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H I S ToRI
ULANA DAS
ILHAS A PORTUGAL SUGEYTAS
no Oceano Occidental,
COMPOSTA PELO PADRE
ANTÓNIO CORDEYRO,
Companhia da de JESUS,
Infulano também da Ilha Terceyra , & em idade de 76. annos,
LISBOA OCCIDENTAL,
Officina de ANTÓNIO PEDROZO GALR
Com todas m licenças necefjaridÃ.
Annode 1717^
^À
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PR o LOGO
Ao NOBRE LEYTOR. iiJíiO.-
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rtío:.- ciiiiL
hir com efte íexto tomo da Hiftoria & hiftoria vulgar, & Infu* ,
delia muy to erudito & naõ hum Religiofo & com hiftoria In^
, ;
* ij aíheaj
P RfC^L O GO
âlhca; de outra íorte naôfe daria credito aos Reynòes, Hifto»
riadores de feas próprios Reynos, mas aos de Reynos alheyos,
de que nem tanta noticia , ou experiência tem.
Deyxados coratudo apontados motivos , que a com-
jà os
por a Hiftoriaprefente me movèraÕ , o principal foy,& ainda
íie, Pars que haja quem nella me emende porque havendo muy- j
ra que haja quem nella me emende & entaõ faya perfeyta & a
, ,
mais útil naõ fó à racional vida, nobre & humana mas à Chri-»
, ,
tem niíTo, & íendo-o o naõ fazem , íó por naõ publicar defey-
,
tos alguns alheyos , & menos por lhos impor ( que iífo he fó de
gente foberba , ambicioía , h ociofa ) mas por l'e confervarem
j
na
m
AO NÔÊ^f LEtídt;/
áa limpeza, & nobreaa, oS qae a tem , & ifto comii mâácje
pií^
ra,& naõ com a infernai emulação; E porque a verdade
ordina*
^riamentek nâ6 acha em a preímte. matéria fenaõ em os fugey*
,
Vale.
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tlCEH-
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<^p: w^ -^or -^- ^-^r w^
LICENÇA DA ORDEM.
António de Soufa,da Companhia de J E S U
S , Proviflcial da Pro«
EU vincia de Portugal , por particular conceííaó,
que para iflb me foy da-
GéraUou li-
da do N. M. R. Padre Miguel Angelo Tamburino Prepofico
das Ilhas
cença , para que fe imprima efte livro intitulado Hiflona Infulana
:
AntomodeSouJa.
w^m
bubonscoftumesi &àMlíêpSlBeÉepc!e1rfem daí a licehéá
que pede. Lisboa na Gafa dê JNoffa Senhora da Divma Providencia
ia
* de
bétembrodei7i6.
D António Caetano de Soufa CR.
eminentíssimo SENHOR,
Gr mandado de V. Eminência vi com fummo
P lana , Aiithor
o feu natural o M: R. Padre Meftre António Cordeyro
da Preclariffima Companhia de JESUS , & louvando-lhc a
occupaçaõ taô
gofto a Hiftoria Infu=
Do Ordinário.
COiicôdémos licença, para que fe poífa imprimir o íivro, Hiftoria ínfiú
lana , & impreífotorriarà para fe conferir & darmos licença que eorrai
,
M.BfJfodeTag^é,
í3a
./,
Do Paçoi
SENHOR.
ordem de V. Mageftade vi Hiftoria que í nfulana, tem compof-*
POr ,
W
m
.Canifio entrarão os rayos defte myftico Sol a doutrinar a barbaridade dp
,
poem, porque como a luz das fciencias, & das virtudes lhe he natural pou-
,
co importaó as contradicções dos que cegaõ com as fuás luzes , pois con-
fufo$,& defenganados de o naÕ poderem oífufcar, por fi mefmo fedefvane-
cem. Todas eftas prerogativas vejo Senhor recopiladas no Padre António
Cordeyro,quecomorayo procedido daquelle Sol difcorreo por todo efte
Reyno, allumiando com a fua doutrina as Univeríidades de Coimbra , & de
Évora , os Eftudos de Braga, de Lisboa do Porto , êc os da fua Pátria a fa-
,
raofa Ilha de Angra, & naõ fatisfeyto de lhe revelaras fciencias com fubti-'
lillimas novidades , começou a vida de Apoftolo nas fervorofas Mifíoês de
Vifeu , de Pinhel , de Torres Novas , de Peniche , & de outras muy tas po-
voações, em que ainda hoje na reforma dos coftumes que introduziò, fe
,
fora o único cuydado de toda a fua vida. Hum talento taÕ admirável naõ fe
havia de coarílrara humafó profiííaô,era de razaó quefefizcfte conhecido
pelo eftudo de outras matérias. Aftim o moftra a prefente Hiftoria das Ilhas,
era que me parece o Padre António Cordeyro com o Padre António de
Andrada da mefma Companhia defcubridor do Graõ Cathayo , ou Reynos.
deTibet. Bemfepòde dizer que o Padre António Cordeyro defcubrioa-
gora nas Ilhas dos Açores huma das mais nobres porções do dominio de V.
Mageftade,pois ainda que ellas fe começarão adefcubrir pelos annos de
i432.eftavaõ atè agora como encubertas pela falta das fuás noticias; po-
rém agora o incançavel zelo da gloriada fua Pátria perfnadio,& obrigou ao
Padre António Cordeyro , a que de novo as defcubrifte com a relação da
fua grandeza & da fua fertilidade.Atè nefta propriedade parece o Author
,
dentes. Entendo , Senhor , que efta Hiftoria , em que naõ vejo nada concrí
o Real ferviço de V. Mageítade, merece o beneficio publico daimpreíTaõs
para que confte ao mundo, que na peíToadc hum fo Vairallo íe acha uni-
do,© que ainda dividido.fez grandes, & celebrados a muytos homens. V".
Mageítade mandara o que for fervido. Nefta Gafa de NoíTa Senhora da Di-
vina Providencia, a 4. deFevereyro de 1 7 1 7.
D.JofephSarhfaC.R.
«*
•>^ii?E«-"S^ii^— #^:iH--"#^:i*i.^'""-*€^'iJ^^^^^^
T de Setembro de 1 717.
OUveyra. Noronha.
INDECE
.TITULAR DOS LIVROS,
índice E SEUS CAPÍTULOS»
L IV R O P R I M E Y R O
Da creaçao dm Uhm Occidentaes , tocantes a Mmanhm
Voftugueza,
C^}SV^^^
CAI \ P.^ '"^^^^ II.
^^^ ^P^*^^^^ ^0^'^^ n<^ ^àteria.pai, ti
Dafabulõfa Ilha Atlanta. pag.
.
3.
L I V R O S E G U N D O
Das llhm Canárias, & das de Cabo Verde.
CAP. I. Do Infante Dom IJenriquei primeyro defcubridor de Ilhas , é"
de novas terrasfrmes.pag.^y.
CAP. lí. Do antigo Hijloriadorde Ilhas, o Venerável Doutor Gafpar
. Frutiuojo. pag.^o.
CAP. í n. Das Ilhas chamadas Canariat. pag. 4^.
CAP. IV. Dodtreyto de Portugal as Canárias, pag ^^.
Cx4P. V. Dagrandeza^ér qualidades das primeyras quatro Ca$arias.
CAP. VI. Da Graa Canária, ^ mau Ilhas fuás.pag.i^ 2.
5©*
n
C A P. V 1 Da geral nettcta das Canárias, pag. 5 5
.
CAP. VIII. Das Ilhas de Cabo Fèrde^ é^feu clima. pdg. 57.
CAP. IX finalidades das principaes Ilhas de Cabo Ferde.p/^'jS.
.
TfTP
II LIVRQ
LIVRO TERCEYRO
mm^i^ Das lihasde Porto Santo ^ & Madeyra.
Vos prmeyros defiuhriàores ò- Povoadores de 'Santú\ 'Porto
CAP. pag.di.
I. ,
pitanks,e_^malmentedadoFunchal. pag.72.
^.XJ4P. VIL Do intemr da Capitama do Funchal , defua
Cidade^ feufi-^ &
ti0.pag.y4,,
CAF.Wli. Dointerior da Capitânia de Machico.pág.j%.
CAP. IX. Dos Capitães Donatários de Machico. fag. 79.
CAF.X. Do primeyro Capitão Donatário do Funchal.pag.S^.
CAP. XI. Dofegundo Donatário > & Capitão do Fimchal.pag.%').
CAF.Xll. Do terceyro Capitão chamado o Mâgmfco. pag..%j.
i
'Si'
'Tl!
.CAP. XIII. Do quarto Capitão Donatário do Funchal pag.^S.
CAP. XIV. Do quinto Capitão, & prmeyro Conde da Calheta, pag.%^.
CAP. XV. Dofexío Capitão, é^fegundo Conde da Calheta.pag-S i
CAP. XVI. DoprincipiOi&atigmentodo Efiado Fcchfiafiico em a Ma*
deyra.pag.^2^
CAP. XVII. Conclue-fe com a Madeyra, Ilhas deferias, & outras, pag.^^.
L I V R O Q^U A R T O
r Da Ilha de Santa Marla^ que daí nove dos AJforeÈ ,foy a
pnmeyraque fedefcubno.
defcubrirem-, & das Formigaspri"
CAP. meyro
Dos fundamentos para
I.
apparecidas. pag.^J.
fe
W
I ND ! e 1.
LIVRO Q^ U I N T Q
Da Ilha de Saõ Miguel. j^
CAP. Defiubnmento àa
I. tal Ilha, & defem t>efcuhridores.pag. % t^^
C AP, IL Do melhor defeubrmemo , é- defmpçatí da Ilhade Saí Mi>^
guel.^ag. 129. , ,
CAP. Vil. Dafamofa Filia de Ribeyra Grande^ & mais lugares do N0-^
^CAP. Vlíí.
j Je.pa^.14,2. r;.:^'
Do interior da Ilha,fem fogos, & tremores. pag. 14,6.
CAP. IX. Dfi outras furnas,fogos, & tremores, em ef^ecial de Filia Fràn-^
ca.pag- 151. í
CAP &
XVII. De alguns homes famofos , familiar que vierao povoar d
Ilha de Sao Miguel, pag. 1 79.
TIT . J. Dos Felhos, Cabraes, Mellos, Travaffos , Soares de Albergaria^
& Soufas. pag. iSo.
TlT.ll. DosCameraSiò- Betencores.pag. 1$^.
TIT. III. Dos Gagos,Rapofos,Fonces,Bicudos,Correas,Pachecos.p.i%j
TIT, iV. Dos Botelhos,Leytes, Jmaraes, Fafconcellos. pag. 190. &
TIT. V. Dos Meâejros, Jraujos, Borges, Soufas,Rebelos, Dias. p.i^/^,
TIT. VI. DosBarbofas, Silvas , Tavares , Novaes, g^entaes , FartaSi
Machados, pag. 201.
CAP. X VIII. í)as rendas i riquezas,ferttUdade,&frutos da Ilha de Saa
Miguel, pag. 20 /.
CAP. XIX. Da valentia, & defireza dos de tal Ilha ; do muyto quefe vivé
mlla,ò' dos monfiros que nelíafe virão. pag. 215.
CAP. XX. Da Fèneravel Margarida de Chaves ,tida commummente pot
Santa, é^ milagrofa.pdg. 221- '^
CAP. XXL
Dafundação doCollegio da Companhia deJESUSém Saè
.' Miguel.pag. 22%.
CAP.XXIÍ. Dos Reitores do dito Collegio de todos os Santos de
Pmtd
Delgada. paji.i^i).
CAP. XXIII. De outro temmato, é-figo.quehowve em SMguelp^^p
CAPí
,ÁÍ!
l ISf D I C H.
LIVRO SE X TO
!^
ba líha Terceyra, cabeça das Terceyratl
CAP. I. DodefcubrimentOi Nomes, é" Armas da Ilha Terceyra.p.t^ft
GAP. Dofnmeyrot>onatariOiò' Povoadores da Ilha. pag.2/\,7,.
11.
I i
y ceyra.pag^ioj.
Dornellas , Nonh
li^
Dos Bruges, Arfas, Pains , Téves , Homés , Cameras ,
nhãs, Pamplonas, o- Fonfecas. ibid.
CAP. XVIII. Dos Cortereaes, CofiaSi Silvas, Monizes, Barretosy é- Sant*
'!!!
payos.pag.^ii-
CAP. XIX. Dos Cantosjó- Cafiros,& defuaafcendenciayó- defcend.p.-^i^.
CAP. XX. Dos Borges, Cojl as. Abarcas, Pachecos, as, Velhos, S- MeU Lm
los , ^ de outros, Homés Cojias. pag. 320.
'CAP. XXI. Dos Cafiellos-brancos, Carvalhaes, Lobos, Stlveyras, EJ^inO"
las, Lemos, Betencores,Dornelas, é^c.pag. 325.
C AF. XXI I. Dos Fafconcellos, Regos , Baldayas , Camelos , Pereyras , éf
Soufas,é^c. pag. 2,4.0.
w
CAF. XXXII.
I NDr E. C
.Começa Angra a^mrnt^ rende a Fortaleza de Saa
SeUp.
tíaú,acclamaaElRejD.JõadolF.pag.^S^.
CA?. XXXXII. Da Acckmaçao feyta nas mau Ilhas, pag.it^^y.
CAP. XXXIV. Doprmeyrofoccorro de Cafiella, tomaáopela Armada
da.Tercejra :vmda do Padre FrancifcoCabrai.pag.^%^.
CAP. XXXV. Do cerco do CaJMo grande jó- dofegundo foccorro me a
j i j <=>
." ilha lhe tomou. pag.^(^i.
CAP. XXXVI. Do avifo qm o Çajiello mandava a Cajiella & lho tomou
,
r allha.pag.zs^.
CÁF.XXX\llDosfMccefos defiefatal cerco do grande CaJlello.pag.7,()G.
CAP. XXXVIII. Dasmvejiidas da Qdade ao Ca/Mo & do qm obrou ,
LIVRO S E P T M O I
L r V R O O Y T A V Q
Das Ilhas do Fayaly &?ko.
Da altura ^grandeza &
C AP. I.
éf interior da Ilha.pag.
,
45 1
coJlí> do Fayal , da Filia de HortSi
CAiP.
ir
TN D I a E. -
doPtco.4,6^,
CAP. VII. Do defaérmento,altura,&gradeza da fatal Ilha
CAP. VIÍÍ. Das Filias, & Lugares dejía Ilha do Fíco.pag.^7 1
•
L I V R O N O N O
Das I/has, F/jr es, & Corvo, & das que fe e/pera âefctihrír
de novo.
^- CAP. IX. De outras Ilhas que ha nefie noffo Oceano ,por defcubrir amda.
,
pag.áif)^. p
CAP. X. Compendio da Htfioria das Ilhas,para ojuízo, queparaje conjer-
varem,fe deveformar delias, pag. 497
CAP.Xl. Contmua-fe o Compendio antecedente, pag.4.^^.
C A?. XU. Conckfao do Compendio acima. pag. lioi. ^
mas
CAP. XIII. Do com que fe deve acodir a efpiriíual necef/idade das
• '
Terceyras. pag. 503.
^^o^.
CAP. XIV. Complemento do governo Ecclefiaflico das Ilhas Terceyras.
CAP. XV. Comofe confervarà o governo poUtico,&juridico das Ilhas. 508.
militar, em
CAP.. X VI. Do que fera mau conveniente modo de governo
eflas Ilhas. pag. <) 12.
CAP. XVU.Do marítimo governo,que deve haver nas ditas Uhas.pag.<, ib.
CAP. XVIII. Da mayor fidelidade que as Ilhas Terceyras guardarão a
,
\\v,
Portugal, &
da que Portugal deve fuppor, aguardar com ellas.p.^^io.
CAP. XIX. Exhorta^aífnai das mefmas Ilhas. pag. 'ji^.
LIVRO
Pâg. tr
HISTORIA
INSULANA LUSITANA.
LIVRO P R M E Y R O I
T U L O
C A P I I.
RIMEYRA òpimâõdemuytosfoyjqiieto^ _ .
que as Ilhas do Porto Santo , & Madey ra eíaó contíguas com a ferra de
Monchique do Reyno dos Algarves; & atè das Ilhas chamadas CanariaSj
fente efta opinião que fe continuavaó com Africa, & eraó parte delia j Sc
muy to mais fente o mefmo das Ilhas chamadas de Cabo Verde.
2 Funda-fe efta opinião, em que de outra forte ficariaó fundadas
no ar, & naó póderiao fuftentarfe , como vemos fuftentarem-fe atègora.
Econfírma^fe porque vemos que quem das Ilhas Terceyras navega a
•,
las Ilhas parte ,& naó mediava de antes o Oceano. Efta opinião refere o
11
Doutor Gafpar Fruduofo , varão na virtude , & letras venerável, de que
em feu lugar faremos a bem devida memoria, & referera no feU tomo ma-
jiiufcripto lib. i.cap.iy. cujo original eftá no Collegio da Companhia de
JESUS da Cidade de Ponta Delgada da Ilha de Saó Miguel, que vi com
attençaó, & todo fielmente copiey.
A Pare*
% Livro I. do principio das Ilhas do Oceano Luíitanas.
Parece porém não ter fundamento , mais que imaginaripj cfta
3
opinião j porque para que ás Ilhas não ficaíTem fundadas no ár,mas pu-
''Afuprapofia <'/'f«^'«o
he chmertca.
deíTem fuílentarle, não he neceíTario continuarem -fe, a olhos viílos , com
algúa outra terra firme , íem mediar mar algum ; pois bafta continuarem-
fe erao feu próprio , & terreno fundo do niar , do qual fundo fobem aci-
ma fobreeííe mar vaftillimo , em o meyo do qual ficaõ feytas Ilhas ,&
mais firmes , de algum modo j do que a chamada terra firme porque al- ;
'1,
fim coroo a terra que não tem por cima mar , tem comtudo altos mon-
,
tes, & entre fimuy diftantes com profupdiíiimos valles,fem que porif-
|b os montes íiquçm fundados no ar, mas em fuás próprias raizes mais fir-
mados , & exemptos , do que os inferiores vallcs allim também a terra,:
que tem por cima de fi aovafto mar, (pois naó ha mar , que naõ tenha
por bayxo de fi a terra , & mais ou menos abayxo ) lá fe divide também
em feus vallçs rnais profundos , & em feus monteg táoaltos que faliem ,
íbbre o mar, & algús fobre as nuvens, êc formão em cima as Ilhas, de que
'ê algúas faõ ta6 grandes , que excedem a muy tas que chamaó terras firmesj
como ainda íe duvida, fe a America, ou o Brafil he terra firme , ou llhajôc
Ilhas fabemos que fap Inglaterra, Efcoçiaj &: Irlanda, & outras ainda ma-
•
yores.
ri 4 E quanto à confirmação
acima oppofta » de que, quem vem das
iliias Terceyras para Portugal , vem fempre bufcar a Rocha de Cintra,
como cada parte ao feu todo razão he ifta indigna de allegarfe j pois he
:
de Cintra,por iíTo deíla laõ partf Não ha pois que tratar de tal opinião.
.
ta occupava a mayor parte de todo o Oceano &, que entre ella, & Heí-
,
eom immenfas aguas que por ella corriaõ , &: com os fataes incêndios,
as
& t6rremoto3,que dos mineraes de cobre, enxofre, falitre,pedra hume, ar-
rebentarão de talforte,quetodoofe,uvaítiflimo lugar ficou fey to hum
í- /. .
. mar
W
GJápi I. 8c II. Das primeyras duas, Sc falfas opiniões* j
mar apaulado , fem em muytos annosfe poder por clle navegar^ atè que
com o tempo fe purificou a lagoa tão fatal , & ficou hum Oceano Occi*
dental , & navegável & nelle
, miiy tas llhàs , como relíquias da Atlantaj
de que humas faó as fobreditas Terceyras*
6 Confirmaõ efte juizo com muytos , & mtiy vários ejíemplosa
tirados de António Galvaó no feu tratado de diverlos defcobrimentosi
porque naõpòde negarfe que houve já em outros tempos muytas terras^
lihas , Cabos, & Angras, ou Enfeadas , que desfizeraõ as aguasiôc aparta*
raó humas das outras , pela pugna natural dâ humidade da agua com afe*
cura da terra } & aflim dizem muytos , que junto a Cadiz houve as Ilhas
chamadas Frodifias, muyto povoadasj & que a mefma Ilha de Cadiz era
antigamente continuada com Hefpanha j & que de Heípanha a Ceuta íe
continuava a terra firme, & fe paflava por terra 5 a Ilha de Serdenha com
Corfega,a de Sicilia com Itália ,Negroponte com a Grécia i&confór*
meaPlinio lé. 2. cap.Òy. g^ loo. antigamente fe formarão de novo as
Ilhas de Delos, & Rhodesj & a húa o mar cortou da terra j como a Sicilia
da Itália, a Chipre da Siriaj & outras a mefma terra firme livrou do mar
parafi: femelhantemente pois podemos dizer com fundamento , que as
Ilhas Terceyras , ou foraõ partes da Atlanta ou de Portugal foraõ cor-
,*
~"
tadas.
ito«K
CAPITULOU.
DafabulofallhaAtlantà*
7
U
T^Eftafegundaopiníaój como de huma mais krgí explicação
da primeyra, & confirmação , fe pôde dizer fer mais falfa a* ^^XHnda epwiad dÀ
inda, pois ordinariamente húa mentira fó com outra fe confirma ; & airi* ^^^""^^ > ^^ fahalâ^,
razão , & mereça credito de tef ouvido o que conta que ouvio ^ nenhum ^""^ ^
credito merece quem lho diíTe , pois faó faáos, que fem fe provarem, íiâo
ié crem mayormcnte quando feus fundamentos, ou faó maiiifeftamentd
j
falfos , ou íonhos aéreos , & contra o commum fentir dos mais Hiftoria*'
dores. Vamos pois aos fundamentos.
8 O primeyro fundamento de Plataô he , havei* elií íêu teitipoji
nove mil annos que os Athenienfes tinhaõ vencido aos moradores da Ilha
Atlanta & ifto he tão falfo , que fe falia de annos folares de doze mezes
-,
cada hum , nem ainda hoje ha tantos annos que Deos creoU o Ceo j & a
terraj & fe fuppoem que o mundo dura ab sEterno , como parece fuppoz
depois feu difcipulo Ariftoteles, he húa quafi herefia, que fe fíão pôde di*
zer;fe porém falia de annos Egypeios, ou lunares j deites não contém
mais nove mil, que fetecentos & cincoenta annos folarcsj & como PlataS'
floreceo quatrocentos & cincoenta annos antes da vinda de Cíiriftó, qíie
juntos com os ditos 750. fazem mil& duzentos annos folares antes d<í
nafcimento do Redemptor , fegue.-fe que temerariamente diíTeraõ â Pia»
tão, (fem efcrita hiftoria alguma , ou outra prova ) que 75 o. annos útitest
*
çinhão já os Athenienfes vencido a Atlanta » pois nem teftemunhas VíVaâ
Ai) pofl
-j
4 Livro I. Do principio das Ilhas do Oceano Luíitanas.
podíaójà então ter de Ti^íQi.annosantepaflados &abayxo veremos que
i
J200. annos antes da vinda de Chrifto 3 naó tinha havido tal Atlanta^mas
p Oceano immediato fempre a Hefpanlia. ,<
y, »tvj ,....,>i.ii >
,.; .
gum i mas que , por fe fóbvérter com agiias, & mcendios , deyxára o feii
vaítiáimo lugar feyto hum paul,. & por muytos annos innavegavel 3 atè
que com elles purificado , ficou feyto o Oceano Occidental que hoje te--
mos. Ao quefe refpondcj qijeeom muyta razaó a hiftoria fe comparou à
pintura, pois o hiíloriar lem fundamento , he pintar como querer j ôc
quanto fem fundamento fe diga o fobredito,
10 Moíbra-fe primeyroj porque implica, & repugna com a razão,
:lt! ter eftado a Atlanta nefte nofíb Oceano , & com tudo fer mayor que Afri-
ca, & Afia juntas ; pois ( como confta por experiências ) de Portugal a
Goa vão cinco millegoas, & de Goaá China vão mais de mil , & duzen-
tasj & fabe Deps quantas vão ainda atè o fim da firme Afia j por expe- &
riência também conft^ , que efte Oceano todo não tem tantas íegoas}
pois ainda que a Atlanta não correíTe defta forte , de Occidente a Orien-^
te, (oquf? herontra onícfmoPlatão) mas correfl^e denoíTo Norte ao
Ill
Sul, ainda por^^eíía via não he mayor o Oceano , defde o noífo Norte , &
Pólo Arâiico atè a terfã Atiílralalèm do Eftrey to de Magalhães da parte
do Pólo Antartico: logo fe a Atlanta era mayor que Africa, &: Afiajun*
tas, & o noíTo Oceanq hémuyto menor que ellas[,'rfepugna ter eftado tal
Atlanta no dito Oceano , falvo fe diflerem que eftava no mais vafto , 6c
ajto ar, & ficará^ua opinião verdadeyramente aérea.
'
..
ra, que por toda à parte he cercada de agua j & fe a Atlanta pegava com
Afia, & Africa , bem fe fegue que não era Ilha & fendo mayor que as
:
,
4}:iasjuntas,& naó fendo eftas( como confta} em fi Ilhas, menos opo-
dia fer a tal Atlantaj & fe o mar deftruhio huma tal , & tanto mayor parte
queAfrica,& Afia, com máyor facilidade deftruiria alguma deftas que
era tanto meiior que a Atlanta: logo coufa he evidente, que Atlanta
tal nunca houve em efte noflt) Oceano ,& que as noíTas Ilhas delle nunca
foraõ partes de tal Atlanta. E fe quizerem dizer , que pofto que a Atlan-
ta pegaíTe com Hefpanha , pegava comtudo por tam menor diftancia,
ou por lingua de terra tam pequena , que a ficava fazendo peninfula , id
efi ,pene infula, & poriflíb ainda com razão a tal Atlanta fe chamava Ilha:
CAPITULO III.
S
do 5 em que acabou a primeyra idade delle com o diluvio de
Noè j repartio eíle o mundo aos três feus filhos. Sem , Cham, Japhet, &
&
dando Afia a Sem , a Cham a Africa , deo Europa a Japhet , que an-
tes de vir paraella, teve ainda Una Arménia hum quinto filho, cha- %^^''"T"f
.j-if^
mado Thubal , que efcolheo para fua habitação a mais cccidental , &: ul- i,^j'i^ilg'^gf/pi,g^ ^
tima parte dâ Europa, que fe chamou depois Hefpanhaj ôccomo Deos „etodeJS!oè &apri-
então a cada hum concedia copiofa defcendencia para reparação do Uni- t„tyrA povoarão de
verfo, entrou Thubal jà com muytos defcendentes pelo mar mediterra- Hejpanha foyCttH'^
neo atè chegar ao Eftreyto de Gibraltar, & defembocar por elle em o vaf- vai em Perta^aL
to Oceano, vifto o qual, & não querendo verfe em outro diluvio como
Japhet feu pay , & feu avò Noè fe tinhão vifto , voltou fobre a mão di-
reyta , coíteando por mar fempre a terra , & veyo a dar em a foz de hum
viílofo , & bem efprayado aqui , faltando em terra , fiindou nella
rio , &c
húa povoação , a que chamou Cethubala , que quer dizer , (Ajuntamen-
to, ou Povoação de Thubal) Villa hoje celebre, & celeberrimo porto,feis
legoas da Real Cidade de Lisboa. Efta Cetuval porém foy a ordenada
Republica primeyra que houve em toda Hefpanha, de que foy opri-
meyro Rey Thubal , aos 145 annos do dihivio ,
. &
aos 1 80 1 da creaçaó
.
ves, ou Júpiter a cada hum,6càs filhas charaavãojunosa & aos netos Her«
A iij culesj
6 Livro I.Do principio das llEas do Oceano Luíitanas.
cules 5 & aíllm fingirão os Poetas miiytas fabulas j mas não obftantevir
Nembroth com varias companhias de gente , & ferem bem recebidc-s de
Tluibal, fempre efte foy o Rey abfoluto de Hefpanha:,& depois delle feu
filho Hibèro de quem Hefpanha fe chamou Hiberia èc foy efte Rey o
, ;
•3
trinta annos que reynou, mandou povoar Berbéria em Africa, Fenícia, &
Ofexto Rey &fiího
, Albânia em a Afia. Succedeo-lhe em fexto Rey de Hefpanha feu filho Be-
dpmntoJoyBeto,^
f chamado por fobrenome Turdetano) &delletoda Hefpanha to-
to ,'v
àeoonome deBettca jt^^- r / " \ a
a Hefbanha, chama- ^°^^ O nome de Betica^ que ficou a que hoje chamao Andaluzia, & ao no
o t-u \
dahoje AnialHzÁa,& Betis, que paíía por Sevilha ,& a que hoje chamaó Guadalquibir , nome
ao fen rio Betis], hoje Arabigo j que quer dizet-Rio Grande. Reynou pouco mais de trinta an-
CHadalqtiíbir-^&por nos , morreo aos 2167^ da creaçaõ domundo,5ii. depois do diluvio,
nao deyxar filhos a.
^ 7^0. antes do nafcímento de Chrifto & nefte Rey Beto , fexto Rey de:
^doí^ReLd^elbanha
Hefpanha^ & de Noè neto fexto, & quarto neto de Thubal, acabou a pri-
defcendentes de Noe ífieyra, & mais Real defceudéncia dos Reysde toda Hefpanha porque ,
femg^atè entaõhon- morreofem deyxarfilhos algus !& com ferem já entaó de Portugal muy-
i/ejfe noticia algua da tos OS povos, & Cetuval a principal cabeça delles , & de toda Hefpanha,
fakítlofa Atlanta; & Hnádi em PorUigal fe guardava a léy da Natureza ^ & de hú fó Deos.
ficando ainda PortU'
galem averdadeyra
Ity da Natarez.a , & C A P I T U L O IV.
de hUfó Deos,
\ ^ '
. creta-
iaÉHHHl IPP
Cap.IV.Dapnmeir.Idolatna,&guerraqentrouemHerp. 7
^r •
T^- r 1 j depoisvinãoOJins dê
cretamente de Itália o celebre Capitão Ofiris Dionyfio , de quem depois ^,^^^^_ ^ ^-^^^ ^^ y^^
fe inventarão grandes fabulas , &
vindo com muy tas gentes , deo batalha tdh» matou ao \ &
campai ao Geriaó junto ao rio Guadiana , o venceo , & &
matou j he CeHad &fcy &
opri- ;
meyrohomem ^ueen-
muyto de advertir , que com a riqueza riáo fó começou a Iddlatria , mas
a guerra pois dizem que foy efta a primeyra que fe fabe ter havido em o
mundo todo
,
voltando Ofiris para Itália , & Egypto , deyxou a Hefpanha fey ta idola-
tra de muytos & muyto falfos, & creados Deofes, em cuja idolatria con-
,
tlanta houve no Oceano, nem efte deyxou de andar fempre junto aHef- """."/'l
Í'
^"''J'
panha. •' '
ílõtt^^T-
<
18 Sendo pois oy tavo, nono , & decimo Reys de Hefpanha os di- XfXceri"õ''D&.
tos três irmãos Gerióes, filhos de Gerião Deàbo , tam uniformes eraó en- ^g & fteraõ p^atar ^
trefi,&: muyto mais na crueldade, que temendo-fe què Ofiris voltaíTe KoEgyptoaOJíris.njoi
fobre elles alcançarão deTyphon Governador do '^^j^to i^irmzò
outro filho defie cha^
,
mais velho de Ofiris, que mataíTe a efte feu írmão, & ficaíTe Rey de Egy^
""cf^^tú^^^^
ptoj&crudeliíTimartienteaflímfe executou porém como de Ofiris fi- '^^uèo &Toí tt^^cíí
j
cou hum filho , chamado de antes Oro , & depois Hercules, ( por fobre- „-^^ '^ ^^ dejkfioí^^ ^
nome Libyco, em diíierença do Hercules Grego ) tanto que o Libyco jtf„to a Cadiz. onde ,
foube da cruel morte què os Gerioés ordiraó a Ofiris', nâofó deo a morte levantou ai coiHmnoí;
ao tio Typhon,& aos mais culpados na paterna morte,& ao Gigante An- &da<^mfe kvfMta-^
tèofenhor da Libya, mas também com grande exercito veyo aHefpa-
}em7So^m!^J
nha , & Portugal & vendo que os PortugueZes acodiaó pelos três Ge- 'J^jlJj^l^ aUuf
,
rioés, a eftes defafiou , a cada hum per fi , & á todos três matou j & oS eti- guerm
^«^^^^ ^sfom^i'^ <
terrou junto a Cadiz, ou Gadis,{ nome Hebreo 3 que qiier dizer coufâ fi
* .^' -1 flalj
B Livro I.Do principio das Ilhas do Oceano Luíitanas.
Cadtz. 7o'7ofmm
^^^^" ^^ ^"^^^^^^ ^° mundo, &
1670. antes do nafcimentode Chriftoj
adorado°por''refDeZ\ &
^y e^^errado cm Cadiz } dos Gentios que vinhaõ á fua fepultura em
&lhefHccedeo //>/;' romaria, foy adorado por Deos ,& lhe chamarão os Antigos Apollo E-
/)í?>-o/?;íí>w4ií,y»eíigypciano;& por fuás grandes obras tomáraó muytos depois o nome de
Hejpanhadeo onome Hercules, de queo mais celebre foy o Grego Hercules Alcèo , filho de
d.e Hejpena
; &
efies Amphitrion , a quem attribuiraó
muytas das grandes obras defte noíTo
TaLllRe'ZZ7.^^^''^°^^'''^y'''
^ey Hercules.
panha ,&^Portu<raí ^° Pordecimo'quarto Rcy de Portugal , & Hefpanha nomeou
fem haver de Atíw' Hercules, antes de morrer , a hum irmão , ou parente feu , chamado Hef-
ta noticia algtía. pêro, famofo Capitão j que comfigo tinha trazido de Itália } & efte foy o
que a Hefpanha deo o nome de Hefperia , ou Hefperida porém como ;
Btcimcauimo Rey '^^^^ Hefpero foubeíTe hum irmão feu , por nome Atlante ítalo , que era
defíejpanhafoyofa. pòuco aíFeyçoado aos Portuguezes ^ & Andaluzes, com huns, & outros
m^fo Atiante, trmaõ veyo de Itália a ajuntarfe , & em varias batalhas defpojou do Reyno a
í/o^f«wo^»<ímí/>/: Hefpero, que para Itália fe voltou fugindo, tendo reynado fomente on-
pero,&por efiefe dar 2.Q annos em Hefpanha,
que começou Atlante a governar , fendo delia o
»?<í/r^»í osPortugue'
^ ' decimo-quinto, & o mais amigo
z.ts. chamarão ejíes ao -n
dos Portuguezes, & tanto , que em
^ ^
1t • • ^1 , ti 1 • /- t
^
eendo, & lançando ^ ^ ^ •
fóraHcipero.
^
,,oÇ,A
«
P J T U vL O
^.^ ,
V-
,-
¥P
Cap.V. DoAtkntejquepormaryeyoaHefpanha. f
Porcugezes ,yenceo totalmente j 6c defpqjou ao Rey de Hefpanha Hei
tJç./Jdl^qleJen^
pêro, Atlanta cuydàraófer efte Atíknte j &: por vir com muytas gentes ceoemgmrraaHsf^
por mar , ao tal Atlante chamarão Ilha Atlanta , U
dos que, com elle vie-^^«^^,
r^ó jciiydáraó fer da Ilha Atlanta moradores , & daqui, inferirão que os
Reys, 6c, moradores dajlha Atlanta- vencerão -aos Reys de Hefpanhai
& como a Itália ^ entaó.mais.por mar do que por terra ,feGomraunicava
pom Hefpanha , fendo que tam bem por terra fe communicaj daqui tam*
ijem levantarão , que a Ilha Atlanta^ fendo Ilha , pegava também com
Hefpanha j 6c porque Platão , 6c os feus naó fabião ainda a largura , & '
toda Itália. ,« y ts 1 «
23 Tinha Atlante levado de Portugal comfigo (alem da Por-
tugueza Eleftra fua filha ) a outra Portugueza filha , chamada Roma j 6c
feus na-
como vio que efta goftava mais de tratar com os Portuguezes ,
turaes , que Atlante de Portugal tinha levado , deo-os por vaflallos à dicâ
filha Roma , ôc lhes fundou huma povoação em o monte
Capitolino de
Itália , ^ lhe deo o nome da dita filha , chamando à Povoação,
Roma, de
que a filha Portugueza ficou fey ta fenhora j 6c efte lugar he aquelle ,qúa
depois Rómulo , 6c celeberrimos irmaós, reedificarão, 6t âc«
Remo,
crefcentàraÔ , 6c he hoje a famofa Roma , que depois fby
cabeçadoffltitl^
he a cabeça , &
Corteprimh fundada , &
povoada pela Nação Portugue-
2a,pofl:oque depois reedificada pelos dous irmãos Rómulo ,& Remo.
Nem pareça nova efta fentença , pois muytos Authores dizem que an-
tes de Rómulo, &
Remo era fundada já Roma , fe chamava Valenciai &
outros , que fora fundada por huma neta de Eneas , filha de Afcanio que
,
tinha por nome Roínai outros, que por alguns Gregós,que alli vieráo de-
pois de tomada Troyajêc outros, qUe pela Portugueza Roma, filha do
Xlito Atlante , nafcida, & creada em Portugal, como fe pôde ver no i .tom.
da Monarchia Lufitana Ub. j. câp> lo. & fe de Conftantinopla dizem
muytos , com Garibay lib. 3. cap. 6. que naô foy fundada , mas fó reedifi-
cada por Conftantino } & que também Lisboa foy fó reedificada , & não
fundada prima por Ulyfles , não he muyto que fe negue ter fido Roma
fundada pelos dous Rómulo, &
Remo, quando tão nobre principio lhe
damos, como huma Princefa Portugueza , filha dô grande Rey de toda
Hefpanha Atlante > de quem fe fingem Poetas que fuftentára ao Ceo fo-
bre feus hombros , com verdade nòs diremos que a Roma , como a cabe-
ça do Ceo da Igreja Gatholica,fundou a filha de AtlantejÔc niflb mais mo-
ftrou fer húa Real Portugueza, &
Roma hum Régio parto Portuguez.
'I!
C AP T U I L O VI.
í>õsfegumteiRey$deHeJpanhadefcendentes de Atlante.
.J\ ^Decimo^fextoRey
^lXárf% ^^^^^^^ reynando quareiltâ
de Hefpanha ficou feyto Sícòro filho de
de AtLte;& òdfci' por tempo nafceo em aniios, efte là Egy p-
m9.fef^ti?»o foy ska* ^° °
Patriarcha Moyfésj & cà em Portugal onde principalmente Sicòro
,
ma,&a livrou dos '^g^^^os la dos Aborígenes, & Enotrios, comarcãos do Tibre,Sicàno lhes
Cyclopas, & Letrigo- J^andou de cà, de Pórtuguezes & Andaluzes tal fodcorro, & após efte,
> ,
& venceo a Ilha foy O mefmo Rey Sicàtto com tal exercito que como famofo Capitão
ties^
,
de Si. venceo, & de todo deftrt^hio, não fó aos Efiotrios,
Trinacria, <jHe
U Aborigenes,ma$ aos
Cyclopas, & Letrigones que roubavão â Ilha Trinacria
'2t tZsi^cZ' ?'^T^' ,
fó
W^^
Cap.Tí.DosReysdefcendeatesdoLuíítanoReyAtiãt. t%
íò reftaurada pelos Portugtiezes , mas por muytos delles , que ndla íicá«*
,
raó 3 novamente habitada. Dos Cyclopas ( por ferem os pnraeyros que
iabncáraó ferro, &
bronze, & armas delles j fabulizàraõ os antigos , que
•ímliáoem oraeyo da tefta hum fó olhoj queeraó os próprios miniftros
de Vulcano , Deos do fogo j & que faziaó os rayos , com que à terra ati-
rava Júpiter , quando irado. Dos Leftrigones íe diz que erão povos tam
ferozes, & indómitos, que comiaõ carne humana, & como muyto valeu-»
& huns públicos ladrões, fumraamente todos os temiaó,& delles fia-
jtes,
,
giaõmuycas fabulas. E a todos eftes comtudo venceo, & desbaratou o
Jt^ortuguez Rey Sicàno com os feus Portuguezes & Andaluzes & dey- , 3
xando tComa, & Itália já libertada, & pacifica fe voltou a Portugal com
, .
alguma parte de feu trumfante exercito , atè que cá morreo , tendo (co-
•mo já diífemos} rey nado trinta & hu annos.
26 A efte Rey decimo-feptimo Sicàno fefeguio SiceIeo,feU filho, .
hum neto de Dardano , por nome Troyo , fe chamou Troya , & de lio fí- t^ual fendo vencido
lho de Troyo fe denominou Ilium , o qual lio foy pay de Laomedonte,&: Dardano, &fugindo
avò de Priamoj & atè de hum genro de Dardano , chamado Teucro , to- P""""^ ^f"* Jmda/à
moa a dita Cidade também o nome de Teucria & eila he aquella Troya ^"^'^ LldeDa^^
:
^
lamentada por Eneas, & feu Poeta Virgílio ; fe bem pôde ainda gloriarfe damfèchamou dI?:
de ter fido fundação de hum braço Portuguez , qual era Dardano , filho dania & de Troyo ,
'
deEledra, nafcida em Portugal, & filha do fobreditonoíTo Atlante: que neto de Dardano, fe
fe Roma foy fundada por huma tal Portugueza que Ihedeo feu nomci '^^^'"offroya^&de
Troya pelo filho de outra PortueueZa Eleftra , irmã de Roma , foy fun- 7'/^^" f/ Troyo ^f^
1,^ A ^ -n i-o rj^jT^
chamou Iíium\&ate
dada , como partos do Atlante Portugal. Foy a fundação de 1 roya pe- ^^ 7eHcro,aenro
%
de
los annos de 1509. antes da vinda de Chrifto. Ficando pois Sicelèo fe- Dardano Je dencmi-
nhor abfoluto de Itália, deo delia toda o governo a Coribantho feu pri- nouTeucrta,& ajfim
mo , filho do já morto Jazio & depois de alcançadas as vitorias daquel- como a famofa Roma
,
fJalTroya^pihum
.^______ !_.. —— 1 "' f .
-
. '
— •- ' '
•
" -- '
'
fiJho dá Tortuguexjt
CAPITULO VII.
Mlélr.,m^upi,
mefra.
DoReyLufoy&fuaLuJttanadefcendencm» /
,ii
jj7
"O ^y decimo-nono de Helpanha foy o dito Lufo, & come»
\\ çou a reynar pelos ditos annos de 1509. antes da vinda dtí
Ckifto, Sc foy tam celebrada fua vinda pelos Portuguezes , que o cpíoâ-
,
ifá6
F
11 Cap.VII.Do antigo Rey Lufo, Sc fua defcendencia.^
Decimo-neM Rey de ^^^ folemnemente no celebre templo de Hercules , no Cabo que hoje
TortHgal & Hejpa- ^^j^g^^^Q ^ç. jj Vicente i
&tam aíFey coado lè moílrou aos Portuguezts,
Ihode Sic7leo-&do
^
^^^^^ fundou terras ,& j povoaçóes tantas queos mais povos deHel-
talLufo veyo\nome panha começáraó a chamar aos l^ortuguezes Lulitanos, & ás terras def-
ine Lufitania chjoí tes bulitania , nome que atè hoje conlervaó , allim a terra , como os mora-
,
demar cagões fe affi- dores delia j ainda que algus dizem que do dito Lufo, & do rio Ana, (que
*"*°'
he o Betis, ou Guadiana , que em mourifca lingua he rio Ana } tomou eí-
ta Província o nome de Luíitanaj outros> que de Liíias tomou o nomcjôc
-
Cs moradores de Luíitanos^
28 O
certo he que a antiga Luíicania comprebendia as Cidades
de Badajoz, Albuquerque, Merida , Guadalupe , Talaveyra , Alcântara,
Placencia, ^amòra, Aviia, Ciudad Rodrigo , Salamanca , & outros muy-
tos lugares daquella parte de Caílella , que chamáo Eftremadura yèc ain-
da toda Galiza, como diz o Agiologio Lufitano /owz.i. Hoje porém a
Lufitania comprehende náo fó o Reyno de Portugal , mas também o dos
Algarves, & por outras partes fe lhe accrefcentáraõ a Província de En-
tre Douro, & Minho , que era daGahza antíga,& a Província de Trás os
Montes, que era do Reyno de Leaõ, & a Província Tarragoneriíe, & ou-
troslugares daProvinGiaBetíca,ou Andaluzia, que Portugal hoje tem
além do Guadiana & por ííTo todas eftas terras , & feus moradores coii-
;
ijroH.ados Aborige- Certâo de Portugal, & efte ter OS melhores portos delia, aonde entravão,
ties^.defiruhieaos Gí-
habitavão ,&fahiaó- os Reys delia $ naó he poílivel fallar de tudo ifto,
gantes deStcilta ,cfr
^^^ ^^ ^^^ convem tornarmos à feeuinte
''
fucceíTaódos noíTos Reys J , para
^r
confirmo» ejta Jlha .
,
mtalmme,&t4nto0^^^^^^oque\cvamos.
/« alargarão Portu. 30
^
A Lufo pois ( de Hefpanha odecimo-nono Rey} fuccedeo
guez.es, &Helj!anhaeí Siculo feu filho no anno de 1476. antes da vinda de Chrifto , 830. depois
por Itália ^ut dahi do diluvio , ôc 2486. da creaçaô do mundo. Eíle Siculo imitando a feu
,
. - u
a Roma , & a feus Hefpa
o •
Dando feífenta anrios, TíhoGS, & Fortuguezes quanto Ihes tinhao roubado,ec indo logo a Trma
i rr-.
ihof. aquella Ilha,que tendo tomado do noíTo Siceleo o nome de Sicília, defte
Siculo
Cap. VIIL DosantígosíntetregnosLufitâtiõs,' aj
CAPITULO VIIL
de
r ,
puro fentimento eleger
_1
mais
r>
Rey 1 Como .
tSévie Fèi^itfl
te , nao quizerao ai-
^^iç.J^^^í^.í^ ^,.
gumjSc começarão a fe governar em liberdade aos i4ió.annos antes da 4/^;^^^ mftym an-
vinda de Chrifto, &aos 890. do diluvio j porém toda amais Yid^^z^ nos ,& fem poderem
nha, paíTados dous annos , elegeo por feu Rey hum Capitão Africa no^ -«/^««i -Rf;/ damAu
&
chamado Tefta , por fobrenome Tritaó , que rey nou na mais Hefpa- fí^íp^nhaptgeytalhj
nha fetentaôc quatro annos j & lhe fuccedeo Romo^ feu filho na opi- J^'^^*g^^^^-^-^'**'^j
niaãde alguns. No anno pois duodécimo do reynado defte Romo , por ^^^ HejplnhP^fin'.
medo dos Andaluzes entrou cm Andaluzia com grande exercito delindo ter a alma dt
Gregos o Capitão Bacho , de quem fingirão os Poetas muytas fabulas, Lufifoy dos Lufita'^
que de outros do mefmo nome fe diziaó efte pois de Andaluzia quiz «w acej/toporfeuRef^
:
por vezes entrar em Portugal , & flaò podendo vencer ao valor Portu- ^/^ confirmou o no-
guez, ufou de tal ardid,quc a hum filho feu pozpor nome ^1^^^^ ^YjtanT''''*''
^'"'^^
& lhe mandou que o mais que pudeííe , imitaíTe as acçoens de Lufo-
& inventou que feu filho Ly fias tinha a alma de Lufo , que feparada do
corpo fe paíTára para o de Ly fias, & feu nome,& acções a demonftraváoj
& como Bacho fabia que os PortUguezcs entaó criaó na tranfmigraçaò Vtgtjtmv primeyré
das almas , facilmente tudo lhes fez crer j & logo elegerão á Lyfias por ^'y <^' PMttgal fof
feu Rey, & não fó Lufitanos de Lufo , mas de Lyfias
^^'^^^^^^^^o^^yl^f„f„2'&Po7
3meçàraóachamar,&afcu Reyao Lyfitania ; 6c efte he o Mentido j em ,^^""^^'"^^^^^
que fe deve expor a oy tava vinte & húa do canto terceyro de Camões, i,erdade,fem reconhe*
^ de outros que em tal matéria falláraõ variamente. E confeguido ef- w^í;^4«/í»//ir/:
te engano , fe voltou o aftuto Bacho para Itália ,& na fua Lyfitania fi-/'^«Ã<»,<»«/« o t/?»«*,'
cou Lyfias , fendo o feu vigefimo pf imeyro Rey, & governando alguns ^ ^° *»«f»*'> Hercu>>
annos morreo fem defcendencia 3 & tornarão os Lufitanos à fua liberda* ^" "^^"J' ** ^*^*í*'
t /. 1 • •
T>
*io^& ficou livrcettÁ
dcj (em quererem admittir a outro Rey. ^^^^^
32 Tinha em a mais Hefpanha mccedido ao feU Rey Romo El- '
Figefimofegunio Rey
de Portugal foy hum
& dahi a oy to annos (^ morto Eritrèo , que no mais Reyno de Hef-
panha fuccedeo a Palatuo , feu pay } também por íeu Rey Hefpanha
FortHgttez^ chamiido
Górgoris o Melifluo^
o elegeo, & fendo no nome Górgoris, ficou como fobrenome o de
far \er o primeyro que Mellifluo} mas porque aLufitania fódehuma vezefteve oy tenta Sc
defcol^rto o mel em oyto annos , & de outra vez alguns outros , governando-fe em fua lu
fíejpanha^íiuando na herdade, por fuás leys, & fem Rey, & neftes interregnos teve ainda feus
-^fa fe defiruhio Reys toda a mais Hefpanha (que forao Tejla, Tritão, Romo, PaíatuOi ò'
,
7_roja.
Entreo^ por iíTo o Mellifluo Górgoris foy de Portugal ò Rey vigefimo
fegundo, & o vigefimo quinto de Hefpanha todaj & governando feten-
ta & fete annos morreo aos 1227. depois do diluvioj &aos 1079. antes
do nafcimento de Chrifto Senhor noíío. E por efíes tempos dizem fuc-
cedeo a fundação deCarthago nacoíla de Africa , três legoas atraz de
onde eftà a Cidade de Tunes , a qual Carthago fundarão dous Capitães
da Phenicia,naturaes de Tiro, chamados Zaro , & Qiiarquedon. Item
fuccedeoadeftruiça5deTroyaaos2 787.dacreaçaÕ do mundo, 1131.
do diluvio, & 1 75 antes da vinda de Chrifto , & 3 34. annos depois d©,
.
CAt
Cap JX.De qaândo,& por que/of aõ foíilLlsb.5c SStâr: í I
CAPITULO IX.
veyo a dar fobre a grande foz do rio Tejo j & entrando por ella fundou y^^^„^^ J^ />orf*/^-a/
pouco adiante húa Cidade , á qual de feu nome poz o nome de Ulyííeaj f^y prirnepofundada
ou Ulyllipo , & nella ficou por feu primeyro Governador ) o qUe faben- Liièoai ou qmnao.
dooReydaLufitania Górgoris,& acudmdologo a lançar fora de feu
Reyno quem fem licença fua entrara nelle , de tal forte o aplacou Ulyf^'
áes que Gorgoris não fó lhe deo licença para a fundação da
Cidade
,
poz Ovidio a epiftola ao principio das fuás Heróidas. Mas porque fa-
hindo , das de Ulyííes , algumas náos de Gregos a roubar as coílas dos
Lufitanos , eílcs fe levantarão contra aquelles com tal ímpeto , que tor-
nando a embarcar Ulyííes com muytos dos feus Gregos fe voltou á fua ,
ainda que Gorgoris eftimou muyto , por ver já quieta a fua Lufitania,
muyto com tudo fentio pela aufencia da filha > &: por iíío affentou logo
paz perpetua com os Gregos, que ficáraó em a novaUlyflea , que hoje
he a fatal Cidade de Lisboa j fundada em 1180. antes da vinda de
'
Chrifto. . .
dizer, habitação de Eliza) o que provão dos taes nomes que teve
Lis- -^
•'cnm-r
k^' Livro LDo principio das Ilhas do OceaaoLuíitanas.
Bacho, aíTim como ao dito Eliza chamarão também Phoroneo ou Pro*
,
metheo, por fer o primeyro inventor do fogo ; & eílehe outro novo
fentido da oytava 21. do canto 3. de Camões o que tudo pôde veríe
-,
no
Arcebifpo D, Rodrigo da Cunha, na Ecclefiafticahiftoria de Lisboa
i,
farí.cap.z.é" ^.
3Ó Conciliaõ poirèm
eftas fentenças muytos oittros affirmando,
que quando Thubal fundou Cetuval , ímidou frmo Ehza a Lisboa , &
delle tomou os nomes de Elizon,Elisboon, ou Élisbona,
mas q também
na verdade foy depois reedificada , & augmentada por Ulyffes &
que ,
CAPITULO X.
eílranhasj tornarão a vir outra vez para fuás pátrias , achavão tani
ôc as
ermas, & defertas, que de novo as tornaváo a povoar, exceptas por mais
annos as terras do Alem-Tejo 3 ôc Algarve , onde o caíligo do Ceo fora
mayor.
39 Com eíVaoccafiâo vierao de outras Províncias àHefpanha
muytas diverfas Nações a reedificalla. A Portugal vieraó huns France-
dõsFyancetM
zes chamados Celtas & entrando pelo Reyno do Algarve junto a Ta- Vt»<í'*
j
cm Hefpanha o fatal incêndio dos montes Pírinèos , que a <^ividem dé ^^^-^^^.^ ^^^^^.^^.^ v^.^
França, nos quaes , em fuás vaftas brenhas, & em fcús antigos matos,por dequefahiraSperen!»
defcuydo de huns paftores , fe pegou fogo , êc incêndio tal , que durou „„ „-^, gig py^ta é",
,
por muytos mezes contínuos, & ainda muyto longe fe fentiaó as lavare- ottrt, aqfte eenccni-
das 5 8c de tal forte abrazou jatè amefmaterra, montes , &pedreyras, raõ t>arm N^foetij
que os antigos metaes nella gerados fe derreterão , & formarão grandes ffi^^%^r^ *P*&*tí
rios perennemente correntes , atè de ouro , & prata ; & a eíl:a fama íogô, " ^
coma ambição da prata,& ouro, concorrerão da Plienicia embarcaçõeSj
que por mercadorias muy commuas fe carregavaó de ouro, tanta pra-. &
ta, que defta fazião atè as 'anchoras , por naó terem jà onde a levar j 6c hís
dos mais ambiciofos foy Síchèo , marido da famofa Rainha Dido , que
«m tantas riquezas levou para fi a morte, que refere Virgílio em fua
Eneida. Mas os Phenices tornando, jà hydropícos do ouro , & pondo
cm a Ilha de Cadiz feu aííento , para por Andaluzia entrarem à caça do
ouro , forão tam acometidos dos Celtiberos jáfey tos Lufitanos, qu®
(Tencídos,6c fugidos deyxárão de todo Hefpanha.
41 Pouco depois pelos annos de 75 8. antes da vinda de Chriftog
fby Roma edificada, & accrefcentada pelo feu Rómulo , Sr Remo ,87^*
annos depois deprimo fundada pelos Portuguezes, comojà diííemoL^; iC
a Hefpanha concorriáo Nações tam varias j Sc tanto mais ambicíofas â&
B iíj tlqút*
w
,.^5'
jStè NahHchoâonofor
Babylonia veyo,& chegoujunto a Toledo, anno 581. antes da vinda de
Veyo de Bubyloniii a
Hejpunhapclaprata^
Chnftoi mas ajuntando-fe logo osPhenices de Cadiz ,& Andaluzia
enveftiraõ a Nabucho , & aos
é" ouro & pelos Por- cora os Portuguezes Celtas, & Luíitanos,
que trazia , & a todos lançarão fora de Hefpanha. Quebrando
,
i nhaò a foccorreilos , & fe ficáraó com a Ilha donde fingindo pazes com
,
matarão em fatal ba- tuguezes pois fêu braço matou nella ao grande Annibal & na manha ;
,
CAPITULO XL
Da vinda 'dos Caríhagmm a Portuga/, & dos Lacomcos Gre-
gos-, fundação de Braga, Coimbra, Aveyro, & Lagos.
Chrifto, che^
42 /^ Hegado jâ o anno de 434. antes da vinda deAtncános a foz
Da chegada àotAfrl ^^ ^q^j bambem de Carthago hua Armada de
tanos afaz. do Doff. alU fez & que
tam miferavel naufrágio
jíoX)ouro junto ao Porto ,
^jp
,
pedirão aos
'^--r»^ os mais
dos foldados Africanos , contentando-fe da ter.-a ,
!;T-- i^""^^^'"
Imo de Chrtfio. moradores Gregos , lhes concedefiem lugar aonde fundaííem
.
Cap.Xl.Das fundações de Bragà,Coimbra,Aveyro,&c. 19
dade a feu modo, & que elles fó giõvérnaírem por fuás leys,& ritos Afri*
canos,& foíTe exempta de todo o tributo tudo lhes concederão os mo'
:
radores & efcolhendo íitio pela terra dentro fundarão a Cidade ceie-
j
de Ghrifto & que porque eftes Gallos Celtas fe forão mifturando com
;
fidade que compete com as mayores do Univerfo, & com myfterio fun-
'dada por Lacónicos , & Gregos , por em fi corltér , laconicamente reco-
da antiga Grécia^ & atè da lingua Grega tèr em fi huma
piladas, as letras
Regia Cadeyra j defta nunca acabariamofí .fequizeífemos tocar fuás
grandezas. Da fxndaçaode^é^
i .
t j
45 Fundada aílim Coimbra aos 3 72^
annos antes da vmda de ^g^yg^^ de Lagosm
Chriftojpaftaraó dos Gregos adiante , com
ai guris muytos owXxo^Qf^- Algarve j/iosannosAi
tas, &
chegando a hum bom porto , aonde hoje eftá a excellente Villa trfi^entoi& ^mreHJ
de Aveyro, com o primeyro nome de Taíabrica , ou Talabriga , que no ta antes do^fitm^i
'íte>me de Avéyiro com o tempo fe mudou y he Villa tam grande 5 que ex- '" '^i
Çhrfji(>^
u
•il
^o Livro L Do principio das Ilhas do Oceano Lafitanas.
cede a muytas CidadeSi he de grande commercio niaritimo , pelo muy*
toj&bomíalqiieailiíefazj&nuiytalouça que lavra ,&: a melhor jôc
mais certa pelcariaj além dos mantimentos que lhe vem da Província da
Beyra , donde , pôde fer, tomaffe depois o nome de A veyro , que come-
çou em o Infante D. Jorge, filho delR.ey D. Joaó o II. de Fortugalj & if-
to baile dizer defta Villa excellentiffima.
46 Chegado adiante o anno de 347. antes da vinda de Chriílo,
& ode 3615. daereaçaõ do mundo 5 eítando o Capitão Bohodes de
Carthago em Andaluzia , & fingmdo familiaridade com os noíTosPor-
tuguezes do Algarve , fe paíTou a efte Reyilo com capa de mercancia, ôc
com licença delle fundou huma Povoação , que intitulou Lacobriga èc j
hoje he a Cidade de Lagos , cabeça daquelle Rey no, ainda que pela pe-
fte, que ha mais de feíTenta annos padeceo, ficou muyto diminuidajmas
tem bahiayôc porto capaciflimo. E nefte tempo, dizem, íloreceo o gran-
de Alexandre Magno. Depois, também com capa de amizade jfe veyo
também metter na Lufitania o Capitão Maherbal , Carthaginezy& am*
damaisdepoisynoannode 250. antes deChrifto nafcido, veyo outro
Carthaginez, Hamilcar &: eatrando em Lisboa com pretexto de huma
,
dias, & dezafete noytes efteve ardendo & tendo féis legoas de circui-
;
to, & fetecentas mil peflbas , <:incoenta mil fomente efcapàráo dentr®
do grande Caftello que em fi tinha.
CAPITULO XIL
fataes foccorros que dos Portnguezes tinhaó recebido Roma , & toda
,
Italiaj & cantos eítragos faziaó tantas crueldades & treyçóes , que os
, ,
fe mettiaó, que fahindo delias, lhes não efcapava Romano que não paf-
faíTem ao fio da eípada -, &: atè occupadas dos Romanos,
em as terras j
Rtma & em diver- trando-fe com dez mil Romanos,com morte de lo 60. 1 ortuguezes ma-
fos amos ^ fete Gene- táraô a trezentos & vinte dos Romanos, & aos mais
puzeraó em vergo-'
raes, Pretores Âotw4 nhofa fugida i & affim o confeífa Garibay Ub. 6. caf.<^. de fua hiftoria Sc :
Portuguezes & atè ao grande exercito doConlul que eivava entrm- deScspiaõvecedorde
j
cheyrado, lhe tomou Viriato huns comboys , & lhe degoUou muycos c^srr^oj^cõ^/-^-
Romanos, fem comtudo o Coníul fe atrever a fahir a pelejar com Viria- de exercito depè ,&
de cavallo,&com tw
tOi atè que paíTados algus mezes, & já em o de Septembro , & em huma
noyte elcura, no meyo delia era ponto defalojou Fábio de repente , &
^^ """* ^^»f^<' ^ ^^-
,
andando a toda a preíTa duas milhas, deo fubitamente com Viriato,que "
*''
pofto eftava ainda em vela, como lempre, quafi todo feu exercito eftava
no primeyro fomno , & com tudo Viriato , com os que pudèraó imitai-
& a íuftentàraó grande parte ainda do dia
lo , receberão a batalha , -, atè
que vendo bem que feus foldados entrarão na batalha & pelejavaó , fem .
ordem, & que atè a fortuna eftava jà de Viriato envejofa, retirou-fe com
tos feus efte Leaó ao alto de hum monte, deyxando a Fábio com fó as ar-
mas de algús foldados mortos & com a naó pouca gloria de ter fey to
,
retirar a hum Fortuguez V iriato , que com iflfo fe deo por fatisfeyto. No amo de ijí^r.An-
54 Nono Capiíaó por Roma, ÔcfucceíTor de Fábio, veyo o Pre-íf^í^^ i'/»^'«^^C^''í-
•-tor Pompilio, no anno de 142. antes de ao mundo vir Chnftoi
^^^p^l^^Z^^&Zndtt
quem Viriato aíTentou pazes largando-lheas praças que a Roma tinha Jo aPomptU^^a^en.
,
tomado em Andaluzia, & fe recolheo a defcanfar em fua pátria a Beyra: toHpaz.es comViria-
& paflados algús dias de retiro, eis-que fahe o retirado l^ohoY m^^-o to^mof pontue lhe ti-<
com exercito grande que ajuntou , & entrando pela parte que hoje cha- nha tomado algumas
mão Ribacoa em Caftella, & a tempo que com fecreto avifo de Viriato, P^^Ç'^ '^ Andalu-^
outras nações Hefpanholas entravaÓ também por outras V^^^,^^ ^ ^ ^^ r^PortuIr^ZT
nenhuma ficava Romano algum com vida. Attonito Pompilio lahio ^^^^^^^^^^^ ^^'^^,
com poderofo exercito em demanda de Viriato, mas defte foy taõ ven- ^^ ^ & pifando k ef-
cido em batalha , que morrerão nella todos os que nella entrarão , exce- pada os Romanos que
=pto o dito Pompilio, que com muy poucos fugindo efcapoUi& Viria- encontrava, ate ao
mefmoPomptUo ven-
to feguio com tal animo a vitoria , que a todas as terras dos Romanos a
que elle chegou, & ainda às que fe lhe entregavaó , a todas paftbu ao fio ^"^^/^/j* f^'^ r^l
da efpada j atè que enfadado jà de degoUar Romanos , fe voltou para a ^^^ç^^ p^J^^ copoa^^
fua Lufitania ; & tal terror metteo nas nações onde chegou efta acçaõ, c os maú fugindo , ef-
•que Hefpaaha quafi toda fe deo por libertada dos Romanos , que fó ou- capàraõ.
virem o nome de Viriato, lhes era grande terror.
.
55 Decimo Capitão Romano veyo , em 141 antes de Chrifto, r>,,;^oGeneralvey<,
.
contra o infigneLufiíano Viriato , Quinto Pompèo, nomeado Pretor ^^ ^^^^ py^tor ^ <,
d© Hefpanha j & comojà Viriato trazia era feu exercito muyta folàa- QeúntoPompeo.aqfJ
defca eftrangeyra, fem delia fe acautelar , como fempre he bem , poriíTo em batalha veceoVi.
•dando batalha Pompeo a Viriato junto à Cidade de Évora, & fendo
''^^^''.'^^^"«_J'^^^/^^^^
^xceíll vãmente o exercito do inimigo muyto mais numerofo que o nof- ^"Z^' JTf^a^T!^
lo,por culpa dos eftrangeyros ( que, quando menos íe cuyda,lao inheis j ^^^^ ^ .
^^^^ ^^^
foy forçado a Viriato retirarfe com os mais dos Portuguezes , com eí- & ^,,^^ prejldiada de
tes fój paíTados poucos dias ,. voltou fobre
L'
os. Romanos com tal impeto, Romanos.
V
m
que
\
2^4 Livro I. Do principio das Illiâs ào Oceano Lafítanas,
ii^r
para hum monteamos infantaria formada rompeo & deftruhio de tal forte aos
, ,Romanos,
710 monte cerco» aos que os fez recolher ao alto de hum monte , do qual nâo havia outra fa-
Romanos^ & hida fenaô a por onde tinhaó entrado , &tomando-lhe efta os apertou
ot obri-
do antecedente Servi-
varias terras dos Romanos , & lhe in-
liano\& quebrado lo- bendo Viriato lhe deftruhio logo
go a paz. ^JJentada,& viou tresEmbayxadores, ( &: infauftamente todos três eraô Eftrangey-
fendo lhe perguntada ros, dequejá fenaó devera confiar ) a lhe lembrar as pazes aíTentadas,
a ca»fa por três Em- &
ou dar a caufa de as quebrar , ou aflentallas de novo chamavaó-fc 05 :
to ^{queríaoer ao Por-
t uguez.es, tKM Efira-
venceo o fempre infame , & falfario Servilio, & com taes promeflas,
çeyros traydores ) & que tornando eftes para dar a rcpofta da Embayxada ao Invido Viria^
efles , voltando alta to, o foraõ bufcar todos três no meyo da alta noyte , & achando-o dor-
noite ,&achando dor- mindo, ( porèm, como fempre, armado,& deytado em a terra fria , ten-
Tnindo a Viriato
do por cabeceyra o feu efcudo ) hum , que nome naó merece , hum def-
, co-
mo infames falfurios
hum tes três viliírimos,ôc abomináveis traydores, levantando a efpada, de-
(he cortarão de
gollqu
^PP^
€ap.XIÍI.DoÍnveciveIVinâto,inort.fópor tíayf aleira if
golpe a cabeça. é"}}»^^
gollou de hum golpe a cabeça do mayor Capitão que entaó tinha o
giradlogo.AjJlm moík
mundoj & fugindo logo todos três , naõ paráraó fenaó em oíeu centra rto (jHe tinha
aqnelle
de trayçóesj o falfo Conful Servilio. Vencido a doz.e Gene-
59 Deyxo o eterno lentimento que moftráraôos Portuguezes raes Romanot & a ,
da morte defte íeu Príncipe & mais verdadeyro R.ey, & as exéquias fa- muytM mau batí*lha$
,
taès que lhe íizeraõ , a hum vencedor fempre,& fucceffi vãmente de do^ deães, & formais
dê
vinte annos & affim
ZG Capitães RomanoSjôc em muy tas mais batalhas tnunfante,& reftau-
i
C A P I T U L O XIIL
Morto P'maté \ liiiè
Dm mais guerras de Portuga/,& do /eu grande Sertório^ ;pori(fo o animo ^ #^
vencedor de todo o poder Romafio. valor dos Portugue^,
zes morreo, pois vin^,
do Decio Bruto per
éô A /{ ^^*^° ^ grande Viriato fuccedeo-lhe no governo outro,
,
as guerras de Roma entre Sylla, & Mário, feguio Sertório a Mário con- geo por feti Principà
tra Sylla , & de Mário veyo por Pretor a Hefpanha, & em fabendo que contra os próprios Ro-
Sylla eíiavajàfenhor de Roma, fe paíTou Sertório a Africa, &
em feu manos dando- lhe por
,
Corte a gnerrejnk
lugar mandou Sylía por Pretor de Hefpanha a Cayo Annio j &; de Afri-
Évora tm ^Uni^
ca vinha tanta fama do valerofo Sertório , que os Portuguezes , naó fo^ Tejg^ f
" "
[ . ,
" G frendo
I'
%6 Livro I. Do principio das Ilhas do Ocearto Luíitanas. \
f^iriato y
fitais Romanos & nava Didio, & eftava alojado em as ribeyras do rio não longe de Sevi-
\
,
ate ao exercito deFrã lha, & com tal valor o inveítio que entrando por vallos & trinchey-
, ,
^a ^Hefe veyo ajun ras, matou dentro quafi a todos os Romanos & tomandolhes as armas, ;
tar com o Romano go & defpojos armou aos fevis Portuguezes & foy o primeyro que a Por-
•
, ,
mrnado do Conful
tuguezes fez pelejar yeftidos de armas & fuílentar a pé quedo hiima ,
Qamto Mete a lio. htí
& outro venceo tan
batalha com aquella difciplina militar , em que os Portuguezes fahirao
to,^ com Meftres infignes. Vencida pois a primeyra , & naval batalha , &: logo a
tão Vilero-
fos Porttigiiez.es, cjue campal fegunda, deo com os feus Portuguezes Sertório
atcrc^yra a
jlittridates da /IJta Phidias Pretor Romano, em que atè a elle mefmo o matou , deftruido
mandou pedir muytos totalmente o exercito de Roma.
dellet fará vencer ao
63 Temerofo em Roma o Conful Sylla com taes novas de Ser?
fatal poder Romano^
tório , mandou logo contra Portugal ao valerofo Qiiinto Mctello, com"
& lhe farão \&m grã
mandou
de Meiellofez. Strto- panheyrofeu noGonfulado, o qual,naó podendo logo vir,
rio levantar o cerco 3 diante a hum afamado Capitão Lúcio Domicio, que começou a deÇ-
feu
tinhapojtoa Lagos, truir todas as terras , que por Portugal eftavaó em. Andaluzia mas fa^ ;
ante, & em feu lugar, outro Capitão afamado, por nome Toranio, tam-
bém efte , & todo feu exercito foy gloriofamente dos Portuguezes ven-
cido com a ordem, & deftreza do valerofo Sertório.
64 Com eftas cinco vidorias alcançadas voou tanto a fama Por-
tugueza , & o temor de Sertório , que atè de Navarra, & França veyo o
ProconfulManilio, ou (como outros lhe chamaó ) Lúcio Lolio, a-
traveífando os Pirinèos com groíTo exercito Romano , & Franceza ca-
vallaria contra os vidoriofos Portuguezes , mas fahindo-lhes eftes ao
encontro com o feU Hercujeo, & fendo menos em numero os acometèf
raó com valor taô grande, que a Romanos , & Francezes puzeraó logo
em fugida, ôcfeguindo-os atè dentro aos vallos ,& trinchey ras paífá- ,
\ é5 E;}j
^P*iP
Cap.XÍII.Dofamoío Sertório Portuga no valor,& leald. ly
taó Italiano chamado Marco Perpèna com mais trinta companhias áe da prata.
•foldados veteranos & eftando os Portuguezes cercando em Valença a
;
huma antiga Cidade chamada Lauróna & acudindo-lhe Pompèo, Ser- madoi ""^ "/"''^
* n ^'t^ ^
, JT"Í'
-11 forçasII é" ptr
tono, & os Portuguezes o acometerão em tal ciUada, que lhe matou dez diverj partes
• V 1 t 1 .
04 Pom-
mil homens & com prefla fe retirou Pompèoj & Sertório que comfi- p'eo.,& MetelU^a Pí^
,
(
gojà trazia féis mil de pè, & dOus mil de cavallo ) rendeo a dita Cida-;»^» deo Sertório talhtt
de & a deftruhio & recolhido Pompèo aAragaó, Sertório fe reco-
, : f«*^f"? «^t/?^»- ''*^^'*i
iheo a Évora & entam de fortes muros cercou toda a Cidade & cm ^^^ " 'f"*"" f'ri*
j , t
hum fó, &: grande cano por cima de fataes arcos , metteo copiofa agua V^TlrZl.^
,
"^í^*'' fe
dentro da Cidade, obra que tanto depois reítaurou LlRey D. J oao 111. ^i»^e loio Senorio
68 Anno de 75. antes de Chrifto, fahio por huma parte Pompèo, dtr batalha aMeteU
& Metello pela outra , cada hum com feu exercito ; & fahíndo Sertório (o, tambemaefiefe-
a Pompèo , lhe deo tam forte batalha, que naó fó lhe deftruhio ao exer- '''^o.é-lhe matou mny
cito , mas ao mefino Pompèo ferio, que fugindo lhe efcapou & logo in- ^'^M<^fH<"' 5 :
re- ^
^^ r iví 11 11 n. t?rando-íe outra vez.
1
ooembufcade Metello , taes encontros teve com elle, que polto ci^^^a Évora &rahindm
t ..
lhe matou muyta gente, & huma vez o ferio , Metello com tudo por feu ^ ; armadapelo
mar^^
biM ço , &
experiência de velho , a fi fempre , &
aos feus livrou melhor tomou tantosfoccorrot
que Pompèo , atè que o deyxou Sertório, & fe voltou a Évora. Mas naó mandados de Roma^
contente ainda com taes vidorias Sertório mandou apreílar \o2phím^^'^f'^^''f^f''y^'''
,
Armada Portugueza, &com ella entrando o Mediterrâneo tomou os^^^"" Z' ^/f'^'^ '^
c i-ir. TT/-«n XI
loccorros que vnihaode Roma para Helpanha & naodeyxando porto
Pompso fe foy meter
,
1
^oCertão mejulgAv*
ÍTJiimigo 3 que naó roubaífe , nem inimiga náo que naó vencefle poz a mmfegnro. ,
^~-
C ij Metello,
i8 Livro I. Do principio das Ilhas Jo Oceano Lufítanas. >
i»
Metcllo,& Pompèoemtaleftado,queMetellofem ter jà que comerj
^ . - nem que gaítar,fe retirou a França a refazerfcj ôcFompèo indo ame-
fiem o ^Capitai Proho ^^^^^ "^ Ccrtaó mais feguro que achou j dahi avifou a Roma lhe acudif-
Smiltam & com a iem logo , fenáo queriaó cedo ver a Sertório em Roma & aflim vindo :
dt Portugal Htrctt- ibccorro a Pompeo , & voltando Metello jà de França reforçado , tor-
/M,T<r»í«rfí/r5mfl- nouaguerraaaccenderfe. ^j.;a
rio^&eftc com es Por- £ como aufente ainda Sertório , Hercúleo , que ficara em
^^
tH^Hez.esdto ulbA-
^^ ^-^^^ hãXÚh^^ com Probo Emiliano , Capitão de Roma , &
. •
guez da outra j & logo , fem efperar mais , Sertorio commetteo ao ini-
_ . ^ _ migo, & fe travou a batalha mais horrenda que tinha vifto o mundo , 6c
to tempo , com fucceíTos muy to vários de húa,
m}iel IT^rato foy depois de durar por muy
queficaíTe Sertorio húa
í^e dentro aFalença, &€ outra parte , finalmente oenvejofo fado fez
aa^cometer MeteJlò, vez vencido,mas ainda de tal forte, & tanto á cufta do inimigo , q deíle^
st acha»d^.o com kit entre de pè, & de cavallo, morrerão alli oyto mil homens?> 6c dos noíTos,
faderofo exercito , & ^jj^-f g mortos, prezos,6c feridos, faltarão mil & feiscentos de cavallo , ^
cBoHtroaPo^eojH.
^j^^^ ^-^ ^^ pèimasem fim ficou o campo pelo inimigo , 6c fe retirou
que em tantas , 6c tam
XidtohTSà&le Sertorio naó menos conftante nefta adverfa , do
,
dfrmaps defeií mtl, fe celebrou victoria, quanto efta por verem nella vencidos Portugue-
,
Refaz.endo.fe porem cerco, 6c aceytar batalha , 8c nella O venceo tam fortemente, que fezfa^
de Portugueses & ^ p^j^^p^o & Sertorio ficou fenhor do campo, 6c de todos os defpo-
,
,
&2Zrca3oZ'PS 6c naó fatisfeyto ainda , foy bufcar logo a Metello que eftava cer-
: ,
que andavaó com Sertório 5 julgando que efte já naó podia confervar-^o asCiátides. Mat.
fe, 6cquerendo congraçarfe com a fua Roma , tratarão com Perpena a acodindo a HuefeaJ
abominável treyçaó de matarem a Sertório, conjurândo-íèâiffo,ipa.mtami>emcereadd,fojf
recuperarem a graça de feu povo Romano. Teve noticia Sertório , ^^J''1^^"/^'f!"'í"''*\
Gueyxando-fe aos Portuguezes de fua euarda, eíles em ouvindo tal, f '7 "fr .
com tal runa derao logo nos Romanos , ( que com elles andavao ) que ^^ ^ praça. Masfa-
degollàraó a muytos, & a todos fariaó o mefmo , fe o próprio Sertório ^^^^ Sertório qut aá
lhes naó foífe á maó , & os impediffe > mas ainda aífim quâfi toáos os gnsfoldados Romano»^
traydores perecerão , excepto o falfo Perpena , de quem nem a S^no- tratavaõ de o matar
rio, nem a outrem fubio ao penfamento tal trayçaó j porém efte bufcan- ^
dttiendo.oaosPorJ^
-
do outros Romanos com elles tornou a machinar a morte de Sertório,
& fe
. ,
conjurarão
^
em
,
2
fingirem
. . ,
^'*í'*'^"^ eftesreme^,
,
n
&
tenao loqo aos
nos e^ui entre Porí^
Roma*
os
para a feftejarem mais , irem jantar com Sertório j que quando Per- & tuguex.tsandavaÕ,eà
pena derramaíTe hum copo pela mefa , atraveíTaíTem a Sertório a punha- degolarão a todos.tx-^
cepto ao Capitão Ptr-^
ladas
. í
73 Deraô pois a nova da fingida vitória a Sertório , & o con-/'^"^.'' ^«"» Sertoriq.
vidarão a jantar , para a feftejarem maisj aceytou Sertório ,( contra a""***"'"'*'"'*
fentença do Portuguez Poeta, que difle Porqm nunca louvarey Capitão
:
^ue dijfe i Na» cuydey ) Sc pondo-fe todos a jantar, começou Perpena nQ fajfari» Ptrpetim^
foltarfe em palavras pouco honeftas,quaes fabiaque defagradavaó muy-
emhu fingido bãijue*^
toaSertorio,& queo reprehenderia delias } mas efte efcandalizado de
J^^^^^^^^
ouvir tal, fe encoftou fobre a mefa , & cobrindo-fe com o Real fago mi- ^^^-^ ^- °-^^^ ^í"^
^
litar, fignificando aífim que naógoftava tal ouvir, entam Perpena per- ^«„)^^/^^^j^^yij,^,-^
fido fez o final dado , derramando o copo i& no, mefmo ponto hú dos logo com os traydores^
treydores Romanos atraveíTou a Sertório com hum puiíhal , &: outros & osFoi-tugaez.tsfa»
do Portugal, fe forae • j
, • \^ ^ •• n-^ \
frara Roma.deyxan-
^^"ga^Ç^ de OS privar de ( quando o nao venceffem , como nunca vcn-
do Portugal ^««/o ceriap } ao menos pelejarem com hum Sertório, &: com feu Portuguezí
perdoHs amos atia fatal exercitOi& deyxando a hu AíFranio por íèu Capitão em Hefpanhaj|-
,
wW<i rfí/í»/w Cí/4r. ambos , Metello 5 & Pompèo, fc retirarão aRomaanno de 69. tendo a
morte de Sertório fuccedidò anno de 7 1 antes da vinda de .Chrifto.
.
CAPITULO XIV.
Dãvtndade Júlio Cefar contra PortugaL
'_
7^ A Tè o anno de Ó3.naó houve guerras outras cm Hefpanha,
í\ & Portugal porque o Portuguez exercito naõ vendo já
, ,
Cifmo fi w
Awtiges inimigo competente a quem ir bufcar , elegerão o defcanfo das
guerras
PprtHgHez.es , oh Pi' paíTadas:
porém os mais antigos Portuguezes da Serra daEftrella,de
ri<ttos da Serra da
repente fahiraó com
tal Ímpeto fobre as terras a Roma
obedientes que
Efirellafiz^eraÕ nova ,
guerra aos Romanos^ Hefpanha puzcraõ cm grande revolta, & a Roma obrigarão a
a toda
dr obrigarão a vir o mandar logo fobre Portugal o grande Júlio Cefar, Pretor de Roma , fi-
Romano Pretor fnito lho de Lúcio Cefar, & por aqui defcendente de Júlio Afcanio Rey de
Cejàr contra elles em Alba, & filho do grande Enèas,
donde veyo a familia dos Julios j mas a
o anno de^^ .antes do
1 }
•,
Roma^^ ^ lançando Cornélia filha do Conful Cina , teve por filha a Júlia que cafou com o
,
deUa a fe» próprio Pompèo de que acima tratámos.
fenro Pompeo , cada 76 Corria o anno de 59. antes da vinda de Chrifto , quando o
íídelles tratava de
ter por
Cefar entrou , bem à fua cufta , em íPortugal , & enveftindo a
tal Júlio
fia Portugal
contra o outro, dra if- Serra, & Serranos da Eftrella , foy muytas vezes por elles rebatido cont
fo tornou a Portugal morte de muyta gente} atè que , naó pelo braço , mas por ardid militar
fulio Cefar ^ &dey- venceo aos taes Portuguezes ,& pacificando a mayor parte da Lufita-
xãdo ca Lfgados fcHS nia deyxando nella
, por Pretor a Tuberon , fe voltou a Roma , onde no
tornou a tr para Ro-
anno feguinte foy eleyto Conful com Marco CalphurnioBibulormas
ma.
tornando a Lufitania a fazer guerra aos Romanos & vindo a acudirlhes
,
dous filhos fugirão para Africa , Sc dahi pafa Hefpanha , 6c ficando em Egypto infielmente-y
Córdova Sexto Pompèo, & Cneu Pompèo em Sevilha , procurarão, mas vindo dmufilfá^
com hum bom foccorro de Portuguezes , vingarfe dós Legados de Jú- Çem»Hejpanha co^
tra e Cefar , vgttoit
lio Gefar, & os vencerão ; mas voltando a Portugal o Cefar , & vcncen*
também efie cõtraM^
do a Cneu Pompèo, por trayçaõ de hum criado defte o matou i & vin-^ çfuelUs , & fax.end9
do o Sexto Pompèo logo contra Cefar , fe fez forte em Sevilha ; Cefar matar hum delies à
fe veyo a Portugal , & com benignidade, mercês, & títulos , em chegan- trajfçaSf entrou em
do a Beja mandou Embayxadores de paz & amizade a muytas Cida^ Portugal de paz. , <^
,
dando diverfis titu-'
des Lufitarias , & recebendo delias também Embayxadores , eftcs lhe
los a alguma* terrat^
renderão vaíTallagem, & a Beja deo o titulo de Fax Julia , & de Coló- fètornou a
Roma uU
nia Romana} &
paífando a Évora , a confirmou em o titulo de Municí- timamente , inti» ^
&
pio Romano, taes favores lhe fez , que daqui tomou o nome de Lik- tulandó-fè Empera»
fditas Jiãia j &
lego veyo renderfe-lhe o Rey no do Algarve , & Cefar dormem » terceyr» an»
fez a Mertola Municipio Latino , &
a chamou Julta Mirtilis. De Évora
no o matarão eõ vinte
CAPITULO XV.
Dõprmipio do Império de Auguflo Cefar é* uniaõ com ,
Porttíga/aíeavmdadeCbri/io,Senhor,é*
Salvadornoffb,
BoTriuff/ifiratê fine
chamanieneo de Roma, foy Sexto Pompèo a ella , fó por vingar a morteyj charmtt Augu^g
de feu pay> ô^ feu irmaõi i^^^s fendo o feu exercito de Italianos fomente. Cefar.
foy
|2 Lisrro r.Do príriGÍpio das Ilhas ão OGcàno LufitáfiaiJ i
ii»!í;
do TriumviratO} 6c mudado o nome Odaviano , fe começou a chamar
AuguftoCefar.
79 Chegado o ànno de 2§. antes de vir Chrifto ao mundo , &:
Dm £fiirras «rf^* eftando quieta a Lufitania, os de Galiza entrarão pelas terras que eraó
Sra^a, ^ « Ferto. fy^^y^^^ a Braga, & efta fe perfuadio que tinháo fido chamados , &: aju-
dados pelos naturaes , & comarcãos da Cidade do Porto j &: vencendo
Braga facilmente aos que tinháo vindo de Galiza, declarou guerra con-
tra o Porto , & como efte chamafíe em feu favor aos Romanos que an-
davão em Hefpanha , entre os quaes fe achava já o Emperador Augufto
Geíar , com efta occafiáo entrarão a primeyra vez os Romanos na
Provincia d'Entre Douro & Minho , 8t fe accendeo mais a guerra de
Éraga contra o Portoj mas como da parte de Braga atè as mulheres pe-
lejaváo mais que os homens , depois de varias batalhas, & vidtorias, que
os de Braga alcançarão dos do Porto > Augufto emfim compoz eftas
Cidades com pados muy ventajofos de Braga fobre o Porto, & a Braga
concedeo o titulo de Colónia Romana, & de fe chamar Augufta } & da-
qui íempre ficou algúa antipathia entre eftas duas Cidades de Braga,Si
Porto.
8o E porque Augufto Cefar pof algum tempo fe deteve eni
Boi vários modos
^ Tarragona de Hefpanha, duas coufas nella fez, com que a fi fe fez mais
hoHve em contar <•»-
^gig^H^ primeyra foy, mudar o modo ác contar os annos, porque fe an-
.
"*'•
tes fe dizia v. gr. (fuccedeo ifto tantos annos depois da creaçaõdo mun-
do j ou , tantos depois do diluvio , cu , depois da Fundação de Roma,
êcc.) mandou que dahi por diante fe diffeífe ( tantos annos da Era de
,
Cefarj ) & porque trinta & oyto annos antes do nafcimento de Chrifto
Vchceoefte Augufto Cefar a feu competidor Marco António , mandou
que daquelle anno por diante fe contaflem de novo modo os annos di- ,
ipPiíp
Cap.XVl. Concluefecõ o Ver dàdeyro pritic. das Ilhas. 3j
-çaíTedefde quando acabou de vencer feus inimigos , houvera de come-,
çalla defde que acabou de vencer a Portugal , que foy a ultima coroa
de todas fuás viftorias. Porém nifto mefrao ainda , &
muyto ao depois
venceo Hefpanha ao dito Cefar, que deyxando a era deite no contar,
começou em o Reyno de Aragão , &
logo no de Caftella , a contar os
annos, defde fóo nafcimento de Chrifto Salvador noflb, anno mil &
quatrocentos & quinze, & a eíla Divina conta tomou aCoroaPortugal^
reynandooinvido Rey D.Joaó I.
8r Ultimamente aíFedou efte Augufto celebrarfe com o edi-
.£to , que refere o fagrado Euangelho 3 que fe tomaífe a rol , & fe matri-
culaífe todo o mundo , como fe todo eftivefie debayxo de feu Império De como, imferand«
Romanoi mas ignorava que entaó {aos 3962. annos da creaçaó do mun- ^^g^flo Ctfar , «^
.do,23o6. do diluvio de Noè, em o Reyno de Judea , em a ditofa Cida-
^f^fe^^^nií^fh.
" *^
:<3e de Bethlem , aos 25 dias de Dezembro } o verdadeyro , & Divino
'
.
^^^J
;Emperador de tudo o que Deos omnipotente creou , & crearà ; nafceo
feyto homem por virtude do Efpirito Divino , & da fempre immaculai-
da, & facratiílima Virgem Maria , Senhora noíTa , na qual o Verbo Di-
;vino, fegunda peflbada Santiílimâ Trindade, & Unigénito Filho do
jiiefmo Padre Eterno fe unio á noífa humana natureza , & tam ineíFavel
Tçompofto ficou fendo, juntamente Deos, & Homem , & em quanto ho-
imem fem Pay , porém com a verdadeyra , & humana Máy & em quan*
,
to Deos fem Máy , & fó com feu Eterno Pay j & foy unicamente o que
trouxe a verdadeyra paz ao mundo todo , & na Cruz ( em que morreo
por nos remir do cativeyro das culpas ) a verdadeyra vi£toria de toda»
jioífas guerras.
CAPITULO XVL
Conclufaõ do principio das llhítí»
•
82 o Uppoíloaílí mo breviífimo compendio dos Reys,&guer*
O ras que houve em Hefpanha , & Portugal , defde o diluvid
de Noè atè o inefFavel nafcimento de Chrifto Salvador noífo j conclue-
fe primo jque nem as Ilhas do Oceano foraô alguma hora partes da terra De tudo $ Jhhrediti
firme, nem no Oceano houve a fabulofa Ilha Atlanta, pegada com Afri- fi eêHclueç/]ue nunat
tio Oceano houve 4
ca, & Hefpanha , mas immediato a eftas correo fempre o Oceano j nem
ditafonhada. Ilha A*
Coque mais falfamente fe oppunha ) nem Reys alguns de Hefpanha, tlanta^ nem Reys ntl-
ou Portugal foraó jà mais invadidos , & muyto meno^ vencidos em ba- la «jue •vencejfem ao$:
talhas pelos Reys, qiíe na Atlanta fe fuppoem terem reynado , nove mil de HejpAnha nèan^ ,
que muytos menos tinha o mundo defde fua creação ; & fe Platam falla- rijicarfttâífahuld,^ ^
appareceíTe fecco todo o lugar que deyxavâo , & a efte lugar , deyxado
fecco, poz Deos por nome Terra , & às aguas feparadas chamou Marcsj
Kwiadeyr» princifiê
&
porque a natureza do elemento da agua hebufcarfempre da terra os
valles mais profundos , a eftes fe recolherão as aguas & como febre os-
;
Àm ltí»M ajfim tmo
vallesfe levantava a terra em vaftiílimas alturas ,& deitas erãomuytas
frintifio do mundo ^
«orno depoú dodilu unidas húas com outras, &com menores valles entre íi , outras akuraS
vi» dl N»k porém eram entre fi feparadas com mais profundos valles intermédios,
a eftes também as aguas occupàráo, tanto em circumferencia das fuás
próprias alturas, que ficarão fendo Ilhas } porém as outras alturas mais
unidas entre íi com valles menos profundos, fícàraó fendo a que cha-
mão terra firme. E ainda que o fagrado Texto diz que mandara Deos
fe ajuntaíTem as aguas em hu lugar, ( Cengregentur aqua in locum ununí)
nem poriíTo quer dizer , que aquelle lugar foíTe hum fó per identidade,
ínas que foífe hum per continuativa uniaô, como em eíFeyto vemos,que
.1'
houve , mm ha cre*- mimm^quemformaverati é^c. Logo efte paraifo quede antes, & deídeó
,
tura humana, n não principio tinha Deos plantado,era terra diverfa daquella terra firme,q
defeenda de Ilhoi. Deos apartou das aguas > logo eraalguma Ilha das aguas cercada , pois o
mefmo
Cap.XVI.Concluefecõoverdâdeyropnnc.dasIlliasr |f
meímoiexto accrefcenta num. 15. que da terra tomou Deos ao homemt
& o poz no Paraifoj & num. 23. conclue 3 que do paraifo Deos tirou de-
pois ao homem , & o tornou a por na terra , de que o formara Et immi* ;
cila terra era a firme , & o paraifo era huma Ilha por fó Deos formada i
principio i & por Adam primo habitada mas ifto naõ toca a hiftoriador,
:
fenaó aos fagrados Expofitores , aonde fe pôde ver i pois defta forte pa"^
rece começarão logo as Ilhas com a creaçaó do mundo.
86 E quanto ao tempo depois do diluvio , coherentemente
outros diraó, que aílim como aparaifo terreal foy a primeyra Ilha antes
do diluvio, aífim depois defte a primeyra Ilha foy a arca de Noè,em que
os viventes efcapáraõ do diluvio , como efcapaõ do mar os navegantes
recolhendo-fe a Ilhas , que para eíTe fim também Deos as creou. E que
aífim como o mar j feparando-fe da terra firme , deyxou naó fó a Ilha do
paraifo intafta^ mas a outras muytas Ilhas , de que naó faz menção a Sa-
grada Efcritura aífim também as aguas do diluvio univerfal deyxárao,
:
além da fua Ilha, ou arca de Noè , a outras muytas Ilhas , quando fe re-
colherão , 8c ceíTáraó as aguas do diluvio j 6c deftas Ilhas não diremos
nós agora, mas fomente de algumas , quando , & por quem fe mandara^
defcobrir ,' & povoar j 6c por quem fe defcobrirão , & povoarão.
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LIVRO
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p.
L IV R O II.
DAS
ILHAS CHAMADAS CANÁRIAS,
& das de Cabo Verde.
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•'"
C A P I T U L O I.
com D. Joaó , Rey fegundo do nome , de Caftella & antes de fer Rey,
:
cobrir tantas Ilhas , & tam novas terras firmes , nas em que havia gentes,
fez logo pregar a Fé Catholica, & povoar de Catholicos as que eftaváo
r defpovoadas- A Charidade( ainda com o próximo, quanto mais com
Deos ) moftrou com efFey to muytas vezes em arrifcar a própria vida
por falvar a de feus vaííallòs,nos encontros que a feu tempo veremos te*
ve com os Mouros & no mote , ou divifa que tinha em fuás Reaes nr'
;
^é em
t:apJ.DoSerenírintò.Henriq:prim.Invelit.íks ilhas, 3g
co, da Companhia de JESUS, 8c otranfito do Santo , chamado Ho- cipe o In/atite Dom *
mobonus, procurador infigne da pobreza, &c bem commum; para fe nos Himiqne.
enfinar que o noíTo Príncipe Henrique naó fó foy Religiofo > Santo ^
Príncipe, mas verdadeyramente homem em tudo pio, 6c bom. Morreo
pois de idade de quafi fetenta annos. De feu teftamcnto fe diz que dey-
xou a con^uiftà , 6c defcobrimento de novas terras à Coroa Real , que
entaó tinha feu fobrinho D. Aííbnfo V. ^ porque tinha adoptado por
filho a feu fobrinhoo Infante D. Fernandojque era caiado c6 D. Brites,
fobrinha também do mefmo D. Henrique 6c filha do Infante D. Joaó>
,
*''.•
-\ií->m^i\ s-^"^ 8 ^ Fàlecbd ho fetí Rèf flò dó^Aígaívé j èfti a Villa de Sagres , 6£
:.<ãi^^ò%^ ^^âW^O
dáhifoy feu corpo trasladado para a ¥illa dâ Batalha ,& nellajaz em
^'
'
-''llu?'?'' á^aelle Real Templo que íeup^^ edificou y fua fepultura
éftàjttntá à dô pay^ cohíòas dos rnâisífifantes íeus irmãos porem a dò -,
íioíTo D. Heiirrqueéftâdourâdaj & tem por divifa duas boifas, & letras
tàriíbem douradas , porquê pof fua induftria fe defcobrio também a Mi-
na, de que Viíiha muyto cJtirò a Portugal. £mfim que a eíle grande In^
fáíite D. Henrique patècè haó deve menoá à Coroa de Portugal, do què
ao grande Condi D. HehÀqlie , tronco dos Reys deftk Coroa , & feu
exemplar , naÔ^mèrt&s eiri ò nome , que rias obras j porque corn fuás vir*-
tiides! admiraríeis , còm fuas Divinas letras , ( ou revelações Divinas , na
ópihiaõ de muytos 5 & com feu bf aço invencível íligeytou mais Rey-
nos à Coroa de Portugal , do que rièftè õ outro Henrique térf as j fez
Converter mais Gentios, do que o outro venceo MouroS) & fe o primey-
fò Henrique yfó por dilatai ;a Fé de Chrifto obrou tanto tudo o que ó -,
vOa ;
C A P I TíMií. O
Do antigo , & fiel Hiftortador das Ilhas , o Reverencio, &
VenèraveÍDoutorGajparFruãuofo,
ntMytofabia Doutor fláfceo O Doutor Gafpar Fruítuoíoi feus pays eraó Cidadãos da dita
,
G«(lP*rFmãHofo^an- CiàdÁQ ièi naófó defangue limpiíTimo, mas ricos, & muyto nobres;
tigoEfcmordoillhat, Defde
o pHmeyro ufo da razaó deo logo moftras de muyto devoto â
Virgem Senhora noíTa , & era de tara boa índole , & manfidaõ , que a to-
dos levava os olhos fuá grande inclinação á virtude; começando a ef-
tudar GrammâtiCa, foy logo conhecido não fó do Meftre , & mais con**
difcipulos, mas da nobreza da terra, por fugey to que ao depois viria aí
fer hum grande homem em fíutidade k. letras mas como ainda em ef- , ;
hiia letra que dizia, iVyò^^erá: & da parte da Epiftola hum femelhante-
j
mente figurado livro., & por bayxo delle outra letra que dizia, NaÕ fou-
hra j & ifto vio & reparou ha quafi cincoenta annos quem agora ifto
, j ,
genho , penetração tam profunda , que foy nella naó fó graduado , raas tw^rnem ^ue Mican^,
venerado de todos i & vendo-fej achegado á idade de poderfc ordenar P*^ í^-iTT^Il
&
de Sacerdote , fe voltou á fua Ilha para tomar as Ordés , todo fe dedi- **
"saeMncafn
car a Deos , & à fua Igreja. Chegado à Ilha > repararão todos vir naó íà^ - 4 ? -í
taó fabio com os eftudos,mas também taó exemplar em os coftumes,quô
naó fó lhe deráo todas as Ordés Sacras com geral applaufo j mas de to-
dos os eftados concorriaõ muy tos a pedirlhe confelho, 6c communicar
com elle fuás confciencias , & com ifto fez já então grande abalo', mu- &
dança nos que o tratavaó. Mas vendo que lhe faltava ainda a perfeyta
Theologia , & Moral, ( por mais que tiveíTe jà de Theologia myftica^
12 Voltou-fe da fua Ilha a Salamanca» por fe aperfey coar em
tam mayores fciencias; & fendo ncllas feu Meftrc o Doutiflímo Fr. Do-
mingos de Soto, da Sagrada Ordem de Saô Domingos', taes progreíTo»
fez em toda a Theologia , & tanto o reípeytava o dito feu grande Me-
ftr4 que cm lhe perguntando tal difcipulo alguma duvida , coftumava
o Meftre pedir tempo para a ver , & fatisfazerlhe. O
procedimento nos
coftumes , & o exemplo da vida que fazia efte fugeyto,era tal , com fef
ainda mancebo , 8c Cur^nte ainda, que com naquella celebre Univerfi-
dade haver tantos, &z tdm infignes talentos em virtude , letras , todoà &
veneravaó âo dito Fruâiuofo , &
concorriaó a elle por confelho , 6c to-
dos delle tíravão , ainda mais que do nome, grande fruítoj 6c allim con-i
cluhio os feus eftudos, graduado Doutor naó fó nas Artes, mas em toda
aXlieologia^
D iij ti t)é
4t Livro il. Dás chamadas Ilhas Canárias.
élle Bifpo naó hia para o Bifpado , aceytaffe delle o governo , & o avi-
faíie de tudo o que importaífe. Refpondeo-lhe o Doutor, que o bom
governo de que mais neceífitava oleu Bifpado, era de aver nelleCol«
Tegios da Companhia de J E S U S ; que tratafle difto , & defcanfafíc
então.
15 Chegado á fua Ilha de S.Miguel, foy nella recebido o Dou-
tor Gifpar Fruduofo como hum Pay da Pátria, & todos com elle com-
municavão fuás confciencias , tomavão veneravão
feus confelhos , &
fuás raras virtudes , & começou logo a fer o Diredor cfpiritual , o Mcí-
trr,& ConfeíTor daquelle grande cfpirito da Venerável Beata Marga-
rida de Chaves, natural da Cidade de Ponta Delgada, & nella tida , &
venerada por Santa ; cuja vida , & obras maravilhofas veremos em fca
lugar ; Sr ambos eftes dous fugeytos rogarão tanto a Deos puzeíTe na-
quellas Ilhas Collegios da Companhia , & tanto perfuadicao aos mais-
pios.
^
Cap.il. Do antigo Efcritor das Ilhas'^ 43
pios, &
nobres Cidadãos o procuraíTem aflím , que o Screhiífimo R.ey
D.Sebaftiãò fundou logo o Collegio de Angra na ilhaTerceyra,6c ^^^^-eaM annos fy
defta começarão a ir Padres em Miiraó á Ilha de S. Miguel , atè que uq- f^igario , &
incanft^,
vel pregador ^& ad-
Ik também , pelos mais devotos moradores delia fe fundou o Collegio
que hoje tem , & que yío começar o mefmo Doutor Fruduofo , & com ^^^^^^/^ eLctâl
tam extraordinário gozo feu, que vendo-o dizia publicamente ,& em Qg„j-efor ètaS. Ma-
voz alta 5 Nunc dimittu ftrvum tuum Domine , &c. £ aflim podemos di- trona Margarida d§
zer que ao zelo , & orações delle grande fervo de Deos , & da íua con^ Chaves^
feífada a Beata Margarida de Chaves fe deve a fundação do Collegio
da Companhia de JESUS da Ilha de S.Miguel.
i6 Em chegando efte Doutor a tomar pofle da fua Igreja da
Ribeyra Grande (que da Cidade de Ponta Delgada dilla fo^tres le^
,
goas} começou logo a tratar da dita Igreja , & em fua vida tanto a aug-
mentou de ricos ©rnamentos , & preciofas peças que todos diziaó que
,
feguiaómuy tas vezes que lhes foífe là pregar, & ninguém jà mais fç /
fentio queyxofo delle , pela virtude , & exemplo que nelle admiraváo
todos. No adminiftrar dos Sacramentos era tam indefeftivel , que nif-
fo, quanto podia aliviava muyto aos feus Curas. Tendo gaftado toda a
,
manhã em confeííar , dizer MiíTa, pregar, & dar a Communhão, & vin-
do jà depois do meyo dia para cafa a hofpedar peífoas graves que efpC-
raváo por elle , 6c eftando todos pondo-fe á meíaj, chegou á porta huma
velha pedindo-lhe que a foíTe confeíTar, porque viera jà tarde; pedio
muyto aos hofpedes que jantaírem,& não efperaíTem por elle,& fem to*
mar bocado, o naó podèraó deter,& fe foy para a Igreja.
17 Mas quem poderá recopilar deftc admirável Varão fuás
virtudes As Theologicas, Fé , Efperança , & Charidade , nellc eftavap
?
tanto de aíTento , quanto em tam fabio , & tam fubido Theologo } poií v
panhia de JESUS, natural da mefma Ilha de S. Miguel , & que tinha ef-
tudado em Salamanca, companheyro do Doutor,& a efte, paíTando por
Évora, o tratou fmgularfflentCi ouvindo pois fer falecido o dito Padre;
diííe advertidamente , que naó oufaria encomendallo a Deos , mas IhB
pediria o encomendafle ao Senhor porque fabia fer hum grande Santo,
,
& por tal julgado naProvinciada Companhia :& ouvindo o martyrio ^j^^ JíngulariffímBi
queoFrancez Jaqucz Soria, herege , dera ao Santo Padre Ignacio de exemplos de Fe\ Ef-,
Azevedo, Sc a todos feus companheyros , & como S. Pio V. Pontífice perança,& Charida-
entaó da Igreja mandara que por elles fe não diíTeífem MiíTaS} pergun- de.aindapurA opni
,
•"'""
xim:
tada a razão ao Doutor refpondeo que quem roga pelo Martyr, faz in-
,
juriaao martyrio & que a taes Santos Martyres haviamos nos rogar,
,
&
rendo hum anno totalmente efteril, faminto > íem lhe chegarem a el-
le, nem aos
feus dous companheyros > os annuaes provimentos das luas
Ilha«, &
vendo-fe já em quafi extrema neceílidade,& por outra via re-
queridos pela paga do que tinháo tomado fiado , o Santo Doutor os cx*
hortou aefperaremem Deos, &
fe recolheo aíeuefl:Lido;&: paíTadas
poucas horas chamarão o Doutor á porta, & lhe entregarão hum copio-
io prefente de mantimentos , naó fe lhe dizendo mais do que , que húa
iiia devota efpiritual lhe mandava o tal foccorro pafmàraó os compa-
:
'^nlòT^dt^^fri ctrp
^ ^^^PO"^^ O Doutor /Pedem por amor de Deos , fe me enganaó, dcy^
também âíu '^^Y"^^ enganar por amor de Deos &:
: affim nefte , como em femelhantes
9^trttHíiesefmtlat, cafos o foccorria Deos logo. E chegando outras vezes a dizcrlhe muy*
tos, para que dava tudo por amor de Deos , pois, podia adoecer , & não
ter com que curarfe: refpondia , accefo em o amor de Deos , maravilho-
ías doutrinas, & concluhia: Se adoecer, & naõ tiver com que curarme^
venderey os livros; & fe eftes naõ bailarem, irey para o Hofpitalj & fe lá
me naó quizerem recolher, naó ofaberá ElR.ey: & continuava entaõ, tu-
do dando, & fó por amor de Deos , & charidade com o próximo mas :
wi^m
Cap. n. Do antigo Efcíitor áas lIWs.~ 41
cado , apartava delle j as que andavão ejtli ódio , punha em pâZ reconci-
íiando-as entre íi , & coín tal valentia de efpirito, que todos fe Iheren-
diaó } a todos dava o melhor confelho , fem íe negar a alguém que lho
pediffe i por quaíi quarenta annos pregou milhares de vezes naquella
ilha, & fempre com grande fru£to, eftranhando vicios,& encomendan-
do virtudes & comtudo mmca repetia a mefma pregação , & ordina-
-,
riamente a não efcrevia fenão depois de a ter pregado > & antes fó com
DeoSj Sc com a Sagrada Efcritura confukava as fuás pregações 3 & por
iíTo hellas provava o que dizia, nãofó com excellentes ,& fempre di*
verfos paflbs> mas com fubidiffimos conceytos: donde jà fevèomuyto
que exercitava a cada huma , & todas as obras de mifericordia , efpiri-
tuaes, & corporaes,
21 Nas mais virtudes moraes foytam ihfigrte, que para as
€onfervâr fempre todas , fe fundou na humildade , & defapego das cou-
fas defte mundo ) com que largou as rendas dosprimeyros Benefícios,
fem nem delles lefervar côngrua alguma > com que regey tou Bifpado,8c
governo, & fecontentou corafóaquella Vigayraria,femjà mais admit*
tir afcenfo delia, & fó nella fe confervou ate a morte, por melhor a Deos,
que ainda que indifpofto , andava ainda de pè , & indo de manhã à fua
Igreja , difle MííTa com a paufa ,& devoção que nelle fe observava fem*
pie,&: recolhendo-fe acafajà em o fim da manhã, logo em começarldo
a tarde rezou Vefperas, & Completas ,& acabadas ellas, pedio>& rece-s
beo a Santa Unção , & &
invocando os fantiílimos, devotiífimos nomes
de JESUS, & de MARIA, entregou em íuas mãos aquelle ditofo efpi-
rito. Sabida fua morte , foy, não fó naquella Villa daRibeyra Grandcj
mas em toda a grande Ilha de S. Miguel tam chorada , & fentida * quò
,
todos clamavão, lhes faltara a columna de toda aquella terra , & de to-»
dos o feu Meítre j 6c Pay univerfal. Acudirão logo o lUuílriílimo Bif-
j)Oi'
*
Livro II. Das chamadas Ilhas Canária*.
po, &
o M. Rever, feu Vifitador ,& com elles toda a mais nobreza Ec-
Dífffaprevífiar,>9r' clcfmlhcâi &fecular , &
depofitando o defunto na fua meíma Igreja,
u executas , fepu/- que he de noíTa Senhora da Eltrella, acima dos degràos da Capella mòrj
,
f/UÀrou.'
' " Vigário, & Pregador dejU Igreja, vcxQ l/ã'
•
fao Jpojioltco em
j &
tnjigne letras, "virtude.
compendio de tal vida fe tem bem manifeftado j ainda q^e das letras &
fe diz eftarem acima das Eftrellas , ( Sapens daminabmtr ajttu ) &:
aqui
aos pès de húa Eftrella ( titulo da fua Igreja) hè , que ficando
-,
o corpo
-aos pès da Eftrella da terra , fobre as eftrellas do Ceo fubio a alma , le-
íirando por humilde o lugar que por foberbo perdeo hum Lúcifer èc
,
:
vida, & cumprindo fua promeíTa, de em ifto vendo, dizer o Num dimit-
tiSièc amda não de todo fe aufentoudos feus tam amados
Padres da
Companhia j porque além de lhes deyxar a livraria que tinha , de mais
vão Saudades do Ceo & fe os livros , que hum Author compõem, faó o$
:
filhos da fua alma, que fempre faó muyto amados, & a alma aonde
ama^
coftumaeftac muyto mais do que aonde anima; bem podemos dizer,
que nem de todo fe aufentou dos feus Padres da Companhia efte Varão
Apoftolico , pois lhes deyxou fua alma , & muyto efpecialmente em hu
tal feu livro, que a Companhia tem , & guarda, como
relíquia fua , & de
fmgular eftima & com haver jà 123 annos, que morreo Varão tão fan-
:
CAP.
Gap. IH. Noticia das Canárias çm geral; 4^
, J.
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jt' l
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I
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C A P I T UX O III.
vro defte Doutor os feus oyto Capitules primeyros, qiie das ditas quey-
xas tratão j & paflamos ao nono , do defcobrimento das Canárias , que
poisfoyoprimeyrodeilhas nefte Oceano Occidental , também deve
^r primeyro na hiftoria & porque por algum tempo , & de algum mo- :
do foraó fugey tas à Coroa de Portugal , como veremos , por líTo ainda
as jnettemos entre as Ilhas Lufitanas j mas com mayor brevidade , pelo
menor commercio que com ellas hoje temos.
24 Canárias pois fe dizem hoje as Ilhas, que antigamente íe
vidiziaõ Fortunatas , ou bemafortunadas faó por todas doze em nume- ;
, at), pofto que cm algumas cartas náuticas fó fe apontâo onze , fem conta-
rem a que chamão I lha do Inferno j correm de Lefte a Oefte, aífentadas
«m 28. grãos da parte do Norte diftáo de Hefpanha 200. legoas , & a i
que eftà mais perto da cofta de Africa , treze legoas fomente difta del-
ia ,& 4o Cabo que chamão Bojador j mas outras Ilhas diftáo dezafete
tégoas! Os nomes hoje próprios, & as mais nomeadas deftas Ilhas , faõ
Os feguintes Forte FèMuraj Lancerote , Gram Canária , Temrife , Palma,
: ^
-ilha do FerrOi Gomeyra as outras cinco Ilhas faô de menos nome , & de }
í784annps feguintes, fe não tornarão abufcaras ditas Ilhas, atê que :wíç;4<!Í<7>í«,«»«»ií«
chegado o anno 1 544. depois da vinda de Chrifto Senhor noíTo , & rey- nafumento de 1 595
^
j'
tm^T^^ínlíTda & tudo a dita Rainha lhe concedeo & ainda o ajudou a taÔ gloriofa em<
,
por fe paífar a França , a bufcar mayor foccorro com que tornar à con-
quifta j mas o ceíto he(dizo noíío FruAnofo } quede
algum deftes
modos morreo o primeyro Rey j & lhe fucçedeo ,na,Cí)roa o dito fobri-,
nho Betencurt 3 a quem o tio a deyxou.
>
28 -
Continuou efte.fegundo Rey a conquifta , & com foccor-
ro de alguns Caftelhanos conquiftou a quarta Ilha,
chamada Gomey-
i-a, & ficou jà Rey de quatro Ilhas j mas
fentindo entam mais a falta do
valerofo tio , & foccorros que efperàra , & vendo que lhe
reftavaô por
conquiftar oyto Ilhas , & entre ellas a principal , que era a Gram
Caná-
ria cabeça das outras todas ,
,
de mayor numero de gente & mais bel-
& ,
CAP.
Cap. IV. Do difey to de Portugal ás Canarías. 4^
CAPITULO IV. i
'líih. ',
mosj de fa£to lhas vendeo por certas fazendas , que o Infante lhe deo para onde (e pdjou-^
&
jia dita Ilha da Madeyra, para onde ( & para perto ) o dito Rey
de Ca- &
mandado o Infan^^
30 Eftando jà pois o Infante , com titulo de compra , & ven- tella outra vez.,& eS
ãa, feyto fenhor das Canárias , expedio logo Armada , que conquiftafle RegMliheraltdade.as
delias as que faltavaó ainda por render , inviou a Dom Fernando de
& conqtuft^
J""'"*''^ eonqmju
Caftro por Capitão mòr da Armada Portuguezai mas naó foy Deos fer- «^ *^J^^^
-'
vido darlhes bom fucceífo , porque inveftindo logo a Gram Canaria,taó
forte , & porfiadamente foraô rebatidos delia , que fe retirarão , & muy-
to deftruidos voltarão ao Infante, que defgoftado de tal fucceíTojÔc con-
fiderando que Caftella dera o reynado daquellas Ilhas aos Betencores,
& que eftes com ajuda de Caftella tinháo conquiftadoas quatro Ilhas,
eftas quatro, & o direy to às mais largou liberalmente , como Principe, à
Coroa de Caftellaj&difto trata Joaó de Banos part. i. lé. i. cap. 22. Cã-
ftelhanos ha que dizem, que o fegundo Rey de Canárias Betencor, pri-
uieyro que ao noíTo Infante , as tinha de antes vendido a hú Pedro Bar-
ba de Campos , vizinho de Sevilha , &
efte a hum fidalgo , também de
Sevilha , Fernaó Peres, que por demanda de preferente as tirara ao In-
porem D. M*r3 Mo
unbo,CondedeAtou.
fante por fentença do Papa Eugénio IV. &
aífim os defcendentes do di-
to Fernaó Peres as tiveraÓ , atè que oCatholico Rey Dom
Fernando ^«'^^;^'^''^^^^^
V. de Caftella com grande Armada enveftio atè a Gram Canária , unm- \ai„i,aD.
fomn<x^
do-fe com hum de dous Reys delia , & vencendo ao outro & nXúma-fiiha
, d^ElRey DoZ
mente tirando-a a ambos. Dmne de Portugal^
"
Infante D. Fernando , irmão delRey D. AíFonfo V. & o Infante man- mandou tomar pofe
dou logo tomar poíTc delias pelo Portuguez Diogo da Silva , que de- de Um, & a tomou; c5
pois foy o primeyro Conde de Portalegre: mas porque vindo logo de ^«^^^*'»^^''^^^''«^'*
Caftella o Cavalleyro FernaÕ Peres , ou de Peraza, & moftrando como 2Z'liberaímentZ
tinha comprado muyto de antes as taes Ilhas ao fegundo Rey delias ^^^^^^ ^ CAnanoio,
Betencor,& com todas as licenças do primeyro Rey feu tio,& dos Reys c^^deiu,
E pro-
^-ír*:^ -^Fir-
i0 Livro 11. Dai chamadas Ilhas Canariasi
( Lancerote, & Forte Ventura } & coube a Dom Joaó da Silva , fegurg.
do Conde de Portalegre , pela dita fua máy , renda de mais de trezen^
tos mil reis cada anno , que fe fe cobraõ ainda , fabelo-ha quem lhe toca»
32 Eternos dado a razaó de metermos nefta hiftoria Infula*
na as Ilhas Canárias, que eftaòhoje em a Coroa Caftelhana , por a Lu-
litania as ter poíTuidojà tantas vezes, & com os referidos titulos,& ain-
&
da hoje ter algum direyto a ellas i muyto mais por aííim as metter na
fua Hiftoria o Doutor Fruduofo , a quem feguimos , Sz de cuja verdade
& antiguidade devemos todos fiamos , ao menos fegundo aquelle tem-
po em que efcreveo; que hoje muy tas coufas poderàó já eftar muyto mu-
dadas-, o que fabendo-o nòs, o advertiremos j èc nefte ffentido vamos
com a hiftoria por diante.
C A P I T U L O V.
rio, nem fonte, ou poço tem 5 porém junto do lugar, em huma fajá,
ou válle , ( aonde o vento naó chega fenaó brando } eftá huma grande
arvore , fobre a qual todos os dias , & muyto mais de manha fe aífenta
huma névoa, ou nuvem branca , que pelas folhas da arvore deftilla tan-
ta, & tam boa agua doce , & fe fórma:della hum tam grande tanque era
bayxo, que delia bebem não fó os animaes , mas a gence da tal Ilha: tan-
ta he do Creador a providfencia que tem de fuás creaturas , & táta a pie-
dade daquella arvore , & nuvem, em que o Creador Divino tomou nof-
fa humana natureza, que aífim acudia a eftes homens. O material da ar-
vore nem os mefmos naturaes o conheciaõ , & fó a viaó eftar fempre em
o mefmo fer , fem já mais envelhecer, nem crefcer , ou diminuir antes j
fallàraó mais em tal mateíia. Tem mais a tal Ilha húa boa, & nobre Igre-
ja Parochial da AíTumpção da Senhora ^ 6c hum Convento de Francif-
canos, & cinco Ermidas , &tam bom porto , que atè então fe não tinha
nelle perdido navio algum , mas fora da Villa , por toda a Ilha hão ha-
veria mais que feflenta moradores.
C A P I T U L O VI.
5Í 6y4j» CAnariafey rentes , dizemos ter lido efta a quinta conquiftada. E confirma-fe j por>.
k^Mittt/t Ilha eê^Hi' que depois de o fegujido Rey Betencort vender ao noíTo Infante Dom
j(?«á«, ííw5^«iírf«í<» Henrique odireytotodo que tinha às Canárias , ainda o dito Infante
UloM tm ctrcfttto,& mandou Armada Portugueza conquiftar a Gram Canária, & ainda mais
T^J-j-.ZÍ\lr! «depois
* a conquiftáraó os Reys de Caftella logo efta hc a verdade.
:
poríedtvtatre entre/i t tt ^^ ^^ •
r ^th j o
i 1
^'^^^'^^^ i & ^^^ grandes , que excedem a grandes lobos , & por iíTo lhe
> 7efà & cmhtto &
I
Relação de Dezem. chamàraó a Canária , & a Gram Canária j fendo que tem tantas outras
bargadores -^draCi- grandezasj C como veremos logo } que por eilas lhe vem bem o titulo
dadt de s. Ama de de Grande. Tinha de antes cinco, ou féis Reys, que unidos a defendiaõ,
tris mtlvtz.tnhos te
, ^ por iffo cuftou tanto a conquiftar , que fó por fe dividirem entre fi,
^^° fovsLO por partes conquift-ados , & defpojados todos que de án-
^Teíde de^'*' inhemo) P^**
;
^^s não tinha fido de CoíTarios entrada, por mais vezes que foy acomeí-
viúnhes & aGnia
'i/inte& quatro En- ^ ^da, & dos de Berbéria vizinhos, & barbaroS} mas he tani fortificada to-
^e»/;wíi#4^c<jr ,€^daaIlha,&agentetambellicofa,que nâ® cedia a outra algúa.
^ftyta riquex^a eom 40 No militar, & politico he a cabeça das outras Ilhas Cana.
hm teperawento & fiaj^ ^ ^^^^ ^cfide O Govcrnador, que tem iurifdição de baraço , & cu-
'*^"°» P°"0 ^"^ ^ melma tem cada Governador das outras prmcipaes
& wffvtes Camlet Ilhas,
no que toca ao criminal j & para o que toca ao civeí > tem o Tri-
bunal.
^
.feunal, & Audiência Real , com Dcfembargo de Ouvidores fecuía*
três
•
ícs, & Regente , aonde vaó finalizar as caufas das outras Ilhas , &c. N©
jEcclefiaftico he a única Dieccfè , & Bifpado de todas as ditas Ilhas , po*
ito dizei emalguns que a Cadeyra Epilcopal eftivera algum tempo em
Lancerore , ou na Paíma. Na mefma Carlos V. fez pòr Tribunal do Si
OíRcio , com os neceíTarios M
iniftros , & officiaes. Aièm da fua Sè , tem
mais duas Igrejas Parochiaes, ôc hum Convento de Religiofos Fran-
cifcanosjOutiodeDominicosj&âlgumas Ermidas. O
Bilpado chega a
mais de fete mil cruzados de renda j o Inquifidor a dous contos de rcisj
o Deaõ a mil & quinhentos cruzados. A única Cidade de toda a Ilha fe
chama Santa Anna, & coníta de três mil vizinhos j & por fer allha con-
quiftada em o dia de S. Anna, tomou feu nome a Cidade.
41 Duas legoas da Cidade para o Sul eftà huma nobre Villaj
& de quinhentos vizinhos , onde ha três Engenhos de aíTucarj & fe cha-
ma Telde, que também abunda de algodão: de Telde fe vay à Guia,Vil-
la que também com Engenhos fe occupa & adiante da Guia fefegucm
;
Guimar, & Arucas donde dizem que he tal o aíTucar, que ao melhor da
, ^
Madey ra fe iguala em fim que de aííucar havia em toda a Gram Cana-*
:
ria vinte &c quatro Engenhos , & cada hum de féis , Sc de fete mil arro-
bas de aíTucarj fe hoje ha mais, ou menos , là o faberáõ como fe ha nella -,
^
42 A fcxta Ilha das CanariaSj por ( na opiflía6 niais provável} meiõ7ejie,&u«AÚ
em fexto lugar fer conquiftada , he chamada Tenerife i difta trinta le- to, ijae dix.emexced<t
goas de Lanccrote, & Forte Ventura , &
quinze legoas da Gram Cana- <*» d* Jlh* do Pieo,^,
fia corre de Lefte a Oeftc com quinze legoas de comprimento , porém ']»ffevedífejféntalem
;
de largo com féis em humas partes, & oyto em outras , dez legoas em ^f^ '** w*'',^ «*«!
&
alguns lugares } &com fer toda a Ilha muyto alta, he altilTima no meyo, J<, tf!^/„*,''*>,'ij^^í^
aonde tem hum Fico chamada» Teyde , tam exceílivamente levantado, g^tyt , qHtpwéinda-,
^
que de feíTenta legôás ao mar fe eíta vendo, fèaffirmafer mais ako ain- r^m hum cêntra «á
da que o da Ilha chamada do Pico; &
com, em o mais doanno, eftar pe- outros,forao vencida.
las neves muyto alvo , tem comtudo tal vulcaó pela banda do Sul , Su- 'j"^"' ^'"* * Ctd^^ •
êíl-e,& Sudoefte , que femprc eftà lançando flimo ; Sc bem moftra efta '^'.;^^T*, '^ fT
linaque em muytos tractos ârdeo mais que as outras Ilhas ^ Sc parece /^ Or0tAVA de treJ
que em fua primeyra povoação foraõ por vezes, em diverfos tempos, «^íw ^ ^ tkât^ads.
^ higàres,lançando-lhe alguns cafaesdegerttes,ôcque cada povoação laade dedHicentes,^
dcftas feparadas fazia feu Reyno à parte , St tinhafeu particular Rcy, Sc Gmr*ehic§de ^m^^
âfiim havia nella nove ReYs,que ordinariamente andavaó cm guerras "f"*^*'-'j'*'^*'* *'"*'«
entre fi, Sc poriíToerao guerrevros muyto dèítros j Sc forao os mais cu- ,^, ^ f » "v ',, . ,
n c I -n „ ^ . -/v- n 1 r ^ ^
1
'Xe*U*ttteSgí»ettf.ig*
• •
mios de conquittar ; Sc também por líio deites he que fe tirarão mais ^^„^^ m*inrA (^ ,
ôatlVOS. pktsexefffive^degrã^
43 HaneftallhadozcjOi^i treze Povoações, cuja cabeça he a ííw.
E iij Ci'«
J^-ZKTJ:.*»^.
Livro IL Das chamadas Ilhas Gananas,
vão para fora, por fer muyto rijo* Nove legoas da Cidade , da banda dq
Norte, eftá a Villa chamada Guarachico, povo de quinhentos vizinhos,
que lavrão.muyto vinho, & muyto aíTucar, que vay para Caftella,Flan-
dres, & Inglaterra} & ha nefta Villa hum Mofteyro de S. Francifco , de.
cuja Capella mòr (com fer toda de madeyra bem lavrada, & fer grande)
dizem fer toda fey ta de hum fó páo j & a quem vir a grandeza excelliva
dospinheyros quehanaquella terra, nâo parecerá incrível i & na mef-
ma Villa ha lavradores de vinte até trinta mil cruzados de renda de fuás
lavouras, & de Engenhos próprios de aíTucar. Da banda do Sul eftá hum
lugar chamado Adexe, aonde a família dos Pintos tem dous Engenhos
de affucar, que nos féis mezes da fafra moem oy to & nove mil arrobas,&:
tem quatro legoas de canaveaes. .
'
?
44 He geralmente efta Ilha muyto fértil , atê de pàos de muy-
ta eftima, & chey rofos , muyto abundante de mel , vinho , & aííucar , &
fó de efpeciarias, & azeyte he falta, mas não de pefcado em todo feu cir-
cuito i nella fe fabricáo muytos panos, fedas , & linhos > tem muytas , &,
frefcas aguas doces com que fe rega toda & he muyto falutifera , & de
,
bons ares, & nella fe d^o muytos, & bõs ginetes mour ifcos, & aíli m nu n-
ca tinha fido entrada, nem faqueada de inimígosi &: fobre tudo he de tão
^°°^ governo, que delia parafóra fe não^póde levar dmheyro algum, fe-
d Z at ha
nX,&%'ZTJlH^^^o^^V^^%^^^ nas drogasda terra, com o que náo fóhe muyto rica,
recJèraS a da mar- mas enriquece aos Eftrangeyros, que a ella vão commerciar.
tjrio tjHArenta Reli- 45 Septima conquíftada Ilha he a que chamaõ Palma , pelas
giofesdu Companhia muytas palmcyras, que ha nella, & carregadas de tâmaras ; eftà treze le-
d« fESVS; tem de-
^^ Noroefte de Tenerife, & da Madeyra feíTenta ; tem dezoy to de
de largura. Tinha de antes quatro Reys , & as
"tZmT&deíTete comprimento , dezafete
deTaZurs; a 'culde mulheres eraó tanto mais varonis
do que os homés, que ellas em a con-
heS.MÍ£HeldeSan. quifta pelejarão atè não poder mais ,& a mayor parte dos mandos fe
ta Cruz. &pajfa de metterâo em fuás covas atè morrerem àfome j mas jà hoje as mulheres
,
dm mil viz.inhor, f^^ muyto polidas, & os homens faó os mais guerreyros de todas aquel-
j^^ ^y^^^^ ^^^^^ ç^^^ ^^ ^^j-g^ ^^^y f^ceys de conquiftar. A terra he muy-
eahia nella miUgrofo
Vli que "daiVmldi. q"eos cozíaó.muyto cedo, & no mefmodiaos comiaó , & que lhes cha-
cénalfaniHt de dra. maváo Graça do Ceo , & mannà de grande cheyro mas que tanto quq
>
^
Capi VI. Concluc-fe com as Canárias.' jf
áquelíe manjar do Ceo. Repare bem G Leytor,
4,6 Qiiaíl toda efta ilha, cxceptas
algumas terras de aíTucafa çf>
ti plantada de vinhas pelo Sul, & pelo Norte , tanto aífim , que dà cin-
co , 8c féis mil pipíis ao dizimo,& o termo da Cidade duas mil, com que
rende de direy tos , de entradas , ôc fahidas na Alfandega , trinta mil cru-
zados. O
rendimento do paó he tam abundante, que huma fanega de fcr
mcadura dà cento & dez , &c mai-s. No meyo da Ilha eftá a Cidade com
doas Conventos de Dominicos, & Francifcanos j & fendo que de antes
naõ era fortificada , & por iíTo foy entrada , faqueada , queymada poí &
Francezes Lutheranos , a 2 1 de Julho de 1 5 5 3 & pelo Pè de Páo ,
. . &
Jaques Soria j comtudo em os primeyros dez annos foy reftaurada de
force , & de novo tam fortificada, que náo fó cftá mais luítrolà, 6f popu*
lofa, mas de todo inexpugnável. r; ^ -
'
-
manhãs faó medicinaes , & fó de tarde nocivas , por não terem viraçaâ»
do mar &c não fó de Caftella , & fuás índias > mas de nações eftrangey-^
:
ras , he a mais bufcada efta Palma-, porém a melhor palma lhe levàraó
quarenta Religiofos da Companhia de JESUS , que indo a pregara Fq
Catholica emoBraril,pouco de antes defcuberto , pela Fé , &àvifta
defta Ilha foraó todos quarenta marty rizados pelo dito Coflario here-
ge Jaques Soria , &: íem e'fte levar da Ilha a palma , defta , & delle leva-
rão a do martyrio os quarenta para o Ceo , fendo o feu valerofo Capi-
faõ, oilluftriflimoPadreDomlgnacio de Azevedo , mais illuftre ain-
da pela morte , ou fangue de feu martyrio , do que pelo illuftre ^ngue
herdado mas efta matéria pede mais alta , & fubida penna , & aílim va-^
:
C A PI T U L p VII.
4' -.i? uíy f
-
51
Particulares datas neftas Ilhas tiveraó alguns fidalgos po-
bres, que hoje faô ticos Titulares j aíftmtem os Condes de Lancerote
nefta Ilha, 8c na de Forte Ventura j 8c os Condes daAyala ema Go-
meyra, 6c Ferro, 6c em outras outros j mas a Gram Canária, Tenerife,6c
Palma, em nada a alguemoutrem eftaó fugey tas , fenaó fó à Real Coroa
de Caftella. Advirta o Leytor porém, que o que deftas Canárias fica di-
to he fó hum compendio puro, Sc verdadeyro do que em feu antigo eí-
,
W^
Cap. VIII. Do dito Cabo Verde, & feú cíimà; $f
ktvro; que em o tempode hoje pode fer eftejaó mudadas muytais coa«
•faSj que aqui nem fe negaó, nem íe aíiirmaó.
CAPITULO VllL
^
mos dizer das de Gabo Verde , aíiim pelo pouco que delias
dizem os antigos ChroniftaSj Barros, & Góes, como por o Doutor Fnu
cluofo cocar fó efta matéria no kh. i de lua Hiftoria cap. 2 1 & paffar lo-
. .
que extende atè o cap. 2 6. & jà em o cap. 2 7. tratar das opiniões que hou*
ve do principio das Occidentaes Ilhas Luíitanas , como diíTemos jà no
líh. I. pelo que compendiemos agora, Sc com menos confufaò,o que
1443. (já governando ElRey D. AíFonfo V. era Portugal ) hCi Efcudey- nomes &ptA*ttHr4i
ro feu , chamado Dinis Fernandez , morador na Corte de Lisboa , rico, '"*&^^'í^í'*lt
& de honrados feytos , movido com favores , & mercês pelo dito noíTo
Infante D. Henrique, foy de feu mandado j em hum fó navio , defcubrir
da cofta de Africa o mais que pudcíTc ; & partindo corri eíFeyto , & paf-
fando o rio Canaga , que divide os Mouros dos Jalofos , Sc eftà em a aU -
tura de quinze gráos Sc meyo da parte do Norte, tornou huma Alma-
dia de quatro negros Sc dando mais adiante com hiím Cabo, que Afri-
-,
.de Gpes, 5c da do Principc D. Joaõ, que depois foy o grande Rey Dom
Joaõ o 11. de Portugal i pois jà no anno de 1460. fez leu payEÍKey Q,
^ffonfo V. doação das ilhas de Cabo Verde, & das Terceyras ao In-
fante D. Fernando feuirmaói donde íe fegue que as de Cabo Verdeja
eraó defcubertas, & primeyro que as Terceyras , & nos; annos fobredi-
tos, como feverá no defcubrimcnto das Terceyras.
5^ A
primeyrâllha que acháraô os ditos defcubridores , cba-
márão-lhe a Boa Vifta , mas ainda melhor nome lhe derão logo depois,
chamando-lhe SantiagOi àfegunda a Mayaj &
àterceyra S. Felippe,oii
Ilha do fogo i por defcubrirem em o primeyro de Mayo , dia
todas três
dos ditos dous Apoftolos j &
paliando logo o no Rha , ou Caramanca,
chegarão atè o Cabo Vermelho , &delle lè voltarão a l^ortugal. E por-
que eílas Ilhas de Cabo Verde laó onze , os nomes das outras oytofaó , o
da quarta S. Chriílovão , quinta a do Sul , fexta a Brava, feptima S. Ní-
colao, oytava S. Vicente , nona, Razabranca , decima, b>. Luzia , undé-
cima S. António, ou S. Antão, como (deftes nomes, &da ordem com
que vaó ) confta da doaçaò Real , que filRey D. Joaó o II. fez ao Du-
que de Beja D. Manoel , Rey que líie fuccedeo.
56 Eílaô todas eftas Ilhas arrumadas defde quatorze gráos 6c
ineyoatèdezoyto,ficando-llie o Cabo Verde em quatorze gràos , 6c
hum terço, conforme a Ptolomeu. A Ilha de Santiago eftá Leite a Oef-
te do dito Cabo noventa &. cinco kgoas , em quinze gràos &: meyo j 6c
conforme a outras cartas em quatorze , &: meyo. A Maya eftá de San-
,
C A PI TU L O IX.
pmho, muy tas peras , figos, & melões , ôc todo o anno uvas , jà em agra^
ço , já que começaó a alimpar , & já maduras i feyjóes , & abóboras de
muytas caftas. Ha nella muytas arvores , como maceyras, que daó hús
bugalhos , dos quaes abertos tiraó muyto algodão. Ha também muytas
bananey ras , cujos figos partidos ao travez , em cada talhada moftraó a
figura de hum Crucifixo, ou Cruz, & dizem que daquelles era o frudo
vedado do Paraifo terreal. O mais veremos abayxo.
58 A Ilha de S. Felippe fe chama também Ilha do fogo , por- Da jiha de S. Fefíp-
que de hum altiílimo pico feu íahe continuamente tanto fogo , &: às vt-rpe^&defett alttffimo^
zes deyta de fogo taes ribeyras , que esfriadas fc convertem em cinzas, /<'<?''/^i ^ /''^'íg'^»'?
&: pedra pomes , ( como dizem } & vaõ dàr ao mar j & em tempo fere- /"^*i
nOa & de noyte chega a verfe elle fogo de quinze legoas ao mar j &: atè a
mais alta nuvem de fumaça , que fobre feu cume forma efte pico , chega
a verfe de mais de vinte legoas ao longe, quando o tempo eftá fereno, 6c
o Ceo limpo :defl:e pico dizem fertam alto, que porhnha imaginaria,
defde o bayxo lançada ao ponto Correfpondente à fua altura, tem três
Ifegoas, que em Hefpanha contém doze milhas j & naó obftante tal altu-
ra, & tal fogo delia, & diftar fó ícte legoas delia a oucra II ha que chamao
Brava , fete annos efteve efta encuberta depois de defcuberta a outra de
tanto fogo , & altura } & affim dizem que excede efte Vulcano de fogo
ao furiofo das índias de Caftella , ao bravo da índia Oriental , & ao tre-
mendo de Sicilia, com todos ferem Etnas efpantofos.
'
59 Dallha de S. António fe diz conftar de oyto legoas pouco -D'* ^''^'« ^''5' ^«'*"
íilàis.ou menos j & do mefmo tamanho he a Ilha de S. Luzia i Scaífim »'<>,& dcS.Luz,ta,&
efta, como a Ilha Brava, 8c a do Sal, & a da Boa Vifta, faó dos herdeyros
^^/^^.^f ^f ^^!
de D. Martinho de Caftello Branco, diz o Doutor Fruítuofo mas que -,
^^/ ^g V*^ nejíat
a de S. António era de hum fidalgo de Évora Gonçalo de Soufa , genro jihai & dos. corvos
de Bernardino de Távora, Repofteyromòrj porém que a de S.Vicente brancos & homens ,
ur ;fe£Hndosos Por- j^^ir, pelo noíTo Infante D. Henrique , & pelos feus Portuguezes, que
tHgmz.es, ^uenellas
^joucomaquellestresnaviosGenovezes, & navios que depois fo-
"^*"^"
fómente acharão ga- j -o . 1
LIVRO
L I V R o m.
DAS
JEl^ AS DE P O R T o S AJSITO,
6c Madeyra^
C A P I T U filÔ" 1;
levava para efta povoação , levou também huma coelha , que parindo
npmar,foy lançada na Ilha com os filhos, & multiplicou tanto, que
naó fe plantava , ou femeava coufa , que os coelhos não roeííém de que;
^p
CâpilLDoi defcubndores,& qualidades do Porto S. 6ff
que primeyro
fofle vifta , &
vifitada de Francezes , Caftelhanos que &
andavaó em demanda das Canárias, foy depois não fó vifta ,& vifitada^
mas defcuberta toda, 6c habitada por mandado do Infante D. Henrique,
&; pelos fobreditosPortuguezeSjfem que obfte a variedade fobrcdita,
pois com adivcríidade,&diftinçaõ dos tempos fc concordaõ asopi-
aiões diverfas.
C A P I T U L Ô ií.
Dojitio , qualidades , & povoações de Porto Santo,
7 Stá a Ilha de Porto Santo em quafi trinta
TJ três gràos de ai- &
„ , ^: -
^,
11
tura da parte do Norte , cento &
quarenta legoas de Lisboa,
Zt^S^tTla^
.1 2.da Madeyra,de terra a tcrra,& 20. de porto a portoj leu comprimen-
^^^ /^^^ ^g compri-
to corre dcNordcfte aSuduefte, por quai^ quatro legoas, fempre mento , &
le^oa &, &
&
com legoa, meya de largura , &: de circumferencia mais de oyto, com nif^^ áe largue a,&^
&
varias pontas , enfeadas. Quafi no mcyo da Ilha fe levanta hum pico, ^'fi^ i*^B'it ^. T^i
alto,& redondo & em íima com terreyro & cafas cm que cm tempo
, , ,
^'**
res, que hoje faô poucas j & geralmente he pouco o arvoredo da Ilha.
ca, & fem pedra alguma & no mcyo defta bahia eftà a Villa, cabeça de-
,
F ij Sal-
<4 Livro III. Das íUias de Porto Santo, & Madéyra.^ -í
Salvador. He fituada efta Vilia em terra chã & afailada do mar hum ti-
,
tem terra chá , com infinidade de coelhos de varias cores , & aqui acaba
mais pequenos a ro-
a Ilha pela parte do Suljôc tem outros vários Ilhèos
da, de que não ha que dizer, j V7it >t.^<o
11 Pela parte do Norte , legoa &
meya da Villa, fahe, cahe
t'
&
fobre a área hua grande fonte de muyta , &
boa agua doce , de que bebe
M i
C A P I TU L O IIL
como com elícfe apa- meyro Capitão , & Donatário a Bartholomeu Pereftrello (
ou como o •,
rentarão oj Capitães cognominaÕ outros, Paleftrello) & com razão fe pôde repnrar, em
que
de Machico ^^& do
atai Ilha primeyro dcfcubcrta por aquelles
fendo
dous Heroes João
funchal.
Câp.III. Dos illuftf es Donatários de Porto Santo.
,
6f
Gonçalves Zarco , & Triftão Vaz Teyxeyra , a nenhum deftes conitu*
do o Sereniílimo Infante fez Donatário da ií ha^ mas ao Perefl:rello,com
quem mandou os dous a povoalla j & aiodaque alguns dirão , que o Pe-
reftrello também teria fido companheyro daqueilcs dous primey ros in-
ventores defta Ilha , por refolver fica ainda , porque mais ao Pereílrel-
Jo, do que a algum dos outros dous fe deo a líha. Do Doutor Fruduofo
parececollegirfe,queaPereftrcllofez o Infante primeyro Donatário
deita primey ra Ilha defcuberta , por denotar aílim, que Pereftrello era>
por feu fangue, & fuás obras, da primeyra fidalguia, & em o premio me-
recia fer primeyro ,& por íffo dcllediz o citado Hiftoriador, não fo-
mente ícr huma notável peíToa, nem fó fer fidalgo da cafa do Infante D*
Henrique, mas também da cafa do Sereniílimo infante D. Joaõ > que do
Infante D. Henrique era irmão.
