-
co, por ter quarenta legoas em circuito ,& fer de fígura redonda } mas
claro eftá que nem de comprimento, oii linha reda diametral, pode ter
dezoyto legoas em circulo de quarenta & mais de quarenta tem a Ilha
;

do Pico em fua roda conclue-fe pois, que em feu corpo he a mayor Ilha
:

de todas as atèqui defcriptas 3 que das de Cabo Verde , nem ha duvi*

CAP.

yrr -
€kp. VlII. DâS poVôaçõèsáà Ilha 3o Picò,
y::> « <;
m
031C G A P I TU L o VIIÍ.
11 ^

Das Vii/aSi & Lugares da Ilha do Pm*

f^ Começando dá Ponta qut chamaô do^Galhào Gordo , pot


fer de grofla penedia ,& indo para o Poente pela banda do
Snl, três legoas adiante j eftá hum porto chamado^ Calheta de Nef^ Corrtatthài» Piei
^uim>onde fe carrega quanto daqueila parte hâj de muytos ^záos, de Lefte aOefie /é'
niuytasmadeyrasi& cmtodooanno} &no tal porto cntraô c^rAvé[siSptlayãdadoS»l,trti
ide vinte toneladas. Dahi a hum quarto delcgoa fefegue huma alta ro- ^'i"'» *i»dadmtfià»
<:ha com fua ponta ao mar ,& logo adiante vay outra rocha ainda músP"^*"*,"^'^'*'^'^'^^^
alta, aque chamaõ a Dourada , que no meyo faz húa quebrada , ou gró-
Zdlthm^*rocbM
•ta , donde fahem taes ventos , que dos barcos , &caravelas, que por de-j^jl,^ %ú'mde SÍ-
fronte paflaó , faz algumas vezes perderem^fe alli. Depois fe fegue hum Crftt,, &
o lugor dê
porto chamado de Santa Cruz, &
o lugar , ou Freguezia de Santa Bar- S. Barban^d» ant»
bara , que tem rtiais de cem vizinhos , & & ^
muytos delles ricos , nobres, '*"'*' »/«,<«*«,»»•
por nefte poíto fe darem Ga4a anno mais de mil &
divzentas pipas de
*'''*» ^
^*'^*-

Bom vinho.
•Já 54 Huma legoa mais adiante eftá a perigófa barra , que he o Mupt thàii adiante
primeyro porto da principal Villa chamada das Lagens j mas deftc ^n-í*f'g*tf * priftcifal
iney ro porto fe naõ ferve a Villa , fenaó quatro mezes no anno , em Ma- ^''^'* ^'^ ^'*í^^ * ^*
yo, Junho , Julho , è^ Agofto , por fer em voltas a entrada da barra , &
i°°- '"^"•*'">«'*f»
quebrar muy to nella o mar i porem pouco adiante tem fegundo porto tUdos-,^ ti dom poti
a Villa, &eftafeíerve delle com feus barcos. Confta a Villa de quafi,„ de grtmde eõcHri
duzentos vizinhos juntos, fora muytos efpalhados ; a Igreja Matriz ht fo ,& muytariqutx.al
da invocação da Santillima Trindade tem Vigário , & quatro Benefí- à' nobres.a,
j
f

ciadoS} tem gente íiobre ,& rica & delia foy íeu Capitão militar hum
j

Pedro Triftaõ Gulatte & ainda que o terreno defta principal Villa he j^inda adiante
}
fefi:
de pouco trigo, por fer terra fragofa,he de muyto ,&exceUentevinhoj_f«f^ bahia chamai
&"demuytas,& grandes madeyras:& ainda daqui legoa&meya de co- dadoGaUaò,porhii 'i J
íta alfa eftá outro porto, a que chamaõ a ponta do Mouro j & aefte ter- 7^ home^é-fodafatai
ceyro porto vaõ muytas caravelas, & fe carrega nelle toda a forte dç ma- ^'^^''J'''*'^^^^^'*<>f'*'
deyra , com que fica a Villa das Lages , como a cabeça da Ilha , muyto
^Elh^&i^dberfet
bem provida, & fervida. to^J^VogrlIdl^]
5f Meya legoa mais adiante eftá huma bahia , que ehamaõ a o Reyfe deo por btnt
do Galeão , porque nelía hum Garcia Gonçalves Madruga , aehando-fe pago dt hud grandà
devedor a ElRcy D. Joaõ IIL fez hum Galeão Real ^ a que chamou o àtviâà. Elogo fefé'
Gâleaõ Trindade, &
o entregou a ElRey , que com tal Galeaó fe deo?/'' ^í'^^'*''/' ""^"^
"*""'
por bem pago. E aqui eftá o lugar, & Freguezia de Saô Mattheos, que
.tf^t^SwLT
confta de mais de cincoenta vizinhos i&feerigio em tempo do Bifpo
D. Manoel de Gouvea : &
legoa &
raeya adiante gftá hum porto peque- Legm àdidnte ejíík ,

no, & muyto bom , que/erve de muyta caírêgaçaó &


meya legoa adi- ^» peqtittio
: ,
bonà &
anteeftá outro porto, & Freguezia, quechamaõda Magdalena, porto /'"'"'''•
&^'^l^t'^*^;^
de área branca, ác miúda, & ornais fronteyro,&approximado àllHa ''X^''''^,^:!'^^^^^^^^
do Fayal, & porto bom , aonde de tudo fe carrega, & defcarrega,&: paf- ^. ^^ Magdaknajà
iã muyto de cem vizinhos, & muytos efpalhados pela terra dentro, aon- defronte da Ilha ^,
'ía % Kt y á®

m
^^1^ Liyfoy{II.DàScelebíe^IlhasdoFayâl,&Pk©r
gado & houve já muyto bom paftel & aquitie oPoénte
de hamu.y.íx>. , j

Faval, ^uajílegea, cZ lifaa , & oade elia acaba pela parte do Sai j & dcfçoíice defte porto
da
wHpo TKais át cem eftaõ dous Ilhèos pequenos , em que fo iia muyca , & varia cafta de aves,
víítnhos Jéra os do
^
P^fte Foente da ilha v oÍca ,elia tio Su para o Norte j para 1

efte , andadas três legoas & mcp , eítá a ponta pequena, que chamaó
Certaõ,

Furna de Santo António , por terna rocha de cima huma Ermida do


SantQj he efta furna taj , que cabe por eUahúa caravela de vinte èç çin-
ço toneladas , & vay dar aentro em húa eníeada tal j de recolhido marj
vav ^S^lota Te q^íP
deytando nelle de cima da rocha a raadeyr^a, a toraaõ entaóas cara-
perigo que ha, de em outro tem».
^«'«i- ?w!?/á, ^tf yeías, njas íó em tempo do veraó,pelo

^rífadeiS.Jfiipm, ppíe.mefteremdentroás embarçaçóes, Quafi meya iegoa adiante eftá


fflTwdf entr4p c/tra- hum grande cães, que íe chama o cães do N
or te , ou de S. Roque , por
^fj-^^ ^^^ deílí i6to da ViUa do mefmo nome de S,. Roque } aqui fe car-
ve/ftí » hnrrí fechado

muvta madeyra, muytos gados , & tantos vinhos. , quetem a Fre*


m»r, i^fonpíientyo, _^

Te efilfforandf c^es
g^^^ia mais de mu pipas cada aníioj & o porto hc tal , que com gumda-
diXRo^Hfii lte> ,& às mãos varaó os barcos, & tem fácil a deícarga,& carga.

57 Logo outra meyalegoa adiante, em o bayxo de huaenfeà-


.c^ ..-. VilladeSaõRoqUÊjqueheafegundaVilladallhado
da, eftáíituadaa

Udl^SJyih ?^í^" da banda do. Morte , & çorrefpondeote à Villi d^s Lagens , da
' ;

a mu deSaeRocjue, banda do Sul, & ao mefmo Saõ Roque he dedicada a fua Igreja Matriz,
f ovo de í^o-.,míí^ & tem perto de centQ
&-cineQeata vizinhos, com feu Vigário, & Be-
mil nhoi.em ^ ha os mm neíiciado. Nefta nobre VíUa fojírCapitaò da guerra hú Simaô Ferrey*
ricos, & Kobresdeto-
^^^ ^ antes delle hum Fernão Alvarez , taó rico & taõ nobre , que diz ,

^^^y^^^^^i^ y que em íeu tempo era o Monarca da Ilha do Pico ; & ainda
fe/f!^ 'eí/fír-
^^''"?^ ^^goa da Yilla por diante, aonde chamaõ a Prainha do Norte, fer*
to chamado Prlinha
ào, Norte onde >ne v^ à dita Villa O caes chamado Cães de Saõ Roque que da terra entra
, ' ,

^^P grandes foder» pelo mar hum tiro de arcabuz, Sç he todo de pedra viva, que hum gran.
'ejiar. " . .., de terremoto , & corrente fogo fez, como em íèu lugar diremos? & jun«
, . ; .,

c^-lo' n- yo^fM-^n to da ponta delle, nefta-Praínha do Norte, podem nãos graiides eftarfe»
guraSj &fó por incúria naó hecurfado efte bom porto. :/*.'i

58 Mais de meya legoa adiante , pela banda defte Norte para


^mais adiante àt U- q Nafcence, eftava antigamente o lugar, & Freguezia de NoíTa Senho,
'^ *^^ Piedade , queao depois íe paíTou ainda para mais adiante , & paOa
^^"^fdlVtedS/de
Thefoureyro , &
^^itdec/liítnhõs, ^^ cem vizinhos , com feu Vigário , Beneficiado , &
& com bom porto de com pequcnOj mas bom porto de área , aonde fe carregaõ os frutos def-
firea.Epajfadaomra te terreno que fâõ trigo, vinho, madeyra, cera, & mel de abelhas. An-
, 3

.pgoíiefla a Encurae- dada mais huma legoa fe fegue a Encumeada, que dizem de Santo Ama-

^^"^-^^f^^^"'^ roi& por outra legoa maisadiante vay amais alta rocha da Ilha, atè
^t> defou de entrou-
^, ,
R^ibey rinha , ou Prainha , que eftá em hum porto , & he lugar
%.m nna,d,ftallha, que chcga a cento & vinte vizinhos , & tem leu Vigário, & Thefourey-
^'cheg.ti ao /«j^r 10 ;& defronte da Prainha eftá no mar, &taõpert0 3humIlhèo,quea
chamado Rtbejrmha nado fe vay a elle i hum quarto de legoa mais avante eftá hum poço
&
^ut tem 1 - o mz.L ^e agua, que toca de falobra , mas tal , que delia bebe a gente,
. muyto &
ultimamente a Ponta
f.^mííot^/'ít'^'tr^'^^''^°
^"c'olrcafnd7I//hl
^" Calhào Gordo, donde principiamos efta grande volta dada a toda a
atè ai.\ Irar pinta ^^'^^ ^^^^^'
t!'»

do^calhao.apnde ^»0-
m(oí*' %í\ - \^;^^'-
. CAP.

vr"
<3ap . IX Dos frutos ] & ícrtilídade da dita Ilhâ^
. 471

C A P I T U L O IX. >

^ Dú interior , & cama ^ fertilidade , &frutos defia


^^T^Ointeriorda Ilhâdo^co naõha õútfaVillâ, oíilugaf,^^^...^.^- ^^ ^^^^
£>I lenao hum na raiz do leu altiflimo monte , de que talla- „^5 1^^ i^ àktíà^ .^

temos quando delíc^ &ò que mais he que caminhos communs naó ha vizinhos juntos mat
j > \

j)or dentro defta Ilha mais que o do circulo delia toda à roda , que jà mnym lavradores tf.
,

tocámos , 6c hum que atravefla pelo meyo j do Sul ao Norte da Vílla pttlhados ; cami- ^
sas Lages à outra Villa deSaõ Roque i &da mefma Villa das Lagens^*"' /"í^'^«
*'*/f
Vay outro caminho de tfes legoâs de comprido atè o pè do fobredito ai- Jí^ ^* j** .f*^** ^ '

o n ^ j a j 11 f^tUa.oHde Norte A
& 1
to rico i por entre matos» arvoredos: oc com tudo he verdade que em gf^^ ^^^^^ ^^ ^^£, .

•todo o certaõ da Ilha ha muytos rufticos moradores j que guardaõ ga* dat Lages atè ope dá
dos, criaò colmeas, fazem cera > fabricaõ o mel, cortaô madeyras j &
fa- alto Ptco ^ o maisfaâ
iem o mais que fe lhes manda fazer ; mas nem dclles ha algum lugar de ™<*tos,de ^«ejé os ^ ii

fíovó junto, &


reparados vivem, vaõ j &
vem de feu trabalho ,& por ca-
"^f^^^JJf""^^"^^^^
'^'"^^ °^'
Hiinhos que fó fabem , 6c trilhaô j &
difto fervem muyto a quem he fiel
«ápagã.
, .

éot?.>ufO clima doar, 6c terra he tal , quefem Medico algiimfeO^owír/íVííáííi^/áii


vive vida muy larga , 6c a fua experiência lhes enfina as meíjcinas } '*"* ^^
&
"f"* Medico^
tiem fefabeque houvefle alguma hora pefte natal Ilha» nem doenças^"''^*'"!'*''':^'^,»''*
cònragiofas de âgua porém nativa , ou fontes delia > ha grande faltaj&
:
^73 w^sTS/iT #*-
inayor em o veraô j &
aífim flem ribeyras ha confideraveis , 6r de outros „aô haver foutès o»
& &
muytos modos moem ú paô^ o fazem cm fàriiihaSi para o mais aco- ribejra* c^lderaveà^
dio tanto a Providencia Divina j que a mefma natureza , ^
na terra cm * proifidencia Dhii^^
tnuytas paftcs » tcm taes tanques formados de pedra viVa j &
com tam *"* '^* '^^'' ^*"^*' ^^
tiaturaes abobadas da mefma pedra por cima j qiie da chuva do inVernó ^"í'* /**'*!]'*'*
J"*"
fe enchem de agua doce &
tanta j que lhes bafta para beber , 6c tudo
,
'
à2'adZe TlolTà
mais rteceffario , 8c a tem muy defendida de ha6 chagar gado a cila , ôc chuva. ^Ite para aot^
tanto aííím , qUc em alguás partes liaô bebem os gados , fenaô de dous te naõ falta &parà ,

&
em dous dias, para beberem aíidâó camihho de três legoàSiporquèí'»'^"''»»''*/^'».
ainda que nas fcf tas do ordinário Cettaó ha algumas fotltezinhas ^ naô
íaó comtudo capazes de darem bebida à gádos;
6i Porém parece he taõ humidà eni fetft futldos efta Ilha , íjuê
feus frutos ftaóneceffitâô de rega, fiem de mais agua os gados, pois dâ^f'*'** '*^<' ** ^'^
toda a hortaliça , ti mtiyto bellâ , 6c ha homem que de abóboras recolhe '^," ^^^'^^ '*'''•*; «^

mil 6c duzentasj Sz ha taó grandes ftaboS * que chega cada hum a mc^a * jV'
'^rânlhK
arroba de peZo ; & ha tanta càrrieyrâdà j que hum fó homem dà oyten- legumes, ftutai é"
&
ta carneyros ao dizimd, 6c cento &
tf irita pedfas de lãj St dá fruta de èf- at melhores de ejpitih»
pinho confeíía FrUdUofo que hè a melhor de todaS aS líhâS ; 6c dé pef- f «í ha tm todaiatl-
fegos,marmelos j figos j U má^ãs he, ( 6c com excellencia J fet-tiliífima, ^^^^ ^ inUHrheraUeí
como tâmbem de gados detodadcaftáí6c Vácca^,pofco^, oVelhas ,&<?"'''' '^'^'"'^''i"^l
*"'
cabras U he de riof ar qUe òs ruflicoS eSfolaVaò ôs potcos , ha da pelle
•,

faziâõ os feus çapatos , jà Com o cabello pafa deíif ró , já còm èlle para
iora, os calçaVaõ , 6í os ataváô com cofreas da mcfmà pelle do poréO}
mas depois der^õ em câlfar riiais lirripámeate*
-''-! Rr xi\ éi O
4^
*
Livíò VIII. Das célebres Ilhas dbFáy'aí,'& Picb»
^Ó2 O màyor fruto, 6c mais celebre defta grande Ilha do Pico
O mayor fruto por em he o feu muyto , & Tsxcellente vinho, & quantas |nil pipas dè cada anno,
he o exceUente vinho, bem fe colhe, que (Ja Cal Ilha fe provém em grande parte as outras Ilhas,
de ^ da mtiytíu mil as arn>adas,.& frotas ,qae a ella yaô ,os Eftrangeyros que -O váQ bufcar,
fipaí,&a excellencta ^
q muyto que vayparà o Brafil , também verii para Portugal ) a & &
com quepajfadodefta^
razaó deo jà O antigo Fruauofo Irv. g. cap.^i. dizendo q«e o vmho do
Jlhavecem aindítao' -ri
"^^° "^*^ ^^ "^^
"
u
muy to , mas juntamente o meliior
"

o que muyto mí«s fe


-,
r -

gue naMadeyraclíKt'
m^ Malvaz.ia. deve entender do vinho que naquella Ilha chamaó vinho pâiíado , por-
^•"^
" - *
'•'
que he taô generofo , &
taõ forte 3 que era nada cede ao que em a M^
^' deyrachamaõ Malvazíâi antes parece que a efta vence aquellejpprque
da Malvazía , pouca quantidade bafta para alienar hum homem dç feu
u juizo,& naófeaccommodatantoàfaudej porèrao vinhopajiradodoPí-
íí CO, em preg^-fe mais em gaftar os màos, humores, confortar o eftoma-
go, alegrar o coração 5 & avivar , & naõ fazer perder ojuizo, & ufo da
razaõ 5 além de fer íuaviílimo no gofto , &
muytò confprtativo, ainda fó
&
com o cheyro j por iíTohe muyto eftijmado, & vai muyto mais que o
outrovinho.damefma ilha, com fer todo preeioío. ,zi\. ,
.

63 Nem menos eíiimavel a muyta,& íingular madey-


he fruto
ra defta Ilha ; porque tanta hê, & taó forte, que delia fe podem fabricar
muytossfe grandes navios5(como fe fabricou o Galeaõ Trindade} fem a
-^ Ilha fentir íaka de lenha , por haver nella muytos, & grandes matos, &
Wm gr A-
'upai,
.:,

j-^j. podem íervir plenariamente


vijjhagos.que fó das vides delles os fe
des madeyrM aue ha o r 'p. r .

èefia ilha & âoi do


moradoresj & da rama dos matos ie lervem as outras Ilhas , em queíalta
frecíofo Cedro , & lenhajêc muyto mais naõ fe lavrando na Ilha aíTucarjque heo que gaitou
~
Jejxo
"

emo principio as lenhas de Saõ Miguel, & as da Ilha da Madeyra, que


poriífo mefmo daó jàlioje muyto pouco aííucar j ^ daqui vem a muy»
;\; ta carregação que ha de madeyras neíla Ilha, & a grande renda dellasjôc
entre os muy tos Cedros deft a Ilha, ha outra cafta de pào muyto pre-
?~^
ciofo, que chamaÕ Teyxo , & he taó admirável para efcritprios , efcri-
*
vaninhas, &c. que fe na5 corta fem efpecial licença, S: vay para muytá^
.

partes ,& efpecialmente para a Ilha Terceyra aonde ha muytos oífir ,

ciaes primos das ditas obras , que vem para Lisboa , & vaô par^ outras
j^

terras, He efte páo Teyxo tal , que çrefce como Pinhey ros , & naõ de
outra forte 5 fenaõdafua própria femente que deilecahe na terra ,& a
enche de Teyxos novos, fem que necelllte de outra algiía fabrica don- :

de com razaõ dizemos que atè a madeyra da Ilha do PicO , he hum dos
V frutosdella, de grande rendimento. -

64 E naõ fó a terra, mas também o feu mar em roda, he iíiuy to


v^ , frutífero porque além de em todo o circulo fer mar de muyto pefcado,
,
,

^""^ de peyxesmuy feleítos , & de eílima , como de Salmonetes , Efcokr


prtcloTflm ílfocado
piiaámdefalmone- res, & dos outrosquc ha em outras íllias , & muyto mais dos que fe co-
tes,& efcolaresjà os Ihem no Fayal, Ilha taõ vizinha fua, que do Poente do Pico,8c feU; po,r>»
melhores peyxesj^ ha to da Magdalcna nsõ diíla O Fayal mais, que huma pequena, &quaíí
,

tiM oHtroi llha^ ^ legoa-, mas os barcos da paíTagem íaó fó da parte do Fayal,com que que-
,

e^eaalmente «^ do
rendo alsuem doPicopaíTaraoFayaUfaz de noyte tantos fachos-de
Faval, com que tem r i- r r "i íY o r rr
L ......viz.inhan^a,
. miiyor
» ,:,Ll rogo, ou de dia tantos íumos, quantos íao os p.illageyros ocle opaUa- ;

& trato geyro he humfó, &;qtier paííar, faz juntamente muytos dos taes Cu
naes , 6c paga quanto os niuy t.oS pagaria© , èc a paga he a vintém cada
Q th V-
paíTa-
paííagey ro; &
fuccedc muytas vezes , que hum fó paga por fete » por &
íióz í por íancos finaes ter íeyto para o virem buícar jà fe vè quenaõ : & ,

^heparticularregalia doFayaí,ter allha do Pico por fua Quin£%


jtnas também dado Picoàe>regalia , ter como por Corte fua a nobilifli^

ma Ilha doFayaL
.i ,13^^. - :

&í.
X AP I T U LO X.

Do altiffimo Pico, & do tremor ^ éffogo ,


que mo neíki
'I' i

mas milha houve. .- - ' -ã

.65 AFatalidade do tal Pico he digna de eípecial memoria. Le-


í\
vanta-fe efte Pico na ponta que a fua Ilha faz para o Poen-
í
te, deyxando quall quinze legoas de terra de comprimento para o Naf- Levma-feefie Piei
centej.que a refpeyco do tal Pico fe pôde chamar terra playna, chã, èc emo Oeftefiu Poentí
corrente , pofto que ainda tenha varias ferras , montes ordinários. &da Ilha, mais f^raA O
circulo do pè deííe Pico terá três legoas em roda , fica mais perto do ^i^rte &
do Sul, do qnt

Sul , do que do Norte & taôperto do porto da Magdalena ,que con-í''^^^'*^» ^'"'^^.^«^
;

tandoa quafi legoa de mar, que da Magdalena vay ^tè o Fayal , ainda ^//2«^^|^^^^^^^^ m
eíU Ilha do Fayal fica menois de duas legoas do pè do Pico & a Villa y^^*^,^ ^^ Fayal]^ j

das Lages lhe íica atraz três legoas pela banda do Sul para o Nafcente, defle difta duo* U^
& todas eftas três legoas faõ de matos , & arvoredos ôc aífim como, pa-^fl/«, ^ mais de três-
j

ta o Poente, fica bem ao pè do Pico o fobredito lugar da Magdalena , af- dafrincipaiVtlU das-
fim para a parte do Sul lhe fica , ao pè também , a Freguezia j & lugar ^"^í^' (jHelhefien
li

chamado de SaÔ Mattheos ,que eítáem os matos, & he de muyta fomA-f''^^^^'^'^'^^^^^^


^emjatède outras Ilhas & comtudo tem muytos colmeaes, ^'^^^'i^(^domardoNonl.&'
j

mel, & muyta cera eíte tradoi & logo em outro mato , & bem ao pè do /7>//^ ^gs, Roque^m
monte, fez , ao principio , hum devoto Ermitão húa Ermida eni que fe ,

metteo,& fez penitencia rauytos annos ,atèqueo leváraó para S.Fran»


cifco do Fayal & ainda li fazia a mefma penitente vida & morreo ti-
, ,

do^ "& havido por Santo j & nem o nome, nem a pátria nos ficou de túSobe por linha direy'^^
Varaõi taaoCeo comtres le<^
66 ,
eftupendo Pico, na TTiefma circumferencia.?^'^ '^'^"'''^«'»/''^^*'»-;
Sobe pois cíie
de três legoas > í< huma de diâmetro , fobe quafi legoa meya ao Ceo ""*; ^í'""" '^'Í'''f^
&
direytamente,&: na mefma direytura, mas ja com menos circulo, lele-y^^^'^^^.^^^^^^^
vantaem fegundo monte, outra legoa & meya em demanda dirèyta ain- com algumas voltas-,
da doCeOj &aííimeonftade dousmontes, ambos uniformemente fu- mat aprimeyrakgoA
bindo hum fobre o outro, ainda o de bayxo he taó alto, qtie excede os &meya u ainda ma^
&
gados;
grandes montes de outras terras: em o primcyro monte que fica de bay- ^'y>'^!,^'>ft«!,
*
xo, ha ainda muyto arvoredo partos , &: muytas fontes pequenas , & , 1 J^^^^^fTu
, &
por líTo OS muytos gadosoíobemCGdOj&emtodooanno,&ospaltores.^'^^^^^y< '^ ^^
com elks & no veraõ fe atrevem a fubir parte do
-, fegundo monte ymú.s fobredito & (empré ,

nunca jehegaó ao mais alto do fegundo, & ultimo monte porque pof-x) vias fontes porem , ,

toque ainda nellelhes nao falte agua, & algum pafto, he jà tudo tam de aguas ,& ares tad
dekado i & íitbtil, que lhes naÕ ferve à nutrição natural & menos o ar, ^^k'^"^. &Pibtts,^
,
V •
r -1 ^ o -rr ^ ^ •
j -«.vt. 1^ tiaó condiiz.?mpa'
jamaisfubtil para a natural refpiraçao,& por jílo em entrando o inver-^^^^^^^^
! í í* .
'

humarm,
no, todo o gado "per fife voítaao monte de bayxo j 5cnelle fefica oin-
TfiãA ^H* vern®

Ml m^ÊSÊBtm
4?'^ Livro Vííl. Das celebres líhâsáoFayâlj&Pkoi

verno todo j com menos frios , & raàisà^toé mantimentos.


Ua mais aba Ugoa ^7 ^
monte fica j^ taó exceffivaraení:^ Icvantadpj
fcgiindo
& que atè em grande parte do veraó 5 eftà todo taõ alvo de farayva, ou pe*
mtya,atè em o vt-
raõ(e vè farayva, ma/ áti do Ceo miuda , &
dê tal frio ? que naõ fó o méis fugeyto lugar da
^^g^^^^"2 > ^^^ 2inda a Ilha do Fayal, & a principal Villa das-LagcnSi
ZTZZiZZiÊà ^°^ eftar^tres)egoas
diftante , padecem grandes rigores de correípon-
'd^mv^i/hZ-lit^
todét efiof nevtfe vè <^^"cia tao afperâ 5 porém a mais miuda , 6c formada neve , naõ fó em as
do mais alto cHfne\& ^^^^^ Ilhas , mas nem em tal Fico, nunca jà mais fe vio , nem fe fabe nef«
for baixo andartm a» tas Ilhas , que coufa feja neve j mas do tal fegundo mGnte,& do cume uU
nfive,,& chover,fem timodèUc , fe vem
todas as nove Ilhas Terceyras , & iiaõ fó atè Saõ Mi*

agnma,
f^***
& quem da coroa de taõ alto Pico olha pa*
j^íqq diftaõ quarenta legoasj
nuvens lá em bayxo fobre o primeyro monte in*
rá bayxo, vè andarem as
fcrior ) & chover lá por bayxo , fem cahir agua entaõ no fegundo mon*
tCj antes fentmdonellefereniífimo tempOj ar delgadiílimo, & dclgadif».
• r fi mas aguas em diverfas fontes 9 &: ainda em a vital ,& melhor refpira*

^aõ difficuldadg,feníiveL
68 E naõ obftante ifto tudo , hum Corregedor , & Defembar-
gàdor de Angra , chamado Fernaô de Pina Marecos j indo cm correy-»
çaô á dita Villa , ( como jà tocámos em outra parte ) fe animou a fubir
^'^ ™^^^ ^^^^ defte fatal Pico» que tem três legoas de fubida acima , pof>.
CvrregeàothoHveteiõ
^Hriojo ijHc metteo to que em varias voltas , & quando jà naõ vio mais à que fubir > fe fubio
,

tamhem na eorrejçaô aos hombros de hum homem , &


dalli mandou aos Efcrivães , que com
êfie alítffimoTieo po- elle fubiraõ , quc tomaííem fé , & formaífem auto publico, Como ellé
Ttm domats alto dei- Doutor,&: Corregedor Pipa ficara mais alto, ou
mais empinado, do que
, que deo o nome à fal Ilha > & fez declarar > & efcrever
állJhVfaltlíeam" °
^^^^^^^ '"O ^^^^0

íhor refítiraçaõ , & ° ^"^ ^^^^* ^^^ > como diííemos acima^ôt fazendo logo experiência das
mais humana,
*
fontes, das ervas, & do mais que brevemente pode fua curiofidade exa*
minar, temendo do ar a delgadeza , & algum accidente fobre ella, fe
voltou logo abayxo , defcendo as três legoas outra vezj bem guiado pot
rufticos paftores} & nem fe fabe que achaíTe em o cume do tal Pico nu*.
vem , ave , gado , Ou bicho algum , & menos ainda gente humaUa > & fé
do inferior monte para bayxo tudo achava.
'
69 Do tal Pico emfim diz Fruftuofo liv. 6. câp. 41 que he taô
.

alto, que os mareantes , & as outras Ilhas o tem pot fua melhor agulha
Repormm de Um
,

demarcar , que em feus prefcntes afpeftos lhes moftra os imminentes


* ' * temposi porque quando eftácuberto de névoas, denota ventos marey-
íos, como Suérte, Sul, & Sudoeftc j & quando todo defcuberto , indica
Oefte , Noroefte j & Norte ; quando tem huma barra branca de nevoâ
;
pelo meyo , & tudo o mais , de cima, & de bayxo, defcuberto j adivinha
tempos LefteSjêt Nordeftes j & fe fe vè todo limpo , &
logo põem nâ
cabeça algum capcllo de névoa, profetiza que o tempo fe muda em bre*
ve a marcyro & das Ilhas mais difiantes , muytas vezes fe vè predomi-
:

nando os ares com a cabeça pofta fobre as nu vés , & eftas em bayxo ado*
fando-o fobre a terra; & taó alto parece aos que eftaó perto delle , como
'
aos que eftaô longe i Ôc âos que ao mais alto rfelle chegaô , entaõ lhes
parece ainda mais alto j fem poderem ainda bem comprehendeF fua al-
tura.

fó Naõ

toa ti
9tfei;«í.V'

€a]>^,|ít.RaiNobreza,ríqueizaj8rgovef4allhadoFico47^

fo ha memoria, ou fmali de que em tal Pico houveíTe


Naõ
j*lg.i>nia4ora fogo algum ,& fó caOÍaó admiração as fontes que em todo Ate «r wí/5»w ele*
pile jatè no maisaito ^nafcem , &
de agua exceliente,i & a razaõ natural wp«wí refpeypkram
li a ap§)Qtàmos na noíTa Filofoíia. Ha
comcudo finaes:, & ainda noticias, f^^^f^' **' -P*^"» M
fiue muyco fora do cal Pico, quafi quatro íegoas delle , & huma Icgoa '''ZâT.Z\r7ia
do mar dg Norte, áíçMavera cento & cmcoenta annos, no de 15 72. a 21. ,J^^ ; ^/^^ ^.^^^ ^,,
de Setembro tremeo a terra no bay xo da Ilha por efpaço de kum terço tyeveo a envtfiir com
ÁQ hora , ôc com taes eítrondos , que pareciaó grandes peças de artelha- pue tal;&fó quatro
ria difpanadâs i &
logp em hum lago , 6c por cinco bocas arrebentou tal L-goií delle tremtaà
ílha.rehntm cdfogo
fogo, que delle , & depolme ardente correo húa ribeyra por efpaço de
'^^ ""^
íiujpja legoa^ atè Ic metter no mar do Norte , & no mefmo mar formou, ^.f.f^*-*
* '

com entrada nelle de hum tiro de arcabuz , aquelle grande cães depe-'
idraria abrasada, ( de que falíamos acima em o fim do cap. 8.) do qual fe il.iJ

^rve a. Víílade Saó Roque , que difta delle huma Jegoa j & affirmao
jdoutoFfuíluofo jquefoytaô grande o fogo, que todas as mais Ilhas ÚM.

.Terceyras ÍGallumiáraò com elle, & atè nadeS. Miguel fez da efcura
iioyre claro diaj& comtudo nem hum minimo abalo fefentio em o dito
faral Pico, contra cujaimmenfa machina nem o fogo fe atreveo & naó j

jha memoria de outro tremor de terra j ou inçe.ndÍ9,que„em.a.:tal Ilha


^O^íCOÍuccedefíe. ::-; ír:j ^":. :-.-urA\ixi: j^vf.S^in. -í»

^_f!>.

>^V;-^fít" ii; T tJí L O XI.,

Jbds Povoadores ^riqueza i nobreza )& governo da ilfl

ilha do Pico.

71 no caf y.diíTemos que osprimeyrosdefcubridoresdeftâ'^^^xi^5


JAIlha foraó , que da
os mareantes Portuguezes Terceyra > SacL^r^ig^íW /^
.Jorge, & Graciofa deraó primey ro com a Ilha do Fayal , & depois com <4Í^^iv»;'4/J^
a do Pico, & por meyo da Virgem Sacratiffima , que da do Pico cha-^*í'\^''''f«i«5*ffi?-
mou aquelle feu devoto Ermitão , & o fez ir para là , por mais que os J^^J^^kSÍS
mareantes da Terceyra o diíTuadiraòdiíTo} donde por mais P^ova^^eij^p^^ ^^^J/j^
julganaos, que da meíma Terceyra , Saó Jorge & Graciofaforaõ à Ilha ,
ii-fa^L^^ d» ;,?,-

do Pico os primeyros, &: fegundos Povoadores ; & que o dizerfe, que a Zli^Mfuf-famêv^
Flamengo fidalgo Joz de Urra, Donatário do Fayal, foy"o que po-^fomlfieZésIfi»^
voouallhado Pico 5 naõ quer dizer que de Flamengos foffe povoada, P''-'* \
mas que c®rao mais vizinho, & que povoara, & governava ao Fayal,
continuou também a povoação da Ilha do Pico, porém pelos Portugue^
Kes 5 que também jà do Fayal pode mandarlhe j pois na Ilha do Pico
nem familias achamos de appellidos Flamengos , nem eílcs tao cedo
deyxariaõ feu Flamengo Capitão , nem os convidaria huma Ilha, qus
ainda que naó tinha porto de fácil commercio , nem os frutos ainda dos
vinhos que ao depois teve ; & que entaô lhes parecia hua Ilha tam mon»'
tuofa, medonha, & incultivavel , que fó Portuguezes tem paciência pá-
ra a Jrem abrindo por diante, & cultivando, & miry to mais vindo jà das
©utras em tudo Portuguezas Ilhas , que jà tinhaô defcubsrto , & culti;"

<'-tí ^2 Qiiàíli*
478 Liv^oVni. Das celebres Ilhas do íáyâl,&tic®:
72 Quanto pois àriqttèia^J^efta Ilha, a que eh ego
Dm grandes ri^ue- mente , bem fe colhe dos preciofos frutos, com que fahio dentro em
n-oí , é- frftm defiít poucos annos, pois naõ
fó deo ao príndpio muy to ',& excellente paftel
i^^^' no termo da Magdalena, riquiílimas madeyras em tantas legoas da Ilha,
muyto mel , & muy ta cera , innumeraveis gados j tf igo de fobejo para
toda a Ilha , eopiofiífimas frutas, & as melhores, linhos, & las abundan*
ces i mas toda ella fe desfaz em vinho taõ preciofo , & em tantas mil pi*
pas delle, que já em feu tempo ( diz Fruftuofo /íi;. d.cap.^i.') eraõmuy*
tos os homés que tinhaõ a cento & vinte pipas de vinho eíada anno^Sl;
íó ao dizimo pagavaõ oy tenta , Sc mais carneyros , cento & trinta pe*
dras de la, & femelhantemente dos mais frutos i & coíiclue o raefmo
Doutor , confeííando , 6c affirmando , que havia na Ilha do Pico bomês
^x- muyto ricos , & jáhojeo faó mais, pelo que muyto maisfubiraô os pre*
, ços dos frutos, & o comraercio das Naçõesa ellesj & ainda quemuytot
das outras Ilhas , & muyto mais da do Fayal , tem já muytas rendas nâ
do Pico, fempre deíla he o mais, & o melhor , Ôc a fabrica, & paga ds tu«
do quanto delia vay para oUtí'^.s partes. '
2í-í / 1
73 Defta riqueza fe feguc a nobreza deita Ilha , poisíè a nd*
Ha nohrez.a qne ãa ^^^^ ^^ ^^^^ ^^ riqueza , ôc efta he a que dà as honras , & valimentos^
& brevemente ad- ^^^^^ eílá que fendo a riqueza tanta , naõ pôde fer pouca a nobreza , bô
quire a ri<^uez.ajeje trato , & cafas dos riços , & na fartura dos outros , mas ainda em ofan-
í"*! dijptndcr, gue , que Geuealogiftas querem tanto diftinguir , v indo todos de hlim
^^íâ(U/^^ Avií,ínefmo pay Adam atèNoèjêc defteatèeftês tempos ainda eíTafangui- -,

a^a cJÇ/reJ3ii~ c^j^^t^ nobreza , pela riqueza entrou em efta rica Ilha , porque como nas
Ví€Í;k) Tt^iTfU^^it^ç.s Ilhas ha tantos morgados , ou vincules impartiveis , ficâõ os fi-&
/w^ a^. lhos íegundos menos ricos , com
os dos ritos fe ajuntaõ em cafamentos*
—rX^««f3para terem a riqueza que lhes falta, &
aos que a tem communicarem fua
^tâffif^^^ imaginada, &
fó fanguinea nobreza ; &
por iflb algaem dizia, que naó
;í^^^g^.^^avia no mundo mais que duas gerações, que faõ, o ter, & o naõ ter :&:
'^íi^wíifc-^t^tAj^alguns melhor diraõ, que as duas gerações faõ , o ter, & o fer, & que fd
/h^^uÂy**^ât^^^^^^ ambas fe compõem a mayor nobreza , deter o neceífari© para efta
^
^9«^ â-^^*t rS^ m poral vida , & fer limpo de raça que impeça o alcançar a vida éter*
jCttJi/fiH^ <^h^4£ih ^ "^õ faltará quem diga , que unicamente em o ter confifte toda a
y*- ^n^DvíT^^W^o^^^^^ "^28 em o ter duas coufaSj a faber, ter a vida íã, & fanta-
>

^^
f-X^^^. Mas tornando à fanguinea nobreza , defta participou tanto
r/^^^^l^/^^í. aprdenteilha do Pico, que já em feu tempo nomea o Doutor Fruduo-
brei dai Villtu de SaÕ fo a muytos varoens conhecidamente muyto nobres a hum Capitão
-,

Roque, & dai Lagís, da guerra , da VilladeSaô Roque, chamado Simaõ Ferreyra, que ti-
dos appcllidos deFer. nha
fuccedido a outro , chamado Fernando Alvarez , de quem diz que
rproi mdrng^s,
^^ (^^^ ^^ ^^^ ^ Monarcha da Ilha do Pie© ; & a hum Rodrigo Al-
L.enios,Leaes, Ctt- , ^ .. r tr-ii i ^ n i
^^""^^ ' "^ quem diz que era em a meíma Villa de bao Roque homem
tr-

lartej Trtfiões Pe-


rejraí,&v. principal, &; generofo; & na Villa das Lagens faz menção de hum An-
dré Rodrigues , & diz delle que era o mais rico homem de toda allha
do Pico ; vivia com grande apparato , & como com amigos fe commu-
nicava com os fidalgos das outras Ilhas em cartas mutuas , como com
Pedrcanes do Canto , o velho, da Ilha Terceyra , com o Donatário do
Fayal Joz de Utra, & outros & que delle defcendia a geração dos Ma*
;

drugas,queenta5eraõ os Monarchas daquella principal Villa das La-


ges,
-
\f: ' C^p.Xí Conclaé-fe com a ílhâ do Pièo.
.
^^^
ígês ,,aonde havia mais outras famílias nobres de Lemoáf^Xçaes Gular- j

teSjTriílces, dos quaes hum Pedro Triftaõ Gularte foy Capitão dos n'!

jVíihtares, &: caiado com Ifabel Pereyra , deites defcendem cambem &
jTiuyto nobres famílias do Fayal , como algiis Silveyras, Utras' , TerraS)
Porres, Montojos, Bruns, &c.
; 75 Sobre o que toca ao governo raayor de toda a Ilha do Picps
rmuytos quizeraó dizer 5 que o primeyro Capitão Donatário do Fayal
Joz de Utra , o fora também de toda a Ilha do Pico , com a raefma ju-
rirdicçaõ j porém nem de Real doaçaõ, ou carta ajguma confta tal, nem (^apitaZ
D
<3e tal faz mençaó o erudito Fruduofo como faz das outras Ilhasj nem por ElRey
,
nunca o
,

ie fabe que.o dito Utra repartiíTe da dita Ilha terras a algúsj & fó fe acha tivt a Ilha do Pico
em Guedes que o dito Utra povoara a
, Ilha do Pico ; como a do Fayal "^^^ f» faz.endo Iht

|)ovoou também 3 & trouxe muytos a povoalla , fem queporiíTo foffQ£""'''^fj'"^^ °^'''
íeu Capitão Donatário .aquelle grande fidalgo Guilherme Vandara-'''''^'::"",''',^''^^'"^;*'
j

§a, ou Cjruilherme da bilveyra: & a razão he manireíta porque para hu %:^


defmáer j

(VaíTallo povoar huma terra de novo defcuberta por feu Rey, quando ef*
te o naõ prohibe jentaõ fem nova licença do Rey , qualquer feu vaflaU
-lo o pôde fazer, & lhe faz ferviço niíTo; & fe o povoador hc eftrangeyro,

baila a licença, ainda fópermifliva, para que o faça j mas para ter jurit
jdicçaÔ lobre a dita terra de novo defcuberta , he demais neceJTaria doa-
ção, ou carta Real tícnt^ qtie o Rey lhe dè j & como naõ confta que o
ReyadèíTeaJozdeUtrafobreallha doPico, nenhúataljurifdícçaóti*
ilha fobre ella.
'..-... 76Parece pois mais proVavei i qlte aííím coíTioó Rey de Poif- ,

fugalconcedeo ao dito Joz de Utra o povoarj & fer Donatário Capitão f>irijdkça3 mlitar iir.!S 11

da Ilha do Fayal, & por Real doaçaó ou carta infcrtptis, aífim lha eX-^'f/'JJ "'^ Capitães
,

•tendeo depois ,& de palavra í ou carta menos authenticà, a continuar ÍT""^':/ rL '^fu'
x-erao ter [obre allha
- j j T)'
a povoação da ilha do rico, U o governalla em o mi|itar , por nenhuma 40 Pico , mas
T!) o 11 -i- 1

efia
outra Ilha eííar mais próxima à do Pico que a do Fayal , & efta mais í^- fempre lhes reJifiio,&
jciimente poder acodir àquellai &
mais depreíTa em toda a occafiaõ: mas 7^ governa pelos fettà
fe defta permiííaô , ou conceíTaõ verbal feaproveytáraõ os fucccííores ^'*/'"^°-' "'^^^ ^'^
do dito primeyro Joz de Utra , naõ me confta nem que houveíTe mais ^'f^'^ ^ofloj pelos fetá
,

algum outro Capitão General da Ilha do Pico, & muyto menos Dona-
tTlLallfaTt^har^iâ
tario delia, nem que hoje alguém o feja.
tem algiia, fendo <^rtè
77 Confta porém que fempre os Capitães mores àzWhzáo apodem & devem ^

Fayal pertendèraõ ter a jurifdicçaõ militarda Ilha do Pico , & com ef- ter,
teyto a tiveraõ algús , mas que fempre a Ilha do Pico lhes refiftio a iÇÍOi
& ainda hoje refrfte ; & qUe fe governa em o militar pelos feus Capitães ,

mores, a que também chamaõ Capitães dá guerra das Vilías das La- ^

géSj & de Sao Roque ^ eleytos rta forma coftumada pelas Cameras & ,

Povoj mas nem confta que nefta Ilha haja Fortaleza algiía ou prefidio ,

iiiiiitar j fendo que o podèra , & devera have»" j


porque ainda c|ue per fi
fe?a inconquiftâvel , tem ém que fe pôde faltar & deviaó
algiis poíios ,

eftes eftar prefidiados porque ainda que naõ haja memoria de ter fido
;

efta Ilha commettida quanto mais entrada de inimigos útxri ainda de


, ,

Mouros & fé por teí fido da p>rte do fenhor D. António 3 fó eritaõ a a-


;

cometeo aarmada de Felippe II. que defiftindo diílo, fó tratou de con-


çiiwftar o Fapii , & o coriquiftou eomo acima vipaes em as guerras dá
-- Teí'á
4S0 Livro VnLDascelêbfesIlhas4orayál,&Picôr

Terceyra j comtudo ttiais defezafedevc pòr nefta Ilha, contra o qitê


pôde acontecer.
78 Em o governo politico fe governa efta Ilha, confórmen
Ordenafaó de Portugal, pelos dous Senados das Cameras de fuás Vil-
ias, das Lages, & de Saô Koque & pelos íeus Juizes ordinários da terí.
,

j-a. Vereadores, Almotaceis, Mifteres, Efcriváes,& Alcaydes,& os mais

íabidos Miniftros , aos quaes todos vifita cada anno o Corregedor de


Angra, fe cada anno là vay, & naõ fó ao Fayal. Mas no governo da Real
fazenda de ambas as Ilhas , todo eftá unido no Almoxarife do Fayal , &
çfte em tudo fugeyto ao Régio officio de Provedor da fazenda da Ter*
ceyra, que a todas as nove Ilhas pôde ir vifitar , quando vir fer neceíTa*.
rio, & as neceflarias ordés paíTa a todas. ^ -.
1

79 No governo, &eftadoEcclefiafl:icofemprct6ve a Ilha do


JÍ0 Eccle/tafiico do Pico por cabeça o Bifpo de Angra , ou a fua Sè vacantej mas por Minif-
fico governott em ai-
troimmediato , parece que teve em algum tempo ao Ouvidor do Fa-
gã tempo o Ojftvtdor
yal, mas hoje tem Ouvidor efpecial de toda a Ilha do Pico, a quem vaô
do Fayal, hoje porem
tem ejpecialOítvidor lá com as caufas em a primeyra inftancia j &
vem fihdarfe em Angraj ôc
Ecclejtafiico & ta. tem muy fufficiente Glerefia de Vigários, Curas, Beneficiados , The-
,

&
do fugeyto aoBijpo de foureyrosjSc extravagantes Clérigos i tanta limpeza junta comtaó
Angra ^ & alem d* bõs procedimentos em os pòvos,que naõ fey que defta Ilha vieíTe ainda
der^fiA tem hi* úni-
algú prezo ao Santo Officio , pois nem da raça de Judaifiiio j nem aindsi
co Convento deFrun-
algítmoi de hereges eftrangey ros
& ha nella gentes. De Religioíos j ou Réligiofas
cifcdKOS ,
Mijfoês da Compa- também naõ ha na Ilha do
Pico Convento algum mais , que de S. Fran?
nhiadc ?ESVS, cifco , que a toda a parte acodem * &
fervem mtiy to aos faôs , aos doen-
tes, & ainda aos jà mortos, &fempre dos feQplares tem Terceyros j 8c
Terceyras de muytâ reforma, & virtude exemplar. Edo Colíegioda
Companhia de JESUS, da Ilha do Fayal, vaô à do Pieomuytas ve-
zes Religiofos que nella fazem miíToês Apoftolicas , como em as ou-
,

tras fizeraõ , & coftumaó fazer fempre j & ifto por hora bafte da fatal
Ilha do Pico, feptima das Ilhas dos Aflores j ou Terceyras , vamos à&
©ytava, & nona.

LIVRO

-yrr
ilH&iWJxv

9 ivLl 481.
^-.^

L I V R O IX. sihttllíBHÍW
!i

I
4;
'I

D AS
ILHAS flores;^ CORVpi
& das que íe elpera deícubrir de ttovoi
í òíi<f- vL ..riilfco:!*.>; v'ndu::?bí>
,í?rrm57nrr

C A P I TU L O I.

jDísí altura , grandeza c^ primeyro defcuhr mento , ou povoai


,

çaÕ da Ilha daí Piores, 1

AR A confumir a tudo o ccmpô, atê aos livros


confome , para que nem memoria do paíTado
haja ; & affim fuccedeo era alguas partes ao li-

vro do eruditiífirao Doutor Fruduofojem cu- »^

joí^t;. 6. fumio os r^^ 45. & 46. em que trata-


^/^^^^^^ ^^^^^ ^^^
vado prmcipio das Flores, & da do ^ovvo,' injapeloimttym, &
É
de que pudéramos dizer muytomais mas ^-gy andes ifumeUàvi^ j

inda do que diz > 8c algumas vezes repete atè raõ espnmeyros def~
<ocap.^%. & em outros lugares , & do queconíla por tradição commua, *'«^''''=ií'"'^-'-'^*'»««-
^"^""^ de co»prt.
èz tocaò algús outros efcritos, diremos o que pudermos averiguar por "*
provável.
mais ^ j ^ ^*
A TU j r '^ -^ j ,.r. &mats de\i..emre^
2 A »-.v ,^
ilha das Flores efta em quaíi quareílta grãos de altiírajdil- ^of.do.
Efik na alta.
1

tâdaTerceyra a Oes-íiidoefte fetenta legoas, 6c muytomais das Ilhas radet^mji^o. graoi


de SaÕ Miguel , &: Santa Maria ; do Fayal , &
Pico , menos , mas ainda ^o Snâoefie da Ter"
quarenta legoas. ilia grandeza confta dê mtiyto mais de doze legoas «^^jy^ jo.kgoas ,&
A
^^yjomniídtS Mi-
de circuito, & mais de cinco de comprido & quatro de largo. Chama-
,

íc IWíik d ás Flores, porque flores,6t taòaltâS,vira6nellaosqueãdercu-'^^^^^_^^^^^^5

brr;âó,quc por \Ç[o lhe deraÒ o dito nome;mas porque para o feu Norte, ^^ ^^^^J ^^ //^^ ^
ê-í cm pouca mais diftancia que duas legoas lhe fica outra Ilha , a que Corvo ^»e vulgar-^
,
,

châmaô Corvo, de qiie abayxo trataremos daqui vemque a ambas eftas njentedànomeadm'^^
,

chamaô Cot vo, & Corvinos aos naturaes de qualquer delias, & as pro- ^^f-
priedades de cada húa accommodaÓ à outraj & ainda o vulgo das outras
Ilhas confonde as taes duas entre fí. Fojaoytava Ilha dai lltJ

3 Do disí, mez, ou anno , em que a primeyra vez fe defcubríf- Ttrciyras^ott dos Af-
feailha das Flores ,na6 ha nem provável conjeftura, como mú\\ox it Çofe$ ^de^uhert<t\&
verá abayxo., quando tratarmos da do CotvOj 6íp mefmo podemos di? ^''^ I '^**»'^ j/f^^fl^
Ss ze£
m^

48» Livro IX. Das diverfas Ilhas de Flores, & Corvo.

zer do dia , mez , &


anno ,em que a fcgunda vez fe defcubtio, come- &
no^naS confia nem a çou a povoaríe j & com tudo parece lèm duvida, que foy a oy tava llhaj
indadoenKjuecome- qUedas Tcíceyras fe defcubrio, pois comas Ilhas do Fayal, Ficotc- &
n^ ^'"'e'*omn"'fo
^^^ ^^'^^ ^ ^^^^^ *^ * lepcima quefe defcubriraõ , nenhuma nodcia^ain-
<1^ «»taõ havia da das Flores , ou do Çoryo, nemde alguém qu^ lifoíTc
&
'liZule\17o
tieã^ft nao acho», t,ei povoallas porque amda que
fabemos que aquelle fidalgo Guilherme
;

ftnaUl^S. de ttrfido Vandaraga da Silvseyira foy , %í eftev/g na Ilha das f^lores j iíTo fez elle,
ae anttthakitada^ tendo jà vindo ^a ígia terri à ilha do Fayal , $c jà depois defta defcuber-
ta haviaquatro annos j & depois efteve alguns em a Terceyra j ainda &
depois voltou a Flandres , êc dahi vindo por Lisboa , tornou à Tercey-
ra, &ç dçfta entaõ foy às Flores.

4,
.
£ daqui f« colfee j que t^dp fi^o dgfcu^bertâ a Ilha de Sapta
Maria epi o anj?o de 143 2.^ a de Saò Migyel em o anno de 1^4; a &
Terceyra pouco depois , mas antes do anijp de 1450. depois do qual fc
defcubrio lo^o a Ilha de Saõ Jorge > &
ainda pouco depois a Ilha cha-
mada Graciofa j &
também dahi"a pouco a chamada do Fayal > 6c muy-
to antes ainda do auno dè 1469. fov defçtiberta em feptimo lugar a
grande Ilha do Fico colhe-fe pois ,
: &
conclue-fe daqui > que efta Ilha
das Flores foy fegunda vez defcuberta , &
começada a povoar pouco
depois do anno de 1460. ha mais de duzentos cincpcnta & cinco &
annos.
5 O refoluto fe entende do íegundo defcubrimeíito deíla Ilha,
enaque jà fe cQmeçop a povoar 3 que quanto do primeyro > em que fp fe
vip,& defcubrio, mas líaõ fe povooUj comp veremos abayxo tratando da
Ilh^ado Corvp j defíe primeyrp defcubrimenro podemos de certo affir-
* mar fomente, que na tal Ilha das Flpres , nem final de creatura humana
feachou, como fe achow em a Madeyrâi Sc nem gados, nem outros iíidi-
cios fe acháraõ de ter alguma hora entrado gente nefta II ha , como vi-
mos jàdâs outras Ilhas Terceyrasj em que fó algumas aves do ar, que
por elle paíTavaõ de alguma terra firm-s mais vizinha , ou de outra Ilha
jà povoada , pata mas que todas eftas Ilhai Ter-
eíia Ilha das Flores >

ceyras eftavaõ como Peõs as crepu em p principip dpíjíuijdp > ou com^


as dey xou depois o diluvio de Noè j & ifto ppfto j vamps «ofii a hiíloriíl
deftallha.

CA PI T U L O IL

Coyre§>onde 4o Sul Das Cofias marítimas , & Povos interiores defia Vha^
cqm alta rocha
Sttefie com ajua
, ao
f^it'
& feusfrutos.
S
la de Crfft.,à pajpí
de 7,òo.viz.inhoj; ^ é o Endo qiiaíi redpnda efta Ilha das Flores , he de rcclia alta pâ-
tem cjnatro Comp;S'- O
ra a parte do Sul j 6c fronteyra ao Stielie ertà a Villa princi-
nhias,& Capitão rrior pal, chamada Santa Cruz, cuja Matriz he de NoíTa Senhora da Coiicey*
^Ade , Ma» çaõ , èí chega a mais de duzentos fogos, em fitio chaõ , & bem arruado,
Igreja

com quatro ruas que cortem direy tas ao mar &: as cortaõ varias travcf- ,

4^ Fr^fjíifcmos c^
fas ;& tem quatro Companhias de Ordenança com feus Capitães ,SC
,

t/Jis l^rmidaij^dow
Capitap mor ' da
Villa, & do feu tcrmçi tem chafariz fio ixieyp, èc de boa
fori9t bòj.
'..r. .
agua,"

VT-
ii,

Cap.ILDâs íochas maiit.povoaç.& frutos dà ílhaFlòr. 48^


i^gua, & huma fempre corrente ribeyra moyto perto j & junto ao mar
dous poços j ou enleadas, em- i:ada hum dos qiiaes entra hum navio de ,

^ento & cincoenta moyos de trigo de carga, além de ter adiante, diftan-
cia de hum tiro de arcabuz , outro porto , por onde entraõ caravelas pe-
lo interior da Ilha dentro. A Matriz tem Vigário , & Cura, & os mais
neceíTarios oíBcios , & na mefma Villa hum Convento de Saõ Francif-
eo com , ao menos , féis Frades Sacerdotes j & ha de mais nella três Er-
midas , huma de Saõ Sebaftiaõ , outra de Santa Catharina , & outra de
Saõ Pedroj & que nobreza ha em eílâ boa Villa, diremos abayxo, quan-
do das Familias. ;

7 Continuando rocha pelo Sul, faz a Ilha huma ponta , que


olha para o Norte , & fe chama a Ponta de SaÕ Pedro, por ter outra Er- Pela banda dtSulefi
mida alli perto & huma legoa jà da Villa , da banda do mefmo Sul , ef- tk a chamada ponta
:

tá hum lugarete que chamaó a Caveyra ; & legoa & meya da dita Santa ^'
S.Pedro^&ja hõa

Cruz eftá o lugar chamado Cedros , coufade trinta vizinhos , fregue- ^^^^^^^-CrHz-^i^/à
zes ainda da Matriz da dita Villa j Òc aqui naõ fó ha varias fontes , que 'caneyra
& mfvaíe'^
cheyas de agriões vaõ ao mar, mas também huma continua ribeyra, ^^ qoAadtatt efiaicha^
chamaõ a dos moinhos, por os ter , & a elles fe ir moer o paõ da Villa: & ntado Cedros demais
aqui defronte eílaõ aous Ilhèos no mar , hum tiro de béfta afaftados da de i^oviúnhos, eom
Ilhaj &; com hum delles naõ ter mais campo em cima que o que leva hu rtíeyra, & momhos
alqiiey re de femeadura,tem comtudo em fi huma boa fonte de agua do- ^ '^^^f?''' ^"^ " ""!'^
^*^
çe, fendo que por bayxo he tam furado , & atraveíTado do mar , que de ^ - "^ --'^^i

huma parte à outra paíía hum barco, & ainda huma caravela , & fem pe-
rigo algum. E mais adiante , hum tiro de béfta , fahe taõ fora da rocha .
,^,

húa fonte de agua doce , que/às navios a toraaó, & dentro de feus bateis
enchem as pipas. /
8 Hua legoa adiante fahe da Ilha ao mar huma ponta tal , que
ao lugar vizinho chamavaõ ao principio Ponta Delgada , òc depois íó fe Ouira legoa adiante
chamoHO lugar da Ponta, & he Fregueziade trinta vizinhos ,& ainda dhmdoparao Ner.
he dajurifdicçaó da Villa de Santa Cruz. Mais adiante eftà outra pon- dejle eftk o lugar dã
^^"^"tf""^ ^o.vtzt"
tâi que chamaõ a Ponta ruyva, que he o fim da Ilha,&: olha para o Nor-
defte, Sc no tal fim ha algus moradores , que eftaõ legoa meya da Fre- & f^'^'f^ 'J^^f
''"í

guezia de Saõ Pedro, & pouco mais adiante eíH no mar hum Ilhèo , &
^^^^g ^ep9Í4 ktí hheá
&
hum ancoradouro de navios, na Ilha lhe correfponde húa nobre Fre- „„ mar, & homporta
guezia, Sclugar, chamado Saõ Pedro , que tem cento &
cincoenta fó- r.a Ilha, fiambre la.
gos, Sc huma grande rua corrente ao mar , com outras atraveíTadas , & giir de S. Fedro que

duas ribeyras fempre correntes pelo meyo da Freguezia &


quatro fon- ^^'f '
,
&^'yo.vtK.tnhos

to frefco , & com fa.


«<'^^''«/""
tes neíla, com que fica o lugar muyto nobre, & muy
.,. ', ^ ^ ' ,
' com rweyras"^'l^f'»
fon-. . &
IBiíias nobres, como veremos abayxo. ^^^
^

9 &
Daqui par^ o Norte, Oefte , jà Subdoefte, eftá a nobre , &
fegunda Villa das Lages, &:jà em nada fugeytaà Villa de Santa Cruz: AfegundaFillt cha-
confta de muyto mais de trezentos fogos , &: de duas grandes Compa- mada das Lages ,&^
k dt
nhias, & dous Capitães da Ordenança, í^ hum Capitão mòr da Villa, emnadafngeyta
p^pr/iísyta
U &
feu termo ; confta de húa erande rua , &
muvtas traveíTas ; &
tem ^: ^^^^'
de 7.00. vtzjnhos, (3*
,. j ^ * í , r ^
diante de o para o mar alguns bayxos perigoios aos que quizerem por ^^j^f^y^ntas nobres ^

mar acometer a Villa , & fica jà mais de duas legoas do fobredito lugar Matrtz.,& Ermidas
de Saõ Pedro. A Matriz defta Villa he da invocação de NoíTa Senhora ^ huma Ugoa pela
^<3 Rofario, eom Vigário , Cura, & outros Clérigos: tem mais duas. Er- Norte eftk oingar d^
( Ss ij midaS|

Hl
4S4 Livro IX. Das divcrfas Ilhas de Flores, Sc Corvo.

midas, huma do Efpirito Santo, outra de Santo Aatonio, ôc algumas h^


Lomba,de^o.viz,i- milias nobres , como em feu lugar diremos. E ainda defta Viíia para o
nhos^& quatro legoas Norte huma legoa, eftá o lugar chamado da Lomba,que confta de quaít
adiame.jkparaoPo- cincoenta fógos , tcrmo dajurifdicçaõ daVilla dasLagens. AdiantCj
eme, efiao lugar da çmíítio legoas para O
Poente , fe fegue outro lugar , que cònfta de duas
Fajã, &
FajanUnha
partes, humachamao aFajanzmha, ou a fajã pequena , outra cha* &
deSo, vizjnhos.
&
maó a Fajã grande , ambas conftaó de oy tenta fogos íugey tos à Ma-
Lagens no eípiritual , & no temporal à dita Villa j & tem mais
triz das
huma Ermida de NoíTa Senhora dos Remédios j & em toda a cofta def*
ta Ilha fe colhe tanto pefcado, que das outras Ilhas vaó a efta fazer gran-
des pefcarias.
10 O interior trado da Ilha das Flores he muyto fragofo de ,

OCertaodaIlhatem muytas, 6c muyto altas rochas grotas & penedias 3 , : pelo Norte ,6c de
mnyta rochedo , & Leite a Sudoeítc , ha muy tas terras lavradias , mas com tanta pedrazi-
delle muytos ventos,
nh^, que atraz de hum arado vaõ três ou quatro ^ enxadas cavando ao ,
Çr as terras de tnv^ 1 j j t j Tir •

tem doHi amos de fo. ^°"go das pedras mayores , de que


tem menos a mais parte da Ilha 3 mas
lha & jõ rende a fete ^^ ^aõ pendurada^ & tão ifífeílada de ventos ,queomoyo defemeadu-
moyos por httm defe- ra não rende mais que a fete moyos de fruto> & demais tem tantos ratos,
meadftra y porern^ os que pondo-fe a aíTar carne ao lume , ha de haver quem allifta com hum
mau frutos fe dao to- p^Q ^^ ^^^ ^^^^ ^^ deiViar & ainda que a terra da quanto lhe femeaô, ;

dos os annos poucos r


n ,
Pajtos.&portfíopoft-V
;
com os erandes ventos nada
^ „
i

v
1

r /y 1
o

r
nr
crefce muyto } & por ííIo a madeyra he
^ ^

''
1

costados, mas ima- muytocheya de nos, & ate da càfca do Cedro fazem cordas, como de
, v , t i ,

meraveis ovelhas, é' efpartoj & a madeyra crefce muyto mais alaftrada pela terra, do que fu-
Vís^ & panos delias. bÍndo ao vento tem pouco gado vacum , por naõ ter muytos paftos , áe
:

ainda poucas cabras, porém tanta ovelha, & delias tantas lãs, que fazem
panos , naõ fo com que fe veftem , mas mandão a outras Ilhas , & em
grande quantidade.
11 Com os muytos picos , & ribeyras naõ andaô carros pela
ET*-- / ... j. r .„". í'iha , nem outras béílas , fenão muy breve caminho i & nem ha nem fe ,

& do mar efia hfttal criao cavallos nella. Ao Sudoeítea huma legoa ainda do mar,& da lebre-
Lameyro, que o pào, dita Villa das Lagens , eílà huma alagoa , que com fer cercada de gran-
oít^anoaejííe chegou^ des róchedos,& cahírcm nellamuytas, & grandes ribeyras, nunca jà-
õtorna perpetua & j^-^^[^ , crcíce, nem abate & pela terra dentro ha hum lameyro, ou brejo,
:

ferfeytamente preto;
í^ csm tudo nenbíir/t
^ ^^^^ ^^^ atraveflados, Dor onde paíía a gente fem fe enlamear j mas
^>-
> , f ^ ^ ^ r 1
4^^^"to dos bordoes que levao entra no lameyro , tanto le torna tao
, ,
pano fahede tal Ilha
'tenaõ cot» a cor da à p^eto , affim por fóra , como atè por dentro , & de hum preto tão fixo,
ieíjHtfojfeyto. & tão firme ,que nem com o tempo fetira, desbota, oudiminuc; &:
fe as meyas ciroulas ou calçoens chegaõ à tal lama , tudo fica , 5c para
, ,

fempre, preto & comtudo nenhum pano fahe daqueíla Ilha com algúa
;

outra cor artificial, fenaó com a natural da lá de quefóy feyto.