13 Temos pois que opriíneyro Donatário , & da primeyra
Ilha defcuberta foy Bartholomeu Pcreftrello , por fer huma eftrella da
nobreza , ôc fidalguia , além de o merecer por fuás obras: & alTimcfta
Capitania Donatária lhe confirmou Eliiey Dom Joaó o I. & lha deo de
juro para feus filhos, & defcendentes por Imha direy ta, & mafculina.Era ^"s Furtados ; ^
efte primeyro Capitão cafado com Beatriz Furtada de Mendoça, (que ^'^etidoçAi daprimei-i
'^' Capiíoa
pemnobilillimas mulheres ufavaõ de Dom, ainda então, cem a facili- Ae Porto
S. &de fna.
defcenJt
dade que hoje mulheres muyto ordinárias: )defte matrimonio nafcè-
ráofó trcs filhas i a primeyra foy Catharina Furtada, que cafou com
Mem Rodriguez de Vafconcellos , do Caniífo da Ilha da Madeyra j a v?ndeoaIlha aoCa^
fegundàfoy Izeu Percftrella, que cafou com Pedro Corrêa Capitão da pitão Donatário da
Ilha da Graciofa> tcrcey ra filha foy Beatriz Furtada. Graciofa Fedro Cor-
rta, a quem a tirou a
14 Superviveo eíle primeyro Capitão áfua mulher primey-
legitimo herdejro Àa
ra, & cafou fegunda vez com Ifabcl Moniz , irmã de Garcia Moniz , & ~
"
Porto Santo ^
de D. Chriftováo Moniz, Bifpo de annel. Carmelita, & defta fegunda
mulher houve fó a Bartholomeu Pereftrello , fegundo do nome , que,
morto o pay, ficou ainda menino j & então a mãy, não querendo morar
mais no Porto Santo , houve alvará dclRey , & vendeo a Capitania ao
íobredito Pedro Corrêa fenhor da Graciofa , & genro do primeyro Pe-
reftrello , & lha vendeo , affim como o marido a pofluira por preço de
,
trezentos mil reis em dinheyro , & trinta mil reis de juro , cujo capital
todo ainda não chega a dous mil cruzados ( tanta era [a barateza da-
:
quelles tempos ,ou tam pouco nelles era o dinheyro.) Governou Pedro
Corrêa como fegundo Capitão Donatário, a Porto Santo , atè que feu
,
mo o marido matou cfta fua mulher & com dilpenfâ cafou com fua prí«
,
fcguintes: o primeyro, Manoel Pereftrello, que nunca cafou , & foy va-
lão de grandes virtudes 5 fegundo,Hierony mo Pereftrello , que cafou
com D. Elvira, irmã de Chriftovaò Martins de Grinaó, & de alcunha o
Perui terceyro,D. FrancifcaPereftrella, mulhei: dejoaò Rodrigucz
CalaíTa no mefmo Porto Santo > & todos eftes filhos da fegunda mulher
foraó, empena do pay ter dado a morte à primeyra mulher, forão no
livrameWdopayjulgadosporbaftardos,&foy acafaao primeyro fi-
lho Garcia Pereftrello,que cafou com hua filha de Diogo Taveyra, Def-
cmbargador , & Corregedor do Funchal ,& delia houve primeyro,
Diogo Soares Fereftrelioi fegundoi Ambrofio Pereftrello, que foy Fra-
de Carmelita; terceyro, & quarto, duas filhas, que forão Freyras na An-
mmciada de Lisboa. Mas como efte Garcia Pereftrello (feguindo a feu
pay) matou também fua própria mulher , & foy degollado por fenten-
$a,&:por diligencias do Defembargador feu fogro , ainda em vida do
pay, que morreo cm Aljezur do Algarve com féíTenta annos deidade,
^ vinte &
três do governo da Ilha, tornarão os filhos de D. Solanda a
pertender a caía de Porto Santo , fazendo-fe julgar cm Roma por legi-
times filhos i porém cegando o mais velho , & falecendo o mais moço,
ceifou a demanda, ^ o Deíembargador confcguio dellley a ca A de Por-
to Santo para o neto Diogo Soares Pereftrello, quejáeftavadepoflc
delia.
17 Quarto Capitão Diogo Soares Pereftrello cafou com D.
fc' mo le cm^rvoH *.*
joa^na de Caftro , mullier muyto principal do mefmo Porto Santo , ôc
'í^omefi'conf€rv0H
lelríiL defrende». àãhttvc OS filhos fcguintcs : primcyro, Diogo Pereftrello j fegundo,
cta doí Ptreftrellos, Manoel Soarcs, que cafou com D. Maria
Loba; terceyro, André Soares;
draindaje conferva & ertí quarto lugar teve a D. Joanna de Caftro, que cafou no CaniíTo da
m Porto Sántt, & Hha da Madeyra;& morto efte quarto Capitão Diogo Soares Peref-
""'"' '"""
mAk llhiu. trcUo , lhe fuccedeo na caía feu primeyro filho Diogo Pereftrello , fe-
gundodonome.
1 Defte quinto Capitão Diogo Pereftrello , fegundo do no-
me , diz o Doutor Fru^nofo que cm feu tempo governava , & era bom
Capitão , brando , &
de boas partes , Ôc artes , &
cafado na Calheta da
Madeyra ;& que cafára com D. Maria , filha de Gafpar Homem , fidaU
go, morador na dita Villa da Calheta, aonde o dito Capitão feu genro
refidia o mais do tempo , por a mulher naõ querer refidir no
Porro San-
to ; porém que todos os annos , no veraõ , hia efte quinto Capitão refi-
^-i
Cap«lV.Doprím.defcubrím.ííaiam.ofaIlhidaMadeyra, 6^
Si naó fó povoada pela mayor nobreza de feus illuftres Capitães Pcref- . _ l_. .
"^,
'>***'^^
trellos , cuja defcendencia ainda hoje dura j mas ainda os mais povoado^- P*
^ ^cítfTs"
rcs nem foraó de delinquentes de cadeas , nem de degradados por feus j^^^ pj^^^ samo.
crimes, nem de Judeos ,ou infeda outra nação, fenaó de Portuguezeí "
limpos, & nobres, pois (como diz o citado Fruâiuoíb) foy povoada
cfta lljia de gente fidalga, & nobre , como Pereftrellos , CalaíTas , Pina%
Vafconcellos , Mendes , Vieyras , Caftros , Nunes , Peftanas , & que fc
aparentarão logo com a míclhor nobreza das outras Ilhas , como vcrc- _
mos.
CAPITULO IV.
húa nobre Dama Anna Arfet, & naõ querendo defta os parentes , fe re^-^^^^^*/'''^'"' '^'^
Xolvèrâo ambos a paflar a França , que tinha guerras cntaó com Ingla- indel^Mlcll^ a
terraj & com tal prefla o fizeraó , que embarcando-fe em hum navio que quem tomou o mmé
partia de Briftol , nem efperando pelo Piloto, fe entregarão ao maneis- a Capitania Dona*
que fobrevindo-lhe huma forte tcmpeftade ,& não tendo i^iloto que otária «ieMaehieo^
governaíTe, perdidos por alguns dias , forão , femfaber por onde hiaó,
dar em híía ponta de terra , & em huma f refca ribcyra , que alli da terra
fahia ao mar j o que vendo a Dama Arfet , pedio ao leu Machim que ao
menos por dous dias a defembarcaíTe alli , para fe defenjoar i &
aílim o
fez Machim com outros fieis amigos que o acompanhavão $ mas na ter-
ceyra noy te tornou tal tempeftàde, que o navio defappareceo,& os que
jfícáraõ em terra fe deraõ por mais perdidos do que o navio no mar; & à
,
Dama Arfet deo tal accidente ^ quefem dizer mais palavra algua , den-
tro de três dias expirou.
21 VendoMachimtalfucceíTojcnterroualli mefmoadefim«
ta, & pondo-lhe de pedra huma campa em cima, & hum Crucifixo que
comfigo trouxera a defunta , levantou mais fobre ella húa grande Cruz
de pào, com hum letreyro em latim, que continha o fiicceííb , & pedia
aos Chriftãos que em alguma hora alli foífem , fizeííem era aquelle lu-' ,
com elle , foy tal o fentimento de Machim , que de pura dor da morte
de tal efpofa , morreo ao quinto dia ; o que vendo os companheyros lhe
abrirão fepultura junto à da defunta, &cnterrando-o nella, lhe puzc"»
ráo em cima outra grande Cruz de pào , & nella cfcrevèrão o fira do laf-
íiraofo fucceíTo. ... _ -
i2 Exg*í.
p% [Livro III. Dafamofa ílhadaMadcyrâ.^
22 Executada cfta obra de tanta piedade , fe refolvèraô entaô
os pafmados companheyros de Machim adçyxarem a terra, quevíao
brava, & deferta, & fe entregarem ao marj & com cíFey to em o batel que
tinha ficado do navioi ou ( como dizem outros ) em huraa canoa que fi-
zeraó do tronco de huma grande arvore ,fe mettèraó todos , & deyxanp-
do a Ilha, foraõ em poucos dias dar na cofta de Berbéria , aonde , lendo
cativos , foraõ todos levados a Marrocos eis-que achàraóalli todos a-
:
C A P I T tJ L O V.
24 f^ gantes
Uarldó chegou a Porto Santo, jà entre os nave-
efte navio
quelje negrume era o fumo da fornalha infernal, &c. & como o Capitão
Joaõ Gonçalves, & o Piloto Caftelhanoefta vão no Porto Santo obfer-
yando tudo ifto, & viraó que nem nos Quarteyròes das Luas fe desfazia
oiie-
T^
Câp^V. Do íegundadefcubrimento datai Ilha. %
é ne<n-ume cipantofo, nem fe atreviaó a ir examinalio j atè que por voto
do Piloco j com que concordava o Capitaó íoraentej fahirào de Porto
Santo em hum navio com alguns barcos , três horas anteâ de fahir o So3»
& já junto ao meyp dia chegaram àquella medonha efduridade , que
delia à
cada vez lhes parecia tanto mais horrenda, quanto mais perto
obfervavãp5&: fem diftingairem ainda terra, mas fomente ouvindo
hop
rendos eftouros , & roncos do mar , com que todos bradavão ao Capi*
táo , & Piloto fe voltaffem., & náo fe metteílem em tam
mortal abif-
mo. .
n. •
j
25 &
Porém o animofo Capitão , feu Piloto inveftmdo ^^^^i-' segundo defcubrimí^
1
k efcuridão , lanharão feus bateis fora, &nelles a hum António Gago,íí» âa Madeyra por
rvarão nobre, dos Gagos do Algarve) &a Gonçalo Ayres,feu,amigoi foaõ Gõçalvti oZar-.
com ordem que foffem rebocando o navio junto àquelle nevocyro,&: por ^«*
'^',<^<^
J^^^^" '^J
^Í^Mtí'^
ondeouviíTem mais bater omariêc apoucoefpaço andado viram poí'"*,"^^"^-*
entre a névoa huns altos picos, fem diftmguirem ainda que era terra èc -,
logo mais adiante virão o mar mais claro , &huma ponta de terra , fem
ainda crerem que o era i & porque o navio fe chamava S Lourenço , en-»
.
ção da terra , & lhe trouxeíTe as novas do que achaíTe > & efte Ruí Paes
foy oprimeyro Portuguez , que na Ilha da Madeyra poz o pè indo :
pois , & não podendo defembarcar na praya , pelo arvoredo que atè o
mar chegava,&: pàos que humagrande ribeyraalli trazia, foy o Paes pa-
ra o Nafcente defembarcar em huns calhàos , poílo a que chamão amda
hoje o defembareadouro , & aonde os Inglezes tinhão delembarcado
de antes , & vendo fer a terra imiy to agradável com vários prados , &
grandes arvoredos, & obfervando alguns cortados,&: raílo de gente por
entre elles , foy dar nas fepulturas , Cruzes , & letreyros dos falecidos
A nna , 6c feu Machim i & com eftas novas fe tornou ao Capitão , & feu
navio.
27 Então a dous de Julho de 1419. defembarcou do navio o Defcobre-feallhadA
Capitão Zarco, & com elledous Sacerdotes, & alguns dos nohrQS ({WC Madsjra em z. de
vinhão, & defembarcados todos no lugar das fepulturas ,derão as gra- 7'^^^'' á* 1419.
&
ças aDeospor lhes defcubrir aquella nova terra & fazendo ^^^^^^
JfJZÍ[27Z. ^
agua, na terra a forão lançando, &- tomando poíle delia em nome do
•'
'
&
mefmo Deos 5 achando húa cafa formada dentro do grande tronco de ^
entrando logo alguns pelo arvoredo , & ribeyra acima , a ver fe encon-
trav ão algus bichps„oii animaes ferozes 3 não acharão ^oufa viva , fenão
\ muytasj
!r
?é Livro III. Ef a famofa Ilha da Madeyrar
&
muytasj muy diverfas aves que fe lhes vinhaó ás mãos o que veftdo,'
-,
colherão aves, &lenha, &terra de vários poftos , com outros vários íi-^
naes, & em as barcas fe voltarão ao navio»
28 &
Logo ao outro dia três de Julho, o Capitão , Piloto Ca-
ftelhano fe mettèraó em hum batel,& outros nobres em outro, a que go-*
&
vernava hum Álvaro AíFonfo, aííim foraó correndo a cofta junto a el-
la, & obfervando as pontas, prayas, ribeyras , & fontes de boas aguas j ôc
porque húa fahia de hum feyxo, fe lhe poz por nome Porto do Seyxo^
& porque emoutrapraya mais abayxo achàraó huns pàos derrubados
&
com o vento , mandou o Capitão fazer delles húa Cruz , arvoralla al-
limefmo, & ficou ao tal lugar por nomie Santa Cruz , que foy depois
nobre Villada Capitania de Machico. Chegando mais abayxo a huma
grande, &
alta ponta, que a terra allifaz ao mar, virão innumeraveis
aves que fe lhes vinhaó pòr fobre as cabeças , & remos , que por nome
lhe ficou Ponta do Garajaó , três para quatro legoas de Machico para o
Occidente. Defta ponta duas legoas adiante, fc vè outra ponta, que com
a. primeyra faz enfeada , muy to aprazivel , raza com o mar , &
de arvo-
redo muy to uniforme , fobre o qual fe deyxavaõ ver os cedros entaó al-
tiflímos. Logo entre as duas pontas acharão hua ribeyra, &lhe chama-
rão a ribeyra de Gonçalo Ayres, por nella defembarcar efte nobre ho-
mcmi ir ver fe achava animaes ferozes , & fó aves achar.
&
29 Repararão logo em hum vallc , que faz aquella bahia entre
as duas pontas, &porque o virão cuberto de feyxos fem arvoredo al-
&
gum , cheyo fó de funchos , por entre elles vindo três ribeyras , cha-
marão a efte pofto o Funchal , que depois foy , &
hoje he a nobre Cida-
de defta Ilha} no cabo da qual eftão dous llhèos onde paíTáraó a noy-
te,( com as aves que tomavaõ ) mas dormindo nos bateis pela manhã :
ElRey
Cap, VI. Dq terceyro defcubrim. 8í repartição d^ Ilha, ;?t'
tro lobo marinho , aíTentado em cima do paquife j & demais lhe fe<z El-
Rey mercê deGapitaó Donatário da jurifdicção do Funchal, quehe
juriídicçaó de metade da dita Ilha,& de juro,Sç herdade para elle,ôc feus
íucceflbres & aflim cfte ditofo Gapitaõ ficou fendo o chefe , &: primey-
:
ro tronco das illuftres familias dos Gameras , tara cxtendidas , & aug-
raentadas , como adiante veremos. \
yv
31
:
Logonoannofeguinte,emMàyodei42ô.deraõ os ditos ' _. '
dencia em feu lugar trataremos j Sc aos três Gapitáes fe derão três na- ^^^^« «««'^"'f^*
viosi &
dos hiftoriadores , huns difcorrem, que os dous vinhaó àth2iyyío%'^^J}^^^^ >
dabandeyra de Joaó Gonçalves da Gamera j outros que cada hum dos to Santo
, Pereflrell»
três vinha cxempto do outro , como exemptos vinhaó nas Gapitanias, >/?o/Am a gente
^»«
& jurifdicçóesj& aífim cada hiftoriador falia conforme a fua aíFeyçaóifo-/<"'»^ em ajtta Ilha»!
bre o que fe podem ver Joaó de Barros no principio da primeyra De- '
CAP.
-
- /
^ - -
CA PI T U L O VI.
'
9iaMadeyra,& a ca- que houve era toda a Ilha i aqui poz o Capitaó Tnitao Vaz a cabeça,
&
heça da Capitania de ou corte de fua Capitaniaj como ooutro Capitão Joaó Gonçalves a poS
Machico , & o outro em O Funchal, para ondefe foy logo. :-
que fiu marido o primeyro Capitão levantara para fi, fundoU hila Igre-
Villa, aonde hoje eftaõ defronte de Santa Catharina alem da ribeyra, &
fac
•Cap. VI Das
. duiát!fapkáliáí&(là%lilhi;. 7%
he já hum graviífimo Convento de cincoenta Frades , &
de grande obí
jfervancia, exemplo, &
muytas letras.
96 EltCcy,& o noffo Infante Dom Henrique tinhaó cada mez
avifoda felicidade , abundância ,& frefcura deita Ilha da Madeyra , 6c
lhe mandavaô navios com toda a cafta de gados, & animaes domefticos,
& fementes dos frutos neceflarios , &
tudo frutificava tanto que de cada
alqueyre de trigo femeado colhiaó ao menos feffenta j & as vacas , ma-
mando ainda , já pariaó.E o Infante fabendo das muytas aguas, ôc ribey-
rasque avia na dita Ilha, providentiíHmamente mand^ubuícara^Si^
lia^antas de canas deaílucar , 8c Mcftres de o fazerem , para o mandar - j it»
.
^i.<- vender , fendo que houvèanno ,em que deo vmtexaiLangbas de aíTu-
c4^ú^
<^^yv^\ jcarj & chama-fe a Lombada. Pouco adiante ^ em huma ladeyra , traçou
p Capitão do Funchal huma Igreja do Apoílolo Santiago & naõ po- j
n dendo jà paífar por terra com o fogo que andava ateado , todos fe met-
-/^'^73.>^-3í^. tèraó em o mar j & paífadas duas legoas deraõ em defembarcadouro , a
que chamarão Calheta, fobre a qual tomou o Capitão para feu íilho,
Joaó Gonçalves da Camera, húa Lombada grande, & logo para a Poen-
te tomou outra para fua filha Beatriz Gonçalves , & mais adiante outra
para a mefma filha $ & em hum alto de boa vifta de mar , & terra traçou
a Igreja deN. Senhora da Eftrella , que muyto encomendou a feus fi-
lhos. E logo mais abayxo j junto a huma fermofa fibeyra,
fundou de- fe
pois a Villa da Calheta, que veyo a fer o illuftre titulo do Conde Simã®
Gonçalves da Camera.
— .
C A P í T U L O VIL
Do interior da Capitania doFumhaly &. c^ejlafua Ci-
dade, &feu Jitio.
-40 I^T Aõ fem ratzão, da Ilha de que tratamos diz o Doutor Fru-
_ QíVíoíoliv. 2. cap. 15. que não fe houvera chamar Ilha da
Madcyra , mas Ilha das pedras por fer todo o feu interior chey o de ro-
,
Í)A AliHrd emijHe ef- Oceano Occidental efta Ilha da Madeyra , na altura de trinta &c dous
tà Al/hadaMadíjr- gràos& dous terços nâ-parte do pólo Septcntrional fica diílante do
, -,
cnt^> das Ilhas Terceyras quafi o mefrao. Na fuá figura he huma pirâ-
mide deytada', que corre de Lefte a Oefte , em comprimentp de quafi^
' " deza^
"^
Cap.VII. Da Capitania do Funchal: 71-
ãpz&ktt legoas , & era largura de q^uatro , & na bafe de féis legoas , que ^^-^•^^^*-t;G_
lêm da parte do Occidente na ponta dol^argo j & o cume da pirâmide A-^ z'^, •
^
tem na parte do Oriente na ponta de Saó Lourenço para onde eftailha ^^' ^^ «'Zíí**»^^
• •
qual , defde o Corpo Santo atè S. Lazaro , fe eitende a Cidade do Fun- "^'^"^ ^ ^'*'^ ^""^'-"^
chal por quarto de legoa com feu porto de calháo miúdo , & área, tam ^"^"^
curfado a íeus tempos em carregarjôc defcarregar navios, que tem íua fe-
melhança com Lisboa j Sc jeftá íituadaa Cidade e m terra chã ^8renrrp
duas ribeyras , huma da parte do Nafcente com a í reguefia de noíTa Se-*
nhorado Calhào ainda fora dos muros da Cidade ,& com asErmidas
,
de S. Pedro, & S. Joaó que eftão da parte do Poente & a outra ribeyraj
-,
chamada de Santa Luzia, por vir de hum monte, em que eftà a Ermida
defta Santa.
42 Pelo meyo da Cidade corre efta ribeyra tam caudalofa,qu©
comella, & dentro da Cidade moem vários Engenhos deaífucar, &
moinhos com pedras alvas , & fe regáo hortas & jardins , & toda a Ci-
,
dade fe alimpa} & pela tal ribeyra acima fe recolhem cada anno quatro-
centas pipas de rico vinho , & muy tas frutas. E com tudo a Cidade eftá
murada, & tem huma Fortaleza ao principio, na ribeyra de noífa Senho-
ra do Calháo , que chamão a Fortaleza nova , & da outra parte outra
Fortaleza , que chamão a velha, & com boa artelharià para o mar,& pa- .
ra a terra;& aqui tem o Capitão fua morada, que ainda fica fora do muro
da Cidade, mas com três portas no muro para o mar , & outras três para
a terra, com vigias. Perto da porta principal do mar eftà a cafa da Al-
fandega , fechada, & murada de cantaria, por terra, ôc por mar, que che-
ga a bater iiella , & tem dentro Regias officinas.
43 A principal rua defta Cidade, & dos muros para dentro, hc
a dos homens mercadores, Portuguezes , Inglezes , Francezes 5 Sc Fla-
mengos , em cujo principio , junto à Senhora do Calhào , eftà a praça,
não muyto efpaçofa , mas fermoía , com cafaria nobre à roda, & pelouri-
nho de jafpe , donde fahe a mayor rua da Cidade , onde o Bifpo tem o
feu Paço com jardim, & aonde eftà o CoUegio de Saó Bartholomeu da
f
Companhia deJESUSj defronte do qual morava D. Maria , viuva de
Duarte Mendes de Vafconcellos, fidalgo, em ricas cafas, com Enge-
nho de aíTucar, & toda a fabrica delle & logo eftà a Sè, com torre muy-
:
a porta principal para o Poente , dentro varias Capellas , &c nove Alta-
í€Si & no arco da Capella mòr para dentro terá. o coro > bem ornado , &
"
G ij nos
f& Lívrô III. Dafamoíà Ilfiâ da Ma3eyra.
46 N
ãoobftante termos dito defta Ilha da Madeyra, fer o feu
Do muyto fragofo in- Certâo interior tam fragofo , montuofo , & cheyo de pedras , que ape-
nas íe cultivão delia duas de dez partes j porque commummente não
terior da Capitania
do F»f}chaí,& cota- Scde^eiraniaííapcz^, preta & ruy-
ha nella terra chã, fenão a bocados j ,
do mMjto frutífero,
^ de ejHimíU mtiyto va, que chamão faloens jcomtudo tam frutíferos que cada falaó de-
faó ,
ricos frKtos.&horta- ftes vai outro tanto ouroj & aíTim tem muytos & excellentes pomares,
,
li^M excllentes, mas particularmente de fruta de efpinho j dà tanta noz,& caftanha , que vai
a quatro vinténs oalqueyre. Amêndoa dà muyta , &: também
TKHj/ta frJta de trtgo^ tanto fu-
^excejfiva abunda &
dando ordinariamente tanto
magre, que moido fe embarca para fora •,
íMI
Cap. VII. Dallíuftre Cidade d<5^tiftchtf yf-^-
n UJ
ifiiímoyos, paffarà mal. Dà porém muyta , & excellente hortaliça Vdé
alfácesj ôc couves Murcianas , mas eftas não efpigáo lá, & de fora lhe ha.
de ir femente todos os annos. Tem preciofos jardins, Ôc hervastam odo^ .
riferas , que affirmão os mareantes , que mais de dez Içgoas ao mar dcy-
tâ efta ilha de fihuma fragrância j & cheyro tam confortativo, & fuavet-
que em grande parte alimenta aos que o percebem.
47 Comtudo ainda no interior defta Capitania do Funchal
ha alguns póftos rendofos,&: lugares bonsi porque hum quarto de le-
goa da Cidade para o Occidente corre a ribeyra dos Accorridos coni
largura de hum tiro de arcabuz, & tanta agua , que parece hum bom rioj.
& de Camerade Lobos vem pela agua abayxo a madeyra cortada em.os
montes, & com marcas de feus donos aílinada atè o mar, oride aco-
iíiemj & às vezes com a fúria das aguas fe perde pelo mar dentroj & ou.»
tro quarto de legoa adiante eftá o lugar deCamera de Lobos com du-
zçntos vizinhos em huma fó rua, & a Igreja no fim com dous Engenhos
de aíTucàr de dous bons fidalgos, hum por nome António Corrêa, outro
Duarte Mendes de Vâfconcellos j & logo para o Norte , dous tiros dé
béfta, eftá hum Convento Francifeano, chamado S. Bernardino, com
oyto Réligiofos , & huma Freguefia de noíTa Senhora do Rofario com
trinta vizinhos, & muy tos pomares , vinhas , &c. & ao Occidente da
mefma Camera de Lobos eftá a Lombada da Caldeyra , por ter huma
grande cova dentro , que he dos herdeyros de António Corrêa, gente
muyto principah
48 Húa legoa adiante de Camera de LoboS eftá a grande quin*
ta de Luis de Noronha , com Engenho, cafarias, Capellão , ( como tem
as mais das outras quintas } & com pomares, vinhas , hortas, ^ci & dahi
meya legoa para o Occidente j eftá o Campanário, lugar de cem vizi-
nhosj & huma legoa adiante o lugar de Ribeyra Brava , que por ahi cor-
re, 6c tem trezentos vizinhos , com muytos pomares de caftanha,& no-
zes, & bom porto, que já pertehdeo por Vezes fer Villaj & adiante meya.
legoa lègue-fe a Ribeyra de Tabúa com trinta fogos, & daqui faó gente
nobre :& à outra meya legoa fe íegue a Lombada de João Efmeraldog
Genovez , & tam rica, que jà chegou aidarno anno vinte mil arrobasidc
alfucar , & foy a mayor cafa da Ilha , & toda herdõiTíeii fílho Chrifto-
vão Efmeraldo , que tinha oy tenta Efcravos j& além de Engenhos , ca* 7^^
íàrias , & Igreja , andava em a Cidade com oyto honrados homens por ,/^'
>3. ,..
criados, & com tam grande faufto, que com o Capitão do Funcjial
competia fobre quem avia fer o Provedor da Alfandega Real. OJoaô
Efmeraldo foy cafado com huma fenhora chamada Águeda de Abreu^
filha de Joaó Fernandez , fenhor da Lomba do Arco,& irmão de Gon-
çalo Fernandez , marido de Donna Joanna de Sà , Camareyra mòr dá
S^ainha.
49 Adiante da dita Lomba , hum quarto de legoa , eftà a Vil-
la da Ponta do Sol, com quinhentos vizinhos , 6c gente nobre ; 6c mais
Das Filiai', Ponin M
Sol^&Caiheta^^oftJ
acima para o Norte eftá hum lugar chamado tem boas três nobres Ingariti
aguas. Engenho, terras de pão, & centeyoj 6c vinhas, U daqui he a gera-
ção dos nobres Efcovares. Da Ponta do Sol meya legoa, 6c junto ao mar
«ftà a,Magdalena jlugar dctrinta vizinhos^ & tambcni com Engenhoi
G ' - — -
iij
^
7^ Uvfo III. Da famofa Ilha da Madey ra.
& daqui hum quarto delegoafica a Lombada de Gonçalo Fernandez,
Marido dcD. Joanna de Sà , Camareyra mòr da Rainha , & pay de An-
tónio Gonçalves da Gamera,com muytasterras,Engenho, Igrejaj&c. ôc
Gutro quarto adiante eftá feu irmáojoaó Fernandezjna Lombada do Ar^
CO, também com Engenho, &c. Humalegoa adiante fe fegueaVilIa
da Calheta por hua ribeyra acima , de rochas tam altas, que cahindo pe-
dras delias ,tem Jà derrubado muytas cafas, &: a Villa confta de quatro-
centos vizinhos com a Igreja do Efpirito Santo , & com porco dahi hâ
quarto de legoa para o Nafceneti & acima defta Villa pela terra dentro
cftà hum Engenho , o dos Cabraes , &: outro de hum Medico. Duas le-
goas defta meftna Villa eftá o lugar chamado Jardim , de quarenta vi-
zinhos, &t também com Engenho & outras duas legoas da banda do Sul
:
para o Occidente , eftá a Ponta do Pargo , íim da Ilha , & terras lavra-
dias de creaçóes.
C A P I TU L O VIIL
tembro, íe faz alli huma Regia feyra de tudo, a que vem oyto mil almas
em romagem & temefta Freguefia dous Engenhos de aíTucar, & huma
:
admirável ferra de agua, com que hum fó homem , & fó com o pé, como
«leyro, chega, & tira para huma ferra o mayor pào & o faz em taboado.
,
Daqui huma legoa eftà o lugar de Santa Anna com quarenta vizinhos,
& muytas vinhas, & cerras de pão & meya legoa adiante eftá S.Jorge
:
com cem vizinhos , & bons paftos & meya legoa além , ou legoa &
:
meya eftá o lugar chamado Ponta Delgada, aífim chamado, por fe paf^
,
far alli de huma altiflima rocha a outra igual , por pàos atraveííados, fi-
cando o profundo mar em bayxoj tem feífenta vizinhos o lugar, boas vi^
nhãs, & bom porto.
5 1
Nefte lugar de Ponta Delgada morava António Carva-
lhal, fílho de Duarte , ou Pedro Ribeyro, & de fua mulher Anna Efme-
Dflí Carvaíh/tes EJ
ralda, filha deChriftováo Efmeraldo, Provedor da Fazenda Real da
veraldos fidalgos àn Madeyra , & Porto Santo. Era homem
.
magnifico , liberal , & de grande
Alad.eyra^& tao va- virtude, & tam valente , que pelas afperrimas ferras da Madeyra andava
lentes , efue \dellfsje a cavallo , fazendo cilhas de fó fuás pernas, porque era bem difpofto, al-
coiiaõ (afos eji/tpen
to,& largo das efpadoas & aíTim indo hum dia por bayxo de humas ar-
-,
dot.
vores a câvallo,& lançando a mão a hum groflb ramo, levantou o cavaU
lo mais de hum palmo no ar , & fó cora a força das fuás pernas cingidas?
'pijt &
Cap. IX. Dos Capitães Donatários de Machico. fp
& veodo outra vez hum Javalí,que commettia ao velho pay defté man-
cebo, íe avançou ao J avalí , êc com tal força lhe apanhou as orelhas, que
&
o fez parar, tirando de hum manchil, alii mefmo o matouj em aper- &
tando a hum homem pelo pulfo , o fazia defmayar. Diante do Bifpo D.
Jorge de Lemos , náo podendo ferradores ferrar húas mulas inquietas,
pegandoihes das orelhas asfezeftar fem bolirem. Sendo em Santarém
moço fidalgo delRey,&:jugando com elle pelo entrudo as laranjadas
putros dos moços fidalgos em o campo , vendo hiia grande mò de moi-
&
nho de atafona , arremeteo a cila, mettendolhe o braço pelo olho, não
fó a levantou , mas delia fez rodela , trazendo-a no ar ás voltas , & con-
tinuando o jogo. Vendo em huma occafião a certa Regateyra , que tra-
zia féis gallínhas muyto grandes a vender para cafta , & creação, pegou-
Ihes pelas cabeças,& com tal impulfo logo as facudio,que ficandolhe a$
cabeças em a maõ, cahiraó no chaó os féis corpos , dizendo elle á mu-
lher, Tomay lá voíTas gallinhas. Em fim indo elle, &outros fidalgos a
huma Igreja , & vendo nella huma campa de dura pedra febre huma fe-
pulturâ,&na mefma pedra aberto hum carvalho com fuás landes da
mefma pedra, elle com fomente os dedos as começou a tirar , 6r dar por
fruta aos fidalgos. Tudo o fobredito conta Fruítuofo no Uv.2. cap. 1 3.SC
conclue em 019. que feràpre houve nefta Ilha homés muyto valentes,
como os celebres BragaSj & muytos foraó a Africa, que deyxo.
52 De Ponta Delgada , huma legoa adiante , fe fegue o lugar
& &
de S. Vicente, com duzentos cincoenta vizinhos j três legoas deftc
cutro luMr , a que chamâo o Sevxal , com vinte vizinhos 1 & meva le- Dtvtfao
«^ v - dA
j. Ilha
//; ^ -
•
Hl
,. c» 'T^
1 Tl» 1 "'i n ^ • -1• na$
goa adiante hca o lugar da Magdalena , que conlta de trinta vizinhos, ^^^ Capitanias tgtt'
&eftápcla terra dentro em apontado Triftão, aonde fe dividem as aes^ '
CAPITULO IX.
HosiUftfiresCapitãts fem iifar de outro appellido & ElRey lhe deo por armas huma ave Fe-»
,
àe Machtco
,^ erad ^[^^ que he fingukriílima entre as aves & cUe mefmo em feii teílamen^
j
^w ^"t^gos fidalgos,
^^^^ j^Qj^g^ fomente Triftaó j porém feus deícendentes ajuntarão á Fe-
r^^riZefuadlr^' ^^^ "^ ^fcudo húaCruz j &
huma flor de Liz, armas dos Teyxeyras, ôc
*ie»c\&4eruJari aíTim fe vemhojeefculpidas no arco da Capella de Saó Joaó
tíaptiíla na
f"^i
'
Igreja mayor de Machico deites Capitães. Foy caiado com huma fidal-
ga, que devia ter com elle algum parenteíco , pois fe chamava Branca
Teyxeyra , & procedia da illuítriílima cafa de Villa Real & defte ma- -,
trimonio nafcèraó quatro filhos , & oyto filhas. Dos varões o primeyra
foy Triftaõ Teyxeyra, & fegundo Gapitáo, de que fallaremos.
55 O fegundo foy Henrique Teyxeyra, muy to rico em Ma-
ehico , que cafou com Beatriz Vaz Ferreyra , & delia teve por filhos a
Góes, mulher de Gonçalo Pinto , & Iria de Góes j mulher de feu primo
Joaó Teyxeyra. Das oyto filhaá defte primeyro Capitão de Machico, a-
primeyra foy Triftoa Teyxeyra, que cafou com hum fidalgo Genovez,
Micer Joaói fegunda, Ifabel Teyxeyra , mulher de Joaó Fernandez de
Lardello; terceyra, Brites Teyxeyra , folteyra ainda então quarta, Ca- -,
Lisboa com hum fidalgo ; oytava, Anna Teyxeyra. Faleceo eftè pri-
meyro Capitão em Silves do Algarve^ aonde tinha ido a negocio, & fa-
leceo deoy tenta annos de idade, tendojá governado cincoenta.
57 Ofegundo Capitão de Machico Triftão Teyxeyra , por
fuás prendas foy chamado a LislyDa , & muyto eftimado das Damas de
t)ô fecundo C<ai;;Mo paiacio 6c em effey to cafou com Guimar de Lordelo 3 Dama da exceU
,
m»
Cap. IX. D 05 Capitães Donatários de Machíco^ Sf
com Mifla quotidiana de que ficou ,depois por adminiftrador hum fea
dcfcendente , por nome Triftaó Caftanho.
59 O
terccyro Capitão Donatário de Machico foy Triftão
Teyxeyra, fegundo do nome, que por ficar governando em huma au-^ ^ ,
fencia do pay , fe intitulou Governador , & caiou com Grimaneza Ca- Yeyxeyrí
(ir do ^Irí.
bral, filha de Diogo Cabral, & fobrinha do Capitão do Funchal, & dei- tejço àoí ^^p.rí dê
la hoiíve os filhos feguintes. Primey ro , Diogo Teyxeyra , de que abay- Adachtco tom a Ca.
xo fatiaremos íegundo, D. Maria Cabral , mulher de Chirio Catanbo, hraís esmerai à^
j
(^irmão de Rafael Catanho, & de Federico Catanho , Capitão da Guar- -f^^f ^^^^
da de Francifco Rey de França } de que houve a Hierony mo Catanho;
terceyro 5 Catharina Teyxeyra, que morreo moça quarto , Manoel 5
IhaSi primeyra, D. Margarida, que cafou com Aaconio Vieyra , Meyri- a'",^^*.^ ? l°7t
XÍ-ry^x-KXi-^r it-v»^- •i''-
r-i «Jt* Capitam^
nho da jurildicçaÓ de Machico j legunda D. Mana , ainda menma. El- ^5, Excellmuffutm
,
paUoft
& &
mos i aíTim tornou efta Capitania para a Coroa , já em tal eftado, ^^^^^^* J^^fronte da
que, cxceptas poucas peíToas, não havia nella já quem pudeííefuftentar^.^^ * '^^'^"^^ '
j ^1. 11 Arr ^ r
commodamente hum cavallo- AlTim acabaoas cafas , em íahmdo dos «^p), ^ C^^^,^
1 rtjj
^^£0» a Capitania
r^ ^
próprios, &
verdadeyros fenhores delias. menmtí muyto cont
63 O
oytavo Capitão de Machico foy Triftaõ Vaz da Vey- af^Ua dejeijhorFrt-
ga, que por fangue era filho de Manoel Cabral , &
de Antónia de l^c-frieturio.^
&
mos , neto por feu pay de Diogo Cabral , & de Beatriz Gonçalves da
Camera, filha mais velha do primeyro Capitão do Funchal Joaó Gon-
çalves Zargo ; &
por fua mãy Antónia de Lemos era o dito Triftão Vaz:
da Veyga da cafa da Trofa , Sc da dos Taveyras , 6c bifneto de Nuno.
Goii«
Livro III. Da faitioíalllia da Madeyra.
Gonçalves de Leaó, Chanceller mòr delRey D. Joaó II. em cuja Qhtoh
"Aofetimo Donatário nica fe faz menção dellé j & por outra parte vinha a dita Antónia de
de Machico que fojf Lemos dehumfídalgo chamado Luis Pires de Buarcos , ou Buacos, íi-
,
^ Coroa, fe fegHio lo-^ dalgo do tempo deliley D. AíFonfo V. a quem fervio nas guerras coii-
^''^'^''"
tra Caftella , & era fenhor de alguns kigares na terra de Coimbra, & de
Ç ^-^'T
1>'çrlZ/TlifiaiJ'l. ^^"S"^
Alemão i & emfim era o dito Triftào Vaz da Vey ga , por linha
daFeycra^da »,«v/(í niaículina , dos Veygas , fidalgos bem conhecidos em Lisboa notem-
mtiga fidalguia <<w podelR.cy D.Joaól. Scjà antes de Portugal fer Reynoerão illuílres,
Vtygas,&p*rente dos & mais ha de oy tocentos annos havia em Caftella illuftres Veygas^don-
T-yArí^rrfí d«>w«, d* de procedem os de Portugal.
dos Cabrafs & Ca-
,
tntroí do Fffnchal.
^ j^^^^ oytavo Capitão trata Fruauofo no liv. 2. defde cL
cap. 2 1 atè o cap. 26. & refere íuas obras , & façanhas. Foy moço fidalgo
.
delReyD.Joaó III. Sede dezafeis annos foy para a índia em 1552. &là
fervio muy tos annos à Coroa de Portugal , atè na China ,& Japão, &:
no cerco de Malaca , de que era Capitão , & teve os primey ros poftos,
'£fie oytavo Capitão
refiitHhio Mtichico a
& alcançou grandes vitorias , & emfim fe voltou a Portugal , & Felip-
fen antigo, é" major pe tendo Vaga efta Capitania de Machico , lhe fez mercê delia, & fobre
Itijire em tudo, como ^ fazenda Real tomou cem mil reis , que delia fe pagavão , & fobre lha
Frofrietariorefiãen- dar toda livrc , lhe deo mais huma Commenda de duzentos mil reis de
fempreem ornar htía também toda a Ilha, & fe defendeo dos inimigos ; & em 1589. tinha
^^^"^^ Sâlè de dezafete remospor banda , com fua esfera de bronze, Sc
^ht^a'ttfoguete
^'^^^^ fragata mais, que por banda lançava doze remos, & tudo mandou
CoffarioaZ'aríctal
Ilha^& tttdofufien- fazer efte Capitão com o dinheyro da Impofiçaó que ElRey lhe conce-
tava com fita muyta deo para fortificações > & toda a coita da Ilha andava entaó limpa.
riqnez^^&ufava das (,^^ Em 1 590 tinha efte Capitão cincoenta & três annos , era
.
fí^^^-f ^^á**^' alto, efpadaudo , & bem proporcionado, & de barba Portugu<?za,& me^
ya branca j tinha grande, &: rica cafa , hum Vedor , dous Efcudeyrosj
& doze efcravos tinha muy ta renda em Lisboa & algfia
cinco pagens, : j,
q^ jfg de ouro , vermelho , & verde , com dous azuis , & hum
7ao grande Capitão penachos
t,Hcacajoj*^tevemMt.
tos trmaos que lhe
j^ ^^ mevo;
,^ ^
&n ^
por timbre
^
húa Águia como
- i-
as outras.
naõ cederas emphfios 66 Teve efte Capitaó muytos irmãos legítimos pnmcyro,
;
degtterra^ &gover- Diogo Vaz da Veyga, que militou em Arzilla, & morreo eleyto Capi-
»«. taô de Tangere i fegundo j Lourenço da Veyga j de grandes fer viços,
~
.
que
Câp. X. Pic? pnmeyi^ Gapitáõ Dcína:íinòfdoFu&chal. , S^
^ue faleceo lendo Governador no Brafil,em ten^po de FelippelL Sc
4eyxou feis filhos , & duas filhas j Fernão da Veyga , quç depois de ir
à Índia duas vezes , morreo folteyro em Lisboa j iJomingos. da Veyga
que na índia morreo fervindo j Manoel Cabral da Veyga , & Sebaítiaá
Vaz da Veygíi que também na índia morrerão j & Luís da Veyga Re-
j
ga, famofo íbldado, & Capitão mòr de Armadas, que morreo em Africa
.jia batalha delRey D. Sebaftiao > feptimo, Galpar da Veyga que fendo ,
mais tem a nobiliílima Villâ de Santa Cruz com oytocentos vizinhos <íe5ít«MCr»«,f«fía
junta ao mar , & Com bom porto, & tam melhor terrenho j do primeyro oytocenm ^ txcel» ,
afllicar, & da primey ramal vazia , 6c <las primeyras j & mais frefcas fru- i'»te porto, drvfec:^
tas, que atè em Portugal naó faó algumas Cidades, mayores,Gu mais ha- ^^"^ terrenht ^ Jérà
bres que efta Villa, & que efta Capitania? & feus Doíiatarios foraõ tam-
Z''ln7^%fc%
bem Condes comoos do Funchal, Sc fabido he qUaçs hojeofaôi& opo- ,J/^ Çdi^ím^í7l
deráó moftrar os Excellentiílimos Condes do Vimiofo.
fi) ji prez.uv4 fet à
—^- ' '
, ... .. .
:
-..-,: ".
.'<::-''\a;^-.^ lem^d.ifid&fguUdé
V-.
C A P I T U L O X.
- -
,,
69 /^ Om muyta razaô o douto k fempre Veiieravel Fruduo^1
pio, nern com o privilegio da fidalguia j mas a cada hum depois lho de- •»«
,
».: li
raõ fuás obras , ou de feus ailtepaíTados ; ou a aceytaçaó defeu foberanoí
Principe , que com ella Ihedeo a fidalguia, como a Abel a deraó fua«
gratas obras, & o acey tallas Deos y & a Caim a tiráràõ fuás ingratidoens
í iifticas') a Sem, & Ja pheth o refpeyto guardado ao pay Noè j & fez fer-
vo vil a Cham o perdido refpeyto ao mefmo pay j Sc eítifim aambiçáo
tirou a primazia a Efaíi, 6c a temperança de Jacob a alcângou com a ten-i
Livro III. Da famofa Ilha diMadeyva.
Cavalleyrp.
pelejou tam valerofamcnte , que o mefmo Infante o armou
Mais fe diz , que defafiando hum Mouroaquem da dita praça fcatre-
&
veífe a pelejar com elle , que fahindo fucccffi vãmente três , ôcficando
todos em o campo mortos , fahira entaõ hum foldado , fó
com adarga
embraçada, & &
hum pedaço de pao em a mão direy ta , enreftando cohfi
o Mouro , não fazia mais que com o pao déftramente defviarlhe as lan-
eadas ,atè que depois de muytas , defviando huma , deo no
Mouro tal
pancada com o pao, que o deytou por terra,& prendendo-o logo o trou^
xe por feu cativo á praça , & que porque efte Mouro fe chamava
ZargOj
tomou efte foldado , & ficou com o appellido de Zargo & :
hus dizem
que efte fora o mefmo Joaò Gonçalves , de que agora tratamos j outros
que fora feu pay, ou outro feu afcendentej 6c muytos accrefcentáo , que
fe chamava Zargo , por ter perdido hú dos
olhos no dito cerco de Tan-
gerc em defenfa dos Infantes D. Henrique,& D. Fernandoiôc
como na*
quelle tempo fe chamava Zargo quem tinha hum olho menos
,fiçoulhc
«^í* da Madeyra } que voltando com as alegres novas de a ter já toda def-
6c
frimtyro 4 f «*»»
MlRty o nppíUido de eubcrta, Elíley D. Joaó I. o fez então fidalgo
de fua cafa, lhe confirmoti
Camera, é" deftiH o appellido , 6c deo as armas dos Camcras , 6c a Capitania Donatária de
^jeendentes. meya Ilha, como acima já vimos em o cap. 5 Sc todos também convém,
.
Almeyda,
que era efte Capitão cafado jà com Conftança Rodriguez de
6c virtuofa,
mulher ( diz Fruátuofo ) muyto principal , devota , fanta ,
Gonçalves da
da qual teve três filhos , 6c quatro filhas primeyro, Joaó
:
Hl
dou quatro fidalgosj primeyro , Diogo Cabral , irmaó do fenhor de Beí^
^ti^cklgos <jue El-
Hey mande ft de Por-
monte , que cafou com a primeyra filha do Zargo Brites Gonçalves da
tugal para cafarem Camera , 6c defta houve a Grimane2:a
Cabral , mulher de Triftaó Tey-
cem M filloM do pri' xeyra, Capitão terceyro de Machico houve mais Joaó Rodriguez Ca-
j
meyro Capitão dnfn^ bral que cafou com Conftança Rodriguez a moça 6c houve também a
,
;
Gomes
Cap.^^I)opnmeymDonâ^i:i<>dopanch4. lj|
mo Doutor dito que as filhas do Capitão Zargo eraõ quatro, & que,
quatro fidalgos pedira a ElRey para cafarcm com ellas > comtudo nem
de quarta filha , nem de tal quarto fidalgo faz aqui menção algfia j pça^^
eu por hora acho com que foltar efla duvida. Veja-fe liv. G.cap.^. ,
ff
75 Gafadas pois as filhas defle grande Capitão, & primeyro .,
do Funchal, elle fe applicou todo a fazer Povoações., & repartir as ter- ^^ ^*'y^^ ^*^ V^'}
ras da íua Capitania , dando-as de fefmaria para fe cultivarem , confór* /' í
^^^"come atntú
me às ordens delRey , & do noíTo Infante, & conforme ao oíficio de iaõi/eího,eratoafft4
Ponatarioi & viveo ainda tantos annos, & chegou a tal velhice, que por vifia terror dos ini'^^
homés feus criados fe fazia levar ,& pôr ao Solj &: com animo ainda de migos;&comofanmJ
tam grande Gavalleyro , que havendo então guerras entre Portugal , & "^'"*' *"* ^^^'* "*^^i
Caílella , & vindo vários navios Caflelhanos para deítruirem a Ilha , el- *'"'* ^fi enterrou.^
le fe mandava armar, &: pôr a cavai lo , & capitaneava a fua gente de for-
C A P I T U L O XL li
ISeganão Cdipltaô di
Dofegundo Donatário y & Capitão do Funchal, funchal, cafado com
H. Maria de IStoro*
76 Gonçalves da Camera, chamado o da Porrinha, (^ por nha,bifnetadeDont
JOaõ
coftumar trazer hum pao na maó ) filho mais velho do infig- ^'«"V*"? ^'J <^^^'*'
o. 1íucredpnan
iie Zargo, navna
uccedeo ao pay na Capitania, &
Canífanía.^ governo
croví»rnnHn
do Funchal^Sc foy gj ,&d0sdefieffj
Fnnr^hal.^ fnv^"''^'* '
H tam
t^He tevff*
«^
fàm grande Cavalleyro,&: em armas tarh conhecido ;,efpccialmeh te era
Arzili^ , & em Ceuta de Africa , que cafou com D. Mana de N oronha,
filha de Joaô Henriques, que era filho de D. Diogo Henriques, Conde
de Gijon,& filho natural delRey de Caftella D-Henriquejôc da dita bif"
fieta defte Rey houve os filhos leguintesr primeyro, Joaó Gonçalves da
€amera,que morreo moço ; fegundOjSimao Gonçalves da Camera,que
foy depois o tercey ro Capitão tercey ro, Pedro Gonçalves da Camera
;
qtie cafou com D.Joanna de Sá, filha de Joaó Fogafla &: da Gamareyra
-,
l!
Taide , filha do fenhor da Ericeyra , & defte cafamento nafcèraó Luis
<íe Noronha , Commendador de S. Chriftovaó de Nogueyra , acima do
Douro i& D. Anna , mulher de Pedro AfFonfo de Aguiar j & nafcèraó
líiáis féis filhas , D. Joanna, D. Cecilia , D. Elvira , D. Bartoleza , Dona
'
lÚ
Conftança, & D. Antónia. Efte pois Manoel de Noronha, quarto filho
do fegundo Capitão , como grande foldado , á fua cufta íoy da Madey-
ia foccorrer a C,afim, &: com elleforaó outros fidalgos da mefma Ma-
deyra, como Joaó Dornellas , esforçado Caválleyro j & de grande no-
me, & &
fama entre os Mouros, que de huma fahida trouxe em o peyto
huma lançada ; &era cafado na Madey ra ; & foy também Henrique de
Betencor, fidalgo que lá o fez grandemente ,& o Capitão da praça era
entaó Nuno Fernandes de Taide.
78 Do mefmo fegundo Capitão, além dos fobreditos quatro
filhos, nafcèraó mais as filhas feguintes: primeyía,D. FelippadeNó-
ronha, mulher de Henrique Henriques, fenhor das Alcáçovas
Dosfilhosàefiefegíi- , de que
& cafou com o Marichal , & delles nafceo o Marichal Fcrnaó Couti-
nho,
V
Cap.XII. Po tercèyro Capitão Donatário do FuncliaL t/
nho, que morreo na índia ; &.a mulher de D. Luis da Silveyra^ Conde
da Sortelha, &" outra que morreo Dama do Paço. Quarta filha do meC»
mo fegundo Capitão foy D. Conftança de Noronha, que nunca cafou*
Qiiinta foy D. llabel, pnmeyra Abbadefla do Funchal. Sexta,D.Elvira,
bí feptima D. Joanna , ambas Frey ras. Oy tava , huma que morreo me%
ninai &
ultimamente teve hum filho natural, &
legitimado, Garcia da
Çamera,pay dejoaõ Gonçalves daCamera^ de banta Cruz de Ma-*
chico. y
79 Fez efte fegundo Capitão o Mofteyro das Frey ras de San-
ta Clara, acima do Funchal, em a Igreja de noífa Senhora da Concey-
çaõ, para recolhimento de fuás filhas, &: das de homés principaes^ & co-
meçando-oem 1492. já em 1497. veyodaConceyçaódeBejaafilhaD.
Ifabelcom quatro Freyras mais parao novo Convento. Foy efte fegun-
do Capitão do Funchal , efpelho de bons Capitães em valor , & chrif-
tandade. Morreo no Funchal a 6. de Março de 1501. & de 87.annos,
íendo governado 34.
C A P I T U L O XII.
'
So ç imaó
^o
Gonçalves da Camcra , fegundo filho
( por falecer cc-
v3 o primeyro ) fe feguio na cafa ao pay Joaó Gonçalves da
Camera o da Porrinha , & no mefmo anno foy confirmado em tercey- Terceyro Ctífitao,
,
não deíie. Foy taó dado á guerra , em honra de Deos , & da Coroa , con- liberal do queguer- ,
bém hia , como o jà nomeado Joaò Dornellas , & acharfc com o Duque bos os matrimoniot
de Bragança na tomada de Azamor j & neftas idas a Africa gaftou tanto teve muytos filhos^ &
efte, com razaó chamado Magnifico Capitão que morrendo achou ter renunciando acafa na
,
gaftado mais de oyrenta mil cruzados , de que feus herdeyros pagáraõ primeyro veyo para ,
aindacincoenta. E por ferviços taó grandes ElKey Dom Manoel, em o Portugal ^& morreo
em Matoz.inhos à9
anno de 1508. fez Cidade a Villado Funchal j confirmou os foraes, &
Porto.
liberdades, que ElRey D. Affbnfo V. tinha dado à dita Villa, & lhe ac-
crefcentou outros que hoje tem , com que naó paga direytos de manti-
mentos algus, mais que o direyto do quinto do aíTucar. E o mefmo Rey
à fuacufta lhe fez a Real Alfandega, & a Sé Epifcopal, como abayxo di-
remos.
81 Cafou efte terceyro Capitão com D. Joanna, filha de Dom
Gonçalo de Caftelbranco, Governador de Lisboa , fenhor de Villa No-
va de Portimão, da qual houve os filhos feguintes. Primeyro,
Joaó Gon-»
çal ves da Camera , que logo lhe fuccedeo. Segundo , Manoel de Noro-
rilia,Bifpo celebre de Lamego ,& Camareyro do fecreto do Papa Leão
X. Terceyro , Joaó Rodriguez de Noronha j que cafou com D. Ifabel
-. ij H de
livro í 1 r* Da fitínbfí í Sá da Maciéy ra 'o
*=!?;
82 Viuvou da dita primeyraimithérefteterceyroCapitáo3&:
éâ^fou fegundá vez com D. Ifabel da Silva , filha de Dom Joaò de Ataí-
de, Regedor da Jufl:iça,& filho herdeyro do Conde de Tarouca ,& dá
cafa deAtouguia,& o neto deite foy Conde de Atouguia, chamado
Joaó Gonçalves. Do fegundo matrimonio defte terceyro Capitão naf-
cèraó eíles filhos. Primeyro, Joaó Gonçalves de Ataídcjque morreo fol-
tèyro. Segundo, Liiis Gonçalves de Ataíde , fenhor da Ilha deferta , M
cafado com D. Violante da Silva , filha de FrancifcjO.Carneyro , Secre»
tario delRey, de que nafceo Joaó Gonçalves de Atâíde,& Martim Gon-
ÇalvêSr Terceyro, três fiihaSj-D.Bxites, D, Ifabel ,& D. Mar-ia, Freyras
no Funchal. QLiarto> hum filhp natural , Francifco Gonçalves da Ca-
mera , grande Cavalleyro , & foldado , <io habito de Chrifto com tença,
:!:• .
& depois Capitão General de guerra na Ilha, & caiado, & fçm filhos.
83 Porindifpofiçóes renunciou o governo eíle rérceyro Ca-
•f '! pitão no anno de 1528. em feu filho morgado, & fe foy para Matozi-
líhos dó Porto em Portugal , onde viveo retirado , & em 1 5 30. falédfeo,
8c depois fe trasladarão feUs oílbs para a Capella de Santa Clara doFua-
chal, jazigo defeu pay, &
avò. Por fua mortelevou Luís Gonçalves dé
Ataíde, filho dafegunda mulher,aliha defertajque também era do mor.^
gado mas por ter fido promettida em arras a fua mãy , poriíTo a levouj
5
& rende hum amio por outro duzentos mil reis. Defte terceyro Capi-
tão do Funchal trata mais largamente Fruduofo & de fuás idas a Afri-
,
CA P I T U L O XIÍI.
jQuartoCapitaõ, João
84 ç Eguioefte Capitão os illuftres paíTbs , Sr heróicas obras dé
Conculvts da Camt- O que con-'
^6U pay, levando vários foccorros aos Portuguezes
quiftavão praças em Africa , & efpecialmente ao Sereniílimo Duque dé
ra,fronteyro de Afri-
ca , como (em cvos^ Bragança,que andava em tam Realempreza,& tamCatholieaidóqú^
cafado com afilha do tudo trata largamente o noíTo citado Fruítaofo Uv.2. cap.-^J. & 38
Conde Prior D. foaõ
85 Foy efte Capitão cafado com D. Leonor deViihena, filha do
de MentT,es :fiy feu
íegundo filho o Vene-
Conde Prior D. Joaó de Menezes ,&: delia houve os filhou fcguintes.'
ravelPadre huiíGc- Primeyro, Simaó Gonçalves da Camera feu fucceíTor. Segundo Luís
, ,
wmmM m
Cap.XlV.Bo 4.&5.I>onat.do Fucli.&i.Gõá.da Calliet. 8^
foberanos Príncipes. Tercey ro, Fernaó Gonçalves da Camera, que ma-í ^^ .^ ^y^- 2)'
//Jitò
faraó os Mouros em Tangere. QLiarto.jMartim Gonçalves da Camera, ^e Vilhena càíou cõ»
Clcrigo, Doutor,& Theologo em Coimbra, &
grande Privado delRey Almirante de Perta-
D. Sebaftiaó. Qiiinto, Ruí Gonçalves daCamera , celebre , ía.moíóialD.Lepedejii^tj &
, Capitão da índia emOrmuz. Sexto, D. Ifabel de Vilhena, que cafou'^.**^''>^fi
com o Almirante de Portugal D. Lopo de Azevedo , de que nafcèraó a
Almirante D. António de Azevedo, & D. Joaó de Azevedo.
86 Faleceo eftc quarto Capitão no Funchal de 47. annos de
idade , & dizem que de peite, em oanno de 1536. jaz fepultado com
feu payjSc avós na fua Capella mordas Freyras de Santa Clara > ôccom
,morrer tam cedo , fez na guerra acções muy gloriofas , que largamente
refere o citado Fruduofo no cap. 3 7 & 3 8 do liv. z de fua Hiitoria,
. .
CAPITULO XIV.
do também eftudante & com toda efta cafa voltou efte Capitão para Capitai rejidente, dr
;
Portugal, & ficou na Ilha governando feu tioFrancifco Gonçalves da.-^*^''''^"^'' hum/ete
Francezes Lutheranos, que hiaó para a Mina, 6c fentindo-fc jà faltos de /""" ^»f»z.e dias jaJ
gado para feu fuftento fe rcfolvèrão em o ir bufcar á terra , & para iíToJ^*"!''!? ^'*^''.* ^^
,
na praya fermofa hõa legoado Funchal , lançarão armados mil folda- ^.^^^^^yj-^* '/
,
*^/ly^^
dos, ou, como outros dizem, oytocentos deyxando os do marítimo ^p-pàcs Donatários,
, ,
#
vVerno nos navios: vendo, ifto os da Cidade acudirão a cayaUo,& itmfiaõfittsfHhJUmtls^-
H ly mi-
^ót Lmoin.Dafamo{aIlhádaMá^eyrí,. :JK.r|sD
bre tal fucceíío. E no ca^. 48. accrefcenta o fegumte quafi por formaes
palavras. ^ j ^ 1
morgado
Com o fobredito Joaô Gonçalves da Camera ti-
92
nhaõ idonofoccorrodous Padres da Companhia de JESUS,
enviados
primeyros que defta Religião
Dafmdacaodoccl- pela Província dePortugal, &foraÕ os
le^,0da iompunhta entràraÓ naquella Ilha, &
pelo exemplo, pregação , devoção dos taes &
tu fE^VS em o Fu- Padres fe moveo o povo a pedir a ElRey lhe concedeííe , fundaíle hfi &
í*"^- ' "
Collegio dclles no Funchal -, & no anno de 1570. na Qiurefma , foraô
. .
leis
Cap.KV.Dolextò Capitãé(íòFSetité8i.Cãcl.dáíCalliet. ^%
fèf§ áeftesReligiolosvafaberjReytor Manoel <ieSiqu;eyra, Préfeyta
Pedro C^iarefoia, & o Padre Belchior de Óliveyra, & mais três Irmãos»
à quem o Key deo.de renda cada anno feiscencos mil reis, com os qíiacs^
& com outras efmolas , em 15 78. acabou de fazer, hum Collegio c^ íéf
«íundo Reytor Pedro Rodriguez , de muyta virtude ,& erudiça^j &
íundou hum magnifico Templo, em que prégaó, confeíTaó/azem dou*
trinas, ^ enfinaò Theologia moral, latim, &
Rhetoríca, envolto tudo
feom os bons coftumes, & virtudes, de que faófmgular exemplo aonde
quer que fe achão. N
áo fey qual deftas coufas foy mayor para a Ilha ,fe
ò que perdeo çom os Coflarios , fe o que ganhou com eftes Rcligiofos.
Oh bem aventurada, & mais que ditofaperda! i . -. í* 1
Si^io^Òiiçalves da Camera, pelos feúsferviços, & de feus avós , Con- ^-F' ^«'«^^ ^''.?'^'*^
de dá Calheta , Villâ da mefma Madeyra, na mefma Capitania do Fun^ ^{Jg^^J^ ^cSta
Chal, &lhe deo os oíficios do dito Condado, concedendo-lhe que os ofi j^fUada CapiíanUda
fieiaeS fé chamaíTem , em todos os autos , efcrituras , termos , &: manda- Fmchal.
dos públicos com èftas palavras, (pelo Conde noffo.fenhor , &porfeu/ilh&
herdeyroj depois qm vida , ) 6c porque no Func hal
forfervido levallo dejia
havia vinte & hum Tabelliáes do Judicial , ôc oy to das Notas , féis &
Enqueredores, ordenou ElRey D. Henrique em 1 5 79. que foíTemdez
Efcrivâes do Judicial , quatro Notários , 6c três Enqueredores , 6c em
fatisfação do que defmembrou de datas ao Conde , lhe deo mais os douí
oíficios de Efcrivâes dos Orfaõs, 8c o de Meyrinho da terra , ôc o de Ef*
crivaó da almotaçaria', 6c todos os do Judicial defta fua jurifdicção. Ti-
nha o Conde bons quatro contos de renda , em dinhey ro tudo , porque
atè a rendados moinhos fe lhe paga em dinheyro, 6c naó cm trigo.
04, Pelos feus vaíTallos fe intitulava aflim: O Conde Simão Gon-
çalves da Camera , do Confelho delRey N. Senhor , CapitaÕ , &
Governador
'4aJitpça na Ilha da Madeyra , & , Fedor defua.
najurifdtcçaÕ do Funchal
fazenda em toda a dita Ilha , &
na de Porto Santo , &fenhor das Ilhas de*
fertds^&c. ElRey lhe punha femprenas cartas, £><?»?, elle nunca o quiz,
nem que feus filhos o tiveííem j morreoa 4. de Março de 1 5 80. de idade
de 68. annos, 6c de governo 44. foy enterrado onde íeus antcpaífados na
Capella de S. Clara.
C A P I TU LO XV.
Dofexto Capim do Funchal^ & fegtmdo Conde
da Calheta.
filha de Dom Luís de Alemcaftro , neto delRey D. João IL 6c ( legun- ^^^^.^,,^^ hBfífiL
*
do dizem ) delRey Chico, ou Chiquito , de Granada > 6c por morte de ^ mmmiíinda.
ff I] pay moftrando as patentes que tinha delRey D. Sebaftiaó ,
que o fi-
izera priniey ro Conde da Calhia^ foy confirmado em fegundo Gonde>
mas
pt Livro lí L Da famoíâ, Ilha da Maideyra.
pouco foy ferido de pefte em Almeyrim , fendo de meya
fnas dáhi a
idade, & dey xando hum fó filho herdeyro , menino ainda de ítis mezes,
chamado Simaó Gonçalves da Camera. Depois mettendo-fe na poíTe
ileftes Reynos Fehppe II. mandou àllha da Madeyra por Capitão
mòr, & Governador delia o Defembargador Joaó Leytáo , & por Capi*
Pi; taó morda guerra a D. AíFonfo Ferreyra , Conde de Lancerote, &fe-
nhor de Forte- Ventura & no anno de 1582. foy António Carvalhal a
}
Sopnmeyro Carva-
lhal que foy à MA'
Cidade do Funchal com trezentos homés à fua cufta , para impedir o
deyra com 500. ho- defembarcarem os Francezes com ofenhor D. António 3 & nefte eftado
,
cendto a família da Ilha de S. Miguel. Aífim acaba coma Hiftoria da Madeyra overda-
chamada da Cafia deyro, & douto Fruítuofo no fim do liv.j. f^/>. 50. mas porque no mcf-
grande , da Madey- mo livro mettc (comocoftuma) em diverfas partes outras material
ra , donde vem os a hiftoria que as ponhamos
que aquitinhaó o feu lugar, pede aqui.
Ferreyrai,
C A P I T U L O XVÍ.
Dosprimtyros defcu-
97 /^ S primeyros Sacerdotes que entrarão na Ilha da Madey-
to & Madejret "(y- ^- ^^' foraó íem duvida da fempre venerável , Seráfica Or- &
jwff nefta diJferJoa ^^^ ^^ não íem fundamento fe podem chamar òs pri-
^- Fi^ancifco ; Sc
frimejra Mifi e^ meyros defcubridores Ecclefiafticos , naó fó deíla Ilha , mas da de Por-
,
forai Frades f/-rf«- to Santo, porque OS primeyros que naufragantes a habitarão algúsdias,
itfianos. fQj.35 Q5 Keligiofos Francifcanos , que nella com hum naufrágio foraó
dar,
'
Cap.XVI/DoBcclefiafticoEftâclQdaMaíteyra: ^|
lar , & que com ó§ |Jrimeyros defcubridores da Madeyrafe p.aííára^ ^
çlla i ôc outros dous Frades Francifcanos ,
que o primeyi:© Capitão dq
Funchal levou comfigo de Portugal para a Madeyra.y$c deftes Reli-
giofos devia fer aquelle que benzeo aguãj & com ella benta abendiçQoii
diffe aMifla , & oRefponfo íobr^
as Ilhasj & foy o primeyro que nella
âfepukurados defpofados Inglezes eraMachicOj como^tudoem (e»
ReUgiqfos o&
Jogar fica jà dito ; &: como coftumão fer eftes Serafiçpl
primeyros emoíerviçodeDeoSj&doproximo. --^vof" ítgfníííTí
98 PorèmotamCatholico^comoemtudoditoíb JoaóGont
Sc vio náotniha
çalves Zargo , logo que fundou a Villa do Funchal ,
Sacerdotes íèculares com jurifdicção Parochial , efcreyeo
ao In^
ainda
fante D. Henrique, pedindo que lhos mandaíTe, &
o Infante, como Mei
ftre da Ordem de Ghrifto, ordenou a D. Frey Pedro
Vaz , Prior entã<j
de Thomar , que proveííe aquella falta j &
o dito Ptior remettco logo à
Madey ra &
hum Sacerdote com titulo de Vigário , outros com titula
de Beneficiados j & da mefma provèo com outros femelhantes \
forte
efta veyo outra Provifaó ào dito D. Prior de Thomar , notificando ao to», & tomoa logo •
povo , que ao tal Bifpo nao obedeceííe , & que cedo ElRey crearia Bif- Funchal a fer Bjjpn^.
Thomar à Ilha da Madeyra hum D.João Lobo , Biípo de anel , & foy o Lemos, frade Domi-
pr iraevro Bifpo que na Ilha entrou , chrifmou , & deo Ordens. Chega-
nico frtmeyro Bijfê
,
M u nca o Bifpo Pinheyro foy à Ilha , por cm Portugal fer occupado em g^^^^^,^^^^^^^
ofcrviço, & negócios do Rey , & de todo o Reyno mas mandou
-,
hum jn^fi^i^aPatriari
Bifpo, d: Duarte , & hufn Provifor , & Vigário Gérál i & aíTim gover- ^^^ ^^ Ethiopia , D.]
íiou o dito Bifpo doze annos, Scfaleceonode 1506. foai NmesBarréto;
100 Seo 11 indo- fe logo na Monarchia de Portugal ElRey Dom d^ Companhia de fe^,
et ^^«A^F^-
loaõ III. & vendo quefe tinhãodefcubertas outras novas terras illtra-/^, )
marinas, fez , com approvação do Summo Pontifice , a D. Martinho de ^'Í^^^J^^
Portugal ( que era parente do Rey) Arcebifpo da Madeyra & do que ^ jj J^ ^^^^^^^ jj,
,
de novo era defcuberto ^ mas também efte Arcebifponurtca foy à Ilha, £^,,^ de' Figusyreda
^
^ íô a ella mandou hum Bifpo, chamado D. Ambrofio , que indo, chnf- Ums' De^Z dà ,
mando , Sc dando Ordens na Ilha , delia fe voltou a Portugal dentro de Sede A^ir.,,
f4 Livro III. Da famofa Ilha da Mâdeyra.'
^1 , i"yji luim anflò, de 1 5^9. para 1 540. &
o novo Arcebifpo deo Conftituições
á Madeyra , tomadas de outros Bifpados aos Cónegos concedeo três
:
mezes de eftatuto 3 feiís meyos dias de barbas ^ & outros dias de hofpe-
des , &de lavagens de fobrcpellizes , &e. & ainda nefte tempo naô ti-
nha cada Gonego de annual renda mais que doze mil reis cada anno j èc
inorreo cfte unico Arcebifpo em 1 547. fem jamais íahir de Portugal
f
CA p I T u L O xvn.
Concilie-fe com a liba da Madeyra , Defertíís , &
outrm*
Do governo politico^ affifte na Capitania do Funchal , mas em Portugal j &: na Ilha põem EI-
W
Cap. XVn.Concke-fe cõa Mad.& toastu^D^*
rês dos Aggra vos , aonde finaliz áõ na forffla; coftumada j &
além de tu-r-
do ifto ceiíi o governo da fazenda Real , cora Provedor que he Regia
«jfficiõ , Contador , Juiz da Alfandega y& outros officiaes , &
tudo ira-
médiato ao Confelho Real da fazenda em Lisboa 6c de toda
-, a Cidade
do Funchal , ôc ainda da Capitânia de Machico , he tam luftrofo o tra-
tb , como do fangue a nobreza j fendo que a abundância de frutos jà naã
he tantai , como nem he tanto oaíTucar , pofto que delle fe façaõ tantas
confervas ainda , ôc tam varias efpecies de idoces , que atè fe carregao
para fora como preciofa droga , 6c rendofa j mas a principal de todas he
a dos muytos , 6c excellentes vinhos , que para as nações eftrangeyras,
& para o Brafil, 6c Angola eft á indo continuamente , 6c enriquece rauy-
to toda a Ilha.
I02 Outras Ilhas demais ha junto à da Madeyra, que cha- .
^
maó Defertas huma he , a que ( depois de eítar ja na Madeyra ; o teli- ^^^^^- Dtfertfn
;
&
^
xiílimojoaõ Gonçalves Zargo, obfervou haver diftanteíó féis legoasj^^ç^^y^^ '
& mandando-a defcubrir, 6c achando que era de rochas , 6c fem agua do-
ce dentro , a naó mandou logo povoar , mas fó lhe mandou lançar algú
gado groíTo , 6c algumas aves , que multiplicarão logo, 6c ficou chaman-
do- fe a Ilha Pefertaj tem duas legoas de comprimento, 6c hum terço de
larguraj tem jà paftores, 6c hum Feytor, 6c fua Ermida, aonde hum Clé-
rigo lhes diz Miífa j 6c já tem agua , pofto que falobra y&c alguma ceva-
da, 6c trigo dà , ainda que pouco , mas muyto gado , 6c nâo tem coelho,
nem rato algum ; he por natureza inconquiftavel , por fer tam cercada
de continuadas, 6c altiífi mas rochas ,quefertão podem fubir fenão por
tal carreyro , que dous paftores dey tando a rodar penedos de cima , le-
vão com elles abayxo quanto encontrão , como jà de fado fuccedeo a
muytos Iríglezes, que queriáo ir bufcar gado. Eraô fenhores defta Ilha
os Capitães do Funchal mas efte fenhorio paíTou delles btevemente a
}
ferra , &" a outra pouco mais ; a mayor tem algum gado , &
ambas fe-
nhor Caftelhano de quem faó , porque ambas devem entrar no nume-
.ro d^s doze das Canárias , ( de que no liv. 2. jà tratamos, 6c trata o Hif-
.: .
totia-
^ Livro III. Da fâmofa Ilha da Mádeyra. / x .qsO
«iiO"; LIVRO
L I V R O IV.
DA
ILHA DE SANTA MARIA, QUE
das nove dos Açores, foy a primeyra
que fe defcubrio.
CAPITULO I.
&
mente ao^Poente , defcubriíTe a primeyra Ilha, tomaíTe delia noticias^
òc lhas trouXêíTe. Navegou profperamente o Aventurey ro j e,m pou-&
cos dias de viagem , deo com a viJfta em huns penedos , que viõ fobrele-
vantadosemomarj&obfervandoque eíaó pequenos para Ilhas habi-
táveis, &que4uniO-a elles , &
entre elles (por fe ençarreyrarcm rauy-
Voderc b
'
â tos)ferviacontinuamente o mar, poz-lhes por nome Formigas, &ob-
-t
viados defcubridores que naó avia mais Ilha do que aquellas Formi-
,
eíles infignês fugcytos , que de antes a primeyra vez , &: fegundã vez
agora , tòrnàraó a defcubrillas , vejamolo.
DSíHiii-O.: iií?:i.
c A p^t^gr u L o II.
ve dòus filhos j primeyro , N uno Martins de TravaíTos , cam abalizado ^'^' 'nTTJlf''''
tidalgo,& de tanta valia no Reyno , que teve por feu pagem a hu Pcr-.Jiofenhorde
Almott.
naóRodríguezPereyra, que [depois deo por parente aos Pereyras, òí rol, PÍM^Bez.elga,&
veyo aferamo da Infante Duqueza D. Brites , máy delR.ey D. Manoel^ Cardiga primeyra ,
& lhe creou os Infantes. O legundo filho do dito Martim Gonçalves de ^^fi^^f^idor & Ca- ,
TravaíTos , foy Diogo Gonçalves de TravaíTos , que cafou comDonz^'^^'' P""^^^"" ^'*-
Violante Cabral, filha de outro fidalgo em Portugal , chamado FernaÓ
fí^f/'i^^S'^ ^^'^
Velhoj & de fua mulher D. Maria Alvres Cabral , filha do Alcayde mòtp/ ^ ^ ' '
lante Cabral eraô irmãs inteyras, & legitimas , não fó de Álvaro VellxQ
,
huma das alegres habitações que ha, & de grande paíTatempo. Eerao
méfmo fidalgo também fenhor de vários lugares , como das Pias no ter-
mo de Thòmar, & deBezelga & Cardiga, & fobre tudo muy to pri-
,
W
lOO livro I^ftÍ!^éllBádeSantâ Maria.
hefa- &
^^Qtei' for papeis authentkos em-forma devida pelasjfípças;&affim foy,
ma commtiaentre os anUgasi& modernos. '^'^^ r r
IO Mas porque o citado Fruauofo he difrufifitmo em íeu el-
tylo, 8c em Genealogias extenfiffimoj com tudo ferve nuiyto tal ma-
&
defeus afcendentes,
téria para os defcendentes attenderemàs virtudes
& os imitarem ,& ainda verem aos vicios, & caftigos
delles , os fugi- &
remi também para não ferem pombas covardiffimas aquelles que def-
&
cendem de generofas Águias-, por iíTo convém recopilarmos o
fuper-
fluo , &
não deyxarmos o iitil, &
ajuntar com a clareza a brevidade,nao
o que de outros
nos fazendo efcuros por fer breves; mas aecrefcentando
Hiftoriadores , & de papeis authenticos , & tradiçoens
fempre oblerja-
alcançar j fqa
das, pudermos nefta matéria, aindaque com trabalho,
pois
rayj
CAP.
CapJII.Danpbi:.^ícead.& deÍ€ãd4PÍ poyoadrcíe SÍ.M. i&^
0)i-
CAPITULO III,
Kares Cabral, & por efta máyera neto do fenhor da antiga ,& illuftre
cafa de Belmonte, chefe dos Cabraes porém como ainda então não po-
;
tos , não fó em Santa Maria , mas também na Ilha de Saõ Miguel. Item fi^'^lioi afcendemet ,
nafceo da dita D. Violante , & Diogo Gonçalves de TravaíTos Nuno '^° -'^''"'^^^g» àedn.
,
bral, que cafou duas vezes , ambas nobre , & limpamente , de quem naf- mos.
ceo Balthefar Velho Cabral que cafou com Maria Manoel de Chaves,.
,
piys de Manoel Cabral de Mello , que com fó Ordens menores foy Co-
íiego do Funchal em a Madeyra , depois Cónego de Angra na Tercey-l
ra, & logo Arcediago, Vigário Geral, Provifor, & CommiíTario da Bui-'
la da Cruzada j & que fendo moço teve hum filho de mulher nobre êç ,
'
tiiá-x -
I iij lim*
Livro IV. Da líhale SatítaMâfia J 3
da R.ofa em S.Maria. ^ ^ \ \r m e x^
-
1 5 A outra irmã do defcubridor Frey Gonçalo Velho foy Ul
Tareja Velho Cabral , que era cafada com o primeyro N.
Soares de Al-
v^' - • i ^'-
fj^ que ainda vive cafado em Ponta
Delgada com D. Antónia já viuva^ ,
_ . . .
hum filho natural deyxou i & também teve o dito fexto Capitão dous
filhos baftardos , huni chamado Lourenço Soares de Soufa,
fidalgo fi-
lhado, & de grandes ferviços , & a baftarda D. Ignes , que ficou nalllia
- -
deS. Maria. -
co de mífjta neheK,a^
vaó Africanes. Morto pois o pay, ou (como outros dizem} voltando dai
Ilha para Portugal , por hCia morte que fizera na IHia, alli deyxou afi-
lha encomendada ao feu grande amigo, companheyro , & tal vez paren-
tè,o illuftre Frey Gonçalo &eft© logo deo a dita Africanes por mulher
•,
ahumGeorge Velho, que era também dos mais nobres ,.& primeyros
povoadores que vieraó á Ilha, &: defte cafamento procederão os cha-
ftiàdos de fòbrenome Jorges, conforme ao eftylo antigo dos defcenderi-
tes tomarem por fobrenomes os nomes dos afcendentes. Morto Jorge
Velho, cafou Africanes fegunda vez com hum fobrinho dofobredito
Frey Gonçalo Velho , que fe chamava Nuno Velho j & defte fegundo
ínarido, & de Africanes nafcèraó Duarte Nunes Velho, ( de que houve
mais defcendencia ) & Grimane za AíFonfo de Mello , que cafou com a^-
^uclle nobre Lourenço Annes da Ilha Terceyra , & deftes nafceo Ignes
NunesVelho,que caiou com Miguel de Figueyredode Lemos, que fo-
raõ pays do illuftre Bifpo doFunchal D.Luis de Figueyredo de Lemos.
19 Deftes Figuey redos refere o douto Fruftuofo , que dando
hum antigo Rey de Portugal bajalha a inimigos, pelejarão de tal forte Do antigo appelUdol
dous npbres irmãos, que quebradas as efpadas,arremettèraó logo a húas Soares de Alberga.''
ria^ C^ FigHejredon
figueyrás que viaó , 6c tirando delias fortes páos, tornarão aos inimigos,
& os deftruiraó de forte , que acabada a batalha , a ambos chamou EU
Rey, & dando a hum o appellido de Figueyredo , ao outro perguntou
qúe appellido queria: efte refpondeo , que fua fama lhe baftava , & que
é1lafoariâ;&: defde então lhe chamarão Soares } &que oR.ey entaófi-
ízera ferihorde Albergaria a efte fegundoirrtlaó , &os feiísdefcendentes
fé chamarão, Soares de Albergaria •,& eftesfaóos legítimos Soares , que
bem podèràó chamarfe, Soares de Figueyredo.
fV- •
-jíq y)q faes Figueyredosera o antigo , & illuftre Bifpo de Vi-
'
Z€u Dom Gonçalo de Figueyredo, que teve hum filho > & três filhas; o
filho fe chamou Fernaô Gonçalves de Figueyredo , que cafou com Ma- , Vj'.,'; .^'-í-.í.i
de Figueyredo , mãy de
cayde mòr de Gay a. Da terceyra nafceo Tareja
.^^s^<- ^A
.^ernaó de Figueyredo Vice-Rey de Entre
Douro & Minho j &deíle ,
co>y>fndo & ^« .A mummente fc dizia ter pouco mais de três legoas de comprido , 6c naq
,
Ermida , hum tiro de béfta do mar , fahc huma fonte de agua falobra , a-
onde fe tem lavado muytos enfermos, & cobrado faude,pelo que lhe
chamaó a fonte deN. Senhora, Eftá mais adiante hum areal, que eh*"
mão a Prainha , para dentro daqual vaómuycas ladeyras com vinhas, Djeal,f» "rtreret ($* .
& pouco diftantes outras vinhas chamadas o FigucyraUacima das quaes fino h -r- o^que ha «<-
em huma rocha fe tira pedra , de que fe faz muyta cal j & também fe çi- fi^ /lha.
raÓ pedras de mármore , de que fe fazem mòs , coufu que naó ha nas ou-
tras Ilhas.
24 Andando mais dous tiros de arcabuz, & entre duas vinhas,
eftaó duas furnas taes , que a huma fc nao acha o íim , mas com candpas
accefasfe tira delia hum barro cinzento, tam macio ,& tam fino, como
fabaó, & ferve para lavar panno , & tirar qualquer nódoa delle, pofto ao
Sol , porque chupa a nódoa & o deyxa puro , & limpo delia. Segue-fc
,
mais adiante a ponta chamada de Marvão & logo huma bahia paraa
i
parte do Occidentejôc depois delia íahe huma ribeyra tam grande, que
DaI>lã4dõPõrto,ils
com ella moem oyto moinhos j & aqui eftá hum areal , & porto , que éjxatrocentes vtz.i'
chamaó o Porto Velho, 6c adiante outro que chamão o Porto Novo, nhos,caheça da Ilhíty
com duas ribeyras que também fahem ao mar & entre eftes dous por-
; & dos maia isfgítre&
tos eftá huma fubida para hum alto , aonde eftá a Villa do Porto , cabe- delia.
r^"'"
tõ^ Livro IV. Da llhã 3e Santa MariaJ
- Santo Antaô que eftá pela terra dentro.
-, O
Orago da Igrejaprincipal
he N. Senhora da AíTumpçaó , & o Padroeyro da Igreja da Ilha bc Saa
Mathias.Ha na Viíla Cala da Santa Mifericordia com boa renda
fixa de
"2
7
'
Ao redor deíla Villa ,
pela terra dent ro , tudo faô terras de
.__ _ trfeo, & toda a Ilha he tam abundante de agua ,
que íó a dita V jlla tem
'
doce.
J ^
grandes, 6c ferinofas j &
na Freguez ia de N
Sen liora da berra na outras
.
mais
Cap.V.Do interior da Ilha, & particularidades della^ lof^^
mais de notar que por bâyxo da dita fonte > & rodia vay húa taõ graa*
,
de furna , ou concavidade , que entra meya legoa pela Ilha dentro , & a»
fonte fahe por cima 6c aqui vay dando volca á Ilha para o Nordeftci
:
C A P IT U L O V.
f
tro) a Freguezia , & lugar de Santa Barbara , que paíTa de quarenta vi- ^'"'^f' " ^''*i*i®!
**"" -
zinhos, 6c duzentas 6c cincoenta almas de Communhão} 6c adiante,
mais de meya legoa, eftá a Ponta de Álvaro Pires de Lemos, aonde hum
genro feu vendeo terra boa , 6c de hum moyo de femeadura , por quatro
mil 8c fetecentos reis , fendo que no annode 1568. ( com feranno efte-
ril ) deo a dita terra quinze moyos de trigo. Mais adiante eftáo humas
fajãs com vinha, aonde não ha ( diz Fruduofo} alqueyre de terra de vi-
nha que não dè huma pipa de vinho 3 6c mais dahi a mais de legõa le fe-
j
gue a Ponta de S. Lourenço j aonde de huma alta rocha abayxo fahe húa
ribeyra, 6c chega ao m^r fem tocar na rocha, 6c nella eftá a Ermida de S.
Lourenço. Depois fe vèo Ilhèo chamado do Romeyro, coindezal-
queyresdeterraj6chervâ emcima,6cem bayxohuma tam comprida
furna , que parece atraveíTa o Ilhèo j a boca he de altura de três lanças, "'
6c dentro tem muy tas furnas, caminhos , retretes , tudo de pedra afpera, ^
que tem muy ta lenha para o gafto^ para obras de madeyra não tem muy-
ta,-por não terterra profunda donde fay a.
21 Em algumas partes a terra que tem he tudo barro verme*
lho, & eftcril para fruto porém para louça he excellente,&-
;
da tal lour
'Dá Ilha de S Maria
„^ y^^^^y^^ fg provê a dita lUia, Sc dà provimento delia a S. Miguel, &:
d^fí'^T''*'7/la ainda á Ilha Terceyra: mis em todas as mais partes a terra he tão fruti-
dejma oH^a c r^
^^^^ ^ ^^^ ^^^ ^^, ^ ^^ ^^.^^ ^^^^^ ^^^^^ ^ ^^^^^^ ^ ^^^ efpigas , não
^
"^
paífanáo em outras terras de quarenta ao mais ; &
o trigo he tão perfey-
to , que fempre vai mais que o das outras Ilhas , Sc faz pouco cufto era
&
mondas , leva menos femente j &
o mefmo fe experimenta na ceva-
èa. Tem muy to gado efta Ilha,& todo muy to mais gordo que o das ou-
tras , efpecialment€ o vaciun , &
de carneyros , &
ovelhas , pelo inuy to,
& melhor pafto que em fi tem , &
por iflb grande copia de laaicinios>
& queyjos os melhores das mais Ilhas. Vmho tem , fem neceffitar de
fora i toda a cafta de boa hortaliça, &
taó grande alguma que ha rabãos ,
coufa, nem
€o.w^í'/Ví«>»;>'í-fuamãy, que era efta chamando, ou perguntando alguma
da apraza de hnma hfa, nem refpondia & com ifto tanto exafperou a mãy ,que perdida a
j
may fohre a incbedi- p^^-igncia levantando a mão^ & voz ao Ceo lhe lançou por maldição,
^
j
ente filha,
^^^^ ^^^^^ ^-^fj-g ^ ^^^ ^ ^^^ ^^^^^ q^g quizeíTem não podeífem refpon-
j
reo , quando o curava j nem ferida alguma lhe parecia incurável , &
or«»
lá com a graça de Deos, que a jarra tem azeyte , ôc não fejas defconfiadíj
Foy a filha, & achou a jarra chey a de azeyte. '
que vendo-o lá , o chamarão para curar a ElRey D. Manoel , & com tal
íuc;ceflb, 8c tam brevemente o curou , que o mefmo Rey lhe diíTe que
peáiífe. E o comedido velho obrigado lhe pedio humas cabeçadas de
terra, que na Ilha eftavaó ainda por dar i & todas não levariaõ mais de
vinte moy os de femeadura , dos quaes cada hum então valia a dous mil
reis fomente i[& com ifto fe contentou o bom velho , fendo que fe pedif.
fe todas as terras que na Ilha eftavaó por dar , todas lhas dana o Rey , &
os filhos do velho ficarião remediados. Maisfeafiirma de tão virtuofo
homem , que coftumando fazerle em aquella Ilha pelo Efpirito Santo p ...
-^^ jg jg«
hum Bodo commum para a pobreza que yem de fora , 6c íucceàQnáo p^^^^g Samo em o í/o-
faltar a carne , mandou o devoto velho tirar do feu gado vários carney- Áoâadoàfobreíi^an«^
ros, que deo logo, 6c fe matàraó , 6c comerão em o Bodo eys que ao OM-Jtn 4ia^
:
tro dia fe acharão em o gado do tal homem tantos carneyros, quantos ef-
tavaó d'antes , 6c entre elles repararão, que andavão tantos com osfi-
naes nas gargantas , por onde tinhão fido degollados , quantos fe leva-*
rão para aquella fefta do Efpirito Santo , que das três peíToas da Santif*
fima Trindade hetam poderofo , como o Padre Eterno , 6c como o Di-
vino Filho,
35 Finalmente feaííirma, que defte prodigiofo Joaõ Vaz das
Virtudes ficou como por herança tal virtude de curar emfeus filhos*
netos, 6c bifnetos, que parece milagrofa o certo he que, ou por fobrena^
:
rofo mas natural Providencia Divina 6c qual deftas caufas foíTc , Deos
, ;
K CAP,
lio Livro íy^Da Ilha de Santa Mariá^ ] ^^.m'^
G A PI TU LO VI.
W^
Cflp.VI.& VII. Do pnmeír.& feg. Capitaô Donatado* ui
0jm com ^'ojfa repofia } ér eu entoo denunciarey o que
vir que he dtrepSt cè^
vos ínandarey o quêfafaú iporèm vos nao deyxeis demandar executar asdtít
tasfentenças , pjio que com os ejiromentos , ou cartas tejitmunhaveis a mim
venhao. E fefor emfeyto crime , em que algum , ou alguma faça» o que ndi
devem » & mereçao pena de jujltça , vos manday prender , &
apenar em di"
nheyroj & degradar para onde vos prouver , &açoutar manday aquéUes que i\ir, I
ér em ejio ufurpar minha jurifdtcção , pagark por cada vez , ér cada hum,
milrets para minha Chancellaria. E outrojife oTabelliaÕ de fi errar emfetc
officioporfaljidade ,vos ofujpendereys do officio , & mefareis afaber o erro,
tomo he, ó" vos eu mandarey a maneyra que tenhais. E
outrojifereis avifado,
a
quefe effa Ilha forem Diogo Lopes, & Rodrigo de Bayona,fem vos mojira-
rem minha licença , que osprendays , <^ tenhays bemprezos, ate mofazeres a
faber, &vos mandar comofaçavs , & mos mviem prezos k minha cadea. B
quanto he k inquirição que me ck inviafies, vlsvedelk ofeyto ,ér odetermi-
nay,como virdes que he direyto , cumprindo todo ajfim, &
pelaguiza, que por
mim he mandado ,fem nelo pordes outra briga , nem embargo, porque aJfim hé
rmnha merch Feyto em minha Filia de Lagos a dezanove dias de Mayo.Joai
de Gorizo ofez,annodo Nafcimentodo Senhor de mil &
quatrocentos^
fetenta. Atèqtli o Alvará do Infante.
39 Renunciadas pois as Capitanias pelo primeyro Capitã©
Frey Gonçalo, detcve-fe efte tanto em Portugal,que lá morreo fem tor-
nar às Ilhas ;& jaz na íua Capellada Igreja Matriz de N. Senhora da
Afíumpçáo da Villa do Porto.
CAPITULO VIL
Dofegundo Capitão da dita Ilha:
r > r» n- / !• ^ •
1
Carta ,(t
•! •
h rniaçao traz v ruòtuoío liv. 3 cap. 13. com as antigas palavras, ibi:
. ^5 ^^ Capitania dM
41 Ena Infante Dona Beatriz, Tutora, ér Curadora do Duque da ao fegundo Capè^
wcnfilho Dom Diogo ,façofabér a quantos efla minha virem, ig^^ o conheci- taõ^oao Sjjrjj^
K ij
'
ment9
. Livro I V. Da líKá dè Santa Mar íã;
mtentõ delia pertencert qtteeu deu carrego a João Soares, CavaUeyro dafim
-
cafã, na Ilha de Santa Mana ; que etlejeja o Gafitao
em ella , ajfim , pela &
qmehe em fita Ilha da Madeyra João Gonçal-ves , é- que elle a mantenha
pio dito Senhor emjufiiça , é- em dtreyto-, morrendo elle, a mim me praz, &
quefeufilho,primeyro , oufegmdo , tenha efte carrego ,por agmzafujodita,
^ ajjimdedefcêndente em defiendente for Unha dtreya : &findo em tal ida-
dailha afim vontade ate que éle o tenha. Outrofi íne praz que de todo o que
houver de renda o dito Senhor em a dita Ilha , elle haja de dez hum-, o qm &
o dito Senhor ha de haverna dita Ilha ihe contendo no foral, que
para elk
ou
mandeyfiãzer &por efia guizà me praz , que haja efia rendafieufilho ,
:
nos, que por mefimo a pojfa dar a outrem : &tfio mo embargue ao dito Se-
iffo
& ficarfe com a Capitania de Santa Maria j & vendeo-lhe tam barataa ^^''^-^-^
de Saó Miguel, como veremos , & admiraremos , quando tratarmos de-
fta Ilha i 6c tudo foy approvadõ, 8c confirmado pelas peíToas Reaes.
W CÁ PI T U L O VIU.
...-.'._
i. ._
DotercejiroCapkaÕdeSantaMaría»
9 -c jr r 4,< "'OY terce vro Capitão de Santa Maria Joaó Soares de SoQ-
.^:";«ra" tía.^lhodlfeguídoCapitaôJoaõSoaresdeAlt^rgarla^c^
S.Maria, cajoHpri- fou com Dona Guimar da Cunha, da Ilha de Sao Miguel falha de l<ran- ,
tefyro com D. Guio- cifco da Cunha & de D. Bntes da Gamera , à qual era filha natural de
5
íw^rrfáCw»^^^/?/^^ Ruí Gonçalves da Gamera ^terceyro Capitão de Saó Miguel ,& neta
deFranetfco da Cu.
^e Joaó GoRçalves Zargo, Capitão primeyro do Funchal: & o Fran-
nha &àcD Bnm
^-^^^ ^^ Cunha era filho de Pedro de Albuquerque ( primode Affon- ,
.daCmha,dosyílhí- doa. fallarllie , & pedirlhc , que pelas cinco Chagas de Chrifto Ihefi-
zeffe alguma msrcè , porque era fidalgo , & muyto pobre & o Rey ou-
^^Her^ fies ^dr Cunhas, ;
^j^Jq ifto lhe fez paíTar logo, & com muyta preífa , mercê de trinta mil
Covemíidores da In-
,
"*'
reis de tença , & a aílinou &: de palavra lhe diííe que tomaííe a prata
j ,
que na cafa eftava que,náo tinha já que lhe darj & fahido o fidalgo, dif-
,
fe o Rey entre as agonias da morte aos que alli eftavão Ja agora pojfe :
aufentou , & andou trinta & cinco aniios por Itália , &: França , & em
grandes guerras , & voltando já à fua Ilha , deo com CoíTarioS France-
zes, que em o mefmo lugar , onde tinha morto ao outro o matàraó a el- ,
co que cafou com D. Francifca filha de hum nobre & rico homem,
,
, ,
houve Nuno da Cunha hum filho Joaõ Soares como o Capitão feu ,
avo , o qual fendo de tenra idade & eftando em huma jandla raza que
,
naó tinha ainda grades , por ferem as cafas feytas de novo, Sc paíTando
para hum enfermo o Santililmo Sacramento , querendo o menino ver a
gente, & campainha que hia tangendo, cahio;Çipm a cabeça paÉraÍjayxof
. & dando nas pedras da calçada , lendo a altura grande , não morfetr, &í
:, íó lhe ficou hum geyto em huni olho o que todos
i julgarão por miW
que parece o guarda o Senhor, para dellc fazer hum grande Santoi
grej
como eftá moftrando íeu proceder , que hç agora de quinze aacosu dis
fintamente m<ir'
fi^^^
te , indo-os depois bufcar, fe fuftentavaj & porque os moços tinhão re- to.
parado em tal penitente , & lhe queriaõ fallar , & faber quem era, elle fe
efcondia de húas em outras furnas , &
penedos , de>tal forte , que fete pa- . .
•
^ra oy to annos vivco nefta penitencia , íem jamais fallar a pefiba algumaj '**^*''^^
^^'2 t!t
& alli mefmomorreo com fama de fantidadej tendo, antes de fe ir para .. .^ aJlviS^
tal dcferto,cafado honradamente na Madeyra a três. filhas que levou, -mx^ isífc-^&y^ «A»
.
.
&: cafadas as deyxou com o que ainda levara , fem delle poderem faber s;© », ««.^4t
mais. .,,,.. •"> .....--.
.-
48 Morta a dita primeyramnlhcr do terceyro Capitão de San-
ita Maria, fegunda vez cafou efte com D. Jurdoa Faleyra , filha de Fer. '
iiáo Vaz Faleyro , & de Felippa de Rezende da melma Ilha , & delia
feve ainda os filhos feguintes j ^nw^ Gonçalo Velho, queimorreo mo'
P^í"" ^'^^°^ ^fi''^''^' Álvaro de Souía , que cafou com semnda, & temym
ff" T? ™f 'Jm"^"
iJ.ilabei,h lha de Amador Vaz Faleyro, da qual teve huma MiíiTio-vkcAfoHcjli tercei-'
na Jurdoa j tertio Ruí de Soufa , que morreo na índia em huma batalhaj ro CapitaS, &detO'
ptarã André de Soufa, que cafou com D.Mecia,irmã do Bifpo do Fun- '^^ '^^^ ^^'"^ tanttsfi-
çhal D. Luís de Figueyredo de Lemos quinú Migual Soares que ca- ^^'"' ^"''°"' '^*"'
;
**
,
,
íbu com D. Antónia neta de Anna de Andrade, viuva de Gonçalo Fer-
,
"J.'ZZj fiZs"'"&
mndesi fexto Belchior de Soufa , que também cafou com D.Maria, fi-
^o^reo Ztn^ànms'^
lha doBacharel Joaó de Avelar. Terceyra vez cafou morta a
( ít^^vmà.^foj magnifico, liberal
mulher } o dito terceyro Capitão có D.Maria,filha de Nuno Fernandes & taõ grande efmol
Velho , & ainda delia teve eítes filhos^ D.Branca, & outra menina que ''^j 1^' deyxou difo
,
morrerão ambam; item António Soares,que ha pouco foy para a India,& ^^'^^'"^ '^dmira-oeis,
João Soares , enfermo incurável. Teve maiseíle Capitão muytos filhos
teliMo'"'"^'^'"''
'""
naturacs, &: com os legítimos , teve por todos vinte 6c quatro filhos. "*-
•
49 Era efte terceyro Capitão hú homem muyto altOjgroífojSc
animofo, magnifico fidalgo, &
taó liberal, &
efmoler , que diífo parece
morreo pobre , mas na verdade rico de muytas virtudes naô arrenda- :
A todoí } & o fcndeyro quéifce devia meyo moyo de trigo , fe era pobre,
com hum faço de crigo lhe pagava iíendo fenhor dos moinhos , quaíí
que por fenhorio o não conheciaó, Secada hum lhe pagava o que que-
ria, & nunca mandou citar a alguém por divida j antes em hum anno de
fome mandou lançar pregáô , que quem lhe tomaíTc ovelha , ou carney-
ro de feu gadoj, lhe tornaífe a pclle, & a lá, & o mais lhe
perdoava fobrc :
CAPITULO ÍX.
Ú^umo C4pitaoFe-
dro Soares -^"«/^
'
T^
Cap. X. T>o quinto DoíilâHo da dita Ilha; mp
iiafceo húa filha , Anna de Saõ Joaõ, que fe fez Religiofa nó Convento
da Efperança de Ponta Delgada na Ilha de S. Miguel j & uítimamence
teve efte Capitão huma filha natural , chamada Concórdia dos Anjos>
que cambsra metteo Religiofa conj a fobredita irmã paterna.
55 A efte quarto Capitão de Santa Maria, & filho fegtindo do
terceyrò, andando na Corte de Lisboa , deo ElRey o ínefmo foro de fett
pay,ôc avòsj &: elle íe achou, como quem eraj na Armada que fahio con-
tra os Coífarios Inglezes entre a Ilha Terceyra, & Sâo Miguel , em quê
também fe acháraó o Capitão Pedro Corrêa de Lacerda , Ayres Jaco-
me Rapofo,& Bartholomeu Favella da Cofta. A jurifdicçaó dos Capi-
tães de Santa Maria (! diz o Doutor Fruftuofo liv. 3. cap. 15.) he con-
forme àdos Capitães do Funchal tideji j atè quinze mil reis , 6c açoute
cm peaó, degredo , &c. E quanto à renda , a redizima de tudo , os moi-
nhos, os fornos communs3& que ninguém poífa vender fal fenãoelle>
tendo-o , & fó a meyo real de prata oalqueyrej como tudo confta dos
Alvarás acima jà trazidos. Foy efte Capitão , como feu pay, homem al-
to, groflbj & gentil- homem. Faleceo na fiia Ilha de Santa Maria a 30.
de Agofto de 1 5 80. jaz fepultadojcomo feus anteceflbres, na fua Capei*
la mòr da Matriz da Vi lia do Porto*
C AP T UI L O X.
Velho Cabral} cafou porém pobre , mas foy de grande governo, & àt ^"fi^f primeyro^Ca-
Gonçalo Velho-y
efpiritos grandes de excellente Capitão , pofto que o mUrmuraflem de
^Í^f
afpero. Teve trds filhos dá dita D. Dorothèa frimò Pedro Soares , a
;
VordeZ7eCh%
quem de dezoyto annos deyxou morrendo Fruduofo fegundo filho tl^ dég^nL gover->
j
Manoelde Soufa terceyroi António Soares & teve mais duas legiti- «o, & altos
; j ejpmtosi
mas filhas, Freyras na Efperança de Ponta Delgada em S. Miguel. v .
o Sargento mòr de Ponta Delgada Simão de Quental , & feu filho An.
tonio de Quental, com muy tas armas ^ pólvora, 6C atambori ^ na fegun*
da feyra de madrugada jà eftavão com os da Ilha de que tendo avifo os
j
ridos.
58 Logo em chegarão de Saó Miguel , em^mayor
a terça feyra
íoccorro, muytos da principal nobreza, como o Capitão Francifco
d' Arruda da Cofta , fidalgo da cafa de S. Mageftade , Sebaftiaó da Cof-
ta feu filho , 6c Joaó de Mello feu genro, 6c André Botelho filho
de Jor-
ge Nunes Botelho, 8c Henrique MonÍ2 Cavalleyro de Africa , 6c An-
fa, fez lançar ao mar dous tam grandes barcos, 6c tam bem armados,que
âsbarcaflas fugirão, & deyxáraó hum navio do Brafil, carregadoj &
qiie tinháo entrado, &tomado as duas nàos , & fe fahiraõ tam depreííaj
que nada mais levarão, mas deyxàrâo muytas armas , & de cem homens
que eraõ os das barcaíías, voltarão fó féis, ou fete. .
t
tas, & bandeyraSj & a mayor das barcaíías cpra as armas dè lium Princi-
'
'
pe, ou Conde que alli vinha mas governando a gente da Ilha o feu Ca-
:
- .
'''' -
lêvan"»
-.«cíSmL
levando anchoras, & largando velas ,fe foraó , deyxando a Ilha livre, 8ç
vicoriofa. Tanto vay em ter prefente huma praça o feu próprio , &; era«
penhado Capitão , &
naó viver aufente delia. E por iíTo outras vezes
fendo a mefma Ilka commettida de varias nàos , &
lanchâs , fempre foy
s * rx?*'.".'^^^. íV bem defendida , & ficou vitoriofa,por nella aínftir fempre o feu pro^
prio, & valerofo Capitão.
GAP I T U L O XI.
Ofim CaphA'S PêZ 62 Y\EdT0 Soares de Soufa foy o t^uefuccedco por Capitão Doi
dro Soares de Smfa^ X pay Brás Soares de Soufa, quinto Ca-?
natario da Ilha a feu
filho do quinto , gafou pitãoi cafou
duas vezes , primey ra com D. Viftoria da Cofta , filha do
duaiviz.es-, da pri-
Defembargador Diogo Mendes da Cofta,& dellarnafceo hum Brás Soa-
res de Soufa , que foy Commendador de Santa Maria , &
Tntyra mulher teve militou atè
^orfilho aBrat Soares que ca»
do Brafil j ôc fó deyxou humafilha natural,
de Souja 5 m flitou, morrer nas guerras
CaftrojSecretario da Mefa da Confciencia^
,
gum varão , & legitimo do tal fexto Capitão Pedro Soares, que herdaf-i '
fe a Capitania. , .
.
\
a j
64 Segunda vez cafou efte fexto Capitão com Dona Anna de
Mello, fidalga de igual nobreza, & limpeza & defte matrimonio naf^
j
C A P I T U L O XII.
Neflefetimo Capitão
Broi Soares de Soitja DdfeptimoCaphao Bros Soares de Soufa.
acabou a primeyra
baronia legitima dos
Capitães de S. Ma- Efte feptimo Capitão ( como também a feu pay ) jà ná^
6ç A
II ria , porque naõ dey- chegou com fua vida j ainda que larga, o noífo Doutor ve-
/\
xou filho legitimo al- lho Fruducfo; &
por iífo deftes fexto, &
feptimo Capitães não dize-
gíi , &
por fua morte
&
mos mais i fó fabemos que pelos fcnhores Reys de Portugal foy con-
fedtoacafa aoutre^
firmado naó fó na Capitania , mas também no foro , que na cafa Real
ti-.
éfue em Lisboa a ai' do fcx-
eanftit. nhaõ fcus muyío illuftres avòsj porque naó fó era filho legitimo
Cap.XII.DôsGommendacíoresdadítàilha. i-tt
b..
gitimados pnmeyros Capitães da dita Ilha
V
raó não fe lhes tirar a Capitania da Ilha que elles defcubriraô, povoa- feconfeítou fempre,
raój cnnobrecèráo , & defenderão tanto com as fazendas , Sc vidas. Por- naõ menos rico , &
que limpo y^íte HOfáttgfi»^'
6j He
de faber que do terceyro Capitão Donatário da Ilha '^*A** li'
de Santa Maria, Joaó Soares de Soufa , & de fua primeyra mulher Dona
Guimarda Cunha, não fónafceo o quarto Capitão Pedro Soares de
Soufa, mas nafceo também feu legitimo irmão Nuno da Cunha de Sou-
fa, que cafou com D. Francifca Ferreyra & deftes nafceo Joaó Soares
;
de Soufa , que cafou com D. Felippa da Cunha que foraó pays de Ma- ,
ainda hoje vive cafado com huma conhecida , Sc bera nobre , Sc hmpa fi-
dalga, de que fallaremos em feu lugar.
68 Em efte pois, que por legitima baronia he terceyro neto de
hum inteyro , legitimo irmaó do quarto Capitão de Santa Maria j Sc
Sc
quarto neto do terceyro Capitão, neftehe que fe devia continuar a Ca- ^^'^ ospiécméçk-
pitania de tam nobre, Sc fidals-aeeraçáo, efpecialmente tendo-fe con- "",''
T^T ff. **,
lervado enj igual nobreza, Sc limpeza ; aoque podia mover muyco que ^ s. Mimei, mnhiÍJt
a mefma mãy do feptimo Capitão Brás Soares de Soufa , D. Maria de toiíjà hje; para
<fué
Mello, enviuvando do fexto Capitão Pedro Soares de Soufa cafou fe- cada hum- trate mais
,
gunda vez com João Soares de Souí^i , de que nafceo o fobredito Auto- acabar bem ejuá ,
'^f
-''^''^^ ^"* csme^ar^
nio Soares de Soufa hoje vivo, Sc irmão materno do fobredito Capitão
ultimo, que jà por baronia c^ legitime, deícendia do terceyro Capicão;
,
mas emfím afllm quer Deos que vejamos a inftabilidade das nobrezas, Sc
grandezas defta vida, para que nos não fiemos delias, Sc tratemos das da
ourrai
L , CAP.
!m Livra ÍV. Da Ilha de Santa Maria.
«-i»
CAPITULO XIIL
'
^9 T? M todas
dízimos faó da Ordem de Chrifto , 5e
as Ilhas os
Capitães Donatários.
70 O primeyro Commendador pois de noíTa Senhora da Af-
fumpçaô da Ilha de S.Maria (que afíim fe mtiuila efta Commenda)foy
trimtjro Comenda- D. Luis Coutinho, filho do Conde de Marialva, & irmaõ do ultimo
mão âelRej D. foda taes cafados D. Francifco Coutinho, (de quem logo fallaremos) & Do-
0JII.& dejxm na Joanna Coutinha & Dona Mana Coutinha porém o tal primeyro
filhe, , ;
4rfilhai. Commendador foy por Capitão mòr de náos à Índia , & foy a Saboya
com a Iiifante,& em fímtaleceodemorte fubita.
71 Ofegundo Commendadorfoy D. Francifco Coutinho, íi-
Stfunâo Comenda- ^^^ <^" primeyro Commendador , por cuja morte ficou a viuva D. Leo-
dorfoyoKiraD.Frã- nor de Vilhena adminiftrando a Commenda pela menoridade de Dom
cíjco Cominho filho Francifco feu filho, & foy tam fanta fenhora, & ram efmoler, queha-
\
dofrimejro,& áeD. vendo geral fonie em Lisboa , mandava pòr à porta taboleyros de pao
^^^^ ^g pobres , & dava muytas efmolas particulares , &c a ReligiofoSi
Leonor de Vilhena,
WÃ^r/^KM.é-^^í^
g^ ^.^gj^^ que milagrofamente fe lhe augmentava emcafatudo. Morta
i)./?.^r/..L.^.,</^"^'^D.Maria.
j r .•
Teve efte fegundo Commendador Domr» r> t tr
.u^l tJ muymfi. n Francifco Couti-
lhos ^& filhas^foy com nho de fua mulher D. Fehppa cinco filhos, & duas filhas primeyro,D, :
( ou Déça } cuja filha cafou com o filho mais velho do Conde de Ten*
tugalj&çlia morreodoprimeyro parto fem herdeyros. Ita Fruauof©
Uv. 3. ca^. 24. adfintm.
•
73 EftcmefinofegundoGommendadorfoy homem de gran-
des partes, &
artes liberaes , &
grande Cavalleyro j achou-fe com o In-
fante D. Luís na tomada de Tunes , &
foy muyto valido do Senhor D,
Antoniojfilho do Infante. Em hum dia eftando ElRey comendo , fe
veyo a fallar em hum negro do dito D. Francifco Coutinho , o qual ef-
•cava prezo, &
o mandavaó deforelhar por ladraó, querendo D. Fran- &
.çifcocomprarlhe as orelhas , tanto fe lhe pedio por ellas , que D. Fran-
cifco defittio da coraprai& reparando outro fidalgo em as naõ comprar^
diíTe f)ara ElRey Senhor, he muyto dinheyro para ca^rne tam ruim. E o
:
Rey ouvindo o dito mandou foltar logo o negro. Tinha eíte D. Francif-
co grande faufto em feu trato , nem fe fervia fenaó com Éfcudcyros no-
bres i& faleceo cm 1 8 de Outubro de 1 5 65.
.
74 O
terceyro Commendador de Santa Maria foy Dom Lui$
Coutinho , filho mais velho do fobredito fegundo Commendador ; fen-
&
do de vinte cinco annos , fez-lhe mercê da Commcnda ElRey D. Se*
baftiaó pçlo Alvará feguinte*
75 Vom Sebafitaè for graça de Veos Rey de Portugal^ é- dos Al- Tercèyfd CúmmeâÂ^
garvesdápiemt &
dalém martem Africafenhor de Gume y Nanjegaçao^ Co- dorfoy D Lhís CohJ
^ercio deEthiopía, Arábia, Perfia, &
da índias &c. Façofaber aos que ef- tinha pelos Reaes aU
ta minha carta virem , quepr parte de D. Luii Coutinho ,fidalgo de minha VArks fegtiintés ,($" d
safa, &
Cavalleyro da Ordem de Chrtjlo ,filho de D. Francifco Coutinho que graridet MCrtfcenta-
Deoshaja, me foy aprefentado hum AlvarÀ de lembrança delRey meu Se'- mentús na CommtH»
da-^fèrvie em muytíti
nhor, & avúi quefanta gloria haja , por elle ajjinado , perque lhe aprouve de praçoi
de Afnca,\&^
forfalecimento do D. Francifco fazer mercê a feufilho mais velho , quê Ikficou^indo cont El*
dtto
prfua morte ficaffe, da Commenda de noffa Senhora da AJfumpçao da Ilha
de Santa Maria, que o dito D. Francifco tinha, como he declarado no dito AU
vara, de que o traslado he ofegninte^
•jG Eu ElReyfaçofaber aos queefie meu Alvará virem, ^Uéhá^
vendo refpeytoaosferviços que metemfeyto D. Francifco Coutinho fidalga
,
de minha cafayé' aos que efpero que ao diante mefaça,hey por bem
, c^ me
praz, de porfeufalecimento fazer mercê afeufilho^mats velho, que porfia
morte ficar ,da Commenda de Santa Maria da Affumpçao da Ilha de Santa
Maria daí Ilhas dos Açores , que eUe Dom Francifco hora tem , parafuá
guarda , é- minha lembrança lhe mandey dar efie Alvará por mim affinadoi
&
o qual qutro que fe cumpra , éf guarde inteyramenk, como
fefora cartafey-
ta em mmnome ,pajfada pela Chancellaria , pofio que por ella naopafie ,fem
embargo da Ordenação do fegundo livro titulo vmte , que dijpoem o contra^
rio Andr'è Soares ofez
qmnhntos &
em Lisboa a vinte ó- cinco de Septembro de mil
,
mando ao Capital) da dita Ilha , ò' ãofeu Ouvidor y Juizes , é^ OJjiciaes da,
dita Camera, &
povo delia, que hajao ao dito D. Luís por Commendador da
dita Comarcaycomo o era o dito D. Francifco feupay j ao Contador dà^mi" &
nhafazenda na Contadoria da Ilha de Sa'o Miguel , que lhe de apojfe delia:
& ajjim mando ao Almoxarife , ou Recebedor do Almoxarifado da Ilha de
Sao Miguel que hora he , ò" pelo tempofor , que lhe deyxe haver , arreca- &
dar afi, ou por quem lhe aprouver-, o rendimento da dita Commenda , que con*
forme ejia carta lhe pertencer haverá &
ifto de [de o dia do falecimento do di--
tofeupay em diante, na maneyrafohredita ò- cumprao ,•, guardem, fa- & ^
çao inteyramente cumprir , ó- guardar efia minha carta, que porfirmeza lhe
mandey dar, affinaàa, é^fellada com ofello da dita Ordem-, a qual fe regijia-^
ra no livro do regifto da dita Contadoria, para fe ver, ó-faber como tenho fey^
to efiamercê ao dito D. Luis ér aoaffinar delia fe rompa o dito Alvará de
-,
1 il
r Cap.XlV. CohcIaíaõdásexcellenciasdataUlha, ii|
ElRey Dom Sebaftiaõ a Africa , 6c naó houve mais noticia delle. Tev©
mais quatro irmáos, D, Pedro, D. Gonçalo, & D. Bernardo, todos Cou-
tinhos, ôc todos na índia acabarão em o ferviço delRey } &
o quarto ir-
mão foy D. Hieronymo Coutinho.
79 Quarto Commendador foy o dito P. Hieronymo Couti- Qjtarto Commthàaí
nho, quarto irmão do fobredito terceyro Commendador. Efte D. Hie- d$rfoy D. Hieronymo
ronymo foy em feus principies Collegialdo Real CoUegio da Purifi- CoHtinho'^ irmaõdo
cação de Évora j dahi foy à índia , aonde achou feus irmãos mortos em o tereeyro;fèrvto naln*-
dia^ & vindo lhe dei
ferviço delRcy j & comtudo o fervio ainda là cinco annos , depois dos
Felippe II. éi Commi-
quaes voltando, achou cà também que o Commendador feu irmão mais
da, & voltou para a
velho D. Luís tinha acabado em Africa com ElRey D. Sebaftiaõ,& ain- índia por Capitão
daquc tinha fido muyto privado do Senhor D. António , & feguido fuás mor de bítaArmádá
partes, não fó lhe perdoou Felippe II. mas lhe deo a Commenda do ir-
mão, pofto que com a penfaó de duzentos mil reis para fua mãy j & foy
por Capitão mòr de húa Armada da índia , mas ficando femprecoma
Commenda da Ilha.
CAPITULO XIV.
80
DO liv. 3. cap. I. o 26. do Doutor Frwftuofo he com tao
atè
da a verdade o mais do lobíedito , & de informações que
tive, eftando ha cincoenta annos na vizinha Ilha de Saõ Miguel. Qiien^
da de Santa Maria he hoje o feul Donatário Capitão ? Certo he , que
quem o he , não refide lá j & he tam grande o perigo de humâ Ilha , não
ter dentro de fi feu Capitão , quam grande he o da náo , em que não vay
Piloto, que por mais que outrem queyra fubftituillo, nunca o faz com©
o proprietário. O mefmo fe pôde dizer do Commendador que eftan- ,
^
L iij ^^0^^^:
xiã Livro IV. Da Ilha de Santa Maria ,r'r
k ::
r. 1
J i* 4.
LIVRO
mm m
ii^
iiJàQ:M}'^^^
\%.
'
L l V R O V.
DA
ILHA DES. MIGUEL .
;
Ç A P I T U L O L
'
J^oprmeyrodefcuhrímentodallhadeSaõMigtiel3&
fem defcubridores^
cubertaj & por fundamento tomáo, que quando muyto depois fe def-
cubrio achou , onde hoje he a Villa da Alagoa , muyta offada de ga*
, fe
dos efpecialmente de carneyros, & que affim puzeraõ áquelle pofto, o
,
egoas ao mar, & daqui chamarão ao tal mar, o Vai , ou Valle das Egoasj
:& como a oíTada deftas podia lançar o mar àquella parte mais próxima
da Ilha de Saó Miguel , efte poderia fer o fundamento da fabula fobre-
ditâ.
2 O certo he que eftando já defcuberta , &: povoada a Ilhade Oprimt^ò^qM *oto<t
„,„ „
Santa Mariâ,& fugindo hu negro a feu fenhor para a mais alta íerra que ilha de Saõ Mi-gml^
tem da banda do Norte, doze legoas da atèli encuberta S. Miguel,& zn-foy hu, Ner^ro daLhá
4ando hum claro dia à caça para comer , reparou em o que via, defcu- '^f ^- M^hua, &
brio fer outra muyto mayor Ilha ,& voltando com a nova ao fenhor,
para por ella alcançar o perdaó da fua fugida , o dito fenhor ,&outrosj
fegurando-fe da nova^ deráo delia logo parte ao Infante > que achou
c .. o concoE-»
^\\m
•sííáftf
defcobre Deos muy tas vezes o que os homés mais fortes por feusmeyos
naõ defcobrem.
3 Ouvida pelo Infante a dita nova ) &: ãchando-fe com elle lá
então o famofo defcubridor de Santa. Maria Frey Gonçalo Velho , tor-
nou o Infante a mandallo que defcubriíTe também efta fegunda Ilha , 6c
vin^o, &
voltando ao Infante fem a poder defcubrir , ò Principe entáp
lhe advertio, que tinha paflado por entre o llhèo , &
a terraj ôc defte di-
to tirarão alguns que o dito deleubridor com feu navio paíTára por en-
tre a Ilha de S. Miguel, & o llhèo que chamáo de Vvilla Franca, íèm dar
fé da Ilha , ( coufa que , como veremos , era naturalmente impofli-
vclj ) &
o Intante queria dizer fomente , que tinhâo andado entre húa,
& outra Ilha & por a de Saó Miguel fer quatro vezes mayor
,
que a de
Santa Maria , por iífo a efta chamou Ilhèò , Sc Terra à outra ; que quan-
to do llhèo de ViUa Franca , nem dcUe os dcfcubridores derão noticia
jao Infante. <
a .
brioallhadeS Ma- cido,& tinha deyxado defó feisannos aD. AíFonfo V. a quem o dito
ria,defcftlfrio í^w^^D. Pedro feu tio entregou o governo do Reynoem I448.^&aquicha-
^àraò entâo a eftasduas Ilhas, de Santa Maria , & S. Miguel, Ilhas dos
adt^Migpíelem^.
que de íóra vinhào , ou por nel-
& aImbL chttt- Açores-, ou por fe verem alguns nellas
raõlltasdos Adores, las haver muytos bilhafres,
que no pilhar fe parecem com os AçoreS} &
fornellMosacharem^átÇízs duasUhas vulgarmente paíTou o dito nome às outras fece Iltia^,
Ilhas dos Açores, & uU
l» aves ^v pareciaõ. que depois fe defcubriraõ, chamando-fe todas ,
timamente Ilhas Terceyras, como em feu lugar veremos.
:
5 A primeyra parte de S.Miguel em que faltarão os dcfcubri-
dores da Ilha, foy, onde chamarão a Povoação velha ôc tomando logo
,
O llhflre C'*pit^'^
YzmosàQ arvores , pombos , cayxaó de terra, & outros fmaes de nova-
Donatário dallh^ de^ mercê ao illuf-
jjj^^^ voltàraÓ levando tudo ao Infante , o qual logo fez
da Capitania Donatária deS. M^uel
tTclpn^rZ::^^^^^^^
tario de toda a Ilha também, como lhe
tinha jà feyto da Capitania da Ilha de banta Mana,
de S.MigfttK& ftlo & ficou Capitão de ambas, tendo a outros dado fó metade de hua Ilha,
mefmo hfsinte Dom como na Madeyra, rcpartindo-a cm a Capitania de Funchal , & de Ma-
Hemi^ue, qm tanto çi^^^^ç^ Tanta mayor eftimação fazia aquelle Principe defte Capitão,
o efiimava.
qucdeoutros* , ; .v. ..
»*t!
m i->
Cap.I.&ir.Do^deícubr.&defcubnmêtosciaâitallhâ. 12^
õjarnojo e(-
lha ', huns Cavalleyros naturaes de Africa , que o Infance de là tinha tra- V**/
11 ... cupnaer cvnt as »*-
••
.
íZido , &
mandado ao principio ,iiáo para povoarem , mas para cxperi- ^^v/^ ^^ ^.j,^ //^
mentarematerradaquella nova Ilha j & eltes qUe aílim ficarão, tal ar- para Fortf/gal dey- ,
roidoj bramido, eftiondos, & terremotos lentirâo na tal Ilha , por rnaís xou nelU,&no lugar
de anno que ficarão nella atè voltarem os Povoadores Portuguezes '^^'^'®'"''' f^voa^ao
'*"
com o novo Donatário da Ilha, que os ditos Africanos fe refolviáo erti ^jl^^^H**f^^fi^J*
delempararem a Ilha pelos horrendos tremores, que nclla experimenta- ^f^yt^j Mouros, »e
f
vão , & comeíFéyto a defemparariaó, fe lhes tiveíTe ficado navio erii olr^fante mando/* pa^
que podeflbm embarcarfe: &
fuccedendo entretanto que hum delles an- ra experimentarem a
dando alguns paflbs pela terra dentro achou hum homem morto , deo »<'i"' terra, & no t.4
parte logo aos mais 3 &: alvoroçados fe haveria gentio no Certão ^Q^íi^g^r fe gov^n
vaã
por mayoral , & Juiz dos outros Mourifcos , fem inquirir mais coufa ãl- :^
Rey o mandava enforcar , o Juiz logo , fem querer , nem "do culpa do^
inquirir mais coufa alguma, a final fentenciou dizendo eftas palavras*
ForcarteiForcarte) ér depois tirarteinquiricione. E no mefmo ponto arre-
batarão o adultero,& o enforcarão. Ifto o que em breve fe colhe de Fru*
{kaoíoliv.^.cap.2.
— - I
-
• .. r ,
-. ,
, ,
-.....
CAPITULOU.
Doinelhordefcuhnmento-t&defcripçaÕdallhade
SaõMigueL
: f TJ AíTadohum anno, pouco mais, por mandado do Infante fby jsTo anHo figaiHte dè
i do Algarve outra vez o primeyro Capitão de Saó Miguel làf^^. tornou de Por ',
Frey Gonçalo a povoar a dita IMia com muytos , & mUyto nobres Po- tf^g»*^ S. Mignet « <»
voadores Portuguezes ,( de que trataremos em feu lugar } &: com ga- '^^Z^" ^"A»^'''^'"'.
eommujtoí, &
dos, aves, trigo, legumes para povoarem, & íemearem, & com o mefmo -^"^
iloto, com que a primeyra vez viera que tmha bem obfervado & de-^/^^^ ,
Umili<^ & ,
,
marcado a Ilhajchegando porém á fua vifta, reparou que a Ilha que ob- & da* de SanJ delias,
fervára tinha hum
, muyto alto pico na ponta do Oriente & outro na ta Aíaria,&daMa^ ,
do Occidente & que a Ilha quevia,naõ tinha mais que hum fó pico dejfraJepetjoouSa»
i
da banda do Oriente fobredito & dâ banda do Occidente era razaj item ^^g^^hé^ wr^õ, ^•
,
reparou
^
que
^
naquelle mar achava grande numero de folta pedra pomes, "^^^f'^^!" ."""" '"^"
Vi
que encontrava fobre a agua ,
a 3 r r
&
da mefma forte muy tas arvores j
^ tecedente tíHha apo-
que ^^ OccUêtaldalL^
^^^&
ift© denotava naõ fer aquella a Ilha que deyxára. com fataes fogos &^ ,
t
S E naó obftante ifto , animando-fe a entralla , foy dar no mef- tremores , V9ad(fii^\
mo
nl XJ0 ipitro V. Da fatal Ilha de S. Miguel.
fa » mar \ deyxAnào
"^° P^^^ donde tinha fahido , na Povoação velha , que foy a prittieyrâi
fepò vaíle funde o ^ <!"£ houve nefta Ilha , &
alli acabarão de entender , que o pico que fal^
tfantef era monte ai- Cava da banda doOccidente, tinha em o anno antecedente voado ao ar,
& hoje cha- & cahira efpalhado em o mar com pedras, terra,& arvores, pelo repen*
tijfimo , ,
vera, íicàraó fete profundos , & planos valleSja que dalU por diante cha-
inaraó Sete Cidades \ & àquella occidental ponta da Ilha chamarão , a
Ponta dos Mofteyros , por o parecerem as formadas fete concavidades:
&
he efta a única vez que fubterraneos fogos , & taes tremores deterra,
edificarão Cidades, coftumando deftruillas, & arrazallas.
9 Foy efta fegunda vinda dos dêfcubridores 3 & povoadores
.'j -
^ . Portuguezes da Ilha de S. Miguel em o anno de 1445 do Nafcimento .
^'^ humano hum Divino Guardamòr, hum S. Miguel o Anjoj quiz ferdef*
íflwí/T^ ^h*
mm^AllhAdcs'" ^^ ^^^ ^^^ eípecial Anjo da Guarda i vejáo agora là os moradores dellaj
^igHcl, quanto devem como Anjos proceder , ou fcguir a S. Miguel , lançando
íòra de fi o peyor diabo do peccado , & quanto devem celebrar a hú feu
tam grande Anjo.
10 Confirmados pois os povoadofes Portuguezes defta Ilha
no nome de Saó Miguel que lhe impuzera6,fundáraó logo fegunda po»
v^oação , deyxando aos Mourifeos a primeyra em que eftavão fós , & is-
^
V parados , fem os Portuguezes it aparentarem com elles ^ nem elles com
os Portuguezes, atè que oS taes Mourifeos chegarão emfím a excinguir<='
fe, & fiçáraó povoando efta Ilha os Portuguezes fomente , que foran»
logo aò principio de Portugal , 6c da Ilha de Saíita Maria , & atè da Ilha
da Madeyra. Em contar quem craó eftes povoadores , de quem deícen-^
diaó, & que defcendencias tiveraó , gafta o erudito Frudtuofo em o feu
Ivo. 4. défde o ca^. 3- atè o caf. 38. em perpetuas genealogias , cuja fub>
ftancia fomente em feu lugar recopilaremos , como muyras vezes faz a
Sagrada Efcritura , para nem faltarmos ao que deve fervir a cada hurti
para imitar a íéus grandes, & bons antepaíTados, & naó feguir aos màosj
& para intoleráveis naó fahirmos com repetidas, & idêntica* hiftoriasj
\ fcaiUm defcuberta a Ilha^ demos a plena noticia delia toda.
CAP.
WÊÊÊÊÊim m
Cap.in.Deíuas Villas, &lugaresck parte tío SuJ. ^ s?^
'
CAPITULO
VVVf *> *-' '
IIL
corre de Lefte a Oefte , & faz húa ponta para o Nordefte & outra ^^'^^^^^ll''^^l'"''*!.
,
a Noroefte , & tem de comprido dezoyto legoas mas naó he mais lar-^^^ J^ Cettípa!,&fi-
,
ga que duas legoas & meya , & no meyo huma fó legoa ,da Refaça do^^ direytamente a»
bui era a Villa da Alagôa,atèo Rabo de Peyxc da banda do Nortc,com Peeme de Pcrwgali
via tam raza aqui , que aos Navegantes parece continuarem-fe os dous corre de LefteaOef-
montes , & ferem duas Ilhas , & naó huma fó. Com o morro do Nordef- '"«»
J'"'^"'"'"^^''^*
te fica por linha direyta duzentas & cincoenta legoas de Cctuval & o }
^^^/C^^^^^Y^
dito morro he hum tara alto Pico , que os Navegantes que vem do Ori- ^^^ i^^^^ ^ ^^^^^
ente , o divifaó trinta legoas ao mar & geralmente confta cfta Ilha de ^eç^e ^ viUda Ala^
:
huma Cidade , cinco Villas, &: vinte & dous lugares, trinta Freguezias,|<j4 da farte do SmI^
de Rah»
mais de cem Sacerdotes fcculares , dos quaes faó Vigários trinta , nove -»'? o lugar
<i'P'yxe daparte 4f
Curas , &: quarenta & dous Beneficiados , & juntas as Igrejas com as Er-
midas , todas faó noventa & fete. Dos Religiofos, & Reiigiofas cm par-
'''^*
ticular diremos.
12 Da parte de Lefte começa efta Ilha com a Povoação cha-
mada Nordefte jque ao principio era humlugar , 6c da jurifdicçaóde Aprimeyrapc&oaçat
ViUa Franca, ( como diz Damiaõ de Góes ^.prt. cap.i^lt.) Sc E\R.cy da parte do N<*fien^
D. Manoel cm Lisboa ai 8. de Julho de 1514. o fez Villa, & tem du-i^fi^^'^''''»^ Nordef-
zentos & cincoenta ôcnove vizinhos, como fc raoftrou no anno de^'^/^"';^^^'/,'^'''^
,,,„,, r/i-" -j- -jcvT \r- Manoel feK f^íUa.íT
I666.& humafoFregueziada mvocaçao de Sao Jorge, com Vigário, ^^^ ^^^ viz.inhosi
•
Cura, & três Beneficiados j he terra de creações de gados , madeyra de f^^ ^^^^^ '^^ muytot
cedro, pouco vinho , cofta Íngreme , & fcgura de inimigos , & com hsL- gados ,muytA & bo* ,
téis por mar fe communica com as mais partes da 1 lha ; 6c tem o feu por- madeyra, & he cofi/t
to diftante bum quarto de legoa para o Sulj & vaó lá embarcações a buf- tf^iaita, & taofegí*-^
car trigo ; & fó hum lugar mais, chamado S. Pedro , tem por feu termo ^*/A'^;^*^^'J,^''^^^
efta Villa , & adiante huma Ermida de noíía Senhora de Nazareth j Sc
l^JtrJpTrTeTdaílhll
meya legoa mais adiante eftaó as chamadas Prainhas, que entre fi ^^^^f^ Çtu termo hehiên%
huma grande bahia de área , & logo a ponta de terra que fe chama To-|e/»^4r.
po, com o dito morro, ou alto Pico do Nordefte j & dahi a huma le-
goa vay virando a Ilha para o Nordefte , Sc fe continua em rocha talha-
da Sc alta com duas ribeyras , das quaes huma fe chama Agua Retorta^
,
em hum lugar chamado Fayal , por ter tanta Faya, que lhe deo o nomcj
íjs Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguei.
duas pontas, que lhe fazem huma bahia com bom porto,á qúi
eiffá eiatre
i I
fahe huma ribeyra , pela qual entra do mar muyto pefcado ha nefte lu-. :
por vezes toma Villa Franca homens para o íeu governo , ricos , & apa-
rentados com toda a Ilha a Freguezia defte lugar he de noíTa Senhora
:
adiante eftaaPovoa- gário , & Cura , a qual mandou fazer Joaõ d'Arruda , & feus filhos, ho-
faÕ velha f»<? foy a mens fídalgos} tem mais a Ermida de Santa Barbara , que foy a primey-
y
. meyra Mijfa nefta ha por aqui muy tas aves, & pombos torquazes, muyra fruta de efpi-
Ilha ,
é" tem mais de
&0S
nho, & figos brejaçotes & vinhas em terra lavradia ( coufa rara cm ef-
, ,
^ro.vizjnhosy
tas Ilhas ) & tudo o que aqui fe dá, he o melhor de toda a Ilha. Pelo in*
^elhores frutos»
cendio das furnas ( que em feu lugar proporemos ) foy efta terra , dif-
tante huma legoa , cuberta de cinza, & pedra pomes , mais de cmco pal-
itios de alto , mas pouco depois fe cultivou como de antes , & melhor
ainda.
I ^ Pouco adiante, pela cofta do Sul, eftá hum pofto, que cha-
maó o Forninho por parecer fazerem-o as pedras
,
, defronte das quaes^
'MarfíVilhofoi fontes hum tiro de pedra ao rnar, fahe nefte, & do fundo delle, fihe, dez pal-
de /itgH-i doce ejHefa- mos acima , tal fonte de agua doce , que naó fo íe toma doce em cima,
hemào mar àtz.\>d- mas doce fe tira do fundo do mar , em trcs burbulhocns de dez palmos
elle\& híÍA
rrios [obre
de triangulo ; & naõ he coufa nova , pois fabemos ,
que o Alpheo met-,
ter por bay xo da terra oyto legoas fahe canto depois fora da terra , re-
,
fufcitado rio & em Itália o Pado ( por outro nome Eridano ) fahe fe-
:
ÉBI m WÊkx
Cap. IV. Daprim.Villâ de S.Míguel,Villa Branca. íiji
aqui,em fó doze legoasde diftancia, & onde fó duâs braças de agua fal-
gada achou para aíaítar , & vencer^ Mais pôde fer de admirar , que das
,
ditas três fontes , não fó da groíTura , & altura de hua lança vcnpo duas
ão mar, &
muyto mais a tercey ra j mas que da rocha fayaó & em direy-
>
caj mas tem poucas aguas, & poucas frutas porém muyto bom trigo,6c nhos^ & mujto^^ bí
j
paílel. Daqui mais húa legoa,& pelo meímo Sul, corre a Ribeyra Secca, trigo, & htí
Engenha
í que fó no nome o he } & aqui eftá hum Engenho de aíTucar , que fun- de ajfHçar , f
»« na,»
acaboHjk^comt
dou o fobredito Lopeanes de Araújo , & depois houveraó efte Engenho feyje acabarão ejitras qM,
os filhos de Sebaftiáo de Caftro', & o houveráo de hum Gabriel Coe- havia.
Ihoj ôc agora ( diz Fruduofo no feu tempo ) o tem Diogo Ley te , (fi-
dalgo , de que em feu lugar faremos mençáo} por falecimento de Ma-
noel de Caftro , & António de Caftro , & não ley fe ha ainda tal Enge-
nho de aíTucar , porque outros que havia cni Saó Miguel , jà acabarão^
xomo acabarão muytos dos muytos mais que havia em a Madeyra.
CAPITULO IV.
oraarichama-fe Franca, porque defde feu principio começou com fran- '^'fi^ ^^^^ ** celebr6
qucza , & liberdade de pagar ella direytos i & Villa fe chama , por não f^^^^^'^'*"'**^"*^'^^
^^^^oo.
íoferfeytatal pelos Reys de Portugal, mas fer aprimeyra de todaa jjj"'^;
Ilha, &ter oprimeyrolugar,& fallar primeyro, quando fejuntaô as yjy^Vfl»-á,'4Ã^Co««fj
Cameras da Ilha toda j 6c logo em feu principio fe edificou de forte,que to deS.Frandfco^ow
jà entaó parecia huma pequena Corte, com illuftrcs Capitães , fidal* tro de ReligiofiuFrã^
guia , 6c nobreza , que fe extendeo por toda a Ilha , de que foy o femi- (^ifuanat , muyta fer^,
nario, origem , cabeça , 6c mây , como confeíTa o mefmo Fruduofo liv. ^""^'^'^^ > excellenu
r<í/j. 40. 6c ainda que veyo tempo , cm que fe arruinou,
4. ( como em feu ^Z^y "f* l^alecifa'
lugar veremos ) fe edificou comtudo , ^
tam nobremente , que aos no- (fr grande eommer*
bres delia concederão noíTos Reys os mefmos privilégios que tem os Ci- cio, a major N«i, &
dadaós do Porto em Portugal , além de lhe confirmar todos os que de brei^a^^
antes tinha.
18 Tem efta Villa fahidas excellentes , com ricos pomares , 5c
fcndofas qu intas, 6c dentro tera muyto nobres , &: groíTos contratadores
"
'H..:r M '
d« '
^H ; íi- 'Xíivrò V. Da fatalllha de S. Miguel,
na, N. Senhora do Defterro, Corpo Santo, Saó Pedro, & Santo Amaro.
Do Mofteyro de Frey ras dizem que foy o primey ro de todas as llhas,6c
he da invocação de Santo André , & de cincoenta Religiofas , & trinta
fervas, & de abundante renda , & por iíTo muyto obfervante o dos Re? j
&
Gouvea i nefta Villa , para a íegurar na fugeyçaó a Felippe II. de Cav
1 ftella , pozo Marquez de Santa Cruz fetecentos foidados de preíidio,
l que durou pouco j mas per fi a Villa eftá fortificada da banda domar,
1 & com portas fechadíi , & tem para o mar hum Forte com boa artelha-
ria, mas naó fey que tenha foldadefca paga, fenáo da ordenança, a feus &
1 &
tempos i fobre tudo o da milicia , o Capitão Donatário he o que go-
III"
verna em toda a Ilha. •
iHgares^^Hí Iheeftao
lug.
gj^e^g^ ^^^^ra ha bom anchoradouro ,& ferve o Ilhèo mityto paraboaí
Çnee
pefcarias ; ferviria também de melhor Fortaleza como , a do Bugio em
do Tejo. Emíím tem Villa Franca nove Lugares, ou Aldeãs
a entrada
Dms íegeas adiante
^^^^^ ^^^jg ^^jq debayxo do feu governo , cinco da banda do Norte , Sc
^
/;V^ fV
^'í'*
da banda do Sul quatro.
toKtílT^è' 1 21 Segue-fe a Villa Franca, & pelo mefmo Sul para o Poentj.
fm 'porto chamado duas legoas ,a Villa de Agua de Páo , nome que deíde o mar lhe deraa
rol de Cabajfos ,onde OS primeyros defcubridores da Ilha , porque vendo cahir huma ribeyra
começou o pnmejro de hum alto, & a prumo a hum bayxo , pareceo a moytos Ter antigo , &
Mofteyrode Freyra, grande páo, quedebayxo chegava ao mais altoj &
aoutros pareceoquc
de toda6 04 Jlhoi. &^^^ ^ ^ ^^ ^jj.^ ^-^^^^ precipitada ao bayxo ,& achando logo fer
^^^^ » chamarão àquella agua , Agua de Páo , efte mefmo nome d&.
&
TJlaeAfriçl
\\:
CâpJV.Dãmefmaprímeyr,áV'iIlaFràilca. fjf
tsô á Villa , que alli depois fe edificou j eftá^ a Villa edificada cm hurat
valle, 6c tem a ribey ra fecca da parte do Occideate , &
da parte do Ori^
ente , a ribey ra do paul , a quem hum alto pico toma a vilta do mar : he
Villa bem providade lenha, &frutas i tem duzentos &
cincoenta fo-
gos, ou vizinhos , Vigário, Sc quatro BeneficiadQS,Thefoureyro,6c Gu-
ra i tem mais três Ermidas , huma da Trindade ,fey ta por huma Beata
chamada Margarida AíFonfo j outra de noíTa Senhora do Rofario , s. 0^ & íí* «\_^Vi'-\ RiVk ^l.
•
terceyra de Saõ Pedro , da parte do Poente. Era efta Villa d© antes hu A^^àô''^'-.^
.i»Vi'T\ >*í
i521. tornarão para efta fua Villa.
: 23 Por efta cofta do Sul , de Occidente a Poente ,: Sc legoa Sz
j^^ j..^^^ ^^ Aiaçsd^
meya depois da Villa de Agua de Páo , eftá a chamada Villa da Alagoa, ^^^^^ °
^^^^^ ^/j ^
por huma que teve de agua nativa defronte da porta da l%rt]x^úncu a„tedeAgft*dtPa0;
pai, onde depois fe formou terra lavradia. Fez Villa aefte Lugar El- & de ^^'3,.vix,inhos,
ReyD.JoaõIII.em ii.deAbrilde 1522. A Igreja Matriz he da invo- hum porto chamada
«^^^ Mofieyros, a»nde
caçaõ da Santa Cruz , com duzentos 6c vinte 6c fete fogos, ou vizinhos.
'""*' '""
A fegunda Freguezia fe chama do Porto dos Carney ros, ( por os terem ZlVZZl
alU lançado os primeyros defcubridores que os traziao ) ôc conlta de ^^^^^^ ^g terra ^
duzentos 6c dezafeis vizinhos v 6c a Villa de quatrocentos &c quarenta ^^ ^^^/, trig» , ^ m-
& trcs , como conftou pelos roes do anno de 1 666. Tem mais efta Villa bh vinha*'
da Alagoa três Ermidas , primeyra de Saó Sebaftiaó , fegunda de N. Se-
nhora do Rofario , terceyra do Efpirito Santo; 6c acima da Villa hum
quarto de legoa , eftá a Ermida de N. Senhora dos Remédios 5 de muy-
tos milagres, 6c grande romagem, ao pé de hum monte chamado o Vul-
cão. A Matriz da Villa tem Vigário , hum Cura, òc quatro Beneficia-
dos. O termo defta Villa he de trigo , 5c paftel , 6c muytos , Sc bons vi- ;
m^
\t^ . Ê^Livm^.vDâ fatal I to (lèS^MiguièL^'/^
feguèharaa Ermida da Ssnta Magdalena , de muy frequente fomagem^
Do lugar deS. Roque depois logo a forca da Cidade , & defronte delia , hum tiro de béftaf
&
thamado Rofio de ao mar , eftá hum Ilhèo , que por reprefentar.a hum caó em a figura que
Caõ , jà dajurifdic- faZjdeoáquelle trado, &
lugar de SaóRoque^ o Vulgar nome de. Lu-»
faõ da Cidade, de
gar de Rotto de Caõ. E ha por aqui tantas vmlias, que ( como diz Fru^
I %6.vÍ!í.iiihos, & de
_ . . jO U - . í. 'íí,ii'4Òn.ii'íí
C A ;:»
">
-.Hf !
'
ti
Da Cidade de Ponta Delgada*
» 35 "px Efcubeftâ afilha de SaóíMigtíel, & povoada 1444.6^, effii
fa, por huma Ermida que alíi tem da mefma Santa. Eftà aflentada a Ci-
dade junto ao mnr, & em plano, fem fubidas , ou defcidas de muyta coni
fíderafaó y de comprido , à beyra mar , occupa quâfi hum qiurto de lei.