12 He efta Ilha das Flores muy fadia,íemexceíro de frio,nera
He atai Ilha ainda átcúmz: tem gadobaftante para fi, muy tos coelhos, & pombas, gal*
muyfadia,com trigo linhas em grande numero & infinidade de borregos i &: o trigo fobejà ,

dejobejo, & todos os


p^^^ ^ gente , porque paíTa de mil moyos cada anno 6c vinho o fuffici- $

matsleg-Ames frutas
^ hortaliças, & frutas com abundância , & detodaacafta &' huma ;
hortaliças eados. & n \ 1 /-1
"^
^1 " Tit \ 1

aves & muytas ma- ^^^^ "^ arvores de fílvas bravas, (de que nao ha em as
.
outras iihas^
<<í;>-«</,,7?/í'/)tf/et;í'fl/o que dao amoras, como ovos de pombas ,& he fruta muyto doce,
gofto-
ftcriaõalaftradat. fa,& de eftima. Por a terra lavradia fcíde pouca altura fobre a pedreyra
,
-
» do

-rr
lasm.

Câp.ill. Do Eçcleriaílíeó,Polltíco,& Militai* dãs Fldr. 48^


do fundo por , o trigo às folhas , de forte que a
iíTo nefta Ilha fe fetiíea

terra, que dà hum anno trigo , fica fem o dar dous annos , & fe cobre de
erva, a que chamaõ Gubres, & de altura atè cinco palmos, & com tantas
flores amarellas por cima 3 que daqui veyo chamarfe a Ilha das FloreSj 'í:i

mas os legumes j & outros frutos íe daò, fem a fementeyra delles aguar-
dar folhasj & menos os Inhames a que o vulgo chama também Cocos^
,

que nafcem como as batatas, & faô muyto íadios , & grande fuftento
da pobreza como o faõ no Fayal , & em a Ilha do Pico nefta Ilha nao
, :

ha milho grolfo, & gaftarlhehia á pouca terra , fe o femeaíTem j & naõ a


gafta o trigo, centeyo, legumes, & outros frutos.
} IX Naõ tem efta Ilha commercio algum com outras Nações; r» - - j* ,// •

& com Fortugal o tem, fo quando la manda de Lisboa o feu Donatário i ^^ hnma vez. m anm
ouCommendador bufcar algum trigo, & outras rendas fuas}& nem cem Portugal, quan-
com as outras Ilhas tem commercio , fenaõ com o Fayal, & com a Ter- '^o /« mAnda bttfçéy
ceyra, & fó defde Março atè Septerabro j & lhes levaõ muytos dos feus ''^i'**^ "'^'' ^ '»"*», '>

panos, & hnhos, & algum gado , & muytas aves j &: voltaõ-fe com algú *"^" '"^ "'^''^'*''
vinhoj azeyte, mel> louças, & adubos , & o dinhcyro que podem. De fal
£firliIy7o7-'*ÀZ
fe provém dos Eftrangeyros, que paífaóafazer aguada, & lhes vendem
rai fa^er agJJda ,*,
ps mantimentos que lhes pedem , mas fem os deyxarem entrar na llha,faK.em do mar &ot' ,

porque nem agua lhes deyxaráõ tomar , & fó com pedras j que das altas "'»» deyxad faltarem
rochas derrubarem abayxo , lhes afFundiráó barcos , &• navios. ^""^^'4^ ^«^ "^fK '"*
Já houve
comtudooccafiaõ (em 25. de Junho de 1587. ha quaíi cento & trinta "^''^ '^^ !-5°' '^^""J*
annos } que cinco navios ínglezes enganadamente entràraõ\ a Viiía das
rflladas^LTT'^''^
Lages, & a faqueàraõ j fugindo os moradores para os matos ; mas atègo-
nemfefte, nfmluer-
ra lhes nào fuccedeo outra , pela vigia que fempre ao diante tiveráo &• ra.nem terremoto, ne :

laem fe fabe de fogo, terremoto,pefte, ou guerra que houveífe nefta Ilha H" f^oavejá mais »

atègora. ,
nefiallha^

CAPITULO IIÍ.

Do governo Ècclefiafiko ^ civil ^ & militar que ha


em m Flores.

tem o Bifpo de Adgraj& conitudo


14 f^
\^J
Ècclefiaftico govef
naô ha memoria
rio
que Bifpo algú aefta Ilha das Fio-
foífe -^ .,, >,

res, fenaó
efle ultimo, que ha dous annos morreoj &: na verdade aiffuma
„i "^pJilfíJhT/Hl
deículpa tmhao os mais , em nunca la irem , por eftar de Angra ferenta/í-ísj paroihos &al.
,

legoas, & de mar & ainda que do Fayal


j j aonde os Bifpos vaó , eftá íògum f^tfnaàol^ c^ttã^
quarenta legoas , faõ comtudo de mar muyto arrifcado, ôc perigofo ^^-àolk vay ; que Bijpo
onde nem ha outra Ilha qUe firva de eílalagem , como ha entre a Ter- "^'"^* '** viraõfinaè
Geyra,& o Fayal;nem nos féis mezes de Septerabro atè Maíço he aquel- '^"'^ ' ^'^
annoi.
^^' ^^
Je mar navegável ; nem nos outros mezes he livre de inimigos coííarios
mas como he mais fácil o mandar , que o ir , fempre fe mandarão Ouvi»
dores,, c^ Viíitadores Eccleíiaftieos , &: fempre fe proverão todas íuas
& de CUpas, & dos fantos oleosj porém nem Bif-
Parochins de Vigários,
po, nem Chrifma virão là em tantos annos, & fem o Sacramento da
Gonfirmaçáo vivèraõ, & morrerão tantos Ghriftáp»,
Ss iij 15 He
486 LivroIX.Disdiverfas Ilhas de Flores, ácCorvô?

i^ He verdade que
além dos ditos Parpchos tem algús Cie*
rigos maisj & Gonfeflbres > & o íbbredito Convçiíto da Ordem Serafim
'A fé piedade, & de-
voçaõ he pftriffima ca, quc naó fó celebraó, mas confeíTaó , & prègaõ j &
atè da Companhia
cmtoda allha (^^í de JESUS, & do Collegio de Angra tem là ido por vezes em miíraôi&
i

|^g muyto de louvar a grande piedadei^c devoção que ha em a dita Ilha,


líTKptz.a dofangue
he

tal, ^ne parece ^h^fta


^"-
^ ^ puteza intadâ da Oivina FéCatholica ,& Romana ,femque algúa
fcr »^^«^-_
/^'^^^f
reS^ofíCorvipítrafer
guma j & nem a commerciar entrarão jàr
hora eiltraffc neila herefia aleun
iLUífímo Ghrifiíto mais
hereges nefta Ilha , nem Mouros , ou Gentiosj nem ainda de fan
Atílio, gue Hebreo ha gente alguma ^ ou de judaifmo infeda , ou que por tal
Santo Officio j
vieffc ao &
aífira parece fe pôde dizer , que os nacuraes

defta Ilha raõjà por iíTolimpilTimos, &


que vencem aos das outras em a
'

limpeza do fangue.
16 Qiianto ao governo civil , também fe naõ fabe que alguma
hora foíielà Corregedor algum 5 mas latem feu Ouvidor , pofto pelo
M avelfè ^ot,^,.«4
fenhorio, &
Donatário da Ilha ,& efte he o que tira os pelouros dos Jui-
efiaHhÀ peís jem
Sthaâos, & Ouvidor zes Ordinários, Vereadores5& mais Oíficiaes das Cameras das duas Vil-
qki tsm, &peU YA- j^s, Santa Cruz , &
Lages j,& em tudo fe governaó pela Ordenação de
iaòtimird, qm héo Portugal » como legitimos i ^
verdadeyros Portuguezes i os lugares &
pri»^^''^^^^^^'"^*'
m^yoíes por feus Juizes pedanèoâ, com recurfo de tudo ao Ouvidorj
^cine^edor
^ ^^^^ ^^'^^^ ^^ governaó muyto conforme ao direyto natural , fem in-
Sim
juftiças, ou trapaças, & fem crimes, ou íurtos , ou injurias , mas em paz,
foyJaatè ama.
,^
"*
&
quietaçaõi que fe houve Republica que naõ quiz admittir Médicos*
'
para fe viver mais, & melhor nella jcom mais razaõ naõ admittiria tan-
ta cafta de Solicitadores, Efcriváes,& Advogados, & ainda de Juizes;&:
com menos papeladas , & com menos repetição de palavras j fe julgaria
, melhor, & fe gaitaria menos.
17 E quanto ao governo militar, governa-fe eíia Ilha pelos
íeus dous Capitães mores das ditas duas Villas, fem hum fer fugeyto ao
No militar fegcver- outro , nem haver lá quem fobre elles riiande * mas cada hum fobre os
«apelos fem Capitães
particulares Capitães dâs Companhias , que governaó aos feus Alferes,
wom, & *mais CaboSi ôc quando, he neceííario, fe unem
&f''^2Z!2 & eftes aos Sargentos,
aos Capitães, Qr mau ^ , & •
r r \í
cffictJs; mu dt For-
todos pcla mutua dependência que entre li tem , para le eonlefvarem a
taUz.as\ oft peças de fi, & ao feU ; & com tudo nap ha em efta Ilha Fortaleza algúa
de folda-
artelharia nada tem, defca paga^ & pcças de artelhariaj mas fó efpada, & adaga j lança , & al-

[ena5 rochas,&pene- g^jg arcabuzes, ao eftylo de Portugal antigo ; & as mais armas, com que
dos , 9«í df cima af ^-^^^ ^ brutos nunca falta de todo a natureza ; & aflím tem os mais ím-
^^'"^',f^T''f 2 penetráveis
r muros nas fuás rochas ao marj aartelharia mais horrenda
teme pada, adaga, Qr ^ l u 1 "
lança, & areaàz.es, nos peUedos, que pelas altas rochas lançao abayxo^ que nem ha galeoesj
que os aturem , nem outro reparo delles , mais que fomente o fugirlhes*
que he o que os da Ilha querem.
18 Se ainda alguém diííer j que melhor feria a efta Ilha ter húa
fó cabeça qUe governafle a mílicia'j & armas de toda a Ilha , & naõ duas
cabeças, que dem mais cabeçadas, &c.jà a experiência tem moftradoo
contrario, & ainda a natureza ; pois o mefmo corpo humano , pofto que
tem huma fó cabeça, hepara nUnca ter cabeça alhea , oU eftrangeyra
que lhe encontraffe a própria , & lhe inficionaíTc o corpo ; & comtudo:
olhos próprios tem dous, ( k naõ hum fó } os quaes fendo próprios , fe
unem fempre, para vigiar , &; defendei" próprio corpo i & fe eft ranhos,
foíTemj

TT
Cif. IT. Da quâliáiâde dos qae j^ovoàraSâS floicl, 4I7 lE'!

naõ kunimê. Experiência remos naõ fó e^n a Ilha da Madey ra


foíteíít,,

sonde; df Governadores , que naõ fítõ dallhâ,cem ido alguns pobres fi.-.

dalgos , & fó a encherfe à fi, & a defpejar , & afronCâí a Ilha j o que naõ
faríaô» íe foffeíH os próprios DonataçÍQsdella>ou os feus proprios,& na-
to raesScííadoSj Capitães mòresj&e, o que ainda melíior fe experimenf^
ta m ilha Terccyra, aonde huma fó cabeça de fora da Ilha, & eítrangcy-^
ros comel;k>(eomoo Gonde Dom Manoel da Silva , com Francezes}
perdèfaõi& entregarão alIhaaCaftella, defempaiando aefenhorD.
Antooio & quando dous Capitães mores da meíiiía Ilha , a defendia®
:

como aeoyía fua j naóíó a defenderão em viva guerra de hum anno in^
teyro,mâs elles íós com os feus Jlbèos renderão ao fatal Caftello de
Angra> & fugeytàraç as Ilhas ao feliçiflimo Rey Dom Joaõ o IV. logo
naõ be melhor o tal governo de huma fó cabeça j quaíi eftrangeyra, Sc
que fó trata de fi , do que o de duas cabeças naturaes , que igualmente a i», {

ÍÍ5 do que aos íeus defendem ^ & aífim fe governarão eftas Ilhas fempre

bem, como também a das Flores.

G A P I T U L O IV.

Da qualidade , oti mhreza dasfami/m que povoa-


rão as f/ores.

?9
NO a
cap. I .

primeyra vez fe
deáe Uvro diífemoS jà , naó conftar de quandei
9.
defcubrio efta Ilha das Flores , ou poç
M
^uem nem j de quando , ou por quem a primeyra vez fe povoou pais j

no erudito * & antigo Fruífeuófo , em o feu li-O. 6, faltaó os capittilos 45.


&: 46. que difto tratavaó : & comtudo ainda hoje ha tradição
que huns ,

dos primeyros Povoadores foraò dous Caftelhanos , chamados hunij ,

Antaõ Vaz, Sc outro Lopo Vaz, que de Gaftella vieraõ a efta Ilha, (Sc
tal vez copi licença de Portugal } o que confirma Fruduofo quando y
:

depois nomeando a gente nobre, que ha na Villa de Santa Cruz, nomeá


fentre outros os que ufavaõ do appellido deVaZjque he appellido patro-
liimicojtomado do AfcendentCjComo o de Gonçalves do pay Gonçalo,©
de Alvares de Álvaro, o de Martins de MartinhojFernandes de Fernan-
dOjRodriguez de RodrigOj&c. aílim o appellido Vaz deVafco, do qual
fe toma o de Vafques; & ainda que eftes appcllidos patronimicos,toma-
dospcríí fós faõ indiíFerentes para mais, ou menos nobreza denotarem,
quando comtudo entre outros de conhecida nobreza fe apontaõ , (co'
mo aqui faz Frufltuofo ) mefmo fuppoem-íe nobiliífimos.Po- Primeym Pot^oaãò-
por iífo
tèm ainda deftes Caftelhanos ( por mais nobres que foíTem ) naõ conf- res da llhadasFlorei
ta ferem os primeyros povoadores, mas quejàailha fe começava apo-/*'/' pode julgar ^uè
voar, & tal vez (conlo veremos qUandó da Ilha do Corvo) por Portu-/*"*'»^^'"''^^»^?-"^'»^
guezesdaé outras Ilhas jàdefcubertaSj que por aquellcs mares andavaõ °^f^^^^^^^^-
Gontiniíamente. ,

2Q Dos íégiindos pois Povoadores da ílha das Flores , & dos


niais nobres, foy aquelíe fidalgo Flamengo , chamado Guilhefme Vaií-
dàraga, 113 língua FUmeiiga j ou lía Pgrtuguçza Guilheirflíi? 4.4 Sily ey- i,

0i
Éttái^

Livro IX. Das diVeríâs Ilhas de flores, k Corvo^


ra, de que jà faliàmos no liv. 8. cap. 3. &
4. & no liv. 9. cap. 1 o qual era .

neto de hum Gonde 3 natural de Bruges, &


muyto rico em Flandres, ôc
por o quererem là metter em humainjufta guerra que havia entre po-
derofos Chrift;áos,elle como naó menos jufto, & bom Chriftaõ , do que
fidalgo, fe fahio de Flandres, &
V€yo à Ilha do Èayal, &
paflados algús
aiinos, fe foy do Fayal à Ilha Terceyra,& defta depois tornando a Flan-
dres, èc voltando por Lisboa, foy nella convidado de húa fenhora Do*
nataria da Ilha das Flores que lha quizcíTe vir povoar ,
,
governar , & &
que fó lhe pagaria os direytos de Donatária acey tou por entaõ efte fi*
:

dalgo j & voltando também pela Terceyra , delia mudou fua cafa para
as Flores t & jà depois do anno de 1460. & logo là junto à ribeyra dé
Santa Cruz edificou humas cafas bem lavradas , que Fru£tuofo affirma
exiílirem ainda em feu tempo 6c fazendo o fidalgo por fete annos con-
:

tinuas experiências da terra da Ilha das Flores, por fim fe defenganouj


$c adeyxou paíTando-fe ao Topo da Ilha de Saó Jorge , como jà coca-
mos, quando da tal Ilha efcrevemos.

Os Uai os Síheyras
^^ ' &
^^^^ fidalgo Silveyra , no tocante à Ilha das Flores , o
foraõdfpoisà tal /-
qucconfta he,que foy o primeyro Governador da tal Ilha, & feu VicQ-
lh(i\ & a deixarão; donatário, & hum dos priméyrcs , & mais
nobres Povoadores delia , Sc
é" entaõ for Aõ os ne- que porfete annos , ou mais a efleve povoando mas naó conílaque do;

hres Piwenteú, Car- ^^i Silvêyrâ entaòdefcendente algum ficaíTe nadita Ilha ; íalvo depois*

7ul''ca^'*'/^''^^
deUos, Cojtas, &g.
& dos filhos, & filhas que cafáraô em as outras Ilhas , foíTe algum def-
^^^^^j^^q p^j.^ ^g Flores , como acontecer podia. Povoadores outros da
princi|paí Villa Santa Cruz ( confeíTa Fruáuofo em õ feit Uv. 6. càp. 46.
na parte que ficou delle) foraó homés fidalgos , chamados Pimenteis,
Carneyros, Frágoas , ou Fragas , Cordellos , & Cortas. E mais abayxo
diz o mefmo Fru£tuofo , que no lugar chamado Saó Pedro * & na Villa
das Lages ha gente nobre , como Pimenteis , Honiés , Cofias , Fernan^
'

úesj Vazes, Vieyras, &c. &


dos mais defles appellidos referimos em vá-
rios lugares fua antiga nobrèzaj de algús outros diremos agora.
22 &
A antiga, nobre família dos appellidos de Vaz Homemi
Cofta, & Vieyra
vèyo do Rêyno de Portugal a eftas Ilhas j o que pri-
,

meyro veyofe chamava joaó Vaz Homemj& foy pay de Gonçalo Vasí
Bamhre, <^ '»«^'Ç» .Homem, qite caiou muyto nobremente em a Ilha de Saõ Miguel cora
^g"^^^^^"^^^°'°"'^''^y*"^' ^^5 Colombreyros,&CoftaSi & dotal
{T]V/jr
t az. ornem.
fnatrimonio naíceo Breytiz Homem dá Cofta que cafou com Mem ,

Rodriguez de Saõ Payo pay de Eftevaõ de Sâô Payo & teve mais a
,
3

D. Antónia da Silva, que cafou com Manoel do Canto & Cafl:ro , o pri-
meyro do nome & pay de joaõ do Canto de Caftro dos quaes fidal-
, ,

gos jà falíamos nos Cantos & Caflros da Ilha Terceyra.


23 Dopriméyrojoaõ Vaz Homem nafceo mais o fegundofi-
Ignes Vieyra , & deftes nafceo^
n -.0 le aimtk l^o Joaó Vaz Homem que cafou com ,

raVo^FraL Pime'- Catharina Antunes Vieyra , que de feu marido


Diogo Pimentel teve á
teiídallhfdaíFlortf, Balthefar Pimentel Homem, êcefle foy o que cafouem
allhadasFlo-
cow os rieyrM á^ rescom Agueda Fernandez;& deftes naõfó nafceo Martha Pimentel
,

Mell-^s fidalgos da Homem, que cáfou na dita Ilha com BartholomeU de Fraga
,
mas tam- ,

Teruj,ra,&Gr»eio.
bem nafceo Diogo Pimentel, que foy pay de outro Balthefar Pimentel,
-''*'
a que chamavaõ o Corcovado & nafceo mais terceyro Balthefar Pi-
-,

mentel

-rr-
I
Gap.lV. Conclue.fe com â Uhâ chamacla Flof esf. 48^
mcntcl de Fraga , de que ha mais defceiídencia na Ilha das Flores > &
duas íuas irmãs^ que das Flores vieraõ fer Freyras no Convento de Saó
Gonçalo de Angra j donde bem fc vèa riqueza , limpeza , & antiga no-
breza deftes Pimenteis, Fragas, Coftas, Horaés , & Vieyras , & antigo$
Vazes, que houve, & ha ainda na tal Ilha das Flores.
24, Daquellc outro Balthefar Pimentel, fegundo do nome,naf-
eco Chriftovaõ Pimentel, que das Flores fe paíTou a Angra, & nefta ca*
foucom huma fidalga chamada D. Luiza de Mello , filha de D.Pedro
Ortiz de Mello , fidalgo da cafa de S.Mageftade,& que era Alferes mòt
do grande Caftallo de Angra por Felippe II. & como acfte tinha fido
fidelífli mo , aílimi depois , ôc fempre o foy ao inviíto Senhor D. Joaó o

IV. & do tal cafamento nafceo D. Pedro de Mello Pimentel , que além
da antiga nobreza de feu pay , & avós paternos , tem a ilkiftre geração
do dito feu avò materno, por quem he parente confanguineo de toda a
major nobreza, & fidalguia da Terceyra, & da Graciofa , pelos Mellos
defta , de que jà tratámos longamente , quando das ditas Ilhas & cora -,
I:' ;1

tanta verdade, que debayxo de juramento oteftificou aífim , quem ifto


efcreve, na Real inquirição que ElRcy mandou tirar juridicamente, pa*
ra dar o fílhamento de fua cafa R.eal ao dito D. Pedro de Mello Pimen-
tel. E por hora bafte o tocar fomente cfta matéria ,pois nos chama jà a

ultima Ilha, chamada. Corvo.

CAPITULO V.
Da Ilha quejôfe chanm o Corva*
^(tajítrej hgoitídÀ

*5 T^ ^ quarenta gràos de & ao Nornoroeíle áa (ohreâi- Jobredita Ilha dat


altura,

li ta Ilha das Flores, & fó três legoas delia, & de Lefte a Oef- H«m & aoNom
,

^I^^"/^*-
te das Berleneas de Portugal , eftà outra Ilha , que he a nona das nove '^'fi'* ^l"
l ereeyras , & a que piizerao o nome de Corvo , ou por nella acharem ^^-. ^^^z-^j, „„ J^ ^
^
os primeyros feus defcubridores algum Corvo , como ajuiza o erudito ^^ pigygj ^ gj}^ g^
Tni^iioíolw. 6. cap. 48. ou por lhes reprcfentar à primeyra vifta a figu- ^^. gràos de alturai
rade hum Corvo ; fendo que he quafi redonda na figura, & tem hoãs ter» mau de duodU.
duas legoas de comprimento , legoa & mcya de largura , & mais de qxia.-g'"^ de cumprimento,
tro legoas de circumferencia he porém muyto alta , & de muyto altas ^"' ^^'^^ ^ ^*^^
^^
-,

rochas para o mar. De feus defcubridores , &: habitadores fe diz que fo-
^^^^l cirxuito Sto*
raõ da geração dos Fragas, & Furtados o que parece certo he , que fo-^^ ^^ ahijÇmtu ro-
:

raô puros Portuguezes , & que da Ilha das Flores a defcubriraõ , &: fo* chuspara o mat ^' ,

raõ povoar, como a taô vizinha Ilha,& por iífo fe tem por coufa fem du- das nove 7 erceyrai
vida que foy a nona, &ultima que fe defcubrio. f")'* »l»ma, que fé

26 E com fer das ditas nove Ilhas, tem dentro cm íi duas cou-'^^/^^^''"'*
fas de rara, & fingular admiração. A primeyra he , que naõ fe achando
na tal Ilha final, ou indicio de gente humana, âchouíe comtudo em hCia Chama-fe tántbímÁ
alta rocha , que cahe fohre o mar, & em húa grande lagem , taõ fatal , &
J^^a do Marco , fóf^

grande eftatua de pedra, que confta de hum cavallo em oíío & de hu ^«'7*'» haver Jtnát
,

homem veftido, &: pofto no cavallo , com a maô efquerda


^ 41 i
pegando4he .^TJLTJhá.tf
n i-í - • j,^ terhuvido alííi<the»
'

na coma , & o \ li-


com'o braço direyto eítendido , U encolhidos os mais de- ^^^g„^^ kamaná , é^

^^^g^i^^í^^JI^J
4^0 tíVto ÍX. Das diverfas Illiâs de Fíores, 8c éorvo,'

dedo indice, com que eftà apontando para o Poente , §è


dos, excepto o
íffdoem hna alta ro- mais direytamente para o Noroelíe. Efte o invento , & Marco alto de .

"' ^"^ faliando Damiaó de Góes diz


tlr rf 7rr^'^'* ( fallando da tal Ilha do Corvo } que
7evànta7a Tíia^fa^^l'^'^^
^^^ ^^ mareantes lhe chamaò a Ilha do Marco, porque daili íe
«ftatua de'pedra,aue
demarcaõ em demanda das mais Ilhas & o noíTo Fruauofo diz que al-
:

to»/** íí<?;í;«f<íW/5, gunsafíirmaó que atai eftatua aponta para outra Ilha ainda encuberta,
& hu cavallejro em & chamada Garfa , que fica naquella direytura do Noroefte & que do ,

ctma myJhriofamen.^oT[tç, da Terceyra, &


no veraò fe vè também a meínia Garfa,& na mef-
u af ornando, &e. ^^ ^j^j-ey tura ao Noroeíle. E conclue Fruduofo com eftas palavras
Eu :

âijlo nao âigo mau ,fenao que he htía anttgualha mtiyto notável , &€. E nòs
pelo que fefegue, conjecturaremos algúa coufa.
27 A íegunda ainda mais admirável, Scprodigiofa coufa he,
que no mais alto defta Ilha eftà hum profundo valle ,ou caldeyra , que
"Achou fo mais no em bayxo tem terra de deus moyos de femeadura , & huma grande ala-
mep da Ilha híipro- goa de agua doce , & nella le vem fete llhèos pequenos apartados huns ,

fmdov^ílle
^ nslle |[os outros, em o mefmo rumo cada hum, em que naquelle Oceano eftaô
,

âs outras fete Ilhas Tercevras, que com eftas duas de Flores , & Corva
**
uf Iiheos,emtalru-
jete vuF^ . I '

f. ,'ri ji a tjivji"
mo,diflmcia,&arã' wzem novcj & reparando-le bem, cada hum dos taes líneos da augoa
dez.ajeparadas entre cftà moftrando para que parte fica cada huma das outras ÍQtt Ilhas , 6c-
fi,(jHeefiAõ reprefen. quaes ménos diftantes entre fi j & quaes mayores , quaes menores co- ,

tando propriamete oi mo fe foíTem eftes llhèos de tal alagoa hum mappa & natural carta de ,

mtrasfetejl}}as,&a.
marear para aquellas Hhas todas. Daqui pois parece , podemos conie-
cturar , que aííim como o mappa , ou carta dos llhèos delta alagoa nao
^g ,

he obra de algum antigo Aftrologo, ou Piloto iníigne, mas fó da Divina


Intelligencia, & Providencia, ( pois por iíTo fe diz que obra da natu-
^Hiz.oeiueformaràe.
y^^a he obra de intelligencia ) affim também aquella fatal eftatua do
vemos da ^^*'«'*
^ Cavallevro apontadGrdeoutrasIlhas,foyobra do mefmo Authorda
Providencia , &oc
fultoí jftiz,eí Divi natureza, &
Proviíor Divino, que lemprc acode a luas creaturas, por &
MS. aquelles meyos que he fervido, para que lhos agradeçamos fempre.
Gom
razaÕ os mareantes charaàraõ aefta Ilha o Marct^'
28
porque nella lho poz Dcos , para que os defgarrados por taó vafto O-
ceano , allifoíTem tomar feu caminho verdadeyro, como fazem as nàos
Do zelo do bem com- das índias de Caftella , as da índia Oriental ,&as mais , ainda de Ef* &
pmm ,com ijue oí, la &fe refazem de aguada, porque além daquellaalageado-
trangeyros,
^^r/íáorfí deftaJiha,^
^g ^ ^ z\hm de huma grande fonte , que os pobres moradores defla Ilha
^ aíodo o cm/Io " trouxeraõ ,
de muyto longe, &: cortando para iíTo huma ferra, (coufa que
/proverão de agua
vemos naô fazem os Cortefaõs de huma Corte falta de agua) além de
tudo ifto a Divina Providencia acodio , & para os navegantes que paf-
faó, com huríia grande fonte que fahe fobre o mar , & debayxo de húa
,

alta rocha, donde fe provem os navegantes quepaíTaõ & aíTim repre- ;

hende Deos aos que naô fabem gaftar com o bem commum, mas íó com
feus appétites, & particulares conveniências.
Tem ejla Ilha dom ^9 He efta Ilha pois, em
, taÔ continuada
fua circumferencia
pertos hUparaoNor- em altas
rochas , que fó tem dous pórtos> hum da banda do Norte, eftá
te^antro aOesnoyoej. quarto de legoa do lugar, & povoação da Ilha ^^ debayxo dafobredi-
te,& tudo mau hg de fa rocha aonde fahe aquella fonte para aguada dos navios mais direy-
, ,

rocha* alttjfmoí.
fo ^ Les-Nordefte outro a Oefnoroefte , a efte chamaõ o Pefquey-
; &
roalto, ôcaoprimeyroo PortodaGafai& toda a mais coftada Ilha he
de
Í$ étiMmm roíehaíS, fem outj-o porto âlgúra ^ njem f^bida> i?em ^f*
cida.

..AJif;
Ç A P I T U t Ô VI, l;f.

P$4imo hgarjunto ,reníiime0o$j &frutos 4^f-

,|0 |*~v Povo do Corvo j em ttiuycos àí>n<^ , era hum lugar de


trinta vizinhos , ou fogos juntos* Jav radores , & paftores, Os *»*''^r'''f *^*
ttlèra de poucos roais , efpalhados pela Ilha , Sc efteve o tal lugar muy- 'I^^^J'^,iil^ i^.
íps tempos fera Parocho algum, fugey to porém ao Vigário daVilla f^^âipoí'mfi7tos,&
éeSaiita;Cruz,da vizinha Ilha grande das Flores, & nem efte Parocho ^^^^^^ amos defi ,

faia ao tal Corvo, fenaõ pela Qiiarefma a confeflalloSi & nem pela Qua- trintavi^inhes
jiítos^

refma hia em alguns annos, pela diftancia de trcs legoas de mar , & tem- é-femParocho algi,
pellades delle > donde fe vè o defemparo em que tantos annos efteve ef- fJ^Tç
^ZtelL
te povo como efcreve o citado Fruduofo , qiie eftava ainda em ^^^ ^^^J^^talllr & Jin^
, -i

tempo & que nem do Corvo havia barco para as Flores mas que das ^^ bígamas Ouartf,
j ,

Flores hiaô là ao Corvo , quando defte faziaó final por barco, como do f^^náSpedU làf^f.
Pico ao Fayal para o commercio humanOj& nem ainda entaó para o Di- jair.
yino hia Sacerdote algum > & fofria Deos taes omiíTcês dos homés!
31 Atè que chegou a gente do Corvo â augmentarfe tanto^ ^^ hojèpõrèm ww/j
que ólj.igâfie trinta vizinhos paíTa jade cento & pnze,&jà (gvâçãsa opevojuntede m.
Deos ) fe lhe acodio com Parocho próprio , & algú outro Clérigo Pref- vidnh9s,& ti igreja
&
refidentes fempre, mas reconhecendo fempre a Villa de San- ^'
^- ^- ^//"'"'^
bytero , f
ta Cruz das Flores como a fua Matriz ; Ôctem o lugar do Corvo lua
^^^^^^C Irrigo maié;&
limpa igreja, & da invocação de NoíTa Senhora do Rofario , que jà ho- ^/^ grunde Contpa-
Jeobra muytos milagres. Em o civil fe governa efte povo por feu Juiz „hia, &feu Capitão^
pedanéo 5 &leys de Portugal & no militar por hum Capitão, écfua é^tm peçoide ane-
:

grande Companhia, & mais officiaes delia &: por onde pôde haveren- Iharia^á taipromp.
;

tradâ íiefte lugar, tem muro alto, & três peças de attelharia , em tal fór- ^'^^ ?"* ^
levaopara

ma promptas, queas levaõ , quando querem, para onde faô neceííarias. "J^^^ '/«X*^^ J^kí/X
^2 &
Coza eftailha ds muytos , excellentes frutos, do ^^^^i goverr.aopeloi Uys dí
M
&
do ar, (k terra : do mar he abundantiífima de peyxe,Sr do melhoi-, co- Pormgal , do a/à &
piojàdiffemosdas Flores. Das aves doar ainda he mais abundante,por- daraz.40i

que alem de muytos paíTaros que Vem de fora , na Ilha fe cria infinida-
de de hCis quechamaóAngelitos, do tamanho deTintilhões outros tíesfia JlLifu-tinf- $

fiue chamaô Bouros 6c faõ como pombas & oUtros que chamaô ^Çt^J^'*^naõfó
do melhor
, -,

iJágados.Dos Angelitos hum cento dao huma canada de azeyte , ^^^„gs^s!hores da terJ
bom como de oliveyra, ainda para temperar & comer , & naô os co- ^^ moitAmbem de
,
^

Ihem fenaõ em Julho, Agofto, & Septembro dos Boiíros tiraõ também tanttu, & taõ extra-
:

muyto, & igualmente bom azcyre de comef , &^ carne he taõ boa , 6C ordinárias atiss dá
melhor que a de gallinha Sc os Eftapagados deytaó o mefmo , & muy- ^^^'}»e dejlrn tirão a-
:

z.tytetaoperfepo to-
to, & excelleiite àzevte pela boca , de forte que fazem pipas de azeyte
j /i rr o r X
^ j j - w moodatolivewaij&
1
deftes paílaros 6c iao tantos, que barcos carregados delles mandão pá- ^^
1 1
'
.^
-,
^^^^^
raas Flores jinas Cambem tem grande Vigia queíenaó cacem nos me- ^^//^ mandAd piptti
Éses em^jiaeGriaõ^ por naõ os definharem , poif. delles tcitl azeyte atè ^i^ para fira.

m
49tí Livro IX. Das diverfas Ilhas de Flores, & C oirvor
rà o prato , a carne para o nielhor fuftento, a pcnna para as camas , &: atê
a grayxa para tempera dos panos.
-
33 Da terra hejttiais frutífera efta Ilha do Corvo, porque a ter«
'A urra he mais fer-
ra delia he muy to mais alta & mais funda febre as radicaes pedreyras,
,
tii^por ter muyte ma'
calhàos, do que a terra da Ilha das Flores, & por iíTo he mais forte ôc
yorfnndo terreno :dà &
,

150. meyet de trigo mais fértil, & allim fem a deyxarem defcanfar
com folhas annuaes fe
, ,

além de eenteyo # femèa a mefmá tefra cada anno, & fó de trigo, com fer taó pequena Ilha,
,

cevada & legumes. dà coufa de cento & cincoeiità moyos cada anno além do eenteyo &:
, , ,
Tem grandes pajlos^ cevada dà muyto linho, & legumes, de favas, batatas, lentilhas, & hor-
j
mttytos gados
íteyres , tvelhof
, car'
,
é"
taliça de toda à tíafta} &da banda do Nordefte fe fêmea toda a terra : &
j^allinhas^&ate muy- por & de bons paftos, d à muyto gado vacúm,ovelhum,
fer terra grofla,
tos^ & bõs cavallos^ câbrtim,& muytos porcos, & grande numero de gallinhas
de toda a ca-
grandes madeyroá^í^ fta,& atècria muytas egoas,de quefahem taõ bõs cavallos, que muyto»
«xeeUeníes Cedros, de là tem vindo para Portugal. He a Ilha abundantiffima de lenha,& de
muytos, & melhores Cedros do que os das Florcsj & naõ fe fabequecf-i
ta Ilha foíTe algiia hora entrada, ou faqueada de inimigos. ,
i

-
34 Nunca houve ncfta Ilha ar corrupto, ou pefte, nem guer*
íá, oii fome, mas fó muyto vento naõ ha bicho algum nocivo, nem ain- :
'\\»f \:.

Tefl^e,fõmt,i)itg(íer' da hum fó rato, & tem homés


deofficioefpecialdeVifitadores dos ra-
ra nunca nefia Ilha tos, que a roda a embarcação que vem das Flores , ou de alguma outra
,

houve, nem bicha.ai'. parte , vaô primeyro vifitar , fe traz rato algum , & naõ entra a embar*
gií nocivo ^nem ainda
caçaò fem primeyro o matarem ; mas também naõ ha em efta Ilha coe-
raso algií^ ^ temfa-
lho algum> porém gatos muytos, & naó nocivos.
íags vigiai para de
fora nao vir-^mat tenf
mKyto.( gatos matifos
& nenha coelho.
^
C A PI T UX O VIL
Dos DonatartQS , & trato âeftas duas Ilhas Corvo,
& F/ores.
Primeyra peíTba que fe fabe tiveíle a Capitania Donatária
35 A
A Capitania Dona- r\
deftas duas Ilhas , que Jempreandàraõ unidas , foy húa fe-
tária de amba» ejloi nhora moradora em Lisboa & chamada D. Maria de Vilhena , que fez ,

duoí Ilhoi teve a an- feu lugar-tenente & Governador de ambas as Ilhas a aquelle fidalgo
,
tiga fidalga AeLisboa
Flamengo Guilherme da Silveyra , de que falíamos no/^x'. 8. cap.^.&c
jD. Aí^^nade Ftlhe-
da dita fcnhora veyo a tal Capitania aos excellentes Condes de S. Cruz,
na^dr emfeu lugar lU

govem^v^ o fidalgo que a tem com a mefraajnrifdicçaô que os Capitães das outras IIhas,ôc
Gmlherme daSilvey- fe diz que demais tem a cafa de Santa Cruz em eftas duas Ilhas o fer
ra dffc^s v yo aos Commendador delias ,
; ter os dizimos de ambas , &
naõ fó a redizima &
'E'Xcr!kni!JJiwos Cõ- de Capiráes Donatários & jà em tempo de Fruduofo , ha mais de cen-
:

àes deS.CrHZ., & fe


to & vinte annos, andava a Ilha do Corvo arrendada em trezentos &.
diz. (jue tem também

a Commenda^ (jr di-


cincoenta mil reis,& hoje renderá mais de dobradpjS: a Ilha das Flores
z.imòs de arrtbai com renderia entaÔ cinco vezes mais i& hoje dez vezes mais. Efe o titulo
'muyto grande renda, de Conde de Santa Cruz hedaquella principal Villa, Santa Cruz da
yejaõ ijuanto dtve dita Ilha das
li.1
Flores , cu fe he de outra algua do mefmo nome , ifto con-
acoiir í^o provi}:icn-
ftarà das Doações, & mercês Reaes-
to Ecclffiaflico ÊT
defcía dfftoi Ilhas
,
36
,
'

O
trato de ambas eftas duas Ilhas he de fidelillimo?
Catholicos Romanos em. tudo ^ o que he muyto de louvar na Ilha do
fíZ Cor-
tía|^. VILDo trato dás de FIòrès,â^ CórVò,<fc feus Dòh. 4§j
Corvo j que taatosannos nem hum Pairocho tevê ,ncrh hum fímplez
Sacerdote reíidente & comtudo nunca fe efquccèraÔ da verdadeyra a Fe Dtvwa
,
~
&%
doutrina Ghriílãa : & em ambas eftas Ilhas laõ todos os moradores pu- Real mnca , fe aite.

ramente Porcuguezes , & fempre fieis à Coroa Liifitana & , rienhãâ lin- ronemedas ^^^^'^
fíua ufáraõ ià mais , nem outros trajes fenaô os dos antigos Portugiiezesi ^J'*^/ \^T-Í'
'
1!l
í^ue conleryao ainda , aíum homes , como mulheres , deltas as &
que lao figpoftH^alam?o\ai
Javradoras , trabalhão mais que os homés , ainda no cultivar das tcrrasi pefooífaõ de alta* */-
além dos muy tos panos de linhos, Sc lans que fabricaô porém a nénhus taturM cores alv^,
; ,

daô fcnaõ a cor que a natureza lhes deo j &: affim os veftem , fem admit- feyçõfi has.
tirem mais , exceptas as pcffoas que naõ trabalhão dé mãos , 6c fó man»
daõ trabalhar &í todos os deftas duas Ilhas faõ bem apeíToados i altas ef-
j

taturas, cores alvas, &c boas feyçóes. ?

37 Mas porque os ventos em taes Ilhas faô niuytois $ fiírio- &


fos, naõ ufaõ de caías altas, &
de fobrado , mas de terreyras fomente , Sc
mais feguras, &fortes , &
affás grandes ; &
porque nunca ufáraÕ de fa-
zer de barro louça , ou telha , mas eftas lhes vaõ das outras Ilhas , fó aS
Igrejas faõ cubertas de telha, &
algumas cafâs de alguns dos nobres , &
ãs mais faô cubertas de palha fobre teftos de madeyra , mas palha tam
bem atada & taõ fegura , qité nem ao refguardo , nem à limpeza j neni
,

ao aceyo faz a telha falta algurna j & como eni eftas duas Ilhas fe naõ fa-
be haver nellàs terremoto, ou fahir fogo algum da terra , faô ainda mais
feguras as ditas cafas.
38 E daqui vem que quando deftas duas Ilhas vay caravelaõ à
Ilha Terceyra, &
carregado de muytos panos, linhos, meyas, &
muytas AcÀndara^vèrâAàél
gallinhas ,& carneyros,osque vaóa vender ifto, como faõ gente ^\t- (^ medo de contratar
bea , pafmaó de verem tantas cafarias , &: taõ altas , & naõ coftumaõ an- hefideitffinio; que &
dar fenaõ pelo meyo das ruas í que faõ muyto largas j & perguntados-, »'/<'^W^^í'»^íí"»:
refpondem que o fazem, por lhes naõ cahir alguma cafa na cabeça ; & fe »'J'^^J^J'^<^^^o »«>
*

das cafas os chamaó , & mandaõ íubir acima > naõ âcabaò comfígo de O ' ^
fazer, 6c refpondem logo. Trepar jijjo nae ; ôc não fe fiaõ de efcada , poí
mais Regia que ellafeja^ & aílim he neceííario mandar abayxo com-
prarlhes o que trazem 6c faõ taõ verdadeyros , & fmceros nos contra-
j

tos, que nem faltarem à verdade nem dizerem huma mentira , fe acha
,

neiles; 6c mais ufaó de permutações, do que de compras, 6c vendas, dan-


do as coufas que trazem por outras que querem como por louças , pof
5

aíTucar ^ 6c outras efpeciarias j 6c algum vinho que leváo , & muyto em


efpecial por roupas de vivas cores ) como vermelhas, 6c com tal candu-
ra, que por huma cinta vermelha , por huma vara de Vereador , ou Al^ i

motacel^daõ muytas vezes dobrado valor, em o que trazera36c não po-


deràó deyxarde fer por Deos muyto caftigados os que enganaõ a tal a capacidade, (^fà-
gentCj fendo que jà hoje faõ mais acautelados , mas nunca tanto , que fua do dos eíjgenhos,he de
cautela vença a malicia oppofta. diamantes ainda nao

Gom efta fiilceridade,Sc candura da plebe deftas duas Ilhas Uwadpmm no$ ef.
39
fe ajunta hiíma capacidade de diícriçaõ ,6cjuizotal, que verdadeyra- "''^''•'r./^'''V''"'
,r ..íji 1 /-^r
A-\deviioa/mns,&em
mente parecem huns diamantes , ainda nao lavrados ou {_ como le aiz j ^^ j^^p^gs de Coim-
-,

diamantes brutos , que fe os lavraõ , 6c conhecem , fahém em eíFeytos de ^^^ aonde ja vitraõ,
ínos diamantes. Experimentey ifto ha quaíi ciricoenta annos , lendo no compouco lavor fahS
Colíegiode Angra latinidade; & indo das Flores a começar a aprender /«eí diamames.
Té aiin-

mmM g^
4^4 LiVro IX.Das Ilhas que de aovo fe podem defcubrírí
a linguà Latina kim mancebo jà com mais de vinte dousannos,ein &
n!|
breve moftrou fer diamante taó fino , &
de tal fundo , que dentro de fó
&
o primcyro anno fc fez perfeyto Grammatico , no fegundo anno con»
ftruhia perfeytamente qualquer livro latino , &
alcançou cabal noticia
da Poefia, &
Khetorica, &
fe lhe conferirão logo as Ordens, atè de
Mif-
&foy hum muyto grave, Sc douto Parocho. Experimentey tam*
fa,

bem j lendo jà cadeyras grandes em o Real Collegio de Coimbra , ha


quafiquareata annos, que indo àquella Univeríidade outro mancebo
das Ilhas do Corvo , Ôc Flores, ^
eftudando Direyto Canónico, fahio
nelle com tal louvor de todos approvado , que defejando eu faber,
que,
& donde era, achey que naõ fó era natural das ditas ilhas , mas que era o
primeyro que das Ilhas do Corvo,& Flores fora eftudar a Coimbra,con-
fórme aos livros da Matricula daquella infígne Univerfidade: donde
venho a concluir, que aííim como là dizia o Poeta militar g^ue ejiaôpof :

fffes monturos ipeytos que podemfermr defortes muros j aíTim pelas n»ais re-
inotas Ilhas eftaô pedras de engenhos taõ preciofas , que lavradas fahí*
ffáõ diamantes de Meílres de Cadeyras.

CAPITULO VIIL
llhaSi quefe ejpera defcobrir de novo.

40 NUnca eu me atrevera afallar de Ilhas encubertasj ou ^


profetizar delias
, fe as naÕ achaíTe apontadas , delineai &
das pelo eruditilTimo Doutor Gafpar Fruftuofo , de quem naõ peque-
na parte defta hiftoria tirey 5 &
por naõ fer diminuto , ou infiel a Dou#
tot de tanta fé, &
taõ antigo , recopilarey aqui , &
apontarey o que elk
trazdifperfo, &
defunido em muytas, &muy
diverfas partes, como
muyras vezes faz , em feu antigo eftylo & porque primeyro traz liv.
:
(
6. crf/). 38. ) o que hum grande Juizo ajuizou de Ilhas ainda encubertas;

& depois de metter outras matérias , traz o que outros antigos difleraõ
das encubertas Ilhas ; tudo, & por fua ordem ajuntaremos aqui.
41 Entre os principaes Povoadores da Ilha do Fayal , veyo a
Do grande Aflrologõ^^^^^^^^^^ hum fidalgo Alemaõ , que càfou com huma filha dopri-
&
Manim de Boémia, mcyro Donatário do Fayal J02 de Utra , o Alemaó fe chamava Mar-
& dt jaoi Profecíoí tim de Boémia ; &
efte era taõ grande Mathemaíico , & efpecialmente
natnraes, qne ^efe- taõ infigne Aftrologo qiíe andando na
, Corte Lufitana ^ fazia ElRey
""'**'
gnem. grande eftimaçaõ , &
conta delle , naõ fó por fua nobreza , mas por fua
fabedoria , & noticias que dava por obfervaçaó de Eftrellas j a qual erá
taõ notável, que eílando ainda na Corte , &
por noticia delle mandan-
do ElRey de Portugal navios que defcubriíTem as Antilhas , no mefmo
Portugal diíTe o mefmo Boémia ao Rey o dia , &
hora, em que os navios
voltavaó arribando, fem defcubrirem as Antilhas. E adivinhava tantas
outras coufas por obfcrvaçóes de Eftrellas & taõ certamente fe viaõ ao
-,

depois , que o rude povo em lugar de julgar ao fidalgo por excellente


Aftrologo , o tinha por Nigromantico 5 como , fe affim como ha quem
vè, fem nigromancia algua , a agua que corre por rauyto bayxo , & fun-

do

••9T-
Cap. lX.De outrâS giiílesj& tiòtavêisí lhas ainda Mculb,
49f
do de terra j& a qualidade da agua que eftaó em o centro
i
Dstíiietaes
mais profundo & o que eftà dentro de hum corpo humano j como naÔ
;

poderá haver também j quem íem Nigromancia veja o que indicao as


Eftrellas?
42 Chegado mefmoAftrologo ao FayaljdiíTe em pri-
pois o
meyro lugar, que ditofo feria aquelle homem, que em as Ilhas tiveíTe hú Primeyra àos infofl^
bom cavalio de pào, para fe poder ir delias. E ifto ( diz Fruduofo } vi- '*""-f '^'^ i^^^ em
liiosjànotempodas alterações > & guerras de Felippe com feu primo S*'^'''** ^^e^remotoSf
D. António, no tempo dos fogos» dos terremotos, occDiíTe em fegundo '"^"'
lugar , & antes de fe defcubrirem as índias de Caftella , que ao Sudoeíle Segunda do defeu-
do Fayal, aonde elle eílava , via hum Planeta dominante fobre húa Pro- yrtmsmo das índias
vincia ) aonde fe ferviaó os moradores cem de '^^ C^/í//^ ,
vafos de ouro , & prata , (Érjuas^

que carregadas embarcações fe veriaÔ rio Fayal,& antes de muyto tem- '''f*^^'"'
po, ôf c. E dentro de poucos annos fe viraõ em o Fayal nàos que vi-
nhaó do Perii, achado entaÕ , & que vinhaó carregadas de ouro > prata»
& pedraria.
43 Difie em terceyro lugar j que ao Sudoefte do Fayal , & Pi-
co, efta\^aó pordefíubfir três Ilhas em triangulo, &que huma áúhsTeueyrà de eutrà
era muyto grande, & propriamente chamada da Madeyra , &
a outra "«'2''» &majt>rllh<t .

mais pequena , & muyto boa também ; &


outra ainda mais pequena » & ^* ^i<*àeyra,&duaê
que tmha ouro, & era areofaj & que tempo viria, em que depois de taes *''
JJ ^^^mll »T
^^^ r?**?!
Ilhas defcubertas» os barcos das outras iriaõ a ellas dizendo-lhe entaó ^^s"'**
: &
o Capitão Utra» que foíTem a defcubrillas, o Boémia lhe refpondeo,que
fe naò metteíTe niflb, que fe naõ defcubririaó em íua vida,hem na de feus
filhos. E accrefcenta Fruftuofoj que fó ifto eftà por ver, de quanto diíTe
efte Aftrologo , que foraó muytas coufas , as quaes todas fe viraõ como
as diíTe. Também dizem que diíTera ( indo hum Gafpar Gonçalves de
Ribeyra Seca da Terceyrá a defcubrir outra nova Ilha ao Norte deftas '^'ouirámZ
^'^J^'*
II has:} Agora arriba Gajpar Gonçalves dafua Ilha, &
nmca mais a acha-'"^"^i^2"''& ^nail
TAOy ér lhe cahio hum homem ao mar, &c. E achou-fe ter fuccedido aífim, «9^^
g^^yàr nem a
porque dando em feco jà da Ilha , & indo hum homem a tomar a vela, bufcalU tornkraB. '

cahio ao mar, & fem poderem tomallo pela corrente das aguas , fe tor-
narão fem mais achar a Ilha*

CAPITULO ÍX.

,
De outras Ilhas >
que ha neflè nojjo Oceano por def-
cubrir ainda,

44 T"^ "^ ^"'^ Provifor, & Vigário Geral das IlhaS de Cabo Ver-"
L/ de, que delias vey© & arribou a Saõ MigUe! & de huni
» ,

Qiiartel, ou ma ppa antigo que trazia» feyto pelo Cofmografo mordei-


Rey Dom Joaô o III. ao qual chamavaõ o Freyre, pay dofeguirite Cof-
mografo mòr Luis Freyre diz o Doutor Frudiiofo Uv. 6. cap. 49. que
,

tomou a noticia de outras novas Ilhas que eftavaó por defcubrir aindaji
,

6c deftas diz o que aqui verettios , & fique a fé defta hiftoria à conta do
mefmo Author , que nòs fó referimos o que diz, & julgamos verdadey-
-
rojôcheofeguintê. Tt ij
45 Ao
49^ Livro IX. Das Ilhâs que^de. novo Te podem deícubrír." >

45 Ao Norte da Ilha de Saô Miguel, oy tenta legoas pouco


pa Ilha chamada mais, ou menos, eftá húa Ilha chamada as Mayadas com outras fuás vi» ,

Majadas & outras zmhas ao redor j & neftas fe diz que ha muytos pinheyros , & outros
,

/KAfí//?.í»/í?>i/,^»tfir/-pàosmuyto grandes. Do porto da Cidade de Ponta Delgada navegan-


taõao Norte áe Sad
^^ ^^ budoeíte cento &" vinte & duas legoas o & meya , fe vay dar de
v
Miguel ojtenta It- _ j .

meyoameyo com huma Ilha, que chamaõ a Ilha do Bom JESUS,


qual corre direytamente de LefteaOefte 5 tem dezoyto legoas de eom^
prinientOi & indo-fe delia per linha direyta a Lefte , lè vay dar na colla
Ao Sndoefiedo Por- Jg ^fnca, em a terra que chamaõ o Cabo de Catim & da mefma Ilha j

'*
tio Bom JESUS para Lefte fe vay por linha dar na Ilha do Porto Santo
''*'
/ J"'". 1£v
cento &vinte& ditas ^
. % xt
vizmha da Madeyra , &
,o n ^n ti tt-í-tto
aeíta diíta a do Bom J bb U S duzentas & qua-
1 1 ,

kíoas & meya eftà a


Uha chamada j?ff/w renta &: cinco legoas,& eftá em trinta & tres gr aos da altura da linha
fESVS^deih.legoas Equinocial para o Norte da dit» liha para o Nordeíle fe vay dar na de
:

decowprtdo de Lef S. Miguelj & para O Nornordefte feda nas Ilhas doFayaí, & Pico j mas
teaOefie. quem partir da Ilha do Bom JESUS para Lefte deve irfempre com ,

vigia, porque em diffancia de féis legoas eílà outra Ilha em que poderá ,

dar com o defcahimento da derrota.


"^^ Eílaterceyrallha fe chama de Santo António jCÍlá ao Sul
'JÊ ^ Jdk /Ih d ç
Mim'1 & daponta ^^ ^^^^ ^^ ^^^ Miguel, de cuja ponta des Moíleyros difta féis gràos, ou
d9s Mojteyros 1 50. GCíiCo & cincoenta legoas. Da Ilha de Saó Miguel, & da de Santa Maria
legoas efià a Ilha de fe vè huraa Ilha qtie ainda fe naó fabe que Ilha feja , & alguns quizeraó
,

S, António ^i^ua algUs dizer que era a fobredita Ilha do Bom JESUS , que naó obftante diftar
diz.emjeve da Ilha tanto,fe podia ainda ver em algõs dias pelo reíiexo debayxo da agua
do
"í^i* ' affi'"" cofíio ( dizem ) aíTim como huma moeda lançada em hum
^T"'
^reiè !fo'^''^
h'OHtralihíidnfa ^^^^ ^^ "S"^ » ^
olhando-fe para ella per linha direyta , fe vè de muyto
tncuberta. ^^^^ longe , do que fe veria , fe eílivera fora da agua. Outros quizeraõ
dizer que era outra Ilha ainda incógnita ; porém feja a Ilha que forjCad^
vtnQ Fruftuofo } quem fahir da Ilha do Bom JESUS
para Lefte , fe-

naó der com a Ilha de Santo António , levará fempre boa vigia, por naõ
dar a travez com outra quarta, & mayor Ilha, que ainda eftà a nòs encu-
berta.
47 Defta quarta Ilha diz omefmo Fruftuofo que (fegundo
'^^4 Ilha deS.Crtiz.ef' vio na p^rúciúír carta de marear que a traz) fe chama Ilha de Santa
tk em altHra de 32. Cruz,& que defta fe diz fer a mais antiga, & ainda a nòsencuberta, Ilha
gr aos, ao fab ir danaj- j^^ Madeyra & que a que depois defcubrimos , & chamamos Madeyra,
;

^^"^"^ P^'" ^'^" "°"^^ proprio a Ilha das Pedras da dita pois Ilha de San-
:

^emãrJV^foflíe
^^ C''"^'. ( OU Madeyra ainda encuberta ) achou Frucluofo que eftáem
^Utentl^UqoM^âirey-
tamccclnciaâai:^tem altura de trinta & dousgràos; & queíahindo da Madeyra em direytura
de comprhncmo 42. a Oefte fctenta íegoas eftà a Ilha de Santa Cruz ; & quem for da Ilha
,

lego^u;fartioS::ltem de Saõ Miguel bufcar a Ilha fobredita de Santa Cruz, ha de navegar


hkiigr.yidc babiii cõ
^q Nofte para o Sul atè akura dstrint.i & três gràos precífos, & que da-
^' ^'''^''^ P^'"^ ^^"^^ ^-° Poente, ou Oefte pelo mefmo parallelo, repa-
""
r/^lÍ'7a;)fí7cTu.
t7o -ff-da ^'bandada
r^ndo fempre bem aonde lhe fica Saõ Miguel & tendo andado para
;

Norte, & de Lfjle a Qefte oytenta legoas, & atè cento , naó dando com Santa Cruz torne a ,

Oefie tem também tomar a altura dos trinta & três gràos , virando a proa para Lefte, &: af-
,

{aa bahia mais pe- Hm de Lefte a Oefte , como de Norte a Sul lavre ornar dentro de efpa*
djííena.
ço de fó vinte legoas , & de bordo em bordo virá a dar com a dita í Iha^
& fempre com tal vigia, que não dè à cofta,
48 Affir-
.^'V*'!. *-
Bi

Cap* X. Jiizõ dã Hlíloria das Iihas,para conrervaç.íua. 4^f


,48 Affirma pois o dito Fruítuofo defta Ilha de Santa Cruz, ,

que tem de comprimento quarenta &duaslegoas, coufa que em '^^' j^'//^'^^*^'^^^''f'


nhuma outra das de que temos fallado , achamos atègora affirma mais J^^^J^ [mas^naõft
:

que da banda do Sul tem efta Ilha huma grande bahia , &
diante delia ^^^ ^, ^^e na^aõ-M.
&
dous IlhèoSj com diftancia entre hum , outro de três legoas; &
que da de a/^Ss julgarão ef.
banda do Norte tem outra enfeada pequena, outra da banda de Leíle, & tar nelU ElRey Dom
da banda de Oefte outra. E o que mais he , dizer que efta tam grande Schafitaõ^ dt Pwm^ M]
t^^õ facilmtntt
Ilha he povoada, & de tudo ifto dá por teftimunhas os Angulares mapr^-»' \
^-Z, cttyda cada hft O ^HC
n- 1 • •
>
pas, teílimunhas, & noticias que acima apontamos mas he coula nota- vv .^^
o i. i
-,

*
^ - —
''''
vel, que naõ diz , de que gentes efta Ilha feja povoada , fe de Gentios,
ou Mpurosj ou Hebreos , íe de hereges , ou Catholicos faiv o alguém :

quizer ainda fonhar, que em taõ grande Ilha ainda eftà o antigo , & L»-
iitano Rey D. SebaftiaÓ , &
que ainda ha de vir de là , naó obftantc ter
de idade jà couía de cento & fetenta annosj mas deyxemos eftesfonhos.
O certo he , que com eftaiâtal Ilha de Santa Cruz acaba o Doutor Fru-
âiuofo o fexto livro de fua hiftoria , &
o Capitulo 49. ultimo dellaj por»
que ainda que deyxou começado outro tomo , que intitulou , Saudades
do Ceo, para o Ceo fe foy , quando compunha o Capitulo 4.

CAPITULO X.

t Compendio da Hiftorta dm Ilhm^para o juko que para


feconfervarem^fe deve formar delias»

49 T^ As noticias atègora dadas em toda efta hiftoria, fe deve ti* "


\ J rar fummariamente que as Ilhas Canárias faõ doze, 6t
,

que de cinco delias naó ha que dizer j mas que pela ordem com que fo^ Das doze ilhas ehâl
raõ conquiftadas, a primeyra , chamada Ilha do Ferro , tem fó legoa & ^f^dm Cmariai^
'

"
meyade comprido, huma de largo , & huma fó Villa chamada Lhanos,
^ nenhum lugar mais. Porém que a fegunda, chamada , Forte Ventura^
tem dezoyto legoas de comprido, três de largo,& em tudo ifto huma fó
Villa,&: quatro lugares & comtudo tinha três , chamados Reys , que
j

Separadamente a governavaõ. A tcrceyra Ilha , a que chamaõ Lancero- -.

te, he igual no tamanho à fegunda, & tinha huma fó Villa, & nada mais,
por fer muy to infrudifera. A quarta Ilha , que fe diz Gomeyra , tem
doze legoas de comprido , & de largo quatro , huma Villa , & demais
Iiú fó lugar de fefíenta vizinhos & era toda a Ilha hú fó Rey.
,

50 Aquinta,& principal Ilha, a que chamaõ a Grã Canária,


teiíi dezoyto legoas de comprido , & de largo quatro , & huma Cidade

que chega a três mil vizinhos, & aléns delia quatro Villas, & lagares
mais nenhuns mas a Cidade naõ fó he a cabeça Ecclefiaftica de todas
;

aquellas ilhas mas também tem todo o politico governo fobre cilas to-
,

das. A festa Ilha fe chama Tenerife , & tem quinze legoas de compri-
do, U em varias partes tem féis , oyto , & dez de largo , & também fua
Cidade chamada a Alagoa & de dous mil vizinhos , & além deftas tres
,

dous lugares , & mais efpalhadamente muyto povoada. Sep-


Villas, &:
sima lUiahc a celebre Palma , de dezoyto legoas de comprimento , &
Tc iij fet®.

I
4p8 Livro IXXompleméntodàHiíloriá das ílhâs.^

íece & liuma Cidade chamada Saõ Miguel de Santa Cxwtl


de largura ,

que também confta de dous mil vizinhos & tem a Ilha alguns lugares i

mais mas de pouca coníideraçaõ & ainda de menos as outras cmc@


, ,

IlhaSj d,e que per iíTo mefmo fe iiaõ faz mençaó. Donde fe vè que as dí*
tas Canárias , enfiadas , tem de comprimento cem legoas & meya,& uni-
das as larguras, tem trinta de largo j &
Cidades três > ViUas onze , 6c
quatorze lugares , fora efpalhados Serranos j todas eftas Ilhas chega- &
rá© a nove mil vizinhos.
51 Em fegundo lugar as Ilhas de Cabo Verde faõ onze , cuja
principal fe chamava. Boa Vifta , hoje porém Santiago, & tem treze le-
T\. otix.e
„ . Ilhas .L. goasdecompridojhuafó
Tíu^, cha- » ^ Cidade do meímo nome^de Santiago j & de
Jjas '
.^ o r c^ o
,-. - r r l j
, mas com Bilpo , & lua be , & nao le labe de mais
. .

madas de Cabo Vtr- *o duzentos Vizinhos


de. lugares juntos. Segunda Ilha fe chama a Maya ; terceyra SaõFelippe,
ou Ilha do fogo } quarta Saõ Chriftovão j quinta a Ilha do Sal } fexta a
Brava j feptima Saõ Nicolaoj oytava Saõ Vicente j nona fe chama Ra*
Ea Branca, ou Rofa Branca % decima Santa Luzia , & coníla de oyto le-
goas i undécima a de Santo António, ou de Santo Antaõ , das mef- &
mas legoas confta que a decima de Santa Luzia: & naõ fe diz mais dê
taes dez Ilhas , porque nem povos, nem lugares tem confideraveis: po*
rèm he muyto de aa vertir , que em feus princípios vinha deftas a Por-
tugal baftante ouroj tirado por commercioda terra firme de Cabo Ver-
de } porém depois que fe defcubrio a índia Oriental , &: p Brafil , naõ fô
fez mais cafo do ouro de Cabo Verde mas fempre fe fez do âmbar, que

naõfó feachanacoftâdá primeyrailha de Santiago j mas também nas


eoftas da quinta, fexta, nona., & decima.
5% Em terceyro lugar fe deve advertir , que à Ilha de Port©
Santo tem de comprimento quafi qaatro legoaSj& huma & meya de lar-
PallhadePmoS,
guraj & fuá cabeça he a Villa de Saõ Salvador , que paíTa de quatroceil-
tos vizinhos, & tem mais três lugares juntos de povos unidos , & naõ ef-
palhados j & foi-a eftes tem alguns outros povos divididos , como o quÊ
chamaõ Earrobo , & que chamaõ Féteyra, & era tudo tem quafi mil vi-
>zinhoSj & muyto mais de homês que poflaó tomar armas.
53 Èm quarto lugar fe deve reparar, qUe a famofa Ilha da Ma-
•deyra, cm a primeyra fua Capitania naõ fó tem a Cidade do Funchal^
1) A famofa Ilha chU'
mada Madeyra. de deus mil vizinhos , mas tem mais as duas Villas , da Ponta do Sol , 6c
da Calheta, & fete lugares maisj & era eftes, Sc nas Villas,& Cidade,tera
f>or todos três mil &: feiscentos 6c trinta vizinhos na fegunda Capi- : &
tania chamada de Machico tem outras duas Villas , Machico , & Santa
.Cruz; &: além deftas tem mais oyto lugares, que em fi 6c nas fuás duas ,

Villas tem dous mil &


trinta vizinhos ; 6c Vera a conílar a Ilha toda dé
cinco mil 6c feiscentos &
feííbnta vizinhos. Das Ilhas defertas que eftaô
junto da Madeyra , 6c nem nomes próprios tiveraô , nem tem povos al-
guns, naõ fazeraosjà mençaó, 6c fizemos aquebafta no íím do livro 3.
como também de duaS Ilhotas, ou Uhèos, queeftaõ ao Siil da Madeyra^
trinta legoas, 6c pertencem as primeyras doze chamadas Canárias.