Cap.V^Da rica Cidade de Ponta Delgada. 13^
gòa,8cno mais largo do meyo, o tirO de huma efeopetai tem varias rwas,
correntes do N orte a Sul , ôc outras atraveíTadas j no anno de 1 666. ti-
nha pelos roes dos Parochos mil &c feiscentos & vinte & três vizinhosi
acafariade Nobres he também nobre, mas em nenhuma rua he unifor-
me, por fe metterem cafas térreas entre fobradadas ; tem os Donatários
hum rauyto nobre Paço com jardim dentrOjSc no meyo da Cidadci tem
fobre o porto huma boa Fortaleza com trinta peças de bronze, &: huma
de mais de vinte palmos de comprimento j náo tinha gente paga de
guarnição,mas de ordenança em guarnição fcmpre, & leu Capitão com
boas cafas para elle , graneys , & cafa de pólvora , & de muniçoens de
gucrraj 6c Ermida de São Brás i tem poço de agua de ferviço para a gen-
te, & além diíTo cifterna , que leva [mil ôc duzentas pipas de
agua j não
tem cava à roda, & parece fer tudo pedra viva. Hoje dizem que tem jà
f^'
foldadefca paga. .
,
27 O
porto defta Cidade he tam aberto, qúe da ponta de San-
ta Clara atè a ponta que chamão da Galè,vaótrcs Icgoas de eníèada,
fem abrigo algum para os navios , mais que fazerfe à vela com qualquer
tempeftade > eftejaó carregando , ou defcatregando , com que fuccede
às vezes levantarem , fem tornarem. AAlfandega efteve femprc era Tevy^ÍfMde£d',W^
Villa Franca , atè que ( como veremos ) Ic fubvertco a Villa , Sc ainda Mtmftm
d^d-'jfM
^"í^'*à
que fe reedificou , mudou-fe comtudo a Alfandega para a Cidade , ^H'P'>^ ^i
nella tem nobre alíento com feu Juiz que chamão Juiz do mar > & he
, ,
deS:
naveS) tem Vigário, Thefoureyro , ôc Cura^ Ôc dez Beneficiados s ôc feu de S.Pedr«,&a
Meíire da Capella 5 ôc ha nefta Freguezia quatro Ermidas , de S. Brás, ^''""'^^'^"^"^i
¥
das Chagas, de Corpo Santo, ôc da Trindade. A íegunda Freguezia he ^'*ô«t'iXr£'«//'
a de Saó.ÍPedro, que tem Vigário 3 Cura , &
oyto Beneficiados , ôc três ^j^^^^^ ^ ^„yf^ c/g}
Ermidas, huma da Madre de Deos , outra de Saó Gonçalo , ôc outra da rezÁ*4<q»^í^ rícer»
Natividadeicoma devota Confraria dos Pretos. AterceyraFreguc-rffdeJS/l-^Wtf^wgr^
M iij ^^
m^
zia hc a de Santa Clara com Vigário , & Cura , Sc tem huma Èrmid^i
,
f' de mais de trinta Religiofos ,& tem feu Noviciado, & porprovifaó-
ielHoST-*'^'"
í/^S^fll'^ ^JI^^^^J ^^^^^P"^P^^'°*^^
S.Sebaftiaôj&devotiílima Irmandade de Tercey-
trma frades com ^^^J ^ Terccyras Iccularès. Tem outro Convento de Religiofos Ere'-'
Noviciado outro de mitas dc Santo Agoftinho,, chamadosGracianos, que fem fer muyto co-
\
6racianos , com Col- comofe ofofle , trabalha em a vinha do Senhor, como Religião
piofo ,
til
GonfcíTòres, &'muytâs vezes Miííionarios , naõ fo por toda a líha de S.
Miguel , mas jítambcm algumas vezes pela ílha de Santa Maria , com
aquclle Apoftolico zelo , que coftumaõ Religiofos chamados Apofto-
hede notar qiie efte CoUegio nem por ElRey he fujidade^nem
losi fe
per algum outro Fundador particular, com ordenado algum para o fu-
íiento dos Religiofos nem eftes o levaó por enfinar j pregar confeíTar,
, ,
& aconfelhar , & muyto menos por Miíías , que náó dizem por efmola,
mas fomente começou com particulai-és efmolas das mais devotas pef-
fóas defta Cidade, por quemfaz os méíhios facrifícios, &: orações-, que
faria pòr aquclle qile foíle feu total, & efpecial Fundador. Porém como
efte CoUegio veyo de Angra, & os Conventos de Saó Franciíco & , da.
Graça vieraó também dos feus principâes da Ilha Texceyra , por iíTo là^
&nãoaqui, nos deteremos mais. ( '^.;
* *-•
31 Nem fò varões Religiofos , mas também Religiofas obfer-
vantiíTimas ha ríefta Cidade , das quaes o primeyro Convento he o de
Õs Conventos de Re- p^ Senhora da Efperança , fundado por D. Felippa Coutinha , mulher
Capitão Ruí Gonçalves da Camera, fegundo do nome , onde am-
^T"^"*/"*! ÍT'-'^^
^""^^ fepultura , &^ fundado para vinte cinco Religiofas de vèo-
^ça'leZ»do*def'AK- ^^^ ^^^^
(" & hoje he de muytas mais Religiofas) & de-
dr'è ,ierceyro désam^^z^Oy & ciuco Noviças,
Recolhimentos.
jaó Diogo Vaz Carreyro para vinte & féis profeífas ,,& também cinco
Noviças, da Regra de Santa Clara , & da obediência do Ordmario. Ú
terceyro Convento he de SaõJoaõ,comoo de Santo André, fundado
por O quarto Convento começou ha cinccenta
fe
annos , com titulo da Conccyção, & Breve do Papa para cinccenta Re-
ligiofas
Càpl V. Da íua dita Cidade. ^W
li^iòfàs , & dez nomeará
das quaes cntraflem com dotes trinta &,novc ,
o i^adroeyro das parentas nobres 6ç pobres do Fundador, & hum lugar
,
geração por feus antigos brazões, & ricos , do que de fer íómente fidal- ,4
->•. í
^
gos de livro, & na verdade pobres, como faó muytòs no Reyno de Por- '^''*''1^'£^
]!emo
tugal,& ainda na Corte, & miferavelmente pobres Sc por iíTo havia ?^^^ âo me no na-
:
homés muyto ricos , como hum Gafpar do Rego Baldaya , qiie tinha to àoi 'ptjfcof y& de
txezcntosj.ôc feííenta& fcis moyos de renda de trigo cada anno ifórn /uai cajas ,& por ip
rendas, ôc foros de outro género i & o mefmoj& mais , teve fcu úlho ha wtfjt» ricos hemès
Francifco do Rego de Sá , chamado o Graó Capitão , de que em fcu lu- ^ menos filhados ms
sar trataremos mais. Mas também neíla Cidade o trato, ainda <ios mais .T ^^ "
«^, ..- j r n c -1 ,
poder A haver , mat
^'^t'
nobres , era antigamente de tam pouco faufto, que lo tratavaó de ter^^^^ CAvalleyros , &
bõs Cavaílos , boas armas , os criados neceíTarios para as lavouras ; & o com boas armas ; &-
leu veftir era tam commum , 6c ordinário , que todos por meyas de fe- hoje wào efik accref-
<Ja ufaváó fó de botas , & para eftas afíirma Fruftuofo , que naõ confen- centado.
tiaó fe caftraíTem os carneyros , por ferem dos não caftrados as pelles de
mais dura , 6c mais fortes para botas > 6c aífim fe tratavão mais como no-
bres, 6c iricos lavradores fartos , do que como Cavalheyros fantafticos,
^famintos.
33 Gonfefla mais Fruduofo , que neíla Cidade , 6c feu termo 7-^^ excellete d&aai
ha poucas carnes para tanta géhte ,6c que a mais delia fe mantém com maitaõ penca, s vai
pefcado a mayor parte do tempo, 6c que de pefcado ha muyto j mas iílo moerjegoas fora, #
deveentenderfe de gente ordinária, 6c pobre, 6c de alguma rica , 6c ava- ^'*^^'* aroftfa k %3
renta , porque para a gente nobre, 6c prudente , ainda que o carneyro he ^'* **"""•. >
nem moinhos de agua tem, fenão dahi três legoas eni Ribeyra Grande,
Gu naõ menos longe , em Agua de PàO} 6c nem a roupa fe lava fenão jun-
to aborda domar , 6c em maré vazia , com alguma agua falobra que
allifahe,6c comtudo ao redor da Cidade, 6c ainda dentro delia, h* y
muytos pomares , 6c jardins , ^ muyta , 6c excellente hortaliça j 6c c@tii II
ifto paliemos da Cidade. -
CAP.
w V^ «* ^i
CAPITULO VI.
adiante eftá o porto chamado dos batéis , por bayxo do lugar das
teyroí com 92, vix.i-
.
^
tlfj^aÍÍTe^^^^^^^^
dous vizmhos , & huma boa Igreja
w iZa dentro do Cer- Luzia , com Vigário, & noventa &
taô.fieab /»^-ír ^^ de Senhora de Guadalupe, que mandou fazer o generolo fidalgo
N .
Candelária de ^i.
JQ^ge Camello da Cofta
Colombreyro , cafado com D. Margarida 3 fi-
«/«.wí^síi^^^^^í^^-^jja^je Pedro Pacheco, & alli moravaóeftes fidalgos. Três quartos de
goa mais feda no Ih- efpingarda eílá o Lu-
adiante , & pela terra dentro dous tiros de ,
S r4--
^Hafhõa
TJfohe
/'^^'"^/''Vportej. arvores
rL^ por parecer
queàsdâo) a que também chamão o Pico das Ferra*
ferro o bífcouto que delle corre ,
cmar;& alli Vieyros de enxofre, falitre, marquezita, & ferro & ao pe do tal Pi*
mais adiante, ^o da banda de Lefte íahe huma ribeyra, em que pode
moer huma aze-
,
& fe fuppoem havcf
j
fçHco
ènde chamao os Ef ^^^^, ^ comtudo he de agua tam quente que fomente nella fe pelaô ley- j
volta ejla
da .^^^^^ .^ fuccedeo ( cafo efpantofo ) que defronte do tal Pico, !
-''
rebentou & fahio, defdo fundo do mar, tal fogo, que lançava quantida-
,
Noroefte^ 5c Norte. xt j n. .
t .
}i I
i=
.^ UC
via, porter fidode hú marido,ôc mulher, ambos vindos do Algar ve^por "^"•'j mas pouco adi.
'^'*'
cuja morte veyoefta terra ao poder de- AfttaôRôdri^uez daCamera,'"^^!^'*,''^.'*^
& defte aXeus herdeyros. Meya legoa adiante eftá oTopo de Pedro Ro- ^^viz-inhe? a2^&
driguez^dà Gamera,;êc logo perto p Lugar de noíTa Senhora da -©raça, ^^^ adiantt fica a
&
chamadoa Achada Grande, com Igreja ,_&feu Vigário, trinta & dous c^ííw^ííí» Fenais da
vizinhos. Seguem-fe adiante varias ribeyras ,& entre ellas huma c^QMayacomjz.viz.i*
diamaõ da Salga i ou poi: alli dàr à còfta hum ilàvfo,-qu^tle fal hia ear- f^^o^Mi^r mhre, &
regadoi oU por fe fazer alli falga da montaria que ^oi^teriQr trado fe ca- ^^^^j^í^''^^?^^
^va j & aqui chamáo a Achadinha, em comparação da dita Achada '^°*^^ ví\ir:hò7'oMè
Grande; & aíiim Achada , como Achadinha fignificaó tierracháj& aqui hamotnhoi] 'i^fefaii
éftào Lugar de N. Senhora do Rofario, com Vigário, & quarenta &«r(?/^<«,é' tcmru<ã
fres vizinhos. tm^raídecafaidel^l-'
f
37 Pouco ponta chafíxada dos Fenais daMava/"' ^^^'I'' nopu^d^
adiante, eftá a
fpara diftinçáo dos da Cidade } & a Freguezia he dos Reys Ma?os,
r-''po^^^^''F:'rtcn.
com Vigário , & íetenta &: dous vizinhos , gente nobres & rica, Logo fe ^^L^ Parochial tem*
fegue o Lugar dà Maya , que tomou o nome de o começar huma mu- mm eineo Ermidat^
iher, chamada Ignes Maya, & tem pouco adiante feuç moinhos j he Lu*
gar que tem as ruas inteyras de cafas de telha , quando em outras Villas, ^
&âtèna Cidade ha muytas cafas cubertas de palha j fendo que a. telha .
, .,.
fe faz nefte lugar da Maya ; &: ainda que dç antes tinha fetenta & oytQ ... ..vs>i ,
nobre , & eftar muy to longe de Ribeyra Grande em cujo termo fica ^
, :
--'^,
Ovi'0 V. Da fatal Ilhade S.Míguét-
boas aguas, & bem avizinhada de tanta gente, que podèrafcr Preguei
zia à parte , & he fó arrabalde de Ribeyra Grande & aqui tinha a fua-
,
PA P I TU L O VII.
rtlU di
A
de huma grande ribeyra, quejà hoje a corta pelo
Ribeyra fendoqueatè oannodei5l5. não tinha para a parte do Poente
meyo,
mai»
Crãdehe9m*yorpo. que
duas cafas além da ribeyra, onde hoje he a mayor parte da Villa :
ef-.
Sueziade SaÓ Pedro ainda ficou com mil & duzentos &
onze vizi.
,
Colombreyros)N. Senhora
nhora da Confolaçáo, ( que he dos nobres
da Charidade , que era da muyto nobre JuUa
Taveyraj & Senhora, N .
fegunda Freguezia de
de hum Francifco Tavares Homem. E ainda na
Ribeyra Secca , C por fó dorrer no inverno)
que paíTa de duzenros 8c
quarenta vizinhos , ainda ha outra Ermida
da invocação da Madre de
^""41. -
De Religiofos tem efta Villa hum bom Convento da OV
Cap.VII.DQQUtrosnobfes lugares daipaite.do Norte. 145
tencor & íiái & ha nelle Noviciado de dez Noviças ao menos , & muy- ^X""f^'2 Cel,^^:
tas Religiofas de véo preto , & he muyto neceffario j & ainda útil ca- nhiadefESVS cem
da hum deftes Conventos em huma Villa tam grande. De novo ha /^^^õ 4e Theelegla
mais nefta Villa huma liçaó , & cadeyra de Theologia Moral, que def- Moral 9 m<u Mefire
de-antes do Adventoatè paflTar a Pafclioa, vay àquelia Villa ler hum Pa- ^^
Latim he Clérigo
dre da Companhia de JIiSUS,do CoUegio de Ponta Delgada , & affif-/'^''^''^-
te nefta Villa odito tempo com outro feu companheyro Religiofo , por
obrigação de hum legado que deyxou hum devoto Clérigo, & Revê- .
,
rendo Padre. E demais fazem os Padres todo o tempo que lá eftaó, prè-
gaçoens, doutrinas, & confiflbés de faós ,& enfermos, além d^rclo*'
'luçóes , &
continuos confelhos } &
lá vejaó os zelofos de tam grande
Villa, fe lhes convém mais, que ao menos três Religioíos da Compa-
nhia refidaó lá todo o anno , 6c em todo exercitem feus minifterios , ^
leaõ ta mbem o Latira para melhor criação da mocidâde,&:c.
42 Ha mais nefta Villa &: junto da praça delia , huma Igreja^ '^^"^ Santa Cafa de
,
de antes intitulada do Efpirito Santo , na qual com licença dei Rey , ^'^27uldl tfer\ &
Bulia Apoftolica fe inftituhio a Irmandade , &: cafa da Santa Mifericor- ^^^ S^capeltaimor--
dia, & feu Hofpital junto para enfermos defemparados, &
o Oràgo de com mais cinco Ca.
tudo he o de Santa Maria ; tem Capellaó mòr, &tres Cap^llães mais, &: felUem menores, q
&
dous meyos Capelláes } jà ha cincoenta annos qucefta Mifericordia, MiUtar defta FUla
&; feu Hofpital tinha vinte & féis moyos de trigo de renda cada anno, & eor^a de Capitai
dezafeis mil reis em dinhevro & que
*'/'**
^ cada Irmão
, de entrada dava três ^J^^^f '"V^"^
... ./, ^ •' /" 1 j taes de ordenança.^
•
mil reisj & ja hoje terá muyto mayor renda contorme a experiência de Q^y^rno Politico
,
&
muytos teftadores que fe fiáraô, & com razaõ da pontualidade & ver- civilhe o feu Senada
, ,
43 governo defta Villa ( defde que o he, ha duzentos & fe- dom fMi2.es Ordina^
O
te annos} foy fempre como o das mais Villas , com feu Senado de Ga-
""'
^ "* i^*^ <?#" »
mera. Juizes Ordinários, Vereadores, & todos os mais Miniftros da po- "^"t^^'
litica; na milícia o feu Capitão mòr, &
muytos Capitães mais com muy-
to numerofas Companhias , &
aílim os Capitães como os Alferes eraõ
,
^y^ J^Z "r"' ^
os de melhor nobreza , como de fado foraó Ruí Gago da Camera , Ca- Grande es Ca'- /^
pitaó de huma Companhia , &
feu primo António de Sá por feu Alfe- b^>;í,j Donatários de
re5,atè que Ruí Gagofoyeleyto Capitão mòr, &o
dito Alferes cm 5^10 Miiuel^& mlU
Capitão, conforme á regra do Afcenfo que fe obferva na milícia } mas a eft<io «s pnncipaet
nobreza mayor que tem jà ha muytos annos efta Villa, he fer oúmXo^""^"^^^^'"^^ <*I'
" &
por iífo a devem efti- ^r f'^'* """)"* ,
dos Excellentes Condes de Ribeyra Grande , queiporiíroadevemefti-^^^^P'^;
IfiA t^tie tem^&
mar maisjpois fe faó de toda a Ilha Capitães Gencracs,fó defta Villa faô ijHe^^^^J
^ , - „ , , ^ , ^ «
Condes ; SraíTi ma devem defender , favorecer, Ôcaugraentar, como a ^í,„^^^^/^,
mnyto rendemas'
coufa mais particularmente fua; & muyto mais por nefta Villa eftarem
os moinhos mais commús de todaa Ilha, de que o Conde, por Capitão
Donatário , tem trezentos &
cincoenta moyos de renda cada anno,por-'
que faó féis os ra^tinhos , & cada hum tem duas pedras , delles os me* &
íhoresmoemfetemoyos em vinte & quatro horas i&fó^deMoley rofi
'
-y.-
. ,
qiÀ«
c
'<ir^4úKÍwC. ;' ««.jg nr ?í
íli.;'
que Icvaô , 6c trazem o pa6 , tem mais de cincoenta , 6c cada hitra anda
com duas bcftas de carga , 6c levaó a dez reis por cada alqueyrc de car^^
n reto. -••i - *•
-
•' '•-
44HemuytofartaeftaVillad€paÓ5cariíe,5clegumeS}6cfó
'Mityti abunàantt he ^jg favaschega a recolher quatrocentos moyos, & vende mais de duzen-
í/?<í^//<í dtpao.car-^^^ ^ j^ j-^j^^ recolhe mais de cinco mil pedras , 6c porque paflaó de
,
^^^ ^^ ^^^"^^^ ^^ ^^"^o nefta Villa , vende ainda três mil pedras; mas co-
"Jtalmthu^d^flvls,
*'mai mmto maif,dc S
"^o do porto de Santa Iria fó ufa para batéis , por fer a cofta brava , tem
féella tem mais <ií por íentença Real, O fervirfe do porto dâAlagoa,
aonde manda j6c car-
wiltearesde^man- xhpk<iwíimo vayparafóra da tal Ilha donde vem que , ainda que em
j
da Itnhos naãjó pard R^beyra Grande ha muyta nobreza grandes morgados , ôc os nobres fe
,
ai
trataó como taes j comtudo a gente de ferviço ganha tanto , que a ref-
«'J^^^^'»»*'^?^'
do que aquelles qua
^tmd&beZcmâ. peyto do menos que eftes gaftaô j faó mais ricos ,
dosein agua doce; & ^m feu trato , cavallos, armas , ôc criados gaftaó ainda mais
do que tem;
rfww^ía Ho^rí2:<,# efpecialmente depois que a grande ribeyra defta Villa, com enchentes
ri<jHiffimos morgados lhe levou ruas inteyras de fobrados , &
atè as pontes de pedra, 6c aos no-
é- que comt) tats fe ^^
gg^ ^
j^iç.^^ ^qj^q^ q refazellas. Finalmente he efta Villa mais que far-
í^€<»?i ta de agua doce , de feu nafcimento perfey tiíTima ; mas atè nefte naó
6c
he jà tam pcrfeyta , pelos novos incêndios que ao perto fe levantarão,
como cm feu lugar veremos.
^45 Continuando pois o Norte defta Ilha , eftà de Ribeyra
adiante de Riheyra
brande para O Poente , dous terços de legoa, o Lugar chamado Rabo de
Grande pelo l/orte Peyxe , nomc que fe lhe impoz, ou de o
parecer aílim na ponta que faz
,
para o Poente f »^/ ao mar i ou ( como diz Fruduofo liv. 4. cap. 47. ) por alli fe achar hum
legoa,efik o lugar cha tam defconhecido , 6c grande peyxe, 6c com tal cauda , que os Mouros
mado Rabo de Peyxe ^q^g ^q defcubrimento da Ilha vieraó a cortar o mato delia , 6c logo fe
repartirão a fervir pela Ilha ) pendurarão a dita cauda do peyxe em lu-
de zzj,. '^'^"^^'*^
C^dfdemZa & Poente i Sc tem efte Lugar huma fermofa bahia , da qual à Villa d' Ala-
txcelleteca^adeper. goa , da parte do Sul , he o mais eftreyto da Ilha , 6c
o mais razo , com
diz.es, muyta* carnes, huma fó legoa de terra ; 6c jà defde Ribeyra Grande atè à tal bahia he
hõ
& o melhor pefeado continuado areal , 6i falto de agua ; 6c ainda ô Lugar tem fó poços de
4s Norte. gg^a falobra ; mas he abundante de tudo o mais , 6c de muyta , 6c exccl-
lente caça. de legoa adiante , eftà hum morro , ôc hiía
E logo, hum terço
muyto rendofa , Ôc grande quinta , com fua Ermida de S. Pedro , tudo
j rt
do antigo Jacome Dias Rapofo,pay de BaraóJacomeRaporo,&:avò
.
M^ante '^'^^^'^^^
de Ayres Jacome Rapofo, que alli moràraÔ , & he cafa tam nobre, S^ po-
Ilha , fe para ella tornar feu fenhor
(hamàdoFtnaesftã' ^erofa , que he das mais ricas defta
bem dezi/^. Jkí- Ayres JacomeCorrca (diz O noíío Fruftaofo.)
nhos . &
também de 46 Mais adiante de Rabo de Peyxe eftà o Lugar dos Fenaes^Cdo
muyta caça de perdi- muito feno que ha alli)cuja Igreja heN. Senhora daLuz,8c também tem
zes,carnes, ^'^''^-
duzentos vinte 6c vizinhos , com feu Vigário ,
ôc quatro Cura ,6c ti- &
Beneficiado , que foy para SaÕ Pedro da Cidade^
tem
^lldlllrfímZ "^^ ^e ^^^^^ h"ni
aia ^—
Cap.Vir.De outros nobres lugares da parte dô Norte.. t4j
efte Lugar muy ta abundância de carnes, de caçasj de perdizes, ôcmuy-
to bom pefcado, mas a agua tócâ de fálobTaj & porque dahi adiante,me-
ya legoa, podem inimigos deiembarcarj para os impedir, mandou o
Capicaõ Díògò Lopes de Efpinola levantar âlli humlfoítfc muro oh íè :
a eite Capitão , taó zelofo do bem commum , imitaflem outros , como Legoa, & mey/iàõi
cftaria eítallha nâo fó bem povoada , mas? fegura ! Aos Fenaes fe íegue Fsnaes rfik 9 hgAfàé
hum bifcoutal de mato , a que chamaó as Capelias , ou por alli as Lze- S. António de i jo^'
mm pelo Saó Toaò, ou por chamarem Capeilas às vaecas malhadas que
vtz.ínhos,(jHejap0r^,
alkandao. Adiante mais lahe ao mar numa pequena pontada terra,a^ , , , ,>
^^jy^j
©nde éllà o Lugar de Santo António, por deite Santo íer a Parochial J^ ^^ Parocho^
Igreja ; & no fim do Lugar eílá a Ermida de N. Senhora' do Rofario^que Ciíra,& Beneficiado^
mandou fazer o nobre Sc poderofo Álvaro Lopes da Coita , de quem tem Emtda dt San-
,
foy aquella terra j & outra Ermida da Madre de Deos eftà no principio w Barbara.
do Lugar 3 o qual diíla legoa j 6c meya dos Fenaes , & tem et nco & cm*
coenta & dous vizinhos , com Vigário , & Cura , ou Beneficiado , & jà
he do termo da Cidade i & meya legoa mais adiante eftà outra Ermida
de S. Barbara, & de muyta romagem.
'''-'
j^f
Paffadamais huma legoa ,& fobre huma ponta groffa à^ jj^^^f^goa adiante
bahia éftà o Lugar chamado Bretanha , Ç ou por aíllm chamarem os an- efia o lugn j^fe diz.
tigos a qualquer terra alta j ou por alli ter fua fazenda hum Bretaó} & Bret4nha,de y^.vi-
temParochia de N. Senhora da Ajuda , com Vigário , Scfetentaôc oy^ pinhos, &oKtr»^ííaJÍ
to vizinhos. Dous terços mais de legoa eftà o lugar dos Mofteyros em^'^"^
'^a^'^m'!1^^'*'
humafajá de terra tam boa que dà o melhor trigo da Ilha , de que fe faz ^^^_^ "^izj.nhos- &
|)aôfém tufo, como em algumas partes de Poítugal: a Parochia hede ^^^ aàimte ejla a,
N. Senhora daConceyçaõ,& temfetenta vizinhos com feu Vigario:^^^^^ chamada dos
chama-feMofteyros , porque hum tiro de béfta ao mar tem diante de Efcdvados .aonde
fi quatro llhèos com proporção entre fi tal, que reprefentaó qwãXro
P'ente acabaoNoru
àeS.Mtguel.
Mbfteyros edificados no mar ;& também porque alli pela cofta, & pon-
ta Ruy va atè os Efcalvados eftaó taes concavidades, que outros tantos
,
N CAP,
m^
24^» Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguei,
CAPITULO VÍIL
efpinhaço
T ,
{olíV.4..cap.4,S. & diz queemfeu comprimento hehum
todo montuofo , & defcálvado já, ou defcuberto fendo que j
emíeu defcubrimento [eftava toda a Ilha cuberta de efpefíb ,& alto ar-
voredo. Nos lugares aonde naó chegou a pedra pomes, & cinzeyro,tem
bons paftos de boa, &
varia herva , grande creaçaó de gado , & de car-
&
ne mais goftola , como he fempre a de paftos defcubertos ao Sol j & as
rezes tem mais força , & fofrem mais trabalho j Sc como neíta Ilha o pa-
ílo he muyto húmido , &
verde , he por iflb defgofbofo o carneyro , que
he mais húmido j &
muy goftofo o cabrito , cabra j aífim no açou-& &
&
gue fe corta chibarro em Abril , Mayo , Junho. Antigamente aqui fe
matavaõ chibarros capados , por melhor a carne j mas porque a pelle
fer
dos caftrados he mais delgada , & de menos dura , & na Ilha de Saó Mi-
guel em os primeyros duzentos annosnaó havia homem que naó trou-
xeíTe botas , antes queriaó melhor pelle para calçar, que melhor carne
para comer ; & tanto era o gado nefta Ilha , que a comer, & calçar^ a tu-
do acudia §c como jà ha mais de cincoenta annos fe calça , & veíte mais
:
politicamente na tal Ilha, já de botas fe naó ufa tanto , como nem tam-
bém do carneyro, & de o caftrar, como experimentey ha cincoenta.
annos.
50 Das celebres Furnas da Ilha de Saó Miguel deraó já notiu
cia alguns Authores Agiologio Lufitano tom. 2. a 11. de Abril & do$
:
-,
Eremitas das ditas Furnas fallou Frey Diogo da Madre de Deos, & o
Padre Manoel da Confolaçaój item o Padre Frey Joaó de Saó Bento,
Eremita da Serra d'Oíra Vulcão defogo y que rebentou na,
trat. dotiltimo
dejJienh.idM (jHt nè que por mais que a arte abrio caminho pela
,
parte do Oriente da banda
gente a cavallo pode do Sul, ainda he tal que dcfcer por elle a cavallo , fera peccado morml^
,
L
Cap.Vin.DoInfemOj&:ParâirojutosnomefmovalIe. 147
põem em & eftas a cordas per que os vaó enviando atè bayxo,
taboas , , _
rnas gente toda apè & atraz de beltas & cargas como vi defcer a ca-
, , ,
vallpyros famofos & ainda que tem aberto outro caminho da banda do
i
fumo, que não defcubrio por onde poder paíTar avante,& fe voltou pa-
ra a fua antiga povoação-, & contando a muy tos o que chegara a ver, ou-
tros íe refolvèraõ com elle tornarem a examinar aquelle abifmo , de que
o dito Clérigo tinha fido o defcubridor primeyro , & com eíFeyto , in-
do, & andando duas legoas pela parte do Oriente , derão em huma En-
cumeada de Garaminhàes , pela muyta que em toda ella havia , & rom-
pendo algum caminho com grande trabalho , & perigo , defcèraó meya
legoa de rocha Íngreme a bayxo , & examinando o que podèraó, fe vol-
tarão por balizas , ou por marcos, que tinhaõ deyxado para iíTo , &; con-*
tàraó o que fe fegue, & que viraó.
53 Viraó pois, ôc achàraó em bayxo hum valle de mais de ftic-
ya legoa de comprido , de largo quafi outra meya , & ao pè da deícida
huma ribeyra de claras , & frefcas aguas , & em pouca diftancia hum ri-
beyro de agua que fendo fria , parecia verde, vermelha , dourada, & fer-
rugenta 5 fegundo os diverfos fundos, ou laftros que embayxo tinha ; &
logo mais adiante para o Sul viraó duas abertas furnas grandes , com ef-
treyta, roas andavel , pedreyra viva entre fi j das quaes furnas a primey-
ra , que fica da parte do Occidente , he a mais alta , de agua clara , mas Fumas de continHi
tam quente , que nclla mettendo dentro leytôcs, cabras, & porcos ^tàn-fogo, &frio^ & tudã
des, & tirando-os logo, fahem jà pellados todos , & em mais tempo, vem i»»to,& deefirmdoí
cozidos } & de peyxe fe tira fó a eípinha; & fc eftaó ouvindo fempre hús **'*"'^ envidas, & te-
correntes
groílura duas pipas lunolas 3 a legunda í urna hc pg^^^^r^
nbejraseU
*
'.
como a dita primeyra , & não menos eftrondofa , & medonha. Da agua,
ou polme de ambas corre hum canal atè outras duas furnas para a parte
'ào Norte, que faó muy to mais largas , &: de agua mais medonha , & fer-
vendo fempre, & mais turva. Mais adiante eftava logo hum horrendo,
^ grande olho aberto na terra, que eftava fempre fumegando fumo ef-
N \y pelToi
^f
Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguel.
peíTo} U a elle vizinha hiima caldeyra fervendo por tantos olhos tan-
, ,
to, & tam cinzento polme, & figurando em cima tantos GÍrculos,coroas>
de cabeças calvas, que lhes chamão as Coroas dos Frades.
fie tra£lo infernai. do com branda, Sc molle pedra branca> &: dalli huns levão muy to enxo-
fre,& fe fervem delle aflim como o achão j outros o apuráo fervendo-o
betas i tal he em bayxo a batalha de hús com outros metaes , & elemen-
tos oppoftos.
56 Hum de arcabuz das furnas para o Occidente eftà á
tiro
terra aberta em varias bocas , & ao redor algumas covas , donde fahemt
Dosfuntõl , &
fedo- tantos fumos, & de tacs fedores, que brutos que alli cheguem , & fe de-
tenhaô , aves que por cima pouzem em alguma arvore , em breve efpa*
rei que aqui faham,
líoctvos maií a aves^
çocahem ,& morrem & fo os caens, fe lhes cortaó as orelhas por ellas
A,r!
Ermida que adiante gus pequenos campos pela ribeyra quente abayxo & a tudo ifto cha- ,
tém mais de huma hora ; & fe por mais fe detém , daó-lhe vómitos , def-
lentes calda*para to-
da a domça^tomande
a/li hanhos.
mayos , & accidentesj &
tirando-a logo para fora , torna em fi , &: pára
tudo. Pouco efpaço adiante fahe no bayxo da rocha chamada ( Pè de
Porco}
Cap.VIII. Continuaõ^fe as inGompiÊlienfiveís Furnas. í4§>
Porco) huma grande ribcyra de tão clara, fádia , & f refca agua , que di»
zem fer a melhor que ha em toda a Ilha , & comtudo vay íervendo pe-
los fundos mineraes fobre que corre , Sc aííim lhe chamão , Ribeyra que
ferve i mas nefta , hum pouco mais abayxo, fe mette outra agua queía-
be a ferro j & por iíTo quem quer a perfey ca agua daquella ribeyra , de-
ve-a tomar mais acima, junco à rocha donde fahe , & aonde eftà fcy-
ta a fabrica da pedra hume , que fez hum Joaó de Torres , Meftre
delia.
de dous Conventos de Freyras de Ponte Delgada , nobiliílima peffoa, & enehe cemo mar,
de quem a feu tempo fallaremosj & perto defta Ermida nafce a Ribeyra ^p^rte delU fifeca
quente , & turva , a quem tempera logo outra muy fria , ficando a Er- "" "veraô^fà- da terra
alagoa
mida no meyo j & na ribeyracompofta de ambas , fe curão muy tas pef- ^'^^^''^ff^fi*
foas de varias enfermidades , & muyto mais de farna , tomando banhos
p^/'^j'*^^^^^'^^^P
allij & fó lhe faltaó officinas, &: edifícios
para poderem igualarfe às ce- ^^ terra aue efia en'
,
cncumeàda grande j & por cima de hum terço eftâo ainda quatro , oii
cinco furnas fervendo , &
fumegando , como as fobreditas. Dizem que
de toda a terra ao redor da alagoa , fe pôde fazer caparrofa , fe houver
Meftrequeafaybafazer ,comojàfefez de alguma terra da que eftácn»
tre as furnas. Finalmente dizem que efte fatal valle, Sc tam profundo, Sc
cfpecialmente a parte aonde ficarão tantas furnas j devia fcr de anteS al-
guma grande montanha , a quem a fúria do fogo , & mineraes fubterra-
neos, rebentando levantarão aos ares, &: parte foy dar no mar j aonde fe
íiibmergio, & parte formou outros dos que fe vem nefta Ilha. E confor-
inando-rae eu com eííe parecer fó accrefcento , que ha quafi cincoenta
,
annosj que tudo o que delias eftà dito j vi , obfervey í & apontey , como
cm a idade então mancebo, cUriofo, &; defejofo de faber, & já então com
noveannos de Religiofo , & Meftrejàde Rhetoricaj &confefl!bque
tudo o fobredito he pura verdade , de que fou teftimunha ocular , & tu-
do concorda com o que o douto, & fideliílimo Fru£tuofo diz. Mas de-*
ve-le muyto advertir que como o tempo tudo muda muytas coufas
, , ,
59 Da grande legoa que vimos , & que occupa o fatal vállCj -^"^'^ ^^ fokeâitÃ]
em que eftaó as referidas furnas , nem todo elle hc delias mas quafi me- à- infernai meja u-^
j
N iij ratai
WF^
. 4 A xii^A^
.
livrarem efte mun- ji fobrado algum tem dehumaoutrocoftado , porque comofe Ihepe-
do,e»trara no Parat-
gQu q fogo no payol dâ polvora que tinha deíde o cõnvez para a proa,
fo CeUfttal.
y Q^^j j.^^^ ^ ^i^Q interior, ficando íó a forte, comprida , & groíTa quilha
com as fuás fortiííimas paredes dos coftados : porém como o incêndio
defte fatal Galeaô fe levantou da polvora , & mineraes que 'eftavaõ no
payol debayxo da fua proa , & convez , por iíTo aqui ficou ainda a hor-
renda fonte do fogo com tantos regatos delle , quantas furnas vimos já^
& o lugar onde a cafa do leme Sc a Camera Real, & o Caftello de popa
,
tmhaó eftado , ficou tanto fera fogo finalmente , que com o tempo fc
fez hum parailo, ( como agora veremos ) mas paraifo da terra , & defte
mundo, donde fem jà fubida , mas com defcida fempre , fe vay facilli-
mamente áquellas furnas do inferno.
r.
f,
60 He pois efta primeyra parte de tam profundo valle, hehíía
> ^ ^^^^ P^^'* ^^
quadro com quafia mef-
reiaU^Sofo &dt*'^^^^^ ^^^^ ^^g^^ ^^
^^"''"^
,
Áii
v^ nnnc^ & deley cofos, muyta variedade de hervas fem alguma fer nociva & tan-
vtft^, , ,
inaudita, &
úõvana^&agrada- faó infiumeraveis, & muytas não conhecidas ,& outras de
vslmufica de novoí, grata mufica & animal nenhum que poíTa fazer mal fearas 8c hortas
} : ,
ç^inntimeraveiépaj- commummenteas naó tem, por naó ter quem as cultive, pois nem mo-
farosjem na terra ^on radores continuos, nem Freguezia alguma ha là em bayxo , pelas defci-
m ar haver vivente
& fubidas mais difficultofas & comtudo ainda algúa gen-
^^^ ^[^^^^[^ ^ ;
f/ííMfío depoíTaóeftarquandolàvaó.
a/'^/-^;^. , ,, l 1 ,
61 O
principal que rende efta bella parte de tal valle , he mel^-
5c cera, de forte que atè os Padres da Companhia de JESUS tem alli
Tela ^#«^'^'/"^^,
&fMa defiepofto, ^^^^^^^^ ^.^5 ^^^^^^ ^ que câda annolhes dá hum quarto , ou meya pipa
Zlr% InZ, de mel , & algús annos pipa inteyra , 6c mais dena pipa & a^^cera corref- ,
éportjjoncm hortas, pondente j & aíTim cera , como o mel , excede perfeyçao ao de qual-
nem Uvmrat ,&Jó quer outra parte , por também as hervas , as flores 6c as aguas excede- ,
no v;raõ fe hia la ,
muyto a todas as defta IHiaj 6c fó á tabrica defte mel, 6c cera, he que
a ^^^^n
colher n^uyto rr.el, & ^^^ abayxo gente de trabalho ; 6c em arcas , 6c quartòlas , poftas febre
7nr4y,a cera de coL-
^randes,6c fortes tabocs,que por corclas vão arraftandohomes adiante,
ZZrç.prepZZ he que tudo o do rochedo do Oriente , pelo cami-
fobredito fobe acima
vai,& o florido ter- nlio que acima defcrevemos que fe houvera bom cammho •,
de íahir de
renLf4hní^va:;,& tal proíunáidâáe a tam elevada altura, cultivarfehia o fertiliílimoval-
tutra vex. o hi^ó cre. j^. ^ ç^,^^^ frutos, 6c atè as excellentes , 6c preciofas madeyras que ha nel-
Cap. IX. Das Furnas, Fogos,& Tremores áeíla Ilha. if i
que efte mundo chama Paraifoj fc vay fem fubida, mas cora defcida fem- ta gente là , <i»t lhe
pre ao Inferno } quanto he diíEcultofo dos mais altos póftos defte dtvemfor [m
& mvá
/^g'*'^*'*'.
mundo chegar ao Paraifo , ainda da terra, quanto mais ao do Ceo. Con-
fidere-fe bem efte confiado de Inferno, & Paraifoj efta recopilaçaó dos
quatro Noviílimos do homem , juntos todos ) pois fó meditando nefta
vida os três primeyros de Morte,Juizo,& Inferno, chegaremos ao quar-
to do Cclefte Paraifo. E aílim apontada taó grande meditação , vamos ,
continuando a Hiftoria.
'
'
C A P I T U L O ÍX.
Oriente , dez ou doze palmos , corre hum grande ribeyro de agua cla-
ra, &- fria i mas que correndo ferve, & fervendo corre feguem-fe algúas :
caldeyras , que tem de largo quinze , & vinte palmos cada huma , & de
comprido trinta: mais para o Oriente fc eftaó vendo quatro olheyros
pequenos , dos quaes faõ três de agua clara, 6c hum de agua cinzenta,&:
medonha; & em pouca diftancia outros de agua clara doce , & fria , ôc ,
por todo efte efpaço fahem outros muytos olhos de furiofo fumD,quen^
tura, & cheyro tam mào, que fe por cima pafl*aó algumas aves , cahem a-
bayxo, & morrem. Efta terra toda hc de pedra hume , como cal cinzen-
ta , o cheyro he de enxofre & logo abayxo da fuperfície de pedra hii-
,
ffip, hs tudo pedreyra dura^ & mais âcima na fralda jà da ferra^ eftaó ou-
'
,
trás
^^
IJi Liyro V. Da fatal Ilha de S. Miguel,
Ba inmiAçaÔ de fem haver bafo de vento , que entaó era de Levante ^ 6c fem preceder
huma montanha que outro final da terra, ou do Ceo, eys que de repente dà hú tremor na ter-
C9m tremor de terra ra taó efpaiítolo, & impetuofo que a hii grande monte & rerra,que pela
,
eorreofohre toda Fih parte (Jq Norte eftava acima da Villâj fobre ella o lançou com taó hor-
la Frunca^á aftpfíU
j.g„ j^g penedos, tanta terra, & tanto lodo , que em elpaço de hii Credo
em.
ficou fubmergida a Villa, & nem altos edifícios, nem fumptuofos Tem-
plos , nem donde tinhaó eftado , fe vio jà pela manhã , & pelos poucos
quefe tinhâo retirado, & efcapado. Ao primeyro terremoto que ifto
fez , ou desfez , fe ícguio logo outro pelo dito efpaço ainda que mais-
,
arrabalde com algumas cafas , a que o terreno diluvio não chegou , por
CapJX.Dàsmaríi^{U}iis,\âftasric^|êfrçi^ ij'^
bém huma Negra fobre a terra foy levada ao mar, & lançada em hum ba- ^ y^^^^
w
--
j|^
tél, que là andava defamarrado, &de dia, & de terra foy vifto coma^ffi^fn^fjaçaâ.
Negra dentro , & bufcado, & trazido para terra. Também efcapàraõ os
prezes da cadea, por fe lhes abrirem as portas com o primeyro tremor,
èc eftarem ac ordados & atè ao mefmo mar queria enterrar o diluvio da
:
terra ; mas ao longo delle lhe efcapàraõ duas cafas , humas de hu Ruí --
Frey Affonfo de
pafmados , & attonitos , tornarão em fi , a brados de
Santa Ca-
Toledo 5 hunstomàraó logo por Parochia fua a Ermida de
tharina,que no arrabalde -efcapàra $ outros logo começarão
a edificar
tirado ao SantiíTimo , & levado para o outro Sacrário mais vizinho, que
li^e eant» fetiA$ nchott
era o de Agua de Páo & efte juízo confirmaó
:
com o dito de hum Fer-
» Sifíttijfimo Sacra-
, & outras peíToas
do mtado arrabalde , que
tninto no S(tcrario-y& não Vanhegas Caftelhano
Matriz huma grande cla-
pfinices^xe niffoha. affirmàraÓ terem viftolevantarfe do lugar da
que logo também ajuizarão, fer aquella claridade
huma
pro-
ridade, 6c
ciffaÓ de Anjos, que levavaÓ o SantiíTimo
para algum outro Sacrário j &
viuva dejoaõ Pires, ou-
accrefcentaó, que huma Conftança Vicente ,
rira no mefmo tempo prociííaó tal ,
que lhe pareceo levarem o Senhor
ôcc.Eeftes ditos refere Frudiiofo,
a algum enfermo com campainha ,
Igreja era grande , & no-
íbm dizer mais fobre elles. Porém como a dita
va, por iíTo os mais vizinhos que
podèraó, fe recolherão a ellaj pode íec
Sacerdote ) vendo come-
que akum bom ChriftaÓ ( foífe, ou naó foíTe
ao Sacrário , Sc rompendo com a
çar a iSreja a voar, & a cahir , acodiííe
prcíTa o cofre , de que quebrou à lafca ,commungaffe o Sacramento em
osraaisrpois os Anjos nao era
tal cafo,& finalmente ahimorreíTe como
tirarem delle ao Santiflimo , nem
neceííario quebrar lafca do cofre para
ftiáis difficil lhes era levar o
Sacramento a mais diftante lugar , que ao
mais vizinho ,& menos á Igreja de
Agua de Pào, que também cahio
fao confideraçoes
com o mefmo terremotoyôc os ditos daqucllas peíToas
pias, fehe que eftavaõencaó acordadas,
& em vigia. _
fem fer neceíTario cavar, foy achada huma menina de três annos emci*
rna de hum monte de lodo , fentada fobre húas tâboas 3 & brincando coiH'
jjaihinhas.
72 Nove dias jà depois defta fatal fubvcrfaóà indo huma pro-
ciííaó por cima donde eftivera a fubvertida Villa , ouviraõ-fe hús gritos^
& clamores do fundo da terra, & cavando-fe alli logo a toda a preíía, de-^
faó j jà depois de grande cava, com o fobradode huma logea , &
abrin»
do-o fahiraó três homés , naturaes de Guimarães , Marcos loires , &c Nki
çoiao Pires , irmãos , &
hum que de antes erajà morador alli j vinhãojá
quafi myrrhados , fem figura de homês, & póílos de joelhos , & pafma--
dos 3 com as mãos levantadas ao Geo não ceíTaváo de dar graças a DeoS}^
& olhando para o Gapitáo Donatário , a quem por vezes chamavão, Se^
nhor^Senhor iWits diíTe o Gapitão;iV^^ me ihameúfenhorif Senhorfó Deos
úhe. Perguntados logo , como tanto ainda viverão debayxo da terra , 6c
que peníamentos tinhão , refpondèraó, que humas vezes cuydavaó que
o mundo fé acabara ; outras que aquillo fora defaftre , que fo fobre elles
viera ; & que em fim de pafmados não fabiâo que cuydaflem ; ôc que nos
nove dias comiaô fó de hum pouco de bifcouto , que acafo tinhão là , 6c
bebiáo de hum vinhoj que eftava tornado jà vinagre j 6c para matar a fe-
de fe valiao de algumas gottas de agua,que cahiaó da terra fuperior que
os fubterràra } mas que o feu mayor tormento fora hum homem , que ao
terceyro dia , de pafmado lhes morreo, 6c de féis dias morto o tinhaó en-
tre fi;
.
fi Ouvindo iftonotàraõ os pfefentesi 6c repararão que huni
deftes homens trazia hum faquinho ainda comfigo, 6c nellc trinta mil
reis ; 6c que todos três diziaó que nunca mais tornariaõ a tal terra, 6c af- ^.
fim logo fe embarcarão para Portugal } mas ào depois fc reparou , que ^ff^y^"^ ^'* <**»%<««>
*'*^'*''*^'"'''''* ''''*""
em o anno feguinte foraô eftes os primeyros que de Portugal voltarão
aquella meíma ilha, Sc ao melmo porto. A que nao obrigara a ambição! mentes.
E a quantos nem abre os olhos feu caftigo Huma Felippa Gonçalves
!
foy tirada de debayxo de húa cala , viva ainda , porém tão pafinada> &c
attonita, que fallando de antes, & bem, vivendo depois cincoenta an-
nos j nunca mais falloiij 6c tendo ainda perfeyto ojuizo, refpondiaa
propofito eftas palavras fomente , Sim, Nao , fem poder pronunciar ou-
tra palavra. .
ma
noy te, a negociar, finalmente fe achou que a gente que faltava ,paf-
.
'Maií de cinco
««^faya de cinco mil peflbas , mavores,
pellooi morrerão nejte f ^
&
menores j &;muy tas mais feriaó,
- ^- rr r i j iu j r
*^ muytas nao tiveílem íahido as
^
coiheytas ae mas qiuntas , o a nego*; &
àíímio
-
—
terreng
t
cios de outros lugares da Ilha j &:tambem fenaómenos os qu&perigati;
fem, fe o tremor, & diluvio aconteceffe de dia , ôc nào pouco depois d^
meya noyte.
M '' que também de riquezas íe perdeo , foy muyto , de que
'75 ' ; - C)
algumas fe achàraó ainda à borda do mar , & muytas na fatal cava ; mas,
por mais que fe elegeo depoíitario do dmheyro que fe achava , ainda
rauytos que de antes erão pobres , fahirão daqui ricosj outros com muy-íj
tas propriedades que herdarão j mas dos mais foy a perda muy geral, ÔC
muyto grande. Porém a mayor que faltou na Viila , foy huma imagem
da Virgem Senhora noíTa, de vulto, que parecia de cinco annos , & mdú»
,
fobre o diluvio de terra ao mar , & paíTado quaíi hum anno , appareceo
em huma praya de arèa branca , da Ilha de Tenarife , ( huma das Cana-|
rias ) da parte do Sul , &: achando-a hims pefcadores , que do Norte d»
^^^^ ^^ ^^ tinhão vindo alli pefcar,&: levando-a comfigo para o feu Nor-
ÍÉ'h^ 1 a da
'Mãy ^àe Deoffey ao ^e a Guaracliico ,
onde hiáo vender o peyxe , & dahi querendo ir a O-
mar, & miUgrofa- rotiva, Freguezia dos ditos pefcadores & nella coUocar afua achada ,
mente appareceo em Imagem , nunca ( por mais que remavaó} podèraó fahir com a Imagens
sHtra mtti áifimte ^Ja Freguezia de Guarachico & dando conta de tudo ao Parodio , & ao
;
&-*t povo , lhes entregarão a imagem , que com folemne prociíTaõ íoy pofta
no altar mòr da Freguezia, & Igreja de Santa Anna ; & fuccedendo de-^'
pois ir là gente da dita Villa Franca , por finaes certos, que tinhão , co-
nhecerão a Imagem , publicarão mais o cafo , & fe augmentou muyto a
devoção defta Senhora.
76 E porque a primeyracoufa que fe fez , logo em entrando 6
, . dia depois da tremenda noyte do terremoto , & diluvio foy a nova Er- ,
y
^rj
,
©^ ^rmti^ (^ voto
,
g^^^^^ ^^ ^ç^hxio , ( como j.à diífemos ) todos fize-
feytoaSenhoradoRo'
íario,& como di novo ^'âo
^'^voij ^j
então voto a Senhora, de em todas as quartas leyras de noyte,
fe reedífícofi c»0ír^ OU de
madrugada , irem àquella Senhora em prociíTaó, & acção de gra<-
jTiUaFrmca.qveíi- ças j p qiie prudentemente fe commutou em irem huma vez todos os
ceo muyio ^^rí'»^/- annos com prociíTaó folemne ,& MiíTa. O que tudo fabendoElRey de
ra^&foy maisfrivi- poj-tugal , concedeo logo tantos privilégios, favores , & exem pçôes aos
iegiada pelos Rep de
^^^^^^^^^ ^^^^ ^^^^.^^ ^^ ^:^^^ yi^^ Franca & a tornaíTem a reedificar ,
Portugal,
fem fe irem a outras terras , & ainda aos que de novo foíTem viver nel-
la, que dentro de poucos annos, & no hígar do arrabalde que cfcapoii,
outra Villa Franca, que a excedeo & excede nos edificios, commercio,
,
povo, riqueza, & nobreza, que concorreo para ella, com que efta fecun-
da Villa Franca vence muyto à primeyra &: logra privilégios, & foros ,
CAP.
ip*
Cap.X. Do mais aonde chegou o terremoto defta Ilha? 157
G A P I T U L O X.
J]^ ,
te quanto achava , atè de gados , & cafaes inteyros , & duas mulheres
levou ao mar j & matou trmta peflbas. Mais adiante onde chamaóo
Loural , fe levantou outra terra , ôc levou hum cafal com a gente delle*
M a Ribeyra Chã , entre Villa Franca , & Agua de Pào , cahio hum ca-
fal, 6c morrerão quatro peflbas. Na Villa de Agua de Pào cahio a Igre-
Ponta Delgada, (que ainda entaó era Villa) & o mefmo na d'Alagoa. j^^ txíeKffio Aa íjí
Pentro em Ribeyra Grande nada houve , mas por fora cahiraó algumas 4uuvio a outras par^
cafas. Em a Villa de Nordefte cahiraó , a Igreja Matriz de Sáó Jorge, & tes d* Jlha.
muytas cafas, ainda cafas de campo , & de Aldeãs, & da parte do Sul , 6c
do Nordefte, correo jnuyta terra, ôc com tal fúria, que pareciaô balas de
bombardas.
78 No termo
dos Fenaes da Maya , 6c no da mefma May a,
correrão as coroas de quatro montes , ou picos , com altura de húa lan- j^^ .^^ fucceàid nd
ça de terra , 8c com tal ímpeto , que não fó muytas terras atè o mar , mas ji^aya deperdat de
,
levàraó curraes inteyros de gados,Sc os moinhos da Maya,ôc algúas cafas campos ^timdtjimi&i
com quarenta peflbas , 6c as i^ochas que eftavaó juntas ao mar , quebrà"^*w*.
raó} 6c não fó os picos ficáraó tam fatalmente tofquiados , 6c ( como fc
diz } defcalvados , mas os campos por onde hia atofquiada , & furiofa
terra , ficàraó fem mato algum , tendo-o de antes , 6c fem madeyra da
muyta que de antes tinhão , 8c por muyto tempo infrudiferos , poflo
que o tornarão jà a ferj èc comtudo , por mais fundo que fe lavre a terra,
a madeyra que de antes eftavadebayxo, ainda não apparece. Na mefma
Maya ficou debayxo da terra , em hum vão , huma mãy com hum feu
filho Frade, 6c jà de Mifla 3 efte a confeflbu , 6c animou a fofrer com pa-
ciência o cafl:igo da maó de Deos, 6c dahi a cinco dias foraô achados am-
bos,^ tirados vivos 6c viverão ainda muy tos annos.
,
&
nhaó bufcar o ar , vento impeilentes quanto para os lados , ou ilhar-
)
gas, que lhe deyxaffem livre a furiofa íahida para onde affim
fahiaõ. So-
bre ifto fe pôde ver a Filofofia que imprimimos jà, nos Fifieos
naturaes,
na matéria de ventos, terremotos, &c. .
^
«s que com aScnhora ^^ ^'^ ^ ^"-^^ > ^ com a dita Imagem da Senhora em fuas mãos , & fó com
huma leve ferida na maçl do roíto j & os que eftaváo debayxo do fo-
brado , todos também eícapàraó fem ferida } & o Alfayate Rebello tan-
to medo, 8r pafmo concebeo, que fem comer nem beber , ficou fempre a
tremer por muytos dias , atè que aílim expirou. Oh que devota medi-
tação deite , & femelhantes cafos jà acima referidos podemos todos toí.'
mar, para nos valermos fempre do maternal patrocínio, com que a Mãy
de miíèricordia , a puriCima Senhora Mãy de Deos , ftmpre acode a
íeus devotos , &: fe põem nas mãos daqueíles , que fe entregaó nas fuas
mãos, & fedeytaó a feus fagrados pès.
i 81 &
Deyxo outros particulares, idênticos prodígios que ne-
'íta Ilha eníão^ acontecerão j &
muy to mais o dilatado Romance , que à
dita fatal Tragedia fe compoz logo então , &
em eítylo antigo , & íin*
gello , que começa Em
Villa Franca do Campo , Otie de nobre precedia,
:
C A P I T U L O Xí.
a ellefuccedevad.
nos faz, porque tendo jà acudido ,&.tanto quanto vimos , aos terremo-
tos
li' ''II
Cap.XI.DàPeíleq{uCCe<léoâfiiI)fèrí.JeViIIàrfâfíCâ^ íjf
jcs paffados j torna agora a aciidir à imniinente peílej pois junto à Vil^
jade Nprdçfte andando hum paftorinho guardando o Teu gado , vio di»
ante de fi huma mulher veftida de branco , &
entre duaç cortiflas levan*
tada em o arj & adorando-a o paftorinho, por lhe parecer a Virgem N"Y '^"^^ ^j
.
^'"^"^
penhora , ella o chamou , & lhe mandou , voltaíTc à Villa , & diíTeíTe aos
lo»!"rAap^e^^%
que encpntraflfejque emafeguintequartafeyra alli vicírem,& ^zh^rhõ feguio Sdilulio
alli juntas fete Cruzes j & que no caminho encontraria huma bicha com Ftlla Frama,^ ' '
i
H boca aberta para elle, mas que ícm temor pafiaflcjporqueaquella era / '
a pefte , que vinha à Villa de Ponta Delgada } & que aos de Nordeftç _
" ;;'
ítk '
?3 No dito anno pois de 1523. a quatro de Julho, tendo vin^ ComâeomiçoH apèf^
ào da Ilha da Madey ra , havia perto de hum anno , a cayxa fechada dei f* «m FSta Delgada^
hum joaó AjfFonío , o Secco de alcunha , & chegando clle ao depois nos ^ «'«''<'« »fli'* oyto
ditos quatro de Julho, & abrindo a fua cayxa , deo de repente tal pefte ^"'"''.^ ^'*^'"* »"*f^
junto da Igreja de Saõ Pedro em Ponta Delgada, que durou na dita
Lfke^J!dlr£be'Í
Villa oyto annos, atè o mez de Mayo de 1 5 3 1 & conhecida logo, muy- *
.
y/ c^^nde aonde
ta gente defemparou a Villa porque ainda que ceflava algumas vezes, morrerão máiá dtmii
;
logo tornava a atearíe tara mortal contagio & dentro de três annos , no pef^as,
:
deytarfe nella huma Negra , que deytar a morte fobrcíi; Sclogo cam-
bem morrerão dous filhos do dito Aftbnfo,& de vinte de Feverey ro atè
Março morrerão na dita Villa, & de pefte,cento & fetenta peífoasj & a&
outras defpejàraó a Villa, deftelháraõ as cafas , & a Villa fe tornou hum
Ervaçal, que fó com gados, que comeífem a her va,tornou a parecer que
tinha fido Villa, &c fe tornou a povoar , mas faltando-lhe jà mais de mil
peflbaslevadasda pefte, que em Ponta Delgada continuou ainda atè
155 1.& lhe levou paíTante de duas mil peííoas,fóra muy tos Mouros,
que de Africa , & do Algarve tinhão à Ilha trazido 05 naturaes delia ,&c
por a verem jà com menos gente , & elles Mouros ferem tantos , que ti-
phaó ordido treyção de le levantarem com a Ilha , & colhidos , foraõ^
quafi todos mortos para que aprendão os Chriftáos , nfia fe fervirem
:
p i) ligiO"
^
$^9 Livro V^ Daíatal HRa de S. Migdfeí,
f?.,:,VA.->r ^s'í\^' nas fe dizilo Guimar da Cruz , Catharina de SaÓ Joaó , Maria de San-
ta Clara, & Anna de Saó Miguel > & eftas féis foraó as primeyras Frey-
rasj na vida de rigorofa penitenciajôc eftreytiífima pobreza, da primey*
ra Regra de S. Clara, em que então ficarão.
;
.jSf PaíTados dousmezes vieraõ de Villa Franca duasprinci-
,
paes, & ricas donzellas filhas de Joaó d' Arruda da Cofta, Sc fem elle o
,
tKi
& expoftas a CoíTarios Francezes, fe repartirão dalli,& parte foraó fun^
dar o Mofteyro de Santo André em Villa Francaj ôc a outra parte muy*
to depois, noanno de 1540. em 23. de Abril, fe mudou para Ponta Del-
gada ,& lhes fundou Convento D. Felippa Coutinho debjyxo da in-
vocação da Efperança , & Regra de Santa Clara j &
por Confundádo-
ras vierão também da Ilha Terceyra , da Villà de Saó Sebaftiaõ , duas
irmãs, Maria da Madre de Deos, &
Ifabel dos Arcanjos. Tanto fruto ti-
rou a Mây de Deos dos caftigos dados com terremotos, &
pefte.
8ó
. Compendiemos como também pudermos, a incompendiaveí
narração de outros terremotos, & incêndios defla llh3,q o Doutor Fru-
duoío vaftiífimamem:efaz em o mefmo liv. 4. cap. 82. atè ocap. 90. Em
oannó pois de 1565. a 25. de Junho, em huma feftafeyra,á huma hora
Dí outros fataes ter.
remotos & incêndios
depois da meya noy te começou de repente a tremer a terra em a mefma
que começarão em fobredita Villa Franca, & atè pela manhã, em
,
Jíl
VtllA Franca em 9n mais de quarenta vezes, & continuarão os tremores todo o fábbado ,
• &
Ih de if63. Domingo atè vcfperas , & tam furiofa , & medonhamente , que tornan-
doía repetir os tremores às Ave Marias , huns defem pararão a Villa pa-
ra a Virgem Senhora da Piedade na Ponta da Garça , húa legoa da Vil-
Ja; outros fe foraó para o Ilhèo do mar , atè lançando-fe a nado outros
;
SanBa Mana 3 Ora po nobu , fe levantou a nu vera de fogo , & fe foy pa-
ra o Norte , deytando de fi tantos j & tam efpantofos relâmpagos, que a
gente ficou cahida em terra & logo veyo outra nuvem altiflima , que
j
com lançar de fi tanta cinza quente ,&: delia formadas tantas pedras , &
tam grandes, que algumas pareciaó grandes bolas & hum diluvio mais
,
do Inferno , que do Ceo j comtudo ainda que efcaldou & ferio a muy-
,
todos5& logo começou a chover terra como pimenta em feus grãos for-
mada } & todos affirmáraõ , huns verem entaõ a Virgem Sacratiflima Como a Virgem Sei
em o ar rogando pelos peccadores j outros verem a meia da Divina Ct2ínhora,& Chrjf. St-
como SantiíTimo Sacramento nella j & outros ao Efpirito Santo emB.-cramentado & ^fpt^
guradehuma refplandecente Pomba tantos advogados fempre diante ''""^^"^"^"^'''^'^"'^
:
hio, nem morreo peflba alguma. Affim mortifica Deos , & vivifica.
88 Nas mais partes da Ilha ainda duràraó mais os efpantofos
terremotos, fogos, dilúvios, &
caftigos , pois duràraó atè 5 Sc . 6. de Ju=
lho, donde foy tanta cinza ao mar, &
com ella tantos gados , & tantas
madeyras, que humas Caravelas que vinhaó de Alfama de Lisboa, &: de
yíanna do Minho , oy tenta legoas antes de chegar a eíla Ilha , lhe cho»
via cinza', &: com pás a lançavaó fora, & com tudo o fobredito fe viao
impedidos a navegar, &ufavaô de varas para paflfaremhum quarto de
legoa, cheyo tudo de pedra pomes em altura de oyto palmos. Na Villa Prodigio com qui a
de Nordefte , & feu termo cahirão muytas Igrejas , mas não a Ermida ^''^«'» ^^c^^i" <tos
^
da Senhora do Pranto, fobre a qual fe vio a merma Virgem Se n hora'' "'*'*''''^''^-
çom manto preto , & ao feu altar nada chegou , fobrepujando muyto a
inundação de terra ao redor delle , & muyto mais fobre o telhado , fem €omorehêtoííantayot\
que comtudo elle cahiíTe. E vindo fete homés em romaria a eíla Senho- *'^^^ chamadn r«/-'
ia do Pranto , ao voltar , & paífar de huma ribeyra , fendo meyo dia , fe '^^'^^"^õfófez tre^
lhes tornou noyte efcura , &
clamando à Senhora que lhes valeííe, de re- "LV ^^^''^"'''r^
pente a cada hum fobre o bordaÓ fe lhes poz huma tal luz, que paíTáraÓ
ZlTenTo^Zpml"
fem perigo. ga/,em £r,ga;
^
é- na
89 Na Villa de Ribeyra Grande foraó
ainda mais tremendos Rihjm Grmãe por,
os fucceííos porque como a ferra , ou monte de Vulcaó que he o ma- ^''" ^^'^':> ^ '^"
,
, «^J"
yorde coda a Ilha, inclina mais para Ribeyra Grande, do que para SfiV contmHaà<imsnt&
la Çranca, & deíle Vulcão he que queria fahir o fogo, ?jré
por iífoem a ^^'^\'Z7ol!7Íf'''^
^
^
i6i ;Livro V. Da fatal Ilha de S;MigueI,
ia de Ribeyra Grande que parecia andar aqueílà
fe fentiaó taes abalo» ,
Villa como barca fobre o mar, & mar mais de togo,qiie de agua.E qiiaíi
todas as cafas cahiráo , & as que ficàraó em pè , codas fe abrirão & em j
fim arrebentou o fogo arrancando o monte V ulcão, & com tal furia,que
pedras, ainda mayores que cafas intey ras , lançou duas legoas ao longe»
& fez tremer também a Ilha Terceyra, trinta legoaS diftante , & nãofo
t alli ehoveo cinza , mas ainda em Portugal & eípecialmente em Braga.
,
,
'' •
Seccárão-fe as fontes '& ribeyras de agua, & pela ribeyra do Salto cor-^
ria. ribeyra de fogo ao mar ;& no mais alto ar andâvão arvores inceyrasi
,para lhe renderem mais os moinhos , tinha por ler^tença que alcançou ^^ '^'^J^^ teri^olem
mandado quebrar as particulares atafonas todas, no melmo tempo a ^^^ ^'*'''* ^^«"^'^'«»
aguafeleccou,& os moinhos com ella* E quando quinze dias depois "^Tj" ^J""^" /*
° 1 „ *
>
rnanaarao aurorar
tornou a correr a agua , vmha chea de cmza » & pedra pomes 5& em o ^ pamcftlarJs atafa.
! T ,
que foy tanta a cinza, & leviíTima pedra pomes , que pela ribeyrada
Jfi'^//X''7,J!^'
Praya,dabandadoSul, correodetal forte pelo mar dentro que fez
, ^jT?»? Ljíiça Dtfs
nelle hum grande campo , &
areal , & vay agora caminho cõmmum de ambiciofisl
pè por onde de antes anda vaó os navios j a profundar v alies igualou !
com fuás rochasj encravou o Lugar de Porto fermofo ; ao da JMaya cu- '
brio de forte que jà nem parecia ter eftado alli ; mas a Villa Fraíica naõ
chegou, parando hú quarto de legoa antes da Villa. —
93 Pelo mefmo tempo quiz Deos coneíTe o vento do Poente,
onde ficaó as outras Ilhas vizinhas , fcnaó feriaõ alagadas} &
por iflb cin-
coenta legoas deita Ilha para o Nafcentc^ encontrarão navegantes hum
tam grande taboley ro de terra , &
com tanto fundo , que airtda confer*
vava levantadas muytas arvores em fi ; &: outros taboleyros viraó de
«nais de legoa de largo , & de mayof comprimento > & houve naviò^^uc
atèXisboa chegou , lançando às pàs a cinza fora j & em fim atè em Co^
imbra,&: em Braga choveocntaô cinza. Os Lugares dos montes qufe
voáraõ , ficàraô concavidades , & furnas profundiílimas porque atrai:
,
dos altos montes que por cima da Ilha cftavaó , voou o muyto mais que
enchia as ditas concavidades j & de curiofos que então as quizeraõ vef,
hum AíFonfo Pires foy tam temerário , que là mefmo expirou j outros '
correrão grandes perigos, & fe voltarão. A perda na Ilha foy tanta que
,
fó no termo de Ponta Delgada le perderão três mil moyos de novidade»
&: a terçaparte das terras frudiferas ficou perdida por algurts annos ôc
j
Vieyraj &
neto de Pedro Vieyra, ( irmão de D. Violante^ fegunda mu-
lher de Pcdreanes do Canto na Ilha Terceyra) &
bifneto de Duarte
Galvaó, cujo filho dito Pedro Vieyra , deyxando o pay em Lisboa ,fc
veyo cafado para cita Ilha ,& tomando depois para Lisboa em tempo
delRey D.AíTonfo V. foy por efte enviado Embayxador a Caftellaj por
ler principal fidalgo , &
homem de muyto faber k voltando de Caf-
;
telk tornou a efta Ilha , & levou para Lisboa a mulher que ncUa tinha
deyxado,mas ainda cà deyxou filhos j &
filhas, hum dos quacs era o
dito Fernaó Vieyra , que viveo na Villa d*Alagoa ^ homem principal,Sc:
abaftado , cafâdo com Heva Lopes , filha de Álvaro de Vulcão , ôedè
Mecia Affbnfo , da geração dos Machados da Ilha Terceyra, que tam-
(
'--'^
'--- '
^ bem
f
u^
.li
•Livro V. Da fatal ilha de Si Miguel,
l|i
:,'i
bem faõ fidalgos) cujo dtfo filho Manoel Vieyrafoy primeyra vez ca*
fado com Morda Ponte, filha de SebaftiaóAffoníb, nobre morador do
Lugar do Fayal,& de Confiança Rafael,fidalga do Tronco dos Colom-
breyrosjôc íegunda vez he agora caiado (diz Fruâiaolo liv. 4. cap. 90. ^
91.3 com Petronilha de Braga 5 filha de António de Braga , & de Fran-
cifca Fea, de Ribeyra Grande.Efte pois Manoel Vieyra,por fer homem
poderofo, bem entendido, & muyto amigo do Capitão Donatário Ma-
7"! noel da Camera, alcançou delRcy , & em 1566. tirou quantas aguas
pode ajuntar, & fazendo grandes levadas pelas terras, & por junto a el-
las, & com pouco mais trabalho , deo com toda a cinza levadiça,& com
toda a pedra pomes em o mar & com eíla arte , de que aqui foy elle o
,
''',1
'temedh com àjuefe primgyro inventor , alimpou de forte as terras que as reftituhio a to-
,
í-^/á^MrViõíWífrr^^QQ^g^^fçj,^
& fertilidade antiga j & imitando-o logo outros muytos,
fsr lAm.
confeguiraó o mefmoi & ficou a Ilha reftaurada da parte do Norte , 6c
íe ifto não fizera , fe defpo voaria.
C A P 1 T U L O XII.
^Êmmuytas folhas de papel , & delia tirou huma fumma , que fe ajuntou
ao livro do dito Fruáuofo, por iíTo fó a fubílancia deita fumma referi-
remos aqui.
.96 anno do Nafcimento de Chrifto Senhor noíTo de
Em o
huma fegunda feyra
-1 630. em o fegundo dia do mez de Septembro , em
-vinte & cinco da lua às nove para as dez da noyte, eftando o tempo
,
-fereno, & quieto de repente começou a terra a tremer taó forte,& con-
,
:tinuamente que o relógio da Matriz com fer fino bem grande , per íi
,
,
-va, èz fe não dava ainda por fegura temendo que atè a terra lhe faltaíTe,
,
m
€ap.XIÍ.Dos mais modem, ti^mof. Si incendida Ilha* i^f
quarta feyra, quatro de Septembro , começou hum tal diluvio de cinza ^"^^^^fi^^rfidi tèf2
(smtodaa Ilha, que nas mais partes chegava a dez j &
doze palmos ^g ^^' ^""^"^'"j <'»'«*
altura , & em outras a vinte & a trinta
, , fubterrando cafasatè os telha-
eíl& nlnljk àL^ani,
dos> & depois fe foube que chegou a cinza não fó á Ilha de Santa Maria, tigMfHrBa{,ei6'io'^
mais de doze legoas diitantej mas também à Ilha Terceyra ,diftante *»»»««, ^»í^í»á^ »^
trinta legoas, &
com tal pafmo de todos , que na Terceyra ficou aquelle "^'^ceyra chamaõ a
anno por antonomafia chamado, o Anno da cinza j &
aindé hoje ha gen^ ***** '^^ cíns.A^aldim>
^"'"^^ '^'^^'' ^^*
te na Terceyra que fe lembra deita cinza , com ter fucccdido ha oy tenta
'^^'^"f
&quatroannos. Eoquemais he , que atè na Ilha das Flores, & na do
£"^"J/„^^Cr^^^^
C^orvo, que diftaó de Saó Miguel mais de feflenta legoas , atè lá cht^outon^^matoulogo a cl.
a cinza, & láchoveo com aíTombro dos feus moradores. toé' hMapefofU..
98 Sahio em outros fataliíTimos eíFeytos efte tal tferrçmoto, &'
iacendioj porque naquellc valle ou alagba feeca , aonde aírebentou , a-
.,
panhou varia gente, que andava parte guardando gado, parte recolhen-
do baga de louro , ( de que naqtiella Ilha fazem azey te para as candeas
&
do ferviço ordinário, para ifto hebaftanté azeyte) &
defta gente fe
achou faltarem cento 6c noventa &: hum fugeytos j que do incêndio , ôC
terremoto ficàraóqueymados, Sc fubterradòs. Dedous Lugares intey*;
ros ( a faber, Ponta da Garça, húa legoa das Furnas^ & a Povoação, duas
iegoas diftante)as cafas,&: as Igrejas arrazou; &
abrindo- fe depois»
quando fe pode caminho para acudirfe a hum Sacrário cavando^ <^''"^'' fuitagròfamêéi
fazer, ,
íe achou hum pedaço do te£to da Igreja ainda em pè , & debayxo o Sa-^' ^^'^tmugèâoMe.
cranodo Santiffimoi & reparoufe, que huraa Imagem de vultodo
^^^"J"oas'^iã ^^Ts'
ninojESUS , que de antes eftava no retabolo j a achàraó fora dellc, ^ crameto*"doZlviÔ-
em pè fóbre o Sacrário , com tal fito , 6c apparencia que fe via eíiar de- & hSs èremita4 dàt
,
fendendo-oj & abrindo o Sacrário, &: cuftodia de dentro achàraó o Sa-/*^'»'»* , por hyx0,
,
fas ( que o íeu Convento tinha } fó quatro , õU cinco fícàraô por ferem
,
'J}aspemtemas,pro-^
parecia meya noyte } hiaõ diante meninos em grande numero, & todos
'"°^ ^^ iníignias da penitencia,& no meyo delles hum andor com o Me*
fira5os Paàres^a
CõpxnhiadefESVSf nino JESUS vcftido deludo, & cahindolhe cntaó de cima a cinza que
é" como pjtràraõ oi entaÔ chovia, ^eguia-fe logo a Confraria dos Officiaes dá terra i & logq
yrejiioreSf&jneêdios. a dos Eíluda^ites com a fua Imagem da Virgem Senhora , & tudo de lu*
â:0}& fe conçluhia a prociífaõ com hum palio preto, & o fanto , & faera*
tiflimo Lenhç da Cruz de Chrifto debayxo do palio , com os Padres
do Collegio Gominnumeraveis lumes J&: gente innumeravel, entoando
w
^.
Gutra vez à fua Igreja, &: acabou com pregação, cujo thema foy o^da Di-
vina Sapiência, & da Virgeni Sacratiflima , Cnm to tram tunUa compO'
nefíS; & fe affirma não ficar peífoa em toda a Ilha > queientaó fe não con-i
feíraífc.
loo Em o Domingo feguinte , oyto de Scptembro , fe abriraÕ
na Igreja do Collegio os Santuários das Reliquias, com a Rainha de
todos os Santos no meyo de todas, & a letra que dizia > Et inplemtudme
Sanõforum detentiomeau fobre que também foy a pregação defte dia. E
he muyto de notar , &: agradecer a Deos , & à Virgem fácfatillima , que
com ainda entaódurarem os terremotos todo o mez deSeptembro atè
à entrada de Outubro, com tudo defde efte Domingo por diante, fe
já defde a quinta feyra da prociflfaó , naó foraô jà fenão muy ténues , êc
brandos , nem fe levantou incêndio mais algum nem fe fabe pereceíTé
!,
mais alguma cafa j ou peíToa }& fó dahi a annos com algum tremor de
^ ,,
, terra arrebentou o Pico, chamado dejoaó Ramos, hum quarto dele-
'%" ^^'
« . p: 2oa da Cidade para o Norte , & fez huma pequena boca em cima , por ^
annos houve emo Ft.t» t'
j r j j / v
íò chamado dt ?oaô onde lempre eira lançando togo moderado, como le vecm outras muy-
Ramos. tas partes defta Ilha j 6c dizem que efta he a natural fegurança que já
tem, porque parecendo fer toda efta Ilha em feu centro hum contínua-
^
[
'
&
do Ethna de fogo, tantas chaminés tem jà , tam naturaes , que jà naó
lieceílita de abrir bocas , nem de abalar a terra , para as abrir , pois tem
CAP.
m
Oap.XIII.Dos Capitães Donat.de S.Manâ/àS.Mig. léy
C AP I T U L O XIIL
Dosprimeyros ires Capitães Donatários da Ilha de
Saõ Migue ly
propuzemos, & a tranfverfal defcendencia das irmãs que tevej pois naó .1
teve própria defcendencia, por , além de fer de varias cerras fenhor , fer O primeyro, é-h^-
demais Commendador da Ordem de Chrifto, cujos Commendadores
^ ^''^'^^i^J»^^
amda entáo naó cafavaó , & fó de novo teve a fingular excellencia de fer
juntamente Donatário de duas Ilhas inteyras quando de húa fó , o Por-
ZZrT/ VurllZ
, fo.^6 àh M^gnã^
to Santo , o foy o fidalgo Pereftrello , como diífemos no \iv.
3 f^j». i
. . &
nem o Capitão Joaô Gonçalves Zargo o foy de toda a Madeyra , mas
de fó ametade delia, como da outra metade o Grande Triftaó Teyxey-
raj porém o famofo Fr. Gonçalo , de ambas
as duas Ilhas de Santa Ma-
na, & Saó Miguel , foy inteyra, & juntamentefeu primeyro Capitão,
ôc
Donatário.
102 O fegundo Capitão da Ilha de SaÓ Miguel foy JoaÒ Soa-
res de Albergaria , fobrinho do primeyro Capitão & filho
, de húa irmã
delle D. Tareja Velha Cabral , que era cafadacom outro Soares
de Al-
bergaria , tam grande , & antigo fidalgo , que com renunciar nefte fe- ,
W.
i6S Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguel.
^^^^^^ t^^^ ^^ Betencor , que tinha fido fegundo Rey das Canárias, 6c
SM^gHel.&primei-
como diííemos /.u r.p.
itTcl^^^rL fuccedido nellas ao primeyro Rey feu tio jà 2.
( ,
mas deita Senhora Franceza não teve filho algum Rui Gon-
t^íeínZd^s
Ca. 3. &4.>
vida de em ambos, & ella ficou
Lrtas , nao deyxoH çalves, &
por iffo com ella fez partilhas
também de
dejcendícia/egitma, ^^^ ^ento cincoenta mil reis de foro cada anno ,
& & trinta
mas fá dlsgitima & fo^o em Ribevra Grande & outras fazendas de tal renda, que tudo jun-
, ,
íyÍ'r^X|agora.re'feí;andSporèmfW^
''''
fby olegUndo fiUionatural
f:^;^!:;: 'Tol ^'Xão Rodriguez da Camera
Capitão Icrvio a blKey em
Munoelde Mello, j^ ^^^ da Madeyra veyo com efte terceyro ;
der em o morgado da
hu^^^ occafiâo indo elle commuytosi» cavallo cortejando aLli<.eyU.
Ilha, £íx^'
Cap.XIII.Do3.Donat.defóS.Migv&: i.dosCameras^ i6p
Sc fugirão, &
cahiraó alguns Cavalleyrosj mas AntaÓ Rodriguez de tal
forte governou o íeu cavallo , que enveftindo ao Elefante , fezquefeu !t..
mas dado linia por preço algum não j & nem vindo ElRey em tal,
&
nem querendo vendello Antaó Rodrig4iez , voltou efte com o cavallo
para a Ilha donde o tinha levado , enfmado já por elle , &
de forte , que
'li'
cm ouvindo o tal cavallo algum repique de finos , ninguém o podia tec
em eftrebaria, atè montado fahir delia.
1 41! >
•\
170 Livro V. DaTItãllltóde S.MigneL
mera, ( & tido , dizem, de hiinu mulher nobre , da geração dos Alber-
O terceyro filho ille-
názes ) cafou com D. Margarida de Betencor , íilha de Gaípar de Be-
gttimo do Captiai {-gncor , de que nafcèraó os tilhos feguinces: primeyro, Joaó
Rodrigues
R^í Gon^alve^ da
Camera , que cafou com D. Heiena, filha do Contador Martim Vaz
^_^
D. Joanna que faleceo folteyra. An-
rolTJh '^MarTa. àc Bulhão, da qual nafeeo huma ,
ficoH Bernardim da nyo]i dos Mouros > arremetendo coma lança cnreftada ao Mouro, que
Comera ^ne cafou ^ i^y^^^^^ ^ pegando aoirmaó por hum braço o poz nas ancas do cavai-
,
& entrando ambos livres pela noíTa praça o refgatado ao diíTe entaó
rf' n t. ^^"'"^f io> ,
defpachou
JRodrtgtiez. de Sor^fa; mais de cem mil reis na Beyra , ao pè da Serra
da Lítrella , em liítrmtaj
do mefmo Pedro Ro- gonde eftando jà perto da morte , cafou com D. Cathanna, de que teve
drtgi^.e^ da Camera
^^^^ ^, j^^^ ^^^^^ Qonçalves da Camera que morreo fokeyro , com
. vin-
nafceo Henrujue de Camera , valente foU
^^ ^^^^^ ^^ krvxcos na Índia Item Bernardim da ;
filhos.
'-" '
^ '
, ^ r j C
I IO Do mefmo Pedro Rodriguez da Camera o fegundo h^
lho, & neto âti^ CápitaÔ Ruí Gonçalves
da Camera , foy o fobredito
Manoel da Camera, que deyxando fó hum filho
natural , riiorreo íol^
I>afT,erm9FedroRo. teyjfo na índia. fcrceyro, Simão da Camera grande Aítrologo,mor-
O
drlgtíet da Camera,
^^^ foiteyro em Lisboa. O quarto, Henrique
de Betencor & Sa , morou
y,4ceo D. Franciica
g,^ ^^ibevra Grande andoumuyto tempo
em a Corte, & caiou com
;
^^,^,,q j^ profeííss ;
.
a feptima , cliamada D.
r-
&
doH Convrnto das r^u.:rt.
o
J^.Xnías, nobrc , & rico, da Cidade de Ponta Delgada.
Treyras ds fBSVS
Pedro Rodnguez da Camera o quinto filho foy
III dÍ dito
faleceo folteyro o
^iS^;^^ António de SàTqueikc;; fokeyní.como também
íalT^i^ej.MÍ fexto filho Luis Gonçalves da Camera. O fcptimo
foy Dona Francfoa,
fidalgo porem dos Soufas
tri^\ & governoH a quecafou com D. Antonfode Soufá viuvo , ,
jlha fete annos pelo dp Rçyno, & muytos annos Vereador da Cidade de Lisboa , ^ 1
cdro
moyos de renda jun-
^^^'^rigucz dá Camera lhe deo cm dote cincoenta
Capita-ofe^fohwho.
Cap.XÍII.J0tas^eícettá.ckílétei*jdjGápit/deS;Migue 171
de Soiifa a D. Martinho de Sôufa , & a i>/ Jorge de Soufa , que duas ve-
^eáíbraó por Gapitáes de.ná0sâlndiai&;dafegunda mulher D.Fran-
cifçá teve ainda a Dom Pedro de Soufa ,iCommendâdor da Ordem de
Chfiftoi& muy to. privado delRey D. João llI.ôrátX. Joaóde Soufa,
& ambos eftes itraãos falecerão folteyros jinas o terceyro irmão Dom
Dinis de Soufa cafow no Reyrio, 6c teve filhos , &filhas> a dita fâzen- &
da<iànÊftallha.Ecóm ter tantos filhos,o dito Pedro Rodriguez da Ca-
mera , ainda foy tam pio, & efmoler , que fundou o Convento das Frcy-
rasdçJESUS de Ribeyra Grande com dezoyto mqyos de renda cada
anno, Sc trinta mil reis de juro perpetuo j & deo muyta renda ao Hof-
pital j & accrefccntéu a Matriz -da ditaVilla , & lhe déo hum rico Pon-
tifical , & outro à Igreja da Maya j & foy Locotenente do Capitão Do-
"naçarib Rui Gonçalves feufobrinho, em cuja aufeheia governou fetc
annos com muyta paz , juftiça exemplo j vôc fempre bom nome 5 & fua
,'
ínulher D. Maria de Betencor faleceo vinte annos depois delle , & com
grandefama dê muyta virtude. - .
-
113 O
dito terceyro Capitão -Ruí Goi^çalvcs da Camera te-
ve mais huma filha ) também natural , quccafoucom hum fidalgo Fran- ^* j««'íf' H«*í^'<!
cifeo da Cunha, dos Cunhas do Reynoreíle appellido ganhou hum
j^j^JJ^^^/*/"^*'
antigo Alferes,que andando com a bandcyra em íiuma batalha,& vendo
queoinimigohiavécendo,metteoabandeyraem a fenda de húa grande
pedra,acunhando-a com outraSjSc inveftindo aos iiiimigos,com tal valor
pelejou, que recuperou a vitoria jàquafi perdida, &
vitoriofo fe yol-
touj êc entaô vendo o feu Capitão ao feu Alferes comfigo , fem ban- &
deyra , & perguntando por ella refpondeo , Bem acmhada a àeyxey j o
que fabendo o Rey , entre outras mercês que fez ao tal Alferes, lhe con--
cedeodc mais, que elle, & feus defcendentes fe appellidaflem Cunhas,
Do dito pois Francifco da Cunha , & da dita fua mulher nafceo D. Gui-
mar da Cunha , que cafou com Joaó Soares , terceyro Capitão Donata^
rio da Ilha de Santa Maria, & fegundo do nome j 6c aílim fícàraô liados
os Capitães Donatários deftas duas Ilhas.
'
113
da Camera , homem alto , Sc groífo de corpo , dífcreto porém , & muy
Jòlicico em fazer povoar , & cultivar a terra > ao que peííoalmentc fahia t
vifitando-a,ouacavallo,ou emhúamuíai ficallim elle repartio ama-
yor parte das terras deita com o pado , ou titulo de fefmaria , a faber,
de que em cinco , ou féis annos , quem fe entregava da terra , a alimpaf-
fe, & fizeíle fru£tifera, & tiveíTe nella algum género de câfa, ou caf úa, Sc
curral; 8c naõ o fazendo aíTim, poderia o Capitão tiratlhe a terra , dai- &
la aoutro; & ifto fignifica a palavra fefmaria ; outros dizem que a pala- j^ ,
vrahe, feemariaiáinvada. da Italiana , feemOiOU feemato , que quer di- ^ ^" '^^>"' , -
^''^*'f^
m3^
xjt ^ MáYi&f^.fí^feM^
; . Migue!. .ii^i..qÊl>
era quie fez fiafteftameretQ & por feu hcrdeyro & ccftatncnteyrô no-
, ,
meou ao feu filhotmais vclkp Joaó Rodriguez da Camera & a nwis fa- ;
zenda que pode fepaFOia para fua úwra j para pagar a quem de veífe,
,. &
Foy fepukâdo na meíma fcpultura em que fua mulher D. Maria de Be-
teacQf,;&; ao dito feu filho râandou que faoiiveíTe licença delRey para
fe enterrar tambeos na mefmaCapella mòr da Matriz de Villa Franca.
Fguco antes que tnGrreíTeiCbrreo fama qoe^irihaóCaftelhanos fobre a
ILhaj&fazendoríè logo alardo geral de toda a Ilha , para fe faher as ar-
mas que nella ha¥Ía j naôfeachàraõ mais que cento & fetenta lanças de
çofta, & triata & féis Gebanotcs^ com iftq que tiveráo ainda por muy-
íoy fe deraô por Ê0nteatcs paua (t defenderem j tal era então o feu bra-
fo,8cQÍeirvalor;-:' " ; :
i:-ijiíj/í':^vp/ ::-rnr': .
y ^ír\ji-'.
'^i^íàvP.í .4i::,,l?KrS^
^^^
»^
CL
^Í}q qmriQ Capitão Jmo Rodriguez , ou j^oaõ Gon-
^ gaites' cia Camer a.
1 1^ A-^
tJarto Capitão Donatarioda Ilha de Saô Miguel foy 9
iJ
primeyro filWque ficou do fobredico terceyro Capitaói
jB^^^«4rífl G^iW porque ainda efte terceyro naõ' teve filho algum legitimo í legitimou
fo]i
Ugitimado por
comtudo por ElRey q primeyro filho dos nacuracs que teve , & confe^'
Nafceo JoaÔ Ro-
^IrZ^r^ÍTnt g"io licença para Ihefucccder na Capitania , &: cafâ.
ras na dita Ilha-., (^fomente dará das terras maninhas áquelles qm terras
nao tiverem, afim aos moradores da dita Ilha, como áquelles que de novo vie*
rem a ella viver. E qualquer coufa que elle , em
acerca do que dito he, fizer
contrario mando que naofeja
, valiofa. Feyta em Santarém a 2^. de Dezem*
bro.Joao Cordovdofez em i^^-j.
118. Depois deo efte Capitão muytas terras de fefmaria a aU
guns homens principaes , que em feu tempo vieraõ para efta Ilha mas ;
quarto filho Garcia de Mello , & com as três filhas acima ditas porém j
quafi duzentos & trinta annos , & nem de taes peíToas , nem de toda a
*
mais gente da caravela, nem defta em parte alguma houve atè hoje no-»
íicia, & parece que o mar fó a pôde dar.
morrco tam cedo & tal morte tiveraó lua mulher feu filho , & as três
, ,
filhas, que parece^ que quam venturofo foy feu pay (como jà vimos)
,
ly CAP,
F*
1/4 LiVi-oV. Da fatal Ilkâ de S.Miguel.
- . :
— '
~T«,.
C A P í T U LO XV.
Do quinto CapltàÕ Ruí Gonçalves da €amera ,
/egun'
•
do do nome,
dodeCoHtinhot.
huma parte, o feu valerofo Alferes , naõ obftante a bandeyra que aper-
tou bem comfigo, fe metteo também no mais árduo da batalha ^ & pe-
lejou de tal forte, & a feu exemplo os mais , que por fua parte fe decla^.
rou a vitoria j mas ao valeroío Alferes tiíihaó apertado tanto os contrá-
rios por lhe tomar a bandeyra, & o Alferes tanto mais pela confervar,
que com lhe levarem à efpada ambas as mãos , nunca lhe podèraô levar
a bandeyra, atè que os feus jà vitoriofos lhe acudirão , & o Alferes fe re-
colheo íem as mãos , mas com a bandeyra & perguntado entaó com
j
fidalgos , que por caufa ( diz "Fruauofo liv. 4. cap. 68. ) de defappare-
cerem humas efcrituras por caufa de m,ulheres , ou por íi recolherem
,
re, & dahi foraõ por ordem delRey foccorrer ArziUa cercada de Mou-
ros, & eraó quarenta de cavallo, & cincoenta béfteyros Ôc algús de pè, ,
CS que como Capitão foraó defta Ilha, & là andàraóem Africa o anno
intcyrode 1510.& fizeraófamofascavalgadas,& là foraõ^rmados Ca-
vallcyroSi& parece que fe equivocou Damiaó de Gocs na Chronica del-
Rey D. Manoel 3. fart. eap. 3. onde ifto põem nos annos de 1 509. 5 ro.
& 511. 6c tudo attribue ao primeyro Ruí Gonçalves da Camera , como
J. tam-
Cap.XV. Dos ruccelTosdtíle quinto Capitão. i^f
I:
11.:!
^
também diz a Relação dos Capitães da Madeyraj fendo que o primey-
fo Rui Gonçalves da Camcra èc ainda leu kiho Joap Rodriguez da
,
;Camera ,já ambos eraó então mortos j &a equivocação de Góes, & da-
queila Relação da Madeyra,efte vêem ambos eftes,terceyro,êc quin-
.to Capitão de Saõ Miguel, fe chamarem do mefmo nome Ruí Gonçal-
-Ves da Camera, & por iíTo fe attribuirem as acções de hú ao outro > & af- t-^
. 125 Depois de tantos defgoítos, de leu emprâZamento> priva- ^gj Exemplo fatal
-Çaóde fua cafa, & fataes gaílos de Africa, & Lisboa, liie fobreveyo o in- ^a verdadeyra , &,
fauftiíTimo da fubverfaõ de Yilla Franca , &
defeftrada morte de feus antiga jafli^a.
filhos, &irm,ã, porque tendo de fua mulher três filhos legitimos , Si-
mão Gonçalves da Camera , Ivianoel da Camera j & Joaó de Soufa ,
j^^ ^^^^ ^
,ag &
ygfli^
duas legitimas filhas D. Hieronyma, & D. Guimar, & hum filho natural ,^,-^o Capitaõ Ihefo'^
Miguel da Silveyra j fó Manoel da Camera lhe ficou vivo , tendo-lhe hevejo a fuhvsrjaZ
falecido de antes o priraeyro , & acabando-lhe os mais cm Villa Fran- de FtlU Franca a ,
que entrara
três
"^v pou a morte {tibtta,
-^
J^-^^
deantes
a governar 3 fuccedeo íj^eem huma quarta feyra 20. de Outnbroàefe tinha hm prepara.
1535. indodepoisdejantaradefcanfar hum pouco em feuIeytOj&vin- í/o para ella. fatal
do fua mulher jà a competentes horas defpertallojfem ter dado íinal ai- exemplo da fupi*
gu de fi O achou morto. Divinal
1 24 Porém tinha tanto de antes lidado com a morte , & pre-
parado- fe para ella, qu€ tinha onze annos antes feytojà feu teftamento
em 29. de Janey ro de 1 5 24. tinha nomeado a mulher por fua Teftamen-
& por herdeyro feu a feu único filho Manoel da Camera ; tinha
íeyra ,
deyxado muy tas efmolas 3 & obras pias , & que de fua terça fe refgataf-
fem cada anno dous cativos de terra de Mouros os mais defempara-
,
dos, além de muytas MiíTas que mandou fe difleííem por fua alma & já ;
a morte, ainda que a teve fubita naó a teve improvifa j que he a de qu©
,
virtudes, mMytopa- Convento das Freyras da Efperança em Ponta Delgada, em terra que
,cificadora ixm-
,
&
para elle deraó Fernando de Qtiental , & fua mulher , & nefte Conven^
to recolheo as Freyras que fe vieráo da Viila d'Alâgoa & junto ao mef-
.fey tora grande doCo-
.
;
•vento da Ejperatiça
cafas , em que viuva íe recolheo , & que por
da Cidade f& morreo mo Convento fez humas
jkmupo velha y & fua morte deyxou ao mefroo Convento 5 por feu Teílaraenteyrodey-.
piupofanta. xou ao fexto Capitão feu filho, & trasladou os oííosdo marido para a
Capella mòr do tal Moftey ro, & nella , & em o habito de Santa C Iara fe
mandou enterrar, & aíTim fe executou em i 5 5 1 em que faleceo , fendo
.
Jà de
idade de oy tenta annoSi
CAPITULO XVL
Dofexto Capitão Manoel da Camera ,
primeyro
do nome^
gindo fiopaj /f foy a me fendo jà de féis annos o vio hum grande letrado , que paliava por
:
Africa^ ^
chama Ao alli de índias de Caftella , & perguntando
que menino era aquelle , ac-
íer muy ri-
crefcentou , que ainda que tinha irmãos mais velhos ^ havia
a Portugal recebto a
VUla t defèndeo-a quatro mezts , atè qiiê fem lhe vir foccorro algumí
jffiorcos os mais dos lóldados , entupida a cava , batidos os muros, &: ar^
razados , &
queymado o baluarte da pólvora, com alguns duzentos bo-
rnes entrarão a praça os Mouros i &
á tomàFaõ j & eativàraó a Manoel
da Camera > & três dias depois chegou entaó o foccorfo prometrido.
&
Anno, meyo efteve prezo cm hiíma mafmorrâ 3 & ícmpre com braga
aQ pè, atè que por feu refgatc deo vinte mil cruzados , &c ElRey dous
Mõurõs que cà tinha , além de outras pey tas , erttaõ o Xarifc o dey- &
Xou vir, &: Ihedeohuma tam rica alcatifa que ficou em efta cafa pòr j,
do pêfcado da Ilha, & de feflcnta moyos de renda para fcmpre, nas ter-
ras dos próprios que ElRcy tinha na Relva , termo da Cidadej ttetn lhe
eoncedeo b dar todos os oíficios da Cidade a quem quizeíFe , atè o de
Efçrivaó da Camera, & Orfaõs , fcm outra confirmação , & fem Chari- •WH
cellaria , tirando os oíficios de fua Real fazenda & fobre tudo lhe fez :
da Camera a efta Ilha, 5í tornando, morto o pay, a tomar pofle , breve- ^'«f '/í^fM* Jf^
T
, f Tl •
j T-ír» V
mente voltou para Lisboa. rorera vendo ElRey que os Luthcranos an-^^^^^ ^ ^^- Mimet-^
Ti
ptt AO Manoel da Cd*
dâvaó nitijrto irifolentes , ordtenaii que fe fizcífem Fortalezas em slí to?mi4 po0 d* capi*-
Ilhas, & que os Capitães delias reítdiíTem^ cada hum cm fua Capitania) tama , &(« voltou a
U afllm no fim de Dezembro de 1 5 52. tornou Manoel dá Camera para Lisbon, miu ElRey o
â Mha de Saõ Miguel; & com ellc reyo o Doutor Manoel Alvarez Ca- amãdar, .'''^*'
'Jf^f
brât j que na mefina Ilha tinha fido Corregedor , que trouxe muy tas ar-
CA^uJ*Don\
mas, §c ordem para fa2Íerhum lançamento de trinta & três mil ^^'['^^l^- tAriorefiàijfe ent^lHÀ
^^
dos ( avaliando primeyro todas as fazendas, & a Alfandega dclKey) CapttanSa.^m Dett.
para fc pagar a artelharia que ElRey mandava, &fe começar húa Vor^f^rode ^fiL.E volta-
taleza ; para atracar veyo hum Ifidofo dê Almeyda, Mathematico que "^ " ^efntet Capitão
cntaô compunha de Fortificações , & hlim irmão feu- Ignaçio de Gou- ?^'«>*^^^^<''*,*'«5'7 [,-
vea, & por primeyro Sargento mòr yêy o htim Joaó Fernandez
àt^^^^iréZZTclií^
130
^ ,
.....f.rf.
Correndo então o Capífaô állha toda, fez por ordem r»/ Gonçalvez. da
^ tanU,&afiHfil&§>
delRey Companhias ,& Ofiiciaesdellas ,os mais nòbrés em cada Vil- Camera,jà cafado.
laj em Ponta Delgada fez quatro Capitães, Jorge Nunes Botelho, Gã(^ Ohfeajjim [e fi^
par do Rego , Mendo de Vafconcellos , & A Iv aro Velho , &: lhes deô ^í' ^^A»"»* «^^*
Alferes, & Sargentos. Em Ribeyra Grande fez três Capitães Ruí Ga- ''*^'^' ,
nou para eftallha por ordem delR.eyí cora feu fiího D. Ruí Gonçalves
da Camerajà caiado 5 & foy a pr imeyra vez que cá veyo & ambos aqui
}
I31 Teve efte fcxto Capitão cinco filhas,^ hum filho de fua
legitima mulher j defte filho chamado Ruí Gonçalves da Camera , teih
cey ro do nome , como ff-iccedeo na Capitania aõpay , & foy p primey-
ro Conde , delle íe tratará , quandofe tratar do feptimo Capitão Dona-
tário de Saó Miguel. A primeyra filha :foy D. Felippa de Mendoça.que
cafou com D. Fernando de Caílro^fílho de Dom Diogo de Caftro, Al-
cayde mòr de Évora , Capitão, & fenhor de Alegrete , & Conde de Ba.
fto. A fegunda filha D. Hieronyma de Mendoça quizeraó
feu§ pays ca-
virttfde.^itanta teve
para pagar aquelles cinco ordenados , &- prover nelles gente virtuofaj
« mãjatè morrer.
& affim viveo,8c morreo fidalga cOm commua opinião defanra.
132 A tcrceyra filha foy D. Margarida , Freyra na Míidrc de
Deos em Xabregas j a quarta D. Joanna de Mendoça Freyra em Santa
'
\v.
,
para ella lhe inclinou a boca, & tirou a falia, não lhe tirou o juízo ,
com
que
W
W^
Cap.XVíI. Das gentes tiobil. qprim. povoarão a Ilha. 175^
que viveo ainda cinco dias , recebeo todos os Sacramentos , & faleceo
como piiffimo Chriftaó:deyxou em hum breve teftamento ao filho Ruí
Gonçalves da Camera por leu herdeyro ,& Teftamentey ro > de íua ter-
fua alma mandou
ça deyxou trezentos mil reis para três oíííicios por :
meçou a fazer no Mofteyro de S. Francifco da Cidade em Lisboa i era veo cinco áioá , ^
em fim muyto humilde muyto aífavel para
, todos , & para ninguém a- morres muytopiame.
r^
- '
-.
— cortes.,
G..â P I T U L O XVII.
134 T
Nfuperâvel matéria aqui tomou o Doutor Fruâiuofo, &
1 depois delle o Padre António Ley te da Companhia de
JES US ,^ que no feu Collegio de Saó Miguel efteve muytos annos)
em quererem explicar Genealogias antigas, que tanto mais le implicáo,
quanto fe explicâo mais , como fe vè em os mais dos Nobiliários anti-
gos, 8c ainda na fonte delles todos, no alto Conde D. Fedro, Infante de
Portugal , filho delRey D. Dinis , U honra de toda Hefpanha , a quem
áddio fuás Gloíías o illuftre Marquez de Monte Bello , 6c fideliíTmio
fempre Portuguez , D. Feliz Machado pelo que refoluto quafi eftive
:
a paífar totalmente tal matéria; mas como vejo a Sagrada Efcritura cheâ
de Genealogias, nãofó em o Teftamento velho, mas também no No-
vo , nos fagrados Euangeliftas j 6c como o mefmo Deos nos manda pof
hum Santo Ifaías , que attendamos à pedra , de que fomos cortados , &:
àcovadequefahimos,Í/^i. 'Ji.wííw. i. Qiie confideremos bemnoíTos
mayores , como verte o doutiíllmo Padre Mariana; 6c Saó Paulo fó pro-
hiba tratar de Genealogias , de que fó nafcçm contendas, 6c que faó vãs,
& inúteis, como a Timotheo efcreve , Epifi. t. cap.^i. num. 3. 6c como
emfim todo o extremo , em matérias moraes , he ordinariamente vicio-
fo, por líTo me refolvi a nem tratar tanto delias 5 que fique mundanaj 6c ..
W^
Livro V. Da fatal líha de S. Miguel,
yâ, ou fantaftica hiftoria , nem tam pouco as tocar , que falte à fidelida-
de dos Religiofos , 6c Gãtholicos Doutores a que figo , & ao fruto que
dsvetn tirar os defcendentes , dos exemplos de feus antepaflados, imi-
tando os bons, Ôcdos mãos fugindo fcmpre. Recopilemos o muyto, 6c
õ melhor que fe diz difto, reduzindo a titulos de algumas Genealogias^
o que delias pôde fer de mayor utilidade, Sc imitação eommua.
TITULO L
" DosVelhos^Cahraes,M£lks,&TravaJJõSjS&aresdè
Albergariay& Sou/as.
1
3
5 TA deftas famílias tratamos no Uv. 4,.eap.2.é' ^-^ no liv. f
I mais das cafas
cap. 1 6c as
. nobres deftas duas Ilhas de Santa
Çafa dos Soares de Maria, &• Saó Miguel feacharàó ligadas com as ditas primeyras fami-
Alberg»rÍA\ & dt S, lias 6c o mefmo confta dos Soares de Albergaria , 6c Soufas porque o
:
-,
Senhorinha.
priraeyro chamado Soares traz o noflb Conde D.Pedro foi. 1 33. de que
nafceo D. Soeyro , pay de D. Ufo Soares Belfazer , de que nafceo Ufo
Ufes Soares , Governador da Beyra, Conde de Vizeu , Vieyra, 6c terra
deBaftojdoqual nafceo Santa Senhorinha, que morreo em 9 7 2. Monja
de Saó Bento j 6c logo eftes mefmos Soares fc chamarão de Soufa , dos
quaes o primeyro foy D. Egas Gomes de Soufa bifneto do Conde D. ,
Mem Garcia de Soufa , de que nafcèrão duas filhas húa foy D. Conf- ,
tançâ Mendes de Soula yda qual veyo efta linha de Soufas atè Henrique
de Soufa, priraeyro Conde de Miranda, de que nafceo Diogo Lopes
Ciifa âos Soufu & de Soufa, fegundo Conde, & defte o primeyro
,
Marquez de Arronches,
[fim diverfAS Unhas. 6c feu irmaó o Cardeal D. Luís de Soufa , Arcebifpo de Lisboa , ôc Ca-
%
III I
V
Tit.I.DosVelhos,Cabt'acs,Mel.&: Trávaf.Soar.&Souí. i8t
Pedro Nunes Velho , que era filho de Nuno Soares Velho , ( aíTim fc
ligáraó fempre entre ii eítas famílias } de Mem Soares de Mello
:
naf-
eco AfFonlo Mendes de Mello, que caiou com Dona Ignes Vafques da
Gunha, & deites nafceo Martim Affonfo de Mello calado com U. Ma-
rinha Vafques , filha de Eftevaò Soares o Velho, fenhor de Albergariai
(Ôcda^uiveyo oappellido de Soares de Albergaria) do cal Martim
^íFonfo de Mello nafceo outro do mefmo nome , fenhor da Villa de
Mello ,de que houve mais defcendentes do primeyro Martim AíFon-
:
cou huma filha , a quem o Duque herdou , por lhe morrer pupilla fe- :
gunda vez cafou com hua Princefa da Cafa de Lorena', de que lhe ficou
outra filha que cafou com o Marquez de Fontes terceyra vez cafou
,
:
Làncaftro, filho delRey D. Joaó II. & primeyro Duque de Aveyro, de Aíarc^ ftez.es de Gott'^
que nafceo o fegundo Duque D. Joaó de Làncaftro , 6c defte o terceyro vea, &CendtídeS«
Duque D. Álvaro , de que nafceo o quarto Duque de Aveyro , 6c defte CrHX,,
Ó oquin-
Ç^
itt Livra V. Da fatal Ilha de S. Miguel.
O quinto Duque D. Raymundo , que foy para Caftella , & morreo fem
delcendencia 5 & lhe fuccedeo no Ducado, por fexco Duque de Avey-
ra, D. Pedro de Lancallro, irmaó legitimo do quarto Duque , & Inqui-
íidor Geral, Arcebifpo de Lisboa, cuja legitima irmá caiou com o Con-
de de Portalegre, de que nafceo D. Joaõ da Silva , Marquez deGou-
vea, & D. Frey Álvaro , Bifpo Conde de Coimbra , & Dona Juliana de
Lancaftro CondeíTa de S. Cruz.
139 Nalceo mais do fobredito Martim AíFonfo de Mello,
favo daquelle Conde de Olivença D. Rodrigo de Mello ) & de fua fe-
Dos Copeiros mores, gunda mulher D. Briolanja de Soufa, nafceo, digo, Joaó de Mello, Co-
f^ Monteyres mores peyro mòr delRey D. AíFonfo V.& Alcayde mòr de Serpa,de que nafceo
da Cafa Real, & dos pnmeyroo Porteyro mòr Alcayde mòr de Serpa^fegundo, o Monteyro
Aíendoças de Aíoh- mòr Jorge de Meiio,que cafou com D.Margarida
de Mendoçajíilha de
raõ,& Cafiros aonde Diogo de Mendoça,
Alcayde mòr de Mouraó,& irm:ió da fegunda mu-
cafotí oDncjue deGa-
lher do Duque de Bragança D, Jayme j & em terceyro lugar nafceo D.
dia dí <i»e defcende
,
grandes Príncipes, CO' Leonor de Mello , que caiou com Nuno Barreto , Alcayde mòr de Fa-
mo de ha S. Francifco ro i & deíles nafceo D. Ifabel, que cafou com D. Álvaro de Caftroo do
de Borja, da Compa- Torraó ; dos quaes nafceo D. Leonor de Caftro , que fendo Dama da
nhia de 1ESVS. Emperatriz D, Ifabel, & do Emperador Carlos V. cafou com o Duque
deGandia, que vuvo delia profeflbu a Religião da Companhia de
JESUS, & nella morreo fantiífimamente , & foy terceyro Geral delia,
(8c he Santo canonizado S. Franeifco de Borja, de que defcendem muy-
tos Princípes.
140 ií^«^ nafceo do dito Joaõ de Mello, Copeyro mòr del-
Rey D. AíFonfo V. nafceo Garcia de Mello , Alcayde mòr de Serpa ôc ;
deíle nafceo D.Jorge de Mello , que depois fe fez Ecclefiaftico, & foy
Abbade de Alcobaça , & Bifpo da Guarda , de quem foy íilho D. Antó-
nio de Mello, que cafou com D.Joanna da Silva fua prima ; & deites
nafceo D. Jorge de Mello, que cafou com D. Maria da Cunha , filha
de Chriftovaó de Mello, Porteyro mòr delRey Dom Joaó IIL de que
nafceo D. António de Mello, do Confelho delRey por Pojrtugalem
Madrid,que calou com D.Francifca Henriques;8c deíles nafceo D.Jor-
ge de Mello , que com o Marquez de Ferreyra acclamou em Évora a
ElRey D.Joaò IV. levando a Bandeyra,Sc foy Mordomo da Rainha D.
Luizaj & cafou com D. Margarida de Távora, filha de Pedro Guedesi
Eftribcyro mòr. Governador da Cafa do Porto, & fenhor de Murfa; &
eíle teve os filhos feguintes D. Jofeph de Mello , que depois de mili-
:
Da eafa àts Guedes, tar cm Alem-Tejo, & indo bem defpachado para a índia , na viagem fe
Eftribeyros mores , metteoReligiofo da Companhia de JESUS,aonde depois morreo com
fenhores de Mttrfa, opinião de Santo item D.Joaó de Mello, que depois de Bifpo d'Elvas,
;
TI T U LO II.
DosCameras,& Betencores,
remos extendida naó fo por toda a Ilha de Saó Miguel, mas também
pela de Santa Maria, & mais llhasj que fe os Reys foberanos fe
não def-
prezaó de le íervir em feus Reynos de feus próprios parentes , &
como
taes os trataõ & nomeaó , menos devem defprezarfe os
Capitães de
a ,
feferviremde íeus parentes ,& como a taes os tratarem j quando atè ''?
com vaíTallas fuás cafavaó os Reys antigamente , & entaó melhor con-
fervavaó em fua naçaó feus Reynos , & os livravaò deferem
conquifta-
índia fuccedeo no morgado ,& cafou com huma filha do nobre Fraii-
cífco Carneyro em Saó Miguel, de que ficàraó filhos j nafceo mais Dom
Manoel de Noronha , morto fem filhos em Africa , & D. Rodrigo úq
Mello, que também fem filhos , & em Africa morreo na batalha delRey
D. Sebaftiaói & D. Maria Manoel , Dama da mãy do mefmo Rey D:.Se-
baftiaójcomaqualfoy paraCaftella. .^-
Do mefmo Antaó Rodriguez da Camera nafceo D. Ma-
143
ria da Camera, que cafou com Joaó Nunes Velho ,
filho de Duarte Nu-
fou com D. Anna de Betencor , filha de Brás Barbofa & deíles nafceo
,
ceo Manoel da Camera, que calou com Margarida Cabral, & foraó
pays de outro Manoel da Camera, ( que caiou com Ifabel Cobes} & de
Maria Leyte, que caiou com ManoelPereyrada Silveyra, nobre Cida-
dão de Ponta Delgada , irmão do Padre Joaó Pereyra da Companhia
de JESUS, &: filhos ambos de outro Cidadão António Pereyra d'£l-
vas, & de fua legitima mulher Apollonia da Silveyra.
144 O mefmo terceyro Capitaõ Ruí Gonçalves da Camera
Dí Pedro Rodrigtíez. teve por terceyro filho a Pedro Rodriguez da Camera, que cafou cora
da Camerít^ terceyro D. Maria de Betencor & Sà, de que (fora cinco que morrerão íoltey'
filho do primejiro Ruí ros} nafceo Henrique de Betencor & Sá, que cafou com D. Simoa,fí^
Conçíilves áa Cams- lha de Balthezar Vaz de Soufa , & de D, Leonor Manoel em Ribcyra
ra & qus ainda fe Grande dos quaes
,
, nafceo Manoel daCamera que caiou com D. ívia-
,
eenfcrva em nobre
ria filha de Ruí Gago , & tiveraó filhos j nafceo mais Ruí Gonçalves
vcronia & de [na
',
,
msdher Dona Maria da Camera, que cafou com D. Luiza, filha de Hieronymo Jorge, & de
de Betencor & Sá, D. Brites deViveyros, deque naíceo Simaõ da Camera, que cafou
nafceo HiinrtíjHe de com D. Cscilia Ramalha , filha de Francifco Ramalho & de Leonor ,
Betencor & Sá , ^ Neta , de que nafceo Valentim daCamera, que cafou comD.Jcanna
for aíjHí continuarão de Sà, filha de Simaô
Lopes,& de D.Maria de Sà , dos quaes nafceo húa
unidos os Cameras
única filha D.JVÍaria, que cafou porém duas vezes primeyra, com Ma-
tom os BeteMorcSi ;
Quental, & de Meliciana Qtiental, & de ambos eiies maridos teve a di-
IS^rndMim'' ãk Cã- ta D. Maria filhos j item nafceo do dito Simsó da Camera, fegundo fi-
mera{filho dorhefwo lho JManoel da Camera , Sargento mòr, que caiou com D. Maria Cou-
Pedra RodrigKez.f&
tinha,filhade Joaó de Frias, & de D. Brites Pereyra, filha de D.Joaò
nsto do^rimeyroKuí
Peréyrâ , neto do Conde da Feyra nafceo mais do fobredito Simaó da
:
Gonçalves da Came-
tabafou no Nordefle Cahiera outro terceyro filho do mefmo nome , & quarto filho Rcdr:^.
,
de S.MigKel, & fuá go da Camera , & ambos eftes deyxàraó filhos em Ribeyra Grande;
filha D. Maria da 145 Do mefmo Pedro Rodriguez daCamera, terceyrofilho
CamerA cafeit com do terceyro Capitão Conatario Ruí Gonçalves da Camera,nafceo mais
António Borges da
Joaó Rodriguez da Camera , que.morou na Achada Grande , & era Co-
Cofia^&defies nafcee
outra D. Maria da
mendador de Eftrinta na Serra da Eítrella, & cafou duas vezes; primey-
Camera^íjue cafoa cõ ra com D. Helena filha do Contador Mattim Vaz de Bulhão fegun-
, ;
Gãfpar de Medeyros da vez cafou com D.Catharina na dita Serra da Eftrella, & dcílé fegun,
(írSonfa (^ foraõpays do matrimonio ainda que houve filhos , não ficou dellesdefcendenciá*
,
^7^^^/^\v^"7J-
Camera , que eafou com Gafpar de Medeyros de Soufa , dos quaes naf- ^^^^^ ^^ *Prado dos
ceo Gafpar de Medeyros da Camera , que cafou com D, Maria^ filha de ^naei o dito tjta em
Miguel Lopes 3 & de D, Ifabel do Canto 5 & emfim do dito Pedro Ro- SMignel^ & a def.
driguez da Camera nafceo também D. Francifca, que cafou em Lisboa cendída em Lisboa^
jcom D. António de Soufa , irmaó do Conde do Prado , de que nafceo ^.., ,
Dom Dinis de Soufa , com filhos là no Reyno j & a fazenda cà em Saó Dopmeyro RmGt^i
'
Miguel. -
ptofí «a/íw tambl
146 Nafceo mais do mcfmo terceyro Capitão Ruí Gonçalves D Brites àa comera
àe Irandjco
>da Camera, D. Brites da Camera , qu« cafou com Francifco da Cunha »»«^^«^
& Albuquerque , que tinha chegado da índia , & muy to rico , & deíles "^l^^f/ f^^ ^^^^^]
nafceo D. Guimar da Cunha, que cafou como terceyro Capitão Dona- IJ^Zc^j^çJfJar da
tario de Santa Maria Joaõ Soares de Soufa , como jà fe vio no Uv. ^.cap. cunha que cafott cà
•8. do terceyro Capitão Donatário da dita Ilha, & da muy ta defcenden- Br a» s»nres de Sonfa
ciaque delle houve, & ainda ha. Eeílahe a copiofa defcendencia quQ terceyro Donatário de
da illuftre familia dos Cameras ficou em eftas Ilhas , porque nellas naó ^'*"^'* Mana^dei^ue
% que dos feguintes Capitães Cameras ficaífe alguma outra ^^^^^^-
dencia nas ditas duas Ilhas , falvo filhas Freyras que em Saó Miguel 'v
^''l^'^'^rcg42'cia
J
entrarão , & morrerão muytas , & todas com naó menores refplandores
4e virtudesj que de íeu illuílre fangue. O fegmâo Rey dd
147 Da illuftre familia dos Betencores defcubrimos o feu tron- Canárias ^caõdeBíf.,
CO Bo Uv. 2. cap. 2. onde vimos , que hum grande Almirante de França ^l""J^ p^^JM p^iraa
c ^/^ 1 f n. Til- j /-. • Madeyra com kH le^
íoy o primeyro Cathouco que conquiftou três Ilhas das Canárias , '^n-çúimo filho &hu>»4
no de 1417. & foy legitimo Rey das taes Canárias, & fe chamava MoU piha 2jà tinha tra- ,
fen, ou Ruben , de Barcamonte , & por fua morte lhe fucccdeo na Co- z^ido de França: com
toa feu fobrinho MoíTcn Joaó de Betencourt , ou Betencor que con- ^fi^^^ t). Maria de
,
^'tencor cafou Ioga
quiftou a quarta Ilha das Canárias , & por não poder conquiftar a prin-
cipal , chamada a Gram Canária , vendeo as quatro que tinha ao noíTo ^^^
"^^ rce ^ fíih
SereniíTimo Infante Dom Henrique por certas fazendas & rendas que Ji^ cJpitaõ do Fun»
,
lhe deo na Ilha da Madeyra , Q que já depois das Canárias fe tinha def- chal/oaõ Gonçalves
cuberto } & para ella já fem o Reynado fe mudou o dito Betencourt, Zargo ^&dellesnaã
fegundo Rey das Canárias , (de cuja defcendencia agora tratamos.) "Pi. ficou defiendècia aí-
Iha legitima defte fegundo Rey das Canárias era D. Maria de Beten-.?^'**!^^''™'' ^"*
cor, que com elle tinha ido de França para ellas , & vindo delias para a
'*J^°
, A
'^*""^*
Madeyra , cafou com Ruí Gonçalves da Camera, filho legitimo do pri- ,,;j/,^ traz.idodeFrÃ^
jnéy ro Capitão do Funchal, & que foy o terceyro Capitão de Saó Mi- ça^nafceo naMadey^
guel ; mas porque defte matrimonio naó houve defcendencia alguma, raGnjpar de Bete».'
& a varonia dos Betencores fe continuou^ & dura ainda , de hum legiti- "o^^^ ^«ematiacha-
mo irmaó da dita D. Maria, & eftas duas illuftres famílias de Cameras, ^^^^^^''^''»"
^y^^
& Betencores começarão logo taõ liadas, por iílb as ajuntamos aqui. ^h cõ D^Guimar^d
148 Do tal pois fegundo Rey das Canárias Moften Joaó de ^k, Damado Paço >
Betencor, nafcèraó Miei Maciot de Betencor, êr a dita D. Maria de Be- fida de Henrique dl
tencor,raulherdoterceyro Capitão da Ilha de Saó Mi^uú ^^ o^mbos Sà, o do Porto, &trd^
nafcidos ainda em França de mulher com quem latinha cafado ò dito " dosMarejvez.es de
fegundo Rey das Canárias, como também de França tinha vindo jà ca- ^''*'^'' ^ *'^'' "^""^ '
de p,Vt»lante Cõde'
fado o tal irmaó da dita D. Maria. De Miei Maciot deBetencort naf-
çaka Cajianhejr0^
Q. "j ceo
:t6 Livro V. Da fatal ilha de S. MígueL
1)0 tal Henrií^Ht de
Betehcor,& de Dona
^^^ ^^ Madevra Gafpar de Betencor , que cafou com D. Guimar de Sâ,
de Sà , do Porto,
f""7 ""^unídr Dama do Real Paço de Portugal , filha de Henrique
que em S yj^/^«f/ dequedefcendemosiUuftres
Marquezes^de Fontes, &: prima coirmã
U &
efte Gafpar de Betencor
cafm som í?«m«r de D. Violante Condeça da Caftanheyra 5
Cofiçalvesfi/k^ de Cõ foy o fobrinho ,que a tia D. Maria chamou para Saó Miguel,&: fez mor-
^do Faz., chamado o ^^^ j^^^g ^ ^-^^ j-g^ fUj^Qs de feu marido Ruí Gonçalves da Came-
^«^r.»K & dehãa &^^ ^^^-^^^ DonaCario de S .Miguel
^^^^
filha de learo Lor-
jy ^
pois Henrique de Betencor nafceo o primeyro fi-
ffojen filho Framif. trataremos em feu lugar abayxOi&do cal Joaó de Betencor ôcSànaf-
cod^ Betencor &Sá,fenhor dasSaboarias
^Z'» ceo prímevro filho Francifco de Betencor "
KtiiDMs de Aguiar, nafceo Gafpar de Betencurt , moço fidalgo da Gafa Rêàl , que càfoU
D
&de D.Framzfia
^^^ ^ Margarida de Mirandaj & deftes nafcèraô primeyro D. Manoel
affim morreo . fegtmdo , D. B^tho^n.eU
í^f ;;f tX : de Sà , que f? fez Clérigo , &
morreo fem filhos, terceyro, Doni i- rancifco de Be-
cafa fuccedeo o ter- de Sà, que cafou, &
ceyro filho Gajp^r de tencurt & Sà, que foy Religiofo profeífoda
Companhia de J tS U S , &
Betencor &Sa,a ^«5 morreo pregando em S. Roque de Lisboa com grande exemplo de viri
fmcedeojeu filho Fra ^^^^^ ^ ^^ ^^^ f^^^ jj. ^ QgQg ^ defprezar a grande cafa de feus pays,
^
&
cifio de Betencor &
^^^^ ^.^^^^ ^^ ^^ç^ ^^^^^ conforme ao de feus pays, & avos, & ujti-
cor&Sa cMJa trma la, com D. Al varo de Luna filho de D. Pedro de Gufmao , como tam-
,
,
cafoH em FunchaUi ^^^-^ g^^ 5^0 Miguel com OS Barbofas Silvas,& com os Gagos da Came-
IH
Tit.ííLDosGagós,Rapofos, Potes,Bicudos,CoiTeas. í8^
côr, que cafou com D. Gatharina da Cameráj fiUia de Ruí Gago da Ca-*
mera , Sc de D. Anna de Betencor.
T I T U L d 'llí.
de Beja j & irmão de Efl;e vaó Rodriguez Gago , pay de Luís Gago, que
com o primo Ruí Vaz Gago veyo para efta Ilha & deftes dous primos j
Ribeyra Grande , & tam rico jà, que a cada huma das muy tas filhas que ^^"^ j^jl^el deále
teve , deo em dote vince moyos de trigo de renda cada anno que hoje ^gjcède mupa fidM. ,
rendem & valem dobrado delle nalceo Paulo Gago que cafou corp^^jj de Portugal &
, : , ;
acima tratámos & defte Paulo Gago nafceo Ruí Gago da Camera, Ca-
}
pitão mòr de Ribeyra Grande de que nafceo outro Ruí Gago da Ca-
,
\
mera , & defte fegundo outro terceyro Ruí Gago da Camera de que
, ,
Algarve, a quem peia mãy .ficou hum morgado de cento & trinta &
oyco moyos de trigo de renda cada anno em a Ilha & deíle D. Diogo ;
ã
riafceo D. Maria de Noronha , que cafou com o Conde da Caftanheyraj
de que nafceo o Conde D. Joaó de Ataíde. Terceyra filha de Ruí Vaz
Ga-
%n Livro V. Da fatal Ilha de S.Migiiell
Gago, & de Catharina Gomes Rapofa foy Brites Rodriguer Rapolãj
que cafou com Jacome Dias Corrêa , Cidadão do Porto j dos quaes nal-
ceojurdaô jacome Rapofo, que pnmeyra vez cafou com Francifca
Rodriguez Cordeyra , filha de Joaô Rodriguez Cordeyro , Feytor da
Rapofor, fazenda Real & fegunda vez com
Vos Pontes, -,
Margarida da Ponte,filha de Pedro
Stcifdft^ da Ponte o V elho i de Vilia Franca , & do primey ro matrimonio nafeeo
Sebaftiaô Jacome Corrêa j que cafou com Ignes da Ponte , filha de Pe-
dro da Ponte Rapofo , que cafou com Mana Carney ra , filha de Antó-
nio Bicudo Carneyroj fidalgo de Villa de Conde, de que nafeeo Ma-
noel Rapofo Bicudo , que cafou primeyra vez com
D. Anna de Vaf-
concellos Leyte , & fegunda vez com Anna de Medeyros , filha de An-
dré Dias , filho de Gafpãr Dias & defte Marioel Rapofo nafeeo Pedro
-,
em Lisboa com Júlio Cefar, & D. Terefa , cafada com Hey tor Mendes,
&ambas também fem filhos.
154 Nafeeo mais de Jacome Dias Corrêa j& de Beatriz Ro-
cafou com Manoel Vaz
drigaes Rapofa, Catharina Gomes Rapofa,que
MecoSf Ripfos. p^^heco , fidalgo de Villa Franca , filho de Thomè Vaz Pacheco , &
Portugal cafado: da dita pois
neto de Pedro Vaz Pacheco , que veyo de
Catharina Gomes Rapofa, & de Manoel Vaz
Pacheco nafeeo Francif-
Catharina Manoel de Ataíde , filha
co Pacheco Rapofo que cafou com
,
•mtm
Tit. III. Córltinuaõ-fe ós ditos appellidos. i8p
Yilla da Praya da Ilha Tercey ra; fegundo, Gafpar Dias , calado na mef-
ma Villa da i^rayaj terceyro, iíalthezar Dias cafado em Caftellai quar-
,
to, Belchior da Coita Ledefma que cafou com Anna Aífonfo na Yilla
,
Joaó de Óuteyro , que tinha fido criado , & fey tor de feu defunto maí-
rido delia j & deite feu fegundo marido teve ainda huma filha , por nd*
me D. Maria Rapofa , com a qual , pela excefiiva riqueza de feu payjSc
mãy , fe defpoíou para cafar Diogo Nunes , filho de Joaõ Rodriguez da
Gamera , quarto Capitão Donatadode Saõ Miguel , & irmão do quiris
to Ruí Gonçalves da Camera & porque o tal defpofado foy fervira
;
TITIJ-
Liviro V. Ba fatal Ilha de S Miguel/ .
TITULO IV.
1^7
U
tP^^s antigos j&Botelhos era Pedro Botelho^
illuftres
Commendadormòr da Ordem de Chrifto , que na ba-
.talha de Algibarrota deo ofeu cavallo ao Condeftavel Dom Nuno Al-
-Varez Pereyra , vendo-o fem cavallo. Defte Pedro Botelho nafceo Gon-
çalo Vaz botelho , que veyo com os primeyros povoadores da Ilha de
banta Maria , & Pedro Alvarez Botelho , que ficou em Lisboa , Prove-
Dos antigos , à-ff^f^^^ ^^ Fazenda em tempo delRey D.Joaó 11. &
defeu confelho,& pay
*""
três
"'""^^'"'^^''.de Lopo Botelho, que cafou com Brites de Mello, filha de Eíkvaó
dos.
iSoares de Mello , fenhor de Mello , de que nafceo Manoel Botelho,
Gommendador da Ordem de Chrifto que cafou com D. Joanna de Sà,
,
filho do primeyro Pedro Botelho foy Diogo Botelho , cujo filho Fran-
'cifco Botelho foy Embayxador a Saboya & o filho defte foy também
;
Diogo Botelho , & Governador do Brafil , que foy pay de Nuno Alva-
rez Botelho, celebre em guerras na Índia, per que foy Conde o filho
D. Francifcb Botelho.
158 Do primeyro Gonçalo Vaz Botelho nafceo jà na Ilha de
.
Santa Maria Nuno Gonçalves Botelho , que na mefraa Ilha caiou no-
bremente , & delle nafceo Jorge Nunes. Botelho , que cafou com Mar-
garida Xravaííbs, fedeftes nafceo outro Nuno Gonçalves Botelho, que
cafou com Ifabel de Macedo , fidalga dos Capitães da Ilha do Fayal,
de que nafceo Ferná"© de Macedo , fidalgo filhado , que cafou em V illa
Franca de S. Miguel com D. Barbara d' Arruda , & tiveraô por filho a
Francifco em Villa Franca. Nafceo mais do
d' Arruda , fidalgo filhado
(dito Gonçalo Vaz Botelho , outro domefmo nome chamado de alcu- ,
nha o Andrinho, que cafou com huma filha de Pedro Cordeyro,de que
nafceo a filha que cafou com N. de Macedo fidalgo, irmão do fegundo
,
& deftes nafceo António Borges , que cafou com D^ Maria dá Gamera,
cujo filho Duarte Borges da Gamera , cafado com Dona Maria de Frias,,
-•y nao
v^
Tit.IV.DosBotelhos,Leytes,Amaraes,&VarconceL rçi
naó teve defcendentes , mas feutio, irmão legitimo de feu pay ,foy ò
Fadre Gonçalo de Arèz, da Companhia de J Kb U S, lanto, & labio,bom
Pregador, muyto humilde , ik exemplar,que foy Key tor de Angra , Ôc
Rey tor por vezes de Ponta Delgada íua pátria. IN alceo mais do íobre- J
dito Joaó d' Arruda da Coíla Beatriz da (Jofta , que cafou com Manoel
do Porto , Cidadão vindo do Porto , de que naícco outro Joaó d' Arru-
da da Coita, & deite outro Manoel do Porto , que foy pay de Maria
d'Arruda, cafada com Manoel de Medey ros, filho de Gaípar Dias.
i6o De Nuno Gonçalves Botelho, filho do pnmeyro Gon-
çalo Vaz Botelho , nafceo mais Diogo Nunes Botelho, Contador da
Fazenda Real , & Cavallcyro da Ordem de Chrifto,que cafou com
Ifabel Tavares , filha de Rui Tavares o Velho j & deites nafceo Jorge
Nunes Botelho, que cafou com Hieronyma Lopes Moniz, filha de Ál-
varo Lopes , ôc de Maria Moniz j & deite Botelho nafceo D. Cathari-
na Botelha , mulher de Jacome Leyte de Vafconcellos , fidalgo filhado
N
de que abayxo fallaremos. Do outro Jorge unes Botelho , filho do fo-
bredito Nuno Gonçalves , nalceo huma filha , que cafou com Fernão
Corrêa de Sou fa, fidalgo que veyo daMadeyra^ôc outra filha D. Ro-
queza , que cafou com Francifco do Rego de Sà , chamado o Graó Ca-
pitão , de que naó ficàraõ defcendcntesj porém do cunhado Nuno Gon-
çalves Botelho ,fegundo do nome , nafceo mais Pedro Botelho, que ca-
lou com Leonor Vaz na Villa da Praya da Ilha Terceyra j item nafceo j,^^ Botelhas daPra-
F^ieronymo Botelho, que cafou na Ilha de Santa Maria com Guimar ja da Ilha Tercevra.
Faleyra ; èc deites nafceo André Gonçalves de S. Payo , que cafou com
Maria Pacheca , filha de Antaõ Pacheco j & deites nafcèrão António de
S. Payo, que cafou em Ribeyra Grandej & Dona Maria , que cafou com
Francifco de Betencor & Sà na Cidade , & D. Ifabel Botelha , que ca-
fou com Pedro da Ponte Bicudo , morgado em Ribeyra Grande j & do
dito André Gonçalves de Saó Payo, foy também inteyro, & legitimo
irmão Gonçalo Vaz Botelho,& outros que tiverão muytadefcendencia
na Ilha, Brafil, índia, &c. ,
161 Da antiga família dos Lcy tes concordaó os mais dos Hif-
toriadores , que vem de Francezes , que por ferem muyto alvos fe cha-
&
marão Ley tes ,& que vieraó a Portugal, ajudarão a tomar Lisboa aos
Mouros. O certo he que nem todos os Francezes íe chamaó Leytes , St
que comtudo fefuppoem virem de França , & que de França tem os
Leytes as Lizes nas fuás Armas , com varias dívifas conforme as varias
familias, có que fe aparentarão. Dizem pois que o primey ro que fe acha
deita farailia , foy Álvaro Anes Leyte , & que era fenhor de Calvos , &
Baíto em Entre Douro & Minho ; & na verdade Ejntrc Douro & Mi-
nho, no termo do Porto , fe conferva ainda cita familia com nobreza , & d^^EnZnZ^P^
fidalguia muyto conhecida ; porque do dito Álvaro Anes Leyte nafcè-
Mtnll^rtTaays
raó três filhos', dos quaes o tercey ro foy Álvaro Lcytc, fidalgo jà , & fe- g^ S^lbrmtlss, *
nhor do morgado de Quebrantóes em Gaya , a pequena , junto ao Por-
to , & cm tempo delRey D. AíFonfo V. & deite morgado de Qiiebran-
tóes nafcèraó dous filhos , primey ro , Diogo Leyte, fenhor do dito
Qiiebrantóes , & Gaya , & cafado com Dona Violante Pereyra , filha de
Diogo Brandão , Contador, da Fazenda Real do Portoj & deite nafceo
Alva-
Ipl Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguel.
Álvaro Leyte, que cafou com D. Martha, filha de Sebaftiaõ Pereyra de
Braga, dos quaes naíceo Diogo Leyte Fereyra , & Sebaftiaõ Leyte Pe-
reyra , que calou com D. Luiza da Cunha , òc tiveraó vários filhos j &
do dito Diogo Leyte Pereyra nafceo outro Álvaro Leyte , que ( con-
forme a hum) caiou com D. Antónia , filha de Manoel Mendes de Vaf-
concellos i Ôí ( conforme a outros ) filha de Gafpar Peífoa , Defembar-
gador do Porco.
162 O
fegundo filho que iiaíceodo fobredito Álvaro Leyte,
foy Joaó Leyte , que teve por filho a António Leyte , cafado com huma
filha do famoíb Pedralves da Cunha , Africano j & deftes nalceo Ma-
thias Leyte Pereyra , Commendador da Ordem de Chrifto, que íoy^-
veyo da Índia, & cafou com D. Hieronyma Valladares Sotomayor , de
que viuvo já , & de outra mulher , & nobre , houve ao Padre António
Leytcj da Companhia de JESUS , legitimado de antes quando fe cha-
mava António de Bulhão, o qual foy grande Religiofo , fervorofo Pre-
gador, Prefeyto dos Eftudos do CoUegio de S. Miguel , & muyto eru-
dito em Genealogias. Nafceo mais do dito António Leyte húa filha,que
cafou com hum fidalgo da Cafa delRey , da familia dos Teyxeyras , de
que nafceo D. Francílca de Vafconcellos , que o fobredito tio Mathias
Leyte Pereyra levou comfigo àlndiaj & fuccedendo noannode 1551.
fazerfe Chnftaó o Rey Mouro das Ilhas Maldivas, ( que cftaó tre-
zentas legoasdeCochim) cafou o dito Rey, jà CathoUco, com a dita
D. Francifca, & delia teve dous filhos , D. Felippe Rey das Maldivas,
que tratado como Rey, morreo em Goa fem defcendencia ; & a Infante
Dona Ignes, que cafou com o fidalgo Portuguez Sebaftiaõ Tavares de
Das Reys das Mal- Soula, filho de outro Sebaftiaõ Tavares , & de D. Mecia de Menezes,
éiivas na/ndia^udes^ filha de D. Pedro da Silva & defta Infante, & de feu marido nafceo D.
:
drtratades comoReys j^^^-^ ^ç, g^^^^ ^^ Silva, que viveo em Goa, 6c veyo a Lisboa em 1 641 .&
ainda em FamgaL
£i|^çy po^j Jq^ó IV. o tratou como a Rey, com docel , chapeo , 6c Al-
Carney-
que «afou no Porto com Catharina Garneyra, filha de Vafco
ro.
^ Tit. IV. Dos mefmos âp^pellidos* I Tpji
daqui nafceo Luís Leyte de Vafconcellos, que cafou com D. Leonor dô^
Oliveyra , & ainda que teve três irmãs , & dous filhos , naó fe íabe d^ ....Mi!.''
défcendencia delles.
165 O primeyro filho pois do fobredito Álvaro Anes Leyte:,
de Portugal.
166 Da dita Aldonfa Leyte , & do Doutor Joaõ Rodriguez Dis ierdMdeyyis Ai
de Amaral nafcèraó três filhos: Diogo Leyte de Amaral, que cafou com maraes ejue fe chaA ,
D. Maria Pereyra de Vafconcellos filha de Jacome Rodriguez de Vaf- maõ LeyteSf f^afcon^
,
celloj,&Botelh0S,nas
concellos de Alvarenga , & delles nafceo Diogo Leyte de Azevedo > fi-
llhoideS. Miguel,
dalgo filhado nos livros delRey , do habito de Chrifto , & o primeyro
& n* Tereeyra fi- ,
defta familia que de Portugal veyo á Ilha de Saó Miguel , & em Villa dalgos bem conheci',
Franca cafou com D. Helena de Caftro, filha de Sebaftiaó de Caílro, & dos.
irmã de Manoel de Caftro , ambos irmãos muyto ricos , & quetinhaó
vindo do Porto & dos taes Diogo Leyte de' Azevedo , & D. Helena
5
ceyra , como em feu lugar diremos & defte matrimonio nafceo em Saó
;
^W*
Livi-ô Vr Da fatal ílhâ de S . Miguel.
©aíou com íiiiní a filha do gíande morgado j Sc fidalgo Joaó de Teve à®-
VaÍGoncellos, da qual tèmjà muytos filhos.
u, lè^ '-'-i^
íO ícgundofilho da dita Aldonfa Leyte foy Vafco Leyte^
i^ue caiou coM Mana Corrêa de iVíartim Corrêa no Portoj & de-
, filha
ite eafamento naícèrâo Diogo Ley te , pay de Dona Brites Leyte^ cafáda
eOm Manoel de Moura , de que nafceo Dona J oanna Ley te , mulher de
Frahcifco Pinto Henriques , filho de Álvaro Pinto > fenhor das honra»
de Paramos j & do mefino Valco Ley te nafceo mais D. Francifca , que
cafou como Doutor Francifco Ferreyra, Defembargador do Porto,
pays de outra Aldonfa Leyte , cafada no Porto com Francifco Vieyra
da Silva , de que nafceo António Leyte de Amaral. O terceyro filho da
primeyra chamada Aldonfa Leyte j & do Doutor Joaó Rodriguez de
Amaral foy Briolanja Leyte , que cafou com Duarte Tavares y de que
nafceo Diogo Tavares cafado no Porto com Maria do Couto^ & deites
nafcèraó Manoel Leyte, pay de Martim Leyte, Mactheos Leyte, Sc
Diogo Leyte , & do dito Diogo Tavares, & Maria do Couto nalceo D.
Antónia, que cafou com Simaó Ribeyro Pcflba, que foraó pays de Dona
Maria Leyte de VafconcellOs.
i68 Dos Amaraes acima liados cóm os fobreditos fidalgos
Leytes, fó breviffimamehtc trata o èruditò Padre Leyte, fendo que
Destauftt tíohris\& (como do acima vimos} a varonia , oú linha
mafculina dos taes Leytes
antigos Amaraes dt he daquelle Joaó Rodrigues; de Amaral, que cafou com a primeyra Al-
Viz.eu,&dosqHede- donfa Ley te , dc que fe contiíiuou a varonia atè o fobredito fidalgo Luís
ftafamilU foraSRe- piogg Lç-yj-g ^as jà hecoufa muyto ufada nomearern-fe muytas fami-
.
morgados > ou com outro algum afFedo & titulo > certo he porém que
,
09 Amaraes faó família muyto antiga , & muyto nobre, & muyto multi-
plicada em Portugal , efpecialmente na Província da Bey ra , &: em Vi-
zeu, donde foy para S.Miguel o Doutor Jorge de Amaral Vafconcel- &
los, & na Ilha cafou com D. Brites de Medeyros. ^
.
muyto de noventa annos de idade , & nella cftava ainda compondo Ser*
does para imprimir & emfim o Padre Miguel de Amaral, que fendo jà
:
^P
Tit.V.DoS Medeyíos, Af âujos,Boíges,Soufas,Rebel. i^§
I>oiitor,& Meílre em Artes na Univerfidade de Coimbra , fe metteo náP
Companhia } pedio , & foy para a Índia a pregar ao Gentio , & toman-
do depois de mu)í tos annos a Portugal yfem querer nelle ficar, voltou
com muytos outros Religiofos da Companhia , & na índia morreo com.
conftante opinião de Santo , & verdadeyro Apoftolo. E aííim naòfó no
fangue , mas muy to mais nas virtudes, illuftre a familia dos Amaraès.
170 A illuftre família dos Vafconcellos, quanto ao appellido^
ou nome , deduzem muytos de hum Caftelhano Rey, que mandando a
hum fidalgo para certa terra , & vendo que hia de mà vontade, por dey-
xar huma fenhora, a que andava aíFey coado, lhe difie então o Rey,/^2i-
con-zelloS) querendo dizer que hia com ciúmes i& o fidalgo eiítaó to-
^« p>"''««/'''f
do ap^^
T I T Ú L O V.
Dm Medeyros, AraujoSy Borges^ Soujas, RebelloSy Dias.
171
f^ Muy to nobre Ruí Vaz de Medeyros de Ponte de Lí-
,
ça, dos nobiliílimos Mendoças Furtados, & dahi com o terceyro Capi- te de Lima & Gui^ ,
taó de Saó Miguel Ruí Gonçalves da Camera paííáraó para S. Miguel, marães^ quefHmey:,^
êc neftailhativeraôos filhos feguintes primeyro, Vafco de Medeyros> ^^Z""^'*^ Z"*^'*
:
VJf'*
que cafou na Villa da Alagoa com Catharina da Ponte, com a qual dey- ^^
^*'^Tmi ueí'
xando hum filho Amador de Medeyros, fe foy com mais dous filhos fer-/ ''^*'^'* ^ *
vir a El Rey em Africa ; & foy tam ditofo , que fendo cativo dos Mou-
ros , foy delles emfim martyrizado pela Fé fegundo, Rafael de Me-
}
deyros , que cafou na Ilha de Santa Maria com hCía filha de Antão Ro=
drignez Carneyro & de Anna da Cofta , de que nafceo Maria de Me-
j
Catnello , & foraõ páys de Dona Catharina , que caiou com Duarte de
Mendoça , fidalgo conhecido , de que ficou huma filha & foraó cam- j
Joaó Vaz de Medeyros, que caiou <:om Ifabel de Frias , filha de tCut
•
filhos, em Villa Franca quinto , huma filha que calou com Diogo Af-
: ,
guez de Araujo , Comrtiendador de Rio Frio , & fenhor das outras ter-
ras> & quarcõ avò também dê térceyro Payo
Rodriguez de Araujo, que
fenhor de Re-
eafou com D. Aldonfa , filha de Pedro Gomes de Abreu ,
galados & quinto avò de D. Margarida de Abreu
que cafou com D. ,
;
73
1 Deftes pois tâo illuítres Arâujos era Lopeanes de Araú-
jo, que fendo tara principal varaó de Entre
Douro & Minho, & de Vi-
anna; veyo para Saó Miguel em 1 506. &
cafou com a fobredita Guimar
Rodriguez de Medeyros , tiverlo cinco filhos primeyro , Mana de
& ;
Araujo que cafju "com António Furtado em Villa Franca , de que naf-
,
de Gonçalo
ceo Lopeanes Furtado , nlarido de Ignes Corrêa, filha
Corrêa > &: nafceo mais Leonor de Medeyros , mulher de
Fernão Vaz
Pacheco :íegundo, Brites de Medeyros, mulher dejoaóda
Motaiia
mefma Villa Franca, que era filho de Jorge daMota,de que n^fcèraÓ
Solanda Cordey-
Toaõ de MedeyroSjSc Migiiel Botelho, que cafou com
ra, filha de Joaó Rodriguez Cofdeyro
térceyro Miguel Lopes de A^
: ,
VP
Tit.V. Das mefmasiíiuyto nobres gerações.^ t^
d€ Araújo , & Francifco de Araújo , &
Ifabel de Medeyros , que cafou
eom Fauio Gago da Camera j filho de Ruí Gago quinto, Franciica de
:
Medeyros, que cafou com o Bacharel Jurifta Joaó Gonçalves ,a que al-
guns chamáo Joaó Gonçalves Ramalho , que da ferra de S. Gonçalo de
íimarante tinha vindo para efta Ilha de Saó Miguel > & delles nalcèrao
D. Brites de Medeyros , que calou com o Doutor Jorge de Amaral 6c
Vafconc^llos , que de Portugal tinha ido à Ilha , ôc foraó pays dos Pa-
dres Francifco de Amaral , & Chriftovão de Amaral da Companhia
,
de J ESUS , & do Doutor Joaó de Amaral Sc Vafconcellos , & de Gre- ^^^ MdmoTAmk^
gorio de Amaral , Sc de huma D. Joanna , Freyra em Cellas de Coim- ^^^^^
bra. De todos os fobreditos Medey ros,6c A raujos houve tantos mais def-
cendentes que toda a Ilha de S. Miguel eftá cheya delles.
,
dito António Borges , Duarte Borges de Gamboa , de quem fe fabe que ^^^ BoriêsSottfas àÀ
foy Provedor da Fazenda nas Ilhas, Sc depois Thefoureyro mòr do j/hadei.Aí,giel,&^
Reyno , Sc Cavalleyro do habito de Chrifto com tença j èc defte nafceo inquifidores uefiafaj
António Borges, que ficou em Africa na batalha delRey D. Sebaftiaó, ?w»/f^.
&
cativo ficou lá outro feu irmaó chamado Vafco da Fonfeca Couti-
nho , a quem fugindo do cativeyro de Africa deo ElRey D. Henrique
ú habito de Chrifto com tença) Sc outro irmão dcftes Francifco Borges
de Soufa foy Inquifidor da Meia grande da Inquifiçaó da índia &c to- ;
António Borges, que cafou com Ifabel Dias, & depois com Beatriz Ca-
ilanha filha de Pedro Caftanho Sc do tal António Borges nafceo Du-
, j
arte Borges da Cofta ,que cafou com Maria de Saó Pay o , filha de Ma-
noel Cordeyro de Saó Payo Benevides, Sc de Mecia Nunes de Arèz fi- ,
tonio Borges, que cafou com D. Maria da Camera , que foraó pays de '1 ^^kswsii^-j
'^ei<>_
Duarte Borges da Camera Juiz da Alfandega '^ou do mar como là di-
,
,
^fe^í ./.Vias .i'\
..'.i»
zem, que cafou com D. Maria de Frias, Sc morrerão fem deyxar defcen- ^.. ^^_ ,.„^„,
..
dencia. Segundo filho de Balthezar Rebello , Sc de Guimar Borges foy jy^^ RehfhsBôrp/J
Manoel Rebello , que confervou o appellido de fua nobre varonia , & er Medeyros d» Vt^^
cafou com Maria de Medeyros , filha de Miguel Lopes, da 'SíiVí^àç.Uds AgHAdtPau
Agua de Pào Sc deftes nafceo Francifco Rebello, chamado o Senador,
;
alíim por fua nobreza , como por grandes talentos de que nafceo húa
j
iilha , Sc Balthezar Rebello , ( como feu vifavò) Sc cafou com húa filha
i
R
iij ^©
^HF^
^L.i»<kk
da do Algarve.
177 Da primeyra mulher nafceo Fernão Jorge, que calou em
Agua de Pao com IfabelVieyra, filha de Pedro Vieyra & outro Joaó j
\rmeyro que de Por zes que hiaó là àquella Ilha , que neila fc cafou com Margarida b
einan-
tHgal emrtum Ma ^^^ ^ mulher nobre , irmã de Ifabel P^ernandez , caiada com António,
deS. Miguel JoyhU poisdefte ré
y^^^^^^ PereYra,& filhas ambas de FrancifcoFernandez,
r.l Manoel Dias;
'^r/ifrwf- ainda hoje hCÍa terça avinculada hú terceyro neto do
;'í^^''^'*"'^'*"'&efteenriqueceotLto>quehumfeufilho,chamadoChriftov^
p^
Tit.V. Conclae-fe com os Borges deflalHia." ípf»
noel Dias , outro fiiho foy Gafpar Dias , que tal fociedade affentou com chrijhvaõ Dias ca-
huns ricos contratadores Inglezcs^ que embarcando-fe húa vez com d-fi»
nas illufires caféit
^* Betencores & Ca^
les , & morrendo-lhe os focios no mar , ficou herdando delles toda a ri-
TIL •
O,:- meras & oÇeotmáo^
queza que levavao & fe voltou para a Ilha , mais rico que pay , & ir- q^^^^ Diastaíon d
, ^ „ r 1 \,
maói & íendo jà Cidadão de Ponta Delgada , cafou com aquella fidalga ^ ^^^/^^ ^„„a de
Anna de Medey ros, defcendente dos Medeyrosjorges, & Araujos. Medejm.
1 79 Deíle pois Gafpar Dias , & da dita fua mulher nafcèraõ os
filhos feguintes primeyro, André Dias, que cafou com Margarida Pa-
:
primeyra vez com Manoel Rapofo , & fegunda vez com Joaó de Mel^
lo d' Arruda , de que nafcèrão Jurdão Jacome Rapofo,6c André Dias de
Araujoj & D. Marianna Rapofa. Segundo filho de Gafpar Dias foy Mi-
guel Lopes de Araújo , cafado com Francifca de Oliveyra filha de Eí^
,
de Soufa , de quem viuvou ainda pioça , & cafou fegunda vez , & teve .
filhos feguintes.
i8i Vicente Borges de Sóufa, que foy bom Jurifta na Uni-
verfidade de Coimbra , & íendo do primeyro provimento Juiz de fora
delia 5 largou a Judicatura , & fe Veyo para a Ilha acudir a demandas de
hum íeu bom morgado , & depois cafou com a filha de hum nobre Ci-
dadão António Pereyra d'Elvas na mefma Cidade de Ponta Delgada,
'-
Segun"
W
200 LivfoV. Da fatal ilha de S. Miguel
Segundo filho Pedro Borges de Soufa, o que cafou com a fobredíta prí-^
ma D. Antónia. Outro filho foy António de Betencor Juriíta cambem,
,
& Juiz de fora de Ponta Delgada , por fer jà nafcido em Angra da Ilha
Tereeyra, & morreo fem filhos > & huma irmá fua D. Anna Zimbron,
airim.cliamada, por nella nomear fua tia Dona Anna Ferreyrade Beten-
cor o morgado, que íeu marido D. Alonfo Zimbron , fidalgo Caftelha-
no, ôc mando da dita D. Anna Ferreyra lhe deyxàra ; & porque a dita
Dona Anna Zimbron de feu marido Francifco Pacheco de Lacerda não
teve filhosj foy o morgado nomeado em outro feu irmão , de que agora
trataremos ,& foy efte
182 Agoftinho Borges de Soufa, fegundo do nome, Prove-
dor da Fazenda R.eal de todas as ditas Ilhas , Cavalleyro profeíTo da
Ordem de Chrifto, fidalgo filhado, com grande tença,da cafa de S. Ma-
geftadcjôc Familiar do S.Officio da Corte de Lisboajque tinha eíhida-
do direyto em Coimbra,& foy não fó nelle prudencifiimo, mas o mayor
Miniftro delRey que tiveraó as Ilhas j porque fó o officio he verdadey-;
ramente Régio ,& fem efcrupulo muyco rendofo, & de quem atè os
Bifpos,Governadores,5c Donatários dependem, & ainda muycos Gran-
des de Portugal que aceytão tenças, ou confignaçóes na Fazenda Real
daquellas llhaSj & emfim he nellas como hum Vedor da Fazenda Realj
que fazendo feu officio como deve , então tem também grandes inimi-
gos , como teve o dito Agoftinho Borges ; cafou porém ilhiílremence
com huma filha de Vital de Betencor &Vafconcel los, hum dos mais
illuftrcs , & antigos fidalgos da Cidade de Angra > & teve delia por fi-
lho a António Zimbron de Betencor, que herdou a grande cafa do pay,
mas não o Régio cargo , por não fofrer os encargos , que o magnânimo
pay fofreo.
183 Porque chegou a tanto a inveja, (^ de que nem efcapão fo-
Çá indubitável Um- beranos Príncipes , nem os Santos mais juftificados
} que ao fobredito
feaa de fangué dos
Gafpar Dias , vifavò materno do dito Agoftinho Borges, com evidenrcj
fobreditos Dias,exa~
minou ^ é" fsntenciou & notória temeridade, ôcfalfidade levantarão que tinha raça deChri-
for vez.es ElRty D. ftaó novo , &
fem mais fundamento que terem o dito Gafpar Dias , ôc
foaÕ o ly. (ir o mef- feu irmaó Chriftovão Dias, &
o pay de ambos Manoel Dias, terem vin-
maS.Officio^ cã car- do de Portugal à Ilha de Saó Miguel, &
nella terem contrato muyco
:i ta de familiar da In-
opulento } como fe o contratar não foíTe de Chriftâos velhos tambem,6c
^uijiçai dt LUboÀ.
de fidalgos, & Príncipes mas tudo já totalmente fe achou fer eviden-
;
tenças da maó Real do Sereniífimo Rey Dom Joaó IV. & ultimamente
peloexadiffimoTribunaldaSantaInquifição, queaodito Agoftinho
Borges tirou as inquirições, & achou fer limpiíTimo de toda a raça , & o
admittio em feu Santo Officioi ôc efta he a pura verdade , que não fó di-
go, mas finto aílim fer.
ti"í:
p» -
Tit.VI J)os Barbof.Silv.Tat.Notr.Quent Jár.Mach. joí
TI T y L O VL
t)osBarío/mySílv0 ^Tavares, No'Vaes^Õl^ntáeSi
FariaSi Machados.
fe veja agora aonde eftá ainda a varonia dos Barbofas j que linhas femi-
ninas tem outras muytasainda,aífim de irmãs do mefmo Heytor Bar-
bofa, que cafáraó, & tiveraó filhos; como também por huma filha do fe-
gundoRuí Lopes Barbofa, de quem nafceo mais Ifabel Barbofa, que
«rafou com o fidalgo António Borges , fill^o de Duarte Borges ,& neto
de Pedro Borges de Soufa como já fica largamente dito no anteceden-
,
186 Fernão Tavares (que tinha dous irmãos fidalgos da ca- t alegre^ Avijr&^'^
ía dodefcubridor o Infante D. Henrique , & era dos Tavares oriundos
»W
^0% Líviro V. Da fatal líha de S. Migue!.
4e Poítalcgre j & Avey ro ) teve por primeyro filho a Fernaó de Ants
iTavares,que era primo coirmão de Simaó de Soiiía Tavares , Alcayde
jnòr de Aveyro , & pay de Francifeo Tavares de Soufa , cambem de A-
vey ro Alcayde mòr , & famofo na Índia efte pois Fernaó de Anes Ta-
:
vares, còm favor do dito Infante fe foy para a Madeyra por huma mor-
te , que le lhe imputava,-&: na Madeyra cafou com Ifabel Gonçalves de
Moraes , dos muyto nobres, & antigos Moraes de Bragança , & com a
dita mulher fe mudou pára São Miguel em companhia do primeyro
JR.UÍ Gonçalves da Camera , terceyro Donatário de São Miguel j da tal
mulher teve muytos filhos, &: filhas. :.,>....
187 Oprimeyro filho foy Ruí Tavares , Cavalleyro de^Afri-
ca , que em Saó Miguel cafou com Leonor Affonfo , filha de Francifeo
Enes, nobre morador de Ribeyra Grande }& defte matrimonio nalceo,
primeyro, Joaõ Tavares, que cafou com Luzia Gonçalves , filha de
Joaó Gonçalves da Várzea, que foraó pays de Balthezar Tavares , eáfar
,
do com Catharina de Figueyredo , filha de Lopo Dias , Cavalleyro do
habico de Santiago , 6c de Guimar Alvarez j & efte Balthezar levou o
morgado do avò , & deyxou por filhos a Leonel Tavares 3 & Balthezac
•Tavares 8c também teve muytos irmãos , ( tios dos ditos dous _) Ruí
:
|Tavares, que cafou primeyra vez no Porto , & teve filhos , 8c fegunda
vez em Vianna , 8c morreo Corregedor era Ponte de Lima: outro ir*
maõfoy Gafpar Tavares, que cafou em Rabo de Peyxe; 8c outro Ma-
noel Tavares , que no mcfmo Rabo de Peyxe cafou , 8c deyxou filhosj
& outro ainda foy Belchior Tavares , cafado com húa filha de Joaó Ca-
bral de Vulcão , de que nafceo húa filha , que cafou com Manoel de Pu*
gaj 8c as irmãs foraô, Catharina' Tavares , cafada com o Licenciado Mi-
guel Pereyra , fidalgo de Vianna , &c pays de Ifabel Pereyra, cafada com
António Machado , da Cidade, èc de Sufanna Pereyra , cafada com Mi-
guel Pacheco , Sc com filhoSi èc a outra irmã foy Maria Tavaresjque ca-
iou com Gypriano da Ponte em Villa Franca.
188 Do primeyro Ruí Tavares nafceo fegundo , Balthezar
Tavares, que cafou na Cidade de Ponta Delgada com Maria Cabral, fi-
lha de Sebâftião Velho Cabral, 8c dos ditos nafceo Daniel Tavares, pay
de Francilco Tavares Homem , que foy pay de Ruí Tavares , que ca-
fou cora huma irmã de Manoel de Brum & Frias } 8i do mefmo Balthe*
zar Tavares nafceo também Joaó Cabral , que cafou em Ribeyra Gran-
de com Catharina Jorge filha de Jorge Gonçalves , do habito de San-
,
èMh^a*defÃS'^^_- ^*^">
^ ^^^^ ^^^°^ ' ^ Fernaó Tavares , 8c Francifeo Tavares; 6c qua-
tro
^
Tit. VI. D os defcendentes das fobreditas Fatti ilias. 20^^
tfo filhas mais do mefmo I^vlís Tavares , ôc de todos houve ha Ilha def*
ecndencia. .
dos ditoádous irmãos houve ainda mais hfia irmã Joanna Tavares, que
cafou com Sebaftião Jorge Formigo , do habito de Santiago , de que fí-
èou múyta defcendencià em Ribeyra Grande.
'
fou corfí Lúis Pites Cabea, de que ficarão era Ponta Delgada, & em
VillaFraíicamuytos defcendentes chamados Cabeas. Sexto filho foy
Annâ Tavares, que calou com António Carneyro , Cidadão do Porto,
primo coirmão de outro António Carneyro j Secretario delR.ey, & pay
de Pedro de Alcaceva , Secretário também delRey defte cafamento :
*!W M
f'fl
«om adita fua mulher , & cora datas de íerras , & o oííicio de Mempol-i
teyro mòr de Cativos em codas as ilhas.
¥ul èi93 Delia D. Maria de No vaesj& do dito Ambrofio Alvarez
jHomera de Vafconcellõs ( grandes Jidalgos ) foy primeyro filho Pe-
dro de Novaes , que calou em Saõ Miguel com Beacciz botelha, filha
de Antaò Gonçalves Botelho , & neta de Gonçalo Vaz , o Grande , ôc
por proviíaó JtCeal foy Locotenente do Donatário ,& deo muytas ter^
ras defefmaria ^ & delies úafceo Joaó Serraó de Novaes, que caiou com
Beatriz Lopes , filha de Lopo Dias , na Pray a da Tercey ra j-dos quaes
foy filho Miguel Serraô^quecafou com Ifabel Nunes , filha de Manoel
Galvaõ, & de Cathârina Nunes, Ôcnafceo delies (além deoutros fi-
lhos )humafilhá , que cafou com Manoelda Fopfeca ( fidalgo homem
da 1 erceyraj ) do dito Joaõ Serraó, dç Novaes nafceo também Manoel
Serraó , que calou com líabel Gonçalves^ & Catharinade Novaes , quq
cafou com Bartholomeu Botelho , varaó.fídalgo, & Ifabel Serra , que
cafou cm Villa Franca com Manoel da Ponte,
^ 194 Nafcèraó mais do dito Pedro de Novaes primey ramen- ,
meyra mulher teve a Sebaftiaó de Matos , & outros filhos. Item foy pay
^ „ de Fernaó Quental, & Hieronymo Quental , que cafou com huma filha
^e PedroToree , de que nafceo Maria Qtiental que cafou com Balthe-
'Dos n0Íres 0^'^*",
,
V
Tit.VI.DoVeileí.P.Barth.doQtíefitaIFud.íía.Côgn 20f
Brites Brandoajôc deftes nafceo Vicente de Novaes, que cafoii com. T>^
Branca da Silva , filha de Diogo Moniz , fenhor de Engeya , &
tive^
«3^ Pi
i^á Livro V. Da íatâí lihâ JèS. Miguel.
dè faéto hoje fe chama. E podo que tem ainda quafi o mefmo aperto de
cellas, 6c a mefma taka de cerca , tem jà comtudo tam magnifica fronta-.
ria para fora & tantos alugueres por bayxo , que honraó muyto a Cor-
,
te, Òc no mais interior deiia } 6c lobre tudo daó grande exeniplo com,
continuas praticas , orações , 6c confiíToéSj&commuytas miíioéspela
Arcebifpado, com grande fruto das almas.
199 abrirão efcolas de Filofofia , ôc Theologia , em
De novo
que publica , 6c perfeytamente enfmão, 6c tem já varias caías neite R.ey-;
no, como em a Cidade do Porto , em Braga no Alem-Tejo 6c cada
, 6c -,
* dos privilégios que tem fófey que merecem muyto , 6c tudo devem ao
-,
foy António Lopes de Faria , que de vinte annos foy para a Ilha de São
Miguel, 6c là calou com D.Maria Pimentel na Villa da Alagoa com cem
moyos de renda de dote,8c morreo pelos annos de i640.Dei1:e matrimo-
nio nafceo António de Faria Maya que híia vez cafou com D. Margari-
,
^
Cap.XVIII. Da fertilidade, acr^aezâdâllliâ de S.Míg.io>|
ããs principaes , Sc ricas cafas de Ponta Delgada. Mas vamos por dÍ3nt#
fomahiftoria.
CAPITULO XVIIL
Das rendas, ou riquezas , fertilidade , ér frutos defta Ilha*
ii
.J^ ^^^^/jj
nhentas pipas & muyto de outros muytos frutos , fora a renda incerta ^.^^ 7
**- > ** 3
j
do paftel, & do que chamaó miuçás, &: a grande 5 a dinheyro, das entra- *
&
cado , ervagens , & faboaría , de outras rendas que là tem , ainda na &
Ilha daMadeyra , rende-lhe tudo licitamente trinta mil cruzados cada
anno ,& muyto mais eftando là licitamente digo, porque houve já af-
:
Freyras, & homés ricos da terra , tomando-lhes os feus trigos , & obri-
gando- fe a lhos dar jà moídos em faíinhas nos moinhos ; porém como
os Conventos, & ricos não mandavaó trigo ao moinho & fó mandavão ,
bufcar farmha , & efta a não podia haver no moinho , fem ter ido a elle
trigo de que fe fizeííe , colhido efte engano , fe levantou tal motim em |
toda a Ilha, que correo grande perigo naõ fó a caía , mas ainda a fami-
lia, & a peflba do tal Donatário , fe logo logo não mandaífe por muytos
barcos bufcar trigo ás outras Ilhas , & metello nos moinhos &: comtu- ;
«Ita
íq8 Livro V. Dafataf llhide S. Miguel.
(emeadHra, n-
j^j^^^ ^ ^^^ -^^ ^^ ^^^^ ^^^^ -^ vendiaó algumas de fuás terras , as ve
_
diaó
iPP
\ )
defte comprou hum raoyo de terra por huns fapatos de vaca, ( que ^^^^^^fg^far^^Ta-
taô valiaó la três vinténs } &: hum Adam da Silva huma lomba de ter- J^^gj^yt^ (Up^
:
ra , que rendia mais de dez moy os de trigo cada auno , por euydar que^.
lha compraváo bem , a vendeo por quatro carneyros, 6c hua viola. Hunii
padraftode Pedro Teyxeyra, èi de Antão Tcyxeyra > em Villa Franca^
vendeo humas terras juntas à ribeyra do Salto de Ribcyra Grande pocj
,
quaes valiaó entaó trinta reis fomente :& hum Francifco Anes, fendo
eondcmnado em hum toftão para o Alcayde , por elíe lhe deo hum mo-*
yodetrigo. Noannodei5oo. & mais annos adiante j valeo o trigo. a;
quatro reis o alqueyre , & vendendo hum AíFonfo Anes de Ribeyra
Grande quatro moyos de trigo , o comprador, por não ter dinheyro
&
prompto , lhe deo em paga a efpada, fe embarcou, & o vendedor deo
a efpada por hum toftaó , & fe deo a fi por muyto bem pago. Depois no
anno de 1507. valia o trigo a cinco reis o alqueyre j & hum mercador
de Lagos do Algarve , fobejando-lhe da carga do navio dous líioyos d©
trigo, os dava por duas gallinhas,& dous frangos que hiaó a vender , èd
flãoquizerãodarlhos,&dcyxouotrigoahum feu cunhado. Em 1508*
Fernando Alvarez de Ribeyra Grande diíTe á mulher que fe alegraíTe*
poistinlia muyto trigo para vender , porque lhe trazia nova de Villa
Franca , quejá o trigo valia a féis toftóes o moyo.
208 Luís Gonçalves , fapateyro na Ribeyra ôrande , pedio a
hum Gonçalo Pires meyo moyo de trigo por hum as botas, que entaó
valiaó oyto, ou nove vintensj & a outro homem ^ por lho rogar muyto,
aceytou outro meyo moyo por outras botas. E por humas botas de cor-
dovaõ deo hum moyo de trigo , & três couros de vacca poftos na Villa
da Alagoa hum Fernaó Alvarez de Ribeyra Grande. E defta mefma
Villa hum Pedro Vaz ^ valendo então os fapatos a dous vinténs , man-
dou por hum vintém em dinheyro, & peío outro vintòm quatro al-
queyre^; de trigo ,& ainda o fapateyro Luis Gonçalves fe queyxavade
mal pago. E outro Fernão Alvarez 1 avò do Padre Balthezar Gonçal-
ves, Beneficiado em Ribeyra Grande , naó quiz dar hum barrete ver-
S iij xnelhòj
Bw
iw
.1; :; 3L»ri:o V. Dá fatal ríhàdeS/MíguajilVX^:^::^
.melho\ que trouxera de Lisboa ,p5fd<ôOsmoyos de vtrigõ. M^
qtié?
miiiyto j lè htun Joaõ Martins , de aicunha o Caicafrades > vendeo -Ue^í
"'•'(
Al\'?> ^5
para doze moyos de terra , onde chamaõ Agua retorta , a Jcaõ AfFonío
cívelho do lugar,doFayal,&: lhos Vendeo por pano de Londres azul
pára-hum gabão , & as taes terras deraõ muyto trigo,& paftel? £ por no-''
vemoyos de trigo comprou hum nobre hum capiís de do. E hum Lo-;.
p0 Gonçalves de Ribeyra Grande , naõ tendo onde já recolher o trigo
4âs eyras , rogou ao Vigário de Ribeyra Grande Frey AfFonfo , que na^
Efíaçaó da MiíTa a vifaflcj que quem quizeíTe trigo , foíTe bufcar quanto
quizeíTe a cafa do dito homemj & fó duas peflbas foraó lá, fendo o povo
de mais de mil vizinhos. rja-D ,g ;- ...^
. ..
ti
Í09
i Talfertilidadede terM ate flOnafceí do mefrtio trigo ftí'
©ft^Vá vendo 3 porque fe achou humaeípiga de trigo com feflenta filhas
Da multiplicação ío ao jpé j & cm o quintal do Beneficiado Joaó Soares da Cofta, da Igreja '
f«* o tri^o nafie cm de São Sebaítiaõ de Ponta Delgada, fe achou híim pè de trigo, em que fe
^i ílhM._ c5ontàraó mil &: trinta grãosj & de outros pès , hurtí tinha trezentos , ou-
tro quinhentos grâosj &: ainda em i (ièy<^. quem ifto efcreve , vio que fo-*
bre a palha do trigo , as efpigas delle tinhâo oyto^ Sc nove ordes , na ai-
rUra, de grãos de trigo, & havia à roda algumas de dez ordens de grãos.
E hum Manoel de Almeyda , homem principal do lugar de Fanaes, em
'
terra junta á Ermida de NoíTa Senhora d' Ajuda, achou em fua feara hu
> o pede trigo com cento & fetenta efpigas , & nellas fó quatro de quatro
ordens de grãos , as mais de fete atè doze ordens i a raiz deíle pè era taó
groíTa como a barriga da perna dè hum homem 6c a rama figurava hfia
*
,
gavella j & por iífo efte pendurou na Igreja da Freguezia , atè que efpi-
ga a efpiga o leVàraõ os devotos da Senhora & ifto fe vio em o anno de'
;
Biais fe não aproveytava> & no anno de 1 5 80. chegou a dar efta Ilha de-
zoyto mil moyos de trigo , com ficar muyto perdido em as eyras , pois'
jaem atè todo Outubro poder recolherfe todo. E nofeguinte anno de
I58i.aindahouvemaistrigOj&: de centeyo nenhum cafofefazia,fe-
naó para dar ao gado, & fazer da palha enxergões,
í 210 Porém como O tempo tudo gafta, parece que também
fby gàftando a grande fertilidade da mefm a terra, que jàdà menos tri-
go do que de antes , ^ fez crefcer delle o preço de forte que jà no an-'
>
chegou jà a féis mil reis,& no de 1 5 80.& 8 1 tornou a três mil reis o mo-
.
te em as Ilhas /í por outrofe fuppoem jà hoje valer hum moyo de trigo oyro mil refsj
,
atigmemoH de trigo o ter mil cruzados de renda , quem de renda tem cmcoenta moyos , &' a
frií". éfta proporção quem mais renda tem de moyos s^ a caufa não he (ò &
ferem jà as terras menos férteis, mas também o multiplicar agentemuy-
to em as Ilhas , 8c gaftar là mais j 8c o mandai; muyto trigo a Portugal/
c -
i ' ao
Cap. XVIII. De como creCderâò os preços doi frutose St$
àó Algarve , a Africa , à Madey ra , ao Brafil , em farinhas jà} & haver jl
là mais dinheyro do que em os principios havia , &
jà fáuftos , 6c gãftosí
tnuy fuperfluos , em bufca dos quaes mandão para fora o trigo , póí &
iíTo lhes faita a mefma terra, por caítigo Divino de peccados.
211 XnI aò he domtudo , <ie fá trigo , a fertilidade dcfta Ilhaj
porque também nas carnes de toda a cafta he taò fértil, que lançados ga^jj^ nhmdancia \ &
dos nella , multiplicarão de modo j que em muytos ahnos naó houve karateta de toda ^
açougue na Ilha, mas cada hum mandava matar a vacca,& carneyro fo/í» í<í wrffw.
que queria , & a melhor carne tomava para fua cafa , dey xando de graça
a mais a quem levar a quizeíTejôc nem de cabeças,nem miúdos faziaõ ca^
ío êntáo & quando , paíTados alguns annos , chegou a vacca, & carney-
}
Beyra , & melhores , por fe fuftentarem com junfa , & leyte > & he a car*
ne taó excellente,&; barata', queleytócs bons, & gordos valiaó antigas»
mente a dez reis, ôí quando muyto, a vintém, & hoje valem a toftaó,ÔC
mais i & hum porco de chiqueyro, & de três annos valia hum cruzadoi
& já agora vai três ou quatro mil reis , & mais } & eraõ de antes taÕ gor*
dos, que dafua manteyga dava hú fó porco dozecanadas i mas ao dian*
te valeo" tudo tanto mais , que por careftia fe refere venderem-fe vintô
yaccas grandes , & jà prenhes , por vinte cruzados.
^
no correr mais ligey ras , ainda que no voar mais tardas , 6c os ovos que '
la Ilha , com qualquer coufa enganavaõ aos primeyros Uhèos, 6c lhes le-
*
tavaó por ella os mais ricos frutos que da terra tinhaó, em compara-
''
- - ípennas
%11 LÍVi'o Vi Dafatalllhâdc S. Miguel
pennas enchiaô os colchões , a pelle fe derretia como toiíeinho , èè
íe
delia ,& do corpo todo ( fe lhes tapaó a boca quando as apanhaó} fe ti-;
ra canto azeyte , que cada dez Pardelhas davaó ordinariamente huma
eanádaj & os caçadores delias em voltando pareciaó lagareyros de azey-*
te. Em
Africa ha ainda deftas aves , no inverno atè Março , no mais tem-
>.^ ^.., ponaõaturaõ a mayor quentura, & em Saó Miguel as deíinçáraó os fo"i
^' róes. Em alguns tempos fe vemna dita Andorinhas j de fora lhe vem
Falcões , Corvos, Açores a patas bravas^ &
ha muytos tintilhóes , algúas
alveloas , toutinegros , canários poucos nefta Ilha j mas innumeraveis
inelros , ôc muytos de cor branca , & de regalada mufica. jjj^^ ^.
o/r
em campos de bifcouto, que da terra com o fogo foy
j rj--
j- *j r«-
n tiL
Kâjtas Ilhas em terra
lormado ,
' & aíhm le
.
, ,
,
admirao todos muyto de ouvir dizer , Ic cavao as
n /vi
lavradia mas ira^ vmhas, porque as nao ha aonde a terra le pode cavar, ou lavrar , & dar
, , 1 1
Uos de muytas pedras trigo, OU outras fearas 6c não fazem mais que plantar as vinhas entre o
j
A <jHe chamaô hif bifcouto, pedras, & lagens, podaras vides, mondallas das filvas & erva
,
coutos ,&daõ tanto, inimiga ,& vindimaras uvas eílendidas fobre as lagens Sc em muytas ;
[ah
f/h"'dVÂf'^T/'
MigHtl P^^^^^ ^^ ^^^"^ ^ vinho excellente , pofto que o não feja tanto neíla
/fȒ d
Ilha por mais húmida , & do Sol menos ferida }& tempo houve em
.
'^
,
linco milpipas.
que hum Jorge Gonçalves Cavalleyro, morador em Ribeyra Grande,
mandou com o vinho da terra amaíTar a cal para humas cafas quefazíaj
porém na verdade foy exceflfo , porque deita Ilha o vinho he bom, &
chega a dar delle cinco mil pipas, & da Madeyralhe vem mais excellen-
te, & vale dobrado,
3117 Das
^PP
Cap. XVIII. Da barateza das cames,51rpeyxes.^ ^i^
he a máy do linho , he cheya de ribeyras de agua doce , onde o linho íe tugal he o melhor '
cura i & o certo he que o que da Ilha vem de mimo , & fem preço , mas quando lhe vem àt
dado a Portugal he nefte o mais perfeyto , & eftimado linho, ( como lè '»'«^« &frefentts\
, .
vènas ricas Al vas, penteadores preciofos , fobrepelizes , linhas , botões ^^* ínetem a, ven-
admiráveis) & fó o que veraa vender,padece a nota de fer de menos du-
^l^f^os Ah'^^Í '^'*'
ra, porque cufta mais. maiscAr9. ^
fa moída fe poememtaboleirosfeyta êmbolos, que na figura parecem X'» ^jutem at ilhat >
pães, ou pafteis , de que tomáraó o nome , & bem efcorrida fe coa ao eh^^mão pafiel , ^«<
lhesrendeo,&
tiol, 6í feca a metem em logeas ladrilhadas , a cada dez quintaes de pe- "^,V^°
nagjemeji»^
20 delia lhe deytaõ huma pipa de agua , para que ganhe calor, virando-a'''* °^^- -
rio o milho groflbcom a fua grande , &: maciça cana, & feu grado , Sc
muyto graõ, attenua, & enfraquece as terras das Ilhas,&: as torna menos
ferteisjôc fe naó dá depois delle, nem tanto, nem tam bom trigo.
220 O
/
w
Livro V. D a fatal Ilha de S . Miguei.
220 O
tremoço porém ,já defdc oanno de 1550. hum Barãd
riemoço «^5^4/?^^ Fernandez, morador entre OS
Moíteyros,& Bretanha de Saó MigueJ,
nem attetina a terra\ foy O primey ro que o fenieQa.ao redor da feara de trigo , junto aos cami-
mtes a fertUtz.a & nhos em carreyrosj & depois femeou de tremoços per fi fos hum alquey-
;
tem entras fervemias j-g dg terra j ôc advertindo que depois o trigo femeado na terra que ti-
?'??': nha fido de tremoços , fahia melhor , mais limpo & mais , para iílo co- ,
meçarão a ufar delle no kigar de Santo Antonioiôc achoufe que com fuás
raizes , & ramas ( que quando muyto chega ácintura de hum homem)
eíterca a terra & com fua fombra lhe faz tanto bem , que debayxo del-
,
doceM<*^»'^*''°^ ^^' huns de huma nào de índias de Caftella , & poufando em cafa
de hum
Sebâíliaó Pires , deraó-lhe humas batatas , de que a mulher
hames porem, aindu^ plantou al-
/^^^''^.^Q dg í;3rte, que em navios vão muytas para fora, & na terra fervem jà
rnutí Tfijhcos
á enxada debayxo
I>e arvores f;ííí,!;í4í como as da hera , &
plantaÓ-fe em canteyros feytos
cereijejrí^K&mií' da terra ; aíTadas ao lume faó excellentes, & muyto fadias, &
muyto me-
ras^ qovíz.rnho mar {[^ores que OS Inhames , ( a que chamão cocos } os quaes faó mais rufti-
mõ deyxa frMt>ficar,
^ ^^^^ ^^^^^ em folhas mais altas fobre a terra comoelcudos, ou adar-
,
ha mfi^s Ilhas
g^smimofosfe comem cozidos, & faó bons, &fâlutiferosj ha
^-f
TdfeZõ , ,
tJ/í«^/^.í «f//^ &f6 pobres ufaÓdelles,&£iftentáo como páOi& nem dos Inhames,
como banmeyrjis, ca- nem das batatas ha em Portugal , por mais que alguns queyraõ , que jà
nas de apear ^^- càas viráo, mas enganaó-fe.
,
ras,&toda a cafla de ^^ ç.^ Portugal , & muytas de muyta dura j &: algumas que faó pro-
hortahus,hcamda
p^ias do Brafil,como canas de aífucarjfígos bananas, 8rc. que quanto
,
'•P
C;ap.XIX.ÍorÇâ1,&VaIêta eftranha da gête dèfta Ilha. -ií f
& perfeytos como com perfey tas rofas èc cravos em o inverno , &: de
, ,
fertilidade_, a
toda a hortaliça em todo o anno tal he daquellas terras a
;
que ajuda muyto o nunca haver grandes calmas no verão, nem frio»
grandes no inverno, nem paíTarem muytos tempos emque deyxede
chover, & ferem Ilhas fundadas em fundamentos igneos,& conferva-
rem fempre igual cálido , &: húmido & por iflb atè com os -,
frutos pró-
em Ponta Delgada ( fendo ainda hum lugar) vira (onde entaô eftava o Engenhos ha jà hoje^
pelourinho, & defronte da cadca) vira ainda huma malva que fendo &aíenhatHfUKtti- ,
muyto alta era da groíTura de huma pipa que groíTura & altura pois te.
, j ,
teriaô outros pàos E com tudo cora a entrada do aíTucar, & Engenhos
? ,
dclle na Ilha & com ella fer eílrey ta & ter tão grandes & profundos
, , ,
valles , que dclles fe não podia trazer fora a lenha , tanta fe gaftou , que
foy também caufa de fe tirarem os ditos Engenhos, de jà hoje na Ilha &
lefcuftofaalenha.
C A P I T U L O XJX.
hio neftas palavras , ( Talfois vos o vacca ? pois como a huma cabra vos hey
^e ordenhar^ Sc lançando-lhe a mao a huma perna deo com a vacca em "^
terra, & a fubjugou debayxo de feus joelhos com tal força , que quieta a
ordenhou, como fe foíTe huma cabra , fem ella mais fe atrever a olhar pa-
ra elle :a hum touro , a que ninguém fe atrevia a appar£cer , com def-
&
treza ganhando-lhe a volta, & lançando-lhe a forte mão á cauda, lhe
deo tal pancada em o efpinhaço , que derreado .cahio , &: para nenhuma
%% Lívfo V. Dâ fatal Ilha de S. Miguel.
cóufa mais prcftou. E com efte homem íèr grande de corpo , com fuaii
mãos levantava htima anchora grande de nav io , & a punha a feus pey-t
COS. E indo emfim a Africa com o Capitão Donatário Manoel da Ca-
,
fnera na occaíião da tomada da Villa , & Cabo de Guè , tomou efte ho*
memhum montante, & fahindo aos Mouros matou tantos »& fez tal
ierra de mortos> que não podião já chegarlhe os vivos ; & acometendo
muy tos mais à roda , depois qúe canfou de matar nelles , fe dcytoií no
chaó, dizendo cftas palavras, ( O' cáes comeyme agora) & allio matà-
raóentão,
225 Hum João Lopes , que morava nos Mofteyros , foy ho-
ínem de taes forças , que andando na debulha com huma cobra de gado,
j.. ,.^ &
por fc tirar acafo o tamocy rodo mourão, começando a ir cahindo pa-
ra a parte de hua rocha defpcnhada, elle pegando na rèz que andava no
mouraó , & fazendo fincapè , teve mão em todo o gado , que fe hia jà
, r -
" defpenhando , & fó duas rezes fe aíFogáraó , ainda da parte de cima , fí^
cando as mais todas vivas j rnas que muy to , fe efte homem , indo por
qualquer ladeyra com o feu carro,& boys, fe hum delles fe fahia, & cahia
canfado jà da canga , elle o tomava em léus braços , como fe foffe huma
ovelha, &
o levava à canga outra vez ? & a qualquer outro boy pegan-
do-lhc pelo pè, ou pelo cornOjO fazia eftar quedo>&: paraicafa,& de lon-
ge levava hum boy morto às coftas como fe levaífe huma cabra 3 & em
,
húa occaíião tomou fobre fuás coftas hum quarteyro de trigo emdous
íaecos grandes , &
huma tarrafa cheya de peyxe , &
tudo levou cami-
&
nho de huma legoa para fua cafa > o mefmo faziaó outros homés , ef-
pecialmente íeu filho, Joaó Lopes Meyrinho: &
atè huma fua filhajMa'
perna, com elle em o ar, por não levar efpada , fe metteo entre as efpa-
das dos que pelejavão, & efgremio de tal forte , que os contendores paf-
mados de tal homem , fe apartarão entre fi , & do homem muy to mais;
''
ao qual dizendo-lhe hum feu efcravo , &: mouro huma vez , que o não
havia açoutar , arremeteo a elle ,& tomando-lhe a barriga com as mãos,
de tal forte lha abrio , que lhe começarão logo a lahir as tripas envoltas
em muyto fangue. Efte mefmo homem em lançando a mão a hum pol-
,
dro furiofo, o fazia parar, íembolir mais: a hum grande cão defila,fey-
'Moi valtMia de he-
taapofta, opartio cerceamente pelo lombo com húa cutilada jôc com
mes ^amáahe major,
outra, pelo meyo, totalmente dividio a hum grande porco pendurado:
encontrando a hum almocreve que derrubava huma parede para paflar
hum jumento , pegando defte o lançou, como péla, da outra banda: vi-
,
raõ-o por vezes quebrar entre as mãos duas ferraduras juntas ; &: com as
mãos levantar huma pipa cheya de vinho, & pelps pentes; vindo húa
•
egoa
Cap.XIX. De valentcg,& deftros Cavalíeyros. ii/;
rem tirar chegou elle, & fincando os pèsj pegou pela cabeça à egoa > &:
, >
outra vez a hum feu cavallo , freado , & fellado 5 & as mefmas forças ti-
íiháo 5 feu pay , feu irmáo^ & dous feus filhos.
227 £ ainda
mais celebrado cafo foy j que levando o Ouvi-
dor, & muy ta gente cora elle, a Pedro Rodrigucz prezo , irmão do fo-
bredito Balthezar Rodriguez , fahio eíle com capa, efpada, tirou a & &
todos o prezo das mãos , pelejando mais de huma hora 6c Cornando o -,
tal força a huma ponta , que lha arrancou do lugar onde eftava outra :
nha fugindo do corro faltando os palanques elle com tal força lhe lan- _,
,
^ nálentffíí^
"^
çou huma mão à cauda èc outra à perna, que o derrubou , 6c acudindo ^^^
, '
mais gente o levarão para o corro. Vive ainda efte homem, 6c com fer
velho , tem fataes forças ainda (diz aqui o Fruítuofo cap.62.^ E outros
,
homés havia nefta Ilha , que lançando hua mão à ponta de hum bravo
touro, 6c logo outra mão à barba, o eítendiaó em terra.
229 Chriftovão Luis , filho de Pedro Luis , da Villa de Agua
de Pão, foy taõ forte cavalley ro , que a cavallo lançava hum dardo tão
longe com a mão como húa béfta lança huma fetta , 8c ainda mais. An-
,
foibrc feus altos ainda que lhe deo nclles huma ferida grande,
horabros ,
foy homem de tão grandes partes , como fe vera. Na Cavaliaria foy taó
deftro, que andando cora Carlos V. &
vindo com elle a Hefpanhajnun-
ca achou quem o venceffe em armas de pè, &
de cavallo ; a dous cavai-
los faltava de hum falto, fem tocar com o pè em algum delles , ôr pondo
fó huma maõ em o primeyro. Correndo áeipora fita , lançava taó longe
huma vara de doze palmos , quanto hua béfta deyta hum virote 5 &: húa
vez na carreyra do cavallo defpedio com tal força huma cana, que ficou
em a anca do cavallo & fe tornou, à fella dentro da carreyra. Na Cida-
de de Évora ^úz publico cartel de defafio & , nenhum o venceo nem á
,
faltou a corda por cima , fem fe ouvir o cafcavel , & o Infante lhe
man-
dou dar vinte mil reis , que naquelle tempo era data grande. Veyo de-
valen °
tiffimos. correndo a
pois á Ilha, & enfinou a muytos a apanhar do chaó laranjas ,
cavallo. A mais groífa ferradura quebrava entre as mãos em cujas
pal- -,
mas pondo dous homés , os levava , como pélas, vinte paíTos. Na pra-
a
ça de Ponta Delgada vendo huma meya pipa , ou hum
quarto de tonel
cheyo de agua o tomou nas mãos , &: no ar o poz à boca & bebeo pelo ,
batoque , como por hum púcaro de agua. Por vezes dando húa palma-
da em a anca de hum ginete , defpedia tal carreyra , que o ginete corren-
do o naó pode alcançar atè o fim da carreyra :& vendo a hum cavai ley-
roem Évora correr em pè fobre hum cavallo, correo elle outra carreyra
eom huma lança na maó, 8c pelo coto applicada ao nariz; & naó poden-
do fazer o competidor , lhe refpondeo , Fique hua pela outra
tal
cor^ : &
ria a cavallo com duas lanças nas mãos, & o freyo em a boca. E
quarenta
& cinco pès faltava de três faltos }& quarenta & fete pès além, lançava
huma barra de vinte & cinco arrateys. Defafiado a huma luta, mandou
que
P«
Câp.XIX.po muito q fe vhê,moh,^Ctvinõnc^A lih.itf
que lhe ãtaflem o braço efquerdo'a húa coxa j & atado dcfta^forte derru-í
bou a quatro homès; èc inveftido de hum touro , lhe deo tal cutilada cm Forttffmis LnBadéJ
húa coxa , que logo o jarretou. Seria nunca acabar ,xontar Codas as faça^- r«.
nhãs de tal homem. _ . .
que fem tudo ifto & com bordaó andava huma fua filha atraz delia &
, :
de, andava a pè, & em hum fó dia , caminho de oyto legoas & muytos ;
com íuas mulheres viviaó cafados fetenta annos, & mais. E quem ifto
efcreve , eftando na dita Ilha em o anno de 1 665 . foube do Cura & Vi- ,
gário de Porto Fermofo, que havia quatro annos não morrera naquelle
lugar ( com fer grande} peíToa alguma mais que hum Anginho j nel- &
le haviamuytas peíToas de mais de cem annos & hum difcipulo tive eu
;
ià, que fobre ambos os pays , tinha ainda todos os quatro avos vivos , ha
cincoenta annos. ..;
234 Beatriz Fernandez 5 náVilla da Alagoa, morreo de cento
& vinte & dous annos, &
fua filha Ignes Annes de cento dez j hum & &
Pedro AíFonfo ( de alcu nha o das barbas } morreo de cento vinte j Sc &
outro de cem annos j hia no veraõ fegar ainda como de antes. Maria
Gonçalves , de Diogo Pires feu marido que tinha vindo de Põrtugâl>
teve quatro filhas ,& hum filho, &
deftes filhos teve netos, bifnetos, &
tresnetos tantos , que chegou a contar cento dous , &lhe aífiftiraõ à &
morte noventa & fete , &
faleceo de mais de cem annos. Outra Maria
Gonçalves, mãy de Luis Galvão , de Pont>a Delgada , fabendo que a juf*
çiça hia jà a huma quinta a prenderlhe o tal filho , de repente fe veftio
^m traje de homem , & montaado em hum cavallo com adarga , & lan-
'
T ij , ça^
f a, paflbii a juftiça , chegeu à quinta , Híftante hum quarto de legoa , èc
*^:-,'sI*^
- &
dando avifo , cavallo, armas ao filho, o falvou, & tirando a juftiça de-
vaíTa de quem dera tal avifo , íahio ella dizendo , que não culpafíem a
cutrem, que cila fora , como mãy, fal var a feu filhoj 6c contra cila fe não
'MaiordmArUmente jsrocedeo , &
morreo de cento, & tantos annos , fem parecer tinha tan-
vtvem maus as mu.
^^^ ^iç. porém de reparar, que nefta Ilha ( como reparev eftando nel-
' * • k^ vivem muyto , & muy to mais as mulheres , que os homens > a çaufa
Deos a fabe.
I 235 Monftrosdetodaacaftafèviraõfemprenatal llha.Emoan-
'3iA.^k r j
•
-^ no de «o.no termo de Ponta Delgada nafceo hú bezerro com duas ca-
I K
ttfra.
"
peças , em rudo pcrrey tas , &
lo pegadas huma a outra , ainda que com
huma fó orelha cada huma j porém com duas gargantas , quatro olhos^
duas bocas, &
morrendo foy aberto, & lhe acharão dous buchos dentro.
Em 1 5 80. no primeyro de Dezembro nafceo em Ribey ra Grande hum
oíTo algum fe lhe achou. No primeyro dia andàraó cem homés com ma-
chados a cortar nelle 5 no fegundo dia cento & cincoenta j & todos jun-
tamente, huns de huma banda, outros da outra, outros decima, Sí fem
fe cftorvarem a primeyra parte por onde o arrombarão, foy o arcabou-
:
ço, donde logo fahio tanto azeyte,& tam bom, que encheria três pipas,
&: em dando na agua fe coalhou de forte, que o apanhavaó em paens
como de manteyga. Defte peyxe fe fez muyto azeyte , & tam bom,
que
Cap.XX; Da S.& pfodlg- râitrofiiMái/prlclai de CHav. iíi^
'Hmt íiaó fó íervia para a candeã, mas para curar farria , friâldadès, &c. ix-»
«ha hum modo de oíTo junto do peícoço , &; outro junto ià à rabadilhaj
-& tudo fe derretia em aze.y te. Os nervos eraô taõ rijos > que depois coni.
çlks arraftavaó troncos, traziaõ os boys , &
beftas prezas ,fem jamais»
quebrarem. Naõ feconheceo tal peyxe,pofto que alguns diziaó cha-
líiarfeTrebolha i porém hum homem de fora , que muyto tempo efti-
vera em Guiné, diííe que era Efpadarte , & que em Gume vira muytos.
237 Em 1580.3 10. de Junho, da parte do Sul, & da povoa-
ção velha até a Cidade , fe vio no mar hua travada batalha de três gran-
des peyxesj por efpaço de quatro, ou cinco dias , no fira dos quaes dous
barcos de Villa Franca encontrarão com hum dos peyxes morto , Sc
chamando mais batéis o trouxeraõ com cordas»para terra. Era o tal pey-
xe de noventa palmos de comprido , dezoy to de largo , &: outros tan-
tos de altoj & também , como navio , tinha cintas ao comprido cabeça ;
pouco mais , mas melhor do que o da balèa & o pey xe na cor era todo
;
negro diíferaó alguns que era peyxe Mulo j que nas índias de Caftella
:
viraó muytos , & que os que o matàraó , eraó peyxes Efpadas , de que
vinha muyto atraveifado pela barriga. Outro peyxe tinha fahido à Ilha,
como hú baleato j & concluhio-fe fer o peyxe chamado Boto.
C A P I T U L O XX.
Da Venerável Madre Margarida de Chaves , tida cojn^
mummenteporSanta-^érmilagro/a.
íiobrc, Sc Cavalleyro profeíTo do habito de Saó Lazaro , que era Ordem ^r- .„ j,„^í} ^^ ^^n^
Militar, & nobiliíTima entaój morou em Ponta Delgada, fendo ainda J Margarida 4&
Villa, & morreo já muyto velho em o anno de 1 540. fobre nobre era taõ chaves.
rico, que tinha cento SiC cineoenta moyos de trigo de renda cada anno,
além de outras muy tas fazendas ,& rendas. Fez huma rica ,& bem la-
vrada Capella na Miíéricordia de Ponta Delgada , & da invocação de
Saó Joâõ Bâptifta, & nella eftá fepultado em huma fepultura alta de pe-
dra negra com huma MiíTa quotidiana j & pata Capella & MiíTas dey-
,
xou trinta moyos de renda cada anno ; deyxou mais o fitio em queí^
fundou o Hofpitâl i & renda para huma cama & fuílento de hum poh
)>
êc delia teve huma única filha chamada Maria AfFonfo , que fuccedeOí
no morgado, que fundou o pay, Sc cafou com hum nobre Varaójque ve«;
yo da Ilha da Madeyra , de fobrenome ( Chaves } & foy p primeyro
,
III
driguezdeChayes nafceo mais Catharina Fernandez ^que cafoucom
«t!
Françifco Gonçalves, & deft es nafcèraô M
argarida de Chaves , que ca^
fou com Belchior dà Cofta Ponte , & Maria de Carnide máy de Fran-
eifco AíFoíifo ; & do mefmo Mattheos Fernandez , & de Brites Rodri-
guez de Chaves nafceo também Maria Rodriguez de Chaves , que ca*'^
foii primeyro em Angra com Gafpax de Efpinofa , Caftelhano , & Cabo
ceo mais D.Salvador de Efpinofa , que por fuás grandes partes foy Ca-
•
pellaõ da Capella Real de Madrid em tempo de Felippe 1 V.&: là mor-'
rco ha mais de quarenta annos.
240 Da fobredita Maria Arfonfo íiafceo mais Anna Fernan-
dez, que cafou com Fernaó Cârneyro,dos quaes defcendeo Annade
Tevesiôc defta nafceo AnnaCarneyra, máy do Clérigo Manoel Nico-
lao. Nafceo mais da mefma Maria Aftbnfo huma filha Magdalena Fer-
nandez , que cafou com AíFonfo Enes de Chaves j que da Madeyra vc-
yo também j & deftes nafcèraô féis filhos primeyro , Antaó de Chaves,
;
'
de Martinho da Goftaj quinto, Barbara de Chaves, que nunca cafou, &
. foy femprepeíToa de grande virtude, &
geração. r»
que de mil parentefcos dé fidalgos & por iíTo digamos ainda o marido^
j
trando bem com ifto , que fó por obediência aceytàra o eftado de cafada, 4:
& que mais queria as virtudes por defcendencia de fua nobre cafa , do
que muy tos humanos defcendentes j & affim morto o marido, fe metteo
^
logo na tercey ra Ordem da Penitencia do Seráfico Padre S. Francifco,
fendo ainda de idadede vinte & féis annos , dos quaes foy cafada doze.
•
243
;': -
Nefte eftado de viuva Terceyra Penitente viveo trinta Como fe mettes «4 &
quatroannoseftaReligiofiflimapeíroa,& tamdada à penitencia , que l''"^'^.P''^'^f^
€m lugar das galas que em vida de feu nobre marido era obrigada a tra- ;JZTme»ci^ S
'
zer , trazia continuamente , debayxo do honefto habito de Terceyra, aí-^^^^^ ^
peros cilicios, & nem as noytes dormia em cama , mas no puro fobrado
da cafa com hum madeyro por cabeceyra , & o mais da noyte paífava
em oraçaó,& repetidas difciplinas j doze annos jejuou todos os dias, ex-
cepto os Domingos ,fem tomar confoada alguma > todas as Seftas feyras
a pâõ , & agua & da mefma forte todas
, as Qiiarcfmas -, & chegou a paf-
far huma inteyra feraiana Santa defde a Dominga de Ramos da Paf-
atè a /
choa, fem tomar comer alguraj & tendo fido taó rica, & naó faltando adr ^
^
filhos com tudo o neceíTario , conforme a fuás peflbas, officios, &: aulen- yiii.,1,
'fvirtttdes7heolo^aes,ào arrebatada em efpirito ao Ceo,& vendo aos Coros dos Anjos, & ac^
'& Divino amor </e mais Bemaventurados, a eftes, & aos Anjos tudo era perguntarlhes,An^
Dtos a fue chegou, jos, & Santos do Ceo,
aonde eftá o meu Deos , & meu Senhor ? que aqui
fo atirava fua sfperança & nada do mais lha fatisfazia &: de muytas iU
, :
luftrações que tinha, fempre tirava hum faftio de todo o que Deos náo
era, &huma perpetua fome, &faudade de Deos ,& tíió intenfo ódio de
toda a culpa, que aíTentaváo comfigo os dous: citados fugeytos , que tal
'
.
,
'>
vel de Deos , do Senhor Sacramentado dos Anjos , & Santos todos , &:
,
-.
.
fe quizeífemos tratar , feria nunca acabar pois atè ir defta vida para ò
j
Ceo alma taõ fanta ,com ter tido larga vida nugmeiatou fempre as vir-
,
tudes fobreditas , & o mefmo Deos manifeftou tanto fua gloria , como
agora veremos.
/
247 Ainda em vida defta fua ferva obrou Deos por ella tam
grandes maravilhas, queo Doutor Fru£tuofo affirmou, que naó oufava
rogar a Deos por ella, ainda em feus íacrificios, viftos taes prodígios,
quaes Deos por ella obrara; mas que rogava a Deos que fe lembraíle dei-
le pelos merecimentos de tal Santa & não refere comtudo, & em par*,
;
com efta nova fahio da oraçaó taõ alegre , que admirada a filha lhe per-
guntou ,qiie alegria era aquella. Refpondeo, que era o faber jà, quando
havia morrer. Naô fcy de que mais me admire fe de tal deíapego de-
,
pecca-
Xl^ Livro V. Da fatal Ilha ác S. Miguel.
peccado j volta para fua cafa , & faz peíiitencia delle. Oh quantos milâ°
grés vaó cm cite juntos mas por brevidade deyxemos outros muycos.
!
mair f j l •; H9 Vendo emfim efta fiel ferva de Deos , que fe lhe chegava
dJe^&aJor doTan. ° ^^vclado tempo de fahir deita vida para a outra,& adv ertindo, que por
tapobrez.a^ &prodi- ^"^ morte fe achariaõ os inítrumentos de fuás morcificaçóes , & penicen-
'?!! I
gioi^nç Qbroft. -cias , a todos de tal forte os desfez , que não pudeílem acharfe , nem por
ieus próprios filhos j & a eíteS lembrava muycas vezes , que mais queria
vellos humildes , do que em póftos, Sc dignidades grandes. Oh exem-
plos raros de humildade deita lhe nafciao grande amor à virtude da
!
pobreza , & aos pobres j & aílim dizia , que fe não tivera filhos , nada
refcrvari.aem cafa, que em huma mortalha de efmola aenterrariaõ j ôc
fempre que via ás fuás portas muytos pobres , fe alegrava entaô muy to,
& a todos foccorria j & demais mandava faber de todos os foraíteyros
pobres, & honrados , & occultamente lhes mandava efmolas grandeSjSc
huma vez paíTando pela fua porta para a cadea hum pobre por dividas,
pedio á jultiça, lhe diííeífem que dividas eraó aquellas, & fabendo-o
as pagou todas , & dalli voltou o prezo para fua cafa j & porque coílu-
mava comer ámefa com algumas mulheres pobres, em as vendo mal ve-
ítidasjfe tirava feusveítidos , Sclhos dava,& por vezes os tirou à fua
própria filha, & os deo às pobres. E tanto fe agradava Deos deitas ef-
>inolas , que muytas vezes lhe crefcia o trigo em feus celleyros, o paó co-
zido nas arcas , & em fuás próprias mios tudo o mais que repartia aos
pobres :& huma vez que qucrendo-lhe huma pobre fallar, refpondeo
que não podia , diíto logo tanto fe arrependeo , que logo a foy bufcar a
fua caía, & lhe pedio perdaõ , & lhe deo a efmola que queria , 6c nunca
mais a pobre a negou.
250 Chegado pois o dia doNafcimento da Virgem Máyde
Deos, em oyto de Setembro de 1 5 75. tendo eíta Santa Matrona feííen-
taannos de idade, & recebendo eíta pura alma todos os Sacramentos
&
[Morte prevíjfa ,
^j^ Igreja , fem dar final algum de fua próxima morte , efpirou , & fe foy
fant^.
^Qj^ ^ Virgem Sacratiílima a renafcer em a Bcmavénturança porém a-,
gloria deita humilde alma , que ella queria taó encuberta , deícubria o
mefmo Deos com taes prodigios , que fó com agua tocada cm huma fua
relíquia , & bebendo-a em Saó Miguel hum Ruí Gonçalves, & na Uni-
vcrfidade de Coimbra huma Dona Ifabel , fobrinha do Doutor Gafpar
Barreto, Reytor do CoUegio de Saó Pedro , eítando ambos já ungidos,
& para logo efpirar , em lhe fazendo levar a dita agua , de repente tor-
narão em fi , abrirão os olhos , & ficáraó faós de todo. Em Saó Miguel
havia huma cafada , Petronilha Pereyra, que defde feu nafcimento nun-
ca teve o terceyro fentido do cheyrar , & huma fua criada eítava mortal-
mente enferma trouxeraó para a criada a agua tocada na relíquia da
:
Santa j & vendo-a a que carecia do fentido , logo o teve perfeytO)&: be-
bendo-a a criada , ficou de repente faâ. Em Villa Franca da mefma Ilha
de Saó Miguel huma Maria Francifca , fanguinaria antiga , & outra do
mefmo nome, & doente, que por incurável jà a tinháo dey xado os Mé-
dicos, em cada huma bebendo a dita agua, faràraó perfeytamente. Em
Coimbra , no CoUegio da Companhia deJESUS, hum Padre Joaó
Baptiita, que havia doze annos padecia mortaes aecidentes do cora-
ção.
Cap. XX.Daíântamóíte,&vcnc^qtctâQSxreãturâ. 117
caô, &c melancoliaj bebendo duas^ 011 três gottas da dita agua, naõ fó Ir.
vrou logo do mais forte accidente , mas nunc^-naais lhe tornarão , eom
viver amda muytos annos. No mefmo Collegio , 6c da mefma mortal
doença, chegarão dousjambosjàungidosa ás portas da morte: não oc«
çorreo darem a agua ao que ainda não era Sacerdote,Sc morreo j deraõ-a
ao Sacerdote , & ao fegumte dia fe levantou bom , & íaó. Deyxo outras
maravilhas , que fe podem ver na recopilada vida deita Santa impreífa
cm lingua Caftelhana, cujo titulohc (Breve Compendio de la vida fana-
ra de ia Venerable Matrona Margarida de Chaves , de gloriofa memo-
ria.} E eu a tenho em meu poder.
251 Depois do falecimento delia Santa f diz o noflfo Fruduo*
fo) a manifcftou Deos por tal com muytos milagres grandes , &: de di-
verfas caftas , que fez naõ fomente nefta Ilha, mas em Portugal, no Ar-
cebifpado de Évora , no Bifpado de Miranda , & Bragança , & no de ÚltlMIi
fua fepukurafe devia ter rerpeyto,& acatamento, &fazerfe-lhe alguma J^''^''^^J ^^^^iJ
diíFercnça das outras,&c. O
que confiderando o dito Senhor Bifpo, jul- ^*~ ^ ^
^^^^^ ^^
gou a vida por íanta , &: approvou os milagres , 6c mandou que à fepul- jg^ftitHra.
tura aonde eftà o corpo da Santa,fe tiveíTe refpey to,& acatamento, 6c ao iri'
W
í * 9íi
.
'
^v ;*ji. i^uctt.n I
CAPITULO XXÍ.
íl^!
Companhia de JESUS deSaó Miguel, pois por í"ua interceíTaó , & pe-
da» a Ilha de S. Aíi-
la do Doutor Gafpar FruftuofOi íoy radicalmente fundado. Sendo
já
fundado havia annos oColiegio de Angra da Ilha Terceyraj& fendo
feu Reytoro Padre Luis de Vaíconcellos, efte mandou em miífaó à Ilha
i de Sáo Miguel o Padre Pedro Gomes j que de nação era Andaluz, crea-
do porém, & recebido na Companhia ém Portugal, & o mandou noan-.
no de 1 5 70. & foy tal o exemplo de virtude ,& letras j que o Padre deo
naquella [lha , que aos moradores delia os accendeo em defejos dete-
rem aili femelhantes Padres j depois delle veyo do mefmo Collegio de
Angra o Padre Pedro Freyre , que foy o primeyro, que em miííaó tam-
bém foy à Ilha de Santa Maria, & a ambas eftas ilhas com fua pregação,
& muyto mais com fua raramodeftia , & grande exemplo de vida aug*
mentou muyto a todos no amor , &: dèvoçaò de taes Religiofos. O que
fabendo o Collegio de Angra , mandou em terceyro lugar por Miíliona-
rio a Saó Miguel o Padre Simaó Fernandez, natural de Gouvea na Pro-
vincia da Beyra, & Pregador de muyto nome em Portugal.
254 Juntos eftes três Padres fe recolhiaó na cafa da Santa Mi-
fericordia , & neila os fuílentava hum nobre Cidadão, chamado Joaõ
Lopes Henriques , natural do Porto , &: morador em Ponta Delgada,
que tinha dous irmãos na Companhia em a Província de Caftella cha- ,
jde toda a forte para comporem Igreja, Si feu fobrinho Simaó Lopes aju^
4oLi também com varias efmolas.
255 Tratou-fe logo do íitio em que fe fundaria o CoUegiOjSc
logo fe aífentou no em que hoje eftá bom , & fadio, & livre de monte ai- J^of^gf^^^» Confatt-
gum à roda dentro ainda da Cidade , mas da parte ;do Norte para a ^'"^/'"' ^*'
,
terra & com boa vifta vindo para ó mar i & logo hum nobre Cidadão, r^^^^/^7 * "
fcTIa'^'^
,
*
chamado Manoel da Cofta , irmaõ da avò paterna dos Padres Gonçalo
deArèZj&Joaó Borges da Companhia de JESUS, filhos de Duarte
Borges da Cofta , deapara fe fundar o Collegio parte do íitio em que
eftá , & humas cafas que alli tinha , que foraó o nafcimento > & princi-
pio do dito CoJlegio foy ifto em tempo , em que o Padre Simão Fer-
:
cedeo em Superior o Padre Fernando Guerreyro, & poz a obra mais Comfanhia fmdoft\
çmfórma,poriíro chamaó primeyro Superior alguns ao dito Padre Collegio de S.Miguel
Guerreyro , que era natural de Alem-Tejo , de Almodovar , & depois í^ " ^f""' ^'"^"^.
em Portugal foy Secretario da Província , Vice-prepofito de Saô Ro. J^t:;, «/.ri
que , de grande prudência , & obfervancia, refpeytado dos Prelados, & c<imeTA dePmtaDel
Senhores do Reyno , & o que compoz as Cartas Annuaes do Oriente, gada deo apofe^&fi-,
<5c em S. Roque faleceo. coh fendo efieCollegia
256 No primeyro de Novembro de 1592. fe abrio o funda- ^^^ R*JidèciadoCol- w
mento ao Collegio, & Igreja onde ainda hoje eftá & para iíTo veyo da í^" ^"gr^iM'^^
,
''^
V pçrior
Livro V. Da fatal Ilha de S. MigueL
perÍGrentaõ, lhe alcançou tudo de Roma. Ejàem 1591. para o novo
Collegioj&feuficio deoFranciíco de Rcdovalho oyto alqueyres de
terra que alli tinha, ík hum lhes accrelcentou Leonor Dias j 6:0 Li-
cenciado Joaó Moreyra hús foros de hunjas calas juntas à Fortana,, que
logofe derrubáraõi outros concorrerão com boas eí molas, como Gaf-
&
par Dias, &: fua mulher Annade Medeyros com dez moyos decai,
três arrobas de ferro ,& duas pipas de vmho,& quatorze tomos de
Theologia para a livraria i& o grande Doutor Galpar Fruduofo lhe
deo toda a fua livraria , & outros bés de grande conta , como já diííemos
em fua vida.
258 O fegundo Superior (depois do Padre Guerreyro) foy o
Padre Jacome da Fonte, peffoa muyto grave ,& muyto grande Reli-
giofo,em cujo tempo deo D.Brites para a Sacríítia boas efmolas,& qua-
trocentos mil reis em dinheyro pafaoCollegio} &Hieronymo Gon-
çalves de Araújo deo cento & trinta mil reis para o Gol legio em paftelj
& Álvaro da Cofta deo huma tulha com feu quintal na entrada da rua
Dtõs fegmntes Supe- doMeílreGâfpar,& humcaliz de prata, & cincoenta mil reis em di-
riores tjHc honva ^& nheyro. Naõ fe apontou donde era natural efte
Superior, nem o tempo
'5!
de outros ben^feyto- em que entrou por Superior , mas fó que fendo-o ainda, faleceo, & com
;
:
I I
I
fítdoCollegH.
'íiM
geral fentimento de todos.
^^t.%%«? 259 Terceyro Superior foy o Padre Luis Pinheyro , natural
de Aveyro , & começou em Julho de 1 596. & acabou em Fevereyro de
1600. & voltando ao Reyno foy companheyro do Provincial muytos
aníios , Vifitador das Ilhas , & Procurador na Corte
aondeimprimio a
,
alqueyres de
tharina de Frias deyxáraó ao Collegio de S. Miguel cinco
vinha,& dous moyos, & mey o de renda de trigo. .
.
,2Bi Cly-
Cap,XXL'Dos Siípdó tal C!ólitó(Juãtofbf RefídencI iji^
rou a cerca do Collegio pela parte de cima, qiie he cerca boa, & grandéj
mas lendo Superior morreo, &èftâfepultadonaCapella mòr. AsRelii
gióes, & Clerefia vierâõ fazer fuás exéquias fumptuofamente , tendó-aS
clle fey to na morte do M. Rever. Padre Geral da Companhia Cláudio'
Aquaviva , na mefma Igreja com Eça levantada j& ornada de muy tos
lumes coufa que foy tam approvada em Roma, que logo fe fez decre-
}
i6i 8. tendo vindo de Reytor de Angra , para onde tornando morreo làf
Duodécimo foy o Padre Roque de Abreu natural de Lisboa, começoii^
,
íeis mil reis ao Collegio j & Ifabel Luislhe deyxou trinta alqueyrcs de
-O-ww^^íWí/rf-íÇ*:^
'*''^'**
renda fixaj 6c o illuftriíTimo Conde Capitão D. Manoel da Camera dep
huma alampada de prata que cuftou entaó cento & quarenta mil reisf»'
,
&huma Cuftodia de prata dourada, & hum púcarode prata para ola-
vatorio,6c por outras vezes deo dinheyro, trigo, vinho, taboado,& pof
ília morte deyxou hum legado de oyto miltruzados em dinheyrOi& tal
aíFedo tinha à Companhia, que defejou muyto entrar nella; ôro faria
emfim , fe a morte o naô impediíTe. Decimo tercio Superior foy o Padre?
Manoel Nunes, natural deNizajveyo de Reytor de Angra, entròir
neffe Superiorado em Mayo de 1620. & fahio em Septembro de i62ii^
tendo fido em Coimbra Méftre infigne de Grego,&: Hebreo.
-
faa morte , dezoy to mil reis em féis annos, para fuften,to do dito Meftre \^i,c «mí» . ui».
y ij
•:p.ii
pieyo moyo de trigo por quatro annosj & o Cápitaó António Borges da
Coita hú 'quartèyrotambem por quatro annos i & Manoel de Figuey-
redo três quarteyrosi & Catharina de Araújo, mulher do Licenciado
Joaó Moreyra húrn moyo.em dous annos do que tudo bem fe vè o de-
-,
íejOj & zelo que tinhaó taes Cidadãos de que os Meílres de feus filhos
íoíTem da Companhia dej .ES USí& p agradecimento que efta teve em
lhes porem cadeyras perpetuas fem perpetua côngrua para psMeílres
deilas , nem ainda para as ridas , & vjiidaç.de Portugal , pois atè o Lentç
Wl:
djçTheologia Moral naó te,ve congrú^ determijiada nem a tem o da
f
I
!l
264 i0|,Pecimo quinto Superior rfoy o Padre António Carney-
ro,naturaÍde LÍsboa,& governou defde Outubro de 1623. ate Novem*.
brp de 16*7; ;& vindo faleçêo depois no Collegio do Porto. Em leu
tempo, & epmvdinheyrodpllluftriírimp Conde Capitão D. Manoel da
T»
Da ^ r »., Camera , fe comprou a Ouinta da Grimaneza ,.& fuás terras , & vinhas.
€onfraría de N. ii
. .
'. r A' í-' A/r 1 -n t-\ j
Confraria dos Officiaes de Ponta Delgada , cem a invoca-
•
, .. 1
forD. Rodrigo Lobo noel de Andrade, caiado com Maria Alvarez de Aguiar, dco cem cru-
natural zados, que fe gaftáraóeni ornamentos da Igreja ;
dít Silvej/ra^ a viuva fua mulher &
dalerccjra, Ca- &
deooutras efmolas. Inftituhio-fe aConfraria de Santo Igjnacio porde-
SfÕapitáo General da Ilha D; Rodrigo Lobo
''«í^'rltÍ^/ê^°Ç^°'^°^°^^'""^^°*'^
*^*
" da^Silveyra , naturaí da Ilha Térceyra , Sc neto do Fundador do Con-
^odit9^Sant9. *
" -
-'
£,^
vento
fP
Cap.XXI. Conclaere com a dita RtíIdencU da CompI 251
•?reato'deSaõ Gonçalo de Angra , fidalgo de grandes partes 3 & fempre
bem aceyto em Sao Miguel elle pois tez que fe fundaíre a dita Con-
:
outra quando veyo a confirmação de Roma ;& ido para Portugal o taF
Governador , então o Padre Luis Lopes desfez a Confraria, por razées^
que teve para iíToj mas fuccedèraó logo os terremotos do anno de 1630.
26Ó Decimo- feptimofoy o Padre Simaó de Araújo , naturaí
S. íramlCcõ Xdvie?^
deCoimbra, que começou em de Septembro de 163 1. atè 13.de Fe-
2.
Concedido por PadrO'
vereyrqde 1Ó3Ó. &em i632.concedeo o Reverendiflimo Padre Geral eyro de Ponta DelgH'
à Camera de Ponta Delgada por feu Padroeyro o Santo Xavier , por da , por Bfílla d^
^Bullade pergaminho que eftá nõ Collegio, & fe confirmou em 1658. 1658,
& a Camera fez afiento de aíTiftir à fefta do Santo, & dar cada anno cin-
co mil reis para a tal fefta , & de ficarem fervindo na Confraria os Offi-
eiaes da Camera que tinhaó acabado. Em tempo de fte Superior íe aca-
bou o Corredor grande de cima, & o pequeno que 'acabava na varanda,
como jogo do truque junto aellaj&o llluftriílimo Senhor Dom Joaõ
Pimenta de Abreu , com omuyto Reverendo Arcediago Manoel Ca-
bral de Mello, & com Pontifical, & folemnidade grande benzeo os Cor-
redores de cima , & de bayxo, & no fim da manhãa praticou ,& ficou no
Collegio atè a tarde , em que fe viraó os Altares, & armações , & fe leraó
as Poefias & depois fahiraó o Padre Manoel Monteyro por húa parte
-,
da Ilha, & por outra outro Padre, &: correrão allha em miíTaó Apoftoli-
ca. E no mefmo tempo fe deo de efmola para a Igreja húa alcatifa gran-
de , Sc outra pequena, & a cadeyra das praticas, & outra efmola com que
fefez a bandeyra das doutrinas }& o Reverendo Manoel Fernandez, Do fMHyto Revirin^,
Vigário de Saó Pedro de Villa Franca , deyxou ao Collegio dous mo- do Manoel Perna»
yos de renda perpetua-, &: deo três moyos por hiima vez à Sacriftia , ten- des Vigário de Saõ ,
do jà dado efmolas de importância em fua vida. E vindo por Vifitador Pedro de nila Fran-
cajnjigne Bemfejtor^
o Padre Diogo Pereyra (depois de ter fido Lente de Theologia) al-
,
do Collegio^
cançou de N. Rever. Padre Geral que os Superiores do Collegio de
Ponta Delgada foflem dalli por diance Rey tores com patente de Roma;
&logo o Licenciado Ruí Pereyra de Amaral, Irmão da Companhia,
fez as novas duas ClaíTes , de Primeyra, &c Segunda.
CAPITULO XXIÍ.
de 1591. atè o de 1636. então em 13. de Fevereyro veyo por feu pri- "^.^^'''"^^'^'f^/:
meyro Reytor cora patente de Roma , o Padre Luis Lopes , natural da ^/^*^73rff Lni
dç Junho de.i639..Em
Vidigueyra em Alem/
m-Tejo, &: o foy atè 1 2. feu - -
^JJ^
"Eii
viy teni-
" Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguei. j
$^4
tempo, a 3. de Julho de 1638. tremeo a terra eípecialmente em S. Joaé
,
dos Ginetes , defronte do qual íitio , & huma legoa ao mar , Sc no meyo
delie , & de repente , arrebentou do fundo tal fogo íobre o mar jquelò-
bre cllefez hum tal llhèo decinza j terra , ôc pedra pomes , que durou
muytos dias, & noy tes, & matou grande copia de peyxes & íe na terra ;
legio comprou avinha nova, que foy deCofme Sarmento: ^íç^z naç
Furnas a Cafa ,& Oratório para quando lá va6 os Padres j <k em 1636.
deyxou Hieronymp Ggnçalves de Araújo cem mil reis para ajudada
retabolo do Altar morda Igreja nova.
269 ChegadoJulhodei639.paírouporSaóMigueloMefl:re
de Campo D. Diogo Lobo da Silveyra , natural de Angra, que hia para
o Braíil.& com elle hia por Vifitador do Brafil o Padre Pedro de Mou-
ra, que levou por feu companheyro , ou Secretario o Padre Luis LopeSf
'
'
que acabava de fer Reytor do Braíil voltou o dito Padre Luis Lopes
;
maiídedom mez.es. na o Senhor Rey D. Joaó o IV. & foy logo recebida com repiques , &
luminárias géraes,que duràraó por muytos dias,& com o Senhor expo-
fto na Igreja do Collegio em o primcyro de Mayo de 1 641. & aos cin-
co fez o Collegio prociíTaóde acçaóde graças, com a Irmandade de
Noíía Senhora da Vida, com muy tas figuras , & Anjos , &: d -'ante os me-
ninos da efchola , todos bem veftidos ,& com capellas de flores nas ca-
beças, & triunfantes palmas cm as máos. Neíte Reytorado fe accrefcen-
tou muyto o Santuário da Igreja,& fe comprarão os órgãos ao Conven-
to da Efperança , para o que concorreo Francifco de Moraes Homeny
"com
^P
Câp.XXIl.Dos noms Kcyt.da Rcfid. levanta Collcg. ^tj^
í
.j^s: Terceyro Reytor foy o Padre Diogo Pereyra, natural de
Viana de Alem-Tejoi começou a 3.de Fcvereyro de 1643.&: acabou ém
i3.deSeptembrodei646. Nefte Reytoradofe fez huma Miífaõpor
toda a Ilha que durou dous mezes , com grande fruto das almas eora- ;
Canto, 6c airmâa deft a, D.Lu iza deraó outras varias efmolas & hum :
racn tos dos outros , por iíTo defte quarto Reytor naó digo mais i & fer- tra Mijfaifepa pU
virà iílo de avifo para haver quem aponte o digno de fe apontar.O quin-
Ilha,
tudQ era exemplariíTimo ; nas letras foy excellente Moralitta tmha ^^^^ -, &
J^^^^ ^ '^^.^^/^^
grande voto nas matérias de Moral j na predica era &
bem ouvido ,
j^^^j^ „^^^^
"^
&
com grande atrençaô pelo que dizia ,
pofto que fem forças para aturar
de Adventos, & Qiiarefmas. No ultimo dia de feu trien-
iriuyias tarefas
aio chegou licença para fe começar Igreja nova , poucas horas antes & •
de
^3^ Livro V. Da fatal Ilha de S. Miguei.
guns lhe eftranharaó, devendo-fe-lhe iauv ar o zelo que niíTo tinha , po-
isrèm vindo encaópor Viíitador o VeneravelPadre íviánoel Fernandez,
/de. quem fareiaos a devida mençaó em feulugar, leguio-fe o Keytor fe-
guinte. ...u: ./ i.i.
iiirfi
entra Mtjfaõ pela, "^í ^^ \ú1íl ^ ranca}&: nefte tempo vierao os quatro caííiçaes de pra-
Mha , &
depois /o; ta do Altar mor, o prato, & &
jarro desagua às mãos , com dmheyro da-
Reytor de Braga , & dó de efmolas à Sacriitiaj & logo foy o Padre Pedro Lcy taó com outro
morreo na Kefidencia^Padre companheyro emmiíTao pela ilha por efpaçOjde hum mez j & a- ,
denoffa Senhora
Camcra da Cidaae à inftancia do Licenciado Rui Pereyra de Amaral,
<^^.
-
'^^*'-
& para a fefta .do Santo Xavier , mperpetuum, deo hum pedaço de ter*
ra ao Collegio i & ifto heo que le fabe.defte leptimo Reytor, que ao de-
;.poís foy Reytor de Braga, & zeloío da obfervancia , & morreo na Re-
lidencia de JNoíTa Senhora da Lapa, entre o Bifpado de Lamego , & de
Vizeu. .
'Pregador exeelleme, Sagrada Efcritura , onde foy Meíbe. Era exceilentiíTimo Pregador,
worreo fendo Rejtor
j^unianiíta fingular, & muy to copiofo tn dícendo , & tantoem os íingu-
-- '^
^ '-
lariflimos conceytos , que de cada Sermaó feu fe podiaõ fazer muy tos
Sermões, & jà quaíi todo brancoj & eftes eraó os Reytores que entaõ fe
donde vindo pregou em Coimbra comgéral
mandavaó para as Ilhas j
reedificou as duas aulas da Primeyra, & do Moral , & as cafas novas que
fe feguiaõ no canto do terreyro da Igreja; Sc tirou quatrocentos mil reis,
!'rí
de que o Collegio pagava cambio em Lisboa.
276 Nono Reytor foy o Padre Manoel Soares natural da ,
GAP.
fp
'
\í :
TU
'.
G A P I L O XXIIL
De outro terremoto -,& fogo que houve em S.MigueL
277 ini M huma Relação
manurcrita pelo Reverendo Antoni®
f>
Fernandez Franeifco . Vigário na Villa d'Alagoav6c tefe
íimirahade vifta,achey o que recopiladamente agora digo. huni Em
Sabbadoa de Outiiijro de 1652. antemanhâa começou a tremer a
12.
terra continuadamente atè os 19. do dito mez , & com tam fortes aba- ^
j^n^y^g 's'«nho¥ík
los,que na Villa d'Alagoaj& em particular na Freguezia de Santa Cruz^^ Rofario no terre-
çaliiraó feíTenta cafas , & nenhuma na de NoíTa Senhora do Rofario , & meto, & fogo do Pico
ÍQ ficou abalada fua Igreja , conio as mais das outras cafas , & o Conven- chamado de foaõRa,'^
to dos Capuchos, & comtudo nsaô morreo pcíToa alguma. As Freyras »»of f w 19. deOu-^
deRibeyra Grande fe fahiraó do Convento, bem acompanhadas do "
^*^*^
Ecclefiaílico, & Nobreza, & eftiveraõ quatro dias fora, atè fe tornarem
a recolher & os feculares' largavaó fuás calas , com tudo o que tinham
}
pio, bom Chriftaó,6c muy to efmoler } tinha, muytos annos antes a leva- Chnfto contra «i/jíí»
do às coftas ao alto do Pico de Joaó Ramos huma grande Cruz , 6c a ti- ^** f^ofog^t
nha era cima delle collocado j & jà por iíío o fogo tomou o caminho do
13^ .:LívfoV,Dafataí[íiiadeS.MigueOíX}Lqi; >
monte do Payò vizinho, & riaó do de Joaó Ramos flendo que defte fe
dizjquejáantçsda Ilha defcuberta, tinha em cima aberta a chaminé
Cafllgjí de ptccados
do fo^o , que lhe tapou a Cruz , para o naó lançar mayor. Defta forre
eíte fucceíToj fem morte que fe fayba de peíToa alguma j mas com
fá pára com a tmin^ paroví
4(1 delles. deftruiçaó de terras. ,„
. ^
m \
liares do S.Officio^& antes eftava concedido à Villa de ViUa Franca. A foi. 327. eftaõ os pri-
dos Offieiaes daCra- vilégios dos Familiares do Santo Ofíicioi & a foi. 432. eftaõ também os
s;,ndit.
privilégios dos Officiaes da Bulia da S. Cruzada.
281 E porque alguns Capitães Donatários excediaõ os pode-
res de fuajurildição, por iflb a foi. 159. & 167. declara ElRey , como,
^ioncederfe ao Capitão de húa Ilha em fuás doações a jurifdiçaõ do eivei,
& crime , não he fazello Governador da Juftiça por ElRey , &
que ne-
-fihúa poífe, ainda immemorial,val contra ajurifdição Real.E que nem o
tal Capitão, nem os mais Capitães das Ilhas não erãofenhores das Ilhas,
mas Capitães fómente,queheofficio de Governador: &afíim a foi. 130.
cftáaprovifaõ de Felippe Segundo de 1584. em que mandou quey-
mar , aílim/como eftava cerrada, Huma eleyçaÕ de pelouro da Ca-
mera , que o Capitão da Ilha tinha feyto em falta do Corregedor ,& a
«fte fe manda, que com o Juiz de fora a faça i & ao Corregedor fe avifa
que venha a tempo da Terceyra para a fazer em São Miguel era então :
natários, poder o Conde Capitão embarcar feu paó fem licença da Camera,&r pa-
ra não quebrar as pofturas,&: acórdãos feytos na Camera. E a foi. 25 1. atè
258.eftâooutrasfentenças havidas pela Camera contra o Ouvidor do
,- -
*P-^
Cap.XXIII.Dosprivil.dePõt.Delg.&dosCapIt.Doriat.ij^
ça, ou receberáó a
appellaçáo interpofta , pofto que os cafos^caybaó na
alçada-
pronunciandoquenãoremettema peífoa , entáo nãoferaó o-
&
dajuftiça j porem fe a Parte appellar , re-
brigados a appellar por parte
cafo cayba emfua alçada. E quando
ceberão a appellaçáo, pofto que o
à immunidade da Igreja ,os ditos Capitães, ôc
as Partes fe chamarem
Governadores terão niflb a maneyra que pelas Ordenações he
manda-
Comarcas. E ifto fe guardará af-
do que tenhão os Corregedores das
provifoés que os ditos Capitães tenhão
fim fem embargo de quaefquer
contrario, por mim confirmadas, &c.
Aírimlelèafol.3io.emcarta
em
Realdei6.deMayodei62o. 4 j • ^
&
• •
n. o
284, Conclue-fe pois com as noticias delta grande, rica, no-
UVRQ
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L IV R O VI.
DA
ILHA TERCEYRA,
CABEÇA DAS TERCEYRAS.
C A P I T U L o I.
Vaz Tcyxeyra atè 1419. & que nefte mefmo annofe defcubrio pelo di-
to Zargo a Madeyraj &: a Ilha de Santa Maria defcubrio o illuíire Gon-
çalo Velho Cabral em 1432. & dahi a doze annos , em 1444. fe defcu-
brio a Ilha de S. Miguel-, nâo concordáo comtudo os Authores, em por
quem, & quando foy defcuberta a Ilha Terceyra.
2 Confta porém que pouco depois de defcuberta a Ilha de S,
Miguel jie defcubrio a Ilha Terceyra porque tendo fido defcuberta a
;
X cubíí"
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«Mm laUMÉi wV
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ié*
t4£ Livro VI. DâHegia IlhaTcrceyra,
'«' III
cLibrimento a teiceyra i fegue-fe que fe defcubrio em algum
daquelles
cinco para íeis annos, defde 44,. atè 50. &
como nefte de 50. jà havia al-
iit
i<!ií
logoemij^j.fedef. Maria, & 25. depoisde defcubertaa Madeyra. Dodia que fe defcubrio,
cHhrioaIlhaTercei- confta que foy «m
diafeílivo, 6v efpecialmenfe dedicado ã Chrifto Sal-
ra, & na qmntafey- vador noffo poisj)or iflb fe chama Ilha de ES
, J Chrifto , U
tem por &
TA da Semana Santa
^tit
^^mas hCi Chrifto crucificado,& a Sè fe denomina, S. Sè do Salvador, A
ú^Hdlemm.
í«lill»ílii ^^^^ ^^^ ^ Q^^^ào tem por Armas,& feu fello a hum Menino JESUSj
donde hús dizem que o dia foy oprimeyrode Janeyro,da Cincumcifaõ
de Chrifto 0utrQS,que o dia da fefta do Corpo de DeoS}8c o mais prova-
rei parece, quefoy o da quinta feyra da Semana Santa em que foy int ,
^Ke em terceyro /»- câdoreSjquizeííe que huns mareantes foflem os que defcubriílem a Ilha
gar fe defcdbrio ; (^ Xerceyrai pois também quiz que a Madeyra foííe primeyro defcuberta
fP
Cap.í I.Do prim. Donát. & FõvSMíSfes 3é tòdl a Ilha." Í4j
Oceano ferem eftas defcubertas em terceyro lugar , pois ifto hemani-
féftamente falfo ,
de Cabo
pois primeyro fedefcubriraó as Canárias , as
Verdejas da Madeyra , & em quarto lugar eftas i & Gafo negado que
naó contem por Ilhas de Portugal as Canárias j nem por iflb as de Cabo
Verde , ou as da Madeyra , fe chamaó as fegundas ; logo nem eftas poc
iífofechamáo as Terceyras a verdade pois heque defta Terceyra he,
:
CAPITULOU.
Do primeyro Donatário , & Povoadores de toda a Ilha,
^ T-^ Efta matéria trataóGonies de Zurara , Chronifta mordo
&
\ ij Reyno, & Góes, & Barros, Guedes j & o noífo Fruftuo-
ioliv. 6. cap. 1. &c no cap. 7. traz o primeyro provimento que o Infante
D. Henrique fez de primeyro Capitão Donatário da Ilha Terceyra,
em 21. de Março de 1450, cujo inteyro,& formal traslado , he ofe-
guinte.
6 Eu õlnfanteV.Henriqííetkegedoriò' Governador da Ordem
éa Cavallana de N. Senhor JESUS C rijioy Duque de Fizeth&fenhor da ^^ f^^y^j^^ Boã^àt
Covilhaaifaçofaber aos que efiammha carta virem ^ que Jacome de Bru-f^^taaoprimt/roCa'^
ges , meufervidor , natural do Condado de Flandes , veyo a mm
, ò- me dijfe, pttaode toda a ilh^
me pedia por mercê , que porquanto elie a queria povoar ^ que Ihejizejfe delia
mercê i &
lhe dcjfe mmha Real authoridade para ello^ comofenhor das Ilhas,
E eu vendo o que me ajjlm pedia )ferferviço de DeoSj ó' bem, proveyto da &
dita Ordem . quercnâo-lhe fazer graça , c^ merc} , me apraz de lha outor^
gar , como ma eUe pedio. E tenho por bem , ó' me apraz que elle a povoe de
mmlquer gente que lhe a elle aprouver, quefeja da Fé Catholtca , érfanta de
N. Senhor JESUChrifio &porfer caufa da prmeyra povoação da dita
-,
Ilha, haja o dizimo de todos osdizimos , que a Ordem de Chriflo houver ,pa^
rafempre,&ãquelles quede fua geração defanderem tenha a Capita^
-, &
nta, é^governan ça da dita Ilha , como a tem por mim João Gonçalves Zar-
go na Ilha da Madeyra , na parte do Funchal ; &
Trifiao na parte de Machi-
€0 ò' Pcreftreh no Porto Santo , mem Cavalleyros ò' depois delle a qual-
. ;
tmm
I
elle
aj/lm no
osfeytos de
ci"
mortes de homéSj o" taíhammto de membros , que rejalvo para mim , ó-- para
major alçada , ajjim como nas ditas Ilhas da Madeyra , ò" Porto Santo. E
me apraz ypor aíg Ús Jerviços que do dito Jacome de Briig es tenho recebido,
for quanto me dijje que elle naó tinhajilhos legítimos ^ &
jõmènte duas filhas
de Sancha Rodriguezjua mulher y que,Je elle nal howverfilhos varões dadi^
tajua mulher, que ajua filha major haja a dita Capitania , ó" os que defua
geração dejcenderem Cf na o havendofua filha major filhos , havemos por
,
^^^" í'^^ afilha feg unday que depois da morte dapnmeyraficar,poj[a haver a
iii t d ide íen prin-
g3lfoya Capitania dita Capitania par afilhos,ó'filhas,netos,& dejcendentes,& ajtendentes, que
de A figra privilegia- dos âitos defcenderem,com aquellas kberdades,é^- púderes,que aos ditos Capi-
da contra aley men- $ges tenho dãdos,porque affim Ofinto porfcrviço de Deos,iér accrefcentamento
tal^ coufa que a fit- ^^ ^^nta Fé Catholica,& meu-, feio ditojacome de Bruges povoar a dita Ilha
1:1!
nhnm
;
Capitão je con .
^^^^^ n^afe nunca fioube povoada de nenhuma gente que no mufídofojfe ate-
gora: & rogo aos Mefires, éf Governadores da dita Ordem que depois de
mimvierem quefiação dar & pagar ao
, Jacome de Bruges,&fem her^
, dito
dita Ilha houver como , por mm he dada, & outorgada ò" nao confim ao
lhe ,
\êv.
Weferfiejto [obre nenhum agg ravo & peço por mercê a ElRej meu
ello ;
Se-'
Ordem do que na Ilha je houver & que Ihejação pagar a dita dizima
dita' ,
mim he dado, & outorgado para fempre em todo faça & tenha a , lhe ter, di-
efia mmha carta, affmada por minha wao ,&fellada do felio de minhas ar-
. mas. Fejta em a Cidade de Silves ,a 2. dias do mez de Março. Pedro Lou-
renço afez annodo NafcimeMo denojfo Senhor JESU Chrifio de mil ó"
quatrocentos ò" cincoenta annos.
-
-
AreM.
•Brites 3 Sc a Dama fe chamava Sancha Rodriguez de Arca; & junta-
mente era tam rico, & taó Catholico, que fiou delle o povoar a Ilha, le-
var bons povoadores , & ir para ella ,& tudo àfua cufla ,0 que não fez
outro algum Defcubridor Donatário ; & por iílo mercê mayor que a al-
gum outro , pois lhe concedeo a Capitania não fó para elle, & para o fi-
lho varão mais velho que delle ficaííe , mas também para a filha mayor,
em cafo que náotiveííe filho varaõ & para fens defcendentes, fem ex- ,
fenáo depois de muytos annos , Sc de muyto antiga pofie , & muyto re-
petidos ferviços.
8 Enquanto ao que diz a Doação, que a Ilha Terceyra cííá,
bem duzentas &z feflenta legoas pelo mar Oceano dentro, Scc: gílim fe
fuppu-
^^
Cap.II.Do piim.Capit.JâCom.Bmgc~s,ac fuaReal carta. 24 jr
íuppunha então j porém hoje dizem alguns , que eftá de Portugal tre-
zentas & dez legoas, & a Ilha de Sáo Miguel duzentas & oytenta, trin-
ta legoas antes da Terceyra 3 &: quafi na mefma carrey ra j outros affir^
ináo que a Ilha de São Miguel eftá de Portugal duzentas &: cincoenta
h llh'
legoas, èc a Terceyra duzentas & oy tenta j & os mais concordáo, que S. J^'JT J^ ^^ ,^^
Miguel eftá duzentas & fctenta legoas de Portugal , & a 1 erceyra tre- ^ ttrrajime^
~
zentas &: ifto he o mais certo , ôc experimentado j & que fora deftas -
j
Ilhas Terceyras , fe não fabe de outra alguma Ilha mais diftante de toda
a terra firme j pois asde Cabo Verde cftáo mais perto dellaj as Canárias
mais perto da barbara Mouramaj as da Madey ra muyto menos longe da
Mourifca Africa & ainda as de Inglaterra eftáo mais perto de França,
-,
&: muyto mais as de Itália, de Alemanha , de Olanda, & das índias Ori-
cntaesj ôc Occidentaes, a refpey to de outras terras firmes,& vizinhaSj&:
^or iíTo também efta razão a/fina o noífo Infante para tam ampla mercê
fazer logo ao primeyro Capitão Jacome de Bruges.
9 Pertradição de algus velhos (refere Fruduofo/w.ó.rííf. 7.)
dep©is de defcuberta , como já diflemos , a Terceyra , veyo a ella hum
Fernão Dulmo, de nação Flamengo, ou Francez, &í: entrando çúo pyi^eyra I^eja^iA
N orte habitou no lugar que alli fe fez,das quatro Ribcyras,& com trin- Fregne^^ dd ilha^
ta peflbas que comfigo trouxerai& pôde fer q efte foíTe o que alli levan- Terceyra^
tou a primey ra Ermida , ou Igreja , dedicada a Santa Beatriz , primeyra
Frcguezia que houve em toda a Ilha j & querendo abrir , & cultivar a
terra, ( de que parece não entendia muyto} impaciente de logo lhe não
refponder como elle defejava , fe voltou a Portugal & ou defte , ou de
-,
tempo , lhe chegarão cartas, ( que diflerão alguns , ferem fingidas pelo ^^''^ ^^J"* f^^-^- ^
***
amigo Teve } em que fe lhe dizia fer morto hum tio feu em Flandres, '
& tão rico que lhe deyxàra a elle hum morgado de muy ta renda j o que
fabido, ou crido pelo bom B ruges, fe embarcou logo , & em tal conjun-
ção, que atè hoje nunca mais fe foube dellej & accrefcentárão algús que
o Diogo de Teve o mandou matar , por fe levantar com a Capitania^ 6c
com eííey to fe levantou logo com hua ferra chamada de Santiago, que o
Capitão Bruges tinha tomado para fi, & rende atè quatrocentos moyòs
de trigo cada anno.
1 Succedeo depois ir Diogo de Teve a Lisboa , & fer là pre-
zo por culpas lá commettidas , & então a Dama , mulher do Bruges , fe
foy queyxar a ElRey de que Diogo de Teve lhe matara feu marido , Sc
requererlhe o mandaíTe notificar que defle conta delle ^ Sc aílim o fez
Wi'' .^ ^y ElReyj"
MD
246 Livro Vi. Da Regia Ilha de Tcrccyra.
ElRey, Sc à prizâo lhe mandou dizer , que dentro de dez dias áeí^Q co-
IP« fidalgos Pains pia do Capitão Bruges , ou aonde eftava , vivo ou morto , fob pena de
J»glex.es , que haviaõ jnandar fazer juftiça delleTeve jôc tanta pena tomou o fidalgo Teve
fucceder na Capita- deita Real notificação que ao fexto dia morreo.E aílim não apparecen-
,
nia de toda A Ilha
do o Capitão Bruges , a viuva fidalga fua mulher caiou a mais velha fi-
Terçej/ra.
lha Antónia Dias de Arceeom hum fidalgo Inglez , chamado Duarte
Paim, Commendador da Ordem de Santiago, ác filho de outro fidal-
go Inglez , por nome Thomás Elim Paim , que tinha vindo a Portu-
VillW! gal por Secretario da Rainha Dona Felippade Lancaliro , mulher del-
Rey D.Joaó 1. & p tal Duarte Paim, começando a demanda comos
poíTuidores da Capitania da Terceyra, morreo, & continuou-a hum
filho feu , chamado Diogo Paim , & por fe não achar a própria Doação
feytaajacomede Bruges, (que dizem lha furtarão, & queymàráo}
;iiii I
deve eftar no tombo da Camera da dita Praya & a de Joaó Vaz Corte-
;
Praya & Adi Doa- ges que atègoraa teve , do qual ha muyto tempo que alguma nova fe nÍo ha,
j
ções.
pojio quejà por muytas vezes mandeyafua mulher que a verdade delo fou-
,
f^*»
m
ter» feytoao Infante meu Senhor ifeu padre que Deos haja , ér depoúa minh
'é- ãelle , confiando em afm bondade, lealdade, &
vendo afua diJ^ofiçaOt &
ãquaihe para poder fervtr o dito Senhor ,& manterfeudireyto, &jujttpi
em galardão dos ditosfervtços lhefiz mercê da Capitania da Ilhalerceyrii,
aj]im como a tmha dito Jacome de Bruges ,
lhe mandey delo darfua car- &
ta ante defta. por quanto a dita Ilha não era partida entre o dito Jacome de
E
Bruges, & Álvaro M artins & parte pela Ribeyra Secca, que dita
-,
he à quem da
que o dito João Vaz haja par afi iodos os moinhos de pao que houver
na dita
Ilha, de que affm lhe dou carrego , &
que ninguém nao faça ahi moinhos ,fo-
mente elo, &
quem lhe aprouver-, ifio nãofe entenda em mo de &
braço, que a
tenha outrem^
faça quem qmzer nao moendo a outrem nem atafonas nao
,
-,
fem aporem nto embargue quem quizer fazer fornalhas para feu pom ,
que
'ãsfaça,& nao para outro nenhum.ltem mepraz, que tendo ellefalpara ven-
meyo
der , vender outrem fomente
o 7iaopojfa dando a a razão de ,
elle , elle
realoalqueyre,oufua direyta valia, & mais & quando nao que na^Õ-, o tiver,
os da dita Ilha opofao vendera vontade , ate que elle o tenha. Outroji me
fraz que de todo o que o ditofenhor meufilho houver de renda em a dita
,
Ilha, que elle haja de dez hum , de todasfuás rendas , direytos , quefe con- &
tem em oforai, que para elo mandey fazer.
16 Epor efiaguiza que haja efia rendafeu filho , ou outro defcen-
,
gados manfospafcem por toda a Ilha, trazendo-os com guarda que nãofacão ,
CAPITULO III.
^
Cap.ííI.DosFid.chamacI.Mai't.Hoines,Capit.daPrâya.i4^
mefma Ilha Terceyra , & pode fer que foífe jà nafcida na Terceyra , & jircejra, '
~
os das outras, como vimos nos das Canárias com os da Madeyra, & com
os deíla os do Porto Santo & com os mefmos da Madeyra os de São
,
Miguel , & com eítes os de Santa Maria para nenhús terem que notai
,
em que morreo; mas fabemos que de faa mulher Ifabel Dornellas da Ca-
mera. teveoprimeyro legitiilio filho feu fucceflbr , que foy
•
ir 'zo
• -,
Álvaro Martins da Camera, quarto Capitão da Praya,con«
- . r
tando o Bruges por primeyro3 cafoU efte quarto Capitão com D.Brites
de Noronha, também fidalga da Madeyra. Ofegundofilho de Antão
Martins Homem foy Domingos Homem , que cafou com Rofa de Ma-
cedo, filha de Joz de Utra Capitão Donatário da Ilha do Fayaljôc
defte cafamento nafcèrão, Manoel Homem que morreo na índia fervin- Do Fmdador do m^^
doa ElR^ey , & duas filhas Freyfas no Mofteyro das Chagas da mefma f^i» Convento da*^
Praya, que o mefmo íeu pay D jmingos Homem tinha edificado. O ter- Ghagoíja Praja.
B\-
avò materno , &: fe fez Clengo , & Theologo, & foy Vigário da Matriz A
da Praya.
Nafceo mais do mefmo Antão Martins Homem, & de fua
21 •
çoyda qual houve filhos, & filhas , Sc hum Manoel da Camera , que em
tempo de Fruftuofo era Vigário de Nofla Senhora da Penna, das Fon-
tainhas.
22Dodito pois quarto Capitão Álvaro Martins da Camera,
& de D. Brites de Noronha , o priraeyro filho foy Antaó Martins da
Camera , de que ab.iyxo fallaremos. O fegundo foy Luis Martins , que
morreo fsm dcfxndencia fervíndo aElRey na índia. terceyro foy O
António de Noronha , que também na índia fervio , Sc lá cafou , Sz teve
filhos, 8c filhas. O
quarto foy Brás de Noronha, que primeyro foy Fra-
de Francifcano da Òbfervancia, Sc depois por Bulia Apòílolica foy Có-
nego Regrante no Mofteyro de Cárqiiere em Portugal, 6c emfim fe foy
para
iiits .(ir
KM
Liviro VI . Da Real Ilha Tercèy ra«^
para o Brafil. Emquinto, fe^to,^ feptimo lugar nafcèraó três filhas, D'^ wh-
ITabel , mulher do Infante D. Duarte , fi lho dei Rey í) Manoel & ha-
. ,
vendo defte cafamento outros filhos que falecerão moços , fu pervi ve-
rão três filhas, das quaeshúa calou com D.Jorge de Noronha em Lis*
boa 5& não teve defcendencia j outrachamada Clemência , nunca quiz
''tetho ÈlRey tbriga- cafar , por mais que ElR.ey lhe dotava a
Capitania j &: a terceyra D. Fe-
vtaes Capitães Do- UppafemetteoReligiolaem Portugal Obrigou ElRey aopay que vi*
nataries a rejtdir tiM ^^g refidir na fua Capitania, & vindo fem a mulher hleceo na Praya, Sc
'{Hití_ ÇapitmfOí,
ç^^ fucceíTor varaó. E tanto cafo ainda fazia ElRey defta cafa da Pra-
ya, que tornou a oíFerecer a Capitania a D. Clemência , & a cafava com
lium grande fidalgo , & tornou ella a perfiftir em não cafar , & fe ficou
aíTim com a irmãa cafada que não tinha defcendencia.
24 Vagaaíllm a Capitania, dizem que ElRey D. Henrique
deo palavra delia a D. Leoniz , filho do Conde da Feyra por grandes
ferviços na índia, &: na Africa em Cey^a porém morto ià Dom Leoniz
i
^, pedio o Conde da Feyra a dita Capitania para hum feu irmaõ nacuralj
D.Jorge Pereyía , que vivia retirado na Ilha de Saó Miguel j & tendo
palavra da ferventia delia por três annos, também dizem que neíle tem-
po chegou da índia o irmão do ultimo Capitão , chamado António de
;Í Noronha ^ 6cem paga de feus ferviços pedio a dita Cápitania:,& não ob*
ftantc a palavra dada, ElRey lha deo a efte António de Noronha , poc
fer irmão do Capitão morto, & defcendente dos paflãdos mas deo-lha ;
ElRey com condição de mandar logo vir da índia fua mulher, 6c filhos,
Sc ircomelles refidir na Capitania; & pouco depois morreo em Lis-
boa, & de pefte o dito António de Noronha , de cuja mulher , & filhos
,
náó acho mais noticia porém nefte tempo os da Praya pedirão a El-
Uw Pmfhm ^«í :
gíivernàraõaCaptta- Rey quem Os governafle & lhe propuzeraõ hum muyto nobíe & rico
, ,
-ttk déFraj*. varaó , da mefma Ilha Terceyra, & da antiga familia dos Pam ploiaas, &
dizem que governoii a Capitania alguns anhos àtè que ElRey Felip.
,
CAPITULO IV.
bosCapitãcsdeAngrayCQrtereaeSjdaTevceyra,
2tj
T^ £fta celebre família dos Cortereaes trataremojí nuis, quí*
JLJdò abayxo tratarmos das familias que foraó povoara
,
^
Cap.IV. Das Corte reaès^Ç^itães de Angra, 2Jí
alias Capitanias, huma chamada da Praya , por efta Villa fer a íua Cor^
fé,ou Cabeça ; outra chamada de Angra, por íer eita Cidade fua Cabe-
ça & Corte i & porque vimos já os Capitães que na Praya fuccedèraõ
,
26 O
fegundo Capitão Donatário de Angra, depois do pri-
meyrp que de toda a Ilha o era, foy Joaó Vaz da Coila Corte real, (co-^
mo jà vimos acima } porque vindo com o outro Capitaó da Praya Ál-
varo Martins Homem , eíle trouxe o poder de repartir a Ilha em duas.
iguaes partes , ou Capitanias i & o Corte real trouxe o poder efcolhec
das duas Capitanias, & partes,quâl quizefíejôc dizem que Álvaro Mar-
tins Homem imaginando que oCortereal efcolheria a parte da Praya,
por haver nellajá melhores terras , 6c já cultivadas , & mais povoadas,
fez de forte a partilha, que ficou muyto mayor a parte de Angra,& a ef- Segunda & mau ,
ta então por iílbmefmoefcolheo o Cortereal i fobre que ao depois en- igual dívifdõ doiCít-'
'"
ih
tre os fucceíTores de hum, & outro houve tal demanda, que durou vinte pitamai dalerc^r^*,
annos , & per fentença final fe tornou de novo a partir a Ilha , 6c com
igualdade, & cada hú ficou na Capitania em que eítava de antes. j
- :^r].
:.
i' . Efte íegundo Capitão de Angra foy cafado com huma fi-
.}-., .
em PortMgaL
to,Dona Joanna Cortereal , que na mcfma Ilha cafou com hum fidal-
go chamado Guilherme Moniz quinto , D. Iria Cortereal que cafou
; ,
que cafou nas mefmas Ilhas com Joz de Utra , Capitão Donatário da
Ilha do Fayal , & da do Pico. O íegundo filho do dito fegundo Capi-
tão de Angra Joaò Vaz Cortereal, que diíTemos fora Miguel de Corte-
real,efl:e foy Porteyro mòr delRey D. Manoel & cafou com D. Ifabel ,
vej & foy também Capitão Donatário da Ilha de S. Jorge, como em feu Dofegudo Cortereal^
lugarveremos. Cafou com D. Joanna da Silva, filha de Garcia de Mel- Capitão & a ejtie fs ,
lo^ Alcayde mòr de Serpa; & delia houve os filhos feguintes: primeyro,
finto a Capitania da
Ilha de S.^orge.
Chriftovaó Cortereal , que morreo mancebo fem defcendencia fegun- ;
mHmaám
iji LivroVI.DaR^egiallhaTerceyra.^
lho delRey D. Henrique , & feu Secretario & também defta cafa foy
j
O
& era cafa de morgado rico. lobredito D. Chriftovaó de Moura tinha
íido pagem da Princeza D. Joanna mãy delRey D.Sebaftiáo, & filha do
Emperador Carlos V. & irmãa de Felippe IL & mulher do Principe
de Portugal D. Joaó , & com a Princeza foy defte Reyno para Caftella
por feu pagem , & mettendo-fe em hum Mofteyro de Freyras Defcal-
fas, por fua morte deyxou a D. Chriftovão dous mil cruzados de rendaj
'^'
tar vaga entaó a Capitania da Prava , a deo também ao dito D. Chrifto-
Z'r ^'T
'rft
vao, & hcou Capitão Donatário de toda a Ilha Terceyra, como o tinha
Margarida, Cone.
fido no principio o Flamengo fidalgo Jacome de BrugeSi &: juntamente realjevon m msCa.
Capitão Donatário da Ilha de Sam Jorge,que jà andava unida à Capita- ^tani» de Angra,
nia de Angra> & além do fobredito,o fez Felippe II. feu GentiUhomem ^'''7'».^ S.forge,&
de Caraeraj & Marquez de Caftello Rodrigo, fenhor de Cabeceyras de f'yp]'>^'P'''^ 5*
Bafto, Commédador mòr de Alcântara em Caftella,&: emfim Vifo-Rey
dTc^amtSs \Z
de Portugal. Da fobredita Dona Margarida Cortereal nafceo o fegun- tiLTIõ
/«2 filhas,
do Marquez de Caftello Rodrigo , que a Roma foy por Embayxador &e.
em 1632. nafceo mais huma filha, que cafou com o Duque de Alcalà ; Sc
outra Dona Maria de Mendonça , que cafou com o Conde de Vimioío
D. AíFonfo de Portugal ; & outra Dona Margarida , que cafou com D.
Manrique, Conde de Portalegre.
CAPITULO V.
Defcreve-fe a Capitania da Praj/a, &/uas Povoações pek
Noroejle, & Norte , ate acabar pajjado o Lejie da
llhaTerceyra,
refpondente ao Oefnoroefte , fendo que de antes ficava ao Noroefte , &: Dos primeiros lagi^*
mais pequena a da Praya. Chama-fe eftefitio Folhadáes , por íer mato ''" '^^^'"'•'^''•' ^''^^^"
pheyo defta lenha de folhado ; mas jà hoje eftá muyto cerrado , & tem ^""^ '^^^'"'«1 M'.
'""'"*
muytas vinhas , Sc muyta fruta por efpaço de legoa & meya atè o lugar
de Saó Roque , a que chamaõ os Altares , por ter junto ao mar hum pi-
co que parece hum altar, a que vem renderfe o mar , & he tam alto o pi-
co, que ferve de marco aos pefcadores que vão peícar daquella partejSc
varias legoas ao mar > & atè por alli a Ilha hc de rocha viva , & alta & o
,
mar perigofo pelos muytos bayxos que ncUe ha ,em dircytura do pico,
& da Capella mòr da Igreja de São Roque j porém com ferem compri-
dos os bayxos, & fó terem lobre fi cincoenta braças de mar , faó comtu-
do muyto eftrey tos , &: para qualquer das partes fe não acha fundo j oc-
os ditos bayxos faó pofto de grande pefcaria he eíle lugar dos Akaresj
:
35
Quatro RibeyrassÔc efte lugar foy a primeyra Igreja de toda a Ilha, aon-
Praya, três boas legoas diftante,aouvir
jyokg^ rÃ.««á»l,devinhaó no principio os da
he brava, & tem humale-
O^Jro RiheyrJ\ MiíTa ,femprejuntoao mar j a cortado lugar
frimeyra Freguesa goa de comprimento , & huma bahia , & quatro nbcyras de agua í reíca
^^g ^jg ^jeraó o nome , & coiji ellas moem três
de toda a Ilha. moinhos para os lugares
vizinhos efte porém tem fó quarenta vizinhos &
•
fomente hum Viga-,
muyta romagem;
do, & junto a elleeftá a Ermida doBomJESUSi de
& não fo o lugar hede outeyros,& valles, mas também a rocha he muy-
vezes fe carregão bar-
to alcantilada, porém de tanta pomba , que por
cos de pombinhos. ^ , -,1 T
^^
CapvV. Defcreve-fe à Câpltank da Prayai 2 jj:
Senhora da V ida , que eftá fobre o porto , & he cabeça de hum grande
jnorgado , que neila tem dous Annaes de Miffas pelas almas de feus Fu-
madores , Heytor Alvarez Homem, pay de Pedro Homem da Cofta, &c
avòde Heytor Homemda Cofta Colombeyro , que cafou com Dona
Luiza , filha de Pedro Ponce de Leaó, fidalgo de Lisboaj junto da qual
Ermida tem efte morgado huma rica Quinta , & caiaria nobre , na tal &
Ermida eftáo fepultados os ditos Morgados.
38 A outra Ermida defte lugar he a da Madre de Deos, na quai
m magnifico fidalgo Joaô da Silva do Canto , com Bulias Apoftolicas
que de Roma alcançou , fundou huma Santa Cafa da Mifericordia j Sc
logo fundou outra Ermida de Saó Joaó, & huraas muy nobres cafas , tu-
do cabeça de hum morgado , que além de outros frutos , & foros , fó de
trigo rende feííenta & cinco moy os cada anno ; a qual Qiiinta eftá tam
kinca , que entre todas fuás terras fe não mette terra de outrem alguém. - , j ^
, .
!»:':
Xerceyra Ermida ha nefte lugar , a qual he de Saó Pedro , & também Exemp!ar io íthAc
cabeça de hum menor morgado fundado por hum Joaó Euangelho , ho- ^'^f^J^Y^^^
--^
xnem muy to nobre da familia defte titulo. Hanefte terrenho tanto ga- ^^^^^^ - -
4o, que-o zelofo fidalgo fobredito Joaó da Silva do Canto , vendo abay- '
xo de fuás terras fahir huma grande , & frefca fonte , tam fora efteve de
a tomar para a fua Qiiinta , que junto à fonte mandou à fua cufta fazer
três grandes tanques,& caminho para elles,para irem alli beber os gados,
,€omo vão , & á fonte ficou por nome\, a fonte de Joaó da Silva. Oh fe
aífim hoje houveífe fidalgos do bem eommum mais zelofos , que ambi*
-ciofos!
.39 T em efte lugar ( diz Fruduofo) trezentos moradores, 8c
aièm de muy tos nobres, & outros tratantes mercadores, tem de officiaes
Oy to Carpinteyros , cinco tendas de Ferreyros , féis de Carpinteyros,
oy to de Alfayates, & muytos de outros oííicios , & quarenta Tecelóesj
êc he lugar tam bem provido naó fó de frutos , & frutas da terra , mas a-
inda das coufas de fora, (pelo grande, & continuo comraercio que tem
com a Cidade de Angra ) que naó havia nelle peífoa alguma que pedif-
íe efmola , porque os pobres refpigando no verão apanhaváo com que
paífar o inverno & emfim querendo o Capitão Donatário Antaõ Mar-
:
tins da Camera fazer Villa a efte lugar , não o quiz efte aceytar , & ref-
pondeo , que mais queria fer o melhor lugar da Ilha , como he , do que
fazerem-o Villa. A cofta defte terrenho he muyto alta,&: cora tudo tem
bahia grande ,& nella feu porto de barcos , mas diaqte da bahia tantos
bayxos que per fi fe defendem de inimigos , & enriquecem a terra de
,
excellente pefcaria.
40 Pouco adiante defte celebre lugar de Villa-nova fe fegue
lium areal, & logo huma rocha alta 6c depois delia hú pofto de calhàos
,
junto ao mar & de grande & recreativa caça de coelhos & logo hum
, , ,
mmmÊíÊtimmm
í;jÍ
'
Livro VI. Da Regia Ilha Tercéyrà. ::)
Do lugar chamado LagenSjCom aParochialde Saó Miguei, diftante himia iegoa da do Eí*
' pirico Santo de Villa-nova. Tem baó Miguel das Lagens hum Viga-
Í^^'oh 'f'^"^""
is Meríaàò^'"^^
' ^^®*^"°^ Qwcsí , Sc hum Beneficiado, &
duzentos moradores efpalhados
èm Quintas, & entre elles , muy tos nobres, ôc ricos, &: de appellidos no-,
bres j & he terra muyto fértil de trigo , & vinho plantado em biícouto»
que veyo do interior da Ilha , & chega ao mar fazendo huma caldeyra,
ou muyto razo, & frutifero ha neíte lugar huma Ermida de São.
valle, ;
muyto chans, onde chamáo o Juncal, pelo junco que alli havia , & ainda
boje ha, mas jà muyto mais trigo; & aqui eltá a rica Qiiinta do antigo fi-,
dalgo Eítevão Ferreyra de Mello, dequefó em trigo lhe pagaó cada
ãnno mais de feíTenta moyos j & nella eftá huma bayxa, & larga furna,
que hum negro, fendo deleunaf€Ímento mudo, com repetidos finaes
fez abrir alli , & achou-fe huma perenne fonte de agua doce , & excel*
lente, & taó copiofa , que não fó fe divide para a gente, gados , & lavan*-
deyras, mas com outra parte delia moe hú moinho.
42 E naó íóneftalarga,& clara furna,que em boas defcidas,êc
fubidas tem a altura que levariaõ trinta degraos ^ mas também na terra
de cima , aonde quer que cavaó , defcobrem poço da raèfma excellenté
água & no meyo da rocha da Serra de Joaó de Teve eftá huma fonte
;
do mefmo nome , & de boa agua; & na alta ponta da dita Serra , com fer
muyto alta , eftá outra fonte de femelhante agua ; acima ainda da qual
eftá o Facho , & Atalaya de perpetua vigia , que defeobre todo o mar,
& tem doze mil reis deíoldoj fem mais obrigação que levantar aban-
deyra no facho quando apparece navio ; & a dita fonte fe chama a fon*
te da Fortuna, por ter vivido alli hum homem que fe cbamaiva Joaó AU
varez da Fortuna, '
CAP.
-•w
csp.m.^âs^gimèãs&^rm. . %|7
i>«*
t^:7rr. -mr •
".í. lâ •icjij- ç TT" aU. i3^ p
til^:
C A P I .'*-'j
7 ••
n /-
ba nobre Villa da Praya ,
é^ dotermadefua Capitania','^i
- 44 ,
O
primeyro Forte eftá na ponta dó Nafccnte para a Sul,
chamado do Efpirito Santo, & tem onze peças de artelharia de ferro, &
bronze i logo o Forte de Noífa Senhora da ConceyçâO com três , -^ --^
peças ., -
Caftelhanos
ainda
rouban-
,
en- é- viãorU
Pray* & Ilhateve
4
,
Z
doo lugar, carregando-fe todos dos fcus roubos ; eis-que hum
& '^"^ Caftelhanos en^
Pórtu- ,
que vivem ao redor paflkde fetecentos , por fer cercada de muytas , SiC
muyto ricas Qiiintas 6c aííifn ha nella Villa , 6c fua Capitania , mais de
-,
em fqftas grandes-
JíiíIoEccleíiaftico tem a dita Prayahúanobre,8c rica Igre-
47
ja Matriz ,tem'pJo de três naves ,6c da invocação da Santa Cruz , por-*
j^oroftàefo Eeclefiaf'
6c pilares de mármore , Capei la mòr de abobada , 6c toda he cer-í
tico5 ^ de ReUgie[o taes ^de Capellas de morgados , 6c he Igreja fagrada tem feu Vigário,
duoíefma Ftlla. fada ;
renda cada anno , para fe repartirem em Miíías , &z outras obras pias.
48 Tem Cafa da Mifericordia com duas Igrejas , huma do Ef-
Da fua Mtjericor. pirito Santo, outra de NoíTa Senhora , 6c a renda da Cafa chega a cento
diaJBojpitAes^ &c. 6c vinte moyos cada anno , 6c afeíTenta mil reis de foros em dinheyro,
iz por iíTo tem também Hofpital famofo. Meya legoa tem a fua Matriz
hum lugar fuíFraganeo , onde chamão a Cafa da Ribcyra , com húa Er-
mida de Saó Joaõ de Latraõ, 8c muytas Indulgências para os que avi-
íicáo, ou fefepultão nella, 8c de tudo Bulia Apoftolica & tem o lugar
;
Saó Lazaro, 6c renda cada anno de vinte 6c cinco moyos de ttigo: 6c pa-
ra
li»**'
p«i
m tudo tinha a Villa grande numero de poços & de muyto boa agua dè
,
m
& ainda hoje tem muycos mas ha coula de cento ôc quarenta án-
feneber, ,
lYiUa agua nativa , & perenne , que repartirão em fcis chafarizes,&: hojô
faó cinco, & fó quatro correntes , porque o quinto , que he dçjnarmore,
''"
eíTe não corre & he agua ainda melhor que a dos poços.
i
'
tento de Noffa Senhora da Luz , com feííenta Erey ras de vèo preto da
mefma Ordem, & Obediência Seráfica ^ & outro também da mefma Or-
dem, 6c Obediência , intitulado das Chagas porem efte , ou pelo íitio
j
de Angraj & he tara abundante de trigo efta Villa , &: toda a fua Capita-
nia , que cada anno embarca três , ou quatro , & ás vezes cinco mil mo-
yos de trigo & gaftando na terra ao menos outro tanto , já fe vè que di-
j
rimo cabe a El Rey^ & não fendo menos abundante de vinhojSc dos mais
frutos, fe augmenta mais a fazenda Real , & com o dizimo defta , & dos
direy tos Reaes ,& a renda dos moinhos , crefce também muyto a renda
dos Capitães Donatários , que hoje temrudo a Coroa em fi ; &
ate de
peyxe heabundantiflima efta Praya, & tanto mais goftofo , quanto par-
ticipa mais do Norte; & efpecialmente de muytos,& muyto
grandes,6G
excellentes Chernes, & Corvinas, que vem à Cidade a vender.
51 PaíTada a Villa da Praya fe legue ainda de fua Capitania, &
hum terço de legoa adiante da ponta de Santa Catharina , hum pofto
que chamáo Porto Martim Scaquieftá huma grande fazenda ,& mor- DahgArS.CatUri^
;
gado que ficou de hú fidalgo, chamado Joaó Dornellas Capitão morda «'»»<'» ^"''^ ^^^runs.
mefma Praya , 6c poíTuhio depois o illuftre Francifco Dornellas da Ca- ^ ^°' ^^''^^'" ^'^*
mera , Alcayde mòr da mefma Praya, & depois feu filho o Alcayde mor *''^'^ ^^^^""^-t
Eras Dornellas da Camera, a quem fe feguio feu irmão Manoel Paim,da
Camera, a quê fuccedeo {ç.ví filho Francifco Paim,que hoje vive em An-
gra;& no mefmo pofto eftáhiia Ermida de Santiago, ScoutradeS. Mar-
garida, onde chamáo os Graneys;& pouco pela terra dentro eftá o ugar 1
*m
&6q .LivíciVL;Dalleál;llba T&ctfmnO
do RofajrÍQ;, que era,dabÇManoel Borba, defceíidente dos nobres Bói*
basj& Ciitiyps^o Akmí-JXiejo, por hwro Gil de Borba ou Giiiaiies ,qug a
fahir,^ piar, aoSti^e j:& pela terra todos os dous terços de legoa
stccadapltte doSn^ c>^0
é- »o mire lugar de í^óde biíepjito , plantado em pomares , &; vinhas ;;.& juntoí tía^Ribeyrá
S.Barbara.&Ermi- eftá huqi^rtô, emqjújeyâraõ bafcos., &
fe chama. o Portd'jdeGaípat
da de s. Anna,& ri- Go.nçalveSiJVlachadoíj Africano , por ter fido o melhor CavaHeyro que
fw Morgados. fg achouem Africa j^êc, defte procedem OS Machados dalli ; & meya le-
goa pela' terra dentro fica o lugar de.Sanfa Barbara , muyto antigo , Ô£
dié fetenta vizinhos , Sc-muytos déiles muy nobres } & aqui eílâo as ricast
(fintas dfe Joaõ de g^tencor , & de Joaó Cardofo , 8f de Ghriftovarrt
i'aim,& de Antoijioda Foflfecaj^nefta ponta da Ribeyra Secca eíla
iiuraa Fortaleza nova, & .para dentro da terra huma Ermida de S Annaj
i8c aqtii acaba a Capitania da PrayaV fendo dcUatudoo que atèquificat
Sthaftial,
ajuntarfe para alguma refoluçáo tocantea toda allha j & pôde fer a ra-
záo, por fer Villa que eftá mais no meyo defta Ilha , & para a parte do
fó, podem querer defembarcar inimigos, & ef-
7oTj^ilml7ede Sulmais inclinada, onde
afr.^é^o/^w^^Mo-f^rquafiem igualdiftanciada VilÍadaPraya5& da Cidade de Angra,
ires',&com a melhor fem deftasduas ãlgua ir bufcar , ou fugeytarfe à outra , mas ufarem am-
kgua de todat Milhas bás defte terceyro meyo de paz.
^4 Eftá fitúadaefta Villa entre hus picos, ou montes, delia &
fe diz tinha antigamente quinhentos vizinhos, de gente muyto nobre &
daqtièlles primeyros povoadores da Ilha ; Sc deftes ainda hoje chega a
duzentos &cincoenta, repartidos em duas grandes companhias de pè,
que de cavallo não tem tropa alguma aliftada & dos lugares que a ella;
faõ fugeytos , diremos cm feu lugari Goza efta Villa da melhor agua
que ha em todas as ditas IJhas , como confeíTa o mefmo Fruftuofo k. ;
^
Cap.VlI.ComecaaCap.deAng.pelaguer.Vil.de S.Seb.26j|
com a agua -, & & fó dez braças da fonte corre delia huiA
antes diíTo j ,
grande chafariz com três bicas de pedra & de boca de baila de dez li*
,
bras, & ainda tresborda a agua & comtudo ainda as mais das cafas tem
,
para o Sul, não menos que féis Fortalezas em feu deílrido. Á primeyra,
pelo que diremos a feu tempo , fe chama a cafa da Salga , & tem quatro
IT-m
fr
/^'lIX coTZ/t^
peças de artelhana j íegunda a das Cavalas , & tem outras quatro ; ter-, £rmida,,&jiií For-,
ceyra, a de Santa Catharina, & também com quatro peçasj quarta , a do. t^iezi^í , & he mftyta
Bom JESUS, & tem cinco quinta fc chama o Pefqueyro, Sc fó três pe-/*^''"''
;
56
'
O
primeyro lugar fugey to a efta Villa de Sáo Sebaftiáo,he
o que eílá mais junto ao mar , mas tão perto ainda da Villa que por iíÍD ^P^*'"^^'' ^^^i^rde2
,
fe chama Arrabalde , & he muyto fértil , & para a Mifía ufa
de NoíTa Senhora da Graça. O
da Ermida
fegundo lugar he o quecftá da banda
V
?fí ^r '^Ti
do Norte, junto ao acrnia dito lugar dos Altares, &fc chama oRami- r^oNorte.acimados
í wj^^^if
Rho, mas por eílar tam longe vay a gente delle ouvir MiíTa a Sáo Ro- Altans-^m Militar,
&
que dos Altares , da companhia dos Toldados do lugar
, ( por elle ef-
("&'y^o ^ Praya ^ »« K-'
tarna Capitania da Praya) em ella Villa daPrayafefaz alifta dostaes ^'f'fi4i<io, &ci*
Toldados porém nos dizimos , ôc no eivei ,
j &
juftiça he fugcyta á Villa ,
'^^'^^^^Y^^^ \
de São Sebaftião. O terceyro lugar
fby antigamente o que fc chamava ^^£/™^^
Portalegre, &cftava pela terra dentro , huma legoa do mar , indo defte deflrnhU
por dema^
paraoscmcoPicos,quechamãooPaúl} paíTavade trinta vizinhos, &/«« dehansjuens^d*^
ília Freguezia do Orago de Santa Anna, de que hoje
fó ha as paredes,& ni»tíosfolg;teigs.^^
porhavernotal lugarmuytos Impérios com muytos folguedos profa-
nos, fe deftruhio de forte todo o lugar que fó íí cou nelle hum
, morador
por nome Rodrigo Alvarez; & de três poços que tinha de boa agua, fó
hum exiftia ainda, & o íitio das cafas fe converreo em pomares , & nem
as paredes da Igreja, nem outro íinal de lugar haverá jà agora. A fllm ca-
ftiga Deos divinamente a quem tam profanamente aílira vive. .
garmente chamado do Porto [udeo, cujo nome próprio lie o lu^ar '
f'^-í^f''-
de Santo António , quafi huma legoa da Villa de Sáo Sebaftião he h,.
gar de cento & qúatorzc vizinhos, que fazem huma 'boa companhia
tofllXZlkt
;
ecmviJnhos^udttas
de foldados, & a Freguezia he do Santo ; & tem mais huma Ermida de Fortalt^asfaraomar
NoíTa Senhora da Efperança , & de muyta romagem ; & para o mar tem ^^ ^^ ^^-p^g^ào^ ^
duas Fortalezas huma fc chama Santo António ,
, &
tem três peças, ou- ' ^ '^^ entrada
^^Jí'
tra a Ponta dos Coelhos com outras três peças o porto : he pequena , & ^"^' ,
eílà
iPMii ma
h6i LivfôVl.DaRegiaílhaTerceyrâ.
que hum ca-
cftàdebayxodehuma rocha vermelha ,qwe não tem mais
,
ininho,porondecabehumíôcarrOiadiantedoIugarparaocercaofa6,
terras de muyto gado , 6c muyto
trigo yêc hum terço de kgoa abayxo
a terra he biícou.
paraomarhe collaaka,&de calhao groffo , ôc para
to de vinhas pomares , & nefte Uigar acaba o termo da Vilia de ba©
, &
Defronte do dito bifcouto, & meya kgoa
'
mar ao eftáo dous
cS
de três moyos de terra outro de
Ilhèos muyto altos , hum do tamanho ,
^^Zíí
rrJÍ^S-^^Saô
em tempo de inverno mas daqui para o buefte
Miguel corremeyale^^
:
em direyto da Ilha de:
CAPITULO VIIL
dade de Angra»
^^
ip
zem , & levão pipas das outras ilhas , &c ainda que para a parte do Sul,
ou marhecoftadecalhaojtemhum muyto bom cães, & por entre ellc,
& a terra, ou cofta da Ilha entra brandamente o mar , & fe recolhem bar-
cos, & caravelas , & ás vezes alguns navios & ficâo feguros da tempef-
,
tade do Suefte , que quando corre forte , faz grande damno nas embar-
cações anchoradasj & fe o porto fe alargaíTe para os groíTos calhaos, que
entre elle, & o mar vão, feria Régio porto , & dos navios feguro eftaley-
ro i mas havia viver algum outro fidalgo tam republico como o grande
Joaó da Silva do Canto , que foy o que fez o dito cães á fua cufta , &
piuyto mais o pôde fazer o Senado da Camera de Angra , ainda que pa-
ra iíCo pediífe algum fubfidio ao povo , & contratadores mais intereífa-
dos; & entam no mayor rocio interior do dito porto fe poderião fabricar
não fó caravelóes, & caravelas , mas também navios grandes , como ahi
^à fizeráoosnobres Cidadãos , Joaó de Betencor,& Nicolao Dias, &
Joaó Cordeyro, & outros muytos que no tal porto fizerão jà não fó ca-
ravelóes, caravelas, & navios, mas também duas nàos bem grandes. Fru*
ctuofo liv. 6. cap. 3
Cidade , donde.fahe para o mar huma larga ,& boa calçada ,& logo co-
meça a entrar pelo mar hum largo, & alto cães de cantaria com varias ef-
cadas para o mar , &: ferros^ que fe prendem os caravelóes , que vão , &
vem das outras Ilhas carfegados , & da melma íorte os barcos de pefcarj
& os barcos de defcarga , &: defembarcos dos navios , fem fer neceflario
que mariola algum metra o pè na agua , pois tudo vem fecco , & limpo
acima do cães, que entra pelo mar hum bom tiro de eípingarda; & huni
tiro de mofquete do Caft'ello de S. Sebaftiaó , & pouco menos do fobre-
dito porto de pipaS;
65 DaditaprincípaíportadaCi^ade vay jamais bayxo o cir«
culo da Ilha, outro tiro de piftola , a dar em lium areal , que chamáç^^
~
r Frainliaj
I II r i
Livro Vi. Da Regia IlhaTerceyra.^
2?. mtros pertos qne Prainha
, & tem porta
grande para a Cidade , que chamio o Portão da
ppguempara ala- Prainha, com muralhada parte da Cidade, & aqui nefte areal fc faziâo
hia da Cidade o da também muytos navios , & ainda galés ^ que defendião as Ilhas de pira-
,
Prainha o de Porti- x^s-^ & agora em tal areal fò fe desfazem navios , quando em algua tem-
,
CAPITULO IX.
&r?ZiíptX
'
legoa em circuito j & defte pefcoço da Ilha fahe, & fe levanta huma ca-
'--''-- ^
beça tam alta , que confta de quatro altos montes } hum que vay por hu
terço de legoa ao Sul, inclinando ao Suefte,& outro queda parte do
Poente vay para o Sul também, 6c inclinando ao Sudoeftei de huma, &
& outra banda , com rocha fempre talhada , & altiílima fobre o mar , &c
por entre eftes dous montes , como por entre as orelhas de tam grande
cabeça , fobe da dita planície outro terceyro monte , que chamão o das
CruzeS) & já menos alto , mas que jà fe fobe todo , & não ainda , fenão
em caracol, por ainda fer Íngreme & bem alto & defte terceyro mon-
, :
ditos montes das fobreditas montanhas faz huma caldeyra tam profun-
da> que dizem alguns eftar ao olivel com o mar, que corre
pelo Nafcen-
te, & Poente dos dous montes , ou orelhas , como fe a tal caldeyra foíTe
a cova do ladrão defta horrenda cabeça & o fundo defta
; cova tem mais
de moyo de terra de femeadura , & fruòtifera, & nella não ha final de fo-
go algum.
65 Adiante da caldeyra em direytura ao Sul fe levanta o quar- .
-^
^fw*
dor da dita Fortaleza hum Caftelhano, chamado Don António dela cia tjue logodtUtt hotè
Tuebla, & Bifpo de Angra D. Manoel de Gouvea , por ambos foy lan- vCf &fe ettmprio de*^
hada, & com grande fefta , 8c affiftencia , a primeyra pedra da tal Forta-
foií.
leza i Sc he muyto de notar que houve logo alli quem exclamou , & dif-
fe, que nella fundaváo hum grilhão para toda aquella llha,&:c. 8c: o tem-
ípo depois moftrou ( como veremos ) quanto efte dito parece ter fido
hiia profecia.
67 Começa pois da parte da Ilha a entrada para efta Fortaleza
em hCia Ermida de Noíía Senhora da Boa Nova que tem feu Hofpital
,
com feu chafariz , bicas, èc tanque , agua boa de que ordinariamente be-
be gente do Caftello , èc tem cafa , 8c guarda do Caftello , èz aíTentos
a
Da entrada dej^á
com bella Viftaj Sc daqui começa já a fubir a Ilha , mas moderadamente, FortaUz.t*t^fi*ai i»'
C por aquelle feu pefcoço que fica entre o Porto Novo , 8c o do
Fanal a-
expHgnaveis,& nem
címa ditos ) atè dar em hú grande foífo de muy tas cavas quadradas , Sc mináveis *uHrAlh(f$^ w
muy fundas, abertas ao picaó ,quc entre fife dividem com paredes de
dous palmos de groíTura, Sc pedraria atè a fatal muralha da Fortaleza,
,
que alíim fica inacceffivel ; mas ainda mais o ficaria , ( dizem muy tos}
fe o tal foíTo fe cavaíTe tanto ( como fe pôde fazer ) que o mar paíTaíTc
do Porto Novoao Fanal, pois he diftancia breve, (como acima vimos} Hl-:
& ficaria a grande Fortaleza fey ta huma fegunda Ilha; mas fe convém,
''ii!
tal fazerfe,íà o veja quem melhor o entende, pois não pôde viver muy-
to o corpo, a quem pelo pefcoço cortão a cabeça Sc a ferventia atè ago^
-,
mm
téé Livro VI. Da Régia Ilha Teixey ra.
fataes guardas fempre, ôc perpetuas fentinellas. Â j
gaõ, ( por abater muyto a terra os ditos dous portos , JN ovo , &: Fanal}
«em ahi lua altura , ôc leu folo he capaz de efcadas lhe chegarem j & jun-
tamente he tam larga, que pafla de doze palmos de largura , & em cima
iam inclinada, & tam liza para fora , que cafo negado que acima fe ehe-
gaíTe de fora com efcadas , ainda delias para dentro difficillimamente
poderia alguém faltar , fem que o derrubafle qualquer homeni que de
dentro eftivefle j porque da banda de dentro he o terrenho de tufo , Sc
tam alto , que já por dentro náo paífa a muralha do pey to de hum ho-
mem, com que fica a Fortaleza incapaz atè de minas , & de fe lhe abrir
brecha i & fò pelo ar com bombas fe lhe pôde fazer damno , coufa que
ha menos annos fe inventou > §c nem padraftos tem perto de íi , donde
poffa artelharia prejudicarlhe muyto & alTim corre eíla muralha dcfdç
:
fobreditos eftá a foberba porta do levadiço portão , & por ella fe entra
vadtça,& fatal Çer- em hum tal corpo de guarda, que duzentos homens armados cabem
fgdaCffarda.
nelle, & he de alta abobada por cima , fobre a qual corre o folo de tufo
junto á muralha & debayxo corre o dito corpo da guarda com cala-
, ,
tra grande porta, pela qual fe entra em huma grande praça, que de com-
primento tem hum tiro demofquete de Lefte a Oeíle , & de largura híí
bom tiro de efpingarda de Norte a Sul, atè começar a levantarfe o mon-
te das Cruzes,que tem adiante em direytura a profunda caldeyra fobre-
dita, que acaba com o quarto monte da altiílimarocha para omardo
•Sul, a que tudo acompanhão os outros dous montes, que.corrern pelo
-Nafcente, & Poente.
70 A dita praça
ou terreyro defta Fortaleza tem logo ao en-
,
-trar , & para o Oriente , huma Igreja que tem feu Capellão mòr com
,
boa côngrua delRey, & fica do N orte amparada não fó com ô mais alto
folo que por cima correjunto amuralha, mas também com ella mefma,
í
"^ItJ^knSie fraca de* fera poder receber damno de fora para a parte do Suefte eftáo humas
j
inda não eíleja acabada i&adiantre delia, & para omefmo Poente cor-
lácio ^em íjue habitoH
ElRejD.AjfonJoFI, rem tantas ruas, ou quartéis de cafas de pedra , & cal , & de dous fobra-
dcs, que podem alojar quinhentos foldados , & ordinariamente tem trer
zentos vizinhos, &
nellesquaíi toda a caftade oihciaes,& cafaes intey-
rosi & correndo para o Norte fe fegue o nobre Palácio dos
Governado-
res do Caftello , que fica com afrontaria para o Nafcente defronte da
primeyra, & antiga Igreja , &
fobre o grande Rocio, vendo os exercí-
cios de guerra que nelle fe fazem & ainda outro menor Rocio corre de
;
Palácio para o Poente , & he tam nobre efte Paço , que nelle morou an-
nos
€ap. IX. Das deferas,ãrtelhar.gaamiç.dâ tal Fortalczi^ iij
nos o Senhor Rey D. AíFonfo VI. & nelle mais que em Lisboa o deq
por íeguro de infiéis alvitres feu irmão o Senhor Rey D. Pedro 11.
-ji Continuandopois com a muralha (que nunca defpega)
vay ella por diante da parte do Norte dobrando paí:a o Sul , & defcendo ** ^*^'^' 'égrJnã
f
íempre junto ao fobredito Porto , ou Portinho Novo, &jà daqui ^oi^T^a'**''!"^^'*'^^
diante vay fobre o mar, ou porto grande, & bahia da Cidade,
&
vay mu- JchârjàZU ''SH
ralha mais bayxa, para melhor afleftar a artelharia aos navios
, &he ma-fervir deLochamL
ralha também de cantaria, &
tufo, a quem faz coftas a penha continua- d" Rej D. jinmh
da do alto monte, & por cima , junto à muralha, não fó vay caminho lar- ?** ^^' ^"^ * nome;
go, &
aberto na rocha ao picão, mas também em algumas partes vão pe- "^^ ^'^'f^' ** *''^'* *
daços de vinha bem plantada, que formão fuás Quintinhasde grande
2'Xw^'^"'^'"^
recreação , & com algumas arvores , & fuás pequenas fontezinhas , & de mdl
e^nifij''^-^
excellente agua docej chegada efta muralha hum terço de legoa
ao mar,
cm direytura do Sul , aonde eftá hum Forte de muyta , muy to grof-
&
fa artelharia de bronze, aíTim de alcançar ao longe,
como de baterão
perto , & com cafa nelle de foldadcs , & muniçocns , &
fua fontinha de
agua docej & aqui começa aquella rocha altiíTima , & talhada atè o mar.
E a eíle Forte chamão o Forte, ou Ponta de Santo António j & porque
defte Forte de Santo António faz jà menção Fruducfo
liv. 6. cap. 3. an-
tes de Felippe entrar em Portugal,fegue-fe que foy
fundado muyto an-
tes pelos Portuguezes Reys , & que primeyro fe
chamou toda efta For-
taleza a de Santo António, & depois fe chamou de São
Felippe , por
Felippe II. a acabar, & reformar , ôc hoje fe chama de São
JoaÔ Baptií-
ta, por o Reftaurador de Portugal , o Senhor
Rey D.Joaô I V.a conquif-
tar, & reftaurar. ' "
Z ij
í^vm
w Mm
lêí Livro VI. DaReal llhaTeixeyra.
fpmpre talhada atè amar , & por cima artelharia ,efpecialmeat e de al-
cance para os navios, que nem chegar poíTaó ao perco.