H
Câp.Xí^Gôtiniiâ ò juizó âèceífaríé ^arà a cãf.âas Ilhas. 4^^

CAPITULO XI.

Continua-fè o Qompendh antecedente,


'-

54 T7 ^ quinto lugar ha de advertir mais , qlie a Ilha de Saiitsi


fe

iL^ Maria naõ fó cem quaíi cinco legoas de comprimento , &;


quaíi três de largura nem íó tem por cabeça fua a Villa do Porto ,
-y &
nefta mais de quatrocentos vizinhos j mas que também além defta Vil- Ba mhre Ilha d«S%^
ia cem quatro lugares j Santo António cora cem vizinhos ; o Efpirito '**
Mana.
&
Santo com oytenta ; Saõ Pedro com feíTentaj o de Santa Barbara coni
quarenta j fora cmcros de vizinhos efpalhados , com que pafla efta Ilha
de íetecencos vizinhos, êc mais de mil homes de armas.
55 Em fexco lugar fe advirta mais í que a Ilha de Saõ Miguel
íemdezoyco legoas de comprimento, & quaíi três na mayor larguraj i)4píp«/o/4 liba it
ícm huma Cidade j ôc cinco Villasj Sc vinte lugares , que em feu lugar já S. MtgaeL
apontamos j & os vizinhos de cada povo deites $ ôc achamos ferem féis
mil & oycocencos & leíTenta & hum vizinhos , naõ fallando em os muy-
íôs Conventos que ha neíla Ilha , de muy tos Religiofos , & muyto má-
^or numero de Religiofas j & homens de armas feraó doze mil.
56 Em feptimo lugar deve-fe notar, que a Ilha Tereeyra i ferii ^^ ^ .^ jy^^ ^.^^
.

'"
jpaíTar de fete legoas em feu comprimento, 6c de quatro em fua largura, ceyrá,
&
tem duas Capitanias Donatárias , a de Angra , a da Praya j & efta naõ
íó tem a Villa da Praya por cabeça j 6c fetecentos vizinhos nella j mas
tem mais oyto lugares, cujos vizinhos ,&osdadita VillafaZem ínilâc
©ytocéritos 8c vinte vizinhos: 6c a outra Capitania tem â Cidade de An-
^ra por fua cabeça , 6c hella três mil vizinhos & demais outra VÍII4
-,

chamada de Saõ Sebaftiaõ , 6c outros oyto lugares , que coni a dita Ci-
dade, Sc com a fobredita Capitania da Praya , fazem cinco mil 6c nove^
centos & quatprze vizinhos j fendo que a da Madeyra , em outras duas
Capitanias i ainda que tem fua Cidade j 6c quâtrò Villas j em tudo tem
íó quinze liigáres, ôc fó cinco mil èc feiscentos 6c feíTenta vizinhos j mas
a ambas vence ainda a de Saõ Miguel , que fobre huma Cidade tem cin-
eò Villas , ^ vinte lugares , 6c féis mil 6c oytocentos &
íeíTenta 6c hunl
yiziíihos.
:'
57 Em oy tavo
_ ^
,,.,,
iugar a ííha de Saõ Jorge tem raâis de dez le- Da ílka dt S. férjé}
goas de comprido, 6c quafí huma ^
meya de largo , 6c tíes Villas , Ve-
las , Calheta , 6c Topo , & além delias tem mais quatro lugares jttntos,
fora muytos moradores efpalhadosj &
deftes, &
das Villas, 6c lugares os
vizinhos todos paíTaó de oytocentos , em que ha mais de mil homens
llejírmas.

f^
'

58 Èm noiio lugar a Ilha chamada Graciofa tem quaíi quatro


legoas de comprimento , & mais de huma de largura j & porque he to- Dd mbiliffima HM
da playna, ^ cultivada, raro liigar tem lavradores juntos 3 mas todos os ^'^^'^H^i
ííultívadores vivem efpalhados pela Ilha, 6c muyto mais oà paftoresj
jDorèm da nobreza tem duas fámofas Villas ; a principal fe chama Santa
Cruz, òz coníta de íeisceiitoâ vizinhos à fegunda Villa fe chaníà Praya^
:

& paíla áe trezentos vizinhos j 6c fó entre eítas Villas ha íium lugar de


y .
|)ovoà^

M
5©o tívf ófXv Complemento da Hifto th das Ilhai;

povoadores juntos, &


tem mais de trinta vizinhos, & por todos chega á
mil, & a dous mil homés de âf mas.

Da ofamAda
, 59 Em decimo lugar a Ilha do Fayal tem cinco legoas (& mais
doFajai.
^
fegundo alguns ) de comprimento, &
de largura em partes tem mais de
duas legoas,& em outras,mais de tresjfua única cabeça he a Villa chama*
da Horta, q pafía de quinhentos vizinhoSi& além deíla tem muytos lu-
garesjdos quaes podiaó algfis fer nobresVillasjporque ainda que o lugat
chamado Ribeyrinha tem cento ôcoy to vizinhos >& o deNofla Se-
tihora da Graça tem cento & dezafeis & o de NoíTa Senhora da Ajuda
j

cento & vinte j & o da Senhora da Efperança , chamado o Gapello , tem


cento & vinte & hum j & o da Santiffima Trindade, que chamaõda
i^raya, cento &; vinte & três j & o de Noffa Senhora das Anguftias , per«
to da Villa , tem cento & feíTenta & quatro vizinhos , ainda outros lu.
gares tem tantos mais vizinhos, que o do Efpirito Santo tem duzen-
tos & trinta & féis j & o que chamaõ Cedros tem duzentos & noven-
,

ta, & o Caftello Branco paffa de trezentos vizinhos ;& vem atereftâ
ilha do Fayal na fua Villa , & nos nove lugares , dous mil & fetenta ôc
oyto vizinhos ,& bôs quatro mil homés de armas.
60 Era undécimo lugar a Ilha do Fico tem dezoyto legoas de
comprimento , & quatro de largura i Villas tem duas ; a primeyra , 6C
'^Da gránie Ilha ão principal fe chama as Lages & tem duzentos vizinhos juntos, & arrua-
,

ím. dos dentro em fi a fegunda Villa fe chama Saõ Roque & eftá da outra
: ,

banda do Norte, ôc confta de cento & cincoenta vizinhos, também jun-


tos , & arruados os lugares de povo junto faõ , o de Sanca Barbara no
:

porto de Santa Cruz , que tem mais de cem vizinhos i o de Saó Mat-
theos , que paflâ de cinCjenta j o da Magdalena , que tem mais de huna
éentoj o da Piedade que paíía de cem vizinhos > & o chamado da Ribei-
rinha , ou Prainha , que de vizinhos juntos tem cento & vinte 5 & com
eftes cinco lugares, & as duas Villas fobreditas teraõ mais de oytocen-
,

tos & vinte vizinhos naô faõ menos os que vivem efpalhados por tam
}

grande Ilha, & de tanta fabrica de vinhos, & dos mais frutos, & abegoa-
íiasj donde íe vè que tem mais de mil & quinhentos vizinhos efta Ilha,
êc muyto mais de três mil homés de armas.
61 Em duodécimo lugar a Ilha das Flores confta de mais de
cinco legoas de comprido , & quatro de largo confta de duas Villas,
;

P* //è« akArnáda primeyra Santa Cruz, que paíTa de duzentos vizinhosj fegunda a Vil-
,

j^ ^^g Lagens , que tem mais de trezentos vizinhos j & dos outros luga-
ílores,

res de Saõ Pedro chega a cento & cincoenta vizinhos o da Lomba tem
;

cincoenta & o lugar que chamaõ o da Ponta , tem fó trinta j & outros
-,

tantos tem o lugar chamado Cedros ; & menos ainda tem outro lugar,^a
que chamaõ a Caveyra; &com os que moraõ feparados pelo Certaõ,
contém efta Ilha toda fetecentos & cincoenta vizinhos em duas Villas,
& quatro lugares & mais de mil & quinhentos homês de armas. Ulti-
-,

Dafempre ^«^^4^4
mamente a Ilha chamada Corvo tem de comprimento mais de duasle-
Ilha do CorvB. goas,&: meya legoa de largo & o único lugar que tem & íe chama N.
; ,

Senhora do RofariOjpaíTa de cento, & onze vizinhos, & de duzentos


homés de armas.

CAF.
!!l \

Cap.XIÍ.De qaâm grade Reyn0c0nftit.as9.Iih.Terc. fot if:

CA P I T V L O XIL
Cone lufaÕdQ Compendio acima^

4t Onclue-fe primeyro do acima dito, que as nove Ilhas Têf*


f,
f^ ceyras enfiados os comprimentos delias hum pegando
r V-^ ( ,

$;om outro} tem todas de comprimento fetenta &


quatro legoas, das
Jegoas Heípanholas , que faó de quatro milhas, ou quatro mil paflbs ca- Doí UgoaiHeffianho.
ida huma. Conclue-íe fegundo , que unindo também as larguras das taes las qnejitntat m mvt
jlhas entre íi, tem todas de largo vinte &
quatro legoas &: meya } don- •'^^'« Tercejrm tem
defe vè, que tendo Hefpanhade comprimento quafi trezentas legoas, ffos comprimentos ^&
& na mayor largura duzentas &
cincoenta, ficaó tendo as ditas Ilhas ''«''i*'''** ^'"f* » *^
ÍV'
i erceyras, no comprimento, a , iTTí-i^
quarta parte de toda Hefpanha j 6c na^pada
comparação ae Hef-
, JtalU 0»
largura ficaÔ fendo de Hefpanha a decima parte ; 6c que a refpeyto de; PortftgaL
líalia (que he menor que Hei panhai pois Itália fó tem duzentas 6í ,

fincoenca & cinco legoas em o mayor comprimento, 6c íó cento ôc duas.


pa mayor largura) ficaó as ditas Ilhas fendo emfeu comprimento a ter-
çeyra parte ( pouco menos ) do comprimento de Itália , & ficaó fendo
em fua largura a quarta parte. -

63 E fe compararmos as ditas
IlhasTerceyras com tudo o que
p feu Reyno de Portugal tem cà na terra
firme de Europa , bem fc fabe
que hoje a Lufitania, ou Portugal ( ainda comprehendendo o Reyno do
Algarve } tem de comprimento noventa Sc huma legoas , defde a pon-
ta do Cabo de Saô Vicente para o Norte atè a foz do rio Minho j 6c jà
fica eftecomprimento fendo mayor que o das Ilhas fó dezafete legoas,
,

pois fó eftas vaó das fetenta 6c quatro legoas do comprimento das taes
Ilhas para as noventa 6c huma do comprimento de Portugal porém }

como Portugal na mayor largura tenha trinta 6c oyto legoas defde a ,

poncadecintraatèa Viila de Alegrete, que confina com arayadeCaf- '

tellaj 6c fó vinte 6c quatro legoas tenhaõ as fobreditas Ilhas em íua lar-


gura , fegue-fe que fó quatorze legoas ( que vaõ de vinte 6c quatro pa*
ra trinta 6c oyto } vence a. largura de Portugal à das ditas Ilhas.
64 Pois fe fizermos comparação do comprimento , ôc largura
das ditas Ilhas com os de cada huma das féis Províncias dePortugal^
$c fc repararmos que a Província de Entre Douro 6c Minho tem fó de^
,

zoyto legoas de comprimento, &c pouco mais de dez de largo ) 6c a de


Trás os Montes nió paíla em feu comprimento de trinta êc féis legoas,
nem de trintaôc quatro em fua larguraj 6c naõ he mayor a Província da
Beyraj 6c ainda, faó menores ,aíIÍm a Província do Alem-Tejo,comoa r>a eompafaçad ddé
da Eftremadura em Portugal 6c em fim o Reyno , ou Província do A1-. nove Ilhas Terceyroí
j

garve chega de comprido afó vinte 6c oyto legoas, defde Seyxes atè '^"'^ cada Provmid
Crafto-Marim, ^ de largo naõ tem mais do que féis legoas , defde a Ri- d,ePort(tgaL
beyra de Vafcaõ ( junra ao Campo de Ourique ) atè o mar Oceano fe :

repararmos pois nifto, acharemos, que naó fó naô lia Província alguma
das féis de Portugal, que occupe tanta terra, quanta occupaõ as nove
Ilhas Terceyras , mas que ainda hi1a fó deitas
( qual he a Ilha do Pico)
naõ occupa muyto menos terra, do que alguma das ditas féis Províncias
LufitanaS' 65 Hs

mm WBiÊsm
joi Livro IX. Complemento da Hiftoria das líhâS.

éf He verdade que nas ditas féis Provincias de Portugal hâ


dezoy to Cidades, Çècfò duas ha nas fobreditas íiove Ilhas , & dezoy to
&
Villasj & feíTenta quatro lugares de povos juntos , } &c que naqueílas
íeis Provincias ha oy tenta Villas , & quinze mil lugares , como fe lêem
aquella áurea hiftoria , intitulada , Lufitama Findicata foi. 131. mas de-
ve-íe advertir ,que também em Portugal a Província de Entre Douro
& Minho, a de Trás os Montes, & a da Eftremadura , cada huma
naô tem mais que duas Cidades i & aífim como cada huma deftas
três Provincias tem Villas , que podem fer mayores Cidades do que
outras que o faõ j aífim também as ditas nove Ilhas tem muy tas VillaSj
que excedehi aalgumas das Cidades de Portugal 5 & aífim como em os
quinze mil lugares de Portugal ha muytos , que excedem a muytas ou-
tras Villas , aífim nos feíTenta & quatrolugares das ditas nove Ilhas j há
muytos que excedem a outros, que fe íizeraó Villas fendo menos po*
pulofos, & de gente menos nobre, & rica.
.. GG Conclue-fe terceyro , que naò fó no comprimento , & lar-
gura de terras , nem fó no numero de Povoações juntasj& inteyrasj nem
fó nosmuyto Nobres, ricos, & fidalgos, que povoarão as nove Ilhas
Terceyras , Sc ainda nellas fe confcrvaõ j naõ fó em tudo iílo faõ hum
grande Reyno, & mayor que muytos, chamados ainda hoje Reynos ,de
HefpanTia , & Portugal , coufa que mettèraõ os Mouros quando era
Hefpanha entrarão, pondo em cada Cidade , & em cada povo grande
hum feu Rey, como ( por Hefpanha ) em Toledo , em Murcia, em Va-
lência; & por Portugal em Lamego, em Vizeu , em Braga , em o Porto,
em Santarém i &; ainda nas Canárias em cada Ilha tinhaõ hum Rey , &
muytos em huma fó , como já vimos & defta forte podia haver em aS
-,

Como At ditas nove Hhas Terceyras muytos Reys ; mas com muyta mais razaõ em todas
Ilhas,
juntas todas,
j^^^g j^^^^ ^ verdadeyramente illuftre , rico , & poderofo Rey , pelo
/.yr/; ë^ rico ^
,
^^^^ g^^ moítrado da riqueza , & nobreza de taes Ilhas ; & pelo que fe
fQderojo epo,
qq\)^q do numero de valfaUos , & gente para guerra que ha nellas.
Gj Porque nas taes nove Ilhas , ( conforme o acima relatado)
& em as faas duas Cidades , dezoyto Villas , &: feííenta & quatro luga-
res, os vizinhos faõ dezanove mil & fetecentos Sr quatorze , & muyto
mais de vinte mil vizinhos com os ruílicós que habitaô fós em o Cer-
,

taõj & os homés capazes de tomar armas & fofrer guerra faõ trinta &
, ,

cinco mil & duzentos ,& chegarão a quarenta mil homens de guerra;
jà fe vè, que muytos chamados Reys, ou Príncipes & Potentados
, co- ,

mo muytos em Itália, nem podem pòr , nem tem tanta gente apta para
guerra, naõfallando em velhos, &
rapazes, nem na gente neceíTaria
para o ferviço humano, &
cultivar das terrasj do que tudo parece fe de-
Vem formar os juizos feguintes.

CAP.
Cap.Xin.Cõmo nao bafla h& fó Bifp.em toáâsp.llliâs.501

CAPÍTULO XIÍL
Do com que fe deve acodir a ejpirituainece^tdãde daà
UbmTerceyrm*

68 SEndo pois nove as Ilhas Tercèyras ^ & fcodas poVoadias dô


_ I
fieis Chriítâos Gatholicos i & em o meyo do Oceano Occi-
dental caó diftantes entre íi,que defua cabeça a Ilha Terceyra , ainda
&
que algumas diftaõ fó oyto , pouco mais legoas de mar , outras difta6
0tè trmta, &
atè fetenta legoas j jà fe vè que naõ pôde hum fó Bifpo, r-e-
fidente em Angra da Ilha Terceyra * vilitar acodir peíToalmente &
i j
&Gada anno, nem ainda em
cada noFcnioi a nove Ilhas entre íi taõ
ieparaclas porque em inverno o vafto Oceano^
: fuás tempeftades &
oimpoílibiliraõi & no veraó os Coflarios contínuos j t^m cruéis, &
como Mouros, doutros levantados Pexelingres, inimigos decla- &
rados daquellas naçocns , &
em o tempo quê com Portugal tem
guerra: &
fe o Bifpo de tantas Ilhas per fi
próprio as naõ pôde vi- 1,. .^^^ -í^Siâ
ficar , muy to menos o poderá fazer per enviados
que eftes, ou feraÕ conhecidos do Bifpo,
Vificadores feus ; por^ ZcJdaí
&
Capitulares da fuaSè, oú ga^ai ^nel* dt fè
&^
Ecclefiafticos graves da Ilha Terceyra , &
eftes por naõ fe metterem no porem mais dm Bif.,
mefmo perigo fobredito , nem querem ir , nem a tanto os obrigaõ. Ê ÍQpof km nove IlhÀ
cm cada Ilha fe deputarem Vifitadores Clérigos da mefma Ilha , mal oT^^rcej/rastaB dij^ã^
poderio fer como convém, porque em fim fera viíitade compadres , Sc *" '*'*''^-
jiemoVifitadordetal vifita poderá ir informar ao Bifpo pelos fobre-
ditos perigos do mar , nem o Bifpo conhecer bem , & ter experimental^
& peííoal conhecimento de tal Vifitador.
69 Ecom eífeyto muy tos Bifpos nem a Saô Miguel foraô ja-
mais j com fer Ilha taó grande , & taó chea de Villas , & lugares^ & me-
nos foraõ a Santa Maria poucas a Saó Jorge , & Graciofa , & ainda
} me-
nos vszes à celebre Ilha do Fayal & à mayor Ilha do Pico ; & nunca
j

Eiípo algum entrou na Ilha das Flores quanto mais em a do Corvo^


,
excepro o ultimo Bifpo j^que dizem fora huma vez là: &defta forte cU
taõ as ditas Ilhas fem , nem de olhos Verem a fcu Bifpo, mas viverem, 6t
morrerem fem o Sacramento da Confirmação ; & ainda fem quem con*
feíTe ao feu Parocho, para melhor confeíTar aos feus freguezes,
como vi-
mos na Ilha do Corvo, & na das Flores , tendo ambas quafi novecentos
vizinhos , Portuguezes Cathoíicos, & mais de três mil almas de còn-
ti- fm ji ç nÃi^
fiíraõi& ainda muy tas Vezes faltando-lhes atè os fantos Óleos para a
Ex-^J^Z,^^^^^^
trema unçaó i & também morrendo fem efte Saci^amento, por rtaõ
hãveriem afíha de s. Ma-
mais que hum Bifpo em nove taõ feparadas , & taõ diftantes Ilhas , fen- ria. Outro,
& ainda
do taõ povoadas^ ricas ,& réndofas. maisHeceJfarie,èm4
70 . Parece pois evidente j quete deve acodir a tao Cathoíicas ^^^'^ ^^ ^"^f"^ * P^^*
Ilhas com o governo efpiritual, de qiie taiito neceffitaôi ^po^^^ff^rnaõfíé
neceíTario
que paraiftofedevecrearhumBifpadocmallha de SaÔ Miguel
,
termo feja naõ fó toda adita grande Ilha , mas também a de Santa Ma-
^^P^aZàl^Tp)^^'
aue do Fayal tfiã
riâ mais vizinha. E que na famofa
Ilha do Fayal fe erie outro Bifpado, mais perto,
eujo

Mi
Livro IX. Complemento da Hiftorià áas Ilhas*
f ©4

cujo terráo feja , naó fó a dita Ilha do Fayal jiiias também a mayor Ilhai
do Pico, &
as duas de Flores, &
Corvo , por fer a do Fayal a que lhes
fica mais vizinha , fó quafi quarenta legoas , &
por fcr do Fayal para as
Flores Oceano mais livre, &
menos mfeftado de Piratas, CoíTarios, &
que coftumaõ andar entre as outras lihas : &
entaõ ao Bifpo de Angra
ficaráõ por feu termo ordinário as outras três Ilhas , Terceyra , Gracio-
ía, èz Saõ Jorge , que lhe ficaó mais vizinhas , pois cada húa deitas duas
Ilhas ficap fó oyto iegoas diftantes da Terceyra, de terra a terra,& qtiaíi
cofteando fempre , &
cora mais fegurança fe podem ir vifitari defta &
neceíHdade deftas nove Ilhas.
forte fe acodirà á efpiritual
71 E fe alguém duvidar donde ha de fahir a renda deftes dous
D tftatiriÃl dãí Sh novos Bifpados, de Saó Miguel, &c Fayal: refponde-fe, que Saõ Miguel
^_^àjà feyto nas no. ^gjjj ^^\ Matriz cm Ponta Delgada,que tem nella a Sè feyta no material}
'& S.Sebaftiaô naÕ fó ha Vigário, Thefoureyroi
^ToífZT &^d Po*'q"e nefta Matriz de
FayJ- %dosBemíi. ^^^^i ^ Meftre da Gapella com moços muficos , & do coro ,
^ alèní &
€iadoiqHt tsmfepo'- de tudo ifto ha dez Beneficiadosi 6c na Freguezia de S. Pedro ( além de
dem crear os Cone- Vigario,& Cura,que fe lhe naô devem tirar)ha também oytoBeneficia^
gos, & Dignidades dos, & fobretodos ha na mcfma Cidade hú Ouvidor Ecciefiaftico com
com a renda que es
Jjq^ rendaj parece pois qne bem íe podem dos rendimentos dos ditos de*
zoyto Benefícios, & da renda dos ditos Cura, Thefoureyro, Vigário,
'^ZmT^^'"'^'
£1^ -- *-'^^^'
gc Ouvidor, bem fe podem fazer quatro Dignidades, Deaõ,ArcediagOj
Chantre, Thefoureyro mòr , & féis Cónegos prebendados , & deus me*
^. yos prebendados , Sc quatro Capellães , & ficaráõ eftes dezafeis fugey*
tos com a renda dos vinte & dous extinftos , & demais com os officios
de Provifor, Vigário Geral, Penitencieyro, ou Cura, paraosquaes of-
ficios pôde efcolher o Bifpo dos da fua Sè , quem lhe parecer ; & naó fó
com mayor honra, mas com mayor renda ficaráõ j Sc a honra fó baftava.
72 Ecom mayor razaô parece fe deve refolver o mefmoda
famofa Ilha do Fayal , porque ainda que he em fi menor na diftancia de
terra, povoações, & numero de vizinhos , do que a Ilha de Saõ Miguelj
jnayor que efta he a grande Ilha do Pico , com as outras duas celebres,
F/ores , & Corvo , com as quaes três deve ficar a Ilha do Fayal , que a-
báyxo da Terceyra tem o mayor commercio que as outras; & da mefma
forte que em a Matriz de Ponta Delgada de Saõ Miguel vimos jà for-
, ,madoomaterial, & renda de huma nobre SèjaíTimfe achara na Matriz
if HJ tal ^o Fayal , nobre Igreja da invocação do Salvador com feus Beneficia-

Í'les!^MaÍefiadc dos, & dous Curas, Vigario, Thefoureyro, &


hum Vifitador perpetuo,
deveíereribia «Cí- OU Óuvidor além de cutro Ouvidor Ecciefiaftico, que tem a Ilha do
,

dade , & o merece pjco, & pôde deyxar de ter , havendo Sè, & Bifpo em o Fayal taõ vizi-
T^kpa por fua gràn- ^^í^ £ quanto a naõ fer ainda a cabeça do Fayal, Cidade, mas Villa, ne-
de^a,noyrez.ci^ & n-
j^|^^^^ ^^^^^ ^^^.^ g Mageftade em a honrar com o privilegio de Cidade,
qmz.a de 'ommer-
^ - nuivtos annos O tem merecido por
j
^ fui^randeza , nobreza , Sc
ctos,& mai4 que ade l ,J .^ •',,, < ^ o •
. j

Cah Ferde^Angoh, tleligioes que nella ha, como ja largamente vimos no Uv. «. cap. 1.
'

&0Htras/ 7^ Adifficuldadefóeíftáemdondefehade tirara fufficiente


renda para cada hum dos novos dous Bifpos de Saõ Miguel, &: Fayal.
Porém fe os taes dous Bifpos faó precifamente neceflarios , como acima
jà vin-íos, claro eftá que dos dizimos que pagaõ os feus freguezes ,fe ha

de fuftentar p tal Bifpo : & como os dizimos das ditas Ilhas naó fó os le-
va
.'•'>

Cap.XlV.Cortiò he necef.Metropol.em asp jlhasTèrc.yo^

vaElRey como Meftre da Ordem de Chrifto, mas também os Dona-


,

tários das ditas Ilhas, a quem ElRey dà à redizima, parece que defta re-
diz ima deve ElRey mandar tirar o que bafte para côngrua de cada hum .

dos ditos dous Biíposj & que aíTim como ElRey tira dos feus dízimos
o íliftento de todos os mais Parochos , ôc Beneficiados de todas as Ilhas»

aífim também os Donatários delias tirem das fuás redizimas ofuftento


^ fufíiciente dos dous Bifpos novamente neceflarios -, pois naó fó de cha-
íidade, mastambém de rigorofajuftiça deve fer fuftentado cadaBifpo
dos dízimos da terra de que he Bifpoibemcomo o Parocho da Igreja'
quetemGommendador, leva fua fuJíBciente côngrua dos dízimos do
Coramendador.
74 Nem podem os Donatários das taes Ilhas , vendo que o
»Rey dà a redizima dos feus dízimos , deyxarem elles de con-'
lhes
correr com o dizimo deíTa fua redizima: &ifto parece baftarà para o
decente fuílento de hum Bífpo & que rendendo ao Donatário a fua rei
,

dizima V. gr. vinte mil cruzados ( como a de Saõ Miguel ao feu, & ao'
, ,

feu a do Fayal, S: Pico} dè çadahum dous mil cruzados ao feu Bifpoj


U efta côngrua parece fuiíiciente, para com decência viver humBifpoi
pois menos renda tem cada hum de alguns Bifpos em Itália, &:fempré
-com fuás Ordens, LuítuofaSj&c. fera ftifficiente a primeyra côngrua dè
dous mil cruzados, em frutos da terra , & em dinhey ro , como fe ajuftar
íib principio com o primeyro Bifpo, para todoi os fegUinteS, & Sua Ma-^
jgeftade o determinar.
jjí ,1,1

C A P I T U LO XiV.

Complemento do governo Eakjiaftico das


iihm Tereeyras.

"^^^ ^^^^ fizénife , hcrh ihtéritsímos fázc-r ,<íaqui


'tií- A "í^^q"^
íbmeíite propor o particular juízo de quein efta hiftorià
'^ ^
r\
compõem , lobre o neceflario governo Eccléfiaftico das nove Ilhas Ter-
ceyras, para que a foberana Mageftáde 'dõ Real Meftre da Ordem de
Chrifto ouça (como fempre quer ouvir, ôcinforniarfe em cada matéria
O-* Ecelejíafita /»:
grave, tocanteaobem commum) os votos j ou pareceres que ha nella^
& cnt aõ efcolher , & determinar o que fot mais ncceíTario , & cohveni- ^^'^XaTrmfiJt^
ente & âílim declaramos fempre , & prôteftamos , fó propot noíío par- ^^^^^^ ^^^^^
:

tícularjuizojôc com elle némtemerariamente prefumit-que o figa qíié


hospòde,6cdevedar leysj nem prejudicar a algum terceyro, que no »
í^ue propuzefmos , fe fentir prejudicado ,& deve fer ouvido. Ifto pré-
fuppofto, ' "; ^ ff'
'
-jís -Paíete líeceííario , & convenietite^iíè hás ditas nove Ilhas
hajaalguma Ecckfiaftica juriídicçaÔ mayor , para onde ultimamentefe^^|^-«|
âppelle dasfentertçasdadasnaprimeyrainftancia dojuizo Eccleiíaiti-^^^^^^ ^^'^^^^^^ ^^
Co , & em fegunda ínftancia de cada Bifpo Infulano em feu Bifpado ,
Sc^^^^í
llhM, como nà
éni tercey fa inftartcia fe determine a caufa no dito íiovo , & mayor Jii^ ínàtay Brifú^éei
20, &: per final feiltença de que jà naô haja appdlaçaõ^ara algum
oUtrò

«iiii
50^ Livro IX, Çpínplemf nto da Hiftpíiadas. llkas,

tribunal & iftofem termo algum de Alçada EGclefiaftiea, excepto fó-^


,

mçnte o cafp de extraordinária matéria t^Q grave, & de tal quântia,que


,

C^meín^o Infulano, & fu premo tribunal EccleíiaftÍGo julgue ,fe deve?


a.dmicçirj como fe fofle çm reviftaj& rçcurfo à Sè Apoftolica, para fe re-.
v^r a çaufa per legitimo Refcripto Ápoftoliço commettido a peflba Ect
cleíiaftiGa que çfteja nas mefmas ílhasi &
que pelo contrario , le nellas fe;
ji\Igar em o dito tribunal conforme ás leys do Reyno ,
que naô he cafo
de ça^l recurfo j.ou revifta, entaò nem t^l yecurfo fe admitta , mas a fiaa^
fenteuça dada fe execute.
77 A raz^Õ
parece evi4entç } porque de nove libas , as raai^
diftantes, que fe fabe haver no mundo, de toda a terra firme, que con- &
tém: quaíi quarenta ínil vizinhos,^ perto de cem mil almas Catholicas,
Ç9rçi fnuytas Cií^ades, Bifpados, Viilas, & lugares , evidente obrigação
paçeçe , darfei,hes quem os julgue no foro Ecclefiaftico , com fenten- &
ça,finail,fem recorreram a Portugal, diftante trezentas legpas demaF,
çom manifeftos, &; çontiniiiOS perigos naô fó de naufrágios mas de car
, ,

tiYeyros, §c gaftos infuper^yeis ,^ ej;ernizando.-íe as caufas & aind^ j

tmis 2fS Ecclefiafticas , que de íi €oiluma,õ fer dilatadiflimas , fem fe Ihe^


ver fim , coufa que h^um , & outro direyto tanto abominaó, j & as partes
tajnto mais, que ouvindo, ou ra^ndando correr a caufa em Portugal, prir
rppyro perdem a vid^ muytas vezes,& fempiea fazenda, que fem de-
(
iiianidajtiEhaõJdQque alcaneení a que defeadep , oudemandaõ:&fe
aígús ricos , & em Portugal apadrinhados querem a Portugal trazer as ,

cauías , por nelle com feu poder atropellarem ajuftiça, naõdeve efta
fofrello, &: menos o foberano Príncipe , que a todos he obrigado a Fazer
igual juftiça. Do melino modo, pois, que em todo o Brafil , & em toda a
índia Oriental fe terminaó , & tem feu fim as Ecclefiaíticas caufas ordi-
nárias, ( que naõ, tocaó á Fé Catholica) fem virem, a Port-ugal per ap-
pellaçaò alguma , ou a Roííia per Rcfcriptos do mefmo modo tam- -,

&
bém em tantas juntas, taõ diftantes Ilhas, & povos taó numerofos , fe
dçvem finalizar as caufas Eccleíiafticas.
78 O
meyo poisque para ifto parece mais jurídico , & ordi-
nário, que havendo nas ditas nove Ilhas os propoftos três Bifpados,
lie,

de Saõ Miguel, do Fayal, & da Terceyra , efte ( como mais antigo , &;
<^a mayor Cidade , & cabeça fempredas àitâs nove Ilhas }íeja intitulat

do, & promovido a Arcebifpo das taes Ilhas ;& que efte Arcebifpo te-
3t como o mai* anti nha, fua Relação Ecclefiaftiça de ao menos cinco Defembargadores , to-

go Bijpo deAnvra de dos Sacerdotes & o meírno Arcebifpo feja o Prefidente dos ditos cin-?
,

Z/t de novo fer creeido eo, & eftes fejaõ letrados


formados ou em direyto Canónico , ou em a
,

Btjpo dai Hhas Ter-


fagrada Theología j & por efta. Relação fe fentenceem a final as caufas
ceyras í^fjim como o
,

que a elja vierem dos Biípadosfuffraganeos ,& do mefmo Arcebifpad©


da Bahia Ârcehijpo
do Brafil & em fua
da Terceyra, quando das fehtenças de feu Vigário Geral, ou Provifor fe
,

Relação Ecclefi.^Jtica appellar para a tal Relação & nefta fe fíndaráô as caufas íem alguma
, ,

diluem finaltz^ar at mais appella.çaó,ou aggravo,mas fó com os embargos que permitteai


catt(íu Eccltfiaftica* Ordenação do
Reyno & fe o cafo for taõ extraordinário que fe inftc
.•

dat dttaí mvi llhai,


por revifta delle , entaõ o mefmo Arcebifpo corn o feu Provifor & Vin ,
Çem novo ga^Q da
lífi
gario Geral julgaráõ fe fe ha de conceder a tal revifta & concedida
, ,
Faz.tnda ReM.
Q9ippa.ràiõ Juize^nella que feja9f.maj||j& n^ijõ fejaó os niel^9Sique deraq
,
-li&.xi ,'
' afen-
tap.^VtC^cèndVb^Metrôp.Àrcebi%.dÀs Ilhâs,&c. jB^

€ tudo na difpofta forma pela Ordenação do Reyno.


feritençâ,

79 E quanto ao ordenado dos taes cinco Defembargadoícsi


lèmíe Éiíarcouia alguma da Real Fazenda, baftaràque o Arcebífpo fe-
ja obrigado a dar Beneficio aos que ainda o naó tiverem > & a darlhò
dentro da mefma Ilha Terceyra ; & fe for Beneficio de refidencia > &
á-

indâParochialjfeakancedoPapa Breve em quedifpeníe com os que


ftíf virem de Defembargadores no tal Arcebifpado »
paranaõ refidirem
pêrfiymaspor Curafeu j ou Ecónomo j exw do. mayor fcrviço que «
igreja fazem naquella Relação , & em Ilhas taõ faltas de letrados , pois
em varias Sès tem muytos Cónegos Igrejas unidas j Sc Parochiaes íem $

per fi rêíjdirem nellas, pelo mayor ferviço que fazem na fua Sèj & Cabi-
do, & ria Mefa da Confciencia os feus DepntadbSiôc os Inquifidores
'no Santo Officio Sc da mefma forte S.Mageftádci como Meftre da Or-
:

dem de Ghrifto conceda ao dito Arcebífpo , que elle là proveja os di-


,

tos cinco Defembargadores , fem virem , nem efperarem por


provimen-
to da Mefa da Confciencia , & de S. Mageftade j como fe faz na índias
& no Br^afiljtiõm tanto que o dito Arcebífpo nem a taes lugares do De-
fembargo j nem os Benefícios delleSj proveja fenaóern naturaès das di-
tas novellháá , como o mefmo Rey faX em os mais Benefícios v &
conl
íiíloj Ôctõmorendimerltode a(rinatui'a!S , êfportulas &
condemnações ,

^ará as defpezas da Relação , fiearáô pagos os Defembargadores , ôc aâ


Ilhas bení feirvidas. , .