74 Finalmente tem efta Fortaleza cento Sc feíTenta peças de
artelharia , repartidas todas pela jàdita muralha, & entre ellas canhoens
de quarenta & oy to de calibre , 6c huma ainda mayor peça , & muy to ce-;
lebre , a que chamáo a Malaca , mais comprida , & mais groíTa com ex-
ctííòi & efta artelharia quaíi toda he de bronze: tem mais de quinhen-
tas praças de foldados , & hum Auditor de letras , que com o Governa-
dor os julga a todos 3 tem todas as munições de guerraj tem agua , & le-
^oipeçaSfde calibre
nha dentro erii abundância i & atè pedreyras de pedra de cantaria j ôç
de ^S.&de alcance^
&áo rigor ofi efiylo de além deeftar fempre bem provida de mantimentos , & ter fcis atafonas
guerrafempre objcr' dentro , & muyta caça de toda a forte , & pudera ter gados , de cabras,
vado. cot» agua den- & ainda de vaccas , aílim como tem de peyxe , íè houveíTe mais provi-
tro,atè nativa^lenha, dencia em os Governadores , como ha em a vigia pois atè em o mais al-
,
& algãíU carnes & to monte , fobre o Forte de Santo António , temhum Facheyro,ou Ata-
,
C A P I T U L O X.
marão Angra , por fer eftylo antigo de mareantes, & dei ciibridores,que
às melhores bahias que achavão,chamaváo Angras , como fe lè muy tas
vezes emjoaó de Barros; dos outros primeyros povoadores , que en-
trarão em as quatro Ribeyras , fe paííáraó outros para a banda do Orien-
JSJao confia qttal fe
te & derão em huma grande praya de área , com muyto terrenho à ro-
,
fovoajfe frimeyro ,fe
Angra ^fe ta Pmya-^ da plano, muyta agua, & capaz de em breve cultivarfe, & allifízeraó
jpoífemfre Angrafoy também fuás povoaçoens como puderaó. Qtial porém deftas duas po-
li a cabeça^ d}' primey. voações fofle primeyro que a outra , iífo não confta & fó confta ( co-
-,
,
annts. telhanos mandou logo a nova a Angra, como afiu cabeça: & aindaque o
'
único
Cap. X. Da Corte das Ilhas, Cidade de Angn, ^iêf
Mnico Capitão de toda a Ilha ( Jacome deBruges) refidia omaisd®
tempo em a Praya , iffo era por ter là terras para íí tomadas , &
naõ poE
fer a Praya cabeça de toda a Ilha, pois efta logo fe dividio em duas Ca-
pitanias , & o Cortereal foy o que efcolheo das duas j ôc a de Angra foy
aqueeícolheo. ~
76 Tanibem quando foíTe crcada VillaAngra , também naõ
fonfta , ( que eu fayba } & parece o foy logo ao principio pbla voz do
"
'
povo ,& com confenfo tácito dos Reysi mas confta quando foy levan-
tada ao foro de Cidade , pois em fua hiftoria diz Guedes cap. 7. que por
ElRjey D. Joaó III. foy Angra feyta Cidade em 22. de Agofto do aniio
i533.ha mais de cento «Sc oytenta annos,& havendo jàcento& fete
que a dita Ilha Terceyra era defcuberta mas da Madeyra o Funchal
-,
havia jà mais de vinte annos que era feyto Cidade por ElRey Dom Ma-
noel em 1508. havendo quafi noventa que tinha íido defcuberta por
Jpaó Gonçalves Zargo em 14 19. porém Ponta Delgada em Saó Miguel
foy fey ta Cidade em 1 5 46. treze annos depois, de o fer Angra , & pelo
méfmo Rey D.Joaõ IIL
77 Começa pois Angra com a fua bahia fobredita j que fíca en-
tre o Caftello ^"^'^
de SaÓ Sebaftiaó , ou Porto de pipas , da parte do Orien-^;(^^ •^'''* '
tome» o fiO"
te, & o outro Caftello , ou praça grande de Saó JoaÓ Baptiíla
..
, que fó ZueAmr» hêct
diftaõ hum pequeno quarto de legoa entre fi , & outro quarto atè a C\.-gur* de tnimlges í5
,
[, dade,& he bahia capaz de grandes frotas que fe recolhera , & çtovhm a* Fortaiesju de hiU;,
^ alli com toda a fegurança de quaefquer inimigos , pela tanta, & taó pro- ^ «atra partem drfó
xima artelharia de huma, & outra bandaj & o anchoradouro he limpo de " ^'*'fi' *f' ** ntuyt»
, cachopos, & bancos de area,& firmão nelle as anchoras tam feguramen-^"'^"'-^^ quelfrAr m
Cl -^ o c 1- j ji- - •/-
te , que nunca arraítao , & lo quebrando , defemparaó o navio j fica po-
menos fertes ítmarrat
^ dartttavh à eof.
rèm cíle porto em dircytura ao Suefte , a quem chamáo lá o vento Car- ta,falvAndo.fe 4»^<«-;
pinceyro, porque algumas vezes he taó rijo, que feas zmãvrâsnaóíãótel&pArtídafaiíen^
.
boas, & de bom fio , as faz arrebentar , & dà com a embarcação no areal ^''i
da Prainha, ou no Porto Novo, & fempre a gente fe falva, & ainda par-
te da carga fendo que, ainda atè em rios , como no Tejo , & no DoUro,
-,
muytas vezes fe perdem embarcações fem fe falvar coufa delíaSi & ou-
tras vezes acontece , que o mefmo dono , Meftre, ou Capitão do navio,
por fe livrar a fi de dividas que tem tomado fobre elle , o deyxa perder,
^ para iíío tal vez chega a darlhe furo fecreto , & então faz mayor nau*
fragio, perdendo a própria alma.
78 Termina-feefte grande porto com o já dcfcripto cães, que
começa a fahir da principal porta da Cidade,em que eftá corpo de guar-
da, & cafas por cima de foldadefca paga , & perpetua ; ao entrar da Ci-
dade, à mão efquerda,eftà aRealcafaria da Alfandega com terreyro
ladrilhado de cantaria , & muralha fobre o mar , capaz de artelharia , &
aqui he o paííeyo, principalmente dos homens de negocio , & Meftres
dos navios , com boaviftadelles , & do porto todo: adita A\hndcgai^^^^^l,é'fetf/prê oíii
além dos feus Tribunaes , tem grandes defpejos , &: armazéns para to- ^**'/"''''^^^'* /í//4«a
do o defembarco de navios, de Frotas , & de Armadas , & para o provi-
mento neceííario à maó direyta fe alarga hum terreyrode calçada com
:
hum chafariz no meyo , alto , &: de muytâs bicas de doce , & boa aguaj
& ainda mais à maó direyta volta fobre o marjSc ao pé da rocha da Ilha,
Z iij jua-
'I.
«dÍMMIi tÊKimmmÊ^
'í7^ Livro VI. Da Regia Ilha Terce yra.
junto á muralha dcbayxo,hum capaz caminho, &
quali rua que che-
ga ao matadouro mas nem fe communica nefte bay xo cem o Porto de
-,
%rtanobre&f!cbA'
vay ladrilho , que tem de largo cada hum três pedras de cantaria, por
da do ShÍm Norte-, ^"de coftuma ir a gente que anda a pc ,62 pelo meyo
ainda vay tam lar-
do Nafeente a foen- ga , & boa calçada , que a gente que por ella anda a cavallo , ou cm car-
te,& è contra , & ruagem jnáofe encontra huma com outra chega efta rua com baftantc
-,
S.Luz.ia,&de S.Pe- porto outra vez torna a fahir outra rua , chamada de Santo Erpirito,quc
Wr#, dos ^uaes cada ^g mefma forte vay dar quaíi junto á mefma praça , & da banda do Po-
hHmtemittHytasoH.
^^^^. da banda do Oriente vay terceyra rua, chamada de Sãojoaó, def-
'
do Oriente,& pela banda do Poente lhe fica o grande vão da Sè, de que
fallaremo*.
80 Da mefma parte do Poente , também do Sul para o NortCí
corre a rua chamada dos Cavallos por deftes fc fazerení todos 0$ an-
,
nos feftas na tal rua, que he capaz diflb, & por iífo nem he lageada, nem
calçada , m as de terrey ro feu , Sc plano , & começando defde a muralha
do mar, a que efpecialmente chamão a Rocha,& com hum Chafariz pa-
ra dentro da Cidade, continua efta rua bem comprida para o Norte,
paíTando pelo pé do Aljube , & Paços do Bifpo , vay parar defronte do
Mofteyro das Freyras da Efperança. Oytava rua corre da fobredita ro-
cha do Sul para o Norte , & fe chama a rua de JESUS , muyto com pri»
da, & baftantcmente larga ^ do mefmo modo corre adiante jâ defde o
; ,
Portinho Novo & do Sul para o Norte a nona rua chamada dos Ca-
, ,
nos Verdes & vay parar já defronte do campo a que chamão as Co-
, ,
íneyo a dita Sè , & a rua da Sè fc diz j & para a parte do Norte ttm o Li
&
Convento de Freyras da Efperança , no topo em cima acaba com o
éampo dasCovas de huma parte , ( que dà também nome à rua} & da
miÁ
outra o Convento dos GracianoSi & logo da parte dellcs eftá hum gran-
de Chafariz de bicas , & tanque , & de cxcellentc agua j & daqui come-
ça hum bayrro da Cidade , chamado Saó Pedro , que dá o nome à rua,
donde logo ao principio fahe hum viftofo , & bem comprido caminho
para o Caftello grande , & fem mais cafa alguma , que da parte do Ori-
ente a cerca , & Convento de Saó Gonçalo , & da parte do Poente cam-
pina de hortas , fie fearas atè a bahiá do Fanal , vifta muy recreativa , 3c
alegre mas a rua de Saó Pedro continija direyta ao Poente , atè a porta
:
huma boa rua para o Oriente, a qual por iflo fe chama a rua da Efperan-
ça, & vem dar em outra traveífa , muyto larga, & fcrmofa , que também
fahe da rua da Sè , & volta continuando cm direyto da rua da Efperan-
ça com a rua dos Eftudos, que lhe ficaó da parte do Norte , com o pateo
dos Eftudantes, & o Collegioda Companhia, & © terrcyro da fua Igre-
ja, atè dar efta rua em o Chafariz que eftá acima da praça , & abayxo dos
Paços do Marquez; & daqui vay, jà mais por cima , outra larga , tão &
Comprida rua, de cafaria continuada de huma ,& outra parte, que vay
acabar na Graça , &: nas Covas ,onde acaba a da Sè , & ambas ornando
muyto o terreyro do Convento j & efta rua de cima fe chama a rua do
Rego,
85 E aquella larga traveíTa , que da rua da Sè vem , rcpart*
&
asduas ruas da Efperança, & dos Eftudos , daqui na mefma largura vay
fubindo fempre ao Norte , cortando a rua do Rego , & chega atè Santa
Luzia, Parochial que fica bem cm cima ; &
efta ladeyra fc chama a Mi'
ragaya , a que era o alto cerca o bayrro chamado de Santa Luzia , quí
por cima da Cidade tem muytas outras ruas, que por brevidade deyxoj
& também tem feu Chafariz da mefma boa agua da Cidade > ao rcdoí
i:í!';
lill
ã
mk mmmÊÊm
%7Í .ni^?íj\. 'Livro Yl.Pa Regia Ulia^Tercéyrâk ;;
átícç, huma boa ribey ra , qiie vay lavando as cadeasi& por bayxo da pra-
po da Guarda da Cidade , bayxo , & alto & logo fe fegue huma ceie- -,
& porque eftas ficão da parte do Nafcente olhando para o Poente, por
; iíTo defta parte, & na parede das cafas que alli eftáo , fica hum Oratório
alto, & com altas portas , que nos dias Santos de guarda fe abre de ma-
nhaã ,Ôc nelle Capelláo diz Miíía , a que afliftem, & vem bem os
hum
>
frontey ros prefos,& fe encomendão a Deos.
86 Em o outro lado das cadeas, defronte da rua de Santo Efpi-
r rito , fahe da mefma praça , acima para o Nafcente , outra & muy com-
prida rua de boa calçada pelo meyo , & de cada parte ladrilhos de can-
, taria3&: caiaria fempre continuada, mas fubindo fempre para o Nafcen-
te em competência da rua da outra banda que fobe a São Francifco,
porque affim para o Nafcente , como para o Norte , he de terrenho al-
',
toefta Cidade , fendo que para o Sul , & Occidente he de muy plano
terrenho fobe pois a dita rua ( que chamão , não fey porque , iiua do
:
Gallo}
Gap. X. Continua-fe a defcripçaõ da tal Cidade. 271
Galla} atè a nobre Collegiada , & Parochial grande da ConGcyçâo } &
atè aqui , defde a rua de Santo Efpirito , não ha traveíTa alguma para®
Sul, & mar delle j mas da outra banda fahe huma larga ruajque vay tam-
bém dar a São Francifco , & com outro Chafariz de boa agua j & defta
Conceyção, aílim como continíia pelo Oriente a Cidade para o Norteai
aílim também continua para o Sul, ôcSuefte, atè parar cora ojà dito Ca-
ítellodeS.Sebaftiáo, que defcrevemosjà no Capitulo VIII.
^
87. Entre pois o tal Caftello , & a dita Conceyç ão fe eftende
oviftofo, & alto bayrro que chamão do Corpo Santo, de quea mayor jj^ celebre ErmidÀ
parte.hede mareantes, que tem cm hum alto para o mar dLÍw^^cÚQhtt doCorpoS<into,& da
Ermida do dito Corpo Santo , & tem tantas ruas , ou traveflas , que fe- grande vifia dejlt
ria importuno em eontallas j ló digo que para o mar para ambos os ^'*J''ro,iiara mar^ #;
,
Caftellos de São Joaõ Baptiíta, & de São Sebaftiáo , & ainda para o me- ^^''^-°
Ihor da Cidade tem eíle bayrro a mais ampla & melhor viíta > & não
,
íó pela cofta do mar , &: junto à fua muralha , mas também pelo mais a-
dentro tem ruas para o porto da Cidade & para a rua de Santo Efpiri-
,
ção eítá hum alto , &; grande tcrreyro , & nelle hum bem comprido Pa- '
dos Homens Coftas, que habitão bem junto à Conceyçáo , & de outros
jnuytos pegado porém com os ditos Cantos fica huma fua nobre Er-
;
mida, chamada Noífa Senhora dos Remédios que eftá nobremente re-
,
Norte, fica hum bom terreyro plano, & quafi redondo , aonde eftào
Convento do Patriarcha Seráfico , & para a banda do Sul aquella larga
rua que com feu Chafariz vay ao meyo dado Gallo, & mais por cima
outra que vay à Conceyçáo, & defta volta correndo pelo Oriente com
grandes terras, & hortas para elle, & em longa direy tura ao Nortej mas
de bayxo,&: da parte do Poente lhe vem huma larga rua chamada de S.
Sebaflião, pomella ficar hum novo Convento de Freyras de fingular
Obfervancia que tem fora outro Chafariz da Cicade & pouco adian»
, ;
a parte do Noroefte vay por fora das portas de São Bento huamuyto dosCapuehos
Fraa^
recreativa , & moderada fubida atè o Convento de Santo António dos cifcanesj^
Capuchos , devotiflima fahída da Cidade , & muyto recreativa com fua
deliciófa cerca mas antes de chegar às portas de Sio Bento , 8c da parte
:
das Freyras para o Nafcente ficão as antigas cafas, & aííento , ou Chefe
dos Monizes fidalgos muyto antigos , com grande jardim, ou Qiiinta,
,
como as mais das nobres caías delia grande rua para 'a parte do Nafcen»
te. Qiiequanto pardetraz da Conceyção das Freyras vay
jà mais ordi^
paria povoação , como para o Noroefte atè hfia antiga Ermida de Noífa
I
Senho»
II ji
hl.
mt má
Livro VI. Da Regia líhâ Terceyrâ."
Senhora do Dcfterro , & atè chegar por fora ao mais antigo, & terceyrci
Caílello, de que agora fallaremos.
89 ÊfteterceyroGaftellofoyoprimeyro qtiehoiiveemtoda
^ a Ilha Terceyra , & fe fundou quando ainda Angra nem era Cidade,
í
Sh ut^'^ ""*'
•^''"nem tinha canta gente que a pudelTe defender das Armadas de Caftella,
%^ — Aí" \_.í <i"e com Portugal tinhaentaó guerra , & nem tinha aigum outro Caf-
tello, ou Fortaleza em feu porto , & para fe recolherem a efte o funda-
raô os Angrenfes em hum outeyro alto que fica fobre a Cidade para a
parte do Norte, inclinando a N ornordefte,6f lhe deraõ logo o nome de
Caftello de Saõ Chriftováoi & delle diz Fru£tuofo/íi;.6. €ap. 3. que
era forte Caftello ,& que fe renovou depois , & prov€o em feu tcmp©
&
com munições , artelharia j & mais no tal tempo de Fruâ:uofo já ha^
via em o porto o Caftello de Saó Sebaftião.j êc o Forte de Santo Antó-
nio. E accrefcenta o Doutor que o Capitão Donatário Manoel de Cor*
tereal morava em o tal Caftello , tendo-o por capaz diíTo, & que depois
íe mudara para o bayxo domefmo Caftello, & habitava no Faço que
ainda hoje chamão do Marquez de Caftello Rodrigo , leu fucceíTor na
Capitania, & que tem bello jardim5& que tudo herdou Manoel de Cor-
tereal de fua irmãa D. Iria , mu Iher de Fedro de Goes^ nobre fidalgo.
90 Já hoje porém não fey que nefte Caftello de Saõ Chrifto*
vaõ haja mais que as muralhas em feu circuito , & interior deftrifto dei",
lej fendo que na Acclamação de Portugal , com artelharia que fe poz
ftefte Caftello de Saõ Chriftováo,fc fazia grande damno aoCaftelha*.
na, que eftava em o mayor Caftello ^ chamado então Saõ Fclippc ; & fe
cfte outra vez for tomado de inimigos , (ou por trey çaõ de quem o go<-
vcrnar , ou por fucceífos marítimos } cuftarà muyto à Cidade não tec
capaz ainda o Caftello de Saõ Chriftovão-, para delle fe valer & muy-
;
to mais porque fendo o fítio defte Caftello hum valente padrafto da Ci*
dade, fe devia naõ defem parar , antes confervarfe fempre , & fortalecer-,
fc, para que fuccedendo alguma hora entrar na Ilha inimigo por algum
porto da Praya atè Angra , & vir fobre a Cidade , não íe faça forte com
o dito Saõ Chriftovâo, & dalli mais facilmente arraze a Cidadej mas ef-
ta pelo contrario dalli o repulfe , & faça voltar atraz & quem na Cida-
:
r » •
Cap.XI.Do Bccleí!& Epifcop.gbvemopofto em Angra^^l
|fé^ A^wâvay ipQpque nãohacafa, qúe por detfaz naó tenha fea qqint
tâjj & algumas muyco grande 3 & muytas, tem da fonte agua dentro , &;
nunca nas ruas fe vè dei^ejo humano algum , o que tanto fe eftranha em
iãifFas terras.
CAPITULO XI.
todasasmvel/hasTercejiraSjOUíiõsJffores»
zados , & alguns annos atè dez , & mais. Foy creado efte Bifpado á inf-
táncia delRey D. Joaó III. pelo Papa Paulo também III. a três de No-
vembro de 1534. & com o titulo de Bifpo de Angra ,6c de todas as Ilhas
Terceyrasj porque ainda que por ordem delRey D. Manoel em 1508*
foy à Ilha da Madeyra D. Joaõ Lobo Bifpo de anel , que nelle deo Or-
dens,& chriímou , & fe voltou a Portugal & no anno de 15 14. em 12*
de Junho, & por decreto do Papa Lcaó X. o mefmo Rcy Dom Manoel
nomeou primeyro Bifpo da Madeyra a D. Diogo Pinheyro , nunca efte
foy à dita Ilha , mas de Portugal a governou doze aimos atè o de 1 5 26.
per Provifor, & Vigário Geral , que lhe mandou. E ainda que a ElRey
D. Manoel fuccedendo feu filho Dom Joaó IIL nomeou com confenti-
mento do Papa a D. Martinho de Portugal , feu parente, por Arcebif-
po da Madeyra , & de todo o ultramarino defeuberto , também efte unU^
CO Arcebifpo da Madeyra nunca a ella foy & fó lhe mandou hii de anel,
,
«MH «tt
Lino Vi. Oà Regia IlhaTercef ta;
queni fuccedco outro fecukr Clérigo tai3ibeni,D. Lais dcF'igueyrc»
ào de Lemos , que de Deaó da Sè de Angrafoy a Bifpo do Funchal di
Madeyra. .
ra,do^uef»ra aTer-
95 Creado pois o Bifpado de Angra em 1 5 34. pelo Papa Pau*
ceyra , masfrimeyto
lo IIL no primeyro anno de feu Pontificado , logo no de 1 5 3 7. foy para
na Terceyra entrou
Bij}ie [eu proprio^do
a Terceyra o feu primeyro Bifpo Dom
Agoftinho, do qiialfe diz que
^ &
que tendo de antes vindo de Lisboa com
na Madeyra entrajjè era tam fanto, como pobre,
algíipicfriofeft. Antaó Vaz Vigário da Ilha das Flores , efte o puzera por Parocho,
hum
do Corvo, mas que depois de alguns annos
ou feuGura na junta Ilha
Trimeyro Bijpo dt tornando para Lisboa o dito Cura Agoftinho, fe fez Frade Loyo,&
^ngrafoy D y^gofii • porfua exemplar virtude chegou aferCapellaódelR,ey ,& nomeado
.
Segundo foj D, Ro- mais pobre Cura , por mais fanto , era eley to por Bifpo! & hoje (oh def-
drigo Pmheyro , <fue
graça !
) nem o mais virtuofo , &: mais letrado de hum inteyro Cabido,
(emir kt Ilhoi ptjfou
Bijpo do Porto
fè elege em Bifpo delle
fegundo Bifpo de Angra foy Dom Rodrigo Pinheyro,
it
'Ttrceyro D . 96
Fr. for O
ge de Santiago Do- Doutor em Theologia , de quem dizem , ter jà fido
Governador,ou Re-
,
winico t^uefoy aoCõ gedor da Cafa do Civel ; porém não foy às Ilhas & fó lhes mandou
y ,
filio Iridenúno & por feu Vigário Geral hum Doutor em Cânones, & hum Biípo de anel,
,
tas > & fabias como elle era & voltando a Portugal
, imprimir , Sc
as fez
com ellas voltou para allhaemi^ói.ôc faleceo em Angra a 2 6. de Óu^
tubro feguinte , & com tanta fama de Santo , quanta tinha já em vida,
poisvindo dalndia oPatriarchaD. Joaó Bermudes, ScpaíTandopor
Angra a Portugal , ncfte perguntava muytas vezes pelo Bifpo de An-
gra, & dizia que nâo fe havia chamar D. j orge , mas Saó Jorge eftá en-
:
po toy D. Galpar de r aria , que fuccedco ao quinto em 1 5 70. & foy o Faria '
-
logia ,fe paíTou aos Cânones , & feyto Licenciado per exame privado,
foy Deputado, 6c Vifitador do Bifpado: feyto Bifpo de Angra , foy
grande obfervador do Concilio Tridentino , & no de 15 82. eftando em
Saó Miguel, & efcandalizado dos motins dafoldadefca fe voltou para
Portugal ,& nelle foy feyto Bifpo de Leyria,& depois Prefidentedo
Paço. Nefta mudança , o Cabido de Angra vendo feu Bifpo aufente , ^ "J'^'^'^" ^- Manotl
&
que era contra o feu Rey natural , julgarão a Sè por vacante , elegerão t^ ^^'"'^ q»e }a^ ,
fantidade, do Santo Padre Ignacio Martins da Companhia de JESUS, f^f voltou , moA ^
celebre pelas doutrinas em Lisboa , & por fucceíTos nellas milagrofos} ^'° ff^do Bijpo dt
foy Bifpo de grande charidade & jaz fepukado na Sè de Angra.
, O
no- í T"**
noBifpofoyD.HieronymoTeyxeyra Cabral , entrou no Bifpadoem ^^""^''^-^l^fti'-
1 599. &
depois voltou a Portugal , & morreo fendo Bifpo de Miranda.
y«^ Sè/eoft fJpttlta-
'
O decimo Bifpo foy D. Agoftinho Ribeyro , &
entrando no Bifpado do.
cm lói^.ogoveniouatè 12. de Julho de 1 621. em que faleceo, Scnafua Onfidesimo D.Fre)
Sèjazfepultado. O
undécimo Bifpo foy D. Pedro da Cofta,&: entrou Ptdro da Cofia , qne
noBifpadoa24.de Agofto de i623.&indoavifitar São Miguel, lâfa.'"*'''''" ""* ^'/^«,^!
leceojêc foy fepukado ua Matriz daCidade4ePonta Delgada. O
duo- ^-
^'^'*'-'
- : . Aa decimo
«MH mu
•>
^^S . j jj, i^ ílívf a trí . t>a-R^ía^lliâ. Tercey r a>i « i
i ^=.
.
o inoãicmeT) .foao décimo Bifpo foy D- Joaó Piraentade Abreu ,.que entrando no BiTpá*'
j>twetitA de ÁrtH-., dJDçm 19, de Abril de 1626. indo. cambem vilitar Saó Miguel , \i fak^
é" tambtm morreo eeOj & tambcm jaz fepultado na fua Matriz. O decimo terceyroBifpo
Frey António da ReíarreyçaájReligiofa Dominieo ^ & entran-
víjítando s. Miguel, foy -D.
eo fiilecèo vtfttm- ^^^^ '^^Y PJoaõ O IV^paráraò os provimentos dos Bifpados por muy*
,
mMtrAtida. eftimadoda nobreza de Angra, & morreo com opinião de Prelado fani
to. O decimoquinto foy D.Frey Joaó dos Prazeres, Religiofo Fran*
O decimo cptinto D. ciícano, da Província de Xabregas ,varaó de grande candura , & fanta^.
Fr. foaõ dos Pror^e- mente morreo no Real Collegio da Companhia de JESUS de Angra,
xesjrmçtfcmo^ejik O
& eftá fepultado na fua Sè. decimo fexto Bifpo foy D. Frey Clemen.
O decimo ZirDcm ^^' B^eligiofo de SantocAg-oftinho dos Eremitas^ doutiíTimo Theolo-
FrnClemml GrZ ^' ^ Lente da Univerfidadede Coimbra morreo na viíita de Saó Mi- j
mero dos' vizinhos de Angra bafte por hora dizer que (não faltando em
A Cidade d* An^ra Religiofos, & Religiofas } paífa de três mil vizinhosj & que naõ fó nas '
ra, & Portoi como melhor fe verá nos Capitulps que fe feguiri6 ^&íió
"
^ quâtorzefine. . :
'
'
•
para o Norte da largura da Cidade com grande , & livre adro. à roda,
,
tifmál com boa, & fechada cafa j adiante feguem-fe duas grandes portas
correfpondentes a N
afeente , &
Poente , &: logo quatro Capellas de ca:- D^ Rtal S^ d< ^a^
&
á& parte , duas menos fundas , duas tão grandes , que podiaó íer C3L<rgra^
pelJas mores , entre as quaes na nave do meyo eftá o capitular coro de
báyxo j Sc logo fe fegue a Capella mòr , redonda em columnas particu-
lares, com via circular à roda j èc da parte do Euangelho lhe fica corref-
N
pondendo á nave do afeente a Capella nohiliílima do Santiíiimo, co-
mo Capella mòr daquella nave , & da parte do Poente lhe correfpon-
de outra femelhante Capella de Chrifto crucificado por detr^z da do ;
Santiíiimo fe fegue a Sacriftia com feu alto , 6c particular altar por cima,
& da outra parte a cafa da Mufica, &
efcola com outra em cima i por &
detraz do circulo da Capella mòr vay jardim com fonte dentro j as &
cafas do Cabido , &
de entrada dos Cónegos para o primeyro Coro ai-,
to ficaó d-e cada parte delle com fahida para a varanda da entrada prin-
cipal.
lon Serve-feefta Real Sè com cinco Dignidades, DeaójArce-;
diago. Chantre, Meftre-efcola, Sc Thefoureyro mòr , mais doze Cóne-
gos , &
quatro meyos- prebendados , &
vários Capelláes de fò fobrepc-
liz , & muy tos moços do coro j tem mais três Curas , & hum Meftre da
Capella, hum Organifta , hum Arpifta Sc competentes muficos hum Dm Dignidades, Ctíi
, ,
Sacriftaõ , hum Altareyro , hum porteyro da maíTa, hum fineyro, & Re- negss, Capitulares,
mais Mmfim dá,
lojoeyro , &: outros ferventes da Igreja, além dos officiaes do Bifpo,Pro-
vifor, Vigário Geral , Meyrinho , Efcrivâes , &c. Sé he Templo tam '*'^'* ^^'-^ A
grande , que raramente fe vè toda chea , com ter Pregadores obrigados
porElReyjdas Ordens dos Francifcanos , Gracianos^mas vio-fc &
chea toda , quando pregou nella o Venerável Padre António Vieyra
da Companhia de JESUS, em a fefta do Roíàrio,ha feíTenta annos.
Suas torres faó tam altas , que fugindo acima de huma delias hum me-
nino do coro , a quem o Meftre queria caftigar , & arremeçando-fe fora
da mais alta fineyra , o apanhou o vento pela opa vermelha,& o foy pòr
fobreo telhado do Convento das Freyras da Efperança,diftanciade
moy to mais de três largas ruas fera receber damno algum & foy de-
, ,
Concey çaó dos Clérigos que no tamanho & ferviço da Igreja pudera co/legiada da cvw-
, ,
fer huma Sè tem íeu rico Vigário dous Curas , oyto Beneficiados, Sa-cí/po dos Clsrigos.^
^ ,
díde correndo em hum alto do Sul para o Norte , &: também tem Vi-
5
. Aa ij gario3
lifl
mm má ^ÊÊá
ito Livro Vi. Dâ Regia Ilha Terceyra.^
& Thefoureyro j & hum feii Vigário , AmiDrofio de Soufa
gario. Cura,
Fagundes, Theologo &í bom Pregador , dahi foy para Cónego da Sè.
A lexta Freguezia he a de Saó Pedro , que íica no fim do grande com-
primenco da Cidade , correfpondendo à mais diftante de Saó Bento , ôc
tem Vigário, Cura, Theíoureyro, & dous Beneficiados, & comfer
grande Freguezia , & nella algumas cafas nobres , o mais faõ mareantes,
òc fc eítende a muytas parceS tora da Cidade , & da fua porta , que cha-
máo de S. Catharma.
103 Tem mais a dita Cidade > ao entj^ar do porto, pela famola
2)>» ií///fwír<<í<í,^ rua direyta , & á mão direyta também, a Real Mifericordia com feu
Nojpitaí , Reats , & Hofpital annexo , & tudo frimo fundado por ElRey , & augmentado
rtees. depois por varias pefíbas ; he Igreja que corre com a rua ,lem fe afaftar
da direy tura da caiaria, & por iífo muyto larga, de três naves, & três co-
m© altares mores , & outros varios à roda , & menos funda , do que pe-
dia a largura , por lhe correr por detraz a rua de Santo Efpiritoj mas
ainda aflim tem todas as eafas , & repartições quecoftuma ter huma no-
bre Mifêricordia} & logo na rua de Santo Efpi rito tem feu Real Hof-
. pitai, & com mais largueza para traz a Miferieordia chega a cincoenta
:
moyos de renda cada anno , & cincoenta mil reis em dinheyro o Hof- :
. pitai paífa muyto de feííenta moyos de renda , 6c de foros cento & cin-
coenta mil réis , além de lhe dar ElRey o dizimo dos frangos j & affim
Miferieordia , como Hofpital , teraó a renda que a confciencia de quem
.
dez moyos de trigo de renda cada anno ; & tem a Miferieordia tantos
Capelláes cora feus ordenados , quecelebraó cada dia os OfBcios Divi-
nos em feu coro juntos.
I>af muytof Ermi- ^^4 Ha mais em Angra tantas Ermidas, êc de tanta devoção,
daí & muytM mau
,
^uc todos OS diàs em três delias fe canta o Terço da Senhora , na da Boa
Confrariof^ & orna- Nova, na dos Remédios , & na da Saúde em a praça que de antes fe cha-
to delloí. mava de Saó Cofme , & Saó Damiaó j & aqui inftituhio efte Terço , &:
Confraria dos Efcravos da Senhora , hum Mercador chamado Agofti-
nho de Oliveyra, homem de vida igualmente devota , & exemplar 6c -,
outras Ermidas faó a de Saó Lazaro com feu Hofpital, a do Corpo San-
to dos Mareantes , a de Saó Joaó Baptifta dos Cavallcyros a de Sanca
,
CAP.
p^
Cap. XIÍ. Da Religião Franciícána dás Ilhas.' it
C AP T U LO
I XII.
DoEftadõRelígiofoquehaem Angra,
diflemos acima liv. f cap. 9. já entaõ havia em Villa Franca de Saõ Mi- 0, prlnufros Reli:
.
guel o Convento de Francifcanos , que com a dita Villa fe fobverteoiôc giofis que entrkraS
,
Ilhas, eraõFran'^
já na Villa da Praya da Ilha Terceyra havia outro Convento de Fran- nas
cifcanos,&: mais antigo que o de Villa Franca, pois muyto antes do
"/''^*J'^^**/"'*'^''^
dito anno de 1 5 2 2. havia na Praya o tal Convento , & jà também outro
^
j. '/í,J'^Çír<r*y4
emaIlhadoFayal, & o principal em Angra, conforme a Fruâ:uofo^^'J";J,^j;c'tf»'»í»íH
Uv. 6. cap. 1 5 onde confeífa não faber quem fofle o Fundador do Con- ats, a quem fuceedi^^
.
Miguel outro Convento mais que o que fe fubverteo & que na Ter-
}
ceyra havia já o de Angra, & o da Villa da Praya, & que defte fora Fun-
dador hum Frey Simaó de Novays , irmaó de Pedro de Novays , & de
Fernando de Qiiental, & que do dito Convento fora Guardião , & nelle
morrera fantamentej & que Frey Vafco de Tavira fundou depois o
Convento de Ponta Delgada no anno de i^ 25. mas que também antes
de fe fubverter Villa Franca , fundou o Convento do Fayal Fr. Pedro
de Atouguia & accrefcenta que o primeyro CommiíTario de Saó Fran-
:
eifco, que veyo às Ilhas, foy Frey Lopo Teyxeyra fegundo, Frey Ro*
;
que Bocarro-, tercey ro, Frey Pedro Galego i quarto, Frey António Sar- "'"'!':
na nde quinto Fr. Nicolao Barradas.
; , J)e todos is ConvenZ
107 Depois deftcs Commiírarios,&já noanno de i^^j.detos das ilhas dos Af-
Portugal veyo ofeu mefmo Provincial o Meftre Frey Simaó de Sonkfi^^^ fi /<"''"<"* ^^C-
em\'^\-j\&-
à Ilha Terceyra,& em Angra celebrou Capitulo de todos os Frades que
^J^^'*
já havia nss Ilhas , & fahio Guardião de Angra Frey Gafpar da Eftrella, ^^''anng/atfT^&í'
Sc Guardião de Villa Franca Frey André de Coimbraj & de Ponta Del-^^^ come^ott aferdé
Aa iij gada
ISI Livro VI. DaJR.çal Ilha Tcrccyra.
, ,
gada Frey Diogo de Coimbra, &FrcyJoaó de Sande do da Prava, 5c
:'!T'/^T 7 fic^raó todas as Ilhas Terceyras conftituidas Guftodia Francifcana, ôc
*^ ^o^toii O dito rroviiicial para Portugal ao primeyro Capitulo que fe
Ciffiodia porem, eiue
tem fempre agente í^z cm a Cidade do Porto no annode 1550. & deile fahio por Cufto-
em Lisboa , & já Isa dio para as Ilhas Frey Francifco dé Moraes , a quem fuccedeo Fr. An-
ferto de 8o. annos tonio de Alarcaõ, grande Prégadoir,& a efte Frey Thomè de Eftremozj
çiH^eftaCufiodtAàM acè que noanno de
1568. vieraõ os Franciícanos Obíervantes para as
^^^^^ Hhas , & eítando fódous annos nellasforaó mandados outra vez
fenaProvineia'íeía.
rada. P^^* Portugal, & tornarão a ficar os Con ventuaes nas Ilhas &
> lhes vc-
yoporfeu Commiflario ,& Guardião de Angra, Frey Lourenço de Pi-»
na: porém pouco depois vindo o Reverendiííimo Geral Francifcanoa
Lisboa , o qual era Frey Francifco Gonzaga , irmão do Duque de Man-
tua,& ajuntando-fe O
bfer vantes , &
Conventuaes , todos por ordem
delRey renderão obediência ao Geral da Obfervancia, o íobredito Gon-
zaga, &
em Capitulo feyto era Xabregas de Lisboa , fe deraõ os Con-
ventos todos das Terceyras áProvincia dos Algarves, cuja cabeça he
Xabregas de Lisboa j & a Madeyra á Província que chamaó de Portu-
gal vCujacabeçatambera em Lisboa he o Convento chamado da Cida-
de, & ficáraõos Conventos das Terceyras fendo em tudo Obfervantes,
como o faó atégora.
108 Porém tanto fe multiplicarão nas ditas Terceyras os Cô-
vcntos Francifcanos, que já ha muytos annos fubiraõ a fer Pro vincia Ic-
parada , &
tam grande Provincia , que creyo paíTa de trezentos fugey-
tos, & doze Conventos &
tem cm Lisboa fempre Cuílodio para os ne-
,,
Terceyras naó tem ainda fahido Chronica, tendo também muytos Con-
ventos de Freyras j & naó fó tem falecido muytas Religiofas , mas tam-
bém muytos Religiofos defingulares virtudes, & exemplos & , ainda,
Miffionarios exemplariflimos não fó para as Conquiftas de Portugal,
,
mas ainda para Jerufalem , creyo que cedo algum dos doutiílimos Me-
ftres da tal Provincia fahirá com fua hiftoria, & fupprirá osdefeytos
que nefta achar , & com os melhores apontamentos , que lá de tudo h^
verá ; que nós nos reduzimos outra vez a Angra.
109 Oyto pois íaõ os Conventos do Eftado Religiofo que ha
Dogratide Convento na Ciàâàe de Angra; quatro de Religiofos, êc de Religiofas outros
de Nojja Senhora da quatro. O
primcyro de Religiofos he ode São Francifco , intitulado
Guta em Angra, ca
^íoíTa Senhora da Guia , & he Convento em tudo magnifico, porque
tja e to a a Pro-
paff^ de feíTenta Religiofos ; tem hnma f^rande ,& frudifera cerca com
copioia agua dentro , amplo edincio de grandes corredores, rsovicia-
dodcntro,& bem provida Enfermaria, &" hum magnifico, &fump-
tuofo Templo, com nobre, & grande Capeiía da Ordem Terceyra dos
feculares , com grave Religiofo CommilTario, &c feculares Miniftros, &
outros Officiaes,& outras muytas Capei las, & corocontinuo, até pela
meya noyte , com excellente mufica , & hum largo terreyro da Igreja
quafi redondo, & pouco acima da praça da Cidade, com bella viftada
melhor parte delia j & no mefmo Convento tem muy to doutos Lentes
para os feui Religiofos , de Filofofia , & Theologia altcrAadamente eni
triennios.
*
^'ÈÊ.
~\
mente pobre , que delle pôde dizerfe , que quam largo era para o bem
çõmum da Religião , tam apertado era para comrigo,&: por efta grande
virtude , depois de grande velhice , lhe deo D&os huma morte defape-
gadadetudoodeftemundo, com renuncia de tudo,em fua Religião,
com naõ menos exemplo de Catholico, que de douto , Sc com grandes
finaes de fua eterna predcftinaçaõ.
111 O
fegundo Convento de Religiofos foy em Angra o Real
Gollegio da Companhia de JESUS > a efte , & ao da Ilha da Madeyra, ^ %««^'« Religiaâ
no mefmo dia , & anno de 1 5 69. em o mez de Março mandou fundar de f*' ^"^^'"* "'^ .^^^f
fua Real fazenda o Senhor Rey Dom Sebaftiâo , fendo então Provin-
%*svrcZo'ltfâl
ciai da Companhia o Padre Leaó Henriques $ mas com a pefte que en-
ColUfio de Atiíra.
tio havia em Lisboa , não partirão os Padres fenâo em Março do anno
íêguinte de 1 5 70. onze para o Funchal da Madeyra , Sc outros onze pa*
ra Angra da Ilha Tercey ia , Sc os que hiaõ para efta , embarcarão em fe«
te nàos de guerra com o General Dom Francifco Mafcarenhas , que hia
efperar as nàos da índia, & como eftas jà vinhão da Tercey ra com com-
boy de caravelas , arribarão os Padres na Armada, Sc tornarão a partir
nas caravelas a dous de Mayo , & no ultimo chegarão àTerceyra ,&
defembarcàraó em oprimeyro de Junho, indo por primcyro Reytor
do Collegio o Padre Luis de Vafconcellos , não menos fanto , & íãbio,
que illuftre, (por fer neto do Conde de Penela) & que também hia por
Meftre dos cafos , tendo já ido a Roma duas vezes por Procurador da
Provincia de Portugâl,6c com elle hião os Padres Pedro Gomes,ôc Bal-
thefar Barreyra por Pregadores , & também dous Meftres para lerem
Primeyra, & Segunda, Pedro í^reyrCjSc Sebaftiâo AlvareZi& féis Reli-
giofos mais para eftudarem, & fervirem ao Collegio.
112 Antes de os Padres defembarcaremíahio o BifpoD.Nu*
nO Alvarez Pereyra ,& muytos Ecclefiafticos a efperallos ;& o Senado
da Camera com o Capitão mòr Joaõ da Silva do Canto , mettendo-fe
&
em duas barcas alcatifadas, ornadas forão a bordo bufcar os Padres,8c
trazendo-os ao Bifpo que os efperava , elle os abraçou dizendo: Agora
rae vem todo o meu defcanfo Sc todos aflim levarão os Padres ,
: & 0$
hofpedárão logo na Mifericordia, Sc o magnifico fidalgo Joaõ da Silva
do Canto tomou logo fobre fi darlhes tudo o neceflario , & fuftentallosi
cm
Livro VI .Da Regia Ilha Terceyra.'
tremores de terra , &: com fuás pregações movèraò tanto a Cidade , & a
tanta penitencia, ConfiíToés, & Communhôes, que todos fe perfuadiâo
que fe então morreíTem , fe falvavâo todos paíTados os terremotos ta-
: ,
ò primeyro da Companhia que nella entrou , & andou nella atè Agoílo
^^ 1 7 1 em que voltou para Angra & no anno de 72 forâo de Portu-
'7)M Mifees manda- -, .
.
d^ pela ^"^'";/gal 5
para Angra o Padre André Gonçalves por Meftre dos cafos, &o
jingraAi*.
g Meftre Joaó Garcia para ler a Segunda, 8c o Irmão Balthefar de Almey-
"
litalloj& affim fem mais que o feu Breviário fe foy da Qiiinta à Armada,
& lá ficou , clamando os barqueyros , de fe verem fem niào dolo enga-
nados ,& fugeytos às penas do Senado } porém efte, por jà não poder
mais , &
por petição do Padre , perdoou aos innodentes barqueyros , &
&
ao Padre mandarão matalotagem nobre, para o Padre Provincial car-
tas, em que lhe tornavaó a pedir o mefmo Padre. Chegado o Padre a.
Lisboa, o pedio logo para feu Confeífor aSereniíIimaSenhoraD. Ca-
tharina Duqueza de Bragança} ôc pouco depois o Padre partio por -
Miílionario para o Japão, por o ter muyto pedidoj & porque nunca lhe ' ^
pedirão couíá por amor da Virgem Senhora que não concedeífe , & hú
aReligiofo da Companhia lhe pedio o feu cilicio, & difciphnas,eftas
lhe deo com grande repugnância , por eftarem todas vermelhas de feu
fangue, & o cilicio , por fer de cruel ferroj mas ficando-fe com outros fe-
meihantes inftrumentos , de que tinha muytos j & finalmente morreo
cfte Santo Padre em a índia , & com muy tas revelações do Ceo , & no-
táveis profecias fobre os facceííos futuros da Coroa de Portugal.
116 Logo em o anno de 1580. emSeptembro veyodaTer.^^,^^^^^5^^^^3.
ceyra em outra Miflao a São Miguel o Padre r rancílco de Araújo > & ^^,4 ^ 5. Mknth
por companheyro o Irmão Domingos de Góes , & vierão ambos com o
Bifpo D. Pedro de Caftilho , que vinha a vifitar , 6r todos fe detiverão \
cm Sáo Miguel dousannos &i pelo mefmo tempo chegou huma cara-
i
vela a São Miguel com hum António da Cofta, que em São Miguel ac-
clamou logo ao Senhor D. António por Rey de Portugal j & ao tercey-
ro dia elle ^ & cinco Irmãos da Companhia , que com ellc vinhaõ, fe paf-
fáraó logo à Tercey ra ; & defta o Padre Reytor Eílevão Dias remetteo
Jogo em Dezembro de 1580. a Lisboa o Irmão Balthefar Gonçalves
com negócios de importância &
tornando o dito Irmaó à Terceyra, de
•,
para Lisboa o Padre Francifco de Araújo com os dous Irmãos , & o Bif-
po D. Pedro de Caftilho. E muyto depois em 1 5 89. paíTáraó por S.M i-
guel para a Terceyra o Padre Francifco Fernandes , & com elle hú Me-
ílre do mefmo nome para ler a Primeyraj em 1590. veyo o Padre Pedto
de Almeyda para Reytor de Angra, (^ tendo já fido Reytor da Madey-
ra) 8c então faleceo em Angra ,34. de Julho de 1590. o Padre Luís de
Vafconcellos Com grande fama de rara fantidade , & prudência grande
degoverno.
117 Defta forte foy continuando o Colíegio da Com jw^nhia
' ^-
^ .. eni
'i%6 LÍT^iíôVl.DaRegiallhaTerceyfa.
maò direyta fe pafla por boa abobada, & por bayxo da rua publica, a ou-
tra cerca mais pequena , que fica da parte efqucrda, com fonte de aguai
dcntro,&de beber, & com boas hortas ,& latadas , tudo contíguo ao
Collegio, detraz delle; -í,,{:: , ,.o..
ii8 A
Igreja defte fe feguelogo com o alto fronteípicio cor-
rente da parte do Sul para o Norte , com largura, &
comprimento pro-
porcionado , fermofo, & grande Coro
ao principio , & adiante delle fc
,
feguem três nobres Capellas, depois amplo cruzeyro, com não fó gran-
'DaKtd Igreja nova des grades i entrada, mas adiante as pequenas da Communhão , & na
do novo {^çllegto de
frente mais três altares , dous das ilhargas riquifíimos , & ainda de mais
^"^^-'-
ricas Relíquias , &
a nobre Capella mòr , como cabeça grande , &" díg-^
na de tam régio corpo , & tudo
ricamente dourado por cima das Ca- :
, fera cftas ficarem bayxas , vão taes tribunas , que cada huma he
pellas
huma linda fala , donde os mais nobres vão ouvir as pregações , fe ou- &
vem bem, & para ellas fe entra com boas entradas do Coro por cada par-
te, & todas tem primeyras luzes , que vão dar em a Igreja já como fe-
gundas , fora as de cada parte do cruzeyro , & as do grande frontefpi-
cio,quefaõluzesem tudo primeyras. Ótedo defta Igreja he todo de
abobada , porém de cedro finiílimo , ( & todo admiravelmente lavrado,
&: repartido em payneis} que fe foy bufcar à Ilha das Flores , aonde ain-
da então melhor, & mais chey rofo o havia.
119 Do frontefpicio de fora, & do de dentro, que cerca a Ca-
pella mòr, muyto podia dizer, porque ambos faó altos, mageftofos
.proporcionadamente,com as Reaes Armas humanas do SereniíTimoRey
leu Fundador , & do feu Divino Padroeyro o Santiílimo Nome de JE-
SUS; & não menos poderia referir do nobre , & largo terreyro , &: fuás
boas entradas que ha para a tal Igreja j & ainda muyto mais do excellcn-
Do Rtgio Pateo dos te Pateo dos Eftudos, que fe fegue logo para a mão tfquerda da Igreja,
Efiudos^&da obra ^om aula de perpetua Theologia moral ,8c outra de Filofofia rauytas
^^^es , & outra que chamão Primeyra , aonde íe lè fempre Rhetorica,
do Cellegto junto,
& a que chamão Segunda, aonde fe enfina a Lati n idade , & outra fala
principal dos Ados literários , tudo com portada principal dos Eftu-
dos para fora , &: com feu Guarda , & Meyrinho; & fe lhe puzerem mais
hiima cadeyra de Theologia Efcolaftica, & outra de fó Gramática com
feu Prefeyto , ou Decano , ficaria huma muyto útil Univerfidade pa- ,
dores i & Parochos perfeytos , & ainda tomarem alli feus grãos de Me-
ftres em Artes de Bacharéis formados & Licenciados em Theologia-»
, ,
&
com hum anno fp de raais virem a Coimbra , ou a Évora a tomar o
srào.
™»;l' íT
»«i
Cap.XíIvDoFandíadoi-cletadoofoteeáíb. ttf
^
1^07 Cãpello & , borla de Doutores i como da Bahia vem , & de ou-
tras partes. Haja maiSLzelô-dobenv conimum, & menos ambiçaô 3 & lo-^
gotudohaverài
120 Ar^cima^oditoPateodosEftudospara a banda do Norte
corre o Collegio contíguo de Lcfte a Deli e com quadra de corredo-
fçs, que: pelo bui pegaó com o Coro da lgreja,& pelo N orte cora aaCa^
pelia mòrj .& tribunas para ella mas do tal buí ao JN orte vay v ia larga,
i
ík aberta para o -Ceo , para ficar a Igreja com pnmeyras luzes i &: fican-
do da parte do Sul huma nobre Portaria olhando para o Ocfte , & para ^
© vafto terreyro da Igreja , com que pega pelo Coro em cima da Por-
:
taria fica a Regia fala delRey D. Scbaftiaõ Fundador do Collegio , & --'
com porta para o Cruzeyro da igreja j & logo para diante a fermofa Sa-
criítia que corre com o lado do iitiangelho da Capella mòr, & cora ou-
,
tras cafas de defpejQS da Igreja & por cima vay a via para as triburias
;
do Santifllmo, & mais para o Norte huma tam copioía livraria, quenãp
fó dasmais Artes, & Sciencias , mas atè de Medicma tem muytos,&: ex*
cellentes livros, além dos que os Lentes , & Pregadores tem neceflaria-
mentefempre nos cubículos. n j
j.
nove Ilhas tem ido &: vão muytas vezes em miííoes , com que em Sa6
,
não fó Deos, mas aindaa Coroa Portugueza teria asfuas Ilhas mais fe- t
guras j porém não tem o Collegio com que acodir a tanto , pois fó tem
huma Qiiintinha de rendimento nenhum 5 mas depura, &honefta re-
creação para os dos Eftudos,onde chamáo a Silveyrsj ou Penedo
fuetosí
do Álcayde & outra onde chamâo o Pofto Santo , para alguns dias âe
;
CAf>
NW mm^mm
Llvfo Vi. Da Régia Ilha Tcrcey ra:
C A PI T U L O XIII.
!lí22
da Ilha ás índias de Caftella , & nellas , aílim de fuás Miífas , & prega-
ções j como de reftituiçoens a elle entregues , para as applicar às obras
pias que elle cfcolheíTe, ajuntou muy ta riqueza , & com ella terceyra
vez voltou à mcfma Ilha Terceyra, & comprando nella muy tos moyos
de annual renda de trigo , começou logo na Ilha hum Hofpital para a
gente quê alli chegaíTe das índias j & tendo a cafa jà fey ta , mudou de
intento , & dando parte dos moyos à Miíericordià de Angra , da outra
parte, & do lltÍ0,ôc cafa fey ta fez logo doação ao feu Provincial de Por-
tugal,para fundar em Angra hum Convento de Frades Gracianos.
123 Em o anno pois de 1579. mandou o dito Provincial três
Religiofos, Frey Pedro da Graça Pregador , & Frey Domingos Côri-
fta, & hum Irmão Frey Pedro da Reíurreyçáo ; & voltando logo o di-
to Pregador a Portugal a dar conta do que convinha entretanto come-
,
çarão as guerras entre Felippe II. & feu primo o Senhor Dom António,
C de que adiante trataremos } & os outros dous que ficarão na 11 ha , por
, ^ „ ^,
.
^
ferem da parte de Dom António , forão prezos , & levados a Lisboa> Sc
ms"eZZnode'is^ ^^^^^^ no anno de 1 5 84.fe fundou com eíFey to o Convento,& fua Igre-
m Tírreyro^ou cam. jh & O primeyro Prior foy hum Frey Pedro, natural da Ilha de São Mi-
fochamadoCovas,& gucl, filho de Sebaftião de Soufa Camello , & de fua mulher D. Ifabel,
defie Convento fe fã' filha do Doutor Francifco Tofcano j & correrão logo tantas Indulgen-
tlon defois o de Ponta
^[^^ concedidas à dita Igreja, & Corrêa de Santo Agoftinho , que o pio
/ ^"c nto P^^° ^^ Angra chamava Roma ao dito Convento, & indo a elle diziaõ:
daTílla daPraya na Vamos a Romaj & aílim fe fundou efte Convento da Graça em Angra
7ercejré. haijo.annos.
1 24 O fitio defte Conventohe no fim da grande rua da Sè,pa-
raapartedoPoente,& no principio da mais comprida rua de SãoPe->
dro , que vay longe acabar na porta de Santa Catharina da parte do:
competente , & ainda fe pôde eftender mais, pois por detraz para o
Noroefte já não corre a Cidade mas fó afaftadamente a nobre cafa Sc
, ,
tiíòrde Angra para efte Convento j além do feu primeyro Prior acima
:
dito, forâo logo no principio três Pregadores mais, & hum fó Sacer-
dote para primeyro ííicriftao , chamado Frey Pedro de Santa Maria , 6c
nefte Convento chegarão a morar tantos Keligiofos , que delle fe foy
tundar o Convento de Ponta Delgada em Saó Miguel, & o da Villa da
Praya na Tércey ra , & nelle houve fempre bós Pregadores, & Confeflo-
res , & Coro às Communidade acompanha os defuntos ás
fuás horas a :
chàraó, que parecia contra juftiça morarem tantos íleligiofos em Ilhas beça he oConvetito de
t^am afaftadas de toda a terra firme , & naó terem lá alguma cabeça fupe-
Angra^mdi íemN0^
viciado.
KÍor de todos a quem os fubditos de cada cafa poflaó , quando lhes for
j
cfcufaó tanto de irem para as Ilhas , por náo haver là a quem poíTaó re-
correr quando for licito & jà por íífo também atè a Religião da Com-
,
:
tas vezes nas mefmas Ilhas fe tem pofto Vifitador triennal , para fe não
faltar ao bom governo dos feus CoUegios.
126 Eainda he mais de approvar, que as ditas Religiões Frã-
cífcana, Sc Graciana tem feus próprios Noviciados em Angra, onde tem
entrado muytos, & muyto limpos , &: nobres fugey tos das mefmas Ijhasj
porque parece contra a razão ,que fuílentando-fe huma Religião nas
dita^ Ilhas , & havendo nellas fugeytos capazes de nella entrarem , os
obriguem a virem entrar em Portugal, trezentas legoas de mar diftan-
te, iiaõ fó com os perigos do mar cativeyro naufrágio &c. mas com
, , ,
TDuyto grandes gaftos j & por iíTo de là não pedem tantos , quantos ha-
viaô pedir ,fe là entraííem Noviços , & depois viefiem para cà como ;
íendo que em taes Noviciados nenhum entra vindo do dizimo das le-
goas de terra , que de Portugal vaõ atè as ditas Ilhas ,& de mar.
Bb 127 O
Livro Vi. DaReanihaTèrceyrâ.V
O
quarto Convento de Religiofos em Angra he o de S.
127
Aistonio, Rccoleta Francifcana, que eftáaoíahir da Cidade pela porta
de São Bento , tomando logo para a mão cfquerda , fahida recreativa, &
de bom pafleyoi he Convento exemplariflimo , nem íey que haja ou-,
^A quarta Religião , troem as ditas nove Ilhas i &
de nenhuma outra fe fuftenta, mais que
«« Convento he dos de puras efmolas que ou lhe mandão , ou vem pedir pelas ruas em dia
,
,
Capuchos Dtfcalços determinado para líFo porque nem levaó efmolas de
, MiíTas , nem tem
de Santo Antonioyfa
Capellas de anniverfarios , ou muficas , nem efmolas de enterros > ou de,
kida, Convèto, Igre-
hábitos de defuntos i nelle fempre houve Varões fantiílimos, & alguns,
ja, &etrca degran-
çaô. paílados da Obíervanciâ para eíla Rccoleta ; & comtudo fempre pafla
muyto de doze Frades. Tem huma linda Igreja & Convento & de*,
, ,
votiílima cerca , & agua dentro em abundância. Qiiem foíTe feu Funda-,
porém que o Capitão Joaó de Ávila Ç rico fidalgo
dor, nâo fey ; confta
de Angra,dequcfâ liaremos} ajudou muytoaefte Convento ,& jun-
to à Capella mor tem cafa fua, & na tal Capella fepultura.
128 O quinto Convento (& jade Religiofas Freyras} heo
chamado de Saó Gonçalo 5 da Regra da Obfervancia de Santa Clara,
porém tam antigo j que em feu principio foy da obediência do Bifpò
Oprimiyro dos qua-
tro Convêtos defrey
do Porto em Portugal , & depois por Bulias Apoftolicas ficou debay-
TOS que ha em An- xo da obediência dos Bifpos de Angra. Seu Padroeyro foy Brás Pires
gra heo de S. Gon. do Canto , & feu Fundador , cuja filha D. Maria do Canto cafou com
,
^lo^ da rtgra At SaS D. Diogo Lobo, que fuccedeo ao fogro no padroado de São Gonçalo^
Francifco^d^ daobe-
dteneia de Ordina
& do tal D. Diogo Lobo nafceo D. Rodrigo Lobo da Silveyra que foy ,
dalgo de Angra Br as
fires do Canto ^&feH to D, Rodrigo nafcco D. Diogo Lobo, íegundo do nome, que por Me-
Genro D. Diogo Lo- ftre de Campo, & Governador da Armada foy para o Brafil no anno de
bo, & pajfn de cem 1639. &a25. de Julho levou comfigode Saó Miguel o Vifitadorda
Freyroi de véo preto
Companhia o Padre Pedro de Moura, cujo Companheyro, 6f Secreta-?
com boa Igreja, ter
rio era o Padre Luis Lopes. Fundou-feo dito Convento em fítio def*
reyro é" vifia ^tè
, ,
de FreyrM heo daEf- eftá fituado bem no meyo da Cidade , & quafi da Sè Cathedral , & d«
perança qite naô jó prmcipio da rua dos Cavallos ; & por incúria dos antigos não acho no-
,
fenta Freyroi de véo \vS feu Padre Vigário das FreyraSjque he lugar,& poílo muyto gravej&
preto de mhiUffima feu Companheyro Confeflor , & Aliviadores , & Pregadores Serafícosj
,
Igreja (^ txcellente
mujica.
,
& ainda que não he tam antigo , nem taó grande , nem tem tam boa vífta
como o Convento de 5. Gonçalo, cótudo he Convento de quafi feíTenta
Frey-
Cap.Xni.De quatro GoftVèntos de Reli giofas. ipí
Frey rasi & muy tas muy to nobres, & de grande recolhimento, &r obfer*
vancia , & muy to grave , mufiça, com indefedivel conti*
&c perfeyta
exceíTo do culro Divino faó da obediência do Ordinário, de quem tzm "^. ^ " 1,'^'
j
^ *
j& bem ornada Igreja , numero de mais de trinta Freyras , miíytas fi- & ^<.
chegou noticia.
í^t: 131 O oytavo Convento he o que fe intitula de SaôSebaftiaôj,
por fer fundado em huma nobre , Sc grande Ermida do Santo , que eftá
indo de São Francifco para a fobireditaConceyçâo das Freyras, á face O àaartoCoK^ento
di
da rua , olhando para o Sul, & com hum retiro para o Norte ; era Ermi- Freyrat he de S. Se-
da do Senado da Camera que deo a efta fundação para Freyras Capu- bafiiaõ, d* mais Ca-
,
chas da regra mais apertada , Sc da mayor pobreza de Saó Francifco i ha f^f^^^.&eflreyta re-
perto de cincoenta annos que fe fundou com puras efmolas, & foy gran- ^''* ^'^- francifco,
'" ''^"^*'
de parte em fua fundação o Capitão Jofeph Leal, cafado em Angra por '*i"'*
^ j ^
'^j
todos o mais pobre, & por iflb mefmo o mais foccorrido de efmolas,que:^'''J^'»/'^°/'^ &,
principalmente delias fe fuftentá , & he huma Capucha de tal claufura, ^'^y^o^ohes^é^eíçg^
.
m
retiro, & oração ,que confunde a todos feu raro exemplo , virtude , Sc ^
^rtjjimoí.^
C..A, p i3a;oiíké-'ô"''xi\r.
Do trato &gpveyno da Cidade
, de Angra*
'.!;:
toíaj primeyra, que nas taeis ruas (excepsos alguns arrabaldes daCí-
m ^^^^^ nenhuma çafa ha defpegada da outra, nem nos altos, nem nos bay.
nobre tafariít de
Angra naò fóporfá- ^^s da parte da rua, nem cafa terrey.ra fe mette entre as fobradadas, nem
ra, mas for dentro, Qivintal, ou jardim làhe àrua j com que ficáo as ruas có grande fermofu-
fem moirar w çontinuadas íemprie. Sçgunda circunílaucm hejquecomferemasca-.
«//«.íflÁo
^/jf«;»Ã»ffl?/c^rítf»-fasquarit'9das de paredes fey tas de pedra, & cai, & havendo muy tas
'^*'-
de dous fobrados na face, & por detraz de três comtudo não coftuma >
ílayer moradores divêrfos huns que morem por bayxo & outros por , j
cima, nem que pela mefma portada feíirvaó diverfos moradores, mas
do mefmo he todo o Quintal que tem cada cafa para traz ^ com que àtè
por dentro as cafas faõ mais limpas , mais; defembaraçiadas j &
mais lar-c
ga3}.d,Qnde vem queatè vão dehuma
âS;traveflras,que. rua para aou-r
tra^ íâó ruas;ba.ftantes, muyta largueza que vay dehúa a outra rua;
pela
comos Quintaes que medeaõ de húa,& outra parte.
'
í 33 .:•, . Q
JEfato da Cidade he tão nobrej que alè^
Bifpo, & algumas Pignidades Ecclefiafticas , & do Governador do Ca-?
ítello, Capitão mor da Cidade > ha outras muy tas ha Cidade dos ricos
morgados depa, & ainda otitrascaríuagens de homens, & de mulhe-»
Toio trato, & «»- res; das quaèi as ttiais nobres antigameot-e flaô hiaó à Igreja j & menos a
fr encontrão , fenao pda mão, & a criada , OU criadas váio I020 atraz & de outra forte fe não
cm atoi òantos . & via mulher nobre pelas ruas ,& nem. ainda aíIim,fenão
.
•• -
mHjtocompofiof.
paraas igrejas de manhãa , 6c4e tarde a pagar as vifitas } fempre con» &
recado antetedéflce que là vão aquella tairde > & das mulheres piebeas|
,
quafi todas as nações & alguns que entrando alli com hum pào na mão
,
fem mais riqueza, chegarão por annos àfobredita exceíliva pelas com-
miííoês de fuás terras pelas compras que fazem aos morgados da terra
,
de feus trigos & pelas letras de câmbios que lhes paflaô para Portugal,
,
& outros Reynosi Sc tudo fazem com tanta verdade , & fidelidade, que
rara-
Cap. XIV. Do tempoíaítràtOjSí governo Ja Cidade; i^f
raramente fe vè Mercador , ou contratador quebrado em efta Ilha, porí
que nenhum hc Judeo , &
raro he Chriftão novo &
alHm também potf
-,
tal fahe raramente algura no Santo Oííicio , prezo em a dita Ilha , cob|.
"'
ter lâfempreCommiírarios,& Familiares feus.
135 Nem íó da terra , mas também do mar foy tam grande <i-
contrato delta Ilha, que (como em muytas partes aífirma o antigo Frui"
éluofo} tinha muytos navios próprios íeus j & de alto bordo , com qué*
commerciava com Portugal, com o Braíil , cora Angola ,& Maranhãoi
èc não fó as frotas do Bralil , mas as nàos da índia Oriental , ôc as das In*
dias de Caftella, quando com Portugal eftava em paz, vinháo pela Ilha
,Terceyra , & nella fe refaziáo , náo fó de mantimentos , mas também de
íoldadefca da gente de guerra do Caftello, & continuavaò fegur^ a via-
gem no fim mais perigofo j porém depois como os Provedores da fa-
zenda Real da mefma Ilha, & os Provedores das Armadas impediaó o
navegarem os navios delia, & os occupavão , & divertiaó com feus pre-
textos, & conveniências } & como as nàos da índia Oriental derão ,ha
poucos annos , em vir da índia ao Brafil , Sc por efte para a índia j pre-
occupando o Braíil o que havia ir à índia, & o que havia vir a Portugal,
& fazendo de dous annos a viagem , que nem de hum era dantes } pot
iíToem a Terccyra os perfeguidos contratadores deyxáraó de fazer lá
embarcações i & atè ás mefmas Ilhas , cujos dizimos fe deraõ aos Reys
com obrigação de as defenderem , & a feus mares , nem já vaó lá Arma-
das que as defendiaô, nem as dcyxaõ defenderfe com feus livres navios,
E fe ifto allim he jufto , lá o veja quem lhe toca. *'
1632. como do dito tombo confta a/fl/. 187. mais llhat ,manda
137 Coftutiia efte Senado de Angra , quando fe chama a Cor- Procnrador ^U4tidí$
tes em Lisboa ,mandarem nome das mais Ilhas íêu Procuradoras Cor- ^'"'^" '^ Ponn.
^''*
ttSy o que não vem de algania das outras Ilhas , & o Procurador de An-'^"^' ^
'^'"^ ^^'
"f""
'^^^"''^'"^'^^''
gratemnastaes Cortes lugar era o primeyro banco , como Ihs couce Cí.
Pb iii deo
%^4 PMÍJ>a,RegiâJííi^ej:ceyfa;
^co o Senhor Rçy D. Joaõ o-I V. êc g teve Francifco de Betencor Cor".-:
Kça & Avik nas Cortes do anno de 1 642. ôc fe vé no dito tombo a
foL
345- ^ ^fii- 456: cftá o Alvará do meímo Rey, paíTado cm 15. de Junho
de 1 654. em que a petição dos Procuradores de Angra , & com aflento^
çomadonas antecedentes Cortes de 1653. ^^ ordena, Sc concede que
j?unca haverá Vifo-Rey, ou Governador General nas ditas Ilhas Icr^
ceyras , & quando o contrario parecer conveniente , fe não tomará af-,
fenco,nemrefoluça6em tal matéria >iemfer ouvida priraeyro a Carne-,
ra de Angra daqui veyo que querendo ElRey pòr Vifo-Rey , ou Go^
;
que a bicha que nafcep,; & fe creou com muytas cabeças , fe lhe cortarent
as mais, & lhe deyxarem húa fo, entaó, ou morrerà,ou mudará de vida,6c
que pois aíTim as Ilhas foraó taõ fieis à Coroa de Portugal , naó fabia o
^
fariaó, fe de outra forte as quizeflem governar. E naó inftou mais o Rey.-
138 Põem mais eftc Senado de Angra dous Almotaceisfem-'
pre, & fempre Cidadãos nobres , com feu Efcrivâo de Almotaçaria ,06
Juiz do povo , Sc feus Mifteres i & fobre tudo tem muyto baftante ren*
da, & bom governo delia, jcom que acode ás obras publicas j & fó ha na
Cidade grande falta de mais Médicos , Sc mais letrados leygos, Sc Jurif-.
tasjvifto 9 não ferem os Juizes Ordinários j apodera a dita Camera
mandar fempre a Coimbra hum fugey to ao menos jà bom latino , & bomc
Filoíbfo, para dentro de féis annos fe formar cmieys , Si outro em ou-
tro fexenio em Medicina, &:affim alternadamente fe proveria a Cida-
de de Médicos , Sc Juriftas &c com fó a congruâ de cincocnta mil reis
,
vel, fe das peíToas ricas , que morrem em Angra , Sc deyxão muytas ve^
zes legados fancafticos , ou de menos bem commum , deyxaíTera algum
para o fobredico, pois he huma obra das de Mifericordia, Sc muyto me-
ritória, enfinar, ou ajudar a enfínar qs ignorantesj &í tal vez mais meritó-
ria, que mandar dizer exceffivQ numero de MiíTas , íem faber fe na ver-
dade fe dirão.
139 Dogoverno dajuftiça temocuydado em Angra,alèm
^^^^°^^^^^^^^^^ Ordinários , humDeíembargador com beca , Sc poíTe
Dos Corregedores de
^figra combecA & ton^^da no Porto Sc a fua correy çaó k extende a todas as nove Ilhasj Sc
,
Vefembargo da cafa quando a Saó Miguel vay , ceifa a do Ouvidor do Donatário. Começou
do Porto , dr de fua efta correyçaóem os anrtosde 1503. em o primeyro Corregedor , que
jttrifdi^aoemaímais foy Aííbnfo de Matos, chamado Cabeça de vacca, conforme
a Fruftuo-
llhoí.
íqIw.6. capr 12. Continuarão fuccedendo Corregedores huns aos ou-
tros atèo anno de 1530. em que faziao officio Ayres Pjres Cabral;6c de
I534.atè i'^40. vieraómais dous Miniftros por particulares Correge-
dores de Saó MigueljSc Santa Maria» (não fey com que caufa) mas nem
ainda então deyxava de haver fempre. o Corregedor das Ilhas em An-
gra i Sc logo depois dos dous fubílitutos Corregedores cm Saó Miguel,
... >
tornou
-r»-
Cap. XtV. Dos Tribujoa^ do Civel , & Crime, ?of
tornou a unirfe a correyçaó de todas as Ilhas no Corregedor de Angra»
que foy Galpar Touro , em 1 544. a que íe feguiraó os mais, &
entre el-
içs Chriftovaó Soares de Albergaria , que tinha fido oprimeyro Juiz
de fora de Ponta Delgada > &
por fer por Caílella no tempo da compe,*»
tencia entre ella , & o Senhor Dom António , fervio entaó de Gorrege*
dor de S. Miguel , &
Santa Maria , Sc Caftella o promovco a Correge«
dor de Angra, & de todas as Ilhas, &porefta via fubio depois muyt^i
mais, como outros muytos por feus merecimentos, como Diogo Mar-
chaóThemudo, Bento Gafado Jacome,& outros muytos.
,. 140 Dosquaes Gorregedores o exemplar de Juftiça foy o
quarto que entrou noofficio em oanno de 1515. chamado Jeronyma
í,uis, ( o Bom , a refpeyto de outro Jeronymo Luis , que chamarão o
Máo. } Ao Bom pois , eílando de correyçaó em Saó Miguel , foy a jul-
gar hCia «aufa ,em que hum homem muyto rico do lugar da Maya per-
tendia tirar a húa viuva , por demarcação de terras , humas que dizia ^xe^fh r*n dã :;!:' r
liie pertenciaõ a elle j & achando o Gorregedor que a juftiça eftava pela ^^^
^^^
'
f
if'^'.
viuva, Sedando logo por ella a fentença contra o rico, appellou ^^^*XqJanu>
EiR^a
para a Relação de Lisboa, Sc deraó os Defembargadores a fentença pelo iof,ygu ^ (^prenúen}.
rico, reprehendendo nella ao Gorregedor j chegou a efte a fentença,
cftando ainda em Saó Miguel, Sclogonellc o zelo da juftiça foytam,
grande, quefubftituindo emfua aufencia noofficio a hum Francifco
Pires Bacharel , fe metteocm hum navio, que para Lisboa entaó partia,
& defembarcando fe foy aprefcntar a El-R.ey Dom Manoel , & lhe pro-
poz que fe vinha ofFerecer a fuftentar a juftiça da viuva , & que os De-
fembargadores que tinhaõ dado a fentença pelo rico, a fuftentaífem , Sc Ir' 5
que fe nomeaflem Juizes à caufa: & mandando logo El-Rey quefe fi-
^eíTe aíllm , Sc que os Defembargadores do Paço foíTem os Juizes , por
mais que coda a Relação arrezoáráo,fahio a fentença pela viuva contra
o rico , Sc o Gorregedor logo logo fe voltou a S. Miguel, louvado muy-
todo Rey, & accrefcentado com muytos privilégios; & acabando a
Corrcyção em São Miguel, fe voltou para Angra, Sc foy depois promo-
vido a grandes lugares. Oh exemplo de juftiça , Sc zelo delia!
141 Além dos ditos Gorregedores Defembargadores,que tem
feu Meyrinho geral , & Efcriváo da Gorreyçlo, (fora muytos Efcri-
váes , outros Tabelliães , Sc Enqueredores } coftumaváo ir a Angra, al-
gumas vezes, outros Defembargadores a particulares devaíTas, Sc hum li
delles foy Fernão de Pina Marècos , cafado com Mòr de Faria , filhi de ^' fftf ^ttalídade
"^ Defembarga.
Sebaftiáo Lopes Guedes , fenhor de Arzila em Africa , por a ter toma-
'J''*"
dó aos Mouros Sc do tal Fernão de Pina nafccráo os filhos feguintes: lu^tu »AcvêÍM ^^
,
*
Máximo de Pina^ Commendador; Valério de Pina, Gavalleyro de
Chrifto com tença; Nicolao de Pina, Sc Marcos de Pina , todos fidal-
gos da caía de S. Mageftade. Nafcèráo mais D. Margarida , D. Marcel-
lina, D. Violanfe , Sc outra filha que cafou com Nuno Pereyra de Ara-
gão, filho de Pedro Peflba , (" que morreo Gapitãoem Africa na batalha
delR^ey D. Sebaftiáo ) Sc da DamaD. Joanna Manfi! , filha de D. João
MinoelCommendador dasldanhas: Sc o fobredito Máximo de Pina
cafou com D. Maria de Lemos , filha de Manoel de Lemos , Gorrege-
dor de Thomar poièm o pay Fernão de Pina Marècos era filho de Ni-
-,
li-lí
t;- cola®
%Í '
Livro VI. Da R^íàífíiaTerGeyra:
colao de Pina 5 da grande cafa dos Pinas de Florença, &cafàdocom
Branca Anes Marècos, defcendente das Montanhas de Caftella i &
o di-
to feu Filho Fernão de Pina, na contenda da íueceíTaó de Portugal com
Caftella foy Procurador de ambas as Coroas , Vereador perpetuo, ôc
Coníervàdor da moeda , & Chanceller , & Provedor mòr da Saúde no
tempo da pefte, & fem morrer delia foy morto à treyção por hum man-
éebo em Lisboa , por naó feguir a parte do fenhor Dom António j do
que tudo ]z[c\hy de que qualidade eraó os Miniftros , que então fe
mandavaõ a Angra.
'.
142 Ainda outros Miniftros ha em Angra de que fó fe appelU
jjârà Lisboa, como Provedor dos Refiduos ,Capellas,&c. &Juiz dos
GrfaÕs, & Aufentes i & eftes grandes ofíicios andão em famílias de no*
2)« Provedores dos bres,
& fidalgos Cidadãos de Angra, & tem cada hum feus Efcrivães,8c
RefiáHOS , & ^«
oíEciaes , & huns , & outros faõ de grande rendimento j & nem o Pro-
futres dos Orfaõsy
dos ^mts *mbos fe vedor dos Refiduos , nem O Juiz dos Orfaôs faó letrados , fendo que fe
itpfelU fó p/ira a eftende fua jurifdicçâo a muytas das outras Ilhas aonde vão vifitar ; po-
JleiaçaS de Liiha, rém a jurifdicção do Auditor de Guerra do Caftello grande , que fem-
& do Auditor do prehe letrado Jurifta,efta fóaos militares do dito Caftello fe eftende,
Cafieda para jó o
Confelho de Gnerra.
& delle fó fe appella para o Confelho de Guerra de Lisboa , & não par»
algum outro Tribunal.
^
143 Mayor Tribunal que todos he em Angra o da Fazenda
Real, chamado, da Alfandega jGonfta de hum Provedor, quehe hurti
quafi Veador da Fazenda , & tem jurifdicçâo fobre a Fazenda Real de
Do Provedor dafa-
x.enda Real,fftas Al-
todas as nove Ilhas Tereeyras , ôc a todas pôde ir vifitar , & paíTa ordés
fandegtti , & feus a todas , & &
tem privilegio , pofle de nas ditas ordés fállar por (vos) a
grandeigrivitegios. todos os inferiores Miniftros da Fazenda Real das outras Ilhas , ainda
&
ftello, os mefmos Capitães Donatários das Ilhas, & todos os que tem
algum falario, ordenado, ou tença, ou a querem aíTcntar na Fazenda
Real das Ilhas , todos dependem muy to do dito Provedor.
144 E ainda que também ha em Angra outro Provedor, que
fe intitula Provedor das Armadas para acodir às Armadas Reaes quan-
,
Do Provedor das Ar- do là vaó as frotas do Brafil , às nàos cia índia & efte he hum dos prin-
;
toca o defpachar, & acodir com ella , fem o qual nada terá eíFeytO} pois
'-h'- nem
nem aiiida embarcação alguma para viagem , nem çaravelaõ paírà outra
lihapòde fahir do porto de Angra fem defpacho dó .Provedor da Fã>
genda 3 & menps fe pôde arrematar direy to algum dos Reaes a peffoa
alguma fero ordem do dito Provedorj ôc fianças porelle approvadas , Si:
Jiavcr confentimento leu. Em fim hctam Régio ofíicio efte, que por
encarecimento dizia hum^^jdifcreto,q,uiênaô lábia ^E^^ o que davàj
guando dava tal officiOi& que he ofíicio capaz deoRcy o daraiiurade
feus filhos fegundos. ,, , c.
;.'
..^
.
fos contrários, & os que maisjnnos.o tiverão, tiveraó mais & mayores ^íIoTITr/ío oãcíà
,
inimigos, Sc naõfó feculares,&: nasdifas, Ilhas , mas tambeim Ecclefiaf-^/ Fróvedfr dffL íffKf^p
''
ticos, 6cna meíma Corte de Pprtug4i porque deyx;indo jà os. mais an- aenãn cm m Itím.
tigos, dos quaes o primeyro foy Francifço de Melquíta j fegundo j Fer-
^làoCabraliterceyro, Duarte Borges de Gamboa i quarto, Sebaftiaõ
Coelho i quinto , Garcia Lobo j fexto, Ruí Gonçalves deFigueyroa;
&
deyxadòs, digo, eftes , outros j os últimos três Prpvedores perpétuos ^
foraõ António Ferrey ra de Betencor , natural da ViUa de Agua de Pào,
de Saó Miguel , cuja filha D. Maria de Betencor cafou com Agoftinho
Borges de Soufa , primeyro do nome íquçina Proveidoria fuccedeo ao
íogro ,& foy pay de outro Agoftinho Borges de Soufa , que ao pay fuc
cedeo na mefma Provedoria, (comojà tocámos noUv.^.caf. 17. ttt.f^.y
& cafou com huma illuftre fidalga de Angra , filha de Vital de Beten-
cor & Vafconcellos, de que nafceo Antoiíio Zimbron de Betencor , que
fuccedeo na muy to rica cafa do pay ,& np grande morgado , que rio taí
pay tinha nomeado fua tia D. Anna Ferreyra de Betcncofi mas taes def-
goftos tiveraó com o ofíicio os ditos , iSc últimos Provedores , que o fe-
gundo Agoftinho Borges livrando-fe era Lisboa , morréo de doença, &
dedefgoftos,& o filho António de Zimbron naôq*iiiz*mais procurar
oíficio tal , cujas filhas ríao faó mais que a foberba de quem tem o officioj
a enveja dos quc o não tem, 6c a defgoftofa mdrte de huns j Sc outrosj &
âíTim ,ha muytos annos,andajà o oflScio feyto triénnal em Bacharéis
de bsca Sc fe aíllm convém , ou fer perpetuo, Sc em cafa-nobre , 8ç rica,
i
ifl
là fe coníidere. ,,
'-'
gael) confeíla que parece huma Lisboa pequena. E eu confeífo pela ek-s
periencia que tenho de quafi todo Portugal , que abayxo de Lisboa naói
ha nelle Cidade com qUem mais fe pareça Angra , que a famofa Cidade \vM
do Porto , porque ainda queeftahe mayor no numero da gente jpoisí
Angra nlo paíTa de três mil vizinhos* riáo he mayor comtudo, nem mâisf
bem aííenráda no fitío que occupa , no numero , largueza , Sc direytura la n^.\\ I
das
m
HEI
if^S Llvm VI. Da Regia Ilha Tefceyra:
^as ruas, em a nobreza das cafarias, no concurfo, &
commercio das Na-
ções eftrangeyras que com Portugal tem pazes, no real porto,
& bahiaj
nos fortiífimos Caftellos , &
ainda na fidalguia aflentada nos livros de
S, Mageftade , como pôde vernelles , & veremos adiante em feu lu-
fe
gar. E ifto fuppofto, vamos a acabar jà com a coita do Sul,
& Capitania
deAngra.
CAPITULO XV.
Ac ah a a defcripçaõ da Capitania de Angra pelo
Stílj&Oefte,
tharina , &
bayrro
portas de Santa Catharina atè Saó Mattheosj &
he tam recreativo , cur*
deS. Pedro ate Sao
fado , &
continuado efte caminho que para a interior parte
, do Norte
'Matthecf,hêa legoa^
parece huma fempre continuada rua de exceílentes Quintas , & cafas
corre tanta cafaria^ nobresjde que algumas fe podem dizer Palácios , como as do grande
tantas £r- líiorgado dos Pamplonasj & a todas as Q.iintas vera agua decima
tjtiintat ,
do
midat , & Fortale. Certáo da Ilha , com que faô Qiiintas não fó mu y recreativas , mas fer-
'z,ai ejHe parece con.
,
tiliífimasde paó, vinhas, hortas, &,arvoredos & da mefma forte para a
-,
&jà 4a parte do mar vão alguns Fortes com artelharia , & fpl4adefcaj
pofto qué por aqui ainda o mar he de tantos calhaosi que mal pôde che-»
gar ainda lancha, &
muy to menos navio a defembarcar.
149 A outra meya legoa que fe fegue , vay ainda com mayo-
res Quintas de huma,& outra partejporèm da banda do mar , aonde pò*
de haver algum defembarcadouro , logoalli ha Fortaleza com artelha-
ria, foldâdos, 6c Capitão , &: em três fitios diverfos , a nove , & mais pe-*
ças cada Forte , & no fíni da legoa eftá a Freguezia, & lugar de S. Mat-
theos, de mais de cincoenta vizinhos , pofto que efpalhados pouco a- Do Ingarde S. Mau
:
d-iapite eftá huma bahia de área branca , & calhao miúdo , aonde fe toma ii^e<n &[Mat Mona'^ ,
muyto peyxe , & falmonetcs & ahi em rocha bayxa eftá huma Forta- ''***•
-,
le,za com cafas dentro , Capitão, & foldadefca, &: quatorze peças de ar-
telharia. E meya legoa adiante de S. Mattheos eftà a Freguezia , & lu- ^^ kgarde S. Bar2
gar de Saô Bartholomeu , de coufa de cem vizinhos ,& muytos tam- thelomtH^mejaíeioa
bem efpalhados & nelle huma Ermida de São Jofeph j & dahi fe fegue '*^*'"''^*-
,
rocha de alta penedia & porque aqui havia huma defcida , & algum
;
da, ("que já pertence ao lugar de Santa Barbara) nem entrada, nem Legea^ meyâ ádU
defcida ha, fenaó no fim huma pequena bahia, donde atè a ponta da Ser- <*ntejt fegue a Ermi*
reta que também chamaõ da balea , tudo he rocha talhada & muyto d^d<* míiagrofa St^
, ,
alta para diante , huma legoa, mas pouco para dentro da Ilha , Sc afafta- "^"'^ ^'* ^i'*^**
^ *
do do mar iica o famofo lugar de S. Barbara , com Freguezia da Santa, ^ T"'* ^^T ./>«
€,
'
L- •
o ^ r 11
Ui quali trezentos vizinhos, & quatro Companhias de loldados, & gra-
•
I «
1 _'
1 Barbara.
I
de treíen-f
nhora, & lhes refponde o Forte da terra & manda logo nova à Cida-,
por fer lugar tam grande & tam rico & que tem muy ta gente nobre, *** " comprintsmo d,4
, , ,
go, & de creaçóes de gados & daqui começa a voltar a Ilha do Oefte Noroefie é- Nortel
: ,
C A P I T U L Q XYI.
cos, por fer o íitio muy fcrfil , & ficar em diftancia da Praya fó huma le-*
goa ; porém defde o Nafcente da dita Villa da Praya para o Poente cor-
re o interior da Ilha com vaftas campinas, a que chamão os Cinco Pi-
cos, porque os tem á roda ; 6c outra parte chamaó o Paul , por naõ fó fer
terra play na & farta de agua, mas detaõ vaftos, & enxutos paftos , que
,
Boi umpmidetns
' ^ ^^^^^
hqpm ck Amadeu fãMl
^^^^^^
,^r
í?Í£;cKco/'2Vc!í,KoCí?--^e forte
/ltilt ti
divididas com muros , ou paredes altas de pedra,
"U-
que nem amdavmhas neftallha le communicaohuas cornou-
taSenirea pl(iya,& tras de diverfos donos j 8c por iflb aos caminhos , que não faõ eftradas
Çià^ic largas, 6c abertas , mas que laó de paredes continuadas de huma 6c oti- ,
'-
tas Quintas dcyxa deter fuás caí as feparadas, 6c á face do caminho, ou
^ue daCidade fíihtm a Pocnte,6c da porta de Santa Catharina , huma eftrada, que chamaõo
^ítm o Posntt, caminho de cima , que ao principio, 6f para a parte do Norte he de ter-
ras
;t
Cab.XVI.DofertiIíffim6,& fecréatlvô mtê^
de cima ) que fahemda porta de Santa Catharina , &: da Cidade , vay ^'*^*5''** £],£
mais pelo JNorte de cima fubindo brandamente outra eftrada
^^^^^^^J^a*CUadf*^h^p^?a
trado que chamâo o Pofto Santo , ou Porto Santo , aonde eftá húa po- ^ ^^^^^ ^fg o nohré^
voaçaó de tam fadios ares , tam nobres cafarias, Ermidas, & Quintas tzo ^tio chataadi lofi_i
recreativas , & fruftiferas , Ôc mais para cima delias a Quinta das ferias Sam**
do Collegio da Companhia , que com razaó fe chama Pofto , ou Porto
Santo, porque tèdahitantaj& tam excellente agua fahe,& de beber,
que aprovey tando-fe todos delia , corre ainda copiofa , & huma valente
legoa atè o bui , atraveííando todos os fobreditos três caminhos, & a to-
dos feusvinhagos, pomares, hortas, &
Quintas, & ainda chega aentrar
no mar do Sul , & no meyo da legoa que vay do monte do Braíil a Saó
Matheos :&dafahida da Cidade para o tal Pofto Santo, afíirmaFru-
6:uofo que não havia dia que por ella não paíTaflem mais de mil peíToaS
paraQtíintas,& parecia huma rua das principaes de Lisboa. E alguém
dirá que em o tal Pofto Santo, &
em alguma Ermida delle deve infti-
tuirfe Igreja Parochial , & feu Vigário, ou Cura , pois tem muy tos mo-
radores, & lavradores continuos^&muytodiftantes os Sacramentos na
Cidade.
156 Outro lugar ha no interior da Ilha, no fim da Capitania
da Praya, & meya legoa do Sul & Ribeyra Secca, do qual lugar fize- jy^
, -, ^ .
i,
mos jà menção no fim do cap. 6. & fe chama Fonte baftarda , & he da in- Fg,^^^
lafflrda^&Ã
vocação de Santa Barbaraj porém para o Norte mais ao interior da Ilha» chamado Caldtyra
& por cima da campina chamada o Paul, eftá huma grande cúáeyvQi mico donde fahia fo-j
ou profundo valle cercado de rochedos j & fó com huma bayxa aberta, ^«, anus defe de^s»^
& fahida para o Sul j de largura do tiro de huma béfta j & foy efta cal- ^^**'^{^k*'^
dcyradehum fidalgo chamado Sebaftiaó Moniz j & defua mulher Do- ii<i': ^M
na Joanna , & depois de feu filho Guilherme Moniz , & nella eftà huma
furna de fogo, que dey ta continuo fumo ,& não ha em toda a Ilha Ter-
ccyra outro algum fogo da terra , ou final delle & por líTo confidera
-y
guel treme muyto, porque como efta he toda em mineraes de fogo fun-«
dada , & fó trinta legoas diftante pelo fundiíUmo centro do mar , che-
gaõ Gs eíFeytos do grande fogo de Saó Miguel ao único mineral de fo*
go que ha na Ilha Terceyra , 8c a faz entaó tremer ; 8c aflira também tre«
raeo poucos annos antes do de 1640, antes da Acclamaçaó do Scnhof
Rey Dom joaô IV. em que cahio grande parte da Villa da Praya , & fô ^
Ce £5^7 Quan^^
3©! ILivro VI. Dá Regia Ilha Terceyra,
•
15
7 Quanto á fertilidade da Ilha Terccyra , pofto que eíla
he (nayor na largura que a de Saô Miguel , pois tem quatro legoas de
largo, &Saó Miguel pouco mais deduas,& em parte jiuma fó, he com-
"JrlgoefHtda a Ter-
^^j^^ menos de metade da Ilha de Saõ Miguel no compnmento j po»
tejra, chega 4 ^«4-.
^^^ ^ moHtuofa a de Sao Miguel, & tam cheya de lugares de con-
^jjj^^
-^ ttnuo fogo, & tam mcultaem muytas partes oc pelo Contrario a 1 er-
i
"
r ceyra he tanto mais play na, ôctantornais cultivada, que quanto 30 tri-
•5 go , dá quafi o mefrao que Saó Miguel nos annos que não faó eftereisp
,
£i chega a quatorze mil moyos cgdâ anno , & a mai§ i & efpecialraencej
^ porque já íc não faz era a TerceyraPaftel, como fe fazia muyto, ôc fc
faz ainda algum em Saõ Miguel & nem na Tereey rá fe admittio tanto
-,
nheci a Terceyra fem algum tal milho , mais que poucas njaífarocas pa-
ra aflfar, & comer por appetite , lèm , nem de miftura fe fazer delle paó
algum} nem convém em Ilhas plantallo muyto, porque faó de menos
terra,&demaispedreyraporbayxo, ôcatteníia otal milho,pugafta a
terra tanto, que em poucos annos não fica capaz de dar os fratosjác do-
I>râdos, do que d'antes dava j o que fe não Teguc do milho miúdo , nem.
do trigo , nem de outros legumes , que não gaílaó tanto a terra com ca-
nas tam altas, & tam groí&s cada anno.
158 De vinho he fértil, mas agente hetanta,& tam grande
de fora o concurfo , que nem para a Ilha baila o vinho delia , nem he.o
melhoP} mas excellcnte Iheyem da Ilha do Fico, do Fayal, & de S. Jòr-
Do mtsytoy & exceU ge, com que abunda ilão fó para fi , mas para as nàos da índia. Armadas,
ientt vinho que vay & Frotâs, que a proverfe Vão alli , como também às continuas çmbarca-
ftmfrt à Terceyra çôgg eftfangeyras & atè da Ilha da Madeyra lhe vem exeellente vinhoj
}
mtmt, funda , & leva muy tos moyos de trigo com feu boi:al redondo em cima
de três palmos de diâmetro ,,que fe tapa com huma fó pedra de cantaria
redonda, como huma mò de moinho, com o final em cima do dono de
quem he aquella cova , & no grande, Sc fundo vâo, redondo, da cova fe
conferva o trigo , como no ventre de fua mãy a terra , tam puro, & lim-
po de todo o bicho, & vicio, que fe tem experiência de fer melhor, & fa-
«er melhor paÓ o trigo das covas , do que ode Graneys ou celleyros
,
das caías de fora j & náo fe fabe que em algum tempo fe furtaíTe trigo
de cova alguma, nem que alguma fe abriííe fem o mandar feu dono Sc $
para iflb ha officiaes Éncovadores, & Dcfencovadores > que o fazem de-
fira, & perfey tamente. E efte he o grande campo das covas que em An-
gra eílá fto terreyrodo Convento de N- Senhora da Graça & em taes,
marifcoit
de Angra & náo fó ha o peyxe ordinário , & da pobreza , como fardi-
;
nhasj cavalas, chicharros, & em exceíHva copia nem fó peyxe {tco que
-,
Icvaõ os Eftrangeyros ,& o vendem alli maií barato pelo que com elle
•s > com-
-r*'
Câp.Xyi.Daab&d.de tng.pcke,cames3.Si menos vliiti.jêj
via na Ilha dezafete açougues continues ,& na Cidade cmco ácmú^i trado ^& forcos mais
Bos quaes cinco fe matavão cada femana vinte rezes vacarís , & que def* fadiis.é-exctlltntif-
**
íegadofecreava tanto fó nallhaTerceyra, como em todas as outras ^'""'''^"''^'''j?'"'
Ilhas dos AíTores juntas & difto dá a razão o mefmo Frua:uofo,di-^'^^''/'
:
^''* l"^-^- ^
zendo que fe não matava nos açougues outra carne , & fer a vacaril def- '
*
—— —
,/^m
tailha tam branda, & goftofa como a melhor de Entre Douro & Minho
de Portugal. Confta porém hoje , que nos açougues fe mata também
carneyro , & não fenâo caftradoj & cabras não vão ao açougue, cora ha-
ver muyta creação delias para ladicinios ôc defta abundância faó tef.
:
viílinias muficas, feria nu nca acabar , o referillas: bafta dizer, como diz
Fruduofo cap. 6. do liv. 6. que na Terccyra havia ^uytos , ôc muy fer-
mofos Aííores, quejà não ha , mas que na Falcões , Gaviões , Bilha»
fres,&: Cqfvos j Sc alèm de pombas bravâs , muytos pombaes de pombas
maníiís.
Ce ii 162 D®
3©í Livro VI. Da Regia Ilha Terceyra.'
ciniís , é'^fteyjíidaí. fempre cheya de moços carregados de queyjos freícos de toda a cafta»
queyjadas, requeyjoés ,tam grandes ,ôc táiii baratos j que hum req-uey-;
jaój que enche hum lenço , cuíta hum vintém ; &
he eííe o gazeo. ceie«
bre dos Eftudantes ; & tomo nefta Ilha ha fempre muyto aííucar , pela
iíiuyta cayxaria que alli vay" do Brafil, nella le fazem queyjadas tamt
grandes, & detam vários , ôc prèciofos doces ,que nem bolo de bacia^
nem outro doce lhe chegajôc quem comCj & acaba huma come bem
, , fe
he das que fazem no Convento das Freyras da Efperança , que mais
fe
efpecialmente fazem eftas queyjadas, &: nem em outra Ilha algúa j nem
. ainda em Portugal íe fazem tam perfey tas ao que ajuda mais j haver :
nefta Ilha nâo fó muyto mel , ( que ehamaó de canas por vir feyto da ,
dtjmf & lenhui. bem provida efta Ilha porque tomo tem o interior de quatro legoas de
-,
largo, & fete de comprimento, & nunca teve Engenhos de aííucar , que
confomem toda a lenha & por fer de^nenos fogo , tem mais no funda
-,
âs pedreyras, & por cima mais alta a pura terra, por iffo fe achão nella ar-
vores tam grandes , que de pereyros tal havia que do mefmo tronco
fahiaó treze à roda, & tam eheyos de fruta , que vendendo-fe os peros a
dous, & a três por hum real rendia cada anno féis mil reis, fó em os que
,
que feu tronco tinha de groíTo circuito trinta & cinco palmos & em ,
de todas as Ilhas bem fervida 3 porque de Sao Jorge lhe vem gado maàeyxa ,
para
Cap.XVI.0o maritímo cÔínefCiPilotóS mCigú.Scãtog. lof
pamcayxas ,^ navios ,frutas , vinhos ydoFayal carnej/rosy Inhames osmc"
ihoresj &ateo excelkntepeyxe Efcolar j dç Ptco os melhores vinhos , que & o
vence a todos , que he o vtnhopajjado da Gracwfa as cevadas , as manteygas^
-,
arribar, & o feguio leu filho Luís Ayres :& hum Manoel Fernandez
foy tam infigne Piloto de toda Hefpanha , que foy o primeyro que def-
:cubrio a derrota de Portugal a Malaca fem antes defta tocar na Indiaj
,
-& em Goa ò faziaó Piloto mòr do Sul , mas ElRcy D, Sebaftiaó o cha-
mou, & levou por Piloto morda fua Galé Real , & feu Real Galeaó Saô Doígratidêf engénhbí
Martinho em que a ultima vez paíTou a Africa, & o honrou com o ha- para tudo ejUé da tai
,
bito de Chrifto, tenças , & outras honras & tendo fido examinado pe- Ilha tem fàhído.^i
:
dade dos Reys em a Capitania, & com a Almiranta, efta fe perdco, & el-
le paffou todo o Eftreyto , & em breve aportou na fua Ilha Terceyra , ôc
dahi logo em Sevilha, levando comfigo dous Gígantes,macho,ôc feraeaj
que tinha achado, & tomado em as coftas do Eftreyto.
., 166 Támfubidos Engenhos para tudo , também vem das me^
•' Ce iij dicinaes
Livro VI. Da Rcgiá Ilha Terceyra^ '"--^
'DMttaturaet 2líedi. B^^^^^ >^^^^^^^ pequena furna, le tira almagre tam fino, quedey-
sinanjue ha na Ma t^sLiido GOHi eile emplaltrosnos câvallos , os cura períeytamcnte , como
Tercejra. íq fora bolo ar memeo ,ou bonarmenico &
na mefma parte junto à dita
:
2)tf
f«* da Ilha Ter- de fora delia , ella em que ferve aos de fora ? Refponde-fe , que como a
"'*'
^^^^ Terceyra , 6c a fua Angra he a cabeça das mais Ilhas, delia leváo as
r^* /I""'^'"^''*'
trss Ilhoí,
anais, o que de fua cabeça coftumaó levar os membros de hum corpo j &
aílim como a cabeça he a que vendo, ouvindo , examinando j &provan-
do, he a que julga o que convém a cada membro humano , & eftes delia
recebem os bem formados efpiritos vitaes , afllm as mais Ilhas da Tef-
&
ceyra; &
como a efta vay dar toda a cafta de fazendas,drogas, efpecia-
rias que ha não fó em Portugal, & fuás ricas Conquiftas, mas nas Na-
ções eftrangey ras , de tudo fe vão prover a Angra as cutras Ilhas , que
tudo nella achaõ , o aíTucar , eourama , & madeyra do Brafil , & Mara-
&
nhão } o marfim , efcravos de Angola , & Cabo Verde ; a canela , pi-
&
menta, cravo, coufas preciofas, & ainda a pedraria, as pérolas, &
aljô-
far da índia Oriental ; toda a efpecie de panos , &
de fedas de Itália , In-
glaterra, França,& Hollandaj & o azey te, fal, &
cera de Portugalj & atè
õ ferro , breu, enxárcias , velames , anchoras , & amarras de navios } & fe
nada difto querem as outras Ilhas , levaó em prata , & ouro o preço do
que trouxeraó ; pelo que a Ilha Terceyra , & Cidade de Angra íem al- ,
&
gúahora fcrvir, fenaó fó a feu Deos , a fcu Rey , he bufcada, & fervida
de todas as outras Gentes. O que fuppofto, vamos jà com a hiftoria por
diante.
CAP.
r»-
;.-,ti^^-;-rsíf
^' '.:^iR[*sr
'bo
CAP T U L O XVIL
I l
« '
Da Nobreza que entrou & povoou & ainda habita é
, ,
í
lllja Terceyra. -omociv^íT.^T^^
168 r^ O primeyro
& verdadeyro Povoador da Ilha Tcrcey-
,
_ ra, & Capitão Donatário de toda ella, & dos dous Dona-
'
^ia de todos trcs & fucceíTaõ nas Capitanias já diíTemos acima neft©
, ,
Paim , como o bifavò paterno , & çafou com D. Bernalrda , filha ds Pau-
<:í
3©8 Livro VI. Da Regia IlhaTerceyra;
íõ Fer feyra, & pofto que defte cafamento fe não fabem deícendenteSjÊ^
be-fe comtudo que Diogo Paim teve íeguado filho , chamado Jerony».
mo Paim, irmáo do fobredito António Paim, & tio do Duarte,
J^ifi-v OtalJeronymoPaim calou com huma filha de Joãp de
íiPw NeíilífimosTe- Tcvc o moço , & defte calamento houve , & ha ainda na Ilha muyta
t/es, tfuefe eompui.e- delcendencia, & hum Manoel da Camera, Clérigo, & Vigário
das Fon-
fM com es Patnsptr tainhas , primeyro neto de Diogo Paitp , fegundo neto de Duartç Paim
"""*
to primeyro do liome, & terceyr ó neto de Thomàs Elim Paim , o Secre-
173 Ficoiide'DiogodéT*eve,feufilhoJoáódeTevejoqual
trouxe demanda com Diogo Paim , por o pay de João de Teve ter to-
mado a Serra de Santiago ao Capitão Bruges avo materno de Diogo
,
Paim mas como fe compuzerão cafando Diogo sPaim a feu filho Jero-
;
nymo Paim com huma filha de Joaô de Teve ( chamado o moço } di-
,
vidirão a Serra entre fi, que rendia entaó quatrocentos moyos de trigo;
& ficou a cafa dos Tevês muyto rica , & a Serra de Santiago chamando-
fe, a Serra de João de Tevej Sceftacafa fe conferva hoje aparentada
com a mayor nobreza de todas as Ilhas pois a ultima filha do ultima
,
Joaó de Teve cafou com Luis Diogo Leyte do Canto & Vafconcellos,
filho morgado de Jacome Leyte Botelho & Vafconcellos, fidalgos bem
conhecidos em Angra da Terceyra , & em Ponta Delgada de Saó Mi-
*-'
^ gueh
t»*
Éi IÉfc>jÉ i> áfc tu nfn .1 m !•
€ap.XVíí.DosBruges,Tevcs,PainSjHQmês,Camef.&c,^çf
guel: porém efta eafa dos Tevês lie dos Têvçs por linha fenjinina, ,
pitão da Capitania da Praya foy Álvaro Martins Homem ; 6c efte ap- Donatartosd^fraja^
pellido he de tam grande fidalguia, &í tam antiga, que dos fidalgQS,que
ElR.ey de Portugal mandou para cafarem com as filhas dopriraeyro
CapitáOj&defcubridor dailha da Madeyra,hum delles foy Garcia
Homem de SouXa que cafou com Catharina Gonçalves da Camera, fi-
,
boa,&: outros fidalgos , que por faberem da nova Ilha Tcrceyra defcu* ' 'I,
bertà, vinháo para ter doações de terras nella ) o certo he que o tal Pe-
dralves da Camera foy caiado com Elvira Fernandes de Sávedra, &
que delles nafceo afobredita Ifabel Dorneilas da Camera, mulher âo
terceyro Capitão da Praya. Antão Martins Homem , & deftes foy filha
•aditaCatharina da Camera, que cafou com Diogo Paim ,vk a dica Bri-
tes de Noronha,qiie cafou com o quarto Capitão da Praya Álvaro Mar»
tins da Camera, fegundo do nome.
176 Da appellido de Dorneilas, ou Oraellas, confta que veyo
também da Madeyra coijii o dito fidalgo Pedralves da Camera , pois fua
filha fe chamava Ifabel Dorneilas da Camera & eraó eftes Dorneilas fi* Dos DsrnelUs Ca^
•,
dalgos tam conhecidos, que entre os mayores da Madeyra íe conta Joaó meras <^h^ fe v'eraS
Dorneilas , Cavalleyro de grande nome , & fama , que à íua cufta foy
com os Noronha} to. t
dosfamilfoí iUnfirett.
íoccorrer a C,afim em Africa , fendo cafado na Madeyra ( coíao vimos
jinolw.7,.cap. II. do fegundo Capitão do Funchal Joaó Gonçalves da
Camera) 6c ainda hoje dura na Madeyra efta nobiliílima família de
Dorneilas, & fe conferva na Ilha Terceyra , como huma das j>rimeyras
fidalguias delia, cm Manoel Paira da Camera & DorHelias,irraâo,&
feerdey ro do Alcayde mòr da Praya Brás Dorneilas da Camera , filhos i.ijk*
«ta
;^ío Livro VI. DaRj^alJIhaTeréeyra*^
tao do Funchal } & deftes N oronhas trata Damião de Góes & diz que ,
Ifabel, & queefta cafou com D. AfFonfo , Conde de Gijon & fenhor de
,
ro.
t*"
Cap.XVm. Dos Cortereaes,Coftas,SiIv.Mònízes,ê^c. Jí í
fo, & pofto que paflaraó ao ditoiilho, & ao primeyro neto , & morga*
,
gos Martins da Fonfeca ceve outro irmão intey ro chamado André LuiS
da Fonfeca, fidalgo que morreo ha pouco,de muyto roais de oytenta ân-
uos , dcyxando muyta defcendencia da dita D, ígnes (^ quinta neta do
:
CAPITULO XVIIL
Dos Cortereaes, Coftas^ Sí/vaSj MonizeSy Barretes , & Sam* ;TI "U
payos^quefe coíi/èrvaÕfíaléaTerceyra,
de Cortereal.Todos cónvem quedo Algarve veyo hum famofo Cavai- '*«^^* '^'"'^'''*'»'»f«*,
leyro, cujo appellido era ( Coita) & que andando na Corte, ou delRey ^^^/^^^J^jj^^"^^^^^
'" ^
D. Duarte, ou jà de feu pay D. JoaÓ o 1. tam luzidamente fe tratava,que
cm huma occafiaó chegou ElRey a dizer publicamente ao Cofta Com :
voffa^uinda, Còjia, minha Corte he Real & que daqui o Cofta fe chama-
:
paÕ confta, fe o dito primeyro Cortereal foy o mefmo Joaõ Vaz da Co-
fta , à quem fe deo a Capitania de Angra , ou fe foy feu pay Vafqueanes
da Cofta , a quem as hiftoriasjáchamâo Cortereal j o certo hequcto-
do o Cortereal defcende dos taes Coftas , que erão Fronteyros mores
do Algarve em Tavira , & Silves , fidalgos que deícendiaó do grtnda
D. Reymaó da Cofta Francez , que ao primeyro Rey D. Aííbnfo Hen-
riques ajudou a tomar Lisboa. <, v; ,>;
181 Deftes Coftas Cortereaes ficou tasta, & taó legitima def*
cendencia na Ilha "Jerce^íia^Sc. ça do Fay ai « que o. dito Joaó Vaz da iF'!l: 'M;
hr. Cofta
|ii Livro VI. Da Regia Ilha Tciíeeyra.'
=
Coíla Gortereal, (além de cafar fua filha Dona Iria na mefma TerceVííi
com hum fidalgo chamado Pedro de Goes-da Silva , a quem deyxou o
íèu paço, & jardim por bayxo do Caftcllo de Saó Chrifto vaò, chamado
Gâftello dos moinhos, do qual cafamcnto não fey a defcendencia que
ficou: ) além defte caíamento , cafou outra filha , chamada Dona Ifabel
Cortcreal com Joz de Utra, fegundo do nome^ fegundo Gapicão Do-
•
natario das Ilhas do Fayal , & Pico , cujo filho Manoel de Utra Corte-
real cafeu também com D. Angela Gortereal , fua prima , filha do ter-
ceyro Capitão de Angra Vafqueanes Gortereal , irmão da mãy do dito
Manoel de Utráj & da defcendencia deíles cafamentos fallaremos, quã-
do tratarmos da Ilha do Fayal ; & o mefmojoaõ Vaz da Cofta Cortc-
real cafou na Terceyra outra filha, chamada D. Joanna Gortereal, com
Çíuilherme Moniz , que fendo illuílre fidalgo dos Monizes de Portu-
gal, mas filho fegundo , tinha ido para a Ilha Terceyra a adquirir nellas
terras do Donatário , & efte com a filha lhe deo tantas que fundou hum
,
tm PortHgàl , cí* »« do filho ( que do primeyro, Sc morgado trataremos logo } do dito Gui-
^íÍM á*/«»^«« dos Iherme Moniz , & Dona Joanna Gortereal foy Balthefar Moniz Cor-
tereal , que da Terceyra fugio ao pay para a índia , fendo ainda de qua-
AT^*\'írA!*^**'*
^* ^*JJJ - tor2;c annos , pouco mais , & depois voltando da índia cafou cm tis-
boa com D. Violante, natural da mefma Ilha Terceyra, & tornando pa-
ra a índia lhe morreo cá a dita primeyra mulher , & elle fe cafou fegun-
da vez em Moçambique com D. Maria Paes da Cunha , & voltou para
Lisboa, & defte fegundo matrimonio nafceo D. Maria da Cunha , que
cafou com Diogo de Mendoça , & deftes nafceo Dona Joanna de Men-
doca , que cafou com Manoel de Soufa da Silva , fidalgo bem conheci-
do, que morava no feu Palácio das portas da calçada de Santo André, 8c
teve duas filhas , a fegunda cafou com feu primo o Conde de Valdc-
Reys, fobrinho patruo do Arcebifpo de Lisboa D. António de Mendo-
çai & a primeyra filha de D. Joanna de Mendoça , & Manoel de Soufa
da Silva ( que fuccedeo a efte no morgado} cafou com o Marquez de
Montebello Dom António Machado , filho morgado do Marquez de
Montèbcllo Dom Feliz Machado fenhor da antiga , & illuftre Gafa de
Entre Homem, & Cavado j o qual Dom António foy Governador de
Pernambuco aonde agora eftá também governando feu filho herdey-
:,
me
"V^
..i áaa&aáfe. -
de Manoel da Silva nafceo Guilherme Moqiz como leu vifar ò, & quar-
to avò ,que era o genro do Capitão Donatário de Angra Joaó Vaz da
Cofta Cortereal. Nafceo mais de Guilherme Moniz , lejgundo do ao-
€ne , Egas Moniz Barreto , que cafou com D. Maria da Silvey ra naCi :
ceo também António Moniz , o famofo na índia , & feus irmãos Sebaf-
tiaó Moniz , moço fidalgo , & cafado com D. Brites Merens , & deftes
nafceo o Morgado Joaó Merens , que morreo lem filhos, & fe lhe feguio
feu fegundo irmão Diogo Moniz Barreto, que cafou com D. Margar
rida Pamplona , & diífipou a cafa , & deyxou vários filhos j & o tercey-
fo irmaó foy Henrique Moniz Barreto , que cafou com fua prima Dona
,Violante, filha do fobredito Francifco Barreto da Silva.
1 84 Do primeyro Sebaftiaó Moniz , & da dita D. Joanna da
Silva, filha do Regedor, & do Noronha nafceo em fegundo lugar Dona
Francifca da Silva , que cafou com hum fidalgo chamado Ruí Dias de
Sampayo, & deftes nafceo D. Antónia, que caiou com Manoel do Can-
to de Caftro , como veremos abayxo nos Cantos , & Caftros } mas por-
que o tal Ruí Dias de Sampayo viuvou , & cafou fegunda vez com D^
Iria , filha de outro fidalgo chamado Conftantino Machado , & o dito
Ruí Dias de Sampayo era filho de Mem Rodriguez de Sampayo, & de
D. Brites Homem da Cofta , & era neto de Gafpar de Sampayo , Sc de
D. Joanna de Ataíde , fidalga illuftre, por iíTo do fobredito Ruí Dias
de Sampayo , & da dita fua fegunda mulher nafceo outro Ruí Dias de
Sampayo, pay de Eftevãode Sampayo de Azevedo-, & do mefmo fe- ^- ,
que chegou a fer Governador de todo oEftado da índia, & nomtzáo todo o Efiado dal»i
nas vias por Viz-Rey , & m«rreo antes de o chegar a fer ; & de fua def- di4 Oriental*^
cendéncialàna índia , conftará lá. E finalmente de feu pay Ruí Dias de
Sampayo , primeyro do nome, & de fua primeyra mulher D. Fran cifcâ
da Silva nafceo mais D.Ifabel ,que cafou com Luis Homem da Cofta,
de que trataremos em feu lugar.
1 85 Viftas pois aílim as famílias dos Cortereaes , Coftas, Mo-
nizes. Silvas, Barretes, Sampayos, & Noronhas ,
que fe confervaô
na Ilha Terceyra , tempo he jà que cheguemos , na ordem de tempo , á
illuftre família dos Cantos Caftros , & outros, Silvas , Ferrcyras , Mel*
los,&c.
TW!
DõsCaníõSy&CaJfros de Angra ^ &familías donde
vemy&quevemdeíks.
&
4q Ganco , da mefma forte paflbu depois da Madeyra à Ilha Teroey,
ra pelos annos , & em tempo do fegundo Capitão Donatário de Angra
Jõaó Vaz da Gofta Cortereal, que muyto antes foy provido, como dif-
femos acima no cap. 2.
187 EfteFedro Anes do CaHto era ainda folteyro,& filho fe-
Do primejro Pedro gundo de Jacome ( ou Joaõ) Anes do Canto, & de fua mulher Francifi-
Anes doCanto ,de ffta
ca da Silva , filha de hum Joaô Soares da Silva , & pelo dito feu pay era
fidalgnia afctnden-
,
jietode VafcoAnes,ou VafcoAíFonfo do Canto , Cavalleyro , natural
eia c^ primfjro ea-
,
•^t^
Cap. XIX. Da pniíieyfà linha dos Cânbij:^ Caftroi j||
appellido de Canto , & fó lhe ajuotiraõ ode Caftro , & as armas dos
Cattros ás dos Cantos j com o efcudó coroado j & aílim muy to fe eríga*^
nou queradiíTe qtie o appellido de Canto era alcunha, pois não heíeW
naó appellido muyto antigo , & muy to nobre, que por nenhum dos ou-^
irosíe deyxou. Do dito António Pires do Canto , & de D, Catharinà
de Caftro , nafceo D. Joanna de Caftro , que cafou em Lisboa com Lo-
po de Soufa , 6c deftes nafceo Ayres deSoufa,primeyrodo nome,quéí
cafou com D. Leonor Manriques i & deftes. nafceo fecundo Ayres de
Soufa,& D, Leonor Telles, quecafotí com Francifco de Mello, prú '
m
mey ro Conde da Ponte, & Marquez de Sande , que cafou com a filhai
do Marquez de Niza j & outra filha cafou em Lisboa com Luis de Sal*
danha, odo Alemo:tantos fidalgos em Portugal defcendem de Anto-»
nio Pires do Canto, & do pay Pedro Anes do Canto»
Wi.
190 Defte António Pires do Canto , & da illuftre D. Catha*
íiiia de Caftro nafceo Pedro de Caftro do Canto, que como feu pay , 5c
aVò , não fó <:onfer vou a mefma fidalguia , & o meímo pofto de Prove-
dor das Armadas , mas tudo augraentou > cafoU pois com D. Maria de
Mendoça, filha deEftevâo Ferreyrade Mello , 6c de D, Antónia de Li*
maj 8c neta paterna de Gonçalo Ferreyra da Camera , filho de Duarte
jFerreyra de Teve, & de D. Felippa da Camera & pela mãy D. Anto*
:
ília de Lima era neta materna de Manoel Pacheco de Lima , & bifnera
Sargento mòr deteda a Ilha Terceyra com grande tença , & Governa-
dor do grande Gaftello de Angra j efte ainda que cafou em Angra
,&
muyto fídalgaraente^ com D. Maria de Mendoça , filha de joaó de Be^
tencor & Vafconcellos, (de que abayxo trataremos) eòmtudo naó dey*
xõu delia filho varaô , mas duas filhas , que <:onfórme a fua qualidade
cafáraõ , como veremos j & como ainda a eftê António do Camo & Ca«
ftro precedia por mais velho outro feu legitimo itmâo
Joaõ do Canto
& Caftro, efte fuccedeo na cafa ao dito irmão Manoel do Canto ScGaf*'
lro,feguhdodonome» ;
195 Efte pois Joaó do Canto & Caftro não fó ficou com a cafa
de feus avôs , mas foy do habito de Chrifto eom grande tença , & Pro-
vedor das Armadas , & do Confelho de S. Mageftade , & ainda antes dô
%varaçafa cafou dentro em Angra com hisma fidalga chamada D. Ma*
ria Gayxa,filha do bom fidalgo Thomè Corrêa da Cofta
, & de fua mu-
fiflâó fe fez lecular, & fe oppoz ao morgado, &r o Sebaftiaó Carlos fa-
lecco em a demanda } & por mais que fe oppuzeraõ ao que tinha fahido
da Religião , afíim feu tio Pedro de Caftro do Canto, filho de Diogo do
Canto , & neto de outro Pedro de Caftro, como taiiibcm huma irmã do
meímo que annullou â profiíTaôja tudo efte venceo.
194 Seguio-fe pois na cafa , foros , &: póftos delía o dito Ma*
aôel do Canto Sf Caftro , terceyro do nome, (aquém alguns chama-
íaóFreyPfetetitò, por ter fido Frade muytos annos )& efte em Lis-
boa caiou com huma fidalga, fua parenta' ainda, de que faremos men-
ção em fèU lugar j 6c lcVândo»a pàtâ Awgrá côm grande ímíkoi dei ia te-
K* ' '
v-
-rr-
Câp.XIX/Dâfcguniâl|nHadosCant0sSilvasr |í|
Canto , dos quaes vieraõ douseftudar a Coimbra, & hum delles entrou
<em Lisboa, & profeffou na Religião de São Domingos j èc o morgado
com outros vivem em Angra com a máy viuva jà & o marido viveoíôç
j
Jacome Dias Corrêa, da Ilha de Saó Miguel, & delia houve huma filha
chamada D. Violante do Canto da Silva , de grande virtude , & pru-
dência. O dito Jacome Dias Corrêa veyo da Cidade do Porto , onde era
homem Cidadão, & fidalgo j teve neíta Ilha muyto eftado , aílim de ef.
cudeyros, como de homés de efporás, efcravos , & muytos cavallos j ti-
nha trezentos moyos de renda , a fora outros muytos bens. A mulher
(& avô materna de D. Violante) fe chamava Beatriz Rodrigues Ra-
pofa , filha de Ruí Vaz, que chamarão do Trato , porque o tinha em
muytas partes veyo à Ilha de Saó Miguel, fendo homem fidalgo , & de
;
'
^
197 Eftejoaó da Silva do Canto, ainda que èra filho dafc-
gunda mulher do primeyro Pedro Anes do Canto & o irmão António
,
r\
Pires do Canto era filho da primeyrâ , comtudo neíle fegundo filho fez
o pay igual morgado ao que fez no primeyro filho , porém efte fegun-
do nâO teve outro filho legitimo 5 fenáo adita D, Violante do Canto 6c
í)d iij ,
.
Silvaj
$1$ Livro Wí. DáKegiaIlha Terccyra^
tro nafcèraõ muytos filhos ; o morgado que eílá cafado , fie fem filhos a-
inda, Mattheos do Canto fie Caftro , que foy Religioío da Companhia
de JESUS ,excellente Humanifta , & Filo fofo , 6c que lendo em Co-
imbra nas Efcolas menores daUniverfidadeoslatinSjadoeceo deeftu-
dar, 6c doente aindadurou algos annos, 6c morreo no Real Collegio de
Coimbra, 8c com grande exemplo de religiofa humildade , U obfervan-
cia. Outros irmãos defte vivem ainda , como ainda também vivera 0%
ditos pays.
200 Deftes últimos filhos o vifavò Pedro Anes do Canto , fe-
DuCantos deS. Ml gundo do nome, &í da mefma primeyra mulher nafceo outro filho,
Sc
gHel,por linhoá femi
mais velho , chamado Luis do Canto, que cafou na Ilha de Saó Miguel
com D. Barbara daSilveyraiScdeftecafamentoentaó na© nafceo varaó
-<^<'
algura
v»-
:.ít:.jartii;« teA«:^ar?- er^.^í.
VâfeoftCellos. f ^
Cap.XíX. Datercêf tá Unha dôs Câíitôs
algum queeufayba,mas três filhas que todas também c^áraÓ em SaÕ
,
Diogo Leyte
Migoehaprimeyra,D. Maria do Ganto com o fidalgo
Botelho & \ alconcellos, fidal-
Botelho,, de que nafceo Jacome Leyte
queveyo a cafar em Angra
go ,& Cavalleyro da Ordem de Chrifto ,
Pereyra , & de D. Kabel
com D, Mana de Mello , filha de Luis Coelho adualmente, tas
deMelb, da Ilha da Graciofa j o qual Jacome Leyte
tirar o morgado que
demanda afeu tio Ignacio do Canto, & lhe quer
poffue, 8c poíTuhio íeu pay. Outra filha
de Uu$ do Canto foy D Lu jza
Maya, Sc de qUe nafceo D.
do Canto , que cafou com António de Faria
Pacheco, todos da mefma
Mariànade Faria, mulher dejoaóde Soufa
Ilha de Saó Miguel. E a tercey ra filha
do mefmo Ignacw do Canto toy
Miguel , com Miguel
D Ifabeldo Canto , que também cafou em SaÕ
primeyra vezcaloa
Lopesde Araújo, de que nafceo D. Antónia, que
houve a António Bor-
com feu primo Pedro Borges deSoufa,de que
António Soares de boula , dclccn^
ses & vuiva cafou fegunda vez com
Sente leeitimo dos Donatários de Santa
Maria, S. Miguel & i'5i;í6")vt..'ri
, :. òiWDii ^!' Do dito Pedro Anes do Canto, & de fua fegunda mulher
do Canto ras\ & Cofias por\lij
P ApolloniaTeyxeyra nafceo hum fiiho chamado Manoel ,
irnúos , èc aelíenâlceo
da Veyga; & efte Francifco do Canto teve mais
Canto
loaÕdoCantode Vafconcellos (aquém cliamárão joaÓ do
,
Tenente doCaftelia
Gortereal, filha de SebaftiaÕ Cardofo Machado ,
mnde , que também deyxou defcendencia-,& outra umãdo dirojoao
Cidadão:
So-CantoSaudeeafõuemS, Miguel cora hum nobre , Sc rico
mto-
po tmoVl.DaReaíIlhaTerceyfa:
António Pereyra Botelho de que também
, là ha defcendencía.
204 Nafceo mais de Francifco do Canto
, ( terceyro filho d«
0- Lima^, ~ ' com Manoel Pacheco de Lima , ( grande fidaLo
^^^^^^^?^' ^"^ "^oií
de que fanaremos abayxo & deftes nafc.o
) Joaõ Pacheco de Vafcon-
cellos,que cafou três vezes, fem ter fiJhos
da primeyra, ne^n da tercev-
ra teve^os da fegunda, que fe chamava
, D. Urfulade Lacerda filha da ,
Álvaro Pereyra de Lacerda, nobiliífimo Cidadão
de Angra, de que naf!
ceoFranafco Pacheco d€ Lacerda , que caiando a
pnmeyra vez coi
JJ. AnnaZimbron fidalga morgada viu vou delia fem filhos
, , mas te. ,
vc-os da legunda mulher com que cafoisj
, & teve mais outroirmão cha
piado Diogo Pacheco de Vafconcellos , &
de ambos eíles irmâoS houC
""^ * ^"^ ''^*°" com Pedro Homem da Coíla fidalgo
lonhecldo , muy
; 205 Finalmente feria nunca acabar quem
quizeíreexhaârira
DosCmm, jyí^lí,;g"almentenumerofa, que fidalga familia dos Cantos, cuia prime
vra
p/^, legitima ôc^varonil defcendencia fe
conferva nos filhos de Joaõ do
Canto&Caftro,& com nobre Palácio, de virtaampliffima pira
mâr^
& terra ,
jardim junto a
elle , 6c fua Capeíla de NoíTa
Senhora dos Re-
médios ,& cafa taó rica que fó em trigo
,
paíTa de trezentos moyos de
renda cada anno
, &
em vinhos , foros, & tenças , alèm de grandes quin.
tas tem certamente de renda muy
,
deide quafí logo gu principio pois por
tos mil cruzados cada anno
ifto: &
5 morte do íegundo filho legiti-
mo do primeyro Pedro Anesdo Canto.quefoy o magnifico
va do Canto , fo ficou fua legitima Joaó da Sil.
defcendencia na famofa fidalga D
Violante, que morreo fem filhos , &
fe unio com o prinieyro
morladck
outro Igual a elle mas porque do dito
: Joaó da Silva ficou Ccomo já
mos) a outra filha legitimada D. Maria da Silva
, que cafou na cafa dos
Z
I liorges, razão he que a eftes
, &
outras familias jà paliemos.
diverfos, &ertesfuí,cedèráo
nomaisparticu-
"'"'g^^^' ^"5 ^^ í"^ l^^re terça fez o grade fidalgo Joaó da Silva
D.. da Tcrceyra vin n do
/osí I^Zy::
ges, CofiM,Abarcas.
PT T r
''^'"'^'^ *^°^
^" '^"^'•''^ ^"^ defcendencia por lífc tÍndo
Cantos,pede a razão que
,
tratemos dos
tratado da
Borges da Terce vra.
em que também fe conferva dos mefmos Cantos a fegu
nda linha Para o
que le ha de fuppor, que depois de Portugal
lançar fora de todo aos
Mouros, ficou o Reyno do Algarve fendo a «nica
Fronteyra, que a Co-
roa Luíitana fuftentava contra os
Mouros & por líTo o Sereniílimo In-
j
v^
IHI
TlirhiV''
C^p.XX.D€dutrasilíuftíesfámilíâs,' jij
áo dito Infante j éc crã entaó o Algarve a mais celebre Praçá de tôdâ k
fidalguia Luílta^ajqué do Algarve fahio a povoar as Ilhas do Port@
^anto 3 Madçyra ,& também a povoar as Terceyras. Ifto fiippofto,
. 2Q7?t. .Qjtronco dos Borges da Tercey rafe chamava JoaóBor*
gesj.fip Velho para diftinçaô de outros _) o qual era fidalgo i 6c Cavai",
leyro do Algarve j ôc cafou com D, Ifabei Abarca , irmã de Dona Mari*
Atí^rça, mulher do primeyro Capitão de fó Angra Joaó Vaz daCofta
Corterealj & também irmã de D. Joanna Abarca , primeyra mulher do
primeyro Pedro Anes do Canto. De Joaô Borges o Velho , &de Dona
Ifabel AUrcanaíeeo D. Catharina Borges Abarca , que cafou com Af-
^ q, . ;-., g^^z
fonfo Anes da ÇoJfta Cortereal j fidalgo da cafa de S. Mageftade » & de cofiasio Ahnt^
Xayirado mefmo Algarve j & aqui fe ajuntarão eftes Borges com os i,e,quefe mirai com
Çortereaes & Coftas , de que fallaremos logo j &
do tal cafamento naf- os Cantos Silvas^Pa^^
ceo Chriftovaõ Borges da Coita Cortereal , fidalgo que cafou com D. elitcos &^ fi^i^h,
Izeu Pacheco de Lima , filha de Gomes Pacheco de Lima j também fi-
dalgo grande, de que logo diremosi & do tal cafamento nafceo Manoel
Borges da Cofta , que naõ fó era tara bom fidalgo , mas também Com-
inendador da Ordem de Chrifto , & cafou com D. Maria da Silva, fí-"
lha legitimada do fobredito Joaó da Silvado Canto, & Morgada por
elleinítítuida.
208 Defte pois Manoel Borges da Coíia nafcèraó dous íílhoS}
primeyro , Chriftovaõ Borges da Cofta chamado o dos Altares, poí
,
pefte lugar morar em quinta fua & cafou com D. Catharina Coelho de
,
Mello , da boa nobreza da dita Ilha Terceyrai&: a eftes fuccedeo feu fi- •
teve grandes póftos de guerra & governos , conio tevê feu tio Manoel
,
agora dizermos que fidalgos eráô aquelles Pachecos Limas , que por
,
ides PacheccÊ, Limai, ^^Y ael^ortugal para a índia aquellejlà na índia chamado o Grande Du-
& Noronhoí^é-mait arte Fat;heco,pelas façanhas que obrou no Orientejdcfte famofo Heros
etlijbrti na Mi^, Duarte Pacheco, o da índia , foy filho Joaõ Fernandes
Pacheco , que
cafou em Portugal com D. Brites de Noronha , filha
Gomes Fer^
de
«andes de Xima,fidalgo dos da primeyra qualidade , & primo
irmaó dtí
D, Fernando de Lima, o Velho, ôcaífim fe ajuntarão os Limas
com 03
Pachecos , Sc Noronhas do tal cafamento nafcèraô dous filhos
:
j huiri
dos qiiaes foy Manoel Pacheco de Lima que foy para
, a Ilha Terceyr^
«t domar, Sc Contador da Fazenda Real em todas as outras
fiíf-^"^^
Ilhas,& na Terceyra caiou com húa fidalga chamada
D. Francifca Netay
filha de Joaó Alvarez Neto fidalgo da
,
cafa de S. Mageftade ,& Ga vaU
Içyro que tinha militado em Africa , & na Terceyra
eílava por Prove-
dor da Fazenda Real j & do tal Manoel Pacheco de Lima nafceõ
Anto*
mo Pacheco áeLima,que éafoucom D. Catharinade Menezes,
filha-
Dias de Sampayo, & de D. Franeifca da Silva que era
^^1^
Sebaíhaõ Moniz , & neta de Guilherme Moniz , & peía
, filha da
- '
mulher deftd
era bifncta de Joaõ Vaz da Cofta Cortereal
, Capitão Donatário d»
Angra.
.
212 Do tal António Pacheco de Lima diz o Doutor Fruduo*
^^^^^"^ """y^" honrado , & do habito de Chrifto Contador*
T^^l^
T». .« •.' j /í D o ,
"V^
Cap.XX.Dos Velh òs,Fef f eyras,Mellos,&: ôntos^êcc. 5 1.§
de cavallo j & igualmente o imitou feu filho Fnmiieo Fâ-
plicas feftas
•checo de Lacerda , que primeyro cafou com a morgada D. Anna Zim*.
hvon , de que viuvou fem filhos , & depois cafou com D. Paula de Gàf-
CrOj & todas eftas illuftres famílias eftáo neftes Faehecos.
214 O fegundo irmão do primeyro ManoelPacheco de Li*
mafoy Gomes Pacheco de Lima ,filho também de Joaó Fernandes Pá- De^omesPacbèeoS
checo , & neto do Grande Duarte Pacheco , da índia , & defte Gomes Lima^ neto tamhê do
Facheco fe diz que morreo Capitão mòr de huma Armada , Sc defronte ^'''««'^í Duarte Pa^
ée Guiné i & de outro feu irmão , chamado Manoel Pacheco de Lima, ''^"o^ o da índia, & I :
i
íe diz também que fora o defcubridor de Angola , & Embay xador dei- 1 "f"
*"*'^'° "^^'^
Rey p Joa® IIL ao Rey de Cengo , & que la morrera o certo he , que ^^^ p,„,,^,,, 4^
:
do tal Gomes Pacheco de Lima ficàraó duas filhasj primeyra , D. Ignes Graciofa & com iss ,
Pacheco de Lima, que cafou com Manoel Corrêa de Mello, filho de Ferre^m MtUos.
AíFonfo Corrêa, & neto de Duarte Corrêa, Capitão Donatário da Gra^
£Íbfai& do talcâfamento nafceo outro Gomes Pâche<<) de Lima, que
cafou na Ilha do Fayal em 1 5 80. com D. Ignes da Silveyra , de que naf- ?.
mos que Duarte Ferreyra de Teve fidalgo muy conhecido, cafou com
,
de feu pay & filhas do dito feu avò Eftevão Ferreyra de Mello
, , foraò
Cantos.
2ié Nera.pareçaaalguem que abaterão os fobreditos Borges m- ^,
Coftas no cafamento daquélle Chriftovaó Borges da Cofta ( o dos AU
,
r/M
^^^ deAnfm ^^ '
tares)comD.Catharina Coelho de Mello porque eftadefccndia de
j
tmeeUos àm Bom- guel , outrds vieraó â Ilha Terceyra ,.& eíles fe chamaó Coftas Homês,
,
quirio logo tantas terras, & bens de raiz , que fundou hum bom morga-
do em Villa nova, 8c para cabeça delle fundou a Ermida de N
.Senhora
da Vida.
218 Defte Heytor Alvarez Homem, & de Brites Afíbnfo da
Cofta nafceo Pedro Homem da Cofta , que cafou primeyra vez com
Antónia Quarefma , filha de Catharina Qiiarefma , & neta pela tal raáy
de AíFonfo Anes Quarefma , muy to nobre, &: rico , que de Portugal foy
para a Ilha Terceyra j & fegunda vez cafou o dito Pedro Homem da
Cofta com D. Brites , filha de Fernaó Camello Pereyra, & de D. Brites
2^5^<,.^°'*<^ey"5po''èm da primeyra mulher nafceo outro Heytor Homem da
Dw imm Cofta, que cafou com D. Luiza de Noronha, filha do grande fidalgo
nhM, & Ponfet ^,
Leas\ ^tteft unirão Pedro Ponfe de Leaó , Veador mòr da Rainha D. Catharina , mulher
tometHtmet Cofta* delRey Dom Joaó III. & delles nafceo outro Pedro Homem da Cofta
,
dt qu* defeedio £er- que cafou com Dona Luiza de Vafconcellos , irmã de
Joaô Pacheco de
nardo Homem daCa Vafconcdlos , & filha de Manoel
Pacheco de Lima, de que acima jà
li
ítoTordfrí ^^^iTf; ^ "ííf
Chriftv
Tí
^"ríf- "rr
"^^ Cofta, que cafou com D. Ifa-
&
& grande °^^^f ^"^^» "^"^ ^^ ^^^ ^'^^ ^^ Sampayo, tiveraó mais defcen-
,
"^orgadoetnAnira. Vencia ;& do ultimo Pedro Homem da Cofta nafceo outro Luis Ho-
mem da Cofta , pay de Bernardo Homem da Cofta , fidalgo filhado , &
Cavalleyro do habito de Chrifto , que he hu m dos Morgados mais no»
Wes, &; ricos da Cidade de Angra > ac que cafou cora Dona Margarida,
lÀ'^' filha
Wa
€ap.XXí.DõsCafteIlosbiãccs,CaítraIhacs,Loboi,&^32|^
CA p I T u L O xxr.
PosCafíellosbrancoSy Carvalhaes, Lobos, Siheyr as ^Ef"
pinolas , Lemos y & dos Betencores-, DárnellaSj
-'
Vl^ outms.
>.,.
.220
COm, a entrada- de Cáftelk em Portugal pela morte dei*
Rey D. Henrique Cardeal , , & com a mefma entrada naí
Ilha Terceyra, naõ.fó para Portugal , más também para a Terceyra, ve-
yo muyta nobreza de Gafte lia > efpccialmente com póftos de guerra pa-
ra o grande Caftçlio de Angra j & entre os que vieraó, hum foy D. Gaf-
par Munhòs de Caftelbranco , Alferes mòr , & depois Capitão da dita
.Fortaleza, H cafou-epn^ D. Helena Eícocia, fidalga da Madeyra,& del-
Jcs nafceo D. Pedrode Caftelbrancoieftepoís cafou em Angra com D,
Liiiza de Vàíconcellos, filha.de
Pedro Anes do Canto , fegundo do no-
me, & neta de Francifço do Canto , & de D. Iria de Vafconcellos , filha
dePedralvesdaCamera ,&de D. Andreza de Vafconcellos & o dito
i
Francifcodo Canto era o ttrceyro morgado de Pedro Anes do Canto o
Velho nafceo mais- do dito D. Gafpar , & da Efcocia , fua mulher, D.
i
r
^isTEaVí . D^Re4Uha Ter ceym»
.''?*^
$i6
dpça, do bom fidalgo Joa@ de Betencor & VafcOBcellos , Capí
filha
taó mòr de Angra , de quem largamente fallaremos em feu lugar. Naf*
c€o mais do dito D. Pedro , D. Maria de Vaíconcêllos , que caiou com
Joaõ de Teve de Vafconeellos , de que nafeèrâó filhas que hoje faõ ca* ,
eaíamentos a melhor r ^ xs a J
''
r> ^ ^ J j a r • •
fiialmia de Anora
^^^'^^ Manoel Pacheco de Lima , &
i i.
foraÓ pays de Antónia de Lima,
i
do Carvalhal Borges, que eafoa , & teve muycos filhos , que ainda hoje
V vivera, &:dõus vieráôfervir a ElR.«y y^ hum ji mõrreô , outro eafoU
mbie^ & ricamente na Província de Tfâí 0$ MouCês & huma irmã dê }
V*"
'i^:
Ilha com a vinda dos nobres Cabos do grande Caílello de Angra , entre
©s quaes veyo hum fidalgo chamado Felippe Efpinola ; & defte nafceo Dâí Ejpimlas deAn^
gra , & fe* grandi
D. Ghriftovaó Efpinola bem conhecido em Angra , onde cafou nobilif-
tronco ^ue na Ilha.
fimamente , & teve por filha a Dona Francifca , que cafou com Luis do
,
fe aparentar aÕ com
Canto da Cofta, filho de Manoel do Canto Teyxeyra , & de D. Mar- a melhor Notrcítt^
garida da Cofta: o qual Manoel do Canto era filho de Pedro Anes do
Canto , fegundo do nome , & neto de Francifco do Canto , terceyro fi-
lho do primeyro Pedro Anes do Canto & eafado com Dona Luiza de
,
Saó Gonçalo de Angra mas não acho quem foflem os pays defte Brás com D. Diogo Loh^
;
dos i^ffaes nafceo Z>»
Pires do Canto, ( & tal vez fe achem papeis antigos do dito Convento,
Rodrigo Loho da Sií^
fe cm poder de mulheres fe naó perdeífem
} podia fer que o tal Brás Pi- veyrafidalgograndf^
resdo Canto nafceíTe de António Pires do Canto, Filho primeyro, &*>afHrd 4t Angras
moFgado do primeyro Pedro Anes do Canto, & que o tal Brás Pire^j.
• Ee ij do
mmm
LiVfó^ri.DaRegia íihaTerceyra.
àó Cântô toihaíTe êfte nome do dito feu pay, ppiS eni toda a família dos
Cafítos fiaó fe acha queni fe denoiniflalfe i^ues dg Canto , fenaó prú
jiieyramente o dito António Pifes do Canto, ôc íegundo , o dito bras
Pires do Canto j &í como em angra fundou o íobreduo Convento, dei*
'
: la dipvia lèr natural 5 rnaS tambçra naó acho com quem foíTe caiado o >
/ €crto he que do cal Bras Pires do Canto ficou huma filha chamada D.
Maria do Canto.
228 Efta pois Dona Maria do Canto caiou com hum fidalgo
chamado D. Diogo Lobo, & défte cafamento nafeeo D. Rodiigo Lobo
da Silveyra , &: n^ifceo em Angra , como affirmaõ as hiftorias cicadasi^
foy efte D. Rodrigo Lobo Commendador de duas Comraendas , da ás
Santa Maria de Monção , êc de outra de Santa Mana de N iza , ôc do
Confelho de S* Mageítade, & Governador General da Ilha de Saõ Mi-
guel, ôí emfim Governador da Armada Real de Portugal j donde pare-
ce que o tal D. Rodrigo Lobo da Silveyra &c feu pay D. Diogo Lobo, ,
crao das illullres cafas dos Sil veyras Condes da Sortelha, & dos Lobos,
Barees de Alvito, & que aífim como o primeyro Fedro Anes do Canto
cafou primeyra vez na Cafados Abarcas hoje Cortereaes , Marquezes ,
dé Caftelló Rodrigo ^ & fégunda vez cafou nas dos Silvas de Lisboa^
& feu filho António Pires do Canto, cafou na cafa dos Caftros de Mon-
fento , Marquezes de Cafcaes hoje j aílim também cafaria em Lisboa
Bras Pires do Canto , cuja filha cafou com D. Diogo Lobo de D. F,o- :
Seter>corei,& de fua dos Qutws Reáes dêfcendentes, que vieraô para allha Terceyra,& nel=
Kegiafidalgmã co. lafeconfefvaõ. Deftes pois foy em Angra o mais refpeytado, Sccele-
,
"'^
^^^^° fidalgo , hum Joa5 de Betencor & VafcoBcellos , de qUem mais
^M^TerlZa"
Jíha Terceyra.
largamente fallaremos quando tratarmos das gtierras do Senhor Dom
,
que foy Francifco de Betencor & que ainda era vivo , & viveo ainda
,
dos ditos dous Reys das Canárias 5 £<: quedosqire deftes vieraÕ paraa
Ilha da Madeyra , veyo piara aTerceyra o tal pay do dito Joaô de Be-
tencor & Vafconcellos como conítará dos fiU-ameutosReaes deíle«f
,
^^^-
.
v3 . 230 Dcf-
iéoííífe:- mrn^
outro, &fegundo filho, que viveo , & morreo Religiofo ,& Padre da
Companhia de JESUS, como duas irmãs fuás , Religiofas do Conven-
to de Saò Gonçalo de Angra. Ao dito Vital de Beteneor fe feguio no
morgado o primeyro filho , & da primeyra mulher , Joaô de Beteneor
& Vafconcellos Capitão de Angra , & Governador da guerra contra a
,
das Ilhas j viveo muytos annos , 8c fempre bemquifto , 6c eftiniado de d^lgot cafamtnttt^
todos cafou duas vezes , primeyra com D, Violante , filha de Francif-
:
do mefmo Vital outra filha , que cafon com Diogo Pereyra de Lacerdaj
6c além de outras filhas nafceo Francifco de Betencor,(como o avò ma-
terno } o qual cafou cora huma filha de Francifco Dornellas da Camc-
ra, de que abayxo fallaremos,
de forte que a adminiftraçaõ de fua cafa foy dada a fua mulher , êc a elle
alimentos 6c com tudo ainda vive por iífo paflamos a huma fua irmá
, -,
C A PI T U L O XXII.
rejiras,Sou/aSy& outros.