8ò Nem fe diga , que mettidos de noVo 6$ doiis BifpâdoS de Sujfraganeoi cio nWÁ
Saô Miguel & Fayal , jà naõ he neeeflario que o antigo Bifpado de Arcebtjpítdo dMTer^
,

Angra fubá á fer Arcebifpado i & com fó dous BifpadoS fuíFrâganeos: & Bi§odeS. Miguel,
ceyrài, feraõ naõ fóà

que^quandoem as Uhás foíTe neceííario haver Arcebifpado , mais o de- d}" o do Fajàl mú ,

veria fer o da Madeyra, (como jào foy) do que o da Terceyra.


Porque
iambeo de CaboVer-
nos Bifpados das de^como doArctbijpò
íe refpoildè qi'^ acima le vio a neceflidade de haver
,

taes Ilhas algum Jitizo fuperior a quem fe recorrer das fenténçasdos d A Bahia (ao o do Rti

Bifpos fuffragarieos , pela infofriVel , &


perigolá diftancia qtie ha delias de faneyro b di , &
Fefnambfíco,
a Portugal, &
que coniojuizo fuperior a BiípoS fuífraganeos riâó poí-
fa ordinariamente fer j fenáõ de algum Metropolitano Arcebífpo
for- j

ça he que haja efte nos ditos Bifpados das Ilhas j & deve fer feu tercey- EfeòBi^odÀ Mi^
TõfufFragaiieòBifpOiodasilhasde Cabo Verde j que das Terceyras deyra httma [6 vez:, ,

que deoUtro algum Bifpado Catholico


ficaõ mais perto ; &í pelas Ter- nomeada Arcèbijpò^
foy outra vet. logo rtf-,
ceyras fe Vay de Portugal às de Cabo Verde , 8c fe volta delias á Portu- duzÀdo 4 pUro Èíjpít-
gal , & fica jào Arcebifpado das Terceyras com três diverfos Bifpados
do pelos impoffiveis
fuífraganeos. . ,.. , recftrjòj ,
por efiet

81 E bem fe vè que o iiovo Arcebifpado da$ ditas Ilhas naõ fe inefinos naõ phde Jèt"
deve levantar em a Ilha da Madeyra ,por deftaeftarem taódíftantes as Arcebijpo das maia
Terceyras , que pouco mais oèftão dé Portugal , & tahiria na mefma,
difiantei nove Ilhas',
é" fe ao fiovo Arce-
& ainda mayo^: irapofílbilidade de recurfo ; & jà por iíTo primeyro en- bijpo deflasha de fer'
trou eín Àiigi-a Bifpo próprio feu , do qiie ria Madeyra eritraífe fèu pró- também ftíffragàneà
prio Bifpo algu. Qiie o Bifpo pois dã Madeyra fique ainda fuíFraganeo o da Madeyra, refol-
ao Arccbifpo de Lisboa,& naõ do novo Arcebífpo das Terceyras, fique va-óS. M^gffi^i^H
iiiuyto em boa hora;& fó digo q aílim domo á Madeyra \^áy àsTerceyras
buícaro paõ neceífário ainda para feu fuftentoiSc ná6 vay por elle a
Portugal , também naõ feria muyto que às mefmas Teréeyrás foíl^ buí-
Vv il
^^^
5oS Livro IX, ÇiíitipkmentodaHiftoria das Ilhsís;, 'V''.S -^

car o paó eípiritual da Jiiftiça , Sc doutrina Eeclefiaftica , fendo fcu fuf*


fraganeo Bifpado.
82 Qiie quanto ao terfe levantado na Mídeyrâ Arcebifpad©
|)orElRey Dom Joaõ o III. eom ordem dg Papa, dando-fe-lhe por fuf-
fraganeas todas as terras que de novo entaô €raó defeubertas, como a ín-
dia Oriental, &
o Brafilj líTo foy do tempo hum tal engano, que nem tal
iikrcebifpo entrou jà mais na Madeyra , aem aipda o.titulo de Arcebif*
pado lhe durou , & foy a Madeyra reduzida logo outra vez ^ fó Bifpa*
io, como vimos jà no liv. 3. cap. 16. & fe puzeraõ Bifpos , Sc Arçebifpos

aa índia Oriental , Sc no Brafii j Sc muyto antes em 1472, tinha fido a


Ilha da Madeyra , com Breve do Papa, annexada , fugeyta ao Bifpa* &
do de Tangere , Sc a feu Bifpo } o que também logo fe desfez èz^ aífira :

naó feria muyto , fe o mefmo Bifpado da Ilha da Madeyra íe rnudaíTe do


Metropolitano de Lisboa (com quem tem menos commereio } ao Me-
tropolitano das Ter ceyras , com as quaes tem commereio mais ufado,&:
prdinario. Là o vejão os a quem toca. ,

83 Refta pois que no tal caio de fe erigirem os doUI JBifpados

Em IngAy
de Sâõ Miguel, &
Fayal, Sc em Metropolitano o da Tereeyríi >; qwe vif-
àasfels I-
,, - ^ T to a efte da Terce vra fe lhe tirarem íeis Ilhas , Sc ficar fó com tfes de fua
-.
IhAS ane Ce Ur ao ao a- ^ rj- - j /r r n ,t i

Bijpado de ^„^^^ immediatajunídicçao, que em lugar diíio le lhe conceda O: prover là


i

feyto Arcebijpudo P^r fi fó QS Benefícios das fuás três ilhas, ( excepto o DeadodeAngraj)
,

parece qne je lhe mas que OS náo poíTa prover , fenão em gente natural de alguma das di-
devem- largar osfro- tas nove Ilhas , Sc nenhúa Coneziaem homem que não feja letrado for-
'ífimentos dos Benefi-^
^ado eiii direvto, OU Theologia , havendo^o ; pois então , Sc com eíTã
"*"* expearativa fe èftudarà mais là em as Ilhas, Sc viràó formarfé às Univer-
%7"exce\Z
íidades fe S. Mageftade não coíiiima prover Be-
de Portugal; porque
^lldo^^de^An^r.cd
tanto que nmca os fehão
neficio das Ilhas
, era homem natural delias , não deve eonfentir
ip?roí;^;íí/è«áoí«ij«^- que o dito Arcebifpo faça o contrario, Sc menos que leve de Portugal
tttraes das mefmas criados para OS prover là, Sc não aos naturaes do Arcebifpado , podendo
,///?/«
, &em letra- j^ fervirfe de gente muyto honrada Sc atè os mefmos Bifpados : das Ilhas
avm o-os.
feprovcrião melhorem naturaes delias , do que em outros que forem
E parece cfue S Ma- fó a encheífe, Sc a voltar promovidos;Sc moralmente impolHvel he, que
g^ftade provera me- no grande numero de Cónegos, Parochos , Sc Religiofos (como ha nas
VooroArcehiJpado,& novellhas) naÕ bajacapazes de ferem Bifpos là,Sc mais zelofos;poisíÍ5
BJjpados das dttas J.
g^ Portugal naó he ordinariamente Bifpo quem não he Portaguez, ra*
ias
^^° '^^^^ '^"^ *^^^ ^^^^^ "^^ ^^-^^ Biípo ,
fenão natural delias , havendo-o,
}emreosh'a
pois
de haver dignos sm ^ pcífcveraráó nellas então.
tanta Cler-jia leculnr
& em tãtas Reltqiões
como la ha ; &
entam
naÕ tratarão de ir (ó
a, encherfe.é' voltar^
SZ h P I 1? U L O XV.
mas aficar ftrfipre cO
ÍHatEj^ofas.
Cojnofe confewarú o governo politlcj),é' jurídico
dasllhm}

^4 T^ O que em feu lugar diíTemos Cidade de Ponta jà , fó na


\_J Delgada da Ilha de Saõ Miguel ha hum Juiz de fora , quô
juntamente he Corregedor da Ilha de Santa Maria > Sc nas outras fete
,
Ilhas,
Cap,XV.Da Rdaç.do ciy eljác crlmeyq deve haV J Ang.j^^^^
lihas, como também na Ilha Terceyra , naõ ha fenaó Juizes Ordiná-
rios , que faó dos melhores das terras -, &
julgaô na primeyra inftanciaj Na Ilha firh))^ãji
&
admittmdo appellação, aggravo parao Corregedor de Angra em fe- devem confirvar òj
fHUcsOráimr,os&
£unda mitancia, ôc dcfte fe appella para a Relação de Lisboa , quando a
íiateria naô excede a fua alçada i&defta forte legovernaô eftas Ilhas, Xtl pZlcZ
ha perto de trezentos annos. Quanto pois a Juiz de fora de Angra ipa- J^f^nl^; ^^^ h*vt-
liecequenáo convém metter-fe-lhe , porque olevaráõ muyto a mal as rkniffo-.&n* Ilha de
mais nobres familias, em que fempreandàraò eftas JudÍGaturas,& não Saò Miguel o fe»
com a
convém à Coroa, confervaçaõ das fuás Ilhas j ôc menos à confervaçaô /wt fora
& de
corre^/çavdeS.Mé^^
da cabeça delias , defgoftar taõ gravemente a todos os principaes da ''''*•
idita cabeça, mas que governem como atègora
governarão tantos cen-
cos de annos , ôc como fe governa amayor parte de Hefpanha com
Juizes fem ferem Bacharéis , mas com Gavalleyros de capa i &
efpa-

4a. Na Ilha âo FAjdft


,,i, j ^ ,(f • 1

^ porém a Ilha do Fayal * parece neceflario que nel-


Qj.iartto ^^^^ ^^^y~ furfuiz
la haja hum Juiz de fora, Bacharel letrado formado,&: que
efte feja Cor- deféra^quefeja tam^

regedor juntamedte das Ilhas do Pico j Flores , & Corvo , ( como o de hm Corregedor dé

SaóJVliguelhe Corregedor da Ilha de Santa Maria) & que o taljui2


Pico, Flores, & Cor-
defóravà,aomenoshumavezemfeu triennio , vifitar as llhasde fua
2Z7jíhaLC"ê
Correyçaõ;& que o Corregedor vifite fomente as Ginco Ilhas, Tercey- ^^^^ ordenado, &
ra, Saó Miguel, Saó Jorge , Graciofa, & o dito Fayal
pois nefte naõ ha
, „^- ^ Reaifit^nda^

tantos letrados , como na Ilha Terceyra j êc o Corregedor defta


affifti-

xà mais em a fua Cabeça da Comarca , rendo menos Ilhas que vifitar , &
menos viagés de mar i & ao Juiz de fora do Fayal não he ncceíTario que
da Fazenda Real fe lhe dè o ordenado , mas que lho dem , &
accrefcen-

tado , o Senado da Ilha do Fayal, 6c os das outras Ilhas de que


junta-
,

mente he Corregedor. Mas também parece jufto j que nas


duas Judica^
haja entre eU
íuras de Saó Miguel, 8c Fayal j havendo boa refidencia j

las afcenfo, & promoção de huma à outra, Sc


que depois de paífadas am-
bas, Sc com boas refidencias tiradas , feja o que as tiver
promovido à
Gorreyçaõ de Angra , com beca, & pofle tomada na Relação do Porto,
8c por feu procurador fem virem pcíToalmente a Lisboa requerer , co-
,

mo por vezes fe ula com os que fervem em o Brafil, na índia, &c. 8c def-
ta forte haverá mais qitem quey ra ir fervir os ditos poftos , 8c com mais

^^^-^í*/»* >«^ '^fi^


^^^^sT^**' Mas porque Caindà em cafo que S. Real Mageílade orde-
^eoqueaquif6fepropoem)aindaficaamefma difficuldade (que ào^^^X^l^
de vi-
Juízo Ecclefiaftico propuzemos jànos capítulos antecedentes j ^^.J^^ ^^^^ ^^^^
fem as appeilaçõcs, aggravos,ou reeurfos de taõ diftantes Ilhas ao Rey- <>«,j.^ ^^^^ ^ ^, ^

no de Portugal, com taô exceífivos gaftos de fazendas, & peíToaes pe- Porto tanto menoi ,

•rieosdas partes poriíTo também , 8c fomente fe propõem ,


-,
que parece diftante daRelaçaà
neceíTario erigirfe em Angra huma Relação fecuíar aonde
fe findem as '
,
f f;f;;f''
f "T
caufasxrivís, 8c crimmaes & fe,julguem a final as appellaçoes , & aggra- ^ -
^^^ ^^J^^ ^^
vos que vinha5 a Portugal affim o:fez a Coroa de Caftella em a cabe-
^^^^^^ D^.^tQnio^
'

ça das Ilhas CanariaSjCÒm ferem menos as povoadas, ( como em feíi In-


garjà Timos) ôc eftarem menos diftaittes da terra firme de Hefpanha;
& afllm cambem o fez, & em varias partes das índias de Caftella & affim
mefmoo faz Portugal em vários lugares da índia OlciçpRl t atè.em Ma-
Vv 11/ -
eao
hI"
3^io Livro IX. Complemento da Hiftoria das Ilhas*

€áo nâ China j & &


em o Brafil ha Bahia j eift fim aífim o fenhor D. Aà^.
tonio pelo feu Conde de Torres Vedras Dom Manoel da Silva, quedei
mais levantou em Angra quafi todos os maycres Tribunaes, que havia
na Corte de Lisboa, como notámos jà em fçu lugar; logo huma fó Relar
çaô do Civel, ôc Crime , &
tam neceffaria fe deve levantar na dita Ilha
Terccyra.
Para eíí:à Relação deve haVerfempíefeteMiniftros ao mei
^7 ^

nos, & íeis fubftitutos para os legitimes impedimentos dos proprietá-


rios os fete proprietários parece devem fer primeyro , o Defembarga*
:
,

Púãe tonfiàr a dita ^°^ Corregedor da Comarca fegundo, o Defembargador Provedor dá


-,

ReUçad de fete D*- Fazenda Real j terceyro* o Auditor da miliciado Caftelio , que fempré
femhã-gadores deag- ht letrado formado quarto , o Provedor da Gbmãrca, ou
i Refiduos,qud
cravos, 'jtieJepoH. ttím praxe judicial
j quinto, O Juizdos Orfaõs, pois tem a mefmapra-
tao^& aigHsju„jn. ^g.
^^^^^^ ^ j^.^^ ^ Contador da Fazenda Real j feptimo , hum Ecclç*
*
fiaftico dois que forem Bacharéis formados do Cabido , ou de fora del-
le. Regedor defta Relação , o Capitão mor de Angra em falta def- -, &
í te o Capitão mòr da Fraya } Chanceller o Defembargador Provedoí
da Fazenda ReaL Paraoá fcjs fubftitutos fe ápontaó , primeyro ^ o Proí
^

vedor das Armadas de Angrâj fegundo,o Auditor do Donatário da Pra-»


yaj terceyro, &
quarto, os dous Juizes Ordinários de Angra j quinto , 5c
iexto, dous Bacharéis formadoSi hú Ecclefiaílico, &
outro leygojos qué
o Regedor efcoihen
88 Para os ordenados dos Miniftros defta Reláçaõ fe na5 dei
Ve tirar coufa alguma da Fazenda Real} mas bailará ordenarfe que os
fete proprietários , que naô tiverem ainda o habito de Chrifto com ten^
ça, o tomem logo lá em Angra j &
com tença de aõ menos qiiinze mil
reis^para gozarem os pri^^ilegios da Ordem} & lá mefmo fe lhes tiremjôc
julguem as informações fummaria , & brevemente pelo Bifpo , ou Ar-
cebifpo de Angra pois fe n^i Mefa da Cónfciencia naõ pôde fer Depuí*
}

tado alguém que naõ tenha õ habito , & o grande ordenado delia, razaô
parece que da Relação das Ilhas da mefma Ordem de Chriftoj nenhuni

Oi dos Âgirrãvos t - ^^^^ Miniftros proprietários , &


muyto menos os feUs Regedor ^ §s
faõds ordenado j7- ^hancellerj nenhum poífa ferviir o officio fem tér o dito habito } fó efi &
memehAbm daOr.^^^ tencinhas fe tiraráõ da Real Fazenda da Alfandega das mefmaS
dent de chrifto^&te^ Ilhas, fem outro ordeflado algum ; &
em liígar delle fe lhes deVe conce^
ç« com^uegotem dos der , que poflaõ íevar as aflinaturas , chanceiíáíias , &g. em dobro das
^^^"'"^"^^""^^dobíadas que jà levaõ os Defembafgadores da Relação áú
C^^S^Í^^^r" ^°'^^°
^tu^ttt
<jtte \lvai í] L ' P°^^
°^ *^^^ ^^^^^ "^^ ^^^ ordenados , &
os do Porto os tem.Po-
Porto.
" rèm os leis fubftitutos da tal Relação , fó entaõ, quando chegaíem a feí
proprietários , fó entaõ teraõ o que éftes tem de habito , tença ; & ^
quando fó dé fubftituiçaó fervirém , íevaifáô entaõ as dobradas aífiriatu-
ias, como os proprietários-
89 E quanto aos Letrados, Procuradores, & Efcrivães Mcy-
,

rinhosj & Alcaydes


Guardas da Relação a nenhum deftes fe deve or-
, ,

denado algum j nem dobrados falarios, pois affim comofc lhes aug-
mentâ o trabalho âíTíni também fe lhes augmenta o lucro , & coiifórmòl
,

à Ordenação do Reyno , á qual naô podem exceder , &: menos contrai


íiar } mas deve a Reíaçaó ter fumrao cuy dado de que conforme a el la féí

pro-
Câp.Xy.Dà alçada, no CiveI,&dnitie,áaditâRe!aç. fft
|>rocgírem os feycos ^ que ordinarianiente lá íe proceíTavaó mal
j & que
a§ letras dos Efcriváes , ou Tabeliiáes fejaõ muyco legíveis
, & íem ra-
bifcasj nem repetições efcufadas, &naóo podendo affim fazer, fejaõ pe-
la Relação privados dos officios > & póftos logo outros, fem appellaçaó
para algum outro Tribunal , mas ló com os prmieyros embargos
que fc
lhes julguem , &: ou por elles os abfolvaõ, ou eondemnem ainda
eni ma-
yor pena, ^ a executem.
90 A alçada da dita Relação fe deve extehicr na jurifdicçaõ á
iodas as nove Ilhas Tereeyras , fem exceyçaò de alguma, &os Juizes
iiaô fó Ordinários, mas Juizes de fora, & Ouvidores dos
Donatários,^ A ^Hepeílm chter
amdaefpeciaes Corregedores de algumas das ditas novelíhas, íeriõma
aíffda da Là
^brigados apor o (Cumpra-fe) às ordens da dita Relação & naõ
j lho Rtl^íM^é- a fuamè
pondo feraó obrigados a ir à dita Relação dar razaõ de fi
, ; &naõ a dan- ^'^ """f^ "^f^-
do fuificiente , poderáõ fer naó fó reprehendidos , mâs fufpenfos do of-
ficio atè nova mercê de S. Mageftade 3 a quem a mefma
Relação dárà
iogo conta d© que tem obrado y & entretanto proVerà quem firva
o of-
fieiQ pelo fufpenfo : &
fó fobre o Senado da Camera de Angra, ou
de ou,
traíemelhante, cujo pelouro veyo de Portugal cleyto,naõ terá
adita
Relaçaójurifdicçaõ immediata alguma, inas là deyxarà taes
Senados
com ofeu Corregedor i& fó quando defte appellarettt pafa adita Re-
lação, fó entaõ o julgará , & juntamente ex
officio appellarà para ElRey
no Defembargo do Paço , do 'que frez o tal Senado da Cámera , ficando
eiitretarito a fentença fufpenfa , fem fe executar por parte algúa.

91 No Civel terá a dita Relação muyto mais eftendida fua al-


çada , pela mayor diftancia do Rey no , & mayor miiltidaó de caufas úu
í^eís i & aílim parece que deve fentenciar , & executar
definitivamente
tudo j em quanto naõ chegar a caufa a vinte mil cruzados de capital,
&
©u mii cruzados de renda annUal , pel-petua j porém que em chegan-
do, & muyto mais paííando a dita quantiaj ientenceem fim a caufa roas
,

appeliando-a por parte da juftiça, nâô executem a fentença, itias as


par-
tes a traraó para a Relação de Lisboa pafa nella fe
, julgar , pois jà as
partes de caufa taõ importante iiaõ deyxaráó de ter, com que
facilmen-
leafeguir;
92 No crime porém, fé òcriminofo for peaôí por fentença fi-
íial da Relação das Ilhas feja fentenciado, & executada logo là à moí-téj
»Sc muyto mais qualquer outra menor pena < oií qualquer degredo rhas ^*' "^^^^^^ ^^^
fe
:
f
o cnmmofo for fidalgo filhado nos livros dei Rey , ou cohhecídamen-t'*'?'' "'^ '"''*^^ ^^
*^'
te Cidadão privilegiado j ou legitimo hetodelle
j & muyto mais , fe fdc
Cavalieyro das Ordens Militares 5 eftes das Ordês fe não fentericeem
a Lisboa j & os outros
là 5 Tilas íe remetta a caufa ao Juizo competente
privilegiados por fidalgos , ou Cidadãos conhecidos poderáõ fer
, kví^
tenciados , & executada íà a fentença da dita Relação , fe for fó
pecuniá-
ria, ou de degredo ,airidá dentro da Comarca das taes
Ilhas, & pelos
annos todos que fe julgarem; & fe lhe derem fentença de morte, ou cor-
taínerito de corpo , oU açoutes, oU ainda degredo pára fora
da Comar-.
ca das rioVc Ilhas, naõ fe eXecUtarà là i fem por parte da
Juftiça vir ap-
pelíadá à Relação de Lisboa, & neíla fe confirmar, ou emeíidar a
taí feri-
tença : o <íuç feenteade da mefma forte , quando o çriminofo for alguni
f ti
' Comf lemeíito da Hiftòría das Ilhas»
Livro IX.

Miniftrõ da mefma Relação que fó poderá fer fufpenfo & darfe coníâ
i ,

a EIRey para ordenar o que fc deve fazer & fem


iflb naô fe executará ,

outra algua fentença da dita Relação.


E fe o Reo ( ou criminofo , ou ainda íó eivei ) for parente
'

93
jD«e partntifco fi em fegundo grão, ainda de
aíHnidade, de algum dos Juizes , naõ poderá
deva ter por fftjpejito, eftefer em tal caufajuiz i mas chamar-fe-ha outro em feu lugar i mas fg
é-prohibidot entre o jp^j. parente em fó terceyro, ou quarto j ou mais afaftado gráo, ainda po-

f«í^,^ «
p^rm^ & a razaõ parece fer
por dentro da mefma Ilha ordi*
jjgj.^ fér feu Juiz j ,

nariamente fe fazerem os cafamentos delia, & por iíTo os nobres ficarem


ordinariamente taó aparentados entre fi, que fe também no terceyro ^ &
quarto gráo naó puderem fer Juizes naó haverá muy tas vezes quem o,

poíTa fer j & naô he crivei que hú parente em terceyro , ou quarto gráoi
por elle obre contra ajufliça , nem que o aperte tanto a tentação deite
parentefco, Gomo á do parente em primeyro j & fegundo gráo, ainda
deaffinidadeipoisatèomefmodireytoEcclefiaftico faz efta diftinçaÔ
para o contrahir impedimento j em os que jà faõ affins ; com mais lar- &
gueza deve proceder oàitt^toCWili&cQnminúaàjudkandumi do
.flueo direyto Canónico <í<;*

CAPITULO XVL
Do quefera mais conveniente modo de governo mi*
litar em m taes Ilhas,

94 T^ Afece que nurica fera conveniente haver nas nove Ilhas

HaíÕÉs, & eiéperien. 1 Terceyras Governador geral algum , ou algum ice-Rey V


cia com ^íít parece ^ fobre O militar de todas as Ilhas , 6c muy to menos febre o militar , o &
mnca coKvtm haver politico civil aprimeyra razaó he-, porque nunca tal geral governo
:

tíof Ilhaí
houve,nem em tempo dos legítimos Reys de Portugal , nem em tem-»
Tercejiroi
hna fè refidente ca-
^^^ intrufos de Caftella i & como ha perto jà de trezentos annos que
Xrn/no l/lf, ^s taes Ilhas fegovernaó , & bem, fem governo tal
, não opoderáólo-

fe percaõ j pois nao^ha


& mtnoiimtar^ente frer , & fe lhes fará violência tao grande , que
M militar, & civil, violento que feja perpetuo. E fe fe inflar , que naó he bem que taes Ilhas
fejaõ huma bicha monftruofademuytas cabeças fefpondeo-fe jà , que j

r
a quem a natureza deo muy tas cabeças, fem ellas fe naõ confervaj & ex-
'

emplo temos no corpo humano , que tendo huma fó cabeça fuprema,


tem ainda em cada dedo fua *& aíTim melhor fe confervaó humas àsou-
tras, & eftas à mefma maó 6c ao mefmo braço 6c tudo
,
fubordinado à ,

cabeça fuperior 6c aíTim também o Império Lufitano tendo a fupre-


:
,

ma cabeça em Portugal hum grande braço em a índia Oriental outro


, ,

em o vafliíllmo Brafil huma perna eftendida por Angola atè toda a


}

Ethiopia; 6c outra perna lançada ao interminável Maranhão comtudo j

cm cada huma de taes partes tem pofto fua fefpeciál cabeça , Si todasiu-
jey tas fó á íupef ior cabeça Portugal, a quem ló conhecem todas.
95 A fegunda razaó he a mefma experiência, 6c em as mefmas
Ilhas , pois ( como jà vimos) huma única vez, que neftas Ilhas, efpe- &
cial mente na Terceyra houve huma fó cabeça do governo politico, ci-^
vil.
€ap JCVí .Òue huéa cõnVê Gpv,géral de todas H Ilhas.fr^
jfili 6c militar, fenhor D> António , & feu Conde J^. Ma-
em tempo do
noel da Silva, por culpa deite, & das nações eftrangeyras que iimet-
íeo , fe perderão entaõ as Ilhas, & o mefmo Conde íè perdeo , Tendo em
Angra degollado & pelo contrario em a feliz Acclamaçaõ do Senhor
:

K.ey D. Joaô o W. por fe governarem as Ilhas per fi melmas , cm o pri-


ineyro anno conquiftáraõ , ao que parecia inconquiítavel , Caftello de
Angra ; tóraàraô os foccorros todos de Caftella , & com fua cabeça as ,

mais IlhasfefugeytàraõaoinvidoReyde Portugal D. Joaõ o IV.lo-


^o manifefto he quenaõ coavemque eftas Ilhas fejlo governadas em
todo o governo por huma fó particular cabeça de vaífallo algum , feja
com Q titulo que for, de Governador geral, ou de Vice- Rey que là a0jf-
frem qualquer Ilha,& muyto menos em a mais forte cabeça > Ilha Ter-
ceyra. ;:-f ;::: ..,:>:
i 96 A tercpy ra razaõ he pelo perigo de perder Portugal as di-
tas Ilhas,quetanto lhe fervem ,& Iherendemj porque fe houver hum
Xó Gapitaõ Geral, ou Geral Governador , & Vice-Rey nas ditas Ilhas>&:
,€fpecialmente na mais forte Terceyra , efte ( como homem poderá
}
tentarfe alguma hora em fe levantar com as taes Ilhas debayxo da pro-
tecção dealguma naçaõ eftrangeyra , que o faça delias Rey feudatárioi
4c oeftimaráõ muyto, & facilmente o defenderão ,^^&ferá quafi impof-
^íivelaPortugal o conquiftallas, como o foy a Caftella, defde a Accla-
maçaõ , ha perto de oy tenta annos & fe as taes Ilhas fe governarem,co-
í

ino atègora , por feus Senados das Cameras , Capitães mores , milicias, ^

& fó quando muyto} por algCis Meftres de Campo em diverfas For-


(
talezas póftosj nunca eftes poderáÔ unirfe tanto entreíi,& taõ fe-
cretamente, que entreguem a Ilha fem ella o prever , &
lhes refiftir , ÔC
ainda os fufpênder, prender , Sc dar conta a ElReyj & muyto menos pó*
4erà5 os diverfos que governaô hiuna Ilha, entregar a outra que gover-
naõ outros }&aííim com efta divifaõ deyj^aráó de traçar torres Jde Ba-
•-''• ' ^-'^-^
bel. .

-
97 pira alguém que de effeyco cada Ilha tem feu Capita5 •

Donatário , única cabeça de toda a Ilha, & nem por iíto a entregou a ef- _
r , ^ ,

trangeyras nações i& as nove Ilhas atègora tem hum fóBifpo,&hum 5'^ t'^*"]
áb Corregedor , hum fó Provedor da Real Fazenda , & nem por iíT© fe '^^^^^'"'f^^n^^^T.
íem governado mal Refpondc-fe , que quanto ao único Bifpo , efte fó
governaô efpiritual, 6c Ecclefiaftico ;& ainda por naõ poder acodir a
cantas, 6c taõ diverfas Ilhas,propuzemosjàa necellidadc demais Bif-
pos em as Ilhasj 6c nada difto toca à material,6c militar defenfaõ, ou con-
fervaçaõ delias. E o Corregedor he fó triennal, 6c fe lhe tira fua refiden-
cia, 6c naõ pôde em três annos armar tanto , que fe lhe naõífayba j Sc de-
late,. & emende o que fe experimentou tanto em o Provedor da Real
:

Fazenda,que por fer perpetuo de huma cafa, por iífo mefmo os últimos
fucceíTores j pay, 6c filho^ moírèraô èm Lisboa delatadoSíSc dando con-
tas, &por ifiofefez o talofficio triennal , com refidencía cada três an-
nosi 6c fe defta forte houvéOeliriafó triennal cabeça em cada Ilha, Sc de
quem os Seriados delia tiraíTém refidencia ,& avifaíTem a S. Mageftadc,
menos mal feria éiltaõ efta cafta de governo ,pofto que ainda efte em o
militar teria.Gontrafimuyto, .

98 Quart-3
Livro ÍX.Comptemèntò da Miftomdâsilhã^
"'
|r4

58 Qiiantoporètn ao primeyro oppofto exemplo dos DonãS


m juri/dicçao dostmos, parece j fepòde refponder ,
que primeyramente Gapitãés Dó;.'
Copitãei Donatários Daitâúos foraõ inílituidos nos defcubnmentos das Ilhas para repartireiít
deeadaJlhai asinovas terras aquém asquizefle ir povoar, &; cultivar na forma da
fefmaría, conforme a fuás doações exp^eíTas j &
naõ de outra forte aU
guma , & para iffo fe lhes deo a^redizima dos dizimos que Elíley levâ
das taes Ilhas , como Graó Meftrc da Ordem de Chriftoi & fe lhes deo
mais a maquia dos moinhos de agua públicos , & o eftanque do fal , que
fe naõ poífa vender na tal Ilha > íenaò por ordem do Donatário dell%
- com condição que o venda a vmtem o alqueyre , &
fe nem de fal pro-

ver a Ilha j nem o vender a vintém , cada morador da Ilha pofla prover*

íe de fal, raândando-o virjOU comprando-o aos navios que o trouxerem,


& vendendo-o na Ilha pelo jufto preço que nella correr.
99 /í^^fe lhe deo , o fer Capitão geral de toda a ilha , fe hua
fó Gapitania ha nella , como em Saó Miguel, & em Santa Maria $ ou fet
Capitão geral de fó a fua Capitania j fe na Ilha ha duas Capitanias diw
V verfas , como na Tetceyra a d& Angra , & a da Praya , & na Madey ra a
de Fiínchal * êc Machico j mas" a dita jurifdicçaô he fófobre o governo
militar, pago, ou da ordenança, para defenderem allha de: inimigos, 8c
•iiaõ he fobre o politico, &
civil y &: menos fobre o governo Ecclefiaítí-
coi pois fobre efte tem o governo feus Prelados fómenté-i fobre o pc^ &
litico , & civil tem o governo os Senados das Cameras , & as Juftiçâs
ReaeSi èc naõ o tal Capitão Donatário , nem o feu Ouvidor 6c por efte $

cuydado da guerra tem demais o dito Donatário em a Alfandega,ou Al*


moxarifado, a redizima dos direytos Reaes , como fe lhe paga; Do que

100 Parece que do tal exemplo do^ Capitães Donatários de


cada Ilha j nem fe fegue que haja também nas ditas Ilhas hum Governa*
dor geral de todas i antes fe fegue que nunca o haja, pois feria empre^
juizo de cada Donatário, que ElReypoz emcadahuma: nemtambem
íe fegue , que cada Donatário de huma Ilha tenha delia
a jurifdicçaò to-

da ; mas fó fe fegue , que cada Capitão Donatário he obrigado a aíTiftir


peíToalmente na Ilha , Capitania de que he Capitão , aíTim como ca^
&
&
da Cafteliaõ no feu Caftello , na fua Província cada Governador das
armas deila, que ( fe naõ pôde aíliftir nella) oufelbetire a Capita-
&
nia, & íe proveja em outrem que la aíTifta -, ou fe lhe tire meya renda da
dita Capitania , appltque às mais ,
Si efta fe &
melhores Fortalezas da
Ilha 3 pois cada Ilha he huma perpetua fronteyra que eftà fempre em
viva guei ia com quantas nações , & Cofíarios , & ainda MoUros a aco-
metem ; & he contra a juftiça , que eftando o feu Donatário aUfente j&
fem a defender naõ fó tenha ainda a Capitania , ( que a muytos' vimos
,

tirarfelhe jà , por naó refidircm nella ) 6c que comtudo ainda coma del-
ia a inteyra renda. . ^

loi Ou pois o tal Capitão naôrefida em a fua Capitania, por


ÉlRey o ocGUpar em outros ferviços feus fora da Ilha, entaóbaftará
que fique eom meya renda da Capitania &: com a do novo pofto , em
,

que Elíley o occupar , &í que a outra meya renda fe applique , como a-
dma , às fortificações , 8c reparos da Ilha j ou fe o tal Capitão foy cha^
"'^W^
Câp:^í;ÇKr^ |i^|leç^e m: ^^1^

'pada ^Qf çtil^s , ©ftàs. encaõ fe examinem , Ôí íentepç eç n> , como pare- .
f^Í

Cf f q\\ ^b»íolvçndo-o, & reí^icumdorO à Capitania ,


,. rendas delia , oi| ^ J
jíáxandq.Oi4çll*>&íemp,re ao.meriGsde meyarçnd^4eillano cd^ "|

ceaveaiçidoi que feria efcandalofa injiiftiça , naõ haver çaííigQ para eA {

ç^í^^l^ofos, por íerem poderoíOiS ,& tudo atal?afaTem cp^^


ÍÇi Nem obftarà dizerfejqyeaufentíindp-l^ o Capitão Do-«<
i¥itariOjf Bt%õ a fua cufta fe põem feu Lugar-tenençe, a que ch^maó Go- Snlfpwtoí , f *4»<
vernador,&quepoftoè%,pòdeoCapita5,í"em pmurzodí^ Ilha,eí:''" ?T' ITJ
ç^raut^nte delia, rorque leFefpQi^de, que pFiraeyramente apçrdiçao
^tf„re/dirosDonaÁ
4qs lugarçs he ferem fervidos por fubítitutos j èç neftíis mef^>^S Ç^pir^- tarios & tirarfelhes
,

syas das ilhas fe vio bem ein a Ilha da Madeyra , que em tempo de Imt;^ rfftdenciA cadajiif
s fubftitii!Eofoy entrada & (^queadade piraça^i & na Ilha Tç^çey$^qi]Q,(inms^&e.
fakando-Hie o feu Do,natario D. Çhçifltoivaõ de Mpura , foy par Çgftel-
la oppugoadatantas vezes, ate que foy entrada,^ entregada pe|o meí,
mo íubitituto P. Manoel da Silva i & fa^:ido he , quç fubítitutos traÇíjnii
(ó de fe e«cher a fi , &; a quem no tal lugar os poz ; da defeza , bel^^ & &
cpmmum da Ilha, nada trataò j comp ipcm fe vio em Úa^ô Miguel , em q
teríipo do íenhor D. António , jà entrada por elle jà por Francezes
, ,

Inglezes, ^
errt fim pelos Caílelhanos , &
por todos deftruida , por em
fx naõ ter entaq feu Capitão Dpnatarip , como tinha em a tempo dí

Acclamaçáo do Senhor Rey D. Joaõ o IV. &


pqr iíTo entap naõ pade-s
C#© damnp algum , por ter prpprietarip , &
naq fubftitutp, Subftitutpí
pois de cargos que tem proprietarÍQS,faõ oráiiíariameiíte a perdição dpí>
|iigfmo5; cargos, & terras em que os põem •

I0| Parece logo, que os proprietários Caipitáes das Il,has,nel-


hs reiídaõ peffoalinenEe, quanto for pplliivel i & qiie em quaptP m^Uf
elbvcrem, cada féis annos o Corregedor da Comarca, com o Provedor,
ou Juiz , ou Almoxarife da Fazenda Real, & os penados das Cameras
que houverna tal Ilha, rirem todos huma fó refidencia do dito Dona-
tário, por teftimunhas que paífem de trinta fem nellas entrar pefiba al-
,

guma da obrigação , ou fcrviço doDonatariç , & por tempaque naó


chegue a trinta dias , nos quaes eftarà fufpenfa a jurifdicçaõ , & Ouvi-
doria do Donatarioj ík em cfpecial perguntem, fe acode aos Fortes , ou
FpKakz:as, 6v dèfenfa da Ilha fe íez alguma manifeft^ injufta violên-
i

cia a alguém? fe he contratador , & abarcadpr , ou faz eílanque que por


fuás doiçôps íhe naõ feja permittido & fol?>re tudo fe tem trato com al-
;

guma Htaçaõ que tenha guerras com Portugal. E fechada a dita rçfidet^-
çiajOudevaíTa, delia naõ julgaráó çoufa alguma, nem poderàó4e al-
gum m,odo proceder contra o Donatário , mas a mandarão logo , 8f em
fegredo fechada a S. Mageftade, fem delia darem parte a peíToa alguma, iW
mas efpeifapdo o que El Key ordene. r Lá-. r j, . .>^

f fut ^ ^^ ^ "^° '*^^'^*'"^Donatário próprio mas algum ;,,•„,, .^^^^^^


, ^

Içu lu-bltituto , çh^imado Governador > defte cada três annos fe tire a Governador,
cada 3^.
mçfm4 reíidencia , ou devaíTa, Sc pelos mefmos acima allinados, ôcda amos fe tire rejíden.
mefma forte fe envie fecreta, & cerrada a ElReyf, fem cuja nova ordem c^'* & oponha, o »
«f»^
ff naõ proceda também contra odito Governador :& ainda que elle a- ^<'«'*''"'*"''
^'«' f^ »

cabeafeu tríennio de governo , & volte para o Reyno, fempre adita ^^^'J»' ''««''"^'' /">;'- >

devaííd, OU rçfidencía fç tue , & fa mmk


a S. Mageí^ade. E a razão 4p ^J^^^^ ^^ >y^^^ -

fobre-
/ w I ,'

iIá tívf o IX.'fe^mplemento da Hiftona das llha^;

fobredito hé manifefta j porque parece governo injufto , que efteja hutn


Donatário paflando mais de féis annos em feu governo jundica- > fetn

ijiente fe faber como governa j &


hum ílíbftimto feu.paaando da mef*
ma forte mais de três annos , fem le poder louvar o bom , Sc redo go-
&
verno , nem fe emendar^ acodir ao mào j fendo que ao mefmo Corre-
&
gedor fe lhe tira refidencia,com ordinariamente naó paíTar do feu trien- '

nio5 & fe aífim fe fizer aos Capitães Donatários ,


naò fuccederàõ as def-
compofiçõcs, que do contrario fe tem vifto. fuccederem.
105 Farecemais,quequandofepuzerfubftitutodo Capitaô
de huma Ilha , o ponha ElRey & naò o Donatário Capitão , nem efte
,

nomee dous, ou três, para que ElReyefcolha delles hum ; porque àã^
ta forte poderá o Capitão nomear hum feu criado , que
và mais esfolar a
Ilha para o dito feu amo , & para fi ,do que và a defendella , &
gover-
nalla j & que và mais a defcompor os mais nobres & ricos
fidalgos dá
,

dita Ilha, do que a tratallos como deve , & elles merecem &
aífim pare- :

ce conveniente que quando S. Mageftade quizer mandar


lugat-tenente,

ou Governador, em lugar do CapitaÓ de huma Ilha, que primeyro man*


propo-
de que o principal Senado da Ilha com o fea Capitão mòr lhe
ííhaótres dos naturaes da mefma Ilha , & muyro em
efpecial dos que ti*
Verem militado, ou em Portugal, ou na índia, ou noBrafil, ou amda
dos outros , que de la nunca fahiráõ, mas tem fervido, & faó de là natu-
raes, & dos mais nobres , & ricos, & dos taes nomee S.
Mageítade o qutí
melhor julgar, porque efte tratará com a devida cortefia aosdamefmâ
Ilhav fera mais folicitode,aconfervar,& mais fiel a Wio como a coufá
,

^
fambem fuâ ; aífim o Vimos jà na Ilha Tercey ra , a quem fo feus natu-

tbaes a tiràraõ a Caftella, & deraõ ao Senhor Rey D. Joaó o IV.

C AP T U I L O XVII.

Do maritimo governo que deve haver nasdtW


'

libas.

IÔ§ A5 poderáôconferVarfe Ilhas ém o Oceano fem naU-


^ , tico commercio , &
poder naval , que as defenda j &
aíTim parece deve ordenarfe , que na principal Ilha
Terceyra fe façao
navios , como antigameilte fe faziãô, no porto de Pipas
Portinho , &
Novo, nas aguas d« SaÓ Sebaítiaõ , &
no areal da ViUa da Praya;
para taes navios as madeyras fc tirem da Ilha do Pico,
da de
& que
Dos fem navios ar- Saõ Jorge j & das Floíes Corvo-, , & &
quando faltem raaftroè
, fe comprem aos Eílrangeyros 5 ou
mAdos.cjtie là devim competentes de fuás terras fe man*
terfemprea^nhaiem
dem vir porèm que da madeyíadas Ilhas fenaô pague fenaò fóocor-
>

/«^ defeK.a ,como n


^^„^ ^^ ^^^^^^ f^-^^ ^^ ^^^^, de Vinte peças ca^
nhau em outros tem- ', ,,^r, j 'írf^mi^.-ptfnh^ici
/^/i<i.^.o«dahum,oytoporbanda,&asma.sdepopa,&pioa,Svíe^iipie Ceniao
q-, ^,-^^^

pos, & Contrameí^iT, 6c com oyten-.


/^^^r,««<»^ /-^^Mí. vinte marinheyros cpm
Piloto, Meílre, &
ta arcabuzeyros , dos quaes fejaÓ dez artilheyros
para aS peças ne- -, &
nhum navio , ou embarcação poífa navegar entre as Ilhas , fem ao me^
guerra artelharia ,& armas fobreditas , exceptos
gente de ^
nos adita *' ,
aquel'
fcàp.XVíLDâ Infulânà Aimada f áeve hàvèf nas
aqueiles barcos, ( que là chamaõ Caravelóes} que naô poderáó ter rtie-

nos de íeis remos por bandaj & vinte arcabuzeyroS) fora os remeyros , 6c
mannheyroSjComohòasmeyasgaUs. -<

107 Dos taes navios leja obrigada a Ilha Terceyra a ter tresí
dos quaes hum feja a Capitania dellesjô: dos mais navios das llhas,quan-
do fe ajuntarem, éc efta Capitania feja de trinca peças , treze por bandaj,
Sc quatro de popa > & proa ^ & cento & quarenta mofqueteyros , dos
quaes fejàó vinte artilheyros j & demais tenha vinte marinheyros com
os Prlotos i & fem eftes cento ôc feffenta homens ao menos , nunca a
Capitania faya dallha Terccyrá. A Ilha de Saõ Miguel bailará que te-
nha fempredous dos outros ditos navios de vinte peças cada hum j ôc
outros dous tenha o Fayal com a fua Ilha do Picoj ôc fe deftas duas Ilhas
quizer cada huma fabricar làos feus dous navios, podeio-haó fazeri
mas nunca taenores , nem de menos gente , artelhariaj armas , do que &
acima eílá dito j nem por iflb deyxaráô Saõ Jorge , Pico , & FloreS
&
de conceder á Terceyra a$ madeyras que lhe pedir para fabricar os feus
navios. As outras Ilhas porém fó poderàõ fabricar os íèus CaravelôeSj
mas que naó fejaõde menos reinos^ armas i & gente do que fe lhes afíi-
liou acima. Edefta forte haverá nas ditas Ilhas fempre huma Armada
marítima , de ao menos fete nàos, baftantes para defenderem as fuás cof-
ias, ou feus canáeS & feguramentefe communicarem , & commercia-
,

rem humas com as outras j & naô irem là Mouros , nem lhes pilharem
cativos,mas antes cativarem áos MouroSjSc navegarem feguros das Ilhas
a Portugalj & de Portugal às Ilhas.
108 A mayor difíiculdade éftá toda, em donde ha de fahíc
o muyto neceíTario para fabricar a dita , & a fuftentar
Armada Infulana
depois, fem fe diminuírem j antes fe accrefcentarem as rehdas Reaes. ^'^/'^«f'»
mintimÀ
Parece que baftaràprimeyramente conceder S. Mageftadeque námiz^^^J^f^^^^fT^.
,_ ^
^-i '* r 1 1 T j r levantar para fajten-
1

Terceyra em a Cidade de Angra fe levante huma Junta marítima de le- ^^ ^^ jJ^ Armada
I

te Deputados, homés de negocio de dentro de toda a Ilha T^^^^f^^^^i fem concorrer afaz.e.
^

Angra, &: Praya i dois quaes fete fejaõ quatro Portuguezes , ôt naturàes da Real, mais qm et
das mefmas Ilhas , mas refidentes fempre em a Terceyra , 6c dos de nz~ privilégios^ &c.^
gocio os mais ricos ; & os outros treS fejaõ
Eftrangeyros , porem riiora-
dores já, 6c de muytos anhos na dita Ilha Terceyra, ainda muyto mais &
"ricos, &abonados com bens de raiz nas Ilhas ; Sc qiie deites fete, êc deitai
Junta feja Prefidente ó Provedor dás Arniadaâ,ou o Capitão mòr de An-
gra , ôc que todos eftcs fejaõ eley tos pela Camera , Capitão mòr de &
&
Angra ; o que pelos mais votos da tal Junta fe votar , iflb fe faça , ex-
cepta a eieyçaó de Capitão geral da Armada, ôc Capitania delia, que
propoíto pela dita Jiínta ao Senado da Camera , 6c fera fus
efte tal fera
confirmhçaõ naó fervirà.
109 Em fegundo lugar fe concederá àmefma Junta, que qual-
quer dos fete Deputados delia poflTa fazer, Sc ter mais navios (mas naõ .,

de menos gente, peças, 6c armas do que os primeyrçs féis da Armada,}


'

,
' ^

r:
& que corii elles poífa commerciar, naõ fó cõni Portugaljmas com qual-
quer parte do Brafil, de Angola, Sc Maranhão , ôc de toda a naçaô , con?i
quem Portugal tiver paz, &commercio; excepto unicamente com a
índia Oriental Sc que naõ fó das mais peíToas da Ilha Teiçsy ra 3
,- d^ &
j18 Livro IX. Complemento da Hiftojria das Ilhas.^

de Saõ Miguel, & Fayal, mas também das outras Ilhas Terceyras , pof»
fa quem qmzer celebrar contrato de companhia cora a dita J unta mari-
tima , & entrar ao ganho , & perda com ella , conforme ao contratado,
& parailTo pòr na dita Junta a juro o que cada hum quizer, nunca fe lhe
pagando mais de cinco por cento , & que fó no fim do /egundo anno fç
pagarão os juros dos dous primeyros annos , para nelles poderem ter
commerciado , & cobrado , com que já em cada hum dos annos feguim.
tes paguem promptamente cada anno o íeu juro.
iio Em tercéyro lugar fe deve conceder á dita junta que os
navios por ella mandados a commerciar , em qualquer porto , ou Alfan-
dega da Coroa, & Conquiftas de Portugal, paguem fó os direytosjà
fabiJos , & nada mais & fó ao recolherle à Terceyra paguem hum poç
;

cento ao Senado da Camera , do retorno que trouxerem , para a defenr


fa , & fortificações da dita Ilha Terceyra mas que também de toda a
:

Ilha Terceyra fe naó poíTa embarcar para Portugal , ou para Conquifta


alguma fua, nem trigo , ou frutos outros , nem peíToa, ou encomenda al-
'

guma,fenaõ em navio da Junta , ou dos fobreditos da Armada & que ;

f
Gs preços dos fretes fe determinem fixos pelo Senado da Camera de An-
gra, ouvindo primeyro os votos da Junta, &
determinando depois 5 &
definitivamente o que parecer mais jUÍlo,fem diíío feadmittirappella-
çaò,nem aggravo, mas fó primeyros embargos, que o dito Senado refol-
verà , fem nefta parte fe recorrer nem a Corregedor , ou Relação que lá
haja, & menos a Portugal
por tal taxa fer do Senado.
,

III Em quarto
lugar fe concederá à propofta Junta , que
quanto por feus na vios, afíim da Armada, como dos de fora della,quan-
to fe apanhar , de Mouros , piratas, & navios inimigos de Portugal, tan-
to feja da dita Junta , fem darem à fazenda Real coufa alguma , ou al-
- , . ., giimdireyto do que affimjuftamente cativarem, &atè os cafcos, arte-
^h^"^' & ^^^^^^' ^ muyto mais as cargas, fazendas , & peííoas, pois tudo
""iZltlZa t
^a.ohrigada a acodír ihe he neceírario para íuftentarem, &
pagarem a Armada íobredita, òc os
K tiào da Indi» logc mais navios , para os quaes naó concorre a Fazenda Real com coufa
al-

em appareeendo , &
guma. fó fera obrigada a dita Junta , a que, apparecendofà vifta da
E
kcufia da fttnta &
Terceyra alguma nào da índia Oriental , mande logo a Capitania
,
jji^^
acõpmhalU Ate Lu-
^^ ^^^^ Armada a acodirlhe , comboyalla para a Ilha , &
depois acompa-
nhalla atè Lisboa , fem por iíTo pedir a ElRey paga , masfó algúas mer-
cês de hábitos, ou fórosj&c. E também íerà obrigada adita
Capitania a
dar caça a todo o Mouro , ou Coflario que apparecer , & a acompanhar
, quando
outra Ilha aíTira
o Porruguez navio, que da Terceyra for para
o mandarem o Senado, &: a f unta.
112 E porque na Ilha Terceyra, naõ fó pelo inverno, mas
também pelo mais anno , corre algumas vezes hum tal vento Suefte , (a
quechamaó o Carpinteyro, por faz-erdar àcoftaos navios )&defte
vento he feguro hum dos portos da bahia de Angra , ao qual ehamaò
Onàefe hA de mo- Portinho de Pipas, & efte fe o concertarem abatendo-o
mais,& metteH-
Ihtr cm Terceyra a do-lhc mais agua dcntro iílo poderà fazer ajunta , & com pouco cuf-
fl ,

^rmada Inf^bria^ ^q^ ^ recolher alli OS fcus navios , fem lhes poder fazer maio dito vento;
fegum de tempeM ^^^^ ^^^^^
^^^^ ^ ^^^^ Capitania de trinta peças naó entre là, mas fe
reco*
Sc
lha às aguas de Saõ Sebaftiaõ, que he porto que fica para o Nafcente,
tam-
Cap.XVIí. Aonde fe íegòrarâ de tèpor.a Armad.Inful..^ 519,

tamisem abrigado do Suefte j & donde pôde levantarfe a dita Capita-


nia cada vez que quizer, & íem perigo ^pois affim o fazia ilo aíinoda
Acclamaçaõ a Armada de Angra contra a Praça Callelhana j &ainda
mais antigamente fefaziaaífim,& pôde fazeríe agora :& ainda qteeo
concerto do interior Porto de Pipas faça gaito ajunta > mayor gafto lhe
faria perderem-fe-lhe alguns navios j & pelo contrario o dito Porto lhe
poderá render muyto, fenelle piízeirèm tributo moderado a todo o
navio, caravela, & caravelaÕ, que fe recolher ao dito Porto de Pipas j Sc
o Senado naõ deyxarà de dar licença para o dito concerto , & tributo, s

113 Com conceder pois Sua Magcftade fó as ditas quatro li-


eençâs, & fem concorrer com coufa alguma de fua Real Fazenda, lucra-
ra tantos mais direytos, quantos fe augmentaráó com os navios do com^ ^^* itfem^ é^um*
mercio da tal Junta j & com a Armada da Junta poupara os grandes gaf- ^*^"^'' " ^
^**'J^
tos que fana mandando cada anno Armada Real às ditas Ilhas, que com ^^^^ ^^j
^^^ ^ ^,'^^
a fua là fe hvraráó decoflfarios ; & ainda efcufarà de mandar bufcar às MadaJnfalaHa-j&doá
Ilhas nàos da índia , pois de lá as traràõ a Portugal,Sc bem acompanha- mayoresgáfios qttcjt^
das com navios da Armada Infulana , & com foldadefca nova, &manti- MR«y p^^f^Z^t
mentos & fe ao Brafil haõ de ir comraerciar navios eftrangeyros ( ou a
:

Angola, & Maranhão) com tanto perigo das Conquiftas Portuguezas,


8c dos mefmos Portuguezes tanto efcandalo jufto he que eftrangeyros
,
&
naõ vaô , mas vaõ os Portuguezes das Ilhas, para eftas direytos de lá
voltem, pagando fempre os direytos coftumados,que nas fuás terras pa-
ra onde voltaó , naó pagaó a Portugal os Eftrangeyros } &
atè g mefmo
Brafil lucrará mais , em Eftrangeyros lhe naõ levarem bugiarias,8c efcu-
làdos novos trajes , mas em lhe levarem Portuguezes os trigos , as fari-
nhas, os vinhos , & o mais neceííario i & fe defta forte enriquecerem 06
taes Portuguezes , ao fcu Rey enriquecem, pois o Príncipe mais rico he
o que tem mais ricos vaflallos, de quem a feu tempo fe poífa valer.
'k 114 O ponto pois eftà em que das Ilhas naó faya navio algum
íem a fobredita força de artelharia , armas , & gente de guerra , & que
as peças fejaõ ao menos de calibre atédezafeis , & que metade ao menos
fejaõ de bronze j boas , & limpas as armas , & com bom provimento pa-
ra tudo de pólvora , & bala ; & fem ííTo a Junta os naõ deyxe fahir , vi-
íitando-os muyto bem primeyro , & que na volta vejaõ fe traziaõ expet
dita a artelharia, & mais armas , & foldadefca , & achando o contrario^
gravemente os multem , & caftiguem pois mais vai irem ,
-, &virem
com menos carga , & naõ fó a falvamento , mas vitoriofos , do que per-
derem-fe por ambiciofos. E por iftb fe naõ confínta, fenaò rariílimamen-
te, que das Ilhas và ao Brafil navio algum fó , mas , ao menos , dous jun**
tos, ou mais ; para o que , o que for de Saó Miguel , ou do Fayal , vci
nha-fe primeyro ajuntar comos da Terceyra,& juntos todos partaó^
vifitados,& fe vaô conforme à ley da Junta,& da mefma forte venha6,ô$
da Terceyra cada hum và logo para a fua Ilha.

Xx ij
jiíi Hí^L?l^!^J!X» ComplemètitodaHiftoria das Ilhas»

5 sl!k^íiihí&^, fi<^ P I T V h,0 XVIII.

Damayorfidelidade ^/í^ M^s Terceyrm guardarao


,
ííis

«í^l "::;•»
í a Fortugaíy & da que Portugal deve fuppor é^ ,

guardar com ellm.

115 |n^ A relatada atèqui hiftoriaconfta que as Ilhas Terceyraft


JL^ foraô defcubertas l^nV^tf pela de Santa Maria era o anno
de Chrifto de 143 2 & a de Saõ Miguel em 444. & muy to pouco dc-
. 1
-
^
pois a Ilha Terceyra, & logo as outras féis Ilhas donde íe fegue que jà y

y. ^ ... . , . , nèfte anno de 7 5 .Goníaõ jà asjllhas Tercey ras duzentos & oy tenta 6c
1 1

T^cerm para com


^""^^ ^^ ià^^áe defde o feu primeyro defcubrimcnt© , como de feu
^'^^^

rt Ri!'ysde T^orí^^^^
nafcimento primeyrojôc que neíles quafi trezentos annosforaõ todas as
4[^nfíamiaf^fffre. ditas Ilhas mais fieis aos Reys de Portugal , do qu-e os naturaes do mef*
mo Reyno aos feiís próprios ReyS} porque fe bem repararmos, paflados
os primeyros três Reys , Affonío I. Sancho I. Aífonfo II. depuzeraõ &
aoRey Sancho II. &: mettèraõ em leu lugar a feu irmaó AíFonfo III.
tendo eftes quatro reynado fomente cento trinta três annos , pois & &
£> primeyro reynou fetenta três annos , o fegundo vinte & íète , o & &
íerceyro onze, &:p quarto vinte dous , &
todos juntos fazem fó cen* &
totrinta8ttres>r:/-^ ,,

1 16 E paffados depois cento & trinta & quatro annos nos cin-
co Reys feguintes, D. AíFonfo III. D. Dinis , -D. AíFonfo IV. D. Pedro,
^ D. Fernando , entaõ fe dividio Portugal, & parte delle feguio a Rai-*
uhadeCaftellaD. Brites , filha legitima do antecedente Rey D. Fer-i
nandoi& aoutra parte de Portugal feguio ao invifto D. Joaõ, irmaó do
Rey D. Fernando, & filho illegitirao do Rey D. Pedro , 6c ficou fend©
ElRey D.JoaõoI.&: com efte, 8c delle fefeguiraó mais oyto Reynan-
tes,que foraóD.Joaõo I. D. Duarte, D. Affonfo V. D. Joaó o II. D.
Manoel , D.Joaó o IIT. D. Sebaíliaõ , & D. Henrique , nos quaes oyto
fe paíTáraó mais entaõ cento &c noventa &
dous annos, atè o de 1 5 80. dd
; Nafcimento de Chrifto i &
jcntaõ deyxando Portugal de acclamar afei
nlloraD.Catharina5legítiraafilhado Infante D. Duarte , filho legiti^
mo do Rey Dom Manoel, acclarnandò ao fenhor D. António, filho ille-
. gitimo do Infante D. Lu is , legitimo filho do Rey D. Manoel também ,

ao fenhor D. António deyxou Portugal ,& admittio por feu Rey a Fc-
lippe II. fendo fó por linha feminina ( de fua mây^a Emperatriz D. Ifa-
bel) neto tanibem do mefmo Rey D, Manoel atè que dahi a feflentá ;

annos ( defde 15 80. a 1 640.) o meímo Portugal tirou o Reyno a Felip-»


pe IV. neto doU. Rey de Caftelk , & o reftituhio ao neto da fobreditá
fenhoraD. Catharina,oqualfoy ofeliciíTimo Rey D.Joaõ olV.inVi-
â:o Reílaurador de Portugal , a quem fe feguio em Portugal feu legiti-
mo filho D. AíFonfo VI. & a eíle fuccedeo D. Pedro II. feu irmaõ , pay
do fenhor Rey D. Joaó o V. que hoje governa, 8c Deos nos conferve pos
felices annos. .iti,.iu^ kvjíjiííi/j ,. .4 ^ m;,
uy Donde fèvè, quQhaven<Í9 ieiscentos & quatro annos que
Por-
Portugal tem ultimamente Rey próprio coroado , (defdeoanno de
í 1 1 1. em que íoy acciamadoj <k coroado Rey , o primeyro D. AlFonfo jf^^ayar jideUâac& 3
Henriques } atè efte anno de 1 7 1 7. oy to vezes tirou a ordem dos ante- dos PertHgucaes Jn^^
cedentes Rey s, & poz outros novos , como em lugar de Sancho II. poz JuIhhos, f Ȓ d^s me(i{
Afíbnlo 111. em lugar delRey Dom Fernando, &
de íua legitima filha a '"*" ^^jm*I. ^i i.fji
Rainha de Caftella , poz a D. JoaÔ o I. em lugar de D. Joaó o II. poz a ''*^'*-^
ElRey D. Henrique^ em lugar defte D. Henrique poz aofenhor Dom
António , em lugar defte confentio j & admittio aos Felippes 11. III. &
-1 V. & ultimamente em lugar dos taes Felippes poz ao feliciffimo Rey

D. JoaÔ o IV. &


ainda em lugar de D. Aífonlo VI. &
em vida delle a
íeu irmaô ElRey D.Fedro II. de que nos ficou o fenhor Rey Dom JoaÔ
jo V. que Deos nos deyxe lograr por muytos annos : &
affim em pouco
.mais de feiscentos annos fizeraó os moradores de Portugal cy to mudan-»
çasdefeusíoberanos Reys. - .

i 18 Ferem as Ilhas Tefceyras , com haver jà quafi trezettto*


annos que fe deícubriraõ no penúltimo da vida delRey Dom Joaó oL
nunca jamais mudáraó de Rey Portuguez , &
a Reys Caftelhanos refif-
tiraó duas vezeSjSc atè a mortej da primey ra vez a Felippe II. por quaíi
três annos , fuftentando Rey ao fenhor D. António Portuguez , a quem
CS de Portugal defemparàraó j fegunda vez fuftentando com viva guer*
ra de hum anno inteyro a feliz Acclaraaçaó do Reftaurador da Coroa
Portugueza ElRey Dom Joaõ o IV* & confeguindo a vitoria comfó a
gente, & governo das mefmas Ilhas Tereeyras fempre logo foy mayor :

a fidelidade que as taes Ilhas guardarão a Portugal.