, ,
z-jrx? ,cVímõ
ta mudança , parece que foy com o primeyro Donatário de toda a Ilha do FhhcIouI ç-Àjoft- ,
Terceyra Jacome de Bruges , que vindo pela Madeyra trouxe á&^es lho tamhum Martim
Vafconcellos, & dos Tevês, aílím como de Portugal trazia os Pains 58c Mendes ác f'afcen..
outros que quem pôde dar , & he Donatário , leva comfigo a muytosj '^'^^'''fi? daMadty^
;
& muy facilmente com quem porém cafaífe na Terceyra efte Martim l^/fç^rg'^ ^rcejra
:
Hl Ml
541 ^ ttVf o Vli Da Régia Ilha Tei-ceyra:
to he porém , que cafaria com peflba naó indigna de fua qualidade , Ôd
confta que delia teve por filho a Gonçalo Mendes de Vafconcellos, que
çafoucomBartholeza Rodriguez Colombreyra,da família dos nobi-
liílimos Coitas , como aífirma em fua hiftoria o Doutor Fruduofo.
u. 238 Dcfte pois Gonçalo Mendes de Vafconcellos naó fónaf-
®w Fafeoneeãoi 0- ^^^ ^' ^^"^ ^^ Vafconcellos, que cafou com Joaó de Betencor , (avò
Cameroi ie£itmosda'^^'^^^^° ^^ mefmonome, Capitaó morde Angra, & Commendador
^ha Ttrcejra. ^^ Tondella , & tronco de tanta defcendencia quanta jà vimos ) mas
,
los, Provedor dos Refiduos, & netade Guimar de Oliveyra & Vafcon-
cellos , & bifneta de
Ignes de Oliveyra Vafconcellos , &
trefneta de &
Pedro de Vafconcellos , & quarta neta de Pedro de Oliveyra Vaf- &
concellos , 6c quinta neta de Martim de Oliveyra Vafconcellos , fi- &
dalgo da cafa dos Infantes Dom Henrique , D. Fernando , &
cafado &
com Tareja Velha , irmã do grande Frey Gonçalo Velfi^abral , prí- T
mey ro defcubridor , &
Capitão Donatário de ambas as Ilhas , de Santa
Maria , & Saó Miguel , como vimos jà em os feus defcubrimentos j &
emfim fextanetade Ruí Mendes de Vafconcellos, fidalgo defcendente
(dízFru£tuofo)de hum grande fenhor de Gafcunha, ou Vafcenha,
cm França que parentefco porém tiveífem eftes Vafconcellos Olivey-
:
ras com os
outros já ditos Vafconcellos , naó me confta fó acho que -, &
da dita fexta neta deftes,& do dito feu marido Belchior Baldaya do Re»
go nafceo v
wm
Livro Vi »"Ba Regia Ilha Terceyra.
I I
III —»^»^»A
CAPITULO XXIII.
Portugal foy por Dama da Emperatriz Dona Ifabel , mulher deCarlos ^'^"''I'' '^^ ^''J^*^
naÓ fó cafou elle com húa , mas também o dito feu filho
com outra Por^
tugueza j ec fe aparentou com Portuguezes tantas vezes que
, naõ fó õ
fez com os Barretos, mas cem os Perey ras, MeMos,
Caftros,&c.
^^ ^^^^ ^"^ Barreto , írmãoda mây da Duqueza , nafceS
L^*^ r»
também D. Brites de Vilhena, qu& cafou com D. Henrique de Mene-
ses, Governador do Civel de Lisboa; &
nafceo mais D. Francifcade
Vilhena , que cafou côm D. Fernando de Lima pays "de Diogo
, de Lu
ííia. Seguindo porém a varonia
direytados Barretos , nafceotambem dó
tebrediÊo NunoRodriguez Barreto, outro Ruí Barreto,
fegundo do
nomcj
mmmm
KvtQ^I, Dã RegiàllhaTerceyra.
nome, fenhor do morgado da Quarceyra no Algarve, &que foy graixí
de Capitão na índia , & das Galés era Hefpanha , & caiou com D. Bri«
tes de Vilhena , filha de Dom Pedro de Menezes, ( que matàraó fendo
.Capitão de Tangere ) & era filho de D^Duarte de Menezes, famofo na
-índia. E outra irmã teve cfte Ruí Barreto chamada D. Branca , que foy
fegunda mulher de Dom J oaó de Caftellobranco. Do tal fegundo Ruí
Barreto nafceo outro NunaRodrigues Barreto,eomo o avò,&: delle naf.
ceo Jorge Barreto, Eftribeyro mòr delRey D. Manoel , & Commenda-
dorda Azambuja^&cafou primeyra vez com D. Ifabel Coutinho, fi-
lha de D. VaÍGO Coutinho , primeyro Conde de Bor ba,&- do Redondo;
Scfegunda vez cafou com D. Leonor, irmáde D. Francifco de Moura,,
fenhor da Azambuja, de quaficàraõ mais filhos porém do dito feu avò
-,
N
Uuí Carreto , fegundo do nome , nafceo mais Gonçalo u nes Barreto,
Alcayderaòrde Loulé, que morreo na batalha delRey D. Sebaftiaõj^Sc-
tinha fido cafado com D. Mariade Mendoça, filhadeD. Francifcqde
Soufa Veador delRey D. Joaó III. & delle nafceo Nuno Rodrigues
,
Barreto , Alcayde mòr de Loulé. Do que tudo, & do já dito no cap. i â*^
bemfetiraqueparentefcotem osBarretos Monizes daTerceyra com
o Santo Bprja, & feus defcendentes aílim queyra Deos que os imitem^
-,
DíjfFfl»/aír<« /?^rf^w Cantos, & Gaílrosfe ajuntarão, mas também com o.s fobreditos Moní-
-
da IJhaTercejra., zes Barretes, pede ainda a hiftoria que defcubramos mais^'o radicaKprih-
cipio dos Fonfeeas da Terceyra. Nó defcubrimento pois da dita Ilha
(quehamais de250.annos) hum dos primeyros ,'8? mais nobres po-'
jfoadores qucnella entrarão., foy Gonçalo Anes da Fdnfeca ,: a quem è
primeyro Capitão de toda a Illia fez grandes datas de terras , & efpe»'
cialmentede muy tas que eftáo navafta' campina chamada o Paul , koje
demarcada com os marcos que dividenias duas Capitaíiias da Praya, Sc
Angra quem porém foífem os immediatos filhos defte Gonçalo Anes
}
neto íeu foy hum Pedralves da Foníêca que fendo na Terceyra cafa,
, ,
nha vindo para a Terceyra também viuvo, §£ deftçs dous viúvos ma- ,
&
Deftes pois antigos , nobres j tam aparentados Fonfecas defcendem
aquelies Fonlecas fidalgos^ de que tratámos nocap. 17. no fira.
251 E ainda naõ óbftante o muy to que acima tocámos no ca^,
Cantos , & Pachecos > devemos accrefcentar o que acha-
19, ôc 20. dos
mos de outros Cantos Vieyras , & de outros Machados Pachecos. Dos De entras Cattt&s ¥^\
Vieyras pois he de faber, que reynandoElRey Dom Joaõ III. haviaem *J^^ ^'^'"^i > ^5
Lisboa hum fidalgo chamado Duarte Galvaô da Silva, cafado com D, <:^*<^<^h^H
Catharina de Soufa , & elle Secretario do Rey j Sc do feu Confelho , &r
que foy íèu Embayxador a Caftella , como já diíTemos no caf. 19. deftè _;,$<
25^ Depois foubé eu por boâ via j que o Ibbredito Pedro Vi-
eyrada Silva era único filho de Gafpar Vieyra Rebello , em cuja boa ca-
ía fuccedeojeftudouem Coimbra, foy CoUegialdo CoUegio Real de
Saó Paulo , Defembargador do Porto, & em Lisboa da Supplicaçaõ, &:
dos Aggravos,& depois Confelhey roda Fazenda, & logo Secretario
de Eftado de ElRey D.JoaóoIV.&da Rainha D. Luizâ,&: dos Reys
muyto cftimado. Cafou com T>. Leonor de Noronha , filha de Martim
de Távora de Noronha , & ambos fizeraó em Leyria o Convento de S,
António da Província da Arrábida, de qUe ficou o Padroado a feiis def-
cendentes ; dos quaes o primeyro filho foy Gafpar Vieyra da Silva, quê
fuccedeo ao pay lia cafa do Padroado ^ & Commendas, & cafou com D.
Felippa 1 filha de António de Almada & Mello j &de D. Urfula da Sil-
va. Outro filho foy Felippe de Távora dê Noronha , Maltez profeífdj
^uefoy General das Gales de Malta , ôc depois de lograr outras Gom>
'•\. Ff mendasí
S45Í
LiymVLDâ Regia UbtTerceyra;
mendas, foy, & morreq Baulio de LeíTa, & fenhor de grande eftimaçáo}
& além de miiytos outros filhos, & filhas do fobredito Pedro Vieyrada
Silva, (que foraó Religiofos, & Religiofas ) foy cambem feu filho ojá
referido, & iIluftreEcclefiattÍGO Luís Vieyra da Silva.
qiieos grandes talentos que no Gonfelho dos Reys tinha moftrado, &:
foy vcrdadeyramente hum exemplar de Bifpos ,& feus fu^cceíTores go-
zaó hoje do Epifcopal 9 & Régio palácio j que lhes fundou j& deyxou
dentro da mefína Cidade de Leyria. Do que tudo ainda quenáoconílíi
p juízo, que acima já formamos, deeftes Vieyras Silvas defcenderenj
daquelle Duarte Galvão da Silva, Secretario também , & do Gonfelho
deElRey D.JoaôIU.Ôc feu Embayxador a CaftellaiConita com tudo ?
probabilidade como q ajuizávamos , aflim por ambos os appellidos jun-
tos de Vieyraí& de Silva, que tantq cõnfervou o llluftriílimo Bifpo,
& feus principaes filhos,Gon3tpk,gf|osOfficios de Secretários, Confe?
Iheyros ,& Validos dos Reys.-^-t r
255 Confta porém qiiè dos fobreditos Vieyras naõ fó em Sa6
Miguelficàraó os defcehdentes daquelle Manoel Vieyra , mas também
em a Terceyra ficàraó no fidalgo Joaõ da Silvado Canto j neto mater-
no do fobredito Duarte Galvaõ da Silva, & nos muytos defoendentes
qfiie ainda hoje lá ífem , com os appellidos de Borges , Coílas , & Cantos
Silvas , & outros que fe ehamáraó Cantos Vieyras j ôc huns Vieyras an^
tigos que fizerao feu aíTento em o nobre lugar de Santa JBarbara daTerr
çeyra, onde viveo cora nobreza hum Scbaftiaó Vieyra ^ de que já Fru*
|P;uoíb faz mençâò*
256 Dos Machados Pachecos toco fó , que houve em Angrs
Jium bom fidalgo chamado Conftantino Machado que cafou com D. ,
Margarida 5 qUe cafou çdmFabrieio Pacheco > & deftes nafceo Maty
'íft« 'e^' theos Pacheco^ que cafou com D. Anna , filha do conhecido fidalgo AU
varo Pereyrade LacerdaiSf outros muytos na mefma Ilha Terceyra, do
^ppellido de Machados , & particularmente na grande Villa da Praya,
dos quacs também faz mençaô o mefmo Fruduofo & affirma ferem fi- .,
wá C A P r T tJ L o XXIV.
»i D afamília dosCovdeyros & E^inof^. ^
à^7
EM com
muytos lugares defta hiftoria temos encontrado
efte appellido de Çordeyros, <& algumas ve-
£es com o de Èfpinofas , razaô he qUe também delle^ demos algum»
noticia. Q rauyto erudito Fru^uofo, tratando 4ps Xeye^ ;dc Saô Mu
fe>ifc»f
,
.
&
Rsy de França > chamado Gonçalo Dornellás Paim , que efte tivera
tamfaçanhoíos encontros militares , ^ue querendo negar outros que o^
teve, o mefmo Rey tantas vezes o affirmára, que lhe mudou o nome, sé
mandou que fe ehamaíTe Gonçalo de Teve, êc que èfte foy o principio
famofo do tal a ppellido a efte Gonçalo dè Teve ( diz o mefmo Frii^
-,
,'ii: i
c\2^ 8 O terceyro filho
ou iiètòclò primeyro Gonçalo de Teve
,
(chamado de Paim ) foy Pedro Cordeyro, & efte foy o -^^ primèj/ro ehãmài
antes Dornellás
|)rim.eyrode talappellidoemtodasasllhas,quedeParizveyo com o "^^ ^'"''^^''?' ^""""^^'
delia: defteeafamento pois nafceo Maria de Saõ Payo ,que cafou com
Puarte Borges da Goftajdos muyto nobres MedeyrosCoftas, de que
fátratámos , quando dos Medeyros de Saó Miguel; & dotal calamenCQ
nafceo, primeyro, António Borges que cafou com D. Maria da Car
j,
mera , fidalga dos Gãmeras , Condes de Villa Franca, & Ribeyra Granf
de i & do dico cafantónto nafceo Duarte Borges da Camera , Juiz do
«lar, & da Real Alfandega , & que cafando com D. Maria de Frias , d^
nobiliííimá cafa dos Bruns , ( de que fallaremos , quando da Ilha do Fa^
yal} morreocomtudofem deyxardefcendencia porém fua irmã intey-
;
mais dos mefmos Duartes Borges da Gofta , & Maria de Saó Payo , naG
cèraõ dous varões dignos de memoria ,por fe metterem Religiofos na
Companhia de JESUS, hum chamado o Padre António Borgçs,outro
é Padre Gonçalo de Arèz, Gomo feubifavò Gonçalo Nunes de Arèzjôc
Jà defte Padre
falíamos acima, quando do Gollegio de Saó Miguel, ôc
do Gollegio de Angra , poisem ambos foy Reytor , & de grande reli*
giaô, virtudes, êc letras.
261 Da mefma acima dita Maria Gordeyra ,( quarta filha do
primeyro Pedro Gordeyro ) & de feu fegundo marido Jorge daMotaj
nafceo também hum filho , chamado António da Mota , que cafou com
FrancilcadeTeve,(fua ainda parenta, por ellaíer filha de Pedro de
Teve , & neta de Gonçalo de Teve Paim ; ôc por elle António da Mot?
"^er filho da dita Maria Gordeyra ,& neto do primeyro Pedro Gordey-
'|rp , irmaó de Gonçalo de Teve ) do tal cafamento pois nafceo hum fí-
'
-'iho , chamado Pedro de Teve , ( como o avo materno } & cafou com
éuimar Socyra , filha de Manoel AíFonfo Pavaõ, & de fua mulher Leo-
'
%. Leonor Soeyra j & defté Pedro de Teve, Sede Guimar Soeyra naí-
'
ceo A ntonio da Mota , que cafou com Anna da Gofta Pimentel Sc àcU
>
|es nafceo Guimar Soeyra , que caíoU com Manoel de Brum & Frias,
'Átèqui o que largamente úiz o Ddutòf FruÊtuoío da antiga & nobre fa-
'
k
Câp.XXI V.Dês Dof iiei.Pams,5:TeVes,trQC.dos Cõr d, j|f
.•-'''''262 Dafamiliados Cordeyros das outras Ilhas, fegue-fedt^j
sermos o que puramente achamos que aflim como da primeyra Ilha»
-,
m «p
II* livro VI Da Regia Ilha Tcrceyrâ^
& do terçcyro fó fey que d@ muy tos filhos que ficáraõ, fó hum chama*
>
^^s, & cafado com D. Leonor de Buílamante & eftas duas cafas tinhaó
Monteros^ y Enfia- ,
Efpinofa & oppofitor do dito oíRcio j & com dous fí lhos mais> Gafparj
,
fe, como o pay, & Familiar do Santo Officio,que cafou com Dona Bi-
guetdade Êfcalante , de que teve duasfilhas Freyras em o Convento
chamado Ifabella Real de Granada o fegundo filho foy Manoel de El*
•,
pinofá, que cafou primeyra vez em Guadalupe & fegunda vez em Se* ,
ttiante , como o arò. Oterceyro filho foy Maria de Efpinofa & Búfta-
mante) que nafceo em Bornosde Sevilha,& foy may deGafpar Molcro
-
de Efpinofa que refidia mancebo em Madrid em cuja cafa foy feu ea*
, ,
^'\'^^lj^^'^''^^'^^^^^^^ da Companhia
de J t bU S , neto do dito Gafpar Molcro de Efpinoía jura
, nâo ío teilo
conhecido em Madrid como camarada feu, mas conhecer là
cambem aos
parences do meímo, & de muyta qualidade & o
mefmo teftimunhàraô
-,
mmm
aj4
Lívifo VI. Dâ Régtóliliâ TerceyrS
eras 3 & efltudando o direytofe formou em Cânones, & nelles íe ícz
Doutor per exame privado , & fubftituhio algumas cadey ras de direy to
/em Coimbra , & pairando-fe a Lisboa , viveo nella huns poucos annos?
fendo Juiz Apoltolico de caufas Romanifeas atè que per confelho do
;
Do Dmtor Pedro Arcebifpo de Lisboa D. António de Mendoça, & do grande Valido Pe-
Cordeyrg deEjpinoja, droFernandes Monteyro, foy provido em o Deado da Bahia cabeça d«
gue no Ecclcftofiico^ todo O Braíii,& feyto Commiffario Geral em todo elle da Bulia da Cru-
&»offtftiçofogover- 2,^^^.^^ poucodepois de eftar na Bahia por fuás muyto conhecidas
,
T^
7,"""-^^" **''^' letras difpenfou com elle S. Mageftade , & fem ter lido no Paço , o fez
°
fèu Defembargador dos Aggravos na Relação da Bahia & oíFerecen- -,
d0'fe- lhe depois a Prelazia do Rio de Janey roj a naõ acey toujôc gover-
nou miiytos annos no Ecclefiaílico,& fecular aquelle mundo novo,pois
linda là nao ha via Bifpos.
271 Foy varaó de tantas letras , & Miniftro tantos annos, que
alèni de htima muy copiofa livraria de que ufava deyxou vários tomos
,
por fua morte, & por mais que fe procurarão , naõ apparecèraó atè ho-
je. Foy em fua vida tam exemplar Prelado
Ecclefiallico , que com vi-
dizer Miffa á jua Sè, ô achou Deos em eft ado de o le var para fi , & aca-
badaa MiíTa , lhe deo hum tal accidente , que nunca mais deo final al-
^utn j com que os Religiofos doutos, & Prelados, que logo acodiraô, o
podcífem abíolver, &: aílim expirou , fem viver mais dia algum, fenáo o
em que lhe deo o accidente & comtudo houve peflbas , que acodindo
:
BeDmaFio}ant0 de
ç Religiofo , &: mais em efpecial em a Miífa fempre quotidiana
, &
& que a todos ^mirava &mettia devoção, íc
íf:fX^^7c;." tam devota, pairada,
èrais &MeUcs,fi. foy muytos annos Thefourcyro geral da Bulia
da Cruzada , oíhcio que
,
emdhttíi dos Regos fazia pontualiffimamente , fem querer jà mais outro algum Beneficio.
Valeencíjos,
27^ Oq[uartofilhofQy P* Violante dçEfpinofa 3 a quem che-
gando
•
.^tó3Kí*v
foifneto de líabel Pedrofa , & terceyro neto de Beatriz Calfa , & quarcp
netodeSimaõ Pedrofo, & quinto neto de Gonçalo Pedrofo, que foy
naó fó antigo Cidadão de Angra , mas jà então fidalgo da çafa delRey,
CUJO primeyro filho Francifco Pedrofo inftituhio hum morgado , fobre
que tem andado em grave demanda o fobredito Ignacio Carvalho com
o Padre Francifco Pedrofo da Congregação do Oratório, por também
cfte fer bifneto da dita Beatriz Calfa,terceyra avò do tal Ignacio Carva-
lho. Sexto filho foy Nuno Velho de Mello , que morreo ainda menino.
E a mãy dos ditos féis filhos, depois de viuvado primeyro marido Ber-
nardo Cabral de Mello , cafou fegunda vez , por ordem de feu irmaó o
fobredito Deaõ da Bahia , com o Capitão Joaó do Rego de Vafconcel-
los, de que já tratamos, quando dos Regos Baldayas,& VafconcelloSi§£
defte fegundo matrimonio naó ficou defcendenciaalgúa.
275 O
quinto filho de Manoel Cordeyro , &
Maria de Efpi-
nofa foy Bernardo Cordeyro de Efpinoía,que ficou com a cafa dos pays,
Df Mtrnardo Cpr3
& ainda hoje vive , &: foy fempre homem de tanto gov«rnp , que naó fó deyro de Effinofa^
&^
ha mais de 50. annos he Familiar do Santo Oíficio da Inquifiçaó de Lis- dtfens dont cafórní^
boa , mas teve por ElRey o donativo das Ilhas , a cafa d© Marquez de fo* nçkiíijfm»^
Caftello Rodrigo , & dar o determinado para o fuftento delRey D. Af-
fonfo VL qitando efteve na Ilha, &
por vezes foy Vereador da Gãmera
de Angra,& Prefidente da Vereação. Cafou duas vezes , primeyra com
Dona Maria Abarca Corcereal j fidalga bem conhecida , de que jà trata»
mos , quando dos Cantos , Borges , & Coftas j & defte cafamento teve M.^
hum filho chamado Pedro Cordeyro de Eípiíiofa, como opatruotio
Deaó , mas morrco-lhe ainda menino^ teve mais hfia filha chamada D,
Catherina, que entrou3& vive hoje FreyrapfofeíTa em S. Gonçalo de
Angra, Morta efta primeyra m«lher> (íafoa %unda vez comjp^. Mar-
i«M
-garida , de Pedro Borges da Cofta, 6c de D. Maria da Camera , 8i
fílha
irmã, única hoje daquelle famoíb Jòáó Borges da Silva , que governou
tanto na índia , & là morreo , como já dííTemos j aíTim na fidalguia deU
tes Borges Coftas > como na dos Cantos j mas defte íegundo eafamento
aaõ teve defcendencia* .
ao dito feu irmão Deaó dá Bahia &z fahmdo a bulcar a Armada de ror-
de^ESVS. -,
,4o de Lisboa , foy em miflaó a Peniche > ^ dahi chamado pelo Illuftrif-
limo Primas de Braga D. Veriflimo de Lencaftre , andou em miíTaó feiç
mezes , correndo aquelle vafto Arcebifpado , atè que em certo lugar
lhe deraó veneno, & por mais que logo fe lhe acodio com vomitórios,
lhe fobreveyo huma maligna , com que o trouxèraó a Braga , 6c chega-
do com ella às portas da morte , quiz comtudo Deos, que efcapafle ain-
daj& entaó o mandarão outra vez para Lisboa , èí no Collegio de San-
to Antão foy três annos contínuos fubftituto daquelle grande Pateo i%z
acabado o tal triennío, o mandarão para Coimbra.
280 Chegado pois a Coimbra em o anno de 1676. vinte an-
nos leo naquella Univerfidade as Cadeyras de Filofofia, Theologia
^oral,6cEfpeculativa,atè oannodeógó. naó deyxan,do comtudo de
Cazer varias miíToés a Vizeu , a Pinhel , a Torres novas, 6c ao celebre
Santuário da Senhora da Lapa no Bifpado de Lamego, aonde fez, que a
Refidencia dosReligiofosda Companhia de JESUS ,que alli femprç
havia , mas interpolada por vezes cada anno , íc confirmaíTe perpetua
com nova, material , ^ capaz habitação , 6c Religiofos fufficientes para
pregarem , confeflarem , 6c lerem. Concluídas as Cadeyras de Coimbra,
& vendo- fe entrar jà na velhice,fe retirou a Braga,6c quatro annos nell^
refolveo os cafos que fe ofFereciaõ j 6c dahi foy mandado ao Porto fazef
p mefmooíficio , que fez em aquella Real Curía oyto annos donde ,^ j
gáraó a refolver ainda nas duas Cadeyras que alli ha de refoluções íZ^ in-*
tra , ^ aâ extra, que de antes occupa vaó a dous homens, 8c taõ grandes
bon^íis , Qpmp,QjptigaP^4dçg |4#rg^^ç^^^
'" : ' " '""" "" "
Dou*
IfB Livt^VI.DâReglallhâl^rceyra^ *
-èm
C A PI T U L Q XXV,
Í)as gtíerras que a Terceyra experimentou j ef^ecialmen^
'
te pelo Senhor D. António , & Coroa de Portugal
contra a de Cãftefia^
clrçlTpmTíl.1 ^^y.^- ^^nod fuccedeo feu filho ElRey D. JoaÔ IH. do nome, & por
& ^ Único filho defte morrer antes de chegar a reyoarí&deyxar já filho
Dom
1^
Caílel:te^ré,êíVec.all!iâ.§5|
Cap.XXT.Í^a prim:gaef4de
0ôm Sebáftíaõ , fuceedeo no Reyno ao avò D. Joaõ III.
eftc &
também
lhe fuceedeo a elle na
por efte feu neto faltar aa fatal batalha de Africa ,
fobredito Rey D-^
Coroa hum feu tio, o Cardeal D. Henrique, filho do
defcendencia
Manoel i& que por o Cardeal Rey também naõ deyxar
tendo rey nado hum an-
alguma /morrendo era ji.dejaneyrode 1580.
neceíTario tornar a bufcar outra das
no, cinco mezes , ôc cmco dias , foy
tnuYtas linhas que havia do mefrao Rey
antecedente DomiManoelj &
porque defte Rey tinha cafado huma filha D. Ifabel
com o Emperadot
Saboya , por iffo deí*^
Carlos V outra D. Brites, com Carlos Duque de
,
clamarem por Rey de Portugal ; & paffando pela Ilha de SaÕ mupo de propofito etti
vendo efta que
deyxou acclamado nella & chegando à Ilha Terceyra ,
;
a Ilha Terceira,
& que varaõ neto dei Key D^ Ma-
ficava acclamado em Portugal » era j
tara de Lisboa ,aiviíbii eftaentaó a Angra , que já tinha aceytado por íèu
Rey a Feiippe, que oaeeytaíTe também j U nunca quiz Angra mudar
do primeyroRey jurado.
í 87 Entaó em 20. de Abril do anno feguinte de 1581. 8c poé
ordem do dito Felippe íahio de Lisboa o Galeaó baó Chriftoyaô,&; nel-
k Ambroíio de Agiíiár Coutinho com o titulo de Governador das Ilhas
Da eÕfiancia daTer- Tercey ras, Sc enl dircytura à Terceyraj & com grandes poderes era eff ;
cejfra peiofenhor D. íe fidalgo filho de Pedro AfFonfo de Aguiar > Provedor dos Armazéns
1 António,^ áa incoj-
tancia de S. Mtgtitl êc
fará primo Felippe, nando
o
em& já tinha ido por Capitão mor de huma Armada à índia,
Portuga],
ElKey D. Sebaftiaó a Africa donde veyo refgatado & goverr
cóni ,
Comríiador de cada gue], onde foy bem récebidoj Sc o Rey Felippe acclamado atè pelos de
hun dm ditai Ilhas Villa Franca , bem contra fua vontade, eíiando jàem Saó Miguel rç«
frocurava mandar colhidode Santa Maria o Bifpo E). Pedro de Caftilho
cujo Arcediago $
matar ao da entra
Manoel Gonçalves, cuydandõ fazer bem á Ilha Tcrceyra por fer na-
,
,
&nad(i[uGcedio.
tural delia, voltou a ella em hurn barco de remo, & com novas cartas
para o Corregedor Governador de Angra , 6c para outros 6c chegando 5
matar ao outro , & liénhuma das mortes fuctedeoi& ifto conta Fruâruo-
fo em outro lugar hv. 4. cap; '98. &
taes erudições mette nellei & de ma-
terias difíererices da que hia hiftoriando, que por naõ confundir o qúe
tratamos, as naõ metto ,&ifó Vou continuando com ainfulana Accla-
snaçaõ delRey D. António.
CAPITULO XXVL
Dmprmeyrm Armadas que tnvefliraÕ à líbaTèrceyra^
étdufMal batalha das Armadas Reaes defronte
ds SaÕ Miguel,
armas com qúe vinhaó , & múyto mais i 6c tudo ò que tinhaò roubado
da terra , fem ficar peííoa qúe lêvaííê nova às nàos do que paíTavaj p que
Vçiido o General Valdês , fe levantou doíií aâ fuás fete nàos , Sz voltou a
SaÕ Miguel a defeulparfe os da terra daftdo Íogo a nova da batalha, 6ç
; P '
Gg ij "^'itó'
m ^i Livro VI* DaRegia Ilha l^erceyra.
ra , & unidos ambos com as fuás quafi trinta nàos de guerra, mandarão
barco à terra com ò dito Frade , & cartas de eabayxadaj mas Jiera que
o barco chegaíTe confentiraó os da Tercey ra» & fugmdo o barco aos ti-
,
ros fe voltou para a Armada & efta bordeando oyto dias em húa noy-
i
teeaveftio a terra ,& querendo lançar nella exercito jfoy tanta aarte-
Iharia & mofquetarii , que a terra dilparou fobre os Caftelhanos , que
,
eftes fe retirarão logo fera pòr pè em terra , &: ambos os Generaes das
ArmadâS fe voltarão a Lisboa , aonde a Dom Lopo foy muyto louvado
naò fe arrifcar mais & o D. Fedro Valdês foy fenteneíado a cabeça fó-
5
D
PTril
va,6r foyeleytopeiâílha, & peJoBifpoD.PedrodeCaítilho.
Eys-que aos 14 & 15. do mefmo Julho de
,
i582.chcgoa
. ^
295
a Saõ Miguel huma grande Armada do acçlamado Rey
Dom António^
que nella vinha em peffoaj & em demanda da Ilha Tejrçeyra , que nnha
€ap.XXVí.Decomo fòi Gafte!.vêcíA&diml Arm.fuâs^|(S|
firme por fi , &decamintio queria fegurar a Saõ Miguel , em que havia
grandes diviíoês. Vinha na Armada por General do mar, &Condeíil;a«'
vel o Excellentiflirao Conde de Vimiõfo , do Porcuguez fangue Realj jyi granât ãmadi
&porGovernador,&: General da guerra que fe oíTereceííe, o FrsLncGZtm^uevwhaofenhor,
Conde, ôcMarichal Fehppe Eftroífe, qucjà o tinha fido do dm^o
D. Antome,& comú
delReydc França,&: conhecido era jà por celebre Governador deAr-"^'*'**'*'^ Aíigutl,
lhas: vinhaõ mais com eftes Príncipes outros muytos fenhores , &
fidal- ^.'*'^^Jf'*P'^^^fi^{'
gos de França , Ôc de Portugal ; &conftava a Armada de feíTenta velas, fH)lada&ra^ta!i
& &
de Galeões, nàos de guerra, outras neceffarias } & fora outra muyta 4a,& o novo Rty DJ.
jmais gente 3 trazia oyto mil homens de guerra, foldados quafí todos /íntonh fifojparai^
Francezcs. Da Armada veyo logo à terra Enviado , requerendo íè en- "^j/c^jra:.
tregaffem em boa paz j &
fe refpondeo que eftavaò por CaftcUa , fe &
haviaõ defender j & acodio gente da Ilha a defender a coíla do Sul,
ti !;•
coufa de mil & quinhentos homés j mas fem terem na cofta de Rofto de
Caó muralha alguma , nem artelharia , mettendo-fe fomente em trin-
cheyras de cavas fey tas no areal, &
pondo vigias nos pòftos decalháo
jnais altos.
í
&•
i^é" Emos 15. 1 Ó.Sc 17. do dito Julho fazendo a Armada coa-
tinuos acometimentos à Ilha, & difparando fempre muyta artelharia
atè canfar a gente da terraj emfimao meyodi^ dos i6.de Julho ^ com
dez lanchas, ou galés , lançou coufa de três mil homés em terra, cm hum
pofto de calháos entre a Alagoa, & Rofto de Caõ , & logo mais adentro
fe formarão em tòm de exercito , & batalha , & fem nem as vigias com
a fumaça os verem , nem da terra fe lhes refiftir mais do que fugirem pa-
ra o fcrtaô da Ilha j & entaõ he que acodio da C idade o Governador da
Ilha com gente da Fortaleza, & vendo jà em terra o inimigo, & com
poder tam fuperiorlè voltou logo para a fua Fortalezas & defembar-
cou mais no raefmo pofto a Real pcíToa de Dom António com dous mil
foldados de fua guarda , 8c muyta fidalguia } o que vifto , os Francezes
entrarão pela Ilha dentro faqueando lugares, & Villas,& dos que faziaõ
alguma refiftencia matàraô a duzentos, & alguns Francezes também
morrerão, & muytos ficàraô feridos } & fó a grande Villa Franca ficou
fem fer faqueada , nem oíFendida , por ter de antes mandado vifitar , af-
íim no mar como na terra , ao novo Rey Dom António. Foy faqueada
também a Cidade de Ponta Delgada , mas naõ a Igreja Matriz , que pa-
ia o naõ íer , lhe mandou o Rey por guardas > & difpondoelle jà render
ípor armas a Fortaleza, fuccedeo de repente o feguinte.
297 A0s2r.de Julho de 1582. teve avifo oRcy D. António
de víi" já chegando outra poderofa Armada delRey de Caftella, & que- j)aír4tide
'^hu l
rendologo oíFerccerlhe batalha, fe embarcou nanoytedos 2 1. para os ^^J^^^ ^J Fttippà
21. & deyxáraô os Francezes a Ilha de Saõ Miguel, & todos os da Ilha, //. contra a de ft»
que tinhaõ fugido para os montes , voltarão para Tuas caías. Na Arma- primo D, António ^(è^
da delRey D. António fe refolveoquenaó convinha que fua Real pcf- "»* '»«;'«" Frãce.
foa alTiftiffc na batalha , Scaífim o obrigarão a retirarfe para a Ilha Ter- ^^' "^° ^'^^j;^"
'^f*
ceyfa,aonáepor hora odeyxamos. A Armada Caftclhana tinha fahido
tlfVItalhav^eãA
d€ Lisboa em 10. do mefmo Julho cora 28. nàos de guerra & por ou* a de D Amónio ep»
,
trás que atraz delia vicraõ , chegou a Saõ Miguel com quafi quarenta t4Kd9 tSt mTersfj^
yeks j fora patax®s de avifos» Vinha nella por General o Marquez ds »"<».
'
Gg iij Santa
Livro VL DaReal IlhâTerceyraJ
m.
Saata Cruz D. Álvaro Bafa», & por Meftre de Campo GeneralD. Lo^
pode Figueyroa, & muycos outros feRhores,&; fidalgos Caftdhanos,
& por Capitania oGaleaóSaõ MartinhO} &
em toda a Armada Cafte--
lhana vinhaõ íeis miihoraês de peleja, fora a fidalguia, innumeravel &
marinhagemiôc comtud© não foy admittida efta Armada em Viila Frá- ,
cinco horas continuas , fem fe ver mais que a defenfreada morte em to-
da a parte, atè morrerem da Armada Franceza o General Eftroffe, q
Conde de Vimiofo , & muy tos outros fenhores , & fidalgos , & da fol-
dadefca mil &du2€ntos homens, &
alguns navios Francezes foraó af^
fundidos s muy tos déftroçados , 6c os mais deyxàraó a batalha , & fe fo-
raõ, fem poderem já feguillos os Caftelhanos , porque deftes a Armada
ficou muyto derrotada , &
com muyta gente morta 5 porém eotno o feq.
General Marquez de Santa Cruz foube guardar fua peíToa na praça d^
arteíharia governando-a debayxo da cubcrta > & o General Francez,8ç
,
fo &
'edrode Caftilho , &
da Villa foy ao mar vifitar ao Marquez , no
mefmo dia dcfembarcou o Marquez , & entrou na Villa com grande re- ,
cebimento , &
applaufo, & o Bifpo voltou para a Cidade, o Marquez &
fe embarcou , & chegando a Ponta Delgada foy nella recebido com
grande triunfo da Cidade , & Fortaleza, &
fó a hum fidalgo, Vereadoí*
de Villa Franca mandou degollar > &
os outros culpados fó condenou
em penas menores.
300 Tendo fahido de Lisboa o Marquez em ip. de Julho , Sc,
ficando-lhe là três nàos de guerra, fahiraô eftas aos 1 1 8c
. com vários en-
contros dos Francezes defapparecèraò já perto de Saõ Miguel. Em 3,
de Agofto chegou a Armada de Sevilha com dczafeis. oàos de guerra.
Cap.XXVII.DehUíidalg. que felevantoacm Angra, j^f '11" 1
que vinhaó ajudar ao Marquez ; mas efte tendo avifoque viniiaó náoi
4a índia , em tai altura as foy bufcar , & trazendo-as a baò Miguel , da- !>* Amada iinM
hi as remetteo a Lisboa com fete nàos em fua deifeza , & nellas fe foy àç^^^y^i^^t^om^oMár"^
Sa^ Miguel o Bifpo D. Pedro de Caftilho para Lisboa &: o Marquez ^*^^^^^*^P*^ '*' ,
deyxando em Saõ Miguel quaíi três mil foldados de guarnição , paf ti© "^ f **,, ** f^'^
em 3 de Agoíto com ambas as luas Armadas, & em três dias ie poz lobre f^^fg /^^ re/ijho que
.
a líha Terceyra mas efta fem fazer cafo das cartas , 6c embayxadas do/i voltkrao asArma*
-,
Marquez, Sc fuás Armadas , lhe refpondeo com tantas & tam forte arte- dat dt Cafiella aLis»
Iharia, que o Marquez defiftio de tal empreza , &: fe voltou a Lisboa. E boafemfe atreverew%
aqui com pouco mais , & fora da hiftoria i acaba Fruduoío o feu Uv. 4. ^*"^ '^ Ttrcejr^^ \
:"'.'*
ca^, III. .
,
•
"' '
C A P I TU LO XXVIL
Dehutna parcialidade que houve em Angra contra o Senhor^
£>. António ; & da morte de humfidalgo^ &per/eguí-'
çao contra da Companhia
o Collegio
de Angra.
dous annos prezo , nem palavra , nem obra fahio deile , que cheyraíTe a
peceado, ainda leve.
•^
\ 303 TinhajàElíley Dom António pofto em ilngra Relação
(Çimnpehjen ÊeyD. fua fobre todas as Ilhas, que conftava de quatro Deputados,& huniJ^re-
^*^^°f ^ * ^^^ ^^ o.Corregedor, & Governador Cy priano de Figuey re-
tTjflalcídeD
MãHottda SHvAeõ ^°'* ^^ Deputados eraò Joaô Gonçalves Corrêa, Balthezar Alvarez ila-
todoj os pederesReaes Biires, Domingos Pinheyro,& Domingos Louzcl ,êí em oyto raezes
^fez. logo íí/^<,//rfr fentenciàraõ o fidalgo prezo a moírer degolladoi mas dilatou-fe a exe-
fubhcamente <»«?/• çuçap, atç que entrou em Angra o Conde Manoel da Silva emFeve-
^*lg9pr«x.9.
reyro doannode 1582. com os poderes do dito Rey D. António fobre
todas as Ilhas. Mas o dito Conde , para eohoneftar mais eftas execur
çõesde juftiça , levantou em Angra, com os Reaes poderes que tra-
zía, levantou Caía da Supplicação,do Civel, & Crime & fobre efta j
6c com muy CO âmbar, que também lhe oíFerecèraõ , & de tudo não ap-
pareceo coufaalguma em a cafa da moeda; & chegou a infolencia do tal
Conde a tanto, que fem fentença de Juizes dava tormentos, & intolera*
veis, & atè a homens nobres \ & ainda nos coftumes procedia efcanda4
lofamente.
'-.
; i Í505 dous parágrafos acima naõ
Ainda que o fobredito neftes
traz o Doutor Fruftuofo, por lhe naô chegar là a Saó Miguel , confta
com tudo de hua Relação manuferipta cm caderno de quarto , de quafi
hum cento de quartos de papel vôccompofta por huma teftimunhíido
t,=3íi^-
vifta
Cap.XXVILDadég©í.dofidâlg. 6cextérmín.áosPP. ^fy
vifta fecular jique em Angra vio , & apoatou tudo , 5c vivéo ainda acè o
^anno de i6i i Òc tenho a tal Relação em meu poder Sc por vçrdadey»
. ,
ra, & muycas Vezes a figo, & feguirey ainda. E logo era Março de 1 5 8 Jí
na quarta feyra á tarde , mandou executar a fencença , & com gente
Franceza de guerra , pofta por todas as ruas da Cidade » & teado fido
mandados fahir delia todos os pareotcs do condemnado, foy eftedegol-
ladoem cadafalío publico, 3c com tal valor do padecente, que nem pès,
nem mãos, nem corpo confentiolheataíTemimas com grande animo
deo elle mefmd a cabeça ao talho , 6c com tal conformidade com a dif- ™"
pofiçaó Divina, 6c com taõ Catholicos Sc pios ados daquella hora,quc
,
•VS'*'
todos le pérfuadiraó ,que por aquelles meyos o tinha Deos predellina*
doi 6c à boca da noyte foy a enterrar à Mifericordia com grande , 6c no-
bre acompanhamento. E depois ElRey Fclippe fez à viuva , 6c ao filh®
*norgado grandes mercês de habitosj tenças, &G.
^06 Defte trágico fucceflb tomou o diabo occalÍa6{ôomoco-
iftuma ) para mctter em cabeça ao povo de Angra, que o fidalgo morto £><, aieyve t^perfi^
,
fora períuadidoa acclamar a ElRey Felippe por confelho dos Padres^»<f45 ^»e em An*,
da Companhia daquelle CoUegio, por faberem todos que o dito fidú' grafe levantou citra
go tinha fido em moço menos ajudado, &c tratado fó de cavallarias , co. " ^'"\'"g "^^ ^"'"f^'^
mo Capitão de cavallos que era, 6c depois de tratar com os Padres, 6c fe "*** í^^'^^j.
aconfelhar com elles , fe ter totalmente mudado , &c teyto vida , mais d«
K.eligiofo 5 que de Gavalleyro leygo j por eftes fundamentos impoz o
povotemerariamente aos Padres queeraó da facção delRey Felippe,6{
naó da delRey D. António &: a efte lho eícrevèrão logo aífim & por
, -,
ifci'11
mais que todos os ditos Padres depuzeraò , òc juràraó o contrario , ain-
da aíTim , cm quanto não vinha refoluçaó delRey D. António , confif-
m
cáraó as rendas do Collegio , 6c os bens móveis delle , prohibiraô-lhes
dizer Mififa , fechàraõ-lhes as portas , atè da Igreja , com traveíTas , 8>c
ferrolhos, 6c as janellas lhes tapàraõ de pedra,6c cal, 6c fó ás quartas fey-
ras lhes deytavao algum comer Sc tudo ifto íe fazia por militares Fran-
,
dcJulhodei58i.atèJulho deSi.
^07 Tam falfa temeridade deraonftrou o Ceo com cafosma-
íavilhofos porque chegando hum zelofo a afrontar de palavra com
;
pi
a«8 Livro Vi. Da Regia líhá Teréeyf â.
Chegado de Saõ Miguel ElRey D. António à Ilha Teri
308
DeeômèosPadresJaceyrâ em O fim de Julho do anno de 1682. mandou logo defencaypat
Companhia foraõ ti- OS Padres , & depois de outras refoluçoens tomadas & naó > executadasi
r«íiM <<í /í»^r<i,jw;?-
mal informado mandou metteros Padres em duas nàos grandescom
^'^j'it outra gentej& levallos todos a Inglaterra , a cinco em cada náo , por íe-
^"4!^^'^''1*
CAPITULO .^
XXVIIL
Da chegada i recebimento, & affíflencia do Senhor Dom
António na llhaTerceyray& de fuapm tida
ira Franca,
m
Tiá VnifAàá^^ réeil
%^^
U
TT^Éyxandofcomo jàvÍ!tios)ElRey
"i^da defronte de Sàó Miguel para dar batalha â Arma-
timtntoRtgionallhít <ia de Caftella ^ fe recolheo à Ilha Terceyfa em 26. de Julho do anno de
D. António fúa Ar-
dras Manoel da Silva o poz à efqu:erdai & de cada hiim que hia chegan-
do perguntava ao Figuey redo que homem era o que vinha } & fe o dito
Figueyredorefpondia que fe chamava N. 6c N.& eramuyto do fervi-
ço de S. Mageftade ^ o Rey o recebia com miiyto agrado, & benevolên-
cia i mas naó conícntia que algum o àbraçaífe , nem ainda pelos pès , &
fó lhe lançava o braço pelo pefcoço: fe porém de algum dizia o Figuey-
iedoj que era homem muy to riep , mas que lhe não fabia o nome, ò Rey
logo
Tfml
if^
Cap.XX VJÍ í .Da affiílêidía delRey D Antónií naTerc.3% .
o tinha
fervido, accrefcentou , que por mercê de Deos nâp i«;l*
neccflitava de fuás
riquezas, Sc fó defejava fazerlhe muytas mercês , 8c huma grande fenho-
ra em feu Reyno, 8c ficar fendo feu pay, viftoo naõ tinha
jà, 8c com ifto
íe fahio o Rey defta vifita.
de grande qualidade , &: grandes tenças; & a três naturaes de Lisboa , fi-
lhas de Pedro Poncede Leaõ, Veador mòr da Rainha Dona Catharina,
mulher delRcy P. Joaó IIL porém em hum deíles não confentiolhe ap-
pareceífem diante oyto Religiofas , que fabia ferem da facçaõ de CaA
tella.
Patreyçao crdida por chegando mandou dobrar o valor à moeda , com fó lhe porem húa cor
kttm Cafitlloarig, ^ne nas cruzes. Mas he de notar , que tendo vindo com nàosfuas, & acom*
foydtfsubirto^^ de-
panhado ao mefmo Rey Dom António , hum rico Caílelhano chamado
goliado.
Duarte de Caftroj comtudo trazia ordida comfigo huma treyçao para
matar, ou levar prezo a Caftella ao dito Rey com quem vinha hum ; &
Capitão Francez , chamado Carlos reparou nefta
, treyçaó , que o Caf-
telhano queria executar em Angra , &
dt^fcabnndo-a logo , foy prezo o
Duarte de Caffcro , &
por mais diligencias que fe fizerâó , nunca fe pode
faber de algum outro cornplice de tal treyçaò que houveífe na dita Ilha
.Terceyra^ Bi aífim fó o dko Duarte foy prezo, fentenciado , Sc degolla-*
.do no pelourinho de Angra , &: os bens que tinha, foraõ confifcados pa-
ra a Coroa.
315 Chegados os 15. de Outubro de 1582. foy o Rey Doni
.António confeíTarfe, & conmmngaraSaò Francifco 5 & dahi a defpedir-
,fe deNofia Senhora dá Conceyçaõ, Igreja que novamente fe fazia então,
DadejpeiiiA t^El' êclhedeo deeísnola quinhentos cruzados para fe acabar, & dahi tor-
Reyfez. dafidalgaD. nou a vifitar aD. Violante do Canto & Silva, & ao Convento de Frey-
Violante do Canto &!ras da Efperança ; & tomando logo oytocentos homés das Ilhas & oy- ,
Silva]^ de como tm
tenta mais dos nobres que mal o tinhaó íerv ido , & comando mais com-
a Armada fe embar'
cottpxra FrançA & figo todos os Francezes
que trouxera', de repente fe embarcou em húà
,
foy la bem recebido^ .Armada de quarenta velas mas logo lhe fobreveyo tal tormenta , Sc
-,
d^ mandou logo foc' tempeíiade que defgarrando-fe muytos navios hus foraó dar em Lis-
,
,
corre k Jerceyra, boa, outros em França & outros em Inglaterra Sc fó com vinte nàos
5 ;
1
Cap.XXIX.Douldmo emp.de Caftel.em cònq.a Terc.37£
áe Novembro }& dos oycentâ delatados morrerão por là trinta &fet@
de fuás doenças, & contra os outros fe naõ procedeo j & o dito Rey D.
António foy bem recebido em França & mandou logo à Terceyra a
i
tarém, Cetuval , & no melhor de Portugal j & nas nove Ilhas Tercey-
ras j que conftituem hum bom , & grande Reyno , aonde naó tumuitua-
riamente, ( como alguns difíeraó} mas com toda a folemnidade foy ac*
clamado, & fuftentado Rey, como única varonia do Senhor Rey D.
Manoel. Que defcendcncia ficaíTe defte Senhor Dom António? Muy tos
dizem quecafou em Olanda com aPrincefa Emilia de NaíTáo, filha
,
ElRey D. Joaõ o IV. afliftir na Dieta de Monfter. Ifto o que fe diz , Fi"
des fit penes Jmhores.
CAPITULO XXIX.
Da ultima Armada ,& batalha que Cafiella deo a
,
gente em terra, & ^ fg^irem com fuâS armas bandeyras & tambores & a repofta única
, , :
mens , & oyto peças & ultimamente por huma enfeada aonde chamavaô a Ca-
gente delia j ,
^^ "^ muyros pelos repétidos tiros dos r ortes da terra poz nella em^
,
^
,
,
11
tro dia fendo quaft fim quatro mil & quinhentos homés
de guerra & atraz delies muyta
, ,
,
dez. mil de ca- mais gente, h formou exercito em terra com féis peças de campanha,
horftês
da parte, & igual a $c ênveftindo logo à efcala os Fortes que alli avia a hum fó rendeo Ôs , ,
acabou de formar o feu exercito, com muy tas mais mortes fuás.
319 Feyto illo em huma terça feyra 26. de Julho de 1 5 83 íá> .
hiraÕ os da Ilha com exercito formado de nove mil homés de guerra , &
oyto peças de campanha , dos quaes eraõ mil & quinhentos Francezes,
a que governava Mohfieur de XatreSj primo irmaó do Duque de N.N.
cunhado dei fley de França; & todo o mais dia atè a noyte eftiveraô
fempre pelejando as vanguardas de ambos os exércitos com perda, &
mortandade igual de parte a parte. Mettida a noyte , & vendo bem o
Marquez o perigo que havia , tornou a mandar boiatim , oíFerecendo a-
inda os mefraos partidos que de antes tinha ofFerecido ; & naó faszendo
diíío cafo algum o exercito da Ilha ,fe prepararão ambos para a batalha
dodiafeguinte.
Porém chegado o ini-
Nefte dia, quarta feyra 27. dejulhó jtendb oexercitodt
cio
tdLrUdo Zcenl'o ^'^^ ^QJ^o vtr mil vacas, & kvando-as na vanguarda * cammctteo logo^
da /lha, logo os Frã- ^ primeyro ao exercito inimigo porém efte abrindo-fe 3 & dando lu*'
;
tez.es fe puz.eraõem gar às vaccas , ^ tornando-fe logo a fechar , fe travou tal batalha entre
torpi fífgida comfe» ambos que depois de muytas horas delia & de grande mortandade de ,
,
Cinerai & atraz. parcca parte foy ganhada a artelharia do exercito da Ilha , Sc tam car-
;
'^g^^o efte com ella , que primeyro que todos fe puzeraô em fugida oS
^dAStL^atl^oln-
gUze'!'Jdcl7Ldo aos
Francezes & logo o Conde Manoel da Silva com, outros Inglezes &
i
}
tão da llha,deraó faço à Cidade por três dias i primeyro os foldados>^^íC''^" '^^'^ *^,
logo os marinhey ros , & ultimamente ãtè os Turcos , & canalha que vi- '^/""
^'^"J^ ài^tií
nha nas galés , êc eftes atè os ferrolhos das portas arrancavaó, naó achan-''^^ ^ ^ gente mttidà
do jamais que levar, por tudo os moradores terem retirado comíigov^yí^í^jèjé-^wW^í/J»-
para os montes. No porto de Angra acháraó ainda , & tomàraó <imnzQ^HekrAõ aCidsdt p»r
navios j quatro Galeões, cinco caravelas,& outros bayxeisjSc noventa èít^tf '^*** inteyrts Ate ,
hua peças de bronze , & ferroj no Callellode Sa6 Sebaftiaó fete peças a^^^osferrolhos àupr-^
'**
indade bronze, & oyto de ferro ; & por todas dos Fortes da terra tre-
zentas & huma peças de bronze i & ferro. Mandou cntaõ o Marquez?
lançar bando pela Ilha, que a todos os naturaes fe perdoava a morte*
que podiáó vir viver a fuás cafas, & governar fuás fazendas^ porém vin-i»
do algús pouco a pouco, o Auditor geral de guerra hia procedendo j Sé
prendendo aos que tinha por culpados. ,
como Rey em tudo, & mandando por hum Manoel Serradas Camello ''ZitTJír&Zaõ
(da Ilha da Madeyra ) com Armada de dez velas , de Portuguezes, In-fj yi„cid$s & nniti
glezes j & Fraricezes dentro , a tomar os navios que eiicontraíTem de naturaet dà Ilha^
Caftellai & a reduzir» ou faquear a Ilha de Cabo Verde , como com ef-
feyto fizeraó j& faqUeáraó j & trouxeraó tudo ao Conde à Teíccy raj
& efte nella, por meyo de hum Amador Vieyra , de fora da Ilha , pren-
der a muytos moradores della,& os pòr-a cruéis tormehtos,& querellos
dar a hum Cidadão muy nobre , & muyto velho , por nome Álvaro Pe-
reyra, Scconfentif a fetecentos Francezes y & Inglezes que tinha em
Angra) & a mil & trezentos Francezes que vieraó demais em Junho de
1583. conferttirlhcs inexplicáveis roubos j iilfoleftcias , & motins na ter-
ra , com que a Cidade fe vigiava , &: trazia fempre grandes contendas
contra todos elles > & em nada o Conde impedia aos eftrangeyros. Naô
fó pois era tam grande a infolertcia do 'Conde , mas relata a citada Rela-^
Çaõ cap. 81. que elle foy a caufa toda de fer rendida efta Ilha por Caf=s
tellaj & foy elle , & naõ ella, o que a entregou, Forque primeyramentô
Hh ij teat*
J74 Livro VI. Dâ Regia IthaTerceym.^
tendo avifo do grande poder que vinha deCaftella, foyfe á VilUdé
Praya , & aíliftíndo elle à obra , fez hunua caravela tara perfcyta , corrt
ularte,&tamligeyra, dizendo fer para avifos repentinos, que logo
houve quem difle , que era para clle fugir , 6c deyxar a Ilha ao inimigos
Scfabendo.ocUc mandou açoutarão pobre homem , & com huma mor*
daça na boca pregarlhe huma maó no pelourinho , onde eftevc duas ho-
ras } mas o certo he , que chegando ao dito Conde cartas delRey de
ÇaftelIaparaoditaR.€y D. António feu primo, cm que lhe offerecia
bons partidos^ o Conde as guardou comfigo, abríndo-as,& Icndo.as, &
naõ as mandando a quem vinhaõ; & tendo por vezes cartas do chega-
do Marquez de Santa Cruz , com partidos excellentes para elle , & pa*
ia a Ilha, nem defta deo parte j Sceftando jà em terra o inimigo com
quafi quatorze mil homcs , {diz eftoutra Relação ) &os noflbs já de-
fronte dellç com quafi nove mil, & quatrocentos de cavallo, &
queren-»
do por duas vezes dar batalha ao inimigo, o Conde os impedio , atè que
chegou a noyte,& entaõ o mefmo Conde ordenou fccretamentea Fran-
cezes, & ínglezes que fugiffem, &
primeyro que todos o fez elle, dey-
xando os Portuguezçs , os quaes vendo a treyçaó do Conde , &
eftran*
geyros, & muytos dos Portuguezes mortos , &
morto feu General , re-
na mefma Ilha com a cabeça , que nem lhe deyKàraó ir ã caravela que ri-
nha preparada para fugir nella.Atèqui a dita Relação, o mais veremos
logo.
C A P I TU L O XXX.
Do mats que fítccedeoemaTerceyva,& lihm annexa9'i
é'datdaaCaftetla^è' Portugal^ cafamento &
de D.Violante do Cama Silva, &
ifll
diyíTo M omras féis ta o que lhe deo doze galés, quatro pataxos, dezaíeis pinaflfas , &
outras
JlhM, barcas grandes j & com Dom Pedro de Toledo hiaó mais alguns homés
da Ilha de Saõ Miguelj como Manoel Çordey ro de Saò Payo , Cavai-
kyro do habito de Ghrifto & Juiz domar , & outros & mil & qui-
, ,
logo delia o feu Capitão mòr , &: juntamente Juiz naquelle anno & o ,
N ítn Efcrivaõ da Camera , & em hum batel forao logo render obediência
ao Marquez & a Caftella o que fabendo a gente da terra , em os dous
, j
cftàvaó mais Gafpar Gonçalves de Utra , que tinha fido Capitão mòe
do Fayal, & Pico, & feu irmaô Eftaeio de Utra ,homés fidalgos , natu-
raes também do Fayal , & parentes da mulher de Dom Chriftovaó de
Moura , Marquez de Caftello Rodrigo a cada hum dos quaes deo o
•
Conde Manoel da Silva o habito de Chrifto com cem mil reis de tença*
Aos fobreditos pois Gonçalo Pereyra,& Gafpar Gonçalves de Qtra deo
o dito Conde Manoel da Silva as galés caravelas, & Armada acima di-
,
ta com feu Capitão mòr pofto pelo dito Conde. Da Ilha do Fayal tinha
^ntaó o governo hum bom fidalgo , chamado António Telles da Ilha ;
direyta , & logo o enforcarão & rendido aflim o Fayal , logo as Ilhas
i
de Saõ Jorge , Graciofa, & a das Flores , & Corvo fe renderão, fem mais
guerra alguma. r .
oqtte entras
achar ao Conde que bufcava havia dias, entaó a mulata ao tal CapitaõM?//*
«mfegredo perguntou, que fe lhe daria , fe deíTe prezo ao Condej &<í^'''»'*I^''^'/''^i
; Hh iij ref-
mÊÊmB m
37^ Livro VI. Dâílegiâ ííhaTGrceyra.
dizem que lhe mandou dar tormentos , mas naô conftou que fe Jhe def-
fem, porém mandou-o preparar para morrer, & o Conde o fez por
dousdías, &
duasnoytes j &
levado] ao cadafalfo publico da praça,
confeíTou ao Capitão que o prendera y eftas palavras O Marquez tanto :
lha deyi ò^c. &c logo lhe foy de hum fó golpe de efpada cortada a cabeça
por hum algoz Tudefeo , & foy a càbeçaf pofta no lugar donde entaõ ti-
rarão a de Belchior AíFonfo , para pòr a do Conde , como efte mefmo
tinha dito; & no mefmo dia foy degolkdo hum Amador Vieyra , em &
terceyro lugar Manoel Serradas , que difle morria por feu Rey D. An-
tónio , clamando fem fe defdizer , com pafmo de todos. E muytos ou-
tros foraõ enforcados. Atèqui a Relação de vifta.
328 Dos caftigos que o General Marquez de Safita Cruz exc"
cutouem Angra, trata Fruâruofo no feu Itv. ^.caf. i^. ^o. &3i.cuja
fubftancia he Foy logo, & publicamente queymada toda a moeda dêl-
:
Rey D. António & defte Rey fe naó foubemajs do que fe fabe delRey
j
Exemplo fatal daíó entaõ de tal lugar fe tiraria aquella cabeça , quando no mefmo lugar
Divina ^Hjíiça con- fe puzefle a fua delle Gonde 5 & por Divinos juízos aílim fuccedeo. Ef-
ira a i»jnfiíça ^«- te cafo comtudo appíicâó outros à cabeça do fobredito fidalg&Joaõdc
Betencor & VafcôDcellos , 6f que efte
"^'"^'''
mefmo quando o degoUavaõ,
prediíTe o tal fticceffo, Sc fe vio depois cumprido. O
caio he certoj ofu*
geytoDeosolabe.
529 Foy degollado hum Manoel Serradasi liaturâl da Madey«
ra , &Capitão de Armadas. Enforcados foraõ Ayres de Porres , Capi'.».
De aIgHs outros f «í o taó de huma Companhia , Gonçalo Pitta » Ca pitaó dá Fortaleza de Sa5
Marquet. àt ^^aM Sebaftiaô de Angrsj & António Merelía Alferes mór da Cidade , & o
,
pois fe gabava muyto defta acçaó, pelo que foy enforcado, Sr depois ef»
quartejado.Foraó ultimamente enforcados dezafete Francezes,& onze
fortuguezeSj&dous degolladosj&da gente bayxaforaó alguns poucos
açoutados , & outros condemnados a gâlèsj &
â vários degredos. Exe-
cutado ifto tudo atè os 15. para os 20. de Agoftode 1583. refolvco-feo
Marquez de Santa Cruz era íc voltar para Portugal, Cafteila , eo^ &
' - mo
Câp.XXX.Como foy levaàa a Caft^l.& cafaáa D.Viol^^^^
*ino veremos.Mas porque tefta fabermos que foy feytodaqiiellá famofa
HÊdalga D. Violante do Canto & Silva , de quem por vezes jà tratamos,
6c de íeii iiluft re da Silva do Canto , & feus grandes avós ma-
pa.y J oaó
ternos, bem heque agora o digamos , & com mais brevidade do queò ! 1
^ff^gfàfica ida cB
«^ta Cruz trazia delR.ey Felippe 11. huma muyto efpecial era, que toma-
-da a Ilha Terceyra , tiveíTe grande cuydado da peíToa de D. Violante J^^ ^^ ^^^
cltlf
do Canto & Silva pois fó ella tinha liiítentado na Ilha aos Francczes, afiâaifa D Violante
,
^ Inglezes, que feguiaó a ElR.ey D. António & aílim o dito General, do Canto & Silva^&
j
& D. Lopo de Figueyroa, tanto que entrarão em Angra, mandarão da grand£z.a eom<^
logo pòr duas companhias de foldados aporta da dita fidalga,para que fojf f^o^edajtaemCa-
máô fofle moleftada por algum , & fabendo que eílava já recolhida em-^^^'*--
hum Convento,là lhe mandarão pòr as ditas duas companhias de gUar-
úii&c logo lhe confifcáraó toda fua muyta,8c grande riqueza de bens de
todo o generOi& fó de grande numero de criados,6c eícravos que tinha,
naõ prenderão algUnS;por andarem já todos a montejraas mandoulhe di-
zer oGéneralj que feu R.ey lhe ordenava , lha levaífe a Caftella, & aílim
que fe preparaífe para fe embarcar. Ouvindo a fidalga efta ordem ^ tarii
'modefta, catholica, difcfeta , & varonil repofta deo ( oíFerecendo-fe a
,
feu Capitão mòr Manoel de Azevedo fer homem já velho ^ & de grani
de capacidade j fnandou mais prepararlhe a Camcra Real^ ricaj 8c magi
tlificameníé , 6c na prainha de Angra huma Real barcaíTa grande j coni
eílrado nella alcatifado de alcatifas da China, clieyas de almofadas dé
veludo» & outras grandes barcas para todas as criadas j & criados da fi-
dalga. Feyta efta preparação por ordem do General Marquez de Santa
Cruz, fahio do Mofteyro a fidalga com fete mulheres graves que a a-,
companhâvaó, & duas Donas j & cinco Ayas , & vinte & hum criadosi
entre efcudeyros , pagens , &iiomés de efporas; & ainda nem todos feus
criados a acompanharão > por andarem aufentes com medo de pegarem
delles j mas â acompanharão demais vaíios fidalgos , & parentes feus^
como Manoel Borges da Coita, joaô da Cofta & Vafconcellos Gonça- ,
lo Corrêa de Soufa j Brás Dias Redovalho j & outros j & a dita fidalga
hia veftida toda de baeta negra , 6c fuás Damas ,& Ayas i vertidas todas
de roxo.
33i Antes de fe embarcar foy outra vez viíítada , Sc confoladá
^ídj^ General Marquez de Santa Cruz, èc de D. Pedro de Toledo, 8c dos
outros Grandes de Hefpanha ; Sc embarcada j Sc méttida em fua riào, co**
meçàraô logo ,& em toda a viagem a vir barcos dos Galeões à nào dâ
fidalga trazendo-lhe fempre paó molle, pafteis, 8c todo o otítro mímoi
,
âtè que depois de hum met de viagem chegáíaõ todos a Cadiz 8c fi- j
EÚwm
I^g
Livro VI. Da Regia Ilha Terceyra;
&
toda a fua gente , parentes que levava , & muy tos fidalgos Caftelhá-
nos , & com falva de toda a Armada j & a efta galé veyo outra vez viíi-
taila o General Marquez de Santa Cruz com outros fidalgos, & lhe de-
clarou entaó , como ElRey lhe mandava dar todo o neceflario para fua
peíToa, & para toda a fua gente , &í naÕ a mandara vir fenaó para lhe fa-
zer muytas mercês, & cafar.
333 Chegando defta forte ao porto de Santa Maria, vcyo ao
defembarcaro General das Galés D. Pedro de Villavincencio com ou-
tros fidalgos , cujas mulheres a eftavaõ efperando na praya com muy to
povo junto } pela fama que havia da fidalga que entrava, & allim foy le-
vada ao Mpfteyro de Freyras , aonde todas à porta fahiraõ a recebelía
com Te Deum lauâamm. & foy logo vifitada de todas as fenhoras da ter-
ra paíTados fete mezcs , por ordem delRey commettida ao Cardeal
:
de Sevilha , foy mandada palTar a Jaem, & o Cardeal a mandou logo vif
fitar por dous feus Cónegos velhos , & lhe mandou hum Miniftro por
Apofentador com doze homés de cavalloj & o Duque de Medina Sidó-
nia lhe mandou hum coche para ella, & cavalgaduras para os criados, 6c
filhões para as criadas , & dez homés de eavallo & aílim fe partio de dò
:
ainda , & muyto mais , por lhe chegar nova de fer falecido feu primo
Alexandre Imperial , Embayxador de Génova em Madrid. Deíla forte
foy andando, & em todas as terras por onde paíTava , a fahiaõ a receber
/ ©s Grandes delias, & cm nove dias chegou a Jaem.
^ 334 Aqui a fahio a receber o Biípo Dom Francifco Sarmiento
de Mendoça com todas as Dignidades, Cónegos, & fidalgos do termOg
& a levàraó ao Mofteyro de Santa Clara da dita Cidade , onde o Biípos
tomando-a pela maõ, a entregou à Abbadefia, & as Religiofas a recebè-
íaó com repiques de finos j & paliados dous mezes, lhe mandou ElRey
oíFerecer cafamento pelo dito Bífpo , & ella por obedecer o aceytou j 8c
.
omefmo Rey Iheefcreveo entaõ, que lhe faria muytas mercês , depois
de cafada com quem S. Mageftade lhe dava por marido.
335 Efte marido era Simaó de SoufaSc Távora, filho de AI-
Do granàê fidalgo '^^ro de Soufa & Távora , & de D. Francifca de Moura , irmã de Dom
Tortugutz. cem que Chriftovaõ de Moura , Marquez depois de Caftello Rodrigo, & Capi*
Feli^pell. fenrece- taó Donatário da Ilha Terceyraj era mais irmaõ do grande Bauliode
ber A ditafiçialga, Leflfa Luis Alvarez de Távora , Fundador do Collegio da Comp.mhia
de JESUS da Cidade do Porto ; & jà tinha duas boas Commendas , de
dous mil cruzados de renda cadahuma , & outras tenças , & tinha fido
Governador de Eftremoz, Sc o faziaõ depois Governador de Cey ta em
Africa, o que naó aceytou , fó por cafar com a dita D. Violante do Can-
to & Silva. Mandou efta procuração fua a Diogo de Soufa , Arcediago
da Sè de Lisboa , & depois Inquifidor da Mefa grande , feu parente -^,
me delia fe receber com o dito Simaõ de Soufa & Távora & logo efta
;
fidalgo, por ordem delRey a foy bufcar a Jaem com grande eftado,on-
de fendo hofpedado pelo Bifpo , efte os recebeo outra vez com as cere-?
montas, & folemnidades que enraõ fe ufavaõ em Caftella & ncornpa-»
;
^37
E ainda aíIim,partido o Marquez da ilha, logo o dito Ui"
^'''
bina le fez ao principio tam abfoluto fenhor , como o mefroo Marquczi ^'
^f'J^P
&
porque tomando por Adjuntos o Corregedor , cinco mais Bacharéis, ^ç^l^f/
«eVTJ^I
& naõ Bacharéis, fez com elles tal tribunal de íete , que fem admittirem
'/jrceyra \&ào m»l
embargos , nem aggravo, nem appellaçaó, fentenciou à forcaj& execu- t^utft hmvt Mpin-^
tou a fentença em hú Capitão chamadoTrigueyroS}& em hú muyto no- «/»w.
brc Cidadão de fetenta annos Balthezar Alvares Ramires y &: a outros
degradou ; & a algumas mulheres mandou açoutar , fó por fallarem em
tal governo. E da mefma forte a hum Cidadão Balthezar Gonçalves de
Antona , & a hum letrado Joaó Gonçalves Corrêa , que tinha fervido
de Corregedor , & a hum Capitão da Villa da Praya , a todos condcm-
hou a galés, & degredos , Sc fem admitcif lhes aggravo * ou appcUaçaõ
vieraó a Lisboa, Sr prezos os Ouvirão ,& lhes mandarão receber fua ap-
pellaçaó, & ainda o Urbina a naó queria receber, & tmàtm a reccbeo , Ôe
foraõ foltos, & livres.
338 Fey to iftoi imoderado aílím o goVcrnò,ao principio in-
folente, do dito Mcftre de Campo Urbina , começou dahi por diante
a governai" com grande moderação, & aceytaçaõ do povo. E aqui hc de ^' ''"^^P thodêrêà
fiílimo, por fempre ferem os da tal Ilha homens de rtiuyto jufta cóntaj
pefo, & medida. Quanto mais que querendo niíTo infamar fua cabeça a
Ter*
'V
Uivio VI.Dá Regia f lha TèrCeyr^
,>- -TJ-
C A P I T U L Q XXXI.
? -Da glorio/a Âccíamaçao delRey Dom João IF, na
Ilha Terceyra,
Jimfí declararem fe ceyra, &• nella ao Capitão mòrdáVillada Praya Francifco Dornellas
biítõ prgparMÀo fára
ngHerrm
da Camera , natural da mefma Ilha , & fidalgo bem conhecido , que cn-
ca6
1:^
^*
.Cap.XXXI.Dàs prepar.q o Càftel.fez contra â Cidade. jgs
vora que èftava no Caftello dé Saò Sebaftiaó , & a metteo no feu mayor
Caftello de Saó Felippe & nâó fó fe proveo de todos os mantimentos
-,
para fuftentar qualquer cerco que fe puzeífe à praça j mas tarnbem mi-
portunava continuamente aõs do governo da Cidade pormais, 6c mais
provimentos & pofto que nâ Cidade andava jà rota a nova da Accla-
:
maçaó do novo Rey ; comtudo como a Camera ainda naó tirtha carta
delHey y & a efperava , naó fe declarava ainda , Sr fo contemporizava
com o Governador do Caftello , permittindo-lhe algumas coufaS,&: ne-
gando-lhe outras , & preparando- fe occultamente o mais que podia; pa-
ra o que comprarão humas boas cafas^o canto da praça , èí nellas arma-
rão hum corpo de guarda, com bayxos,&: altos para mettérem nelle fol-
dadefca dé guarniçaô}Ôf defta forte fehiaõ preparando, fèm fe declara-
rem, os do Caftello grande, & os da Cidade , hunS contra os outroSi re-
íjuerendo o Caftello à Cidade , que arrazafle a Fortaleza de Saõ Sebáf-
tiaô , por temer que ficafle a Cidade com ella , & naó veyo nííTo a Cá-
rnera.
rtiòr da Prayá mettiá de guar-
343 .
Já néfte tempo o Capitáó
da foldadefca nà praça de fua Villa , & chegado o Domingo dé Ramos, Como etn %^.àtMat
ço de 16^1. foypH^
25. de Março, com a Camera da Villajôc todo o poVo acclàmou folem-
blica mente accUma'
nementc a ElRey D. Joaó o IV. & nefte tempo o Prior do Convento do ElRey D fom o .
de NoíTa Senhora da Graça, & hú fidalgo da Cidade , chamado Eftevaõ IT. na f^f liada Pra- ll- !
da Silveyra, por efte fcr dos principaes da Cidade,& o Prior fer Confef- j/a pelofida Igo fett Ca •
for do Governador do Caftello, foraõ ambos fallar ao Governador, que pi^dõ mor Francifco
fequizcfle entregar, por evitar tantas mortes, como fe feguiíiâõ do Dornellof da Cam»»
ra.
contrario porèní o Caftellaô , naó obftante ter dado a entender , viria
:
§0
'tt'1i
Livro VI. Da Regia líha Tcfceyra,
ço puzeraõ outra Companhia no novo corpo da guarda da Cidade.
344 Ja neíte tempo íabiaô os da Cidade , que o Çafteliaõ ti-
nha d'antes determinado dar de repente j na fefta feyra antes de Lazaro,
repentino afialto à Cidade,&
^ P^^^ ^ íentir amotinada , o dilatara para a
quinta feyra da Semana Santa , quando mais defcuydada eftiveííe a gen-
te, & á matar , & roubar quanto^udeííem , & recolherfe outra vez ao
dos arcabuzes traziaõ > & entaõ o povo levando dascfpadas, levanta-
rão as vozes, & clamàraõj Viva ElRey D. João olV. & querendo ainda
os Juizes,& Vereadores do Senado apaziguar a contenda,para declara-
rem a guerra quando eftiveííem mais preparados, o povo jà junto, & ai=
voroçado o naõefperou , mas indo fobre os Caftelhanos,matàraõ logo a
hum, &: ficando ferido em hum braço Manoel Gonçalves Cacvaõ , A1-»
feres que alli entaõ fe achou com o Sargento Mattheos Cardofo, os Ca-
ftelhanos fe rei;iráraõ ao feu corpo da guarda da porta do mar junto
4
-Alfandega, & dahiao Caftelloj& o povo todo, junto jà,naõ fazia mais
que acclamar a ElRey D. Joaõ ,& pedir armas aos do governo.
345 Nefte tempo tinha o grande Caftello quinhentas praças
de foldo , & com ellas mais de quinhentos vizinhos , mas fó quatrocen-
tos capazes de peleja , fora os que lá tem officios particulares , tinha
mais todo o género de armas em grande abundância , & pólvora rnuy to
de fobéjo ; & cento & feíTorita peças deartelharlM , quaíi toda de bronze,
& muytas de calibre de mais de trinta & féis arráteis de bala ,
& quaren-
ta & oyto artilheyros pagos , além de outros ; & niantimentos de boca
em grande abundância 5 & tinha também com prefídioCafteihanoo ou-
tro fronteyro,& menor Caftello, chamado deSaô Sebaíl:ia5,& com
quatorze peças de bronze , com que de huma , & outra parte dominava
&
o porto, a Cidade, .k com o corpo da guarda que niettia na principal
porca do mar, & da Cidade junto à Alfandega.
346 Pelo contrario a Cidade, qued'antes fe fiava nos ditos
Caftellosj aguardas, como em fua principal defeza,naô tinha folda-
defca alguma paga , mas fó a fua Ordenança , & nem ainda no Caftello
dos moinhos tinha artelharia ou gente algúa j & nem o corpo da guar-
,
da, que com efta occafiaõ de novo fez , eftava ainda expedito na praça,
:
& nas cafas da Audiência fez o primeyro corpo da guarda , & nefte en-^
trou de guarda o Capitão Conftantino Machado , & o Alferes Manoel
Cordeyro Moucofo com a fua Companhia j que foy a primeyra que en-
troa
Cap. XXXIÍ .De como a Cidad-fez trinchelr. cõt .o Caft.3 fj
fobre a Cidade muytas outras peças de artelhana que por ficar o Caf- ^^^p^^arre k cidade
,
tello muyto alto , & muyto çm bayxo a Cidade pdflavaô as balas por ^ fi morreo hi ho.
,
Caftello , fe fechou com toda a fua gente , & a Cidade logo tocou cay-
xas de guerra em todo d feu termo j & hum Mattheos de Távora dos ,
CA P I T U L O XXXIL
Cmne^a êgueffaplm tYimheyrms rende^fe o Caftello de
Sm SebafimÕ j ét aeclama-fe ElRey D. Joaõ o
'
ÍV. na Sefolemnemente.
. .,- que as fabrica váó íe lhes oppoz a nofla foldadefca cem tal valor,& con?
Ôançiajque a pey to defeuberto , por naó eftarem ainda aíTentadasas
. trincheyras, durou efte fatal combate defde o principio da noyte de
quarta fey ra de Trevas para a quinta atè pela manháa , fem parar jamais
a mofquetariaj &
ainda a lançâj& efpada de huma &
outra parte, fendo
muy em que fe pelejava.
tas as
nhora da Boa Nova , que era pofto mais perigofo por mais patente ao
,
/"*""•* bera armados & grandes atiradores & logo chegarão mais fcis Com-
, j
'íh7'-orrT
* '
pantóâ&âinda do termo da Cidade, de Santa Barbara, de SaõBartholo-
raàorei.
meu 5 & Sao Mattheos , & três ainda mais da Villa.de Saõ Sebaftiaô, &
do feu lugar do Porto Judeo , & todas com feus Capitães , &: mais Ca-.
bos, & boas armas, & munições; & foraõ logo ás trincheyras com tal im-»
peto, & valer, quê dos Caftelhanos que ainda brigâvaó," matàraó a vá-
'i3l rios, & em appareeendo na muralha , o derrubâvaõ os iníígnes atirado-
res da Prayaj&r fendo qoe naõceíTava o Cafteílo dedifparar fua forte ar-
telharia Çohíe a Cidade, por mercède Deos lhe naõ fazia damno; Scgiem
aos moinhos que eflavaó atirodireyto do Cafteílo, fizeraódamnoal-
,
gum,8: mohiaõ pata o povo como d'antes mas nas trincheyras morre- $
aventureyros íoldádos deraô tal & tam repentino aflalto ao Gaftello,^^/;^ ^, s.Sebaftiaoi
, ,
Refpenhoj que deyxou naò fó huma mina de pólvora feyta , a que naô
pode lançar fogo , mas também a artelhaaia encravada , que os da Cida-
de deíencravàraó logo , & no tal Caftello puzeraõ de prefidio a dita
Companhia da Ribey rinha , que o tinha rendido j &: ao depois puze-
raõ por Capitão do tal Caftello a Luis Cardofo Machado ,
da nobreza
priíicipal da Cidade j & coufa maravilhofa foy, que era fe arvorando no
tâlCaftello o Eftandarte das Armas de Portugal , veyo do Caftello
ígrandé huma bala defgarrada , que deo no Eftendarte deCaftella , que
Sndaeftava adiante da Ermida dá Boa Neva i &
o derrubou. Foy tatu
importante ô termos efte Caftelloi que com elle feguramos o naõ poder
pelo porto vir foccorro ao Caftello grande, & o fegurarmos nòs por de-
traz delle os noílbs navios» que eftavaõ aos Ilheos & o
fegundo porto
;
das aguas de Saó Sebâftiaô ^ donde íe fahia a pefcar , & fe vinha entaô
vender o peyxe.
353 Ema própria manhã da quinta fey ra Santa foy faqueado
Cafte-
pelos noíibs foldados o quartel aonde tinhaó vivido os foldados
Ihanoscafados , de junto a Saó Gonçalo atè a Boa Nova , &: tudo bem
defronte do Caftello , que com fua artelharia acabou de arrazar
o tal
quartel continuando a furia dos foldados faqueàraó mais a nobre ca-
•, &
Alferes do Caftello D. Pedro Ortiz de Mello, fidalgo bem
co-
ía do
nhecido, mas que em razaõ de feu pofto fe tinha recolhido com caía, Sc
familia ao Caftello faqueáraõ mais as cafas de
:
Chriftovaó de Lemos
de Mendoça , de Joaó de Efpinola , ambos muyto nobrcs,&: que tam-
&
bém fetinhaó recolhido ao Caftello-, por femelhantes titulos fe fe i &
naõ fora á mão aos foldados , outras muy tas mais cafas fe faqueariaó,poi:
ferem de pefíbas , que fendo Portuguezes , tinhaó jà d'antes , incul- &
pavelmente, algum pofto, ou ofíicio no Caftello j mas impedio-fe o cf-
^
feyto. j •
rt ji-
cheyrasfeytas, por o inimigo nem neftes dias ceflardè as acometer j &ífMadada AIUIhíà
tanto aflim que nem pouèraó celebrarfe os Officios Divinos da Semanal
««''»^«« o circo das
Santa por choverem as balas do Caftello fobre a mefma Sè, & mais 'ZtZ'*
, dlXl
Igrejas , & âtè fobre os Conventos de Religiofos , &
Religiofas j & nef-
J^„^^ ^^ de\uerr^
tes fe naó faZiaô mais , que com vivas preces j
penitencias , novenas , ^^ continnos cmU- &
orações a Deos pelo bom fucceflo defta guerra ; & com taes maravilhas tes com os do Cafitllo
Luzita, donde gran^ Jerofamenie, & ao Câftello fez dalli grande prejuízo*
des peçoí de hronz,e
^^^ &
^^^^ AfFonfo Gomes Feres , homem ricOj grande con-
^«"^f^^»^ > ^^'^ o^t^^o Redução . ou Fornm em o pofto que eftá acima ds
7rTd7tSellfZct
'
T" Santa Catliarina, onde poí- vinte foidados efcolhidos ,& alguma arte«
iharia, & tudo à lua culla, ^' smpediadaili 3 communicaçâo com a pon-
ta do Zifribrey o do CaftclIo , a qual fica para o Occidente, & defendia
t
^^'^^^^^^ EUiey D. Joaô o ÍV. & para iíío efcolheo o dia de Fafchoa,
^I^^p^oreaUpitld
mirfaaõdeB:t!Kcor ^"^ entaó cahioem 31. de Março de 1641. & indo notai dia bem de
& FafcoMcellas em manha á Sè, & fazendo celebrar a prociífaõ da Refurreyçaô de Chrifto
,
Adargo, dia de Senhor noíío , fez logo armar outra prociífaõ com todo oCabido,Cíe-
5 1 Jc
Tafchoá^^fueficoHgo- relia, Religiões, Senado da Camers , & Povo , além de toda a nobreza,
35 S Kcm
Cap.XXXÍIl.ÇGmo acckm.as Ilhas^íucef.de dous nav.^S^í
^
-'^f^
Nem
deve reparar, cm que o dito Capita© mor de
fe
ifto íe devia primcyro preparar , & prevenir j & aílim procederão acer-«
G APITULO XXXIIL
,Vs'-
'^'^'"y^''f'^"l*^~
'''*
vieraô cartas do novo Rey D. Toaô ao Conde Donatário de S. MigueL
íàCamera de ronta Delgada,& Juiz de tora para o acclamarem , & aju- Mkttet^& S MariA
darem a Ilha Terceyra a cobrar a Fortaleza de Saó Felippe , correfpon- é" os Governadores
dendo-fe com o Padre Francifco Cabral da Companhia de E S
J U
S, ^í Angra o mãdkra»
que S. Mageftade mandava então para os Capitães mores da Terceyra "^f^'*''''*'' "'** "'"^
reduzirem a dita Fortaleza, &c. Recebidas eftas cartas , foy logo accla- ^'^^ ^^^'*''-
jnado o novo Rey em toda a Ilha de Saô Miguel fem contradição algúaj
& da mefma forte na Ilhade Santa Maria. O
que fabido pelos dous Ca-
pitães mores, & Governadores da guerra da Terceyra , mandarão logo
pedir a S. Miguel algum foccorro , & lhe vieraô de là duas peças gran-
des de bronze, & alguma pólvora , Sc algum ferro. O
que vifto em An-
gra , mandou efta às outras de bayxo o Capitão Vital de Betencor , ir-
mão do Capitão mòr de Angra Joaô de Betencor & Vafeoncellos , & o
Padre Frey António Euangelho , Francifcano , para que aGclamaíTem à t>ofbettrfe em quê
ElRey , como fizeraô ^rinib na celebre Ilha do Fayal , & na grande vi- *>* "yto llhai acediraS
zinha Ilha do Pico. à )ua cabeça a Ilha
360 O
Fayal concorreo logo para Angra com alguma polvo- '^''rcejra & do Ca-
,
ra, murrão , chumbo , & ferro. A' Ilha da Graeiofa foy mandado o Pa- ^"'^'^ '"'"^ daGraciò-
dre Frey Diogo das Chagas, também Francifcanoj & acclamado là El> ^'"^""^ Correada
Rey vieraô de là para Angra peças pequenas de bronze, falcões,& ber-
,
ços , & fazendo-fe o mefmo na Ilha de Saô Jorge , acodio efta também
^J^, ^ZZlfl
ctnèraídl ArmÍM
^om o m|is que pode, & muy to mais com a peffoa do Capitão mòr Ma- dt Angra, '
^ *
^ li iij
f,i!
B
Uyro VI. Da Regia ilha Ter ceyrâr
i!
çfiiricada i &
outras íaiiiaõ da Villa da Praya , três legoas da Cidade , &
áilguinas do porto da Villa de Sáo Sebaítiáo , &
também algumas vezes
49 pi^incipal porto, ou hahia de Angra, mas de noyte, &
em bateis,
pQf que o demais ira pedia a artelhana do Forte de S. António , que fo-
tmha a Fortaleza grande.
^lê@, porto
|6i IModitoportode Angra, quando começou o ccreOj& a
gmfn centra o Caftello j naô eftavaõ mais que dous navios , dos quaes
te.m já eftava carregado àe>, farinhas, &
vinhos para o Brafil,Sc outro na-
,v«jt<a^Inglcz, & demais huma caravela, já encalhada no noflb portinho de
quem fe oíferecia a lhe ir cortar a amarra , & dar com elle à coíla , foy
defcuydo grande nao fe fazer affim , & contentarem-fe com lhe atira-
rem algumas peças para o aífundir , porque ainda aíTim o Caftello o pu-
xou * ôí encoftou a fi de forte que fe aprovey teu dos mantimentos que
,,
levavai& fó depois o navio, com hum temporal queveyo, & com ef-
tar aberto da nofla artelharia , fó éntao fe foy apique & os Caftelhanos
-,
gZ^ZIÔtTcI «^en^i^os P^^a a jornada , que fim iriaa Caftella levar o dito avifo^ & con-
L
telh, & lhe levou fiado O Meftre de Campo lhe deo logo tudo o que pedia , & mettend©
nhtyro,mantímenm, mais na barca huns poucos Caftelhanos , que levavaõ o avifo, o Meftre
^^algãsfoldadoi.fem Ingkz fe foy com elles metter no feu navio j porém tendo avifo dos
ir daravifv^CaJiel.
fo^j. contratadores que na Cidade eftavao , determinou fahirfe para Inr
ia, maia Inglaterra.
^;^^^ç^^^^^ ^ OS Caftelhanos, fufpeytando-o , huns fe lançarão à barca,
fugindo para o Caftello , outros íb lançarão a nado , & foraõ logo apa-
nhados ,
da Cidade i & o navio Inglez fe
& prezos pelos Fortuguezes
fâhio logo, Sc deo comflgo no porto da Villa da Praya ,& dahi para In-
glaterra, dey xando ao confiado Meftre de Campo fem o dinhey ro, íem
os mantimentos qne lhe tiroa , & fem aquelles foldados que fe lhe
prenderão. x
GAF.
Cap.XXXíV.DaArmâd.^ levitou aIlha,&foc.aoCaft.§8f
C A P I T U L O XXXIV.
iM
Do.frmeyrofoccofro que Deyo deÇaflella , &foy tofnêh *
â63 A Os
7.deAbril,cmhiimaterçafeyra,appareccodefroii*
/\
te da Villa da Praya hum navio , que Ghegandojunco ao De outrú àyàii toM
porto do lagar chamado Porto Judeo ^ foy conhecido fer de Caftellai i^e fidalgo MM»d
o
mento da Ilha contra ó~Câftello , fe offereceo a Felippe II. para yiti^'''\ j'*" f
^^
compor' os tumultos daquclla lua Ilha , onde os melhores eraõ ífeus pa-
^'''»*«'« «'
^W^i
rentes , &com elles comporia tudo. Creo-o Felippe, & entregoulhe
humariào comCapiraô, & Piloto Portuguezes > Ôcmuytos foldados
Caftelhanos: chegado efte navio ao dito Porto Judeo , tomou hum ba-
tel,&: linguanelle do éftado em que eftavaa terra,& aíTim perfuadio aos
da nào podiaó defembaírcar fegufos ; &-fazendo-o aflim j foraó os Caf*
telhanos prezes ,& os Portuguezes livres,& anào confifcada pela Ilha
para principio da Armada que queria levantar j & o Caftello ficou fem Mc
ofoccorfo» ^ j r
paíTadoipoucos dias àpparecèraÕ mais duas fragatas qUè
364
vinhaó com avifos de Sevilha, 8c querendo chegar, &
fallar aos
fegmdo trouxe outra homens j & andou quafi três mezesem hum navio da Armada da Ilha
companhia com e^ue Terceyia , fervíndo a S. Mageftade com grandeza , & valor , coma
andou na Armada (^UQm era..
de Angra.
^55 Defde meyâdodéFevereyro atei 5. de Abril partirão da
Ilha Tercey ra a Lisboa quatro avifos ai ElRey \ o primey ro foy hua caí
ravela de Gafpar Martins , vizinho de Angra , & a tomàraó os Mou ros^
& ievàraõ a Argel O fegundo foy outra caravela , que partio em Do^
A mingo de Ramos ,& tinha vindo das índias. O
tcrceyro foy terceyr*
'
'
caravela,que tinha vindo da Bahia, & partio em 25. de Abril, jàde4
pois de começada a guerra vinte & fete dias antes j.& nella foy com o
a^i
vifo o Capitão Joaò Teyxeyra ,& hum Religiofo Fráncifcanochama-^
do Frey António Paim O
quarto a vifo foy huma das duas fr^gatas,qué
.
nko^ & com outrat á^ ElRey tinha fey to com os Olandezes da Linha para cà ; logo aos 2 /,' &
yieraõdo F^j/4/,' (^ de Abril fepublicàraõ na praça com toda afolemnidade militar }&
a
Jndioí.chegou aonít bamo
Olandeza, ficou afoldo tomada para andae
mc{m(yC^^ix.i.6 y
uaoi a 'í^w^í^^ííe
com a Armada da Ilha, que com mais outra nào Olandeza queveyodo
^^y^^' ^ ^",^^^ ^^^ ^"^^^^ *1"^ também do Fayal veyo, chegou a Arma-
JfdZ^Ja/l^jI'
etadapfla/lhaler-
7ejra,
da a onze nàos, que íuftentava, & pagava a Ilha Terceyra , efperandqi
âS contrarias que de CaftcUa vieflèm em foecorro do Ca ftello. í
CAI?:
Câp.XXXV,Reb.& càoq.Sí iJoc.qaôCaft.tom. Ang.j^t
G A PITU L O XXXV»
í "afe^ís
bala de doze libras em humà parede de pedra , & cal , & de groíTura de (
três palmos, & furando a parede por onde eftava hum paynel de Santo
António, cahio a bala em bayxo entre caliças j Sc pedras que comfigo í
levou , & o paynel ficou iliefo , &: em fima , como d'ant©s j coufa que os '
go no feguinte dia o valerofo Capitão Joaó de A vila com toda a fua CafielhaMos,& nofi-
Companhia foy por huns campos de trigo qUe ficaó debayxo da zrte-^J!'"^* ^L* - J^í** !*
Jharia do Caltello, & comtalreparo damolquetaria,que
^"^^^'^^^^^ lacdmfuaCõpanhia
Redudodo inimigo, & o inveflio de tal forte , que o entrou, & desfez, (^ i(^f„o„ ^ desfez, ,
fem poderem mais fervirfe delle & foy efta huma das mais perigofas>& ao CafieRo hu Red».
;
airifcadas batarias, que houve ncfta gaerra.Ê nefte tempo levantou An- ^0 'juefahira (jue <* ;
era duas Companhias de Averttureyros , & por Capitães a hum Pedro fojffaçaaha fatal ;Je
de Betencor , natural da Ilha da Madeyra, & á outro JoaÓ Ibre, filho de
'4Z"amaílTZ '^
Belchior Machado de LemoS , com foldo de quatro mil reis ao princi-
Avtntmyros.
pio^ & três vinténs cada dia logo hiim joaô da Foníèca Chacaõ , caI^-
:
tratador rico levantou à fua cufta outra Companhia com foldadoS que
,
haU-.eb- demaài^ar.
^uy to murraó & baks de artelharia, das quacs havia jà falta ^ pelas
,
_
muy tas que continuadamente fe gaftavaõ 6c juntamente Vieráó cartas
y
prémios, &defpachos, aos que tanto os mereciaõ ; & ifto fó bailou pa-
ra todos íè animarem a continuar o cerco» &
a perder fazendas, & vidas
dos Capitães mores & outras peíToas do governo , mandou hum mu^
5
via dias fabia da offerta que fe lhe fazia , mas que naõ cabia em fua pefr*
^'^*^*'"*''*
S^ílf
'
"""*
foa,&c. E affim ficou a guerra como d'antes,& nem parou nos dousdias
deftasembayxadas jfenaõ fó nas horas em que hiaô , ^ vinhaô j & nem
em 30. de Mayo fe fez a prociíTaõ de Corpus Chrifti , mas fomente a fe-
fta em a Sè , onde pregou o dito Padre Vifitador da Companhia j & de
tudo logo veyo avifo a S. Mageftade a Lisboa em 5 de Junho. .
gente em terra , aonde chamaVaõ o Porto das mòs; o que ouvido mant ,
373 í*^^y tanto mais importante efta vitoria ,quanto feffl fan*
!«
gue, ou fejrro j apparecerem alcançada,
&ç ió cojB & £em parar Angra
j -. ^
com o cerco, & çonquifta doCaftello, nem efte com fua artelharia, Ded^Asnaoseleg^erS^ &
JHveftidas abayxp & «indamais, porqaeácow privado o Gaíteíio naõ ^tf"
:
'/^/^^^jXgo*
fó dos mantimentos, mas das mumções, & gente que os navios lhe tra- ^emaÂor do Cafltllt
ziaõ, que fó de pólvora eraõ caaío &
ciacoeataquintaes ^ ôcoutros tan- ^uevinba emftfijos'
tos de murraô j & miiyto ehumbo,inuy tas armas, piques, & inftrtimen^ corro com toda age»'
t&s beUicos. Por Cabo da íoldadfiíca. vinha hum D. Luis de Viveyros, ^'i ^ muniçoem f«^
irmão d© Meftre de Campo do Cafteilo ceFcado,&; dous Capitães mais "'^^^'*'
jEom fkias mulher^, filhos, & &
com fees Al feres , Sc Sargentos , & hum
Corregedor Pertuguez pa raj! Ilha , &
todos , tomadas as armas , íorao
prezos naquellâ noyte para a Cidade j IscoCabo D.Luisfoy kvadopa-
r^ oCaftfillo de Saõ Sebaftiaé com hutlia pataca cada dia para feu fuf-
teníQ 2í o Corregedor na Goliveuto da Grafa cora hum Clérigo <5af-
i
res, &: para o Collegio d» Companhia de JESUS nas quaes agradecia íjj^'^^'
,
^rímefl^é'
muyto à dita Ilha a lealdade ,& valor com que fe havia no cerco da l^^^içZes"é-neníònta
Fortaleza, dizendo: que tinha a tal Ilha nas meninas de íeus olhos, s„iseyrel &
que continuafl*em em tal cerco atè elle acodir, o que faria logo, pois fí»
cava ordenando huma nio de muniç6€S,&: atraz delia maíidaria hiia Aiv
mada de foccorro &
a todos pagaria bem feus fervicos.
\
çlles vicraó qilatro peças de brottze , huma de bala de 44. livras , oiitra
de 25. Sc outras de meisoí calibre , & cincoenta qoíntass de pólvora , 8c
duzentas &
cincoenta balas, 8r miíyto chumbo, quantidade grande áé
Riurraõ, duíetltas pàs , trinta pijdâíefâs , diazentas enxadas , qoatrocèn*
{^cípjadas j ácc. Ãctti^o era n€c#íla*ÍQis poí^^ue agu^erra mo ceffaTí.
íizm
M.
nem de dia nem de noytc, & todas as munições de guerra eram poucaaíj
,
I nm i
CAPITULO XXXVL
, , Do avtffl que o Caftelh mandava a Cafiella , que lho to*
mouaCtdadeié' de outrosfuccejfosdefie cerco.
ttha^& fe deo forte zaj & nem de dia , nem de noyte parou a artelharia, & arcabuzaria de
bataria de fartt a huma, & outra parte atè que pendo os noflbs huma boa peça na trin-
3,
fuccedeo Ioga, que pegando por duas vezes , por dcfaftre o fogo na> &
noflas
"PP
li JÉII
tofos mares , quatro dias , noytes , fem parar nem de noyte , nem de
&
dia- prevenindo osnoífosjnâo vieíTemos Caftelhanos ao
& comtudo
próximo a elles Portinho novo a bufcar bens naufragantes &
madey- ,
Companhia ào dito Balthezar da Cofta com tal repente , & fúria , que
lhe matàraô quatorze foldados, & ferirão fete, ou oyto, &
ao dito Capi-
taõ deyxàraó por morto com féis, ou (ç.t& feridas crivado: acodio porém
o Capitão Conftantino Machado como fcu Alferes Manoel Cordeyro 111 A
Moutofo, que eftavaõ àlcrca em outra trinchey ra vizinha,^ de tal forte
deo eftáCompanhiâ fobre os Caftelhanos,que dos noííos morrerão fó fe-
te,& outros fete ficàraó feridos, & fizeraõ retirar ao inimigo
com morte
de três, & muytos feridos, 6: ainda da outra Companhia defcuydada le- ^w^*!^
varão prezo o Sargento & dous foldados mas a que acodio , naó fó os
*
, ;
Machado, & ao Alferes Cordeyro fe deveo efta defeza , & final vitoria,
uela mwvta vis;ilancia,animo,& valor com queacodiraô
nefta occafiaô,
-
^
KK ^
m
5P^ Livro YL Da Regia líha Terceyra;
& oíinhaÔ fempre moftrado nefte cerco, & fe vè ainda hoje no capace-
te, peytos, &
efpaldares do Alferes , que moftra-õ as cutiladas , & jança-
das que aturou j &
logo os Capitães mòrcs melhorarão as fintinellas , &
reformarão as guardas das trmcheyras, pelos motins que o povo le-
vantou.
-
381 Em
o mefmo principio de Agofto de 164 1. chegou de
Inglaterra carta dos Embay xadores Portuguezes que là efta vaò , para
osJuizes,& Vereadores da Cidade de Angra da Ilha Terceyra ,& diz
aííim.
(Cm* àos Tértuguei 383 Naopõdemos deyxar àe dar a ejfa Ilha ^éfãK M. S, emfeti
KesEmbayxadoresde nopíes os pãfahns do modo com que tem procedido contra os Cajielbams,que
JngUterra fará a /. occupm ã Fortaleza de Sao Felífpe, porque a^s novas que checarão a efie Rey.
{ha Têretjra, „Q^g Inglaterra , aonde ficamos por Embayxadores delReynoJfo Senhor , do
valor i&fidelidade dos moradores dejfa ilha na occajiàoprcjenteypofio que
bem conhecida em outras pajfadas ^ acreditarão mêfó a elles , mas aos Por-
tuguezes emgeral , que devemos todos darlbcs as gfaças particulares pr efta
facçao^de quefabemospnmeyropelo Fadrt Francifco de JESUSnatural def-
. fas Ilhas i que aqm veyo ter com ofim CufioAio , fica em no a companhia & ff
fiazendo algunsfervi ços a Deos. V. M. S. terãoj a noticia das mercês com que
Deos em Fortugalvay contirmando efta obrafiua dejlas partes do Norte :
fia-
remosfaber a V
M. S. que temos affemadas pazês com eftc Reyno de Ingla-
.
terra^ &
com França , ér Hollanda eftdoyl caj)ituladas j é^ afifim para lo-
grarmos perfieytalthtrdade ^efperamos brevemente amfio de eftar ganhada
efi-
Fortaleza no que , ainda que hayadijficuUade
fia j
( que he notória } nao pode
fialtarfimventnrofo doque teve principio tamfieliz, mau quando ofuc- &
€effo efta librada nos braços de taes Portuguezes^ que Deos guardii^cLon'
dres^.de Julho de 16^1.
D. 4ntóã4e-AImada.
Aos Juizest ^
Vereadores da Cidade «qrrío í-ty^ír ;
í; A ]p:j t u lo xxxvii.
Dos fuccejjos âefte cerco defdeofim de Agofto ate o fim
de Novembro»
?j-sVí)í . fc! í.tO íiij >-.-i .;Sí; i;'«,V-S'!'i ..n>,J>'-ÍCii*
Os
dé Agofto puzeí^aò os Gof erniadoíes nó Rêduâro
384
A 18.
novo , acima de Santa Luzia ( lugar ímminente jpofto
que diftante do Caftello ) puzeraó duas grandes peças > huma de 44. de
,
^^^^^^^ ' ^ °"^**^ de 2 5 & de cada húa fizeraò dous tiros ao Caftello as
^'ãeS 'L^-^l^mct- .
r ^ atide^t'^íal 7de ^^^^ ^^ t3.Tâe,^z por naò faberem ainda o que curfavaõ/e vio dar hú tiro
iro do Caftello,&lhe
no campanário da Fortaleza, o qual eftáfobre as muralhas, & matou hõ
fezirandt dawKt. Cafteihano , & ferio outro j a outra bala deo na galaria do Meftre de
Campo 3 & lhe fez notável damno i & logo na manhã feguinte veyo fu-
gindo hum foldado do Caftello, & naô fó contou o referido , mas o ci-
tado miíeravel em que o Caftello eftava , & da nofla parte fe dobrarão
AÍ as
as vigias, & guarnições das fronteyras, ou trincheyras, pela temeridade
comqoe podiaófahir,defefperadosjà, .
caiavela trouxe o Piloto Lourenço Rodriguez > & hum fidalgo do$ de*'*" "**^. '^ ^^ '"'fj
Angra, Joaõ Mendes de Vafconcellos, levantou húa Companhia mais ?«*''»''''»/*>«íg^^«-.
à ÍUíí cuíki & as noíTas trincheyras fe reformarão tanto de fortiílimo pâo
piquç , ôc tanto fe chegarão à muralha do Gaftello , que jà a fua artelha-
ria naõ podia a ellas fazer tiroi &
tal vallado fe fez entre nòs, & a mura-
lha, que nem de pè podiaõ jà os Caílelhanos chegar às noflas trinchey-
ías, & &
fó mofquetaria fe jugava continuamente de húa, outra parte.
386 Em s.deSeptembro chegou caravela de Lisboacom hú 51^^ Setembro *-,
rf^-j 4-jA^T'-'T- ^ ef*t
«. . í
jir»
o f* , chtm ^
Gidadao de Angra João Teyxeyra,& cartas delRey pafa o§ Capitães ^^«My^z,^/^^^
X^.-
mòres^ & fomente ordens que fuftentaíTem ofitio & promeflas fó de boa, maij com cari
j
cubriraô. Dos cercados porém veyo à Cidade noticia , que atè dia de S. '"''*'*
^<^i
AligueloAnjoefperàvaô foecorro de Caftella„& naõ vindo traráriáô
f ntaó de bõs partidos êccntendeo-fe fer ifto , fó querer que nos def-
;
m II
&foiiberaõ as noflas , por hum» baFqttmba, q-iie do Caftello voltava
píHraas ílíâã ôaoscoia cinco homê&dtíS do^c^ite tishaò éntracía no Ca-
..v.%-n ciiiwn
Á asBí.'
5i«
ítcllo , ííArtierraõ ferei® Hólkiíd€2afi?áigtrts ftàos , &
vmh^ô«iallhadeSaõ GMftova^tíift asIlldiaâ'deCâfteHí^i Sc eng?nar
! ès *!6**it. ^*^ dõ Gaftello, ftm hberem&éâáào em qut elíe eftava cenra Ilha , fã."
^jvv '
bieníte^-Q fe aufentàraõ.
"'"-
3.8^ ]>íom€Íi3ieteai.fF<?felTíttdiõa€ft^r^chí5^eaiâc V
tantoyque huma djs nofe praya dê Sao MatEhe©^
líáosáecráeôftâ 11»
pÈ *#««M>Aíj^gj faívando-fea gente ffe peídêoôCaiéo,& atargâ quêjàcinha pârà^
foMado fugidcí d^ CâftdlOs
^f^fat* J^Í^ para Lisboa. EneíJeRidiífâo dia vephs«¥¥
£wl«/M* tnejkiT}» & aos í|. de Outubro ^ no Pprt-infho tmo , fe
íhe fótnàrâé doti^. fôlda-
eomi^ir^ms, »»- do3 j gutí levados a©s Capitães mòu^iU pé>fto$ a p^fgttríCais , unani-
&
jr<« ímmítnd»cimi,ée irieineBtB GonfeíTáraõ todes á úkimá ittiferiâ ,efffi ^uéo Caftdlo eftava^,
^t haviaJkt»m0f*^çp^ç^ atèôNacallhe podêriaô thêgm os ittitytô liffíitaddS manti-
tas^tUttMt '" J^*
*"' '^"'**" em ^^^^
mente», & que já clsegavaó â com&t tam^ outras irti muhdicias, & vô^ U
ftidos jà ffâõ tinhaõ .) nem maãs que atè %vt%mm peffoas que podeíTem
tomar armífôi & vindo aos 34 do m^ cartas dô^ fere HõUandczesj que
no Caftello tinhaõ fido âpanllados éiiganâdãiftente j
pedindo os tdpt-
tafíensjfelhesrefpondeo>qtí€ vieífem pafa bayxo j Sreàos trâtapiam
bem , &
naõ tiôhaô fido caufa dê fcu câíil^eyrío ^ ^«ra m deVerei» tti-
gatar- -^-
.
'
^ .'- ^-
39<à Em z8.de Õatubrõvé^ofugiruiôôUtrôCâftélhano^óU'
«$tK« ii-õ eto dia de todos ps Santos , ác éftf tâ t© fidalgo Pédrô de Gaftr© dó
Canto que lá eftâva;c3livo>ôií dírentdj pedindo matitiffiêntos ,éc nlo fe
lhe deferiò ôc aos 6. de
f veml&fo vitraó mâiã èms fugido* para bay»-
Nd
TtQiU confeíTáraõ demais , quéjáfiéâVâô íioGâfreliótnaisde qiiafen*
tà doentes j outros qtle de foiíieiSc fràqttóZá jà na6 podiaõâíidar. Doí
&
^.atèos i2. deNoveiiibro viêtaè ftlâtó (ftâctò fugidos i & pelas trin*
cheiras íe declarou ao Caftellaj qtíe<^â ttâõ úr^ qaê êípefâr foçcor-
ro, pois lhe tinhaõ totíiâdo oàviíbq<Í?4ia âp#Uoj âí os Gaftelhainõí
certificadosdiâodfiíma^árâ6;i^>:'^d^io"r$tíJiiii^i'nfc^- *
391 (^inta feyfa 2S. áeHòvefnbi^o ehegotti^^^
Lisboa com caftas dè S. Mageí^ader- qoe áviando dof e ha-
fe eftavtaõ
yios córtí mil & quinhentos homêà & , íeu General Tfiftaó de Mehdo-
ça Furtadoi&quefe cefcd átèfuâ chegada- Logo a 3. dé
foftèntaíTe
Deè^embro os Capitães mores, com voto poí éfcrito dôs mais CapitâeSj
íequerèraó também por carta aõ Meftre dêCâmpô do Caftello , man-
daíTeabayxo reféns nobres par ã tratar erti rtcgociósdeinlportancia.Refj
pondeo, que fitiados na6 coftumàVaÔi de que, fe qiveriaó alguma coufa^
à com municáíFem por efcrit© , & reipííadefia } & líàõ fê f f atott-^âis dé
t«lintento<: ^
?: 1 B^
iii
.:
CAPITULO I
XXXVIII.
^
kU
ttello, defemparàraô todos feus Redutos, &fe fecharão dentío da
Fortaleza , fem delia mais fahiremi & os noíTos deraõ com tal fúria nos
Redutos, que os arrazàraô a todos , & atè as madeyras lhe trouxeraõj
paraasqueynaaremem noíTas trincheyras pelo horrendo frio que na-
quelleannoi& tempo entaõ fazia; porém vigiando fempre em fuás
trincheyras. E entaõ mandarão os noíTos Capitães mores embayxada
ao Meílre de Campo , que largaíTe logo o Caílello como ElRey Dom
Joaõ o IV. o mandava. Refpondeo que tinha dado deíle homenagem a
ElRcy Felippe,& queprimeyro havia morrer entre as balas.
394. Entaõ os Capitães mores com o Padre Vifirador da Cõ*
panhia de JESUS , no feu Collegio fizeraõ varias juntas , & confelhosi
De como ^&lz.AMia
êí aíTentàráõ de dar aíTalto ao Caílello por mar, & por terra} paira o que levar 6 Caftdh de af. m
fizeraõ quarenta efcadas para amuralha da terra, mUytos,& muycòMí'/'^'»''^''. ^/""^
^'^'"* .éoim^^Aioj
j & tudo d
fortes barcos para por mar aíTaltarem em o mefmo tempo
reais iieCeíTario,& ^"^'^z^" f
convocando âsmiliciásde toda a Ilha, defencertà- "^ J/ *-
KK iij m
lilíi.
400 Livro VI. Dá Regia IlliaTerceyra.
ro hottve hum bravo choque ao pè da muralha, mas íem mortes de par-
te a parte,& fe tomou nova refoluçaô de lhes deyxarem acabar os man=
cimentos, &
tornarem- fe a propor alguns bõs partidos , com que íe en-
tregaflem*
3^5 Em 30. de Janeyro efcreveo o Padre Viíltador da Com-
panhia de JESUS ao Meltre de Campo do Caftello a carta fegvinte.
Peuco depou que mm
a efia Ilha enviado por ElRey Dom joao , nojjo
pá carta do Superitt' Senhor , efcrevt aV.M. com osfenhofes Capitães mores dellayprocmandope^
, tendtntf o P. Fra»>
Fortalezafem rigores de^uer^-
ciíco Cabral para o
^^^
V'^ tratamos encaminhar a reducçao dejfa
Coveraador d^ Caf-raj&comcommodídadedeV. Mmtflrosy& comofi naoconfr* M.&fem
tella, guio ú effeyto que pertmdt em cumprimento das o) des delRey , na& pajfey adi-
ante comtudo vendo agora que efles fidalgos tem, ceffado com as diligencias
:
•
'" ' "
• ^
ordinárias emfitiosfemelhantes ao em que V- M. efta, me parecefazernova
lembrança a V.M. da parte de S.Mãgeftadejpâraqm.vifto o ejiâdo das C0U--
faSi éy o aperto em que me eonjia efiar porfalta de mantimentos , & enfermi-
[ _ \[ áade da fua gente i trate V.Mde entregar ejfa Praça tpoú hedelRey Dom
.
Joav , noffo Senhor ifeyta em fuás terras , &com dmheyrode feu patrimoniot
fará que affímceffemmayoresdammSy&F.M.pojfafahirdefia Ilha com
beapaffagem que defejamos levando emfua companhia a fuagenteyé^ aofe-
5
nhcr D. Luú de Fiv^os ^fa tufazendo-fe com ter. dafua parte procedido com
tanto valor i &
ventagem , em tempo que nejie Reyno , ó^fuas Conqmjtas naò
ha Praçay que nao ejlejafugeyta a S. Magefiade que Veos guarde. E crea V,
M- de 'mm., que tanto me move a ijio oferviço do dito Senhor., como o de Deos,
ér quietação deV-M-é" certeza de quefe ijiofe dilatar hao de fucceder rui-
^
com a de V. M. para efcrever a quê fera com efia a D. Pedro Orttz de Mello,
qtieK M.mefarãpermittir fe lhe de ^porfatúfazer a huma obrigação dt
qmme emarreguey. Guarde Deos a F. M.como dèfejo. Angra 30. dejaney-
fo de 164.2. Frâncireo Cabral , .
396 Foy eíla carta por hum Sargento noíío com ta mbí^j Sc
por outro Sargento com tambor da Praça veyo a repoíla feguinte:
Governa' Reconozcoel zelo con que Fueflra Paternidad trata las matérias conte-^
'Mepolia do
^^à,as enfu carta iperofontàles^y tan graves ^ que mfepueden tratar por car^
der do Caftello para o
fadre. tas, mas a boca trate FuefirdPaternidad los médios que para eflopuede hà"
:
ver, para que affife dij^ongalo que mas conveniere dfervíCio de Dios^y de S,
Mageflad. Guarde nueflro Senor a Vuefira Patermdad. Cafiillode San Fe~
.lippe,á:^í. de Ener o 64.2. Don Álvaro de Viveros;
397 Com efta repofta fe refolveo
o dito Padre Vifitador a ic
p^a jio Goverfta P^-^^oalmente fallar ao dito Meftre de Carápõ, &debayxo de reféns,
Caftello , & o Alferes D. Pedro
4or7om plTr7,& 9"^ ^raô O Gapitaõ da artelharia do
"o
refém de parte a par* Orciz dé Mel lo que íicàraõ em ás noílas barracas entre
,
os noflbs ; & o
Zf , &fófe conclHirah Padre Vifitàdor com fèu companhey ro o Padre Màncel Monteyro,que
iregoas ate onz.e de depois foy Provincial de Portugal foraõ ao Meftre de Cam po , que os ,
lez/ereyro em
^ tor- efl-^va efperaudo etf) mais de roeyo caminho, em o pofto quc chamao, a
noH o Cfello^ d,f.
g^^^.^^ cuberta, que he pof onde os Caftelhanos defciaÓ aos feus Redu-
& a efta
«^^os alh veyo acompanhado de Chriftovao de Lemos ac Mendoça ,
reftonder, ; ^
&aperullocadavtl dejoaõ de Efpinola , & de feu Veador, &: Pag-adorj & fentados todos
em
Miii
^sm cadeiras que para iííb tinhaó vindo dò Gaftello , tiveraó taiíí larga
.pratica, que durou atèxarde , & fem fe cojicluir couía alguma > íóíe ã;^ ;' &vieri»% ^
laííentáraò tregoas ,por féis dias j & fe voicàraòos Padres com os feus re- Léí^-í /jíew ««'^s
^fenSj,debayxo,dDsquaes crés vezes voltarão os Padres ate osonztáQ.Í''»o*t^^*í^_^i'JLt*h
.Fevereyroi & acabadas eftas tregoas , tornou logo a Fxjrtaleza a chòV«r<S®^i
balas fobiq a Cidade ,& efta a correfponderíhe ,& apertaila cada Vèi! -^is.
& de Lisboa vieraõ dous avifos > mas avifos fó, & naÓ os foecortbs
•
jmaisj
.|)rpmettidos, fendo onze jà de Fevereyro^
39S
HL'
T7
de
'^
H- ^e Fevereyro , diâ de SaÔ Mathias , veyo à Cida: cmo/ipateoU a
embayxada do Meftre de Gartipo da Fortaleza com ffg^a da Fortaleza,
^
idaas cartas , huma para os Capitães mores j outra para o Padre Viíita- ^ íw 4. de Mar^à
dor da Companhia de J ESUS , dizendo que tinha de tratar coufas im-y* <#'»«..
portantes & que debay xo do eftylo coftumado fe viffem. Aos 1 5 veyo
-, .
armas nas mãos j & em tal ordem, que os Embayxadores fe admiràfaõ • M'^
,de ver tam luzida gente i& pofta em tam militar ,& prompta ordem:
daUi partirão da nofla parte para a Fortaleza Sebaíliaó Cardofo. Ma-
&
chado, o Capitão Jorge Corrêa de Brito &
Mefquíta êc os Envia- 5
miais de fetetitá ailnos êt pofto qoe nella naõ fe affina Author algum^
-,
delia fe colhe fór homem feèular íer verdadèyrò & lifo fem fe lhe no-
, , ,
tar payxaô a parte aígCiâ, pelo què a temos j §£ julgamos por rauy to vet-^
dadeyrãi
401 Eriá
m WÊmm
4^i LivíoVLDaRealUhâTercéyí-âr
401
'
Entregada a Fortaleza aos Capitães mòreSvque goVèf-
^apofeijiuefetâmofí^^^^^ a Cidade de Angra, tomàraó eftes poííe deila em nome do felii
ida Fortaltía, ^ftefe GÍÍIimo Rey D. Joaó o IV. & mudàraó-lhe o nome de Fortaleza de SaÔ
0kamoH d* Sãò ^eaS Felippe , em o de Saõ Joaó Baptifta 3 como fe chama atè hoje & fendo
j
feforaô os ^He^Híít- ^a Cidade fe achou morrerem em todo o cerco cento & vinte , & muy-
íFMpara C^fidla. tos das feridas que tiveraó. Sahiraõ os da Fortaleza com pa£tos honro-
fos, de efpada , & bom trato & muy to em efpecial o Meftre de Campo^
\
5c feu irmaõ & aflim a eíVes , corrlo aOs qlie com elles ít quizeraõ ir , fe
}
Senhor Rey Dom Pedro lí. que afíbmbrOu o mundo não fó em tudo o
mais, mas niuyto efpecialmeote na fidelidade, ámor,&: grandeza , com
que tratoii íempre da vida , & Régio regalo do dito Rèy feu irmaÕ } &
por ifib Deos lhe deo larga vida no Reynado, copiofa defcendencia le*
gitima, & hõa morte de verdadey ro predeftinado.
403 Ficou também a Terceyra no méfmd eftado que dean*
tes, quanto a toda a mais Ilha, porque a artelharia da Fortaleza naõ po--
dia paífar muyto da grande Cidade de Angrai& nem efta experimentou
Tuinas coníiderâvcis , porque fó o bayrro , a que ainda hoje chamaó o
Quartel , por nelle de antes morarem os mais dos foldados da Fortale*
2a, & a efta ficar fronteyro , & próximo ^ fó efte Q^iartel padeceo ruina
pelas baías de artelharia , & já hoje eftá , & muyto melhor , reedificado;
.
«V c^si^ , : Na FoTcateza p©0 fogo <J> S^fâfíiâínl© R.e^y ffeittjêáêb
í V^, ^t&àéio
àsffi^^Portaguezes da llJia ,òmeícao ás aaíeí tiirhà j Z)í m^s]? cenférv^ qm ^
ftô® om«dEfí)oxi^of decomtiiiuaexerekio i®'iUc»r , p6Fp€€iiaS'g^^ &govtrnah9je 9_td^
vigias j 6c todos os poftoS)^ Cabos de gtíerra q-iíe- havia ée aíiÊgS£,lc ^'«/'^
f^,ptefeK wieana)! Goyes^^iMdoc,. com ©$ meffllos; âatig^
éetrâzgr.ffortifigo guarda de alabardeyfos , &s de ja^ar ^ êt eafl%aí ò$
.feddsdos m>mi o £m Aiidicoir de guerra , & à& lhe d^are^ os- íòldiadorfc*
ífúmúãi âc dâ meccer guarda no poícodat Cidade > 6c no Cáfteiíô' de SaÔ
^baíliaój poíèra íbbre a Cidade imô CÉ£»)urií^kçãõ a-lgmnâ i ínenos &
íúhsc e G^pitaó asòrqiíe agóvcprta j Sc muyÊo rn&aos íbbre o Seaadú dá
.Camera> & feus Miniftíos> nemfofepe algaffi» êttdr^ f>ârte , ou peíToa dl
Cidad©, & (ktoda a Ilhai & poí ^o n^i^àCatiiefa^Váy * flem eoáhima
.^r ndla liígâí > ôc fó q lttgar-teBen€c d© CàpittÒ Dúú&t^tio de Aiigrai
^attdoí abafí Sc vay âlgamavez à Camera, tem lagaf àcimã dos Jttizes
ordinários >t«asaiíidâ,abayxod0Corregõáot, èôittô êOrtfta da fenteff-
'Çs^ que ÉÍtó flõ roíiftbo dá, melma Camera de AfigFâ /í?l. í 84. & da pofle
CA I* l T 11 L O XL.
í^í& cmmjlànáa^ghriofas , cornam a Tereeyra rende§
tfi âgt ande hrt akm y & qtt^ de^aíhnfe lhe
mi^ii'- A
Pifimeyc«foy,fer âiUnica teríajq^^iepelá AcclattíáçaÓdo
i r:. ;Oi Luíifcaflc^Rey Joaô o IV. teve^ Se fúftenf ou gttórra
Dom
íBontFa* íua inexpugnável Fortáleza^èc atôVecôrCada humatirlointey-
«Qinenoiviíice&trcSdiiasjde if.dô Mâr|ode 164,1. acè 4.4© Ovitro
Março de 1642. & naó fó por cerra com rrineheypas j fem jamais peíder
alguma j mas Cambem com fortes dèàftòiharias,férti algum the fer to»
«pado i & dqiic mais he y com Armada pôt mar , Ic íortiar à Fortaleza
saõ fó os avifos que enviava a Gaftellajma^ cambem ósfeons foceòrros
qpe lhe vinbaõ * atè com oirraaó do mefiílô Meftre de Gampô Cafte-
thi
HM
m
'
^404 LiríoVI.DaRêgIaIlhaT'erc€yrâ;i.JX,r-ia
deo a Angra ,( & o tirou da antiga fidalguia que a povoou , como ve^
remos ) hum naó menos valeroío , que liiuítre General da Armada An-
grenfe j & atè da Ilha de Santa Mana , &: da mais diôanteilha das Fio*
res, & da do Gorvo concorrerão foceorros á Terceyra.
fervàraõ nos filhos dos que as ganharão, & muyto menos nos netos.
m'úí4^^ Pois aos mais qtie ferviraõ nefta guerra, a António do
Canto & Caílro ( fidalgo de quem mais fe temia o Meftrede Campo
,
da Fortaleza, & por ilTo o defejava prender } foy neceífario vir fervir a
Portugal de Capitão de cavallos na batalha de Montigto , para por iflo
cntaõ lhe darem o pofto de Sargento mòr de toda a Ilha Terceyra, & o
habito de Chriílocombòa tença ,& chegar a fervir de Governador da
Praça que o queria prender j que quanto o fílhamcrito ^ ^ nòtotio pat-
;:entefco com muytos dos grandes de Lisboa, tinha elle já por feus paySj
& avós, & celebre trefavò Pedreaiíes do Canto. A outros muyto nobreSj
que ferviraõ com peflbas & fazendas nefta guerra, o que fe lhes deo bcj
,
que aos que por fua negligencia tinhaõ perdido o foro de feus avós ou ,
1
1^
Cap.XL.Dos íimiÊados prem.d0sqrendef.ailitaF0rtaI.4oj
. j^a^y^ • Uiv>«.iH^
Senhor Rey D. Joaõ o i V. que a Cidade de Angra , &m nome dâS títah
lllias,mandaííe, havendo Cortes , Procurador a elkf ylt qt8g áía;l Pró*-
curador de Angra tiveffe lugar em Cortes no priraeyfo bá-iKo dèltá*, Bt
com effey to o teve aííim FrarK:ifco de Betencor Avila lías Côf teâ &
Reaes,quefe celebrarão ean Lisboa noanno de 1642. Côítm cofrííadd
tombo da Camera de Angra 2 foi. 545. & o mefmo kgaf féve D.Prdrd
Ortiz de Mello , que depois veyo tatnbem de Angra aôuttâs Géftes. E
df&L 456. do mefmo tombo da Caraeráêfta o alvará dG>aiefn*ó Rey Di
Joaô o IV. pelo qual , a petição dos Procuradores de Atigrà f Sc pút aU
ienco tomado nas Cortes do annode 1653. a 2 2. de Qufubro j& pâíTâ*
doem 15. de Julho de 1654; concede© á Cidade deAiigra, é[tíèrtirncâ
haverá nella Vice-Rey , ou Governador Gtíneraí daís taes líhaí^ y Sf qtíé
quando o contrario paírecer conveniíote cm' âtgufii tem^, Í6 naé tOttta»
rà aííento , ou refoluçaõ nefta rojâtefíã , ítm prííweyrd- fef oMtiéá á Ca*
jmera da dita Cidade de Angra. iw^-;,,' -^i-r.í.
de fidalgOj a quem era capaz delle , & o ftaô tiwhà? j oiícPe hum haíbíto d'ô
Chrifto, deSantiago , de Aviz com mwtyCô péqitórlà rettçá;^ todos òi
maisficàraõfemfatisfaçaô alguma, dontra o e%íò dei Deõs , qiie feUl'-
pre au graenta o premio) & diminue o caftigOj^pois^ria^clwer feí beM fet^
vidovquom naõ fabe p»gaT bem.
:)ní:Wff.
CAP
4p6 Lívm VI. Da Regia Ilha Teíceyra;
CAPITULO
•».-\tv-ri<\-t
fim t
XLI.
Daspejjoas mau injignes em valor é'fanndade
, que da
ilha Tevceyra temfahido.
• /
412 VArões em armas aíFamados & naturaes daTerceyra te-
,
V"
Cap.XLI.Do Beato jfoaô Êftacio,tido,& haTÍdò por S. 40^
414, Ha mais de duzentos an nos eraõ Cidadãos dos nobres em
a Cidade de Angra da Ilha Terceyra hum Álvaro Pires , & fua mulher Bo injigue \ é-SaBè
das In-
Aldonfa Martins ,& deftes nafceo hum filho chamado Joaô Eííxcio ^a Miffionario
quem os honrados pays mandarão eftudar a Salamanca , & nefta naó fó dt^
F^f^^Ta^Zl
ehegou a tomar o grão de Meítre , & Lente j mas tanto fe accendeo em J"':^ ErtmZ.de S. .
^
o zelo da falvaçaò das almas com as novas que entaó vinhaõ das índias ^Jfttnhó^ ^ '
de Caftellà deícubertas , que deyxando a Univerfidade , & todas fuás
cadeyras , & Dignidades feguintes , fe metteo Religiofo Eremita de S./
Agoltinho no Convento damefma Salamanca ,& fe fez difcipuloda^
quelle grande exemplar de fantidade , o grande Santo Thomàs de Vil-
,h- Nova com cujo exemplo , & doutrina tanto fe augmentou nelle ò
;
no mefmo tempo fe lhe encarregou o governo Eccleftaftico daquelle De cerfio fo) tteytè
'^#<"=''» Cidade déa
VaftoBifriado, 6c provendo dê idóneos Miniftros as Igrejas , ajudando
^"J^^e»^? Mexm^
no governo aó Yice-Rey 6c náó faltando no Religiofo á Ordem, de
j
tal forte a tudo aeodia qué julgavaõ todos fer coufa milagrofa; 6c muy-
,
to mais à converfaô dos índios i de que atè pelo Bautiímo eráò innume-
íaveis Rlhos feus 6c g.iftados tre^e aiinos em tam Apoílolicas occUpai
}
íf::.: :-ii^s
que por virtude de obediência lhas mandarão defcubrir,& apontai
. os Superiores, & as mais calou fua profunda hurnildade. '
;
tcn
Cap. XLIÍ .De alguas ^elígiof. Saht.de S.Gohç.de hnfj^of
CA PI T U L O XLIL
Beo^^^i^y^^s^flfii^^^ cm fantldade da ditallh^
lerceyra.
também, que devia de fer filha de pays honrados i& ricos , dos quaes
herdou bensíSc animo para fazer tantos gaftos , &: fó por melhor fervir
a DeoSi&: de fua geração fc naó diz mais.
419 Chegada, &mettida em Angra rio feabufcado Conven-
hCia rcligio- D4 ReJigiifaMaâri
to, & paíTado o noviciado j como quem jà lá no mundo era
Maria Èantifial
tííTima Noviça nos coftiimes j proteflbu , & viveo ainda
muytos annos,
Freyra ie S. Gth§a%
& com tam raro exemplo de virtudes que todos os dias corria em o de Angra.
,
dé,& dcvoçaó fazia ifto, que fazeiído-ohumá vez por determinada al-
ma que havia pouco tempo falecera , èfta lhe appareceo , & deo as gra-
ças pela difciplitia com que tanto a aliviará,
'
)
•
420 Na
oraçaõ mental foy ícmpre tam continua , devota, &
que o mefmo Chrifto JESUS , em tWá efcolhendo o paflb em que que-
ria meditar o mefmo Seiíhor lho iinprifnia na alma tanto
ào vivú , que
i
olhando para a fua devota, lhe difle eftas palavras: Afaria yVivo, mor^ &
tv,{empré e/ie tm E(pofi. Com que
Senhor he efta Religiofa ficou confo-
-
ladíílima, êc de fe ver com Êfpofo taôOivino defejofa j continuamente
'-"''•'"
LI ij
yn-oVí.DâReálllhlTerceyTà.- :: - >
pedia a 0êos , qtae lhe defle o Purgatório neftà vídá , para qíiei emlâ*
hindo delia , foíFe gozarjogo da íua vifta, &
i naõ impédiíTe o Purgatoi
rio, que por feus peccados merecia j & nifto bem moftrava fua profun-
da hugiildade > fiia firme efperança , Scafàudade ^ ou amor de Peos em
quefe abrazava.
421 Ouvio-a peis oScnKorj&contrahio logoem amaÔdii
reyta huma queymadura tal 3 & de taô terríveis dores j & abrazadoí^
ií\qeíídi<^? eái o braço, q quem a via , paíinava de eomo podia tal (bfr.eri
feni fe lhe notar final de impaciência alguma ^ ou queyxâ 1 antes fera ro-
gíirpoj:íÍ,fófe lembrava então mais das penas que pãdeciaõ as almas
dp^Purgatorioj & por ellas maiidava eataõ dizer muy tas MiíTas, & Of.
« , . ^ ficios Pivinos i & experimentou ( cafo admirável! } que em quanto 0$
ZTkld0 ^^"^'^^^ ^ ^^^^s fe celebravaõ, naõ fcnf ia dor alguma. Taato moftr»
fT/Z
*'^'*"
tmo, O mçAno Deos como aprovey taõ às almas do Purgatório os fuSrâgiosi
que por ejlas fe oíFerecem , quanto ao Senhor agradaó> &: âs almas os a»
gradecem, & ainda aos que 05 oíFerecem âproveytaõ.
, 4?.? E ainda que éfte purgatório lhe durou largo tempo, mais
por lhe qperer Deos augnientar o mçritOj6í accrefeenrar o premio, che»
gou çomrudoo tempo de íua mortej & perguntando à outra Religiof^
que hiçrais teria ainda de vida êc refpondendo-lhe quis três atè quatrO|
,
iiniy to y ifi velmente fe alegrou, cç rendeo âs graças por taõ alegre nova.
Elogo a vicraôyifitàr, Sc acompanhar naquella hora as onze mil Vir-»
gens , & com ellas huma irmã fua j que havia pouco tempo havia falecia
do là em o feu Cabo Verde , fem ainda fe fabsr etjí a Terceyra porque
:
as onze mil Virgens aflim pagaõ ás almas fuás devotas , & a irmã feria
huma das que eila com os feus fuíFragiois tinha livrado do Purgatório^
^
" Sc defte as almas fàô muyto agradecidas. Finalmente aíTim fefoy efta
Religiofa Efpofa de Chrifto para feu Divino Efpofo , acompanhada de
cantas , Sc taõ fintas Virgens ; &
de'yxou com mua , ôégèral opinião de
&
huma fanta Religiofa ^ de cafta fanta. Véja-fe o Agiologio Lufitano
tom.i. iQ. de AbrilJit.l.
. .
ç éH No mefmo Convento de Sa5 Gonçalo da Ilha Terceyra^
^5Jâ^'^'íformçaomefmoAgioÍog!oZ(?.»».s. 26. de JM jit.Hi he dignado
Ij
Uioí*BritTt
eterna memoria Brites de Saõ Gonçalo , que fendo nafeida de pays no-
^onçWéxempíar de
humildade, & cha- bresamou tanco a humildade ,& vida Religiofa , que no principio da
fidádc. fundação do Convento veyo a elle pedir qile a admitf iífem para fervai
i & viíl© o efpirito dé fua vocação a admittiraõ,8E
do dito Convento
corneçou logo a excrcitarfe iios oêícios mais trabalhofos, bayxos,& hu-
mildes da cozinha j forno , éhférmariaj êfc. êc por tantos annos 5 & coni
íal exemplo, & charidade, que todas as Relígiofás a chamávaõ fuá
Má yj & a Com munidade agradecida de unanime voto de todas a fize#
j
liiuíica taõ Angélica, que a mcfma moribunda conteíTou que ouvindo-aj ^'^ <:<>«*['** muficai
tnconmto a
i|he pareeeo eftar jà na gloria 3 & de taõ celeftial cheyro encherão o ano- ^Z^"*'
fento, qae todas as circunftantes o perceberão , & admirarão ^^^^*^^^^- stnhor
omat muta^"
pirar, & fe ir com a Senhora, & Anjos para o Ceo. vilhai, "
9*'. -425 ' Deo o Senhor com milagres teftimunho neáe mundo da
gloria que eftafuà ferva tinhajà^no outro porque logo húa Religiofa,
j
hum vèo , que com tanta humildade j & taes virtudes tinha íido dado a
taÕfantapeífoa.
426 EmoGoiiventodeNoííâSenhoradaConceyéaôdeAn- „ e. «.i^ é^T
i
gra (quando de antes era de Religiofos FranciicanoSi que depois oioy, Ma,teti peoenahã^
& hojehci de Rcligiofas da meíma invocarão ) viveo o Venerável Pa- eifiata,
dre Frey Manoel Pereyra jvaraô deihtulpavel vida ,& de obedienciaj
zelo, & candura exemplariílima fendo eíie Guardião do dito Convcni
:
lhe queria mandar aígilmá còitfa j iífo podia faZer , itias que ào feu Con-
vento naõ tornaíTe , íem prirtteyro obedecer ás cenfuras da Igreja. Eri-
taô o Mèftre de Campo edificado íhe liiandou logo húa taõ boa cfraola,
que pàraTariosdias lhe bártotli
-í
427 Comeíleexempío.ácrtltíytosotitrosdefingulares virtu-
des foyeílevatâô tidoj & julgado de todos por hum Santo ,& como Déòúirè (èH tf-àfàí^
tal teve huma fanta morte ,& foy íeptiltãdo nc» Capitulo do feu Coii-^f"^^*"J''''*""fy''^i
vento i naó com menos kgriliiaà , do que íoUVores de toda a Cidade. E ^"'"^í* f''^^ í2
*
teve outro irmaõ fea na mefma Religiaõi chamado Frey Vafeo Garcia, ^^^^^
riaõ mcrios abalizado em fantiáâdéiéc de ambos faz mençaõ o Agiolo- *
^ :' l'
LI iij âz.dê
'll.í./l
4** I-OToVLDaRêgiaIlhit*èrceyrà»
r : vèraó , ôç moErèraó na ilha 1 erGeyra por iíTo os ponho aqui > porque
,
mos, & illuftres era íantidade, & de muytas Religiofas fantas, que flore-
cèraõ em muytos Conventos de huma Província taó Seráfica j & aind*
de TerceyrQSj& Terceyras da tal Ordem , que em virtudes
feculares,
foraô infignes. Refponde-fe porém com outra mais jufta queyxa, de
que, havendo quafi oytenta annos que efta Religião Seráfica eftá coní-
tituida em Província das llhaS; &hâvendo já mais de cento &; vinte an-
nos que foy Cuftodia , & muyto mais de duzentos qiie eftá nas ditas
^
C A PI T Ú L^Q XUÍL
DemupaimakpejJúíí3emperfeyçaõíHuflres^que âít
Terceyra fahtr ao ^
^F-
Câp.XLíILDoIllaftnf.Pnmàsa.oDiicn4:€D.Fr.Chr.4t|
entrcy no íeguiijÇíignnQ de i6^f- & dahi à poucos aí^íios, refpeytajido*
,{q 35» jníígneç içír.93 ^tíileotos > ik virtudícs. ao aitp x<.eytor , to) eieytOj
§>c nomeadg por Friín^s da índia :Ç)rien.tal , èc Arcebiipo de. Goa onde
,
veyra -, &
ultimamente teve outro filho , fendo jà o pay de quaíi oy tenta,
aijnos } ôc depois , fendo de. noventa &: féis de idade , mo foy âo Colle-
^iQ de Angra.eBicppiendar, para lho enfmar ena a Rhetorica , que eu^u*
taõiàlia. , .,,;
.-..- ::- .---
Aqui pòdè ter lugar o Venerável Padre Lourenço Ré-
430
belloda Companhia de f ESUS, porque ainda: quefoíTe natural de Lis- Do Venerável pAdri
boa, quafi toda a vidapâíTou emeftas Ilhas,& na Terceyra mais de qua-
renta annos. Foy difcipulo de latins , Filolofia , & Theologia em Go- ç,''^'2ht^Tt9lí^
^'"f*^ 'ri'^5
'**
. .
43 i Na 'Theologia Moraí, qile leo qiíafi toda a vida, foy huni
Oráculo t^\i<\\xQoQ3\iiàQySeãevacamey os Bifpos todos feguintes 6ç ,
de.fuas almas , mas fem elle nem faziaõ os teftamentos & taõ commu- ;
picavei era a todos que feus Seriiioes pareceres & poftillaS , a todos,
, , ,
ftoel de Farta
fe o Padre Maneei de Faria j q^e depois de illuftrar a Univerfidade de
xatU'
,
tos annos Moral, & viver íempre com tal religião, & obíervancia , que
nunea fe lhe ©uvio palavra, nemacçaõ fe notou nellé que cheyrafle a
peccadoi & âífím em o Collegio d^ Ponta Delgada acabou verdadeyrO
exemplar de fantidade* •.
\
Deftes grandes Padres foy ContcttiporaneCí otitro,natu*
434
-
M ejempUr raí da II ha do Faval, &: da primeyra nobreza delia , chamado o Padre
De / *. .
Padre f^ 1 j c-i / f . ^ j ^ *j lu j
Carlos da Silveyra
^arlosda bilvcyra, O qualnao qiierendoaceytar Cadeyras que Ihcda*
vtorto Mtffiofiario^^^i^^^ muyros Pregador no Collegio de Angra 8è'
antios infigne
^oí^f«íí(?íía»oj/«. competia na predica cora oPadre Rebello acima dito, & foy detant
imhaõ. grande efpirito, & zelo da fal Vàçaõ das almas, que fendo jà quafi de ctn*
coenta annos, pedio com tal inlbancia a friiíTaó do Maranhão, que íe Ihé
concedeo, ôc là foy pòr a coroa das virtudes à fua cxcellente predica , &
ofim*
T*"
^'XKMl
'
435 A eíie Padre feguío hum fea foibrihho j por nome o Pa^ ^^ . ^^^^, ^^^^
(dre Joaõ Teyxeyra , que naõ fo «ntrou na Companhia fendo natural o^^- j-tyxeyra m» ,
,
da ciita Ilha de baõ Jorge, mas eftando , coríio humanilta exteUente, c^m^, „ próximo (ek
lendo huma clâíTe em Lisboa no CoUegio de Santo Antaó , pedio tam- /w, eftando lendo em
tem niiflaõ, &: confeguio a da Índia Oriental para onde foy em ò anho Lisboa, 'pedio,& foy
,
^
de 1673.com outro-feu contemporâneo^ & também Meftre como elle ^Í'""/''? f*^*
"'"^
cm outra claíTe do mefmo CoUegio de Lisboa o Venerável Padre JoaÕ " "*' -*-
íiern para nella fcféguir i rieni jSara riella cobrar faude , riuriea ffe lhe eri»
Jente cftylo , como fe vè em hum tomo feu impreííb ; & foy tam exem-
plar, & de tantos talentos & governo^ que foy Reytorde Aragrai de El-
j
lhe merecèraQ menos a favorecia, & provia elle mais emfím foy Varáõ
;
iegío de Angra, & em poucos annos fahio taõ perfeytó Latino, Poeta,6c
K.hcí:orico,Ò£ taõ exemplar em procedimentos que a Gompanhiítde
,
para a celebre Ilha da Madeyra , & nella pregou , & leo Theologia Mo-
ral por muytos annos , & por outros fez o mefmo na Ilha Terceyra fua
pátria^ & dahi paífou a fer Rey tor da Ilha de Saõ Miguel , aonde pelo
zelo fmgular da perfeyta obfervancia Religiofa,lhe deo alguém muyto
que fofrer } & elle fe paíTou para Lisboa , ficando ainda là durando a fa-
ma , Sc continua memoria de taõ grande fugeyto , em todas as Ilhas on-
de eftevCi
44,0 Em Lisboa o efcolheo Saõ RõqUe por feU Pi-ègador, de-
pois o grande Gollegio de Santo Antaõ por feu Lente Real da Moral i
foy taõlingular,quenac fóem li, mas ainda em outros RetigíofoSj nun- ,;;st
reciaõ & a tantas virtudes coroaVa com tal amor de Deos , da falva-
j
çaõ própria, & do proximoj qiie acabada a Filofofia i pedio ir para a ín-
dia a converter gentios, & naõ fe lhe concedendo , fempre com efta mif-
fa© t'«nto lidou , queatèjuncd á iiioitê declaroií j que vários tomos mà-
,'
- .•.::,.-.,•-: .
íxuíeriá
41^ Livro VI. Da Regia ílha Tercèyfà.
mifcriptos, que de Sermões deyxava , tudo o que impreflbs fendefe
feus
fem , toíTem para os Miflionarios do J apaó , ôc China ) pois tinha licen-
ça dos Superiores para o determinar aflira j ^<: de fado fahio jà hum to-
mo impreíTo , & íahiráõ os outros , para gloria de Deos, & de tal varaõ^
verdadeyramente fanto,& fabio & quem ifto delle efcrevcj o fabe tan^
:
Í>es mafá
giofo obrador de innumeraveis milagres ,
.
&
efpelho de fantidade , Sc
dos de out ^7lh'
P^^i^^^cia , para encher muytos livros, como jà tocámos nas fuás Ilhas
OccidtpaHti,
Canárias & baftaria o grande Padre Leaõ Henriques , a quem em Roi
>
C A P I T y L O XLíV.
Bê iiiuilrijjtmo Martyr ^oao Bautifla Machade.
4i!
DA fanta vida j & gloriofa morte
deft§ illuftriflimo Mar-
tyr fc faz raençaô no Manulogio , oii M
ar ty relógio doss
'BafnaúgUriofeAn-^ Martyres , ConfeíTores 5 &
varões illuftres da Companhia de a JESUS
grenfto Faáre ?oai ^ ^ ^g Msi^o Sc mais largamente na gloriofa Coroa de esforçados Re-
j
Samifta Machado, j. -^^
" , txde -^1 ESUS,
^^ Companhia mortos pela Fé Catholica nas Con-
morto peia Fe Catho- " , „ , n 1 t» j d 1
Padre Jtíartholomeu
u
Uca em fapaõ co quiftas do Reyno de Portugal , corripofta pelo
j»ff prof6tiz.o}t íií / Guerreyro
da mefma Companhia j &
impreífa erh Lisboa no annode
mefm&emfm meni- i642.porAntotíio Alvarez , Impreflbr delReynoíTo Senhor, 4. fart,
^^i: cap. 38. mas porque fó recopikdan>enre fe faz a dita mehçaô & de tal ,
»
Cap.XLíV.DomayoíA mais illuílre Angrenfe, Mart 4^^-
depois mettida na fegunda fundação
<^€i<82 Acafaemquenafceofoy
fobredita Cidade j para que
do Coiiegio da Companhia deJiiSUS da
aíTim fe veja que efte fortiffimo Martyr
naõ fó com fuás excellentiílimas
virtudes » mas também com o material
de íua cafa, foy, hum como Fun-,
dador do dito Collegio de Angrai &
muyto mais porque efte fanto Paw-
dre, fendo ainda de leis para fete annos
de idade , coftumava jáentaô du
ir ao Japaó , & dar là a vida pe-
zer , que havi^t de Ter da Companhia , &
la Fé Catholicajôc tanto affim
tudo aconteceo depois , que parece que
como a ou«
Deos nofloSenhor jà em taô tenra idade lhe communicou (
que o Collegio Angrenfe dei-
tío Samuel ) o efpirito de profecia , para
Ilhas , ôc Con-
letomafíeo rniílionario elpiritoque tem para as outras
quiftas de Portugal & reconheceífe por feu
;
Fundador também efpiri-
tual a efte taô fanto Miílionario. ,
TESUS & taô religiolamentc procedeo no Noviciado , que tendo en- t)efua tntradd nÂ
i
quaíi três annos de Religião, & logo no de i6oi.com outros muytos ficou OCCPfltO.
Miffionarios partio paraaindia: chegado aGoa eftudounella aFilo-
fofia , & em acabando partio para a China & no Collegio ,de Macao eí-
tudou a Theologia & efta acabada , navegou para o feu profetizado
,
vemente & taô deftro fe fez em a lingUa Japoneza que foy logo pre-
, ,
gar à Corte de Meàco, & à Cidade, & Fortaleza de Fuxini & os cin- ;
á^s o Padre Joaô Bautifta Machado , & affim ficou com elles.
447 Os Gatholicòs Japões recolherão o Padre 6c o puzeraó ,
ms lilias de Confura, & nas de GottOj porém naõ fe dando o Padre por
iatisfeyto ainda , pertendeo logo tornar para a firme terra de Arima S^ ,
De c*m6 foy "°' P^*^ mandalla executar & logo accreícentou que aflim ao Tonoj
defcw j j
virem que deíde menino defejárá fempre ir dar a vida éhi Japaõ poç
,
m era ir prezo por amor de Chrifto ^ & pelo contrario os raefmos Gentios
otratàraõ fempre com toda acortezia, atè o metterem no cárcere de
Omura, a que chamaõ Corij & neíta prizaõ eftéve ate22.de Mayo,&
efcrevèo aos Padres da Companhia eftas formaes palavras:
4.49 j^s dores que aqMtpadêp fao too grandes , quefe parecem côffi
à mfma mortehemdiíofeia o Senhor , pais hefervido daUas^jà que os apeV"
:
amor de Deos ej^ero levar dou graças afuaDiVma Magejiade j que defde d
:
hora que me prenderão ate ejia prefente ? nao cuydojenao qua-ndo me verey em
huma eriiz , ou debayxo de huma
catana bemdito feja Deos , que ajjim con^
:
fola aos que por elle tao pouco padecem. Haver k quarenta di^s , ou mau , qué
me tratao mal eftas dores , ò" por efte lugar fer tao húmido me moleftao tan- ,
tOi que nem de noyte , nem de diapojfa repoufar j teriho-o por grande mercê de
Deos, j a que me nao da'o outros tormentos, receber de fua Divina mao eftas
dores qmfao como de morte dou^raÇas a Hoffo Senhor por me dar hua fe-
, :
rènidade , ^ quieta çao grande , qite ndo ha còufa que maii defeje yqueo efa^
padecer porfeua^or,&C.
temi, i,uvio,&^ceyJ^'^''^^^'^^^^à'
afenterça defiu
íoft 45° de Mayo do anno de 1617. &t
Chegado poisodia de 2 2.
martyria,& ds qm a fendo efte fanto Varaõ trinta Br cinco annos de idade , dezanove da Cò-
fda rtfjitndeo. panhia de JESUS j deZafeis de Miffionario da índia , & oyio de Prega-
" ~ "
'0 . dor '
r^
Cap.XLl V.Da ida pàraJapâOjpágfprilfáò JÍ.Joaõ Bâp.^i f
dor de japaô j entaó eftando prezo no cárcere de Omura , entrou nellé
o Governador Tomonanga Lino com a íentença que tinha chegado de
&
Yendo èc vendo ao Padre, o viíitou j converfou taõ familiarmentej
-,
que naó fe atrevia a lhe notificar a íentença que levava , atè que fez o
que mandava o Príncipe Xagum. Ouvio o Padre a fentença , & fomen-
te reípondeo eftas palavras: Três dias tenho ttdo nejiê mundo dejmgular a»
legrm frimejro , quando entrey na Companha de JESUS em o Colkgio d&
-,
Coimbra ifegundo, quandofuy prezo pela Fé nas Ilhas de Gotto j terceyro ef*
te^ quandojè me da, taí ditoja nova , como para mim he o morrer por tal cau*
iíto, perguntou logo o fervorofo Padre , que cafta de morte fe
fà. Dito
lhe mandava dar. E naõ fe atrevendo o Governador a dizer mais, fenaõ
que naquelle mefmo dia havia fer , o Padre mais aceefo no amor Divi-
no inftou que o perguntava , porque defejava que feu facrificio foíTe de
amiudados tormentos ,& que IhefoíTem cortados os membr«s hum a H:
iletrado , & taõ admirado delias , que tendo fido filho depays Catholi- ^"^^ «i
'^^»i^f*-fjé
.
cos & irmaõ de hum Padre da Companhia j & tendo ( no exterior ao ^"^'P^f"^
'^'* P^^
,
^ jTn'o/--jr • •/-' ri tença do martyrto^
ríienos } negado a t e , & esrriado-le muyto no interior , lo por ler hum ^ L?^ ^^^^^ ^
9em mor'
âos primeyros Governadores do Omurandono ,& lerfeu Valido, com- reopeU Fe,é'dafe\
tildo obráraõ tanto nelle as ardentes palavras do fervorofo Martyr, qucj^unda carta qut e«4
fiaõfó afimefmofe reduzio áFèCatholica, mas perfuadio a mw^tost^õffcrjytOi
íjue fizeflfem o meímo; & em vendo o martyrio do Padre , foy diante do
próprio Omurartdono, & publicamente confeíTou , & protettou fer elle
também Chriftaô Catholico , & eftar ptompto a morrer pela tal Fé. E
tuftou tanto ifto ao Omurandono , que furiofo fez logo alli em fua pre-
fcnça matar às cutiladas ao ditofo reduzido Tomonanga Lino.
45 2 Tanto pois que o Padre , feyto de amor Divino hum no-
Vo Etna, diíTe ao Tomonanga as íobreditas palavras , pegou da pennaj
iSc efcreveo ao Padre Sebaftiao Vieyra da Companhia de JESUS a car-
^a feguinte:
Agora , Padre meu , me derdo d alegre nova de minha morte , morr»
'muyto confoladojé^confadojpoiíhe pelo bom JESUS y&lhe doumuytas
J^ra^asi porque Ç ainda que a indigno ) mefez, t ao grande mera.
45 3 Companheyro deite Serafim humano foy em o martyrio
iium Venerável Religiofo da Seráfica Ordem de Saõ Francifco , cha- ^^-^^ iamèem M/d ir 'i
Ihado Fr. Pedro da AíTumpçaõ j o qual ouvindo a fentença de fiia mor- Pemorreo o gkriefò
te, refpondeo j que aquella era a morte , qUe elle tinha pedido a Deos Padre Fr. Pedro dÀ
todos os dias ná Miíía defdeo dia de Pentecoftes atè aquelle prefente, '^jftmp^aò FranciJ^
que era ó da Santiffima Trindade. E aflim morreo também martyrizá-/'*'''^*.
do, & com tal amor Divinoj que todos o conhecerão por Seráfico.
454 Chegada emfim no mcfmo dia a determinada hora para 6
martyrio, foy tirado do cárcere o Padre Joaõ Bautifta Machado ^ & le- I' 'mj:
vado fora da Cidade pííra lhe fer cortada a cabeça ; raas para iíTo naõ
foy ordinário algoz algum j fenaõ hum honrado ,& nobre homem ; por
fer em Japaõ cofturae, naó fe cortar a cabeça a peflba de refpeyto, íenão
por quem de refpeyto também feja :& he muyto de reparar ( como
|)ondefáremos mais ^.bayxo ) qiie com offerecèr o Padre a cabeça ao ta-
''
Mm ij
ym
Lif ró 1^4 D a kérsia Ilha Ter cèy^â:
«wTr^TvrLL I Vidos Mârtyresb Fadre Joaõ Bautifta MaGhaQo,& í^rey Pedro da Af;
manAoit Unc«r m fttnipçàÓ & 5 depois de innumeraveis Ghriíiáos os venerarem , &ado^
uíw*-.
'
lâreítij em diftintas covas os íepultàraô a ambos porem vendo o impió ;
fo! } viraô naõ fó os Chriftãos j más ainda os mefmbs Gentios , que ío^
fere as duas fcpalturas eftavaô duas eftrellas, & de taó exceflivo refplaa-í
dor, que attonítos j & confufos foraô dar conta de tildo ao Tyrannoj
Cõm que cfte , cada vez raaiis Dbftinado , & empedernido i mandou lo-
go lançar os fantos corpos, com as cayxas em que eftavaõ 3 no meyod^
alto maf, paraiHâõ tornarem a fer bufcados, & venerados.
•
'
456 O Ceoporèmfez também qiíedeJapaõaMacáo,&dé
Macáo a Goá , & de Goa a Portugal, & de Portugal à Cidade de Angra
daIlhaTerceyra vieffem ta5 verdadeyras novaS da gíoriofa morte 8c ,
"
Companhia dê JESUS & cottí o eitadoj & impreíTo Elogio do Padre
,
:. rentes -fizer ãò a eftimaçao qué deviao à qmrã erao com fefiejareM âs vião* ,
t • *"-
riaSié' triunfos que o Fadre João Bautifia wvè da idolatria Japonica.
45 7 Ao que tudo acCrefcento , que em á Santa Sè da Cidade
de Angra, ha Capella do Bautifterio , eftá pofto o retrato defte Venerá-
vel Marcy r por ,
allicomter fido bautizado •, U confeíTo ,
que riaõ fey
Hè éjúdnio feftfitjou
efta Âpoflolica mone
quem deva comparar taò admirável CorifeíTor de Chriftojporque jà me
afer Profeta & Saut
em Portugal "^^na parece hum Samuel ,que defde menino começou
,
,
r •
TómonaHga Lino, & ao leu próprio & illuftre Ajudante Leaô além j ,
( de
IW
Cap. XLl V.Dt eomo deve horâr Ahgr.aqaê tato a hor^4iJ
&
^
pre a pureza da Santa Fè Catholica, & por ella dar a vida, degoUado
também diminuindo- fe a fi por augmentar a Chriílo parece logo que
, :
Oeosconcedeo o fer May de tal filho! Oh adverte Mãy ditofa, que /"'^f»'''»' '*/''^^'«'"'*-^
atè a Virgem Mãy , naõ fó pela honra que niífo lhe deo o Filho , mas Ç^õ Catholica dejue
^*
pelo que a tal Filho deo com feu preciofo levtea méfma MâVj poriííof'-" /*' V!f f
-
toy)u]gAdztsoditoixBeatmventer,qiitteportavit-,&úbera,quaiuxifit. ^^^^ -
E o mefmo Chrifto diííe que mayor dita he dar, qite receber Beatiuí :
eJldarCi qi^àm accipcre.Aàvçnei digo, qtie pois recebefte de tal filho tan-
ta honra, obrigada' eftás a lha procurar,&: dar a elle j &: como haja quaíi
cem annos, que efte teu filho te deo á mayor honra j de morrer martyri-
Zado pela Fé de Chrifto em Japaó Sc té deo a honra de feres Mây de
,
hum Santo Manyr , ficafte obrigadiílima a lhe dar á elle a hoiíra mayor
de lhe alcançar da Santa Mad re igreja Catholica Romana, que o decla-
Fe, &canonize por glóriofo Martyr de (jhrifto,&: que por talentaõea-
lionicamente o tenhamos, Sc adoremos.
461 Nem fe retarde mais diligeiiciataógíoriofa das qu€fç de?-
i
*
Mm ul vem
•
gal o pedir por Real carta a S. Santidade ,& ao Sereniífimo Rey o pe-
dir a Ilha, allegando o quanto lhe merece interceder porella como
Papa , efpecialmente por fer ElRey o Graô Meftre da Ordem de Chri-
ftoj&deíla Ordem a Ilha & de todas as dos Aflores , ouTerceyras a
,
G E N E A L Ó G I A
Do ínviBo Mavtyv,
-•*-
Câp.XLIV.Posiliiiftres Âfcehdentèsdo Veheravei P. 4i|
de Entre Homem, & Cávado , & de outras terras & foy paj de Diogo dr de Dornella^^Faf*
,.
-,
Machado, fenhor também deDornelIaSi a quem fuCcedeo {tn {Aho ''"'^'^'^^"^^^ ^^fi^"*
Gonçalo Machado, que cafou com D. Mayor Mendes de Vafconcel-
los, íènhora defta cafa, &: da dé Caftro , por primeyra filha cje D. Mem
Rqdriguezde Vafconcelíos, quarto neto do fobredito Conde D. Mo-
ninho Ozorio que era terceyro neto legitimo do dito Rey D„ Ramiro
,
Terceyro de Lcâõ.
465 Dotal Gohçalo Machado, fenhor de Entre Homem Sc
Cávado, 6c das mais terras & Alcayde mòr de Lanholb , nafceo Vafco
,
chado , que cafou cora Dona Ignes de Góes fenhora da Louzã, em eilja
Capella mòr eftáelle fépultado} 6c foy pay de Francifeo Machado, que m
ao, Duque de Coimbra D. Jorge largou a Louzã, Villarinho, & Pedrc- \
gal pela Commenda de Souzel , & cafou com D. Joanna de Azevedoj Dos Machadarfekhó-
filha de Joaõ Peyxoto, fenhor da Calçada y & de Penhafiel , &c. Do di- rts daLoMsúi.Alcay^
to Francifeo Machado nafceo Manoel Machado de Azevedo fenhor ^"'«^''"í^f (?»*>»<*-
,
das fobreditas ten-as 3 & Commcndador de Souzel , que cafou com D, ^'^"i
^"0,
'
dç Soufa da Silva , cujo palácio eftà às portas de Santo André j &^ fe^^
gunda filha cafou com feu primo o Conde de Vai de Reys & do dito -,
he taô grande fidalgo , que efcufado he dar outra noticia de fua grander
za. O
dito fegundo Marquez foy varaõ de grande juizó , & prudência»
&
cpmo tal governou Pernambuco no Brafil, & agora o eftá governan-r
do D. Félix Machado , feu filho. E ifto bafta de noticia dos Machados»
de que foraõ os da Ilha Terceyra , pois também de lá defcendem aíTim
Q dito D. Félix , como feus filhos , por fua avò D. Luiza deMendoça,
que era filha de D. Joanna de Mendoça j &
defcendente legitima dos
primeyros fidalgos Monizes de Angra.
467 Dos taes Machados era o avo materno do fobredito Mar-
tyr, Manoel de Barcellos Machado , filho de Catharina Machado de
JDoí Bareeliss
, Li Lemos, &: por eftaneto de D. Ifabel Fereyra Machado, bifnetode &
wosyé' Ptrejroi. &
Gonçalo Pereyra Machado , terceyro neto de Pedro Enes Mâchadoj
•
de quem o noflb Martyr ficou fendo quinto neto porque a dita bifavò -,
Àiani
"
^^^^ ^^'^ ^ illuftres j & antigos Vieyras , pois nao lo a dita may era
filha de outra Maria Cotta da Malha, cujo pay Pedro Cotta da Malha
era cafado com Catharina Vieyra ma§ também o dito pay do Martyt
;
marão o Rico, porque o era muyto mais, & mais fidalgo, do que ou-
tro que na Terceyra havia do mefnlo nome Domingos Fernandez , &
ambas as duas , Branca Vieyra , & Catharina Vieyra , eraÕ irmãs j & íí-
fhas de Álvaro Vfey ra, & netas de Domingos Alvarez Vieyra, & a mu-
lher do dito Álvaro Vieyra * &máydas ditas duas irmãs, fe chamava
Iria AíFonfo de Azevedo , filha de AfF©nfo Vaz de Azevedo , dos kzç."
vedos em Portugal famofosj & efte Azevedo fica fendo quarto avò , &
o t)omingos Alvarez Vieyra terceyro avò do ditofo Martyr.
469 Eai^uí
-r^
Câ^.XLlVliDos illuílrésAftcn4éntes do Venerável P. ^t^
liios j Joâõ Dias Yieyra que cafou no JPicP , Gonçalo Dias VieyrajGo-
mes Dias Vieyra, V icente Dias Viey râ,& Ifabcl Vieyrâ, que cafou coni
Fedro Rebclio, o^al veyo de Lisboa a fortificar a Ilha Terceyra , éc
foy o que fez o Caíteilo de Saó Ghriftovaõ i chamado o dos Moínho«j
(Sç dos cães Vieyras ficàraõ muytas linhas na Ilha Terceyra , & empar-
<ia Silva, que emSaõ Miguel cafou muy to rica i &: rioBre mente, &;fe
voltou para Lisboa o dito pay Pedro Vieyra da Silvà j diefte me per-
jfuâdoéuque foy bifneto, ou terceyro neto feu ,0 illuílriílimo Pedr»
Vieyrâ da Silva Secretario de Eftado delRey Dom Joaó o IV. que de-
,
reyráj filha de António da Silveyra Pefeyra, o qual era filho de outra ^»i^*^vtjim7
Anna da Silveyraj que cafou com hum conhecido fiaalgo chamado Tri-
íf aõ Pereyra de qiie fallaremos no liv. %.cap. 5 & efta fua mulher Anna
, .
'iiadaíèy j &
nafceo mais Maíioelda Silveyra 5 qtíechamaô o Defcubri-
iiíHnflfttí
4Eg LivfoVI.DàRegíallhaT^rceyrâ:
dor dá Ilha nova , & defte fey que nafceo Dona Ifabel (ou D.Ignes ) ài
Silveyra, que cafou com Gomes Pacheco de Lima/oda Gracioía,& de-
ite matrimonio mlcèraó Chnftovaó Pereyra de Lima , António Perey-
ra da Silveyra, & Manoel Pacheco Pereyra, & por eftas vias fe encherão
as Ilhas dos illuílres Silveyras, & Bruns , como fe vè Uv. 7. de Saõ Jor-
ge, & Graciofaj & no /rá. 8. do Fayal, & Pico.
•
472 Relatada allim a illuítre afcendencia do illuftriííimo Mar-
JJw^«< ^í/íítfám j.yj.^^ggyg |-g
agora declararmos fua defcendencia porque ainda quô 5
&: pois vimosjà quanta^ & quam grande nobreza era a dos afcendentes
do noíTo Martyr, bem he que agora vejamos quanta ainda he a dos deC*
pendentes de íeus pays, & avos.
>
473 A primeyra, & mais pfoxima defcendencia dos afcenden-^
tes do noííb Martyr he huma legitima irmã íua , chamada D. Cathari*
sia Vieyra , filha dos mefmoS pays dos qUaes já tratámos acima , quan*
,
,do dos Vieyras. Gafou a dita D. Catharina com Joaó do Canto dc Vaf-
concellos & Camera , filho de Franciíco do Canto & de D. Luiza de j
D*s€aHtos'
C-áwíí-^^n^^^^^s^iaMadeyra) &deD. Andreza de VafconceMos , daquelles
rof &Fafi0ncellos.
Vafconcelios , de que também já tratámos nefta mefma Genealogia j 8e
oditoFrancifcodoCântoerao terceyrofilhodo primeyro Pedreanes
-
.do Carito i que no tal tefceyro filho fundou terceyro morgado, ainda
ique menor, mas naõ em menos illuftre varaô j ( como jà vimos no ca^.
19. §. A terceyra Unha-, ) & do do Canto nafceo outro fe^
tal Francifco
gundo Pedreanes do Canto & Vafconcelios que cafou primeyra vez ,
meyra mulher nafceo Luis do Canto , que cafou em Saõ Miguel com
D. Barbara da Silveyra legitima defcendente de outra D. Barbara da
,
^T
Cap.XLlV.Dos defcendentes ciacafa do mefmo Padre. 4
giiel Cambem : & D, Ifabel do Canto , que também
a tereeyra filha foy
ta & Vaíconcellos, que ainda vive, & jà bem velho, & pofliihiofempré
o tal morgado , como o poíTiihio íeu pay, & feu avò , & bifavò patcrnoS}
& cafou efte Ignacio do Canto com D. Ignes deCaftro, filha dejoaõ
do Canto de Caftro, & irmã de Manoel do Canto de Caftro, quarto ne-
to do primeyro Pedreanes do Canto,& fucceflbr do feu prinleyro mor-
gado , & do fegundo também que depois fe lhe ajuntou i & cm ambos
fefeguio jà ò primeyro filho varaõ de líiuytõsque deyxou o ultimo
Manoel do Canto de Caftro como também do dito Ignacio do Can-
i
%o ha muytos filhos varões, que por fua morte lhe fuccedaõ no tercey-
ro inorgado do primeyro Pedreanes do Canto. ^ ,
j^j6 É demais teve o dito Ignacio do Canto da Silveyra huma Dcs Rc^m ÉltiHil^
iègitima irmã , chamada D. Maria do Canto que foy fegunda mulher rn.
,
íbos eraó filhos de outro Vital de Betencor ,& netos de outro Joaõ de
Betencor, odegollado , & de fUa mulher D. Maria de Vafconcellos , fi-
lha de Gonçalo Mendes de Vafconcellos, neta do fegundo Mártir^
Mendes de Vafconcellos , & bifneta do primeyro Martim Mendes de
Vafconcellos que cafoíi com a quaf ta filha do primeyro Capitão dò
,
tra irmã do dito Manoel Paim cafou com Francifco de Betencor , filho
mais velho do fegundo Vital , & neto do primeyro Vital , & bifneto do
degollado Joaõ de Betencor, & de fua mulher D. Maria de Vafconcel-
los, & por ambos eftes bífavôs legitimo defceiídente dos afeendentes do
Santo Martyr. Deyxo as duas filhas mais do dito fegundo Vital , huma
D. Branca , que cafou coni Agoílinho Borges de Soufa , & outra que
cafou com Diogo Fereyra de Lacerda, & de ambas ha defcendencia. E
o terceyro filh© do primeyro Vital foy o outro Joaõ c?e Betencor &Vaf-
Dos Perenoí d- La~^^^^^^^^^ ,
CapitaÔ morde Angra , que cafou com D. Joanna , fiíhrs de
ftrdM. D. Francifco, o cja Graciofa, de que nafceo ojà dito Feliciano de Be-
tencor, & D. Maíia de Mendoça , que cafou com António do Canto &
'
Caftro, terceyro neto do primeyro Pedreanes do Canto, & de fua pri-
meyra mulher > & do tal cafamento ficara© duas filhas , que cafáraõ em
Angra. \
478 Do fegundo cafamento do fobredito Pedreanes do Can-
to, fegundo do nome , com Apollonia Teyxeyra , filha do fidalgo Gil
Fernandez Teyxeyra , nafceo Manoel do Canto Teyxeyra , que cafou
com D. Margarida da Cofta ,parenta fua ,& irmã de Joaô Homem da
Cofia, §r defte cafamento nafceo Luis do Canto da Cofta , que cafou
primeyra vez Com D. Francifca , filha de Dom Chriftovaõ Efpinola, Sc
^^^^^^^^ "^^^ ^om D. Antónia , filha de Manoel Corrêa de Mello , o dá
tiom^lUào Homem
dlcofia^&dosCaf. Graciofa ;5ç de ambos eftes cafamentosha
muyto nobre, & fabidadef-
tfllof Brancos,&Ef- cendencia. Nafceo mais do dito fegundo
Pedreanes do Canto , &da di-
ta fua fegunda mulher , nafceo Dona Luiza de Vafconcellos , que cafou
com D. Pedro de Caftellobranco -, &
defte cafamento nafcèraó três fi-
lhos, primeyro, D. Manoel de Caftellobranco feG;undo , Dom Ignacio,,
,
TT"
tilllif"''!'''!
los Machado , da qual naó pude faber o nomej fey porém que cafou com P^mflonm'j^
Manoel Pamplona de Azevedo , filho do primeyro Gonçalo Alvarez Wh
Pamplona , fidalgo dos primeyros que foraó povoar a Terceyra, & que
parece erá oriundo do Rcy no de N avarra j & da fua Corte de Pamplo*
fia, Sc de taô conhecida nobreza jque logo teve grandes datas de tcrrasf
no lugar chamado dos Altares , aonde fez hum grande motgado i & hú
deftes Pamplonas pela Capitania da Praya foy eleyto em Capitão Do-
natário, 18c tjoVernaddr delia j & por annos a governou atè que lhe fuc-
,
raÕ fendo os filhos j & netos do dito Chriftovaó de Lemos. Como tam-;
bemnaõfedeveemfilenciopaíTar, que Dona Andreza de Vaíconeellos
'
Tios Carvalhaes . "Bcr 484 E porque do mefmo António Pacheco de Lima foy feií
pe.<.S!ivejra4, er J- P^Y « *^"'^f^ primeyro Manoel Pacheco dé Lima , que caiou com Dona,
ifurcai.
'
Francifca Neta, filha de João Alvarez Nero,quedíifronteyrade Afri-.
ra veyo à Terceyra por Provedor da Fazenda Real ,& ouirá fuá filha
D. Catharina Neta cafou na Terceyra
^
com Francifco Dias de CarVâ-s.
Ihal,
TT
Cap.XLlV* I^im da Genealogia dfe taõ illuftiré íageytó^ 41
lhal,que de grande Fronteyro de Africa tinha taajbèlfiYÍSdo para a
Ilha, por ifío aqui cambem entraõ os fidalgos Garvalhacs. Do dito pois
FrancifcoDiasde Carvalhal nafceojoaõ Dias de Carvalhal, que cafoii
«oní D, Maria Borges Abarca, filhado grande fidalgo do Algarve Joaó
Borges o Velho , Sc de fua mulher D. Ifabel Abarca , irmã da primeyra
.mulher de Pedreanes do Canto o Velho , & da mulher de Joaõ Vaz dá
Cofta Cortercal; & por eftes Borges deyxáraõ os Carvalhaes o feu pri-
meyro appeliidode Dias, & pelo de Silvcyras > & aífim o filho do dito
loaó Dias de Carvalhal fe chamou Eftevaõ da Silveyra Borges * quê
Ipafou com D. Barbara Machada j & já fe vè que por eftes Machados , ôt
Silveyras,ficàraó eftes fidalgos Carvalhaes fendo dobradaraentc con-
fanguineos do noflb illuftre Martyr Joaõ Bautifta Machado. DotalEf-*
m
tevaó da Silveyra Borges , & de D. Barbara Machado nafcco Francifco
de Carvalhal Borges j que cafou com D. Maria da Camera & Canto, &
deftes nafeeo Joaõ de Carvalhal Borges , terceyro neto do primpyrei
Francifco , fegundo neto do primeyro Joaó Dias de Carvalhal , & pri-
meyro neto de Eftevaõ da Silveyra , & filho do fegundo Francifco,& jè
defte Ultimo Joaõ de Carvalhal ficáraó filhos,& netos, que ainda vivem
nobilillimos.
485 Deyxo a defcendencia daqueíle Joâô Borges o Velhoj
(de quem os Carvalhaes tomàraõ o appellido de Borges} porque a ou- ^^ vamiããet 'Íèr2
tra fua filha D. Catharina Borges Abarca , cafando com AíFonfo Anes ^'^''"^^^í^'"'**^
*
da Cofta Cortereal , o de Tavira do Algarve , accrefcentou aos Borges '*
mente âíiins tíaõ íaõ , os que fao defcêndentes conhecidos dealgu uni-'^-^ ^ffimdaãéi fa§2
CO tronco 3 pois por efta via então jfaõ já verdadeyros confa!iguineí)3,^T\*"T'" "^^^"^
pofto que por outras via§ poíTaÔ também fer affins pela afíinidade ton-ZJfV/f'''' V^'-^'^
trahida per caiamentos doS de humà com os da outra Imhà & manifef- "
:
mãadcs.
to he que todos os acima nomeados defcendem de algum dos afcenden-
tes troíicosdodito Martyr3afaberíOúdo tronco dos Machados, ou do
dos Vieyras, Silvas, 5c Coftas oU do dos Cantos Pachecos , Mellos, 6c
;
«leraSj m çmfím do tronco dos Sil veyras j Pereyras , & Bruns & ver»
-•'
:
.^^•.'
il
LIVRO
TT
^t
LIVRO
DAS .
VIL
ILHAS DE S. JORGEyl GRAGIOSAv
C A P I f UL í.
E o antigo , &
eriíditiílimo Doutor Gafpar
Fruftuofo, entrando a fallar das Ilhas feguin-
tesno liv. 6. ca^i 32. confeíTa j que fe pouco ti-
nha dito da Ilha Tereeyra , por naó alcançar
mais delia , havendo grandes coufas que delia
dizer i que muyto menos ainda diria das fe-
S| guintes Ilhas por delias ter alcançado muyto
j
f pergunto ) dizer nôs , que ainda que também fejamos das ditas Ilhas,
eftamosjá ha quafi cincoenta afanos fora delíàs j km' tornarmos là , &
compomosjà tanto mais tarde? Mas taes diligiencias puzemos em al-
cançaras noticias Vei'dãdeyras qile com á graça Di^/ina èfperamós ,de
,
a terra , mas também de porto á porto. Foy achada em vinte 6^ três de '
l^g
Livro VIL Dà Ilha de Sâojorgè^
Donatário efpecial da Capitania de Angra & que por iflb a efta fe unáo
,
&
^ ie largara muno pouço mais de huma legoa , ainda tnehois nas pontas ; & de huma , Sc
waii debita. outra ilharga, aífim para o Norte, cortio para Ò Sul tem boa meyalegoá
de terras fru£tiferaSi que vaó defcendo ate o mar j mas tambism com
&
muyto mato , muytas ribeyras, que aos que vaõ pelo mar fazem muy
viftofa efta Ilha , por todo o feu comprimento de mais de ãez legoaS} éc
os que andaô por terra , experimentaõ caminhos fragofos , Sr trabalho»
fôs.
C A P I T tr L o IL
. .
-. J (diz o jà citado Fruduofo) foy hum fidalgo Fllmeiigo,&
Zfr^tllufllrFU
muyto rico natural da Cidade de Bruges, chamado Guilherme Vani
à
Zr^go GmieLé da ^^^^'^, ' rafado com igual mulher , & ambos Catholicos , &
ella fe cha-
Silvejra. mava Margarida Sabuya por fua qualidade , & riqueza alcançarão li-
:
cença para virem povoar huma daS Ilhas novamente defcubertas, qual
mais lhes cohtentaífe trouxeraq de Flandres à fua cuíla dous navios
:
ge fe feria bsm fruftifera , mandava era cada hum de diverfos fitios abrip.
na terra homa boa cova & aberta
tornava a mandarlhe deytar a tcrrá
,
Villâ do Topoj & tam bem lhe fuccedeo a íua experiência , que das fe-
ímenteyras que fez naquelle íitio , houve anno que deo feílenta moyos
de trigo ao dizimo porem comoi lavradas ,
: &
cavadas àqucllas terrasé
vieíTem da alta kxjk , ou efpinhaço da Ilha fobre as terras âè muytas ri*
beyras , &
levaflem a terra folta ao mar , em poucos annos fe tornou et
teril áquellc fitio de terra , &
mais para cabras , do que para fementey-
rasj &
o Guilherme da Sílveyrá deyxou aquella Ilha de Saó Jorge , fe &
paíTou à Ilha do Fayal , jà também defcuberta , como em feu lugar ve-
iemos, ficandoos mais dos companheyros em Saó Jorge, que povoarão
a Ilha na forma íeguirite.
7 Adita Villa do Topo foy a primeyra da Ilha die Saõ Joi-gej .
eftá fituada em hum alto j cercada de hum alto rochedo pela parte da "^ »'*»^»'í?^ >*»«•
terra, & pela do mar do Sul com rocha tal , que fó bum caminho tem, & ^
T! Í"^^
amda que de carro ^ tanto em caracol j que trmta homens de cima fe po- ^eçar a Ilha comeis
dcm defender de mil^que eftejaó em bayjco.A dita Villa confia de quafi /a pela parte do Sal;,
»oVertta vizinhoáícuja Parothia hé da invoeaçaó de N.Serihora do Ro- & confia dt perto dé
farioj & defronte defta Villa do Topo em o mar eílá \iã raio Ilheo , eni "'" viúniíos, &tem
cuja terra lavradià,que leva tihco moyos de femeadúraj fe produz muy- ^f ^^^^^ defronte ^ut
to trigo, fora muyto gado , que lio dito Ilhèo fe cria , & eftá apartado da *"'-'^' ^rigo^^g^ii
j^
"'
Ilha fó dous tiros de arcabuz, & com tudo paífaó navios enti-e o líhèo,
1
& a Ilha , aonde fahe huma ribeyra de agua doce de huma pèfenne fon«
i
liri
te da Vilía , ràás á rocha delia he de tufo & feyta ao picaô , com que fi= li
,
ta a Villa bem fègura^ & o llhèo corn ellâ. Meya legoa adiante eftà huiii
m
higar j charnâdò á Ribeyrâ fcca , por levar pouca água , mas todo o an-
»o correi & os tafáes que aqiii ha, faô da jurifdicçaõ do Topo, & là vaS
euvirMiíTa.
8 Diias legoas adiante, peid mefmò Sul, fahem pouco diftan-*
,
tes ehtrè fi j onze ribeiras j com alguas fajãs intermédias , & cinco moi-
nhos, & vários morádoresj & logo o lugar, & Fregiiezia de Santiago, de ,
^
, .
íeífcnta vizinhos efpalhados por huma legoá de terra & tudo o mais ao
redor teri-as de paõ, & bifcoiitos de vinhas & huma legoa adiante eftà
fSLaíe '
,
j
J;;.,i w/r" & '
m mm
Livro VÍI. Da Ilha de Saojorger
íèu Orago he de Santa Barbara tem fetenta fogos , mas tatttfeeni ef«
,&:
palhados , com huma legoa adiante de rauytas vinhas, & depois deftas
muyta lenha , & mato j ôcdahia meyalegQaeíVá a ErrRidade Nofla Se-
nhora da Luz que fundou com fó efmolas húa Beata chamada Catha-
,
rina Cardofaj & nella viveo com raro exemplo de devoça6,& virtudes
& mqrreo de cento & dez annos j & andando raais hum quarto de legoa
fahe ao mar outra ribeyra , onde eítá outra Ermida de Santo Amaro , Sc
outro tanto adiante fica outra Ermida de^.. Senhora dos Remedios,oU
da Piedade.
9 Segue-felc^o adiante voutiro quarto de iegòa ia principal
&
mais nobre Villa, que chamaõ das Velas , cuja Freguezia , Matriz &
ttYetfrA &
prinei-
he Saõ Jorge tem Vigário , Cura ^ Thefoureyro ,
: &
quatro Beneficia-
,
tifee.
I© Indo por diante humquarto de legoa da dita Villa das Ve-
las, eftá a Ermida de Saõ Pedro, &dahi a quafi legoa eílá o lugar de
Tem ofítrós maym Noífa Senhora do Rofario^ de cincoenta vizinhos &na5fó o lugar, ^i
higares para oSulatè mas efta ponta (em que acaba a Ilha da parte de Oefte} fe chama a
Acabar a Ilha dapar- Ponta de Rofales & logo hum tiro de béfta ^o mar eftá hum Ilhèo , fi"*
}
hT
GAP-
W '**
mm
C A P I T U L O III,
-li f^T O ann© de 1 5 8o. em 28. de Abril no dia k. noyte tre , > ,
USI meo êfta Ilha oy tenta vezes, & outras tantas em o terceyi
ío dia depois, no qual, & fó meya legoa da nobre Villa das Velas, & na
fajique chamaó de Eftevaó da bilveyra, rebentou tal fogo por duas ba»
cas, que deytava pedras taõ grandes, & taõ altas , que íe perdiaõ de vi-
j^^ ribeirtu dí^o à
fta, & hiaó cahir no mar feytas pequenas a terra fe abria era gretas, for- ^«^ dos
:
terremotos
mando horrendos vallados eahiaõ as cafas do campo j ao primeyro/íí;E?íV<í5 ao mar
) & , &
de Mayo correrão duastaes ribeyras de fogo por toda amanhã ^tèon^llefizeraõhufatsí
meyo dia que huma
, foy direyta ao mar , &z paííando por huma alta ro- '^'^^U^ defirttiçaõ ^
cha , cahindo delia a desfez , & no mar esfriando fez hum
que fí.^-/^^*'''**' cães ,
cou como feyto , & compofto de forte pedraria èc a gente pafmada naõ -,
fabia para onde hou vefle de fugir, & do pafmo morriaõ as mulheres quê
fe achavaõ pejadas, & a mais gente andava em prociíToés pela Villa pc*
dindo a Deos mifericordia.
I
13 Do dito tempo a féis horas fahio outro fogo de outro pico,
& tanto mais furiofo, & mayor que correndo fobre as melhores vmhas,
,
mil cabeças, & todas as abelhas que havia naquelles traâ:os;&foy Deos
fervido que correffe entaó vento Oefte & Sudoeftc , que tudo levava
,
aos matos, & nem chegava ás fearas de Lefte , nem à ponta de Rofales,
&; Villa das Velasj & neíla ainda aílim , nem à Igreja fahia de cafa a gen^
te jpor naõ fe aíFogarera com tanta inundação de cinza , que três dias
depois fe naõ podiaõ abrir as portas com a cinza de todo entupidas.
14 Duràraó os taes terremotos quatro mezesi& cada vez mais
íremendosi& de vários portos da Ilha fugiaõ em barcos muytas pef- -^'/''^^' ^^* ^'"'^
^^rrcmom, &
foas para outras Ilhas j Sc a Villa das Velas naÕ deyxando embarcai pef-^^^J'
í,oa alguma, tinha jà comtudo preparados muytos barcos , ;ltè de outras **
iirfi r
n"k
Livro Vil. Dá Ilha de Sa6Jorge.
ws teríemotos , acodio ã Ilha Terceyra iiaó fó com manfiííi€Btos j 'M
embarcações, mas eora o douto, 6c Réligiofò Padre Pedro Freyre,Mif-
íionaFioinfigne da Companhia de JESUS , a eujas prègaçoens fe fize-
Ihfictdno,& Mif- raõ grandes penitencias na tal I lha, feconfeílavaô todos, &íe compu
^7^'S L
^ZmvSH^lm ^
"h^^ ^^^ ^°^ ^®°^ i fabendo o dito Padre dos muy tos ódios , de &
& &
mi mandou 4 Ilha quarenta demandas, querelas âfrontofas , as teftimunhas falfas que
Ttrttjm* havia , foy tal o zelo das pregações do Padre , que naõ fó todos , pu- &
blicamente fe perdoarão , &
fatisfizeraó, mas indo ás cafas dos Efcri-
váes das querelas , de commum conlentimento , naõ deyxàraô delias
feyto, ou papel algum, q»ue naõ queymaflem: &
Gom ifto paràraó em[
fim aquelles terremotos , &: caridentes caftigcs de Deos i que naõ quer ^
morte do peccador , mas que fe converta , & viva j &
defde entaõ par^
cá, taó horíendos terremotos, que faybamos , naõ houve na tal Ilha ,maà
Çaó do invido Rey D. Joaõ o IV» nunca a Ilha de Saõ Jorge fez mais
que feguir fua cabeça a Ilha Terceyra yO que fe fizeííem todas as mais
Ilhas naõ dariaó tantas cabeçadas , como em feu lugar já vimos ,
, & ve-
remos fempre, tanto que fe defunirem.
C A P I T U L o IV.
parte onde a Ilha dá entrada boa j como em a principal Villa das Vclasi
^li)
& feu feguroportoj ahifem Fortaleza, 6«artelhariaj&: algus quinhen-
toshomés de armas que baftaõ para da
, terra impedirem aquém pelo
mar quizer nella faltar.
Io A
Cap. IV. De algUâ^ cxcellenciás áa talUliâ* 4| t
temperamento de feus ares » que naõ Tè fabe que nella houveííe alguma
D<}c!ifiía\é' aèm^i
hora pefte , teado-a já havido em outras Ilhas ; ao xjue ajuda muyto a
^^'^^^Jç ^//^«"í*
grande abundância de aguaquqha neftá Ilha, porque atè o altiílimoef- //^^^e5.a,rge,c^<Í4
pinhaço , ou ferra que lhe divide o Sul do Norte > & que corre de Lcfte Urgm^iàA^ ^Çmàt
â Oefte j contém muyCas àlagoas, fora as muy tas ribey ras > fontes que f ««r neiln (e logra,^ &
&
tem por Norte, Sul, Sc todas de agua doce, & fadiaj com fer raô ef-
íreytaallhaemalargura,& fobre terras raõ frefcas o ar raramente fè
(Corrompe , ou fe perverte em pefte ôr.por iflfo nefta Ilha ícvivc muy*
-,
£p, Sc cora boa faude o que rouf niuradores attribuiraó a naõ haver nel'
;
la Médicos de proíiíTaô » que parece j onde faõ rauytos j ahi faõ mais aí?
doenças jfendoqueeljesas naÕ fazem , & fó pertendem desfazellas 3 &
prefervar delias aos fnõs , &: os vícios faó os que as caufaõ.
20 Qiiarta excellència he a qualidade , abundância dos fru- &
tos da tal Ilha porque primeyramente he taô abundante de miiyta r^
j
q^ f yfíHiiaáe dê
boa madeyra > que naó fo para o gafto ordinário & neceflfario fempre, ^^^^^^ grandeKj* dè
,
inas ainda para fazer navios, 8c navios grandes tera toda a que fe reque- matos & màdeyrat^
,
,
rPi & íobre ella toda a cafta de aves^ de perdizes codornizes gallinhâs, & de imtimeravsis
, ,
golipavoSj & innumera veis ades, & atè das de mufica excellente como g<*^<>^% Uãiamos &^ , ,
canários j melros, &c. muyto^ coelhoá 6c também muyto foraõ ^ & infi- excellentes
vinhos.^
,
bras, & das ovelhas os melhores queijos que ha nas Ilhas , Si: excellentcs
lâíSticinios de arvores tem de toda a cafta , & excellentes ôc fru-
: frutas ,
três mil pipas de vinho cada anno,&era alguns aftnos maís; porque^
ainda que fe queyraàraõ tantas vinhas em o fogo dos tremores , com tu-
do neftas Ilhas fe planta , Sr da o melhor vinho entro o bifcouto quey-
niado; íc affim odefta Ilha he generofoj & bufcado,
21 Finalmente detodos feus frutos tem a Ilha de Sao Jorge
gafto certo , porque ainda que naõ feja muyto frequentada de navios*
tem tantos barco;; grandes, &i de duas, ou três velas á que charhaó Ca-; ,
ravelóesi qttè levando tudo à Terceyrajnaô fó lhe vay defta o dihhey roj
nus tudo o mais iieceííarío , Sc faz o officio de Qjínta grande , Sc nobre
dá Real Cidade de 4 ngra.
ts^/sJTq
4P Livro VIÍ. Dáeicielleiítc Ilha, dracioíâ*
ii : iJ_
C A P I T U L O V.
ifiõ iegàdi ao
& fica
32
em
A Norte da IlhaTerceyraiOyí
Ilha chamada Gjfâtiofàeftá ao
to legoas de terra à terra ,& de porto aporto doze legoas^
trinta êcnóVe gtáos, &meyo fua altura corre deLefteã >
iNorte da Ma Ter- Oefte em comprimento de perto de quatro legoas ,em largura de mais
cejfrajcorrt de Lejte de huma legoa de Norte âSulj & com oyto legoas em circuito ,fazeH*
n Oefie cem quatro do figura ovada , U com póUGos montes taô playna , & aprazivel que
$ ,
itgoat d» conàfrimê-
por iíTo lhe chamarão Graeiofa > & com mpy ta razaô porque não fó ni j
f.^&mais diUgiaa
^ Urgura^é' co»ifi. terrai & na planicie,. mas também nos frutos lhe fez Deosefpecial gra*
gura ovada, é- mais çaí& muyto mais na illuftre nobreza de que fe povoou j como neceíTaJ*
4* tyto UgoÀs em >;#- ria, & largamente veremos abayxó.
àondo^^em fima taS 23 A maritima colla defta Ilha, de Lefte a Oeílc, & pela ban*
> & a ra*
flayna^&aprazÀvtl, da do Sul , começa erh hús Ilhèos que chamaô os Homiziados
^for ijfolht ehamk. zaô foy notável
ipofque noannade 1541. indo da Ilha certos mance-*
tai Graeiofa.
bos doá principaes recrearfe aollhco, &
mettendo-fe fós em humbatelà
fem homem algiim do mar , chegando , & tendp jà apanhado muyta eaw
Começa de Lefie, & ça , pefcado, &
marilco j &
voltando jà tarde ao batel , que tinhaõ dey*
fela parte do Sul ^cõ xado em huma poça, ou defembarcadouro único dotal Ilhèo> naô po*
h»s llbios cjue cha'
mavaõ os Homtn.ia.
dèraõ embarcar, por fer jà noyte, &
a maré fer vazia^ & o mar alli fey ai?
4P'3fO^G*^P>notavtL
to,& de coíla brava , & medonha , &
allim fe tornarão para o Ilhèo, 5c
menos no outro dia fe atreverão a paíTar tal mar. /.'"i
chamavaõ pelos do Ilhèo, eftes lhes naó podiaó acodir, & dos ditos cin-*^
CO fó hum fe naõ aíFogou , António Vaz Sodrè a quem hum mar lan- ,
çou em huma furna do Ilhèo < aonde nunca tihha ido homem algilm.Ao
outro dia pela manhã íe foraó os {çx.ç, do Ilhèo , com o que dos cinco ti-
Mey* UgoA adiante nha efcapadò,&:jà mais acautelados de feus folguedos tomàraô outro
«fia, hum bam porto caminho de legoa & meya atè o poíto da Villa da Pfaya mais defviadof ,
limpo.^& de bõ porto. parte do Sul, cftá hum porto , a que chamaô Carapacho , mas de batéis
fóí
i
:
Cap.V.Dagraiide^a/áccòftasclaCjraciofá. 43)
fó, c}Me nelíe entraô com niarecR^a, & 6 ma r^eTora neTaç íimpoj que
podem ancorar quarenta & por líTo alli ha Fortaleza com artelharia
3
ta , que em 1 5 81 . &
no raeyo do caminho ti moreceo hu m homem Sè ^^^ ^^'^^ ' ***
,
caíiio. .em bayxo & dahi a hum anno cahio outro , & mais eraó ambos ^
j
naturaes da terra & por iíTo atai rocha vaó moçoszinhos, que perdem
i
toaapanhar,^ ;:
Maisoutr^ íe^oaaZ
^,,
- i26 . Deita rocha a numa legoa eíta huma ponta ao mar, com 4i^„ieejUoHiropor^
hum porto chamado de ÁíFonfodo Forto, que he ló debateis para pef- to, cnjaumca defci-
car; &c no veraó aos inimigos lhes cortaó o caminho , 6c naõ fica porto, d^,&fuhdi,faz.dr_
nem caminho por onde và alguém abayxo, & menos por onde lubaaci- desp.i. cada tti^ .
í^'*^''»'*!''''''^''^^'^**-
ma. Pela mefma cofta do Sul, huma legoa adiante começa a voltar a
cofta da Ilha para a partedo Noroefte , & fe fegue huma tal furna , cha- outraUgoa adiante;
msdadejoaó Moreno , quefe continua por. bayxo da terra meyale-y^^^jríjo Aom/<?,ytf
goa,&;ià vay fahiraoutra terra ;& correndo vento Noroeíle,ou Oef- a^^rea horrendafur^
te, faz por huma das bocas eííra furna taes eftrondo.s , que parece eílar "<* » f^* chamaõ de
fempre difparando contmuadas bombardas & a corta por aqui, ainda /" ** ^"^^"^ ^
'»-
i
que he raza , hc tam brava, Sc de tanto calhao, que nelia nem o pe íe po- i^^y^oLtena '
depor.
27 Daqui corre a cofta peto Nofoefte legoa & meya, & entaõ
fe fegue a princrpal Villa de toda a Ilha com o nome de Santa Cruz de ^<> Noroefie
para ,
cue íoco fallaremos depois , paflada huma legoa de rocha alta , & logo
^o'''*/''^'"»
? •-,
:
j-
^fr^f
efia â principal FiRa
„ j ,
&
o •
,
1
meya legoa adiante J^^ ^ ^^^^. ,
1
^^^^^^
fe iheiegue a Villa da Praya , de que mais abayxo faremos roda a men- ig^g'^ ^g rocha fe fe-
ijão que merece ; & defronte delia , hum tiro de bombarda ao mar , ertà gae o lugard^Abgea
hum ílhèo redondo , & com rocha alta para o mar , & com planície pa- & dahta meya iegoa \3ii
ra a Ilha mas entre efta , & o tal llhèo naõ podem paífar navios pelo
-,
^'^^"^ ^'* ^^'«7'* -«
.
& ilViii
perieodos bayxos que alli ha porèmo llhèo em fi tem bom & feguro ^^/'^'^/'^ ^^^f^''^-
•, ,
porto, & em Cima terra boa de femcadura. Logo le legue pelo ^'^'^^^ ,o^mMentrfelle& a
huma legoa de alta rocha talhada & huma enfeada íío fim , com huma //^^ perigofojl;ayxos,
>
fonte , que chania5 a fonte da Rocha , que fempre corre , Si com hum é- da rccha da Ilha
torno de agua da groííura de hú braço , de que bebe todo aquelle Nor-,^^-'* foíta itoa^c^grlí-
te ,& tem tanques" apartados para o pido beber & fe lavar a roupa 8c dí
fonte, &dahi-^i*a. -,
,
Oo CAP*
m ;m.r"jigãájB
434 Li vf o Vi I . D a cxGellentc I Ih a da G r aciofa,
G A P I T U LO VI.
ãe ^!Èranctfco,& da [q fecha com huma porta ao.fundo que abrindo- le para cima , em ama-
,
S. '^af' da 'Mtfèrt-
nhecendo entra o pevxe ao engodo i & depois fechando (outra vez
& boM-ErmidJi. * pot^i-^j ^ vacando a maré , nca tanto peyxe em íeco , que aos carros o
kvaó i aílim fe fazia antigamente , &naó íey fefefa^: ainda hoje.
29 Conftâ efta Villa de quaíi feiscentos vizinhos , com que
vence a algumas Cidades , naó fódo Reyno do Algarve mas também ,
bom paul dt. uma pa- ^ regador com ordenado , SíjC. tem mais hum Convento de bao Jb rança-
ra osgador,hiamisj- CQ, Mifcricordia, & muytas Ermidas , como a de Sajito Ándrè , Saô Pe-
to Hmpa praça, em ^ dro, Corpo Santo Santa Catharina , j&c. No meyo tem a VilJa hum
,
correm os Cavaiioj- paul de agua para o gado , & junto logo hum rocio de trezentas braças
roij& na meimard'
^^ comprido , & cem de largo , & tap Hmpo , & playno , que nem pe-
u i.cv a o ivi-
drinhas fe vem nelle, & nelle correm os nobres Cavalleyros da Villa : &
'£r.,„d.u de mmtA ^^ í^nefma Vala cita hum Pico muyto alto, repartido
em dous , & em
romagem, hum eftá â Ermida de Nolía Senhora da Ajuda com caía de Romeyros,
'
por fer de mu y tos milagres & em outro outra Ermida de Saõ Joaó , èC:
-,
ao redor de hum bom areal ée área. branca , fobre que eahem muytas das
""^"^^^ ^^ Villa tem huma enfeada , 6c porto de toda a navegação & con-
: j
'Àf"lU d P r.
rkor-dta.
' huma fó porta muyto ferie , & efpaçofa , que por ella as Caravelas aba-
tiaÕ os maílros, &" entraô varadas fechada aporta fícaó dentro o
, &:
tempo que querem. Da nobreza defta Vill' trataremos quando da de ,
toda a Ilha, pois meyalegoâ adiante da tal Villa acaba a Ilha nopotto
31 Do do Doutor Fru^
interior defta Ilha fâltaó nahiftoria
<3:uofoduas folhas que faõ os dous Capítulos 44. & 45, do feu hv.6. 7^» maia elfa IlhÀ
,
iem fe íaber quem as tirou , ou furtou, nem porque caula ; porém como vários íngares a rod^ m
'a Ilha hèeftreyta de Norte a Sul, & temos já dito as povoações que tem & »« interior ^mj^ ^
de huma, & outra parte , & também algumas intermédias , & o coftume "'*" ^^fifevem,
4as Ilhas he povoar junto ao mar, naõ nos faz grande falta efte defey to
4as folhas deve porém advertirfe , para que nem tudo o que fe diz que
:
tra2> Fruduofo fe naõ crea logo, quanto nelle fc naõ acha, fó querem &
algús que traga o que elles querem.
^i- 32 A fertilidade da Graciofa ainda he mayor que â das outras
Ilhas, porque como he menos montuofa, & mais playna por cima, & ffee^allIfAmaisfer',
«luyto regada , & frefca , com varias , Sc boas aguas , toda fe desfaz em ^*^<^^»^*^° ^ m oh-
frutos, de trigo, cevada, legumes , vinho , frutas de arvores , & hortali-
j'*'* ' '"íí"»»*^*^^-.
ra o lume porém a Divina Providencia deo tal vigor , ou quafi folidez ^' ^'"^° ^ género da
i
ás palhas dos paesdefta Ilha,& muyto mais às vides, & podas de arvo- <|'"t'^»^'*-^*''''''*^''
res, &
ainda à bofta do gado vacum , quefupprem a falta de lenha mais
meyos remed^iou^^a
groíTa , & também defta fe provém da vizinha Ilha de Saõ Jorge j &í fó, providencia Divi-
como nas mais Ilhas , ha falta de azeyte de oliveyras , que comtudo lhe ««.
vay de fora para o prato , & alampadas das Igrejas ; que quanto para o
mais tem outras caftas de azeytes , &
manteygas , & pefcados femprc
frefcos , & excellentes , & abundância grande de toda a forte de ladici-
íiios.
CAPITULO VIL
De quando , & (jfiem defcubrio a Graciofa^ & de fem
primeyvos Donatários^
âlll.m como a Terceyra foy primeyro defcuberta por mareantes que vi- reantes^depalfagem^
nhaõ das Ilhas de Cabo Verde para Portugal í como diíTemos liv. 6. ^rt ^'"."^^/^^^
,r
aiiJt
v„ ._.-, f^v ,
deícmerta loçoaepou
caf, i.jdi por líTo efteve algum tempo por povoar; aíiim tambema ^^^^ ^ forve. Sen
Graciofa, parece j fòy primeyro defcuberta por outros mareantes , que primsyro povoador
das mefmas ilhas de Cabo Verde vinhaó , ou para a mefma Terceyra,ou/a; [^afco Gil Sodre^
também para Portugal 5í ao Norte por onde fe vem de Cabo Verde, C&villejro de Afri,
, ,
deraõ com a Graciofa , & por fer gente ordinária, & de poucos cabe^ !f'f^* com mulher^
dacs , nem pedirão, nem fe lhes daria o povoarem tal Ilha, que Deos ti- ^ '^'*"'!i^^^^
ilha refervado para outros Povoadores , & tam nobres , &: illuftres, co^paífoJà
Graeiofa.
mo abayxo veremos & muyto mais , eftando entaõ os infantes Portu*
i
irmã deVafco Gil Sõ' fidalgos do Algarve, com íua mulher, irmã do dito Vafcp Gil Sodrè»
drè,frmqr9'Fov0a- ^ veyo o tal Barreto com titulo jà de Capitão Donatário de metade
^^í da Ilha Graciolà , &
a povoou da parte do Sul * aonde eílá a Villa da
Praya.
35 Succedeo porém Caô mal à eftc primeyro Capitão Barrçp
to, que defgoftando de hum Frade que por íeu Capellaõ tinha levado
,
parte da Ilha & vendo paífar huns navios Caftelhanos , ( que entam
,
andavaõ era guerra com Portugal) lhes fez fínaesjque eíitraffemjSc taeí
coufas lhes diíTe do Çapitaõ Barreto, que os Caftelhanos o commettè;.
raõ 9 àn prenderão .,t& a feusxriadQs & os levàraÕ comfigo , Si fó hum
,
lhes efcapou , que levou a nova do fucceflb á mulher do Barreto, & def?
te nunca mais fe foube j & ainda que cuydàraô que iflo fuccedèra a Vaf-
co Gil Sodrè, êc qué efte fora o prezo j & morto pelos Caftelhanos , to-
talmente fe enganarão , pois o mefmo Vaíco Gil Sodrè muytos anno»
viveo ainda depois,& morreo na mefma Ilha Graciofa;&("o que mais he}
a meíma mulher do Barreto , vendo-fe jà fem feu marido , chamou para
fua companhia ao dito feu írmaó Vafco Gil Sodrèi & com ellc ficou ten-
do cuydado da dita fua Capitania , & fendo o tal Sodrè hu quafi fegun*
do Capitão delia.
36 Já porem em efte tempo
Fedro Correâ da Gunha (que
nunca tinha vindo à Graciofa , &: eftava na Ilha de Porto Santo, goyer-»
'
4eMend»çaJlhado te$ , poís que nunca ambos juntos tiveraò poííe de taes Capitanias, nem
DoM^Mm ii4//i;<a cio exercitai ao o governo delias mas "com adefgraçadc Duarte Barreto,
j
JPortoSA»t9. vendo Pedro Corrêa que a outra Capitania de meya Graciofa eftava
vaga,foyfe a Lisboa , pedio-â cambem ai legando fer pequena a Ilha pa-
,
veyo para a Graciofa, & fundou a principal Villa de Santa Gíuz j ^ ^^Z,
] cafãâ
vr
Câp. VIII. Dà Nóbreiâde Dònatanôs,8c Povoadaíes. 43;^
fãÉi&ruasnoPico,ouOuteyroquechama5das Mentiras*
- 37 E porque efte Capicaó Pedro Corrêa da Cunha foy o pri* •.fttS.
ineyro Capitão Donatário de coda a Ilha Gracioía ,& o que mais a po-
voou, por ifiodellediíTeraõ alguns , que fora o primeyro defcubridor
da dita Ilha , que muyto antes tinha fido defcuberta, & ainda governada Bjâdlto Peirótoft
^"^ jftntamentt Do,
pelo Capitão Donatário Duarte Barreto j mas a verdade he o que fica
dito. E he de notar , que naõ contente o tal Capitão Pedro Corrêa com "pl^^^lmto
ml hÍ •
a Capitania da Graciofa toda , pertendeo haver também a Capitania de ^^^^^^ ojohinho vai
Porto Santo i porque vendo que morrera fuafogra;»& que delia naõ fi-y^õ ^^^^jj^/o^^^/j,.
çára ao Capitão de Porto Santo filho varaó , mas que o dito Capitão fe refirello tfegnnAo 4|
Câfára fegunda vez com Ifabel Moniz , & delia morrendo deyxàra hum *t<tme.
filho varaõ chamado como o pay Bartholomeu Pereftrello,entaõ fcm.
Xèfpeyto a iflb j tratou Pedro Corrêa com a viuva , que lhe vendefle a
Capitaniade Porto Santo ,& de fado ,& com licença delRcy lha ven»
deo por trezentos mil reis em dinheyro, & trinta mil reis de juro cada
anno, (taó baratas valiaõ entaó as fazendas, outaõpoucoeraodinhey-
ro que entaô havia ) Sc aííim fe ficou Pedro Corrêa feyto Donatariodo
ambas as Ilhas, Graciofa, &
Porto Santo porém duroulhe pouco, por-
;
CAPITULO VIII.
íadoSyMe^doças, &
outros Povoadores
da Ilha Graciofa,
if^cT
a Diogo Vaz Sodrè de menos fidalgo que ellej Diogo Vaz voltou logo ^ Z^"
a Portugal, &
à fua pátria Montemor o Velho, & tornando para a Gra- *
&
çom hum Conde da Villa, Caílello de Bedaforte , & fe chamava D.
Brifida Sodrè de Bedaforte , tudo ifto moftrou logo ao Capitão Pedro
Correada Cunha, que em o vendo, fedelêngar!0Uj& lhe deoafilhá
emcafamento, & tíveraõ eííescafados tantos filhos j que aílirma Frti-
â:uofo proceder dellés muyto grande gcraçaõjSc de muyto nobre gente,
Í.I Oo iij 39 Do
fmf
que viviaó apartados da ôutra gente ordinária , & tiveraô tanta defcen*
d€ncia> que défta gente fe povoou a Villa da Praya j da Graciofâj & tan*
f ta,queíendo a Vdia de mais de duzentos & cincoenta vizinhos, fô
cinGoentàeraõ de outra geração , pela qual raZaô ( ajunta Frudaoío)
dizem que todos os da Graciofa faõ fidalgos & eu diíTera que tanta
:
fíía,maís<jtiefHavi' mortos pclos Caftelhauos i & a viuva que -ficou i nem tornou a cafar,
Mva mulher ^irmã do nem deyxou defcendencia fua Sc da qualidade dos Barretos jà fallá-
:
frimeyro Povoador mos, quando da dos Povoadores da Tcirceyra Ui). 6 Cãf. 1 7. & nos fe-
,
Fafco Gil Sodre. guintes. He porém de reparar , quanto , ainda neíla vida , caftiga Deos^
a quem fe atreve â pôr mãos violentas em Ecclefiaftica peíToa , pois" de-
ite primeyrò Capitão Barreto , que efpancou o Frade nem filhos, nem ,
fucceíTores , nem criados ficarão , mas todos com elle, & logo, acabarão
defventuradamentei
41 Segundo Capitão Donatário , & já de toda a Graciofa , foy
Pedro Corrêa cia Cunha , fidalgo nos livros delReyj cafado com D.&
Izêu Pêréftreíla de Mendoça ,fegunda filha do primeyro Capitão de
Porto Santo , de fua mulher Beatriz Furtada de Mendoça & daef-
& :
l dro Corrêa da Cunha eí-a filho do antigo fidalgo Genialo Corrêa, fe-
'^«jillufires Correoí nhorde Farelães em Portugal * & nefte ^ cafa bem conhecida j pelos &
ée Farilãn is/ , ^ Ciínhas íie de taõantiga fidalguia, que defcende de Dom Gotterrede
amigos, Gafconha , qtic cóm o'^Conde Dom Henrique veyo a Portugal, & delle
&
illHftriíJi-
mos Cunhai Afcen- ^^^^ muytas datas de terras em Guimarães , Bra2;a , & Porto & de Gaf-^
, ;
^"^"^^ "" GafcunHa de França trouxe comfigo a feu filho Dom Payo»
'
^'-tcTlt^-hdaGrn
Tiofa Pedro Conea
Gutterres da Cunha ^ que foy o primeyro que ufou defte appcllido|, &:
dacmha. delle fe continuou ate Vâfco Martins da Cunha fenhor de Pinheyro ,
Albergaria, & do tal Cafamento nafceo Gil Vaz da Cunha, fenhor dft
Celorico de Baí^o , & Alferes mor delRey D, Joaô o I. que o cafou com
vr
Cap.VnLDosSodrès,Bâfretõg5€ofreâs,CuíiÍia55â:c, 435Í
denominaõ Furtados Mendoças » deicêndem de Affonfo Furtado , Ge- ^«« de Avtyro, &
neral do mar de Portugal em tempo dos Reys D. Pedro, D. Fanando, f»iiyt$s da RealCafé
& D. J oaõ ol.òc deite AíFonfo Furtado nafceo outro do mefmo nomej **' ^^^i'"S^i
que era Anadel mor de Béfteyros , que eafou primeyra vez Com Dona
CJonftança Nogueyra , Alcayde mòr de Lisboa , &: íegunda vez cafou
cooi Brites de Lagarete, Valenciana da primeyra nafceo Nuno Fur-
:
tado , que foy Apoíentador mòr delRey Dom AíFonfo V.& cafou cora
D. Leonardada Silva , filha de Fernaõ Martins de Carvalhal 6c deftô -,
cafou là com hum irmaÔ de Joaõ Rodrigitez de Sá , o do Porto , da ca- gniaè, & Fontes , &^
h dos Condes de Penaguião , hoje Marquezes de Fontes &: do tal ca^ m duMfè tornara» dê
;
íàmento naó ficáraô íilhos a D. Branca, & Dorta Maria, depois de efta^ ^,*^^'"* P^'^^ * ^''^
:
rem dous annos em Lisboa , naõ quizer-aó là íicar , & fe voltarão coni o j'"'** fomj''* M^^^
ri-^roT-.TTT
pay para a fua Graciofà 8c a D. Branca calou
-,
r iu ^ -^ ^dejxarao grande dei*
na Ilha ( como ja vimos j cendencianat Ilhíâ
com Diogo Vaz Sodrè & a dita D. Maria também cafou , & de ambas
;
ficou muy ta, êc hiay to grande defcendencia na dita Graciofà ,& mais
Ilhas paj^a onde í&c^cnáoo. (^utrâ linha de verdadeyros Mendoças
,
de huma irmã de D. Anna de Mendoça , may do Meílrede Santiago, DtRe^tâ tritiée eUi
Duque de Coimbra , St Aveyro, do qual falíamos acimajôc fó da mefma Fartados, & como Pt
família eraó diverfâs linhas. uniraS com às MenJ
44 Dos Furtados porém O primeyro , , Sc mais antigo trortcoj j^g*^
'^Jf^lla^fé
fby D. Ferrtandoja quem chamarão o Furtado, ( & foy o primeyfo dcfte
p„"úiatCaneUa ^ ^
âppellido) por o Conde D.Gomcs haver a fití to o tâl íilho de D.Urraca j /^^/^^°
'
/ '
•i íilhâ
44® Livrú VIÍ . Dâ excellente Ilha Graciôíâ."
delRey D. AíFonfo VI.de Gaftella em o ànno de i io8. eomo diz o
jfilha
foy Lopo Lopes de Mendoça , que por varonia era neto do fenhor de
Bifcaya, antes de haver Reys em Gaftella j &í por outra via era neto do
hum irmaó delRey de Inglaterra 5 de que fugmdo veyo a Bifcaya , a &
^.., ^ ,
'
'
livrou do Conde das Afturias, &
foy eley to lènhor delias, como conft*
t^-, do mefmo Conde D. Pedro ííí. 9. &
lO' /^í- C. Uniraõ-fe Furtados , Ôc
Mendoças no caíamento de D. Leonor Furtado com Diogo Lopes de
defcendem em Gaftella os Duques do Infantado,
Mendoça i& deftes
os de Lerma, & outros j em Nápoles os Principes de Melito , & os Du-
ques de Peftranai em Portugal os Mendoças deMouraõ, os Condes
de Vai de Reys ; & também a priraeyra mulher do Duque de Bragan-
ça D. Jay me , chamada Dona Leonor de Mendoça , filha do Duque de
Medina Sidónia D* Joaô, terccyro do nome j & jà D. Fernando , fegun-
do Duque de Bragança j tinha cafado com outra Mendoça.
45 Dcftes Mendoças ha huns que trazem nas armas efta letra,'
Do$ MtniojM shA.^ ^qje Maria > & o principio difto foy que eftando hum Rey de
, Gaftel-
fronteyra fahio hum valente Mouro a cavallo defáíí ando aos
^•ào^àe Laffh oh ^^ "^ ,
lha do Salado do anno de 1 340. atè o paíTar de huma agua matou a três
Mouros & unindo-fe depois por cafamentos os de LaíTo de la Vega
}
diftinçaõ dos mais fe chamaó Mendoças da Ave Maria , & em cada Ef-
cudo feu tem mil Efcudos pendentes da femprc viíkoriofa devoção de-
fta Senhora.
r
CAPITULO IX.
da Gracioja Dttarte
ra & defem Régios troncos^ & Ajcendentes.
,
Corrêa, fiiho dofegS*
do Pedro Corrêa da
Cunha , &
como ca»
4^ y^ Terceyro Capitão Donatário da Graciofa ( & filho do fc*
foH riH ca(a dos illaf-
três Me lios dePortn- 1 . / gundo Pedro Corrêa da Cunha
, ) foy Duarte Correaj
gal^ doí^ftaes ttbdj- porque ainda que Guedes no citado f//^. 6. diz que do legundo Capi-
~
^9^ taõ Pedro Correada Cunha ficàraô dousfilhoSj&delles o chamado
Du-
wr-
Cap.IX. D^ outros Donatários,!? 4ps FecreyraS,^ Mel. 441
Puarte Corrêa lhe fucccdeo nã Gâpitaiiia 5 com nwis noticiais falia nif»
£00 Doutor Fru£tuofo Uv. 6. í?^/>.42, & nosfeguintes j don4? confta
que o tal terceyro Capitão Duarte Corrêa cafou com Dona Leonor dç
Jvleiio, 4os illuftres Mellos de Portugal , como veremos abayxoj & dei- ^
Capttâm^
te cafamcnto nafceo Jorge Corrêa , que foy o quarto Capiia.0 Donata- ^^ f*^''^*'
fio da Graciofa }& nafcèraò mais três irmâS} que todas foraõ Damas ^^^Tm^íí» '!!«»».«
jBLainhai Sc conforme a fua qualidade cafou efte quarto Çapitaõ, & teve ^
Rainha,ttvedoui
por priraeyro filho a Triftaõ da Cunha, & por fegundo íilho a AffonCojuhos^TrijiaôdaC»^^
Corrêa de Mello & porque Jorge Corrêa, pay de ambos, fe foy i Cor- nha, & yíffonfo Cor^
;
tje de Lisboa , & já o hofpedou o Marichail feu parente , entaõ lhe defap-
rea de Aíelh,
Ija Capitania , o fcgundo filho ÁíFonfo Corrêa de Mello , vifto ter def- ^^^^^^j"^"
l^fríi
apparecido o primeyro, chamado Triftaõ da Cunha; mas porque ao tal J^ J^^°^ doiufUhos
jTegundo filho nem conftava da vida , nem da morte do primeyro, dey- ho^edandafe etnia*
&
j|íou paííar anno , & dia, fem procurar a tal Capitania , & fe fupppz Bcâtfa d» Manchai fitt
yaga para a Coroa; & entaõ o dito Marichal fez petição a Elíiey , a\\e- parente, delia defaf.
gando nella, que pois a Capitania fora de hum feu parente que lhe mor-^^''^"" opnmtyrofi:
íèra em caía, foíTe fervido fazerlhe mercê delia, & ElRcy ^^''^^^^^^^
^'^^,^^ZZ'i
pio fe o fegundo filho vivo,& irmâõ do primeyro írmaó defapparecido,^^^ ^^^^ ^ CapitanU
Haõ foíTe mais chegado parente do tal feu irmaó , & do ultimo Capitão ao fegundo filua, &
feu pay. Porém parece caftigo de Deos, que, porque o fegundo Capitão /«y/í^/o quinto Câ*
da Graciofa Pedro Corrêa da Cunha tirou com eífeyto a Cz^itííT\h.át ptaõ daGramJa^
*
rorto Santo ao legitimo fobrinho PereílreUo,na5 fó pcrdeífe , como
perdeo, a Capitania alheya de Porto Santo, mas também perdeíTe á.
|?ropria da Gracio,fíi,&nem efta paíTalTe de feu neto Jorge Corrêa a bif».
Hetos; que como diz o provérbio ^ten todo k qujerti to4o lo pierde.
,
4otai quinCo Capitão nafceo ofexto , chamado também D. Fernando ^ ^^ fi'^'" GafitaS
ipOUtinho o que tudo confta do citado Fruífeuofo; de fó com efta difte-^^^'
j f «'«^*) f^^'»-
'^''
rçnça , que Fruiíluoío nos Donatários da Graciofa naõ conta por r pri- ^^
r
*
-1^ '."*, "T
%í; • - »< /*1 i 1«< rv. T> Fernão C"ftt(nhoJ4^-
jpoeyro Capitão aqueíle hdalgo do Algarve Duarte barreto, como na j,^;,^^,^^^^;^-,
y.eí'4ade o foy, ainda qite de fómeya Ilha; & fó conta por primeyro Ca- ,
piti^Ç) delia ao dito Pedro Corrêa da Cunha, que na verdade foy ofe-*
gtindo, & por ifib ao filho Duarte Corrêa contamos por terceyro,& por
qif arco Capitão ao neto Jorge Cof rea, §í por quinto , & fexto aos dous
Çoittinhos Marichaes que chegarão jà ao tempo do go\'erno de Fe-
, es
lippc JL çlonde jà para ca fera , a quem quizer , fácil faber quem foraõ .
•:.
.os fegyintes Capitães da Graciofa , que a nós nos nas cuftou poucoo
^^
fey comtudo, que El8.ey D. Pedfo IÍ. do nome , nonleou Capitão Do-
©ataíio , 6f Alcayde mór da Graciofa a Pedro Sanches Farinha , feu Se-
tretar lo d^s Mercês, & expediente k por feu falecimento nomeou no
;
m
fmrsttii\~
cedeo, & vive hoje na fua Qiiinta dâ Palma. E aeíle mefmo Rodrigo
Sanches nomeou cambem o mcímo Rey D. Pedro li. por Donatário, Sc
Aicayde mòr da Ilha do Fayal , em remuneração dos ferviços , naõ fo
do dito Rodrigo Sanches , mas da Senhora ( com quem caiou ) Dona
:'
líabel Franciíca da Silva , Dama do Paço , filha de D. Luis de Almada|
& de D. Luiza de Menezes i & do tal matrimonio houve hum fó filho
Manoel Jofeph, que morreo fem cafar: mas fegunda vez cafou o dito
Rodrigocom Dona Mariana Jofepha de Álemcaftre, filha de Manoel
de Vâlconcellos, & de D. líabel de Soufa , & defte matrimonio ficàraõ
filho, & filha , que com o pay já viuvo , vivem na fua Quinta da Palmaj
oc aflim he adual Capitão Donatário das duas Ilhasj Graciofaj & Fayal,
o dito Rodrigo Saches de Baèna Farinha,fem que elle,nem feu pay,fof«
fem alguma vez là. Segue-fe agora dizermos quedefcendentes ficára6
na Graciòfa ,& mais Ilhas dos íeus primcyros quatro Capitães.
í^^ 49 Do primeyro Capitão da Graciòfa Duarte Barreto naõ po«
I ^e ficar na Ilha defccndencia alguma pois fó ficou, & viuva a mulheri
-, ,
que naó tornou a cafar , pela fobreáita defgraça que fuccedeo ao rnari»
doj & a toda a mais fua gente j & fo parece ficàraò na Terceyra alguns
parentes íeus doilluftrc appellido de Barretos , & que por noticias dei-
íes fe refolveria a vir também povoar a dita Ilha. Porém do cunhado, &c
companheyro fidalgo Vafco Gil Sodrè , naô íó ficou o primeyro filho
iíuií.-.: i.j
Diogo Vaz Sodrè, que cafou cora afilha do fegundo Capitão Pedro
Dos deJcenâtHtes dos Corrêa da Cunha, de cujos defcendentes diremos abayxo j nem fó fi*
Captães da Gracio. cou O fegundo filho Fernaõ Vaz Sodrê
, que foy para Saó Miguel j mas
'"^ também ficáraó mais três filhas, Maria Vaz,LeonorVaz,& Ignes Vaz*
drSoZl?*
que todas na Graciòfa cafáraô muy nobremente j & deyxàraó muyta, 6c
boa defcendencia.
••
50 DofegUrtdo Capitão Pedro Corrêa da Cunha (além do
íucceíTor filho} ficou aquella filha legitima D. R rança , ou D. Briolanja»
que caiou com Diogo Vaz Sodrè, & tiveraó muyta > & muyto nobre
Como femiraoosCor defcendencia. O cerceyroCapícaõ Duarte Corrêa j fucceífor do pay Pe-
reas Cmhat da Gra, dro Corrêa da Cunha , cafou com D. Leonor de Mello , ôc efta era filha
eiofacom os ^e//flí
de D. Brites de Mello, & legitima neta de Álvaro Martins de Mello,
dosCondes da ^''»:
irmaÕ de D. Pedro Martins de Mello,CondedaAtalaya5 &com adi*
para a Graciofa trei ''^ Dona Brites de Mello vicrao para a Graciola três irmãos j que íe ena»
varões fiàalgoi Mel- ma vaó Roque de Mello, Diogo de Mello , &: Jorge de Mello ^ & todos
/flí. caíáraõ na 11 há com peílbascottipeteiíteSjmasoJorgedeMellonamef*
ma Ilha morreo degollado por matar fua mulher j & o Roque de Mel-
lo, por empobrecer com lançamentos que fez nas rendas delRey,fe
foy para Lisboa com duas filhas , & hum filho , &: a todos recebeo , &
Hoi Mellos Aa Gra. hofpedou em íèu Palácio, Sc com toda a honra , o Marquez de Ferreyra,
cio(a^<jmo Mar^Mez. tratando-os como â parentes>íeu$ , atè morrer o Roque em caía do Mar-
de Ferreyra em Por-
qygZj & eíle lhe mctceoas duas filhas Ffeyras & ao irmaô delias Fran«
,
tugal hopdoH
, & cifcode Mello chamado de alcunha oBarbarraô,o mandou para aln^;
,
trMoH como f Antes,
dia, & lá morreo, cOmo taô riobre fidalgo.
51 O Doutor Fruduofo diz a(^ui , que dos fobreditos ficou na
Gfaciofa Aííonfo Corrêa de Mello , &: que no feu tempo havia na mef-
«la Graciòfa filhos do dito AíFonfo Corrêa de Mello & defte colho eu
-,
"
t-
que
ty
Câp.íX.Da Nobrezajq da Gracrafa paíToa às ou-tras llh.^m
^we erao fegundo filho do terccyro Capitão Duarte CórPèaj & dteíu*
iMiilhcr D, Leonor de Mello , & que erairmaõ do quairto Gapitaõ- Jof*^
ge Gôcrea , a quem devia fueceder na Capitania, da GEacfôfa , & ltà,-lc**
You q Marichal D. Peruando Coutinho,priraeyro do norae. Deftepoi#
Aftonío Corrêa de Mello íicáraó na Griúcwfa dous-fúhmt Nuno i2m-^ Como os àkos MíSas
rea de Mello , & Manoel Corrêa de Mellcy & efte Manoel CcM-rea (ofJ^ juntarão ci
e, Pa^^
aiioma buícar Breve para caiar com fua tiaD. Ignes Pacheco de Lima^-*'^'- '''^-
fijha de Gorues Pacheco de Lima & da tal D. ignes aâirma Fruâruofo
-,
Mello , que com EIKcy D. Sebaftiaõ paíTou a Africa , &r depois d© deZ'
gnnos de prizaò fiigio , 6c era maiicebode gcandcsi partes ,& altos efpi-
ritos y & quarto filho foy Pedro Corrêa de Mello , filhado no foro de
fcus avós , coufa que nao tem os^ mais irmã<3S , porque o naó pediraõ.Af*
fim o aíSrma o citado Fruduoío.
52 Domefmo terceyro Capitão da Graciofa» Duarte Correajti
{alem dos dous filhos, Jorge Cor rea,quartoCapita5j& Affonfo Coe-)
rea de Mello feu írmaõ } & de fua mulher D. Leonor de MellQ,nafceoi
tombem huma filha, chamada. D. Felíppa da Cunha & Mello, neta par,
terna do fegundo Capitão Pedro Corrêa da Cunha , & da Pereílrclla
Furtada & Mefidoça , & neta materna de D, Brites deMello , dos Mel'
los do Conde da Acalaya D. Pedro Martins de Mello atai pois Doiu :
Felippa da Cunha & Mello cafou com huns fidalgo chamado Gonçalo
Ferreyra da Camera, filho de Duarte. Fecrcyra deTeve,& deD. ^o^comódaúraciofafõ^
lippa da Camera, dos legitinios Caniier^ da Villa da Prãya da llhaTer- raõ « Meíi')s cafcf ii«'
.1
ceyra; & do tal Gonçalo Ferreyra dACamera,& de Dona Felippa da í^"»« osFempas dá
Cunha & Mello naíceo Eftevaò Ferr&yra de Mello , fidalgo da Cafa áçP^ erceyra,
S. Mageftade, &- Cavalleyro profeflb da Ordem de ChriTto , pi-incipail '
T r j
ma, & morreo em Lisboa , & aeyxaraopor filho a Joíeph r erreyra de ^^^ Q^mas Fafcon-
- o T •
t j ri /L-11 ^ T- 1
Mello, que foy pay de D. Juliana de Mello morgada em Angra , que cellos Cantis de Caj^
,
,
x^cyra êc Capitão mordas nãos da índia dôs quaes foy filho o í*adre ^es,Pimentm,EJpi^
, ;
ii
444 Liyro Víí. Daexcellentè Ilha Gràciofa.
.«MIK'íJ.''
qual trataremos aquando da Ilha das Flores. A quinta filha cafou com
Feiíppe Eípinola Qiiiròs , fidalgo Caftelhano Tenente do Caftello de ,
Angra » & deites naíceo D. Chnílovaó Eípinola , cuja única filha cafou
com Luis do Canto,ôc tem defcendenciajde que diremos na familiadoaí'
Cantos. •„...>-
j ,
-•-
' .. ;,-i. -'
54
aquelle Efte vaÔ Ferreyra de Mello , i^âf'
Más íiem fó por
ídbreditas , mas ainda mais atraz , por leu avò materno o Gapicao"
Coyreoí 'Meltos da ^^*
Iihi doFayd,&Sáõ Donatario Duarfe Corrêa, marido da fobredita D.
Leonor de Melloi-
forge,& dalerceyra paffáraóeftâs taò nobres gerações à Ilha do Fayal, de Saõ Jorge, à & &
comCaftelbrmcos,& mefma Ilha Terceyra , porque do dito Duarte Corrêa foy filho AíFon*
com Coelhos Pirey^
fo Coffea de Melio:, & deites foraó filhos Nuno Corrêa de Mello , &:
Paulo Corrêa de Mello , & Manoel Corrêa de Mello que cafou com-
roí do Porto.
,
cendencia trataremos quando da tal Ilha & de hum dos taes três ir-*
, 5
Angra , cafou com Luis Coelho Pereyra nobre Cidadão do Porto, que
,
em Angra foy do melhor governo delia & a dita fua mulher foy vene-
,
rável fidalgaj & deftc matrimonio nafcèraô Manoel Coelho Pereyra, fi-
dalgo filhado, & pay de Miguel Pereyra de Mello, os quaes ambos
morrerão no Porto com defcendencia; & outro irmaõ Lazaro Pereyra
de Mello que duas vezes cafou era Portugal para onde foy &c húa ir-
,
;
,r.'\^v^ ,^5. mado Diogo de Mello, cuja filha D. Catharina cafou com hum muyto
nobre Cidadão de Angra Manoel do Rego Borges de que ficou def- ,
cendencia o outro era huma irmã j que também cafou & tem em An-
;
,
chamou Pedro Corrêa , o filho Duarte Corrêa, & o neto Jorge Corrêa^
(&
fr-
'
II
Gap.iX.DasReâesCàfasáóiMelloSj&Lãncàftrós. 44f
^&eifle heoquefoy filho daquella D. Leonor de Mello ) mas
íenhoira
tâmbem pelas excellencias íingulares que fe achaõ nefta famiUa dos an-
tigos Mellos , de que já tocámos algúas na nobreza dos primeyros Do-
nacarios da Ilha de Sanca Maria , & Saõ Miguel j &: o mais agora tocare-
mos.
.56 GonfórmeàoRegio, & mais antigo Genealogifta o GoH-£»tt/r(7»wioiiÍM«í
âeD. l^edro, no íeu /??. 45. oprimeyro que feacha com o âippelUdo de dosMontejirosmòreJi
Mello, he Dom Mcm boáres de Mello, filho de D. Sueyro Reymon- *^ í^orttjfm mores-
do de riba de Vizella j do dito D. Mem Soares de Mello nafceo AíFon-
ío Mendes de Mello , que cafou com D. Ignes Vafques da Gunha j &
^^/Tft^^í
^ exemplar Siíba
deites nafceo Martim Aífonfo de Mello, que cafou com D; Marinha coAd* d« Ceimbra-y
Vafquds, dos quaesfoy filho Vafco Martins de Mello, Guardamòr dei- (^ dos Dn^net di^
Rey p. Fernando , 8c Alcayde mòr de Évora, & pay de outro Martim Gandia.
AfFonfo^e iMello,Guarda.mòr delRey D. Joaõ o I. & Alcayde morde
^ vora, & Olivença efte pois Martim Aftbnfò de Mello , fegundo do
:
-nome , foy pay de Joaô de Mello , Alcayde mor de Serpa , & Copey ro
mor delRey Ú. Affonfo V. & delle nafceo Jorge de Mello, Monteyro
TOÒr, que eafoú com D. Margarida de Mendoça,irmã de D.Joannade
Mendoça, fegunda mulher do Duque de Bragança D. Jayme & ambas ,
de Mello, Portfeyro mòr, & Alcayde mòtde Serpa & Dona Leonor dê
;
te D. Félippa de Melloj que cafou còm o íenhor D. Álvaro filho de D. £>»?»« ^9 CadavaL
,
Pp dsl-
mm
^elRey D, Pedro 11. que ^capdo; yiava eaíbu com feu cunhado 'Doiíj
Jayme de Mello, tcrceyro Duque , do Coníelho de Eftado , Eftríbeyra
tnòr delR.ey Dom Joap o V. tíQÍTo penhor » & Prefidente da Meia da
Çon(çiençÍ3yêc Ordés t^ó Regia he» & p:Qr taijtas vias, a excellentilíi"*
.•
Í,VÍ;\f,
^ . 58 Doíobredito fenhoíA Álvaro &da difa D. Felíppa de ,
; Mello nafcep a fenhora D. Brites de Mello > q tie caCau com o fenhor Di
p-.i; .-;<v.
í /^ -t Jorge, filho delR^ey Dom Joaò o IÍ. U
primeyro Duque de Aveyro, òc
•JHellcfdafermJJtma defte riafceo o lêgu.ndo P. Joaõ de j^ancaítío , que foy pay |do tercey*
,
OafA dtBKagmfa,&. ^q Diique de AveyrpD. Álvaro , & defte aafcep o quarto Duque quá
,
^"^y P^y ^^ quintp Duqu@í), Ray mundo , que morreo fem defcenderi*
^^^^"âoi^M-MaZ-
^0s àtQotiwa & di ^l^ í
^ entrou entap por fexto Duque de Aveyro , feu tio patruo Dora
Sarna Cruz.^ ^«. Pedro de Lancaftro , Arcebifpo > & Inquifidor Geral em Pprtugal j 6c
porque dejfle também naõ havia defcendenciaj íe feguio em feptimo lií»
gar dos Duques de Aveyro fua fobrinha a fenhor4 D. Maria, irmã do
quinto Duque D. Raymundpi a qual j ainda que cafou em Madrid , &
ídeyxou filhos varões , em quanto nenhum_,vem para Portugal , nenhum
tema cafa. Huma irmã do quarto Duque ,& fiiha do terceyr-o D. Ai*
varo, cafou com o Conde de Portalegre, & defte eafamento naõ fó naí^
çeo D. Frey Álvaro de Saõ Boaventura j Bifpo Conde de Coimbra , 6è
p. Joaõ da Silva, Marquez de Gouvea, que morrerão fem defcenden*
cia i mas também nafceo huma. filha , que cafou com o Conde de Santa
Crtiz , de que nafceo Dom Joaõ MafcarenhaS) q'JÍnto Conde de Santa
Cruz que foy pay de D. Martinho Mafcarenhas, fexto Conde de San*
,
C A P I T U L O X.
dos ditos Soufas. He taõ antiga , & illuftre a familia dos Soufas Lufita- ^
nòSj que coiifta defcender dos Godos , de hum D. Soeyro Belfazer , fi- Do primeiro tmeil
lho de D. Foaõ Soares, & de D. Munia , ou Menaya Ribeyra , que flo-d-
apptlUdo f^Soufá
rão duas filhas huma foy Dona Conftança Mendes de Soufa, que
j
cafoU
com D. Pedro Anes Portel , & deftes nafceo D. Maria Ribeyra, que foy
legitima mulher do Infante D. AfFonfo Dinis j filho legitimo delRey
D. Affonfo III. de Portugal, & da Rainha D. Brites , filha delRey Don*
i!lífonfode Caftella, & Leaôi? ?oíish .•>:f:h.p -?, íí, .• .•>:..;;.(>(: d:;:; v.:.r!,i.
aeto delRçy D©m Aftbnfo III. de Portugal , & bifneto materno dei Rey
'- Don^
..,
•
pp -^
Llvr® VII. Da excdlente líKa Graçíoíà.
iaafceo mtío Martim Affoafo Chichorro de Soufa, que foy pay de Vaf-
VT"
Cap.X.DosVafcôc.EfpínoIaij&Regiâs íínhas dos Sour.40
€0 Martins de Soufa , que cafou eom Dona Ignes , parenta dos Reys de
Caítella , & do tal matrimonio naíeeo Martim AíFonfo de Soula, (^^Dafegmãa^&keã.
quem algús fazem írmaõ, & nao fi|ho , do fobredito Vafeo Martins } & Unha^ tantbcmfemi4:
cafou cora D. Aldonfa Rodriguez de Sà , êc delles nafceo Martim Af- »^«'»
'^o' Sonfas
,^
fonío de Soufa, fenhor de Gouvea , que cafou com D. Violante Lopes
J;'^»'j«^^j'''^'^^^^^
de Távora, & foraò pays de Fernaó de Soufa , fenhor também de Gou- hmvv o'*S^Arcel^M
vea de Tâmega , que foy cafado com D. Mecia de Caftro , dos quaes ^g Évora D. Diogú
nafceo António de Soufa ( marido primeyro de D. Branca de Vilhena, de Soufa, é'ofeftim^ Pi
que foraó pays de Fernão de Soufa , fenhor de Gouvea } fegundo cafa- tador fobrinho Donè
do cora D. Feiippa de Mello, &: deites nafceo Martim AíFonfo de Sou- f-*^ de\Sc»fa Arc^
íoanna de Távora, dos quaes nafceo outro Fer- ^^ f^/^^^"'* »
fa, q ue cafou com D. "^1
"i^r n/-. ^^ 1 \ f
^
^P^ ^"je a safa no
nad de Soufa , tereeyro do nome j & Governador de Angola , que caiou £xeellentifftmo Còn-^
1
com D. Mecia de Caílro, &: tiveraó dous filhos, hum D. Diego de Sou- ^g do Redondo^ thn^
fa, chamado o Míi , que foy illuftriffimo Arcebifpo de Evorá j & rauyto mè de Soitfa.^ i
mais illuftre por fuás grandes , & exemplares virtudesj 0|)Utro filho , &
fuccefibr da cafa foy o grande T home de Soula í Alcayde mòr de Villa-
Viçofa, & de Mecejana , & delta também Commendador, & cafou com
D. Francifca de Menezes , de que naleeo outro Fernaó de Soufa , quar =•
to do nome , & herdeyro em tudo de feu pay , & cafado com D. Luiza
de Portugal j pays de Thomède Soufa , fegundo do nome * & jàexcel-
lente Conde de Redondo , cujo tio paterno foy D. Joaô de Soufa , Bif-
po do Porto , Arcebifpo Primas de Braga,& ultimamente Arcebifpo de
Lisboa, & verdadeyro exemplar daquelle feu grande tio Arcebifpo de
Évora, & imitador de fuás heróicas virtudes.
66 De outras familias de Portugal , que vieraõ povoat a Gra-
ciofa> diz o Doutor Fruduofo Uv. 6. cap. 42. que ha nella Dornellas , &
Cameras, que vieraõ por via da Praya , & de Angra , filhos j & netos de
Álvaro DornellaSj de que jà tratámos j & que ha também Quadros , de
&
que trataremos, quando da Ilha do Fayalj que também ha Limas , &
Pachecos de tal qualidade , que D. Diogo Lopes de Lima , Submilher
delRey D. Sebaftiaõ, & Jorge de Lima, & Francifco Barreto de Lima, ii'i
íp iij LiVRO
ma
•ny
m •M' ,
LI V RO
DAS
vm.
ILHAS DO FAYAL, É PICO. )(!i
C A P I T IJ L o 1.
lattiàca, atèonde chamaô o Capello , por ordinariamente ter hum Ca- ^ c^uafi redonda ^, ,
pello de nuvéSi& outras cinco legoas tem da Ribeyrinha atè o òxX.o emcimamuyto pUj.
Capello jainda de Leílc a Oefte j porem de Norte a Sul fealargapor «^.^^/^^'«^^'íSSí'
mais de três legoas & em partes mais de duas com que à vifta repre-i:''^*^ ^ ^'P'
, -, .
fenta figura quafi redonda, pouco montitofa , & muyto playna^ & delia
trata Fruftuofo no feu \w. 6. defdte o ca^. 3 5 por diante , que por erro
•
da pennafe conta por ca^, 36. fendo na verdade fó 35. fem lhe faltar fo-
lha alguma.
% í)e Lefte a Oefte j da pohta da Ribeyrinha & da de Eípá^ úot lagares que eor^
,
lamàca, pela coita do Sul paílada legoa hz meya , eílá a Freguezia & nmplo Suí ,
pri- ,
o
,
N.Senhora da
lugar de NoíTa Senhora da Ajuda com cento & vinte vizinhos, Vigário, ^^F^
& Cura da banda do Norte clmma-fe o lugar de Pedro Miguel mais J^^^^ '[Va^,^^, ^"
; ,
hum dos priraeyros Flamengos nobres , que vieraô àquella Ilha, & fo-
gro de António de Brum , dos quaes ambos fallaremos mais abayxo.
5 Logo, meya legoa acima , inclinando para o Poente ,eftà a
A cabeça àefia Ilha principal Povoação , ou Corte defta Ilha, chamada a Villa de Hórtai
hf a Villa da Horta, ^ chama-fe aílim , porque cada cafa delia tem tal Qiiintal , & hum , ou
k entrada te o lugar dous poços, que pareeexada huma ter fua Qiiihcaj ou Horta á entrada :
homem , por condemnaçaõ que lhe deo a juftiça Ecclefiaftica , peía cuL
pa que tinha comnieiÇido. Oh íequi^efle Déosqué às penas pecuniárias
da juftiça ( ainda fecular, quanto mais Ecclefiaftica) foííem aílim applí-
cadas a pbras dp bem commum , mais do que ao particular dos mefm©s
Miniftros que as daõ,Gom capa de defpezas da Relação , de efportulas,
^c. ! Ha nefta Freguezia,& lugar,ou arrabalde da Villa
demais de du-*
,
zentos & vinte & dous vizinhos , Vigário , Cura , & de novo outra
&
Freguezia de NoíTa Senhora das Anguftias eom cento &
feífenta êc
quatro vizinhos.
Entrando pára a nobre Villa de Horta, eftá ao lotigo do maÉ
4
^ ^iílajó dentre im^^i^ mais antigo pedaço delia j que por ãlli fe começara povoar , cha-
Jt,pajfa de 500. vi- maõ ainda a Villa Velha , &
o mar atem jà levado muyto ^ fegite-fe lo-
Xitihaj', tembrs Col. go o principal da Villa que tem em hum alto a íua Igreja Matriz da iri'
,
'lepaíU,tresFregífe'
&
vocaçaõ do Salvador, tem hoje mais de quinhentos vizinhosjSc duas
Jericó dia & dom
^''^i^ ^
^^^ ^centas &
ciiicoenta almas com feu Vigário , dous Ctiras ,&
Hofpital, & mais de vinte moyos de renda, além de outros foros & lo- j
de Porto Pim j aonde eftà huma GoVa,ehamáda a Cova do Fradei; & ter-
ceyra
Câp. I . Bcferevc-fe a Ilha do FayaL 4|^
^yra vez aonde agora eftá j & he Convento grande & de trinta Reli- ,
mídade NoíTa Senhora da Piedade, com huma eícada para o mar , poí ^'*V^'*Í'%,J j'x
u j tienhora da rtedaae^
•
hia caminho de
,
ear-
, I
^ ^^ Uvada fC' .
IO com cngQ, & tudo o mar levou depois , & ellá tudo cofta brava & iaiondas^& andar «• ,
chega às vezes a entrar o mar na horta dos Religiofos Francifcanos j & ^ar muytos di^, ap^
chegou a levar a Imagem de NoíTa Senhora da i^iedade j que depois de pare6eomtlagr0fartte»
andar fobre as ondas muytos dias , appareceo em hum ferrado jiinto à ttn^ terra , &fe
l»*. 111
tj^ettal Cai
Senhora da Conceyçaó , &: depois de a renovarem , a coilocàraó em hu- '^^^''<'»
^°
ma Capeila, que para iffo fe fez na Igreja de Saó Francifco , com a mef-^*
ina invocação da Senhora da Piedade. -
,
>
";
. .
tos Francifco de Utra & Qilâdros & fua mulher D. Ifabel da Silvey-
n^ « ^
-íé-nr -i-
,
r
'^'"' ^ '^''^'^
oHtroi Fortalex.íu ,a-
ra, Sc ngllatem perpetuo Capellao , & Miíla quotidiana por íivas almas; />^ de roihoi
1
V .
inaièc^
& a de Santiago fundou ]oí de Utra fegundo do nome & a que eftá yj^^^^
j •,
junto' do porto , Noíia Senhora dâ Boa Viagem , lis Confraria dos Ma-
reantes , 5c muyto rica. A de Santo Amaro foy fundada por Francife*
Pereyra Sarmento ^,á de Saô Louferiço poí Thomàs de Porres Pemy-
ra, irmaó do Capitão mòr Jorge Gularte PiítienteL Tanta era a piedad^
dos moradores da íltia do Fayal. ;
% Naohemertos guarnecida adita lííiâ com Fortalezas coíiv
tra a guerra temporal, do que com tantas ígrejas, & Conventos eo^t ra á
'' '^- eípij
mm
4J4 Livf o VIU. DâSoelekc^Illlâs áo Fa;^al,8£; Pico;
que a rocha j & o mar per íi fe defendem: da banda porém do Sul, & em
toda a parte onde fe pôde defembarcar , tem íua Fortaleza , & platafor-
ma, que laõ por todas oyto, &' com boa artelharia além de todo o areal
5
da Villa, & Praya chamada do Almoxarife , effar murado, & com muy*
to bom muroj com que fe naõ fabe que efta ilha foíTe entrada em algum
tempo por inimigos j excepto no das alterações do fenhor D. António^
quando ainda naõ eftava taõ fortificada.
9 As outras Freguezias, ou lugares da tal 11 ha temo nlimerd
de vizinhos , ou fogos feguintes da banda do Norte a Freguezia de N.
:
'^lem dos àom luga- Senhora da Graça, tem cento & dezafeis vizinhes a de N oíTa Senhora
•,
Ves acima ditot tem da Ajuda tem cento & vinte a de Saõ Mattheos , lugar da Ribeyrinha,
, }
mais o àeS.Mattheos cento, & oy tOi a de Santa Barbara , lugar dos Cedros , tem duzentos 2ç
tom 10%. viíiinhos\o noventa vizinhos ade NoíTa Senhora da Luz, junto à Villa, duzentos
j
dos Cedros tem 290.
;& quarenta & kisj & fe chama a Ribeyra dos Flamengos a do Efpirito $
S^ oda Ribeyra dos
flamengos tem 2.46.
Santo duzentos & trinta & féis j a de Santa Catharina , que chamaó Ca-
edo Efpirito S,i,\^(>. ftello branco , paíTade trezentosvizinhos j a da Senhora da Efperança»
ede Caflello Branco lugar cha;mado Capello, tem cento & vinte &: hum vizinhos a da San* $
pajf*dt-2^oo.& o do JiiíTima Trindade, que ehamaõ Praya do Norte tem cento & vinte Sc
,
j & fe bem fe advertir, acharfeha, que muytos dos taes lugares faó
Capello 111. o da três
Traya do Norte cen-
mais populofos , & mayorcs que varias Villas em Portugal }& que a in-
to & vinte três.
ligne Villa de Horta excede muyro em numero, nobreza, &" riqueza
-dos moradores, a algumas Cidades de Portugal , ôc outros Reynos , co-
mo adiante veremos.
10 Indo da fobredita Villa de Horta, do Oriente pela banda
do Sul para o Poente , & defronte de Santa Cruz , hum tiro de béfta ao
O princípAl porto da mar , eftá hum llhèo pequeno , mais adiante a grande enfeada de Por-
&
VUl^fr chama Porto to Pim5& porto tal, que nelle defcarregou & tornou a carregar humâ
já ,
fim ; capaz, de muy~
tos (^ grades navios
grande nào da India,& he o porto principal da Villa de Horta, mas cor-
\
;
0.oittroje chama Ca- rendo Sudoefte forte, correm perigo também os navios que achaden'
merade Lohosjé'he tro, & à entrada do porto eftà huma pedra perigofa , &
já fabida } pa-» &
&
de caravelétí ; a- ra dentro da terra eílá hum Pico, no qiialfediz que os primeyros Po-
diante algum ILhtos^ voadores fundarão
afuaVilla de Horta, & que depois fe mudou para
4^e>
onde hoje eftâ ; adiante mais de legoa & meya eftá o Pico, chamado Ca-
ftello branco, de altura de dous altos Caftelíos, todo em figura quadra-
do,& em cima com hum playno de três raoyos de íèmeadura , muyto &
fértil de trigo , & com eftrey ta defcida para a terra , & rocha para o mar
Ilhèos ao mar tiro de béfta ,& logo a ponta do Capello , onde acaba a'
Jlha no Poente, &: volta pelòNorte atè o lugar da Ribeyrinha d|i ban-
dadoOriente. '
fí r- > v:^ ,;'>n<íf -i
li He
V^^Càp^irDodeícQbrimentbliaííliâJâfáyal. •
4ff
l^í ? í i He o Fayal aira Ilha em o Meyo & iegoa & meya da Vil- j
£ o Noroeíle tem huma grande çaldey ra, ou furna, de huma Iegoa Com ftr o Tayal ílU
p.-vra
çm redondo, & de altura ou tundo meya Iegoa aonde íe defce por hCi muyto alta, & em ci-
, ,
do Fico que fe pôde chamar a mãy do vinho. Do paftel que fe lavrava "^'^l^^2it[%*'
,
antigamente , jà hoje fe naõ ufa , & as lavouras hoje faô quafi todas de ^^ ^-^j^^ ^ \oHca. ^
crigo tem muyta abundância de lenha & mato , mas pouca fruta por j-yff^a,per íhevirè da
i
, ,
lhe vir fempredo Pico tem poucas,& fracas fontes, porém muytos po- grande IlhadoPico,
:
fos, &: de boa agua , mas nenhum ribeyra que corra todo o anno & por^ ,
a
-
iffú nem fempre tem moinhos de agua , mas atafonas no tempo da íecaj
6 comtudo tem toda a cafta de gallinhas & caças, & muyta junca ; & o ,
tem Oratórios em fuás cafas com que faó muy recolhidas, & devotas. ,
.,": •'
'
" -'1 ^i
.1- V .- r
: CA Al T V t o II.
7 .Dequandoy&porquemfeàefcuhrioaLlhadoFayaL ;;
Ibigar depois de Saõ Jorge &: Graciofa & como eftaS o foraõ pouco de- ^^^ defcuberto o ?ã2
, j
pois doannode 1450. também pouco depois fe deícubrio o Fayal , hâ^ahwannede 145:3*
quafi 260, annos do dia, ou mez em que fe defcubriíTe, nem conjeftura pouco mais otf menos,
:
fempre grande duvida o Doutor Fruftuofo hv. 6; cap^ 3 6. inclina a que V^"l'^^'.^J^^if'^
:
feria ,0 grande Gonçalo Velho, que tinha defcuberto as Ilhas de Santa ^^"^^õle fabe-.ò nú-
Maria, & Saõ Miguel porém do que contra iílojà moftrámos no def- ^^^^^^^ da muyta
5
cubrimento da Terceyra ,fevè que naõ fubfiíletal confideraçaó. an* F^iya i^ue tinha, cpri- O
tigo Joaó de Barros Década i liv. 5. cap. 1 1 & também no ClarímUndo, mejro Povoador /o)>
. .
S.& quê^
dà a entender que a defcubrio o grande íidalgo Joz de Utra, que depois hUErmitaõ ;|ii.
"*'"''*
íovo feu primevro Capitão Donatário porém tal naõ declara Barros, '^^^ -
;
&fo declara que o Utra roy o leu pnmeyro Donatário j &: nos conlta
que os prímèyros defcubridores da Terceyra &• Saõ Jorge , que jà de ,
antes èraõ defcubertas, botàraó na Ilha do Fayal algum gadoj & que hú
Ermitão de boa vida, por a fazer mais folitaria, fe foy para a Ilha do
Fayal de morada liiaõ no veraó algús a^ver as fazendas , que là tirshaô
:
roraado, & fèu gado, & vifitavaó o dito Ermitão, & achando qUé elle ti-
nha' preparado huma embarcação a feu modo ,& perguntando-lhe pard;
qíie^era aqttélla embarcação , refpondeo , que da parte da vizinha Ilha
dbiPífcò lhe áppãrecia huma mulher veftida de branco, que o chama-
va-dé làj que fé foíTè pára eílá, & que por lhe parecer qtiç era a Virgerri
4$i LiVfo VIU. Dàs célebres Ilhas do Fayal j êc PIcò;
.
___. T^^^ceyrajácSaô Jorge. He potèm de reparar qtie entre os Flamengos
j
SiumÀOitHtHs fn- veyo hum que fe chamava Arnequim , aquém
por muyto valente, &
^^^^^"^^"^^^ %"ia5 alguns outros Flamengos , com os quaés , vendo
7o^7rnZlimZm
^Hejtfccedfoalcor. '^5^^<l"i'" «1"^
o Corregedor de Angra acabava em o Fayal os trinta
reiedor a «/fÍM<í^ ^'^^^^ ^"^^o""^^)^?^», foyfe ao Corregedor, &
difle- lhe eftas palavras:
^ijloria do ttx$9 . Senhor Corregedor ,Ji íua mercê tens acabado teu tempo nas nojfaí Ilhas do
Fayal,vaytt embora logo, nao ejiejas aqui mau , que nao te queremos eh. Ref*
pon(íeo o Corregedor j que naõ tinha tempo para fe ir , que quando o
houvelle, fe Arnequim, & os feus dizeftdojque fe foíTe logo.
iria Jnftou
Replicou o Corregedor, que como fe havia ir fem vento & os Fia- í
i
mengos entaõ levantando-fe contra o Corregedor , começarão a dizer
em altas vozes Senhor Corregedor ^ quer uentes, quer nao ventesy bicha ma-^
í
nao yheyte de matar com efiabéjla. E o Capitão vendo ifto fe voltou ,&
deo conta a ElRey; & ElRey lhe refpondeo, que os naõ prendeííe, mas
fó da fua parte lhes diífeífe que foíTem ao Reyno requerer diante de S.
,
Mageftade. Obedecerão ellesj & vendo-os ElRey lhes diíTe , que fe naõ
admirava do que fízef ao a& feu Corregedor , que era Portuguez, & el-
les
/
Câp. III. Dos Utras Donatários do Fayal, 4^f
Ics Flamengos, & naõ entcnderiaõ com ellc j mas que fe maravilhava
fe
miiyto do que fizeraõ ao feu Capitão com quem vieraô, feu natural , &
Flamengo como elles , querendo-o matar , & naõ lhe obedecendo. A if-
m reíponÓGo o AvnQquim: §laes que te diga i Senhor Reyí Cães som ray-
vaiem donos mordem. Ouvindo ifto EltCey virou orofto, forrindo-fe»
& vokando-o aos Flamengos lhes diffe ,que fe foflem embora para fuaS
w. \
cafas, mas que outra hora naó fizeíTem mais aquillo. Fora5-feentâ6,&
HCom Provifoés delRcy , para fe naô fallar mais no cafo j &: daqui toma-
rão os do Fay ai por timbre feu dizerem , que laõ de terraj aonde fe diz:
Bicha malafora de mffa terra.
CAPITULO III.
â fua cufta , nelles com muytos cafaes de Flamengos veyo pouco de-
pois ao Fayal, onde jà achou ao Utra , & ambos com fuás gentes conti*
nuàraõ logo, &: acabarão de povoar toda a Ilha , o Utra comp papitaâ
Ponatario,& o Vandaraga como principal Povoador,
. 1% Priraey ro Capitão pois, &: Donatário da |aUlha,foy o di-^
WÊm
45 S ^^^^^ VíII. Dâíceldbres líhas dò Fayál, & Pico:
tojoz de Utrg, ^ç ^ dica fua mulher Brites de Macedo, Dama do
Paçc%-
• porque amda qwe Barros diz que fe chamava Ifâbel de Macedo
, Gue-
des,& a conftaflte tradição, & mais provável;, aífirmaõ chamarfe Brites
de Macedo & aindaque dizem alguns quç ô Joz de CJtra cafára
:
com
feuma chamada Correreal ,enganáraõ-fe , naó diftinguindo o
primeyrô
&
Joz de Utra , Capitão primeyrô , de hum íeu fiiho j & do mefmo no^
nic, que he í uccedeo na Capitania , & efle foy o que
j
cafou çomàquella
Corterealjcornojàdiflemosnos Córtereaes Capitães de Angra.- Do
tal
Çapitaõ Joz de Utra , & da dita Brites de Macedo nafcèráõ
varias fi-
ma filha doprimef.
j^as , que cafáraó com outros fidalgos em Portugal
, huma côm & hum
ro foz. de Vtra cafou lUuftre Alemaó , chamado Martim de Boémia , a quem ElRey de
Por-
comha fidalgo ^le- trigal eftimava muytopor fua grande nobreza,
fingular fciencia ,"de &
rx r.i.ií: tiiTfz"'
Macedo
^^' f ^^^^ ^^vhoz de utra &
rnafceo
'f mais hum ,
Donatário ^^^^^
que chamou também filho varaó, fe
figmdo f "J^
foy ofegando foz. deJ^^
^^ UtraiComoo pay,eom quemuytosfeequivQcàra6,& foy fegup-
Vtra filho doprimey. do Capitaõ Donatário do Fayal.
ro^&do fegHdo naj- 19 Tercey ro Capitão do fayal foy Manoel de Utra Coftc-
f .
"^ Anes das Grotas , &deíua mulher Catharina Vicente j & defta teve
^[eHfilkoGajparde
'Vtr»Çortereal\legmo K^s filhos varoes.Gafparde Utra Cortereal, Hif ronymode UtraÇor-
â\4emanda o /í^/f«- tgreal & Salvador de Utra Corterealj & teve maisq«atro filhas , Dona
,
dfiirm^iõ nieranymo Çatharina, D. Barbara, Dona Antónia, & D.Ifabel, mie faleeeofem
dcf"
^VtraÇ9n*r,é^ ceqdçnGta. o primeyrô Manoel de Utra , indo a Lisboa a confirmarfs
/f % tkTOH: a.^apit^- na Capitania, houve na Corte de tal modo, que chegou a ElRey , ter
fe
"^' ^í'e huma^Iha de huma Dama do Paço, & naõ
fercafado legitimameni-
• • tecom a dita Maria Vicente o que ouvindo ElRey mandou-lhe qu« ; ,
Ipgo recebeíTe a Dama do Paço & o fidalgo o fez com tal temor, & pe- ,
pa que defta em breve tempo faleceo & chegando a nova de fua mor-
, 5
timos feus filhos os que lhe ficàraô & a Dama do Paço nunca fua mui
, ,
Iher legitimasse affim fe julgou tudo por final fentença, & a fídâígá
Jiama íe- gietteo Freyra; ;:'. õí.^..;-: ,
.
.;
' Quarto , & quinto ma fidalga fua parenta delia naó |deyxou mais que húa filha. Seguio
111) ,
^^"^ "^ demanda tinha falecido ; & comtudo contra elle fe deo a fenten-
adZnt'tfr7rru
puto, & D. Fr.wcffo ^-^ í"^'.*
, & para eíta
fejulgou por vaga a Capitania ; & alcançan-
í-oroa
yt/^/^«re»^.«í,-«f «o ^<> Hieronymo de Utra revifía dafeaufa, alcançou também final fen-
me.ido Conde de Ftí. fença por fi contra a Coroa porém correndo a revifta , deo ElRey
j
la de Honafoy^ ^ifo. D. JpaÕ Capitania a outro fidako chamado Dom Alvarode
III. a dita
fnp^ra a Inat.,&Q^,0.. _,,,.. ....:'./> «l
,, , . . , •.
^'i
taJaaodno H.ero.^ ^^ Oiiâíto Capitao Dottatario doF^yàl" foy efte dito D. Al-'
:
"
nymo Cortereal, ^ ^^'"o & > 3 teve cincOannos, atèque o mefmo D. Álvaro deCaíí:ro(6?
foy ofexto Capitão, dizçm que poi: grave efçrupulo } largou adita Capitaniaa:.ElRey}& fe-
<>-' ' guin-
^rr
Cap.lF^Dos áobr.& prim.Povoad.do Fâyál;tltfâS#c. 4^
*«w.fe na Coroa, Luficana ElRey D. Sebaftiaõ , fez quinto Donata-
px^io Fayal a D. Francifco Mafcarcnhas, que vinha entaó dà Indiá , &
- docerco de Chaul. Naó defjftindo porém > mas perfev^rando nade*
.Manda o dito Hierony mo de UtraCorteíeal , foy-lhe emfim reftituidW
a Capitania do Fayal, annode 1582. reynandojaCaftelIa. Sexto Capi-
tão pois foyefte Hierony mo de Utra , &
caiou em Portugal com a filha-
. dehum fildalgo, N.
Figueyra , & o quinto Capitão D. Francifeo Maf--
carenhas foy defpaehado por Vifo-Rey da Índia , & com fó o titulo de
i Conde da Villa de Horta no
Fayal -^ emfim venceo i alcançou, qu© &
tudoalcança, & venCe, que he a conftancia,& pacienciaj qual teve Hic-
ronymode Utra j & como ifto paflbu , haverá cento & dez annos ,dos
GUtrosfucccíToresdiraõ outros. Eu fó digo que hoje faó Donatários do
Fayal por mercê deElRey DomPedro 11. Rodrigo Sanches de Baèna
/Farinha, filho de Fedro Sanches Farinha,&: juntamente Donatários da
<SraGÍofâ , como jà diíTemos livro 7. capitulo 9.
' \' ;. \
CA PITU L O iV.
32
OS nobiliflímos Utrastem o priuieyro lugar entre as nobres
familias, que primeyro povoarão o Fayalj das quaes foy o
tronco principal , feu primeyro Donatário Joz de Utra, illuftreknhor
de terras em Flandres , muyto eftimado dos Re^s de Portugal , ôc cafa* Dos omm Àefcehdí:
t" do primejro Ca^
do com a Dama do Paço Brites de Macedo i deftes naó ^nafcèraõ fó os
defcendentcs acima ditos nem fó as filhas que cafáraõ em Portugaly^^'^''''^^^^^^^^
,
mas também Rofa de Macedo , que cafou com Domingos Homem na " j^TíCyrl V
Villa da Praya da Ilha Terceyra, & outra filha que cafou com Marfim -J^ ^„, ^^p^^J ^^
,
de Boémia , fidalgo AlemaÕ de que abayxo fallaremos & hum filho, Lisboa & de eutrot
, i ,
Nuno de Macedo, que foy calar a S. Miguel, & de que lá nafceo Guio- VtrM que com opri^
mar Botelha , que cafou com Joaõ Mendes Pereyra donde procedem mejjoCapttaS viera» ,
"^'^^
os Macedos de Sâó Miguel 8f verdadey ros Utras. Vieraô mais com o
,
^J"^^*'"^"'
'^"'
dito primeyro Capitão Joz de Utra outros feus parentes , hum o febre-
dito Arnequim & outro também chamado Joz de Utra , & outro por
,
nome António de Urra, de quem diz Frudiiofo Uv. 6. cap. 3 7. que erà • , ,
-
peíToa muyto principal , & que cafou na Ilha & delle procedem os U- ,
trás que hoje ha nella, como huEftacio de Utra Machado, cafado com -
Paula da silveira, de que jà em 1 5 80. tinha duas filhas, &: féis filhos.
23 Dos QLiadros fabemos fer familiaPortugueza muyto no- ^ /^''''
*V
-^
WÊÊÊm msm
46o LlvíO:VIIL Dâtcelekes lllaas dQFayal,& PicQi»!
"^
lí^ntou logo em hum pleuriz , taò maligno,& mortal, que era cinco dia$
o matou , às dez horas da noyce ,em 5. de Abril defte anno de 1 7 1 6. ci-
tando em 63. de fua idade j chamava-fe là fora Fedro de Utra 6c Qua-
dros, & o Meítre de Noviços eftranhando cora candura o appelíiSo,
Utra, lho tirou, & lhe ordenou ufaíTê dáappellido de Quadros que
jà
tinha,tirando à illuftre família dosUtras o defcendéte que mais aautho-
rizacom fuás grandes virtudes^ porque foy femprehumiidiíEmo, com
fer de fangue illufl-re, foy de paciência, k. obediência tal que nunca
,
fe excufou de tantas viagés , & taô trabalhofas , como fazer lhe manda-
rão, & no exemplo da vida,& mais virtudes: foy Meftrede Noviços,&
exemplar de todos elles , & Confultor da Província , tao reào, & igual
para todos , os qup o conhecerão i fem já mais por pay xaõ inclinar maÍ3
a huma, que a outra parte ,& governando féis mezes*o Gollegio de Co-
imbra, 5c o das Artes, morreocom tal fama de virtude, & fantidade,quc
a Uníverfidade , & as Religiões delia , em fabendo fua morte vieraó af-
fiftir a fuás exéquias , & os noííos Religiofos
obfervàraó a perfeyta con-
formidade com a vontade Divina , o juizo que fempre confervou , a de-»
;^;VQta. percepção de todos os S3cramentos,&apaz daalmâ com que a
expirou , fendo dito muyto antes , aos dous feUs companheyros amanu-
enfes, &
o dia, hora em que h^via morrer,^ aílím morreo.Eftc foy o Pa-i
drc Fedro de Qiíadros, ou Pedro de Utra ^
Quadros , queyra Deos N.
Senhor, que todos ® imitemos.
25 Dos Silveyras do Fayal, & mais Ilhas foy tronco aquellc
Guilherme Vandaraga , de que falíamos no cap. antecedente §. 2. por*
que efte nome Vandaraga cm Flamengo , hc o mefmo que Sil veyra em
Do iKtillre tronco dos ''^^^^^^^^'^' ^"^ pois efte Guilherme, hum taõ conhecido fidalgo em
Sihtyras Guiíhtr^é ^^l^^dres queera neto de hum Conde,&: natural de Bruges, mas aea-
,
Vandaraga^ejue vin- ^ dos Vandaragâs era de Maftrich , & elle era cafado com Margarita
do AO Fayal paffau k
,
de Zambuja , chamada também Silveyra , ou Vandaraga ao eftylo do
lerceyra ,& defta atempo em que as mulheres tómavaõ os appeilidosdos maridos. Rogou
^ ^í^^ ^dalgo, o primey ro defpachado Capitão Donatário do Fayat,que
^Cor^ví' &d7ue\
^"'2^^'^ ^irfe para a fua Ilha , que lhe daria parte delia & comoentaõ
;
Jlhj4fifoyaS.?o!'af
(írdaíjui outra vel^^^ ^ tempo de defcubrímentos uteis , refolveo-feofídalgoavír,éc ve-
«« FAjfalondtJicM. yo Como jà diíTemos quatro annos depois de p ertar o Utra em o Fa-
,
yalj & como o dito Guilherme da Silveyra, por fua grande qualidade, &j
Ca-
TT
Éâp . I \r. Da multiplicada defcendencia doi SilveyjràS i^t
Catholieos coftumes foíTe muy to fegaido,& applaudido no Fayal, cio*
ÍQ o Gapitaõ Joz de Utra , lhe naó deo as terras promectidas » 6c pcdin*
ido o fidalgo algúas, lhe refpondia o Capitão que jà eftavaó dadas.
26 Vendo ifto o tal Guilherme da Silveyra fe paflbu com to-
&
da a fua familia para a Ilha Terceyra , habitou sas quatro Ribeyras da
&
banda do Sul, ahi teve grandes lavouras de trigo , &paftelj que man*
dava vender a Flandres, aonde indo voltou por Lisboa, &: neftaoeoii*
vidou D. Maria de Vilhena , fenhora das Ilhas das Flores , & Corvo
Jà defcubertas, & acey
tando-as o dito Guilherme,& voltando pelaTer- Vi
ceyra , fe lhe pegou nefta o fogo em fuás cafas j & atè os papeis perdeoj
& paflando ás Flores, fete annos efteve nefta Ilha, atè que achando-fe
enganado , fem provey to , nem honra , nem commercio , fe paflbu aO
Topo da Ilha de Saõ J orge , & riella viveo com fua mulher Margarida
da Silveyra , & taó rico , que das lavouras de trigo que mandava fazer,
pagava leíTenta moyos ao dízimo 3 & teve muytos filhos , & filhas , que
cafáraõ honradiflimamente em S. Jorge, Fayal, & Terceyra, & faõ dei*
lasas principaes familias.
l 27 Era efte bom fidalgo, naô fó grande Catholico > mas de
grande bemfazer > fua cafà era eftalagem para quantos hiaõ , & vinhaó; Dai virtudes, fHfél
êc por iíío muytos dias antes, ainda em boa faude, conheceo a hora, & cin defita morte ,
& ^
tempo de fua morte, & tanto, que a hum feu filho , que fe defpedia del- morte Janta que tevê
le.para o Algarve , diíTe que havia de morrer pelo N atai feguinte t & de eftefrimtjro Silvej»
faào morreo em dia de Saô Thomè } & primeyro que morrefle , andou
ra.
faõ , & bem difpofto , defpedindo-fe de íeus filhos,& netos , por fuás ca-
ías delles & recolhendo-fe á fua cafa própria ,
'y &dey tando-fe na cama,
mandou que defronte delia lhe diffeflem humaMiífa, & adorando ao
Senhor ao levantar da hoftia, & commungandoaoconfumir della,& re-
cebendo a extrema Unçaõ, expirou entaõ com todos os Sacramentos,
como naô menos Catholico, que honradiílimo, & exemplar fidalgo.
28 &
DeyXGU efte grande Heroe três filhos varões , cinco fi-
lhas os filhos foraó , o primeyro, Francifco da Silveyra natural do Fa- De tresfih9St& eitii
:
r|^g wj3iga^g
i
'1 ^6% Llyr0VllLD0c^khíállhi^áQfàyA,ScVico,
xo |>rincipâcs ,& ti veraô filhos > & filhas jde queha rmiyta. geração ci»
codas as Ilhas dos Aflores, como tocaremos.
29 Confta porém de outras boas noticias , que aquella Anna
4a Siiveyra , fegunda filhado Guilherme da Siiveyra , caiou com Trif-
3>oí iUnfiris ferey. tap Fereyra, fidalgo que de Portugal , & da Villádo Pombal veyo lol*
m do Fayd , <}Heie teyrp a eítas Ilhas, & delle, & da dita Anna da Silveyra nafceo António
" ^'''' "^^ Silveyra Pereyra, que cafou com D. Hieionyma de Arèz j & deftes
^'siherT
^^ ' safçeo D. Ifabel Pereyra , que cafou cora Pedro Anes Machado, &; eftes
fbraõ pays de Gonçalo Pereyra Machado , que caiou com outra D. An-p
ijia da Silveyra, dos quaes najfceo D. Ifabel Pereyra, que cafou com Ma-»
Molcorvo JpIyJ,
E>Joannada Silveyra , 6c elle era fidalgo Portuguez,& Almirante da
^'deftes Aafeeo An-
-Armada de Antuérpia era Flandres ,^ Commendador de duas Com«
mio da Cmha mendas na Ordem de Çhrifto deftes nafceo António da Cunha daSil-»
(rf,? ;
4ndrada, ^ftecafm veyra , graviffimo Clérigo do habito deSaó Pedro ; & nafceo mais D.
eemD. Atina da sil" Helena da Silveyra que cafou coiíi Jorge Cardofo Pereyra , das princi-
,
Saõ Françifco, Frey Diogo de Santo António, & outro irmaõ chama-
S-S ^'"'^''f^jf'
^^^"'^^^^^^'^ Silveyra, que foyhum muy to grave Padre da Compa-^
neravei'p Carlos da
Stlveyra, da Csmpa- ^^^^ de JESUS, de quem jà falíamos j cuja avô paterna,
mulher de Dio-
nhta defESVS. go Gomes da Silveyra, fe chamava Margarida Gil, & era filha de Frasi^
çifco Gil, avelho 5 natural da Provincia da Beyra, & de fua mulher Ma-
ria Nunes de Utra , parenta dos Donatários do Fayal. E aquella Maria
de Faria , mulher de Francifcoda Silveyra Villalobos, era filha de Gaf-
par de Lemos de Faria , que foy o príméyro Capitão de ínfantaria,q«e. >
V ''i ra.
TT
Cap.V. De outras lamilias do íayâl irÊs,Fíias,l?©ifeyr. 4^^
iiiiii
meneei , Capitão mòr do Fayal , fidalgo , & do hàbitõ dfeChtiftí) ,^ue ^J*j^*}^%^*'^m:.
cafoLi com Maria de Montojo, filha de António da Terra & S ilveyr"a,'& * ^^'l „ " ,
de iíabel Per eyra Cardofa , que era neta de Jorge da 1 erra da biívey raj ,,v^ç,q^Í^o^
'
homem fidalgo , & de Maria de Porres , & bifneta 4e outro Jorge, da -..» ...
do , era irmaô de Francifco Gil , que cafoii com a v^uva D. Aii-ôa Fer*
yeyra Zimbroa em Angra, ôcnaõ teve filhos algús delia,
t;/. 53 Muyto mais fe aparentarão muytos nol>res no Faya! com oS ^^ ícs de AtintankA
|idalgos Boémias de Alemanha, porqae,confórmeá Fr^ft^iofoè^B'. 6. Boémias, ^uecafáraS
cap. 38.0 pnmeyro Capitão Joz de Utra cafau humadefuas filhas com m Fayal cõ os Vtrat,
h«m grande fidalgo Alemaô , chamado Martim àt Boémia , do qual & fe voltarão para
ElRey de Portugal fazia muytaeftima-çaõ pof fua nobreza ,^ fabedo- AUmanhaJem fcar
ria, & fer tam infigne Mathematico, & Aftrologo, que pelas eftrel las "^^
^g^J^^'"^^'*^
adivinhava muytas coufas, que ao depois fc viraÕ certas, como veremos
também no fim defta hiftoria , & nas novas Ilhas que ellaõ por defcu*
brir i & daqui veyo julgarem tcmerariamentc alguns > que efte fidalgo
Boemiò era Nigromantico. Refidio muytos annos no Fayal, & tev©
dous filhos hum , como o pay, fe chamou também Martim de Boémia,
;
por cujo falecimento o pay voltou à íua pátria Boémia , & tornando de
lá com muyta mais riqueza, & vivando mais annos no Fayal , fe tornou
tàii
iil
de todo para Alemanha , &: nem delle , nem de feu fegundo filho ou -,
defcendentes feus , fe acha mais noticia , mas fó a que diremos ]de fuás
chamadas profecias no lugar jà promettido.
..^i O ' ^v.
*-V'..
.
'^ .'!;.-' -v' .r-
C A P I T UL O V.
nfeda Fazenda Real em Sàô Miguel; & do tal Antottio de Brum dãSIN
veyra nafceo Hierônymo de Brum dã Silveyta qUé cafou eooi Jiilis ^
í .\. dl
'f^-' li 111
mento ainda major g^í^^s , mas O lugar, cadey ra , & preemincncias dos Canónicos Padroey*
^
tmque tfia hojt tal ros j & era Capitão mòr de Ribeyra Grande , & peífoa de tanto juizo,
.?^' ,
tantalibcralidade,&caridade,& taô exemplar Càrholica,& de tanto
-^
governo , & Chriftaõ trato, & brio j que em toda a Ilha de Saõ Miguel
^
onde eftive ha cincoenta annos,naô conheci fidalgo que o excedeíTe em
as fobreditas cxcellencias j nem em Portugal
ha muytos que tcnhaõ
iguaes padroados, & &
com tanta preeminência, riqueza junta.
36 Defte Manoel de Brum da Silveyra & Frias nafeeo outro
Hieronymo de Brum , que feu pay cafou nefta Ilha do Fayal com húa
parenta fua, &
morgada muyto rica, chamada D, Maria de Montojo, fi-
lha do Capitão mòr do Fayal Jorge Gularte Pimentel, fidalgo , & Ca*
valleyro da Ordem de Chrifto, & eafado com outra D< Maria de Mon-»
tojo , filha dos fidalgos Terras * & Porres, de que jà falíamos no §. pe*
nultimodoc<«/>. 4.&taô grandes cafasfe ajuntarão por efte cafamento,
que naõ fey que hoje nas Ilhas Tereeyras haja cafa mais rica , & de mais
preeminências do que efta j nem mais limpa; &defte cafamento nafeeo .
era toda a cafa fucçedeo o dito Paim a feu irmaõ mais velho, Alcayd®
mòr 3 Brás Dornellas da Camera, que morreo , defpaçhando-fe em Lis- ;
37 Dos Frias o que fabemos he,que o primey ro, que das mon-
tanhas de Caftclla veyo á Ilha de Saô Miguel , &
nella cafou conformo
^^"^ qualidade , foy Ruí de Frias , fidalgo Montanhez , de que foy fi-
DosFriai dat montai
nhof de cajie/la, Pw ^^^ Genebra de Frias que cafou com Fernaõ
, de Ames de Puga , fidalgo
gai de Galiza,& Fe- de Galiza, & natural de Ponte de Lima ; &
à.ç^t% nafeeo Bartholomeu
reyra* da cafa ex- de Ffias, formado em direyto , & eafado com f urdoa de Rezende (^^ ,
eeUentiffma ^/«/"e/- lha de Domingos AfFonfo Pimentel) & èftes foraô pays de JoaÓ de
^''
Friasí que cafou com D. Brites Pereyra & também eftes foraô pays do
;
TT
^Conde
fSj;
filho de P jQíge PeFeyra,A^ueni o Conde D.Maíioêl iFcxjáz ¥&íef^
da feyra, tev*e de Cidade d&Foríí^
hwtíia aob/e doazelladíi
^depois de fe crear em íegrçdo , Sc ir defconhecidopara a Ilha de Saé
Miguel, foy eoiâtn reconhecido pelo íeguinte Coade da Feyra feu ki
jnao Jt>. Diogo Forjáz Pereyraem VíshosLâi^-ás Novembro de 1573.
CUJO dito fobrinho D.Joaõ pereyra cafou em Saô Miguel com Dignes,
Jlha de Gafpar Perdomo, & neta de Gafpar de Betencor fobrinhod* ,
ftUfdo dt FtriÀK,, 1
trss, & antigos Pereyra^Í3armento$,que procedem de Dorta Maria Sar-
menta, fenhora de Vigo em Galiza , de quem os Condes da Feyra efti-
niâvaô parcntefcoi ík dcftes Pereyras havia no Fayal Sebaftiaô Perey*
ra Sarmento, Staquellc Gonçalo Perey ra Sarmento, que matàraô rio
Fayal, por nclle querer mcttcr a Voz de Felippell. em lugar da dofe*
nhor p. António.
., ,40 O
primeyro que fe acha deftc appeílido ( Perey ra, } he Di
Pedro Rodrigues Percyra , filho de D. Gonçalo Rodrigues Forjáz > &ç
0cto de outro D. Rodrigo , fenhor de Traítamàra , &
bifneto de D. Pe*
dro Forjáz ,& terccyro neto do primeyro D. Rodrigo Forjáz do fq^ :
mmmm
466 Livro VIII. Das celebres Ilhas do Fayâl,'& PícoP
quesde Maqueda, & Naxcra, dos Duques de Efcáioha i^pòt Vâfô^f
niaos de Oropezai mas por dizer tudo em poucas palavras naô
haja ,
eonfanguineos fem ferem fidalgos 5 aífim naõ he de admirar que dos ex-
cellentiffimos Pereyras haja taó legítimos parentes na nobre Ilha
do
Fayal deftes pois diz Fruduofo , que naõ fo eraó aqueiles Pereyras
:
Sarmentos , mas também hum Thoniè Pereyra , Clérigo , fu-a irmã &
Ifabel Pereyra , ambos filhos de Tríftaõ Pereyra & netos de Diogo
> Pe-
-ia^ií .^it«viV„^ "^^y^ ° ^^^í'^ * P""*° com irmaó de Joaó Rodrigues Pereyra, fenhor de
^*^^»^ Vizellaj & muyto parente do Duque de Bragança, & do Gon-
J>es Pereiráífamo-
^e de Marialva, & doda Feyra j & adita Ifabel Pereyra foy cafadacom
fiscal a índia Ori-
*)àfk:^*'*«M' Manoelda Silycyra, daquelles fidalgos Silveyras de que acima fallá-<
,v ,, .
.
mos, & foy irmã de DiogoPerey ra , o da índia , fogro de D. Pedro de
Caftro, irmaõ de D. Fernando de Gaftro Gonde de Bafto, & de D. Mi^
guel de Gaftro, Arcebifpo de Lisboa i& outra filha do dito Diogo Pe-
reyra cafou com Manoel de Saldanha, irmaõ de A yres de Saldanha,quc
morava junto a Santo Amaro para Bethlem & de Joaó de Saldanha ó
,
puro valor valiaó muyto mais de féis mil cruzados o que ElRcy muyl }
toapprovou , & lho agradeceo muytO;& emfim era taõ liberal efte Dié*
go Pereyra, que mandando-lhe huma vez feu aufente irmaõ Guilherme
Pereyra feííenta mil cruzados, pedindo-lheque lhos guardafle atè elle
^^^* ^ ^'"^° dentro dè quatro mezes achou quejà o irmaõ os tinha ga-
,
"l^^^-^^S?'"^^^'
ftadp todos em acções de honra, & íer viço de Deos ,& delRey &nem }
j,í.i 43 Taes homês como eftes deo a Ilha do Fayal naquelles tem-
pos, que bem mcjftravaõ ferem filhos do fobredito Tnílaõ Pereyra Sc ,
vr
,G:,iCâ[p:VI.Í3CeeIlenciâsáaIlhà(ía1?áfy. 4!^
jda dita irmã fe extcndeo eíla ilkiftre fâriíilia de taes Pereyrâs ásoutraâ
ÍlhaS,&: eípeeiaknente à Terceyra, aonde fe aparentarão com os Pach^i
'
<3€»ísMííerdaSiBetencores,& com todos os fidalgos de Angra.
7. ;'^-^Mr ;,;^. :;íj
'
o"-;.
V<Í A P I T U L O VI.
dores) he ter quafi imraediata afi, & como por húa Re- ^^ páyaUprifueyra
gia Quinta fua, a grande ,& rica Ilha do Pico, cuja grande parte he dé ^^^^^/^^^^ ^^ ^^^ ^^^
Vários fenhorios do Fay ai, que como lhe fica taõ próxima , dê todos os quinta fua a grande
íèus frutos logra principalmente a do Fayalj & os mais dos moradores ilh^do Pico.
do Pico faó como huns Rendèyros , ou Quinteyros dos principaes àú
Fayal ,& com quafi immediata vizinhança j porque ainda que a Ilha
de Santa Maria acode à de Saõ Miguel, deita fica dozò legóas j & aiííá
da que eftas ambas acodem à Ilha Terceyra , delia ficaô mais de trinta
iégoasj atè a Ilha de S. Jorge , & Gracioía , pofto qtie à Terceyra tam-
&
bém firVaó , delia diftaõ mais de oyto legoas > mas o Pico do Fayal ape-
nas difta huma legoa; & ainda a Ilha das Flores , & a do Corvo , mcnoS
tíiftaó do Fayal , do que de outra alguma Ilha, com que o Fayal fica
íendo a mais farta, & abaftada Ilha , pois quanto quer', lhe vem de taiii
Regia Qtiinta fua. E daqui vem ,fer
«..' 45 AfegundaexcellenciadoFayal,quênemfome, peíle, ou v-
bem o Fayal , como a fua cabeça , òc com breviffimo choque de pouco Portugal lhe fcn i^e-
mâis de hani dia. Pèfte porém naô fe fabe que -a padeceíTe alguma horaj^W* ^^- ^^ €afieila^
como nem fome taitibem de aperto grande porque da dita fua Qiiinta, ,
a Ilha do Pico, como de tanto mayor grandeza , & tanto menos povoa-
da, vem ao Fayal fefnpre, & êm abundância quanto em algum tempp ,
lhe falta, & fempré muyto a terrípo lhe vem , como de taõ perto &'^ ;
que mais he, nem tremores de terra, ou incêndios houve já mais no Fa^
ya],renaõ ha poucos aiinos pelos de 1700. hum furiofo fogo que arre-
bentou , & Gorreo em ribeyra efpantofa para o mar, abrazando a eftráda
que abr»o> Sc fazendo mar em que entrou , noVo firmamento% ou càes
,
•
trangeyras que a feus portos vaõ j tanto aífim , que nenhuma outra fe diai Ortentaes,
,
iauala qi^afi à Ilha Terceyra no coramef cio, como efta do Fayal,em rá-
^1 ,: '^J 2âê
46S Livro VíII. Das celebras Ilhas doí ayal,
ôc Vk@]
^ȣra,
António de Portugal ( nçto do Conde de Valença , & primo irmaô dó
Duque de Naxera ,& fendo taô eftirado fidalgo, o deyxou ainda fub-
ordinado na guerra ao Meftre de Campo do Çaftello de Angra da
Ilha Terceyra. Succedeo porém que os foldados doprefidio do Fayal
levantarão motim contra o dito feu Governador D. António de Portu-
gal , por lhes naõ dar o foldo inteyro , como ElRey mandava darlhesj
pelo que os foldados levantados foraõ mandados logo para oCaftello
de Angra, & defte foraó outros /oldados para o prefidio do Fayal & o ;
go que foífe ) para exemplo de outros , & fatisfaçaõ devida aos quey-
Xofos.
CAP.
TT
Cap. VII. Da fatal llhá do PIcd:
G A PI T U L O VIL
Do defcubrimentOy altura , è' grandeza da fatal
Ilha do Piío. ^
vio de Noè?
50 Conáa pois que efta Ilha foy defcuberta aígus arinos depois
da do Fayalj & como a do Fayal fe defeubrio depois do anão de 1 45 ó. Foy âeÇcnherlà ailh4
fegue-fe que no de 1460. jà a Ilha do Pico eftava defcuberta, ha perto de do Pico aígtins annos
36o.annos;mas em que annOjnlez,6c dia fe defcubrifleíiflb naõ coftaj co- depoií de eftarja dej-
mo nem quem também foíTe O feu primeyro defcubridor ^ porque dize- cubertà a do Fajai
iaõ viminha.
rem algús que o foy o illuftre Joz de tJtra jDonatario do Fayal,pois foy
também Donatário dá dita í lha do Pico difto fó, mal fe infere porque
j j
do mefmo Fayât foy o Utra Donatário primeyro fem ter fido o leu pri-
,
Ilha do Porto Santo, & no primeyro da Ilha Terceyra ,kem outros^ &;
áflim parece queaquelles niafearités PortugUeZes,queda Terceyra hiaó
às Ilhas de Saò Jorge í &
Graciofa primeyro defcubertase eítesdefca-
Qttepriffiéjró ddef'
brindo primeyro a do Fayal , defcubriraõ a do Pico ao depois fenaô cuhri0,foy a Firgèni
:
quizermos confiderar , qtie pois aquelle Ermitaõj morador em o Fayal, Sacrattffima.for Ttit'
julgou ver a Virgem Senhora nioíía da parte da Ilha do Pico, <kqueo yo de hum (eu devtítÁ
€hamavaparalà, a Virgem Senhora foy a Divina defcubridora defta ÈrmitAÕ,
i'(t^ %.t Ilhas
^
" r» I fi
^^^° ^^ ta6 comprida, & íó com huma fua ponta chega à do Fayaí^
"mei^Toí^""^
por9Htrâ'io'"deVaõ
^^^ «lenos diftancia de huma legoa de mar j por iíTo a Ilha do Fayal
MigHti difiaporli' ^^^^ ainda trinta legoas da Terceyra j &: muyto menos efta do Pico*
nha direyta 5-0. le^ das Ilhas de Saõ Jorge j & Gracioia j porém da Ilha de Saõ Miguel, 6c
gooi , mas pela ler- ainda por linha direyta , difta mais de cincoenta legoas , & quaíi felíen*
cejfradifia 60. ta por via da Ilha Terceyra & das Ilhas das Flores , & Corvo , difta
-,
do Pito, donde fe vè, que de todas as Ilhas, de què temos hiftoriado , naõ ha ou-
tra que a exceda na natural grandeza 5 porque a Ilha de Saõ Miguel j a*=
ifida que tem de comprimento dezoyto legoas ^ naõ chega a mais que a
duas legoas ô£ meya de largo , & em o meyo tem de largo fó huma ie-
^
goa, da refâca ái^ Villa da Alagoa , da banda do Sul j atè o lugar de Ra»
bode peyxe^ da banda do Norte ^ como vimos já no liv.^.cap. 3. Pois a
famofa li ha da Madeyra , também vimos jà Iw^ qj. tap. 7. naõ ter mais de
eompríriíento j que quaíi dezafete legoas j& ainda que na bafe daPy-
ramide j què reprefenta deytada, tem féis legoas de largo na parte do
Occidente-, onde chamaõ a Ponta do Pargo, dahi por diante para o O*
riente , & ponta dá tal Pyramide , vay fempre eftreytando , & a niayor
largura he de quatro legoas, & menos para â ponta da Pyramide} mas a
do Pico a excedes pois fobre outras qUatro legoas que tem j & fempre,
,,
- .