119 Segue-fe ^ois, que de taô fieis vaflallos Portuguczes, co-
mo lemprcforaô osdeftas Ilhas Tereeyras ,fe devem confiar muyto oá
fenhores Reys de Portugal, deyxando-os là governarem-fe j no Eccle-
iiaftico fecular , por feus Bifpos , &
Arcebifpos , ( que como jà propu-
zemos , fe podem pòr de novo } no Regular pelos Superiores de fuás
Religiões } no jurídico, civil , 6c criminal , por feus ordinários , natu- &
raes Juizes em primeyra inftancia, &
por feu Corregedor em fegundai
&: em terceyra , a final, pela Relação , que jà acima fe propoz na forma
fobredita no bellico do mar, & commercio naval, pela Junta maritima^
:

& Senado da Camcra, que fe pôde erigir com fó as licenças jà propoftas;


& no bellico da terra por feus Capitães mores & Senados das Cida-
, ,

em que os ha mas com a antiga ordem, que aonde houver


des, Sc Villas ;

Praça, ou Fortaleza alguma fechada j o que delia forMeftrede Cam-


po, Capitão, ou Caftelíaó , nenhuma jurifdicçaó tenha fora da íua For-
taleza,& Militares della}& fó poíTa deprecar aos Senados'da terra , a &
feus Capitães mores, & por efcrito o que lhe for neceíTario , Sc da mef-
,

- ma forte o Senado a ellej 6c fe alguma deftas partes tiver razaõ de quey-


xa, a dè a ElRey , 6c eípere a refoluçaô Real fem outro algum eftron*
,

do, motim, ou violência.


120 Defta forte fe goverrtàraõ fempre as Ilhas, ha quafi tre*
•zentos annos } defta forte fempre confervàraõ a mais vaflallagem aoS
feus Reys Portuguezes j defta forte conquiftàraé , & per fi fós , a incon-
quiftavel Fortaleza de Angra, 6c atirarão a Caftella ,& fugeytàraô.

Portugal j & defta forte emfim naõ tem havido em a Terceyra , 6c em '

Xx xi} owcrásí

m
Livro I5C. Compíemetito áa Hiíloria das Ilháir" *^
I %%
outras defcom^oílções , motins , & deígoftos , que aindi
ftias Ilhas , as
vemos em outra algua parte , aonde indo hum fo homem com titulo de
';
Governador, a todos,& aos melhores quer logo metter dcbayxo dos pè^
devendo eftimallos muytoj a tudo quer abarcar ; & fe naõ rouba a todos>
4o de rodos fe enriquece 5 & fe encihe de tal modo , que por mais que fc
'
J queyxem deíle, com o que traz íe livra , &
fica ainda mais rico , do que

f mha ido pobre, Mas tambem.por iíTo mefmo vimos jà q a algus defteg
fe lhes & voltarão defcompoftos porque a pacieii?
perdeo o refpeyto , j

eia ferida fe converte em furor, & em fuás feridas moftraó, os que às re-
ceberão, de fua fúria as defculpas. Oh quey ra Deos quea ifto fe acuda.
Segue-fe fecunde j que às ditas Ilhas fe lhes naõ deve im^
X 21

jPuMKt mtnos trihu P^^t "em decimaSi nem tributos, de nenhum modo ufuaes j &
que fe &
tos fe dívtm impor alguma vez fe lhes impõem algum donativo , deve fer muy moderadej

tm M diítu Jihat. &


fó por tempo determinado , do qual naó paíTe a razaõ he evideií- : &
16; porque cada huma das taes libas he huma perpetua, viva fempre &
& de guerra fempre viva com Mouros Coííarios que cora
fronteyra , , ,

ninguém tem paz & com as nações inimigas de Portugal que a elle fe
, ,

©aÕ atrsvem a vir, & vaõ ,& faltaõ na Ilha a todo o tempo & quand® ,

menos fecuydai 6c de natural direyto & praxe delle he queíhuma , ,

Praça , que cílá era guerra viva , fe lhe naÕ impõem tributo > nem fe Iht
entende impofto, mas fe lhe manda foccorro; & o Rey que lho naõ
li^nda de fóraj antes lhe manda tirar o que a Praça em íi tinha , niíT©
quer íó a Praça bufque , & fe entregue a outro Rey , que naõ fó lhe naõ
tire, mas lhe mande o foccorro neceífario > & naõ permitta Deos, que iíl

*o fe Vòja em taes Ilhas.


122 A outra , 6c manifefta razão do fobredito he j porque o
defcubrimento de taes Ilhas nenhuma perda trouxe a Portugal , nem de
€on$3 mnhum gafio honra , & credito , nem de rendas antes grandemente lhe augmentou a y

faraó Mllhofl ercey- fama,


&
a riqueza j poraue naõ failando jà nas Ilhas da Madeyra, 6c Ca-
Terceyraslhe naÕ cuílàraõ a deícubrír , nem ainda con*
r^cl^Ir'''^''^''*'^''^^^^^^^^»^^
ies lhe 'ãtTmentkrãd ^"'ft^'' > V^^^
nenhuma gente fe achou nellas que as defendeífej 5c o que
feu irupmo^^HM ren- ^^ Portugal foy a povoaílas , foy a enriquecerfe de fertiliíTimas , *c no-
dai,drdirejtoj e^ vas terrâs, das quaes em Portugal fe levantarão tantos Capitães Dona>
,

lhe eteraõ novos titu- tarios , mores , tantos Marquezes , & Condes , tantois
tantos Alcaydes
los aos fem grAnàes,
Grandes Titulares , que de novo honrarão a Portugal , Sc o enriquecè)-
^ue áoA ditas Mas ^^. ^ ^ ^^^ ^^^^^ ^^^^ ^^^^ ^^^^ Reyno ínfulano de fetenta &: qua-
tantas rendas ^^° legoas de comprido, & vinte & quatro de largo , 5c com os dizmios
de toda éíla vaflidaõ de terras além dos Reaes direytos nas Alfande-
,

gas & ainda que Portugal ficou obrigado a por iíío mefmo defender as
:

ditas Ilhas com Armada Real que no veraõ as và correr, SiZ defender,
,

nem taes Armadas vaó jà, fenaô algumas vezes a bufcar as nàos da
Índia, 5c as Frotas doBrafd. Pois pergunto: Se Portugal nadagafla
com as ditas Ilhas mas das rendas delias paga côngrua ao Ecclefiafli"-
,

CO, 6c ao militar de algum prefidio, 6c comtudo lhe rendem ainda tanto,


5c nem por mar as defende pergunto , com que razaõ lhes ha de impor
:

ainda algum tributo,8c as naõ hade deyxar defeaderem-fe aíiconió'


commercio do mar?
123 Scgue-fe tertíú , que ainda que nas nove Ilhas Tercey ras.
Cap^^VIII.Do poiacô f gailaõ a Pôrt*& mtiytoqfêdê. .J^
argente que pôde tomar armâs , Sc pelejar pâíTa dê trinta Ôc cinco mi|
,

homés, & fó Saó Miguel tem doze mil, 6í dez mil a Ilíia Xêrceyra, ain- Cmo ordinariãmhi
da comEúdo da tal gente fe naõ deve tiVar muyta das taes Ilhas } mas de;' tç femõdevem\tir»r.
ye-íe-ihedeyxar formar a Armada raaritima, & fua Junta ào Commer'^^f'*"^i^^f'*^,"'H
eiojque acima propuzcmosi & aodepois, quando for mais neceírario,& A"*SírS»rífI
precifo, poderá Portugal tirar alguma das miliciasjà deftras,&damaí^^,^yj:^^^^^^^^|J;.
rinhâgemdos navios, ( provendo-os primeyro là de outra marinhagem, ^««^wff^,/^»^^ ^4.
& milícia) & deita forte íerà fempre Portugal a marinhagem de que tera rn ofim^ fnftfi aftn-^
tanta falta, & pilotagem jà dèftra , & ainda alguma mais milicia , fe con-i f^K
eeder às Ilhas terem a dita Armada , & Junta do feu Commercio coniia ,

tem França em muytos portos , & por lífo brevemente ajunta o necefla-
rio para as fuásArmadas.
1 24 E da mais gente das Ilhas , conveniente fera que Portuy
gal tire em alguns annos } & dos filhos fegundos dê homés nobres algúa
companhia, que milite em Portugal, ou và para a Índia, & outras Con^
quiftas, & que mereçaô affim íer ao depois promovidos aos pòftos mi-
litares das mefrnas Ilhas , & as tratem , & governem com mais comedi*
mento, mayor zelo ,6c experiência. Porém do ordinário povo das taes
Ilhas,como efte tanto multiptica,que as mefrnas Ilhas jà não podem fuf-
tentar a tanto povo,ferà mais conveniente tirar dellejde annos em annos,
alguns cafaes inteyros para o Braíil, Angola, 5c Maranhão, que povoem
tantas terras, como ha là defpovoadas, &: fe lhas dem em que vivaõ , efi-
riqueçaõ, & multipliquem , & como verdadey ros Portuguezes fejàô a
Portugal fempre fieis, & defendaô as Conquiftas}& poisafíim o fez
Portugal com as mefrnas Ilhas defcubertas , 6c eftas o fizêraò com as di-
tas Conquiftas que depois das Ilhas fe defcubriraõ & ainda acharão;

parentes dos que ao principio fora6 das ditas Ilhas para là j Sc efte pare*
4se.fer o melhor governo.
t^fih.f.

C 4 P I T ayi L o XIX,

ExhortaçíiÕfinal dai ditm libas.

125 T^ E toda efta Hiftoria Infulana , & de toòzs as pr©pofta«


nenhuma outra coufa fe pcrtende mais, que
nella feytas ,

â mayor gloria de Deos , & o bem mayor do próximo naõ fó das mef- ,

rnas Ilhas , & da naçaò Portugucza, mas de todo o fiel Chriflaõ Catho-
lico; & naõ fódo mayor bem temporal da vida , honra , & riqueza deita
imundo , mas muyto mais do bem eterno , da efpiritual vida da alma , dá
Verdadeyra honra, & riqueza das virtudes feja pois de todas
:

12Ó Primeyra exhortaçaô , que fe lembrem eftas líhas , efpe-


clalmcnte as Tercevras ,que nunca jamais foraô povoadas de Gentios,
tju Judeos, Mouros, ou Hereges , coufa de que tal vez Reyno nenhum
fe poderá gabar ; mas que defcubertas por fieis Gatholicos , & à Igreja pri^j/rada
emfh^
Romana fideliílimos} & aífim como efta fó verdadeyra Fé ^omâtiã paçaS , ^ aeígment»
confervaõ ha quafi trezentos annos , aflim illefa , êc pura a deVcfn con- da^ra Fi CatheUsé^
fêrvar fempre , imitando a feus progenitores j pois tendo alguns dcllcs-^^'»^??
P4 LivroIX/CompleméntõídkHiftomáasífe
dado a vida pela pura Fé Catholica j aeftes deVem imitartodos os oU*
tros & fe houve jà peflba ( que raramente a houve ) que das taes Ilha»
:

vieííe delatada por herege ao Santo Officio , iflb, ou foy que de fóraCfc
nha ido às ditas Ilhas, ou que era fugey to, ao menos, originário de fóra^
& naô oriundo de feus Catholicos habitadores conferve-fe logo a Fé :

pura em as Ilhas, & ellas fe çonfervaráô.


127 Segunda, que advirtaõeftas Ilhas, que aflim como a mef-
. «",'>^
iwa Fé Divina , fe fe lhe naõ ajuntaô boas obras , he Fé morta , que na©
'Sêgimda àa cauttía baila per fi fó para a falvaçaõ 5 nem
ainda ajuntando-fe-lhe a Efperança,
m ^fem
fatiar infa- fgas naõ acompanhar a Divina Charidade, ou graça Divina, que He a
waraoproxim. mayor de todas as virtudes: aílim também fe perderàó , acabarão as &
Ilhas, fe Divina Fé, Sc Efperança em que fe fundarão, naô ajunta*
com a
Tem a guarda dos Divinos Mandamentos , & particularmente fenaõ re-
frearem as linguas , das calumnias , & injurias com que fe diz que fallaò
huns dos outros , ainda de confanguincos, fem advertir, que a íi mefmos
niíTo fe afrontaõ tornando-fe neceíTariamente a aparentar com ellcs,
>

fuccedendo-ihes alTim o que àquelles que atè contra o Ceo, ou contra o


jfeu cofpem , no rofto vem a cahirlhés tal injuria j atirando , quem
& &
tem telhado de vidro, ao mais forte telhado do vizinho, fuccede que fó
© feu ficará entaó quebrado i que quem de outros diz quanto , & tudo o
que quer, dos mais ouve o que aaõ quer.
128 Terceyra , que para alcançarem as fobreditas , & todas as
mais virtudes fobrenaturaes tomem por feu fundamento , como a ado*
,

-— j ir -iraçaó de hum fó Deos a perfey ta obfervancia da ley da pura razaõ , 8c


,

vlZados ír/fm« natural , & a fidelidade & obediência a feu natural Rey
quem vi-
, 5
pois
Divinos &,EecleJi.vc fem Deos, lem ley, fem Rey nem como homem vive mas como ha
,
, ,

afticos
^& Oráí»<«--barbaro Gentio & ainda como hum bruto indomitoi & a quem obíervã
, ,

çoesReafs,como «?íí?íi que o lume da razaõ , dado a todos por Deos , eftà
aqUella ley liaturâl ,
• /»/»« ^^ ^^^^^ didando , & clamando fempre , a eíle tal que aflim guarda a
da rax.ao.

natural ley & faz o que em fi pôde , naô fó Deos naõ nega os auxilies
/ ,

fobrenaturaes , mas lhos concede eficazes para entender , 6c abraçar a


fobrenatural ley & fobrenaturalizar a natural , & fó por puro amor d«
,

Deos dar a cada hum o feu, pagar o que deve a cada hum, naõ fazer a al-
gum o que naõ quer que lhe façaõ , & antepor fempre o bem communt
ao particular , tendo por mais amável , & honrofo dar ainda a mefma vi-
da por feu Deos, por fua ley , por feu Rey & fua pátria de que naõ re- , ;

pito os exemplos illufl/riíFimos que em toda efta hiftoria terá vifto cada
hú em muytosdefeus Progenitores.
1 29 Quarta , que reparem que nos primeyros feculos deftas ,

Ilhas hiaÕ de Portugal muy tos fidalgos & fidalgas a cafar às Ilhas , ,
&
deftas também a Portugal vinhaó cafar , & voltarfe para ellas mas
repa- )

'^Hírta\íjue ftvao rem (digo) que quando ainda lá havia terras por re partir, hiaõ de cà
deixemhvarda am- pg^^ Ihas darem jou quando a peflba tinha là algum bom morgado , &
hiçah ^'oprU OH
^-^^^^ ^^ ^^j^^.^ y^^ fLiccedefl"em de cà nelle ; & aflim de taes cafamentos
como os que hiaÕ à índia, à Ame-
''ibmbuP &tr ^ "lof ivo f odo vinha a fer fó ambiçaÓ,
t//r, & 'Sm melhor rica,a Angola,& a
Africa, fó a trazer para cà quanto pudeflem ; porém ,

*ntre fi )e confcrva- Como hoje em as Ilhas jà ha tantas cafas , taõ impas


) , taõ ricas, & taõ no-
raò comfigo, bres, quanto defcendentes da fidalguia melhor de Portugal ,jà efeufad©
parecei
Cap.XlX.Exhortaç.àFé,&íídelidâd.Divmaj&Íiuman.f2|

mrece, ou virem a Portugal bufcar Gafamento algum , ou de cà , ainda


muyco oíFerecido, aceycarem-o , & ao depois arrependerem-fe , experi- ^J^ta, àevem ««i
meneando os enganos da fachadenta baciíarelice , da riqueza fó fingida, jj^^^^'^^?/^^^^^
da fantaftica nobreza, & limpeza cal vez pouco conhecida: deyxem ^^ ^^^^^'.^^C^^^^^
pois os lihèos de fer jà pombos, naô fe deyxem enganar , là façaô os íeus ^ Deos.ao Rey, & ao
éafamentos, ou dentro da mefma, ou das nove Ilhas , confervando-fe af- hem cdmHm a Deos :

fim huns aos outros , Sc eftimando mais.O ferem dos primeyros em fuás f» Reli^ides-^ ao Rey
terras, taõ nobres, ôctaò ricos do queíerem em Portugal tidos ainda '^f>/'«*X«'f''»"'**» <f
,

cm menos , ainda que fegundos j & ainda de fidalgos que nem que co- Ztmemlv^ver-,

ifter tem algus, fe o naÓ furtarem. ^^^^^^ efl»dandoféi\


'
1 50 Qiiinta , que comtudo devem das Ilhas fempre vir muy- ^^ ^ Cadeyrínjgrê-i
tos a Portugal, mas fó a fervir a Deos, ao Rey, Sc às Refpublicas, & naõ jm fudicamrafi , &
á particulares. Por fervir a DeoS fe entende o vir entrar
, naquellas Re- & nmca fewir et»
ligióes em que là fe naõ mayores Univerfidades , pa- ^^'»«^'' ffíderfer,a
entra; eftudar nas
ra a Deos fervir melhor & dedicarfc ao culto de tantas mais & mayo-í''^'"*/'/":"^'^íí?:5
, ,

res Igrejas , quantas ha cm Portugal & havendo occafiaó de voltar pa-


j

ra as igrejas das fuás Ilhas acodirlhes , cOmò fez o exemplar varâó o


, ,

Doutor Gáfpar Fructuofo. For fervir aò Rey fe entende virem a Por- , ,

tugal a fervir em guerras juílas,jà de terra , jâ de mar j a paflar ao Mara-


nhão, a Angola, ao Brafil à índia Oriental , 6c às vizinhas praças de A^
,

ff ica , como vimos que fizeraó os antigos potoadorcs de taes Ilhas , &
com fó animo prompto de fei vir a Deos, & adquirir honra licira,& não
jfó riquezas i& então ainda èftas lhes dará oSenhor
liberaliírimo,&o
voltar também às fuas Ilhas, a governallas, & honrallas. Por fervir final*
mente às Refpublicas, fe entenJe que depois de eftudarcm os latins,
,

:& Rhetorica em fuas Ilhas, & ainda a F^lofjfia, & Theologia Moral, êc
Êfcholaftica,& graduarem-íe nclla ,Venha6 entaó a Portugal , à Uni-
^erfidade de Coimbra a hum &: outro Direyto, & à Medicina,& fica-
, ,

'jtem ( os quê puderem } graduados íeguindo as cadeyras atè os mayo* , ,

*JBâs póftbs delias, & os outros voltarem às fuas Ilhas a fer Miniftros nel-

ias,& acodirlhes em tudo como devem , & como fizeraõ feus Antepaf»
fados.
Igt Deftas cinco Exhortaçôes parece fefeguem as PropoftaSí
que o nobiliífimo Senado de Angra , & os mais das outras Ilhas , cada hú
êm o que lhe pertencer , devem ofFerecer á Mageftade do Sereniílimo
Senhor Rey de Portugal , & por efta Regia via à Santidade doSummo
Pontífice de toda a Igreja Gatholica , & oíFerecerlhas cem toda aquella
tepetidá inílancia, com que atè o mefmo Deos quer que lhe peçamosjêc
nunca defiftamos de lhe pedir o bem , nem defconfiemoS de o alcançar,
;.^or mais que fe dilate o defpacho pertendido, que, fendo juíto , fempre

^^^''Í^Jj^T^^jf;
(ou mais tarde, ou mais cedo) fahírà.
raJcodVà^ep^í^
13Í Apropoíl:aprimeyradevefer,queparâfeacodiratantâS,^^^^^^^.^^^^^^r^3
Sc tâõdiftantes Ilhas entre fi, que fe devem crearde novo nellas dous ^- „^^^ Bijpoem SJ
BifpadoS, hum na Ilha de Saõ Miguel, que fique com toda ella, & com Aíigftel & outro f» ,

a Ilha de Santa Maria , & o fegundo Bifpado em a Ilha da Fayal , & (Q.Fajal, & com Me\
éftenda a três Ilhas mais, í do Pico , à das Flores, & à do Corvo, para tropoUtam Arcebm. &
Jão fe levante a fer Cidade a grande , nobre rica Villa, que hc cabeça «<* T^^^l^y^* ^»^m
, &
ào Fayal j^í que o antigo Bifpo de Angra fique com as três Ilhas vizi-^^^^/"'^^''-í"'' *
I ^i4 Livro IX. Complemento da Hiftori^ das likâS.

Hhas da Terceyra , Saõ Jorge , & & feja de novo fey to Me^-
Graciofa ,
tropolitanoArcebifpo de todas as nove Ilhas & de todas fe finalizem
,

& (fe parecer mais conveniente} fe Ihedè


nelleas caufas EccleílafticaSi
terceyro fuíFraganeo o Bifpado tambeíii de Cabo Verdej & jà acima vi*
mos como os dous Bifpados de novo fe podem fufficientemente fiiften-
tar & com decência fem de novo fe tirar da Fazenda Real para taes
, ,

Biípos renda alguma ; &


Sua Real Mageftade he que em coníciencia o
deveaílim fazer, pois he oGraõ Meftre da Ordem de Chrifto, que tem
os dízimos das ditas nove Ilhas, 6c he obrigado a lhes fazer dar os Paílo-
res neceííarios a tantas mil almas , 6c taô invifitaveis por hum fó Paftor.

133 A fegunda propofta pôde fer , que comO eftas nove Ilhas
fetlçaõfegmda^ que eílaõ expoftas ao commercio de Hereges, naçóeseftrangeyras, que pa-
vrdeneS .Magefiade ra felhes naõ pegar alguma herefia , deve haver na cabeça delias em a ,

t^ue havendo niu taes


Cidade de Angra , 6c no Collegio de letras , que fundou o fenhor Rey
Ilhas quem de a CS-
D, Sebaftiaõ tom três Cadeyras ( de latins duas, 6c huma de Theolo-
grua de cincoètamil
reis cada amo para gia Moral ) deve haver
mais outras três , huma de Filofofia que come-
eada Mefire haja ce, 6c acabe cada três annos, fem parar anno algum êc outra Cadeyra de
,
;

mau no Collegio Real Moral também, 6c a ultima delheologia Eípeculativa,para que com
Áe Angra omr as três eftas féis Cadeyras (duas de latins , huma de Filolofia , 6c três de Theo-
cadeyroi f erpetuas
logia ) fe poíTaô formar, naõ fó na Filofofia Mcftres em Artes, mas tam-
hHa de Filofofia oh- ,

tra mais de Theolo-


bém naTheologia Licenciados por exame privado j mas que nao to-
gia Moral & outra mem là o Capelo,6c Borla de Doutores em Theologia , fenaó fó em Fi-
,

de Ejpecfflativa & lofofia j 6c que o de Theologia o venhaó tomar a Portugal , pagando


j

afie pojfaõ tomar là o meyas propinas em Évora, ou em Coimbra, fem fazerem jà mais a£to al-
grko de Mefiresem gum, &
fó moftrando as íuas cartas dé approvaçãodos gráos antece-
Artes , &
em Theo-
dentes tomadosi & ifto, como jà moftràmos, fó com authoridade, Sc pri-
hgia o de Licencia-
vilégios de S. Mageftade , fem ordenados da Real Fazenda, mas com os
dos por exame pri-
vado\ moi o de Dotf- que para iíTo derem là nas Ilhas os mais zelofos do bem eommum delias,
,

tons em Theologia o conforme aos que deo o fenhor Rey D. Sebaftiaô , de feiscentos mil reiS
naõ tomem là , (enaõ cada anno parafuftento dedoze Religiofos, a eincoentapor cada humg
em alguma doê Uni-
do Collegio que lá fundou.
'ver/idadss de Portfí'
val^vindo approvados 134 E ifto naõ fó o Senado de Angra mas também o feu Or- ,

dinário, êc o feu Cabido o devem pedir inftantemente, para fegurarem


for todos (em Mef'
Ktres, & femfaz.erem afiim a mais pura Fé Catholica, o melhor provimento de feus Parochos,
mais exame algum, a mayor authoridade , S<: fabedoria de feus Cónegos , aíTentando em fe
'
paguem fá meyas prO' naõ prover Dignidade, ou Cónego, ou Parocho, nem Beneficiado, fem
pinai ,& pojfaõ voltar
{cT ao menos Filofofo, 6c Theologo approvado , 6c formado, que ha- &
para ferem preferidos
vendo deftes , fe naó provejaô em outrem , 6c ainda a eftes precedaõ os
nos Benefícios das I-
Ihas.
formados em Direyto por Coimbra , para que aífim haja quem também
às mayores Univerfidades de Portugal venha , &
haja de todas as ditas
nove ilhas quem và á fua Univerfidade de Angra ; 6c o feu Prelado , 8c
ainda os outros Bifpos de Ilhas tenhaõaquem confultar,& aquemfe
lhes poííaó fem efcrupulo propor para os provimentos } muytomais &
fendo praxe, eftylo naõ fe prover Beneficio das Ilhas , fenaõ cm natu-'
&
ral de alguma delias.

'fetfçao tercejra, efue


Propofta terceyra , 8c a melhor , he bem que feja , que os
1
35
S. Magefiadenlcan- Senados, Bifpos, Cabidos peçaõ inftantemente a ElRey , ic ao Papa,
&
jtd» Stimmo Pmti- mandem logo tirar informações Canónicas das fantas vidas , 6c mortes.

. t^
Çap:XIX..Bafnàisjufta5SrneceíTafiapropofta. 517
âçdasobrasmilagrofas que obrou Deos noíTo Senhor por aqúellas íl-yç^ .j
luílres peíToas , cujas vidas acima efcrevemos,iíílini de S. Miguel, como
Btfos dZ^malVrê
4aIlhâTerceyra,& foraõ.emfanadade peíToas muycoUluííres,&deV canomc/in^»Í
todos por taes tidas, & eftimadas, para que Sua Sancídade , como Vio-a- ^'í^^ <^as virtudes^
rio de Chriftoe.m aterrajjuigando-o aflim diante de DeoS) canonize as-^''""'^^ cortei, é" ma-
taes peffoas , &
«ellas tenhaõ eftas Ilhas feus próprios Froteftores, & de- ^'' ^- ^''"
''s^'^%'
fenfores contínuos, & fe animem os naturaes a íeguillos & imitallos, & mZfn
,
^^^^""f*
dar nclies gloria a Deos , que he o fim porque ainda em eíh vida quer |)<,5
!&^daJ7cha
Deos que fe canonizem SanCQSj & por mais que jà hoje íe gafte em a ce- mJ
Beata May^â-
lebridade de Canonizações de Varões Santos, a tudo facilmente podem '^^'* ^^ Chaves ^cjm
acodir taes Ilhas, ôc entaõ Deos, U. os Santos acodiráõ mais por elias. f^^^ceo em PõtaDel.

136 Propofta quarta . que queyra com eifeyto Sua Mageftade'^'''^'* ^'' ^- ^^gttel;
Baõ fó confirmar o antigo governo de guerra da Jlha Terceyra por terr^J^^^'^''-^"'''^''"'''' '^'
f a, em fó os Capitães mores , & Senados da dita ilha , mas que também
ci^ofeTZilZT'
xom eifeyto conceda aos do dito governo o levantarem de novo a mari*-
|:ima Junca do Commercio ,na forma jà apontada , com a fobredita
Ar- ^'^^^^ fiítrta ^»e ,

mada de fete nàos , com a artelharia , armas , & milicias jà propoftas , 6c '^VJ'''^ S.Magtflaie
íudo debayxodo governq do Capitaõmòr de Angra, Senado da Ca-
ÍHera,^ Provedor das Armadas , os quaes juntos elejaõ o General da di-
XSLTl-''^'''
htZ°de AnarT ZZ
ta Armada & os Capitães de mar,, &guerra & Pilotos mores & de- conoederlhe
, , -,
de \om
pois quando o dito governo pelos feus mais votos julgar fer neceífario, f«? kvmte a
,
fmta
poíTafufpender o General da Armada, & fubftituir outro em feu lugar/^^^^^ '"'^ & Ar. f

& da mefma forte aos Pilotos mores, & Capitães de mar, & guerra , fem "l'^'^'^ '^' 4ngraparà
que poíTa hav^r de tal governo appellaçaó , ou aggravo para Tribunal ^'^^
^'^^-«f
.f?
-^"f*
algum mas huma fo replica dos fufpenfos , ou depoftos , & que fó três
;
l^lflpmTdoT''''^
^^'° '^^
dias depois de notificados tenhaõ para replicar , & fem com iífo fuf-
, ,
**

pendererti a execução, excepto cafo de fentença de morte, ou talhamen-


tode membro, de que ordinariamente haverá fufpenfiva appellaçaó
para o íupremo Tribunal de Guerra de Lisboa , ficando o condemnado
fempre prezo fem outrem ter voto em tal matéria nem Corregedor da
j ,

Comarca, nem Provedor da Fazenda Real, nem Meftre de CÍmpodo


Caíteilo, &c. -

137 Propoíla quinta j que fejâ fervido ElReynoíTo Senhor dê


levantar em Angra, & jà com eíiey to, a Relação do Cive},& Crime, pa- ^'^f^">«'«^^ fué ,

rafe naõ deftruirem tantas Ilhas como as nove Terceyras, em virem


/^^"^^'^''^J'-^'"'*
continuamente a Portugal com appellaçaó de mnumeraveis caufas, km
Zíaçad d^ChíTé'
lá nas Ilhas haver Tribunal em que fe finalizem pois mayor he o
j termo Crime^Hefeprofoem
das ditas nove ilhas, do que o da Relação do Porto ,& comtudo nefte f^í
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fe levantou Relação , fendo que as Partes defde todo
, o feu termo,nem ""^ ^^^^^ ^^" affafia-
paffaõ mares do Oceano, & de trezentas legoas, achando pnmeyroa Portugal, &
morre, ou o cativeyro de Mourama em tal caminho , do que cheguem a
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arrezoar fua juftiça; nem gaílaõ tanto, em por terf a mudarem fó de ter-
ra,& fó com o alforje feyto nellâ, & para ella tornarem com outro feme-^
Ihante, & fem perigos mayores & poriífo parece neceííario que ainda
:
,

que na Relação do Porto ha limitada alçada em oCivel5& no Come


naó, (coufa inintelligiveljfazerfe mais cafo da fazenda^que da vid33com.
tudo na Relação das Ilhas parece que deve fer pelo contrario , Sc que a
alçada no GiVel deve ki' muyto sxtendida 3 & muyco mais limitada ens
'o Cri-

m
5 18 Livro iX. Complemento da Hiftória áas í lhas,'

o Crime , quando chegar a fentença de morte , ou talhamento d e mem*


broi 6í que íempre fe appclle, ainda por parte da juftiça,& naó fe execu-^
te, fem na Relação de Lisboa fe confirmar a
fentença.

138 E fe ainda contra ifto houver Requerentes , Procurado-


SAfisfaz.em.feksdif rcs, Efcrivaes ,ou alguns outros Miniftros ^queíe queyxem de perde*

ficuldades occurren-
'
rem rauyto emfeus officios, faltando- lhes os falarios, & os mimos do^
tit. " '
litigantes das Ilhas, &:e. Refponde-fe com odireyto natural diftantcj,
que fe o falario , &
o lucro fe diminue a alguns com o fobredito , tam-
bém fe lhe díminúe o trabalho, & fem efte naõ hejufto haver aquellCiSc
aíiim também dos taes quey xofos naõ haverá tantas quey xas , de dilata-
rem as caufas , por a tantas naõ poderem acodir tam brevemente. Quan*
to mais que a natural razaõ difta também , que primey ro fe ha de aco-
dir & mais fe ha de eftimar , ao bem commum de tantas Reípublicasi
,

j do que efte , ou aquelle a feu bem particular. E fe alguém inflar ainda^


^^.^t^jfcM^ fem tal Relação j refpon-
quafi trezentos annos fe governarão
que ha
^i^LluJ J*^'^^ de-fe,que muytos mais anhos fe governou Portugal fem a Relação
^ ^ •^'"'7? do Porto, & com tudo fe mettco ; Sc as Ilhas de antes naõ eraõ tam po^
"^^ 'V'^^ voadas, como jà hoje o faój & fe tal inftancia fe admittilTe,
nada de novo

\T^^ fe emendaria, por fe naó mudar o antigo j o


que he abfurdo manifefto*

^^:^\v. .^/.i^v^Veja-fe o que acima fica ja apon^

f^.Xj!!^rJMfnms, laus e>eo.

<*-»
/^ 1 a^os
ri'i

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