'
de largo, tem dezoyto de comprido 5 & mais de quarenta em cireumfc*
f encía,alèm dàs três legoas do feu eftupendo Pico em alttlra para o Ceo^
Peio que fó a Graó Canária pertenderá fermayor do que a Ilha do Pi-
co, por ter quarenta legoas em circuito ,& fer de fígura redonda } mas
claro eftá que nem de comprimento, oii linha reda diametral, pode ter
dezoyto legoas em circulo de quarenta & mais de quarenta tem a Ilha
;
do Pico em fua roda conclue-fe pois, que em feu corpo he a mayor Ilha
:
CAP.
yrr -
€kp. VlII. DâS poVôaçõèsáà Ilha 3o Picò,
y::> « <;
m
031C G A P I TU L o VIIÍ.
11 ^
Bom vinho.
•Já 54 Huma legoa mais adiante eftá a perigófa barra , que he o Mupt thàii adiante
primeyro porto da principal Villa chamada das Lagens j mas deftc ^n-í*f'g*tf * priftcifal
iney ro porto fe naõ ferve a Villa , fenaó quatro mezes no anno , em Ma- ^''^'* ^'^ ^'*í^^ * ^*
yo, Junho , Julho , è^ Agofto , por fer em voltas a entrada da barra , &
i°°- '"^"•*'">«'*f»
quebrar muy to nella o mar i porem pouco adiante tem fegundo porto tUdos-,^ ti dom poti
a Villa, &eftafeíerve delle com feus barcos. Confta a Villa de quafi,„ de grtmde eõcHri
duzentos vizinhos juntos, fora muytos efpalhados ; a Igreja Matriz ht fo ,& muytariqutx.al
da invocação da Santillima Trindade tem Vigário , & quatro Benefí- à' nobres.a,
j
f
ciadoS} tem gente íiobre ,& rica & delia foy íeu Capitão militar hum
j
Pedro Triftaõ Gulatte & ainda que o terreno defta principal Villa he j^inda adiante
}
fefi:
de pouco trigo, por fer terra fragofa,he de muyto ,&exceUentevinhoj_f«f^ bahia chamai
&"demuytas,& grandes madeyras:& ainda daqui legoa&meya de co- dadoGaUaò,porhii 'i J
íta alfa eftá outro porto, a que chamaõ a ponta do Mouro j & aefte ter- 7^ home^é-fodafatai
ceyro porto vaõ muytas caravelas, & fe carrega nelle toda a forte dç ma- ^'^^''J'''*'^^^^^'*<>f'*'
deyra , com que fica a Villa das Lages , como a cabeça da Ilha , muyto
^Elh^&i^dberfet
bem provida, & fervida. to^J^VogrlIdl^]
5f Meya legoa mais adiante eftá huma bahia , que ehamaõ a o Reyfe deo por btnt
do Galeão , porque nelía hum Garcia Gonçalves Madruga , aehando-fe pago dt hud grandà
devedor a ElRcy D. Joaõ IIL fez hum Galeão Real ^ a que chamou o àtviâà. Elogo fefé'
Gâleaõ Trindade, &
o entregou a ElRey , que com tal Galeaó fe deo?/'' ^í'^^'*''/' ""^"^
"*""'
por bem pago. E aqui eftá o lugar, & Freguezia de Saô Mattheos, que
.tf^t^SwLT
confta de mais de cincoenta vizinhos i&feerigio em tempo do Bifpo
D. Manoel de Gouvea : &
legoa &
raeya adiante gftá hum porto peque- Legm àdidnte ejíík ,
m
^^1^ Liyfoy{II.DàScelebíe^IlhasdoFayâl,&Pk©r
gado & houve já muyto bom paftel & aquitie oPoénte
de hamu.y.íx>. , j
Faval, ^uajílegea, cZ lifaa , & oade elia acaba pela parte do Sai j & dcfçoíice defte porto
da
wHpo TKais át cem eftaõ dous Ilhèos pequenos , em que fo iia muyca , & varia cafta de aves,
víítnhos Jéra os do
^
P^fte Foente da ilha v oÍca ,elia tio Su para o Norte j para 1
efte , andadas três legoas & mcp , eítá a ponta pequena, que chamaó
Certaõ,
Te efilfforandf c^es
g^^^ia mais de mu pipas cada aníioj & o porto hc tal , que com gumda-
diXRo^Hfii lte> ,& às mãos varaó os barcos, & tem fácil a deícarga,& carga.
Udl^SJyih ?^í^" da banda do. Morte , & çorrefpondeote à Villi d^s Lagens , da
' ;
a mu deSaeRocjue, banda do Sul, & ao mefmo Saõ Roque he dedicada a fua Igreja Matriz,
f ovo de í^o-.,míí^ & tem perto de centQ
&-cineQeata vizinhos, com feu Vigário, & Be-
mil nhoi.em ^ ha os mm neíiciado. Nefta nobre VíUa fojírCapitaò da guerra hú Simaô Ferrey*
ricos, & Kobresdeto-
^^^ ^ antes delle hum Fernão Alvarez , taó rico & taõ nobre , que diz ,
^^^y^^^^^i^ y que em íeu tempo era o Monarca da Ilha do Pico ; & ainda
fe/f!^ 'eí/fír-
^^''"?^ ^^goa da Yilla por diante, aonde chamaõ a Prainha do Norte, fer*
to chamado Prlinha
ào, Norte onde >ne v^ à dita Villa O caes chamado Cães de Saõ Roque que da terra entra
, ' ,
^^P grandes foder» pelo mar hum tiro de arcabuz, Sç he todo de pedra viva, que hum gran.
'ejiar. " . .., de terremoto , & corrente fogo fez, como em íèu lugar diremos? & jun«
, . ; .,
c^-lo' n- yo^fM-^n to da ponta delle, nefta-Praínha do Norte, podem nãos graiides eftarfe»
guraSj &fó por incúria naó hecurfado efte bom porto. :/*.'i
.pgoíiefla a Encurae- dada mais huma legoa fe fegue a Encumeada, que dizem de Santo Ama-
^^"^-^^f^^^"'^ roi& por outra legoa maisadiante vay amais alta rocha da Ilha, atè
^t> defou de entrou-
^, ,
R^ibey rinha , ou Prainha , que eftá em hum porto , & he lugar
%.m nna,d,ftallha, que chcga a cento & vinte vizinhos , & tem leu Vigário, & Thefourey-
^'cheg.ti ao /«j^r 10 ;& defronte da Prainha eftá no mar, &taõpert0 3humIlhèo,quea
chamado Rtbejrmha nado fe vay a elle i hum quarto de legoa mais avante eftá hum poço
&
^ut tem 1 - o mz.L ^e agua, que toca de falobra , mas tal , que delia bebe a gente,
. muyto &
ultimamente a Ponta
f.^mííot^/'ít'^'tr^'^^''^°
^"c'olrcafnd7I//hl
^" Calhào Gordo, donde principiamos efta grande volta dada a toda a
atè ai.\ Irar pinta ^^'^^ ^^^^^'
t!'»
do^calhao.apnde ^»0-
m(oí*' %í\ - \^;^^'-
. CAP.
vr"
<3ap . IX Dos frutos ] & ícrtilídade da dita Ilhâ^
. 471
C A P I T U L O IX. >
temos quando delíc^ &ò que mais he que caminhos communs naó ha vizinhos juntos mat
j > \
j)or dentro defta Ilha mais que o do circulo delia toda à roda , que jà mnym lavradores tf.
,
tocámos , 6c hum que atravefla pelo meyo j do Sul ao Norte da Vílla pttlhados ; cami- ^
sas Lages à outra Villa deSaõ Roque i &da mefma Villa das Lagens^*"' /"í^'^«
*'*/f
Vay outro caminho de tfes legoâs de comprido atè o pè do fobredito ai- Jí^ ^* j** .f*^** ^ '
o n ^ j a j 11 f^tUa.oHde Norte A
& 1
to rico i por entre matos» arvoredos: oc com tudo he verdade que em gf^^ ^^^^^ ^^ ^^£, .
•todo o certaõ da Ilha ha muytos rufticos moradores j que guardaõ ga* dat Lages atè ope dá
dos, criaò colmeas, fazem cera > fabricaõ o mel, cortaô madeyras j &
fa- alto Ptco ^ o maisfaâ
iem o mais que fe lhes manda fazer ; mas nem dclles ha algum lugar de ™<*tos,de ^«ejé os ^ ii
&
em dous dias, para beberem aíidâó camihho de três legoàSiporquèí'»'^"''»»''*/^'».
ainda que nas fcf tas do ordinário Cettaó ha algumas fotltezinhas ^ naô
íaó comtudo capazes de darem bebida à gádos;
6i Porém parece he taõ humidà eni fetft futldos efta Ilha , íjuê
feus frutos ftaóneceffitâô de rega, fiem de mais agua os gados, pois dâ^f'*'** '*^<' ** ^'^
toda a hortaliça , ti mtiyto bellâ , 6c ha homem que de abóboras recolhe '^," ^^^'^^ '*'''•*; «^
mil 6c duzentasj Sz ha taó grandes ftaboS * que chega cada hum a mc^a * jV'
'^rânlhK
arroba de peZo ; & ha tanta càrrieyrâdà j que hum fó homem dà oyten- legumes, ftutai é"
&
ta carneyros ao dizimd, 6c cento &
tf irita pedfas de lãj St dá fruta de èf- at melhores de ejpitih»
pinho confeíía FrUdUofo que hè a melhor de todaS aS líhâS ; 6c dé pef- f «í ha tm todaiatl-
fegos,marmelos j figos j U má^ãs he, ( 6c com excellencia J fet-tiliífima, ^^^^ ^ inUHrheraUeí
como tâmbem de gados detodadcaftáí6c Vácca^,pofco^, oVelhas ,&<?"'''' '^'^'"'^''i"^l
*"'
cabras U he de riof ar qUe òs ruflicoS eSfolaVaò ôs potcos , ha da pelle
•,
faziâõ os feus çapatos , jà Com o cabello pafa deíif ró , já còm èlle para
iora, os calçaVaõ , 6í os ataváô com cofreas da mcfmà pelle do poréO}
mas depois der^õ em câlfar riiais lirripámeate*
-''-! Rr xi\ éi O
4^
*
Livíò VIII. Das célebres Ilhas dbFáy'aí,'& Picb»
^Ó2 O màyor fruto, 6c mais celebre defta grande Ilha do Pico
O mayor fruto por em he o feu muyto , & Tsxcellente vinho, & quantas |nil pipas dè cada anno,
he o exceUente vinho, bem fe colhe, que (Ja Cal Ilha fe provém em grande parte as outras Ilhas,
de ^ da mtiytíu mil as arn>adas,.& frotas ,qae a ella yaô ,os Eftrangeyros que -O váQ bufcar,
fipaí,&a excellencta ^
q muyto que vayparà o Brafil , também verii para Portugal ) a & &
com quepajfadodefta^
razaó deo jà O antigo Fruauofo Irv. g. cap.^i. dizendo q«e o vmho do
Jlhavecem aindítao' -ri
"^^° "^*^ ^^ "^^
"
u
muy to , mas juntamente o meliior
"
gue naMadeyraclíKt'
m^ Malvaz.ia. deve entender do vinho que naquella Ilha chamaó vinho pâiíado , por-
^•"^
" - *
'•'
que he taô generofo , &
taõ forte 3 que era nada cede ao que em a M^
^' deyrachamaõ Malvazíâi antes parece que a efta vence aquellejpprque
da Malvazía , pouca quantidade bafta para alienar hum homem dç feu
u juizo,& naófeaccommodatantoàfaudej porèrao vinhopajiradodoPí-
íí CO, em preg^-fe mais em gaftar os màos, humores, confortar o eftoma-
go, alegrar o coração 5 & avivar , & naõ fazer perder ojuizo, & ufo da
razaõ 5 além de fer íuaviílimo no gofto , &
muytò confprtativo, ainda fó
&
com o cheyro j por iíTohe muyto eftijmado, & vai muyto mais que o
outrovinho.damefma ilha, com fer todo preeioío. ,zi\. ,
.
ciaes primos das ditas obras , que vem para Lisboa , & vaô par^ outras
j^
terras, He efte páo Teyxo tal , que çrefce como Pinhey ros , & naõ de
outra forte 5 fenaõdafua própria femente que deilecahe na terra ,& a
enche de Teyxos novos, fem que necelllte de outra algiía fabrica don- :
de com razaõ dizemos que atè a madeyra da Ilha do PicO , he hum dos
V frutosdella, de grande rendimento. -
tiM oHtroi llha^ ^ legoa-, mas os barcos da paíTagem íaó fó da parte do Fayal,com que que-
,
e^eaalmente «^ do
rendo alsuem doPicopaíTaraoFayaUfaz de noyte tantos fachos-de
Faval, com que tem r i- r r "i íY o r rr
L ......viz.inhan^a,
. miiyor
» ,:,Ll rogo, ou de dia tantos íumos, quantos íao os p.illageyros ocle opaUa- ;
& trato geyro he humfó, &;qtier paííar, faz juntamente muytos dos taes Cu
naes , 6c paga quanto os niuy t.oS pagaria© , èc a paga he a vintém cada
Q th V-
paíTa-
paííagey ro; &
fuccedc muytas vezes , que hum fó paga por fete » por &
íióz í por íancos finaes ter íeyto para o virem buícar jà fe vè quenaõ : & ,
ma Ilha doFayaL
.i ,13^^. - :
&í.
X AP I T U LO X.
Sul , do que do Norte & taôperto do porto da Magdalena ,que con-í''^^^'*^» ^'"'^^.^«^
;
tandoa quafi legoa de mar, que da Magdalena vay ^tè o Fayal , ainda ^//2«^^|^^^^^^^^ m
eíU Ilha do Fayal fica menois de duas legoas do pè do Pico & a Villa y^^*^,^ ^^ Fayal]^ j
das Lages lhe íica atraz três legoas pela banda do Sul para o Nafcente, defle difta duo* U^
& todas eftas três legoas faõ de matos , & arvoredos ôc aífim como, pa-^fl/«, ^ mais de três-
j
ta o Poente, fica bem ao pè do Pico o fobredito lugar da Magdalena , af- dafrincipaiVtlU das-
fim para a parte do Sul lhe fica , ao pè também , a Freguezia j & lugar ^"^í^' (jHelhefien
li
•
mel, & muyta cera eíte tradoi & logo em outro mato , & bem ao pè do /7>//^ ^gs, Roque^m
monte, fez , ao principio , hum devoto Ermitão húa Ermida eni que fe ,
do^ "& havido por Santo j & nem o nome, nem a pátria nos ficou de túSobe por linha direy'^^
Varaõi taaoCeo comtres le<^
66 ,
eftupendo Pico, na TTiefma circumferencia.?^'^ '^'^"'''^«'»/''^^*'»-;
Sobe pois cíie
de três legoas > í< huma de diâmetro , fobe quafi legoa meya ao Ceo ""*; ^í'""" '^'Í'''f^
&
direytamente,&: na mefma direytura, mas ja com menos circulo, lele-y^^^'^^^.^^^^^^^
vantaem fegundo monte, outra legoa & meya em demanda dirèyta ain- com algumas voltas-,
da doCeOj &aííimeonftade dousmontes, ambos uniformemente fu- mat aprimeyrakgoA
bindo hum fobre o outro, ainda o de bayxo he taó alto, qtie excede os &meya u ainda ma^
&
gados;
grandes montes de outras terras: em o primcyro monte que fica de bay- ^'y>'^!,^'>ft«!,
*
xo, ha ainda muyto arvoredo partos , &: muytas fontes pequenas , & , 1 J^^^^^fTu
, &
por líTo OS muytos gadosoíobemCGdOj&emtodooanno,&ospaltores.^'^^^^^y< '^ ^^
com elks & no veraõ fe atrevem a fubir parte do
-, fegundo monte ymú.s fobredito & (empré ,
nunca jehegaó ao mais alto do fegundo, & ultimo monte porque pof-x) vias fontes porem , ,
toque ainda nellelhes nao falte agua, & algum pafto, he jà tudo tam de aguas ,& ares tad
dekado i & íitbtil, que lhes naÕ ferve à nutrição natural & menos o ar, ^^k'^"^. &Pibtts,^
,
V •
r -1 ^ o -rr ^ ^ •
j -«.vt. 1^ tiaó condiiz.?mpa'
jamaisfubtil para a natural refpiraçao,& por jílo em entrando o inver-^^^^^^^^
! í í* .
'
humarm,
no, todo o gado "per fife voítaao monte de bayxo j 5cnelle fefica oin-
TfiãA ^H* vern®
Ml m^ÊSÊBtm
4?'^ Livro Vííl. Das celebres líhâsáoFayâlj&Pkoi
agnma,
f^***
& quem da coroa de taõ alto Pico olha pa*
j^íqq diftaõ quarenta legoasj
nuvens lá em bayxo fobre o primeyro monte in*
rá bayxo, vè andarem as
fcrior ) & chover lá por bayxo , fem cahir agua entaõ no fegundo mon*
tCj antes fentmdonellefereniífimo tempOj ar delgadiílimo, & dclgadif».
• r fi mas aguas em diverfas fontes 9 &: ainda em a vital ,& melhor refpira*
^aõ difficuldadg,feníiveL
68 E naõ obftante ifto tudo , hum Corregedor , & Defembar-
gàdor de Angra , chamado Fernaô de Pina Marecos j indo cm correy-»
çaô á dita Villa , ( como jà tocámos em outra parte ) fe animou a fubir
^'^ ™^^^ ^^^^ defte fatal Pico» que tem três legoas de fubida acima , pof>.
CvrregeàothoHveteiõ
^Hriojo ijHc metteo to que em varias voltas , & quando jà naõ vio mais à que fubir > fe fubio
,
íhor refítiraçaõ , & ° ^"^ ^^^^* ^^^ > como diííemos acima^ôt fazendo logo experiência das
mais humana,
*
fontes, das ervas, & do mais que brevemente pode fua curiofidade exa*
minar, temendo do ar a delgadeza , & algum accidente fobre ella, fe
voltou logo abayxo , defcendo as três legoas outra vezj bem guiado pot
rufticos paftores} & nem fe fabe que achaíTe em o cume do tal Pico nu*.
vem , ave , gado , Ou bicho algum , & menos ainda gente humaUa > & fé
do inferior monte para bayxo tudo achava.
'
69 Do tal Pico emfim diz Fruftuofo liv. 6. câp. 41 que he taô
.
alto, que os mareantes , & as outras Ilhas o tem pot fua melhor agulha
Repormm de Um
,
nando os ares com a cabeça pofta fobre as nu vés , & eftas em bayxo ado*
fando-o fobre a terra; & taó alto parece aos que eftaó perto delle , como
'
aos que eftaô longe i Ôc âos que ao mais alto rfelle chegaô , entaõ lhes
parece ainda mais alto j fem poderem ainda bem comprehendeF fua al-
tura.
fó Naõ
toa ti
9tfei;«í.V'
€a]>^,|ít.RaiNobreza,ríqueizaj8rgovef4allhadoFico47^
com entrada nelle de hum tiro de arcabuz , aquelle grande cães depe-'
idraria abrasada, ( de que falíamos acima em o fim do cap. 8.) do qual fe il.iJ
^rve a. Víílade Saó Roque , que difta delle huma Jegoa j & affirmao
jdoutoFfuíluofo jquefoytaô grande o fogo, que todas as mais Ilhas ÚM.
.Terceyras ÍGallumiáraò com elle, & atè nadeS. Miguel fez da efcura
iioyre claro diaj& comtudo nem hum minimo abalo fefentio em o dito
faral Pico, contra cujaimmenfa machina nem o fogo fe atreveo & naó j
^_f!>.
ilha do Pico.
do Pico os primeyros, &: fegundos Povoadores ; & que o dizerfe, que a Zli^Mfuf-famêv^
Flamengo fidalgo Joz de Urra, Donatário do Fayal, foy"o que po-^fomlfieZésIfi»^
voouallhado Pico 5 naõ quer dizer que de Flamengos foffe povoada, P''-'* \
mas que c®rao mais vizinho, & que povoara, & governava ao Fayal,
continuou também a povoação da Ilha do Pico, porém pelos Portugue^
Kes 5 que também jà do Fayal pode mandarlhe j pois na Ilha do Pico
nem familias achamos de appellidos Flamengos , nem eílcs tao cedo
deyxariaõ feu Flamengo Capitão , nem os convidaria huma Ilha, qus
ainda que naó tinha porto de fácil commercio , nem os frutos ainda dos
vinhos que ao depois teve ; & que entaô lhes parecia hua Ilha tam mon»'
tuofa, medonha, & incultivavel , que fó Portuguezes tem paciência pá-
ra a Jrem abrindo por diante, & cultivando, & miry to mais vindo jà das
©utras em tudo Portuguezas Ilhas , que jà tinhaô defcubsrto , & culti;"
<'-tí ^2 Qiiàíli*
478 Liv^oVni. Das celebres Ilhas do íáyâl,&tic®:
72 Quanto pois àriqttèia^J^efta Ilha, a que eh ego
Dm grandes ri^ue- mente , bem fe colhe dos preciofos frutos, com que fahio dentro em
n-oí , é- frftm defiít poucos annos, pois naõ
fó deo ao príndpio muy to ',& excellente paftel
i^^^' no termo da Magdalena, riquiílimas madeyras em tantas legoas da Ilha,
muyto mel , & muy ta cera , innumeraveis gados j tf igo de fobejo para
toda a Ilha , eopiofiífimas frutas, & as melhores, linhos, & las abundan*
ces i mas toda ella fe desfaz em vinho taõ preciofo , & em tantas mil pi*
pas delle, que já em feu tempo ( diz Fruftuofo /íi;. d.cap.^i.') eraõmuy*
tos os homés que tinhaõ a cento & vinte pipas de vinho eíada anno^Sl;
íó ao dizimo pagavaõ oy tenta , Sc mais carneyros , cento & trinta pe*
dras de la, & femelhantemente dos mais frutos i & coíiclue o raefmo
Doutor , confeííando , 6c affirmando , que havia na Ilha do Pico bomês
^x- muyto ricos , & jáhojeo faó mais, pelo que muyto maisfubiraô os pre*
, ços dos frutos, & o comraercio das Naçõesa ellesj & ainda quemuytot
das outras Ilhas , & muyto mais da do Fayal , tem já muytas rendas nâ
do Pico, fempre deíla he o mais, & o melhor , Ôc a fabrica, & paga ds tu«
do quanto delia vay para oUtí'^.s partes. '
2í-í / 1
73 Defta riqueza fe feguc a nobreza deita Ilha , poisíè a nd*
Ha nohrez.a qne ãa ^^^^ ^^ ^^^^ ^^ riqueza , ôc efta he a que dà as honras , & valimentos^
& brevemente ad- ^^^^^ eílá que fendo a riqueza tanta , naõ pôde fer pouca a nobreza , bô
quire a ri<^uez.ajeje trato , & cafas dos riços , & na fartura dos outros , mas ainda em ofan-
í"*! dijptndcr, gue , que Geuealogiftas querem tanto diftinguir , v indo todos de hlim
^^íâ(U/^^ Avií,ínefmo pay Adam atèNoèjêc defteatèeftês tempos ainda eíTafangui- -,
a^a cJÇ/reJ3ii~ c^j^^t^ nobreza , pela riqueza entrou em efta rica Ilha , porque como nas
Ví€Í;k) Tt^iTfU^^it^ç.s Ilhas ha tantos morgados , ou vincules impartiveis , ficâõ os fi-&
/w^ a^. lhos íegundos menos ricos , com
os dos ritos fe ajuntaõ em cafamentos*
—rX^««f3para terem a riqueza que lhes falta, &
aos que a tem communicarem fua
^tâffif^^^ imaginada, &
fó fanguinea nobreza ; &
por iflb algaem dizia, que naó
;í^^^g^.^^avia no mundo mais que duas gerações, que faõ, o ter, & o naõ ter :&:
'^íi^wíifc-^t^tAj^alguns melhor diraõ, que as duas gerações faõ , o ter, & o fer, & que fd
/h^^uÂy**^ât^^^^^^ ambas fe compõem a mayor nobreza , deter o neceífari© para efta
^
^9«^ â-^^*t rS^ m poral vida , & fer limpo de raça que impeça o alcançar a vida éter*
jCttJi/fiH^ <^h^4£ih ^ "^õ faltará quem diga , que unicamente em o ter confifte toda a
y*- ^n^DvíT^^W^o^^^^^ "^28 em o ter duas coufaSj a faber, ter a vida íã, & fanta-
>
^^
f-X^^^. Mas tornando à fanguinea nobreza , defta participou tanto
r/^^^^l^/^^í. aprdenteilha do Pico, que já em feu tempo nomea o Doutor Fruduo-
brei dai Villtu de SaÕ fo a muytos varoens conhecidamente muyto nobres a hum Capitão
-,
Roque, & dai Lagís, da guerra , da VilladeSaô Roque, chamado Simaõ Ferreyra, que ti-
dos appcllidos deFer. nha
fuccedido a outro , chamado Fernando Alvarez , de quem diz que
rproi mdrng^s,
^^ (^^^ ^^ ^^^ ^ Monarcha da Ilha do Pie© ; & a hum Rodrigo Al-
L.enios,Leaes, Ctt- , ^ .. r tr-ii i ^ n i
^^""^^ ' "^ quem diz que era em a meíma Villa de bao Roque homem
tr-
teSjTriílces, dos quaes hum Pedro Triftaõ Gularte foy Capitão dos n'!
jVíihtares, &: caiado com Ifabel Pereyra , deites defcendem cambem &
jTiuyto nobres famílias do Fayal , como algiis Silveyras, Utras' , TerraS)
Porres, Montojos, Bruns, &c.
; 75 Sobre o que toca ao governo raayor de toda a Ilha do Picps
rmuytos quizeraó dizer 5 que o primeyro Capitão Donatário do Fayal
Joz de Utra , o fora também de toda a Ilha do Pico , com a raefma ju-
rirdicçaõ j porém nem de Real doaçaõ, ou carta ajguma confta tal, nem (^apitaZ
D
<3e tal faz mençaó o erudito Fruduofo como faz das outras Ilhasj nem por ElRey
,
nunca o
,
ie fabe que.o dito Utra repartiíTe da dita Ilha terras a algúsj & fó fe acha tivt a Ilha do Pico
em Guedes que o dito Utra povoara a
, Ilha do Pico ; como a do Fayal "^^^ f» faz.endo Iht
|)ovoou também 3 & trouxe muytos a povoalla , fem queporiíTo foffQ£""'''^fj'"^^ °^'''
íeu Capitão Donatário .aquelle grande fidalgo Guilherme Vandara-'''''^'::"",''',^''^^'"^;*'
j
(VaíTallo povoar huma terra de novo defcuberta por feu Rey, quando ef*
te o naõ prohibe jentaõ fem nova licença do Rey , qualquer feu vaflaU
-lo o pôde fazer, & lhe faz ferviço niíTo; & fe o povoador hc eftrangeyro,
baila a licença, ainda fópermifliva, para que o faça j mas para ter jurit
jdicçaÔ lobre a dita terra de novo defcuberta , he demais neceJTaria doa-
ção, ou carta Real tícnt^ qtie o Rey lhe dè j & como naõ confta que o
ReyadèíTeaJozdeUtrafobreallha doPico, nenhúataljurifdícçaóti*
ilha fobre ella.
'..-... 76Parece pois mais proVavei i qlte aííím coíTioó Rey de Poif- ,
fugalconcedeo ao dito Joz de Utra o povoarj & fer Donatário Capitão f>irijdkça3 mlitar iir.!S 11
da Ilha do Fayal, & por Real doaçaó ou carta infcrtptis, aífim lha eX-^'f/'JJ "'^ Capitães
,
•tendeo depois ,& de palavra í ou carta menos authenticà, a continuar ÍT""^':/ rL '^fu'
x-erao ter [obre allha
- j j T)'
a povoação da ilha do rico, U o governalla em o mi|itar , por nenhuma 40 Pico , mas
T!) o 11 -i- 1
efia
outra Ilha eííar mais próxima à do Pico que a do Fayal , & efta mais í^- fempre lhes reJifiio,&
jciimente poder acodir àquellai &
mais depreíTa em toda a occafiaõ: mas 7^ governa pelos fettà
fe defta permiííaô , ou conceíTaõ verbal feaproveytáraõ os fucccííores ^'*/'"^°-' "'^^^ ^'^
do dito primeyro Joz de Utra , naõ me confta nem que houveíTe mais ^'f^'^ ^ofloj pelos fetá
,
algum outro Capitão General da Ilha do Pico, & muyto menos Dona-
tTlLallfaTt^har^iâ
tario delia, nem que hoje alguém o feja.
tem algiia, fendo <^rtè
77 Confta porém que fempre os Capitães mores àzWhzáo apodem & devem ^
Fayal pertendèraõ ter a jurifdicçaõ militarda Ilha do Pico , & com ef- ter,
teyto a tiveraõ algús , mas que fempre a Ilha do Pico lhes refiftio a iÇÍOi
& ainda hoje refrfte ; & qUe fe governa em o militar pelos feus Capitães ,
mores, a que também chamaõ Capitães dá guerra das Vilías das La- ^
géSj & de Sao Roque ^ eleytos rta forma coftumada pelas Cameras & ,
Povoj mas nem confta que nefta Ilha haja Fortaleza algiía ou prefidio ,
eftes eftar prefidiados porque ainda que naõ haja memoria de ter fido
;
&
do fugeyto aoBijpo de foureyrosjSc extravagantes Clérigos i tanta limpeza junta comtaó
Angra ^ & alem d* bõs procedimentos em os pòvos,que naõ fey que defta Ilha vieíTe ainda
der^fiA tem hi* úni-
algú prezo ao Santo Officio , pois nem da raça de Judaifiiio j nem aindsi
co Convento deFrun-
algítmoi de hereges eftrangey ros
& ha nella gentes. De Religioíos j ou Réligiofas
cifcdKOS ,
Mijfoês da Compa- também naõ ha na Ilha do
Pico Convento algum mais , que de S. Fran?
nhiadc ?ESVS, cifco , que a toda a parte acodem * &
fervem mtiy to aos faôs , aos doen-
tes, & ainda aos jà mortos, &fempre dos feQplares tem Terceyros j 8c
Terceyras de muytâ reforma, & virtude exemplar. Edo Colíegioda
Companhia de JESUS, da Ilha do Fayal, vaô à do Pieomuytas ve-
zes Religiofos que nella fazem miíToês Apoftolicas , como em as ou-
,
tras fizeraõ , & coftumaó fazer fempre j & ifto por hora bafte da fatal
Ilha do Pico, feptima das Ilhas dos Aflores j ou Terceyras , vamos à&
©ytava, & nona.
LIVRO
-yrr
ilH&iWJxv
9 ivLl 481.
^-.^
L I V R O IX. sihttllíBHÍW
!i
I
4;
'I
D AS
ILHAS flores;^ CORVpi
& das que íe elpera deícubrir de ttovoi
í òíi<f- vL ..riilfco:!*.>; v'ndu::?bí>
,í?rrm57nrr
C A P I TU L O I.
inda do que diz > 8c algumas vezes repete atè raõ espnmeyros def~
<ocap.^%. & em outros lugares , & do queconíla por tradição commua, *'«^''''=ií'"'^-'-'^*'»««-
^"^""^ de co»prt.
èz tocaò algús outros efcritos, diremos o que pudermos averiguar por "*
provável.
mais ^ j ^ ^*
A TU j r '^ -^ j ,.r. &mats de\i..emre^
2 A »-.v ,^
ilha das Flores efta em quaíi quareílta grãos de altiírajdil- ^of.do.
Efik na alta.
1
brr;âó,quc por \Ç[o lhe deraÒ o dito nome;mas porque para o feu Norte, ^^ ^^^^J ^^ //^^ ^
ê-í cm pouca mais diftancia que duas legoas lhe fica outra Ilha , a que Corvo ^»e vulgar-^
,
,
châmaô Corvo, de qiie abayxo trataremos daqui vemque a ambas eftas njentedànomeadm'^^
,
chamaô Cot vo, & Corvinos aos naturaes de qualquer delias, & as pro- ^^f-
priedades de cada húa accommodaÓ à outraj & ainda o vulgo das outras
Ilhas confonde as taes duas entre fí. Fojaoytava Ilha dai lltJ
3 Do disí, mez, ou anno , em que a primeyra vez fe defcubríf- Ttrciyras^ott dos Af-
feailha das Flores ,na6 ha nem provável conjeftura, como mú\\ox it Çofe$ ^de^uhert<t\&
verá abayxo., quando tratarmos da do CotvOj 6íp mefmo podemos di? ^''^ I '^**»'^ j/f^^fl^
Ss ze£
m^
ftnaUl^S. de ttrfido Vandaraga da Silvseyira foy , %í eftev/g na Ilha das f^lores j iíTo fez elle,
ae anttthakitada^ tendo jà vindo ^a ígia terri à ilha do Fayal , $c jà depois defta defcuber-
ta haviaquatro annos j & depois efteve alguns em a Terceyra j ainda &
depois voltou a Flandres , êc dahi vindo por Lisboa , tornou à Tercey-
ra, &ç dçfta entaõ foy às Flores.
4,
.
£ daqui f« colfee j que t^dp fi^o dgfcu^bertâ a Ilha de Sapta
Maria epi o anj?o de 143 2.^ a de Saò Migyel em o anno de 1^4; a &
Terceyra pouco depois , mas antes do anijp de 1450. depois do qual fc
defcubrio lo^o a Ilha de Saõ Jorge > &
ainda pouco depois a Ilha cha-
mada Graciofa j &
também dahi"a pouco a chamada do Fayal > 6c muy-
to antes ainda do auno dè 1469. fov defçtiberta em feptimo lugar a
grande Ilha do Fico colhe-fe pois ,
: &
conclue-fe daqui > que efta Ilha
das Flores foy fegunda vez defcuberta , &
começada a povoar pouco
depois do anno de 1460. ha mais de duzentos cincpcnta & cinco &
annos.
5 O refoluto fe entende do íegundo defcubrimeíito deíla Ilha,
enaque jà fe cQmeçop a povoar 3 que quanto do primeyro > em que fp fe
vip,& defcubrio, mas líaõ fe povooUj comp veremos abayxo tratando da
Ilh^ado Corvp j defíe primeyrp defcubrimenro podemos de certo affir-
* mar fomente, que na tal Ilha das Flpres , nem final de creatura humana
feachou, como fe achow em a Madeyrâi Sc nem gados, nem outros iíidi-
cios fe acháraõ de ter alguma hora entrado gente nefta II ha , como vi-
mos jàdâs outras Ilhas Terceyrasj em que fó algumas aves do ar, que
por elle paíTavaõ de alguma terra firm-s mais vizinha , ou de outra Ilha
jà povoada , pata mas que todas eftas Ilhai Ter-
eíia Ilha das Flores >
CA PI T U L O IL
Coyre§>onde 4o Sul Das Cofias marítimas , & Povos interiores defia Vha^
cqm alta rocha
Sttefie com ajua
, ao
f^it'
& feusfrutos.
S
la de Crfft.,à pajpí
de 7,òo.viz.inhoj; ^ é o Endo qiiaíi redpnda efta Ilha das Flores , he de rcclia alta pâ-
tem cjnatro Comp;S'- O
ra a parte do Sul j 6c fronteyra ao Stielie ertà a Villa princi-
nhias,& Capitão rrior pal, chamada Santa Cruz, cuja Matriz he de NoíTa Senhora da Coiicey*
^Ade , Ma» çaõ , èí chega a mais de duzentos fogos, em fitio chaõ , & bem arruado,
Igreja
com quatro ruas que cortem direy tas ao mar &: as cortaõ varias travcf- ,
4^ Fr^fjíifcmos c^
fas ;& tem quatro Companhias de Ordenança com feus Capitães ,SC
,
t/Jis l^rmidaij^dow
Capitap mor ' da
Villa, & do feu tcrmçi tem chafariz fio ixieyp, èc de boa
fori9t bòj.
'..r. .
agua,"
VT-
ii,
^ento & cincoenta moyos de trigo de carga, além de ter adiante, diftan-
cia de hum tiro de arcabuz , outro porto , por onde entraõ caravelas pe-
lo interior da Ilha dentro. A Matriz tem Vigário , & Cura, & os mais
neceíTarios oíBcios , & na mefma Villa hum Convento de Saõ Francif-
eo com , ao menos , féis Frades Sacerdotes j & ha de mais nella três Er-
midas , huma de Saõ Sebaftiaõ , outra de Santa Catharina , & outra de
Saõ Pedroj & que nobreza ha em eílâ boa Villa, diremos abayxo, quan-
do das Familias. ;
tá hum lugarete que chamaó a Caveyra ; & legoa & meya da dita Santa ^'
S.Pedro^&ja hõa
Cruz eftá o lugar chamado Cedros , coufade trinta vizinhos , fregue- ^^^^^^^-CrHz-^i^/à
zes ainda da Matriz da dita Villa j Òc aqui naõ fó ha varias fontes , que 'caneyra
& mfvaíe'^
cheyas de agriões vaõ ao mar, mas também huma continua ribeyra, ^^ qoAadtatt efiaicha^
chamaõ a dos moinhos, por os ter , & a elles fe ir moer o paõ da Villa: & ntado Cedros demais
aqui defronte eílaõ aous Ilhèos no mar , hum tiro de béfta afaftados da de i^oviúnhos, eom
Ilhaj &; com hum delles naõ ter mais campo em cima que o que leva hu rtíeyra, & momhos
alqiiey re de femeadura,tem comtudo em fi huma boa fonte de agua do- ^ '^^^f?''' ^"^ " ""!'^
^*^
çe, fendo que por bayxo he tam furado , & atraveíTado do mar , que de ^ - "^ --'^^i
huma parte à outra paíía hum barco, & ainda huma caravela , & fem pe-
rigo algum. E mais adiante , hum tiro de béfta , fahe taõ fora da rocha .
,^,
húa fonte de agua doce , que/às navios a toraaó, & dentro de feus bateis
enchem as pipas. /
8 Hua legoa adiante fahe da Ilha ao mar huma ponta tal , que
ao lugar vizinho chamavaõ ao principio Ponta Delgada , òc depois íó fe Ouira legoa adiante
chamoHO lugar da Ponta, & he Fregueziade trinta vizinhos ,& ainda dhmdoparao Ner.
he dajurifdicçaó da Villa de Santa Cruz. Mais adiante eftà outra pon- dejle eftk o lugar dã
^^"^"tf""^ ^o.vtzt"
tâi que chamaõ a Ponta ruyva, que he o fim da Ilha,&: olha para o Nor-
defte, Sc no tal fim ha algus moradores , que eftaõ legoa meya da Fre- & f^'^'f^ 'J^^f
''"í
guezia de Saõ Pedro, & pouco mais adiante eíH no mar hum Ilhèo , &
^^^^g ^ep9Í4 ktí hheá
&
hum ancoradouro de navios, na Ilha lhe correfponde húa nobre Fre- „„ mar, & homporta
guezia, Sclugar, chamado Saõ Pedro , que tem cento &
cincoenta fó- r.a Ilha, fiambre la.
gos, Sc huma grande rua corrente ao mar , com outras atraveíTadas , & giir de S. Fedro que
9 &
Daqui par^ o Norte, Oefte , jà Subdoefte, eftá a nobre , &
fegunda Villa das Lages, &:jà em nada fugeytaà Villa de Santa Cruz: AfegundaFillt cha-
confta de muyto mais de trezentos fogos , &: de duas grandes Compa- mada das Lages ,&^
k dt
nhias, & dous Capitães da Ordenança, í^ hum Capitão mòr da Villa, emnadafngeyta
p^pr/iísyta
U &
feu termo ; confta de húa erande rua , &
muvtas traveíTas ; &
tem ^: ^^^^'
de 7.00. vtzjnhos, (3*
,. j ^ * í , r ^
diante de o para o mar alguns bayxos perigoios aos que quizerem por ^^j^f^y^ntas nobres ^
mar acometer a Villa , & fica jà mais de duas legoas do fobredito lugar Matrtz.,& Ermidas
de Saõ Pedro. A Matriz defta Villa he da invocação de NoíTa Senhora ^ huma Ugoa pela
^<3 Rofario, eom Vigário , Cura, & outros Clérigos: tem mais duas. Er- Norte eftk oingar d^
( Ss ij midaS|
Hl
4S4 Livro IX. Das divcrfas Ilhas de Flores, Sc Corvo.
OCertaodaIlhatem muytas, 6c muyto altas rochas grotas & penedias 3 , : pelo Norte ,6c de
mnyta rochedo , & Leite a Sudoeítc , ha muy tas terras lavradias , mas com tanta pedrazi-
delle muytos ventos,
nh^, que atraz de hum arado vaõ três ou quatro ^ enxadas cavando ao ,
Çr as terras de tnv^ 1 j j t j Tir •
v
1
r /y 1
o
r
nr
crefce muyto } & por ííIo a madeyra he
^ ^
''
1
costados, mas ima- muytocheya de nos, & ate da càfca do Cedro fazem cordas, como de
, v , t i ,
meraveis ovelhas, é' efpartoj & a madeyra crefce muyto mais alaftrada pela terra, do que fu-
Vís^ & panos delias. bÍndo ao vento tem pouco gado vacum , por naõ ter muytos paftos , áe
:
ainda poucas cabras, porém tanta ovelha, & delias tantas lãs, que fazem
panos , naõ fo com que fe veftem , mas mandão a outras Ilhas , & em
grande quantidade.
11 Com os muytos picos , & ribeyras naõ andaô carros pela
ET*-- / ... j. r .„". í'iha , nem outras béílas , fenão muy breve caminho i & nem ha nem fe ,
& do mar efia hfttal criao cavallos nella. Ao Sudoeítea huma legoa ainda do mar,& da lebre-
Lameyro, que o pào, dita Villa das Lagens , eílà huma alagoa , que com fer cercada de gran-
oít^anoaejííe chegou^ des róchedos,& cahírcm nellamuytas, & grandes ribeyras, nunca jà-
õtorna perpetua & j^-^^[^ , crcíce, nem abate & pela terra dentro ha hum lameyro, ou brejo,
:
ferfeytamente preto;
í^ csm tudo nenbíir/t
^ ^^^^ ^^^ atraveflados, Dor onde paíía a gente fem fe enlamear j mas
^>-
> , f ^ ^ ^ r 1
4^^^"to dos bordoes que levao entra no lameyro , tanto le torna tao
, ,
pano fahede tal Ilha
'tenaõ cot» a cor da à p^eto , affim por fóra , como atè por dentro , & de hum preto tão fixo,
ieíjHtfojfeyto. & tão firme ,que nem com o tempo fetira, desbota, oudiminuc; &:
fe as meyas ciroulas ou calçoens chegaõ à tal lama , tudo fica , 5c para
, ,
fempre, preto & comtudo nenhum pano fahe daqueíla Ilha com algúa
;
matsleg-Ames frutas
^ hortaliças, & frutas com abundância , & detodaacafta &' huma ;
hortaliças eados. & n \ 1 /-1
"^
^1 " Tit \ 1
aves & muytas ma- ^^^^ "^ arvores de fílvas bravas, (de que nao ha em as
.
outras iihas^
<<í;>-«</,,7?/í'/)tf/et;í'fl/o que dao amoras, como ovos de pombas ,& he fruta muyto doce,
gofto-
ftcriaõalaftradat. fa,& de eftima. Por a terra lavradia fcíde pouca altura fobre a pedreyra
,
-
» do
-rr
lasm.
terra, que dà hum anno trigo , fica fem o dar dous annos , & fe cobre de
erva, a que chamaõ Gubres, & de altura atè cinco palmos, & com tantas
flores amarellas por cima 3 que daqui veyo chamarfe a Ilha das FloreSj 'í:i
mas os legumes j & outros frutos íe daò, fem a fementeyra delles aguar-
dar folhasj & menos os Inhames a que o vulgo chama também Cocos^
,
que nafcem como as batatas, & faô muyto íadios , & grande fuftento
da pobreza como o faõ no Fayal , & em a Ilha do Pico nefta Ilha nao
, :
& com Fortugal o tem, fo quando la manda de Lisboa o feu Donatário i ^^ hnma vez. m anm
ouCommendador bufcar algum trigo, & outras rendas fuas}& nem cem Portugal, quan-
com as outras Ilhas tem commercio , fenaõ com o Fayal, & com a Ter- '^o /« mAnda bttfçéy
ceyra, & fó defde Março atè Septerabro j & lhes levaõ muytos dos feus ''^i'**^ "'^'' ^ '»"*», '>
panos, & hnhos, & algum gado , & muytas aves j &: voltaõ-fe com algú *"^" '"^ "'^''^'*''
vinhoj azeyte, mel> louças, & adubos , & o dinhcyro que podem. De fal
£firliIy7o7-'*ÀZ
fe provém dos Eftrangeyros, que paífaóafazer aguada, & lhes vendem
rai fa^er agJJda ,*,
ps mantimentos que lhes pedem , mas fem os deyxarem entrar na llha,faK.em do mar &ot' ,
porque nem agua lhes deyxaráõ tomar , & fó com pedras j que das altas "'»» deyxad faltarem
rochas derrubarem abayxo , lhes afFundiráó barcos , &• navios. ^""^^'4^ ^«^ "^fK '"*
Já houve
comtudooccafiaõ (em 25. de Junho de 1587. ha quaíi cento & trinta "^''^ '^^ !-5°' '^^""J*
annos } que cinco navios ínglezes enganadamente entràraõ\ a Viiía das
rflladas^LTT'^''^
Lages, & a faqueàraõ j fugindo os moradores para os matos ; mas atègo-
nemfefte, nfmluer-
ra lhes nào fuccedeo outra , pela vigia que fempre ao diante tiveráo &• ra.nem terremoto, ne :
laem fe fabe de fogo, terremoto,pefte, ou guerra que houveífe nefta Ilha H" f^oavejá mais »
atègora. ,
nefiallha^
CAPITULO IIÍ.
res, fenaó
efle ultimo, que ha dous annos morreoj &: na verdade aiffuma
„i "^pJilfíJhT/Hl
deículpa tmhao os mais , em nunca la irem , por eftar de Angra ferenta/í-ísj paroihos &al.
,
i^ He verdade que
além dos ditos Parpchos tem algús Cie*
rigos maisj & Gonfeflbres > & o íbbredito Convçiíto da Ordem Serafim
'A fé piedade, & de-
voçaõ he pftriffima ca, quc naó fó celebraó, mas confeíTaó , & prègaõ j &
atè da Companhia
cmtoda allha (^^í de JESUS, & do Collegio de Angra tem là ido por vezes em miíraôi&
i
limpeza do fangue.
16 Qiianto ao governo civil , também fe naõ fabe que alguma
hora foíielà Corregedor algum 5 mas latem feu Ouvidor , pofto pelo
M avelfè ^ot,^,.«4
fenhorio, &
Donatário da Ilha ,& efte he o que tira os pelouros dos Jui-
efiaHhÀ peís jem
Sthaâos, & Ouvidor zes Ordinários, Vereadores5& mais Oíficiaes das Cameras das duas Vil-
qki tsm, &peU YA- j^s, Santa Cruz , &
Lages j,& em tudo fe governaó pela Ordenação de
iaòtimird, qm héo Portugal » como legitimos i ^
verdadeyros Portuguezes i os lugares &
pri»^^''^^^^^^'"^*'
m^yoíes por feus Juizes pedanèoâ, com recurfo de tudo ao Ouvidorj
^cine^edor
^ ^^^^ ^^'^^^ ^^ governaó muyto conforme ao direyto natural , fem in-
Sim
juftiças, ou trapaças, & fem crimes, ou íurtos , ou injurias , mas em paz,
foyJaatè ama.
,^
"*
&
quietaçaõi que fe houve Republica que naõ quiz admittir Médicos*
'
para fe viver mais, & melhor nella jcom mais razaõ naõ admittiria tan-
ta cafta de Solicitadores, Efcriváes,& Advogados, & ainda de Juizes;&:
com menos papeladas , & com menos repetição de palavras j fe julgaria
, melhor, & fe gaitaria menos.
17 E quanto ao governo militar, governa-fe eíia Ilha pelos
íeus dous Capitães mores das ditas duas Villas, fem hum fer fugeyto ao
No militar fegcver- outro , nem haver lá quem fobre elles riiande * mas cada hum fobre os
«apelos fem Capitães
particulares Capitães dâs Companhias , que governaó aos feus Alferes,
wom, & *mais CaboSi ôc quando, he neceííario, fe unem
&f''^2Z!2 & eftes aos Sargentos,
aos Capitães, Qr mau ^ , & •
r r \í
cffictJs; mu dt For-
todos pcla mutua dependência que entre li tem , para le eonlefvarem a
taUz.as\ oft peças de fi, & ao feU ; & com tudo nap ha em efta Ilha Fortaleza algúa
de folda-
artelharia nada tem, defca paga^ & pcças de artelhariaj mas fó efpada, & adaga j lança , & al-
[ena5 rochas,&pene- g^jg arcabuzes, ao eftylo de Portugal antigo ; & as mais armas, com que
dos , 9«í df cima af ^-^^^ ^ brutos nunca falta de todo a natureza ; & aflím tem os mais ím-
^^'"^',f^T''f 2 penetráveis
r muros nas fuás rochas ao marj aartelharia mais horrenda
teme pada, adaga, Qr ^ l u 1 "
lança, & areaàz.es, nos peUedos, que pelas altas rochas lançao abayxo^ que nem ha galeoesj
que os aturem , nem outro reparo delles , mais que fomente o fugirlhes*
que he o que os da Ilha querem.
18 Se ainda alguém diííer j que melhor feria a efta Ilha ter húa
fó cabeça qUe governafle a mílicia'j & armas de toda a Ilha , & naõ duas
cabeças, que dem mais cabeçadas, &c.jà a experiência tem moftradoo
contrario, & ainda a natureza ; pois o mefmo corpo humano , pofto que
tem huma fó cabeça, hepara nUnca ter cabeça alhea , oU eftrangeyra
que lhe encontraffe a própria , & lhe inficionaíTc o corpo ; & comtudo:
olhos próprios tem dous, ( k naõ hum fó } os quaes fendo próprios , fe
unem fempre, para vigiar , &; defendei" próprio corpo i & fe eft ranhos,
foíTemj
TT
Cif. IT. Da quâliáiâde dos qae j^ovoàraSâS floicl, 4I7 lE'!
sonde; df Governadores , que naõ fítõ dallhâ,cem ido alguns pobres fi.-.
dalgos , & fó a encherfe à fi, & a defpejar , & afronCâí a Ilha j o que naõ
faríaô» íe foffeíH os próprios DonataçÍQsdella>ou os feus proprios,& na-
to raesScííadoSj Capitães mòresj&e, o que ainda melíior fe experimenf^
ta m ilha Terccyra, aonde huma fó cabeça de fora da Ilha, & eítrangcy-^
ros comel;k>(eomoo Gonde Dom Manoel da Silva , com Francezes}
perdèfaõi& entregarão alIhaaCaftella, defempaiando aefenhorD.
Antooio & quando dous Capitães mores da meíiiía Ilha , a defendia®
:
como aeoyía fua j naóíó a defenderão em viva guerra de hum anno in^
teyro,mâs elles íós com os feus Jlbèos renderão ao fatal Caftello de
Angra> & fugeytàraç as Ilhas ao feliçiflimo Rey Dom Joaõ o IV. logo
naõ be melhor o tal governo de huma fó cabeça j quaíi eftrangeyra, Sc
que fó trata de fi , do que o de duas cabeças naturaes , que igualmente a i», {
ÍÍ5 do que aos íeus defendem ^ & aífim fe governarão eftas Ilhas fempre
G A P I T U L O IV.
?9
NO a
cap. I .
primeyra vez fe
deáe Uvro diífemoS jà , naó conftar de quandei
9.
defcubrio efta Ilha das Flores , ou poç
M
^uem nem j de quando , ou por quem a primeyra vez fe povoou pais j
Antaõ Vaz, Sc outro Lopo Vaz, que de Gaftella vieraõ a efta Ilha, (Sc
tal vez copi licença de Portugal } o que confirma Fruduofo quando y
:
0i
Éttái^
dalgo j & voltando também pela Terceyra , delia mudou fua cafa para
as Flores t & jà depois do anno de 1460. & logo là junto à ribeyra dé
Santa Cruz edificou humas cafas bem lavradas , que Fru£tuofo affirma
exiílirem ainda em feu tempo 6c fazendo o fidalgo por fete annos con-
:
Os Uai os Síheyras
^^ ' &
^^^^ fidalgo Silveyra , no tocante à Ilha das Flores , o
foraõdfpoisà tal /-
qucconfta he,que foy o primeyro Governador da tal Ilha, & feu VicQ-
lh(i\ & a deixarão; donatário, & hum dos priméyrcs , & mais
nobres Povoadores delia , Sc
é" entaõ for Aõ os ne- que porfete annos , ou mais a efleve povoando mas naó conílaque do;
hres Piwenteú, Car- ^^i Silvêyrâ entaòdefcendente algum ficaíTe nadita Ilha ; íalvo depois*
7ul''ca^'*'/^''^^
deUos, Cojtas, &g.
& dos filhos, & filhas que cafáraô em as outras Ilhas , foíTe algum def-
^^^^^j^^q p^j.^ ^g Flores , como acontecer podia. Povoadores outros da
princi|paí Villa Santa Cruz ( confeíTa Fruáuofo em õ feit Uv. 6. càp. 46.
na parte que ficou delle) foraó homés fidalgos , chamados Pimenteis,
Carneyros, Frágoas , ou Fragas , Cordellos , & Cortas. E mais abayxo
diz o mefmo Fru£tuofo , que no lugar chamado Saó Pedro * & na Villa
das Lages ha gente nobre , como Pimenteis , Honiés , Cofias , Fernan^
'
meyro veyofe chamava joaó Vaz Homemj& foy pay de Gonçalo Vasí
Bamhre, <^ '»«^'Ç» .Homem, qite caiou muyto nobremente em a Ilha de Saõ Miguel cora
^g"^^^^^"^^^°'°"'^''^y*"^' ^^5 Colombreyros,&CoftaSi & dotal
{T]V/jr
t az. ornem.
fnatrimonio naíceo Breytiz Homem dá Cofta que cafou com Mem ,
Rodriguez de Saõ Payo pay de Eftevaõ de Sâô Payo & teve mais a
,
3
D. Antónia da Silva, que cafou com Manoel do Canto & Cafl:ro , o pri-
meyro do nome & pay de joaõ do Canto de Caftro dos quaes fidal-
, ,
Mell-^s fidalgos da Homem, que cáfou na dita Ilha com BartholomeU de Fraga
,
mas tam- ,
Teruj,ra,&Gr»eio.
bem nafceo Diogo Pimentel, que foy pay de outro Balthefar Pimentel,
-''*'
a que chamavaõ o Corcovado & nafceo mais terceyro Balthefar Pi-
-,
mentel
-rr-
I
Gap.lV. Conclue.fe com â Uhâ chamacla Flof esf. 48^
mcntcl de Fraga , de que ha mais defceiídencia na Ilha das Flores > &
duas íuas irmãs^ que das Flores vieraõ fer Freyras no Convento de Saó
Gonçalo de Angra j donde bem fc vèa riqueza , limpeza , & antiga no-
breza deftes Pimenteis, Fragas, Coftas, Horaés , & Vieyras , & antigo$
Vazes, que houve, & ha ainda na tal Ilha das Flores.
24, Daquellc outro Balthefar Pimentel, fegundo do nome,naf-
eco Chriftovaõ Pimentel, que das Flores fe paíTou a Angra, & nefta ca*
foucom huma fidalga chamada D. Luiza de Mello , filha de D.Pedro
Ortiz de Mello , fidalgo da cafa de S.Mageftade,& que era Alferes mòt
do grande Caftallo de Angra por Felippe II. & como acfte tinha fido
fidelífli mo , aílimi depois , ôc fempre o foy ao inviíto Senhor D. Joaó o
IV. & do tal cafamento nafceo D. Pedro de Mello Pimentel , que além
da antiga nobreza de feu pay , & avós paternos , tem a ilkiftre geração
do dito feu avò materno, por quem he parente confanguineo de toda a
major nobreza, & fidalguia da Terceyra, & da Graciofa , pelos Mellos
defta , de que jà tratámos longamente , quando das ditas Ilhas & cora -,
I:' ;1
CAPITULO V.
Da Ilha quejôfe chanm o Corva*
^(tajítrej hgoitídÀ
li ta Ilha das Flores, & fó três legoas delia, & de Lefte a Oef- H«m & aoNom
,
^I^^"/^*-
te das Berleneas de Portugal , eftà outra Ilha , que he a nona das nove '^'fi'* ^l"
l ereeyras , & a que piizerao o nome de Corvo , ou por nella acharem ^^-. ^^^z-^j, „„ J^ ^
^
os primeyros feus defcubridores algum Corvo , como ajuiza o erudito ^^ pigygj ^ gj}^ g^
Tni^iioíolw. 6. cap. 48. ou por lhes reprcfentar à primeyra vifta a figu- ^^. gràos de alturai
rade hum Corvo ; fendo que he quafi redonda na figura, & tem hoãs ter» mau de duodU.
duas legoas de comprimento , legoa & mcya de largura , & mais de qxia.-g'"^ de cumprimento,
tro legoas de circumferencia he porém muyto alta , & de muyto altas ^"' ^^'^^ ^ ^*^^
^^
-,
rochas para o mar. De feus defcubridores , &: habitadores fe diz que fo-
^^^^l cirxuito Sto*
raõ da geração dos Fragas, & Furtados o que parece certo he , que fo-^^ ^^ ahijÇmtu ro-
:
raô puros Portuguezes , & que da Ilha das Flores a defcubriraõ , &: fo* chuspara o mat ^' ,
raõ povoar, como a taô vizinha Ilha,& por iífo fe tem por coufa fem du- das nove 7 erceyrai
vida que foy a nona, &ultima que fe defcubrio. f")'* »l»ma, que fé
26 E com fer das ditas nove Ilhas, tem dentro cm íi duas cou-'^^/^^^''"'*
fas de rara, & fingular admiração. A primeyra he , que naõ fe achando
na tal Ilha final, ou indicio de gente humana, âchouíe comtudo em hCia Chama-fe tántbímÁ
alta rocha , que cahe fohre o mar, & em húa grande lagem , taõ fatal , &
J^^a do Marco , fóf^
grande eftatua de pedra, que confta de hum cavallo em oíío & de hu ^«'7*'» haver Jtnát
,
^^^g^i^^í^^JI^J
4^0 tíVto ÍX. Das diverfas Illiâs de Fíores, 8c éorvo,'
to»/** íí<?;í;«f<íW/5, gunsafíirmaó que atai eftatua aponta para outra Ilha ainda encuberta,
& hu cavallejro em & chamada Garfa , que fica naquella direytura do Noroefte & que do ,
âijlo nao âigo mau ,fenao que he htía anttgualha mtiyto notável , &€. E nòs
pelo que fefegue, conjecturaremos algúa coufa.
27 A íegunda ainda mais admirável, Scprodigiofa coufa he,
que no mais alto defta Ilha eftà hum profundo valle ,ou caldeyra , que
"Achou fo mais no em bayxo tem terra de deus moyos de femeadura , & huma grande ala-
mep da Ilha híipro- goa de agua doce , & nella le vem fete llhèos pequenos apartados huns ,
fmdov^ílle
^ nslle |[os outros, em o mefmo rumo cada hum, em que naquelle Oceano eftaô
,
âs outras fete Ilhas Tercevras, que com eftas duas de Flores , & Corva
**
uf Iiheos,emtalru-
jete vuF^ . I '
f. ,'ri ji a tjivji"
mo,diflmcia,&arã' wzem novcj & reparando-le bem, cada hum dos taes líneos da augoa
dez.ajeparadas entre cftà moftrando para que parte fica cada huma das outras ÍQtt Ilhas , 6c-
fi,(jHeefiAõ reprefen. quaes ménos diftantes entre fi j & quaes mayores , quaes menores co- ,
tando propriamete oi mo fe foíTem eftes llhèos de tal alagoa hum mappa & natural carta de ,
mtrasfetejl}}as,&a.
marear para aquellas Hhas todas. Daqui pois parece , podemos conie-
cturar , que aííim como o mappa , ou carta dos llhèos delta alagoa nao
^g ,
hende Deos aos que naô fabem gaftar com o bem commum, mas íó com
feus appétites, & particulares conveniências.
Tem ejla Ilha dom ^9 He efta Ilha pois, em
, taÔ continuada
fua circumferencia
pertos hUparaoNor- em altas
rochas , que fó tem dous pórtos> hum da banda do Norte, eftá
te^antro aOesnoyoej. quarto de legoa do lugar, & povoação da Ilha ^^ debayxo dafobredi-
te,& tudo mau hg de fa rocha aonde fahe aquella fonte para aguada dos navios mais direy-
, ,
rocha* alttjfmoí.
fo ^ Les-Nordefte outro a Oefnoroefte , a efte chamaõ o Pefquey-
; &
roalto, ôcaoprimeyroo PortodaGafai& toda a mais coftada Ilha he
de
Í$ étiMmm roíehaíS, fem outj-o porto âlgúra ^ njem f^bida> i?em ^f*
cida.
..AJif;
Ç A P I T U t Ô VI, l;f.
faia ao tal Corvo, fenaõ pela Qiiarefma a confeflalloSi & nem pela Qua- trintavi^inhes
jiítos^
refma hia em alguns annos, pela diftancia de trcs legoas de mar , & tem- é-femParocho algi,
pellades delle > donde fe vè o defemparo em que tantos annos efteve ef- fJ^Tç
^ZtelL
te povo como efcreve o citado Fruduofo , qiie eftava ainda em ^^^ ^^^J^^talllr & Jin^
, -i
tempo & que nem do Corvo havia barco para as Flores mas que das ^^ bígamas Ouartf,
j ,
Flores hiaô là ao Corvo , quando defte faziaó final por barco, como do f^^náSpedU làf^f.
Pico ao Fayal para o commercio humanOj& nem ainda entaó para o Di- jair.
yino hia Sacerdote algum > & fofria Deos taes omiíTcês dos homés!
31 Atè que chegou a gente do Corvo â augmentarfe tanto^ ^^ hojèpõrèm ww/j
que ólj.igâfie trinta vizinhos paíTa jade cento & pnze,&jà (gvâçãsa opevojuntede m.
Deos ) fe lhe acodio com Parocho próprio , & algú outro Clérigo Pref- vidnh9s,& ti igreja
&
refidentes fempre, mas reconhecendo fempre a Villa de San- ^'
^- ^- ^//"'"'^
bytero , f
ta Cruz das Flores como a fua Matriz ; Ôctem o lugar do Corvo lua
^^^^^^C Irrigo maié;&
limpa igreja, & da invocação de NoíTa Senhora do Rofario , que jà ho- ^/^ grunde Contpa-
Jeobra muytos milagres. Em o civil fe governa efte povo por feu Juiz „hia, &feu Capitão^
pedanéo 5 &leys de Portugal & no militar por hum Capitão, écfua é^tm peçoide ane-
:
grande Companhia, & mais officiaes delia &: por onde pôde haveren- Iharia^á taipromp.
;
tradâ íiefte lugar, tem muro alto, & três peças de attelharia , em tal fór- ^'^^ ?"* ^
levaopara
ma promptas, queas levaõ , quando querem, para onde faô neceííarias. "J^^^ '/«X*^^ J^kí/X
^2 &
Coza eftailha ds muytos , excellentes frutos, do ^^^^i goverr.aopeloi Uys dí
M
&
do ar, (k terra : do mar he abundantiífima de peyxe,Sr do melhoi-, co- Pormgal , do a/à &
piojàdiffemosdas Flores. Das aves doar ainda he mais abundante,por- daraz.40i
que alem de muytos paíTaros que Vem de fora , na Ilha fe cria infinida-
de de hCis quechamaóAngelitos, do tamanho deTintilhões outros tíesfia JlLifu-tinf- $
fiue chamaô Bouros 6c faõ como pombas & oUtros que chamaô ^Çt^J^'*^naõfó
do melhor
, -,
iJágados.Dos Angelitos hum cento dao huma canada de azeyte , ^^^„gs^s!hores da terJ
bom como de oliveyra, ainda para temperar & comer , & naô os co- ^^ moitAmbem de
,
^
Ihem fenaõ em Julho, Agofto, & Septembro dos Boiíros tiraõ também tanttu, & taõ extra-
:
muyto, & igualmente bom azcyre de comef , &^ carne he taõ boa , 6C ordinárias atiss dá
melhor que a de gallinha Sc os Eftapagados deytaó o mefmo , & muy- ^^^'}»e dejlrn tirão a-
:
z.tytetaoperfepo to-
to, & excelleiite àzevte pela boca , de forte que fazem pipas de azeyte
j /i rr o r X
^ j j - w moodatolivewaij&
1
deftes paílaros 6c iao tantos, que barcos carregados delles mandão pá- ^^
1 1
'
.^
-,
^^^^^
raas Flores jinas Cambem tem grande Vigia queíenaó cacem nos me- ^^//^ mandAd piptti
Éses em^jiaeGriaõ^ por naõ os definharem , poif. delles tcitl azeyte atè ^i^ para fira.
iú
m
49tí Livro IX. Das diverfas Ilhas de Flores, & C oirvor
rà o prato , a carne para o nielhor fuftento, a pcnna para as camas , &: atê
a grayxa para tempera dos panos.
-
33 Da terra hejttiais frutífera efta Ilha do Corvo, porque a ter«
'A urra he mais fer-
ra delia he muy to mais alta & mais funda febre as radicaes pedreyras,
,
tii^por ter muyte ma'
calhàos, do que a terra da Ilha das Flores, & por iíTo he mais forte ôc
yorfnndo terreno :dà &
,
150. meyet de trigo mais fértil, & allim fem a deyxarem defcanfar
com folhas annuaes fe
, ,
além de eenteyo # femèa a mefmá tefra cada anno, & fó de trigo, com fer taó pequena Ilha,
,
cevada & legumes. dà coufa de cento & cincoeiità moyos cada anno além do eenteyo &:
, , ,
Tem grandes pajlos^ cevada dà muyto linho, & legumes, de favas, batatas, lentilhas, & hor-
j
mttytos gados
íteyres , tvelhof
, car'
,
é"
taliça de toda à tíafta} &da banda do Nordefte fe fêmea toda a terra : &
j^allinhas^&ate muy- por & de bons paftos, d à muyto gado vacúm,ovelhum,
fer terra grofla,
tos^ & bõs cavallos^ câbrtim,& muytos porcos, & grande numero de gallinhas
de toda a ca-
grandes madeyroá^í^ fta,& atècria muytas egoas,de quefahem taõ bõs cavallos, que muyto»
«xeeUeníes Cedros, de là tem vindo para Portugal. He a Ilha abundantiffima de lenha,& de
muytos, & melhores Cedros do que os das Florcsj & naõ fe fabequecf-i
ta Ilha foíTe algiia hora entrada, ou faqueada de inimigos. ,
i
-
34 Nunca houve ncfta Ilha ar corrupto, ou pefte, nem guer*
íá, oii fome, mas fó muyto vento naõ ha bicho algum nocivo, nem ain- :
'\\»f \:.
houve, nem bicha.ai'. parte , vaô primeyro vifitar , fe traz rato algum , & naõ entra a embar*
gií nocivo ^nem ainda
caçaò fem primeyro o matarem ; mas também naõ ha em efta Ilha coe-
raso algií^ ^ temfa-
lho algum> porém gatos muytos, & naó nocivos.
íags vigiai para de
fora nao vir-^mat tenf
mKyto.( gatos matifos
& nenha coelho.
^
C A PI T UX O VIL
Dos DonatartQS , & trato âeftas duas Ilhas Corvo,
& F/ores.
Primeyra peíTba que fe fabe tiveíle a Capitania Donatária
35 A
A Capitania Dona- r\
deftas duas Ilhas , que Jempreandàraõ unidas , foy húa fe-
tária de amba» ejloi nhora moradora em Lisboa & chamada D. Maria de Vilhena , que fez ,
duoí Ilhoi teve a an- feu lugar-tenente & Governador de ambas as Ilhas a aquelle fidalgo
,
tiga fidalga AeLisboa
Flamengo Guilherme da Silveyra , de que falíamos no/^x'. 8. cap.^.&c
jD. Aí^^nade Ftlhe-
da dita fcnhora veyo a tal Capitania aos excellentes Condes de S. Cruz,
na^dr emfeu lugar lU
govem^v^ o fidalgo que a tem com a mefraajnrifdicçaô que os Capitães das outras IIhas,ôc
Gmlherme daSilvey- fe diz que demais tem a cafa de Santa Cruz em eftas duas Ilhas o fer
ra dffc^s v yo aos Commendador delias ,
; ter os dizimos de ambas , &
naõ fó a redizima &
'E'Xcr!kni!JJiwos Cõ- de Capiráes Donatários & jà em tempo de Fruduofo , ha mais de cen-
:
ramente Porcuguezes , & fempre fieis à Coroa Liifitana & , rienhãâ lin- ronemedas ^^^^'^
fíua ufáraõ ià mais , nem outros trajes fenaô os dos antigos Portugiiezesi ^J'*^/ \^T-Í'
'
1!l
í^ue conleryao ainda , aíum homes , como mulheres , deltas as &
que lao figpoftH^alam?o\ai
Javradoras , trabalhão mais que os homés , ainda no cultivar das tcrrasi pefooífaõ de alta* */-
além dos muy tos panos de linhos, Sc lans que fabricaô porém a nénhus taturM cores alv^,
; ,
daô fcnaõ a cor que a natureza lhes deo j &: affim os veftem , fem admit- feyçõfi has.
tirem mais , exceptas as pcffoas que naõ trabalhão dé mãos , 6c fó man»
daõ trabalhar &í todos os deftas duas Ilhas faõ bem apeíToados i altas ef-
j
ao aceyo faz a telha falta algurna j & como eni eftas duas Ilhas fe naõ fa-
be haver nellàs terremoto, ou fahir fogo algum da terra , faô ainda mais
feguras as ditas cafas.
38 E daqui vem que quando deftas duas Ilhas vay caravelaõ à
Ilha Terceyra, &
carregado de muytos panos, linhos, meyas, &
muytas AcÀndara^vèrâAàél
gallinhas ,& carneyros,osque vaóa vender ifto, como faõ gente ^\t- (^ medo de contratar
bea , pafmaó de verem tantas cafarias , &: taõ altas , & naõ coftumaõ an- hefideitffinio; que &
dar fenaõ pelo meyo das ruas í que faõ muyto largas j & perguntados-, »'/<'^W^^í'»^íí"»:
refpondem que o fazem, por lhes naõ cahir alguma cafa na cabeça ; & fe »'J'^^J^J'^<^^^o »«>
*
das cafas os chamaó , & mandaõ íubir acima > naõ âcabaò comfígo de O ' ^
fazer, 6c refpondem logo. Trepar jijjo nae ; ôc não fe fiaõ de efcada , poí
mais Regia que ellafeja^ & aílim he neceííario mandar abayxo com-
prarlhes o que trazem 6c faõ taõ verdadeyros , & fmceros nos contra-
j
tos, que nem faltarem à verdade nem dizerem huma mentira , fe acha
,
Gom efta fiilceridade,Sc candura da plebe deftas duas Ilhas Uwadpmm no$ ef.
39
fe ajunta hiíma capacidade de diícriçaõ ,6cjuizotal, que verdadeyra- "''^''•'r./^'''V''"'
,r ..íji 1 /-^r
A-\deviioa/mns,&em
mente parecem huns diamantes , ainda nao lavrados ou {_ como le aiz j ^^ j^^p^gs de Coim-
-,
diamantes brutos , que fe os lavraõ , 6c conhecem , fahém em eíFeytos de ^^^ aonde ja vitraõ,
ínos diamantes. Experimentey ifto ha quaíi ciricoenta annos , lendo no compouco lavor fahS
Colíegiode Angra latinidade; & indo das Flores a começar a aprender /«eí diamames.
Té aiin-
mmM g^
4^4 LiVro IX.Das Ilhas que de aovo fe podem defcubrírí
a linguà Latina kim mancebo jà com mais de vinte dousannos,ein &
n!|
breve moftrou fer diamante taó fino , &
de tal fundo , que dentro de fó
&
o primcyro anno fc fez perfeyto Grammatico , no fegundo anno con»
ftruhia perfeytamente qualquer livro latino , &
alcançou cabal noticia
da Poefia, &
Khetorica, &
fe lhe conferirão logo as Ordens, atè de
Mif-
&foy hum muyto grave, Sc douto Parocho. Experimentey tam*
fa,
fffes monturos ipeytos que podemfermr defortes muros j aíTim pelas n»ais re-
inotas Ilhas eftaô pedras de engenhos taõ preciofas , que lavradas fahí*
ffáõ diamantes de Meílres de Cadeyras.
CAPITULO VIIL
llhaSi quefe ejpera defcobrir de novo.
& depois de metter outras matérias , traz o que outros antigos difleraõ
das encubertas Ilhas ; tudo, & por fua ordem ajuntaremos aqui.
41 Entre os principaes Povoadores da Ilha do Fayal , veyo a
Do grande Aflrologõ^^^^^^^^^^ hum fidalgo Alemaõ , que càfou com huma filha dopri-
&
Manim de Boémia, mcyro Donatário do Fayal J02 de Utra , o Alemaó fe chamava Mar-
& dt jaoi Profecíoí tim de Boémia ; &
efte era taõ grande Mathemaíico , & efpecialmente
natnraes, qne ^efe- taõ infigne Aftrologo qiíe andando na
, Corte Lufitana ^ fazia ElRey
""'**'
gnem. grande eftimaçaõ , &
conta delle , naõ fó por fua nobreza , mas por fua
fabedoria , & noticias que dava por obfervaçaó de Eftrellas j a qual erá
taõ notável, que eílando ainda na Corte , &
por noticia delle mandan-
do ElRey de Portugal navios que defcubriíTem as Antilhas , no mefmo
Portugal diíTe o mefmo Boémia ao Rey o dia , &
hora, em que os navios
voltavaó arribando, fem defcubrirem as Antilhas. E adivinhava tantas
outras coufas por obfcrvaçóes de Eftrellas & taõ certamente fe viaõ ao
-,
do
••9T-
Cap. lX.De outrâS giiílesj& tiòtavêisí lhas ainda Mculb,
49f
do de terra j& a qualidade da agua que eftaó em o centro
i
Dstíiietaes
mais profundo & o que eftà dentro de hum corpo humano j como naÔ
;
que carregadas embarcações fe veriaÔ rio Fayal,& antes de muyto tem- '''f*^^'"'
po, ôf c. E dentro de poucos annos fe viraõ em o Fayal nàos que vi-
nhaó do Perii, achado entaÕ , & que vinhaó carregadas de ouro > prata»
& pedraria.
43 Difie em terceyro lugar j que ao Sudoefte do Fayal , & Pi-
co, efta\^aó pordefíubfir três Ilhas em triangulo, &que huma áúhsTeueyrà de eutrà
era muyto grande, & propriamente chamada da Madeyra , &
a outra "«'2''» &majt>rllh<t .
cahio ao mar, & fem poderem tomallo pela corrente das aguas , fe tor-
narão fem mais achar a Ilha*
CAPITULO ÍX.
,
De outras Ilhas >
que ha neflè nojjo Oceano por def-
cubrir ainda,
44 T"^ "^ ^"'^ Provifor, & Vigário Geral das IlhaS de Cabo Ver-"
L/ de, que delias vey© & arribou a Saõ MigUe! & de huni
» ,
tomou a noticia de outras novas Ilhas que eftavaó por defcubrir aindaji
,
6c deftas diz o que aqui verettios , & fique a fé defta hiftoria à conta do
mefmo Author , que nòs fó referimos o que diz, & julgamos verdadey-
-
rojôcheofeguintê. Tt ij
45 Ao
49^ Livro IX. Das Ilhâs que^de. novo Te podem deícubrír." >
Majadas & outras zmhas ao redor j & neftas fe diz que ha muytos pinheyros , & outros
,
'*
tio Bom JESUS para Lefte fe vay por linha dar na Ilha do Porto Santo
''*'
/ J"'". 1£v
cento &vinte& ditas ^
. % xt
vizmha da Madeyra , &
,o n ^n ti tt-í-tto
aeíta diíta a do Bom J bb U S duzentas & qua-
1 1 ,
decowprtdo de Lef S. Miguelj & para O Nornordefte feda nas Ilhas doFayaí, & Pico j mas
teaOefie. quem partir da Ilha do Bom JESUS para Lefte deve irfempre com ,
vigia, porque em diffancia de féis legoas eílà outra Ilha em que poderá ,
S, António ^i^ua algUs dizer que era a fobredita Ilha do Bom JESUS , que naó obftante diftar
diz.emjeve da Ilha tanto,fe podia ainda ver em algõs dias pelo reíiexo debayxo da agua
do
"í^i* ' affi'"" cofíio ( dizem ) aíTim como huma moeda lançada em hum
^T"'
^reiè !fo'^''^
h'OHtralihíidnfa ^^^^ ^^ "S"^ » ^
olhando-fe para ella per linha direyta , fe vè de muyto
tncuberta. ^^^^ longe , do que fe veria , fe eílivera fora da agua. Outros quizeraõ
dizer que era outra Ilha ainda incógnita ; porém feja a Ilha que forjCad^
vtnQ Fruftuofo } quem fahir da Ilha do Bom JESUS
para Lefte , fe-
•
naó der com a Ilha de Santo António , levará fempre boa vigia, por naõ
dar a travez com outra quarta, & mayor Ilha, que ainda eftà a nòs encu-
berta.
47 Defta quarta Ilha diz omefmo Fruftuofo que (fegundo
'^^4 Ilha deS.Crtiz.ef' vio na p^rúciúír carta de marear que a traz) fe chama Ilha de Santa
tk em altHra de 32. Cruz,& que defta fe diz fer a mais antiga, & ainda a nòsencuberta, Ilha
gr aos, ao fab ir danaj- j^^ Madeyra & que a que depois defcubrimos , & chamamos Madeyra,
;
^^"^"^ P^'" ^'^" "°"^^ proprio a Ilha das Pedras da dita pois Ilha de San-
:
^emãrJV^foflíe
^^ C''"^'. ( OU Madeyra ainda encuberta ) achou Frucluofo que eftáem
^Utentl^UqoM^âirey-
tamccclnciaâai:^tem altura de trinta & dousgràos; & queíahindo da Madeyra em direytura
de comprhncmo 42. a Oefte fctenta íegoas eftà a Ilha de Santa Cruz ; & quem for da Ilha
,
Norte, & de Lfjle a Qefte oytenta legoas, & atè cento , naó dando com Santa Cruz torne a ,
Oefie tem também tomar a altura dos trinta & três gràos , virando a proa para Lefte, &: af-
,
{aa bahia mais pe- Hm de Lefte a Oefte , como de Norte a Sul lavre ornar dentro de efpa*
djííena.
ço de fó vinte legoas , & de bordo em bordo virá a dar com a dita í Iha^
& fempre com tal vigia, que não dè à cofta,
48 Affir-
.^'V*'!. *-
Bi
que da banda do Sul tem efta Ilha huma grande bahia , &
diante delia ^^^ ^, ^^e na^aõ-M.
&
dous IlhèoSj com diftancia entre hum , outro de três legoas; &
que da de a/^Ss julgarão ef.
banda do Norte tem outra enfeada pequena, outra da banda de Leíle, & tar nelU ElRey Dom
da banda de Oefte outra. E o que mais he , dizer que efta tam grande Schafitaõ^ dt Pwm^ M]
t^^õ facilmtntt
Ilha he povoada, & de tudo ifto dá por teftimunhas os Angulares mapr^-»' \
^-Z, cttyda cada hft O ^HC
n- 1 • •
>
pas, teílimunhas, & noticias que acima apontamos mas he coula nota- vv .^^
o i. i
-,
*
^ - —
''''
vel, que naõ diz , de que gentes efta Ilha feja povoada , fe de Gentios,
ou Mpurosj ou Hebreos , íe de hereges , ou Catholicos faiv o alguém :
quizer ainda fonhar, que em taõ grande Ilha ainda eftà o antigo , & L»-
iitano Rey D. SebaftiaÓ , &
que ainda ha de vir de là , naó obftantc ter
de idade jà couía de cento & fetenta annosj mas deyxemos eftesfonhos.
O certo he , que com eftaiâtal Ilha de Santa Cruz acaba o Doutor Fru-
âiuofo o fexto livro de fua hiftoria , &
o Capitulo 49. ultimo dellaj por»
que ainda que deyxou começado outro tomo , que intitulou , Saudades
do Ceo, para o Ceo fe foy , quando compunha o Capitulo 4.
CAPITULO X.
que de cinco delias naó ha que dizer j mas que pela ordem com que fo^ Das doze ilhas ehâl
raõ conquiftadas, a primeyra , chamada Ilha do Ferro , tem fó legoa & ^f^dm Cmariai^
'
"
meyade comprido, huma de largo , & huma fó Villa chamada Lhanos,
^ nenhum lugar mais. Porém que a fegunda, chamada , Forte Ventura^
tem dezoyto legoas de comprido, três de largo,& em tudo ifto huma fó
Villa,&: quatro lugares & comtudo tinha três , chamados Reys , que
j
te, he igual no tamanho à fegunda, & tinha huma fó Villa, & nada mais,
por fer muy to infrudifera. A quarta Ilha , que fe diz Gomeyra , tem
doze legoas de comprido , & de largo quatro , huma Villa , & demais
Iiú fó lugar de fefíenta vizinhos & era toda a Ilha hú fó Rey.
,
que chega a três mil vizinhos, & aléns delia quatro Villas, & lagares
mais nenhuns mas a Cidade naõ fó he a cabeça Ecclefiaftica de todas
;
aquellas ilhas mas também tem todo o politico governo fobre cilas to-
,
das. A festa Ilha fe chama Tenerife , & tem quinze legoas de compri-
do, U em varias partes tem féis , oyto , & dez de largo , & também fua
Cidade chamada a Alagoa & de dous mil vizinhos , & além deftas tres
,
I
4p8 Livro IXXompleméntodàHiíloriá das ílhâs.^
que também confta de dous mil vizinhos & tem a Ilha alguns lugares i
IlhaSj d,e que per iíTo mefmo fe iiaõ faz mençaó. Donde fe vè que as dí*
tas Canárias , enfiadas , tem de comprimento cem legoas & meya,& uni-
das as larguras, tem trinta de largo j &
Cidades três > ViUas onze , 6c
quatorze lugares , fora efpalhados Serranos j todas eftas Ilhas chega- &
rá© a nove mil vizinhos.
51 Em fegundo lugar as Ilhas de Cabo Verde faõ onze , cuja
principal fe chamava. Boa Vifta , hoje porém Santiago, & tem treze le-
T\. otix.e
„ . Ilhas .L. goasdecompridojhuafó
Tíu^, cha- » ^ Cidade do meímo nome^de Santiago j & de
Jjas '
.^ o r c^ o
,-. - r r l j
, mas com Bilpo , & lua be , & nao le labe de mais
. .
H
Câp.Xí^Gôtiniiâ ò juizó âèceífaríé ^arà a cãf.âas Ilhas. 4^^
CAPITULO XI.
'"
jpaíTar de fete legoas em feu comprimento, 6c de quatro em fua largura, ceyrá,
&
tem duas Capitanias Donatárias , a de Angra , a da Praya j & efta naõ
íó tem a Villa da Praya por cabeça j 6c fetecentos vizinhos nella j mas
tem mais oyto lugares, cujos vizinhos ,&osdadita VillafaZem ínilâc
©ytocéritos 8c vinte vizinhos: 6c a outra Capitania tem â Cidade de An-
^ra por fua cabeça , 6c hella três mil vizinhos & demais outra VÍII4
-,
chamada de Saõ Sebaftiaõ , 6c outros oyto lugares , que coni a dita Ci-
dade, Sc com a fobredita Capitania da Praya , fazem cinco mil 6c nove^
centos & quatprze vizinhos j fendo que a da Madeyra , em outras duas
Capitanias i ainda que tem fua Cidade j 6c quâtrò Villas j em tudo tem
íó quinze liigáres, ôc fó cinco mil èc feiscentos 6c feíTenta vizinhos j mas
a ambas vence ainda a de Saõ Miguel , que fobre huma Cidade tem cin-
eò Villas , ^ vinte lugares , 6c féis mil 6c oytocentos &
íeíTenta 6c hunl
yiziíihos.
:'
57 Em oy tavo
_ ^
,,.,,
iugar a ííha de Saõ Jorge tem raâis de dez le- Da ílka dt S. férjé}
goas de comprido, 6c quafí huma ^
meya de largo , 6c tíes Villas , Ve-
las , Calheta , 6c Topo , & além delias tem mais quatro lugares jttntos,
fora muytos moradores efpalhadosj &
deftes, &
das Villas, 6c lugares os
vizinhos todos paíTaó de oytocentos , em que ha mais de mil homens
llejírmas.
f^
'
M
5©o tívf ófXv Complemento da Hifto th das Ilhai;
Da ofamAda
, 59 Em decimo lugar a Ilha do Fayal tem cinco legoas (& mais
doFajai.
^
fegundo alguns ) de comprimento, &
de largura em partes tem mais de
duas legoas,& em outras,mais de tresjfua única cabeça he a Villa chama*
da Horta, q pafía de quinhentos vizinhoSi& além deíla tem muytos lu-
garesjdos quaes podiaó algfis fer nobresVillasjporque ainda que o lugat
chamado Ribeyrinha tem cento ôcoy to vizinhos >& o deNofla Se-
tihora da Graça tem cento & dezafeis & o de NoíTa Senhora da Ajuda
j
ta, & o Caftello Branco paffa de trezentos vizinhos ;& vem atereftâ
ilha do Fayal na fua Villa , & nos nove lugares , dous mil & fetenta ôc
oyto vizinhos ,& bôs quatro mil homés de armas.
60 Era undécimo lugar a Ilha do Fico tem dezoyto legoas de
comprimento , & quatro de largura i Villas tem duas ; a primeyra , 6C
'^Da gránie Ilha ão principal fe chama as Lages & tem duzentos vizinhos juntos, & arrua-
,
ím. dos dentro em fi a fegunda Villa fe chama Saõ Roque & eftá da outra
: ,
porto de Santa Cruz , que tem mais de cem vizinhos i o de Saó Mat-
theos , que paflâ de cinCjenta j o da Magdalena , que tem mais de huna
éentoj o da Piedade que paíía de cem vizinhos > & o chamado da Ribei-
rinha , ou Prainha , que de vizinhos juntos tem cento & vinte 5 & com
eftes cinco lugares, & as duas Villas fobreditas teraõ mais de oytocen-
,
tos & vinte vizinhos naô faõ menos os que vivem efpalhados por tam
}
grande Ilha, & de tanta fabrica de vinhos, & dos mais frutos, & abegoa-
íiasj donde íe vè que tem mais de mil & quinhentos vizinhos efta Ilha,
êc muyto mais de três mil homés de armas.
61 Em duodécimo lugar a Ilha das Flores confta de mais de
cinco legoas de comprido , & quatro de largo confta de duas Villas,
;
P* //è« akArnáda primeyra Santa Cruz, que paíTa de duzentos vizinhosj fegunda a Vil-
,
j^ ^^g Lagens , que tem mais de trezentos vizinhos j & dos outros luga-
ílores,
res de Saõ Pedro chega a cento & cincoenta vizinhos o da Lomba tem
;
cincoenta & o lugar que chamaõ o da Ponta , tem fó trinta j & outros
-,
tantos tem o lugar chamado Cedros ; & menos ainda tem outro lugar,^a
que chamaõ a Caveyra; &com os que moraõ feparados pelo Certaõ,
contém efta Ilha toda fetecentos & cincoenta vizinhos em duas Villas,
& quatro lugares & mais de mil & quinhentos homês de armas. Ulti-
-,
Dafempre ^«^^4^4
mamente a Ilha chamada Corvo tem de comprimento mais de duasle-
Ilha do CorvB. goas,&: meya legoa de largo & o único lugar que tem & íe chama N.
; ,
CAF.
!!l \
CA P I T V L O XIL
Cone lufaÕdQ Compendio acima^
63 E fe compararmos as ditas
IlhasTerceyras com tudo o que
p feu Reyno de Portugal tem cà na terra
firme de Europa , bem fc fabe
que hoje a Lufitania, ou Portugal ( ainda comprehendendo o Reyno do
Algarve } tem de comprimento noventa Sc huma legoas , defde a pon-
ta do Cabo de Saô Vicente para o Norte atè a foz do rio Minho j 6c jà
fica eftecomprimento fendo mayor que o das Ilhas fó dezafete legoas,
,
pois fó eftas vaó das fetenta 6c quatro legoas do comprimento das taes
Ilhas para as noventa 6c huma do comprimento de Portugal porém }
garve chega de comprido afó vinte 6c oyto legoas, defde Seyxes atè '^"'^ cada Provmid
Crafto-Marim, ^ de largo naõ tem mais do que féis legoas , defde a Ri- d,ePort(tgaL
beyra de Vafcaõ ( junra ao Campo de Ourique ) atè o mar Oceano fe :
repararmos pois nifto, acharemos, que naó fó naô lia Província alguma
das féis de Portugal, que occupe tanta terra, quanta occupaõ as nove
Ilhas Terceyras , mas que ainda hi1a fó deitas
( qual he a Ilha do Pico)
naõ occupa muyto menos terra, do que alguma das ditas féis Províncias
LufitanaS' 65 Hs
mm WBiÊsm
joi Livro IX. Complemento da Hiftoria das líhâS.
Como At ditas nove Hhas Terceyras muytos Reys ; mas com muyta mais razaõ em todas
Ilhas,
juntas todas,
j^^^g j^^^^ ^ verdadeyramente illuftre , rico , & poderofo Rey , pelo
/.yr/; ë^ rico ^
,
^^^^ g^^ moítrado da riqueza , & nobreza de taes Ilhas ; & pelo que fe
fQderojo epo,
qq\)^q do numero de valfaUos , & gente para guerra que ha nellas.
Gj Porque nas taes nove Ilhas , ( conforme o acima relatado)
& em as faas duas Cidades , dezoyto Villas , &: feííenta & quatro luga-
res, os vizinhos faõ dezanove mil & fetecentos Sr quatorze , & muyto
mais de vinte mil vizinhos com os ruílicós que habitaô fós em o Cer-
,
taõj & os homés capazes de tomar armas & fofrer guerra faõ trinta &
, ,
cinco mil & duzentos ,& chegarão a quarenta mil homens de guerra;
jà fe vè, que muytos chamados Reys, ou Príncipes & Potentados
, co- ,
mo muytos em Itália, nem podem pòr , nem tem tanta gente apta para
guerra, naõfallando em velhos, &
rapazes, nem na gente neceíTaria
para o ferviço humano, &
cultivar das terrasj do que tudo parece fe de-
Vem formar os juizos feguintes.
CAP.
Cap.Xin.Cõmo nao bafla h& fó Bifp.em toáâsp.llliâs.501
CAPÍTULO XIÍL
Do com que fe deve acodir a ejpirituainece^tdãde daà
UbmTerceyrm*
Mi
Livro IX. Complemento da Hiftorià áas Ilhas*
f ©4
cujo terráo feja , naó fó a dita Ilha do Fayal jiiias também a mayor Ilhai
do Pico, &
as duas de Flores, &
Corvo , por fer a do Fayal a que lhes
fica mais vizinha , fó quafi quarenta legoas , &
por fcr do Fayal para as
Flores Oceano mais livre, &
menos mfeftado de Piratas, CoíTarios, &
que coftumaõ andar entre as outras lihas : &
entaõ ao Bifpo de Angra
ficaráõ por feu termo ordinário as outras três Ilhas , Terceyra , Gracio-
ía, èz Saõ Jorge , que lhe ficaó mais vizinhas , pois cada húa deitas duas
Ilhas ficap fó oyto iegoas diftantes da Terceyra, de terra a terra,& qtiaíi
cofteando fempre , &
cora mais fegurança fe podem ir vifitari defta &
neceíHdade deftas nove Ilhas.
forte fe acodirà á efpiritual
71 E fe alguém duvidar donde ha de fahir a renda deftes dous
D tftatiriÃl dãí Sh novos Bifpados, de Saó Miguel, &c Fayal: refponde-fe, que Saõ Miguel
^_^àjà feyto nas no. ^gjjj ^^\ Matriz cm Ponta Delgada,que tem nella a Sè feyta no material}
'& S.Sebaftiaô naÕ fó ha Vigário, Thefoureyroi
^ToífZT &^d Po*'q"e nefta Matriz de
FayJ- %dosBemíi. ^^^^i ^ Meftre da Gapella com moços muficos , & do coro ,
^ alèní &
€iadoiqHt tsmfepo'- de tudo ifto ha dez Beneficiadosi 6c na Freguezia de S. Pedro ( além de
dem crear os Cone- Vigario,& Cura,que fe lhe naô devem tirar)ha também oytoBeneficia^
gos, & Dignidades dos, & fobretodos ha na mcfma Cidade hú Ouvidor Ecciefiaftico com
com a renda que es
Jjq^ rendaj parece pois qne bem íe podem dos rendimentos dos ditos de*
zoyto Benefícios, & da renda dos ditos Cura, Thefoureyro, Vigário,
'^ZmT^^'"'^'
£1^ -- *-'^^^'
gc Ouvidor, bem fe podem fazer quatro Dignidades, Deaõ,ArcediagOj
Chantre, Thefoureyro mòr , & féis Cónegos prebendados , & deus me*
^. yos prebendados , Sc quatro Capellães , & ficaráõ eftes dezafeis fugey*
tos com a renda dos vinte & dous extinftos , & demais com os officios
de Provifor, Vigário Geral, Penitencieyro, ou Cura, paraosquaes of-
ficios pôde efcolher o Bifpo dos da fua Sè , quem lhe parecer ; & naó fó
com mayor honra, mas com mayor renda ficaráõ j Sc a honra fó baftava.
72 Ecom mayor razaô parece fe deve refolver o mefmoda
famofa Ilha do Fayal , porque ainda que he em fi menor na diftancia de
terra, povoações, & numero de vizinhos , do que a Ilha de Saõ Miguelj
jnayor que efta he a grande Ilha do Pico , com as outras duas celebres,
F/ores , & Corvo , com as quaes três deve ficar a Ilha do Fayal , que a-
báyxo da Terceyra tem o mayor commercio que as outras; & da mefma
forte que em a Matriz de Ponta Delgada de Saõ Miguel vimos jà for-
, ,madoomaterial, & renda de huma nobre SèjaíTimfe achara na Matriz
if HJ tal ^o Fayal , nobre Igreja da invocação do Salvador com feus Beneficia-
dade , & o merece pjco, & pôde deyxar de ter , havendo Sè, & Bifpo em o Fayal taõ vizi-
T^kpa por fua gràn- ^^í^ £ quanto a naõ fer ainda a cabeça do Fayal, Cidade, mas Villa, ne-
de^a,noyrez.ci^ & n-
j^|^^^^ ^^^^^ ^^^.^ g Mageftade em a honrar com o privilegio de Cidade,
qmz.a de 'ommer-
^ - nuivtos annos O tem merecido por
j
^ fui^randeza , nobreza , Sc
ctos,& mai4 que ade l ,J .^ •',,, < ^ o •
. j
Cah Ferde^Angoh, tleligioes que nella ha, como ja largamente vimos no Uv. «. cap. 1.
'
de fuftentar p tal Bifpo : & como os dizimos das ditas Ilhas naó fó os le-
va
.'•'>
tários das ditas Ilhas, a quem ElRey dà à redizima, parece que defta re-
diz ima deve ElRey mandar tirar o que bafte para côngrua de cada hum .
dos ditos dous Biíposj & que aíTim como ElRey tira dos feus dízimos
o íliftento de todos os mais Parochos , ôc Beneficiados de todas as Ilhas»
dizima V. gr. vinte mil cruzados ( como a de Saõ Miguel ao feu, & ao'
, ,
C A P I T U LO XiV.
«iiii
50^ Livro IX, Çpínplemf nto da Hiftpíiadas. llkas,
cauías , por nelle com feu poder atropellarem ajuftiça, naõdeve efta
fofrello, &: menos o foberano Príncipe , que a todos he obrigado a Fazer
igual juftiça. Do melino modo, pois, que em todo o Brafil , & em toda a
índia Oriental fe terminaó , & tem feu fim as Ecclefiaíticas caufas ordi-
nárias, ( que naõ, tocaó á Fé Catholica) fem virem, a Port-ugal per ap-
pellaçaò alguma , ou a Roííia per Rcfcriptos do mefmo modo tam- -,
&
bém em tantas juntas, taõ diftantes Ilhas, & povos taó numerofos , fe
dçvem finalizar as caufas Eccleíiafticas.
78 O
meyo poisque para ifto parece mais jurídico , & ordi-
nário, que havendo nas ditas nove Ilhas os propoftos três Bifpados,
lie,
de Saõ Miguel, do Fayal, & da Terceyra , efte ( como mais antigo , &;
<^a mayor Cidade , & cabeça fempredas àitâs nove Ilhas }íeja intitulat
do, & promovido a Arcebifpo das taes Ilhas ;& que efte Arcebifpo te-
3t como o mai* anti nha, fua Relação Ecclefiaftiça de ao menos cinco Defembargadores , to-
•
go Bijpo deAnvra de dos Sacerdotes & o meírno Arcebifpo feja o Prefidente dos ditos cin-?
,
Relação Ecclefi.^Jtica appellar para a tal Relação & nefta fe fíndaráô as caufas íem alguma
, ,
per fi rêíjdirem nellas, pelo mayor ferviço que fazem na fua Sèj & Cabi-
do, & ria Mefa da Confciencia os feus DepntadbSiôc os Inquifidores
'no Santo Officio Sc da mefma forte S.Mageftádci como Meftre da Or-
:
8ò Nem fe diga , que mettidos de noVo 6$ doiis BifpâdoS de Sujfraganeoi cio nWÁ
Saô Miguel & Fayal , jà naõ he neeeflario que o antigo Bifpado de Arcebtjpítdo dMTer^
,
Angra fubá á fer Arcebifpado i & com fó dous BifpadoS fuíFrâganeos: & Bi§odeS. Miguel,
ceyrài, feraõ naõ fóà
que^quandoem as Uhás foíTe neceííario haver Arcebifpado , mais o de- d}" o do Fajàl mú ,
taes Ilhas algum Jitizo fuperior a quem fe recorrer das fenténçasdos d A Bahia (ao o do Rti
ça he que haja efte nos ditos Bifpados das Ilhas j & deve fer feu tercey- EfeòBi^odÀ Mi^
TõfufFragaiieòBifpOiodasilhasde Cabo Verde j que das Terceyras deyra httma [6 vez:, ,
81 E bem fe vè que o iiovo Arcebifpado da$ ditas Ilhas naõ fe inefinos naõ phde Jèt"
deve levantar em a Ilha da Madeyra ,por deftaeftarem taódíftantes as Arcebijpo das maia
Terceyras , que pouco mais oèftão dé Portugal , & tahiria na mefma,
difiantei nove Ilhas',
é" fe ao fiovo Arce-
& ainda mayo^: irapofílbilidade de recurfo ; & jà por iíTo primeyro en- bijpo deflasha de fer'
trou eín Àiigi-a Bifpo próprio feu , do qiie ria Madeyra eritraífe fèu pró- também ftíffragàneà
prio Bifpo algu. Qiie o Bifpo pois dã Madeyra fique ainda fuíFraganeo o da Madeyra, refol-
ao Arccbifpo de Lisboa,& naõ do novo Arcebífpo das Terceyras, fique va-óS. M^gffi^i^H
iiiuyto em boa hora;& fó digo q aílim domo á Madeyra \^áy àsTerceyras
buícaro paõ neceífário ainda para feu fuftentoiSc ná6 vay por elle a
Portugal , também naõ feria muyto que às mefmas Teréeyrás foíl^ buí-
Vv il
^^^
5oS Livro IX, ÇiíitipkmentodaHiftoria das Ilhsís;, 'V''.S -^
Em IngAy
de Sâõ Miguel, &
Fayal, Sc em Metropolitano o da Tereeyríi >; qwe vif-
àasfels I-
,, - ^ T to a efte da Terce vra fe lhe tirarem íeis Ilhas , Sc ficar fó com tfes de fua
-.
IhAS ane Ce Ur ao ao a- ^ rj- - j /r r n ,t i
feyto Arcebijpudo P^r fi fó QS Benefícios das fuás três ilhas, ( excepto o DeadodeAngraj)
,
parece qne je lhe mas que OS náo poíTa prover , fenão em gente natural de alguma das di-
devem- largar osfro- tas nove Ilhas , Sc nenhúa Coneziaem homem que não feja letrado for-
'ífimentos dos Benefi-^
^ado eiii direvto, OU Theologia , havendo^o ; pois então , Sc com eíTã
"*"* expearativa fe èftudarà mais là em as Ilhas, Sc viràó formarfé às Univer-
%7"exce\Z
íidades fe S. Mageftade não coíiiima prover Be-
de Portugal; porque
^lldo^^de^An^r.cd
tanto que nmca os fehão
neficio das Ilhas
, era homem natural delias , não deve eonfentir
ip?roí;^;íí/è«áoí«ij«^- que o dito Arcebifpo faça o contrario, Sc menos que leve de Portugal
tttraes das mefmas criados para OS prover là, Sc não aos naturaes do Arcebifpado , podendo
,///?/«
, &em letra- j^ fervirfe de gente muyto honrada Sc atè os mefmos Bifpados : das Ilhas
avm o-os.
feprovcrião melhorem naturaes delias , do que em outros que forem
E parece cfue S Ma- fó a encheífe, Sc a voltar promovidos;Sc moralmente impolHvel he, que
g^ftade provera me- no grande numero de Cónegos, Parochos , Sc Religiofos (como ha nas
VooroArcehiJpado,& novellhas) naÕ bajacapazes de ferem Bifpos là,Sc mais zelofos;poisíÍ5
BJjpados das dttas J.
g^ Portugal naó he ordinariamente Bifpo quem não he Portaguez, ra*
ias
^^° '^^^^ '^"^ *^^^ ^^^^^ "^^ ^^-^^ Biípo ,
fenão natural delias , havendo-o,
}emreosh'a
pois
de haver dignos sm ^ pcífcveraráó nellas então.
tanta Cler-jia leculnr
& em tãtas Reltqiões
como la ha ; &
entam
naÕ tratarão de ir (ó
a, encherfe.é' voltar^
SZ h P I 1? U L O XV.
mas aficar ftrfipre cO
ÍHatEj^ofas.
Cojnofe confewarú o governo politlcj),é' jurídico
dasllhm}
regedor juntamedte das Ilhas do Pico j Flores , & Corvo , ( como o de hm Corregedor dé
xà mais em a fua Cabeça da Comarca , rendo menos Ilhas que vifitar , &
menos viagés de mar i & ao Juiz de fora do Fayal não he ncceíTario que
da Fazenda Real fe lhe dè o ordenado , mas que lho dem , &
accrefcen-
mo por vezes fe ula com os que fervem em o Brafil, na índia, &c. 8c def-
ta forte haverá mais qitem quey ra ir fervir os ditos poftos , 8c com mais
no de Portugal, com taô exceífivos gaftos de fazendas, & peíToaes pe- Porto tanto menoi ,
ReUçad de fete D*- Fazenda Real j terceyro* o Auditor da miliciado Caftelio , que fempré
femhã-gadores deag- ht letrado formado quarto , o Provedor da Gbmãrca, ou
i Refiduos,qud
cravos, 'jtieJepoH. ttím praxe judicial
j quinto, O Juizdos Orfaõs, pois tem a mefmapra-
tao^& aigHsju„jn. ^g.
^^^^^^ ^ j^.^^ ^ Contador da Fazenda Real j feptimo , hum Ecclç*
*
fiaftico dois que forem Bacharéis formados do Cabido , ou de fora del-
le. Regedor defta Relação , o Capitão mor de Angra em falta def- -, &
í te o Capitão mòr da Fraya } Chanceller o Defembargador Provedoí
da Fazenda ReaL Paraoá fcjs fubftitutos fe ápontaó , primeyro ^ o Proí
^
tado alguém que naõ tenha õ habito , & o grande ordenado delia, razaô
parece que da Relação das Ilhas da mefma Ordem de Chriftoj nenhuni
denado algum j nem dobrados falarios, pois affim comofc lhes aug-
mentâ o trabalho âíTíni também fe lhes augmenta o lucro , & coiifórmòl
,
pro-
Câp.Xy.Dà alçada, no CiveI,&dnitie,áaditâRe!aç. fft
|>rocgírem os feycos ^ que ordinarianiente lá íe proceíTavaó mal
j & que
a§ letras dos Efcriváes , ou Tabeliiáes fejaõ muyco legíveis
, & íem ra-
bifcasj nem repetições efcufadas, &naóo podendo affim fazer, fejaõ pe-
la Relação privados dos officios > & póftos logo outros, fem appellaçaó
para algum outro Tribunal , mas ló com os prmieyros embargos
que fc
lhes julguem , &: ou por elles os abfolvaõ, ou eondemnem ainda
eni ma-
yor pena, ^ a executem.
90 A alçada da dita Relação fe deve extehicr na jurifdicçaõ á
iodas as nove Ilhas Tereeyras , fem exceyçaò de alguma, &os Juizes
iiaô fó Ordinários, mas Juizes de fora, & Ouvidores dos
Donatários,^ A ^Hepeílm chter
amdaefpeciaes Corregedores de algumas das ditas novelíhas, íeriõma
aíffda da Là
^brigados apor o (Cumpra-fe) às ordens da dita Relação & naõ
j lho Rtl^íM^é- a fuamè
pondo feraó obrigados a ir à dita Relação dar razaõ de fi
, ; &naõ a dan- ^'^ """f^ "^f^-
do fuificiente , poderáõ fer naó fó reprehendidos , mâs fufpenfos do of-
ficio atè nova mercê de S. Mageftade 3 a quem a mefma
Relação dárà
iogo conta d© que tem obrado y & entretanto proVerà quem firva
o of-
fieiQ pelo fufpenfo : &
fó fobre o Senado da Camera de Angra, ou
de ou,
traíemelhante, cujo pelouro veyo de Portugal cleyto,naõ terá
adita
Relaçaójurifdicçaõ immediata alguma, inas là deyxarà taes
Senados
com ofeu Corregedor i& fó quando defte appellarettt pafa adita Re-
lação, fó entaõ o julgará , & juntamente ex
officio appellarà para ElRey
no Defembargo do Paço , do 'que frez o tal Senado da Cámera , ficando
eiitretarito a fentença fufpenfa , fem fe executar por parte algúa.
Miniftrõ da mefma Relação que fó poderá fer fufpenfo & darfe coníâ
i ,
93
jD«e partntifco fi em fegundo grão, ainda de
aíHnidade, de algum dos Juizes , naõ poderá
deva ter por fftjpejito, eftefer em tal caufajuiz i mas chamar-fe-ha outro em feu lugar i mas fg
é-prohibidot entre o jp^j. parente em fó terceyro, ou quarto j ou mais afaftado gráo, ainda po-
f«í^,^ «
p^rm^ & a razaõ parece fer
por dentro da mefma Ilha ordi*
jjgj.^ fér feu Juiz j ,
poíTa fer j & naô he crivei que hú parente em terceyro , ou quarto gráoi
por elle obre contra ajufliça , nem que o aperte tanto a tentação deite
parentefco, Gomo á do parente em primeyro j & fegundo gráo, ainda
deaffinidadeipoisatèomefmodireytoEcclefiaftico faz efta diftinçaÔ
para o contrahir impedimento j em os que jà faõ affins ; com mais lar- &
gueza deve proceder oàitt^toCWili&cQnminúaàjudkandumi do
.flueo direyto Canónico <í<;*
CAPITULO XVL
Do quefera mais conveniente modo de governo mi*
litar em m taes Ilhas,
tíof Ilhaí
houve,nem em tempo dos legítimos Reys de Portugal , nem em tem-»
Tercejiroi
hna fè refidente ca-
^^^ intrufos de Caftella i & como ha perto jà de trezentos annos que
Xrn/no l/lf, ^s taes Ilhas fegovernaó , & bem, fem governo tal
, não opoderáólo-
r
a quem a natureza deo muy tas cabeças, fem ellas fe naõ confervaj & ex-
'
cm cada huma de taes partes tem pofto fua fefpeciál cabeça , Si todasiu-
jey tas fó á íupef ior cabeça Portugal, a quem ló conhecem todas.
95 A fegunda razaó he a mefma experiência, 6c em as mefmas
Ilhas , pois ( como jà vimos) huma única vez, que neftas Ilhas, efpe- &
cial mente na Terceyra houve huma fó cabeça do governo politico, ci-^
vil.
€ap JCVí .Òue huéa cõnVê Gpv,géral de todas H Ilhas.fr^
jfili 6c militar, fenhor D> António , & feu Conde J^. Ma-
em tempo do
noel da Silva, por culpa deite, & das nações eftrangeyras que iimet-
íeo , fe perderão entaõ as Ilhas, & o mefmo Conde íè perdeo , Tendo em
Angra degollado & pelo contrario em a feliz Acclamaçaõ do Senhor
:
ino atègora , por feus Senados das Cameras , Capitães mores , milicias, ^
-
97 pira alguém que de effeyco cada Ilha tem feu Capita5 •
Donatário , única cabeça de toda a Ilha, & nem por iíto a entregou a ef- _
r , ^ ,
trangeyras nações i& as nove Ilhas atègora tem hum fóBifpo,&hum 5'^ t'^*"]
áb Corregedor , hum fó Provedor da Real Fazenda , & nem por iíT© fe '^^^^^'"'f^^n^^^T.
íem governado mal Refpondc-fe , que quanto ao único Bifpo , efte fó
governaô efpiritual, 6c Ecclefiaftico ;& ainda por naõ poder acodir a
cantas, 6c taõ diverfas Ilhas,propuzemosjàa necellidadc demais Bif-
pos em as Ilhasj 6c nada difto toca à material,6c militar defenfaõ, ou con-
fervaçaõ delias. E o Corregedor he fó triennal, 6c fe lhe tira fua refiden-
cia, 6c naõ pôde em três annos armar tanto , que fe lhe naõífayba j Sc de-
late,. & emende o que fe experimentou tanto em o Provedor da Real
:
Fazenda,que por fer perpetuo de huma cafa, por iífo mefmo os últimos
fucceíTores j pay, 6c filho^ moírèraô èm Lisboa delatadoSíSc dando con-
tas, &por ifiofefez o talofficio triennal , com refidencía cada três an-
nosi 6c fe defta forte houvéOeliriafó triennal cabeça em cada Ilha, Sc de
quem os Seriados delia tiraíTém refidencia ,& avifaíTem a S. Mageftadc,
menos mal feria éiltaõ efta cafta de governo ,pofto que ainda efte em o
militar teria.Gontrafimuyto, .
98 Quart-3
Livro ÍX.Comptemèntò da Miftomdâsilhã^
"'
|r4
ver a Ilha j nem o vender a vintém , cada morador da Ilha pofla prover*
tirarfelhe jà , por naó refidircm nella ) 6c que comtudo ainda coma del-
ia a inteyra renda. . ^
que Elíley o occupar , &í que a outra meya renda fe applique , como a-
dma , às fortificações , 8c reparos da Ilha j ou fe o tal Capitão foy cha^
"'^W^
Câp:^í;ÇKr^ |i^|leç^e m: ^^1^
'pada ^Qf çtil^s , ©ftàs. encaõ fe examinem , Ôí íentepç eç n> , como pare- .
f^Í
syas das ilhas fe vio bem ein a Ilha da Madeyra , que em tempo de Imt;^ rfftdenciA cadajiif
s fubftitii!Eofoy entrada & (^queadade piraça^i & na Ilha Tç^çey$^qi]Q,(inms^&e.
fakando-Hie o feu Do,natario D. Çhçifltoivaõ de Mpura , foy par Çgftel-
la oppugoadatantas vezes, ate que foy entrada,^ entregada pe|o meí,
mo íubitituto P. Manoel da Silva i & fa^:ido he , quç fubítitutos traÇíjnii
(ó de fe e«cher a fi , &; a quem no tal lugar os poz ; da defeza , bel^^ & &
cpmmum da Ilha, nada trataò j comp ipcm fe vio em Úa^ô Miguel , em q
teríipo do íenhor D. António , jà entrada por elle jà por Francezes
, ,
Inglezes, ^
errt fim pelos Caílelhanos , &
por todos deftruida , por em
fx naõ ter entaq feu Capitão Dpnatarip , como tinha em a tempo dí
guma Htaçaõ que tenha guerras com Portugal. E fechada a dita rçfidet^-
çiajOudevaíTa, delia naõ julgaráó çoufa alguma, nem poderàó4e al-
gum m,odo proceder contra o Donatário , mas a mandarão logo , 8f em
fegredo fechada a S. Mageftade, fem delia darem parte a peíToa alguma, iW
mas efpeifapdo o que El Key ordene. r Lá-. r j, . .>^
Içu lu-bltituto , çh^imado Governador > defte cada três annos fe tire a Governador,
cada 3^.
mçfm4 reíidencia , ou devaíTa, Sc pelos mefmos acima allinados, ôcda amos fe tire rejíden.
mefma forte fe envie fecreta, & cerrada a ElReyf, fem cuja nova ordem c^'* & oponha, o »
«f»^
ff naõ proceda também contra odito Governador :& ainda que elle a- ^<'«'*''"'*"''
^'«' f^ »
cabeafeu tríennio de governo , & volte para o Reyno, fempre adita ^^^'J»' ''««''"^'' /">;'- >
fobre-
/ w I ,'
nomee dous, ou três, para que ElReyefcolha delles hum ; porque àã^
ta forte poderá o Capitão nomear hum feu criado , que
và mais esfolar a
Ilha para o dito feu amo , & para fi ,do que và a defendella , &
gover-
nalla j & que và mais a defcompor os mais nobres & ricos
fidalgos dá
,
dita Ilha, do que a tratallos como deve , & elles merecem &
aífim pare- :
^
fambem fuâ ; aífim o Vimos jà na Ilha Tercey ra , a quem fo feus natu-
C AP T U I L O XVII.
libas.
nos de íeis remos por bandaj & vinte arcabuzeyroS) fora os remeyros , 6c
mannheyroSjComohòasmeyasgaUs. -<
107 Dos taes navios leja obrigada a Ilha Terceyra a ter tresí
dos quaes hum feja a Capitania dellesjô: dos mais navios das llhas,quan-
do fe ajuntarem, éc efta Capitania feja de trinca peças , treze por bandaj,
Sc quatro de popa > & proa ^ & cento & quarenta mofqueteyros , dos
quaes fejàó vinte artilheyros j & demais tenha vinte marinheyros com
os Prlotos i & fem eftes cento ôc feffenta homens ao menos , nunca a
Capitania faya dallha Terccyrá. A Ilha de Saõ Miguel bailará que te-
nha fempredous dos outros ditos navios de vinte peças cada hum j ôc
outros dous tenha o Fayal com a fua Ilha do Picoj ôc fe deftas duas Ilhas
quizer cada huma fabricar làos feus dous navios, podeio-haó fazeri
mas nunca taenores , nem de menos gente , artelhariaj armas , do que &
acima eílá dito j nem por iflb deyxaráô Saõ Jorge , Pico , & FloreS
&
de conceder á Terceyra a$ madeyras que lhe pedir para fabricar os feus
navios. As outras Ilhas porém fó poderàõ fabricar os íèus CaravelôeSj
mas que naó fejaõde menos reinos^ armas i & gente do que fe lhes afíi-
liou acima. Edefta forte haverá nas ditas Ilhas fempre huma Armada
marítima , de ao menos fete nàos, baftantes para defenderem as fuás cof-
ias, ou feus canáeS & feguramentefe communicarem , & commercia-
,
rem humas com as outras j & naô irem là Mouros , nem lhes pilharem
cativos,mas antes cativarem áos MouroSjSc navegarem feguros das Ilhas
a Portugalj & de Portugal às Ilhas.
108 A mayor difíiculdade éftá toda, em donde ha de fahíc
o muyto neceíTario para fabricar a dita , & a fuftentar
Armada Infulana
depois, fem fe diminuírem j antes fe accrefcentarem as rehdas Reaes. ^'^/'^«f'»
mintimÀ
Parece que baftaràprimeyramente conceder S. Mageftadeque námiz^^^J^f^^^^fT^.
,_ ^
^-i '* r 1 1 T j r levantar para fajten-
1
•
Terceyra em a Cidade de Angra fe levante huma Junta marítima de le- ^^ ^^ jJ^ Armada
I
te Deputados, homés de negocio de dentro de toda a Ilha T^^^^f^^^^i fem concorrer afaz.e.
^
Angra, &: Praya i dois quaes fete fejaõ quatro Portuguezes , ôt naturàes da Real, mais qm et
das mefmas Ilhas , mas refidentes fempre em a Terceyra , 6c dos de nz~ privilégios^ &c.^
gocio os mais ricos ; & os outros treS fejaõ
Eftrangeyros , porem riiora-
dores já, 6c de muytos anhos na dita Ilha Terceyra, ainda muyto mais &
"ricos, &abonados com bens de raiz nas Ilhas ; Sc qiie deites fete, êc deitai
Junta feja Prefidente ó Provedor dás Arniadaâ,ou o Capitão mòr de An-
gra , ôc que todos eftcs fejaõ eley tos pela Camera , Capitão mòr de &
&
Angra ; o que pelos mais votos da tal Junta fe votar , iflb fe faça , ex-
cepta a eieyçaó de Capitão geral da Armada, ôc Capitania delia, que
propoíto pela dita Jiínta ao Senado da Camera , 6c fera fus
efte tal fera
confirmhçaõ naó fervirà.
109 Em fegundo lugar fe concederá àmefma Junta, que qual-
quer dos fete Deputados delia poflTa fazer, Sc ter mais navios (mas naõ .,
,
' ^
r:
& que corii elles poífa commerciar, naõ fó cõni Portugaljmas com qual-
quer parte do Brafil, de Angola, Sc Maranhão , ôc de toda a naçaô , con?i
quem Portugal tiver paz, &commercio; excepto unicamente com a
índia Oriental Sc que naõ fó das mais peíToas da Ilha Teiçsy ra 3
,- d^ &
j18 Livro IX. Complemento da Hiftojria das Ilhas.^
de Saõ Miguel, & Fayal, mas também das outras Ilhas Terceyras , pof»
fa quem qmzer celebrar contrato de companhia cora a dita J unta mari-
tima , & entrar ao ganho , & perda com ella , conforme ao contratado,
& parailTo pòr na dita Junta a juro o que cada hum quizer, nunca fe lhe
pagando mais de cinco por cento , & que fó no fim do /egundo anno fç
pagarão os juros dos dous primeyros annos , para nelles poderem ter
commerciado , & cobrado , com que já em cada hum dos annos feguim.
tes paguem promptamente cada anno o íeu juro.
iio Em tercéyro lugar fe deve conceder á dita junta que os
navios por ella mandados a commerciar , em qualquer porto , ou Alfan-
dega da Coroa, & Conquiftas de Portugal, paguem fó os direytosjà
fabiJos , & nada mais & fó ao recolherle à Terceyra paguem hum poç
;
f
Gs preços dos fretes fe determinem fixos pelo Senado da Camera de An-
gra, ouvindo primeyro os votos da Junta, &
determinando depois 5 &
definitivamente o que parecer mais jUÍlo,fem diíío feadmittirappella-
çaò,nem aggravo, mas fó primeyros embargos, que o dito Senado refol-
verà , fem nefta parte fe recorrer nem a Corregedor , ou Relação que lá
haja, & menos a Portugal
por tal taxa fer do Senado.
,
III Em quarto
lugar fe concederá à propofta Junta , que
quanto por feus na vios, afíim da Armada, como dos de fora della,quan-
to fe apanhar , de Mouros , piratas, & navios inimigos de Portugal, tan-
to feja da dita Junta , fem darem à fazenda Real coufa alguma , ou al-
- , . ., giimdireyto do que affimjuftamente cativarem, &atè os cafcos, arte-
^h^"^' & ^^^^^^' ^ muyto mais as cargas, fazendas , & peííoas, pois tudo
""iZltlZa t
^a.ohrigada a acodír ihe he neceírario para íuftentarem, &
pagarem a Armada íobredita, òc os
K tiào da Indi» logc mais navios , para os quaes naó concorre a Fazenda Real com coufa
al-
em appareeendo , &
guma. fó fera obrigada a dita Junta , a que, apparecendofà vifta da
E
kcufia da fttnta &
Terceyra alguma nào da índia Oriental , mande logo a Capitania
,
jji^^
acõpmhalU Ate Lu-
^^ ^^^^ Armada a acodirlhe , comboyalla para a Ilha , &
depois acompa-
nhalla atè Lisboa , fem por iíTo pedir a ElRey paga , masfó algúas mer-
cês de hábitos, ou fórosj&c. E também íerà obrigada adita
Capitania a
dar caça a todo o Mouro , ou Coflario que apparecer , & a acompanhar
, quando
outra Ilha aíTira
o Porruguez navio, que da Terceyra for para
o mandarem o Senado, &: a f unta.
112 E porque na Ilha Terceyra, naõ fó pelo inverno, mas
também pelo mais anno , corre algumas vezes hum tal vento Suefte , (a
quechamaó o Carpinteyro, por faz-erdar àcoftaos navios )&defte
vento he feguro hum dos portos da bahia de Angra , ao qual ehamaò
Onàefe hA de mo- Portinho de Pipas, & efte fe o concertarem abatendo-o
mais,& metteH-
Ihtr cm Terceyra a do-lhc mais agua dcntro iílo poderà fazer ajunta , & com pouco cuf-
fl ,
^rmada Inf^bria^ ^q^ ^ recolher alli OS fcus navios , fem lhes poder fazer maio dito vento;
fegum de tempeM ^^^^ ^^^^^
^^^^ ^ ^^^^ Capitania de trinta peças naó entre là, mas fe
reco*
Sc
lha às aguas de Saõ Sebaftiaõ, que he porto que fica para o Nafcente,
tam-
Cap.XVIí. Aonde fe íegòrarâ de tèpor.a Armad.Inful..^ 519,
Xx ij
jiíi Hí^L?l^!^J!X» ComplemètitodaHiftoria das Ilhas»
«í^l "::;•»
í a Fortugaíy & da que Portugal deve fuppor é^ ,
y. ^ ... . , . , nèfte anno de 7 5 .Goníaõ jà asjllhas Tercey ras duzentos & oy tenta 6c
1 1
rt Ri!'ysde T^orí^^^^
nafcimento primeyrojôc que neíles quafi trezentos annosforaõ todas as
4[^nfíamiaf^fffre. ditas Ilhas mais fieis aos Reys de Portugal , do qu-e os naturaes do mef*
mo Reyno aos feiís próprios ReyS} porque fe bem repararmos, paflados
os primeyros três Reys , Affonío I. Sancho I. Aífonfo II. depuzeraõ &
aoRey Sancho II. &: mettèraõ em leu lugar a feu irmaó AíFonfo III.
tendo eftes quatro reynado fomente cento trinta três annos , pois & &
£> primeyro reynou fetenta três annos , o fegundo vinte & íète , o & &
íerceyro onze, &:p quarto vinte dous , &
todos juntos fazem fó cen* &
totrinta8ttres>r:/-^ ,,
1 16 E paffados depois cento & trinta & quatro annos nos cin-
co Reys feguintes, D. AíFonfo III. D. Dinis , -D. AíFonfo IV. D. Pedro,
^ D. Fernando , entaõ fe dividio Portugal, & parte delle feguio a Rai-*
uhadeCaftellaD. Brites , filha legitima do antecedente Rey D. Fer-i
nandoi& aoutra parte de Portugal feguio ao invifto D. Joaõ, irmaó do
Rey D. Fernando, & filho illegitirao do Rey D. Pedro , 6c ficou fend©
ElRey D.JoaõoI.&: com efte, 8c delle fefeguiraó mais oyto Reynan-
tes,que foraóD.Joaõo I. D. Duarte, D. Affonfo V. D. Joaó o II. D.
Manoel , D.Joaó o IIT. D. Sebaíliaõ , & D. Henrique , nos quaes oyto
fe paíTáraó mais entaõ cento &c noventa &
dous annos, atè o de 1 5 80. dd
; Nafcimento de Chrifto i &
jcntaõ deyxando Portugal de acclamar afei
nlloraD.Catharina5legítiraafilhado Infante D. Duarte , filho legiti^
mo do Rey Dom Manoel, acclarnandò ao fenhor D. António, filho ille-
. gitimo do Infante D. Lu is , legitimo filho do Rey D. Manoel também ,
ao fenhor D. António deyxou Portugal ,& admittio por feu Rey a Fc-
lippe II. fendo fó por linha feminina ( de fua mây^a Emperatriz D. Ifa-
bel) neto tanibem do mefmo Rey D, Manoel atè que dahi a feflentá ;
Xx xi} owcrásí
m
Livro I5C. Compíemetito áa Hiíloria das Ilháir" *^
I %%
outras defcom^oílções , motins , & deígoftos , que aindi
ftias Ilhas , as
vemos em outra algua parte , aonde indo hum fo homem com titulo de
';
Governador, a todos,& aos melhores quer logo metter dcbayxo dos pè^
devendo eftimallos muytoj a tudo quer abarcar ; & fe naõ rouba a todos>
4o de rodos fe enriquece 5 & fe encihe de tal modo , que por mais que fc
'
J queyxem deíle, com o que traz íe livra , &
fica ainda mais rico , do que
f mha ido pobre, Mas tambem.por iíTo mefmo vimos jà q a algus defteg
fe lhes & voltarão defcompoftos porque a pacieii?
perdeo o refpeyto , j
eia ferida fe converte em furor, & em fuás feridas moftraó, os que às re-
ceberão, de fua fúria as defculpas. Oh quey ra Deos quea ifto fe acuda.
Segue-fe fecunde j que às ditas Ilhas fe lhes naõ deve im^
X 21
jPuMKt mtnos trihu P^^t "em decimaSi nem tributos, de nenhum modo ufuaes j &
que fe &
tos fe dívtm impor alguma vez fe lhes impõem algum donativo , deve fer muy moderadej
ninguém tem paz & com as nações inimigas de Portugal que a elle fe
, ,
©aÕ atrsvem a vir, & vaõ ,& faltaõ na Ilha a todo o tempo & quand® ,
Praça , que cílá era guerra viva , fe lhe naÕ impõem tributo > nem fe Iht
entende impofto, mas fe lhe manda foccorro; & o Rey que lho naõ
li^nda de fóraj antes lhe manda tirar o que a Praça em íi tinha , niíT©
quer íó a Praça bufque , & fe entregue a outro Rey , que naõ fó lhe naõ
tire, mas lhe mande o foccorro neceífario > & naõ permitta Deos, que iíl
lhe eteraõ novos titu- tarios , mores , tantos Marquezes , & Condes , tantois
tantos Alcaydes
los aos fem grAnàes,
Grandes Titulares , que de novo honrarão a Portugal , Sc o enriquecè)-
^ue áoA ditas Mas ^^. ^ ^ ^^^ ^^^^^ ^^^^ ^^^^ ^^^^ Reyno ínfulano de fetenta &: qua-
tantas rendas ^^° legoas de comprido, & vinte & quatro de largo , 5c com os dizmios
de toda éíla vaflidaõ de terras além dos Reaes direytos nas Alfande-
,
gas & ainda que Portugal ficou obrigado a por iíío mefmo defender as
:
ditas Ilhas com Armada Real que no veraõ as và correr, SiZ defender,
,
nem taes Armadas vaó jà, fenaô algumas vezes a bufcar as nàos da
Índia, 5c as Frotas doBrafd. Pois pergunto: Se Portugal nadagafla
com as ditas Ilhas mas das rendas delias paga côngrua ao Ecclefiafli"-
,
homés, & fó Saó Miguel tem doze mil, 6í dez mil a Ilíia Xêrceyra, ain- Cmo ordinariãmhi
da comEúdo da tal gente fe naõ deve tiVar muyta das taes Ilhas } mas de;' tç femõdevem\tir»r.
ye-íe-ihedeyxar formar a Armada raaritima, & fua Junta ào Commer'^^f'*"^i^^f'*^,"'H
eiojque acima propuzcmosi & aodepois, quando for mais neceírario,& A"*SírS»rífI
precifo, poderá Portugal tirar alguma das miliciasjà deftras,&damaí^^,^yj:^^^^^^^^|J;.
rinhâgemdos navios, ( provendo-os primeyro là de outra marinhagem, ^««^wff^,/^»^^ ^4.
& milícia) & deita forte íerà fempre Portugal a marinhagem de que tera rn ofim^ fnftfi aftn-^
tanta falta, & pilotagem jà dèftra , & ainda alguma mais milicia , fe con-i f^K
eeder às Ilhas terem a dita Armada , & Junta do feu Commercio coniia ,
tem França em muytos portos , & por lífo brevemente ajunta o necefla-
rio para as fuásArmadas.
1 24 E da mais gente das Ilhas , conveniente fera que Portuy
gal tire em alguns annos } & dos filhos fegundos dê homés nobres algúa
companhia, que milite em Portugal, ou và para a Índia, & outras Con^
quiftas, & que mereçaô affim íer ao depois promovidos aos pòftos mi-
litares das mefrnas Ilhas , & as tratem , & governem com mais comedi*
mento, mayor zelo ,6c experiência. Porém do ordinário povo das taes
Ilhas,como efte tanto multiptica,que as mefrnas Ilhas jà não podem fuf-
tentar a tanto povo,ferà mais conveniente tirar dellejde annos em annos,
alguns cafaes inteyros para o Braíil, Angola, 5c Maranhão, que povoem
tantas terras, como ha là defpovoadas, &: fe lhas dem em que vivaõ , efi-
riqueçaõ, & multipliquem , & como verdadey ros Portuguezes fejàô a
Portugal fempre fieis, & defendaô as Conquiftas}& poisafíim o fez
Portugal com as mefrnas Ilhas defcubertas , 6c eftas o fizêraò com as di-
tas Conquiftas que depois das Ilhas fe defcubriraõ & ainda acharão;
parentes dos que ao principio fora6 das ditas Ilhas para là j Sc efte pare*
4se.fer o melhor governo.
t^fih.f.
C 4 P I T ayi L o XIX,
â mayor gloria de Deos , & o bem mayor do próximo naõ fó das mef- ,
rnas Ilhas , & da naçaò Portugucza, mas de todo o fiel Chriflaõ Catho-
lico; & naõ fódo mayor bem temporal da vida , honra , & riqueza deita
imundo , mas muyto mais do bem eterno , da efpiritual vida da alma , dá
Verdadeyra honra, & riqueza das virtudes feja pois de todas
:
vieííe delatada por herege ao Santo Officio , iflb, ou foy que de fóraCfc
nha ido às ditas Ilhas, ou que era fugey to, ao menos, originário de fóra^
& naô oriundo de feus Catholicos habitadores conferve-fe logo a Fé :
vlZados ír/fm« natural , & a fidelidade & obediência a feu natural Rey
quem vi-
, 5
pois
Divinos &,EecleJi.vc fem Deos, lem ley, fem Rey nem como homem vive mas como ha
,
, ,
afticos
^& Oráí»<«--barbaro Gentio & ainda como hum bruto indomitoi & a quem obíervã
, ,
çoesReafs,como «?íí?íi que o lume da razaõ , dado a todos por Deos , eftà
aqUella ley liaturâl ,
• /»/»« ^^ ^^^^^ didando , & clamando fempre , a eíle tal que aflim guarda a
da rax.ao.
natural ley & faz o que em fi pôde , naô fó Deos naõ nega os auxilies
/ ,
Deos dar a cada hum o feu, pagar o que deve a cada hum, naõ fazer a al-
gum o que naõ quer que lhe façaõ , & antepor fempre o bem communt
ao particular , tendo por mais amável , & honrofo dar ainda a mefma vi-
da por feu Deos, por fua ley , por feu Rey & fua pátria de que naõ re- , ;
pito os exemplos illufl/riíFimos que em toda efta hiftoria terá vifto cada
hú em muytosdefeus Progenitores.
1 29 Quarta , que reparem que nos primeyros feculos deftas ,
Ilhas hiaÕ de Portugal muy tos fidalgos & fidalgas a cafar às Ilhas , ,
&
deftas também a Portugal vinhaó cafar , & voltarfe para ellas mas
repa- )
'^Hírta\íjue ftvao rem (digo) que quando ainda lá havia terras por re partir, hiaõ de cà
deixemhvarda am- pg^^ Ihas darem jou quando a peflba tinha là algum bom morgado , &
hiçah ^'oprU OH
^-^^^^ ^^ ^^j^^.^ y^^ fLiccedefl"em de cà nelle ; & aflim de taes cafamentos
como os que hiaÕ à índia, à Ame-
''ibmbuP &tr ^ "lof ivo f odo vinha a fer fó ambiçaÓ,
t//r, & 'Sm melhor rica,a Angola,& a
Africa, fó a trazer para cà quanto pudeflem ; porém ,
fim huns aos outros , Sc eftimando mais.O ferem dos primeyros em fuás f» Reli^ides-^ ao Rey
terras, taõ nobres, ôctaò ricos do queíerem em Portugal tidos ainda '^f>/'«*X«'f''»"'**» <f
,
cm menos , ainda que fegundos j & ainda de fidalgos que nem que co- Ztmemlv^ver-,
ff ica , como vimos que fizeraó os antigos potoadorcs de taes Ilhas , &
com fó animo prompto de fei vir a Deos, & adquirir honra licira,& não
jfó riquezas i& então ainda èftas lhes dará oSenhor
liberaliírimo,&o
voltar também às fuas Ilhas, a governallas, & honrallas. Por fervir final*
mente às Refpublicas, fe entenJe que depois de eftudarcm os latins,
,
:& Rhetorica em fuas Ilhas, & ainda a F^lofjfia, & Theologia Moral, êc
Êfcholaftica,& graduarem-íe nclla ,Venha6 entaó a Portugal , à Uni-
^erfidade de Coimbra a hum &: outro Direyto, & à Medicina,& fica-
, ,
*JBâs póftbs delias, & os outros voltarem às fuas Ilhas a fer Miniftros nel-
ias,& acodirlhes em tudo como devem , & como fizeraõ feus Antepaf»
fados.
Igt Deftas cinco Exhortaçôes parece fefeguem as PropoftaSí
que o nobiliífimo Senado de Angra , & os mais das outras Ilhas , cada hú
êm o que lhe pertencer , devem ofFerecer á Mageftade do Sereniílimo
Senhor Rey de Portugal , & por efta Regia via à Santidade doSummo
Pontífice de toda a Igreja Gatholica , & oíFerecerlhas cem toda aquella
tepetidá inílancia, com que atè o mefmo Deos quer que lhe peçamosjêc
nunca defiftamos de lhe pedir o bem , nem defconfiemoS de o alcançar,
;.^or mais que fe dilate o defpacho pertendido, que, fendo juíto , fempre
•
^^^''Í^Jj^T^^jf;
(ou mais tarde, ou mais cedo) fahírà.
raJcodVà^ep^í^
13Í Apropoíl:aprimeyradevefer,queparâfeacodiratantâS,^^^^^^^.^^^^^^r^3
Sc tâõdiftantes Ilhas entre fi, que fe devem crearde novo nellas dous ^- „^^^ Bijpoem SJ
BifpadoS, hum na Ilha de Saõ Miguel, que fique com toda ella, & com Aíigftel & outro f» ,
a Ilha de Santa Maria , & o fegundo Bifpado em a Ilha da Fayal , & (Q.Fajal, & com Me\
éftenda a três Ilhas mais, í do Pico , à das Flores, & à do Corvo, para tropoUtam Arcebm. &
Jão fe levante a fer Cidade a grande , nobre rica Villa, que hc cabeça «<* T^^^l^y^* ^»^m
, &
ào Fayal j^í que o antigo Bifpo de Angra fique com as três Ilhas vizi-^^^^/"'^^''-í"'' *
I ^i4 Livro IX. Complemento da Hiftori^ das likâS.
Hhas da Terceyra , Saõ Jorge , & & feja de novo fey to Me^-
Graciofa ,
tropolitanoArcebifpo de todas as nove Ilhas & de todas fe finalizem
,
133 A fegunda propofta pôde fer , que comO eftas nove Ilhas
fetlçaõfegmda^ que eílaõ expoftas ao commercio de Hereges, naçóeseftrangeyras, que pa-
vrdeneS .Magefiade ra felhes naõ pegar alguma herefia , deve haver na cabeça delias em a ,
mau no Collegio Real Moral também, 6c a ultima delheologia Eípeculativa,para que com
Áe Angra omr as três eftas féis Cadeyras (duas de latins , huma de Filolofia , 6c três de Theo-
cadeyroi f erpetuas
logia ) fe poíTaô formar, naõ fó na Filofofia Mcftres em Artes, mas tam-
hHa de Filofofia oh- ,
afie pojfaõ tomar là o meyas propinas em Évora, ou em Coimbra, fem fazerem jà mais a£to al-
grko de Mefiresem gum, &
fó moftrando as íuas cartas dé approvaçãodos gráos antece-
Artes , &
em Theo-
dentes tomadosi & ifto, como jà moftràmos, fó com authoridade, Sc pri-
hgia o de Licencia-
vilégios de S. Mageftade , fem ordenados da Real Fazenda, mas com os
dos por exame pri-
vado\ moi o de Dotf- que para iíTo derem là nas Ilhas os mais zelofos do bem eommum delias,
,
tons em Theologia o conforme aos que deo o fenhor Rey D. Sebaftiaô , de feiscentos mil reiS
naõ tomem là , (enaõ cada anno parafuftento dedoze Religiofos, a eincoentapor cada humg
em alguma doê Uni-
do Collegio que lá fundou.
'ver/idadss de Portfí'
val^vindo approvados 134 E ifto naõ fó o Senado de Angra mas também o feu Or- ,
. t^
Çap:XIX..Bafnàisjufta5SrneceíTafiapropofta. 517
âçdasobrasmilagrofas que obrou Deos noíTo Senhor por aqúellas íl-yç^ .j
luílres peíToas , cujas vidas acima efcrevemos,iíílini de S. Miguel, como
Btfos dZ^malVrê
4aIlhâTerceyra,& foraõ.emfanadade peíToas muycoUluííres,&deV canomc/in^»Í
todos por taes tidas, & eftimadas, para que Sua Sancídade , como Vio-a- ^'í^^ <^as virtudes^
rio de Chriftoe.m aterrajjuigando-o aflim diante de DeoS) canonize as-^''""'^^ cortei, é" ma-
taes peffoas , &
«ellas tenhaõ eftas Ilhas feus próprios Froteftores, & de- ^'' ^- ^''"
''s^'^%'
fenfores contínuos, & fe animem os naturaes a íeguillos & imitallos, & mZfn
,
^^^^""f*
dar nclies gloria a Deos , que he o fim porque ainda em eíh vida quer |)<,5
!&^daJ7cha
Deos que fe canonizem SanCQSj & por mais que jà hoje íe gafte em a ce- mJ
Beata May^â-
lebridade de Canonizações de Varões Santos, a tudo facilmente podem '^^'* ^^ Chaves ^cjm
acodir taes Ilhas, ôc entaõ Deos, U. os Santos acodiráõ mais por elias. f^^^ceo em PõtaDel.
136 Propofta quarta . que queyra com eifeyto Sua Mageftade'^'''^'* ^'' ^- ^^gttel;
Baõ fó confirmar o antigo governo de guerra da Jlha Terceyra por terr^J^^^'^''-^"'''^''"'''' '^'
f a, em fó os Capitães mores , & Senados da dita ilha , mas que também
ci^ofeTZilZT'
xom eifeyto conceda aos do dito governo o levantarem de novo a mari*-
|:ima Junca do Commercio ,na forma jà apontada , com a fobredita
Ar- ^'^^^^ fiítrta ^»e ,
mada de fete nàos , com a artelharia , armas , & milicias jà propoftas , 6c '^VJ'''^ S.Magtflaie
íudo debayxodo governq do Capitaõmòr de Angra, Senado da Ca-
ÍHera,^ Provedor das Armadas , os quaes juntos elejaõ o General da di-
XSLTl-''^'''
htZ°de AnarT ZZ
ta Armada & os Capitães de mar,, &guerra & Pilotos mores & de- conoederlhe
, , -,
de \om
pois quando o dito governo pelos feus mais votos julgar fer neceífario, f«? kvmte a
,
fmta
poíTafufpender o General da Armada, & fubftituir outro em feu lugar/^^^^^ '"'^ & Ar. f
& da mefma forte aos Pilotos mores, & Capitães de mar, & guerra , fem "l'^'^'^ '^' 4ngraparà
que poíTa hav^r de tal governo appellaçaó , ou aggravo para Tribunal ^'^^
^'^^-«f
.f?
-^"f*
algum mas huma fo replica dos fufpenfos , ou depoftos , & que fó três
;
l^lflpmTdoT''''^
^^'° '^^
dias depois de notificados tenhaõ para replicar , & fem com iífo fuf-
, ,
**
arrezoar fua juftiça; nem gaílaõ tanto, em por terf a mudarem fó de ter-
ra,& fó com o alforje feyto nellâ, & para ella tornarem com outro feme-^
Ihante, & fem perigos mayores & poriífo parece neceííario que ainda
:
,
m
5 18 Livro iX. Complemento da Hiftória áas í lhas,'
ficuldades occurren-
'
rem rauyto emfeus officios, faltando- lhes os falarios, & os mimos do^
tit. " '
litigantes das Ilhas, &:e. Refponde-fe com odireyto natural diftantcj,
que fe o falario , &
o lucro fe diminue a alguns com o fobredito , tam-
bém fe lhe díminúe o trabalho, & fem efte naõ hejufto haver aquellCiSc
aíiim também dos taes quey xofos naõ haverá tantas quey xas , de dilata-
rem as caufas , por a tantas naõ poderem acodir tam brevemente. Quan*
to mais que a natural razaõ difta também , que primey ro fe ha de aco-
dir & mais fe ha de eftimar , ao bem commum de tantas Reípublicasi
,
<*-»
/^ 1 a^os
ri'i